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Toda ação tem uma consequência, e Claire Ward sabe disso.

E
mesmo sabendo que sua decisão de trocar de lugar com sua irmã
gêmea idêntica, Lia, por uma noite poderia ser desastrosa, ela ainda
o fez.

Por que ela fez isso?

Porque isso lhe proporcionará uma noite com o homem que ela
persegue há anos, o melhor amigo de Lia, Finn.

A Srta. Estudante Exemplar pensou em tudo, e sabe que o risco vale


a pena. E tudo teria corrido bem, se Finn tivesse sido o único a
aparecer à sua porta.

Mas não foi.

Bauer Davis – O meio-irmão de Finn, e seu oposto em praticamente


tudo o que pode ser definido, é aquele que a espera ao invés disso.
Um snowboarder profissional, Bauer é coberto de tatuagem, cheio de
atitude, e uma arrogância do tamanho do Monte Olimpo. O tipo de
bad boy pelo qual Claire nunca se sentiu atraída antes.

Agora a boa garota está com o irmão errado por uma


noite e, em consequência disso, eles têm que fingir
que estão juntos para um evento, ou seja, nada que
ela pudesse ter previsto. Mas talvez, apenas talvez, o
que torna Bauer tão mau, é exatamente o que Claire
precisa.
Para Fiona Cole,

Sem a sua vontade de ouvir as minhas mensagens de voz


irreverentes sobre pessoas fictícias, este livro seria muito, muito
diferente.

#timedossonhos
Claire

NEM SEMPRE tive uma queda por Finn Davis. Houve


cerca de dez minutos, no sétimo ano, quando ele apareceu, que
ele realmente me irritou.

Não por qualquer coisa que ele fez, por si só. Porque ele
sempre foi o mesmo cara. Quieto e observador quando estava
em público, mas com um senso de humor afiado e uma
personalidade brincalhona quando estava com pessoas que o
conheciam bem. Não, Finn foi o alvo da minha raiva quando
eu tinha treze anos, por aqueles dez minutos, porque ele foi a
razão pela qual eu odiei ser gêmea pela primeira vez na minha
vida.

Lia e eu somos idênticas. Professores e colegas


frequentemente nos confundiam, se não nos conhecessem
bem.

Naquele dia, no sétimo ano, quando o diretor trouxe Finn


para a nossa sala de aula, Lia e eu o conhecemos ao mesmo
tempo. Mas havia algo nela, alguma energia zumbindo em um
nível indetectável, que chamou sua atenção e o fez se sentir
confortável.
Eles tornaram-se melhores amigos desde então.

E eu odiava parecer com ela “exatamente como ela” e


ainda ser diferente o suficiente para que o doce e tímido garoto
da classe, aquele com um sorriso fofo e pernas longas, não
olhasse duas vezes para mim.

Não pensei mais sobre aquele dia. Fazia oito anos, e Finn
é um elemento tão importante em nossa família que minha
paixão diminuiu para uma brasa. Indetectável, a menos que
você segurasse sua mão diretamente sobre o calor.

Mas então eu abri o estúpido Facebook. E vi uma foto dele


em seu estúpido jaleco, seguida da legenda “eu vou ser médico
um dia e não fico bem de azul”, e senti meu coração sair pela
boca por quão lindo ele parecia.

Então, agora, eu não conseguia parar de pensar no dia


em que ele apareceu. Não conseguia parar de pensar nele.

É por isso que evitei a minha irmã, me trancando em meu


quarto para estudar. Eu estava com tanto medo de que, depois
de todos esses anos reprimindo as borboletas que queriam
flutuar em minha barriga ao vê-lo, ela desse uma olhada em
mim e soubesse.

Também funcionou, por um tempo.

Quando senti meus dedos queimarem com o desejo de


abrir a foto novamente para encarar seu sorriso, suas
covinhas, e fingir que seria a esposa de um grande médico
algum dia, eu abri a única coisa nas mídias sociais que
garantia a interrupção das palpitações no meu coração.

Procurei atualizações de mídia social de nossa mãe,


Brooke, o que foi ainda mais patético do que minha paixão por
Finn.

Cruzando os braços na superfície da minha mesa, abaixei


minha testa, batendo-a na madeira algumas vezes, como uma
repreensão.

Era assim que eu estava sentada quando a porta do meu


quarto se abriu.

— Qual é o seu problema? — Lia perguntou.

— Nenhum. — Eu mantive minha cabeça exatamente


onde estava.

Lia se inclinou sobre mim, jogou sua merda em minha


mesa e puxou meu laptop de debaixo do meu antebraço para
que ela pudesse vê-lo. Honestamente, nada era privado
quando você morava com sua irmã gêmea. Exceto minha
paixão por seu melhor amigo.

— Oh. — Ela disse significativamente.

— O quê?

— Seu pescoço quebrou? Você é incapaz de se mover?

— Estou confortável.
Ela mastigou alto algo. Cenouras ou aipo. Quando
engoliu, falou novamente. — Perseguindo Brooke de novo?

Em vez de responder, porque não queria mentir,


resmunguei. — Não decidimos que ela estava na Índia?

Com um suspiro, olhei para a textura de madeira em


minha mesa e tentei não pensar muito sobre a facilidade com
que poderíamos discutir o fato de que a mulher que nos deu a
luz estava Deus sabe onde no mundo, e nós nem sequer nos
importávamos mais de saber onde.

O som de um mouse clicando precedeu um zumbido


pensativo da minha irmã gêmea. — Não, alguém a marcou
em... huh, um concerto na Alemanha. Ela está em movimento,
eu acho.

— Oh, que bom.

Lia suspirou alto. — Divirta-se com isso. — Com dois


tapinhas paternalistas em minhas costas, me deixou sozinha
novamente.

Quando ouvi armários batendo em nossa cozinha do


tamanho de um selo postal, levantei minha cabeça.

— Merda. — Eu sussurrei para mim mesma. Como se ela


de alguma forma fosse capaz de ver meus sentimentos pela —
foto do Finn de jaleco — estampados no meu rosto.
Era o que acontecia quando meus sentimentos não
podiam ser silenciados pelo meu cérebro. Eles eram mais altos
do que eu queria, e eu os escondi sem o menor sucesso.

Virando meu laptop para mim, bati meus dedos ao longo


da borda, tentando decidir no que trabalhar em seguida.

O artigo para minha turma de Estratégias de Intervenção


na Primeira Infância precisava desesperadamente de revisões,
mas mesmo uma das minhas últimas aulas antes de me
formar em Bacharelado em Psicologia do Desenvolvimento não
era distração suficiente.

Mas eu sabia o que era, e por isso que tinha sido o meu
padrão em primeiro lugar. Procurar na internet vislumbres de
minha mãe provocou estranhas reações emocionais. A menos
que você tenha experimentado essas reações, é difícil colocá-
las em palavras. Ocasionalmente, recebíamos um cartão postal
dela com um endereço atualizado, ou uma imagem sem
legendas aparecia na conta do Facebook, normalmente
silenciosa, a qual ela ainda tinha acesso.

Esses pequenos fragmentos eram a única maneira que


minhas irmãs e eu tínhamos de saber onde Brooke estava
passando seus dias.

Não que nós tenhamos enviado cartões postais de volta.


Ou estendido a mão para ela.

Ela havia perdido esse privilégio anos atrás.


Mesmo sabendo que isso não me faria sentir melhor, ou
até me distrairia muito de Finn, me peguei navegando no perfil
dela.

Meu coração e minha cabeça guerrearam poderosamente


enquanto estudava as últimas fotos que ela postou. Eu não
ficava furiosa ao lembrar dela; era difícil ficar quando tínhamos
uma vida tão feliz em sua ausência. Mas também não senti
nada.

Às vezes, eu queria dar um soco nela.

Às vezes, eu queria abraçá-la. Acima de tudo, eu queria


me sentar em frente à Brooke Ashley Huntington-Ward e
decifrar seu cérebro. Essa era a sensação mais desesperada de
todas, lutando pelo primeiro lugar em minha cabeça. Eu queria
entender o porquê, e me deixava totalmente louca que eu
nunca poderia ter esse entendimento.

Enquanto percorria seu perfil, contando cinco fotos


postadas nos últimos três anos, o telefone da minha irmã
gêmea acendeu na mesa ao meu lado, onde estava carregando.
Meus olhos viraram para a tela, uma força do hábito, porque
muitas vezes era um texto no grupo de uma de nossas outras
irmãs ou de Paige.

Não era de nenhuma delas, no entanto. O que apareceu


foi um texto de Finn, e como eu havia treinado meu corpo para
fazê-lo, meu coração acelerou ao ver seu estúpido nome.
Finn: Lia, POR FAVOR, te deverei um milhão de favores se
você me ajudar.

— Eu vou ajudá-lo. — Murmurei miseravelmente. Não


importava no que ele precisava de ajuda. Eu faria isso.

Mas não me permiti pensar muito nisso, porque imaginar


o melhor amigo da minha irmã gêmea era outra coisa que fazia
minha cabeça e coração guerrearem poderosamente. E todas
às vezes, minha cabeça ganhava.

Deixe-o em paz.

Seria muito estranho.

Ele nem olha para você dessa maneira.

Essas eram todas as coisas que eu dizia a mim mesma


quando minha paixão por Finn explodia fora de controle. E isso
ajudou por anos. Ajudou todo dia.

— Texto de Finn. — Eu gritei.

— O que ele quer? — Lia chamou da cozinha.

Engoli em seco enquanto lia o texto novamente. — Ajuda.


Ele ficará te devendo um milhão de favores.

Lia gemeu. — Ele poderia oferecer dois milhões, e eu


ainda não seria capaz de fazê-lo.

— Com o que ele precisa da sua ajuda?


— Algum jantar chique e uma cerimônia de premiação na
sexta-feira à noite. Ele precisa de uma acompanhante, e como
ele se recusa a encontrar um par, sua mãe praticamente exigiu
que eu fosse com ele. Eu acho que ela realmente colocou meu
nome na lista de convidados porque assumiu que eu não diria
não.

Meu coração apertou com ciúmes indesejáveis. — É só


um jantar. Por que não ir?

— Não posso. Há uma palestra incrível na mesma noite e


não vou perdê-la. Há anos que a quero ouvir falar. — Ela
acenou com a mão. — Ele acha que estou apenas sendo
teimosa, mas isso é sobre a minha educação.

— Claro que sim. — Murmurei.

Lia era fisicamente incapaz de admitir quando estava


sendo teimosa, o que representava cerca de noventa e dois por
cento de sua existência.

O som de seus passos se aproximaram da minha porta,


rápido, alto e determinado. Esses eram os passos
determinados de Lia, e isso me deixou nervosa. — Espere. —
Ela disse.

Virei minha cadeira para encará-la. — O quê?

Não diga, não diga, não diga, uma voz frenética cantou
em minha cabeça. Porque eu sabia.

Um sorriso malicioso se espalhou por seu rosto.


— Não. — Eu disse instantaneamente. Telepatia de
gêmeos, galera. Isso era uma coisa real.

— Oh, sim. — Ela esfregou as mãos. — Não fazemos uma


troca de gêmeas há anos, Claire. Vamos, não vai ser divertido?

Enquanto minha cabeça tentava desesperadamente


entender a ideia de fingir ser minha irmã pela primeira vez
desde o colegial, isso era um sussurro fraco comparado ao que
meu coração estava fazendo.

Aquele órgão em particular enterrado em meu peito


estava rugindo e se debatendo, gritando comigo para fazer uma
coisa que me daria o meu maior desejo não realizado.

Tempo com Finn.

— Eu não posso, — eu disse a ela. — Eu odeio mentir.


Não apenas odeio, mas também sou terrível nisso.

Lia cruzou as mãos à sua frente. — Por favor.

— Eu sei que você ama a escola, Lee, mas é uma aula.


Quanto mais de literatura inglesa é preciso ser ensinado?

Ela me deu uma olhada porque, embora nossos cursos de


graduação fossem como o sol e a lua, completamente opostos,
nós duas amamos a escola com a mesma intensidade. Às
vezes, eu me preocupava que as irmãs Ward mais novas
estivessem para sempre matriculadas na faculdade porque
simplesmente adorávamos aprender.
Nosso irmão, Logan, costumava dizer que se algo o
colocasse em dívida, seriam os vários doutorados que ele temia
que nós duas adquiríssemos e nunca usássemos para nada.

— Não é apenas uma palestra. — Ela colocou o rosto


suplicante. — É Catherine Atwood, de Oxford1.

— Eu deveria saber quem é essa?

Lia encolheu os ombros, impotente. — Não, mas ugh, ela


é como... tudo. Ela é uma estrela do rock para quem já estudou
as irmãs Brontë2. Sua dissertação sobre Religião, Gênero e
Autoridade nos romances de Charlotte Brontë é basicamente
minha Bíblia.

Revirei os olhos. — Apenas levemente sacrílega, mas tudo


bem. Por que eu tenho que fingir ser você? Por que você não
pode simplesmente dizer a Finn que você não pode ir?

Lia ignorou minhas perguntas. — Ela é de Oxford, C. Ela


raramente faz palestras, e está nos Estados Unidos pela
primeira vez em anos, e está aqui na UDub3. — Seus olhos se
arregalaram. — Era para ser.

— Lia. — Solicitei.

Pela tensão em sua mandíbula, ela sabia exatamente a


quão pouca toda essa informação extra me influenciaria. Lia

1É uma instituição de ensino superior pública situada na cidade de Oxford, Inglaterra.


2 Os Brontës foram uma família literária do século XIX, da Inglaterra. As irmãs, Charlotte, Emily e
Anne são escritoras e poetizas bem conhecidas.
3 Universidade de Washington. É uma universidade pública de pesquisa que fica em Seattle,

Washington, Estados Unidos. É a maior universidade do noroeste americano e uma das mais
prestigiadas no que se refere ao ensino e à pesquisa.
soltou um suspiro duro. — Os pais dele querem impressionar
um cara rico para conseguir dinheiro para o centro
comunitário e acham que eu vou ajudar.

— Como exatamente?

Os braços dela acenaram. — Ele é fã do Washington


Wolves. De Logan. Tudo isso. Acho que um Ward é tão bom
quanto qualquer outro.

Oh, ótimo. Meu sentimento favorito em todo o mundo era


quando realmente não importava quem eu era como indivíduo,
porque estava sendo amontoada na multidão. É claro que,
quando seu irmão era um jogador de futebol do Hall da Fama
que virou técnico, isso acontecia naturalmente.

Os olhos de Lia se iluminaram. Os meus se estreitaram.


— O centro comunitário deles, — disse calmamente. — Onde
ajudam crianças todos os anos.

Eu choraminguei. — Você não precisa recorrer à me fazer


sentir culpada usando meu diploma.

— Sério? Porque eu não ouvi você dizer sim. — Ela


assumiu uma posição de oração, as mãos cruzadas sobre o
peito. — C, por favor. Finn nunca concordaria em mentir para
seus pais. Pense em quantas crianças eles ajudarão se
conseguirem esse dinheiro.

Não, Finn não mentiria para seus pais. Era uma coisa que
sempre gostei nele. Nós dois odiamos mentir. Mas também
acharia estranho se eu participasse com ele. Ele só se sentiria
confortável se sua melhor amiga estivesse em seu braço.

Meu cérebro gerou visões de acompanhá-lo em um salão


de baile lindamente decorado, com a mão apoiada no seu
antebraço de smoking. — Ele saberá. — Argumentei
fracamente.

Mas meu coração... abafou esse argumento tão rápido


que minha cabeça girou no lugar.

Lia soprou uma framboesa pelos lábios. — Nah, ele não


vai. Você sabe ser eu, Claire. É um jantar. Então eu estarei livre
para ver Catherine Atwood, a mãe dele sairá de suas costas,
eles receberão todo o dinheiro, e todo mundo ficará feliz.

Um jantar com Finn. Uma noite para chamar sua


atenção, em vez de ser a vela entre ele e minha irmã.

Não uma vela como em um encontro. Eles nunca deram


a entender que queriam cruzar essa linha, que era a única
razão pela qual eu estava considerando essa insanidade. Por
uma noite, eu queria saber como era ter os olhos dele em mim.
Usar um vestido bonito e passar a noite ao seu lado.

— Um jantar. — Eu disse novamente.

Ela saltou animadamente à porta. — Você vai fazer isso?


Sério?

Eu poderia fazer isso. Uma noite. Uma refeição. Talvez


dançássemos. E se ele percebesse que eu não era Lia, poderia
preparar com antecedência um argumento muito convincente
sobre por que ele deveria aproveitar a noite comigo.

Minha cabeça se acalmou, girando com todos os


pensamentos de como eu precisava me preparar e as coisas
que precisava aprender para me sentir pronta.

O aperto de mão deles, uma combinação estranha de


punhos batidos, tapas nas mãos e alguns estalos. Piadas
internas.

Pânico brotou porque o pensamento de tentar copiar a


energia de Lia — que faz dela ela — soava impossível.

Eu tinha três dias para superar isso.

Então comecei a silenciar todos os argumentos que


surgiram em minha mente. Afastando as palavras uma a uma,
até que meu cérebro ficou em silenciou as objeções.

— Eu farei isso.
Bauer

— VOCÊ FOI DEMITIDO, Bauer. Você não será capaz de


convencê-los disso.

Meu treinador, Scotty, me conhecia o suficiente para


dizer que esse tipo de merda só me deixaria muito mais
determinado a fazê-lo. Como se ele tivesse acenado uma
bandeira vermelha em frente a um touro bufando.

— Escute, eu tive um ótimo relacionamento com Burton


antes da... situação.

— Situação? — Ele piou. — Você está falando sobre


quando foi pego pelas câmeras, bêbado...

— Eu não estava bêbado, — interrompi. — Eu tinha


bebido três cervejas e estava tendo um bom tempo com os
meus amigos, mas eu não estava bêbado.

— Tanto faz. Você foi pego pelas câmeras xingando o


atleta favorito de Burton; o snowboarder medalhista de ouro
que está com eles desde sempre, e todo mundo ama e adora.
— Ele ficou quieto, provavelmente esperando que eu
discutisse. Ele me conhecia desde que eu era um imbecil de
dezessete anos de idade, e praticamente sempre tive um
argumento. Mas porque era Scotty, fiquei quieto. — E você não
é um medalhista de ouro que todo mundo ama e adora. Você
está a algumas boas competições de qualificação para a equipe
olímpica, mas isso não significa nada no grande esquema das
coisas.

Eu estremeci. Nada disso estava errado, mas, em minha


defesa, o outro cara tinha bebido, e a câmera não pegou a parte
onde ele estava de pé atrás da minha amiga Cassidy fazendo
alguns gestos bastante grosseiros sobre sua figura. Então,
quem se saiu como o idiota no Twitter? Eu.

O meu principal patrocinador, aquele que possibilitou


que eu continuasse competindo, me largou antes que eu
pudesse piscar.

Eles pediram desculpas, é claro. Disseram-me que tinha


sido ótimo trabalhar comigo nos últimos dois anos. Apenas...
não o suficiente.

Não vale arriscar a marca, onde o restante dos atletas


patrocinados mantém uma relação de trabalho harmoniosa.

A redação exata do correio de voz em meu telefone foi


gravada no meu cérebro. Então, sendo eu, decidi pular minha
bunda dentro do carro e ir até o escritório deles em Seattle para
tentar convencê-los a me manter por perto.

