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Hoss – Agiotas em Chamas
1ª Edição

Capa | Diagramação: HB Designe Editorial


Revisão e preparação: Simone Souza e Bianca Albuquerque

Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes,


personagens, lugares ou fatos terá sido uma mera coincidência.
Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob
quaisquer meios existentes – tangíveis ou intangíveis – sem prévia
autorização da autora. A violação dos direitos autorais é crime,
estabelecido na lei nº 9.610/98, punido pelo artigo 184 do código
penal.
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da
Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995).
O sobrenome Calatrone é carregado de poder e mistérios, e desta
família de agiotas, vem Hoss Calatrone, um homem impiedosamente
bonito e arrogante.
Já Elena Bianco é uma brasileira e decoradora de casamentos, que
depois de um término recente, deseja superar o seu ex-noivo
babaca.
O que Elena não esperava era esbarrar em Hoss e, por acidente,
assoprar as faíscas desse homem tão apaixonante e perigoso,
trazendo consequências irreversíveis para ambos os lados.
Mesmo entediado, levanto-me da cama e começo a vestir as
minhas roupas. Hoje é quinta-feira, dia de reunião em família, e é
fora de questão algum integrante faltar, caso contrário, a reunião é
remarcada para o dia seguinte. Eu termino de amarrar o cadarço
dos sapatos e jogo mil libras para Ruiva, que se espreguiça na
cama, espalhando o dinheiro entre os lençóis e exibindo a sua
nudez deliciosa.
— Tenta ir embora sem ser vista pelos empregados —
ordeno, arrumando o cabelo e a barba.
— Ou pela sua família?
Olho sério para ela.
— Não estou pedindo, isso é uma ordem.
— Sim, senhor — resmunga.
— Até logo mais.
— Ou nunca mais…
Deixo-a com os seus murmúrios e saio do quarto. Caminho
até o elevador do castelo. No segundo andar, entro na nossa
enorme sala de reuniões, com uma mesa de 4 metros e 14 lugares.
A decoração nunca muda, sempre obscura, mas aconchegante, tem
duas estátuas gregas nos cantos, quadros nas paredes, lustres no
teto e uma lareira a gás acesa perto da sacada da varanda.
— Até que enfim alguém.
Rael sorri, erguendo o seu copo de bebida na minha direção.
Ele está sentado numa das poltronas, perto da parede de
vidro.
— Cadê o restante da nossa família?
— Eu já estou aqui, para a infelicidade de vocês,
irmãozinhos. — Vince, nosso irmão mais novo, aparece do outro
lado, entrando na sala e dando-nos o “prazer” da sua irritante
presença. — Hera está vindo logo atrás com o estrume que chama
de homem.
— Eu ouvi, seu estrupício imprestável!
Nossa prima também surge em seguida, acompanhada do
seu namorado e o meu melhor amigo, o Ezequiel, ou Morcego,
como chamamos.
— Só falta o tio Argus — digo e aponto para a mesa, fazendo
todos se sentarem nos seus devidos lugares, para aguardá-lo.
— Espero que essa reunião seja rápida, tenho uma festa
mais tarde. — Rael me olha entediado.
— Festa gay de novo? — Vince provoca. — Sem
preconceitos, cada um é responsável pelo que deixar sair ou entrar
no seu rabo.
— Eu fui lá cobrar dinheiro, seu filho da puta! — Ele bate na
mesa, segurando-se para não arrancar a arma da cintura.
— Não fique estressadinha, butterfly… acho que toquei num
buraco já aberto.
Rael, então, arranca de vez a arma do coldre e mira na
direção da cara risonha e debochada do nosso irmão.
Eu suspiro, não querendo apartar uma briga, pois, com a
minha paciência escassa, os dois são capazes de levar um tiro no
meio da testa, e com uma única bala.
— Larguem de ser ridículos! — Hera estapeia irritada o
Vince. — E você, Vince, cala essa boca, seu cagão, medroso.
— Porra, sua cobra naja.
Morcego sorri da feição feroz da Hera, todo apaixonado.
Nunca imaginei ver o nosso administrador assim, que vontade de
vomitar! Perdemos um grande homem, melhor, um grande cretino,
parceiro de putarias.
— Guarda essa arma, Rael, não sei como ainda se estressa
com as provocações infantis do Vince.
— Ainda vai perder a língua, esse filho do capeta.
— Somos filhos dos mesmos pais, respeite os falecidos.
— Calado vocês dois, parecem duas maricas!
— Ninguém está falando contigo, Hoss, retorne os seus
pensamentos para a prostituta de luxo que estava fodendo há vinte
minutos no seu quarto.
Chuto a perna do Rael e quase esmago o seu pé.
Ele e Vince se igualam em serem insuportáveis, provocantes
e irritantes.
— Me solta, caralho!
— O quê? Hoss trouxe uma puta para o castelo? Mas, nosso
tio proíbe! Isso é uma lei! — Vince acusa revoltado.
Rael me devolve o chute.
— O que está acontecendo aqui? — Finalmente o nosso tio
Argus aparece, fazendo imediatamente todos se recomporem
quietos e em silêncio, como se fossemos anjos.
— Posso começar?
— Não! — Argus corta o Vince e vai autoritário até o seu
lugar.
— Espero que seja breve, tio.
— Serei, Rael. O motivo dessa nossa reunião é para
brindarmos o noivado de Hera e Ezequiel.
Sem grandes surpresas, olhamos para a nossa prima e o
nosso amigo, que sorriem um para o outro. Os olhos deles chegam
a brilhar quando se fitam, confesso que estou feliz, principalmente
por Hera, já que Morcego é um cara que conhecemos há muito
tempo e que sabemos do seu caráter integro.
— Nossa, que grande surpresa. — Vince finge uma cara
ridícula e exagerada de surpresa. — Estou chocado aqui, acredito
que ninguém estava esperando por esse anúncio, né? Preciso até
de uma água com açúcar, levei um baque.
— Já te mandei a merda hoje? — Hera rola os olhos.
— Só trezentas e trinta e seis vezes? Espera, trezentas e
trinta e sete vezes com essa?
— Vai se foder!
— Rael, pegue duas garrafas de champanhe na cristaleira de
vidro para brindarmos — tio Argus pede, enquanto observa a sua
filha e o genro.
— Claro...
— Parabéns, meu amigo. — Levanto-me, indo até Ezequiel
para puxá-lo para um abraço. — Até os putos têm o seu merecido
descanso.
Ele ri, batendo nas minhas costas.
— Logo é sua vez.
— Acho que não, eu gosto dessa minha vida solteira, sem
arreios no pau.
— Como vocês são fofos e elegantes.
Hera se levanta para receber o meu abraço também.
— Parabéns, prima, espero que seja muito feliz, caso
contrário, se esse merda te fazer sofrer, castraremos ele e
empalharemos o seu pênis para te dar de presente.
— Assino em baixo.
— Eu também.
Vince e Rael fuzilam Morcego, concordando comigo.
— Poupem-me.
Hera se afasta, ignorando-nos e indo até o Rael para ajudá-lo
com as taças.
— Que porra, acham mesmo que eu vou ter medo de vocês,
depois de enfrentar sozinho o Argus para pedir a sua única filha em
casamentos? Com todo o respeito, Sr. Calatrone.
— Com todo o respeito a família Calatrone, seu cretino —
miro o dedo na direção dele. — Somos a maior família de agiotas de
Portugal, teve é sorte de te deixarmos vivo.
— Muita sorte mesmo, seduziu a nossa priminha inocente e
casta de 22 anos.
— Um ser inocente, que há três meses nem sabia o que era
malícia.
— Pai, manda os seus queridos sobrinhos se jogarem do
penhasco do castelo, faça um favor à humanidade.
— Melhor brindarmos logo, pois tenho outros assuntos de
trabalho para tratar com o Hoss e o Rael.
— Droga, é hoje que eu não como mulher nenhuma — Rael
resmunga, virando sua bebida de uma vez para servir-se de outra.
Nosso tio se ergue do assento, com o seu semblante sério,
fechado e misterioso. Dificilmente, vemos um sorriso nos seus
lábios. Acho que ele nem sabe o que é sorrir. Está aí algo que
coincide e somos bem parecidos, a vida nos tomou o direito de
sorrir.
Erguemo-nos para acompanhá-lo com as taças cheias.
— Hoje é um dia especial, onde oficialmente introduzimos
outro integrante à família Calatrone. Quero dizer que é bem-vindo,
Ezequiel, como sempre foi. Agora como pai, de sogro para genro,
eu só te peço que faça a minha filha muito feliz e que não a
machuque, nem a faça sofrer, pois se isso acontecer, com quem
arcará unicamente com as suas consequências será comigo. E juro
que não terei piedade. — Tio Argus, em meio ao seu olhar nublado,
até descontraído, ergue a taça. — Um brinde aos noivos e à família!
Brindamos...
Dos dez mandamentos, o quinto é o que mais acreditamos,
que obedecemos. “Não matarás”. Não costumamos tirar a vida de
ninguém com frequência. Antes de o cliente querer fechar o
empréstimo, deixamos a lei dos Calatrone clara: se não tiver o que
penhorar para garantir que quitará a sua dívida, a sua vida ficará no
lugar. E tenha certeza que cobramos. No nosso negócio, não dá
para fazer visitinhas e passar recados. Os devedores que nos
procuram sabem perfeitamente disso, não deviam nem pensar em
vacilar. Mesmo assim, alguns vacilam.
— Está feito?
Rael fecha a porta do carro e entrega-me uma bolsa preta.
— Foi só um dia de atraso.
— Pelo menos, aleijado eu teria deixado esse político filho da
puta.
— Já cuidei disso.
— Cuidou?
— Sim, ele pagou, como sempre, é isso o que importa.
Assinto, observando-o dar partida no carro.
— Vou te deixar em casa com esse dinheiro e depois irei
resolver algo sozinho.
— Está acontecendo alguma coisa?
— Nada importante. E nada que você também já não tenha
negado ajuda.
— É aquela porra de roubo? Poupe meu tempo, vai arrumar
uma vadia para enterrar esse pedaço de cotonete que chama de
pau.
— Pode ser com aquela mulher da nossa boate Fogo, que
você vive fodendo? Como é o nome dela mesmo? Espera… acho
que é Ruiva. Estou cer… — Antes dele terminar de falar, eu dou um
soco na sua perna.
— Ai, caralho!
— Acelera esse carro.
— Não quer dirigir, amor?
— Rael, não me irrita.
Ele ri, ligando o som no último volume e pisando no
acelerador.
Em casa, eu subo para o cofre e guardo o dinheiro em
espécie. Durante a semana, Morcego dará um jeito de colocar tudo
em nossas contas. Isso é trabalho dele.
Desço pelo elevador até a sala principal de visitas e encontro
tio Argus conversando em inglês com dois homens. Eles já estão no
fim da conversa, pois apertam as mãos e logo saem, despedindo-se
satisfeitos.
— Quanto?
— 800 mil euros.
— Qual a garantia penhorada? Sabe que para um valor tão
alto precisamos nos garantir.
— Eu gosto disso em você, Hoss, sempre atento e
cuidadoso.
— Não quero perder mais de dois milhões de novo.
— Não se preocupe, ficou penhorada uma casa no centro de
Lisboa, deixaram a escritura. — Ele ergue a pasta cinza. — Em três
semanas, eles nos pagarão, caso não paguem, sabe como funciona
a lei dos Calatrone.
Concordo, nervoso e estressado. Estou assim desde cedo,
nada me fez mudar esse humor.
— O que lhe perturba, sobrinho? Aceita um conhaque?
— Isis quer que eu a veja — enfim, revelo o que está me
enlouquecendo, aceitando o copo que me ofereceu.
— Assuma a sua filha.
— Não é minha filha, aquela mulher vivia dando para nossos
inimigos!
— Não a culpe, ela não está mais aqui para se defender. E
essa menina vai crescer abandonada, órfã de mãe e de pai. Por
isso, vá até Isis e diga que irá comprovar a paternidade da criança.
— Não é minha filha, porra! — esbravejo puto, quase
chutando o vaso ao lado do aparador.
Não aceito que seja! Não suporto conviver com essa
possibilidade!
— Família sempre foi um tema importante para nós, Hoss.
Desconheço o seu comportamento. A menina é a sua cara, tem os
seus olhos, os seus traços. Veja-a uma vez na vida. Ainda para não
haver mais dúvidas, faça um teste de DNA.
— Vindo daquela mulher, eu não quero nada, nem essa filha,
sendo minha ou não!
Irritado, eu coloco o copo no aparador, viro as costas e retiro-
me em passos duros, sem parar de pensar nessa criança, na morte
da Olivia e em como eu estou enlouquecendo a cada dia mais.
Que porra, isso é culpa? Remorso? É o quê, Deus? Vai
mandar mais alguma coisa para foder a minha cabeça? Então
manda, inferno, manda que eu taco o foda-se!
Viro no corredor do castelo, vendo um monte de caixas
empilhadas, além de vasos de flores e painéis. Abaixo
propositalmente a cabeça, sem crer na bagunça do salão. Passo
reto, na intenção de chegar na sala de jogos. Quando chego na
sala, Vince, Morcego e Igor, um dos nossos cobradores, estão na
mesa de bilhar, xingando um ao outro.
— Você mexeu a bola branca! Perdeu a tacada!
— Se refere a do meu saco? Acho que dei uma coçadinha
aqui.
— Eu vou enfiar esse taco na sua bunda, Vince! — Igor
berra.
— Calma, rapazes, vamos reiniciar a partida — Morcego
aconselha, segurando o riso de prazer por vê-los quase se matando.
Ele está sentado no sofá. Eu chego perto e acomodo-me ao
seu lado. Sem dizer nada, meu amigo pega uma cerveja gelada do
cooler e entrega-me, observando-me.
— Viu a bagunça no salão? É a Hera organizando a
decoração do nosso casamento.
— Vi e passei reto.
— Está trapaceando, não é possível encaçapar todas assim!
— Vince esbraveja e chama a nossa atenção.
— Se me atrapalhar, eu vou cumprir a minha palavra de
enfiar esse taco no meio da sua bunda.
— Cadê o Rael? — Morcego questiona.
— Depois de cobrarmos o político, ele me deixou em casa —
é só o que eu digo e viro a minha cerveja.
— Está tudo bem com você?
— “Isis” já explica alguma coisa?
— Bom, explica muita coisa. É sobre a criança?
— Se for para dizer que eu devo procurá-la, melhor não dizer
nada.
— Por mais que eu entenda o seu ódio, o seu desgosto pelo
passado com a Olivia, a garotinha não tem culpa, Hoss.
— Ela era uma traíra!
Ezequiel aperta o meu braço.
— Não alimente essa fúria cada dia mais, esse não é você,
meu amigo.
— E quem sou eu? — pergunto cansado.
— Você é um homem bom, de coração limpo e justo. Às
vezes, explosivo, sem paciência, mas vamos citar só qualidades
para levantar esse seu astral.
Balanço a cabeça para ele, escutando cada vez mais alto a
briga entre Vince e Igor, que estão quase quebrando os tacos um na
cabeça do outro.
— E você é um puto, Ezequiel, que me traiu, fodendo
escondido a minha prima. Não sei como poupamos a sua vida. Perdi
um amigo de puteiro.
— É, perdeu mesmo, não tenho olhos para nenhuma outra
mulher. Hera me pegou de jeito com aqueles cabelos castanhos,
pele negra, sorriso rebelde e um traseiro que… — Dou um soco na
costela dele, calando-o. — Ai, infeliz!
— Desgraçado, foi isso o que você disse para o tio Argus,
enquanto pedia a filhinha protegida dele em noivado?
— Nem louco, antes de enfrentar o Argus, eu demorei quatro
semanas para escrever um discurso convincente e respeitoso. Só
os olhos daquele homem causam tremores, acho que você e o Rael
são os únicos que se igualam a ele.
— Ele vai adorar saber o quanto é brochante.
— Quem é brochante?! O Vince, esse filho da puta? — Igor
vem puto até nós, ao lado de Vince, que está rindo à toa, sem parar.
— O circo abriu cedo — implico, recebendo, como resposta,
uma infantil demonstração de língua.
— Não tente ser debochado, você não está no seu lugar de
fala, maninho.
— Sabe a sua diferença com aqueles tacos de bilhar ali,
Vince? É que eles são mais grossos do que o seu pau!
— Por acaso, já viu ele? Aceita que é perdedor, meu amigo.
Seja humilde.
Igor bufa, pega uma cerveja do cooler e senta no outro sofá.
— Lembrem-me de nunca mais jogar nada com esse polaco
azedo.
— Ou com toda a família Calatrone, eles são tão competitivos
que dá vontade de meter uma bala nas suas testas — Morcego fala,
olhando-me e sabendo que eu o humilho em tudo, sem maiores
dificuldades. — Claro, tirando a minha querida Hera.
— Ah, vai a merda, seu bobão apaixonado. — Vince rola os
olhos. — Deus me livre de um dia ter as minhas bolas amarradas
por uma única boceta assim.
— Você tem 25 anos, sabe nem o que é foder uma mulher
direito.
— Repete isso de novo que eu mando a nossa querida
cozinheira preparar um prato com rodenticida [1]para você!
— Hoss, cala a boca desse animalzinho de estimação.
— Eii, rapazes! — De repente, Hera aparece na enorme porta
da nossa sala de jogos e rouba a nossa total atenção para ela. —
Levantem a bunda desse sofá e venham nos ajudar a descer quinze
vasos de arranjos de flores pela escada. Isso é trabalho braçal
demais para três damas. E andem logo, estarei aguardando! —
Depois de passar o seu “recado”, ela vira as costas e sai desfilando
sobre os saltos barulhentos.
Olhamo-nos, com caras de tacho e de entediados.
— Eu não vou!
— Nem eu! — Vince concorda com o Igor e os dois brindam a
cerveja, como se há poucos segundos não quisessem cortar um a
cabeça do outro.
Filhos da puta.
E sobra para quem?
Eu e Morcego, que levanta resmungando palavrões.
Antes de seguirmos para o trabalho, eu e a minha irmã Lupita
paramos numa cafeteria para comermos. Acordamos rapidamente,
arrumando-nos e saindo de casa sem colocar nada no estômago.
Isso tudo por medo de chegarmos atrasadas. Agora veja, são 07h30
ainda, dá para tomar umas dez xícaras de café quentinho até 08h.
— Estou tão ansiosa para conhecer o castelo onde essa
mulher reside. Ela deve ser podre de rica, milionária.
— E é mesmo, ela escolheu tudo do mais caro e do mais
luxuoso para a decoração do seu casamento. Literalmente, tudo!
Não tive orçamento, não tive aquele sufoco para escolher as coisas
baseada no mais barato. Está sendo maravilhoso. Hoje vamos ter
só uma ideia de espaço, para ver se meu planejamento está
perfeito. Na semana que vem, já vou acionar toda a equipe de
montagem.
— Nossa! Ainda bem que pegou esse trabalho bem no meio
das minhas férias, quero ficar por dentro de tudo.
Sorrio, imensamente feliz por ter a minha irmã comigo. Ela é
auxiliar de esteticista, raramente temos tempo de ficar juntas. Desde
que saímos há cinco anos do Brasil e viemos morar em Portugal, é
assim, uma correria para trabalhar e pagar as contas. Graças a
Deus que o meu trabalho como decoradora de casamentos está nos
rendendo um ótimo dinheiro, estou crescendo em minhas redes
sociais, sendo reconhecida e recomendada na cidade. E só tenho a
agradecer a Deus por isso.
Eu e Lupita terminamos de comer o café na padaria e
seguimos para a casa da Srta. Hera, reformulando, castelo! Sim, ela
mora num castelo moderno, que saiu de um conto de fadas. Deve
ter uns quinze quartos nesse monumento de pedras. É a terceira
vez que eu venho aqui e não consigo acostumar os meus olhos com
tanta beleza — desde os vastos campos verdes e os jardins bem
cuidados.
— Elena, estou suando frio — Lupita diz, devido aos três
homens que estão de vigia no portão. Informando meu nome, eles
me liberaram sem pestanejar.
— Fiquei assim na primeira vez que vim.
— Será que não tem um rei nesse castelo, não? Para ter
tantos homens assim naquele portão enorme, todo preto. Ah! Meu
pai amado! — Ela abre a boca, quando estaciono o carro na
fachada luxuosa da frente.
— É sem igual, né? Até difícil de descrever.
— Nunca vi nada tão esplendoroso.
A porta de entrada deles é aquela gigantesca, que pega lá do
topo até abaixo, foram feitas para passarem girafas e dinossauros,
só pode.
Eu e a minha irmã vamos até a escada de chão, subimos
chiques, elegantes, empinadas, devido a sandália de salto, e
paramos bem no deck.
— Estou com cara de pobre? — pergunto, limpando o dente
com o dedo para tirar qualquer mancha de batom.
— Eu sempre estou, gente rica não tem essas olheiras em
volta dos olhos. E nem tem mancha de café no vestido.
— Já não te pedi desculpa, Lupita? Foi sem querer.
— Mas, sou ressentida.
Reviro os olhos.
Espirrei café no vestido da minha irmã após ter uma crise de
riso incontrolável na padaria. É meu grande defeito, rir igual uma
porca, ainda cuspideira. Quem me vê até pensa que eu sou o
sinônimo de boas maneiras.
Eu aperto a campainha e aguardo o mordomo português abrir
a porta. Ao abrir, ele diz o meu nome e pede educadamente para
que possamos entrar no enorme hall de entrada, com estátuas,
vasos de plantas e quadros. Tudo muito moderno.
— Vou levá-las até o salão principal, a Srta. Hera já as
aguarda, por favor. — Ele aponta a direção do corredor chique para
acompanhá-lo.
Lupita vai animada, tropeçando nos saltos. Ela não sabe para
onde olhar, até parece eu na primeira visita a este lugar incrível. É
tudo muito comprido e longe, então leva alguns minutos parar
chegarmos no nosso destino.
— Elena!
Hera me vê e acena sorridente, exibindo a sua beleza de
cabelos cacheados, estrutura alta, pele negra brilhosa e um corpão
de dar inveja.
Depois de analisá-la, eu observo o salão de festas do castelo,
já com todos os móveis de decoração que encomendamos esse
mês. Agora só vai faltar na semana que vem a equipe, para
organizar as coisas sobre as minhas ordens e supervisão.
— Bom dia, Srta. Hera.
— Já disse, chame-me só de Hera.
Aproximamo-nos, trocamos beijos no rosto e um abraço
receptivo. Ela repete os mesmos gestos de carinho com a Lupita.
— Essa é a minha irmã, Lupita, ela está de férias do serviço e
resolvi trazê-la para me ajudar hoje.
— Prazer, você é brasileira? — Lupi pergunta educada e
curiosa.
— Notou o meu sotaque, né? Mas, sou sim, minha família
veio às pressas morar em Portugal quando eu tinha dez anos.
Desde lá continuamos na Europa, firmes e fortes. E bom, dona
Elena. — Hera se volta para mim. — Mulher, é tão difícil me
acostumar com você.
— C-como? — Arregalo os olhos.
— A sua beleza, você é muito bonita. Muito não, você parece
aquelas modelos que vemos no Instagram, maravilhosas. Tem
certeza de que está na profissão certa?
— É o que eu sempre pergunto para ela, deveria estar
investindo em ser modelo.
Eu começo a rir, controlando-me para não evidenciar o porco
que vive na minha garganta.
— Não, definitivamente, não. Formei em paisagismo porque
nasci para isso, não me vejo trabalhando em outra profissão. Ser
decoradora de casamentos é tudo o que eu mais amo.
— Que sonho ter algo para fazer com tanto amor assim...
desde que nasci, tive tudo de mãos beijadas. E eu amei você,
Elena, já te disse isso, né? Quero que entupa esse salão de flores
no dia do meu casamento.
— Já tenho todos os seus desejos escritos aqui. — Aperto o
tablet contra o peito e pisco para ela. — Agora eu vou te passar a
revisão pela última vez, para mostrar como eu vou decorar e como
vai ficar. Já havia passado para a sua cerimonialista também.
— Confio em você, sei que meu sonho está em boas mãos,
assim como está em todas as mãos confiáveis da minha equipe.
Esse dia tem que ser inesquecível.
— E vai ser — Lupi se manifesta. — Nem imagino como está
o seu coração.
— Juro que ele vai pular pela boca.
Sorrimos e eu logo começo o trabalho, passo detalhe por
detalhe para a Hera de como vai ficar tudo no seu grande dia,
entretanto, durante a nossa discussão, discordamos sobre a posição
dos vasos maiores e dos menores.
— Podemos intercalar, colocar os menores na frente e os
maiores atrás, na entrada da noiva, ou entre os bancos.
— Concordo com a minha irmã, Srta. Hera. Vai ficar muito
bonito assim.
— Eu não sei… preciso tirar a prova.
— Não vamos aguentar pegar eles, estão no segundo andar.
— Já resolvo isso, só um instante, meninas.
Assentimos e ela se retira para a escada, deixando-nos
discutindo sobre toda essa indecisão. Alguns minutos depois, ela
retorna.
— Eles devem estar vindo, ou castro todos.
— Eles?
Não demora para a minha pergunta ser respondida por dois
homens, que descem a escada assim que a Hera pisa no último
degrau. Puta merda. Eu e Lupita chegamos a nos olhar de rabo de
olho, sem crer nos deuses lindos que invadiram o ambiente.
Principalmente o mais alto e o mais assustador, o de porte atlético,
barba grande, cabelo em topete e olhar assassino.
Arrepio-me, sem ar.
— Não disse… — Hera sorri.
Os dois chegam até nós, com cara de poucos amigos. E
assim que o homem estupidamente bonito e assustador encontra os
meus olhos, eu dou um pequeno passo para trás, engolindo em
seco.
— Apresento a vocês o meu futuro esposo, Ezequiel. — Ela
beija o noivo e aponta para o outro homem lindo. — E esse é o meu
primo-irmão, Hoss.
Fico olhando para ele igual uma patética, até ser beliscada
pela minha irmã. Acho que faz anos que eu não corava como agora.
— É… prazer, senhores.
— Elena é a minha decoradora, essa ao lado dela é a sua
irmã, Lupita.
— O que quer, Hera? — o homem ridículo de bonito brada a
sua voz grossa, arrepiante, indo direto ao assunto. Parece bem
impaciente e infeliz por estar aqui.
— Hoje é o dia de folga dos homens, amor. Estávamos
reunidos.
— Parem de ser rabugentos. É rapidinho. Eu só quero que
vocês desçam dez vasos para nós, eles estão ali, no segundo
andar.
— Eu também ajudo — no momento em que manifesto as
minhas palavras, o homem assustador me encara, roubando todo o
meu fôlego, pela segunda vez.
Sangue da nossa mãezinha virgem, achei que ia cair, pois as
minhas pernas ficaram fracas.
— Elena, né?
Molho os lábios, erguendo a cabeça e fingindo que o meu
corpo não é um cretino covarde, que está enfraquecendo diante da
voz dele.
— Si-sim...
Que vexame, até parece que eu nunca vi um homem tão…
nossa, tão enorme, de mãos grandes, peitoral largo e abdômen
definido.
— Aguarde aqui! — é só o que ele ordena, antes dos dois
virarem as costas e começarem a descer os vasos.
Mas... que… grosseiro.
— É solteira, Elena? — Hera dá uma batidinha no meu braço,
rindo.
— Longa história — Lupita brinca e pisca sorrateira para ela.
— Longa história?
— Uma infeliz história, que prefiro não recordar mais.
— Tem a ver com o ex-noivo dela…
— Lupita! — exclamo emburrada. — Em resumo, eu sou
solteira.
O Sr. Ezequiel deixa um vaso menor perto de outro pequeno
e aproveito esse motivo para ir até ele, sem sequer avisar a Srta.
Hera dos meus passos.
— O senhor pode trocar e intercalar entre o pequeno e o
maior?
— É claro.
Agradeço educadamente, assistindo de longe o homem lindo
carregar dois vasos nos ombros.
Como isso é sexy.
— Coloque entre o pequeno e o menor, por favor — repito o
que pedi ao Sr. Ezequiel para o tal de… Hoss.
Ele olha sério para mim, sem demonstrar qualquer carisma,
ainda passa ao meu lado, exalando o seu perfume e a sua má
educação. Que homem mais babaca. Não sabe ser educado?
— Acho que a sua ideia vai ficar perfeita, intercalando os
vasos menores e os maiores — Hera fala de longe.
— Vai, sim... — Balanço a cabeça e ergo o pescoço. — Eu
não havia dito, dona Hera?
— Desculpe-me, você é tão competente e certa em cada
detalhe. Posso contratá-la para administrar a minha vida?
— Acredite, em questão de vida, nem a minha está
organizada.
— Nisso, devo concordar. — Lupita olha para Hera e
cochicha algo.
— Meu Deus, estou vendo uma miragem! — Uma voz
repentina submerge por todo o salão, com os ecos das suas
palavras.
Ele chama toda a nossa atenção quando desce a escada.
É um homem claro, cabelos loiros e sorriso arteiro. Puta
merda, será que só tem homem bonito nesse castelo?
— Ah, pronto, o palhaço errou o endereço do circo.
— Priminha, está resmungando algo?
— Se não for ajudar, não atrapalhe, Vince!
— Vai catar coquinho, Ezequiel. Por que sempre fica do lado
da psicopata da Hera?
— Você não devia estar na creche? Sua mentalidade perde
para uma criança de quatro anos.
Eu e a minha irmã nos olhamos, perdidas em meio as suas
“discussões”. Não sei se é sério ou apenas zoeira.
— O sanatório é o mais correto.
— Dá licença, não tenho tempo para perder com seres
insignificantes, estou vendo duas miragens.
Sem nem disfarçar, ele vem até nós, sorridente e cheio de
encanto.
Nossa, tão pertinho assim, eu fico tonta. Estou hipnotizada
pelo seu sorriso malicioso.
— Deixa a minha decoradora em paz, idiota.
— Prazer, mulheres, eu sou o Vince Calatrone.
— O prazer é todo nosso — minha irmã responde por nós,
mas em quem Vince se fixa sou eu, seus olhos não param de me
analisar, chocado.
— Desculpa o palavrão, só que… puta maldade!
— Tem dois minutos para cair fora! — uma voz protesta muito
perto de nós, arrepiando-me descontroladamente.
E para me apavorar mais, ele coloca os vasos pertinho das
minhas pernas.
Meu Deus!
Não desvio do Vince, nem ele de mim. Vejo que esse homem
notou as reações do meu corpo e da minha garganta, engolindo em
seco.
— Precisa de água, senhorita?
— Elena, Lupita, hora da pausa, venham comer biscoitos
quentinhos, não deem atenção a esse cafajeste do meu primo
Vince.
— Ah, biscoitos? Amamos, né, Elena?
Salvando-me, sorrio fraco para ele e concordo com a Lupita.
Adiante, inclino discreta o pescoço, vendo que o homem assustador
de bonito não está mais perto das minhas pernas, na verdade, ele já
está subindo a escada ornamentada para ir embora.
Como é possível? Não estava aqui há um segundo? Parece
até que ele se teletransportou.
— Eu igualmente sou louco por biscoitos, por favor, peguem
os seus antes que eu devore tudo — Vince brinca e vai rápido em
direção a forma.
Acho que ele não mentiu, pois, em meio aos xingamentos da
Hera, o garoto devorou os biscoitos em instantes. Ela teve que
expulsar o primo do salão e pedir outra forma de biscoitos ao
mordomo.

