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Copyright © Rafaela Perver, 2021

Todos os direitos reservados a Rafaela Perver. É proibida a reprodução de


parte ou totalidade da obra sem a autorização prévia da autora. A violação dos
direitos autorais é crime, estabelecido na lei nº 9.610/98, punido pelo artigo 184 do
código penal.
Todos os personagens desta obra são fictícios e qualquer semelhança com
pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência.
Texto revisado conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
(Decreto Legislativo nº 54, de 1995).
Em metamorfose pelo amor....
— Droga, Kiara, você tem que aguentar! Estamos muito perto!
— Eu não vou conseguir, eu não vou!
Ela chora no banco de trás, enquanto eu dirijo a mil na estrada, e faz força,
gritando e chorando. O desespero começa a tomar conta de mim.
— Não vai dar tempo, o bebê vai nascer aqui! Eu estou sentindo! Por favor,
para, Anton! Para e me ajuda!
— Porra!
Eu, então, freio o carro no acostamento, respiro, abro a porta e desço
desesperado. Minha camisa está ensopada de suor. Meu coração só falta saltar do
peito.
— AAAAHHH!
Abro a porta dos passageiros, vendo a Kia deitada, de pernas abertas,
fazendo muita força na enorme barriga. O temor de perdê-la me assusta. Seu rosto
está vermelho, pálido.
— Anton, tenha calma! AAAAHH! — Ela grita, apertando o estofado e o
banco da frente.
Olho entre os lábios dilatados da vagina, um pouco da cabeça do bebê.
Respiro mais fundo, tentando manter o controle sobre mim e o meu desespero da
adrenalina.
— Estou vendo a cabeça.
— Preciso fazer mais força! AAAAAAAA!
Ela faz, só que ainda não é o suficiente.
— Mais força, Kiara! Não para! A cabeça está vindo!
— Meus Deus... AAAAAAAAAAHHH! — Respirando o último fôlego que
lhe resta nos pulmões, Kia força tudo o que pode, semicerrando os dentes em berros
e eu seguro a cabeça do bebê, apoiando o restante do corpo que escorrega pela
vagina com o cordão umbilical.
Tremendo as mãos, eu elevo a bebê, que começa a chorar em instantes. Seu
pequeno corpinho está sujo de sangue e esbranquiçado. Kia cai no banco, sem
conseguir falar nada. Ela arqueja desregular, cansada e suada desde o cabelo a testa
e o busto do pescoço.
— É a nossa menina — é só o que eu digo e Kiara tenta olhar para ela que
chora alto nos meus braços, emocionada com os seus olhos brilhantes.
Eu sorrio, estendendo a bebê para ela pegar.
— Preciso... — aspira fraca. — Preciso de algum pano na bolsa, para enrolá-
la e para limpar seu rostinho.
— Tá bom... — Enquanto a Kia abraça a nossa pequena menina no peito,
aconchegando-a para acalmá-la, eu abro a bolsa do chão e pego um pano rosa, de
babados brancos.
— Você está bem, Kiara? — Eu dou o pano rosa para ela.
A preocupação, o medo, tudo começa a voltar. Minha camisa continua
ensopada de suor, os batimentos não melhoraram devido a adrenalina.
— Estou, amor. Tenha calma. Vou conseguir chegar até o hospital. Eu e a
nossa princesa Melina.
Um pouco "aliviado", ajudo-a a se sentar, beijo a sua testa, a nossa bebê e
corro para o volante, para chegarmos o quanto antes na cidade. Ainda temo de não
ter mais a Kiara ou a nossa filha, de perdê-las.
Eu não aceito nem pensar nisso!
Três meses depois...

Eu fico parada no batente da porta, assistindo o Anton lutar para levar o


mamão cortadinho do prato na boca do nosso bebê de dois anos. Gieber não sabe se
come ou brinca com os presentes que ganhou do seu bisavô Heleno.
— Mais duas colheres, Gieber.
— Não quelo... — ele resmunga com a voz fininha de neném, que mal sabe
formular frases compreensíveis.

Eu sorrio, aproximando-me do quartinho dele e da Melina. Tem brinquedos


espalhados por todos os cantos.
— Ele vai ficar bravo — digo e Anton me olha com a sua face séria, de
barba rente, que está a três dias sem fazer.
— De onde ele tirou que deve odiar frutas?
— Você também não gosta de maçã, nem de morangos. E Gieber odeia
mamão.
— Há seis meses atrás, ele gostava.
Dexter se ergue da poltrona, coloca seu chapéu negro na cabeça e estende-
me o prato. Eu chego perto do seu enorme tamanho, tendo que ficar nas pontas dos
dedos para poder beijá-lo.
— Melina melhorou?
— Sim, dei um banho morno nela hoje de manhã e mamãe fez um chazinho
de camomila. É apenas uma gripe. — Abraço o Anton.
— Se der outra febre, devemos chamar a médica.
— Sim, e talvez só amanhã chamarei a doutora, pois hoje temos o evento
chato que você quer me obrigar a ir — emburro, voltando a fitá-lo.
— Você sabe que deve ir. E aviso que nada desses vestidos indecentes seus,
de decote revelador no peito e justo na bunda. — Ele apalpa meu traseiro com força,
tirando suspiros de mim. — Só eu devo admirar a minha mulher!
— E-Eu não tenho culpa dos outros homens me olharem, amor — sorrio,
deixando-o bravo.
— Você já saiu no jornal esse mês com aquela roupa apertada. Acha que eu
gostei?
— Hum... não? Pois quase me deixou sem andar no dia seguinte... —
sussurro, tocando na sua barba e nos seus lábios, sem medo nenhum de irritá-lo. —
Também saiba que você é meu marido e detesto aquelas dondocas idiotas da capital
se insinuando para homem casado.
— Digo o mesmo em relação aos energúmenos que te olham.
— Mamãe... — Logo abaixo de mim, Gieber puxa a barra do meu vestido,
chamando-me e interrompendo-nos.
Eu dou um selinho na minha fera bárbara, indo dar atenção para o meu
segundo Dexter, que pede para eu colocar a rodinha que caiu do seu carrinho. Esse é
o pai em tamanho pequeno. Só sabe estar bravo e nervoso. Ah, além de ser muito
impaciente, só para com as birras quando o Anton impõe a voz ou a presença. Nem
acredito em como está crescendo. Até a Melina. Ela fez três meses ontem, mas
parece que nasceu a uma semana. Como passa rápido. Até sinto falta do enorme
barrigão, principalmente das massagens que o Anton me dava antes de dormir. Ele
gostava de ficar tocando, beijando, às vezes, até colocava o ouvido na barriga para
tentar ouvi-la. Dexter era e é todo bobo. Após realizar o nascimento marcante da
nossa filha, ele mudou mais ainda. Melina o fez se assumir, se apaixonar e amar ser
pai. Sempre que possível, quer fazer parte dos momentos com ela e com o Gieber;
dos banhos, das trocas de fraldas, da alimentação, da hora de dormir. É um super
paizão. E ele ama tudo isso.
Mais tarde, depois de almoçar, Anton volta ao trabalho na fazenda e eu vou
dar uma olhada nas minhas roupas de festa.
No closet ao lado, escolho o vestido mais provocante que eu tenho. Nem
morta que eu vou me rebaixar as bruxas idiotas da cidade e das redondezas que me
chamam de selvagem do mato. Tudo invejosas. É maravilhoso sambar a minha
beleza e a minha autoestima no ápice a elas. Ainda tenho preferência de que me
chamem de Sra. Dexter, esposa do sonho de consumo das filhas de madames e até
das próprias madames descaradas. Felizmente, elas só ficam no sonho.
— Só quero ver a cara dele quando me ver com este vestido — estendo no
alto o cabide cinza, para que Sônia, minha empregada, possa vê-lo.
É um vestido rosa ouro, em lantejoulas, de mangas compridas, justo e meio
curto. Paguei mais de seis mil, convertido do euro para o real.
— M-Meu Deus, Sra. Dexter. É a coisa mais linda que eu já vi na minha
vida! — Ela coloca a mão na boca, hipnotizada.
— Eu comprei durante a minha viagem com o Anton para a Europa há um
ano e alguns meses. Nunca pude usá-lo. Você sabe, devido a gravidez. No entanto,
voltei ao meu corpo normal, agora cabe como uma luva.
— Estou sem palavras. Sr. Dexter vai sentir muito ciúmes hoje. Com a sua
beleza de rosto, corpo e cabelo então... quero nem ver. O patrão ficará bravo com a
senhora.
Sorrio, achando graça da cara de preocupação dela.
— É, ele vai. E isso é o segredo para enlouquecê-lo. Assim seus olhos
ficaram bem atentos a mim e aos outros homens curiosos, para nem chegarem perto
da sua esposa. Sem falar daquelas madames. As odeio, são uma cambada de galinha
rodeada por joias e roupas de penas milionárias. Morrem de inveja, querem me ver
mal, para baixo. E ficam me provocando ao falar do Anton.
— A admiro muito, é humilde, trata todos por igual. E jamais será como
elas, Sra. Dexter. Sua beleza não é só externa. Elas não chegam nem ao seu dedinho
do pé. Fazem e dizem maldades porque queriam estar no seu lugar.
— Isso é verdade... — mamãe fala de repente ao aparecer de surpresa na
porta, com a bebê no colo. Eu olho derretida para as duas. — A doce Mel sente
muito por interromper o papo, mas ela quer mamar, estava chorando comigo lá na
sala pela mamãe e o seu sagrado peito. Faltou devorar os dedinhos.
— Vamos perdoar a pequena princesa — Sônia brinca, pegando nas
mãozinhas dela. — A pequena princesa Dexter.

Sorrio, sentando-me na cama para dar de mamar a ela, após a mamãe


entregá-la. Sônia logo pede licença, deixando-nos a sós.
— Você está se arrumando para ir ao evento do prefeito?
— Ainda não, porém, é com esse vestido que eu vou.
Mamãe o observa na cama, admirada.
— Você adora deixar o seu marido irritado e enciumado. Esse vestido é
muito provocante.
Sou obrigada a rir, assumindo que eu gosto. O que não é segredo para
ninguém, nem para ele.
— Repito o que disse para Sônia, esse é o segredo para enlouquecê-lo e para
aquelas dondocas metidas verem que eu não sou uma selvagem do mato, sem classe.
Elas são como a Lorenza, pessoas más e que só pensam em dinheiro.
— Não entendo o porquê de se importa com elas.
— Não me importo, só não quero nunca mais me sentir feia, sem classe, e
humilhada por essas mulheres da alta sociedade. Sei que o Anton me protege,
entretanto, sou eu quem preciso ser forte. Ser a Sra. Dexter. Com respostas
inteligentes e que mande elas a merda de conversível na maior educação.
Minha mãe ri, balançando a cabeça. Eu acaricio a minha filha que está
mamando, e também me rendo ao riso.
— Quero causar calafrios igual ao Anton quando chega nesses eventos.
Todos o admiram e faltam lamber os seus pés. Ainda não passo esse sentimento de
admiração.
— Claro que passa, os jornais e revistas da cidade de Montes Do Sol te
amam. Vivem lhe elogiando. Sem falar das moças humildes do interior ou da
capital, elas te admiram.
— Só que as riquinhas metidas não. Mas sei que nem Jesus agradou a todos.
Por isso, não sou obrigada a aturar essas cobras pelo alto grau político de seus
maridos, ou delas mesmo.
— Acho que está assim por elas te excluírem, né?
— Estou acostumada a não ter amigas. Não é por isso. E, na verdade, eu
nem sei. São elas que se juntam para me difamar. Principalmente as moças novas.
— Sabe que é inveja. Não ligue. Continue pensando que deve se impor.
Impor quem é, e de quem é casada.
— É o que farei esta noite, dentro desse vestido caríssimo, de saltos,
maquiada, meus cachos loiros definidos e de joias raras, feitas sob encomenda. Ah,
e muito cheirosa.
— Meu Deus, só digo tadinho do Anton.
— Tadinha de mim — sorrio. — Né, filha? — questiono, sem desviar os
olhos dela e das suas íris azuis, que me olham enquanto suga o peito. Ela ri
banguela. Tenho certeza de que concordando com a mamãe.
Ao entardecer, finalmente me arrumo; tomo banho, defino os cachos, passo
um hidratante corporal, faço a maquiagem que aprendi com a Sônia, visto o vestido
e finalizo com os saltos, joias e perfume. Pronta, admiro-me no espelho, sentindo-
me linda e poderosa. Aquelas metidas que me aguardem.
— Kiara, eu estou te esperando, você ainda não está... — Anton, então, entra
no quarto, interrompendo-se brusco na porta ao abri-la e me ver.
Eu inclino a cabeça, percebendo que ele ficou impressionado e chocado
comigo, e sorrio.
— Já estou pronta. O que achou de mim? — Dou uma volta para que ele
possa me analisar direitinho.
Ele fecha a cara, voltando a me fitar bravo e silvestre.
— O que eu disse na hora do almoço entrou num ouvido e saiu no outro?
— Sobre o quê?
"Desentendida", eu vou até a cama pegar a minha bolsa carteira.
— Sobre esses vestidos apertados! Você está linda demais!
— Obrigada pelo elogio, amor.
Caminho até ele, igualmente analisando a sua roupa social. Ele está de
camisa cinza, calça preta, sapato preto e o sagrado chapéu negro, dando ar
intimidador ao meu todo poderoso.
— Você vai ver o elogio mais tarde, Kiara.
Arrepiada, coro as maçãs do rosto.
— Eu estou me sentindo bonita, desejada. Isso é bom. Não estraga. Agora
vamos.
— Não estraga... — resmunga, pegando na minha mão para me tirar indócil
do quarto, fechar a porta e descermos juntos. — O único que tem que te desejar
mulher, sou eu, o seu marido!
Deixo-o com os seus resmungos até chegarmos na sala, onde ele para de
murmurar também sobre como eu estou gostosa, para eu poder informar a mamãe
que se demorarmos, para dar o leite complementar para a bebê e que não deixe o
Gieber ir para cama muito tarde, nem que saiba que a gente saiu. Se não meu
principezinho fica chorando chamando o papai e a mamãe. À noite, ele já se
acostumou conosco lendo historinhas, mas mamãe diz que hoje ele dormirá com ela.
— Não tome nada suspeito. Se possível, evite os vinhos... — Na
caminhonete, Anton vai recitando todos os cuidados que devemos ter no lugar onde
será o evento político do prefeito.
Depois do julgamento polêmico de quinze anos do ex-governador Teodoro,
que arquitetou a morte do seu pai ao lado da sua mãe (entre outras sujeiras políticas
dele), Anton tema por novos atentados contra nós. Em breve, esse assassino pode
pagar por seus crimes em liberdade e se vingar por raiva. Já que é perceptível que
ele deseja o Dexter morto.
— Está cheio... — Após uma hora e cinquenta minutos de estrada, ao
entrarmos na pequena chácara que acontece a festa do evento do prefeito, a gente
avista centenas de fileiras de carros luxuosos, um arrepio me corre na espinha.
— Por favor, amor, não me deixa sozinha, tá?
— De forma alguma, eu faria isso — ele declara, dando uma olhada nas
minhas pernas. Eu percebo o seu olhar severo devido a luz brilhante que vem da
entrada da mansão chique. — Há milhares de motivos que me fariam pegar uma
corda e te amarrar em mim. Você é muito inocente para más intenções. Além de que
temo pela nossa segurança.
— Não sou inocente para más intenções.
— Prefiro não discutir as provas que te contrariam nisso.
Ao parar com o carro, eu tiro o cinto, mantendo o meu olhar semicerrado
para ele. Não sou inocente em nada. Ainda provarei a minha capacidade para
detectar pessoas ruins e de má índole.
— Boa noite, senhor.
Anton entrega a chave do carro para um dos rapazes que estão
uniformizados de vermelho na frente e entramos de mãos dadas no local, já
recebendo olhares de convidados espalhados pela varanda requintada.
— Sr. Anton Dexter? Sra. Kiara Dexter? — A moça confirma os nossos
nomes na entrada e informa-nos para continuarmos caminhando na trilha calçada de
pedras, pois o evento está acontecendo por trás da bonita mansão branca, no jardim.
Passamos entre bonitos coqueiros iluminados por luz verde, uma ponte de
madeira que embaixo corre um riozinho, até chegarmos enfim na festa que está
lotada. Meu Deus, na verdade, eu cheguei ao inferno. As pessoas, inclusive, as
mulheres bem arrumadas, já nos encontraram. Tem algumas virando ligeiras para os
ouvidos das outras e dos seus maridos. Os holofotes começam a se direcionar em
segundos para nós. Achei que fosse demorar um pouco mais as atenções.
— Posso dizer que cheguei ao inferno?
— Fique à vontade.
Anton segura mais firme a minha mão, fazendo-me acompanhá-lo devagar
pela lateral.
— Dexter? Meu velho amigo! — O prefeito Aldo, que estava conversando
com alguns homens ao lado da mocreia da sua esposa novinha e cheia de plásticas,
após nos ver se aproximado da recepção, deixa os rapazes falando sozinhos para se
direcionar, animado, até nós.
— Olá, Aldo.
— É tão bom te ver por aqui. É uma honra, obrigado pela presença.
— Não a do quê. — Os dois dão um aperto de mão.
— E olá, Sra. Kiara, tudo bem? — Também aperto a mão dele, apenas
assentindo.
— Estamos nos sentindo privilegiados com celebridades — Luciene, a
mocreia loira, diz sorridente para o Anton. — Como vai, Sr. Dexter?
— Bem.
— Que bom. E você, Sra. Dexter? Como vai, minha querida? Seja bem-
vinda a nossa nova casa de veraneio. — Ela força mais os lábios cheios por algum
procedimento estético e abraça-me falsamente.
— Estou maravilhosamente bem, obrigada.
Não pergunto se ela está bem, já que, com tantas plásticas, ela me parece é
bem mal da cabeça. Devia procurar algum psicólogo. Acredito que até o cabelo seja
falso.
— Venham, gostaria de exibi-los para os meus convidados. Eles não
acreditariam se eu só falasse que o Dexter está na minha festa.
O prefeito realmente nos leva a quase todos os convidados do evento. Eu me
sinto deslocada, mesmo que eu conheça algumas dessas pessoas poderosas, devido a
outras festas, elas ainda são desconhecidas. Não tenho assunto, quanto mais
intimidade. Quero beber, comer algo. Me arrependi de ter dito para o Anton não me
deixar sozinha. Desta vez, eu quero, estou me sentindo confortável e segura para dar
uma volta.
— Eu vou me sentar, amor — sussurro para ele.
Ele segura mais forte a minha mão, sem responder e sem me olhar. Luciene
me observa calada, abrindo o seu sorriso falso.
— Vamos andar um pouco, querida. Também preciso exibi-la para as minhas
amigas. Posso, Anton? Kiara não tem nada a ver com os assuntos políticos de vocês,
homens. E prometo que cuidarei dela como se fosse um diamante.
Ele agora me fita, desviando dos três senhores, eu quase rolo os olhos,
repensando de novo se quero me manter com o Anton, mas não posso perder a
chance de mostrar a minha bela roupa. Os rapazes e madames estão me olhando sem
esconder os cenhos impressionados e, com certeza, o meu esposo deve ter
percebido, todavia, ele me solta para andar. Eu saio com a mulher do prefeito.
— Deve estar muito satisfeita pela Lorenza ter deixado vocês em...
— Gostaria que não tocasse nessa inconveniente pessoa, Luciene — eu a
interrompo, recitando o seu nome por inteiro e percebendo que ela odiou.
Retribuo o seu sorriso forçado e mudamos de assunto assim que duas
mulheres se aproximaram.
— Então essa é a Sra. Dexter? Que grande prazer. Você é mais linda ainda
pessoalmente do que nos jornais e revistas.
— Desculpa a pergunta, sou Márcia, filha do dono das casas Lotéricas, mas
fiquei curiosa para saber quem desenhou essa joia incrível no seu pescoço.
— Verdade, é riquíssima de beleza. Não resisti olhar só de longe.
— Foi presente do meu marido, durante a nossa viagem especial para a
Europa. Ele encomendou de um grande design de joias — respondo na maior classe.
— Uau, Sr. Dexter não brinca com presentes.
— Você é realmente a maior sortuda da cidade.
— Olha só para esse vestido lindo dela, meninas...
Enquanto conversam, só faltam pedir para olharem dentro do meu sapato de
tanto que me analisam de nariz empinado. Elas só sabem falar de roupa, moda,
marcas e eu só desejo comer alguma coisa. Porém, é difícil despistar qualquer ser
existente. Nem por um segundo, eu pude respirar sem alguém vir para se apresentar
metida, ou para me endeusar pelo meu sobrenome. Estou impressionada pelas
perguntas até o momento não serem sobre o Anton.
— Kiara Dexter? — Perto da mesa de camarões, quando eu penso que estou
só, pois Luciene foi buscar não sei lá quem para me apresentar, outra pessoa
aparece.
Eu viro, surpreendendo-me.
— Lívia?
— Oi — ela sorri com seus dentes perfeitos. — Como anda a paciência com
essas granfinas insuportáveis?
— Horrível.
Rindo fraco, suspiro, dando uma olhada discreta no ambiente bem detalhado
e cheio. Ao fundo, tocam músicas dançantes.
— Agora que eu pude me sentir sozinha. Mas fico feliz por ninguém ter me
tratado mal, apesar dos olhares estranhos — desabafo, admirando a sua beleza
sensual. Lívia é muito bonita, seus olhos verdes são intimidadores. Ela parece ser
maléfica, só que eu não sei dizer, por um lado, não me sinto acuada, ou com
rancores dela. — E você, Lívia, como vai?
— Vou bem, na mesma monotonia da vida. E você? Fiquei meio retraída de
me apresentar e de olhar indiferente para mim. Sabe do que eu estou falando... em
relação ao passado.
— Estou ótima. E não se sinta retraída por nada. Você, no final, agiu certo.
Se retratou, enfrentando até a sua própria mãe no tribunal.
— Ainda gostaria de discorrer a sós sobre isso. Te devo maiores explicações.
Não sou como devo ter aparentado ser, quando estive hospedada na fazenda. E, por
um lado, eu nunca consegui agir de má fé. Não da forma que você sabe quem
gostaria que eu agisse.
— Vamos esquecer disso por enquanto, para não estragar a nossa noite... Ah,
pois também a Luciene está vindo aí — rolo os olhos.
Lívia arqueia a sobrancelha para a esposa siliconada do prefeito, que para na
nossa frente com mais duas mulheres bem-vestidas e maquiadas, as quais eu
infelizmente conheço.
— Lívia?
— Olá, querida Luci. — Lívia sorri, provando do seu champanhe. — E olá,
Margot e Felipa — ela cumprimenta as outras duas.
Contudo, Luciene fecha a cara, demonstrando que Lívia não é bem-vinda.
Eu nem sabia que as duas se conheciam, melhor, as três.
Margot e Felipa, as irmãs nojentinhas do conto da Cinderela (assim as vejo),
me abraçam, fingindo que a Lívia nem existe.
— Oi, Kiaaa!
— Nossa poderosa Dexter, estou impressionada com a sua mudança
corporal. Antigamente, um vestido desse ficava sobrando em várias partes, né? —
Felipa ri maldosa, tentando ser "amiga" e eu continuo séria.
— Eu, antigamen...
— Já o seu está bem apertadinho, né, Felipa? — Lívia declara a ela,
interrompendo-me e olhando-a de baixo em cima. — Está grávida, flor?
As três mulheres se recompõem sem humor, com cara de fúria.
— Deveria saber que não é bem-vinda, Lívia Castellano. Até a sua mãe já te
desertou. Deve estar na sarjeta! Onde é o seu lugar!
— Enganada, Margot. Abri um edifício odontológico com mais de 22 salas e
trinta empregados. Ah, e sem depender de um marido rico. Afinal, sou
independente, formada e dona do meu próprio nariz.
— Hum, se fosse, não estaria arrumando homens para poder entrar nas festas
alheias da alta sociedade. Agora, por favor, Kiara, venha, vamos continuar andando.
O ar aqui está muito poluído. — Luciene se direciona receptiva a mim.
E Deus, mais meio segundo com elas e eu vomito. Essas oferecidas vão só
perguntar sobre o Anton.
— Sinto muito, gostaria de continuar conversando com a minha amiga Lívia.
Ela estava me falando sobre a sua clínica de sucesso. Adoro pessoas inteligentes.
Lívia sorri, arrumando suave o seu cabelo negro no ombro. Ela está parada
numa pose fina, de classe. Seu vestido é um vermelho super colado, cumprido,
decotado e com folhagem da cor ouro nas mangas.
— A Sra. Dexter acabou de mandar a senhoras oxigenadas ciscarem
sozinhas. Agora, Kiara, me acompanhe, eu sou a convidada particular do prefeito e
estou morrendo de vontade de provar de algumas bebidas. Aproveito para te
apresentar a pessoas que prestam, bem estudadas e mais inteligentes.
Sem olhá-las, eu saio com a Lívia, segurando-me para não rir.
— Lívia, sinta-se agradecida do fundo do meu coração.
— Kiara, me sentirei. Pois haja saco para essas galinhas baba ovo. Cansa
nossa beleza. E falando nisso, você está de deixar o queixo no chão. Não me admira
tantos cochichos sobre a invejável Sra. Dexter. Você está igual vinho, melhorando a
cada ano que se passa.
Eu perco a Kiara de vista por quinze minutos e preocupado e nervoso, eu
saio a procura dessa mulher. Agora deu para ela ficar exibindo seus monumentos,
que me pertencem, sem um pingo de vergonha, por aí. Depois ainda reclama que eu
sou um bruto cruel, que gosta de deixar a sua bunda roxa por pura maldade. O que
não é mentira. E ela merece para largar de ser gostosa com aquele traseiro
empinado. Repito: que me pertence!
Andando entre os convidados curiosos, encontro a Kiara sentada numa mesa,
conversando com dois homens e mais três mulheres, incluindo a Lívia. Eu me
aproximo, fazendo-a logo me ver. Ela, então, se põe de pé, chamando a atenção das
outras pessoas. Reconheço os dois homens a mesa, são os filhos do delegado Laerte
e uns merdas que eu não gosto. Simplesmente, não vou com a cara.
— Olá, Sr. Anton.
— Olá. — Pego na mão da minha esposa, visualizando os olhos de cada um.
Eles se mostram incomodados, intimados pela minha presença. A pessoa que eu
respondo é a Lívia.
— Com licença, a gente vai dar uma volta. Foi um prazer revê-los e
conhecer as senhoras — Kia se despede, trazendo a Lívia, que também pede licença
a eles, para nos acompanhar devagar.
— Gostaria de agradecer por aquele dia no tribunal, Sr. Dexter. Por ter me
defendido da minha mãe. Não tive a oportunidade de agradecê-lo corretamente. —
Ao pararmos, ela declara, olhando para mim e para a Kia. — Foi difícil enfrentá-la,
sendo ela um álibi de vocês sabe quem. Eu saí até nos jornais. Minha mãe criou
mentiras para me difamar, devido a "traição familiar". E os únicos que
permaneceram ao meu lado foram vocês dois, Gael e o meu pai.
— Não há o que agradecer. Apenas lhe aconselho a jamais confiar na Diana.
Ela é amiga da Lorenza há anos, antes mesmo de conhecer o meu pai.
— É complicado por eu ser a filha única dos Castellanos. Cresci sendo o
enfeite de chaveiro que a minha mãe exibia para as madames ricas. E ela está
disposta a qualquer coisa para não me dar paz. Por enquanto, a forma que encontra é
me humilhando, difamando e criando boatos para eu correr para debaixo da sua saia
como a "coitadinha arrependida".
— Ela é realmente quase igual a Lorenza — Kia sussurra perplexa. — Não
tem medo, Lívia?
— Da minha mãe? Não mesmo. Meu pai me ensinou a ser independente,
estudiosa e a administrar os meus próprios negócios. O tenho comigo. E sobre os
boatos criados de eu ser uma oferecida qualquer, de eu ter traído o meu ex-marido
etc., não me incomodam. Eu, sabendo da verdade, é o que basta. Já errei, só que me
arrependo e ponto final.
— Gostaria que soubesse que pode contar com a gente — Kia olha para
mim, retornando compadecida a ela. — Você nos ajudou muito. Colocou a sua
fama, a sua carreira pela sinceridade diante do juiz, da Lorenza e da Diana.
Defendeu o lado certo. Da minha parte, as portas de casa sempre estarão abertas
para te receber quando precisar.
— Digo o mesmo, Lívia.
— Agradeço. São boas pessoas e espero que a justiça contra aquela mulher
seja ainda feita, Sr. Dexter. Sinto muito por tudo.
— E será, enquanto ela tiver fôlego sobre esta terra, é isso o que desejo.
Justiça.

Finalmente a sós, num canto da festa com a Kia, eu a agarro para dançarmos,
mas ela se confunde toda hora com os pés, não escondendo a vergonha por não
saber dançar direito. Sem falar da raiva comigo.
— Você está fazendo isso de propósito, só para as dondocas que me odeiam
se reunirem amanhã no chá da tarde e fazerem mais piadas sobre a "selvagem" do
Dexter.
— Achei que tinha aprendido a dançar com a Felícia — sorrio.
— Não ri, Anton. Nunca tive coordenação motora para dançar sozinha,
quanto mais para passos a dois. E a Felícia só me ensinou por uma semana.
— Tenha calma, querida, daqui a pouco, estaremos no meio da pista dando
mais assunto para as suas inimigas.
Kia, agora, fica mais brava comigo e antes que ela amputasse os meus pés
com os saltos finos, eu a deitei no meu peito, apreciando a música romântica que
toca no fundo.
— Não entendi o seu pedido de te deixar sozinha, sendo que no carro me
pediu que não fizesse isso.
— Eu me senti confortável e segura para dar uma volta. Além de que você, o
prefeito e os outros convidados só estavam falando de política. Algo chato, que eu
não compreendo.
— Hum... e o que fazia sentada a mesa com aqueles dois merdas?
Ela ergue a cabeça, arqueando uma das sobrancelhas delineadas.
— Os convidei para jantar na fazenda.
Fecho a cara e mudo a face para puto da vida.
— Só se for para comerem com os cavalos nos estábulos, porque nem na
varanda da mansão pisam!
— Não entendo essa discórdia com os filhos do Laerte. Ele são tão diver...
— não a deixo terminar de falar, beliscando doído a sua bunda.
— Eles são uns oferecidos do inferno!
— Aí, seu bruto... — ela resmunga, batendo no meu braço e dando um
cheiro na minha barba. — E eu não convidei eles para nada — sorri. — Só queria te
ver bravo.
— Pois teve sucesso! — Acolho ainda de cara fechada a Kia no meu peito,
olhando para umas quatro mulheres, que nos observam de longe, sem disfarçar.
Kiara percebe e finca as unhas no meu cabelo, aquecendo a minha mão para
quase estapear o seu traseiro.
— Sr. Dexter, acho melhor me beijar muito bem beijado! Se aquelas
fofoqueiras e oferecidas ali forem falar de mim, é bom que seja sobre o que me
aguarda esta noite no quarto.
— E quem disse que eu vou esperar chegar no nosso quarto para fodê-la? —
Então, após a minha pergunta, eu cato os seus cabelos cacheados e beijo-a com
gosto, com posse e fome.
Só afasto as nossas línguas quando ela perde o fôlego.
— Vamos embora — a dou um selinho.
— Não vai se despedir do prefeito? Nem comer dos petiscos?
— Não.
— Então espera... as oferecidas continuam nos olhando — Kia sorri
"maldosa", olha para as mulheres e aperta o colarinho da minha camisa, passando as
mãos delicadas no meu pescoço e peitoral. — Pronto — ela volta a me fitar. —
Agora vamos, a selvagem do mato está muito satisfeita pela provocação.
Porra, com certeza, eu vou foder a minha menina provocante com vontade!
E quer saber? Vai ser aqui.
— Antes, vamos ao banheiro, dona selvagem.
— Banheiro? Agora?
Assinto e faço-a me acompanhar para dentro da casa, tendo que ir me
desvencilhando muito educado de quem resolve atrapalhar o meu caminho e o meu
objetivo.
— Anton! — Só que em vez do banheiro, eu encontro o lavabo e empurro a
Kia para dentro, trancando a porta na chave.
Ela arregala os olhos, percebendo as minhas piores intenções.
— As pessoas devem ter visto nos dois entrando aqui, está...
Eu a prendo na pia de mármore e calo a sua boca com a minha língua,
acompanhada da ferocidade dos meus beiços.
— Amor... — Ela arqueja, sem força para me afastar.
Em seguida, ergo-a, preso entre as suas pernas abertas, que me pressionam
para se fecharem. O seu vestido justo vai até o topo das coxas. Vejo a sua calcinha
da cor preta.
— N-Não vamos ter relações aqui. Está doido?
— Mudança de plano, teremos uma pequena rapidinha.
— Não... — ela geme atordoada com os meus dedos que pressionam o seu
clítoris por dentro da calcinha.
No entanto, sinto os seus lábios se contraíram enquanto expele lubrificação.
E que tesão. A rapidinha evoluirá para uma oral. Minha boca se encheu de água
após sentir a sua carninha macia, rodeada pelos pelinhos ralos.
— Anton, todos sentirão a falta da gente lá fora. O prefeito vai achar que foi
embora sem... Aaahhh, merda — eu mordo a pelo do seu pescoço, lambendo,
sugando e mordendo.
Adiante, ajoelho-me, seguro com força as suas coxas e meto a cara na meio
da sua buceta para sentir o seu aroma feminino, deixo o tecido rendado entre os
dentes.
Kiara agarra o meu cabelo, inclina a cintura e afasta um pouco da cabeça
para trás e eu início a sua lição de não ser gostosa. Nem linda demais com esses
vestidos justos. Ela luta para não gemer em berros. Porém, infelizmente a minha
língua e os meus dedos fazem um trabalho tão bem-feito que a Kia não suporta
segurar o prazer que a vibra o corpo e sucumbi aos gemidos altos. Ainda rebola na
minha cara, enlouquecida de tesão. Assim que goza, eu sou rápido para também
liberar o meu pau exprimido pela calça.
— Não quero mais sair lá fora... — Kiara choraminga sem ar, retorcida e
apoiada no espelho.
Ela olha ofegante para o meu membro, tocando-o. Eu dou uma limpada no
nariz. E porra, meus músculos ficam tensos e rígidos com a sua mão lenta,
movendo-se em sentido vai e vem.
— Será que tem gente?
Ouço alguém bater fraco na porta do lavabo, enquanto conversa com outra
pessoa e Kia vira assustada para mim, mas pego com força nos cachos loiros da
minha mulher, pondo-a frente a frente com o meu olhar, para eu admirar a sua
reação apavorada ao sentir o meu pau duro como pedra penetrar a sua vagina
apertada. Eu bufo, sufocado pelas suas paredes. Ela abre a boca em desespero,
fincando as unhas por baixo da minha camisa. Seu olhar é de puro socorro para se
mexer, gemer e para que eu comece a investir bruto, sem pena. Isso não demora de
jeito nenhum. Chego a erguê-la no colo, fodendo feroz o seu corpo pequeno e beijo-
a, controlando o seu consciente a não gritar.
Sexta-feira de manhã, eu me levanto cedo para tomar o café na cozinha da
mansão. Minha mãe prometeu que me faria bolinhos de chuva e uma promessa
dessas deve ser cumprida com certeza.
— Benção, mãe — ao entrar pela porta, eu me aproximo pedindo a ela e
depositando um beijo terno na sua testa. — Bom dia.
— Deus te abençoe, meu filho. E bom dia. Acordou muito cedo, espertinho.
— Acha que eu me esqueceria da sua promessa de ontem à tarde?
Ela sorri, tocando na minha barba.
— Pode ter virado um homem, mas, no fundo, continua o meu moleque
comilão, que ama tudo quanto é fritura. Vai, se senta ali para tomar uma xícara de
café que eu já fiz a massa do bolinho e só falta fritar. — Ela se afasta, indo até a
bancada gigante e chique, onde tem um fogão industrial.
Eu vou me sentar para me servir do café e enquanto ela vai fritando os
bolinhos, que cheiram muito gostosos, eu vou contando uma notícia de suicídio que
aconteceu pelas redondezas. Porém, minutos depois, eu sou surpreendido por uma
pessoa que passa pelo portal da porta que liga o corredor da mansão a sala de jantar.
Felícia vem atrás, travando os passos juntos da filha.
— Esse homem deve ter se matado por algum moti... — ao virar o corpo da
pia, a minha mãe para de falar, também cessando brusca, em surpresa. — E-Ester?
Ester me olha sem um pingo de felicidade. Noto que os seus cabelos ruivos
estão mais avermelhados do que há três anos atrás.

— Bom dia, Gael. Bom dia, Maria. — Felícia entra feliz e olha emocionada
para a filha. — Não é um fantasma. Ester está de volta. Minha filha voltou para nós!
Me parece sim um fantasma inesperado.
Ela desvia de mim, abrindo um sorriso constrangido para a minha mãe, que
larga o que estava fazendo, para rápida, ir abraçá-la alegre, chocada.
— Ai, meu Deus! Ester, minha querida, está mais linda do que nunca! Seja
bem-vinda de volta!
— Obrigada, dona Maria.
Noto que a sua voz doce, calma e fina, continua a mesma de sempre.
— Kiara vai ficar muito feliz também. Ela já sabe que você voltou?
Ao tocar no nome da Kia, Ester me olha séria, desfazendo os traços
agradáveis e desvia de novo.
— Não.
— Ainda não. Ester chegou agora pouco, às 03:50 da manhã.
— Estou de volta para morar com a minha mãe — ela fala, dando um beijo
no rosto da Felícia.
— Eu não tenho palavras, filha. Estou radiante igual uma criança recém
presenteada.
Eu continuo quieto, tomando do meu café amargo. Até a minha mãe virar,
me olhar e apontar para a cadeira maciça do outro lado da ponta da mesa.
— Por favor, vem se sentar, Ester. Estou fritando bolinhos de chuva para
nós. Deve estar faminta pela viagem.
— Sim, estou. Obrigada, dona Maria.
— Veio cobrar a promessa da sua mãe, Gael? — Felícia brinca, dando um
sorriso forçado para a minha pessoa em silêncio.
O fato é: Felícia não vai muito com a minha cara desde que a sua filha tentou
se afogar no rio, devido a ter dito que amava era a Kiara e que queria terminar o
nosso relacionamento (Felícia, na época, ou até hoje, não deve saber que eu amava a
Kia). Apenas que a Ester tentou se matar devido ao primeiro motivo, por eu ter
terminado, porque não queria algo sério, como um casamento. E nunca foi segredo.
Se namorei com ela, foi devido as suas insistências, as perseguições e porque eu
queria tirar a Kia da minha cabeça. Porra, e um dos meus erros foi esse, de não ter
revelado desde o início os sentimentos que escondia. É quase impossível esquecer
alguém vendo essa pessoa todos os dias. Outro erro é que iludi a Ester, não devia ter
me rendido tão fácil ao desejo. Ter tirado a sua virgindade é um peso que eu
carrego, pois lembro-me das suas lágrimas quando a salvei de se afogar. Das
palavras que gritava, dizendo que nenhum outro homem iria querer ela, porque eu
havia violado a sua castidade, depois a descartado com uma mulher qualquer. No
entanto, não foi assim, eu juro que não foi. Eu sou homem, tenho desejos, atrações.
E Ester sabia, mesmo assim, insistia em ir além; de me fazer ficar sozinho com ela.
De me atentar, querendo realmente que eu a levasse para a cama. Não aguentei,
resisti por longos meses até o limite. Só que, droga, no outro dia, amanheci
atordoado, com medo de me sentir obrigado a me casar com ela. O que aconteceu
semanas seguintes. Mas não a amava, não suportava seus ciúmes e nem olhar para a
Kia. Não podia fazer isso. Meu coração não era dela.
— E olha que ele chegou cedo, viu — sem a minha resposta, a minha mãe
revida a brincadeira com a pergunta da Felícia.
— Oi, Gael.
Ester se senta, olhando-me envergonhada.
— Oi, Ester. — Aceno com o chapéu na cabeça.
O clima na cozinha se mostra desconfortável para todos nós. E assim que os
bolinhos ficam prontos, eu como, pensando em voltar logo para o serviço na
fazenda. Olha que, após devorar quase a bandeja toda, eu ainda vou embora com
uns quatro na mão, para comer durante o caminho até o meu cavalo amarrado no
coqueiro.
— Espero que tenha dormido bem! — ouço a voz do Anton gritar de longe.
Viro a cabeça, vendo-o parado perto do pé de ipê, em cima do seu garanhão,
o Faísca. Subo no meu Amarelo, galopando até ele.
— Já tomou o café, majestade?
— Vai roçar prego, Gael!
Eu sorrio, limpando a minha mão na camisa, do óleo do último bolinho.
— Estava sem sono, resolvi acordar cedo para desparecer a mente.
— Bom, já com notícias ruins, eu sinto muito estragar a sua caminhada à
cavalo, só que preciso te contar que as terras do Padilho estão sendo invadidas por
sem tetos. Fui avisado ontem à noite por Ratito. E o avô da Kiara não sabe mais o
que fazer.
— Ninguém me avisou desse problema. Você já mandou os capatazes
resolverem?
— Não, mas se eu for até o alojamento, é capaz de eu quebrar a cara do
Josué. Ele não me obedece e não tenho paciência para meio papo. Eis o motivo da
justiça me negar um porte de arma. Apenas deu a posse.
— Ele continua te dando problemas?
— Não, ele só continua achando que é o capitão dos capatazes. E se não der
uma coça naquele infeliz, eu pego a espingarda e eu mesmo dou.
— Depois resolvo isso.

Eu levo um choque ao dar de cara com a Ester e a Felícia na sala, esperando-


me paradas um ao lado da outra. Felícia sorri, resplandecendo brilho nos olhos.
— Bom dia, Kia! É a Ester! Ela voltou!
Pai amado, como assim?
Sorrio fraco, ainda surpresa, e caminho até elas, com a minha bebê de três
meses no colo. Ester abre os lábios.
— Oi, Sra. Dexter.
— Olá, Ester. É um prazer revê-la.
— Igualmente. Acompanhei muito a senhora pelos jornais e revistas. E saiba
que me sinto lisonjeada por estar aqui de novo, na fazenda e na grande mansão
Dexter. Isso é para poucas.
— Ester está com vergonha de pedir. Mas a minha filha gostaria de ter um
emprego novamente na família Dexter. Sei que já temos três empregadas; Manu,
Sônia e Joana. Entretanto, gostaria que pensasse e revesse se é possível contratar
ela.
Eu me sento no sofá, pensativa com o seu pedido.
— Realmente, já temos muitas empregadas, Felícia. Eu não sei se mais um...
— Aprendi a cozinhar, a cuidar de jardim e até a limpar piscina, Sra. Dexter.
Aprendi muitas coisas na cidade. Trabalhei para cinco patroas ricas. Posso fazer o
que quiser.
— Olha, Kiara, ela poderia ser a auxiliar da Maria, se a nossa chefa desejar.
Lembra que me disse que a Maria era muito sobrecarregada com tantas
responsabilidades; café, almoço, janta?
— Bom... sim. Se for para ajudá-la, tudo bem da minha parte. Agora, da
parte da Maria, você deve conversar com ela. Sabe como é enjoada e ciumenta com
aquela cozinha. Se torna sempre difícil alguém ser a sua auxiliar. Nenhuma mulher
aguenta mais de dois meses.
— Conversaremos com ela. E sei que aceitará, pois gosta muito da Ester.
Obrigada, doce Kia. Não sabe como eu estou feliz com a minha filha bem pertinho
de mim.
— Obrigada, Sra. Dexter.
— Eu quem agradeço. Seja bem-vinda novamente. A alegria da Felícia é a
minha alegria. Está em casa, Ester.
As duas se olham contentes, pedem licença e retiram-se em direção à sala de
jantar, conseguinte, à cozinha. Eu permaneço chocada com a notícia do seu retorno.
Penso no Gael. Será que ele já sabe? Maria me contou o que houve entre os dois na
época em que eu fui embora da mansão; sobre ela ter descoberto que o Gael me
amava, e que também ele não desejava ser o seu marido, pois não supria
sentimentos fortes por ela, de amor. Soube da sua tentativa de se matar afogada com
a confissão do amado, o que me deixou mais perplexa e triste por ela e pela minha
querida Felícia. Contudo, depois de ser salva pelo Gael, ela decidiu ir embora para a
capital, para esquecê-lo e para iniciar uma outra vida. Não se sei conseguiu, logo
que está de volta.
Todavia, para mim, é passado. Gael é meu amigo. E estou numa nova fase
com o Anton. O amo. Ele me ama, e compartilhamos um da companhia do outro
como casal e pais. Hoje, eu sou uma verdadeira mulher que sabe controlar, provocar
e torturar muito bem o seu marido. Adoro enlouquecê-lo. Eu me tornei tudo o que
eu nunca imaginei. E isso é tão bom... Sou forte, decidida e uma Sra. Dexter a altura
de um título autônomo. Mas, para eu ter mais dessa autonomia, meu foco agora é
estudar. Terei um professor particular todos os dias. Pretendo administrar as terras
do meu pai. Anton disse que vai me ajudar, basta eu apenas saber o que quero. E
penso em vinhos, vinhedos. Minha maior paixão. Só que eu não sei se esse sonho
pode ser possível, devido ao clima quente de Montes Do Sol. Farei o que tiver ao
alcance. Quero ser dona do meu próprio negócio e dinheiro. Ontem, Lívia me
inspirou mais ainda nesse objetivo. Ela é independente, rica e tão decidida que
chega a dar inveja. Uma inveja boa, claro. Desejo ser igual a ela, dona do meu
próprio nariz e poder dizer que tenho o meu próprio dinheiro. Sem desmerecer o
Anton, que está me apoiando muito com a sua pitada gigantesca de ciúmes dos
homens que devo me relacionar, começando com o professor. Duvido que ele não
estará todas as manhãs na biblioteca, de olho em mim. Talvez a minha mãe será a
sua cúmplice. Só quero ver na semana que vem. Parece um sonho, eu finalmente
poder finalizar os meus estudos e ter a minha família ao meu lado nesse processo é
crucial.
Tomo o café da manhã no jardim com a minha mãe e sem as crianças.
Aguardo que o Anton apareça – hoje, ele acordou bem cedo para andar a cavalo. E
quando ele aparece, é ao lado do Gael, que aceita o meu convite insistente para
também participar conosco da mesa.
— Você descartou a ideia de ir embora da fazenda, né, Gael? — Sou eu
quem pergunto, triste só com o pensamento de não ter mais a sua divertida
companhia.
— Não sei, sinceramente, estou na dúvida, pois continuo gostando da
tranquilidade e do serviço com a família Dexter — pisca para nós.
Anton o encara, dando um gole na sua xícara de leite.
— Sabe a minha resposta. Por mim, tem sempre um lugar aqui. Gostaria até
que comprasse um ou dois hectares meus. Por você, abro exceções de venda.
— E já conversamos que, mais para frente, eu aceitarei o negócio. E se for,
meu plano é de só construir uma boa casa confortável, com muito lazer. Pois nasci
para ser gerente de grandes terras, como nos negócios Dexter. Não para administrar
algo meu. Sabe que estudamos para isso. Gosto de ser gerente agrícola, de, no fim
do dia, descansar a cabeça sem maiores responsabilidades, a não ser o meu
emprego.
— Sei que sim, continuará sendo o meu gerente até o dia em que pedir
demissão. Só espero que não tão cedo.
— Eu também, viu — devolvo a sua piscada humorada.
Ele ri, balançando a cabeça em acordo e aproveitando apenas do café. Mais
tarde, após eles voltarem ao trabalho, eu fico conversando com a minha mãe e ela
pergunta preocupada sobre a ligação que recebi agorinha da Lívia. Sônia que veio
me trazer o telefone.
— Você vai receber ela?
Coloco o aparelho na mesa, assentindo.
— Ela é uma boa pessoa, mãe.
— Você confia na cara de bondade de todos. Lívia era cúmplice da Lorenza.
E a Lorenza já está aí, a solta, depois de pagar por míseros sete meses numa
participação no plano de assassinato do Sr. Rangel. Sabe como é revoltante.
— Sim, mas ela nos ajudou. E você tem ideia de que, por conta disso, a sua
mãe nojenta criou falsas calúnias sobre ela nos jornais? Lívia perdeu sua boa
imagem. Foi acusada de ser uma qualquer, que se deita com homens por dinheiro.
Ainda que ela quem traiu o ex-marido para roubar a sua herança.
— E se for verdade, filha?
— Sinto que não é. Assim como o Gael. Ele também confiou nela. Além de
que Lívia já é rica, independente, estudada, formada e não precisaria disso.
— Seu coração é bom, tome cuidado. Se ela errou uma vez por ganância,
quem garante que não faria de novo? Por favor, mantenha os dois olhos bem
abertos. Anton tem razão em ser desconfiado ao extremo.
— Tomarei, mãe. Não se preocupe.

Eu brinco um pouco com o Gieber e a Melina na sala, enquanto aguardo a


Lívia chegar. Ela só chega depois do almoço, às 13h30 da tarde.
— Oi, Kia. Boa tarde.
— Olá, Lívia. Boa tarde — damos um abraço, seguido de um beijo na
bochecha. — Continua pelas redondezas?
Ela sorri.
— Estou hospedada num hotel balneário na vila. É bem aconchegante. Mas
vou precisar voltar no domingo.
— Ah, sim... vem, vamos para a área de lazer ficar mais à vontade.
— Olá. — Lívia acena para a minha mãe, que está sentada no sofá, dando
atenção para as crianças.
Mamãe apenas acena educada e retiramo-nos para perto da piscina.
— O que gostaria de conversar em particular comigo? — após nos
sentarmos, eu vou direto ao ponto.
Ela coloca sua bolsa chique sobre a mesa de vidro, respira fundo e encara-
me. Aproveito para observar os seus olhos cansados, que, por baixo da maquiagem,
escondem olheiras.
— Me senti culpada. Eu, ontem, menti para você e para aquelas três
insuportáveis na festa.
— Como assim?
— Sobre o meu "edifício odontológico com mais de 22 salas e trintas
empregados" — ela dá de ombros.
Eu fico surpresa.
— E por que você mentiu?
— Vou ser sincera. Eu estou falida novamente. Daqui há algumas semanas,
terei que entregar o meu consultório do centro. E estarei nos jornais como a
Castellano na sarjeta. Minha mãe está, de fato, conseguindo me tirar tudo.
Chocada, fico em silêncio, sem resposta, mas ela continua a desabafar.
— O edifício é, de fato, real. Ele estava sendo construído do alicerce ao
quinto andar. Isso até o peso da obra ter exonerado o meu empréstimo bancário de
noventa mil. E para cobrir o valor da construtora, engenheiros, materiais etc., no
desespero, eu comecei a atrasar o salário dos meus oito dentistas, recepcionistas,
faxineiras e sem falar do imposto de renda da clínica. Tudo para injetar na obra.
Porque imaginei que fosse conseguir terminar aquela droga a tempo — Lívia
suspira. — Cometi mais um erro. Por pouco, não fui parar na justiça para poder
pagar os meus empregados. E eu, de jeito nenhum, tinha o valor ao todo que devia a
eles. Sem falar dos meus financiamentos, contas de água, luz, e mais boletos.
— Meu Deus. Por isso você disse que entregará a clínica? Você vendeu ela
para pagar as contas?
— Não. Jamais poderia vendê-la. O terreno é da minha mãe. O que fiz foi
anunciar os equipamentos odontológicos. E, no fim, arrecadei só a quantia total para
pagar eles mesmo. Hoje, a clínica está limpa. Não tenho mais nada. As contas só
chegam e não tenho de onde tirar dinheiro. Minha vida literalmente atravessou o
fundo do poço.
— Eu sinto muito. Não pensou em pedir ajuda para o seu pai?
— E dar o gostinho da minha mãe se sentir vitoriosa? Ela ainda faria uma
guerra para o meu pai não me dar um centavo. E que se dane. Não ligo mais para
nada. Meu nome já está sujo, o banco, a qualquer momento, pode apreender o carro
e eu ser despejada do meu AP. Só aguardo desgraça atrás de desgraça.
Vejo desânimo e decepção na face de Lívia.
— Só me lembro do meu ex-marido que, nas discussões, dizia que a minha
ganância me engoliria ao fracasso. E olha onde eu estou? Eu mesma me afundei
nisso tudo. Se não fosse pelo meu pai, que sofre do coração, eu já estaria bem longe
dessa cidade. Não sei se vou aguentar mais humilhações.
— Sei que é difícil. Fico feliz que esteja desabafando comigo, só que não
devia se entregar a esses problemas, nem ao desânimo. Pode superar as dificuldades.
É uma mulher incrível, poderosa, bonita, estudada, formada e inteligente. Você
consegue se reerguer.
— E chegar aonde, Kiara? Perdi tudo. Só soube me dar mal. E nem com o
apoio da minha mãe, eu posso contar nesta vida, porque ela é um monstro sem
coração. Nunca tive amigos, nem nunca quis ter. Eu virei a derrota que temia.
Entristecida, eu pego na mão da Lívia, afagando-a. Ela não esconde a revolta
consigo mesmo.
— Assumir que errou já é um grande começo. Por favor, não perca a
esperança. É nova, é dentista, pode trabalhar e construir o seu capital tudo de novo.
— Sei que sim. Agradeço por me ouvir. Eu não tenho mais ninguém que
posso confiar, por isso, não diga as outras pessoas sobre a minha situação. Por mais
que logo, logo a notícia esteja numa coluna de fofocas, eu quero essa semana vender
o que eu tiver para pagar um pouco dos boletos e sumir por um mês antes da
vergonha e da humilhação pelos meus inimigos.
Fico com pena dela. Lívia veio até mim para desabafar, abrir o seu coração e
os seus sentimentos desesperadores. Mas, infelizmente, nem eu, nem o Anton
confiaria o suficiente para oferecê-la ajuda financeira. E antes dela ir embora, eu
apenas a ofereço a minha ajuda amiga, o meu ombro para desabafar. E se ela chegar
a necessitar de socorro, estarei de braços abertos. Será bem-vinda.
Durante o dia e ao anoitecer, eu penso na Lívia e na sua situação. E só o
Gael me vem em mente para ajudá-la. Ele poderia aconselhá-la. Motivá-la a
continuar firme.
— Ela vai embora domingo à tarde.
Anton veste a camisa, olhando-me e raciocinando a história toda que lhe
contei sobre ela e sobre o Gael lhe ajudar.
— Acho que não deveria se meter. É difícil confiar.
— Você acha que é mentira dela?
— Não, eu acredito que seja verdade. Só desconfio dessa proximidade com
você. Ela te pediu dinheiro emprestado?
Nego com a cabeça.
— Não. Ela só quis desabafar sobre a mãe e sobre a sua vida financeira. E o
único pedido que me fez foi de não falar para as outras pessoas que está falida e
endividada.
— Não sei dizer, sou desconfiado até da minha própria sombra. — Anton
chega perto de mim e das crianças que dormem na nossa cama. — No entanto, não
vou falar para destratá-la. Talvez esteja solitária, realmente buscando alguém para
confessar seus erros. Tenho histórico próprio disso. Havia dias que eu gostaria de ter
um cachorro que seja para confessar as merdas que passava no meu psicológico.
— Acho que ela não tem ninguém. Vou conversar com o Gael amanhã. Ok?
Dexter assente calado e inclina o corpo, tocando nas bochechas gordinhas
das crianças.
— Eu vou levar o Gieber para o quarto dele e quando eu voltar, te quero sem
essa camisola de renda.
Sorrio com os seus olhos safados em cima do meu corpo.
— E eu vou colocar a nossa princesa no berço para esperar que o senhor
volte e se deite para dormir ao meu lado. Porque não tenho condições, amor —
desvio corada, mordendo os lábios e pensando em ontem, naquele amor que fizemos
no lavabo da casa do prefeito. Ainda no carro, na estrada escura de mata. Estou
ardendo e dolorida das pernas.
Anton se abaixa para sentir o cheiro dos meus cabelos.
— Sem penetração... — sussurra. — Vou só te relaxar o corpo com uma
deliciosa massagem.
Concordo ansiosa por isso e beijo-o carinhosa, mas, ao contrário de minha
pessoa bondosa, ele é como de costume; faminto, bruto e quente com a língua hábil.
Vejo Ester de longe no jardim. Ela está sentada no banco, comendo algo que
parece se esfarelar no colo. Enquanto limpa a bagunça, resolvo me aproximar. Ela
nem percebe os meus passos e leva um susto quando finalmente ergue a cabeça e me
vê.
— G-Gael!
— Olá, Ester.
— Olá.
Ela me encara com os seus olhos castanhos arregalados e brilhantes pelo sol.
Eu pigarreio, tentando ser uma boa pessoa.
— Minha mãe, então, aceitou que você fosse a sua auxiliar?
— É, para a sua infelicidade — ela dá de ombros, sendo ríspida.
— De jeito nenhum. Fico feliz que tenha voltado e que esteja bem.
— Não estou bem, estou de volta a mansão que eu prometi nunca mais pisar os
pés, por sua causa! — Eu fico sério, já conhecendo o seu jeito melancólico e
dramático. — Não consegui nada do que eu queria na cidade. O que fiz foi limpar
banheiros sujos de ricos para não morrer de fome e para não perder o meu quarto
numa pensão onde dividia com ratos, ratazanas, camundongos e baratas. Está mais
feliz agora?
— Desculpa. Mas eu não sou culpado pelas suas escolhas.
— Claro que é! — Ela se levanta brava, com a sua altura média e seus
cabelos ruivos sendo balançados pelo vento. — Tudo o que aconteceu na minha
vida é por sua culpa! Quero que se sinta culpado até o último dia de vida!
— Não vim até você para discutir. Só queria...
— Só queria uma chance? Você vai dizer que me quer de volta?
Surpreendo-me pelas suas perguntas diretas, feitas com um tom esperançoso.
Imaginava que ela não supria mais sentimentos por mim. E por medo de magoá-la,
fico sem resposta. Ela vira o rosto, respirando de forma estranha. Pela primeira vez
tenho calma, sabedoria e raciocínio antes de agir no impulso. Nem parece aquela
garota obcecada pela minha pessoa. Que me perseguia sem dar paz.
— Tudo bem, não vou discutir. Também não quero isso. Desculpa a
explosão. Está tudo certo entre nós. Eu já vou. Devo informar a patroa, Kiara
Dexter... — de propósito, ela profere lenta o nome e o sobrenome da Kia, analisando
desconfiada os meus traços. — Que a dona Maria concordou em me contratar na
cozinha. Com licença.
Eu fico parado na minha, assistindo o seu jeito ao virar as costas e sair
andando como uma menina durona.
— Sr. Gael? — Antes que eu pudesse subir no meu cavalo para ir trabalhar,
uma moça apareceu correndo pelo gramado. — O-Oi! Sra. Kiara gostaria de
conversar algo com o senhor. Ela pediu que fosse até a mansão.
A moça para ofegante, arrumando o seu uniforme vermelho e a touca torta
na cabeça.
— Ela disse do que se trata?
— Não senhor — a moça nega, evitando acanhada o meu olhar.
Eu, então, assinto educado, peço licença e retiro-me sobre galopes, dando a
volta na casa para chegar no terceiro jardim, onde a Kiara costuma tomar o café da
tarde junto com a mãe e as crianças. Só que não a encontro. E decido descer,
amarrar o meu Amarelo no poste de luz e chamar alguém na porta de vidro. Quem
aparece é a Sônia, com os seus belos cabelos loiros, corando de forma instantânea
suas bochechas. Digo o que vim fazer e ela permite que eu entre, acompanhando-me
calada até a sala principal. Ao parar, ela dá um sorriso de lado e eu pisco, indo
encontrar a dona Judite, que está sentada no sofá. Ela me recebe sorridente,
receptiva.
— Bom dia, Sr. Gael.
— Bom dia, dona Judite. Uma empregada foi até mim dizer que a Kiara
gostaria de conversar comigo.
— Ah, sim, espere, ela já está vindo. Só foi na cozinha resolver um assunto
com a filha da Felícia e a sua mãe. Por favor, fique à vontade.
— Obrigado.
— Oi, tio. — Gieber sobe no sofá, olhando-me com os seus olhinhos
bonitos.
Eu me sinto na obrigação de chegar perto dele para acariciar os seus cabelos
castanhos. Esse menino é cara do Anton. Não vejo nenhum traço especial da Kia. E
olha que ela disse que até o jeito sério do pai ele tem.
— Oi, Gieber. Está brincando?
Ele balança a cabeça em sim, com o seu jeitinho engraçado e pequeno.
— Sim... de desenho — ele fala, pegando a folha que rabiscava de qualquer
jeito com o giz laranja, sobre uma imagem de carro.
— É, sinto muito, acho que, para pintor, você ainda não leva jeito.
Judite ri e Gieber quase leva o giz na boca. No entanto, ela o para, fazendo a
criança descer do sofá para brincar no chão.
Eu fico ainda aguardando em pé e Kia não demora a aparecer, caminhando
com a sua incrível beleza de cachos loiros. Ela rouba toda a minha atenção, parece
que está vindo em câmera lenta.
Uma coisa é inegável, essa mulher está mais linda do que nunca e eu a
admiro e a respeito. Estou aprendendo que um amor pode sim se superar na
amizade. Outra coisa é que agradeço ao Anton por não poder ler esses meus
pensamentos. Ele é um leão com ela. Além de que é um ciumento nato. E isso é
ótimo, pois a ama e está sendo um bom marido. É visível o companheirismo dos
dois. Sinto-me orgulhoso do meu amigo.
Agora deixa eu parar de pensar, por que quem garante que aquele ser não
sabe ler pensamentos?
— Oi, Gael. Bom dia.
— Oi, Kia. Bom dia. Gostaria de conversar comigo?
— Sim, é muito importante. Me acompanhe para a outra sala de chá, para
ficarmos a sós.
— Claro, tudo bem. Com licença, dona Judite — eu peço e acompanho a
Kiara até o cômodo rústico do outro lado da casa, que tem uma sacada gigante e
luxuosa.
— Senta ali, mocinho — ela aponta para a poltrona.
Eu me sento, assistindo-a ir servir uma xícara de café e biscoitos para mim.
Começo a desconfiar do seu gesto.
— Devo desconfiar de sua boa intenção, dona Dexter?
Ela ri, após colocar os biscoitos e duas xícaras cheias sobre a mesa de centro.
— Sim e não. O que tenho para te falar é sobre a Lívia. — Ela se acomoda
na minha frente. — Toma, pode se servir
Eu respiro fundo só em ouvir o nome dessa intensa mulher e pego o café,
mais dois biscoitos.
— Eu a encontrei anteontem na festa do prefeito. Conversamos um pouco
sobre o passado. E ela me parecia ótima, com aquele jeito poderoso e autoritário que
você deve conhecer muito bem.
Ô se conheço.
— Sim?
— Pois quero dizer que ontem ela veio me visitar na fazenda e vi que aquela
noite tudo não passava de uma encenação. Ela mesma desabafou e resolveu ser
sincera. E preciso te contar... — Kiara, então, começa a me detalhar o que a Lívia
lhe confessou.
No fim, eu fico incomodado e de fato, preocupado com ela e a sua vida
econômica.
— O que quero lhe pedir é que vá até a vila e conversem. Acho que ela não
tem mais ninguém para lhe dar conselhos bons.
— E ela tem cara de que aceita conselhos? Se Lívia se meteu nessas dívidas,
foi devido a sua ganância sim. Agora está colhendo o fruto dos seus atos orgulhosos.
Infelizmente, não tem como negar. Sabe disso.
— Eu sei. Mas, por isso, você não vai nem pelo menos vê-la? Lívia vai
embora amanhã à tarde, Gael. Você poderia entendê-la, ser um mentor. É um grande
profissional em administração. Talvez aquela mulher de jeito poderoso aceite os
seus humildes conselhos.
Faz meses que eu não a vejo. Nosso último encontro foi no tribunal do
centro da cidade, para depor diante do juiz no caso da Lorenza e do Teodoro. E a
partir dali, eu lutei contra o meu próprio interior para esquecer essa bela mulher
manipuladora, para não a procurar, já que não é a pessoa certa para mim. O que
tivemos foi atração, desejo carnal. Nada demais.
— Eu vou ver. De qualquer jeito, eu tenho que ir essa madrugada para a vila
visitar o meu pai na venda. Sempre vou aos domingos.
— Espero que a procure... — Kia toma um pouco do café e olha-me curiosa.
— Mudando de assunto, você já deve estar sabendo que a Ester voltou, né?
— Sim, e acho que eu e a minha mãe fomos os primeiros a dar de cara com
ela. Por quê?
— Hum. Você sabe o que eu quero saber. Sobre vocês dois. Se desta vez
você vai reatar de verdade com ela?
— Não. Sinceramente, não quero nada mais com a Ester. Sinto-me é
aliviado. Você se lembra de como era o jeito dela.
— Eu entendo. Porém, só quero que você seja feliz com alguém especial,
que ame e que seja recíproco. Eu torço muito pelo seu coraçãozinho apaixonado.
Sorrio.
— Por isso a senhora cupido fica me mandando aquela sua empregada para
sempre passar os seus recados?
Ela arregala um pouco dos olhos, corando as maçãs do rosto.
— Não me acuse por você ser o responsável por mexer com o psicológico
das minhas empregadas. E ela se chama Manuela. É uma moça linda, sonhadora,
que não para de suspirar pelo "Gaelzinho" por aí.
— Mesma história da Ester. E prefiro não tentar. Acho que tenho traumas
demais, não acha?
Kia ri.
— Só que não custa nada você, qualquer hora, chamar a Manuela para bater
um papo sem compromisso. E para conhecê-la melhor. Ou tem outra na sua mira?
— Kiara semicerra os olhos.
— Tudo no seu tempo, patroa — eu me levanto, fugindo do assunto. — E
vou trabalhar, hoje o dia está cheio. Anton precisa de mim.
Antes de eu sair, Kiara retorna a me cobrar que eu vá a procura da Lívia na
vila. Sem aguentar seus olhos suplicando, prometo a ela de que tentarei achá-la para
conversarmos.
Só espero que ela não me mande a merda, já que faz parte da sua índole
maléfica.

À tarde, eu trabalho o dia todo no escritório de casa, que tenho para


administrar os problemas da fazenda em paz. Faço toda semana um resumo
(planilha) na caderneta para repassar ao Anton, que tem o poder de liberar dinheiro
ou não para algo necessário (entre outros assuntos). Além de gerente agrícola, eu
tenho o curso de administração rural e de gestão de fazenda. Tudo graças ao Sr.
Rangel Dexter, o pai do Anton. Eu sempre serei grato a ele. Se sou o que sou, é
graças ao Dexter e aquela bondade sem tamanha, escondida numa cara séria, de
pouca conversa e de bons conselhos. Foi um grande homem.
De madrugada, às 05h00 da manhã, eu finalmente acordo, cato a minha
mochila, pego a estrada e chego por volta das 06h30 na casa do meu pai.
— Ué, filho. Mal chegou e já vai sair?
Jogo as minhas coisas no sofá, sem largar a chave do carro.
— Sim, preciso encontrar uma pessoa e quero ir à oficina do Cláudio ver se
chegou duas peças encomendadas da capital para ele colocar na caminhonete. Se eu
não voltar antes do almoço, não se preocupe, Tá? — Eu beijo a testa do meu velho,
alisando os seus cabelos brancos.
— Tá bom, vou abrir a venda. Nos vemos mais tarde.
Ele dá duas batidas nas minhas costas com as suas mãos meios trêmulas e sai
para a porta do seu comércio.
Eu vou na oficina ver se as minhas peças chegaram para o mecânico realizar
o conserto, o que graças a Deus, eu consigo. Depois tomo o café numa padaria
simplesinha, pego a dica da Kia e sigo para a hospedagem em balneário mais cara
da vila Sol. Até me surpreendo pela falência da Lívia em poder pagar um lugar
como esse.
— Olá, tudo bem? Por acaso, uma hóspede chamada Lívia Castellano se
encontra no hotel? — pergunto para a recepcionista no balcão.
— Só um momento senhor, que irei verificar.
Eu espero por alguns minutos, até a recepcionista voltar e confirmar a
hospedagem da Lívia. Indago se ela poderia ligar no seu quarto e informar que eu,
Gael Abner, a aguardo. A moça diz que pode e depois de ligar, ela só pede que eu a
espere na bonita recepção do local.
Eu assinto e vou até algum assento aguardar quieto. Tão quieto que posso
escutar o ponteiro do meu relógio de punho se deslocar a cada segundo. O tempo
passa devagar. Fico aguardando por dez, quinze, vinte minutos e nada dessa mulher
aparecer, nem de ninguém me informar algo sobre a sua pessoa. Eu me levanto
nervoso, indo até o balcão... Mas paro brusco no meio do caminho. Literalmente,
vendo o paraíso dentro de roupas justas, chiques, com um chapéu de madame na
cabeça e saltos finos nos pés. Ela me olha séria, sedutora, enquanto caminha,
fazendo-me engolir o seco pelas suas curvas definidas e os seus cabelos negros. Puta
merda.
— Como vai, caipira?
Lívia, então, para na minha frente, fitando-me com os seus incríveis olhos
verdes, que não escondem frieza, nem beleza. Respiro o seu perfume, aquecido com
esse cheiro que só ela tem. É como se fosse uma mistura de âmbar e groselha. No
entanto, o âmbar é mais abrangente e sedutor.
— Como me achou aqui? — sem a minha resposta a pergunta anterior, ela
faz outra.
— Vim por causa de uma pessoa. Poderíamos conversar em outro lugar mais
reservado? Eu estou te aguardando há mais de vinte minutos.
— Hum. Claro, Sr. Abner. Venha, vamos dar uma volta — ela indica por onde
devemos sair, vou ao seu lado, tentando não a olhar feito um idiota que nunca esteve
com uma mulher chique antes.
— Gostaria de dizer que, aos domingos, eu gosto de dormir até tarde —
salienta sem me olhar. — Você sabe que horas são agora, caipira? 08h40.
Sorrio satisfeito por esse feito de importuná-la, já que me deixou esperando
também.
— Fingirei que o seu sorriso foi um delírio.
— Não foi um delírio.
Paramos no meio de um jardim e sentamo-nos em um dos bancos de
madeira, que fica de frente para um grande lago artificial. É de deixar sem palavras.
É lindo. Dá vontade de passar o dia toda aqui, admirando-o.
— O que quer comigo, Gael?
Ao sentar-se ao meu lado, ela cruza as pernas torneadas, observando-me sem
qualquer olhar de frieza.
Eu apenas vejo 'a' Lívia, uma mulher linda por fora e que parece guardar
coisas horríveis por dentro. Seu jeito dominador, poderoso, de nariz empinado não
passa de uma máscara para não demonstrar qualquer sinal de fragilidade ou
fraqueza.
— Eu vim pela Kiara. Vocês tiveram uma conversa que a deixou preocupada
e que me fez visitá-la antes que pudesse voltar para a cidade.
Lívia desvia das minhas íris, mantendo a sua face séria.
— Eu falei para ela não contar para ninguém.
— Kiara se preocupou e eu estou preocupado. Não lhe desejamos mal. Pelo
contrário.
— Que contrário? — Ao voltar a me olhar, seus olhos bonitos estão
dilatados e meio vermelhos. — Não finjam que se preocupam comigo. Estou
acostumada a ser sozinha, a ter gente apenas para ser meus inimigos e rirem das
minhas desgraças.
— Não somos seus inimigos. Te queremos bem.
— Não se engane, Gael. O que você vê ao me olhar?
— Vejo uma mulher frágil, ferida pela vida, que encontrou no poder, no
sucesso, na fama e na ganância uma escapatória para se mascarar de forte, de uma
imagem que nada pode afetá-la. E ainda acha que tudo isso vai consolá-la.
— E quer saber? Pode! Até alguns anos atrás, estava tudo dando certo na
minha vida. Eu já deveria ter sido um grande nome nesta cidade de gente invejosa.
— Por que quer ser assim?
— Porque eu quero mostrar para a minha mãe que não dependo das suas
migalhas, que eu posso ser poderosa, dona de amplos negócios. Uma mulher livre,
independente.
Ela tira o chapéu feminino, respirando fundo para não fraquejar. Está frágil e
não esconde.
— Mas, droga, tudo dá errado. As pessoas me odeiam e eu as detesto por
isso. Não tenho ninguém. Perdi meu ex-marido, um filho e agora o meu consolo, o
dinheiro, o respeito e essa boa vida. E não diga nada, Gael! — Lívia se vira para
mim, impedindo que eu abra a boca. — Eu sei que eu sou gananciosa, ambiciosa,
arrogante, orgulhosa. E se eu sou, é devido ao valor aos meus esforços. E se errei ao
entrar no plano da Lorenza, foi porque o desespero de perder tudo o que construí me
levou a isso. Hoje, parabéns, não adiantou em nada. Eu perdi o que mais temia.
— Bens materiais podem ser readquiridos. É uma dentista de renome, se
formou fora do brasil, pelos seus esforços e determinação. Vai conseguir tudo de
novo. Não se lamente.
Lívia fica quieta, ainda mantendo a sua pose de durona, que não se rende
fácil. Ô mulher orgulhosa. Eu pego na mão dela, sentindo a pele mais macia que eu
já conheci nessa terra. Ela me analisa mais calma, paciente e descontraída. Até toca
os meus dedos.
— Como sabia que eu era formada fora do Brasil?
— Eu sou um caipira que aprendeu a ler. E você tem uma biografia bem
extensa na internet. Verifiquei há oito meses, para saber direito com quem eu estava
lidando naquela época.
— Hum, que surpresa. Digo pelo caipira saber ler e por pesquisar sobre
mim.
Sorrio, sem desviar dela. Ela também não desvia e desarma-me com a sua
mão feminina, de unhas pintadas, que sobe para a minha barba rente ao rosto. Ela
me acaricia graciosa.
— Odeio me sentir rendida por você, Sr. Caipira.
— Sr. Caipira? O adjetivo já está ficando mais respeitoso?
— Não mesmo, seu caipira idiota — ela afasta o braço rodeado por pulseira,
no entanto, seguro-a, aproximando o meu corpo.
— Não deveríamos mais nos ver, Lívia.
— Mas foi você que me procurou.
— Eu sei, só que a ideia me anima, me seduz. Eu queria te olhar. Eu fico
louco por você.
— É melhor nos segurar. A gente é totalmente complicado. Eu sou
uma madame da sociedade e você um homem da terra.
Sinto uma pontada de algo afiado cutucar o meu peito. Fico indiferente,
nervoso com as suas palavras.
— Não estamos dispostos a desistir de nada. Nem você com essa ganância
por dinheiro.
— É, exatamente. Algum problema?
— Todo. Seja mais humilde, Lívia, modesta, pare de olhar para o seu próprio
umbigo.
— Já disse o que queria? Agora pode ir embora! — Ela se levanta rígida,
cheia de frieza.
E eu poderia tacá-la nessa lagoa para estragar a sua pose e fazê-la perder
qualquer compostura metida.
— Merecia uns belos tapas para parar de ser prepotente também!
— Ah, pronto, estava demorando. O caipira bruto se revelou! — Ela vira
revoltada. — Olha para a minha cara e vê se eu sou capacho usável para levar surra
de homem! Vai a merda!
Falei que ela me mandaria a merda? Estava demorando mais do que o
normal.
— Pois eu lhe bateria era de cinto!
— Bate então, infeliz!
Cheia de fúria, Lívia leva a mão para me dar um tapa, mas a agarro e sem
pena alguma, jogo-a dentro da lagoa comigo. Eu seguro a vontade de rir, enquanto
ela grita e debate dentro da água rasa, que bate na sua cintura. Lívia caiu
mergulhando de bunda.
— Eu vou matar você! Seu imbecil! Filho da mãe! — Ela se ergue e soca o
meu peito. — Idiota! Sem respeito! Sem.... — Eu imediatamente, cato os seus
cabelos molhados pela nuca, jogo a sua cabeça para trás e roubo um beijo impetuoso
de língua, que amolece os seus braços a pararem de me dar socos fortes.
A partir daqui, ela toma gosto de sentir uma bela dor com a minha puxada
nos seus fios negros e avança para devorar a minha boca, tacar o meu chapéu longe
e abraçar o meu pescoço, conduzindo o nosso beijo avassalador.
Porra, e é esse o motivo que sempre me faz lutar para não a ver mais. Eu
quero amarrar essa mulher em mim, fazê-la tomar conhecimento do que é
humildade, modéstia. Só que como domar uma onça dona de si? Que pensa só em
dinheiro, fama, poder? Inferno! Merda! Pensarei nessa droga mais tarde. Ela acaba
de apertar o meu membro enrijecido, com as unhas – quase avançando para
dilacerar os meus pobres testículos.
— Infeliz, idiota!
— Metida, prepotente!
— Grrr!
Ela me empurra, rugindo feito uma onça mesmo, e sai da água quase
tropeçando nos saltos. Eu a sigo, vendo-a fazer uma coisa que me deixa de boca
aberta e com os músculos tensos.
Ah, caralho!
— Para a sua coleção!
Ela coloca as mãos por baixo do vestido amarelo e tira a calcinha branca,
vindo tacar a peça íntima na minha cara.
Eu faço questão de pegar e cheirar profundo. Estamos sozinhos no jardim.
— Tem cheiro de uma mulher loucamente apaixonada.
— Louca sim, para castrar esse negócio entre as suas pernas! Cala a boca e
adeus, caipira bruto, irresistível!
E apaixonada? Ela não disse.
Sorrio, não tirando os olhos da sua bunda grande, que vai embora furiosa
pelo gramado, rebolando grudada no tecido encharcado. Eu respiro excitado e já de
pau duro em pensar que não tem nada ali por baixo, que a sua calcinha minúscula
está em posse da minha mão.
Ô mulher infernal. Eu vou ficar louco se ver essa diaba pela milésima vez.
Não vou responder por mim. Serei capaz de qualquer coisa, menos de ser cavalheiro
Seguro firme o Gieber em cima do cavalo, galopando lento com ele. Kia
vem devagar atrás de nós com o seu.
— Passarin papai. — Ele aponta com o dedo para o grande pavão perto do
mato e do rio.
— É um pavão, Filho.
— Pavão?
— Sim. Achou ele bonito?
Meu pequeno rapaz de chapéu infantil balança a cabeça em sim, apertando o
meu braço com a sua mãozinha e olhando para todos os cantos possíveis que ele
consegue. Ao chegarmos no rio, nós não conseguimos desviar da enorme cachoeira,
que faz um barulho abrangente de água caindo em cascata. É a sensação mais pura
do mundo.
— A água está tão cristalina, amor.
Kia desce já toda animada. Eu também saio do cavalo e tiro o Gieber da
cela, sem colocá-lo no chão. Ele sorri, segurando na minha camisa.
— Vamu pulá!
— Temos que tirar essa roupa para vestir depois. Vem aqui com a mamãe.
Kia o pega do meu colo para tirar suas roupas pequenas e deixá-lo só de
calça de banho. Eu já sou o primeiro a me livrar da calça, da camisa, dos sapatos, do
chapéu e só de cueca mergulhar até a parte mais profunda.
— Eu quelo ir!
Quando submerjo, vejo o Gieber puxando a mãe pela perna. Ela ainda nem
tirou a calça. Só a blusa. Ele a puxa, impondo sério que ela o leve no rio. Sorrio do
mandão birrento.
— Calma, Gieber. Vai até a beirada com o seu pai, a mamãe já vai.
— Vem aqui, filho.
Ele me olha e não demora a correr feliz até mim, nado até a margem para
evitar que entre sozinho. Kia logo nos acompanha com o seu biquíni minúsculo e
divertimo-nos quase a tarde toda de domingo na água. Gieber nada, boia, pede para
jogá-lo para a mãe, pede para eu levá-lo umas três vezes até a cachoeira. O arteiro
só cansa ao pôr do sol.
— Não vejo a hora da Melina pegar mais alguns meses para poder ser nós
quatro aqui. Ela vai amar igual o irmão.
Sorrio, dando um selinho nos lábios da minha mulher.
— É, só que haja energia.
Kiara ri, retribuindo o beijo.
— Vamos? Os olhinhos do Gieber já estão vermelhos de sono. Hoje, ele
dorme cedo de tanto cansaço. Brincou até o esgotamento.
Concordo, abraçando-o, está calado com a boca no meu ombro. Saímos para
nos vestir e voltarmos a cavalo antes do escurecer.

Em casa, aproveito o tempo antes de tomar banho para tirar a barba grande
que a Kiara não gosta. E olha que nem cresceu muito.
— Até que enfim. — Ela entra no banheiro com o minúsculo biquíni que
estava no rio e sorri satisfeita para o meu reflexo no espelho. — Mais bonito do que
antes, Sr. Dexter.
Isso me faz lembrar da depilação total que ela fez e eu não gostei nem um
pouco. Só vi à noite, quando fui me dedicar a uma deliciosa oral entre as suas
pernas. Porra, só pensei onde estava os meus adoráveis pelinhos loiros, bem
aparadinhos que eu gostava de puxar? Ela me tirou o poder de cheirá-los outra vez.
Um homem perdeu o seu macete aquele dia. Fiquei uma fera. E ai dela se fizer de
novo. Vai ficar mais uns quatro dias assada.
— O que eu não faço pelo seu prazer maior.
— Ainda bem que me obedece.
Ela tira o biquíni, solta os cabelos úmidos e entra peladinha no chuveiro.
Que visão linda.
Termino a barba, tiro a bermuda e também entro, puxando-a e enconchando-
a de costas contra o meu pau. Acaricio o seu clitóris, relaxando-a excitada com a
cabeça no meu peito.
— Você sabe que me deve uma explicação sobre aquele recado no telefone,
né?
Eu fico calado. Subo a outra mão para os seus seios de mamilos enrijecidos,
enquanto a massageio forte embaixo do chuveiro. Ela suspira gostoso.
— O que o seu irmão Gabriel queria com você? Por que ele está te
procurando tão insistente?
Permaneço sem dar respostas. E bruto, intensifico os meus dedos,
penetrando-os fundos na sua vagina. Ela se cala. Então a pressiono na parede de
pedras, dando dois tapas ardidos no seu delicioso traseiro redondo. Em seguida,
meto gostoso, segurando na sua cintura e nos seus cabelos para cada vez mais dar
impulso na nossa foda. Kia se apoia, gemendo alto e rebolando.
No final, fico com pena da minha doce esposa. Sou mais carinhoso com ela.
Beijo-a nas costas, permitindo que igualmente curta o seu orgasmos, para virar na
hora que desejar. Ao fazer, ela fala que precisa sair logo para dar de mamar para a
bebê; com mais duas mãos extras ensaboando o seu corpo, ela consegue sair em
segundos do banheiro.
No quarto, após vestir uma calça pijama, eu observo a Kia sentada na
poltrona, ao lado do berço rosa, dando de mama para a nossa menina. Ela suga o
peito que chega a fazer barulho.
— Eu vou colocar o Gieber para dormir, já volto.
Kiara não diz nada. Ela me olha de forma estranha e desvia séria. Eu saio
incomodado com o seu comportamento.

