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Aula 1 – 10/4/2019
- Exegese: extrair do texto, interpretar, arrancar para fora do texto o que ele significa3. A exegese
bíblica é a tentativa de extrair o significado de um texto bíblico. O exegeta, neste caso, precisa
conhecer bem os idiomas bíblicos, o contexto histórico, cultural etc. Por isso é tão difícil separar
hermenêutica de exegese, porque esta é o que o texto diz e aquela é o que nós pensamos sobre ele
e como o aplicamos na prática4. Ex: Salmo 130 v.6: Espero pelo Senhor mais do que as sentinelas
pela manhã; sim, mais do que as sentinelas esperam pela manhã! Exegese: buscando o texto original
hebraico e o contexto percebe-se que os guardas temiam o período noturno porque os inimigos se
valiam da escuridão para atacar. Hermenêutica (uma das possíveis aplicações). nosso desejo por
Deus é maior que o dos guardas pela segurança da manhã, ou seja, nossa segurança deve estar no
Senhor e não no que nossos sentidos podem perceber.
1
Da Silva, André Luis da Silva. Conceitos de Hermenêutica. Em https://www.infoescola.com/filosofia/conceitos-de-
hermeneutica/ acesso em 8/4/2019.
2
Em https://origemdapalavra.com.br/?s=hermeneutica acesso em 10/4/2019.
3
Damasceno, Valder. Hermenêutica X Exegese – Qual a diferença? https://dicas.gospelmais.com.br/hermeneutica-
x-exegese-%E2%80%93-qual-a-diferenca.html acesso em 8/4/2019.
4
Matos, Samuel. Qual é a diferença entre exegese e hermenêutica? Em
https://bibliacomentada.com.br/index.php/qual-e-diferenca-entre-exegese-e-hermeneutica/ acesso em 8/4/2019.
1
Eisege: não faz parte da hermenêutica. Enquanto exegese é ex-trair, ex-ternar, ex-teriorizar,
ex-por, ou seja, retirar do texto o que ele diz, eisege é injetar no texto algo que o intérprete
quer que esteja ali mas que na não faz parte do mesmo5. É forçar o texto a dizer o que ele
não diz. Ex: “Maldito o homem que confia no homem” (Jeremias 17:5 parte b), por isso não
podemos confiar em ninguém, vivermos isolados, não confessar nada a pastores muito
menos a outros irmãos etc. O texto do próprio versículo dá parte da resposta “Maldito o
homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor”,
ou seja, a ênfase não é na confiança em outra pessoa, mas em deixar sua vida como um todo
confiada na força humana e não em Deus.
3) A Bíblia é Cristocêntrica
“Cristo é o Mestre, as Escrituras são apenas o servo. A verdadeira prova a submeter todos os Livros
é ver se eles operam a vontade de Cristo ou não. Nenhum Livro que não prega Cristo pode ser
apostólico, muito embora sejam Pedro ou Paulo seu autor. E nenhum Livro que prega a Cristo pode
deixar de ser apostólico, sejam seus autores Judas, Ananias, Pilatos ou Herodes”. Martinho Lutero
Apesar de utilizarmos a bíblia, sabemos que não é ela quem salva. Jesus é o Evangelho; suas
palavras, ações, sua morte e ressurreição são a nossa fé, não o escrito em si. Há cristãos no mundo
que nunca tiveram o Evangelho de Mateus nas mãos mas já ouviram e vivem o Evangelho. “Não que
sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade
vem de Deus, O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra,
mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica”. 2 Coríntios 3: 5,6.
Assim, toda a bíblia aponta para Jesus; tudo o que foi dito antes (especialmente) e depois dele, é
cumprido n'Ele, e o que não se adequa a Ele e seu Espírito deve ser rejeitado ou compreendido à
luz do que Ele ensinou. Não é possível obedecermos ao pé da letra toda a bíblia e permanecermos
cristãos. Como podemos, por exemplo, desejar a morte de nossos inimigos ou que seus filhos sejam
esmagados contra a rocha (Salmo 137:9), já que o Senhor, pendurado na cruz, pediu ao Pai que
perdoasse o povo que o estava assassinando (Lucas 23:34)? Entender o contexto da época do Salmo,
a revelação que até então tinha o povo judeu e a que nós temos hoje, com o Espírito de Cristo, é
essencial para interpretar e aplicar qualquer parte da bíblia, inclusive no novo testamento.
De todo modo, aprendemos sobre Jesus pelo que está escrito nos evangelhos, nos livros de Mateus,
Marcos, Lucas e João. Jesus mesmo, nada escreveu. Só sabemos sobre Ele em segunda mão, no
mínimo – estou-me referindo apenas aos textos bíblicos. Porém, é inegável que a revelação de Cristo
se dá por uma ação do Espírito, não da leitura. Se dá com novo nascimento (vide João 3 e a conversa
de Jesus com Nicodemus), não com nova interpretação sobre textos bíblicos. Apesar da verdade
contida nesta conclusão, só podemos assim concluir porque é exatamente isto que está escrito na
bíblia, nos evangelhos e no restante do Novo Testamento. Em outras palavras, a experiência é
pessoal, real, mas é confirmada ou rejeitada pelos textos que lemos. Se assim não fosse, qualquer
pessoa, com qualquer tipo de doutrina, poderia dizer ter sido por Deus visitada e não teríamos
qualquer base para examinar seu ensino. Como crer em uma “revelação” de alguém que afirma que
sabe o dia e a hora que Jesus retornará ou que alega saber das “coisas inefáveis que Paulo ouviu no
terceiro céu”? Apenas interpretando os textos bíblicos que tratam de tais assuntos.