Porque, se não o fizessem, meu horário de meio


expediente como bartender não seria suficiente. Essa atitude
deveria ter mostrado a Scotty o quão sério eu estava sobre isso,
porque eu odiava voltar para Seattle.

A viagem de Vancouver até Emerald City4 era tão familiar


quanto as costas da minha mão, e é por isso que eu odiava
fazer isso. Os tipos de passeios que eu adorava fazer eram
aqueles em que eu estava a uma curva da próxima vista da
montanha. Não saber o que poderia acontecer a seguir foi o
que o tornou emocionante, fez meu sangue bombear e meu
cérebro zumbir com a energia engarrafada.

Não era esse o caso quando retornei de Whistler5 e


Blackcomb Mountains6 de volta para onde meu pai e Adele
moravam com meu meio-irmão Finn. Quaisquer que fossem as
circunstâncias, evitava voltar para casa como se lá houvesse
uma praga.

— Você vai para casa enquanto estiver lá?

Eu bufei. — Tenho que ficar em algum lugar.

— Você os avisou? — Ele perguntou secamente.

— Não. — Havia um certo nível de alegria em minha voz


que fez Scotty rir apesar de si mesmo. — Mal posso esperar
para ver o rosto de Adele quando ela me avisar pela milésima
vez para não corromper seu anjo enquanto estou em casa.

4 Apelido dado à cidade de Seattle.


5 Whistler é uma cidade ao norte de Vancouver, na Colúmbia Britânica, que abriga o Whistler
Blackcomb, uma das maiores estações de esqui da América do Norte.
6 É uma montanha localizada a leste de Whistler, no Canadá.
— Ela não faz mais isso, — disse Scotty. — Pare de dizer
merda.

Ele estava certo, mas eu ouvi minha madrasta dizer algo


nesse sentido tantas vezes ao longo dos anos que parecia que
ainda dizia isso.

Finn, não ouça uma palavra que ele lhe diga, veja onde
suas escolhas o levaram. Às vezes, eu ouvia em um loop em
minha mente, mesmo que houvesse quase sete anos desde que
ela disse isso. Ela se inclinou e disse isso ao meu meio-irmão
de 14 anos quando acabei de arrumar minhas malas para sair
de casa. Meu conselho de despedida à Finn foi para não fazer
todas as malditas coisas que disseram para ele fazer, porque,
caso contrário, ele acabaria infeliz.

— Ela com certeza pensa assim, no entanto, — apontei.


— No segundo em que meus anos de atitude adolescente
terminaram comigo algemado, ela me dispensou para sempre.

Scotty murmurou do outro lado do telefone. — Sim,


bem... sem essas algemas, você nunca acabaria comigo, então
considere-se com sorte.

Eu sorrio. — Eu sei, meu velho.

— Você ainda não me agradeceu por não apresentar


queixa, seu ingrato de merda.

A destruição da propriedade privada (que acabou sendo a


casa de Scotty) não havia sido meu melhor momento. Mas a
tinta spray em minhas mãos e no meu skate foram evidências
bastante contundentes quando os policiais me alcançaram a
alguns quarteirões da cena do crime, por assim dizer.

Mas isso me levou a Scotty, que tinha visto minhas


habilidades de skate no bairro e se ofereceu para me treinar,
me ensinar a praticar snowboard7, se eu estivesse interessado
em pagar minha dívida com a sociedade. Sorte pra ele e pra
mim.

— Scotty, amor da minha vida, o que eu faria sem você?


Quando você volta para casa novamente?

— Semana que vem. — Ele bufou. — E esse é um


comentário triste sobre sua vida amorosa, que eu sei que não
é o caso.

Arranhei o lado do meu rosto. — Na verdade, acho que


estou em um beco sem saída. Ninguém me desperta interesse
hoje em dia.

— Bauer, você está tendo um período de seca? — Ele


ofegou.

Mostrei meu dedo do meio, mesmo que ele não pudesse


ver. — Muito engraçado, meu velho.

— Acho que sim. — Ele limpou a garganta. — Primeiro,


só digo isso porque sei que você não é tão mulherengo quanto

7Snowboard ou snowboarding, “surfe na neve”, é um esporte que consiste em equilibrar-se sobre


uma prancha, porém em uma superfície de neve das encostas de montanhas, como o esqui.
gosta de fingir ser, e segundo, não mude sobre o assunto de
Burton.

— O que você quer que eu diga? Eu acho que é uma boa


ideia ir falar com eles, e você discorda.

— Apenas tire alguns dias de folga e se acalme, Bauer.


Você é um idiota e diz merdas estúpidas quando está bravo.
Dê um tempo. Você ficaria surpreso com o que poderia fazer se
apenas acalmasse sua bunda e tentasse ser legal com as
pessoas. Bajular em vez de intimidar.

— Estou desligando agora.

— Bauer. — Ele avisou.

Apertei o botão com um suspiro, aumentando o volume


da minha música. O Bluetooth no meu jipe interrompeu quase
imediatamente.

— Fodido Scotty. — Eu disse baixinho.

Meu polegar apertou com raiva o botão para atender a


chamada. — Scotty, não estou discutindo isso.

— Bauer? — Uma voz diferente respondeu.

Eu pisquei para a tela. Merda. Não era Scotty. O


identificador de chamadas mostrou alto e claro que era meu
irmãozinho. Ou o Golden Boy8, como eu o salvei em meu
telefone.

8 Ele faz uma referência ao irmão ser um garoto de ouro, o rapaz prodígio, perfeito.
— Finnegan. — Cumprimentei o mais formalmente
possível.

— Eu ouvi sobre o seu patrocinador. — Ele tossiu. —


Como você nunca responde mensagens de texto, decidi ligar
para ver se você atenderia.

Minha testa enrugou com o som da sua voz. — Você


parece horrível.

— Eu me sinto horrível.

— Vamos falar sobre você estar doente, porque eu não


preciso repetir a perda do meu patrocinador.

Ele suspirou. — O que aconteceu?

Eu me mexi no meu lugar. — Você viu o vídeo, certo?

— Vi o que foi postado no Twitter, sim.

— Bem, então você sabe o que aconteceu.

Eu parecia um idiota rabugento, até para meus próprios


ouvidos. Isso tornou muito mais difícil quando Finn estava
sendo legal comigo, porque então eu realmente me senti mal.
Adele me tratou como lixo, porque era assim que ela me via há
anos, então não me senti culpado por ser rude com ela. De
qualquer forma, me trouxe muita alegria irritá-la, mas ser
malvado com Finn era como... socar um filhote sem motivo.
Qualquer pessoa com uma alma não podia realmente aguentar
o pensamento disso.
— Não, eu vi o vídeo, — disse ele, parando apenas para
tossir novamente, — Mas sei que nem sempre é tudo.

Santo Finn. Ele parecia o garoto-propaganda da


Influenza9, e estava ligando para verificar seu irmão idiota.

Esfreguei minha testa. — Eu não era o único sob a


influência de álcool e, acredite, ele fez algo para instigar meu
discurso retórico.

— Sim, você usou algumas combinações da palavra F10


que eu nunca ouvi antes.

— E Adele diz que você nunca aprenderá nada comigo. —


Apontei.

Ele fungou ruidosamente, claramente não divertido com


a minha tentativa de piada.

— Eu vou ficar bem, Finn, — eu disse a ele. — Estou a


caminho de Burton agora. Vou tentar consertar isto.

Ele ficou quieto. — Você está a caminho daqui?

— Merda, — eu murmurei. — Sim. Suponho que eu


poderia ter avisado à você antes de aparecer em casa mais
tarde.

— Eles não estarão em casa de qualquer maneira.

9 Referência ao irmão está doente.


10 Referência ao xingamento "fuck", em inglês.
— Por que não? — Eu verifiquei meu ponto cego e mudei
de faixa.

— Eles têm uma grande angariação de fundos para


participar hoje à noite para a caridade de alguns tenistas.

Minha mente revirou a lista de contatos mental. — Ah,


claro. Eu ouvi sobre isso. Um dos meus amigos deveria ir com
o seu agente, mas ele tinha que trabalhar.

Quando ele tossiu no alto-falante novamente, eu fiz uma


careta.

— Eu deveria ir, — disse ele. — Mas eu preciso ligar para


Lia e cancelar.

— Por que estavam indo os dois? Essa não é a sua cena


habitual.

— Para ajudar mamãe e papai. Eles ainda não


conseguiram o financiamento para a expansão que desejam.
Acho que o cara que eles realmente querem conhecer estará lá
porque é muito focado nos esportes. Achei que a conexão de
Lia com o futebol os ajudaria.

Ahh! Claro que Finn e sua intrépida melhor amiga


estariam ajudando a causa. Minha mente começou a acelerar,
quase tão rapidamente que eu mal conseguia acompanhar
meus próprios pensamentos.

Focados em esportes. Atletas e filantropos, agentes e


patrocinadores corporativos, tudo em um cômodo.
Pode até haver alguém de Burton lá. — Quão doente você
está? — Eu perguntei.

— Doente. Se eu não tivesse febre, talvez tentasse ir, mas


não há como. — Ele suspirou. — Mamãe e papai ficarão
chateados, porque Lia não vai sozinha com eles.

Ao ouvi-lo pensar primeiro nos outros, tive que admitir


mais uma vez que Finn, por conta própria, não era uma merda
completa.

Um pouco quadrado, talvez. E o Sr. 10 em Tudo


definitivamente me vencia no departamento de cérebros, já que
onde eu me destacava era mais na natureza física. É por isso
que ele estava no meio de um diploma de médico que o faria
trabalhar noventa horas por semana, algum dia, e eu era um
snowboarder semiprofissional que acabou de perder seu
principal patrocinador.

Eu não podia fazer matemática, mas não precisava. Se


algum dos meus professores frustrados ao longo dos anos
pudesse me indicar uma única vez em meus 26 anos em que
eu precisasse de álgebra, eu comeria meu Snowboard Lib
Tech11 favorito, uma mordida de cada vez.

Mas eu não mantive isso contra Finn. Não era culpa dele
que sua mãe viesse de um casamento de merda, para a
felicidade conjugal em que se encontravam, e o fruto dessa
união (ele) era assim todas as coisas boas e perfeitas. Meu pai

11 Lib Technologies é um fabricante americano de snowboard conhecido por sua abordagem


radicalmente inovadora ao design de snowboard.
era um pai triste, viúvo e solteiro antes de conhecer Adele,
então ele viu Finn da mesma maneira que minha madrasta.

Finn tossiu novamente, o som tão repugnante que eu


estremeci como se ele tivesse pulverizado seus germes em meu
rosto.

— É melhor você não precisar que eu vá cuidar de você.


— Disse a ele.

— Não, — ele gemeu. — Mas pensei em pedir à mamãe


um pouco de sua sopa de galinha.

— E você acha que isso vai ajudar? — Eu perguntei


baixinho.

Não baixo o suficiente, porém, porque ele suspirou.

— Bauer. — Ele repreendeu. Eu não poderia culpá-lo. Se


alguém falasse mal da minha mãe, levaria uma cotovelada na
garganta. Que Deus descanse sua alma. Eu nem me lembrava
realmente da minha mãe, mas ainda assim daria um soco em
alguém se falassem mal dela.

— Desculpe. — Eu me mexi no banco, os pneus na


estrada consumindo a distância entre o lugar que eu chamava
de casa e o lugar de onde eu vim. Pode ter passado apenas
algumas horas na estrada, mas eram um universo de distância
um do outro pelo quão diferente eu me sentia sobre eles.

— Falando em mamãe, é melhor eu ligar para ela em


seguida. — Disse Finn.
— Apenas... espere um segundo. — Bati meus dedos no
volante enquanto pesava a idiotice do que estava prestes a
sugerir. — Talvez eu possa ajudar.

— Você?

Como nunca me ofereci para ajudar nossos pais, eu não


podia nem ficar irritado com o quão chocado ele parecia.

— E se eu fosse no seu lugar?

Finn ficou quieto. — Por que você se ofereceria?

Por um momento, pensei em dizer que queria ajudar.


Queria dizer que era por nossos pais, mas ele nunca
acreditaria nisso.

— Talvez eu possa encontrar alguém para bater um papo.


Um novo patrocinador.

— Eu não sei, Bauer, — ele disse. — Eu não consigo


imaginá-los fazendo isso.

— Então não conte a eles.

— Eu tenho que contar a Lia. — Ele interveio, a voz


soando mais forte do que na conversa toda.

— Não, você realmente não tem.

— Eu não vou mentir para ela.

— Você é um péssimo mentiroso, então eu não sugeriria


mentir, — disse a ele. — Escute, Finnegan, se Lia não vai
sozinha com nossos pais, ela com certeza não vai comigo,
certo?

— Sem chance.

Lia era um produto tanto da lavagem cerebral de Adele


quanto Finn, depois de anos em nossa casa, ouvindo sobre o
delinquente juvenil que se meteu em problemas com a lei e
fugiu de casa aos dezoito anos.

— E você está dizendo que eles querem Lia lá para


impressionar um cara?

Finn ficou quieto novamente. — Sim. Eu acho que ele é


um grande fã do Washington. Eles pensaram que talvez
conhecer a irmãzinha de Logan Ward fosse... eu não sei, lhes
desse uma maneira de se apresentarem.

Revirei os olhos porque parecia ser ideia de Adele. Mas se


isso me desse uma entrada para aquele salão de baile, eu
poderia ter uma chance. — Faz sentido.

— Então você quer que eu, — ele fez uma pausa, — deixe-
os pensar que sou eu quem vou, mas é você que aparecerá?

— Sim. — Imaginando o rosto de Adele quando eu entrar,


não consegui parar meu sorriso. — Eu juro, eu nem vou ficar
na mesa, exceto para comer. Eles dificilmente vão me ver
enquanto estarão exibindo sua melhor amiga para o velho rico.

— Não é isso que eles estarão fazendo, Bauer. — Disse


ele, cansado.
— Mmm, okay.

— Eu não sei.

— Finn, pense sobre isso. Isto ajuda a todos. Ajuda


nossos pais e ajuda o centro, — eu disse prestativamente,
como se ele não soubesse por que eles estavam lá. — Lia vai te
perdoar porque dificilmente ela terá que lidar comigo.

— Você sabe que ela vai pirar quando te ver, — disse Finn.
— Imagine as palavras F que você usou no vídeo voltando em
sua direção.

— Vou me preparar o máximo possível, — respondi


gravemente. — Não é a primeira vez que uma mulher me xinga.

— Apenas... seja legal, ok? Isso é um grande negócio para


nossos pais.

Não estrague tudo. Ouvi a mensagem alta e clara, direto


da boca do Golden Boy.

— Finnegan, eu não sonharia em ser outra coisa senão


um anjo perfeito.
Claire

— ABSOLUTAMENTE NÃO.

Lia caiu de volta na cama. — É o que eu teria usado.

Apontei para o vestido apertado em suas mãos malignas.


— Isso é metade da quantidade de tecido que quero para cobrir
meu corpo.

Minha irmã se recostou, no momento em que seus olhos


reviraram. — É um vestido longo.

Freneticamente, minha mão acenou em algum lugar nas


proximidades do meu esterno. — Sim, e há uma fenda do
tamanho de Minnesota e um V que faz meu umbigo parecer
preventivamente frio.

Lia sorriu. — Eu sei. Você vai ficar muito gostosa. Talvez


o cara de quem eles querem dinheiro tenha uma queda por
morenas de vinte e poucos anos.

Oh, ela era tão, tão incrivelmente engraçada.


— Estou brincando. — Ela suspirou, desde que eu dei a
ela o meu melhor olhar Mt. Rushmore12.

— Bem, não vamos brincar de sexualizar uma troca


financeira filantrópica porque, deixando de lado o atual clima
social, essa é uma ideia horrível sobre a prostituição, e eu não
aceitaria isso nem em um milhão de anos.

Lia assentiu seriamente. — Anotado. Nem eu.

Eu olhei de volta para o vestido. O pensamento de usar


isso em público — e não apenas o tipo de público em que
outras pessoas podiam me ver, mas Finn também — fez minha
pele parecer pequena demais para o meu corpo. Como se
estivesse encolhendo meu esqueleto para me proteger do belo
cetim amarelo pálido. Não poderia simplesmente ir ao evento
de gala em meus jeans e Chucks13? A minha camiseta
desbotada de manga comprida do Washington Wolves14 com
meu sobrenome nas costas? Ok, tudo bem, estava lá desde os
dias de jogo de Logan, mas ainda era meu nome também.

Lia, embora fisicamente mais atlética do que eu (como foi


isso na besteira de coisas de gêmeos?), se vestia como um ser
humano bem cuidado com mais frequência do que eu. O seu
guarda-roupa continha coisas como vestidos bonitos, caso
tivéssemos que comparecer a um evento de caridade como
aquele em... oh, quatro horas, percebi miseravelmente.

12 Refere-se à escultura colossal esculpida na face de granito do Monte Rushomore (que fica na
Dakota do Sul, EUA) com o objetivo de promover e enriquecer o turismo da região.
13 All Star preto.
14 Time fictício de futebol americano.
Nos últimos dias, minha irmã passou um tempo me
ensinando coisas que ela saberia. Como se eu ainda não
tivesse todas as facetas da vida de Finn memorizadas.

Sua comida favorita era presunto grelhado, e sopa de


queijo e tomate, embora ela regularmente o incomodasse por
comer como uma criança de seis anos.

Seu atleta favorito era Tiger Woods — chuva, brilho,


infidelidade... tanto faz. Na mente de Finn, sua resistência e
determinação superaram quaisquer problemas pessoais.

Ela até me interrogou sobre coisas tolas que literalmente


nunca poderiam aparecer ao redor de uma mesa de jantar
civilizada. Como o momento mais embaraçoso de Finn, como
no dia em que ele perdeu a virgindade com Cassie McMahon
aos dezessete anos de idade, rasgando o preservativo com as
próprias mãos ao tirá-lo do pacote.

Algo que eu absolutamente não sabia antes e poderia ter


vivido o resto da minha vida sem saber, porque me lembrei de
Cassie McMahon e seu longo e lindo cabelo loiro. Sua figura
curvilínea de ampulheta e lábios carnudos. Se esse era o tipo
de Finn, eu estava ferrada.

Olhei para o meu corpo, que considerava o lado feliz da


média em todas as coisas.

Altura média, não me sobrepus a ninguém, exceto, talvez,


o nosso sobrinho de oito anos, Emmett.
Cabelos castanhos razoavelmente comuns, se você me
perguntasse, embora eu sempre sentisse que o de Lia parecia
mais brilhante que o meu.

Olhos azuis básicos.

Um nariz, lábios e maçãs do rosto que talvez fossem um


pouco melhores que a média, que herdamos de Brooke.

Tudo em meu pacote, por assim dizer, parecia


desconfortável com o material escorregadio do vestido e com a
maneira como deslizava pelo meu corpo. Era o tipo de vestido
que as pessoas encaravam, eu percebi. Lia nunca se
incomodou com isso. Minha irmã gêmea não procurava essa
atenção, mas ela não estava desconfortável com isso como eu.

Fui até a cama e ignorei o olhar especulativo de Lia. Meus


dedos se estenderam e agarraram o cabide, o levantando para
que o vestido escorresse em uma coluna fluida de seda.

— Eu nunca visto amarelo. — Eu me ouvi dizer.

