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HERMENÊUTICA BÍBLICA
Seminário Teológico Peniel
Turma Itapeva
2022
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Hermenêutica – SEMINÁRIO TEOLÓGICO PENIEL
Unidade l
I - Introdução à Hermenêutica Bíblica
Conceito de Hermenêutica
A palavra “Hermenêutica” é derivada do termo grego “hermeneutike” que, por sua vez, se deriva
do verbo “hermeneuo”.
O conceito de hermenêutica pode ser descrito como: “A ciência e a arte de interpretação”. Como
ciência nos ensina os princípios, as leis e os métodos da interpretação; e como arte, nos ensina como aplicar
suas regras.
A hermenêutica sacra é o estudo metódico dos princípios e regras de interpretação das Sagradas
Escrituras. Ela se divide em duas subcategorias:
● - Geral
Aplica-se à interpretação do texto bíblico inteiro (Princípios de interpretação histórico, gramatical
e teológico).
● - Especial
Aplica-se a gêneros específicos (Parábolas, alegorias, metáforas, etc…).
A Importância da Hermenêutica
Leia, com atenção, o texto de Mt 8.21, 22 e explique o significado das expressões “…sepultar meu
pai…” e “…deixa aos mortos sepultar os seus próprios mortos…”.
Este simples exercício nos chama a atenção para uma frase interessante: “Alguém já afirmou que
não há leitura que não seja hermenêutica, porque ler sem entender não é ler, é apenas articular palavras”.
É preciso ler e entender o que se está lendo, por causa do perigo das heresias, pois a origem delas
está na ausência de uma hermenêutica sadia. Qual a implicação de se ensinar uma heresia?
Tiago 3.1 nos responde essa pergunta: havia na época e entre os destinatários de Tiago uma
ansiedade muito grande, da parte de muitos, para falar em público. No entanto, havia uma falta de
reconhecimento de que a qualificação fundamental do mestre é o “saber”. Os mestres levam sobre si uma
grande responsabilidade, e serão julgados com especial rigor em virtude da influência que exercem sobre
os outros. Ex. O fundador da antiga seita “Meninos de Deus”, hoje denominada “A Família”, era
evangélico.
Paralelamente, muitas outras seitas estão surgindo por causa da interpretação errada da Bíblia. Precisamos
de uma hermenêutica sadia, até mesmo no púlpito de nossas igrejas.
Outro fator importante que nos mostra a importância da hermenêutica é porque existem textos de
difícil compreensão. Em 2 Pe 3.16 Pedro admite que “há certas coisas difíceis de entender (na Bíblia), e que
os ignorantes e instáveis além de as deturparem, deturpam também as demais Escrituras, para a própria
condenação deles. A conseqüência é que arrastam consigo multidões à perdição.
A dificuldade de interpretação não confere “carta branca” a ninguém para uma interpretação
particular, pois 1 Pe 1.20 diz: “…nenhuma profecia da Escritura é de particular elucidação…”.
Por isto, precisamos da hermenêutica!
A Necessidade da Hermenêutica
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Hermenêutica – SEMINÁRIO TEOLÓGICO PENIEL
Já vimos em 2 Pe 3.16 que existem coisas de difícil entendimento na Bíblia, e essa dificuldade
bloqueia a nossa compreensão espontânea do significado do texto. Quanto mais bloqueios à compreensão,
tanto maior a necessidade da hermenêutica.
A origem desses bloqueios está na existência de abismos que existem entre nós e os escritores
bíblicos:
● Abismo Histórico
O fato de estarmos, largamente, separados no tempo dos escritores e primitivos leitores da Bíblia,
torna difícil a compreensão da mesma. Ex. A antipatia de Jonas pelos Ninivitas por causa de suas crueldades.
● Abismo Cultural
Grande diferença cultural separa-nos dos tempos bíblicos, e dificulta a nossa visão sobre a realidade
cultural da Bíblia, sem utilizarmos os “óculos” da nossa própria cultura. A falha em reconhecer essas
diferenças, pode resultar em erro de interpretação. Ex. O costume hebreu de lavar os pés.
● Abismo Linguístico
As línguas em que a Bíblia foi escrita, variam da nossa tanto em estrutura como em expressões
idiomáticas. Ex. As 3 categorias de amor: fileω, eros e agapaω (fileo, eros e ágapa) são representados por
uma única palavra em português: amor.
● Abismo Filosófico
Opiniões acerca da vida, das circunstâncias, da natureza e do universo variam de acordo com a
cultura de quem escreveu e de quem lê. Por isso, precisamos conhecer tanto as similaridades como as
diferenças entre a nossa cultura e a cultura dos povos da Bíblia.
As Escrituras pois, tratando de temas tão variados como céu, terra, tempo, eternidade, visível e
invisível, material e espiritual, e escrita por pessoas distintas em modo de vida e tempo, necessitam, para
uma reta compreensão, do auxílio e conselho que a Hermenêutica pode oferecer.
TEOL. BÍBLICA
TEOL. SISTEMÁTICA
● Estudo do Cânon
Estudo sobre a inspiração da Bíblia e do processo histórico da sua produção.
● Crítica Textual
Averigua a originalidade de um texto por meio dos manuscritos, por não termos os Autógrafos
(Baixa Crítica).
● Crítica Histórica
Averigua a autenticidade da autoria, da data, da circunstância, do conteúdo e unidade literária de
cada livro da Bíblia (Alta Crítica).
● Hermenêutica Exegética
Aplica os princípios da hermenêutica para extrair do texto o significado correto.
● Teologia Bíblica
Estuda o desenvolvimento do conhecimento teológico no A.T. e N.T. (revelação divina) através dos
tempos.
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● Teologia Sistemática
Organiza os dados bíblicos de maneira lógica antes que histórica, dispondo as informações sob
tópicos.
Aplicar
Aplicar o princípio extraído do texto à comunidade contemporânea, através da orientação do
Espírito Santo. A aplicação pode ser múltipla.