4) A importância do contexto
5
Em http://aquieuaprendi.blogspot.com/2015/02/o-que-e-exegese-e-eisegese.html acesso em 8/4/2019.
2
Esdras Costa Bentho, ao explicar a etimologia da palavra6: “No latim, cun é preposição do ablativo
que denota união, associação ou companhia, e textum significa 'tecido'; por extensão, 'contextura,
trama'. Aplicados a documentos escritos, expressa a conexão de pensamento que existe entre
diferentes partes para fazer dela um todo coerente”.
Ninguém é um ser isolado da época que vive, nem os personagens dos textos bíblicos eram,
incluindo Jesus. Por isso, antes de retirar qualquer conclusão apressada sobre uma doutrina ou até
aplicação pessoal, necessitamos entender o contexto que cada texto está inserido, a inter-relação
de circunstâncias que acompanham os fatos, histórias, recomendações, cartas bíblicos.
Ex: Mateus 2: 23 “E chegou, e habitou numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que
fora dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareno”. Se formos apressados concluímos que existe
esta profecia no AT, mas em NENHUM lugar há tal referência nem a Nazaré nem a algum nazareno.
O que fazer? Olhar para o contexto. Mateus, o escritor, é judeu e profundo conhecedor do AT, sendo
difícil que ele cometesse um erro crasso como este. Nota-se que quando ele se refere a algum
profeta, faz a introdução no singular: “para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta”
(Mateus 1.22) ou “Então se cumpriu o que fora dito pelo profeta Jeremias” (Mateus 2.17), o que leva
a crer que não está, em 2:23, referindo-se à fala específica de algum profeta, mas ao ensino geral
sobre o Messias no AT.
São apontadas 3 soluções7: 1) o autor está baseado em Isaías 11.1 “Do tronco de Jessé sairá um
rebento e das suas raízes, um renovo.” Rebento em hebraico é netser, cujo som e escrita são
semelhantes a palavra hebraica para Nazaré (natsarat);
2) Mateus está dizendo que o Messias veio de Nazaré, lugar de gente simples, desprezada, como
em Isaías 53:2 “Porque foi subindo como renovo perante ele e como raiz de uma terra seca; não
tinha aparência nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse” o que
se denota pela fala de Natanael em João 1:46 “De Nazaré pode sair alguma coisa boa?”; ou
3) relação da palavra Nazaré com o voto de Nazireu (Núm 6), que significa consagrado, devoto. Em
Juízes 13 lemos a história de Sansão, sobre o qual é dito: “o menino será nazireu consagrado a Deus,
desde o ventre materno até ao dia de sua morte” (Jz 13.7), mas não que Jesus fosse nazireu no
sentido estrito (não poder tomar bebida forte ou aparar cabelo e barba), mas que seria consagrado,
que é o principal no nazireato.
É possível, até, considerar todas as posições plausíveis.
6
In Hermenêutica Fácil e Descomplicada, p. 133. CPAD.
7
[Sem autor] “Ele Será Chamado Nazareno (Mateus 2.23)” em https://issoegrego.com.br/2016/06/02/ele-sera-
chamado-nazareno-mateus-2-23/. Acesso em 10/4/2019
3
◦ TRABALHO: Leia o texto 1 Co 2:9 “mas, como está escrito: nem olhos viram, nem ouvidos
ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para
aqueles que o amam.” e responda: 1) o que você pensa/sempre pensou que este texto
está dizendo, olhando apenas para este verso? 2) A partir do contexto imediato anterior
e posterior, você mantém sua conclusão da pergunta 1 ou ela é modificada?. ENTREGA:
1/5/2019 (se tiver aula)
Contexto remoto: tudo aquilo que está distante, mas abrange o texto estudado (seção—
divisões maiores da obra e o livro como um todo). É claro que cada pessoa, cada estudante
da bíblia, divide as seções segundo suas preferências, mas há um norte a seguir. Se não
considerarmos o propósito do escritor, os capítulos anteriores e os posteriores, outros textos
da bíblia que tratem do mesmo assunto, a realidade social, política e cultural da época do
escritor, será fácil distorcer o objeto do estudo ou deixar de compreender os principais
ensinamentos da passagem. Ex: João, em 20: 30 e 31, demonstra seu propósito maior em
dar seu relato do ministério do Senhor: “Jesus realizou na presença dos seus discípulos
muitos outros sinais miraculosos, que não estão registrados neste livro. Mas estes foram
escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida
em seu nome”. Ou seja, a intenção do evangelista é que pelo testemunho creiamos que Jesus
é o Filho de Deus, ou seja, que Jesus é Deus. Não é, por exemplo, confirmar que Ele era o
Messias prometido no AT, algo que o livro de Mateus se ocupa mais.