Lia mordeu um sorriso triunfante, e eu também o ignorei.

Uma noite. Eu teria uma noite, minha chance de


experimentar um tempo de qualidade com o cara por quem
estava apaixonada há anos, mesmo que ele pensasse que eu
era minha irmã. Comeríamos uma refeição muito cara que
provavelmente tinha gosto de papelão e ouviríamos adultos
falando sobre coisas importantes. E talvez, apenas talvez, eu
me arriscaria e diria a Finn que era eu e como me sentia.
Vestindo um vestido de seda amarelo que me fez parecer
muito mais do que a média. O pensamento estava lá e se foi
antes que eu pudesse impedi-lo.

— Aí está, — Lia sussurrou. — Você vai parecer


arrasadora, irmãzinha.

Eu dei a ela um olhar seco. — Sou mais nova por dois


minutos.

— Ainda conta. — Ela bateu no meu nariz. — Vá em


frente. Preciso sair para o meu seminário em quinze minutos,
e quero ver como fica antes de ir.

Quando ela me deixou sozinha no meu quarto, senti uma


pontada de nervosismo mais forte do que o que carregava nos
últimos dias, quando inventamos esse plano insano. Não era
que eu me preocupasse com o vestido não encaixar. Mesmo
que Lia parecesse um pouco mais polida, tínhamos o mesmo
tamanho e a mesma cor.

Eu podia imitar o penteado dela, colocar minha


maquiagem como ela (mais pesada do que nunca) e até adotar
alguns de seus maneirismos sem pensar duas vezes. Mas eram
os momentos tranquilos que eu mais temia. Os momentos
durante o jantar quando Finn poderia olhar para mim,
esperando ver sua melhor amiga, e compartilhar um olhar
sobre algo que ambos achariam estúpido ou arrogante. Como
seria meu rosto nesses momentos?
Como minha irmã mais velha, Molly, eu usava minhas
emoções no rosto. Exceto com Finn. Eu aprendi a escondê-las
sob a montanha de respeito fraternal, o vínculo gêmeo
indefinível que sempre foi mais importante do que o quanto eu
amava o sorriso de Finn, e a maneira como ele murmurava
piadas baixinhas quando pensava que ninguém estava
ouvindo. A maneira rápida como pensava e a maneira como
era capaz de lidar com Lia quando ela era a mais teimosa.

Nada entre eles era romântico, eu sabia disso. Eles eram


amigos há muito tempo. Mas talvez eu fosse capaz de começar
algo com ele, se ele tivesse a chance, uma chance real, de me
conhecer como mais que a irmã de Lia.

Ainda sozinha em meu quarto, com os sons de Lia


andando pelo apartamento, me despi silenciosamente. Uma
olhada no relógio de cabeceira me disse que eu tinha mais de
uma hora antes de Finn me pegar.

Experimentar o vestido antes de arrumar meu cabelo e


maquiagem pode ter sido bobo, mas talvez eu fosse boba por
querer que minha irmã desse seu selo de aprovação antes que
saísse e me deixasse sozinha nessa duplicidade. Enquanto
deslizava as correias do cabide acolchoado, pensei em uma das
lições das minhas últimas aulas.

As crianças geralmente começam a formar a capacidade


de mentir por volta dos três anos de idade. Era apropriado ao
desenvolvimento e bastante inofensivo nessa idade. Na
verdade, é um sinal positivo, de certa forma. Quando uma
criança pode formar a ideia de que uma narrativa diferente
pode atendê-la melhor, isso mostra que está começando a
processar como a mente funciona. Minha mãe pensa uma coisa
e eu discordo; portanto, vou lhe dizer uma coisa que ela quer
ouvir.

Estranho pensar nisso como encorajador, mas do ponto


de vista do desenvolvimento, não é uma coisa terrível quando
as crianças descobrem o caminho da verdade.

O que Lia e eu estávamos fazendo, era um tipo totalmente


diferente. Puxei o vestido por cima do meu corpo e respirei
profundamente ao sentir o material contra a minha pele nua.

Decadente. Suntuoso. E egoísta.

Havia pouquíssimas coisas positivas para alguém nisso,


exceto para mim. Até Lia não estava realmente ganhando nada
comigo entrando em seu lugar porque nós duas sabíamos que
ela não iria faltar à palestra. Minha mentira não era do mesmo
nível que uma criança de quatro anos dizendo à mãe que iria
se vestir, e acabou no quintal, pisoteando poças de lama no
pijama. Eu estava fingindo ser alguém diferente só para ganhar
tempo com alguém que nunca tinha me olhado duas vezes.

Com esse pensamento, me virei e peguei um vislumbre


meu no espelho encostado na parede branca.

Minha respiração saiu sem querer. — Whoa. — Eu


sussurrei.
O rosto de Lia apareceu atrás de mim, dividido em um
sorriso largo. — Carambaaaaaaa. Você parece bem, C.

Minhas bochechas estavam cheias de elogios genuínos.


— Eu não posso usar sutiã com isso, Lia.

— Você com certeza não pode. — Ela me cutucou com o


cotovelo. — Não se incline muito rápido para nada.

— Eu posso prometer que não vou. — Passei as mãos pela


frente do vestido. O V era tão estupidamente baixo que
mostrava uma fatia do meu peito que nunca havia sido vista
em público. Mas além disso, eu parecia... parecia uma
princesa.

Como se Bela, de a Bela e a Fera, tivesse uma atualização


do século XXI em seu vestido assassino.

Uma princesa sexy e definitivamente não mediana. —


Nome do meio da mãe de Finn?

Reviro os olhos. — Robin.

Ela cantarolou. — O patrocinador do meio-irmão dele?

Eu mudei. — Eu não vou precisar saber nada disso. Além


disso, você disse que o irmão dele é um assunto delicado. Por
que ele apareceria em um jantar chique em que estão tentando
impressionar alguém?

— Você nunca sabe, — disse ela. — Esse é meu


argumento.
— Ele acabou de perder seu patrocínio com Burton esta
semana. — Suspirei. Como se me importasse muito com o
irmão Snowboard aparentemente louco, completamente
tatuado de Finn. Meio-irmão, tanto faz.

Ela estalou os dedos. — Legal. Nem sequer tropeçou


nessa.

— Você precisa ir. — Eu disse a ela.

— Sim, Sim. — Lia fez uma pausa antes de sair do meu


quarto novamente. — Você será incrível lá.

Eu sorrio para ela. — Obrigada.

— Eles nem saberão que é você!

Meu sorriso desmoronou quando ela saiu, porque quando


as palavras inocentemente faladas caíram entre nós como um
balão vazio, de repente não me sentia tanto como uma
princesa.

Eu me sentia uma fraude.

A porta se fechou atrás de Lia quando ela saiu do


apartamento.

Só eu, meu triste reflexo de princesa, e o vestido amarelo


feito para outra pessoa.

Demorou um segundo, mas encontrei meus próprios


olhos azuis uniformemente e respirei fundo. — C, se
recomponha. Você é uma fodida Ward.
Então foi o que fiz.

Depois de cobrir cuidadosamente o vestido com minha


túnica de algodão, enrolei meu cabelo até que caísse sobre um
ombro em ondas bonitas. Usando todos os pincéis de
maquiagem de Lia, apliquei sombra nos olhos de bronze
dourado até meus olhos parecerem quase indecentemente
azuis em meu rosto. Os ponteiros do relógio clicaram cada vez
mais rápido, até ter certeza de que alguém estava fazendo uma
brincadeira cósmica comigo.

Uma hora para ficar pronta parecia uma loucura para a


mulher que poderia tomar banho, se vestir e estar pronta para
a aula em menos de vinte e dois minutos em um dia de semana
normal. O que me manteve firme foi imaginar Finn à porta,
bonito e barbeado em seu elegante smoking preto.

Fechei os olhos e suspirei alegremente. Talvez eu


dançasse, se tivesse sorte. Eu só não poderia fazer algo
estúpido como agarrar sua bunda quando ele pensasse que eu
era Lia.

Meu telefone tocou, o telefone que agora tinha a capa de


Lia, porque minha irmã não era nada senão completa, com um
texto com seu nome.

Lia: Ainda nenhuma palavra de Finn, mas isso não é


anormal se ele estiver ocupado. Ele NUNCA se atrasa, então
tenha essa bela bunda pronta para sair em cinco! *emoji de
beijo*
Eu sorrio enquanto digito minha resposta.

Eu: PRESTE ATENÇÃO. Esta palestra é importante, se


você não sabe. Vou ficar bem.

Lia: Devo-lhe mil favores.

Eu: Sim, você realmente deve.

Enfiei o telefone em minha pequena bolsa nude e calcei


os saltos abertos que ela havia escolhido para mim. Eles
aumentaram minha altura em alguns centímetros e dei alguns
passos pela sala até me sentir firme. O relógio continuou
contando os minutos depois do horário que Finn deveria
chegar, e senti uma pontada de desconforto.

Felizmente, estava tudo bem.

Assim como pensei, e depois me ridicularizei por pensar


nisso, a porta do andar de baixo do nosso prédio zumbiu. Lia
nunca esperaria que Finn subisse, então respirei fundo e
canalizei minha irmã.

— Estou descendo.

Com uma careta, soltei o botão do interfone após


respondê-lo. Mantenha a alegria, Claire, fique muito alegre.

Tranquei a porta do apartamento atrás de mim e desci as


escadas cuidadosamente até o saguão. Além da porta de
entrada, vislumbrei ombros largos envoltos em preto da meia-
noite, mãos enfiadas nos bolsos da calça.
Meus olhos se estreitaram. Aqueles ombros... eram um
pouco largos demais. Mais alguns passos e percebi que minha
mão tremia ao agarrar a maçaneta da porta.

Foi quando ele se virou. Não. Não, não, não, tudo estava
errado.

Quando não abri imediatamente a porta, a mão dele saiu


dos bolsos da calça e peguei um lampejo de tinta nas costas
da grande e áspera mão.

Minha boca estava aberta quando ele abriu a porta.

Onde estava o rosto sorridente? O queixo barbeado? Onde


estava Finn?

— Você... — Eu sussurrei. Minha cabeça tremia antes que


pudesse tentar mascarar minha reação.

Não houve sorriso. Não, sua expressão facial poderia ser


categorizada como um sorriso, se já tivesse visto um. Sua boca
era firme e larga, uma barra dura e sorridente no rosto.

Que também não foi barbeado. Havia uma mandíbula,


tudo bem, mas as semelhanças terminavam ali. Ele era mais
escuro, maior, mais alto que Finn em todas as categorias. Mas
os olhos, eu notei imediatamente; ele tinha os olhos da mesma
cor que seu irmão.

— Não sou quem você estava esperando, eu sei, — ele


murmurou, olhando para a frente do meu corpo. — Finn está
doente, então você está presa com o irmão mau por uma noite,
princesa.
Bauer

LEVOU-ME menos de noventa segundos para perceber


que eu tinha sido enganado.

Durante todo o percurso até uma área modesta nos


arredores do centro de Seattle, imaginei como Lia reagiria. A
alegria absoluta que senti ao ver como ela reagiria ao ficar
presa comigo a noite toda – o castigo de Lúcifer, como ela me
chamava sempre que eu cutucava o Golden Boy – era nada
menos que linda.

Se a mulher que abriu a porta, a mulher usando o vestido


amarelo se agarrando perfeitamente a todas suas curvas, a
mulher olhando para mim como se nunca tivesse visto outro
ser humano da variedade masculina antes, fosse Lia Ward, eu
atearia fogo em mim mesmo.

Se fosse Lia, ela teria amaldiçoado como um marinheiro


no momento em que me viu, reagindo na quantidade exata de
tempo que levei a perceber que agora eu estava obrigado a
passar uma noite com a sua gêmea idêntica. Qual era o nome
dela...?

Clarissa.
Não, Clara.

Dei-lhe um olhar de lado enquanto ela caminhava ao meu


lado, tentando desesperadamente fingir que não estava prestes
a perder a cabeça.

Claire. Era isso. Claire e Lia. Eu já ouvira seus nomes


serem ditos no mesmo fôlego com frequência pelo Golden Boy.
Enquanto caminhávamos em um silêncio constrangedor,
estalei meu cérebro para o que conseguia lembrar sobre ela.

Não muito, pensei com uma careta.

Uma estudante. De algum lugar. Se formando em... algo


inteligente. Revirei os olhos. Não é à toa que ninguém me
convidava para os lugares.

— E você disse que Finn está doente? — Ela perguntou.

Cantarolando meu acordo, andei atrás dela para que eu


pudesse abrir a porta do passageiro do meu jipe para ela. Com
as sobrancelhas franzidas, ela olhou da porta aberta, para a
minha mão, para o meu rosto e depois fez o percurso
novamente.

— Muito doente, — eu disse a ela. — Nem a famosa sopa


de macarrão de galinha da mãe dele poderá curar o que o
aflige.

Enquanto eu falava, dei-lhe uma rápida olhada, porque


Lia saberia que Adele era uma péssima cozinheira.
— Eu me pergunto por que ele não ligou. — Ela
murmurou.

Ligou para sua irmã, era o que ela queria dizer, mas
enquanto segurava cuidadosamente a enorme fenda do vestido
que quase expunha todo o comprimento de suas pernas
bronzeadas, eu decidi que esse desenvolvimento tornava a
noite muito mais interessante do que eu havia planejado.

Por que a bonita Claire Ward estava fingindo ser sua


irmã?

Instalada com segurança no banco do passageiro, ela


cruzou as mãos no colo e olhou para frente. Fingindo muito
mal. Era uma maravilha que qualquer uma delas pensasse que
seria capaz de enganar Finn, de todas as pessoas. Certamente,
seus rostos poderiam ter as mesmas características, mas a
mulher que parecia uma princesa não se parecia em nada com
a irmã.

E eu estava bem com isso.

Quando subi em meu assento e liguei o jipe, decidi que


descobrir esse mistério tornaria a noite divertida. Se ela
conseguisse enganar meu pai e Adele, eu ficaria
impressionado.

Do meu olhar periférico, vi seus ombros subirem e


descerem enquanto ela respirava fundo e soltava o ar. Isso me
fez sorrir.
— O quê? — Ela perguntou, com um pouco mais de calor
por trás de seu tom.

— Acho engraçado que você precise de exercícios


respiratórios para passar a noite com o outro irmão Davis.

— Eu não estava fazendo exercícios respiratórios, —


explicou ela calmamente. — Só... não estava esperando, —
Claire fez uma pausa, e seus olhos azuis escuros voaram
brevemente em minha direção, — Você.

— Muitas pessoas não estão, princesa.

— Esse não é o meu nome. — Ela retrucou. Agora ela


parecia sua irmã.

— Estou ciente disso. — Dei uma breve olhada, tomando


cuidado para não falar o nome que ela usaria para a noite, não
tão bem quanto usava aquele vestido. — Mas você parece uma,
então ele se encaixa.

Sua testa franziu, mas ela não respondeu imediatamente.

Dirigimos em silêncio, indo para o centro da cidade.


Suspirei quando tudo que vi a minha frente foram luzes de
freio vermelhas.

— Isso foi um elogio? — Ela perguntou. Dessa vez, seu


olhar não foi breve. Não se afastou de mim. Ele me prendeu no
lugar, como um inseto sob uma luz.
Minhas sobrancelhas se levantaram. Ela pode não ter o
humor de Lia, mas esse era um calor que eu não esperava. —
Depende se você gosta de princesas.

Claire não revirou os olhos, mas deixou suas pálpebras


fecharem antes de levantá-las lentamente. Esconder a sua
reação a deixou ainda mais fascinante no meu livro, o que não
era um bom presságio para ela. Esta noite cansativa, que eu
normalmente evitaria como ácido fervente, se não fosse por
minha própria situação – era muito mais interessante com ela
nela. Ainda mais do que se Lia estivesse sentada ao meu lado.

Enganchei um pulso por cima do volante. — Eu gosto. Da


maioria. É claro que tenho favoritas, como qualquer homem de
sangue vermelho.

Ela não mordeu a isca, apenas olhou através do para-


brisa dianteiro, com as mãos ainda dobradas ordenadamente
no colo.

— Ariel está no meu top 3, então se acalme. — Continuei.

Claire exalou lentamente.

— Assim como Jasmine. — Eu olhei para ela.

— Isso é muito original. Eu nem tenho certeza de como


devo reagir agora.

Com sua resposta seca, meu sorriso foi instantâneo. —


Você não está curiosa sobre quem está em primeiro lugar?
— Eu não sei se curiosa é a palavra que escolheria. — Ela
murmurou. Uma risada saiu de mim.

Olhei para o retrovisor e ultrapassei o carro à minha


frente. O rosto de Claire se inclinou em minha direção, e eu a
vi olhando para a tatuagem de trevo no lado da minha mão.
Ela não estava sendo muito cuidadosa, a princesa no vestido
amarelo. Lia já tinha visto minhas tatuagens antes, então nada
sobre elas a interessaria.

Por motivos que me recusei a investigar profundamente,


joguei um osso para ela antes de chegarmos ao jantar. —
Lembra quando eu fiz essa aqui? Eu sinto que fui
ridicularizado por dias.

Ela piscou algumas vezes com a lembrança sutil que ela


deveria ter. — Eu ainda quero te ridicularizar, — ela disse
suavemente. — Só estou tentando decidir se eles o expulsarão
por exceder a quantidade máxima de tatuagem visível em um
evento como este.

— Não. — Puxei as mangas e fechei as abotoaduras que


adicionei cerca de seis meses antes. — Muitos atletas estarão
presentes hoje à noite, então seriam muito hipócritas se
tivessem um problema comigo.

Claire fungou delicadamente, e eu peguei o jeito que seus


dedos se apertaram em seu colo. Pensando que, ao nos
aproximar com esse pequeno desempenho, eu esperava que ela
falhasse, então levei apenas alguns segundos para entender.
Atletas.
Claro.

Princesa era um nome adequado para ela em termos de


educação. Os Wards eram uma realeza absoluta do futebol.
Muito provavelmente, este jantar teria mais de um jogador do
Washington Wolves presente. Talvez alguns funcionários da
recepção também. Era um amontoado de pessoas da cena
filantrópica do Noroeste do Pacífico, que incluía jogadores de
todas as principais equipes profissionais do estado. Pessoas
que conheciam Claire e Lia desde pequenas podiam estar lá.
Isso não seria interessante?

No entanto, ela estava arriscando isso por razões que eu


não conseguia entender.

Ela limpou a garganta quando eu parei no Four Seasons.


O manobrista bem vestido abriu a porta de Claire e eu peguei
o jeito que seus olhos se arregalaram apreciativamente.

Sim, eu te entendo, amigo.

Deixei as chaves na ignição para ele, apertando sua mão


brevemente enquanto estava ao meu lado do jipe.

Claire fez uma pausa logo abaixo das luzes do outro lado
da entrada do hotel, e o comprimento ondulado de seus
cabelos castanhos escuros capturou essas luzes sob o sol que
desaparecia. Inclinei minha cabeça e a observei por um
momento.

Fazia um tempo desde que eu tinha passado uma noite


assim com uma mulher, especialmente alguém como Claire.
Bem vestido e no meio da cidade, com uma boa garota para
agarrar. Quase parecia que eu era outra pessoa, porque
consegui me encontrar em uma situação tão estranha.

