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© Copyrigth 2024 by Zara Collins


Todos os direitos reservados,

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.

São proibidos o armazenamento e/ou a produção de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer
meios – tangíveis ou intangíveis – sem o consentimento escrito da autora. Criado no Brasil. A violação
dos direitos autorias é crime estabelecido na lei nº.9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. Fugindo à regra apenas nos
diálogos e nas particularidades apresentadas pelos personagens.

Edição Digital – Criado no Brasil


1°edição – 2024

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SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22

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CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40

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Kate Davis vê sua vida tomar um rumo sombrio quando é
sequestrada por Julian, o assassino de seu pai.
Enquanto a mantém viva e longe das garras da máfia, Julian acaba
propondo um acordo: fingir estar em um relacionamento com ele,
perante a família dele nas vésperas do Natal.
O que Kate não imagina é que ao aceitar o acordo estará
mergulhando em um mundo de traições e perigos inimagináveis em
uma das famílias de assassinos mais perigosa da máfia de Detroit.
Enquanto luta para sobreviver e entender seus sentimentos
contraditórios em relação a Julian, se vê envolvida em um jogo
perigoso de gato e rato. A cada revelação, descobre mais sobre o
homem que a sequestrou e a linha tênue entre vítima e sequestrador
começa a se dissipar.
Entre a brutalidade do mundo de Julian e a chama proibida que
surge entre eles, se vê dividida entre o medo e a atração.

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Minhas pálpebras tremem pouco antes de se abrir, me dou conta no
instante seguinte do chão áspero e frio em baixo de mim e da dor latejante
em meu pescoço.
Onde eu estava?
Tento me levantar, chegar na porta de ferro que não estava muito longe,
sendo puxada de repente para trás, acabando por bater a cabeça no chão.
Gemo baixo de dor, levando minhas mãos até meu pescoço, notando ali
uma faixa de couro, seguida por uma corrente grossa e curta.
Mas que...!
— Socorro!! — grito desesperada, puxando com toda a força que
achava que tinha a corrente da parede, aonde estava muito bem fundida. Na
parede oposta na que estava presa, havia uma pequena janela, por onde
estava passando a única luz que iluminava aquele espaço estreito e no qual
me dava a certeza de que já havia amanhecido — Alguém me ajuda!! —
grito mais uma vez, esperando que aquela janela desse em alguma rua e que
alguém me escutasse.
Todo meu corpo começa a tremer no momento em que me dou conta da
situação em que havia me metido.
Minha respiração ficava cada vez mais pesada à medida que era
engolida por aquele lugar claustrofóbico e opressivo. O ar parecia escasso,
como se estivesse sendo sugado pelo ambiente, e a atmosfera sufocante me
fazia sentir como se estivesse em uma panela fervendo lentamente.
A sensação de calor era avassaladora. Cada segundo que passava
parecia aumentar a temperatura, como se eu estivesse sendo submetida a um

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teste extremo de resistência. Minha pele ficava pegajosa, a roupa grudava
em meu corpo, e a opressão do ambiente parecia pesar sobre mim. O suor
começava a se formar na minha testa, escorrendo pelo meu rosto, tornando
tudo ainda mais desconfortável.
Com o cenho franzido, meus olhos percorrem o ambiente ao meu redor,
revelando um lugar que, à primeira vista, destoava completamente do meu
quarto habitual.
A limitação de espaço não passava despercebida, e a estreitez das
dimensões reforçava a ideia de confinamento. As paredes, ainda que sem
adornos, pareciam se fechar ao meu redor, contribuindo para a sensação de
claustrofobia que começava a se insinuar. A cor amarelada, por sua vez,
conferia uma tonalidade sóbria e monótona ao ambiente, como se o próprio
espaço estivesse mergulhado em uma luz envelhecida.
Ao redor, identifico a presença de alguns elementos básicos que
compõem o espaço. Uma pia, não muito distante de onde me encontro, sugere
uma funcionalidade mínima para atender às necessidades diárias. Ao lado
dela, um sanitário completa o conjunto, formando uma espécie de núcleo
rudimentar destinado à higiene pessoal.
A luz invade o espaço através de uma pequena janela localizada na
parede próxima à cama, a luminosidade que se infiltra é suave, delineando
as formas com uma delicadeza que destoa do ambiente austero.
Minhas mãos tremem antes de as passar pelo meu rosto e as descer até
meu pescoço, tentando arrancar a “coleira”. Gemo de frustração e agonia,
olhando para a janela em uma posição mais alta que a minha, imaginando se
conseguiria passar meu corpo por aquele espaço, mesmo eu sabendo que era
impossível por causa do tamanho do meu corpo.
Com as costas pressionadas contra a parede, me sentia encurralada
naquele espaço sufocante e desconhecido.
A porta abre de repente, atraindo meu olhar e acendendo uma centelha
de esperança de que alguém veio me socorrer.
— Sai de perto de mim! — grito, me encolhendo ainda mais, entrando
em literalmente em pânico.
Aquilo não era um sonho. Muito menos a merda de um pesadelo no qual
acordaria. Era real. Eu estava realmente em um pesadelo.
— Estava gritando por ajuda — Sua voz soa calma, o que me apavora
ainda mais.
— .então me ajuda — Minha voz soa trêmula — Me deixa ir.

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Ele inclina a cabeça para o lado, sem demonstrar qualquer emoção. Era
como se não estivesse apreciando me ver daquela forma,
— Você está em casa — Meu queixo treme, a medida que minha visão
se torna ainda mais embaçada por causa das lágrimas.
Só não queria admitir para mim mesma que aquele só era o começo do
pesadelo.

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Capítulo 1
12 horas antes.
— Tenho que admitir — diz Vitto assim que descemos do carro — Vou
sentir sua falta.
E eu tinha certeza de que sentiria falta de tudo aquilo. Era o que de fato
sentia que havia nascido para fazer, como se meu destino fosse realmente ser
quem era naquele momento.
Uma aposentadoria nunca passou pela minha mente, mas agora estava
eu, indo para meu último trabalho. O coração pulsava com uma mistura de
emoções, uma combinação de nostalgia, excitação e um toque de melancolia.
Durante décadas, a rotina diária moldou minha vida, e agora, me dirigia para
encerrar esse capítulo.
Os homens conosco facilitam nossa entrada à casa, os seguranças que
protegiam a propriedade apesar de tentar contra atacar, foi inútil. Vitto se
mantém a frente, com um largo sorriso estampando seu rosto.
A porta da frente é aberta bruscamente, ando em passos lentos até o
meio do hall, olhando atentamente para os lados, esperando nosso anfitrião.
— O que acham que estão fazendo?!
— Ah, aí está ele. Frank! — diz Vitto. Frank desce os degraus da escada
rapidamente, olhando para a porta como se esperasse que um de seus
seguranças aparecesse de repente — Não irão vir — Vitto continua — Só
será apenas nós.

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Algumas gotículas de suor começam a se formar no rosto de Frank,
demonstrando seu desconforto com a nossa presença. Com certeza ele não
estava esperando uma visita daquela magnitude tão inesperadamente,
esperava que seus aliados o avisassem de alguma investida, mas os mesmos
estavam lidando com problemas semelhantes naquele momento.
— Por que estão aqui? — Os olhos de Frank vão de Vitto para mim
rapidamente.
— Apesar de não fazer parte diretamente da organização, as leis ainda
se aplicam aos associados.
— Não... Deve haver algum engano.
— Temos provas suficientes de que não há engano — Olho para Vitto,
esperando que ele entendesse que todo aquele diálogo só estava adiantando
o inevitável, o que realmente sempre fazia. Ele suspira, revirando os olhos
— Faça as honras.
Claro que eu faria.
Dobro as mangas da camiseta, enquanto andava na direção de Frank e o
mesmo tentava argumentar. Mas mal sabia ele que já havia desligado a parte
racional que havia em mim. Naquele momento, era o estripador e não havia
como fugir de mim.
O primeiro golpe derruba Frank de imediato, seus olhos assustados se
fixam em mim, não dei chance para que percebesse qual seria meu próximo
golpe, meu corpo estava no automático e por causa disso uma série de
golpes surgiram, até que o rosto de Frank fica tomado pelo sangue e ainda
consciente percebe quando pego a faca em minha cintura.
Um grito fica preso em sua garganta, seus olhos se arregalam e sua
respiração paralisa por um instante. Minha mão se move lentamente para
baixo, abrindo lentamente sua carne, enquanto sons de dor emergiam de sua
garganta.
O sangue sai rapidamente do corte, formando uma poça lentamente no
chão de mármore branco. Seus olhos se fixam em suas tripas, o grito antes de
dor e desespero começa a ganhar mais força, até que se torna mais um som
estranho.
— Isto nunca perde a graça — diz Vitto sorrindo.
Houve um tempo que sabia o número de cada vitíma, alguns viam isto
como peso da consciência, outros como algo sádico. No entanto, apenas
queria saber quantas pessoas foram suficiente para que o Estripador de fato
existisse e que fosse temido e odiado pela maioria das pessoas.

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Frankie continuava emitindo sons estranhos, com certeza por estar em
choque e pela grande perda de sangue, quando fixou seu olhar na porta. Seus
lábios se movem, como se quisesse dizer alguma coisa ou até mesmo gritar
uma ordem, toda aquela agitação só fazia mais sangue sair do seu corpo.
Com o cenho franzido, sigo o olhar dele, esperando ver apenas a porta
aberta, mas invés disso, encontrei um par de olhos que achei que nunca mais
iria ver.
Meu coração erra as batidas, enquanto meus olhos vagavam pelas
feições familiares. Não estava acreditando no que estava vendo; talvez
precisasse realmente de uma aposentadoria, de me afastar de uma vez por
todas de tudo aquilo. Meu subconsciente sabia que a mulher em minha frente
não poderia ser real, mas era, pois Vitto mantinha o olhar fixo nela também.
Ela estava lá, de pé, na porta da sala, como um fantasma do passado que
decidiu se materializar diante de mim. Seus olhos refletiam um misto de
surpresa e medo, ecoando a perplexidade que eu sentia. Aquelas feições que
não via há anos, agora, estavam diante de mim, desafiando a lógica e
desencadeando uma avalanche de memórias.
A ideia de aposentadoria ganhava força em minha mente, como se fosse
uma fuga necessária da realidade que se desdobrava diante de meus olhos.
Talvez, um distanciamento daquilo que conheci por tanto tempo fosse a única
forma de preservar minha sanidade.
A lógica do meu mundo ordenado e previsível estava sendo desafiada
naquele momento.
Ela arregala os olhos ainda mais, soltando o celular e a bolsa que
carregava no chão, só então ao olhar para o lado, percebo que Vitto havia
tirado sua arma da cintura e a segurava firmemente, pronto para atirar.
— Não! — grito no momento em que ele atira. Por sorte o tiro pegou na
porta e ela correu, como se sua vida dependesse daquilo e de fato dependia.
Vitto se vira para mim incrédulo, a expressão retorcida por raiva.
— O que foi isto?! — grita de volta, gesticulando com a arma ainda na
mão — Deve ser a filha dele, que agora é uma testemunha e tem que ser
morta — Ele chuta o corpo de Frankie, cujo mantinha os olhos sem vida
fixos ainda na porta — Ela tem que morrer, igual este verme — diz entre
dentes.

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Capítulo 2
10 horas antes.
Ao chegar em frente de casa, estendo o dinheiro da corrida para o
taxista. Sinto a tensão momentânea enquanto ele segura brevemente em meus
dedos antes de pegar as notas. A troca é breve, mas o desconforto persiste,
pairando no ar como um sutil mal estar. Decido não ponderar muito sobre
isso e foco em sair do veículo, ansiosa para encerrar aquele trajeto
desconfortável.
O percurso, que deveria ter sido uma simples viagem de táxi, se
transformou em uma experiência incômoda devido aos olhares furtivos do
motorista pelo retrovisor. Cada olhar parecia penetrar a minha privacidade,
criando uma atmosfera desagradável e invasiva dentro do carro. A sensação
de desconforto crescia a cada quilômetro percorrido, fazendo com que
ansiasse pelo momento de chegar em casa.
Franzo o cenho ao notar os portões antes muito bem vigiados e com
seguranças sempre por perto, abertos e sem a proteção contínua dos
seguranças.
Ao dar os primeiros passos para dentro da propriedade, meu olhar é
imediatamente atraído para o jardim, onde havia carros estacionados e os
corpos dos seguranças estendidos pelo chão, numa cena chocante e
perturbadora.
Um frio percorre minha espinha enquanto engulo em seco, tentando
assimilar a gravidade da situação. A realidade parece distorcida, e a

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urgência de uma ação imediata se impõe.
Instintivamente, procuro minha bolsa, mãos trêmulas vasculhando seu
conteúdo em busca do celular. Acredito que este seja o momento ideal para
acionar a polícia, pois, diante da visão dos seguranças possivelmente
mortos, fica claro que me encontrava em uma cena de crime.
Encontro o celular e, com mãos trêmulas, digito os números de
emergência, os olhos alternando entre o vislumbre aterrorizante do jardim e
a tela iluminada do aparelho.
— 911. Qual é a emergência? — Ando em passos largos até a porta aberta
da casa, olhando uma vez ou outra para trás.
— Minha casa foi invadida, os seguranças estão mortos e... — Esqueço
completamente o que estava prestes a dizer, ao ver a cena mais horrível de
toda minha vida.
Caído no hall estava meu pai, com a expressão em uma mistura de dor
e desespero estampada no rosto. Meus olhos logo percebem o motivo pelo
qual: suas tripas, que deveriam estar dentro do seu corpo, estavam para fora
de seu corpo, criando uma grande poça de sangue ao redor de seu corpo.
A principio minha mente por alguma razão, achou que os dois homens
diante do meu pai fossem os seguranças e que estavam ali para ajudá-lo de
alguma forma, mas bastou apenas um movimento de um dos homens, para
perceber que eram os causadores de tudo aquilo.
Assustada, deixo minha bolsa e o celular cair, atraindo o olhar do
segundo homem que, me olha atentamente, parecendo não me esperar me ver
naquele momento.
Meu coração parece que vai sair pela boca, quando o primeiro
homem dispara na minha direção e o disparo atinge a porta.
Meu instinto de sobrevivência aciona dentro da minha cabeça, diante
da urgência do momento, começo a ponderar freneticamente as opções que
tenho à disposição. O cenário ao meu redor torna-se uma paisagem borrada,
enquanto meu foco se estreita na busca por uma saída imediata.
Sem pensar duas vezes, corro na direção dos carros estacionados, os
olhos fixos nos veículos alinhados como sentinelas silenciosas. Cada passo
é uma corrida contra o tempo, e o eco dos meus passos ressoa em meio ao
turbilhão de pensamentos. A esperança se entrelaça com a ansiedade,
enquanto minhas mãos buscam freneticamente a maçaneta do carro mais
próximo.

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Meus dedos encontram a superfície fria do metal, e meu coração dá um
salto de alívio. Torcendo para que a chave esteja na ignição, abro a porta
com um movimento rápido e me precipito para o interior do veículo. A
respiração ofegante se mistura com o som metálico do motor, enquanto meus
olhos escaneiam freneticamente o painel.
O alívio inunda meu peito ao encontrar a chave no contato. Com um
movimento rápido, giro-a e o motor ruge à vida.
Entretanto, abaixo de repente quando tiros batem contra o carro, mas
não o atravessam. Encaro os dois homens parados na porta da casa e os
demais que se juntavam a eles, percebendo só então que o carro era à prova
de balas, dando partida bruscamente no veículo. O rugido do motor ecoa
como um desafio diante da tempestade de projéteis que continua a atingir a
lataria.
A sensação de invulnerabilidade momentânea proporcionada pela
armadura do veículo se torna novamente um alívio. As balas ricocheteiam,
incapazes de romper a barreira que me separa da ameaça lá fora.
Meus olhos se fixam no retrovisor, observando a cena se desenrolar
enquanto o carro ganha velocidade.
Meu coração ainda está disparado, mas agora não mais pelo medo, e
sim pela adrenalina que percorre minhas veias. A estrada se estende à minha
frente como uma linha de fuga, e a realidade da fuga começa a se solidificar.
No banco do motorista, seguro firmemente o volante, tentando ignorar os
leves tremores pelo meu corpo e as lágrimas que insistiam em se acumular
em meus olhos, não conseguia tirar o rosto do meu pai da minha mente,
principalmente o estado no qual o deixaram. Seu olhar, que costumava
transmitir força e segurança, agora já não refletia mais nada.
Os tremores em minhas mãos denunciava a combinação de medo e raiva
que se instalava em mim. As lágrimas, teimosas, escapavam dos meus olhos,
apesar dos meus esforços para contê-las, listei o que eu sabia:
1 ° Meu pai estava morto.
2° Não tinha ideia de quem era aquelas pessoas e o por quê que fizeram
aquilo.
E 3° e não menos importante:
Agora apenas sabia que estavam atrás de mim.

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Capítulo 3
5 horas antes.
Meus homens agiram rapidamente assim que ela adentrou em um dos
carros.
Os disparos ecoaram no ar, buscando atingir seu alvo. Por sorte, o
veículo era à prova de balas, proporcionando uma proteção crucial.
Com habilidade surpreendente, ela manobra o carro com destreza,
acelerando rapidamente para escapar dos limites da propriedade. Os pneus
cantam no asfalto enquanto ela desvia habilmente entre obstáculos,
demonstrando uma perícia impressionante ao lidar com a potência do
veículo.
— Esta noite está cada vez melhor — diz Vitto, com um sorriso sádico
no rosto — Vamos ter uma caçada.
Conhecia Vitto por tempo suficiente para saber de sua inclinação
crescente pela crueldade, se tornando quase um especialista no assunto.
Não poderia permitir que ele a alcançasse.
A cada ato cruel que presenciava ou ouvia falar, enxergava a sombra
ameaçadora que pairava sobre ela. Era preciso agir antes que ele
conseguisse colocar suas mãos frias e calculistas nela. As linhas entre a
cautela e a urgência se mesclavam em minha mente, consciente de que cada
segundo contava na corrida para protegê-la dos intentos malévolos de Vitto.
— Eu cuido disso — Ele franze o cenho, estreitando os olhos.

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— Basicamente já está aposentado — Ele dá dois tapas em meu ombro,
passando por mim. Ele para diante dos meus homens, pronto para dar as
próximas ordens.
— Ainda são meus homens — digo um pouco mais alto, ele hesita antes
de se virar para trás — Até eu dizer o contrário.
Ele se vira para mim, com um breve sorriso no rosto.
— Já entendi — diz se aproximando — Quer se divertir sozinho —
Soltando o ar dos pulmões, dá de ombros — Então vai em frente, faça o que
sabe fazer de melhor: estripar.
Sustento o olhar penetrante de Vitto, mantendo-me firme antes de seguir
adiante, atravessando seu campo de visão em direção ao meu carro.
Posso sentir seus olhos cravados em mim, observando cada passo que
dou, como se quisesse decifrar meus pensamentos e intenções.
Não seria difícil rastreá-la, todos aqueles carros estavam equipados
com GPS. Consultando o sistema de navegação do meu veículo, constato que
ela ainda estava no mesmo bairro. A tecnologia se torna meu aliado nesse
jogo de gato e rato, proporcionando uma vantagem crucial na busca.
Com a certeza de sua localização, acelero o carro, determinado a
alcançá-la antes que as circunstâncias mudem. O pulsar das luzes dos painéis
reflete a urgência da missão, enquanto persigo a marcação do GPS, ciente de
que cada segundo conta nesse jogo de perseguir e ser perseguido.
Uma parte de mim relutava em aceitar o que estava prestes a fazer:
arriscar anos dedicados à organização por uma mulher que mal conhecia,
mas que parecia despertar em mim uma conexão inexplicável.
Estava prestes a desafiar lealdades arraigadas, colocando em xeque não
apenas minha posição, mas até mesmo minha própria vida. As dúvidas e o
peso das consequências pairavam como sombras, enquanto a incerteza se
entrelaçava com a coragem necessária.
Essa escolha, guiada por uma intuição visceral, revelava-se como uma
encruzilhada que poderia redefinir não apenas meu destino, mas o curso de
tudo o que eu havia conhecido até então.
O carro acelera um pouco mais, o motor rugindo em sintonia com a
urgência da busca. O visor do GPS mostra que estou cada vez mais próximo
dela, e minhas mãos apertam com mais força o volante de couro, sentindo a
tensão fluir pelos meus dedos.
Entre a estrada à frente e o visor que me guia, mantenho uma atenção
dividida, cada curva e reta da estrada uma oportunidade de encurtar a

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distância entre nós. O pulsar do motor ressoa como um eco da determinação
que me impulsiona, enquanto a ansiedade e a expectativa se misturam no
interior do veículo.
Diminuo a velocidade conforme percebo que ela também reduz a
marcha, até finalmente parar por completo. Mantenho uma velocidade
reduzida, observando atentamente enquanto ela desce apressadamente do
veículo e adentra um pequeno prédio. Estaciono imediatamente atrás do
carro que estava dirigindo, fitando o edifício com uma intensidade
ponderada.
Uma pausa tensa preenche o ar, enquanto questionamentos ecoam em
minha mente. Estou prestes a arriscar tudo, mais uma vez, por uma mulher.
Desço do carro, meus olhos escrutinam atentamente a via de mão dupla,
como se cada detalhe pudesse revelar algo crucial. Cauteloso, dou passos
largos em direção ao prédio, ciente das regras que estão sendo quebradas a
cada pisada firme que dou.
Hesito por um momento diante da porta, minha mão segurando com mais
força do que o necessário a maçaneta. Fecho os olhos por um instante,
respirando profundamente, como se buscasse reunir coragem e clareza de
pensamento. Em um movimento súbito, abro a porta, adentrando no prédio
com determinação.
Ela ainda não sabia, mas, de alguma forma, havia se tornado minha
mulher, minha esposa, no exato momento em que meus olhos a viu.

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Capítulo 4
4 horas antes
Meu coração continuava a martelar em meu peito quando entro
rapidamente no prédio e corro para o elevador. Apesar de estar em uma
distância considerada segura, o pânico ainda não havia abandonado
completamente meu corpo. Cada som desconhecido ecoava como um eco da
ameaça recente, e eu me sentia como se estivesse sendo observada a cada
passo.
Os números do elevador subiam lentamente, mas cada segundo parecia
uma eternidade. O reflexo no espelho do elevador mostrava uma expressão
tensa e olhos assustados, testemunhas silenciosas do tumulto emocional que
tentava conter.
Ao chegar ao meu destino, a porta se abriu, revelando um corredor
aparentemente tranquilo. Ainda assim, me sentia vulnerável, como se as
sombras pudessem esconder perigos desconhecidos. Caminho
apressadamente em direção da porta, cada passo carregado de urgência, indo
de encontro ao vaso de planta ao lado da porta, tirando de lá a chave reserva
e a usando para destrancar a porta.
— Deb?! — Chamo assim que entro no apartamento mergulhado no
escuro — Deb!— Meus olhos vagam pelo espaço a frente, mas por alguma
razão decido ir até o segundo andar, imaginando que Deb estaria no banho ou
até mesmo dopada com os medicamentos que tomava mas, o que encontrei
foi apenas cômodos vazios.

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Desço devagar os degraus da escada, indo de encontro ao meu ponto de
partida, considerando que talvez fosse melhor ligar para Deb do telefone que
havia perto do abajur.
Paro gradativamente de andar, ao voltar para a sala percebo um cheiro
masculino no ar. A fragrância não é forte, mas está ali, delicadamente,
pairando no ambiente. Uma sensação sutil que instantaneamente captura
minha atenção, como se o aroma fosse um sinal não verbal de que algo
mudou na atmosfera. Não estava mais sozinha.
Tateio o abajur ao lado, conseguindo o ligar após alguns segundos,
notando em meio ao escuro da sala, o contorno de um homem. Ele era alto e
pelo cômodo não estar completamente escuro, dava para ver sua silhueta
perfeitamente.
Só me dou conta de que respirava pelos meus lábios entre abertos,
quando dou um passo para trás.
— Só há nós aqui — Sua voz soa um pouco rouca, me causando um
breve arrepio.
Algo dentro de mim gritava para que saísse dali o mais rápido possível,
só que minhas pernas não queriam me obedecer.
— Quem é você? — Me esforço para manter minha voz firme,
impossível dada a situação.
Ele caminha na minha direção lentamente, até que seu corpo esteja
parcialmente iluminado pela luz do abajur. Meus olhos se arregalam um
pouco nas órbitas quando dou de cara com o mesmo homem de antes. Desta
vez, pude notar mais detalhes, como o cabelo grisalho, com fios brancos
predominantes, os olhos escuros, os lábios finos e bem desenhados, e o rosto
fino. Ele me olhava como um predador, e de fato, o via como isso naquele
momento.
Uma sensação gelada percorre minha espinha mais uma vez, enquanto
nossos olhares se encontram. A expressão intensa no rosto dele é como um
aviso silencioso, e a atmosfera na sala parece carregada de uma tensão
invisível. O cheiro masculino que eu havia percebido antes agora ganha uma
conexão concreta, se vinculando à presença do homem diante de mim.
Seus olhos escuros parecem vasculhar minha alma, e a imagem do
predador que ele projeta aumenta minha inquietação. Cada detalhe de seu
rosto esculpido parece um quebra-cabeça que tento montar, mas as peças não
se encaixam completamente. Há algo sobre ele que permanece enigmático, e
a sensação de desconforto cresce dentro de mim.

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Instintivamente, dou um passo para trás, como se quisesse criar uma
distância segura entre nós.
Era muitos detalhes para perceber ao mesmo tempo, além de sua
expressão séria.
— Estava esperando por você — Começo a me preparar fisicamente
para fugir dali, me perguntando, como conseguiria abrir a porta rapidamente
e correr o mais rápido que pudesse até o elevador, claro, caso estivesse lá
me esperando, se não estivesse... teria que tentar a sorte pelas escadas.
Girei e corri em direção à porta, o coração batendo freneticamente em
meu peito. Minhas mãos tremiam ao agarrar a maçaneta, mas antes que eu
pudesse abrir a porta um aperto súbito me envolveu.
Tento resistir, lutar contra a força que me puxava para trás, mas era
inútil. Fui arrastada com força, perdendo o equilíbrio e caindo sentada.
Minhas tentativas de me levantar eram em vão, o som agudo dos saltos da
bota ecoava no piso, se misturando com a confusão que tomava conta da
minha mente.
O pânico se misturava com a adrenalina enquanto meu corpo era
arrastado pelo chão. Minha mente corria para encontrar uma solução, uma
maneira de escapar, mas a surpresa e a força do ataque me deixaram
atordoada.
Suas mãos me seguravam com firmeza, tentando me manter parada,
enquanto eu me debatia sem parar, tentando encontrar um jeito de escapar do
meu inevitável fim. Cada músculo do meu corpo respondia freneticamente,
enquanto a sensação de pânico se intensificava a cada segundo.
O desespero se manifestava em movimentos desordenados, meus
instintos de sobrevivência gritando para que eu me soltasse. As mãos que
antes eram apenas uma presença masculina agora se transformavam em
algemas invisíveis, me apertando cada vez mais.
A respiração ficava irregular, um misto de esforço e medo, enquanto
procurava freneticamente por uma abertura, um ponto fraco que pudesse ser
explorado. O ambiente ao meu redor parecia distorcido, como se o tempo
tivesse se tornado elástico.
Mas aos poucos minhas forças vão sumindo, quanto mais meu cerébro
gritava para lutar, menos meu corpo obedecia e quando me dei conta, já não
conseguia respirar normalmente e sucumbia a escuridão.

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Capítulo 5
3 horas antes
Aperto o pescoço dela até ver seus olhos virarem nas órbitas e desmaiar
em seguida. Minhas mãos ainda continuaram em seu pescoço, a medida que
lembrava de quem realmente havia me tornado durante aqueles anos.
Era um estripador e tinha que matar ela, minha mente grita. A ordem
era clara. Pressiono meus lábios com força, percebendo que minha
redenção estava na minha frente.
Um rosnado escapa da minha garganta, ao lutar contra mim mesmo e
retirar bruscamente minhas mãos de seu pescoço, notando a vermelhidão ao
redor do seu pescoço.
Com a respiração pesada, a observo desmaiada, era óbvio o que
precisava ser feito: levá-la para um lugar seguro.
Sem hesitar, tomo a iniciativa de carregá-la nos braços, olho
atentamente para o rosto dela, absorvendo cada detalhe que, por um
momento, parecia ter se apagado da minha mente. A impressão de que meu
coração se aquece a cada segundo torna-se evidente. Cada traço, cada
expressão, é como redescobrir algo precioso que havia sido perdido.
Com ela ainda nos meus braços, ando em direção ao elevador,
percebendo a surpresa estampada no rosto de uma senhora que aguarda na
entrada. Lhe lanço um breve sorriso, reconhecendo a situação inusitada. Seus
olhos refletem curiosidade, talvez até uma pontinha de preocupação, diante
do cenário incomum que se desenha à sua frente.