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Bentho, Esdras Costa. Hermenêutica Fácil e Descomplicada, p. 169. CPAD.
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encontram: os escritores são diferentes, ou as épocas, ou o assunto principal do livro, ou
todos estes pontos são distintos. Porém, a depender do tipo de geometria que você
considera9, duas retas paralelas podem se encontrar no infinito. Da mesma maneira, ainda
que textos paralelos não sejam iguais, o ponto comum sobre eles está no Infinito, em Jesus.
A chave hermenêutica é Jesus e para Ele todos os assuntos bíblicos convergem. Vejamos dois
tipos básicos de paralelismo.
◦ Paralelismo real: o mesmo assunto em vários textos. Nem sempre são utilizadas as
mesmas palavras literais mas o assunto de um texto pode ter relação estreita ou remota
com outro. Já vimos um exemplo (Isaías 29:13 com Marcos 7:6), e neste caso o assunto
é exatamente o mesmo, ou seja, a nação de Israel cultuava a Deus apenas externamente,
nas formalidades, mas não no coração, na vida. Há, porém, textos que tratam de
assuntos semelhantes ainda que não haja citação direta de um por outro. Ex: Pv 29:20
“Você já viu alguém que se precipita no falar? Há mais esperança para o insensato do
que para ele” e Tiago 1: 19 e 20 “Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja
pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não opera
a justiça de Deus”. É possível perceber em ambos os textos a necessidade de prudência
ao falar; o assunto de um (precipitação na fala) confirma o de outro (a fala que gera a
conclusão precipitada); o assunto do segundo (ira humana não pode produzir justiça
divina) amplia o do primeiro etc.
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Vivan, Luiz Carlos. “Duas Retas Paralelas se Encontram no Infinito?”. Em
http://recordandomatematica.blogspot.com/2015/08/duas-retas-paralelas-se-encontram-no.html, acesso em
17/4/2019.
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Não estamos utilizando o termo “Paralelismo Verbal” segundo o sentido técnico de língua portuguesa, que confere
regras de estilo para utilização de verbos (tempo e modo), mas no sentido mais básico, ou seja, paralelismo de
palavras.
5
5) A importância do entendimento do propósito do escritor de um determinado livro
Os livros bíblicos têm um assunto principal, um propósito que o escritor quer passar. Há muitos
tipos de texto (poético, profético, cartas etc) mas há dois tipos básicos: o narrativo e o discursivo.
Textos narrativos são os que descrevem eventos históricos, como a trajetória de uma pessoa ou de
parte de sua vida (ex: Ester), de um evento específico (ex: Neemias, que descreve a saída do povo
de Babilônia para a reconstrução da cidade e dos muros de Jerusalém), de um período da história
de um povo (ex: Êxodo, que conta a história de Moisés, a libertação do povo de Israel e seu caminho
no deserto; Atos, que conta a história dos apóstolos e da igreja primitiva, da ascensão de Jesus até
a chegada de Paulo a Roma; os 4 evangelhos) etc. Tais livros ensinam princípios, mandamentos ou
outros assuntos, mas no decorrer da narrativa. O assunto principal do livro se desenvolve enquanto
a história é contada, e saber o propósito de cada autor ajuda muito na compreensão do livro, dos
trechos, dos assuntos etc.
São perguntas importantes a se fazer em textos deste tipo: a) quem é (são) o principal(is)
personagem(ns)? b) qual o assunto principal (história de amor, conflito, viagem, crise local)? c)onde
ocorre esta história? d)quando ocorre esta história? Tomemos o livro de Juízes: a) principais
personagens: os juízes, que eram líderes militares ou civis que libertavam o povo de Israel de seus
opressores; b) assuntos principais: a falta de liderança (depois da morte de Josué), idolatria,
apostasia, opressão de povos estrangeiros e libertação de Deus através dos juízes c) Onde: terra de
Canaã ainda não totalmente conquistada d) quando: entre a morte de Josué a instituição da
monarquia, com Saul, no período de 1380 a 1050 a.C., aproximadamente.
Textos discursivos são os que tratam de assuntos, temais mais que de ação. Podem trazer doutrina
(ex: as cartas de Paulo, Pedro, João), poesia/sabedoria (ex: Cânticos, Provérbios, Eclesiastes),
instruções (ex: Filemom), profecia (ex: Apocalipse, Isaías) etc. Eventualmente uma história pode ser
narrada, mas dentro do tema desejado pelo autor. Algumas perguntas importantes: a)quem
escreveu? b)por que escreveu? c)como as ideias são relatadas? d) quais ordens, conselhos,
ensinamentos estão sendo passados pelo autor? Tomemos como 1 Coríntios: a) quem: Paulo b) por
que: para tratar problemas doutrinários e práticos da comunidade de fé deixada em Corinto c) como
as ideias são relatadas: Paulo trata dos assuntos que lhe chegaram, noticiados por alguns de seus
discípulos, e passa a ensinar e corrigir a igreja a partir destes problemas d) ordens e conselhos:
exortação a unidade, prática do amor, ordem no culto, utilização dos dons na comunidade,
tratamento de pecados sexuais etc.