Ela era incrivelmente bonita, daquela maneira que as


mulheres com maquiagem pesada odiavam. Havia algo na
forma como ela olhava para o edifício alto, cor de ardósia, com
sua visão ampla do som, algo que não conseguia definir. Ela
tinha uma pitada de maravilha infantil quando seus olhos
tocaram a roda gigante no píer e na ligeira ondulação dos seus
lábios.

Observando-a, senti meu peito inchar com algo estranho


e quente ao pensar que eu era o homem que entraria naquela
sala com ela nos braços, ninguém mais, nem o Golden Boy ou
qualquer outro cara sob esse teto. Apenas eu.

Cheguei atrás dela em silêncio enquanto ela continuava


olhando a vista com reverência.

De todas as formas, Claire Ward era boa demais para


mim. Ela era arrumada, limpa e inocente, sem nenhum traço
de cicatriz ou tatuagem na pele que eu pudesse ver. Era óbvio
em seus olhos que era amada, feliz e segura, e esse era o tipo
de mulher que eu não sentia nenhum tipo de atração, mas,
muito lentamente, estendi minha mão e segurei seu cotovelo,
apenas para que eu pudesse sentir sua pele contra as pontas
dos meus dedos.

Ela se assustou, mas não se afastou.


— Pronta para a sua entrada, princesa? — Eu murmurei
ao lado de sua orelha. As pontas dos cabelos dela fizeram
cócegas em minha boca; era assim que eu estava perto dela.
Por que ela estava aqui?

Claire não respondeu imediatamente, mas tomou outra


daquelas respirações profundas e fortalecedoras e se virou
para pegar meu olhar.

O meu coração girou desconfortavelmente em meu peito.


— Pronta como sempre estarei. — Ela respondeu seriamente.

Os meus lábios se curvaram em um sorriso, e estendi


meu cotovelo. Esse instinto protetor de ajudá-la durante a
noite me pegou de surpresa, mais do que a presença dela.
Quando a mãozinha dela se curvou ao redor do meu braço, eu
sorri mais amplamente.

— Vamos criar um inferno, certo?

Recebi um sorriso largo e não afetado em resposta.

Enquanto caminhávamos pelo saguão decorado de forma


moderna, eu me senti como um rei ao lado dela, com a maneira
como os olhos a seguiam.

As portas do salão estavam escancaradas e homens de


smoking e mulheres lindamente vestidas se infiltravam e
saíam, se misturando em grupos, conversando e rindo alto. As
enormes telas florais brancas no topo das mesas tinham
sprays de flores e galhos que provavelmente eram mais altos
que eu. A parede oposta era feita inteiramente de janelas com
vista para a água e, ao longe, era fácil distinguir as montanhas.

Toda vez que via uma montanha, não importava onde


estivesse, toda a minha alma vibrava com o desejo de seguir
em sua direção. Em vez disso, tive que respirar através da
sensação claustrofóbica de estar preso em um salão de baile.

Senti os dedos de Claire se enrolarem mais em meu braço.


Quando olhei para baixo para ver o que causou o aumento da
pressão, notei meu pai e Adele se aproximando; se eu estava
esperando impacientemente pela reação de Adele, estava
prestes a ficar muito decepcionado. O rosto dela, assim como
o do meu pai, não mostrou nenhum choque com a minha
aparição.

Maldito Finn. Não podia mentir para salvar sua vida.

Então, colei um sorriso educado no rosto e olhei para o


meu encontro.

Para crédito de Claire, ela estava muito mais preparada


para esta parte da noite do que para minha aparência
surpresa.

— Você está incrível, Adele, — disse ela, se inclinando


para dar um abraço breve na minha madrasta. — Essa cor é
matadora em você.

Adele se curvou sob a atenção. — Obrigada, querida. Eu


me sinto muito mais confortável em jeans e moletom, mas é
bom se vestir de vez em quando, não é?
Claire sorriu, parecendo tanto com a irmã que eu tive que
piscar.

— Você está me dizendo que não usa esse vestido para o


centro? Vamos lá, você não precisaria da minha ajuda para
conseguir doações, se fosse esse o caso.

Meu pai riu, deslizando o braço em volta da cintura de


Adele.

— Bauer. — Disse Adele, seu sorriso um pouco mais


tenso.

— Você está linda. — Eu disse a ela obedientemente.


Apertei a mão do meu pai.

— Finn nos disse que você se ofereceu para substituí-lo,


filho, — disse ele. — Eu sei que essa não é a sua cena.

Claire me olhou de soslaio enquanto eu ri.

— Não, não é. — Eu encontrei seus olhos azuis da meia-


noite. — Mas consigo pensar em maneiras piores de passar a
noite.

Um estranho constrangimento de silêncio caiu em nosso


pequeno grupo até Adele pigarrear. Ela e meu pai trocaram um
breve olhar.

— Lia, você gostaria de beber alguma coisa? — Meu pai


perguntou. — Eu estava indo para o bar.

Ela sorriu. — Eu não vou dizer não a isso.


Era desconcertante a facilidade com que ela deslizou na
personalidade de sua irmã na frente dos meus pais. Eles foram
embora, me deixando com Adele.

— Estamos honrados que a melhor amiga de Finn estava


disposta a se juntar a nós esta noite.

Eu dei a ela um pequeno sorriso. — Lia faria qualquer


coisa por ele, não faria?

Adele exalou pesadamente. — Por favor, não faça uma


cena, Bauer. Esta noite é importante para o centro, para seu
pai e eu. Lia é uma grande parte disso.

Pela segunda vez naquele dia, alguém da minha família


sentiu a necessidade de me lembrar de que era melhor não
estragar tudo para eles.

Tudo o que fiz foi encará-la.

Ela olhou de volta. — Considerando o que você já


conseguiu realizar esta semana, achei que você deveria ser
lembrado.

Lá estava, o tom que eu estava esperando.

— Sempre há dois lados de uma história, Adele. — Eu


mantive meu tom leve.

O riso dela era arejado e não afetado, e qualquer um que


passasse por nós pensaria que estávamos nos divertindo
muito. — Com você? Claro que sim. Mas hoje à noite, seu
problema de manter um patrocinador não está na minha lista
de preocupações. Só não ofenda ninguém, principalmente Lia,
ok?

Foi um lembrete afiado de que Lia estava fora dos limites


para mim, simplesmente porque eu era o enteado indesejável.

Sempre indesejável. Sempre um incômodo.

Infelizmente, para Adele, isso me fez querer lembrá-la de


todas as maneiras pelas quais eu poderia estragar uma noite.

Assim que eu abri minha boca para fazer isso, ouvi a voz
de Scotty em minha cabeça me dizendo para não ser idiota,
então, em vez disso, passei a mão cuidadosamente pelo laço
preto em volta do pescoço. Por mais divertido que fosse chatear
minha madrasta, não era por isso que eu estava lá. Estava lá
para atrair alguém de Burton.

Ela estreitou os olhos, mais sintonizada com o meu


processo de pensamento do que eu imaginava, porque mesmo
a minha capacidade de manter a boca fechada a fazia
desconfiar.

— Você não tem com o que se preocupar, Adele. Você mal


vai saber que estou aqui.
Claire

ALGUMA vez você já foi convidado para uma festa a


fantasia? Você toma um tempo para planejar sua roupa, para
comprar os suprimentos, aperfeiçoar a aparência e depois
chega, apenas para descobrir que você é o único que não sabia
que era uma pegadinha.

Sim, como Elle Woods em Legalmente Loira.

Sentada à mesa redonda inócua com comida muito cara


a minha frente e uma enorme exibição floral bloqueando minha
visão da pessoa diretamente à minha frente, eu era Elle em sua
fantasia de coelho.

Todo mundo tinha contado algum segredo que eu não


sabia, sendo deixada em dificuldades sem uma única pessoa
para procurar apoio.

Eu sempre soube, abstratamente e com dicas vagas ao


longo dos anos, que Finn e seu meio-irmão não eram próximos.
Que ele era meio estranho, embora eu achasse que Lia era
propensa a exageros quando dissera que ele era um verdadeiro
delinquente. Pelo que me lembro, Bauer Davis era pelo menos
cinco anos mais velho que Finn e era fruto do primeiro
casamento de seu pai. Era uma coisa estranha que Lia sempre
teve em comum com Finn: um meio-irmão da primeira
tentativa dos pais no casamento. Mas se esse jantar desse
alguma indicação, era aí que as semelhanças terminaram.

Nosso meio-irmão nos criou depois que Brooke foi


embora. Ele era nosso irmão, nosso pai, e até se casar com
Paige, ele preencheu o papel ocasionalmente de mãe. Logan era
a presença mais estável e sólida em nossas vidas, e todas nós
sabíamos que ele levaria uma bala antes de deixar algo
acontecer conosco.

Um modelo de um tipo completamente diferente de


família estava à minha frente. Bauer era o estranho.

A ovelha negra. O rebelde.

Em um mar de gravatas pretas e decoro, ele estava


coberto de tatuagem e atitude.

O que eu não sabia e o que não conseguia parar de tentar


descobrir enquanto observava seus pais à minha direita e ele
à minha esquerda, era se Bauer havia escolhido esse papel ou
se ele havia sido escolhido para ele.

— Esse frango está uma merda. — Disse ele, se


inclinando para mim. Senti o mesmo cheiro do jipe, picante,
limpo e masculino.

A mastigação em que eu estava trabalhando no momento,


e já estava há algum tempo, se alojou em minha garganta
quando engasguei.
— Bauer. — Seu pai suspirou.

Ele encolheu os ombros. — Mas está.

Eu tentei tirar o sorriso do meu rosto porque Lia não teria


achado engraçado. Meu choque inicial ao ver alguém além de
Finn na porta se transformou em uma relutância silenciosa,
depois em um fascínio relutante.

Esse fascínio foi o motivo pelo qual estudei o


desenvolvimento infantil em primeiro lugar.

O que fez as crianças se tornarem as pessoas que eram?

Quanto custava a biologia? Uma codificação em nossos


genes que não conseguimos combater.

E em que medida o ambiente em que foram criados


influenciava? As palavras ditas a eles, as regras que
receberam, os elogios que receberam ou não, como costumava
ser o caso.

Ao meu lado estava um homem crescido. Ele era alto e


forte, sem vergonha de quem ele era como pessoa. Mas na
frente das pessoas que o criaram, eu assisti a mudança em sua
personalidade como se alguém tivesse mudado o canal na
televisão.

Era impossível para eu não imaginar como havia sido


para Bauer quando criança, porque duas coisas estavam
muito claras enquanto eu mastigava o frango com gosto de
papelão.
Seu irmão, Finn, era amado por seus pais. Eles estavam
orgulhosos de suas proezas educacionais e do campo da
medicina que ele buscava. Eles adoraram o tipo de homem em
que estava se transformando, todas as coisas que eu sabia
antes de chegar no jantar. Que ele era inteligente e gentil, com
um enorme coração para servir aos outros.

E Bauer era o outro filho.

Havia uma maneira diferente de Adele falar com ele. Uma


rapidez em seus olhares, como se ficasse chateada por ter que
se envolver com ele por muito tempo. Claramente ela estava
incomodada com a atenção que ele recebia de outras pessoas.

A mulher à esquerda de Bauer estava muito mais


interessada nele do que Adele, a julgar pela maneira como ela
olhava para seus bíceps esticando o paletó, a largura dos
ombros sob o material preto e a linha dura da mandíbula sob
a barba que a cobre.

— Snowboard, — ela ronronou, se inclinando para ele até


que seu decote praticamente caísse do vestido vermelho. —
Isso é tão interessante.

Ele a olhou com ar seco. — Eu sempre achei que sim.

— Você deve se exercitar constantemente.

— Eu mal tenho tempo para comer ou dormir. — Ele


respondeu seriamente.
Os meus lábios rolaram apertados sobre os dentes, e me
concentrei muito em tomar um gole do doce vinho branco que
o pai de Finn comprou para mim.

Adele zombou baixinho e lutei contra uma súbita


irritação. Lia não ficaria irritada, lembrei a mim mesma. Eu
conhecia minha irmã tão bem quanto conhecia a mim mesma,
e camelos sagrados, era mais difícil do que eu imaginava
pensar como ela o tempo todo.

— Finn estava tão doente, querida, — Adele sussurrou


conspiratoriamente. — Caso contrário, ele nunca teria deixado
você com Bauer esta noite.

O que Lia faria?

Ela teria revirado os olhos, então eu fiz isso. — Eu


sobrevivi a coisas piores. — Adele riu de alegria.

Estar nessa piada com ela parecia algo viscoso porque,


não, ele não era Finn, mas ainda era uma pessoa. Seu enteado.

Foi o prazer que me levou a ponto de dizer algo. — Ele


não é tão ruim, sabe. Eu poderia ter alguém muito pior para o
meu encontro durante a noite do que um snowboard
profissional.

Pensei ter falado bastante baixo, mas Bauer ainda estava


ao meu lado.

Adele piscou com a minha repreensão gentil, mas acenou


com a mão. — Claro, claro. Ele simplesmente não está
acostumado a eventos como esse. Não é o seu público habitual,
— disse ela delicadamente. — Finn nasceu praticamente para
impressionar as pessoas.

Infelizmente, ela não estava errada. Finn era


impressionante. Ele falava bem e era inteligente. Ele ouvia
muito bem o que as pessoas estavam dizendo e o que não
estavam, mas uma coisa não tinha nada a ver com a outra, e
se eu pensasse em Bauer e no que esse tipo de comparação
constante poderia fazer com uma criança, essa parte minha
ansiava por ajudar de forma justa as crianças que lidavam com
coisas como aquela.

— Nós sabemos, Adele, — interrompeu Bauer. — Confie


em mim, eu nunca sugeriria isso se ele não tivesse incluído
algo para adoçar o acordo. — Enquanto ele dizia isso,
claramente a provocando com seu tom, esticou o braço ao
longo das costas da minha cadeira. Seu polegar mergulhou
perigosamente, e eu senti ele roçar a borda da minha espinha.
Eu fiquei muito, muito quieta.

Os olhos de Adele se estreitaram perigosamente, então eu


limpei minha garganta. — Ele só poderia desejar, Adele.
Apenas o ignore.

Bauer retirou a mão com uma risada baixa que fez o


cabelo em meus braços arrepiar. Normalmente, era o tipo de
insinuação masculina que me faria querer torcer as bolas dele
em um nó — eu também sabia fazer isso — mas era tão óbvio
que ele a estava provocando, tentando angariar qualquer tipo
de reação desta mulher, mesmo que fosse seu desprezo. O
desprezo, quando você é ignorado e esquecido, às vezes é uma
alternativa preferível.

— Então, — continuei. — O cara com os bolsos fundos...


sabemos onde ele está sentado?

Adele se animou. Isso eu podia entender sobre ela, e era


o motivo porque me doeu ver como ela tratava seu enteado.
Eles administravam um maravilhoso centro comunitário,
ajudando jovens em situação de risco a terem acesso a
esportes, artes e atividades que normalmente não seriam
capazes de experimentar. Eu vasculhei o site deles com alegria,
porque alguns de seus programas para crianças eram
incríveis. Fonoaudiologia para crianças que não podiam pagar.
Tutoria para alunos com dislexia que não recebiam o apoio de
que precisavam na escola. Tutoria cara, se seus pais tivessem
que pagar a conta.

— Ele está na mesa atrás de nós, — disse ela calmamente.


— Mas não se vire. É muito óbvio. Estou tentando descobrir
como ir até lá sem ser...

— Óbvia e desesperada? — Bauer forneceu.

O sorriso de Adele estava apertado nas bordas. — Algo


parecido.

Lembrando de algo que Lia me disse, toquei o braço de


Adele para redirecioná-la. — Eu verifiquei com alguém no
escritório da frente, e ele tem sido portador de ingressos dos
Washington Wolves nas últimas cinco temporadas.

Adele assentiu. — Ele é um grande fã do seu irmão.

O meu sorriso parecia o primeiro natural da noite. — Eu


posso entender isso.

— O Sr. Harper seria perfeito, — explicou ela. — Ele é


dono de uma equipe canadense e, embora esteja começando a
mergulhar em empreendimentos filantrópicos aqui em Seattle,
ele ainda não deu um grande passo. Acho que com sua
conexão com o esporte e com o quanto trabalhamos para
envolver as crianças em atletismo no centro, seria uma vitória
para todos.

— Por que ele não faria parceria com um jogador?


Existem tantas fundações criadas para esse fim específico. —
Eu disse. No topo da minha cabeça, eu podia contar seis
jogadores atuais na lista do Wolves que se concentraram
exatamente nisso e fizeram um ótimo trabalho. Minhas irmãs
e eu participamos de tantos eventos de arrecadação de fundos
ao longo dos anos em várias fundações, que nunca seria capaz
de contar todas.

Adele congelou, me dando um olhar estranho.

O meu coração batia desconfortavelmente. Lia não faz


perguntas assim, aparentemente. — Bem, é por isso que você
está aqui, querida, — disse ela. Sua voz era doce e suave, seu
rosto inocente e os olhos arregalados. — Vou até lá e digo olá,
e você vem trazer minha bebida. Vou apresentá-la e voilà15!

Voilà, pensei.

Voilà, então por causa de quem meu irmão era, esse cara
me entregaria um cheque com muitos zeros? Como plano,
parecia tão estável quanto um palito de dente tentando segurar
um Volkswagen, mas eu mantive meus lábios firmemente
fechados.

Oh, minha irmã me devia tanto, tanto por esta noite, mas
isso, é claro, era a ironia. Antes que ela me pedisse, tudo que
eu conseguia pensar era em meu aborrecimento por Finn não
ter respondido ao que quer que fosse que me fez tão diferente
de Lia, e isso ficou mantido em estranha justaposição com a
nossa permutabilidade em tudo isso.

Eu poderia ser qualquer uma das quatro irmãs Ward e


Adele provavelmente não se importaria. Quem eu era não
importava nem um pouco para ela. A desonestidade no que eu
estava fazendo desapareceu um pouco quando pensei sobre a
noite nesses termos.

Porque mesmo se tivesse me apresentado como Claire,


dito a ela que entraria no lugar de Lia, isso não teria importado.
Provavelmente também não teria importado para Finn,
infelizmente.

15 Expressão francesa que significa “aí está!” ou "pronto!".


Tudo o que eu queria era ter algum tempo com Finn, e
agora estava basicamente sendo usada por causa do meu
sobrenome. Quem eu era não importava, e sentada naquela
grande mesa, de repente me senti muito sozinha.

Tomei outro gole do meu vinho quando Adele se virou


para falar com o marido. No palco, eles estavam explicando...
alguma coisa. Sobre obras de artes à venda, exibidas ao redor
do salão de baile, mas eu não conseguia ouvir uma palavra
sobre o enorme sentimento de decepção que se desenrolava
atrás do meu peito. Eu tentei parar, mas era inevitável. Desde
o momento que alguém se virou, para aquela conversa com
Adele, eu estava apenas... desapontada.

Bauer se inclinou novamente e eu olhei para ele de lado.

Sua voz era baixa, destinada a ser íntima e reservada. —


Agora, por que isso fez você parecer tão triste, princesa?

Limpei meu rosto instantaneamente. — Eu não estou


triste, — eu discordei. — Só queria que fosse a hora da
sobremesa para que pudesse esquecer que esse frango existiu.

Seus olhos, um cinza esverdeado profundo, procuraram


meu rosto. — Hum-hum.