Mais tarde, quando saíamos do castelo Calatrone, não evitei


me sentir estranha, como se eu estivesse sendo observada por
alguém. Olhei para as janelas do alto, mas não vi nada.
— Estou em estado de êxtase com tanto homem bonito que
vi.
— Nem me diga. — Nos degraus da escada de chão, eu volto
a prestar atenção na minha irmã. — Viu aquele homem de barba
média, topete alto e cheio de músculos?
— Com cara assustadora e que se chama Hoss? Claro que
sim. Você gostou dele?
— Não mesmo, só estou comentando sobre a beleza
inegável daquele estranho. E que também esse Hoss foi muito
grosseiro, não passou carisma.
— Ele seria perfeito para fazer ciúmes no seu ex-noivo da
máfia.
— Lupita! — Puxo abrupta o braço dela e coloco-a contra a
porta. — O que já conversamos?
— Desculpa, não consigo superar o fato de que você noivou
com um mafioso. Sabe que esse homem não vai te deixar em paz.
Paulo é completamente louco por você, acredito que seria até capaz
de morrer para tê-la de volta.
— Mas, acabou, agora que eu sei quem ele é de verdade,
jamais ficaria com um criminoso, dono de quartéis e que é capaz de
matar, torturar e cometer crimes pelos seus próprios interesses. Isso
não sou eu, não é a minha essência e conduta, não é o certo. Não
quero essa vida!
Minha irmã permanece quieta, mas sei que ela discorda,
Lupita me quer com o Paulo. E tanto faz, não voltarei atrás na minha
decisão. Vou passar por esse sofrimento de coração partido, sem
remorso. Foi correto dar fim ao noivado, se eu tivesse descoberto a
verdade durante o nosso casamento, a dor teria sido mil vezes pior.
Em casa, depois de voltar do trabalho, eu me deito no sofá,
ainda pensativa sobre o Paulo, no entanto, sou dispersada destes
pensamentos por um toque no celular. O número é desconhecido.
— Alô?
— Elena? Oi, gatinha, é a Hera.
— Hera? Algum problema?
— Sim, um problemão…
— E eu posso ajudá-la? — Ergo-me do sofá. — Tem a ver
com a decoração do seu casamento?
— Não, tem a ver é com o meu status social.
— Oi?
— Estava aqui planejando a minha despedida de solteira e vi
que não tenho ninguém para chamar, nenhuma amiga.
— Ah, sinto muito. Algo que temos em comum, eu também
não tenho amigas.
— Sério? Perfeito! Então somos best friends agora!
— O quê?
Sorrio, voltando a me deitar no sofá.
— Juro que sou a melhor pessoa, não vai se arrepender da
nossa linda amizade.
— Tem certeza?
— Absoluta, quero você amanhã cedo aqui na minha casa,
para me dar a sua opinião sobre o vestido de casamento.
— Hera, responda uma coisa, na parte de tomar decisões,
você está fazendo tudo sozinha? Refiro-me a escolher vestido de
noiva, madrinha, sabores do buffet, entre milhares de outras coisas
para decidir?
Noto Hera suspirar do outro lado. Acho que ela também caiu
sentada ou deitada em algo confortável.
— Ezequiel, meu noivo, está me ajudando, mas não é a
mesma coisa que uma mãe, entende? Não tenho nem outra mulher
de confiança para me ajudar nisso tudo. Sou antissocial. Não
consigo manter pessoas fiéis ao meu lado. Ou seja, no quesito
amizade, eu sou um fracasso.
— Me identifico, minha irmã tem as melhores amigas dela, já
eu… nunca tive esse tipo de relação, sou problemática, gosto de
estar sozinha.
— Sou dessa forma. E estive 22 anos convivendo normal
com isso, até notar neste exato momento o quanto é horrível não ter
alguém, pelo menos uma amiga para você compartilhar
sentimentos, decisões, escolhas, como as do meu casamento. Sinto
falta até da minha mãe, acho que se ela estivesse aqui, seria mais
fácil.
— Sinto muito pela sua mãe.
— Não sinta, minha mãe está presa na América do Sul, ela
era dona de um quartel na Colômbia.
Arregalo os olhos. Como ela me conta isso numa maior
tranquilidade?
— Nã-Não sei nem o que dizer.
— Minha família é toda complicada, se eu começar a te
detalhar as coisas, ficaremos neste telefone até o fim dos tempos —
ela brinca. — Se realmente não for lhe incomodar, eu a espero
amanhã cedo aqui em casa.
— É claro que eu vou. Amanhã é sábado e não tenho nada
para fazer.
— Ótimo! Já estou ansiosa, beijos, gatinha.
— Beijos, dona Hera.
Desligamos o telefone. Eu sorrio sem evitar, talvez entusiasmada
pela minha nova relação.
No dia seguinte, acordo cedo e arrumo-me para o meu
compromisso com a Hera. Também procuro a Lupita pela casa, mas
não a encontro. Acredito que deva ter ido para alguma balada se
divertir, era sexta à noite e diferente de mim, a minha irmã é festeira.
Só espero que ela tenha se protegido, caso tenha passado a
madrugada com algum homem. Desconheço outro ser mais viciado
em sexo do que ela.
Pego a chave do meu carro, tranco a casa e dirijo até o
castelo Calatrone, cercado de uma muralha de pedras, seguranças
e um portão gigantesco. Acho que nem a casa do presidente é tão
protegida assim. Eu paro o carro na frente, admirando a vista do
quintal devastado de verde. Atrás, eu sei que tem uma floresta e um
rio bem grande, vi no GPS.
— Srta. Elena, por favor… — o mordomo Luiz é receptivo
comigo na entrada do hall. Ele informa que a hera me aguarda no
jardim para tomarmos o café da manhã juntas.
Sorrio, acompanhando-o pelo exuberante castelo português,
pesquisei informações dessa residência, era de um duque muito
famoso. Foi comprado por uma família brasileira há mais de vinte
anos, acredito que seja a família da Hera.
— Elena! Que bom, já estava quase ligando para você.
No jardim incrível, de fazer o queixo despencar no chão, Hera
acena para mim, enquanto eu caminho até ela e o homem que a
acompanha na mesa. É o seu marido.
— Bom dia.
— Bom dia! — Ela se ergue para beijar o meu rosto. — Odeio
esses contatos de carinho, mas, com você, é diferente, sinto-a
querida demais.
Em meio a sorrisos, retribuo o beijo.
— Sente-se, Elena, Ezequiel já está de saída.
— Estou?
— É claro que está, meu amor, não se encontra cheio de
trabalho da contabilidade no escritório? Vai lá trabalhar. — Ela, por
pouco, não o empurra da cadeira.
— Está vendo, Srta. Elena? Sou maltratado. Só vou porque é
assunto de mulher. Até daqui a pouco. — Ele pisca, beija a noiva e
deixa-nos a sós.
— Enfim, livre desses homens.
Hera recai nada elegante no encosto do assento.
Já eu não paro de admirar o tanto de coisas gostosas que
temos para comer. E adivinha? Para me dar vergonha, a minha
barriga ronca. Estou faminta.
— Eu escutei, gatinha, é melhor tomarmos o café logo.
Também estou morta de fome.
— Com certeza — brinco e sirvo-me primeiro do leite, antes
de começar a devorar até as flores que decoram a mesa.
— Estou louca para te mostrar as fotos dos meus vestidos,
preciso urgente de uma opinião conclusiva.
— Vou adorar te ajudar. Amo tudo relacionado ao mundo das
noivas.
— Não sendo a noiva, você ama mesmo. Já no meu papel,
misericórdia, muito estressante.
— Nessa visão, eu concordo...
Durante o nosso papo de noivado, que flui naturalmente, nem
vemos as horas passarem. Já são 10h30.
— Acho que meu pai está em casa — ela comenta, levando-
me para a sala principal, que puta que pariu, é incrível, enorme! Só
fico pensando no trabalho para limpar. Mas, quem é rico é outra
coisa, pode pagar centenas de empregados. E eles parecem ter
muitos.
— Fique à vontade, Elena. Vou no meu quarto pegar as fotos
e já volto.
Assinto com a cabeça, sentando-me toda “poderosa” no sofá
luxuoso, cor creme. Estou ainda impactada com esse castelo
moderno. Deve ser uma experiência única morar em um lugar
assim. Será que tem piscina? Quadra de vôlei, basquete?
— Não é assim que vamos encontrar, seja lá o que roubaram
de você.
— Eu só preciso encontrar!
Dispersando os meus pensamentos, dois homens invadem a
sala. Um, em particular, me assustou e causou tremores e calafrios
no meu corpo. É ele, o ridículo de bonito de ontem, Hoss.
Eles nem notaram a minha presença, continuam a discutir.
Analiso o outro cara, arrepiada pela sua beleza monstruosa.
Os dois são de dar pânico.
— Presta atenção, Rael! Ficar batendo na porta de inocentes
e ameaçando eles para saber informações só vai te complicar!
— Me complicar com o quê? Com o tio Argus? — ele
debocha.
— Só para. Você não é irresponsável!
— Não sou e não se meta nos meus problemas. Lembra o
que me disse há algumas semanas? Que eu me virasse sozinho
com os meus B.O! E estou fazendo isso!
Antes dele sair, Hoss puxa o seu braço.
— Vai essa noite para a nossa boate, esfria essa cabeça,
fode uma mulher, mas não cometa loucuras em meio ao nervosismo
e ao sangue quente.
— Vou ver o que eu faço. — Ele afasta o braço e retira-se.
Sozinha com esse homem bonito, alto, forte e musculoso, eu
finjo não ter ouvido nada e abaixo a cabeça, observando-o
disfarçadamente. Ele vai até uma mesa do outro lado para servir-se
de uma bebida.
— Aceita, senhorita?
Inesperadamente, eu aperto os olhos e engulo em seco. Ao
abrir as pálpebras, encaro a beleza sufocante dele… e esse olhar
indescritível, que queima igual fogo. Não sei explicar, não consigo. É
tão diferente, arrepiante.
— Não… e desculpa por ter ouvido vocês.
Ele caminha até a ponta do outro sofá, com uma das mãos
no bolso da calça jeans preta, na verdade, ele está todo de roupa
preta. Passa um ar misterioso.
— Vou desculpar, pois a responsável por você estar aqui é a
Hera.
— Algum problema? — Ergo a cabeça. — Sou convidada
dela.
— Hera não tem convidadas.
Tento controlar as minhas pálpebras e os meus pés, que
balançam nervosos.
— Entendo, mas, nesse caso, o senhor deve discutir isso
com ela.
— Não, eu costumo ir direto à fonte de problema.
— Então eu sou um problema?! — minha frase foi mais de
confirmação do que exclamação.
Ele balança a sua bebida em concordância, sem tirar os
olhos de mim.
— Elena! Desculpa a demora, gatinha.
Hera, então, volta, encontrando-nos.
— Já foram apresentados? — Ela sorri, vindo até o meio da
sala.
O tal Hoss a encara sem paciência.
— É bom conhecer quem se coloca dentro da nossa casa.
Nossa, sério que ele disse isso perto de mim? Que homem
arrogante! Deu até vontade de pegar a minha bolsa e ir embora.
— Hoss! — Hera o fuzila. — Elena é a minha decoradora,
aquela de ontem.
— Dionísio era o seu irmão, e o desgraçado nos traiu
embaixo do nosso próprio teto, depois de você fazer todos
confiarem nele. E olha que nem falei da sua outra “melhor amiga”.
Por esse motivo, não tem muito direito de se justificar, nem de trazer
visitas!
Hera vira irritada para mim.
— Desculpe-me por esse ogro. Isso não tem nada a ver com
você. Mas, sim, com o meu primo, que agora deve desculpas de
joelhos por estar te maltratando e agindo feito um arrogante com A
MINHA visita.
Eu fito os castanhos negros dele, desafiando-o sem medo.
Ele coloca a bebida no aparador atrás do sofá, desvia do meu rosto
e vai até a sua prima.
— Acredito que essa implicância seja ciúmes do Ezequiel —
ela resmunga, com um sorriso diabólico nos lábios.
— Não estou brincando, Hera, suas companhias não são
mais confiáveis.
— Você não é o meu pai, Hoss.
— Somos família e família cuida um do outro. — Ele me dá
um último olhar assustador e retira-se da sala a passos duros, com
os músculos rígidos.
Solto o ar dos meus pulmões, reaprendendo a respirar.
— Elena, perdoe-me por esse imbecil. Não leve para o
pessoal.
— Co-como não? — gaguejo meio assustada.
— Ele só está preocupado comigo, por mais que eu odeie
esse tipo de comportamento. Sou adulta e decido as minhas
amizades. Por isso, não me abandone, nem desista da nossa
amizade.
— Tudo bem, seu primo é assustador e intimidador, mas eu
não sou uma pessoa de sentir medo e desistir tão fácil.
— Ele teve esse comportamento ao se referir ao meu irmão
que saiu da cadeia, veio me procurar e eu confiei na versão sobre
ele estar mudado. Fiz toda a minha família o reconsiderar de novo
também… mas, no final, Dionísio nos traiu. Já sobre a ex-melhor
amiga, citada pelo Hoss, essa era uma falsa, que estava se fingindo
de amiga para passar informações do nosso negócio. Enfim, sei que
você não é assim.
— Não, meu Deus, com certeza, não. Que situações vocês
passaram. E sabe que a minha intenção é meramente a trabalho, de
decorar o seu casamento.
— Eu que solicitei a sua amizade, porque gostei muito de
você. Só me ajude nesse momento, com uma segunda opinião,
preciso de verdade de uma mulher comigo. Depois sinta-se à
vontade para me abandonar.
Sorrio carinhosa, acariciando a sua mão.
— Você nem é dramática. E desde que o seu primo não me
expulse, vou ajudá-la no que precisar, até depois da decoração.
— Ah, acredite, eu castro as bolas dele, mas isso esse diabo
não faz. Obrigada, Elena. Você é um doce, tenho certeza de que fiz
certo em confiar no meu coração.
Abraçamo-nos, como se realmente fossemos amigas de longas
datas. Só por aquele homem estar duvidando do meu caráter, eu
vou adorar esfregar na cara dele o contrário. Foi muito ridículo a
forma que agiu na minha frente. Será que não aprendeu o que é
educação? Devia ter chamado a Hera no particular e ter conversado
com ela sobre eu ser um “problema”. Agora PROBLEMA dele me
suportar.
Ela separa o nosso abraço e segura o meu ombro.
— Você aceita aproveitar esse sábado à noite para ir na
nossa boate se divertir comigo? Quero encher a cara e rebolar a
bunda até o chão.
— Faz tanto tempo que eu não sei o que é isso.
— Incrível! Então você vai! E não aceito não como resposta.
Pode trazer a sua irmã, se quiser. Vamos nos divertir, gatinha!
Eu saio da sala, deixando Hera e aquela mulher gostosa do
inferno para trás. Vou até o terceiro escritório, encher o saco do
Morcego.
— Atrapalho?
— Não — ele diz, erguendo a sua cerveja. — Essa semana a
contabilidade vai ser longa. Nossos cobradores já voltaram da
cobrança na madrugada?
— Menos Diego e Igor.
— Não levaram os seguranças?
— Não, mas até 12h se não derem sinal de vida, acionamos
a ronda.
Eu me sento na cadeira e ergo os pés na ponta da mesa.
— Rael está com problemas.
— Já notei, ele anda muito estranho. O que está
acontecendo?
— Porra, nem esse idiota diz, Morcego, só sei que tem a ver
com algo que foi roubado dele. Pois Rael está tão desesperado para
achar o ladrão, que estava entrando na casa de inocentes, os
ameaçando e os torturando por informações do paradeiro do tal
objeto.
— Que merda, Argus sabe disso?
— É um assunto do Rael, preferi não contar para o nosso tio
ainda.
— Por que não o ajudamos? O que foi roubado deve ser
muito valioso.
— Ele pediu a minha ajuda na semana passada e o respondi
muito mal. Confesso que me arrependi.
— E ele, rancoroso do jeito que é, vai jogar isso na sua cara
quando notar que você mudou de opinião e está interessado no
problema.
— Já está jogando — murmuro. — Mudando de assunto, um
de suma importância, você está observando o comportamento da
Hera?
— O que tem ela?
— Não é ela, é aquela mulher muito próxima de nós. Não
confio. Sinto ser outra enviada pela máfia dos Borghi para nos
investigar e nos destruir. Alguns deles são inimigos declarados da
família Calatrone, acham que somos uma máfia, crescendo aos
poucos e escondidos.
— Mas, praticamente não somos?
— Não! — brado, negando duas vezes com a cabeça. —
Sabe que somos uma associação de agiotagem, com
administradores, cobradores, segurança e não uma associação
mafiosa, que compra respeito dos mais pobres com favores, se
aproximam de políticos, juízes e policiais, que cometem crimes,
fazem tráficos de qualquer índole, desde órgãos, drogas, pessoas,
prostituição. Além de outras dezenas de coisas, tudo para proteger
o seu clã e os seus interesses poderosos. Não somos dessa forma,
é completamente diferente. Nosso negócio é emprestar dinheiro e
nosso maior crime é punir com a vida quem não nos paga. É isso o
que esses arrombados não entendem.
— Creio que eles estão erguendo uma empresa de
agiotagem também, mas não chega aos pés da família Calatrone,
um fato. Temos contatos grandes, além de muito dinheiro e
confiança 100%.
— Essa é a questão, sinto que uma guerra está por vir. Ela só
está demorando.
— Eis o motivo da sua desconfiança com quem se aproxima
muito fácil da família.
— Sim, Argus não vai aceitar perder tudo que ele e os meus
pais morreram construindo, nem eu vou aceitar. — Bato na mesa,
com uma dor no peito ao lembrar da minha mãe e do meu pai… e
da forma que eles morreram.
— Hera se sente muito sozinha, Hoss, sempre reclama de
não ter uma amizade feminina, é por isso que eu concordo em
investigarmos essa decoradora para comprovarmos que ela é uma
mulher comum, inocente.
— Já viu como é difícil o nosso negócio? E se essa
decoradora se meter conosco, teremos que protegê-la da máfia. Ela
e toda a sua família estariam em risco. Não tem como, Hera deve se
manter profissional, sem se envolver por sentimentos.
Morcego recai no encosto da cadeira, inquieto.
— Não havia pensado nisso, mesmo assim, não vou
aguentar a decepção nos olhos da minha mulher. Entende? Hera
não é tão feliz com essa vida fora da lei, com inimigos mafiosos,
pessoas loucas querendo se vingar dos Calatrone por termos
matado algum parente seu, que nos devia e não pagou. Se for
analisar, é um inferno.
— Eu entendo, irmão, entendo perfeitamente. Mas, não
escolhemos essa vida, nascemos para ela. Hera sabe que não dá
para nos comportarmos como civis normais, que matriculam suas
crianças na escola, saem para fazer compras, assistir um cinema,
ou tem amigas.
— Saber que os meus futuros filhos serão assim, que não
terão outra escolha de vida, diferente da dos pais, isso acaba com o
meu psicológico.
— Talvez as coisas mudem até lá, não pense muito nisso.
Levanto-me da cadeira, arrumando a camisa.
— Mais tarde, é hora de vestir uma roupa social e partir para
a nossa boate Fogo, para escolher uma das novas strippers
deliciosas que a gerente contratou.
— Eu só espero que entre muito dinheiro para lavarmos uma
boa quantia. Vou também tentar transferir tudo de uma vez para a
conta da Suíça.
— Sem trabalho, Morcego, essa noite você vem conosco
para a boate, vamos beber e nos divertir, claro, respeitando seu
compromisso.
— Hera vai junto.
— O quê? Mas que porra de cruz é essa que você arrumou
para carregar?
Morcego chuta a minha perna debaixo da mesa.
— Arrombado!
— Vai debochando, cretino, daqui a pouco você encontra a
sua cruz também.
— Até lá eu vou comer muita puta... — Pisco e viro as costas.
— Mais tarde, nos falamos.
Eu saio do castelo e passo o restante da manhã e da tarde
na rua, resolvendo cobranças e outros assuntos do nosso negócio.
Ao entardecer, eu só volto para tomar banho, arrumar-me e como
sempre, ir até a boate, espairecer a mente.
— Hoje vai estar lotado — Vince comenta, jogando-se ao
meu lado no sofá da boate.
Esse espaço cabine, de sofá quadrado, cor dourada, com a
mesa no centro, é sempre reservado para a nossa família. O outro,
no segundo andar, com a vidraça escura, dando por dentro a visão
de toda a boate, usamos para fechar negócios ou para nos isolar.
— Só a gente esta noite?
— Morcego disse que viria com a Hera. Já Rael e o nosso tio
Argus eu não sei — respondo, degustando do meu Dry Martini e
observando as dançarinas de uniformes sexy… deliciosas.
— Não sei ainda qual gostosa escolher — Vince comenta.
Sorrio e aponto para a loira.
— Aquela ali sabe fazer uma espanhola como ninguém.
— É a Dani, já comprovei isso na quinta. Ela é boa com
contorção também.
— Interessante, e não quebrou a agulha de fogão que você
chama de pinto?
— Já mandei você tomar no cu hoje? Se não, melhor ir, já
deve estar bem acostumado com o gostinho.
Ergo o braço no estofado, abrindo as pernas e relaxando.
Fico tão relaxado que não sinto vontade de socar o maxilar do meu
irmão.
— Nosso gostosão acabou de chegar. — Vince zomba,
sorrindo e erguendo a sua bebida na direção do Rael.
Ele caminha até nós, de cabelos úmidos e roupa limpa. Essa
boate é o local preferido dele, acharia estranho se não aparecesse
em pleno sábado.
— E aí, irmãzinha? Só de boas?
— Faltou ao seu treino de artes maciais hoje, frangote?
Rael se senta na lateral direita do sofá quadrado.
— Novidade seria ele ir — debocho.
— Cala a boca, vocês sabem que o papai aqui é o melhor em
artes maciais e boxe.
— Irmão mais novo, tem muito o que aprender ainda. — Rael
sorri para mim.
— Eu tenho 25 anos, caralho!
— Boa noite, crianças. — Morcego surge na nossa frente,
com as mãos nos bolsos.
Rael manda um beijinho para ele e Vince se mostra
entediado. Eu continuo relaxado, só assistindo as strippers.
— A forma recepcionista de vocês é contagiante, já estava
esquecendo de que são os Calatrone.
— Cadê a Hera?
Morcego se esquiva da pergunta, fingindo que não ouviu.
Quando eu ia perguntar pela segunda vez, não precisou, pois a
minha noite de paz e relaxamento foi para a puta que pariu. Não é
possível que ele tenha permitido isso!
— Vou arrancar as suas bolas com um alicate, Ezequiel!
— Vishh, parece que você deixou Hoss em chamas, desvia
ou vai queimar a cara Zequinha.
— Fecha a matraca, Vince!
— O que foi? — Rael pergunta, viajando em suas ideias.
— Até parece que você não conhece a Hera, porra! Não tinha
e não tem como dizer não para ela. Impossível fazê-la mudar de
opinião, é irredutível.
— O que está em jogo não são as vontades dela!
— Hera... vontade… não estou entendendo nada — Rael
sussurra para o Vince.
— Nem eu, e olha que estou sóbrio...
Nervoso, eu fuzilo Morcego e calo-me, pois a Hera e a
decoradora chegam perto da nossa cabine. E merda, que tortura de
mulher é essa? Esse corpo dentro desse vestido justo, essas pernas
torneadas, o decote farto, os cabelos castanhos lisos, os olhos
claros, que… gostosa. Perdi o ar com esse avião. Valia a pena uma
foda, antes de assustá-la e mandá-la ao inferno.
— Olá, família! Boa noite.
Meus irmãos se fixam na deusa ao lado da Hera,
hipnotizados e de boca aberta, tanto quanto eu.
Com o corpo rígido e os músculos duros, eu dou uma
inclinada para frente, pegando-a no exato momento em que me
comia pelos olhos. Não mudo o meu olhar imponente, que eu sei
que lhe causa arrepios e incômodos. Ela desvia, abaixando a
cabeça.
— Vince já conhece a Elena… dispensa apresentações.
— Oh, e gostaria de conhecer ainda melhor.
Se Vince tivesse encontrado o meu olhar, ele saberia como
as vítimas se sentem diante de uma arma.
— Já, Rael, essa é Elena, minha decoradora e agora amiga.
Morcego tira a mão do bolso, disfarçando a cara de pau, para
não me fitar. Ah, filho de uma… mais tarde, ele vai ver, merece dois
murros na fuça por ser uma marica, submisso a mulher.
— É um prazer, Srta. Elena. — Rael faz questão de se
levantar e dar um beijo no rosto dela. — Sinta-se à vontade para
beber e divertir-se na nossa boate.
— O-obrigada — a voz dela sai em gaguejo e, sem se
controlar, o seu olhar volta a se encontrar com o meu, desviando
pela terceira vez.
Eu nunca desconecto o nosso contato visual, é ela que não
aguenta. Isso parece ótimo.
— Bom, vamos beber e dançar, Elena! Vem! — Hera puxa a
decoradora pelo braço, arrastando-a para o bar.
Eu respiro fundo, seguindo-as com o olhar, como um touro
encarando um pano vermelho – e o pano é a porra do trapo que a
decoradora está usando. Ao voltar, Morcego recebe o mesmo olhar.
O olhar de “eu resolvo isso, infeliz”!
Hera me leva até o bar e empurra-me dois drinks. Bebo
rapidamente, sendo, em seguida, arrastada para a pista de dança.
— Vamos balançar os esqueletos!
Eu sorrio de orelha a orelha, achando graça de tanta energia.
Ela é a mil! Como dizemos no Brasil, ligada no 220! Estou amando!
Começa a tocar a música “Olha a Explosão”, do MC Kevin e
somos literalmente “possuídas pelo ritmo ragatanga”. Rebolamos
como se não houvesse o amanhã.
— A coreografia, Elena! — No refrão, empinamos a bunda e
descemos e subimos, requebrando num quadrado que eu nem sei
se está certo ou não.
Faz tanto tempo que eu não sei o que é me divertir, diferente
de quando cheguei em Portugal e virava de segunda a sexta em
festas, dançando, bebendo e conhecendo pessoas. Misericórdia, o
que me tornei? Uma chata que só pensa em pagar contas.
— Preciso de outro drink — respiro e inspiro, ofegante. —
Você me destruiu!
Ela ri, também ofegante.
— Se você tivesse dito essa última frase perto de um dos
meus primos, já teria recebido uma enxurrada de piadinhas
maliciosas.
— Obrigada por avisar, jamais direi algo parecido perto deles
— após dizer isso, nós duas caímos na gargalhada
No bar, desta vez, com mais calma, sentamo-nos na
banqueta para pedir outra bebida.
— Eu não lembro a última vez que me diverti tanto assim com
uma mulher. — Hera pisca, “safada”.
— Acho que você não nega o sangue dos seus primos.
— Não mesmo! — Ela ri.
— Obrigada pela noite divertida, Hera, fazia tanto tempo que
eu também não saía com outra mulher — é a minha vez de piscar
“safada”.
— Elena, melhor parar, já está me fazendo duvidar da minha
sexualidade. Pai amado. Você é bonita para um caramba. Deve ser
esse o motivo do Hoss estar te secando com os olhos, se não for
isso, então ele quer o seu pescoço.
Quase me engasgo.
— A intenção era me assustar? Se tivesse se esforçado
mais, teria quase conseguido.
— Como você é uma estraga prazeres, né?
Hera joga os seus cabelos crespos, bem cacheadinhos, para
trás, hipnotizando-me por ser tão maravilhosa. No fim das contas,
ela quem é linda aqui. A sua pele negra é de um tom claro, meio
amarelado. Seus olhos, de um castanho bem escuro e misterioso.
Essa mulher é quase indescritível.
— Não quero atrapalhar as damas… — de repente, Ezequiel,
noivo de Hera, para ao lado dela e sorri, beijando-a.
Desvio deles para bebericar a minha bebida que o barman
colocou sobre o balcão.
— Noite das garotas, gato, sinto muito.
— Só quero te roubar um pouquinho, amor — ouço-o
sussurrar no ouvido dela.
— Não quero, vai circular, se enturmar com os meus primos
cretinos, pois hoje eu sou todinha da Elena, assim vice-versa.
— Mas, o quê? Que traição é essa bem na minha cara? Vou
ter que ficar com ciúmes, Elena.
Sorrio para o Ezequiel.
— Infelizmente, terá… acho que ela tem razão.
— Quanta ousadia. Agora falando sério, é o seu pai quem
quer falar com você.
— Meu pai está aqui? — Hera franze o cenho, surpresa.
— É rapidinho.
— Não posso, a Elena, ela…
— Não se preocupe, eu cuidarei muito bem da sua nova
melhor amiga.
Inesperadamente, eu levo um susto, arrepiando-me da
cabeça aos pés, com a voz e a presença dele bem ao meu lado.
Posso sentir o seu calor, o seu perfume e o seu enorme tamanho.
Meus Deus! Isso é assustador, quero correr, fugir desse homem, ao
mesmo tempo, não, eu quero enfrentá-lo, por mais que eu não
consiga.
— Hoss? Nem fodendo! — Hera sai da cadeira e fica de pé,
com a mão na cintura. — Eu sei o que está querendo fazer! E você
está ferrado, seu infeliz! — Ela bate no noivo.
— Não estou brincando, seu pai lhe aguarda na sala do
segundo andar.
— Tudo bem, Hera… — Sorrio em linha para ela, acalmando-
a. — Vou aguardá-la aqui, no mesmo lugar.
— Claro que vai… — ouço-o murmurar, depois de repousar a
mão grossa no balcão. Já Hera não ouviu.
O que esse cara está pensando? Ele quer ficar a sós comigo.
E para quê? Para me assustar? Me fazer ir embora? Não tenho más
intenções com a sua prima, na verdade, tudo aconteceu bem de
repente, por interação dela. Já eu sou alguém de caráter,
trabalhadora e que nunca traiu nem um inseto.
— Olha, dona Elena, se Hoss ousar ameaçar uma cara feia
que seja para você, relate tudo quando eu voltar, que eu corto as
bolas dele e te dou de chaveirinho! Já volto! — Ela ergue a cabeça e
retira-se feito uma tigresa. Ezequiel, seu noivo, vai atrás.
Sozinha, ou quase, eu suspiro, observando os limões no meu
drink. A música preenche todo o espaço, eu fico aguardando ele
dizer algo… até que seu tom rouco e poderoso surge:
— É tão difícil manter contato visual comigo?
Não contenho os arrepios.
Sua pergunta é estranha, e devido a ela, obrigo-me a
finalmente encará-lo. E que péssima decisão. Mesmo com as luzes
coloridas da boate, posso ver os seus olhos quentes como fogo.
— Se esses olhos não estivessem tentando me intimidar,
nem me assustar, seria fácil.
— Então é isso que lhe causo, intimidação?
Que ligeiro!
— Não gosto desses jogos, acho desnecessário — digo tão
séria que até estranho o meu comportamento, que normalmente é
doce, brincalhão e… ok, sincero. Sou mais sincera do que gostaria
de assumir.
— Muito ousada, gosto de ir mais devagar — ele é malicioso.
— Duplos sentidos, eu já fui avisada deles — mostro pouco
caso com a mão.
— Quem é você? — Repentino, sem sequer avisar de que
me mataria de um ataque cardíaco, ele avança um passo sobre
mim, bufando a sua respiração furiosa nas maçãs do meu rosto.
Não tive nem tempo de me afastar para trás, fiquei tonta,
acuada.
Por que o meu corpo está se comportando assim? Nos meus
pensamentos, eu estou sentada nesse bar, consigo enfrentá-lo,
dizer tudo o que eu quero e sair rebolando de forma triunfal. Já na
vida real, no agora, cara a cara, eu sou uma idiota intimidada, sem
reação.
— Eu sou Elena… — sussurro tão baixinho, sem saber se
falo ou respiro o aroma do seu perfume avassalador.
— Disso, eu sei, Elena Bianco, sei que reside há cinco anos
em Portugal, após sair de Pelotas, a sua cidade natal no estado do
Rio Grande do Sul. Aliás, feliz aniversário atrasado, foi há duas
semanas, né? 27 anos, juro que nem parece.
Assustada, quase escorreguei da cadeira, mas fui forte ao me
segurar na ponta do balcão.
— Você é um louco varrido! Co-como pode saber sobre…
— Sobre você? Mas, eu não sei, decoradora, ou não teria
feito as perguntas de agora pouco.
Estou tremendo. Como isso é possível? Ele é um maluco.
— Não é da sua conta os detalhes pessoais da minha vida,
só deve saber que eu sou alguém de muito caráter, respeito e que
não vai aceitar grosserias.
— Que piada engraçada! Vamos direto ao ponto, quem
mandou você?
— O quê? Claro que ninguém! — exclamo irritada. — Não
entendo o porquê está de marcação comigo, ou o que pensa que eu
sou. Lembro-me de que me formei em paisagismos, não em
estelionatária, caso esteja achando que eu me aproximei da sua
prima por interesse. Na verdade, nem fui eu quem me aproximei da
Srta. Hera, sabia? Foi ela.
Quando eu vejo, já joguei um tapa de palavras na cara desse
ridículo, bonito e atraente feito o diabo. Isso é triunfal!
— Quer que eu acredite em você?
— Não, acredite que eu sou a branca de neve e tenho sete
anões! — Empurro-o e tento sair da cadeira, mas quando alcanço
os dois pés no chão, o troglodita agarra bruto o meu braço e coloca-
me contra o balcão do bar e o seu corpo musculoso, alto e cheiroso.
Minhas costas raspam no mármore, e novamente, pela
milésima vez, eu perco o fôlego com ele, também a autonomia das
pernas. Se ele não tivesse me segurado, eu teria tropeçado nos
próprios saltos.
— So-solte-me.
— Para quem seja que esteja trabalhando disfarçada, eu
cubro o valor, é só dizer o nome… — ele sussurra bem pertinho da
minha orelha.
Arrepio-me, fraca.
— Estou trabalhando para pagar as contas, gostaria do nome
das empresas? — falo debochada e orgulhosa da minha resposta.
Cheguei a ouvir um "muito bem, garota”, do meu
subconsciente.
Hoss fita o meu decote, a minha boca, o meu rosto e por fim,
os meus olhos. Engulo em seco e vejo que esse homem é um
deserto para o meu caminhãozinho. Nunca vi na realidade alguém
tão assustador, mas tão bonito.
E se eu tinha uma calcinha, não tenho mais, pois ele acaba
de apertar a minha cintura e pressionar o seu joelho entre as minhas
pernas. Tudo me fez pulsar excitada.
— Você só está atrasando a minha noite, decoradora, eu
devia estar com uma daquelas strippers ali, fodendo-a em todas as
posições imagináveis.
Como ele ousa dizer isso na maior cara de pau, na minha
cara?
Olho para as belas meninas… mais lindas do que eu.
— E depois de usar a pobre moça, o senhor pede o RG para
investigar a sua vida?
Toco trémula na camisa dele, em contato com o seu peitoral
duro. E quer saber? Nunca achei que um tecido fosse tão gostoso.
Meu Deus, devem ser os drinks que eu tomei.
— Pobre moça? — Ele solta a mão da minha cintura e
repousa no balcão, entretanto, com a outra, ele toca no meu queixo,
deixando-me quente. — Eu apenas fodo e adeus, elas não ficam e
não se introduzem na minha família, sendo enxeridas, falsas e
cheias de planos. Eu corto o mal pela raiz. E você, Elena, após
finalizar o seu trabalho, que é decorar o casamento da minha prima,
não quero te ver mais, entendeu o que eu disse?
— Não, porque você é um estranho, que não tem voz e nem
autoridade sobre mim e acredito que nem sobre a sua prima.
Ele me larga, furioso, tirando a máscara de “paciente”.
— Eu não estou pedindo, porra!
— Está me ameaçando, então?
— Interprete da melhor forma que achar.
— Não tenho medo de você!
— Mas, é melhor ter! Para o seu próprio bem! — Sem colocar
os dedos grossos em mim, ele volta a prensar as minhas costas no
balcão e intimidar-me.
Não abaixo a cabeça, enfrento os seus olhos, de um touro
puto de raiva, igualmente admiro a sua barba grande, com um
cheiro muito agradável de loção.
Ele parece que saiu de uma capa de revista, onde o tema era
lenhador.
— Hoss! — de repente, a voz da Hera surge poderosa entre
nós.
Mesmo assim, não somos capazes de desviar um do outro,
nem de acabar com essa conexão de olhar.
Sinto-me quente, fervendo.
— Hum-hum, Hoss... — desta vez, a Hera pigarreia e ele se
afasta, desviando-se de forma rude de mim. — Espero que você
não tenha a ameaçado!
— Sua amiga continua intacta, como pode ver.
— Quem me dirá é ela, vem, Elena, vamos para o sofá com
os meninos.
Eu tento mover as pernas e tenho a sensação de ser a
primeira vez que ando na vida, então passo raspando os seios sem
querer no braço no Hoss. Meu santo amado! As minhas bochechas
ardem e eu só agradeço a boate estar toda escura e colorida, pois
Hera não pôde ver o meu rosto vermelho de vergonha.
— Elena, está tudo bem? O que o meu primo te disse?
— Para eu ficar longe de você.
— Que idiota protetor, já esperava por isso. Não liga para ele,
Hoss logo larga do seu pé.
Só torço para que sim.
— Olha quem voltou, o paraíso em forma de mulher. — Vince
me devora dos pés à cabeça, sem disfarçar o quanto é sem
vergonha.
No sofá, só tem ele e o noivo da Hera. Sem evitar, eu olho
para os lados, procurando aquele homem...
— Por que não foi atrás de alguma mulher ainda?
— Rael ganhou a aposta no joquempô e ficou com a stripper
que eu queria. Uma hora dessa ele deve estar comendo a gostosa
no banheiro. E nem o ménage ele quis, filho da puta. Morcego viu a
injustiça que eu passei.
— Não se apegue aos detalhes, Elena. — Ela revira os olhos.
— Homens, já estou acostumada.
Sorrio, só prestando atenção no nome que Vince disse,
referente ao Ezequiel.
— Morcego? Tipo Batman? — sem me segurar, eu jogo a
pergunta.
E os três olham para mim e sorriem. Vince gargalha.
— Uma longa história que é melhor não entrarmos em
detalhes.
— Batman, essa foi boa! — Ele ri alto. — Ai, ai, já te adoro,
Elena. Pena que já está de partida, se não adoraria te conhecer
ainda melhor.
Franzo o cenho e Hera pega no meu braço, após fuzilar o seu
primo.
— Desculpa, meu pai veio aqui na boate me chamar, pois
surgiu uma questão familiar para resolvermos em casa.
Infelizmente, vou ter que interromper a nossa noite.
— Que isso, tudo bem, não se preocupe.
— Mas, você não precisa ir, pode ficar, beber e dançar, caso
queira.
Penso em ficar sozinha nessa boate, com aquele Hoss me
odiando e agindo de forma assustadora. Ainda não acredito que ele
tem todos os detalhes da minha identidade. E não, nem que me
pagassem eu ficava aqui.
— É melhor eu ir, já dancei e me diverti o suficiente.
— Está certa disso?
Assinto.
— Tá bom, o nosso segurança vai levá-la em casa.
— Não se incomode.
— Não é incomodo nenhum.
Hera sorri e abraça-me, cochichando no meu ouvido a
promessa de repetirmos essa noite até de madrugada. E depois de
nos despedirmos, quem me acompanha até o estacionamento VIP
da boate é o Ezequiel. Vamos o percurso calados.
— Não sou um bruto igual ao Hoss, na verdade, essa não é
uma característica forte dele. — Ele quebra o nosso silêncio. — Por
isso, eu só peço que faça o que ele te disse, é melhor assim.
— Não sou uma pessoa para tantas desconfianças, e nem
era a minha intenção parecer… não sei… parecer o que vocês
estão achando de mim. Foi a Srta. Hera que se aproximou, eu
estava apenas fazendo o meu trabalho.
— Eu sei que foi, ela sente falta de uma amizade feminina
para confiar e confidenciar coisas... a senhorita sabe, de mulher.
— Eu notei, Hera é cercada por homens, deve sentir falta de
uma amiga.
Quando chegamos no estacionamento, eu suspiro, um pouco
aliviada por poder ir embora, entretanto, chateada por Hera ter
tantos homens decidindo quem ela pode ter na vida ou não. Isso
não é errado? Sufocante? Para mim, seria horrível, eu me
comportaria do mesmo jeito que ela, ou até pior. Mandaria todos
para o quinto dos infernos.
— Então é isso… — Ele aponta para o carro todo preto, que
me aguarda debaixo da garoa. — Até breve, Srta. Elena.
— Até e obrigada.
Despeço-me e viro as costas, indo ligeiramente até a porta
dos passageiros, entrar e proteger-me da chuva que começa a ficar
mais forte.
Eu assisto de longe Morcego levá-la embora. E, porra, só de
pensar no seu perfume, nos seus lábios em forma de coração, nos seus
olhos grandes, eu volto a suar com calor. Como pode ser tão linda?
Gostosa? E o pior, interessante?
Não, ela tem alguma coisa além de “interessante”, algo que me
incomodou desde que a vi. Isso não é certo. Sinto que essa mulher não é
gente boa.
— Boa noite, Sr. Calatrone.
Duas strippers se aproximam de mim, insinuando-se.
Eu, louco de tesão, com apenas um olhar, faço as meninas
imediatamente subirem para uma das salas de cima. A seguir, viro todo o
meu copo de uísque e termino a noite do jeito que eu gosto, fodendo até o
pau dizer chega!
No domingo de manhã, acordo bem cedo, tomo o café da manhã
com a família e depois volto para a minha oficina. Estou quase terminando
de reformar o Porsche, logo chegará a hora de mandá-lo para a funilaria e
a pintura. Esse é o meu prazeroso passa tempo quando não estou
cobrando os devedores.
— Bom dia, foguenta! — Rael aparece na porta da garagem,
sorridente.
— Está feliz demais, andou metendo o pau em algum lugar? E bom
dia.
— Duas, como de costume.
— Nada diferente.
— Não me diga que fodeu duas ontem também?
“E com muita vontade”, penso.
— Eu daria conta de uma terceira.
— Jura? O negócio, meu caro irmão, não é a quantidade, mas a
qualidade que se mantém a salsicha do cachorro-quente para saciar
todas. Dois minutos sem derramar ketchup e já me sinto um guerreiro.
— Uma verdadeira máquina — gargalho, limpando as minhas mãos
sujas de graxa. — Está aprendendo essas referências com o Vince?
— Tá de graça, né? Esse azedo se inspirou em mim. — Rael se
abaixa para olhar pela janela os bancos de couro do meu carro. — E
mudando de assunto, por que o tio Argus estava com sangue nos olhos
na hora do café?
— Alguém voltou e ele não pode omitir.
— Quem?
— A Marina, ex-esposa.
— Mãe da Hera. Puta que pariu, fodeu! Por isso a Hera nem estava
no café. Assim que a nova amiga dela for embora, eu converso com a
nossa prima. No tema “mãe”, a gente sempre foi mais íntimo, desde que
era garotinha.
O que ele disse depois do “assim que a”?
Sem crer no que o Rael disse, eu dou um passo, já com os
músculos rígidos.
— Quem está com a Hera, Rael?
— Aquela mulher linda, de cabelos castanhos e um olho, que
caralho, eu tenho certeza que ela vê a minha alma por trás dos ossos.
Jogo o pano sujo no chão e por pouco, não soco o punho no meu
Porsche.
— Eu quero essa Elena longe da nossa família, se possível, no
inferno.
— Achei que você havia consentido com a nova amizade da Hera.
— Não, sabe que as duas pessoas que a nossa prima confiou a
magoaram e fuderam com a nossa família. E essa mulher pode estar se
fazendo de santa, boazinha, sendo informante até da máfia.
— Merda, realmente. Posso investigá-la se for o caso.
— Ontem o Vince conseguiu hackear os dados dela para obtermos
informações. Só que nada de diferente ou fora do comum, nem algo que
levantasse uma pista concreta.
— Sua desconfiança é certa, não podemos confiar, nem vacilar de
novo.
— Não, e eu vou saber qual é a dela. Já são três dias consecutivos
atrás da Hera. Está muito presente em nossas vidas.
— Se precisar de alguma coisa, é só me dizer que eu não meço
esforços. Tudo pela família. E vou indo, tenho um compromisso no almoço
com o Igor.
Ele dá dois tapinhas nas minhas costas e retira-se.
Eu vou até a pequena pia lavar a mão e o rosto. Ainda sem
acreditar que aquela mulher ousou me desafiar e voltou no dia seguinte
para manipular a Hera. Só pode ser piada!
Puto da vida, eu saio da garagem para procurar as duas pelo
castelo.
Eu devia ter perguntado para o Rael onde ele havia as visto, mas
consigo essa informação com o mordomo. E, para a minha sorte, encontro
a decoradora sozinha, bem no corredor, ela acabou de sair do lavabo que
fica ao lado da sala de chá, onde provavelmente está com a Hera.
— Bom dia! — brando em alto e bom som.
E antes de começar a andar, ela para brusca, de costas para mim.
Molho os lábios e sem aguentar, analiso as curvas da sua bunda.
Redondinha e empinada. E essas pernas? Foda do caralho, para não
dizer lindas. Já estou sentindo o meu pau erguendo a cabeça para
acompanhar essa vista de cima a baixo.
É sem brincadeira, ela é uma deusa de incomodar os olhos.
Entretanto, isso não muda o foco das minhas desconfianças. Não aceito
que ninguém se aproxime dessa forma da minha família. Estou quase
informando dessa Elena para o Argus.
Ela vira na minha direção, engolindo em seco.
— Bom dia — a ousada responde na maior cara de pau.
Merda, não entendo tanta ira, tanta vontade de pegar essa mulher
pelos cabelos e encher de tapas esse seu rabo empinado.
— Posso saber o que faz aqui?
— Isso desrespeita a Hera.
— E eu digo que a Hera desrespeita a mim, sua… — linda da
porra, gostosa do inferno.
— Sua o quê, seu deselegante, mal-educado e grosso?! Diga?
Grosso? Ela não viu ainda o que é o grosso entre as suas pernas!
— Repita, Srta. decoradora. — Dou dois passos e ela vai para trás,
com os olhos arregalados. — Lembre-se de que está sobre o meu teto,
num lugar onde não é bem-vinda e nem devia estar!
— Eu estou onde eu fui convocada para estar e se eu escolhi vir,
isso chama-se livre arbítrio! Eu só não esperava que surgisse um louco
obsessivo, achando que eu sou uma vilã.
Quando eu vejo, eu já estiquei a mão, puxei o seu braço e joguei-a
contra a parede, tudo num piscar de olhos.
Ela tenta lutar, empurrando o meu peitoral, mas é como empurrar
uma parede, eu nem me movo.
— Obsessivo é a marca da minha mão bem na sua bunda! —
declaro cara a cara com ela, ainda sufocado pela droga do seu perfume
adocicado pelo cão.
Minha respiração é forte e descontrolada perto do seu rosto
pequeno e delicado, minhas mãos são grandes e pesadas para estar a
pressionando pela cintura fina e formosa… e nossas bocas, perto demais
para não estarem provando uma do sabor da outra.
— Eu quero que você e a sua brutalidade vão para o quinto dos
infernos!
Como um vulcão em erupção, o calor imediatamente sobe pelo
meu corpo e em segundos, o meu membro se enrijece. Começo a me
sentir quente, em chamas para possuí-la.
E para acabar com o meu psicológico, ela respira acelerada, fixa
em mim. Vejo pelo decote do macacão os seus seios branquinhos,
subindo e descendo em busca de fôlego. Não aguento, não suporto estar
tão perto dessa miragem feminina, e por Cristo, ela sabe que é o meu
limite! Então como se eu nunca tivesse ansiado por uma mulher antes, eu
agarro os seus cabelos, coloco o joelho entre as suas pernas e bem na
hora que eu ia unir a porra dos nossos lábios, quando eu ia começar a
devorar a sua boca com a minha fome insaciável, as duas portas da sala a
nossa esquerda se abrem. Só tive tempo de puxar a decorada para dentro
do lavabo e fechar a porta num baque.
No interior quieto e escuro, ela finca as unhas no meu braço,
tentando me afastar. Só que não me mexo, nem ela se mexe, está presa
de costas, entre a pia, o meu corpo e a ereção que não pude evitar – nem
se eu fosse um padre eu teria evitado. Sua bunda se encontra
enconchada na minha virilha, seu cabelo exalando um cheiro
terrivelmente bom nas minhas narinas. É desconcertante.
— Você estava prestes a me… — ela cessa o seu sussurro e não
termina a frase.
Sinto-a trêmula, nervosa.
No meu interior, algo me enche de culpa, dela imaginar que eu
estou a assediando, de… merda, de ser um tarado, de estar me
aproveitando por ser mais fraca. Por incrível que pareça, eu não sou um
cara de chegar abusando de nenhuma mulher, nem de agir canalha,
beijando-as e intimidando-as por sexo. Eu abro espaço para elas
chegarem, para me quererem na sua cama. E a maioria sempre quer.
Nunca falto com respeito. Minha mãe foi uma prostituta, que se casou,
teve três filhos homens e que nos ensinou a respeitar todo sexo feminino,
não importa como sejam, a profissão no mundo do sexo que tenham.
Todas, sem distinção, devem respeito.
— Se eu estava prestes a calar a sua boca? Sim, eu estava.
Empurro-a para a lateral e ligo a luz, boquiaberto por vê-la dos pés
à cabeça no reflexo do espelho de parede. Também me vejo atrás dela,
alto, forte, com a barba longa bem aparada e um olhar puto de desejo.
Serei muito orgulhoso de me desculpar por ter quase a fodido, pois,
pela reciprocidade do seu olhar, a decoradora parece me desejar da
mesma forma. Inferno!
Ela vira para mim, piscando seus longos cílios atraentes mais do
que o normal.
— Não retiro o que eu disse, passar bem!
Coloco-me na frente da porta e impeço-a de passar. A mulher fica
ainda mais desnorteada, perdida.
— O-o que pensa? Está tudo… errado.
— Errado? Até que enfim concordamos com algo, decoradora.
— Elena, meu nome é Elena, use-o!
— Não quero, e já que estamos tão íntimos nesse espaço onde é
ainda mais vulnerável, o que está errado é o que está escondendo. A
culpa, o remorso está a incomodando? É só me dizer a verdade, não me
faça investigá-la de verdade, posso descobrir até o sabonete que usa.
— Pois não se esforce, eu uso o líquido da Le Lis Blanc, e outro
bem baratinho para ocasiões menos especiais, que, no caso, poderia ser
esse momento com você, seu bruto, arrogante. E repito que eu não
escondo nada, pode investigar a minha vida de cabeça para baixo. Outra
coisa também! — Ela se impõe e mete sem medo o dedo no meu peito. —
Larga de ser um chato, insuportável e sufocante com a sua prima, ela é
uma mulher prestes a subir no altar e que desde o início não teve uma
mãe, uma prima ou uma amiga sequer para confidenciar coisas simples
do seu casamento, como a escolha de um vestido, de uma maquiagem,
sapatos, joias, despedida de solteiro, chá de panela, chá de lingerie, tudo
do mundo feminino das noivas! E é essa a “obsessão” da Hera comigo,
em “forçar” uma amizade, ela quer uma amiga confidente para apoiá-la,
coisa essa que vocês machões não podem substituir e que para
completar, não a permitem de ter. Agora por sua causa, seu ridículo, após
ouvir e ver o quanto ela está se sentido sozinha e sufocada por homens
que se acham o seu pai, eu me comprometi a ajudá-la duas vezes mais
no que precisar. Então consuma comigo morta, caso contrário, eu só vou
embora quando a Hera provar que eu sou mal caráter, interesseira e que
mereço ser expulsa das suas vidas! E deixe-me ir embora, ela já deve
estar pensando que o seu primo insuportável me encontrou e me jogou de
alguma janela alta do castelo. Coisa que, com certeza, está com vontade
de fazer!
Sem ter o que refutá-la, ainda parado, observo-a incrédulo,
digerindo cada sílaba, cada vogal que acabou de confessar sobre a Hera,
até que eu abro caminho e deixo-a ir com a porra da sua beleza.
Sozinho, passo a mão na barba, apertando os olhos e ainda
sentindo o seu perfume, o calor do seu corpo no pequeno espaço.
Saio do banheiro, desta vez, pensando na Hera e no quanto o fato
de não ter uma companhia feminina a afetava ao ponto de forçar uma
amizade. Ezequiel tinha razão desde o início. Só que essa mulher… essa
Elena, eu não consigo me sentir confortável com a presença dela, estou
furioso, irritado. Ela tem alguma coisa, algo que está me deixando assim.
E pela Hera eu posso tentar dar uma trégua até o fim do casamento, mas
vou continuar investigando sua “amiga”.
— Ótimo domingo, sobrinho.
Na sala de reuniões, eu encontro o tio Argus à mesa, fumando um
dos seus charutos preferidos.
— Espero que o seu “ótimo” tenha sido debochado.
— Já notou que faz umas três semanas que anda muito
estressado? Se as meninas da boate não estão sendo capazes de mudar
o seu mau-humor, recomendo que busque a raiz do problema.
— É tão observador, mas não descobriu a raiz do meu mau-humor?
— É aí que se engana, filho. Vejo mais do que vocês imaginam. E,
no seu caso, você não é um enigma difícil. Consegue ser mais
transparente do que pensa.
Calado, eu vou até a lateral da sala e paro ao lado da sacada,
sentindo a brisa do vento que balança as cortinas. Está um dia nublado e
quente.
— Ela não sai da sua mente, não é?
— Odeio aquela mulher com todas as minhas forças. Não a
ressuscite.
— Está depositando esse ódio na criança inocente, que não...
— Chega! — Dou um soco na mesa. — Por que faz isso, tio? Quer
que eu te odeie?
— Eu só quero que assuma a menina e que dê uma criação melhor
do que a Isis. Sabe o futuro que a aguarda naquele antro…
— Não é a minha filha!
— Vai mentir para si mesmo até quando? Você protege as
mulheres da boate, enche todas de dinheiro, para compensar a sua culpa.
Sem suportar mais um “a” dito pelo meu tio, eu empurro uma
cadeira e jogo longe, sem saber se a destrocei ou não, pois saí da sala
batendo as portas e andando como louco até a academia, para descontar
a minha fúria num saco de pancadas.
— Obrigada por me ajudar, estou tão feliz, Ezequiel vai ficar
louquinho na noite de núpcias.
Sorrio, igualmente feliz. Hera mandou uma loja trazer mais de
duzentas camisolas e lingeries para escolhermos o perfeito para a
sua noite de núpcias. Ainda ganhei uma de presente.
— Eu quem agradeço, Hera, e nem devia ter se incomodado
em me dar essa, estou envergonhada.
— Se continuar reclamando, dou outra.
Ela pisca, erguendo-se do sofá.
Eu continuo sentada e sorrindo fraco, por cada vez mais estar
incomodada com o cheiro de graxa no meu corpo. Tudo culpa
daquele homem bonito, forte, alto, com barba de lenhador, cara de
touro, insuportável. Só de pensar nele, na forma que me colocou
contra a parede, agarrou os meus cabelos com força e quando
íamos nos… Aperto os dedos na coxa, nervosa em pensar que não
aconteceu, mas que logo depois fui puxada para dentro do lavabo e
senti a sua excitação por mim, o seu calor e desejo ereto. Nunca
deixei nenhum homem assim, não aquele homem. Ele é a perfeição,
maravilhoso... droga, para de pensar, Elena!
— Elena, está tudo bem?
Hera franze o cenho para o meu comportamento de cruzar as
pernas e colocar a mão no pescoço para evitar que eu transpirasse
em brasas.
— Si-sim, está. Acho que preciso de um copo de água.
— Já disse que ficou estranha de repente? Acho que desde
que voltou do lavabo.
Ela vai até o aparador me servir um copo de água fresca,
recém colocada pela funcionária. Fico sem graça quando ela volta e
entregar-me o copo para beber. A água desce em processo de
ebulição.
— Obrigada.
— Sei que já te prendi essa manhã toda, mas não aceita
ainda almoçar comigo?
Hoss me vem à mente e eu nego automaticamente.
— Não, agradeço de coração o convite, vou passar o restante
da tarde com a minha irmã — minto.
— Ah, tudo bem. Amanhã lhe verei novamente.
— Com certeza, nós veremos, amanhã deixarei tudo pronto
para colocar as flores no grande dia. Amo trabalhar com prazo
estendido, isso garante uns 99% de perfeição.
— Pelo que me mostrou, vai ficar 1000% perfeito. As
imagens do seu trabalho na internet são de tirar o fôlego. Eu te acho
incrivelmente talentosa e gatinha. — Hera pisca, sem esconder o
brilho nos olhos.
— Para que eu sou tímida.
Retribuo divertida a sua piscada, adiante, levanto-me pronta
para ir embora. Nós duas nos despedimos com um abraço, dizendo
“até amanhã” e prometendo que almoçaremos juntas.
Saio do castelo e vou rapidamente para casa, tomar um
banho quente e tirar o cheiro forte daquele homem do meu corpo.
Quero afastar essas sensações, essas lembranças das suas mãos
grandes na minha cintura, da barba raspando no meu pescoço... do
desejo.
— Lupita?
Após sair do quarto com um vestidinho florido e leve, eu sigo
o barulho de talheres vindo da sala. Imagino ser a minha irmã que
voltou da casa da amiga dela. Mas, ao parar no portal que liga a
sala, eu quase tropeço nos meus chinelos, em choque. Vejo a mesa
de jantar pronta com talheres, travessas, taças e ele, em pé na
ponta, sorrindo e segurando um gigantesco buquê de rosas
vermelhas.
Isso só pode ser mentira!
— Paulo?! — exclamo, arregalando os olhos.
— Eu preparei um almoço para nós... e isso é seu.
Ele caminha na minha direção para entregar o buquê, só que
eu desvio.
— A gente já conversou, você disse que não me procuraria
mais.
— Eu não consegui, Elena, isso é impossível. Eu te amo.
— Não diga isso, eu não quero essa relação, por mais que
me doa, eu não quero.
— Eu não sou o homem que está pensando.
— Você ficou mentindo um ano para mim, disse que era
advogado, sendo que é o filho de um mafioso sem escrúpulos, de
pior índole, capaz de qualquer ato cruel. A fama de vocês “Borghi” é
bem grande pelo bairro, posso listar desde assassinatos, torturas e
tráficos.
— Elena, não me julgue dessa forma, só preciso que me dê
uma chance para te provar o contrário. Não sou ruim, nem mau,
desejo um final feliz para nós.
— Você mata pessoas!
— Pare, eu não mato pessoas. — Ele coloca nervoso as
flores em cima da mesa e passa a mão no cabelo. — Minha vida
não é certa, o que faço pode, sim, ser visto como criminoso, mas
meus sentimentos, esses são puros, reais e nunca omiti.
Com os olhos marejados, nego com a cabeça.
— Desculpa, Paulo, não quero você, não quero me envolver
com a sua vida e com a sua família. Por favor, nosso noivado
acabou, vai embora e não me procure mais. É o ponto final, acabou.
Bem devagar, eu viro as costas e corro até o meu quarto.
Fecho a porta, desabando em lágrimas até o chão, sento encolhida
entre os joelhos. E quieta, só ouço os meus gemidos.
Isso vai passar, tem que passar… eu vou superá-lo.
— Elena? Maninha?
Algumas horas depois, a minha irmã mais nova bate na porta
e abre-a. É também quando eu tenho a certeza de que o Paulo foi
embora.
Ela me encontra deitada na cama, olhando para o nada.
— Oi? — sussurro.
— Está tudo bem? Você não comeu? Vi o almoço intacto na
mesa. Desculpa se eu não pude vir, fiquei na casa da Gab, a minha
amiga polonesa.
— Está sim… na hora, estava sem fome e fui tirar um cochilo.
Agora já estou indo comer um pouquinho.
— Ok, vou tomar um banho e depois prometo preparar um
brigadeiro bem brasileiro para a gente assistir alguma série na
Netflix.
— Tá…
A minha irmã me dá um beijo e se vai. Eu respiro fundo e
recomponho-me para ir mastigar a comida deixada pelo meu ex.
Mais tarde, como prometido pela Lupita, assistimos uma série,
brincamos e conversamos até dá o horário de dormir.
Só me sinto melhor no dia seguinte. Acordo, arrumo-me, jogo
as flores do Paulo no lixo e vou trabalhar. Na verdade, no serviço,
não tinha quase nada para fazer, a decoração para o casamento da
Hera estava praticamente pronta, exceto as flores, e esse grande
detalhe é no dia do evento. Preciso delas frescas.
— Que carinha é essa, Elena? — Assim que saímos do salão
onde irá acontecer o casamento, a Hera me leva para a sala
principal do castelo e oferece-me um café.
— Um tema chamado “ex”.
— Eu ouvi ex? — De repente, o Vince surge do corredor,
interrompendo a minha conversa com a Hera.
Será que não tem um bendito homem feio nessa família?
E droga, também não paro de pensar em ontem, na pegada
daquele bruto, nos seus olhos castanhos, nos seus lábios carnudos
e no seu calor, que exalava fortemente.
— A gente mal engatou o nosso relacionamento e já está me
chamando de ex, Srta. Elena?
— Acho que você deve ter escutado errado.
— Que maravilha, então posso investir? Olhe, eu sou um
bom partido.
— Solteira a dona Elena está, não está?
Hera beberica do seu café, fitando-me safada. Sorrio, retribuindo o
seu olhar lascivo.
— Com certeza, esse é meu status.
— Vince! — uma voz grossa e poderosa preenche toda a
sala. O pé direito do teto chegou a fazer eco.
Meu coração traíra acelera em segundos e minha perna
balança inquieta, nervosa. Então o vejo lindo de morrer, num
conjunto social; camisa branca, calça preta e sapatos da mesma
cor. Arrepio-me, boquiaberta por ele ser um gato. Essa barba o
deixa com ar tão ameaçador...
Puta merda, estou tendo pensamentos obscenos que nunca
imaginei ter. Imagina esse arrogante sem camisa? Nu? Fazendo
coisas com essa barba, dando sensações...
Meu santo, estou quente de novo.
— Que inferno, Hoss, não tem outro deus grego para encher
o saco, não?
Seguro o riso e Hera rola os olhos.
— Não, seu idiota, Argus quer conversar sobre a merda que
fez ontem, resolvi deixar nas mãos dele, pois, na minha, vou
entortar esse seu pescoço igual um frango.
— Que coração amargurado irmãozinho, parece que está na
TPM 24h por dia. Também faça o favor, respeite a nossa querida
visita feminina que desceu do olimpo. — Hoss desvia o seu olhar
fulminante para mim.
Fito-o, engolindo em seco ao imaginar o que se passa na
cabeça dele. Não sou bem-vinda aqui.
— Bom dia, Srta. decoradora.
— Bo-bom dia.
Surpreendendo-me, ele é receptivo e caminha até parar perto
da poltrona marrom, quase na minha lateral.
— Isso é tão raro, essa formalidade — Vince debocha,
servindo um copo enorme de café e pegando a bandeja inteira de
biscoitos caseiros.
— Vince! — Hera exclama. — Elena e eu estamos comendo
ainda, seu passa-fome! Devolve essa bandeja!
— Peça mais para o mordomo, formiguinha.
— Não me chame assim, filha da mãe! Polaco azedo!
Devolve nossos biscoitos!
Hera se levanta e Vince corre para trás do sofá. Não aguento
segurar a risada quando ela pega um porta-retratos, taca nas
pernas dele e mesmo assim o atentado escapa pelo corredor com a
bandeja cheinha de biscoitos.
Gargalho mais alto, até olhar para o homem na minha lateral
e automaticamente desfazer o meu divertimento. Nem rir posso?
— Eu vou matar ele, Hoss! Eu vou matar e esconder o corpo
numa vala bem funda, para ter certeza de que o diabo não vai
ressuscitá-lo! — ela berra e o mordomo de cabelos grisalhos, porte
alto, elegante, surge nem um pouco assustado.
— Senhorita...
— Que ótimo que apareceu, Luiz, traga-me outra bandeja de
biscoitos, o passa-fome do Vince roubou a nossa.
— Com chocolate, doce de leite ou avelã?
— Traga todos, se possível dentro de um cofre com uma
corrente que possamos amarrar ao pé da mesinha!
— É o dia inteiro assim? — sem me segurar, quando eu vejo,
já questionei a ele.
O cara arrepiante me observa, mas é Hera quem responde.
— Sim, o dia inteiro eu querendo matar o Vince e todos os
homens insuportáveis dessa casa. E você, Hoss, quer alguma
coisa? Eu e a Elena temos assuntos de mulher para discutir.
— Não, apenas vou acompanhar as senhoritas até o
restaurante onde reservou. Morcego já deve estar chegando.
Eu quase cuspo o meu café e Hera arregala os olhos.
Meu Deus, esse homem está de marcação comigo mesmo.
Ele se senta na poltrona.
— Mas, que merda vocês dois estão pensando? Só pode ser
um pesadelo, eu devo ter chutado alguma macumba sem querer!
Isso não vai rolar, Hoss!
— Claro que vai.
— Agora são 10h, o meu plano com a Elena era de passear
no shopping!
— Eu não tenho nenhum compromisso até às 16h, posso
demorar o tempo que você quiser, não é, Morcego?
Chamando a nossa atenção, o Ezequiel, noivo da Hera e
apelidado intimamente de “Morcego” por eles, aparece no ambiente,
pigarreando retraído devido a Hera que está bufando pelas narinas.
Até assim ela é lindíssima.
— Claro, humrum… estamos livres.
— Livres? — Ela marcha furiosa até o noivo, ele se esforça
para permanecer no mesmo lugar e não sair da pose de “machão”.
— Pois saiba que a greve de sexo vai continuar até depois da lua de
mel, seu traidor, submisso do Hoss!
— Que porra, Hera, não vai droga nenhuma!
— É isso, ou te castro!
Desvio da discussão da Hera, que se torna cochichos íntimos
e coloco a xícara perto do bule, em controle para não virar os olhos
para a direita.
Confesso que desejo o olhar, ver cada reação dele, perto de
mim, se ele sente essas coisas calorentas que eu sinto. Será que
sente? Não, não seja burra, Elena, esse homem pode ter a mulher
que quiser aos seus pés, talvez ele até já tenha alguém… ou
mulheres, no plural, né. Ele deve pegar todas as dançarinas da
boate da sua família, sem falar das outras que vão lá para beber,
dançar e paquerar. Quer saber? Acho que eu quero ser assim
também, quero beber, paquerar e passar a noite com outros
homens. Afinal, por que não? Sou bonita, solteira e desimpedida.
Mereço voltar a ser baladeira.
Corajosa, viro-me para ele e pego-o novamente me
observando. Pai amado, isso foi desconcertante.
— Maquinando algo, decoradora?
— Elena… — resmungo e ele desce bem devagar a sua
visão para as minhas pernas, subindo ainda pela fenda das coxas,
na maior cara de pau.
Que excitante.
Não! Excitante, não!
— E você, maquinando?
Cruzo as minhas pernas definidas, pensando na merda que estou
fazendo. Ele desvia com muita dificuldade delas e retorna ao meu
rosto. Não evito os milhões de arrepios pelo desconforto do seu
olhar sombrio, repleto de promessas que nem a minha alma pode
decifrar.
— Não faça isso, decoradora, pode se arrepender.
Molho os lábios, já arrependida e ansiando por um copo de
água gelada. Nunca imaginei que um homem pudesse literalmente
me deixar sedenta, essa já é a segunda vez.
— Nunca faço nada, é você que está de obsessão comigo.
— Estou? Ainda bem que teremos tempo o suficiente... —
assim que ele termina de sussurrar a sua frase, a voz da Hera se
torna presente entre nós.
Entro em choque. O que ele quis insinuar com isso?
— Elena, esse dois não vão estragar a nossa manhã! Vem,
vamos logo aproveitar uma da companhia da outra!
As duas saem rebolando na nossa frente. Morcego me fuzila
bravo, mas pisco debochado da sua cara de cachorro que late, mas
não morde, e ando com ele, atrás delas.
— No meu carro! — esbravejo para a Hera que ia até o dela.
— Agora nem o meu carro eu posso dirigir mais?
— Devo responder a sua pergunta insignificante?
Ela segura os xingamentos, pisa firme no chão e sai
marchando com a decoradora.
— A Hera quer me matar e a culpa é sua. Porra, uma
semana sem foder!
— Isso é de menos, meu amigo, deixa só ela saber da sua
missão de hoje à noite, vai somar uns dois meses sem plantar
banana.
— Droga, Hoss, cala essa boca, ela não pode saber de jeito
nenhum.
— Não se preocupe, somos parceiros, vou te cobrir.
Ao entrarmos no carro, as meninas ficam no banco dos
passageiros. E claro, a Hera vai o percurso até o shopping furiosa
comigo, nossos olhos se enfrentam pelo retrovisor. Ainda não
conversamos seriamente, sinto que ela está evitando de ficarmos a
sós. Tudo bem, vou dar tempo ao tempo, exceto para a sua “melhor
amiguinha”, com essa, eu faço questão de provocar o inferno,
quero-a cavalgando nas minhas coxas até domingo. Preciso acabar
com essas ereções involuntárias ao vê-la. Sim, apenas ao vê-la!
Agora imagina tocando no seu corpo e investindo entre as suas
pernas? Vou gozar em um minuto.
— Pronto, senhores seguranças, fiquem aqui!
Meia hora depois, eu paro o carro dentro do estacionamento
e Hera abre a porta, ordenando algo que entrou num ouvido e saiu
no outro.
Eu desço do mesmo lado que a decorada gostosa e
encaramo-nos com desejo. Ela engole em seco e afasta-se rápida,
seguindo Hera. Eu e Morcego vamos um pouco afastados, só de
olho nas duas que cochicham – eu mais de olho na bunda
redondinha da decoradora. Imagina esse mulherão de quatro,
rebolando no meu cacete?
Já estou ficando duro.
— Ainda continua desconfiado dessa decoradora?
— Continuo e vou partir para a parte de investir para fodê-la.
Morcego sorri.
— Que Hera não me escute, mas ela não é nem um pouco
de se jogar fora.
Dou uma cotovelada dolorosa nele.
— Miserável!
— Porra, meu comentário foi sincero e respeitoso, não usei
outros adjetivos.
— Sabe que agora eu vou usar isso contra você, né?
— Eu sei, seu traíra vingativo.
— Vou te cobrir no seu compromisso hoje à noite e você vai
me ajudar com essa farsante.
— Você me pedindo isso, não está sabendo como chegar nas
mulheres mais? Cadê o pegador que se garante com quatro em
uma noite?
Dentro do shopping, Morcego não escapa da segunda
cotovelada.
— Aí, isso dói.
— Não me irrite, cara de puta. A questão da sua ajuda é só
parar tirar a Hera do meu caminho. Preciso de momentos a sós com
a decoradora, para colocar meu o plano em ação.
— Então é um plano também? Só sei que essa não é igual as
garotas da boate que a gente pegava na minha época de solteiro.
Compreendo.
— Compreende o quê?
Enquanto as meninas entram numa loja, eu e Morcego nos
sentamos num banco para aguardá-las.
— Entendo que essa Elena seja mais difícil.
— Nada é difícil, a questão é saber os pontos fracos...
Observo a decoradora no interior da loja de roupas, fico
pensando nas nossas trocas de olhares e naquela sua cruzada de
pernas deliciosa na sala. Ela me quer, ela me deseja.
E como é linda! De tirar o fôlego!
Eu não respondo mais os raciocínios do Ezequiel, e
entediados, esperamos as duas bonitas saírem para continuarem
desfilando e rebolando a bunda pelas lojas do shopping. Minha
barriga está roncando por qualquer coisa comestível, chego a ficar
sem paciência. Ainda bem que consigo convencer Hera para parar,
antes que eu a jogasse do último setor do shopping.
— Estou morto de fome… — Morcego resmunga ao nos
sentarmos à mesa do restaurante.
Faço as palavras dele as minhas...
Eu, com as mais puras intenções, me sento bem ao lado da
decoradora. Não sei se foi uma escolha certa, já que o seu perfume
é uma praga cheirosa.
— Os seguranças já viriam conosco — Hera insiste em voltar
a afirmar só para me irritar. É o dom dela.
— Vocês andam com seguranças? — a decoradora pergunta,
olhando admirada para Hera e Morcego na nossa frente.
— Bom… Melhor não entrarmos em detalhes, mas, digamos
que o ramo onde a minha família trabalha é de se colecionar
inimigos.
E é mesmo, se “deletamos” o devedor que não nos paga, a
família ou os amigos ousam depois procurar os Calatrone para se
vingarem, ainda mais quando a vítima tem algum poder, como, por
exemplo, na política. Entretanto, no momento, os nossos maiores
inimigos são os Borghi, aqueles vermes sem escrúpulos. Eles que
não se enganem, temos também o nosso exército bem treinado.
— Vamos pedir o quê?
— Que vocês vão embora? — Hera “brinca”, fuzilando-me em
um lindo sorriso de ódio.
Eu retribuo o seu sorriso e volto o foco para a decoradora,
que quase se engasga com a água ao me encarar.
— O que deseja, senhorita? É só escolher que eu lhe dou.
Ela me olha desconcertada, pegando em silêncio o cardápio
e fazendo o seu pedido de cabeça baixa. A mal-educada nem me
respondeu.
Hera rola os olhos, dando-me um leve chute por baixo da
mesa. Ela é inteligente e deve já ter se ligado nas minhas intenções
“carnívoras”.
Depois de a decoradora escolher o que deseja comer — já
sei que é eu, mas infelizmente, no momento, ela não vai revelar — é
a vez da Hera, do Morcego e a minha. Após a sobremesa, antes de
irmos embora, ainda resolvemos comprar umas casquinhas de
sorvete no shopping, ou gelado, como chamamos aqui em Portugal.
— Qual sabor deseja? — sussurro a pergunta bem perto da
decoradora, apenas para ajudá-la a escolher o seu sabor.
Ela suspira, inclinando o pescoço, e de novo, sem falar nada,
dá um passo longe de mim.
É, pelo jeito, vai sair assim? Difícil? Como diria aquela frase
clichê: “adoro um desafio”, e ela está me desafiando desde que
decidiu meter o pé na minha família. Agora a Hera mataria qualquer
um de nós por essa sua amiguinha de quatro dias. Ainda vai cair do
cavalo.
— Quero comprar uma coisa… — Morcego sussurra para a
Hera, enquanto aguardo o meu sorvete.
Muito bem, meu parça...
— Nem o presente mais caro limpa a sua barra comigo,
Ezequiel.
— Desta vez, não é para você, minha vida, é para a minha
mãe, quinta-feira é o aniversário dela. Por isso vou aproveitar que
estamos aqui, para pedir a sua ajuda para escolher algo especial.
— Hum, nesse caso, eu já tenho em mente um presente
perfeito para a minha sogra.
— Viu, é rápida para isso de presente.
— Devo de concordar, diferente de você que tem péssimo
gosto.
— Será? Afinal, eu escolhi quem para me casar?
— Seu desgraçado! — Ela dá um tapa nele. — E Elena, já
volto, gatinha, e você, seu ogro medieval... — Minha prima faz
somente o gesto “estou de olho” e retira-se com o seu noivo.
Sozinho com a decoradora, eu pego o meu sorvete e faço-a
me acompanhar para perto de uma vitrine.
Porra, assisto-a chupar a casquinha e meus músculos
endurecem.
— Está dando tudo certo? — questiono, calculista.
— Para com esses jogos. Alguém já disse que você é um…
— ao virar para fixar seus olhos nos meus e ofender-me, ela perde a
fala, observando-me lamber o sorvete.
— Continue, por favor, dependendo do que vai usar para me
xingar, posso cobrar de outro jeito mais tarde.
Os olhos claros dela descem para a minha barba, em
seguida, voltam misteriosos.
— Mudou suas táticas, Hoss?
— Hoss? Chamando-me tão intimamente?
— Diferente do meu nome, que você sabe, mas faz questão
de não chamar, o seu eu chamo.
Fecho o semblante para mais sério, louco para colocar essa
porra de mulher ousada contra uma parede e meter a mão no seu
traseiro redondo. Como ela se atreve a ser respondona?
— Se não me engano, o seu é Elaine?
Enfurecida, ela ganha mais coragem para me desafiar.
— Deve ter tantos nomes no seu cérebro de ervilha que ele já
desistiu de assimilar quem é quem.
Chego mais perto dela, tão perto que escuto a sua respiração
descompensada no meio de tantos sons ao nosso redor.
— Eu nunca esqueço, decoradora… isso é um crime para o
meu cérebro de ervilha.
Respiro o seu perfume, imaginando centenas de posições
com ela nua na minha cama. E em meio a nossa pausa silenciosa,
ela solta um gemido.
— Você é quente… — é quase inaudível, mas eu ouço o
gemido retorcido entre os seus lábios rosados.
Porra!
Isso me reacendeu instantaneamente, de corpo e alma, num
calor que eu nunca senti na vida. Distanciamo-nos um centímetro do
outro, nariz com nariz. As pessoas à nossa volta parecem não
existir, estamos numa solidão íntima.
Ela fica corada nas bochechas.
— Não é só eu. — Analiso os seus lábios carnudos, sentindo
ciúmes da minha barba roçando de leve no seu queixo. — Estou
louco para apagar esse calor. Não está?
— N-não… Isso é armação sua — fala, saindo do transe e
dando atenção ao seu sorvete que estava derretendo.
Faço o mesmo, mas sem desviar o nosso olhar.
— Pode ser mais específica no que disse?
Ela volta a corar.
— Está enganado se acha que eu vou cair nessas
insinuações.
— Queremos a mesma coisa.
— Não, você me quer bem longe da Hera e julga a minha
pessoa por achar que eu sou igual as outras confianças próximas
que a sua prima deposi…
Sem paciência para o tema do diálogo, eu puxo o braço dela
e dou uma deliciosa lambida na borda da sua casquinha.
Chocada e trêmula, a morena toca no meu peitoral com a
outra mão. Sinto que as suas pernas estão fracas, se der um passo,
é capaz de cair. Maravilhoso prazer, se tem uma coisa que eu gosto
é de prestar atenção em cada sensação e reação que eu posso
provocar em uma mulher. Isso é tão satisfatório...
— Frutas vermelhas… Mas, ainda continuo curioso para
saber o seu outro sabor.
— Seu… seu... — Ela pisca sem parar.
— Seu? Por que nunca termina as suas frases?
— Você é um cafajeste!
A decoradora me empurra nervosa e como previa, ela quase
ia tropeçar nos saltos se eu não tivesse dado uma rápida segurada
no seu cotovelo.
— Eu estava me referindo ao segundo sabor do seu sorvete,
é limão?
Ela afasta o meu braço e surpreende-me, pois, mesmo em
meio a sua fúria, essa bendita deusa bonita chega mais perto de
mim. Corajosa.
— E o seu sabor, Hoss? Será que eu posso provar? Nada
justo, não é?
Porra, ela dá uma olha para os lados e então, lambe a minha
bola — e puta que pariu, isso foi uma porra conotação sexual que
enrijeceu o meu pau.
— Maracujá? Esse sabor é uma sátira a você.
Agarro a cintura dela, pirado de desejo e pronto para cometer uma
loucura. Ela não reluta contra a minha força.
— Você não sabe ser cavalheiro?
— Eu sei os meus limites, e a decoradora acaba de me dar
mais um pouco. — Com os lábios gelados, eu faço um movimento
de inclinação e mordisco a sua orelha quente.
Sinto-a arrepiada.
— Não disse que eu era um cafajeste? Pois estava certa, eu
vou fodê-la de todas as posições imagináveis, vou prová-la e lambê-
la como se fosse esse sorvete na minha boca. Vamos incendiar
esse calor que nos queima até você suplicar que eu pare...
— Voltei!
Então solto a bela mulher e sorrio para Hera e Morcego, que
chegaram bem no ápice da brincadeira.
— Eu estava contando as horas para o seu retorno — digo
pausadamente em deboche.
A decoradora me olha fraca, piscando os longos cílios e
segurando na vitrine de sapatos.
— Ah, é, seu debochado? É melhor irmos logo, eu não quero
mais torturar a pobre da Elena com a sua companhia insuportável,
priminho das trevas. Vamos... — Hera me fuzila, chamando a sua
amiga para se retirarem.
Sorrio para o Morcego quando elas nos deixam.
— A brincadeira só está começando — murmuro para ele.
Hera me puxa para o estacionamento onde está o carro todo
blindado de Hoss, minhas pernas caminham moles e bambas. Na
mente, martela cada palavra, cada frase de luxúria dita por aquele
safado sem escrúpulos. E para complementar… sinto a sensação, o
efeito do seu toque, das suas mãos ásperas no meu braço.
Nem acredito que eu agi ousada, vingando-me da sua pouca
vergonha ao lamber aquele sorvete. Só não esperava no final ele
confessar que desejava me foder. Sim, usando essa palavra. Foder.
Ele me quer!
Você também o quer. Claro que eu também o desejo, sou
uma mulher solteira, um pouco viciada em sexo e que, ao olhar para
um homem gato desse, agora dirigindo sexy o volante, eu sentiria
tesão. Ele é lindo, gostoso, malhado, alto e com uma pegada...
minha nossa e que pegada. Mas, também, é um idiota insuportável,
assustador, intimidante, controlador e egocêntrico.
Ele é o inferno na terra, e eu quero experimentar uma vez na
vida, pois só em sonhos ou ficção eu teria um homem assim me
desejando.
Será que eu estou louca? Ele me odeia, pode ser que tudo
isso não passe de uma armação, um plano. Sua burra, óbvio que é.
Mas, foda-se, eu sei que ele se excita por mim e não é só esses
machos que são os espertos, eu também posso iludir, sentar e
mandar catar coquinho na manhã seguinte.
Depois de passar um ano sendo enganada pelo Paulo, eu
quero aproveitar a minha vida de solteira, quero poder contar para
uma amiga que transei com um cara tão “deus grego” como esse
Hoss, por mais que ele me trate como uma vilã, que está se
aproximando da sua prima para dar algum golpe. Chega a ser
inadmissível essa suposição, entendo que ele deva ter motivos, no
entanto, desde quando eu dei algum para tanta obsessão? E
também não importa, minha consciência está limpa, o que importa
mesmo é que eu não paro de admirar a mão dele girando suave o
volante, como é sensual, imagino-as no meu corpo, explorando
cada centímetro de pele. Já a outra está descansando na sua coxa
grossa. Sem controlar, reparo como os seus bíceps são fortes, o
antebraço extenso e preenchido com pelos. Babando pelo canto da
boca, ergo a cabeça e então, encontro os olhos dele pelo retrovisor,
observando-me com um meio sorriso malicioso.
Pai amado.
Desvio ruborizada e com o bendito calor subindo entre as
pernas. Bem que as janelas podiam estar um pouquinho abaixadas.
Esse ar-condicionado está muito fraco.
Graças a Deus, ao chegarmos no castelo, Hoss e Ezequiel
entram, deixando-me a sós com Hera no hall da porta.
— Eu te convidaria para aproveitarmos o restante da tarde
juntas, mas sei que deve ter outros afazeres. Não posso te segurar
por mais tempo, nem te roubar quando eu bem quero.
— Acho que não pode mesmo, consegue lidar com essa
triste realidade?
Ela faz uma carinha triste.
— Acho que não consigo. Prometo me esforçar para tentar.
Sorrimos e abraçamo-nos.
— Sei que já te disse isso um milhão de vezes, Elena, mas
não ligue para o Hoss, nem para aquele jeito assustador dele. Nem
meu pai está agindo dessa forma com você, por mais que ele já
saiba da existência da nossa recém amizade. O meu primo só tem o
sério problema de se preocupar demais com a família e com quem
ele sente muito apreço. Hoss quer proteger, cuidar, ajudar e fazer o
impossível. Nem parece que por trás daquela muralha de músculos
há um lindo coração.
Eu sorrio, sentindo o meu peito doer devido aos batimentos
descompensados após pensar na face máscula daquele monstro
ridículo de bonito… e pensar que ele tem um coração. E tem?
— Tudo bem, Hera, pode ter certeza que essa obsessão dele
por mim não levo de certa forma tão a sério, pois conheço o meu
caráter e você sabe que entrei profissionalmente na sua vida.
— É claro, minha gatinha. Eu quem necessitava de uma
amiga e na primeira oportunidade, “avancei” em você como se eu
fosse uma taradona atrás de uma presa gostosa.
Eu gargalho sem parar.
— Só você mesmo. Obrigada pelo passeio e nos vemos até
sexta-feira, o seu grande dia. Vou vir de madrugada com a equipe
para montarmos o paredão de flores, arranjos, a deco…
— Elena, pelo amor de Cristo, pare de pensar no serviço,
hoje é segunda, ainda temos quatro dias.
— Tá bom.
— Agora vai para casa, gatinha.
Despedimo-nos com outro abraço e um até logo. Saio do
gigante castelo pela porta da frente, com meu celular tocando ao
som de nova mensagem. Leio a caminho do carro.
“Boa tarde, Elena… desculpe-me por ontem, eu fui muito
invasivo e não respeitei a sua decisão…”.
“Paulo”, murmuro em pensamento. É claro que ele foi
invasivo.
Continuo lendo:
“Eu não devia ter preparado aquele almoço, vi seus olhos
estáticos quando me pegou em pé na sala, com o buquê de rosas.
Não era essa a minha intenção, isso me estraçalhou em um milhão
de pedaços. Pela última vez, eu só te peço que possamos sair para
conversar. Quero que você entenda que eu sou diferente da minha
família”.
Como ele pode ser diferente da família que nasceu? É o
herdeiro mafioso, já que o seu irmão mais velho morreu. E, em
pensar que até os motivos da morte do irmão, ele mentiu para mim!
Finalizo a leitura com a sua última frase:“Responda essa
mensagem com um sim ou não, caso deseje me ver. Prometo que
esse encontro será o nosso ponto final, definitivo. Por favor.”
Não, não, não!
Minha cabeça só manda escrever um “NÃO”. Porém, desligo
o telefone e chego ao meu veículo. Que puta que pariu, ao olhar
para o pneu de trás, me fico mais enfurecida! Está furado!
Era só o que te faltava, Elena. O que mais poderia estragar o
seu dia?
Eu olho para os lados, para os pinheiros e o grande campo
verde. Então suspiro a beleza de conto de fadas do lugar.
Calma, mantenha-se calma.
Eu deixo o carro no mesmo lugar – já que daí não vai sair
mesmo – e volto até a entrada do castelo, onde sou surpreendida
pelo mordomo que abriu repentinamente a porta de entrada, sem
nem ter apertado na campainha.
— Algum problema, Srta. Bianco?
— S-sim… — gaguejo. — O pneu do meu carro furou e não
tenho como ir embora.
Em movimentos duros e elegantes, o senhor português olha
por trás da minha cabeça e analisa o carro longínquo, dando o seu
resultado ao retornar.
— Vou levá-la até o senhor Hoss para ajudá-la. Por favor,
acompanhe-me.
— O quê? — Arregalo os olhos. — Não, não é necessário.
Quer saber? Eu posso trocar o estepe muito bem sozinha. Desculpa
o incômodo.
— Isso não é o correto para uma dama fazer.
— Sou uma dama moderna.
— Tudo bem, não vou insistir, mas se precisar de ajuda, siga
à sua esquerda e contorne o castelo até ver alguns carros pretos
enfileirados, são os carros dos funcionários. Entre na garagem
aberta e vai encontrar o Sr. Hoss.
— Tá, obrigada.
Viro as costas, discutindo com o meu consciente traidor.
Você vai, sua cretina, você quer isso.
Eu não vou, não posso ver aquele homem assim, ainda estou
mexida por tudo que aconteceu no shopping.
O que importa? Seja mulher, vai até onde o mordomo
informou e diga que seu pneu furou. Aliás, pense, e se ele também
tiver furado de propósito?
Meu deus, que maluquice é essa do meu cérebro? Ele não
seria capaz de perder tempo fur… ou seria?
Corro de volta até o meu carro e analiso o pneu de trás,
vendo um buraco de um dedo na roda. Como isso é possível? Fico
boquiaberta.
Filho da puta! Ele atirou no meu pneu? Parece, com certeza,
um buraco de tiro!
Nervosa, eu jogo a minha bolsa no carro e saio caminhando,
seguindo rápida a direção que o mordomo chique informou, e
encontro os carros pretos enfileirados na calçada de pedras,
também a garagem aberta.
Ergue essa cabeça e só vai, Elena!
Eu vou e paro na frente da garagem, que parece mais uma
oficina. Ao andar quase em tropeços, mais ao fundo, eu vejo um
lindo Porsche branco e ele, embaixo do capô, com a mão suja,
mexendo com as ferragens.
Agora faz sentido. Por isso senti aquele cheiro de graxa
depois de ele me colocar contra a parede, prender no lavabo e…
melhor parar Elena.
As lembranças das sensações me arrepiam.
Ele inclina a cabeça, encontrando-me sem esboçar qualquer
surpresa.
— Você atirou no pneu do meu carro! — sem me deter, acuso
o fato na cara dele.
Hoss, então, fecha o capô, vira as costas e sem me
responder, vai até uma pia lavar as mãos.
Eu observo as suas costas grandes e largas, arrepiada pela
grandiosidade desse homem. Estou suando frio, o coração parece
querer saltar do peito e ainda há um milhão de borboletas no
estômago.
— Onde concluiu que eu teria uma arma e atiraria no seu
carro?
— No pneu! E-eu não sei.
— Não sabe, mas está me acusando, decoradora?
Ele vira o rosto e engulo em seco, já embrulhada com sua presença.
— Então para você seria normal eu ter uma arma e atirar no
seu carro?
— No pneu!
Eu possuo um certo toque com quem dá informações
erradas, sendo que tem a certeza do fato certo.
— Ah… e bom, não seria normal, mas você tem cara de
quem anda com armas, afinal, sua família precisa de seguranças.
Conclui isso com a declaração da Hera no shopping. Sem falar que
em Portugal pode-se ter o porte, se for para defesa pessoal,
praticantes de desporto com armas e colecionadores.
— Hum — ele dá alguns passos até mim. — Você é sempre
assim?
— Assim? — Franzo o cenho.
— Detalhista e perfeccionista nas informações?
Eu sinto as minhas bochechas arderem.
Responda, Elena, à altura.
— E você? Sempre atira no pneu de quem odeia sem
motivos aparentes?
Ele sorri lindamente. Sinto tremores com essa barba de
lenhador que sequestra criancinhas na floresta.
E que merda de pensamento foi esse?
— Não a odeio, pelo contrário, acredite.
— Não acredito em você, estava no shopping tentando me
provocar. Típico jogo sujo.
— Você também me provocou, decoradora. E lembra o que
eu falei bem pertinho da sua orelha?
— Acho que sofro de amnésia repentina, e não te provoquei,
eu apenas joguei o SEU jogo.
Ele chega mais perto de mim. Eu penso em ir para trás, no entanto,
tem outro automóvel nas minhas costas.
Hoss me dá um olhar letal, arrepiante.
— Eu quero fodê-la.
Minhas pernas perdem as forças, meu corpo entra em
combustão e necessito de segurar em algo.
— E fodê-la de uma forma que seus gemidos sejam
escutados aos quatro cantos da terra.
Ao parar na minha frente, ele não me toca, só me encara olho
a olho, observando a minha face e os meus lábios.
— Eu não te deixo em chamas… Elena? — sussurra.
Abro a boca, transpirando um calor sem igual. Minhas pernas
tremem, minha intimidade pulsa e minha calcinha se encharcou só
de pisar nessa oficina.
Ele não me deixa em chamas, ele é essa chama.
— Não.
— Não? Você não se incomoda por negar a verdade?
Por que ele está fazendo isso? Por que não me puxa de uma
vez pela cintura e agarra o meu cabelo? Por que não faz igual
aquele dia, ao me tomar no corredor e hoje no shopping? Estamos
sozinhos, por que ele não faz isso?
Desvio dele, em desespero com esse calor me fazendo
transpirar até em lugares inapropriados.
— Eu só vim aqui para você trocar o pneu do meu carro, só
isso — por fim, declaro, cortando as suas intenções de me provocar.
— Primeiro, terá o seu preço.
— Preço?
— Sim, e vai me pagar adiantado.
E como o meu interior ansiava, ele me puxa pela cintura,
mergulha os dedos grossos na raiz do meu cabelo e coloca-me
prensada entre o carro e o seu corpo musculoso.
Sem esboçar qualquer outra reação, eu apenas paraliso,
bêbada com o seu cheiro exótico. Ele agarra forte os meus fios da
cabeça, a minha cintura e morde a minha boca sem dó.
É o fim, minhas pernas estão derretendo.
Nosso rosto está pertinho, evidenciando a respiração
acelerada um do outro. Nossos olhos parecem que tem um ímã,
atraem-se.
— Eu posso pensar no seu pagamento — sussurro, sem
saber de onde tirei forças para pronunciar tais palavras.
— Você quer agora. Seu corpo, seus olhos, sua respiração,
seus batimentos… tudo lhe entrega. Se encontra excitada e sei que
se eu te tocar entre as pernas, eu vou ter a prova disso. Eu adoraria
ter a prova.
Que cachorro!
— No seu caso, é ainda mais óbvio.
— Diz isso por que está sentindo o meu pau duro na sua
virilha?
Mordo o lábio, não querendo pensar no que ele disse. E ele
disse, sem a menor vergonha!
E merda, não acredito que o que estava… estou sentindo na
minha virilha é o seu membro duro. Ainda o sinto mais rígido. Meu
santinho, a minha vontade é de olhar, de toc… não, Elena, não!
— Como pode ser tão descarado? Espera mesmo que eu vá
parar na sua cama?
— Quem disse cama, dona decoradora? Seja mais criativa,
eu quero você aqui. Agora! Assim como me quer também!
Hoss me toma para ele, lambendo os meus lábios.
Eu toco no seu peitoral definido, desejando mais da nossa
boca. É quando a abro e a ponta da sua língua me penetra,
encontrando a minha com suavidade. Conforme as nossas línguas
se movimentam e acariciam molhadas, ele me pega no quadril pela
segunda vez. Nosso beijo se intensifica, assim como o tesão, a
vontade de mais e mais.
Hoss desce a mão grossa para a minha bunda,
pressionando-a. Eu aliso o peitoral dele, subindo até o pescoço, a
orelha e seus cabelos macios, que agarro com força.
— Sr. Hoss? — de repente, uma voz feminina ecoa no
quadrado de paredes do ambiente.
Sem me largar, ele afasta os lábios, olha nos meus olhos,
depois vira a cabeça. É então que o vejo se enrijecer, como se
estivesse puto.
— O que faz aqui? Já disse para não vir à minha casa sem
ser convidada!
E ele está puto.
Curiosa, olho para a entrada da oficina, para a moça de
cabelos ruivos, grandes olhos azuis, corpo bonito e roupas
exageradamente curtas. Ela olha para nós boquiaberta.
— Desculpa, senhor. Não queria atrapalhar. Houve um
problema na boate e não achei nenhum dos outros Calatrone...
Tento soltar-me dele, já sufocada com o seu corpo
musculoso.
— Solte-me — sussurro.
— Procure o Morcego no escritório e o comunique do que
possa ter acontecido.
— Claro… o senhor está muito ocupado com essa aí… — A
tal mulher empina a cabeça, bufa e vira as costas para sair
rebolando.
Meu rosto se avermelha de vergonha. Eu desvio dele,
agradecendo em pensamento por ter finalmente me soltado.
— O meu carro… vo-você tem que trocar o pneu — gaguejo,
desvencilhando-me dele, só que ele permanece parado na minha
frente, sem dar um passo para trás. — Pode me dar licença, se não
for muito difícil?
O descarado fisga com os olhos o meu decote.
— Devo fechar a oficina para voltarmos onde paramos?
— O quê?
— Lembro-me da sua mão estar no meu cabelo, a sua
respiração arquejante e a minha boca saboreando a sua língua.
Engulo em seco.
Respira, Eleninha, respira! Não recorde das sensações de
agora a pouco. Tenha foco, não recorde.
— Não, eu mudei de ideia. Troque o meu pneu.
— Toque o seu pneu? — Sorri.
Fecho a cara e empurro-o, tendo sucesso ao caminhar para
longe de todo o fogo que consome esse homem dos pés à cabeça.
— Quando se sente atraído e com tesão por uma mulher, a sua
opinião sobre ela muda? — Ele franze o cenho. — Eu sei que me
odeia. Não consigo sentir confiança em você!
Novamente, ele sorri.
Inferno, por que ele sorri tão atraente assim?
— Para fodermos, você, com as pernas abertas, e eu, de pau
duro, é o que basta, a confiança é só na camisinha.
Fecho a cara.
— Como é deselegante, deve estar me confundindo com as
garotas da boate da sua família. Eu tenho pedigree, seu descarado!
— Ah, é? Tudo bem, devido ao seu “pedigree”, eu posso
receber o meu pagamento depois do serviço.
Hoss pega uma chave de roda da caixa de ferramentas na
parede, arruma a barba de lenhador que sequestra criancinhas na
floresta e vem na minha direção, até parar cara a cara comigo.
Perco ar, assim como perdi a calcinha desde que pisei nesse
lugar.
— Você é muito cheirosa… — Ele chega bem perto do meu
nariz. — Quero prová-la antes que me enlouqueça com esse
cheiro.... — após sussurrar palavra por palavra, ele sai do local,
exalando testosterona.
Eu permaneço bamba das pernas, respirando e inspirando.
Ah, meu Deus, por que colocaste um homem tão gostoso
desse na terra?
Ele está atraído pelo meu perfume – sorrio, sem crer que a
minha autoestima foi lá nas alturas.
Não se iluda, Elena… não se iluda, pode ser tudo um teatro,
veja aquela mulher ruiva, com certeza, uma foda preferencial. É
dessas que ele gosta.
O sorriso que eu abri fecho devido a minha consciência.
Verdade, é desse tipo de mulher que esses homens ricos e bonitos
gostam, siliconadas e gostosas. Mesmo assim, não custa nada eu
tentar uma experiência de sexo dessa. Se fosse a minha irmã, ela já
teria transado com ele nessa oficina. E eu quero sentar nesse
homem, preciso esquecer o Paulo de vez.
Saio da oficina, vou até o Hoss e o meu carro estacionado na
entrada de pedras do castelo. Ele já está tirando os parafusos da
roda. Encosto na porta do motorista, aguardando-o fazer tudo.
— Pode segurar? — No fim, ele estende a chave de roda.
Eu dou alguns passos e pego a chave, surpreendendo-me ao
sentir a sua mão no meu tornozelo.
Olho para baixo, para ele agachado no chão. Seus olhos
maliciosos me fitam.
— Suas intenções são tão “misteriosas” — debocho.
— E as suas?
— Por eu não ter dado um chute em você, já era para ter
desconfiado.
Ele sobe os dedos no meu tornozelo, até a minha coxa
esquerda. Fico arrepiada, sua mão para um centímetro longe da
polpa da bunda.
— Como você é doce, me daria um chute?
— Não pensaria duas vezes.
— Não teme a mim?
— Por que eu temeria? Sua intenção é meramente acabar
com a minha amizade com a Hera, além de me fo… — perco a fala
e o ar quando ele desliza o polegar entre a minha bunda e a boceta.
— Te foder? Claro, é muito gostosa, e, nesse caso, eu
costumo pensar com as duas cabeças.
Ele me esfrega. Eu abro a boca, gemendo de satisfação.
Mas, ciente, olho para os lados vazios, dando-me conta de que
qualquer um pode nos ver assim… nessa posição deliciosa.
— Pare…
Hoss dá uma última acariciada entre as minhas pernas e
ergue-se do chão, para ficar diante de mim. Ele nota que estou
apertando com muita força a chave de fenda.
— Se você fizer assim com o meu pau, corro risco de ser
castrado… deve ser mais delicada — profere baixinho, provocando.
Pai amado, nunca conheci um homem tão descarado, que
falasse essas coisas abertamente com uma mulher, mas já fui
alertada pela Hera sobre os seus primos sem escrúpulos.
— Não se preocupe, eu tenho muita experiência. — Entrego
a chave de roda na mão dele, raspando nossos dedos quentes. — E
obrigada por ter feito o mínimo depois de atirar no meu carro. Sei
que armou toda essa situação para me seduzir.
Admiro a beleza séria dele, Hoss faz o mesmo comigo, mas,
desta vez, mais sério do que eu queria. Arrepio-me, incomodada.
— Quer saber? Vamos acabar com essa porra de tesão hoje,
te pego às 20h na sua casa. Até mais. — Fala e então, retira-se
autoritário.
Sem conseguir gritar, berrar que não o quero, eu não
consigo.
Você o quer… e nu.
Merda de consciência!
Sigo o Hoss com os olhos até ele sumir de vista. Adiante,
desesperada, ansiosa, eu entro no carro e piso no acelerador.
Quero correr o mais longe possível.
— Elena! — Chego em casa e mal fecho a porta, pois a
minha irmã surge, puxando-me para dentro.
— Lupita, calma, cheguei agora.
Ela me faz sentar no sofá.
— Eu preciso da sua ajuda! Eu não sei mais o que fazer!
Arregalo os olhos.
— Como assim, o que houve? Está me assustando.
— Eu me envolvi com um traficante muito conhecido. — Ela
se joga no meu colo e começa a chorar. — Você precisa falar com o
Paulo! Você precisa me ajudar, eu não quero morrer! Se não fosse
por aquele homem me ajudado, eu... eu não quero nem imaginar.
— Que homem? Lupita, pelo amor de Deus, diga-me o que
aconteceu!
Mesmo em choque, com o coração prestes a pular do peito,
eu ergo a minha irmã pelos ombros e sacudo-a numa frieza
assustadora. Mas, é assim que uma irmã mais velha se comporta.
— Diz que merda você fez, Lupita!
— Estou com muita vergonha de você — fala, engasgando-
se no choro.
— Pois engole esse choro, essa vergonha e começa a me
explicar tudo o que aconteceu, e desde o começo! Caso contrário,
eu ligo imediatamente para os nossos pais no Brasil!
— Não, não faça isso, eu vou te contar!
Sem controlar a porra da minha ereção, eu bato uma punheta
no banheiro da oficina, pensando naquela decoradora gostosa.
Massageio o pau imaginando a textura dos seus lábios, da sua pele,
o cheiro do seu perfume e gozo mais rápido do que gostaria.
Tenho que fodê-la esta noite. Se possível, deixá-la sem andar
até o dia do casamento.
Fecho a calça, limpo o gozo do azulejo com o papel higiênico,
lavo as mãos e tranco o meu passatempo, que é mexer com carros.
Infelizmente, ser podre de rico pode te deixar entediado e te obrigar
a buscar coisas que você realmente gosta de fazer. No meu caso,
mulheres, sexo e carros. Se não estou fodendo ou cobrando
dinheiro, estou na oficina.
— Onde estava? — Encontro Rael na sala.
Ele cruza a perna em L, desviando do seu celular.
— Fui receber um pagamento para o nosso tio.
— Em plena tarde ensolarada? E qual dos nossos
devedores?
— O traficante José Azevedo, amigo nosso. Ele pagou, mas
aconteceu algo bem na hora que eu estava indo embora.
Na mesa de bebidas, sirvo um copo para o meu irmão e para
mim. Entrego a ele assim que me sento ao seu lado.
— O que aconteceu?
— Eu estava saindo do escritório do José, descendo a
escada com a mochila e o dinheiro, foi quando me deparei com dois
caras arrastando uma garota pelo braço. Como estava sozinho na
sala, naquele momento, não tive escolha a não ser me esconder
atrás de uma divisória de madeira… e não me olhe assim — ele
murmura devido ao meu olhar de julgamento. — Ela estava
chorando, berrando para que eles a soltassem, que estavam a
machucando.
— E você resolveu salvar essa garota que não é problema
nosso?
— Vai me escutar, seu cara de jiló?
Faço um gesto sem paciência com a mão para que continue.
— Eu escutei o capanga do José gritar que queria o nome da
irmã dela. Ele chegou a jogá-la no chão e agarrar o seu cabelo. Só
que a menina loira não colaborou, ficava dizendo que não tinha
irmã, que era um engano, que eles a confundiram com outra
pessoa. Ela chorava pedindo para eles chamarem o José. Acho que
os dois tinham ou tem um relacionamento. Já eu estava esperando
o melhor momento para ir embora sem interromper aquela situação
nada a ver comigo.
— E achou? — debocho, tendo certeza do contrário.
— Não, porra, não após ver o cara que jogou covardemente a
mulher no chão, tirar uma arma e meter na sua cabeça. Tirei a
minha também e apareci puto, perguntando o que estava
acontecendo. E descobri que aquela moça de joelho era a cunhada
de Paulo Borghi.
Aperto os olhos e passo a mão na barba.
— Nosso inimigo. Inimigo também declarado dos Azevedo.
— Não faz ideia do meu sonho de ver esses Borghi numa
cova bem profunda. Diferente dos Azevedo, não fizemos nada a
eles, mas insistem em nos listar como inimigos da máfia. E voltando
ao que aconteceu, depois o José desceu, foi atualizado pelos seus
homens da situação. E sobre os meus pedidos de pena, negociei a
vida da garota loira. Sendo ela a cunhada ou não de Paulo.
— José quer destruir os Borghi antes que eles o destruam
pela morte do primogênito.
— Eles vão fazer isso, Hoss. Azevedo matou o filho de um
dos mafiosos mais perigosos de Portugal. E os Borghi sabem e vão
se vingar. Família é tudo para eles.
— Só espero não estarmos no fogo cruzado da máfia e do
tráfico, depois da sua intromissão na sala do José.
— Não estamos, eu conversei com ele. Só quis poupar a vida
da mulher, a qual ele engatou um romance de propósito para
descobrir coisas sobre a noiva do Paulo.
— E descobriu quem é essa noiva?
— Ele não quis entrar em mais detalhes comigo. Afinal, não é
problema meu.
— Realmente não é. Ainda quero estar cara a cara com o
Paulo, ou o pai Borghi da Máfia. Qualquer um deles.
— Nosso tio já tentou isso, sabe que o pai Borghi tem uma
ligação com o tio Argus, mas continuamos inimigos. Nunca nos
resolvemos. Eles acham que somos uma ameaça.
— Em breve, saberão, caso continuem no nosso caminho ou
interferiram nos nossos negócios.
Levanto-me, finalizando a conversa com o Rael no momento
em que Hera chega no ambiente.
— Quero falar com você, Hoss.
— Boa tarde, prima.
— Boa tarde, Rael.
— Vem, vamos para a outra sala.
Ela assente e acompanha-me para uma das salas
aconchegantes do castelo. Alguns séculos atrás, essa sala era onde
as damas ficavam, caso desmaiassem por conta do espartilho
apertado. Isso era muito comum, as salas e os desmaios.
— Vou direto ao ponto, não quero você, Rael, Vince, papai e
nem meu futuro marido se metendo na minha vida. Acha que eu
gostei de você perseguindo a mim e a Elena no shopping? Essa
manhã era de nós duas! Os seguranças já iam nos acompanhar.
— Eu tenho motivos para esse comportamento, Hera. Estou
te protegendo.
— Pois, pare! Estou cansada de todo mundo me protegendo!
Não sou mais uma criança, nem uma adolescente. Tudo bem, eu
confiei numa amizade do passado e ela era uma vagabunda,
informante da máfia, confiei no meu irmão, fiz vocês confiarem nele
também e ele, no final, nos traiu e nos roubou, mas eu era mais
inocente, mais carente e mais solitária do que hoje. E eu não tinha o
Ezequiel na minha vida. Agora amadureci, quebrei a cara e sei
analisar o terreno onde vou pisar. Por favor, não importune a Elena,
sou esperta e se ela for alguma traíra, agirei fria, da forma certa,
contando tudo para o meu pai.
— Eu vou pensar nessa conversa.
— Não, seu cabeça dura dos infernos!
Eu suspiro, encostando na poltrona e dando todo o tempo do
mundo para ela. Hera está furiosa.
— Quero que trate a Elena bem! Ela é minha amiga porque
eu quero que seja e porque eu estou cansada de estar rodeada por
um monte de homens que se acham responsáveis por mim!
— Eu entendo, está sensível por conta do casamento e
precisa de outro sexo feminino na sua vida. Pois isso eu já dei essa
trégua. Não viu o meu comportamento hoje? Quero o seu bem, nós
a amamos e sabemos como sente falta de ter uma amiga,
principalmente de uma mãe.
— Você se importa com esses meus sentimentos?
— Hera, é claro que eu me importo.
— Isso é um pouco pequeno, perto da falta que vocês
sentem dos seus pais. Sua dor, a de Rael e a de Vince nem se
com…
— Não diminua o seu sofrimento. — Puxo-a para um abraço.
— E vou fazer o máximo para suportar a sua decoradora bonita.
Ela beija o meu rosto e afasta-se com a expressão de arteira.
— Hum… decoradora bonita? Se refere a não a levar para
cama? Afinal. Elena é realmente muito bonita. Notei os seus olhares
sugestivos sobre ela. Sua implicância vai muito além, não é, querido
priminho? — Hera sorri vingativa. Sei que está maquinando coisas
que não desejo nem saber. — Vou indo, agradeço a conversa e
espero que siga meus pedidos à risca. Bye, bye.
Sem dizer nada, deixo-a ir com o sentimento de ter ganho a
batalha. Impaciente, verifico o horário e vejo que tenho muito tempo
até foder aquela mulher. Decido passar a tarde com Morcego, Igor e
Rael na academia, treinando boxe.
— Morcego está estranho, será o soco que dei na cara dele?
— Rael ri debochado.
Eu olho para Morcego, sabendo muito bem o que lhe aflige.
Essa noite ele tem uma missão muito importante, algo de vida e
morte, que já foi adiado há meses.
— Enfrenta o Hoss e esse seu risinho vira quatro dentes
despedaçados.
— Veja, Igor, que bonitinho, escondendo-se atrás do melhor
amiguinho.
— Vai a merda, Rael. E cansei disso. — Ele tira as luvas,
joga no banco e retira-se todo nervosinho da academia.
— O que aconteceu? — Igor questiona.
— Problema pessoal dele. — Dou de ombros e olho no
relógio da parede.
— Deve ser a greve de sexo que a Hera deu.
Rael leva um soco repentino no rosto, não tendo tempo nem
de se defender.
— MAS, COMO OUSA? SUA PUTA MAL-COMIDA!
— O que já conversamos?
— Que Hera ainda é pura e não foi seduzida pela carniça do
Morcego!
Igor segura o riso.
— Acham que a priminha de vocês foi seduzida e não tem
culpa de… — Após o nosso olhar fuzilante, Igor se cala. — É claro,
Hera não teve nenhuma participação no acontecimento. Morcego,
grande filho da puta, sedutor de meninas indefesas.
Rael vira para mim, em posição de defesa.
— Esse soco não vai ficar de graça, rapariguinha!
— Claro que não, bonequinha.
Ele avança e com muita facilidade, eu ganho essa luta. No
entanto, não é sempre assim, Rael é um grande oponente, com ele,
eu nunca posso cantar vitória.
Mais tarde, finalmente no horário de usar o menino (meter
deliciosamente na decoradora), eu me arrumo, visto uma calça
jeans preta, camisa preta também, sapatos marrons e devido ao frio,
uma jaqueta de couro. Pego a chave da Ferrari e saio do castelo,
pisando no acelerador. Já vou pensando em tudo que farei esta
noite com aquela mulher. Igualmente, passei o dia todo criando
cenas com o seu traseiro — a minha deliciosa fixação.
Chego em menos de uma hora na casa da decoradora, desço
do carro e vou até a escadinha do portão tocar a campainha. Não
demora e ela aparece na porta, caminhando até mim, mas não do
jeito que eu imaginava. Porra, nem um pouco!
— Boa noite.
Ela para na frente da casa, abre o portão e cruza os braços
devido ao vento forte.
— Mas, que… — Analiso-a dos pés à cabeça, querendo
entender quantas estampas de patos seu pijama tem.
Diria fofa? Para não usar a palavra brochante. Porra de novo!
Mil vezes porra!
Até assim essa mulher é uma deusa.
— Como descobriu o meu endereço?
— Quer mesmo que eu responda essa pergunta?
Ela molha os lábios, batalhando para não desviar do meu
olhar intimidador.
— Vai sair dessa forma? Confesso que gostei. Quero saber
quantos patinhos o seu pijama tem.
— Você vai sair sozinho, eu não aceitei o seu convite. Se
tivesse esperado a minha resposta mais cedo, teria ouvido um
“não”.
— Por isso eu não sou de esperar respostas.
— Pois aprenda a esperar, não é porque você é um cara
bon… — ela se interrompe rápido, desviando ruborescida. — Rico,
que pode ter tudo o que quer.
— Obrigado pelo “bonito”. — Aproximo o rosto do dela. — Vai
me convidar para entrar ou vai me deixar passando frio?
Sinto-a se arrepiar pelo meu sussurro sexy.
— E qual a sua intenção de entrar na minha casa?
— Um chá, um café quentinho. Adoraria provar algo feito
pelas suas mãos habilidosas.
Ela repete o gesto de molhar os lábios, nervosa com as
reações do seu próprio corpo. Adoro observar essas reações
provocadas por mim, sem qualquer contato de pele.
— Apenas um café e você vai embora.
— É claro, apenas um café.
Seguro o riso que se forma no meu rosto.
Ela dá espaço e eu entro. Como se já fosse de casa, vou até
a sua sala aconchegante, muito cheirosa e com toques femininos.
Parece que ela adora flores, tem muitos buquês de decoração.
— Eu poderia ter dito um entre e um sente-se — murmura
após fechar a porta e após eu me sentar à mesa de estar.
— Oras, não precisamos de tantas cordialidades.
— E você sabe pelo menos o que é isso? Não vejo sendo
comigo.
Eu fito o seu traseiro empinado, que rebola até a cozinha.
Porra, bunda é minha maior tara, já sinto o meu pobre pau erguendo
a cabeça para espiar também.
— Já não estou sendo, dona decoradora?
— Elena… — Ela vem até mim com a garrafa e serve-me
uma xícara de café. — Tente usar Elena no lugar de “decoradora”.
— Ok, e obrigado pelo café, Elisete.
— Céus, como é um idiota…
— O que resmungou?
— Se o café está muito quente?
— Não, está saboroso — digo sem desviar dos seus lábios
em formato de coração. — Adoro provar gostos novos, alguns
sabores me fazem voltar para uma segunda degustação.
Devido ao meu olhar malicioso, ela mexe desconfortável no
cabelo e cruza os braços.
— Sua intenção não é só esse café.
Eu sorrio, não crendo em como ela gosta de descrever
situações óbvias.
— Talvez um jantar?
— Está quase chegando no ponto que deseja.
— O ponto é que eu sou ótimo em cobrar pessoas que me
devem. E você me deve.
— Eu não te devo, você tinha a obrigação de trocar aquele
pneu, já que deu um tiro nele!
— Doce criatura feminina, eu não gosto muito de avisos. E
esse já é o segundo, se não me pagar, outros buracos iguais
aqueles irão aparecer no seu carro.
Ela abre a boca, sem acreditar no que eu disse com
veemência e disse como se estivesse diante de um devedor
corriqueiro.
Eu me levanto da cadeira, finalizando o café no ponto
perfeito.
A decoradora dá alguns passos para trás, perdendo o ar com
os meus olhos intimidantes.
— E a sua intenção de vestir esse pijama brochante de
patinhos verdes não funcionou. Acho que nem se estivesse de
burca iria funcionar. E sabe por quê? — Chego ainda mais perto
dela, sem ela impedir ou contrapor. — Porque é o seu cheiro que
está me deixando louco para possuí-la de todas as posições
imagináveis.
Ela, então, toca involuntária no meu peito, apoiando-se
trêmula para não cair. Posso escutar os batimentos cardíacos do
seu coração, a sua respiração desregulada e a sua boca salivando
de sede. É o calor que ela confessou sentir… o calor que a deixo
quando demonstro que a quero.
Como eu amo observar esses detalhes nas mulheres, é
inexplicável.
— Vo-você já não terminou o seu café? O combinado era
depois disso ir embora.
— Era? Eu não sigo muito as regras.
— Eu preciso que vá… — suas palavras saem tão fracas que
não aguento e seguro-a pela cintura, tomando-a nos meus braços e
no calor que emano. Sinto que nem mil banhos frio apagariam esse
fogo.
Levo a mão atrás das suas costas, subo na nuca, mergulho
os dedos no seu cabelo e jogo a sua cabeça para trás, para roçar a
ponta do meu nariz no seu pescoço cheiroso. É um cheiro feminino
que eu tenho certeza de que nunca senti na vida, ele está por toda a
parte do corpo dela. E eu quero explorar esse cheiro, saborear cada
pedaço de pele que ele esteja presente. Ela me atrai, deixa-me
desesperado.
— Hoss… — arfa e puxa a gola da minha camiseta.
Minha barba também roça no seu pescoço, com certeza,
provocando milhares de arrepios nela. Esse pijama é um caralho,
não consigo ver os seus pelos eriçados… principalmente o decote
dos seios. Ah, que desgraça, ao pensar no decote, imagino os bicos
dos seus mamilos enrijecidos e eu os mamando gostoso. Desgraça
novamente, as minhas bolas petrificam de dor.
Não aguento e prenso-a bruto na mesa, já quase fora do
controle, com vontade de deixá-la nua para fodê-la sem dó.
A decoradora repete o mesmo gesto na oficina, de agarrar os
meus cabelos e tomar a minha alma do corpo. Isso é o limite, ela
olha bem no fundo dos meus olhos nublados de desejo, alternando
entre a minha boca, como se suplicasse que eu a beijasse. Noto a
sua respiração acelerada, em urgência. E eu não a beijo, eu a
devoro quando provo dos seus lábios avermelhados. Chego a levar
um choque forte com o contato da nossa boca, que congela os
meus músculos.
Vou enlouquecer, inferno!
Minha mão toma ainda mais posse da sua cintura. Ela solta
um gemido baixinho, tendo a iniciativa de me penetrar a língua.
Retribuo o gesto com mais fervor, numa fome de um urso que
hibernou por anos e agora acordou capaz de engolir o mundo.
É a minha vez de gemer, querendo neste exato momento
estar entre as suas pernas, metendo o meu caralho terrivelmente
dolorido de tesão. Ele lateja, quase perfurando a boxer e a calça.
— Hoss...
Ergo-a na mesa e esfrego com vontade o volume duro na
testa da sua boceta, por cima do pijama.
— Humm… — Ela joga sozinha a cabeça para trás e arqueia
as costas.
A mesa de madeira balança, pois repito o movimento ao
rebolar o quadril e esfregá-la de novo.
— Elena? — de repente, uma voz de mulher surge
longínqua.
A decoradora me afasta fraca, mas com rapidez.
— M-Minha irmã… — sussurra quase sem fôlego.
Seu peito sobe e desce, buscando ar. Imagino que a sua
boceta também esteja igual ao meu pau, latejando e babando para
um completar e saciar a excitação sexual do outro. Mas, no meu
caso, minhas bolas estão roxas e prontas para caírem maduras.
— Elena, alguém chegou? — a voz da mulher se aproxima
do corredor do outro lado.
— Por favor, se esconda. — Ela me empurra pela segunda
vez e eu a solto, ajudando-a descer da mesa contra a minha própria
vontade. — Anda, Hoss!
— Porra, não sabe como isso é frustrante, minhas bolas
estão doendo! Preciso fodê-la!
— Shhh, seu…
Cato a sua mão e roço com vontade no meu pau ereto e
dotado igual de um cavalo. Estou puto de frustração! Quero foder
nesse caralho, é difícil, desgraça? Preciso foder, meter nessa
mulher!
Ela abre a boca e arregala os olhos, sem crer no que sente
pelo contato dos dedos curiosos, que me tocam trêmulos no
decorrer do comprimento extenso e grosso.
— Isto, ainda vai estar todo dentro de você, te rasgando em
lágrimas, Elena!
— E-Elena? Está falando com alguém? Não sei onde
coloquei o par das minhas pantufas… estavam nesse corredor.
Antes da irmã dela aparecer, eu aperto os punhos para não
voltar a tocar nessa mulher.
Não posso continuar aqui... ou cometerei uma insanidade.
Passo furioso a mão no cabelo e, sem dizer nada, viro as
costas, para sair bufando e quase batendo a porta da frente. Mas,
no portão de grade, dou um chute na parede e aperto o pau,
pensando que essa noite vou apenas aliviá-lo a dor, não o saciar
como almejo.
Se eu não possuir essa gostosa logo, eu vou ficar doente, um
obsessivo por ela. De amanhã, essa situação não pode passar, nem
que eu precise sequestrá-la!
Apoio o meu corpo na mesa e respiro e suspiro fundo, para
controlar a pulsação entre as minhas pernas… também o fogo que sinto
derreter os órgãos.
— Achei no seu quarto as pantufas. — Lupi aparece, enfim, na
sala. — Tudo bem? Estava conversando com alguém? Ouvi vozes e a
porta se fechando.
— Fui eu… — respondo quase sem voz. — Precisava de ar fresco,
enquanto falava sozinha.
— Ah, você e a sua mania de falar sozinha, havia me esquecido. —
Ela sorri de cabeça baixa. — Está assim pelo que eu te contei, né? Eu
sei... Desculpa.
— Não quero mais falar sobre isso, Lupi. Por favor, ainda encontro-
me organizando os pensamentos. Digerindo o que relatou. Você quase
seria… Meu Deus, não, eu não posso pensar nisso.
— A gente precisa ligar para o Paulo, precisamos de ajuda, de
proteção. Ele está igual um louco atrás de você, buscando reconciliar-se.
Olhe esse tanto de flores enviadas.
— Eu não quero o Paulo, eu não quero um herdeiro mafioso, um
assassino! Entenda, Lupita! Eu não sou você que se envolve com
traficante já sabendo que ele é assim! E, no fim, por consequência, vamos
colher tudo isso, eu e você!
Lupi começa a chorar.
— Eu já te pedi milhares de desculpas, não sei mais o que fazer.
Eu não quero que você morra, nem eu! Estou arrependida, desesperada,
se não fosse aquele homem, eu nem sei se estaria viva.
Vou até a minha irmã e puxo-a para um abraço.
— Presta atenção, não vamos ter contato com o Paulo, nem com
esse desgraçado que você se relacionou escondida. Eu vou resolver isso
explicando que fui enganada e aquele… mafioso — aperto os olhos em
dor — me iludiu.
— Você vai até o José? Está louca, Elena!
Ela se solta dos meus braços.
— E vamos esperar esse traficante vir atrás de nós? De mim, para
cometer uma barbaridade?
— Por favor, o Paulo, ele…
— Não quero que repita mais esse nome! E eu sou a irmã mais
velha, a responsável por você. Não me faça ter que ligar para os nossos
pais!
Lupita fica trêmula.
— Tudo bem. E eu não tenho o endereço do José. A gente transou
algumas vezes, mas em hotéis luxuosos. Ontem fui sequestrada às cegas
até a mansão dele. E depois daquele homem ter me defendido, eu fui
deixada do mesmo jeito na porta da nossa casa, vendada, sem poder ver
o trajeto.
— Analisarei amanhã o melhor a se fazer, agora eu só preciso
colocar a cabeça no travesseiro e organizar os pensamentos.
Também organizar em lista as sensações que o Hoss me deixou. O
que significa: estrear o meu novo vibrador e liberar um ou dois orgasmos
relaxantes. Necessito disso, necessito me tocar pensando naquele
homem de quase dois metros.
Céus, que beijo, que pegada. É tudo ainda tão presente em mim…
E olha o que ele me faz pensar? Maldito homem bonito.
No dia seguinte, acordo bem antes do sol nascer. Na minha
cabeça, só penso no perigo que eu e a minha irmã estamos vivendo. Tudo
por culpa do Paulo. Eu o quero longe da minha casa, longe da minha vida,
quero esquecê-lo!
Com os olhos marejados, finalizo o café e passo o dia no quarto,
trabalhando longe da minha irmã. Não quero vê-la, nem ouvir a sua voz.
Agradeço por amanhã ela voltar a trabalhar. Isso vai fazer essa menina
aquietar o facho e não ficar saindo todo dia para curtir com as amigas em
baladinha que terminam em sexo. Todavia, isso igualmente não me
tranquiliza. Penso nesse tal José, nele possivelmente tentando sequestrá-
la de novo.
Deus me ajude, o que está acontecendo com a minha vida, com o
meu sonho de morar em Portugal?
— Eu preciso resolver esse assunto com o traficante. Talvez eu
queira que ele me procure... — sussurro sozinha.
Na parte da tarde, saio de casa para resolver a questão das flores
para o casamento da Hera. Só que bem no mercado de atacado, recebo
uma ligação no telefone, imaginando ser a minha amiga e cliente. Abro a
bolsa, pego o celular e noto um número desconhecido. Não é a Hera.
Atendo a chamada:
— Alô?
— Decoradora?
Mordo o lábio, arrepiando-me dos pés ao último fio da cabeça.
— Hoss? — questiono quase sem voz. — Como conseguiu o meu
número?
— Roubei o celular da Hera sem ela ver — confessa.
Sorrio, já tendo pensamentos sórdidos com o que aconteceu
ontem, dele me beijando, pegando no meu corpo e eu, mais tarde,
masturbando-me com o vibrador... e pensando nas cenas picantes com
esse homem.
— O que quer?
— Sabia que o seu cheiro está por toda a parte?
— Oi?
— Se bem que eu cheirei todas elas, mas não encontrei em
específico o seu veneno entorpecente, que me enlouquece.
— O meu o quê?
— Perfume, decoradora. Essa porra de cheiro que está em você e
no meu respirar.
Lembro-me dele pronunciando o meu nome certinho ontem e isso
enfraquece as minhas pernas.
— E-eu estou ocupada… — gaguejo, querendo desligar o telefone,
caso contrário vou cair no chão igual uma idiota.
A verdade é que eu estou com muito calor, sinto-me numa estufa.
Por que esse homem provoca essa sensação em mim? É um fogo dos
infernos.
— Sua voz está fraca, seu corpo quase suspenso…
— Eu estou bem, só… só... — o desespero de não ter o que falar
me deixa mais nervosa.
— Só o quê? Pode terminar.
De repente, eu ouço a voz dele transpassar a linha do telefone
simultaneamente e uma sombra enorme se forma atrás das minhas
costas. Uma sombra com odor masculino.
— Aliás, a flor branca combina muito com sua pele.
Ah, porra!
Eu viro rapidamente o corpo, por pouco, não caindo entre os
caixotes de flores. Dou de cara com ele; alto, musculoso, barba grande,
topete bem penteado e esse olhar castanho, fulminante, que expele
chamas.
— Hoss! Como isso é possível?!
— Da flor branca combinar com a sua pele? É que as duas são
branquinhas.
— Não, como é possível de você estar aqui? Está me perseguindo,
seu sem-vergonha?
— Vamos dizer que é uma coincidência encontrá-la, adoro flores.
— Coincidência?
Encaro os olhos cínicos dele, esperando uma explicação mais
relevante.
— Ou não. — Sorri de canto, desestabilizando os meus batimentos
cardíacos.
— Não confio em você, sei que somos inimigos.
— Inimigos?
Eu molho os lábios e afasto-me dele, só para poder respirar,
enquanto disfarço que estou olhando outras flores.
— Claro que somos, você pensa que eu…
— Não precisa ficar sempre repetindo a mesma coisa, isso é um
tédio.
— Perfeito, se é um tédio, volte por onde entrou. — Pego uma rosa
e meto no peito dele. — Perseguidor!
Então saio rebolando e querendo fugir dele… desse calor
incontrolável que provoca em mim.
— Por que está andando tão rápida, gatinha? — interroga,
seguindo-me entre o corredor vazio. — Está fugindo?
Papai do céu, por que esse corredor tinha que ser tão grande? Só
pode ser uma tortura. Creio que eu esteja pagando por algum pecado.
— Eu tenho um dia bem cheio.
— Que eu saiba, o seu único compromisso hoje é só com esse
atacado.
Paro no meio do caminho, abrupta e encaro-o.
— O que quer, Hoss? Já entendi que você investigou a minha vida
de cabo a rabo e que é um perseguidor, obcecado pela segurança de
quem ama.
— De cabo a rabo não… — Puxa um sorriso de canto.
— Poupe-me!
— Quer ser direta? Você sabe muito bem o que eu quero. E vamos
continuar de onde paramos ontem.
Ele puxa o meu braço, agarra a minha cintura e segura o meu
rosto.
Meu Deus, só senti a minha alma sair do corpo. Não tive nem
reação.
— Eu e você temos o restante da tarde e da noite para fodermos
gostoso.
Respiro o seu hálito quente, também o aroma da sua de loção pós
barba.
— Uma foda e tchau?
— Agora está falando a minha língua. E claro, decoradora, não sou
de marcar casamento depois da primeira transa. Acredito que seja igual.
— Acho que temos muito em comum, mas, no momento, não posso
aceitar o seu convite de… de isso aí que propôs.
O homem nubla os olhos e toma-me com mais força nos braços. Eu fico
mais tonta.
— Não aceito, não! Eu preciso foder você! Está me enlouquecendo,
deixando-me pirado das ideias, porra! Nem as três putas de ontem
puderam me tirar esse tesão.
Arfo, sem força nas pernas.
— E você quer. Por isso, se não aceitar em três segundos de
sairmos daqui, eu vou sequestrá-la à força!
Arregalo os olhos.
— N-não seria nem louco!
— Um!
— Me larga, Hoss!
— Dois!
Olho para os lados, desesperada, aflita, pulsando entre as pernas.
— Três?
Aperto a camisa dele.
— Eu quero, seu infernal! Eu quero!
— Ótimo, então vamos!
Ele me larga e sai com a sua beleza forte e gigantesca na frente,
esperando que eu o acompanhe por livre e espontânea vontade.
Acompanho-o bamba, parece que nem sei mais como se anda de saltos.
“Você vai transar com esse delícia…”, minha mente saltita sem
parar, já soprando energia vital, ou melhor, libido para todas as áreas de
prazer. E para ajudar, não pude evitar de analisar a sua bunda durante o
caminho.
— Eu vou com o meu carro, não posso deixá-lo aqui.
— Não se preocupe, o segurança vai levá-lo até a sua casa.
Na saída do atacado, Hoss pega no meu braço e leva-me para a
outra calçada, onde está o seu veículo chique.
Só de sentir a mão grossa dele o meu coração palpita de
ansiedade.
Estou indo transar com esse homem, parece um sonho/pesadelo,
algo impossível de acontecer na minha vida real. Estou imaginando tantas
coisas devassas, posições que nem sei descrever.
— Que carinha é essa? Já disse que o seu carro vai estar na sua
casa quando voltarmos, não se preocupe — ele sussurra bem coladinho
ao meu corpo, após abrir a porta e enconchar de propósito a sua ereção
na minha bunda. Eu gemo baixinho. — Agora entra, antes que eu cometa
todos os meus atos sórdidos com você aqui mesmo, nessa calçada.
— Devo duvidar das suas capacidades?
— Jamais. Eu sou orgulhoso.
Eu sorrio e entro. Ele também dá a volta, entra, fecha porta e
colocamos o cinto, sem desviar o olhar.
Eu perco a sanidade com a beleza maléfica dele.
— O que planeja?
— Algo que nem o diabo vai poder nos incomodar.
Ele coloca mão na minha coxa, apertando-a, e pisa no acelerador.
Durante o percurso, eu vou me controlando para não jogar o
carro no meio fio e puxar essa mulher para rebolar no meu colo.
Estar preso com ela nesse cubículo de quatro rodas e esse seu
perfume atraente está fazendo o meu sangue ferver. Meu pau já se
encontra dolorido.
— Aqui? — Ela arregala os olhos quando eu finalmente entro
no subsolo da boate. Parece que foi uma viagem.
Sem respondê-la, eu estaciono o veículo, tiro o cinto e desço
para respirar um pouco de ar puro, sem o cheiro feminino dessa
morena escupida pelos deuses. Depois eu dou a volta no carro e
abro a porta do carona. Seus olhos verdes-azuis encontram os
meus, também sinto as suas mãos trêmulas ao aceitar que eu a
ajudasse sair. E para o seu próprio bem, eu rapidamente separo o
nosso toque.
— Vamos...
Ela vem ao meu lado, seguindo-me até a boate. No interior,
passamos pelas meninas que estavam ensaiando quase nuas no
pole dance. Ruiva me vê e fica toda feliz, até notar que não estou
sozinho e abaixar a cabeça, furiosa. As outras portuguesas me
cumprimentam provocativas e sorridentes.
— Boa tarde, podemos participar da festinha, Sr. Calatrone?
— Charlotte fala com voz sexy, tirando risos de todas as dançarinas.
Olho para a decoradora e deleito-me com as suas bochechas
vermelhas. Nem imagino os seus pensamentos.
— Boa tarde, minhas coelhinhas, apenas não deixem que
nos incomodem. Entenderam?
— Tudo bem.
— Que sortuda, Hoss todinho, só para ela…
— Espero que aguente o nosso Sr. Dotado — ouço-as
cochicharem e rirem durante o percurso até o elevador.
Quando as portas se fecham, não aguento e arrasto-a bruto
para os meus braços, prensando-a na parede de metal. A
decoradora arfa, surpresa. Parece que sua mente estava em outro
lugar. E onde? Em mim? No nosso sexo? Com o que desejo fazer
com o seu corpo?
— Já estou declarando que isso é uma loucura — sussurra.
— Hum… Como se sente?
— Receosa, talvez você queira me jogar da janela do último
andar.
Eu sorrio e lambo os seus lábios vermelhos pelo batom.
— Depois resolveremos o nosso outro problema. Primeiro
vamos saciar o que está nos matando.
As portas do terceiro andar se abrem e como se eu fosse um
animal selvagem, faminto há meses e que acabou de caçar uma
presa, eu pego na cintura da decoradora e levo a minha carne
fresca para o meu território.
Não paro de apertar a sua bunda, um pouco puto por ela
estar lacrada de calça e impedindo-me de meter a mão entre as
suas pernas.
— Hoss… um-um minuto.
Ela me afasta sem ar, só para analisar a cobertura luxuosa, a
cama King Size com espelho no teto, a luz colorida num tom rosado,
a piscina na grande sacada de vidro, que a noite fica iluminada pelo
led azul. Adiante, ela me retorna à atenção e encontra-me tirando a
camisa, já no limite da excitação, do tesão, do pecado, da porra que
for que envolva o ato de querer foder essa mulher! Eu só penso
nisso, em devorá-la!
— Seus olhos…
Ela dá alguns passos para trás, toda nervosa com a visão do
meu peitoral.
— Você consegue ver o quanto eu quero fodê-la?
— Seus olhos, eles causam… terror, é como ver o mundo
pegando fogo.
Eu chego perto dela.
— Interessante. O que mais… Elena? — seu nome sai como
labaredas da minha boca.
Ela fecha os olhos e toca trêmula no meu peitoral, no lado
direito dos batimentos. E mais fogo se alastra entre nós. Igualmente
em choque pelo toque dela, eu bufo e tomo domínio da sua pessoa,
querendo-a mais do que consigo dizer ou pensar.
— Não sei o que dizer mais.
Parece que somos dois.
— Então vamos agir, decoradora…
Beijo-a, aprofundando a língua e empurrando suas costas
para trás. Fico acelerado, ansioso para deixá-la nua. E assim que
Elena caí sentada no colchão, de cara para o volume do meu
caralho petrificado na calça, eu tiro a sua blusa e perco os sentidos
com a visão dos seus peitos grandes, empinados e fartos no sutiã.
Porra! Mamá-la numa preliminar lenta e torturante ou acabar
com o martírio do meu pau, com arremetidas fortes e satisfatórias
na sua boceta?
Ele pulsa dolorido, dando-me sem demora a sua resposta egoísta.
Eu inclino para frente, pego no seu pescoço, na sua cintura e jogo-a
no alto da cama. Ela arqueia as costas, olhando-me desejosa, cheia
de tesão.
Puta merda, que visão maravilhosa. Como está
entardecendo, a luz do sol está refletindo na cama e nos seus
cabelos castanhos. Linda!
Se ela for alguma informante trabalhando para algum inimigo,
pelo menos, não vai ser total perda de tempo, vamos ter feito um
sexo delicioso.
Escorrego a mão do seu pescoço, entre os seus seios, a
barriga e paro no cós da sua calça.
Ela mexe o corpo, inquieta.
— Ansioso para devorar essa bocetinha.
Numa brutalidade faminta, eu arranco a peça de roupa das
suas pernas e também, em seguida, das minhas. Ela fica com a
lingerie e eu completamente nu.
— Meu Deus! — Ela ergue os cotovelos na cama e arregala
os olhos ao ver a minha pica grossa, dotada e pré-ejaculada mirada
na sua direção. — Você quer me matar?
— Nenhuma outra mulher morreu, isso eu posso garantir.
Agora andar… — Eu subo em cima dela, redesenhando a curva das
suas coxas, por dentro e por trás. — Teve alguns casos de ficarem
meses numa cadeira de rodas.
— Não posso entrar nessa lista de casos. Eu preciso andar
antes de domingo.
A decoradora tenta recolher as pernas branquinhas e
torneadas, mas eu as seguro, depositando meu peso sobre ela.
— Serei bonzinho, dona gostosa. Vamos com calma, não
está vendo como eu estou relaxado?
Ela fita semicerrada os meus olhos, na verdade, vendo que
eu estou desesperado para meter a rola entre as suas coxas.
— Relaxado? Sinto você latejar na minha pélvis.
Elena toca na minha barba, nos meus ombros, braços e
costas. O toque das suas mãos pequenas, curiosas, faz-me perder
de vez a sanidade que não tenho. É a minha vez de tocá-la bem na
onde eu já ansiava senti-la.
— Huummmm… — Ela arfa com os meus dedos, deslizando
por dentro da sua calcinha.
Abro mais as suas pernas, indo mais fundo no seu grelinho,
para, enfim, senti-la encharcada no clitóris. Ela volta a gemer,
rebolando desavergonhada nos meus dedos, que se afundam na
boceta apertada.
Caralho, eu vou gozar assim.
— Está gostoso, decoradora? — pergunto, masturbando-a.
— Sua bocetinha é lisinha e macia, completamente convidativa para
o meu pau. Sente os meus dedos?
— Por favor, me fode... — choraminga, rebolando mais
sagaz.
Suas palavras são como música para os meus ouvidos
libertinos e um viagra para a porra da minha piroca dura.
Tenho que ir devagar... devagar...
Eu mordo o seu pescoço, tiro a sua calcinha e pego no meu
cacete, metendo um foda-se para a paciência das preliminares. Está
mais do que pronta para me receber.
— Hoss… — Ela nota que eu parei de tocá-la, entretanto,
não deixo que tome consciência da penetração, não antes de eu
esfregar a cabecinha da glande nos lábios inchados do seu clitóris.
— Ahhh! — A morena joga a cabeça para trás, movendo-se
por baixo de mim.
Afasto-me em tempo recorde para vestir o preservativo. Só
que quando volto, ela está olhando para o meu pênis e tirando o
sutiã.
A safada é mais ligeira do que eu imaginava.
Encaramo-nos, flamejantes.
Puta que pariu… ela morde o lábio.
— Assim acaba comigo, mulher, tenha dó.
— É ao contrário, você vai acabar comigo.
Volto a subir em cima dela, lascando um beijo na sua boca
gostosa, também acabando com a demora de nos satisfazer. Elena
finca as unhas nas minhas costas, gemendo alto só com a
penetração da cabecinha.
— Hoss! Isso... hummm!
Eu suspiro, já puto com a lentidão, e vou mais fundo, dou
uma única estocada, quase metendo as bolas junto.
Ela abre a boca, arregala os olhos, força a cabeça no
travesseiro e grita, derramando lágrimas.
— Está bem? — a indagação sai quase inaudível, devido as
suas paredes internas estarem espremendo meu pau. — Droga,
diga algo ou eu vou começar a met… — nem precisei terminar a
frase, ela puxou a minha barba, inclinou-se com os peitos no meu
peitoral e provocou a nossa primeira arremetida, saindo e entrando.
Ela chora, derramando mais lágrimas, porém, de satisfação,
de prazer. E isso foi como um energético.
— AAHHHH! HOSS!
Meto de novo, seguro de que ela está se acostumando com o
meu tamanho e a grossura, mesmo que esteja chorando e gemendo
alto.
E que gemidos!
Pego forte nos seus cabelos desgrenhados, arfando e
bombardeando metro e mais metro de rola. Elena grita sem parar,
entrelaça as pernas nos meus quadris, pedindo desesperadamente
por mais, como se eu nem estivesse fazendo cócegas, mas os seus
gritos e choros demonstram outra coisa.
Que merda, isso só pode ser um martírio! Essa mulher é
insaciável!
E quer saber? Sem ter mais pena de deixá-la sem andar, eu
invisto na nossa satisfação, como louco, entrando, saindo e
gemendo. Noto a cama, que é chumbada na parede, ranger bem
nas laterais dos parafusos, devido ao esforço bruto.
Meu peitoral, testa, costa, tudo soa. Elena está igual.
É o meu fim, sem me segurar, explodo como uma avalanche
de esperma. Também, sem ter a certeza de que ela gozou, eu peço
forças ao santo da ereção e arremesso mais algumas vezes, até a
morena me chamar em berros, dando-me a certeza de que chegou
lá, pois ela sozinha perde a capacidade de sustentar as pernas, os
braços, a cabeça e cai desmaiada pela intensidade do seu próprio
orgasmo. Apoio o meu corpo sobre os cotovelos, respirando e
inspirando.
— Elena… — aguardo-a recuperar a consciência.
Sei que seu desejo era de recolher as pernas, para no
submundo do prazer se concentrar solitária na pulsação da vagina.
Contudo, não sou tão bonzinho para tanto.
Ela pisca sem parar os cílios, forçando-me a sair de cima
dela. Não disse que ia querer fechar as pernas?
— Hoss… — resmunga, tomando ainda mais consciência ao
recuperar depressa o fôlego dos pulmões.
Eu me retiro da sua boceta apertada e encho o seu pescoço
de beijos.
— Só estamos começando, querida insaciável.
Ergo-me de joelhos na cama, girando-a de bruços. Devido a
minha brutalidade, ela cai de cara, com a bunda branquinha,
empinada para o meu deleite cafajeste.
— Eu nem me recu...
— Calada!
Não perco tempo e penetro-a de novo, agora de quatro, com
a decoradora tomando surra de pau e levando tapas ardidos no
traseiro. Bato tão forte que ela grita, crepitando em lágrimas. Nessa
posição, com a vista da sua bunda, gozo gostoso.
Logo sento-me no colchão e deixo-a tomar o controle de
cavalgar igual uma amazona. Ainda, sem ter hora para o fim da
tarde, como-a de pé na parede, de lado na cama, mamo/chupo os
seus peitos, molho o seu corpo com a minha saliva lambendo,
beijando, mordendo, eu literalmente a devoro até de noite, e como
prometi, de todas as formas e posições que consigo imaginar.
Mesmo assim, ainda me sinto faminto por essa mulher. Sinto que
preciso de mais! É como se eu estivesse vivo, em chamas!
Eu fico uns dez minutos deitada, de olhos fechados,
concentrando-me em descobrir quantos membros faltam no meu
corpo, já que tenho a impressão de que eu fui desmembrada em
pequenos pedacinhos.
— Quer alguma bebida?
Ouço a voz poderosa de Hoss e abro os olhos para observar
a minha situação deplorável pelo espelho do teto. Estou
esparramada na cama, com os cabelos desgrenhados, os lábios
inchados e machucados por beijos impiedosos, o rosto vermelho,
pescoço com sintomas roxos – penso no restante do meu corpo
coberto pelo lençol de cetim. Já tenho consciência de que amanhã
vou aparentar que fui espancada, principalmente nos seios, onde o
Hoss me mamou com uma dedicação sem igual – de dez minutos a
meia hora em cada.
De repente, eu tenho lapsos de memórias com as imagens
pelo espelho, do Hoss, o seu corpo de quase dois metros sobre o
meu, a sua bunda e os seus quadris rebolando forte, sem ter dó de
me foder. Recordo-me de mim agarrada aos seus cabelos, abrindo a
boca, gritando e chorando de tamanho prazer. As minhas lágrimas
em nenhum momento foram de dor, dele estar me machucando,
pelo contrário, fui tão bem comida que creio ser esse o melhor sexo
da minha vida. O top 1. Só senti um pouco de dor na primeira
penetração, já que esse homem não pode ser comparado nem a um
cavalo.
Misericordioso… como aguentei um pênis tão bem-dotado?
Será que eu vou conseguir andar direito? Já não estou sentindo as
minhas pernas. Acho que precisarei comprar pomadas para
assadura.
— Decoradora?
Molho a boca seca e olho para esse deus grego, em pé na
cama, de cueca boxer, musculoso, alto, olhar de um assassino que
sequestra criancinhas nas montanhas (por causa da barba de
lenhador) e o reparo todo marcado pelas minhas unhas.
Não deixei barato em arranhar, morder e lamber esse
gostoso também.
— Oi?
— Quer uma bebida, além de água?
— Quero, sim.
Ele pisca safado e serve-me uma taça da garrafa granfina
que já segurava em mãos.
— Obrigada.
Sento-me devagarzinho e dolorida para tomar o líquido saboroso.
Ele não para de me olhar, observando o meu rosto, os meus
gestos...
— Quer tirar uma foto para guardar de recordação, Sr. Hoss?
— Não preciso, já mapeei cada centímetro do seu corpo com
a língua.
Respiro fundo, corada das bochechas.
— Foi ótimo, a foda.
— Ótimo? É assim que você vai avaliar a trepada que me
dediquei como um cachorro no cio?
— Precisarei fazer uma lista comparativa com os outros que
já transei para avaliar justamente — respondo maldosa e arrependo-
me, pois ele homem fecha a cara, curva os ombros e inesperado,
puxa os meus pés até ficarmos nariz com nariz. Quase derramo a
bebida.
Ele segura o meu queixo, apertando os meus lábios. Meu coração
começa a palpitar sem freio, a minha respiração a arfar contra a
dele e o lençol que tampava os meus seios, agora evidência até o
umbigo.
— Espero ser o primeiro dessa lista, decoradora corajosa.
— Quem sabe? Você me deixou um mil pedaços.
Sem continuar o assunto, ele me beija e empurra-me para
trás, adorando a imagem dos meus seios desnudos e roxos devido
as chupadas bárbaras e selvagens que deu.
— Vista-se, vou te levar para casa. Se continuar aqui, posso
te deixar, literalmente, em mais de mil pedaços.
Assinto, tentando sair o mais normal possível da cama, só
para não ter o constrangimento dele ver que estou dolorida, assada,
sem nem conseguir caminhar decentemente.
Amanhã vou estar pior… sem dúvidas.