Normas da Linguagem
Princípio fundamental: “Tanto quem fala/escreve, como quem ouve/lê, têm que respeitar as normas
do código da linguagem”.
Toda língua possui os seus códigos e, a partir do contexto histórico e cultural, cada código em si
tem um valor, um significado e deve ser respeitado. Se cada um desse o seu próprio significado aos códigos
lingüísticos, não haveria possibilidade de comunicação.
Ex. Vida eterna (Cristianismo) = salvação
Vida eterna (Hinduísmo) = reencarnação
A língua está diretamente ligada ao pensamento do autor que escreveu e, por isto, devemos entender
o seu pensamento a partir da estrutura da sua obra literária (quando possível, à partir das línguas originais
da Bíblia).
Posição liberal - os escritores bíblicos foram inspirados no mesmo sentido em que o foi qualquer grande
escritor. Eles escreveram concepções religiosas de uma época, de um povo.
Posição Neo-ortodoxia – a maioria crê que Deus se revelou através de atos e não de palavras, sendo a
Bíblia, a concepção humana sobre os atos de Deus. Ela “torna-se” a Palavra de Deus de forma muito pessoal;
depende do significado que tem na vida e mente de cada indivíduo. A ênfase é a desmitologização, isto é,
tirar o mitológico, o sobrenatural, para se chegar à Verdade.
Posição Ortodoxa – O Espírito de Deus trabalhou por meio dos escritores bíblicos, usando o estilo pessoal
de expressão; o que eles produziram foi, literalmente, “soprado por Deus” (2 Tm 3.16). Nem os escritores,
nem os escritos deles foram atingidos por concepções particulares. Deus guiou-os de tal modo que o que foi
produzido traz o selo celeste: “assim diz o Senhor”.
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● - Consciência de que Não Haverá Nova Revelação
Por mais dócil, obediente e piedoso que seja o cristão, o Espírito Santo não comunicará qualquer
ensinamento que já não esteja contido na própria Escritura. O estudo da Bíblia, faz os homens sábios até ao
que está escrito, mas não além disso (Is 8.20).
● - Novo Nascimento
Este acontecimento torna o homem sensível às coisas concernentes ao Reino de Deus (1 Co 2.14; 1
Jo 2.20; 2 Co 4.6).
Autenticidade do Significado
É possível obter o verdadeiro significado do texto bíblico? Qual é o significado válido de um texto?
Há múltiplos significados? Se há, quais são mais válidos? Quais os critérios para se averiguar? Este é um
problema decisivo em hermenêutica e, para tal, existem duas filosofias:
O relativismo contemporâneo - diz que o significado de um texto é aquilo que ele significa para mim.
O absolutismo bíblico - diz que o significado de um texto é aquele pretendido pelo autor.
Banir o significado determinado pelo autor, é rejeitar o único princípio normativo obrigatório que
poderia dar validade ao texto, porque se o significado do texto não é o do autor, então não há interpretação
válida, uma vez que o texto não pode ter significado determinado ou determinável. O resultado disso é a
multiplicidade de interpretações, abrindo espaço para heresias.
A responsabilidade do exegeta é descobrir, o quanto lhe for possível, o significado pretendido pelo
autor, isto é, o que Deus queria dizer em determinada passagem, para evitar o número de interpretações
correspondentes aos leitores e fazer diferença entre o ortodoxo e o herético. Aqui se ressalta a importância
entre a interpretação e a aplicação.
● Fator espiritual
O compromisso espiritual, ou sua ausência, influencia a capacidade de perceber a verdade sagrada
(Rm 1.18-22; 1 Co 2.14; Ef 4.17-24). Onde se encaixa o fator espiritual, se, hermeneuticamente, o
significado das Escrituras deve ser encontrado pelo estudo cuidadoso das palavras, da cultura e da história?
É só lembrar que a Bíblia trata de verdades que não ficam apenas no nível do intelecto, necessitam da
iluminação que o Espírito Santo concede, aos que vivem na luz do conhecimento de Deus.
● Inerrância da Bíblia
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Este é o mais controverso dos assuntos referentes à hermenêutica: existe ou não erro na Bíblia? Os
conservadores crêem que a Bíblia é totalmente sem erro, enquanto que os liberais crêem que a Bíblia não
erra quando fala sobre a salvação e a fé cristã, mas pode errar nos fatos históricos e em outros detalhes.
Para a hermenêutica sadia, a definição do pressuposto acerca da Inerrância da Bíblia é de suma
importância. Eis alguns argumentos quanto a este debate:
a) Posição de Jesus para com a Bíblia – sendo Jesus o Filho de Deus, então Sua atitude para com
a Bíblia nos proporcionará a melhor resposta à questão da Inerrância.
Ele respeitou igualmente, todas as narrativas históricas do V.T. como fontes de confiança (Mt
5.17-20; Jo 10.35).
Usou as histórias que os críticos rejeitam como base nos seus discursos (O dilúvio Mt 24.37-
39; Sodoma e Gomorra Mt 10.15; Jonas Mt 12.39-41).
Usou as Escrituras como arma de ataque e defesa, quando tentado por Satanás, e nem mesmo
este contestou o texto sagrado (Mt 4.4-11).
Usou o V.T. como competente tribunal de apelação em suas controvérsias com os escribas e
fariseus.
2.1 - Literal
Sentido literal das palavras.
2.2 - Midráshica
Um dos motivos dominantes da “midráshica” era investigar e elucidar, por todos os meios
exegéticos viáveis, as possíveis aplicações e significados velados da Escritura. Neste esforço de identificar
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significados ocultos de detalhes gramaticais, incidentais, e especulações numéricas arquitetadas, acabava-
se perdendo o verdadeiro significado do texto.
2.3 – Pesher
Existia, especialmente, na comunidade de Qumran. Criam que tudo quanto os antigos profetas
escreveram tinha significado profético velado, que deveria ser, iminentemente, cumprido por intermédio
deles.