O que ele viu que o fez me olhar assim? Meu coração


bateu uma vez, duas vezes. Forte.

Quando Bauer me olhava assim, não me sentia sozinha.


Eu me sentia exposta. Eu me vi empurrando minha cadeira
para trás. — Volto já.
Adele olhou para mim. — Não se demore, querida.

Ela tinha boas intenções, e eu sabia disso, era importante


para eles. Importante para Finn.

O que Lia faria?

Ela piscaria e depois prometeria que estava tudo certo.


Ela faria isso por eles simplesmente porque eles pediram a ela,
essa família da qual ela fazia parte por causa de seu melhor
amigo, e tudo que eu queria fazer era sair. Não consegui
desenterrar quaisquer palavras que minha irmã pudesse ter
usado.

— Com licença. — Eu disse suavemente e me afastei da


mesa, segurando minha bolsa na mão como se pudesse me
teletransportar para longe daquele lugar.

Percorrendo as mesas da elite bem vestida, que ria e


bebia, senti como se não pudesse respirar profundamente até
sair pelas portas. A minha mão pressionou contra o meu
estômago quando senti meu diafragma expandir com uma
respiração lenta para acalmar minha estranha reação.
Algumas pessoas andavam pelos corredores, olhando grandes
fotos em preto e branco exibidas artisticamente ao longo do
corredor esticado do lado de fora do salão de baile.

Elas eram uma distração perfeita, porque eu realmente


não queria dissecar por que estava tão incomodada com as
interações da Adele e do Tom com Bauer. Eu vim por Finn.
Para passar um tempo com Finn, e, em vez de ficar
desapontada, minhas rodas mentais giravam com
pensamentos de enteados e filhos indesejados e alguma
estranha crise existencial, sobre não ser vista como eu mesma,
emaranhada em tudo isso.

Os meus passos diminuíram quando cheguei à primeira


fotografia e congelei. Era linda e triste. Estranhamente
apropriado para o que eu estava pensando.

Um menino pequeno estava sentado em um meio-fio


quebrado, olhando para uma bola suja e manchada nas mãos.
Era usada para brincadeiras, claramente usada em demasia.
Seu cabelo era escuro e bagunçado, seus cílios longos contra
a pele pálida de suas bochechas. Você não podia ver seus
olhos, mas ao fundo, duas outras crianças brincavam juntas.
Eles estavam fora de foco, não pretendendo ser o centro da
foto.

Olhando para seus sapatos, também sujos e desgastados


pelo uso, encontrei meus olhos lacrimejando inesperadamente.

— Deus, isso é deprimente, não é? — Uma voz profunda


veio do meu lado.

Olhei por cima do ombro. Um cavalheiro com um cabelo


castanho, com fios brancos, estava olhando para a foto, a
cabeça inclinada para o lado enquanto franzia a testa para a
imagem.

Apertei minhas mãos à minha frente. — É comovente, eu


acho.
Ele cantarolou, colocando as mãos nos bolsos.

O som incrédulo me fez sorrir. — Você discorda?

— Eu sou uma merda em entender a arte, jovem.

Isso me fez rir. — Tenho certeza que você não é tão ruim
assim.

Ele era o tipo de homem que era difícil de avaliar quantos


anos tinha. Seu rosto estava delicadamente delineado, como
se risse muito, e seus cabelos castanhos estavam riscados
generosamente com o cinza, mas ele era alto, com ombros
largos, nariz forte e um sorriso largo.

— O que você gosta sobre isso? — Eu perguntei a ele.

Ele fez uma careta, olhando novamente para a imagem.


— Não muito. Isso me deixa desconfortável.

Isso me fez dar uma segunda olhada em seu rosto, uma


avaliação mais longa. — Reações fortes não são ruins, no
entanto. O objetivo da boa obra de arte é fazer você sentir
alguma coisa.

O sorriso que ele me deu foi torto. — Justo. O que você


sente quando olha para isso então?

Olhando para o rosto do menino, eu respondi sem pensar.


— O papel do favoritismo materno percebido nos
relacionamentos entre irmãos na meia-idade, — respondi sem
pensar. Senti minhas bochechas corarem quando ele me deu
um olhar curioso. — Desculpe, isso foi terrivelmente específico.
O seu olhar ficou afiado. — Eu estou muito interessado
no porquê.

Pela primeira vez desde que Lia me entregou aquele


vestido amarelo, eu me senti como eu. Minhas costelas se
expandiram facilmente quando meu coração se estabeleceu em
um ritmo normal.

— É um estudo que li recentemente para a faculdade. —


Eu disse. Ele assentiu, um incentivo gentil para continuar.

Não havia expectativa de ser outra pessoa ou falar como


outra pessoa. Apenas um interesse genuíno pelo que eu tinha
a dizer, e isso fez as palavras virem facilmente.

— Há algo muito solitário nele, — disse. — Há pessoas,


outras crianças, logo atrás dele, mas ele está separado. Essa
bola, seus sapatos, ele é obviamente muito ativo. Adora
esportes, mas está sentado em silêncio por algum motivo. Isso
me faz pensar em como é sua vida familiar. Como ele é amado,
se ele se sente separado quando volta para casa também. Ou
se estar do lado de fora, — fiz uma pausa e o rosto de Bauer
brilhou à minha frente, — se encontrar algo em que ele seja
bom, algo físico, tangível e independente, dá a ele as
afirmações que deseja.

No silêncio que se seguiu, senti uma lenta descarga de


vergonha subir pela minha pele. Eu também poderia gritar
Cuidado com a psiquiatra para que todos no corredor ouçam.
Quando fiz uma careta, ele se aproximou da foto, avaliando-a
cuidadosamente.
— Não é de admirar que você estava prestes a chorar. —
Ele meditou.

Sob minha respiração, ri e senti meu constrangimento


desaparecer. — Infelizmente, não posso evitar. Estou prestes a
começar meu mestrado em psicologia do desenvolvimento.

— Ahh. — Ele sorriu e parecia mais jovem quando o fez.


— Uma conhecedora de arte disfarçada de terapeuta. Você
poderá consertar o mundo com esse cérebro, mocinha.

Eu abaixei minha cabeça, sem saber o que dizer.

— Não, não, não tenha vergonha. É uma coisa


maravilhosa, que se possa olhar para aquela criança e ver tudo
isso. — Ele suspirou. — Ele provavelmente me deixa
desconfortável porque me faz lembrar de mim mesmo quando
jovem.

Sua mente estava distante agora, sem ver a foto ou a mim,


e o observei cuidadosamente em silêncio. Algumas pessoas
andavam à nossa volta, mas ninguém nos interrompeu.

— Talvez se eu tivesse alguém como você me ajudando a


entender esse tipo de coisa quando era jovem, eu não seria tão
teimoso agora.

— Teimosia não é uma coisa ruim, — digo. —


Determinação é uma característica maravilhosa,
especialmente se você encontrou sucesso.
— Todos nesta sala muito cara encontraram sucesso, não
encontraram? — Ele perguntou secamente.

— Eu suponho que sim.

Ele piscou. — Minhas maneiras, para onde foram. — Ele


se virou, sua mão estendida em minha direção. — Richard.

Abri a boca e parei antes de formar meu próprio nome.


Engoli em seco. — Lia Ward.

Richard sorriu. — Foi um prazer genuíno conhecê-la,


jovem.

Outra voz se juntou a nós, assim quando uma grande


mão deslizou ao redor da minha cintura, se acomodando
facilmente na pele nua onde meu vestido estava aberto.

— Aí está você, — disse Bauer. Ele sorriu largamente


quando levantei uma sobrancelha lentamente. — Pensei que
você estivesse perdida.

Richard moveu os olhos entre nós. — A culpa é toda


minha. Estive monopolizando-a. Ela é bastante intrigante.

Os olhos de Bauer analisaram brevemente meus lábios


quando respondeu. — Essa é uma palavra que eu usaria.

Eu senti minha boca abrir um pouco. O que ele estava


fazendo? Lia mal mencionou Bauer, exceto de passagem, e
sempre negativamente, e ele estava olhando para os lábios dela
— meus lábios — como se os quisesse devorar de uma só vez.
— Bauer 'The Hawk' Davis, — disse Richard, estalando os
dedos. — Eu sabia que te reconheci.

O rosto de Bauer se iluminou surpreso com o seu nome


de trabalho. — Poucas pessoas fazem.

— Que vergonha o que aconteceu com Burton.

O homem atualmente segurando minha cintura ficou


tenso, mas assentiu. — De fato.

— Eles vão se arrepender um dia, tenho um


pressentimento.

Os olhos de Bauer se afiaram. — Poucas pessoas estão


tão bem informadas na cena do snowboard.

— Eu tenho um lugar em Vancouver, então, sou seu


vizinho ao sul. — Richard estendeu a mão. — Se você não
participar das próximas Olimpíadas, eu tumultuarei.

Com a mão ainda firmemente no lugar, Bauer sorriu. Eu


pisquei ao vê-lo. Era largo, brilhante e feliz. Este era o
verdadeiro ele, falando sobre algo que amava.

— Obrigado. — Ele inclinou a cabeça. — Eu não peguei


seu nome.

— Richard, — ele respondeu. — Eu deveria voltar.


Infelizmente, conversa fiada horrível deve ser feita.
Eu sorri, assim como Bauer. Richard olhou de um lado
para o outro entre nós. — Mantenha essa, Bauer. Ela é para
casar.

Nenhum de nós respondeu, por razões completamente


diferentes, mas quando Richard se afastou, dei um passo
cauteloso para longe de Bauer. Sua mão deslizou pelas minhas
costas quando percebi que estávamos sozinhos novamente. Só
eu e o irmão errado.
Bauer

SE EU FOSSE UM CAÇADOR, puxando a corda do meu


arco, em seguida, Claire seria o veado correndo para a
segurança das árvores.

Antes que ela pudesse mover um único músculo para


fazer exatamente isso, balancei a cabeça na direção do cara
que acabou de sair.

— Era ele, você sabe.

Ela piscou rapidamente. — Quem era?

— Richard. — Coloquei minhas mãos nos bolsos da calça.


Talvez isso me fizesse parecer não ameaçador ou alguma
besteira assim. — Era ele.

— Sim, era. — Ela respondeu lentamente.

Eu sorri, porque ela claramente pensou que eu era um


idiota. — Não, esse era o cara que minha mãe estava de olho.
Ou no dinheiro dele, no caso.
O rosto de Claire corou em um lindo rosa. Ela nem estava
tentando agir como Lia agora, e isso parecia uma pequena
vitória.

— Aquele era o Sr. Harper?

Assentindo devagar, vi sua expressão mudar enquanto


ela processava isso.

— Oh. — A testa de Claire franziu. — Bem, acho que torna


mais fácil encontrá-lo mais tarde. — Sob as luzes do corredor,
seus cabelos brilhavam. Suas bochechas ainda estavam
rosadas, e ela precisava retocar o batom depois de comer, mas
caramba, se eu não queria estragá-lo um pouco mais. Pode ter
sido uma loucura, mas tive a sensação de que Claire Ward não
gostava de usar aquela cor vermelho-sangue.

— Sobre o que vocês dois conversaram, princesa? Ele


parecia terrivelmente apaixonado.

Vagamente, ela apontou para a fotografia ao seu lado,


uma das muitas ao longo do corredor. Eram em preto e branco,
todas com etiquetas de preço ridículas. A que estava à nossa
frente era realmente deprimente, se você me perguntasse, mas
eles certamente estavam olhando para ela como se fosse um
maldito Van Gogh.

— É isso aí? — Eu perguntei.

Claire mordeu o lábio enquanto estudava a imagem


novamente. Ahh. Ela estava nervosa para responder.
Tudo sobre isso era estranho, e dentro da segurança dos
meus bolsos, eu encontrei meu polegar batendo, em um
movimento rápido, em minha coxa enquanto tentava
desvendar essa mulher.

Toda mulher, dos quatro aos noventa e quatro anos de


idade, era um quebra-cabeça. Algumas eram mais fáceis de
montar, com melhores guias de instrução, e outras eram um
pouco mais difíceis de avaliar. Honestamente, eu amava isso
nas mulheres. A bela variedade de cada uma, vinha das peças
que você colocava no lugar. E Claire, com seu vestido amarelo,
cabelos castanhos escuros e olhos azuis, era tão intrigante
quanto um quebra-cabeça que eu não via há muito, muito
tempo.

As faixas musicais flutuavam pelas portas abertas do


salão de baile para o corredor onde estávamos, e quando olhei
por cima do ombro para a sala que acabara de sair, alguns
casais começaram a encher a pista de dança, balançando nos
braços um do outro.

Ela estava fazendo o possível para ignorar completamente


minha presença, ou talvez estivesse perdida em pensamentos.
Aproximei-me lentamente, embainhando qualquer arma que a
pudesse assustar, dando-lhe um pequeno sorriso enquanto
estendia minha mão.

— Dança comigo?
O peito de Claire caiu e subiu em uma inspiração quando
os olhos da cor da meia-noite se voltaram para o meu rosto. —
Você quer dançar?

— Ai. — Minha mão esfregou no ponto acima do meu


coração, e eu a vi olhar para as tatuagens novamente. — Sim,
até os reprovados sociais como eu gostam de dançar com uma
mulher bonita.

Mesmo quando o rosa se aprofundou em suas maçãs do


rosto, ela estava claramente indecisa. Era hora de ver se essa
primeira peça do quebra-cabeça se encaixaria no lugar ou se
eu estava completamente fora da base.

— Vamos, — eu disse baixinho. — A Lia que eu conheço


é destemida.

Oh, não, ela não gostou disso. Seus olhos brilharam como
uma tempestade iminente, e senti a onda de eletricidade se
acumular ao meu redor como uma nuvem.

Claire colocou sua pequena bolsa em uma mesa


decorativa ao lado da foto, deslizou a mão na minha e se
aproximou. Mas não suficientemente perto.

Triangulando seus pés entre os meus, deslizei minha mão


livre em torno de sua cintura e a puxei contra mim. Apenas
perto o suficiente para ser impróprio, considerando que
estávamos sozinhos no corredor.
Se alguém passasse, olharia. Eles poderiam ficar
boquiabertos com o jeito que eu estava segurando ela. E
caramba, eu queria que eles ficassem.

Eu sabia o que eles veriam, como julgariam. O menino


mau e a menina boa, talvez um par estranho, mas se nos
vissem assim, balançando em um corredor silencioso,
assumiriam que éramos loucos um pelo outro. Que algo nela
tinha me obcecado. Que algo sobre mim a fazia se sentir
perigosa.

E talvez isso fosse verdade, mesmo que apenas por essa


noite.

Em meus braços, Claire Ward parecia incrível. Seu corpo


estava quente, a pele macia e cheirava a laranja.

Ela estava se segurando um pouco rigidamente, então eu


recuei alguns centímetros enquanto a conduzia suavemente
em um círculo lento. Quando a dirigi em um giro lento, ela
sorriu.

— Eu também estou cheio de surpresas. — Eu disse a


ela.

— Pelo visto, sim.

— Então... — assisti seu rosto. — Devo lhe contar o que


mais eu sei sobre Lia Ward, e você me diz se estive errado por
todos esses anos.
Sua mandíbula endureceu teimosamente. — Isso não soa
como um jogo muito divertido.

— Não? — Eu a girei novamente, puxando-a de volta para


o meu peito. — Concordo em discordar.

— Então você gostaria que eu dissecasse você agora? —


Ela perguntou, o rosto corado pelo jeito que eu a tinha
inclinado para trás.

— De jeito nenhum.

Ela mordeu o sorriso que ameaçava se espalhar. Oh, eu


gostaria que ela não o tivesse feito. Eu queria ver esse sorriso
se desenrolar e saber que fui eu quem a fez sorrir.

— Vou lhe dizer uma coisa da qual sei que é verdade, e se


você quiser fazer o mesmo comigo, — eu concedi. — Então
permitirei.

— Combinado.

Dançamos em silêncio por alguns momentos da música,


e pensei em como dizer o que queria, sem mostrar a minha
mão que eu sabia muito bem que ela não era sua irmã.

— O que eu sei que é verdade, — comecei devagar. — É


que meu estúpido irmão nunca dançou com você assim.

Seus olhos brilharam novamente, mas não consegui


identificar a emoção por trás disso. — Como diabos você
poderia saber disso?
Movi minha mão, escovando meus dedos contra o nó de
osso que eu podia sentir sob sua pele suave e macia. Ela
estremeceu.

Em vez de dar-lhe a resposta que ela queria, levantei meu


queixo. — Sua vez.

Enquanto balançávamos juntos, sua mão apertou um


pouco a minha. Esquecida de que poderia borrar o seu batom
– outro sinal de que estava certo sobre ela não usá-lo
normalmente – ela mordeu o lábio e pensou cuidadosamente
antes de dizer qualquer coisa.

— Eu sei que você conseguiu alcançar coisas


maravilhosas se alguém como Richard Harper o reconheceu
imediatamente.

Eu sorri. — Sim, recentemente minha maior conquista foi


me demitir depois de um discurso bêbado que alguém gravou
e postou no Twitter.

Ela observou meu rosto com cuidado. — A mídia social é


uma faca de dois gumes para a maioria dos atletas.

— É mesmo, princesa. — Nós balançamos novamente,


meus dedos se movendo contra sua pele enquanto nós o
fizemos.

— Mas esse momento não nega a carreira que você


construiu. — Ela olhou por cima do meu ombro para o salão
de baile, quase se recusando a encontrar meus olhos. — Eu
espero que você saiba disso.
Futilmente, por baixo da onda de orgulho incontrolável
sobre o que ela disse, me perguntei se Claire percebeu que era
a coisa mais não-Lia que poderia ter me dito.

Mas, ainda assim, ela o disse.

Deus, eu queria bagunçar as penas dessa garota e vê-la


em toda a sua glória, quando ela não tinha medo de esconder
o que quer que estivesse fervendo sob a superfície.

— Eu sei, — eu disse a ela, executando outra curva suave.


— Nem todo mundo sabe, mas... — minha voz parou. — Minha
família vê isso como mais uma prova para me acusar, não
importa o que fiz antes.

— O que é uma hipocrisia. — Ela interrompeu


imediatamente.

Eu parei de balançar. — É mesmo?

— Claro. — Ela balançou a cabeça. — Se eles se


preocupam tanto em envolver as crianças em esportes, equipes
e atividades, como podem não se orgulhar de você por
conseguir o que você tem? Ensinar perseverança e coragem é
uma das lições mais valiosas que podemos dar a elas.

Rindo baixinho, puxei minha mão da sua cintura, a


deslizando pelo braço e deixando-a pairar no ar, pouco antes
de usar o polegar para inclinar o seu queixo.

A respiração de Claire ficou presa. — Por que você está


olhando assim para mim? — Sussurrou.
— Você nem está tentando, você percebe isso?

Sua língua disparou para umedecer os lábios. — O-o que


você quer dizer?

Eu mergulhei minha cabeça e respirei fundo o aroma dos


seus cabelos, antes de deixar meu nariz roçar ao longo de sua
bochecha para que pudesse sussurrar em seu ouvido. Antes
disso, sua mão se curvou na lapela do meu paletó, e esperei
para ver se ela estava me afastando.

— Você nem está mais tentando fingir que é ela, princesa.

Ela estava fora dos meus braços antes que eu pudesse


piscar, os olhos arregalados e assustados, uma mão
pressionada contra o peito pesado.