No dia seguinte, como previa, amanheci cheia de dores pelo


corpo e com marcas roxas na pele. Até a raiz do meu cabelo está
doendo, levei puxões torturantes enquanto estava sendo muito bem
fodida de quatro. Tive que colocar um vestido de manga comprida e
gola alta, ainda à tarde irei à farmácia comprar uma pomada.
— Nem acredito que vou voltar a trabalhar, era para eu
começar na segunda que vem — Lupi murmura enquanto toma o
seu café.
— Sua patroa vai te pagar extras, e como está precisando de
dinheiro, o certo é sacrificar o restante das suas férias e ir.
— Eu sei, realmente preciso da grana.
Eu assinto e encaramo-nos, em meio a um clima
desconfortável.
— Toma cuidado, Lupita. Mais tarde, eu vou te buscar na
clínica de estética.
— Você também precisa se cuidar, irmã… eles querem você,
não eu.
Eu respiro fundo, ainda sem saber o que fazer diante dessa
situação.
— Saberei me cuidar. Beijos, vou me encontrar com a Hera.
— Está bem. Ótima manhã.
— Igualmente.
Eu saio de casa, fazendo caretas ao caminhar (motivo:
Hoss). No carro, eu entro, coloco o cinto de segurança e acerto o
GPS no endereço do castelo. Estou indo até a Hera pelo motivo
dela ter me ligado chorando desesperada às 5h da manhã. Fiquei
muito preocupada, também curiosa para saber o que havia
acontecido para estar naquele estado, mesmo assim, ela preferiu
não me contar pelo telefone, disse que era para eu ir até a sua casa,
que me mostraria o “horror”.
Agora veja-me, estou dirigindo igual doida, preocupada e sem
saber o que está acontecendo.
Alguns minutos depois, eu chego no castelo, informo meu
nome na frente do enorme portão preto e sou liberada pelos
seguranças assustadores, parece quem não sabem sorrir. No
interior chique do castelo magistral, de cinco andares, eu estaciono
o carro, desço e vou até a porta, para ser atendida e recepcionada
pelo mordomo. Ele é a pura classe em pessoa.
— Hera está bem? — pergunto a ele no sotaque português.
O homem pigarreia, negando discreto com a cabeça.
— Ela conseguiu acordar todos do castelo às 04h da manhã,
até os empregados do último andar.
— Acordou como?
— Verá...
Então chego na sala principal e tenho a minha resposta.
— O QUE EU VOU FAZER? O QUE EU VOU FAZER?
— Você pode encomendar outro vestido.
Franzo o cenho para as duas empregadas assustadas do
outro lado da sala e para os três homens em volta da Hera, incluído
o seu futuro esposo e também uma mulher loira, de óculos. Ah, sem
falar dos dois cachorros pretos, gigantes, deitados no tapete, perto
da mesa de centro. Já Hera parece que cometeu um crime, de tão
aflita e desesperada está. Encontra-se andando de um lado para o
outro, balançando os seus lindos cachos de revista. Ela é tão
bonita.
— FALTA QUATRO DIAS PARA O CASAMENTO! FAZ
ALGUMA COISA, DOUTORA! — berra.
— Amor, acalme-se.
— PEÇA CALMA DE NOVO E EU TE CASTRO SEU
INFELIZ!
Eu caminho devagar, até ser vista finalmente pela Hera, em
seguida, por todos os presentes.
— Elena! SOCORRO!
Hera tira as mãos da cintura e corre até mim, enrolada num
roupão preto. Ela me abraça rápida.
— Hera, o que foi? Você me ligou deses…
— E eu estou desesperada! — exclama e segura meus
braços doloridos. — Meu Deus, o que eu vou fazer? O casamento
está próximo! Faltam quatro dias!
— Pronto, a surtada ligou até para a coitada da decoradora
dela — Vince comenta provocativo, deitado de qualquer jeito no
sofá.
Hera pega um objeto de decoração da mesa de centro e por
pouco, se seu noivo não tivesse a segurado, ela teria acertado o
objeto pesado na cabeça do Vince.
— SAI DAQUI, SUA CRIATURA DOS INFERNOS!
— Que isso, louca? Toma um chazinho com uma cartela de
calmante fervido.
— O que está acontecendo? — pergunto, enfim, sem
entender nada.
— Eu explico, nasceu uma criança nas costas da Hera —
Vince responde e não se aguenta ao também começar a gargalhar.
Diferente dele, ninguém está rindo.
— Cala a boca e some da nossa frente, seu imbecil — quem
ordena em tom de voz poderosa, abrangente, é o Rael, irmão do
Vince e primo da Hera.
Até pareceu o Hoss falando. A primeira vez que eu e Rael
fomos apresentados foi na boate Fogo. E ele também me deu
calafrio de tão bonito e intimidador que é.
— Ok, ok, seus dramáticos. — Ele para de rir e levanta-se. —
E parabéns ao casal... pela criança nas costas da Hera.
— VINCE, EU VOU TE MATAR!
Ele sai correndo e fugindo do objeto que a sua prima pega de
novo da mesa de centro, mas que, desta vez, acerta nas costas
dele.
— Aí, porra!
Vince some de vista, com certeza, tonto, pela dor de ter
lavado o objeto certeiro na cabeça.
— Desculpa, Elena, desculpa, Dra. Ana.
— Tudo bem.
— Nada bem! — Hera se senta na poltrona. — Quer ver a
bizarrice que está nas minhas costas, Elena?
— É apenas um furúnculo, amor. A doutora já disse que não
é nada grave. Você só vai tomar os remédios e cuidar da infecção.
— Como não é nada grave, Ezequiel? E o meu vestido de
casamento que é aberto nas costas? Eu demorei meses para
escolhê-lo! Meses! Como eu vou usá-lo assim, com essa ferida
horrenda?
— Você escolhe outro.
Hera fuzila o Rael.
— O importante é cuidarmos da infecção e da dor que está
sentindo.
— A doutora já me passou todos os medicamentos
necessários, irei me cuidar muito bem. E, com licença, não estão
ajudando em nada! — Hera se levanta estressada e vem até mim,
puxar o meu braço, para me levar com ela.
— Inferno!
— Hera?
Entramos no elevador e subimos até o quarto andar.
— Só posso estar pagando castigo!
— Vai me agredir se eu pedir para você ficar calma?
Saímos do elevador e Hera respira e suspira fundo, tentando
ficar calma.
Ela me leva pelos corredores cheios de janelas. Vamos até o
seu incrível, esplendoroso e luxuoso quarto de rainha. Eu fico
boquiaberta.
— Uau…
— Vem cá. — Ela volta a puxar o meu braço machucado, até a sua
cama grande. Sento-me dolorida, sem saber se olho para ela ou
para o quarto.
— Elena, foca em mim!
— Sim?
— Tem certeza que está me olhando?
Então desvio por completo da vista incrível da janela.
— Agora tenho. — Sorrio.
— O que eu vou fazer? Falta quatro dias para o casamento!
Os homens desgraçados dessa casa, tirando o meu querido pai, são
todos umas bestas quadradas, que não entendem o grau da minha
situação!
— Eu te entendo, você planejou tudo para o seu grande dia,
cada mínimo detalhe, inclusive o vestido que mandou fazer há
meses… e infelizmente, devido a um problema de saúde, que não é
sua culpa, pode pôr tudo a “desmoronar”.
— Exatamente! Não sei o que seria de mim sem outra mulher
para me compreender nesse momento. O que eu faço? Diga, por
favor.
— Primeiro, peça para uma empregada te trazer um copo de
água com açúcar.
— Toma. — Ela me joga o próprio celular. — Tem um
aplicativo de sininho aí, é só escrever o seu pedido que o mordomo
traz.
— Nossa, que chique. É muita modernidade, será que era
assim há alguns séculos atrás, quando outras famílias da sociedade
moravam nesse castelo?
— Elena! — Hera coloca a mão na cintura, tentando não rir.
— Dá para se concentrar no meu drama, por favor?
— É claro.
Faço o pedido.
— Segundamente, você está bem? E pergunto do seu
ferimento nas costas.
Ela bufa, sentando-se no pufe.
— Sinto um pouco de dor, no entanto, o furúnculo do inferno
já está com um curativo feito pela doutora. Eu estava sentindo o
inchaço essa semana, pensei ser uma espinha normal.
— O importante é estar bem. Só não surta antes da hora.
Acredito que podemos contornar esse caos, relacionado ao seu
vestido de casamento.
— Confio em você, Elena. Salve-me, pelo amor de Deus!
Acordo cedo, faço a minha higiene pessoal, arrumo-me e desço até
a academia, à procura do meu tio Argus. Ontem, quando cheguei em
casa, encontrei-o estranhamente sentado na sala, só com a luz do abajur
ligada. Ele disse que tinha um assunto muito importante para tratar
comigo, no entanto, que poderia esperar até hoje de manhã.
Então estou aqui, pronto para ouvi-lo.
— Bom dia.
Ele está praticando boxe no ringue.
— Bom dia, filho.
Ele acerta mais alguns socos no saco de pancadas e para. Eu jogo uma
toalha na sua direção.
— Obrigado.
— Tem ainda algo importante para me dizer? Caso contrário, tenho
um devedor para cobrar a sua dívida com a morte.
Ele me olha sério, arfando cansado.
— Sabe que temos homens para esse serviço.
— Eu gosto de sujar as mãos, faz parte do nosso sangue
Calatrone. “Pague como amigo ou morrerá como inimigo”. Não é o que
repetimos para os homens que vêm procurar dinheiro emprestado
conosco?
— Sim, e gosto de levar essa frase bem à risca. Mas, indo direto ao
ponto, Isis me ligou ontem, avisando que ela está doente. Foi
diagnosticada com um câncer terminal. Talvez tenha uma ou duas
semanas de vida. Ela também informou que será obrigada a entregar a
criança para uma casa de adoção. — Meu tio passa por mim. — Era só
isso que eu tinha para te dizer. Bom serviço e ótima manhã, sobrinho.
Assim que o meu tio sai da academia, eu chuto um dos aparelhos
de malhar, puto e com vontade de cometer uma besteira!
Porra!
Por que Argus insiste em me torturar com esse lado que detesto,
que quero fingir que não existe? Eu não tenho nada a ver com essa
criança! Nada!
— Bom dia, Sr. Hoss…
Chego na mesa do café, puxando a cadeira com rompante. O
mordomo me cumprimenta, com cara de que tem algo para me contar,
mas está esperando o momento certo.
— Continua ainda aqui, tem algo para me falar, Luiz?
Ele assente e conta-me dos últimos acontecimentos ao amanhecer,
envolvendo a Hera e o seu problema de saúde.
— Depois eu vou vê-la. Todos já tomaram o café da manhã?
— Exceto a Sr. Hera, mas vou levar uma bandeja para ela e a sua
amiga no quarto.
— Amiga? — Volto a xícara para o pires, controlando os nervos da
mão.
— Sim, a Srta. Elena. Vou voltar ao serviço, com licença, senhor.
Luiz sai e eu fico irritado, sem acreditar que a decoradora está se
sentindo livre para vir no castelo quando desejar. Ainda mais depois de
ontem. Não era nem para essa mulher estar andando! Foi pouco a surra
de pica que levou!
Inferno, só de pensar nela, na sua nudez, nas minhas mãos
mapeando as suas curvas, a minha boca beijando os seus lábios, já
esquento de excitação.
Retiro-me da mesa, desta vez com outro destino antes de ir para o
trabalho com o Rael.
E no quarto andar, nem preciso dar meio passo do elevador para
encontrá-la.
Surpresa, ela arregala os olhos cintilantes e dá um passo para trás.
Não evito analisar o seu vestido justo, de mangas compridas, gola alta e
de comprimento até o joelho. Será que deixei muitos chupões na sua pele
branquinha?
Sorrio internamente, orgulhoso e perverso.
— Bom dia, decoradora.
— Bom-Bom dia… — gagueja nervosa.
Ela, ontem, ao rebolar gostoso em cima de mim, não estava tão
envergonhada assim.
— Posso saber o que está fazendo aqui? — sou rude no
questionamento.
— Hera me chamou e eu vim, sou convidada dela.
— Pois Hera não estava em condições de chamar ninguém.
— Você, por acaso, viu o estado da sua prima? Garanto que a
consciência dela está bem normal.
— Estou no momento falando de você, que não é nem um pouco
bem-vinda neste castelo.
Ela empalidece, mas não abaixa a cabeça.
— Você é um desgraçado, arrogante e egocêntrico! Vai a merda!
Então a mulher tenta passar por mim para entrar no elevador,
porém, puxo-a grosseiro pelo antebraço. Agora, pergunto-me, por que eu
fiz esse gesto do inferno? Seu perfume foi soprado pelo vento nas minhas
narinas e levado para o meu psicológico que é seduzido por esse aroma
atraente.
— Não é porque eu te fodi ontem que pode se achar com liberdade
no meu território. Se não estiver aqui para organizar a decoração do
casamento da sua cliente, dê meia volta e saia por onde entrou!
— Como ousa? Você me fodeu? Que eu saiba, eu só fui para a
cama com você porque eu sou solteira, desimpedida e tenho livre arbítrio
de decidir com quem transar. Eu posso foder com outros homens. Não
tente ser exaltado comigo, nem se achar o rei da cocada, não sou igual as
outras cadelinhas que latem, deitam e rolam para as suas ordens e bel-
prazer.
Aperto com mais força o braço dela.
— E eu sou convidada da Hera, a minha amiga! Se tem algo contra
a minha presença no seu território, discuta com ela, porque eu só vou
embora quando ela me expulsar!
— Vontade de te encher de tapas na bunda, sua… diaba!
Jogo o seu corpo contra a parede do corredor e ela geme de novo.
— Está começando a mostrar quem é, Elena? Diz!
— Já não te mandei a merda, seu bruto, arrogante?! E estou
mostrando, sim, o meu outro lado, o que não vai aceitar se maltratada por
homem!
Ela bate no meu peito, cada vez mais imprensada pela minha força.
— Eu não maltrato mulheres!
— E o que está fazendo comigo agora?
— Se você voltar a repetir isso de novo, não terei pena de erguer
esse seu vestido e de te penetrar tão fundo, que sairá daqui precisando
de muletas!
— Bruto, cavalo! Faça isso e eu grito bem alto para a Hera ouvir!
Ela está bem pertinho de nós!
— Só tenta! Tenta para ver a mão que te acha! — Belisco sem dó a
bunda dela e mordo feroz a sua boca para sair sangue.
Elena arfa, retribuindo a mordida.
— Eu… não… te dei essas intimidades!
Encaramo-nos, respirando nariz com nariz.
— Ontem não disse isso.
Não resisto, beijo-a, mergulhando a língua como se fosse um pote de
doce que eu anseio provar. Elena acaricia a minha nuca, subindo as
unhas compridas no meu cabelo. Minhas mãos passeiam entre a sua
cintura, costas e bunda.
— Hoss, me larga…
Desvio da sua boca para o seu ouvido. Ela fica arrepiada, chega a
soltar gemidos gostosos.
— Já estou de pau duro, decoradora. — Esfrego a ereção contra a
sua pélvis.
— Você tem outras que podem resolver o seu problema.
— Esse problema é seu.
— Eu tenho problemas maiores. — Ela sorri de propósito e
empurra-me triunfante. — E eu transo com que eu quiser, coloque isso na
sua cabeça. E diga na de cima.
— Vou colocar é na porra da cabeça de baixo — eu aperto o meu
pau, irritado com ele e a sua pulsação na calça.
Eu não fodi essa mulher ontem? Não era para essa porra de rola
estar satisfeita?
Ela olha para baixo, vendo o meu pacote evidente. Ao voltar para
cima, encara os meus olhos em labaredas.
— Eu preciso descer para aguardar a Hera, ela já deve estar
prestes a sair do quarto. Com licença.
Respiro nervoso e, contrariando a minha vontade de agarrá-la,
solto a sua cintura. A decoradora desvia dos meus olhos e sai rebolando o
seu traseiro redondo, também deixando rastros do seu veneno perfumado
para trás. Com desgosto, assisto-a entrar no elevador e sumir de vista
com as suas curvas femininas.
Isso é a minha crucificação em pessoa!
— Mas, que arrombado, onde estava? — Rael pergunta puto
quando me aproximo do carro dele, estacionado na frente do castelo.
Sua cara é de um bulldog irritado. Nem seus cachorros, Bravos e
Gorila, tem essa fuça.
— Fodendo o seu rabo que eu não estava.
— Eu vou socar a sua cara, Hoss!
— As moças estão muito exaltadas, que isso, meninas? — Vince
aparece comendo um salgado. Ele não vive com essa maldita boca vazia.
— Vamos ter mais amor.
— O que faz aqui, seu imbecil?
— Também amo vocês, irmãozinhos. Estou indo participar do
passeio em família.
— Você fica! — determino.
— Quanto mais Calatrone, melhor.
— O Marquinhos tem razão. Somos os agiotas mais fodões de
Portugal, quanto mais, melhor.
Sem dizer um “a”, eu olho para o Rael, desta vez, roubando o papel
de puto dele e não discuto mais, vou até o meu carro para seguirmos o
cronograma de serviço.
— Por que está indo com o seu carro? — Rael indaga de longe.
— Porque depois eu tenho outro compromisso.
E realmente eu tenho, por mais que eu não aceite o encontro com
essa merda de passado que tento enterrar e que a culpa e o remorso
insistem em desenterrar.
Sigo para o destino com os meus irmãos, para realizarmos a nossa
cobrança, a qual precisei apertar só uma vez no gatilho. Adiante, virei as
costas, guardei a arma na cintura e mandei o Rael e o Vince pegarem o
que ele tivesse na casa, para cobrir o valor do devedor.
É a lei dos Calatrone: “se não tiver o que penhorar para garantir
que quitará a sua dívida conosco, a sua vida ficará no lugar”. E levamos
ela muito a sério.
Eu entro no carro, coloco o cinto de segurança e piso no
acelerador, rumo a porra daquele puteiro. Ao chegar no prostibulo que
funciona noite e dia, eu adentro, empurrando a porta com força. As
meninas que estavam faxinando o salão arregalam os olhos, largam os
rodos e dão alguns passos para trás.
— Onde está a patroa de você? — murmuro irritado, e não é com
elas, e sim por estar aqui, nesse passado que só quero enterrar nas
profundezas do inferno.
— Se-Senhor… ela… ela…
— Nossa senhora está no escritório do terceiro andar — a segunda
menina loira responde, tendo mais coragem que a sua colega morena.
Elas sabem quem eu sou, assim como todos os homens que
frequentam esse antro.
Subo para o terceiro andar, desviando de mais garotas quase nuas
e encontro a porta de Ísis sem dificuldades. Então entro, surpreendendo-a
com a minha presença, que não comparece a esse lugar há mais de seis
anos, desde que a sua filha morreu.

— Hoss? O que faz aqui?


Após eu abrir a porta e surpreendê-la, ela coloca a mão sobre o
coração, encarando-me com os seus batimentos acelerados.
Observo o seu rosto sem os pelos da sobrancelha e a cabeça sem
cabelos, está enrolada num lenço amarelo.
— Eu vim para ter a certeza de que você está morrendo.
— Eu estou, para a sua alegria.
Puxo a cadeira na frente da mesa e sento-me. Isis continua a me
encarar.
— Veio cumprir a sua promessa?
Sorrio frio e impiedoso.
— De botar fogo nesse lugar com você dentro?
— Eu já tenho consciência há anos do ódio que supre por mim.
Mas, a casa que sustenta mais de vinte meninas não tem culpa… nem a
sua filha.
Aperto os punhos, querendo avançar nessa cafetina.
— Leve-a com você, Hoss. Salve-a desse lugar. Faça isso pelo
amor que ainda sente por Oliva.
Eu bato na mesa, levantando-me furioso.
— QUE AMOR EU AINDA TERIA POR AQUELA PUTA? DIGA,
SUA DESGRAÇADA?!
Isis inclina a cabeça para frente, com os olhos emocionados.
— Ela errou, eu errei, mas a criança não. Ela não tem culpa de ter
vindo ao mundo. Por favor, salve-a, ame-a como amou um dia a nossa
Olivia. Por mais que ela possa ter te machucado no passado, faça isso
pelas boas memórias dos dois. Por favor...
— Boas memórias? Ela mentiu, me enganou. — Passo a mão no
cabelo. — E morreu nos meus braços, banhada de sangue, com um tiro
no peito!
— Ela devia ter procurado um hospital, ajuda médica, só que
procurou você, para vê-lo uma última vez, antes de respirar o seu último
fôlego de vida. Consegue pensar dessa forma? Minha filha fez o que fez
para proteger essa casa, a filha que você renegou ainda dentro do ventre
dela. Olivia fez tudo para salvar o que mais amava. Ela não teve escolha.
— ELA TINHA ESCOLHA! ELA TINHA EU, QUE PODIA TER
PROTEGIDO TUDO O QUE ELA MAIS AMAVA! SÓ QUE ELA NÃO ME
AMAVA O SUFICIENTE PARA CONFESSAR A VERDADE E
SACRIFICAR O SEU ORGULHO!
— Hoss… — Isis chora.
— ELA FOI UMA PUTA VENDIDA! UMA DESGRAÇADA QUE
ESTAVA ME TRAINDO COM OS MEUS INIMIGOS! E VOCÊ
ACOBERTAVA TUDO!
— Olivia tinha medo de perder a nossa casa, perder a filha e perder
voc…
— Mas, ela me perdeu, também a vida, ao procurar os Ferrari, a
segunda maior família de agiotagem de Portugal. Meus inimigos! Que eu
matei um por um!
— Viu? Mesmo depois dos erros dela, você foi atrás de quem a
matou e nos vingou. Nossa Olívia nunca saiu do seu coração.
Não aguento mais estar nesse lugar, diante dessa mulher e
escutando merda.
— Eu não vinguei aquela vagabunda, eu estava louco de fúria.
Seria eles ou você, sua cafetina!
Viro os ombros e antes de sair, Isis me para.
— Que seja! Faça isso agora, Hoss. Mire a arma na minha cabeça
e me faça pagar por todos os meus pecados contra você! Anda!
Sobre os ombros, olho com desdém para ela.
— A sua doença já está fazendo isso por nós. Você conviver com a
certeza de que amanhã não estará mais viva é confortante para a minha
justiça. — Sorrio e enrijeço os músculos. — É uma pena a Olivia ter
morrido sem saber o quão suja, nojenta e sem escrúpulos a sua mãe era.
Ou não, parece que aquela ingrata estava seguindo o mesmo caminho
que a progenitora que a pariu.
— Acima desses erros, ela era limpa e tinha um bom coração, você
sabe perfeitamente disso. Não vou aceitar que julgue o caráter de quem
não está mais entre nós para se defender.
— Caráter? Ela não teve nenhum comigo. E te desejo uma morte
dolorosa, Ísis, também espero que vá para o inferno. Deve estar com
saudades de rever toda a sua família reunida.
E então bato a porta, descontrolado, acelerado e com os olhos
ardendo.
— Que esse lugar, que essa criança, que todos vão para o quinto
dos infernos!
Desço as escadas em passos largos, com vontade de correr, de
fugir do passado. E assim que eu chego na frente da casa, eu olho para o
céu, respirando um ar limpo. Respiro esse ar com necessidade.
— Ela é minha, devolve!
— Não é, a minha Barbie tem cabelo!
Escuto vozes altas na minha lateral. Abaixo a cabeça e olho para
as crianças brincando no jardim.
— Vai chorar, coitadinha?
— Ela vai! — As garotinhas riem da menor, que está sentada no
chão.
Chego perto da grade.
— É minha Barbie… — Ela começa a chorar.
— Bobinha vai correr pra contar pra vovó, bobinha vai correr pra
contar pra vovó! — as crianças começam a cantar, maldosas.
— Vai lá, horrorosa! — Elas, então, saem correndo com a boneca.
Eu olho bem para o rosto da menina de cabelos castanhos,
chorando no chão, até que ela encontra os meus sapatos embaixo da
grade e sobe a visão pela minha altura para encontrar as minhas írises,
que a observam curiosas. Engulo em seco, dando um passo para trás.
A pequena limpa o nariz, levantando-se com o seu vestido florido e
sujo de terra. Ela vem até mim, surpreendendo-me.
— Oi, tio… Não pisa nas florzinhas. — Aponta para o meu pé em
cima das flores minúsculas na grama.
Sem dizer nada, afasto-me, ainda mais surpreso por ela não estar
assustada com a minha aparência grande, forte e de barba.
— Obrigada. — Ela sorri e vira as costas para ir pegar a sua
casinha quebrada.
Minha garganta coça, meu peito se aperta e sinto o peso de um
prédio nas costas.
— C-como é o seu nome? — Pela primeira vez, eu gaguejo, tendo
a certeza de que a pequena não ouviu, só que ela vira o rosto,
comprovando que sim.
— Sou a Maria. — E novamente sorri. — Não posso fala com
estranhos… Tchau.
Ela abraça a sua casinha e sai atrás das meninas, deixando-me
com uma faca encravada no coração.
Eu volto a observar o céu.
— Por que, Deus? — sussurro.
Entro no meu carro, batendo no volante e chorando.
— Por que, Deus?! Por que desse punição?!
Passo a manhã ajudando Hera a resolver o seu problema
relacionado ao vestido de casamento. Para o seu alívio, conseguimos. A
designer vai colocar uma renda nas costas e abrir um decote maior no
busto. Pelo desenho, ele vai ficar ainda mais bonito.
Já nos dias seguintes, cuidei sem descanso da finalização da
decoração. Faltando um dia para o casamento no domingo e com todos
os detalhes da cerimônia pronto, eu recebi o convite em cima da hora de
ser a única madrinha de casamento de Hera. Pelo telefone, ela exigiu
isso. Foi tão persistente que eu não tive como recusar. E logo mais
mandou a foto de dez vestidos para eu escolher, fiquei boquiaberta.
Acredito que eles devam valer mais de 5 mil libras. Mas, como igualmente
eu não tive como recusar, escolhi qual eu queria e recebi a roupa com as
medidas na mesma tarde. Quando vesti pessoalmente, eu quase
desmaiei. Lupi também surtou. Ele é verde escuro, soltinho, com uma
faixa na cintura, decote nas costas e fenda na lateral da coxa. É perfeito.
Dormi já ansiosa para domingo, pensando sem parar que vou ver
aquele homem. Depois do nosso momento excitante no corredor e da
noite anterior de sexo, nos vimos só mais uma vez. Foi sábado cedo, eu
estava cuidando do paisagismo com a equipe de decoração e ele
apareceu no alto da escada, observando o salão. Nossos olhos se
encontraram, mas o senti frio, nervoso… não sei, Hoss apenas desviou
dos meus olhos e saiu. Dei de ombros, dizendo a mim mesma que não
valia a minha importância.
— Bom dia, maninha. Isso é para você. — Lupi aponta para o
buquê de rosas brancas em cima da mesa.
— Paulo?
— Sim…
— Jogue no lixo — murmuro.
— Tem certeza? As rosas são tão lindas, elas não têm culpa de
nada.
— Então coloque-as num vaso. E já volto com o nosso pão.
Saio de casa para ir até a padaria que fica uma quadra acima da
nossa rua. Eu vou o caminho respirando ar fresco e pedindo a Deus que
tire o Paulo da minha vida, que ele possa me esquecer e me deixar em
paz. É só o que eu quero...
Atravesso a rua e avisto dois homens vindo na minha direção. Eles
conversam sorridentes entre eles, como amigos. Eu abraço os meus
braços, sentindo uma sensação ruim, que me arrepia. E segundos depois,
quase perto da padaria, um carro preto para um pouco à frente da calçada
e os homens me olham, andando mais rápido. Eu paraliso, sabendo o que
está prestes a acontecer.
“Corre, Elena, corre!”, a minha consciência grita comigo e na
mesma hora, eu obedeço, virando as costas e voltando a atravessar a rua,
agora no meio dos carros. Sinto uma mão pesada agarrar o meu braço, a
seguir, ouço o barulho de tiros e de pneus derrapando.
Meu Deus, eu não quero morrer!
Não olho para trás, mal sinto as minhas pernas, tudo parece estar
em câmera lenta, como os meus batimentos cardíacos.
A mão que me agarrou e por pouco, puxou-me, agora me largou e
sumiu, eu só tive alívio quando cheguei no portão de casa, fechei a grade
e corri para dentro.
— Já voltou?
Bato a porta e caio de joelhos no chão.
— Elena! O que foi?
Lupita corre até mim.
— Eu quase fui sequestrada, Lupita!
— O quê?!
Ela me abraça.
— Elena! — alguém arregaça a porta da nossa casa, gritando por
mim.
Só tenho tempo de virar o rosto e assistir o Paulo cair aos meus
pés, tirando-me dos braços da minha irmã.
— Não encosta em mim, seu desgraçado! — Bato nele, em fúria,
desespero, medo, tudo de mais ruim, enlouquecedor e revoltante.
— Elena, por favor, eles não iam te levar, eu estava aqui, meus
homens, nós iríamos te…
— É TUDO CULPA SUA!
Levanto-me do chão, tremendo em choque.
— Seu mafioso, assassino, criminoso!
— Não diga isso…
Ele tenta se aproximar de mim, só que a minha irmã se coloca na
minha frente.
— Paulo, você entende o que estamos passando? Eu fui
sequestrada e a minha irmã também quase foi agora pouco. Isso não é
momento para estar aqui.
— É tudo culpa sua — cuspo para ele. — Eles sabem que eu fui a
sua noiva! A noiva de um mafioso sem escrúpulos!
— Eu estou protegendo vocês, a partir de hoje, eu vou cercar esse
bairro com os meus homens, câmeras, tudo que possa deixá-las seguras.
Eles não vão te levar.
— Eles quem? — Choro, descontrolada. — As pessoas que
querem me matar? EU SÓ QUERO A MINHA VIDA NORMAL!
— Eu sei… eu fodi com tudo. Por favor, Elena, perdoe-me, eu… eu
estou mais desesperado que você. — Os olhos dele se enchem de
lágrimas. — Amo você mais do que tudo nessa vida. Eu não queria que
nada disso estivesse acontecendo, eu juro que não queria. Meus planos
eram de nos casar, ir para outro país, ter filhos e ser feliz longe do meu
sobrenome, longe da máfia do meu pai. Longe de tudo isso.
Aperto os olhos, não querendo mais ouvi-lo.
— Sai daqui, por favor!
— Eu só queria ser normal. Eu te amo tanto que chega a doer essa
porra no peito, por isso menti, te enganei, por medo de perdê-la.
— E você me perdeu! Você acabou com a minha vida, os meus
sonhos! Vai embora!
— Por favor, Paulo. Elena está ainda em choque — Lupi sussurra,
sem largar a minha mão.
Ele suspira, derrotado, e assente.
— Nada vai acontecer com vocês, acreditem em mim. Ninguém
mais vai encostar um dedo em nenhuma das duas. E perdoe-me, Elena,
não a julgo por me odiar. Fique bem.
Assim que Paulo sai da nossa casa, eu me sento no sofá,
chorando.
— Eu o odeio, não era para estarmos passando por isso.
— O que pensa em fazer? Vamos voltar para o Brasil?
— Não. Estamos aqui há cinco anos, realizando um sonho. Não
aceito desistir de tudo dessa forma.
— Mas, como viver em paz sabendo que tem pessoas querendo
nos fazer mal? Imagina se nossos pais descobrem o que está
acontecendo?
— Quer matá-los? Nem ouse pensar em contar algo para eles,
entendeu, Lupita? — Ergo-me do sofá, limpando as lágrimas. — E vou me
arrumar.
— Não vou contar. Também, depois do que acabou de acontecer
com você, ainda vai no casamento? Está louca?
— Acredite, nada disso me abalou.
— Eu não vou nessa loucura.
— Irei sozinha, então, pois fiz um compromisso e sou mulher de
palavra — após dizer, eu viro as costas e saio a caminho do meu quarto
para me arrumar.
Tomo banho e arrumo-me com mais vontade de estar bonita,
saudável e inabalável. Não vou deixar que nada, nem ninguém estrague a
minha vida.
— Elena? — Minha irmã abre a porta do quarto e encontra-me
terminando de fazer o penteado no cabelo. — Meus Deus! Você está
perfeita!
Observo-me no espelho e quase não me reconheço. Estou linda.
Demorei mais de duas horas para ficar pronta.
— Obrigada. Já vou. — Pego a minha bolsa na cama e a chave do
carro.
— Cuidado. E te amo.
Ela me abraça, toda chorona.
— Também te amo, qualquer coisa, me liga.
A caminho do casamento, eu vou suando as mãos no volante. Não
parei um minuto sequer de olhar os retrovisores, para conferir se estava
sendo seguida ou não. Só tive alívio quando entrei no castelo e estacionei
o carro junto dos outros convidados.
— Srta. Elena?
O mordomo me vê nos degraus da entrada do castelo, parada e
olhando para o nada. Estava vislumbrando a vista do campo.
— Oi?
— Tudo bem?
Sorrio para ele, sem saber direito como responder essa pergunta.
— Sim...
— Então, entre, por favor.
Ah, é… estou igual idiota aqui fora.
— Obrigada. — Entro no lindo hall da recepção, direcionando-me a
ele: — Hera já está pronta?
— Sim, e não parou um segundo de me perguntar sobre a
senhorita. Mandou que eu a avisasse da sua chegada. Vou levá-la até ela.
O mordomo faz uma reverência e leva-me pelos corredores, sinto
que estou fazendo uma maratona de saltos. Chegamos a passar pelo
salão de festa, que inclusive, está lindo e cheio de convidados. Eu me
superei nessa decoração.
— Aqui, por favor, entre.
Ele abre uma porta grande e eu entro, avistando a Hera e duas
mulheres, uma fazendo acabamento na barra do vestido dela e a outra
finalizando o cabelo.
Fico boquiaberta com a sua beleza.
— Elena, graças a Deus que chegou! Já estamos atrasadas!
— Hera do céu, você é a noiva mais linda que eu já vi na vida. A
renda nas costas ficou perfeita, a maquiagem, cabelo, tudo!
— Para, estou tentando não chorar. Você também está lindíssima,
parece uma modelo.
— Filha? — de repente, a voz poderosa de um homem ecoa pelas
paredes da sala de chá que estamos. — Vamos? Ezequiel já está quase
desmaiando no altar.
Olho para ele e volto a ficar de boca aberta.
Filha? Então, esse é pai da Hera?
Misericórdia, ele é muito bonito, deve estar na casa dos 50. Só que
pela sua aparência eu diria que tem 39 ou 40.
— Antes, pai, deixe-me apresentá-lo a minha amiga Elena.
— Claro, a famosa Elena. — Ele me olha, sem sorrir, sem piscar,
sem mover um músculo sequer do rosto.
É arrepiante como o Hoss e o Rael.
— Prazer, senhorita, eu sou Argus.
— É um prazer conhecê-lo...
Aperto a sua mão, em seguida, engulo em seco, dizendo a Hera
que já vou descer para a cerimônia.
— Ah, espera, amiga. O seu par é o Hoss, ele deve estar te
esperando lá fora. Tente não ligar, caso o brutamontes diga algo rude.
Sabe que está aqui por minha causa.
Meu corpo gela e eu assinto com a cabeça, adiante, saio quase
bamba das pernas.
Hoss? Logo ele? Pensei que o meu par seria o Rael ou o Vince.
Perto da escada de pedras, avisto Hoss subindo os degraus. Tive
até que me segurar na parede, sem crer em como ele está lindo de terno
social, barba aparada e o cabelo num tope alto, que sempre se encontra
arrumado. Hoss também me vê e como eu, escaneia-me dos pés à
cabeça.
Pai amado, Elena… olhe para esses músculos, essas coxas
grossas, esse olhar 48, capaz de matar qualquer mulher… ele é um deus
vivo.
— Bom dia, decoradora.
Ele pisa no último degrau e fica diante de mim, exalando o seu
perfume másculo, forte e arrepiando-me com as lembranças da nossa
foda inesquecível, elas vêm como flashes, excitantes.
— Porra, você está… deliciosamente comestível.
Fuzilo-o de propósito.
— Não sabe elogiar como um cavalheiro? Estou linda.
— Linda não chega nem perto — murmura nervoso. — É melhor
irmos logo, ou a minha cabeça de baixo vai me convencer a mudar o
nosso rumo.
Ele estende educado o seu cotovelo e eu coloco o braço para
descermos juntos até o salão.
— Esse seu perfume é um inferno… — Ele me aperta, enquanto
caminhamos no tapete, entre os bancos e os convidados, que nos olham
cheios de admiração.
— O seu também.
Fito os seus olhos castanhos, a seguir a sua boca. Fico hipnotizada
ao recordar-me de como é animal ser beijada por ele.
Não, Elena, o que está fazendo?
Desvio desse homem bruto e paramos na nossa posição, perto do
Rael e do Vince.
— Você está linda para cacete. — Vince me olha, devorando-me
indiscreto. — Como não reparei nessa deusa antes?
— Se não desviar os olhos, você vai comê-los cru!
Hoss pisa no pé do irmão.
— Filho da...
— Mais respeito, caralho, estamos diante de um padre. E devo
concordar com o Vince, Srta. Elena... — Rael tem os mesmos olhos de
luxúria sobre mim. — Está deslumbrante.
Sorrio, extremamente corada nas bochechas. Opto só por um muito
obrigada, afinal, não confio neles, principalmente no Hoss. Sinto que sou
uma penetra, bem-vinda apenas pela Hera, que ainda insiste na minha
presença e na nossa amizade.
Vejo o touro ao meu lado irritado com os irmãos.
— Você vai amputar o meu braço assim — resmungo.
Hoss não fala nada, continua sério, olhando para frente. Faço o
mesmo e observo o Ezequiel bem nervoso, arrumando repetidas vezes a
sua gravata de borboleta branca – todo o seu conjunto de terno é dessa
cor. E para o alívio dele, Hera não demora a aparecer linda, dentro do seu
vestido de noiva esplendido e acompanhada do seu pai, lindo também.
Será que não existe ninguém feio nessa família? Que tortura é
essa? Sinto-me numa revista de beleza, com o título “os homens mais
lindos do mundo”.
Os convidados se levantam, emocionados com a música tocada
pelos violonistas, que acompanha a entrada da noiva. Igual a eles, assisto
toda a cerimônia chorando feito uma torneira. Vince chegou a me oferecer
um lencinho. No fim, após o lindo e emocionante matrimônio, com direito a
entrada de cachorros carregando as alianças, Hera comunica da festa do
outro lado no jardim.
— Graças a Deus essa tortura acabou, quero comer, está cheio de
comida no bufê — Vince murmura, recebendo duas viradas de olhos, do
Rael e do Hoss.
— Vince nasceu prematuro porque comeu a bolsa da nossa mãe.
— E o gêmeo dele, junto da placenta.
— Vão para o inferno. Menos você, querida Elena. — Vince pega
na minha mão e beija-a. — Agora dão licença, vou acompanhar os noivos
e convidados para a festa.
— Também já vou, quero cumprimentar alguns conhecidos.
Noto uma troca de olhar entranha entre o Hoss, o Rael e o Vince,
tão estranha que me deixou desconfortável.
— E eu vou…
— Você não vai a lugar nenhum, não conhece ninguém aqui.
Fecho a cara devido ao puxão de mão grosseira que ele me deu
assim que os seus irmãos saíram.
— Você não pode agir assim comigo, seu mal-educado! Não sou
um fantoche!
— Elena, presta atenção! — Ele agarra o meu corpo e aperta a
minha cintura.
Eu olho para trás, surpresa pelo salão estar quase vazio. E volto,
fitando-o irritada.
— Ninguém é confiável nessa festa, nem mesmo você. Não vai sair
do meu lado nem por um minuto.
O quê? Ele só pode estar de brincadeira.
— O que pensa que eu sou? Não sou uma assassina e não estou
aqui para fazer mal a ninguém! — Começo a bater nele. — E tira as suas
patas imundas de mim!
— Você é o inferno, mulher cheirosa e gostosa do cão! Aguarde
que eu vou fodê-la até não sair um “a” dessa boca!
Hoss tenta voltar a me pegar, só que eu dou uma joelhada nas
suas partes íntimas, colocando em prática a minha formação em defesa
pessoal, pelo Youtube claro, os tutoriais são ótimos mesmo.
— Eu mandei não colocar as suas patas em mim!
— Desgraçada! — Ele se contorce de dor, quase se jogando no
chão. — Eu sabia que escondia algo.
Vejo fúria, ódio nos seus olhos.
— Eu não escondo nada! Para de me perseguir!
Saio correndo do salão, e talvez arrependida por ter dado a
joelhada entre as suas pernas. Será que eu fui violenta demais? Mas, ele
mereceu, pela forma que me puxou e tratou. Por que não é cavalheiro?
Pelo menos, finge!
— Elena? — Hera me vê chegar na festa e eu ando rápido até ela,
com medo de ser alcançada por aquele homem de novo. — Venha, já vou
cortar o bolo.
Antes de irmos até a mesa do bolo, eu a abraço com carinho,
parabenizando-a pela sua felicidade. É um grande dia.
— Parabéns, Hera. Chorei a cerimônia inteira. Ficou tudo tão
elegante. Quero que seja feliz com o seu marido.
— Obrigada, eu já sou tão feliz com aquele bobão delicioso que
não consigo nem mensurar a minha tamanha felicidade.
— Se está feliz e se sentindo amada, é isso o que importa.
— Obrigada novamente. Agora vem, Ezequiel deve estar me
procurando para fazermos o brinde e cortar o bolo.
Chego perto do Morcego sem esconder a minha cara de fúria. Faz
pouco tempo que eles brindaram e cortaram o bolo. Elena ficou o tempo
inteiro com a Hera, não pude me vingar.
— Que cara é essa? Não está feliz com o meu casamento?
— É claro que estou — resmungo.
— Então?
— Então o quê?
— E essa cara? Quer um pedaço de bolo para ficar mais doce? —
Ele ergue uma colher cheia de chantilly na minha direção.
— Come e se engasga, Morcego. Minha cara é por causa daquela
decoradora dos infernos ali. — Fuzilo-a do outro lado.
— Não me diga, descobriu algo? Já te disse que essa Elena está
limpa. Não há nada contra ela. É uma pessoa normal.
— Responda, que pessoa normal sabe dar a joelhada fatal que ela
me deu entre as pernas? Porra, quando eu colocar as mãos nela… —
Fecho os punhos, estralando a mandíbula.
— Ela te deu um chute nas bolas? — Ele ri, sem medo de morrer.
— É a primeira vez que conseguem te golpear certeiro, num único
movimento. Ainda uma mulher.
— Se não encher essa boca de bolo, é eu quem vou te golpear
para adiar a sua lua de mel em duas semanas. E vamos até a sua mulher,
Hera já virou o pescoço umas dez vezes na nossa direção. Daqui a pouco,
quebra ele.
— Ela quer que fiquemos juntos para cumprimentar os convidados,
é um saco.
— Foda-se, aguente pela esposa que escolheu amar, cuidar e
respeitar.
— Vai me ameaçar igual o Rael e o Vince também? Agradeço
desde já.
— Sabe que eu não sou de ameaças. Meu negócio é pôr em
prática. E devia ter medo é do Argus, acredito que ainda não
conversaram. — Sorrio maligno.
— Filho da puta.
— Que boca é essa?! — Hera ouve e vira os ombros, assim que a
gente para atrás dela.
Noto que a decoradora está entretida na mesa do buffet, beliscando
camarões. Deixo os recém-casados se revolvendo e chego perto dela.
— Está faminta? — sussurro bem próximo do seu ouvido.
Ela, na mesma hora, deixa o camarão que erguia na boca cair na
grama.
— Posso matar a sua fome nessa mesma posição, é só erguer o
seu vestido, inclinar as suas costas e dar um tapa ardido na sua bunda,
antes de meter com força o meu pau entre o seu traseiro.
Mesmo com a música de fundo, eu consigo ouvi-la arfar excitada.
— Alguém pode ouvir essa pouca-vergonha… você deveria ser
mais cavalheiro.
— Eu prefiro ser mais um cavalo — digo, esticando a mão para
pegar uma azeitona de petisco e enconchar o meu cacete duro nela.
— Afinal, você e os cavalos têm muito em comum — ela geme,
endurecendo-me mais.
— Você está literalmente fodida, decoradora. Não esqueci o que
fez comigo no salão.
— Se ficar me perseguindo e me tratando como um objeto sexual
que quer assassinar a sua prima, você vai receber outro golpe. Juro que
vai.
Ela vira para mim, olhando-me diferente. É um olhar nervoso, de
não estar confortável.
— Vamos fazer um passeio. — Estendo o braço, sendo o mais
cavalheiro possível.
— Não confio em ficar a sós com você.
— Quando estávamos a sós, transando, você não me disse isso.
— Era outra circunstância, que envolvia tesão. — Bufa, apertando a
sua bolsa pequena. — Acho melhor eu me despedir da Hera e ir embora,
para deixar você feliz.
— O que há de errado?
Noto como está estranha, e não é só por minha causa, ela não iria
embora por esse motivo. Não do pouco que conhece essa mulher.
— Nada, além do Sr. Hoss que não me deixa em paz.
— Um passeio, Elena, ou realmente não vou te deixar em paz, nem
permitir que vai embora.
— Tá bom, apena um passeio. — Ela faz cara feia, dá um gole na
taça que abandona em cima da mesa e aceita o meu braço. — Mas, se
você encostar um dedo bruto em mim, eu grito.
— Relaxa, você vai adorar o jardim — comento, afastando-a das
tendas da festa bem animada, com risos e muita comida.
Todos aqueles convidados se divertindo são clientes nossos.
Clientes confiáveis, que precisamos fortalecer os nossos acordos e
aliança. Porém, no meio deles, pode haver cúmplices da máfia, ou de
inimigos, com sede de vingança contra nós. Reforçamos por esse motivo
a segurança.
— Nossa, sem palavras, o jardim do castelo é muito lindo. Aquilo é
uma estufa?
Ela aponta para a estufa de vidro, que era da minha mãe.
— Sim, e é ali que eu vou devorar você.
O pensamento de devorá-la veio no mesmo segundo que Elena
apontou para a estufa.
— Hoss!
Abraço-a por trás, louco para me acomodar entre as suas pernas. A
decoradora vira, quase tropeçando nos saltos.
— Talvez eu queira ser devorada.
— Sabia que aquilo de não encostar um dedo em você tinha duplo
sentido.
— Depende de como esse dedo pode ser “encostado”.
— Assim é muito bom fazer negócio, mulher.
— Sou imparcial e inteligente. Além do nosso sentimento de odiar
um ao outro ser mútuo.
Elena alisa o meu peitoral por dentro do terno, arrepiando-me e
fazendo-me chegar em segundos na estufa.
— Quem disse que a odeio?
Fecho a porta de vidro e levo-a para a chaise[2].
— A forma que me olha… não sei, você é assustador. Não me sinto
bem-vinda ao seu lado. Se bem que odiar é literal, diria inimigos mútuos.
Sento-me na chaise e ela continua de pé.
— Você fala demais, sabia?
Aperto a sua coxa, mostrando a ela o que quero.
A decoradora morde os lábios carnudos e eu não aguento assistir
essa cena. Puxo-a para mim, para sentar-se de pernas abertas no meu
colo e eu beijá-la sem hora para parar, é como se nada mais importasse
no mundo, a não ser saciar o nosso prazer.
Ela amontoa o tecido do vestido nas laterais do corpo e roça no
meu colo. Devido a calça social ser mais fina, sinto maior sensibilidade na
fricção da sua bocetinha e do meu pau latejante.
— Hera vai sentir a minha falta…
Ela toca no meu volume duro e entrelaça a nossa mão, para rebolar
com mais força de vontade.
— Que se dane a Hera.
É a primeira vez depois da Oli… daquela mulher, que eu deixo
outra ser tão livre comigo. Nem as meninas da boate eu permito isso. Até
havia me esquecido de como é gostoso vê-las no controle, principalmente
essa Elena, que não faz ideia de onde está se metendo. Ou ela faz?
Porra, é mesmo, ela tem ideia de quem somos? Não é possível que não
saiba, mesmo sendo uma informante ou não.
Mudo o meu comportamento e tomo o controle ao agarrar os
cabelos dela.
— Você conhece o sobrenome da minha família?
Ela arfa, concordando meio zonza e com dor pelo meu puxão
rápido na raiz dos seus fios.
— Calatrone? Co-Conheço.
— Conhece mesmo? Hera te falou tudo?
Ela franze o cenho, estranhando o meu olhar frio.
— Vocês compram ações de empresas, Hera me falou isso. E se
era para ela ter dito ou não, isso não é problema meu, nem motivo para
ser arrogante comigo.
Ótimo, vamos pelo caminho das mentiras. Hera está querendo criar
um universo paralelo, mas quando a verdade vir à tona, sua amiguinha
não vai aceitar o tipo que somos. Agiotas sem escrúpulos.
Porra, sinto que essa decoradora é “inocente”, só que… merda,
não tem jeito, há algo nela que não me faz confiar 100%. É algo que não
compreendo, só que que eu quero compreender, quero desvendar. Não
posso estar louco, nem obcecado em vão.
Empurro a decoradora para o outro lado e ela fica estarrecida, sem
entender o que houve. Levanto-me e ajoelho-me, fazendo-a entender o
que as minhas más intenções pretendem quando eu abro as suas pernas
e mergulho as mãos nas suas coxas macias. Elevo o tecido do vestido no
topo da sua barriga.
— Daqui em diante, eu só quero saber do nosso prazer… —
sussurro, inclinando a cabeça para lamber a sua virilha.
Ela se contorce e meu corpo se esquenta.
Acaricio-a com as pontas dos dedos gelados por cima da sua
calcinha úmida. Afasto de lado o tecido e toco nos lábios maiores, isso a
faz soltar outro gemido profundo e o seu grelinho escorrer mais
lubrificação.
Ergo-me para beijá-la.
— Eu poderia te comer agora, gostosa… está tão molhada para
mim.
— Então come — fala, remexendo os quadris nos meus dedos que
a masturbam.
— Antes, eu necessito de provar o seu gosto.
Eu volto a minha posição entre as suas coxas, tiro a sua calcinha
minúscula e grunho igual um cachorro, com a visão da sua boceta rosada.
Meu pau chega a latejar, sufocado dentro da calça. As bolas já estão
vendo arco íris.
Elena puxa o meu cabelo, arrepiada com a minha barba roçando
na sua pele.
Abro os seus clitóris e então, lambo-a de cima para baixo, num
movimento suave, mas, ao mesmo tempo, bruto. Ela geme, arqueia as
costas e contorce-se.
Que cena! Que paraíso!
Dedico-me a prová-la com a língua, lambendo, chupando e
devorando-a como um animal. Já Elena busca se segurar onde pode,
para suprir a vontade, o desespero de berrar de prazer. No meu cérebro,
vejo-me diante de um doce escorrendo o seu mel. E eu adoro um doce.
— Hoss….
Penetro um dedo no seu ponto G, entrando e saindo junto com a
língua. Dedilho-a sem um pingo de dó.
— Ahhh! — Ela grita com a mão na minha cabeça e rebolando na
minha cara.
As suas pernas logo tremem, o seu abdômen se contrai e ela
chega ao ápice, com gozadas fortes e gritos de êxtase. Seu leitinho
adocicado escorre pela minha barba, enquanto a limpo com a boca.
Paro de mamá-la e subo, fazendo-a sentir o seu gosto e o seu
cheiro de porra em mim.
— Na próxima, você me deve um boquete, decoradora.
Ela arfa, ainda em órbita com orgasmo.
— Se tivermos uma próxima…
— Negócios são negócios. E acabei de fechar um com você.
— Acabou, é?
Ela toca no meu pacote, abre a calça, enfia a mão por dentro da
cueca e tira o meu pau do desconforto apertado que estava. Ele salta
grande, veiúdo e grosso na sua cara.
— Vou deixar o boquete, só para termos uma próxima vez.
— Esperta, gosta de sexo parcelado.
— Gosto. — Ela tem a ousadia de me lamber a cabecinha e
afastar-se sem medo de eu ficar louco.
— Porra, cretina provocadora.
— Senta… — pede com um carinha de criança mimada.
Como resistir? Uma carinha dessa é um belo tiro nas bolas.
Sento-me na chase e ela sobe em cima de mim.
— A camisinha — tiro do bolso e entrego-a.
— E-Eu vou colocar?
— E rápido, minhas bolas estão doendo.
Ela abre o preservativo e olha para o meu pênis como se estivesse
hipnotizada.
Adoraria saber ler mentes, só para descobrir o que essa mulher
linda está pensando.
— Segura ele, decoradora…
Ela sai do transe, morde a boca e segura tremula a minha rola,
revestindo-a do látex. Em seguida, empina a bunda, vindo por cima toda
nervosa com a penetração.
— Vá devagar, não quero você se machucando — sussurro e beijo-
a calmo, realmente preocupado com o seu conforto, até por isso, sustento
as suas nádegas, estimulando o ânus e as bordas da vagina.
— Huummm — ela geme com tesão, criando coragem para sentar-
se na ponta do meu pau mais rápido do que eu imaginava ou esperava.
Puta que pariu, até perdi o ar. Nunca me senti tão apertado.
Gememos, até nos acostumarmos um com o outro.
— Meu Deus… — Elena choraminga em lágrimas.
— Você está be… — nem terminei a pergunta, pois a maluca
começou a quicar e a rebolar numa força sobrenatural.
— Ahhh, Hoss! — Ela desce até a base e sobe, sem parar.
Porra! Um milhão de vezes porra!
Que delícia! Assim eu vou morrer nesse caralho, ou com o pau
quebrado ou de ejaculação precoce!