2.4 - Alegórica
Era mais ou menos determinada pela filosofia grega. Interpretavam, alegoricamente, tudo que não
concordasse com a sua filosofia e que ofendesse a sua lógica. Assim, reduziam verdades bíblicas em
alegorias. Ex. A tradição Mosaica (a criação, travessia do mar vermelho, etc…)
3.2 - Literal
Atribuíram valor ao sentido literal da Escritura e rejeitaram o método alegórico. Defendiam com
zelo o princípio histórico-gramatical de interpretação.
● - Racionalismo
Posição filosófica que aceita a razão, como única autoridade que determina as opões de ação de
alguém.
● - Pietismo
Insistiam no estudo da Bíblia nas línguas originais, sob a influência do Espírito Santo.
A Inspiração parcial - a inspiração das Escrituras era parcial; admitindo-se possibilidades de erros
históricos e geográficos.
A Inspiração natural - a negação do caráter sobrenatural da inspiração das Escrituras; era vista como um
livro qualquer.
Além disto, aplicou-se à Bíblia um naturalismo consumado; tudo o que não estivesse conforme a
razão, deveria ser rejeitado. Ex. depravação humana, inferno, nascimento virginal, expiação vicária de
Cristo, etc…
Cada um desses pressupostos, influenciou profundamente a hermenêutica bíblica.
7.2 - Neo-ortodoxia
Neo: novo; ortodoxia: conforme a doutrina definida. É um fenômeno do século XX, e ocupa uma
posição intermediária entre a ortodoxia e o liberalismo. Posicionamento da Neo-ortodoxia:
A revelação - não é considerada como algo ocorrido num ponto histórico, o qual agora nos é transmitida
nos textos bíblicos; ela se dá quando alguém reage com fé à presença divina.
A infalibilidade ou inerrância das Escrituras - não tem lugar no seu vocabulário, pois ela é vista como
um sistema teológico conflitante e com diversos erros.
O sobrenatural - as passagens bíblicas que revelam o sobrenatural são vistas como mitos (coisa
inacreditável, sem realidade).
7.3- Ortodoxia
Posição que vamos estudar.
Unidade II
I - Princípios Gerais de Interpretação Bíblica
1. Regra: “Trabalhe, partindo do pressuposto de que a Bíblia tem
autoridade”.
Na questão de religião, o cristão se submete a uma das seguintes autoridades:
● - Tradição
Transmissão de valores espirituais, de geração em geração. Ex.: Doutrina da Virgem Maria.
● - Razão
A conclusão extraída pela mente é o supremo tribunal de recursos, isto é, ela decide o que é
fundamental para a fé em Deus.
● - As Escrituras
As Escrituras são o supremo tribunal de recursos. Ex.: A concepção virginal de Maria é aceita,
porque a Bíblia a ensina.
Os três princípios são válidos. Mas, em caso de conflito, qual autoridade será o árbitro final?
A primeira regra de interpretação diz que “a Bíblia é o supremo tribunal de recursos”. A sua
autoridade está relacionada com a inspiração; porque ela é a Palavra inspirada por Deus e que tem
autoridade.
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No estudo da Bíblia, você começa crendo que ela tem autoridade, para depois conhecer a sua
autoridade.
2.1 - Omissão
Citar só a parte que lhe convém, e deixar de lado o restante. Há dois tipos de morte na Bíblia: física
e espiritual. Quando Deus disse a Adão: “certamente morrereis”, estava se referindo a ambas as mortes.
Mas, quando Satanás disse à Eva: “é certo que não morrereis”, estava omitindo a morte espiritual.
2.2 - Acréscimo
Dizer mais do que a Bíblia diz. Eva acrescentou a frase: “nem tocareis nele” à ordem dada por Deus
a Adão. Acréscimos, torcem as Escrituras fazendo-as dizerem mais do que dizem, com o propósito de tornar
irracional a Palavra de Deus e indigna de ser obedecida.
Quando você estudar as Escrituras, deixe-a falar por si mesma. Não lhe acrescente nem lhe subtraia
nada. Deixe que ela seja seu próprio comentário. Compare Escritura com Escritura.
5. Regra: “Os exemplos bíblicos só têm autoridade, quando amparados por uma
ordem”.
Ao ler a Bíblia, fica evidente que você não deve seguir o exemplo de cada pessoa que encontra. Os
exemplos dignos de serem seguidos são aqueles que ilustram uma ordem bíblica.
Ex. A vida de Jesus: Ele usava vestes longas e alparcatas, normalmente andava a pé e nunca se
casou. Este exemplo de Jesus é digno, mas não se torna uma obrigação para os cristãos, porque não possui
uma ordem que o apoie. Por outro lado, Jesus também foi um homem de grande amor e compaixão. Este
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exemplo além de ser digno, também deve ser seguido, pois é amparado por uma ordem bíblica (Jo.
13.34,35).
Mas, existem exemplos bíblicos, não apoiados por ordens, que têm algum valor:
5.1 - Confirmação
Quando confirma o que você pensa, é que o Senhor o está induzindo a fazer. Você pode estar
convicto de que Deus quer que fique solteiro pelo resto da vida, e sua convicção é amparada pelo exemplo
de Jesus.
Perigo a ser evitado: Não fazer das experiências acima, uma ordem universal, pois são apenas
aplicações individuais de exemplos bíblicos não amparados por ordem.
Todas as partes da Bíblia são aplicáveis, todavia, a interpretação correta é essencial antes de procurar
aplicar, pois pode levar a mal-entendidos. Interpretar corretamente e aplicar devotadamente.
Algumas considerações:
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2 Tm. 2.15
Conclusão - qualquer conclusão a que você chegue, que seja diferente da posição evangélica histórica, deve
ser considerada suspeita e reavaliada.