— Eu não sei do que você está falando. — A sua voz saiu


firme.

— Sim, acho que sabe sim. — Meus olhos nunca


deixaram os dela. — Por que você veio aqui hoje à noite?

Sua inspiração era aguda e ela piscou rapidamente. —


Porque eu sou a melhor amiga do Finn.

— Não minta, princesa, — eu disse gentilmente. — Isso


não é muito legal.

— E o que você está fazendo agora? — Ela jogou de volta,


não tão gentilmente. Eu sorri.
Aquele sorriso, por mais inocente que tenha sido, foi o
que fez Claire pegar sua bolsa e se afastar rapidamente de
mim. O movimento de seu vestido e do seu cabelo me fizeram
rir baixinho. O resto da noite seria ainda mais interessante
agora.

Mas então ela se afastou dos banheiros e foi direto para


a entrada do hotel.

— Merda. — Eu sussurrei. Eu me virei para o salão de


baile para pegar meu telefone e chaves de onde os havia
deixado sobre a mesa e quase corri direto para Adele.

— Onde está a Lia? — Ela perguntou, os olhos brilhando


de emoção. Provavelmente solicitando um Uber, mas não
contei isso para Adele.

— Por quê? O que houve?

— Ela conheceu Richard Harper, — ela falou. —


Estávamos conversando quando ele voltou ao seu lugar, e
quando eu mencionei Lia, me disse que se conheceram aqui!
Eles conversaram, e ele ficou tão impressionado com ela. — Os
olhos dela passaram pelo meu rosto. — Ele também conheceu
você, aparentemente.

— Minhas desculpas, — eu disse. — Se eu consegui


estragar tudo existindo. Você ficará feliz em saber que ele se
afastou antes que eu pudesse ofendê-lo terrivelmente.

Adele me ignorou.
— Você não vai acreditar nisso. Ele está apenas em
Seattle por uma noite, e está com uma reserva sólida, então
quando eu contei a ele sobre o centro, ele nos convidou —
incluindo você e Lia — para passar a noite em sua casa em
Vancouver! — Adele sorriu tanto que mal reconheci seu rosto.
— Ele quer ouvir sobre nossos planos para o centro, mas... —
ela fez uma pausa, sua voz diminuindo ao perceber exatamente
o que estava pedindo e a quem estava pedindo. O garoto que
ela tolerava. O homem que ela basicamente ignorou.

— Ele quer que a garota esperta e o snowboarder louco


estejam lá também. — Terminei para ela.

Ela assentiu devagar. — Ele quer.

Eu olhei para o corredor onde Claire havia deixado um


rastro de poeira atrás de si. Ela precisaria de muito
convencimento, e eu provavelmente estraguei minha chance a
chamando assim.

— Por que eu deveria ajudá-la, Adele? — Eu perguntei.


Simplesmente por causa do tempo que eu teria com Claire, eu
iria, mas com certeza não estava prestes a facilitar as coisas
para minha madrasta.

Enquanto ela moderava sua excitação, cruzei os braços e


tentei decidir se me sentiria mal por ser um idiota com ela.

Ela passou a língua sobre os dentes e vi o momento em


que ela decidiu a verdade, não besteira.
— Provavelmente não há razão, — admitiu. — Você e eu
nunca nos demos bem, não é?

— Bem, eu tinha quatro anos quando você apareceu,


então sim, — falei. — Tenho certeza de que eu era um idiota
gigante desde o primeiro dia.

Meu sarcasmo não foi apreciado, já que Adele respirou


fundo. — Você nunca foi fácil, Bauer. Mesmo antes de ser
preso, deixou dolorosamente claro que não havia espaço para
uma mãe substituta.

— Especialmente alguém que não estava clamando para


preencher o papel. — Eu disse. A minha voz era tão aguda
quanto eu permitiria, considerando que estávamos em público.
Sabiamente, ela ouviu, reconheceu e tentou uma tática
diferente.

Ela levantou as mãos. — Este não é o momento da terapia


familiar.

— Não me diga? É por isso que eu me vesti. Só para você,


mãe.

Os olhos dela ficaram fracos. — Eu nem sei porque tento


com você.

— Nem eu, — disse. — Você não sabe que eu sou uma


causa perdida?

Ela esfregou as têmporas. — Bauer, por favor. Eu não


estou pedindo para você fingir ser parte de uma grande família
feliz, mas você vem conosco? Ele quer você lá... por algum
motivo.

— Uma noite. — Eu disse. Não porque eu me importava.


Se ele quisesse empurrar a mim e a Claire juntos, eu
provavelmente teria passado uma semana, mas com certeza
não ia contar isso a Adele.

— Uma noite.

Eu apertei minha mandíbula e olhei para o corredor.


Claire provavelmente estava abrigada com segurança em seu
Uber, pensando que tinha me visto pela última vez.

— Vou conversar com Lia no banheiro feminino, onde


temos um pouco de privacidade. — Disse Adele.

— Ela se foi.

— O quê? — Ela sibilou.

Eu levantei meu queixo e segurei o olhar da minha


madrasta. — Ela foi embora porque eu disse algo que a irritou.

— Oh Bauer, — ela murmurou. — Claro que você fez.

— Eu sei, eu também gostaria que o Finn estivesse aqui.

Os olhos dela se ergueram. — Eu não disse isso.

— Vocês todos estão desejando. E tudo bem. Não vou


argumentar que ele se sai melhor em situações como essa. —
Eu balancei a cabeça em direção à saída. — Eu vou consertar.
— Você vai? — Ela balançou a cabeça. — Por que você...

— Por que eu te ajudaria?

Ela assentiu.

— Não é isso que as famílias fazem? — Eu perguntei com


apenas o menor toque na minha voz. — Nós nos apoiamos,
através dos problemas.

Adele rolou os lábios sobre os dentes e não disse nada.

— Eu preciso pegar meu telefone e minhas chaves, —


disse a ela. — Envie-me os detalhes, se você não se importar,
e verei o que posso fazer.

Levou um momento para compor seu rosto, mas quando


o fez, ela realmente tentou um sorriso. — Obrigada, Bauer.

Olhei para a saída novamente, imaginando que quando


pegasse meu carro e voltasse para o apartamento de Claire, ela
teria tido tempo suficiente para esfriar. Esperançosamente.

— Acredite em mim, — disse a ela. — Será um prazer.


Claire

— SAI, — puxei, depois puxei novamente por precaução.


— Seu estúpido vestido, vestido estúpido. — Minha voz falhou
e me recusei absolutamente a olhar o meu reflexo no espelho.

Antes, amei o que vi. Uma princesa. Agora, eu só


conseguia ouvir essa palavra dita na voz estúpida e profunda
de Bauer ao meu ouvido.

O zíper se recusou a mover sob minhas mãos trêmulas, e


as deixei cair para que pudesse tentar recuperar o controle de
mim mesma.

Meus olhos se inundaram com a frustração crescendo


dentro de mim. Como se um balde estivesse cheio até a borda
e não pudesse conter nada além do que estava dentro, o zíper
estúpido foi o que o derrubou.

Eu me senti idiota. Estúpida por dizer que sim. Estúpida


por pensar que eu poderia ser Lia durante a noite. Estúpida
por estar animada com o tempo com o Finn.
O rosto de Bauer, tão perto do meu, passou pela minha
cabeça e fechei meus olhos. Isso me fez sentir especialmente
estúpida. Quão ridícula ele deve ter me achado.

Ele provavelmente riu depois que eu fui embora, a irmã


boba que tentou desligar um interruptor e falhou. Porque ela
não era destemida como sua irmã. Foi o que ele disse, certo?

Oh, a ironia. Eu queria que alguém me visse por quem eu


era, e ele teve que escolher a única palavra que me faria sentir
a maior fraude. Ela era a destemida, e eu desaparecia no
fundo.

Meus olhos lacrimejaram e, sem querer, peguei meu


reflexo no espelho. — Você não falhou, — eu disse calmamente,
meu queixo erguido. — Você não falhou. — Repeti. Adele e
Robert pensaram que eu era Lia.

Ok, então eu marquei setenta e cinco por cento, o que...


tecnicamente, era uma nota de aprovação. Mas para a garota
que sempre recebe nota A, um C com certeza parecia um
fracasso. Especialmente em algo assim.

Com minhas mãos mais firmes, passei os dedos ao redor


do metal do zíper mais uma vez e puxei, até o fim, até que eu
pudesse sair do vestido. No momento em que caiu no chão
encarpetado do meu pequeno quarto, passei de frustrada a
irritada. Com todo mundo.

Com Bauer, por ver através de mim tão facilmente, o que


não fazia sentido.
Com Lia, porque, onde diabos ela estava? Ela já deveria
estar em casa agora. E Finn. Oh, maldito Finnegan Davis.

Como Finn poderia não avisar a Lia? Então, e se ele


estivesse doente e fosse ideia de Bauer intervir esta noite? Ele
perdeu a capacidade de enviar mensagens? A canja de galinha
de Adele não poderia consertar seus braços?

O pensamento desagradável — especialmente sobre Finn,


que nunca fez nada para merecer isso — me trouxe à tona.

— Uma noite com aquele homem, — murmurei. — Uma


noite, e eu estou falando besteiras sobre Finn. — Finn, com
seus lindos olhos e um grande sorriso. Finn em seu jaleco
estúpido. Eu coloquei uma mão no meu estômago enquanto
pensava sobre isso, o forçando a entrar em minha cabeça.

Pisei sobre a pilha de cetim amarelo e abri a gaveta da


cômoda com violência mal contida. Coloquei um short de
algodão, um top com um sutiã embutido e minha camiseta U
Dub, desgastada em alguns pontos por ter sido lavada tantas
vezes.

Quando acendi as luzes do banheiro, levei um segundo


para lembrar, novamente, como eu me senti antes da noite
começar. Feliz. Aterrorizada. Animada. Fora do meu alcance.
Agora eu me sentia exausta.

Um removedor de maquiagem cuidou do meu rosto, o


trazendo de volta ao seu estado normal. Uma escova fez o
truque para o meu cabelo quando puxado para o alto da minha
cabeça e do meu pescoço. Minha mão estava prestes a desligar
o interruptor quando a campainha da porta tocou. Eu congelei.
— Nããão. — Gemi porque sabia. Oh, eu sabia quem era.

Tocou de novo e eu xinguei baixinho. Era o tipo de


linguagem que teria me custado uma fortuna em nosso pote
da família. Com um tijolo de nervos na garganta, apertei o
botão do alto-falante. — Quem é?

— Deixe-me entrar, princesa.

— Merda, aff, caramba. — Murmurei, limpando a


garganta e apertei o botão novamente. — Sinto muito, quem é?
Lia se foi, se você está procurando por ela.

Fechei os olhos com o quão ridícula eu parecia. Ele me


chamou logo antes de eu fugir. Como uma covarde.

— Princesa, — ele respondeu pacientemente, o sorriso


evidente em sua voz. — Deixe-me entrar, por favor. Eu preciso
falar com você sobre uma coisa.

— Não acho que seja uma boa ideia.

— Confie em mim, é uma ótima ideia.

Revirei os olhos, mas liberei a entrada. Quanto mais


rápido ele subisse, mais rápido ele poderia sair. Quanto mais
rápido ele saísse, mais rápido eu poderia deixar essa noite
inteira para trás e fingir que nunca aconteceu.
Seus pesados passos se aproximaram da porta e eu a
abri, uma mão pousada no quadril. — Diga o que você precisa
dizer e vá embora.

Bauer diminuiu a velocidade, seus olhos insondáveis


rastreando do topo do meu coque bagunçado, pelas minhas
roupas de dormir e parou nos meus dedos dos pés nus. Um
sorriso cobriu seu rosto quando encontrou meu olhar. — Esta
é a verdadeira você, não é?

Eu me mexi desconfortavelmente. — O que você precisa,


Bauer?

Ele não respondeu imediatamente, o que me permitiu


algum tempo para estudá-lo. Sua jaqueta tinha sumido, assim
como a gravata que usava. A camisa branca estava
desabotoada, apenas no topo, e havia outra linha de tatuagem
sob o entalhe da sua garganta. Honestamente, o que ele estava
tentando compensar com tantas tatuagens? — Por favor, posso
entrar? — Ele levantou as mãos. — Vou levar cinco minutos.

— Você tem três.

— Ai. — Quando abri a porta e me movi para o lado para


deixá-lo entrar, ele sorriu para mim quando passou. — Sabe,
você é muito mais gentil comigo quando finge ser Lia.

Fechei a porta com um bufo frustrado, inclinando


brevemente minha testa contra a superfície fria antes de me
virar para encará-lo.
— Sinto muito, — disse a ele. — Eu não deveria atirar
minhas frustrações em você. Foi estúpido tentar fazê-lo.

Ele estava estudando a pequena sala de estar. Era um


apartamento pequeno, como a maioria das moradias para
estudantes, como Lia e eu. Mas Logan se recusou a nos deixar
morar em algum lugar sem uma entrada segura ou setenta e
cinco fechaduras na porta do apartamento. Nossa decoração
era eclética porque, embora o gosto de Lia fosse óbvio nos
travesseiros verde azulado, rosa e amarelo e no tapete colorido,
eu escolhi o sofá neutro e as estampas de bom gosto
penduradas na parede.

Meu rosto queimava quando ele pegou o pequeno gatinho


de pelúcia sentado no braço do sofá. Eu sempre quis um gato,
mas ainda tinha que fazer Lia aceitar. Observando Bauer
estudar o bicho de pelúcia, me senti invadida por sua
presença.

Com um sorriso, ele colocou o gato de volta no lugar. A


iluminação era fraca, porque eu gostava de deixar assim
quando estava em casa, então apenas duas luminárias
iluminavam a sala. Por causa disso, quando Bauer finalmente
me encarou, as mãos enfiadas nos bolsos da calça novamente,
sombras foram lançadas sob as maçãs do seu rosto. Ele
parecia sombrio e aterrorizante, embora seus lábios ainda
estivessem sorrindo em minha direção.

Sua cabeça se inclinou. — Por que você está falando como


se não tivesse conseguido?
— Você sabia, — expliquei. — Eventualmente, pelo
menos.

— Imediatamente, na verdade.

Isso fez minha boca se abrir levemente. — Sério?

Ele se inclinou para estudar as fotos emolduradas na


estante ao lado dele, fotos sinceras de mim e de minhas três
irmãs. — Sério. Lia não ficaria tão abalada com isso.

Ótimo. A imperturbável Lia. Uma garota sempre adora ser


chamada de “Aquela que foi abalada”.

— Eu não quero dizer isso de uma maneira negativa,


princesa.

— Você pode parar de me chamar assim? — Perguntei


cansada.

Bauer deu alguns passos em minha direção e tive que


lutar contra todos os instintos para me afastar. — Mesmo de
pijama, — ele murmurou. — Você tem essa aparência. Eu não
posso evitar.

— Falou como um homem de verdade. Eu não posso


evitar. — Imitei sua voz profunda.

Ele inclinou a cabeça para trás e riu profundamente. Essa


risada me deixou inexplicavelmente nervosa, e não conseguia
identificar o porquê. Talvez porque não quisesse fazer Bauer
Davis rir. Eu não queria tê-lo em meu apartamento, parecendo
um pouco amarrotado e mais casual do que estava quando me
pegou.

— O que você quer, Bauer? — Eu perguntei.

Seus olhos aqueceram um pouco com o uso de seu nome.


Também não queria isso. Ele coçou a lateral do rosto. — Agora,
eu quero saber por que você está me olhando assim, princesa.

Inclinei minha cabeça para trás e suspirei. — Por alguma


razão, me sinto como a garota quieta no playground que
chamou a atenção do cara misterioso e legal da classe que
nunca presta atenção a ninguém.

Minha honestidade me pegou de surpresa. Não porque eu


não era uma pessoa geralmente honesta, mas mal tinha
parado para processar, e bum, saiu da minha boca.

Bauer cantarolou. — Não muito longe, suponho. Você tem


que admitir, o fato de que a conheci porque inexplicavelmente
você apareceu em um evento público tentando se passar por
sua irmã gêmea, a torna bastante intrigante.

Apertei meus lábios.

— E você não vai me dizer por que fez isso?

— Minha irmã me pediu, — respondi honestamente,


apenas após a menor hesitação. — Ela tinha uma palestra que
não podia perder esta noite, mas sabia o quanto isso era
importante para Finn e seus pais.
Pela maneira como seu olhar procurou meu rosto, senti
como se estivesse sendo submetida ao equivalente humano de
um teste de detector de mentiras.

— Então você só fez isso porque Lia pediu. — Seu tom era
cheio de ceticismo, e eu não podia culpá-lo.

— Sim.

— Está bem então. — Ele pegou uma foto emoldurada de


nós duas, tirada no último jogo de Logan como jogador. Mal
estávamos na adolescência, uma fase em que absolutamente
ninguém poderia nos diferenciar se não quiséssemos. Foi
tirada antes de Finn entrar em nossas vidas, antes que
houvesse uma única coisa que minha irmã tinha que eu
queria. Mesmo que ela não tivesse Finn do jeito que eu o
queria, ele ainda era dela.

Eu estava terminando a noite exatamente da mesma


maneira que a comecei, sem nenhum conhecimento em
primeira mão de como era ser a única destinatária de sua
atenção. Meus lábios se apertaram porque eu odiava a
autopiedade. Era inútil e ineficaz.

Nada, absolutamente nada, era obtido por sentir pena de


si mesmo quando se tratava de circunstâncias fora de nosso
controle. Essa foi uma lição valiosa que eu aprendi quando
Brooke partiu e Logan se adiantou para cuidar de nós.
Qual foi o motivo de lamentar a saída de Brooke? Não
havia um. Qual era o sentido de se sentir triste porque o garoto
que eu gostava não me olhava assim? Não havia um.

Bauer cuidadosamente colocou a foto no lugar. — Deve


ser estranho olhar para outra pessoa e ver seu próprio rosto
olhando para você.

Era? Olhei para Lia e vi Lia. Eu sabia que nossa família


era a mesma. Finn provavelmente também era, mas para
alguém como Bauer, que não me conhecia e realmente não
conhecia bem minha irmã, deveria parecer estranho. Mas esse
era o problema de ser gêmeo, não era? Nós éramos uma
novidade.

— Acho que já estou bem acostumada com isso agora.

Ele assentiu.

— Bauer, — eu disse gentilmente. — O que você quer? Eu


sei que você não veio falar sobre os meandros de ser um gêmeo
idêntico.

— Bem... — Ele fez uma pausa e me deu um sorriso torto.


— Eu meio que fiz.

Minha testa franziu. — O que você quer dizer?

— Eu preciso que você finja ser Lia novamente.

— Você... o quê?
Ele ergueu os ombros e abriu a boca para dizer algo
quando Lia entrou pela porta. Seus olhos se arregalaram
dramaticamente ao ver Bauer, então eles viraram para mim e
piscaram algumas vezes ao ver meu pijama.

Bauer cruzou os braços sobre o peito e apontou um olhar


seco em sua direção.

Ela tirou a mochila do ombro e a deixou cair com um


baque no chão. — Merda. — Ela sussurrou.

— Bem-vinda em casa, Lia, — ele disse calmamente. —


Aposto que sua noite não foi tão emocionante quanto a minha.
Bauer

FRUSTADO com estas irmãs Ward e a conversa que


estava prestes a ter com as duas, eu nunca fiquei tão feliz em
ver Lia em todos esses anos que a conheço. Porque se ela não
tivesse entrado por aquela porta, eu poderia não ter
conseguido evitar me aproximar de Claire novamente, só para
ver o que ela faria.