Fico indiferente de propósito com o Anton. Quero saber o que o imprestável


do seu irmão interesseiro quer com ele. E pelo jeito, para esconder de mim, deve ser
algo que me deixará mais furiosa do que estou.
No dia seguinte, acordo bem cedo para evitar mais perguntas – que ele
odeia.
— Sra. Dexter? — Joana, outra empregada, contratada a oito meses, se
mostra surpresa ao me ver tão cedo de pé na sala. — Gieber acordou, senhora?
— Não. Fui eu quem pulei sem sono da cama. Gieber vai dormir até tarde
hoje. Ontem, se divertiu até esgotar as forças.
— Ah, sim. Gostaria que eu avisasse na cozinha para servir a mesa mais
cedo?
— Não é necessário. Vou esperar.
Ela assente, pede licença e retira-se para a escada. Já eu vou escondida até o
escritório do Dexter. Preciso ouvir aquele recado de novo, desde o começo. Eu não
consegui entender nada direito ontem, além de "você é obrigado a fazer isso". Mas
quando eu entro no local e pego o telefone, vejo que está tudo limpo. Anton apagou
rastros de conversa gravada. Não acredito na sua cara de pau!
Preciso ficar calma!
Eu volto meia hora depois para a nossa suíte, para pegar a bebê. Só que ao
entrar, encontro-o já com ela no colo, ninando.
— Shiuu... minha bonequinha... — ele sussurra para ela, derretendo as
minhas estruturas.
Ele toca a sua bochecha gordinha com um sorriso lindo. Melina também
retribui com um sorriso banguelo.
Como amo a minha família.
— Acordou cedo? — Anton questiona ao me ver escorada na coluna rústica
de madeira, de braços cruzados.
Percebo que ele já está arrumado para trabalhar.
— Hurum.
Como gostaria que ele também percebesse o meu descontentamento por
ontem.
— Eu vou te contar, Kiara. Tudo no seu tempo.
Olha, ele percebeu?
— Vindo do seu irmão, você nem precisa de tempo. Já espero o pior.
— Ele vai vir esta tarde com a esposa.
— Como assim?
— Também não me agrada. Mas ele insistiu de uma for...
— Eu sei que vocês dois tem segredos! Aliás, vocês três! Seu outro irmão
Santiago está no meio!
Nervoso com a minha forma direta e ríspida de interrompê-lo, Anton deita a
Melina devagar no meio da cama, coloca a chupeta na boca dela e vem em passos
duros até mim. Continuo de braços cruzados, escorada na coluna.
— Não tenho segredos com aqueles dois merdas!
— Uma vez Gael me disse que quando escorraçou os dois daqui, eles
juraram que não deixariam barato. E que parecia que eles escondiam algo
comprometedor seu.
— O que o Gael disse aquela época não existe. E o meu interesse por
Gabriel hoje é apenas de ouvi-lo. Ele pediu pela ligação que eu lhe recebesse junto
com a sua esposa e o seu filho.
— Eu ouvi dele, que você era obrigado a fazer alguma coisa.
— Ouviu errado também. Não me lembro do Gabriel ter dito isso.
Eu respiro fundo e solto o ar bem devagar.
— Eu tenho medo deles. Por você, por tudo o que passamos.
Anton segura a minha cabeça, dando-me um beijo firme.
— Confie em mim. Está tudo bem, fique calma. Evitar que se preocupe com
algo é como querer deixá-la preocupada. Você não se aquieta enquanto não me vê
perturbado.
— E é mesmo, Dexter. Quando é misterioso, eu quero bater em você, te
deixar com as orelhas roxas. Não faça isso!
— Por esses motivos, eu durmo com um olho aberto e o outro fechado. Vai
que eu acordo sem uma das minhas orelhas?
O engraçadinho ri, dando-me uma pegada forte contra a coluna.
— Lembrando que a sua aula começa hoje. E estou de vigia. Pode trocar
esse vestido justo.
— Não vou trocar nada. E sai daqui, vai trabalhar que hoje é segunda-feira.
Eu o afasto e vou até a minha princesa na cama, que mexe as perninhas.
— Malcriada, depois não reclama da bunda roxa. — Rápido, Anton se
aproxima para bater ardido no meu traseiro.
Mordo os lábio, com dor.
— Vai ficar duas semana sem me tocar, seu bruto! — esbravejo antes dele
sair pela porta.
— Veremos!
Ele me dá uma última olhada penetrante e então a fecha.
— Realmente é o que veremos, Dexter! — digo a mim mesma, acariciando o
meu pobre bumbum dolorido.
Melina sorri com as perninhas, desta vez, para o alto.
— Seu pai vai se arrepender de ter nascido, minha querida. Ah, se vai!
— Você sabe o que ele quer, Anton?
No escritório, após o Dexter me falar da ligação do seu irmão Gabriel, eu
fiquei sentado na cadeira, coçando preocupado a barba.
— Disse que era apenas para me visitar com a esposa e o filho.
— Está muito tranquilo para o meu gosto. Há alguns meses, ele e Santiago
quase avançaram em você, tudo putinho pela Lorenza.
— Estou só analisando. Preciso ver o seu comportamento de perto.
— Não sei o que lhe dizer. Só que confio na sua inteligência. E que
independente dos erros do passado, as pessoas podem mudar.
— É o que eu duvido em Gabriel. Igualmente em Santiago. Mas quem sou
eu para julgar o pecado do próximo?
Eu permaneço calado, vendo que o Anton está muito pensativo. Para mim,
ele tem algum interesse na visita do irmão. Ele não age à toa, nem gasta o seu tempo
à toa. O conselho que eu dou é de que o Gabriel se cuide, o Dexter não é o mesmo
de antes. Ele se tornou mais frio, calculista e desconfiado com as pessoas. Ninguém
anda fora da linha com ele, nem mesmo os poderosos políticos que almejam o seu
apoio. Além de que o Anton não é mais só o herdeiro do império Dexter, ele é o seu
pai escrito. Um homem respeitado, gerador de grandes negócios e empregos nas
madeireiras. Faz mais pela cidade do que o próprio prefeito.
— Oi.
Assim que me retiro da mansão, eu fico sozinho na enorme varanda da
entrada e Sônia aparece com os seus cabelos soltos. Eu a olho. Ela morde os lábios,
segurando o sorriso e a vergonha.
— Olá — respondo sorrateiro, sem desviar dela.
— Eu esperei o senhor aqui para poder te dar esse oi.
— É claro. — Então a surpreendo com quatro passos. Ao me aproximar do
seu corpo, eu toco na sua orelha com a minha boca quente. Ela se arrepia em
choque. — Estou com o tempo livre por algumas horas. Quer me dar esse oi de
outro jeito?
Com a minha pergunta, ela murmura imediatamente o seu quarto. E não
perco tempo em dar uma volta rápida e discreta na mansão, para ninguém nos ver
indo até o dormitório das empregadas.
— Eu divido com a Joana, mas não se preocupe, ela está arrumando a mesa
do caf... — Sem muita conversa, eu a agarro por trás, com um tesão sem igual
acumulado.
Também sou rápido em despir o seu uniforme vermelho, a minha roupa, e
deixá-la de costa para nos satisfazer cheio de vontade. Já é a quarta vez que
transamos. Não a conheço bem e não faço questão, pois não gostaria de magoá-la. E
ela sabe disso, pois, da mesma forma, só se satisfaz, me dá um sorriso doce e vai
embora. Entretanto, hoje resolvi dar um sexo maravilhoso na cama de solteiro, não
economizando no bom ânimo de provar e foder o seu corpo magro. Ela se rende;
perde todo o fôlego e entrelaça-se na minha cintura para rebolar e gozar em gemidos
altos, quase fora do controle.
— Essa... essa cama... era da Joana... — Ao se recuperar, ela fala ofegante
por baixo de mim.
— Agora terá que trocar os lençóis da sua colega. — Lambo-a no bico dos
seios e levanto-me para tirar a camisinha, vestir a cueca, dar um nó no preservativo
e jogar no cesto do banheiro.
— A gente não vai ter isso de novo?
Ao voltar, pego a minha calça para vesti-la.
— Por quê?
— É que a sua ex... — Sônia cora. — Ela voltou. Escutei a Sra. Dexter
comentando com a dona Judite, sobre vocês dois. Sobre a Ester ter quase sido a sua
noiva. E ela está agora trabalhando com a dona Maria como auxiliar de cozinha.
— O que tivemos é passado. E eu e você é apenas casual. Sabe disso. Não
gostaria que se magoasse com nada. Se for o caso, não a procurarei, nem aceitarei
que me procure.
— Fique tranquilo, para mim, não passa de prazer — ela dá de ombros,
vestindo a sua lingerie. — Só perguntei por ser importante, Sr. Gael. Além de que
eu e as meninas não fomos muito com a cara dela. E ela não foi nem um pouco com
a nossa. Parece que essa Ester está se achando só porque a mãe dela é a governanta
da mansão e tem toda a confiança dos patrões.
Sem ter o que responder a ela, eu fico calado, abotoando a minhas camisa.
Ela percebe que eu não interajo no assunto e logo se aquieta em silêncio, vestindo
também o seu uniforme. No fim, coloco o chapéu na cabeça, digo que preciso voltar
ao trabalho e retiro-me.
Não consigo ainda acreditar na minha felicidade por voltar a estudar. O
professor Gustavo vai me ajudar por dois meses corridos, para eu conseguir passar
no exame e concluir o ensino fundamental. Ah, e ele não vai vir todos os dias,
combinamos de só uma vez na semana (às quintas-feiras), devido à distância
enorme até a fazenda. Nas suas visitas, Gustavo verificará se eu estou indo bem nas
lições e nas apostilas. Ademais, se eu tiver dúvidas, posso ligar no seu número
particular por voltas das 13h da tarde.
— Que cara de alegria é essa, minha filha?
— Nem acredito que eu vou finalizar o meu ensino fundamental. Pretendo
me dedicar a essas apostilas noite e dia, você vai ver, mãe.
— Olha que a senhora tem duas crianças pequenas para cuidar, hein! — Ela
beija a minha testa e eu sorrio. — E já me sinto orgulhosa, querida. Vai passar nesse
exame num piscar dos olhos. É uma mulher muito inteligente.
— Obrigada, mamãe. Te amo de todo o meu coração. — Retribuo o beijo na
sua testa. Adiante, levanto-me determinada. — Agora eu vou até o escritório ver o
que o Dexter faz trancado a quatro paredes desde às 08h. Também quero conversar
sobre o nosso hectare.
— Você já decidiu o que vai plantar naquelas terras?
— Estou pensando ainda. Não sei se o vinho vai dar certo. Gostaria de um
negócio de porte pequeno, que fosse administrado presencialmente por outra pessoa
contratada. Afinal, não tem como eu cavalgar por duas horas todos os dias. Quero
alguém de confiança para me ajudar por lá.
— Isso já é assunto para com o seu marido. No entanto, pense bem, filha. Já tem
uma responsabilidade enorme sendo esposa do Dexter. Não busque pesos que não
pode carregar. — Concordo e mamãe sorri materna, dizendo que vai ver as crianças.
Já eu retorno a minha intenção de ir até o escritório do Anton, conversar com ele.
Ao parar na porta, dou duas batidas e digo que sou eu. Ele pede que entre.
— Está ocupado, amor?
— Só estava colocando na calculadora as folhas que o Gael me passou esta
manhã. O que a minha menina deseja?
Ele, então, relaxa na cadeira e observa o meu vestido, não tão justo, nem tão
curto, mas de decote V nas costas e não demora para o espírito "Dexter bárbaro"
baixar nas suas veias em segundos.
— Aliás, não gostei nem um pouco daquele professor novinho. Vai usar
coisas decentes se quiser continuar com ele!
— Hum... — Eu me sento bem tranquila na poltrona rotativa que fica de
frente para a sua mesa cara. Cruzo as pernas, ajeitando os meus cachos loiros. —
Para a sua informação, querido marido, eu e o professor Gustavo só nós veremos
uma vez por semana. Todas as quintas.
— Não muda o fato de ele ser idiota e você uma mulher casada.
— Você nem sabe o que ele é de verdade.
— Acha que não? — Anton abandona as papeladas na mesa e ergue-se
muito sério, com o seu tamanho gigante (quase) me intimidando. — Eu sei até o ano
que os animais de estimação dele morreram. Eu não brinco em serviço quando o
assunto é chegar perto dos meus filhos e principalmente da minha mulher.
Eu molho os lábios, ciente de que o Anton é sim capaz de qualquer coisa
com o seu poder influente.
— Eu chamaria o seu comportamento de ciúmes — sem medo, enfrento-o,
segurando a vontade de rir.
— Respondona! — Ele chega perto das minhas pernas e escora-se na mesa.
— Eu sou louco por você!
— A minha bunda roxa diz o contrário.
É ele quem desta vez sorri, e maldoso, inclina-se para acariciar o meu rosto.
— E se afaste. O senhor está proibido por duas semanas de me tocar. —
Distancio a sua mão grossa.
— Pois eu duvido que isso dure por mais de três dias.
— Continue duvidando enquanto vê na prática. E o assunto que eu vim tratar
não é esse.
— Hum. E qual é? — Ele aperta os braços fortes, com uma cara bem-
humorada ao me observar por baixo da sombra do seu chapéu.
— Temos que discutir sobre as terras do meu pai.
— E você já decidiu o que pretende fazer por lá? Estou esperando a sua
resposta.
— É essa a questão. A plantação de videiras não daria certo, pois eu não
saberia administrar de longe. Além de que o nosso clima não colabora.
— Que tal rosas?
Surpresa, eu franzo os olhos.
— Rosas? Quis dizer, fazer cultivo de flores? Igual na fazenda da Maria
Luíza? A senhoria poderosa do mercado de flores?
— Os dois. Tenho certeza de que é um bom negócio. Essa atividade não tem
um alto grau de complexidade, sendo fácil de executar, logo que a manutenção feita
na plantação é simples. E eu poderia lhe ajudar de início. Nossa região tem muitos
negócios assim, onde conheço inúmeros profissionais da área. Ainda tem uma
pessoa de minha confiança, que poderia morar nas terras do seu pai para cuidar do
plantio.
— É o que eu estava pesando, ter alguém morando lá para me ajudar de
longe.
Eu fico chocada, ao mesmo tempo animada com essa ideia. Meu cérebro está
uma confusão só. Eu preciso de um tempo para pensar e para ler sobre o assunto.
Porém, não o descarto, de jeito nenhum.
Parece brilhante!

Ao entardecer, por volta de umas 17h30, o Gabriel chega com a esposa e o


filho de quatro anos – como Anton havia avisado hoje cedo. Eu, sem um pingo de
vontade de desenvolver conversa, fico na minha, ao lado do meu marido no sofá e
com a bebê acordada no colo. O Gieber só deu um oi para o tio e a tia, o primo e já
foi levado pela minha mãe para o quarto, pois está doentinho hoje.
Anton conversa com o irmão sem muita força de vontade. Eu olho atenta
para os dois, que nem de longe se parecem. Gabriel já está na casa dos quarenta e
cinco. Ele é bem polaco, de olhos azuis e calvo, do mesmo modo que o Santiago,
que também não tem nada do Dexter. A esposa dele, a Talita, só sabe me olhar dos
pés à cabeça. O pouco assunto que conversamos foi sobre as crianças. Em seguida,
nenhuma das duas puxou mais nada. De preferência eu.
A visita do Gabriel, para mim, não passa de inconveniência. Ele e Santiago
me fizeram muito mal quando moravam na mansão. Viviam fazendo de conta que
eu era um bicho do mato. Fora da presença do meu esposo, me tratavam de
selvagem, igual a Lorenza. E naquela época, o Anton não me defendia quando eu
relatava das humilhações. Ele era grosso, estúpido. Por isso eu não saia do quarto,
nem comia direito. Eu chorava infeliz, de raiva, medo e carência por ninguém me
amar, por me tratarem como uma imunda suja. Só Deus sabe o inferno que eu passei
com esses dois aqui. Uma parcela de culpa pelas traições do Dexter é deles, por
induzi-lo a "curtir a vida" na capital. Lembro-me de que, antes deles virem para cá,
meu marido pelo menos conversava comigo, me ensinava sobre o mundo, as
pessoas, acariciava a minha pele. Depois da presença dos dois, ele só soube me
humilhar, pisar nos meus sentimentos e ser um ser humano horrível. Mas isso hoje
são apenas recordações, as quais eu raramente penso. E por culpa do Gabriel, eu
estou pensando agora.
Eles, ao irem embora sem aceitar ficar para o jantar, deixam-me aliviada. Já
estava indo colocar vassouras atrás da porta.
— O que foi, Kia?
Anton caminha até mim na janela da sala. Eu estou escorada nela, olhando
para o sol que se põe no horizonte de eucaliptos. Sem dizer nada, eu permito que ele
me abrace.
— Eu sei como se sente em relação ao Gabriel.
— Não gostei da presença dele. Ele me fez pensar em tudo o que passei.
— Eu sei, pois igualmente fiz um giro nesse passado. Só que não significou
nada ruim — ele me vira —, só me fez ter certeza de como eu era um puto imbecil
com a minha mulher. — Anton toca nos meus lábios com o seu dedão. — Hoje eu
sei que tenho a esposa mais maravilhosa desse mundo. E dois filhos que me
ensinam a ser pai todos os dias.
A gente olha para a Melina, que dorme toda enroladinha dentro do seu cesto,
em cima da parte cama do sofá e sorrimos juntos ao voltarmos a nos fitar.
— Você sabe derreter o meu coração quando quer, Anton — confesso,
tocando nos cabelos de sua nuca. — E qual era a sua intenção com o Gabriel nos
visitando?
A minha pergunta o faz demorar para responder.
— Primeiro saber qual era as intenções dele. Tenho certeza de que a Lorenza
está aprontando alguma coisa para se aproximar de mim.
— Não vou dizer que você está exagerando, já que também desconfiaria. A
verdade é que estamos convivendo ao meio de desconfianças pela segurança da
nossa família.
— Sim. Todo cuidado é pouco... — Anton toca no meu decote, já
completamente desfocado da conversa e dou um tapinha na sua mão.
— Você vai respeitar a castidade que coloquei entre a gente, Anton. Me larga
que eu vou para o quarto colocar a Melina no berço.
— Castidade essa que nunca vai existir! — Inesperado, ele me aperta mais
firme no seu corpo, espremendo o meu peito. — Te pego de jeito e te fodo de todas
as formas imagináveis se continuar com essa merda.
— Eu vou continuar para você aprender que eu quem mando! E você vai me
respeitar, sim, seu bruto maldoso, prepotente!
Bravo, Anton controla a mão para não beliscar a minha bunda. Eu, então, o
empurro e livro-me dos seus braços enormes, que me enchem de calor pelos
músculos.
— Ah, e eu estou amando os exercícios que você está fazendo com aquelas
toneladas lá na academia — sorrio, dando uma averiguada no meu marido bonito.
— E tenho certeza de que algumas roupas podem ser descartadas. Elas estão
apertando algo que me pertence a quatro paredes. — Ao desviar do seu membro
marcado pela calça, eu viro maléfica igual a ele, dando o gostinho do seu próprio
veneno.
— Vai brincando, Kiara, vai se arrepender mais tarde! — E nervoso, ele
mastiga a sua fúria sexual e me dá uma encarada arrepiante, que me faz pensar sobre
dormir ao seu lado até o fim da castidade.
Ele vai ser ruim, pior do que eu possa imaginar, eu tenho certeza. Que o
Dexter tenha misericórdia da minha pele. Mas vai ser recompensador vê-lo essas
duas semanas louquinho da silva.
Três dias depois...
Sexta-feira, 20h40 da noite...

Com a mala já pronta na sala, faltava pouco para eu poder ir embora. Mas eu
não tive tempo de sair, eu não consegui fugir. Agora sob o seu poder a mais de vinte
minutos, a adrenalina, remoída de todos os sentimentos possíveis, me consome.
Vitor me olha com uma arma de fogo apontada a sangue frio na minha direção.
— Por favor, me solta!
— Você não vai sair daqui enquanto não pagar o que me deve!
— Eu já disse que não tenho esse dinheiro, Vitor! EU JÁ DISSE!
— Cala a boca! Você é uma mentirosa. Cadê as suas joias? Anda, me fala
onde elas estão, sua descarada?
Eu me encolho no chão, sentindo dor no casco da cabeça pela força dele ao
me arrastar pelos cabelos até o quarto do apartamento.
— Fala, sua vagabunda! Pediu há três meses 200 mil reais emprestados
meus e achou que fugindo da cidade se livraria da cobrança? Pois eu te peguei e só
saio daqui com essas joias ou sem a sua vida! Você escolhe!
Segurando as lágrimas, aponto nervosa para a cama.
— A-Ali, elas estão ali no cofre, atrás da cabeceira.
Vitor continua a mirar a arma para mim e observa analítico a cabeceira de
capitonê. Com medo de dar alarme, eu coloco a mão bem devagar por dentro do
vestido, sentindo no suspensório, que fica no meio das coxas, a minha pequena arma
do tamanho de um palmo. Vitor volta a me fitar com os seus olhos negros. E
nervosa, eu paro de me mexer. A sua altura é de quase dois metros. Seu corpo é de
puro músculos e tatuagens. Eu me encolho no canto da parede, não escondendo o
medo dele. E enquanto me olha, ele afasta a cama, para visualizar o cofre.
— Sem rodeios, diga qual é a senha?
— 235678.
Ele bufa ameaçador, com a sua cara barbuda e vira para digitar a senha. Não
perco tempo. É então neste momento que eu ajo com o coração a mil. Tiro a arma de
dentro das coxas, olho para porta... e choro fria, com a mão trêmula e o dedo duro
no gatilho, tomando coragem para, enfim, disparar contra a sua perna. Ele cai no
chão, sem tempo de revidar. E quando revida, eu já estou de pé, correndo até a
porta. Entretanto, do corredor, eu ouço um disparo que me faz tropeçar sem querer
entre os saltos.

— O que foi, filho? — Minha mãe olha para mim. Eu estou sentado em
silêncio na cadeira da cozinha. — Está pensativo demais. Parece preocupado.
— Nada, somente o dia de trabalho que foi cheio de deveres. Vou para casa
descansar.
— Por favor, espere, Gael, preparei uma marmita quentinha para você levar.
Foi tirada antes de servir os patrões.
Com o cenho franzido, analiso a Ester dar a volta na bancada e vir até mim
com uma vasilha enrolada num pano de prato. Minha mãe sorri do fogão, dando de
ombros e não demonstrando surpresa.
— Ester lembrou primeiro do que eu. Aceita, filho, você deve estar faminto.
Trabalhou a tarde toda num calor imaginável.
— Tudo bem.
Apenas assinto agradecido para a Ester, pois realmente eu estou morto de
fome e ainda teria que chegar em casa e cozinhar qualquer gororoba.
— Espero que goste. Sua mãe deixou que eu fizesse o ensopado de
mandioca do meu jeito.
— E ficou uma delícia, minha querida. Você tem dom para cozinhar.
Novamente, eu só balanço a cabeça e me levanto para ir embora.
— Já vou, quero deitar mais cedo.
— Vai com Deus e bom descanso.
— Igualmente, mãe.
— Boa noite e até amanhã, Gael — agindo muito estranha, com uma
bondade sem igual, Ester me acompanha até a porta externa da cozinha.
Parece que, de um dia para outro, ela esqueceu do seu ódio por mim.
Adiante, sobre a pouca luz do sol, eu vou embora a galopes fortes. Ao chegar em
casa, amarro o meu Amarelo no estábulo bem-feito, coloco feno no chão, encho o
cocho com água fresca da torneira, e entro em casa para finalmente devorar a
vasilha de comida quente. Eu nem senti o sabor direito, comi até com a colher que
cabe mais. Após tomar um banho frio e dormir de primeira, por volta das 02h da
manhã, eu despertei, sem conseguir mais pegar no sono.
Sinto-me inquieto, nervoso e ansioso. Não entendo. Eu precisava relaxar.
— Droga. — Sento-me na cama, coçando a garganta e espreguiçando as
costas para ir até a cozinha. Quando eu volto, deito-me com o peito nu, todo
molhado pela água que escorreu do litro, devido ter virado direto do gargalo. Nem
me seco, fico com o braço sobre o rosto, até dormir pela segunda vez.
Às 03h40, assustado, eu quase dou um pulo do colchão, ouvindo o meu
nome ser pronunciado de longe. Porra, acredito que só possa ser o diabo com as
suas vozes do além, porque não é possível que eu esteja maluco da cabeça!
— Gael!
Nítido e em alto bom som, eu ouço outra vez, com batidas na porta. Eu me
levanto irritado, imaginando que seja algum capataz com notícias ruins. Se não for,
eu mato o energúmeno. No entanto, quando eu destranco a fechadura e giro
descontente a maçaneta, levo outro susto ao dar de cara com a pessoa que eu jamais
esperaria uma hora dessa. Ou nunca.
— G-Gael... — Ela gagueja o meu nome, com os olhos vermelhos e
inchados. Noto que os seus pés estão descalços. — Eu não tenho para onde ir, me
ajuda, por favor. — Lívia, então, me abraça, me apertando forte.
Sem qualquer reação abrupta e sem entender nada, eu fico estacado,
assistindo o seu carro de longe, estacionado de qualquer jeito no meio do escuro.
Juraria que era um sonho. Mas isso com certeza não é.
Ao tomar o controle do meu corpo, puxo-a para dentro, fecho a porta e levo-
a para se sentar no sofá.
— O que faz aqui, Lívia? Como conseguiu entrar na fazenda? Os capata...
— Eu disse quem era e que tinha algo urgente para tratar com você. E o
rapaz que estava de vigia deixou que eu passasse — ela suga o nariz, limpando a
bochecha.
— O que aconteceu com você? Por que está tão assustada e assim:
descabelada, sem sapatos...
— Eu... — ela me olha estarrecida — eu não tinha para onde ir. Eu perdi
tudo, Gael. Não tenho mais nada. Eu viajei por quatro horas sozinha até a fazenda.
Me deixa ficar aqui? Se falar para mim ir embora, eu não terei para onde ir, nem
condições de pagar um... — a abraço, calando-a.
— Ei, eu não vou te mandar embora, fique calma.
Ela me aperta, molhando o meu ombro com as suas lágrimas silenciosas.
— Mas preciso que me fale tudo o que aconteceu.
Ela não fala, nem reage diante da minha condição. Eu retorno a fitar as suas
íris verdes, admirando a sua beleza única. A maquiagem dela está borrada em volta
dos olhos. Até desconheço aquela mulher forte e toda autoritária. Ela percebe a
bagunça que eu analisava e começa a limpar discreta a face, também a ajeitar um
pouco do cabelo.
— O que te fez sair correndo da capital para bater na minha porta?
— Eu não tinha mais para onde ir. Eu fui ameaçada e se não fugisse, eu teria
sido morta.
— Como assim?
— Tem uma pessoa tentando me matar.
Incrédulo, eu me fixo apreensivo nela.
— E por que essa pessoa estaria tentando tirar a sua vida?
Ela desvia os olhos, calando-se. Engulo em seco, permanecendo muito
nervoso e preocupado.
— Se me procurou para se proteger, não vou expulsá-la. Quero o seu bem.
Por isso, também desejo saber todos os motivos que te levou a situação que se
encontra.
— Eu já não estou sendo humilhada o suficiente? Olhe para mim! — Os
olhos dela estão brilhantes. — Você sabe que eu cheguei ao fundo do poço. E não se
preocupe, amanhã procurarei outro lugar.
— Não, Lívia. Só entenda que eu estou atordoado por te ver assim. Ainda
por cima correndo risco de morte. Só quero saber os motivos dessa ameaça.
— Já disse para não se preocupar.
Porra, como eu não vou me preocupar?
Eu suspiro fundo para me levantar rígido e não ficar mais bravo do que me
encontro com ela.
— Quer comer alguma coisa? O que posso te oferecer de rápido no
momento é macarrão instantâneo. Pelo menos mata a fome.
Lívia me fita, assentindo.
— Já volto.
Então desvio dela para ir indiferente até a cozinha preparar o macarrão e
para poder pensar a sós no que me acabou de acontecer, ao abrir a porta e ver aquela
mulher naquele estado. Em dez minutos, quando eu retorno com o prato e a colher,
vejo-a com os joelhos levantados no sofá, olhando pensativa para a parede. Tento
me controlar para não a encher de mais perguntas. Fico imaginando que de fato deve
ter chegado ao fundo do poço com a sua ganância e ambição.
— Aqui. Está muito quente.
Ela pega, sussurrando um obrigada, e coloca sobre o apoio do braço para
comer sem ao menos esfriar direito, mesmo assim, com toda a classe que ela
aprendeu em seu berço de ouro.
— Nunca imaginei que acharia miojo tão gostoso — após comer tudo, ela
me estende o prato.
Eu pego, colocando sobre a mesa.
— Não vou lhe fazer mais perguntas, por mais que eu queira. Descanse.
Pode ficar com a minha cama lá dentro, eu vou deitar aqui no sofá.
— Não, eu quem sou a intrusa na sua casa. Pode ir dormir no seu quarto,
Gael.
— Eu não vou dormir nada, falta pouco para amanhecer.
— Nem eu. Mas quero ficar sozinha. Preciso pensar no que fazer hoje.
— Se está sendo ameaçada, pense que tem o delegado Laerte que pode te
ajudar. Pode ir até ele.
Lívia permanece no seu silêncio irritante, sem me dar respostas. Eu desisto
de querer aconselhá-la e decido ser o melhor deixá-la com a sua consciência pesada.
Só que antes de me deitar, eu pego um travesseiro e uma manta fresca para ela. A
seguir, na cama, repouso só o corpo, estando com a mente acesa até o nascer do sol.
Mais cedo do que de costume, logo que eu não dormi nada, eu me levanto,
escovo os dentes, tomo banho, visto a camisa, a calça, o cinto, as botas e por fim, o
chapéu. Ao parar na sala, perto do arco, ainda incrédulo, eu fico observando a Lívia,
que dorme de lado, com as pernas enroladas. Cruzo os braços e perco a conta de
quantos minutos eu fico assim, examinando a sua beleza inegável. Ontem, foi
surpreendente abrir a porta e vê-la nessa situação triste. De verdade, nunca lhe
desejei mal. Pelo contrário, eu me importo muito com essa orgulhosa. Por isso quero
ajudá-la e aconselhá-la.
Eu me desloco para ir para a cozinha preparar um café forte e fatiar um pão
caseiro. Lívia só acorda meia hora depois. Ela vai ao banheiro, se ajeita, em seguida,
aceita tomar o café da manhã comigo – em silêncio. E só quando terminamos de
comer que eu puxo conversa.
— O que pretende?
Ela me olha, parece pensativa.
— Não tenho ideia.
— Se me dissesse o que de fato está acontecendo, eu poderia talvez te
ajudar.
— Você jamais poderia me ajudar, Gael.
— Responda: por que tem alguém tentando te matar? O que você fez, Lívia?
— Gostaria que soubesse que eu odeio perguntas! — Lívia abandona de vez
a xícara vazia.
— Pois eu não estou nem aí, sua orgulhosa. Quero que seja sincera, que me
fale o que houve.
— Eu não te devo sinceridade, nem nada sobre a minha vida. — Ela se
levanta nervosa, afastando a cadeira.
Só que eu também me coloco de pé, sendo ligeiro ao parar na frente dela e
impedi-la de se retirar ríspida .
— Está com vergonha de dizer. É isso?!
— Sabe de uma coisa? Acabei de me dar conta de que eu não deveria ter
procurado você! Foi um erro!
— Pois é tarde para se arrepender!
— Não é, porque eu vou embora! — Ela me empurra, mas sendo mais forte
e mais alto do que ela, seguro-a pelo braço.
— Se não contar a verdade, eu descubro sozinho!
— Ah, e o senhor "poderoso" acha que tem a capacidade para isso? Se
poupe, caipira idiota! Você não é nada!
— Acabo de perceber que você só tem leves impressões sobre mim. E que
não me conhece nem um pouco.
— Eu te conheço muito bem!
— Não, não me conhece, porra! Assim como eu não te conheço! Só sei que
é uma madame orgulhosa, metida, soberba, de nariz empinado, sem humildade e
que está nesta situação pela ambição e ganância!
Lívia pisca seguidamente as pálpebras, tremendo de raiva e fúria.
— Me solta!
— Diga o que está acontecendo? Deixe-me ajudá-la?
— Já disse que você não pode me ajudar! Me larga! Tira as mãos de mim!
Eu vou embora!
Não a largo, pelo contrário, puxo-a forte para o meu peito, para abraçá-la
apertado e sentir o aroma cheiroso do seus cabelos. O perfume dela é único, é como
se eu estivesse num campo vasto de pinheiros de âmbar. Ela geme e acaba não
relutando para eu largá-la. Não me empurra, não fala nada. Lívia apenas desiste e
deita a cabeça no meu peitoral.
— Não seja solitária consigo mesma.
— Eu sou, pois as pessoas nunca se importam com você. Só querem ver o
seu mal, a sua derrota. Elas riem, zombam, machucam.
— Eu não sou assim e depende das pessoas que colocamos em nossas vidas.
O mundo onde vive é de poder, dinheiro, orgulho. É um querendo derrubar o outro
para conquistar títulos, nomeações. Claro que não teria pessoas boas, de confiança
nesse meio. — Eu ergo o rosto delicado da Lívia, com o polegar. — Não estou
falando a verdade?
— Sim. Mas eu nasci com essas pessoas. Meus pais são a segunda família
mais poderosa e podre de rica do estado, depois do Dexter. E é o meu mundo, Gael.
Eu gosto de ser dessa forma. Eu me sinto feliz com o poder.
— Felicidade não é isso. Seus pensamentos são, desculpe-me, mesquinhos,
tolos. Nem Anton, que tem todo o poder e respeito possível do povo de Montes Do
Sol, é assim. E devido ao seu pai, o Sr. Rangel, que o ensinou e me ensinou a dar
valor as pequenas coisas. Vejo que você está se espelhando na sua mãe, não na sua
real felicidade. Ela te criou, te doutrinou a ser como ela.
— Está enganado! Eu não me espelho na minha mãe! Pelo contrário, eu
quero a ruína daquela falsa! Eu quero ser mais do que ela! Toda a desgraça na minha
vida é por culpa do seu dedo podre e ganancioso!
Lívia se solta e eu não a impeço de explodir os seus sentimentos amofinados.
— Meu ex-marido foi o herdeiro do banco Nasca. E acha que eu me casei
com ele por que eu quis? Foi a mando da minha mãe, para ela ter mais poder. Só que
ela não contava que eu estragaria os seus planos, tomando a frente dos convites para
os eventos milionários, sozinha ou com o meu esposo.
— Isso é nocivo.
— Não, isso foi o meu ápice. Eu tive tudo o que eu quis, abaixei a bola da
minha mãe, vivia nas capas do jornais e revistas, sendo invejável, adorada.
— E era feliz?
— Sim, e eu era muito feliz com esse padrão de vida!
— Mas parece que você perdeu a batalha para a sua mãe e para o poder. Eles
agora estão lado a lado no pódio e você aqui na casa do caipira, fugitiva por não
saber se contentar com o limite. E fique na minha casa o tempo que precisar para
pensar nos próximos capítulos dessa sua ambição tosca. Também espero que saiba
pelo menos fritar um ovo para não passar fome! – Eu dou dois passos. — Até mais.
Aperto firme o meu chapéu na cabeça, viro as costas e abandono-a com a
sua fúria e a sua ideologia de felicidade e soberba sem sentido.

Eu acordo com a Melina chutando o meu braço. Abro os olhos e ela está
virada para mim, com os dedos na boca e as pernas gordinhas suspensas no ar.
— Bom dia, minha menina.
Ela me olha com as suas íris azuis iguais a de Kia e sorri um sorriso gostoso,
banguelo. Como pode com três meses já ser tão esperta? Não quero que ela cresça
nunca. É o meu pequeno tesouro loiro, como a mãe. E esse tesouro está no meio de
nós porque a Kiara acha que eu vou fodê-la a qualquer momento. O que não é
mentira. É só esperar que o dela está guardado.
— Está com fome? — sussurro para a bebê, tirando os seus dedinhos
pequenos da boca. Melina balbucia alto, cheia de felicidade.
Kiara, que estava com a cabeça virada para o outro lado, inclina o pescoço,
observando-nos.
— Vocês sempre combinam de acordar cedo? — Ela boceja ainda sonolenta.
— Mel está faminta. Agorinha ela fica sem esses dedos da mão.
— Vou dar de mamar para ela.
Deixo as minhas duas meninas na cama e espreguiço o corpo, indo escovar
os dentes, tomar banho e me arrumar para descer até o escritório. No entanto, ao
pisar na escada, lembro-me de avisar a Kia sobre uma coisa. E para o terror dela, eu
volto e a pego de surpresa no closet, vestindo só uma calcinha minúscula, do jeito
que me enlouquece – que delícia de visão.
— Sai daqui, seu safado! — Ela me vê e joga uma blusa na meu rosto,
tapando imediatamente os bicos eriçados dos seios.
Impossível segurar o riso e o tesão ao mesmo tempo.
— Esses peitos mereciam uma deliciosa chupada, amor.
— Shiuu, descarado!
— Hum... e essas coxas? Essa barriga? — Eu a analiso safado. — Uma bela
lambida até a buceta. Não acha, minha gostosa?
Kiara vira de costas, tentando vestir rápida e nervosa o sutiã. Entretanto, ela
permite que eu fixe os olhos na sua bunda redonda e a minha mão coça para deslizar
nesse lindo patrimônio. Sou privilegiado, sem dúvida, com essa maravilha feminina.
— Que bunda branquinha, perfeita para ficar gravada a minha mão grossa
por mais de uma semana.
— Eu vou é tacar um par de saltos na sua cara, Dexter! Vai ficar gravado o
número 36-37 na testa!
Eu tento não rir para não demonstrar que eu estou me divertindo com a sua
braveza. Quando ela resolve colocar um objetivo na mente, não há quem tire.
— Não adianta continuar com isso. Você não vai aguentar.
— Se for para ficar me provocando, já passou da hora de sair daqui!
Ela veste um vestido florido por cima da lingerie preta, uma rasteirinha
brilhosa e ajeita o cabelo úmido no seu enorme espelho de parede.
— Vim dizer que eu preciso ir para a capital hoje à tarde, para resolver umas
coisas no banco. Volto amanhã, depois do almoço.
— Hum. É bom que eu vou ficar de férias do senhor.
Kia caminha até parar na minha frente, dando-me um sorriso de lábios
fechados e eu a agarro faminto, tomando os seus cabelos cacheados com força.
— Você não consegue mesmo ser nem um pouquinho delicado, Anton? —
Ela segura na minha camisa, arrepiada com o cheiro gostoso que dou no seu
cangote.
— E você não consegue ser nem um pouquinho boazinha, minha menina? —
Aperto mais os seus fios, arrancando gemidos dolorosos dela.
— Você quase nunca é bom comigo, amor. Por isso sofrerá até semana que
vem.
— Nem a pau, eu posso acabar com o seu poder a qualquer momento.
— É? Não pode, hoje, eu estou no primeiro dia da menstruação. — Kiara
sorri maldosa sobre os meus beiços, acariciando a minha barba. — E nem pense que
vamos ter algo de novo comigo assim.
Eu solto o cabelo dela e pressiono as duas mãos a sua bunda e não digo
nada, só a beijo como uma animal sedento por água fresca.
Eu vou morrer desse jeito. Criei uma falsa santa para me martirizar.
Eu olho para o meu rosto inchado no espelho do quarto do Gael e sobre a
cama dele, eu volto a admirar as poucas joias de valor que me restaram. Não sei se
vai dar para pagar o Vitor e ajeitar a minha vida. Não devem nem chegar a
cinquenta mil. No entanto, ainda bem que eu tinha escondido elas embaixo do banco
do carro. Caso contrário, eu não teria era nada.
Após eu tropeçar no chão, em meio aos gritos de fúria do Vitor e aquele tiro
assustador, deu tempo de eu me levantar, arrumar a mala que ele revirou, trancar a
porta e correr para o elevador. No estacionamento, sai a mil, sem saber onde parar
com o veículo. Só vinha o Gael e a Kiara na minha cabeça, mas não procurei a Kia
por vergonha dela e dos empregados me verem assim, na miséria.
Continuo sem ideia para onde ir. Não posso voltar para a mansão de um
quarteirão dos meus pais na cidade, minha mãe olharia para a minha cara, sorriria e
diria como eu sou uma burra-tola, que preferiu traí-la do que ficar ao seu lado para
sermos fortes "juntas", conquistar admirações. Parece até que eu já posso ouvir a
sua voz.
E que droga, talvez o Gael tenha razão. Eu sei que ele tem, sempre assumi
meus defeitos ambiciosos. Contudo, eu não aceito viver a menos do que eu já
conquistei. Isso não é justo. Eu nunca fui corrupta, nunca roubei e nunca fui
preguiçosa. Quero o meu status de volta.
Sozinha, eu passo o dia pensando... pensando... e pensando. E quando o
Gael chega, ele me vê em pé na cozinha, com um pouco da minha dignidade
restaurada, pois tomei banho, penteei os cabelos e procurei uma roupa mais solta na
mala.
Ele para ao lado do armário de madeira, de braços cruzados, e analisa-me
severo. Eu rolo os olhos para ele e para a sua expressão sombreada pelo chapéu, que
deve causar medo em qualquer coitadinha por aí. Esse homem não nega beleza, nem
selvageria.
— Surpreso pela madame ter feito café? — pergunto sem humor para ele e
para a sua falta de fala.
— Não, eu só estou aliviado por você não ter ido embora. Não queria que a
nossa discussão hoje de manhã tivesse feito você tomar outras atitudes drásticas.
Dou de ombros, sentando-me na cadeira após colocar a garrafa na mesa.
— Eu não teria para onde ir. Não tenho amigas, nem parentes que prestam na
cidade. E nem se eu estivesse morta eu gostaria de voltar para a casa da minha mãe.
Gael se aproxima para pegar a xícara que lhe servi, sem parar de me olhar.
— O que foi?
— Nada. Você já comeu alguma coisa?
— Hum. Sim. E você precisa fazer compras, não sei como sobrevive nesta
casa só com abóboras, tomates, laranjas e batatas.
Gael se senta na frente da mesa redonda, pegando as bolachas do pote e
comendo sem humor.
— E o que cozinhou com a sua criatividade reduzida por ingredientes?
Eu degusto do meu café, prontíssima para rebolar na cara dele.
— Uma travessa de batatas recheadas com queijo, carne moída, abóbora e
ainda coloquei umas folhinhas cheirosas de hortelã.
— Uau... — ele me fita rude — surpreendente.
Eu fico quieta. Ele também cessa qualquer comentário irônico – até que vira
todo o café na boca e levanta-se estranho, dizendo que vai tomar banho. Eu
permaneço sentada na cozinha, no mesmo lugar, compreendendo que ele quer saber
o que está acontecendo comigo. Gael é um bom homem, só que eu não deveria
enfiá-lo nos meus problemas. Nunca fui de compartilhar nada com ninguém. Além
de que eu e ele temos algo forte, que nos atrai e que nos faz ter consciência de que
não deveríamos estar próximos. Por isso, devo pensar o quanto antes no que fazer
para voltar para a capital, pagar o Vitor e me virar com o que me restou – a minha
profissão.

Assim que eu saio do banho e seco-me, eu sinto o cheiro do perfume da


Lívia na toalha e é inevitável não pensar nessa mulher nua, passando cada metro de
tecido no seu corpo. Ela me faz ficar incomodado com a sua presença. É um
incômodo atraente, de querê-la realmente. Entretanto, seus segredos é o que mais
me enfurece. Por que ela não pode ser sincera e permitir que eu a ajude? Que eu
entenda os seus problemas?
Eu visto uma calça pijama e uma regata. Ao sair do quarto, pego a Lívia
sentada no mesmo lugar na cozinha, desta vez, com a tal travessa de batata recheada
ao centro. Ela me analisa, mas não diz o que pensa. Adiante, ergue-se, passa do meu
lado e vai em silêncio até a sala.
No sábado seguinte, decidido a acabar com o meu nervosismo por conta dos
mistérios dessa mulher, vou bem cedo até a Kiara, revelá-la o que está acontecendo,
pedir se ela pode conversar com a Lívia, que não aceita conselhos e nem se abrir
comigo.
— O Anton viajou à noite para a capital, para resolver os seus negócios com
o banco, mas ele volta hoje à tarde — Kiara explica, fazendo-me sentar no sofá.
— Eu quero conversar com você, Kia. É sobre a Lívia.
— A Lívia? O que foi com ela? Vocês entraram em contato?
— Ontem de madrugada, ela apareceu repentina na minha porta, às 03h40,
com os olhos vermelhos, descabelada e descalço, pedindo desesperada que eu a
ajudasse. Que ela não tinha para onde ir. Fiquei sem reação.
— Meu Deus, Gael, meu coração está acelerado. O que aconteceu? Lívia
está na sua casa agora?
— Sim, ela está mais calma. Também perguntei o que tinha ocorrido para
aparecer daquele jeito, no entanto, ela só disse que havia sido ameaçada e que se
não tivesse fugido, estaria morta uma hora dessa. Depois não me falou mais nada.
Não quis ser sincera e revelar todos os motivos para ter uma pessoa ameaçando a
sua vida.
Kiara se levanta, sem acreditar. Está perplexa.
— Por isso eu vim aqui te procurar. Para você conversar com ela. Se Lívia se
abriu uma vez com você, ela pode se sentir segura de novo, para te contar o que
aconteceu. Eu estou preocupado e querendo ajudá-la. Não desejo o seu mal, quanto
mais a sua morte.
— Eu estou em choque, pensando a que ponto ela chegou. E, com certeza,
com o dedo maldoso da sua mãe. Aquele cretina é igual a Lorenza, se não pior, já
que são amigas.
— Eu não a conheço, por isso acho a Lorenza sempre a pior.
Kia me encara, determinada.
— Eu vou até a sua casa, Gael. E vou agora mesmo. Também não desejo
nenhum mal a Lívia, pelo contrário, eu quero que ela fique bem, que mude e que
saia dessa bem.
Gael me agradece sem esconder o alívio pela minha resposta decidida. Meia
hora depois, após trocar a bebê, dar de mamar a ela e vestir o Gieber, eu deixo as
crianças com a Felícia no quarto para pôr uma calça de montaria e ir até a casa do
meu amigo, atrás da Lívia.
Ao chegar, amarro o meu cavalo na coluna da varanda, caminho até a porta e
dou duas batidas delicadas. Não demora para, em um minuto, a maçaneta ser girada
e ela aparecer em surpresa, com a sua beleza natural.
— Kiara? — Lívia arregala os olhos, segurando firme na maçaneta.
— Oi. Desculpa aparecer assim. Posso entrar?
Sem o que dizer, ela assente, afastando-se e dando-me licença.
— Deixa-me adivinhar, o Gael foi te procurar? — Sendo argilosa e direta,
ela questiona séria ao fechar a porta.
— Não o culpe por estar preocupado com você, Lívia. Eu igualmente fiquei.
— Não estou o culpando, o entendo.
Lívia se acomoda calma ao meu lado no sofá. Eu a observo. Admirada por
ser bonita até sem maquiagem e joias. Seus olhos verdes chamam muita atenção ao
mesmo tempo que intimidam.
— Não sei se confia em mim, porém, gostaria que fosse sincera, que dissesse
tudo o que está acontecendo com você. Que me visse como um pessoa para se
desabafar. Como você já fez uma vez.
— Sei que o Gael deve ter dito como eu cheguei aqui ontem de madrugada.
E sobre a ameaça de morte, só que... — Ela respira fundo, engolindo em seco. — Eu
nunca tive pessoas para confiar, Kia. E as que confiei me decepcionaram. Já vocês
são boas pessoas, têm caráteres que eu nunca conheci antes. Não merecem se
preocupar com alguém como eu. Nunca vou mudar.
— Nunca diga nunca. Todos temos defeitos. O seu é nítido, é uma mulher
ambiciosa, ardilosa e que tem muitas experiências; ruins e boas. E olha onde está —
eu aponto para a casa do Gael. — Você veio até ele porque sabia que ele é especial,
que Gael não te negaria ajuda. Agora o que ele te cobra é sinceridade, que diga tudo
o que está acontecendo, para poder te ajudar. Assim como eu.
— Você quer me ajudar? — Lívia indaga olho a olho, molhando os lábios
secos.
— Se estiver a minha altura, sim, eu quero ajudá-la.
Sem falar mais nada, Lívia, então, se inclina até a mala preta no chão,
revirando tudo para tirar uma grande caixa dourada.
— Se quer me ajudar, compre todas elas de mim, por favor. — Ele se
aproxima, abrindo a caixa e revelando-me várias joias lindas.
— P-Por quê?
— Eu estou sendo ameaçada por um agiota. O devo 200 mil. E ontem, eu
fugi às pressas porque ele, o Vitor, encontrou o hotel onde eu estava. E me ameaçou
por mais de vinte minutos com uma arma de fogo, atrás de dinheiro ou das minhas
joias.
— Meu Deus, Lívia!
— Eu sei que o valor das joias não chega nem a 50 mil, mas fará com que o
Vitor me dê um tempo, ou dias para eu conseguir mais.
Sem acreditar, eu aperto a mão dela em choque.
— Você se meteu com agiota? Qual o motivo?
— Todos; todas as minhas dívidas, incluindo a construtora que estava
levantando a clínica.
Eu me calo, vendo-a afastar o braço e mexer nas bonitas joias.
— Se puder comprar elas, já me daria fôlego e novos planos para reconstruir
o meu patrimônio. Ou pelo menos a minha dignidade.
— Eu comprarei todas. Posso chamar um avalista esta semana. Ele nos dará
o valor certo. Também quero que aceite ficar o tempo que precisar na minha casa.
Gael trabalha o dia inteiro, você está sozinha aqui.
Ela se mostra surpreendida.
— Não entendo como pode querer me ajudar tanto desse jeito. No meu
mundo, sempre existe interesse quando alguém tenta ser assim.
— No meu, isso se chama solidariedade. E estou te dando um voto de
confiança, como acabou de me dar, contando a verdade.
— E o Sr. Dexter, Kiara? Ele não vai gostar de me ver de novo hospedada na
fazenda, não depois do que aconteceu no passado.
— Como você mesmo disse, é passado. Está tudo bem, sei que ele vai
concordar. Só preciso conversar com ele e revelar o que houve com você, se me
permitir.
Lívia concorda, desviando dos meus olhos para os quadros da pequena sala.
— Vou esperar o Gael voltar do serviço para também contar para ele que vou
embora. Será melhor que não fiquemos tão juntos — ela volta a me encarar, desta
vez, demonstrando sinceridade e agradecimento. — E obrigada por tudo, Kia. Serei
sempre fiel a você. Pode ter certeza de que eu não brinco com promessas, nem traio
votos de confianças. Acredite em mim.
Eu sorrio de lábios fechados.
— Acredito em você.
Depois de organizar todas as minhas coisas na mala, eu também tive ânimo
para me maquiar, escovar os cabelos, ainda me vestir bonita. Quando o Gael
chegou, ele ficou surpreendido ao me ver na minha habitual imagem diária – de
Lívia chique e de semblante e pose intocável. No entanto, não falou nada, só esperei
ele comer alguma coisa, tomar banho, para podermos conversar na varanda de trás,
que sopra uma brisa fresca e relaxante.
— Kiara veio aqui? Ela conversou com você?
— Sim — eu o observo, sentindo o cheiro muito bom do seu sabonete
barato. Esse homem é lindo, além de me dar demasiado calor. — E ela me convidou
para ficar na mansão.
— Hum.
Gael vira o corpo, apoiando-se rígido na mureta e de braços cruzados, sem
me olhar.
— É melhor que seja assim.
— Claro, adorou o convite.
Abro a boca para o seu rompante.
— Não adorei nada.
— Não minta. Lá que é o seu lugar conveniente — ele declara rude. — No
meio do luxo e de um monte de empregados ao seu desejo. Não rejeitaria a oferta de
jeito nenhum.
Engulo em seco, tentando não ficar brava com ele, já ele não esconde a
irritação ao encontrar as minha íris. Fuzilo a sua face feroz.
— Não fui quem mandou você ir atrás da Kiara! E todas as vezes que
conversamos, eu tenho vontade de te bater! É um arrogante!
— Eu não sou arrogante! Você que é uma metida, orgulhosa, que não aceita
que está falida! E que não gosta de se humilhar como uma pessoa humilde, que
precisa recomeçar do zero! É por isso que mereceu perder tudo o que tinha!
Furiosa, eu me seguro para não bater na cara dele.
— Está frustrado porque queria que eu ficasse na sua casa, é por isso que
está agindo assim! É por isso que está sendo um idiota!
— Assume que é uma ambiciosa, mas não aceita quando eu jogo isso na sua
cara! Ainda escolheu me procurar para ajudá-la, só que não permite os meus
conselhos, nem você, de se abrir e de ser sincera comigo! E sou eu quem agora
quero que você vai embora! Volte para o seu luxo!
Gael se ergue e sai feito um animal bruto, chutando a porta da cozinha e
entrando na casa. Eu balanço a cabeça, sentindo-me estranha, penosa e infeliz pela
reação dele e sigo-o nervosa. Não vou deixar que fale assim, nem que aja como um
ogro.
— Você não quer que eu vá embora! — esbravejo no portal da cozinha,
assistindo-o se servir de uma garrafa de bebida caseira, da cor roxa, que estava em
cima do balcão de madeira maciça.
Gael vira o copo americano num único gole, fingindo que eu não existo.
Irritada, eu chego bem perto dele, tirando-o a brusca o copo, e ele mais furioso do
que demonstrara lá fora, puxa-me puto pelo braço, pressionando a minha cintura e
as minhas costas contra a geladeira. Respiro de forma acelerada, sem forças para
afastar o seu peitoral enorme.
— Você me enlouquece, enfurece, tira a paz! É um pesadelo!
— Você também, seu caipira! É por isso que eu gosto muito de você! —
num tom alto, acelerado, eu confesso pela segunda vez na vida, desde que nós
conhecemos, que eu gosto muito dele e o desarmo completamente. — É por isso que
não conseguimos conviver um dia só juntos. Nenhum de nós quer se ferir.
Controlado, ele cola a sua testa na minha, deixando-me tocar nos seus
cabelos úmidos. Igualmente, permito o seu toque no meu quadril.
— Errei em te procurar. Eu estou arrependida. Eu não devia ter...
Gael me cala, pressionando mais firme o meu corpo e aproximando o seu
nariz do meu pescoço. Perco realmente o contexto, derretida das pernas e agarro
com as unhas os fios castanhos dele, desejando-o mais do que tudo no mundo. Ele
grunhi, pegando da mesma forma na raiz dos meus cabelos, só que com mais
crueldade. Solto um ar farto dos pulmões, raspando os nossos lábios.
— É, Lívia... você errou, com certeza.
— Sim... uma pena arrependimento não matar.
E sem pensar duas vezes, avançamos um no outro, com extrema pegada,
num beijo avassalador, fervoroso e delicioso. Gael morde a minha boca, abraça a
minha bunda e senta-me na mesa. Abro as pernas para ele, detonando os botões da
sua camisa para ver o seu abdômen. Ele toca nas minhas coxas, subindo o vestido e
os dedos grossos para a alça da minha calcinha. Não aguento, acaricio os seus pelos
do peito, indo até os mamilos, depois o pescoço, a barba, a nuca, as costas e a bunda
avantajada desse bruto.
Como é maravilhoso... esse homem é um sonho.
As minhas mãos enlouquecem o Gael. Ele chupa a minha língua e pega-me
no colo. Nossos sexos chegam a se roçar com o movimento. Eu entrelaço as pernas
nele e gemo, beijando-o de forma arrebatadora, até chegarmos no seu quarto, onde
peço para que me coloque no chão. Preciso, almejo deixá-lo maluco. Ele me solta.
Antes, virando-me de costas e dando um aperto no meu bumbum.
— Às vezes, penso que você não existe — Gael fala baixinho, mordiscando
o lóbulo da minha orelha. — Como pode ser tão bonita?
Eu ergo o braço, afagando a sua barba e friccionando a bunda para me
enconchar mais forte com o volume da sua calça. Ele faz. Eu delírio.
— Nem você, Gael. Por que tem que ser tão dominante, rústico?
Sinto os dentes afiados dele no meu ombro, em seguida, as suas mãos nas
duas alças finas do meu vestido preto. Só que não deixo que ele desça o tecido. Eu
viro ofegante, coloco as palmas no seu peitoral e empurro-o na cama. Gael não
gosta nem um pouco e leva-me junto, estragando os meus planos.
— Não está no controle de nada, sua mandona! Não me irrite!
— Você estra...
— Calada! — ele brada, em seguida, detona o meu vestido pela frente.
Eu arqueio as costas no colchão, assistindo os seus braços musculosos
terminarem de esgarçar o pano. E sem sutiã, meus peitos são vistos pelos seus olhos
safados e descobertos e, em instantes, pela sua boca faminta. Arrepiada de tesão,
ofego pelo seus beiços nos meus mamilos enrijecidos.
Gael sobe a boca cálida pelo meu busto, roça a barba pelo meu pescoço;
chupando, mordendo, lambendo. É um verdadeiro selvagem. Ele saboreia cada
pedaço de mim. E num ponto excitado, ergue-me sobre as suas coxas. Sendo
inevitável os meus seios não rasparem nele.
— Perfeita demais... — resmunga de novo e arranca sangue dos meus lábios.
— Suas mãos, sua pele, é tudo macio e delicado. Uma verdadeira diaba sedutora.
Abraço a cabeça dele, acariciando os seus cabelos médios, que chegam na
orelha. E sorrio por suas palavras, movendo-me diabolicamente sobre o seu membro
duro na calça. Um gemido fundo nos foge em conjunto. Eu fecho os olhos, jogo a
cabeça para trás, rebolando cada vez mais forte, louca pelo atrito da minha buceta
pulsante no seu jeans avantajado. Só que o Gael me para, empurra-me na cama e
coloca-se rápido de pé para tirar o restante da camisa.
Também taco longe o restante do vestido que esse caipira rasgou e observo-o
safada, muito safada... maluca para arranhar o seu corpo bonito, sentir o seu pau
enorme e o cheiro de macho que fica impregnado no ar. Gael abre a fivela, puxa o
cinto da cintura e para em silêncio. Franzo o cenho. Ele me observa cruel e maldoso
e balanço a cabeça em choque, com um pouco das pálpebras arregaladas.
— Nem em sonho eu permitiria, seu caipira do mato!
— Vem cá, Lívia.
Meu peito acelera com o seu olhar agressivo, de íris escuras, cheias de
maldade. Ele dobra a cinta em duas partes, sem desviar de mim.
— Não conhece o ditado? Aqui se faz, aqui se paga!
Não tenho tempo de reagir. Ele, então, me puxa pelas pernas, segura os meus
braços e cerca-me os punhos com a cinta. Fico sem entender.
— Não vai me bater?
Sem dar resposta, ele me joga de bruços no colchão, com a bunda empinada
para qualquer maldade da sua parte. Molho a garganta, presa sob o seu poder e
ansiosa para saber o meu fim. E não poderia ser o pior. Gael me morde
horrivelmente no traseiro, fincando os dentes de cachorro. Filho da mãe! Sinto que
saiu sangue e meu coração palpita enfurecido.
— Isso não vai ficar barato, selvagem infeliz! Caipira! — digo alto, com
raiva e com dor.
Só que para amenizar, corrigindo, para torturar, esse homem percorre o
dedão por dentro da calcinha fio, descendo do ânus a minha vagina ensopada. A
seguir, sem avisar, sem falar, sem porra nenhuma, ele me estapeia forte na outra
anca, tão forte que vibra tudo da cintura para cima.
Eu chego a morder o forro da cama, gritando de mais raiva e de mais dor.
Minha bunda queima. O som desgraçado do tapa zumbi em meus ouvidos e Gael
acalenta rapidamente, penetrando-me dois dedos fundos, sem um pingo de dó. Ele
me masturba.
— Ahhh, seu desgraçado! — choramingo, frustrada com a sensação de
prazer e de horrível dor. — Eu te odeio! Te detesto! Eu quero te matar!
— Repita isso quando eu estiver investindo dentro da sua buceta, sua diaba
orgulhosa!
Assim que eu penetro a Lívia, eu fico parado sobre a sua bunda.
Observando-a e maravilhando-me com ela louca de desespero, enquanto se mexe,
contraindo as ancas para trás com o meu pau depositado dentro de si. Meu
sentimento de raiva, maldade, me transforma em outra pessoa. Jamais fui assim. E
essa mulher merece o meu pior.
— Aaaah, Gael! Hummm! — Lívia choraminga, segurando-se para não
berrar.
Então começo investindo e metendo nela com ferocidade por longos
minutos. Até mudo a nossa posição, empinando a sua bunda bonita para fodê-la
literalmente virada para a lua. Ela brame frases safadas e apenas os seus gemidos
são ouvidos no vasto silêncio da casa e da noite, acompanhados dos meus grunhidos
roucos que se completam com o dela.
— Ah, Lívia...
Sem aguentar por mais tempo, eu gozo, lamentando pela camisinha impedir
o meu prazer quente de preenchê-la. Também por só duas vez termos transado pele
com pele. Lívia chora de alívio, caindo na cama com as pernas pressionadas. Eu não
aguento, tiro o preservativo, beijo as suas costas e estímulo o meu pênis semiereto
entre o rego da sua bunda.
— Eu quero sentir você... — quase sem voz, num arquejo cansado, ela
sussurra, virando a cabeça para tentar me ver.
Seus cabelos estão grudados no rosto, como os meus da testa. Eu suspiro
tensionado e viro-a delicado para frente, para admirar a sua beleza nua. Não há um
lugar nela que não seja bonito e excitante de se ver. A fartura dos seus seios
simétricos é angelical, são branquinhos como neve, e as auréolas são rosadas, da cor
da sua intimidade lisa, macia. Sua cintura é definida, suas pernas são torneadas, a
pele é uma seda, cheira aos melhores produtos de gente rica. Eu me sinto como se
estivesse num conto, onde eu sou um carrasco de mãos grossas, de calos, áspero,
que toca numa mulher da realeza que nunca nem lavou um prato sequer.
Lívia é a personificação da perfeição, porém, externamente. Por dentro, as
suas ambições a corroem.
— O que foi? — Ela questiona baixo, mexendo os punhos amarrados pela
cinta.
Calado, resolvo soltá-la e inclino-me sobre o seu rosto, chegando bem perto
da sua orelha.
— Você é deliciosa — murmuro e meto a língua no seu ouvido.
Lívia se estremece toda.
— Entra em mim sem o invólucro, Gael...
— Tudo com calma.
Direciono-me para trás, segurando a sua cintura. Então, passo a boca e a
barba no busto, até o meio dos seus seios empinados, onde massageio o bico rígido
do esquerdo com o dedão e lambo o direito em círculos com a ponta da língua.
— Ohhh, que delícia... continua... — ela crepita manhosa, elevando os
calcanhares na minha bunda.
Junto os dois peitos fartos e abocanho as auréolas, devoro-os, alternando
entre mordidas, chupadas e massagens. Lívia delira com as mãos na minha cabeça.
Literalmente, mamo os seus mamilos e isso a enlouquece de prazer.
— Nossa... humm... gostoso.
Estimulo-a com pressão, percebendo a sua enorme sensibilidades nessa área
belíssima. É demais para mim. Ainda a mamando, eu pego o meu pau dolorido,
fricciono-me e passo na sua grutinha que escorre líquido igual uma cachoeira. E
quando ela percebe, o meu pênis duro, quente, já deslizou para dentro da sua vagina.
Lívia só abre a boca, taca a cabeça contra o travesseiro e me chama feito louca.
Isso é o paraíso. Que mulher!
Fodo-a feroz, de fato, feito um animal. Para ficar melhor, giro-a sentada no
meu colo, para ela rebolar à vontade no meu pau, que, nesta posição, chega ao seu
útero. Ela chora de novo, dançando em mim.
— Aaaah, seu caipira! Aaaah, que gostoso! aaaah... — e chega a se engasgar
com a saliva, as lágrimas e os gemidos roucos.
Eu me controlo para manter o foco, mas a Lívia não quer me ver assim. Por
mais que a cada rebolada as suas pernas comecem a queimar e a doer, ela se
movimenta maluca, sufocando-me cada vez mais com a vagina de vida própria. Fico
sem entender como pode ter tanto poder nessa região.
— Caralho, Lívia... Desse jeito, eu morro!
Aperto os seus quadris e não suporto, eu explodo no interior dela, do jeito
que eu almejava, expelindo jatos forte e ferventes, que transbordam dentro e fora do
seu corpo.
Lívia estala os últimos gemidos e cai amolecida no meu peito, com os seus
cabelos desgrenhados. Nosso coração palpita batimentos acelerados. Respiramos
ofegantes, com o corpo pingando suor. Noto que ela continua a curtir a experiência
do seu orgasmos de olhos fechados. Eu limpo a minha testa molhada, elevando um
braço sobre a cabeça. A outra mão acaricia as suas costas.
Ela ergue o pescoço e inclina para me fitar com os bonitos olhos verdes. Eles
são únicos.
— Eu... eu não vou mais andar, caipira — fala em gaguejo, muito cansada e
com certeza, com dor.
Por um lado, não nego pena e abraço-a em mim, respirando o seu perfume
bom, que me seduz.
— Descanse.
Lívia me toca no rosto, na barba, nos lábios, em seguida, para com o nariz
no meu.
— O que está fazendo comigo, Gael? — sussurra em questionamento e
beija-me de forma carinhosa, movendo-se lenta com os beiços em forma de coração.
Não resisti a acompanhá-la nessa dança apaixonante de lábios.
Depois que paramos, não falamos mais nada. Lívia colocou sua perna em
cima da minha e aninhamo-nos nus, um ao lado do outro. Ela adormeceu primeiro
do que eu, o que me fez analisar os seus traços delicados por muito tempo.
É eu quem pergunto o que você está fazendo comigo, sua orgulhosa?

Pela sorte do destino, não bastava eu ter ficado preso à tarde toda na cidade,
sendo que garanti para a Kia que voltaria depois do almoço, eu agora estou parado
às 20:45 da noite numa BR, pois a droga da caminhonete estragou. Felizmente,
quando a arrumei, eu voltei a dirigir por volta das 21:30, sem maiores imprevistos.
— Boa noite, Dexter.
Ao chegar em casa, encontro a Kia em pé na sala, de braços cruzados,
esperando-me com cara de preocupação e braveza. Ela fica mais linda assim.
Raivosa. Quero beijá-la agora mesmo.
— Fiquei preso na cidade. Fui resolver umas coisas com o Aldo em seu
gabinete. E na volta, a caminhonete estragou.
Ela olha para as minhas roupas sujas de graxa, mas não parece brava por eu
ter demorado a chegar em casa. Aproximo-me, estranhando-a, principalmente os
seus olhos vermelhos e inchados. Só que ela se afasta. Eu franzo o cenho.
— O que foi, Kia?
— O que foi? Eu vou começar a falar o que foi, Anton Dexter! — Ela cora
as bochechas, de raiva. — Seu irmão Gabriel chegou na fazenda bem na hora do
almoço, e exaltado, berrando que queria te ver para quebrar a sua cara, pois o filho
da mulher dele te pertencia! Que você era sim o pai da criança!
— O-o quê? — Arregalo os olhos. — Que porra está dizendo?
Os olhos de Kia brilham marejados. Eu chego a mil perto dela, louco com o
que disse. Kiara não se move. Ela me encara magoada e segurando-se para não
fraquejar.
— Então, Anton? Explique-se!
— Eu vou matar o filho da puta do Gabriel! Não é nada disso que você está
supondo!
— Me solta! — Ela pede entre os dentes e com o coração acelerado, eu a
solto.
— Porra, não é verdade, Kiara, não é o meu filho! Eu...
— Você mentiu para mim esse tempo todo! É por isso que estava próximo
do Gabriel, recebendo ligações e viajando para a capital no meio da semana! Foram
fazer um exame de DNA escondido da burra aqui! E ainda pior! Eu recebi a vadia
que teve relações com você! Ela se sentou nesta sala, neste sofá! Bem aqui!
Ela, enfim, chora e rasga o meu peito em mil pedaços. Fico estacado, duro
das pernas.
— Kia...
— Pois bem, Anton — Kiara respira fundo e curva-se para trás, para pegar
uma folha de papel na mesa, perto do sofá e do vaso de planta. Ao voltar, ela cospe
cada palavra. — Parabéns, você é o pai sim! — e joga o papel, que eu deixo cair no
chão.
— É mentira, eu posso provar! — Tento me aproximar aflito, só que ela não
deixa, chorando e distanciando-se.
— Provas contra um exame já com o resultado? Você jurou que não me
machucaria, que não me magoaria e que nunca mais me faria derramar uma lágrima
triste por sua causa. E quase dois anos depois, eu estou como no passado, sentindo-
me traída!
— Que porra! — Eu chuto o sofá, desesperado. — Eu fiquei com a
namorada do meu irmão há cinco anos, numa noite de festas e bebidas na capital. E
quando você ainda estava desaparecida. Mas não sabia que essa mulher havia ficado
ou estava grávida. E se eu não te disse antes, foi porque eu já tinha feito tanta
merda, que nem me lembrava com quem dormi ou não dormi. Só neste ano, há dois
meses, o Gabriel veio me procurar, relatando que a sua mulher o havia falado toda a
verdade, que ela o traiu e que achava que aquela criança era o meu filho.
Kia se mostra cada vez mais ferida por mim e pelas minhas palavras. E não
aguento, eu avanço para segurá-la. Não quero acreditar que está magoada comigo.
Isso me machuca, me doí.
— Eu realmente te amo, você sabe disso. Eu sou louco por você. Desde que
voltou, que me aceitou, que me perdoou, eu não agi feito um canalha, ou sequer
pensei nessa índole. Sou fiel a você. É a única mulher que eu tenho olhos. É a minha
menina, é tudo o que tenho.
— O fato é sempre o passado, Anton. E desta vez, no presente, já o tendo o
perdoado, você mentiu, não me disse o que estava acontecendo. Não foi sincero, não
me contou dessa história. Esperou que eu descobrisse da pior forma possível, com o
seu irmão berrando aos quatros cantos, para os empregados ouvirem a sua traição e
o quanto eu fui besta!
— Você é um anjo, é o que me restou de bom nesta vida. É a mulher que eu
amo, assim como a nossa família. E aquele menino não é o meu filho, eu posso e
vou provar. É por isso que eu estava aguardando para abrir o jogo com você. Só lhe
revelaria com um exame feito por um laboratório de minha confiança.
Ela balança a cabeça, vira o rosto molhado pelas lágrimas e suga o nariz para
ter forças de me encarar de novo. E ao retornar, não desvio dos seus azuis recaídos,
que demonstram como está arrasada.
Inferno, eu vou morrer a vendo assim!
— Eu só queria esperar o tempo certo para não te ver desse jeito,
decepcionada, arrasada e triste comigo. Me corta a alma, me faz me sentir um
merda!
— Sinta-se, pois sabe o que foi pior? — Ela me afasta abrupta. Eu passo as
mãos no cabelo, na barba, ao ponto de surtar. — Você me fez receber aquela mulher,
aquele homem e aquela criança na nossa casa. E eu os recepcionei na maior
educação. Ainda peguei na mão daquela infeliz, e disse como o seu filho era bonito.
Qual o motivo de ter sido tão nojento a esse ponto? Tão frio e insensível?
— Eu precisava ver eles três de perto. Encarar a cara do meu irmão e aquele
menino. E você mesmo viu que eles se pareciam. Eu posso provar que não é o meu
filho. Eu... eu sei que posso.
— E o exame que o Gabriel veio esfregar na minha cara, para me humilhar e
me chamar de selvagem trouxa e corna?!
— Porra, amor. É falso, é mentira. Ele e a Lorenza planejaram tudo. Tenho
certeza de que descartaram o meu sangue e pegaram o do próprio Gabriel para dar
positivo, achando que nos desestabilizaria. Que... caralho, eu não sei. Para te fazer
se virar contra mim, para nos destruir.
Ela fica em silêncio. Eu permaneço com o peito sendo perfurado pelos meus
batimentos.
— Eu estou muito triste. Estava sofrendo com isso desde a hora do almoço.
Desde que o Gabriel entrou por aquela porta berrando que queria ver você, e que
você era o pai do filho que ele jurava um dia ser dele. Quando foi embora, não sei
quantas vezes eu me peguei chorando furiosa por sua atrocidade, por eu ter recebido
aquela mulher aqui. Eu me sinto tudo, menos normal e de bem com você. Você não
foi sincero comigo.
— Kia... — Tento tocá-la pela segunda vez, só que ela dá dois passos longes.
— Não me toca, Anton! Prove o que tiver para provar e sei lá o que vai
acontecer. Só não te quero esta noite ao meu lado, não te quero perto de mim. Eu
quero ficar sozinha.
— Por favor, Kiara — falo baixinho, mas puto, louco para bater o meu rosto
na parede.
Eu sou um filha da puta.
Ela, em silêncio, após dizer o que tinha para dizer, vira as costas e retira-se
rápida para os degraus, limpando as bochechas. Observo-a desaparecer de vista e me
jogo furioso no sofá, dando um soco enfurecido na mesa de centro. O pé de madeira
quebra, no entanto, a dor do soco nem se compara a ver a minha mulher
decepcionada comigo.
Eu jurei nunca mais magoá-la, nunca mais fazê-la sofrer pelas merdas do
passado. Eu jurei a ela, porra, eu prometi a mim mesmo. Ela é tudo o que eu tenho.
Ela e as crianças e eu daria a vida pela minha família.
Não me perdoo pela sua tristeza, nem pela sua mágoa. Que desgraça!
Eu passo a noite em claro com a bebê e o Gieber dormindo ao meu lado na
enorme cama de casal. A presença deles acalenta o meu coração. Me faz ser forte
para não chorar e nem me sentir sozinha no vasto escuro do quarto. Meus filhos
serão sempre a minha força. O meu amor por eles é indescritível. Talvez só quem
habitasse no meu peito saberia o tamanho desse amor.
Eu também amo o meu esposo e não quero pensar no seu olhar de desespero
ao tentar me explicar a história do possível filho. Estou decepcionada e magoada por
ele não ter sido sincero desde o início, mesmo sabendo que depois de tantos
acontecimentos bárbaros do passado, eu o compreendi, o perdoei e decidi lutar por
suas mudanças e que, novamente, eu poderia fazer isso de novo. Por mais que me
entristecesse (inevitável), lutaríamos juntos para saber se é de fato o seu filho. Mas
não, Anton agiu no mistério. E o pior, ele me fez receber aquela mulher na nossa
casa, na maior inocência, sem saber que, por trás, os dois um dia já havia dormido
juntos. E que a criança sentada ao lado do Gabriel poderia ser fruto dessa noite dos
dois. Foi demais para mim. Eu sinto nojo por ter pegado na mão dela. E se a
intenção não era me ferir, o Dexter não conseguiu. Ele mentiu, estava indo para a
capital fazer DNA escondido. Meus sentimentos são os mais deprimentes. A revolta
nem a raiva passarão facilmente.
— Bom dia, Sra. Dexter.
De cabeça baixa, Sônia aparece envergonhada na porta do meu closet. Eu a
chamei para pegar umas peças de roupas e levar para o Anton no quarto de
hóspedes. Acabei de tomar banho e me vestir, já as crianças continuam dormindo.
— O que foi, Sônia?
— N-Nada, senhora.
— Se é sobre o que você e as outras empregadas ouviram ontem aos berros
daquele homem na sala, não se sinta indiferente. Não foi mentira.
— Eu estou indiferente pela sua tristeza, minha patroa. Sinto muito, não
gostei de vê-la triste e nem chorando.
As palavras doces de Sônia quase me fazem marejar os olhos, entretanto,
respiro fundo e recomponho-me.
— Já estou acostumada a muito sofrimento. Isso não é nem o primeiro
capítulo dos quatro volumes do meu casamento com o Dexter. E obrigada pelo
carinho. Gosto muito de você, minha querida.
— Eu também da senhora. É a melhor pessoa de todo esse mundo. Saiba que
eu estou odiando o patrão. E por outro lado, igualmente triste por vê-los brigados.
Espero que se resolvam.
— É o que eu espero. Mas a minha revolta, amargura e desgosto dizem ser
difícil. Por favor, tome, leve para ele tomar banho e se vestir. Ontem, chegou todo
sujo de um tinta preta, acho que era graxa.
— É ainda toda cuidadosa com ele. O patrão Dexter vai ter que ralar muito
ao teus pés, Sra. Kiara. Ninguém nesta casa está sentindo dó! — Sônia vê que se
exaltou e cora o rosto, recompondo-se e pigarreando. — Humrum, desculpa,
senhora. Eu já vou. Com licença.
Sorrio dela, que vira as costas com o seu cabelo loiro balançando. Adiante,
eu vou cuidar dos meus dois tesourinhos. Melina despertou chorando, o que
consequentemente fez o Gieber abrir os olhos. Minha mãe também apareceu para
me ajudar.

— Bom dia, minha doce menina. — Na sala com as crianças, Felícia vem
até nós. — Bom dia, Judite.
— Bom dia, Felícia — falo em conjunto com a mamãe.
— E como você está, querida? — pergunta, tocando preocupada no meu
braço.
— Eu estou bem — dou de ombros. — Vocês sabem que eu já passei por
coisas piores.
— Sabemos, e é por isso que sempre estaremos ao seu lado, minha filha.
Anton tem a revolta de duas leoas contra ele.
Felícia aponta para a minha mãe e concorda dura, com cara séria.
— Exatamente. E o que me preocupou mais foi que hoje eu levantei e vi a
mesa de centro com os pés quebrados. O que aconteceu?
— Nada grave. A gente conversou quando ele chegou, só que foi pior. Sobre
a mesa, do jeito que o conheço, deve ter sido ele na hora da fúria. Acho que
descontou dessa forma após eu deixá-lo sozinho. E não quero relatar nada agora, me
desculpem. As coisas ainda estão frescas.
— Fique tranquila, a minha posição, assim como a da Felícia, é de apenas
lhe apoiar. Não precisa de explicações. É algo entre você e o seu marido.
— Sim. Só queremos ver os dois bem, com os problemas esclarecidos.
— Obrigada, vocês são duas mães maravilhosas na minha vida.
Uma lágrima, por pouco, não me escapa, no entanto, sugo-a ao perceber a
presença do Anton nos últimos degraus. Felícia logo me olha e pede licença.
— Papai!
Gieber vê o pai, arregala os olhos e corre até ele, com certeza, para matar a
saudade de não o ter visto ontem. Minha mãe, da mesma forma, me fita, dizendo
que vai ver se a mesa do café está pronta. Já eu, sem poder fugir como elas, fico
sentada no sofá, com a Melina mamando faminta no peito. Observo o Anton pegar o
nosso bebê no colo e beijar o seu rosto. Gieber se mostra tão feliz que ri alto,
abraçando-o forte.
O Dexter me olha. Eu desvio, acariciando a coxinha gordinha da bebê.
— Kia...
Ele se aproxima com os seus sapatos marrons, só que eu continuo desviada,
com o meu coração triste, e lembro-me de outro assunto, o qual era para eu ter
relatado ontem em detalhes, se não tivesse acontecido o que aconteceu.
— Lívia vai ficar umas semanas hospedada conosco, não sei por quanto
tempo. Ela precisa de ajuda e eu quero ajudá-la. Se deseja saber os motivos disso, o
que sei que vai querer, pergunte para o Gael. Ele, com certeza, te explicará tudo o
que aconteceu — não o olho, digo as palavras assistindo a minha filha sorrir
banguelinha para mim, sem saber se mama ou se ri pela atenção.
Anton coloca o Gieber no tapete. Percebo a sua respiração forte.
— Se está confiando nela ao ponto de ajudá-la, não vou discordar da sua
bondade. Depois converso com o Gael para saber o que aconteceu. Eu vou até a
casa do Laerte.
Sem a minha resposta direta, ou sem a minha reação de querer talvez
retornar aquele assunto odioso, Anton bufa nervoso e retira-se, apertando o chapéu
na cabeça. Desta vez, eu me viro, vendo-o caminhar todo forte até a porta principal.
— Mamãe, papai não qué come? — Gieber, meu homenzinho, pergunta
cheio de curiosidade ao seguir o pai com os olhos.
Vejo como é esperto. Ele sabe que daqui a pouco é hora de tomarmos o café
com todos reunidos a mesa e quando o Anton não está, a sua falta é sempre
perceptível.
— Ele precisou sair, meu amor. Mais tarde o papai volta, tá?
Gieber acena com o rosto, voltando a brincar com os seus bonequinhos de
super-herói. Eu suspiro cansada, imaginando que o Anton foi até o Laerte para
desabafar e buscar conselhos. O delegado é como um padrinho para ele. E Laerte
sempre quer o seu bem, o trata igual um filho. Até acho melhor que vai lá pensar
direito no que fez, e que o Laerte o aconselhe, pois eu não quero estar na sua
presença. Nem o ouvir.
Eu acordo tocando no lado vazio da cama. Aperto o lençol no meu corpo e
fecho os olhos.
Meu Deus, está doendo em todos os cantos imagináveis e no próprio
imaginável. Meus ombros doem, meus braços, minhas costas, minhas coxas, minhas
pernas e principalmente entre elas. Sinto que precisarei de uma boa pomada para
assadura. Também para os hematomas roxos.
Suspiro, erguendo-me entre gemidos de dor. Olho para a beirada da cama e
vejo peças de roupas limpas. Penso que o Gael deve ter aberto a mala para pegá-las.
Ainda escolheu um vestido solto, florido. Que me deixa mais menina.
Por que ele tem que ser tão cuidadoso, protetor e bom de cama com aquele
pau enorme? Isso só me faz pensar em como é um homem incrível. E que devo me
manter longe para jamais criar expectativas. Minha mãe diria uma hora dessa que
uma Castellano nunca se envolve com pobretões. Quanto mais com caipiras
rústicos. Uma pena ela não saber como esses rústicos são capazes de te dar cinco
orgasmos por noite.
— Oi... — Na cozinha, eu encontro o Gael ao lado da sua pequena cafeteira,
encostado no armário.
Parece que o trouxe de volta ao presente, estava olhando para longe, cheio
de pensamentos. Ele me fita e eu faço o mesmo, analisando os seus cabelos úmidos
e a sua roupa casual de ficar em casa; um jeans com um cinto de fivela pequena,
uma camisa cinza, que preenche seus músculos sem deixar sobrar tecido nos bíceps
e nos ombros. Lembro-me de que ontem achei pesos enormes no quartinho onde
junta tralhas. Não resisti em pensar que ele deve malhar lá sempre que possível.
Todo suado, sem camisa, só para manter esse belo porte, e existe um saco de
pancadas na varanda de trás. Realmente, eu fiz bem em nunca duvidar de que ele
fosse irmão do Anton. Os dois se parecem muito fisicamente. Por mais que o Sr.
Dexter seja alguns centímetros mais alto, não muda o fato do Gael continuar sendo
um gigante para mim, acho que deve ter uns 1,80 m para mais. De saltos, eu até
consigo ficar abaixo do seu nariz.
— Oi — ele responde seco, movendo-se para me servir uma xícara de café.
Pego e de pé mesmo, eu me mantenho. Não posso me sentar.
— Como se sente?
— Não vou dizer a verdade para não inflar o seu ego.
Vejo que o Gael não sorriu. Então, desvio. Esqueci que nunca tenho bom
humor para fazer ninguém abrir sorrisos. Quanto mais esse homem. E ele está bravo
comigo. E tenho consciência dos motivos. Só que não quero lhe compartilhar nada.
— Eu já vou. Eu disse para a Kia que ia embora ontem à tarde. Ela deve ter
ficado me esperando.
— Hum.
Ele termina o seu café e como se não se importasse, passa rude por mim.
Mas, incomodada, pego no seu braço.
— Gael... não seja grosseiro.
Ele inclina o pescoço e eu tiro a mão dele.
— Eu quero que vá embora com os seus problemas, Lívia. Não fode com os
meus neurônios. Você é um pesadelo que tira a paz!
Abro a boca, sem saber o que dizer, e só posso olhá-lo voltar a andar rígido
até a porta dos fundos, em seguida, fechá-la.
Eu não devia me sentir chateada por esse comportamento logo depois de
uma foda tão maravilhosa. Ou devia?
Não, não devo. É melhor que seja assim. Eu sou a Lívia Castellano e ainda
me resta dignidade nesta merda de vida.
Vinte minutos depois eu pego a minha mala, coloco no bagageiro do carro e
saio da casa do Gael sem informar nada para ele. Ao chegar na mansão Dexter, eu
sou recebida por uma empregada na porta principal e levada até a Kiara na sala. Só
que a noto diferente. Ela sorri fraco, como que se tentando não transparecer algo.
— Está tudo bem, Kiara?
— Sim. E o que aconteceu com você? Juro que eu nunca te imaginei tão
simples, Lívia; de rasteirinhas, vestido solto, sem maquiagem, sem joias e de
cabelos molhados.
Não nego que também estranhei o meu desleixo.
— Ah. Eu saí às pressas da casa do Gael, nem pensei em me vestir
"clássica".
— Como ele está? Você disse para ele dos motivos de estar sendo
ameaçada?
— Não. Eu senti que foi um erro ter o procurado. Me arrependi. Não quero
ele próximo disso.
— Por quê?
Após me sentar ao seu lado, ela me olha sem entender.
— Gael é complicado e eu sou mais complicada ainda. A gente não sabe
conversar civilizados na maioria das vezes. É um arrogante todo cheio de razão, que
acha que é um super-herói.
— Eu não estou acreditando no que está me dizendo. O Gael, um arrogante
cheio de razão? Aquele homem é um cavalheiro. Muito doce, leal, amigo e que, de
fato, quer ser um herói. Ele se importa com as pessoas, quer ajudar até onde
consegue ser possível.
— Mas eu não quero a sua ajuda. Por favor, Kiara, vamos deixar tudo isso só
entre a gente. Você comprando aquelas joias já está me socorrendo muito. Não sabe
como.
— Está bem..., Mas acho que poderia pensar com calma em permitir a
amizade e os conselhos do Gael. Não entendo o que tiveram, só que ele é uma boa
pessoa. Poderia conhecê-lo melhor.
Sim, ele é uma ótima pessoa. No entanto, como ele, eu também acho que não
devemos nos relacionar. E não o quero próximo. Eu realmente não quero. Vê-lo me
acende um fogo que nem extintor apaga. Nunca, na minha existência, eu fiz sexo da
forma que me proporcionou desde que o seduzi; selvagem, animal, bruto, gostoso e
com uma pitada apaixonante. Além de que ele só vê defeitos em mim. Parece que, lá
no fundo, me odeia. Eu seria o diabo amarrado às suas canelas.
— Você tem preocupações maiores do que com um caipira, Lívia! – a voz do
meu subconsciente grita de repente. E tenho mesmo. Preciso do meu capital gigante
de novo. O poder, o luxo, a boa vida na cidade e no exterior são coisas que só o
dinheiro pode proporcionar. E essa é a minha felicidade. É quem eu sou. Ponto final.
— Vou pedir para alguma empregada levar as suas coisas para o quarto de
hóspedes. Aceita comer algo? A gente já tomou o café, no entanto, posso pedir para
a Felícia te trazer uma bandeja de bolo com suco.
— Sim, eu aceitaria. Obrigada, Kiara.

Para não ficar sozinha na sala de estar, eu chamo a Lívia para comer o seu
bolo ao ar livre no jardim comigo, as crianças e a minha mãe – achei bom que as
duas tiveram a oportunidade de se conhecerem melhor. Vi que a dona Judite deu
uma chance a ela. Gostou de ouvir as suas histórias sobre o exterior, sobre moda,
luxo e lições sobre boas maneiras. De umas semanas para cá, essa senhora colocou
na mente que quer aprender a ser uma mulher chique. Lívia acabou de se propor a
ajudá-la com isso, durante o período em que estiver conosco. Nem preciso dizer que
a mamãe ficou reluzente, né?
Já Felícia, numa oportunidade em que me pegou sozinha no quarto,
questionou curiosa e desconfiada a hospedagem da Castellano.
— Você confia nela, depois de ter sido cúmplice da Lorenza?
— A gente sempre confia desconfiando. Seja até mesmo de um parente. E já
resolvemos as nossas questões do passado. Desta vez, a Lívia está sendo ela mesmo.
Estou a ajudando.
— É uma boa pessoa, Kia. Tome cuidado. Desejo o seu bem.
— Sei que sim. Também te peço que a trate bem, que dê uma segunda
chance a ela.
— Jamais a tratarei mal, de jeito nenhum. É a sua hóspede e eu sou só a
governanta. Além de, ao contrário de Lorenza, Lívia nunca me tratou indiferente.
Igualmente darei um voto de confiança com os dois olhos abertos.
Sorrio, assentindo. Felícia acaricia a minha mão.
— Você não vai falar com o Sr. Dexter? Ele chegou há trinta minutos. Está
no quarto das crianças dando atenção para o Gieber.
— Eu... eu não quero — suspiro, sentando-me na cama e olhando para o
berço da Melina. Ela dorme feito um anjinho. — Eu estou magoada. Toda hora,
fecho os olhos e me vem a imagem e a voz do Gabriel dizendo que eles fizeram um
teste de DNA escondidos de mim. E que o seu filho, na verdade, era filho do Anton.
Depois à noite, do Dexter desmentindo, dizendo que podia provar que não era. Eu
não sei, sinto-me decepcionada, traída.
— Tenha calma. Se o Sr. Dexter disse isso é porque ele pode provar. —
Felícia sorri fraco. — E com as minhas humildes desculpas, eu lhe peço licença,
doce Kia. Preciso me arrumar para acompanhar a Ester na vila. Ela está louca para
andar na feira noturna.
— Nossa, que maravilhoso. Faz tanto tempo que eu não sei o que é uma
feira. Na verdade, eu nem sei como é ser uma pessoa comum.
— Se um dia fosse, todos lhe cercariam de admiração. Você é muito
especial.
— Sim. Quem sabe um dia eu não vou? — Noto que os meus olhos
brilharam ao pensar nessa possibilidade.
Felícia se despede e retira-se. Eu fico sozinha, pensativa com as minhas
tristezas. Então verifico a Melina no berço protegido e resolvo sair devagar do
quarto. Ando pelo corredor, admirada pela beleza da luz da tarde, que reflete na
vidraça da janela e colore as paredes brancas de alaranjado. Eu vou até o quarto do
Gieber – giro a maçaneta e encontro o Anton sentado no chão, com as costas
apoiadas na caminha do nosso menino. Ele está com uma perna dobrada e a outra
estendida no tapete.
Não entendo como essa cena pode afetar em negativo o meu coração. Anton
brinca com o Gieber, impressionando-o com as suas habilidades no yoyo. Os dois
sorriem.
— Eu quelo faze, papai. Deixa eu faze, deixa eu faze.
Anton entrega o brinquedo para o arteiro, que se embanana todo, apenas
enrolando o barbante no dedo e balançando o objeto.
Eu cruzo os meus braços, com vontade de me emocionar, mas eu sou pega
no flagra quando o Dexter inclina a cabeça e encontra o meu olhar triste. Gieber
também me encontra, porém, esse mini Dexterzinho abre um sorriso de orelha a
orelha.
— Mamãe! — Meu príncipe, então, corre saltitante até mim. Seus cabelos
balançam igual ao do pai. — Vem pra voxe blinca! — Ele agarra a minha mão,
puxando-me a força para próximo do Anton. — Vem, mamãe!
Eu o sigo com os meus saltos finos. Ao parar perto da perna do Dexter, ele
me entrega o yoyo.
— E-Eu não sei fazer, meu amor.
— Mosta, papai. O blinquedo indo.
Anton me observa sem parecer ouvir a sua pequena cópia. Nem eu.
Não queria estar assim magoada. Eu queria beijar a sua boca, estar entre os
seus braços fortes, provocando-o, amando-o, sentindo o seu calor. Ele não devia ter
mentido. Ter me feito tocar na mão daquela mulherzinha na maior educação, sem
saber os segredos que ela, Gabriel e ele escondiam da burra aqui.
E se ele for o papai do filho dela? E se não tiver provas do contrário?
Às vezes, eu não duvido de que o exame do Gabriel seja verdadeiro. Só que
aí me lembro da Lorenza. E se for um plano da assassina em liberdade, contra nós?
Anton pode estar confiando nisso.
— Papai, mosta ele indo! — Gieber balança impaciente o seu pai.
Ele desvia sério, pego o outro o yoyo e faz perfeitamente, indo e vindo.
— Voxe, mamãe.
Gieber pega outro yoyo do chão e estende-me. Eu olho para o meu bebê.
— Eu não sei, querido.
— Depois brincamos, Gieber. — Anton se põem de pé com o seu tamanho
enorme. — Mamãe e eu precisamos conversar.
Olhamo-nos e eu engulo em seco.
— Não vamos conversar.
— Eu preciso, Kiara, por favor.
Anton dá o brinquedo para o bebê e diz para ele que já volta. Em seguida,
espera que eu comece a andar para fora do local. Eu respiro fundo e saio na sua
frente.
— Melina está sozinha no berço, eu não posso demorar. Diga, o que você
quer?
Ele bufa de forma estranha, parando-me perto da parede. Sinto o seu
nervosismo, o desespero. Ele ergue o braço quase ao lado da minha cabeça.
— Que porra, Kia, não fique assim. Não quero você decepcionada comigo.
Ontem, eu te disse toda a verdade.
— Disse, mas cadê as provas? Estou magoada, decepcionada, traída! Foi um
mentiroso!
— O segundo DNA foi feito numa clínica de minha confiança. O resultado
sai daqui quatro semanas. Tenho certeza de que não é o meu filho. E você também.
Eu viro o pescoço, sentindo impaciência.
Então ele ia me contar as coisas só daqui quatro semanas?
— Achou que eu poderia fazer o quê? Droga, olha para mim.
Eu o olho com fogo nas têmporas. Noto que a minha tristeza evoluiu para
raiva e tudo de ruim. Ele vai aprender a nunca mais esconder nada da sua mulher!
— O exam...
— Se tivesse aberto o jogo desde o início e não tivesse trazido para me
humilhar o seu irmão e a mulher que você fodeu um dia, talvez não precisasse estar
no quarto de hóspedes sem data de retorno para a nossa cama! — esbravejo furiosa.
— Não venha com "achou que eu poderia fazer o quê?". Você foi errado na decisão
das suas atitudes. E nunca mais me esconda segredos! Até esse exame sair, sinta-se
acomodado no seu novo aposento! Não vamos ter nenhuma relação!
— Eu errei, pronto, eu estou te pedindo perdão! — Ele coloca as mãos em
mim, louco, descontrolado com a minha fúria. — Não me enlouqueça, caralho! Não
fique com raiva!
— Não aceito perdão nenhum. Me solta!
Anton não me solta, ele me puxa puto, realmente com um louco.
— Você só vai piorar a sua situação, Dexter! — Bato no braço dele.
— Eu só queria te poupar do início, Kiara. Eu ia revelar as coisas quando
tivesse certeza, para não sofrer antecipada!
— Pois não teve sucesso! Agora, daqui quatro semanas, você volta a tocar
nesse assunto!
Consigo empurrá-lo.
— Que porra! — Seus olhos cospem brutalidade, raiva e vontade de socar a
si mesmo como um animal.
Que soque!
— E a responsabilidade do banho, do jantar e de colocar o Gieber para
dormir é sua esta noite. Passar bem! — antes de ele abrir a boca, eu exclamo e viro
as costas, muito orgulhosa de mim.
Ainda posso ouvi-lo resmungar xingamentos. Acho que também deu um
soco na parede. Todavia, não pode, nem deve me contestar. É ele quem errou. Não
vou ser a Kia boazinha e fraca. Que o Dexter sofra, como eu estou sofrendo com a
minha magoa!