Disciplina - não descanse nos ensinamentos que os outros lhes dão, antes, discipline-se a alimentar-se a sua
própria alma; desenvolva o equilíbrio “tanto/como”, recebendo o ensinamento dos outros e alimentando a
si próprio.
Confirmação - seja um cristão bereiano: confirme os ensinamentos recebidos (ainda que o pregador seja
renomado) com a Palavra de Deus, para formar a sua própria convicção.
9.1 - Geral
Aplicadas pelo Espírito Santo a todos os crentes, em todas as épocas. Ex. 1 Jo. 1.9.
9.2 - Específica
Feitas por Deus, a indivíduos em situações específicas. Estas também estão disponíveis, mas
precisam ser aplicadas pelo Espírito Santo especificamente, a você, como o foram aos beneficiários
originais. Ex. Is. 42.6,7; At. 13.47.
1. Introdução:
A análise gramatical fundamenta-se na premissa de que embora as palavras possam assumir uma
variedade de significados em contextos diferentes, elas têm apenas um significado intencional em qualquer
contexto.
Ex. Gosto de manga espada.
A manga da minha camisa é azul.
Ele manga de mim.
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A palavra “manga”, pode ter esses três significados, mas somente o contexto indicará qual deles foi
intencionado pelo autor.
A análise gramatical ajudará o intérprete a determinar a variedade de significados de uma palavra
ou grupo de palavras, e então declarar que o significado “X” foi o pretendido pelo autor.
● – Certeza
Para termos certeza, de que a nossa interpretação, é o significado que Deus intencionou comunicar;
● – Bases
Para termos bases para dizer que a nossa interpretação da Bíblia é mais confiável que as dos grupos
heréticos.
4.1 - Uma palavra pode ter apenas uma significação no contexto em que ocorre.
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Segundo Coccejus, todas as significações de uma palavra devem ser atribuídas a ela em qualquer
contexto em que ela apareça. Tal modo de proceder deve ser condenado, por ser puramente perigoso e causar
danos à verdade revelada nas Escrituras.
Ex. A palavra grega σαρ pode designar:
A parte sólida do corpo, exceto os ossos (1 Co. 15.39)
A natureza humana dominada pelo pecado (Rm. 7.25)
Se atribuirmos essas significações a Jo. 6.56, estaremos atribuindo pecado a Cristo.
4.2 - Se uma palavra é usada mais de uma vez num mesmo contexto, a suposição natural é que tem
sempre o mesmo sentido.
Em geral, um autor não usaria uma palavra em dois ou três diferentes sentidos numa só passagem.
Contudo, há algumas exceções onde o contexto indica claramente que a palavra não tem o mesmo sentido.
Ex. Mt. 8.22; 2 Co. 5.21.
5.1 - As definições e explicações que os próprios autores dão às suas palavras, constituem um dos mais
eficazes auxílios.
Ex. Hb. 5.14: “... mas o alimento sólido é para os adultos...”, que é explicado pelas palavras: “...
para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas
também o mal”.
Antitético - a idéia da Segunda linha contrasta agudamente com a da primeira. Ex. Sl. 37.21.
Verbal - usa palavras que se referem ao mesmo objeto. Ex. Hb. 4.12 e Ef. 6.17 usam a palavra “espada”
para se referirem à Bíblia.
Real - são passagens semelhantes, nas quais a identificação consiste não em palavras, mas em assuntos,
fatos, idéias, etc. Ex. Lv. 2.3; 10.13; 27.21; Nm. 5.9; 18.9,12,21; Mt. 10.10; 1 Co. 9.14; Gl. 6.6.
No entanto, para termos passagens paralelas, devemos entender que “não é suficiente que o mesmo
termo ou frase seja encontrado nas duas passagens (no caso de paralelo verbal); deve haver similaridade de
significado.
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6. O Uso Figurado de Palavras
A figura de linguagem é usada em sentido diferente daquele que lhe é próprio.
Metonímia - figura de linguagem que se baseia mais numa relação do que numa semelhança, e esta relação
é mais mental do que física, indicando relações como causa e efeito, sujeito e atributo, símbolo e coisa
simbolizada. Ex. Na parábola do rico e Lázaro, Abraão diz: “Eles têm Moisés e os profetas...” (Lc. 16.29).
Estes, naturalmente, significam seus escritos (símbolo e coisa simbolizada). “Não extingais o Espírito...” (I
Tess. 5.19), se refere às manifestações especiais do Espírito (causa e efeito).
Sinédoque - figura de linguagem que se baseia mais numa relação do que numa semelhança, e esta relação
é mais física do que mental. Nessa figura há certa identidade entre o que é expresso e o que se quer significar.
Uma parte é tomada pelo todo, ou o todo é tomado pela parte; o gênero pela espécie, ou a espécie pelo
gênero; o indivíduo pela classe, ou a classe pelo indivíduo; o plural pelo singular, ou o singular pelo plural.
Ex. Diz-se que Jafé foi sepultado nas cidades de Gileade (Jz. 12.7), quando, certamente queria-se indicar
uma cidade (plural pelo singular). Dn. 12.2 “E muitos dos que dormirem no pó da terra se levantarão...”
certamente não esta ensinando uma ressurreição parcial (a parte pelo todo).
Princípio hermenêutico - há um velho princípio hermenêutico, segundo o qual, as palavras devem ser
entendidas em seu sentido literal, a não ser que tal interpretação envolva uma contradição manifesta ou um
absurdo.
Idéia principal - o intérprete deve esforçar-se por descobrir a idéia principal, sem dar demasiada ênfase aos
detalhes. Quando os autores bíblicos empregaram metáforas, tinham em geral algum ponto específico em
mente. E mesmo que o intérprete seja capaz de descobrir outros pontos, deve se limitar aos que fazem parte
da intenção do autor. Ex. Rm. 8.17 – Paulo refere-se às bênçãos que os crentes recebem, com Cristo, do seu
Pai comum. A metáfora contida na palavra “herdeiro” poderia ser forçada demais se quiséssemos que ela
significasse a morte do Pai como testador.