Se eu pensava que ela estava bem em um vestido


amarelo, o que ela era capaz de fazer com shorts de algodão e
uma camiseta era um milagre de tecido.

Mas, em vez de encará-la como queria desesperadamente,


mantive meu olhar fixo em sua irmã gêmea. Aquela que
encontra meu olhar de frente, sem desculpas.

— Onde você esteve? — Claire perguntou a sua irmã


gêmea. — Eu pensei que você estaria em casa horas atrás.

Lia desviou o olhar de mim. — Eu conheci Catherine


Atwood, e começamos a conversar... — Ela apontou uma mão
para mim. — Podemos discutir por que essa pessoa está em
nosso apartamento sendo que nunca esteve em nosso
apartamento, por favor?
— Sim, vamos fazer isso, — eu concordei. — Eu adoraria
falar sobre o motivo de eu estar aqui.

— Por que você foi no lugar de Finn? — Lia perguntou,


trocando um olhar carregado com a irmã. Era um visual duplo,
se alguma vez vi um, algo que eu era completamente incapaz
de decifrar. Claire podia, no entanto, porque ela deu um leve
aceno de cabeça.

Eu fiz uma careta na troca. — Oh não, eu não acho que


essa seja a primeira pergunta que será respondida hoje à noite.

Lia fez uma careta de volta, mas ela não discutiu.

Com as duas em pé à minha frente, tive que lutar contra


o quão desconcertante era ter essa imagem no espelho.

Eu pratiquei o que ia dizer sob a suposição de que Claire


seria minha única audiência. Adicione sua irmã, com quem eu
me dou tão bem como com um canal radicular, e isto só ficou
um pouco mais complicado.

— Não que eu lhe deva essa explicação, — eu disse. —


Desde que fui eu quem fiz a troca, mas Finn está em casa com
uma gripe masculina.

Lia inclinou a cabeça. — Um homem pode chamar uma


gripe assim? Tenho certeza de que é apenas para as mulheres
que precisam lidar com eles.

— Por que isso? Eu não me enrolo embaixo das cobertas


como uma putinha quando fico resfriado.
Ela soltou um suspiro duro dos lábios. — Não? O que você
fez da última vez que teve um resfriado?

— Ganhei um convite e recebi um cheque gordo.

Lia revirou os olhos.

Agora foi a vez de Claire fazer uma careta, exceto que


curiosamente, ela não fez uma careta para mim. Foi destinado
a sua irmã.

Isso teve um sorriso se espalhando pelo meu rosto. —


Princesa, não há necessidade de ficar chateada com ela. Lia
sempre foi minha maior apoiadora.

— Princesa? — Lia perguntou, incrédula.

O rosto de Claire ficou colorido. — Tudo bem, Lia sabe


por que Finn não apareceu. Agora, se você quiser nos contar
por que está aqui, podemos deixar você continuar sua noite.

— Você não vai gostar. — Eu disse a ela.

— O que é isso? — Elas disseram em perfeita, perfeita


sincronia. O tom, a inclinação da cabeça, o ligeiro
estreitamento dos olhos azuis.

— Isso é tão estranho. — Eu balancei minha cabeça. —


Não é de admirar que você tenha enganado Adele e meu pai.

Lia sorriu para a irmã. — Eu disse que você poderia fazer


isso.
Claire gesticulou para mim. — Ele soube imediatamente,
no entanto.

— Você não sabia. — Disse Lia.

— Eu absolutamente sabia. — Fiz um gesto de volta para


Claire. — Vocês duas podem ser parecidas, mas quando
alguém é colocado em uma posição surpreendente, você não
pode mascarar essa reação imediata. — Elas compartilharam
outro olhar. Claire interrompeu quando suas pálpebras se
fecham. — Ela estava preparada para fingir na frente dos meus
pais. Eu, no entanto, era o curinga.

— Esse é um papel em que você se sente confortável. —


Murmurou Lia.

— Lia. — Disse Claire bruscamente.

Lia apertou sua mandíbula teimosamente, suas


bochechas coraram um pouco de vermelho com a repreensão,
e eu realmente fiquei impressionado sobre o que aquela
palavra fez comigo.

Seu rosto não revelou muito quando o estudei, e Claire só


permitiu um rápido olhar em minha direção depois que o fez.
Não me deu nenhum sorriso de encorajamento, nenhuma
piscada, nenhum olhar conspiratório.

Mas essa palavra foi o suficiente para me dar esperança


de que ela diria sim a esse plano maluco, e não apenas isso,
mas também seríamos capazes de realizá-lo.
— Independentemente do meu papel durante esta noite
inteira, — continuei. — todo o objetivo da presença de Lia era
impressionar um Richard Harper e Claire fez isso muito bem.
— Eu levantei minha mão para reprimir o que Lia ia dizer. —
Tanto que ele nos convidou, incluindo meus pais, para ir à sua
casa em Vancouver por uma noite, para que ele possa aprender
mais sobre o centro. — Meus olhos cortaram para Claire. — E
saiba mais sobre nós.

Um silêncio atordoado encheu a sala. Os olhos de Lia


estavam fixos em sua irmã tão intensamente que eu quase me
senti... protetor de Claire. O que ela estava tentando fazer? Ler
os pensamentos de Claire?

E Claire... sua boca ficou aberta quando toda a cor foi


drenada lentamente de seu rosto. — O quê? — Ela sussurrou.

— Então, agora tenho que ir com você para algum lugar


durante a noite? — Lia perguntou calmamente.

O rosto de Claire se fechou, como se ela tivesse derrubado


uma cerca. Lia chegar a essa suposição não era surpreendente,
no mínimo. Era a lógica. Claire conseguiu, aproximadamente
por uma hora, fingir ser Lia em frente ao meu pai e madrasta,
mas de um dia para o outro era um jogo completamente
diferente.

— Você não, — disse a ela. Eu apontei para Claire. — Ela


tem.

Claire levantou uma mão trêmula para cobrir a boca.


— Você não pode pedir isso a ela. — Argumentou Lia.

Inclinei minha cabeça para o lado. — Por que não? Você


pediu.

O olhar no rosto de Lia com a minha resposta foi o que


tirou Claire de seu estupor atordoado, e ela se colocou entre
nós. — Ok, pare. Isso não ajuda ninguém agora. — Ela mirou
a irmã. — Você deixa ele explicar. — Ela virou um olhar de
aviso em minha direção.

Foi intenso. Então, eu sorri. Ela era como uma


combinação de princesa-professora que encaixava com todas
as malditas qualidades que eu poderia pensar que tornava
uma mulher atraente. Talvez nunca tenha achado essa
combinação atraente antes desta noite, mas diabos, eu achei
agora.

Eu queria bagunçar seu cabelo, apertar seus botões.


Deixá-la toda irritada para ver o que faria. Talvez ela não
estivesse muito longe da analogia do parquinho, porque algo
nela me fez pensar em uma criança que puxava as tranças de
uma garota bonita só porque ele gostava dela. E eu queria
puxar aquelas tranças com força.

— Não há muito a explicar, princesa.

— Oh meu Deus, eu vou vomitar se você continuar a


chamando assim, — murmurou Lia. — Ela tem um nome, você
sabe.
Claire pressionou as pontas dos dedos contra as
têmporas, como se estivesse com dor de cabeça. Eu ignorei Lia.
— E não há muito o que explicar, porque a natureza da
conversa de Claire com Richard e a parte da conversa em que
participei, torna impossível para você aparecer lá como você,
Lia.

Ela estreitou os olhos. — Por que isso?

O rosto de Claire estava um tom doentio de branco agora.

— Você quer contar a ela ou eu conto? — Eu perguntei a


Claire.

Ela me deu um olhar incrédulo.

— Certo. — Eu me virei para Lia. — Claire falou com


Richard antes de saber quem ele era, e é do meu entendimento
que a coisa que ela conversou, como Claire, o surpreendeu
positivamente.

Ninguém disse nada porque Lia podia ler a miséria


gravada no rosto de sua irmã gêmea e sabiamente manteve a
boca fechada, e Claire apenas parecia estar tentando não
desmaiar, porque sabia que estava verdadeiramente presa.

— Alguma coisa sobre desenvolvimento infantil, não é


mesmo? — Eu perguntei. — Eu peguei o final da sua conversa
enquanto caminhava.

Claire assentiu lentamente.


Os olhos de Lia se fecharam em entendimento, e ela
murmurou uma maldição baixinho.

— Aparentemente, você tocou em um ponto pessoal com


o que disse. O lembrou de sua própria infância, mas a maneira
como você falou o intrigou sobre como uma jovem mulher como
você, combinada com seus recursos e a do centro comunitário,
poderia causar impactos positivos na vida de uma criança que
poderia ter tido o tipo de educação que ele teve.

O rosto de Claire se afiou com interesse. Surpresa


agradável. — Realmente?

— Realmente.

Seu sorriso foi lento para começar, lento para se


construir, mas, caramba, era lindo quando cobriu totalmente
o rosto. — Isso é incrível.

— Adele certamente pensa assim. — Eu estremeci. —


Embora eu tivesse que dizer a ela qual gêmea você era, quando
ela não conseguiu entender por que uma estudante de
literatura inglesa — olhei fixamente para Lia. — Estaria
fazendo referência a estudos de desenvolvimento infantil.

— Ela ficou brava? — Lia perguntou.

— Você está de brincadeira? — Eu sorri. — Nesse ponto,


ela não poderia nem ficar chateada comigo por estar presente
quando sua pequena troca de gêmeos lhe trouxe este tipo de
qualidade de tempo com Richard.
Claire parecia mais calma agora, olhando para frente e
para trás entre sua irmã e eu. — Então entendo por que eu
preciso estar lá, mas sem ofensa, por que você tem que estar
lá? Não posso simplesmente ir com Adele e seu pai?

Esfreguei meu peito. — Ai, já está tentando me excluir?

— N-não, — ela gaguejou. — Eu só... estou tentando


entender o seu papel em tudo isso.

Eu abaixei minha voz, como se estivéssemos dançando de


novo. — Você não se lembra do que ele me disse enquanto se
afastava?

Sua testa franziu por um momento. Então clareou. A boca


dela se abriu novamente.

— O quê? — Lia perguntou. — O que ele disse?

— Filho da puta. — Claire sussurrou tão baixo que eu


mal consegui ouvir, mas ouvi. Comecei a rir.

— Alguém me diga!

— Nada terrivelmente emocionante, — disse a Lia. — Eu


vou como namorado. O infame namorado snowboard que
Richard está muito animado para conhecer.

— Você o quê?

Claire parecia desesperada. — Por que ele não pode ter


uma reunião com eles como uma pessoa normal?
— Porque as pessoas ricas fazem coisas estranhas,
princesa. — Dei de ombros. — Ele não estará em Seattle
amanhã e, aparentemente, um pouco de tempo de qualidade
com você, comigo e meus pais parece sua ideia um fim de
semana de trabalho.

— Por que você está dizendo sim a isto? — Lia me


perguntou. — Você e Adele mal aguentam estar na mesma sala
juntos. Você não fez nada para ajudar seus pais ou Finn desde
que eu estou por perto.

Claire olhou para mim com uma calma consideração no


rosto.

Eu senti deslizar para cima e sobre todo o meu corpo,


uma roupa de ferro que só eu podia ver. — Quem disse que
estou fazendo isso para ajudá-los? Talvez eu queira um fim de
semana em uma casa grande nas montanhas onde tenho a
dificuldade de fingir namorar uma mulher bonita. Existem
maneiras piores de gastar meu tempo.

— Eu ouvi tudo sobre como você gasta seu tempo, — Lia


jogou de volta. — Toda a internet sabe, e confie em mim, não é
bonito.

Eu respondi com uma cara perfeitamente séria. — E tudo


o que você vê na internet é verdade.

— Bauer, — disse Claire. — Deixe-me levá-lo à saída.


Preciso falar com você sobre isso sozinha. — Lia começou a
discutir, mas Claire a silenciou com um único olhar.
Eu assobiei. — Droga, eu preciso aprender esse truque.

— Não é útil. — Claire retrucou.

Segurando minhas mãos em sinal de rendição, esperei


pacientemente que ela vestisse um moletom e uns chinelos
felpudos rosa para que pudesse me levar até o estacionamento.
Lia pegou sua mochila e me deu um olhar tão frio quanto já
tinha visto.

— Obrigado por enviar uma substituta esta noite. — Eu


disse a ela.

Ela me deu o dedo médio e saiu da sala de estar.

— Ela realmente gosta de mim. — Eu disse a Claire


enquanto a seguia do apartamento.

Claire olhou para mim de lado através de cílios longos e


escuros. — Eu acho que se você fosse o Bauer que eu vi esta
noite, ela realmente o faria.

Eu rolei meu pescoço. — Duvido.

— Por quê?

— Muitos anos estabelecendo padrões dificultam sua


quebra, princesa. Todos nós temos nossos papéis nessa
família, e sei exatamente qual é o meu. Até Lia, como amiga do
meu irmão, tem seu papel. — Eu segurei a porta aberta para
ela quando saímos para o ar da noite. Tinha esfriado
consideravelmente e, mesmo com a camiseta, ela estremeceu.
— Você prefere conversar no lobby?
Ela balançou a cabeça. — Está tudo bem. Só não achei
que estaria tão frio.

Eu olhei para o céu negro e escuro. Cheirava a frio e me


fez sentir falta das minhas montanhas. — Frente fria
chegando, eu acho.

Nos aproximamos do meu jipe, e seus passos diminuíram


enquanto me apoiava no capô. — Eu não acredito em você.

Sua voz era tão baixa e despretensiosa, que tive que


tomar um segundo e processar o que ela havia dito.

— Sobre o quê?

— Que não faria nada para ajudá-los. — Seu olhar era


direto. — Eu não acredito em você.

Eu apertei minha mandíbula. — Não importa se acredita


em mim ou não. Fazer amizade com alguém como Richard
Harper só pode me beneficiar em minha... situação.

Ela cantarolou.

Internamente revirei os olhos, porque não deveria me


surpreender que uma pessoa legal tentasse colocar boas
motivações em mim. — Você fará isso? — Eu perguntei. —
Porque fui convidado apenas porque o homem com o dinheiro
me quer lá como seu braço de atleta.

Claire revirou os lábios entre os dentes e olhou além do


meu ombro enquanto pensava. Depois de um momento
impossivelmente longo, ela finalmente voltou sua atenção para
mim. — Uma noite?

Eu assenti. — Apenas o tempo suficiente para ele mostrar


sua mansão, nos estudar como espécimes raros e decidir se
vai fazer meus pais incrivelmente felizes.

Ela soltou uma risada seca, depois esfregou a testa. —


Bauer. — Sua voz sumiu. O que havia nela? Apenas dizer meu
nome assim me fez querer cair de joelhos à sua frente e aceitar
qualquer coisa que ela me desse. Aparentemente, o meu fetiche
por uma boa menina era profundo, e eu não percebi isso até
agora.

— Eu terei meu próprio quarto.

Eu pisquei, sem esperar isso. — Vou passar esse pedido


ao nosso anfitrião.

— E você não pode agarrar minha bunda só porque eles


acham que estamos namorando.

Meu sorriso foi instantâneo. — Ok.

Ela lambeu os lábios. Seus olhos estavam arregalados e


nervosos, e ela colocou um fio de cabelo atrás da orelha. — E
você não pode me beijar.

Inclinei minha cabeça para o lado e a estudei. Essa era


uma promessa que eu não queria fazer. As palavras
literalmente não saíam da minha boca. Afastando-me do jipe,
dei um passo mais perto dela. Ela se manteve firme, erguendo
o queixo ao me aproximar. — E se você me pedir? — Disse
calmamente. — Então, eu posso?

Claire exalou trêmula. — Eu não vou fazer isso.

— Não? — Cuidadosamente, toquei meu polegar na curva


do seu queixo. Ela balançou a cabeça e minha mão caiu.

— Talvez você não queira, — eu disse a ela. — Mas me


ouça agora, princesa. Eu adoraria que me pedisse um beijo.

Depois de um momento, Claire engoliu em seco e se


afastou de mim. Senti o passo, a distância que ela colocou
entre nós, como um soco nas bolas.

— Partimos amanhã? — Ela perguntou.

Ahh, é assim que isso aconteceria. Eu derrubei meu


queixo no peito e tive que expirar profundamente. — Sim. —
Eu levantei minha cabeça. — Eu vou buscá-la às oito.

Ela começou a andar para trás, mas seus olhos


permaneceram firmes nos meus. — Vejo você às oito.

Eu não me mexi até que ela estivesse lá dentro, subindo


a escada, e vi sua sombra se mover atrás das cortinas fechadas
da sala de estar. Eu olhei para o meu relógio. Eu a veria em
menos de onze horas. Então sorri. Esperançosamente, ela não
me mataria quando percebesse que estávamos indo de carro,
mas todos estavam voando.
Eu não era estúpido. Se a viagem de três horas para
Vancouver fosse o momento mais honesto que teria com ela...
eu seria um idiota em não aceitar.
Claire

PELA DÉCIMA SÉTIMA vez naquela manhã, revirei os


olhos enquanto enfiava a quarta roupa desnecessária em
minha mochila.

— Por acaso não conhece o perfil social dele, não é?

Respondi com o mesmo nível de paciência que tive com


as dezesseis perguntas anteriores sobre Bauer. — Não, Paige,
não conheço.

Tudo o que ela viu na tela do telefone fez com que


aproximasse o celular ainda mais no rosto. Minha irmã Isabel,
mais velha que Lia e eu, por dois anos, espiou por cima do
ombro e cantarolou apreciativamente.

Paige, nossa cunhada — mas para todos os efeitos nossa


mãe de aluguel — olhou para ela. — Nós não fazemos barulhos
apreciativos sobre homens que estão fugindo com Claire
durante a noite para mansões.

— Sim, mas olhe para ele, — Isabel murmurou. — Eu


deixaria ele fugir comigo a qualquer momento.
Engoli em seco quando ela disse isso, porque era fácil
imaginar Isabel com alguém como Bauer. De nós quatro, Isabel
era a mais atlética. Nos últimos quatro anos, ela administrou
um estúdio e academia de kickboxing, fazendo sessões de
treinamento pessoal por dinheiro extra, e parecia o tipo de
mulher que namoraria um snowboarder profissional.

Com seu senso de humor seco, Isabel seria capaz de


acompanhar Bauer facilmente. Cuidadosamente, sem me
permitir um pingo de curiosidade pelo que elas estavam
olhando, coloquei meu short do pijama no canto superior da
bolsa. — Não é como se isto fosse ideia dele, — disse à elas. —
Por que é necessário vocês estarem aqui, mesmo?

— Apoio moral. — Disse Paige.

— Você está brincando? Quero conhecer Bauer, — Isabel


interrompeu. — Você vai fingir ser a namorada dele, sua
pirralha.

— Por favor, pare de dizer isso. — Quando puxei o zíper


com um pouco de força, assobiei uma respiração. — É uma
noite, e enquanto não estiver andando por aí lhe dando um
soco na garganta, a extensão de fingir alguma coisa é que eu
responderei por um nome diferente do meu.