Após Elena alcançar um orgasmo duplo e eu jorrar jatadas de gozo


que escorrem para fora da camisinha, recuperamo-nos da tamanha
intensidade da trepada para tentar voltar à festa.
— A minha calcinha… — Ela estende a mão, esperando que eu a
entregue.
— Costumo usar cuecas, morena. Aliás, precisamos discutir sobre
o sentimento de estar me sentindo envergado.
— O quê?
— Tenho certeza de que você fraturou o meu pau com as suas
quicadas violentas.
— Eu devia ter fraturado mesmo, e eu ainda quero a minha
calcinha! — Ela faz cara de brava. — Estou nua e toda melada nas coxas,
preciso dela!
Chego perto do seu ouvido e mordisco o lóbulo.
— Saboreie a sensação da minha vingança pelo chute que me deu
naquele altar.
Sorrio, virando as costas e saindo da estufa.
— Te odeio! Devolve a calcinha!
— Vamos logo, estou curioso para ouvir a desculpa que você vai
dar para a Hera, sobre o seu sumiço repentino da festa.
— Outro plano de vingança sua? — resmunga brava atrás de mim.
— Sim! — Deixo-a passar na minha frente, pela porta da estufa, só
para dar um tapa bem forte no seu traseiro redondo.
Ela urra de dor, por pouco, não caindo no chão.
— Hoss!
Elena tenta me estapear, só que a agarro e beijo-a. Também
acaricio onde bati a poucos minutos. Ela morde a minha boca, tirando
sangue de propósito. Esse não é o meu papel? Quer dizer que é uma
felina então?
— Quando voltarmos para a festa, a gente vai mudar… seremos
inimigos.
Isso de “inimigos” é tão ridículo, é óbvio que não somos. Porém, é
um charme provocativo que até gosto.
— A foda é a parte.
— Claro que é, já deixei isso bem resolvido, mesmo assim, espero
que você acredite que eu não sou ruim, nem capaz de fazer algo maldoso
para alguém. Sua prima e eu somos realmente amigas. Eu quis ajudá-la,
quis ser uma mão feminina nesse momento que nem um colo maternal
Hera teve presente. Sinto muito se para você eu pareci invasiva, com más
intenções. E se for necessário, agora que a cerimônia aconteceu e não
sou mais útil, irei me afastar da sua família. Prometo que irei. Há algumas
semanas, vocês, Calatrone, não existiam e eu vivia do mesmo jeito,
vivendo a minha vida… e se ainda posso vivê-la como antes... — sussurra
cabisbaixa. — Até mais, Hoss.
O discurso dela foi como um banho frio. Não respondo,
simplesmente deixo que ela suspire, afaste-se dos meus braços e retire-
se para bem longe com a sua beleza, perfume, voz doce e tudo, cada
pedaço, cada detalhe que faz essa Elena Bianco existir como ser humano.
“E se for necessário, agora que a cerimônia aconteceu e não sou
mais útil, irei me afastar da sua família. Prometo que irei...”.
Porra… eu não permiti isso.
O sentimento de satisfação por ter transado com ela se transforma
em fúria, revolta e estremecimento.
Em vez de voltar para a festa, eu vou para o castelo, para encher a
cara com bebidas fortes, pois sinto que não posso continuar no mesmo
ambiente que ela.
Subo para a sala de reuniões, quieto, sozinho e em busca de paz.
Só que, em meio a essa paz, Rael aparece para fazê-la evaporar.
— Oras, sozinho, irmão?
— Na verdade, bem acompanhado. — Ergo o meu copo de uísque
escocês.
— Posso também acompanhá-lo?
— Fique à vontade.
Ele sorri do meu deboche e vem até mim para servir um copo de
uísque e sentar-se na outra poltrona, ao meu lado.
— Amanhã teremos uma reunião, o tio Argus já mandou avisar a
família.
— Hera nem Morcego vão estar presentes.
— Vão estar na verdade assados de tanto foder.
Fazemos uma careta de nojo, imaginando a nossa priminha com o
filha da puta da nosso amigo. Ezequiel teve muita sorte quando
descobrimos o caralho da pouca-vergonha dele. Filho da puta safado.
— Onde estava há uma hora atrás?
Rael analisa maliciosamente a minha camisa amassada e com três
botões abertos, deve ter sentido o cheiro de porra.
— E te interessa, seu fofoqueiro?
— Vai se foder, já está evidente o seu lance de comer a
decoradora. Acha que a Hera também não notou o comportamento dos
dois essa semana? Ela só está se fazendo de cega. Seu interesse de
transar com a Elena foi tão claro quanto bosta boiando em água cristalina.
E hoje, depois que sumiram, ficou ainda mais óbvio para todos,
principalmente para a nossa prima.
— E daí? Hera sabe que essa amizade patética dela não vai durar.
Ela está criando um mundo paralelo de mentiras.
— Você não a entende, Hoss? Hera, você, eu e o Vince nunca
tivemos uma vida normal, longe do crime, armas, dinheiro fácil, inimigos e
perseguição.
— Eu sei — murmuro. — Mas, não tem como fingirmos ser
pessoas normais, nem agirmos normais ao lado desse tipo de pessoa. A
realidade é que somos agiotas sem escrúpulos, que matam e são
perseguidos por assassinos. A máfia mesmo quer derrubar o nosso
império para tomar o total controle de agiotagem. Só não fizeram isso
ainda, não sei o porquê.
— Se depender de nós, essa porra nunca vai acontecer.
— Exato, não vai. Agora entende o que a Hera precisa aceitar,
querendo ou não? Nem se ela fosse para a América do Sul, no outro
continente, nossos inimigos a deixariam viver o seu sonho de vida civil,
que cuida da casa, leva as crianças na escola e espera o marido voltar à
tarde do trabalho.
— Do fundo do meu coração, eu queria que essa vida fosse
possível, pelo menos, para ela, estaria disposto a crucificar qualquer coisa
para vê-la feliz.
— Todos estaríamos, mas nem assim...
— [...] nem assim ela e nem nós teríamos paz — Rael completa a
frase e ergue o seu copo de uísque. — Um brinde à nossa vida fodida e
fora da lei, que confesso, adoro vivê-la com todas as emoções possíveis.
— Faço das suas palavras as minhas. Um brinde à agiotagem que
está no nosso sangue.
Sorrimos e brindamos.

Quando eu voltei da estufa sozinha e enturmei-me na festa, a Hera


me encontrou, mas não me encheu de perguntas sobre o meu sumiço
repentino, todavia, senti o seu olhar estranho e desconfiado. Devido a
isso, meia hora depois, despedi-me dela com muitas felicitações aos
noivos e fui embora sobre as suas pressões existentes de ficar, “que ainda
estava cedo”. Não cedi, fui embora para tomar banho e descansar. Só que
assim que eu cheguei do casamento, não encontrei a Lupi em nenhum
cômodo da casa, sendo que está um perigo sairmos sozinha, ainda mais
sem avisar onde vamos. Será que ela esqueceu que já foi sequestrada?
Fiquei a aguardando até a porta da sala se abrir e a bonita
aparecer.
— Elena?
— Onde estava, Lupita? — Ergo-me furiosa do sofá.
— Eu saí…
— Por que não mandou uma mensagem avisando? Pelo menos,
mandasse a sua localização. Pois, lá no casamento, eu fiz isso uma duas
vezes só para te deixar despreocupada comigo. Onde você foi?
— Eu fui dar uma volta.
— Foi, é? Esqueceu o que me aconteceu hoje de manhã? E da
semana passada que foi sequestrada? Está mentindo, Lupi, mentindo na
cara dura!
Ela dá um passo, estranha.
— Eu saí para beber um pouco com a minha amiga. Ela mandou
mensagem me convidando e como eu estava cansada de passar o meu
domingo presa sozinha, resolvi aceitar. Desculpa por não ter lhe avisado,
pensei que se fizesse isso você abandonaria o casamento e viria atrás de
mim.
— Jura que é por isso?
— Juro, não avisei porque não queria te preocupar, maninha. — Ela
me abraça. — Te amo e desculpa.
— Também te amo, mas nunca mais saia sem me avisar do seu
paradeiro, entendeu, mocinha? Você é a minha responsabilidade.
— Já disse que o seu perfil é o mesmo da nossa mãe? Cruz credo,
Elena.
Sorrio, levando-a para o sofá.
— Mudando de assunto, preciso desabafar com você. — Deito-me
no seu colo.
— Estou a todos ouvidos.
— Bom… vamos lá… sabe aquele dia que você foi no castelo
espetacular da Hera?
— Sim, a sua nova “best friend”. — Lupi acaricia o meu cabelo.
— Então, por acaso, você viu aquele homem grande, musculoso e
de barba de lenhador ajudando a descer os vasos pesados de
decoração?
— Nossa, e como lembro. Até comentei dele com você, esqueceu?
Mas, o que tem aquele homem?
— Transamos duas vezes.
— O quê?! — Devido a surpresa, Lupi quase me faz escorregar do
sofá para o chão. — Você está saindo com ele? Está maluca?
— O que tem? — Franzo o cenho, estranhando o seu
comportamento.
— E o Paulo? O noivado de vocês?
Bufo e sento-me ereta.
— Já disse que não é para tocar no nome desse mafioso. O Paulo
está morto para mim! Morto! Odeio-o com todas as minhas forças! Não
existe mais noivado!
— Calma, eu só fiquei preocupada.
— Com o quê?
— Não sei, talvez por ele não gostar de você estar conhecendo
outra pessoa.
— Problema dele, eu tenho mais do que direito de seguir em frente,
não tenho?
— Claro que tem… e super estou de acordo. — Ela beija a minha
testa e eu retribuo o carinho. — Vou tomar um banho, o álcool já está
começando a doer a minha cabeça. Já volto para a gente maratona La
Casa de Papel.
— Tá bom, vai lá...
Lupi se retira e eu volto a deitar no sofá, respirando fundo e
pensando na minha vida, na maldição que foi conhecer o Paulo. Ele só
soube inventar mentiras para parecer perfeito e conquistar-me. Está aí
algo que me atrai no Hoss, eu sei que aquele troglodita não é perfeito,
pelo contrário, ele é um cafajeste que deixou claro desde o início que
queria só me foder. Assim como eu, solteira e com livre arbítrio,
igualmente deixei claro que queria ser só fodida. E senti em duas
semanas mais sinceridade nele, nas suas implicâncias, do que no ano
todinho em que passei ao lado do meu ex. Não levei para o pessoal as
ameaças do Hoss, pelo contrário, eu o compreendi. Ele só estava
protegendo a Hera de ser enganada por alguém que ela criasse confiança
de novo. Já que existe um histórico disso.
Eu o compreendi. Já Paulo não pude compreendê-lo, pois me
enganou com muitas mentiras. Se tivesse sido sincero desde que ele me
conheceu, talvez eu tivesse concordado com o seu sonho de começarmos
uma vida limpa e dentro da lei em outro país.
Só que eu odeio mentiras, odeio ser enganada e machucada...
como fui.
Nos dias seguintes que sucedem a semana, Hera não me ligou
para dar notícias e nem eu tive a ousadia de ligar. Ela está viajando em
lua de mel pela Europa. E achei até melhor assim, de não estarmos mais
em contato. Vou pegar essa deixa para me afastar cada dia mais.
E, sim, nem ele me procurou…
E acha que ele vai? Às vezes, você é muito sentimental, Elena, ou
trouxa!
Eu bufo, rolando os olhos para a minha consciência que adora
esfregar a verdade na minha cara.
— Quer saber? É hora de voltar à ativa — sussurro para mim
mesma no espelho, após me arrumar e ficar uma deusa gostosa. — Não
existe só aquele bem-dotado do Hoss no mundo. É isso!
Para esta noite, eu escolhi um vestidinho preto, bem justo, curto e
com decote nas costas. O cabelo eu deixei solto em ondas. Também
caprichei na maquiagem marcante e esfumada.
Enquanto eu colocava os brincos, meu celular vibrou sobre a cama.
Terminei de me arrumar, peguei o aparelho e precisei me sentar depois de
ler o nome na tela.
— Boa noite, decoradora.
— Bo-Boa noite.
Merda, por que gaguejei?
— Tudo bem?
— Sim, por que está me ligando?
— Você tem uma dívida penhorada comigo, lembra?
Mordo o lábio inferior, criando a cena dessa dívida sendo paga.
— Não sei se eu quero pagá-la.
— As coisas não funcionam assim, não tem escolha.
— Hum… então posso pagar amanhã?
— Não, já estou na porta da sua casa, esperando que abra o
portão.
— O quê? Está louco?
Saio correndo do meu quarto e vou até a janela da sala.
Pai amado, não creio!
Pela frecha da cortina, eu o vejo encostado no seu carro chique.
O safado acena e sorri.
— Já era para eu ter vindo ontem cobrar esse boquete.
— Eu tenho um compromisso agora, Hoss… — minto por pura
maldade.
— Onde, posso saber?
— Eu ia sair para uma balada, para beber e conhecer alguém.
— Vai conhecer ninguém, eu já estou aqui. Abre essa porta logo,
mulher! — Ele fica impaciente e nervoso.
Eu realmente iria sair para me divertir, por mais que estivesse em
perigo ou não. É a obrigação do Paulo manter a minha vida normal. E ele
prometeu ontem de novo, numa cartinha dentro de um buquê, que
ninguém mais iria nos incomodar ou fazer mal, que não era para
sentirmos medo. Lupi e eu resolvemos confiar.
— Sou impaciente, sabia?
— Eu não sou nem um pouco.
Pego a bolsa, abro a porta de casa, vou até a grade do portão e
finalmente o vejo. E, meu Senhor, padrinho das tentações, esse homem,
cada vez que o vejo, ele parece mais forte, bonito e amedrontador. O
cheiro do seu perfume penetrou até a minha alma. Como pode ser tão
lindo? Vive de cabelos e barba impecáveis.
— Porra, decoradora, isso que é recepção. — Ele passa a mão na
boca, comendo-me dos pés à cabeça. — Assim eu não vou aguentar,
você é tão bonita que parece miragem.
Sorrio, sentindo-me incrível, sexy e poderosa.
— Obrigada, agora vamos.
— Vamos?
— Sim, você vai me levar para dançar e beber — passo do lado
dele, sendo puxada de costas pelos quadris e enconchada pelo seu
volume da calça.
Arrepiei todinha, misericórdia.
Isso que estou sentindo é o pênis dele mesmo? Que delícia.
— Veja, como eu posso sair assim com vontade de fodê-la,
gatinha?
Ele se esfrega, sem medo de que algum vizinho esteja nos vendo.
— Você aguenta, agora me leva para aproveitar a minha noite. Não
me arrumei à toa.
— É a primeira mulher que eu permito tanto atrevimento, sabia,
Elena? Se fosse outra já, estaria de quatro, amarrada de joelhos e sem
direito a sequer um pio.
— E por que não é assim comigo?
— Porque você não é o tipo que me envolvo no dia a dia.
Ele me prensa contra a porta e enfia a mão gelada por baixo do
meu vestido. Gemo, sentindo falta de ser tocada assim.
— Se refere às strippers da boate da sua família? É elas que você
come no seu dia a dia, não é?
— Até duas por noite. Mas, eu e os meus irmãos nunca obrigamos
as meninas a se relacionarem conosco — ele sussurra, beijando o meu
ombro e acariciando a minha bocetinha já melada pela sua atenção. Não
para de latejar, minhas pernas estão até bambas. — As coelhinhas não
fazem programas ou qualquer serviço que envolva sexo pago pela boate,
às vezes, trabalham como acompanhantes de luxo e só. As contratei
realmente para dançar.
— Huummm… — eu rebolo nos seus dedos que me penetram a
vagina. — Você é um patrão maravilhoso.
— Sou mesmo, dona gostosa.
— Também habilidoso com as mãos. — Acompanho o seu
movimento de me masturbar.
— Porra, dona Elena… — Ele aperta o pau na minha bunda e
rebola o quadril.
Gememos com um tesão desesperador. Sinto-me fervendo de
calor, tudo está quente.
— Eu vou entrar nesse carro e você vai sentar de pernas abertas
no meu colo, entendeu? E depois que gozarmos, te levarei para beber.
Não tive nem tempo de concordar ou discordar, pois ele fez tudo
sozinho; sentou-se no carro, puxou-me, fechou a porta e fez-me ver
estrelas com o seu pau entrando até o talo em mim. Não demorei para
começar a rebolar e a quicar insaciável no seu colo.
— Já estou ansioso para o boquete da volta.
Eu olho para ele, arfante, e ajeito-me no banco.
— Gozou, decoradora? — pergunta, amarrando a camisinha e
jogando pela janela.
É claro que ele tem a certeza de que eu gozei. Só quer a resposta
para se achar.
— Ainda tem dúvidas?
— Nenhuma.
O safado entorta um sorriso sedutor de canto, limpa as mãos com
um lenço e pisa no acelerador. Eu vou o caminho todo recuperando as
forças e o oxigênio, até que, em vinte minutos, paramos na frente de uma
balada muito chique e cara de Portugal. Fiquei boquiaberta.
— Nossa, aqui?
— Eu preferia um hotel para fodermos a noite inteira.
— Você só pensa em sexo, Sr. Hoss?
— E tem como pensar em outras coisas perto de você? Já se olhou
no espelho, mulher gostosa? E vamos logo, já estou ficando duro de novo.
Descemos e vamos para dentro da balada, para bebermos,
xavecarmos, beijarmos e dançarmos esfregando um no outro.
Hoss é uma loucura, ele me deixa com um calor sobrenatural.
Sinto-me quente o tempo inteiro.
— Ei, onde vai? — questiona, dando-me um beijo com gosto de Gin
e rodeando a minha cintura com os seus braços musculosos.
Eu estava quase me distanciando dele para ir ao banheiro.
— Eu ia ao banheiro — falo alto devido a música.
— Então vai, e se demorar muito, eu vou atrás de você.
Sorrio e aliso o abdômen definido dele por baixo da camisa.
— Elena!
Solto-me desse homem delicioso e saio à procura do banheiro. Vou
aproveitar para trocar a calcinha. Sempre ando com uma na bolsa.
Encontro o banheiro de cabines e entro para fazer tudo o que necessito,
até retoco a maquiagem. Termino de me ajeitar rápido e quando estou
prestes a passar pela porta, sou surpreendida por alguém que me
empurra de volta. Pela brutalidade, penso ser o Hoss, mas quando ouço
outra voz rouca e conhecida, meu corpo gela.
— O que pensa que está fazendo? — ele berra, furioso.
Fico tonta, confusa.
— O que faz aqui?
— Você vai embora comigo, agora!
Paulo agarra o meu braço e antes que pudesse me arrastar, eu o
empurro contra a parede.
— Eu não vou a lugar nenhum, o que faz atrás de mim? — Enfrento
os seus olhos claros.
— Você que me deve respostas, Elena! É assim que funciona, para
você, eu sou um mafioso filho da puta e o outro lá é perfeito?
Fico surpresa pela forma que ele fala comigo, arrogante, com um
olhar feroz. Nunca foi assim.
— Deixe-me em paz. Eu estou seguindo a minha vida, conhecendo
gente nova, eu tenho esse direito!
— Terminamos há um mês, um mês, Elena! Sabe ainda como doí
no meu coração? Sabe disso?
Eu dou um passo para trás, com os olhos já marejados.
— Não doeu tanto quanto você, que me feriu com as suas
mentiras. É um Borghi, o filho de um dos mafiosos mais sem escrúpulos
de Portugal.
Paulo ri, dando um passo para me enfrentar cara a cara.
— E aquele filho da puta lá fora é o quê?
— Ele é apenas algo casual, deixei-o paz.
— Aqui dentro está cheio dos meus homens, você vai embora
comigo.
— E se eu não for, vai fazer o quê? Vai me sequestrar, me amarrar,
me machucar? Afinal, isso é da sua índole, está no seu sangue!
Ele me aperta na pia, pressionando a minha cintura.
— Cada passo que dá, eu estou lhe vigiando, lhe protegendo,
porque eu te amo, Elena. Você é a pessoa mais importante na minha vida.
— Pois pare de me dar importância, por favor... — Eu choro. —
Acabou, Paulo, a gente não existe mais. Não alimente essa obsessão,
apenas deixe-me viver em paz e como uma pessoa normal, com sonhos.
Sabe que eu tenho esse direito.
Escuto batidas fortes na porta e afasto-me.
— Poderia recomeçar com qualquer um, mas não com aquele cara
e essa família.... — ele quase berra entre os dentes.
— Adeus, Paulo.
Dou passos para trás e abro a porta, sendo surpreendentemente
puxada pelo Hoss.
— Por que demorou, já ia invadir essa porra! Precisamos sair
daqui.
Sem conseguir dizer nada, eu deixo que ele me arraste entre as
pessoas.
Eu puxo Elena comigo até a calçada. Em frente a balada, eu
avisto o tio Argus e o Rael nos esperando.
— Viemos assim que mandou a mensagem.
— Eles estão aqui — murmuro. — Vou levá-la para casa em
segurança.
— Iremos fazer escolta. — Tio Argus olha para mim e eu
assinto.
Em seguida, vou atrás do meu carro, faço a Elena entrar e
piso no acelerador.
— Por que demorou tanto naquele banheiro? — pergunto
bravo, sem olhá-la.
— Eu encontrei o meu ex na balada, ele entrou no banheiro e
discutimos.
— Hum… — Aperto o volante, arrependido por não ter
arrombado aquela porta no mesmo instante.
— Alguém mais abordou você no caminho para o banheiro?
— Não, apenas o meu ex — ela responde baixinho. —
Terminamos há um mês, mas ele não aceita o término.
Finalmente a observo e vejo o seu olhar fixo na estrada.
— Hum… — E de novo eu aperto o volante, ainda mais
arrependido por não ter arrombado aquela porra de banheiro. — Por
que terminaram?
— Porque ele mentiu sobre tudo relacionado a sua vida.
Criou um personagem para me conquistar. Só que no final eu
descobri a verdade. — Funga o nariz. — Ele não é um príncipe, pelo
contrário, é um sapo asqueroso. Agora eu só quero que ele me
deixe em paz, que me deixe curar essas feridas e seguir em frente.
Não falo nada, apenas dirijo quieto e pensando em mil
torturas com esse filho da puta que a magoou. Chego a ficar puto,
mais irritado. Que inferno!
— Está tudo bem?
Em pouco tempo, eu paro com o carro na frente da sua casa
e assinto em resposta a sua pergunta.
— Então olhe para mim.
Eu mexo o maxilar e olho nos seus olhos.
— Acredito que não seja assim… não quando está comigo,
pois só pensa em sexo. O que aconteceu naquela balada para
sairmos daquela forma? Também para o seu tio e o seu irmão ir…
— Desça, decoradora, nossa noite termina aqui! — exclamo
rude.
Ela franze o cenho, surpresa e sem entender.
— Desculpa se não era para fazer perguntas. — Seus olhos
analisam o mais profundo dos meus. — Não queria que a nossa
noite terminasse aqui.
Nem eu, merda, nem eu!
— Tchau, Hoss.
Ela abre a porta do carro e a irritação, o calor, tudo faz o meu
sangue ferver, por isso o movimento de segurar o braço dela foi
como um reflexo.
— Droga, Elena, eu também não quero que a nossa noite
termine aqui. Só estou puto por outro motivo.
Que é ela também, o seu perfume e o caralho da sua sentada
violenta e viciante.
— Ótimo que não seja eu, agora o senhor desça desse carro
e entre na minha casa, pois o sexo está sendo um Band-Aid perfeito
para mim.
— O quê? Eu sou um Band-Aid para você? Sabia que um dia
os papéis se inverteriam.
— Eu disse o sexo. — Ela sorri.
Seu sorriso até me acalmou.
Deixo que ela vá na frente para mandar uma mensagem ao
Rael e ao tio Argus, avisando que demorarei para chegar em casa,
pois estarei fodendo – repito essas mesmas palavras no texto.
Depois eu entro na casa.
— Quer pedir algo para comer? — Sento-me no sofá. — Já
que só bebemos.
— Quero sim, que tal uma pizza?
— Ok. Que sabor?
Ela escolhe e eu ligo para realizar o pedido. Após a ligação,
eu fico quieto, observando a Elena tirar os saltos. Ela é tão linda,
simples, uma mulher tão perfeita que parece mentira.
— O que foi, Sr. Hoss? Está pensando em me torturar, já que
somos inimigos?
— Acho que inimigos não pensariam na tortura que eu quero
fazer com você. Vem cá, decoradora.
— Elena — corrige.
— Elisa?
Ela rola os olhos, mas vem até mim.
— Sim?
— Senta. — Bato no meu colo.
— É seguro?
— Eu quem deveria fazer essa pergunta, depois das suas
sentadas da morte. Meu pau sempre fica na carne viva com você.
— Isso não é problema meu — ela ri e senta, entrelaçando o
braço no meu pescoço.
O movimento me incomodou, pois eu gostei de ser acolhido
assim.
Que porra, estou até parecendo um idiota carente.
— Vou me despedir hoje de você, de forma “cavalheira”.
Elena molha os lábios e acaricia a minha nuca. Noto os seus
traços ficarem cabisbaixo.
— Despedir... tipo para não nos vermos mais? Ou
transarmos?
— Sim...
— Ok...
Ficamos num silêncio desconcertante, até ela se mexer no
meu colo e endurecer o meu cacete.
— Com a fome que eu estou sentindo, talvez não espere a
pizza — resmungo.
— Não disse que seria cavalheiro?
— Seja compreensível, estou na fase do aprendizado.
De novo, ela sorri, esse maldito sorriso... esses malditos
lábios carnudos e esse maldito corpo. Por inteiro, ela é maldita.
Realmente preciso dar um basta. Elena é mais perigosa do que eu
imaginei.
Não demora para a pizza chegar, arrumarmos a mesa e
comermos.
— Como hoje é feriado, a minha irmã vai dormir na casa da
melhor amiga dela — a decoradora explica, mas eu só presto
atenção no decote dos seus seios. — Hoss? — Ela rola os olhos
para a minha cara de safado, enquanto saboreio a pizza e penso na
sua nudez.
— Tive uma deliciosa ideia, senta aqui em cima da mesa.
— Oi?
— Melhor, tira o vestido antes de sentar.
Elena me olha curiosa, a seguir, nega com a cabeça.
— Não, eu vou pagar primeiro o que lhe devo.
Ela se levanta, dá a volta na mesa com o seu vestido curto e
para na minha frente, adiante, ajoelha-se entre as minhas pernas.
Porra, fiquei até sem ar com a cena.
Para sacanear, ela já vai direto no seu objetivo; o meu pau
duro na calça. Abre o cinto, a braguilha e alisa o cós da cueca.
Tive que me segurar para não agarrar com força os seus
cabelos.
— Indo com sede ao pote?
— Não gosto de perder tempo. — Morde o lábio inferior,
fitando-me maliciosa.
Assim é muito castigo.
Ela me aperta e enfia a mão por dentro da boxer. Como uma
caixinha de surpresa que pula, meu pau ressurge idêntico, só faltou
o confete.
— Gosta de um leitinho com pizza?
Sem me responder, Elena molha a boca, de novo, não
perdendo tempo e avançando, desta vez, com a sua língua, para
lamber a cabecinha inchada do SOS – é o nome de batismo que eu
dei para a minha rola. Na presença dessa mulher faminta, o coitado
fica assado igual uma carne de porco.
E não vou aguentar me segurar.
E não me seguro, agarro bruto os cabelos dela.
— Você é enorme…
— Tenho certeza que engole até as bolas.
Elena me olha tão safada que penso em rezar um terço ou
chamar um padre para exorcizá-la.
— Prevejo que não vou me decepcionar com o seu boquete.
— Vou dar tudo de mim, prometo.
— Porra, mulher. — Seguro o meu pau e bato com a rola na
cara dela, no pescoço. Passo ele até entre os seus seios
empinados.
— Eu estou no controle — diz, pegando-o de volta da minha
mão.
E começa a lambê-lo de verdade, do topo da cabeça da
glande vermelha à base das bolas, sem um pingo de nojo ou ânsia.
Parece até uma profissional que sabe o que está fazendo.
Ah, que delícia do inferno. Ela é muito boa nisso. Sua boca
quente passeia por toda a minha extensão dotada, beijando,
sugando, mordendo e enlouquecendo-me.
Sinto a minha porra rasgar a sua garganta úmida, conforme
entra e saí. Seu queixo se aperta nos meus testículos, suas unhas
penetram a pele da minha virilha.
Eu vou gozar desse jeito, não aguento mais.
Agarro os cabelos dela, gemendo.
Elena faz sons durante as sugadas.
Fecho os olhos, sentindo que vou explodir. E, ao acontecer,
eu não aviso quando as jatadas vem, simplesmente a afogo no leite
quentinho.
Meu corpo derrete de suor. Tenho a impressão de que gozei
por um período de uma semana de sexo.
— Judia mais, sua safada — murmuro e afasto a sua cabeça
para trás, evitando que continue me lambendo.
Ela quer que eu morra?
— Nem mostrei todo o meu potencial, Sr. Hoss.
— Ainda quero a sua boceta completamente dormente. A
diversão só está começando. — Ergo-me da cadeira e num único
movimento, puxo-a para o meu colo.
Elena rodeia as pernas firmes nos meus quadris e beija-me.
Aperto a sua bunda, caminhando para a mesa de jantar. Coloco-a
sentada de pernas abertas, já com o vestido amontoado na cintura.
— Quero sentir o seu pau dentro de mim.
Ela toca na boceta, por cima da renda da calcinha vermelha.
Que excitante foi isso, caralho.
— Primeiro você vai sentir a minha língua.
Pego nas alças da calcinha e rasgo o tecido sem dó. Abaixo
a cabeça, tendo a visão da porta do paraíso. Branquinha e depilada,
até salivei. Ela firma os cotovelos na mesa e observa eu tirar um
pedaço da pizza da caixa no balcão.
— Vai ficar mais gostoso.
— Por que eu não pensei nisso quando estava chupando o
seu pau?
Eu dou uma esfregada na sua boceta com a pizza e ela
grunhi. Então inclino o pescoço, dando a primeira lambida nessa
grutinha lubrificada e saborosa. Gostinho maravilhoso de calabresa.
Abro a boceta com os dedos e começo a lambê-la com mais afinco,
faço movimentos de cima para baixo e circulares nos lábios
menores.
Elena geme enlouquecida pelo prazer, pelas sensações.
Ainda a dedilho e chupo. Seus gemidos clamam que eu não pare,
enquanto se contorce na mesa.
— Ahh, Hoss, que delícia! Mais! — Seus quadris rebolam
forte na minha cara.
Eu aperto as suas coxas e coloco-as sobre os meus ombros,
isso a fez contrair o abdômen e eu a ficar ainda mais veloz na oral.
Elena grita, de repente, caindo para trás e então, gozando. Aprecio
a sua vagina pulsar e expelir o líquido do orgasmo. Dou uma última
lambida, erguendo-me sorridente.
— Gozou?
— Que-quer a certeza? — questiona de olhos fechados,
trêmula e sem fôlego.
Eu aliso o meu pau pulsante e revisto o látex.
Elena se ergue fraca, tentando tirar o vestido. Ajudo-a a ficar
nua e num piscar de olhos, arrasto o seu corpo de cima da mesa,
viro-a de costa, pego nos seus cabelos, nos seus pulsos e inclino-a
de cara para a madeira maciça. Fiz isso tão rápido que a gostosa só
teve tempo de soltar um grito, ainda pelo tapa bem dado que levou
no traseiro empinado.
Beleza de vista, quero bater nessa gostosa sem piedade. É
um pecado ser uma perfeição dessa! E o meu é a gula, por desejar
comer essa mulher noite e dia.
— Seu… seu ordinário! — resmunga quase sem voz, devido
a dor.
Sorridente, puxo mais ainda os seus cabelos, desde a raiz,
pressionando a sua cara na mesa, os seus punhos e esfregando o
pau entre a sua bunda. Quase gozei, puta que pariu.
— Hoss, me fode, me fode! — Elena arfa em desespero.
Assim é uma tortura, preciso pensar em coisas broxantes,
ou… inferno, vou gozar!
Estapeio a sua bunda mais umas três vezes, e com tanta
força refletida pela excitação de fodê-la, fecho os olhos e meto o
cacete todo de uma vez, arrombando gostoso a sua boceta
encharcada. Espremo os dentes, entre gemidos e investidas.
Merda, que delícia. Ah, caralho, essa mulher é meu paraíso!
— OHHH! HOSS!
Bombardeio tão forte que libero os seus braços para ela se
segurar mais firmemente. A mesa vibra, rangendo os pés a cada
metro de pau que entra e sai. Não paro, não consigo, não vou!
— Estou em casa — gemo e aprecio o som do meu saco
batendo na pele do seu traseiro vermelho. É uma melodia clássica.
— Hummm!
Acaricio o seu ânus, isso a faz soltar gritos e mais gritos de
prazer. E na primeira contração, eu explodo de porra. Com mais
algumas arremetidas, a decoradora também goza. Só que não paro
por aqui, volto-a para frente, sento-me na cadeira do lado e faço-a
se acomodar sobre as minhas coxas.
— Senta bem devagarinho na cabeça do pênis.
— Hoss… eu vou morrer assim… Ohh, céus, você não
existe. — Ela abraça os meus cabelos e faz o que mandei,
penetrando e rebolando em mim.
Deleito-me com seus peitos, dando a melhor foda da nossa
existência. E não me canso, não me basta, não me sacia. Eu
poderia ficar o resto da vida apreciando o corpo dessa mulher. Ela é
a porra do oxigênio que não apaga a chama que sinto.

No fim da nossa última noite alucinante, não consigo parar de


reparar nos detalhes da mulher arfante nos meus braços, em como
esse calor é gostoso, essa intensidade de corpos. Estamos em seu
quarto, deitados na cama.
— Hoss, acho que não vou andar amanhã — sussurra com a
cabeça apoiada em meu peito. Sua mão acaricia o meu peitoral,
deslizando com calma as pontas dos dedos.
Por que não para de sentir esses detalhes dos infernos?
— Oito orgasmos, tirando alguns duplos — digo e ela ri.
— Você é metido em todos os sentidos, além de enorme.
— Devo considerar um elogio, adora frisar o quanto sou
grande.
Já ela é pequena, em todos os sentidos...
Elena ergue a cabeça, deslizando com a sua nudez para o
meio da cama, resta apenas uma perna por cima da minha. Ela me
fita de forma estranha. Não evito analisar o inchaço dos seus lábios
vermelhos, provocados pelos meus beijos ansiosos em devorá-la.
Fazia quanto tempo que eu não transava com esse tipo de
mulher?
As meninas da boate só fazem seu “serviço” e retiram-se. Até
a Ruiva, que é uma acompanhante fixa para mim.
— Nem precisava perguntar, sei que considerou — desvia
ruborizada dos meus olhos, puxando a colcha da cama para se
tampar.
O que estou fazendo?
Irritado, saio da cama.
— Você vai embora?
— Meu serviço já acabou — falo de costas, vestindo a cueca.
— Porque… não sei, tenta ficar.
— Não sou esse tipo, Elena. — Volto a olhá-la.
Esses malditos olhos verdes ou azuis, sei lá. Como essa
praga é bonita.
— Não estou lhe pedindo para passar o resto da vida aqui.
— Não sou esse tipo — repito nervoso.
— Já entendi.
O tom da sua voz foi tão baixinho que quase me fez desistir
de vestir a calça.
— É também a primeira vez que eu fico com um homem do
seu tipo.
— Do meu tipo?
— Sim, o tipo que uma mulher como eu olha na rua, suspira,
imagina como é na cama e depois volta para a realidade.
E ela é o tipo normal que eu não deveria me envolver por
mais de uma noite.
— Tenha certeza que se deixasse explícito a vontade de ir
para a cama comigo, eu jamais negaria esse árduo sacrifício. É um
pecado se negar boceta. Está nos primeiros mandamentos dos
homens.
Vejo-a sorrir, adiante, ergue o tronco para sentar-se dolorida
na cama.
— Onde encontro esses mandamentos?
— Você teria que nascer um homem para descobrir.
Fecho a calça e percebo que deixei a camisa e os sapatos lá
na sala.
— Adoraria ter nascido homem.
Ela se levanta, sem nenhuma vergonha de exibir a sua nudez
sob o deslumbre da claridade dos abajures.
Respiro fundo, recordando de como é tocar a sua pele
branca… e meus impulsos ansiosos me fazem reviver essa
sensação.
Tomo-a para mim, sem me importar com o seu pequeno
tamanho nas pontas dos pés.
Aliso cada curva do seu corpo, desde o traseiro empinado
aos seios fartos.
Porra, como eu posso ter sentido falta de tocá-la se a poucos
minutos eu estava a explorando assim e com a boca?
Ela suspira arrepiada, retribuindo o toque no meu corpo.
— Falta algumas horas para amanhecer… e está frio…
— Está frio? — Não aguento e jogo-a na cama, escalando
suas pernas como um leão prestes a devorar a sua presa.
— Impossível estar frio. — Lambo os seus mamilos duros. —
Você me deixa em chamas… mulher.
Pela manhã, eu saio da casa da Elena sem acordá-la e sem
me despedir. Saio dizendo a mim mesmo que é o ponto final. Ela é
perigosa, viciante e posso literalmente me foder nessa brincadeira.
Já basta ter me fodido uma vez.
Dentro do carro, observo um homem fumando do outro lado
da rua. Ele também está no telefone falando com alguém. E o que
mais me perturbou é que seus olhos suspeitos não saíram por um
segundo da casa da decoradora. Passo com o carro bem devagar,
chamando a atenção dele. Até que o filho da puta sorri, como se
estivesse me vendo pelo vidro escuro da janela.
Porra, tremores me subiram o sangue.
O que está acontecendo?
Seguro a vontade de descer do carro e torturar o cara para
descobrir o motivo de estar ali. Em vez disso, piso no acelerador,
sem parar de pensar na segurança da Elena. Eles, a máfia ou quais
outros inimigos, podem estar me observando, atrás de algum ponto
fraco. Talvez possam pensar que eu esteja em um relacionamento
com a decoradora e tentarem fazer algum mal a ela para atingir a
mim e a minha família… ou, ela sozinha pode estar na mira de
alguém.
Algo ainda não me deixa estar em paz com essa mulher. O
porquê eu não sei, e é isso que me irrita. Não sei o motivo de nada.
E se existe um motivo.
Chego no castelo e encontro o Rael na sala, com um jornal
nas mãos.
— A madrugada foi longa?
Ele abaixa o jornal e revela um sorriso malicioso.
— Ficou me esperando para saber os detalhes?
— Adoraria saber, pode começar pelos detalhes da nudez
dela.
— Vai se foder, seu idiota.
— Como pode voltar tão mal-humorado depois de transar?
Não deu conta do recado e broxou?
— Você só pode estar querendo perder os dentes.
Chego perto da janela e contemplo o sol nascendo no
horizonte da floresta. É uma vista de tirar o fôlego.
— Cadê o tio Argus? — pergunto.
— Ah, ele quer conversar com você ainda esta manhã.
Viro o rosto e observo o Rael estranho, pensativo. Sua testa
está enrugada, em preocupação.
— Por que a máfia estava lá ontem, Hoss?
— Coincidência? — resmungo, também me perguntando isso
desde que avistei aqueles homens. Era sem dúvida a máfia dos
Borghi.
— Não é o tipo de lugar que eles frequentam, os Marquês,
donos da balada, são clientes nossos há três anos.
— Estou achando tudo isso muito estranho. Quando sai da
casa da decoradora também tinha um homem do outro lado da rua,
observando a residência dela.
Rael pula da poltrona.
— Porra, ele te viu?
— Quando passei com o carro devagar, estava com a janela
fechada, mas não sei como, ele abriu os dentes e sorriu para mim,
como se estivesse me vendo. Segurei para não descer e torturá-lo.
— Já pensou que essa Elena pode estar em perigo por sua
culpa? — questiona nervoso fechando a cara.
Aperto os punhos. Na minha mente, eu quebro a cara do
Rael em centenas de pedaços.
— Já pensou que a Hera foi a primeira a ir longe demais? Fui
o único dessa casa a ir contra a forma que a Elena estava sendo
introduzida em nossas vidas.
— Claro, foi um absurdo no passado, até você ficar com
tesão e fodê-la!
— Eu vou quebrar a sua cara!
Avanço no Rael, nariz com nariz.
— Se está irritado com algo, não desconte em mim, porra!
Ele bufa, dando um passo para trás.
— Eu vou colocar alguém de olho na Elena, e se for
necessário, até em você que nunca me conta as coisas direito!
Rael bufa de novo e passa a mão no cabelo.
— Não está acontecendo nada, acho que me extrapolei —
murmura, cheio de orgulho suprido.
— Ainda está puto com aquele B.O do roubo? Eu sei que há
um mês andou fazendo loucuras atrás desse tal objeto roubado,
chegou a torturar e ameaçar pessoas inocentes.
— E daí? Qual o seu interesse agora? No começo, me
mandou ir se foder e me negou ajuda.
— Eu não estava bem. Quer que eu me ajoelhe e te peça
perdão pela minha má resposta nesse dia?
— Até que não seria ruim, sabia? Acho justo.
Rolo os olhos.
— Pode começar a se ajoelhar, estou esperando.
— Você merecia mesmo perder esse riso na fuça.
Rael sorri, deliciando-se com a minha irritação.
— Assim me magoa, maninho. — Coloca a mão sobre o peito
e faz cara de tristeza. — Me deve agora dois pedidos de desculpas.
— Não vou gastar a minha manhã com a sua irritante pessoa!
— Passo por ele.
— Você me ama.
— Vai pro inferno.
— Não adianta, lá também vou te irritar.
Deixo o ridículo se divertindo às minhas custas e subo para
tomar um banho, arrumar-me e trabalhar o restante da manhã no
financeiro. Não sou tão rápido com as contas igual o Morcego,
nosso administrador, mas estou me virando como posso. Ele até
disse que poderia cuidar de tudo durante a viagem de lua de mel, só
que discordei e disse que se ele insistisse eu iria bloqueá-lo dos
contatos. Hera merece toda atenção do mundo, nada longe disso.
Morcego tem que a tratar como uma rainha.
— Hoss? Bom dia, filho.
Tio Argus entra na nossa sala de reuniões, que eu
particularmente gosto de trabalhar por causa das janelas gigantes,
com vista para o lago, o jardim e os campos verdes. O escritório do
Morcego, por mais que seja grande, é sufocante.
— Bom dia, tio Argus.
Ele passa por mim e vai direto no aparador se servir de
alguma bebida.
— Logo cedo?
— O copo está com requisitos, você não fez diferente.
— É bom para esquentar o cérebro — respondo, referindo-
me ao frio que está fazendo hoje.
Tio Argus volta com a sua bebida e acomoda-se ao meu lado
esquerdo da ponta da mesa.
— O irritante do Rael me informou que gostaria de conversar
comigo.
— Quero, por isso estou aqui.
Eu calculo os dois últimos números do recibo sobre a mesa e
observo o Argus. Seu olhar misterioso me faz franzir o cenho. Ele
sempre tem esse olhar, no entanto, hoje se encontra mais abstruso.
— Estou a todos os ouvidos.
— Não vamos direto ao assunto.
— Isso é surpreendente da sua parte. Nunca é de rodeios.
— Não sou. Precisamos falar sobre a máfia, tenho certeza de
que as coisas vão ficar mais difíceis entre os clãs.
Arqueio a sobrancelha, batendo pensativo os dedos na mesa.
— Por que diz isso? Tem ideia do motivo deles estarem
ontem na balada dos Marquês?
— Não faço a mínima ideia. — Tio Argus não desvia os olhos
dos meus. — Mas, sinto ser um aviso de algum começo nada bom
para o nosso lado.
— Está supondo que eles estavam lá por minha causa? Que
talvez estejam investigando a nossa família, os nossos negócios?
— Há anos, eles investigam, agora podem estar planejando
nos derrubar de verdade — diz e vira o resto do seu uísque,
constato a bebida pela cor e o cheiro do seu hálito.
Fico putamente nervoso.
— Como sabe?
Tio Argus suspira, voltando o copo à mesa.
Que pergunta foi essa? Argus sempre está a um passo à
frente de todos nós. Não sei como, só sei que ele sempre está. Isso
é algo que me irrita.
— A questão não é como eu sei, a questão é que devemos
nos preparar. E você — ele se inclina, enfático —, para o bem e a
segurança da Srta. Elena, não volte a procurá-la mais.
Ao se afastar, ele me deixa com os músculos rígidos.
— A Hera…
— Quando ela voltar da lua de mel, teremos uma conversa
também. Apenas se afaste daquela senhorita.
— Está falando comigo como se eu fosse um inexperiente,
não faça isso.
Ele assente, sem menor remorso.
É sempre assim, desde que meus irmãos e eu perdemos os
nossos pais na adolescência que tio Argus nos trata como filhos,
como crianças que precisam de um superior vigiando os seus
passos e ditando regras o tempo todo.
— É pelo bem da nossa família, Hoss. Pelo bem dos
inocentes que desejam estar ao nosso lado. Não quero ninguém
ferido.
— Ninguém vai se ferir. E cuidarei da segurança da
decoradora.
— Desde que não seja particularmente você. Na verdade, eu
posso cuidar disso, não se preocupe.
— Não tem afazeres mais importantes? Já disse que eu
cuidarei da segurança dela. Isso é de menos.
— É claro… — confirma com seu olhar profundo, cheio de
pensamentos. — Tenho alguns afazeres marcados pela minha
secretária. Duas reuniões.
— Boa sorte. Odeio cuidar dessa parte de manter alianças,
fazer acordos. Meu trabalho é melhor na cobrança.
— Sabe que herdará os negócios, filho? Será o chefe. — Ele
bate nas minhas costas, quase abrindo um sorriso completo. — Mas
futuramente sairá melhor do que eu nessa tarefa de manter aliados.
Eles são muito importantes. Um império cresce com apoios sólidos.
E não chegamos até aqui, perdendo pessoas que amamos, para ver
tudo isso ruir da noite para o dia.
— Confio em você, tio. Porra, e confio mais do que eu
gostaria de assumir. Não vou aceitar perder nada do que
construímos.
Ele se ergue da cadeira, passando a mão nos cabelos meio
grisalhos.
— Não vamos, nem que eu morra pelo nosso sobrenome. E
que Hera não escute isso.
Sorrio, já imaginando a cara brava que ela daria ao pai.
“Nunca mais diga um absurdo desses, ou quem mata você sou eu”.
— Essa casa é uma penumbra sem ela e os seus chiliques
femininos, por mais que sejam insuportáveis.
— Mulheres, meu sobrinho, não vivemos sem elas e nem
com elas. Que Ezequiel cuide de nosso tesouro.
— Com certeza...
Espero o Argus se despedir e andar até o elevador, contudo,
ele continua parado. Até fazer a sua feição de acusa, pronto para
enxurrar todos os meus pecados.
— Eu soube da sua visita a Isis na semana passada.
— E o que o senhor não sabe? — resmungo. —
Surpreenderia com a resposta.
— Eu não sei de muitas coisas, nem como consegue deitar a
cabeça no travesseiro, sabendo que renega a própria filha de quatro
anos. Isso eu nunca saberei.
— Pare de me martirizar, porra!
Bato na mesa, erguendo-me em rompante furioso.
— Nem se a Claudia tivesse me entregado ao meu pior
inimigo eu teria abandonado a Hera na sarjeta. Minha filha nunca
teve culpa de nada. Nem nunca vai ter. Eu sou pai dela. Pesquise o
sentido dessa palavra no dicionário.
Ele, então, vira as costas, após penetrar ainda mais fundo
essa faca no meu peito.
Se Argus não tivesse saído rapidamente, eu teria avançado
nele, socado a sua cara até...
Jogo-me na cadeira, fecho os punhos, os olhos e a imagem
do seu rostinho, da sua voz, tudo volta para me açoitar sem dó.
Ela tem os olhos azuis cristalinos dela. É como se eu tivesse
a visto de novo, nos meus braços, agonizando os seus últimos
suspiros de vida.
Inferno… eu nunca durmo, eu nunca tive uma noite sequer de
paz. E o tio Argus sabe disso. Depois daquele dia, depois que eu
descobri as mentiras da Olivia, meu mundo desmoronou duas
vezes. Eu a enterrei dizendo que a amava, que registraria o bebê.
Só que no dia seguinte... com o céu escurecendo, descobri teias e
mais teias de mentiras que foram mais doloridas do que a dor de vê-
la morrer nos meus braços, de enterrá-la naquela cova fria.
Comportei como um idiota, um tolo guiado pela criação da
mãe.
Amor, respeito, confiança, lealdade e família… essas são as
filosofias que ela nos ensinava sem descanso. Valorizar as
mulheres, como tratá-las. Mas, ela esqueceu de avisar que alguns
desses seres podem não merecer nada disso. Pelo contrário,
merecem muito mais do que o desprezo.
Que Olivia queime no inferno!
Como prometi, cuidei da segurança da decoradora. Coloquei dois
homens para rondar a casa dela. Também pedi para eles me
comunicarem de qualquer movimentação suspeita. A verdade é que a
minha vontade era de cuidar pessoalmente daquela mulher linda da
porra.
Meu pau se enrijece na calça, concordando sem objeções com o
pensamento.
Não ter a Hera aqui, insistindo em manter por perto aquela mulher,
facilita ainda mais o meu trabalho de mantê-la longe da minha fome
sexual.
Algo positivo pelo menos...
Eu saio de casa com o Vince tagarelando igual uma mulherzinha no
meu ouvido.
— Você, por acaso, está prestando atenção no que eu estou te
contando?
— E tenho outra escolha?
Vince revira os olhos.
— Vamos lá, Hoss, não custa nada dar uma mãozinha para o seu
irmão preferido.
— Meu sonho era ter nascido filho único.
— Se papai e mamãe não tivessem transado mais duas vezes na
vida, esse sonho teria se realizado. E lembre-se, você é o irmão mais
velho, é a sua obrigação me ajudar.
Viro para ele, tentando lembrar se aquele tombo que ele levou na
infância danificou o seu cérebro. Vince ficou dois dias inconsciente no
hospital, devido ao impacto da queda contra o chão. Ele caiu de uma
árvore.
E, com a árvore, ficou tudo bem, graças a Deus.
— Está sorrindo do quê, filho da mãe?
Entro no estacionamento da boate, desligo o carro e então miro a
arma nas bolas dele.
— Você não está louco!
— Não vou te ajudar a entrar no sistema do estado e se insistir
nesse assunto, tio Argus saberá.
— Eu sou um hacker bonito, gostoso e profissional, sei o que estou
fazendo. — Sorri, irritando ainda mais a minha paciência.
— Aí, caralho, era brincadeira! — Ele geme, depois de eu acertar a
arma no canto dos seus testículos. — Tira essa arma do meu pau!
— Você acabou de entrar na minha mira, estou de olho em você.
Afasto-me.
— Eu devia ter pedido ajuda para o Rael — resmunga, abrindo a
porta do carro.
Descemos juntos.
— Não teste os limites de onde pode chegar. Se você colocar a
nossa família em perigo, se considere um homem morto.
— Se pudéssemos ter documentos comprometedores do estado a
gen…
— Ainda está tocando nesse assunto por quê?
— Esqueci que você é a cópia fiel do tio Argus. Só queria ajudar,
ter algo que garantisse a nossa proteção. Já viu, ter o sistema igual um
cachorrinho rolando e sentando para nós? Poderíamos subornar as
pessoas certas.
— Não trabalhamos assim. E se voltar a repetir esse absurdo, eu
castro esse grafite entre as suas pernas.
Entramos juntos na boate já lotada.
— Que absurdo, chaminha. Respeita o Vincenhã.
— Vincenhã? — De repente Igor surge ao nosso lado e eu faço um
sinal para ele calar a boca, pelo bem dos nossos nervos.
Mas é tarde.
— Vincenhã, o meu pau. — O infantil sorri.
— Não sei ainda como perco o meu tempo com esse idiota. — Rola
os olhos.
— Tenha certeza, por experiência própria, ser o irmão dele é mil
vezes pior.
— Larguem de ser ingratos, vocês não viveriam sem mim.
Ignoro Vince quando a gente chega na mesa e senta em um dos
espaços no sofá redondo.
— O que faz aqui, Igor? — pergunto.
— Tenho certeza que a mulher dele vai adorar saber onde ele está.
— Precisei vir atrás de vocês. Aconteceu algo muito grave.
Olho para Vince, já nervoso.
— Desembucha.
— Vou direto ao assunto então. Como sabem, eu tinha uma
cobrança muito importante hoje à tarde, mais de meio milhão de euros.
Contudo, quando eu cheguei no lugar marcado para receber o
pagamento, encontrei o nosso cliente morto, suspenso numa viga, de
cabeça para baixo. O dinheiro estava no chão, dentro de uma maleta
aberta e banhada pelo sangue que escorria da marca do seu peito.
— Ah, merda! — Vince se levanta, puto. — Qual marca, Igor?
— Cruz invertida.
— A marca da morte da máfia… você tem certeza disso? Você viu
nele? — indago, mantendo a calma que me é rara.
Igor assente.
— Ele estava com uma cruz invertida cortada bem profunda no
peito, era por esse ferimento que o sangue escorria do corpo e caía sobre
o dinheiro na maleta. Não toquei em nada, saí o mais rápido possível dali.
— Vocês sabem o que isso significa, né? Não há mais dúvidas.
— Eles estão declarando guerra.
— Vai para o castelo avisar imediatamente ao Argus.
Igor concorda e se levanta para ir embora, mas Vince o segura.
— Espera, eu vou com você. Não tenho mais cabeça para
continuar na boate.
Os dois se vão, deixando-me com a movimentação de pessoas e o
som da música por todos os lados.
Não adianta em nada nos desesperarmos agora. Precisamos de
um segundo ataque para ter certeza de que é a máfia e de que eles estão
tentando atrapalhar os nossos negócios.
Eu respiro fundo, bebo uns copos de conhaque, para, em seguida,
ir embora. Dentro do carro percebo que está cedo demais e mudo os
meus planos sobre fortes opiniões de meu cérebro, que insiste em mandar
eu dar meia volta. Porra… mas não dou, pelo contrário, eu piso mais forte
no acelerador.
Chego na frente da casa dela, notando as luzes da sala acesa.
Fui embora ontem sem acordá-la. No entanto, antes de ir, ainda
fiquei em pé na beirada da cama, admirando a sua nudez esparrama na
cama e o seu jeito sereno de dormir. Ela tem aquela sensação de casa, de
estar em algum lugar confortável. Não sei explicar isso… mas é uma
sensação que me faz querer voltar.
Desço do carro e, embaixo da garoa, eu vou correndo até a
campainha; toco e não demora para ela surgir na janela, muito surpresa
por me reconhecer.
— Hoss? — indaga em um tom de voz que eu quase não ouvi.
— Vai me deixar na chuva, decoradora?

Meu Deus, é ele mesmo?