Expressão inadequada – a linguagem figurada que se refere a Deus e à ordem geral das coisas, geralmente
oferece apenas uma expressão inadequada da perfeita realidade. Deus é chamado Luz, Rocha, Fortaleza,
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Alta Torre, Sol e Escudo. Todas estas figuras sugerem alguma idéia daquilo que Deus é para seu povo, mas
nenhuma delas, nem todas juntas, são capazes de dar uma completa representação de Deus. E quando a
Bíblia apresenta os redimidos como vestidos nas vestes da salvação, revestidos da couraça da justiça,
coroados com a coroa da vida, e trazendo as palmas da vitória, as figuras certamente nos dão algo, porém
somente uma idéia muito imperfeita de sua glória futura.
7. Interpretação do Pensamento
Da interpretação das palavras isoladas, partimos para a de suas mútuas relações ou do pensamento.
Às vezes, a interpretação do pensamento é chamada “interpretação lógica”. Parte da admissão do fato de
que a linguagem da Bíblia é como outra linguagem qualquer, produto do espírito humano, desenvolvido sob
orientação providencial. Assim sendo, é evidente que a Bíblia deve ser interpretada de acordo com os
mesmos princípios lógicos que se aplicam à interpretação de outros escritos.
A Conexão - é muito importante observar a conexão de uma passagem, próxima ou remota, com a
precedente ou com a subseqüente. A divisão das Escrituras em capítulos e versículos, quase sempre traz
dificuldades. Consequentemente, muitas passagens da Bíblia foram mal interpretadas no curso dos tempos,
e estas perversões foram transmitidas de geração a geração. Qualquer interpretação que não leve em conta
a conexão, não merece o nome de “exegese”. A conexão nem sempre é da mesma espécie.
(1) Puramente Histórica - quando uma narrativa histórica segue outra com a que se relaciona
genética e ideologicamente (genética no sentido de evolução de acontecimentos; ideológico no
sentido de sistema de idéias). Ex. Mt. 3.13-17; 4.1-11.
Histórico-dogmática - quando um discurso ou ensino dogmático se relaciona com um fato histórico. Ex. Jo.
6.1-14, 26-65.
Lógica - os pensamentos e argumentos são apresentados em ordem rigorosamente lógica. Ex. Rm. 5.1 ss; 1
Co. 15.12-19.
Psicológica - quando a conexão depende da associação de idéias. Isso, geralmente, produz uma aparente
quebra de linha de pensamento. Ex. Hb.5.11 ss.
No estudo da conexão, deve-se observar:
Os conectivos - os conectivos (conjunções, preposições, pronomes relativos, etc...) muitas
vezes auxiliam na conexão do argumento. Um portanto, muitas vezes proporciona o elo de
ligação entre uma discussão teorética e as aplicações práticas da argumentação. Ex. Gl. 5.1
– tomando o versículo, isoladamente, poderia ter diversos significados: escravidão
humana, escravidão política e escravidão ao pecado. Contudo, o “pois” indica que este
versículo é a aplicação de um ponto que Paulo apresentou no capítulo anterior. Sendo
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assim, o significado é a escravidão do jugo do legalismo, isto é, esforçar-se por ganhar a
salvação pelas boas obras.
Conexão mais próxima possível - em regra geral, a conexão deve ser procurada o mais
próximo possível. Mas, se a conexão imediatamente precedente não der bom sentido, deve-
se consultar o texto mais remoto. Ex. Rm 2.16 (conexão lógica – vs. 12 ou 13); Rm. 8.22
(conexão lógica – v. 21).
Os parênteses, intercalam-se observações relativas ao tempo e ao lugar, ou rápidas
circunstâncias secundárias, depois o parágrafo continua como se não houvesse ocorrido
qualquer interrupção.
Ex. Gn. 23.2; Dn. 8.2; At. 1.15.
As aplicações dos próprios autores - deve-se aceitar as aplicações que os próprios autores,
ocasionalmente, dão de suas próprias palavras ou das palavras das pessoas que falam no
contexto imediato.
Ex. Jo. 2.21; 7.29; 12.33; Rm. 7.18
O Paralelismo - a função do paralelismo é oferecer a apreensão geral do significado de uma cláusula, mais
do que uma especificação pormenorizada desta mesma cláusula.
O núcleo do ensino e os detalhes incidentais - algumas heresias têm sido sustentadas porque, deixou de
estabelecer a distinção entre o núcleo do ensino e os detalhes incidentais. Ex. Jo. 15 – relata um importante
ensino sobre Jesus através da videira, mostrando que, se somos videira e estamos ligados à Videira principal
– Jesus – logo o poder espiritual que temos vem d´Ele.
Erro – se nos apegarmos ao detalhe de que as videiras fazem parte das coisas criadas,
considerando isto como núcleo do ensino, consequentemente, se declararíamos que Cristo,
como videira, faz parte das coisas criadas.
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Investigar as situações políticas, econômicas, religiosas, geográficas e sociais; as principais ameaças
e preocupações do povo, pois o conhecimento do contexto histórico-cultural é decisivo para responder a
perguntas básicas acerca de um texto.
Ex. Tempestade no Mar da Galiléia – situação geográfica
As parábolas e discursos de Jesus estão repletos de passagens que relacionam o natural com o
espiritual (videira, solo, grão de mostarda – situação geográfica).
Para se compreender a ascensão dos romanos ao poder político, é necessário conhecer a história do
período inter-bíblico.
Para se ter uma visão completa do cativeiro assírio e babilônico, é necessário conhecer a situação
religiosa de Israel.
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A frase repetida em Gênesis: “são estas as gerações de...” mostra que o objetivo desse livro é
registrar o começo dos primeiros grupos da raça humana e as intervenções iniciais de Deus na história do
homem.