Por todo o visto, saber o propósito do autor é mais relevante em textos discursivos, mas mesmo nos
narrativos, há um motivo maior para o livro específico a ser estudado.
Aula 4 – 8/5/2019
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para entender melhor o que o autor quis dizer, sem deixar de lado todas as outras ferramentas
exegéticas e hermenêuticas disponíveis.
Aramaico: parecido com o hebraico, mas não é um dialeto. A partir de 732 a.C., com a queda
da Samaria, o aramaico dominava as províncias do norte do Império Assírio. Quando passou
a ser a língua oficial do Império Persa, tomou conta de todo o ambiente bíblico. Depois da
conquista de Alexandre Magno (336 - 323 a.C) a língua oficial passou a ser o grego, mas o
aramaico estava de tal modo implantado que continuou sendo falado nas regiões
anteriormente ocupadas pelos persas.
A Bíblia contém poucos textos em aramaico, por isso seu estudo não é priorizado entre os
exegetas. Temos um versículo em Gênesis (31:47), um em Jeremias (10:11), parte de Daniel
(2:4 a 7:28), e dois trechos em Esdras (4:8 a 6:18 e 7:12-26). Existem também estudos que
sustentam o aramaico como língua original de Tobias e do Evangelho de Mateus.
A língua que Jesus falava no dia-a-dia era o aramaico, mas é provável que tenha estudado
hebraico, pois sabia ler os profetas, como mostra o episódio na sinagoga de nazaré (Lc 4,16-
20). Podia também ter alguma noção do grego, pois era a língua internacional de então.
11
Da Rosa, Luiz. As Línguas Bíblicas. Em https://www.abiblia.org/ver.php?id=1177, acesso em 17/4/2019.
12
= יque pronuncia-se Yodh ou Yud = letra Y; = הque pronuncia-se He ou Hêi = letra H; = וque pronuncia-se Waw ou
Vav = letra V; = הque pronuncia-se He ou Hêi = letra H. Retirado de “Quem é o grande ‘Eu Sou’?” em
https://www.raciociniocristao.com.br/2014/05/voce-sabe-quem-yhwh-eu-sou/, acesso em 17/4/2019.
13
As línguas originais da Bíblia. Em https://www.palavrasdoevangelho.com/as-linguas-originais-da-biblia/ acesso em
17/4/2019.
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6.2 A História Antiga e a Arqueologia
História e Arqueologia fazem parte do estudo de qualquer texto, bíblico ou não. Servem para situar
o tempo, a cultura, a política que estavam por trás do texto escrito à época. Fazem parte, para nós
da Isagogue Geral (ou Introdução Bíblica), junto com a Geografia Bíblica. Não há como tecer maiores
comentários, mas daremos alguns exemplos que apenas dão uma parca ideia da importância destas
matérias para a hermenêutica.
Ex de Arqueologia14:
“Em 1993, arqueólogos descobriram na região de Tel Dan (norte de Israel) uma estela (pedra) que
celebra a vitória do rei de Damasco (capital da Síria) sobre a 'Casa de Davi'”. O artefato – datado
para o século VIII a.C. – seria a primeira evidência extrabíblica da existência do rei Davi. Ocorre que
o hebraico não possuía vogais, por isso a tradução geralmente não é fácil. Na inscrição aparecem as
seguintes consoantes: BYT DVD. Inserindo as vogais podemos lê-la como BeYT DaViD (“Casa de
Davi”) ou como BeYT DoD (“Casa do amado”). A expressão “Casa de Davi” seria uma referência à
dinastia davídica (como “casa de Jeroboão”, cf. 1Rs 13,34). A expressão “Casa do Amado” seria uma
referência à Jerusalém (como “casa do Sol”, cf. Js 15,10)”.
Esta referência externa reforça a historicidade do rei Davi.
Ex de História Bíblica15:
“A Bíblia hebraica apresenta os querubins com a função de guardiões (Gn 3:24; Ez 28:16) e montaria
de Javé (Sl 18:10). Dotados de asas e corpo de animais, têm aparência semelhante aos lamassus
assírios/persas e esfinges egípcias (Ez 1;10).
Na iconografia do Antigo Oriente Próximo aparecem ilustrando tronos de reis/divindades. Isso
explica a fórmula: “Jávé se assenta sobre os querubins” (2Sm 6:2). Não eram vistos como “anjos”
(mensageiros celestes), mas como guardiões. Não eram percebidos como meninos peladinhos e
gordinhos alados (como na iconografia renascentista), mas seres com aparência imponente,
intimidadora”.
Esta referência corrige a ideia que temos ao ler “anjo” na bíblia.
Na maioria das bíblias de estudo encontramos alguns mapas e descrições sobre como era a
geografia de alguma época específica sobre o livro que estamos lendo. Nosso curso não é sobre
14
Mendonça, Jones F. A "CASA DE DAVI" NA ESTELA DE TEL DAN. Em
http://numinosumteologia.blogspot.com/2019/04/a-casa-de-davi-na-estela-de-tel-dan.html acesso em
17/4/2019.