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— Ela está bem? — A senhora pergunta com a voz rouca trêmula.
— Vai ficar assim que voltarmos para casa — ressalto.
A senhora, mesmo tentando disfarçar os olhares, não consegue esconder
a preocupação estampada em seu rosto enquanto o elevador desce. Cada
andar parece aumentar a curiosidade e talvez a inquietação em relação ao
que está acontecendo. Contudo, assim que as portas do elevador se abrem,
ela se apressa em direção ao recepcionista do prédio em passos largos.
Aproveitando a oportunidade, alcanço rapidamente o carro, colocando
com cuidado meu pequeno passarinho no banco traseiro. A ansiedade pelo
desconhecido é palpável enquanto dou partida no carro bruscamente.
Observo pelo retrovisor a senhora e o recepcionista, ambos parados,
perplexos, em frente ao prédio, enquanto o carro acelerava pela rua.
Minha atenção se divide entre a mulher no banco ao meu lado e a rua
que se estende à minha frente. Seus traços, ainda desenhados pela
inconsciência, refletem vulnerabilidade e mistério.
Pelas horas seguintes, dirigi em direção de casa, à nossa casa, tomando
o cuidado de garantir que minha localização não fosse descoberta pelo GPS.
A estrada se estendia à minha frente como um portal entre o passado e o
futuro, enquanto eu me afastava do que era conhecido em direção ao
desconhecido.
A dualidade persistia, e a oportunidade de voltar atrás se desvanecia a
cada quilômetro percorrido. Cada olhar para o banco traseiro, onde ela
repousava inconsciente, era uma constante lembrança da decisão que havia
tomado. O peso da incerteza e das possíveis consequências pairava no
interior do veículo, enquanto eu continuava a dirigir, rumo ao destino que
agora estava entrelaçado com o dela.
Quando o carro passa pelos portões da propriedade, uma onda de
apreensão toma conta do meu corpo. Os próximos passos se tornam claros:
tirar ela de dentro do carro e a levar para o porão, onde coincidentemente
sei que há um cômodo preparado para emergências como essa.
O silêncio ao redor parece amplificar a gravidade da situação enquanto
estaciono o carro. Com cuidado, a retiro do carro, sentindo a fragilidade de
seu corpo. A entrada se desenha como um portal para um mundo à parte,
onde segredos e decisões complexas aguardam nos recantos escuros.
Enquanto desço as escadas, a certeza de que cada escolha feita até aquele
momento, mudava completamente tudo.

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Deito o corpo dela no chão, pegando o acessório ao lado e colocando
em volta do seu pescoço, antes de dar dois passos para trás e olhar com
atenção o cômodo.
Apesar do desejo intenso de tê-la comigo, onde quer que eu estivesse,
uma compreensão se impõe: ela precisava perceber que seu lugar era ao meu
lado. Para que isso acontecesse, era crucial deixá-la naquele lugar, mesmo
que essa decisão fosse marcada pela dor da separação temporária.
Deixando o porão, minha atenção se volta para a câmera que monitora o
ambiente. Me certifico de que está funcionando corretamente, garantindo que
cada movimento seja registrado. Me coloco diante do monitor, observando o
espaço onde ela repousa, aguardando o momento em que ela despertará.
O tempo parece se esticar enquanto me encontro ali, imerso na tensão
silenciosa do monitor. Cada respiração é carregada com a expectativa do
que está por vir. A incerteza do despertar dela, e como ela reagirá ao
ambiente ao seu redor, adiciona uma camada de complexidade a esse cenário
cuidadosamente orquestrado.
O brilho metálico da faca em minha mão contrasta com o monitor diante
de mim. Por um instante, a tentação parece flutuar no ar, mas, num gesto
brusco, jogo a faca sobre o móvel ao lado, a afastando de mim. Meu olhar se
volta para o monitor, se fixando com intensidade na imagem que se desenrola
diante de mim.
Apoiando a mão sob meu queixo, assumo uma postura contemplativa
diante do monitor.

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Capítulo 6
— Você está em casa — Meu queixo treme, a medida que minha visão
se torna ainda mais embaçada por causa das lágrimas.
Naquele momento, não tinha como não pensar que iria morrer. Talvez
fosse o que a maioria das pessoas naquela mesma situação ou em uma
situação parecida pensava. Estava diante de um assassino, em um lugar
desconhecido e fechado, onde as chances de alguém me achar eram quase
inexistentes.
Cada pensamento se tornava um eco sinistro, ecoando a possibilidade
de que aquele seria o meu fim.
— Não vai perguntar quem eu sou? — Franzo levemente o cenho,
respirando pelos lábios entre abertos — É o que qualquer pessoa
perguntaria na sua situação.
— Eu sei quem você é — Minha voz tremula, antes de se tornar firme
— É um assassino. Matou meu pai!
A afirmação não o atinge; parece não fazer nenhum efeito, pois sua
expressão continua inabalável, como se já estivesse acostumado a ouvir
essas palavras. Seus olhos, imperturbáveis, não revelam nenhum sinal de
surpresa, raiva ou qualquer emoção que poderia ser esperada diante de tal
declaração.
Há uma serenidade quase assustadora em sua postura, como se o peso
das palavras não fosse capaz de penetrar a couraça que envolve sua

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personalidade. A indiferença que emana dele cria uma atmosfera tensa, como
se estivesse imune às tentativas de abalar sua tranquilidade.
— Frank era um traidor. E só há um fim para os traidor.
— T-traidor? — gaguejo, abrindo e fechando a boca, sem acreditar no
que estava ouvindo.
— Sinto muito.
Encaro ele incrédula. Será que ele sentia mesmo ou... fazia parte de
tudo aquilo?
As lágrimas queimaram meus olhos, mas não deixei que caíssem. Chorar
não ajudaria a situação. Precisava descobrir o que estava acontecendo.
Contive a histeria com muito esforço. Não queria começar a gritar, isto
poderia deixar ele irritado e ele acabar antecipando as coisas, seja lá o que
ele estivesse tramando fazer.
Lanço um olhar desesperado em volta. Não vi nada que pudesse servir
de arma.
Minha boca estava seca como o deserto. Mal conseguia juntar saliva
suficiente para continuar falando. Portanto, só o observei andando na minha
direção, me espreitando como um tigre faminto observa a presa.
Se ele tocasse em mim, pretendia lutar.
Ele chegou mais perto e recuei um pouco para atrás. E mais um. E mais
outro, até que fico com as costas contra a parede. Ele ergue a mão e me
preparei para me defender.
Mas ele estava apenas segurando uma garrafa d'água e a oferecendo a
mim.
— Tome — diz ele. — Imaginei que você estivesse com sede. — Não
se preocupe. É só água. Eu a quero acordada e consciente.
Não soube como reagir àquilo. Senti o coração na garganta e fiquei
enjoada de tanto medo.
Ele ficou parado, assistindo pacientemente, cedi à sede e peguei a
garrafa da mão dele. Minha mão tremia e, ao pegar a garrafa, meus dedos
encostaram nos dele. Uma onda de calor me invadiu, uma reação estranha
que ignorei.
A sensação do líquido fresco foi deliciosa nos lábios e na língua secos.
Bebi a garrafa inteira. Não me lembrava de quando fora a última vez em
que a água tivera um gosto tão bom.
— Vai me matar?
Para minha surpresa, a voz soou quase normal.

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Ele ergue a mão e toca no meu rosto. Fico parada indefesa, deixando
que ele fizesse aquilo. Os dedos foram gentis sobre minha pele, o toque
quase gentil. Era um contraste tão grande com a situação toda que, por um
momento, fiquei desorientada.
— Não seria capaz disso.
— Quem é você? — sussurro — O que quer de mim?
Ele não respondeu. Em vez disso, tocou nos meus cabelos, erguendo um
cacho castanho até o próprio rosto, inalando como se o estivesse cheirando.
Eu o observei sem me mexer. Não sabia o que fazer. Deveria lutar
contra ele? E, se fizesse isso, de que adiantaria? Ele ainda não me
machucara e não queria provocar ele. Ele era muito maior e muito mais
forte. Conseguia ver os músculos fortes sob a camiseta preta que ele vestia.
Sem os sapatos de salto alto, mal chegava à altura dos ombros dele.
Enquanto contemplava o mérito de lutar contra alguém que
provavelmente tinha cerca de cinquenta quilos a mais do que eu, ele tomou a
decisão por mim e deu as costas para mim, parecendo pronto novamente
para me deixar sozinha naquele lugar claustrofóbico.
— Só quero ir para casa — digo um pouco mais alto, fazendo com que
pelo menos parasse de andar. Poderia esquecer facilmente tudo aquilo e
voltar para a minha vida.
Ele me olhava por cima do ombro, antes de olhar para frente e abaixar a
cabeça, como se estivesse ponderando alguma coisa, que nem durou dez
segundos.
— Já disse que está em casa — diz por fim, antes de sair do cômodo.
O pânico toma novamente meu corpo. Se ele não iria me matar, por que
me manter ali presa? A incerteza da situação alimenta a ansiedade que agora
se transforma em uma angústia palpável. Cada segundo prolonga a sensação
claustrofóbica de estar à mercê de alguém cujas intenções permanecem
enigmáticas.

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Capítulo 7
Novamente em frente às câmeras, a observo tentar arrancar inutilmente a
corrente da parede, sua expressão denunciando a frustração e a determinação
ao mesmo tempo. Cada canto é examinado minuciosamente, como se
estivesse à procura de algo que a ajudasse a escapar.
Em um momento específico, ela olha fixamente para a câmera, como se
a certeza de que estava sendo observada a tivesse atingido de repente. Esse
olhar direto para a lente é um instante de conexão entre nós, uma consciência
compartilhada de que, de alguma forma, nossos destinos estão entrelaçados.
O som insistente da campainha corta o silêncio da sala, desviando
minha atenção para o outro monitor. Lá, vejo minha irmã parada em frente ao
portão, apertando a campainha com impaciência.
Ao observar a mulher no porão e, em seguida, voltar o olhar para o
monitor que exibe minha irmã à porta, a certeza de que aquele não era um
bom momento para uma das visitas habituais de vistoria dela para verificar
como estava.
Com o apertar de um botão, permito a entrada dela na propriedade. Em
passos largos, desloco-me até a porta, a aguardando na entrada da casa. A
decisão de permitir sua entrada é um movimento calculado, uma tentativa de
gerenciar as múltiplas facetas da minha vida que, de alguma forma, se
entrelaçam neste momento.
A tensão paira no ar enquanto espero, não demora para que estacione o
carro em minha frente e desça do veículo com duas sacola de compras.

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— Por que demorou tanto? — pergunta me entregando as sacolas de
qualquer jeito.
— Estava ocupado.
— Você sempre está ocupado, já percebeu?
— Não deveria estar também?
Ela estreita os olhos, colocando as mãos na cintura. Apesar dos seus
1,50 m de altura, era ameaçadora quando queria.
— Estou sempre ocupada cuidando dos seus sobrinhos e além do mais
trabalho em home office — Ela dá de ombros, passando por mim, como se já
conhecesse a casa. E de fato ela conhecia, parte dela.
— E falando nisso, não deveria estar com eles? — Coloco as compras
sob o balcão da cozinha, observando cada item comprado, sem entender o
por quê deles. A despensa estava sempre cheia, fazia compras pelo menos
duas vezes no ano e não entendia por quê ainda Loretta comprava tantas
coisas.
— Eles são bem, obrigada por perguntar — diz em tom sarcástico,
ignorando minha pergunta — Estão com os avós paternos.
— Por que mais comida? — Ergo uma conserva de pepinos — Tem
comida suficiente para duas famílias na dispensa.
— Nunca tem o que quero aqui. E além do mais, a comida que tem aqui,
parece aquele preparo do exército.
Deixo a comida de lado, colocando as mãos nos bolsos da calça, em
uma tentativa de esconder meu nervosismo, na espera de que Loretta fosse
embora.
— Quer o que para o café da manhã? — Ela pergunta se locomovendo
pela cozinha. Isto me fazia lembrar de que a pessoa que estava no porão,
escondendo do mundo, inclusive de Loretta, não havia se alimentado ainda
— Para variar, poderia comer ovos, bacon...
— Seria ótimo — Ela olha para mim com as sobrancelhas erguidas.
— Mais alguma coisa? — Não fazia ideia do que Kate gostava, não
havia descoberto muito sobre ela no Google, era péssimo com redes sociais
e o máximo de informação que encontrei foi no Wikipédia.
— Panquecas — Tento ignorar o olhar dela na minha direção, indo até a
geladeira — Acho que vi morangos por aqui, deixados na última vez que
você apareceu. Pode cozinhar um pouco mais? — Olho na direção de
Loretta, que ainda mantinha os olhos fixos em mim.
Ela pisca algumas vezes, voltando a se movimentar.

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— Tudo bem. Panquecas e ovos com bacon.
Observo Loretta preparar o café da manhã atentamente. Embora eu
soubesse cozinhar, minha presença ali era mais uma precaução para garantir
que não fosse para outra parte da casa.
— Quando ficar pronto, chamo você — diz ela em frente ao fogão.
— Prefiro esperar.
Alguns segundos se passam, até que ela resolve quebrar o silêncio.
— Você está bem?
— Não estou doente, se é o que quer saber — Dou de ombros.
— Não é sobre estar doente ou não. Quero saber se está bem no geral.
— Por que não estaria? — Ela pondera a ideia, antes de voltar a
atenção para a fogão — Você deve estar querendo fazer alguma coisa,
enquanto as crianças estão com os avós paternos. Você sabe, coisa de
mulher. Não precisa ficar aqui e cozinhar para mim o dia inteiro.
Ela sorri de repente, voltando a me olhar.
— Já entendi.
— O quê?
— Tem mais alguém aqui, não é? — Sustento o olhar dela sem saber o
que dizer, não poderia afirmar, mas também não poderia negar — E está tudo
bem — Ela abre as mãos em frente ao corpo — Ninguém consegue viver
muito tempo sozinho e você não é uma excessão.
— Loretta...
— O que estou dizendo, é que tudo bem você conhecer outras pessoas
— diz um pouco mais alto, mantendo um sorriso acolhedor no rosto — Tudo
bem, Julian — Ela volta para a comida, permitindo que dessa vez o silêncio
persistisse por mais algum tempo.

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Capítulo 8
Minha mente se tornou enevoada aos poucos, meus pensamentos
estranhamente confusos. Talvez fosse a fome ou aquele lugar. Ou até mesmo
o conjunto dos dois.
Meu sequestrador volta de repente, entra no cômodo silenciosamente
com uma bandeja e sem dizer nada, se aproxima de mim, ao deixar a bandeja
de lado, tirando a coleira em volta do meu pescoço.
Fixo meu olhar em seu rosto, esperando encontrar algo ali. Mas não
havia nada.
Ele me ajuda a levantar do chão e, ainda segurando meu braço, me guia
até o chuveiro ao lado da pia, quase imperceptível.
Chegamos ao chuveiro, e ele permanece ao meu lado, segurando meu
braço com firmeza, talvez temendo que fizesse alguma coisa ou
simplesmente desmaiasse em seus pés. Um pouco sem jeito, de costas para
ele, tiro as roupas que estava vestida, deixando num pequeno amontoado ao
lado.
A água começa a correr, criando um ruído suave que ecoa no pequeno
espaço. Sinto a temperatura morna da água ao entrar em contato com minha
pele, uma sensação que contrasta com a intensidade do momento.
A presença dele é palpável, e, por um momento, há uma ambiguidade
desconcertante em seus gestos. É como se estivéssemos dançando em uma
linha tênue entre a preocupação e o controle, entre a vulnerabilidade e a

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dominância. O som da água cria uma cortina acústica ao nosso redor, nos
isolando do mundo exterior e acentuando a peculiaridade da situação.
Enquanto a água escorre, minha mente continua a girar, tentando decifrar
os motivos por trás desse cuidado aparente.
Um roupão felpudo apareceu na minha frente após o banho, o que me fez
acreditar que deveria ter estado por ali todo aquele tempo. Pela primeira
vez, desde que cheguei ali, pude me sentar na cama estreita e comida foi
colocada na minha frente.
Nem senti o gosto. Era ovos com bacon e panquecas, com bastante
chantilly e morangos enormes. Ele também me deu um copo d'água, que bebi
avidamente.
Torci vagamente para que ele não estivesse me drogando, mas não me
importei muito se estivesse. Me sentia tão cansada que só queria desmaiar.
Depois que terminei de comer e beber, ele pegou a bandeja do meu
colo.
— Escove os dentes — diz ele. Eu o encarei. Ele se importava com
minha higiene bucal?
Mas eu queria escovar os dentes e fiz o que ele mandou. Também usei o
banheiro para urinar. Ele virou de costas para que fizesse isso.
Em seguida, ele me ajudou a me acomodar na cama. Fiquei grata.
Ele me olhou atentamente, por um momento tive a impressão que seus
olhos brilhavam enquanto fazia isso, mas então ele sai do quarto e tranca a
porta.
Estava tão cansada que instantaneamente pego no sono.
Me senti como se tivesse voltado no tempo, justamente quando vi meu
pai morrer diante dos meus olhos. E lá estava meu sequestrador, pronto para
fazer o mesmo, e apesar de correr desesperadamente para longe dele, ele
sempre me encontrava. Cada passo que dava parecia apenas me afastar
fisicamente, enquanto a sombra da ameaça persistia implacavelmente sobre
mim.
A sensação de impotência diante do meu sequestrador alimentava o
desespero que ameaçava me consumir.
Cada tentativa de escapar era frustrada, como se estivesse presa em um
loop incessante de terror. A perseguição contínua criava uma atmosfera de
pesadelo, onde a sensação de inevitabilidade pairava sobre mim. A fuga se
tornava uma ilusão, e a lembrança vívida do passado intensificava o medo
do que estava por vir.

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— Não! — grito no pesadelo, acordando bruscamente, sentando na
cama e recuando de algo invisível, não demorando para que meus olhos
encontrassem os dele.
Ele estava em uma distância considerada segura, me observando. Seus
olhos, sombras obscuras na penumbra, pareciam penetrar minha alma.
O silêncio que pairava entre nós era tão denso que podia quase sentir
sua presença pesando no ar.
— Fica longe de mim — digo instintivamente.
— Você estava gritando.
Puxo minhas pernas para junto de mim, percebendo o suor que havia se
acumulado em meu corpo, e a respiração acelerada.
— Como que se importasse com isto. Estou presa aqui e tudo indica que
nunca mais vou sair daqui — O olhar dele vai para o chão.
— Tem água do lado da cama se estiver com sede.
— É só isso que tem para me dizer?! — questiono no momento em que
ele vai sair do cômodo.
— O que quer ouvir?
— Não é um pouco óbvio?
Ele me mantinha ali contra a minha vontade; era óbvio que queria que eu
fosse embora. Essa dicotomia entre suas ações e intenções lançava uma
sombra desconcertante sobre a situação. Cada movimento meu para tentar
escapar era recebido com sua resistência sutil, como se quisesse me manter,
mas sem expressar claramente o motivo.
— Vou trazer seu almoço.
— Você não pode me manter aqui para sempre! — grito, quando ele dá
as costas para mim.
E poderia, por muito tempo.

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Capítulo 9
Na cozinha, esquento uma das diversas marmitas que Loretta deixa
congelada no congelador. Há várias opções disponíveis, reflexo da
preocupação dela com minha alimentação. Ela acredita que não me alimento
adequadamente e que a comida que faço por conta própria não é nutritiva o
suficiente.
Depois de retirar a marmita do forno, transfiro o conteúdo para um
prato. Com cuidado, arrumo os alimentos da melhor forma possível, tentando
criar uma apresentação atrativa.
Equilibrando a bandeja em uma das mãos, volto para o porão, usando a
mão livre para destrancar a porta. No instante seguinte, quase sou derrubado.
Kate se joga sobre mim, pegando o garfo da bandeja antes que pudesse
processar o ataque, e voa na minha direção, me acertando no rosto. Ignoro a
dor instantânea, agindo por impulso para conter ela. Com força, a jogo
bruscamente no chão, buscando restaurar o controle da situação.
A adrenalina pulsa, se misturando com a dor que se manifesta no rosto,
ela geme baixo de dor, sem fôlego; Mesmo assim não desiste. O porão, antes
silencioso, agora ecoa com os sons da luta momentânea.
Com o peso do meu corpo, consigo imobilizar ela. Kate está sem fôlego,
claramente cansada. Não tem muita energia, e mesmo que tivesse, não
conseguiria lutar contra mim naquele momento. A cena, anteriormente
caótica, agora se transforma em um momento de relativa calma, onde a
resistência dela é temporariamente contida.

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E A respiração ofegante de Kate ecoa no porão, interrompendo o
silêncio tenso que se estabeleceu.
— Iria perguntar se gosta de peixe grelhado — Olho para a bandeja
virada no chão — Mas acho que não está com fome — Seguro com mais
força seus braços.
— Quero que me deixe ir! — Ela rosna.
Ignoro novamente seu pedido.
Ainda não sabia como dizer para ela que não pretendia deixar ela ir.
Isto literalmente não estava em meus planos. Mas sabia que precisava ganhar
tempo e principalmente ela. Tinha que conquistar ela.
Invés de dizer alguma coisa, estico minha mão e pego a coleira que não
estava muito longe.
— O que vai fazer?! — Ela pergunta assustada.
— Você precisa se acalmar.
— Preciso da minha liberdade! — rebate enfurecida.
Ela volta a se debater em baixo de mim, roçando no meu corpo. Apesar
da situação, ela estava conseguindo me excitar mesmo que inconsciente e me
via na obrigação de não ceder ao meu desejo que se acumulava.
— Para de se mexer — murmuro, sem conseguir me concentrar na tarefa
que tinha diante de mim. Até então simples.
— Vou lutar até o fim! — Ela grita de volta, como uma criança mimada,
fazendo birra.
Meu sangue começa a ser bombeado para o lugar errado, inflando meu
pau que não se satisfazia já algum tempo. Meus desejos que antes reprimia,
estavam vindo a tona com toda força, me deixando parcialmente
desnorteado. Não conseguia pensar direito e meu sangue começava a ferver
em minhas veias.
Tinha que fazer alguma coisa.
Tinha que parar ela, antes que fosse tarde demais.
— Mandei parar! — grito de repente, batendo seu corpo com mais força
do que queria no chão. As palpébras de Kate ficam entre abertas, enquanto
seus olhos vagam de um lado para o outro.
Droga! Não...
Olho atentamente seu rosto, checando em seguida sua cabeça em busca
de algum ferimento, mas não havia nada. Felizmente. Ela não era os meus
sacos de areia que descontava minha raiva ou qualquer objeto, era de carne
e osso e, mais frágil do que parecia.

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Minha consciência pesou rapidamente e apesar de querer garantir que
estava bem, me vi colocando a coleira novamente em volta de seu pescoço e
tentando convencer a mim mesmo que só era temporário, até poder ter o
controle de toda a situação.
Não sabia ainda como lidar com ela. Mas encontraria um jeito.
Observo ela deitada no chão por alguns instantes, a cena revelando a
tensão que preenche o porão. A expressão no rosto de Kate, agora no chão, é
uma mistura de exaustão e frustração. O silêncio parece amplificar a
complexidade da situação, enquanto pondero sobre os próximos passos.
Decido pegar a bandeja e a comida que foram jogadas no chão, um gesto
prático em meio à turbulência.
Antes de sair do cômodo, lanço um olhar novamente em direção a Kate.
Um suspiro pesado escapa, antes de fechar a porta atrás de mim.
Minhas horas vagas estavam resumidas basicamente em observar Kate,
e naquela tarde não seria diferente.
Meu celular toca de repente em cima da mesa em minha frente, e o nome
de Vitto está estampado no visor. Hesitante, pego o aparelho, decidindo
atender a chamada.
— Se for algum trabalho, estou ocupado.
Ouço ele sorrir.
— Até você mesmo esquece que está aposentado.
Droga de aposentadoria, penso. Aquela palavra se repetia tanto nas
últimas semanas, que começava a me sentir como um senhor de 90 anos que,
mal escutava.
— E você acabou de me lembrar.
— Só liguei para saber se terminou o último trabalho.
Na verdade não, ela está bem viva no porão da minha casa. Ou talvez
quase isto, já que quase a matei sem querer. Mas invés disso, eu disse:
— Considere terminado.
— É por isto que vou sentir sua falta — Ele faz uma breve pausa — E
espero que vá passar o Natal com sua família, imagino que não os vê muito.
— Tenho contato suficiente com eles.
— Imagino que sim — Dito isto, ele desliga, permitindo que voltasse
para meu hobbie.

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Capítulo 10
Chegou o anoitecer, a cada minuto que passava, ficava cada vez mais
ansiosa mais ansiosa com a ideia de ver meu sequestrador novamente.
Principalmente por estar com fome.
Finalmente, a porta se abriu.
Ele entrou como se fosse dono do lugar. O que, claro, era verdade.
Fiquei novamente impressionada pela beleza masculina dele. Com um
rosto daqueles, poderia ter sido modelo ou ator de cinema. Se houvesse
alguma justiça no mundo, ele seria baixo ou teria alguma outra imperfeição
para compensar aquele rosto.
Mas não tinha. O corpo era alto e musculoso, com proporções perfeitas.
Ele vestia novamente calça jeans e uma camiseta, desta vez, cinza. Ele
parecia gostar de roupas simples, o que era inteligente. A aparência dele não
precisava de realce.
— Espero que agora esteja com fome.
— Eu estou — Deveria já ser a hora do jantar e meu almoço havia ido
para o chão, já que achei por um momento que conseguiria fugir.
A coleira em meu pescoço, não permitia me movimentar muito, mas
permitia que eu sentasse. Meus movimentos são observados atentamente por
ele, assim que encosto as costas na parede, a bandeja é colocada em meu
colo.
Não era peixe no almoço, pelo contrário, ensopado com muitos legumes.
Poderia até ser a comida que eu menos gostava na face da Terra, mesmo

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assim comeria. Estava passando mal de fome.
Surpreendentemente ele senta perto da porta, com as costas também
apoiadas na parede, comendo em uma marmita de plástico que não havia
percebido.
— Posso tirar isto do seu pescoço, se quiser — diz com os olhos fixos
na comida — Claro, se você não me atacar de novo.
Aquele negócio no meu pescoço esquentava.
E pinicava.
— Não vou atacar você, se é o que quer ouvir — murmuro.
— Não é só o que quero ouvir. Quero ter certeza — Sustento seu olhar,
sem nenhuma pretensão de cometer o mesmo erro.
— Eu não vou atacar você — digo pausadamente.
Sem dizer alguma palavra, ele se levanta e retira a coleira do meu
pescoço. Pelos poucos segundos que precisou, pude sentir seu cheiro e sentir
seus dedos na minha pele, que causaram um leve formigamento na minha
pele.
Comemos em silêncio, apesar de ter muitas perguntas a serem feitas.
Optei por apreciar a comida que estava maravilhosa. Cada garfada era uma
mistura de sabores que, por um momento, desviava minha atenção das
incertezas que pairavam sobre mim.
— Precisava de alguma coisa? — A voz dele rompe o silêncio, no
momento que me levanto para esticar as pernas, como se estivesse
preocupado com meu bem estar.
— Além de roupas e da minha liberdade? — Tento manter o roupão que
estava vestida bem fechado — Não. Acho que tenho tudo bem aqui.
Em vez de ficar parada e deixar que ele olhasse para meu corpo nu,
deslizei para baixo até sentar no chão com os joelhos encostados no queixo.
Coloquei os braços em volta das pernas e fiquei sentada, com o corpo
inteiro tremendo. Os cabelos longos e densos estavam caídos sobre as costas
e os braços, me cobrindo parcialmente.
Escondi o rosto contra os joelhos. Eu estava com muito medo do que ele
faria comigo e as lágrimas que queimavam os olhos finalmente escaparam,
descendo pelo rosto.
— Kate — diz ele. Havia um tom de aço na voz dele. — Levanta.
Levanta agora mesmo — Balanço a cabeça sem dizer nada nem olhar para
ele — Kate, isso pode ser algo prazeroso ou doloroso para você. A decisão
é somente sua — Vou providenciar as roupas — diz se aproximando para

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pegar a bandeja que ainda estava perto de mim no chão. Era bom ficar em pé
e poder esticar o corpo — Tem alguma coisa que quer comer?
Viro o rosto para o lado, evitando olhar diretamente para ele.
— Se quiser me matar mais rápido, não posso comer nada que tenha
castanhas. Sou alérgica.
— A última coisa que quero fazer, é machucar você — Sua voz soa
firme, antes de ouvir seus passos deixando o cômodo.
Odiava aquele lugar. Odiava o homem que estava me mantendo ali. E
mais ainda, eu por ter tido a brilhante ideia de passar uns dias com meu pai.
Deveria ter ficado com o novo namorado da minha mãe e a minha mãe
paranoica.
Cada pensamento era um eco amargo de arrependimento, uma trilha
sonora de autocondenação que se repetia em minha mente. A escolha de
visitar meu pai, que inicialmente parecia inofensiva, se revelava agora como
um erro grave, uma decisão que me colocara em um labirinto de perigo e
medo.
O ódio em relação ao lugar, ao homem que se mostrava como meu
captor, e até mesmo a mim mesma, se tornava um fardo pesado. A nostalgia
inicial de passar tempo com meu pai se transformara em um pesadelo, e a
presença constante daquele homem desconhecido somente intensificava a
aversão à minha própria escolha.
A sensação de ter errado, de ter subestimado a situação, era
avassaladora. Deveria ter seguido o caminho seguro, permanecendo com
minha mãe e seu novo namorado, evitando assim esse turbilhão de eventos
perturbadores.
Enquanto a raiva fervilhava dentro de mim, também surgia a
determinação de encontrar uma maneira de escapar desse pesadelo.