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Uma concepção comum é que a lei e a graça revelam aspectos opostos da natureza de Deus.
Muitos se surpreendem ao descobrir que a graça e o evangelho são conceitos encontrados no A.T.
Ex. Hb. 4.1-2 – a expressão “boas novas como se deu com eles” se refere aos israelitas do A.T. que
Moisés conduziu do Egito para Canaã e alude às boas novas do evangelho.
Gál. 3.8-9 – verificamos que o evangelho foi pregado a Abraão.
Rm. 4.3-6 – Paulo diz que Abraão e Davi foram justificados pela fé.
A palavra ευαγγελισμενοι significa receber as boas novas na inteireza da evangelização que
ocorrera, sem deixar espaço para qualquer desculpa pelo fato da evangelização ter sido deficiente ou
inadequada.
Tudo isto, no entanto, não quer dizer que os crentes do A.T. entendiam a expiação de Cristo com
clareza com a qual entendemos agora, mas que eles tinham fé em que Deus proveria reconciliação, e Deus
honrou essa fé concedendo-lhes a redenção.
Assim como há evangelho no A.T., há graça também. Em cada dispensação há prova da graça de
Deus:
Inocência - quando Adão e Eva pecaram, Deus interveio graciosamente, prometeu um Redentor, e fez
provisão imediata para que fossem aceitos diante d´Ele em sua condição pecaminosa.
Consciência - Noé achou graça diante do Senhor e Deus interveio e, graciosamente, salvou-o com sua
família.
Governo Civil - o homem construindo a torre de Babel. Deus não destruiu a criação rebelde, mas continuou
a operar nos corações de homens como Abraão e Melquisedeque, concedendo uma graciosa promessa de
que ele abençoaria o mundo inteiro por meio de Abraão.
Lei Mosaica - Deus continuou a tratar com Israel a despeito dos muitos e contínuos períodos de decadência
e apostasia.
Graça - Ele continua a tratar graciosamente com a humanidade. Há outras provas da evidência da graça de
Deus no A.T. como ex. Sl. 31, 51, 103, etc, que contam a misericórdia graciosa de Deus no A.T. Assim,
compreendemos que a graça, a misericórdia e o amor de Deus são tão evidentes no A.T. como N.T.
- Conceito de Lei
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Hermenêutica – SEMINÁRIO TEOLÓGICO PENIEL
Um conceito intimamente entrelaçado com a graça é o da lei. Alguns crêem que o meio de ganhar
a salvação no A.T difere daquele que o N.T. apresenta. O ponto de vista mais comum, é de que a salvação
era mediante a lei no A.T. e mediante a graça no N.T.
Contexto de doação da lei - Um exame do contexto em que a lei foi dada fornece pistas concernentes ao
seu propósito.
Contexto de Graça -Foi dada no contexto de um pacto de graça com Abraão, pacto que a doação da lei nunca
revogou (Gál. 3.17);
Contexto de livramento - Foi dada no contexto de um livramento gracioso, no qual Deus tirou Israel do
Egito e o sustentou na peregrinação no deserto;
Contexto de compromisso - Foi dado depois de Israel comprometer-se a servir ao Senhor (Êx. 19.8).
Assim, a lei não foi dada como um meio de justificação, mas como uma diretriz para Israel viver
após o seu comprometimento com Iavé. O N.T. nos ensina que a lei jamais poderia servir como
salvação (Gál. 3.11,21,22; Rm. 4.3,13-16).
Aspectos da Lei
Cerimonial – abrange os vários sacrifícios e ritos cerimoniais que serviam como figuras ou tipos que
apontavam para o Redentor (Hb. 7-10). Vários textos do A.T. confirmam que os israelitas tinham uma
concepção do significado espiritual desses ritos e cerimônias (Lv. 20.25,26; Sl.26.6; 51.7, 16, 17; Is. 1.16).
Diversos textos da N.T. diferenciam o aspecto cerimonial da lei e apontam para seu cumprimento em Cristo
(Mc. 7.19; Ef. 2.14-15; Hb. 7.26-28; 9.9-11; 10.1,9).
Civil ou Judicial – abrange os preceitos dados a Israel para o governo do seu estado civil e parece ter em
mira somente o povo judeu.
Moral – reflete a natureza e perfeição moral de Deus. Uma vez que a natureza moral de Deus permanece
inalterável, permanece inalterável a lei moral e é tão aplicável ao crente hodierno quanto o foi aos crentes
aos quais foi dada.
Objetivos da Lei
Gál. 3.19 – foi dada “por causa das transgressões” e, assim, seu objetivo primário era conscientizar os
homens da distinção entre o bem e o mal.
1 Tm. 1.8-11 – a “utilização legítima da lei” era restringir a prática do mal.
Gál. 3.22-24 – a lei atuava como um guia que conduz o indivíduo a Cristo, pois mostra-lhes que a
única esperança que existe de justificação está em Cristo. A lei era um guia que revelava como eles
poderiam permanecer fiéis ao seu compromisso com Deus, embora cercados por nações idólatras e
imorais.
No N.T. a obediência também é considerada como parte não opcional da vida do crente (Jo. 14.15;
1 Jo. 3.9; 4; 4. 16-19).
A partir deste conhecimento, podemos entender melhor os escritos de Paulo em Gálatas: Paulo não
era contra a lei, mas contra o “legalismo” (perversão que diz que se pode alcançar a salvação pelas
obras da lei). Paulo argumenta que os crentes, a partir de Abraão tinham sido salvos pela graça, e
jamais pela lei, visto que ela não tinha objetivo de trazer salvação. Por outro lado, argumenta em
favor do uso da lei como: indicador dos padrões morais de Deus, um freio contra a prática do mal,
como um aio que conduz os indivíduos a Cristo, como um guia do crente para uma vida piedosa.