Pego nos meus cabelos, enlouquecido. Em seguida, penso nas palavras do


Laerte.
Dar tempo ao tempo.
Porra, mas o problema é que o tempo é grande e a minha paciência é curta!
Estou desesperado para a Kia entender que eu queria esperar o exame para ter
certeza de que não a machucaria. Entretanto, a machuquei.
O Gabriel fodeu com tudo. Ele fez de propósito para se vingar da traição da
mulher. Eu quero socar, triturar a sua cara! Aquele menino não é o meu filho!
O pior é que eu sei que o Gabriel e a Lorenza planejaram tudo isso. Ainda
mandaram publicar a fofoca com "as provas" no segundo maior jornal da manhã.
Pobres imbecis, burros. Agi mais rápido do que eles. Não suportaria ver a Kia
sofrendo duas vezes por minha culpa. Imagine as manchetes com essa notícia?
Como ficaria arrasada, sentindo-se humilhada? Eu não poderia, é por isso que fiz o
Isaque, meu detetive, mover o mundo para o jornal Folha Popular ficar ao meu
lado. E ele conseguiu. Conversei com o dono da editora, seu Marcos Paulo, e ele
disse que estava ao meu lado, que o responsável pela possível coluna seria mandado
embora, pois, com certeza, foi pago propina para ser publicada a manchete. Também
que as folhas impressas serão descartadas.
Fiquei tão aliviado que o convidei para passar um dia de lazer na minha
fazenda. Ele disse que não negaria o convite, seria uma honra vir nas férias do ano
que vem. Foi um problema a menos. Agora ficar quatro semanas sem a minha
mulher é uma punição que não contesto. Eu agi como um filho da puta e não posso
assumir o contrário, seria um hipócrita.
— Quelo mama. — Pego o Gieber no colo e ele fala manhoso, pendurando-
se no meu pescoço.
— Não acha que já é grandinho para mamar na mamadeira? — pergunto em
tom de humor.
Ele balança a cabeça em não e eu beijo os seus cabelos. Em seguida, pego
uma fralda, uma peça de roupa, alguns brinquedos e levo-o para o quarto de
hóspedes, onde serei obrigado a dormir por uns bons dias. Dou banho nele na
banheira, saindo ensopado, depois o coloco sobre a cama, tendo certeza de que se a
Kia visse essa cena, ela me beliscava a orelha.
Mas ela não está vendo. Ela não está aqui com os seus olhos dóceis de amor
e de reprovação.
— Mama, papai.
— A vovó já está vindo com o seu leite. — Sorrio da cara do meu menino,
que coça os olhos com sono, querendo a sua mamadeira.
Enquanto o visto, eu fico pensando em como posso amar tanto ele. Não se
compara aos meus sentimentos de esposo pela Kiara. É ainda maior. Eu não sei
explicar, talvez seja como imaginá-lo correndo perigo e eu louco, não querendo nem
pensar nessa possibilidade – e porra, não quero pensar de jeito nenhum. Quanto
mais na Melina, a minha princesa. É aí que eu surto de vez. Principalmente a vendo
correndo o risco de ser iludida por qualquer infeliz interesseiro.
Para o bem dela, espero que não cresça. E se crescer, terá o direito de se
casar só com 35 anos. Ou 40? Quarenta me parece uma boa. Tá aí. 40 anos e sem
direito a me contestar!
Uma semana depois...

Durante a semana, eu passo bem longe da mansão e principalmente da


cozinha. Minha mãe veio até me visitar para saber o que estava acontecendo.
Disfarcei, sem dar motivos apropriados. Mas hoje eu não pude fugir. Kiara mandou
uma capataz avisar que ela estava me procurando e que me aguardava na sua casa
para conversarmos. Agora tem como dizer não para a Kia? Desconheço ser humano
mais determinado.
— Oi... — ouço uma voz no meio dos arbustos de flores, enquanto
caminhava pelo labirinto, em direção à segunda entrada particular da casa.
— Acho que rosas não podem falar.
— Obrigada pelo elogio, Sr. Gael. Sinto-me lisonjeada.
Sorrio de lado ao reconhecer a tonalidade suave que me responde. Ela
aparece de trás das rosas, dentro do seu uniforme vermelho e, em detalhes pretos.
Está sem a toca de cabelo – como sempre gosta de tirar ao me procurar. Não
escondo que a Sônia é bem bonita de rosto. Tem coisas nela que encantam. As suas
sobrancelhas marcantes são uma delas.
— Hum, desculpa a pergunta. Por que o senhor sumiu da mansão?
— Eu não sumi.
— Sumiu sim. A semana toda. As meninas estavam falando pelos cantos que
é devido a Ester — ela dá de ombros. — Também acho.
— Como as suas colegas podem ter tanta certeza disso?
— Sinto muito a sinceridade, mas é porque ninguém gosta da Ester. Ela quer
mandar na gente só porque é a auxiliar da dona Maria e a filha da governanta. E
devido você ter sumido de vista essa semana, Manu e Joana ficaram zombando em
ironias dela.
— Isso foi muito feio.
Sônia volta a dar de ombros e a me acompanhar para o gramado, onde tem
um chafariz com algumas estátuas de luz e bebedouros de água ornamentais para os
passarinhos.
— Hã... foi por causa dela, né?
Penso na Lívia na mesma hora. Quem me dera se fosse só pela Ester.
— Bom... sim, não vou mentir. Ela pode ser bem obcecada, obstinada e
ciumenta quando quer. Estou fugindo de alimentar qualquer sentimentos passados.
— Sentimentos seus ou dela?
— Os dela em questão. Na verdade, eu não quero suprir nada por ninguém.
Ao pararmos perto do chafariz, eu olho bem fundo nos olhos de Sônia. Ela
engole em seco, desviando incomodada e meio ruborizada.
— Eu também não quero — diz, mexendo no cabelo e voltando a me fitar
desconfortável. — O senhor virá a festa de aniversário do pequeno Dexter esta
noite? — muda de assunto.
— Festa? — Franzo o cenho.
— Sim, a Sra. Kiara disse que iria te convidar.
— Bom, menos uma surpresa. Acabo de descobrir o que a Kiara tanto
desejava conversar comigo. E certeza que eu não comparecerei. De jeito nenhum.
Tenho motivo e ele tem olhos verdes e um traseiro que deve estar roxo até
hoje. Gostaria muito de conferir. Nossa noite não sai da minha cabeça. Sinto calor
em pensar nela; na sua pele, nos seus lábios, nos seus cabelos... em tudo. Seu
perfume ainda está impregnado como uma mancha em mim e em meus lençóis.
— M-meu Deus, então não era para falar! — Sônia leva a mão na boca,
trazendo-me de volta para a nossa conversa. — Eu acabo de ser uma fofoqueira!
Sorrio dos seus olhos esbugalhados. Essa menina é tão delicada.
— Por favor, Sr. Gael, finja que eu não te disse nada. O que a minha patroa
pensará de mim? Eu sou de sua confiança, quase uma confidente! Ela vai me achar
uma fo...
— Calma — pego delicado no seu braço e a calo instantânea com o meu
toque. — Nossa conversa nunca existiu. Fingirei que não sei nem que dia é hoje.
Falando nisso, que dia é hoje?
Ela solta o fôlego que prendia sem sequer perceber e alivia-se, sorrindo
também.
— Obrigada.
Assinto, sem desviar dos seus castanhos gentis.
— Hurum! — Alguém pigarreia de longe.
E ao virar a cabeça, sou eu quem engulo em seco, visualizando o meu
pesadelo noturno, sentado no banco de madeira, de pernas cruzadas e observando-
nos de forma calculista e implacável. Fico incomodado. Sinto vontade de ir embora
agora mesmo.
Será que ela estava nos observando o tempo todo?
— S-Senhora Lívia Castellano — Sônia gagueja muito baixo para si.
Ela puxa a sua mão e eu a solto. Então, afasta-se assustada e desesperada,
quase correndo de vergonha até a porta de vidro. Ao sumir de vista, Lívia intensifica
as suas íris, abrindo um sorriso maléfico. Caramba de mulher sem igual. Ela se
levanta cruel, caminhando – melhor, desfilando as suas curvas definidas, sensuais e
alucinantes. Ainda dentro de um vestido justo, decotado, que fez o meu membro dar
sinal de entusiasmo. Ele gostaria de dizer boas-vindas pessoalmente.
Teremos que ter uma conversa mais tarde, de como se comportar decente na
presença desta mulher – como se ela fosse alguém com decência – penso eu.
— Hum... você tem muita variação de cardápio por aqui — sussurra
maldosa, ao parar com o seu perfume dos infernos sendo exalado pelas minhas
narinas. — Com certeza, não passa fome, nem vontade.
Meu pau dá uma outra pulsada – droga, seu filho da mãe traidor.
Lívia percebe os meus músculos tensos e sorri com os seus belos dentes
brancos. Infelizmente, não tem como disfarçar o meu desconforto perto dela.
— Estou enganada, caipira?
Como que pode ter esse poder? Quero bater na sua bunda.
— Não. Há até certos cardápios finos que eu já provei nestas terras. — Olho
para o seu decote, adiante os seus olhos verdes, fisgando um pequeno sorriso de
lado.
Ela me fuzila.
— Tenha vergonha.
— Digo o mesmo a você, madame da cidade! — Puxo-a contra o meu peito,
para ela sentir o meu órgão duro no osso da sua pélvis.
Foda-se se a evitei à toa. Essa onça de olhos verde e de bunda grande me
enlouquece. Quero tacá-la em qualquer árvore e afundar-me entre as suas pernas.
Lívia suspira com a minha reação abrupta. Em seguida, me dá uma tapa ardido no
braço.
— Você é um tarado. E dos piores. Costuma fazer isso com as menininhas
que trabalham na mansão Dexter? Sai esfregando o seu pau duro nelas!
— Isso é ciúmes, dona Lívia?
— Ciúmes? Você nunca me viu com ciúmes, caipira. Apenas me
impressiona a sua tamanha safadeza. Realmente quem vê cara, não vê coração. Até
a filha da governanta você já pegou, né? Isso é algum fetiche por moças jovens e
que sejam domésticas, pobres e inocentes? Elas ainda caem apaixonadinhas por
você. Outras até tentam se matar. Tadinhas.
Porra, como ela descobriu?
— Não toca em assuntos que não sabe! — exclamo bravo. — A minha vida
não te desrespeita. Assim como a sua!
Eu fico bravo por ela saber do meu passado com a Ester. Por isso, afasto-a.
Só que a Lívia insiste em enroscar os braços no meu pescoço e aproximar-se do meu
calor. Ela segura com força os meus cabelos da nuca, derrubando até o meu chapéu
no chão.
— Claro que não desrespeita. Nem a sua, nem a minha. Se acalme, homem
feroz — ela passa os dedos no meu rosto, descendo pelo maxilar, o queixo, o
pescoço, o peitoral e o meu abdômen.
Meu pau dá um pulo energético. Fico acuado.
— Kiara estava te esperando lá na sala principal, no entanto, demorou e ela
precisou ir estudar na biblioteca. Mas, para a sua infelicidade, me designou a avisá-
lo de que está convidado para a festa de aniversário do seu filho esta noite — ela
informa doce, palavra por palavra, bem próxima do meu ouvido. — Espero que
venha dentro daquela roupa social que achei escondida no seu armário do quarto.
Tenho séria atração por uma calça oxford masculina. Seu pau enorme deve ficar
bem-marcado. Imagine excitado, como agora no jeans?
— Droga, Lívia, não diga essas coisas — tenso com o meu desejo, eu agarro
os seus cabelos negros com as pontas dos dedos, também a sua cintura e distancio a
sua cabeça.
— O que deseja neste instante, Gael?
— Muitas coisas...
Quero beijá-la, vê-la nua, descabelada, dançando e gemendo o meu nome
sobre as minhas coxas.
— Sexo, beijo, troca de carícias?
— Pare, você tira o pior de mim.
— Sexo?
— Tudo!
Não aguento e avanço nos lábios dela com os meus. Aprofundo a minha
língua, mexendo feroz a cabeça, para saciar a minha vontade excitante de sentir o
seu gosto. Ela grunhi e aperta o meu volume. Eu gemo de tesão, pressionando as
suas nádegas.
— Vamos para outro lugar agora mesmo, para eu te foder contra uma árvore!
— Que selvagem e irresistível. Porém, não sou suas menininhas caipiras do
mato — arquejante, ela empurra os meus ombros, contrariando-me. — E você vista
o que eu mandei e esteja aqui às 19h00 em ponto.
— Não manda em mim, mulher!
Lívia sorri e afasta-se com o batom borrado. Imagino que a minha boca
esteja suja da sua cor vermelha. Assim como eu estou impregnado pelo seu perfume
entorpecente.
— Venha, caso contrário... posso estar degustando de um cardápio variado
— pisca cretina, feito uma diaba, e vira as costas. — Ótimo dia.
Enfurecido, fecho os punhos.
— Você não vai gemer, você vai rezar quando eu te pegar, Lívia! Juro que
vai!
— Não vejo a hora de calejar os meus joelhos, Sr. Gael! Espero que seja
logo mais tarde. Amém?
Eu saio rebolando de propósito. Não posso ver a sua cara, mas sei que está
puto de raiva.
Às vezes, até sinto dó do Gaelzinho. Eu sou muito má com ele. Entretanto,
como evitar esse lado diabólico meu? Adoro o poder que tenho sobre o seu corpo,
os seus sentidos e a sua mente. Não consigo controlar.
Porque você sabe que são as suas únicas defesas... ele tem poder pior sobre
você — não! Balanço a cabeça, não aceitando esse pensamento.
E-Ele não tem poder nenhum sobre mim! Vai ser só o meu passa tempo
enquanto eu resolvo as minhas pendências em segurança aqui na fazenda. Essa
semana, já veio dois avalistas de confiança da Kiara e da minha, para dar o valor
exato das joias. Tristemente, deu R$61.888,89. Como eu vou conseguir pagar os 200
mil do Vitor? Não tenho mais nada. Sinto arrepios de medo só em pensar naquele
homem de dois metros. E se ele descobrir onde eu estou? E se vir atrás de mim? E
se tirar a minha vida?
Fui uma desgraçada-burra em pedi-lo dinheiro. Eu tenho medo de morrer.
Ao todo, devo mais de 700 mil em sociedade. E os bancos, o Serasa, é o menor dos
menores problemas a se enfrentar ou se preocupar. Se eu sair dessa, nunca mais
quero saber de empréstimo com agiota. Nunca mais!

Mais tarde, eu, a Felícia e a dona Judite ajudamos a Kia a conferir as coisas
na sala. Não será uma festa tão grande, assim ela imagina. Já que não conhece
muitas outras mães com filhos pequenos. Mas Laerte, o delegado (o seu segundo
convidado) garantiu que as crianças da sua família encherão a casa. Ele tem duas
filhas mais velhas (fruto do antigo casamento) e dois gêmeos de 25 anos (com a sua
atual esposa). Todas as mulheres da família dele já tiveram três ou mais filhos, e
ainda uma está grávida. Sem dúvidas, virá muitas crianças. Sem falar do prefeito,
que tem quatro filhas e sete netos.
— Mandei fazer dois bolos, será pouco ou muito?
— Não é pouco. Vai dar sim. Lembre-se dos salgadinhos e dos outros
petiscos.
Já no quarto, após conferir tudo, até cada balão em seu devido lugar, eu a
ajudo a terminar de se arrumar. Eu já me arrumei. Estamos sozinhas.
— Anton está furioso com a festa, tenho quase certeza. Não disse muita
coisa a ele ontem. Apenas que faria e ponto final, virei as costa.
— E fez bem — dou de ombros. — Muito bem.
— Também acho.
Kiara me observa orgulhosa de si mesma, enquanto coloca seus brincos de
brilhante. Penso no que ela me revelou dele (do passado), do possível filho com a
esposa do irmão que veio se revelar somente agora e não tolerei imaginar ela
enfrentando isso, de verdade. O pior é que ele teve a capacidade de trazer a
mulherzinha na sua casa e apresentá-la sem ter revelado os segredos que os
envolvia. Dá para acreditar? Ah, se fosse comigo, ele estaria a duas semanas com
uma faixa enrolada em volta das bolas. E declarado estéril!
Kia deve ser valorizada. É uma pessoa maravilhosa. Nunca tive amigas e
nunca conheci outras mulheres que não fossem ao menos invejosas. Já ela, não, é
toda diferente, cuidadosa, amorosa e preocupada. Realmente é alguém que deverei
lealdade até o resto da vida. Não consigo nem pensar que um dia tentei agir de má fé
contra o seu casamento. Mas não consegui. Eu não sou esse tipo de humano. Nem o
desespero de ter o pagamento da Lorenza me fez ter sucesso. Já com o Gael sim. Ele
era solteiro, bonito, másculo, alto, caipira e tem um pau que faz estragos quando...
— Você não acha, Lívia?
Pisco várias vezes seguidas, desviando da protuberância daquele idiota
delicioso, que se materializou nos meu subconsciente devasso. Ele não devia ser tão
bonito.
— Sim? — Encaro-a.
— Pensando longe? Te perguntei sobre este vestido. Ele é muito apertado,
você não acha? — Ela passa as mãos nos quadris.
Analiso-a, desta vez, tendo que concordar que não está apropriado para uma
festa infantil.
— Achei um pouco exagerado devido aos dois cortes nos seios e nas costas.
Tenta achar um nesse modelo mais comprido e com apenas um decote. Ficará sexy,
chique e provocante na medida. Confie.
— Uau, obrigada. Vou procurar e já volto. Aliás, a senhorita está de tirar o
fôlego. Aliás quando não está?
— Obrigada, Kia. Você é maravilhosa.
Ela pisca divertida e retira-se até o seu closet. Eu me ergo da cama e
verifico-me sorridente no espelho de chão, torcendo para a minha vítima vir à festa.
Esta vista, ele não pode perder de jeito nenhum. Quero testar o seu nível de
autocontrole. Gaelzinho que se prepare que a Lívia má quer fogo no celeiro.
Eu desço os degraus da escada ajeitando os punhos da camisa e avisto a dona
Judite e o seu Heleno, avô da Kiara, com a Melina no carrinho, ao lado do sofá
— Boa tarde, senhor Heleno.
— Olá, Dexter. Boa tarde — ele é direito e sério.
Eu olho para a minha princesa deitada. Ela sorri doce para mim. Sem resistir,
pego-a no colo. Sou apaixonado pelo seu cheiro gostoso de bebê.
— Onde está o Gieber?
— Já está lá fora, perto da piscina tampada, olhando os brinquedos
instalados pela empresa de eventos. Ele foi com a Joana, a nossa empregada. E está
bravo porque não pode brincar. A Kiara não quer ver ele suado antes de receber os
convidados.
Já imagino a expressão de pirraça daquele teimoso. Joana deve estar
cruzando uma guerra – desviando meus pensamentos, ouço barulho de saltos na
escada. Inclino a cabeça, assistindo a Kiara e a Lívia descerem lado a lado.
Porra! Eu sou tão sortudo por essa beleza de cachos loiros, rosto pigmentado
de sardinha, lábios meio carnudos e de uma inteligência inegável. Ela anda elegante,
dentro de um vestido branco que... Meu Deus, eu seria capaz de rasgá-lo agora
mesmo no seu corpo!
— O senhor veio! — Assim que a Kia vê o avô, seus olhos azuis brilham.
Ela passa por mim de propósito com o seu delicioso perfume e traseiro
empinado. Confesso que a minha mão coçou para apupá-la.
— Benção, vôzinho — ela o abraça. — Como está?
Nervoso, eu entrego a bebê para a Judite e vou inquieto me sentar na
poltrona.
Às sete e meia, Laerte chega com a família. Infelizmente, ele trouxe os seus
dois filhos oferecidos. Eu não aceitei convidá-los! Moleques imbecis! Na verdade,
eu não aceitei esta festa. Apenas a nossa família estava de bom tamanho.
— Olá, Sr. Dexter, sou Rodolfo. É um prazer conhecê-lo.
— E eu sou Lucas. Também é um prazer conhecê-lo.
Os genros de Laerte se apresentam. Eu aperto educado a mão deles,
assentindo calado. Já seus filhos gêmeos nem ousaram se aproximar de mim.
— Ai, meu Deus, olha esses olhos azuis, que bebezinha mais linda!
— É a sua cara, Sra. Dexter!
— Obrigada.
— Ela é loirinha! Uma fofura! Parece uma obra de arte!
As mulheres se animam saltitantes em volta da Melina. Ao verem o Gieber
então, o pegam escandalosas no colo, desejando-lhe feliz aniversário e entregando-
lhe os seus presentes. Elas comparam demais a sua aparência comigo, sobre ele não
ter nenhum traço marcante da mãe (ao contrário da Melina) e ser a minha cópia.
— Avisei a Kia de que não faltaria crianças — Laerte comenta baixo,
batendo no meu braço. — Trouxe todos os meus seis netos e dois que nem nasceram
ainda — ele se refere brincalhão a sua filha Débora, que está esperando gêmeas. —
Não vejo a hora dos meu garotos também se casarem e nos darem uma creche
inteira na temporada de férias.
— Se eles não fossem cafajestes, o senhor poderia ver esse sonho realizado
antes de morrer — um dos seus genros, Lucas, diz sarcástico, caindo zombeteiro na
risada.
Eu sorrio, familiarizando-me já com eles.
— Quem mandou estar rindo, Dexter?
— O fato de não mentirem.
— Todo mês, esses libertinos têm uma amante diferente. O apartamento
deles é um verdadeiro puteiro.
— Olha se eles já não têm uma creche perdia por essa cidade, hein —
Rodolfo encosta de leve no meu ombro.
— Já se sintam mais do que bem-vindos. Desejam um uísque, gin, vodca? —
pergunto amigavelmente para eles.
Laerte rola os olhos, afetado por seus filhos serem o "orgulho" que ele vê
sozinho. Nem Fabiana, a mãe, passa tanto a mão nesses infelizes quanto ele, o pai.
São dois vadios mimados.
Ademais é a vez do prefeito Aldo chegar com a sua mulher, as suas filhas de
mães diferentes e os seus netos. No decorrer da festa, percebo que as crianças são
mais animadas do que qualquer adulto. Haja energia para tantas brincadeiras,
falações e desordem. Nós ficamos separados deles na sala, bebendo drinques e
conversando sobre diversos temas.
— De fato, os casais casados sempre se parecem um com o outro — uma das
filha de Aldo profere durante o assunto sobre casamento.
— Vejam, o Sr. Dexter e a Sra. Kiara são exemplos. É o par mais
harmonioso que conheço.
— Não vale puxar saco! — alguém exclama alto, tirando-nos risos.
— Não é puxar saco. É a verdade, isso estava até mesmo na coluna de fofoca
do jornal desta semana.
— Quando o sobrenome Dexter não está numa coluna de fofoca? Todos
querem ler algo sobre eles. Por isso, os plumitivos criam fatos, teor de mistérios,
matérias, artigos. Falsos, verdadeiros, maliciosos ou não. Eles são sedentos. Eis o
motivo dos periódicos de segunda fazerem sempre sucesso.
Os convidados falam de nós entusiasmados.
Permaneço sem dar muita atenção a conversa do pessoal. Não consigo parar
de observar a Kiara, que está sentada ao meu lado no sofá. Ela de perfil é perfeita.
Seus lábios avermelhados se abrem delicados a cada estímulo de risada. Também
não vou mentir que essa é a minha oportunidade de tocá-la, provocá-la e fazê-la me
desejar. Faço isso entrelaçando a sua mão macia na minha a cada oportunidade. Ela
várias vezes me olha nervosa e numa dessas olhadas, roubo um selinho de lábios.
Não pude resistir, nem evitar.
Ela não pode me xingar ou me bater, devido aos convidados. Kia só suspirou
com calor. Sei que se sente como eu. Mais uma semana sem transarmos e
enlouqueço nesta casa. A desejo, a amo. Não aceito tê-la magoado.

Ao aparecer na varanda da mansão luxuosa dos Dexter, eu fico


impressionado com a quantidade de carros chiques e penso que seria uma boa hora
para me arrepender, virar as costas e voltar para a minha casa solitária. Só que em
vez disso, eu dou de ombros e entro na casa com as mãos nos bolsos, chamando a
atenção de algumas mulheres na entrada. Observo que tem muitos balões azuis e
luzes coloridas pelo ambiente. Caminho meio desconfortável até a sala.
— Gael! — Kia logo me vê do sofá e afasta-se do Anton e dos convidados
para vir feliz até mim. — Obrigada por ter vindo! Fico muito, muito feliz! E nossa...
— ela, então, fecha o sorriso gracioso e analisa-me impressionada — está um
verdadeiro galã de novela. Agora entendo os cochichos — ela me dá um tapinha no
braço. — Venha para eu te apresentar ao prefeito.
É claro que eu não tive tempo de responder. Em meio ao seu entusiasmo, eu
sou puxado para o meio dos convidados. Ouço as crianças gritando e divertindo-se
lá fora.
— EEEE, Gael! — Laerte logo aparece brincalhão, batendo de leve nas
minhas costas. — Boa noite, meu amigo.
Apenas aceno com a cabeça, respondendo com outro "boa noite" em
sussurro.
— Então esse é o braço direito de confiança do nosso Dexter? — O prefeito
se aproxima sorridente.
Ele estende a sua mão e aperto-a firme.
— Olá.
— É um prazer, enfim, conhecê-lo. Seus talentos em administração são de
longe o maior elogio que escuto. O que escuto é que qualquer fazendeiro estaria aos
seus pés para lhe ter como gerente. Rangel Dexter sempre foi um mentor invejável.
Anton e você deveriam dar aulas de negócios. Dons têm que ser proibidos de serem
escondidos.
— Tire os olhos gordos do meu gerente. Aldo! — Anton também se
aproxima autoritário. — Gael só sai dos meus negócios se um dia eu der um tiro
letal nele.
— Não é por acaso que são dois homens ricos, melhor, milionários. Com
certeza, Gael não fica atrás. Ambos aliados; carne e unha.
Sem evitar, de longe, encontro os olhos bonitos de Lívia, mas desvio ao ver
que ela tem a companhia de um cara – corrigindo – de um moleque que mal saiu das
fraldas. É o filho do Laerte.
— Vem, está muito chato tanta formalidade. Vamos beber um pouco.
Eu os acompanho, recebendo atenções no decorrer que caminhamos.
Conheci toda a linhagem familiar do Laerte e do prefeito. Percebi um grupo de
meninas novas que não tiram os olhos dos meus desde que cheguei. Descobri por
acaso que são amigas das filhas do Aldo. Ao nos deslocar para a área de lazer, onde
está a decoração da mesa da festa de aniversário de Gieber, quase sou parado por
uma dessas meninas. Só que um furacão de escala múltipla é mais rápido.
— Vai brincar na piscina de bolinha, querida! — Lívia esbraveja perversa
para ela, ao parar ao meu lado com o seu olhar verde de aterrorizar até bandido.
A moça se assusta, faz uma cara de vergonha, pede licença e vira as costas.
— Novamente, demonstrações de ciúmes?
Quase sorrio... só que... porra! Lívia pisa de proposito no meu pé com a
ponta final do salto, deixando-me furioso e com dor.
— Fique na linha ou te troco por coisa melhor esta noite — sussurra com a
voz diabólica no meu ouvido.
Meus olhos vão direto para os seus seios fartos, adiante para o seu corpo e as
suas pernas. Sinto calor pela sua aproximação. Que mulher linda e de beleza única.
Ela está ainda mais linda esta noite. Gostaria de puxá-la para qualquer canto e
afundar a minha língua na sua boca.
— Coisa melhor será a minha sinta no seu traseiro sua... infernal! — declaro
sem poder me controlar e aperto a sua cintura.
— Eu sou infernal. E está muito bonito — ela arruma a gola da minha
camisa azul, sem se importar com os olhares curiosos sobre nós.
— Você me elogiando? Isso é um sonho? — Arqueio a sobrancelha.
Lívia me fita sagaz e até divertida.
— Posso te beliscar para resolvermos essa questão. Quer?
Não respondo. Ela se impõe. Fico hipnotizado com o seu rosto de traços
harmônicos e delicados. No fundo, não passa de uma mulher ensaiada. Sem essa
máscara, é indefesa, sozinha e cheia de pontos fracos.
— Agora me dê licença que eu estava num assunto interessante com dois
convidados muito divertidos.
— Quem são? — questiono, sem disfarçar o meu cenho franzido.
— Não te interessa. Com licença, Sr. Gael Abner.
Ela vira ríspida, rebolando e saindo sem dar conta de que fiquei manco. De
cara fechada, observo a bunda dela, enquanto rebola até onde estão os filhos do
Laerte, e a Kiara.
Ah, filha de uma mãe! Isso não vai ficar barato de jeito nenhum! Vou me
apresentar aos dois divertidinhos de um jeito caipira que ela vai adorar!
— Um uísque, meu amigo? — só que sem aviso, Anton me para no meio do
caminho.
Eu encaro o rosto dele, vendo um riso de maldade.
— Vou precisar para aterrorizar duas crianças — devolvo o seu riso e pego o
copo para virar a bebida de uma vez.
— Calma, me parece um pouco obcecado. Lívia não está te fazendo bem.
Vocês já se assumiram?
— A gente só... é casual. Não passa disso, seu intrometido.
— O que me surpreende é logo você ficar com alguém por ficar, sem pensar
em compromisso. As coisas mudam mesmo. Tem certeza de que não comprou as
alianças?
Coço a mão para socar a cara do Anton e ele percebe.
— Você está roubando o meu posto de agressividade, seu infeliz?
Então noto que realmente estou puto e nervoso. Porra. Não sou assim. Não
posso acreditar que meu estado é logo por causa de uma mulher que não deveria me
envolver, nem me estressar.
E uma mulher linda, gostosa, metida, que só pensa no seu próprio nariz. Que
é cheia de segredos e que não confia em mim para compartilhá-los. Por mais que
esteja em risco de vida ou não. Ainda por cima é muita egoísta.
— Obrigado por me salvar de parecer um idiota.
— Amigos são para essas coisas. Agora eu não tenho obrigação nenhuma de
autocontrole. A minha mulher está no meio daqueles dois filhos da puta e eu
pretendo tirar os dentes deles um por vez, para não perderem a aparência de gêmeos.
— É claro, acho que com uma turquesa seria bem mais fácil — digo por fim,
bravo, vendo as duas bem sorridentes para os idiotas.
Oscar me encara como se eu fosse uma grande obra de arte em exposição.
Ele investiga cada traço meu. Eu sorrio desinteressada nele.
— Desculpe-me a pergunta curiosa. Você tem quantos anos, Lívia?
— Trinta — respondo a pergunta deselegante e viro a minha taça de vinho.
— Por Deus. Você não aparenta, juro.
— Obrigada, nem você aparenta ter seus 26. Te daria 19... de mentalidade —
declaro de propósito, bem baixo e com um risinho maldoso.
Senti prazer em ver a sua cara de chocado e incrédulo. Ele ouviu.
— Boa noite!
De repente, escutamos a voz do Sr. Dexter bradar em cada espaço vazio do
nosso quadrado social e viramo-nos num estalar dos dedos para vê-lo.
Que aterrorizante.
Este homem causa arrepios em qualquer um. É impossível negar a sua
beleza. Quanto mais a sua autoridade poderosa. Ele tem o dom de deixar
desconfortável até... nem consigo imaginar quem. Kiara, que está sentada perto de
mim, fica em instantes incomodada com a presença do marido. Não a julgo, estaria
no mesmo estado.
— A-acho melhor cantar os parabéns logo — ela se levanta rápida, sem
olhar para o Sr. Anton.
Ele está sério, com o seu olhar ameaçador direcionado aos dois irmãos
gêmeos. Deu até dó deles – não gostaria de estar na pele de nenhum dos dois. Eu
também me levanto, oferecendo-me para ajudá-la.
— Vou caçar a dona Judite e o pequeno aniversariante. Acho que os vi perto
do pula-pula. Só um minuto. Já os trago.
— Obrigada, Lívia.
Assinto.
Kiara espera e assim que eu acho a dona Judite, ela leva o pequeno até
decoração. Kia se instala atrás da mesa de festa para chamar a atenção dos
convidados para cantarmos os parabéns. Gieber está tão fofo com a sua roupinha de
cowboy. Ao ser posto sobre o banco para ficar mais alto, ele saltita feliz perto da
mãe e do seu pai, que segura a bonequinha da Melina no colo. Eu me sinto
pateticamente emocionada enquanto bato palmas. Penso que nunca terei isso, que
nunca saberei o que é ter um pestinha ou uma pestinha me chamando de mamãe.
No fim dos parabéns, ao virar a cabeça, eu encontro o Gael parado ao meu
lado. Ele não me olha, está também assistindo a cena deles cortando o bolo e
escolhendo para quem dar o primeiro pedaço – ele vai sem demora para a Kiara.
— Quer dar uma volta? — Gael, então, pergunta despretensioso.
— Hum... só depois que eu comer um pouco daqueles doces maravilhosos
— respondo sem fitá-lo.
Mas sinto os seus olhos (de um azul escuro) sobre mim e quando o garçom
passa com a bandeja de bolo, eu cato dois pedaços e quase todos os doces. Ele não
fica atrás.
— Temos algo muito em comum.
— Você quis dizer na gula?
Caminhamos para o outro lado do jardim de rosas, que não fica muito longe.
— Sim — ele ri, jogando dois brigadeiros na boca.
— Vou ter que discordar, pois você come mais do que eu.
— Você, então, confessa que é uma gulosa?
— Eu não... Ei! — Sendo um abusado, Gael rouba o meu último brigadeiro
do prato e afasta-se para não levar uma surra. — Gael! Eu vou te fazer cuspir esse
doce!
— Eu não duvido nada, você é um ser diabólico — ele fala, sendo mais leve
e divertido comigo.
Permaneço quieta para não estragar esse bom humor. Gael nunca é assim.
Não na minha presença.
Após nos sentarmos e comermos tudo, ficamos por minutos olhando para a
fonte que jorra água da boca de uma estátua de sereia.
— Eu queria encher a cara agora — sou eu quem confesso tranquila, de
pernas cruzadas, enfim, fitando os seus olhos. — Depois fazer amor até esquecer o
meu nome.
— Fazer amor?
— É... — Desvio, não querendo que ele perceba o meu estado de fragilidade.
Toda vez que eu estou com esse homem, sinto-me fraca, uma patética.
Desejo os seus conselhos, os seus braços, o seu calor. E sei que ele poderia me dar
tudo isso e mais um pouco. Sua índole é de um homem apaixonado, romântico e
protetor. Deve se dedicar de corpo e alma a uma relação.
Por isso você não devia estar tão próxima dele, Lívia! Se afaste!
— Nisso, pelo menos eu poderia te ajudar — ele pega na minha mão,
levando o torso até o seu nariz, para cheirá-lo. — Se fosse uma mulher que
colaborasse.
Maldição. Arrepio-me, percebendo a sua capacidade de me possuir com um
simples cheiro.
— E que não quisesse mandar nem me dominar — ele beija os meus dedos.
Eu não aguento. Chego bem perto do seu corpo cheiroso.
— A gente é completamente diferente, Gael — o toco no peitoral forte. —
Eu nasci para mandar. Você deve me obedecer para o seu bem. Caso contrário, vai
sofrer.
— É claro — ele resmunga sarcástico e abaixa a boca, aproximando-se do
meu ouvido. — Quando eu estiver numa quarta reencarnação, cego, surdo e mudo,
você repete isso, sua patricinha bonita.
Sorrio de olhos fechados. A verdade é que eu nunca consigo mandar nele.
Não de forma séria. O máximo que eu faço é enlouquecê-lo a surtar e ele surta.
Como é prazeroso. Ah, se é.
— Aquela história de me foder num tronco de árvore ainda está de pé? —
pergunto, descendo a mão safada para o seu volume na calça social.
— Não queria fazer amor?
— Tudo no seu tempo, meu caipira rústico.
Eu aperto o seu pau. Ele geme entre os dentes.
— Eu fico feliz por ter vestido o que lhe mandei.
— Você não... — o interrompo, apertando-o mais forte. — Droga!
Então começo a abrir o cinto, ansiosa para pegar no enorme tamanho
guardado na cueca. Gael não me impede. Quando tiro o membro, não perco mais
tempo para me inclinar e dar uma longa lambida na glande.
— Lívia... — geme.
Seu pênis pulsa contra a palma de minha mão, endurecendo-se ainda mais.
Incomodada pelo meu cabelo caindo na face, eu o amarro num coque. Ele só me
observa. Estando pronta, dedico-me num rápido, entretanto, delicioso boquete.
Desta vez, ele pode me chamar de gulosa, pois faço sons altos de sucção e de
lambidas sem fôlego. E por mais que eu tente, eu não consigo ir muito fundo na
garganta. Compenso com massagens nos testículos e contorções na base.
— Ahh, porra... — Gael pega no meu cabelo com força, sem saber como
reagir sob o meu ato surpresa de estar o devorando faminta.
E com os seus movimentos brutos de estímulo, ele resolve o problema (de eu
não conseguir engoli-lo todo), quase me fazendo vomitar e morrer engasgada. A
cabeça do pau vai e vem na parede da garganta. Mas faço o serviço orgulhosamente.
Exceto engolir a porra que, no final, jorra mais do que a fonte de água a nossa
frente.
Percebo que, além da minha intimidade, esse homem acaba de tomar para si
a minha boca num beijo perfeito.
Que delícia de gosto masculino. O seu gosto.
Eu me ergo arfante, muito satisfeita pela cara de selvagem dele. Nós dois
estamos melados de gozo quente. Limpo a boca na barra do vestido.
— Agora você vai ver o que é ser fodida contra uma árvore, dona Lívia!
Vem! — Raivoso, Gael guarda o membro de qualquer jeito na calça, levanta-se,
pega no meu braço e arrasta-me com ele para uma parte bem escura da noite.
E tenho certeza... certeza absoluta... que, depois que eu fui erguida no seu
colo, arrancada a calcinha a força, jogada contra um pé de manga e pressionada a
cabeça para trás... os convidados puderam ouvir os meus gritos desesperados de
prazer soar como o de uma mulher correndo de um lobisomem. Adiante sendo
fodida por ele!
— Isso... isso, seu caipira!
As costas do meu vestido preto de renda rasga no casco da árvore, mas peço
que ele vá mais louco e mais feroz. Não sinto dor, nem nada... além de prazer e
satisfação prontos a explodirem abaixo do meu ventre.
No ápice, Gael se desequilibra, tropeça na raiz alta do chão e cai comigo no
mato. Por fim, eu não sei se gargalho por estar com a bunda atolada na terra
ou gemo por seus jatos ferventes pulsarem dentro de mim, enquanto eu tenho o
orgasmos mais intenso da minha vida.
Ou é o décimo? Primeiro preciso contar quantas vezes eu e o Gael já
transamos.
Seis? Sete? Oito? Quinze?
Acho que nem saberia contar. Para mim, todo o prazer vindo dele é intenso.
— Lívia, você está bem? — Gael se inclina com a voz baixinha, rouca e
risonha.
Eu não aguento, lembro-me do tombo de bunda no meio do escuro e começo
a rir igual uma doida. Gargalho muito alto. Gael tenta controlar-me, dando-me um
beijo, onde retribuo rindo sem oxigênio.
— Você é maluca.
Ele me ajuda a me reerguer da terra. Mais calma da crise de risos, analiso as
dores pelo meu corpo, sem evitar as caretas feias.
— Você está bem? Vamos sair desse breu. Pode ter cobras.
— Espera, as minhas costas estão doendo.
— Eu vou cuidar de você, vem.
Atencioso, ele me ajuda a abaixar o vestido e a sair do mato de grama alta.
Eu saio com os pés descalços e a sensação de nudez.
— Meus saltos e a calcinha ficaram lá, Gael.
— Amanhã eu resolvo isso.
Ao pararmos sobre a luz do jardim, Gael me olha e é a sua vez de gargalhar.
— Céus, o seu cabelo está todo bagunçado e cheio de folhas secas. Eu vou
tirar para você. Posso? — nem tenho tempo de responder, pois, ele me puxa pela
cintura e começa a limpar os fios.
— Estou horrível, né? Tenho certeza de que não há condições de entrar na
mansão e fingir que nada aconteceu. Parece que eu fui atacada por um monstro.
— Acho que os convidados estão todos na área da piscina.
— E se não estiverem?
— Vamos descobrir, dona Lívia.
Ele me faz segui-lo para dentro da casa e do pequeno corredor, notamos que
só tem duas mulheres na sala. O restante dos convidados continua lá fora.
Esperamos saírem para podermos correr escada acima.
— Espero que realmente ninguém tenha nos visto — sussurro arfante no
segundo andar, caminhando rápida para o meu quarto.
Ao chegar, puxo-o, bato a porta e tranco a fechadura.
— Suas costas, Lívia... seu vestido... — Gael, que estava atrás de mim, diz e
toca o local onde sinto uma pequena ardência. — Meu Deus. Você se ralou.
Precisamos cuidar disso.
— Está tudo bem — viro-me para ele, dando um beijo calmo e cheio de
desejo. — Melhor...
— Não está! — teimoso e preocupado, ele me afasta e leva-me até a cama.
— Gael, eu já disse que estou bem. Quero só um banho para tirar essa
poeira.
Inclino a cabeça para me erguer e visualizá-lo.
— Me acompanha?
— Está ferida.
— Por favor, estou bem. É apenas um arranhão bobo. Nem o sinto direito.
Vamos para o chuveiro? Ou vai negar o convite?
Ele demora a pensar, até que puxa um sorriso irresistível.
— Eu seria um mal-educado se negasse.
Com a sua resposta perspicaz, eu pisco e o levo até o banheiro. Quando
entro, vejo a banheira e o convenço a esperar para que possa preparar o nosso
deleite.
— Que negócio é esse que está colocando na água?
— Se chama espuma de banho, não conhece, caipira?
Ele me olha sério. Eu sorrio divertida.

Mas é o cão em forma de mulher mesmo. Ela dá de ombros, tira o vestido


sujo de terra e nua, com o seu corpo todo escultural, entra na banheira de muita
espuma e com um cheiro muito agradável. Porém, em contato com a água, ela solta
um gemidinho devido ao arranhão nas costas.
Fico preocupado.
— Está com dor?
— Estou ótima. Vem, Gael, arranca essa roupa e aproveite comigo.
— Me quer nu?
— É claro... claro com todas as letras — ela é maliciosa.
Eu, então, tiro peça por peça sobre o seu olhar devasso. Até finalmente estar
nu para acompanhá-la dentro da banheira. É a segunda vez na vida que estou dentro
de um negócio desse.
Lívia fica relaxada entre as minhas pernas, mexendo as mãos para fazer mais
espumas.
— Isso é muito estranho... estarmos por mais de meia hora sem discutir. Não
acha?
— Você que procura. Não sou de brigar.
— Não, eu procuro ficar longe de você. E a resposta certa é porque apenas
nos damos bem no sexo.
Lívia gira para colocar as costas do outro lado. Eu admiro os seus olhos cor
esmeralda, hipnotizado por eles. Cristo, ela é uma perfeição.
— Hum. Lembro até hoje de você confessando lá em casa o quanto gostava
de mim.
— Sim, do sexo! — afirma brava.
— Não foi a última vez. Você é louquinha por mim. Ah, e ciumenta.
Sabendo que estou brincando com fogo, as consequência vem logo em
seguida com ela quase chutando o meu pau por baixo da água. Só que rápido,
seguro o seu pé e a faço mergulhar com um puxão nada cavalheiro.
Que maravilha, a onça fica mais brava ainda ao submergir com o rosto e o
cabelo cheio de espuma.
— Gael!
— Estou aqui, mulher apaixonada... todinho seu.
Agora, ela bate forte no meu braço, limpa o rosto e encara os meus olhos.
— Seja bruto, arrogante, mas não seja esse homem, irritante, doce e
humorado!
Eu sorrio...
E ainda na banheira, tomo banho com a Lívia querendo comandar até o meu
jeito de lavar.
— Gael, o que você está fazendo? Não faça isso com o seu cabelo!
Lívia fica de joelhos entre as minhas coxas, de frente para a minha face. E
num ato rápido, ela pega o sabonete da minha mão.
— Usa o shampoo. É para isso que eles servem.
— Para mim, se está fazendo espuma e tirando a sujeira, é o que importa.
— Não mesmo. O sabonete vai deixar o seu cabelo duro e estragado —
explica, passando o shampoo com cheiro gostoso na minha cabeça. — Sua sorte é
dos seus fios já serem lisos.
Eu fico admirando os seus seios fartos, de mamilos rosados e duros. Eles
balançam perto da minha cara. Só que quando eu vou tocá-los, Lívia bate nos meus
dedos.
— Sinto o seu pinto duro, mas nem por isso estou tocando nele. E se aquiete
para enxaguarmos a sua cabeça com o chuveirinho.
Deixo-a cuidar do meu cabelo com os seus produtos bom de gente rica.
Agora entendo porque ela é tão macia, cheirosa e parece uma porcelana.
— Você não sabe as coisas boas da vida mesmo.
— Se refere a shampoo e condicionador? Claro que sei.
— Não, seu bobo — ela ri, deitando a cabeça no meu peitoral molhado.
— Já esteve quantas vezes numa banheira como esta?
— É a segunda vez.
— E já comeu em bons restaurantes? Esteve num shopping comprando
objetos? Ou em eventos?
— Eu não faço parte desse seu mundo, Lívia. Eu não gosto de fazer essas
coisas. Fui criado de outra forma.
Eu toco no corpo dela por baixo da água – passeio nas suas costas macias e
no seu traseiro grande.
— Eu gosto, e tenho medo de perder essas coisas — ela confessa baixo. —
E sei que estou perdendo... eu já perdi.
— Isso não é o fim do mundo. Tem a sua profissão, o seu diploma de
renome. Seria contratada onde desejasse.
— Mas eu gosto de ter uma clínica, de ser o meu próprio chefe.
— Deveria rever os seus princípios e ser humilde para recomeçar do zero.
Não tem escolhas, você sabe disso.
Ela arfa.
— Você não entende direito. Parece que fica irritado, bravo ao meu ouvir.
— Como não te entendo? Eu fico bravo pelo seu orgulho. É você que não
gosta de ouvir a verdade — tento não erguer a voz. — E se não gosta, então não
comece o assunto sobre os seus problemas. Sei que não vai até o fim para me falar
tudo o que lhe ocorre. E eu gosto de sinceridade, confiança. Se não sente isso
comigo, não deixe a minha mente mais preocupada com você. Já basta eu saber que
existe pessoas desejando a sua morte.
Lívia se cala com a minha declaração e para evitar discussões, logo se
levanta frustrada da banheira. Eu também fico frustrado por ela ser uma orgulhosa
cheia de mistérios.
No quarto, eu abotoou a minha camisa para poder ir embora.
Devo concordar que nós só nos entendemos no sexo.
— Você não vai querer ficar? — pergunta serena.
— Não — eu falo contrariando o meu desejo de passar a noite com ela,
dando o amor que nós dois almejamos.
Olho para a Lívia que está sentada na cama, dentro de uma camisola
transparente. Seu olhar é de calma, de estar pensando longe. Ao se levantar, ela
caminha até parar na minha frente, com os pés descalços.
— Eu tenho medo de ser sincera com você, Gael. E de se meter na minha
vida. Você tem esse jeito estranho de querer cuidar dos outros e de ser um herói.
Além de que nem deveríamos estar nos relacionando. Você sabe o porquê,
podemos gostar um do outro mais do que essa atração sexual.
— A vejo como uma amiga. Uma mulher que atrai, enfurece, controla,
manda, desmanda, manipula. E somos adultos. Não vou ficar controlando você ou
dizendo o que fazer. Se acha isso, é porque está carente, frágil e sente que eu posso
acessar os seus pontos fracos.
— E se for isso?
— Será a prova de que ninguém pode ser forte o tempo todo. Você precisa
de ajuda. Se quiser pelo menos desabafar, eu vou estar aqui, tentando não ser um
"herói" sem atos "heroicos".
Lívia suspira, aproximando-se para desabotoar lentamente a minha camisa.
Não me movo.
— Então não vai embora. Eu quero te contar as coisas. Quero que sejamos
amigos — ela me encara séria. — E amigos que fodem sem sentimentos, entendeu?
— Você me parecia uma mulher tão segura sobre essas coisas.
— Eu sou. O problema é você com esse jeito romântico, bruto e autônomo.
Eu sou acostumada a outros tipos de homens controláveis. Não a caipiras donos de
si.
Assim que ela abre a minha camisa, eu toco nos seus lábios carnudos,
erguendo o seu queixo com o meu polegar, só para olhar nas suas íris verdes.
— Sabemos que a gente já foi muito longe em relação a nós gostarmos. Vou
adorar te provar isso enquanto faço amor.
— Não quero acreditar.
— Acredite se quiser. Ainda, depois de nos satisfazer, eu quero que se deite
no meu peito e que seja sincera comigo. Você disse que me contaria as coisas, não
disse?
Lívia assente e ergue as pontas dos pés para me beijar no canto da boca.
— Estamos fodidos — sussurra.
— Acho que você está mais fodida, mulher apaixonada — sorrio. —
Literalmente fodida.
Ela me dá um aperto na bunda e eu a beijo, pegando-a forte no colo para
levá-la até a cama.
Minha mãe olha para mim, segurando-me para manter o controle. Só que eu
não tenho sangue de barata! Quero tacar a mão na cara dessas oferecidas do inferno!
— Kiara, fique aqui!
Largo a minha mãe com a Melina no colo e saio em direção ao Anton e a
esposa do prefeito, que está esfregando os peitos na cara dele, ao lado de outra
mocreia loira, que ela trouxe sem me comunicar. Assim que eu paro, não disfarço o
meu ódio pelo tanto que eles conversam.
— Ah, Sra. Dexter.
"Ah, Sra. Dexter" – vai chupar manga, perua siliconada!
— Olá — em vez de repetir os meus pensamentos, eu sou educada com
Luciene. Chego a dar um sorrisinho falso.
Então olho para o Anton e faço questão de pegar na sua mão grossa e
colocá-la sobre as minhas costas, bem perto do bumbum. Ele me fita surpreendido,
em seguida, pressiona doloroso a minha cintura. Não deixo barato e toco no seu
peitoral, virando-me para as duas mocreias. Elas ficam sem graça e meio
desconfortáveis.
— Estava elogiando o pequeno Gieber, ele se parece muito com o pai.
— Hum. Realmente, muito iguais — acaricio a gola da camisa do meu
marido, respondendo-a e percebendo que a minha aliança até brilhou.
— Com todo o respeito, ele tem toda a beleza Dexter. Prevejo que será um
homem de tirar suspiros. Qualquer mulher estará aos seus pés.
Meu sangue ferve para descabelar a oferecida!
Anton não fala nada, parece se divertir com a minha fúria. Luciene e a sua
amiguinha sorriem.
— Digo o mesmo da Melina, a nossa bebê. A beleza que a minha filha tem é
de deixar qualquer queixo no chão. Prevejo os homens fazendo loucuras para
conseguir a mão da caçula Dexter. Se já adolescente não achar alguns namoradinhos
por aí.
Meu comentário faz o Anton apertar mais forte e doloroso a minha cintura.
Eu suspiro com dor, assistindo a sua proeminência no pescoço (o pomo-de-adão) se
mover, após a sua goela engolir em seco.
Ele ficou bravo? Que ótimo.
— De fato. A sua filha é uma boneca de carne e osso. Aqueles olhos azuis
são hipnotizantes.
— Ela puxou toda a beleza da mãe — o Dexter fala, arrepiando-me. — Eu
sou um homem de sorte. Só não diria o mesmo a nossa menina. Ela não saberá nem
o que significa "namoradinhos".
Sua voz rouca e enraivecida me deixa quieta e não fico mais irritada, desta
vez, eu sinto é satisfação por ele ter se incomodado.
O jogo virou.
No final da festa, após nos despedirmos do prefeito, o nosso último
convidado. Eu me joguei no sofá, grata pela mamãe e a Felícia terem colocado as
crianças para dormir. Meus pés estão inchados, não aguento mais andar. Me diverti
muito com as filhas do Aldo e do Laerte. Não tive vergonha de dançar com elas. Só
senti falta da Lívia no meio das mulheres. Mas acho que a ausência do Gael explica
tudo.
Esses dois tem algo forte a muito tempo. Para mim, eles são bem
apaixonados.
— Se divertiu, Kiara?
Anton caminha até o meio da sala com as mãos nos bolsos da calça social.
Estamos sozinhos.
Penso numa resposta para a sua cara de cruel e resolvo optar pelo silêncio.
Ele foi muito cretino hoje na festa por ter se aproveitado da presença dos
convidados e me beijado a cada oportunidade, além de ter dado atenção para aquelas
siliconadas, oferecidas!
— Adoraria te dar uma massagem nesses pequenos pés.
Engulo em seco, já sentindo um formigamento subir entre as coxas. Estamos
sem transar há três semanas. E qualquer coisa me remete a sexo. Ontem, durante o
banho, eu tive que jogar a minha escova de dente no lixo. Mais cedo, antes de me
arrumar, foi a vez da ponta comprida da escova de cabelo ser esterilizada.
Ah, se ele soubesse. Anton me deixaria com o bumbum roxo.
Ele acha que eu sou inocente ao ponto de não me suprir com nada. Engano
dele.
— Não quero massagem. E antes que me esqueça. Isso de ficar me dando
flores todas as manhãs não está fazendo diferença nenhuma entre nós dois.
Está sim, está muito. Eu durmo já ansiosa para saber que flores receberei no
dia seguinte. Quando as vejo sobre a cama, eu sorrio, ao mesmo tempo, choro,
cheirando-as.
Anton não diz, mas é um bobo que sofre pelos pequenos detalhes. Por mais
que a tensão sexual entre nós seja gigantesca, ele se preocupa mais em saber como
eu estou, se eu ainda continuo magoada e xingando-o pelos cantos. Quem me disse
foi a Felícia. Ela também revelou que ele pergunta toda hora sobre eu estar brava
com ele. Contudo, serei forte até a saída do exame daqui mais duas semanas. Isso é
uma lição, um castigo para ele não esconder mais as coisas da sua mulher. Quero
que ele seja sempre sincero e que não tenha medo de me magoar. Somos casados.
Devemos ser companheiros.
— Eu vou ficar mais louco com você, Kia! Eu juro que vou!
Eu me levanto firme, de cabeça erguida.
— E terá coragem de ser um louco contra mim?
— Pare de fazer isso! — Ele me fuzila com os seus olhos acinzentados. —
Eu quero estar com você, sentindo o seu corpo, o seu calor! Eu te amo! Só tenho
olhos para a minha esposa!
Eu respiro desregular, com o coração a mil.
Eu também te amo, meu amor... te amo tanto...
— Boa noite, Anton.
Pego os meus saltos e saio quase correndo pelo outro lado do sofá, fugindo
dele e dos seus olhos assustadores, de um animal selvagem, faminto e
descontrolado.
Anton não fala nada, nem vem atrás de mim. No segundo andar, eu quase
corro para o quarto. E, ao fechar a porta, no meio do escuro, eu solto os sapatos no
chão e sinto-me com um calor ardente. Percebo a Melina dormindo no berço. Ligo
apenas a luz do abajur da parede para conferir a respiração da minha bebê. Estando
tudo certo com ela, eu vou tomar um banho rápido e excitado. Ao voltar, eu me
deito na cama pensando no meu Anton, nas suas mãos, no seu perfume, na sua
presença, nele nu e sinto mais excitação do que no banheiro.
Droga, eu não queria os meus dedos, eu queria ele aqui.... o peso do seu
corpo... a sua pele sendo arranhada pelas minhas unhas... os seus músculos rígidos...
os cabelos que eu gosto de puxar... o seu membro endurecido que pode ir muito
bruto e fundo... conforme penetra e se move.
Eu gemo, acariciando o clitóris por cima da calcinha. Mexo nos lábios e
contorço-me de olhos fechados.
— Hummm... — Entre arquejos, eu tocos nos seios, nos cabelos, na boca.
Penso nele onipresente. E noto sons de passos entre os meus gemidos fundos. Eu
começo a imaginar o Anton aqui. Podendo jurar que é real, que ele está tocando
lentamente a minha coxa até o meu clitóris.
No ápice do prazer, eu abro os olhos... sozinha em meio ao meio deleite de
autossatisfação. No fim, limpo-me dos espasmos e viro de lado para dormir carente
do calor do meu Dexter.
Eu fico sobre o peito do Gael, acariciando com calma os seus pelos
castanhos. Busco palavras certas para começar a contá-lo sobre a minha vida
financeira, só que ainda estou nas nuvens com o amor que fizemos. Ele foi
carinhoso, atencioso, amoroso e calado o tempo todo. Aliás, a gente não tinha o que
dizer a não ser gemer em sussurros o nome um do outro, tocando-nos feito chamas.
Será que eu estou apaixonada por esse caipira? E o que eu vou fazer se
estiver?
— Eu gosto muito do seu perfume, Lívia. Não existe pessoa com cheiro
igual.
Sorrio fraco, apreciando os seus dedos no meu cabelo.
— O que mais gosta em mim?
— Dos seus olhos. Não tem como pensar em você e não imaginar essas íris
verdes.
Eu ergo a cabeça para fitá-lo, sem coragem de dizer que eu já gosto de tudo
nele. Principalmente e infelizmente desse seu lado protetor. Ninguém antes quis
cuidar de mim, ou se importou em me ajudar com tanta força de vontade. Na
verdade, eu nunca tive ninguém tão especial.
— Eu quero lhe ouvir. Me diga sobre você.
— Já sabe como eu sou.
— Não, eu sei apenas dos seus defeitos. E é por eles que sempre discutimos.
— Você quer ouvir sobre o motivo de ter alguém querendo me matar. E as
razões.
— Não fuja, me diga sobre você. Depois chegue a essas razões.
Eu suspiro, percorrendo os dedos pelo seu abdômen.
— Eu não sei falar sobre mim. Não tenho boas qualidades, só defeitos.
— Mentira, ninguém pode ter só defeitos. Me diga um grande sonho seu,
que não se realizou, ou que já se realizou.
Na mesma hora, eu penso no dia em que descobri que estava grávida,
também na curetagem aos quatro meses. E isso me doí por ter sido o meu único
sonho há muitos anos depois da formatura em odontologia, mas eu não posso sonhá-
lo nunca mais. Eu tenho endometriose profunda. Meus ovários e as tubas uterinas
são comprometidas. Até tentei ser esperançosa. Vivia em clínicas de fertilização
com o meu ex-marido. Fomos em todas do brasil. Cheguei a consultar fora do país,
mas era sempre a mesma história, os médicos mandavam eu desistir porque não
tinha jeito de eu gestar. Entretanto, um dia, eu consegui! Eu fiquei grávida! Havia
um bebê dentro do meu ventre! Que animação, felicidade! Ainda era um menino!
Pena Deus me odiar... talvez, era para ele ter seis ou sete anos hoje? Acho
que sim. Só sei que jamais conseguirei segurar um filho de novo, assim como não
conseguirei nem gerar o feto.
— Em viajar pelo mundo — sussurro com tristeza.
— Mas você já não fez isso?
— Não — respiro fundo, fortalecendo-me para revestir a minha armadura.
— Entrei em falência, né? E não tenho mais nada interessante para falar, Gael.
Quero ser sincera sobre quem deseja me ver morta. Não é isso o que gostaria de
saber, querido amigo?
Eu desço a mão para o seu pau e ele me segura rápido.
— Lívia, eu já estou na carne viva! Não é possível que você não esteja
satisfeita! E eu quero que seja verdadeira, como prometeu.
— Eu estou tão satisfeita que sentar mais tarde será um problema. Porém,
vamos ao que lhe interessa. Começarei sobre aquela madrugada em que apareci na
sua casa. E não abra a boca antes do fim — eu sou bem mandona de propósito, só
para ver ele revirando os olhos com os seus traços bonitos.
Ele permaneceu quieto enquanto eu explicava sobre as minhas dívidas e
também sobre o motivo de eu estar sendo ameaçada – que é por causa de um
empréstimo com um agiota. Adiante, conto sobre aquela noite em que o Vitor
encontrou o meu apartamento para cobrar o que eu lhe devia, mas que eu fugi. E,
em seguida, no calor do medo, do desespero, eu fui parar na fazenda Dexter, atrás de
alguém para me ajudar. Ao terminar, Gael só fechou os olhos.
— Jura que era só isso que você não queria me contar? Que devia para um
agiota? E era ele quem estava te ameaçando?
— Sim. Já que não tem nada a ver com a minha vida. E devido aos seu jeito,
eu não queria que se envolvesse. E não é simples.
— De jeito nenhum, Lívia.
Gael entrelaça nervoso a nossa mão.
— Sua vida corre risco. Que merda se meteu? Não foi um erro, foi uma
grande inconsequência movida pelo desespero. Jamais devia ter feito isso.
Não replico. Nem ele arrisca a continuar falando.
— Melhor descansar, você não vai querer me ouvir.
Ele tem razão, pois odiaria que me deixasse mais para baixo. Já tenho muita
consciência dos meus pecados. Agora devo buscar soluções para sair dessa e não ser
morta, nem encontrada pelo Vitor sem dinheiro.
Lívia dorme ao meu lado, com a mão no rosto e os cabelos despojados no
travesseiro. Eu fico acordado, admirando a sua beleza de tirar o fôlego e pensando
que não desejo ver a sua morte, que isso me leva a loucura só de imaginar e que ela
precisa urgente dar um jeito de vender o carro e tudo o que tiver para começar do
zero. Até uma criança teria noção disso. O problema é que ela é muito orgulhosa e
não vai se humilhar. Além de que aconselhá-la, até ajudá-la será como pisar em
ovos.
Pela manhã, eu acordo calado, sem despertar a Lívia. Visto-me de qualquer
jeito e saio sem fazer alarme. No entanto, ao virar no corredor, eu levo um susto ao
dar de cara com a Sônia e os seus materiais de limpeza. Ela mais ainda. Chegou a
arregalar os olhos e soltar um gritinho.
— Meus Deus! Sen... senhor Gael?
Ela olha para as minhas roupas sociais amassadas – e sujas de terra –, olha
para o corredor que tem dois quartos de hóspedes e volta sem entender nada. Ou
talvez tenha entendido.
— Olá, Sônia...
— O que faz aqui em cima?
— Eu... desculpe, eu já estou de saída — falo sem graça, retirando-me feito
um idiota sem resposta.
Praticamente, saio voando da casa. E se a minha intenção era me sentir
aliviado por já estar na varanda, Anton estragou isso com a sua presença
inconveniente ao lado da sua caminhonete cinza. Ele parecia pronto para abrir a
porta e entrar nela.
— Mas vejamos — ele me fuzila, em seguida, analisa-me em pé. — Pelas
suas condições, não devo questionar o que fazia dentro da minha casa, com a
hóspede da minha esposa. Ou bebeu muito e caiu por aí? Estou errado?
— Seria muito inocente para desejar a resposta.
— Vou livrá-lo da resposta se estiver disposto a me ouvir.
É a minha vez de observar o seu nervosismo interno.
— Quer conversar sobre o quê?
— Primeiro, vai para casa tomar uma ducha e tirar esse cheiro de quem
fodeu. Vou deixar umas ordens de serviço para os meus capatazes e daqui meia
hora, apareço por lá.
— Pelo seu humor, as coisas não estão nada bem.
— Não mesmo. Te vejo daqui a pouco.

Em casa, eu tomo banho, visto roupas limpas do dia a dia, como algo e
aguardo o Anton, como o combinado. Ele chega meia hora depois. E o que conversa
comigo me faz ficar puto da vida com ele, por ter magoado a Kiara.
— Deveria ter sido sincero com ela desde que o Gabriel te ligou.
— E eu não estou arrependido? Achei também que seria a melhor escolha
para não a magoar antecipado, deixar para revelar somente com um exame de
confiança nas mãos. Não o dele. Só que aquele... — Anton range os dente — filho
da puta armou para ferrar com tudo. Inclusive com a minha vida.
— Você conversou com o Laerte?
— Sim. Como eu, ele tem certeza de que existe o dedo da Lorenza.
— Isso é fato. Afinal, por que a esposa do Gabriel revelaria a paternidade só
agora, quatro anos depois? Lorenza quer te destruir para se vingar. Todos sabem
disso.
— O plano era essa bomba sair na mídia. Contudo, eu fui mais rápido do que
eles. O detetive Isaque me ajudou a entrar em contato com o CEO do jornal um dia
antes da fofoca ser publicada. Eu expliquei a verdade para ele e sem mais
indagações, ele disse que estava do meu lado, que, após a revelação de que a
Lorenza fazia parte do assassinato do meu pai, de jeito nenhum, aceitaria colunistas
escrevendo fofocas trazidas por essa mulher.
— Isso é um alívio. Seria pior ainda para a Kiara. Não consigo nem
imaginar. E ela está certa em te chutar do quarto até o exame sair. Nem devia
reclamar.
— E estou? — Anton apoia o cotovelo no encosto do sofá e acaricia o
queixo. — É o de menos, essas consequências. Bem de menos.
— E o exame vai sair daqui há quantos dias?
— Daqui há duas semanas. Mais ao todo são quatro.
— Tudo isso? Achei que pudesse ser mais rápido.
— Não é — resmunga de cara feia. — Os materiais que o Isaque conseguiu
escondido do menino não colaboram para a rapidez do resultado. E estamos em
2002, o valor e o aceleramento me custaram sete mil reais. O laboratório diz estar
fazendo o seu máximo.
— Esse valor nem te faz cocegas.
— O problema é que eles não aceitaram mais para acelerar essa droga.
Mantenho-me sério, observando-o.
— Gabriel sabe que você fez outro exame?
— Sim. Por isso ele e a Lorenza estão tão quietos. E a verdade prevalecerá,
Gael. Tenha certeza disso...
Eu e o Anton ficamos conversando um pouco mais e antes dele ir embora,
aconselhei a ter paciência para não agir contra o Gabriel sem ter primeiro o exame
de sua confiança. Agora se fará, eu não sei.
Minha mente ainda está na Lívia e nos seus problemas. Eu trabalho o dia
todo pensando nela. No fim da tarde, eu vou até a cozinha ver a minha mãe e tentar
a sorte de encontrá-la pelo jardim – não a acho.
— Você não quer um pedaço do bolo de maçã que eu fiz? — Ester
questiona, já repartindo um pedaço e estendendo-me.
— Está uma delícia, filho. Experimente. Você ama doces.
Eu me aproximo da mesa, pegando educado o prato e comendo toda a fatia.
Realmente está divina. Eu poderia comer a forma inteira.
Ester não desviou nem por um segundo os olhos de mim. Incomodado com
ela, após comer, eu resolvo ir embora, já que só vim para ver como a minha mãe
está.
— Gael, eu... eu posso conversar com você?
Ester, então, me para, assim que eu me levanto pronto para me despedir.
Minha mãe nos olha surpresa, com um ar curioso. Até que pigarreia.
— Humrum... Deixarei você a sós, não se preocupem.
— Não precisa, dona Maria. Me acompanha até lá fora, Gael?
Sem escolha, confirmo calado e acompanho-a para a passarela de pedras da
horta extensa e bem cuidada.
— O que foi, Ester?
— Bom... — Ela para. Eu igualmente cesso os passos. — Eu queria te pedir
desculpas pelo meu comportamento mal-educado aquele dia, quando veio falar
comigo. Me senti mal pela forma que te tratei.
— Lembro-me que já pediu desculpas.
— Mas não foi sincero como desta vez.
Analiso-a e ela parece envergonhada.
— Eu realmente guardei muita raiva e tristeza de você. O via como o
homem perfeito da minha vida, que me casaria, seria feliz e teria a minha enorme
família. O amei incondicionalmente. Aproveitei cada momento nosso juntos. Mas
depois que eu descobri que o seu coração não me pertencia, que você não me
amava, eu fiquei arrasada, furiosa, me senti uma qualquer, usada e no fim,
descartada. Você entende? — Seus olhos brilham marejados.
Engulo em seco, com a impressão de que levei um soco no estomago. E
levei.
As imagens dela gritando e batendo-me enquanto a salvava de morrer
afogada no rio são vivas e muito presentes. Eu já imaginei inúmeras vezes se ela
tivesse morrido. Uma menina linda, esperta, determinada e com um futuro tão
grande pela frente. O que seria de mim? Da minha vida? Dos meus dias? Me sentiria
um desgraçado que tentaria o mesmo fim. Não merecia viver no seu lugar, respirar o
mesmo ar que um dia respirou feliz e cheia de sonhos. Preferia a morte.
Deus, como eu odeio o que fiz. Fui um covarde por ter a iludido, por ter a
desflorado e a tornado mulher.
— Entendo. E sinto muito. Jamais queria te magoar. Eu errei em omitir os
meus sentimentos. Não devia ter a envolvido na minha vida. Isso também me
entristece. Sou eu quem tenho que lhe pedir as mais sinceras desculpas.
— Não diga isso. Querendo ou não, eu fui feliz ao seu lado. Você é um
homem incrível, honrado e protetor. E eu gostaria de tentar de novo. Desta vez, te
entendendo sem segredos. De uma forma que nós dois possamos nos amar. Me dê
outra chance, Gael? Eu mudei, eu amadureci. Me permita provar isso?
Eu molho os lábios, sentindo os meus músculos se enrijecerem. Fico atado,
com medo de magoá-la de novo. Só que será impossível.
— Não quero te magoar mais, Ester. Achei que tivesse superado o nosso
passado e o nosso relacionamento. É uma mulher linda, trabalhadora e cheia de
determinação. Você não merece um homem como eu. Procure alguém que vai ser
tudo o que você espera. Que vai te amar e te dar uma família.
— Mas é você quem eu quero. Nunca te tirei do meu coração, nem dos meus
pensamentos, ou tive qualquer interesse por outra pessoa. Por favor, não faça isso
sem antes nos dar uma segunda chance. Eu mudei. Quero ir com calma e no seu
tempo, como me falava antigamente. Lembra?
— Eu sinto muito... não insista. Devemos seguir passos diferentes. Me
desculpe. É melhor que seja assim.
Ester suspira em silêncio, de cabeça baixa... e para acabar de vez comigo,
sem mais esconder as lágrimas que lhe escapa, ela, então, ergue a cabeça, morde a
boca, abraça os braços e vira as costas num rápido desespero, saindo triste e sem
falar mais nada.
Seguro-me para não ir atrás dela e impedir que chore, que sofra, que... eu
não sei... só não queria que ficasse triste. E por Deus, eu não posso fazer nada. Ester
deve entender de uma vez por todas que nós dois não existe, que ela deve encontrar
outra pessoa que possa amá-la e corresponder às suas expectativas. Esse cara não
sou eu.
Após terminar a minha aula com o professor Luciano, eu o convido para
almoçar conosco e ele aceita o convite meio envergonhado e desconfortável devido
à presença bruta e autoritária do Anton. Se não fosse pela Lívia, o clima teria ficado
ainda mais pesado na mesa. Mais tarde, quando ele vai embora, eu passo calada pelo
Dexter na sala, com a intenção de subir para dar de mamar para a nossa filha, mas
ele me para cheio de rouquidão na voz.
— Eu estou indo nas terras do seu pai ver como anda as coisas por lá. Se
quiser me acompanhar, eu saio daqui a pouco, às 14h da tarde.
Engulo em seco, aliviada pelo assunto não ser o meu professor.
— Eu quero. Só preciso dar de mamar para a bebê e me vestir. Daqui a
pouco, eu desço para irmos. Já volto.
Ele assente e eu me retiro para o quarto.
Lívia, minutos depois, aparece batendo na porta e informando-me que o
professor Luciano ligou e mandou avisar que ele esqueceu de deixar a apostila das
minhas novas atividades e que por isso era para eu me dedicar apenas a leitura dos
livros essa semana.
— Acho que o Sr. Dexter não vai muito com a cara do seu professor.
— E você acha que ele vai com a cara de qualquer homem que se dirija a
mim?
— Só a do Gael.
A gente sorri.
— Às vezes, nem o Gael escapa do seu ciúmes. Só que os dois se entendem.
Parece que voltaram a confiança.
Lívia fica em silêncio, olhando derretida para a Melina pendurada no meu
peito e me surge uma pergunta curiosa, sobre algo que ela me disse uma vez.
— Você já foi casada, né?
Ela me fita e confirma com a cabeça, após se sentar no colchão.
— Sim, por cinco anos.
— E por que vocês se divorciaram?
— Porque ele me traiu. E eu não tolero traição.
— Nossa, que horrível. Eu sinto muito, Lívia.
— Não sinta, por um lado, a traição e a separação tiveram a minha parcela
de culpa. Se hoje você me acha ambiciosa, há seis anos, eu era pior. Não dei a
atenção devida ao nosso casamento. Coloquei os meus sonhos de poder em primeiro
lugar. E Alex se cansou. Tínhamos muitas discussões, gritaria e vasos voando pelo
apartamento. Para se vingar, ele se jogou no mundo das baladas, álcool e das
mulheres fáceis. Entretanto, quando eu entrei com a providência no divórcio, o
homem se desesperou e tentou fazer de tudo para consertar as coisas entre a gente.
Eu simplesmente não quis mais. Já estava farta dele também.
— Acho que vocês não tinham amor, nem reciprocidade um pelo outro.
Quando amamos alguém de verdade, ainda mais sendo marido e mulher, a
separação dói demais. Sem falar que os dois, ou um dos dois tenta superar as
dificuldades para isso não precisar acontecer.
Lívia parece pensativa.
— Então acredito que eu nunca tenha amado ninguém. Já noivei e levei
chifre também, na minha própria cama. E eu não sofri nem um pouco. Pelo
contrário, na noite seguinte, eu estava acompanhada de outra pessoa. Igualmente no
meu casamento. Separei num dia e no outro já estava em Nova York, feliz e
aproveitando o meu status de solteira.
— Misericórdia, Lívia. Sua personalidade é sem igual. Definiria fria e sem
coração.
— Não tem como negar, eu puxei a minha mãe, infelizmente. Porém, ela é
pior em todos os quesitos. Devo dar graças a Deus pelo meu pai ter sido bem
presente com os seus conselhos. E eu tenho coração sim, dona Kiara.
Eu sorrio, erguendo-me para levar a Melina até o berço. Ela dormiu.
— Sei que tem.
Eu volto, pigarreando.
— Estou com vergonha... mas posso te fazer uma outra pergunta? É meio
relacionada às suas experiências. Diria que é uma curiosidade — saliento com as
bochechas vermelhas.
Lívia ri, apalpando a cama.
— Vem aqui, me pergunte o que quiser, sem medo.
Eu mordo a boca e vou me sentar tímida ao seu lado.
— Então?
— Bem... Não leve a mal. Eu só queria saber como é estar a sós com outros
homens. Quero dizer... — molho os lábios — tendo relações.
— Hum, sexo? — Ela parece se divertir com a minha vergonha. — Não se
sinta acanhada, Kia, solte a safada curiosa que existe em você.
— Meu Deus — eu coloco a mão na boca, rindo.
— Pelo jeito, o Anton foi o único na sua vida. Mas vamos lá, posso dizer
que na carreira de uma solteirona-aventureira existe uma listinha das melhores
fodas. Pois há homens que sabem te dar prazer e outros que só querem se auto
satisfazer. Uns que são bons, outros que são péssimos de cama. Ah, sem falar dos
tamanhos. Não adianta de nada ter um pau grande e não saber dar orgasmos a uma
mulher, e sim, machucá-la. Uns caras desprovidos por aí fazem o serviço mil vezes
melhor do que esses dotados. Apenas nas preliminares já recompensam. No entanto,
há exceções.
— Lívia, eu estou chocada.
— Fui muito direta, né? Vou com calma, não se preocupe.
— Nem precisa, eu já entendi tudo — coro.
— Kia, você é muito fofa com vergonha. Chega a ser encantador. E está tudo
bem se não quer mais saber.
— Não, eu quero que continue. Desta vez, me fale sobre se satisfazer...
sabe, sozinha?
— Hum...
Ela ri, encarando-me desconfiada.
— Agora sou eu quem estou constrangida.
Minhas bochechas pegam fogo com a sua declaração. Lívia pisca sacana.
— Não se preocupe, eu vou te ajudar em tempos de seca, te dando um
presentinho que nunca usei. Ele está na embalagem. Só que primeiro, vamos a todas
as suas dúvidas...
Assim que a Lívia mata todas as minhas dúvidas, eu fico ainda mais chocada
quando ela me dá o tal "presentinho", que é um vibrador rosa, com função
massageadora.
Pai Amado, eu não teria coragem de usar isso nunca. Estou em êxtase –
guardo o negócio dentro da gaveta do criado mudo, troco de roupa; visto uma calça
jeans justa, blusa decotada, botas de salto grosso e chapéu de cowgirl. A seguir,
desço para informar para a minha mãe onde eu vou com o meu marido. Também ao
Anton que estou pronta.
Ele, ao me ver, tirou o Gieber do colo, ergueu-se, olhou-me de cima a baixo
e nervoso, me fez acompanhá-lo desconfortável até o carro.
Na estrada, ouvimos música e conversamos sobre montar o meu plantio de
flores, também sobre a minha responsabilidade total e sozinha nesse investimento.
Afinal, o hectare do meu pai é meu. Até senti um friozinho na barriga. Espero que
dê tudo certo.
Ao chegar no casarão, eu fico alguns minutos dentro do carro, tomando
fôlego e coragem para as más vibrações não me possuírem. Voltar onde vivi e onde
o papai morreu é sempre difícil.
— Kia, minha netinha!
Na varanda, vovô Heleno nos recebe caloroso, dando um abraço terno em
mim e um aperto de mão no Dexter.
— Cadê as crianças?
— Ficaram em casa. Eu e o Anton só viemos ver a terra. Mas primeiro, nos
convide para um café, vô. E me conte sobre a sua saúde — apoio-me no cotovelo
dele, caminhando para dentro.
Percebo que, no interior, a casa está bem arrumada e limpinha. Já que o vovô
não quis de jeito nenhum morar conosco na mansão, optamos por reformar o
casarão para ele continuar confortável aqui, com uma cozinheira e uma empregada
que também é cuidadora de idosos. Ela quem me atualiza certinho sobre a saúde
dele. Vô Heleno é muito orgulhoso para assumir que tem sérios problemas de
pressão e outras doenças – não tão graves, graças a Deus.
Depois do café, eu e o Dexter vamos dar uma volta a pé pelos arredores. Só
que me pego triste, em conflito com as lembranças. Parece que me vejo pequena,
frágil, correndo por esse campo verde; subindo em árvores, brincando com o meu
cachorrinho, sujando-me na lama. Tudo para ficar distante do meu pai, que batia na
minha mãe e em mim. Era dia após dia de sofrimento, dores e maus tratos. Eu só
desejava que a mamãe fosse embora, que a gente parasse de sofrer e de chorar. Era
tudo o que eu sonhava...
— Kia... — Anton toca de repente na minha mão, fazendo-me olhá-lo em
choque por ter me tirado dos meus devaneios tão bruscamente. — Não gosto que
fique assim. Pois sei que tem raras lembranças boas desse lugar.
— Eu...
Eu tenho?
— O que foi? — Ele aperta delicado o meu pulso. — Está bem?
Arrepio-me pelo seu toque, já até esquecendo do que me afligia e
incomodava. Eu queria agora era entrelaçar os braços no pescoço desse homem (o
meu homem) e beijar os seus lábios sem pensar no amanhã. Até nosso fôlego se
esvair por completo.
Ou poderíamos fazer um amor delicioso nessa grama?
Rápida, afasto a minha mão da dele, desvio dos seus olhos e mordo os
lábios.
— Estou... estou bem.
Anton não se dá por satisfeito, parando-me no meio do sol quente e puxando
o meu corpo para o seu peitoral enorme.
Meu pai amado, eu estou literalmente derretendo das pernas.
— Como posso acreditar?
— Não sei.
Encaro a sua face rústica de poderoso por baixo do chapéu sombreado. "O
poderoso herdeiro do império Dexter". É tão excitante vê-lo como os outros. De
pensar que existe pessoas que dariam tudo para estar no meu lugar. Pena que elas
não sabem que na realidade esse bárbaro tem a obrigação de lamber os meus pés.
— O sol está quente amo... Anton — gaguejo, enquanto meus seios quase
pulam do decote, devido a minha respiração acelerada. — Vamos para a sombra.
O que está acontecendo comigo? Por que estou tão confusa e gaga?
Ele olha de propósito para o meu busto e feito um animal, fuzila-me olho a
olho.
— Eu estou com tanto tesão acumulado, Kia, que você nem imagina. Mas te
darei uma noção árdua — ele, então, aperta o antebraço entre os meus peitos e
imediatamente, esfrega o seu membro duro na minha pélvis. Sendo maldoso, cruel e
obsceno.
Oh, meu santo... ele está tão...
— Não, seu sem-vergonha! Me larga! Você não vai ter o que quer! Não
deixo! — Num estalar dos dedos, recupero a minha valentia e enfrento-o. — Se
afaste! Anda!
— Porra! É só questão tempo para acabar com isso! — Puto, ele, enfim, me
larga, contrariando as suas vontades maléficas e sexuais. — E vamos só até a merda
daquele pequeno penhasco ali. Não quero ficar mais vendo os seus peitos pulando e
nem o seu traseiro rebolando com o jeans enfiado no meio do rabo!
Anton vira brusco as costas largas. Ainda sai chutando as pedras de tanta
raiva. Que droga. Eu não sei de quem sentir mais dó; dele ou de mim por ter que
ficar agora vendo a sua bunda e o seu corpo forte caminhar selvagem feito um touro
bravo.
Não é possível eu sentir tanto tesão bombardear entre as pernas. Acho que,
neste exato momento, o presente da Lívia seria bem-vindo.
Respira, Kia. Ou você tem um orgasmo.
— Me seguindo, Lívia? — De repente, o Gael vira e pega-me sorrateira no
corredor, onde leva até a cozinha.
Rápida, eu empino a cabeça e recomponho-me do susto, para fitá-lo
semicerrada, com o dedo indicador mirado na sua direção.
— Eu que pergunto: o que você está fazendo aqui dentro da mansão, seu
caipira?
— Isso é fácil de responder, eu vim trazer o presente atrasado do Gieber. E
depois de fazer isso, eu estava indo ver a minha mãe. Até escutar um barulho de
saltos atrás das minhas costas, me seguindo.
— Deve ter sido coisa da sua cabeça.
— Será que foi?
— Tenho certeza — pisco descarada, chegando bem perto dele.
Ele sorri de canto e pega-me de jeito pela cintura, imprensando-me na
parede. Eu, boba nem nada, acaricio o seu pescoço e deposito um beijo perto da sua
orelha.
Gael suspira, tocando-me de forma firme na bunda.
— Por que você tem que ser tão bonita e gostosa, sua diaba da cidade?
— Mais respeito porque eu não sou as empregadinhas que você come.
— Não vou discutir com a madame agora, porque eu quero conversar algo
sério mais tarde.
— O quê?
— Você vai saber lá em casa, quando eu te sequestrar ao anoitecer — ele
sussurra e avança para me beijar de língua, cheio de uma pegada selvagem sem
igual.
Puta merda, como esse homem é gostoso. Se ele pedisse para eu tirar a roupa
neste momento, eu tirava e ainda fazia uma dancinha sensual.
Eu gemo na boca dele, descendo a mão esquerda para descontar o seu aperto
bruto na minha pobre bunda e faço o mesmo com o seu delicioso traseiro avantajado
e durinho.
— Lívia — ele resmunga entre os nossos lábios molhados.
E inesperadamente, ouvimos um barulho de vaso caindo e espatifando-se no
chão. Nós interrompemos o beijo e inclinamos a cabeça para ver o que aconteceu.
Melhor, para ver quem provocou o barulho de propósito. E ela está em pé, olhando-
nos com uma cara péssima, de quem mataria nós dois à grito. Até que vira as costas
e sai apressada, com os seus cabelos ruivos balançado avoaçados. Gael me larga na
mesma hora, arregalando os olhos e por pouco, não correndo atrás dela.
— Ester...
Porém, no meio do caminho, ele para, fecha os olhos, os punhos e desiste.
— Merda!
— Acho que ela nos viu. Inclusive o meu aperto no seu traseiro — sorrio
com a sobrancelha arqueada.
Gael me olha. Seu olhar é monstruoso, de fazer qualquer um correr. Uma
pena eu não ser qualquer uma. Continuo a sorrir, desta vez, indo até ele.
— Você não sabem de nada, Lívia!
— É claro que eu sei. Parece que a sua ex-namorada ficou bem incomodada
em nos ver quase fodendo no corredor. Ela, com certeza, conserva sentimentos por
você. Não acha? — Eu toco nos bíceps dele, esbanjando a maldade nua e crua. — E
você, Gael? Ficou incomodado?
— Isso não é momento para proferir seus venenos! — Ele passa a mão na
barba, muito nervoso. — Você não conhece ela, não sabe o que aconteceu.
— Já disse que eu sei — afasto-me, como se estivesse falando de algo
insignificante. — Mas sei pela Kia apenas da história que ela tentou se matar após
você confessar que amava era a esposa do seu melhor amigo, que estava terminando
o relacionamento porque não a suportava. E foi a única coisa interessante da sua
vida inteira que me chamou atenção. O restante é tudo muito certinho para o meu
gosto.
— Ao contrário de você, Lívia, eu não sou insensível. Ester é uma pessoa
boa, de coração limpo. Ela não tem culpa de gostar de mim. Assim como eu não tive
de um dia me encantar pela Kiara.
— E por que continua ainda aqui? Vai atrás da menina para consolá-la e
magoá-la mais.
— É por isso que eu não fui, porra!
— Eu sabia — tento segurar o sorriso de canto novamente. — Você não tem
culpa, nem nada a ver pelo que ela sente. No entanto, conheço o seu jeito de herói e
deve se sentir responsável pelo passado, por ter a enganado para superar os seus
sentimentos por outra mulher. E de ela ter quase se suicidado por conta disso. Ester
devia ter quantos anos naquela época? 18? 19? Você tem 32. Estava com 29? Se
basear pela conta da Kia, dá na mesma. Era bem mais velho e cheio de experiência.
Não devia ter a iludido. Meninas do interior são tudo bobinhas e inocentes. Tem
mente de quinze anos para baixo.
— E eu não te perguntei nada! Além de que você é idêntica a Lorenza! Acho
que ser megera vem de berço de ouro, já que a sua mãe Castellano não fica atrás! —
arrogante, Gael cospe as palavras, aperta o chapéu na cabeça e então, vira o corpo
para sair caminhando ríspido.
Eu abro a boca, sem acreditar no que disse.
Eu sou megera? Eu não sou megera! Só disse a verdade para ele!