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Capítulo 11
Na manhã seguinte, antes mesmo de preparar o café da manhã de Kate,
decido ir até a loja de roupa mais próxima. Devido à proximidade do Natal,
o local está parcialmente cheio, com pessoas transitando de um lado para o
outro em busca de presentes e até mesmo pijamas combinando.
A atmosfera natalina envolve a loja, com enfeites festivos e a agitação
característica dessa época do ano. Enquanto navego pelos corredores
repletos de opções, a missão é clara: encontrar roupas para Kate.
A seção feminina, ao mesmo tempo que era interessante, era
assustadora. Havia tantos itens, tantas cores, formatos. A variedade de
escolhas se destacava, e a sobreposição de opções podia ser avassaladora.
Em meio a vestidos, blusas, e acessórios, a tarefa de encontrar algo que ela
pudesse gostar era desafiador.
E sentia que sozinho não daria conta. Por causa disto, acabei por optar
por pedir ajuda.
— Espero que seja importante, para atrapalhar meu pilates — diz
Loretta assim que atende o celular.
Inspiro profundamente o ar, o soltando rapidamente, decidindo falar de
uma vez, sem rodeios.
— Preciso da sua ajuda — Breve silêncio — Loretta?
— O que aconteceu? — pergunta séria — Você não é de pedir ajuda.
— Sabia que era uma péssima ideia — Fecho os olhos por um instante,
enchendo os pulmões de ar.

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— Só... — suspira — me manda a localização.
Loretta ultrapassa o tempo médio para chegar até a loja. À medida que
percorro a seção feminina, percebo os olhares estranhos de outras pessoas,
principalmente mulheres. O fato de um homem vagar por entre as roupas
femininas certamente alimenta teorias e conjecturas, talvez suspeitas de que
seja um intruso ou até mesmo um tarado.
Quando finalmente Loretta aparece, está com dois cafés da Starbucks.
— Por que está na seção feminina?
— Já era para estar aqui.
— Café? — Encaro o copo em sua mão, cedendo a tentação, na tentativa
de clarear minha mente — Imaginei — Ela olha algumas roupas — E então
por que estamos aqui?
— Preciso que me ajude a comprar roupas para a Kate — Ela fixa o
olhar de imediato no meu rosto, com um sorriso surgindo em seguida.
— Ela tem um nome, no final das contas. Kate — Meus olhos vagam
pelo chão, enquanto minha mente grita de que não era nada daquilo que ela
deveria estar pensando.
Invés disso, continuei com o plano.
— Vai me ajudar?
— Claro que sim! — Ela abre um largo sorriso, balançando a cabeça
em seguida, como se quisesse organizar os próprios pensamentos — Mas me
diga, do que ela gosta?
Diante da falta de informações sobre as preferências de Kate e da
impossibilidade de recorrer aos contatos para obter mais informações sobre
ela, teria que descobrir isto por conta própria.
Mas dada as roupas que estava vestida antes, dava para deduzir.
— Você e ela parecem ter gostos parecidos. Quer dizer, ela não se veste
como se fosse mãe ou... um duende — Loretta estava vestida com uma
legging verde clara que combinava com uma camiseta da mesma cor.
— Aprendi apenas a ser prática — Ela se defende — E está na moda se
vestir assim.
Loretta se move com precisão entre as araras, demonstrando uma
habilidade técnica baseada em seus próprios gostos pessoais. Sua
experiência e conhecimento sobre moda se torna evidentes à medida que
seleciona peças que refletem seu senso estético.
— O que aconteceu com as roupas dela? — pergunta distraída com as
roupas.

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— A mala extraviou.
— Ela não é daqui?
— Estava viajando — Ela dá de ombros, indo para uma seção menor,
aonde era formada apenas por lingerie — Acho que vai querer escolher isto
aqui.
Meus olhos vagam pelas lingeries, tentando manter a concentração em
qualquer coisa que não sejam as cores e detalhes provocantes. A seção,
repleta de tons vibrantes e designs sedutores, cria uma atmosfera
desconfortável para mim.
— Não.
— Ah, vamos lá, Julian. Você pode apimentar as coisas entre vocês —
Ela pega um conjunto vermelho, cujo sutiã era de renda transparente, o que
permitia com certeza a visão dos mamilos enrijecidos. A calcinha era um fio
dental que só cobria a parte da frente, mas tinha o mesmo tecido do sutiã.
Não foi difícil imaginar Kate vestida naquela lingerie, diante de mim,
com uma das mãos passeando lentamente pelo seu corpo, se preparando para
se tocar.
— Pega um de cada — digo me afastando rapidamente, quando meu pau
começa a endurecer.
De costas para Loretta, tentava recuperar o controle do meu próprio
corpo.
— Olha essa branca que linda! — Ela continua, se aproximando de
repente com uma peça branca, com renda apenas nas laterais e um pano
transparente da cor da pele tampava a parte da frente. Ela praticamente
esfrega a peça no meu rosto e por um momento, minha mente imagino Kate
passando sua buceta na minha cara — Espero que essa ajude a fazer bebês.
Olho para ela incrédulo, ciente de que gotículas de suor havia se
acumulado em minha testa e por não estar sabendo lidar com meu corpo e
muito menos com Loretta naquele momento.
— Preciso de água.
Era impossível não imaginar minha porra inundando a boceta de Kate,
enquanto a certeza que a engravidaria e que carregaria meu filho por nove
meses. Veneraria seu corpo ainda mais, cada curva e me deliciaria. Ela seria
minha para sempre e nem mesmo a morte nos separaria, já que me tornaria
seu obsessor apenas para não me separar dela.

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Capítulo 12
Estava faminta quando a porta abriu.
— Pensei que iria me deixar morrer de fome — Por um momento
realmente achei que não apareceria, que me deixaria morrer ali para morrer
de fome.
Mas naquela manhã ele colocou em minha frente a bandeja com meu
café da manhã e sacolas.
— São roupas — Esclarece, quando fixo meu olhar nas duas sacolas
grandes — Pode olhar, se quiser — Desvio meu olhar dele, para uma das
sacolas, estendendo as mãos para as abrir.
Realmente havia roupas nas sacolas de cores neutras, nada que eu não
usaria. Mas o que de fato chamou minha atenção foram algumas lingeries;
umas eram normais, já outras... parecia que estava prestes a seduzir alguém.
Pego umas das lingeries, sentindo meu rosto se aquecer rapidamente,
ciente de que os olhos dele ainda estavam em mim.
— Pode soar estranho, mas foi minha irmã — Franzo o cenho confusa.
Ele tinha uma irmã. Uma família talvez, pelo menos já era alguma
informação — Ela me ajudou com isto — Ele olha para as sacolas.
— Por quê?
— Quero que se sinta confortável.
Forço um sorriso, não querendo dar atenção aos meus pensamentos
intrusivos que, gritavam literalmente que morreria naquele lugar.

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— Estou em um cativeiro, não tem como me sentir confortável aqui —
rebato, pressionando meus lábios com força.
Ele suspira, inclinando a cabeça para o lado.
— Acredite, já vi cativeiros bem piores do que estes. Aqui está no céu.
Se ali era o céu, não queria conhecer o inferno.
Ou já estaria de frente para ele?
Um plano macabro e praticamente suicida, se forma em minha mente
quando ele sai do cômodo.
Com as roupas em mãos, comecei a improvisar uma corda. Cada nó que
eu dava representava uma promessa silenciosa a mim mesma de que eu faria
o que fosse necessário para escapar daquela cela opressiva. A câmera na
parede, que antes me observava impiedosamente, agora testemunhava meu
ato de resistência.
Determinada a seguir com meu plano de escapar, entrei no pequeno
cômodo ao lado, o banheiro. Meu coração ainda batia forte, mas a urgência
da situação me impulsionava. Olhei ao redor, procurando o ponto mais alto,
e meus olhos se fixaram no cano do chuveiro.
Com pressa, amarrei a corda improvisada ao cano, e senti a hesitação
tomar conta do meu corpo por um momento, pouco antes de pegar o banco ao
lado e fazer o que eu achava que era preciso.
O nó ao redor do meu pescoço estava apertado o suficiente, quase
impedindo que respirasse antes mesmo de continuar. Respirando pela boca,
fecho os olhos e me mentalizo fora daquele lugar, com meu bebê que não
pude; Em seguida, tenho a impressão que estou me jogando no abismo.
A pressão em torno do meu pescoço se intensificou rapidamente, me
sufocando sem piedade. Em questão de segundos, a simples tarefa de
respirar se tornou impossível. Meu corpo entrou em pânico, lutando
desesperadamente por oxigênio, mas era como se o ar tivesse sido cortado.
Meus pensamentos corriam em um turbilhão, minha visão começava a
ficar turva, e uma sensação de desespero me inundava. A corda que eu tinha
improvisado como uma possível rota de fuga agora se transformara em um
instrumento de sufocação, uma armadilha que eu mesma havia criado.
Estava preparada para enfrentar o desconhecido, seja ele o céu ou até
mesmo o inferno. A sensação de que o fim estava próximo era avassaladora,
e eu aceitava o destino que parecia inevitável. Meu corpo fraquejava, e eu
me via prestes a cruzar a linha entre a vida e a morte.

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No entanto, algo inesperado aconteceu. Quando estava no limite da
consciência, um anjo, ou talvez um ser malévolo disfarçado, interveio e
impediu que eu fosse além. Era como se a própria morte tivesse sido adiada,
como se o destino tivesse dado um passo para trás.
Mãos grandes e rápidas envolvem meu pescoço e arrancam a corda
improvisada, proporcionando um alívio imediato. A capacidade de respirar
voltou quase que instantaneamente, mas a sensação de sufocação e a tosse
persistiram. Minha garganta queimava, e tossi violentamente enquanto meu
corpo lutava para recuperar o fôlego.
Minha visão ainda estava turva, e minha mente estava confusa, mas eu
estava viva.
— Achou mesmo que seria tão fácil assim? — Entre abro os olhos,
notando ali, ao meu lado, meu sequestrador.
— Eu quase consegui — digo baixo, tentando ignorar a dor insistente ao
redor do meu pescoço.
— Não haverá uma próxima vez — diz convicto, como se de alguma
forma, soubesse o futuro — Irei me certificar que isto não aconteça mais —
Apesar das suas palavras, ele não conseguia esconder o nervosismo em sua
voz. Por um momento, acreditei que a situação inusitada o pegou
desprevenido.
— Nem consigo imaginar como pretende fazer isso — digo sarcástica.
Ele solta o ar dos pulmões, olhando fixamente para mim.
— Ficará acorrentada 24 horas por dia, pelo menos assim não fará nada
contra você mesma — Antes mesmo que pudesse processar suas palavras,
me ergue do chão e me coloca sentada com as costas apoiadas na parede e
me acorrenta pelo pescoço. O metal gélido conta minha pele, causa um breve
arrepio pelo meu corpo. Tento arrancar aquilo do meu pescoço, mas como
esperado, a força que coloco não tem nenhum efeito — Seja uma boa garota
e não me obrigue a acorrentar todo o seu corpo.
— Vai acabar fazendo isso — Forço um sorriso amargo ao olhar para
ele — Sabe disso — Seus lábios se se entreabrem, enquanto mantém os
olhos afiados como uma faca fixos em mim.
— Prefiro fazer isso na minha cama.

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Capítulo 13
Todo meu corpo tremia, ando de um lado para o outro, mantendo meus
punhos bem fechados. Ela quase me deixou. Quase. E por um momento, se
não tivesse checado a câmera de segurança, ela estaria morta.
Se fosse necessário, a manter acorrentada para sempre, a manteria.
O interfone toca de repente, e me dirijo até o mesmo, fechando os olhos
por alguns segundos, ao ver pela tela o carro da última pessoa que queria
ver.
— Sei que está em casa, Julian.
Claro que ele sabia. E deveria saber de mais coisas.
Brock “Crazy” Sailors estava entre um dos melhores rastreadores da
organização e se ele estava ali, era por que estava rastreando alguém: Kate.
Libero a entrada dele, acreditando que o melhor seria agir normalmente,
não deixar transparecer nada e, talvez, se tivesse sorte, ele pensaria que não
há nada de anormal ali e iria embora. A tensão aumenta enquanto aguardo a
chegada de Brock, me esforço para manter uma expressão neutra e não
revelar qualquer sinal do tumulto interno que estou enfrentando.
Há um sorriso no rosto de Brock quando ele desce do carro com seu
conhaque favorito. Ele abre os braços assim que se aproxima, estendendo a
garrafa na minha direção.
— Por que o conhaque? — Encaro a garrafa, antes de a pegar.
— Comemorar sua aposentadoria. O que mais seria? — Olho mais uma
vez para a bebida, tentando entender qual era o plano de Brock por trás

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daquela visita — Não vai me convidar para entrar? Uma dose deste
conhaque cairia bem agora — Ergo o olhar, encontrando um leve sorriso no
rosto.
Dou um passo para o lado, permitindo sua entrada. Brock passa por mim
em passos vagarosos, olhando atentamente todo o espaço que se estendia em
sua frente, seu olhar varria cada canto, atentos; Um objeto fora do lugar ou
até mesmo que não combinava com o ambiente, alarmava seu instinto.
— Como estão os preparativos para o Natal? — Ele pergunta, ainda se
locomovendo de um lado para o outro — Agora tem tempo suficiente para
essas babaquices.
Na cozinha, sirvo um pouco do conhaque em dois corpos, antes de
retornar para a sala.
— Ainda não parei para pensar nisso — Ele dá um bom gole no líquido,
apontando o dedo indicador na minha direção.
— É melhor começar a pensar, já que agora entrou em uma profunda
monotonia — O líquido queima parcialmente minha garganta quando o
engulo, sem ao menos apreciar o sabor — Mas não acho que seja verdade, já
que vi você fazendo compras essa manhã com a sua irmã na Target.
Semicerro as pálpebras ao olhar para ele.
— Ela conseguiu me arrastar para fazer compras. Sabe como são as
mulheres, amam um cartão de crédito sem limite.
Ele ergue um dos cantos da boca em um meio sorriso.
— Engraçado que ela não levou nada para casa.
— Por que estava me vigiando?
— Não estava. Estava apenas...
Viro o restante da bebida na boca, soltando bruscamente o copo sobre a
mesinha de centro.
— Vitto mandou você aqui?
— Talvez — Ele dá de ombros — Anda vendo os jornais? A filha do
Frank foi dada como desaparecida pela mãe, após dele. E até agora... — Ele
suspira — não encontraram nenhum corpo — Meus olhos vagam pelo
carpete, enquanto minha mente se questiona quanto gastaria em um carpete
novo. Loretta já havia dito algumas vezes que precisava ser mudado — O
que você fez com o corpo?
Ergo os olhos no mesmo instante.
— Desde quando isto importa?

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— É só me dizer o que fez com o corpo, que faço todas as buscas por
ela se encerrarem.
Logicamente daria um jeito nisso depois, mas sem a ajuda dele.
— Já está feito.
Brock anda devagar na minha direção.
— Elas se parecem. Eu sei — murmuro — E pode ser difícil para você.
Ele sabia dela e estava ali para fazer o que não havia conseguido fazer.
Ataco Brock sem pensar duas vezes, o derrubo no chão antes que
pudesse processar o que estava acontecendo. Ele consegue me acertar dois
socos, que me desnorteiam parcialmente. Ele só precisava alcançar a arma
que deveria estar em sua cintura e acabaria comigo. Mas não deixaria ele
tocar em Kate, nenhum deles.
Tiro minha faca rapidamente da cintura da bainha e a coloco o mais
fundo possível em Brock, que segura minha mão com força, tentando a retirar
dali mas, apenas entra um pouco mais dentro do seu corpo.
— Vocês não vão tocar nela — digo entre dentes, sentindo a raiva
fervilhar em minhas veias.
Puxo a faca com toda força para cima, abrindo Brock de cima para
baixo. A expressão que tomou seu rosto era indescritível, não dava para
deduzir o que poderia estar se passando na sua mente naquele momento.
Me afasto de Brock o observando agonizar, ciente de que havia feito a
coisa certa para proteger a mulher que queria ao meu lado pelo resto da
minha vida.
Estriparia um exército por ela.
Com um suspiro pesado, resolvo ouvir o conselho de Loretta e trocar o
carpete da sala, enrolando o corpo de Brock nele, enquanto imaginava o que
Kate gostaria para o almoço.

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Capítulo 14
Deveria ser a hora da próxima refeição: o almoço. Pois meu estômago
roncava.
Mesmo sem me movimentar, presa a uma coleira, sentia fome mais do
que o habitual. A comida dali não era ruim; era boa, até mesmo os legumes e
vegetais.
Em momentos como aquele, em que precisava lidar com meu estômago,
imaginava o que poderia estar fazendo se não estivesse ali. Certamente
estaria indo de loja em loja, comprando coisas que não precisaria, em
ligações com a minha mãe, a ouvindo dizer como Joshua era bom com ela,
ou com uma das minhas amigas que estava de férias. Meu pai me levaria
para jantar em seu restaurante favorito e, no final da noite, apreciaria a neve
cair e me imaginaria um dia com a minha própria família.
Mas nunca me imaginaria à mercê de um assassino, presa em uma
coleira e escondida em um lugar deprimente. A ironia da realidade atingia
como uma punhalada, contrastando violentamente com as fantasias que havia
criado em minha mente. As imagens idílicas de compras, jantares alegres e
momentos familiares eram substituídas pela dura verdade de estar à mercê
de uma ameaça mortal.
A única coisa que poderia fazer era continuar me imaginando fora
daquele lugar, enquanto ele não decidia o que faria comigo.
Quando finalmente a porta se abre, após horas, me sinto
momentaneamente aliviada por poder comer a próxima refeição e assustada

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ao ver o estado em que ele entra no cômodo segurando a bandeja. Havia
sangue pelas suas roupas e seus antebraços, como se tivesse acabado de sair
de um açougue.
O alívio inicial é substituído por uma onda de terror diante do cenário
macabro que se desenrola diante de mim. O sangue nas roupas e nos
antebraços dele evoca imagens perturbadoras, sugerindo uma violência que
transcende o desconforto da minha prisão.
— Desculpa a demora — diz cordial, colocando a bandeja na minha
frente.
— Está machucado? — A pergunta pula da minha boca antes que
perceba, incapaz de desviar os olhos dele. Como se de fato me importasse
com isto.
Ele sustenta meu olhar, enquanto a pergunta fica suspensa no ar.
— Não estou. Só tive um contra tempo. Agora coma, antes que esfrie.
Não espero uma segunda ordem para comer; em vez disso, começo a
saborear mais uma refeição deliciosa, imaginando que a cozinheira ou
cozinheiro deveria ser algum chef de cozinha renomado.
Pelo restante do jantar, continuei agindo como se estivesse com medo e
intimidada. Não era fingimento, pois era como me sentia. Estava na presença
de um homem que matava casualmente pessoas inocentes. Como deveria me
sentir?
— Por que não me fala sobre você?
Pisco lentamente, sem entender onde estava querendo chegar com aquela
pergunta. sabia que meus olhos eram bonitos e olhei para ele timidamente,
com as pálpebras semifechadas. Praticara aquele olhar na frente do espelho
e sabia que meus cílios pareciam muito longos quando inclinava a cabeça no
ângulo certo.
— O que quer saber? — Ele já não descobrira tudo sobre mim?
Ele sorri. O sorriso fazia com que ele ficasse tão lindo que senti um
aperto no peito.
— Você gosta de ler? — Ele pergunta — Que tipo de filmes gosta de
assistir?
E, pelos minutos seguintes, ele ficou sabendo que eu gostava de livros
de romance e histórias de suspense, que odiava comédias românticas e que
adorava filmes épicos com muitos efeitos especiais. Depois, ele me
perguntou qual era minha comida favorita e de que músicas gostava,

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escutando atentamente quando falei que gostava de pizza e de bandas dos
anos setenta.
No entanto, também tentei ser sedutora. Eram coisas pequenas, como a
maneira como empurrava os cabelos para trás ao olhar para ele. A forma
como mordia um pedaço de morango que cortara para a sobremesa e lambia
o suco dos lábios.
Não exagerei, pois ele não acreditaria. Apenas fiz coisas pequenas que
ele poderia achar excitantes e atraentes.
O homem diante de mim exalava confiança, em outra circunstância me
sentiria completamente a vontade com ele.
De uma forma estranha, era quase lisonjeadora a forma como ele estava
totalmente concentrado em mim, devorando cada palavra que dizia. A forma
como os olhos pretos estavam fixados no meu rosto. Era como se ele
realmente quisesse me entender, como se realmente se importasse.
— Pensei que soubesse tudo sobre mim — digo por fim, quando pega a
bandeja.
— Não sei tudo sobre você. Gostaria. Então se quiser me contar...
Suspiro, me dando conta de que nenhum homem nunca quis saber tudo
sobre mim, muito menos me olhou da forma que ele me olhava, como se
fosse a pessoa mais importante na face da Terra.
— Tenho outra opção? — Ele sorri, dando as costas para mim,
deixando óbvio que na minha situação não havia muitas opções. Pelo menos
era o que parecia para mim — Você sabe do que gosto mas, não sei seu nome
— Ele me olha por cima do ombro no mesmo instante.
— Julian.
Não conseguia acreditar que passou pela minha mente que poderia
começar a confiar nele, nem que fosse só um pouco. Homens normais não
assassinavam e sequestravam, muito menos mantinha mulheres em cativeiros.
Não, ele não era normal. Era um controlador e não podia me esquecer
disso. O fato de não ter me machucado gravemente não significava nada. Era
só uma questão de tempo até que ele fizesse algo realmente grave.
Precisava escapar antes que isso acontecesse e não podia perder tempo
seduzindo ele. Ele era perigoso demais e imprevisível.

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Capítulo 15
Lidar com o corpo de Brock me fez esquecer da hora, o que me fez levar
o almoço para Kate um pouco mais tarde. Vi o medo estampado em seu rosto
no momento em que entrei no porão. Não havia tido tempo de tomar um
banho e vestir roupas limpas; a prioridade era manter ela alimentada, e havia
passado da hora disso.
O desaparecimento de Brock certamente despertaria perguntas de Vitto.
Mesmo que eu tentasse esconder todas as pistas, a ausência do agente não
passaria despercebida. Vitto deveria ter o mandado me vigiar, e quando não
recebesse as informações que queria, um alerta sonharia em sua cabeça.
Respiro fundo, mudando de posição na cama, me sentindo
momentaneamente desconfortável, decido abrir os olhos e me dou de cara
com Loretta.
— Mas que...! — Sento rapidamente na cama, contente por estar de
cueca e não nu, como costumava dormir.
— Café? — Ela me oferece a caneca que estava bebericando.
— Como você entrou?
Ela se afasta da cama, indo abrir as cortinas.
— Peguei a chave reserva.
— Por quê?!
Ela inclina a cabeça para o lado ao se virar para mim.
— Achou mesmo que conseguiria esconder sua nova namorada de nós?

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— Do que você...? — Franzo o cenho, me sentindo parcialmente
confuso devido a forma abrupta que minha querida irmã havia me acordado.
— Mamãe e Nádia estão aqui, decidimos que vamos passar o Natal com
você e finalmente conhecer a mulher que está fazendo você comprar roupas
para ela.
Abro minha boca prestes a gritar com ela, quando os gêmeos entram
bruscamente no quarto, se jogando propositalmente na cama, começando a
pular como dois macaquinhos.
— Oi, tio! — dizem ao mesmo tempo, estavam um pouco maiores desde
a última vez que os vi. Justamente o ano passado, quando nesta mesma época
passei apenas para dar um oi, já que estava atolado em serviço.
Os gêmeos se pareciam com Loretta, até mesmo a personalidade
duvidosa, pertencia a ela. O que me fazia pensar que talvez Andy, de seis
meses, se parecesse com o pai em determinados momentos.
— Como assim, a mamãe e a Nádia estão aqui?! — Me sentia em um
verdadeiro pesadelo, primeiro Brock e agora minha família havia decido
acampar na minha casa naquele Natal, justamente quando havia uma mulher
presa em meu porão.
Mulher essa que queriam conhecer.
Os gêmeos continuam pulando animadamente, como se tivessem comido
todo meu estoque de açúcar.
— É melhor levantar e se vestir, não vai querer que a mamãe veja você
assim — Ela toma mais um gole de café, antes de sair do quarto — Meninos!
— chama no corredor e como bons pestinhas que eram, eles obedecem a
mãe.
A sensação do banho quase frio percorreu meu corpo, uma preparação
para o que estava por vir. Me vesti adequadamente, escolhendo cada peça
com cuidado, como se o ato de me vestir fosse um escudo.
Ao sair do quarto, fui recebido pela atmosfera natalina que envolvia
minha casa. Decorações cuidadosamente dispostas transmitiam a alegria da
temporada. As luzes piscavam em harmonia com a melodia suave das
canções natalinas que pairavam no ar.
Os risos animados dos gêmeos ecoavam pela sala, enquanto corriam de
um lado para o outro. Enquanto isso, Lars, o marido de Loretta,
cuidadosamente acendia a lareira, para um homem que trabalhava em um
escritório, era surpreendente saber que conseguia lidar com a lareira.

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No cômodo ao lado, Nádia e Loretta se moviam com agilidade pela
cozinha, coordenando seus esforços para preparar o café da manhã.
Nádia permanecia fiel ao seu estilo característico, sem muitas mudanças
ao longo do tempo. Sua preferência por roupas em tons escuros continuava
evidente, criando um contraste marcante com a personalidade e o gosto de
Loretta. Enquanto Nádia optava por uma paleta mais sóbria e discreta,
Loretta brilhava em cores vívidas, expressando sua alegria e vitalidade
através das escolhas vibrantes de vestuário.
— Finalmente — diz minha mãe, assim que me nota parado na soleira
da porta, enquanto fumava o quarto ou décimo cigarro do dia.
— Deveria estar fumando tão cedo?
— Não parece estar feliz em me ver — Beijo seu rosto assim que me
aproximo, inalando o perfume que usava durante décadas. Joane ou Jô, como
era conhecida, não envelhecia com o tempo, pelo contrário, se mostrava
cada vez mais jovial.
— Claro que estou feliz em ver você — Olho para os gêmeos que
entram correndo na cozinha — Sempre fico... feliz.
— Onde ela está? — Nádia pergunta de repente.
— Quem?
— Não se faça de desentendido, estamos aqui só por causa dela.
Vou até a cafeteira, me servindo de café.
— Não deveriam ter vindo até aqui apenas por causa disso.
— Isto é quase um evento histórico — diz Loretta sorrindo.
— E estamos aqui para apoiar você — Nádia finaliza.
As chances da minha família ir embora por conta própria, era nula.
Então precisava apresentar minha quase esposa para elas e torcer que não
tentassem matar ela.

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Capítulo 16
Por um momento, minha mente flutuou naquele limbo confortável entre
estar dormindo e acordada, entre o sonho e a realidade.
Mantive os olhos fechados, sem querer acordar totalmente, pois a
sensação era muito boa.
Em seguida, percebi o aroma de panquecas sendo feitas na cozinha.
Meus lábios se curvaram em um sorriso. Era fim de semana e minha mãe
resolvera me mimar novamente. Ela fazia panquecas em ocasiões especiais
e, algumas vezes, só porque tinha vontade.
Meu cabelo faz cócegas e, relutantemente, movi o braço para o tirar do
rosto.
Estava mais acordada agora e a sensação agradável dentro de mim se
dissipou, sendo substituída por um medo profundo.
Não, por favor, faça com que seja tudo um sonho. Faça com que seja
tudo um grande pesadelo.
Abro os olhos.
Não era um sonho. Eu ainda sentia o aroma das panquecas, mas
certamente não era minha mãe que estava cozinhando.
Encostando as costas na parede, puxo minhas pernas para junto do
corpo, apoiando meu queixo nos meus joelhos. Uma parte de mim já havia
desistido de lutar contra aquele lugar, contra Julian, estava apenas se
deixando levar pela situação, até que uma hora ou outra terminaria.