O crente no N.T. não está debaixo da lei em três sentidos: não está sob a lei cerimonial, porque esta
foi cumprida em Cristo; não está sob a lei civil judaica porque está não se destinava a ele; não está sob a
condenação da lei, porque sua identificação com a morte expiatória e vicária de Cristo, liberta-o dela. No
entanto, o crente está sob a lei, no sentido de cumprir as obrigações morais.
A evidência bíblica parece sustentar a crença luterana de que a lei e a graça permanecem como
partes contínuas, inseparáveis da história da salvação desde Gênesis até o Apocalipse.
3. Outros Fatores
Dois outros fatores têm implicações com relação ao problema da continuidade-descontinuidade:
● - 2 Tm 3. 16, 17
Esta passagem parece indicar mais uma continuidade do que descontinuidade da história da
salvação.
Toda a Escritura aqui, provavelmente se refere aos 39 livros do A.T. mais 4 do N.T.. E Paulo diz
que todos estes livros são úteis ... e não somente o N. T.
3.3 - Conclusão
A análise teológica pergunta: “De que modo esta passagem se encaixa no padrão total da revelação
de Deus? ”
Os passos desta análise são:
Ponto de vista - determinar seu próprio ponto de vista da natureza do relacionamento de Deus com o homem
(uma das cinco teorias apresentadas).
Implicações - descobrir as implicações deste ponto de vista para a passagem que está sendo estudada
(considerar ou desconsiderar o A.T. aplicável a nós).
Conhecimento Teológico - avaliar a extensão do conhecimento teológico disponível às pessoas daquele
tempo (que conhecimento prévio haviam elas recebido? Livros de Teologia Bíblica podem revelar muito a
esse respeito).
1. Símile
É uma comparação expressa, sendo típico o emprego das palavras “semelhante” ou “como”. A
ênfase recai sobre algum ponto de similaridade entre as duas idéias, grupos ou ações, etc… O sujeito e a
coisa com a qual ele está sendo comparado são mantidos separados. Ex. Sl 127.4; Is 1.18; 16.2; 55.8-11; Os
2.1-5; Mt 10.16; Lc 11.44; Tg 1.6; 6-9.
2. Metáfora
É uma comparação não expressa, sendo típico a ausência das palavras “semelhante” e “como”. O sujeito e
a coisa com a qual ele é comparado estão entrelaçados, ou seja, a figura não está disposta ao lado do sujeito,
mas no seu lugar. No entanto, o autor não tenciona que suas palavras sejam tomadas em sentido literal. Ex.
Mt. 5.14; 7.13, 14; 9.37, 38; 15.13; 21.33-46; Mc 12.1-12; Lc 20.9-19; Jo 14.6; 15.1; 1 Co 9.9.
Tanto na símile, quanto na metáfora, por causa de sua natureza compacta, o autor geralmente tem
em mira acentuar um único ponto, por isto, não devemos ir além dele.
3. Provérbio
Declara uma verdade experiencial da sabedoria popular em forma breve e objetiva. Como tal,
expressa verdades gerais e objetivas.
Os provérbios constantes das Sagradas Escrituras são sentenças morais da sabedoria divina,
aplicadas às condições do povo de Deus. São antídotos contra o problema da ortodoxia desvinculada da
ortopraxia, pois demonstram a verdadeira religião em termos práticos e significativos. Ex. Mc 9.50; Lc
11.33; Rm 12.20/Pv 25.21, 22; Hb 12.5-6/Pv 3.11, 12; Tg 4.6/Pv 3.34; 2 Pe 2.22/Pv 26.11; 1 Co 15.33.
O foco geral do livro de Provérbios é o aspecto moral da lei – regulamentos éticos para a vida diária,
redigidos em termos universalmente permanentes.
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Para uma correta interpretação é preciso observar:
- A Forma
Os provérbios podem aparecer sob a forma de símile, metáfora. Sendo assim, é bom identificar a
que classe pertence o provérbio a ser interpretado. Ex. Ecl 9.13-18 (parábola); Sl 127.4; Pv 11.22; 25.11-
14; 26.1-2 (símile).
- Princípio
Devido a sua forma condensada, os provérbios têm, em geral, um único ponto de comparação ou
princípio de verdade para comunicar. Forçar o provérbio em todos os pontos, resultará numa interpretação
além da intenção do autor.
– Contexto
Muitas vezes, o provérbio aparecerá sem contexto. Neste caso, não é necessário buscar compreender
o seu contexto imediato, pois este não acrescentará nada ao estudo do provérbio em questão.
4. Parábolas
É uma forma de falar, empregada para ilustrar e persuadir mediante uma
figura.
A palavra vem do grego “parabollo”, que significa “colocar ao lado de”. Assim, parábola é um tipo
de comparação que utiliza um evento comum da vida natural, para acentuar ou esclarecer uma importante
verdade espiritual.
- Finalidade
São duas as finalidades das parábolas:
Esclarecer e Acentuar - esclarecer e acentuar verdades espirituais para os crentes (Mt 13.10-12; Mc 4.11).
As parábolas podem deixar uma impressão duradoura, muitas vezes mais efetiva do que um discurso comum
(Lc 18.9-14 – humildade na oração). Na revelação de verdades, as parábolas são usadas para confrontar os
crentes com os seus erros (2 Sm 12.1-7).
Ocultar - ocultar a verdade daqueles que endurecem o coração contra elas (Mt 13.13-15; Mc 4.11, 12; Lc
8.9, 10). Pode ser que, quando um homem resiste à verdade e se rende ao pecado, ele se capacita cada vez
menos para entender as verdades espirituais.
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Análise Gramatical – as mesmas regras que se aplicam aos outros textos.
Interpretação Teológica – são três as principais questões teológicas que circundam a maioria das parábolas
de Jesus.