Enquanto eu voltava para o casarão com o Anton, sem querer, afundei a bota
num buraco no meio da terra falsa. Cai sobre a perna e torci o tornozelo. A dor era
tão horrível que eu chorei tendo certeza de que o meu osso havia saído do lugar.
Anton se desesperou, pegou-me no colo e correu ligeiro para a casa do vovô. Ao
chegar, ele e a empregada vieram me ajudar com cubos de gelo, só que não teve
solução para o tornozelo parar de latejar. Já tinha se passado mais de vinte minutos e
o pé continuava ali, intacto, doendo e inchando. Eu chorava sensível por qualquer
toque nele. Então, puto da vida, Anton não perdeu mais tempo e me levou feito um
astronauta, dirigindo a sua espaçonave, até o pronto socorro.
Na vila, eu fui atendida de forma rápida, devido a ele ter quase feito um
escândalo na recepção. Passei por um raio-x para ver se tinha alguma fratura e foi
constatado uma lesão de segundo grau no ligamento. Agora terei que ser
estabilizada no tornozelo por quatro semanas. Vou usar uma tala órtese.
— Isso só pode ser brincadeira... — resmungo, sendo levada até o carro pelo
Anton.
Estávamos no posto há mais de três horas. Ainda sinto dor no pé, mas o
médico disse que se eu tomasse os remédios, ficasse de repouso e não me
esforçasse, a dor melhoraria em poucas semanas.
— Você também quer usar essas drogas de salto até na terra. Vai ficar mais
de um mês sem vesti-los para aprender! — ele declara bravo, coloca-me no banco
dos passageiros, fecha a porta e guarda as muletas e a bota de salto atrás da
caminhonete.
— Eu não tive culpa! — exclamo ao seu lado, após ele entrar e colocar o
cinto de segurança. — Não via aquele buraco no chão. Não precisa ficar irritado.
— Eu estou irritado por estar morrendo de fome. E a irritação pelo desespero
das suas lágrimas já passou. Quase me fez morrer do coração, mulher.
Rendida, eu fico quieta.
Eu sei que quase o matei. E não é exagero.
Começo a pensar no dia do parto da Melina. Anton estava com os olhos
esbugalhados, olhando-me a todo momento como um louco morto de medo. Suas
mãos tremiam desde que a minha bolsa estourou, na hora do banho, e as contrações
começaram a se intensificar. Mamãe não estava em casa para me socorrer com mais
calma — ela havia ido na igreja da vila com a Felícia. No fim, teve que ser só eu e
ele mesmo saindo às pressas no domingo à tarde da mansão. Para piorar, eu não
suportei as dores durante a viagem e dei à luz a bebê no meio da estrada. Claro, com
a ajuda do meu querido marido supercontrolado e muito sensível ao me ver
sofrendo. No hospital particular, com a recém-nascida nos braços, que a ficha dele
caiu de vez, completamente, e o escândalo foi pior. Contudo, eu e a nossa princesa
já estávamos bem. Levamos alta na noite seguinte.
O mesmo se dá às crianças hoje em dia, quando estão doentes —febre,
resfriado ou dor de garganta —, ele se preocupa exagerado. Entretanto, compreendo
que seja assim devido ao seu pai e os traumas de socorrê-lo em sua doença, também
nas crises. Não devia ser nada fácil conviver com alguém tão debilitado por anos.
Ainda mais sendo o seu pai, o seu herói. Só de pensar, me dói o coração.
— Kia! Meu Deus, o que aconteceu com você, minha filha?
Em casa, a minha mãe, a Lívia e a Felícia me enchem de perguntas devido a
nossa demora, principalmente pela tala preta no meu pé. Explico o incidente desde o
começo, despreocupando-as.
— Agora eu só necessito de um banho. Minha calça está toda suja de terra. E
estou grudenta de suor.
— Eu te levo — Anton fala, quase me pegando no colo.
— Não, não precisa. Mamãe me ajuda.
Eu o paro e ele franze o cenho, dando-me um dos seus olhares arrepiantes.
— Filha, é impossível eu te ajudar. Eu não te aguento. E Anton é forte, ele
pode te carregar no colo.
— Sua mãe tem razão — Felícia afirma.
Então eu coro. É obvio que ele é o único que pode ajudar.
Por fim, ele me dá um olhar de triunfo e volta com as suas mãos forte no
meu corpo, pegando-me no colo e levando-me até a nossa suíte.
— Obrigada. Pode sair, eu me viro.
— Você está ferida, latejando de dor, Kiara. Não consegue nem pular com
uma perna só. Não vou te deixar tomar banho sozinha. Não mesmo.
— E acha que eu vou te deixar me ver nua?
— Eu já te vi nua milhares de vezes, sua birrenta! Agora sei de quem o
Gieber puxou toda aquela birra! E que Deus tenha misericórdia da minha filha!
— Ele puxou o jeito mandão, teimoso e autoritário de você. Além de que
não é birra, é raiva e razão!
Sem discutir, Anton se aproxima nervoso de mim. Ele inclina as costas e
chega bem perto do meu olho. Meu peito acelera, sinto a sua respiração quente.
Seus olhos cospem falta de paciência.
— Você escolhe: ou aceita por bem eu te dar banho para ficar limpa e dar de
mamar para a nossa bebê, ou te pego no colo agora mesmo e te jogo embaixo da
porra daquele chuveiro sem menor piedade! Escolhe, Kiara!
Meu Deus.
Ele falou tão cruel, grosso e irritado que engoli em seco e fiquei sem
coragem de contestá-lo – e jamais iria, é o limite para qualquer sábio em sã
consciência.
Desvio dos seus olhos acinzentados, tiro a blusa e tento me erguer sem
precisar dar a resposta de que aceitei a sua ordem por "bem". Anton me ajuda a ficar
de pé, mas faço uma careta de dor por ter quase colocado a perna no chão. Ele me
segura como seu eu fosse um peso pena para o seu enorme tamanho e força. Seus
dedos apertam a carne delicada da minha cintura, enquanto fico imprensada só de
sutiã no seu peito. Meus seios só faltam saltar da peça íntima.
— Eu sabia que ia por bem, minha pequena.
Arrepio-me pela sua voz rouca perto da minha testa. Sem os saltos, eu fico
literalmente uma anã.
E ele ama isso.
E eu amo isso.
— Não existe "bem" com você, seu bruto — sussurro.
Ele me fita sagaz e me pega forte pela perna, erguendo-me nos seus braços.
Eu me apoio no seu pescoço.
— Tenha certeza de que esse bruto é só seu. Agora vamos para a droga
daquele chuveiro, onde ficarei com as bolas roxas por sua causa. Porque quando
coloca alguma coisa na cabeça, nem cristo tira!
E eu ficarei mais molhada do que a própria água.
Não aguento e chego mais perto do rosto dele, fitando-o nos lábios. Sinto-me
hipnotizada, sem controle das minhas próprias ações.
— Eu...
— Droga, Kia! É o limite!
Ele, então, avança com o seu hálito quente, sem esperar que eu tivesse noção
de que me beijaria faminto, até arrancar sangue da minha boca e as forças do meu
corpo.
Tremendo frenética, seguro-me nos seus cabelos, chegando a puxá-los sem
um pingo de dó. Anton grunhi furioso e num ato bruto, pega-me pelas pernas,
ergue-me no colo e cala o meu grito de relutância fracassada, com os seus beijos
dolorosos.
— Eu vou comer literalmente a sua boceta! Eu vou devorar você!
Não tenho resposta, nem voz, nem fôlego, nem consciência de que já
estamos dentro do seu escritório. Ele bate a porta, joga-me na mesa e dá dois
minutos fora dos seus lábios devoradores, para eu poder respirar e pensar que eu
estou perdendo a guerra.
E que eu preciso desse homem!
Eu preciso dele dentro de mim, preenchendo-me!

Kia engole em seco, enquanto eu tiro a camisa, esgarçando os botões de uma


única vez. Minhas veias pulsam, meus músculos estão duros como pedra e meu pau
lateja, bombardeando sangue quente para a sua ereção sufocada na calça.
Ou eu respiro ou enlouqueço.
Só que respirar me deixou com mais fome.
Eu avanço sobre ela, agarrando os seus cabelos desde a raiz e jogando a sua
cabeça para trás, para me enfiar entre o seu pescoço – de gosto salgado. Passo a
língua na extensão dele, subindo para mastigar o lóbulo da sua orelha. Ela geme.
— Isso… isso não vai mudar o que fez — Kiara acaricia a minha nuca.
E sinto as suas pernas apertaram as laterais das minhas coxas. Está excitada.
Não a respondo, em vez disso, eu me afasto, pego na barra do seu vestido e
encaro-a nos olhos escuros de desejo, enquanto rasgo o tecido grosso sem maiores
dificuldade. Ela nem se mexeu.
— Não vai! Por isso fique à vontade para imaginar que está num sonho onde
o seu marido a fode sem descanso. E suas determinações não foram destruídas!
— Seu maldoso do inferno… Ahh — arfa brava, perdida entre os meus
dedos que se enfiam por dentro da sua calcinha molhada.
Ela ainda tenta me impedir, mas já estou a pressionando no clítoris e
metendo a boca na alça do seu sutiã roxo.
— Minhas determinações não foram destruídas! — Kiara, então, me
surpreende ao também pressionar o meu pau, chegando a me estremecer de dor pelo
aperto horrível.
Ah, porra!
Eu bufo descontrolado, empurrando-a na mesa, sem me importar com as
minhas coisas se despedaçando no chão. Adiante, arrasto-a para mim, estapeando
com força a sua bunda. Ela grita e deixa escapar uma lágrima.
— Você sabia o que sofreria quando eu te pegasse, Kiara Dexter?
No meu colo, eu tiro a calcinha dela, esfregando-me na sua vagina.
Kiara segura nos meus ombros e grunhi desesperada, por mais que não
queira transparecer isso.
— Responda!
— Não vou! Não quero! Se vire para buscar as suas respostas!
Sorrio com sangue nos olhos.
— Você tem muita sorte por estar com o tornozelo machucado.
Volto sem menor delicadeza para a mesa, tiro o seu sutiã, abro a minha calça
e fico nu. Kiara perde o ar olhar para baixo.
— Pois te faria se ajoelhar e chupar meu o pau com essa boca respondona!
— Cato-a pelos cabelos loiros, enfiando-me furioso entre as suas coxas e
penetrando suas entranhas apertadas/meladas numa única estocada.
— Aaaaah! — Kiara berra.
Eu a pego nos meus braços, começando a fodê-la em pé, sem o menor apoio
além de meus ombros para se segurar.
Depois a fodo na parede, enquanto mamo, devoro, marco, chupo, faço o
caralho a quatro com os seus peitos fartos de mamilos duros, expelindo leite.
— Que delícia! — grunho, lambuzando-a de saliva e de gozo.
Falando em quatro, após o nosso terceiro orgasmos, coloco-a no tapete no
meio da sala, ergo a sua bunda branquinha e aconchego a minha cara entre as duas
ancas. Mas antes, ergo os olhos sobre as suas costas só para conferir que ela não está
sentindo dor no tornozelo, nem fraca o suficiente para cair. Estando firme, seguro os
seus quadris e pincelo a tela perfeitamente empinada na minha frente, com a ajuda
da língua cheia de músculos, lambo a sua buceta e o seus ânus em várias investida.
Ela delira, sofrendo para não desmaiar, nem gritar de prazer.
Que dó. Que enorme dó eu sinto...
Penetro-a os dedos, estimulando perverso a sua xota rosadinha e inchada.
Kiara geme e rebola frenética. Noto que os seus gemidos já não fazem parte
do mesmo planeta que se encontra fisicamente.
— Anton! Anton… Ohhh, meus Deus… Eu... — Ela arqueia as costas, abre
a boca, joga os cachos loiros do rosto para trás, no entanto, eles voltam para o
mesmo lugar, deixando-a só mais sexy. Por fim, abaixo-me na sua bucetinha, para
chupá-la e fazê-la explodir de espasmos na minha boca.
— Oh, Anton… — sussurra amolecida.
Rápido, apoio-a pela cintura, para cair sentada no tapete e não sobre o seu
tornozelo ferido, revestido pela bota.
Ela coloca a mão no meu peito, tentando me olhar, mas está tremendo e
ainda perdida no ápice.
Recuperada, Kia afasta seus fios de cabelos desgrenhado da face e molha os
lábios inchados. Eu chego perto dela, fascinado por sua beleza, seu perfume, seus
lábios e beijo-a calmo, sem evitar, minutos depois intensificar para a minha fome de
consumi-la. Porém, ela empurra o meu queixo.
— Não vai ter outra vez.
— Diz isso depois de satisfeita? — resmungo, acariciando-a na coxa.
Ela é tão macia, quente. Parece um tecido nobre de seda.
— É, eu fui fraca por sua causa. Espero que se sinta culpado por isso, Sr.
Dexter. E agora busque um vestido para mim no nosso quarto.
Kia tira a minha mão do seu corpo, levanta os ombros, cruza uma das pernas
para esconder o seu sexo feminino e tampar falhamente os seios.
Bufo e coloco-me de pé, nu, só para ela não resistir a dar uma última olhada.
E como previ, ela não resiste… ainda morde os lábios sem sequer notar que isso foi
muito excitante.
Droga, que Cristo me dê muita força para não surtar de novo! Que eu vou!

Solto-a e então, afasto-me da porta, para que ela possa entrar e sair do frio.
Lívia me fita sem palavras, engole o orgulho, aperta a chave do carro e passa por
mim, exalando o seu perfume inebriante.
Ela é tão linda e cheirosa.
Eu fecho a porta, virando-me mais calmo e satisfeito por tê-la aqui comigo.
— Saiba que eu só entrei porque está frio lá fora. Não é para ficar feliz —
seu tom foi sutilmente doce e implicante.
— Às vezes, eu não tenho dúvidas de como você é uma mulher apaixonada.
Que só paga de durona para esconder os reais sentimentos.
Aproximo-me dela, quase a intimidando com a minha altura e o meu peito
nu. Porém, esqueci do detalhe de que a Lívia é uma diaba. Ela acaba de tocar no
meu abdômen, sem menor vergonha e subir as mãos para os meus ombros e os
cabelos molhados.
— Não tenho sentimentos nenhum para esconder. E acho que você é o
apaixonado aqui. Meu toque sempre faz você ficar rígido e inflar o peito.
Não digo nada, só a encaro. Ela acaricia a minha barba.
— Vai secar esse cabelo e vestir um calçado para não ficar doente.
— Eu ia fazer isso, até você bater na minha porta e me atrapalhar — eu
pressiono meus dedos na sua cintura, sentindo o tecido fino do seu vestido e a alça
da sua calcinha. — Pensei que fosse a minha mãe com os meus bolinhos de chuva.
Ela ri.
— Eu sou mais deliciosa do que bolinhos de chuva — declara, sem desviar
dos meus olhos.
E nem eu dos dela. Esqueço tudo de negativo que me enlouquece nesse
furacão.
— E vai logo, Gael, se secar — ela, então, me empurra. — Ou eu mesma
posso fazer isso para você, sem um pingo de benevolência.
— Não duvido que possa.
— Não duvide mesmo.
— Já volto.
Eu a deixo na sala para poder ir até o quarto terminar de me secar, vestir os
chinelos e uma camiseta. Quando eu volto, encontro a Lívia no mesmo lugar, vendo
muito curiosa as minhas fotos e os meus diplomas na estante.
— Posso te perguntar uma coisa? — Ao perceber a minha presença no
ambiente, ela questiona sem me olhar.
— Sim.
— Tendo toda essa formação no seu currículo, por que você escolheu viver
inferior ao Sr. Dexter? Poderia ser um grande homem reconhecido. Assim como ele.
— Noto que a sua pergunta foi curiosa, não ofensiva.
— Porque eu odeio maiores responsabilidades. Odeio me meter com gente
poderosa da cidade. O que passo sendo gerente do Anton é o bastante para definir
essa escolha. Gosto de acordar cedo, trabalhar e voltar às 17h para descansar sem
maiores dores de cabeça. E sobre ser inferior ao Sr. Dexter, no quesito ser dono de
um império, realmente eu sou. Mas se eu moro nesta casa, neste terreno e tenho
livre arbítrio de mandar em qualquer peão, capataz etc., é porque somos uma
equipe. Sempre fomos desde criança. Ninguém tenta ser maior, ou mais inteligente
do que o outro. Anton tem total confiança em minha administração e gerência da
fazenda. E nossas desavenças pessoais nunca chegaram a abalar nada disso.
— Não é por acaso que ele está se tornando mais poderoso do que o próprio
pai foi um dia. O Dexter tem você, seu maior segredo para tantas conquistas. No
lugar dele, eu colocaria a mão no fogo pelos seus dons. Sem falar que são irmãos
uterinos. Vocês dois não tocam nesse assunto?
— Não. — Eu tiro delicado a minha foto de formatura ao lado do Anton da
visão da Lívia e puxo-a pelo braço. — E chega de curiosidades sobre a minha vida.
Devemos conversar sobre a sua, a qual corre perigo de morte. Já tem os 200 mil do
agiota?
Ela parece não ficar furiosa por eu questioná-la, com sempre faz. Pelo
contrário, ela se entrelaça no meu pescoço e mostra-se nervosa, igualmente perdida
de tudo.
— Eu vendi todas as minhas joias para a Kiara, só que a quantia não chegou
nem perto de 100 mil. Deu apenas 61 mil.
— E se vender o seu carro? Com certeza, pagaria essa dívida.
— É financiado. Daqui a pouco, o banco toma de mim — ela dá de ombros,
como que se conformada com as suas desgraças.
— Droga, Lívia — eu a aperto firme em mim. — Que situação você se
meteu? E logo com agiota. É uma péssima administradora.
— Eu não sou uma péssima administradora!
— Não seja orgulhosa e irresponsável de não confessar a verdade. Você
perdeu o controle de tudo. Foi planejando as coisas sem sequer saber de onde tirar o
dinheiro. Isso é óbvio.
Lívia vira a cara, mas sem me contestar.
Afinal, eu disse o que ela já tem noção.
— Não quero falar sobre isso, nem quero brigar. Pelo menos não esta noite
— ela ergue as íris verdes para me analisar.
Eu seguro a cabeça dela, depositando um beijo na sua testa.
Céus, eu quero fazer amor como louco com essa mulher. Ou senão passar a
noite no calor das suas pernas, respirando o seu perfume sensual de âmbar. Qualquer
coisa que tenha a presença dela estaria de bom tamanho.
— O que quer, Lívia? O que, afinal, quer de mim?
— Eu não sei... Ao mesmo tempo que eu quero chutar as suas bolas, eu
quero estar sentada entre elas, cavalgando no seu pau grande e grosso. Entende?
— Puta merda.
Eu começo a rir, sem aguentar a tamanha safadeza dessa mulher devassa –
que até safada tem muita classe. Eu tomo com destreza os seus cabelos desde a raiz,
analisando as suas íris atraentes. Ela também está rindo.
— Você é uma libertina sem descaramento.
— E você ama, seu caipira gostoso — ela me dá um selinho. — Em todos os
meus trinta anos de existência, eu nunca fui assim com ninguém. Você não existe.
— Eu digo o mesmo. Você é o meu pesadelo.
Sem suportar mais o tesão, eu a beijo gostoso, faminto e necessitado. A
devassa retribui na mesma fome. Ela suga, morde, saboreia a minha língua enfiada
toda dentro da sua boca. Até que a pego pela cintura, aperto o tecido fino do seu
corpo e empurro-a no sofá.
Ela cai sentada. Eu continuo de pé, tirando a camiseta.
Lívia também tira o vestido para ficar só de lingerie azul.
E que visão... não sei se mereço tanto. Ela é muito linda.
Que mulher!
— O que pretende? — Ela pergunta "inocente", enquanto eu me ajoelho no
chão, diante de sua maravilhosa pessoa seminua.
— Acho que vou rezar. Ando sendo muito pecador. Preciso me redimir.
Sorrimos.
— Vou ter que concordar, desde que seja misericordioso em sua reza.
— Assim?
Toco nas suas pernas quentes, subo pelos tornozelos e paro na volta de trás
das coxas sedosas. Lívia suspira, inclinando-se para frente.
— Mais misericordioso...
Sem dizer nada, encaminho as mãos para as alças finas da sua calcinha. Até
me surpreendo. Faço tudo com a maior paciência do mundo. Eu tiro lentamente o
tecido, torturando-a até os pés. E quando fixo os olhos no seu sexo branquinho,
depilado e saboroso, eu a toco só com a ponta dos dedos. Ela geme, abrindo mais as
pernas para me dar a total visão do clitóris.
Meu pobre pau pulsa, enciumado com as minhas mãos. Cacete, já estou
petrificado.
— Mais misericordioso... — Lívia repete arquejante, agora, devido a minha
língua escorregando para as paredes de dentro das suas coxas. — Mais... por favor...
— Ela “acaricia” os meus cabelos, por pouco não os arrancando.
Eu avanço mais cinco centímetros, divertindo-me com o seu estado de
desespero.
— Aqui? — Sussurro, vendo-a se arrepiar.
— Oh, não... ainda não
— Aqui?
— Ah... isso... bem aí!
Então, paro em cima do seu órgão feminino (vulgo buceta saborosa) e
deposito um beijo na testa macia, para, em seguida, tirar a língua para fora e dar
uma lambida forte no seu clítoris rosado (vulgo grelo delicioso) e afasto-me com um
sorriso de pena. Ela cai para trás, fecha os olhos, geme, pulsa, lateja, xinga e expele
lubrificação que escorre para o ânus, as dobras da bunda e o estofado. Tudo isso
com uma única lambidinha.
— Gael... — resmunga sem ar e sem largar os meus fios. Ela luta para
empurrar a minha cabeça entre as suas coxas. — Pelo amor de tudo o que é sagrado,
reza agora! Reza, homem, até calejar os joelhos!
Sorrio.
Bom... eu não sou de negar clemência a um juramento, quanto mais a
essa divindade suplicando desesperada na minha frente. E volto a cara para o seu
grelinho inchado, acompanhado do polegar para abrir caminho. Dentro dela,
devoro-a como se estivesse dando um beijo de língua. Faço movimentos circulares,
oras lambendo, oras sugando. Lívia em menos de dois minutos grita, treme o corpo,
contrai o abdômen e goza seu gosto salgado nos meus beiços. O que não me para de
jeito nenhum. Eu seguro a sua bunda para, desta vez, dedilhá-la sem pena.
— Gael — ela finca as unhas na minha nuca, rebolando e acompanhando os
movimentos como uma louca.
Me lambuzo todo e após o seu segundo ápice, eu me levanto, sento-me no
sofá e admiro-a encolhida em sua excitação.
— Terminamos com amém?
Lívia se recupera e coloca-se de pé.
Extremamente duro, não desvio da sua intimidade. Ela sorri, abre o sutiã e
olha para o meu pau.
— Que gostoso, está com o pinto duríssimo, meu caipira?
— Pronto para fodê-la.
— Humm… eu só queria algemas para te prender, mas não poderei evitar o
seu surto.
Ela vem até mim e segura com força o meu queixo.
— Você vai ficar quietinho, entendeu?
— Mais quieto do que isso, eu entro em óbito.
— Calado!
Ela pisca e vira as costas. Porra, engulo em seco, sem evitar quase dar uma
mordida no seu traseiro empinado. Só que ela se afasta muito rápida, rindo.
É filha do cão mesmo!
— Sabia que você não ia ficar quieto.
Lívia, então, volta, fazendo-me tirar a calça e a cueca. Em seguida, senta-se
no meu colo nu, dando-me um chá de buceta molhada na coxa, ao esfregar os lábios
sem dó.
— Eu vou ficar puto com você! — esbravejo, abraçando a sua bunda com as
mãos e puxando-a nervoso para morder forte os seus mamilos.
Ela inclina a cabeça, deposita um beijo no meu pescoço e só para torturar
começa agora a rebolar sobre mim, sem permitir que eu a penetre.
Meu Deus do céu!
Não aguento. Dou um tapa irritado no traseiro dela, que chega a estalar e a
arder na pele.
— Ahhh, seu filho da… grrr, cachorro bruto dos infernos! — Lívia xinga,
cata os meus cabelos, aperta o meu pau e beija-me.
Sem mais conversa, sem mais perda de tempo, eu ergo os seus quadris e
faço-a sentar de uma vez na minha ereção inteira. Ela vai a loucura, gritando o meu
nome. Eu gemo, grunhido de prazer. Adiante, ela dança, rebola, me enlouquece.
Lívia mostra que tem todo o poder do mundo sobre mim e sobre o meu próprio
corpo.
Por isso jamais, nunca deixarei que me coloque numa posição atada. Sempre
preciso estar com as mão livres. Ou ela poderá ser o verdadeiro capiroto. Pois
herdeira do inferno já é.
Porra…
Pronto para estourar, eu a levanto e meto-a contra a mesa. Depois no chão,
de quatro, com o rabo empinado para eu bater, lamber e também meter. A parede, a
outra parede do corredor, o aparador do hall e por fim, a cama, onde consumo os
seus peitos com muita dedicação.
Após tirar uma soneca, eu acordo acariciando delicada o rosto másculo do
Gael, os seus cabelos médios, a sua orelha, a barba por fazer e por fim, deposito um
beijo terno nos seus lábios carnudos. Ele segura o meu rosto, afasta o meu queixo e
sorri um lindo sorriso torto, que me deixa rendida ao seus pés. Tento retribuir esse
sorriso, mas sei que não tive sucesso.
— Você deveria ter mais defeitos, Gael.
— E você menos defeitos, Lívia — ele percorre o dedo indicador da testa ao
meu nariz. — Espero que um dia veja que a real felicidade não é o dinheiro, nem o
poder.
— E qual é?
— Eu também não sei.
— Isso é meio contraditório, não acha?
— Eu digo por você. Deve encontrar a sua felicidade verdadeira. Deve se
esforçar para ter paz e uma vida mais tranquila. Por mais que seja com um pouco do
luxo que almeja. Até a senhorita marrenta sabe disso.
— E se eu não achar essa felicidade? — O fito infeliz. — E se eu não
mudar? E se eu for uma megera até morrer? Como a minha mãe e a Lorenza?
— Acho que me equivoquei, você não é uma megera. Não tanto assim — ele
pisca lindamente, fazendo-me revirar os olhos. — Só de desabafar o que sente já é
um grande passo para as mudanças. E não gostaria de desistir de você, Lívia, assim
como eu fiz com o Anton, sem suportar quando ele esmagava as suas falas duras na
minha cara, batia no meu peito e ameaçava me dar um tiro por importuná-lo. Não
vou desistir dessa vez.
Meu coração acelera, vejo-me numa rua sem saída com um carro prestes a
acelerar na minha direção. Eu fico sem palavras para a promessa dele. Gael percebe
o meu silêncio e os meus olhos assustados.
— Não se sinta sozinha, por favor, nem assustada e nem me mande a merda
por estar acuada. Também não seja orgulhosa. Não pagarei de herói, como me
intitula sempre. Só quero que aceite o meu braço de consolo para ajudá-la a sair
desse buraco. Assim como aceitou que eu fosse o seu amigo.
— Você é um homem bom, protetor e admirável. Não gostaria que gastasse
o seu tempo e essas qualidades comigo. Não mereço, não faça isso.
— Só que você quer, é apenas teimosa para assumir. Além de que eu já estou
mergulhado nos problemas da sua vida.
— Há pouco tempo atrás, você disse que eu era o seu pesadelo ambulante,
seu antônimo de paz.
— E quando eu disse que você era? — Gael me abraça, fazendo os meus
seios nus rastejarem pelo seu peitoral de pelos castanhos. — Você é o meu pesadelo
por dentro e por fora, dona Lívia. É completamente diferente de mim. Mas os
opostos se atraem.
— Realmente se atraem, caipira. Fazer o quê?
Com o meu coração repleto de um sentimento inexplicável, eu o beijo lenta,
doce, amável, querendo dizer o quanto me sinto protegida e segura nos seus braços
fortes. E que as suas palavras, ao mesmo tempo que me assustaram, me deram
consolo.
Se eu quiser, eu não estou sozinha.
E talvez eu não queira mais me sentir assim.

— Minha nossa, isso é horrível — eu faço uma careta de nojo e de enjoo


depois de virar meio copo americano da cachaça caseira que o Gael me ofereceu. —
Eu vou vomitar.
— Você é fraquinha, só gosta de bebida fina. Não aguenta o puro álcool
vindo do alambique — declara metido, dando-me uma piscada e retornando a fritar
a quarta e última massa de pastel fechada, que o entreguei.
Depois de perdermos as forças e a dignidade fodendo, ficamos mortos de
fome, e a saída rápida foi pastel de queijo. Eu fecho a massa recheada e ele frita.
— Estou nem aí, pelo menos meus fígados não terão um doença hepática.
— Meu pai tem setenta anos e bebe cachaça desde que se entende por gente.
E está lá na sua venda, aposentado, firme, forte e bebendo para o santo e à noite,
para as santas.
Eu não aguento e começo a rir.
— Hum. Quer dizer que esse é o segredo para a juventude? Se for assim, eu
quero encomendar duas garrafas dessa.
— Com certeza, veja como eu sou jovem e forte? — Gael me acompanha no
bom humor. — É mais de vinte anos de cachaça, madame.
— Mas você é bobo.
Ao terminar os pastéis, seguimos juntos para a sala, onde nos acomodamos
no sofá para comer lado a lado. Acabo fazendo guerra com ele de quem estica o
queijo mais longe e eu ganho duas vezes. Ainda bato nesse safado guloso, que
inconformado por perder, assaltou três mastigadas do meu pastel.
— Sai, seu guloso, é meu!
Afasto a sua cabeça, entretanto, ele escorrega o peso alto e forte do seu
corpo sobre mim.
— Além de orgulhosa, tem melisquência.
— O que é melisquência?
Coloco as minhas pernas por cima das dele, erguendo o meu pastel bem no
alto, para ficar distante das suas mãos.
— Oras, a madame não sabe? É a pessoa que nega ou não gosta de dividir.
— Então eu tenho melisquência — sorrio, empurrando-o.
Todavia, ele é mais rápido e joga-me contra o sofá, para me beijar com
gostinho de queijo.
Sinto-me tão bem. Nossas brincadeiras me deixaram mais leve, risonha e de
uma forma que eu nunca estive antes, sem preocupações e sem filtro. Gael me faz
ser outra Lívia. A que não precisa usar armaduras, nem máscaras, por medo, pavor
de acharem qualquer ponto fraco seu. Pois ele já é o meu ponto fraco. Esse homem
me tem dos pés à cabeça.
E ele sabe disso.
Eu sei disso.
— Perdeu, dona Lívia — de repente, ele afasta a sua boca e toma o pastel da
minha mão, virando para o outro lado para comer tudo numa fração de segundos!
— Gael! — Voo sobre ele, mortífera. — Você vai perder os dentes, seu
guloso!

Eu fico admirando a minha bebê dormir calminha no meio da cama,


enquanto eu aguardo o meu jantar. Gieber só veio aqui me dar um beijo, um abraço
e dizer que jantaria com o papai lá na mesa.
Nem preciso repetir que eu fui trocada, né?
Não tem jeito, o Gieber adora, ama o pai de uma forma linda de se ver. Se
deixar, a mini cópia do Anton quer ficar grudada entre as pernas dele sem descanso.
E quando ele descobre que o pai está trabalhando no escritório de casa? O mandão
só falta me arrastar até lá para obrigar o Anton a brincar com ele. Mas devagar o
Gieber está começando a entender as coisas sem ameaças ou surras. Nunca tocamos
a mão nele. Mamãe, o Anton e eu sempre conversamos ou o repreendemos,
mostrando como desaprovamos qualquer atitude feia ou errada sua. Por incrível que
pareça, funciona. Ele não gosta de ver eu nem o seu superpai chateados.
Principalmente o Anton, que fala duro, amedrontando-o com a sua forma "natural"
de ser um bárbaro aterrorizante. Gieber pede desculpas na hora, chorando tristinho –
o que, com certeza, derrete o nosso coração de pais.
De repente, acabo pensando no tal menino do Gabriel, que pode ser o filho
do Anton. E isso não me machuca como nos primeiros dias. Pois eu tenho certeza de
que ele também não é. Contudo, preciso do tal exame de confiança para ter certeza.
E se der positivo?
Eu aliso os cabelos dourados da minha bebê.
E se der positivo, eu não vou fazer nada. O pequeno não tem culpa de ter
vindo ao mundo. Anton deverá arcar com as suas responsabilidades como pai.
Porém, é melhor não alimentar essas possibilidades para não sofrer por antecipação.
— Com licença, Sra. Dexter. Vim trazer o seu jantar.
Sônia abre a porta do quarto e vem até mim com a bandeja.
— Obrigada, pode colocar aqui.
Ela coloca meio trêmula sobre a cama, o que me faz franzir o cenho e
analisar a sua feição estranha.
— Sônia?
— Oi? — Ele me encara.
— Está tudo bem com você?
— Sim. E com a senhora? Eu soube agorinha o que aconteceu com o seu
tornozelo. Fiquei feliz por igualmente saber que não foi nada grave. Mesmo assim
sinto muito.
— Eu estou bem, agradeço.
Continuo a observá-la; seus olhos estão vermelhos e inchados.
— O que foi com os seus olhos? Eles estão vermelhos e inchados. Você
estava chorando?
— Não quero importuná-la com os meus problemas. A senhora já tem coisas
demais na mente. Eu já vou, a dona Felícia...
— Não, a senhorita não vai sair daqui enquanto não me contar o que houve.
Agora, eu estou preocupada com você. Nunca te vim assim.
Sônia coloca uma mecha da sua franja loira, solta da touca atrás da orelha e
parece ficar mais emocionada devido as minhas perguntas.
— Vem aqui, Sônia, sente-se ao meu lado.
Empurro a bandeja para longe, dando espaço para que ela se acomode na
beirada do colchão. Ela vem com a sua altura pequena, como a minha, e senta-se
choramingando. Eu pego na sua mão fria e trêmula.
— Eu estou com medo da senhora me mandar embora. E... e t-também...
preciso desse emprego. Muito, muito.
— Ei, calma, vamos devagar, minha querida. Primeiro respire e me conte o
que está acontecendo, desde o início?
Sônia aspira o nariz, sem controlar as lágrimas. Ela me fita com os seus
castanhos saltados, demonstrando medo.
— E-Eu estou grávida, Sra. Kiara. Não sei de quanto tempo, só sei que eu
tenho todos os sintomas. Estou comendo mais do que o normal, vomitando, tendo
enjoos, tonturas e a minha menstruação está atrasada.
Meu Deus...
Engulo em seco, olhando diretamente para a sua barriga lisa, em seguida
nela, no seu desespero evidente.
— E está assim assustada, amedrontada pela sua família descobrir? Ou o
rapaz que se relacionou não quer assumir a gravidez?
— Não tenho família nessa cidade, meus pais moram longe. E eu descobri a
gravidez há uma semana. Ainda não disse para ele. E acho que não quero que ele
saiba. Eu tenho medo, Sra. Dexter. Eu fui irresponsável.
— Não se culpe, não diga isso. Quem é esse homem? É algum peão ou
capataz da fazenda? Posso tentar conversar com o pai do seu filho.
Sônia aperta os meus dedos com mais força, após eu questioná-la, e
permanece sem me olhar nos olhos.
— Sônia, se acalme, vai ficar tudo bem. Não vou te mandar embora de jeito
nenhum da mansão.
— De-desculpa, senhora, me perdoe.
— Não peça desculpas. Se não quer falar, não vou...
— É o senhor Gael — ela, por fim, revela, adiante, coloca a mão no rosto,
inclina o pescoço e chora. — É dele, o meu filho... e é dele que eu tenho medo. E
medo de como vai ser daqui em diante. Não tenho para onde ir, nem um lar para dar
a esse bebê. Estou perdida.
Meu queixo, boca, cabeça, alma, espírito, tudo vai ao chão. Meu corpo gela
de uma forma que eu não sinto mais o meu tornozelo latejar.
Meu Deus! Eu não acredito nisso!
Do Gael?
Volto minha atenção a ela.
— Sônia, fique calma. Não sinta medo do Gael. Os dois são responsáveis. E
ele, com certeza, vai assumir essa criança.
— Eu estou com vergonha, não entendo como isso aconteceu, nunca nos
deitamos sem proteção. Juro que nunca! Tínhamos algo casual, sem sentimentos. E
ele sempre deixou claro. Sempre foi responsável.
— Mas aconteceu, não se culpe. Tome fôlego até a manhã para contar a
verdade para ele. Sabe que não pode esconder a barriga. E eu também não permitiria
que você agisse oculta. Estou do seu lado desde que seja transparente, entendeu?
Não vou te demitir, nem te desamparar. Igualmente o Gael. Ele é um homem de
honra e de comprometimento.
— Prometo ser sincera. Obrigada, Sra. Dexter. Obrigada de todo o coração.
Eu vou tentar criar forças para contá-lo. Só que preciso de mais tempo.
— Tudo bem. Porém, não menos do que uma semana. Gael precisa saber o
mais rápido possível.
Sônia acaricia o meu braço, tremendo sem parar. Eu afago a sua coxa,
mantendo-me calma, por mais que eu esteja muito em choque.
Ela, ao se retirar do quarto, me faz me dar conta de que perdi a fome. No
entanto, quando cheiro a comida, o meu apetite surge das profundezas. Começo a
saborear garfada por garfada. Meia hora depois, o Anton aparece dizendo que
colocou o Gieber para dormir e estranha a minha expressão neutra. Nem brigo com
ele ou discuto por não desejar a sua presença ao meu lado. Estou ainda chocada com
o que soube a pouco.
— O que foi, Kiara?
— Nada.
— O seu pé está latejando ainda?
— Não muito, os analgésicos já estão fazendo efeito.
Ele chega perto de mim e inclina-se. Eu mordo o lábio inferior, tomando
fôlego para encarar esse homem. Mas o Anton só faz isso para tirar a bandeja de
cima da cama e colocar sobre a mesa ao lado da poltrona. Decido não ser fofoqueira
e contar a ele que o Gael terá um filho. Isso deve ser comunicado primeiro a ele, e
por Sônia.
— Quer que eu coloque a Melina no berço?
Arqueio a sobrancelha.
— Hum. Acho que sim. Vou confiar que o senhor não tocará em mim, nem
chegará perto do meu corpo.
O Dexter só me olha, sem concordar e sem discordar. Porém, durante a
noite, ele não tenta nada, ainda me ajuda com a Melina na madrugada – como já
fazia antes. E em vez dele, de manhã, quem acorda com o braço sobre o seu peitoral
nu, sou eu. Percebo que estou aconchegada até com a perna. Assustada, abro bem os
olhos, afastando-me.
Então, vejo que o Anton ainda está dormindo com o braço sobre o rosto.
Pai Amado, como ele é bonito até assim, sereno em seu sono.
Eu amo tanto esse homem que nem cabe no peito. Tê-lo aqui me deixa
protegida, segura e sem medo de nada ruim. Eu tomo coragem e volto dois dedos
para o seu peitoral forte, não resistindo a subir até a sua barba. Também, mesmo
receosa dele acordar, eu aproximo o nariz do seu pescoço para sentir o cheiro da sua
loção. Ele, de repente, respira fundo. Apavorada por ser pega, eu me afasto de uma
forma tão ligeira que rolo para beirada da cama e caio de bunda no tapete.
Droga!
— Kiara! — Anton dá um pulo da cama.
— Ai... — gemo pela minha bunda dolorida.
— O que aconteceu, amor? — Ele passa a mão no rosto e abaixa-se rápido e
assustado para me erguer.
— Eu estava muito na beirada e cai — minto ruborizada.
— Seu tornozelo está doendo? Piorou a dor? — Anton me senta na cama,
erguendo as minhas pernas no colchão.
— Não, está tudo bem.
— É, vou acreditar...

Já arrumada, só finalizo o cabelo com duas mechas amarradas para trás e


aguardo o Anton terminar de vestir a Melina para eu poder alimentá-la. Ele quem
deu banho nela e colocou o lacinho na sua cabeça. Fiquei toda boba pela cena.
— Você viu aquele meu relógio de ouro fino, que eu usava no dia a dia? —
Depois de me entregar a bebê, ele pergunta, indo até o outro lado da sua mesinha de
canto, abri-la para procurar o relógio.
— Não. Você não deixou no closet ou no escritório?
— Não. A última vez que usei ele foi antes de viajar para a capital. E lembro
de ter deixado aqui na mesa.
Após procurar na sua, ele dá a volta até o meu criado, o que me faz
rapidamente arregalar os olhos, aterrorizada.
— N-não está aí! Procure lá no seu closet, acho que o vi dentro do porta
joias da gaveta. Tenho quase certeza. Também pode estar no quarto de hóspede que
se instalou.
Anton franze o cenho, fitando-me. Eu aperto a Melina no colo, desviando
dele e rezando para que se afaste. Ele não pode de jeito nenhum ver o vibrar que a
Lívia me deu. Já imagino esse homem surtando e fazendo uma loucura. Ele bradaria
que eu tenho homem para me suprir e que... meu Deus, nem sei mais. Poderia ser o
bárbaro que é e avançar em mim para se vingar.
Aliviando-me, o Dexter, então, vira as costas e sai para o seu closet.

Eu saio da casa do Gael feito uma adolescente que está tendo um


relacionamento às escondidas dos pais. Não sei descrever como eu estou me
sentindo. Mas é bom, é muito diferente esse sentimento. Nunca senti isso por
nenhum outro homem na vida. Por isso, acho que eu não quero mais afastar aquele
caipira, nem negar que ele é uma pessoa muito especial para mim. Gael é uma
raridade nesta terra – devo assumir. É difícil acreditar em príncipe, sendo eu uma
mulher tão prática e realista, só que ele se parece com um. E é real. Se eu não o
provocasse a ser um delicioso selvagem, ele seria sempre carinhoso, amoroso e
romântico. Como foi ontem.
Meu Deus, por que você errou na remeça de homens quando criou o Gael no
meio? Não custava dar defeitos a ele, como 90% dos machos idiotas que habita
neste planeta? Fui pegar logo o dos 10%.
Chego na mansão correndo para tomar banho e me trocar. Em seguida, desço
apenas para beliscar da mesa, já que o café da manhã eu tomei com o meu caipira.
Mais tarde, eu e a Kiara ficamos conversando na sala, até que alguém bate na porta
luxuosa da mansão.
Felícia vai atender, demora um pouco, adiante, retorna.
— Srta. Lívia. — a governanta para perto do aparador e dirige-se a mim. —
É a sua mãe, a Sr. Diana.
Felícia, então, aponta para a mulher elegante, de cabelos negros até os
ombros, que caminha sobre os seus saltos pretos únicos, dentro de um vestido cinza,
de marca e com uma bolsa de grife da Prada pendurada no antebraço direito. Ela
tem joias no pescoço, no pulso e na orelha. Ainda desfila como se fosse a rainha do
mundo – e essa mulher poderosa, capaz de intimidar até Zeus – o Senhor Deus,
supremo da mitologia – é a minha mãe.
Com o seu olhar matador, ela para no meio do hall, fuzila-me em
reprovação, adiante olha para a Kiara e dá o seu melhor sorriso.
— Bom dia, Sra. Dexter. É um prazer revê-la. Desculpe-me por aparecer
assim sem avisar, mas gostaria de conversar com a insensível da minha filha. Nos
permitiria?
— É cla...
— Eu não quero falar com você, mãe! — esbravejo rapidamente, erguendo-
me furiosa contra ela.
— Cadê os seus bons modos, as suas etiquetas, Lívia? Não é assim que se
dirige a sua mãe que veio de tão longe para te ver.
— Você veio perder tempo! Não quero falar com você! Não quero que finja
se importar comigo, nem que veio apenas me ver por estar preocupada! Conheço
todo o roteiro da sua peça de teatro!
— Não vim para discutir. Quero conversar civilizada.
— Então diga aqui, na frente da Kiara, para o que veio?
— Que seja! — Ela ergue o pescoço e se enrijece. — Eu vim para avisar que
o seu pai teve outro ataque cardíaco! E que ele pede desesperado pela menina sagaz
dele! E eu não vou permitir que o seu pai morra de desgosto por sua causa, sua
insensível!
— O-o quê?!
Sem acreditar, meus olhos queimam. Viro-me para a Kia e ela está de boca
aberta, segurando a sua pequena bebê com força.
— É mentira! Não é verdade!
— De jeito nenhum. Sabe como o Álvaro é um teimoso que gosta de se
sentir jovem. O médico cardiologista o avisa sempre que não deve fazer esforços,
devido a fragilidade do seu coração. Contudo, ele estava apostando e assistindo
corridas presenciais de jóquei, escondido de mim. A emoção dele foi demais na
última terça-feira e sofreu uma parada cardíaca. Ontem de madrugada, teve que
passar por uma cirurgia de duas horas e meia. Foi preciso colocar um marcapasso. E
durante o dia, a única coisa que ele me pedia incessantemente era para ver a filha
dele, a qual nos abandonou.
Tento ser forte, mas as lágrimas me escapam uma atrás da outra. Aperto os
olhos e respiro fundo para continuar enfrentando a minha mãe de cabeça erguida,
sem fraquejar e parecer vulnerável.
— Em que hospital o meu pai está? Vou visitá-lo agora mesmo!
— Estou aqui para te levar. Arrume as suas coisas, você sabe que o que está
fazendo é uma infantilidade para me atacar. Chega de ser sem juízo!
— Com certeza, o meu pai está no recém hospital inaugurado. Também o
mais caro da cidade. Irei esta tarde com o meu veículo. Obrigada pela inconveniente
presença, dona Diana Castellano. Kiara agradeceria se fosse embora da sua casa.
— Certamente, assim que passar por qualquer blitz, o seu carro será
confiscado. Está em busca e apreensão devido ao financiamento que está devendo...
claro, como tudo em sua vida financeira desastrosa e mal administrada. Vamos logo,
minha filha!
Furiosa, fuzilo-a com o meu sangue borbulhando!
— Às vezes, você esquece que eu tenho 30 anos! Para de controlar a minha
vida! Não era necessário que viesse na fazenda Dexter, somente ligasse. Já que não
foi difícil descobrir onde eu me encontrava. Só que não, a poderosa Sra. Castellano
preferiu vir aqui esfregar que eu sou pouco o suficiente, que a culpa do meu pai ter
sofrido o ataque cardíaco e quase morrido é minha. Como agora pouco fez, dando a
notícia. E isso para me machucar e você se sentir satisfeita!
Minha mãe não desvia de mim. Ela suspira fundo, séria e na sua pose
intocável.
— Eu realmente esqueço que você já tem 30 anos, pois sabe que a sua
existência foi o meu sonho, o qual batalhei nova para ter. É a minha única filha. Te
dei tudo que uma rainha daria a sua princesa. Te criei sem babá e com todo o amor
possível. E o que eu recebi de você adulta? Ingratidão, insensatez, falta de respeito!
É um filha teimosa, rebelde e que se acha dona...
— E você mereceu! Eu te odeio! — por fim, exclamo descontrolada,
rendendo-me a minha fragilidade e a dor. — Eu odeio você! É uma péssima mãe,
que nunca me apoiou em droga nenhuma! Tudo reprova, tudo coloca defeito,
rebaixa e humilha por não ser o que você determinou ou te agradou! Quer uma
prova do pico da sua falta de escrúpulo? Ou prefere que eu esfregue aqueles jornais
na sua cara? Onde mandou que escrevessem que eu era uma qualquer, que me
deitava com homens por interesse, pois te desafiei e fiquei do lado dos Dexter! Foi
literalmente o limite! Eu te odeio! Te enojo! Tudo de ruim na minha vida é por sua
culpa! Vai para o inferno! Some da minha frente! Some da minha vida! — após
cuspir as palavras que me sufocavam, com um aperto grande no peito, eu viro as
costas e saio andando em meio as lágrimas que me descem sem parar.
Choro desesperada, engasgando-me.
Eu perdi tudo, estou na merda, sem dinheiro, sem dignidade e por um fio de
perder o meu pai, o único que ainda me ama do jeito que eu sou. Não essa Lívia que
a minha mãe me ensinou a ser; maldosa, sedutora, eloquente e uma boa atriz. Quero
ser a Lívia que estudou odontologia, que se formou e que queria crescer na sua
profissão. A menina sagaz que o meu pai aconselhava a não desistir dos seus
sonhos, por mais que tivesse a dona Diana, a sua mãe, berrando que tudo era uma
perda de tempo, que a sua boneca deveria era ser uma grande modelo, ou sei lá o
que, que envolva o mundo das mães poderosas da alta sociedade.
Agora eu nem sei mais quem eu sou direito, ou o que quero ser. Estou
cansada. Além de ser incapaz de ser esposa e mãe, eu sou incapaz de administrar a
minha própria vida.
Nem Deus foi bom comigo... até ele me abandonou...
Eu me sento no banco do jardim, inclino as costas, coloco os cotovelos em
cima das coxas e passo a mão nas bochechas molhadas, sentindo-me sozinha e
afundada nas minhas consequências.
Após o almoço e antes de eu ir conversar com o Anton no escritório, eu vou
ver a minha mãe na cozinha. Vou receoso, pois terei que ver a Ester também – e isso
acontece mais cedo do que eu esperava. Encontro-a na horta bem cuidada pelos dois
jardineiros que estão sempre pelas redondezas. Ester estava acabando de pegar
couve e alface, quando me viu e desviou brava.
Não queria me sentir assim culpado, nem a ver magoada comigo. Mas ela
deve entender que eu já deixei claro os meus sentimentos. Nossa história é passado.
E ponto final.
Na cozinha, eu cumprimento carinhoso a minha mãe, só que ela demonstra
indiferença comigo, como que se estivesse chateada.
— Tudo bem, mãe? — pergunto, estranhando-a.
— Na verdade, filho, não. Por que não me disse que estava se envolvendo
com a Srta. Castellano? A mulher que tentou fazer mal para você e para a família
Dexter, junto da Lorenza?
Eu abro a boca e fecho, sem ter como mentir para a minha mãe. Jamais faria
isso.
— Como soube?
— Então é verdade? Eu soube pela Felícia.
— É meio complicado. Eu e a Lívia não temos nada sério. Ela é o oposto de
mim. Somos só... amigos com algo casual.
— Olha, por mais que você seja adulto e a responsabilidade da sua vida seja
sua, não gostaria que se envolvesse com esse tipo de gente. Você só vai se magoar,
meu filho. Aquela mulher é sem humildade. É filha dos Castellanos, a segunda
família mais rica do estado. Ela vai brincar com você.
— Está tudo bem, dona Maria. Conheço o jeito da Lívia a mais de um ano.
Não é de hoje o que temos. Pode ter certeza.
— Por favor, tome cuidado. Você é um homem bom. Quero que se case,
tenha filhos e que seja feliz. Você merece uma companheira que valorize o seu amor
e esse seu jeito carinhoso e respeitoso.
— Não tenho pressa com isso. — Beijo o topo da sua cabeça. — Como meu
pai diz: na hora certa, as coisas acontecem, não é mesmo? E já vou, preciso ver o
Anton para resolver umas questões da fazenda. Também ainda vou trabalhar esta
tarde em casa.
— Está bem, querido. Eu vou tentar depois te levar bolinhos de chuva.
— Assim eu sou obrigado a te amar até o infinito.
— E você é, senhor Gael.
Dou outro beijo na minha mãe maravilhosa, peço benção e retiro-me para o
escritório do Dexter. Entretanto, sou parado na sala, surpreso por ver a Kia com uma
bota preta na perna direita.
Ela se machucou?
Kiara arregala os olhos para mim, parece até que está vendo um fantasma.
Não resisto a implicar.
— Eu sou tão feio assim, Sra. Dexter?
— Sem tempo, Gael. Você, com certeza, foi mandado por algo divino neste
momento. Lívia precisa de você. Ela está no quarto.
— Como assim? Não entendi. — Franzo a testa.
— A mãe da Lívia apareceu aqui há duas horas, informando que o pai dela
havia sofrido uma parada cardíaca anteontem e passado por uma cirurgia pela
madrugada. Só que a Diana foi horrível, fria e sem menor escrúpulo ao passar a
triste notícia para a filha. Consequentemente, as duas brigaram feio. E Lívia saiu
arrasada, chorando de uma forma que eu nunca imaginei, nem sonhei vê-la. Tentei
conversar com ela agora pouco, para não ir para a cidade sozinha, pois o seu carro
seria tomado pelo banco e ela ficaria na mão. Porém, Lívia está irredutível. Ela está
separando algumas roupas para ir de qualquer jeito ver o pai no hospital. Por favor,
Gael, a ajude. Anton já disse que dispõe um capataz e um dos seus carros para levá-
la.
Eu fico sem crer.
— Isso é muito sério. O pior é que ela está sendo ameaçada, Kia. Agora
precisa sair assim correndo para a capital? Droga, eu nem sei o que dizer. Com a sua
licença, vou vê-la. Depois resolvo os assuntos administrativos com o Dexter.
— Vai, Gael, e repita a ela que a gente está do seu lado. Ela precisa desse
apoio.
Assinto e viro as costas, nervoso, ansioso e preocupado.
No andar de cima, chego rápido na porta do quarto dela. Dou duas batidas e
só na terceira vez que ela fala um entre. Eu entro, vendo-a em pé na cama,
colocando peças de roupas dentro de uma bolsa grande.
— Lívia. — Eu sussurro e então, ela inclina o pescoço, encontrando-me.
E nem demonstra muita surpresa. Seu olhar é vazio, sem vida.
— O que faz aqui, Gael? — pergunta com os olhos vermelhos e inchados.
Isso me parte a alma.
— Kiara me disse o que aconteceu. E não pude deixar de te procurar. Você
não pode ir para a capital sozinha. De jeito nenhum. Sabe que está sendo ameaçada
de morte por um agiota.
— Mas eu vou, eu preciso ver o meu pai. Ninguém vai me impedir.
— Então eu irei junto para te levar em segurança. Você não está só. —
Aproximo-me dela, percebendo a sua fragilidade após as minhas palavras. — Eu
vou te ajudar.
Meu coração dói. Lívia, então, suspira, solta a peça de roupa que dobrava e
vem me abraçar forte, tão forte que eu dou um passo para trás, e a aperto em mim,
mostrando que não vou abandoná-la.
— Ah, Gael... realmente aceito que estou na merda. O que eu vou fazer da
minha vida? Estou sem rumo de tudo — ela ergue o pescoço e me fita emocionada e
frágil. — Agora o meu pai teve a parada, a cirurgia do marcapasso e o meu mundo
virou completamente de cabeça para baixo. E se ele tivesse morrido? E se não der
tempo de eu ouvir a sua voz? As suas broncas?
Eu afago os seus cabelos sedosos, depositando um beijo na sua testa.
— Shhh, não pensa negativo. Tenha calma. Ele está vivo e bem, só confia
em Deus.
— Mas ainda posso matá-lo de desgosto. Se a minha mãe já não tentou isso,
me difamando para ele. Eu odeio aquela falsa, maldosa e sem sentimentos!
Eu ergo a cabeça dela com as mãos, vendo nas suas belas íris verdes: medo,
raiva, infelicidade, confusão e descontrole dos próprios passos e ações.
— Se acalma, não pensa nada de ruim. Eu vou te levar em segurança até a
capital, onde o seu pai está. Me espera lá embaixo com a Kia e as suas coisas. Eu só
preciso buscar a minha caminhonete, umas duas peças de roupa e voltar para avisar
ao Anton. Vai aguardar?
Ela assente.
— Obrigada, Gael, eu quero sim que você vá comigo — ela toca na minha
barba por fazer, limpando a lágrima que lhe escapa do rosto.
— Tem a mim... — sussurro, acariciando a sua cintura aveludada pelo
vestido.
Não nego que estou feliz por ela ter aceitado a minha ajuda. Porém, fico com
o coração machucado por vê-la perdida de tudo. Tento me segurar para não beijar os
seus lábios vermelhos e consolá-la.
— Vai logo, caipira.
Surpreendendo-me, é ela quem me dá um selinho demorado e empurra-me
mandona, virando o corpo para terminar de ajeitar a bolsa.
Acho que acabo de sentir o meu peito se aquecer e palpitar... mais do que faz
quando está na sua presença. Muito mais...
Gael desce avisando que a Lívia aceitou que ele a levasse em segurança até a
cidade e que ia em casa só buscar a sua caminhonete para voltar correndo.
Imediatamente, um alívio me tomou a alma. Dez minutos depois, a Lívia também
apareceu na escada com uma grande bolsa no ombro. Ela vem até mim com os seus
saltos fazendo barulho na medida que anda.
Fico triste pela sua feição vulnerável.
— Sinto muito novamente, Kia, pela discussão que eu tive com a minha mãe
antes do almoço, na sua sala e na sua frente. Foi sem decoro. As empregadas devem
ter ouvido tudo.
— Já disse que está tudo bem. E sou eu quem sinto muito pela mãe que te
criou. Eu não fazia ideia de que foi tão presa, doutrinada e controlada por ela.
Mesmo já sendo adulta.
— Infelizmente as mães são sempre pintadas de perfeitas pela sociedade.
Mas não sabe da metade do jeito infernal daquela mulher. Ela não tem escrúpulos
por ninguém. Imagine por mim, a sua única filha que conseguiu gerar para tornar a
sua boneca Barbie? Ela é capaz de qualquer coisa para me ter amarrada a barra do
seu vestido. Seja pelo amor ou pela dor. Graças a Deus, com a ajuda do meu pai
Álvaro, a partir da adolescência, eu nunca mais fui fácil ou controlável. Pelo menos,
eu tentava quebrar as suas leis e ter uma vida “normal”, do meu jeito, não do dela.
— Nunca conheci uma mãe assim. O amor dela é estranho, sufocante.
Jamais faria maldades para manter os meu filhos ao meu lado. E fazendo o que eu
quisesse, não o que eles quisessem para as suas vidas.
— Acho que se eu fosse mãe... nem eu, Kia.
As palavras da Lívia saem penosas e baixas. Gostaria de poder me levantar e
lhe dar um abraço. Jamais imaginei ver essa bela mulher, autoritária e prepotente,
tão fraca e demonstrando fragilidade.
Hoje, eu vi que toda a máscara de forte uma hora cai e revela os seus
problemas internos. Ninguém consegue ser forte o tempo todo.
Quando Gael volta, Anton concorda em deixar que ele leve a Lívia na
capital. Até diz que é melhor assim. E os dois se despedem de nós para seguirem
viagem às pressas.
Que Deus os proteja.
— A missão de informar a dona Maria ficou comigo — comento.
Anton me fita.
— Não se preocupe, daqui a pouco, eu a chamo para conversar no escritório.
Onde estão as crianças?
— No jardim, perto do lago com a mamãe, como sempre fazemos às 14h
tarde. Bom... eu fazia antes — olho para o meu pé que ainda dói e volto ao seus
olhos acinzentados. — Anton, você sabia que a Lívia tinha sido criada como uma
boneca pela Diana? Digo, controlada e tendo a mãe para mandar nos seus passos?
— Na verdade, não. Só que vindo de uma amizade da Lorenza, posso dizer
que a Sra. Castellano não deve perder na falta de escrúpulos. Sempre meu pai dizia
que o Sr. Álvaro e o falecido avô da Lívia eram os únicos que se salvavam daquela
família.
— Foi o que me disse. No entanto, ela demonstra amar a filha, por mais que
seja de um jeito obsessivo e inexplicável. Diferente de Lorenza, que nunca nem
criou os filhos, nem deu amor. Só pensava em dinheiro.
— Sim.
Anton se senta perto de mim, fazendo-me morder os lábios. Ele parece
tenso.
— A verdade é que eu nunca tive mãe, nem meus irmãos idiotas. Todos
criados por babás.
— Mas o seu pai foi os dois para você, amor — e sem evitar, eu falo "amor"
num tom de voz tão doce que faz o meu Dexter me encarar e averiguar os meus
ombros nus, adiante as minhas íris.
Arrepio-me, sem desviar dele.
— Ele foi...
— Eu...
— Você?
Molho os beiços.
—N-nada...
— Nada? — Anton aperta a minha coxa.
Eu não aguento e arfo.
— É o limite, Kiara!
Ele, então, avança com o seu hálito quente, sem esperar que eu tivesse noção
de que me beijaria faminto, até arrancar sangue da minha boca e as forças do meu
corpo. Tremendo frenética, seguro-me nos seus cabelos. Chegando a puxá-los sem
um pingo de dó. Anton grunhi e num ato bruto, pega-me pelas pernas, ergue-me no
seu colo e cala o meu grito de relutância fracassada, com os seus beijos dolorosos.
— Eu vou comer literalmente a sua boceta! Eu vou devorar você!
Não tenho resposta, nem voz, nem fôlego, nem consciência de que já
estamos dentro do seu escritório. Ele bate a porta, joga-me em cima da mesa e dá
dois minutos fora dos seus lábios devoradores, para eu poder respirar e pensar que
eu estou perdendo a guerra.
E que eu preciso desse homem! Eu preciso dele dentro de mim, me
preenchendo agora mesmo!

Kia engole em seco, assistindo-me tirar a camisa – esgarçando os botões de


uma única vez. Minhas veias pulsam, meus músculos estão duros como pedra e meu
pau lateja, bombardeando sangue quente para a sua ereção sufocada na calça.
Ou eu respiro ou enlouqueço. Só que respirar me deixou com mais fome.
Eu avanço nela, agarrando os seus cabelos desde a raiz e jogando a sua cabeça
para trás para me enfiar entre o seu pescoço. Passo a língua na extensão dele,
subindo para mastigar o lóbulo da sua orelha. Ela geme.
— Isso... isso não vai mudar o que fez...
Kiara acaricia a minha nuca e sinto as suas pernas apertaram as laterais das
minhas coxas. Está excitada.
Eu não a respondo, em vez disso, afasto-me, pego na barra do seu vestido e
encaro-a nos olhos escuros de desejo, enquanto rasgo o tecido grosso sem maiores
dificuldade. Ela nem se mexeu.
— Não vai! Por isso fique à vontade para imaginar que está num sonho onde
o seu marido a fode sem descanso. E suas determinações não foram destruídas!
— Seu maldoso do inferno... Ahh! — profere brava, perdida entre os meus
dedos que se enfiam por dentro da sua calcinha molhada.
Ela ainda tenta me impedir, mas já estou a pressionando no clítoris e
metendo a boca na alça do seu sutiã.
— Minhas determinações não foram destruídas! — Kiara, então, me
surpreende ao também pressionar o meu pau, chegando a me estremecer de dor pelo
aperto horrível.
Aaah, porra! Eu bufo descontrolado, empurrando-a na mesa, sem me
importar com as minhas coisas se despedaçando no chão. Adiante, arrasto-a para
mim, estapeando com tanta força a sua bunda que ela grita e deixa escapar uma
lágrima.
— Você sabia o que sofreria quando eu te pegasse, Kiara? Não sabia?
Ergo-a no meu colo e tiro a sua calcinha, esfregando-me na sua vagina.
Kiara segura nos meus ombros e crepita desesperada, por mais que não queira
transparecer isso.
— Responda!
— Não vou! Não quero! Se vire para buscar as suas respostas!
Sorrio com sangue nos olhos.
— Você tem muita sorte de estar com o tornozelo machucado. — Volto sem
menor delicadeza para a mesa, tiro o seu sutiã, abro a minha calça e fico nu. Kiara
perde o ar ao olhar para baixo. — Pois te faria se ajoelhar nesse chão e chupar o
meu pau com essa boca respondona!
— E quer ouvir que eu chuparia com gosto? — provoca de propósito, sem
medo.
Estou tão puto, tão no limite por causa do tesão acumulado que cato-a pelos
cabelos loiros, enfiando-me furioso entre as suas coxas e penetrando as suas
entranhas apertadas e meladas numa única estocada.
— Aaaaah! — Kiara berra, enterra as unhas na minha pele e rebola.
Eu a pego mais forte nos braços, começando a fodê-la em pé, sem apoio,
além dos meus ombros para se segurar. Depois a fodo na parede, enquanto mamo,
devoro, marco, chupo, faço o caralho a quatro com os seus peitos fartos de mamilos
duros, que expelem leite.
— Amorr...
— Que delícia! — grunho, lambuzando-a de saliva e de gozo.
Falando em quatro, após o nosso terceiro orgasmo, coloco-a no tapete no
meio da sala, ergo a sua bunda branquinha e aconchego a minha cara, entre as duas
ancas, mas antes elevo os olhos sobre as sua coluna arqueada, só para conferir que
ela não está sentindo dor no tornozelo, nem fraca o suficiente para cair. Estando
firme, puxo os seus quadris e pincelo a tela perfeitamente empinada na minha
frente, com a ajuda da língua cheia de músculos. Eu lambo, como a sua buceta
encharcada.
Ela delira, sofrendo para não desmaiar, nem gritar de prazer.
Que dó. Que enorme dó, eu sinto... Penetro os dedos, estimulando malvado a
sua grutinha rosada e inchada. Kiara geme e rebola frenética. Noto que os seus
gemidos já não fazem parte do mesmo planeta que se encontra fisicamente.
— Anton! Anton... Ohhh, meu Deus...
Ela franze as costas, abre a boca, joga os cachos loiros do rosto para trás, no
entanto, eles voltam para o mesmo lugar, deixando-a só mais sexy. Vendo que vai
gozar, abaixo-me na sua bucetinha, para chupá-la e fazê-la explodir de espasmos na
minha boca.
— Oh, amor... — Sussurra fraca do corpo.
Rápido, eu a apoio pela cintura, para cair sentada no tapete e não sobre o seu
tornozelo ferido, revestido pela bota. Ela coloca a mão no meu peito, tentando me
olhar, só que está tremendo e ainda perdida no ápice. Quando se recupera, Kia afasta
os seus fios desgrenhados da face e molha os lábios inchados. Eu chego perto dela,
fascinado pela sua beleza, pelo perfume, os seus lábios e beijo-a, sem evitar
intensificar para a minha fome de consumi-la. Porém, ela empurra o meu queixo.
Estamos suados e sentindo muito calor.
— Não pense... que vai mudar algo — ofega. — Não vai ter outra vez.
— Diz isso depois de satisfeita? — resmungo, acariciando-a na coxa.
Ela é tão macia, quente. Parece um tecido nobre de seda.
— É, eu fui fraca por sua causa. Espero que se sinta culpado por me seduzir,
Sr. Dexter.
Kia tira a minha mão do seu corpo, levanta os ombros, cruza uma das pernas
para esconder o seu sexo feminino e tampar falsamente os seios.
— Você vai continuar com isso até a droga daquele exame sair?
— Eu vou continuar com isso até o senhor aprender a sua lição. Agora, por
favor, busque um vestido no nosso quarto. Você detonou o meu.
— Eu já aprendi essa porra de lição! Só está se divertindo as minhas custas!
Bufo e coloco-me de pé, nu, só para ela não resistir a dar uma última olhada
no meu pau. E como previ, ela não resiste... ainda morde os lábios sem sequer notar
que isso foi muito excitante.
— Kiara! — rosno e minha menina diabólica pisca nervosa.
— V-vai logo, Dexter, ou eu te faço dormir hoje no quarto de hóspedes!
Fecho os olhos...
Droga, que Cristo me dê muita paciência para não surtar e fodê-la de novo.
[SS9][RA10]
Sorte dela por estar ferida e por eu amá-la mais do que tudo nesse mundo.
E será que eu já não disse isso mais de mil cento e cinquenta vezes? Acho
que vou mandar pintar essas palavras na parede do nosso quarto, porque dizer que a
amo não está servindo para merda nenhuma. Nem flores, nem chocolate, nem joias e
nem sexo!
Mulher deveria ser estudada. Caramba. Elas acham que a gente é o quê?
Médium para adivinhar o que querem de nós? É tão fácil dizer o que devemos fazer!
Mesmo sem o Gael perceber, eu o pego me olhando de canto a cada
oportunidade. Não digo nada. Estou quieta, assistindo pela janela a vista dos montes
que parecem montanhas, enquanto a minha cabeça lateja em milhares de
pensamentos. Acho que eu pego no sono, pois só me dou conta de que chegamos na
cidade ao ser despertada por uma voz rouca, de um caipira sexy que eu conheço
muito bem.
— Lívia...
Eu afasto a cabeça do vidro e olho sonolenta para ele.
— Preciso do endereço do hospital onde o seu pai está internado. Já estamos
perto do centro.
Então bocejo, abro a minha bolsa e passo o cartão com o endereço para ele.
Vinte minutos depois, Gael encontra o local e para dentro do estacionamento. Eu
fico com o coração acelerado, mas respiro fundo, pego um espelhinho na necessaire
e retoco a maquiagem borrada. Até coloco um par de brincos na orelha e escovo os
cabelos.
— Por que precisa se arrumar tanto? — Gael questiona, observando-me já
com a caminhonete 4x4 desligada.
— Porque eu vou entrar na porta daquele hospital de cabeça erguida e
mostrando que a filha do Castellano está melhor do que nunca, ao contrário do que a
minha mãe fala para a sociedade.
— Ah, e está?
Eu olho mortífera para ele. Sem diferença, Gael me encara de volta com o
seu chapéu branco lhe dando um certo ar de homem poderoso.
— Você sabe a resposta. Está praticamente no meio do fogo cruzado da
minha vida decadente.
Também tiro o meu perfume importado da necessaire e esborrifo uma vez no
pulso e outra no pescoço.
— Céus... Meu Deus... esse cheiro é uma tortura, Lívia. E sei que nunca
mais vai sair do meu carro, assim como está impregnado no meu subconsciente e
olfato.
Fico um pouco melhor ao ver a cara de bobo apaixonado dele. Até chega
mais perto de mim para sentir a fragrância do perfume. E sorrio, abrindo a porta.
— Eu posso ir com você?
— Sim — respondo e ele igualmente se retira do carro para me acompanhar
até a recepção do hospital.
No interior, as pessoas da sala de espera não tiram os olhos de mim e do
homem bonito ao meu lado. Eu me aproximo do balcão e apresento-me as
recepcionistas, juntamente do Gael. Adiante, uma delas confirma os nossos
documentos e manda-nos para o sétimo andar, onde o meu pai se encontra internado
em recuperação. Eu vou nervosa, com as mãos suando e tremendo. Minha garganta
está até seca – e droga, assim que o elevador se abre no andar da recepção, eu dou
de cara com a minha mãe e a minha tia Valentina sentadas numa poltrona chique –
como todo o ambiente luxuoso. Ela também não demora a me encontrar. Nem o
Gael.
— Chegamos há um minuto e aquela mulher está nos olhando sem parar...
— Ela é a minha mãe, Diana — resmungo, rangendo os dentes. — E a do
lado é a minha tia, Val.
— Nossa... você e a sua mãe são iguaizinhas. E bonitas. Acho que até na cor
dos olhos se parecem. Não consigo ver direito — ele estreita os olhos.
— Ah, obrigada pelo "elogio". E a minha mãe tem os olhos azuis e é casada,
só para te avisar! — fuzilo e saio em direção a moça atrás do balcão.
Entretanto, bem no meio do caminho, a minha mãe faz questão de não fingir
que eu existo.
O que seria o meu sonho.
Por que ela não faz isso? Fingir que eu morri, que não existo!
— Seu pai já está com visitas. Seu tio Hugo está lá no quarto dele. Daqui a
pouco, você entra.
Encaro-a e antes de eu responder qualquer coisa, a minha tia Valentina se
ergue direcionada a mim.
— Não vai me cumprimentar, Lili?
Seguro-me para não revirar os olhos para o meu apelido odioso.
— Olá, tia Valentina.
— Sinto muito pelo seu pai — ela vem me abraçar apertado. — Mas ele já
está bem. Agora é só seguir as restrições médicas e não fazer esforços.
— Fico feliz por isso — respondo sincera, afastando-me educada.
— Quem é aquele homem alto, ali de chapéu, Lívia? — inesperadamente, a
minha mãe é direta ao me perguntar rude e intrometida.
Eu olho para o Gael que está em pé, de braços cruzados, nos assistindo com
uma pose linda de cowboy musculoso. Em seguida, direciono-me para ela, que me
analisa com os seus olhos determinados e autoritários – antes, capazes de me
amedrontarem, submetendo-me ao seu poder controlador.
— Acho que isso não é da sua conta!
Na mesma hora, as duas mulheres na minha frente arregalam os olhos. Tia
Valentina chegou a colocar a mão na boca.
— Minha nossa, Lili. Não é assim que se responde a sua mãe! A mulher que
te trouxe ao mudo e te educou com muito amor! — sem demora, ela me repreende
brava.
— É para você ver a ingratidão de um filho(a) que carregamos por nove
meses no ventre. Depois que crescem, eles ainda tem a coragem de berrar que nos
odeiam e que somos péssimos pais.
— Meus filhos não são assim...
— Desculpa, tia Val. E peço licença. Vou aguardar ali no canto o tio Hugo
sair do quarto.
Para não voltar a discutir com a minha mãe, eu viro as costas e vou até o
canto ficar com o Gael.
— Como você está? — ele pergunta preocupado, entrelaçando os braços
fortes em volta da minha cintura. Eu permito, carente do seu carinho.
— Do fundo do meu coração... eu só quero ver o meu pai. Preciso ouvir a
sua voz e uma bronca no mínimo, o que prevejo que vai acontecer.

Após o meu tio se retirar, eu o cumprimento com um abraço e entro no


quarto onde o meu pai se encontra deitado no meio de um monte de aparelhos e
devido ao barulho dos meus saltos, ele ergue a cabeça e abre um sorriso gigantesco
ao me reconhecer.
— Lívia! Minha garotinha sagaz! — Ele ri feliz.
— Papai!
Emocionada, eu chego perto da maca e pego na sua mão grossa, depositando
um beijo no topo da sua testa. Infelizmente, não posso abraçá-lo.
Ele nem parece doente ou com feição de quem passou por uma cirurgia de
prótese no coração, exceto na voz calma.
— Que saudades, minha filha, você sumiu por três semanas. Onde esteve?
— indaga bem devagar, acariciando o meu punho cercado por uma correntinha de
ouro.
— Eu... eu... — abaixo a cabeça. — O senhor já sabe, pai. E estou pronta
para ouvir as suas broncas. Só que antes, me diga como está se sentindo?
— Eu estou mais forte do que nunca. Foi só os meus cabelos de Sansão que
foram podados — ele pisca engraçadinho e ajeita-se na maca, opondo o seu corpo
grande, alto, de um homem de 52 anos, mas com estrutura de 40. Ele ama malhar, se
exercitar e comer coisas saudáveis. Aliás, é vegetariano. — Eu realmente estou
muito decepcionado com você, Lívia. Há duas semanas, se eu tivesse te visto na
minha frente, eu teria a deixado de castigo no quarto e sem direito a sobremesa por
um mês.
Sorrio, dando de ombros e fitando os seus olhos verdes.
— Sua mãe ficou furiosa por você ter vendido as coisas da clínica, entregado
o seu apartamento e sumido do mapa. Eu mais ainda. Não consegui te entender. Tive
que segurar a Diana. Por pouco, ela não acionou a polícia.
— Não há o que entender, está tudo bem, pai.
— Tudo bem... — resmunga. — Não acredito em você. Eu quero que pegue
as suas coisas e volte para a nossa casa esta semana, ou eu mesmo farei isso. Você
tem pais. Não é uma órfã. Entendeu, Lívia?
Eu abro a boca, sem crer em quem acabou de ser autoritário e rude comigo.
— A Diana está colocando coisas na sua cabeça. Eu estou ótima, muito bem
com a minha vida. Eu tenho 30 anos! Não sou mais uma garotinha!
— "A Diana", a sua mãe, tem é razão, você está endividada. Para chegar a
mandar os seus dentistas embora, vender os seus materiais de odontologia, o
apartamento e parar a obra da nova clínica, é porque deve!
— Por favor, não seja como ela. Não queira controlar a minha vida, os meus
passos. Eu sou adulta, tenho responsabilidades sobre as minhas ações e decisões. Eu
te amo, não faça isso. E não vamos falar mais sobre problemas. Precisa descansar.
— Eu também te amo e é por isso que eu quero falar sobre os seus
problemas. Principalmente sobre a Diana. Sei que não se dá bem com a sua mãe,
mas não tem o direito de maltratá-la, nem de dizer que a odeia. Você é a nossa única
filha, é o fruto do nosso amor.
— Não entendo é como o senhor a ama há tantos anos assim. — Empino a
cabeça, com orgulho assumido, até reviro os olhos.
— É por causa desse jeitinho idêntico ao seu. E ela quando ama, ama como
uma louca incondicional. Acredita que até das enfermeiras do hospital Diana está
com ciúmes mortífero? Não deixou de dormir uma noite comigo — papai fala lento
e como sempre, todo orgulhoso do seu casamento.
Mamãe foi apaixonada pelo herdeiro Castellano desde que tinha os seus dez
anos de idade. Os dois eram amigos e ela batalhou duro para reverter esse status, já
que na adolescência o papai era um canalha, safado, sem vergonha, bonito (até hoje)
e todo metido a playboy. Sra. Diana não ficava longe, os homens lambiam os seus
sapatos chiques – faltavam mastigar (devido a sua beleza fascinante) –, mas ela
tinha esse cretino encravado como uma faca envenenada no seu coração. Até que se
casaram e todas as suas experiências de primeira vez foi com ele. Ela realmente o
ama. Faz de tudo por esse teimoso. Sem falar no ciúmes. Nenhuma mulher
("amiga") dorme na sua casa. Nem a Lorenza, já que ela, na verdade, comia na mão
da minha mãe. No entanto, as duas sempre foram melhores amigas, assim como a
Lorenza foi do meu pai. E ela sabia dos sentimentos da Diana por ele, por isso até
chegou a ajudar esses dois. Pelo menos nisso, eu posso agradecê-la. Pois o amor
deles é invejável. Chega a enjoar o quanto são melosos.
Será que nem com a idade o fogo diminui? – fica aí a pergunta que eu não
desejo a resposta dos meus pais.
— Até eu sinto ciúmes. O senhor chama atenção das novinhas interesseiras.
Tem que ser mais feio. Deve parar de puxar peso e cortar esse cabelo em topete alto.
Também parar de fazer a barba igual jovem.
Ele ri e deposita um beija no torso da minha mão.
— Você e a sua mãe são as mulheres ciumentas da minha vida. As duas
metidas mais lindas que existem. É por isso que eu não gosto de vê-las em guerra. O
que, às vezes, é impossível, pois o gênero de vocês são idênticos em tudo. Mas
devem se entender e serem pacíficas. Em exclusivo você, Lívia. Não vou aceitar
Diana chegar para mim novamente reclamando que você a maltratou e disse
inúmeras barbaridades. Ela te ama, sofre e te quer perto de nós. É sua mãe.
É esse o problema, o amor sufocante dela. Capaz de qualquer coisa para
ter-me sob o seu poder. Nem que seja pelo jogo mais sujo e humilhante.
— Olá, com licença... — um médico negro, alto e bonito abre a porta e entra
educado no ambiente, interrompendo-nos, graças a Deus. — Acho que você, Sr.
Álvaro, está conversando demais com os seus visitantes hoje. Por favor, não se
esforce.
— Desculpa, doutor, a culpa é minha. Eu me empolguei.
— Eu estou bem, a cirurgia foi ontem. Hoje já me levantei, andei, fui ao
banheiro e...
— E o senhor deve descansar e poupar saliva para ganhar alta esta semana
— o médico completa de forma profissional.
— Realmente, pai. Lembre-se de que não é mais jovem.
Beijo o topo dos cabelos grisalhos dele, bem penteados e cheirosos.
Nem num leito de hospital esse homem deixa de se ajeitar. Depois reclama
do ciúmes da dona Diana e o meu.
— Já vou, preciso voltar para... — molho os lábios, contendo-me. — Onde
estou. E fico feliz por não ter morrido por minha causa também, como a minha mãe
insinuou esta manhã.
— O quê? Ela insinuou isso?
— Sim.
Ele balança a cabeça, muito bravo.
— Diana nunca muda e nunca aprende a ser alguém com escrúpulos. Não é
fácil para você como filha, imagina para mim, como esposo? Mais tarde,
conversarei com ela sobre isso. E não estou do lado de nenhuma de vocês duas.
Entendeu, Lívia? Daqui a pouco, até perco a paciência. As quero unidas, ao meu
lado.
— Humrum... — o médico pigarreia e meu pai rola os olhos.
— Sim, pai. Desculpa.
— Não suma por mais de quatro dias sem me dar notícias ou eu vou
contratar detetives para ficar na sua cola. E me visite. É a única filha que eu tenho.
Quero te ver mais. Se for possível, todos os finais de semana.
Triste e com vergonha, assinto com a cabeça.
— Prometo te visitar sempre que possível. Aliás, em casa, quando receber
alta. E fique bem, eu te amo muito, meu velhinho.
— Velhinho? Quer ficar sem sobremesa, Lili? — Ele finge braveza e eu
reviro os olhos, dando-lhe outro beijo na testa.
— Também não me chame de Lili, odeio esse apelido!
— Eu sei, Lili.
Ele ousa de novo? Tem sorte de estar debilitado. Meus olhos daqui a pouco
estarão atrás da nuca de tanto que se reviram.
Assim que eu saio do quarto do meu pai, eu viro as costas e caminho na
direção do Gael, sem olhar para trás.
— Vamos?
— Espera, Lívia! — Para a minha infelicidade, eu ouço a minha mãe bradar
o meu nome de longe.
Ao virar, eu a assisto caminhar de cara fechada até nós.
— Já conversamos o que tínhamos para conversar!
— Não, mesmo! — Ela para com a sua pose elegante e faz questão de olhar
nos olhos do Gael. — Olá, quem é o senhor?
— Gael Abner.
— Gael Abner?
— É, mãe. Se nos der...
— Fique onde está, Lívia. Eu nunca ouvir falar de nenhum Gael Abner. —
Ela pensa, enquanto o analisa feito uma detetive, até que então parece ligar as peças
e arregala os olhos, fitando-me eufórica. — Só existe uma pessoa que eu reconheço
por Gael. E agora eu ligo tudo! Por isso você está na fazenda Dexter!
— Incrível como ainda não contou para o papai onde eu estou.
— Não muda de assunto! O que faz com esse homem sem sobrenome, sem
terras e sem um tostão? Você é uma Castellano! A nossa única filha! Ele é um
bastardo!
Olho para o Gael e vejo-o fechar a cara e engolir em seco.
— Ah, pois é, mamãe. Mas você vai ter que chamar esse bastardo de genro
— eu passo meu braço pelo cotovelo do Gael, erguendo a cabeça para enfrentá-la
com um sorriso de ódio. — Porque estamos noivos!
— O quê?!
Gael dá uma tossida e aperta a minha mão. Acho que ele deve estar me
olhando sem entender nada – com certeza. Ou entendeu e está bem feliz
interiormente. Tudo bem, depois acabo com a sua felicidade.
— Eu não aceito! Você está me afrontando!
— Diana... — Tia Valentina aparece rápida para segurá-la.
— Você merece todos os tapas, todas as surras que eu nunca te dei, Lívia! Se
você se casar com esse homem, eu vou te deserdar da sua herança, te deixar sem
nada! Você vai ficar na miséria junto desse pé-rapado!
— Diana, calma, cunhada.
— Vai lá e diga isso para o meu pai!
— Pois eu vou dizer, sua inconsequente, e ele também vai concordar
comigo!
Louca com a sua fúria, ela vira as costas, afasta a minha tia e sai em passos
duros até o corredor onde fica o quarto do papai.
Só me faltava essa!
Porém, estou bem satisfeita. A vingança é um prato que se come frio.

— Eu igualmente já vou. Com licença, tia Val.


Lívia não espera a sua tia abrir a boca e interrompe-a, pedindo nervosa
licença e puxando-me para o elevador.
— Por que você disse aquilo para a sua mãe?
— Eu te defendi e a enfrentei. E você poderia ter esbravejado um dos seus
discursos de herói. Como sempre faz.
— Se eu já tenho medo de você, imagine da sua mãe que parece ser duas
vezes pior do que o seu gênero? Vocês são iguaizinhas, até na postura e na forma de
erguer a cabeça e dar um olhar penetrante. Podem fazer qualquer bandido largar
uma arma. Já pensaram em criar uma facção?
— Vou te matar. Foi nisso que você estava prestando atenção? Eu te defendi,
seu caipira idiota!
— Eu sei, e fiquei orgulhoso por isso também — após a minha declaração, o
elevador se abre no térreo.
Lívia fica parada no mesmo lugar, com a testa franzida, analisando o meu
rosto.
— Você ficou orgulhoso de mim?
— É claro, minha noiva.
Ela revira os olhos e saí revoltada ao meu lado. Eu tento não rir para não
levar um par de sapatos finos na testa.
— Como está o seu pai?
— Nem parece que teve um ataque cardíaco e passou por uma cirurgia há
um dia. Está com uma feição saudável, de um jovem que quer sair correndo daquela
maca e voltar para o trabalho e a sua rotina diária.
— A cirurgia leva apenas um corte pequeno sobre o peito, ao lado esquerdo
do coração. Meu pai já sofreu um infarto há vinte anos e teve que colocar esse
implante para regular os batimentos cardíacos. E ele deve ser trocado a cada dez.
— Eu não sabia que era só um pequeno corte. Eles não abrem o peito no
meio?
— Não, não.
— Nossa, que bom. Estava leiga sobre essa informação. Na verdade, odeio
pensar em procedimentos cirúrgicos.
Chegamos no carro e eu abro a porta para a minha madame cheirosa entrar,
adiante, dou a volta e também entro.
— E agora, dona Lívia, vamos embora para a fazenda?
O sol já está se esvaindo e escurecendo entre a vista dos prédios.
— Você que sabe. Eu não tenho onde ficar na cidade, exceto no chão da
minha clínica de cinco andares, em concreto.
— Hum, não. Melhor um lugar mais confortável para passarmos a noite.
Além de que estamos com fome e vai esfriar.
Ela dá de ombros, deixando tudo nas minhas mãos e eu resolvo ser muito
bonzinho com a madame esta noite.
— Onde está indo, Gael?
— Aqui — respondo bem tranquilo, virando na entrada do primeiro hotel
simplesinho de esquina que eu encontro.
Ele fica há quatro quarteirões do hospital onde o pai da Lívia está internado.
Encaro-a com um sorrio de canto e ela está com uma linda carinha de nojo.
— O que foi? Achou o lugar "pé-rapado", madame?
— Está se vingando logo de mim? Eu nunca disse que você era um pé-
rapado. E nunca te achei sem condições. Afinal, é um cara bem formado e com três
diplomas, sendo um deles superior. Para completar, é o braço direito e gerente do
homem mais poderoso do estado. Não ganha nada mal pelo jeito. E tenho certeza
disso.
— Não mesmo. E não estou me vingando.
— Imagine se estivesse...
Seguro o riso e guio a caminhonete para o breu do estacionamento de postes
queimados.
De fato, eu não sou nem um pingo sem condições. Meu dinheiro dá para
comprar uma fazenda de três mil hectares e construir uma casa boa, que devagar
pode se transformar numa grande mansão. Mas os meus planos são fora de hectares
tão vastos. Realmente não quero maiores responsabilidades, como o Anton na sua
fazenda de 41.000 HA, que deve chegar há uns R$ 950.000.000,00. Claro, contando
com todos os pés de eucaliptos e outras florestas que trabalhamos. Só eu sei a dor de
cabeça que é. Ainda bem que existe uma grande equipe por trás, a qual eu gerencio
para colher dados e verificar cada questão da terra. No fim, somo e junto tudo e
passo para o Dexter resolver sem mim ou com a minha ajuda, se ele pedir.
Entretanto, devido a ele ser um grande administrador e gerenciador também, isso
não acontece frequentemente. Sem falar que o Anton tem a sua outra gigantesca
equipe aqui na cidade, que o deixa ser livre para aproveitar a sua vida, a sua fortuna
e a sua família. Se duvidar, tem funcionários até para pensar por ele e poupar os
seus esforços – exceto no dinheiro, Anton tem total controle dos seus lucros, gastos
e investimentos. Mesmo assim é uma luta. Prefiro viver da minha formação e
receber mensalmente pelo meu serviço empenhado.
— Esse lugar tem baratas, Gael! Acho melhor pegarmos viagem, não vou
ficar aqui! — Lívia fala brava, olhando enojada para as paredes, o chão, os acentos,
os quadros e para completar, de frente para a recepcionista de uniforme azul.
Estamos na pequena recepção ajeitada. O lugar não é tão nojento como ela
diz. É um bom hotel de classe média.
— Desculpa. Gostaríamos de nos registrar — falo para a moça, tentando não
rir da Lívia.
— Não, não queremos!
— Sim queremos, por favor, continue.
— Eu não aceito ficar nessa espelunca suja, seu caipira!
A recepcionista fica constrangida e molha os lábios.
— O senhor e a senhora devem chegar numa decisão. Nosso hotel é bem
cuidado e tem funcionários a todo momento fazendo a sua higiene.
— Sinto muito pelas ofensas, aqui está a minha identidade e o meu cartão de
débito. Eu vou me registrar. Já a madame vai ir caminhando até a sua clínica
inacabada, para dormir no frio e no concreto. Lá é mais chique e de cinco estrelas.
Lívia me fuzila com muita raiva e vendo que está sem escolha, mastiga seus
xingamentos contra mim (por enquanto) e resolve ficar quieta.
— Ótimo. Então é dois check-in.
Após pegar a chave do quarto, eu faço a Lívia me acompanhar com a sua
cara de desgosto e de vontade me matar. Também fiz um pedido de uma pizza e de
uma Coca-Cola pelo telefone do balcão, assim que chegar, a recepcionista nos
mandará.
— Por favor, senhorita, sinta-se à vontade — abro a porta da nossa
acomodação, esperando a Lívia dar algum passo com a sua bolsa no ombro.
— Esse lugar cheira a paredes úmidas e empoeiradas. Eu preferia voltar para
a fazenda do que ficar nessa espelunca!
— Não vejo problema nenhum aqui, você que é desumilde e metida a
patricinha.
O quarto não é tão grande, tem uma cama, uma poltrona, um abajur e o
banheiro. Ok, que realmente cheira a mofo, mas dá para se acostumar, logo que está
sendo só 100 reais a nossa noite.
— Isso é vingança sua, por isso me trouxe para essa merda cheia de
bactérias! — Ela fala de braços cruzados, enquanto eu entro, tiro a camisa e os
sapatos.
Resolvo ignorar os seus comentários e abro a minha mochila para pegar
roupas limpas e ir tomar banho, pois estou cheirando a suor. Só que não aguento ver
a Lívia em pé, feito uma estátua no mesmo lugar.
— Eu não acredito que ainda está aí com essa bolsa no ombro.
— Posso jogá-la na sua cabeça se preferir.
Ela vai até a cama averiguar os forros se estão limpos e mesmo vendo que
estão, ela coloca com repulsa a bolsa sobre o colchão. Eu chego mais perto,
tentando não me irritar pela sua tamanha metidez.
— Você não vai morrer se passar uma única noite aqui, Lívia.
— Não hoje, porém, talvez daqui três dias com um germe ou parasitas! E
fazer o quê? Eu devo me acostumar a sarjeta!
Sem se dar conta do que está fazendo na minha frente, ela tira a blusa, a saia
e o sutiã. Porra, eu calo a boca, engulo em seco e permaneço estacado com os pés
que esqueceram como se move. Meus olhos não desviam das suas curvas femininas.
Lívia percebe que eu me aquietei e ergue a cabeça para me encarar maléfica, como o
verdadeiro demônio de face bonita.
— Espero que esteja apreciando a visão, Sr. Gael — me olhando, a diaba
pega nas duas alças da calcinha preta e desce lentamente pelas coxas torneadas,
ficando nua com a sua intimidade lisa, branquinha.
Nua! Droga... ela está nua, pelada!
Meus músculos se enrijecem e meu pau pulsa dentro da calça.
— Pois você não vai tocar neste corpo tão cedo. — Lívia joga os cabelos
negros para trás, elevando mais oponente os peitos de mamilos rosados. — Nem vai
estar dentro de mim. Se quer se vingar, não esqueça de que eu posso ser mil vezes
pior.
Eu aperto os punhos, nervoso e louco para avançar nessa deusa infernal. Mas
não me mexo.
Somente a assisto caminhar até a bolsa, catar uma calcinha limpa e uma
regata bem fininha.
Eu vou morrer desse jeito, ela é muito linda e gostosa. Quero beijar essa
metida agora mesmo, depois tacá-la nessa cama para fazermos um amor gostoso e
com muita selvageria.
— Está de pau duro? — ela observa de propósito a minha calça. — Por que
não vai se aliviar lá no chuveiro? Pense em mim assim, peladinha, enquanto se
masturba. — Lívia, então, vira o corpo só para vestir o fio dental e inclina para
frente, fazendo-me babar igual um cachorro pela sua bunda empinada.
— Acho que eu vou me aliviar aqui mesmo, com esse delicioso show.
Ela sorri sobre os ombros, dando-me seu olhar verde surreal.
— Se fizer isso... vai ter que aguentar eu também fazendo com o vibrador.
— Não seria capaz!
— É, você acha que não? — Ela acaricia a bunda, deslizando os dedos para
frente... para se tocar. — Hum... Pois eu seria sim — geme em sussurro.
Que porra! Raivoso, eu viro as costas e assim que entro no banheiro, bato a
porta com força.
A diaba deve estar rindo! Ela que aguarde, eu vou deixá-la ainda sem andar!
Após colocar a Kiara na banheira cheia de espumas, eu escuto o Gieber me
chamar atrás da porta. Ele fala que a Melina acordou e está chorando.
— Obrigada. Não preciso mais da sua ajuda, vai ver a nossa bebê. Depois
que eu terminar aqui, eu te chamo.
Assinto e deixo a Kia sozinha para eu ir até o berço da Melina pegá-la.
— Ela acodo agola, papai — Gieber me informa todo prestativo, vindo ao
meu lado com o meu chapéu enorme na cabeça. Ele pegou no closet para ficar
brincando.
— Boa tarde, minha dorminhoca — sussurro e a princesa sorri para mim. —
Parece que você sujou a fralda.
Pego-a no colo, percebendo que a fralda só está cheia de xixi. Graças a
Deus.
— Ela fez coco?
— Não, apenas xixi — digo ao Gieber e coloco a Melina em cima do
trocador para trocar a sua fralda mijada, mas lembro que as coisinhas dela estão na
cômoda do outro lado do quarto.
— Filho, fique de olho na sua irmã.
Ele balança a cabeça e então, acelero os passos para pegar o que preciso. Ao
chegar na cômoda, eu abro bem rápido a segunda gaveta, levando um pequeno susto
ao ver instantâneo uma caixa vermelha, com a imagem de um brinquedo rosa, que
nunca, jamais pertenceria a uma criança.
Que merda é essa?
Pego a porra para ter certeza de que eu não estou vendo isso!
Ah, puta merda! Caralho! Não vou me estressar!
Eu só quero saber onde a Kiara arrumou essa porcaria!
Eu trinco o maxilar, engolindo o meu nervosismo, e volto o objeto para o seu
lugar, cato a fralda, bato a gaveta com força e vou trocar a bebê. Enquanto a visto,
Judite aparece na porta chamando o Gieber para tomar banho. Eu a agradeço pela
ajuda. Principalmente, por me deixar sozinho com a sua filha “santa”.
— Você acalmou ela? — Já no quarto, enrolada no seu roupão, ela olha para
o berço da Melina, adiante para mim. — Anton?
Ela percebeu que eu não estou querendo respondê-la desde que a tirei nua da
banheira – porra. Eu coço a barba, remoendo a vontade de mostrar para a Kiara o
único pau que lhe pertence! Ficaria assada e sem poder mexer essas coxas por dias!
— O que foi com você? Ficou estranho.
— Estranho?
Eu me aproximo dela e inclino-me furioso para encarar os seus olhos azuis.
Surpresa, Kia aperta o roupão no corpo e respira irregular, sem entender o meu
comportamento bruto.
— Eu estou é no limite, eu juro que estou! Não brinque comigo!
Então me afasto puto para virar as costas e ir até a cômoda da bebê. Quando
eu volto com o objeto em mãos, eu a vejo com os olhos arregalados e de boca
aberta, sem voz.
— Ótimo esconderijo. Andou muito ocupada em suas noites, enquanto eu
me torturava pensando em você?
Chego perto da cama mais puto!
— E-e você quer julgar que eu estava errada? — ela me enfrenta, encarando-
me sem nenhum medo. Meus ombros enrijecem. — Pois eu andei muito bem
ocupada!
— É, você andou, dona Kiara?
Abro a caixa e analiso o vibrador que é também um pequeno estimulante.
— Hum... — Eu abaixo a cabeça, com muita vontade de ser maldoso,
maligno e sem piedade. Só que ainda não.