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Mas ainda havia uma pequena parte relutante em mim, essa parte,
considerada suicida pela outra, estava determinada a lutar com unhas e
dentes até meu último suspiro e, até havia tentado seduzir e por um momento
acreditou que daria certo.
Analisava este embate entre as duas partes, quando a porta abre de
repente, fixo meu olhar de imediato em Julian, franzindo o cenho quando não
o vejo com a bandeja.
— Como está essa manhã?
Suspiro, com um discurso já formado em minha mente.
— Não muito diferente dos outros dias. Mas acredito que já saiba.
— Prefiro ouvir de você.
Solto o ar dos pulmões, levando uma das mãos até a coleira, cuja pele
em baixo dela, já estava suada e não parava de pinicar.
— Estou cansada disto.
— Posso tirar isto e também permitir que saia daqui — Ergo as
sobrancelhas surpresa, sem ter certeza de que o que acabara de ouvir era
realmente real ou minha mente pregando uma peça.
— Vai me deixar ir embora? — questiono hesitante, por um momento
acreditando que ainda estava dormindo.
Não poderia estar acordada...
— Quase isso.
— Como assim? — murmuro confusa. Julian se aproxima, até se
agachar diante de mim, olhando dentro dos meus olhos.
— Finja que está em um relacionado comigo para a minha família e
depois se quiser ir, deixarei você ir.
Tentava enxergar a pegadinha ou as letras miúdas por trás da proposta
de Julian. Por que ele iria querer que eu fingisse um relacionamento com
ele? Não conseguia pensar em uma boa resposta.
A perplexidade diante do acordo de Julian instigava uma série de
questionamentos e desconfianças. A lógica por trás da proposta parecia
evasiva, e a ausência de uma explicação clara alimentava a intriga. Cada
palavra dele era examinada em busca de sinais de motivações ocultas, como
se houvesse um subtexto que escapava à minha compreensão.
A ideia de fingir um relacionamento desencadeava um turbilhão de
pensamentos, e me via hesitante, incapaz de formular uma resposta
definitiva.

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— Temos um acordo? — Ele estende a mão na minha frente e como se
precisasse de um empurrãozinho, meu lado determinado em fugir daquele
lugar custe o que custasse, segurou a mão dele com firmeza.
Olho para nossas mãos unidas e novamente para ele.
Ele dá um meio sorriso, tirando a coleira do meu pescoço.
— Acho que vai querer tomar um banho antes de subir. Vou esperar lá
fora.
Massageio meu pescoço, aliviada pelo couro preto não estar mais em
volta dele, o movimentando de um lado para o outro. Usando a parede como
apoio, me levanto, percebendo o quanto era bom ficar em pé e odiando o
fato de ter reclamado de quando passei algum tempo em pé contra minha
vontade.
O melhor de tudo foi conseguir tomar banho. Não havia todos os
produtos que costumava usar, apenas o básico, e isso já foi mais do que
suficiente, principalmente por poder vestir roupas limpas.
A simplicidade dos recursos disponíveis para o banho contrastava com
a gratidão que sentia pelo ato de cuidar de mim mesma. Mesmo com apenas
o essencial à disposição, a água, sabão e roupas limpas se tornavam luxos
em meio às circunstâncias desafiadoras.
Terminava de secar meu cabelo quando Julian voltou para o cômodo. A
presença repentina dele interrompeu a rotina momentânea de cuidado
pessoal, lançando uma sombra de incerteza sobre o que viria a seguir.
A troca de olhares refletia a tensão subjacente, e eu me perguntava o que
ele tinha em mente ao retornar.
Hesitante, me aproximo dele, meu coração batendo descompensado em
meu peito, enquanto percebia mais uma vez o quanto ele era maior que eu.
Olho para sua mão, no momento em que a vira a palma da mão para
cima, permitindo que segurasse sua mão, e em seguida me guia para fora
dali.

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Capítulo 17
O plano era simples e com isto pretendia matar dois coelhos de uma
vez.
Enquanto Kate acreditava que estávamos em um relacionamento falso,
eu via essa situação como uma oportunidade para me aproximar dela e a
conquistar. Para minha família, tudo pareceria perfeitamente normal, uma
fachada cuidadosamente mantida.
No entanto, nos bastidores, estava determinado a fazer com que essa
dinâmica fictícia se transformasse em algo genuíno.
A ideia de Kate se apaixonar por mim era, é claro, o ideal. No entanto,
mesmo que isso não acontecesse, estava determinado a não permitir que ela
simplesmente partisse. Não havia espaço para despedidas em meu plano.
Kate não precisava saber desse pequeno detalhe.
Sinto a firmeza de sua mão na minha enquanto subimos os degraus da
escada que nos levam para fora do porão. Seus olhos encontram os meus
quando emergimos, e percebo seu olhar atento percorrendo o espaço à nossa
frente. Há uma expectativa palpável no ar, e por um momento, nossos olhares
se encontram e percebo novamente sua hesitação..
O ambiente ao nosso redor muda instantaneamente. O aroma irresistível
de panquecas se infiltra em nossas narinas, um convite tentador para o café
da manhã, assim como a música natalina ao fundo, com suas melodias
familiares.

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— Mas que porra é essa? — diz Nádia pausadamente, quando paramos
na soleira da porta da sala de jantar, cuja mesa já estava completamente
arrumada.
A surpresa também fica estampada no rosto de Loretta, cujos olhos
analisam Kate atentamente. Jô dá outra tragada em seu cigarro perto da
janela, antes de o jogar pela mesma.
— Esta é a Kate — digo olhando para cada rosto.
— Nem fodendo — Nádia balança a cabeça de um lado para o outro —
Eu falei que tínhamos que ter desmembrado ela completamente — Ela olha
para Jô incrédula — Ela voltou dos mortos.
— Não é possível — Loretta murmura perplexa.
— Onde vocês estão com a cabeça? — Jô anda em passos largos em
nossa direção, parando a poucos centímetros de Kate, seus olhos absorvendo
cada traço dela — Não é ela — Sentencia por fim.
Kate me olha confusa, engolindo em seco.
— São irmãs por acaso? — Nádia questiona, cruzando os braços —
Primas de segundo grau?
— Não — digo sem hesitar.
Um sorriso tremula no rosto de Loretta, enquanto ela balança levemente
Andy de um lado para o outro, em uma tentativa de o acalmar, quando
claramente queria se acalmar.
— Isto é muito... doido.
— Acontece com mais frequência do que parece — diz Jô, sentando na
cadeira mais próxima — Tem pessoas que se parecem mais com
desconhecidos, do que com próprios familiares.
Com um gesto cortês, puxo a cadeira para que Kate se sente. Seus olhos
examinam atentamente as opções de comida dispostas diante dela, e percebo
a cautela em sua expressão enquanto avalia as escolhas. Enquanto isso,
minhas irmãs e minha mãe, com olhares fixos, observam cada movimento de
Kate, tentando decifrar ela.
Lars é o último a entrar na sala de jantar, sua presença marcada pela
entrada animada dos gêmeos. Seu olhar se fixa imediatamente em Kate, que
percebe o olhar dele.
— Este é meu marido. Lars — diz Loretta — E Lars, esta é a Kate.
— Oi — Kate ergue uma das mãos forçando um sorriso.
— É amiga do Julian? — Lars pergunta se sentando.
— Isto importa? — questiono.

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Um breve silêncio se instala no cômodo, enquanto sustento o olhar de
Lars, não gostando nem um pouco daquela intrusão, muito menos do jeito que
olhava para Kate, como se quisesse a despir apenas com o olhar.
— Não tenho dúvidas de que a coisa entre eles está séria — diz Nádia,
espetando um pedaço de panqueca — Basta saber se não terminará em
sangue novamente.
Percebo a tensão no corpo de Kate no instante seguinte, com os olhos
fixos no prato, ela segura com força os talheres, respirando por entre os
lábios abertos.
Afago sua coxa por de baixo da mesa, atraindo imediatamente seu olhar.
— Bom, fico feliz pelos dois — Lars continua, olhando disfarçadamente
para Kate — Você parece ser uma pessoa legal.
Kate mal mastiga um pedaço de panqueca e a engole, olhando para Jô.
— As panquecas estão ótimas.
Jô dá de ombros.
— Não fui eu que as fiz. Na verdade odeio cozinhar, acredito que essa
vocação para a cozinha foi herdada pelo pai delas.
— Ele era cozinheiro?
As três riem, como se Kate tivesse acabado de contar uma piada.
— Longe disso — diz Nádia.
— Ele gostava de cozinhar aos domingos e feriados — Loretta continua.
— Mas a verdadeira vocação dele era outra — Jô finaliza.
Enquanto Kate continua a saborear sua refeição, se concentrando no
prato diante dela, Lars decide quebrar novamente o silêncio que paira sobre
a mesa.
— Então de onde você é?
— É. Nos fale um pouco sobre você — diz Loretta, conseguindo que
todas as atenção se voltassem novamente para Kate, quando a última coisa
que queria era que isto acontecesse.

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Capítulo 18
— Sou daqui mesmo de Detroit, na verdade meu pai era. Minha mãe é
de Michigan, mas morou aqui enquanto era casada com ele.
Não era uma mentira completamente, mas o modo como me olhavam era
como se estivessem tentando me decifrar ou prever o próximo passo que eu
daria. A mulher com o bebê não era tão intimidadora, mas a outra se parecia
um pouco com Julian, e a mãe parecia ser a mais calculista de todas. Não
esquecendo de Lars, o jeito que me olhava me deixava desconcertada.
A atmosfera ao meu redor se tornava densa com a sensação de ser
escrutinada. Os olhares penetrantes, cheios de curiosidade ou desconfiança,
adicionavam uma camada de complexidade à interação.
— Era? — A mulher parecida com Julian questiona, com as pálpebras
semicerradas.
— Nádia — A mulher com o bebê repreende.
Engulo em seco, começando a me sentir enjoada diante de toda aquela
comida.
— Ele morreu — digo por fim. Ou melhor, o mataram, seu irmão fez
isto, minha mente acusa.
— Como? — Nádia insiste, conseguindo fazer com que o enjoo se
intensifique, graças última memória que tinha do meu pai ainda bem vida.
— Isto não importa — diz Julian ríspido.
— Se ela não se sentir confortável, acho que ela mesma pode dizer isto,
Julian — diz Nádia, sustentando o olhar do irmão. Não era apenas a

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personalidade de ambos que se parecia, as feições também, Nádia era a
versão feminina de Julian, com seu cabelo curto rente ao queixo e olhos de
felino.
Levanto de repente, tentando fugir dos meus próprios pensamentos.
— Preciso ir até o banheiro — digo rapidamente, antes de deixar o
cômodo em passos largos.
Julian me alcança antes mesmo que tentasse descobrir aonde era o
banheiro. Segurando meu braço com firmeza, me guia escada acima e depois
por um corredor bem iluminado, cujas portas estavam todas fechadas.
Respiro pela boca quando me dou de cara com o que parece ser o
quarto dele.
O quarto é em tons neutros, emanando uma atmosfera tranquila e
discreta. As paredes são revestidas por uma paleta de cores suaves, como
tons de cinza, bege e branco, que contribuem para a sensação de serenidade.
A cama, peça central do quarto, está vestida com lençóis e cobertas nos
mesmos tons, criando uma aparência convidativa e confortável. Almofadas
cuidadosamente arranjadas adicionam um toque de aconchego à atmosfera
minimalista.
A mobília é funcional e elegante, com linhas simples e acabamentos
discretos. Uma escrivaninha organizada reflete a personalidade prática do
ocupante, enquanto prateleiras exibem livros, fotos e alguns objetos
pessoais, acrescentando um toque de caráter ao espaço.
A iluminação é suave, filtrando através de cortinas leves em tons
neutros que emolduram a janela. Um abajur sobre a escrivaninha oferece
uma luz suave para leitura ou trabalho noturno.
— Precisa ser mais convincente — Me viro para Julian que estava
parado em frente a porta fechada.— Você não parece estar apaixonada por
mim — Ele dá de ombros.
— É por que não estou.
Ele caminha na minha direção.
— Não tem como nosso acordo dar certo, se não conseguir fingir
melhor.
Precisava ser mais convincente, mesmo os membros da família dele
sendo assustadores e me deixar como um rato acuado.
— E o que preciso fazer para... — Inspiro profundamente. Se quisesse
sair dali, teria que deixar meu orgulho de lado — ser mais convincente? —

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Minha voz some, quando me dou conta do que estava acontecendo ali,
quando Julian tirou a camiseta.
O corpo dele claramente era uma obra de arte, com os ombros largos,
músculos rígidos e pele lisa. O peito tinha um pouco de pelos. Em outras
circunstâncias, teria ficado muito feliz por aquele momento.
Mas naquele momento, estava com medo.
A calça jeans foi a próxima. Ouvi o som do zíper sendo aberto e trouxe
um arrepio pelo meu corpo e, um certo formigamento lá em baixo.
O próximo passo, foi tirar minhas roupas, peça por peça, lentamente,
como se ele não estivesse com nenhuma pressa com o que estava prestes a
acontecer.
Esperava algo abrupto em seguida, mas em vez disso, ele simplesmente
me segurou firmemente em um abraço.
Meu rosto estava enterrado em seu peito e meu corpo nu pressionado
contra o dele. Senti o aroma limpo da pele dele e algo duro e quente contra a
barriga.
A ereção dele.
Ele estava totalmente nu e excitado.
Da forma como ele me segurava, estava quase totalmente indefesa. Não
conseguia chutar nem arranhar.
Mas conseguia morder.
Ele me segurou naquela posição, com um braço em volta da minha
cintura e meu corpo firmemente pressionado contra o dele. A outra mão
segurava meus cabelos, mantendo minha cabeça para trás. Com as mãos,
empurrei o peito dele em uma tentativa inútil de colocar alguma distância
entre nós.
Encontrei o olhar dele de forma desafiadora, ignorando a expressão
estampada em meu rosto.
Respirava pesadamente e o coração batia tão depressa que parecia
prestes a saltar do peito. Nós nos encaramos, predador e presa, conquistador
e conquistada. Naquele momento, senti uma estranha conexão com ele. Como
se uma parte de mim tivesse mudado para sempre por causa do que acontecia
entre nós.
Subitamente, o rosto dele suavizou e um sorriso surgiu nos lábios
sensuais.
Em seguida, ele abaixa a cabeça e pressiona a boca contra a minha.

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Fiquei paralisada. Os lábios dele eram gentis e suaves ao explorar os
meus, mesmo enquanto ele me segurava com mãos de ferro.
O beijo dele foi habilidoso. Eu beijara vários rapazes e nunca sentira
nada como aquilo. O hálito dele era quente, com um gosto doce, e a língua
provocou meus lábios até que eles se abriram involuntariamente, dando a ele
acesso à minha boca.
Não sabia se era o alívio por ele não estar me machucando, mas derreti
com aquele beijo. Um estranho calor se espalhou pelo meu corpo, acabando
com a vontade de lutar.
Ele me beija lentamente, como se tivesse todo o tempo do mundo. A
língua dele duelou com a minha e ele mordeu de leve meu lábio inferior,
lançando uma onda de calor diretamente ao centro do meu corpo. A mão dele
solta meus cabelos e apoiou minha nuca. Era quase como se estivesse
fazendo amor comigo.
Minhas mãos seguravam os ombros dele e não fazia ideia de como elas
chegaram lá, mas agora estava me segurando nele, em vez de o empurrar.
Mas a sensação daquela boca incrível era muito boa. Era como beijar um
anjo. O beijo me fez esquecer da situação por um segundo, fazendo com que
afastasse o terror.
Ele se afasta e olha para mim. Seus lábios estavam úmidos e brilhantes,
um pouco inchados depois do beijo. Os meus provavelmente estavam da
mesma forma.
Ele parecia faminto. Eu vi desejo e gentileza no rosto perfeito e não
consegui afastar os olhos.
Passo a língua nos lábios e os olhos dele desceram para minha boca por
um segundo. Ele me beija novamente, apenas encostando os lábios nos meus.

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Capítulo 19
Meu instinto foi de me submeter a ele.
Ele me colocou sobre a cama e fiquei deitada. Havia me dado conta de
que estava cansada de lutar. Havia algo tão surreal sobre o que estava
acontecendo que minha mente não conseguia processar totalmente. Parecia
que assistia a uma peça ou um filme. Não podia ser eu naquela situação. Não
podia ser aquela garota que viu o pai ser morto e foi sequestrada, e que
deixava o sequestrador tocar, acariciar por todo o corpo.
Estávamos deitados de lado, olhando um para o outro. Senti as mãos
dele na minha pele. Eram fortes, apesar de ele não estar usando aquela força
no momento. Ele poderia me subjugar com facilidade, como fizera antes, mas
não havia necessidade.
Ele me beija novamente, acariciando meu braço, minhas costas, meu
pescoço, a parte de fora da minha coxa. O toque dele era gentil, firme. Era
quase como se estivesse me massageando, exceto que sentia a intenção
sexual em suas ações.
Ele beija meu pescoço, mordendo de leve o ponto sensível perto do
ombro, e estremeço com a sensação de prazer.
Fecho os olhos. Aquela gentileza surpreendente foi desarmante. Sabia
que deveria me sentir violada, e sentia, mas também me sentia estranhamente
desejada.
Com os olhos fechados, fingi ser apenas um sonho. Uma fantasia
sombria, como as que tinha tarde da noite. Fazia com que fosse mais

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aceitável o fato de deixar que aquele estranho fizesse aquilo comigo.
Uma das mãos dele desceu para minhas nádegas, apertando a pele
macia. A outra mão subiu pelo meu abdômen até as costelas, chegando ao
seio esquerdo, que ele apertou de leve. Meus mamilos já estavam rígidos e o
toque foi agradável, quase reconfortante. Rob fizera aquilo comigo antes,
mas nunca fora daquele jeito. A sensação não fora a mesma.
Continuei de olhos fechados quando ele rola meu corpo para que ficasse
deitada de costas. Em seguida, se coloca parcialmente sobre mim, mas a
maior parte do peso apoiada na cama.
Ele me beija no pescoço, no ombro, na barriga. A boca dele era quente
e deixou um rastro úmido na minha pele. Em seguida, ele colocou os lábios
sobre meu mamilo direito e chupou. Arqueei o corpo, sentindo a tensão na
parte inferior da barriga. Ele repetiu a ação com o outro mamilo e a tensão
se intensifica. Ele sentiu isso. Sabia porque a mão dele se aventurou entre
minhas coxas e sentiu a umidade.
— Isso mesmo — murmurou, acariciando minhas dobras.
Gemo quando os lábios dele desceram pelo meu corpo, com os cabelos
fazendo cócegas na pele. Sabia o que ele pretendia e minha mente ficou
vazia quando ele chegou ao destino.
Por um segundo, tentei resistir, mas, sem esforço, ele afastou minhas
pernas. Com os dedos, ele me acariciou gentilmente e, em seguida, me abriu
as dobras.
Logo depois, ele me beija logo abaixo do umbigo, enviando outra onda
de calor pelo meu corpo. A boca habilidosa lambe e morde em volta do
clitóris até que começo a gemer. Ele fecha os lábios sobre a área e chupa de
leve.
O prazer foi tão forte que abri os olhos.
Não entendia o que estava acontecendo comigo e fiquei assustada.
Estava queimando por dentro e sentia um latejar entre as pernas. O coração
batia tão depressa que fiquei ofegante, sem conseguir recuperar o fôlego.
Começo a me contorcer, senti o hálito quente dele sobre a pele sensível.
Ele me segura com facilidade e continuando com o que fazia.
A tensão dentro de mim estava ficando insuportável. Começo a me
contorcer contra a língua dele e os movimentos pareceram me deixar mais
perto de um precipício ilusório.
Despenco com um grito suave. Meu corpo inteiro se retesou e fui
invadida por uma onda de prazer tão intensa que encolhi os dedos do pé.

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Senti os músculos internos pulsando e percebi que acabara de ter um
orgasmo.
O primeiro orgasmo da minha vida.
E nas mãos... ou na boca... do meu sequestrador.
Mas ele ainda não terminara. Lentamente, subiu sobre o meu corpo e
beijou minha boca de novo. O gosto agora era diferente, salgado com um
leve tom de almíscar. Percebi que vinha de mim mesma. Senti meu gosto nos
lábios dele. Uma onda quente de vergonha me invadiu, ao mesmo tempo em
que senti a fome dentro de mim aumentar.
O beijo foi mais carnal e rude do que antes. A língua dele penetrou em
minha boca em uma imitação óbvia do ato sexual e seus quadris assentaram
pesadamente entre minhas pernas. Uma das mãos dele segurou minha nuca,
enquanto a outra estava entre minhas coxas, me esfregando de leve e me
estimulando novamente.
Ainda não resisti, apesar de sentir o corpo tenso quando o medo voltou.
Senti o calor e a rigidez da ereção contra a coxa e sabia que ele me
machucaria.
— Eu não...— sussurro, abrindo os olhos para o encarar. Minha visão
estava borrada pelas lágrimas. — Eu ainda sou virgem, eu nunca...
As narinas dele se abriram ligeiramente e seus olhos brilharam.
— Fico feliz por isto — diz baixo. Em seguida, ergue os quadris um
pouco e usa a mão para guiar o pênis em direção à minha boceta.
Arquejei quando ele começa a me penetrar. Estava molhada, mas o
corpo resistiu à intrusão nada familiar. Não sabia o tamanho dele, mas
parecia enorme quando a cabeça do pênis entrou lentamente em meu corpo.
Começou a doer, a queimar, e gritei, o empurrando pelos ombros.
As pupilas dele se expandiram, fazendo com que os olhos parecessem
mais sombrios. Havia gotas de suor na testa dele e percebi que estava
tentando se conter.
— Relaxe, Kate — sussurra. — Doerá menos se relaxar.
Estava tremendo. Não consegui seguir o conselho dele porque estava
nervosa demais... e porque doía demais.
Ele continuou a pressionar e meus músculos lentamente cederam, se
estendendo relutantemente para ele. Me contorci, soluçando, arranhando as
costas dele com as unhas, mas ele foi implacável, empurrando o pênis
lentamente, centímetro a centímetro. Ele fez uma pausa e vi uma veia

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pulsando perto de sua têmpora. Ele parecia sentir dor. Mas sabia que ele
sentia prazer com aquele ato que me machucava tanto.
Ele baixou a cabeça, beijando minha testa. Em seguida, empurrou o
pênis, passando pela minha barreira virginal, rasgando a membrana fixa com
uma investida firme. Ele não parou até que estivesse totalmente enterrado em
mim e senti seus pelos púbicos encostarem nos meus.
Quase desmaiei de dor. Nem mesmo consegui gritar. A única coisa que
consegui foi respirar depressa, várias vezes, para evitar desmaiar. Senti o
pênis fundo dentro de mim e foi a coisa mais agonizantemente invasiva que
já sentira.
— Relaxe — Ele murmura em meu ouvido. — Só relaxe. A dor passará,
ficará melhor...
Não acreditei nele. Parecia que um ferro quente fora inserida no meu
corpo, me rasgando por dentro. E não havia nada que pudesse fazer para
escapar, para sentir menos dor. Ele era muito maior e mais forte que eu. A
única coisa que podia fazer era ficar deitada indefesa, presa sob ele.
Ele não moveu os quadris, não investiu novamente, apesar de conseguir
sentir a tensão em seus músculos. Em vez disso, beijou gentilmente minha
testa. Fechei os olhos, sentindo lágrimas amargas escorrerem pelas
têmporas, e senti de leve seus lábios contra minhas pálpebras.
Não sei quanto tempo ficamos assim. Ele deu inúmeros beijos suaves
em meu rosto e meu pescoço. As mãos dele me envolveram, acariciando a
pele em uma paródia do toque de um amante. Durante todo esse tempo, o
pênis ficou enterrado profundamente em mim, com a rigidez me machucando,
me queimando por dentro.
Não sei em que momento a dor começou a mudar. Meu corpo traiçoeiro
lentamente amaciou, começou a responder aos beijos, à gentileza do toque
dele.
Julian sentiu e começou lentamente a se mover, parcialmente recuando
do meu corpo e voltando para dentro dele. Inicialmente, os movimentos
pioraram a dor, aumentando a agonia que sentia. Em seguida, ele colocou a
mão entre os dois corpos e usou um dedo para pressionar o clitóris,
mantendo a pressão leve e constante. As investidas moveram meus quadris,
fazendo com que eu me esfregasse contra o dedo dele de forma ritmada.
Para meu horror, senti a tensão aumentando novamente dentro de mim. A
dor ainda estava lá, mas o prazer também. Eu me contorci nos braços dele,
mas lutava contra mim mesma. As investidas ficaram mais rápidas e mais

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profundas. Gritei com a intensidade insuportável. A dor e o prazer se
misturaram até que não consegui mais distinguir, até que existisse em um
mundo de pura sensação. Em seguida, explodi e o orgasmo atravessou meu
corpo com tanta força que minha visão ficou escura por um momento.
Subitamente, ouvi quando ele gemeu contra meu ouvido e o senti
ficando maior dentro de mim. O pênis pulsou fundo dentro de mim e percebi
que ele também chegara ao orgasmo.
Depois disso, ele rola para o lado e me abraçou, me segurando
firmemente, como se quisesse deixar o que acabara de acontecer ainda mais
gravado em minha mente.
Não seguro as lágrimas que queimavam meus olhos, muito menos que
ameaçavam molhar meu rosto e acabado chorando nos braços dele, buscando
consolo da própria pessoa que era a causa das minhas lágrimas.

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Capítulo 20
Kate para de chorar aos poucos em meus braços, e sinto o tremor do seu
corpo se acalmando. Sua respiração vai diminuindo até que, finalmente, se
torna suave e regular, indicando que tinha adormecido. Cautelosamente, a
acomodo de volta na cama, garantindo que esteja confortável.
Sentado na lateral da cama, a observo por mais alguns segundos por
cima do ombro. Seu rosto tranquilo, agora livre das lágrimas, revela uma
serenidade que, por um momento, acalma também minha inquietação interior.
A luz suave do quarto cria uma atmosfera de quietude, interrompida apenas
pelo som suave da respiração de Kate.
Decido me levantar com cuidado, garantindo não perturbar seu sono.
Caminho em direção ao banheiro, deixando a porta entreaberta para que a
luz fraca não a perturbe.
Ao retornar ao quarto, observo Kate ainda adormecida, e um sorriso
leve atravessa meu rosto. Decido me sentar novamente na lateral da cama, ao
seu lado, mantendo uma vigília silenciosa. À medida que o silêncio envolve
o quarto, permito-me absorver a paz momentânea, apreciando a conexão
especial que começava a surgir entre nós.
Mesmo querendo ficar ali, ainda tinha que lidar com a minha família.
Abro a porta do quarto, dando de cara com Loretta, que se apressa em
colocar um sorriso no rosto.
— Estava escutando atrás da porta?

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— O quê?! Claro que não! — diz rapidamente, as bochechas
ruborizando de imediato — Talvez eu tenha escutado algumas coisas mas,
não foi por quê eu quis — Cruzo os braços sob o peito, mantendo as
sobrancelhas erguidas — Só vim avisar você que tem visita.
Franzo o cenho.
— Quem está aí?
— Seu antigo chefe.
— Vitto?
— Tem outro? — Não estava esperando ver ele tão cedo, esperava que
aparecesse dentro de uma semana no máximo.
Ao retornar para a sala, me deparo com uma cena que não esperava
encontrar: Vitto conversando com minha mãe como se fossem melhores
amigos, talvez até mesmo como se fosse um filho dela.
— Vitto já estava quase indo embora — diz Jô quando me aproximo,
parando diante de ambos com as mãos nos bolsos da calça.
— Estava ocupado — E muito ocupado.
— Imaginamos — Jô suspira — Escutamos os gritos daqui.
— Quem é a sortuda? — Vitto inclina o corpo para frente, apoiando os
cotovelos nos joelhos.
Jô franze o cenho, desviando o olhar para mim.
— Qual é o nome dela mesmo?
— Por que está aqui? — questiono Vitto, antes que minha mãe
lembrasse o nome da mulher que estava naquele momento na minha cama —
Pensei que eu estivesse aposentado.
— E está. Fiquei sabendo que teria uma comemoração aqui ontem —
Semicerro as pálpebras, inclinando a cabeça para o lado — Brock me
contou que viria até aqui.
— Não teve comemoração. Ele não apareceu.
— Tem certeza?
— Saberia se ele tivesse vindo até aqui.
Um breve silêncio se instala, Vitto mantinha os olhos fixos em mim,
esperando qualquer pequeno sinal que dissesse o contrário.
— Nunca imaginei que aquelas duas crianças, que viviam correndo por
aí, se tornaria quem vocês são hoje — diz Jô de repente, quebrando o
silêncio — Sinto falta de você aos domingos, Vitto — Ela afaga o braço
dele.
Ele sorri para ela.