Ontem, quando acordei e não o vi no quarto, imaginei que não
voltaria a me procurar, assim como garantiu. E está certo, né? Porque só
tivemos uns sexos casuais, sem garantia de algo duradouro tipo… tipo um
relacionamento. Hoss não parece um homem de manter algo sério, é
aquele cara que pode ter qualquer uma aos seus pés e que usa as
mulheres ao seu bel-prazer. É um cretino, um muito bonito. Selvagem,
safado, bom de beijo, de cama, de pegada e…
— Se quiser eu vou embora! — Ele interrompe os meus
pensamentos.
Então solto o ar dos pulmões, caindo em si e vendo que não
consegui me mover um passo sequer do lugar onde estava. Logo me
movo com rapidez, fechando as cortinas e correndo para abrir o portão.
— Peguei você de surpresa?
Hoss e eu só nos dirigimos a palavra quando ele já está na minha
sala, pois começou a chover forte e só deu tempo de pedir para ele entrar.
— Confesso que muito.
Ruborizo com o olhar assustadoramente sério dele.
Pai amado… analiso esse homem gostoso na minha frente e penso
que nossas cenas na cama foram invenção da minha cabeça. Com
certeza foram, aquelas tapas na minha bunda, os puxões de cabelos, as
arremetidas fortes e prazerosas – e o melhor de tudo – às lembranças de
minhas mãos deslizando pelas suas costas, peitoral, abdômen e aquela
sensação… de estar tocando no seu membro muito bem dotado.
Eu suspiro e ele nota, o que o faz desfazer o semblante de
assassino das montanhas que também sequestra criancinhas.
— Vejo pelo seu olhar que ficou.
— Claro, você disse que não volt… humrum... — pigarreio,
desistindo de lembrá-lo do que disse, vai que ele realmente não volte mais
a me… não que eu queira isso, que ele volte, é claro que eu… aff, que
droga de mente. — O que faz aqui, Hoss? — pergunto calma e curiosa,
afastando os meus pensamentos conturbados. — Longe da cama somos
inimigos mortais.
Noto que ele segura o broto de riso que surgiu no canto dos seus
lábios, que aliás, não paro de observar.
O que está acontecendo comigo? Quando fui tão safada?
— Já evoluímos para “inimigos mortais”?
Ele dá um passo para mais perto de mim.
Eu prendo a respiração.
— E longe da cama só temos alguns pontos que se divergem.
— Por exemplo, o ponto que você me quer longe da sua família?
— E de mim.
Quase tropeço no tapete quando ele enfim para à minha frente,
sem me tocar, porém, intimida-me somente com o seu existir. Ele não faz
ideia de como é imponente. Ou faz?
— De você? — Franzo o cenho. — Devo lembrar quem estava na
frente do meu portão agorinha me chamando?
— Quem? Lembro de estar sozinho.
— Hoss!
Ele sorri e me puxa pela cintura. Perco de vez as forças.
— Não conhecia esse seu lado bem humorado — sussurro.
— Você não conhece muitas coisas sobre mim, decoradora.
Ele beija o meu pescoço, desliza as duas mãos para a minha
bunda e aperta tão forte que eu gemo.
— Mi-minha... irmã — gaguejo. — Ela está em casa. — Afasto-o
com dificuldade, esse homem é gigante. — E não darei o que veio buscar.
— Duvido que não.
Talvez ele esteja certo? Que se dane, resistirei. Às coisas não
funcionam assim, de bater no meu portão, eu abrir a porta, transarmos e
no outro dia ele...
É claro que é assim, Elena! – minha consciência corrige. — Não se
apegue às luxúrias desse deus grego, à beleza e a essa pegada fora do
normal. É sexo e adeus.
— Posso saber por que está com esse olhar tão distante?
Pensativa?
— Eu só estou cansada, peguei outra festa para decorar.
— Hum… entendo — ele observa os meus olhos, desta vez, com
um olhar diferente. — Está mais estranha do que é.
— Isso foi algum tipo de elogio?
— Na verdade, não.
Hoss volta a beijar o meu rosto e a me arrepiar com a sua barba
roçando na minha pele.
— Você é insistente…
— Vou te poupar hoje porque realmente deve estar cansada,
principalmente depois da nossa foda animal de ontem — resmunga no
meu ouvido. — De novo, deixou o meu pau na carne viva. Que fome
sexual é essa, mulher?
Toco no peitoral largo dele, deliciando-me com o seu porte forte,
todo musculoso. E sorrio.
— Eu gosto muito de sexo, não sei se notou.
Gosto mesmo, e não estou cansada o bastante para não querer
sentar nele nesse exato momento, pelo contrário, já sinto a minha calcinha
ensopada e a minha boceta necessitada de atenção – a coitadinha pisca.
— Eu notei, notei com o meu pau bem enterrado entre as suas
pernas.
Ele agarra com força o coque do meu cabelo, joga a minha cabeça
para trás, puxa a minha cintura e me beija, devorando-me numa fome
colossal. Retribuo na mesma fome de beijo, só para mostrar que sou
melhor. Devoro a sua língua, os seus lábios e ele faz tudo isso também,
só que com a intenção de mostrar que é muito melhor no quesito beijar, e
ele faz duas vezes pior. Parece sugar a minha alma, a minha consciência
e a autonomia do meu corpo.
Arquejo, sentindo a sua ereção enorme na minha virilha.
Isso é injusto, é jogo baixo!
Não aguento e esfrego-me nele, com muito tesão.
— ELENA? AAHHH!
De repente arregalo os olhos e imediatamente me solto do abraço
de Hoss, por pouco não caindo no chão, se ele não tivesse me segurado.
— Eu... eu não queria atrapalhar.
— Não! — exclamo exasperada para a minha irmã que está em pé
na entrada do corredor, olhando-nos boquiaberta e sem reação.
Hoss me solta e vira-se para ela.
Lupi dá um passo para trás, assombrada com o homem gigantesco
que a observa.
— Esse é o Hoss, o primo da Hera… aquele que você viu no dia
que foi no castelo — explico, sem coragem de encará-lo.
— Pra-prazer, Sr. Hoss. Sou a Lupita.
— Satisfação, Srta. Lupita. São irmãs, né?
— Sim — respondemos juntas, envergonhadas pela situação
constrangedora.
— Hã, é melhor eu voltar para o meu quarto, não queria atrapalhar
vocês, com licença.
Ela sorri sem graça, vira as costas, praticamente correndo e
sumindo corredor a fora.
Afasto o Hoss por completo de mim, respirando fundo para o
sangue se realocar para os lugares certos. Sinto-me com um calor
indescritível.
— Onde paramos mesmo? — O safado me agarra de novo por trás
e aperta-me contra sua ereção rígida.
— Não vou transar com você tendo a minha irmã para escutar tudo.
— Então a gente ia transar?
Posso sentir o seu sorriso de triunfo nas minhas costas.
Rolo os olhos.
— Não, não íamos e nem vamos. Solte-me.
— É incrível a sua coragem para ter alguma autoridade comigo,
sabia? — Ele me solta. — Nenhuma outra mulher ousa sequer erguer o
olhar para me desafiar.
Eu viro, fitando a sua imensidão castanha, assombrosa. Tenho
certeza que esse olhar é um dos motivos delas não ousarem erguer a
cabeça para desafiá-lo.
— Acho que sou mais corajosa que elas.
— Isso eu devo admitir, você não tem medo do perigo.
Ele retribuiu o meu olhar intenso, como se estivesse lendo a minha
mente.
— Acho que é pelo motivo de você ter me ameaçado desde o
início. Não medi esforços para me defender, e você não mediu os seus
para me acusar de ser informante, assassina, traíra e sei lá mais o quê.
— Você segue em análise, dona decoradora. Algumas coisas não
mudaram.
— Para de fazer esse olhar — quando vejo, eu solto em voz alta.
— Oi? — Ele volta a mostrar o mesmo olhar que me deixa acuada,
sem fôlego e sem força nas pernas. — Que olhar?
— Já se olhou no espelho? É terrivelmente…
— Terrivelmente? — Ele chega mais perto.
— Intimidante, assombroso e…
Hoss sopra o seu hálito no meu rosto.
— E o que mais, Elena?
— … quente. Pare de fazer…
— Não posso controlar, aliás, nem me vejo fazendo tal olhar. É
esse aqui? — Ele questiona, franzindo a sobrancelha e fechando bem
pouquinho os olhos.
Arrepio-me, em dúvida se gostei ou não desse olhar de monstro
perverso, brutal e feroz. Mas não é esse. É o seu olhar natural, quando
está concentrado em algo… ou quando está bem concentrado em mim.
— Não, não é esse.
— Sigo bem curioso para saber qual é.
— Hoss, não me toca — não deixo que ele continue subindo os
dedos entre as minhas coxas e corro para o outro lado. — Sem sexo!
— E vai me deixar assim? — Ele se joga no sofá, de pernas
abertas e apertando no seu membro endurecido na calça.
Que visão! Que visão!
— Isso é problema seu, tente pensar em coisas broxantes que logo
volta ao normal.
— Com você nesse vestido em modelo camisa social e essa meia
até os joelhos, fica bem difícil, gostosa.
Abaixo a cabeça para ver a minha roupa e penso que, se eu o
deixar com vontade de mim, por tabelas, ele vai sempre querer voltar para
se satisfazer?
Não, não pense!
— Por que está tão estranha?
Volto a atenção para ele.
— Estou de verdade cansada — minto, tendo em mente outra
resposta.
Hoss suspira, concordando.
— Tem algo quente para bebermos, pelo menos?
— Não é melhor gelado? — Não evito olhar para o volume do seu
pacote. E que merda, é impossível controlar.
— Elena, Elena… não brinque com fogo.
Pigarreio, saindo constrangida da frente dele.
— Vou pegar uma garrafa de vinho. Não é dos melhores que você
bebe e deve estar acostumado, mas dá para saborear, foi feito aqui em
Portugal.
Pego a garrafa, as taças e volto, receosa de sentar ao seu lado.
— Não vou avançar em você para te foder.
— Onde assino o contrato que me garante isso?
— Porra, sou um homem de palavras.
— É? Pois não acreditarei.
— Senta logo, decoradora, ou realmente te pegarei com vontade,
arrancarei esse vestido e farei questão da sua irmã ouvir os seus berros
de prazer escandalosos enquanto afundo até as bolas no meio das suas
pernas. “Ahhh Hoss, mete mais… mais fundo! Ahh, você é um deus na
cama, o melhor do mundo!”
Chuto com força a canela dele, para que ele cale a maldita boca
antes que Lupita o ouvisse de verdade.
E vencida, sento brava ao seu lado.
— Eu não gemo assim!
— Vai me passar por mentiroso?
— Vou!
— Acho que sou mesmo, você geme pior, o quarteirão inteiro ouve
o quanto é uma libertina.
Dou um olhar mortal para ele, sem me sentir um tiquinho intimidada
por sua monstruosidade de homem bruto.
— Sabe a minha vontade agora? — sussurro entre os dentes.
Vejo-o se divertindo.
— Jogar essa garrafa de vinho na minha cabeça?
— Acertar es… o quê? — Fico surpresa.
— Você é muito transparente.
— Não sou, você que é!
— Você que é, Elena.
— Não, é você que é!
— É você!
— Viu como é um irritante que gosta de me irritar? Nem parece
esse mostro bonito que sequestra criancinhas.
Arregalo os olhos.
Ai, merda, porque não consegui segurar a língua?
— Eu ouvi direito? — pigarreia.
Desvio dele, corada. Não sei se ele ficou bravo com o que soltei
sem querer.
— Vamos por parte, você me acha um mostro bonito?
Bufo, tentando abrir a rolha do vinho, até que ele toma a garrafa
com força das minhas mãos.
— Responda, decoradora.
Ergo os olhos, mas não vejo no seu rosto um semblante bravo, está
neutro.
Mordo os lábios.
— Não tenho nada a responder, apenas usei uns adjetivos
qualificativos.
— Isso explica o termo “sequestra criancinhas” também?
Que droga, não paro de sentir o meu rosto arder em brasas.
— Eu quero vinho — mudo de assunto e foco na garrafa que ele
acabara de abrir.
— Não mandei mudar de assunto.
— E se mandasse, eu o expulsaria da minha casa, pois odeio
receber ordens de homem — empino o nariz de propósito, desafiando-o.
— Não teme mesmo o perigo… porra de mulher — desta vez, ele
fica bravo de verdade. — Vai ver o que é o sequestrador de criancinhas.
— Humm, só me sirva.
Estendo a taça igual madame e ele me fuzila, despejando o líquido
saboroso.
No decorrer da noite – sem sexo –, Hoss desfaz a cara de
“monstro” e transforma-se em outra pessoa, mais leve, mais sincero e
mais confortável na minha presença. Também tive o mesmo
comportamento com ele. Conforme íamos esvaziando a garrafa, não parei
um segundo de sorrir. Nunca imaginei que esse homem fosse tão bem-
humorado.
— Você está mentindo — acuso, tentando não rir igual uma porca.
— Sério que não acredita?
— Chegar no clímax 46 vezes? Claro que não. Que mulher aguenta
isso?
— Decoradora, decoradora, tem certeza que quer duvidar da minha
palavra? — Ele puxa uma linha maliciosa nos lábios.
— Não é questão de duvidar, Sr. Hoss. — Flerto com a sua boca e
os seus olhos. — É questão de realidade, isso é mentira.
— Ah, é?
— É sim… pare... — Tento afastar a sua mão grande que pousa
pesada sobre a minha coxa. — Hoss…
— Repete de novo, Elena.
Só que sendo mil vezes mais forte, o safado avança entre as
minhas pernas. Tento fechar, mas ele consegue chegar no seu destino
sem grandes dificuldades.
— Por favor… pare. — Arqueio as costas, gemendo pelos seus
dedos acariciando o meu clitóris.
Pulso de tesão.
— Vamos para o meu carro? Lá, trepamos bem gostoso.
— N-não.
— Você quer isso, Elena. Está molhadinha, pronta para ser fodida.
— Eu...
Ele me puxa, avançando e roubando um beijo cheio de labaredas,
que só incendeia ainda mais o nosso calor excitante. Sinto-me mais
melada, mais encharcada.
— A minha irmã, ela… Ohhhh. — Hoss penetra dois dedos dentro
de mim, sem parar de descer seus beijos pelo meu pescoço.
Os pensamentos se escurecem de prazer. Perco o fôlego.
— Você é tão cheirosa, porra, como eu gosto desse seu cheiro. —
Grunhe, ao pé do meu ouvido, lambendo-me. — Quer meus dedos mais
rápido no seu grelinho? — pergunta e começa a me masturbar com mais
força.
Finco as unhas na coxa dele, gemendo e contorcendo-me.
— Pare, por favor.
— Relaxa e goza.
Hoss me empurra para trás e dedilha os dedos até eu atingir o alto
do ápice. Para abafar os gemidos de prazer, eu tive que enfiar a cabeça
no seu pescoço.
— Saborosa. — Ele chupa o dedo que me masturbava e beija-me
faminto. — Eu preciso de você, Elena.
— Aqui não.
— Você vai me enlouquecer.
Ele pressiona a minha mão no volume enorme da sua calça.
Mordo o lábio, tendo a própria autonomia para acariciá-lo. E
arrependo-me na mesma hora de ter feito isso, o homem ruge igual um
neandertal que acaba de ser despertado da sua caverna primitiva.
Ah, não! Porra! Essa mulher quer me enlouquecer!
E me enlouquece mesmo, após afastar a sua mão do meu pau, ela
lutou veemente para não deixar que eu transasse com penetração. No
final, essa infeliz conseguiu. Porém, frustrado, obrigo-a a me dar pelo
menos a droga de um boquete. Caso contrário, ameaço jogá-la contra a
parede, tacar o foda-se para a sua irmã que está lá na puta que pariu e
fodê-la sem dó. Seus gritos seriam ouvidos até pelo avião que passasse
sobrevoando a casa. Ah, se seriam, ou não me chamo Calatrone!
— Você não merecia boquete nenhum... — em meio aos seus
resmungos bravos, eu abro a calça, trazendo para a luz o meu troféu.
Ela fecha a boca, admirando o pau grosso, grande, veiúdo, de
cabeça vermelha e carente de atenção. Nervosa, Elena dá uma olhada no
corredor onde a poucos minutos a sua irmã apareceu.
— Não podemos.
— Você não quer no seu quarto, nem no carro, ou atras da bendita
casa, então vai me chupar aqui mesmo, bem gostoso.
Não evito lançá-la um olhar bárbaro, de que vai fazer por bem ou
por mal.
— Eu vou matar você...
— Que seja de chupar, minhas doce decoradora. Agora anda,
abaixa essa cabeça, não vou ir embora antes gozar.
Elena estende a mão e aperta maldosa o meu cacete. Seguro
doloroso o seu pulso, repetindo o olhar de que posso fazê-la se
arrepender dos seus atrevimentos. Ela bufa após soltá-la, desta vez,
masturbando-me com gosto, do jeito que sabe fazer. Noto que saliva para
começar a tarefa ordenada.
— Tenta não arrancar um pedaço da minha rola! — Ela finalmente
inclina o pescoço e eu estremeço sem ar, devido a primeira lingada que
me dá na glande, ainda violenta, feito uma canibal.
Inferno! Acho que não é nada seguro levar um boque de uma
mulher vingativa. E comprovo isso na medida que ela me chupa, lambe e
até morde meu pobre SOS. Posso ouvi-lo pedindo socorro e eu gemendo,
querendo que essa leoa nunca afaste essa maldita boca do meu pau. Ele
nasceu para estar envolvido na macieis desses lábios...
Logo eu gozo e Elena se recompõe arfante do boquete, em
seguida, praticamente me expulsa sem remorso da sua casa.
— Pronto, faça o favor de sumir daqui.
Oh, diaba!
— É assim, decoradora, chutando a porra da minha bunda?
— É assim, sim, seu cafajeste. Já vai dar meia noite. — Ela rola os
olhos e limpa o gozo em volta do seu pescoço e seios. — Precisa ir,
amanhã acordo cedo para trabalhar. E eu já paguei o seu boquete.
É o caralho da primeira vez que uma mulher me expulsa feito um
cachorro de rua. Normalmente, não é eu que fodo e digo tchau?
Eu observo a beleza dela, fascinado pelos seus olhos claros, os
cabelos castanhos escuros, os lábios em formato de coração (inchados) e
essas bochechas rosadas. Ela é branquinha igual a neve, qualquer toque
fica marca.
— Hoss!
Fecho a cara e coço a barba, irritado pelos papéis invertidos. Mas,
antes de ir embora, eu dou um último beijo impiedoso nela, com a
promessa de que ainda não acabamos. Com certeza, não.
— Você vai me procurar de novo? — Na porta, Elena questiona
sem conseguir manter o seu olhar fixo no meu.
Por dentro, eu quero voltar todas as noites para fazermos sexo.
Essa mulher é viciante, perigosa, linda, perfeita, deusa. E quer saber? Só
mais uma foda gostosa na mata ninguém – além das nossas vontades.
— Quem sabe amanhã eu não te surpreendo de novo?
Ela sorri discreta.
— Ótimo, mal posso esperar.
Merda, isso é judiação.
Eu saio praticamente puto da casa da Elena, e não é com ela, é
com a porra do meu pau enrijecido na calça. Esse infeliz não recebeu um
boquete agorinha? Tantas mulheres no mundo e logo pela decoradora ele
tem que ficar duro? O pior, duro apenas em pensar nela.
Na minha BMW, respiro fundo, visto o cinto, ligo o carro e piso no
acelerador. Na tela eletrônica do painel, sou informado de seis ligações
perdidas do Rael e do Vince. Retorno a chamada para o Rael.
— O que foi?
— PORRA, ONDE VOCÊ ESTÁ? — ele berra do outro lado da
chamada. — Precisamos de você!
— Para o quê? É o assassinato do nosso cliente? Sabe que hoje
não dá para resolvermos isso, que devemos esperar a máfia confirmar
se…
— Pois chegou a segunda confirmação. Lara, uma das nossas
strippers, foi sequestrada há uma hora em frente a boate, e agora pouco
eles a soltaram no mesmo lugar... — Ouço Rael bater com o punho em
algum objeto. Eu aperto os dedos no volante. — Nossos seguranças a
viram ensanguentada lá na frente e a colocaram para dentro. As outras
meninas também se aproximaram em desespero, a levaram para o
terceiro andar, tiraram a sua blusa cheia de sangue e acharam a marca da
cruz na sua pele.
— Eu vou matar esses filhos da puta!
— Eu que vou matar! Que porra está acontecendo? Não devia ser
assim, Hoss!
— Eu não sei, Rael. — Soco furioso o volante.
— Vem para a boate, eu, o tio Argus e o Vince acabamos de
chegar também. Aqui conversaremos todos em família.
Rael desliga a chamada. Eu não paro para pensar em mais nada e
volto a pisar no acelerador, até chegar na boate. E chego em tempo
recorde, já subindo para o segundo andar.
— Cadê ela? — arregaço a porta, imediatamente perguntando.
— Ela foi para o hospital com mais duas garotas e dois seguranças.
Tiramos foto da marca.
— Que merda, a gente devia agir! — Vince exclama em direção ao
nosso tio. — Eles não vão parar até nos matarem!
Eu pego o celular do Rael, tendo a comprovação; a marca da cruz
invertida da máfia Borghi. Foi cortada entre os seios dela.
— Não é assim que vamos agir Vince. — Argus senta na cadeira,
passando a mão nas têmporas. — Eles são muito poderosos.
— Mas eles não me têm como hacker, nem a porra do Hoss que
sabe mirar numa formiga em cem metros e atingir a sua cabeça! Nem o
Rael que luta igual um filho da puta e tem a força da porra de um Hulck!
— Vince, se não calar a desgraça dessa boca você vai saber a
força dos meus punhos! — Rael o fuzila sem paciência. — Todos estamos
pensando em uma solução!
— Não, pensaremos amanhã, de cabeça fria — digo e Argus
assente na cadeira, olhando a boate movimentada pelo vidro.
Lá em baixo eles só veem a imagem gigante do diabo em chamas,
como se fosse um quadro, mas na verdade é um vidro, e por ele
monitoramos tudo e a todos.
— Nem de cabeça fria ou quente, eu consigo imaginar algo que
faça a máfia nos deixar em paz.
— Se eles querem destruir a nossa firma de agiotagem, por que
estão agindo assim, com essas mensagens da cruz invertida, além do
assassinato do nosso cliente?
— Há uma mensagem muito óbvia — Argus responde o Rael. — A
cruz invertida é a marca da morte deles. Não estamos lidando com uma
simples declaração de guerra.
— Uma ameaça, então?
— Sim, eles estão sendo diretos.
— E a mensagem no corpo da nossa garota? Por que não dizem o
motivo de uma vez? Não somos a porra de inimigos que os provocam,
que agem nas suas áreas!
— Devemos aguardar, Vince. Eles dirão uma hora ou outra.
— Que ótimo, até lá levamos uma vida “normal”, como se nada
estivesse acontecendo? Não acha que a máfia já não está esperando
revidarmos? É isso que eles querem, um motivo da nossa parte para
começarem essa guerra de uma vez por todas.
— Não revidaremos! — Argus bate na mesa, dando um fim a
conversa.
Todos engolem a seco as suas palavras de fúria.
— Chega de perguntas, vou te levar para encher a cara e esfria a
droga da cabeça. — Rael agarra o ombro do Vince, por pouco, não o
arrastando.
— Eu vou sozinho caralho! — Ele o empurra e sai na frente.
Os dois, então, somem de vista. Viro o rosto e percebo o tio Argus
me observando.
— Antes de vir para cá, onde esteve, Hoss?
Demoro nos seus olhos sérios e frios.
— Sai para comer uma mulher por aí.
— Tendo tantas aqui na boate?
Sorrio.
— Queria experimentar outros sabores. E vou indo, preciso de um
banho e de um boa noite de sono. Mais tarde, resolveremos tudo isso com
mais calma.
— Ísis foi internada — antes de eu sair pela porta, Argus informa do
seu jeito (solta a bomba e deixa que eu a exploda).
Eu fecho os olhos e aperto a maçaneta com força.
— A criança se encontra sozinha naquele puteiro. Faça alguma
coisa ou eu mais farei e você não vai gostar nem um pouco. Tome
posição!
Não o respondo, saio batendo a porta e dando um soco na parede
em frente ao corredor. Uma dançarina se assusta, correndo de mim e do
meu furor.
Na manhã seguinte, como de costume, depois de uma madrugada
de sono na merda, eu me levanto da cama, arrumo-me e desço para o
café. À mesa, sento em silêncio ao lado dos meus irmãos e do tio Argus.
Todos comem quietos, como se os acontecimentos de ontem fossem
irreais.
— Não farei nenhuma cobrança hoje, nossos cobradores se
encarregaram dos serviços — Rael informa, após terminar o seu café e
ser o primeiro a se erguer da mesa. — Estarei na academia de luta.
— Espere, eu vou te acompanhar.
Tomo a minha xícara de leite num único gole e retiro-me com uns
dois pães doces na mão.
— Agora até ficou parecendo o passa-fome do Vince.
— Eu ouvi, seus bundões! — Vince esbraveja, fazendo-nos escutá-
lo, antes de entrarmos no hall.
— E menti?
Mantenho-me quieto.
— Ontem ficou na sala com o nosso tio, o que ele te disse mais?
— Nada, sai logo depois de vocês. Também, sabe que o tio Argus
nunca fala porra nenhuma, não se ele não tiver absoluta certeza dos
fatos.
— Conheço ele e esses seus mistérios. Por mais que eu sinta falta
da Hera, ainda bem que ela não está aqui no meio dessa situação.
— Pode repetir isso para eu gravar e mandar para ela?
— Você também não sente, seu sem coração?
— Sinto, mas ela não precisa saber disso.
Rimos.
— Vamos logo descontar a nossa fúria num saco de boxe, preciso
arejar a mente.
É o que fazemos recorrente na academia, descontamos toda a
nossa raiva e frustração com violência. Só paro de treinar quando o
Abelha, meu segurança, aparece me chamando para conversar. Informo
ao Rael que não voltarei para continuarmos a luta e acompanho o Abelha
pelo campo.
— Por que não me ligou?
— Estava passando por perto e achei de suma importância avisá-lo
pessoalmente.
— Sim, do quê?
— Eu e o segundo segurança percebemos movimentações da
máfia na casa da mulher que nos mandou vigiar. Eles também estão
vigiando o local.
— Você tem certeza disso, Abelha? — fiz a pergunta fechando os
punhos.
— Absoluta, senhor, são eles.
— Merda! — Eu chuto a cadeira perto da piscina.
Eles sabem dela! Porra, eles sabem!
— Mande mais reforços, quero homens de vigília na frente daquela
casa, entendeu?
— Sim, senhor.
— E se ver outra movimentação da máfia, ligue-me imediatamente.
Nem pense duas vezes!
Abelha assente. Eu o dispenso e saio a procura do meu tio pelo
castelo.
Não é possível, não posso acreditar que coloquei aquela mulher em
perigo. Não vou me perdoar se eles tentarem fazer mal a ela para me
atingir. Que caralho! Argus avisou, ele mandou que eu me afastasse pelo
próprio bem da decoradora. Até a minha consciência mandou eu ficar
longe dela. Só que… só que não há explicações, eu a quis inconsequente
ontem e hoje recebi as consequências do meu desejo egoísta.
Encontro o Argus no seu escritório, terminando de fechar negócio
com um cliente. Assim que esse cliente sai, eu invado a sala,
extremamente puto comigo mesmo.
— Aconteceu mais alguma coisa? — Argus me analisa com as
mãos nos bolsos da calça social.
Por que ele sempre tem que ter essa pose de que só está
esperando o óbvio?
— A máfia está vigiando a casa da decoradora.
Argus respira fundo, sem grandes supressas.
— Eu pedi para você ficar longe dela, mas ontem resolveu ir atrás
da Srta. Elena. Por quê, Hoss? O que está sentindo por essa mulher?
— Além de muita vontade de fodê-la? Acho que só foder mesmo!
— Pois foda com qualquer outra e esqueça essa decoradora, antes
que fique obcecado, se já não está.
— Ela se encontra ainda em perigo, não vou me perdoar se algo
ruim acontecer com essa mulher, não por minha culpa!
— Eu já disse que posso cuidar dela, apenas se afaste e esqueça
tudo isso. Prometa que fará o que estou pedindo?
— Ela não tem nada a ver com você, Argus, já disse que cuidarei
dela!
— Larga de ser orgulhoso, temos problemas piores do que ela.
— O que foi, o que eu disse sobre a máfia estar vigiando a casa da
Elena entrou num ouvido e saiu no outro? Sabe as consequências dessa
situação, você viu o que aconteceu com o nosso cliente e com a nossa
garota da boate. E eles vão pegar a decoradora para passar outra
mensagem, e se não matarem ela também! — Bato na mesa, louco só
com a ideia.
— E o que tem em mente? — Argus puxa a cadeira ao seu lado e
senta-se informal.
— Mandei o Abelha reforçar a segurança dela.
— Isso inclui você ficar igualmente longe, não inclui?
Assinto, por dentro, num nervoso quase incompreensível.
Eu sou muito perigoso para aquela mulher comum, talvez para
qualquer uma que não seja a droga de uma prostituta ou criminosa!
Devo me manter longe com os meus desejos insaciáveis. Já aceite
que ela nunca foi uma informante, as investigações foram um fracasso.
Ela é normal demais, vivendo do seu emprego, da sua profissão e levando
a sua vida civil numa cidade europeia. E eu sou a porra de um agiota fora
da lei, que vive rodeado de ameaças de morte, além de ser um assassino
a sangue frio.
Essa sempre foi a verdade, é o basta... pelo menos a distância.
— Você também viu, não viu?
Fecho a janela com rapidez e viro em direção a minha irmã.
— O quê?
— Que eles estão nos vigiando noite e dia.
— É claro que eu vi, e estou vendo — suspiro e sento cansada no
sofá. — Não dá para fingir uma vida normal assim, Lupi. Não tem como
vivermos como se nada estivesse acontecendo.
— Mas Paulo está se redobrando para te deixar em segurança, ele
te ama e quer o nosso bem.
— O nosso bem? Se ele quisesse isso, jamais teria mentido que
era a merda do herdeiro da máfia! Entende a gravidade que esse homem
nos meteu por puro egoísmo?
— Eu diria medo, ele estava com medo de você rejeitá-lo com o
seu amor… como fez ao descobrir a verdade.
— De que lado está?! — exclamo em questionamento após me
levantar nervosa.
— Do seu, Elena, do nosso.
— Mas não é o que parece.
— Desculpa, é que, por outra perspectiva, eu fico com muita pena
do Paulo, porque ele te ama de verdade. Por favor, não fique brava
comigo, só estou sendo sincera. Você também sabe disso.
— Nada me importa além de viver em paz, segura e em liberdade.
E sei que o Paulo me ama, que tivemos momentos lindos e memoráveis,
entretanto, o futuro que ele me proporciona é manchado de um
sobrenome sujo, criminoso e envolvido com tudo do mais errado. Já estou
cansada de te repetir a mesma coisa.
— Só acho que o amor é capaz de vencer todas as barreiras. Vejo
o Paulo desistindo desse sobrenome, dessa vida, tudo para estar ao seu
lado, sendo feliz e “normal”. Ele te disse a mesma coisa.
— Só que eu não quero mais, acabou! Ele tem que entender a
minha decisão, assim como você, Lupita. Sei que gosta muito dele, que
ele era gentil, te enchia de presentes, nos levava em viagens caríssimas,
mas se conforme. Chegamos ao fim.
— Você chegou ao fim da felicidade de todos, devia ter pelo menos
o escutado para entender o que o levou a mentir.
Coloco a mão nas têmporas, contando até dez.
— Ah, desculpa de novo… eu… eu não sei...
— Acho que está pensando num conto de fadas e esquecendo da
vida real. A minha vida real. Melhor irmos dormir — declaro ainda mais
cansada e saio da sala em passos duros.
Vou para o meu quarto, tranco a porta e jogo-me na cama, farta de
tudo o que está acontecendo. Eu só queria estar em paz com a minha
vida.
Meu celular toca no criado mudo e eu ergo o braço para pegá-lo.
Leio a mensagem na tela de notificações, sem controlar o sorriso que se
forma instantâneo nos meus lábios.
Algo para mudar o meu humor, pelo menos.
“Boa noite, dona Decoradora. Como foi o seu dia?”
Sem hesitação, respondo-o na mesma hora.
“Boa noite, querido inimigo mortal, meu dia não teve nada de
interessante, foi o mesmo de sempre, e o seu?”
“Se eu for detalhar o meu, cara inimiga gostosa, te mandarei um
texto gigantesco. Mas está tudo bem mesmo?”
Sorrio novamente, parecendo uma adolescente boba.
“Tudo sim… estou bem e você?”
“Posso dizer melhor agora? Só que seria mentira, seria melhor se
eu estivesse aí na sua cama, nus e fodendo entre as suas pernas.”
Mordo o lábio com força, perdendo-me em minhas lembranças
sendo bem comida por esse monstro delicioso – ah, que sequestra
criancinhas nas montanhas.
“Eu sabia que me provocaria, é um safado.”
“E você me provoca pela simples forma de existir com esse corpo e
essa voz sexy.”
E ele… pelo simples fato de ser ele, o cara mais bruto, selvagem e
bom de sexo que eu conheci na vida.
Meu coração se acelera no peito e eu arregalo os olhos,
balançando a cabeça.
O que está acontecendo comigo?
“Boa noite de novo, Decoradora. Durma com os anjos. Ou não, sou
muito ciumento. Posso ir aí dar cabo dos anjos por estarem no meu lugar.
Por isso, durma apenas pensando em mim.”
Como ele consegue flertar até pela tela de um celular? Não parei
de sorrir por um segundo, desde a primeira mensagem.
“Boa noite, Hoss, e super justo você também dormir pensando em
mim. Beijos.”
Antes de eu desligar o celular, chega a sua última mensagem, a
qual eu fico pegando fogo.
“Mas eu penso é o dia todo, Decoradora, por isso vivo de pau duro
por sua causa. E um beijo de língua na sua boceta saborosa, estarei
pensando nela agora, enquanto bato uma punheta para você.”
Fecho os olhos e abro a boca, tocando na minha intimidade
latejante.
Que safado dos infernos, estou com tesão e relendo infinitas vezes
o que escreveu.
Abro a gaveta da mesinha de canto, puxo o vibrador, tiro a calcinha
e penso no Hoss se masturbando. Faço isso introduzindo o aparelho e
gemendo de prazer.
O vibrador não chega nem perto do seu mastro bem dotado, mas é
delicioso, satisfatório. E só preciso de um orgasmo para relaxar. Ele ligou
no momento certo.
No dia seguinte, eu acordo, tomo o café com a minha irmã, deixo-a
no trabalho e parto também para o meu serviço. Essa mesma rotina se
estende a semana inteira, até sexta-feira.
— O que foi?
— Nada… — Suspiro e guardo o celular na porta do carro.
Lupi acabou de entrar e sentar no banco. Vim pegá-la na clínica
que trabalha.
— É ele, né? Aquele cara, o tal do Hoss.
— Não — respondo e começo a sair nervosa do meio fio para a
rua.
— Claro que é. Pra mim, você está se apaixonando por ele. E eu
não gostei dele, porque ele não faz o seu tipo.
— Ah, e qual homem faz o meu tipo? Estou morrendo de
curiosidade.
— Um homem estável, legal, que realmente te ame e te entenda.
Já esse Hoss tem cara de “momento”, é aquele gostosão que te leva nas
nuvens numa noite quente de sexo e na manhã seguinte, vai embora sem
nem se despedir. E não minta, Elena, ele é assim. Estou vendo você a
semana inteira olhando para esse celular e bufando de frustação.
— Ótimo, você me conhece, mas eu também estive trás dele
apenas para sexo.
— E você acreditou nisso sozinha? Lembra como foi o seu começo
com o Paulo? Na primeira semana que se conheceram, já haviam se
apaixonado intensamente. Na segunda semana, começaram a namorar e
no mês seguinte…
— E hoje acabou!
Lupi fica quieta.
Eu aperto os dedos no volante, com raiva por ela ter razão.
Ok, eu posso até estar gostando do Hoss, mas não chega à paixão.
Quem não ia gostar de um homem que fode bem? Beija avassalador?
Tem pegada? É bonito? Incrivelmente bonito.
— Elena, pode virar na segunda rua? Quero passar numa loja de
sapatos que está em oferta.
Eu paro com o carro no semáforo e assinto. Depois que abre, eu
sigo para a rua e estaciono no destino que ela deseja.
— Vai querer descer? — ela pergunta da janela.
— Não sei.
— Vai, desce, vamos comprar um salto bem bonito. Compras
sempre nos animam e você precisa disso.
Eu, então, dou de ombros e desço, pensando que algo novo pode
realmente me animar. Ou não, afinal, devido às ofertas absurdas de
baratas, eu acabo extrapolando nas compras dos sapatos na loja. Lupi fez
a mesma coisa, quase estourou o cartão.
Na volta, ao entrarmos no carro, rimos com peso na consciência.
— Estamos fodidas no próximo mês.
— Nem me fale, vou… — No momento em que eu ia pisar no
acelerador, outro veículo bateu de lado comigo, arrastando o carro a uns
dois metros à frente.
Tudo acontece numa fração de segundos.
— ELENA!
Alguém abre rapidamente a porta do lado da minha irmã e começa
a arrancá-la à força do banco.
— LUPI! — Seguro o seu braço, em desespero, sem conseguir
entender o porquê de isso estar acontecendo.
— Solta! — Um homem encapuzado mira uma arma na minha
direção e quando eu solto assustada a Lupita, ele se afasta com ela.
— ELENA, SOCO….
— LUPITA! — Começo a chorar e a berrar.
Tento abrir a porta, mas o carro ao lado está grudado na minha
lateral, impedindo de sair.
— SOCORRO! — Passo para o banco que a minha irmã estava,
abro a porta e quando eu desço, o carro preto, que bateu no meu, sai
cantando pneu e sumindo ao virar na esquina.
Eu começo a correr atrás dele, gritando por ajuda.
— POR FAVOR, ALGUÉM ME AJUDA! POR FAVOR!
Não vejo os meus pés e tropeço num degrau da calçada. Caio no
chão, ralando o joelho e o cotovelo.
— Aiii... — Eu choro de dor.
— Moça! — Um homem de sotaque português aparece correndo e
agarra a minha cintura, ajudando-me a sentar. Não sei de onde ele veio,
ou como surgiu.
— Você está bem?
— A minha irmã foi levada, POR FAVOR, AJUDE-ME! TEMOS
QUE CHAMAR A POLÍCIA!
— Se quer a sua irmã viva, deixe a polícia de lado. — O homem,
que veste uma roupa toda escura, se ergue com o celular na mão. — Não
se levante, seu joelho está ferido. Vou ajudá-la.
Eu choro, desesperada, sem parar de olhar para a esquina que o
carro virou.
— Alô? Senhor? Preciso de ajuda.
Eu olho para o homem e tento me levantar, mas ele não deixa.
— Eu estava a acompanhando e um carro apareceu provocando
um acidente. Eles conseguiram levar a sua irmã Lupita.
— Você me conhece? — Arregalo os olhos, rastejando para trás.
Ele assente.
— Não vou te fazer mal, pelo contrário, estou aqui para te proteger.
Sim, senhor… — suas últimas palavras foram direcionadas a pessoa do
outro lado da linha. — Ela se machucou, mas foi sozinha… sim, está
bem... Estarei o aguardando. Vou mandar a localização.
Assim que ele desliga o telefone, eu volto a tentar me levantar. O
tal homem me ajuda de novo. Conforme faço força, gemo de dor. O
cotovelo e o joelho estão muito feridos.
— Seu joelho voltou a sangrar.
— Eu não me importo com isso, quem é você? Precisamos chamar
a polícia, minha irmã foi sequestrada!
— Eu sou uma pessoa de confiança que quer te ajudar e te
proteger. E já lhe disse, não podemos chamar a polícia, não se você quer
achar a sua irmã viva.
— Ela está viva! — Começo a chorar. — Para quem o senhor ligou
no telefone? Quem é você? Responda! — esbravejo numa mistura de
sentimentos desesperadores.
— Alguém, fique calma, logo ele vai chegar.
— Ele quem? Diga!
— O Sr. Hoss Calatrone.
Não acreditei quando o Abelha ligou e informou o que havia
acontecido com a Elena e a sua irmã. Porra, eu peguei a arma,
entrei no carro e só não sai dirigindo como louco na mesma hora,
porque o Vince e o Rael apareceram na frente. Parei em cima deles
com o capô.
— VOCÊS QUEREM MORRER, SEUS PORRAS?
Eles correm para entrar no carro. Rael vem na frente.
— O que aconteceu, Hoss?
— Vai caralho, desembucha.
Sem tempo para expulsá-los, acelero e vou atrás da
localização do Abelha. No caminho, eu explico para os meus irmãos
tudo o que aconteceu.
Eles começam a xingar, putos comigo.
— Não devia ter se envolvido com ela!
— E eu me envolvi, caralho? Apenas transamos! Estou a
semana inteira sem procurá-la.
— Isso não importa mais, a máfia deve ter seguido você nas
suas últimas visitas a casa dela. Com certeza, foi dessa forma que
eles descobriram o endereço da Elena. Devem ter achado que
vocês estavam mantendo um relacionamento. Tendem sempre a
encontrar pontos fracos.
— Eu já sei disso tudo, Rael! Não precisa repetir as mesmas
palavras do nosso tio, caso contrário, eu meto uma bala no meio da
sua fuça!
Chegamos na rua e antes de eu estacionar, já avisto de longe
o Abelha segurando a Elena perto de uma árvore. Jogo o carro no
meio fio, desligo e saio correndo na direção deles. Nem percebo o
Rael e o Vince vindo atrás.
— Elena!
Chego, puxando-a das mãos do Abelha e analisando o seu
corpo com escoriações. Que saudades eu estava, que desespero!
Ela é mais perfeita real do que no meu imaginário. Meu coração que
saltar pela boca.
— Ela correu e tropeçou na calçada. Machucou o cotovelo e
o joelho.
— Eu tenho boca para explicar! — Ela exclama e empurra-
me. — O que faz aqui? O que vocês fazem aqui? — questiona
descontrolada, olhando para nós, os quatro homens à sua volta.
— Então, podemos começar por… — fuzilo o Vince para
fechar a porra da boca.
— Eu estou aqui para te proteger, Elena.
— Me proteger? Eu só quero a minha irmã! Eles a levaram,
Hoss! Sequestraram a Lupita! E eu não pude fazer nada!
— Elena, por favor, fique calma, eu sei que quando escuta
isso quer mandar todos para a puta que pariu, mas, se não manter a
calma, não vamos poder encontrar a sua irmã, entendeu?
— Não, não consigo entender como pode me ajudar, você
não pode, Hoss.
— Podemos. — Rael reafirma, chamando a sua atenção. —
Tenha certeza, somos os únicos que podem te ajudar.
Ela aperta o meu braço, segurando-se para não chorar.
Que desgraça, vê-la assim me dá uma puta vontade de ir até
a mansão dos Borghi e matar cada um deles com as próprias mãos.
— Vamos, vou levá-la para o castelo.
— Não, leve-me para casa, é melhor. Vou resolver tudo.
— Não existe discussão, Elena! Eu coloquei você e a sua
irmã nisso. Se for para a sua casa, estará ainda mais em perigo e
eu com a porra da cul...
— Hoss… — Rael coloca a mão forte no meu ombro.
Eu respiro fundo, tentando me acalmar para não explodir. E
nervoso, pego Elena no colo.
Ela solta um grito, assustada. Não a olho, nem me importo
com os seus pedidos para largá-la. Não vou deixar que se separe
um centímetro de mim.
— Levem o carro dela. Encontro vocês no castelo.
Rapidamente, eu viro as costas e vou até o nosso veículo do
outro lado da rua. Coloco a Elena dentro, fecho a porta e dou a volta
para sair dirigindo.
— Vai ficar tudo bem, eu te prometo. — Falo, após alguns
minutos em silêncio, apenas ouvindo-a fungar o nariz. Está
chorando desde que saímos do local onde a sua irmã foi levada.
— Elena?
— Quem era aquele homem? Por que veio me ajudar e
depois te ligou? Ele disse que estava me seguindo.
— Acho que eu já arrumei muitos problemas, é melhor não
fazer perguntas.
— Como não? Precisamos ligar para a polícia, e eu preciso
ligar para o… — Observo-a e noto que ela arregalou os olhos, em
seguida, balançou a cabeça.
— Ligar para quem?
— A-a nossa família, os-os meus pais no Brasil — fala rápido,
gaguejando.
— Nem pensar, seria a pior coisa a se fazer, não se você
quisesse deixar os seus pais loucos de desespero e preocupação
também. Talvez até comprariam uma passagem e viriam
imediatamente para Portugal.
— Tem razão... desculpa, não estou bem.
Ela assente, encolhendo-se com o corpo.
— Eu vou te proteger e encontrar a sua irmã, entendeu?
Ela assente de novo, olhando vazia para a vista na janela.
Sinto a porra da vontade de protegê-la em mim, nos meus
braços.
— Eu só não sei como você poderia me ajudar…
Não respondo o seu sussurro triste, pois não saberia como
responder e explicar que a sua irmã foi sequestrada pela máfia, e
tudo por minha culpa. Se eu não tivesse insistido em visitá-la para
nos satisfazer, em vez disso, se eu tivesse me conformado com uma
noite só e ido embora, como faço com todas as outras mulheres,
nada disso teria acontecido.
Que droga, estou furioso!
Ao chegar no castelo, entro em casa com a Elena nos
braços. Luiz, o mordomo, vem imediatamente atrás, sem expressar
uma palavra sequer. Coloco-a no sofá da sala, analisando os seus
ferimentos.
— Está com muita dor?
— Sim, no joelho.
— Eu cuido dela, Sr. Hoss. Com a permissão da senhorita. —
Luiz a olha e a decoradora concorda.
— Eu vou precisar conversar com o meu tio. Não deixe que
ela se levante, Luiz.
— Sim, senhor, e o Sr. Argus está no escritório do terceiro
andar.
— Hoss… — Elena me chama antes de eu sair.
E quando a encaro, ela não consegue dizer nada, apenas
abre a boca uma, duas, três vezes e fecha.
Seu olhar é o mesmo, de desespero e angústia. Droga, como
vê-la desse jeito pode me afetar tanto assim? É sem explicações.
— Luiz vai mandar trazerem algo para comer e beber,
aguarde aqui, ok? Já volto para cuidar de você.
— Tá bom...
Seguro novamente a minha vontade de consolá-la e saio com
rapidez, a caminho do escritório do meu tio.
Já sei toda a merda que ele vai me falar – e já falou um
milhão de vezes.
— Tio? — Entro, vendo-o acomodado na sua cadeira branca.
— Sim? — Ele abaixa o papel que estava lendo e arqueia a
sobrancelha.
Então, começo a explicar o que aconteceu a pouco. No fim
das minhas palavras, Argus recai no encosto, com a mão alisando o
queixo.
— Eu pedi para você, sobrinho, para ficar longe dessa
mulher.
Bato na mesa dele.
— Foda-se, isso não é hora de repetir os mesmos sermões,
precisamos entrar em contato com a máfia!
— Não, não vamos fazer isso.
— Ah, começaram a reunião sem nós. — Vince e Rael
entram no escritório. — Onde pararam?
— Vince, vai encher esse teu rabo de comida, inferno!
— Pronto, Rael tá igual, ou se não, pior que o Hoss.
Antes de eu também abrir a boca, Argus se levanta da
cadeira.
— Às vezes, eu concordo com o Rael, em comprarmos uma
focinheira para o Vince. E voltando ao nosso assunto de suma
importância...
— Assunto esse que eu discordo na parte idiota de
esperarmos! Esperar o quê?
— Eles vão entrar em contato, por algum motivo, vão.
— Além de que pode até não ser a máfia que sequestrou
essa menina.
— Rael tem razão. — Argus me observa. — Precisamos
esperar qualquer sinal antes de partimos para o fogo cruzado.
— O mesmo sinal com a nossa garota na terça? — debocho
nervoso. — Desta vez, eles foram diretos, todos aqui temos certeza
que foi a máfia.
— Vamos concordar com o Hoss nesse ponto. — Vince
encosta na prateleira de livros. — O nosso cliente foi assassinado e
tinha a marca da morte dos Borghi, a dançarina da boate, que
também foi sequestrada e sobreviveu, recebeu a mesma marca. E
agora, a irmã da Elena, que é próxima de nós, pela parte do Hoss, e
que igualmente foi sequestrada. Está óbvio que tudo isso é obra dos
Borghi.
— Mesmo assim, devemos esperar eles se manifestarem, ou
qualquer inimigo que tenha feito isso. Não podemos revidar
inconsequentes.
— Quem sabe eles não a devolvam com a marca, como
aconteceu com a nossa garota? — Rael indaga. — Aí saberemos
que foi a máfia.
Eu respiro fundo, a flor dos nervos. Posso sentir as minhas
veias bombearem sangue quente pelo corpo.
— Ou quem sabe não a devolvam morta?
Eles ficam quietos.
— Estou puto, vou esfriar a cabeça e aguardar qualquer
manifestação até 24h. Caso nada aconteça, nenhum sinal surja, eu
vou agir do meu jeito! — Informo-os, viro as costas e retiro-me com
ira do escritório.
— Hoss! — Rael me para no corredor. — Você precisa se
controlar antes de vê-la.
— Eu estou controlado, caralho, não está vendo?
— Estou vendo é você com o maxilar trincado, olhar fuzilante,
quase soltando fogo pelas ventas e apertando os punhos, como se
estivesse com vontade de socar todas as paredes desse corredor
de pedras.
— E estou! Toda vez que eu converso com o nosso tio, sinto
que ele está há um passo de nós, de mim! Que ele sabe de tudo,
mas prefere omitir, esconder.
— Talvez esteja? Nunca saberemos. Aquele homem é um
filho da mãe misterioso. E filho da mãe esse, que confiamos de
olhos fechados. Acalme-se, entendeu? Toma a porra de uma
bebida, respira fundo e cuide daquela mulher. Até que tudo se
resolva, o mais seguro é ela estar aqui.
— Eu sei disso. E obrigado, seu infeliz insuportável — dou
um abraço nele, para me reconfortar.
— Ai, que fofos! — Noto a luz de um flash e quando eu vejo,
já estou com a arma mirada na direção do Vince.
Rael está do mesmo jeito.
— Mas que… cacete de filhagem da puta. — Ele guarda o
celular no bolso. — Vocês me amam, não seriam capazes de matar
o seu irmãozinho mais novo.
— Apaga a foto, ou quando eu acertar as suas bolas, você
verá a minha capacidade!
— Eu confio mais na pontaria do Hoss. A sua é péssima, é
igual de uma mulherzinha com miopia. — Sorri provocador.
— Ah, seu adotado achado no lixo! — Então, Rael atira, mas
acerta de propósito à parede bem ao lado do Vince.
— Viu, não disse? Atira igual mulherzinha. Imagina fodendo,
deve errar o buraco da boceta umas dez vezes.
— VINCE!
— Calma, cacete! — Seguro o Rael. — E vaza daqui, Vince,
pois o Rael pode ser ruim de mira, mas eu não.
— Vai se foder você também! — Ele me empurra. — E eu
aqui, dando meu apoio de graça, igual um trouxa. Seu traíra! Eu
atiro muito bem! — Resmungando, Rael nos fuzila, adiante, sai,
xingando-nos de nomes incompreensíveis.
— Ai, ai… eu amo tanto vocês.
Ignoro o Vince e a sua insuportável infantilidade para voltar
ao primeiro andar da sala. Quando eu saio do elevador e vejo a
Elena sozinha, com a cabeça no apoio do sofá, meu peito se aperta
em angústia. Toda aquela fúria se acaba num estalar dos dedos, só
quero consolá-la
— Oi… — Aproximo-me dela, bem devagar. — Elena?
Ela ergue a cabeça.
— Como está o seu joelho e o cotovelo?
— Luiz fez um curativo. — Ela aponta para os ferimentos
enrolados numa faixa de esparadrapo. — Estou bem, obrigada.
— Comeu alguma coisa, pelo menos?
Observo a bandeja intocável em cima da mesinha de centro.
— Desculpe, não sinto fome. Não paro de pensar no que
fazer, onde encontrar a Lupita. Eu não devia estar aqui.
Respiro fundo e sento-me na beirada da mesinha, frente a
frente com ela.
— Por favor, Hoss, leve-me para casa.
— Está segura no castelo, não pode voltar por enquanto.
Ela me encara, tentando não chorar.
— Por que disse que era responsável pelo que aconteceu
com a minha irmã? Eu prestei muita atenção nas suas palavras…
iria dizer algo como culpa. Mas nada do que aconteceu foi a sua
culpa.
Abaixo a cabeça sem saber o que falar.
— A minha família, meu sobrenome, não sou o que você
pensa, o que a Hera te disse.
— E é o quê?
— Não quero te decepcionar.
Elena ri, nervosa.
— Me decepcionar? Acredite, não tem como você me
decepcionar mais do que… — Então, para e aperta os dedos. —
Mais do que as pessoas que eu amava me decepcionaram.
Toco no rosto lindo e delicado dela, limpando as suas
lágrimas.
— Não sei, Elena, sinto você tão perdida.
— Eu confesso que estou...
— Por minha culpa?
— Não, claro que não. Sabe que não somos nada sério. Você
desde o início deixou isso bem claro, e não me iludi ou criei
expectativas. Estou perdida e triste com o rumo da minha vida.
Parece que os meus sonhos estão desmoronando.
— Eu faço parte desse desmoronamento também.
— Não, pelo amor, Hoss, como isso teria a ver com você?
— Eu vou dizer o que isso tem a ver. Sou um Calatrone… o
sobrenome da família de agiotagem mais poderosa de Portugal. E
com esse alto nível de "prestígio", vem também diversos inimigos do
mesmo alto grau; poderosos, grandes e sem escrúpulos. Entendeu
agora onde se meteu, Elena? Ou onde eu a meti?
Ela arregala os olhos, sem fala, sem reação.
— E ao dizer que eu sou responsável pela sua irmã, é porque
eu tenho muitos motivos. E um deles cabe na razão de eu querer
você longe da Hera, longe da minha família. Não foi só por pensar
que você era uma informante de algum inimigo, mas também, caso
não fosse, seria pela sua própria segurança. Eu não devia ter
insistido em ir atrás de você mais de uma vez. Era só a porra de
uma única foda e adeus.
Elena passa a mão no cabelo, perdida em seus
pensamentos.
— Então vocês são agiotas, até a Hera?
— Nosso sobrenome é muito conhecido no meio dos
empréstimos clandestinos. A Hera apenas nasceu em meio a tudo
isso, sem escolha de ser alguém normal como você, com um
emprego e uma vida para ir onde desejar, a qualquer hora. Na
verdade, nenhum de nós tivemos escolha. E tio Argus, eu, o Rael, o
Vince e o Morcego, esposo da nossa prima, administramos os
negócios.
— E-eu estou entendendo tudo.
Assinto.
Ela me observa.
— Vocês colecionam inimigos, por isso de tantas
desconfianças quando a Hera começou a me deixar mais próxima
da sua família. Juro que eu não sabia o que vocês eram, apenas
vim fazer o meu trabalho. Se eu soubesse, eu nunca…
— ... Nunca nem teria aceitado o trabalho de decoração? —
completo suas palavras, sentindo a porra de uma raiva que nem
entendo.
— Não… eu não teria dado atenção a você e as suas
provocações.
Isso não ajudou a diminuir a raiva!
— Que bom então que não soube. — Levanto-me, bravo e
vou até o aparador virar uns dois copos de uísque. — Não teria
adiantado droga nenhuma, porque, de qualquer forma, você teria
sido minha… decoradora.
Elena molha os lábios.
Eu levo um copo para ela de bebida quente. Ela aceita,
fazendo careta.
— Eu te disse tudo — quase tudo. — Agora, se você tiver
algum outro motivo para a sua irmã ter sido sequestrada, estou a
todos ouvidos.
Ela desvia rápida de mim, apertando os olhos e negando.
— Eu… eu não tenho. Estou só assustada.
— Ótimo, isso significa que não pode fazer nada a respeito, a
não ser confiar em mim e esperar.
— Como eu posso confiar, Hoss? O que você vai fazer?
— Apenas confiei, Elena, e não me faça perguntas. Elas não
serão respondidas. Vou levá-la para o quarto, já escureceu e quero
que descanse.
— O seu quarto? — questiona quando eu toco nas suas
pernas, antes de levantá-la no meu colo.
— Oras, não estava pensando bem no meu quarto, só que se
preferir, não farei oposição.
Suas bochechas ruborescem.
— Nem pensar, qualquer outro lugar, menos o seu quarto.
— Humrum! — Ouço alguém pigarrear e viro, notando ser o
Luiz. — Senhor, não preparamos nenhum dos dez quartos de
hóspedes. Não sabia que a Srta. Elena ficaria aqui essa noite.
— Não se preocupe, não é, decoradora? — Pego-a no colo e
ela se segura firme no meu pescoço. — Meu quarto está mais do
que preparado.
— A sala, eu fico na…
— Calada, eu vou cuidar da senhorita como se fosse uma
princesa. E, Luiz, em uma hora, traga a janta para a nossa hospede.
— Sim, senhor.
— Hoss…
Não dou ouvidos a ela, nem atenção para o seu rosto
vermelho de vergonha. E a levo para os meus aposentos no último
andar, para cuidar e mostrar que está segura comigo.
Eu permaneço calada e constrangida pelo Hoss estar
cuidando de mim com tanta dedicação. O pior é que, acima de tudo
isso, sinto-me horrível por dentro. Ele não tem culpa de nada do que
está acontecendo, pelo contrário, é responsabilidade do Paulo, ele
sim deve ser considerado culpado pelo segundo sequestro da minha
irmã. E eu também, por omitir ao Hoss que o meu ex-noivo é o
herdeiro da máfia mais famosa, bárbara e assassina de Portugal.
Mas, como eu vou dizer isso para ele? Como, meu Deus? Eu não
devia nem estar aqui nesse castelo, no seu quarto. O que estou
passando não é problema dele. Não posso metê-lo nisso.
Fecho os olhos, sozinha no seu quarto luxuoso e gigantesco.
Olha onde eu me meti de novo? Com pessoas fora da lei e
sem nem ter culpa disso. Só queria estar vivendo a minha vidinha
internacional, pagando as minhas contas e trabalhando como
alguém que veio do Brasil para o exterior, para realizar os seus
sonhos. Não pedi essa situação. Por que infernos tudo isso tinha
que estar acontecendo comigo?
Começo a chorar.
— Deus, proteja a minha irmã, se acontecer alguma coisa
com ela, eu sou capaz de morrer. Não posso ficar parada de braços
cruzados, eu tenho que fazer alguma coisa para achá-la. Me dê uma
luz.
— Nem se eu fosse louco deixaria você fazer alguma
coisa…
Ergo-me assustada da cama e vejo o Hoss encostado na
porta, observando-me atentamente.
Ele foi até o quarto da Hera buscar algo para eu vestir. Temei
que não era necessário, porém, ele é muito mandão e autoritário.
Não tive como convencê-lo a não ir.
— E Deus já te deu uma luz. Eu.
Desvio do seu rosto e acaricio a cama enorme, revestida de
um edredom cinza.
— Não sabia que havia voltado e estava me ouvindo.
— Eu voltei, mas estava só te observando. Sua beleza
merece ser exposta como monumento no Museu do Louvre, pena
eu ser ciumento para caralho.
Ele se aproxima e joga algumas peças de roupas no banco
de estofado chique, que fica aos pés da cama.
— Hoss, eu disse que não precisava. Cheguei mais cedo do
serviço hoje, tomei banho, troquei de roupa e fiz até o café da tarde,
isso antes de buscar a minha irmã na clínica de estética… e antes
de tudo aquilo acontecer — comento cabisbaixa.
Ele dá alguns passos, para na minha frente, toca no meu
rosto e pega uma mecha do meu cabelo para cheirar.
— Está conferindo se eu tomei banho mesmo?
Ele sorri e eu também.
— Você pode ficar meses sem ver um banho sequer que
esse cheiro entorpecente seu nunca vai evaporar.
— Acho que vou dizer o mesmo do senhor...
Ele beija a minha testa e meu coração dispara no peito.
— Aí você já está mentindo, dona decoradora.
Acaricio o peitoral dele, com o sentimento de estar protegida
de todo o mal do mundo.
Hoss abaixa os olhos e fita a minha boca. Perco o ar, também
a autonomia das pernas com a intensidade do nosso calor.
— Troque de roupa e descanse. — Seu hálito quente é
soprado sobre os meus lábios. — Prometo não encostar um dedo
malicioso em você.
Ele beija desta vez o canto da minha boca e larga-me,
levando a minha alma do corpo.
— Vou tomar um banho. Luiz daqui a pouco sobe com o
nosso jantar.
— Você vai jantar comigo?
— Acha que eu te deixaria sozinha, princesa?
Ele sorri, tira a camisa e então, some por um corredor
cumprido e com lustres.
Suspiro, tombando igual pluma na cama. Esse homem não
existe...

Como prometido, após jantarmos e na constrangida cena de


deitarmos na enorme cama, Hoss não encostou um dedo sequer em
mim. No entanto, estou sem sono há horas, não paro de pensar no
furacão que está acontecendo. Principalmente, onde a minha pode
estar, se ela comeu, tomou banho, está dormindo...
— Ei… — De repente, Hoss me puxa e abraça-me tão forte
que todos os meus pensamentos se vão. Ele começa a fazer
carinho no meu cabelo. — Descanse, Elena. Estou aqui...
Sua voz, seu toque, é tudo tão gostoso que eu me perco
nesse carinho e não vejo o momento em que fecho os olhos e enfim
durmo. Só percebo isso quando acordo na manhã seguinte,
enrolada nas pernas dele e com o braço atravessado no seu
abdômen nu.
Ergo devagarinho a cabeça, olhando-o dormir virado na
minha direção.
Ele é tão bonito de ridículo. Como Deus pode fazer uma
criatura dessa? Devia estar inspirado?
Imagino Hoss sem a barba de lenhador bárbaro (que
sequestra criancinha na montanha) e faço careta, odiando se ele
fizesse isso, a tirasse. Gosto dele com essa aparência nórdica e
com o cabelo em topete.
— Você deveria ser feio… — murmuro e acaricio o seu
peitoral.
— Sabia que você me odiava — ele fala baixinho,
assustando-me ao abrir os olhos e sorrir torto.
Sinto o meu rosto queimar de vergonha.
— Bom dia, decoradora.
— Bo-bom dia também.
— Como está?
— Péssima...
— Sinto muito — ele beija a minha mão.
Assinto e afasto-me tremula dele, para vestir o meu vestido
de ontem e ir ao banheiro fazer as minhas necessidades básicas.
Após fazer o mesmo, Hoss desce comigo para a sala principal,
depois a sala de jantar, repleta de coisas gostosas pela mesa. Isso é
o café de um rei. Para falar a verdade, esse castelo inteiro é de um
rei.
— Bom dia, Elena.
— Bom dia, cunh… — noto Rael dar um chute no Vince.
Sento devagar à mesa, sorrindo fraco para eles.
— Como estão os seus ferimentos? — Rael pergunta.
— Um pouco doloridos, acho que hoje estou sentindo mais
dor do que ontem.
— Realmente, quaisquer ferimentos sempre doem mais no
dia seguinte.
— Rael entende muito bem disso, vive se acabando de brigar
na academia de artes marciais com os nossos cobradores. Devia
entrar no UFC.
Reparo com mais atenção no Rael. Há algumas cicatrizes
pelo seu rosto e braços. Porém, isso só dá mais charme à beleza
monstruosa desse homem, igualmente nórdico igual o Hoss. Sendo
sincera, os três irmãos são lindíssimos, tão lindos que é
desconfortante estar no meio deles, recebendo as suas atenções.
Vince só diferencia na cor dos olhos e nos cabelos loiros, ah, e no
estilo mais playboy. De resto, são trigêmeos.
Viro para frente e noto o Hoss me fuzilando, parece com
ciúmes até dos meus pensamentos. Desvio dele para me servir do
banquete.
— Tio Argus tomou o café da manhã antes das 07h. Ele quer
todos nós reunidos na sala de reuniões.
— Terminando aqui já vamos.
E realmente, eles terminam de comer e se levantam. Só que
antes de Hoss acompanhá-los, ele vem até mim.
— Eu tenho os meus compromissos, o meu trabalho de
decoração, não sei o que fazer... — confesso perdida.
— Pois não vai fazer nada, não é seguro que saia. E vou
encontrar a sua irmã. Fique à vontade no castelo, eu prometo que já
volto.
Não digo nada e ele sai, deixando-me sozinha com o Luiz.
— Srta. Elena, sua bolsa está no quarto do Sr. Hoss, o Sr.
Rael entregou ontem e só pude devolvê-la hoje.
— Obrigada, Luiz, já vou pegá-la.
— Quer que eu a acompanhe para não se perder?
— Não, não precisa, eu já gravei o caminho.
— Tudo bem, estarei à sua disposição.
Levanto-me, agradecendo a ele e indo até o quarto do Hoss,
atrás do meu celular. Ao chegar, pego o aparelho na bolsa em cima
da cama e percebo cento e trinta ligações perdidas. Todas do Paulo.
Foram recebidas entre uma hora. Antes de eu retornar, recebo
instantânea outra chamada dele.
— Elena, onde está?!!! — Ele praticamente brado do outro
lado. — Diga onde está? Você e a sua irmã sumiram desde ontem,
nenhum sinal de vocês em casa!
— Paulo… — sussurro por pouco chorando. — Lupita foi
sequestrada de novo.
— O quê? — Seu tom de voz abaixa do outro lado. — Eu
sabia, eu senti que havia acontecido alguma coisa. Onde você está?
— Eu estou segura, mas a minha irmã eu não sei quem a
sequestrou. E isso é tudo culpa sua!
— Eu sei que é culpa minha.
— Ótimo que sabe! — exclamo com raiva.
— Eu prometo que vou encontrá-la, mas preciso de você
perto de mim, segura. Diga o endereço que está e eu vou buscá-la
para lhe proteger.
— Me proteger do quê? De você?
— Eu jamais te faria mal algum, eu te amo feito um trouxa!
Pelo amor de Deus, eu odeio meus dias sem o contado da sua pele,
do seu perfume, do seu…
— Para, acabou! Chega, Paulo, por favor! Essa não é a vida
que eu quero.
— Mas não é essa vida de merda, vivendo em Portugal que
eu quero te dar. Do fundo do meu coração, não é. Te amo e quero
construir uma família ao seu lado.
— Chega, eu te suplico, no momento, eu só preciso da minha
irmã. Você, com certeza, conhece quem a levou.
— Talvez eu conheça. Contudo, é uma sentença de morte
quem decide tocar nos Borghi, e se ousaram tocar na sua irmã, eu
prometo que vou fazê-lo pagar por isso, numa tortura lenta e
impiedosa. Ela é uma irmã também para mim.
— Então a encontre sem um arranhão sequer, ou vou ir atrás
da polícia.
— Não, não vai. O merda que está te prote… — ouço-o bufar
e cessar as palavras antes de finalizá-las.
— Sabe onde estou, não sabe? Você é poderoso, sei que
vigia até o meu respirar.
— Eu sei, sim, Elena, como disse, eu sou poderoso. E eu
quero que você saia daí, de perto dessa família desgraçada, eles,
sim, podem te fazer mal.
— Eles? Se refere aos Calatrone? Sinto muito, é mais seguro
estar aqui do que perto de sua família mafiosa, sem escrúpulos.
— Está escolhendo um lado, tem certeza?
— Eu não estou escolhendo lado nenhum, eu só quero a
minha irmã e a minha felicidade antes de te conhecer com todas as
tuas mentiras! Por favor, encontre a Lupita e me deixe em paz!
Desligo o telefone na cara dele e aperto os olhos.
Não vou derramar uma lágrima por esse homem, não vou!
Ele já me fez chorar demais! Eu só preciso encontrar a minha irmã!
E Paulo vai achá-la! Ele vai!
Tio Argus nos reúne apenas para falar sobre os negócios e não
ajuda em nada na questão da irmã sequestrada da Elena.
Rael e Vince saem da sala e deixam-me a sós com ele.
— Nenhum sinal?
— Alguma coisa já devia ter acontecido, uma ligação, uma
mensagem. Só que nada ainda.
— Isso é estranho, devemos continuar aguardando às 24h
completas.
Assinto, pensando em milhares de coisas para descobrir o
paradeiro dessa mulher.
— Eu preciso de fotos dela… — sussurro em conclusão. — Vou
atrás dos nossos clientes poderosos, em busca de algo que possa nos
ajudar.
— Antes de ir, você tem até sexta-feira para evitar que a sua filha
vá para algum orfanato. Ísis veio a óbito esta manhã.
Fecho os punhos.
— Repito, se não agir, eu mesmo farei algo.
— Eu não consigo, Argus… eu não posso.
Passo a mão no rosto, sentindo o meu sangue borbulhar nas veias.
— Não pense desta vez só em você, pense nessa criança sozinha
pelo mundo, sem ninguém para amá-la. Não a culpe pelos erros da mãe.
Ela é inocente. Estou cansado de te repetir isso centenas vezes.
— Eu a conheci — confesso, segurando a voz embargada. —
Traga-a para cá. Eu cuido do resto.
Viro as costas, mas ele me para.
— Farei isso, no entanto, prometa ser um pai para ela. Prometa,
Hoss!
Não o respondo, saio da sala descontrolado com tudo.
Não posso prometer… não posso!
Desço no térreo e Luiz informa que a Elena está no meu quarto,
sozinha. Mas não vou atrás dela, não posso vê-la assim agora. Decido ir
para o outro lado do castelo, encher a cara de álcool na sala de jogos.
Rael aparece, atrapalhando a minha privacidade.
— O que foi? Tudo bem?
— Por que diacho você não larga da porra do meu pé?
— Eu até largaria, se eu e Igor não tivéssemos te visto agora pouco
dando um soco numa parede, sem a coitada ter feito nada.
Ele senta no sofá.
— Sei que existe algo em segredo entre você e o tio Argus há
anos. Não é isso?
— Pois existe, eu tenho a droga de uma filha!
Rael arqueia instantâneo a sobrancelha, sem acreditar.
— O que disse? Filha?
— É, filha!
— Filha sua e de… — Então, ele busca algo nas memórias e
respira fundo, concluindo o quebra cabeça óbvio. — Mentiu para nós
sobre a Olívia ter perdido o bebê?!
— Menti, pois eu acreditava que aquela criança não era minha. E
eu estava furioso com ela. Ainda estou!
— Olívia está morta. Você tem que superar essa droga de passado.
Enterre tudo junto com essa mulher.
— Como enterrar esse passado se existe algo que me liga a ela
para sempre? Como?
— A sua filha não tem culpa, caralho! Não deposite a sua revolta
numa criança inocente de maldades. E conte-me todo o resto, porque eu
sei que tem mais enredo.
E conto, sem vontade de continuar guardando mais segredos.
Conto da morte da Ísis, também do pedido que fiz para Argus, de buscar a
criança.
— Já era para você ter buscado a sua filha há anos.
— Não, não era. Não vou conseguir olhar para essa criança de
novo.
— Isso vai mudar, Hoss. Apenas pare de relembrar as merdas da
Olívia. Já aconteceram, o que lhe resta é superar.
Viro a cerveja, rancoroso com os meus sentimentos. Não sei se vou
conseguir parar de relembrar, não sei nem se um dia eu vou conseguir
esquecer de como fui trouxa. Ela fodia com o meu inimigo de agiotagem,
traia-me sem nenhum remorso.
E eu não perdoo traição.

— Oi? Está há muito tempo aqui? — Elena abre a porta que Rael
fechou há uma hora. — Posso entrar?
Concordo e ela vem devagar até mim.
Enquanto anda, admiro as suas curvas perfeitas, os seus cabelos
castanhos e o seu olhar esverdeado, que não desviou um segundo do
meu. E o fogo retorna, o meu calor é incendiado a cada passo que ela dá.
— Está tudo bem, Hoss?
— Com você aqui, eu não sei se tem como ficar melhor.
Ela sorri.
— Nem parece o homem bruto, arrogante e que me odiava há
algumas semanas atrás.
— Já disse que nunca te odiei, ao contrário da dona decoradora.
Ela tenta sentar do meu lado, mas a puxo para o meu colo.
— Hoss!
— Shhh… — Cheiro o seu pescoço, como se eu estivesse fumando
uma droga viciante.
— Por que está nessa sala sozinho? Fiquei preocupada e te
procurei pelo castelo inteiro, até encontrar o Rael e ele me...
— Esteve sozinha em algum corredor frio com o Rael? — Fecho a
cara e aperto a sua coxa.
Eu vou castrar aquele vira-lata!
Elena me fita, segurando a vontade de rir.
— E qual o problema?
— O problema é que meus irmãos são tarados! E você é linda que
chega a dar dor nos olhos! Não quero eles desejando o que é me... você!
Ela não consegue segurar mais e começa a rir alto.
— Nossa, obrigada pelo elogio. E acho que eles não seriam
capazes de dar em cima de mim.
— Prefiro não ter a certeza disso, droga.
“Não seriam mesmo”, penso irritado.
— Mesmo assim, o Rael e o Vince são muito bonitos… bonitos e
carismáticos.
Belisco a sua bunda e ela se mexe em cima do meu volume quase
excitado.
— Volte a repetir isso, decoradora!
— Não vou. E estava te procurando para te pedir que me levasse
em casa, logo que não me deixa sair sozinha do castelo… por favor.
— Eu te levo. Antes, preciso de uma foto da sua irmã.
— Compartilho algumas pelo celular.
— Ok…
Apoio o seu rosto e acaricio os seus lábios.
Elena suspira fundo.
— A gente pode ir agora? — pergunta baixinho, aproximando a
cabeça da minha.
— Sim, agora…
Seguro o seu cabelo, colo a nossa boca e então, beijo-a devagar,
sentindo o meu corpo ferver em desejo. Ela morde o meu lábio,
provocando-me a afundar a língua molhada. Eu faço, sem controlar a
excitação que começa a subir pelas minhas pernas, dominando o meu
corpo.
— Elena… — gemo de tesão.
Ela aperta os meus ombros, puxa o meu cabelo e eu lambo o céu
da sua boca, mexendo a cabeça com fome de mais, como se nunca
estivesse satisfeito.
— Hoss… — ela geme.
Afasto alguns centímetros os nossos lábios e fito os seus olhos
escuros, dopados de tesão. Mas Elena volta a me beijar e a brincar
necessitada com a minha língua.
Meu pau pulsa na calça, enrijecendo-se.
Não aguento e deslizo a mão para dentro das suas coxas quentes.
Ela abre a boca, resistindo.
— Não, Hoss… não posso.
Não consigo parar, chego na sua intimidade latejante e toco-a
sobre a calcinha molhada, massageando com força o seu clítoris.
— Hummm! — Elena arfa contra o meu rosto.
Beijo-a cego de vontade de possuí-la, cego de qualquer outra coisa
que não seja ela.
Meus dedos afastam o tecido rendado, toco diretamente na sua
boceta macia e lubrificada. Elena joga a cabeça para trás, rebolando e
chamando-me quase sem voz. Com a outra mão, eu aperto o seu peito, a
sua cintura, a sua bunda, lambo o seu pescoço, mordo a sua orelha –
tudo lentamente. Ela enlouquece.
— Aaaahh! — E a levo ao ápice do prazer no último movimento de
masturbação.
Ela volta a consciência, porém, eu não paro de querê-la. É
impossível. Enconcho o meu membro no seu traseiro, excitado ao ponto
de as bolas doerem.
— Hoss…
Beijo-a, até que Elena me empurra e ergue-se em tropeços do meu
colo.
— Não posso. Não podemos. A minha irmã! Isso não é certo!
Passo a mão no rosto e coço a barba, frustrado.
— A-a gente iria transar, enquanto a minha irmã está em algum
lugar, passando frio, fome e… e não sei mais o quê!
— Elena!
Ela sai andando apressada até a porta.
Porra!
— Elena!
Alcanço o seu braço no corredor e puxo-a a favor do meu corpo.
— Não, isso não é certo. Você me deixa confusa… quente. Eu
estou sempre quente!
— Elena, calma.
— Acho melhor outra pessoa me levar em casa e eu ficar lá, para
receber notícias da Lupita. Eu não devia estar aqui, Hoss, com você e isso
que me provoca!
— Droga! E você acha que não me deixa da mesma forma?
Desculpa se passei do limite, não consegui parar.
Ela respira acelerada, confusa.
— E eu não vou permitir que fique sozinha na sua casa. Isso não é
nem discutível, aqui, no castelo, está segura, protegida por nós.
Elena não responde, apenas afasta a minha mão do seu corpo e dá
um passo para trás.
Que merda, eu quero socar a minha cara por ter passado dos
limites nesse momento desesperador.
— Vem, vou levá-la em casa para pegar o que precisa. E prometo
não tocar mais em você.
Retiro-me nervoso, esperando que essa mulher linda também me
acompanhe. Ela me acompanha e aguarda que eu pegue o carro para,
enfim, irmos embora.
Durante o caminho, vamos num silêncio irritante, sem ter o que
dizer, isso até o celular dela tocar e ela soltar um grito, que me fez jogar
instantâneo o carro no meio-fio.
— LUPITA?
— Coloque no viva-voz, Elena! — ordeno e ela faz.
— Onde você está? Pelo amor de Deus, diga algo!
— Eu estou bem, eu juro… fique calma.
— Não me peça isso, por favor, diga onde está! Vamos
imediatamente te buscar.
— Já disse que estou bem, mas não posso contar onde estou, ou…
Elena aperta rápido a minha mão, tremendo desesperada.
— Ou o quê?
— Pergunte o que precisamos fazer para resgatá-la — sussurro,
amaldiçoando o azar de não estar perto do Vince para ele interceptar a
ligação.
— O que precisamos fazer para resgatá-la?
— E-ele não disse… só me pediu para avisar que estou bem, que
comi, dormi e tomei banho. Estou sendo bem tratada, prometo.
— Quem é ele? — Ela, de repente, desliga a chamada na cara da
Elena. — LUPITA?!
Eu bato no volante.
— Lupi… — Elena deixa o celular cair no colo e começa a chorar.
Eu não suporto e abraço-a.
— Prometo que vamos encontrar a sua irmã.
— Como? Ela não disse nada para nos ajudar.
— Quem a sequestrou estava do seu lado na hora da ligação, para
sua segurança, Lupita não podia dizer. Olhe para mim… — Seguro o seu
rosto e limpo as suas lágrimas com os polegares. — Vai dar tudo certo,
ela vai voltar. Vou me redobrar para isso. É a minha responsabilidade.
— Nada do que aconteceu é sua culpa ou responsabilidade.
Eu suspiro, não querendo discutir o porquê de ser, sim, a minha
culpa.
— O importante é que ela te ligou e que, de certa forma, está bem.
Dou um beijo na sua testa e ela assente, afastando-se para o lado
da janela.
— Por favor, preciso ir em casa…
Eu faço o que ela pede. E mais tarde, após pegar as suas roupas,
voltamos para o castelo.
— Pode me dar o seu celular? Vou entregar para o Vince rastrear a
chamada da sua irmã, ele é um hacker.
— O Vince é um hacker? Nem parece.
Ela me entrega o aparelho.
— Que é inteligente? Pois é, às vezes, até eu não acredito. Vou lá,
já sabe, qualquer coisa, o Luiz está à sua disposição.
— Eu ouvi o meu santo nome agorinha?
— E falando no diabo…
Aproveito que Vince aparece para fazê-lo me acompanhar até o tio
Argus. Só que a sala de reuniões, encontro o Rael discutindo alguns
papéis com o nosso tio.
— Interrompemos?
— Não, só estávamos analisando algumas propriedades que
adquirimos esse ano.
— Hum, tenho atualizações do sequestro da irmã da Elena... — a
seguir, eu explico tudo o que aconteceu e que preciso do Vince para tentar
rastrear a chamada.
— Eu posso localizar de onde foi feita. — Ele pega o celular.
— Conseguiu notar algo suspeito pela ligação, Hoss?
— Tinha alguém perto dela, isso é óbvio. Vince também pode
conseguir a gravação para analisarmos melhor?
— Meu anjo, eu sou foda, se quiser, eu posso invadir até o sistema
da casa da moeda de Portugal.
Rael revira os olhos.
— Metido-insuportável.
— Ninguém falou com você, Raellino.
Enquanto se implicam, eu tiro a foto da Lupita do bolso, que Elena
me deu quando estávamos na sua casa.
— É ela? — Vince olha o retrato. — Ah, é, fomos apresentados
naquele dia que você e o Morcego estavam descendo os vasos. Conheci
a Elena junto.
Rael também olha e franze o cenho.
— Eu acho que conheço essa menina de outro lugar.
— Como assim? — Dou um passo até ele.
— Sim, eu tenho quase certeza.
— Cadê, deixe-me ver também. — Argus pega a foto e analisa. —
Não está enganando, Rael? Talvez não conheça.
— Eu… — Ele observa demorado o olhar do nosso tio, depois o
meu. — Acho que estou, não sei, devo estar confundindo com alguma
outra pessoa. Conheço muita gente.
— E tem certeza de que se confundiu mesmo? — Fuzilo-o.
— Se eu tivesse transado com ela, tenha certeza que eu não teria
dúvidas.
— Vamos combinar que a loira é bonita.
— Vai fazer o que te pedi, Vince!
— Tenha mais carinho, seu infeliz.
— Só vou esperar você conseguir a localização para agir o mais
rápido possível — informo e eles assentem, menos o nosso tio. Mas não
me importo.
Preciso achar essa Lupita logo para ficar em paz. E,
principalmente, deixar a Elena em paz, longe de mim, antes que seja tarde
demais e eu me foda.

Passo a tarde inteira angustiada e ansiosa para o Hoss devolver o


meu celular, também descobrir a localização de onde a chamada foi
realizada. E isso acontece ao anoitecer, de uma forma confusa, pois é o
Luiz quem vem até o meu quarto de hóspedes entregar o celular. Pensei
que o Hoss viria e me diria o que descobriu.
— Hoss mandou você trazer? Ele não disse mais nada, Luiz?
— Na verdade, foi o Sr. Argus que mandou devolver. Hoss saiu há
muito tempo com um dos irmãos.
— Sabe me informar onde foram?
Luiz me observa.
— Não, senhorita.
Eu assinto e assim que ele sai, eu fecho a porta para continuar na
minha angústia. Sem esperar, o meu celular toca; é o Paulo. Atendo no
mesmo instante.
— Elena?
— Tem notícias da minha irmã? Descobriu onde ela está?
— Encontre-me esta noite.
— O quê?
— Preciso ver se você está bem.
— Eu estou bem! Só quero notícias da Lupita!
— Pois eu vou te dar notícias dela assim que eu te ver
pessoalmente.
— Paulo, você não vai usar essa situação para…
— Eu nunca faria isso sem motivo, e agora eu tenho, que é te ver
para comprovar que está bem.
— Eu estou segura, tenha certeza disso. Só me diga sobre a minha
irmã, por favor.
— Elena, não me faça invadir a merda desse castelo! Eu estou a
cada minuto ficando louco! — sua voz se mostra descontrolada no
telefone. — Sei que anda se relacionando com esse desgraçado do
Calatrone! E qual a diferença dele comigo? Sabe que esse verme e toda a
sua família são agiotas da pior estirpe? Eles matam!
— E-eu sei…
— Elena? — Inesperadamente, alguém bate na porta do quarto.
— Por favor, Paulo, fala da minha irmã, diga alguma coisa!
— Eu vou te dar até de noite para retornar a minha ligação, dizendo
que vai se encontrar comigo.
— Paulo, você não…
Ele simplesmente desliga na minha cara. Como pode fazer isso
sem nenhum remorso? Eu estou desesperada, preciso de notícias.
— Elena? — De novo, alguém bate na porta, desta vez, com mais
força.
Eu respiro fundo, recomponho-me ao supor que é o Hoss e abro,
dando de cara com o Rael. Fico surpresa.
— Rael?
— Posso entrar?
— Sim.
Abro espaço e ele entra no quarto. Fecho a porta, viro-me e noto o
Rael estranho. Ele faz o mesmo gesto de quando o Hoss está nervoso, de
passar a mão na barba e molhar os lábios.
— Está tudo bem?
— Não está, Elena, de verdade, não está. — Enfim, fita os meus
olhos e vejo que de fato está nervoso, irritado.
— Hoss tinha completa razão de desconfiar de você.
— C-como?
— Vou te contar uma história. — Ele dá um passo bruto na minha
direção. — Há algumas semanas, eu fui fazer uma cobrança na casa de
um traficante que é nosso amigo… sei que Hoss lhe contou que somos
agiotas, por isso, durante essa cobrança, me deparei com dois caras
arrastando uma garota pelos braços. Ela estava chorando, suplicando que
eles a soltassem. Dizia que era um engano, que eles a confundiram com
outra pessoa. Mesmo assim, os capangas do traficante a machucavam, a
sacudiam, ordenando que ela dissesse o nome da sua irmã. Essa moça
tinha um relacionamento com esse traficante, acredita?
Eu me afasto para trás, em confusão.
— Eu fiquei com muita dó dela, também revoltado pela forma que
esses capangas estavam a machucando, e interferi imediatamente. Meu
amigo traficante logo apareceu e explicou quem era aquela moça loira ali,
sequestrada por ele. Ela era cunhada de Paulo Borghi, conhece?
Arregalo os olhos, perdendo o fôlego.
Rael sorri entre os dentes, apavorando-me com o seu olhar
monstruoso.
— Não sei se sabe, Paulo se tornou o herdeiro direto da grande
máfia poderosa dos Borghi, isso depois que o seu irmão mais velho foi
assassinado por esse traficante que citei. Mas, voltando a história, eu
negociei a vida dessa moça loira. Deixei um favor penhorado em troca da
sua liberdade. Hoje, depois desse ocorrido já esquecido, Hoss veio me
mostrar a foto da sua irmã, que até então eu nunca havia conhecido
pessoalmente. E acredita numa coisa? Essa moça loira, magra, com uma
pinta pequena na testa, é igualzinha a moça que eu salvei? É muita
coincidência.
— Rael… — Tropeço no tapete e aperto trêmula a poltrona a minha
lateral, que me segurei para não cair.
— Está estranha, Elena. Quer começar a dizer algo? — questiona,
de novo, entre os dentes. — Vince encontrou muitas evidências no seu
celular.
— Eu não sabia que ele era mafioso, eu juro que não sabia. Nem a
minha irmã.
— Ah, claro. Vou sentar para você iniciar a sua vitimização.
— Estou sendo sincera.
Ele passa a mão no cabelo.
— Por favor, Rael. Eu juro que não sabia, o Paulo me enganou,
mentiu, ele…
— Cala a boca, porra!
Abaixo a cabeça, quase chorando.
— Não consigo pensar, imaginar no que o Hoss pode ser capaz de
fazer com você! Ele tinha completa razão, desde o começo. Se infiltrou
rápida demais na nossa família, manipulou a Hera, ganhou a sua
confiança e para colocar a cereja no bolo, se relacionou com o meu
irmão! Deve ter recebido ordens para seduzi-lo, pois ele é uma grande
autoridade entre nós, e até o ponto mais forte.
— Não, não é verdade!
— Está aqui a ordens da máfia, do seu noivo!
— Não, Rael! Você tem que parar de falar e deixar eu explicar tudo!
— Ah, sim, e explicar o quê, Elena? Tem o que explicar ainda?
— Que o que está supondo não é verdade! Eu não sabia que o
Paulo era mafioso, não sabia também que vocês Calatrone eram agiotas.
Juro que eu não sabia de nada!
— Tente convencer o Hoss com essas mesmas palavras, garanto
que ele vai acreditar e ser muito bonzinho.
— Não estou mentindo! Acredite em mim!
— Sabe o que é pior? O cara que está cuidando de você está se
sentindo culpado pelo sequestro da sua irmã, sentindo-se responsável
pelas duas. Sendo que ele não tem nada a ver com isso. Você apenas
está nos usando para encontrá-la. Não precisa de porra nenhuma de
segurança!
— É mentira! — brado desesperada, em prantos. — Eu não pedi
para ele me trazer para o castelo, para ele se sentir responsável e me
ajudar a encontrar a Lupita! Eu não pedi! Tudo simplesmente aconteceu!
— Você, então, é inocente de tudo? Oras, como é possível, futura
Sra. Borghi?
— Rael, voc…
— Chega, Elena! Ninguém acredita no seu discurso de coitadinha,
que é completamente inocente e não fez nada!
— Não fiz! Juro que não tenho culpa do que aconteceu e está
acontecendo. Talvez por não ter dito do Paulo e do nosso relacionamento
do passado, mas é por que… como eu falaria disso para vocês?
— É muito corajosa, porra, como é!
— Isso não passa de um mal entendido, que se me escutasse,
entenderia. Mas, para o bem de todos, eu vou embora essa noite, deixarei
a sua família em paz. Sairei por aquela porta sendo a cretina, a traíra e a
mafiosa que acha!
Meu coração se aperta de tamanha injustiça.
— Ir embora? Quem disse que vamos deixar você ir embora?
Temos um tesouro em mãos. Além disso, Hoss também não permitiria que
fosse, pois, para a sua sorte, o meu irmão ainda não sabe de nada. E te
desejo mais sorte por se encontrar na casa dos seus inimigos.
— Rael!
Ele anda até a porta e eu tento alcançá-lo, sem mais segurar as
lágrimas.
— ME OUÇA! PELO AMOR DE DEUS! PRECISA ME
ENTENDER!
— É melhor se recompor e parar de gritar, ele, daqui a pouco, vem
aqui.
— Não faça isso, você tem que parar e ouvir o meu lado, você tem!
— Suas manipulações acabaram!
Rael me dá um olhar de desprezo e bate à porta.
Eu seguro na maçaneta, chorando.
Não é possível que esse mal entendido esteja acontecendo. Por
quê, meu Deus? Nada do que o Rael disse é verdade, nada!
Coloco a cabeça na madeira da porta.
Preciso contar para o Hoss, ele tem que me ouvir, me entender.
Então saio do quarto e começo a correr.... de repente, no meio do
corredor, eu desisto de fazer isso.
Não, ele não vai me entender, eu nunca tive a sua confiança, desde
que pisei os pés nesse castelo. O que o Hoss está fazendo, de me
proteger, não passa de uma obrigação que ele acha que tem comigo,
devido a algum risco que também acha que me colocou por termos nos
relacionado. Assim como o Rael, ele vai ser incompreensível e até pior,
pode me machucar.
Vince conseguiu a localização da chamada efetuada pela irmã da
Elena e fomos imediatamente até o local, que fica numa casa com um
casal e quatro crianças. Eu, Rael e Vince concluímos que o sequestrador
colocou a Lupita num carro e foi até a rua fazer a ligação em frente à
casa, apenas para despistar qualquer rastreamento, depois deve ter
jogado o celular na mata que fica próxima.
Voltei para o castelo, puto! Não tive nem coragem de subir para
olhar nos olhos da Elena e dilacerar as suas esperanças de encontrar a
sua irmã. Tive zero progresso!
Fico um pouco na sala de reuniões, bebendo e pensando na droga
da minha vida. Só após encher a cara de coragem, eu, enfim, subo para o
quarto de hóspedes, que ela preferiu ficar, em vez de continuar no meu.
— Elena? — Abro a porta, chamando-a baixinho. — Estou
entrando...
Para a minha surpresa, não a vejo em lugar nenhum do quarto.
Penso que deve ter decido para a sala, só que lá embaixo também não a
encontro.
— Luiz!
Ele aparece.
— Sim?
— Você viu a Elena?
— Ela está no quarto.
— Não, não está. Fui lá procurá-la e não a achei. Verifique pelas
câmeras de segurança no tablet. Esse castelo é imenso para ficar indo em
cômodo por cômodo. Depois comunique a ela de que estou a procurando.
— Ok, já volto.
Ele se retira e eu decido procurar o meu tio para resolvermos
outros assuntos importantes. Entretanto, no segundo andar da sua sala,
perto da porta encostada, vejo que ele já está com o Rael.
— Você disse a ele da Elena?
Ouço o nome da Elena e chego mais perto com o ouvido.
— Porra, e como eu vou falar isso dela, para ele? Hoss vai ficar
puto, vai… nem sei a droga que ele vai ser capaz de fazer com aquela
mulher. Ele supre fortes sentimentos. Será como uma traição.
Eu fecho os punhos contra a parede, dizendo a mim mesmo para
não avançar.
— Precisamos também verificar se ela fala a verdade.
— Está mais do que óbvio que ela manipulou a todos, que não
existe nada de inocente. Estou furioso! Furioso pelo Hoss e pela Hera que
vão se decepcionar!
— Rael se…
Não aguento e finalmente, avanço, tendo a certeza de que entortei
as portas com a minha força animal.
— Vocês vão começar a me explicar agora a porra que estão
escondendo sobre a Elena! — esbravejo, dando passos fortes até os dois.
— Agora! Ou sabem do que sou capaz de fazer para descobrir!
Rael olha para o nosso tio e bate na mesa.
— Que desgraça, Hoss! Você ouviu.
— É CLARO QUE EU OUVI, PORRA! DESEMBUCHA!
— Eu vou dizer, você tinha completa razão de desconfiar daquela
decoradora! Sabe a moça loira que eu salvei na casa do José? Era a
Lupita! Eu reconheci pela foto que nos mostrou. Em instantes, juntei o
quebra cabeça. José estava atrás da sua irmã, a noiva do Paulo Borghi!
— O que você está dizendo?
Argus respira pesado, olhando-me.
— Por isso eu mandei você ficar longe dela. Não era para o bem da
Elena, mas para o seu e de toda a nossa família.
— Ela é da máfia.
Eu rosno com os dentes cerrados e fecho os punhos com tanta
força que as mãos e os nervos doem.
— Elena é noiva daquele Borghi! — Sinto uma lança me atingir
enquanto falo e o sangue borbulhar de ódio.
Ela me enganou, mentiu. Eu sabia, eu senti que havia algo nessa
mulher que não era certo. Como pude ter sido trouxa de abaixar a
guarda?
— Hoss, precisamos ficar com a cabeça fria.
— Vocês todos são uns filhos da puta! Traidores!
— Descobrimos hoje!
— É? — Fuzilo o tio Argus, que sempre está a um ou dois passos à
frente de nós. Ele sabia a muito tempo da Elena. — Eu vou matá-la!
— Hoss!
Então, viro as costas e saio em fúria pelo castelo. Rael vem atrás
de mim.
— Não faça nada, irmão, deixe a cabeça es…
— VAI PARA A PUTA QUE TE PARIU!
Empurro-o com força e entro no elevador.
Na sala, Luiz vem até mim assim que as portas se abrem.
— Senhor, a Srta. Elena…
— Onde aquela desgraçada está?!
Ele arregala os olhos.
— Onde, Luiz?!
— Estou aqui, Hoss…
Ouço a sua voz e viro a cabeça, trincando o maxilar ao vê-la.
— Sua desgraçada!
Avanço na sua direção, mas o Rael aparece do inferno, pondo-se
na frente dela e defendendo-a!
— Para, porra!
— Eu quero esganá-la! Sai da minha reta!
Soco o Rael no peito e ele revida com um soco mais forte do que o
meu, que me faz cambalear para trás.
— Nunca encostamos um dedo numa mulher, não importa o quão
nojenta que ela seja! Agora controle-se!
— ESTÁ DO LADO DELA, CARALHO?
— Hoss… — ela me chama, chorando falsa, e isso me deixa com
mais raiva.
— Não estou do lado dela, mas ela não aguenta a sua força de mil
homens, por isso, esfria essa cabeça ou vai machucá-la!
— Eu sabia que você, sua falsa do caralho, era quem eu
desconfiava, eu sabia! — Aponto o dedo para ela, que me olha pela lateral
do Rael.
Está chorando mais, só que eu sei que são lágrimas de mentira! É
uma manipuladora, uma atriz!
— Por favor, vocês têm que me ouvir, me entender. Hoss, eu te
suplico... pelo amor de Deus, ouça-me! Nada é verdade.
Encaro o Rael, ainda com os punhos cerrados e a respiração
arfante. Adiante, chuto a mesa de centro e saio como louco, deixando-a
para trás, pois não suporto mais ouvir a sua voz, nem sequer vê-la!

Eu sento no sofá, chorando com uma dor insuportável no peito.