Anton me fuzila e deixa-me sem entender nada ao virar as costas e


simplesmente sair do quarto batendo a porta e levando o vibrador. Nervosa, solto o
ar que os meus pulmões armazenavam apreensivos. Se ele ficou bravo com o
vibrador, é problema dele. Não ligo e não vou me sentir amedrontada pela sua falta
de reação animal.
Mentira...
Por outro lado, isso me deixa mais apavorada. Por que ele não avançou em
mim e me fodeu sem piedade, para mostrar que eu tenho homem em casa?
— A senhora quer que eu penteie os seus cabelos?
— Não precisa, Sônia. Só por ter me ajudado a pegar as minhas roupas no
closet já foi de bom tamanho. Anton saiu do quarto esquecendo que eu estou
incapacitada de firmar os dois pés direito. Mas já estou conseguindo mancar um
pouco.
— A cada dia mais a senhora vai ficar boa. E, por favor, eu faço questão de
pentear os seus cachos perfeitos. Serei cuidadosa.
Sônia vem até a cama com o meu pente de madeira. E cansada, eu deixo que
ela desembarace com delicadeza os cachos.
— Como está se sentindo hoje, Sônia?
Eu a ouço suspirar atrás de mim.
— Muito enjoo, Sra. Dexter. Não consigo manter nada sólido no estômago.
Nada mesmo.
— Eu já chamei um médico para analisá-la esta semana. E é normal os
enjoos. Você só deve evitar muitos esforços. Lembrando que quero que conte o que
está acontecendo para o Gael, quando ele chegar da cidade.
— Eu estou com medo... não tenho mais coragem. E tem a... — ela para de
pentear os meus fios e desiste de falar, voltando a passar delicada o pente.
Só que percebo o assunto no qual quer tocar.
— Você quer dizer algo sobre a Lívia?
Ela parece se aquietar para responder-me.
— Sim, ele tem alguma coisa com a Srta. Lívia. Já não é segredo para
ninguém nesta mansão. Os dois sempre estão juntos, feito um casal. E eu já peguei o
Sr. Gael saindo do quarto dela uma vez.
— Você gosta do Gael, Sônia? — Inclino a cabeça para ver o seu rosto.
Ela desvia envergonhada de mim.
— Eu não sei. E se eu gostar não faz diferença nenhuma, porque eu não sou
mulher o bastante para ele. Não chego nem aos pés da beleza, da classe, da
educação e do dinheiro da Srta. Lívia. Aquela mulher causa arrepios e admirações
por onde passa. Parece uma modelo de tão bonita. Além de ser arrepiante como uma
autoridade poderosa. E Gael gosta dela. Os dois são lindos.
— Não se engane com as aparências, minha amiga. Aquilo que você vê na
Castellano não passa de uma máscara, a qual ela coloca para passar uma falsa
imagem de forte, poderosa e intocável para os outros e para si mesma. É por isso
que ela está aqui, Gael e eu estamos tentando a ajudar — eu pego na mão da Sônia e
afago-a. — E sim, pelo que parece eles estão tendo algo, o que se estende a mais de
um ano e meio. Desde que ela veio ficar pela primeira vez na fazenda.
Vejo decepção nos seus olhinhos castanhos.
— É por isso que eu não quero atrapalhar os dois, estava até evitando o Sr.
Gael.
— Mas não vai mais evitá-lo, o laço que tem agora com o Gael é acima de
qualquer pessoa. Você não pode privá-lo de saber que tem um filho, nem de estar
presente na vida dessa criança. Compreende, Sônia? Ele te ajudará, te apoiará e fará
de tudo pelo bem-estar de vocês dois. Gael é um bom homem. Leal, amigo, honrado
e que cumpre com as suas responsabilidades. Jamais se esqueça disso.
Emocionada, Sônia balança a cabeça em acordo. Eu sorrio terna para ela,
mostrando que não está sozinha. Ela tem a mim.

Mais tarde, após jantarmos, Anton voltou para o quarto, tomou banho e ficou
sozinho na sacada, folheando uns documentos. Incomodada com ele, me esforcei
para me levantar da cama e mancar até a porta de vidro.
— Não devia se esforçar em vão — eu paro no portal e ele fala sem sequer
olhar para mim, continua lendo o seu papel.
— Por que não reagiu feito um bárbaro àquela hora? — engasgada com essa
pergunta, finalmente o questiono.
Ele não responde. Chego perto do sofá, sentindo o seu cheiro pós-banho.
— Amor...
Desta vez, ele ergue a sua bela face máscula, de barba aparadinha. Não sei o
que estou fazendo, na verdade, eu não sei nem o que dizer a esse homem. Pelo
menos, sem o chapéu negro, ele é menos aterrorizante.
— Diga, Kiara.
— É... bom... — molho a garganta. — Nada, não vou te atrapalhar. Vou
voltar para a cama.
Sem coragem de continuar a tocar no assunto, eu me escoro na parede e
tento voltar para dentro. Só que antes que eu pudesse começar a mancar o Anton,
levantou-se e segurou rápido o meu braço.
Pisco sem parar e fito-o nos olhos, sentindo o meu coração bater mais
acelerado pelo seu toque. Ele, então, coloca a mão com delicadeza na minha cintura
e aproxima-me do seu corpo alto, forte – fico pequenininha. Eu respiro desregular,
sem desviar das suas íris acinzentadas. E não suportamos, tocamos nariz com nariz,
respirando o hálito quente um do outro.
— Eu quero você — ele sussurra — e não sei mais o que fazer para me
desculpar. Estou realmente arrependido. Não devia ter mentido, nem ter escondido
as coisas. Também não devia ter recebido o meu irmão e a esposa dele na nossa
casa. E a verdade que eu quero esconder é que agora sinto vergonha disso, quando
me recordo e te vejo magoada. Fui um covarde orgulhoso. O que eu faço para me
perdoar? Me diz, Kia? Por favor.
— Não estou mais tão sensível sobre isso — toco nossos lábios. — No
entanto, eu quero bater em você feito uma mãe irritada, para te ensinar a nunca mais
tentar esconder as merda que fez. E eu quero dizer que te amo — por fim, a minha
declaração faz o Dexter me apertar mais firme, necessitado. — E estou muito
satisfeita por te ver sofrendo sem sexo. Muito mesmo.
— Porra, Kiara... — resmungo bravo. — Eu te amo. Amo a minha família. E
quero que saiba que morreria por vocês três. São tudo o que eu tenho, tudo o que me
restou.
— Quarta, você pode descobrir que tem mais um filho.
— Eu sei que ele não é o meu filho, tem a cara do Gabriel. Porém, se for, é
só um menino.
— Sim, Anton, é só um menino que não tem culpa de ter vindo ao mundo. E
se for, ele terá um pai incrível, que precisará de você presente. Já passou por muitas
lutas, hoje é um homem que ama, demonstra, protege e reconhece os seus erros.
— Você que é uma mulher incrível. — Anton me abraça forte, afagando o
meu cabelo com ternura. — E se sou esse homem é graças a você, a sua força de
conversar, a sua paciência de me aconselhar e de suportar o nosso passado. Você me
ensinou a amar e a dar valor a vida. Sempre estarei de joelhos aos teus pés. Sou
imperfeito, mas fiel e um louco apaixonado. Ainda quero que saiba que por mais
que te magoe, serei sempre sincero e verdadeiro desde o início. Não tenho o direito
de omitir nada a quem me transformou e me deu outra chance de ser melhor. Vou
vencer o medo que sempre me cega e me faz fazer besteira. Eu te prometo, Kia.
Eu fico sem fala, somente choro de alegria.
— Eu te prometo, meu amor — ele sussurra novamente, segurando o meu
queixo, o meu cabelo e dando-me um beijo apaixonante, molhado, quente e cheio de
amor.
Ao amanhecer e antes de pegarmos estrada para voltarmos para a fazenda
Dexter, Lívia fez outra visita para o seu pai no hospital. Sabendo que ela não ia
demorar, optei por ficar esperando no estacionamento, perto do meu carro. Só que
enquanto a aguardava, notei dois homens me encarando suspeito do outro lado da
rua, com as mãos nos bolsos. Eles não disfarçam. Realmente estão me encarando.
Por esse motivo, eu não tiro os olhos da entrada do hospital. E como eu imaginava,
quando a Lívia sai pela porta da frente, eles se movem rápidos para atravessar a rua.
Arregalo os olhos e começo a andar mais veloz do que os caras.
— Lívia, volta para dentro! — grito para ela.
Ela para, tira os óculos escuros e olha-me sem entender nada. Ainda parece
gritar algo de volta. Porra!
— VOLTA, LÍVIA! VOLTA!
Ouço um barulho de tiro sendo disparado. E é então que a Lívia se dá conta
dos homens no meio do estacionamento, andando na sua direção, pois ela se assusta,
vira as costas e corre o quanto pode com os saltos. Também esforço as pernas. E
assim que esbarro com três seguranças que surgem ligeiros de dentro do hospital, eu
a alcanço na porta,
— Gael...
Puxo-a desesperado para o saguão.
— Lívia, você está bem?
Sem ação, sem fala, ela apenas se treme, deixando a bolsa preta cair no chão.
Olho para baixo, vendo um buraco de tiro no coro. Em seguida, seguro-a apavorado
pelos braços, analisando as suas pernas se estão feridas. Igualmente todo o seu
corpo. Ela não reage, nem parece com ferimentos.
— Lívia? Você está bem? Pelo amor de Deus, fala algo!
— É-É o Vitor — gagueja. — Ele sabe que eu estou na cidade, ele sabe... ele
vai me matar... ele quer vingança.
— Calma, você está comigo — a abraço apertado.
Entretanto, para piorar, ouvimos mais tiros serem disparados. As pessoas que
estavam do outro lado da recepção até se levantaram, perguntando o que estava
acontecendo. Lívia me apertou mais forte.
— Quem é o dono da caminhonete cinza estacionada perto da calçada? —
De repente, um segurança surge, questionando alto e ofegante.
Recordo que a única caminhonete cinza lá fora é a minha. Nervoso, com o
coração acelerado, eu peço para que a Lívia me espere no mesmo lugar, pois
verificarei o que aconteceu.
— O senhor que é o dono da 4X4 cinza?
— Sim — confirmo ao me aproximar do senhor uniformizado.
— Por favor, me acompanhe agora mesmo. Já acionamos a polícia.
Muito apreensivo, acompanho o segurança e do lado de fora, noto uma
movimentação enorme de pessoas aterrorizadas em volta do hospital. Mas é só
quando eu olho para o meu carro estacionado na penúltima vaga que eu entendo de
verdade o que acontece.
Porra, isso só pode ser mentira!
— Os meliantes fugiram numa vã preta após alvejarem milhares de vezes o
seu veículo. Peço que aguarde as autoridades.
Que merda, eu não posso acreditar no que está acontecendo!

Após a chegada da polícia, eu fiquei mais de meia hora conversando com os


tenentes. No fim, tive que ser de qualquer jeito conduzido para a delegacia com o
meu carro, para o esclarecimento do possível motivo de uma quadrilha com uma
metralhadora ter aparecido na frente de um hospital e alvejado o meu carro, depois
fugido. Lívia veio comigo insistente.
— Eu sinto muito pelo seu carro, Gael.
— Ele ainda está funcionando. E o que importa é que você está bem.
Ela segura a minha mão, ajeita-se na cadeira da DP e deita a cabeça cheirosa
no meu ombro.
— Não diga a verdade para o delegado, por favor, eu estou com medo. Não
diga... — Lívia sussurra bem baixinho.
Fico sem acreditar no que me pede.
— Aquilo foi um aviso. Sua vida está por um trisco de não existir —
resmungo irritado.
— Por favor, Gael. Ele só quer que eu o pague. E vou dar um jeito, eu
consigo. Não vamos meter a polícia, pode ser pior. Você não conhece o agiota.
Noto dois policiais nos observando atentos.
— Se não resolveu até hoje, como vai conseguir agora, neste exato
momento, dinheiro para pagar eles?
Ela me olha e cala-se, abaixando o pescoço e desviando os olhos
autoritários.
— Não tem, não é mesmo?
— Por favor, Gael... não diga sobre ele. É só o que eu te peço.
Já puto com tudo o que está acontecendo, eu fecho a boca e aguardo ser
chamado para conversar com o delegado. E assim que sou, eu me levanto muito
nervoso, sem olhar para trás.

Minhas mãos soam tensas. Gael parece demorar uma eternidade dentro
daquela sala. Sinto medo de também ser chamada para ser ouvida e falar tudo ao
contrário dele. Meu Deus, ele não pode de jeito nenhum dizer o que está
acontecendo. Vítor é um bandido, um agiota criminoso. Meter a polícia é o fim da
minha vida de verdade.
Não sei se para o meu alívio ou para o meu disparato desespero, mas Gael
finalmente sai de lá de dentro e vem caminhando rígido até mim. Eu me levanto
acelerada, respirando fundo. Ele para e olha-me.
— Então?
— Vamos embora.
Ele passa a mão no rosto e espera que o acompanhe.
— O que você disse? Fala alguma coisa!
— Como podemos entrar em contato com esse agiota?
— O-o quê? — Eu paro na saída da delegacia, de olhos esbugalhados.
— Não se preocupe, para o seu alívio, eu disse que não devia nada a
ninguém e que nunca tive inimigos. E realmente não tenho. Também que eu não
sabia o motivo de terem alvejado a minha caminhonete. Agora me diga como
podemos entrar em contato com esse agiota?
— Está louco? Por quê?
Sem me responder, ele olha para os lado e vê a sua caminhonete furada pelas
laterais da porta.
— Melhor irmos.
Adiante, pega ligeiro na minha mão e me faz entrar no veículo para irmos
para um outro lugar mais seguro – um hotel qualquer que ele encontrou.
Depois de fazer o check-in e nos hospedar no quarto, finalmente me dou
conta do tamanho nervosismo que me encontro.
— Entre em contato com esse cara — ele pega o telefone ao lado do sofá e
estende-me.
— O que está pensando? Não se meta nisso!
— Eu já estou metido, porra! Agora ligue para esse filho da mãe e diga que
você tem o dinheiro para pagar ele!
— Eu não tenho todo o dinheiro, apenas oitenta mil. E o que lhe devo é
duzentos mil, ou duzentos e cinquenta por causa dos juros.
— Ligue, Lívia. Eu vou pagar o restante!
Abro a boca, negando inconformada.
— Ligue, é melhor você dever a mim do que para um agiota que está
tentando tirar a sua vida!
— Eu não quero que faça isso! É inadmissível! Está indo longe demais!
— Não pense que eu não irei cobrar — ele fala muito sério e bravo. —
Agora ligue e o avise!
Que merda!
Nervosa e sem saída, pego a minha bolsa para caçar o telefone dele nos
contatos do celular. Adiante ligo, seguindo o certo.
— Estava demorando, Srta. Castellano. É sempre assim, só depois que
coloco os meus caras para agirem que os devedores começam a entender que vão
pagar com a única coisa que lhe restam, a sua miserável vida.
— Eu tenho o dinheiro, Vitor — olho para o Gael.
— Certamente que tem. Foi até mais rápido do que eu imaginei. Pois bem,
quero 300 mil. Não ache que eu esqueci daquele tiro na minha perna. Por sua
culpa, ainda estou de recuperação.
— 300 mil? Está louco? Eu não posso, eu não tenho!
Gael morde o maxilar e chega mais perto de mim.
— Sua família é podre de rica, caralho! Você tem quatro dias para me
arrumar esse dinheiro e eu te deixar em paz. Caso contrário, seus pais não terão
nem o corpo da filha vadia para velarem! Entre em contato até terça, ou te
executarei!
Ele desliga e com raiva, eu taco o meu celular com força na cama.
— Retorne a ele, eu vou sacar os trezentos mil agora.
Sentindo-me humilhada, derrotada e na miséria, nego veemente com a
cabeça.
— Não quero que se sacrifique por mim. Eu não quero, Gael. Isso é pior do
que ter esse agiota me ameaçando.
Muito puto, ele me agarra veloz pela cintura. Não tenho nem chances de
impor.
— Pior? Larga de ser orgulhosa! É a sua vida que está em risco! Eu vou até
o banco, enquanto isso, ligue novamente para o agiota e marque o lugar de
pagarmos! Entendeu, Lívia? Eu que estou mandando agora, pois também estou
tentando te salvar para poder recomeçar sem ter alguém te ameaçando com uma
arma na cara. Para de teimosia!
Não falo nada, mantenho-me parada, mas lutando com o meu consciente
para aceitar que Gael tem razão... e ele sempre tem. Ele sempre quer me ajudar, me
aconselhar e mesmo sabendo que eu sou uma infeliz, hoje se dispõem a se sacrificar
por mim e pela minha vida cretina.
Não tenho escolha. Não tenho o direito de contrariá-lo devido ao meu ego
ferido. E ok, ao orgulho.
— Já volto! — Gael, então, me solta, pega a chave do carro e rapidamente,
vira as costas para sair batendo a porta.
Mesmo ontem, eu abrindo o meu coração, os meus sentimentos e sendo
sincero, Kia não deixou que eu passasse do beijo. E por mais que estivéssemos
explodindo de tesão e com vontade de transar, ela lutou contra isso e afastou-me.
Porra, quase enlouqueci. Mas me controlei e decidi ir dormir no quarto de hóspede.
Já que não ia ficar na mesma cama que ela, com o meu pau latejando para penetrá-la
e as mãos coçando para acariciar o seu corpo macio. E por mais que a minha outra
cabeça discordasse, foi o correto. Além de que eu poderia me vingar daquele
vibrador desgraçado e estragar o nosso momento sincero ontem. Realmente eu fui
verdadeiro. Eu amo a minha mulher. Eu amo a sua voz, a sua pele, o seu toque, o
seu perfume, os seus olhos; seu inteiro por dentro e por fora. Eu faço qualquer coisa
para vê-la feliz. O que importa hoje é o presente e o futuro com a Kia e os nossos
filhos.
A única coisa que eu busco realmente do passado é as lembranças saudáveis
com o meu pai. O resto são marcas e cicatrizes para eu sempre dar valor a vida e a
família.
— Anton? Está ocupado? — Kiara abre a porta do meu escritório.
Eu afasto a foto do meu pai do centro da mesa e ergo a cabeça para lhe dar
atenção. No entanto, vejo-a pulando com dificuldade – ainda não se adaptou as
novas muletas. Levanto-me aborrecido por desobedecer às minhas ordens. Vou
ajudá-la com as muletas.
— O que eu disse sobre ficar mancando, Kiara?
— Eu não estou mancando sem apoio. Você está vendo.
Chego perto dela e abraço-a em mim. E quer saber? Não faço questão de dar
mais nenhum passo. Mantenho-a assim no meu peito; calor com calor. Beijo o topo
dos seus cabelos, respirando o seu aroma agradável.
— Eu... — ela suspira e rende-se a minha enorme força que a pressiona
protetor. — Ontem, você não quis dormir na nossa cama... mesmo eu dizendo que
estava tudo bem.
— Não ouse, Kiara! Você sabe como eu me encontro!
— Eu sei...
Sou obrigado a soltá-la para não a foder no sofá, na parede, no chão, na mesa
e até no teto.
— Estou te respeitando.
— Fora de suas vontades predatórias. Mas, ok — dou de ombros –, não vim
falar da greve sexual do nosso casamento. Nem dos problemas. Quero falar sobre a
plantação de flores na terra do meu pai. Pode colocar o plano em ação. Sinto-me
quase pronta.
Arqueio a sobrancelha.
— Certeza? Terá muita responsabilidade.
— Estou com medo... confesso. Não tenho seus estudos administrativos.
Não tenho faculdade e nem terminei o básico sequer. E se eu fracassar? Qualquer
coisa que envolva o sobrenome Dexter sai na primeira capa dos jornais.
— Meu pai não tinha estudos direito, nem mesmo havia completado o
ensino médio. E olha para tudo o que ele conquistou e construiu. Se tornou um
homem milionário devido a sua inteligência, persistência e força de vontade. Sem
falar dos dias de luta, cheio de calos nas mãos. E sobre a imprensa, deixem que
falem. São tudo fofoqueiros que vivem da vida alheia.
Kia sorri doce para mim, sinto vontade de beijá-la. Meu corpo se aquece,
minha calça torna-se apertada. Então toco no seu rosto macio, pigmentado de
sardinhas marrom claro. Ela é perfeita. A amo mais do que tudo no mundo. Eu nasci
para ser dela e ela nasceu para ser minha. Nossos corpos se encaixam, nossos lábios
se completam. Somos um só. Únicos.
Ela me olha com os seus olhos azuis, cor do céu. Acaricio o seu queixo,
admirando os seus longos cílios piscarem calmos e elegantes.
— Não é bom que esteja perto de mim. Você sabe o meu gênero faminto,
amor... — minha fala sai excitada.

Eu sei que estou infernizando o Anton com a minha presença, assim como
ele está fazendo ao me tocar na extensão do rosto. Já desisti do controle, ele não faz
ideia de que depois de ontem, se ele avançar de novo, eu não resistirei. Me
entregarei por completo.
Também sei que aprendeu a sua lição de não me esconder mais nada. E meu
coração está mais leve. Seu pedido de perdão ontem foi muito sincero.
Como eu sei?
Por mais que o tesão a flor da pele estivesse enlouquecendo a sua cabeça a
fazer uma loucura – assim como a minha –, ele lutou com a razão. Preferiu não
passar a noite ao meu lado e consumir o sexo. Apenas para não estragar as suas
palavras verdadeiras e confessas. Ele quis demonstrar em forma de respeito que
estava honrando o que disse com todo o sentimento. Afinal, ele seria um animal
bruto ao nos satisfazer. Sem falar que vingaria o vibrador que achou escondido.
Com certeza, ainda vou pagar por isso. Eu conheço esse homem, o conheço muito
bem. Ele é bárbaro, cruel, maligno, áspero e sabe controlar o seu caos para explodir
na hora certa. O Anton mesmo já confessou isso uma vez.
Decido deixá-lo em paz com o seu trabalho no escritório (para o bem dos
dois), já que o Gael não se encontra, ele tem deveres redobrados. Esta manhã já
estudei, brinquei com as crianças e fiz tudo o que estava ao meu alcance. Mais tarde,
fiquei no closet do meu quarto, recebendo a ajuda da minha mãe para separar todas
a joias que mandarei para o polimento, exceto as do cofre.
Gieber está lá na cama brincando com os seus soldadinhos e Melina está no
berço tirando a sua sonequinha sagrada.
— Querida, está faltando o par destes brincos? — Mamãe ergue a joia em
questão.
Eu fico sem entender, os pares deviam estar juntos no porta joias da gaveta.
Nunca os separo.
— Deixa reservado, devem estar no meio dos colares ou das pulseiras.
No entanto, após separar tudo, eles não estavam. Além disso, senti falta de
três pulseiras, dois pares de brincos (contando o par desaparecido) e dois colares.
Fico mais confusa, sem compreender onde foram parar.
— Kia, você tem certeza de que estavam aqui? Olhe no cofre.
— Sim, mãe. As joias que ficam na gaveta são de uso diário. As do cofre são
as mais caras e raras. As uso em eventos importantíssimos. Na maioria das vezes,
quando acompanho o Anton na cidade. Por isso não é sempre que o abro.
— Essas dos portas joias da gaveta não são de tanto valor então?
— Claro que são, e muito. Tem algumas que chegam a mais de vinte mil
reais, devido às quantidades de pontos dos diamantes. As do cofre é cinquenta mil
para cima.
— Meu Deus, filha! Não importa, são todas caríssimas! Por mais que são de
uso diário, não devia deixar dentro de uma gaveta como essa, sem tranca e sem
chave! — Mamãe exclama advertida. — Tem realmente certeza das joias que estão
faltando?
— Sim, sim, tenho certeza. Conferi mais de mil vezes. Infelizmente, não
quero acreditar que alguém as tenha roubado dentro da minha casa, no meu closet e
sobre a minha presença. E não quero acreditar que tenha sido uma das minhas
empregadas.
— Eu sinto muito. Também não queria desconfiar das meninas. Porém, tudo
é possível. Você terá que reunir as empregadas e agir como a senhora Dexter que é.
Sônia, Joana, Manu e Felícia são as únicas que tem liberdade de ir e vir nos
cômodos de toda a mansão. Mas desculpa, a Felícia seria a última a me deixar
desconfiada.
— Ela, eu igualmente descarto. Felícia é como uma segunda mãe. E ela tem
quase dez anos de permanência aqui. Confio na minha governanta de olhos
fechados. Só que as meninas... — aspiro triste. — Ah, mãe, isso vai ser tão
complicado.
Torço para que a Sônia não tenha feito tal maldade. Por mais que eu não
ache que ela tenha feito (pois está presa a mim com o seu segredo), tudo é possível –
como a minha mãe mesmo disse. Já Joana e Manu são muito quietas, reservadas e
respondem aquilo que lhe são ordenadas. Precisarei reunir todas, sem exceção.
Uma hora depois, converso com o Anton sobre o desaparecimento das joias
– o que me arrependi amargamente. Ele ficou furioso e chegou a recordar de que
também não achou o relógio que havia deixado em cima da escrivaninha do nosso
quarto. Não consegui proferir mais nada. Ele chamou a Felícia e ordenou que ela
reunisse imediatamente todas as empregadas na sala.
Seus olhos cospem autoridade.
— Acho que eu devia resolver isso. Eu sou a dona da casa. Cuido de todos
os detalhes domésticos, contando com as meninas.
— Estamos falando de um roubo, Kiara! Dentro da nossa própria casa! Eu
não vou tolerar!
— Mas...
— Não tem “mas”! Isso não é detalhe doméstico!
Outra vez, eu não pude contestá-lo, ou impedi-lo de tomar as suas decisões.
E na sala, encontramos todas as nossas empregadas de cabeça baixa, uma ao
lado da outra. São 18h30 da tarde, hora de apenas se ocuparem das coisas na
cozinha. Em seguida, descansar.
Felícia me olha sem entender o que está acontecendo. Eu dou um meio
sorriso para ela, como que se dizendo "fique calma". Maria também se encontra
nervosa. As meninas, contando com a Ester, filha da Felícia, estão olhando para o
chão. Sônia morde as unhas dos dedos, tremendo. Meu coração fica apertado por vê-
la tão ansiosa e com os olhos brilhando de pavor.
— Humrum! — Anton pigarreia rígido, com um olhar horrível, de dar
calafrios.
Estou do lado da mamãe, segurando-me no seu braço para me equilibrar em
pé.
Todas as meninas engolem em seco e erguem o pescoço para encará-lo.
Posso sentir o ar de nervosismo delas e o medo daqui. Gostaria de que isso não
estivesse acontecendo. Me apeguei a Joana, a Manu e principalmente a minha
querida Sônia. Ester também é uma boa pessoa, a conheço desde que me tornei Sra.
Dexter e vim morar na mansão. E ela nunca deu problemas. É uma menina
exemplar.
— Pedi para que a Felícia reunisse todas vocês aqui para conversarmos
sobre o que anda acontecendo. E serei direto! — Anton declara ríspido, realmente
com o seu ar imperial de que não vai tolerar nada, nem ninguém. — Hoje a minha
esposa sentiu a falta de sete joias de muito valor. Eu, há algumas semanas, de um
relógio de ouro. E esses pertences estimados com toda a certeza foram furtados
embaixo dos nossos olhos.
— Ah, meu Deus... — Felícia sussurra sobressaltada, levando a mão na
boca.
As meninas arregalam olhos e eu não desvio delas nem por um segundo.
Olho na feição de cada uma, mas encontro as mesmas reações de espanto.
— Não vou admitir acontecimentos como esse na minha própria casa! Quero
que pela manhã a responsável compareça no meu escritório e confesse os fatos!
Igualmente entregue o que foi pego! Caso contrário, chamarei a autoridade da vila e
seus pertences serão revirados! Meus capatazes estão rondando a mansão. Ninguém
sai ou entra nos arredores — Anton termina o que tem a dizer e ergue a cabeça. —
Estão dispensadas, por enquanto!
Elas pedem licença e saem por pouco não correndo entre tropeços, numa
pequena fila. Exceto por Felícia e Maria. Elas ficam.
— Sinto muito, senhor Dexter — Maria fala com pesar, dirigindo-se sincera
a ele. — Sabe há quantos anos eu trabalho para a família Dexter. Sinto-me parte de
vocês. Nunca seria capaz de furtar algo de ninguém. Tenho o meu salário e a boa
pensão do meu filho. Se continuo aqui, é pelo amor e o carinho que sinto pelo
senhor e pela nossa adorável Kiara.
Anton respira fundo.
— Eu não sei nem o que dizer, Sr. Dexter e Sra. Dexter... tenho minha índole
e sou leal a vocês. Como Maria, vocês também são a minha família. Sinto muito.
Isso nunca aconteceu antes. Estou em choque. Além de Ester, minha filha, ela, da
mesma forma, jamais seria capaz de algo criminoso.
— Mas aconteceu — eu digo por fim, triste, não deixando que o Anton se
dirigisse talvez indelicado. — A gente pede que nos ajudem. Que conversem com as
meninas e investiguem o que houve. Realmente as joias foram... furtadas — as
palavras me deixam encolhida. — Estava separando essa tarde as peças valorosas
com a minha mãe, para todas serem polidas, e senti falta de sete. Me desculpem.
— Não se desculpe. Compreendemos, Kia. Isso é inadmissível. Os
ajudaremos com a cabeça limpa. Se houve um roubo, o responsável também existe.
Eu e Maria pedimos licença, Sr. Anton... Kia... Judite. Ainda há o jantar para
cuidarmos.
Assentimos e elas se retiram cabisbaixas.
Mamãe aperta a minha mão.
— Anton fez o certo, filha. Só não duvido da Maria e nem da Felícia. Eu
gosto muito delas. Além de que faz quantos anos que estão aqui?
— Maria há mais de trinta anos e Felícia, dez — Anton responde pensativo.
Não parece tão furioso. — E a responsável não vai aparecer amanhã. Duvido. Já
deixarei em alerta o Laerte para estar bem cedo na fazenda. — Ele se vira para mim,
me fitando. — Quer que eu te leve para cima, Kiara? E onde estão as crianças?
— Mãe? — De repente, olho-a meio arregalada.
— Ah, Senhor Pai! É mesmo, Gieber ficou sozinho no quarto! — Mamãe
exclama, passando-me para o Dexter me segurar. — Deixei só por quinze minutos e
deve estar passando giz até no teto! Já volto com o bagunceiro e a Melina.
— A babá eletrônica não fez som. Pode deixá-la dormir mais um pouquinho.
E o Gieber coloca para brincar no chão.
Mamãe concorda e sai toda civilizada para os degraus da escada.
Anton se senta na poltrona branca, puxando-me e acomodando sobre o seu
colo.
Não o contesto ou me afasto. Eu apoio a cabeça no seu ombro e ficamos
assim por muito tempo. Calados, ouvindo um a respiração do outro. Mas isso... até
ele tocar na minha coxa, no meu braço, no meu pescoço e de repente, segurar a
minha cabeça e me beijar nada delicado. É como que se buscasse reabastecer suas
forças em mim.
O que me enfraquece...
— Anton... — sussurro, chamando-o ofegante.
Ele aperta mais forte a minha perna e olha-me. Mordo o lábio inferior,
acariciando o seu cabelo castanho sem o chapéu do dia a dia, que o deixa só mais
poderoso.
Anton me fita excitado. Seus batimentos estão incrivelmente intensos. Ele
aproxima a boca da minha bochecha e a lambe, umedecendo-me com a língua.
— Dexter...
— O que foi, amor? — só para provocar, ele pergunta rouco, pertinho do
meu ouvido.
— Isso não é momento adequado. Me leva para o... — De repente, eu arfo
com o beliscão que ele me dá na bunda.
— Para onde? — pergunta de novo, agora passando a mão por trás das
minhas coxas lisas e entre elas.
Arrepio-me excitada.
— Para a nossa cama, para eu saborear cada pedaço do seu corpo com a
boca?
— Lembro-me de que você disse que ia esperar até quarta-feira. Que ia me
respeitar — falo de propósito, só para provocá-lo.
— E você quer esperar até quarta? — ele desliza numa fração de segundos o
dedão por cima dos meus lábios úmidos. E fico querendo mais. — Diz, amor?
Eu fecho os olhos, sem ar.
— Não mesmo, eu não vou esperar nem mais um dia — ansiosa, empurro de
uma vez a sua mão para de encontro com a minha calcinha.
Anton sorri e aperta o meu sexo. Com o dedo médio, ele pressiona o clitóris,
abrindo os lábios da vagina pulsante, para deixar os seus dedos bem molhadinhos
nela.
Choramingo de dor e de tesão. Meu clítoris lateja sem parar.
Seu toque me faz tremer enfraquecida. Sinto que posso cair do seu colo.
— Estou com o pau petrificado, dona Kiara. Sou eu quem preciso de você.
Mas vamos resolver os nossos atrasos das duas semanas, um de cada vez.
— Por favor, seja bonzinho comigo...
— Serei — ele segura o meu pescoço, raspa a sua barba por fazer na minha
pele sensível e me beija maldoso, devorando os meus beiços e a minha língua
cálida.
Que safado...
O beijo só prova o quanto está mentindo. E tenho mais certeza disso quando
ele me pega rápido nos braços e leva-me para a segunda sala da mansão (a de chá).
— As empregadas podem nos ouvir...
— Foda-se quem pode nos ouvir! Estou na minha casa, louco para devorar a
minha mulher! E isso que importa!
Ele fecha a porta de correr, liga a luz e me coloca bruto em cima da mesinha,
perto do sofá. Abro mais as pernas para ele, incitando o tecido do vestido a se
amontoar na pélvis.

Enlouqueço com a visão da Kia amolecida da cabeças aos pés. Ela segura
nos meus ombros largos, fitando-me com a sua imensidão azul. Fico sem fôlego. Ela
mexe a cabeça e dois cachos loiros caem sobre a sua face, deixando-me mais sem
fôlego ainda. A alça fina do vestido escorrega para baixo, induzindo a minha visão
aos seus seios fartos, que preciso devorar com urgência.
Porra, meu membro e minhas bolas vão ficar roxas de tanto que latejam.
— Kiara, Kiara! — rosno, pegando os seus dedos e esfregando na minha
ereção dura na calça.
— Amor... — geme atordoada, arquejante.
Eu mordo o seu pescoço, provocando a perder mais as forças e empurro-a
para trás, sem me importar com o vaso se espatifando em mil pedaços no chão –
igualmente rasgo o vestido do seu corpo com uma brutalidade descomunal. Adiante
esgarço a lingerie do buço, tomo os seus cabelos e desço os lábios para os seus
peitos, para mamá-los feito um louco num frenesi descontrolado. Eles são lindos, os
bicos são pequenos, duros e bem rosadinhos. Além de cheios e empinados.
Kiara reprime o grito, contorcendo-se angustiada pelo prazer, também pelo
roçar do meu pau empedrado, que esfrego na sua virilha, enquanto a sugo nos
mamilos e acaricio a sua bucetinha por cima da calcinha já ensopada.
— Anton... Ohh, céus... — Kia geme.
Vejo que vai explodir.
Ela finca as unhas afiadas nos meus bíceps e desliza para trás, quase caindo.
Sorrio sobre os seus peitos saborosos, segurando-a e deliciando-me com a sua feição
de êxtase pelo orgasmos que despeja igual mel.
Porra, deliciosa... Não vou conseguir me segurar mais. Preciso estar dentro
dela ou morrerei de ereção.
Eu dou outra lambida nos seus mamilos, então a ergo para jogá-la no sofá.
Kia cai de costas, olhando-me ofegante. Eu continuo de pé, arrancando as peças de
roupa. Até dar a visão que ela ama, ao mesmo tempo, envergonha-se. Suas
bochechas coram "inocentemente".
Como é linda. Como é tudo o que eu mais amo nesse mundo.
— Saudades de todas as noites que poderia tê-lo duro entre as suas
pernas, querida? — Massageio o meu membro enrijecido, exalando excitação e
fluído pré-ejaculatório.
Ela aperta as coxas, de boca aberta. Não conseguiu proferir um A.
Ótimo. Isso só me deixou mais obstinado.
Aproximo-me dela, tocando-a os pés, as laterais das pernas, as coxas, por
fim, parando nas alças finas da sua calcinha de seda... e puxo para baixo o tecido
macio – numa lentidão que nem eu sei de onde tirei. Fico a olhando. A vista loirinha
da sua nudez é coisa mais bela que existe. E só eu tenho o privilégio de vê-la assim.
Kia é só minha, sempre foi. E sou o único para ela; desde lhe beijar, lhe tirar a
virgindade, lhe ensinar prazeres, malícias, sacanagens, só eu.
Assim para todo sempre será.
Não imagino mais a minha vida sem essa boneca perfeita. Sem ela, eu não
sou um homem de verdade.
— Anton... — ela resmunga necessitada.
Inclino o corpo e deito-me, sustentando o peso para não a amassar.
— Estou tão louco para te foder.
Desço a mão para a sua buceta. Kia contrai a barriga. Sinto o seu hálito doce
no meu rosto.
— Estou sendo bonzinho?
Afago os pelos pubianos, na medida que escorrego para a sua fenda inchada
e muito, muito encharcada. Até palpitou sobre o meu toque.
— Ahh... você está surpreendente...
Ela também desce as mãos para as minhas costas, atiçando-me. E vai até a
minha bunda, pressionar-me forte. Cacete. Adiante, volta ao meu peito e explora a
região do meu abdômen... seguindo também o caminho dos pelos da minha barriga.
— Porra, Kiara...
— Eu te amo — sussurra, enchendo o meu rosto de beijos delicados. — Eu
te amo, meu amor — repete a sua declaração, agora apertando o meu pênis.
Eu a paro de imediato e ergo os seus quadris para o meu pau ficar de
encontro a sua entrada apertada.
— Eu também te amo, minha doce menina, sou louco por você.
Dou uma mordida dolorosa nas suas aréolas que expelem leite materno e
penetro só a cabeça.
Kiara arfa na minha boca. Então a beijo, penetrando, desta vez, todo, até não
sobrar um centímetro de pau sequer.
Ela, no mesmo instante, curva as costas, força a cabeça contra o sofá e geme
o meu nome.
Eu estreito os olhos, com o coração acelerado... em seguida começo a
investir cheio de tesão.
— Oh, Anton... mais! — pede ao entrelaçar as pernas no meu quadril para
acompanhar desesperada os movimentos.
Eu seguro os seus cabelos loiros, enfiando-me em seu pescoço, para assim a
bombardear sem dó.
Kiara não para de gemer alto, arranhando-me a pele dos ombros, até que ela
goza de tamanho prazer.
Igualmente, em menos de poucos minutos, eu explodo dentro dela,
ejaculando com força.
Kia trêmula. Suas pernas enfraquecem. Eu caio sobre ela, bafejando nossa
respiração acelerada.
— Isso... isso foi maravilhoso — sussurra.
Tento me erguer para não a amassar, só que ela me mantém na mesma
posição.
— Kia, eu vou te espremer.
— Não, fica assim, eu quero sentir todo o seu peso.
— Você é pequena — me sustento com os cotovelos, ficando cara a cara
com a sua face linda.
Noto que os seus cabelos estão bagunçados de uma forma bem sensual. Já eu
percebo os meus grudados na testa, de tamanho calor que transpiro.
— E você é enorme, forte. Sinto-me protegida — ela apalpa carinhosa os
meus músculos e beija-me.
Mordisco a sua boca, elevando o rosto para lançar um sorriso que a arrepia.
Nossos olhos ainda queimam desejo. Principalmente o meu.
Essa foda só está começando...
— E você é só meu...
— É claro que eu sou só seu... — Passo a língua nos seus lábios inchados e
chego bem perto da sua orelha. — Meu corpo... meu pau — esfrego-me nela. —
Assim como a sua bucetinha — toco-a com o dedão —, a sua bunda redonda —
escorrego a mão para as laterais da sua anca avantajada — e esses peitos fartos —
os aperto com prazer — são meus. Você é todinha minha.
— Anton...
Volto só para olhá-la corar. Ela ruboriza com a maior facilidade do mundo.
Como amo isso. Olha que estamos casados praticamente há sete anos. Mas
Kia é sempre inocente as minhas safadezas proferidas em seus ouvidos.
— É agora que vira um ser cruel...?
Sorrio e saio com cuidado de cima dela.
— Se levanta, dona Kiara.
Kia suspira e levanta-se devagar. Ao ficar de pé, viro-a de costas para mim.
— Você vai se vingar? Do... do vibrador? — gagueja pela enconchada que a
dou no rego.
— Shhh — espremo a sua boca, calando-a. — Estou pensando se te fodo de
quatro ou te faço sentar no meu colo. O que opina?
— Hummm — Kiara rebola na minha ereção.
Droga, que gostoso.
— Acho que de quatro é melhor para te dar umas cintadas. O que acha?
— Nãa...
— O que disse?
— Nãaa — ela resmunga entre os meus dedos, quase me mordendo brava.
Sorrio e empurro-a no sofá, para ela ficar de joelhos no estofado e apoiada
com os braços no encosto das costas.
— Como é gostosa.
Cato feroz os seus cabelos cacheados e beijo-a na nuca. Minha outra mão
belisca o seu traseiro empinado. Kia geme de dor.
— Eu vou me vingar... Você vai ver, Dexter.
— Mais do que fez nessas últimas semanas?
— Mais! Muito mais!
— Humm... veremos — após as minhas palavras, eu dou um tapão na bunda
dela. Kiara grita, arqueando-se para frente.
E sem medir escrúpulos, eu me ajoelho para penetrá-la a língua e fazer um
oral maravilhoso – torturante. Depois apertei, sem descanso, o seu traseiro branco,
que sou obcecado – ainda me esfreguei nessa beldade, antes de mergulhar até as
bolas.
Mesmo não querendo fazer isso. Mesmo não querendo que o Gael me
ajudasse, eu não tive escolha. Com as mãos trêmulas, retornei para o Vitor. Ele
atendeu na terceira chamada. E com o seu ar maldoso disse que sabia que eu ligaria
o quanto antes, só que não imaginava o tão antes. Ele marcou de encontrá-lo no
próprio estacionamento do hotel onde estamos. Em seguida, desligou na minha cara.
Fiquei pasma. Não acreditei que ele sabia onde me achar.
Ainda tremendo, coloquei o celular sobre a mesinha de centro, me sentei no
sofá, apoiei os cotovelos nas coxas, levei as mãos no rosto e comecei a chorar. Não
consegui suportar a pressão. Tudo se explodiu na minha mente e no meu físico.
Soluço, apertando os cabelos no casco.
Tudo o que eu fiz foi ladeira abaixo. Meus sonhos, meus objetivos, minha
vida financeira. Eu perdi o controle de tudo. A sede de vingança, a vontade de ser
poderosa, reconhecida, nada importa agora. Isso não faz sentido nenhum. Nada faz
sentido!
O que eu sou de verdade? Sem a farsa de forte?
Um fracasso... é isso! Um total fracasso!
Eu sinto vergonha do Gael. Não queria que ele estivesse se sacrificando por
mim. Ele não tinha a obrigação de fazer isso pela mulher que só o decepciona.
Mas ele fez.
Droga, ele fez...
Em meio aos meus soluços e gemidos, eu tiro os saltos, ergo os pés do chão,
coloco a cabeça no apoio do sofá e fico olhando para os reflexos de sol que
atravessam as cortinas venezianas e iluminam o assoalho. Penso na felicidade e no
quanto eu sou infeliz. Não tenho ninguém. Sinto-me a menininha da mamãe e do
papai; indefesa, que, nessas horas de desespero, correria para os seus braços – tudo
em busca de socorro, de amparo.
Respiro fundo, fecho os olhos e perco a noção do tempo. Adormeço
chorando – e só me dou conta de que isso aconteceu quando sinto um toque
delicado na minha bochecha. Abro devagar as pálpebras, piscando os cílios várias
vezes e fito um par de azuis escuros, que se confundem com castanho.
Ele não sorri. Apenas percorre os dedos até os meus lábios. Eu arquejo sem
alegria.
— Gael... — então, sussurro o seu nome com uma grande vontade de
abraçá-lo. — Gael... — repito de novo, entrelaçando a minha mão na sua. — Ah,
Gael... — volto a chorar, sem parar de chamá-lo.
Ele pega no meu queixo, ergue o meu corpo e senta-se na beirada do sofá.
— Desculpe-me por te fazer...
— Shhh — ele me surpreende ao aproximar nossa testa e beijar o canto da
minha boca.
— Eu sou uma fútil metida, você tem razão. Você sempre tem razão.
Gael pega delicado na minha cabeça.
— Faça uma promessa para mim, Lívia. Olhe nos meus olhos e faça.
Eu aperto os ombros dele, sem entender.
— Não sei o que eu poderia te prometer.
Gael não fala mais nada. Ele simplesmente toca na minha cintura com posse
e avança com os seus lábios poderosos sobre os meus. Ele é faminto, doce,
apaixonante. Eu gemo, abraçando os seus cabelos e retribuindo o beijo cheio de
sentimentos ocultos.
Sua língua varre cada pedacinho existente dentro de mim. Sinto-me fora
deste mundo. Só existe o seu hálito, a sua saliva e os nossos movimentos de face.
Ele é maravilhoso.
— Caipira... — toco na sua barba por fazer.
Ele mordisca os meus beiços e eu passo a língua na língua dele.
É notório que o beijo aqueceu tudo entre nós.
Céus, eu sou louca por esse homem. Eu não só gosto dele. Eu sei. Tudo em
mim sabe disso.
Subo no seu colo, arquejando. Gael aperta a minha bunda, deslizando pelas
minhas costas, os quadris, as coxas e os seios. As suas mãos parecem estar em todos
os cantos certos que eu necessito sentir.
— Faça a promessa, Lívia — de repente, ele cata os meus fios negros com
força, afasta a minha boca da sua e me dá um olhar arrepiante.
Ofego em cima dele. Meus seios sobem e descem, acompanhando a
recuperação do oxigênio. Gael se opõe, desarmando-me olho a olho.
— Não sei o que te prometer. Você não disse.
Ele chega perto do meu pescoço e lambe a extensão de pele até o lóbulo da
orelha.
— Seja minha... — sussurra rouco.
Abro a boca e ele me beija.
— Seja minha, Lívia Castellano. Quero te ajudar, te proteger. Quero ser algo
bom na sua vida. Quero... amar você.
Fico surpreendida, sem palavras.
Ele quer me amar?
Eu nunca fui amada.
Aperto os olhos, evitando as lágrimas traiçoeiras.
— Você sabe o que é o amor? — Olho-o triste.
— Podemos aprender juntos — ele solta o meu rosto e alisa a minha
bochecha. — Podemos ser felizes. Você pode ser feliz. E aprender que a felicidade
não é só o dinheiro, nem nada dessas bobagens carnais da classe alta. Arrisque-se,
nem que seja necessário descer do pedestal. O que tem mais a perder, Lívia?
— Nada... eu não tenho mais nada a perder. A merda da vida já me tirou
tudo.
— Não, a vida quer te dar mais do que imagina. Olhe para você. Não é tarde
para recomeçar. Nem que seja diferente.
— A gente é diferente. Você odeia a cidade e eu gosto de estar aqui. Você
gosta de uma vida pacata, enquanto eu... eu gosto de estar em meio as festas de luxo
movimentadas. De fazer parte de tudo isso. Sem falar da minha profissão. Ela se
encontra na capital, no meio do calor das pessoas, onde nasci e fui criada.
Gael me observa quieto. Sua feição de silêncio me dói.
— Mas eu gosto muito de você, meu caipira. Eu gosto tanto que não sei
explicar — o abraço com desespero, com medo dele desistir do que disse. —
Quando estou ao seu lado, me sinto outra pessoa. Você me faz bem. É um homem
perfeito. É tudo o que eu não mereço.
Meu peito se aperta. Eu não preciso prometer nada, já sou dele. Gael me
tem. Só que... eu não sei. É tudo complicado. Não consigo nos ver juntos numa
relação.
— Você merece ser feliz, Lívia. E estou disposto a te ajudar a ser alguém
melhor. Não melhor comigo ou com as outras pessoas. Há algo que está te
destruindo pouco a pouco. E tem consciência do que é.
— Eu sei. A gente sabe — o fito penalizada. — O que vai fazer por mim
hoje é a maior demonstração de suas palavras. Eu estou sem capital, não sei como te
pagar tudo isso. E jamais pediria para o meu pai, quanto mais para a minha mãe. Me
sentiria ainda mais humilhada e fracassada, principalmente pelo meu pai que tanto
me apoiou. Não sou uma interesseira, nem uma mesquinha, patricinha, sei lá. Se eu
fosse, eu estaria a tempos instalada na mansão de um quarteirão deles, cheia de
empregados ao meu dispor. Com a vida ganha. Contudo... não sou assim. Sem falar
que tem a minha mãe e o amor dela que — aperto os olhos, já farta de tudo.
— Ei, Lívia...
— Minha mãe me sufoca. Eu a odeio por me fazer ser uma boneca
controlável, sem perspectivas. É tudo culpa dela!
— Você não é assim. Nunca te vi controlável, nem nos meus sonhos.
— Eu era, você acha que eu seria cúmplice dos planos da Lorenza sem a
influência da minha mãe? — Sorrio desprezível. — Ela não tem orgulho de mim.
Nem na minha formatura foi. Tudo por raiva de eu ter seguido odontologia, em vez
de moda ou modelagem, o que ela gostaria. Só meu pai ficou ao meu lado. Mas eu
venci ela. Eu fiz o que eu queria. No entanto, foi só uma pequena guerra ganha.
Continuei sendo orquestrada. Até o meu casamento teve dedo seu e ameaças. "Ou
eu me casava, ou ninguém pisava um pé sequer na minha clínica". Então eu me
casei sobre pressão. Só que por Deus! Fiz um inferno na vida dela. A traí pela
primeira vez. Se a intenção era se exibir com a sua filha, esposa do herdeiro do
banco Nasca, se arrependeu amargamente. Tomei a frente de todos os eventos
cobiçados no brasil, onde envolvia só os magnatas.
Gael me ouve calado, sem desviar de mim.
— E quando defendi o Dexter e a Kia, no caso da Lorenza, foi outra traição.
Ela espalhou pelos jornais de Montes do Sol que eu era uma interesseira, uma vadia
que se deitava com qualquer homem rico. Tudo isso achando que me arrependeria
pela vergonha e voltaria feito uma coitadinha para os seus braços controladores. Eu
a odeio! A odeio com todas as minhas forças! Nada do que eu faça ou fizer por
vontade própria vai estar bom para ela. Somente se eu fizer o que ela quer!
Seguro as lágrimas. E por fim, Gael me aperta forte no seu corpo.
Aconchego-me no seu ombro.
— Você não está sozinha, Lívia. A compreendo. Acho que te compreendo
mais do que você mesma. Sua mãe... — sinto-o ranger os dentes — Tem pessoas
que não nascem para ser mães. E a sua é péssima. Que Deus não me coloque no
caminho dessa senhora de novo. Olhe para mim — ele ergue o meu queixo. — Você
é uma grande mulher. Adulta, formada, inteligente e que pode, com certeza,
dominar qualquer bandido com a sua autoridade e esse olhar de leoa.
Eu sorrio emocionada pela sua declaração.
— Pense que há certas vinganças que não valem a pena. E a sua de tentar ser
poderosa, reconhecida, não é as suas perspectivas reais. É só a sua mãe ainda
dominando a sua vida. A prova é a sua profissão, a qual me diz tanto. Você ama
fazer isso, não ama? — Assinto. — E como disse, foi uma guerra ganha, onde se
sobressaiu. Ou seja, ser você mesma, correr atrás do que realmente te faz bem e te
deixa feliz é vencer a sua mãe. Pense nisso. Busque as realizações que te importam
de verdade.
Abaixo os olhos e ele me dá um selinho.
— Vamos resolver o que é mais importante agora. E que coloca a sua vida
em risco. Você ligou para o agiota?
— Sim... e ele disse que pegaria o dinheiro onde estamos, às 13h da tarde. E
no estacionamento do hotel.
— Como ele sabia onde nos encontrar?
— Eu não sei. Não faço a mínima ideia. Creio que nos seguiu com os seus
comparsas.
Gael suspira nervoso, muito tenso.
— Que seja, vamos acabar com isso logo, para ambos termos paz.
Confirmo derrotada, sentindo-me acuada em suas mãos.
Antes de descer para o encontro, eu e a Lívia almoçamos a comida do hotel
sem a menor vontade. As garfadas foram engolidas a força.
Às 12h50, decidimos que era hora de irmos até a garagem, entrar no carro e
aguardar conforme o agiota coordenou por mensagem.
— Estou nervosa... — ela olha para a bolsa preta no meu colo, que contém
todo o dinheiro que saquei com o gerente. — Está se sacrificando, Gael. Do fundo
do meu coração, eu não gostaria que você estivesse fazendo isso. Juro que não
gostaria.
— Não é hora para arrependimentos. Além de que não pense que eu não irei
cobrar.
— Eu sei que vai... e deve — ela morde o lábio inferior e suspira nervosa. —
Obrigada — então, declara sincera, encarando os meus olhos.
Noto que ela não se esforça para se mascarar de forte. Nem tenta esconder os
seus sentimentos de angústia. Sente-se culpada e perdida em meio a sua vida.
Gostaria que a Lívia visse o quanto gosto dela. E como a quero para mim.
Ela está presente em todos os meus pensamentos. Não posso mais esconder a
verdade. Eu fico no ápice. Não resisto aos seus encantos, a sua beleza, a sua voz, o
seu toque, os seus olhos e os seus lábios beijáveis. Sem falar desse seu jeito mandão,
sedutor, autoritário, implacável e putamente controlador.
Lívia é uma arma ambulante.
Ela, agora, olha no fundo da minha alma. Tenho certeza de que também
sente o mesmo que eu. Vejo um brilho de emoção em suas íris verdes. É como que
se quisesse me abraçar bem forte e jamais me soltar. Eu sinto. Eu sei.
E não vou soltá-la.
Necessito de protegê-la, de estar com ela, de mostrar que não precisa se
sentir mais sozinha. Eu estou aqui. Eu a quero, eu posso fazê-la feliz. Longe dessa
ganância, dessa sede de vingança pela mãe e todo o resto. Basta largar de ser
orgulhosa e me dar uma chance.
Uma única chance. Posso mostrá-la uma outra realidade alegre, divertida,
companheira e mais ainda, de amor.
Eu realmente posso. Mas ela parece fugir disso. E por quê? Do que tem
medo? Não é possível que seja só orgulho. Acho que deve ter mais motivos.
Droga. Como entender a cabeça feminina? É praticamente impossível!
Ainda coloca Lívia e mulher na mesma frase; se torna mais impossível do que se
possa imaginar. Extraordinariamente impensável.
— Prometo sacar o dinheiro das joias que a Kiara comprou de mim e te
retornar.
Eu pego na mão dela, afagando-a sem dizer nada.
É claro que 300 mil é uma quantia muito boa para ser perdida. Equivale a
seis meses do meu trabalho. Todavia, se não relacionar a bens materiais, não é de ser
perdido em troca do salvamento de uma vida – a da Lívia. Ademais, estou
prendendo-a a mim. Não vou deixar que ela pense que não cobrarei. Claro que não.
Deve assumir os seus problemas e as suas dívidas. A diferença é que tem eu a quem
dever. Algo que pode estar a chocando com toda a certeza, além de estar afetando o
seu orgulho e a sua dignidade já ferida.
— Céus. São eles! — ela brada ao escutar o celular tocar.
Fico nervoso e inquieto. Lívia atende e descobre que eles já estão na
garagem. E não se passa nem um minuto e um carro preto para na lateral da
caminhonete.
Aguardamos apreensivos, até um homem bem alto e forte descer rápido ao
lado da minha porta.
— É o Vitor... — Lívia sussurra chocada, com os olhos arregalados nele.
O cara bate no meu vidro. Eu fico mais nervoso do que estava – de fúria.
— Abre, Gael, por favor.
Eu respiro fundo e então, abro, dando um leve susto nele ao me fitar com a
sua face barbuda.
— Não me avisou de que teria companhia, Lívia — o tal do Vitor range os
dentes ao me encarar, depois ela.
— É um amigo... e isso não importa! — Ela incrivelmente ergue a voz,
demonstrando um controle impressionante. — O seu dinheiro.
Lívia toca na bolsa. Só que antes, ela faz questão de se inclinar e olhá-lo nos
olhos.
— Tudo o que eu desejo é nunca mais ver a sua cara.
Ela sorri e pega a bolsa da minha mão para passar para ele.
— Corajosa. Espero que aqui esteja os meus 300 mil. Já que fui muito
bonzinho em poupá-la de vingar o tiro que me deu.
Arqueio a sobrancelha, mas me mantenho quieto, pronto para protegê-la.
— Pois lhe agradeço por isso. E tenha certeza de que todo o seu dinheiro
está aí. Pode me deixar em paz para sempre.
— E deixarei, Castellano. Sou um agiota e você me devia. Sabe as regras do
jogo nesse negócio — ele se curva na janela para olhá-la melhor — ou você paga
com dinheiro ou com a própria vida. E agora desejo toda a saúde do mundo para
você. Adeus — após o seu discurso de despedida, ele se afasta brusco, virando as
costas e entrando na porta de trás do carro preto.
Em seguida, o motorista dá marcha ré e sai cantando pneu.
— Meu Deus ...— Lívia sussurra, escorregando aliviada no banco.
Eu aperto o volante, muito tenso e sem humor.
— Espero que aprenda a lição.
— O quê?
— Não aja sem pensar nas consequências. E você é uma péssima
administradora. Onde já se viu, se meter com gente como aquele cara que saiu
daqui? São assassinos! Porra, Lívia! — Passo a mão na barba, já em estresse. —
Larga de ser ambiciosa! Esse foi o seu limite! Pegar dinheiro emprestado sem
sequer saber de onde tirar para honrar a dívida depois.
— E você acha que eu não me arrependo? — Ela se opõe raivosa contra
mim. — Não precisa jogar na minha cara! Eu já sei disso! Eu estou recebendo as
consequências!
— Eu preciso! Eu já estou fazendo!
— Faça sozinho!
Lívia aperta os punhos, ao ponto de me socar. Mas não faz, ela tenta abrir a
porta do veículo e fugir. O que é em vão, está trancada.
— Abre, Gael!
Fico calado.
— Abre! Ou...
— Ou? — Então pego no seu braço e puxo-a para mim.
Lívia ofega, paralisada com o meu olhar felino.
— Não seja covarde. Não fuja. Eu quero o seu bem. Eu a quero!
Minhas palavras a afetam, pois ela não se mexe mais.
— Droga, eu já disse que a quero; quero te ajudar, te proteger... te amar —
toco no seu rosto macio com o polegar. — Você que sempre complica tudo.
Ela pisca calada, acariciando a minha mão que afaga a sua bochecha. Noto
que em silêncio ela é mais linda ainda. No entanto, seus olhos conversam comigo.
Eles me passam o seu calor, o seu desejo oculto de se entregar.
— O que te impede, Lívia? Do que tem medo?
— Eu não tenho medo... de nada. E eu também te quero, Gael. Você é tudo o
que eu nunca tive. Às vezes, penso que não pode ser real. Homens como você não
existe.
— Eu existo. Fique comigo. Me dê uma chance? Uma única chance?
Meu peito acelera. E sem esperar que responda, eu tomo o seu queixo e os
seus lábios para mais próximo dos meus. Lívia se mostra fraca e sem menor
controle. O que me deixa surpreso. Cadê a sua autoridade? Aquela mulher mandona
e implacável? Só vejo uma felina perdida.
— Como vamos poder ficar juntos? Como vamos nos relacionar? Somos
comple...
Não a deixo terminar o seu contexto cansativo e beijo-a sobre os seus beiços
rosados, sendo amável. Movo-me lento, saboreando do seu sabor e da sua saliva
doce. Lívia arqueja, arqueando as costas. Eu lambo a fenda dos seus lábios,
intensificando a língua a penetrá-la – ao penetrar, exploro cada pedaço, cada canto,
cada tudo dentro dela.
Sinto-me em casa. Ela é minha.
— Gael... — geme, enquanto pego em seus cabelos pela nuca, afasto a sua
cabeça e enfio-me entre o seu pescoço, raspando a minha barba áspera em sua pele
de seda, conforme a lambo e a beijo. — Ahh, meu caipira idiota.
— Gosta que eu te cause fraqueza? — pergunto em sua orelha, mordiscando
o lóbulo delicioso.
— Não... mas não posso evitar de sentir-me fraca — admite em resmungo.
Volto ao caminho onde trilhei a saliva. Ergo a mão e também a aperto nos
seios. Lívia não deixa barato e vinga o aperto nos meus cabelos, ao puxá-los.
— Como se sente agora? — Toco-a na perna, subindo por dentro das suas
coxas macias e cálidas.
Sou torturosamente lento. Ela se afasta e descansa a cabeça no banco.
— Sinto que pode chegar fácil no seu objetivo entre elas. E pelo amor de
minhas terminações nervosas, faça!
Lívia abre mais as pernas, transpirando tesão.
Meu pau lateja e eu admiro o meu tamanho autocontrole.
Porém, continuarei a enfraquecendo. Preciso fazer isso.
Eu subo até chegar ao seu calor, bem na base da calcinha. Enfio dois dedos
na lateral da costura, afasto o tecido e percorro os seus lábios lisos, sem pelo
nenhum. Ela arfa e sinto o seu clitóris pulsar inchado. A lubrificação umedece o
meu dedão. Eu a toco de leve no meio de gruta de carninha encharcada.
Porra, meu membro petrifica dentro da cueca.
— Oh, isso é tão gostoso — sussurra, olhando-me desejosa. — Me preencha,
Gael! Agora!
Me enganei. A mulher mandona sempre está aqui.
Eu a preencho, chegando bem perto do seu rosto para beijá-la o pescoço.
— Aah — bafeja de olhos fechados. — Ahh, Gael. Eu sou sua. Eu aceito
que estou em suas mãos, perdidamente apaixonada e sem saída. Mas... Ahhh — ela
bafeja de novo, com meus dedos movendo-se no seu interior molhado, cheio de
vigor e rapidez. — Mas não quero decepcioná-lo. Eu sou cheia defeitos.
— Não se martirize. Não desistirei de você, nem de nós — com as minhas
palavras, eu dou fim a conversa e início os nossos prazeres eloquentes.
Masturbo a Lívia ao ponto de ela explodir em espasmos. Só que não permito
que chegue ao orgasmos, eu me afasto. E isso a levou a pirar de frustração. Quase
enfiou instantânea a mão na vagina. Só que a segurei, assistindo com um sorrio
estampado, a sua braveza.
Mas fui bonzinho logo depois – a subi no meu colo, chupei, mamei, me
deliciei com os seus peitos. Lívia rebolou, dançou e gemeu sobre o meu pau
dolorido.
Foi o fim. Com certeza, o nosso fim. Não aguentamos. Abri a calça, saltei
meu pau rochoso para fora, afastei a calcinha e penetrei a sua feminilidade até o
ventre, sem um pingo de dó da sua cara de sofrimento. Um sofrimento passageiro
diante das cavalgadas que ela logo fez questão de comandar igual doida.
Só fiquei a admirando. Vendo a forma que busca satisfazer-se sobre mim.
Seus gemidos são músicas para os meus ouvidos. Seu corpo é um paraíso para as
minhas mãos. E a sua boca... a sua deliciosa boca já inchada pelos meus beijos... é a
porta para a minha se encaixar com perfeição. E as nossas línguas nem se diga...
adoraria ter a minha mais abaixo do seu ventre e a dela... bom, a dela logo mais
realizará deliciosas façanhas no quarto.
Eu sou louco por ela.
Como o Anton previu, nenhuma das meninas foram no seu escritório pela
manhã, para assumir ou revelar pelo menos quem pegou as minhas joias e o seu
relógio. Logo então, Laerte foi acionado para fazermos o B.O. Ele também
conversou e ao lado de outra policial investigou os pertences das nossas empregadas
(com a própria autorização delas, já que não tinha mandado). Contudo, não obteve
nada suspeito.
Não sei se fico aliviada ou mais preocupada.
E se for uma das quatro? E principalmente, e se for a Sônia?
A Sônia não, não quero crer que possa ter sido ela.
O fato é que a pessoa que pegou as joias não pode ser qualquer uma de fora da
mansão. Além das meninas e da Felícia quem mais teria acesso a nossa suíte?
Meu Deus, sinto-me desconfiada agora até da minha própria sombra. Coloquei
todas as minhas joias no cofre do closet. Não ficou nenhuma peça para fora.
Só espero descobrir o culpado, ou a culpada o quanto antes.
Mais tarde, ao entardecer, por volta de umas 18h20, Lívia chega da cidade.
Perguntei sobre o Gael e ela disse que ele foi direto para casa tomar banho e
descansar. Achei-a um pouco estranha, mas me segurei para não a bombardear de
perguntas sobre o seu pai, a sua feição de cansada e os seus problemas. Preferi
esperar que ela me procurasse para conversar quando achasse confortável.
Então, depois do café da tarde, ela veio até o escritório do Anton, onde eu me
encontro terminando de estudar as minhas apostilas – aproveitei que ele estava
brincando com o Gieber no quarto para roubar a sua mesa. Gosto daqui devido à
bela vista da janela para os montes e o céu.
— Posso te incomodar só um pouquinho? — Ela pergunta do portal.
— Que isso. Você não me incomoda. Por favor, entre. Fique à vontade.
— Obrigada.
Lívia fecha a porta e aproxima-se, olhando todos os detalhes do ambiente. Até
que para perto da cadeira rotativa, inclina o pescoço e fixa na vista da janela.
O sol está se pondo no horizonte de floresta, deixando o céu num tom amarelo,
meio avermelhado. É espetacular. Nós duas ficamos em silêncio para assistir essa
obra prima feita por Deus.
— Nossa, é de tirar o fôlego.
— É mesmo. Eu amo esse horário da tarde. Morar no interior tem seus charmes
divinos. Se bem que eu nunca morei tanto tempo na cidade — dou de ombros. —
Vem, sente-se Lívia. Me conte como foi com o seu pai. Ele está bem?
— Ah, sim — ela se senta elegante, com a sua beleza de causar inveja em
qualquer mocinha nova por aí. — Ele está bem, graças a Deus. Passou por uma
cirurgia onde foi implantando uma prótese no coração. Se o visse, nem acharia que
sofreu um ataque cardíaco e fez esse procedimento. Estava querendo sair correndo
da maca para voltar para o seu dia a dia — ela sorri. — Meu pai é bem atlético.
Vaidoso. Se cuida de mais.
— Ele deve aparentar ser novo.
— E aparenta. Minha mãe e eu passamos apuradas com a beleza daquele
metido. As mulheres caem matando aos seus pés.
— Sua mãe também é muito bonita, Lívia. Nossa, ela é a pura elegância e
sofisticação em pessoa. Isso não devemos negar. E você puxou a ela. Com certeza.
Lívia rola os olhos, sem demonstrar que ficou ofendida.
— Torço para que seja a única coisa boa que eu tenha herdado dela. E além do
estado de saúde do meu pai, eu gostaria de te atualizar de outros acontecimentos
sérios que rolou na cidade. — Lívia mexe a cabeça e me fita com os seus olhos
verdes, muito intimidadores, de causar calafrios. Será que ela não se dá conta de que
pode ser assustadoramente poderosa? — Você é uma pessoa muito especial, que
confesso, eu gosto muito de desabafar. É uma raridade em um milhão.
— Pois eu fico muito feliz em ouvir isso. Obrigada pela sua confiança.
— Eu quem agradeço. E bom, vamos direto ao assunto interessante... você vai se
chocar...
Direta, Lívia começa a me revelar tudo o que aconteceu na cidade – do atentado
contra ela, do carro alvejado do Gael, deles tendo que ser conduzidos para a
delegacia, sobre o responsável ser o Vitor (o agiota) que estava atrás do seu dinheiro
e por fim, do Gael que se dispôs a pagar a sua dívida de 300 mil reais, para ela ficar
livre de ameaças e não perder a vida.
— Só que eu vou pagar o Gael. Juro que vou… — suspira, finalizando o seu
desabafo e aceitando os seus pontos fracos. — Eu gosto muito dele, Kia. Tanto
que… eu não sei.
— Você o ama. Só não quer assumir a verdade para si mesma — resolvo ser
realista.
Surpresa, ela arregala os olhos e tosse, balançando veementemente a cabeça.
— Não. Eu...
— Claro que sim. E ele também tem o mesmo sentimento de amor. Veja o que
fez por você, para salvar a sua vida. Isso já não foi uma tremenda demonstração de
seus verdadeiros sentimentos? Ele te quer. Ele te ama. E Gael é o homem mais
perfeito que existe.
— Homens perfeitos não existem. Gael só salvou a minha vida porque é
honrado, digno, de boa conduta e quer bancar sempre o super-herói. E… e… — ela
para fixa no meu olhar desconfiado e relaxa os ombros na cadeira, rendendo-se a
verdade. — E você talvez tenha razão sobre os sentimentos dele. Só não sei sobre os
meus. Ou eu sei e possa estar perdida.
— Tem medo do amor?
— Eu nunca amei ninguém. Não sei se posso afirmar que seja amor. Só sei que
aquele homem é uma exceção na terra e no meu coração. Mas a tantos, mas. Somos
diferentes. Eu sou cheia de defeitos. Me sinto patética. Ele merece alguém que seja
como ele. Entende? Alguém que possa lhe dar uma família. Alguém que possa
merecer tanto amor — ela abaixa a cabeça, em seguida, ergue indecifrável.
Eu engulo em seco, sem parar de pensar na Sônia e na conversa que preciso ter
com o Gael.
Família… meu Deus, ele leva isso muito a sério. Ainda mais por um filho que
está por vir.
— Não custa nada tentar. Dê uma chance, se entregue a paixão, ao amor.
Arrisque-se, mude a sua vida. O que tem a perder?
— Foi o mesmo que o Gael perguntou esta tarde na cidade. E eu não tenho nada
a perder. Já perdi tudo o que eu pensava me fazer feliz. É frustrante, ao mesmo
tempo “normal”. Além disso, eu estou dando sim uma chance a ele — Lívia pisca,
chocando-me. — Pois assumo, estou apaixonada. Nossos momentos hoje deixaram
isso muito claro para mim. Exceto o amor. Não entendo esse sentimento direito.
— Vai com calma, um dia você saberá o que é o amor. Simplesmente acontece.
E estou em choque pela sua revelação. Vocês estão juntos de verdade? É sério?
— Bem, sim. Todavia, ainda não descarto o discurso de que somos diferentes e
de que ele merece alguém especial. Mas, por enquanto, não quero perdê-lo e nem o
decepcionar. Não quero ficar sozinha.
— Daqui a pouco, dirá que nunca mais quer que ele se vá. E quando ver, estarão
juntos para sempre. Você me deixa confusa, dona Lívia. Agora me sinto feliz por ter
tomado alguma decisão. Essa chance é muito importante para ambos.
Eu sorrio de orelha a orelha e Lívia retribui o sorriso com os seus dentes
brancos, perfeitos.
— Acho que aquele caipira tem razão, como sempre, eu sou uma péssima
administradora. E isso, de sentimentos também. Obrigada, Kia. Nunca tive alguém
para ser tão abertamente assim, como fui com você nesse escritório. Estou até
surpreendida comigo. Acredite, rompi barreiras.
— Até eu. E não se preocupe, somos ótimas amigas.
Eu me levanto devagar e vou até ela, abraçá-la com muita sinceridade. E se não
fosse pelo meu pé, estaria dando pulinhos.
Após nos soltar, Lívia apenas ri e fala “como é bom ter uma verdadeira amiga”.
Sinto que acabamos de selar algo, pois igualmente nunca tive uma amiga para
chamar de amiga.
E estou feliz por ter uma.
Nós duas ficamos conversando um pouco mais. Até resolvermos subir para os
nossos aposentos para podermos enfim finalizar esse dia fatídico. O que foi de
grande emoção para ela e para mim.
Ah, eu esqueci de contá-la sobre o “sumiço” das minhas joias. Deixarei para
amanhã.
— Como você subiu sozinha? — Anton questiona ao me ver fechar a porta e
andar normalmente com as muletas.
Ele é sempre tão preocupado.
— Eu já disse que estou bem e sem dores fortes ao andar. E Lívia me ajudou a
subir os degraus da escada — sento-me no colchão, sorrindo para a Mel bem
acordada no meio da cama. Ela sorri de volta, balbuciando fofinha. — Você colocou
o Gieber na cama?
— Sim, ele brincou até o esgotamento.
— E a Melina não dome, né, senhorita? — pergunto a ela, que está completando
quatro meses hoje.
— Ela está fazendo quatro meses hoje — Anton informa, parecendo que leu os
meus pensamos.
Ele vem até mim, sem a sua camisa e com todo o seu porte bonito, alto.
— Minha sogra que me informou. Eu nem lembrava.
Reviro os olhos.
— Eu sei bem. Você é péssimo para guardar datas comemorativa. Se eu te
perguntasse a data do nosso casamentos não…
— 20 de Janeiro de 1996, às 08h30 da manhã. Você estava com um vestido
comprido, de mangas finas e de cor branca. Seu cabelo loiro estava amarrado num
coque alto. Também… lembro-me de que enfeitados com uma tiara que a deixou só
mais angelical. Estava linda, inocente e tímida demais. Sequer me encarava nos
olhos. E quando fazia isso, seu rosto ganhava a cor de um vermelho rosado. Eu
ficava hipnotizado pelos seus olhos azuis. Você era linda. E é linda. A mulher mais
linda do mundo.
Anton permanece parado, em pé na minha frente, vagando em suas memórias.
Eu me emociono, estou sem palavras para ele.
— Eu não queria ter tantas lembranças horríveis depois que te trouxe para morar
na mansão. Sinto muito. Queria ter sido o Anton de hoje, que a respeita e que sabe o
que é amar a sua esposa e os seus filhos. Só que foi tudo necessário, infelizmente
foi.
— Ahh, amor — choro, sem evitar as lágrimas.
Ele, então, me ergue delicado e segura a minha cintura com devoção, em
seguida acaricia o meu rosto com os dedos.
— Está feliz?
— Sim, muito.
— Eu também — Anton sorri como a sua linha dos lábios torta, tão atraente. —
Eu daria o mundo por você. Por mais que seja pouco. E espero que saiba disso todos
os dias.
— Eu sei. Eu te amo, meu amor — o beijo.
— Eu amo mais, sem dúvidas — ele morde o canto da minha boca.
— Eu amo duas vezes mais — acaricio o seu abdômen.
— Eu amo na quantidade de cada grão de areia na terra.
— Eu…
— Calada, Sra. Dexter. Sempre vou te amar mais — ele, por fim, penetra a
língua na minha boca, toma os meus cachos e faz questão de apertar a minha bunda
com força.
Não digo mais nada. Só sinto o tesão subir a cada toque seu no meu corpo.
Mas o nosso momento de fogo não dura muito, Melina começa a chorar.
Eu e o Anton resmungamos, separando os lábios para olhar para a danadinha
que imediatamente desfaz o bico de choro e ri gostoso para nós, batendo as
perninhas gordinhas toda feliz.
Meu Deus, ela, com certeza, será uma ciumenta autoritária igual ao pai e o
irmão.
Quarta-feira – quatro dias depois...

Estava sendo uma manhã muito chuvosa e eu gosto de dias assim. Tenho
uma particularidade obsessiva pelo cheiro de terra molhada – respiro fundo, como
que se já sentindo o cheiro nas minhas narinas. Tento me erguer para sair da cama,
no entanto, a Lívia mexe a cabeça, coça os olhos e aproxima-se mais do meu corpo,
para se aquecer.[SS14]
Assim não tem como eu resistir a não ficar.
— Está chovendo? — pergunta com a voz rouca de quem acabou de acordar.
— Sim — respondo, puxando-a para um abraço.
Desde que ela decidiu nos dar uma chance – ser minha – que não nos
largamos mais. De preferência a Lívia, que está sendo outra pessoa. Literalmente. E
eu, que quero o calor dela todas as noites. Ontem fiz questão de sequestrá-la da
mansão Dexter sob os olhos da Kiara e do Anton. Ainda antes havia aceitado o
convite deles para participar do jantar. O que deixou a Lívia desconcertada na mesa.
Falando na Kia, lembro-me de que ela está há dois dias tentando me dizer
algo muito importante, só que parece mudar de ideia todas às vezes que me
encontra. Mas disse que hoje cedo trataria desse assunto comigo. E o que eu achei
mais estranho foi que no fim completou com "e na presença de outra pessoa
também".
— Preciso ir na mansão ver o que a Kiara quer conversar comigo.
— Hum... não quero me levantar dessa cama. Estou triturada em mil pedaços
por sua causa.
Sorrio da cara deslavada dela e ergo o seu queixo com os dedos.
— Você provoca e não aguenta, dona mandona. No final, quem sofre é a sua
bunda... e acho que o meu pobre pau.
Ela rola os olhos e acaricia a minha barba, descendo as mãos delicadas para
o meu abdômen.
— Se você me obedecesse como um bom submisso, poderíamos evitar tanta
selvageria na cama. Eu pouparia o seu pobre pau, que adoro, e você todo o meu
corpinho, que ama.
Com a maior lábia, ela pisca, erguendo-se para esfregar os peitos enrijecidos
na minha costela esquerda e colocar uma perna sobre a minha virilha, para
igualmente me dar a sensação da sua intimidade nua no meu quadril, ao se
enconchar com o clitóris.
Porra, arrepio-me duro, já querendo devorá-la.
— Para o seu próprio bem, se não quiser ficar mais assada, é melhor calar
essa boca atrevida e ser menos sem vergonha — aperto as nádegas dela, onde há
quatro horas atrás eu dei uma dentada forte, que a enfureceu e levou a me xingar de
tudo quanto é nome.
— Ai, Gael! Está doendo! — Lívia rapidamente afasta a perna de cima de
mim.
Não disse que ela começa e depois não aguenta? Ô mulher que gosta de tirar
a minha paz.
E eu adoro isso.
— Você vai querer me acompanhar no banho? — pergunto ao me levantar da
cama. — Ou o banheiro não é tão chique para a madame?
— Não ligo para tanto luxo quando estou com você — dá de ombros. —
Exceto se fosse num hotel nojento de esquina, usado por centenas de pessoas...
médias!
Sorrio do seu olhar implicante. Ela não supera aquela hospedagem de jeito
nenhum.
Mais tarde, após tomarmos um banho delicioso, cheio de carícias safadas, eu
levo a Lívia de volta para a mansão e encontro a Kiara na sala. Ela nos olha
envergonhada, dirigindo-se a mim para perguntar se poderíamos conversar a sós.
Lívia só pigarreia, diz que vai se trocar no seu quarto e pede licença.
Sozinhos, Kiara me faz a acompanhar para a outra sala de chá.
— O que gostaria de conversar tanto comigo, patroa? — questiono curioso,
assim que ela fecha a porta francesa do local decorado com todo o luxo possível.
— Eu... bem... é... não sou eu quem quer conversar com você — ela se
aproxima estranha, mexendo nervosa no cabelo. — Sente-se por favor, ela já está
vindo.
— Ela? Ela quem?
— Larga de ser curioso que você já vai saber. E sente-se, antes que eu te
amarre na poltrona.
— Meu Deus, cadê a Kia toda doce? Você está próxima da Lívia de mais. Só
tenho dó do Anton num momento desses.
Ela sorri.
— Eu adoro a Lívia, sabia? Ela causa arrepios em qualquer um. É uma
mulher poderosíssima. Talvez eu possa me espelhar muito nela ainda — pisca.
— Jesus, tenha misericórdia — é só o que eu digo e sento-me.
Minutos depois, alguém dá dois toques na porta da sala, empurra devagar e
entra. É a Sônia com uma bandeja deliciosa de biscoitos.
— Ah, Sônia, por favor, entra — Kia sorri fraca, indo ajudá-la com a
bandeja, para colocar na minha frente, em cima da mesa de centro.
Em seguida, as duas param perto do sofá e olham-se.
Pego um biscoito e arqueio a sobrancelha, notando a Sônia desviar de cabeça
baixa, morder o lábio inferior e apertar os dedos. Eu fico sem entender o motivo da
presença dela, também o suspense entre nós três.
— Gael — Kia, então, me encara, dirigindo-se de forma entranha a mim. —
É Sônia quem tem algo para te dizer. Eu só estou aqui entre vocês a pedido dela,
para apoiá-la.
Eu mastigo o biscoito e ergo-me devagar, sem compreender nada.
Apoiá-la no quê?
— E o que você teria para me dizer, Sônia? — pergunto diretamente a ela.
Ela ergue o rosto, piscando os cílios loiros e apertando mais forte os nós dos
dedos. Por mais que não me olhe, não deixo de perceber que seus olhos brilham
marejados.
Kiara acaricia o braço dela.
E ela responde o que eu jamais imaginaria:
— E-eu estou esperando um filho seu, Sr. Gael.