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— Greyson fazia os melhor cachorro quente.
— Ele tinha você como filho, talvez pela amizade com o seu pai — Ela
dá de ombros — As vezes queria que voltassem a ser crianças, tudo se
tornou complicado com a morte de Greyson e Nico, quando percebi já
estavam ocupando os lugares deles.
Antes de toda essa merda, Vitto era meu amigo, talvez a única amizade
verdadeira que já tive. No entanto, após a morte dos nossos pais, as
circunstâncias mudaram drasticamente. Vitto teve que assumir o cargo de
capo, e eu, por minha vez, herdei os trabalhos do meu pai. Nossa amizade foi
colocada em segundo plano, substituída pela dinâmica de chefe e
subordinado.
A responsabilidade de liderar a organização trouxe consigo uma série
de desafios e pressões que afetaram nossa relação. As linhas que antes eram
claras se tornaram turvas, transformando a amizade em uma dinâmica mais
complexa e hierárquica. A necessidade de tomar decisões difíceis e lidar
com os negócios da família nos afastou, deixando para trás os dias em que
éramos apenas dois amigos.
Ao meu lado, Jô observa comigo enquanto Vitto se afasta. Apesar da
temperatura que abaixa cada vez mais, não sinto frio. Conheço Vitto o
suficiente para perceber que ele está prestes a começar uma guerra.
A sensação de antecipação que permeava o ar agora é substituída por
uma compreensão mais profunda da rapidez com que os eventos estão se
desdobrando.
A guerra iminente, que antes pairava como uma possibilidade distante,
se torna uma realidade inescapável. A rapidez dos acontecimentos desafia
minhas expectativas, e a urgência da situação se torna ainda mais evidente.
— Em que merda você se meteu?
Solto o ar dos pulmões, sustentando o olhar dela, ciente de que pelo
menos teria aliados nesta guerra.

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Capítulo 21
Quando acordo, minha mente está completamente clara. Me lembro de
tudo e senti vontade de gritar.
Salto da cama, notando que estava nua. O movimento súbito me deixou
consciente de uma dor interna e meu corpo se
retesou com a lembrança de como eu ficara dolorida. Ainda conseguia sentir
ele dentro de mim e estremeci ao me lembrar disso.
Senti nojo de mim mesma. O que havia de errado comigo? Como pude
simplesmente ficar deitada e deixar que Julian me usasse do jeito que
queria? Como conseguira encontrar prazer nos carinhos dele, quando só me
trouxe dor desde que o vi?
Sim, ele era bonito, mas isso não era desculpa. Ele era mau. Eu sabia
disso. Senti isso desde o início. A beleza externa dele escondia uma
personalidade sombria.
Tinha a sensação de que ele apenas começara a revelar sua verdadeira
natureza.
Suspeitei que a primeira vez seria acompanhada de dor
independentemente das circunstâncias, seja lá com quem estivesse no
momento.
A primeira vez. Subitamente, percebi que fora minha primeira vez. Eu
não era mais virgem.
Estranhamente, não parecia que perdera alguma coisa. A membrana fina
dentro de mim tivera um significado particular. Eu planejara esperar até o

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casamento ou algo assim. Era terrível que minha primeira vez tivesse sido
com um monstro, senti pesar pela perda da designação "virgem".
Fui invadida por um ódio amargo pelo homem que fizera aquilo comigo,
o homem que destruíra minhas ilusões sobre o mundo, sobre mim mesma. Eu
nunca pensara no que faria se fosse sequestrada, sobre como reagiria. Quem
pensava em coisas assim? Mas achei que seria corajosa, que lutaria até o
último suspiro. Não era o que faziam nos livros e nos filmes? Lutar, mesmo
sendo inútil, mesmo quando isso significaria ser ferida? Não deveria ter
feito isso também? Sim, ele era mais forte, mas não deveria ter cedido tão
facilmente. Ele não me amarrara, não me ameaçara com uma faca ou uma
arma. Só o que fizera fora me perseguir quando eu tentara correr.
Não reconhecia essa pessoa que cedera com tanta facilidade. E, ainda
assim, sabia que era eu. Uma parte de mim que nunca foi à tona antes. Uma
parte de mim que nunca teria conhecido se Julian não tivesse me
sequestrado.
Pensar naquilo era tão angustiante que resolvi me concentrar no meu
sequestrador. Quem era ele? Onde eu estava?
Quem era aquelas pessoas? E, o mais importante, o que ele pretendia
fazer comigo?
Antes que o pânico me invadisse, respirei fundo e tentei pensar
logicamente. Apesar de tráfico humano ser uma possibilidade, não parecia
provável. Para começo de conversa, Julian parecia se sentir possessivo em
relação a mim, possessivo demais para alguém que estivesse apenas testando
a mercadoria. Além do mais, por que me levaria para lá, para aquela casa
com a família dele, se estivesse simplesmente planejando me vender?
Ele tinha algum fetiche que envolvia manter as mulheres cativas?
A pergunta foi tão hedionda que a afastei e me levantei, determinada a
explorar um pouco mais minha prisão.
A porta estava aberta, o que me surpreendeu. Abri a janela e o ar frio,
encheu o quarto.
Em seguida, explorei o banheiro, torcendo para encontrar um frasco de
spray para cabelos ou algo parecido. Mas havia apenas sabonete, uma
escova de dentes e pasta dental. No chuveiro, encontrei sabonete líquido,
xampu e condicionador, todos de marcas caras. Meu sequestrador claramente
não era mesquinho.
Depois de explorar todos os recantos do quarto, fiquei entediada e
resolvi que tomaria um banho e, dessa vez exploraria o lugar em que estava,

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precisava conhecer definitivamente o homem que estava me mantendo em
cárcere, nem que para isto precisasse abrir mão do que sobrará de mim.

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Capítulo 22
Minha mãe dá uma longa tragada no cigarro, soltando a fumaça
lentamente no ar, enquanto mantém os olhos fixos na paisagem branca pela
janela. Sentado no sofá, mantenho meus braços abertos sob o sofá,
analisando cada movimento que ela faz.
O silêncio na sala é quebrado apenas pelo crepitar do cigarro e a visão
hipnotizante da fumaça que se dispersa no ar gélido. Observo a expressão
pensativa no rosto dela, os olhos distantes, talvez perdidos em pensamentos
profundos ou reflexões pessoais.
Cada gesto é estudado atentamente, como se pudesse revelar pistas
sobre o que está passando em sua mente. Enquanto a paisagem lá fora
permanece imutável e fria, a atmosfera dentro da sala é carregada com a
tensão sutil de emoções não ditas. O cigarro queima lentamente entre os
dedos dela, e continuo a observar, aguardando talvez que, em meio à fumaça
e ao silêncio, algo seja revelado.
— Senti que havia algo errado, no momento em que ele passou por essa
porta — Ela fixa o olhar em mim, mantendo os lábios em uma linha reta
séria — Você só tinha que terminar o trabalho, Julian!
Suspiro.
— Eu terminei — digo calmamente.
— Aquela garota também faz parte do trabalho — Ela aponta para a
escada — Ela está viva quando não era para estar. Tem noção do que isto
pode provocar? — Já havia avaliado todos os riscos, considerado todas as

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possíveis opções ao meu alcance e ponderado as consequências dos meus
atos. No entanto, mesmo com toda essa análise meticulosa, não conseguia
prever completamente o que poderia acontecer. A incerteza pairava sobre
minhas decisões como uma sombra inescapável — Acabara comigo
limpando a bagunça.
— Não — digo entre dentes, Jô para o cigarro perto da boca, soltando
o ar dos pulmões e dando mais uma tragada no instante seguinte — Vocês
estão proibidas de tocar em um fio de cabelo dela. Kate é minha. É
praticamente da família e se pensarem em a ferir ou até mesmo a ferirem,
estarão fazendo isto comigo e irão provar da minha ira — Inclino a cabeça
para o lado — Entendeu, mamãe?
Ela olha para a porta e sigo seu olhar, vendo Kate parar por um instante,
antes de seguir para a cozinha. Fixo o olhar em minha mãe no segundo
seguinte, esperando que ela tivesse entendido o que acabara de dizer.
— Se ela tentar nos destruir, não pensarei duas vezes.
— Ela não vai — digo convicto.
Jô balança a cabeça de um lado para o outro.
— Não tem como você saber disso, Julian — Ela dá pequenos passos
na minha direção — Sabe o que vejo neste momento? A história se repetindo
novamente e não tenho certeza se tudo ficará bem no final.
Durante os últimos anos, lembrava daquele maldito dia todos os dias.
Cada lembrança era como um tormento constante, um eco insistente do
passado. Me questionava incessantemente, revisitando mentalmente as
opções que poderiam ter sido escolhidas, mas que não foram. A culpa se
aninhava em cada pensamento, especialmente quando se tratava da morte
dela.
O fardo da responsabilidade me pesava, e a sensação de que eu poderia
ter feito algo diferente, algo para evitar a tragédia, era avassaladora. As
alternativas imaginadas, as "e se" que preenchiam minha mente, se tornavam
fantasmas persistentes, sussurrando acusações e dúvidas.
Às vezes, me flagrava pensando que, se tivesse mantido ela numa
redoma de vidro, escondendo quem eu era verdadeiramente, talvez ainda
estivesse comigo. A ideia de que eu poderia ter protegido ela do meu mundo
tornava a culpa ainda mais insuportável. O peso do arrependimento se tornou
uma sombra constante, colorindo todos os aspectos da minha existência com
a tragédia daquele dia.
— Kate é diferente — digo convicto.

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Estava moldando Kate do jeito que eu queria, como se estivesse
esculpindo uma peça de argila à minha imagem. Cada interação, cada
palavra cuidadosamente escolhida, era uma tentativa sutil de direcionar seus
pensamentos e sentimentos na direção que eu desejava. Era uma dança
delicada, um jogo de influência onde eu guiava suas escolhas, quase sem que
ela percebesse.
Acreditava que era apenas uma questão de tempo até que ela aceitasse a
vida que eu estava construindo para nós. Me convencia de que as barreiras
que ela mantinha, os vestígios da vida que tinha antes, seriam gradualmente
substituídos por um mundo que só precisava de mim.
— E é por ela se parecer com a outra, que aqui neste momento — Jô
apaga o cigarro no cinzeiro, sustentando meu olhar, antes de andar para fora
da casa.
— Nem um fio de cabelo dela — Lembro. Ela veste o casaco, abrindo
a porta em seguida.
Kate ainda não estava completamente segura, e eu percebia isso. A
percepção dessa necessidade fazia com que eu considerasse a importância
de envolver a minha família nesse processo. Sabia que a proteção e o apoio
deles poderiam oferecer à Kate uma sensação de segurança e estabilidade
que eu, por mim só, não conseguia proporcionar naquele momento, quando
tinha que me concentrar em algo maior que a minha família.
Vitto já deveria estar planejando seus próximos passos, e precisava
focar em neutralizar ele. A sensação de urgência crescia à medida que
reconhecia a iminência de um confronto iminente. Era imperativo antecipar
suas movimentações e estar à frente do jogo.

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Capítulo 23
O silêncio predominava enquanto andava pelo corredor. Meus passos
eram cautelosos, a incerteza pairava no ar. Aparentemente, ali parecia ser
uma casa normal, diferente das representações de casas de sequestradores
em filmes. Quadros estavam pendurados nas paredes, retratando as pessoas
que estavam na casa naquele momento. Julian aparecia na maioria, sério,
sem um sorriso sequer.
O corredor era uma galeria de retratos estáticos, capturando momentos
que pareciam congelados no tempo. A expressão austera de Julian nos
quadros adicionava um toque de melancolia à atmosfera. A ausência de
sorrisos nas imagens sugeria uma seriedade constante, como se aquele
semblante impassível fosse uma característica intrínseca da dinâmica
daquela casa.
Termino de descer a escada, ouvindo a voz de Julian vindo da sala,
soando quase como um rosnado. Sentado no sofá, mantinha os braços abertos
e uma das pernas cruzadas sob a outra, a mãe dele se mantinha em pé ao lado
da janela, fumando um cigarro.
— Não — diz Julian entre dentes, Jô para o cigarro perto da boca,
soltando o ar dos pulmões e dando mais uma tragada no instante seguinte —
Vocês estão proibidas de tocar em um fio de cabelo dela. Kate é minha. É
praticamente da família e se pensarem em a ferir ou até mesmo a ferirem,
estarão fazendo isto comigo — Inclino a cabeça para o lado — Entendeu,
mamãe?

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Sem pensar duas vezes, me aproximo da soleira, atraindo ambos os
olhares.
Percebendo o que acabara de fazer, giro meu corpo, entrando
rapidamente na cozinha, me deparando com a irmã mais sorridente de Julian.
Ao entrar, sou recebida pelo sorriso acolhedor da irmã de Julian, um
contraste reconfortante em relação às expressões sérias que testemunhei
momentos antes.
Vestida em um avental, mantinha as mãos ocupadas em uma massa que
parecia ser de biscoitos.
desconhecido.
— Ah. Oi — digo sem jeito — Precisa de ajuda? — Meus olhos se
focam em um momento em suas mãos, que amassavam a massa com
habilidade.
— Um par de mãos sempre é bom — Me aproximo do balcão,
percebendo a visão que ela tinha de onde estava.
Lá fora, no quintal, as duas crianças tentavam fazer um boneco de neve
com Lars. As vozes, juntamente com os risos, podiam ser ouvidos da
cozinha. Um pouco afastada estava Nádia, um ponto preto em meio à neve,
segurando o bebê em seus braços, enquanto os observava.
As crianças, envolvidas na criação do boneco de neve, preenchem o ar
com risos e entusiasmo, criando uma atmosfera leve e descontraída.
— Espero que consiga fazer meu irmão dar netos à nossa mãe — diz ela
de repente, trazendo minha atenção de volta para a cozinha.
Explicar para ela que estava ali contra a minha vontade, apenas
cumprindo a minha parte do acordo, e que logo estaria de volta a Michigan
seria uma tarefa delicada. Poderia começar abordando o assunto com
honestidade, deixando claro que minha presença ali não era voluntária, mas
sim resultado de circunstâncias além do meu controle.
Mas se quisesse minha liberdade, precisava manter as aparências.
— Não acho que... Julian queira filhos — murmuro, usando as
forminhas para fazer formas na massa.
— Quero ter quantos você quiser — Paraliso por um momento ao ouvir
a voz de Julian bem atrás de nós. Inesperadamente, ele abraça minha cintura,
enterrando o rosto na curva do meu pescoço, com os olhos em seguida se
fixando nos sobrinhos — Teria meia dúzia de bom grado com você.
A irmã dele coloca uma das mãos na cintura, o olhando surpresa.
— Será que estou diante de um milagre natalino?

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— Talvez, Loretta — Ele beija meu pescoço, descarregando arrepios
por todo meu corpo traiçoeiro. Loretta revira os olhos, voltando sua atenção
para a massa.
— Vão para o quarto — Fico imóvel entre os braços dele e o deixo que
me guiasse para fora da cozinha. E, quando ele me pegou no colo e me levou
para a cama, não tentei resistir.
Em vez disso, fechei os olhos e me entreguei às sensações.
Ele foi gentil. Deveria estar aterrorizada, e estava, mas meu corpo
parecia gostar da sensação dupla de medo e excitação. Não sabia o que isso
dizia sobre mim mesma. Fiquei deitada de olhos fechados enquanto ele tirou
minhas roupas,
amada por camada. Primeiro, tirou minha camiseta, como se estivesse
desembrulhando um presente. As mãos dele eram fortes e seguras.
Não havia sinal de desconforto nem hesitação em seus movimentos. Ele
claramente tinha muita prática com roupas femininas. Depois que estava sem
a camiseta, ele parou por um segundo. Senti seu olhar sobre mim e me
perguntei o que ele via. Ele corre os dedos pela minha barriga, fazendo-me
estremecer.
— Tão linda — diz baixo — Você é tão linda.
Não respondi, simplesmente fechei os olhos com mais força. Não queria
que ele me olhasse, não queria que desfrutasse da visão do meu corpo nas
roupas íntimas que escolhera para mim. Só queria que ele trepasse comigo e
terminasse logo com aquilo, em vez de continuar com aquela paródia de ato
de amor.
Mas ele não tinha intenção alguma de facilitar as coisas para mim. A
boca dele seguiu o mesmo caminho que os dedos. A sensação foi quente e
úmida na minha barriga. Ele continuou descendo para onde minhas pernas
instintivamente se fecharam firmemente. Ele não pareceu gostar daquilo e,
com mãos rudes, me abriu as pernas, enterrando os dedos na carne macia.
Eu gemi com aquele toque de violência e tentei relaxar as pernas para
evitar que ele ficasse mais bravo.
Ele afrouxa as mãos e o toque ficou mais gentil.
— Minha bela garota — Sussurra. Senti o hálito quente nas dobras
sensíveis. — Você sabe que farei com que seja bom.
Em seguida, seus lábios estavam em mim, a língua circulava o clitóris e
ele me chupou. Os cabelos acariciaram a parte interna da minha coxa,
fazendo cócegas, e ele manteve minhas pernas abertas com as mãos. Me

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contorci e gritei, sentindo um prazer tão grande que me esqueci de tudo,
exceto o calor e a tensão inacreditáveis dentro de mim.
Ele me deixou perto do clímax, mas sem que eu chegasse lá. Sempre que
sentia o orgasmo se aproximando, ele parava ou mudava o ritmo, me
deixando louca de frustração. Me vi implorando, gemendo, arqueando o
corpo sem pensar na direção dele. Quando ele finalmente me deixou chegar
ao clímax, foi um alívio tão grande que meu corpo inteiro foi percorrido por
espasmos, estremecendo e contorcendo-se com a intensidade do orgasmo.
Por algum motivo, comecei a chorar quando terminou. As lágrimas
saíram pelo canto dos olhos, escorrendo pelas têmporas e molhando meus
cabelos e o travesseiro. Ele pareceu gostar daquilo, pois se deitou sobre
mim, beijando e lambendo os rastros molhados em meu rosto.
As mãos grandes acariciaram meu corpo todo. Teria sido reconfortante
se não fosse pela rigidez do pênis forçando a entrada. Não estava totalmente
curada por dentro e senti dor novamente quando ele começou a me penetrar.
Apesar de estar molhada por causa do orgasmo, ele não conseguiu me
penetrar com facilidade sem me machucar. Ele precisou ir devagar, me
penetrando gradualmente até que eu conseguisse me ajustar à
intrusão.
Mordi o lábio inferior, tentando aceitar a sensação de ardência.
— Abra os olhos — Ele em um sussurro.
Obedeci, apesar de mal conseguir enxergar por entre as lágrimas. Ele
me encarou ao começar a se mover lentamente dentro de mim e havia algo de
triunfante em seu olhar. O calor do corpo dele me envolveu, seu peso me
pressionou contra a cama. Ele estava dentro e em cima de mim, por todo
lado. Eu não conseguia escapar nem mesmo para a privacidade da minha
mente.
E, naquele momento, me senti possuída por ele, como se estivesse
tomando mais do que apenas meu corpo. Como se estivesse reclamando algo
fundo dentro de mim, fazendo surgir um lado meu que eu nem sabia que
existia.
Porque, nos braços dele, senti algo que nunca sentira.
Uma sensação primitiva e totalmente irracional de pertencer a alguém.

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Capítulo 24
Naquela noite, Julian revelou os tormentos de seus pesadelos. Após um
jantar quase silencioso, interrompido pelos inquietos gêmeos, os olhares
inquisitivos da mãe de Julian e de Nádia não escaparam da minha
percepção. Ao nos dirigirmos para a cama, Julian se acomodou com seu
corpo musculoso encostado nas minhas costas e um braço pesado sobre meu
torso, transmitindo uma sensação de conforto. Inicialmente tensa, sem saber
o que esperar, logo percebi que ele apenas adormeceu mantendo-me
próxima.
O despertar abrupto se deu por um estranho ruído, me deixando
assustada e com o coração acelerado pela adrenalina. Por um momento,
hesitei em respirar, até perceber que os sons provinham de Julian, que
dormia ao meu lado.
Me sentei na cama e o observei, ele havia se afastado durante a noite, se
enrolando na coberta. Seus gemidos abafados pareciam ecoar o sofrimento
de um animal, e eu, sem saber como agir, sussurrei seu nome, consciente de
que ele estava preso em um pesadelo.
Ao chamá-lo, Julian se contorceu, batendo o braço no travesseiro
próximo a mim. Tentei tocar seu braço, mas ele reagiu com agitação, me
agarrando repentinamente.
Suas mãos me envolveram com uma força sufocante, e percebi que ele
tremia, sua pele estava fria e suada. Ele murmurava um nome: Alice,
mergulhando em lembranças dolorosas. Mesmo que uma parte de mim

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estranhamente sentisse ciúmes, compreendi que ele buscava conforto em
meio ao pesadelo.
Enquanto tentava acalmá-lo, Julian finalmente relaxou, suas palavras se
tornaram menos angustiadas, revivendo momentos mais felizes com a tal
Alice. Deixei que ele me segurasse, percebendo que não era apenas ele que
recebia conforto, mas eu também. Na manhã seguinte, acordei sozinha, Julian
já havia deixado a cama.
Quando acordei na manhã seguinte, Julian não estava mais na cama.
Depois de um banho, após a noite agitada, encontro a casa parcialmente
vazia, a não ser por Loretta tomando café da manhã.
A casa, que antes parecia pulsar com a energia dos gêmeos, agora
revela uma atmosfera mais tranquila.
— Bom dia! — diz Loretta com um largo sorriso no rosto — Café? —
Antes que respondesse, ela vai até a cafeteira, servindo café em uma caneca.
Olho pela janela panorâmica da cozinha, esperando ver todos na neve — As
crianças foram no supermercado com Lars e a mamãe. E Julian e Nádia estão
correndo por aí — Tomo um gole do café, sentando diante do balcão — O
que nos deixa completamente sozinhas — finaliza com um suspiro. O
silêncio se instala por alguns segundos, até que ela sorri novamente, trazendo
a xícara para perto dos lábios — Você e Julian parecem estar se dando muito
bem. Realmente você é especial.
— Por quê? O que tem de tão especial em mim?
— Você terá que perguntar isso a Julian.
Lembro no mesmo instante da noite passada, em como ele parecia sentir
dor enquanto sonhava.
— É por causa da Alice? — Não sei o que me fez perguntar aquilo,
exceto que não conseguia tirar aquele nome da cabeça. Mas, pelo jeito, foi a
pergunta certa, pois Loretta ficou imóvel. — Julian contou a você sobre
Alice? — Ela parece chocada.
— Ele a mencionou. — Não era uma mentira completa. Ele dissera o
nome dela, apesar de não saber.
Ela dá de ombros, sem parecer mais tão chocada.
— Acho que não, agora que pensei melhor. Se ele fosse contar a alguém,
provavelmente seria a você.
Eu? Por quê? Estava muito curiosa, mas tentei manter a expressão
impassível, como se nada daquilo fosse novidade. — É claro — digo
calmamente, tomando meu café.

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— Então você entende, Kate — diz ela olhando para mim. — Você tem
que entender, pelo menos um pouco. Sua semelhança com ela é
impressionante. Ela poderia ter sido sua irmã mais nova.
— Tão parecida assim? — Me esforcei para não deixar o choque
transparecer na minha voz. Meu coração batia com força dentro do peito.
Aquilo era muito mais do que esperara e Loretta acabara de me dar
aquela informação em uma bandeja de prata.
Ela franze a testa.
— Ele não lhe disse isso?
— Não — respondi. — Não me disse muita coisa, só um pouco. — Só o
nome dela, resmungado no meio de um pesadelo.
Ela arregalou os olhos ao perceber que provavelmente revelara mais do
que deveria. Ela pareceu infeliz por um momento, mas logo sua expressão se
suavizou.
— Ah, bom — diz. — Acho que agora você sabe, verá que as coisas
ficarão melhor.
Engoli em seco e o café desceu pela garganta como uma
pedra, enquanto olhava a neve cair pela janela.

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Capítulo 25
Nádia corria ao meu lado, determinada a me ultrapassar. No entanto, a
neve acrescentava um desafio extra à nossa competição. Cada passo se
transformava em uma batalha contra a resistência da neve, que oferecia uma
aderência instável sob nossos pés.
O terreno irregular e escorregadio fazia com que a corrida se
transformasse em uma dança incerta, onde a destreza e o equilíbrio eram
testados a cada momento. O som abafado dos nossos passos se misturava ao
vento gelado, criando uma trilha sonora efêmera na paisagem invernal.
Nossa corrida na neve se tornava não apenas uma competição de
velocidade, mas também uma demonstração de habilidade em lidar com as
condições desafiadoras do clima.
Não precisava dos meus olhos para andar por ali, já conhecia todo o
perímetro como a palma da minha mão. Essa familiaridade era mais do que
apenas conveniência; era uma vantagem estratégica diante de qualquer
possível ataque.
— Lembra quando quase morri de hiportemia por causa de você? —
Apesar da corrida, Nádia não estava nem um pouco ofegante — Esta manhã
é perfeita para uma possível vingança.
— Pensei que estávamos quites, desde do dia em que explodiu minha
snowmobile enquanto eu pilotava.
— Aquilo foi uma brincadeira.
Não tenho dúvidas alguma sobre isto.

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O bom de ter sido criado pelos meus pais é que eles não faziam
distinção entre nós. A mesma educação que recebi, minhas irmãs também
tiveram. Às vezes, acreditava que eram até mais mortais que eu. Essa
igualdade na criação despertava uma admiração singular por suas
habilidades e força, me fazendo desejar ter filhos tão mortais quanto elas,
especialmente com Kate ao meu lado.
A ideia de transmitir não apenas a linhagem, mas também a essência de
uma criação forte e determinada, se tornava uma aspiração. Queria que meus
filhos herdassem não apenas a herança genética, mas também os valores e
princípios que foram incutidos em nós desde jovens.
Nádia me empurra de repente, o que faz com que eu escorregue, mas
consigo me segurar a tempo de evitar a queda no precipício abaixo. Um
sorriso instintivo se forma em meu rosto, capturando a emoção do momento.
No instante seguinte, puxo meu corpo, recuperando o equilíbrio e
rapidamente iniciando uma corrida para alcançar ela.
A adrenalina flui enquanto corro atrás de Nádia, o terreno irregular e a
neve sob meus pés contribuindo para a sensação de velocidade e excitação.
Cada passo é um impulso em direção ao desafio, e o sorriso persiste em meu
rosto, se misturando à animação do momento.
— O que tem com ela é sério mesmo? — Ela pergunta quando a
alcanço.
— Acha que ela estaria aqui se eu não quisesse?
— A única coisa que percebi é que ela é a cópia quase idêntica da
Alice.
— Elas são completamente diferentes.
— Odiaria ter que escolher novamente um lado.
Paro abruptamente de correr, Nádia percebe fazendo o mesmo, me
encarando com o cenho franzido.
— Se isto acontecer, tem que jurar que irá proteger ela e a levar para
um lugar bem longe daqui.
— O quê? Enlouqueceu de vez? — Um breve sorriso surge em seu
rosto, até que se dá conta do que estava acontecendo ali — O que você fez,
Julian?
Respiro pelos lábios entre abertos, olhando para a paisagem
embranquecida ao nosso redor.
— Não iria conseguir matar ela. E tecnicamente ela acabou se tornando
meu último trabalho.

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Nádia coloca as mãos na cintura, dando alguns passos em círculo, até
que seus olhos voltam para mim enquanto balançava a cabeça de um lado
para o outro.
— É por isto que preciso que me ajude — finalizo.
— A mamãe nunca irá concordar com isto. É o Vitto. Recebemos ordens
da família dele!
— Posso lidar com a mamãe depois e o Vitto quando ele resolver dar as
caras, porque sei que ele vai.
Ela solta o ar dos pulmões, fechando os olhos por uns instantes, antes de
os fixar em mim novamente.
Nádia não teria coragem de virar as costas para mim, para a família.
Crescemos ouvindo que não se abandona a família, uma máxima que se
tornou um pilar fundamental em nossa criação. Era uma convicção
profundamente enraizada em nós, uma verdade que transcendia as
circunstâncias.
Assim como eu, entendia que nossa lealdade para com a família era
inquebrável. Essa convicção era o que nos sustentava, especialmente nos
momentos em que as escolhas se tornavam difíceis e os desafios pareciam
insuperáveis.
— Se o Vitto não nos matar, vou tentar matar você depois.
A neve volta a cair sobre nós, criando um manto suave que parece
abafar os sons ao nosso redor. Dessa vez, optamos por andar em silêncio,
cada passo sendo marcado apenas pelo sutil farfalhar da neve sob nossos
pés. A atmosfera se torna carregada, pois nos preparamos mentalmente para
o que está por vir.

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Capítulo 26
A animação da casa literalmente voltou quando os gêmeos passaram
pela porta, indo em direção a Loretta, contando tudo que havia acontecido.
Lars foi o próximo a entrar na cozinha com as compras, seguido de Jô
reclamando do clima que esfriava a cada minuto.
Loretta dividia sua atenção com as crianças, o marido e a mãe, todos
falando ao mesmo tempo, enquanto Jô entregava o bebê que resmungava para
Loretta.
Lars pega uma cerveja nas compras, se inclinando na direção dela, lhe
dando um beijo rápido.
— Vou assistir o final do jogo — diz saindo em seguida da cozinha.
Loretta lança um sorriso sem jeito na minha direção, enquanto tentava
acalmar o bebê.
— Posso ficar com ele, se quiser.
— Seria maravilhoso — diz sem hesitar, me entregando o bebê de
bochechas rosadas — Pode começar a treinar para quando tiver seus
próprios bebês — Ela me lança outro sorriso, antes de começar a guardar as
compras.
O olhar de Jô faz com que desvie o olhar para o bebê em meus olhos.
Quando Loretta começa a falar com a mãe, uso esta deixa para deixar o
cômodo, sorrindo amigavelmente para o bebê que segurava com firmeza meu
dedo.