Eu estava fugindo e estava quase conseguindo. Se o Luiz não
tivesse me pegado no flagra, nada disso teria acontecido.
— Rael…
Ele me olha com aquele olhar de desprezo.
— Escute-me, é só o que eu te peço.
— Eu vou ouvir o seu lado e será a última vez. Agora vamos para
cima. O Hoss vai voltar bêbado e nem o diabo vai poder segurá-lo.
Sem escolha, concordo e acompanho-o para o meu quarto de
hóspedes.
Rael fecha a porta, cruza os braços e não tira os olhos de mim.
Eu limpo as lágrimas.
— Só me ouça… Eu conheci o Paulo há um ano, foi numa festa
que eu fui mais a minha irmã e as suas amigas. Ele se aproximou, me
paquerou, nós gostamos e a partir dali marcamos muitos outros
encontros. O que tivemos foi tão intenso, tão mágico que no mesmo mês
fui pedida em casamento. Eu aceitei, só que decidi não ir tão rápido.
Queria conhecê-lo melhor. Então, conheci… as suas mentiras. Ele mentia
sobre a sua profissão, fortuna, família, sobrenome e até a causa da morte
do irmão mentiu. Até que eu descobri a verdade por uma matéria com a
foto dele na internet, dizendo que com a morte do irmão, o Paulo Borghi
se tornava o herdeiro da máfia mais poderosa e cruel de Portugal. Não
acreditei, pensei que não era possível aquilo ser verdade. A foto e o
primeiro nome deviam ser um engano. — Eu olho pela sacada a vista do
sol se pondo, em seguida, volto a olhar triste para o Rael. — Na mesma
noite, o Paulo foi lá em casa. Confrontei ele para comprovar que a matéria
era um engano, que tudo aquilo não passava de uma Fake News. Mas ele
não conseguia mais mentir para mim. E meu coração foi dilacerado em
um milhão de pedaços. Ele revelou quem era; um mafioso, criminoso e
fora da lei. Fiquei transtornada, desesperada, tanto que o expulsei da
minha casa e da minha vida, dizendo que o noivado havia acabado e que
eu não queria vê-lo nunca mais. Sofri por dias, destruída por dentro.
— E as ligações que ultimamente andou fazendo e recebendo
dele?
— Calma, deixa eu continuar... o Paulo me deu um tempo, ficou
semanas sem aparecer. E eu decidi erguer a cabeça, seguir em frente e
focar no meu objetivo em Portugal, que é realizar o meu sonho de crescer
profissionalmente, ter uma vida estável, vida essa que o Brasil não me
proporcionaria. E, nesse meio de superação, eu peguei o serviço de
decorar o casamento da Hera. Ela me procurou por e-mail, tenho provas
disso. O valor era ótimo, sem falar que não era um evento gigantesco. Por
isso, aceitei. E, para a minha infelicidade, no meu lado pessoal, o Paulo
voltou a me procurar, atrás de perdão, de se explicar, de me reconquistar.
Ele mandava todos os dias centenas de flores com cartões. Só que eu
nunca o aceitaria de volta, ele mentiu, fez-me sentir enganada por um
falso futuro de casamento, família e amor. E pior, era um mafioso! —
Respiro fundo. — Eu disse um monte de vezes para ele me deixar em
paz, para não me procurar, que eu queria viver a minha vida. Mas era
tarde. No dia em que você salvou a minha irmã do tal traficante, ela
contou tudo o que havia acontecido, que estavam atrás de mim por
acharem que eu ainda era a noiva do Paulo. Só sei que tudo virou de
cabeça para baixo. Não tive mais segurança de sair de casa.
Rael passa a mão no cabelo, raciocinando tudo o que eu estou
falando.
— Na manhã, antes do casamento da Hera, eu fui na padaria e
dois caras tentaram me raptar no caminho. Um deles agarrou o meu braço
e igual a Lupita, também iria me sequestrar. Então começou a acontecer
um tiroteio. O homem me largou e eu corri de volta para casa. Minutos
depois, o Paulo surgiu e eu berrei com ele, que tudo o que estava
acontecendo era a sua culpa, por ele ser um criminoso. Ele prometeu que
iria me proteger, que ninguém mais tentaria encostar um dedo na minha
irmã ou em mim. Não tive escolha. Aceitei a proteção dele, era isso ou eu
desistia dos meus sonhos e voltava para o Brasil. Aí, no meio dessa
situação, acontece o Hoss, a gente... o segundo sequestro da minha
irmã… A minha cabeça está uma loucura. Sinto-me cansada, sem saber o
que fazer.
— Ele sabe do sequestro da sua irmã?
— Sim, ele ligou querendo saber onde eu estava e eu relatei tudo,
que ele tinha que procurar pela Lupita, que isso também era a sua culpa,
sua responsabilidade. E nada é culpa do Hoss. Eu só não sabia, não me
sentia segura para contar sobre isso. Desde que pisei os pés nesse
castelo, que ele não confia em mim, acha que eu sou uma informante,
assim como você. Só que eu não sou. Não tinha como eu contar a
verdade para vocês, não tinha. Eu nem sabia que eram agiotas.
— Elena…
Eu olho para ele.
— Eu preciso digerir tudo o que disse.
— Eu sei… já é alguma coisa ter parado para me ouvir. E eu não
devia ficar aqui, você, o Hoss e a toda a sua família não tem nada a ver
com o que está acontecendo.
— Isso já é tarde, temos todos os holofotes da máfia acesos sobre
nós. Paulo deve estar sabendo do seu relacionamento com o Hoss. Isso
explica os últimos acontecimentos.
— Não temos um relacionamento, nada passou de algo casual,
sem compromisso.
— Acredite, vocês dois estão longe de ser só algo casual. Hoss
envolveu os sentimentos. E isso está sendo um dos maiores motivos para
ele estar em algum lugar do castelo, quebrando as coisas, bebendo e te
xingando.
— Eu não tenho culpo, preciso tentar me explicar para ele.
— Não vou deixar que você o procure, nem vice-versa. Tome um
banho e descanse. Luiz vai trazer o seu jantar. Aliás, não tente mais fugir,
é perda de tempo.
Não respondo, pois nem tenho mais o que dizer. Apenas assisto o
Rael fechar a porta e deixar-me sozinha, nesse quarto de paredes frias.
Eu deito na cama, triste, sem parar de pensar que magoei o Hoss e que
agora, de fato, ele me odeia.
Eu me seguro na mureta da sacada, sentindo os meus dedos
perfurarem a pedra. Minha respiração está ofegante. Bebi uma garrafa de
uísque quente e ainda continuo em fúria, querendo ir atrás dela e… porra,
eu nem sei o que eu quero fazer com aquela mulher!
Penso em ir para a boate, afundar mais a cara no álcool, porém,
desisto ao tropeçar na cadeira e cair bêbado no sofá. Mesmo assim, eu
continuo a beber a noite inteira, até acordar podre de madrugada e subir
para a droga do meu quarto. Porém, no meio do caminho, eu desisto e
desço no andar da Elena, caminhando na escuridão fria do corredor, sem
parar de pensar nela.
Não consigo travar as minhas pernas bambas, os meus
movimentos, só faço isso quando abro a porta do seu quarto e entro,
encontrando-a encolhida na cama, com o único foco do abajur iluminando
o seu rosto sereno. Está dormindo. Dormindo como se fosse um anjo
inocente. Coisa que nunca foi. Eu tive razão de desconfiar dela desde o
começo.
Aproximo-me da cama para vê-la mais de perto. Minha respiração
forte denuncia o meu nervosismo. Ao parar ao seu lado, eu fico
exasperado. Não sei se sinto ódio, raiva, decepção. Nada parece
encontrar o seu lugar agora.
Estou estranho, apenas me perguntando o porquê de ela ser tão
bonita.
Toco no seu rosto com o dedo indicador e de repente, Elena pisca,
mas não me afasto. Ela pisca umas três vezes até abrir completamente os
olhos e encontrar-me.
— Ho-Hoss? — Ela puxa o lençol e afasta-se desesperada para
trás.
— Com medo, Elena? — sussurro entre os dentes.
— Eu… eu não quero que me machuque.
Suas palavras me fazem desviar dela e apertar os olhos.
— Você se tornou uma das pessoas que mais sinto ódio, sabia?
— Não diga isso. Por favor, eu gostaria que me entendesse.
Ela se ajoelha na cama e fica cara a cara comigo.
— Paulo mentiu para mim, ele me enganou por um ano. Eu não
sabia que…
Não aguento de raiva e puxo-a possessivo pela cintura.
Elena perde a fala, também a respiração.
— Nada do que dizer vai me fazer confiar em você. Entendeu?
Estou puto, furioso!
Ela abaixa a cabeça, gemendo. Percebo que apertei muito forte a
sua cintura.
— Deixe-me ir embora essa manhã, prometo que nunca mais me
verá.
Rosno feito um animal e coloco o seu corpo ainda mais junto do
meu. Sinto o tecido da sua camisola subir com o meu movimento.
— Te deixar ir e perder o gostinho de ter a noiva de Paulo Borghi
nas minhas mãos?
— Eu não sou mais a noiva dele. E você não vai me usar!
— Mas eu estive esse tempo inteiro me divertindo com você, Elena.
Não gostou de ser bem usada na cama?
Ela fica chocada e tenta me empurrar sem sucesso, eu quem jogo
o seu corpo para trás e subo em cima das suas pernas.
— Me larga, Hoss! — berra, batendo no meu peito e sacudindo-se.
— Me larga!
Eu seguro os seus punhos no alto da sua cabeça.
— Você está bêbado, está fora de si.
— Eu nunca estive tão são.
Inclino a cabeça e mordo a sua boca.
— Não me toque!
Elena se mexe embaixo de mim.
— Esse seu cheiro me deixa mais louco! Eu te detesto! É uma
mentirosa!
— Hoss…
Chupo o seu pescoço, em necessidade de prová-la, nem que isso
seja a última coisa que eu faça em vida.
Não vou permitir que Elena se vá, não até eu querer isso!
Ela me olha, arfante, linda. Seus cabelos estão desgrenhados no
colchão. Fico seduzido pela sua beleza do inferno e não resisto a beijá-la
em posse.
— Você não pode… — geme, apertando as pernas no meu quadril
e separando os nossos lábios.
— Eu posso tudo, agora.
— Não pode, desde que me ouça e me entenda.
— Eu não vou acreditar nas suas mentiras manipuladoras!
Sinto os meus olhos pesarem e solto os braços dela, só para
agarrar o seu rosto macio como seda.
— Está bêbado, precisa descansar.
— Não estou, droga!
— Está sim… E você é um ridículo de bonito que eu aprendi a
gostar muito… — ela declara com os olhos brilhantes de emoção. — Não
me odeie, não sinta raiva de mim.
Elena me abraça, puxando-me forte.
Eu perco as forças, esqueço do ódio e sinto tudo se acalmar
quando eu retribuo o seu abraço e fecho as pálpebras, desmaiando de
exaustão.

Pela manhã, acordo tonto, piscando contra a luz clara, que frita os
meus olhos. Passo a mão no rosto, raciocinando onde estou e começo a
recordar de quase tudo, isso inclui a Elena.
Viro para o lado e encontro a cama vazia.

Não transei com ela, caso contrário, eu não estaria vestido.


Levanto-me, pego os meus sapatos, que nem lembro se tirei, e saio
do quarto, sem olhar para trás, pois não quero vê-la com essa porra de
ressaca que estou sentindo. Nossa conversa ainda não acabou, nem a
minha raiva dela.
Subo para o meu quarto, tomo banho, visto uma roupa limpa e
desço para o café.
— Devo perguntar se está tudo bem?
Vince se encontra à mesa, com um prato transbordando de uns
cinco pães doces.
— Já deve estar por dentro de tudo — resmungo.
— Claro que estou, fiquei escutando vocês brigando ontem na sala.
Ah, e não tenho nada a opinar, não agora, não consigo raciocinar direito
com o estômago vazio — ele fala de boca cheia.
Quando ele não está de barriga vazia?
— Bom dia, rapazes. — Argus aparece, puxando a sua cadeira e
sentando.
— Bom dia, tio.
— Como sempre, agindo como se nada estivesse acontecendo. —
Fuzilo os seus olhos.
— Iremos ainda conversar, Hoss. Ontem, não era o momento.
— Bom dia. — Rael também aparece, sentando-se no seu lugar. —
Luiz informou que vai levar o café para a Elena no quarto.
Fecho os punhos e não respondo nada. Só o nome dela me
enfurece.
— E o que vamos fazer agora? — Vince interrompe os nossos
minutos em silêncio, chamando a nossa atenção. — Digo em relação à
máfia. Depois do que aconteceu com o nosso cliente e a dançarina da
boate, nada assim se repetiu mais.
— A Elena já explica muita coisa.
Olho para o Rael, tendo certeza do que ele quis insinuar.
A máfia, ou melhor, o filho da puta do Paulo Borghi estava fazendo
tudo isso por causa da Elena e de mim. Certeza que ele sabia da… de
repente, eu lembro do último acontecimento na boate há algumas
semanas, dos caras da máfia invadindo a festa, da Elena demorando
naquele banheiro e mais tarde no carro, dela relatando que encontrou o
seu ex, que ele tinha ido atrás dela. Era ele. Porra, estava tão na minha
cara, como eu não pude ligar as evidencias óbvias?
— E o que vamos fazer com ela?
— Isso está nas mãos do Hoss. — Argus me fita.
— Essa mulher não vai sair desse castelo até eu estar frente a
frente com o Paulo Borghi — respondo.
— Você está louco? Ele pode meter um tiro no meio dessa sua
cara. É maluquice!
— Acho que, de certa forma, devemos rever o lado dela.
— Não temos que rever nada, Rael! — esbravejo puto. — A Elena
é uma mentirosa, que pode ser informante, sim, dos Borghi. Desde que
pisou os pés aqui, eu não confiei nela!
— Ah, não confiou, mas se envolveu e nos envolveu!
Ergo-me num pulo, pronto para socar a cara do Rael. Ele repete os
mesmos movimentos e ficamos olha a olho, igual dois touros.
— Mas que divertido, dos rottweiler se estranhando. Alguém chama
um adestrador?
— Um querendo matar o outro não vai ajudar em nada — Argus
murmura. — Hera chega essa semana da lua de mel. Por isso,
precisamos entrar num bom senso do que vamos fazer em relação a
Elena e tudo o que aconteceu nas últimas semanas.
— Hera tem grande participação nisso, e vai ser mais um desgosto
para a sua lista de amigas.
Eu me afasto da mesa, pronto para virar as costas, até que o Argus
me para no meio do caminho.
— A menina já está em casa. Cuide agora dos papéis.
Engulo em seco.
— Que menina? — Vince questiona.
Contudo, não fico para a explicação, saio o mais rápido possível,
completamente descontrolado com a minha vida em desgraça.
Além da Elena me enchendo de problemas, ainda tem essa criança
que devo assumir como filha.
Eu termino o meu café da manhã e fico andando de um lado
para o outro no quarto, pensando no que eu vou fazer. Não posso
me importar com nada relacionado ao Hoss e ao Paulo. Não
aguento mais ficar chorando. E quer saber? Que se dane se não
acreditam em mim. O que importa é eu estar de bem com a minha
verdade. Além disso, preciso achar a Lupita. Ontem, não fui ao
encontro do Paulo e até agora ele não atendeu as minhas ligações.
Será que ficou bravo? Mas ele não tem esse direito!
Estou angustiada. Preciso fazer alguma coisa.
— Comece parando de se esconder entre essas paredes.
Erga essa cabeça, Elena — digo para mim mesma, diante do
espelho. — Enfrente esses homens, o mundo e todos que estão
estragando a sua alegria.
E é isso o que eu vou fazer… erguer a cabeça e enfrentar a
todos!
Sinto-me cansada, farta de aceitar a situação que estão me
submetendo. Não sou obrigada a acatar ordens como se fosse uma
cadela obediente. Também não quero mais ficar chorando. Essa não
é a Elena que chegou toda sonhadora em Portugal, pronta para
vencer todas as barreiras da vida. É ela que eu tenho que
ressuscitar.
Respiro fundo, ajeito o meu vestido, o cabelo e saio do
quarto, para deixar as empregadas organizá-lo. Desço até a sala,
sendo parada pelo mordomo.
— Por favor, Srta. Elena, acompanhe-me até o Sr. Argus.
Meu corpo se arrepia só de ouvir o nome desse homem.
Quase não o vejo pelo castelo, e desde que a Hera nos apresentou,
nunca mais nos dirigimos uma palavra sequer.
— Srta. Elena?
Volto os meus pensamentos para o presente e sem conseguir
responder nada, apenas acompanho Luiz até o andar luxuoso da
sala dele.
Diante das portas enormes, Luiz abre e pede para que eu
entre. Eu entro e ele as fecha atrás de mim. Fico boquiaberta com a
grandiosidade do local. É tudo confortável e cheio de detalhes
antigos.
— Elena?
Eu olho para o Sr. Argus, assombrada com o seu olhar sério,
de homem poderoso.
Nunca suei tão frio como agora.
— Por favor, sente-se aqui para conversarmos.
Concordo e vou até as cadeiras chiques, que ficam à frente
da mesa e sento, sem parar de mexer com meus dedos inquietos.
— Já sei o que o senhor deseja conversar comigo…
— Já sabe?
— O senhor também não gosta de mim e acha que eu faço
parte da máfia do Paulo. Eu sei tudo o que vai me dizer.
— Talvez esteja enganada, não a odeio. Confesso que, no
início, o certo era o Hoss não ter se relacionado com você, cheguei
a pedir para ele que se afastasse, mas agora é tarde, devo protegê-
la.
— Não quero proteção, eu sei me cuidar muito bem. O que
preciso é de encontrar a minha irmã.
— Elena… — Ele se posiciona ainda mais sério e assustador.
— Você não entende em que situação está metida e que nos
colocou. Ele não vai lhe deixar em paz. Paulo a quer de volta.
— Eu não entendo, o senhor já sabe? Digo, sabe sobre mim
e o Paulo?
— Sim.
— T-tudo?
— O que importa é que os Calatrone irão te proteger,
acredite, até o Hoss. Mas, antes, tenho uma pergunta para você.
Pisco nervosa e confusa.
— Que pergunta?
— Você está do lado de quem? E não me responda que não
tem um lado, pois você deve aceitar que não tem mais uma vida
comum, num bairro pacato e cheio de vizinhança normal. É marcada
pela máfia e todos os inimigos dos Borghi, eles já sabem da sua
existência e do seu envolvimento com o Paulo.
— Eu só queria a minha vida de volta, nesse bairro pacato,
de pessoas normais, com vidas normais. Não pedi nada disso.
Quando conheci o Paulo, ele me enganou, fingindo ser um homem
perfeito, dentro da lei e… — eu solto o ar dos meus pulmões — e
agora meus sonhos acabaram.
— Pelo bem da sua vida, não tem mais escolhas, eu sinto
muito. Entendo que o destino lhe traiu, te trouxe uma desgraça
inesperada, mas saiba que tudo acontece por um motivo. Em breve,
saberá o porquê.
— O senhor acredita em mim?
— Se a Hera estivesse aqui, ela teria sido a primeira a te
ouvir e a acreditar em você. Mas eu precisava de provas. Por isso,
vou protegê-la desde que responda de que lado está.
— Não sei… tudo o que eu queria agora era a Lupita aqui
comigo. Não importa se o Paulo, inimigo de vocês, me ajude, desde
que a encontre e a resgaste.
— Eu vou te dar esse dia todo para me responder com um
sim ou um não, entendeu? Também, não conte para ninguém da
nossa conversa. E sobre a Lupita, vamos encontrá-la. — Ele é direto
e “simples”, fico abismada.
Seus olhos conseguem ver até a minha alma. Que tipo de
homem é esse?
— Eu prometo que vou pensar.
— Outra coisa. Hoss não vai te ouvir, nem confiar em você
até que tudo se prove a verdade. Aceite isso e deixe-o em paz, ou
lute e o enfrente para comprovar quem realmente é.
— Por que está me dizendo essas coisas? Nunca fui
diferente com ele, é o Hoss que desde o início não confia em mim.
— Ele já amou muito uma mulher e ela só soube machucá-lo
com mentiras. Ainda, no final, ela deu seu ultimato de traição. E, há
anos, noites e dias que ele não para de pensar nela com tamanho
ódio, que… — Ele fecha os punhos. — Não tem ideia de como ele
sofreu.
— E-eu sinto muito, eu não sabia. Ele ainda vê essa ex?
— Não, Olívia está morta, morreu em seus braços com um
tiro no peito. Foi depois da sua morte que o Hoss descobriu as
traições dela.
— Meu Deus! — Arregalo os olhos, em choque e com o
coração partido. — Eu sinto muito por ele, de verdade.
— Não deixe que ele deposite esse sentimento de graça em
você. Hoss não sabe confiar em nenhuma mulher, nem Hera tem a
sua total confiança. Mas você vai pode ter a minha, Elena, depois
que voltar a me procurar com o seu sim ou não. A escolha é sua.
Ele se cala e fica me observando.
Eu permaneço estática, ainda muito confusa e tentando dirigir
tudo o que Argus disse.
— Prometo que vou dar a sua resposta, só preciso pensar
em tudo o que disse.
Ergo-me da cadeira, na intenção de ir embora, por mais que
ele não tenha mandado.
— Nunca tivemos essa conversa.
Assinto e começo a andar para fora da sala, cheia de
calafrios.
No último andar, opto por continuar andando até o jardim do
castelo. Só para poder respirar ar fresco e organizar a bagunça de
pensamentos que o meu cérebro está.
— Elena?
Enquanto eu caminho em direção ao lago, ouço alguém me
chamar e viro para trás, percebendo que é o Rael. Ele está trazendo
um cavalo.
— Vocês têm cavalos por aqui? — pergunto quando ele se
aproxima.
— Temos uma cocheira com mais de dez cavalos de raça.
Não fica tão distante do castelo.
— Entendi...
Eu desvio dos seus olhos castanhos, um pouco incomodada
e desconfortável. Chego a pegar uma florzinha do arbusto para
disfarçar.
— Eu vi você de longe.
— Não se preocupe, eu não estava fugindo.
— Isso nem passou pela minha cabeça. Temos muitos
seguranças.
Ele começa a andar e eu também.
— Se Argus está mantendo você ainda aqui, é porque ele
tem uma razão.
— Como assim?
— Melhor nem perguntar. E quero que saiba que você não
tem a minha confiança.
— Isso é compreensível. Também não tenho a do Hoss e
acho que nunca terei. Ele agora me odeia de verdade.
— Hoss é complicado, mas não difícil de se compreender.
Existe um motivo para o comportamento dele.
“E eu sei… e tem a ver com a sua a ex, que o feriu
profundamente”, penso.
— Eu entendo, tenha certeza disso. E, por favor, Rael, não
vamos fingir que você não mudou depois do que lhe expliquei
ontem, porque agora está bem diferente comigo. Seu olhar não é
mais de desprezo.
— Prefiro não conversar sobre isso. Já disse que ainda não
tem a minha confiança. Creio que ninguém desse castelo confie em
você.
Eu olho para o lago à nossa frente e cerro os dentes entre os
lábios fechados. Sinto dentro de mim uma grande revolta, uma
vontade de justiça. Não sou uma pessoa da máfia, ou do crime. Eu
sou só a Elena! A trouxa que veio do Brasil cheia de sonhos e que
se envolveu com um criminoso que fodeu tudo isso!
— Conheço esse seu semblante, vejo frequentemente na
Hera.
— Estou revoltada! Sou uma adulta, independente e que tem
livre arbítrio de escolha. Não aceito estar aqui presa, com o Hoss e
a sua família que não confia em mim. E não aceito também o Paulo.
Não quero nada disso! Só quero voltar para a minha vida normal de
decoradora, e com a minha irmã!
Rael me para brusco e faz-me encará-lo. Não escondo a
minha raiva, a minha revolta crescente a cada dia.
— Não tem mais nenhuma escolha. A não ser morrer. Por
isso, aceite esse destino e aquiete-se.
— Eu direi se aceito essa droga de destino depois que a
Lupita estiver sã e salva. Nada mais importa do que isso, nem
mesmo os Calatrone ou os Borghi. Quero que todos vão para o
quinto do inferno!
Empurro o Rael e então, viro as costas, deixando-o para trás.
Volto enraivecida para o castelo.
Eu não escolhi nada disso que estão me obrigando a aceitar!
Nada!
Passo bufando pela área de lazer e sou repentinamente
surpreendida por um braço que me puxa com força.
Da sacada do segundo andar, eu assisto o Rael parar abrupto a
Elena. E aperto os olhos, pronto para pular até lá embaixo e matá-lo!
Estou observando os dois desde que ele foi atrás dela. Filho da puta!
Nunca torci tanto para um cavalo dar um coice em alguém.
E que porra é essa que está acontecendo comigo?
— Sr. Hoss? — Luiz me chama e eu viro sem paciência para ele.
— O que foi, Luiz?! — praticamente berro.
— Desculpa atrapalhar a sua vista, mas precisamos contratar uma
babá para a criança. Eu não sei como cuidar dela.
— Ela não tem boca? Então, ela come! Tem braços e pele? Então,
ela toma banho e veste roupas! É uma humana, você se vira.
— Desculpe, senhor, mas, no meu contrato de serviço, não consta
também ser babá — ele responde elegante e de cabeça erguida.
Que merda, eu coço o cabelo, controlando-me.
— Daqui a pouco, eu vejo isso.
— Isso inclui ver o estado da menina?
Não respondo mais o Luiz e saio batendo a porta atrás das minhas
costas. Vou atrás deles, louco para deixar o meu irmão sem os dois pares
de olhos!
Chego em segundos no térreo, indo igual um touro até o outro hall
da área de lazer. Só que para a minha sorte, assim que eu passo pela
porta de vidro, eu vejo a Elena. Não penso muito, simplesmente a agarro
forte pelo braço e prendo contra o meu corpo.
Ela arregala os olhos.
— Hoss, o que pensa?! — esbraveja na hora, dando um tapa no
meu peito.
— O que você pensa, sua enganadora!
— Foda-se o que diz de mim! — grita cara a cara comigo.
É repentino, eu franzo o cenho.
— Vai você também para o inferno! E me larga, pois não sou uma
marionete controlada por homem nenhum!
Nem percebo que realmente a solto.
Elena respira com raiva e os olhos vidrados nos meus.
— Eu não vou ficar aceitando que me acuse, me xingue e até me
humilhe! Nem você, nem ninguém!
— Não tem direito nenhum de estar furiosa.
— Eu tenho, sim! Você não confia em mim, pois ok, eu não estou
pedindo a sua confiança, ou suplicando que acredite na minha verdade!
Eu só quero a minha irmã de volta! E se não for me ajudar a encontrar a
Lupita, deixe-me ir embora! Sou muito mulher para me virar sozinha!
Sempre fui!
— Até para noivar com um mafioso?
Elena, por pouco, não leva a mão no meu rosto, mas seguro veloz
o seu braço e empurro-a agressivo contra a porta de vidro.
— Não ouse, sua...
— Sua o quê, Hoss? FALA!
Aperto a cintura dela, com os batimentos acelerados.
— Não é porque eu estou sendo mantida obrigada na sua casa que
eu vou deixar que me trate como bem quiser! Sei do meu caráter!
— Você não me engana com o seu fingimento de inocência, Elena.
Tenha certeza que ficará aqui por muito pouco tempo, pois você não
passou de uma transa passageira, que qualquer puta poderia ter me
dado. E diferente dessas putas, elas não me trouxeram problemas!
Ela ergue a cabeça com os olhos quase lacrimejando.
— Agradeço por dizer isso, e sinto muito pelos problemas que lhe
trouxe. Espero que hoje você procure uma puta de verdade para curar as
suas frustrações com ela, pois eu sou uma mulher de valor, que homens
como você nunca vão merecer nas suas vidas infelizes.
Ela me empurra, segurando as lágrimas.
— E eu… eu escolhi ir para a cama com você! Sou solteira, livre e
foi a minha escolha! Agora nunca mais vai encostar em mim, Hoss! Nunca
mais! — ela cospe cada palavra e sai apressada pelo corredor.
Eu soco a mesa ao lado, negando com a cabeça o meu
comportamento. Esse não sou eu… que merda, não sou eu!
Corro atrás da Elena, chamando-a.
Em vez de pegar o elevador, ela sobe desesperada as escadas em
espiral.
— Elena!
— Já conversamos tudo o que tínhamos para conversar! Deixe-me
em paz! Some!
Alcanço-a no último degrau, porém, depois de alcançá-la e puxá-la,
vejo-a chorando em prantos, isso me é como um soco. Largo o seu braço,
dando um passo para trás, para que se vá. Ela me dá um último olhar de
ódio e vai… até virar no hall da sala de cinema e soltar um grito iminente.
— Meu Deus!
— Elena! — Arregalo os olhos, correndo até ela, só que ao parar
abrupto no hall, eu vejo também o que a fez gritar… e perco as forças,
engulo em seco, sentindo espinhos descerem na garganta.
— Q-que… meu Deus, de quem é essa criança?
Luiz me encara, sem saber o que responder.
— Olha para ela, não… não dá para acreditar!
Elena chega perto da menina, que se assusta e abraça o seu
ursinho rasgado.
Continuo estático, procurando qualquer traço da Olívia no seu
rosto, mas não acho, não encontro nada!
— Calma, Srta. Elena, estamos cuidando dela, ou tentando.
— Isso é cuidar? Olhe para os cabelos dessa menininha! Vejo
centenas de piolhos daqui, andando como formigas! Cadê a mãe dela?
Como podem deixa uma criança nesse estado?
Elena inclina o pescoço e fita-me, com os olhos secos e
arregalados de incredulidade, buscando respostas.
— Hoss, o que significa essa criança? Ela está horrível!
— Nada que seja da sua conta, sai daqui, Elena!
— Essa menina, Srta. Elena… — Luiz desvia e volta a me fitar
cheio de desprezo. — É Maria, filha renegada do Sr. Hoss.
— O-o quê? — Elena volta para frente e segura rapidamente na
parede.
Não aguento ficar parado, ouvindo a porra do Luiz, ainda diante da
criança, que me observa assombrada.
Não, eu não aguento!
— Hoss!
Ouço a Elena me gritar, enquanto eu fujo do meu passado, das
minhas lembranças. E de dar explicações a ela.
Eu não quero isso! Eu não consigo!
Hoss some, como um covarde!
Viro-me para o Luiz e a pequenininha de olhos azuis. Ela abaixa a
cabeça repleta de piolhos e protege-se com o urso maltrapilho.
— Luiz, o que você disse? Pelo amor de Deus!
— Eu não podia ter dito, Srta. Elena, mas depois eu arco com as
minhas consequências. Só saiba que a criança é filha do Sr. Hoss. Ela
chegou esta manhã, nesse estado imundo que está vendo.
Eu respiro fundo, recompondo-me, por mais impossível que agora
seja.
— Ela tem roupas?
— Eu não chamaria aquilo de roupas. As empregadas tentaram dar
um banho nela, porém, ela começou a chorar e a tentar correr. Só se
acalmou quando eu disse que a levaria para fora do quarto.
— Maria? — Após ouvir o Luiz, eu me direciono a pequena. —
Maria? — chamo-a com firmeza, muito surpresa pela tonalidade grave e
poderosa da minha voz.
A menina me olha retraída.
— Meu nome é Elena, e você precisa deixar o tio Luiz cuidar de
você. Entende isso?
Ela nega veemente com a cabeça.
Com toda a certeza, está com medo.
Penso na minha mãe, no que ela faria.
— Já ouviu falar da Cinderela?
— S-sim… — ela responde e meu coração se enche de pesar.
— E você acredita em fadas madrinhas?
— Não. Elas não existe…
— Não? E como pode ter certeza que não?
Tiro a flor amassada que guardei no bolso do meu casaco e
estendo para ela.
Maria arregala os olhos.
Sorrio, lembrando que peguei a florzinha quando estava no jardim
com o Rael. Guardei no bolso sem coragem de jogar fora.
— Você é…
— Shhh… — Pisco e ela pega encantada a florzinha. — Agora a
princesa vai com o tio Luiz tomar um banho?
Ela nega de novo, no entanto, surpreende-me em seguida com a
sua resposta.
— Quero ir com você.
— Não. A Srta. Elena não pode se…
— Tudo bem — interrompo o Luiz. — Não estou fazendo nada
mesmo. Mas vou precisar que peça algumas coisas para o Hoss, como
remédio e pente para piolhos. Isso é obrigação dele.
— Faça uma lista de tudo. Posso providenciar em menos de uma
hora.
— Perfeito, Luiz.
— E obrigada, Srta. Elena. O quarto dela é a última porta do
terceiro corredor.
Eu assinto e o mordomo se retira com rapidez, para não dizer
“fugir”. Acho que Luiz ama crianças.
— Acredite, estou muito surpresa.
Sozinhas no hall, Maria me olha com curiosidade.
— Surpresa?
— Você não entenderia.
— Eu… eu entendo, sim…
Estendo a mão para ela, que aceita sem pensar muito. Começo a
caminhar até o quarto que o Luiz informou.
— E o que entende, Maria?
— Que é ele…
— Ele?
— Ele é meu pai. E a tia tá assim por causa dele.
— Você é muito inteligente.
— Vovó falava a mesma coisa.
E, senhor amado, para uma criança de quatro anos, ela tem uma
dicção perfeita.
— Mas ele não quer se meu pai… — diz baixinho. — Vovó disse
que ele tem medo… por quê, tia?
— Eu não saberia te responder, perdoe-me.
Ela assente.
Em silêncio, vamos até o seu quarto. E peço para Maria ficar
assistindo TV, enquanto eu faço a lista do que precisamos que o Luiz
compre. Depois peço para uma empregada levar até ele. É então que,
enquanto aguardo, me pego caindo em si de tudo que aconteceu em
menos de dez minutos. Começo a ligar os fatos.
Hoss tem uma filha que rejeita… sem dúvidas, é fruto do
relacionamento que o Argus comentou comigo, sobre ele guardar mágoas
e raiva do passado. Meu Deus, e como é possível? Eu olho para a Maria
de novo, entretida no seu desenho e na sua cabeça que não para de
coçar. Como ele pode deixá-la neste estado? E o que aconteceu no seu
ex-relacionamento? Onde estava essa criança? Tenho tantas perguntas
para nada de respostas! E quer saber? Vou confrontar o Hoss para ser
respondida.
“Você não tem nada a ver com a vida pessoal dele, Elena…”,
minha consciência me faz morder o lábio de raiva.
Não tenho, mas eu não ligo. Ele pode berrar, me xingar, desde que
me permita entendê-lo. Pois, sim, eu quero entender esse homem, quero
sua conf… Não, não! Ele jamais me veria com olhos de confiança.
Voltamos a ser inimigos, desta vez, fazendo jus à palavra.
Mais tarde, o Luiz volta com tudo o que eu pedi. Com a ajuda de
uma empregada, começo o trabalho de passar pente fino nos cabelos da
Maria. Ela fica quietinha na banheira, às vezes, reclamando de dor por,
sem querer, puxar muito forte os seus fios, mas nada que chegue ao nível
dela chorar. Consigo tirar boa parte dos piolhos, creio que uma segunda
passada com remédio fique 100%.
— Está com frio? — pergunto e sorrio para o biquinho fofo que está
tremendo nos lábios dela.
Maria nega, mentindo.
Eu termino de vesti-la com o melhor vestido que encontrei nas suas
coisas e por fim, amaldiçoou qualquer um por essa criança não ter um
sapato bom, um perfume, nada direito!
Hoss me aguarde!
— Por que está com essa cara?
— Preciso de algumas respostas.
— Você vai brigar com ele… — sussurra, de cabeça baixa.
Ela é muito inteligente.
— Maria, responda-me, com quem você morava?
— Com a minha vovó, mas ela virou estrelinha. — Seus olhinhos
enchem de lágrimas. — Vou morar aqui agora, é minha casa, tio Argus
disse. Mas é grande e assustador.
— O castelo?
Ela balança a cabeça em sim.
— Vou viver aqui… — volta a falar e a mexer no seu vestidinho.
— Vai sim… está com fome?
Ela assente.
— Pode ir com a tia Julia? — Aponto para a empregada do outro
lado.
Ela estava nos observando.
— Posso… mas a tia vai voltar? Não quero ficar sozinha.
— Claro que sim, te vejo daqui a pouco.
Afinal… não tenho para onde correr mesmo, a não ser aceitar o
meu “cativeiro” nesse castelo.
A empregada leva a Maria. E, sozinha, eu ergo a cabeça, ajeito o
meu vestido todo molhado e saio andando nervosa, sem nem saber onde
encontrar o Hoss. Só que o Luiz aparece magicamente e informa-me que
ele está no seu quarto.
— Isso vai ser tão difícil… — Arfo diante da porta dele após dar
duas batidas.
Demora, mas ele abre com a cara mais amarga do mundo. Parece
que está até mastigando limão.
— Eu quero conversar com você.
— Já estou de saída.
Ele tenta passar bravo por mim, só que coloco a mão no seu
peitoral duro como armadura. Isso o deixa paralisado.
— Hoss, eu quero conversar com você!
— E eu quero que vai pra… porra! — Ele bufa e de repente, puxa-
me para dentro, empurrando-me contra a parede. — Você está sendo
uma desgraça na minha vida!
Sinto a sua respiração forte queimar a pele do meu rosto. Fico
arrepiada.
— E quer que eu diga que a minha vida com você está sendo
diferente?
— Eu quero te detestar, Elena, quero que suma da minha
existência junto com aquela…
Então, ele se afasta, cerrando os punhos.
— Eu sei o que ia dizer. Ela é uma criança!
Hoss não me olha.
— Sabe a quantidade de piolhos que eu tirei da cabeça dela? Já
viu as suas roupas péssimas, todas remendadas? Hoss, é eu quem quero
te detestar! Por que rejeita a sua filha? Uma criança!
— EU NÃO TE DEVO EXPLICAÇÕES NENHUMA! — ele berra ao
me agarrar, machucando-me igual um troglodita.
— Você é um ogro! — Bato nele, engasgada com os sentimentos
acumulados no meu peito. — O que te importa nessa vida desgraçada,
seu sem coração? Diga o que te importa?
Ele me aperta mais, desta vez, espremendo o meu corpo contra o
dele.
— Não me conhece, cala essa bendita boca!
Não temo o seu olhar descontrolado, nem a sua ordem de merda e
continuo a falar:
— Somos humanos e humanos erram o tempo inteiro. Alguns erros
são imperdoáveis e deixam traumas, contudo, isso não significa que você
tem o direito de julgar qualquer outra pessoa que se aproxime de você.
Ainda julgar sem investigar a sua verdade, a sua versão!
— Isso é sobre você, Elena? — pergunta com o maxilar cerrado.
— Isso é sobre você! Sobre aquela criança! E sobre a sua
incompreensão, seus julgamentos!
— Já disse que não me conhece, e nem vai me conhecer!
— E agradeço por não me deixar conhecê-lo. O que eu já vi foi o
suficiente para não alimentar um sentimento sequer de carinho,
compaixão, o que seja por você! E se uma mulher fizer isso um dia,
coitada, ela estará fodida e sozinha, sem o seu apoio, a sua confiança,
sem nada!
— Essa mulher só não se aplica a você, noiva de um mafioso!
Explodo de ódio.
— Eu não sabia que ele era mafioso! E quer saber?! Talvez eu
devesse fugir desse maldito castelo e ir atrás do Paulo, pois mesmo ele
sendo a porra de um mafioso, de sobrenome nojento e sem escrúpulos,
ele demonstrava que me amava, queria uma família, queria cuidar de
mim. E quer me ajudar a encontrar a minha irmã! — começo a chorar
enquanto falo. — Mas isso não é da sua conta também! Se eu quiser ir
atrás do meu ex e ser uma “senhora mafiosa”, É A MINHA ESCOLHA!
Assim como a sua vida não me desrespeita, a minha igualmente não te
interessa!
— A SUA ME INTERESSA! CALA ESSA BOCA!
Hoss enlouquece e num piscar de olhos, joga-me na cama, subindo
em cima de mim. Não tenho nem tempo de me defender.
— Não tem o direito! Me solta! — Bato nele, tentando me
desvencilhar da sua força monstruosa sobre o meu corpo.
— Você não vai sair daqui! Você não vai! Você é minha!
Ele aperta os meus punhos e joga-me no alto da cabeceira. Caio
contra o travesseiro, sem tempo de gritar, pois ele me beija faminto,
rasgando o meu vestido e tomando-me autoritário, com posse.
— Não sou sua!
Hoss toma as minhas palavras com raiva, abaixa a cabeça e morde
os meus mamilos sem dó. Eu quase grito, sacudindo-me embaixo dele.
— Não sou sua! — exclamo com mais fervor. — Não sou sua!
Ele solta os meus braços e beija-me de novo, para tirar sangue da
minha boca.
Desgraçado!
Desço a mão para o seu pau e aperto-o apenas para comprovar o
quanto me deseja.
Meu coração chega a machucar o tórax de tão forte que bate.
— Você me deixa louco! — Hoss volta a abaixar a cabeça nos
meus peitos, desta vez, para se deleitar com mamadas esfomeadas.
Acaricio os seus cabelos, sem parar de gemer e expelir
lubrificação.
— Por sua culpa, eu estou há uma semana sem foder. — Ele me
olha, cuspindo fogo.
Perco o ar com a visão das suas írises castanhas.
— Eu não ligo, é problema seu.
— É problema seu! — Replica e lambe o meu mamilo duro.
— Hoss… pare.
Ele toca no elástico da minha calcinha. Sinto-o cada vez mais
faminto, ao ponto de perder a lucidez por completo.
— Eu não vou parar, Elena. Foda-se tudo! Eu preciso de você.
Necessito!
Também necessito… e ele vê, depois de me tocar por cima da
calcinha encharcada. Mas não vai ser assim, estou cansada dele no
controle do meu prazer.
— Diz isso e mais tarde, joga na minha cara que uma puta pode te
dar o mesmo que eu, senão melhor. Não é, Hoss? — Puxo ele pela barba
para encarar os meus olhos que não vão permitir que esteja mais no
controle.
— Eu… — Ele se enrijece e bufa, sem ter o que falar.
E vai falar o quê? Que, na verdade, causo o contrário nele? Que
nenhuma outra mulher pode dar o mesmo que eu… satisfazê-lo com tanto
prazer?
Ahhh… como isso aumenta a minha autoestima e o poder de ter
esse homem para mim. Só que isso é tão arriscado, tão perigoso. Posso
me machucar.
Afasto-o e giro em cima das suas pernas para sentar e roçar no seu
colo.
Ele geme, olhando-me no fundo da alma. É um olhar cheio de
explicações, que com palavras seriam incapazes de dizê-las.
Tento não pensar na minha irmã e obedeço ao meu coração, que
manda eu me conectar a esse homem. Não sei como isso é certo. Não sei
de nada.
Eu roço de novo nele e empurro-o no travesseiro, então, deslizo as
mãos no seu abdômen definido, erguendo a sua camisa para que ele a
tire.
— Assim você não me quer longe? — sussurro a pergunta de
propósito e aperto os meus peitos fartos e empinados.
— Porra, Elena…
Ele me abraça forte na cintura, agarra a minha bunda,
intensificando o roçar da minha boceta latejante no seu pau endurecido na
calça, ainda abocanha meu pescoço, desesperado por mim.
Ah, Hoss....
O mundo explode de vez. Em um piscar dos olhos, tiramos toda a
roupa e como meu coração ansiava, conectamo-nos em um só, pele com
pele.
Jogo a cabeça para trás, gemendo e chamando-o a cada rebolada
necessitada. Só que o Hoss não se basta com as minhas reboladas e
joga-me de bruços na cama, fazendo-me ficar de quatro para ele puxar os
meus cabelos e investir com mais ferocidade. Eu grito com o mesmo
fervor, a cada investida, até atingirmos o orgasmo juntos. Mas, ainda não
se dando por satisfeito – nem eu – ele me pega no colo, joga-me na
parede perto da cabeceira e arromba-me numa penetrada só. Grito de
dor, prazer, tudo.
— Eu quero você! — ele brada entre os dentes.
Eu choro por mais, a cada arremetida dura do seu pênis insaciável
dentro de mim.
— Eu quero você, Elena!
Não paro um minuto de gemer em berros. Minhas unhas rasgam as
suas costas, o seu traseiro, que aperto, e sinto os movimentos de
contração dos músculos. Ele me beija, morde, chupa a minha língua e
prensa meus peitos no seu peitoral. É um monstro.
— Hummm! Hoss! — Não paro de chorar e de chamá-lo no limite.
Nossos corpos suam ofegantes. É, então, que ele abraça minha
cabeça, dá mais duas investidas e explode de gozo no meu interior,
literalmente me entupindo até o talo. Eu também chego no ápice e
enfraqueço nos seus braços, sem mais força para nem sequer abrir os
olhos. Minhas pernas latejam quentes e doloridas.
Hoss me leva para a cama e coloca-me devagar sobre o colchão,
depois se afasta… deixando-me vazia sem o calor do seu corpo. Ergo a
cabeça, vendo-o ir nu até a sacada. Ele passa a mão no rosto e xinga
centenas de palavrões.
O sol está mais forte, creio ser 10h.
Eu volto a deitar, com o peito subindo e descendo ofegante. Mas
essa ofegância não se compara à velocidade dos batimentos cardíacos do
meu coração.
Eu sei quais os sentimentos do Hoss; frustração, revolta e ódio é
por estar suprindo algo muito forte, que não queria. Pois, droga, eu
também estou suprindo isso e não queria.
— Hoss…
Não ligo para a minha nudez e saio toda dolorida da cama para ir
até ele.
— A gente precisa conv…
— Você não tem mais escolha.
Ele vira arrogante na minha direção e encara-me com o seu olhar
assustador.
— Que escolha?
— De ir atrás do seu mafioso, porra!
Arregalo os olhos.
— Você vai me dar esse seu celular e só vai sair desse castelo
quando eu quiser!
— Você só pode estar louco! Eu já não estou presa o suficiente? —
berro, maluca de raiva. — E você não tem o di…
Ele me puxa pelo braço e pressiona nossa nudez, corpo a corpo.
Eu fico com a cabeça na altura do seu peitoral.
— Você é minha!
— Desde quando? Não sou sua e nunca serei, seu bruto! — Bato
nele e ao me soltar, tento correr, mas, de novo, me prende e agarra-me
com força pelos cabelos.
— ME LARGA, HOSS!
Seu pau roça na minha bunda, penso em levar a mão para trás e
espremer as suas bolas até explodirem, só que ele me segura.
— Vou arcar com todas as desgraças que já trouxe para a minha
vida. E isso inclui você! Quero o seu celular e quero que ligue para o
Borghi e diga de quem agora pertence!
Hoss desce a mão para a minha boceta e passa os dedos nos
lábios, enquanto machuca a minha cabeça com os seus puxões
agressivos. Sua boca lambe o meu pescoço, chupa, morde. Eu fico
estática, trêmula e assustada com a sua forma bárbara de agir. Ele não é
assim.
— Pare… — sussurro. — Você não pode. Está me machucando.
— Eu posso, não vou deixar que outra mulher me faça de trouxa!
— Eu nunca te fiz, isso nunca aconteceu! Você não vai me tomar
como prioridade!
Ele me joga igual pena na cama e antes de eu tacar um tapa na
sua cara, ele segura o meu punho, também o machucando. Gemo de dor.
— Eu vou descontar essa sua tentativa de tapa, e da forma que eu
gosto!
— Não! — Começo a chutá-lo e Hoss me solta, mas não devido
aos chutes que nem o alcançaram.
— Eu não disse agora… decoradora. — Seus olhos analisam a
minha nudez. Faço o mesmo, apavorando-me ao vê-lo duro.
— Vai para o inferno! — Escorrego para o outro lado da cama,
atrás das minhas roupas. — Você não vai me tocar! Nunca mais!
— Disse isso há algumas horas atrás e agora está toda gozada
entre as pernas, para não dizer dolorida pelo meu pau.
Cafajeste! Odeio, odeio!
— Você não é assim, está fora de si.
Visto o meu vestido com pressa para correr desse quarto, dele!
— E eu já tenho o seu celular, Elena.
— Se tem, o enfie no rabo! — Viro-me para ele, quase chorando de
raiva. — Não sou sua! Você está agindo como um louco, magoado e
frustrado pelos sentimentos confusos dentro desse seu coração ferido!
Não é assim, Hoss!
— EU SOU ASSIM, PORRA! VOCÊ NÃO ME CONHECE!
— Quando se acalmar, a gente conversa civilizados, incluindo
sobre a sua filha, a menina que está rejeitando e tratando igual um
cachorro!
— Isso não é da…
— Chega! Pelo amor de Deus, chega!
Pego os meus saltos e saio do quarto às pressas, sem olhar para o
homem que deixo furioso ao bater às portas.
— Chega… eu quero entender você… — por fim, eu sussurro e
choro sozinha no corredor, sentindo as minhas próprias palavras cortarem
o coração.
Ele está perdido, fora de si.
Está apaixonado.
E não devia ser assim, ele só está adoecendo ainda mais por
dentro. Se não souber lidar com esses novos sentimentos, a
consequência será aquele homem bruto, solitário e que se acha no direito
de revogar qualquer mulher para si. Hoss precisa saber lidar e superar os
traumas, aprender a dar segundas chances.
Já eu… do fundo da minha alma, não queria aceitar que sinto a
mesma paixão por ele, pois sei que vou sofrer mais do que já estou. Hoss
é um desafio problemático. Sem falar que eu não sou uma casa de
recuperação para curar ninguém. Contudo, eu já tenho a resposta do Sr.
Argus.
Ela bate as portas e eu soco o vidro da sacada, estilhaçando em
pedaços.
Eu não posso ter ido longe demais com ela! Que porra eu fiz?
Tudo está me deixando louco, perdido. E aquela decoradora tem
razão, eu não sou assim, nunca fui. Isso é culpa dela! Delas!
Olívia, Elena e aquela criança.
Respiro fundo e vou tomar um banho gelado para ajudar também a
estancar o sangue dos dedos. Mais tarde, eu desço e sou comunicado por
Luiz que Igor me aguarda no escritório da sala principal.
— O que descobriu? — entro, já indagando-o.
Ele levanta da cadeira.
— Os Borghi a encontraram. Tudo indica que foi ontem de
madrugada.
— Tem certeza?
— Absoluta, minha fonte é segura. A moça era de cabelos loiros.
Olho para os celulares da Elena na minha mão, Luiz me entregou
assim que informou da presença do Igor. E, nervoso, eu penso no porquê
daquele estrume do Borghi não ter ligado para ela, para comunicá-la da
Lupita, logo que foi ontem de madrugada que a resgataram. Já faz mais
de 24h. Que porra ele está planejando?
— Obrigado, Igor. Mantenha seu cúmplice de olho na
movimentação da máfia.
Ele assente e pede licença para se retirar.
Decido ir até o tio Argus, mas, pelo caminho, eu passo perto da
sala de estar e vejo todos reunidos na mesa do almoço. Rael e Vince
sorriem para a menininha de cabelos castanhos no colo da Elena. Eles a
fazem rir, dizendo várias palhaçadas em português.
Meus olhos ardem e eu viro as costas para não entrar naquela sala
e acabar com a alegria deles.
— O que faz aqui sozinho?
Argus me encontra comendo na mesa de reuniões.
— Comendo? — Dou de ombros e afasto o prato limpo.
— Parece mais relaxado.
— Não estou! — exclamo sem notar o quão puto eu fui. — E queria
mesmo falar com você.
— Antes, uma bebida para ajudar a descer o almoço.
Ele pega qualquer garrafa, dois copos e serve-nos.
— Não me olhe assim… — falo após ele se sentar na poltrona do
lado e não parar um segundo de me analisar.
— Não tenho poderes de ler mentes, não se preocupe.
— Vindo de você, eu não duvido de nada.
Eu coço a barba e observo o quadro da mulher romana na parede.
— Você conheceu a sua filha?
— Não consigo.
— Consegue sim, Hoss. Família é importante para você.
— É por esse mesmo motivo.
Volto o olhar para o meu tio, um olhar cansado, que há anos não
sabe mais o que fazer.
— É culpa?
Dou de ombros, sem coragem de assumir que seja isso.
— Elena está roubando o espaço da Olívia, referente aos seus
pensamentos de ódio.
— Essa mulher foi um erro, desde que pisou os pés nesse castelo.
E falando nela, Igor descobriu que a irmã da Elena já está sob o poder da
máfia. Eles a encontraram.
— Paulo não ligou?
— Não.
— O importante é que essa menina está segura, mesmo com a
máfia. Vamos continuar aguardando.
— É muita paciência. Não acha que ele já devia ter vindo atrás da
noiva dele? Para tirá-la daqui e levá-la para a porra daquela mansão
Borghi?
— E você ouviu a versão da Elena para poder ligar essas
perguntas a algumas respostas?
— Eu não acredito e nem confio naquela mulher. Já você, tio Argus,
esteve sempre tranquilo, desde que a Hera renomeou a decoradora como
a sua melhor amiga. Mas sei que você sabia quem era ela, nunca deixaria
alguém se aproximar dessa forma de nós. Não sabia? Sempre sabe de
tudo.
— A família é o único motivo para cada ação minha. Vocês são
importantes para mim. São filhos do meu irmão e também filhos meus.
Argus dá leves batidinhas no meu braço.
— E me orgulho do homem que se tornou. Conheço o seu coração,
por isso, também o conheça e faça algumas escolhas por ele, sem medo.
Ele se levanta, dando o último gole no seu copo de bebida.
— Essas escolhas tem a ver com as duas mulheres na sua vida…
Ótima tarde, sobrinho.
Como sempre, após dizer algo que me deixa extremamente puto e
revoltado, ele vira as costas e sai.
Filho da mãe!

Fico algumas horas tentando trabalhar na sala principal de


reuniões, porém me estresso e taco o foda-se em tudo. Morcego chega
essa semana e ele se vira com a bagunça. Meu serviço é meter o terror
nas cobranças, não ficar horas com a bunda pregada numa cadeira,
somando números.
— Ah, obrigado, querido Luiz, estava faminto. — Vince sorri cínico
para o mordomo e pega o prato de bolo da bandeja.
— Acredito que seja o terceiro pedaço já.
Ele me olha em deboche.
— Errou, é o quarto.
— Não sei pra onde vai tanta comida, se você é um magricelo sem
músculos.
— A comida se transforma em energia e vai tudo para o meu pau,
ele tem muito sangue para bombear por todo comprimento.
Luiz balança a cabeça e pede licença.
— Ninguém merece ficar um segundo te ouvindo. E onde está o
Rael?
— Com a Elena por aí.
Com a Elena?
Meu sangue ferve de imediato. Esse bosta já não estava
conversando com ela mais cedo? Que porra de assunto eles tanto têm?
— Onde ele está?!
Vince abre um sorriso malicioso.
— Eu não ouvi nenhum som de gemidos, mas tenho uma ideia de
onde eles estejam…. devem estar no salão, vendo as grandes colunas
grossas.
— Enfia esse seu sorrisinho no rabo. — Falo e imediatamente me
retiro
E para comprovar que Vince fala a verdade, eu encontro o Rael e a
Elena juntos. Desço em uma velocidade sobrenatural a escada do salão.
Rael me vê e não muda um passo de perto dela. Já Elena me
fuzila.
Avanço neles.
— O que tanto tem de assunto entre vocês?!
— Não podemos conversar? — ela me enfrenta.
— Não falei com você, decoradora!
— Sem estresse, Hoss. Já estou de saída. Mas, para a segurança
da Elena, não estarei muito longe.
— Ela já está muito segura! — exclamo após ele passar ao meu
lado.
— Duvido, anda muito "nervosinha''.
— Hoss! — Elena segura rápida o meu braço para eu não voar no
meu irmão.
Viro para ela e perco o ar com a visão dos seus olhos tão claros
quanto o céu.
Essa mulher vai me deixar doente.
— Por que age igual um selvagem? Além disso, eu gostaria de não
falar mais com você hoje.
— Foda-se o que gostaria.
Passo a mão na barba e tento controlar os nervos
— Está fervendo… como se estivesse em brasas… — Ela afasta
seu toque do meu braço e molha os lábios.
Fico mais louco, com vontade de puxá-la para mim, de beijá-la, de
repetir de novo que é min… droga!
— O que eu faço com você, Elena?
Ela dá de ombros e olha para o lado.
— E o que vai fazer com ela? — sussurra.
Olho na direção que apontou e vejo a menina escondida atrás de
uma coluna. Ela nos olha e disfarça.
— Eu e Rael a trouxéssemos para ver o salão. Aqui é igual aos
contos das princesas. Pensa como ela ficou feliz, faltou correr de fora a
fora.
— Você vai ligar para ele — mudo bruscamente de assunto ao
encará-la.
Elena também muda o semblante, fica séria.
— Não fuja, Hoss.
— Vamos ao escritório, já disse que vai ligar para o seu noivo
mafioso.
— Não adianta eu repetir que ele é meu ex, que fui enganada e
que quando o conheci não sabia que era um mafioso. Você não acredita
em mim! Nunca vai!
— Tem razão, não vou acreditar!
Ela dá um único passo e para cara a cara comigo.
— Já não disse que se dane? — Então, desliza a mão pelo meu
peitoral. Fico acelerado, sem fôlego. — Eu sei da minha verdade, isso que
importa. É só uma pena eu ter mais poderes sobre você.
Bufo e prendo a sua cintura com as minhas mãos grandes.
— Claro, uma pena para o senhor monstro… — ela se ergue nas
pontas dos pequenos saltos e fala bem no meu ouvido.
— Elena!
Prenso-a com mais força em mim, desesperado com o calor que
sobe pelo meu corpo. Sinto queimar cada pelo rente a pele.
— Estarei naquela sala de chás do segundo andar… para fazer o
que o senhor ordena. Agora solte-me...
Eu ranjo os dentes e solto-a.
Elena me olha de baixo em cima, em seguida, saí, rebolando e
desfilando com o salto.
— A menina! — Olho para a criança em pé, que estava a todo
momento nos assistindo.
— A menina se chama Maria, e se vira, ela é problema seu, não
meu!
Fico perplexo com a sua resposta, chego a permanecer no mesmo
lugar. E assim que Elena some pelos degraus, o único som que sobra no
ambiente é o da criança fazendo barulho no piso.
Diaba! Você também é problema meu, decoradora. Só que você é
mais fácil de enfrentar do que ela.
Sem eu precisar andar, a menininha dá alguns passos até mim.
Engulo em seco, ainda estacado igual um imbecil de quase dois metros.
— Por que a tia Elena foi embora? O que fez com ela, seu…
Abaixo a cabeça e a pequena de voz doce e infantil se cala.
— Vou te encher de babás — é só o que eu consigo dizer.
— Não quero…
— Vai ter que querer.
Ela passa a mão no rostinho arranhando, fazendo cara de brava.
— Não gosto de você… é mau. É igual elas…. as meninas. — A
pequena aperta seus braços e meu coração dói.
Que maldição, Olívia. Como essa criança pode não ter nada de
você? Não sei se fico aliviado por isso, já que ela é minha cara… é minha
filha, a bebê que reneguei desde que descobri as traições da sua mãe
desgraçada.
— Que meninas?
— Da casa da minha vovó, que virou estrelinha. Elas eram filhas
das outras tias e eram más.
Que virou é um demônio no inferno, isso sim.
— Sua cara é só de mau.
Arqueio a sobrancelha para ela.
— Se acostume, é a única cara que eu tenho.
— Feio, você é feio! — Ela bufa e cruza os braços, brava de novo.
— Não tenho medo da sua cara.
— Ótimo, agora suba aqueles degraus ali.
Ela vira o corpinho pequeno e vai marchando até onde mandei.
Ela tem quatro anos mesmo? Parece ter muito mais. É uma mini
adulta. Como pode? Imagino tudo que ela tenha visto naquele antro de
prostituição.
— A outra escada! — quase grito, e de propósito, ela sobe a
segunda escada, que dá a volta na ponte aberta.
— Três babás, é o tanto que vou pôr para cuidar de você!
— Problema seu, seu feio!
— Porra! — não ligo e xingo perto desse mini… cão!
Não lembrava de criança ser extremamente irritante.
— Agora vamos ter que dar a volta nisso tudo, está vendo?
— Sim, tenho olho.
Que abusada, nem o jeito da mãe ela tem. E nem o meu!
— Para uma menininha pequena, é muito respondona.
— É só com você, que é mau. E faço isso de idade… — Ela vira e
aponta a palma dos cinco dedos para mim, mostrando que vai fazer cinco
anos. — Não sou pequena.
— Sim, você não é pequena, é uma anã.
— Feio! — Brava comigo, ela mostra a língua e corre mais a frente,
quase tropeçando nos pequenos pés.
Eu seguro o sorriso, pela primeira vez, há semanas, sem sentir
aquela fúria descontrolada. No entanto, ainda assim, não consigo
organizar essas coisas aqui dentro do meu peito. Encontro-me uma
bagunça. E em busca daquele cara que eu era antes da Olívia. Ou talvez
ele nunca volte.
— Você não sabe nem para onde está indo.
— Sei sim, eu lembro, eu lembro — insiste emburrada.
Entramos no corredor principal e ela fica perdida, como supus, sem
saber onde virar. Eu paro atrás dela, aguardando a pequena mente
brilhante nos dar o caminho que garante lembrar.
— A anã lembra? Porque eu esqueci.
— Tia Elena veio… Hã, dali... — Então, aponta para o corredor
certo e vai na frente de novo, até chegarmos na sala de entrada.
Vince me olha quando eu passo pelo portal, ele olha surpreso para
a Maria.
— Pela descrição da Elena e do Rael, eu tinha certeza que você
mataria a bezerrinha.
A criança arregala os olhos.
— Você também é feio!
Vince começa a rir.
— Ela é uma graça, tirando os piolhos.
— Você que tem, tia Elena tirou os meus, olha, tá limpinho! — Ela
abre o meio dos cabelos úmidos.
Fico hipnotizado por cada movimento, é tão pequena. Tem
inteligência de quatro ou cinco anos, mas a estrutura é de três anos para
menos. Sinto que se eu pegar na sua mão posso machucá-la.
— Isso não garante nada, dona Maria.
— Vou resolver um assunto importante, chame o Luiz e o
comunique para entrar em contato com alguma babá e contratá-la.
— Não quero!
— Não tem o que querer.
Vince me fuzila.
— Ela é uma criança, sabia?
— Então você se dará muito bem com ela.
Eu viro as costas e retiro-me para o local onde a Elena me
aguarda.
No caminho, eu olho as horas; 16h30. Essa noite vou para a boate
encher a cara, e se meu pau subir, vou foder qualquer mulher que eu…
Porra! Ao entrar na sala de chás, vejo a Elena toda empinada sobre a
mesa de bilhar. Ela mal sabe segurar o taco, porém, dá uma tacada e
encaçapa uma bola.
Puta que pariu, só pode ser de propósito. Fiquei duro, como se logo
cedo eu já não tivesse a fodido sem dó! Esse desejo por ela nunca vai
acabar?
— Cadê meu celular?
Elena se recompõe e estende a mão na minha direção.
— Ansiosa para falar com o seu ex?
— Ah, que bom, já entendeu que ele é meu ex. Creio ser um
grande passo. — Ela arruma o vestido, nervosa comigo. — Você também
não entende que eu estou desesperada por notícias da minha irmã? Sabe
o que se passa a todo momento na minha cabeça, enquanto eu fico aqui,
presa e de braços cruzados?
— Ela está bem, isso eu te garanto.
— Como sabe? Você a encontrou?
— Sim, só não posso entrar em detalhes ainda, por isso, ligue para
a porra do seu mafioso.
Elena vem até mim e toma emburrada o celular da minha mão.
— Coloque no viva-voz — mando e ela coloca.
Para alimentar meu ódio, o desgraçado atende depois de dois
toques.
— Elena?
— Paulo.
— Acho que não precisa de mim, por que está me ligando?
— Eu… — Ela me olha e desvia rápida. Eu aperto os punhos. —
Eu não podia ir ao seu encontro.
— Eu te esperei, mas você o escolheu, não escolheu?
— Paulo, pelo amor de Deus, eu não estou escolhendo ninguém,
eu só quero a minha irmã! Não use essa situação horrível ao seu favor, já
te pedi.
— Você é minha, Elena. E você verá a sua irmã só quando esse
infeliz do Calatrone te deixar na minha porta!
Elena arregala os olhos, perdendo as forças.
— Está com ela, você está com a Lupita!
Tomo o celular a força da sua mão.
— Hoss, não!
— Isso nunca vai acontecer, seu merda!
Ouço o riso dele do outro lado da chamada.
— Sabia que estava do lado da minha mulher. Como vai, Hoss?
Espero que não esteja mesmo querendo entrar nessa guerra pessoal. Já
sabemos o lado perdedor.
— Eu quero que você se foda!
— Antes de continuar a nossa conversa, saia de perto da minha
Elena.
Eu olho para ela, que está tão perto de mim que sinto necessidade
de abraçá-la. Porém, faço o que esse energúmeno manda.
— Hoss, eu falo com ele! Paulo é…
Vou para a varanda de fora e puxo com força a porta de correr.
— Você não pode falar sozinho com ele! — Ela soca desesperada
o vidro. — HOSS! ABRE A ESSA MERDA!
— Está sozinho?
— Elena conhece esse seu lado? — rosno enfurecido a pergunta e
aperto a mureta de pedra. — Um mafioso sanguinário!
— Você não sabe de nada sobre mim e ela. Não devia ter se
metido em nossas vidas.
— Eu adoraria estar em paz, mas é tarde. Você matou o meu
cliente, sequestrou a nossa garota. Acha que eu vou deixar barato?
— Eu acho que ainda não se ligou com quem está se metendo. Eu
sou Paulo Borghi! E se não devolver a minha mulher, eu vou matá-lo com
as minhas próprias mãos! Não teste os limites, Calatrone. Já está
cruzando a linha.
— Você joga sujo e óbvio. Está usando a irmã dela para o seu
interesse próprio. Espero que Elena te perdoe por isso.
— Elena vai voltar para mim! Não fique no meu caminho!
Eu abro a porta de correr e Elena avança após ter ouvido a
conversa do outro lado.
— EU QUERO FALAR COM ELE!
Eu passo o telefone e ela pega enfurecida.
— Como pode estar usando a minha irmã para fazer ameaças?! Eu
te odeio, Paulo! Devolva a Lupita e suma da minha vida!
— Quero um encontro para resolvermos tudo isso. Eu preciso te
ver.
Eu sorrio de raiva, sabendo que ele é capaz de sequestrá-la e
prendê-la na sua mansão, ou até em outro país, bem longe de todos… de
mim. Estremeço com a ideia disso acontecendo. Isso nunca vai acontecer!
— Eu quero a Lupita!
— Eu vou te dar até amanhã à noite, antes de eu retornar à ligação
às 19h, confirmando o nosso encontro.
— Paulo!
Ele desliga.
— Seu desgraçado, sem sentimentos! — Ela começa a bater o
celular no apoio da mureta.
— Ei… — Puxo a sua cintura e abraço-a forte.
— Ele é um mentiroso, um chantagista. Eu não quero esse homem!
— E quem disse que você é de alguém, além de mim?
Ela afasta a cabeça e encara-me, perplexa.
Sem conseguir dizer mais nada, eu volto a abraçar essa mulher
linda.
A quem eu quero enganar? Nunca vou deixar a Elena ir embora.
Estou fodido por ela.
Fodido!