Bem cedo, aproveito que estou na vila para visitar o Laerte na delegacia e
conversar sobre o roubo na minha casa – o que pelo jeito não será resolvido tão
cedo.
Eu só gostaria de saber quem foi a responsável, ou as responsáveis para
deixar a Kiara mais tranquila. Ela está sempre tocando nesse assunto, dizendo que
está muito mal por não ter mais 100% de confiança nas nossas empregadas e por
estar agora olhando diferente para elas, como que se tentasse decifrar quem foi –
isso tornou tudo mais constrangedor para ambos os lados.
Mas não há o que fazer enquanto a pessoa que furtou as joias não aparecer
confessando o que fez. Devemos apenas aguardar.
Após sair da delegacia, eu vou para casa e encontro a Kia na sala com a bebê
nos braços e o Gieber brincando no chão.
— Papai!
Ao me ver, meu garotão corre para me abraçar. Pego-o no colo, beijando os
seus cabelos lisos e meio grandes.
— O que está fazendo?
— To blincando de calinho. Ele é igual o seu, papai. Gandãoooo — ele abre
os braços, demonstrando o tamanho da sua caminhonete no tapete.
Eu olho para baixo e comprovo que não foi exagero. Eu que comprei o carro
para ele essa semana. Ainda é motorizado para "dirigir’.
— É... e agora ele está quebrando quase toda a decoração caríssima da casa
— Kia resmunga sem me olhar.
Sorrio. Ontem, ela estava mais furiosa, até tentou guardar o carro, só que o
Gieber grudou nas pernas dela, chorou, puxou o seu vestido e chegou a correr para
mim, berrando que "a mamãe tava blava com o calinho" e que ele queria porque
queria o seu "calinho".
Eu, louco nem nada, não fiz nada. Quem vai enfrentar uma mulher no
primeiro dia do seu ciclo menstrual? Deus é mais.
Tudo tem limite. E Kia na TPM é como pisar em ovos. É o próprio furacão
em pessoa.
Mas Gieber conseguiu a conquista de ter o seu carrinho de volta da mamãe
má, desde que não triscasse nos móveis. E pela declaração da Kia neste momento,
algum vaso já deve ter se espatifado hoje.
— O que você fez, seu bagunceiro? — pergunto a ele no meu colo.
— Segurar nas cortinas e acelerar o carro para puxá-las e conseguir aquela
proeza ali, responde a sua pergunta? — Ela aponta em direção as vidraças "nuas" do
fundo.
Tento não rir. Kia me fuzila.
— Você puxou as cortinas, Gieber?
— Foi — ele sorri e esconde a cabeça entre o meu pescoço.
— Olha para o pai. — Ele, então, olha e morde o dedo, amedrontado com o
meu olhar sério. — Vamos andar com o carrinho só lá fora na grama, entendeu?
Aqui dentro de casa não.
Ele assente com os olhos brilhosos.
— Vamos agola?
— Não, ainda é muito cedo. Talvez mais tarde.
Ele concorda e eu o coloco de volta no chão, para meu arteiro voltar a
brincar.
— Você está esperando alguém? Para estar aqui na sala com as crianças, em
vez do jardim. — Viro-me para Kia.
— Estou esperando sim, o Gael para conversarmos. E as crianças, a minha
mãe já vai pegar para tomar sol.
— Você tem o que para conversar com Gael? — Fecho a cara.
— Depois prometo te contar. E mude essa cara de ciumento. Você sabe que o
Gael é um cavalheiro e está com a Lívia. Ontem, comprovamos o quanto aqueles
dois estão apaixonados.
— Hum — continuo com a cara fechada. — Vou trabalhar em casa hoje.
Kiara assente e eu vou dar um beijo nela para poder me retirar para o meu
escritório.
Na sala, eu me sento atrás da mesa, notando como sempre, todas as
correspondências em cima dela. Pego-as e vou passando algumas até me deparar
com um envelope verde, escrito "Laboratório Fetal" e perco o ar dos pulmões.
Quarta-feira!
Hoje é quarta feira!
Ansioso e desesperado, eu começo a abrir o envelope. Tiro as folhas, passo
ligeiro os olhos nas informações que não me interessam, então viro a página e leio
"conclusões".
& dou um pulo da cadeira, arregalando os olhos para as duas palavras antes
de "Dexter".
Porra! Porra!
Sem me aguentar, eu começo a rir! Porra! Eu começo a rir!
Acabou para a Lorenza!
Eu tinha certeza. Certeza absoluta de que aquele menino não era o meu filho.
Agora eu quero correr até a Kiara, puxá-la para os meus braços e girá-la de tanta
felicidade.
Ele não é o meu filho!
Mas eu me controlo, antes disso, eu ligo para os meus advogados e peço para
que eles deem a notícia para o Gabriel. Também que deem entrada no processo de
distanciamento da Lorenza, de 500 a mil metros se possível de mim e da minha
família. Nem que eu tenha que comprar o juiz!
Nunca mais ela vai ousar pensar em me arruinar. Essa foi a sua última tentativa
fracassada de destruir o meu casamento e principalmente, me tirar dinheiro.
Acabou!
Após finalizar a minha ligação para o advogado, eu chamo a Felícia pela
campainha da mesa e peço para que ela encontre a Kia e diga para ela vir
imediatamente no meu escritório. É urgente. Também que me traga gelo num cooler.
Felícia assente e retira-se.
Sendo cedo ou não, abrirei um dos meus melhores vinhos para comemorar com
a Kiara. Pois, enfim, teremos paz.
Hoje me sinto o homem mais feliz do mundo.
Gael engole em seco, dá um passo para trás e desvia para as compridas janelas
de vidro abertas, onde o vento sopra forte, balançando as minhas luxuosas cortinas
brancas, de linho.
Sônia aperta forte a minha mão, tremendo sem parar. Olho para ela, vendo-a
chorar baixo.
— Gael… — sussurro depois de longos torturantes minutos em silêncio.
Ele me fita, em seguida dá seis passos até parar diante da Sônia. Ela esmaga
mais forte os meus dedos. Penso que vai desmaiar a qualquer momento. Gael deixou
eu e ela pequenininhas devido ao seu tamanho enorme.
— Se tem certeza de que está grávida, eu não vou fugir das minhas
responsabilidades. Amparei você e essa criança que está esperando. Eu te prometo.
Então, Gael volta a olhar para a janela, respira fundo e de repente, vira as costas,
passando as mãos pelos cabelos até sumir de vista pela porta. Eu sei que ele só faz
esse gesto quando está muito, muito nervoso. Assim como o Anton.
— S-senhora… — Sônia cai em prantos nos meus braços.
— Está tudo bem — a amparo. — Ele precisa de um tempo para pensar e deixar
a ficha cair. Essa é uma notícia que muda vidas. A dele e a sua.
— Eu estou com vergonha, com medo. E… eu não sei o que fazer. Ele sempre
se protegia — ela abaixa a cabeça. — Sr. Gael deixou bem claro que éramos casual.
E que se eu estivesse me apaixonando por ele, que não me procuraria mais e que
não aceitaria que eu o procurasse. E então eu fico grávida. O que ele deve estar
pensando agora?
— Sônia — seguro os seus ombros, fazendo-a me olhar. — Você é uma mulher
de 21 anos, forte, batalhadora, solteira e que se envolveu com um homem que
também era solteiro. E se ele fez esse acordo entre vocês, era para a mesma não se
machucar. Além de que os dois se cuidaram. Só não contavam com um incidente no
final. Se acalme, não pode ficar se lamentando toda hora pelo que aconteceu. Gael
já disse que vai te amparar. Principalmente essa criança, o filho dele. E ele é um
homem sério, de caráter e de palavra. Entendeu, minha querida?
Ela assente emocionada.
— Aguarde ele te procurar para conversarem de consciência limpa. Igualmente
seja sincera com ele. Tem um bebê em jogo, que não tem culpa de estar sendo
gerado para esse mundo. — Volto a abraçá-la com um carinho imenso. — E a
médica que cuidou de mim na gestação da Melina vai vir sábado para te analisar,
tirar sangue e fazer todo o seu pré-natal. Você vai ficar bem.
— Obrigada, Sra. Dexter. Não sei como te recompensar por tanta bondade. Não
tenho dinheiro para metade do que está fazendo por mim.
— Apenas continue sendo a minha amiga fiel. Não vou te desamparar.
— A senhora é um milagre. Um anjo. Prometo que serei leal a sua pessoa até a
morte.
Sorrio, encarando-a e vendo-me compadecida nela.
Descobri há algumas semanas que a Sônia fugiu da casa dos pais aos 17 anos,
porque o seu pai batia na sua mãe e porque, na noite antes de decidir isso, ele tentou
a estuprar de verdade. Não só com carícias nojentas, como relatou que o monstro
fazia nas madrugadas no seu quarto. Sem falar que a sua mãe sabia de tudo, só que,
por medo, ela não tinha coragem de enfrentá-lo e denunciá-lo às autoridades. E
nessa noite, após o monstro quase violentá-la, ela fugiu, correu com as próprias
roupas do corpo para longe de todo esse sofrimento. Passou quase um ano se
humilhando por qualquer trabalho para não morrer de fome, nem passar frio sob o
céu estrelado (como eu, um dia, como a minha história idêntica). Mas uma luz
apareceu no seu caminho, ela soube da vaga de carteira assassinada na mansão
Dexter, onde damos um salário maior do que a média. E Sônia não pensou duas
vezes, logo veio na entrevista acirrada, na esperança de ser contratada entre as
milhares de meninas que a Felícia recebia. Foi que graças a Deus, entre tantas
moças de bons currículos, que a nossa governanta gostou da Sônia. E por mais que
não tive boas práticas, nem experiência com mansões, deu a ela uma chance de ser
testada por um mês. Pois Felícia me relatou que sentiu dó do estado de roupa
rasgada, encardida e fedida que a menina vestia durante a entrevista. Não só por
isso, também pelo desespero, esperança, fé, tudo que Sônia transmitia pelos olhos.
Parecia que seria capaz de aceitar qualquer coisa na fazenda só para ter um lugar
melhor para dormir e comer. Jurou que aprenderia tudo em menos de uma semana.
Hoje, após conhecê-la profundamente, eu vejo ser a minha imagem, a minha
história. Ela é eu, só que mais desprotegida do mundo. Por isso não vou abandoná-
la, nem a desamparar. Sônia só tem a mim. Não tem mais ninguém que queira se
importar com os seus sonhos, a sua saúde. Além de que ela terá também o seu bebê
e o Gael. Ele jamais a abandonará, nem omitirá auxílio. É um grande homem.
— Desculpe-me por atrapalhar, Kia — nos interrompendo, Felícia aparece
elegante na grande sala, já sendo direta com o seu recado. — Mas o Sr. Dexter
deseja vê-la imediatamente no seu escritório. Disse ser algo urgente.
— Urgente?
— Sim.
— Eu vou voltar para o serviço… — Sônia sussurra quase se movendo, só que a
paro.
— Espere. Acompanhe a Felícia, ela vai cuidar de você. Precisa comer alguma
coisa. Está no início da gestação.
— S-senhora... — Ela arregala os olhos pela minha fala em voz alta.
Felícia ouve o seu sussurro assustado.
— Não se preocupe. Kiara me disse isso para cuidar do seu bem-estar. E
compreendo a sua situação. Acho que a nossa história é até muito parecida. Vem,
vamos fortalecer o seu café da manhã.
Sônia concorda envergonhada e acompanha-a.
Sentindo-me cansada, eu me esforço e também vou ver o que o Anton quer
comigo. Para me chamar tão urgente, deve ter acontecido algo grave. Tomara que
não.
— Amor? — No escritório, eu abro a porta o chamando e já entrando.
Vejo-o em pé, perto da janela. Ele olha para mim com um sorriso lindo nos
lábios. Desço a visão para a mesa e vejo… vinho?
— Está bebendo uma hora dessa, Sr. Dexter?
— Ainda não, entretanto... beberemos — ele declara, caminhando sedutor até
mim.
— O que houve? Feli…
— O resultado do laboratório chegou esta manhã.
— O-O QUÊ?!
Arregalo os olhos, lembrando-me de que hoje é quarta-feira! M-meu Deus! Meu
coração gela e vai parar na boca.
Anton para na minha frente, pega na minha mão, beijando-a e raspando na sua
barba grande.
— Eu te amo, te amo muito.
— Anton… o-o que deu o resultado? Por favor, me diga!
Ele me solta assustadoramente calmo, tira o papel do bolso e estende. Eu pego
trêmula.
— Não é o meu filho — de repente, ele revela. — Eu não sou pai daquele
menino. Acabou os planos da Lorenza.
Então abro a boca, o fito... e no mesmo instante, sem precisar ler nada, eu jogo o
exame no chão e corro para os braços fortes do meu homem, chorando de felicidade.
Ele me abraça, chegando a me erguer do chão.
— Amor… — soluço sem conseguir expressar o meu alívio, a minha alegria.
— Teremos paz. Seremos felizes com a nossa família. É tudo o que eu mais
quero.
— Eu também. É tudo o que eu mais quero — seguro o rosto dele. — Eu te
amo. Amo você e as suas mudanças.
Anton sorri emocionado. Seus olhos cinzas brilham como nunca brilharam na
vida.
— Isso tudo foi importante para ver que eu a amo muito mais do que imaginava.
Nem sei descrever, Kia. Você é tudo o que eu tenho. Sempre repetirei isso. É tudo o
que me restou. É meu perdão, minha redenção. Você foi o meu milagre. Me tornou
uma pessoa melhor.
Eu choro, desta vez, em seus lábios, retribuindo o seu beijo apaixonante, cheio
de necessidade por ambos. Ele, surpreendendo-me, me pega no colo, leva até a mesa
e coloca-me sentada em cima dela. Meu vestido vai até o topo das coxas, o que faz
ele tocá-las.
— Quero tomar esse vinho para brindarmos a nossa felicidade. E claro, antes de
fodermos gostoso — ele pisca e tira a garrafa do cooler de gelo, abrindo-a na rolha.
Eu limpo o rosto molhado pelas lágrimas.
— Esse exame também era o ponto final para deixarmos o passado no passado.
Pois não existe mais nada que possa estremecer o nosso presente. Daqui em diante,
tudo vai se basear no nosso amor, na nossa família e nesse outro meninão que está
por vir.
Assim que ele me entrega a taça eu a quase derrubo no chão, sem crer no que
disse.
— Anton!
Ele ri e coloca a mão na minha barriga.
— Aproveita hoje do vinho, que depois que eu gozar dentro de você, estará
proibida de digerir qualquer álcool!
Coro, tossindo desta vez o líquido que eu resolvi bebericar para descer o nó que
se formou na minha garganta, que agora virou um bolo sufocante.
— Eu… eu…
— Eu, eu? — Ele agarra os meus cabelos com força, encarando-me bárbaro,
cruel, do jeitinho que eu amo. — Você vai parar de beber o anticoncepcional,
entendeu? Quero essa casa entupida de lindos bebês, com seus olhos azuis, suas
sardinhas e seus cabelos loiros, bem cacheadinhos.
— Ah, amor… eu te amo tanto! — Choro.
— Eu amo mais, sempre amo mais.
Ele beija a minha bochecha, sugando as minha lágrimas doces. E sem esperar,
eu começo a rir.
— Tomara que tenhamos outra linda menininha — digo só para provocar.
E meu amado Dexter feroz vai a loucura.
— Nem em sonho, dona Kiara! Nem em sonho!
Ele aperta mais forte o meu cabelo. Com dor e tesão, eu suspiro fundo,
entrelaçando as pernas no seu quadril.
— Já prevejo a Melina me dando trabalho com toda aquela beleza herdada sua,
imagina mais uma filha assim? De jeito nenhum. Deus deve ter compaixão de mim
em algum lugar.
— Você não pode controlar isso, amor. Talvez tenhamos uma menina ou um
menino. E sei que vai amar, educar e proteger ele ou ela do mesmo jeito. Você é um
pai incrível.
— Serei mais incrível se eu tiver outro menino para cuidar de você e da nossa
princesa. Por isso, trabalharei arduamente por isso agora — safado, ele toca na
minha intimida. Eu pulso excitada. — Mas se tivermos outra menina, sei que o
Gieber valerá por dois ou até por três. Ele tem o sangue dos homens Dexter
correndo pelas veias.
Céus, tem como contradizer um homem ciumento, protetor, obstinado e que é
capaz de qualquer loucura pela família?
E eu o amo. Eu amo esse bruto!
E meu Deus, me dê outra menina!
Era umas cinco horas da tarde quando eu vi a Ester, a ex do Gael perambulando
pelo corredor principal da mansão, onde leva para o escritório do Sr. Dexter. Algo
bem suspeito para o meu gosto.
Eu não perdi tempo em segui-la.
— Que eu saiba, aqui não é área para uma auxiliar de cozinha estar.
Ela vira a cabeça ruiva e fica assustada ao me encontrar parada, observando-a
com um sorriso diabólico nos lábios – nem nada gentil.
Ela engole em seco e eu a analiso dos pés à cabeça. Ela faz o mesmo,
afastando-se bem devagarinho para o canto da enorme janela francesa.
— O que foi, cabelo de fogo, viu um bicho papão? — Sorrio agora para mostrar
os dentes e o meu prazer por estar a intimidando.
— Você é uma ridícula!
— Nossa — dou uma piscada longa e tediosa. — Vai começar a xingar a minha
mãe daqui a pouco também? Isso é tão coisa de menina adolescente.
— Você se acha a poderosa, né? Mas realmente não passa de uma ridícula! —
De repente, ela dá um passo e enfrenta-me com os seus olhos castanhos claros.
E, uau, estou impressionada. Gosto de gente assim, que “tenha” peito para me
enfrentar.
— Humm, você, então, me acha poderosa? Porque eu não me lembro de ter dito
isso. No entanto, agradeço o elogio. Agora você, faça o favor de explicar o motivo
de estar aqui no corredor mais importante da casa, onde leva ao escritório do seu
patrão Dexter.
— Isso não é da sua conta! Você não tem autoridade nenhuma para ser “a tal”!
Arqueio a sobrancelha, sem desviar as íris das suas. Ela molha os beiços,
empinando a cabeça a todo momento. Chega a ser engraçada de tão bobinha que é.
Mas a questão é que de bobinha essa garota não tem nada. Não mesmo. E eu vou
provar.
— Eu sei o que você está planejando.
Ela ,dessa vez, pisca muitas vezes seguidas.
Pronto, preciso dizer mais nada para provar que eu estou certa. Essa menina não
sabe o que é ter uma Diana Castellano como mãe. Posso descobrir os seus segredos
mais imagináveis.
— E o que eu estaria planejando? — Ela range os dente e fecha os punhos.
— Você quem me diz. Ou tem explicações relevantes para estar neste corredor?
Então xeque mate. Ela engole em seco de novo e não me responde mais.
Com um olhar malicioso, eu dou um passo até ela, tendo meus cinco centímetros a
mais devido ao salto.
— Ester, minha querida. O que faz na mansão Dexter? Acredito que não voltou
só pelo Gael. Eu adoraria saber a verdade.
— Eu estou aqui porque preciso do emprego! Não nasci em berço de ouro igual
a você! Trabalho desde que me entendo por gente pra comer e beber! Não sabe o
que eu passei na vida!
— Hum… conheço esse discurso de se vitimizar para se mascarar de boa moça e
esconder as reais intenções. Você não me engana.
Ester dá outro passo e fica cara a cara comigo. Ela me fuzila louca de raiva.
Já eu estou pleníssima na minha pose intocável de sempre, só me divertindo e
analisando-a.
— Você que não presta aqui! Ainda vai se arrepender por ter tirado o Gael de
mim! Ele vai ver que você não vale nada! Que só quer usá-lo!
Voilà! Sem me segurar, eu começo a rir.
— Ri mesmo, sua cobra de saltos! Ele teria me dado uma chance se não fosse
você o seduzindo! É uma descarada! Metida! Nojenta! Baixa!
— Você esqueceu o megera. E gosto mais de escutar esses adjetivos da boca
dele, quando estamos na cama, nos divertindo horrores por horas.
Ester se avermelha em fúria.
— Vai se arrepender amargamente, juro que vai! Você não sabe com quem está
mexendo! — Por fim, ela tenta se retirar de nariz empinado.
Porém, veloz, seguro-a pelo antebraço, finco um pouco das unhas na sua carne
macia e puxo-a de encontro a mim.
— Eu sei sim — aproximo-me do seu ouvido. — Mas e você, queridinha, sabe
com quem está mexendo? Eu nunca tive remorso de tirar pessoas incomodadas do
meu caminho. E seja esse “tirar” da pior forma que imaginar. Por isso, espero que
não esteja incomodada. Porque se estiver, vai começar a me incomodar. E aí, eu não
saberei mais conversar boazinha.
Volto ao seu rosto, fincando mais as unhas na sua pele. Ela também aperta o
meu braço, sem reação. Está paralisada.
— Adoro brincar de esconde-esconde. E dou uma semana para descobrir você!
Eu a solto e desfaço a minha cara inevitável de perversa, sorrindo.
— Ótima noite, cabelo de fogo. E espero que faça ao ponto de alcaparras a
lagosta no jantar de hoje. Porque eu não gostaria de te ensinar a fazer isso bem-feito.
Com licença.
Após olhá-la uma última vez, eu viro as costas e saio devagar, fazendo barulho
com os meus saltos de grife que valem mais do que cinco salários seus. Ainda a
ouço me xingar.
Deve ter sido ameaça de morte? Porque espero que ela seja realmente uma
oponente a altura para aguentar as consequências das suas palavras.
E sobre a lagosta, meu avô era chefe gourmet da haute cuisine (alta cozinha). E
além de ser ótima num gatilho de arma – como ele –, eu sei muito bem o ponto da
lagosta. Igualmente sei preparar qualquer coisa de alta qualidade. O dom
gastronômico da nossa família corre nas minhas veias – como dizia o falecido vovô
Navarres Castellano. Infelizmente, ele deve estar se remexendo no caixão até hoje
por eu ter me formado em odontologia.
E que prazer foi imaginar a sua careta e os seus olhos se revirando quando eu
peguei o meu diploma. Também que saudades da segunda pessoas que mais me
amou neste mundo, seguido do meu pai.
Vovô foi um grande homem.

Anton se senta ao meu lado no chão, embaixo do pé de laranja. Eu fico olhando


fixo para o vasto campo verde a nossa frente.
— O que vai fazer?
— Você sabe o que eu vou fazer. Vou assumir a criança. É o meu filho.
— Não, você ainda não sabe se é o seu filho. Não deve confiar desta forma, tão
fácil. Não conhece essa mulher direito. Vocês apenas fodiam sem compromisso.
Além, o que mais me surpreendeu é logo você, que é todo certinho, esquecer de usar
preservativo.
— Eu não esqueci em nenhum momento! — o fuzilo bravo. — Nunca fui
irresponsável a esse ponto.
Só não usei com a Lívia, pois eu sei que ela é uma mulher precavida. Ademais,
eu tive a sua permissão. Nós dois estávamos de acordo.
— Não sei o que aconteceu.
— Então a camisinha estava furada, ou ela está grávida de outro. Aconselho a
dar auxílio a essa menina, mas deixando claro que, após o nascimento da criança,
você exige o exame de paternidade. Tem todo o direito.
Quieto, eu concordo com o Anton. Realmente devo ser inteligente nessa
situação. Eu não conheço a Sônia direito. Ela pode estar grávida de outro cara e por
desespero, estar jogando a responsabilidade nas minhas costas.
Anton aproveita a deixa para me revelar que o seu exame de DNA deu negativo.
O menino do Gabriel não o é seu filho, assim como ele já havia garantido várias
vezes. A casa caiu por completo para a Lorenza. E eu fiquei feliz pelo meu amigo.
Principalmente pela Kiara e por tudo o que já aconteceu no passado com esses dois.
Espero que eles sejam mais felizes daqui em diante. Eles merecem paz.
— Laerte vai ficar muito alegre quando souber dessa boa notícia.
— Ele vai vir jantar amanhã à noite aqui em casa. Também se sinta convidado.
Você sabe que faz parte da nossa família. Nem preciso explicar o porquê. — Anton
me encara com a sua face dura e muito séria.
— Sabe… eu sempre achei que a gente tinha o cabelo parecido e o nariz muito
idêntico — falo só para implicar.
Anton rola os olhos, ergue-se do chão e estende-me a mão para me ajudar.
— Somos a prova viva de que o destino é uma merda. Nossa história daria um
livro.
— Acho que não. Quem leria um livro tão entediante sobre nós e as merdas que
passamos?
Anton ri e conversando, vamos até os nossos cavalos amarrados na árvore.
Mais tarde, eu vou para casa tomar banho e para depois voltar na mansão e
conversar com a Sônia.
Encontro-a no seu dormitório. No entanto, para ficarmos mais a sós, levo-a até o
jardim onde tem uma bonita fonte de sereia. Sentamos no banco, olhando o
monumento por uns cinco minutos em silêncio.
— Você tem certeza, Sônia? — Enfim, toco no assunto que me rasgava a
garganta.
Ao olhá-la, vejo seus olhos emocionados.
— Me perdoe, Sr. Gael. Eu não queria que isso tivesse acontecido. Só que não
entendo como aconteceu, o senhor foi sempre responsável, respeitoso e educado
comigo. Sinto muito.
Fico calado, criando coragem para dizer o que está me perturbando desde que
tive aquela conversa com o Anton.
Sônia me olha triste, abatida. Noto que abaixo dos seus olhos tem bolsas roxas e
olheiras.
— Não está dormindo bem?
Ela assente.
— Isso tudo me deixa sem sono à noite. Sinto medo, inseguranças… eu estou
perdida. Não sei o que fazer.
Pego na mão trêmula dela e deposito um beijo no seu torso.
— Se acalme, por favor. Não vou te negar auxílio, nem nada do que precisar.
— A Sra. Dexter já está me ajudando muito.
— Digo como possível pai do filho que está esperando de mim. Enquanto o
bebê não nascer, não posso ter certeza da paternidade que cobra. Entende? Preciso
de um exame de DNA.
Ela afasta rapidamente a mão da minha.
— Não sou mentirosa, não estou enganando o senhor e nem o cobrando.
Suspiro fundo, sem saber como me dirigir a ela para não a machucar ou parecer
infeliz.
Por que as mulheres são tão difíceis? Nunca sabemos como vão reagir ou
interpretar alguma coisa.
— Me relacionei com dois homens em toda a minha vida. E o meu primeiro foi
aos 19 anos — Sônia murmura. — Só que é a palavra de uma mulher desconhecida,
que o senhor ficou apenas por ficar.
— É por isso. Eu gostaria que entendesse esses princípios. O porquê de ser
necessário o bebê nascer para fazermos o exame e eu arcar por definitivo com a
minha responsabilidade. Não vai faltar nada para você, nem para o meu filho. Eu te
prometo.
— Eu entendo. Não tenho o direito de contradizê-lo. O senhor não pode ter
certeza de algo vindo só de palavras vazias… Mas até lá, também não gostaria que
se responsabiliza-se por me dar qualquer auxílio. Eu me viro, sempre me virei desde
que sai da casa dos meus pais. Sou adulta.
— É claro que eu tenho, Sônia — a intimido com o meu tom severo. — Desde o
momento que garantiu que eu sou pai do filho que carrega e até que ele nasça, eu
sou responsável por você. Vou cuidar da sua saúde, do seu bem-estar e do que for
necessário para os dois estarem bem.
Ela fica quieta, mordendo os lábios de nervoso. Resolvo igualmente respirar
fundo e respeitar o seu orgulho. Ela tem o direito de estar assim. No seu lugar, eu
não me comportaria diferente.
— Então está bem — de repente, ela se levanta do banco e encara-me com os
olhos castanhos tristes. — Prometo que se eu precisar de qualquer coisa,
comunicarei ao senhor. Boa noite, tenho que voltar para o meu trabalho noturno.
Eu a assisto abraçar os braços, virar as costas e sair quase correndo pelo jardim.
Fico tenso. Irritado.
Porra, por que, de repente, resolveu passar um furacão pela minha vida?
Revirando tudo aquilo que estava normal, monótono e confortável da sua maneira?
E falando em furacão, devo conversar com a Lívia. Ela, por mais que seja uma
péssima administradora no quesito financeiro, como mulher, é inteligente, prática,
decidida e não transparece seus sentimentos (só quando quer). É diferente de todas
as moças que já conheci. Por isso não quero perdê-la, nem desistir do nosso
relacionamento. Não agora que a tenho para mim. E ela é compreensível. Pode até
me ajudar a entender a Sônia.
Após ela sair, eu observo o Gael sozinho no banco. Ele parece pensar longe. E
isso me parte o coração. Mais do que saber que não é eu quem vou ter um filho dele.
Mas eu prometo, meu amor… você não vai sofrer por causa dela… nem por
nenhuma outra. Seremos felizes juntos...
— O que você acha?
Meu professor fica parado, olhando para mim e para a Lívia. Ele parece estar
travando uma batalha interior entro o sim e o não.
— Não sei, Sra. Dexter. Eu ficaria deslocado, não sou da família.
— Não se preocupe, eu também não sou. E posso te fazer companhia o dia todo.
Que tal? — Lívia declara em questionamento, dando um olhar que eu acho que os
homens devem se sentir muito desconfortáveis. — Prometo que não te deixarei
entediado.
Luciano, então, sorri de canto, estreitando os seus olhos azuis nela. Parece que
nem existo mais entre eles.
— Tenho certeza que não.
Sério? Não acredito, quero sorrir. Como a Lívia conseguiu deixá-lo assim em
menos de dois segundos, caidinho e hipnotizado pelo seus encantos? Essa mulher é
uma dominadora. Sem falar que é linda. Tem um corpo invejável. Seus seios são
empinados, sua bunda é grande, sua cintura é fina e suas pernas são bem torneadas.
Parece uma modelo. Meu professor também não é nem de longe feio. Ele é um
moreno alto, magro e bem divertido. Adoro as nossas aulas por causa do seu jeito
engraçado de ensinar. Quinta virou o meu dia preferido.
E por Deus, que o Anton não descubra isso. Gosto do Luciano vivo e respirando
para me ajudar.
— Hurum — pigarreio e ele me olha envergonhado. — Fico feliz por ter
aceitado passar o dia conosco até o jantar. Não posso andar à cavalo ainda, devido
ao meu tornozelo em recuperação, mas a Lívia, com certeza, será uma companhia
maravilhosa.
— Concordo, por mais que você esteja andando normal pela casa, não acho
certo que caminhe pelos campos da fazenda. Sem falar que o Anton nos partiria no
meio — Lívia diz e nós sorrimos. — Vou só trocar esse vestido por uma roupa
confortável de equitação, já volto, Luciano. Não vou demorar.
— Tudo bem, não tenha pressa. Estarei a aguardando.
— Com licença.
O professor não tira os olhos da Lívia, enquanto ela caminha elegante para os
degraus da escada.
— Sei que já tomou o café da manhã conosco, só que não aceita alguma outra
coisa? Uma água? — Trago a atenção dele para mim.
Ele me olha educado e ainda envergonhado.
— Agradeço, Sra. Kiara. Estou satisfeito.
— Tudo bem. Espero que não se sinta mal por eu ter que também te deixar
sozinho. Preciso ver os meus filhos. E Lívia já deve estar para descer. Sinta-se à
vontade.
— Que isso, não se preocupe. Obrigado.
— Por nada, com licença, professor.
Ele balança a cabeça e eu me retiro para o quarto do Gieber.

Assim que eu volto, Luciano se levanta do sofá e acompanha-me para os


estábulos da fazenda, onde um peão faz o favor de preparar dois cavalos para nós.
— Não dá para acreditar que você sabe andar a cavalo.
— E por que não dá para acreditar? — pergunto, galopando lenta para aproveitar
a vista do campo.
— É que… bom, não me leve a mal, você é muito bonita e chique.
— Não levei. E agradeço o elogio.
Eu pisco sorrateira e ele sorri.
— Lembro do seu rosto nos jornais e em algumas bancas de revistas espalhadas
pela cidade. A repercussão do governador e da ex Sra. Dexter rendeu por semanas.
Sua mãe Castellano foi citada. E ninguém acreditou que tantos escândalos rodeavam
a matriarca Dexter. Quanto mais o governador.
— Eu viajei esse tempo para fugir dos escândalos. E mudando de assunto, o
senhor vai ter que acelerar para não ficar para trás.
Ele nem se deu conta e eu já puxei os arreios e acelerei os galopes, amando a
sensação de liberdade, do vento balançando os meus cabelos.
Por que fiquei tanto tempo sem andar a cavalo? É maravilhoso.
Dez minutos depois, perto do açude e da floresta de eucalipto, paramos, rindo.
— Acho melhor voltarmos, daqui a pouco, somos capazes de nós perder.
— Concordo.
Na volta para os estábulos, vamos conversando leves sobre a vida. Ele é bem
divertido e engraçado. Sabe fazer humor nos momentos apropriados. Só que durante
o caminho, interrompendo o nosso passeio e o nosso assunto, encontramos um
querido caipira galopando rústico na nossa direção.
— Lívia! — Ele vem todo forte em cima do seu garanhão da cor caramelo.
E eu fico morrendo de vontade de cavalgar é nesse caipira.
— O que pensa estar fazendo?
Ao parar na nossa frente, Gael chega a empinar o cavalo e a segurar o seu
chapéu na cabeça. Parece irritado.
— Não deu para perceber? — Sou sarcástica de propósito.
Só que ele não gostou nem um pouco, pois desviou rude e olhou no fundo dos
olhos do Luciano.
— Quem é você?
— Ele é o professor da Kiara — respondo no seu lugar. — E como nos
encontrou aqui?
— Eu fui até a mansão procurar você e a Kia me disse que estava andando a
cavalo. Só que não me disse da sua companhia em particular!
Gael até parece outro homem. Está com uma cara de animal bravo, capaz de
matar qualquer um só pelo olhar feroz por baixo do chapéu marrom de cowboy.
Nunca vi esse homem assim.
Ai que calor.
Meu pai amado, estou com mais fogo do que imaginava. Quero sentar e rebolar
na rola no meu querido caipira raivoso.
— É um prazer, sou Luciano.
— Gael — resmunga “educado” e olha-me.
— Podemos conversar, Lívia? A sós.
— Não.
Ele me encara mais bravo.
— Não posso fazer desfeita ao meu convidado. Eu disse que ia estar à
disposição dele, fazendo companhia o dia todo, até o jantar a noite.
— Que isso, de forma alguma, Srta. Lívia. Se tem algum assunto sério para
tratar, não vou te prender.
— É, ele não vai… nem ousaria — Gael range os dentes.
Luciano pigarreia, desviando dos olhos azuis escuros da fera.
— Vou voltar para os estábulos. Daqui, eu acho o caminho.
— Isso seria fora das etiquetas. Por favor, a gente te acompanha. Pode se perder
durante o caminho. E Gael conhece todas essas terras.
— Tudo bem, se não for incomodar.
— Não vai. Né, Gael? — o provoco.
— Não!
Com uma cara amarrada de quem comeu limão e não gostou, Gael, então, nos
acompanha, mas ele vai no meio do professor e de mim. Também me impede de
conversar, inventando outros assuntos sobre a fazenda.
Nos estábulos, deixo o Luciano ir embora para a mansão. E quando me pego
sozinha com o Gael, ele, num estalar dos dedos, vira um bruto e puxa-me pelo
braço, imprensando-me nada delicado na parede de madeira.
— Nossa… o que está acontecendo com você, homem? — Aperto o seu maxilar,
segurando-me para não abrir a sua calça e tocar no seu pau enorme. — Parece um
touro.
— Porra, Lívia! Eu queria falar com você!
— E não está falando?
Nervoso, Gael afasta a minha mão e aperta a minha cintura com extrema força.
Com dor, suspiro meu hálito no seu rosto.
— Já disse que está tão sexy com essa barba grande? Hum? — Acaricio-a. —
Imagina entre as minhas pernas...
— O que fazia sozinha com o professor da Kiara? Por que foi andar à cavalo
com ele?
E sem crer, eu começo a rir.
— Você está com ciúmes de mim?
— Não me faça ficar mais enfurecido!
— Ou senão? — Finalmente, desço os dedos para o volume do seu pau no jeans.
E nossa, aperto o mastro gostoso. — Não se preocupe, eu sou toda sua.
De repente, Gael agarra os meus cabelos e joga a minha cabeça para trás.
— Não brinca, Lívia! Você ainda não me viu puto!
Seus olhos me fuzilam com excitação e vontade de matar alguém.
— Eu vi aquela noite em que deixou o meu traseiro roxo — sussurro doce. — E
não te quero puto. Quero a gente fodendo gostoso lá no rio. Como nos velhos
tempos. Que tal? Está muito quente hoje. E isso vai acalmar os seus nervos.
Fico quieta e ele bufa, soltando os meus cabelos com mais “calma”.
— Eu quero. Vamos logo.
E inesperado, ele vira as costas e sai andando enrijecido até o seu garanhão.
Sem pensar duas vezes, eu vou atrás do meu ciumento de coxas grossas e
bumbum grande.

— Caramba, Lívia, você é uma diaba perversa...


Em cima do cavalo, ele reduz a velocidade devido a minha mão boba alisando o
seu pênis duro, que tirei de dentro da calça para apreciar a visão – tadinho, vive só
preso nesse jeans –, estamos já perto do rio.
— Estou com tanto tesão… você nem imagina.
— Eu sei, eu estou sentindo a espessura — sorrio e começo a masturbá-lo.
— Droga… — ele geme com a cabeça na minha nuca.
— Realmente eu sou a sua droga viciante.
— Você é...
Ele solta uma mão do cabresto e apalpa o meu peito, adiante abre os botões da
minha calça e enfia a mão na testa da minha buceta quente. Arrepio-me, querendo-o.
— Poderia estar de vestido para facilitar as coisas.
— Quer parar o cavalo para eu facilitar a sua vida?
Nem precisei perguntar duas vezes. Ele imediatamente parou e eu desci para
tirar a calça.
— Está gostando da visão? Estou latejando por você.
Voltei com a bunda de fora, de calcinha, de bota, blusa, chapéu e de frente para o
seu pinto ereto. Sem responder, Gael apertou o meu traseiro, esfregando-se tarado
em mim, equilibrando-se no cavalo.
— Não acredito que estou excitada em cima de um cavalo. No meu caso, dois
— eu sorrio e apoio-me no seu ombro, gemendo de olhos fechados... e sentindo o
seu pau me penetrar fundo.
Puta que pariu de homem dotado. Estou sendo penetrada por qual animal aqui?
— Safada, gostosa!
Gael faz o trabalho de só me segurar pela cintura, enquanto eu rebolo com
cuidado nele, até tento ir mais ligeira só que ele me para.
— Mais lenta, dona Lívia...
— Isso é uma tortura, quero ser comida sem dó!
— Daqui a pouco… agora rebola devagar. Podemos machucar o Amarelo.
— A-Amarelo? — engasgo-me com a quicada pulsante que eu dou no seu pau.
— O cavalo… — ele geme.
— Nossa, que belo nome...
— Obrigado.
— Foi uma ironia... ahhh... droga — me seguro, fecho os olhos e capricho nas
próximas investidas famintas da minha colega lá embaixo.
Não aguento e gozo igual um vulcão. Gael também explode como larva dentro
de mim.
Ao chegarmos no rio, tiramos o restante da roupa e pulamos na água fresca,
pegando-nos com uma excitação sem limites.
— Eu sou louco pelo seu corpo — Gael aperta a minha bunda com força. —
Pelo seus lábios — ele me morde no lábio inferior. — A sua pele de seda — ele
lambe o meu pescoço. — Eu sou louco por você da cabeça aos pés! — Por fim, cola
a nossa testa.
Fecho os olhos, suspirando toda derretida.
— Gael…
— Por favor, repita o que você disse lá na capital, quando estávamos dentro do
carro. Quero ouvir de novo.
Fico descompensada das batidas cardíacas.
— Que eu... — Toco no seu peitoral molhado. — Que eu estou perdidamente
apaixonada por você? — Encaro-o.
— Em afirmativa?
— Tem que ser?
Ele belisca a minha bunda e eu solto um ai.
— Ai! Eu estou perdidamente apaixonada por você, seu caipira idiota!
Gael ri e abraça-me protetor, como se me impedisse de fugir.
— Não vai no jantar da Kia esta noite.
— Por quê? — questiono com o queixo no seu ombro, sentindo a corrente de
água acariciar as nossas costas.
— Porque eu estou preparando uma coisa especial para você. E sem a sua
presença, não vai funcionar.
Afastamo-nos e eu fito as suas íris.
— Mas eu prometi para a Kiara que estaria no jantar. Além de que eu sei que o
Sr. Dexter também te chamou.
Gael pega a minha mão, beija e leva no seu peito esquerdo.
— Quer namorar comigo?
— O-oi?
Sem esperar, arregalo os olhos, tusso e ainda quase tropeço nos seus pés e na
área submersa.
— O-o que disse?
— Eu perguntei se quer namorar comigo?
— Gael... eu…
— Seja minha de verdade? — Ele segura apaixonado o meu rosto. — Me deixa
cuidar das suas fragilidades, das suas dores e de tudo o que te entristece? Namora
comigo?
Meus olhos ardem. Eu fico sem voz. Então aliso a sua barba e chego à conclusão
de que se estou na chuva, é para me molhar. Não tenho nada a perder.
— Sim… meu caipira, eu aceito.
— É claro que aceita!
— Ahh, seu convencido! — Bato nele. — Eu DESAceito
— Não tem como voltar atrás.
Gael começa a rir e abraça-me, girando-me e beijando até mergulharmos na
parte profunda do rio.

Depois que voltei do rio com o Gael, ele me deixou na varanda dos fogões a
lenha e eu corri para dentro. Só que tive o delicioso desprazer de dar de cara com a
cabelo de fogo bem no meio do corredor. Ao parar, ela fez questão de cruzar os
braços e me olhar dos pés à cabeça, cheia de nojo e de deboche.
— A senhorita não parece nem um pouco poderosa agora. Está mais para uma
imunda.
Sorrio, fechando dois botões abertos da minha camisa rosa, meio molhada e
caminho até ela, fazendo som com as minhas botas de salto. Ao parar na sua frente,
eu aperto o meu chapéu de cowgirl.
— Estando adequada visualmente ou não, sou ainda superior a você. Ou não
teria se referido a mim, como senhorita.
Ester me fuzila raivosa.
— Eu sei onde estava! Eu vi você chegando com ele!
— E?
— E que você é uma…
— Eu sou uma mulher desimpedida, solteira e Gael é um homem bem resolvido!
— Esbravejo, dando um passo prepotente. — E você deve entender garota, que um
não é um não! Chega de se humilhar, vai ser independente, livre e viver por você
mesma! Ou vai caçar outro que te mereça!
— E você acha que você o merece? — Ela ri. — Ele não é para você!
— Nem para você, pois se fosse, ele não teria lhe dado um pé na bunda!
Ela range os dentes e fecha os punhos.
— Ele é quem vai te dar um pé na bunda! Logo que vai ser pai!
Em súbito, eu franzo olhos e Ester desfaz a sua pose enraivecida.
— Ué, está surpresa? A superpoderosa não sabia? Ele não te contou? Uau…
deve ser porque não passa de uma passatempo para ele!
— Do que está falando, sua infeliz?
Dessa vez, sou eu quem fecho os punhos e seguro-me para não marcar a cara
dela com os dedos.
— Estou falando da Sônia, a empregada da mansão que o Gael mantinha um
caso. Minha mãe que me revelou. Os dois sempre ficavam juntinhos, se pegando em
todos os cantos. Ou ficam… pois eu vi essa semana eles se beijando lá no jardim de
rosas. E as mãos do Gael estavam por todo o corpo dela.
Eu sinto meu coração acelerar e vem a imagem daquele manhã em que eu o
peguei com uma empregada bem novinha perto da fonte. Estava indo passar o
recado da festa da Kia para ele e os vi. Até me sentei no banco para “apreciar” a
cena.
— E ontem de novo, eu peguei os pombinhos conversando. Era sobre a gravidez
da Sônia.
— Não acredito em você, sua cobra malfeita!
— Está irritada, o que significa que acredita sim. Mas se não confia em mim —
ela dá de ombros —, pergunte para a Sra. Dexter. Ela foi a primeira a saber e a
ajudar a Sônia a revelar sobre a gravidez para o Gael. As duas são muito amigas e
confidentes. E eu ouvi que a Sra. Kiara prefere ela a você.
Ester sorri de novo e vira as costas. Eu fico parada, parecendo uma patética. Não
consigo revidar, nem pensar em palavras a altura para abordar essa infeliz, só a vejo
sumir pelo corredor.
Minha garganta chega a secar sem saliva. Ao engolir, parece que desceu
espinhos pelo estômago.
Será que eu estou sendo enganada pela Kia e pelo Gael?
Não posso acreditar, eu confiei minhas vulnerabilidades a eles como nunca
confiei a ninguém em toda a minha vida. Sem falar que a Kia é diferente, ela não é
como as outras mulheres traíras, que te apunhalam pelas costas. Além de que eles
demonstram que me perdoaram pelo passado. Estão me ajudando.
Merda! E agora pouco o pedido de namoro do Gael? As suas palavras de eu ser
dele, de querer cuidar de mim e das minhas tristezas? Sendo que uma delas é o fato
de eu nunca nesta vida poder ser mãe? Tá bom que aquele caipira imbecil não sabe
de nada sobre o meu passado!
Contudo, por que ele não me disse que seria pai? Estávamos ali a sós, com toda
a oportunidade do mundo para ele fazer isso. Ficou com medo do quê?
Claro, o pedido faz todo o sentido. Gael ficou com medo de eu dar um pé na sua
bunda e se preveniu para quando me dissesse a verdade – que engravidou a
empregada que vivia comendo pela fazenda.

Eu, o professor Luciano e a minha mãe ficamos conversando divertidos na sala.


Isso até dar a hora do almoço e o Anton aparecer todo suado e sujo de pó de serra.
Com certeza, ele estava no armazém de serragem. Ele, por mais que seja o
“poderoso Sr. Dexter”, literalmente gosta de pôr a mão na massa e participar dos
serviços brutais. Diz que seu pai não conquistou um império só sentado atrás de
uma mesa, todo “engomadinho” e resolvendo assuntos por telefone. Ele vivia com
as mãos cheias de calos. E quando Anton me confessou isso, eu criei mais
admiração por ele e pela educação do seu pai. Sr. Rangel foi um grande homem.
Meu Dexter está indo pelo caminho certo. Espero a cada dia mais o admirar e me
orgulhar pelas suas mudanças.
Anton cumprimenta o meu professor com uma cara amarrada de ciúmes. Depois
subiu obrigado para tomar banho – caso contrário não arredaria o pé de perto de
mim.
Na hora do almoço, já com ele de volta, só estranhei o fato do assento da Lívia
estar vazio. Luciano também fez questão de salientar a falta dela. Tive que perguntar
para a Felícia e fui informada de que a Lívia estava indisposta, por isso pediu o
almoço na sua suíte.
— Ela me parecia bem-disposta no passeio — Luciano pensa alto. E ao perceber
o que disse, pigarreia acanhado. — Hum, hum... desculpa. Ela estava bem. Mas isso
antes de uma pessoa ir atrás dela.
— Gael… — digo, olhando para o Anton e ajudando o Gieber a comer os seus
ovos mexidos. — Ele estava a procurando.
— Eu os deixei a sós nos estábulos e voltei sozinho para a mansão.
Meu Deus Amado, será que o Gael resolveu revelar de uma vez para ela da
Sônia e do filho? Não entendo, pois ele me disse que queria fazer algo especial para
contar as coisas. O que eu contestei na mesma hora. Ele não devia adiar isso. Tenho
muita experiência sobre esconder segredos para revelar “no tempo certo”. O tempo
certo deve ser o agora, não o depois. E se ele contou, fez bem.
Mais tarde, depois de dar de mamar para a minha bebê, eu resolvo ir atrás da
Lívia no seu quarto e abro a porta com a sua permissão.
— Oi, Lívia? Tudo bem? Felícia me disse que estava indisposta e preferiu
almoçar aqui em cima.
— Sim, não estava bem.
Eu a observo sentada na poltrona, toda elegante e com um notebook sobre o
colo.
— Estou procurando emprego.
— Emprego? — Surpresa, aproximo-me dela e da outra poltrona para me sentar.
— Sim. Afinal, eu não posso viver o restante da minha vida decrépita as custas
da família Dexter. E não tenho outras escolhas.
Fico mais surpresa, ela foi fria comigo?
— Lívia, não me incomodo de você ficar aqui por mais algumas semanas ou
meses, até planejar direito a sua vida. Já disse que gosto muito da sua presença, da
sua companhia. É a minha amiga. Você preenche os meus dias, conversa comigo,
me dá dicas e é muito inspiradora. Tenho admiração pela mulher forte que é.
— Agradeço, Kiara. Mas não posso continuar de “férias” no interior. Meu lugar
é na cidade, exercendo a minha profissão. Além de que preciso de dinheiro para
pagar o Gael, as minhas contas e voltar com a obra da nova clínica.
Calo-me pelo seu olhar estranho. Ela não parece nem um pouco normal, está
agindo rígida, apática.
— Você conversou com o Gael? — pergunto, querendo compreendê-la. — Ele
veio esta manhã atrás de você.
Lívia ergue as suas íris verdes e examina-me séria, o que me dá arrepios e
desconforto. Jamais imaginei me sentir assim diante dela.
— Foi, por quê?
— Bem… é que ele queria muito te dizer uma coisa.
— Hum. E se refere?
Céus, será que o Gael não a revelou? Ou revelou e ela ficou furiosa?
— Eu… eu me refiro a ele estar querendo conversar contigo.
— Vamos direto ao ponto, Kiara Dexter.
— Está agindo estranha…
— Esse não é o ponto — ela afasta o notebook do coloco, coloca na mesa de
canto, apoia as mãos uma sobre a outra e cruza as belas pernas torneadas, arqueando
a sobrancelha bem-feita. Está parecendo até uma advogada. Que intimidante... —
Deveria ser uma mulher mais decidida, direta. Acho que o Gael também. Odeio que
me escondam as coisas que estão acontecendo. Sou prática e de acordo com a
realidade.
Engulo em seco, resolvendo então ser direta, como ela deseja.
— Ele te disse do filho?
Após a minha “revelação”, Lívia permaneceu na mesma pose autoritária, dou
continuidade:
— É para isso que eu acho que ele estava te procurando, para te falar que a
Sônia, a empregada que ele teve relações no passado, está grávida, esperando um
filho seu.
— Não, na verdade, ele me pediu em namoro.
Sem esperar, arregalo os olhos e levo a mão na boca. Ela apenas pisca
inabalável. Estou em choque.
— Não acredito que ele não te disse! Me desculpa, Lívia. O aconselhei a ser
sincero, a não enrolar, mas ele falou que ia preparar algo especial para te contar
tudo.
— E desde quando se precisa de um momento especial para contar que a menina
que comia está esperando um filho seu?
— Sinto muito…
— Não sinta, Gael é homem e homem tem necessidades. Sem falar que não
tínhamos nada sério. Aliás, nem nunca achei que teríamos.
— Você está furiosa? Perdão por não ter lhe dito. Não era algo que eu podia
contar sem o consentimento do Gael. Sem falar que ele também soube disso só há
um dia.
— Anteontem?
— Sim. Eu estava presente, ajudando a Sônia a ser corajosa e a revelar a
verdade. Pois ela não queria enfrentar ele, já que os dois eram algo só casual. Se
sentia envergonhada, com medo e apavorada. Ela está com 21 anos, não tem
ninguém para se apoiar. Se encontra sozinha e sem rumo.
Lívia parece aliviar sua feição durona.
— Qual o problema do Gael em querer se envolver só com meninas bobas,
inocentes e quase adolescentes? Está aí um defeito daquele homem, ser burro! Será
que não conhece bordel?
Eu coro, quieta.
— Nada de ficar envergonhada, dona Kiara! Sabe bem do que eu estou falando.
Também sabe que existe casas de prostíbulo, onde os peões solteiros frequentam
para se divertir nos finais de semana.
— Eu sei, só que o Gael não é como esses homens. Ele…
— Ele é homem, 90% do cérebro é dedicado ao sexo. E se uma moça se oferecer
com a garantia de aceitar algo apenas casual é claro que ele vai querer.
— Você deveria ser advogada — de repente, solto e ela me fita afiada.
— Você acha? Eu gostaria era de ser macho. Já nascer privilegiado pelo simples
fato de ter um pau entre as pernas para fazer de gato e sapato as mulheres! Pois
somos injustiçadas desde que Deus inventou de tirar Eva da costela de Adão para
fazer dele a sua companhia.
Não aguento e sorrio da Lívia e da sua revolta.
— Você tem que conversar com o Gael.
— Claro, se ele resistir a pedrada que eu vou tacar no meio da sua cabeça, a
gente tenta conversar.
— Lívia! — Volto a arregalar os olhos.
— Você leva tudo a sério, né, Kia? Não se preocupe, posso trocar a pedra pelo
salto. E por enquanto ficarei quieta, só o aguardando.
— Você está brava com ele?
— Não, eu estou pacífica — ela acaricia a perna, com os olhos semicerrados. —
Muito pacífica...
Kia me deixou responsável por dar banho no Gieber e aproveitei para tomarmos
banho juntos. No fim, sai com uma toalha na cintura e ele no meus braços, enrolado
em outra.
— Hum, que delícia, meus homens estão cheirosos — Kia fala ao me ver
entrando no quarto com ele.
Ela já está pronta para o jantar. Veste um conjunto de blusa e saia muito justas
para o meu gosto. Só que não adianta eu falar.
— Amor, não coloca ele molhado em cima da cama! — Ela brame comigo, após
eu quase sentá-lo no colchão.
— E eu vou colocar aonde?
— No tapete. As roupas dele já estão aqui na poltrona.
— Quelo mamar — Gieber resmunga no meu ombro.
— Daqui a pouco, meu amor. — Kia caminha até nos, beija as costinhas dele e
me dá um selinho.
— Vou descer. Acho que o Laerte já chegou com a esposa. Se arrumem e não
esqueça de passar o perfume no Gieber.
— Onde a senhorita pensa que vai com essa saia justa?
Ela para e alisa a peça de roupa da cor dourada.
— Não está tão justa. Estou bonita.
— Sim, bonita e gostosa! — exclamo bravo.
— Bonita e gostosa para você — ela corrige sorridente. — E é só o Laerte e a
esposa dele. São nossos amigos.
— Aquele professorzinho não conta?
— Já disse que não é para implicar com ele! E tchau, preciso receber os meus
convidados.
— Mais tarde, eu vou te fazer perder essa pose respondona — resmungo,
olhando para a sua bunda empinada.
Kia só me dá um olhar corado e fecha a porta.
Volto a arrumar o Gieber depois a mim. E prontos, eu desço com o meu garotão
nos braços para cumprimentar o Laerte e a Fabiana.
— Eles estão enormes. — Laerte comenta ao assistir a sua esposa brincar com o
Gieber e a Melina no sofá. Adiante, ele me olha com as mãos nos bolsos. — Queria
te perguntar se já tem pistas de quem te roubou, também se sumiu mais algum
pertence?
— Nenhuma — respondo. — E não sumiu mais nada. Eu e a Kiara estamos bem
atentos.
— Devem ficar com certeza. Esse roubo aconteceu a pouco tempo, se for
alguma empregada, ela vai esperar a poeira abaixar para agir de novo.
— Sim. Mas mudando de assunto, tenho que te revelar sobre o resultado do
exame de DNA. Chegou ontem.
— Porra, Anton! — Laerte me encara surpreso e ansioso. — Então me conte
imediatamente!
— Não, acho que eu vou te falar depois do jantar — replico calmo e com ar
maligno.
— Um cacete!

Logo que a Lívia preferiu participar do jantar, eu resolvi igualmente – sem


escolha – aceitar o convite do Anton. E na frente da bonita porta de madeira, eu fui
recepcionado pela Felícia, que me conduziu para dentro da mansão. No interior, eu
dei de cara com a Lívia sentada no sofá, de papo com o tal professor da Kia. Ela
nem sequer virou para me olhar nos olhos.
— Gael! — Anton me cumprimenta. — Que bom que você aceitou o meu
convite de suportar o Laerte.
— Eu quem devia dizer isso para o Gael — Laerte fala, sorrindo para mim. —
Como vai, cowboy?
— Bem. Como vai a sua quase aposentadoria?
— Daqui dois anos — ele dá de ombros. — Resolvi adiar.
— Isso é bom. Não estamos prontos para ter outro chefe de polícia.
— Eu estou — Dexter resmunga.
— Que tal bebermos um pouco de cachaça para reverter esse seu mal humor? —
Laerte dá uns tapinhas nas costas dele.
Mas Fabiana, a sua esposa, ouve.
— Não, você sabe que está proibido pelo médico de ingerir álcool. Aliás, como
vai, Gael?
Lívia ergue a cabeça no exato momento em que Fabiana diz o meu nome. Ela
me fita, em seguida, desvia toda sorridente para o professor. Fico nervoso e irritado.
Porra, ela não vai me dar atenção?
— Gael?
— Estou ótimo. É um prazer revê-la.
Após uns vinte minutos de conversa na sala, Kiara logo faz questão de informar
que a mesa está pronta e chamar-nos para acompanhá-la. Na hora de escolhermos os
nossos lugares, eu me sento ao lado da Lívia, só que ela arruma uma desculpa de
ficar perto da ponta e troca de cadeira com o professor, fazendo-me ficar perto dele.
— Como vai? — Ele se dirige sem graça a mim. Eu apenas assinto com vontade
de socar o seu queixo. — Sra. Dexter estava me falando das suas formações.
— Hum — murmuro, não querendo papo com ele.
E acho que o idiota percebe, porque logo para de falar comigo.
Durante o jantar, Kiara fica encarando a mim e a Lívia. Pego-a num desses
momentos e ela ruboresce as bochechas devido ao meu olhar nervoso.
— Como vai o seu pai, Lívia? Sinto muito. Li no jornal da semana passada que
ele sofreu uma parada cardíaca e passou por uma cirurgia para implantar um
marcapasso.
— Ele está bem, não se preocupe. Já levou alta e foi para casa. Vou tentar visitá-
lo no final de semana.
Observo a Lívia de perfil, analisando a sua beleza deslumbrante esta noite. Não
entendo o motivo de estar fingindo que eu não existo. A poucas horas, não
estávamos fazendo amor no rio, sorrindo felizes e comemorando o fato de estarmos
namorando?
Droga, o que houve com essa mulher? Será que ela se arrependeu?
Sem contar que eu preciso revelar daqui a pouco sobre a gravidez da Sônia. Isso
me deixa mais apreensivo.
No final do jantar, eu não aguento de tamanha raiva pelo tal do Luciano estar
recebendo atenção demasiada da Lívia. Quero socar os dentes dele! Então, para não
fazer nenhuma besteira, entre uns dez minutos passados, que saímos da mesa de
jantar, eu chego de frente na Lívia, chamando-a para me acompanhar. Nem ligo para
o professor nos olhando e sendo ignorado. Minha vontade era de deixar essa cara
sem os olhos para não ficar secando a mulher dos outros.
— Seja mais cordial, Gael. Estamos diante de um convidado especial da Kia —
ela sorri toda provocativa para ele, dando uma mexida na sua taça de champanhe.
Ainda pisca, enquanto me repreende como se eu fosse uma criança.
Que porra dos infernos! Eu fico vermelho de fúria.
— Eu preciso falar com você agora! E acredito que o convidado especial da Kia
não se incomodaria em nos dar licença! — Fuzilo-o, com o meu tom de voz mais
grosso e mais alto.
O cara abre um sorriso de linha e acena com a cabeça.
— Desculpe-me por incomodar, eu vou deixar vocês a sós.
— Eu que sinto muito — Lívia imediatamente sussurra, com os seus olhos
verdes fixos nos do infeliz. — Daqui a pouco, retomamos o nosso assunto divertido,
prometo.
— Claro, com licença — o idiota, todo encantado, se retira.
— Que porra de cena é...
— Calado! E vamos para a outra sala reservada — ela vira as costas, deixando-
me estacado igual imbecil.

Depois de a acompanhar para a sala de chá, eu fecho a porta e viro, encarando-a


bravo.
— O que quer falar comigo? — pergunta.
Lívia está serena com a sua pose elegante e atraente. Ela anda pelo local,
apreciando os quadros de muito valor.
— Por que está fingindo que eu não existo?
— Não estou — ela responde com insignificância, sem sequer me olhar.
— Está sim! Ainda fica só de papinho com aquele magrelo da cidade. Vou socar
o queixo dele!
— Algum problema? — Finalmente, ela me encara com as suas íris obscuras de
mistério, que, por pouco, não me intimidaram. — Pelo que eu saiba, eu sou livre
para conversar com quem eu bem quiser.
Bufo enrijecido, passando a mão pelo cabelo e bagunçando-o.
— Não estava assim comigo há poucas horas. Não estamos namorando? Ou se
arrependeu do meu pedido?
— Acho que sim.
Abaixo o braço, sentindo que levei um soco no estômago.
— Por quê?
Ela, então, arqueia a sobrancelha e caminha com os seus saltos e as suas pernas
torneadas até mim, parando bem rígida na minha frente. Seu semblante mudou,
parece furiosa, capaz de me estrangular.
— Porque eu odeio homens burros! — Lívia, de repente, me dá um tapa ardido
no braço, empurrando-me para trás — Qual é o seu problema com as moças que não
saíram da adolescência direito, seu sem vergonha? — Ela me dá outro tapa e mais
outro tapa e mais dois, três, quatro.
Sem entender nada, seguro-a ligeiro pelas mãos para parar de me bater.
— Vontade de castrar esse seu pau! Sua sorte é de eu ser compreensível, pois
das duas cabeças que tem, essa aí é a única que me serve!
— Que droga. O que foi, mulher?
— O que foi? — Ela puxa abrupta as suas mãos. — Eu que te pergunto o que
foi. Não tem nada para me dizer não, Don Juan das empregadinhas?
Na mesma hora, me vem a Sônia na cabeça. Porra, ela sabe!
— Você sabe? — Arregalo os olhos. — Merda, Lívia. Você sabe!
— Merda, mesmo. Achou que me pedindo em namoro hoje à tarde, antes de
contar que teria um filho, me impediria de te dar um pé na bunda?
— Eu nem pensei nisso. Só não te contei naquele momento porque eu não quis!
— Hum — ela me fuzila. — Pois eu já sei! Poupe a sua saliva!
— É, você sabe. Você sempre sabe das coisas, ainda surta antes de eu saber o
motivo para te esclarecer a verdade. Não sei se é defeito seu ou de todas as mulheres
do planeta.
— Vai foder com todas elas para descobrir? — Lívia questiona e quase vira as
costas para se impor contra mim.
Só que a agarro pelos cabelos e prendo-a no meu corpo.
— Me solta!
— Eu não sei se é realmente o meu filho, ela pode estar grávida de outro e
tentando me empurrar a responsabilidade como pai. Em nenhum momento, eu fui
irresponsável de não usar camisinha. De verdade, eu não fui e nem, jamais deixaria
de usar.
— A gente transa sem preservativo!
— Mas foi mais tarde, com o seu consentimento e o meu. Além de que é uma
mulher madura, que se cuida e sabe o que faz. Caso contrário, de tanto que ficamos,
já era para estar grávida faz tempo.
Lívia respira fundo e rígida, afasta-se do meu aperto.
— Como eu disse, eu sou compreensível. E não tenho nada a ver com o filho
que vai ter com essa menina. E se é seu ou não, isso não é problema meu!
— Você não vai termi…
— Terminar o que nem sabemos se vai dar certo? Você sabe que eu preciso
voltar para a cidade, né? Tenho uma dívida para honrar com você, outras com os
meus bancos e pôr fim a construção da minha clínica. Eu não devia nem estar aqui
na mansão por tanto tempo assim, atrapalhando a família da Kiara. Não há mais o
agiota me ameaçando de morte. Preciso trabalhar.
Indignado, eu fecho os punhos e enfrento-a.
— O que estamos vivendo é só um passa tempo, Gael.
— Passa tempo? — sorrio irônico, com raiva. — É muito contraditório, sendo
que você está apaixonada e precisa de mim!
— Eu não preciso de ninguém! Nunca precisei em toda a minha vida! Sempre
me virei sozinha! — exclama. dando um passo para trás. — Não vem dizer que eu
preciso de você!
— Agora é diferente. Eu estou aqui, querendo te ajudar.
— Não vamos dar certo, sabe disso. Apenas nos gostamos. E fim!
— Porra, para de negar a verdade, Lívia. — Puto, seguro-a mais forte pelos
braços. — Será que não entende que eu amo você? E que eu sou capaz de qualquer
coisa para te ter ao meu lado?
Seus bonitos olhos brilham.
— Eu a amo e não vou desistir de te ver feliz. Nem vou deixar que se afaste da
minha vida. Pois nem você quer isso! Nenhum de nós quer!
Ela vira o rosto.
— Chega de achar que pode resolver tudo sozinha. Você é uma péssima
administradora. Até para com os seus sentimentos. Não vê, droga?
— E você acha que pode salvar a minha vida? — Ela não aguenta e deixa
algumas lágrimas escorrerem pela bochecha, enquanto luta para se soltar. — Não
pode! Ninguém pode!
— Eu posso, pois já te fiz esquecer de se vingar da sua mãe, de ser poderosa e
sei lá mais o quê. Não notou? Não viu que quando estamos juntos nada disso existe,
que, no presente, o importante é apenas nós dois nos amando, nos tocando e nos
sentindo completos?
— E quer ouvir o quê, Gael? Que eu também o amo? — Ela para de lutar e me
olha. Sinto um aperto no peito por vê-la tão frágil. — Além disso, o que pretende
com os seus planos? Me amarrar e me obrigar a morar na sua pequena casa para
fazermos amor noite e dia, sem pensar na realidade fora da porta?
— Não, minha diabinha da cidade — a toco nos cabelos pretos, percorrendo as
costas das mãos na sua bochecha molhada pelas lágrimas doces. — Eu quero que
comece do zero comigo. Pois eu também não tenho nada. Se estiver disposta a estar
ao meu lado, prometo te dar tudo o que estiver ao meu alcance. Igualmente prometo
te dar o principal, amor, paz e tranquilidade. Apenas aceite se entregar de corpo e
alma ao sentimento que sente. Que se permita mudar de vida. Que seja minha para
eu te amar todos os dias, até enjoar desse caipira idiota e apaixonado.
— Você é maravilhoso... — ela sussurra mais calma, acariciando os meus lábios
e a barba. Fico todo bobo pelo seu toque. — Só que eu tenho receio. Eu sou
sozinha… sempre fui. Nunca permiti de outra pessoa gerenciar os meus passos. Sou
livre, independente.
— É essa a questão, Lívia. Você tem a mim. Não está só. Jamais vou te
abandonar. E jamais vou gerenciar os seus passos, nem controlar a sua liberdade.
Porém, se estiver de acordo, numa questão administrativa, relacionado ao
gerenciamento de contas e dinheiro, você vai ter que me suportar. É péssima.
— Ok, seu idiota — resmunga. — Eu sou péssima. Feliz? Realmente não sei
controlar dinheiro quando a questão é os meus sonhos.
Eu colo a nossa testa, respirando o seu hálito fresco e o seu cheiro único de
âmbar.
— Isso é um sim? Você aceita eu estar completamente na sua vida?
— Não era isso o que propôs… — Ela me encara com os seus olhos verdes
lindos.
— Tudo o que eu lhe disse chega a essa conclusão.
— O que propõe seria como se nos ligasse um ao outro. Eu estaria ainda mais
nas suas mãos. Dos pés à cabeça e financeiramente. — Lívia respira fundo. — Mas
eu também o am... eu gosto de você e estou perdida… ou melhor, fodida.
Com o seu murmuro embargado, eu seguro a sua cabeça e toco a ponta do nosso
nariz.
— Tenho a impressão de que quase disse que me ama.
— Você quer levar mais tapas?
Sorrio.
— Prometo te fazer feliz, minha diaba da cidade.
— Você já me faz, eu sou outra pessoa ao seu lado, meu caipira idiota.
Ela alisa o meu rosto e avança para me beijar cheia de fome. Retribuo com mais
fome e amor.
Mais tarde, após o jantar, eu e o Anton fomos nós “deitar”.
Só que não… não mesmo...
— Eu amo essa bunda — ele murmura, apertando o meu traseiro por trás.
Mal fechamos a porta e ele já avançou todo faminto no meu corpo.
— Tire a roupa, Kiara. Agora!
Sorrio e viro-me.
— Não. O senhor desesperado vai se deitar primeiro lá na cama. E nu.
— Não, é você quem vai se deitar naquela cama e se masturbar para mim.
— O-o quê? — Coro as bochechas. — Sabe que eu tenho vergonha, amor…
— Ah, é, tem? — Anton avança para abrir o zíper frontal da minha blusa. —
Mas para se masturbar com aquele vibrador enquanto me dava uma greve de sexo, a
senhora não teve!
Ele desce o zíper quase o destroçando – e destroçou sem dúvidas.
Fico sem fôlego.
— Eu tenho vergonha de fazer isso na sua frente… sempre tenho.
— Hoje você vai perder essa vergonha.
Anton também abre a minha saia e começa a me empurrar para trás, enquanto
me beija feroz, sugando a minha língua e lambendo os meus lábios já inchados da
sua fome sagaz. Até que caio sentada na cama, cara a cara com o volume da sua
calça.
— Antes, para evitarmos que eu perca a cabeça de tamanho tesão e machuque
de repente o nosso bebê, você vai me aliviar.
— Nem sabemos se estou grávida… — ofego, observando-o arrancar o cinto de
uma única vez.
— Você está, já perdi as contas de quantas vezes gozei dentro de você. E não
está bebendo o anticoncepcional. Ou está, Kiara? — Seu olhar é mortal,
aterrorizante. Me faz ficar arrepiada.
— Não, não mesmo.
Eu mordo o lábio inferior, tomando coragem para ajudar o meu delicioso marido
a abrir o zíper e tirar a sua calça social preta.
— Quero muito o nosso terceiro bebê.
— Vamos ter — ele bufa com o meu toque no seu abdômen forte por baixo da
camisa.
Eu não paro, desço a mão até a sua ereção gigantesca por dentro da cueca. E
abaixo a peça, excitada pela visão do seu membro duro, de veias aparentes, saltando
diante dos meus olhos.
— Nossa está tão… rígido…
— Do jeitinho que você gosta, querida esposa.
Anton agarra a minha nuca. Só que me afasto para ele não investir na minha
boca, mas, sim, eu o chupar – como faço agora, massageando a base do órgão
rosado e dando umas lambidas molhadas na glande.
Ele geme, segurando mais forte os fios da minha cabeça.
— Estou no paraíso, Kiara.
Então o chupo, o masturbo e o sugo sem parar, da forma certinha que me
ensinou.
— Porra! — Anton não consegue se aguentar, em menos de três minutos, ele
cata os meus pobres cachos, apoia a mão no alto da parede e bombardeia dentro da
minha boca.
Tento acompanhar o ritmo para não me sufocar, nem me engasgar, entretanto,
parece que esse homem quer me ver sofrendo.
Não demora para ele atingir o ápice, lambuzando todo o meu rosto. Sem ar,
assim que me limpo, Anton me joga no meio da cama e me manda tirar o resto da
roupa. Eu tiro, assistindo curiosa ele ir até a sua gaveta do criado mudo e voltar com
o vibrador que a Lívia me deu.
Arregalo os olhos.
— Mudei de ideia.
Ele vem até mim e toca nos meus pés, subindo pelas minhas pernas. De repente,
puxa-me e vira-me de cara para o colchão.

Abro mais as suas pernas, rosnando para a visão da sua bunda empinada. Kia
tenta se erguer para se equilibrar de quatro. Porém, não resisto a acariciar as duas
ancas e dar uma tapão ardido na direita. Ela grita na hora, caindo e mordendo o
edredom.
— Hummmm — grunhi dolorida.
— Vamos brincar, amor.
Inclino-me, lambo a sua bunda e começo a passar o dedo na sua buceta já
molhadinha para ser penetrada. Ela pisca o ânus e arfa baixinho. Não demoro, pego
o vibrador, esfregando sem cerimônias no seu grelo molhado.
— Anton…
Devido aos seus resmungos exasperado, enfio o objeto todo dentro dela,
torturando-a com vontade. Fico metendo muitas vezes; oras tirando, oras botando
brusco, só para ver a minha menina gemer desesperada para sentir todo o aparelho.
Mesmo puto de tesão com o meu pau latejando, eu me controlo. Volto o vibrador
para ela se contorcer na porra. Faço movimentos de vai e vem, enquanto grita. Em
seguida, soco tudo.
— Ahhhh — ela mergulha o corpo e aperta o forro da cama, perdia nos seus
cabelos desgrenhados.
Seus gritos se tornam berros.
— Mais forte, querida?
Ela não consegue responder e eu intensifico mais ainda.
Até que contrai o abdômen, enverga as costas e goza num ápice longo, seguido
de outro orgasmo. O prazer intenso escorre pelas paredes das suas coxas. Kiara
desmorona na colchão, tentando se recuperar das convulsões. Não por muito tempo,
porque jogo a merda do vibrador no chão, retorno-a para frente e subo em cima do
seu corpo, explorando cada pedaço de pele cálida com a minha língua.
— Anton… eu… eu vou morrer…
— É, vai!
Coloco-me de joelhos na cama e arrasto-a deitada de encontro ao meu pau
petrificado. Ergo as suas pernas no alto do meu peito e penetro-a bem fundo.
Kia impulsa os seios, abre a boca e xinga-me estridente de diabo – o que me
deixou com mais vontade ser o próprio. E sou, até nos saciar ao êxtase.

— Amanhã o senhor vai ter que me carregar nos braços — ela fala cansada,
acariciando o meu cabelo.
Estou deitado entre os seus seios, escutando o seu coração bater mais calmo.
— Você sabe que carrego — ergo os olhos e fito-a, admirando a sua tamanha
beleza loira, de sardinhas marrons perto dos olhos e das bochechas. — Te amo —
digo e beijo-a no bico do peito.
Ela sorri, acariciando o meu rosto.
— Também te amo, meu amor.
— Eu sei, e estou tão feliz, sabia? Nunca estive tão contente e em paz.
— A gente merece.
— Sim… já passamos por tantas coisas. Além disso, precisamos escolher o
nome do nosso bebê.
— Anton! — Kia ri, balançando a cabeça. — Não crie tanta expectativa.
— Eu crio, porque eu sei que já está grávida. E tenho um desejo a te
compartilhar.
— Qual?
— Se for menino eu quero que se chame Rangel, como o nome do meu pai.
Ela perde a fala. Eu me inclino um pouco para beijá-la nos lábios já inchados da
minha fome incontrolável.
— É claro — sussurra emocionada. — Seria uma honra a ele colocar seu nome
no nosso bebê. Porém, e se for menina?
— Aí a gente pode pensar num bem bonito. Mas tenho certeza de que é menino.
Eu sonhei a três dias com o meu pai segurando um garotinho loiro nos braços.
Kia lacrimeja, sorrindo com os seus olhos de amor.
— Ele me dizia que era a sua cara, além de que me daria mais trabalho do que a
Melina. Dá para acreditar nisso?
— Ah, ele disse? — Ela funga o nariz. — Eu acredito. E sobre o Gieber, o que o
seu pai disse?
— Nada, pois, no final do sonho, eu era acordado por alguém me chutando. E
realmente fui.
Rimos.
— É, nosso birrento dormiu conosco pois estava chovendo e trovejando muito.
Foi nesse dia?
— Foi. E foi o dia mais feliz da minha vida. Desde a sua morte, há sete anos, eu
só tive o privilégio de sonhar duas vezes com ele.
— Fico feliz por você. Seu pai foi um grande homem.
— Ele foi — eu beijo a Kia, focando agora em provar do seu pescoço.
— Amor… — ela resmunga, afastando-me. — Estou dolorida em cada membro
do corpo. Vamos tomar um banho para descansar.
Sou obrigado a concordar e aceitar, pois estou morto de cansaço.
Quatro meses depois…

Enquanto o Anton tirou o dia para resolver os seus problemas com os bancos, eu
aproveitei que estava na cidade para ligar para a Lívia e marcar de almoçarmos
juntas. Faz oito semanas que não nos vemos. Sua última visita na fazenda foi
dedicada apenas ao Gael.
Ela achou um AP bom, também uma oportunidade espetacular de emprego na
clínica odontológica mais luxuosa da cidade e decidiu aceitar a vaga – o que deixou
o Gael meio chateado pela distância. Mas ele, na época, compreendeu que jamais
vai segurar esse furacão poderoso.
— Nossa, você está linda!
Assim que eu chego perto da mesa, Lívia se levanta e abraça-me com o
seu cheiro maravilhoso.
— Não chego aos teus pés — afasto-me, retribuindo o seu beijo na bochecha. —
Sua beleza não é deste planeta, Lívia. Com certeza não.
— Não exagera. E essa “barriguinha”?
Assim que nos sentamos, ela tocou na minha barriga.
— Quase cinco meses — sorrio. — As pessoas já estão percebendo que estou
grávida.
— Minha linda, após a sua visita na capital, pode ter certeza de que esse ou essa
herdeira Dexter dentro do seu ventre será capa de todos os jornais e revistas do
estado. “Sra. Dexter grávida do terceiro (a) herdeiro (a) do império Dexter”.
— Sem dúvidas — faço careta. — Sempre agradeço por morar no interior e não
viver da fama desse sobrenome.
— Até eu concordo — surpreendendo-me, ela dá de ombros. — A fama, o
poder, bajulações, tudo isso te transforma. E que tal escolhermos algo para
comermos logo? Acredito que esteja faminta.
Lívia pisca, pegando o cardápio para decidirmos o que pedir de entrada, prato
principal e sobremesa. Ademais, depois de informar os nossos pedido ao garçom,
ficamos bebericando da água com gás na taça.
— Como vai no seu emprego?
— Ótima, estou até parecendo a chefe. Sou mais rígida do que a nossa “patroa”
— rola os olhos e ri. — Mas agora as coisas estão mais equilibradas. Meu pai
descobriu das minhas dívidas e pagou todas. Eu me encontro há uma semana sem
falar com ele.
— Lívia! — exclamo sem crer. — Por quê? Isso foi bom… quero dizer, seu pai
é milionário, não deve nem ter feito cócegas na sua fortuna.
— Mas foi humilhante. Me senti uma adolescente irresponsável, que tem o seu
papaizinho para limpar as suas cagadas. Desculpa a palavra de baixo calão.
— A desculpo. Também, foi por isso que brigou com o Gael?
— Sim, Gael apoiou o meu pai, sendo que os dois só se viram duas vezes na
vida! Além disso, não estou brigada com aquele caipira que não vivo sem, só estou
dando uma greve de sexo e fingindo que ele igualmente não existe.
— Meu Deus, você é uma malvada sem coração. Gael está há três meses
empenhado em construir a nova casa nos hectares que comprou do Anton. Até
contratou um engenheiro de mansões.
Lívia fica quieta.
— E está num mal humor dos infernos.
— Você acha que eu não sei? — De repente, a maléfica sorri, bebericando um
pouco da taça de vinho branco que o garçom acaba de servi-la. — É que também
rejeitei o seu pedido de casamento no último sábado que veio me visitar.
— O-o quê? — Arregalo os olhos. — Você negou?
— Foi o certo. É melhor continuarmos namorando até eu ver o que vai dar. Sem
falar do filho dele, que nem sabemos se é mesmo o seu filho. Prefiro esperar nascer.
— Já disse que tenho plena certeza de que é. Deveria dar uma chance a Sônia
para conhecê-la de verdade. Sem falar que isso não interfere drasticamente na vida
de vocês dois.
Lívia inclina a cabeça e foca na bebida amarela, que brilha gelada. Noto algo
misterioso nela, um segredo… não sei.
— Ou impede?
Ela volta a me fitar com o seu olhar frio, arrepiante.
— Quer a verdade? Há quatro meses, antes de eu voltar para a capital, eu fiz
uma pequena pressão psicológica na Sônia para saber se aquela gestação não era de
outro homem e que ela não estava empurrando a responsabilidade para o Gael só
por ele ter boas condições. Como ele mesmo desconfia. Contudo… no final — Lívia
pigarreia. — Bom, eu quem sai um pouco abalada.
— Ela tem contou a sua história de vida?
— Sim. Lá no fundo, eu posso acreditar que seja realmente do Gael. Só que
ainda sim não devemos perder a desconfiança. O correto é esperar a criança nascer.
Sabe disso, Kia.
— Eu sei. Só que eu gosto dela, é como… como se me visse naquela menina.
Nossa história é idêntica.
— Entendo, já me contou o quão triste foi o seu passado. Mas tome cuidado,
você tem o coração puro e inocente para maldades. É uma boa pessoa, que eu gosto
e não desejo ver os outros fazendo mal. Por isso, deve parar de usar as emoções para
usar mais a razão.
— Também gosto muito de você, Lívia. É a minha única amiga. E sou grata pelo
seus conselhos. Sabe que me inspiro na sua personalidade e no seu empoderamento.
Além de que estou usando sempre a razão. Tenho um carinho enorme pela Sônia,
ela só tem a mim. No entanto, não a conheço direito para ser totalmente confiante.
Apenas quero o bem dela e do seu bebê. E se não for do Gael, com certeza, me
sentirei traída. Mesmo assim, não me arrependerei de ter a socorrido na gravidez.
Pois sei como é perambular com uma barriga enorme, pensando no futuro do seu
bebê.
Lívia acaricia a minha mão.
— Acho que eu jamais terei esse seu coração. Tenho inveja do quanto pode ter
amor e compaixão por alguém. E por mais que essa pessoa tenha errado com você,
na hora do desespero, não nega ajuda, amparo, nada.
Emociono-me com as palavras da Lívia. E bem na hora de continuarmos
conversando, o garçom chega com a nossa entrada, fazendo-nos focar nos deliciosos
pratos.
— E a sua dívida com o Gael, seu pai pagou? — De repente, me vem a dúvida e
questiono-a.
— Ah, acredita que não? — Rola os olhos, limpando delicada a boca com
pequenas batidinhas do guardanapo. — Foi a única dívida que o meu pai não pagou.
Mas o Gael foi perdoado por mim. Já que ele está...
— Administrando as suas finanças…
— O quê? Não acredito que aquele caipira te contou! — Lívia me fuzila
surpresa.
Sorrio, dando um gole no meu suco de melancia.
— E você acha que ele consegue esconder alguma coisa de mim? — Dou de
ombros. — Sinto muito se não queria que eu soubesse.
— Você não parece sentir nem um pouco, imagine muito. E tudo bem, devagar a
minha dignidade vai se deteriorando.
— Quanto drama, dona Castellano. Logo de você?
Rimos juntas, até ela beber da sua bebida e suspirar.
— Eu gosto dele, Kia, como nunca gostei de outro homem. E estou nas suas
mãos, pois não tenho mais o que perder.
— Pois já perdeu tudo e não há nada que lhe resta…
— Sim e não, ainda me resta a clínica em construção. Gael está pegando todo o
meu dinheiro para investir lá. Mesmo assim, quando ficar pronta, não terei capital
para a decoração, aparelhos odontológicos etc. Nada! Estou pensando em vender o
edifício.
— Poxa, eu fico triste por ter que fazer isso. Tenha calma, em breve, saberá o
que fazer.
— Estou confiando no destino… pela primeira vez.
Eu e a Lívia continuamos conversando e almoçando. E antes de nos
despedirmos para irmos embora, surge o meu pedido para que ela passe a semana de
Natal e de ano novo na fazenda. Logo que não vai trabalhar e não pretende passar na
casa dos seus pais. Sem falar que terá a oportunidade de torturar o Gael dela – e ele
ficará muito feliz. Para a minha alegria, Lívia aceita contente o convite e promete
organizar as coisas para viajar na próxima semana.
Mais tarde, eu volto para o hotel que é na frente do restaurante onde almoçamos
– surpreendendo-me ao ver o Anton sentado no ornamentado sofá do quarto,
tomando uísque.
— O que faz aqui, amor? Não ia passar o dia todo resolvendo suas coisas no
banco?
— Já resolvi tudo o que tinha para resolver. Vem cá ficar comigo.
Eu tiro o meu chapéu bonito de palha e vou até ele, me acomodar em cima das
suas coxas fortes. Anton não perde tempo em acariciar a minha barriga bem
saliente.
— Sementinha da mamãe.
Sorrio da frase que o Gieber sempre fala ao se referir ao seu irmãozinho “Brayan
Rangel”. E Anton a repetiu todo bobo.
— Nossa sementinha, plantada do nosso amor quente e apaixonado.
— Muito quente, minha doce menina — ele beija a minha boca, dando-me o
gostinho do seu uísque. — Vamos aproveitar as nossas quatro horas, antes de
voltarmos para a fazenda e para as crianças.
Anton aperta a minha coxa e mergulha seus dedos entre elas. Eu suspiro já
excitada e morta de vontade dele.
— Desde que o senhor seja bem bruto, faminto e feroz. Não tão cuidadoso.
— Caramba, Kiara. Você está grávida! Não vou dar conta de saciá-la bruto. Se
contente com o meu amor lento e gostoso.
Reviro os olhos, fazendo careta para a sua mentira deslavada.
— Nem você gosta desse amorzinho lento. Mas tudo bem — eu passo os dedos
no seu abdômen, encaminhando-me até o seu órgão evidente na calça social. — Vou
cavalgar em você o quanto posso.
— O que minha doce menina virou? — ele geme cheio de tesão por eu estar
apertando o seu pau grosso, que endurece cada vez mais na minha mão. —
Droga, amor, começa a cavalgar logo antes que eu te deixe dormente da boca!
Eu aceitei o convite da Kia de passar a semana do Natal e do ano novo na sua
casa. E viajei três dias antes da véspera, pois a clínica onde estou trabalhando entrou
de recesso cedo.
Gael quase teve um ataque cardíaco ao aparecer na mansão para resolver algo
com o Dexter e me ver sentadinha no sofá, lendo um livro de administração. Não
falei nada para ele de que passaria o feriado na mansão Dexter.
— Lívia? — Ele arregala os olhos, surpreso.
Eu ergo a cabeça, tentando me controlar diante da sua beleza de cabelos
castanhos médios, barba por fazer e de traje de cowboy, com um chapéu branco no
topo da cabeça.
Que homem!
Ele é tão lindo. Meu coração chega a saltar do peito. Minha vontade é de beijá-
lo e provocá-lo sem dó. Depois foder bem gostoso.
— A própria — pisco, fechando o livro e cruzando as minhas torneadas pernas.
Os globos oculares do meu caipira safado saltam direto nelas.
— O que faz aqui?
Ele chega perto do sofá. Eu decido me levantar e ir até ele, tocar no seu peitoral
forte. Gael suspira.
— Humm… para a sua alegria, meu querido caipira, a convite da Kiara, eu vim
passar a semana do Natal e do Ano Novo na fazenda.
— Realmente, fico muito alegre — então, exasperado, ele agarra a minha
cintura e puxa-me para um beijo faminto, cheio de pegada e de fogo.
Não perco tempo em apertar a sua bunda durinha.
— Lívia! — Gael abraça os meus cabelos com a sua mão grossa e áspera. —
Estava com saudades… — ele afasta a minha cabeça e sussurra suas palavras
necessitadas, descendo com os lábios pelo meu pescoço.
Arrepio-me com tesão.
— Saudades de me foder ou da minha companhia?
— Estava com saudades de você — resmunga e volta a me olhar nos olhos.
— Não ligo — o fuzilo maldosa. — Você e o meu pai merecem sofrer!
— Ele só teve a intenção de te ajudar.
— Ah, me ajudou tanto que a única dívida que não pagou foi a sua! Você foi
cúmplice dele!
— Isso já não estava resolvido?
Ele parece querer sorrir. Por isso dou um beliscão no seu braço.
— Ai, droga, mulher!
— Guarda essa sua língua dentro da boca ou vou cortar ela com os dentes!
Empurro-o, mas ele é mais forte e puxa-me ainda mais contra o seu corpo alto e
bruto.
— Você não tem que trabalhar, não?
— Não consigo. Eu fico pensando toda hora em você, no seu perfume, nos seus
olhos verdes — safado, ele morde o lóbulo da minha orelha. — Em você nua sobre
mim, com os seus cabelos negros soltos, grudados no suor da testa, enquanto seu
traseiro se fricciona na medida que rebola.
— Seu sem-vergonha… — Finco as unhas nos bíceps dele, não deixando barato
a sua provocação. — Minha calcinha já está ensopada e minha intimidade latejando
para ser preenchida.
Noto-o respirar mais acelerado.
— Meu pau está igualzinho — inesperado, ele esfrega a sua ereção na minha
pélvis. — Estou latejando para preenchê-la duro.
Eu gemo, descendo a mão para apertá-lo gostoso.
— Estou vendo.
— Porra… eu preciso de você, Lívia! Agora!
— Agora não. Entretanto... se voltar mais cedo, podemos matar a saudade —
sorrio boazinha.
Tenho surpresas eróticas para o meu namorado caipira. Escolhi uma fantasia de
vaqueira bem reveladoras. Quero só ver a sua cara.
Antes de se retirar para o escritório do Dexter, Gael me dá outro beijo intenso,
cheio de promessas deliciosas. Então me larga com muita dificuldade para ir
trabalhar.
Volto a ler o meu livro sobre administração de negócios. Isso até a Kia descer
com a Melina e eu não resistir a sequestrar a sua bebezinha de oito meses para mim.
Ela veio toda alegre se sentar no meu colo.
— Ela gosta muito de você. Nunca te estranhou.
— Já me considero a titia maléfica.
Kiara sorri.
— Leva jeito para crianças. Até o Gieber gosta muito da sua forma divertida.
Vive realmente te chamando de tia Lívia.
— Eu também gosto muito deles.
— Humm… Você nunca pensou em ter seus filhos? Pois já foi casada por cinco
anos e é difícil ver um casal tanto tempo juntos sem crianças — Kia pergunta
inesperada.
E eu imediatamente me calo, analisando os traços loirinhos, idênticos da mãe, na
Mel.
Sei que a Kia não questionou por mal, mas ela merece saber a verdade para não
me fazer mais esse tipo de pergunta. Elas me afetam de uma forma que não gosto.
— Desculpa se fui inco…
— Eu não posso ter filhos. Minhas tubas uterinas são comprometidas. E é um
problema hereditário, todas as mulheres da minha família tiveram, incluindo a
minha mãe.
— Eu… eu não sabia. Eu sinto muito.
Não encaro a Kiara. Não quero ver os seus olhos de pesar.
— Está tudo bem.
— Mas a sua mãe… ela te teve.
— Foi porque se tratou desde os trezes anos, devido ao medo de ter câncer
uterino como a minha avó que morreu cedo, aos 18. Mesmo assim, foi uma luta para
engravidar com a ajuda da tecnologia da época. Papai disse que ela sofreu diversos
abortos espontâneos.
Como eu… — penso triste.
— E quando soube pela milésima vez que estava grávida, resolveu se enfiar
numa cama até eu nascer. Só se levantava para ir ao banheiro e às vezes, tomar um
ar no jardim. E hoje eu não posso dizer que ela não me ama. Desde que nasci, minha
mãe negou qualquer tipo de babá. Ela não queria me compartilhar com ninguém.
Claro, a não ser com o meu pai. Me tinha como a sua boneca, ou melhor, o seu
sonho realizado.
— E você nunca tentou… digo, se tratar para ter um filho?
Enfim, eu encaro a Kiara e ela fica quieta, constrangida.
— Durante quatro anos do meu casamento, esse foi o meu objetivo obsessivo e
quase doente. No entanto, tive inúmeros abortos. Não consegui segurar nenhum
feto. Já consultei centenas de médico, dentro e fora do Brasil e eles me disseram o
mesmo. Não posso ter filhos. Devo me conformar com a realidade.
— Não sei o que te dizer — ela mareja os olhos. — Isso é triste.
Eu sorrio, abraçando a Melina e tentando não me abalar.
— É a vida. Algumas mulheres têm a benção de ser mãe e outras não. Só que
isso não me dói tanto como antigamente. Sou mais conformada hoje em dia. E, por
favor, vamos mudar de assunto, falar sobre coisas boas. Me conte do seu diploma de
conclusão do ensino fundamental e de como está a administração da sua plantação
de flores.
Kiara concorda, animando-se ao contar os detalhes de como está sendo ser uma
“mulher de negócios” e fico muito feliz por ela e pelas suas conquistas
independentes.
Assim que eu saia da mansão para ir trabalhar, eu fui parado pela Ester, que veio
correndo até onde eu estava com o meu cavalo.
— Gael! — Ela chega perto de mim, ofegante. — Espera, eu preciso…
— Eu já disse para não me procurar, Ester!
— Por favor, preciso te pedir desculpas por aquele beijo! — Ela súplica
desesperada.
— Já a desculpei. Mas volto a repetir que não quero mais que me procure!
Chega disso, não me deixe ser grosso para magoá-la mais do que já está fazendo
sozinha. E eu achei que estivesse esses dois meses namorando com o novo motorista
que o Dexter contratou. Que estivesse seguindo em frente com ele e a sua vida!
— A-agente está namorando. Ele é um cara legal. Porém, eu fiquei desesperada
ao ouvir escondido da Kia e da dona Judite que aquela mulherzinha ia voltar para a
mansão e que você tinha pedido ela em casamento. Você está cometendo um erro. Já
não basta ter caído no golpe da Sônia, de acreditar que aquele filho é seu, você vai
cair no daquela mulher diabólica, que só quer brincar com os seus sentimentos?
— Isso não é da sua conta, Ester. Não se envolva com a minha vida, nem com a
Lívia, nem com a Sônia. E para o seu bem, continue seguindo em frente com o seu
namoro. Realmente aquele rapaz parece ser gente boa. Ele vai te fazer muito feliz.
Eu viro as costas e subo nervoso no cavalo.
— Eu nunca vou ser feliz! Não se não me der uma última chance! É só o que te
peço!
— Não volte a repetir isso! — brado, já irritado por sempre ter que dizer a
mesma coisa para ela. — Para te fazer cair em si de vez não vou mais me dirigir a
você, nem aceitar que fale comigo. Já te dei inúmeras chances de sermos amigos, só
que você está passando dos limites. Chega de se aproveitar das minhas boas
intenções!
— Não, Gael! Por favor, não faça isso! E-eu quero ser pelo menos a sua amiga!
— Ela chora vindo agarrar desesperada na minha bota. — Me desculpa, por favor.
Me desculpa. Seja meu amigo, não me despreze.
— Eu sinto muito, também será o certo para que não se humilhe desse jeito
nunca mais. Isso me magoa.
Empino o cavalo para trás, segurando firme nas rédeas. Ester se afasta em
lágrimas e com o rosto vermelho de fúria.
Tento não me entristecer mais pela sua evidente dor.
— EU NÃO VOU TE PERDOAR SE FINGIR QUE EU NÃO EXISTO! —
grita. — GAEL! EU NÃO VOU! NÃO FAÇA ISSO! GAEEEL!
Não a respondo, viro a cabeça do Amarelo, aperto as suas costelas com os
calcanhares e saio a galopes fortes, ainda ouvindo a Ester chamar em berros pelo
meu nome. Sinto uma grande pontada no peito. Contudo, não aguento mais vê-la se
humilhando e eu tolerando o seu comportamento. Para o seu bem, é melhor o fim
definitivo. Não quero que se aproxime de mim.
Eu caio de joelhos no chão, fincando as unhas na terra e chorando de raiva,
desespero e de dor.
— ELE É MEU! GAEL É MEU AMOR! — grito entre os meus engasgos.
Não aceito perdê-lo! É tudo culpa daquela desgraçada! Ela vai se arrepender
de ter se metido comigo!
Cuspo no chão e ergo-me em prantos.
Se ele não vai ser meu, também não ver ser dela, nem de ninguém!
Então corro pelo gramado, indo na direção dos dormitórios, que ficam perto
da cozinha. Ao entrar por trás, no corredor das empregadas, onde tem quatro portas,
eu vou direto para a última porta do quarto da Joana e da Sônia e invado-o abrupta.
— E-Ester! — Sônia, que estava colocando a touca de trabalho, se assusta
pelo meu rompante. Chegou a deixar o detalhe do seu uniforme cair. — O que faz
aqui? Some do meu quarto!
— Cala a boca, sua infeliz!
Eu bato a porta e tranco-a com rapidez, igualmente com fúria e descontrole.
Sônia arregala os olhos assim que eu me viro devagar para a frente.
— Eu vou falar para a Kia o que você fez! Ela vai te colocar na rua! — A
"coitadinha" dá vários passo para trás. — Me deixa em paz!
Mas voo sobre o seu cabelo e jogo-a em cima do tapete, enquanto grita,
tentando me chutar e me arranhar.
— É eu quem posso te ferrar, sua ladra de joias!
— VOCÊ QUE É A LADRA DE JOIAS!
Sônia quase alcança o meu pescoço. Porém, empurro-a na parede e bato a
sua cabeça na cômoda de roupas.
Ela enfraquece tonta, gemendo de dor.
— Eu tenho a minha mãe ao meu lado, a governanta de maior confiança da
Kiara. E você sabe que se eu disser para ela quem foi que pegou as joias, ela conta
tudo para a nossa patroa... que a sua querida amiga Sônia que a roubou!
— N-não, não é verdade — ela chora. — Foi você! Foi você!
Eu sorrio, puxando mais forte os seus cabelos loiros.
— Imagine você sendo jogada na rua pela Sra. Dexter e principalmente pelo
Sr. Dexter? E o Gael? Ele não acreditaria na sua defesa, Sônia. Estaria na sarjeta,
sozinha, passando fome e com uma criança bastarda na barriga para criar.
— Para, Ester! Por que está me culpando? — Sônia chora cada vez mais,
tentando se desvencilhar de mim. — Não faça isso, me deixa em paz, por favor!
Nunca te fiz mal nenhum!
— Você acha que eu vou sentir dó?
— Por favor!
— Só que eu posso até sentir um pouco... se fizer um favorzinho para mim e
para nós duas...
— Não vou fazer nada para você, é uma louca, me larga!
— Não está em condições de negar — aproximo a minha boca do seu
ouvido, sem soltar o casco da sua cabeça. — E se deseja que eu a deixe em paz e
que não te faça ser jogada na sarjeta, o favorzinho valerá a pena...