15
Mendonça, Jones F. QUERUBINS EM RUAS DE FOGO. Em http://numinosumteologia.blogspot.com/2017/05/a-
bibliahebraica-apresenta-os-querubins.html acesso em 17/4/2019.
16
Silva, Israel. Introdução à Geografia Bíblica – A Terra de Israel. Em https://acruzhebraica.com.br/antigo/introducao-
geografia-biblica-terra-de-israel/. Acesso em 77/5/2019.
8
Geografia Bíblica, mas daremos alguns exemplos de como esta matéria influencia na compreensão
do texto.
Ex: Deuteronômio 11:10-12. Este texto trata da diferença entre a terra do Egito e a de Israel. O Egito
tem geografia plana (como o Rio Grande do Sul) e toda a sua cultura de alimentos se desenvolveu
às margens do rio Nilo, que com suas inundações deixava o solo pronto para o plantio e adubado
para a agricultura. A terra de Israel tem relevo acidentado, com vales e montanhas, mais parecido,
nesse sentido, com o Rio de Janeiro. E o texto usa uma figura de linguagem, “da chuva dos céus
beberá as águas”, para se referir que lá a agricultura depende da chuva; e que por isso, depende de
dos céus, depende de Deus.
Ex: Êxodo 16:35. Entre o Egito e Israel há cerca de 500km – alguns dizem 430km, a distância entre
Rio e São Paulo – a depender da escolha da rota, e obviamente não justificam 40 anos de caminhada.
Com certeza as caravanas daquele período faziam esse trajeto em cerca de 1 mês. Há algo a
considerar na narração bíblica para além de uma simples viagem do Egito para a Terra Prometida.
Há várias respostas: as guerras pelo caminho, os constantes acampamentos no deserto, a
complicada movimentação de 3 milhões de pessoas e, principalmente, o pecado do povo, o que fez
Deus retardar a chegada para esperar que a geração que saiu do Egito morresse e entrasse apenas
os filhos, com exceção de Josué e Calebe. Hoje é possível fazer a travessia Jerusalém-Cairo em 12
dias a pé (450km em 6 horas por dia, a 6km/h, cada dia 36km percorridos), apesar de ser uma
aventura complicada (deserto, calor, conflitos na região etc).
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Aula 5 – 15/5/2019
Antes de prosseguir com a matéria, ensinar a fazer hermenêutica de um texto, na prática. As
ferramentas hermenêuticas estarão no seguinte formato: CAIXA ALTA.
Mateus 10:28: E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele
que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.
E aí vem o verso 28: não temam os que podem matar o corpo (soma), mas o que pode tanto a alma
(psyche) quanto o corpo (soma) lançar no inferno (geena).
2 - Analisando o texto grego [AUXÍLIO EXTERNO]: Geena = literalmente Ge-Hinom ou Vale de Hinom.
Que vale era esse? Jr 7:30 a 34 diz que neste vale eram queimados os filhos dos israelitas que
adoravam outros deuses [CONTEXTO REMOTO – PARALELISMO VERBAL]; sacrificavam os filhos para
terem favores materiais. Coisas que Deus nunca ordenou. Também é mencionada em Is 30:3317 e
66:24 de forma indireta. O rei Josias, fazendo um conserto com Deus, profanou o lugar, para que
parasse de ser feita esta adoração a Moloque (2 Rs 23:10). O termo “inferno” é uma tradução
imprecisa, não aparece no original, por isso temos de ir a outras versões [AUXÍLIO EXTERNO – AS
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[AUXÍLIO EXTERNO - ARQUEOLOGIA] “Nome do lugar em que eles faziam seus filhos passarem pelo fogo para
Moloque. O nome do lugar era Tofete, e diziam que era chamado assim porque eles dançavam e tocavam pandeiros
[hebr.: tuppím] por ocasião da adoração, para que o pai não escutasse os gritos do filho quando o estivessem
fazendo passar pelo fogo, e para que seu coração não ficasse agitado e ele o tirasse da mão deles. E esse lugar era
um vale que pertencia a um homem chamado Hinom, de modo que era chamado de 'Vale de Hinom' e de 'Vale do
Filho de Hinom'. E Josias conspurcou [profanou] aquele lugar, reduzindo-o a um lugar impuro, para nele se lançarem
carcaças e toda impureza, a fim de que nunca mais subisse ao coração do homem fazer seu filho ou sua filha passar
pelo fogo para Moloque” (Biblia Rabbinica, Jerusalém, 1972). O Vale de Hinom, em https://www.cafetorah.com/o-
vale-de-hinom/ acesso em 15/5/2019.
10
MUITAS VERSÕES DA BÍBLIA] ou ao original para entender melhor.
Este “o que pode lançar a alma e o corpo...” no grego é um artigo acusativo masculino; pode ser
“aquele que”. Jesus parece não mais se referir a várias pessoas, como “os que” matam o corpo, mas
a um ser específico, que lança corpo e a alma (vida) na geena. A vida – ou alma, ou psyche - quem
pode matar? O HOMEM, você. Eu. No contexto imediato, é o espírito do homem que se oporia à
pregação e mataria os apóstolos (corpo) e tentariam exterminar com sua vida. Não temam os que
matam apenas o corpo, que só podem infligir castigos corporais, mas sim aquele que lança corpo e
vida na destruição.