À noite, sem dar ouvidos ao meu desejo de continuar no castelo, eu


me arrumo e fujo para a boate. No entanto, não consigo comer nenhuma
das meninas. Essa porra agora só sobe com ela… até meus pensamentos
é dela. Só consigo pensar naquele corpo, naquela nudez, naquela boca,
naquela boceta deliciosa. Nela!
— Está pronto para mim? — Ruiva passa a mão no meu volume.
Afasto os seus dedos.
— Você nunca mais me procurou, o que está acontecendo?
— É melhor caçar outro, não vai rolar mais nada entre a gente —
declaro e dou um gole na minha bebida.
— É ela, aquela mulher. É outra Olívia na sua vida.
— Para começo de conversa, a minha vida não te desrespeita!
Então circula daqui!
Ruiva ergue a cabeça, em fúria, e some de vista. Eu encho a cara
com mais alguns copos no bar. Quando dá quase 03h da manhã, eu
desisto de ir embora bêbado e subo para o quarto do último andar. Caio
praticamente desmaiado na cama king. Acordo no dia seguinte com a
claridade do amanhecer queimando os meus olhos. Vou para casa, tomar
um banho e encher o estômago de algo comestível. Estou morto.
— Bom dia. Que cara de porre.
— Eu te perguntei alguma coisa? — afronto o Rael que acabou de
entrar no meu quarto.
Estou terminando de secar o cabelo com a toalha.
— O que quer aqui? Aconteceu alguma coisa?
— Nossa família precisa de uma reunião. Tio Argus está notando
todos distantes, além de que existe o problema “Elena”. Ela me contou da
ligação de ontem.
— Legal, vocês estão bem amiguinhos… — lato as palavras em
rosnado.
Rael sorri, mesmo mantendo o seu olhar viril.
— Ciúmes, irmão? Não se preocupe, Elena não é o tipo de mulher
que compartilhamos na boate. Aliás, saudades das orgias.
Penteio o cabelo para trás e vou até a porta onde o Rael está.
— Coloque de novo Elena e orgia na mesma palavra e eu arranco
o seu pau!
De novo, ele ri.
— Como pode entender tudo fora do contexto? A paixão cega
mesmo, por isso não vou levar para o lado pessoal.
Empurro o seu ombro e saio para o elevador, só que antes das
portas se fecharem, eu escuto o Rael gritar.
— A reunião vai ser à tarde!
No andar da decoradora, eu respiro fundo, querendo não pensar
em mais nada. E vou até a porta dela, bater até a mulher abrir e atender-
me. Ao fazer isso, eu me seguro no batente, já sentindo o meu membro se
envergar na cueca.
— Porra, Elena…
Não desvio os olhos da sua regatinha, que marca os bicos dos
peitos e evidência o umbigo. Nem do shortinho minúsculo que veste. Seu
corpo é um violão, que quero literalmente tocar.
— Onde estava essa noite? — ela, de repente, cospe a pergunta.
— Na boate?
— Se já sabe a resposta, por que perde tempo perguntando?
— Porque sim, seu grosso! E vai embora!
Impeço-a de fechar a porta na minha cara e arrombo o quarto,
empurrando a Elena para trás, puxando-a pela cintura e agarrando com
extrema força os seus cabelos. Ela chegou a gemer alto.
— Queria eu com você essa noite?
— Ai, selvagem… meu cabelo.
— Responda, Elena!
— E o que importa? Foi melhor que não estivesse aqui. E espero
que tenha relaxado, comendo as meninas da sua boate!
Não aguento. Aperto a poupa da sua bunda e faço pressão na sua
virilha para ela sentir o quanto a desejo.
Elena arfa na minha boca, reprimindo o grunhido.
— Se essa porra não ficasse dura só por você, tenha certeza que
eu tinha comido as meninas.
— É um mentiroso, cretino.
— Eu não minto, diferente de você.
— Vai para o inferno!
— Eu vou, sim, para o inferno entre as suas pernas.
Solto o seu corpo e tiro a camisa.
Elena arregala os olhos, dando passos que a fazem quase tropeçar
no tapete.
— Não é o momento para isso.
— Está dizendo para si mesma?
— Hoss, seu cachorro!
— Vou te fazer gozar das melhores formas.
— Não vai não.
Ela corre de mim, dando a volta na cama.
— São 7h30, eu tenho coisas para fazer! E você também!
— Vem aqui agora, Elena! — ordeno, enrijecido dos músculos.
— Não ouse me obrigar a abrir as pernas!
Ela está me desafiando?
Vou puto de tesão até ela e a mulher do diabo pula no colchão,
rolando para o outro lado.
— Elena! Quando eu pegar você, que Deus tenha MISERICÓRDIA
do que eu serei capaz de fazer! — rosno em voz alta.
— Problema seu!
Então, ela corre de novo, desta vez, para o hall e o banheiro, onde
tranca a porta.
— ELENA! ABRE ESSA PORRA DE PORTA OU EU ARROMBO!
— berro.
— Você é um louco que vai me torturar! Sai do meu quarto! Só vou
transar com você quando eu quiser e seu eu quiser! Temos problemas
maiores no momento.
— Sim, bem maiores.
Tiro o meu pau babento da cueca e massageio-o.
— Eu preciso me arrumar, vai embora logo.
— Sabe o que eu estou fazendo?
— Não quero saber, só vai embora.
— Estou aqui massageando o meu pau endurecido e pensando
nessa sua bocetinha melada. O mel escorrendo para o fundo da sua
calcinha, a sua coxa se flexionando e melando mais ainda a gosminha no
tecido.
Ela fica em silêncio.
— Ahh… os lábios da sua vagina macia, rodeando o meu cacete...
Eu aperto os dentes, fazendo movimento de cima para baixo no
pinto.
— Eu estou tão duro — gemo. — Só queria estar metendo gostoso
dentro de você. É um desperdício de esperma.
— Hoss… pare.
Esfrego a cabecinha na porta, gemendo mais ainda.
— Estou me masturbando... — de repente, ela declara,
enlouquecendo-me a pôr abaixo essa porta.
— Abre essa desgraça agora ou eu quebro no meio!
Sem pensar duas vezes, ela abre igual uma leoa, avançando em
mim e puxando-me de encontro com a sua nudez.
Nua! Ela está nua!
Quase gozei só de vê-la.
Pego-a no colo, jogo-a contra o vidro do boxer e numa arremetida
só, eu a penetro. Elena grita, apoiando-se na parede e xingando-me sem
parar. Dos seus olhos, saem lágrimas de prazer.
— É minha! Você é minha!
Envolvo seus cabelos, arremetendo cada vez mais rápido na sua
vagina molhada. Seu canal me aperta, sinto sua carne lubrificada
abraçando o meu pênis. Estou em casa, no meu paraíso!
Ele explode dentro de mim com os seus jatos fortes. A
pressão é tão violenta que o vidro do box chega a balançar. Eu
rebolo, grunhido de prazer com o seu pau encharcado de esperma
na minha boceta. Atinjo também o ápice com gritos. Perco toda a
força do corpo.
— Que delícia. — Ele lambe o meu pescoço e belisca a
minha bunda.
— Ai... — choramingo, ofegante com esse homem gostoso,
todo alto e forte.
Amo o seu peitoral, as suas tatuagens, essa barba de
lenhador e esse olhar de querer me foder ainda mais. Ele é perfeito.
Faminto!
— Seria o meu sonho saber o que tanto pensa.
— Eu não posso dizer, mas posso te mostrar o que penso.
Aliso o peitoral definido dele. Passo a mão em todos os seus
gominhos do abdômen e fricciono-me para frente, para o seu pau
gigantesco me preencher até as bolas de novo. Jogo a cabeça para
trás, aperto as pernas no seu quadril e seguro a vontade de gritar.
— Elena… — Ele morde o canto da minha boca, duro como
rocha.
— Hoss…
Beijo-o impiedosa, arranco até sangue dos seus lábios. Faço
idêntica a ele.
— Gostosa da porra!
Sem mais aguentar de excitação, Hoss dá um tapa na minha
coxa, abre o vidro e joga-me embaixo do chuveiro desligado,
fodendo-me como um cavalo bárbaro. Ele é frenético, louco.
— Ahhh! Mais! Está fraquinho!
— Eu vou te mostrar o fraquinho!
Provoco e recebo mil vezes em dobro pela minha audácia.
Ele me solta bruto do seu colo, vira-me contra a parede, liga
o chuveiro, prensa a minha cara embaixo da água e penetra-me por
trás, por pouco, não me afogando, enquanto arromba a minha
vagina e estapeia a minha bunda. Tusso desesperada, engolindo
água conforme abro a boca para gemer. Meus peitos balançam com
a sua ferocidade. O som das arremetidas de pele, dos tapas
ardidos, eu consigo ouvir tudo, mesmo quase morrendo afogada.
Hoss só me tira debaixo do chuveiro depois de gozarmos.
Seguro-me nele, ainda tossindo. Não tenha mais forças, nem
atividade no cérebro.
— Vou te desafogar.
O safado acaricia o meu clitóris melado e envolve a sua boca
na minha. Seu desafogar é chupar a minha língua em meio a um
beijo quente. Afasto-o, tendo a impressão de que nunca mais vou
conseguir recuperar o fôlego. Se não estivesse me segurando, acho
que já teria derretido e decido pelo ralo.
Ele sorri e vira para pegar a bucha de tomar banho.
— Está roxa, meu bem. Não se preocupe, enquanto se
recupera, eu passo com carinho a esponja em todo esse seu corpo
delicioso.
Meu coração começa a bater descompensado.
Me-meu bem? Ele disse meu bem?
Esse homem vai me matar! Uma hora está me xingando, na
outra... palpitando o meu coração de esperanças.
— Gostosa demais… — Nos degraus da escada, Hoss passa
a mão embaixo da minha saia.
Paro no mesmo lugar e bato forte no braço dele, fuzilando os
seus olhos.
Bendito dia que o elevador entrou em manutenção.
— Mal estou conseguindo descer essa escada de tanta dor. E
a culpa é sua, por sua tamanha violência sexual.
— Você me deixa assim. E por mais que não mereça, eu
posso te carregar.
Sua voz sai séria, arrepiante.
Respiro fundo, perdida na sua beleza máscula.
— Não, inimigos não fazem isso.
— Exceto foder.
— E dizer que a inimiga é “sua”? — murmuro, vencendo mais
três degraus com ele atrás de mim.
Minhas pernas estão doendo.
— Mas você é minha.
E, de novo, as milhares de borboletas se fazem presentes no
meu estômago.
— Diz isso fingindo que não existe um grande problema entre
nós, algo que uma hora ou outra vamos ter que resolver.
Hoss desce rápido para o solo, está nervoso.
— Vamos resolver primeiro a situação da sua irmã e daquele
mafioso do inferno.
Assinto, após pisar no último degrau. Graças a Deus.
— De certa forma, encontro-me de coração leve por saber
que a Lupita está segura.
— E você acha que ela está? — Hoss questiona tão abrupto
que me deixa irritada.
— Paulo jamais a machucaria.
— Ele é um mafioso, é capaz de qualquer coisa.
— Mas não de machucar a minha irmã, eu o conheço!
— Você não o conhece!
Paramos no meio da sala, um enfrentando o outro.
— Eu o conheço muito bem e vou nesse encontro esta noite.
— Vai um caralho, inferno! Não tem ideia do risco que se
colocou, e que nos colocou!
— Eu não pedi nada disso! Eu não tenho culpa!
— Não vamos começar a fingir inocência, Elena.
— Então é isso o que você pensa, né? Não mudou a sua
opinião. Tudo é um fingimento, um teatro! Não acredita em mim, não
confia! É um desgraçado frio, incapaz de dar uma segunda chance,
ou de enxergar a porra da verdade!
— O que está acontecendo aqui? — Rael aparece rápido ao
lado do Vince.
— Eu nunca vou confiar!
— Não confia, mas enquanto me fode, enche o peito para
dizer que eu sou sua, pois é só para isso que eu sirvo, uma foda,
um objeto que sente desejo e que quer tratar igual propriedade!
— EU NUNCA DISSE ISSO! — Ele agarra o meu braço e
Rael na mesma hora surge, empurrando e afastando Hoss.
— Merda, Hoss, se acalme!
Ele soca vingativo o irmão e vira em fúria contra mim. Seu
olhar me amedronta, deixa-me pequena.
— O caralho que eu decidir sobre você, não vai contestar!
Está sob o meu teto, a minha proteção e é responsabilidade minha!
E logo que se sente a droga de um objeto usado quando está
comigo na cama, não se preocupe que eu não vou mais encostar a
mão em você! Mulher é o que não me falta!
Rael segura o meu pulso no momento em que Hoss vira as
costas e sai chutando o aparador, também derrubando toda a
decoração de vidro no chão. O barulho chama a atenção até das
empregadas.
Começo a chorar, arrependida pelo que eu disse. Só que eu
não consegui cessar as palavras, eu não consegui parar de
enfrentá-lo. Porque me dói saber que ele não acredita em mim, não
tenta nem confiar e entender o meu lado. Eu realmente não tenho
culpa.
— É melhor deixar ele esfriar a cabeça. — Vince comenta.
Ouço a respiração profunda do Rael. Tento enfrentar a sua
face assustadora, mas não consigo. Ele é ainda maior de músculos
do que o Hoss. São dois monstros.
— Tempo, Elena, foi o que pedi para você.
— Não consegui. Às vezes, acho que nem você acredita em
mim. Ninguém nesta casa.
— Bom… eu talvez acredite, cunhadinha — Vince declara e
aponta para o outro lado. — Agora se me derem licença, vou comer.
Ele se retira e eu fito o homem de dois metros na minha
frente.
— Não me olhe assim…
— Mulheres são a ruína dos homens. Que eu nunca caia
nesse inferno.
— E espero que morda a língua.
— Está vendo como é irritante? Sua sorte é de eu estar
acostumado com a Hera.
Dou de ombros, triste e cansada.
— Esse bocó está apaixonado por você, Elena. Não devia ter
dito que se sentia usada, ou um objeto. Isso é frustrante, é como
receber uma facada no peito.
— Ele me quer, diz que eu sou dele, mas nunca vai acreditar
em mim. Pensa que eu sabia sobre o Paulo ser mafioso, que…
droga, estou cansada desse inferno.
— Dá um tempo, vamos resolver primeiro essa questão da
sua irmã. Enquanto isso, Hoss vai colocando a mente no lugar.
— Tá bom, prometo tentar. E eu nem conversei com ele
sobre comprar roupas novas para a pequena Maria.
— Se Hoss não quiser te levar no shopping, eu mesmo levo.
Assinto.
— Preciso ir.
Ele olha as horas no relógio de pulso, então pede licença e
retira-se cavalheiro.
Já eu vou faminta para a mesa do café, comer algo, antes
que eu desmaiei de fome. Vince e a pequena Maria me fazem
companhia.
No decorrer do dia, Hoss some completamente de vista. Fico
sabendo que ele participou de uma reunião em família com os seus
irmãos e o tio, mas depois disso não deu as caras pelo castelo.
Às 18h, comecei a surtar, andando de um lado para o outro
no quarto.
— A tia está bonita e cheirando bom — Maria sussurra e eu
paro diante do espelho, olhando-me toda aflita.
Um vestido preto, justo e com decote, foi o que eu tinha para
vestir. Meus cabelos deixei em cascatas, a maquiagem caprichei no
esfumado e por fim, apenas coloquei duas joias; brinco e colar.
— Obrigada, pequena.
Ela pula da cama e vai curiosa até as minhas maquiagens
abertas na penteadeira.
— Por que está tão bonita?
— Talvez eu vá sair. E vamos descer? Não aguento mais ficar
presa nesse quarto.
Ela concorda e pega na minha mão, para descermos para a
sala.
— Puta que pariu! O céu abriu as portas, pois tem um anjo
invadindo o recinto — Vince diz, todo exagerado, apenas ao me ver.
Maria ri e corre para sentar no sofá e comer os biscoitos do
seu tio.
— Quem mandou, enxerida? — Ele dá um tapinha na
mãozinha dela e tira a bandeja da sua visão.
— Me dá!
— Vai na cozinha roubar o seu.
— Feio!
— Piolhenta!
Ela mostra a língua e eu fuzilo o Vince por repetir a mesma
infantilidade.
— Ela quem começou! — Ele pisca para mim. — E de novo,
está bem gostosa, hein, cunhada.
— As tias sempre ouviam isso dos moços que iam vê-las.
Vince pigarreia e num ato surreal, entrega toda a bandeja
para a pequena, que chegou a brilhar os olhos.
— Do que ela está falando? — Franzo o cenho.
— Acho melhor o Hoss te explicar toda a história.
— E acha que ele vai me dizer alguma coisa sobre o seu
passado?
— Provavelmente não. Quer uma bebida? Vai ser divertido
quando a bola de fogo nervosinha chegar e te ver nesse lindo
vestido, conversando tão próxima de mim.
— A gente não está prox… — e de repente, ele dá um longo
passo e estende-me um copo de Bacardi, que serve ainda virando a
garrafa.
— Não sei, essa bebida combina tanto com você...
Deus do céu, fiquei tonta com a aproximação repentina desse
homem tão bonito, loirinho, risonho e provocador. Só que mal tive
tempo de respondê-lo, ou de aceitar a bebida que me ofereceu, pois
senti uma mão enorme agarrando o meu braço e arrastando-me
para longe do Vince.
— Que porra é essa que você está vestindo?
Hoss me toma nos seus braços fortes, vou de encontro ao
seu peitoral irresistível.
— E vou te matar, seu energúmeno! — essas palavras dele
foram direcionadas ao seu irmão trambiqueiro, que não para de
gargalhar às minhas costas.
Estou mais tonta, só que agora pelo Hoss, o seu perfume, a
sua força me envolvendo com possessão. Ele retorna o seu olhar
em chamas para o meu rosto, arrepiando-me dos pés à cabeça.
Fito a sua boca, a seguir, respiro o aroma delicioso de loção
que exala da sua barba bem aparada.
Meus batimentos cardíacos começam a ficar cada vez mais
acelerados.
— Onde pensa que vai vestida assim?
Como ele pode me fazer sentir tanto calor? Meus hormônios
estão fervendo com a sua aproximação tão íntima, estou
começando a transpirar.
— Você sabe onde eu vou.
Tento afastá-lo, no entanto, ele é mil vezes mais forte e não
me solta.
— É? E onde?
— Hoss, você está de gozação com a minha cara!
— Vocês dois não sabem conversar civilizadamente, não?
Tem crianças na sala. Façam favor.
A gente olha para o Vince e a Maria, que não pisca devido a
atenção em nós. Ela, então, encara o Hoss.
— Solta ela! — Manda e cruza os braços.
Sem dar ouvidos a sua filha e ignorando as minhas tentativas
de afastar o seu corpo, esse homem simplesmente pega no meu
braço e arrasta-me para fora do castelo.
— Você não...
— Calada!
Sou levada para a entrada principal, aberta para o jardim
escuro.
— Preciso me acalmar, que merda!
Ele me larga, bufando de nervoso.
— Você me deixa louco, exaltado.
— Não tenho culpa do seu gênio explosivo.
— É só com você! — Ele me prensa na parede de novo. —
Entende que eu sou assim só com você? Porque me deixa maluco!
É como se eu estivesse pegando fogo a todo momento!
— Eu me sinto assim também com você… — Toco no rosto
dele, sentindo instantânea a sua alma se acalmar, exceto a sua
respiração que fica mais quente e mais forte. — Desculpa pelo que
eu disse hoje cedo, não me sinto um objeto usável nas suas mãos.
Eu… eu não quero brigar. Só quero resolver junto de você ou então
eu sozinha a história do Paulo. E depois que resolver, decidir sobre
“nós”. E se existe o “nós”.
Meus olhos ardem e eu desvio dele.
— Eu não sei se vou querer esse nós, Elena.
Meu peito dói, levo um soco no estômago.
— Então não fale que eu sou sua, porque eu acredito, me
iludo e dou liberdades a você.
Hoss segura a minha cabeça, ansioso, em desespero.
— Sabe o que é mais foda? Eu nego você e cada vez mais a
quero. Seu cheiro, sua pele, sua voz, seu presente, tudo é um vício.
— Então se está confuso, perdido, só torço para que se
encontre antes de eu ir embora, porque acredito no meu caráter, na
minha verdade e não vou aceitar ouvir o contrário.
Empurro-o, recompondo-me no meu vestido justo.
Cabeça erguida, Elena. Cabeça erguida.
— Esse vestido… quer me matar… — resmunga, arrumando
o volume do seu pacote na calça.
Como isso foi excitante, não evitei olhar.
— Então?
— Faltam trinta minutos para às 19h, ele vai ligar.
— Para confirmar o encontro.
— Sim, por isso vamos para a boate.
— Para a boate?
— Exato, Elena.
Hoss aponta para o seu carro luxuoso, que está do outro lado
do pátio de pedras, perto dos pinheiros. Sem escolha, eu pego no
seu braço e o acompanho até o veículo.
Quando chegamos na boate, no momento em que Hoss para
no estacionamento, o meu celular toca no seu bolso. Ele atende e
passa-me no alto-falante.
— Alô?
— Elena?
— Lupita? É você?
Começo a chorar ao ouvir a voz da minha irmã.
— Como está?
— Estou bem, o Paulo me resgatou.
— Mas agora ele está me chantageando para te deixar livre.
— Eu sei, ele quer conversar com você. Vá ao seu encontro
no restaurante Belcanto.
— Lupi, você estará lá? Estou cansada disso tudo, não era
necessário o Paulo usar essa situação ao seu favor.
— Não sei se eu vou, tudo depende dele. Agora você tem
que ir, entendeu, Elena? Vai por mim.
Olho para o Hoss e ele bate no volante. Por não ter
contestado, eu escolho o certo.
— Diga para ele que eu vou, mas por você, pela minha irmã.
— Eu te amo, logo estaremos juntas, prometo.
— Também te amo…
— Tchau, minha irmã...
Ela desliga o telefone antes de eu poder dizer tchau.
Hoss pega rápido o celular da minha mão, e sem dizer um
“a”, ele dá partida no carro. Sai pisando no acelerador igual um
louco.
— Hoss?
Sem me responder, ele manda uma mensagem de áudio para
alguém, dando apenas o nome do restaurante informado pela
Lupita.
— Por que está dirigindo assim?
Seguro-me no cinto, já assustada com a velocidade que
dirige.
— Argus, Rael e Vince me convenceram que você devia ir a
esse encontro.
— É o certo, sabe disso.
— Não sei mais de droga nenhuma. Paulo é o herdeiro da
máfia, é poderoso e pode fazer o que quiser com você.
— Ele não pode.
Hoss balança a cabeça, inconformado. Sinto que ele parou
de falar para não discutirmos mais.
Paulo não é esse homem, eu conheço seu coração. Entendo
que o seu sonho era de fugir de Portugal, se casar comigo e viver
em paz. Só que não quero, porque não é essa vida que desejo ao
lado dele. Tenho medo. E agora Hoss…
Eu olho para ele, tendo a certeza de que estou apaixonada.
Por que as coisas tinham que ser tão complicadas?
Em meia hora, chegamos no restaurante marcado.
Continuamos dentro do carro, quietos. Ele nem sequer olha para
mim.
— Acredite, tem até helicóptero sobrevoando a área para
garantir a sua segurança. Além de no térreo e no próprio
restaurante.
— Hoss…
— Desça, Elena.
— Olhe para mim. — Toco na sua coxa grossa e ele bufa
antes de me olhar irado.
Beijo-o, simplesmente inclino a cabeça e beijo-o com toda a
força do meu desejo. Ele respira e retribui, pegando-me pelo cabelo
e penetrando a língua. É ardente, desesperador. Não queremos
separar a nossa boca faminta. E quando separamos, por causa da
falta de ar, eu seguro a gola da sua camisa e ofego sobre os seus
lábios. Em seguida, sem coragem para dizer mais nada, abro a
porta do carro e desço devagar, indo em direção ao restaurante. Vou
de cabeça erguida. Não vou mais permitir que o Paulo se faça
presente na minha vida. Agora é definitivo. Quero que ele suma,
desapareça.
Atravesso a fachada do restaurante, ao entrar no local, sou
imediatamente recepcionada pelo Hostess[3]. Sem eu precisar me
identificar, ele apenas pede para acompanhá-lo à mesa onde o
Paulo se encontra sozinho, comportado num terno e tomando vinho.
— Boa noite, Elena. — Quando chego próxima da mesa, ele
se levanta com seu charme inegável. — É tão bom te ver.
— Cadê a Lupita? — Sou direta ao fuzilá-lo.
— Sente-se primeiro.
Eu sento elegante, forte e com uma determinação de leoa.
— Está diferente.
— E o que esperava depois de me chantagear com a
liberdade da minha irmã?
— Foi necessário para te ver. Não se preocupe que ela já foi
embora para a casa de vocês.
Pela primeira vez em semanas, eu respiro.
— E o porquê de fazer isso? — pergunto e olho para a mesa
romântica.
— O nosso jantar? Você sabe o porquê.
— Não, eu não sei, pois a gente acabou, chegou ao fim.
Entenda, Paulo! Estou cansada de te repetir a mesma coisa.
— Eu posso te fazer feliz, te dar o mundo inteiro.
— Eu não quero o mundo ao lado de alguém que eu não amo
mais.
Paulo se endireita para frente e enfurece-se. Minhas palavras
devem ter o ferido.
— Não me ama mais? É ele… você se apaixonou por aquele
Calatrone.
— Minha vida não te desrespeita. Fomos um relacionamento
que não deu mais certo. Siga em frente com outra mulher.
Paulo bate na mesa. As pessoas nos olham.
— Eu não posso aceitar! Você é a mulher da minha vida!
— E o que pretende? Obrigar-me a ficar ao seu lado sem eu
querer? É loucura, desumano! Você mentiu para mim, me colocou
em riscos. Por favor, aceite o fim da nossa relação, é a única coisa
que te exijo.
Ele simplesmente levanta nervoso, descontrolado.
— Que a sua decisão, então, seja por escolhas!
— Paulo, eu não estou escolhendo nada!
Ele chuta a cadeira, chamando ainda mais a atenção das
pessoas, e sem querer continuar a nossa conversa, ele vira as
costas e vai embora com toda a sua fúria.
Eu fico sentada, sozinha e estática. Só que não por muito
tempo, porque também saio do restaurante. Que se dane tudo! Eu
só preciso da Lupita, de abraçá-la e ver que está bem. Paulo disse
que ela estaria na nossa casa.
— Elena!
Em frente a calçada, Hoss me vê e corre até mim.
— A minha irmã, Paul…
— Já sabemos. Ela está segura, Rael e Vince foram para a
sua casa resgatá-la e vão levá-la para o castelo.
— Obrigada, Hoss — sussurro, com vontade de chorar.
Ele segura o meu rosto, analisando-me.
— Mas, como sabia que a Lupita estaria lá?
— Eu coloquei uma escuta no bolso do seu casaco.
— Uma escuta? — Arregalo os olhos, enfiando a mão no
bolso e tirando o pequeno objeto preto. — Como eu não vi você
fazendo isso?
— Você estava muito ocupada me beijando feroz.
Eu sorrio fraco, emocionada com a preocupação louca dele
comigo. Isso também significa que ele ouviu a conversa... o meu
lado. Será que vai mudar algo entre nós?
— Vamos embora, minha decoradora. Precisamos ficar
seguros.
Hoss beija a minha testa e leva-me em segurança até o
carro. Eu vou o caminho todo pensativa, como ele. E no castelo,
assim que chegamos, eu desço e corro para dentro, atrás da minha
irmã. Vejo-a na sala com o Rael e o Vince. Não controlo as lágrimas
e avanço para o seu encontro.
— Elena! — Ela me abraça com a mesma força, em prantos.
Não sei quanto tempo nós duas ficamos assim, mas depois
que a soltei, perguntei ao Hoss se eu podia conversar com a minha
irmã em particular no quarto. Ele olhou para os irmãos e apenas
assentiu.
Rael busca um uísque e serve-nos. Eu viro o copo num único gole.
O líquido desce queimando no estômago.
— Não devíamos ter entrevistado primeiro essa Lupita? — Vince
pergunta.
— Não faz nenhum sentido. Esse momento é da Elena e da sua
irmã. Deixa as duas conversarem a sós.
— Rael está certo — afirmo e sento no sofá. — Depois conversarei
com a Elena também.
— Acho que Paulo não vai desistir dela.
— Acho que você devia calar a boca!
— Tio Argus já disse para ficarmos quietos, observando e
esperando sempre o momento certo de agirmos.
— Hoss, concorda com isso? Já eu acredito que devemos saber o
ponto fraco dos nossos inimigos. Estar prontos para nos defender de tudo
e de todos. Somos podres de ricos.
— Você é igual ao nosso pai, ele era assim.
— Nosso pai era um louco que não tinha medo de nada, não sou
igual a ele. Eu só gosto de ter a certeza de estar seguro, uma garantia
que seja.
— A questão é que quando se tem a máfia como inimiga, nunca
estaremos seguros, não importa quantos milhões tenha em conta.
Devemos sempre mostrar que somos “fracos” e ficar na nossa, com os
nossos negócios de agiotagem.
— Que seja...
Rael e Vince notam o quanto eu estou quieto, apenas ouvindo os
dois.
— Amanhã a Hera e o Morcego chegam — Rael muda de assunto.
— Devemos preparar algo para dar boas-vindas.
— Uma mesa de café enorme, bem caprichada, cheia de bolo e
doces.
Reviro os olhos. No que o Vince não envolveria comida? Mas é
uma boa ideia.
Parece que o Rael teve a mesma reação que eu.
— Você só pensa em encher o bucho, mas é uma boa ideia. Depois
aviso o Luiz.
— Vou subir para tomar um banho e descansar — aviso e levanto-
me.
Estou sem clima para continuar conversando com os meus irmãos.
Só penso na Elena e no que eu quero para a minha vida. Ela está fodendo
com o meu psicológico.
Subo, tomo um banho quente, visto só a cueca e deito na cama.
Fico por horas olhando para o teto, até alguém empurrar a porta no meio
do escuro, fechar de novo e caminhar bem devagar pelo tapete. Parece
que também coloca algo em cima da mesinha.
— Hoss?
É ela, o motivo desses pensamentos e deste calor do inferno.
— Você não vai jantar? Eu trouxe uma sopa.
Elena sobe na cama, posso sentir o colchão se afundando.
— Acho que o meu jantar já chegou — respondo e puxo-a sobre o
meu corpo. Beijo a sua boca, querendo tudo do seu ser.
Esse seu perfume me enlouquece.
Durante o beijo delicioso, correspondido com a mesma ferocidade,
eu ergo a sua camisola ou vestido, sei lá, só sei que deixo a sua bunda
evidente para alisar em posse. É uma delícia de bumbum, parece seda,
dá vontade de encher de tapas. E dou, pelo menos, um tapa bem forte.
— Ai… — ele geme nos meus lábios. — Não sou seu jantar.
— Mas, neste momento, você é a única que pode suprir a minha
fome.
Beijo-a de novo e ligo a luz do abajur, para analisar o seu rosto
lindo e sereno.
— Obrigada, Hoss… também me perdoe.
— Pelo?
Vejo os olhos dela marejados.
— Obrigada pela Lupita e desculpa por, de certa forma, ter lhe dado
trabalho. Vivemos tantas emoções nessas últimas semanas.
Eu fico quieto. Meu coração acelerado já responde por mim.
— No meio dessas emoções, eu concluí que sou um perdido, para
não dizer fodido. Só que eu quero você, eu quero na mesma intensidade
que uma criança deseja um chocolate.
— Quer? Só que…
— Eu apenas quero você. — Abraço-a em necessidade,
interrompendo qualquer “porém”.
— Eu também quero você.
Fecho os olhos, sem acreditar em como meu peito acabou de se
encher de mais calor. No entanto, esse calor é outro, é mais do que
desejo de corpos, é algo que no momento não tenho forças para assumir.
— Eu quero muito você, seu cara de malvadão — ela repete,
enchendo de beijos o meu peito.
Eu tomo o seu cabelo, aproximando o seu rosto do meu, mas ela
me afasta e volta a beijar o meu corpo, reiniciando do pescoço, descendo
pelo peito e mordiscando o abdômen. Sua cintura vai se movendo igual
uma cobra até lá embaixo. Porra, nem um pornô conseguiria reproduzir
essa cena com tanta perfeição.
Estou duro, uma pedra.
— Acho que eu vou jantar de novo.
Ela morde o cós da cueca, abaixando o tecido. Meu pau dotado
salta igual um atleta nas olimpíadas, excitado para dar o seu melhor.
— Nunca vou entender como isso cabe dentro de mim.
Elena suspira, estática com toda a visão exuberante, que
particularmente eu não a julgo. Devo me orgulhar dessa rola, pois, além
de ser grande, eu sei muito bem como usá-la. Toda mulher que fode
comigo quer um segundo, terceiro, infinitos rounds.
— Vamos ter mais respeito que “isso” é ofensa.
Ela sorri.
— Esse mastro?
— Acredito que consegue ser melhor.
— Essa tora enorme?
— Será que não sou digno de mais grandiosidade?
Ela pega no meu pau e passa a língua bem na ponta da cabeça.
Puta que pariu, na mesma hora, segurei na cama para não gozar.
— Esse grandioso… imponente… majestoso… espetaculoso…
admirável… — a cada pausa na palavra, ela dá uma lambida no meu
caralho que pulsa e expele pré-ejaculação. — Magnificente… divino…
monumental…
— Porra, mulher! — Não suporto mais e agarro a sua cabeça,
fazendo-a engolir de uma vez a minha pica.
Sinto chegar na sua garganta. Elena quase se engasga, porém se
recupera e começa a massagear as minhas bolas, fazendo movimentos
de vai e vem.
Eu urro e chamo-a de gostosa… minha gostosa. Que boquete! Isso
é a perfeição. Sua boca se envolve em mim, espetacular.
Elena chupa o meu pau todo de uma vez, dando atenção para a
cabecinha. No restante, faz torção. É o meu fim, seguro até onde eu
posso, pensando em milhares de coisas broxantes.
— Elena… — Não aguento, afundo os dedos no seu cabelo e
mantenho a sua boca na minha rola, enquanto a afogo com os meus jatos
fortes e quentes de porra. Pareço uma torneira.
— Hummm! — Ela tenta empurrar a minha virilha.
Só a afasto quando a ouço tossir engasgada com o esperma.
Ela ofega, com os cabelos caídos pelo rosto.
— Você… ainda… vai me matar.
Após recuperar o fôlego, ela sobe em cima de mim.
— Que seja sempre de prazer, minha decoradora.
Sem pressa para esse momento acabar, eu deixo que ela conduza
o nosso sexo, rebolando e quicando igual uma deusa. Admiro cada
movimento, os gemidos, o anseio do orgasmo. E assim que chega, eu a
viro no colchão, sendo a minha vez de dar mais prazer a ela, até o limite
do seu corpo. Fico horas a adorando. Só paro de satisfazê-la quando vejo
que perdeu de verdade as forças.
— Hoss… — ela me abraça, suada e cansada.
Aconchego-me nela, em perfeita harmonia com os meus
batimentos.
— Você foi maravilhosa — sussurro no seu ouvido e respiro o
aroma gostoso dos seus cabelos.
— E você sempre acaba comigo, acho que nunca mais vou
conseguir andar.
Sorrio.
— Então vamos ficar para sempre nessa cama.
— Perfeita ideia.
Elena acaricia os pelos do meu peito e me olha.
— Posso te perguntar uma coisa?
— Hum?
— Você conversou com a sua filha?
Dou de ombros.
— Ela é um pequeno cãozinho irritante.
— Hoss! — Elena cessa o carinho e dá um tapa em mim. — Ela é
só uma criança.
— E eu não sei? Amanhã a Hera vai chegar e também vai
descobrir sobre a existência da Maria. Não sei se eu estou pronto para
enfrentar aquela leoa.
— Espera, amanhã a Hera vai chegar? — Ela arregala os olhos. —
E você só me conta agora?
— E faria diferença se eu tivesse contado mais cedo?
— É claro seu ridículo!
Pronto… reviro os olhos.
— Eu não tenho cara para enfrentar a Hera e contar tudo o que
aconteceu, principalmente sobre nós… eu e você.
— Mas não somos segredo para ninguém. Você é minha.
— Sou sua, mas você também é meu. É isso, você também é meu,
Hoss! Que se foda o restante.
Ela arrasta seus seios nus no meu braço e segura o meu maxilar.
Eu aperto a sua bunda com possessão. Seguro a imensa vontade de rir.
Só que ela percebe.
— Está rindo do quê? Você é meu, sim.
— Ah, minha decoradora gostosa…
— Sua...
Elena morde a minha boca, mostrando a porra de mulher
dominadora que consegue ser.
— Eu sou sua decoradora… — geme nos meus lábios. — E você é
meu.
Beijo-a, provando que nossas palavras não são em vão.
Pertencemos um ao outro e eu não dá mais para negar esse fato.

Pela manhã, quando acordei, não encontrei a Elena no quarto, mas


os forros da cama ainda estavam com o seu cheiro fresco. Cheirei igual
um viciado em abstinência. Depois de tomar banho e arrumar-me, eu
desço para a sala. Para a minha surpresa, encontro o Argus sorrindo e
conversando com a Maria. É a primeira vez que eu vejo esse homem
assim, tão alegre e menos durão.
— Bom dia — digo e eles dois me olham.
— Bom dia, sobrinho.
— Aconteceu alguma coisa para tanta felicidade?
— Sim, vou conhecer a prima Hera — Maria responde com
excitação. — Né, tio Argus?
— É sim, princesa, ela vai amar saber que você existe.
Respiro fundo, nem querendo imaginar a porra dos cachorros que
aquela mulher vai soltar em cima de mim.
— Que horas eles chegam?
— Daqui a pouco, o Vince foi buscar os dois no aeroporto. Levou
outro carro com seguranças.
— Vince?
— Espera, eu ouvi direito? — De repente, o Rael surge do corredor,
quase correndo até nós.
— Você disse que mandou o VINCE?
Rael e eu nos olhamos putos.
Agora, com toda a certeza, Hera vai saber de tudo que aconteceu.
E dá pior forma.
— Aquele polaco azedo do inferno é um fofoqueiro!
— Ele vai chegar aqui e eu vou cortar a sua língua com alicate!
— Desgraçado!
— Rapazes… — Argus pigarreia e olhamos para ele, em seguida,
para pequena Maria que está sorrindo de nós.
— Eu gosto do tio Vince. E é feio falar palavrão.
— Pequena anã!
— Feio, malvado! — Ela me enfrenta com as mãozinhas na cintura.
— Onde podemos achar mordaças para criança? — murmuro e
com meu olhar de “malvado”, ela se encolhe mais para perto do Argus.
— Agora tem medo.
— Você é tenebroso. — Elena e sua irmã surgem do outro lado do
elevador.
Ao se aproximarem, eu chego perto dela e seguro a vontade de
beijá-la.
— Ainda não me viu tenebroso. E bom dia, tudo bem com você? —
pergunto para a Lupita e ela assente.
— Bom dia, estou bem sim, obrigada.
— Sinta-se à vontade. — Rael se direciona a ela.
— Agradeço de novo.
Elas se sentam no sofá, enquanto eu vou até o aparador pegar
uma bebida.
— Não está muito cedo para beber?
— Quando a Hera chegar, é melhor que eu esteja bem bêbado
para suportá-la.
— Quem não deve não teme, irmãozinho.
— Não te perguntei nada, energúmeno!
Em alguns minutos, o que eu temia acontece, ouço sons na entrada
do hall principal e conversas masculinas... até que eles três surgem.
Primeiro, o arrombado do Vince, depois o Morcego e por fim, Hera.
— Cheguei, família! — ela esbraveja em alto bom som, fazendo
todos se levantarem com alegria.
Menos eu...
— Hera!
Argus é o primeiro a receber o seu abraço cheio de amor. A seguir,
ela faz questão de cumprimentar todo mundo, exceto eu. Até a Elena
recebe um abraço
Eu vou matar o Vince!
— E aí, amigo, conseguiu se acostumar com as planilhas? —
Morcego sorri e abraça-me.
— Uma droga, eu deixei tudo acumulado para você se virar. As
férias acabaram.
— Ainda não entendo como a Hera está andando. Você não deu
conta da satisfação dessa mulher, Zequinha?
— Vai a merda, Vince!
Fuzilo o meu irmão mais novo e Morcego me olha, desfazendo o
sorriso.
— Sim… ele já nos disse tudo no carro — Morcego me dá a
confirmação que eu já sabia.
— Ele vai perder a língua e as bolas hoje! Eu juro que vai!
— Se a Hera te deixar vivo, pode se vingar.
E falando nela… ela finalmente encara os meus olhos, mas para
frisar que a sua atenção está desviando para a pequena Maria ao lado da
Elena.
— Então essa é a Maria. Meus Deus, você é linda.
— Oi…
Os olhos da Hera se enchem de lágrimas e eu abaixo a cabeça,
sem entender como a culpa pode ter voltado em dobro.
— Oi, princesinha. Vem cá dar um abraço na sua prima. — E a
pequena vai, como se já a conhecesse desde que nasceu. — Se eu
soubesse que você existia… ah, pequena.
Hera chora. Elena também.
— Mas eu existo. — Maria sorri amarelo, aquecendo o meu
coração com a sua voz tão doce e infantil. — Você é a minha prima, não
é?
— Felizmente, sim.
— Não chore. — Ela limpa o rosto da Hera. — Você é bonita igual a
tia Elena. As duas são lindas. E sabia que a tia Elena tirou os meus
piolhos? Tio Vince fala que eu ainda tenho um monte do tamanho de um
boi, mas é mentira, não é, tia Elena?
— É sim, meu amor.
Maria aperta a mão da Elena e a Hera sorri para ela.
— Obrigada por tudo, Elena.
— Acredite, o trabalho com essa pequena só está começando.
— Pois faremos de tudo… — Hera me fuzila com raiva e levanta-
se, pegando a Maria no colo. — Você está muito magrinha.
— É os piolhos que estão sugando todo o sangue dela.
— É mentira!
— Vince, cala essa matraca.
— É verdade, piolhos sugam sangue até a criança ficar bem
sequinha, igual um papel.
Maria arregala os olhos.
— Vince!
— É mentira, pequena, não acredite nesse feioso. E, por favor,
vamos todos para a mesa do café, encontro-me faminta!
Hera, Elena e Lupita saem em direção a sala de estar.
Eu respiro fundo, antes de finalmente voar na direção do Vince.
— Hoss!
Rael e Morcego me seguram.
— Eu vou matar esse filho da puta fofoqueiro!
— Que isso, pra que tanta agressividade, minha vida?
— Vince — Argus o repreende.
— O que foi? Eu poupei o tempo de vocês explicarem algumas
coisas, já que, de qualquer jeito, a Hera ficaria putassa com o Hoss
mesmo.
Eu não aguento e consigo me desvencilhar para poder voar nele,
sufocando-o pelo colarinho da camisa.
— Po-porra…. já… quer...na agressão?
— Hoss, larga ele.
— Se… eu… fosse… vo…
— Cala essa boca, imbecil! — Eu o solto igual bosta no chão. —
Ainda vou te colocar de ponta cabeça lá de cima da última janela do
castelo.
— Duvido, princesa.
— Eiii! — Morcego me empurra para não terminar o serviço de
estrangulá-lo. — É melhor irmos comer.
— Vince, toma jeito.
— Vocês me amam, aceitem isso.
— Agradeça por Hoss manter as suas bolas intactas.
— Por enquanto — murmuro e saio.
Adiante, todos nós nos retiramos para a mesa do café, junto das
mulheres que nos aguardavam.
Assim que eu termino de comer, eu fujo quieto da mesa, sem
querer estragar a conversa feliz deles sobre os lugares que o Morcego e a
Hera conheceram durante a lua de mel. Só que eu noto a Elena vindo
atrás de mim.
— Não devia ter saído assim.
Puxo-a para a área de lazer e envolvo meus braços fortes na sua
cintura.
— Também não estava me sentindo confortável com a Hera. Já a
minha irmã parece bem à vontade. Ela tem um dom de cativar as
pessoas.
Eu acaricio a sua cintura, respirando o aroma do seu pescoço.
— Hoss… o que eu faço agora?
— Não entendi?
Eu fito os seus olhos claros, analisando os traços bonitos do seu
rosto.
— Sobre eu ir embora com a minha irmã para a nossa casa. Não
sei, agora tem você.
— Sim, tem eu, por isso de jeito nenhum vocês vão embora do
castelo. E isso é pela segurança de ambas.
— Mas eu tenho uma vida, uma profissão que fui obrigada a deixar
de lado esses dias. Entende isso?
— Eu entendo, Elena, todavia, também entenda que o Paulo não
vai te deixar em paz. Aquele filho da mãe está preparando algo, eu
pressinto.
— Não, ele não está.
Elena segura o meu rosto com as duas mãos. Aflita, ansiosa.
— Ele tem que entender que eu não o amo mais… que ele não faz
mais parte do meu presente, nem do meu coração. Não o amo!
Suas palavras aquecem o meu peito, pois são ditas olho a olho, e
com tanto sentimento que me faz engolir em seco, sem saber o que
responder. E ela continua...
— Paulo é o meu passado desde que eu descobri quem ele era de
verdade. Sei que não acredita em mim, não confia, porém, está tudo bem.
— Os fatos estão bem escancarados, Elena. Não estou agora aqui
com você?
— E o que quer dizer com isso?
— Não posso dizer, já que o meu orgulho ferido não vai assumir
porra nenhuma.
Ela sorri e me dá um mísero selinho, não aguento e retribuo com
um beijo de língua, que me faz ficar excitado.
— Hoss… — Ela tenta afastar a minha mão de entre o decote dos
seus seios. — Para. — Eu sei das suas más intensões, seu safado.
Não consigo ficar sem tocar nessa beldade, é impossível.
— Uma mamada rápida, prometo.
— Nada disso. Mais tarde, vamos ao shopping comprar coisas
necessárias para a Maria, ok?
Eu estendo o braço na parede, acima da cabeça da Elena.
— Outra pessoa pode fazer isso.
— Hoss, você é o pai daquela menina!
— Eu te dou o meu cartão e você pode comprar até um milhão de
coisas.
Ela fecha o cenho e tenta me empurrar.
— Você vai com a gente! Sabe que deve se aproximar dela, que…
não sei, pelo menos, mostrar que gosta da sua filha.
Respiro fundo, passando a mão na barba.
— Quando faz esse gesto é porque está ficando nervoso.
— E estou! Eu não sei lidar com isso! Ver aquela criança e aceitar
que é a minha filha, a minha responsabilidade. Não insista, não me faça
pressão. Você não entende o inferno que se passa na minha cabeça há
anos.
Ela afasta a sua mão do meu peitoral.
— Tudo bem. O Rael pode ir com a gente.
Ouço o nome do meu irmão pronunciado pela sua boca e seguro-a
de novo. Puto!
— Que droga o Rael tem que ir? Agora vivem como amiguinhos?
— Você que é o pai não quer, qual o problema do seu irmão fazer o
seu papel? Ele vai de boa vontade, ainda sorrindo.
— Elena, não me…
— “Me” o quê? — ela me enfrenta.
Chego ao meu limite.
— Você não me testa, inferno! Consegue ser uma diaba irritante
quando quer!
— Obrigada, e me arrependi de ter saído da mesa do café para
perder tempo com um cabeça dura!
— Se arrependeu, é? Eu vou te mostrar o arrependimento e o
“cabeça dura”.
— Hoss! Não me toca! Me coloca no chão!
Pego a Elena no colo e bem atrás dos arbustos eu a jogo deitada
na gama, por baixo de mim. Ela grita e começa a me bater. Divido o meu
peso entre as suas pernas para ela não se levantar.
— Você não ouse me foder, seu desgraçado! Me solta!
Ela me bate, tentando me empurrar a todo custo.
— Como é carinhosa… e cala a boquinha.
Desço o seu vestido com força para baixo, chego a arrebentar as
alças.
— Cala a boca é um tapa na sua cara! Olha o meu vestido! Não
ouse me tocar! Não…
Coloco a mão na boca dela e esfrego o meu pau duro na sua coxa.
— HUMMMM!!! — Elena mexe a cabeça e balança lindamente os
seios.
— Que visão do paraíso, minha decoradora. Que belos peitos,
saborosos…
Eu inclino a cabeça diante dos dois manjares na minha frente,
primeiro lambo as aureolas rosadas, depois mordisco os mamilos
enrijecidos e por fim, começo a mamá-la. Elena se contorce embaixo de
mim, gemendo contra os meus dedos. Sinto os seus lábios úmidos, a
respiração quente.
Com a outra mão, eu massageio o peito que intercalo entre as
chupadas e as lambidas. Faço sons de sugadas, também para marcar a
sua pele branquinha como neve. Queria ela em cima de mim, com os
seios bem juntinhos.
Porra, hoje eu acordei tarado. E olha que trepamos a madrugada
toda.
— Você não vai aguentar mais metro de rola entrando e saindo
dessa boceta, minha deusa… — conforme eu falo, subo as lambidas para
o seu pescoço. — Ou vai?
Pareço até um cachorro me esfregando nela com o caralho
empedrado.
Elena nega, desesperada e ofegante. Igualmente volta a se mexer
embaixo de mim. Ela vai querer me matar quando eu a soltar. Vale o risco
pela safadeza? Eis a questão.
— Hum, hum!
Tiro a mão da sua boca, porém, preencho-a dessa vez com a
minha língua, num beijo delicioso, cheio de tesão.
— Para… seu…
Um segundo que afastei os lábios e ela já começou a se estressar.
Tive que voltar a beijá-la de novo.
— Hoss, desgraçado, tarado, safado!
Afasto-me de novo e deixo que ela xingue, pois volto a chupar os
seus peitos.
— Minhas costas… ahhh… — ela arfa e aperta as coxas,
segurando a extrema satisfação das minhas mamadas. — A grama está
me pinicando… Hoss, me tire daqui… hummm.
Elena fecha os olhos e não aguenta, contrai o abdômen e goza.
Dou umas últimas lambidas nos dois mamilos e ergo a parte superior do
seu vestido rosa claro. Essa cor fica linda nela.
— Recuperada do orgasmo, minha doce decoradora?
— Se considere ferrado, infeliz, me levanta logo daqui!
Ajudo Elena a se levantar e ela, mal agradecida, me empurra em
cima dos arbustos de espinhos.
— Ai, merda!
— Bem feito! Olha como eu estou! — Ela tenta limpar o cabelo
cheio de folhas secas, enquanto segura o vestido para ele não escorregar
para baixo e exibir seus seios. — Estou melada… pinicando também. Eu
te odeio!
Sorrio perverso e aperto a minha rola que continua dura. As bolas
estão latejando. Que inferno, preciso gozar.
— Agora não seja mal-agradecida e me pague um boquete, anda,
Elena.
— Vai ao caralho que lhe parta! Essa ereção é problema seu!
Elena me fuzila, ergue a cabeça e sai de trás do arbusto quase
tropeçando na calçada da varanda. Bem feito também.
— Eu vou deixar essa sua bunda roxa.
— Você não vai mais me tocar, está proibido! — esbraveja irritada.
E alguém acredita que isso vai acontecer?
— Eu te fiz gozar, não era para estar mais relaxada?
— Relaxada? Olhe para o meu vestido, seu animal selvagem e
tarado! Controle esses hormônios!
Ela vai marchando e xingando para dentro do castelo. Eu vou atrás,
pronto para agarrá-la e beijá-la com toda a sua marra, mas antes de
chegarmos no hall do elevador, Hera surge igual uma assombração,
fazendo-nos travar as pernas no mesmo lugar.
Pronto, era só o que faltava.
Hera pigarreia e não disfarça o seu olhar que segue das
minhas pernas ao colo dos meus seios. Eu seguro o vestido para
não ficar nua. Hoss arrebentou as duas alças.
— Minha desconfiança estava corretíssima, desde o começo.
Eu coro envergonhada.
— Resolveu falar comigo?
— Não estou falando com você, idiota! — exclama brava. —
Você, dona Elena, vem comigo, temos muito o que conversar.
— Hera, eu… — sem me dar tempo de falar algo, Hera
agarra o meu braço e arrasta-me junto com ela.
Dou um último olhar para o Hoss e ele aperta o volume
enorme da sua calça, com cara de irritado. Droga de homem, ele
que também se vire com essa ereção.
Sou levada para o meu quarto no segundo andar. E ao fechar
a porta, Hera coloca a mão na cintura, impaciente. Eu desvio do seu
olhar feroz.
Puta merda, como ela pode ser tão intimidante assim?
— Não desvia de mim.
— Estou envergonhada. Não sei onde enfiar a cara. Vince
deve ter tem contado tudo.
— Não se preocupe, Vince apenas pincelou a situação vivida
nas últimas semanas nesse castelo. E troque o seu vestido
ensanguentado... — Ela senta na poltrona, cruzando as pernas com
um olhar malicioso. — Tem uma folha bem na ponta do seu
cabelo…
— T-tem? Ah, deve ter caído de alguma árvore.
— Uma árvore de tronco vivo... sei.
Arregá-lo os olhos. Deus do céu...
— Já-já volto para conversarmos. — Tiro a folha e
imediatamente corro para o closet.
Opto por outro vestido de frio.
Adiante, volto, sento-me ao dela na segunda poltrona e sem
demora, sob o seu único pedido de “fale”, eu começo a contar tudo,
desde o começo da minha vida em Portugal, o começo do meu
relacionamento com o Paulo, do fim e o motivo desse fim, em
seguida, do destino que me colocou junto da sua família Calatrone.
— Hummm… — murmura e levanta estranha. — Você é
mesmo a ex-noiva do Paulo Borghi?
— Sim, mas como eu disse, eu não sabia que…
— Tá, tá, já entendi isso. — Ela faz um sinal de impaciência
com a mão. — Só não entendi a porra do porquê de o Hoss ficar
puto da vida sem antes te dar uma chance de defesa. É claro que
seria assim, estou puta da vida com ele! — rosna em furor. — Ainda
teve uma filha que rejeitou por cinco anos, praticamente! Não me
disse nada! Ele e o meu pai!
— Hera, só um minuto. Você entendeu mesmo o meu lado?
— É claro, o que você quer mais que eu entenda? Ele mentiu
para você desde o início que era um herdeiro mafioso, e quando
você soube, terminou com o desgraçado. Mas esse infeliz não está
aceitando o fim do relacionamento. E não está mesmo, para ser
capaz de manter a sua irmã, que havia sido sequestrada, como
garantia de um encontro, ele me parece disposto a qualquer loucura
por você.
— Prefiro não acreditar que ele seja, por mais que, na
realidade, a minha consciência grite que esse homem é um mafioso,
que seu sobrenome é Borghi e que a sua família é nojenta, sem
escrúpulos.
— Pois ouça a sua consciência e corte qualquer laço com
esse Borghi, ainda mais por ele ser o herdeiro de todo o clã mafioso.
Escutou, Elena? Todos estamos em perigo, principalmente você e o
Hoss. E falando nesse energúmeno do meu primo, eu quero matá-lo
antes de qualquer pessoa!
— Sinto muito pelo Hoss… sinto muito por tudo.
— Não sinta, você não tem culpa do que aconteceu. Sei que
nem o Hoss teve, contudo, em relação a filha dele, a pequena
Maria, ele tem muita culpa por ter renegado ela, por ter mentido
para nós de sua existência. Eu não quero nem imaginar onde essa
criança estava sendo criada junto com a avó. Por mais que eu tenha
certeza.
Hera respira fundo e massageia as têmporas, murmurando
maldições ao seu primo.
— E onde foi, Hera? Não me responda se for algo íntimo.
— Não se preocupe, eu faço questão de te contar toda a
história da Olívia e do Hoss, já que ele nunca vai te contar nada.
— Você vai?
— Faço questão, já que é da família agora.
— Não, não, eu não sou — arregalo os olhos, negando
veemente. — Eu e o Hoss somos algo sem compromisso. Sexo
casual.
Hera revira os olhos.
— Elena, que tédio. Você acha mesmo que o Hoss vai deixar
você ir embora da vida dele? Depois de tudo o que esse troglodita
fez? Já coloca nessa cabecinha sua que nunca mais vai embora
desse castelo.
— O quê? Está delirando! — Ergo-me num pulo da poltrona.
— Querida, quem está delirando aqui é você em não aceitar
esse fato. Minha missão daqui para frente será fazer aquele homem
enfiar uma aliança no seu dedo. — Ela suspira de novo. — Ai,
minha cabeça já dói. Tenho muito trabalho pela frente. Em duas
semanas, vocês fizeram muita bagunça para eu consertar.
Continuo com o olho arregalado. Não, Hera que está
delirando.
— Não me olhe assim, cunhadinha. Agradeça por eu ter
voltado. Vamos ter muita tarefa com a Maria. Precisamos arrumar a
decoração do quartinho dela, disso, você cuida. Eu fico com a parte
das roupas e acessórios, afinal, diga-se de passagem, eu me visto
muito bem. Moda é o meu sobrenome. — Ela pisca e cruza as
pernas bem torneadas.
Eu devo concordar, só os sapatos dela valem meus dois rins.
Ela se veste muito bem, minha nossa, é invejável.
— Sua humildade me cativa.
— Amor, se eu não valorizar os meus dotes, quem vai?
Aprenda, Elena, com esse monte de homens no meu pé, eu devo
ser a autoridade, o poder dominante. Mas, voltando a nossa
pequena…
— No momento, eu só quero a aproximação do Hoss com a
sua filha — digo e Hera cessa o que ia falar. — Eles já tiveram
momentos juntos, conversaram e estão mais “implicantes”. Pelo
menos, é um começo de relação.
— Isso é ótimo, vai ser outra missão. O que tem em mente?
— Essa tarde, eu ia levar ela no shopping para comprarmos
roupas, nós três.
— Sério? Mas essa tarefa é minha, não que você não tenha
bom gosto, só que vejo que você vai poupar o cartão de crédito do
troglodita. E o objetivo é fali-lo. — Ela sorri perversa.
— Céus, Hera, eu quero ficar longe dessa sua guerra íntima
com o seu primo.
— Não é íntima, minha guerra contra ele foi declarada
abertamente! Quero castrá-lo!
— Sorry, mas aí não vale! — É a minha vez de sorrir.
— Olha que safada, no seu brinquedinho eu não posso
mexer?
— Digamos que é melhor evitar a cintura para baixo.
Hera se ergue e taca uma almofada em mim. Eu gargalho
alto.
— Não sabia que esse ser safado habitava em você, sua
libertina. Adorei. Agora entendi porque o nosso santo bateu tanto.
Eu me aproximo dela e pego na sua mão.
— Dever ser. E sabe que gosto muito de você, Hera. Aliás,
obrigada por ter ouvido a minha versão antes de me julgar. O Hoss
e os irmãos dele fizeram isso no começo e me deixaram muito
magoada. Tentei explicar tudo como aconteceu, dizer a minha
verdade e eles não ouviram.
— Não lembre mais disso, se você fosse cúmplice do Paulo e
estivesse aqui por interesses maldosos, meu pai jamais teria te
deixando ido tão longe na nossa família. Ele sempre está e estará
um passo à frente de todos nós. Tudo tem o dedo dele. Não se
atordoe à toa.
— Seu pai é assustador, misterioso, me causa arrepios. É tão
raro vê-lo pelo castelo.
— Vou confessar, até em mim ele causa arrepios. Porém, tem
um coração lindo. E vai dar tudo certo. — Hera me abraça. — Estou
de volta e agora somos duas contra cinco, incluindo meu pai e meu
marido.
Eu sorrio, retribuindo o seu abraço terno. A seguir, Hera se
despede e sai do meu quarto, todavia, esquecendo de que ia me
contar sobre a história do Hoss e da Olivia. Sei que ela realmente
esqueceu, mas eu continuo me corroendo de curiosidade.
— Você já está pronta? — pergunto para a Maria que vem
andando pela sala, afrouxando o rabo de cavalo na cabeça.
— Tô — ela responde brava.
— O que foi?
— A moça chata apertou a minha cabeça.
— Que moça chata?
— Não se preocupe, meu amor, a prima já colocou no olho da
rua. — Hera surge na sala com o Luiz ao lado. — Quem precisa de
babá é o Hoss, aquele energúmeno do inferno! Passe esse recado
para ele, Luiz, faço questão.
— Ai que saudades que eu estava dessa trambiqueira. —
Vince também surge, assustando-me por ter aparecido bem ao meu
lado. Cheguei a entrar em choque pelo susto. Ele adora fazer essa
palhaçada comigo.
Minha irmã que está sentado no sofá, sorri, achando graça.
— Te assustei, cunhadinha?
— Não duvido que você fez isso de propósito, seu sorrisinho
sínico denuncia a sua cara de pau.
— Olha só, Hera tá fazendo escola mesmo. Quanta ofensa.
Mulheres são sem coração. — Ele coloca a mão no peito, fazendo
biquinho.
Até assim essa criatura é bonita.
— Vamos, Elena. — Hoss é o terceiro a aparecer de não sei
aonde, todo arrumado.
Não acredito nisso.
Todos ficam surpreendidos, como eu.
— Ué, mas você não ia no shopping com o Rael e a Maria?
— Hera pergunta diretamente para mim e senta calculista.
— Ele não vai a lugar nenhum!
— Devo conferir no andar do Rael se você jogou ele pela
sacada? Se bem que também seria bem difícil derrubar aquele
monte de músculos, mas não custa nada verificar.
Hoss não dá atenção ao Vince, nem a ninguém. Ele me
aguarda impaciente. Eu seguro a vontade de sorrir de satisfação
pelo nosso plano estar dando certo; meu, do Rael e da Hera. Na
verdade, é mais do Rael.
Maria segura na minha mão, querendo ir passear. Digo para
a minha irmã que volto logo, despeço-me de todos e então,
acompanho o homem assustador à minha frente. Ele devia se
esforçar para ser menos bonito, intimidade e nervosinho. Chega a
dar um calor… o calor de sempre.
No percurso até o shopping, Hoss dirigiu quieto, enquanto eu fui no
banco de trás com a Maria. Os olhinhos dela ficaram maravilhados com a
vista linda da cidade. E no shopping? É pura alegria.
— Olha, olha! É pula-pula! — A pequena aponta com o dedinho
para o pula-pula na vitrine da loja.
— Pois é, é de pular — Hoss murmura e eu dou uma cotovelada
nele.
— Eu quero pular.
— Aquele é só de decoração, Maria.
— Ahh… queria — ela sussurra decepcionada, deixando meu
coraçãozinho com pena.
Olho para o Hoss e noto que não fui a única que ficou com pena.
— Vamos achar onde vende.
— Você vai me dar um? — Ela joga a cabeça bem para trás, só
para ver os olhos intimidantes do seu pai enorme.
Acho incrível como ela não sente nenhum pingo de medo dele,
pois, na primeira vez que o vi, eu quase caí no chão.
— Vou, mas vai ficar me devendo.
— Devendo?
Hoss faz cara de mau e assente. Na verdade, acho que ela nem
sabe o significado de dever.
Eu aperto a mão da Maria e passo ao lado de três mulheres que
não disfarçam a safadeza ao olhar – para não dizer devorar o homem
alheio. Ele também parece comê-las pelos olhos. Já que virou a cabeça
para vê-las nas suas sainhas minúsculas. Cafajeste do inferno! Homem é
tudo igual mesmo.
— Que cara é essa?
— E te interessa? — resmungo, puxando um monte de roupas do
cabide e jogando para a vendedora ao meu lado. Ela já está com uma
pilha nas cestinhas.
Faz nem três minutos que entramos nessa loja de roupas para
crianças e vou fazer a vingança pela Hera.
— Precisa de tanta blusa assim? Você pegou quatro iguais! —
Hoss exclama bravo atrás de mim, irritando-me ainda mais.
— Dá para sentar naquele banquinho com a sua filha e me deixar
resolver as coisas em paz?
Ele respira fundo, esforçando-se para usar a sua paciência que já
está na reserva. E ele vai, igual um cachorrinho bem mandando.
No final das compras, Hoss passa o cartão resmungando no caixa,
depois sai da loja cheio de sacolas nas mãos. Acho que mais de
cinquenta sacolas.
— Manda uns dez seguranças. Isso é uma ordem! — ele berra com
alguém no telefone, enquanto eu saio no corredor do shopping, rebolando
sobre os meus saltos e fazendo a alegria da Maria.
Faço mais cinquenta sacolas na loja de sapatos e de decoração.
Os seguranças que Hoss solicitou só sabem entrar e sair do shopping
com as minhas compras. Estamos chamando a atenção de todos.
— Bo-boneca… — Maria, então, gagueja após nós duas entrar na
loja de brinquedos. Estava ansiosa por isso.
— Essa será a nossa última loja. Pegue qualquer brinquedo que
você quiser.
Ela pisca os olhos brilhantes, solta a minha mão e imediatamente
corre para ver as barbeis.
Eu sorrio de satisfação… até sentir um par de mãos fortes puxando
a minha cintura e virando o meu corpo. É a fera, cuspindo fogo.
— Reza, Elena, peça para todos os deuses do mundo não te
deixarem mais tarde sozinha comigo!
— Estressado, Hoss?
O homem esmaga com mais força a minha cintura e o decote do
meu peito. Perco o ar.
— O que está acontecendo com você, Inferno de mulher!
— Solte-me, seu animal, estão nos olhando.
A respiração dele é de um brutal, frente a frente com o seu inimigo
mais poderoso.
— Anda, Hoss!
Ele me solta puto da vida.
— Não entendo essa sua cara feroz — digo e ajeito a minha roupa;
calça jeans, uma blusa de alcinha bem justa e um terninho.
— Vai entender logo, logo.
— É você que vai entender, na verdade, não sei ainda como não
percebeu o quanto é… grrr.
— Tia Elena, o pula-pula! — Maria grita, chamando a nossa
atenção para ela que está arrastando uma caixa enorme pela loja de
brinquedos.
— Pronto, essa anã não aguenta nem com ela...
Hoss é o primeiro a ir igual um jato até a menina. Não tive tempo
nem de raciocinar direito.
— Ei, você não aguenta isso, pequena anã.
— Olha, é o pula-pula! É ele! — ela nem responde a “ofensa” do
seu pai, está quase desmaiando pelo objeto.
— Eu estou vendo… quer o pula-pula?
— SIM! SIM! — Maria, de repente, abraça a perna dele. Sou
surpreendida pela reação doce e inocente. Crianças têm um coração tão
puro.
— Para a sorte de vocês, esse é o último da cor rosa. — Um
vendedor alto, magro e de cabelos ruivos para ao meu lado,
apresentando-se em seguida: — Bom dia, sou o Miguel. Posso ajudá-los
em algo?
— Bom dia — respondo e retribuo no automático o sorriso bonito
dele.
— Não, pode circular, estamos muito bem sozinhos — Hoss fala
rude e ao inclinar o pescoço, pego-o me fuzilando.
— Ah, claro que pode ajudar sim. — Volto ainda mais sorridente
para o vendedor, chego a empinar o peito.
— E-e no que eu posso ajudá-los? — o coitado gagueja para se
recompor.
Será que o intimidei demais? Ou é o Hoss? Com certeza, é esse
monstro enorme, musculoso e com cara de assassino.
— Em nada! — Hoss puxa a Maria para mais perto de mim, seu
comportamento é de um protetor. — Melhor, você pode ajudar, sim. Pegue
uma boneca de cada modelo que existir nessa loja, incluindo duas
casinhas!
— Todas?
— E eu gaguejei para você não entender? Quero todas, anda!
— Hoss?!
O moço assente e retira-se rápido.
— Elas vão ser minhas? — A pequena começa a chorar ao apontar
para o corredor gigantesco de Barbie.
— Ninguém nunca mais vai tomar as suas bonecas. Você pode ter
todas do mundo, porque é minha filha.
Fico boquiaberta.
Ele disse o que eu ouvi?
Não, foi um delírio, com certeza foi.
— Tia Elena, elas são minhas! — Maria pega no meu braço e leva-
me toda saltitante de felicidade para o corredor.
Os vendedores já estão tirando as caixas de cada modelo de
Barbie para levarmos.

— Ainda vamos ficar a sós — no estacionamento, antes de eu


entrar no carro com a Maria, Hoss sussurra as suas palavras ao pé do
meu ouvido e belisca sem dó a minha bunda.
Eu gemo de dor. A pequena coloca a mão no meu rosto.
— Tia Elena, que foi? Se tá dodói?
— Ela ainda vai ficar dodói.
O filho da mãe entra no carro, batendo a porta do motorista. Eu
também entro, dolorida do traseiro e amaldiçoando esse homem infernal.
— Por que vai ficar dodói?
— Eu não vou ficar, mas esse… feio, vai!
— Você não pode fazer dodói na tia Elena. — Maria emburra com
ele.
— Ah, é? Eu posso sim, pequena anã! — O infeliz pisa no
acelerador.
— Você não pode! — Ela cruza os braços. — Não vou deixar.
— Vou contratar outra babá para você. Não, duas!
A menininha corajosa, que está sentada no meu colo, dá de
ombros.
— Tia Hera não vai deixar, ela disse que vai cuidar de mim igual a
tia Elena. Eu gosto delas, não de você. Você é malvado.
Pelo retrovisor, eu dou um sorrisinho que ele percebe e fica ainda
mais puto da vida.
— Ele é mau, mas não morde — sussurro no seu ouvido. — É tipo
a fera de Bela e a Fera. Conhece?
Maria inclina a cabeça, encantada pelo que eu disse.
— Você, tia Elena é a Bela? Ele é a Fera?
— Talvez… só me falta um final feliz.
— Mas sempre tem um final feliz — ela responde inocente e foca a
sua atenção na boneca que escolheu trazer para o carro.
Não evito a troca de olhares com o Hoss pelo retrovisor. Mas
desvio, concentrando-me no percurso até o castelo.
Ao chegarmos, Hera já nos aguardava. Deixei a Maria e as
compras aos cuidados dela e do Luiz. Já o Hoss nem entrou em casa, ele
foi cuidar de algo relacionado ao “trabalho” – se agiotagem for trabalho.
— A gente não vai voltar para a nossa casa?
Eu entro no quarto e Lupita aparece atrás, fechando a porta com
força.
— Não sei te responder.
— Vou dizer a verdade. Eu não sou obrigada a ficar aqui. Só estou
quieta, observando tudo. Você está confortável junto deles, já sei que tem
um relacionamento com esse Hoss, com a sua nova família, mas e eu?
Não gosto daqui, não é o meu lugar.
— Lupi você precisa enten…
— Não! — ela exclama irritada, interrompendo-me. — Você quem
precisa entender que faz cinco anos que viemos morar em Portugal, e
para realizar os nossos sonhos! Agora não vou continuar nesse castelo
por sua causa, sou maior de idade!
— Está sendo incompreensível, sabe que o Paulo e os inimigos
dele podem fazer algo ruim contra nós. Olha o que te aconteceu.
Precisamos aguardar um pouco mais.
— Paulo jamais faria algo de ruim contra nós, Elena, como pode
pensar isso? Eu fiquei mais feliz estando na mansão dos Borghi do que
aqui! Lá é o nosso lugar, a nossa família.
— Chega disso, Lupita.
— Chega e deixa pra lá? Não! Amanhã eu vou voltar para a nossa
casa e vou seguir a minha vida sozinha em Portugal.
— Você não vai!
— Eu vou! — ela berra e eu me estresso.
— Experimente e eu ligo para os nossos pais! Eles vão ordenar que
volte para o Brasil!
— E vai me obrigar a viver essa sua vida? VAI PARA O INFERNO,
ELENA!
— Lupita… — Ranjo os dentes.
— Eu estou farta de tudo girar em torno de você! Era eu quem
queria vir para Portugal sozinha na adolescência, fazer intercâmbio, mas
papai nunca concordou! E, adivinha, nos anos seguintes, só porque você
decidiu vir para cá, por ser a mais velha, que ele me permitiu de vir
também, ainda a pedidos seus, dizendo que seria responsável por mim.
— E onde está o erro nisso tudo? Eu sou a irmã mais velha, eu sou
a responsável! E imagino se papai tivesse permitido de você vir sozinha
na adolescência, pois estando aqui comigo, desde que chegamos só
soube sair, beber e transar com estranhos. Até se relacionou com um
traficante! Você não é responsável.
Lupita fecha os punhos, com raiva.
— Cansei de você! Eu vou embora amanhã e não vai me impedir!
Ela vira as costas, passa pela porta e a bate com força. Eu respiro
fundo, levando as mãos no cabelo para não gritar e surtar.
Depois de conversar com o tio Argus sobre as cobranças, eu saio
da sala e encontro a Maria sozinha, encostada na porta do elevador.
— Pequena anã, o que faz aqui?
Ela ergue a cabeça de entre as pernas e olha-me.
— Estava brincando, aí entrei no elevador e quis apertar os botões.
— Ah, parabéns pela sua genuinidade.
Ela dá de ombros.
— Tia Elena ou Hera iam me procurar.
— Elas vão te acostumar muito mal, vem, vamos descer.
Estendo a minha mão enorme para ela. E, sem se intimidar, a
pequena aceita meu gesto e levanta-se. Mal sinto os seus dedos tocarem
as pontas dos meus, é tão delicada, pequena.
— Tô com fome… — confessa, quando as portas se fecham.
— Não almoçamos há meia hora? — Chego a olhar no relógio para
ter certeza do que digo. — Tá igual o Vince.
— Eu quero doce. Prima Hera proibiu.
— Vamos comer doce, então.
— V-vamos? — Os olhinhos dela brilham arregalados.
Meu peito se enche, sinto que agora eu posso dar uma fábrica de
doces para essa menina.
— Só que tem que ser escondido da Hera, ela é chata.
Maria sorri.
— Quero chocolate, muito chocolate!
E é o que ela ganha ao chegarmos na cozinha, eu faço a nossa
cozinheira entregar todos os doces que ela esconde do Vince – ou
fazemos assim ou ele come tudo e não deixa nada para ninguém
— Hoss!
Ah, merda, as coisas estavam tranquilas demais para serem
verdade.
— Ela não pode comer doces! Maria, me dê isso!
Maria dá a volta na mesa, correndo para o meu lado e agarrando
as minhas pernas. Até as empregadas que estavam na cozinha se
afastam.
Hera é um furacão.
— Não! É meu, não vou dá!
— Não seja malcriada, é para o seu próprio bem.
Sorrio com um misto de orgulho. Ela teve a quem puxar, amo
doces.
Hera percebe meu risinho e fuzila-me.
— Vou quebrar a sua cara, seu troglodita. Maria precisa ir ao
dentista, também ao médico e a uma nutricionista. Nada de doces até que
esses três especialistas permitam.
— Deixa ela comer esse agora, amanhã é sem doces, não é,
Maria?
A pequena solta a minha perna e bufa com o queixo todo sujo de
chocolate. Só para não entregar os doces, ela enfiou tudo na boca de uma
vez.
— Vovó me dava muito doce — fala de boca cheia, por pouco
cuspindo.
E meu sorriso se desfaz ao lembrar dessa desgraça de mulher.
Que o diabo a tenha.
Hera nota o meu semblante se fechar.
— Agora aqui é a sua nova família, que te ama muito e quer o seu
bem. E, Hoss, é melhor ver a Elena, ela estava estranha na sala, acho
que discutiu com a irmã mais cedo.
— Tia Elena... não tá bem? — de novo, ela fala com a boca cheia.
— É coisa de adulto, meu amor. Tia Elena está bem. Vamos
terminar de mastigar esse doce e tomar um banho, pois tem que dormir
mais cedo.
Hera sai por outro caminho com a Maria. Já eu respiro fundo e sigo
rápido para a sala, já sabendo que a minha perdição está lá.
E realmente está... toda perdida em pensamentos.
— Elena?
Ela me vê e ergue-se da ponta do sofá.
— O que foi?
— O que foi é que eu quero te encher de beijos.
Ela esbugalha os lindos olhos e fica sem reação quando a agarro
pela cintura, lascando um delicioso beijo de língua na sua boca.
— Hoss… — Ela geme, acariciando a minha barba e o meu
maxilar que se mexe na dança dos nossos lábios.
— Vamos conversar, doce decoradora.
Largo-a à deriva com o seu tesão e sento no sofá, dando batidas
no meu colo.
— Senta aqui.
— E-está louco? Seus irmãos estão em casa, a Hera, o esposo
dela, seu tio. Todos.
— E o que esse povo já não sabe de nós?
— Nem eu sei de nós… —resmunga baixinho, sentando-se contra
a sua vontade, ou não, pois a diaba deu uma rebolada proposital no meu
pau.
— Implicante. Ainda vou te foder com meu caralho, não esqueci.
Aliso o seu traseiro.
— Esqueceu do quê? Dos seus olhares para aquelas mulheres no
shopping? Você é um safado sem… grrr. Já estou estressada!
— Então, é por isso que resolveu gastar metade da minha fortuna
com aquelas roupas da Maria?
— E quem disse que eu tentei isso? E se achou, bem feito.
— Elena, por acaso, você estava na minha cabeça para ter certeza
do que eu estava olhando para outras mulheres? Isso é ciúmes?
— Ciúmes do quê? — Ela leva tão rápido a mão no meu pau, que
eu só tenho tempo de segurar a respiração. — Eu não tenho ciúmes de
você. Sou uma mulher muito bem-resolvida.
— Droga, você está me castrando com essas unhas de leoa. É
assim que faz com a linguiça que te alimenta?
Ela solta o meu mastro e percorre as pontas dos dedos no meu
cabelo da nuca. Puta que pariu, arrepiei até o saco.
— Só espero que a "linguiça" esteja somente me alimentando.
— Entenda que ela só endurece por você, é uma linguiça fiel.
Açougue nenhum tem, só o seu.
Elena não aguenta e começa a rir.
— Fico imaginando até onde podemos chegar com essa conversa.
— Ainda tem dúvidas? A linguiça vai chegar bem entre as suas
pernas.
— Hoss… pare.
Eu mergulho a mão nas paredes das suas coxas e ela puxa o meu
cabelo sem dó.
— Assim eu fico feroz… — murmuro. — Queria conversar com
você, mas nossas conversas só fluem depois de fodermos. Inferno, estou
duro. Sente o meu caralho petrificado?
— Se você não respirasse malícia o tempo inteiro, não ficaria nessa
situação. E pare, estamos no meio da sala.
Afasto a mão de entre as suas coxas, contrariando o meu pau e
minhas bolas duras.
— Hera me disse que você brigou com a sua irmã — mudo de
assunto.
Elena assente, desta vez, triste e cansada.
E como vê-la assim pode ter incendiado o meu peito em segundos?
— Lupita não quer ficar aqui, discutimos isso essa manhã. Ela quer
ir embora para a nossa casa.
— No momento, não é seguro.
— Eu sei, só que ela não gosta do castelo, jogou na minha cara
que não é obrigada a viver a minha vida e que preferiria estar com o
Paulo, na tal mansão dele.
— Já vi que a sua irmã tem preferências bem específicas.
— Não posso obrigá-la a ficar, isso seria o mesmo que mantê-la em
cárcere. Agora não sei o que fazer, estou em desespero. Sinto ser tudo
culpa do Paulo.
— E não é? Percebe-se que ele está quieto, não armou ou tentou
matar ninguém do nosso lado, ainda. Isso é preocupante. Não confio
nesse desgraçado, nem nesse silêncio.
— Ele não seria capaz de me fazer mal. Só que você… — Os olhos
dela lacrimejam. — Não quero que ele te faça algo, não quero isso, não
quero te perder.
— Elena… — Tomo-a nos meus braços com mais necessidade,
medo.
— Eu gosto muito de você, Hoss. Muito mesmo. Você já fodeu
comigo, literalmente, de tudo quanto é jeito.
Meus batimentos aceleram, minha alma parece flutuar do corpo.
— Não ligo se não sente o mesmo, se só gosta de mim para sexo,
se isso que estamos vivendo vai acabar amanhã… precisava dizer que
você é um cara especial, que por mais que problemático, devido ao seu
último relacionamento, você se importa de alguma forma comigo...
— Elena, precisamos nos arrumar!
Antes que eu pudesse dizer algo para a Elena, a Hera surge
gritando.
— Quero acompanhar a Hera…
Ela se ergue do meu colo e eu fico confuso.
— Acompanhar para onde?
— Vem logo, nossa missão é ficar deslumbrantes.
— Hera, você não disse pro Hoss do evento?
— E tinha necessidade?
Não, eu ouvi isso mesmo?
Ergo-me tão bruto do sofá, que Elena corre rapidamente para o
lado da Hera.
— Comecem a se explicar!
— Eu ia te contar, tipo agora. Vamos num evento beneficente, lá é
tudo povo nosso… sabe, clientes da agiotagem e suas esposas? Já
expliquei, vem logo, Elena...
— Hera, volta aqui! Elena, você não vai nesse evento!
Elas entram no elevador e antes que eu as alcançasse, as portas
se fecham na minha cara. Chuto a parede.
— Já comuniquei os seguranças — a voz do Rael surge.
— Você sabia dessa merda de evento?
— Não, fiquei sabendo agora com você. Escutei um pouco da
conversa. E sabe que não podemos fazer nada para impedi-las. O melhor
é nos arrumarmos e ir com os seguranças. Também, assim que Morcego
souber, provavelmente vai com a gente.
— Sempre tudo "fácil" para você.
— Eu só evito estresse.
— Sei que não é esse santo que aparenta ser.
— E eu aparento? — Ele sorri, estendendo a perna na mesinha ao
sentar. — Como disse, gosto de evitar estresse. Inclusive, já está na hora
de assumir seus novos sentimentos pela Elena. É óbvio que não vai
deixá-la ir embora da sua vida, por isso, também não é justo que não tome
nenhuma decisão.
Eu coloco a mão na cintura, contando até dez.
— E não vem me xingar, estressadinho. Como o seu irmão
preferido, eu tenho o direito de te aconselhar no amor.
— Ah, é, tem? Qual foi o seu último relacionamento sério?
— Nunca? — Ele dá de ombros. — É que nunca gostei de
nenhuma mulher de verdade para assumir algo sério. Sigo fodendo as
que me agradam. Mesmo assim, sou um grande conselheiro no ramo do
amor.
— Já te mandei se lascar hoje?
— Também te amo.
— Vou atrás do Morcego, melhor do que ficar aqui te ouvindo, ou
suportando.
— Sou mais suportável do que o Vince, isso é um fato. E você está
fugindo do assunto sério; a Elena. Só pense no que eu te disse, dê o
segundo passo. Ambos já estão envolvidos demais. Ajuntem-se, vivem
isso.
— Não é um passo fácil.
— E mulheres são fáceis, Hoss? Ela não é igual a Olívia, pelo
contrário, ela não é igual a nenhuma outra mulher, é única. Sei que, no
passado, se fodeu com o seu coração, contudo, hoje é o presente,
amanhã o futuro e pelo que eu aprendi, não devemos deixar pessoas
especiais irem embora sem antes termos tentado.
— Tem certeza que nunca se relacionou sério com ninguém? —
pergunto, após permanecer alguns segundos em silêncio.
Ele também fica pensativo antes de virar para mim e assentir.
Eu não brinco ou o xingo, simplesmente aviso de novo que vou
atrás do Morcego e retiro-me com todas as suas palavras recitando no
meu cérebro.
“Não devemos deixar pessoas especiais irem embora sem antes
termos tentado”.
Fiquei muito feliz pela Hera ter convencido a Lupita a ir ao
evento conosco. Ela até mudou, ficou mais feliz, mais entusiasmada
para se arrumar conosco. Nem consigo descrever como isso
igualmente me alegrou.
— Estou louca para o Hoss te ver.
Hera sorri, cheia de perversidade ao apertar o botão do
elevador.
Estamos todas prontas e de preto. O evento pedia que
nossos trajes fossem dessa cor. Eu caprichei em tudo, sinto-me
incrível, deslumbrante, refinada e gostosa.
— Quero é nem imaginar. O seu marido também vai cair para
trás com essa sua beleza. Não tem ideia de como é perfeita.
— É verdade. — Lupi sorri e concorda.
— Ah, meninas, vocês não comecem. Estamos todas
perfeitas, uns mulherões de foder qualquer psicológico. Seremos o
centro das atenções hoje.
— Centro do quê? — As portas se abrem e Hoss, Rael e
Ezequiel se revelam iguais três brutamontes à nossa espera.
Minha boca, queixo, cara, tudo foi ao chão. Hoss está
perfeito, uma delícia dentro desse terno chique. E o cabelo, como
sempre, em topete, bem arrumadinho e aparado igual a barba.
Cheguei a errar as batidas do coração. Como pode ser tão lindo de
ridículo?
— “Centro das atenções”, priminho. Veja se a sua Elena não
está uma gostosa. Ela vai arrasar esta noite.
Olho para a Hera, repreendendo-a, antes de enfrentar as
írises do monte de músculos que acabou de me analisar dos pés à
cabeça. Ao retornar o olhar, ele faltou avançar em mim e devorar-
me com a boca. Nossa, até senti um calor. Entretanto, Hoss não diz
nada, nem quando a gente sai do castelo e vai para o carro. Ah, e
durante o caminho, quem conversa mais é o Morcego.
— Está lotado.
— Está mesmo, vocês não veem o perigo desse lugar? Não é
seguro.
— Morcego tem razão.
Hera revira os olhos para o marido e abre a porta.
— Não estraguem a nossa noite.
Todos saem dos veículos e locomovem-se para dentro da
Mansão, onde o evento acontece. Só que, em particular, eu sou
segurada por Hoss no meio da calçada cheia de fotógrafos. Fito os
olhos dele e ele entrelaça a nossa mão. Engulo em seco, sem saber
como reagir. Senti até os ossos gelarem.
— Eu não quero perder você… — sussurra e começa me
conduzir para dentro do evento.
Todos nos olham, somos o centro da atenção. Chegam a
fazer um pequeno corredor para a nossa passagem. Eu aperto os
dedos grossos do Hoss, com medo dele não estar mais ao meu
lado.
— Eles sabem quem nós somos… odeio isso — Rael
murmura.
— E quem são vocês? — minha pergunta surpreende duas
mulheres que estavam ao nosso lado, comendo Rael, Hoss e
Morcego pelos olhos. Hera as fuzilou e as bruacas desviaram. Bem
feito.
— Você sabe… a família Calatrone. Maiores agiotas de
Portugal. A gente finge que não somos poderosos para não procurar
guerra com a máfia. Nossos clãs são diferentes. Negócios também.
— A questão é que somos respeitados e temidos, pois temos
clientes de grandes portes. Eles não querem confusão conosco. E
falando em clientes... — Hera pega uma taça da bandeja do garçom
e faz todos pararem perto de uma mesa com quatro lugares.
Adiante, um casal vem cumprimentá-la, dando boas-vindas a todos
nós.
Percebo que Hoss continua com a mão entrelaçada na
minha. Eu tento afastar os nossos dedos, mas levo um apertão de
arrancar suspiro.
— Está cheio de aperitivos, se Vince estivesse aqui, aquela
mesa já estaria vazia.
— Vi que tem camarão, eu quero — Lupi diz bem baixinho.
— Eu também, vamos nos aproximar.
Rael e Lupi se afastam. Hera e Morcego continuam
conversando com o casal anfitrião. Já eu e Hoss estamos parados.
— Isso é um tédio — ele murmura.
— Você que quis vir…
— Ah, é, sua malcriada?
O olhar maligno dele me faz sentir um imenso calor.
— E não é verdade?
— Eu vim por sua causa.
— Pois então não fique murmurando.
Ele bufa, emburradinho.
Logo outras pessoas se aproximam, cumprimentando
animadas os Calatrone. Hoss segue não dando um sorriso sequer.
Rael é do mesmo jeito. Eles são frios, sérios e arrepiantes. É
completamente diferente da personalidade que estou acostumada a
ver no dia a dia deles. Até a Hera se comporta assim, séria.
Falando nela… após dizer aos meninos que ia à toalete, Hera
simplesmente me puxou junto, indo por outros corredores da
mansão.
— Hera, você não ia à toalete?
— Estamos indo... — ela responde a todo momento olhando
para trás.
— Aconteceu alguma coisa?
— Hã… Ah, é aqui…
De repente, ela me puxa para uma sala escura, liga a luz e
eu arregalo os olhos para o tanto de caixas empilhadas num espaço
tão grande.
— Onde estamos?
— Não se assuste.
Ela ergue o vestido e arranca duas armas pequenas de entre
as coxas. Volto a arregalar os olhos.
— Pai Amado!
— Sabe usar?
— Não, o que está acontecendo? Por que dessas armas?
— É simples, você vai destrancar e apertar no gatilho. Toma.
— Ela ensina e eu pego o objeto que parece até um brinquedo. —
Agora destrava e trava o gatilho.
Faço no automático, recebendo um sorriso dela pela minha
boa performance.
Nem eu sabia que podia fazer isso.
— Ótimo. Qualquer inimigo que encontrar, é só destravar e
atirar. É simples.
— Inimigo? Olha, eu não sei o que está acontecendo, vai me
dizer alguma coisa? Estou segurando uma arma!
— Você vai ter que fazer uma coisa, para o bem do Hoss e o
seu. É preciso que você veja, para abrir os seus olhos, porque se eu
disser, pode não acreditar em mim. Não vou perder tempo tentando
te convencer da verdade. Gosto de provar.
— Hera, está me assustando.
— Pois é de assustar. Vai ter que ser muito corajosa. Eu vim
nesse evento por você. Agora coloque essa arma na bolsa.
— Por mim?
— Sim...
Depois de eu guardar a arma na bolsa, ela abre a porta e
leva-me para fora.
— Estão armando, Elena, armando. As coisas se encontram
quietas demais, isso nunca é bom. E ele não vai aceitar te perder.
Você precisa se ligar nos pequenos sinais. Tem quer ser mais
esperta do que ele.
— Ele quem?
— O Borghi. Dele que eu estou falando, do nosso inimigo.
— Paulo não seria capaz.
— De matar você? Não, mas o Hoss e a minha família, sim.
Em vez de voltar para o salão, Hera vai por outros
corredores, até chegarmos na piscina da mansão. E, uau, que luxo,
também que frio. Hoje está de congelar a alma.
— Entra na piscina.
— O-o quê? — Afasto-me da Hera, chocada. — Está louca?
Essa água está congelante. Vou morrer.
— Elena, entra logo. Estamos sozinhas aqui, o quanto mais
rápido, melhor. Confia em mim. Por favor, prometo te encher de
roupas da Gucci.
Eu suspiro, fazendo careta.
— Eu vou confiar, pelo Hoss.
— Perfeito. Tenta ficar bem grudadinha na borda, sem se
mexer… logo vai entender tudo.
Eu assinto e arrependo-me de ter concordado quando
começo a descer a escada com o salto e tudo. Assim que encontro
a água e ela molha as minhas pernas, eu gemo de frio, chego a
bater os dentes. Continuo criando coragem para entrar de vez e
esconder-me embaixo da borda, como Hera pediu que eu fizesse.
Meu coração só pede para eu confiar nela, apenas confiar e não
fazer mais perguntas, por mais difícil que seja.
Eu permaneço em silêncio, impaciente, já que não ouço
nada, nem ninguém. A água parece cada vez mais fria.
Então ouço uma voz… uma voz conhecida.
— Hera disse que ela estava aqui…. eu sei, mas não estou a
achando. Estou sozinha.
Lupi… sinto vontade de gritar pela minha irmã, só que meu
corpo está petrificado.
— Como assim você está aqui? Está louco, e se ela te ver?
Se eles te verem?
Percebo que ela fala com alguém por chamada, pois não há
outra voz presente, respondendo.
E com quem ela fala? Quem está aqui?
— Eu não quero mais ficar lá, você me prometeu que eu
voltaria… cumpre a promessa, Paulo.
Meu corpo teme ao ouvir o nome do Paulo na boca da Lupita.
É com ele que ela está falando. Por quê?
— Tem que ser agora, estou sozinha perto da piscina. Ela
depois vai compreender que fez isso pelo nosso bem.
— Compreender o quê? — é a voz do Rael.
— R-Rael…
— O que faz aqui, Lupita?
— Eu... eu estava procurando a minha irmã — sinto a voz
dela cada vez mais perto de onde estou.
Sem evitar, eu solto um gemido de frio pela brisa.
— Elena sumiu, também não estamos a encontrando.
— Minha irmã sumiu? — questiona surpresa.
— Hoss está puto e desesperado. Já pedimos reforços aos
nossos homens. Temos que agir como se nada estivesse
acontecendo. E, por isso, você também precisa ficar segura.
— Eu estou mais do que segura. Precisamos encontrar a
Elena!
— Cuidaremos disso, enquanto você volta para o castelo.
— Não, eu ficarei aqui!
E, para o pavor de todos, sons de tiros se tornam estridentes.
Eu me mexo na água, sem evitar o susto, mas cesso, encolhendo-
me mais embaixo da borda.
— Rael! Eles estão aqui! Aqueles mafiosos filhos da puta! —
Hoss berra. — Precisamos encontrar a Elena!
Estou aqui, Hoss...
Meu peito dispara. Quero sair ir até ele, abraçá-lo e nunca
mais largá-lo, só que algo me deixa estacada, sem forças. Talvez
seja a água fria, ou o medo, a curiosidade.
— Meu Deus, o que está acontecendo?
Então a resposta à pergunta desesperada da minha irmã me
vem à mente. Lupita sabe muito bem o que está acontecendo, ela
estava conversando com o responsável. Ela está do lado dele. Do
lado do homem que não aceita que não o quero mais.
Agora entendo a Hera. Perfeitamente.
Paulo está aqui. E eu preciso dar um basta definitivo; por
mim, pelo Hoss e pela sua família, antes que aconteça algo que eu
me arrependa para sempre.
Continuo quieta, ouvindo-os gritar. Hoss está louco,
descontrolado. Rael tenta acalmá-lo sem sucesso. Por telefone,
reforços são chamados.
É como se fosse uma batalha, onde o fim depende de mim. E
sei que depende. Acho que a Hera deixou muito claro isso.
— Já procuramos a Elena por todos os lugares!
— Paulo está aqui, se ele estivesse com ela, já teria fugido
sem deixar rastros. A última pessoa que teve contato com a Elena
foi a Hera. Precisamos encontrá-la lá dentro, não aqui fora. E o mais
importante, ficarmos juntos.
— E-eu não quero entrar lá, estou com medo — Lupi quem
fala, gaguejando.
A revolta dentro de mim cresce mais do que a hipotermia que
estou quase tendo. Quero berrar com a minha irmã.
— Ficar sozinha está fora de questão, venha, Lupita!
Precisamos ir.
Ouço passos de saltos e logo as vozes deles somem. Sobra-
me a penumbra e o medo. Eu tiro a arma da bolsa tiracolo, que está
na altura do pescoço. Tomo fôlego… mas antes de eu começar a
me mexer, uma mão forte tampa a minha boca e agarra os meus
cabelos.
Eu comecei a desconfiar da Lupita desde que soube de tudo que
havia acontecido na minha ausência. Acho que ela nunca foi sequestrada,
esse tempo todo esteve na mansão dos Borghi para ajudar o Paulo a
conquistar a Elena. Sei que esse mafioso não vai machucá-la, mas o Hoss
e a minha família, sim, ele seria capaz de qualquer atrocidade.
— Você vai iniciar uma guerra de verdade, Hera! — Rael esbraveja.
— Onde está a Elena?
Meu primo descobriu, não sei como, que tudo isso que está
acontecendo tem um pouco de dedo meu. Será que ficou tão óbvio? É
claro que ficou, porém, foi necessário.
— Eu precisava ter uma certeza sobre a Lupita. E tive, assim como
a Elena teve. Ela está do lado do Paulo, está o ajudando em seu plano.
— Eu também desconfiava. E Hoss vai te matar quando souber que
é responsável por tudo isso.
— Rael, não temos como fugir dessa guerra com a máfia! Sabe o
que uma pessoa não correspondida é capaz de fazer? Pois o Paulo
Borghi será capaz de tudo!
— Eu sei, Hera, só que agora esse bosta está aqui e só penso na
nossa segurança, em nos manter vivos!
— Eu sei. Elena pelo menos está segura, a deixei dentro da
piscina, escondida embaixo da borda e com uma arma. Vou avisar ao
Hoss.
— Que porra de plano. E eu faço isso. Temos que agir rápidos para
sair daqui logo, antes que a polícia apareça.
Concordo e Rael se retira em meio aos gritos das pessoas que
tentam evacuar o evento. Já eu vou em direção a Lupita, preciso
encontrá-la antes que fuja com o Paulo.
— Ela não fez isso!
— Calma, descontar a sua raiva na Hera não vai ajudar em nada.
Primeiramente, precisamos encontrar a Elena.
— Porra! E é isso o que eu farei!
Eu respiro mil vezes fundo, correndo para fora da mansão. E chego
na piscina, não a encontrando em nenhum lugar abaixo das bordas.
Isso só pode ser um pesadelo!
— Ela não está aqui! — Aperto a arma para não voar sobre o Rael.
— Onde está a Elena?!
— HOSS! — Morcego vem correndo de entre a escuridão de
arbustos. — A máfia está evacuando da mansão!
— Manda nossos homens cercarem as quadras!
— Precisamos também sair daqui, antes que a polícia chegue!
— Eu não vou sair daqui sem a Elena!
Rael xinga e mesmo contrariado, ele vem atrás de mim. Eu preciso
ficar calmo e raciocinar essa situação. Não vou ir embora sem a minha
mulher! Não vou!
— Precisam de uma carona? — Vince, de repente, surge com uma
Mercedes, jogando o carro em cima da calçada, bem no momento em que
corríamos para fora. — A máfia saiu há poucos minutos com três carros. A
polícia já está a um quarteirão de distância. Entrem logo!
— Vocês não vão sem mim! — Hera e Morcego também aparecem
e entram no veículo.
Eu tiro o Vince do volante para tomar o controle. Rael vem na frente
comigo.
— Para onde foram?
— Segue direto.
— Eu não achei a Lupita na mansão.
— Não quero nem ouvir a sua voz, Hera!
— Tudo tem uma explicação, não precisa ficar puto de raiva e me
culpar. Era preciso, por mais que dessa forma. Até você estava
desconfiado daquela Lupita. Eu só não esperava que o Borghi pudesse
encontrar a Elena. Para mim, ela estava segura. Não teria melhor
esconderijo. Ninguém a encontraria ali. Isso não me entra na mente
— Eles podem ter te visto com a Elena — Morcego opina.
— Não, amor, a única que estava lá era a Lupita, e depois que eu
informei a ela de que deixei a sua irmã sozinha, perto da piscina, a máfia
apareceu.
— A garota avisou o Paulo.
— Com toda a certeza. E provavelmente aquele sequestro foi tudo
armado, foi um plano. Creio que ela esteve esse tempo inteiro com os
Borghi.
— Estou rastreando o celular da Elena, continue indo reto, estamos
na cola deles — Vince informa, concentrado em seu notebook.
— Consegue capturar o microfone dela?
— Não agora.
Eu aperto o volante, piso no acelerador e começo a cortar os outros
carros para chegar no nosso destino.
— É aquele carro preto ali. — Rael aponta. — Cola na traseira e
não se preocupe que temos quatro carros nossos entrando na avenida.
Ouvimos disparos e todos deixam as suas armas em alerta.
— Não vamos evitar trocas de tiros.
Morcego abre a janela, atirando na lataria do veículo à esquerda.
Eles revidam.
— Foda-se, a essa altura já somos inimigos declarados dos Borghi.
Eu só quero a Elena! Com ela, esse filho da puta não sai de Lisboa!
Depois eu lido com a merda que sobrar.
Eu chego na traseira do carro, avançando com o meu. Consigo
fazê-los derraparem na pista e irem para o canto da calçada.
— Acelera mais em cima!
— Para! Os outros dois estão seguindo reto! — quando Vince fala
isso, eu chego a pisar no freio.
— Isso só pode ser… Porra!
— Foi uma armação.
Nunca seria tão fácil assim abater o Paulo, ele é a porra do
herdeiro da máfia!
— Eles nos despistaram!
Meu coração acelera, meu sangue ferve e sinto vontade de berrar!