Ao entardecer, depois de voltar da ronda dos cortes de eucaliptos, eu tomei


banho, dei um beijo nas minhas crianças, na Kia e fui trabalhar um pouco no
escritório.
Mais tarde, enquanto anotava umas coisas a caneta, eu fui interrompido pela
Maria, a mãe do Gael.
— Boa noite, Sr. Dexter, me perdoe por incomodá-lo a essa hora, mas
gostaria de conversar sobre um assunto que posso estar certa... — ela sussurra da
porta, sem ainda entrar. Parece nervosa.
— Entre. O que foi?
Maria respira fundo e dá uns passos até a frente da minha mesa, com a sua
estatueta avantajada, e para.
— Eu tenho quase certeza de uma coisa, senhor, só que não consegui revelar
para a Kia. E não aguento mais pensar nisso.
Estreito os olhos, apontando sério para o acento.
— Por favor, sente-se e me conte tudo, Maria.
Eu tinha terminado de retocar o batom para ir me encontrar com o meu
delicioso caipira, estava já fechando a porta, até que dei de cara com a Sônia no
corredor onde fica o meu quarto de hóspedes.
— Olá, Sônia.
— Meu Deus! — ela inesperadamente leva um susto, quase caindo para trás.
— O-olá, Srta. Lívia... não a vi.
Noto que está mordendo os lábios e limpando as mãos no vestido. Se não me
engano – e nunca me engano – ele está nervosa.
Intimido-a com o meu olhar.
— Como vai você? — Decido ser pacífica, apenas para observar mais ainda
os seus movimentos estranhos.
— E-estou bem — gagueja.
— Hum. O que faz aqui?
— Eu... aqui?
— Exatamente. Aqui?
Ela olha para trás várias vezes. E sem saber o que responder, desvia de mim.
Típico de alguém que fez ou vai fazer alguma coisa. Além de que essa menina é
muito transparente.
— Eu...
— Afinal, o único quarto com hospede neste corredor é o meu. E não
solicitei nenhum serviço. Tenho uma memória muito boa para ter certeza disso.
Sônia engole em seco e para de limpar as suas suadas mãos no vestido.
— Só estava fazendo uma ronda, desculpe-me, Srta. Lívia.
— E eu a desculparia do quê?
Surpresa, ela ergue os olhos, molhando os beiços secos.
— Eu não sei... é que a senhorita é... desculpa... assustadora. Me deixa
embaraçada.
— Hum...
— Eu preciso ir, tenho que ajudar a organizar a mesa de jantar. Com li...
Antes dela se despedir e virar o seu corpo já aparente de grávida, eu a paro.
— Espere, eu quero te dizer uma coisa.
Ela, então, para tensa e volta a me encarar.
Eu sorrio.
— Gostaria que contasse comigo, em relação a me ver como uma... talvez,
amiga. Pois se a Kia confia em você, eu também quero confiar. E saiba que acredito
que o seu filho seja do Gael.
Ela fica pasma pela declaração.
— A-a senhorita acredita em mim?
Eu pego na sua mão fria, afagando-a delicada.
— É claro que acredito. Lembra daquela manhã em que eu estava arrumando
as minhas malas para voltar para a capital e você veio trazer as minhas roupas
limpas? E que eu puxei assunto contigo, até que sem esperar me revelou do seu
passado triste?
Ela assente.
— Pois saiba que o que me contou me emocionou muito. Senti vontade de
abraçá-la naquela hora e... — eu recordo do que a Kiara me disse uma vez e fito-a,
franzindo uma feição compadecida. — E te fazer ver que não está sozinha, que por
mais que eu tenha esse meu jeito "assustador", eu também me importo com os
traumas dos outros.
Sônia pisca os olhos sem parar, está emocionada. Não solto a sua mão, nem
paro de analisar os seus traços.
— É muito difícil eu cultivar confiança em alguém tão facilmente.
— Eu entendo, Srta. Lívia. Eu também. São poucos os que confio e os que
confiam em mim.
— Pois eu confio e quero ajudá-la em relação ao Gael, no que precisar.
— Verdade? A senhorita está do meu lado?
— Já disse que sim. Mas espero que não traia isso. Pois você não vai me
querer como a sua inimiga — sorrio. — Ou vai? Espero que não.
Ela engole em seco, negando retraída com a cabeça.
— Eu admiro muito a senhorita, é tão bonita, forte, chique, poderosa e é
capaz de intimidar as pessoas apenas com o seus olhos grandes, verdes e intensos.
Saber agora que gosta de mim, que se importa, acredita, me deixa muito feliz. Sinto
que todos me julgam, me olham torto. Acham que eu já me deitei com vários, senão
todos os peões da fazenda. E apenas a Sra. Dexter sabe que isso não é verdade. Eu
não sou assim. Jamais seria.
— Por favor, não se importe com esses olhares maldosos, nem se martirize
com o que eles pensam ou deixam de pensar. O que importa é a sua verdade. Não é
mesmo? Logo que sempre está falando a verdade — volto a sorrir, porém, em linha,
com a sobrancelha arqueada.
— Sim, nunca minto — confirma.
— Ótimo. E bom, já vou indo. Você também disse que estava com pressa e
não quero interrompê-la no que estava indo fazer.
— A-ah, é mesmo... — Sônia sussurra e volta a ficar estranha. Só que, de
uma forma, mais confusa e perdida em pensamentos. — Desculpa. Com licença,
Srta. Lívia.
— Toda...
Assim que ela some de vista, eu inclino o pescoço e olho para a minha porta.
E após trancá-la na chave, eu retorno ao meu trajeto até a garagem da mansão, para
pegar o carro e ir até a casa do meu delicioso caipira.
Chego dez minutos depois.
— Hum... está tão cheiroso — falo quando ele abre a porta e exibe os seus
cabelos penteados para trás, sua roupa despojada e o seu cheiro de perfume novo.
— E você está linda — ele me analisa dos pés à cabeça. — Céus, muito
linda como sempre.
— Obrigada, meu caipira — dou um passo na sua direção, seguro o seu
queixo e beijo-o molhado. — Se bem que ainda não está merecendo o meu carinho.
— Poderia ter dó de mim, faz mais de semanas que não ficamos... — Ele me
puxa para os seus braços fortes, de bíceps definidos.
Sorrio do seu pobre lamento.
— Nem um eu te amo amolece esse seu coração de pedra... se bem que nem
deve ter.
Continuo a sorrir divertida.
— Você nunca mais me disse isso... só uma vez.
Gael, de repente, fica sério ao tocar no meu rosto e acariciar as minhas
costas nuas dentro de um vestido bem justo.
— Há três semanas, eu me declarei três vezes, mas, nas duas, estava
dormindo sobre o meu peito com os seus cabelos bagunçados, após fazermos amor a
madrugada inteira. — É você que nunca me disse. Nem uma, nem duas, nunca.
Eu desvio dos seus olhos e respiro estranha, mexendo na gola da sua camisa
polo.
— Eu nunca senti, nem vivi esse sentimento, como agora. Tenha paciência,
estou me esforçando por nós.
— Eu sei que está, ainda mais quando enfrenta a sua mãe por causa de mim.
Fico orgulhoso. Além de que, por mais que não diz, por esses gestos, eu sei o quanto
me ama.
— Eu não...
Convencido, Gael toma rápido os meu rosto e beija-me faminto.
Bato no seu braço.
— Safado, convencido — murmuro entre os seus lábios e ele ri, para, em
seguida, penetrar a sua língua e varrer a minha boca.
Para provocar, a Lívia passa a mão no meu pau e afasta-se dos meus lábios, após
me dar um selinho com mordida no canto da boca.
— Controle-se, meu delicioso caipira — sussurra, içando um sorriso sensual,
acompanhado do seu olhar verde, dominador. — Temos a noite e a madrugada
inteira ainda. Grandes surpresas lhe aguardam.
— Como me prender com a droga de uma algema?
Sim, essa diaba fez isso comigo lá na cidade, no seu novo apartamento. Me
torturou por três horas, negando-se a sentar em mim. Fiquei tão louco que quando
me soltou eu a peguei no colo, a taquei na parede e a deixei sem conseguir sequer ir
ao banheiro no outro dia. Ela viu na pele as consequências das suas torturas
infernais. Mesmo assim continuou!
— Não. Te prender é mais doloroso para a minha pobre bucetinha.
— Sua devassa… não diga isso.
Eu a solto para não rasgar o seu vestido justo e nos saciar sem limites.
— O que tem para nós esta noite? — Então pergunta, indo até a cozinha com os
seus saltos modelando a sua postura chique e empinando a sua bunda avantajada.
Respiro fundo, me controlando.
— Está na varanda. Vem!
Pego no seu braço e a levo para a área de trás. E ao atravessar a porta revelo a
nossa mesa romântica, com três rosas no centro (que roubei do jardim da Kia),
velas, pratos, talheres e o vinho que coloquei agora pouco. Está tudo perfeito para
essa noite.
— Meu Deus, que coisa mais brega e linda — ela fala sorridente, sem desviar da
mesa. — Você é maravilhoso.
— Nós dois juntos que somos — dou um beijo na sua testa. — Por favor, minha
bela noiva, sente-se.
A levo até o seu assento, puxo a cadeira e ajeito para ela se sentar confortável.
— Obrigada, namorado! — Lívia pisca.
Eu sorrio, também me sentando.
— Só espero que o senhor não esteja com aquele anel de novo no bolso. Meu
não continua vivíssimo.
— Como pode ser tão sem coração comigo?
— Estou sendo mesmo. Se for ver, você seria capaz de me levar para o altar
hoje, sem pensar duas vezes.
— Não, eu poderia dar uma semana para escolher o seu vestido.
Ela rola os olhos.
E eu aperto a caixinha do anel no meu bolso, um pouco decepcionado. Contudo,
estou começando a gostar de um desafio. E Lívia é um desafio excitante, que amo
intensamente. Ela ainda vai aceitar ser a minha esposa, para termos uma casa cheia
de menininhas e menininhos de olhos verdes e cabelos pretos. Vamos ser uma
família feliz.
— Quer jantar logo? Estou faminto.
Vejo ela arquear a sobrancelha e rir de mim.
— O que foi?
— Você é um caipira romântico, sem etiquetas. Só isso. E adoro.
— Eu tenho etiqueta.
— Não vamos discutir, o senhor sabe muito bem que não tem.
Dou de ombros.
— Não ligo. Etiqueta é coisa inventada por rico que não tinha o que fazer. E
vou pegar o nosso jantar.
— Posso ajud…
— Não, continue sentada na sua cadeira. Já volto, madame.
Eu me levanto e vou até a cozinha.
Cinco minutos depois eu volto com a nossa comida. Um macarrão especial, feito
pela minha mãe – o que a Lívia não precisa saber.
— Humm… esse macarrão está divino para o senhor ter feito sozinho — ela me
olha desconfiada, após mastigar e engolir a quarta garfada.
— Como pode duvidar dos meus dons culinários?
— Ata… “dons”, sei. Deve ter herdado esses “dons” da sua mãe, pois o tempero
é idêntico ao dela.
Seguro a vontade de rir.
— Obrigado, sinto orgulho por isso.
Lívia me fuzila, virando a sua taça de vinho.
— Como está a construção da sua nova casa? — ela muda de assunto.
— Está tudo adiantado, em menos de um ano o engenheiro prometeu entregá-la.
Ficará só a decoração para o… esqueci o nome do profissional disso.
— Design de interiores?
— É… deve ser. Não sei.
Lívia fica pensativa. E se tinha algo para dizer, não diz.
No fim do jantar ela seca por completo a nossa garrafa de vinho e se levanta
para me chamar para dentro da casa.
— O que pretende? Quer ficar com a bunda roxa?
— Shhh — ela me para com a sua mão no meio do meu peito. E obstinada,
chega bem próxima do meu rosto, com o seu hálito maravilhoso de vinho. — Quero
que se sente naquele sofá e me aguarde.
— Não sei se eu quero aguardar para ter você logo — resmungo, alisando a sua
bunda.
Ela se afasta mandona.
— Problema seu! Sente-se logo no sofá e fique quieto! Volto em poucos
minutos. Ou se preferir, pode tirar a roupa e se tocar bem gostoso.
Bravo pela frustração sexual de semanas, eu não a respondo. Vou me sentar no
sofá, enquanto ela vai para o meu quarto com a sua bolsa no ombro.
Demoro uns quinze minutos para vestir a fantasia de vaqueira, soltar os cabelos
e ficar pronta. Até borrifei um pouco mais do perfume que enlouquece o Gael. Ele
sempre diz que ama o meu cheiro. Isso me deixa tão feliz.
Acho que fico feliz pelo seus elogios espontâneos. Sinto-me uma boba
apaixonada e amada, que a cada dia quer estar ao lado do seu cowboy, o beijando,
conversando, provocando e se divertido. A vida é mais simples. Gael torna tudo
fácil de se resolver. Não há dificuldades, apenas paixão e sorrisos. Por isso hoje eu
quero ser boazinha. Meu homem caipira merece essa surpresa.
— P-Porra, Lívia! — ele gagueja inesperado, ao me ver sair do pequeno
corredor e parar sem avisar no arco da sala, numa pose sensual, com as duas mãos
na cintura.
— Gostou?
Dou uma rodadinha demorada e paro empinada com a bunda, que está super
amostra. Quando me viro, o assisto engolir em seco e abrir um dos três botões da
sua camisa polo, para respirar.
Também peguei um dos chapéus dele para apimentar mais ainda as coisas. A
fantasia é uma sainha bem, bem curtinha, da cor marrom. A camisa é um cropped
xadrez vermelho, decotado e amarrado no meio. Ah, e o melhor fica para o chicote
pendurando do lado do cinto.
Será que eu uso para judiar desse garanhão musculoso?
— O que é isso, Lívia? — Gael parece um tonto, olhando para baixo e para cima
sem parar.
Noto que a sua calça apertou, porque ele está mexendo com o volume sufocado
do pau.
Tadinho do meu caipira… e do outro caipira ali embaixo; longo, grande, grosso
e dotado. Só de imaginar como é já fico molhadinha.
— Isso sou eu vestida de vaqueira — sorrio desfilando maldosa e sensual até
ele. Vou bem lentamente. — Estou prontíssima para cavalgar no meu cavalo.
Mais sufocado, ele bufa, abrindo as pernas grossas, de um peão que move elas
todos os dias para trabalhar no bruto. Que delícia!
— Tenho certeza de que não é assim que uma vaqueira se veste. Você está
gostosa. Porra, Lívia, eu te quero! Te quero sem demora!
— Você já me tem, meu querido Gaelzinho.
Paro na sua frente e inclino as costas para acariciar a sua ereção. Gael não
aguenta e se ergue num surto, me empurrando contra a mesa da sala.
— Gael! Calma, eu não mandei você agir tão faminto!
— Não vai dar certo — a veia do pescoço dele pulsa ao falar entre os dentes. —
Sabe quantos dias eu estou sem você? Sabe, sua maldosa?
Gael desce a mão para a minha bunda e a aperta forte. Sinto uma pontadinha de
dor.
— Mais de três semanas!
Eu coloco a minha perna entre o volume dele e o fito olho a olho.
— Você mereceu. Porém, hoje serei boazinha. Prometo. Agora me solta e se
sente naquela cadeira ali.
— Vai me prender? — A voz dele sai ranzinza.
— Não. Vai, logo! — Já sem paciência o empurro com força.
E após nos desvencilhar, pego a cadeira para ele se acomodar bonitinho.
— Drogada de madame mandona.
Mesmo puto, ele se senta na cadeira.
E pigarreio, ajoelhando-me. O que faz ele imediatamente perder qualquer
postura de machão alfa, revoltado.
— Deve estar sofrendo com esse enorme pau aqui… apertado dentro do jeans —
abro a sua calça e sem demora tiro o órgão duríssimo de dentro da cueca. — Está
melhor? E nossa, você está bem melado. Deixe-me te secar...
— Lívia… — ele geme com a lambida longa que dou na glande, que expele pré-
ejaculação.
A seguir, só para torturá-lo, eu solto o mastro, subindo as unhas por dentro da
sua camisa, para arranhar os gomos da sua barriga. Ele enlouquece.
— Não brinca, Lívia! Não ouse me fazer surtar! Não sou assim!
Mordo o lábio inferior, arrepiada pela forma poderosa que as suas palavras
saíram. E resolvo não adiar a oral. Ele precisa liberar essa tensão de semanas por
minha causa. Só assim se controlará quando eu for fazer o stripper. Além de que
ficará mais calmo e sem essa fúria toda.
Então pego de novo no pau gigantesco dele, desta vez para chupá-lo e sugá-lo
sem dó. Nem nos testículos eu poupei de dar uma caprichada com a língua.
E evitando ou não, ele surtou de prazer; jogou o meu chapéu longe, abraçou os
meus cabelos com as duas mãos e começou a foder a minha boca com velocidade.
— Lívia! — Rosna em gemido.
Em menos de cinco minutos o Gael explode e jorra igual uma torneira,
afogando-me no seu gozo.
Um pouco eu engoli e o restante cuspi no chão.
— Droga, o meu cabelo, Gael! — Esbravejo ofegante e brava por ele ter
acertado porra até nas mechas da frente.
Ele fez de propósito. Para completar, esse insaciável acabou de endurecer de
novo.
— Isso você mereceu.
— Caipira! — me ergo, pondo em questão o ser “boazinha”. — Tira essa camisa
e me dá, anda!
Ele tira e eu pego para limpar a gosma da boca, bochecha, pescoço e do cabelo.
— Eu ia ser um poço de bondade. Agora está ferrado!
Ele só me assiste, com as pernas abertas e o lindo pau de cabeça vermelha,
graúdo e meio enrijecido, apontado para mim. Até o tronco desse caipira é de outro
planeta, igual ele e o seu romantismo escasso.
— Poço de bondade? Quando foi?
— Cala essa boca!
— Está linda, muito gostosa — já desfocado, Gael não tira os olhos do meu
corpo. — Você e a sua beleza não existe, Lívia. Ainda bem que é só minha. Só eu
posso te ver assim.
Merda, isso deixou o meu coraçãozinho todo derretido.
— Por enquanto eu sou sua — digo maldosa, curvando-me para beijá-lo e dar o
seu gosto de porra.
Ele não gostou nem um pouco – e digo do “por enquanto” – porque ele mordeu
a minha língua e segurou revoltado o meu queixo.
— Só minha, para sempre!
O afasto, sem responder – e dou um passo para trás. E começo a abrir o nó do
meio da camisa, para revelar os meus peitos de mamilos duros.
Gael instantaneamente perde o ar com a vista. O seu mastro enrijece mais.
— Eu que sou a única mulher que você vai ver assim — passo a mão nos seios,
os massageando. — Não imagino outra melhor para você. Imagina?
— Lívia!
Ele salta num pulo da cadeira e avança em mim, para me pegar pela cintura,
jogar em cima da mesa e devorar o meu cangote.
— Droga, por que nunca se controla, Gael?
Abraço o pescoço dele e entrelaço as penas na sua cintura, gemendo na medida
em que consigo esfregar a buceta latejando no seu pau nu.
— Você é uma Deusa, é impossível de me controlar. Fico duro sem esforços. E
estou há semanas sem você! Semanas sem esses peitos deliciosos!
Gael lambe o bico do mamilo.
De olhos fechados eu arqueio as costas, sendo segurada por ele.
— Agora é a minha vez. Vou te comer de todas as posições que conseguir
imaginar! É a madame gostosa que está ferrada por tirar sempre o pior de mim!
— Estou é? Pois faça o seu melhor!
Gael toma como um desafio e me joga com força para trás.
Eu caio deitada na mesa, abrindo as coxas o quanto posso para ele. E meu
caipira não perde tempo em tocar na minha calcinha molhadinha. Latejo, gemendo.
— Farei o meu melhor!
Ele sorri e realmente resolve me dar o melhor da sua dedicação. Recebo uma das
orais mais demoradas de toda a minha vida. Com chupadas intensas, masturbações
lambuzadas e gritos que não segurei enquanto era comida sem dó.
Esse homem não é desse planeta! Puta que pariu! Sua língua vai cair!
— Gael — ele novamente vai descendo a língua e os dedos até a minha entrada
melada. E vai chupando... acariciando.
Eu vou morrer desse jeito!
Crio forças para então afastá-lo pelos cabelos. Tendo sucesso, o deixo cara a
cara comigo. Ou melhor, eu fico cara a cara com a sua tora enorme. Não tem como
não admirar essa rola. Eu toco no seu pênis empedrado, erguendo o pescoço e
encarando-o. Ele aperta as minhas coxas e suspira tenso com os músculos. Seus
olhos estão expelindo uma vontade imensa de arrancar a fantasia, me tacar na
primeira parede e meter a sua grossa tora.
E céuuss... aahhh não é que meu caipira raivoso faz? Ainda, depois me cata de
quatro no chão.
Mas o melhor fica para a foda na varanda, onde empurro esse safado numa
cadeira de fio e lasco uma surra de bunda inesquecível. Em seguida umas quicadas,
umas reboladas e uma cavalgadas que faltou o pobre morrer.
Se era saudades de me foder, pelos próximos dias não reclamará mais. Nem eu.
Com certeza não.
Posso nem acreditar que já é véspera de Natal. Ontem e hoje eu trabalhei duro
com a mamãe, a Felícia e a Lívia para terminarmos de enfeitar a sala e a pequena
árvore de pinho natural. Estamos nos divertindo demais. Assim como o Gieber, que
está amando toda a bagunça. Melina só fica de longe, sentada no tapete, nos
observando e balbuciando com seus brinquedinhos de morder.
— Minha nossa. A árvore está perfeita. A decoração também. — Lívia fala,
depois de colocar a última bolinha vermelha na árvore. — Esta noite vai ser
inesquecível. Fizemos um bom trabalho.
— Sem dúvidas… — eu me sento exausta no sofá. — E se até lá o meu filho
não atropelar a decoração. Gieber! — Bramo com ele, que está andando muito
rápido com a motinha motorizada que o Anton comprou para me deixar louca. —
Anda devagar ou eu guardo de novo a moto!
Ele faz um bico de bravo e da ré com a motinha azul.
— A cada dia que se passa ele está a cara do Anton. Nem o jeitinho autoritário
do pai se nega — mamãe comenta do outro lado da sala, terminando de ajudar a
empregada com a bagunça.
Felícia me serve um pouco de chá, rindo e concordando.
Eu dou de ombros, sabendo que estou perdida com os meus homens Dexter. É
duas contra a força de três. Esse aqui dentro da minha barriga sem dúvidas será a
mesma coisa.
Mas estou feliz.
Agora eu só quero pensar no jantar de logo mais à noite. Maria, Gael, Felícia e
Ester vão cear conosco. Já as meninas (Manu, joana e Sônia) infelizmente negaram
envergonhadas o convite. Fiquei triste por elas escolherem se recolher, em vez de
partilharem conosco da mesa. Só que não posso fazer nada, foi a escolha delas e as
respeito. Além de que o Anton também concordou de ser melhor assim, “pois eu
devia parar de ser tão boazinha e me lembrar de que há três meses as minhas joias
e o seu relógio foram furtados dentro da nossa própria casa”. Ele falou isso ontem,
muito sério e estranho. Parecia esconder algo de mim, em relação ao roubo.
Será que ele já descobriu quem foi o/a responsável e não quer me revelar?
Não sei, achei que esse assunto das joias já tivesse morrido. Que talvez pudesse
ter sido outra pessoa desconhecida que invadiu a mansão e as roubou. No entanto...
é claro que pensar assim é uma forma inocente minha de não acreditar que possa ter
sido alguém daqui de dentro da mansão, que eu conheço e tenho imenso carinho. Já
que nenhum roubo aconteceu de novo. Foi aquele e só. Não senti falta de mais nada.
La no fundo... espero estar certa.

Após terminar de ajudar a Kiara com a decoração de natal, eu fui tomar um


pouco de ar fresco no jardim. E para também pensar no quanto estou me sentindo
livre, leve e feliz.
Sim, feliz!
Gael está me tornando a cada dia mais amada e apaixonada. Minha vontade é de
passar 24h por dia nos braços fortes dele, sendo paparicada por todo o seu
romantismos clichê.
Meu Deus, será que é amor?
E como eu posso saber se é realmente amor?
Não paro de pensar nesse caipira. A cada piscada de cílios estou sorrindo e
suspirando.
Talvez seja amor… não sei.
De repente, enquanto eu caminhava tranquila e pensativa pelo jardim, escutei
vozes conversando muito altas.
Parece briga?
Curiosa e bem por acaso, eu me aproximo da parede de arbustos, que divide a
área dos bancos que fica em volta do chafariz. E olho de canto, pelas frechas. Então
travo, chocada por ver a Ester no chão, em cima da Sônia, a segurando pelos
cabelos.
Sônia parece chorar.
— Eu disse o que te aconteceria! Você é uma idiota, uma traidora! Vou te ferrar
por não ter feito o que mandei! — Ester dá uma tapa forte nela.
— Ai sua louca!
Ela se levanta, deixando a Sônia encolhida na grama, toda descabelada e
chorando.
— Além de ser fraca, é covarde!
— Ela é boa comigo, igual a Kia! E você é uma invejosa, uma mal-amada, só
porque a Srta. Lívia é bonita, rica, cheia de classe e tem o Gael! Aceita que nunca
mais vai ter ele!
Ester arregala os olhos, parece incorporar um demônio. E sem esperar, a filha da
mãe chuta a Sônia na costela esquerda, a fazendo se encolher ainda mais no chão e
gemer de dor.
Meu Deus! Eu quero matar essa infeliz! Ela chutou uma grávida! Uma mulher
gestante!
Não creio nisso! Pai Amado, não me de forças!
Meus punhos se fecham, no entanto, me mantenho parada no mesmo lugar, para
poder ouvir tudo.
— Kiara vai descobrir hoje quem roubou as suas joias milionárias! Feliz Natal,
Sonsinha! — Após dizer isso, Ester cospe nela, vira as costas e sai andando na
direção da cozinha, que fica do outro lado, perto da horta.
Eu respiro nervosa, tentando assimilar as informações.
E vejo que não posso agir... não posso fazer isso agora.
Antes de também me retirar, eu dou uma última olhada na Sônia, que se engasga
em suas lágrimas. Ela tentar se sentar na grama, para afastar os cabelos
desgrenhados, limpar o rosto e tocar na barriga evidente. Volto a respirar fundo. E
constatando que ela não está gravemente ferida, eu retorno rápida para dentro da
mansão.

Eu estava terminando de secar o meu cabelo com o difusor, até que inclinei o
pescoço e vi o Anton encostado na porta do meu closet, de braços cruzados, me
assistindo sério.
Não sei a quanto tempo ele estava assim, calado, me observando.
— Oi, amor, o que foi?
— Nada, só estou admirando a beleza da minha linda mulher.
Sorrio, sem me importar de estar só de calcinha na frente dele. Já não tenho
tanta vergonha da minha nudez, quanto mais estando grávida. Me sinto linda com
essa barriguinha.
— Você deveria ir se arrumar. Daqui a pouco começa a ceia.
Ele fica calado, me encarando pelo reflexo do espelho.
— Está tudo bem? Está acontecendo alguma coisa que você não queira me
contar? — Cansada, resolvo questionar o seu novo comportamento. — Anda tão
estranho ultimamente, observador e pensativo demais.
— Depois eu te conto com mais calma.
Isso significa que tem algo acontecendo?
Sem acreditar que existe realmente algo, eu desligo o difusor e o fito olho a
olho.
— Me conta, eu não aguento esses enigmas.
— Não, outra hora eu te conto. Hoje é uma noite muito especial para você e para
a nossa família. E é isso o que importa.
— Mas eu fiquei preocupada. Parece ser algo…
— Não se preocupe à toa — ele me interrompe, descruzando os braços fortes e
se desencostando do arco. — Vou tomar banho para me arrumar. Se eu continuar
aqui posso te pegar de jeito e atrasar as coisas. Até daqui a pouco, amor.
Anton me dá um olhar obsceno/safado e vira o corpo másculo, para sair e me
deixar morrendo de curiosidade.
O que tem para me contar?
Suspiro, “conformada”.
Se ele disse que não era para me preocupar, manterei a curiosidade discreta pelo
menos esta noite. Pois de fato é uma ocasião muito especial para mim. Nada pode
estragar o nosso momento em família.
Natal é uma data feliz, de união, amor e significa o nascimento de Jesus. É um
momento de renovar a nossa fé.
Mais tarde, com tudo pronto, eu só fiquei aguardando o Gael chegar – e ele
chegou por volta das 22h40. Vovô também está aqui para me deixar cheia de
felicidade.
— Quero saber onde está a Ester. — Felícia quem diz, olhando para todos os
cantos, a procura dela.
— Está cedo, ela vai vir.
— Não tem o porquê de estar atrasada.
— Lívia também não desceu ainda. Não se preocupe, Felícia. Tome do seu
champanhe e relaxe.
— Obrigada, Kia. Vou ver a mesa, com licença.
Assinto. E aproveito que ela me deixou sozinha para ir até o Gael e a Maria,
fazer companhia a eles.
Anton está sentado no sofá, conversando com o meu avô e com a minha mãe.
— Lívia não desceu? — Mal cheguei para me enturmar e o Gael já me
questionou pela amada.
Noto que a Maria ficou séria diante do nome “Lívia”.
— Deve estar se arrumando. Se bem que eu me lembro de tê-la visto já pronta
no corredor. Mas está cedo. Até meia noite todos nós reunimos.
Maria me observa, parece até estar com o mesmo olhar estranho do Anton.
Ela há alguns meses não anda muito contente com a vida amorosa do Gael.
Aliás, a notícia de que será avó a fez discutir com ele. Ela acredita que o bebê da
Sônia não seja dele. Também que a Lívia, a atual namorada do filho, está
interessada é no seu dinheiro.
Eu claro, estou quieta no meu canto, pois gosto da Maria e não quero me meter
na vida pessoal do Gael. É ele quem tem que decidir as suas escolhas. Sônia está
com seis meses, logo o bebê nascerá para ele confirmar, ou não, a paternidade.
Só espero que até lá ele e a Lívia se casem. Torço demais pela felicidade dos
dois. São um casal bonito, apaixonados e cheios de provocações. Eles se amam e
estampam esse amor a cada troca de olhares. Infelizmente dona Maria não enxerga
isso. Ela tem certeza de que a Lívia não o ama e que ela só quer se aproveitar dele
para depois deixá-lo com um buraco no coração.
A entendo, é mãe e só deseja a felicidade do filho. Porém, ainda verá que está
enganada em relação a Castellano. Não há outra mulher para tirar o Gael da zona de
conforto, senão ela. E não há outro para ajudar, socorrer e administrar cada pedaço
da vida fria, amargurada, traumática e infeliz dela, senão o Gael e o seu jeito
romântico, protetor. Os dois são perfeitos.
A única coisa que me preocupa é quando o filho do Gael vir ao mundo. Já que a
Lívia não pode gerar bebês, ela pode se abalar em não ter outro dele. Pois me parece
sim que ela sonha em ser mãe. A atenção, o amor que tem com os meus filhos é sem
igual. Sinto todo o seu carinho e encanto ao encher as crianças de beijos e abraços.
E eles a adoram, Gieber vive chamando a tia Lívia pelos cantos.
Ou quem sabe eu esteja enganada? Aquela bela mulher é surpreendente, talvez
ela nem problematize isso como eu.
Tomara que não. Gael seria capaz de sacrificar o que fosse pela Lívia. Ele
mesmo me disse isso semana passada, ao confessar triste que ela negou o seu pedido
de casamento. Contudo, em suas palavras, ele não desistiria. Aquela “madame da
cidade” um dia o diria sim. Poderia demorar quantas décadas que fosse.
Fiquei tão emocionada que o abracei, apoiando o meu melhor amigo.
Lívia será dele para sempre. Eles nasceram um para o outro.
E no final... o amor sempre ganha.
Cinco horas antes – 18h40 da tarde.

Preocupada com a Sônia, após o café da tarde eu fui atrás dela. Mas não a achei
em nenhum canto da enorme mansão. Perguntei para uma empregada onde estava a
sua colega de cabelos loiros e ela me disse que estava descansando no dormitório
onde dividem juntas. Também perguntei onde ficava o dormitório e após me
informar eu caminhei em direção ao local de corredor comprido.
Ao parar diante da porta informada eu dou duas batidas. E assim que ela abre,
arregala os olhos e aperta a maçaneta, surpreendida pela minha presença.
— Olá, Sônia. Posso entrar?
Ela não responde, continua surpresa e piscando os olhos sem parar.
— Sônia?
— S-senhorita… eu… eu — ela gagueja, engolindo em seco.
Então, sem a mesma mandar eu passo autoritária por ela na porta e entro no seu
quarto, vendo uma mala fechada sobre a cama. Com o cenho franzido eu volto a
olhá-la – que imediatamente dá um passo apavorado para trás. Está vestida com um
jeans velho, uma blusa de manga e botas de cano curto. Parece que vai sair, não
dormir.
— Onde pensa que está indo?
Ela mareja os olhos.
— Desculpe-me, Srta. Lívia. Eu vou embora para sempre.
— Como assim, Sônia?
— Eu sinto muito. Eu preciso.
Me aproximo dela, fechando a porta.
— Sente-se na cama! — mando e ela obedece sem me contestar. — Seja
direta e sincera. Quem roubou as joias dos seus patrões?
Sônia volta a esbugalhar os olhos e a engolir em seco.
— A senhora vai me odiar, vai querer apoiar ela… vai...
— Foi a Ester?
Ela então assente em lágrimas.
— Desculpe-me, Srta. Lívia.
— Que merda. Por que me pede tantas desculpas, menina?
— É que a Ester fez isso para ter dinheiro fácil. Só que faz quatro meses que ela
não pode vender as joias, pois o delegado está investigando os penhores da região.
Eu descobri que foi ela porque a peguei em flagrar, vestindo os colares e os brincos
no dormitório. M-mas foi o meu inferno… ela está me perseguindo, me torturando e
me ameaçando para me manter calada.
— E o que mais? — Cruzo os braços. — Por que está se deixando ser
manipulada por aquela imbecil burra?
— Porque ela disse que pode fazer a Sra. Dexter acreditar que fui eu quem a
roubei. Já que a mãe dela é a governanta. E as duas estão aqui na mansão há uma
década. Só que eu só faço três anos… Kia duvidaria de mim, não dela.
— E o seu plano genial é fugir bem no meio da noite de natal, enquanto toda a
casa está ceando?
— Sim — ela entra em prantos, com um emocional que está quase me fazendo
revirar os olhos. — Eu prefiro ir embora da mansão assim, do que amanhã ser
enxotada pelo Sr. Dexter e pela Sra. Dexter. E me desculpe, Srta. Lívia. me perdoe.
— Estou perdendo a paciência com tantos pedidos de desculpas. Se
recomponha, Sônia!
— A senhorita vai me odiar, vai…
— O que a Ester está planejando? — Questiono impaciente, mesmo já sabendo
o que é, resolvo só ter a certeza.
— Já que a Ester não pode vender as joias, ela vai incriminar eu e a senhorita,
para se livrar de nós duas numa única “jogada”. Ela vai fazer isso esta noite. A
própria disse na minha cara.
— E que boa pessoa você é, hein? Ia fugir para me deixar a bomba toda na mão.
Boa pessoa ainda é um elogio para você. Eu deveria era te chamar de burra! Sabe
que fugindo daria mais certeza de que foi você a ladra, né?
Sônia se ergue chocada.
— Não me chame de burra! E eu sei que daria certeza! Mas não importa, de
qualquer jeito eles iriam acreditar que fui eu quem roubei a Kia! Não tenho
vantagem! Sou uma pobre, sem teto, sem família, sem ninguém! E que para
completar, ficou grávida de um homem que é rico! Eles já pensam que eu sou uma
vadia interesseira! Que se deita com todos os peões da fazenda! — Sônia berra
engasgada. — Uma vadia!
Eu me calo.
— E que se dane, eu não tenho mais nada a perder! Eu vou embora e construir
uma vida onde for! Nem que seja no meio de um chiqueiro com os porcos! Nem
que… nem...
Pela primeira vez os meus olhos ardem. E suspiro, me controlando ao puxá-la
para um braço que nem eu acredito ter realizado.
Sônia desaba nos meus ombros.
— Está sendo egoísta com o Gael, a Kia e o seu bebê. Além de precipitada. Eu
quero também que saiba que desta vez eu realmente acredito em você. Não estou
sendo falsa como na última vez, naquele corredor.
Sônia se afasta para me olhar muito surpresa. Seus olhos brilham em lágrimas.
Acho que ela não esperava que eu confessasse que estava só atuando aquele dia
– o que eu realmente estava fazendo. Nunca deixei de desconfiar dessa menina.
Exceto por hoje.
— Não estava sendo sincera? A senhorita também desconfi…
— Sim, sim. Eu desconfiava que você só queria dar um golpe no Gael e que
fodia pela fazenda com vários peões. E me desculpa por isso.
Eu aperto os olhos, nervosa por pedir desculpa pela quinta vez em toda a minha
existência.
— Agora é diferente. Se acalme, entendeu? Estou do seu lado. E se for para
cairmos em algum plano, vamos cair atirando. Porque eu sou a Lívia Castellano e
nem o diabo é páreo para mim. Ou talvez estejamos no mesmo patamar — sorrio.
— 10 a 10.

Momentos atuais...

Eu fico de longe, observando a Kia, o Gael e a Maria conversando.


Lembro-me da suposição dela e fico nervoso por não poder comprovar se é
verdade. Se for, Gael ficaria arrasado e Kiara decepcionada.
— O que foi? — Aquino, avô da Kia me questiona devido ao meu olhar
distante.
— Nada, eu vou buscar um conhaque para aquecer o corpo.
— Aceito também.
— Não pode, Sr. Aquino! — Judite o adverte. — Você não pode de jeito
nenhum!
Ele fecha a cara, enrugando mais o seu rosto de velho.
Eu dou um meio sorriso e saio em direção a estante de bebidas na sala.
— Está quieto demais. — Gael aparece sorrateiro do meu lado, me observando.
— Estou normal. Quer?
Ofereço o conhaque e ele aceita.
— Lívia ainda não apareceu. Estou quase indo atrás dessa mulher.
— Está tão fissurado assim pela Castellano?
— Dois pedidos de casamento negado responde a sua pergunta?
Sem rir eu viro a minha bebida quente. Ademais, o fito sério, cara a cara.
— Acho que é um sinal. Talvez não seja a mulher ideal para você. Sua mãe pode
estar certa.
— O quê???
Inesperado, Gael fica sem crer no que eu disse. Ou melhor, ele fica putamente
surpreso.
— O que está falando? Há alguns meses chegou a me aconselhar a persistir e a
não desistir dela. Que as pessoas mudam, cometem erros. Assim como aconteceu
com você!
— As opiniões mudam. E acredito que nem todos se regeneram.
— Opiniões? Que opiniões, merda?
— Não fique puto, Gael. Kia está nos assistindo. Depois conversamos, prometo.
Ele me fuzila muito mais puto.
— Você começa com a droga de um assunto pessoal e quer fingir que não me
afetou? O que está escondendo, Anton?
— Nada. Depois conversamos. Não vou estragar a noite da minha mulher.
— Já a minha foda-se!
Engolindo o descaso, Gael abandona o seu copo de conhaque e se afasta bravo.
Fico parado no mesmo lugar, o assistindo. Chego ao veredito de que o Gael
pode ser muito ingênuo quando a questão é o coração. E ele está sendo um, pela
Castellano. Uma das provas foi se sacrificar por ela para pagar as suas dívidas.
Maria talvez esteja certa. Ela negou os dois pedidos de casamento dele. A
intenção daquela mulher pode ser meramente lucrativa.
Como ter certeza disso, para não magoar o meu amigo e a Kia?
E não posso acusá-la do roubo sem provas. O que a Maria acha não é prova. Já
que as suas dívidas foram pagas pelo seu pai e pelo Gael.
Assim que deu 23h30 eu desci lindamente com o meu vestido preto, longo e
de duas fendas nas pernas – e conforme eu ando com os saltos elas aparecem sexy.
Há também outra fenda no decote dos seios e nas costas. Meus cabelos negros estão
soltos em ondas e a maquiagem esfumada num cinza brilhoso.
Estou pronta para matar... bag, bag – sorrio para mim mesma.
Ao chegar na sala localizei o meu alvo dentro de um vestido rosa brega. Eu
também fui encontrada por ela.
Gael logo apareceu para questionar a minha demora. Mas calei o meu
delicioso caipira com um beijão maravilhoso, digno de um certo alguém ranger os
dentes de raiva. E não estou falando da Maria, a mãe do Gael, que me detesta e está
me fuzilando neste exato momento.
Ademais, me enturmo com a Kia. E como desci já perto do jantar (da forma
que planejei), não se passa muitos minutos para dar 00h00 e para a Kiara nos
chamar para a ceia na mesa.
— Acho que deveríamos fazer um brinde! — eu declaro do meu assento,
chamando a atenção do pessoal.
— Um brinde? — Kia pergunta sorridente, após terminar a sua sobremesa de
chocolate.
— É claro, um brinde após ceia de "Feliz Natal". E um brinde para as
grandes surpresas que nos esperam ainda hoje... do Papai Noel! — sorrio me
erguendo cheia de "humor". — Por favor, levantem as suas taças de champanhe.
Então eles as erguem e brindamos.
Eu faço tim-tim sem desviar da Ester. Ela faz o mesmo com a sobrancelha
arqueada e com um ar oponente de quem tem armas nas mangas.
Veremos...
Mais tarde voltamos para a sala, para nos sentar no sofá e nos reunir em
volta da arvore de natal. Fico de mãos dadas com o Gael, assistindo o momento
certo das coisas acontecerem.
— Acho que preciso dizer uma coisa. — Kia de repente se levanta animada.
Ela fica na frente da gente e de costas para a árvore de natal com muitos presentes
no chão. — Sempre quis fazer o amigo oculto... só que não avisei para vocês. E
bem, talvez eu não devesse chamar de amigo oculto. Mas ok, eu comprei presentes
para todos. Escolhi a dedo, sem exceções.
Todos sorriem surpresos.
— Primeiro... — ela vira muito espoleta com a sua barriga de grávida e se
abaixa para pegar uma sacola chique de presente. — Para a minha mãe. Espero que
você goste. Te amo.
— Filha, não acredito — dona Judite pega a sacola que a Kia a estendeu e
abre o presente, para nos mostrar os produtos de beleza que ganhou da filha. Em
seguida a abraça carinhosa. — Obrigada, meu amor. Amei.
— Por nada. Bom, agora é a vez de... Ah, da Felícia!
Felícia entra em choque. E fica mais chocada ainda ao ver que ganhou uma
bolsa de marca caríssima.
Acho que não tem nada que não seja caro aqui.
A noite se prolonga, todos são presenteados; Sr. Dexter com um chapéu
lindo, da cor preta; Gael com uma camisa social e um cinto; Maria com um vestido;
avô da Kia com um álbum de fotos da família; as crianças (que estão dormindo)
com brinquedos; Ester com um perfume importado... e por fim eu, com um par de
saltos que com certeza são avaliados em mais de cinco mil.
— Filha, sobrou outro presente — Judite informa ao apontar para a caixinha
branca no pé da árvore.
Ela estava bem escondida atrás das outras coisas.
Semicerro os olhos na caixinha, sem desviar dos movimentos da Kiara ao
pegá-la debaixo do pinho.
— É para... mim? — Ela lê o bilhete e fica surpresa ao descobrir de quem
pertence.
E encara cada um de nós, até se fixar no marido, em busca de saber se foi
ele.
— O seu presente eu já dei — ele responde em sussurro malicioso.
Kia cora, e desvia instantânea dos olhos do Dexter.
Seguro a vontade de rir da cena. Com certeza foi algo bem picante e bem
pessoal.
— Hã, vamos lá — ela molha os lábios e retorna a abrir o seu presente de
laço preto.
A assisto tirar a tampa da caixinha. E fico mais atenta quando ela pega um
papel rosa de dentro e o ergue para ler em silêncio.
— Meu Deus! — Por fim arregala os olhos, dando um passo para trás.
Então imediatamente fito a Ester e ela a mim.
Joana segura a minha mão, permanecendo ao meu lado, junto do novo
motorista da mansão, o Marlon. Ele é o namorado da Ester há mais de dois meses. E
nem eu e nem a Joana compreendemos o porquê de a Srta. Lívia mandar eu confiar
nele. Por mais que seja um moreno bonito, educado, alto, de olha claros,
corpo... bem, eu criei desprezo por ele ser algo daquela nojenta, falsa e maléfica da
Ester. Marlon nunca me dirige mais do que "bom dia", "boa tarde" e "boa noite".
— Você conhece a Srta. Lívia?
— Claro, eu sou motorista da Sra. Dexter. E a Srta. Lívia é uma hóspede
difícil de não se reparar — ele se atém numa árvore igual idiota.
— Você acabou de ser insinuante?
Sem esperar, Marlon me encara sério. Eu coro, envergonhada pela minha
pergunta.
Por que eu tenho que sempre falar sem pensar?
— Eu fui sincero. Estou aqui há três meses. E a Srta. Lívia é uma hóspede da
mansão Dexter que está sempre presente. É impossível de não ser reparada.
— Ester não ia gostar nem um pouco do que disse.
— Não estou dizendo para ela, estou?
Joana me olha e eu fico quieta.
Marlon inclina o pescoço e verifica pela décima vez o seu relógio. Estamos
na fachada da casa, no meio do escuro, ouvindo só os grilos cantando. Até que ele
ergue a cabeça, ajeita o seu uniforme e me encara.
— Vamos, Sônia. Srta. Lívia mandou que entrássemos por volta das 02h00.
E já deu o horário. Não podemos demorar mais.
Nervosa, eu coloco a mão sobre a minha barriga e respiro fundo, mantendo-
me calma.
— Vai ficar tudo bem, amiga. Sinto que você deve confiar na Srta. Lívia.
Aquela mulher não parece brincar com promessas.
— Eu também sinto isso.
— Realmente não — Marlon murmura em pensamento alto. E me fita
misterioso. — Jamais duvide da promessa de uma Castellano. Vamos, está protegida
comigo.
Protegida com ele, o namorado da Ester?
Antes que eu pudesse fazer alguma pergunta da boca para fora, ele pegou no
meu braço e esperou que eu o acompanhasse o quanto antes.
Dei um beijo na minha querida amiga Joana e deixei que o Marlon me
conduzisse para o interior da mansão, pois as minhas pernas não seriam capazes de
fazer isso sem ajuda.
O Dexter dá um pulo do sofá e corre até a Kia, para tomá-la a caixinha e ver
o que a deixou espantada. Todos se levantam também. Exceto eu que continuo
sentada, de pernas cruzadas, degustando do meu delicioso Martini.
Fico só assistindo a cena do Sr. Dexter rasgando um saquinho preto e
erguendo perplexo todas as joias de dentro da caixa. E dele, lendo o bilhete.
Adiante, olhando para mim.
Parece que eu quem ganhei outra surpresa.
— Meu Deus, as joias! — Judite coloca a mão na boca, sem acreditar no que
está vendo.
Igualmente a Maria e a Felícia.
— Isso não é verdade — Kiara me fita em choque. — Lívia, isso não é
verdade!
— Calma, Kia! — Anton pede rigoroso, a segurando.
— O que ouve? O que tem no bilhete? — Gael se aproxima ligeiro. — O
que não é verdade?
E o Sr. Dexter no mesmo instante o entrega o papel rosa na mão. E após ler,
como eles, ele me encara perplexo. Porém, indignado.
— Não é verdade, com certeza não! Porra, Lívia, fala alguma coisa?
Continuo calada, sob os olhos de todos. Analiso as horas no relógio de pulso
e vejo que ainda são 01h50.
— Podem ler em voz alta o que está escrito? Só assim saberei do que estão
falando e do que não é verdade — digo numa tranquilidade prazerosa sem igual.
Dever ser o Martini.
Gael fica puto, descrente da minha tranquilidade.
— Eu paguei a dívida da Lívia, ela estava o tempo todo comigo. Não é
verdade! Estão armando para incriminá-la!
— O que está escrito no bilhete, Sr. Anton? — Maria também se aproxima.
— Desculpa, mas todos nós queremos saber o motivo das joias da Kiara terem
aparecido dessa forma.
E o Dexter resolve ler em voz alta.
— "Descobri que quem roubou as suas joias, Sra. Dexter. Era quem você
menos desconfiava e confiava, a sua amiga "Lívia Castellano". As recuperei no seu
quarto de hospedes. E agora as devolvo a verdadeira dona. Feliz Natal. Ass:
desconhecida".
Uau... que... patético. Sabe nem elaborar um texto elegante e recriminatório.
— Eu sabia! — Maria de repente exclama, apontando o dedo para mim. — É
verdade, eu já desconfiava! Foi ela quem roubou! Eu te disse, Sr. Anton!
— Não é!
— É claro que...
— Não, não é! — Kiara inesperadamente brada em meio a discussão,
olhando-me penosa. — Nos explique Lívia, essas joias são as que me vendeu.
Jamais me roubaria, nem trairia a minha confiança.
— Não mesmo, Kia... — sussurro olho a olho com ela, e ouvindo em ponto,
as 02h00, a porta principal sendo aberta. — E vou te provar quem foi a verdadeira
ladra.
Ergo-me do sofá e inclino o pescoço para o meu lado esquerdo, chamando a
atenção de todos para a Sônia e o Marlon que acabaram de invadir o ambiente.
— A verdade é que quem roubou as joias da Kiara foi a Ester. E eu trouxe uma
testemunha para comprovar isso.
Sem esperar, todos abrem a boca, Felícia arregala os olhos e o Gael
imediatamente encara a Ester.
A cabelo de fogo nem se mexe. Está imóvel.
— Minha filha jamais seria capaz de roubar nada de ninguém, Srta. Lívia!
Quanto mais da nossa Kiara! Uma grande mulher que temos muito carinho e
respeito!
— Felícia, calma. — Judite chega perto dela.
— Eu sinto muito, Felícia, não tenho nada contra você. Pelo contrário, é uma
ótima pessoa, sempre educada, elegante e muito atenciosa. Nunca me tratou mal.
Mas ao contrário da sua conduta correta, saiba que o que a sua filha vem fazendo
com a Sônia é inadmissível. Tudo para me incriminar e provocar o Gael e a família
Dexter a se virarem contra mim.
— Isso é mentira! — Ester brada, não aguentando mais ficar calada, só ouvindo.
— Foi você quem pegou as joias, eu vi! Você é a ladra!
— Ah, fui eu é? — Sorrio com uma deliciosa vontade de dar um tapa na cara
dessa cadela. — Por favor, Sônia, nos conte o que você também viu há uns quatro
meses no quarto de sua colega ruiva.
Sônia treme, paralisada diante da atenção de todos.
— Não sinta, medo — olho para ela. E ela assente emocionada.
— D-desculpe-me, Sra. Dexter e Sr. Dexter — Sônia sussurra embargada. —
Desculpe-me, Sra. Felícia… é verdade o que a Srta. Lívia disse. Eu há quatro meses
peguei a Ester no dormitório dela, vestindo um colar muito brilhoso, com umas
pedras verdes clarinhas. Ela estava na frente do espelho, o observando no pescoço.
Foi então que lembrei do roubo da nossa patroa e invadi o local, a questionando
onde tinha arrumado aquela joia bonita. Só que ela sendo uma pessoa horrível, me
puxou pelos cabelos, me jogou no chão e falou um monte de coisas bárbaras. Me
ameaçou, disse que poderia fazer a Sra. Dexter achar que fui eu a ladra, já que a sua
mãe era a governanta de maior confiança da patroa. E eles iriam me jogar na rua
para eu passar fome com o meu bebê.
— Meu Deus! — Kiara coloca a mão na boca, sem acreditar.
Felícia segura no braço da filha, a protegendo e não confiando no que estamos
dizendo.
— Isso é verdade? — Gael igualmente fica pasmado.
— Não é verdade! Minha filha não é assim!
— Eu nunca faria isso. Minha mãe me conhece. Você também Gael. Trabalho
nesta mansão desde criança, desde que a minha mãe foi contratada pelo falecido Sr.
Dexter. Eu jamais peguei nada de ninguém, nem pegaria. Foram vocês duas que
roubaram. Lívia mandou a Sônia invadir a suíte da Sra. Kiara e roubar as joias.
— Larga de ser mentirosa, foi você! — Sônia ergue a voz, revoltada e
desesperada. — Você pegou! Eu a vi com elas! E só não vendeu porque o delegado
estava investigando os penhores da região! Agora quer aproveitá-las para se livrar
de mim e da Srta. Lívia!
— Você teria mais lucro em fazer isso! — Ester dá um passo hostil. — Se forem
neste momento no quarto da Sônia verão a sua mala pronta em cima da cama, o
plano era de fugir esta madrugada com as joias, enquanto todos estavam celebrando
a noite de natal. No entanto, eu as encontrei.
— Claro… Você “as encontrou” e resolveu quase matar do coração a sua patroa
grávida, colocando tudo em uma caixinha com um bilhete me “desmascarando”?
Oras, quanta inteligência. — Eu declaro também dando um passo. — Pode ter
certeza de que se eu fosse roubar alguém seria a minha própria família que já podre
de rica. Sem falar que eu nem precisaria descer tão baixo, porque o meu pai é capaz
de me dar um cheque milionário no mesmo instante que o pedisse. Todavia, esse
não é meu caráter. Jamais seria, sua patética!
— Patética é você! — Sem esperar, Ester me dá um tapa rápido no rosto. E pelo
instinto de defesa, eu só tenho tempo de virar o pescoço e colocar a mão na
bochecha, sentindo-a arder.
Todos arregalam os olhos. Até a Felícia que ia abrir a boca, desistiu.
Uma fúria, um ódio, um descontrole e uma legião de demônios do inferno me
possuem. A Lívia elegante, bem arquitetada e de sangue frio desaparece. Só me vejo
retornando a cabeça, rangendo os dentes, fechando os punhos e voando na vadia,
para grudar os dedos nos seus cabelos ruivos. Ela tenta agarrar no meu, enquanto me
xinga, só que eu sou mais forte e consigo derrubá-la com força no chão.
— Lívia! — De imediato o Gael dá um pulo para me tirar de cima dela,
entretanto, não consegue.
— SUA VACA! — Ester sacode as pernas, me arranhando.
— Ester, para com isso! Lívia a largue!
— VACA É VOCÊ, SUA CADELA INFELIZ! — Exclamo a acertando um
tapa.
— VOCÊ VAI PAGAR POR ISSO! — Grita.
— VOU SIM, DESGRAÇADA!
Eu dou dois, três, quatro e no quinto tapa o Gael finalmente com todos os seus
músculos consegue me agarrar pela cintura e me tirar de cima da Ester.
— Porra, Lívia! — Ele me abraça.
Felícia que estava perto da filha tenta a ergue desesperada do chão.
Eles nos olham. Kia está em choque, segurando nos braços do seu marido. Noto
que estava tentando se soltar para me intervir de sovar essa baranga.
— Não briguem!
— Vamos resolver isso amanhã cedo no meu escritório. Conversarei
separadamente com cada uma de vocês. Chega disso.
— Sem o delegado — Kia olha para ele.
Sinto que eles já podem ter certeza de quem está falando a verdade. Ou não.
Eu me solto do Gael, afastando os meus cabelos bagunçados da cara.
— Minha filha não é ladra, Sr. Dexter! É um absurdo! Ester foi criada na
fazenda, somos parte de vocês! A Srta. Castellano está fazendo graves acusações
sem provas!
— Assim como a sua filha está fazendo comigo e a Sônia! — Quase berro sem
paciência.
— Lívia, se acalme.
— Desculpa, Felícia — Anton pede com a sua voz oponente. — Prometo
resolver isso pela manhã. Hoje era para ser uma noite agradável.
— Sinto muito, patrão. Acho melhor irmos descansar.
— E os tapas que ela me deu vai ficar por assim? — Ester questiona com a mão
na fuça.
— Por quê? Quer mais, queridinha? — A fito mortífera, me coçando para
deixar ainda mais a sua cara vermelha.
— Chega de brigas. Como o Dexter disse, pela manhã resolveremos isso! —
Gael protesta, nos calando.
Felícia olha para a filha e a chama para se retirarem.
Ester sai me encarando com a sua cara inchada, em seguida faz o mesmo com o
Marlon, o seu namorado.
— Eu igualmente já vou. Sinto muito por essa situação. — Maria também dá
uma última encarada no Gael, antes de pedir licença.
— Por favor, Gael, vamos conversar lá fora. — Sr. Dexter solicita nervoso,
soltando a Kia dos seus braços.
Gael suspira, analisando os meus traços. Não falo nada, pelo contrário, desvio
dele.
Então ele coça inquieto o cabelo e acompanha o Anton.
— Desculpas, Sra. Dexter... — Sônia sussurra em meio ao silêncio.
— Meu Deus, você ia embora? — Kia a pergunta baixinho, muito magoada. —
Ia fugir?
— E-eu… — ela chora. — Eu ia, mas não é porque eu roubei as suas joias, juro
por Deus que não fui eu, é porque a Ester faria alguma coisa para a senhora acredita
que fomo nós, eu e a Srta. Lívia. E eu preferia ir embora assim a passar por uma
humilhação que não tenho culpa. Por misericórdia, Srta. Lívia apareceu e disse que
não deixaria isso acontecer.
— E não vou, nem por misericórdia, é por justiça! — olho para a Kiara, a
surpreendendo. — Presenciei esta manhã a desmiolada da Ester batendo na Sônia no
jardim, ainda a ameaçando. E não sou tão sem coração para não fazer nada a
respeito.
— Eu sinto muito, Sônia. E é complicado, Lívia. Ester é a filha da Felícia. Não
sei nem como me portar nessa situação.
— Simples, seu marido é um Dexter frio. Ele saberá muito bem o que fazer — o
vô da Kiara declara de repente, depois de passar todo esse tempo só nos assistindo.
— Agora eu preciso ir me deitar, as minhas pernas estão doendo. Por favor, Judite,
me ajude aqui — ele tenta se levantar e dona Judite vai ajudá-lo prestativa.
— Eu também vou para o meu dormitório.
— Por favor, Sônia. — Kia a para, fazendo-a tremer de medo. — Não me
entristeça tomando outra decisão dessa de fugir. Você está grávida. E independente
de qualquer coisa, jamais seria capaz de humilhá-la, nem a expulsar
desumanamente. Digo isso a qualquer empregado meu.
— Eu jurei que seria leal a senhora… me perdoe e acredite em mim. Não a
trairia. Não faria nada contra a senhora que tanto me ampara.
Kia, sem saber o que dizer, fica quieta. E arrasada, Sônia pede licença em
lágrimas, acompanhada do Marlon.
Depois Sr. Aquino igualmente se retira para as escadas com a ajuda da dona
Judite. Fica só eu e a Kiara diante de uma árvore de natal linda… e uma noite
infeliz.

— Não consigo acreditar no que aconteceu aqui — murmuro me sentando


estática no sofá.
— Sinto muito, Kia. Eu sei o quanto é importante a noite de natal para você. Só
que não dava para impedir, nem saber o que Ester ia planejar.
— E se não for e…
— E se for eu ou a Sônia? — Lívia fala num tom tão rude que não a enfrento.
Ela causa tremores. Suas palavras passam confiança e certezas. E seus olhos saem
faíscas. — Acha que se eu fosse uma ladra seria capaz de roubar joias que não
chegam nem a cinquenta mil direito? E isso para pagar dívidas que passam de 800
mil reais? Por favor, Kiara Dexter, você é muito mais inteligente. Minha família é
podre de rica, com um patrimônio avaliado em mais de 400 milhões. Se fosse para
ser uma ladra eu estaria lá sugando as veias do meu pai e da minha mãe que poderia
me dar o mundo se eu fosse sua cúmplice em planos que nos aproxime de eventos
cheios de políticos e empresários.
— É claro que eu sou inteligente!
— Ótimo! E se fosse há umas duas semanas eu te daria razão em relação a Sônia
ser a ladra, mas agora, depois de ver aquela garota medíocre batendo nela, a
ameaçando de morte, sendo que está grávida, eu não dou e ainda a defendo com
unhas e dentes de qualquer injustiça!
— Não estou acusando você, quanto mais a Sônia, uma menina que tenho muito
carinho e afeição. Pelo contrário, gostaria que nada disso estivesse acontecendo.
— Infelizmente está.
Assim que a Lívia termina as suas palavras, a gente encontra o Anton e o Gael
nos assistindo do outro lado.
Eu me ergo calada e eles vem até nós.
— Chega por hoje. Pela manhã resolvemos isso.
— É claro. Chega de prolongar essa infeliz “comemoração”. Com licença.
— Lívia! — Gael a chama, só que ela balança a cabeça. — Precisamos
conversar.
— Não quero conversar com ninguém no momento.
— Lívia, eu… — tento falar, contudo, ela me cala com as suas íris verdes.
— Boa noite, Kiara, boa noite Sr. Dexter. E perdão por fazer parte do natal
desagradável da sua família.
Ela demonstra o quanto está nervosa e vira as costas, saindo rápida com os seus
saltos.
— Porra… Anton, espero que a sua madrugada seja ainda pior do que a minha!
Estarei aqui antes do pôr do sol! — Gael o fuzila, vira as costas e caminha até a
porta de saída da mansão.
Sentindo-me mal, eu volto a me sentar no sofá.
Anton xinga furioso.
Marlon me acompanha em silêncio até o jardim onde fica a segunda entrada
para os dormitórios. E antes que a gente parasse ele me puxou delicado pelo braço e
me fez ficar bem próxima do seu corpo. Eu só pude travar os pés, sem reação.
— Não chora, Sônia — ele então leva a mão na minha bochecha, arrepiando-me.
— Lívia não vai deixar que nada te aconteça.
— Eu estou com medo. E se a Sra. Dexter me culpar? E se eu for expulsa da
mansão? Pra onde eu iria com essa barriga? O que eu vou fazer?
— Por favor, não pense nisso no momento — ele me fita com os seus olhos
castanhos, sem parar de acariciar a minha bochecha molhada. — Confia na
Castellano.
— Posso te perguntar uma coisa sobre ela?
— Claro.
— Dá onde você conhece a Srta. Lívia?
— É que meu pai era o motorista particular da Sra. Diana, mãe da Srta. Lívia. E
eu cresci na mansão Castellano. Fiz amizade com a filha da patroa. Hoje Lívia me
tem como alguém de sua alta confiança. Qualquer coisa que ela precisar eu estou a
sua disposição. O dinheiro que me paga nem em três meses de salário eu
conseguiria o valor.
— Por isso aceitou a vaga de motorista? A pedido dela?
— Sim.
— E para namorar a Ester? — Minha pergunta me deixa vermelha. Desvio das
suas íris. — Foi a pedido da Lívia?
— Também. Eu não gosto muito dela.
— N-não? — Volto a encará-lo.
— Não — ele dá de ombros. — Ela é uma pessoa insuportável. Mas sua beleza
não se nega. É muito bonita, tem olhos grande, cor mel e cabelos ruivos longos.
— Hum… ela é — eu aperto meus dedos, incomodada por ele estar certo. —
Ester é bonita, qualquer homem gostaria de namorá-la. Não entendo sua obsessão
pelo Sr. Gael.
— Ela tem um amor doentio. Ocasionado pela falta de reciprocidade do outro
parceiro, ou melhor dizendo, possessividade. Também acho que a Ester deve ter
crescido apaixonada pelo Gael, talvez criando um conto de fadas em família com
ele. Já teve uma paixão adolescente? Se teve, deve imaginar como pe.
— Não, nunca gostei de ninguém em toda a minha vida. Não sei o que é paixão,
nem amor.
— Nunca namorou?
Nego com a cabeça.
— Ninguém nunca me quis. E ainda sou nova. Desde que fugi da casa do meu
pai meu foco sempre foi sobreviver e conseguir juntar dinheiro para ter uma vida
melhor. Só eu sei o que é passar fome, viver sem luz, água potável. Estou no luxo
aqui na mansão Dexter. Jamais gostaria de sair desse paraíso.
— E por que não? Existe a capital com mais oportunidades de emprego e uma
vida social.
— Tenho medo de sofrer lá… aqui eu tenho a Kia que se importa comigo. Ela é
maravilhosa. Estou segura. Amo esta fazenda, a vida no campo. E não quero ser
enxotada, nem acusa de roubo. Me doeu muito tomar a decisão de fugir essa
madrugada. Ainda bem que a Srta. Lívia apareceu na minha porta como um anjo
iluminado.
— Ela está longe de parecer um anjo — ele ri fraco, inclinando a mão para alisar
o meu braço. — É você quem parece um anjo, Sônia. Espero que dê a volta por
cima de tudo isso. É merecedora de um castelo com um lindo jardim cheio de flores
lindas pelo chão. Pois eu sei que é apaixonada por elas.
Arregalo os olhos e ele desta vez sorri abertamente com os seus dentes perfeitos.
— Eu presto muita atenção em você pela manhã, ou nas horas vagas do dia.
Adora ir até jardim de rosas vermelhas e o lago próximo daqui. Lá você se senta na
grama para observar as tulipas por eternos minutos. incrível como não se cansa.
— A-anda me vigiando?
— Não, foi tudo sem querer — ele pisca, mentindo sem menor vergonha.
— Agora eu estou lembrada de que esses dias ouvi passos perto do lago. Foi
você.
— Deve ter sido os passarinhos, não acha?
— Passarinhos, né?
Sem aguentar também sorrio, hipnotizada pelo seu olhar.
— Obrigada por esse momento divertido, Marlon. Me fez esquecer dos
problemas por alguns instantes.
— E secar as lágrimas — sussurra, pegando no meu queixo. — Eu quem te
agradeço, Sônia. Adorei ficar admirando a sua beleza. Você é realmente sem igual.
Suas sobrancelhas são tão marcantes. Alguém já te disse isso?
— O-oi? N-não, não disse.
Sinto as minhas pernas bambas e o hálito dele muito perto do meu rosto.
— Saiba que você poderia ter qualquer homem que desejasse. E vejo que não só
pela beleza, mas pela essência humilde, doce e inocente. Parabéns pelo seu caráter
correto. Ele me hipnotiza.
Coloco a mão no seu peitoral, sem ar diante agora da aproximação dos seus
lábios.
— Boa noite, linda moça das flores — Marlon então me dá um beijo demorado
no canto da boca. — Durma bem.
Sinto-me mole do corpo, sem forças e sem acreditar.
Depois da sua despedida Marlon vira as costas e faz o trajeto de volta, a
caminho do seu dormitório masculino.
Eu toco na minha boca, o assistindo sumir entre a escuridão.
Meu Deus, será que ele gosta de mim?
Começo a sorrir, com uma alegria muito boa.
Para esfriar o meu sangue quente eu tiro os saltos e vou até a sacada respirar a
brisa gelada da noite. Noto que estou com as palmas das mãos perfuradas pelas
minhas unhas compridas, devido aos meus apertos de raiva e ansiedade.
A decisão que a Kiara e o Dexter tomarem pela manhã será igualmente a minha
para eu decidir ir embora da fazenda sem olhar para trás. Mas creio que seja óbvia a
verdade. Eu jamais teria motivos para roubar a droga de umas joias que não fazem
nem cócegas nas minhas dívidas. Meu pai é podre de rico. Se eu quisesse dinheiro
era só pedir para ele.
Inferno... Feliz Natal para mim!
Talvez eu devesse ter ficado na cidade, passando o final de ano na mansão dos
meus pais, suportando a dona Diana, os meus parentes e os seus convidados da alta
sociedade. Pelo menos eu me divertiria muito a irritando.
Um pouco mais calma eu decido tirar a roupa, as joias e ir me deitar só de
calcinha mesmo. Eu que também sou obcecada por uma pele limpa e hidratada antes
de dormir, não me importei. Fique de maquiagem, com a cabeça no travesseiro,
olhando para o teto e pensando em tudo o que aconteceu.
Às 03h40, enquanto eu finalmente dormia, fui despertada por batidas na
porta. Irritada por ter sido despertada, eu me obrigo na marra a me levantar. E ao
girar a maçaneta eu dou de cara com uma moça de cabelos castanhos, muito
ofegante.
É a Joana, amiga de Sônia.
— Srta. Lívia, Sônia precisa de ajuda! — Ela esbraveja em lágrimas. — Ester e
ela brigaram no dormitório e… e não temos tempo! Por favor, venha logo!
Meus Deus, só falta aquela vadia ter feito alguma coisa contra a Sônia!
Sem pensar duas vezes eu amarro outro nó no meu robe preto e sigo Joana
escada abaixo, até chegarmos veloz na ala dos dormitórios, onde arregalo os olhos.
— Sônia!
Assim que eu entrei no quarto fiquei apavorada ao vê-la no chão, encolhida em
posição fetal, com as mãos na barriga.
— Meu Deus! O que ouve? O que aquela desgraçada, maluca te fez? Cadê o
Marlon?
— Srta. Lívia… — Ela chora baixinho. — J-Joana não é…
Então inesperadamente sinto algo me chutar no lado esquerdo da costela. E sem
conseguir me equilibrar eu caio de quatro no chão, com dor e sem fôlego.
— Agora a Srta. Castellano não parece tão poderosa! — Ouço a voz da vadia
atrás de mim. — Olha só, Joana.
Posso sentir elas sorrirem.
Filha da mãe essa Joana!
— Eu vou te matar sua, infeliz! — Viro-me sentada, para encará-la olho a olho.
— O que você fez com a Sônia?
— Se Deus quiser já deve ter perdido o bebê.
Arregalo os olhos de novo e toco aterrorizada no ombro da Sônia.
— Sônia, fala comigo! Você está me ouvindo? O que…
— Um chá de folhas venenosas com um gostinho de canela em pó.
— Você é uma louca! Maluca! Não é possível que tenha feito isso! — Me
levanto sem sentir mais qualquer dor na costela, pois a raiva e a fúria tomaram conta
do meu corpo. — Ela pode morrer, sua vadia! Sônia precisa de ajuda! Você passou
de todos os limites! Sai da minha frente ou sou capaz de te matar!
— Não me importo! Por mim era você quem devia estar nesse chão, agonizando
de dor! Pois tudo o que está acontecendo na minha vida é por sua culpa! Eu sei que
o Marlon é o filo de um ex-motorista da sua família e que você fez a Kiara contratá-
lo para investigar a minha vida. Só que a Sônia não contava que a Joana era a minha
parceira e o meu segundo ouvido nesta casa!
— Como pode ser uma burra patética?! Sai da minha frente ou te dou mais tapas
na fuça! Não vou deixar a Sônia sofrer!
— Você não vai sair daqui! — Ester tira um estilete do bolso de trás da calça e
me ameaça. — Sônia só terá ajuda quando estiver sangrando!
— Psicopata!
Com o peito acelerado e desesperada eu também tiro a minha pequena arma de
entre os seios e aponto para a Ester.
Ela e Joana se assustam muito rápidas. Não estavam esperando. E dão um passo
para trás, por pouco não tropeçando na parede.
— Eu sei os pontos certos de te acertar com as balas e você agonizar pior do que
um animal! Cadê a outra menina de cabelos curto? É a sua cúmplice também?
— Você tem uma arma!
— Não, é uma ilusão, idiota! Responda a minha pergunta!
— M-Manu não tem nada a ver conosco. Ela está trancada no quarto, dormindo.
— Joana gagueja, piscando e olhando para a arma.
— Pois deixe-a dormir. Você quem vai subir até a suíte dos seus patrões e me
voltar aqui com eles! AGORA ANDA, SUA TRAÍRA! ME OBEDEÇA! —
Destravo a arma e ela imediatamente sai correndo.
— Eu vou te denunciar, você vai ser presa!
— Cala a boca, infeliz! Sabe nem o que está dizendo! Quem devia ser presa aqui
é você por ter envenenado uma pessoa gestante! É UMA LOUCA! Kiara e a sua
mãe saberão que é uma assassina!
Ouço a Sônia gemer e me ajoelho para acariciar o seu braço frio.
— Estou aqui. Respire, Sônia, vai ficar tudo bem.
— Você não vai dizer nada para os Dexter, nem para a minha mãe! — Ester dá
um passo à frente com o estilete, apavorada com o que eu disse. — Não pode!
Eu me ergo, mirando a arma na sua direção.
— E o que vai fazer? Acha que tem como se safar dessa situação?
— Você não pode provar que fui eu, não pode! Estarei ferrada!
— Olha só, sua consciência resolveu pesar logo agora, Ester? É tarde demais!
Presta atenção no que fez! Olha como a Sônia se encontra! E tudo por causa do um
amor doentio! Nem o Gael vai te perdoar! Ele vai te odiar, te desprezar e nem o seu
nome vai querer ouvir na vida!
— Não, não, não! — ela arregala os olhos, coloca os dedos entre o casco da
cabeça e entra em estado de desespero, aflição, lágrimas e martírio. — Eu o amo!
Ele é meu! Gael não pode sentir raiva de mim! Não pode me odiar! Não, não pode!
Não vou aceitar viver com isso!
E me pegando em súbito, Ester vira as costas e sai precipitada do quarto.
— Ester!
Eu me ergo do chão e a sigo até a porta, onde a vejo fugir pelo corredor e sair
pelo jardim externo.
Droga!
A minha mente só diz que eu preciso ir atrás dela. Está desnorteada, pirada da
cabeça. Ester não pode ser normal.
Aguardo mais um pouco, tentando conversar com a Sônia para mantê-la
acordada. Só que eu noto que ela está sangrando pelo nariz e que desmaiou. Sua
pulsação ainda persiste, no entanto, fraca. Começo a ficar com medo e angustiada.
— Meu pai do céu, não a deixe morrer… não deixa… ela não tem culpa —
choro, acariciando os seus cabelos loiros. — Sônia, por favor... fique acordada,
menina. A ajuda logo vi...
— Lívia! — Marlon de repente surge na porta, de calça pijama e camisa regata.
É um milagre!
— Sônia! — E quando ele vê a Sônia no chão, abre a boca, esbugalha os olhos e
corre até nós. — O que houve? Ouvi vocês discutindo.
— Não temos tempo, Marlon. A Sônia está agonizando! Pegue ela desse chão e
a leve para a sala da mansão. Grite por Maria, Felícia, Kiara, Anton! Por favor, a
salve, me ajude!
— Meu Deus! O que aconteceu? Por que a Sônia está assim? — Pergunta
exasperado, tentando sentir a sua pulsação.
— Acho que a Ester vai ser capaz de fazer uma loucura contra a própria vida.
Ela envenenou a Sônia e saiu daqui desesperada.
— O quê? Droga, Ester só pode estar louca! Eu vou atrás de…
— NÃO! — Grito! — Pegue a Sônia desse chão e faça o que te mandei! Eu
cuido daquela menina! — Após dizer isso eu travo a minha arma, dou uma última
olhada na Sônia e saio em passos rápidos pelo corredor.
Eu vou rezando como nunca rezei em toda a minha existência.
No jardim eu corro descalço pelo gramado, tentando achá-la em meio a
escuridão.
— ESTER! — Berro o seu nome. — NÃO VOU FALAR NADA PARA O
GAEL!
Não ouço nada, nem vejo ninguém.
Mas eu fico parada... parada por muito tempo. E enfim ouço folhas se mexendo
no labirinto de arbustos.
— ESTER!
Eu entro sem fôlego no labirinto, a chamando e sentindo os meus pés úmidos
pelo sereno da noite.
— Sai daqui! — Escuto a sua voz do outro lado e corro, vendo os seus cabelos
ruivos fugindo para a floresta de eucaliptos.
— NÃO ADIANTA CORRER! ISSO NÃO FAZ SENTIDO! PARA, ESTER!
CHEGA! ESTÁ FORA DE SI!
Ela não para. Ester entra na floresta e some de vista.
Pai Amado, essa menina não está bem. Como não tem medo?
— ESTER!
Corajosa, eu também entro no breu apenas iluminado pela lua.
— Eu não matei a Sônia! — A ouço chorar. Sua voz parece estar muito perto. —
Foi um veneno fraco para ela perder o bebê. Mas não queria fazer isso… mas fiz.
Pois a odeio e odeio você!
— Não vou falar para o Dexter, nem para o Gael e nem para a sua mãe. Eu te
prometo.
— Não acredito! Você quer se ver livre de mim, para ficar em paz com o Gael e
ter uma família grande com ele! Não vou deixar! Eu o amo! É a gente que devia ter
uma família! temos um passado, uma história!
Me pegando desprevenida, eu levo um susto ao sentir mãos no meu cabelo.
Tento dar uma cotovelada nela, só que a Ester pula na minha frente desequilibrando-
me.
— Você vai ficar feia para ele! Aí ele não vai te querer mais!
— Tire as suas mãos de mim!
A jogo para trás e caio na terra úmida, com ela em cima do meu colo.
Anton chuta a porta da minha casa e simplesmente ordena que eu me vista. E só
consegue me convencer de segui-lo – e compreendê-lo – ao dizer que a Sônia está
correndo risco de morte. Fiquei doido. Nem pensei duas vezes.
Voltamos apressados para a mansão. E assim que parou a caminhonete eu pulei
do carro e corri para dentro da casa, invadindo a sala e levando um baque.
— Sônia!
Fico sem acreditar ao vê-la desacordada no colo da Kia.
Minha mãe, Felícia e o motorista também estão em volta dela.
— Vamos levá-la para o hospital, o carro já está lá fora! — Anton chega como
se estivesse correndo contra o tempo.
— Você precisa ir atrás da Lívia e dá Ester! — O motorista se ergue e me
encara.
— O que foi com a Sônia?
— Ester? O que tem a minha filha?
— Não é hora de fazer perguntas. Gael precisa achá-las. Lívia foi atrás dela,
depois da Ester envenenar a Sônia.
— O quê??? — Esbravejo.
Todos ficam boquiabertos como eu.
— Meu Deus! Corre logo, Gael! — Kia pede nervosa e chorando. — Marlon,
Anton, Maria e eu vai com a Sônia para a emergência da vila! Anda, as ache!
— A minha filha não faria isso! Ester não é mal caráter!
Felícia se ergue e Maria a puxa, tentando impedi-la de fazer qualquer loucura.
— Calma, Felícia.
Eu continuo parado, com o Anton quase me empurrando.
— Somente o Sr. Dexter basta! Eu vou com o Gael atrás delas! — Marlon se
põe a minha lateral.
E sem conseguir respirar ou raciocinar direito, eu dou uma última olhada na
Sônia e viro os ombros, não tendo mais consciência, nem nitidez dos meus atos.
Lívia descompensa a minha cabeça à medida que eu corro pelo gramado, ao lado
do motorista, a chamando como louco. Chamamos igualmente pela Ester,
entretanto, com desgosto e infelicidade. Não posso acreditar no que fez com a
Sônia. Não consigo! Jamais vou perdoá-la!
E Deus, eu preciso achar a minha Lívia, de olhos verdes e que cheira ao perfume
mais maravilhoso do mundo. Eu preciso achá-la, é só o que o meu coração grita,
ordena e me acelera a fazer.
— Elas devem ter ido para o jardim de labirintos. É o mais perto da saída dos
dormitórios dos funcionários.
— É para onde eu estou correndo o tempo todo — falo ofegante e nervoso.
O tal de Marlon não se dirige mais a mim. E ao entrarmos no labirinto voltamos
a gritar o nome delas. Só que durante os intervalos não ouvimos nenhuma resposta.
Porra!
— LÍVIA!!!
— ESTER!!!
Atravessamos todos os corredores de arbustos. Para no fim avistarmos o campo
escuro de grama e a enorme floresta de eucalipto.
— Merda, para onde elas foram?
— Será que estão na floresta?
Em resposta, escuto algo do outro lado, bem perto da floresta.
E meu coração pula do peito. Eu começo a correr sem pensar em mais nada.
— LÍVIA???
O som fica mais próximo. Até que eu finalmente ouço um grito.
— GAEL!!!
— LÍVIA!
Sigo a sua voz no interior da floresta. E acho as duas perto do pequeno lago,
entrelaçadas no chão de terra, uma em cima da outra. Estão brigando!
— Droga, Lívia!
— Ester! — Marlon pula nelas e tira a Ester com rapidez de cima da Lívia.
Eu levanto a Lívia, a puxando para os meus braços, para abraçá-la. Está tudo
muito escuro, mas tento segurar o seu rosto para vê-la.
— Ester é uma maluca! Uma doente! — Lívia esbraveja, suspirando cansada e
sem ar. — Ela tentou matar a Sônia envenenada!
— Cala a boca, sua mentirosa! Eu te odeio! Você não pode acreditar nela, Gael!
Não pode! É uma falsa! Ela quer te enganar! Quer enganar a todos nós!
— Eu vou te matar, cretina!
— Não vamos discutir nada aqui. Leve a Ester para a mansão, Marlon, vou
seguindo vocês.
— Não, não quero que me toque! — Ester tenta empurrar ele.
— Para o seu próprio bem eu recomendo que não discuta, Ester!
Marlon a arrasta furioso pela cintura. E ela o acompanha a força.
— Lívia, você está bem? Pelo amor de Deus, me diga!
— Não, eu quero sair daqui, estou com os pés descalços e sentindo muito frio.
Sem pensar duas vezes eu a pego no colo.
— Gael!
— Sua pele está gelada, melhor irmos logo.
Lívia se rende a sua debilidade e repousa a cabeça no meu peito, encolhendo-se
fraca.
— Também estou sangrando.
— O-o quê? — Arregalo os olhos, encurtando o mais rápido possível o caminho
para fora do labirinto.
— Ester estava com um estilete e tentou machucar o meu rosto. Lutei para me
defender com as mãos e elas…
Chego finalmente na luz do jardim, onde me sento sem ar no banco e pego
desesperado no rosto da Lívia. Sem ver nada grave, eu desço os olhos para as suas
mãos e então fico apavorado por notar que estou banhado em sangue na camisa e ela
no robe branco, todo encardido de terra.
— Vou ficar bem.
— Não, Lívia! Precisamos ir para o posto da vila agora mesmo! Está sangrando
muito!
— Vamos para dentro da mansão. Lá decidimos o que fazer. E sabe que no
momento a emergência é com a Sônia e o seu filho.
— Anton, a Kia e a minha mãe estão indo para a vila com ela — volto a pegar a
Lívia no colo.
— Meu Deus, era para você ter ido com eles!
— E você? Eu precisava te achar.
— Não devia ter se preocupado comigo! Sua preocupação era e é com a Sônia e
com o seu filho na barriga dela!
— Eu não vou discutir com você!
— Não está pensando na Sônia, nem no bebê! Você não liga, não se importa! E
me larga, daqui eu ando sozinha!
Ela pula do meu colo bem na entrada da porta do jardim.
— Eu me importo! É claro que eu me importo! E é claro que se você não tivesse
ido atrás da Ester e arriscado a sua vida naquela floresta eu teria ido com eles
socorrer a Sônia! Que escolha eu tive?!
— Devia ter ido, eu não sou importante.
— É sim, é muito importante. Eu te amo — beijo a sua testa. — E eu sei que não
foi você quem roubou as joias da Kia.
— É óbvio que não fui eu, você ainda pensou nessa possibilidade?
— Não, não mesmo — respondo, a levando para dentro. — Se buscar na sua
cabeça, a defendi. E Anton sabe também a verdade. Conversamos e ele demonstrou
que acredita em você. Agora então não há dúvidas. Ester agiu pior do que um
monstro. Não consigo acreditar que ela possa ter feito esses crimes. Porra... não
consigo.
— Pois acredite. Ela está doente de amores. Seria capaz de qualquer coisa para
ter você. E a Felícia aceitando ou não, deve cair na real e internar aquela doida num
sanatório!
Nos calamos ao chegar na sala e darmos de cara com a Judite, o Padilho, avô da
Kia, o motorista e uma empregada de cabelos curtos.
— Por favor, Judite, ajude a Lívia. Suas mãos estão sangrando! — Eu me
desespero instantâneo a lembrar do estado dos seus ferimentos.
Judite e a empregada imediatamente arregalam os olhos e correm até a
Castellano para socorrê-la.
— Estou bem...
— Meu Deus! — Judite fica boquiaberta pela quantidade sangue. — Por favor
Manu, vai atrás da bolsa de primeiros socorros no armário do corredor. Sente-se
aqui para eu te ajudar, Lívia.
— Cadê a Ester? — Pergunto enfurecido.
Não sei nem do que eu seria capaz de fazer se ela aparecesse na minha frente!
— Felícia a levou para a outra sala, para se acalmar. — Marlon responde com os
braços para trás. — Vou vestir o meu uniforme e ficar à disposição para qualquer
coisa, com licença.
— Espere — Lívia o para. — Obrigada, Marlon. E fique realmente pronto, pois
precisarei de você para contar tudo o que sabe para o Sr. Dexter e a Kiara.
— Tudo o que sabe?
O motorista desvia dos meus olhos, assente para a Lívia e se retira em passos
rápidos.
Muito aflito, eu não pergunto mais nada. Apenas levo as mãos no cabelo e me
sento no sofá, quase arrancando os fios do couro.
Deus, eu preciso de notícias da Sônia, eu preciso acabar com tudo isso logo!
— Eu estou bem, Gael — Lívia sussurra do outro lado. — E a Sônia e o bebê
também ficarão. Tenha fé.
Eu não a olho, continuo com a cabeça abaixada e orando a Deus. Peço muita
calma para eu não fazer uma loucura contra a Ester. Não posso acreditar que ela foi
capaz de uma barbaridade como essa, de envenenar a Sônia, roubar as joias e tentar
cortar a Lívia.
Realmente, Felícia que me perdoe, esse que é o limite! Ester só pode estar louca!