Também é possível ver uma terceira figura: o DIABO. Com suas mentiras ele também pode lançar
os discípulos na destruição. Se, durante a caminhada, o discípulo para de crer em Jesus, assim como
Pedro afunda em meio às águas, sua fé, sua vida pode ser destruída – ainda que não definitivamente
– pelas ciladas do inimigo.
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Judeu: nome que se dá ao natural de Israel no NT. A origem mais primitiva deste povo é o
povo hebreu, já que Abraão é designado por esta origem (Gn 14:13), que se refere aos
descendentes de Héber. O capítulo 10 de Gênesis fala dos descendentes de Noé e das nações
que se formaram a partir deles. Noé teve três filhos: Sem, Cam e Jafé, além de outros mais
que nasceram depois do dilúvio. Héber foi um dos trinetos de Sem, filho de Noé. Segundo a
tradição judaica, Héber teria se recusado a participar da construção da Torre de Babel e o
idioma de seu povo foi preservado, o qual recebeu o nome de seu “protetor”, por isso a
língua é hebraica.
O termo “israelita” é a versão em português do termo “filhos de Israel” (Bnei Yisrael). Ish ra
El é “aquele que luta com Deus”, nome que recebeu Jacó após ter lutado com Deus. Assim,
Jacó (Israel) é descendente de um hebreu (Abraão), assim os termos se relacionam. De certa
forma, todo o povo de Israel é também hebreu.
Por fim, o termo judeu vem da tribo de Judá, um dos 12 filhos de Israel (Jacó). Há três razões
porque este é o termo mais utilizado hoje: 1) é a tribo de maior proeminência no período de
maior glória de Israel, o dos Reis, sendo Davi (e o próprio Jesus) seu descendente; 2) foi a
tribo que restou (junto com Benjamin) após a aculturação do reino do Norte pelo Império
Assírio em meados de 700 a.C, que abarcava as outras dez tribos (eram os samaritanos da
época de Jesus, um povo miscigenado); 3) é a região em que ficava o templo de Israel após
o retorno da Babilônia;
O judeu é, portanto, o povo de Israel, escolhido por Deus no passado e que, na época de
Jesus, tanto se opôs à sua pregação. Paulo, em Romanos 9 a 11, descreve esta complicada
e maravilhosa história do povo judeu e seu relacionamento com Deus. Vejamos: Pois eu até
desejaria ser amaldiçoado e separado de Cristo por amor de meus irmãos, os de minha raça,
o povo de Israel. Deles é a adoção de filhos; deles é a glória divina, as alianças, a concessão
da lei, a adoração no templo e as promessas. Deles são os patriarcas, e a partir deles se traça
a linhagem humana de Cristo, que é Deus acima de tudo, bendito para sempre! Amém.
Romanos 9:3-5. E ainda: Nem por serem descendentes de Abraão passaram todos a ser filhos
de Abraão. Pelo contrário: "Por meio de Isaque a sua descendência será considerada".
Noutras palavras, não são os filhos naturais que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa
é que são considerados descendência de Abraão. Romanos 9:7,8
Gentios: são todos os povos não judeus. Especialmente no NT os romanos e os muitos povos
de seu império eram denominados gentios. Desde Pôncio Pilatos até a mulher siro-fenícia
(ou seja, de origem síria e fenícia), para um judeu, todos eram “as gentes”, ou seja, os povos
que não foram escolhidos por Deus. Durante toda a narrativa do NT vemos a tensão que
ocorre entre o que era judeu e o que não era. Jesus mesmo, judeu, se relacionava com
gentios de diferentes maneiras.
Ex: em Mt 15:21 a 28 vemos claramente este conflito, em que Jesus compara os judeus a
filhos e os gentios a cães. Pela boca da siro-fenícia, falam as mulheres e os representantes
gentios marginalizados naquelas comunidades cristãs, confirmada pela resposta de Jesus
que enxerga fé e humildade em suas palavras, o que é ainda ampliado por Paulo, que
justamente implica que é verdadeiro israelita aquele que o é pela fé, não pelo nascimento.
Igreja: é a comunidade que nasce dos que creem em Jesus. Na verdade, a igreja é iniciada
pelos judeus. Foi profetizada por um judeu – Jesus (Mt.16:18) -, começou com apóstolos
judeus (Mt.10:1-5), na cidade judaica de Jerusalém, por ocasião da Festa Judaica de Shavuot
– Semanas (conhecida em grego por Pentecostes, Atos 2). No início da Igreja, a maioria dos
12
“membros” era composta por judeus ou, no máximo, prosélitos convertidos ao Deus de
Abraão, Isaque e Israel (Atos 2:5,9-11,37-42)18. O livro sagrado era o Tanach (acrônimo para
Torá – Lei, Neviim – Profetas e Ketuviim – Escritos; isto é, o Antigo Testamento), conforme 2
Timóteo 3:16, uma vez que o Novo Testamento ainda não havia sido escrito pelos apóstolos
e profetas (todos judeus, com exceção de Lucas).