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Antes de tudo aquilo, sonhava em me casar com alguém que amava e em
ter filhos, trabalharia de casa para acompanhar o crescimento das crianças.
Mas já não sabia se esse plano ainda era válido e, por incrível que pareça,
mesmo com todos os possíveis traumas que ele poderia estar causando,
conseguia me imaginar como Loretta e morando naquela casa.
— Kate — Desvio o olhar do bebê quando ouço Lars me chamar,
sentado no sofá estava diante da tv, sua cerveja esquentava lentamente e
poderia prever que deixaria marcas na mesinha de centro — Não é você? —
Franzo o cenho seguindo seu olhar, meus lábios se abrindo lentamente de
surpresa.
Havia uma foto minha estampada na lateral do vídeo. Minha mãe estava
na outra extremidade do vídeo com seu novo namorado; ele a abraçava, e
tinha uma expressão de pesar no rosto. Na frente de ambos, um detetive dava
entrevista, respondendo às perguntas dos jornalistas, enquanto a manchete
era clara: "Continua desaparecida Kate Davis, filha do empresário Frank
Davis, assassinado no início do mês."
Saber que minha mãe estava procurando por mim, mobilizando toda a
polícia, me inundou de uma sensação de alívio. Mas naquele momento, eu
não poderia parecer aliviada; em vez disso, eu deveria aparentar estar
chocada.
A notícia de que estava mobilizando esforços intensivos para me
encontrar trouxe um misto de emoções. O alívio se misturava com a
preocupação, a gratidão pela busca intensa e, ao mesmo tempo, mas ainda
precisava manter uma fachada de surpresa e choque.
Manter uma expressão de choque, apesar da alegria interior que a
notícia trouxera, se tornava parte da estratégia para cumprir com a minha
parte do acordo.
Julian e Nádia entram de repente em casa, cobertos de neve. Julian
franze o cenho ao pendurar o casaco e se aproximar, encarando a TV.
— Deve ser um engano — digo por fim, atraindo o olhar de Julian.
— Desliga isso, Lars — Julian ordena, pressionando os lábios em uma
linha reta séria.
— Mas estou assistindo o jogo.
— Desliga!
O grito de Julian faz com que o silêncio se instale rapidamente. Lars
obedece de imediato e desliga a TV. O bebê em meus braços começa a
chorar instintivamente, e apesar de tentar acalmar ele, não conseguia. Lars

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levanta do sofá e o pega dos meus braços, olhando mais uma vez para Julian
antes de sair do cômodo. Nádia também me olha ao passar por mim com sua
expressão séria.
O impacto da reação de Julian reverbera por todo o ambiente. O
silêncio que se segue é marcado pelo choro do bebê, pela movimentação
urgente de Lars em desligar a TV e pela seriedade nos olhares de Julian e
Nádia.
Julian se aproxima devagar de mim, semicerrando as pálpebras ao
sustentar meu olhar. Por um momento, senti medo, temi que ele pudesse fazer
algo, mesmo uma parte de mim gritando que ele não seria capaz.
Olho para a tv desligada e novamente para ele.
— Eu... eu não sabia — balbucio. Como saberia que minha mãe estava
me procurando? Ou que justamente naquele horário a entrevista estava sendo
transmitida ao vivo? — Talvez se eu ligar para a minha mãe...posso inventar
alguma coisa...
A mão dele segura de repente meu pescoço, mas não me assusto, o
apertando gradativamente, me forçando a respirar pela boca.
A situação se torna cada vez mais angustiante, com a pressão persistente
em seu pescoço criando um senso iminente de sufocamento. As lágrimas nos
olhos indicam uma resposta natural ao desconforto e à luta pela respiração.
A urgência em obter ar adiciona um elemento de desespero à situação,
enquanto a sensação de asfixia se intensifica.
Via Julian diante de mim como um anjo da morte, tão lindo, tão
intocável.
— Eu sei que não vai me machucar — digo quase sem fôlego, sem
entender toda aquela certeza.
A visão de Julian diante de mim despertava uma mistura de fascínio e
temor. Sua beleza, tão deslumbrante, parecia inalcançável, como se estivesse
além do toque humano. A dualidade entre a aparência celestial e a possível
ameaça que ele representava criava uma tensão palpável, me mergulhando
em um estado de contemplação diante da figura que se apresentava como um
enigma indecifrável.
A pressão diminui de repente e massageio instintivamente meu pescoço,
o observando sair novamente da casa, desejando que ele voltasse.

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Capítulo 27
Minha respiração está acelerada quando entro dentro do meu carro. A
sensação de urgência é palpável, pois percebo que estão procurando por
Kate quando não deveriam. A necessidade de resolver essa situação
imediatamente adiciona uma pressão adicional.
A chave gira na ignição, o motor ruge à vida, impulsionado pela
urgência de corrigir o que está errado.
Havia realizado favores e era chegada a hora de cobrar essas dívidas.
Com determinação, pego meu celular e disquei um número específico.
Aguardo, ansioso, enquanto a ligação se conecta, esperando ouvir a voz
masculina que ecoaria do outro lado da linha.
O som da chamada ecoa pelo aparelho, criando uma expectativa
silenciosa. Cada toque parece um aviso de que chegou o momento de acionar
os favores acumulados. A ligação estabelece a conexão e ouço a voz de
Hodrick.
— Preciso daquele favor — digo com a voz firme.
Após a breve conversa com Hodrick, dirijo até meu destino,
estacionando o carro em uma rua lateral. Caminho em passos largos,
constantemente olhando para trás e para os lados, atento a qualquer possível
ameaça. Por enquanto, não há sinal de perigo. Adentro o prédio, escolhendo
a rua de trás para evitar chamar a atenção.
Caminho pelo corredor vazio com passos decididos, mantendo uma
vigilância constante ao meu redor. A iluminação é escassa, criando sombras

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que dançam nas paredes conforme avanço. Navego por um corredor e depois
por outro, até chegar finalmente à sala desejada.
Apesar de estar familiarizado com a morte, não me sentia confortável
em estar em uma sala com meia dúzia deles, todos cuidadosamente
embalados em sacos pretos. A atmosfera pesada e o silêncio respeitoso
aumentavam a sensação de desconforto, criando um ambiente onde a
realidade da vida e da morte colidia de maneira intensa.
O odor característico pairava no ar, uma mistura de formaldeído e
outros produtos químicos, uma lembrança constante da natureza sombria do
espaço. Cada saco preto representava uma história encerrada, uma vida
agora silenciada, e a presença deles em tão grande número acrescentava uma
dimensão sombria à sala.
— Temos menos de dez minutos, antes de fazerem a troca de turnos —
diz Hodrick, com seu avental branco e sua camiseta repuxada para frente,
graças a sua barriga avantajada, suja de café, sem dúvida estava mais
familiarizado com o ambiente. Sua calvície parecia ter aumentado um pouco
desde a última vez que nos vimos — Já faz uns três dias que esta chegou, a
família ainda não procurou por ela e é a que mais se parece com as
características que você me deu — Ele abre uma das gavetas de ferro, aonde
havia mais um saco preto.
O zíper desce lentamente, apenas o necessário, perto dos seios,
deixando a mostra um rosto que deveria estar com as bochechas rosadas.
Apesar de estar morta, era evidente que ela possuía uma beleza
marcante. Embora se assemelhasse a Kate, alguns traços, como a cor dos
cabelos e o formato do rosto, eram notavelmente semelhantes. Ao observar
aquele corpo, era impossível não notar a beleza que transcendia a
mortalidade.
— Ela terá que ser Kate Davis.
— A garota desaparecida dos noticiários?
Olho atentamente o rosto em minha frente, contendo a vontade de sentir
a sedosidade daquele cabelo entre meus dedos. Fecho meus olhos, soltando
o ar dos pulmões, tentando clarear a minha mente.
Aquela não era minha Kate.
— Só faça que acreditem que é ela.
Mantendo o cenho franzido, o olhar dele desliza pelo local, como se
estivesse listando tudo que deveria fazer.

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— Sabe que irei ter que forjar documentos falsos, como exame de DNA
e... — Ele olha para a mulher entre nós — destruir parcialmente um rosto.
Me aproximo colocando uma das mãos em seus ombros, apertando
gentilmente para que entendesse o que estava prestes a dizer.
— Faça o que tenha que fazer e não deixe dúvidas sobre isso.
Ele engole em seco, hesitando em assentir.
Sentia que, pelo menos, um problema estava resolvido. As buscas por
Kate provavelmente cessariam, proporcionando uma pausa na pressão
constante sobre nós. A ausência de alguém à sua espera poderia aliviar as
preocupações dela em relação a um dia partir, já que, teoricamente, não
haveria mais ninguém buscando por ela.
As possibilidades se estendiam diante de nós. Poderíamos morar em
outro lugar, fugir do passado que nos assombrava, ou até mesmo conhecer o
mundo. O horizonte se abria para Kate, oferecendo a liberdade de ser quem
ela quisesse. Estava disposto em apoiar ela em qualquer escolha que fizesse,
mas acima de tudo, ela seria minha mulher.

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Capítulo 28
Ajudar Loretta na cozinha era a forma mais rápida para o tempo passar,
já que sempre estava fazendo novas receitas que, segundo ela, a acalmavam.
E, dado que minhas distrações eram quase escassas, me rendi à cozinha.
O aroma reconfortante de ingredientes se misturava no ar, enquanto me
entregava à atividade. A constante experimentação de novas receitas não
apenas preenchia o tempo, mas também proporcionava à cozinha uma
atmosfera de criatividade e serenidade, mesmo não conseguindo parar de
pensar em Julian e a sua reação ao descobrir que possivelmente minha foto
estava em todos os jornais.
Talvez isto fizera ele perceber, que seu plano poderia estar prestes a
ruir bem diante dos seus olhos. Poderia ser sentenciado há bons anos de
prisão ou até mesmo uma perpétua, nunca mais ouviria falar dele e em alguns
anos toda aquela experiência ficaria escondida no fundo da minha mente.
Mas será que conseguiria esquecer ele?
Erroneamente meu corpo ansiava pelo seu toque, ao mesmo tempo que
me acalmava, era o motivo para me levar ao limite.
— Os legumes congelados acabaram — diz Loretta em frente da
geladeira — Poderia pegar mais para mim no freezer do porão? — pergunta
por cima do ombro.
Assinto de imediato.
— Claro — Aquela seria a primeira vez que estava voltando no porão
desde meu acordo com Julian e não tive nenhuma sensação ruim ou...

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qualquer outro sintoma ao descer aquelas escadas, parecia que já fazia anos
que tudo aquilo aconteceu.
Encontro uma despensa perto de um acesso a garagem, por um momento
encaro a garagem fechada, imaginando que deveria ter um botão que abrisse
o portão em algum lugar ali mas, logo afasto o pensamento, me concentrando
na minha tarefa, abrindo o freezer em seguida.
Havia diversos congelados por todo o freezer, mas justamente o que eu
queria, estava em baixo de alguma coisa. Tento puxar o pacote para cima
mas, paraliso, ao perceber algo.
Afasto rapidamente os demais congelados, levando uma mão à boca
quando percebo que estava diante de um cadáver. Dou um passo para trás ao
notar Julian parado na soleira da porta, com uma expressão mais uma vez
que não demonstrava o que poderia estar se passando em sua mente.
— Você fez isso? — pergunto baixo.
Ele olha para mim, com os olhos pretos e misteriosos como a noite.
— Não acho que queira saber — A voz dele estava enganadoramente
calma.
Eu o encaro, me sentindo estranhamente calma.
— Tem um cadáver no freezer — Meu tom foi amargamente sarcástico.
A expressão dele ficou sombria e prendi a respiração, esperando para
ver o que ele faria.
— Fiz por você e mataria quantos fosse necessário por você — Tive a
impressão que uma chave virou em minha cabeça e a barreira que ainda
existia entre mim e ele, deixou de existir.
Luto contra a vontade de me encolher quando ele estende a mão e passa
os dedos fortes em volta do meu pescoço. Me segurando firmemente, ele se
inclina e esfrega a bochecha na minha, para a frente e para trás, como se
estivesse gostando da textura da minha pele lisa contra o maxilar com a
barba por fazer. Os dedos não me apertaram, mas a ameaça estava lá. Eu
fiquei trêmula e minha respiração acelerou em uma ansiedade aterrorizada.
Ele ergue os cantos da boca em um sorriso e sinto o ar quente contra a
orelha. Apesar da aparência cansada, o hálito dele estava fresco e doce,
como se tivesse acabado de mascar um chiclete. Fechei os olhos, tentando
me convencer de que Julian não me mataria, que só estava brincando
comigo.
Ele beija minha orelha, mordendo o lóbulo de leve. O toque dele
naquela área sensível causou arrepios na minha espinha e minha respiração

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mudou de novo, ficando mais lenta e mais profunda à medida que eu ficava
mais excitada. Senti o cheiro da pele dele e meus mamilos ficaram rígidos,
reagindo à proximidade. A dor entre as coxas aumentou e me contorci de
leve, tentando aliviar a tensão que aumentava dentro de mim.
— Você me quer — sussurra no meu ouvido, deslizando a mão para
dentro da calça de moletom e me acariciando de leve entre as pernas. Sabia
que ele conseguia sentir a umidade e suprimi um gemido quando enfiou um
dedo em mim. — Não quer, Kate?
— Sim. — Arquejei quando ele tocou em um ponto particularmente
sensível.
— Sim — A voz dele estava rouca e exigente. Ele queria que me
rendesse completamente — O quê?
— Sim, quero você — admiti em um sussurro. Não podia mais negar.
Eu queria Julian. Queria o homem que me sequestrara. Eu o queria e
odiava a mim mesma por isso.
Ele tira o dedo e larga meu pescoço. Espantada, abro os olhos e encaro.
Ele ergue a mão para o meu rosto, pressionando o dedo contra os meus
lábios. Era o mesmo dedo que estivera dentro de mim.
— Chupe — ordena. Obedientemente, abri a boca e chupei o dedo dele.
Senti meu gosto, meu próprio desejo e isso me deixou ainda mais excitada.
Quando o dedo ficou limpo e Julian ficou satisfeito, ele o tirou da minha
boca. Em seguida, segurou meu queixo e me forçou a o encarar. Olhei para
ele, hipnotizada pela escuridão profunda da íris. Meu corpo latejava de
desejo, querendo desesperadamente ser possuído. Queria que ele me
possuísse, que enchesse o vazio doloroso que sentia, até mesmo em cima
daquele cadáver.
Mas ele só olha para mim com um sorriso meio zombeteiro nos belos
lábios.
— A única coisa que quero agora é sua boca. — Ele agarra meus
cabelos e me empurra para baixo para que eu ficasse ajoelhada entre suas
pernas. O pênis ereto estava bem diante dos meus olhos. — Chupe — diz
olhando para mim. — Como acabou de fazer com meu dedo.
Dava para ouvir a família dele no outro cômodo, debatendo algo, e o
simples fato de poderem nos ver ali deixava tudo ainda melhor.
O som abafado das vozes da família de Julian vindo do outro cômodo,
debatendo alguma coisa, fez com que meu coração acelerasse mais um
pouco.

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Fecho os lábios em volta do pênis grosso e corro a língua em volta da
ponta. Ele tinha um gosto meio salgado. Olhei para cima, observando o rosto
dele ao colocar a mão nos testículos e os apertar de leve. Ele geme,
fechando os olhos e apertando a mão nos meus cabelos. Continuo, movendo
a boca para cima e para baixo, o engolindo cada vez mais fundo.
Por algum motivo, não me importei em dar prazer a ele daquela forma.
Na verdade, achei estranhamente agradável. Apesar de ser uma ilusão,
parecia que ele estava à minha mercê naquele momento, que era eu quem
tinha o poder.
Adorei os gemidos que escaparam da boca dele quando usei as mãos, os
lábios e a língua para o deixar bem perto do orgasmo. Reduzi a velocidade e
adorei a expressão de agonia no rosto dele quando chupei os testículos, os
sentindo enrijecerem dentro da boca. Adorei a forma como ele estremeceu
quando passei a ponta das unhas na parte debaixo dos testículos e, quando
finalmente explodiu, adorei a forma como agarrou minha cabeça, me
segurando no lugar enquanto gozava e o pênis pulsava dentro da minha boca.
Quando ele me soltou, passei a língua pelos lábios, limpando o sêmen
que escorrera. O tempo inteiro, fiquei o encarando.
Ele olhou para mim, ainda com a respiração pesada.
— Isto foi bom, Kate. — A voz dele estava baixa e rouca.
Aquele era um homem que gostava da ideia de ser o meu primeiro, de
que eu pertencia a ele e a mais ninguém.
Ainda ajoelhada na frente dele, sinto sua mão grande por toda minha
cabeça, me olhando com um misto de fascinação e encantamento, o toque era
firme e suave ao mesmo tempo, percorre minha cabeça, uma sensação de
proximidade e familiaridade me preenche rapidamente.

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Capítulo 29
Ver cadáveres sempre abria meu apetite, uma peculiaridade que, ao
longo do tempo, se tornou um reflexo inusitado diante da morte. O clima em
casa permanecia tenso, como uma nuvem pesada pairando sobre nós. Minha
mãe, com uma expressão que não necessitava de palavras, me encarava,
indicando claramente que era hora de fazer o que precisava ser feito.
Houve dias em que a vontade de ferir, de matar, era forte demais para
ser negada.
Dias em que o manto fino da civilidade ameaçava desabar com a menor
provocação, revelando o monstro no interior.
Não estava mais em um desses dias.
Ela estava comigo.
Era estranho, mas nunca me sentira possessivo em relação a uma mulher
antes. Era um território novo para mim. Antes de Alice, todas as mulheres
eram iguais na minha mente: apenas criaturas bonitas e macias passando pela
minha vida. Elas se aproximavam de mim por vontade própria, querendo
trepar, querendo ser machucadas. E fazia a vontade delas, satisfazendo
minhas próprias necessidades físicas no processo.
— O frango está maravilhoso — digo olhando para Loretta, que tentava
alimentar Andy e manter os gêmeos concentrados na tarefa de se alimentar.
Loretta sorri, olhando para Kate.
— Na verdade, venho recebendo ajuda na cozinha.

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Um breve sorriso surge em meu rosto ao sustentar o olhar de Kate que,
ergue levemente os cantos da boca em um sorriso, antes de abaixar o olhar
para o prato e continuar a comer.
— Parece que estamos diante de uma dona de casa em ascensão — Lars
comenta, abrindo um largo valor.
— Pelo menos está se mostrando útil para alguma coisa ~Jô comenta,
remexendo a comida praticamente intocada do prato — Quando Loretta não
quiser cozinhar, ela cozinha. Simples.
Nádia olha para nossa mãe e depois para Loretta, voltando a comer. O
clima continua tenso até o final do almoço, quando Kate começa a retirar os
pratos da mesa e os levar para cozinha, enquanto Loretta e Nádia tentam
conter as crianças.
— Pare com isso. Agora mesmo. Vá pegar uma arma, vá até aquela
garota e termine esse trabalho. Você está se tornando uma decepção para
mim e eu esperava que você fosse capaz de fazer uma coisa certa dado ao
que aconteceu da última vez, e aqui estamos, em outra merda.
Suspiro.
— Tenho tudo sob meu controle.
— Isso não é o mesmo que dizer que você atirou no crânio dela e agora
ela está morta — Ela tenta controlar o tom de voz, falhando miseravelmente
— Ela está no noticiário!
Observo Kate entrar novamente na sala de jantar e pegar os últimos
pratos, voltando para a cozinha.
— Logo o caso será arquivado — Ela semicerra as palpébras,
inclinando a cabeça para o lado, como se tentasse descobrir o que poderia
estar acontecendo.
— Não me obrigue a fazer por você — murmura.
Minha mão se fecha lentamente sobre a mesa, uma reação involuntária à
tensão no ar. Tento evitar imaginar o que minha mãe poderia fazer com Kate,
tentando dizer à mim mesmo que isto nunca iria acontecer.
— Matei Brock Sailors — digo com meu olhar fixo na mesa — Ele está
neste momento no freezer e farei a mesma coisa com qualquer um que tentar
ferir ela de alguma forma — Me inclino para frente, sustentando seu olhar.
Levanto de repente, saindo da sala de jantar, indo atrás da minha mulher.
Diminuo bruscamente os passos ao ver Lars com a mão nas costas de Kate,
enquanto ela demonstra desconforto. A mão dele desce lentamente pelas

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costas, até chegar na cintura, a apertando lentamente. Kate tenta se afastar,
mas ele a puxa de volta, dizendo algo em seu ouvido.
A raiva queima dentro de mim enquanto testemunho a cena.
Rapidamente, me aproximo, mantendo a calma superficial, mas com uma
tensão evidente no olhar.
Minha mão instintivamente pega minha faca, já não sou completamente
racional. Prendo Lars em uma chave de braço, o surpreendendo.
— Não toque no que não é seu — rosno em seu ouvido, antes de cortar
seus dedos sobre a pia e um grito ecoar pela cozinha e talvez pela casa toda.
Kate me olha com uma expressão assustada, os olhos arregalados e a
boca aberta, se fixando no sangue que jorra pela pia. Lars segura a mão
contra o peito, tentando conter o sangramento, enquanto reprime os gritos de
dor.
— Poderia esparramar suas tripas no chão — digo limpando a faca,
para poder a guardar — Mas não quero deixar minha irmã viúva e nem os
meus sobrinhos órfãs.
Loretta e Nádia entram abruptamente na cozinha, suas expressões se
tornando chocadas no instante seguinte. O cenário diante delas, com Lars
segurando o peito, tentando conter o sangramento, e Kate com um olhar
assustado, cria um momento de silêncio tenso.
— É melhor levar ele para o hospital — Passo por elas, levando Kate
comigo — Talvez dê para colocar os dedos no lugar.
Loretta se aproxima devagar do marido, seus passos são hesitantes,
como se a realidade do que está testemunhando ainda não tivesse
completamente se instalado em sua mente. Seus olhos se fixam no sangue, e
uma mistura de incredulidade e preocupação marca sua expressão.
— O que você fez, Lars? — Ouço ela dizer enquanto me afastava. A
expressão de surpresa ainda não deixara o rosto de Kate, seus olhos se
mantinham fixos em mim a medida que subíamos os degraus da escada e
deixava claro a obsessão que tinha por ela.

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Capítulo 30
Julian me leva para o banheiro assim que entramos no quarto, minhas
pernas estavam trêmulas e fiquei grata por ele estar me segurando. Não sabia
se teria conseguido chegar até o banheiro por conta própria.
Ele liga o chuveiro e esperou alguns segundos até que a água estivesse
quente. Em seguida, lava cuidadosamente todas as partes do meu corpo,
lavando todos os rastros de lubrificante e sêmen. Em seguida, passou xampu
e condicionador nos meus cabelos, massageando o crânio até que eu
estivesse relaxada.
Quando termina, me senti limpa e cuidada.
— Sua vez — diz ele, virando minha palma para cima e
derramando um pouco de sabonete líquido nela.
— Você quer que lave você? — pergunto incrédula. Ele assenti com um
sorriso leve nos lábios. Com a água correndo pelo corpo musculoso, ele
parecia ainda mais bonito que o normal, como um deus.
Ele continua a me olhar, esperando para ver se eu faria o que me pedira.
Dei de ombros mentalmente. Por que não? Não me faria mal algum.
Além do mais, apesar de estar assustada e por isto sentir uma pontada de
raiva dele, não podia negar que estava curiosa sobre o corpo dele. Tocar
nele era algo que eu achava excitante.
Portanto, esfreguei as mãos e as corri sobre o peito dele, espalhando o
sabonete pela pele bronzeada. Ele ergue os braços e passei sabonete nas
axilas e nos lados do corpo. Em seguida, passei para as costas.

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A pele dele era muito macia, exceto nos poucos locais onde havia pelos
escuros. Senti os músculos poderosos sob os dedos e percebi que gostava da
experiência. Naquele momento, quase consegui fingir que queria estar lá, que
aquela criatura maravilhosa, não era meu sequestrador.
Eu o lavei com tanto cuidado quanto ele me lavara, deslizando as mãos
ensaboadas pelas pernas e pés dele. Quando cheguei ao sexo dele, o pênis
começou a endurecer novamente e parei, percebendo que o deixara excitado
de forma não intencional.
Ele interpretou minha reação corretamente como medo.
— Sou humano também, sabia?
Engoli em seco e me virei , lavando as mãos sob a água do chuveiro. O
que diabos eu estava fazendo? Ele não me forçara a tocá-lo. Eu fizera aquilo
por conta própria. Ele pedira, mas tinha certeza de que poderia ter recusado
sem consequências. A vibração sombria que sentira nele mais cedo
desaparecera. Na verdade, Julian parecia estar de bom humor, mesmo
tendo acabado de cortar os dedos do cunhado.
Eu queria sair do chuveiro naquele momento e me movi para passar por
ele. Julian me parou, bloqueando o caminho com o braço.
— Espere — diz baixo, erguendo meu queixo com os dedos. Em
seguida, ele abaixou a cabeça e me beija, com os lábios doces e gentis sobre
os meus. Uma resposta já familiar aqueceu meu corpo, fazendo com que eu
tivesse vontade de me esfregar nele como uma gata no cio. Mas ele não se
demorou. Depois de cerca de meio minuto, ele ergue a cabeça e sorri para
mim, com os olhos pretos brilhando de satisfação.
Saio do chuveiro, me seco e fujo para o quarto o mais depressa
possível, com a cena dos dedos de Lars cortados sobre a pia, fixada em
minha mente, juntamente com seus gritos; Antes mesmo de Julian chegar,
estava contornando a situação e naquele momento Loretta deveria estar me
culpando pelo o que havia acontecido.
Quando Julian finalmente sai do banheiro, já vestido, estou sentada nos
pés da cama ainda de roupão, me dando conta do quão perigoso aquele
homem era e por sentir que perdia o controle sob mim mesma a cada minuto.
— Não precisava fazer aquilo — murmuro, reunindo os últimos
vestígios de desafio, com meus olhos fixos no vazio — Eu odeio você...
Os olhos dele brilharam como fogo, quando levanto, me colocando na
frente dele.
— É mesmo? — sussurra, se aproximando — Você me odeia?

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Sustentei o olhar dele, me recusando a piscar.
— Sim — digo o mais claro possível —, eu odeio você! — Precisava
convencer ele do meu ódio porque a alternativa era impensável. Ele não
podia saber da verdade. Não podia. E não podia admitir, nem para mim
mesma.
O rosto dele endurece, se transformando em gelo. Em um movimento
rápido, ele me empurra sobre a cama, me forçando a dobrar o corpo. Tento
chutar para trás, mas foi inútil. Ele agarra minha nuca com a mão forte e
ouço o som ameaçador de um cinto sendo desafivelado.
Chutei com mais força e consegui bater na perna dele. Obviamente, isso
não adiantou de nada. Eu não conseguiria escapar de Julian. Nunca
conseguiria escapar dele.
Ele se inclina sobre mim, me pressionando contra a cama e apertando os
dedos em minha nuca.
— Você é minha, Kate — diz com voz rouca. O corpo grande me
dominou e me deixou excitada. — Você pertence a mim, entendeu? Cada
parte de você é minha. — A ereção dele pressiona minhas nádegas em uma
ameaça e uma promessa.
Ele recua, ainda me segurando pelo pescoço, e ouço o sussurro sibilante
do cinto sendo tirado da calça. Um momento depois, ele ergue o roupão,
expondo a parte inferior do corpo. Fecho bem os olhos, me preparando para
o que viria em seguida. O cinto desceu sobre minha bunda, repetidamente,
cada golpe parecendo fogo lambendo minhas coxas e nádegas.
Ouvi meus próprios gritos, senti o corpo ficar tenso com cada golpe. Em
seguida, a dor me lançou naquele estranho estado em que tudo estava de
cabeça para baixo, em que a dor e o prazer colidiam, ficando indistinguíveis,
em que meu carrasco era o único consolo que eu tinha. Meu corpo amoleceu,
derreteu, e cada golpe do cinto começou a parecer uma carícia.
Era uma parte de mim que queria se perder completamente e ser dele.
Quando ele parou e me virou , não sobrara nada de antes. Minha cabeça
estava tonta devido a uma onda de endorfina mais poderosa que jamais
sentira. Me agarro a ele, desesperada por conforto, por sexo, por qualquer
coisa que se parecesse com amor e afeição.
Passo os braços em volta do pescoço dele, o puxando para baixo.
Adorei sentir o gosto dele nos beijos profundos e famintos que consumiram
minha boca. Minhas nádegas estavam queimando, mas isso não diminuiu em

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nada meu desejo. Na verdade, o intensificou. Meu corpo estava
condicionado a querer o prazer que eu sabia que viria em seguida.
Ele abre o zíper da calça e me penetra com uma investida forte.
Estremeço de alívio, com um êxtase que beirava a agonia, e passo as pernas
em volta da cintura dele para que me penetrasse mais fundo. Precisava que
ele trepasse comigo, que me reclamasse da forma mais primitiva possível.
Solto uma exclamação quando ele coloca o dedo no meu ânus, com os
sentidos tomados pelas sensações conflitantes. Estonteada, abro os olhos e
olhei para ele, vendo meu próprio desejo sombrio refletido em seu rosto. Ele
queria me possuir, queria me quebrar para depois me consertar. E não podia
mais lutar contra aquilo.
— Eu não odeio você. — As palavras saíram baixas e roucas, e engoli
saliva para umedecer a garganta seca. — Não odeio você, Julian.
Algo que pareceu triunfo brilhou no rosto dele. Ele empurrou os quadris
para a frente, se enterrando ainda mais em mim, e suprimi um gemido, ainda
mantendo seu olhar.
Os olhos dele me queimavam e não resisti mais à exigência que vi neles.
Ele me queria inteira e não tinha outra opção a não ser me entregar.
— Eu amo você. — Minha voz mal era audível. Pareceu que cada
palavra foi arrancada da minha alma. — Não odeio você, Julian... não
consigo... não consigo porque eu amo você.
Vi as pupilas dele se dilatarem, deixando os olhos ainda mais escuros.
O pênis ficou ainda maior e mais rígido dentro de mim. Ele recuou e me
penetrou novamente, fazendo com que gemesse com a selvageria da posse.
— Diga de novo — Não adiantava mais esconder a verdade, não havia
mais motivo para mentir.
Acabara me apaixonara perdidamente pelo meu sequestrador e nada
no mundo mudaria esse fato.
— Eu amo você — sussurro, erguendo a mão para acariciar o rosto
dele. — Eu amo você, Julian.
Os olhos dele ficaram ainda mais escuros. Julian abaixou a cabeça,
tomando minha boca em um beijo profundo.
Ele era a única coisa que tinha a temer. Logicamente, sabia disso. Mas
não importava, pois, naquele momento, sentia como se ele estivesse me
mantendo segura contra os monstros lá fora.
Assim como o manteria seguro contra os pesadelos.