Definir as expressões “reino de Deus” e “reino dos céus” - e decidir se são sinônimas ou não. A maioria dos
eruditos concorda que as expressões sejam sinônimas pelos seguintes fatos:
Mateus escreve “reino dos céus” como expressão respeitosa equivalente a “reino de
Deus”, em virtude da tendência judaica de evitar o uso direto do nome de Deus;
Marcos e Lucas, escrevendo aos gentios, usaram a expressão “reino de Deus”, porque
ela comunica melhor a idéia aos seus auditórios.
O paralelismo de Mt. 19.23-24, sustenta a hipótese de que Jesus pretendia que essas
duas expressões fossem entendidas como o mesmo reino.
Parece muito improvável, que Jesus tenha atribuído significados diferentes às
mesmas parábolas registradas por autores diferentes. Ex. Mt. 13.10-15 conf. Mc 4.10-12;
Lc 8.9-10 // Mt 13.31-32 conf. Mc 4.31-32; Lc 13.18-19.
Entender os “sentidos” do reino - em um sentido o reino já veio – Cristo ensinou que o reino já veio durante
sua estada terrena, e que nele se poderia entrar mediante o novo nascimento (Mt 12.28; Jo 3.3). Em
outro sentido, o ministério do reino é contínuo – as parábolas do reino falam de semeadura e de ceifa, de
pequenos grãos que crescem e produzem árvores frondosas, do trigo e do joio que crescem juntos, denotando
o aspecto contínuo do reino.
E ainda, há o cumprimento final com sentido do reino consumado – quando o governo de
Deus será plenamente reconhecido, mas também no triunfo completo de Deus sobre o mal.
A teoria do reino adiado - os que defendem esta teoria, afirmam que Jesus tencionava instituir um reino
terrenal, e que seus primeiros ensinamentos eram instruções concernentes a este reino. De acordo com esta
teoria, Jesus só reconheceu que seria rejeitado e crucificado na metade do seu ministério, e que por isto,
adiou o Seu reino terrenal para o milênio.
Problema: se isto estiver correto, as parábolas que Jesus proferiu antes de ser rejeitado
servem de regra apenas para o reino que foi adiado, não sendo, portanto, aplicáveis para a
Igreja.
Refutação: Jesus sempre teve consciência quanto ao estabelecimento de um reino terrenal.
Mas Lc 2.34, 35; Is 53 não deixam dúvidas de que o ministério de Jesus terminaria com a
morte expiatória e não com o estabelecimento de um reino terrestre. A partir desta
afirmação, podemos crer que todas as parábolas de Jesus são aplicáveis para nós, porque o
reino já veio e tem sentido contínuo.
Conclusão:
As parábolas são, por natureza, mais escuras do que as passagens doutrinárias. Um princípio
hermenêutico diz que as passagens mais claras são sempre usadas para esclarecer passagens mais obscuras,
e nunca o inverso. Assim, as parábolas devem ser empregadas para, apenas ampliar ou acentuar uma
doutrina, e nunca fundamentar.
5. Alegoria
É um estilo literário que procura expressar verdades abstratas em formas ilustradas. Ela pode ser
entendida como uma metáfora ampliada: a comparação não vem expressa, e o sujeito (verdade abstrata) e a
coisa comparada acham-se entrelaçados. A alegoria traz em seu conteúdo sua própria interpretação.
Geralmente, ela tem diversos pontos de comparação, não necessariamente, concentrados ao redor de um
núcleo. Para entender uma alegoria, é necessário conhecer os vários pontos de comparação, usando para
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Hermenêutica – SEMINÁRIO TEOLÓGICO PENIEL
isto, o contexto histórico do texto. Ex. Sl 80 – Israel é uma videira do Egito; Jo 10.1-16 – Jesus como bom
Pastor.
Nas Escrituras, o uso da alegoria é especificamente indicado (Gl 4.21.ss), ou é claramente
identificado através do contexto (Pv 5.15ss).
6. Tipos
É uma relação representativa que certas pessoas, eventos e instituições têm com pessoas, eventos e
instituições correspondentes, que ocorreram numa época posterior na história da salvação.
Tipo significa, literalmente, “marca” ou “impressão”, podendo ser traduzida, segundo o contexto,
por figura, exemplo, modelo, etc… (prefiguração).
Antítipo literalmente quer dizer “correspondente ao tipo”, e é a realidade (cumprimento).
Símbolo – servem de sinais de algo que representam, sem necessariamente, ser semelhantes em qualquer
respeito; não apontam, necessariamente, para o futuro; pode preceder, coexistir ou vir depois daquilo que
ele simboliza. Ex. Pão e vinho – corpo e sangue de Jesus.
Alegoria – busca significados secundários e ocultos que sublinham o significado óbvio e primário da
narrativa histórica. Ex. Gl 4 – a serpente e Cristo.
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6.3 - Características do Tipo
Há três características básicas:
Semelhança - deve haver algum ponto notável de semelhança ou analogia entre o tipo e antítipo. Isto não
significa que não haja, também, muitos pontos de dessemelhança. Ex. Adão e Cristo.
Evidência - deve haver evidência de que a coisa tipificada representa o tipo que Deus indicou. Semelhanças
acidentais entre pessoas ou eventos do V.T e do N.T. não constituem necessariamente um tipo do outro.
Deve haver alguma evidência escriturística de que tal coisa foi designada por Deus.
Prefiguração - deve prefigurar alguma coisa futura. A tipologia é uma forma especial de profecia.
Conclusão
Que Deus encontre em cada um de nós um espírito submisso, apto para aprender dEle, por meio da
Revelação Escrita, capaz de transmitir com fidelidade o que recebermos.
Experimente ser fiel no seu trabalho de Intérprete e conhecerá a magnitude da revelação de Deus.
“Quem não crê, não experimenta; quem não experimenta não pode saber” (Anselmo)
“Aquele que se contentar com o uso destes meios e puser de parte os preconceitos… em que
muitos envolvem todas as questões, adquirirá decerto a compreensão das Sagradas Escrituras; se não for
em tudo, será na maior parte, e, se não for imediatamente, com certeza será depois” (Whitaker).
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