Logo no ínício, os gentios começaram a fazer parte, através da pregação dos judeus, da
igreja. Em Atos 2 (Pentecostes) ocorre o milagre de Pedro falar em sua língua (aramaico) e
cada um dos presentes ouvir em sua língua materna (At 2:9 a 11). O episódio mais
emblemático é o de Atos 10, com a história da visão de Pedro sobre os animais impuros e a
visita à casa do centurião romano Cornélio. A frase de Deus para o apóstolo é “não
consideres impuro o que Deus purificou”, indicando que o próprio Senhor estava chamando
seu povo em meio a todas as línguas, povos e raças.
Por fim, o apóstolo Paulo, judeu que falava o grego (língua culta mundial da época, junto
com o latim), recebeu a revelação de que em Cristo não há judeu nem grego, escravo ou
livre, homem ou mulher, porque todos somos um em Cristo.
18
Dutra, Israel. Mistério de Cristo: judeus e gentios na igreja. Em https://www.gospelprime.com.br/misterio-de-
cristo-judeus-e-gentios-na-igreja/ acesso em 7/5/2019.
19
Em https://www.youtube.com/watch?v=T4phUsvMu4k acesso em 7/5/2019.
13
conhecido.
Se olharmos para a lei de Deus do AT vemos como se trata, por exemplo, o adúltero. Lv 20:10 diz
que devem ser apedrejados o adúltero e a adúltera. Jesus, ao se deparar com a mulher adúltera –
curiosamente o homem não foi encontrado – não a apedreja e ainda lança sobre os acusadores o
peso de suas próprias acusações. O que é isso se não a revelação de Deus sobre a profundidade de
todo o pecado humano e seu consequente apedrejamento? Jesus não disse que ela não merecia o
apedrejamento; ela merecia. Ele apenas mostrou que todos, absolutamente todos, tropeçavam em
algum ponto da lei, e quem quisesse ser defensor da lei, que o fosse para os outros e para si mesmo.
Por isso, Jesus foi o “apedrejado” em lugar de todo o pecador que n'Ele crê.
7.2.3 - A Bíblia contém ciência mas não é um livro científico; contém história, mas não é um livro
histórico; contém geografia, mas não é um livro geográfico
Há erros na bíblia. Contradições. Heresia? Não. A questão é que nossa visão do que é erro não é a
visão do que para o escritor bíblico o era. Um bom exemplo é como enxergamos a narrativa da
criação do homem e sua queda. Alguns sustentam ser literal, outros apenas linguagem figurada
(afinal, há uma cobra falante na história, correto?).
Outros detalhes ficam perdidos no pós-dilúvio. Alguns teólogos dizem que o dilúvio não foi
universal, ou que não exterminou todos os homens. Ainda sim, a ideia central não é perdida: Deus
trouxe um juízo suficientemente universal para parar a impiedade dos homens na terra durante
aquele tempo.
Como descrever a mulher de Caim? Era uma de suas irmãs ou uma mulher da raça pré-adâmica?
Em qualquer resposta, o hermeneuta deve buscar ser honesto e não ter medo das respostas que
obtém, sempre tendo em conta que tais aspectos não são essenciais, mas podem ajudar na
compreensão do texto. Muitas vezes há imprecisões históricas, científicas ou geográficas, e à
medida que os estudos avançam, podemos compreender um pouco melhor o universo “distante”
do texto bíblico.
7.2.4 - O objetivo de Deus ao inspirar e revelar a palavra escrita (Bíblia) foi se revelar ao homem
A bíblia, apesar do livro maravilhoso que é, não tem a proposta de provar a existência de Deus de
forma científica. A ciência só pode provar aquilo que é observável, que mediante repetições em
ambiente controlado se mostra plausivelmente razoável como existente. A revelação de Deus ao
homem é algo – sempre – sobrenatural, e à medida que o conhecemos sentimos o desejo e até
necessidade de entender como Ele se revelou a outros homens na história. A bíblia é a história de
Deus com o homem, não a prova de sua existência.
20
Sentido Literal e Sentido Figurado. Em https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/sentido-literal-sentido-
figurado.htm acesso em 22/5/2019.
14
literais – e outros, como eu, acreditam se tratar de linguagem figurada, o reino de Cristo por toda a
era da igreja no coração das pessoas – posição amilenista. Uma situação rara de explicação, em Mt
16: 1 a 12, mostra Jesus falando com os discípulos sobre o tipo de linguagem que utilizara, dizendo
que não falava literalmente de fermento, de comida, mas dos fariseus, usando o fermento como
metáfora para o ensino deste grupo.