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Capítulo 31
No café da manhã, estava um pouco dolorida, mas feliz. Julian estava lá
e meu mundo parecia estar no lugar novamente. Mas o clima no restante da
mesa, não estava na mesma sintonia, Loretta não havia falado muito naquela
manhã, apenas o essencial com as crianças, Nádia e Jô mantinham o mesmo
comportamento dos últimos dias.
— Quando foi a última vez que saiu para correr? — Julian pergunta de
repente, chamando a atenção completamente para ele.
— Quando estava com a minha mãe em Michigan — murmuro.
— Aposto como não há muitos homens que conseguem superar esse
tempo — Eu provavelmente não conseguiria.
— É mesmo? — Fiquei intrigada com a ideia de superar Julian em
alguma coisa. — Quer tentar? Eu gostaria de apostar uma corrida com você.
— Não faça isso, Julian — diz Nádia, contendo um sorriso. Havia uma
piada interna ali, que não entendi no momento — Ela pode ser mais rápida
do que eu.
— É mesmo? — Ele ergue a sobrancelha para mim. — Será que é mais
rápida do que Nádia?
— Talvez — Eu o olhei desafiadoramente, estava congelando lá fora,
mas nem mesmo as baixas temperaturas me fariam mudar de ideia — Quer
apostar corrida ou é mole demais para isso?
Nádia começou a fazer barulhos de chacota e Julian sorri, jogando um
pedaço de pão nela.

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— Cale a boca, traidora.
Rindo deles, jogo um pedaço de pão em Julian e Loretta reclama.
— Sou eu quem vai ter que limpar essa bagunça — resmunga. Julian
promete ajudar a com a louça, a acalmando com um sorriso deslumbrante.
Quando ele agia daquele jeito, o charme dele parecia uma coisa viva
que me atraía e fazia com que esquecesse a verdade sobre minha situação.
No fundo da mente, sabia que nada daquilo era real, que aquela sensação de
conexão e aquela camaradagem nada mais eram do que uma miragem. Mas, a
cada dia que passava, isso importava cada vez menos. De uma forma
estranha, me sentia como duas pessoas: a mulher que se apaixonava pelo
assassino implacável e maravilhoso sentado à mesa e aquela que observava
tudo com uma sensação de horror e descrença.
Realmente estava congelando do lado de fora da casa. Ergo minhas
sobrancelhas, olhando com atenção o design da casa, o único ponto preto em
meio ao branco da neve, me deixou completamente sem reação,
principalmente pelo fato de estar localizada perto de um precipício, com
rochas espalhadas por toda parte.
— Você faz algum exercício? — pergunto, observando descaradamente
quando ele dobrou o corpo e encostou os dedos nos pés com flexibilidade
surpreendente. — Como consegue manter essa forma?
Ele endireita o corpo e sorri para mim.
— Treinava com meus homens quando podia. Acho que se pode dizer
que é um exercício.
— Seus homens? — Imediatamente me lembrei do homem que estava
com ele, na casa do meu pai. A lembrança me deixou enjoada e a afastei,
sem querer pensar naquele tipo de coisa no momento.
Precisava fazer isso às vezes, para separar aquela nova vida em
pequenas seções organizadas, mantendo os bons momentos afastados dos
ruins. Era o mecanismo que começava a usar usava para ir em frente.
— Certos funcionários — explica ao andarmos depressa para longe do
precipício — Alguns deles são ex-fuzileiros navais e treinar com eles não é
nenhuma brincadeira, acredite.
— Você treina com fuzileiros navais? — Paro e olho para ele.
Ele curva os lábios em um sorriso malicioso e muito sedutor.
— Por que não corremos para ver?
— Está bem — digo determinada a fazer o melhor possível.

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Começamos a correr perto de uma árvore que marquei especificamente
para aquela finalidade. No outro lado da montanha, havia outra árvore que
serviria como linha de chegada.
Julian contou até cinco, ligou o cronômetro e partimos, os dois em um
ritmo razoavelmente rápido que não era a velocidade máxima. Ao correr,
senti os músculos entrando no ritmo do movimento e gradualmente aumentei
a velocidade, forçando o corpo mais do que o normal naquele ponto do
trecho.
Julian corria ao meu lado, com os passos largos possibilitando que me
acompanhasse com facilidade.
Corremos em silêncio, sem conversar, e fiquei de olho em Julian pelo
canto do olho. Estávamos na metade do caminho e eu suava, respirando
pesadamente, mas ele mal parecia fazer qualquer esforço. Ele estava em
excelente forma. Corria com passo fácil, do qual senti inveja, desejando ter
pelo menos metade da força e da resistência óbvias de Julian.
Ao entrarmos no último quilômetro, aumentei a velocidade, determinada
a tentar derrotar ele, apesar da inutilidade óbvia do esforço. Já estava
ofegante e a respiração dele ainda estava totalmente normal. Ele também
acelerou e, não importava o quanto eu corria, não conseguia abrir distância
entre nós.
Quando chegamos a cem metros da árvore, o suor escorria pelo meu
rosto e todos os músculos do corpo gritavam por oxigênio. Estava perto de
desmoronar e sabia disso, mas fiz uma última tentativa desesperada para
correr até a linha de chegada.
E, quando estava prestes a encostar na árvore para ser a vencedora, a
mão de Julian bateu nela um segundo antes da minha.
Frustrada, virei o corpo e me vi com as costas contra a árvore e Julian
inclinado sobre mim.
— Peguei você — diz ele com os olhos brilhando.
Percebi que ele respirava quase normalmente.
Arquejando, eu o empurrei, mas ele não recuou. Em vez disso, ele
chegou mais perto e colocou o joelho entre minhas coxas. Ao mesmo tempo,
suas mãos seguraram a parte de trás dos meus joelhos, me erguendo contra
ele com as pernas bem abertas. A ereção dele pressionou minha pélvis.
Pelo jeito, a corrida o deixara excitado.
Respirando pesadamente, o encarei, colocando as mãos em seus
ombros. Mal conseguia ficar de pé e ele queria trepar?

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A resposta era obviamente sim, pois ele me colocou no chão por um
segundo, puxou a calça e a calcinha para baixo, e fez o mesmo com as
próprias roupas. Eu cambaleei, pois as pernas tremiam. Não acreditava que
aquilo estava acontecendo. Quem trepava depois de uma corrida? Só o que
eu queria fazer era deitar e beber um galão de água.
Mas Julian tinha outras ideias.
— Fique de joelhos — ordena com voz rouca, me empurrando para
baixo antes que conseguisse obedecer.
Caí pesadamente sobre os joelhos e me apoiei nas mãos. A posição me
ajudou a recuperar um pouco o fôlego e respirei aliviada. Minha cabeça
girava por causa do frio e da corrida, e torci para não acabar desmaiando.
Um braço musculoso passou sob meus quadris, me segurando no lugar.
Em seguida, senti o pênis contra as nádegas. Tonta e trêmula, esperei a
investida que nos uniria. Meu sexo traidor já estava molhado e latejando de
ansiedade.
A resposta do meu corpo a Julian era insana e ridícula, considerando
meu estado físico geral.
Ele tirou meus cabelos encharcados de suor das costas e se inclinou
para beijar meu pescoço, me cobrindo com o corpo pesado.
— Sabe de uma coisa? — sussurra — Estive esperando para fazer isso
desde o primeiro quilômetro. — Ao terminar de falar, ele investiu com
força, me preenchendo completamente.
Eu gritei, contraindo as mãos sobre a neve, quando ele começou a
investir repetidamente, segurando meus quadris. Meus sentidos se
concentraram apenas naquilo, nos movimentos rítmicos dos quadris dele, na
combinação de prazer e dor da posse. Me senti como se estivesse queimando
por dentro, com uma onda violenta de calor e excitação. A pressão dentro de
mim era demais, insuportável, e joguei a cabeça para trás com um grito
quando o corpo inteiro explodiu.
— Você está bem? — pergunta olhando para mim com o que parecia
preocupação genuína no rosto bonito.
— Hã, sim. — Ainda sentia a garganta seca, mas estava me sentindo
muito melhor. E um tanto constrangida.
— Por que se esforçou tanto?
— Porque queria ganhar — admiti, fechando os olhos e inalando o
cheiro da pele dele, que era uma combinação estranhamente atraente de sexo
e suor.

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— Tome, beba mais um pouco de água — diz e abro os olhos
novamente, bebendo obedientemente quando ele coloca uma garrafa contra
meus lábios.
Depois de alguns minutos e de uma garrafa inteira de água, me senti bem
o suficiente para começar a caminhar de volta. Mas Julian não me deixou
andar. Em vez disso, assim que fiquei de pé, ele me ergueu nos braços com
tanta facilidade como se fosse uma boneca.
— Se segure no meu pescoço — Passo os braços em volta dele,
deixando que me carregasse de volta para casa.

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Capítulo 32
— Precisa de um banho quente — Estava claro que Kate não estava
habituada com os mesmos hábitos que eu e poderia até mesmo morrer se
tentasse seguir o mesmo ritmo que eu.
— Acho que... consigo fazer isto — Ela murmura, quando a coloco no
chão, enquanto tirava o casaco.
Antes que pudesse dizer alguma coisa, meu celular toca, tirando meu
foco dela. O nome de Vitto aparece no visor imediatamente.
— Acompanho você em um minuto — Ela lança um breve sorriso na
minha direção, antes de andar em direção da escada.
Atendo no instante seguinte.
— Como foi a corrida? — A voz de Vitto soa, inspiro profundamente —
Vamos lá, Julian. Ainda somos amigos e se... — Ele faz uma breve pausa —
quisesse matar ela, já estaria morta.
— O que você quer? — digo sério.
— Apenas conversar. Como bons e velhos amigos — O silêncio
perdura entre nós, até que ele o quebra novamente — Pode ser?
Estava disposto em fazer tudo para continuar mantendo Kate segura.
— Onde podemos nos encontrar?
— Você sabe aonde.
Saio de casa rapidamente, a urgência impulsionando meus passos. Entro
em seguida no meu carro, determinado a enfrentar a situação que se desenha
com Vitto. Se houver alguma chance de evitar uma guerra, estou disposto a

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tentar uma abordagem pacífica. No entanto, se ele não me der escolha e
ameaçar aquela que amo, não hesitarei em proteger ela, mesmo que isso
signifique confrontar e, se necessário, matar meu único e melhor amigo.
A angústia e a determinação se misturam dentro de mim enquanto dirijo
em direção ao confronto iminente. A lealdade à família e a necessidade de
proteger aquela que amo se torna os motores que impulsionam minhas
decisões.
Quando queríamos parecer normais, íamos à lanchonete que nossos pais
sempre nos levavam. Ali, sentados, só comíamos os hambúrgueres em
silêncio, lembrando dos tempos em que pensávamos que nosso maior
problema eram os monstros que acreditávamos existir embaixo de nossas
camas. Naquela época, mal sabíamos que o verdadeiro terror estava à
espreita na forma de monstros reais, e que, com o tempo, nos tornaríamos
parte desse mundo sombrio que antes só imaginávamos.
E naquele dia não parecia diferente, Vitto estava encostado em seu
carro, comendo um hambúrguer. A cena parecia a de um homem comum,
dando uma pausa em sua vida para saborear um hambúrguer em uma
lanchonete qualquer. No entanto, a realidade era muito diferente. Por trás da
fachada de normalidade, ele era o capo da organização mais forte de Detroit,
um homem cujo poder se estendia por áreas obscuras e perigosas.
— Continuam fazendo o melhor hambúrguer — diz quando me
aproximo, me estendendo um. Balanço a cabeça de um lado para o outro, me
encostando no carro ao seu lado — Não sabe o que está perdendo.
— Me chamou aqui para comer hambúrguer?
Ele dá uma boa mordida no lanche.
— Sempre fizemos isto.
— E por que hoje? — Encaro o horizonte branco em nossa frente,
enquanto a neve caia vagarosamente sobre nós.
— Queria lembrar o que éramos antes de toda essa merda.
Solto o ar dos pulmões, mantendo as mãos no bolso do casaco,
segurando com firmeza minha faca.
— Éramos crianças.
— Víamos aqui até duas semanas atrás — Ele lembra — E agora mal
me reconheço e tudo por quê não ter terminar um trabalho.
— Pela primeira vez, não posso fazer o que você quer.
Ele dá mais uma mordida no lanche, mastigando enquanto suspirava.

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— Espero um dia entender o que é isto que você tanto sente, o que é tão
forte que não consegue puxar um gatilho ou até mesmo cortar uma simples
cabeça.
— “Isto” que está se referindo, acho que é amor — murmuro — Saberia
caso perdesse alguém que, não queria que fosse embora.
— ... sei o que é amor. Perdi meu pai e o amava, mas não acho que uma
mulher possa mudar tanto as coisas — Ele sustenta meu olhar, semicerrando
as pálpebras — E não queria estar nessa situação de merda e é por amar
você, que não deixarei jogar tudo para o alto.
Antes mesmo que pudesse processar as palavras, homens surgem de trás
da lanchonete e do pequeno bosque em frente, nos cercando. O ambiente que
há pouco parecia tranquilo e cotidiano se transforma instantaneamente em um
cenário tenso e perigoso.
Os homens de Vitto mantêm suas armas apontadas para mim, prontos
para atirar. O silêncio tenso que se instala é quebrado apenas pelo murmúrio
distante da lanchonete, agora transformada em um palco improvável para um
potencial assassinato.
— Vamos acabar logo com isto, Julian — diz Vitto, terminando de
comer seu lanche calmamente.

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Capítulo 33
Terminei meu banho sem que Julian me encontrasse no quarto. Sendo
assim, após o banho, fui atrás dele, esperando encontrar ele com as irmãs ou
conversando com a mãe. No entanto, ele não estava em lugar nenhum.
— O que tanto você procura? — Nádia pergunta, com os olhos fixos na
Tv, zapeando os canais.
— Julian — digo parando em sua frente — Não encontro ele em lugar
nenhum.
Ela balança a cabeça negativamente.
— Não encontra ele por que ele não está em casa.
— Onde ele foi? — pergunto baixo, sem saber se aquilo realmente.
— Eu não sei, mas ele não consegue ficar longe de você, Kate, então
deve chegar logo.
Mexo minhas mãos em frente ao corpo.
— É mesmo? Ele disse alguma coisa a você? — Eu ouvi a ansiedade na
minha própria voz e me xinguei mentalmente. Havia como ser mais ridícula
que aquilo? Poderia muito bem estampar na testa: mais uma garota burra
que se apaixonou pelo sequestrador. Obviamente, duvidava que muitos
sequestradores tivessem o charme letal de Julian e achei que isso podia ser
uma boa desculpa.
Por sorte, Nádia não disse nada sobre minha ansiedade óbvia.
— Ele não precisa dizer — Ela responde — É perfeitamente óbvio.
Ergo as sobrancelhas.

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— Óbvio como? — Aquela conversa preenchia uma necessidade eu
nem sabia que tinha, a de uma sessão de fofoca entre garotas sobre os
homens e suas emoções inexplicáveis.
— Ora, por favor. — Nádia começa a soar exasperada. — Você sabe
que Julian é louco por você. Sempre que falo com ele, é Kate isso, Kate
aquilo... Será que Kate precisa de alguma coisa? Será que Kate está se
alimentado bem? — Ela baixa a voz comicamente, imitando os tons mais
graves de Julian.
Sorrio para ela.
— É mesmo? Eu não sabia disso. — E realmente não sabia.
Eu sabia que Julian nutria algum sentimento por mim, e ele certamente
admitira uma certa obsessão por mim por causa da semelhança com Alice,
mas não sabia que ele pensava tanto em mim fora do quarto.
Nádia revira os olhos.
— Ah, é. Você não é tão ingênua quanto finge ser. Eu já vejo você
batendo os cílios para ele, tentando deixar ele na palma da sua mão.
Olho para ela com o melhor olhar arregalado e inocente que consegui.
— O quê? Não!
— Ahã. — Nádia não pareceu nem um pouco convencida.
Ela tinha razão, obviamente. Eu flertava com Julian. Agora que não tinha
mais tanto medo, novamente fazia o possível para cair nas boas graças dele.
Em algum lugar no fundo da mente, havia uma esperança persistente de
que, se ele confiasse em mim e gostasse de mim o suficiente, poderia me
deixar sair daquela casa.
Quando aquele plano me ocorrera pela primeira vez, naqueles primeiros
dias terríveis de cativeiro, estivera fingindo. Assim que estivesse fora
daquela casa, pensei que faria o possível para escapar, independentemente
das promessas que tivesse feito. Agora, no entanto, não sabia o que faria se
Julian me deixasse sair. Tentaria deixar ele? Queria mesmo deixar ele?
Sinceramente, não fazia ideia.
— Você já se apaixonou? — pergunto, para minha surpresa uma
expressão sombria passou pelo rosto dela.
— Não — diz em tom seco. — Nunca.
— Mas você amou... alguém, certo? — Não sei o que me fez perguntar
aquilo, mas pareceu que atingi um ponto sensível, pois o corpo inteiro de
Nádia ficou rígido, como se eu tivesse batido nela.

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Mas, para minha surpresa, em vez de me dar uma resposta ríspida, ela
simplesmente assenti.
— Amei — Os olhos dela ficaram brilhantes, como se estivessem
segurando lágrimas.
Naquele momento, percebi que ela sofria... que o que acontecera
deixara cicatrizes profundas. O exterior cheio de espinhos era apenas uma
máscara, uma forma de se proteger de ser magoada ainda mais. E, naquele
instante, por algum motivo, a máscara escorregara, expondo a mulher que
havia por baixo.
— O que aconteceu com essa pessoa? — pergunto com voz gentil.
— Ela morreu. — O rosto de Nádia não tinha expressão, mas percebi o
poço sem fundo de agonia naquela resposta simples. — Minha filha morreu
quando tinha dois anos.
Prendo a respiração.
— Sinto muito, Nádia. Eu sinto muito... — Ela se levanta, forçando um
sorriso amargo ao passar por mim.
— Não mais do que eu. Tenho certeza.
Meus olhos vão para a TV com a saída de Nádia da sala. Estava no
noticiário e vi diversas pessoas colocando flores em frente da casa do meu
pai, enquanto na legenda dizia: "Encontrado o corpo de Kate Davis, após
dias de buscas."
Enfim, ninguém mais estava me procurando, e isto devia me deixar
triste, mas só conseguia pensar que poderia ficar com Julian para sempre.

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Capítulo 34
Mas antes do meu para sempre, havia algo que precisava fazer.
Entro em passos largos na cozinha, encontrando Nádia olhando algo
pela janela, como se pudesse ver além da neve.
— O que aconteceu com Alice? — Olho para Loretta, quando entra na
cozinha com Andy.
— Acho que não vai querer saber — Ela murmura, indo até a geladeira.
— Não queremos acabar com seu conto de fadas — diz Nádia
sarcasticamente.
Reviro os olhos, ciente de que não estava vivendo bem um conto de
fadas, aquele não era o conto de fadas que sonhei quando era criança.
— O que aconteceu? — insisto. As duas irmãs se olham, antes de
fixarem o olhar em mim.
— Quer mesmo saber o que aconteceu com a Alice? — Nádia pergunta,
andando na minha direção.
— Nádia — Loretta tenta a impedir.
— Será que quando souber, ainda vai querer continuar com Julian?
Ainda vai querer fazer parte desta família?
Havia aberto mão de mim mesma rapidamente, por sentimentos que não
entendia, que eram completamente conflitantes por causa de um homem que
havia me sequestrado e que, em determinado momento, dei conta de que
havia me apaixonado. Já sabia qual era o pior lado de Julian.

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Obviamente, ele não era sempre sádico. Algumas vezes, era quase doce,
massageando meu corpo todo, me beijando até que eu derretesse e depois
fazendo amor até quase me enlouquecer de desejo. Em dias como aqueles, eu
não queria ir embora daquela casa. Só queria que Julian continuasse me
abraçando, acariciando, amando, da forma que pudesse.
E estava naqueles dias que não queria ir embora.
— Eu quero saber — digo com a voz firme.
Nádia enche os pulmões de ar sorrindo.
— Nós a matamos.
Olho para Loretta com o cenho franzido, segurando firmemente Andy e
novamente para Nádia que mantinha um sorriso no rosto pálido.
— Vocês... a... mataram? — pergunto pausadamente.
Nádia inclina a cabeça para o lado.
— Quer saber como?
— Nádia — A voz de Loretta soa baixa.
— Nós a caçamos — Nádia continua, dando passos ao meu redor —
Aqui mesmo nesta casa, usando nossas melhores armas — Não era difícil
imaginar Alice fugindo da família de Julian enquanto tentavam a matar,
completamente apavorada — Mamãe deu o golpe final — Ela sussurra no
meu ouvido — Bem no coração dela, enquanto Julian assistia tudo e ouvia as
súplicas de Alice.
Mas o que não consegui imaginar foi Julian assistindo a mulher que
amava, morrer bem diante de seus olhos, pela mão da sua mãe.
A terrível cena que a mente relutava em conceber revela um momento de
tragédia e desespero. Julian, testemunhando a morte da mulher que ama pelas
mãos de sua própria mãe, é um golpe emocional devastador.
— Por que fizeram isso? — pergunto quando finalmente encontro a
minha voz. Nádia olha dentro dos meus olhos, parecendo buscar alguma
coisa.
— Ela o traiu. Julian quase morreu por causa dela e se não tivéssemos
feito nada...
— Ele não estaria mais aqui conosco — A voz de Jô em minhas costas,
causa um arrepio por todo meu corpo. Olho para trás, encontrando seus
olhos fixos em mim.
— Não devíamos estar falando sobre isto — Loretta murmura,
balançando gentilmente o bebê nos braços — Julian pode chegar e ouvir.
— Julian não irá chegar agora — diz Jô convicta, passando por mim.

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— Onde ele está? — A pergunta praticamente pula da minha boca.
Jô se vira novamente na minha direção.
— A única coisa que precisa saber, é que as coisas logo voltarão a ser
como era — Nádia olha de imediato para a mãe, franzindo o cenho.
— Do que você está falando, mãe? — Loretta pergunta, se aproximando.
— Onde está Julian? — Nádia pergunta, respirando pelos lábios entre
abertos — Onde ele está?! — Ela altera o tom de voz.
— Acabaremos com isto mais rápido do que da última vez — Jô olha
para Loretta em suas costas — E se quiser enterrar ela depois do lado da
Alice, que seja! — Ela volta a olhar para Nádia — Mas só façam o que tem
que ser feito!
E basicamente o que precisava acontecer era eu morrer. Com a minha
morte, aparentemente tudo voltaria ao normal. Duvidava que para Julian
seria assim.
O peso das palavras ecoava em minha mente, enquanto encarava a
trágica conclusão que parecia inevitável. A ideia de que minha própria
morte poderia ser a chave para restaurar a normalidade pairava sobre mim,
carregada de resignação e desespero.
Não queria morrer, mas estava diante de mulheres que poderiam ser
mais letais do que parecia.
Não queria morrer, mas ali estava eu, diante de mulheres cuja aparência
enganava a verdadeira natureza letal que possuíam. Seus olhares eram como
lâminas afiadas, cortando fundo em minha alma, revelando uma força que ia
além da simples feminilidade. Cada movimento delas era calculado, cheio
de uma destreza que transmitia uma perigosa confiança.
Enquanto tentava manter a calma, minha mente trabalhava freneticamente
para compreender a natureza da ameaça que elas representavam.

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Capítulo 35
Nádia se coloca na minha frente, se virando contra a mãe.
— Do que você está falando?
— Estou tentando salvar essa família — A voz de Jô soa sem qualquer
emoção — Estou tentando salvar o irmão de vocês e a única forma é
entregando ela para Vitto.
— Vitto vai matar ela — diz Loretta, atraindo o olhar da mãe.
— O que ele fará com ela não é um problema nosso, querida.
— E Julian? — Nádia questiona de repente — Como ele vai ficar
quando saber disso?
— Ele irá superar. Mais uma vez.
Nádia massageia as pálpebras fechadas, inspirando profundamente.
— Eu disse à ele que não tomaria nenhum lado. Eu disse — diz baixo,
olhando novamente para a mãe — Sinto muito, mãe, mas não posso deixar
você fazer isso.
Jô sorri.
— O que acha que está dizendo, menina tola? Vamos acabar com isto —
Nádia dá um passo na direção dela.
— Na ausência do Julian, eu protejo a Kate. Então, terá que passar por
mim primeiro, mãe.
Jô revira os olhos impaciente, desferindo no instante seguinte um tapa
no rosto de Nádia que, lentamente leva uma das mãos até o rosto,
processando o que acabara de acontecer.

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— O que estava dizendo mesmo, querida? — diz Jô cinicamente. Nádia
arruma a postura, mantendo a mão no rosto e por um momento jurei que
estava vendo na minha frente a versão feminina de Julian — Ah, devo ter
ouvido coisas. Então, onde paramos?
Loretta surge novamente atrás de Jô, agora sem o bebê, a imobilizando
de repente. Surpresa, Jô tenta se soltar e consegue acertar uma cabeçada no
rosto de Loretta, que xinga baixo, levando uma das mãos até o nariz que
começava a sangrar.
— Corre — diz Nádia em um rosnado, ao me olhar.
Olho para Jô que inclina a cabeça para o lado, mostrando os dentes
cerrados para mim.
— Não!
Sem hesitar por mais um segundo, girei meu corpo e corri o mais rápido
que pude para fora daquela casa, agarrando meu casaco no caminho e o
vestindo enquanto corria. A história parecia se repetir, mas agora era a
minha vez de ser caçado, e eu não tinha a menor ideia do que fazer. O terreno
desconhecido à minha frente aumentava a intensidade da minha corrida,
enquanto me esforçava para traçar um plano de fuga.
O ar frio cortava meu rosto, intensificando a sensação de urgência.
Minha mente corria tão rápido quanto meus pés, tentando mapear
mentalmente a área ao redor. Árvores se transformavam em sombras escuras,
e a neve dificultava enxergar além de alguns metros à frente.
O som dos meus passos se misturava ao pulsar acelerado do meu
coração, e a adrenalina impulsionava cada movimento. Não podia permitir
que o medo me paralisasse; era hora de confiar nos meus instintos e na
intuição para encontrar uma rota segura.
À medida que corria, minha mente se esforçava para criar um plano de
ação, enquanto perguntas rodopiavam em minha cabeça.
O terreno irregular tornava a fuga desafiadora, e me forçava a manter o
equilíbrio enquanto explorava caminhos desconhecidos. A esperança de
encontrar um local seguro guiava cada passo, mas a certeza de que estava
sendo perseguida me impulsionava ainda mais.
O som de galhos quebrando atrás de mim indicava que Jô estavam
determinadas a não me deixar escapar. Precisava encontrar refúgio ou ajuda,
mas tudo ao meu redor aumentava a sensação de desamparo.
Apesar do casaco, o frio penetrava facilmente, roubando o calor do meu
corpo mais rápido do que eu poderia suportar. Mesmo correndo, a

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temperatura do meu corpo continuava a cair, e comecei a me questionar por
quanto tempo conseguiria suportar aquela nevasca implacável.
Cada respiração se transformava em nuvens de vapor diante do meu
rosto, evidenciando a intensidade do frio. O vento cortante, aliado à neve
que caía densamente, criava uma paisagem gélida ao meu redor. O casaco
oferecia uma fina camada de proteção, mas a natureza impiedosa da
tempestade desafiava qualquer tentativa de resistência.
Meus músculos começavam a se contrair com o frio, e meus passos se
tornavam mais lentos à medida que o gelo se acumulava em meus sapatos. A
neve, até então apenas um obstáculo visual, se transformava em um desafio
físico enquanto corria através da tempestade.
As perguntas ecoavam em minha mente, não apenas sobre a perseguição
que enfrentava, mas também sobre minha capacidade de sobreviver à fúria
do inverno. A busca por um abrigo se tornava crucial, e procurava
freneticamente por algum lugar para me abrigar da tormenta que ameaçava
me engolir.
Cada rajada de vento parecia cortar mais fundo, me fazendo tremer
incontrolavelmente. O ar gelado queimava meus pulmões a cada inspiração,
tornando a respiração cada vez mais difícil. A esperança de encontrar um
refúgio se tornava minha única motivação para continuar, enquanto a
incerteza do terreno e a neve da noite complicavam ainda mais a busca por
segurança.