Depois que a Judite me ajudou a enfaixar as mãos feridas, a pedido do Gael eu


fui para o quarto tomar um banho e me vestir com dificuldades devido aos cortes
profundos. Mas logo voltei para ficar sozinha com ele na sala, ao lado do telefone
fixo.
— Está amanhecendo — sussurro, assistindo pela enorme janela ao leste, o
reflexo do sol surgindo muito bonito, todo alaranjado.
Estou abraçada ao Gael, com a cabeça entre o seu pescoço e o seu queixo. Ele
agorinha também foi para casa tomar banho e trocar de roupa. Seu corpo exala
cheiro de sabonete bom (que eu dei de presente no seu aniversário há um mês) e
seus cabelos molhados estão todos desorganizados, ele nem fez questão de penteá-
los. E o entendo.
Sônia é uma boa pessoa. É uma menina sofredora, que merece desculpas minhas
e de todos os que a julgaram. Jamais vou a desprezar por conta de algo que teve com
o homem que eu… bom, que eu gosto muito. Quanto mais desprezar o seu filho
com ele. Sou madura e realista... por mais que me doa o fato de eu nunca poder ser
mãe e as mulheres a minha volta sim. No entanto, já sofri demais correndo atrás
desse sonho. Todo o meu casamento com o meu ex-marido foi dedicado a ter uma
família e a me vingar da minha mãe. Hoje nada disso me interessa mais. Gael está
me mudando, abrindo os meus olhos. E devo ser sincera com ele, caso esteja
criando um mundo fictício conosco casados e repletos de pestinhas para cuidarmos.
Sou estéril, jamais terei um família.
E se ele não me aceitar assim, desejarei que seja feliz com a Sônia e o seu filho.
— Eu espero que o Anton nos ligue e diga que está tudo bem com ela —
acaricio a mão do Gael, o observando.
— Eu também. Ainda não consigo cair e si que isso é responsabilidade da Ester.
Se acontecer alguma coisa com a Sônia. Eu jamais a perdoarei e me perdoarei.
— Você não tem culpa, por favor, não coloque nada na mente. Ester tentou a
envenenar e nos culpar, tudo por um amor doentio.
— Fiz mal a ela Lívia, jamais devia ter me rendido às suas investidas,
alimentado as suas fantasias. Ester pensa que não pode ser feliz sem mim. Que eu
sou o homem da sua vida. Ela não consegue apagar/superar o passado. Não a
entendo.
— Sinto muito, mas ela está doente psicologicamente. E você deve explicar isso
para a Felícia, que é a mãe da Ester e a ama.
— Eu sei, eu vou contar com certeza. No entanto, esperarei pelo Anton e pela
Kiara para tomarmos uma decisão em conjunto. Por enquanto só preciso de notícias
da Sônia. Ela é a nossa prioridade.
— Sim, ela é o mais importante no momento. E se Deus quiser vai estar bem.
Gael fecha os olhos, me abraça bem forte e ficamos assim, juntos, calor com
calor, aguardando o telefone tocar a qualquer instante...
Uma hora depois o Anton entrou em contato com o Gael. E informou que
alugou um helicóptero médico para a Sônia ser transferida para o hospital da cidade,
pois ela teve uma intoxicação aguda. E que apenas ele e a Maria iriam acompanha-
la. Já a Kia era para aguardar o motorista ir buscá-la na frente do posto. Seu estado
nervoso não estava a fazendo bem. Quanto mais a situação de apreensão.
Mais tarde, assim que ela chegou, mal pisou na sala e deu um abraço
desesperador no Gael, chorando no seu peito.
— O veneno no corpo dela foi desintoxicado. Mas Sônia ainda vai ter que fazer
uma cesárea... d-devido o seu bebê de seis meses que não resistiu e morreu dentro
do seu ventre. E era uma menina. Eu...eu sinto muito... — Kia cai em prantos.
Sem aguentar eu também choro, recordando dos meus abortos e no pior… o de
quatro meses, o qual eu tive que passar por uma das piores curetagens da minha
vida. Eu vi o feto, o meu pequeno bebê numa bandeja fria de metal. Tinha os
bracinhos, as perninhas e as orelhinhas bem-feitinhas. Imagino com todas as dores
os sentimentos que a Sônia deve estar vivendo neste momento. O pior é que terá
uma cesariana.
— Maria está com ela, dando todo o suporte e amor do mundo. Sua mãe é
maravilhosa.
Gael também se emociona, enquanto abraça a Kia.
— Devo desculpas a Sônia. Vou para a cidade está tarde, trocar de lugar com o
Anton.
Kia concorda, alisando o braço dele.
— Não se sinta culpado. Você é um homem maravilhoso, que desde o início da
gravidez dela não negou auxílio. Mesmo que as dúvidas de ser seu filho ou não,
fossem naturais.
— É por isso que por respeito e confiança a ela não exigirei nenhum DNA do
feto.
— Acho certo — com a voz embargada eu os chamo a atenção para os meus
olhos banhados em lágrimas. — Ela já está sofrendo demais. A pior dor é de perder
um filho.
Kia sorri fraco e não aguenta me olhar. Ela imediatamente desvencilhar do Gael
e me abraça acolhedora, acariciando as minhas costas.
— Eu nunca senti a sua dor, nem a dá Sônia. Mas sendo mãe, me coloco no
lugar de vocês. E sinto muito, muito mesmo, minha amiga.
Sem conseguir dizer uma palavra sequer, meus olhos se enchem sobre os seus
ombros. E choro triste pela Sônia e triste por mim.

Por volta das 11h eu ligo para casa, para saber se a Kia e as crianças estão bem.
Ela me confirma mil vezes que está bem, depois de eu igualmente perguntar sem
parar se ela comeu, repousou e não fez esforços. No final, finalizo a ligação dizendo
que a amo e que logo, logo voltarei para os seus braços. Emotiva devido a gestação,
minha doce Kia chora, dizendo que também me ama e que é para eu ligar a cada
meia hora para informar se a Sônia já saiu da cirurgia. Eu respondo um “ok”, repito
um outro “eu te amo” e desligo o celular.
— Kia disse algo do Gael? — Maria pergunta, sentada ao meu lado.
— Sim, que ele estava almoçando para pegar estrada e viajar para a capital.
Lívia também o acompanhará.
— Hum… — Maria me observa envergonhada. — Devo desculpas a Lívia e ao
meu filho… acredito que ela não tenha sido capaz de roubar o senhor e a sua esposa.
Estava julgando-a pelos acontecimentos do passado com a Lorenza.
— Eu também devo desculpas a Castellano e ao Gael. Está mais do que óbvio
que foi a filha da Felícia que nos roubou e agora fez essa barbaridade com a Sônia,
que estava esperando um filho do Gael.
— Tento a cada instante não pensar nisso, devido a minha querida amiga Felícia.
Eu estou sofrendo por ela.
— Kiara também me contou que a Ester tentou cortar o rosto da Lívia essa
madrugada, após as duas terem ido para a floresta de eucalipto próxima da mansão.
Gael e o motorista chegaram a tempo de evitar o pior. Mas ainda assim, ao tentar se
defender do estilete, Lívia saiu com as mãos cortadas. Quando chegar aqui no
hospital ela vai cuidar de receber os pontos.
— Minha Nossa Senhora… — Maria fecha os olhos. — Estou num pesadelo.
Não acredito que esse horror está acontecendo. Eu sinto tanto, tanto pela Ester. A vi
nascer, crescer e tão pequenininha correr entre as minhas pernas na cozinha, toda
lindinha com aqueles cabelos ruivos. Que Deus ajude a Felícia e a sua filha.
— Decidi, até o momento, que devido aos meus sentimentos pela Felícia, não
acionarei o Laerte para prendê-la.
— Não Sr. Dexter, realmente não faça isso. Ester é uma pessoa trabalhadora,
educada, humilde, que só está obcecada pelo meu filho. E por mais que tenha
cometido essa barbaridades, Felícia não merece ver a sua menina atrás das grades.
Ela não merece isso. Já perdeu uma filha no passado. Deve ter outra punição que
possa ajudar a Ester a mudar de vida, reconhecer os seus erros e tentar ser melhor.
— Não se preocupe, já estou pensando no que fazer.
— Com licença — um homem baixo, vestido com um uniforme azul de
cirurgião nos interrompe ao parar na nossa lateral.
Ele segura uma prancheta.
Eu me levanto calmo, acenando educado com a cabeça.
— Olá, bom dia.
— Bom dia. Eu sou o Dr. Lucas Gabriel, médico obstetra. O senhor é o familiar
de Sônia De Oliveira Batistas?
— Não, mas eu sou responsável por ela e estou arcando com todos os custos do
hospital. O filho que esperava era do meu… irmão. E ela não tem família, além de
nós.
— Tudo bem — o médico assente, com um olhar muito profissional, antes de
começa a falar: — Assim que ela deu entrada pela emergência estava no seu
prontuário que o feto estava em óbito há mais de seis horas e os procedimentos para
curetagem seriam o adequado. No entanto, se encontrava muito debilitada devido ao
veneno ingerido e não suportaria as contrações para expulsar. Por isso optamos pela
cesárea, o que igualmente seria o certo para salvar a sua vida.
Maria e eu permanece atentos à medida que o médico fala.
— Sim?
Ele me fita.
— Só que na sala cirúrgica, com a paciente já na mesa e com tudo sendo
preparado para a cesárea, notamos que milagrosamente – ou por um erro no
agnóstico de onde foi transferida – o coraçãozinho da bebê começou a dar sinal no
aparelho oxímetro. Foi então que em menos de cinquenta segundos nos vimos tendo
que lutar por duas vidas... E infelizmente a mãe não resistiu — o médio suspira,
cabisbaixo. — Sinto muito, tentamos fazer de tudo pela paciente, mas ela sofreu
uma hemorragia durante o parto. Não conseguimos salvá-la.
— N-não... — Maria me olha, negando-se. — Não, não pode ser Sr. Dexter.
Na mesma hora ela cai em prantos na cadeira. Eu molho a garganta, também me
sentando para respirar e controlar o baque repentino da notícia.

Já estávamos perto da cidade, quando de repente joguei o carro no encostamento


e parei estranho, sem entender nada.
— Gael você está bem? Por que jogou o carro desse jeito?
Lívia acaricia o meu braço, assustada e preocupada.
— Não sei, mas estou sentindo algo muito ruim — respondo com a mão no
peito, notando os meus batimentos desregular.
Ela pega a garrafinha de água e me entrega.
— Me deixa dirigir a caminhonete, já estamos perto. Em uma hora chegamos no
hospital.
— Não, de jeito nenhum. As suas mãos estão feridas, Lívia. E eu já estou bem.
Deve ser o estresse de toda essa situação.
Ela assente, mas vai me observando e perguntando o tempo todo se estou bem.
Não demora e às 14h20 a gente chega no hospital. Ainda estranho e com os
batimentos acelerados, como que se a cada passo que eu desse, eu pudesse ouvir o
meu coração bater. Eu e a Lívia caminhamos para dentro. E no interior encontramos
o Anton sentado numa cadeira branca, segurando um papel.
— Gael — ele me vê e se levanta calmo para vir na minha direção.
— Como a Sônia está? Ela já passou pela cirurgia? — Imediatamente pergunto,
como que se meu oxigênio dependesse da resposta para bombardear ar para os
pulmões.
Eu preciso saber se ela está bem, se tudo ocorreu certo para voltar ao normal
com a sua vida e eu com a minha. Dependo disso, dependo de ver a Sônia falando,
respirando e recuperada. A ajudarei no que for necessário.
Anton olha para a Lívia, a sua mão enfaixada e depois retorna para mim.
— Sua mãe está lá em cima.
— Com ela?
— Não, ela está acompanhando a intubação da bebê prematura.
Eu arregalo os olhos, perdendo o fôlego.
— O-o que você disse?
— O feto estava milagrosamente vivo, Gael. Não sabemos se foi um erro no
diagnóstico do posto da vila onde Sônia deu entrada e foi transferida, sabemos
apenas que milagrosamente o coração do bebê começou a bater na mesa de cirurgia.
— Meu Deus! Isso é inacreditável! Um feliz milagre com certeza! — Lívia
declara animada, pressionando o meu braço.
Mas o Dexter está sério. Ele me encara e eu noto algo muito errado nos seus
olhos.
— E a Sônia? O que foi com ela, Anton? Por que está sério?
— Sônia faleceu na cesárea devido a uma hemorragia. O médico disse que
aconteceu tudo muito rápido, em segundos. Tentaram fazer de tudo… só que era
irreversível.
— C-como? Meu Deus...
Lívia aperta mais forte o meu braço.
Não...
Eu abro a boca, passo a mão no cabelo e olho pelos lados, sem acreditar que isso
está acontecendo.
Não, não posso crer!
— Não foi sua culpa, Gael — Anton para de imediato na minha frente, segura
nos meus ombros e me sacode. — Porra, não foi, entendeu?
Coloco a mão nos olhos e começo a chorar pela Sônia, pelas lembranças dela
toda menina, feliz e com aqueles cabelos loiros.
Ela não devia ter morrido. Ela não tinha culpa de nada. Deus não podia ter sido
tão injusto com alguém tão sofrido!
Não podia!
Eu paro o Sr. Dexter perto da recepção vazia e suspiro ao encará-lo imponente,
cara a cara.
— Não vou deixar que a Ester saia impune desse crime, Sr. Dexter. Desculpe-
me, mas eu não vou permitir. Ela assassinou uma vida a sangue frio! E por pouco
duas!
— Nem eu deixarei, Lívia. Gostaria de poupar a Felícia, contudo, não é justo.
— Não, não é justo. Não é justo com a Sônia que está morta, e nem justo para a
filhinha que ela deixou neste mundo, que terá que batalhar pela própria vida nos
próximos meses. Ester não deu uma chance de escolha para a Sônia. Nem uma
chance para a bebê conhecer, ouvir, amar a sua mãe. Eu lutarei por justiça em nome
das duas. Assim como eu acredito que a Kiara vai lutar!
— Eu estou do seu lado. E como pai, do lado daquela pequena criança
prematura. Gael igualmente disse que não vai deixar nada impune. E eu te prometo
que não vamos, Castellano. Felícia infelizmente terá que entender.
— Eu sinto muito pela Felícia. Queria que a sua filha não tivesse agido tão mal
assim. Só que foi. E ela vai pagar por seus crimes.
Sr. Dexter assente.
— Vou conversar agora com o Laerte, e depois avisar a Kiara. Mesmo que eu
não saiba como vou conseguir fazer isso. Ela era muito ligada a essa menina. Não
sei se aguentará a notícia.
— Ela foi a única que acreditou, apoiou e fez de tudo pela Sônia. Kiara terá que
ser muito forte.
Ele concorda quieto e preocupado, então pede licença de novo, para se retirar
com o celular na mão.
Ah, meu Deus... também me dê forças...
Sem tempo para pensar, eu viro as costas e caminho bem devagar pelo corredor
vazio do hospital. Para achar o Gael largado no chão, olhando fixo para a parede.
Meu coração até doeu de uma forma que eu nunca senti na vida. Eu me aproximo,
sento-me ao seu lado, agarro no seu braço e fico em silêncio, esperando-o reagir.
— Já levou os pontos? — Ele pergunta ainda fixo na parede.
— Sim… — Beijo a sua mão. — Não quer comer nada? Nem tomar uma água?
Já faz mais de duas horas que está aqui sentado.
— Não.
— Você foi ver pelo menos a bebê?
— Não.
Respiro fundo, tentando segurar a vontade de chorar.
— Eu vou com você, Gael.
— Não quero fazer isso agora.
— Por favor, precisa pensar na criança. A sua mãe está se virando sozinha.
Devido as minhas palavras, ele me olha e vejo nos seus olhos vermelhos e
inchados, imensa tristeza.
— Eu estava com o Anton resolvendo as coisas do óbito. Não pude ajudar a
minha mãe por isso na maternidade. E não consegui localizar nenhum parente da
Sônia, para saberem que ela faleceu. Afinal, não era uma órfã.
Penso na história que a própria Sônia me contou, sobre os abusos que sofria do
seu pai e da sua mãe covarde, o acobertando. E sinto nojo dessa família. Gael
também ficou sabendo, pois, a Kia o contou há um mês.
— Acredito que o Anton vai te ajudar com isso. Ele vai contratar um detetive
amigo. Só que não há tempo. No momento, o certo é dar um velório digno para ela.
E pensar na sua filha. Deus escolheu entre as duas.
— E por que ele não deixou as duas? Por que foi tão injusto? Aquela menina
sofreu tanto na vida. Merecia uma casa boa, uma família de verdade. Merecia ser
feliz.
— Deus escreve certo por linhas tortas — as lágrimas me descem. — Ele tem a
resposta para todas essas perguntas. E se era para ser assim, não resta nada a não ser
nos conformar. Sinto muito.
Gael limpa o rosto molhado.
— Eu estou com medo de ver a criança. Queria me esconder, acordar e não
acreditar que tenho uma pequena responsabilidade.
— Fará o DNA?
— Não, não vou. Nem tempo de pedir desculpas para ela, eu tive. Vou assinar o
registro da bebê e cuidar da menina, a minha filha. Será a forma de deixar a Sônia
contente em algum lugar. Mesmo tão nova, ela nunca demonstrou que odiava o fato
de ser mãe. Confiarei nela. Meu coração pede isso, que eu confie. E eu vou confiar,
Lívia. Não vou dar essa criança para esse avós imundos e criminosos criarem.
— Pois confiei. Aquela bebê é sua. E eu vou te ajudar a enfrentar esse medo.
Eu me levanto do chão, estendendo-o a mão.
— Vamos? Não posso permitir que continue assim.
Ele suspira, pega na minha mão e ergue-se.
— Filho!
Quando estamos perto da UTI neonatal, a dona Maria vê o Gael se aproximar e
caminha rápida para abraçá-lo. Os dois ficam uns cinco minutos assim,
compartilhando carinho de mãe e filho, até Maria se afastar e segurar o rosto do seu
enorme menino.
— Como está, meu amor?
— Péssimo.
— Eu sei… sinto muito por essa situação.
Maria suga o nariz e inclina-se para visualizar o vidro da UTI.
— Ela é tão pequenininha, tão frágil. O médico disse que é uma prematura
extremo.
Eu também me viro e observo uma incubadora com um forrinho rosa, com uma
pequena bebê deitada ali. Não dá para ver direito, há muitos fios ligados a ela.
— Tem chances de sobreviver?
— Só o futuro nos dirá, meu filho. Mas se ela conseguir vencer a batalha pela
sua própria vida, pode ganhar alta daqui três ou quatro meses. Logo que tem 26
semanas.
Gael engole em seco, fixado no vidro.
— Obrigado, mãe. Não sei o que seria de mim sem a senhora.
— Eu vou sempre estar aqui meu querido, para ajudá-lo. E Lívia também.
Maria, de repente, olha emocionada para mim.
— Desculpe-me pelos meus julgamentos, Srta. Castellano. Do fundo do meu
coração, eu te peço perdão.
Sorrio fraco.
— A senhora é mãe, talvez eu tivesse agido do mesmo modo no seu lugar.
Ela, então, desvencilha do Gael e vem me abraçar.
— Mesmo assim, eu te peço perdão e peço que ajude o meu filho. Que o faça
feliz. Que o ame, pois já sei que ele te ama cegamente.
— Eu farei, te prometo. Também o amo.
Assim que eu me afasto do abraço da Maria, eu ergo os olhos e pego o Gael me
observando sem palavras. É a minha vez de sugar o nariz. Ainda dou de ombros. Sei
que nunca disse diretamente a ele que o amo. Deve ter sido como um meteoro no
seu peito.
— Eu não vou ser boba de perder um homem tão maravilhoso como esse.
Ele dá um passo e beija o topo da minha cabeça.
— Te amo muito. Obrigado, Lívia.
Retribuo o beijo nos seus lábios.
— Estarei aqui, meu caipira. Vai lá ver a bebezinha — sussurro.
Ele assente, me dá outro beijo e ao se distanciar de mim, toma forças para ir até
a porta conversar com a enfermeira e se identificar para ver a pequena.
Fico de longe, sem coragem de acompanhá-lo. Aqui é o meu ponto final. Não
posso ir tão longe.
Não posso...
— Vai lá com ele, Lívia. Pode entrar duas pessoas. É só passar o álcool nas
mãos.
— Acho que não… não posso ir — seguro as lágrimas rebeldes.
— Por quê? — Maria nota a minha voz embargada e puxa delicadamente a
minha mão.
Ao encará-la, eu não suporto.
— Isso vai me machucar — choro. — Não quero ir. Não consigo.
Ela franze o cenho, surpresa por minha afobação e pelo desespero.
— Calma. Está tudo bem.
— Perdi um filho no meu ventre, ele era pequenininho. Tinha tudo o que um
bebê tem… batalhei para segurá-lo. Mas não consegui. Foi o último, e o meu cesto
aborto.
— Gael sabe disso?
Nego com a cabeça.
— Não gosto de tocar nesse assunto. Me dói, me faz sofrer.
— E está, de repente, contando para mim? Por quê?
Fecho os olhos.
— Eu não sei. Eu não queria ter dito nada. Foi um surto momentâneo.
Esqueça… estou bem.
— Acho que eu sei, Lívia. Temos uma história bem parecida. Diria idêntica.
Nunca pude ter filhos, tentei engravidar exatas seis vezes também. Só que o meu
cisto me impedia de segurar os bebês. Chorava ao acordar e ver manchas de sangue
na cama, na roupa, ou ao ir ao banheiro. Pois ali estava algo que eu tanto desejava,
sonhava, só que morto — ela me encara, trazendo à tona seus pensamentos. — Foi
que numa tarde de frio, durante o inverno, que eu fui estender alguns lençóis no
varal e escutei um choro de bebê vindo do canto da nossa antiga casa na vila. E
quando eu fui procurar o motivo do barulho estranho, não acreditei. Era uma criança
dentro de uma caixa de papelão, enrolada num cobertor velho. Ele era enorme,
branquinho e de olhos azuis bem escuros. Acho que nem vinte dias tinha direito.
Era...
— Era o Gael…
— Sim, era o meu filho. O filho que eu pedia tanto a Deus, que eu chegava a
calejar os joelhos nas madrugadas o clamando. — Maria ri. — Para você ver como
o nosso criador trabalha certo, entretanto, por linhas tortas.
Linhas tortas...
Sem acreditar no que disse, olho para o vidro e para o Gael do outro lado, de
frente para a incubadora, observando emocionado a bebê.
— Eu disse o mesmo para o Gael agorinha a pouco.
— É mesmo? Acho que o meu filho precisará de uma madrasta-mãe para aquela
menina.
Imediatamente, retorno para a face da Maria, dando um passo surpreso para trás.
Ela sorri compadecida.
— Deus escreve certo por linhas tortas, Lívia. As coisas sempre acontecem por
alguma razão.
— Mas essa razão é triste… custou uma vida. A sua não foi assim. Foi porque a
Lorenza mentiu a gravidez e quando não deu mais para esconder a enorme barriga,
fugiu, deu à luz e abandonou o bebê no seu quintal. Logo que a senhora era a
cozinheira da mansão e queria um filho. Aquela mulher sabia disso. Tenho plena
certeza de que sabia. Ela é uma ordinária esperta.
— Se era para ser assim comigo, amém. Deus tem um propósito para cada um
de nós. Ele vê tudo lá de cima. E ele tem algum com você há muito tempo, desde
que nasceu da sua mãe. Pare e pense na sua trajetória até aqui, no seu sofrimento.
Há sempre uma razão... felizmente ou infelizmente sempre há... — ela termina as
suas palavras, dando uma pausa sobre o Gael e a bebê e retorna suave para mim. —
Não fique aqui amedrontada, enfrente os seus medos e as suas inseguranças. Vai
ficar ao lado do seu homem. Ele precisa muito de você. A bebê também... Com
licença, Lívia, vou descer para tomar um ar fresco.
Não digo nada, ainda em choque só a assisto virar as costas e sair andando pelo
corredor, até o elevador.
Sento-me na cadeira mais próxima, meio tonta e com um gosto amargo na boca.
Será, meu Deus? Ou é só uma peça que está pregando em mim? Se for, foi de
muito mal gosto. Aquela menina sofredora não merecia. E eu não mereço.
Eu não mereço nada disso.
02 de abril – três meses depois...

Eu não estava mais aguentando de vontade de comer rosquinhas açucaradas.


Não sei onde o Anton as achou, mas o seu grande esforço vale um prêmio. Como
amo esse homem!
— Sei que não foi a Maria que fez — digo de boca cheia, intoxicada pelo prazer
do chocolate.
— Na vila, Kiara! Você me fez ir até a vila buscar essas rosquinhas!
— E eu te amo ainda mais por isso. Estão maravilhosas. Obrigada, meu amor.
Ele bufa e abaixa-se para pegar a Melina no colo. Ela estava chamando “papai”
sem parar e puxando a sua calça para ele lhe dar atenção.
— Como cresce, há quatro meses, essa princesa nem sabia andar direito —
mamãe que está sentado ao meu lado, comenta, assistindo o Anton bagunçar a
maria-chiquinha dela. — Agora sabe até falar.
— E esse — aliso a minha barriga gigantesca de nove meses. — Em mais
algumas semanas, nasce para me fazer respirar normal de novo. Vou aproveitar ao
máximo meu bebezinho, pois realmente crescem num piscar dos olhos.
— Daqui a pouco já estão como o Gieber, destruindo a casa — mamãe ri e eu
viro para o arteiro do outro lado, acelerando a motinha que seu pai deu para me
enlouquecer.
Antes era o bendito carrinho motorizado, hoje a motinha, mês que vem o quê,
uma espaçonave?
— Melina não fica atrás não — resmungo.
Anton segura a risada.
— Ela vai herdar o carrinho do Gieber.
— Não mesmo, você vai consumir com aquilo.
— Filha, você quer o carrinho cinza do seu irmão? — Anton pergunta para a
nossa princesa de cachinhos loiros, olhos azuis e sardinhas.
Só gostaria de deixar bem claro que ela é a minha cópia.
— “Sim”! — ela responde com a sua vozinha fininha de bebê, quase
incompreensível, que derrete o meu coraçãozinho bobo de mãe.
— Viu, amor, não posso entristecer a minha bonequinha. Tenho que ser o melhor
pai do mundo.
Mamãe cai na risada e eu reviro os olhos, também não resistindo a rir.
— Senhores, com licença... — inesperada, Adelina, a nova governanta da
mansão Dexter, chama a nossa atenção para o outro lado, onde se encontra parada,
toda ereta e elegante. — Desculpe-me por interrompê-los, mas o Sr. Gael ligou e
avisou que acabou de sair da maternidade. E que já está a caminho da fazenda.
— M-Meu Deus! — Eu arregalo os olhos e sem demora, eles começam a arder
emocionados. — Nossa pequena Sofia ganhou alta!
Faz mais de três meses que o Gael se mudou para a capital, para ficar perto da
filha prematura. Ele estava morando no apartamento da Lívia – o que aproximou
ainda mais aqueles pombinhos briguentos.
Só que o começo dessas mudanças foi muito difícil para ele. Principalmente
após o enterro da Sônia. Gael precisou de todo o apoio do mundo. Ele ficou abalado,
e por mais que não dissesse, sentiu-se culpado pela morte dela. Também pela Ester
ter cometido tudo aquilo por ciúmes e por causa de um amor doentio.
Não nego que fiquei do mesmo jeito, achei que não fosse aguentar a tamanha
devastação de tristeza no meu peito.
Em dois dias, o Anton despediu a Ester e a empregada que era a sua cúmplice.
Laerte estava presente após entregarmos as duas para a justiça. Só que foi horrível.
Ester negou, gritou, ficou histérica e nos acusou de estar a prendendo sem provas.
Mas ela teve que aceitar o seu destino de uma forma horrível, pois a Felícia deu uma
surra de vara na própria filha, bem na nossa frente. “Você me envergonha, você me
machuca! Eu não enterrei uma, eu enterrei duas filhas!”. Não aguentei ver a minha
querida Felícia naquele estados, chorando, falando entre engasgos e batendo-a.
Doeu em mim, no Anton, na Maria, na minha mãe e depois no Gael, quando ele
soube. Foi triste ver a Ester passando por tal humilhação. E eu sei que ela mereceu.
Queria ter sentido pena, compaixão, contudo... não consegui. Pelo contrário, se não
fosse o Anton me segurando, eu mesma teria dado uma surra nela quando a vi cara a
cara. Pela Sônia e pela pequena Sofia.
Felícia foi embora da fazenda junto da filha e nossa triste despedida me faz
entrar em lágrimas até hoje; de saudades, amor, carinho e pelas lembranças
inesquecíveis. Ela foi uma segunda mãe desde que pisei os pés pela primeira vez na
fazenda Dexter. A amo, ela estará para todo o sempre no meu coração e nas minhas
memórias, assim como a minha querida Sônia, que ela esteja nos olhando do céu e
abençoando a minha família, o Gael, a sua pequena Sofia e a Lívia, que será uma
madrasta maravilhosa para aquela princesinha, assim como eu serei a tia mais
babona desse mundo todo.
— A governanta já os avisou, Gael.
— Tem certeza? Devemos lembrar que a Kia está grávida de nove meses e que
não podemos fazer ela dar à luz no meio da sala.
Sorrio para ele e olho para a Sofia dormindo no seu bebê conforto. Estamos
parados na frente da mansão e da enorme porta pivotante, de madeira maciça. Kiara
acha que ainda estamos saindo da maternidade lá na capital. E ela mal imagina que
nós viajamos de helicóptero – alugado pela Anton – e que estamos aqui, prontos
para entrar e fazê-la dar à luz no meio da sala (Deus que me perdoe por eu estar
rindo disso, foi o Gael quem disse).
— Sofia dormiu?
— Sim.
— Ela estava tão calminha no helicóptero. Fiquei com medo de que acordasse
chorando pelo barulho.
— Tínhamos muito leite para prevenir isso — pisco e dou um beijo nele. — Te
amo.
— Oi?
Gael me segura rápido pelo braço e sorri de orelha a orelha.
— Você disse um eu te amo?
— Não, eu disse “te amo”.
— Dá na mesma. É a segunda vez que me diz um eu te amo! Isso significa que
vai aceitar o meu pedido de casamento?
— Não se anima muito, caipira, porque eu só te disse um te amo, não que vamos
esta tarde para o cartório trocar os sobrenomes.
— Porra, você é uma pessoa horrível e sem coração.
— A mesma pessoa que você ama e que não vive um segundo longe.
— Isso eu devo de concordar. Mas você assinou o registro da Sofia, isso
significa que somos casados.
— Vou deixar você se iludir, porque é de graça.
— Megera!
— Caipira!
Dou outro beijo gostoso nele e decido que é hora de surpreendermos a nossa
querida Kiara.
E, meu Deus… mantenha o bebê dela dentro da sua barriga de gravidinha…
amém!
Gael pega o bebê conforto, entrelaça os dedos nos meus e juntos avançamos
porta adentro, até a enorme sala... para fazermos a nossa doce Kia soltar um grito,
em seguida, se levantar do sofá primeiro do que o seu filho dentro do ventre e
começar a falar “não, não, não acredito, não acredito!” mais de mil vezes.
— V-vocês não estavam saindo da maternidade? Não acredito que cai nisso!
Ela vem rápida abraçar o Gael e a mim, com Anton quase berrando “calma”,
“ande devagar”. Quando ela se afasta dos nossos braços... ela olha para a Sofia…
não aguentando as emoção. Kiara começa a chorar como se não houvesse o amanhã.
Eu também não aguento e deixo uma lágrima escapar. Em seguida, outra e mais
outra e não controlo mais.
— Ela é linda. Olha esses cabelos negros do pai... E tem os dedos finos da
Sônia… pois eu me lembro dos seus dedos... — Kia sussurra toda doce, alisando os
dedinhos da Sofia e sugando o nariz. — É uma princesa.
Isso me fez abaixar a cabeça e chorar ainda MAIS.
Gael beija a minha mão.
— Você será uma madrasta maravilhosa, Lívia.
— Ela já é — Gael declara, dando-me agora um beijo no topo da cabeça. — Se
não fosse essa mulher incrível comigo no hospital durante esse meses, eu não teria
aguentado a barra. Lívia tem uma força de mais de mil homens.
— Na vida passada, ela devia ser uma Deusa da Guerra.
— Vocês estão me deixando sem graça, seus bobos — resmungo baixinho, com
a voz embargada.
Eles riem.
— Lívia Castellano sem graça? Tem câmeras na casa gravando isso Anton?
— Infelizmente não.
Sorrio, nem ligando para eles, e pego nas mãos da Kia.
— Obrigada, Kiara.
— Queria ter visitado vocês e a Sofia mais na cidade. Só que a viagem é longa e
me canso fácil. Ainda estou na correria com a minha fazenda de flores. Vendi a
plantação toda, pois vou desistir de ser agricultora para me dedicar as crianças e a
tarefa chata de ser esposa Dexter.
— Ei, eu não tenho nada a ver com a sua decisão. Já disse que não é para desistir
— o Dexter se pronuncia revoltado, com uma cara de bravo aterrorizante.
— Mas eu vou, não dou conta daquilo sozinha. Cometi um erro. O mercado de
flores não é para mim. Você tem que ter pulso firme, confrontar. Tem que ser...
— Uma megera implacável igual a Lívia.
— Gael! — Eu dou uma cotovelada forte nele.
Ele entorta um sorriso sínico, mesmo dolorido.
— É, eu tinha que ser igual a Lívia. Implacável, empoderada, intimidante. O
problema é que não chego nem no dedinho do pé de tamanhas qualidades.
— Você sabe que a maravilhosa aqui é você, né, Sra. Kiara?
— Vocês poderiam ser sócias, já que a Castellano está vendendo a construção da
clínica e quer sair do emprego.
— Eu, ser sócia? Acho que não, sou péssima para administrar algo.
— Lívia, meu Deus! — Kia, de repente, arregala os olhos brilhantes, como que
se estive tendo uma ideia de como acabar com o aquecimento global. — O Gael tem
razão. Assim bateríamos de frente com o mercado de flores e ficaríamos podres de
ricas. Já imagino nós duas, as poderosas da indústria floral.
Não acredito!
— Minha nossa, é verdade!
Meus olhos brilham igual aos dela, ao imaginar eu na frente de algo industrial,
poderoso.
Anton franze o cenho. Gael também.
— Ué, vocês já são milionárias.
— Não somos não. Milionário é o meu marido e o meu sobrenome Dexter. Já a
Kiara Lemos não tem um real sequer.
— E eu, Lívia Castellano tenho menos de 200 mil em patrimônio. Trato feito
Kiara Dexter, mais tarde discutiremos esse assunto no seu escritório. Eu não tenho
nada a perder. Preciso é de ganhar. Já sacrifiquei a minha clínica.
— Que medo de vocês. E antes, dona Lívia, você tem que terminar o seu curso
de administração comigo.
— É claro, meu moreno — eu o olho e pisco safada. — Adoro as minhas aulas
de administração. Afinal, com você... quem administra as coisas sou eu mesmo —
sussurro.
— Vocês criem vergonha que a minha Kia não entende essas coisas.
Anton puxa a sua esposa toda ruborizada para se sentar no sofá.
Inocente? Ah, tá.
Eu coloco a Sofia do lado dela, vendo a Melina pular no sofá para paparicar a
recém-nascida de um mês. Dou um beijo na bonequinha loira, idêntica a mãe e não
perco o gancho da piada.
— As bochechas vermelhas da sua esposa Sr. Dexter, assumem que ela entende
mais do que você imagina.
— Lívia! — Ela brame e eu mordo o lábio inferior, dando a ela um olhar
malicioso.
— Só a verdade, minha querida amiga.
A sós com a Lívia no quarto, eu fico de longe, observando-a dar de mamar para
a Sofia na mamadeira. Está tão concentrada e tão apaixonada na bebê. Isso mexe
demais comigo, pois sei que não pode ter filhos e sei que quando era casada tentou
fazer todos os tratamentos possíveis para ser mãe. Nem imagino o quanto sofreu.
Há duas semanas, o momento mais emocionantes de nossas vidas foi quando ela
chorou igual uma criança após eu me ajoelhar e pedir que fosse a mãe da minha
filha. Nunca a vi tão emocionada. Precisou de algumas horas para me responder. E
seu sim moveu as montanhas do meu coração. Eu amo essa madame da cidade. Ela
é tudo para mim.
E sei que a Sônia deve estar sentindo muito orgulho da grande mãe que Deus
escolheu para a nossa menina.
— No que está pensando? — Lívia pergunta, trazendo-me de volta para o
presente.
Encaro-a, sorrindo um pouco triste.
— Devemos rosas ao tumulo da Sônia. Ela gostava daquelas brancas do jardim
mais bonito da mansão. Lembro-me de que me disse isso uma vez.
Lívia assente, acariciando os cabelos castanhos da bebê.
— Podemos ir no sábado, depois do batismo da Sofia.
— Sim… melhor.
Eu suspiro. Então me levanto, coloco o chapéu sobre a cabeça e aproximo-me da
Lívia para dar um beijo no topo da sua testa.
— Kia e a dona Judite vão cuidar dela essa noite para nós.
Lívia franze o cenho, fitando-me com os seus verdes intimidadores.
— Sei que está aprontando alguma coisa com o Anton, sei disso há uma semana.
— Claro, você é uma madame perspicaz, capaz de colocar um copo atrás da
porta para ouvir as ligações alheias.
De repente, ela me dá um chute no pé.
— Porra, Lívia!
— Conte-me o que está aprontando, seu caipira! Ou levará uma greve de sexo
de semanas. Meses!
— Merda nenhuma de greve de sexo! Nem você aguenta isso!
— Posso ser pior do que você imagina!
Pior? Isso é impossível.
— Fico pensando no que a Sofia se tornará nas suas garras. Duas prepotentes,
atrevidas e mandonas é demais.
— Ela se tornará uma mulher maravilhosa, que não leva desaforo para casa e
que não se deixa ser iludida por machos gostosões. Vai ter a melhor educação do
mundo. Ah, e vai poder se formar no que desejar — seus olhos brilham enquanto
diz. — Vou ensiná-la tudo o que eu sei e sou.
— Ou seja, megera filha? Estou perdido.
Lívia agora me dá um outro chute no outro pé e esse me faz gemer de dor,
porque foi a ponta fina do seu salto.
— Eu vou deixar a sua bunda roxa! — Brado com raiva e mancando.
— Está bravinho? Ótimo, agora sai daqui e vai resolver o que você tem para
resolver para a nossa noite “surpresa”. Vou estar pronta 18h. Devo levar um biquíni?
— Ela indaga superior, olhando-me com ar maldoso e de que sabe perfeitamente
dos meus planos.
E puta merda! Ela sabe!
Essa mulher é uma estraga prazeres, como ela pode ter descoberto os meus
planos? Que droga, eu vou fodê-la sem descanso no chão daquele rio.
Não a respondo e saio revoltado do quarto.
Só volto mais tarde, depois de preparar tudo ao lado do Anton. Ainda passo em
casa para tomar um banho e me vestir do jeito que a Lívia gosta. Elegante. E claro,
com a calça marcando bem a bunda, as coxas e o volume. É uma safada sem
vergonha essa mulher.
Na sala da mansão, Kia vem toda entusiasmada até mim, mesmo bem
devagarzinho, devido a sua barriga enorme, que a qualquer momento pode dar à luz
ao Rangel.
— Então? Como estão as coisas?
— Tudo lindo e romântico. Só espero que, dessa vez, ela aceite o meu pedido de
casamento — arfo muito apreensivo e ansioso. — Será o vigésimo.
— Tenho certeza de que ela vai aceitar, meu amigo. Ela também te ama, por
mais que seja raro da nossa poderosa lhe dizer. — Kia sorri e pisca. — No entanto...
para mim, ela sempre confessa que não consegue mais se imaginar sem o seu
caipira.
— Assim espero. Essa maldosa me enlouquece. Cadê o Anton?
— Está com as crianças.
— Quem que te enlouquece? — Uma voz surge inesperada e imponente do alto
da escada.
É imponente até demais para a minha sanidade.
Eu viro a cabeça, ficando boquiaberto ao ver a Lívia descer degrau por degrau;
toda linda, gostosa e uma Deusa. Cacete!
Mas que peste de vestido justo do caramba é esse? Se ela mexer um pouco mais
da fenda da perna, eu vejo a sua calcinha. Seus seios chegam a pular do decote
apertado.
— M-minha nossa, Lívia. Sem palavras. — Kia está boquiaberta também. —
Um vestido desse não passaria nem por uma das minhas coxas no momento.
Lívia sorri. E que sorriso, quero beijá-la, abraçá-la, envolvê-la no meu corpo
quente, duro e despi-la por eternos e torturantes segundos. Não consigo parar de
olhar para essa Deusa Maravilhosa. Nem meu pau de latejar.
— Não minta, minha amiga. Até grávida é um anjo de beleza incomum.
Ela me olha.
— E estou pronta, meu querido Gaelzinho.
E eu não vejo? Porra!
— É… bom, eu vou subir para ficar com a minha mãe e a pequena Sofia.
— Obrigada, Kia.
— Por nada.
— Por favor, espere, eu vou te levar até o último degrau — eu desvio do poder
da Lívia sobre o meu corpo e vou ajudar a Kiara a subir com cuidado os lances de
escada, até chegar em segurança no topo, onde me agradece.
Em seguida, eu retorno levando a Lívia até a minha nova caminhonete.
— Hum. Sem beijos.
Ela me empurrou assim que eu a puxei para nos beijar perto da porta dos
passageiros.
— Por que está sendo tão má hoje?
Pressiono-a bravo contra a lataria do carro.
— Porque eu sei o que o senhor vai aprontar. E por que está tão nervoso assim?
— Ainda pergunta? Quero bater na sua bunda até você não conseguir andar.
Ela sorri.
— Estou ansiosa para isso. Vamos?
— Antes um beijo — seguro a sua cintura, raspando minha barba no seu
pescoço de pele de seda; macia e aveludada.
Lívia, então, me dá apenas um mísero selinho e empurra-me.
— Vamos logo, caipira. Ou quer que eu desista?
Bufo e abro a porta para ela. Ao entrar, fecho com força, dou a volta e entro na
caminhonete, acelerando revoltado.
Perto do rio, por mais que eu não possa ver o seu rosto devido a escuridão, noto
a Lívia muito curiosa e inquieta.
— Onde estamos, Gael?
— Buraco da Lua.
— O quê? Que isso?
— É uma gruta aberta no teto. Nos dias de lua cheia, a luz reflete na água azul,
iluminando as paredes.
— Nossa… e por que você nunca me trouxe nesse lugar antes? Deve ser lindo.
— E é. Você vai conhecer ele e ver o fenômeno. É noite de lua cheia — aponto
para o céu, chamando a sua atenção para a bela lua.
Em alguns minutos, eu chego bem perto do local e desligo o carro, ligo a luz do
teto e tiro uma venda do porta luvas.
— Venda? — sussurra.
— Sim. Coloque, é uma surpresa.
Sem contestar o pedido, Lívia assente muito boazinha e coloca a venda. Confiro
se realmente não está enxergando nada e desço, ajudando-a a ser conduzida devagar
para a entrada da gruta. Ainda bem que ela veio com um salto mais grosso, ou
ficaria atolada na terra seca. Estou iluminando o chão com a lanterna para pelo
menos não tropeçar e se machucar.
— Já chegamos?
— Calma, estamos perto.
— E se formos atacados por uma onça?
— Não se preocupe, a última vez que avistamos uma onça por essas terras foi há
dois anos.
— Isso não garante nada.
— Está tudo bem, minha madame. E pronto, pode parar. Já chegamos no Buraco
da Lua.
Ela para, segurando no meu braço. Eu desligo a lanterna, sorrindo para o local
iluminado por centenas de velas. Tem pétalas de rosas vermelhas para todos os
cantos possíveis. Também um “colchão namorados” no chão, cheio de almofadas, o
nosso jantar simples, que está numa caixa térmica e por fim, o vinho e o champanhe
que se encontram já no cooler – Anton trouxe há meia hora.
— Posso tirar?
— Eu tiro para você.
Dou a volta nela, para tirar a venda bem devagar e delicado dos seus olhos. E ao
tirar, eu ouço a Lívia gemer de satisfação quando dá de cara com beleza do lugar
incrível. Ela ergue a cabeça para cima, seguindo a iluminação da lua até a água
cristalina. A seguir, analisa o que fizemos para deixar tudo mais romântico.
— Minha nossa, eu estou sem palavras.
— Fico feliz — a abraço por trás, respirando o seu perfume marcante, que sou
extremamente apaixonado.
Âmbar...
— Como fez tudo isso? Quantas velas e pétalas de rosas. Você me surpreendeu.
— Anton, a minha mãe e até a dona Judite ajudaram. Exceto a Kia, que está de
repouso, mas se estivesse boa, teria tomado a frente de tudo.
Lívia sorri.
— Kiara é muito determinada, sua coragem me admira.
— Admira mesmo. Ela é incrível. Vem — eu entrelaço a nossa mão e levo-a até
o colchão estilo sofá, redondo e espaçoso.
— Vou ter que tirar os saltos.
Antes de se sentar, ela tira as sandálias e acomoda-se na minha frente.
Noto a iluminação amarela da gruta deixar os seus olhos verdes mais bonitos.
— Está me impressionando a sua tamanha delicadeza e bondade, comparada há
poucos minutos — após o meu comentário, Lívia arqueia a sobrancelha e inclina as
costas, fazendo os meus olhos se fixarem excitados nos seus peitos fartos dentro
decote do vestido azul escuro.
— Sabemos que o final disso vai dar em sexo selvagem e bem violento da sua
parte, Gaelzinho. Só estou entrando no jogo. Além disso, não estou com fome.
Quero ficar só no champanhe. Me sirva mais — ela estende a taça, toda mandona e
muito mais empinada com os benditos peitos que quero tocar, chupar e me perder
por horas.
Que diaba! Como consegue me deixar furioso para fodê-la até o dia amanhecer?
— Você é uma mandona.
Sirvo-a. Ela sorri.
— Nos conhecemos a quase três anos. Não se acostumou ainda com isso?
— Só tem essa pose marrenta quando eu não te pego de jeito e deixo a sua
bunda dolorida. Conheço muito bem o seu jeito e o seu jogo manipulador. Está
tentando me enfurecer só para me deixa louco. E cair no seu controle. O que nunca
acontece.
— Assume que acontece, meu querido caipira gostoso. — Lívia abandona a
bebida e engatinha até mim, empurrando-me um pouco para trás. — Eu te enfureço
quando eu quero!
Perco o ar com as suas curvas perfeitas de quatro e dos seus olhos me fitando
devassos.
— Você fode feroz quando eu quero! É bruto quando eu quero! Beija faminto
quando eu quero! Pois se dependesse desse seu romantismo, faria amor igual uma
tartaruga.
— Isso não é verdade! — Inclino meus olhos para encará-la com o meu ego
afetado.
— É claro que é… — ela passa a mão no meu abdômen, indo até a fivela do
cinto e o volume do meu pau. — Mas eu gosto do seu amor lento. É quando tira
todas as minhas armaduras e me faz só sua. Você sente a minha pele, o meu cheiro,
a minha alma. Eu me sinto apaixonada, bonita e só sua. Transbordo amor. Sabe
muito bem disso, né?
Perco a fala com a sua declaração. Lívia sorri e afasta-se diferente.
— Antes eu não sabia o que era isso… amor e ser amada. Nem paixão. E você
está me ensinando a amar a cada dia que se passa. Assim como a Sofia, com aquele
rostinho angelical. Eu amo os dois. E não quero perder vocês. Isso me doeria, me
enlouqueceria — os olhos dela brilham emocionados. — Eu tenho medo da morte.
Esses meses que íamos para o hospital, eu me pegava chorando sozinha, diante da
incubadora e daquela bebezinha tão indefesa e pequenininha. Dizia para Deus o
quanto ele foi injusto de escolher entre as duas vidas inocentes… o quanto foi
injusto de levar os meus bebês... e como pode me entregar uma filha de repente,
acompanhada de um caipira todo perfeito. O pacote veio completo.
Sorrio com um aperto no coração e seco o seu rosto banhado pelas lágrimas.
— Eu te amo tanto, Gael. Não quero perder você e nem morrer um dia para
aquela princesinha. Os quase quatro meses foram uma vida inteira para mim, vi tudo
se passando diante dos meus olhos. Às vezes, à noite, eu sonhava com a Sônia, com
ela dizendo que a sua missão na terra já havia sido cumprida e que a Sofia estava
com quem devia estar. A sua mãe.
— Você não vai perder a gente, meu amor — a abraço com toda a paixão do
mundo. — Eu te amo e estarei com você até o último dia de nossas vidas. Assim
como você estará na vida da Sofia. Não importa o que aconteça, eu sei que vai estar.
Precisamos de você.
— Eu te amo. Sei que preparou essa noite linda e romântica para me pedir em
casamento. Só que você não merece uma mulher que nunca vai poder te dar mais
filhos.
— E isso é algum problema? — Seguro rápido o seu rosto, não querendo que ela
desvie os seus verdes lindos. — Eu tenho a mulher da minha vida e uma filha que
nasceu da formais mais triste e inesperada. Agora as duas são mais do que mereço.
E Deus sabe o que faz, e como me disse uma vez... se ele decidiu que seria assim,
que seja. Não pedirei mais nada a ele. Estou feliz com os seus milagres.
Lívia muda a sua face para feliz, alisando a minha barba.
— Então sim, Gael. Eu aceito ser a sua mulher.
Abro a boca, explodindo de emoções.
— Você…
— Exatamente, serei a sua esposa.
Ela me empurra com força e volta a ficar que quatro, para engatinhar sobre o
meu corpo e se sentar em cima do volume da minha calça. Ainda limpa o rosto
molhado de lágrimas e se recompõe na sua pose de poderosa, intocável. Mandona.
— Mas quero uma festa de casamento enorme na igreja. Digna de vestido
branco e de calda de 300 cm.
— O quê?
— Calado, você não quer se casar comigo? Pois então, faremos um casamento
histórico. Que ficará na boca do povo de Montes do Sol por anos, senão décadas.
Vai ser a minha última “vingança” contra a dona Diana, por mais que estejamos de
bem.
— Está louca!
— Não se preocupe, meu querido noivo. Será um casamento duplo. Eu e a Kiara
entrando na igreja e você e o Anton nos esperando a trajes de smokings no altar. Já
planejamos tudo.
— Não acredito, você já planejou o nosso casamento e com a Kia?
— Acredite, será daqui dois ou três meses, quando a Kiara der à luz ao seu
bebezinho e estiver bem. Ela nunca se casou corretamente, como uma princesa que
é e merece.
Lívia ri.
Eu aperto a sua coxa, sem conseguir responder.
Essa mulher não existe!
— Você é uma manipuladora, sabia? E das piores! Quer ter tudo e todos sob o
seu controle!
— Eu sei — ela se inclina e beija-me fogosa, esfregando-se no meu pau duro e
latejante na calça.
— Droga, Lívia — aperto a sua bunda com força. — Podemos pelo menos nos
casar no cartório essa semana e fazer algo íntimo?
— É claro, Sr. Ansioso. Algo só entre nós dois. Afinal, respeito o que
igualmente desejar.
— Que bom, isso me deixou mais feliz.
— Eu também — ela se esfrega de novo, gemendo. — Agora vamos para a parte
que eu tanto aguardava, ser fodida pelo meu futuro marido!
— Eu queria esperar mais um pouco, aproveitar do vinho.
— E quem disse que eu não posso rebolar em você enquanto degusto de uma
taça geladinha?
— Diaba da cidade, te amo! — Dou um tapa forte na sua bunda grande.
Ela arfa sorridente.
— Caipira idiota, também te amo! E essa tapa não vai ficar barato!
Kia deixou a pequena Sofia com a sua mãe e voltou bem devagar para o nosso
quarto. Ela estava sentindo muita dor nas costas e com os pés inchados.
— Quer que eu prepare a banheira para você? Um banho quente vai te fazer
relaxar — eu digo atencioso, vendo-a se deitar toda dolorida na cama.
Odeio vê-la assim. Lembro-me de que, na gravidez da Mel, não sofreu tanto.
— Estou bem, amor.
Aproximo-me dela, sentando-me no colchão para pelo menos massagear os seus
pés inchados e fico observando a sua barriga enorme. Linda.
— Esse parto que você deseja não é muito arriscado? Acho melhor irmos para o
hospital amanhã cedo e ficar num hotel bem perto, para assim que a bolsa estourar
você ser socorrida por médicos.
— Não, eu quero que seja aqui em casa. Além disso, a parteira já está hospedada
na mansão.
— Já? — Franzo o cenho, emburrado pela informação. — Que horas essa
mulher chegou que eu não vi?
— Depois do jantar, quando você estava dando atenção para o Gieber e a
Melina.
Que merda, se eu tivesse atendido a porta eu a teria mandado embora
imediatamente.
— Ainda não concordo com esse parto em casa — resmungo.
— Vai ser na banheira. E eu estou com a saúde em dias, fiz os milhares de
exames que você pediu para a minha obstetra. Sabe disso.
Eu bufo, subindo a massagem para as suas pernas também inchadas. Aproveito
para tocar na sua barriga e depositar um beijo demorado nela.
Kia sorri, acariciando o meu cabelo.
— Sei que dizer para você não se preocupar não vai adiantar em nada.
— Não vai mesmo.
— Mas saiba que essa parteira já realizou mais de mil partos. É a melhor da
cidade. Confie nela.
Eu confio em você.
Sem respondê-la, deposito outro beijo na sua barriga e continuo a massagem
pelos pontos mais críticos do seus corpo. Cansada, ela deita a cabeça no travesseiro,
deliciando-se com o meu toque. E em pouco minutos, cai num sono profundo.
Aproveito para ir tomar um banho, depois conferir se as crianças já estão dormindo
ou dando trabalho para a minha sogra. Mas nem meus filhos, nem a pequena Sofia
do Gael estão acordos. Todos despencaram na cama e no berço. Eu volto para o
quarto para descansar também. Logo que estou quebrado.
E durmo... Isso até por volta do amanhecer, quando desperto com a Kiara
balançando o meu braço e chamando-me.
— Amor! Amor! Anton!
— Oi? — Bocejo em cochilo.
— A cama está molhada! Ah, meu Deus! Anton!
— O-o quê?
Após a sua exclamação alta, eu arregalo os olhos e pulo da cama, afastando os
lençóis e vendo a Kia com as mãos na barriga.
— Chama a Sra. Elisa, eu estou sentindo dores como contrações. Ahh... — Ela
faz uma careta de dor horrível.
Eu fico parado, apavorado, pois, no parto da Melina, ela não reclamou de dores
assim. Não até estarmos a caminho do hospital.
— Anton! Eu estou bem, pelo amor de Deus, não faz essa cara de aterrorizado!
Precisamos preparar as coisas! Chama ela!
Engulo em seco e saio às pressas do quarto, indo chamar a parteira e a dona
Judite. Elas prontamente correm para ajudar a Kia.
— As contrações estão fortes, Sra. Dexter? — a parteira pergunta, entrando no
quarto e indo avaliar o líquido nos lençóis.
— Um pouco. Está surgindo em frequência a cada minuto.
— Isso significa que já está em trabalho de parto. Por favor, Sra. Judite, prepare
a banheira no morno. Assim que as dores estiverem mais fortes, Kia já pode se
deslocar para lá.
— Sim, já volto.
— Na gravidez da nossa filha, ela não entrou em trabalho de parto tão rápido —
resmungo nervoso e preocupado.
— Sua esposa está com quase 40 semanas, Sr. Dexter. Não acha que esse
meninão já está louco para ver a luz do dia? Porque, para mim, passou da hora.
Kia sorri da minha cara, adiante, fecha os lábios, enruga a testa e forma uma
careta de dor insuportável, gemendo.
— Ela está com dor! — quase berro. — Deveríamos ir para o posto de saúde da
vila agora mesmo!
— Amor, você não está ajudando, se acalme.
— É normal as dores. As contrações promovem a dilatação do colo do útero.
Pelo jeito, a Sra. Kiara dará à luz em menos de 5h.
— Preciso que seja entre duas horas, dona Elisa — ela brinca, respirando e
suspirando pesado. — Anton vai ver a nossa bebê. Ela sempre acorda faminta nesse
horário. E eu estou bem. Ainda vai demorar isso aqui.
— Não posso te deixar sozinha.
— Eu não estou sozinha. Por favor, vai ver a nossa bebê.
Eu travo uma luta, pois não queria sair de perto da minha mulher. Mas mesmo
apreensivo, eu saio e vou cuidar da nossa filha que estava acordada no berço. Para
colaborar, ela fez coco e tive que preparar um banho rápido para lavá-la e vesti-la.
— Já escovou os dentes? — pergunto ao Gieber que levantou e veio atrás de
mim no quarto da sua irmã.
— Não, papai.
— Então, pega a sua escova e coloca um pouquinho da pasta e escova.
Ele assente e sai com o seu brinquedo na mão.
Termino de arrumar a Mel e peço para a governanta a mamadeira dela.
— Bom dia.
Na sala, eu encontro o Gael no sofá, com a sua filhinha deitada no bebê-
conforto.
Sem muita cara para ele, respondo o seu bom dia em um resmungo irritado, sem
paciência.
— Que cara é essa?
— Kia está em trabalho de parto.
— O quê? E o que faz aqui? — Gael salta os olhos, dando um pulo do sofá.
— Eu estou cuidando da minha filha, não dá para ver?
— Não vou discutir com o seu mal humor, porque não consigo, nem imaginar o
que deve estar sentindo. Isso de parto em casa é assustador. Já estou apreensivo por
você.
Não consigo dizer algo, já que ele acertou. Eu não devia ter concordado com
essa loucura!
Em instantes, a governanta surge com a mamadeira e eu dou para a bebê,
ansioso, aflito e suando por todos os cantos do corpo, enquanto a aguardo terminar
de sugar.
— Calma, Anton, a sua testa está transpirando.
— Cadê a Lívia? — o questiono.
— Ela foi se trocar para irmos lá na obra quase finalizada da mansão. A gente
veio cedo do Buraco da Lua. Por volta das 01h30. Estávamos preocupados com a
bebê dar muito trabalho.
— Hum…
Passo a mão na testa, ansioso, quase não prestando atenção no Gael.
— Melhor ir lá ver a Kia logo. Acho que nem vou mais na obra, encontro-me no
seu mesmo estado. Nossa Dexter e o Rangel é o mais importante nesse momento.
Vou conversar com a Lívia.
— Então posso deixar a Mel com você? Gieber logo desce. Pode ficar de olho
nele também?
— Claro, meu amigo, vai lá.
Rápido, entrego a Melina para ele, dando um beijo na minha bonequinha de
cachos loiros e eu saio correndo pela casa, subindo a jato a escada. Entretanto, assim
que eu abro a porta do quarto, eu dou de cara com a Lívia me atrapalhando a passar.
— Kia não quer o senhor aqui.
— O quê? É claro que eu vou estar!
Tento passar por ela, só que a Lívia me impede, parando na minha frente de
braços cruzados, como se fosse uma montanha com o seu tamanho que não chega
nem a 1,70.
— Desculpe-me, Sr. Dexter, vai me odiar por isso, mas não vou deixar você
passar. É para o seu bem, palavras dela mesma.
— Palavras dela uma merda! É a minha mulher! E ela já está na banheira?
— As contrações ficaram mais fortes, a parteira fez o toque e na mesma hora, a
Kia forçou, evidenciando a cabeça do bebê. É hora, ele está nascendo.
— Pois, para o seu bem, você não vai me impedir droga nenhuma de ver o meu
filho nascendo! Castellano!
Ela pigarreia, vendo que eu posso atropelá-la em três segundos.
— É, pelo jeito não.
Ela abre caminho diante da minha fúria e do meu descontrole e eu corro a mil,
invadindo tudo até chegar no banheiro e encontrá-la dentro da água, só com o sutiã e
com um coque nos cabelos. Ela está fazendo força.
— Anton! — Judite me olha.
— Mais força, Kiara! — a parteira manda, segurando a sua mão.
— AAAAAAAAHHH!
Kiara esmaga os dedos da parteira, fazendo força e berrando alto.
— Kia!
Eu corro para o seu lado, sentindo o meu coração pular pela boca a cada batida.
— Isso, ele está vindo! Mais uma vez!
Kia inclina a cabeça e olha-me com os seus olhos azuis esbugalhados.
— Mais uma vez, amor, nosso menino está vindo! — Deposito um beijo na sua
testa, pegando na sua outra mão.
Então, ela faz força mais uma vez, o quanto pode. De novo e de novo. Até que
ela chega no total limite dos gritos e a parteira segura algo embaixo da água. Ao
levantar, vemos a sua cabecinha careca, igualmente escutamos o seu choro na face
enrugada. Nosso menino! Nossa filho! Eu começo a me emocionar, ouvindo o seu
choro gostoso. Judite coloca mão no meu ombro e também cai em lágrimas de
felicidade.
— Bem-vindo, meu neto...
— É-é uma menina! — Inesperada, a parteira diz em voz alta após averiguar
o bebê.
— O quê? — Arregalo os olhos. — Isso não pode…
— AAAAHHHH! — Kia imediatamente segura na borda da banheira e esmaga
os meus dedos, retornando a gritar de dor.
— Kiara!
— Meu Deus! Não para de fazer força, Kiara! Não para!
A parteira passa a recém-nascida para a Judite enrolar numa manta e volta
rápida para o meio da água, para dar atenção às pernas da minha esposa.
Eu fico estático, sem crer no que está acontecendo, ainda mais, chegando a
perder a cor do rosto quando vejo uma outra cabeça emergir da água, acompanhado
de um choro mais potente do que o primeiro. É inevitável eu cair duro no tapete.
Puta merda!
— O que está vendo, Melina?
— Nada, não! — Ela tenta fechar ligeira a cortina.
Só que é tarde demais. Eu chego bem perto dela, averiguando o que estava
assistindo tão vidrada pela vista da janela e pego-a no exato flagra, prestando
atenção no novo jardineiro que está cortando a grama bem na frente da mansão.
— Não acredito, se teu pai te pega de novo, ele vai te matar e eu não vou te
proteger!
Melina pigarreia, balançando os seus cachos loiros até o sofá, onde se joga
emburrada.
— Eu tenho 17 anos, mãe! Por que não posso ser amiga de um rapaz? Ele é um
cara bacana, trabalhador e divertido.
— Ele foi contratado há cinco dias na fazenda para ser o jardineiro. Você não o
conhece direito. Não sabe das suas reais intenções.
— Um dia de conversa, eu já soube muita coisa sobre ele. Além disso, você está
do lado do papai! E do seu filho preferido!
— Já disse centenas de vezes que eu não tenho filho preferido, amo vocês quatro
da mesma forma. Para com isso, Melina.
— Não, o Gieber, a senhora e o papai deixam morar na capital, fazer tatuagem,
curtir as baladas com os amigos, ficar com um monte de mulheres que não prestam
e não briga com ele por causa de nada disso!
— Seu irmão tem 20 anos. É adulto responsável, e está morando na capital
devido aos seus estudos. Nunca tivemos um problema sequer com ele. Nenhum!
Pelo contrário, o próprio diretor da universidade veio nos parabenizar num evento
da cidade esses dias.
Melina bufa, cruzando os braços e rangendo os dentes.
— Só mais seis meses, mãe... e estou livre do papai! Vou morar na capital, ir a
um monte de festas com as minhas amigas, ter um namorado e uma tatuagem!
— Acho bom colocar mais um ano aí nessa sua conta, maninha, porque você só
vai quando fizermos dezoito anos também.
Rangel surge de repente no último degrau da escada, com o seu cabelo loiro
escuro escondido por baixo de um chapéu azul. Ele está com roupa de montaria
muito estilosa, como sempre.
— Não serei a sua babá!
— Temos um ano e três meses de diferença. E pelo amor de Deus, por que essa
garota está tão ranzinza hoje, mãe? Nosso pai a pegou com o jardineiro de novo?
Pois bem-feito. Deveria ser apedrejada.
— Rangel! — Eu advirto.
E o implicante vem risonho até mim, beijar a minha testa. Eu retribuo a afeição,
dando outro beijo na dele, bem na ponta dos saltos, devido ao meu menino ser
gigante, quase como o seu irmão e o seu pai. Deus Santo, está com 16 anos, será que
cresce mais?
— O outro filho preferido dela… — Mel resmunga, arqueando a sobrancelha e
desafiando-me sem menor medo.
— Melina, voc…
— Quis dizer o outro filho responsável dela? Pois eu sou! E acredito que até a
Catarina seja!
— A Catarina é uma bobinha inocente, ela não sabe nem ir à cidade sem ter a
mamãe para segurar no seu braço. Não gosta de amigas. E acho que nunca nem
perdeu o BV. Com certeza não.
— Melina, eu vou te deixar de castigo! Parece até uma criança de oito anos, sem
freio na língua! — exclamo já sem paciência, fazendo-a se calar. — Vai estudar
inglês lá na biblioteca com a sua irmã, ou te impedirei de chamar as suas amigas e a
sua prima Sofia no próximo final de semana!
— Desculpa, mãe. — Mel suaviza seus olhos azuis, levantando-se abraçada aos
livros e aos cadernos.
— Bem-feito.
— Cala a boca, Rangel! Ou terei o enorme prazer de tacar esse caderno no meio
da fuça!
— Parem vocês! E sai daqui, Rangel, ou farei você também estudar durante a
tarde toda!
— Está repreendido, já fui. Vou andar a cavalo com o tio Gael. Marcamos de
averiguar dois armazéns juntos, antes dele viajar para a cidade com a tia Lívia.
— Você está querendo é agradar o papai para ele te deixar ir à vila se exibir para
as pobres “plebeias” que te acham bonito e te endeusam por ser um Dexter
“playboy”. Mas não passa de um Dexter sem um pentelho no queixo sequer!
— Sai daqui agora, Melina! Eu estou mandando! — ordeno muito brava, quase
dando um passo na direção dela.
— Desculpa, mãe.
Melina engole em seco e então, retira-se rápida, subindo a mil os degraus da
escada.
— Ela é insuportável, como a senhora aguenta? Acho que foi adotada, não é
possível.
— Ela puxou ao seu falecido bisavô — digo, recordando do meu avó Padilho
com muito carinho e não evitando um pequeno sorriso. — Ele também era ranzinza
igualzinha a ela.
— Se estivesse vivo, os dois seriam uma dupla e tanto. Não queria nem estar
perto. E já vou. Até mais.
— Até, e cuidado, nada de coisas radicais, meu filho.
Rangel pisca com a sua cara arteira, de que o que eu pedi entrou num ouvido e
saiu no outro e retira-se da minha visão.
Eu respiro fundo, sentando-me no sofá para fechar os olhos e relaxar. Fico acho
que quase meia hora assim, só meditando no delicioso silêncio da casa. Sem a
Melina reclamando de o Gieber estar “vivendo” e ela não. Sem a Catarina
comentando o tempo todo dos seus estudos de biologia e botânica. Sem o Rangel
implicando com as irmãs e... de repente, eu sou interrompida dos meus pensamentos
ao sentir mãos grossas no meu pescoço, acariciando-me. Eu sorrio, satisfeita,
sabendo perfeitamente de quem essas mãos habilidosas pertencem.
— Cadê as crianças? — sussurra bem perto da minha orelha direita, com a sua
voz grossa, poderosa.
Um calor sobe pelas minhas pernas.
— Catarina e a Melina estão estudando na biblioteca. E o Rangel foi andar à
cavalo com o tio.
— Hum… e a sua mãe?
— Mamãe foi dormir. À tarde, é o seu momento de sono sagrado. E o senhor, o
que está fazendo aqui, uma hora dessa? Não está cheio de trabalho?
Inclino o pescoço para fitar a face máscula, de barba e cabelos meio grisalhos do
meu marido forte, que adora me deixar louca por essa beleza que nunca envelhece.
As dondocas dos eventos da cidade vivem suspirando obcecadas pelo Sr. Dexter.
Mas é o meu homem, só meu! E para sempre será!
— Eu estava trabalhando e desviei do foco ao pensar em você nua sobre a mesa
daquele escritório. Com a sua pele branca exposta para a minha língua se deleitar
até ficar dormente.
Arrepio-me.
— É? Pois eu adoraria. Exceto eu, nua. No lugar pode ser você.
Anton sorri muito bárbaro, descendo a mão para o decote dos meus seios. Ele
aperta um, com muito tesão.
— Vem comigo ou te fodo nesse sofá sem um pingo de dó.
Mordo o lábio inferior, arrepiada e já latejando excitada.
— Não seria nem louco, as crianças nos veriam, sem falar dos empregados. Já
não basta termos traumatizado a nossa governanta.
— As crianças não são inocentes, já nos ouviu fazendo amor bem ferozes por
essa casa inteira.
— Sabe que, no outro dia, eu morro de vergonha deles, né?
— Eles logo saberão como é. Claro, minhas filhas saberão desse ato em si com
trinta e sete anos. Deus vai manter os meus punhos fortes e a minha pontaria boa até
lá.
— Seu protetor-ciumento, a Melina está longe de você segurar. Ela é impulsiva,
teimosa e pra frente. Acaba com a minha paciência. Diferente da Catarina que é um
doce, tímida e mal tem amizades, a não ser seus livros de biologia e botânica.
— Melina tem três homens contra ela, querida. Além de que Gieber é como eu,
vale até por dez.
— Minhas filhas estão ferradas. E realmente, nosso primogênito não tira nem
põe. Como pode, além de ter puxado na aparência, tem seu gênero 100%?
— Não sei… só sei que agora, eu tenho planos deliciosos para o seu
traseiro redondo e para todo esse seu corpo maravilhoso. — Anton cata bruto os
meus cachos por trás e lambe o meu cangote. Arrepio-me de novo, apertando as
coxas.
— Vem logo, minha doce menina, estou faminto por você!
Sem hesitar, eu me levanto, tendo, de repente, uma surpresa pelo Anton que me
pega pelas penas e ergue-me no seu colo alto, largo e rígido.
— Amor! — Solto um grito acompanhado de uma risada abafada pelo seu beijo
impetuoso de língua, enquanto nos leva para a intimidade do escritório... Para
mergulharmos em um turbilhão de paixão e amor.
E feroz... um amor muito feroz. Fulminante!
Eu tinha viajado para a mansão de um quarteirão dos meus avós dois dias antes
que os meus pais. Vim com a vó Diana, já que ela fez questão de ir lá na fazenda me
sequestrar de helicóptero, para me encher de presentes caros no shopping da cidade.
— Papai vai ficar bravo. Ele odeia que a senhora me encha de coisas tão caras.
— Sua mãe nem liga, minha filha. Sem falar que o seu pai é um bobão do mato,
sem gostos chiques e miserável com a sua filha belíssima. Onde já se viu, não te dar
uma bolsa linda como essa da Louis Vuitton?
— Essa bolsa custa vinte mil reais! Nem em sonhos, ele me daria. E nada de
chamar o meu pai de bobão do mato, vó.
— Pois ele é sim, e calada que eu vou colocar esse colar de rubi no seu pescoço.
Sorrio, obedecendo a minha avó, que, às vezes, é bem pior do que a mandona da
minha mãe. Mas amo as duas.
— Ficou linda. Se levante, Sofia.
Eu me levanto do sofá, desfilando para ela, e vejo os olhos azuis da vovó
brilharem por uma fração de segundos. Se eu não fosse tão observadora com os
detalhes, mal teria notado.
— Combinou com o seu vestido verde e os seus cabelos negros. Exceto com
esses olhos azuis escuros, herdados do seu pai. Nem para ser mais claros. Aquele
homem é incompetente mesmo!
— Vó, para de implicar desse jeito com ele.
Sei que é insignificante eu pedir para ela parar de ser maldosa, faz uma década
que a dona Diana Castellano é assim com o genro; o despreza e o critica em tudo,
devido a minha mãe ter se casado com ele e por ele ser um “pobretão” sem
sobrenome. Mas longe desse preconceito bobo, bem lá no fundo, eu sei que a minha
avó gosta muito do meu pai. Acho que até mais do que o vovô, com certeza – sorrio.
— Do que está rindo, querida?
— Nada, estou admirando como fiquei linda com esse colar de rubi. E essa bolsa
da Louis Vuitton.
— É uma péssima mentirosa. Sua mãe não está te doutrinando direito. Uma
Castellano sabe mentir e dominar a mentira.
— É claro que eu sei mentir — dou de ombros, virando-me para ela e piscando.
— Mas não para o mal, vovó Diana.
— Mas é para o mal que a mentira serve, minha filha. A mentira deve ser
estudada, analisada e usada nos momentos certos. Mas tudo com calma, teremos
muito tempo para você aprender e se aperfeiçoar nisso. Daqui um ano, quando fizer
seus 18 também, te ensinarei tudo sobre os homens e como dominar cada um dessa
raça medíocre.
Bom… isso eu quero muito aprender. Mas acho que a mamãe é uma mestre
nesse quesito. Ela até hoje faz os homens suspirarem pela sua beleza. E faz qualquer
um rastejar aos seus pés, não importa se é casada, ela consegue o que quer deles.
Por isso, ela e a tia Kiara são as rainhas do mercado de flores.
— Vó, por que você mandou enquadrar e pendurar o jornal sobre o casamento
histórico dos meus pais e do tio e da tia Dexter? — Aponto para o quadro na parede
do seu escritório, realmente curiosa. Queria fazer essa pergunta há mais de anos.
Hoje eu tive coragem... até vovó se virar com o seu olhar penetrante e me fazer
engolir em seco, arrependida.
Agora é tarde... já cutuquei o leão.
Ela, então, arqueia a sobrancelha loira, cruza as suas pernas e intimida-me com
os seus olhos azuis, meio enrugados e com poucas linhas de expressão no rosto. Por
mais que gaste milhões em tratamentos estéticos, dá para ver que é velha – e Jesus,
ainda bem que ela não lê mentes, ou eu estaria mortinha da silva. Jamais devo
chamá-la de velha. E de “avó”, eu só posso chamá-la quando estivermos a sós. Em
ocasiões públicas, em hipótese alguma.
— Porque a sua mãe se superou nesse dia. Como você mesmo disse, foi um
casamento histórico. Ela e a sua tia Kiara lotaram uma igreja por dentro e por fora.
A cidade inteira foi convidada. E ninguém saiu sem um pedaço de bolo
sequer. Cambada de pobre.
Sorrio, sabendo de cabo a rabo como tudo aconteceu. Mamãe ama contar desse
dia inesquecível. Principalmente da cara da vovó, que abandonou a cerimônia
depois do sim da sua herdeira Castellano. Só que ela mal sabia que a minha mãe e o
meu pai já haviam se casado há três meses antes. Foi a vinganças das vinganças.
Mamãe é perfeita. Jamais a desejaria como inimiga. Nem vovó... Bate na madeira.
— Você, então, se orgulha da mamãe?
— Não conte nada para ela, sua diabinha intrometida. — Vó Diana pisca. — E
nem toque mais nesses miseráveis dezessete anos atrás. Gael foi um empecilho na
vida da sua mãe.
— Não parece, os dois se amam e são milionários. Meu pai no império do Sr.
Dexter e a minha mãe na indústria de flores junto da tia Kiara.
Vovó range os dentes,
— Droga, menina, Lívia está te doutrinando sim, para me desafiar com essa
língua perspicaz. Agora sai daqui com essas sacolas e vai para o quarto tomar
banho. Seu avô quer fazer noite de cinema com pipoca.
Meus olhos brilham.
— Eu amo noite de cinema com o vovô!
— Então, ande, querida, se apresse para nos reunirmos.
Animada, concordo e saio desfilando super patricinha com os meus mais de 100
mil em compras. Só tomara que o papai não surte, o que prevejo que vai. Mas a
minha mãe sempre consegue resolver isso. Ela é incrível, não consigo imaginar a
minha vida sem ela. De jeito nenhum. A amo mais do que tudo nesse mundo. E ela a
mim.

— Jura que temos que ficar esse final de semana na sua mãe? É como entrar
num buraco de cobras peçonhentas. Não existe outra tortura pior, que envolva
sangue e amputação de membros? Preferiria.
— Sem dramas, amor. Precisamos raptar a nossa filha das mãos da matriarca
Castellano. Além de que não será tão infernal assim. Tem sempre o meu pai que te
ama e te venera mais do que um Deus.
Eu bufo, abotoando nervoso a minha camisa diante do espelho do quarto. As
malas já estão prontas. A minha é só uma pequena de rodinhas. Já a da Lívia daria
para uns dois meses sem exagero.
— Ela vai ter enchido a Sofia de coisas milionárias, está lá desde quinta-feira.
— Vai ter sim. Mas a nossa menina é bem-criada, nada a influência
drasticamente.
— Quero nem imaginar quando ela fizer seus dezoitos anos e for morar com a
cobra da sua mãe. Até se formar na faculdade será uma metida da cidade. Uma
megera Castellano!
— Quanto exagero. Sofia não é assim. E sabe muito bem disso. Ela ama a vida
no campo. Ama o contato com os animais e a natureza. Por isso ela vai cursar
agronomia. Como você, o seu herói.
— Mas a nossa filha também gosta de coisas caras e de andar na moda, igual a
você.
— Ok, ela gosta sim. Isso é um crime? E chega desse seu mal humor. — Lívia
termina de arrumar o seu cabelo e vem até mim, me agarrar pela gola da camisa e
acariciar o meu peitoral rígido. — Está tenso, meu caipira. Relaxa esses músculos
deliciosos.
— Se for para relaxar, eu vou te tacar de quatro na cama! — Pressiono a sua
bunda e sua pélvis contra o meu pau. — Odeio ter que suportar a sua mãe. É o meu
inferno, a minha tortura depois de você.
— Você sabe que, lá no fundo, bem lá no fundo, acho que por trás do coração e
umas duas costelas ela sente algo bom por você, né?
— Sente que seria bom a minha morte? Não sei nem como adotou a Sofia como
neta.
Lívia ri.
— Surpreendente? Logo que tem um preconceito acirrado com tudo, ainda mais
pela geração sanguínea da família Castellano. Mas talvez eu saiba, e nunca vou
poder te contar — minha diaba pisca, descendo a sua mão safada para o meu
volume na calça e aperta-me sem dó.
Porra, já fiquei duro. Bendito pau traidor.
— O que sabe? — pergunto, segurando a vontade de gemer.
— Acho melhor deixar para viajarmos amanhã de manhã, o que acha? — Lívia
morde o meu pescoço, empurrando-me para trás.
Eu caio sentado na cama, seduzido pelo seu controle em me fazer perder a
cabeça e focar só nela; nos seus movimentos femininos, na sua beleza sexy, nos seus
olhos verdes dominantes e no seu perfume de âmbar, que eu amo tanto.
O que estávamos falando mesmo?
— Acho ótimo, assim diminui mais o meu convívio com a cobra da minha sogra
endiabrada.
Ela ri e puxo-a rápido, de pernas abertas para o meu colo.
— Única endiabrada aqui serei eu, meu caipira — sussurra. — Te amo.
— Também te amo minha megera. Espero que esteja feliz.
Lívia inclina as costas, segura o meu rosto e deposita um beijo demorado sobre
os meus lábios.
— Por que você sempre me faz essa pergunta? Se eu estou feliz?
— Porque a minha felicidade é a sua felicidade. E isso é o que importa.
Vejo que se emocionou. Chegou a perder a voz pela surpresa do que eu disse.
— Pois saiba, Gael, que eu sou a mulher mais feliz do mundo ao seu lado. Eu
tenho um príncipe para chamar de marido. Um homem que me ama acima dos meus
erros. E que tenta mudar eles comigo, me aconselhando e sendo compreensivo.
Você é tudo o que eu nunca mereci. Eu devia ter lhe dado uma família enorme.
— Lívia já conver...
Lívia coloca o dedo sobre a minha boca, interrompendo-me, e calo-me.
— Eu sei que já conversamos centenas, milhares de vezes sobre filhos. E sei que
não se importa, porque demostra todos os dias o quanto me ama e o quanto somos
completos. Eu, você, a Sofia e os nossos dois cachorrinhos. E eu te amo muito por
ser tão perfeito, tão compreensivo, tão maravilhoso. Há anos cheguei à conclusão de
que filhos não são tudo. Eles crescem, viram adultos, se casam, saem das nossas
asas e...
— E no final resta só nos dois... os pais — completo em sussurro a sua frase.
— Isso — ela sorri lindamente para mim. — No final, resta só nos dois para
envelhecerem e morrerem juntos. Obrigada, Gael. Obrigada por me fazer feliz,
amada e completa. Deus me deu você e a nossa pequena Sofia... que já é quase uma
mulher. — Lívia sorri de novo. Seus olhos brilham emocionados. — Obrigada, meu
amor.
— Eu que agradeço minha esposa mandona e implacável. Igualmente sou o
homem mais feliz do mundo e quase mais completo da face da terra. E quase porque
agora só me falta esses seus lábios vermelhos nos meus...
Sorrimos, agarrados um ao outro, entrelaçando alma com alma, lábios com
lábios, diante de um beijo carregado de companheirismo, alegria, paixão e amor. O
mais delicioso e verdadeiro amor.
Um amor de verdade.

Fim...

1 – HOMEM DE VERDADE
2 – AMOR DE VERDADE
3 – COMPRADA SEM AMOR (SPIN-OFF)
RESENHA POR:
LUANA DOS SANTOS DE ALMEIDA
Sexy, misterioso, deslumbrante!
São essas palavras que posso definir o livro "Amor de Verdade". Ao ler esse
livro, pude perceber diversas situações que ocorrem na vida real, é delicioso o modo
como vemos as personagens e a suas mudanças. Há momentos em que raiva,
tristeza, ódio e amor estiveram presente em mim, durante a leitura, me surpreendi
muito com as personagens. Como diz o ditado, "o amor e o ódio andam lado a lado"
e é justamente isso que vemos ao longo de cada capítulo. O ódio e o arrependimento
das personagens principais. No começo do livro, ao prosseguir a leitura, percebi o
quanto a paixão nasce forte e se mantém viva mesmo diante de diversas
dificuldades, isso é algo que me fascinou desde o começo, apesar de começar o livro
odiando um dos personagens principais, percebi o quanto perdoar e escutar são
coisas necessárias na nossa vida e que quase nunca acontecem.
É divertido ver a trajetória de cada personagem, mas o importante também é
vermos e entendermos seus pontos de vistas, o casal principal teve diversas brigas e
discussões, devido ao fato de não conseguirem manter uma conversa ou buscar
entender o lado um do outro. Porém, com o passar do tempo, vemos como eles
evoluem nesse quesito, já conseguem falar abertamente sobre o que sofreram.
Não posso esquecer das partes quentes, a conexão que o casal tem, o
romantismo dentro ou fora do quarto é algo surpreendente, a protagonista aprendeu
a explorar seu lado sensual e mostrar de verdade como se joga um jogo de sedução,
seu marido não fica para trás. Eles nos envolvem em uma narrativa de mistério,
amor, paixão e em um desejo ardente que os consome.
Confiança foi algo que foi muito abordado no livro, ela é de extrema
importância pois através das emoções e o modo de viver percebemos que a
confiança é algo inquebrável. As decepções causadas acabam gerando uma
confiança, no outro, muito frágil a ponto de desconfiarem se realmente se amam de
verdade. Porém, ao longo do tempo, vemos que confiança em quem amamos é algo
mais que singelo e verdadeiro, é onde depositamos tudo de si e ao mesmo tempo é o
nosso lugar seguro.
O livro me trouxe experiências maravilhosas e me mostrou o quanto somos
fortes e diversas situações que ocorrem na vida real. Nem tudo são flores, a cada
novo dia é uma nova realidade um novo dia de demonstrar amor a pessoa que se
ama e foi isso o que as personagens me mostraram. Amar é algo difícil e requer
compreensão, conforto e principalmente lealdade, o casal em si foi um exemplo de
que amar alguém exige uma confiança absurda no outro.
A cada demonstração de amor entre eles, era como se eu fosse expectadora
de um romance em vida real. Nem tudo foi fácil, teve brigas, discussões, e muito
amor envolvido. Percebo também que no livro há segredos do passado ao qual
atingem muito o presente deles a ponto de poder prejudicar o futuro. Mentiras,
novamente, são contadas, mas dessa vez a confiança um no outro falou mais alto.
Aprendi também que amor-próprio está em primeiro lugar. A protagonista
em si mostrou que devemos nos amar em primeiro lugar antes de amar alguém,
devemos sempre nos priorizar e sermos que queremos ser. Foi uma das coisas que
mais amei ao longo do livro e isso me fez sentir uma nova pessoa. É sempre buscar
o melhor de nós mesmos sem escutar opiniões alheias onde elas têm o objetivo de
diminuir você.
Foram diversas lições ao longo da leitura, muitas que realmente foram bem
verdadeiras. A história trouxe, além de uma história de amor, diversas situações
complicadas, mas sempre mostrando a solução delas. Foram momentos incríveis de
ler e poder levar esses ensinamentos para a vida real.
É o melhor livro que já li e tive o prazer de conhecer! As lições serão algo a
se guardar para sempre, os momentos hilários do livro, as provocações, o amor, o
desejo que os consome são algo a se lembrar para sempre.
Eu não poderia esquecer de falar também do final incrível desse livro, para
as personagens que começaram com o "pé esquerdo" e agora estão felizes, juntos e
com a sua pequena e feliz família. Não existe felizes para sempre, não é um conto
de fadas, é uma história bastante realista e de bons argumentos, então aprendemos
que é nós que devemos fazer o nosso próprio final feliz.
Então o livro me ensinou a lutar pelo o que eu quero, mesmo tudo dando
errado, a maior motivação para isso é a nossa própria força de vontade e
determinação.
Por último, quero agradecer a autora incrível, Rafaela Perver. Obrigada por
ter feito um livro onde nada é perfeito, ao contrário, é tudo imperfeito, mas ao
mesmo tempo é algo necessário. Só tenho a agradecer por escrever algo incrível
como essa obra. Espero que você escreva muitos outras e a cada novo livro, ele
traga um motivo para sorrir e se apaixonar, muito obrigada por tudo!
I Love You, Badautora! ❤❤
NOTA DA DA AUTORA
Da até um aperto no coração ao ler “fim”. Como amei escrever esses quatro
protagonistas. Kiara e Anton e Lívia e Gael, eternos em nossos corações e
lembranças.
Em breve também lanço o spin-off dark contando a história do inicio do
casamento da Kiara e do Anton, desde o dia em que ele a comprou do seu pai e a
levou para morar na fazenda. Sigam-me no Instagram e não percam esse
lançamento, nem as notícias sobre os livros físicos da Duologia Verdade. Links na
próxima página.
Também não deixem de me ajudar, avaliando Amor de Verdade e
conhecendo minhas outras obras. Obrigada pelo carinho, vejo vocês logo, logo.
Beijão!
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OUTROS LIVROS DA AUTORA
Me tenha (Livro 1 da Série Alencar)
Me Conquiste (Livro 2 da Série Alencar)
Homem De Verdade (Livro 1 da Duologia Verdade)
Sereyma (Livro Único)
HOSS – Série Agiotas Em Chamas (Livro 1)

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