9) Figuras de linguagens
Para que entendamos o significado de uma palavra ou frase, temos de levar em conta o contexto
literário, ou seja, o sentido que as pessoas da época do texto davam àquela expressão. Não é raro
que com o passar do tempo o mesmo significante assuma significados distintos. Bom exemplo é
“coração”, que em nossa cultura está ligado a sentimentos, enquanto na bíblia quer dizer todas as
“fontes da vida”, ou seja, além de sentimentos os pensamentos, os desejos, as crenças. Davi era
“segundo o coração de Deus” não apenas porque “sentia” o que Deus sentia, mas porque pensava
de acordo com a mente de Deus para o seu tempo e inclinava sua vida em adoração a Jeová. Apesar
de sentir tristeza pela morte de seu filho, fruto de adultério com Bate-Seba, seu coração estava
inclinado a adorar a Deus, contrariamente a seus sentimentos.
9.1) Metáfora: uso de uma palavra ou expressão com o sentido de outra com a qual é possível
estabelecer uma relação de analogia22. Mais uma vez é preciso conhecer a cultura da época para
que se entenda o real significado. Chamar alguém de “burro” ou “jumento” em nossa cultura é
ofensa à intelectualidade, mas em Gn 49, quando Jacó vai abençoar seus filhos, Issacar é chamado
de “jumento de fortes ossos” (analogia com a força e determinação), Naftali de “gazela solta”
(analogia com velocidade e liberdade) e Dã de “serpente junto ao caminho” (analogia com
perspicácia e estratégia diante dos inimigos) etc.
9.2) Metonímia: substituição de uma palavra por outra, quando há relação de contiguidade, ou seja,
proximidade de sentido entre elas. É a substituição de palavras que guardam uma relação de sentido
entre si. A palavra “gordura” estava intimamente ligada às emoções, porque é nas entranhas que
há gordura. A maioria das ofertas veterotestamentárias tinha sangue – representando expiação,
preço pela culpa – e gordura – representando celebração, alegria, abundância. O sacrifício pacífico
de Lv 3 - que não era oferecido para pagar pecados, mas como gratidão - no verso 3 demonstra que
os sentimentos, a paixão do ofertante era simbolizada pelas entranhas, as vísceras que continham
a gordura. Por isso “gordura” é uma metonímia – palavra substituta - para “sentimentos”, “alegria”,
“abundância” etc. Ex: “Quão preciosa é, ó Deus, a tua benignidade, pelo que os filhos dos homens
se abrigam à sombra das tuas asas. Eles se fartarão da gordura da tua casa, e os farás beber da
21
Signo. Em https://www.soportugues.com.br/secoes/seman/seman4_2.php acesso em 22/5/2019.
22
Em https://www.significados.com.br/metafora/ acesso 22/5/2019.
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corrente das tuas delícias” Salmos 36:7,8.
9.3) Hebraísmos23: são figuras de linguagem próprias da cultura semítica antiga, muitas vezes sem
correspondência com a nossa cultura. Não é possível olhar para o texto e saber, a priori, o que o
escritor quer dizer, sendo necessário estudo diligente para adentrar a cultura da época. Nesse
ponto, não adianta fazer um estudo da língua, porque as palavras, ainda que traduzidas, assumem
diferentes significados a depender do contexto. Vejamos alguns tipos de hebraísmos.
9.3.1 – Hebraísmo de Posse ou Poder: “Moabe a minha bacia de lavar; sobre Edom lançarei o meu
sapato, sobre a Filístia jubilarei” Salmos 108:9. “Lançar o sapato” ou a “sandália” quer dizer tomar
posse ou dominar algo. “Pé” também pode significar poder ou posse. “Todo o lugar que pisar a
planta do vosso pé será vosso; desde o deserto, e desde o Líbano, desde o rio, o rio Eufrates, até ao
mar ocidental, será o vosso termo” Deuteronômio 11:24. “Porque convém que reine até que haja
posto a todos os inimigos debaixo de seus pés” 1 Coríntios 15:25.
9.3.3 – Hebraísmo de Contraste ou Antítese: o contraste é uma figura muito usada no hebraísmo
para passar ideias, conceitos, ensinamentos. É também conhecido como “paralelismo antitético”.
“O filho sábio alegra seu pai, mas o homem insensato despreza a sua mãe” Provérbios 15:20. “O
choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” Salmos 30:5. “Amei a Jacó e aborreci
a Esaú” Rm 9:13. “Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer,
temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus” 2 Coríntios 5:1.
9.3.4 – Hebraísmos de Poder e de Força: o mundo semita se utilizava muito de objetos concretos
para designar coisas abstratas. Muitos exemplos são encontrados e a dificuldade é saber o que se
passava na mente do autor, mas em alguns pontos não é tão complicado. Um dos usos mais comuns
é o de poder ou força.
“O Senhor é o meu rochedo, e o meu lugar forte [segurança], e o meu libertador; o meu Deus, a
minha fortaleza, em quem confio; o meu escudo, a força [chifre ou qeren] da minha salvação, e o
meu alto refúgio” Salmos 18:2 ou “E quebrarei todas as forças [chifre] dos ímpios, mas as forças dos
justos serão exaltadas” Salmo 75:10. Isso nos ajuda a entender o significado dos chifres em Daniel
e em Apocalipse, que significam reinos, domínios, impérios.
23
Bentho, Esdras Costa. Hermenêutica Fácil e Descomplicada, p. 210 e seguintes. CPAD.
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