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Capítulo 36
— Mãe — Ouço Loretta chamar não muito longe — Mãe, vamos voltar,
é véspera de Natal e está nevando demais!
A ironia da situação não podia ser ignorada: era véspera de Natal, e me
via em uma corrida desesperada pela sobrevivência, sendo caçado pela
possível sogra em meio a uma nevasca implacável. As luzes festivas que
normalmente decorariam as casas agora eram substituídas por uma paisagem
gelada e hostil.
Entretanto, a cada segundo, se tornava mais difícil continuar, meu corpo
já não tinha o mesmo calor de antes e a impressão que tinha era que estava
congelando lentamente.
— É mais burra do que pensei — diz Jô de repente, saindo de meio da
nevasca, atingindo em cheio meu rosto contra a árvore mais próxima.
Levei uma das mãos até minha cabeça, buscando o local da pancada, e
gemi baixo de dor ao perceber a falta de sensibilidade nas pontas dos dedos.
A dor pulsante em minha cabeça ecoava, e me vi deitada no chão, tentando
entender o que acabara de acontecer. A visão turva e os sentidos ainda
atordoados dificultavam minha avaliação da situação.
Enquanto lutava para me recuperar, percebi a aproximação de Jô, que se
sentou sobre meu corpo. Sua presença só aumentava a confusão, e olhei para
ela com uma mistura de surpresa e dor.
O gemido de dor escapou novamente de meus lábios quando tentei me
mover, mas a presença de Jô sobre mim tornava qualquer tentativa de

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levantar mais difícil.
— Ele nunca vai deixar você ir, vai continuar mantendo você presa
nesta casa pelo resto de suas vidas — Arregalo os olhos quando uma faca de
cozinha surge em sua mão — Veja o que irei fazer como um favor, estou
dando para você sua liberdade e em troca meu filho continuará vivo — Ela
segura a faca com as duas mãos acima da cabeça, se preparando para a
abaixar sobre meu peito.
Prendo a respiração, encarando a faca reluzente na mão de Jô. O perigo
iminente parecia cortar o ar ao meu redor, mas antes que a lâmina pudesse se
fincar em meu peito, fui surpreendido pelo som de um corpo sendo
derrubado para o lado. Olhei rapidamente para o lado e percebi que Loretta
estava lutando com a mãe.
A cena era caótica, com os movimentos rápidos e frenéticos das duas
mulheres. A faca que antes ameaçava minha vida agora estava
temporariamente afastada, e meu corpo, ainda debilitado pela pancada,
reagiu com alívio. A neve ao redor se tornou palco de um confronto
inesperado, e me arrastei para longe da confusão, tentando me afastar do
perigo iminente.
O som de socos abafados e palavras trocadas em meio à luta
preenchiam o ar gelado. Meu corpo doía, mas a urgência de escapar daquela
situação me impelia a continuar a me afastar, mas não antes de pegar a faca
que estava tão perto de mim.
Se tinha que me defender, precisava de uma arma, mesmo que não fosse
completamente letal.
Jô desferiu socos e chutes no estômago de Loretta, a fazendo
desaparecer imediatamente em meio à nevasca. Os olhos de Jô encontraram
os meus como um vilão de filme de terror, e meu instinto de sobrevivência
gritou dentro de mim: Corra!. Sem hesitar, comecei a me mover o mais
rápido que meu corpo debilitado permitia.
Enquanto fugia desesperadamente, percebia que Jô estava inabalável. A
nevasca, que parecia me envolver cada vez mais, não parecia afetar ela da
mesma forma. Sua determinação em me alcançar tornava a fuga ainda mais
urgente, enquanto eu lutava contra o vento gelado e a visibilidade cada vez
mais comprometida.
A sensação de derrota iminente pesava sobre mim, e a nevasca parecia
se intensificar à medida que minha resistência diminuía. Jô, ao contrário, se

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movia com agilidade, como se fosse uma força da natureza indomável.
Enquanto eu me via sendo vencida pouco a pouco.
Num momento de lucidez, percebi que minha fuga sem rumo poderia ser
mais perigosa do que enfrentar diretamente a ameaça que Jô representava. A
nevasca limitava minha visibilidade, e o desconhecido terreno ao meu redor
tornava cada passo incerto. A consciência de que um precipício poderia
estar à espreita, pronto para me engolir a qualquer momento, me fez
reconsiderar minha estratégia.
O pensamento de que Jô poderia estar me conduzindo habilmente para
um cenário onde teria poucas chances de sobreviver provocou um arrepio.
Era como se estivesse jogando o jogo dela sem entender completamente as
regras. Percebi que precisava ser mais esperta, virar o jogo e usar suas
próprias táticas contra ela.
A ideia de entrar no jogo que ela estava jogando comigo, mas de uma
maneira que a surpreendesse, começou a tomar forma em minha mente.
Respirando fundo para controlar o medo, comecei a avaliar meu entorno,
procurando por algum elemento que pudesse me oferecer uma vantagem
estratégica.
A nevasca, antes um obstáculo, agora se tornava meu aliado. A
visibilidade reduzida podia ser usada a meu favor. Precisava encontrar um
lugar onde pudesse me esconder temporariamente, confundindo Jô e me
dando a chance de virar o jogo.
Com a determinação de quem decide não ser apenas uma presa, mas um
jogador ativo naquele perigoso tabuleiro, comecei a adaptar minha
estratégia. O terreno desconhecido se tornou meu desafio, mas a necessidade
de voltar para Julian me impulsionou a transformar a adversidade em uma
oportunidade de virar o jogo contra minha querida sogra.
Se queria fazer parte daquela família, precisava ser como elas e se
necessário matar como elas.

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Capítulo 37
Tinha a sincera impressão que partes do meu corpo estavam congeladas
e me peguei perguntando se um banho na banheira de Julian, conseguiria
recuperar essas partes. Queria acreditar que sim, precisava manter uma
chama de esperança mesmo que fosse minúscula.
Esperei pacientemente, oculta atrás de uma grande árvore, até que Jô
surgisse e se lançasse num ataque. A nevasca criava um cenário de confusão
e obscuridade, proporcionando a vantagem da surpresa. Me mantive imóvel,
controlando a ansiedade, até o momento certo.
Quando Jô finalmente apareceu, pronta para investir contra mim, dei um
passo decidido para fora do meu esconderijo. O elemento surpresa era agora
a minha arma e o fato de estar em dois lugares. Havia achado um golpe de
mestre, usar meu casaco para dar a impressão que estava perto de uma
árvore, a blusa de mangas compridas que estava vestida, era fina de mais e
por causa disso, nos instantes seguintes, achei que morreria antes mesmo de
Jô chegar ali.
A lâmina da minha faca cortava o ar com intenção, mas quando se
aproximou de Jô, uma parte de mim hesitou. Era difícil ignorar a conexão
emocional que existia entre nós, afinal, ela era a mãe de Julian. A relutância
em causar dano a alguém tão ligado à pessoa que eu queria ser parte me fez
vacilar no momento crucial do ataque.
No entanto, Jô, aparentemente, não compartilhava desses sentimentos.
Enquanto eu hesitava, ela continuou sua investida implacável, desferindo

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golpes contra mim como se a relação entre nós não importasse. A lâmina da
faca não conseguiu encontrar seu alvo, e cada movimento dela era uma
resposta rápida e eficaz ao meu ataque vacilante.
A hesitação se tornou um fardo, pesando em cada movimento meu.
Enquanto Jô retaliava com ferocidade, lutava contra a dualidade de querer
sobreviver e a relutância em ferir alguém que, em circunstâncias diferentes,
seria parte de minha possível família.
O impacto do chute de Jô atingiu em cheio meu rosto, me deixando
atordoada. O mundo girou por um momento, e eu me vi caindo de joelhos no
chão, completamente ofegante e sem forças para reagir. A nevasca parecia
mais intensa agora, ecoando a tempestade que se desdobrava dentro de mim.
Meu plano, cuidadosamente concebido para virar o jogo, desmoronava
diante dos meus olhos. A hesitação e a relutância em ferir Jô continuavam
como um fardo, e eu pagava o preço por minha hesitação. Enquanto estava
ajoelhada, ofegante e vulnerável, Jô se aproximava, sem mostrar sinais de
piedade.
Cada passo dela ecoava como um lembrete da desigualdade da luta.
Minhas forças pareciam ter abandonado meu corpo, e a realidade cruel da
situação se impunha. A nevasca testemunhava a derrocada do meu plano,
enquanto lutava para recuperar a compostura diante da implacabilidade de
Jô.
A dor física era acompanhada pela frustração de ver minhas esperanças
se dissiparem. A medida que ela se aproximava, o confronto não era apenas
físico, mas uma batalha interna entre minha vontade de sobreviver e a
relutância em causar dano a alguém que, de alguma forma, estava ligado à
família que aspirava fazer parte.
— Realmente não se parece com a Alice nem um pouco — diz ela, com
um certo tom de amargura — Alice lutou pela vida até o final, enquanto
retalhávamos o corpo dela pouco a pouco. Ela não se deixou ser vencida,
mesmo sabendo que não havia mais nenhuma chance para ela — Ela para a
poucos centímetros do meu corpo, inclinando a cabeça para você — Já
você... é patética, não chega nem aos pés dela, mesmo se desse seu melhor.
Sinceramente, não sei de onde Julian tirou que você poderia ocupar o lugar
que um dia Alice ocupou nesta casa e principalmente nesta família — Meu
queixo tremia a medida que mantinha meus dentes cerrados e meu olhar
baixo — Talvez no final das contas, seja uma traidora como seu pai e
mereça o fim que vou dar para você — Ergo o olhar, o fixando em Jô.

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— Não serei eu que morrerei hoje.
Em um impulso de força e determinação, levantei-me rapidamente,
surpreendendo Jô. Aproveitando a surpresa, a empurrei em direção a uma
árvore que estava atrás dela, utilizando toda a minha energia para
desequilibrar ela. Com agilidade, segurei a faca firmemente e a pressionei
contra o ombro de Jô.
A nevasca ao nosso redor parecia congelar por um instante, enquanto a
lâmina da faca tocava a pele dela. A respiração estava pesada, e a tensão
preenchia o ar. Eu mantinha o controle, sentindo uma mistura de exaustão e
triunfo.
O silêncio se instalou enquanto Jô encarava a faca cravada em seu
ombro. Sua expressão revelava uma mistura de surpresa, desconcerto e,
talvez, um toque de reconhecimento pela virada inesperada dos eventos.
Seus olhos se fixam em minhas costas e sua respiração tremula por um
instante.
— Loretta. Nádia — Ela chama, quando as filhas aparecem. Ambas
olham para a situação da mãe, olhando para mim em seguida.
Jô não conseguiria tirar a faca do seu ombro, mesmo que desse seu
melhor e sabia disso. Então, a única alternativa que tinha naquele momento,
era recorrer as filhas e tentar que entendessem que seu amor de mãe era
maior do que qualquer outra coisa.
— Espero que consiga fazer, a mesma coisa com mais alguns homens —
diz Nádia.
— Parece que quem irá salvar Julian, será nós — diz Loretta,
sustentando o olhar da mãe, antes de me fixar o olhar em mim.
Solto o ar dos pulmões, já não sentindo mais a temperatura baixa, muito
menos as partes congeladas do meu corpo. Na verdade, sentia algo queimar
dentro de mim, um fogo genuíno, cuja tendência era apenas aumentar.
— Preciso de uma arma — digo por fim, ciente de que uma faca não era
tão letal quanto desejava.

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Capítulo 38
Não era a situação em si que me assustava, e sim o silêncio que a
envolvia. Estava tudo quieto demais, enquanto o vento soprava em meus
ouvidos, criando uma atmosfera carregada de expectativa e tensão.
— Não precisava das correntes — digo as sentindo ferir minha carne
gradativamente.
Vitto solta o ar dos pulmões.
— Ainda acho que não são suficientes para você, Houdini — Ele me
olha por cima do ombros, voltando a olhar para o horizonte branco.
Ainda não havia entendido completamente qual era o plano de Vitto.
Estávamos na minha propriedade, e ele havia acorrentado minhas mãos para
trás com correntes. Seus olhos inquietos percorriam o ambiente,
desaparecendo em meio à nevasca que se intensificava, enquanto seus
homens sumiam na neve, indo em direções opostas.
— Estamos esperando o fast food? — Roço um pulso no outro, tentando
encontrar um jeito de me soltar.
— Na verdade, estamos esperando Kate ou o que sobrar dela — Paro
no mesmo instante, semicerrando as palpébras. Vitto continua de costas,
como se não temesse que fizesse algo contra ele — Não vai perguntar o que
foi que eu fiz? — Ele me olha por cima do ombro.
Dou de ombros.
— O que fez, Vitto? — Rosno as palavras.

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— Fiz um acordo com Joane, sua vida pela da garota — Ele se vira
para mim — E nem preciso dizer que ela não pensou duas vezes em aceitar.
Talvez Kate já esteja morta ou ainda esteja lutando pela vida — Abaixo a
cabeça, esperando que Nádia tenha cumprido com a promessa e esteja
protegendo Kate, caso o contrário, acredito que não teria mais irmãos, pois
todas estariam mortas, inclusive Loretta que fazia tudo que Nádia fazia —
Mas sei que irão se entender. E tudo ficará bem.
— Vou tentar lembrar disso, quando estiver mandando minha mãe para o
inferno — murmuro, erguendo a cabeça o suficiente para o encarar.
— Você não... — Ele se detém, franzindo o cenho — Ela faz parte da
família!
— Kate também faz parte da família e parece que a família que deveria
estar protegendo ela neste exato momento, está querendo matar ela como um
animal! — Aumento a voz gradativamente, minha respiração acelerando,
assim como as batidas do meu coração — Então não me venha falar de
família agora.
Estava tudo se repetindo novamente e não poderia fazer nada, a não ser
assistir, mais uma vez.
— Você costumava ser a minha família e você decidiu não ser mais,
quando foi contra as minhas ordens.
— Nós não tínhamos que matar ela, Vitto! — Ele sustenta meu olhar,
sem alterar a expressão — Só tínhamos que matar Frank Davis e ele está
morto!
— O que faz você acreditar, que ela não matará você na primeira
oportunidade que ela tiver? Você estripou o pai dela, não é algo fácil de se
lidar. Eu mataria facilmente a pessoa, se estivesse no lugar.
Sabia que Kat seria assombrada para sempre com o que fiz. Ela talvez
pudesse seguir em frente ao meu lado, mas duvidava que iria me perdoar.
Não estava esperando esse perdão, pois as marcas do que aconteceu eram
profundas. No entanto, ela havia dito que me amava, e eu precisava acreditar
que esse amor era real.
A perspectiva de Kat me matar não parecia despertar em mim um medo
tão profundo quanto a resignação. Morrer pelas mãos dela, para mim,
parecia ser o ato mais justo diante das escolhas que fiz e das consequências
que trouxeram. Havia uma aceitação tranquila, quase fatalista, na ideia de
encarar o fim pelas mãos de alguém que amava.

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Mesmo que aceitasse a possibilidade de morrer pelas mãos de Kat,
enquanto ainda estivesse vivo, estava decidido a não permitir que ninguém
fizesse mal a ela, mesmo que isso significasse minha própria morte no
processo.
A proteção de Kat, mesmo a custo da própria vida, se tornava uma
prioridade inabalável. Essa determinação refletia não apenas o amor que
sentia por ela, mas também uma busca pela redenção, uma maneira de
compensar os erros do passado. O compromisso de proteger ela, mesmo à
custa da própria vida, era uma forma de assumir a responsabilidade pelos
meus atos e tentar, de alguma maneira, equilibrar as escalas.
Num impulso, me levanto rapidamente e corro na direção de Vitto, na
tentativa de o desnortear o suficiente para ter tempo de me soltar. No entanto,
ele é mais habilidoso por estar com suas mãos livres e consegue me derrubar
no chão, desferindo alguns socos pelo meu rosto. Os golpes são suficientes
para deixar minha visão embaçada, e a sensação de impotência se intensifica
diante da superioridade momentânea do meu adversário.
O gosto de sangue na boca e a dor pulsante são lembranças tangíveis da
luta desigual que se desenrola. Enquanto Vitto mantém a vantagem física, a
busca desesperada por uma abertura para me libertar persiste. Cada soco,
cada movimento, é uma lembrança crua da complexidade e brutalidade das
circunstâncias que agora se desdobram.
Sons de tiros não muito longe fazem com que Vitto pare no mesmo
instante, interrompendo a sequência de socos e virando sua atenção na
direção dos disparos. Seus olhos varrem o ambiente, tentando entender o que
poderia estar acontecendo, enquanto a tensão da situação aumenta com cada
eco dos tiros.
Meu coração se aperta por um instante, tirando meu foco de Vitto. A
pulsação acelerada e a incerteza diante dos tiros ecoando ao redor criam
uma sensação de urgência. Por um momento, a atenção se dispersa, dividida
entre a ameaça imediata de Vitto e a incógnita representada pelos tiros.

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Capítulo 39
— Se você deixar ser morta, eu mato você — Nádia ameaça, a medida
que andamos ás três lado a lado.
— Mas ela já vai estar morta, Nádia — Loretta murmura sem jeito.
— Eu a ressuscito e a mato de novo, Loretta.
Estávamos muito bem armadas, pelo menos me sentia assim, segurando
um rifle. Havíamos retornado para casa pela porta dos fundos, apenas para
Loretta instruir os gêmeos a serem bonzinhos com Andy, enquanto
ameaçavam assar o bebê na lareira, e pegar algumas armas no arsenal de
Julian. Após isso, voltamos para fora e caminhávamos como se estivéssemos
marchando em direção à guerra.
O peso das armas e a seriedade nos rostos refletiam a gravidade da
situação. A missão era clara: enfrentar qualquer ameaça que pairasse sobre
nossa família e a ameaça naquele momento era Vitto, que não estava muito
longe. O ambiente tenso estava impregnado com uma sensação de propósito,
enquanto nos movíamos em formação, conscientes de que estávamos nos
preparando para um confronto iminente.
— Qual é o plano? — pergunto a medida que entramos ainda mais na
nevasca.
— Não temos um — diz Loretta.
Abro e fecho minha boca surpresa. Havia sentido na pele em como um
plano era essencial e naquele momento não tínhamos um?!

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— Só precisa atirar em todos aqueles que não seja eu e Loretta — diz
Nádia — Não hesite, pois não hesitarão e matarão você em um piscar de
olhos — Ela olha dentro dos meus olhos e não ouso se quer piscar ~Sabe
atirar, não é?
— Cacei com meu pai alguns anos.
— Perfeito — Ela afaga meu ombro, antes de ir em uma direção.
— Boa sorte — diz Loretta com um breve sorriso, seguindo pela
direção oposta, me deixando na direção que estávamos indo, em frente.
Seguro a arma com mais firmeza, continuando a andar, repetindo as
palavras de Nádia em minha mente. Quando ouço o primeiro disparo vindo
na direção que Loretta havia ido, paro por um instante. No entanto, me forço
a continuar, ignorando os disparos que se seguiram pelos instantes seguintes.
O som dos tiros reverbera no ar, cada estampido ecoando como um
lembrete da violência iminente. O coração acelerado e a tensão nos
músculos são indícios tangíveis do perigo iminente. A determinação em
seguir em frente, apesar da incerteza e do medo, se torna uma demonstração
de coragem e força diante das circunstâncias.
Os sons dos tiros continuam, criando uma sinfonia perturbadora que
ecoa como se estivéssemos de fato em um campo de batalha. Meus dedos
apertam com força o metal do rifle, enquanto meus olhos vagam à frente,
atentos a qualquer movimento suspeito. A arma permanece posicionada, e
recordo dos conselhos que meu pai costumava me dar quando íamos caçar
alces nas terras selvagens.
Mais alguns passos e minha expressão se suaviza quando vejo uma SUV
parar. Ajoelhado ao lado dela está Julian, e próximo a ele, um homem.
— Julian — Seu nome escapa com dor da minha boca, abaixo o rifle,
me sentindo hipnotizada ao andar na direção dele. Ele sente minha presença,
pois olha para trás no instante seguinte.
— Não... — Seus olhos não estavam como antes, era como se estivesse
com medo — Não! — grita no momento em que sinto um braço contra meu
pescoço, puxando bruscamente meu corpo para trás. O ar falta
automaticamente, enquanto cravo as unhas no braço.
O homem em minhas costas, com o braço passado em volta do meu
pescoço, em um mata-leão, começa a puxar meu corpo para trás, me
afastando de Julian, que tenta se levantar e vir até mim. No entanto, o homem
ao lado de Julian o impede, o mantendo ajoelhado. Travo minha mandíbula,
fechando os olhos com força, permitindo que o fogo dentro de mim queime

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intensamente. Quando meu braço pende, sinto na perna do homem uma faca
em uma bainha que não hesito em pegar e desferir contra ele.
Finco a faca no pescoço dele, observando o sangue jorrar e manchar a
neve. Ele cambaleia para trás, abrindo e fechando a boca, levando a mão até
a faca, com a expressão assustada.
— Não toque no que não é seu — digo sem emoção na voz, pegando o
rifle no chão e continuando a andar.
Mais alguns homens surgem em meio à nevasca, e não hesito em atirar
contra eles antes mesmo que puxem os gatilhos. O som dos tiros ressoa no ar
gelado, se misturando ao vento cortante da tempestade.
Um disparo pega em mim de raspão, mas, estranhamente, não sinto dor.
Uma parte de mim grita que deveria estar sentindo, mas essa parte humana e
racional foi drasticamente reduzida.
Não demorou para ter mais corpos caídos do que em pé, e sem pensar
muito, atiro em uma das pernas do homem que estava mantendo Julian ali, o
fazendo ajoelhar assim como Julian estava.
Pressiono a arma contra a cabeça dele, pronta para puxar o gatilho.
— Solta o meu marido, porra! — rosno. Ele ergue o olhar, sustentando o
meu, respirando pelos lábios entre abertos — Ou prefere que atire em cada
parte do seu corpo?
Ele faz um movimento brusco, o que me faz me preparar para atirar.
— A chave está no meu bolso — diz ainda sustentando meu olhar, sua
mão se move para dentro do casaco, tirando de lá uma chave. Com um
movimento com a cabeça, indico para ele tirar as correntes de Julian,
fazendo ele praticamente se arrastar até ele. Um sorriso contido surge no
rosto de Julian, enquanto as correntes são retiradas de seus pulsos —
Poderia tirar esse sorriso facilmente do seu rosto — diz entre dentes, Julian
massageia os pulsos se virando para ele.
— Pode tentar se quiser — Os olhos dele se fixam em mim e novamente
em Julian. Mantenho o rifle posicionado, pronta para atirar, mas Julian o
abaixa devagar — Não — diz me lançando um breve sorriso, olhando
novamente para ele — Estamos quites agora.
— Julian! — diz Loretta sorrindo, enquanto corria na nossa direção, o
abraçando sem hesitar, antes de focar sua atenção no nosso único
sobrevivente — Ah. Oi, Vitto — Inesperadamente ela desfere uma
coronhada na cabeça dele, que cai ao chão desnorteado — Sem
ressentimentos.

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Julian sorri, se virando para mim e tirando o rifle da minha mão. Ele se
aproxima mais do meu corpo, suas mãos subindo pelos meus braços até
chegarem no meu rosto.em meio ao caos que nos cercava. O toque suave e o
seu sorriso transcendem as palavras.
— Você está congelando — Ele murmura, com a testa encostada na
minha.
— Pode me aquecer daqui a pouco — Sorrio sem mostrar os dentes,
tendo como resposta a sua boca contra a minha.
— Ah, que bom, pelo menos está viva — Ouço a voz de Nádia se
aproximando, entretanto, estava ocupada demais em beijar o homem que não
queria que nunca mais saísse da minha vida, me perguntando aonde ele
estava todo aquele tempo que, não me sequestrou antes.

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Capítulo 40
Natal.
Não lembrava a última vez que havia comemorado o Natal com minha
família. Acredito que a última vez foi quando meu pai ainda estava vivo.
Mas naquele ano era diferente. Havia recebido o melhor presente que
poderia ganhar: Kate. Me sentia agraciado com o clima natalino.
Observo Kate brincar com os gêmeos, enquanto mantinha Andy em seu
colo, imaginando quando seriam os nossos filhos. A sala havia sido
completamente decorada de última hora; um grande pinheiro era o centro da
decoração, com diversos enfeites e luzes.
O ambiente estava impregnado com a alegria e o espírito natalino. As
risadas dos gêmeos se misturavam ao brilho das luzes coloridas e à música
suave que preenchia o ar. A decoração improvisada adicionava um toque
especial de calor e celebração, tornando o momento ainda mais memorável.
Enquanto Kate interagia com as crianças, minha mente divagava para o
futuro, vislumbrando a possibilidade de ter nossos próprios filhos
compartilhando esse mesmo espaço e alegria nos próximos Natais.
— Será que a mamãe vai gostar dos biscoitos? — Loretta pergunta, ao
entrar na sala com uma bandeja, contendo biscoitos e um copo de leite.
— Ela também terá a opção de ficar com fome — diz Nádia passando
com ela com mais biscoitos, andando na direção dos gêmeos.
— Poderiam levar para mim? — Ela pergunta, olhando para Kate e
depois para mim.

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— Com prazer — digo levantando de imediato. Kate deixa Andy com
Nádia e pega a bandeja da mão de Loretta, me seguindo.
Andamos em silêncio em direção ao porão, ascendendo a luz da escada
antes de descermos os degraus. Já não tinha motivos para descer ali com
frequência, a não ser quando precisava de alguma coisa do porão. Paro em
frente da porta de metal, a abrindo em seguida, revelando minha mãe no
espaço em que Kate costumava ficar confinada, usando a coleira de couro
preta. Seu estado era deplorável perto da imagem que ela mantinha antes; o
braço que Kate feriu havia perdido completamente os movimentos. Assim
como Lars, que teria que passar por algumas sessões de fisioterapia quando
saísse do hospital.
O semblante de minha mãe revelava os estragos físicos e emocionais da
situação, enquanto permanecia confinada no espaço que costumava ser
destinado a Kate.
— Como está, mãe? — pergunto perto da porta.
Os olhos dela se fixam em Kate, que mantinha um sorriso suave no
rosto, enquanto segurava a bandeja.
— Vai me deixar sair daqui quando?
— Esta decisão não depende de mim, sabe disso — digo calmamente,
com as mãos nos bolsos da calça. Olho para Kate e novamente para ela —
Depende exclusivamente da minha mulher.
Minha mãe cerra os dentes, os deixando a mostra ao rosnar e tentar
puxar com a única mão boa a corrente da parede que a prendia.
— Loretta fez biscoitos e pediu que trouxéssemos para você — diz Kate
se aproximando, colocando a bandeja diante dela ao se agachar. Os olhos de
Joane vão da bandeja para Kate e no segundo seguinte, cospe no rosto de
Kate, que apesar da reação dela, mantém o sorriso no rosto e pega o
guardanapo na bandeja, limpando o rosto, sustentando seu olhar de Joane em
seguida — Posso manter você aqui o resto da sua vida — O sorriso se
alarga ainda mais em seu rosto — Consegue entender isto? — Ela olha ao
redor, antes de voltar a atenção para Joane — Alimentando você quando
quisesse, assistindo seu sofrimento dia a após dia e com a certeza que Julian
não faria nada para me impedir — Minha mãe me olha com a expressão
indecifrável — Então é melhor ser uma boa sogra — Antes de se levantar,
Kate cospe no copo de leite e sorri sem mostrar os dentes para Jô — Feliz
Natal, sogra — Ela sai do cômodo em seguida, suspiro dou alguns passos
para fora, antes de olhar para ela e fechar a porta em um baque alto, ciente

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de que minha mãe já estava morta no momento em que decidiu agir pelas
minhas costas.
Kate estende a mão para mim e sem hesitar a seguro, ouvindo as risadas
dos gêmeos a medida que deixávamos o porão.

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