Sua mão grossa aperta a minha boca com força.


— Colabore e eu não te machuco — a voz de sotaque português
causa tremores em mim.
Ele me larga e eu viro assustada, vendo o homem alto, forte e
negro, que encontrou na piscina.
— Sai daí sem gritar. Anda!
Minhas pernas perdem as forças no momento em que ele aponta a
arma. Eu saio rapidamente da água, sem saber o que falar, como reagir e
até como respirar. Meu corpo todo treme de frio, meus dentes superiores e
inferiores se batem.
— Agora vamos indo.
Seguro a bolsa, sendo levada por ele. Outros dois caras vêm atrás,
escoltando. Caminhamos pela escuridão. Não faço perguntas. E quando o
homem negro para diante de uma porta, que fica atrás da mansão, ele me
empurra para dentro sem nenhuma delicadeza. Noto ser o local onde se
guarda o lixo. A seguir, um deles abre uma portinha no chão. É uma
passagem.
— Desça a escada.
Sem escolha, mesmo morrendo de frio, eu faço o que me é
ordenado.
— Saem e sigam o plano! — Assim que eu piso no último degrau,
em meio ao escuro, alguém de poder maior ordena e eles se se vão. —
Vem, Elena.
Eu reconheço a voz.
— Paulo?
Não consigo mexer um músculo sequer, tanto pelo frio do corpo
encharcado e o nervoso.
— Sim.
— Como pode fazer isso comigo!
— É para o seu bem.
— Eu não quero você!
A passagem por onde entrei é fechada e tudo fica ainda mais
escuro.
— Não pode ser essa a sua escolha, você só está cega por aquele
Calatrone.
— Eu já dei um basta nisso, aceita que a nossa relação acabou.
— EU SOU UM MAFIOSO, ELENA! AS COISAS NÃO SE ACABAM
ASSIM!
— Não termina assim? E como termina? Com você tirando a minha
vida?
— Nunca te machucaria, eu te amo.
— Não diga que me ama. Chega. Eu não tenho culpa, quando você
me conheceu, eu era uma pessoa normal, uma brasileira que veio do seu
país para ter uma vida melhor em Portugal. E eu te conheci também
achando que era uma pessoa normal.
As luzes surgem e eu consigo vê-lo melhor. Estamos em um
depósito, com ferramentas de jardim e materiais de reforma.
— E vai me culpar por ter mentido?
— Eu vou, porque não está respeitando a minha escolha de seguir
em frente.
— Não com ele, não com aquele Calatrone!
— Eu o amo!
Minhas palavras fazem o Paulo avançar em mim como uma fera.
Ele me joga contra a parede.
— Dê um fim nisso, Paulo… — ouço a voz da minha irmã. — Você
disse que essa noite seria o basta.
— Lupita…
Olhamos para ela, que segura uma arma.
— Nunca vai ser o basta, Lupi.
— Ele vai te sequestrar, Elena, ele quer te levar para outro país e te
esconder lá, até que um dia você possa amá-lo de novo. Enquanto eu fico
aqui, com um filho na barriga!
Ela começa a chorar.
— O-o que disse?
É a minha vez de chorar após ele me soltar com rompante.
— Você está grávida, Lupi? De quem? Meu Deus, não, não!
Minha ficha cai após ver o Paulo indo cada vez mais para trás.
— Eu e o Paulo ficamos várias vezes, aquele sequestro nunca
existiu. Foi tudo uma armação. Ele só não contava que você teria o Hoss,
que esse homem poderia entrar na sua vida! E eu o ajudei, eu fui trouxa,
porque eu queria o luxo que estava me proporcionando.
— Isso é demais para mim. Demais! Eu sinto nojo de você, Paulo,
nojo! E de você também, Lupita, como pôde? Fez parte de toda essa
desgraça! A minha desgraça!
Ela chora.
— Desculpa, eu só queria dinheiro, diversão… eu não queria ficar
grávida.
— Meu Deus… — Paulo chuta uma caixa de ferro e coloca as
mãos na cabeça.
Ele está incrédulo, cada vez mais fora de si.
— Agora arque com as suas consequências — falo com a voz
embargada, magoada, mas autoritária. — E deixe-me em paz, Paulo. Olha
tudo o que você fez comigo, desde que entrou na minha vida, mentindo
sobre quem era. Não pode privar a minha liberdade, a minha felicidade.
Você não tem esse direito. E agora, igualmente terá que arcar com as
suas consequências. Lupita está esperando um filho seu! Tem que cuidar
dela, da minha irmã, por favor, você tem!
— Eu não vou aceitar perder você… só que ele vai me matar
quando souber! — Seu olhar vai para a Lupi. — Isso não era para
acontecer.
Não sei de quem ele está falando, mas a minha irmã abaixa a
cabeça e chora ainda mais.
— Eu estou dilacerada por dentro, em todos os sentidos.
— Não era assim que eu queria, Elena. Na verdade, eu não queria
ser herdeiro da máfia, meu sonho era casar com você, ir embora de
Portugal, nem que fosse para o Brasil, para construirmos uma família
juntos. Porém, o meu irmão foi assassinado e eu tive que arcar com o seu
futuro. Isso me trouxe a consequência de perder você. Não posso ter as
duas coisas. Porra, eu não posso!
— Eu sinto muito... — Começo a lacrimejar. — Eu amei você, é um
homem incrível, de coração bom. Antes de descobrir quem era, eu pude
ver tudo isso.
Eu chego mais perto dele e toco no seu rosto. Ele desaba.
— Nossa relação acabou, só que a sua vida não. Você pode mudar
seu destino, ser feliz como deseja.
— Jamais vai entender o outro lado dos Borghi. A gente nunca faz
escolhas sem a família. Preciso honrar a memória do meu irmão, o nosso
sobrenome e as alianças. A família está sempre em primeiro lugar. — Ele
também segura o meu rosto com posse, autoridade. — Não vou esquecer
você, nem a machucar... mas não vai poder evitar o que estar por vir. Nem
o diabo vai! Eu quem sinto muito.
Então, ele me beija doce, faminto e ao mesmo tempo, frio, cheio de
raiva e rancores. Retribuo sem sentimentos. E quando afastamos os
nossos lábios, não aguento, simplesmente choro – de alívio, liberdade e
medo do futuro que nos aguarda.
Dentro do carro, todos ficam em silêncio. Eu passo a mão no
rosto, na barba, ao ponto de matar qualquer pessoa.
— Hoss, vo…
Antes que o Rael pudesse continuar com as suas palavras de
bom irmão, eu dou marcha ré no meio da avenida cheia de carros,
faço a manobra de volta e piso no acelerador. Eles não protestam,
não fazem perguntas, apenas acompanham o meu destino sem me
contestar… até o meu celular tocar no bolso e o meu coração
disparar no peito, mesmo que não seja ela. A ligação é do tio Argus.
— Volte para casa, ela está segura, filho.
A vontade de chorar se faz imediatamente presente.
— Sem nenhum arranhão?
— Sem nenhum, prometo.
— E agora, tio?
— Agora precisamos nos preparar para o melhor e o pior.
Ainda não acabou. Exceto por hoje.
— Somos uma família — Hera declara, de repente, no banco
de trás. — Estaremos juntos na alegria e na tristeza.
— Sim, na alegria e na tristeza. E por enquanto, que seja na
alegria — Argus repete a fala da filha após ouvi-la do outro lado. —
Estaremos aguardando vocês.
Ao cessar a chamada, eu sinto o peso do mundo saindo das
minhas costas.
— Vai dar tudo certo, irmão.
— Sempre dá… — Vince e Morcego apertam o meu ombro.
— Vocês todos são uns filhos da puta.
— Olha, não precisa ofender a nossa mãe, também te
amamos.
Começamos a rir, um com cumplicidade pelo outro. Sempre
estaremos juntos, em qualquer situação. Entretanto, agora eu só
quero ver a minha decoradora. E é o que eu faço, desta vez, com
sede, anseio de chegar em casa o mais rápido possível. E chego
igual louco, deixando todos para trás.
Na sala, vejo a minha mulher com os cabelos molhados,
enrolada num cobertor.
— Elena!
— Hoss!
Ao também me ver, ela se ergue rapidamente do sofá, corre
até mim e pula emocionada nos meus braços. Aperto-a no meu
peito, não querendo nunca mais largá-la. Ela levanta a cabeça e eu
seguro o seu rosto banhado em lágrimas.
— Descobri que a Lupita está grávida do Paulo, todo aquele
sequestro foi uma mentira, uma armação dos dois. Ela é minha irmã
e fez tudo isso comigo!
— Eu sei o quanto está ferida.
— Ela disse que o Paulo realmente me sequestraria para
outro país. Foi ele quem me achou na piscina, estava disposta a
tudo, eu fi...
— Acho que amo você — confesso tão inesperado que Elena
para em abrupto, arregalando os olhos.
— C-como?
— Amo você.
— Ah, Hoss. — Ela chora ainda mais. — Eu também te amo,
seu sem-vergonha. Você tem o meu coração.
— Eu te quero, minha decoradora.
Beijo-a com a alma e a minha fome insaciável de possuí-la
para sempre. Aperto a sua cintura, trazendo-a ainda mais perto.
Mostro que está segura, que temos um ao outro.
— É melhor ficarmos a sós — murmuro na sua boca ao sentir
que não estamos sozinhos na sala.
— Continuem, puta beijão de novela, viu, deu até inveja.
— Vamos sair daqui, Vince, se manca.
— Ei, Raelzinho, calma, eu vou para a cozinha.
Elena sorri do Vince.
— Não se incomodem, estamos indo também. — Hera pisca
e puxa o marido junto.
— Sozinhos? — Minha decoradora alisa a minha barba.
— Precisamos conversar.
— Sobre tudo?
— Sobre tudo. Só que, primeiro, vamos tomar um banho
quente, você está toda molhada e fungando o nariz.
— Vou ficar doente, passei muito frio dentro e fora daquela
piscina.
— Vai ficar e eu vou cuidar de você… depois de eu também
afogar a Hera na privada.
Ela ri.
— Não precisa ser selvagem, nem fazer isso agora, só cuida
de mim, tá bom?
Seu pedido enche o meu peito de calor.
— Já disse que vou, minha decoradora. Não pretendo mais
largar você.
Ela me abraça e levo-a para o quarto.
— Amanhã a gente cuida da Lupita.
— Ela está com ele, o Paulo a levou. Nada disso é o fim, não
é, Hoss? Eu sinto que agora vamos lidar com a máfia, o começo de
algo mais perigoso. Temo por mim, nós e a minha irmã.
Eu abro o zíper da lateral do vestido dela, suspirando pela
curva do seu corpo escultural e igualmente por concordar com a
Elena.
— Não, no entanto, é o começo para nós. Só pense nisso.
— Tem certeza? Tenho medo.
— Nunca estive tão certo de algo na vida. Vamos ficar juntos,
você já faz parte da minha vida.
Eu desço com cuidado o vestido úmido do seu corpo,
puxando-o para baixo. Perco de novo o oxigênio, desta vez, com a
visão da sua bunda empinada. Minha vontade é de encher de beijos
e mordidas esse bumbum, porém, Elena está tremendo de frio.
Tenho que aquecê-la.
— Você vai tomar banho comigo? — ela pergunta após eu
também tirar a roupa.
— Não vou cuidar de você? Tenho que te ajudar a se
ensaboar com todo amor do mundo.
Observo os olhos brilhantes da minha decoradora recaírem
em choque para o meu pau, que saltou depois de eu descer a cueca
junto da calça.
— Hoss…
— Nem diga nada, já estou enrijecendo.
Ele me reprova com a cabeça e saí, tirando os saltos e
andando até o banheiro. Vou atrás, apreciando suas ancas
maravilhosas. Alcanço-a embaixo da ducha quente. Elena tira a
lingerie, joga por cima do box e entrelaça os braços no meu
pescoço. Eu enconcho meu pau na sua barriga, agarro os seus
cabelos e beijo-a gostoso.
Ela logo afasta a boca, suspirando.
— Não sei se ligo para os meus pais e conto tudo o que
aconteceu.
— Pare de pensar nisso.
— Não consigo… só penso na Lupita.
— Você está bem, está aqui comigo… — Faço carinho no
seu rosto, enquanto ensaboo com delicadeza os seus cabelos. —
Sinta o cheiro delicioso do shampoo.
Ela começa a relaxar com os meus movimentos, fecha até os
olhos.
— Tem que se aproximar da Maria… ela precisa mais de
você do que eu.
— Elena…
Afasto a mão do seu rosto e massageio os seus peitos. Ela
geme, sem abrir os olhos.
— Precisa ouvi-la te chamando de pai.
De novo, sinto aquele aperto no peito, é um aperto de
incapacidade, de medo. Eu não sei ser pai, não quero decepcionar
aquela menina.
Elena abre os olhos e toca na minha ereção, estou
empedrado. Porra, eu seguro a respiração para não desmaiar pelo
toque forte e repentino.
— Vou penetrar ele em você — resmungo entre os dentes.
Ela me massageia sem economizar nas contorções, é como
se fosse uma pintora que dominasse a arte do pincel. Eu belisco os
seus mamilos, descendo a mão para entre as suas pernas e acaricio
os lábios da sua boceta lubrificada. Minha decoradora geme e pulsa.
— Pronta para o seu homem feroz te satisfazer?
— Acho que sempre estarei pronta para essa tora incomum.
— Não reclame de barriga cheia, muitas só têm um toquinho
para sentar.
Ela não se aguenta e cai na gargalhada. É tão bom vê-la
sorrir.
— Eu adoro te ver sorrindo — falo e substituo o seu sorriso
para dar aos seu rosto a expressão de prazer. — Quero te fazer
sorrir todos os dias.
— Hoss… — Elena abre os olhos emocionados.
— Eu sei amar e demonstrar, por mais que…
— Shh. — Ela me beija. — Apenas demonstre do seu jeito,
tenha certeza que será recíproco e delicioso, como já está sendo.
Perco a fala. Como pode ser perfeita?
Empurro-a devagar embaixo do chuveiro, ansioso feito uma
criança para saborear do seu doce preferido, mas ao vê-la roxa dos
lábios, eu desisto de transarmos assim, está frio e Elena merece um
sexo quente, confortável. A noite foi terrível, principalmente para ela.
Por isso, termino o nosso banho, ajudo-a a se secar, mas não
permito de propósito que vista alguma roupa minha. Elena fica mais
emburrada, desde que tomei a decisão de não transarmos, ela já
ficou assim.
— Não posso vestir uma camisa sua? E por quê? — Cruza
os braços. — Não vai responder? — Sem a sua resposta, ela tenta
passar brava por mim. — Dá licença, quero ver a Maria, também ir
para o meu quarto.
— Uma hora dessa, a anãzinha está dormindo, já são quase
2h. E você vai ficar aqui, já combinamos.
— Então, sai da minha frente, vou para a cama!
Sorrio e quando ela menos espera, pego-a no colo,
surpreendendo-a. Elena reage com um grito.
— Ai, Hoss!
Sem dizer mais nada, eu levo a minha decoradora para o
quarto, deposito no colchão, ligo o abajur e antes de escalar seu
corpo, eu o exploro com o toque das mãos. Ela saboreia tudo com
gemidos, ainda acompanha os meus toques por entre os vales dos
seus seios enrijecidos.
— Quero você… quero muito... — geme quando eu deslizo
para o seu clitóris lubrificado.
Ao sentir o seu melzinho, eu fico com vontade de prová-la, só
que estou excitado demais.
Esfrego os dedos entre os lábios menores, em um V que os
espreme. Ela arqueia as costas, contrai e luta para abrir mais as
pernas.
— Por favor… — seu pedido desesperado é seguido por um
puxão na minha toalha.
O tecido cai no chão e eu aliso o meu pau já dolorido pelas
bolas duras. Subo em cima dela, tirando o seu roupão e explorando
com a minha boca a sua nudez macia. Beijo cada existência de
pele, dando uma prioridade demorada para os peitos saborosos. Ela
choraminga e crava-me sem pena as unhas cumpridas.
Sei que pela manhã ressuscitaremos tudo o que aconteceu
essa noite, nossas fichas vão cair por completo… mas, nesse
momento, eu só quero que ela se sinta em outro planeta, repleta de
prazer, satisfação e amada. É pouco, eu sei... Elena merece muitas
mais.
Levo a minha mulher às nuvens ao penetrá-la lentamente,
numa tortura de mandar o diabo ao inferno. Ela se entrelaça forte
nos meus quadris, puxa os meus cabelos, joga a cabeça para trás e
grunhi cada vez mais alto. Perco a minha lentidão em segundos,
dou lugar a uma fera, de músculos rígidos e força descomunal.
— Ahhhhh!
Elena me sufoca, aperta o meu pênis a cada arremetida na
sua boceta apertada. Não economizo nos movimentos. A
sensibilidade da nossa pele com pele, calor com calor… é meu
martírio!
— Porra, minha decoradora… porra.
Até que eu gozo inevitavelmente rápido, numa explosão
abundante, que a preenche de esperma. Ela grita e chega ao seu
ápice junto comigo, transbordando de prazer.
— Amo você! — fala ofegante, empurra-me para trás e gira
em cima de mim, sem nem sequer parar para descansar. Ela sabe
ser insaciável.
Beijo sua boca e puxo com força os seus fios longos e
castanhos.
— Hoss, eu amo você!
Elena senta na minha ereção, penetrando-se e rebolando
com mais eloquência do que um dia esteve.
— Eu amo você, minha rainha. Puta sentada gostosa! É a
mulher mais perfeita desse mundo!
Ela sorri de emoção, também de perversidade ao me castigar
com suas quicadas. Só sei xingar e falar que amo essa felina.
É a mulher da minha vida! Ela é e não tem nem como mais
negar!
— Você não pode dizer que não! — Maria cruza os braços, brava
comigo.
— Eu sou seu pai, sua anãzinha de jardim, eu posso, sim!
— Não quero mais que seja!
— Já é tarde, essa semana já assinei o seu reconhecimento de
paternidade. E se arrependimento matasse!
— Arrependeu... de mim?
Chateada, ela sai andando sozinha pela padaria. Todos ao nosso
redor nos olham de lado, chocados. Porém, eles não têm coragem de
manter nem um segundo fixo a mim. Elena está no carro e Maria me
obrigou a descer aqui para comprar chocolate, só que ela quer levar a
padaria inteira. Se eu comprar mais que um doce, Elena me castra.
— Vem aqui, Maria.
Ela sai de trás da mesa de pães doces e vem até mim, com seu
bico emburrado.
— Não me arrependi de você, pequena, entendeu? E vamos levar
dois doces. — Pisco. — Sabe que mais de dois a tia Elena puxa as
nossas orelhas, quer ficar com a sua sem um pedaço?
Ela arregala os olhos e leva a mãozinha na orelha, negando
veemente com a cabeça.
— Quero não.
— Pois bem, vamos embora logo antes que você me faça comprar
até o açúcar do confeiteiro.
Pego os doces no balcão e a Maria pelo braço, levo-a igual um
saco de arroz pela calçada. A anãzinha só sabe rir de cabeça para baixo.
— Hoss, vai machucá-la! — Elena reprova quando eu abro a porta
do carro e jogo a criança no banco, exatamente como um saco de arroz.
Maria continua rindo. Eu abro a porta dos passageiros e entro
também.
— Que cara é essa? É só uma brincadeira. E eu trouxe um doce
para você. — Sorrio e ergo o pastel de nata.
— Só um?
— Sim, um para cada.
Elena olha para a Maria, que mastiga dois doces, um em cada
mão. Ela até tentou esconder o outro, mas não teve tempo. Puta merda!
Elena volta o seu olhar para mim. Para amenizar a leoa, eu acaricio a sua
coxa.
— Ela é criança...
— Que precisa saber que não é não… — resmunga. — Como pai,
você cede exageradamente tudo o que ela pede. Ontem foram os pacotes
de pirulito. Cinco pacotes!
— Vince já deu conta de comer todos, não resolvemos isso?
Elena fuzila a minha cara de pau.
— Limites ou eu dou limite é para... vocês! — Ela afasta a minha
mão da sua perna, olha para o meu pau e pisa no acelerador.
O “vocês” foi para mim e o meu caralho?
— Tia Elena, não fica brava.
— Estou com o seu pai, meu amor. Muito brava!
— Eu acabo com essa braveza em poucos minutos — sussurro
sem olhá-la e sei que ficou ainda mais furiosa, pois eu realmente acabo.
— Você notou? — Durante o percurso, Elena aponta para o
retrovisor e o carro preto atrás de nós.
— Segue reto na avenida movimentada.
— Hoss… eu…
— Essa é a nossa vida, vai ser sempre assim.
Ela respira fundo, tremendo ao apertar o volante.
— Eu vou cortar alguns carros.
Assinto e ela faz isso. E, mesmo sendo seguidos, conseguimos
chegar em segurança no castelo.
— Lembre-me de nunca mais ceder a você de dirigir o meu carro.
— Não sei nem porque eu fiz questão dele hoje.
Ela pega na mão da Maria, me dá um beijo e sobe os degraus para
dentro do castelo.
Eu entro, só que não sigo para a sala, eu viro no corredor em
direção a sala de jogos. No interior da sala, está apenas o tio Argus,
sentado no sofá, lendo um livro sobre mentes milionárias. É o tema
preferido dele, confesso que o meu também.
— Tanto lugar para ler e prefere aqui?
Ele abaixa o livro e observa-me ir até a geladeira pegar duas
cervejas.
— Às vezes, eu gosto de explorar o castelo.
— Por isso, quase ninguém te vê.
Volto, entrego uma cerveja para ele e deito no sofá do lado.
— Estou feliz por você, filho. Feliz pelo seu coração estar repleto de
paz.
— Nem tanto. Hoje fomos seguidos de novo, eles estão nos
observando, sinto que aquele infeliz planeja algo.
— No momento, eu acho que o grande chefe da máfia tem coisas
maiores para se preocupar, além do coração partido do seu herdeiro.
— O que quer dizer com isso?
— Sabe a viúva do Borghi que foi assassinado, o primogênito que
herdaria tudo se estivesse vivo? Ela desapareceu.
Ergo-me rápido do sofá, sem crer. Até cuspi a cerveja.
— E como soube disso? — Sei que chega a ser ridícula a pergunta,
porra, tio Argus sabe de tudo.
Na noite do evento em que Elena desapareceu com o Borghi, foi
ele quem a resgatou e a trouxe em segurança para casa. Sem contar que
ele já sabia quem era ela e seus envolvimentos. Sempre sabe!
— Isso não vem ao caso, o importante é que eles estão ocupados.
Por essa razão, agora é o melhor momento para pedir a Elena em
casamento.
— Lá vem você de...
— Eu ouvi casamento? — O intrometido do Morcego invade a sala,
juntamente com o Rael e o Vince.
— Eu adoro casamentos!
— Já quero a data.
— Por que não cuidam da vida de vocês?
— Estamos cuidando. — Ao se aproximar, Rael se joga ao meu
lado e quase rouba a minha cerveja.
— Bora agilizar as coisas com a Elena, ela está praticamente
morando aqui e fazendo parte da família. Precisamos de uma festa, não é
tio, Argus?
— Com certeza.
— Pois feito, trate de pedir a sua mulher em casamento até sexta-
feira.
Eu mostro o dedo do meio para o Morcego e ele dá uma piscada.
— Se você não agilizar as coisas, a Hera vai… se já não estiver
fazendo isso.
— Eu preciso planejar algo especial antes — comento, rendendo-
me a esses intrometidos. — Existe todo um processo, caso as damas aqui
não saibam.
— Que processo? O de comprar a aliança de noivado, pedi-la em
casamento, marcar a data e casar? Bora botar agilidade nisso, você é o
macho dessa relação. Se bem que, às vezes, eu acho que o macho é a
Elena, a mulher a foda de te aguentar. — Rael chuta a minha perna e eu
chuto a dele de volta, com mais força.
— Vou adora te ver com a porra de uma mulher amarrando as suas
bolas com arame, infeliz!
— Que bolas, o Raelzinho não é castrado?
— Vince, quem vai ser castrado aqui vai ser você seu resto de
cordão umbilical!
— Amor de irmãos é lindo… — Morcego comenta com Argus.
— Com cunhado, nosso amor é ainda mais lindo.
— Mas não chega ao meu amor. — Sem a gente esperar, é a vez
da Hera invadir a sala.
Olhamos para ela e Maria, que vem correndo até nós.
— Olha a minha boneca. — A pequena sobe no sofá, perto do
Vince e do Rael, mostrando a sua boneca vandalizada.
— Você cortou o cabelo dela ou tentou decepar a cabeça?
— Vince… — Hera o repreende.
— Eu cortei o cabelo da Julia, ela estava no salão.
— Ah, pronto, a boneca tem nome e vai no salão. E a cabeleireira
era você?
— Sou eu.
— Então Deus proteja as suas outras bonecas...
— Ficou bonita, querida. — Argus pisca e Maria sorri.
— Sabia que mentir é feio?
— Tio Argus não mente. — Maria mostra a língua para o Vince e eu
a olho feio.
Ela abaixa a cabeça, disfarçando o que fez.
— Vince tem o mesmo cérebro que o de uma criança. — Rael sorri
provocativo. — Até o camaradinha que chama de pau se iguala a de uma
criança.
— O filho da…
— Ei! — Hera bate na cabeça dele e belisca Rael. — Tem uma
criança entre nós. Vocês parem de se implicar, pois quando começam, é
só adjetivos horríveis um ao outro. Não sei de onde sai tanta criatividade
para de titularem assim.
— E eu esqueci meu cofrinho lá embaixo. — Maria muda de lugar e
vem sentar perto de mim.
Ela se refere ao cofrinho que a Hera lhe deu, somos obrigados a
colocar naquele porquinho duas libras quando xingamos perto dela. E,
porra, ontem em coloquei vinte libras.
— Maria vai nos falir em um mês desse jeito.
Hera abraça o pai e sorri.
— Meu pai fazia isso com vocês também, lembram?
— Eu lembro que você não sai do nosso pé.
— Claro, você e o Hoss ficavam mais juntos e eram mais adultos
do que eu e o Vince. A gente queria atenção, brincar.
— Eu adorava colocar chiclete nos seus cabelos — Vince relembra
maldoso. — No Brasil, eu gostava de pegar aqueles piolhos de cobra e
colocar embaixo do seu travesseiro. Seus gritos de madrugada eram
minha satisfação.
— Desgraçado, eu tenho traumas disso até hoje!
— Olha a boca, formiga.
Maria estreita a cabeça para mim e olha-me confusa.
— Isso foi palavrão? — pergunta com sua voz doce de criança.
— Foi. — Antes de eu responder, a Hera dá o dinheiro a ela. — E
toma quatro, pois esse cretino dos infernos merece perder os dedos por
todas as maldades que me fez.
Vince só sabe gargalhar.
Noto a falta da Elena e quando levanto a cabeça, Hera desvia o
olhar de mim.
— Cadê a Elena?
— Você vê a sua mulher noite e dia e só de ficar uma horinha longe
já sente falta? Mas é muita frescuragem mesmo, a gente perdeu o nosso
irmão.
— Rael, não testa a minha paciência, porra!
— Ahh, isso é palavrão… — Maria já estende o braço, querendo
dinheiro.
— Eu te comprei doce hoje, anãzinha estelionatária! E, Hera, onde
está a Elena?
— Ocupada, por quê?
— Você tem dois segundos para me dar detalhes.
— Deveria ser menos protetor. — Ela bufa. — Elena está com uma
visita na sala, por isso vim atrás de vocês, para deixá-la a sós.
— Deixá-la a sós com quem? — Levanto-me, já estressado. —
Quem, Hera?!
— É a irmã da Elena.
No instante em que eu entro na sala e vejo a minha irmã
sentada perto da Hera, as minhas pernas paralisam. Tudo se torna
presente de novo, os momentos naquela noite em que eu descubro
da sua gravidez e do seu relacionamento com o Paulo. Depois das
duas semanas seguidas, sem notícias e só pensando nela, nos
nossos pais, em tudo!
Lupita e Hera se levantam ao notarem a minha presença.
— Maria, andou comendo doces? Vamos lavar essas mãos
sujas… — A Hera apenas me dá um olhar de apoio, chama a Maria
e elas saem juntas.
Eu respiro fundo e dou mais alguns passos até a minha irmã.
Paro na sua frente.
— Oi, Elena… — ela fala baixo.
— Oi, Lupita — minha voz sai engasgada, nervosa. — Depois
de duas semanas, resolveu dar notícias?
— Eu estava com vergonha de você, precisava desse tempo.
— E os nossos pais, já comunicou a eles sobre a sua nova
vida, independente, como sonhava tanto?
— Não fale assim comigo…
— Eu falo!
Ela começa a chorar.
— Eu errei, eu sei e estou sofrendo muito, não queria que as
coisas fossem desse jeito, nem o Paulo. A gente simplesmente
aconteceu, ele não me seduziu, ou eu seduzi a ele, juro que não foi
dessa forma. Estávamos bêbados, ele, triste e revoltado, pensando
em você. Eu tentei consolá-lo como uma ami….
— Para, Lupita. Eu não tenho mais nenhum sentimento pelo
Paulo, eu amo o Hoss com todas as minhas forças. Esse homem
entrou no meu coração de um jeito que eu nem sei explicar. A minha
maior tristeza é só por você, por estar nessa situação, com um
homem que não te ama e que é mafioso.
— O Hoss é um agiota e também executa pessoas, sabe
disso, não sabe?
— Mas nem se compara a máfia, que é uma organização
criminosa, além de que isso nem vem em questão agora. E, sim,
você, a sua felicidade.
— Que felicidade? Eu não tenho mais escolhas. Não posso
criar sozinha esse bebê, não posso fugir do Paulo, do seu pai, não
posso nada, eu sou dele, eu sou dos Borghi. Entende isso? Devo
me casar com ele. O chefe da máfia, o todo poderoso determinou
que sou obrigada a casar! Eu sou obrigada a ficar com um homem
que eu não amo e que ama a minha irmã!
Meus olhos ardem, pois quando Hoss me explicou a roubada
que a minha irmã havia se metido, eu adoeci um dia inteiro na
cama, chorando com crises de ansiedade, pensando nela. Ele
cuidou de mim, não saiu um minuto do meu lado. E ao lembrar
disso, eu não aguento e puxo a minha irmã para um abraço protetor.
Deus, ela é minha irmã, meu coração não consegue guardar
mágoas, não consegue...
— Você entende que eu não tenho escolha? Por favor,
perdoe-me, não me abandone, não me deixe sozinha. — Ela chora
nos meus ombros.
— Ei, eu estou com você. E te perdoo, não vou julgá-la ou
abandoná-la.
— Eu te amo, Elena, tem que acreditar em mim.
— Eu acredito. — Afasto o nosso abraço, seguro o seu rosto
e limpo as suas lágrimas. — Mas também o que mais me dói é
saber que dessa vez eu não posso te tirar do problema que se
meteu. Eles são poderosos, a maior máfia de Portugal.
Lupita chora mais.
— Só diga aos nossos pais a parte do “conto de fadas”. Eles
não merecem sofrer no Brasil com os nossos erros, riscos e
problemas. Entendeu, Lupita? Eu sei que é difícil, no entanto, faça
isso.
— Eu farei, também aceitei a minha desgraça. É tudo culpa
minha, o sequestro foi na intenção de vocês ficarem juntos, só que
acabamos fi...
— Chega de se lamentar, já aconteceu — interrompo-a. —
Tem que fazer o possível para passar por isso, vou estar de longe,
te ligando sempre… por mais que eu queira estar perto de vocês. —
Eu toco na barriga dela, ainda sem evidência de gravidez. —
Precisa ser forte pelo bebê, ele ou ela não tem culpa de nada. É
uma criança inocente.
— Estou de quatro semanas. Paulo me levou para fazer um
monte de exames ontem, ele está cuidando de mim… de nós.
— Eu confio nele, na parte em te deixar bem. Paulo pode ser
um bom homem.
— Não sei se pode mais. Ele sofre muito por você, noite e
dia. Quebra até as coisas quando bebe. Tenho medo de que essa
dor no seu coração vire algo que nos fira fisicamente. Além disso,
Paulo sofre com a morte do irmão, com essa escolha do destino em
fazê-lo herdeiro. Ainda tem o seu pai, o Sr. Borghi, que é um
monstro sem escrúpulos, nunca vi alguém tão frio e desumano.
Sinto que ele pode enlouquecer, ficar doente mentalmente, mais do
que está.
— Precisa ajudá-lo de alguma forma, Lupi, apoiá-lo em ficar
estável mentalmente.
— Estou tentando, mas não passo de uma responsabilidade
carregando outra responsabilidade para ele cuidar.
Sem ter o que dizer, volto a abraçá-la.
— Vai dar tudo certo.
— Eu preciso ir, não posso demorar mais.
— Ligue para os nossos pais, ok? Faça o que te pedi.
— Prometo que ligarei e não contarei nada.
Assinto, dou mais um beijo e um abraço nela, antes de
acompanhá-la até a porta. Mas, lá fora, choramos de novo,
declaramo-nos e abraçamo-nos pela última vez. Quando eu volto
para dentro, eu desabo em lágrimas, sentindo uma dor horrível no
peito.
— Por que tinha que ser assim, meu Deus?
— Elena? — Eu ouço a voz do Hoss e levanto a cabeça.
Ele arregala os olhos, correndo no mesmo instante até mim.
— Está chorando? O que foi? Cadê a sua irmã?
— Ela já foi embora, acabou de ir.
Hoss beija o meu rosto e limpa as minhas lágrimas.
— Sinto muito, é só o que posso dizer.
— Ela não pode fugir disso, nem eu tirá-la das mãos dos
Borghi.
— Pelo bem de todos e até mesmo dela, não podemos fazer
isso.
— Eu sei, não quero problemas, não quero te perder.
— É eu quem não quero te perder.
Ele me beija e eu me encolho no seu colo, quieta, triste e
carente de carinho.

Ao anoitecer, quando pensava em ficar na cama me


lamentando pela vida, Hoss me fez vestir um vestido escolhido por
ele e obrigou-me a acompanhá-lo até a boate Fogo. Disse que era
para eu me animar, dançar, beber e me divertir, pois o que tínhamos
para fazer, já fizemos.
— Não estou com clima para suportar a suas dançarinas.
— Larga de ser ciumenta, minha decoradora.
Eu o fuzilo.
— Sei que já fodeu com todas.
— No passado, eu era solteiro.
— Por isso hoje eu tenho que mostrar o lugar delas no
presente.
— Elena…
Ergo-me do meu assento e sento no seu colo. Deixo o
vestido tubinho subir de propósito até o topo das coxas. Logo que
estou aqui, vou aproveitar.
— Porra. — Hoss geme e alisa safado as minhas coxas. — É
muito gostosa.
Esfrego-me nele, nem aí para a plateia ao nosso redor. A
intenção é que nos vejam mesmo.
— Você é meu, Hoss.
— Se quiser, eu uso até uma coleira. — Sorri debochado, dá
um gole no seu uísque e inclina-se com a boca sobre o decote dos
meus seios.
— Sem vergonha.
Hoss coloca o gelo da bebida entre o decote e eu arfo,
arrepiando-me pelo líquido frio que escorre.
— Sabe a minha vontade, gatinha?
— De me penetrar bem gostoso? — Eu aliso o volume duro
do seu pau, toda a extensão, desde a base das bolas inchadas, até
a cabecinha quase perfurando a calça na virilha.
Ele também mergulha os dedos entre as minhas coxas
quentes e chupa o gelo dos meus peitos. Para as pessoas que nos
veem, com certeza, é um pornô público.
— Quero tacar você de quatro nessa mesa, com a bunda
bem empinada para mim. Vou dar tapas tão fortes que vai ficar um
dia sem sentar.
Os olhos dele cospem fogo, sua pele expele calor. Que
homem, e é meu.
— Por favor, vamos sair daqui…
— Por quê? Não está tão gostosinho assim?
O cretino mergulha ainda mais os dedos por dentro do meu
vestido, até a frente da minha calcinha de renda, ensopada por sua
causa.
— Não te vi vestindo essa calcinha — sussurra e eu sorrio.
Hoss criou um fetiche em me ver vestindo calcinha.
— Mas ainda pode me ver tirando… vamos ao toalete. —
Levanto-me do seu colo e ele aproveita para alisar o meu traseiro e
enconchar-me com a sua ereção, enquanto caminhamos para o
nosso destino.
Mas, no toalete, ele fica irritado pela porta principal não
fechar no trinco, como gostaríamos.
— Que porra, eu preciso te foder!
— Tem o quarto lá em…
Então sem um pingo de paciência, Hoss me puxa para a
última cabine, joga-me dentro com toda a sua ferocidade e desta
vez, tranca a porta. Arregalo os olhos, chocada e excitada.
— Eu quero comer você e vou comer aqui! Vira esse traseiro!
— Ele ordena tão poderoso que eu perco o ar.
Então viro, erguendo o meu vestido tubinho e exibindo a
minha bunda já roxa pelas suas chupadas de ontem.
— Você já me deixou cheia de hematomas ontem…
— Isso é uma queixa? — Ouço-o abrir o cinto, desabotoar a
calça e gemer ao liberar o pau.
Eu coloco a mão por trás, só para sentir a sua cabecinha
gosmenta de tesão. Seguro-me na porta, torcendo para ninguém
entrar nesse bendito toalete, pois não vou conseguir abafar os meus
gritos de prazer.
Ele me dá um tapa ardido bem no lugar onde está mais roxo.
— Hoss, inferno!
Eu xingo, porém, minha boceta pisca o desejando faminta.
— Gostosa do caralho!
Ele me gira de frente para a privada, eu ergo a perna sobre a
tampa, já agarrando a mão dele para me acariciar. O safado me
beija, afastando a calcinha de lado e num movimento sem dó,
enfiando toda a pica gigantesca dentro de mim. Eu grito de dor,
prazer e no exato momento, alguém invade o toalete, arregaçando a
porta.
— SEU PORTUGUÊS FILHO DA PUTA!
— Merda… — Hoss agarra o meu cabelo e geme um
palavrão na mesma intensidade que me arromba na boceta.
— Chega de enrolar, seu infeliz! Pague agora, ou você vai ver
a lei de um Calatrone em ação!
Eu reconheço a voz poderosa, grossa e rouca que invadiu o
local, é irreconhecível na verdade. Mas não aguento de tanta
satisfação pelas arremetidas do Hoss e solto um gemido alto, que
não consegui abafar.
— Caralho, Elena?
— Desde quando você conhece o gemido da minha mulher,
seu desgraçado dos infernos? — Hoss esbraveja tão puto, que
também desconta em mim, ao puxar com força o meu cabelo e
estapear a minha bunda. Seguro a raiva, num misto de tesão.
— Desde que o meu quarto fica abaixo do seu e escuto a
SUA mulher em berros, passando por momentos de tortura. Aliás,
Elena, você deveria ir na delegacia denunciar esse homem, ele vai
te deixar ainda sem andar, senão sem voz. Ah, e experimente
gargarejo com vinagre e sal.
— O-obrigada pelo apoio — eu respondo fraca e rebolo no
pau gostoso atrás de mim.
— Cuida da porra da sua vida e saí daqui.
— Estou realizando uma cobrança, não quero atrapalhar a
foda do meu casal preferido… mas caso queiram me convidar para
a festi…
Num movimento rápido, Hoss arranca uma arma de não sei
onde e atira para cima. Eu finco as unhas no braço dele e gozo
gostoso, tanto por achar isso assustador, como sexy e perigoso.
— Vaza, imundícia!
— É melhor nós…
— Ninguém falou com você, português cretino! Hoje vai sair
daqui sem um dedo, para aprender a nunca se meter com um
Calatrone! — Rael arrasta o cara para fora. Ele até chora por
misericórdia.
No meio disso tudo, meu homem explode dentro de mim,
quente, forte, gostoso e abundante. Segurou-me firme para não cair,
por mais que ele já esteja me apoiando bem protetor na cintura.
— Que delícia, em que parte fomos interrompidos mesmo?
— Eu quero essa arma dentro de mim… — murmuro louca
de tesão e esfrego nele. Seu pênis comprido vai subindo e
descendo na minha bunda melada de gozo.
— O quê? — questiona sem entender.
— A arma, eu a quero dentro de mim, masturbando-me.
— Puta que pariu, Elena, está louca?
Umas duas mulheres entram ao toalete e eu viro cara a cara
com o Hoss, beijando-o e massageando o seu pau de cabeça
vermelha.
— Você vai me levar para um motel, amor, e vai fazer o que
eu estou te mandando… eu quero essa arma na minha boceta.
Hoss xinga em murmúrios, louco, pirado comigo… ainda
assim o meu homem faz o que o ordenei. E faz tão rápido que
parece o flash.

Depois de realizar todas as vontades sexuais da minha


decoradora safada e faminta, eu a puxo para deitar sobre o meu
peito. Estamos quentes, suados e ofegantes. Nunca gozei tanto na
vida.
— Vou esconder as minhas armas, o único cano de calibre
25cm que tem que entrar em você é o meu.
Elena ergue a cabeça, mordendo a boca para não rir.
— Acho que o cano da sua arma passa de 25 cm.
— Safada, e passa mesmo...
Eu aperto a sua bunda e beijo-a, tascando ainda uma
mordida nos seus lábios saborosos.
— Repete o adjetivo que você me chamou antes de sairmos
daquele banheiro.
— Qual?
— Você sabe perfeitamente qual.
Elena escorrega a mão pelo meu peitoral forte, pensativa.
Daria tudo para ler a mente dela...
— Amor?
— Amor, Elena… — Suspiro.
— Você é o bobo mais apaixonado que eu conheço, só tem
cara de monstro barbudo, maldoso, que quebra ossos. Por dentro, é
um príncipe.
— Assim você acaba com a minha reputação, mulher.
— Mas isso vai ficar só entre nós… amor. — Ela alisa a
minha barba. — Quero te dizer uma coisa que há semanas não
estou conseguindo... Não interessa o seu passado com a tal Olivia,
eu sou diferente dela e você sabe muito bem disso.
— Eu sei. E acredite em mim, meu ódio, minha raiva por
aquela mulher e a sua mãe se tornou algo fácil de lidar. Não sei
como isso aconteceu, como meu coração ficou tão tranquilo. Nem
penso muito.
— Isso é verdade?
— Juro que é, você e a Maria são responsáveis por eu estar
assim.
— Fico feliz, Hoss. Sei que não somos perfeitos, mas quero
ser o melhor para você, quero que dê valor a quem realmente te
mereça.
— Eu quem devo ser o melhor para vocês. E eu te mereço,
ou não, pois você é incrível, Elena. Tão “normal” que, no começo,
cheguei a duvidar do seu caráter, pois agora sabe como é o meu
redor, eu sou um agiota, meu sobrenome me autodenomina assim.
Tenho inimigos, igualmente aliados fortes. Há cada instante
esperamos só coisas ruins.
— Entendo perfeitamente. Essa vida sua e da sua família
ainda está sendo um processo de adaptação para mim, e mesmo
assim, eu quero ficar. É minha escolha, minha felicidade.
Eu beijo a testa dela e seguro firme o seu rosto para que não
desvie os olhos.
— Casa comigo?
Elena fica boquiaberta.
— Eu ia preparar um jantar romântico, cheio de velas, vinho e
o escambau a quatro para fazer esse pedido, porém, foda-se, não
vou aguentar mais um dia sem ver uma aliança nesse seu dedo.
— Hoss...
— Depois, com certeza, a Hera vai me matar e querer fazer
um jantar de noivado, mas isso ela se vira.
— Hoss… — Elena, de repente, puxa o meu cabelo e sobe
para cima de mim, esfregando a sua nudez.
— Eu aceito me casar com você.
Meu corpo se esquenta, sinto o meu sangue ferver... estou
em chamas… por uma paixão? Loucura!
— É claro que você aceitaria, ai de você se dissesse o
contrário.
Eu a viro na cama.
Elena ri.
— E se eu não aceitasse?
— Você iria aceitar, ou te torturaria até ouvir o seu sim!
Eu mordo o bico do seu peito e ela geme de dor,
entrelaçando-se em mim.
— Ainda bem que eu já aceitei. Te amo.
— Também te amo.
As juras mais fortes consomem-se no fogo da paixão como a
mais simples palha.
William Shakespeare

No último dia do mês de agosto, eu e Elena resolvemos


finalmente comemorar o nosso noivado sobre a luz do luar, num
jantar muito luxuoso, organizado por ela e Hera. Uma noite linda,
com quase tudo perfeito; a família à mesa, rindo, comendo,
divertindo-se e fazendo discursos… exceto Rael. Ele não estava
partilhando da minha felicidade.
— Vai continuar com essa cara? — Tio Argus questiona após
parar ao meu lado.
— É a única que eu tenho.
— Ele deve ter seus motivos.
— E você sabe quais?
— Na verdade, não.
— Então não tente limpar a barra dele.
— Fique feliz, filho, você chegou até aqui pela Elena e ela
também por você. É uma mulher excepcional. Veja como está
feliz…
Argus me faz olhar para a minha decoradora, que está ainda
sentada à mesa, rindo com o Vince, Morcego e Hera. Ela está linda,
com seu vestido branco, longo, aberto em uma das pernas, seu
cabelo está um pouco preso, além de ter investido em uma
maquiagem leve. Tem um sorriso de dar inveja ao brilho da lua. Ela
me vê e manda uma piscadinha. Não aguento e sorrio, piscando de
volta.
— Ela diz que fez essa escolha por mim.
— E consequentemente toda a nossa família também fez por
ela, por vocês. A felicidade tem um preço.
— Acha que esse preço é muito alto?
— Estamos propensos a pagar preços altos por algo que nos
faz feliz. Só que, por enquanto, não pense em “valores”, só seja feliz
o máximo que puder. Assim como os teus pais foram. Os dois
fizeram sacrifícios para estarem juntos. Principalmente a sua mãe, a
portuguesa mais brasileira que eu já vi na vida.
— Ela amaria a Elena só pelo fato de ser do Brasil.
Tio Argus sorri.
— E ela amaria ainda mais você pela escolha certa que fez.
— Sinto falta dela. Você a conhecia mais do que qualquer um
de nós.
— Eu quem apresentei a sua mãe ao seu pai, sabia?
Também a levei para o Brasil. A gente era muito amigo.
— Eu sei de toda a história, exceto o motivo de tê-la levado
de Lisboa para São Paulo. Por quê fez isso?
— Ela me pediu, era necessário, e se eu não tivesse a
levado, vocês nunca teriam nascido. Agora aproveite da sua festa.
Após dizer as suas palavras carregadas de mistério, como
sempre, tio Argus tenta sair por cima, mas o paro pelo braço.
— E quando vai nos contar essa outra parte da história? O
que esconde de nós?
— Eu fiz uma promessa, uma promessa enquanto ela
agonizava no leito do hospital. E essa promessa morrerá comigo. E
repito, aproveite da sua festa, é merecedor dessa felicidade.
Mesmo com os dedos tremendo, eu solto o braço dele,
deixando que se vá. Chego ao veredito de que ele jamais contará
nada, nem que o torture até a morte.
— Hoss?
Elena aparece, caminhando em minha direção. No mesmo
momento, acalmo-me.
— Está tudo bem?
— Sim, apenas estava conversando com o meu tio. Hera
levou Maria para dormir?
— Levou. Amanhã, começam as aulas particulares dela.
Eu abraço a minha mulher e beijo-a, sentindo as minhas
forças se recarregarem.
— Eu quero o melhor para a Maria. Quero que ela vá para
uma das melhores universidades do mundo.
— Só que o senhor protetor ainda precisa criar limites, você
dá tudo para ela. Entendo que talvez seja a culpa pelo passado, por
não a ter assumido no começo. Mesmo assim, limites, para a Maria
não crescer uma criança mimada que consegue tudo o que quer do
pai rico.
— Prometo me controlar. E você está adorando puxar a
minha orelha — resmungo e aperto o traseiro dela.
— Estou mesmo.
Elena também aperta a minha bunda. Eu sorrio, cheio de planos
maliciosos para essa noite.
— Minha Sra. Calatrone.
— Não caiu a ficha que sou quase/futura Sra. Calatrone, tem
ideia disso? Esse sobrenome é poderoso, mais do que eu
imaginava, pude ver nos dois eventos que a Hera me levou essa
semana. Eles temem a vocês, é assustador.
— Sim, fora desse castelo e dentro da sociedade, temos um
poder inimaginável em mãos. Preferimos viver nas sombras, como
um mistério que causa medo e tremores a quem nos procura. Isso
até você aparecer na minha vida, dona Elena.
— E trazer o foco da máfia mais poderosa de Portugal… —
Ela abaixa a cabeça.
— Como o meu tio disse, a nossa felicidade está tendo um
preço muito alto — eu puxo a minha decoradora para mais perto de
mim —, mas eu pago a fortuna que for por ela, por nós. Entendeu?
— Ah, Hoss… — Ela me beija. — Por que meu coração fica
tão apertado ao pensar no nosso futuro?
— Porque é só o começo, tanto das coisas boas e ru...
— Não diga! — Elena volta a me beijar. — Nem pense nessa
maldita palavra.
— Não… pensarei… nem… direi… — murmuro, arrancando
sangue dos seus lábios. — Eu preciso foder você, sente isso? —
Esfrego a minha ereção na sua virilha.
— Tão duro...
— Tudo para o seu prazer.
— Hummm… eu gosto. — Ela alisa meu peitoral por baixo da
camisa, até o cós da calça e o volume da calça. — Você é
gigantesco em tudo.
— Isso é bom? — Fito o seu decote, sem evitar passar o
dedão no meio. Que vontade de mamar essas beldades redondas.
— É ótimo, é bruto, ferino, másculo, pura testosterona e meu.
Exclusividade meu.
— Assim eu me apaixono mais.
— É o que eu quero… tenho uma surpresa para você, vai
amar… vamos para o quarto.
Eu a solto dos meus braços, ansioso.
— Tem a ver com sexo? Sei que o seu período menstrual já
acabou, hoje você não me escapa, gostosa.
Antes de chegarmos na porta de vidro, eu passo a mão no
meio da sua bunda.
— Hoss… as empregadas.
Ela me afasta e volta a puxar o meu braço pelo castelo, até o
nosso quarto, o qual ela se mudou há poucos dias, sob a minha
exigência.
— Qual a surpresa?
— Calma, senta na cama que eu vou te mostrar.
Beijo-a e depois faço o que me pede.
— Eu sei que você queria muito isso…
Elena abaixa a intensidade das luzes do teto, coloca uma
música sexy no celular e volta para o centro do quarto.
— Ah, minha decoradora, é o que eu estou pensando? Porra,
não vou suportar.
— Vai, sim...
Elena começa a abrir o vestido. Minhas as mãos tremem com
a vontade de avançar e possuí-la sem piedade. Isso vai ser um
inferno, ao mesmo tempo que o paraíso.
— Elena… — gemo ao vê-la deixando o tecido cair em volta
das suas pernas torneadas.
Que mulher linda, gostosa, espetacular. E é minha!
A boca se enche de saliva pela visão dessa lingerie branca.
Quero arrancar com os dentes.
Elena dá uma voltinha de propósito, só para me enlouquecer
com esse traseiro.
— Que bunda deliciosa, quero morder.
— Quer é?
Ela dá alguns passos próximos, brincando com o elástico fino
da calcinha.
— Porra, morena, assim você judia do seu homem aqui.
— Eu gosto de judiar — responde e sobe as mãos vagarosas
para o sutiã, abre o fecho e revela os meus melões preferidos.
Meu pau pulsa sufocado dentro da calça.
— Essa é sua parte preferida. — Ela volta a atenção para a
calcinha, vira de costas e começa a deslizar a peça pela sua bunda,
coxas e pernas.
Não aguento, levanto-me em um pulo e ela foge ligeira.
— Hoss, comporte-se!
— Deixa eu pegar você para ver o estrago que eu faço!
— É para relaxar e ficar quieto.
— Como, Elena? Eu quero meter a rola entre essas pernas.
— Eu aperto o meu caralho duro.
Ela suspira e caminha nua na minha direção.
— Não avança, fica paradinho. Depois vai poder meter a rola
à vontade em mim.
Eu fico obrigado, só para não a impedir de ter o seu controle
também, por mais que isso seja um sacrifício. Ao mesmo tempo, ao
chegar perto de mim, eu a agarro pela cintura, envolvendo o calor
do seu corpo nas minhas mãos. Minha respiração fica cada vez
mais forte, ansiosa.
— Nua… você está nua nas minhas mãos.
— Estou, eu sou toda sua.
Elena percorre os dedos no meu abdômen, sentindo os meus
músculos definidos. Ao descer para o cós da calça, ela mergulha a
mão para dentro e encontra a cobra grossa que procurava. Ajudo-a
a tirar minhas roupas.
— Diz o que quer, amor, e eu faço… — sussurro,
mordiscando seus lábios e acariciando a sua bunda.
Nessa acariciada, não evito escorregar o dedo para os lábios
da sua boceta inchada, que escorre melzinho quente.
— Deita na cama… — manda e segura o desejo explícito de
gemer com meu toque.
Eu a solto e, em vez de deitar-me, eu me sento na beirada do
colchão. E só para enlouquecê-la, começo a me masturbar. Elena
para na minha frente, fixa ao meu pau ereto e babento, que acaricio.
— Como isso é delicioso.
Ela não aguenta e ajoelha-se. Alisa as minhas coxas, a virilha
e toca nos testículos.
Caramba, aperto os olhos para não gozar.
— Chupa, passa essa língua na minha rola.
Ela sorri e segura no meu pau, primeiramente lambendo a
glande vermelha e brilhante pela lubrificação, depois a extensão dos
centímetros. Quando começa o boquete, Elena me devora como se
a vida dela dependesse disso. Agarro os seus cabelos, pirado de
tanta excitação.
— Elena…
Ela para as chupadas, punhetando-me e retornando com a
boca, com mais força, alternando na cabeça, na extensão e
engolindo o pau todo. Eu contraio, delirando com as chupadas. E
xingo, xingo como um alívio pela satisfação do prazer. Ela fica assim
por minutos, até onde eu suporto e gozo.
— Hummmm… — ela geme, lambuzando-se com a esperma
e quase cuspindo.
Seguro o seu pescoço sem dó.
— Fazendo careta, minha decoradora? Engole tudo! Anda!
E ela engole, ofegante, tossindo.
— Deliciosa.
Eu a puxo pelos quadris, não resistindo a mamar os seus
peitos.
— Ahh… isso é tão bom. Quero gozar assim.
Realizo a sua vontade por quase meia hora. Mamo seus
peitos deliciosos sem a menor pressa de parar, só paro depois dela
chegar no seu orgasmo também. Um justo empate.
— Meladinha.
Brinco com seu melzinho que escorre nas paredes da coxa.
Elena me beija, subindo numa das minhas coxas,
esfregando-se. Sinto a carne do clitóris se movendo, lambuzando-
me. Ela rebola, massageando meu pau duro como rocha
— Vou te comer por trás, dona Elena.
Puxo forte os seus cabelos, mordiscando o seu pescoço. Ela
grunhe de dor pelo puxão bruto.
— Preciso de você dentro de mim.
— Precisa?
Assente e aperta a minha glande.
Não aguento, numa rapidez descomunal, eu a jogo de bruços
na cama, ergo os seus quadris e coloco-a de quatro, com o rabo
empinado para mim, ainda dou um tapa cheio, bem ardido. Ela grita,
quase engatinhando para fugir.
— Hoss, inferno! Ai!
Compenso sua dor subindo na cama e passando o pau entre
o seu traseiro. Tudo vira um delicioso prazer.
— Por favor…
Ouço a sua súplica e arqueio-a ainda mais na cama para
penetrar de uma vez na sua boceta, bem fundo. Ela grita, quase
chorando. Elena me xinga em berros, mas começo imediatamente
as estocadas impiedosas. Seus berros são substituídos pelo prazer,
respiração fundas, gemidos, grunhidos, minha mulher vai aos céus.
Eu também.
Eu seguro nos lençóis da cama, com as costas arqueadas, os
cabelos caídos na testa suada e meu corpo vibrando a todas as
arremetidas violentas do monstro dotado atrás de mim. Meu
monstro!
— Ahhh!
Sinto-me prestes a explodir. Hoss mergulha os dedos no meu
cabelo, puxando-me de encontro ao seu peito, e encaixo a bunda no
seu colo. Meu abdômen contrai, minha boceta pisca e eu gozo,
rebolando de forma desesperada nele. Seus jatos quentes e fortes
também me preenchem por dentro.
— Quando goza, sua vagina me aperta pra um… puta merda,
um caralho.
Eu aperto ainda mais o seu pau de propósito após ouvi-lo
falar. Hoss pulsa, mas não sai de dentro de mim. Recuperamos o
fôlego e beijamo-nos.
— Sabia que assim me sinto parte de você, literalmente.
— Como se fossemos um?
— Como se fossemos um quebra-cabeça que se encaixa
com perfeição.
— Você é a única peça que se encaixa comigo — confesso
tão de repente que me surpreendo.
Hoss beija as minhas costas e massageia os meus seios. Eu
passo a mão no seu pau encaixado por trás, na minha boceta. É
delicioso senti-lo desse jeito, conectado a mim, ao meu prazer.
— E sempre serei, minha decoradora. É a peça que faltava
na minha vida. Você e a…
— ... anãzinha — completo a sua frase e sorrio.
— Exatamente, aquele grão de arroz em pré-cozimento.
— Você não existe. — Começo a rir.
— Claro que existo… não sente eu dentro de você? — Ele
aperta meus quadris e mexe com meu traseiro para o seu pau ir
mais fundo em mim.
Eu jogo a cabeça no seu ombro, em delírio pela satisfação.
— E como sinto o seu delicioso pedacinho…
— Pedacinho, dona Elena? Mas, como ousa?
Mordo os lábios para não rir e acabar apanhando desse bruto
impiedoso.
— Está rindo?
— Claro que não, meu amor esquentadinho.
Afasto-me dele, desencaixando-me do seu pau e saindo
rápida da cama.
— Elena!
O meu homem me alcança pelos quadris e pega-me no colo.
Eu gargalho, mas é pela tamanha felicidade que sinto de tê-lo e por
estar vivendo estes momentos de prazer, amor e carinho. Fazemos
amor incontáveis vezes por semana, em todos os cantos
imagináveis do castelo. É insaciável, aventureiro, louco! Já nos
cansamos de ser pegos pelo Vince, Rael, Hera, Morcego e até os
empregados. Ainda assim, não tem como controlar o fogo do Hoss,
nem o meu.
— Eu amo você.
— Eu também te amo.
Beijo-o, mostrando na prática como as minhas palavras são
reais. Até sermos interrompidos por batidas na porta.
— Agora? Quem será essa hora da madrugada?
Franzo o cenho, lembrando-me de que estou só de toalha.
Acabamos de sair do banho, só que ele já vestiu o short.
— Pode ser Maria, a Hera disse que ela anda tendo muitos
pesadelos, só essa semana foi correndo para dormir duas vezes
com ela.
— Vou ver então se é a anãzinha.
Hoss me dá outro beijo e sai pelo corredor do quarto, indo até
a porta principal. Eu não entro no closet para me trocar, continuo de
pé, secando os cabelos.
— E como isso, Vince?! — não se passa nem um minuto e
Hoss badra do outro lado, assustando-me.
Eu corro para o nosso quarto e vejo-o sacudindo o irmão.
— Hoje vai fazer dois dias que ele sumiu sem nos dar
notícias, a máfia só pode ter o levado.
— Se for verdade, vão torturá-lo. — Hoss larga Vince e chuta
a mesinha perto da porta, em descontrole, nervoso. — Eu sabia que
ele iria se vingar de alguma forma. Eu sabia!
A felicidade tem mesmo o seu preço, assim como o amor.
Meu tio tem razão ao dizer isso. Ele sempre tem. A minha e da
Elena está sendo cara, difícil. Está custando a vida das pessoas que
mais amo no mundo, a da minha família.
— Hoss?
A minha prima bate na porta, já entrando.
— O que foi?
— Está nesse escritório desde ontem de tarde. Elena, eu e
todos estamos preocupados. Chega, sai daqui, por favor.
— Faz quinze dias, Hera, a porra da escolha que eu tenho é
esperar!
— E vai esperar assim? Jogado nessa sala, bebendo
garrafas e mais garrafas de uísque?
— Eu não bebi hoje.
— Isso é ótimo, não está fazendo mais do que a sua
obrigação!
Eu passo a mão no cabelo e ergo-me da cadeira, afetado
pelos pensamentos no meu irmão.
— Rael não dá notícias, ele não nos procura, não dá nenhum
sinal de vida.
— Hoss… — Ela chega perto de mim e segura o meu rosto.
— Não é só você que está sofrendo. Precisa ser forte por nós.
Vamos ter fé que o nosso irmão está bem. Se você ficar assim, vai
destruir o pingo de esperança que nos resta. — Hera chora. — Está
difícil, mas preciso de você. Elena, Maria, Vince, Argus, todos
precisamos de você.
Suas palavras são como um murro na minha cara, só me
fazem sentir mais dor. Eu a abraço apertado, segurando-me para
não chorar.
— Eu amo você, seu monstro.
— Eu também te amo, formiguinha.
Ela sorri, sem ficar irritada por seu apelido odiado.
— Precisava ficar isolado, entende? Só encher a cara e
sofrer sozinho.
— Tá bom, eu te entendo, agora volte para nós, não me
deixe mais preocupada do que estou.
Assinto e respiro fundo.
— Vem, vamos sair daqui…
Hera puxa o meu braço, quase me arrastando para fora.
Sofro mais ainda por vê-la assim, tentando me reerguer
mesmo estando pior do que eu.
Deixo que ela me guie até a sala, onde se encontra toda a
nossa família. Está frio, anoitecendo, e devido ao sumiço de Rael,
começou a virar costume nos reunirmos neste horário. Na verdade,
começou pelo tio Argus exigindo, agora é quase que lei, como as
reuniões às quintas.
— Olha só, o bêbado apareceu — Vince debocha, erguendo
o seu copo cheio de álcool.
Nem faço questão de respondê-lo, pois Maria corre até mim.
Pego a anãzinha no colo. Ela sorri, abraçando-me. E é sempre o
melhor abraço que já recebi na vida.
— Quero bater em você e também não quero.
— Quer bater em mim?
— Sim... eu não te vi, e tia Elena não me deixou te procurar.
Fiquei triste.
— Eu estou aqui.
— Não vai ficar longe mais?
— Prometo que não.
Elena caminha até nós e Maria ergue os olhos, desviando
rapidamente dela, depois retornando a mim e abaixando de novo.
— O que foi?
— A tia… — Maria aperta a minha camisa. — Disse para não
contar.
— Contar o quê? — Arqueio a sobrancelha. — Maria!
— Tia Elena ficou dodói de madrugada e tia Hera e eu
dormimos com ela.
Quando Elena finalmente chega perto de mim, viro-me na
sua direção, encarando-a num misto de sentimentos que não
consigo nem descrever.
Ela nota tudo, já que olha para a Maria e aperta os olhos,
resmungando algo.
A pequena tenta descer rápido do meu colo, como se
quisesse fugir. E quando a solto, ela corre até Hera.
— Passou mal a madrugada inteira e não me avisou, não me
disse nada? — meu tom é tão alto que todos nos olham e disfarçam.
— Precisamos conversar em outro lugar.
— Mandasse pelo menos o Luiz me avisar ontem!
— Hoss… e como eu faria isso? — Ela chega mais perto de
mim, pressionando o meu peitoral e sussurrando: — Estava
bebendo desde ontem à tarde, trancado naquela sala. E não foi
nada demais.
— Nada demais? E o que sentiu?
— Um mal-estar… fiquei muito preocupada com você e com
tudo o que está acontecendo. Sei que ontem chegou no seu limite,
quis ficar sozinho e respeitei isso.
— Sim, eu precisei.
Tomo-a nos meus braços, sem me importar com a plateia à
nossa volta e beijo-a.
— Tem horas que a solidão pode ser um bom remédio.
— É sim. — Ela respira fundo e acaricia a minha barba. —
Tenho que te contar uma coisa.
— Humhum… — Hera pigarreia de longe.
Elena olha para ela, faz algum sinal e a seguir, fita-me.
— É sobre o Rael? — não evito soltar a pergunta
desesperada.
— Hoss… — Elena chama de volta a minha atenção. Noto
que está chorando. Isso me deixa ainda mais assustado, em
desespero.
— Elena, por que está chorando? O que foi? Porra, o que
houve? O Rael, ele...
— Você não sabe como eu também gostaria que fosse uma
notícia sobre o Rael, mas é outra, que eu devia te falar a sós, agora
vai ser aqui. Se você vai ficar feliz ou não, eu não sei.
Engulo a saliva, acalmando-me.
— Então diga. Diga logo, ou eu vou enlouquecer.
Ela pega trêmula a minha mão e leva até a sua barriga.
— Descobri que estou grávida.
— O quê?
Arregalo os olhos e só vejo Hera correndo até nós, Vince,
Argus e Morcego se levantando em um pulo e adiante, a minha ficha
caindo.
— Grávida?!
Puta que pariu!
— Grávida mesmo?!
Ela assente em lágrimas, sem parar de mexer a cabeça.
— Também, o tanto que esses dois transam, deve ser até
trigêmeos.
— Vince! — todos o repreendem.
Eu ergo o queixo da minha mulher, ainda sem acreditar nessa
notícia.
— Está esperando um filho meu?
— E de quem mais seria? De um avestruz, não é.
— Vince!
— O quê? É só para descontrair...
Elena gargalha, mesmo em lágrimas. Pela segunda vez, eu
nem ligo para o energúmeno do meu irmão, tudo o que me importa
nesse momento é ela, a mulher da minha vida.
— Sem dúvidas, eu estou esperando um filho seu, a minha
menstruação está atrasada e os quatro testes de gravidez que a
Hera comprou ontem deram positivo.
— Foi só para termos a certeza mesmo...
— E que certeza, QUATRO testes.
— Hoss? — Ela fica apreensiva.
— Meus Deus, é inacreditável! Você chegou na minha vida
para decorar meus dias e ainda está me dando um pedaço de nós.
Não suporto e choro de verdade, um pouco aliviado por estar
há quinze dias só sofrendo pelo meu irmão, sem ter nada que me
deixasse tão feliz desse jeito. Ainda assim o queria aqui,
compartilhando dessa notícia comigo, ao meu lado. Só peço a Deus
que esse infeliz esteja vivo em algum lugar. Preciso que esteja.
Choro mais do que antes, acariciando a sua barriga.
— Vou ser pai! De novo!
— Maria vai ganhar um irmãozinho ou uma irmãzinha.
— Escutou, Maria? — Hera a questiona bem alto.
Ela sobe em cima do sofá, os seus olhinhos brilham.
— Pode ser irmãzinha? Eu tenho muitas bonecas e vou ter
alguém para brincar!
— Deus do céu, é mais uma piolhenta para destruir o castelo,
isso sim.
— Ninguém tá nem aí, tio Vince. Humm!
— Isso aí, ninguém tá nem aí, seu polaco azedo. Eu vou ser
tia-prima de novo! Ahhh, que maravilhoso!
— Parabéns, filhos.
Tio Argus deixa os outros para trás e vem nos abraçar, cheio
de palavras de carinho. Depois a Hera, o Vince e o Morcego fazem
o mesmo.
Por fim, Elena me dá o mais lindo sorriso que os anjos
poderiam me fornecer, então selo os nossos lábios num beijo de
amor, acima de tudo feliz, realizado e em chamas. Ela me alimenta
noite e dia. Estou vivo como fogo.

Fim
Rafaela Perver é uma Sul-mato-grossense que começou em sua
carreira de escritora aos onze anos de idade. Suas primeiras
histórias eram contos, onde escrevia em cadernos. Hoje, com vinte
anos, já coleciona sete livros publicados. Seu gênero preferido é o
romance erótico. É estudante de Letras – Português e Inglês – e
atualmente vive com a família em Campo Grande – MS, sua cidade
natal.
Olá, espero que tenham gostado de acompanhar a história de
Hoss. Amei escrever cada capítulo, viver as emoções, o amor do casal.
Esse foi o primeiro livro da série Agiotas Em Chamas, com Hoss e Elena.
O próximo lançamento é a continuação, com o segundo irmão
agiota. Rael vem aí como um vulcão em ebulição.
Não deixem de me acompanhar nas minhas redes sociais, para
não perderem datas, notícias e tudo mais.
Sua avaliação é muito importante para mim. Também não deixem
de avaliar Hoss. Grande beijo e nos vemos em breve, em Rael.
LIVRO FÍSICO DE HOSS

Já se encontra entre nós o formato físico de


Hoss, da autora Rafaela Perver.

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Me tenha (Livro 1 da Série Alencar)
Me Conquiste (Livro 2 da Série Alencar)
Homem De Verdade (Livro 1 da Duologia Verdade)
Sereyma (Livro Único)

[1]
Veneno para ratos.
[2]
Um sofá redondo de jardim.
[3]
Anfitrião de um restaurante.

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