— E se isso é tudo o que você fará com Bauer 'The Hawk'


Davis, — a ênfase que ela colocou em seu nome profissional
me fez querer arrancar os olhos da minha irmã mais velha. —
Durante esta noite, eu vou pedir para você checar se tem
deficiência mental.
Paige pigarreou. — Eu estou bem aqui.

Iz revirou os olhos. — Como se não tivéssemos


conversado sobre algo pior.

— Eu sei, — disse Paige. — Mas é Claire. Ela e Lia são


meus bebês. Recuso-me a acreditar que vocês duas realmente
envelheceram além dos adoráveis anjinhos que vocês eram
quando me casei com seu irmão.

Eu congelei. Isabel congelou. Paige realmente fungou.

Eu me aproximei dela lentamente, essa mulher que todas


nós amamos tanto. A mulher que lutaria com o mundo por
nós, se precisássemos dela, que estava chorando por uma
memória de minha irmã e eu que era absolutamente,
terrivelmente distorcida. Chamamos isso de distorção
cognitiva por uma razão.

Minha mão pousou em suas costas suavemente, e eu a


movi em círculos suaves. Paige exalou trêmula, passando a
mão sobre o rosto. Eu murmurei: — Por que ela está chorando?
— Para Isabel, e ela deu de ombros.

— Paige? — Eu disse. Ela fungou novamente. — Você...


você se lembra de nós, de mim e Lia, desde quando se casou?

Da cozinha, Lia caiu em uma gargalhada histérica.

Paige sorriu, seus ombros afundando quando sua rara


explosão de emoção aquosa secou. — Vocês eram terrores,
criadas com o único propósito de destruir minha sanidade.
Eu assenti. — Testar os limites de alguém novo no papel
de pai é completamente normal no desenvolvimento e é
esperado para situações como essa.

Apoiando o ombro no batente da porta, Lia se juntou a


nós, assistindo a cena com um sorriso. — Fiz alguns dos meus
melhores trabalhos nos primeiros meses em que você esteve
por perto.

— Lembra do lagarto no chuveiro? — Eu perguntei.

O rosto da minha irmã assumiu uma qualidade


sonhadora. — Os gritos dela foram lindos. — Paige revirou os
olhos, o que fez Lia rir com vontade.

Ao ver seu sorriso, senti algo desenrolar dentro de mim.


Um alívio frio porque durante toda a manhã dançamos em
volta uma da outra. Quando ela estava no limite, não pude
deixar de absorver parte dessa energia. Era o mesmo com ela.

Nosso desconforto pode ter nascido de lugares diferentes,


mas eu poderia dizer que estivemos fazendo isso em particular
durante a toda a noite passada e início desta manhã porque
não precisávamos aumentar nosso suprimento atual
adicionando inconscientemente o da outra pessoa.

Lia estava inquieta porque um plano relativamente


inocente havia se transformado em algo muito maior. Ela não
podia ajudar essas pessoas que amava e ainda estava irritada
com o amigo por não dar a ela (e por extensão a mim) um aviso.
Tudo isso a deixou se sentindo desconfortável e fora de
controle.

Eu sabia porque podia sentir as bordas disso. Como se


ela tivesse entrado na água, e essa água estivesse batendo
contra mim.

Eu estava desconfortável, porque estava prestes a passar


vinte e quatro horas com os pais de Finn, que sabiam que eu
menti para eles. Porque um cara rico ficou impressionado com
meu conhecimento aleatório, até agora inútil, do
desenvolvimento infantil. E porque ontem à noite, parado no
estacionamento, Bauer Davis basicamente me disse que queria
me beijar, e que estava inteiramente sob meu controle fazer
isso acontecer.

Sim. Isso não era nada que eu precisava que Lia


absorvesse. Já era bastante difícil e levou tempo suficiente
para aprimorar minha capacidade de não ser influenciada
emocionalmente quando Finn estava por perto, porque eu não
queria que ela sentisse isso.

Isto era outra coisa. Não maior, — porque minha paixão


por Finn, que não era o problema no momento — porém grande
de uma maneira diferente.

Paige e Lia começaram a trocar histórias, e eu lentamente


abaixei minha mão de onde ainda estava descansando nas
costas de Paige porque eu não tinha pensado em Finn
nenhuma vez desde que saí com Bauer na noite anterior. Nem
uma vez.
Seu meio-irmão, ousado e sem desculpas, tatuado,
destemido e completamente oposto dele em todos os sentidos,
queria me beijar e provavelmente teria a oportunidade se
quisesse, e eu não havia pensado em Finn uma vez.

Não foi fácil, mas tentei reprimi o sulco confuso da minha


testa enquanto fazia minha cama, simplesmente para me
ocupar de uma maneira que não mostrasse meu rosto. Minhas
irmãs conversaram, alheias à maneira como meu cérebro
começou a girar em círculos, balançando perigosamente de
surpresa ao perceber isso.

— Claire, — disse Iz. — Terra para Claire.

Depois de puxar uma última ruga na minha colcha, alisei


meu rosto também e me virei. — Desculpe, o quê?

— Você tem meias grossas embaladas? — Paige


perguntou.

Eu pisquei. — Umm. Eu tenho meias normais embaladas,


por quê?

— Está frio lá, e deve nevar.

Esfreguei uma mão em minha testa. — Neve? É


primavera.

— São as montanhas, — disse Paige. — Você deve levar


meias de lã.

— Estarei em uma mansão, pessoal. Tenho certeza de que


vai ter calor.
Iz sorriu. — Bauer pode manter seus pés quentes.

Por falar em calor, meu rosto provavelmente estava


vermelho brilhante. Lia zombou. — É melhor não.

— Isso mesmo, é melhor não. — Disse Paige.

Isabel sorriu para mim. — Tenho certeza que isso


depende de Claire, não de vocês duas.

— Claire não gosta de caras como Bauer, — argumentou


Lia. — Ela gosta de seus homens sãos e gentis, educados e não
sujeitos a xingar alguém bêbado.

Eu levantei minhas mãos. — Ok, chega. Bauer não é


necessário para manter qualquer coisa quente. Eu tenho
mantido meus próprios pés bonitos e quentinhos sozinha,
muito obrigada.

Lia sorriu. — Se você diz.

Isabel bateu um dedo no queixo. — Eu preciso de um


novo aquecedor de pés. O meu quebrou na semana passada.

— Eu tenho seu irmão. — Paige disse com um sorriso


impenitente.

— Nojento. — Nós três respondemos em perfeito


uníssono.

Pressionei minhas mãos nas bochechas ardentes. — Ok,


ele estará aqui a qualquer momento. Por favor... apenas... não
me envergonhe, Paige.
— Eu? — Seus olhos se arregalaram dramaticamente.

— Não há chance de você pegar Iz e sair antes que ele


chegue aqui, existe?

Isabel passou um braço em volta dos ombros de Paige. —


Ela não tem chance de me arrastar deste apartamento.

Paige olhou de soslaio para ela. — Eu ainda posso te


levar, você sabe.

Iz bateu na cabeça dela. — Não, você realmente não pode.

Lia olhou para Iz. — Eu não sei por que você está tão
animada em conhecê-lo. É apenas o Bauer.

— Porque ele é um snowboard de classe mundial, —


respondeu Iz. — Você viu a cortiça tripla dele nos X Games no
ano passado?

Lia suspirou. — Não.

— Essa não é uma razão para deixá-lo aquecer Claire...


— Paige fez uma careta. — Tanto faz. Nós não idolatramos os
atletas nesta família, lembra? Eles são apenas pessoas
normais...

— Que fazem trabalhos anormais. — Terminamos


rotineiramente.

O telefone de Paige tocou e ela levantou a tela para ler o


que havia nele. — Por exemplo, o seu irmão, o jogador e
treinador de futebol de classe mundial, não consegue descobrir
como usar a máquina de lavar roupa.

Paige estava certa. Normalmente, nenhuma de nós


gostava de atletas profissionais porque estivemos com eles a
vida toda. Entre o meu irmão e os anos que ele jogou no
Washington, e nossa irmã mais velha, Molly, que estava
namorando outro membro famoso da lista do Washington
Wolves, Noah Griffin, dividimos muitas refeições com pessoas
que ganhavam uma vida extremamente generosa jogando.

Quando olhei para o meu relógio, soltei um suspiro


profundo, porque ele estava alguns minutos atrasado.

A campainha à porta tocou e nós quatro congelamos. —


Eu atendo. — Eu disse calmamente.

Lia exalou. — Eu vou me esconder no meu quarto. Não


preciso testemunhar essa loucura.

— A loucura que é sua culpa, você quer dizer. — Isabel


sussurrou baixinho.

Quando ela saiu do meu quarto, estreitou os olhos


perigosamente na direção de Isabel.

Paige me deu um sorriso encorajador. — Vai ficar tudo


bem. Prometo ser legal.

Peguei minha mochila e travesseiro, girando


mentalmente meus ombros para qualquer show de circo que
estivesse prestes a acontecer. Por um momento, me senti mal
por não ter preparado Bauer para o pelotão de fuzilamento
formado por uma só mulher.

Isso durou apenas um segundo, porque os outros


noventa e nove por cento de mim, sabiam que seria incrível vê-
la derrubá-lo. Ele com certeza estava me desequilibrando
desde o momento em que se virou naquele smoking.

— Pode subir. — Eu disse no alto-falante.

— Você nem se certificou de que era ele, — Paige


assobiou. — E se for um traficante sexual?

— Tocando a campainha às oito da manhã de um sábado?


— Eu perguntei. — Você pensaria que um traficante tocaria a
campainha do nosso apartamento no sábado de manhã?

Ela fungou. — Um educado, talvez.

Isabel estava rindo quando abri a porta para Bauer.


Então sua risada parou. Paige xingou, e meu estômago se
enrolou em quarenta e sete nós.

Porque Bauer de smoking era bom o suficiente, mas não


o verdadeiro. Agora, eu estava vendo o verdadeiro Bauer.

— Bom dia, princesa. — Disse ele. Sua voz era rouca e


grossa, como se não a tivesse usado muito desde que acordou.

Em jeans desbotados e rasgados, um gorro cinza escuro


cobrindo o cabelo e uma Henley16 preta esticada sobre o peito,

16 Marca de camisas masculinas.


mangas levantadas para revelar as tatuagens em seus
antebraços musculosos, eu oficialmente senti as borboletas
causadas por Bauer.

— Claire, — Paige sussurrou em meu ouvido. — Vá


colocar aquelas meias de lã em sua mochila, ou eu farei isso
por você, mocinha.

Fiz um sinal para ela voltar. — Entre, — eu disse a Bauer.


— Ignore-as.

— Parece altamente impossível. — Seu sorriso era largo e


encantador, e caramba, ele tinha covinhas que eu não havia
notado na noite anterior. Com a mão estendida, eu assisti
Isabel derreter como manteiga, e Paige mudar o jogo para o
modo mãe superprotetora. — Bauer. Quem eu tenho o prazer
de conhecer?

— Isabel, uma das irmãs mais velhas. — Iz deu a ele um


sorriso amigável. — Eu sou uma grande fã, Bauer. É um prazer
conhecê-lo.

Ele largou a mão dela e se virou para Paige. — E você, eu


reconheço. Paige Ward, esposa do irmão mais velho.

Paige apertou sua mão e eu reprimi uma risada quando


percebi o brilho em seus olhos. — Torna mais fácil que você
me reconheça.

— Torna?
Ela assentiu agradavelmente. — Dessa forma, se você
machucar um fio de cabelo da cabeça dela, saberá exatamente
quem o enviará à sua morte dolorosa e sangrenta.

Bauer congelou. — Certo. Isso facilita as coisas.

Algo sobre toda essa troca me fez querer me esconder no


quarto de Lia com ela.

Bauer era muito charmoso à luz do sol que vinha com


esse novo dia. Ele era muito grande, tatuado, musculoso e...
também Bauer, para eu ir a qualquer lugar com ele que
envolvesse compartilhar o mesmo teto.

Agora eu estava pensando em Finn. Porque ele teria sido


educado e doce. Modesto. Ele teria pegado minha bolsa e me
chamado de Claire, e seria reconfortante porque eu sabia o que
esperar dele.

Enquanto Isabel fazia algumas perguntas a Bauer sobre


snowboard, ele me deu uma pequena piscada; minha cabeça e
meu coração estavam gritando para eu não sair deste
apartamento com ele.

Os instintos tocavam como uma sirene de tornado. Minha


mão apertou a alça da minha mochila até meus dedos
começarem a formigar devido à perda de fluxo sanguíneo.

Eu não podia fazer isso. Se eu não fosse capaz de passar


uma noite inteira perto dele, uma noite inteira fingindo ser
minha irmã, definitivamente não poderia fazer isso por uma
noite inteira. Com ele.
— E você tem bons pneus de neve? — Paige perguntou a
ele. — Porque você pode encontrar mau tempo.

— Esse mau tempo é ao norte de onde eles estão indo, —


disse Isabel. — Ignore-a, Bauer. Ela é assim com todas nós.

Bauer colocou a mão no peito. — Meu jipe aguenta


qualquer coisa, prometo. Tenho pneus excelentes.

— Você se importa se eu rapidamente tirar uma foto da


sua carteira de motorista? — Paige continuou. — Apenas no
caso de...

Ele inclinou a cabeça. — Umm, sim?

— Por quê? Algo a esconder?

— Tudo bem, — eu interrompi. — Paige, acho que ele


entendeu.

— Acredite em mim, — disse Bauer, sério. — Estou bem


ciente de quão preciosa minha carga é. — Revirei os olhos.

Paige, no entanto, parecia satisfeita. — Você está certo.

Colocando a mão no ombro da minha cunhada, apertei


em aviso. — Obrigada, Paige.

Eu olhei para ela. Ela me deu um olhar de volta. Se não


saíssemos logo, ela puxaria uma espingarda do nada e
começaria a limpá-la na frente dele.

— Pronto? — Eu perguntei a Bauer.


Seu sorriso largo continha o menor segredo que era
destinado apenas para mim. Isso fez meu coração disparar
inexplicavelmente. Minha cabeça ainda estava gritando em
aviso.

— Vamos, princesa. Estou pronto desde a noite passada.


Claire

O TRAJETO do meu apartamento até a casa de Richard


em Vancouver durou aproximadamente duas horas e meia.
Aprendi algumas coisas nesse período de tempo relativamente
curto.

1 – Você pode olhar a paisagem de tirar o fôlego durante


a maior parte e viver em negação absoluta sobre o que estava
esperando por você quando chegar à casa de Richard.
Memorize cadeias de montanhas inteiras, cada pico escarpado
e irregular, e imagine-o com detalhes que, se você realmente
soubesse fazer algo como... pintar ou desenhar, passaria
aquelas duas horas e meia pensando em como as pintaria ou
desenharia.

2 – Bauer era, lamentavelmente, um cantor muito bom.


Ele preferia o rock clássico e alternativo como sua escolha de
música, e levou tudo em mim para não enfiar os dedos nos
ouvidos enquanto ele cantava. Sua voz era baixa e suave, sem
frescuras ou enfeites sofisticados, mas fazia os cabelos da
minha nuca se arrepiarem e, portanto, eu não gostei.
3 - Ele também estava enlouquecendo implacavelmente
ao tentar me envolver em conversa, mesmo que estivesse
fazendo o meu melhor para ignorar sua existência até que não
tivesse outra escolha. Demorou até os últimos trinta minutos
de nossa viagem até eu finalmente ceder.

— Então, princesa, quando começamos a namorar?

Ignorando o galope instável do meu coração quando ele


perguntou isso, mantive minha voz calma e sem emoção toda
vez que ele perguntou algo que me sentia forçada a responder.

— Vamos com seis meses.

— Seis meses, então. — Ele concordou facilmente.

Duas músicas depois — músicas que ele conhecia a


harmonia — ele tentou novamente. — O que mudou?

Desviando meus olhos das montanhas, deixei


relutantemente que meu olhar se voltar em sua direção. O que
foi um erro, porque Bauer, de camisa, calça jeans e gorro, com
aquele cenário e aquele cabelo escuro ao longo de sua
mandíbula, era como algo arrancado da Rugged Man
Magazine17, e eu não estava aqui para isso.

Não para isso. Em absoluto.

Ele gesticulou entre nós quando não disse nada. — Entre


nós. O que mudou? Seis meses atrás, quero dizer.

17Revista para homens, homens rudes, que gostavam de guerra e coisas viris; além de um pouco de
escravidão, tortura, etc.
Minha boca se abriu. — Eu não sei. Isso importa?

O encolher de ombros de Bauer foi descuidado. — Sim,


isso importa. Se eu estou saindo com um casal que me
interessa, e começo a fazer perguntas sobre o relacionamento
deles, gostaria de saber o que mudou, considerando que nos
conhecemos há anos.

— Bem, — eu disse, — você e eu apenas... não sei...

— Obrigado por provar meu ponto de vista sobre por que


precisamos de uma resposta.

Eu olhei para ele. — Eu apostaria dez dólares que ele não


perguntará o que mudou entre eu e você.

— Eu e Lia, — ele corrigiu levemente. — Lembra?

Engolindo, assenti. — Certo. Você e Lia.

— Quero dizer, deve haver um momento, — disse ele. —


Talvez eu estivesse passando a noite na casa dos meus pais.

Fechei os olhos. Eu não queria jogar esse jogo com ele.


Não queria imaginar o que ele tinha em sua cabeça, porque
provavelmente era vívido.

— Pensei que você nunca ia para casa.

— Raramente, — reconheceu Bauer. — Eles não me


lançam exatamente o tapete de boas-vindas.

Ficar quieta parecia uma escolha mais segura, porque


minhas opções eram contribuir para a pequena história que
ele estava inventando ou o permitir contar uma história de sua
própria autoria.

— Então eu provavelmente me esgueirei tarde, porque


precisava de um lugar para ficar. — Ele bateu o polegar no
volante e o sol brilhou no sólido anel de prata que ele estava
usando. — Você não conseguia dormir, então eu te encontrei
na cozinha, olhando para a geladeira.

Cuidadosamente, dobrei os joelhos até o peito e passei os


braços em volta das pernas. Eu não queria imaginar isso.
Porque de repente, de alguma forma, parecia muito pior se ele
estivesse colocando Lia em sua mente, em vez de mim.

Minha escolha segura não parecia mais tão segura. —


Ninguém vai perguntar isso. — Eu disse calmamente.

Bauer me ignorou. — Talvez você tenha me oferecido uma


bebida porque iria tomar uma. Uma virou duas. Apenas o
suficiente para que você estivesse disposta a diminuir suas
defesas ao meu redor, princesa. Primeira vez que você fez isso,
acho.

Eu levantei uma sobrancelha. — Estávamos bêbados?

— Inferno, não. Estávamos relaxados. Não bêbados. Eu


não durmo com mulheres bêbadas porque, confie em mim,
esse é um mundo totalmente diferente de problemas quando
você acorda na manhã seguinte.

— Esta história está levando a todos os tipos de lugares


românticos.
Ele sorriu. — Em minha mente, você me agarrou e
plantou aquele primeiro beijo nos meus lábios desavisados.
Um beijo ardente também.

Revirei os olhos, mas minhas bochechas estavam em


chamas. — Claro, é assim que funcionaria em sua cabeça.

Bauer lambeu o lábio inferior. — Você tinha gosto de


cerejas. Depois disso, eu fui chicoteado. Eu era seu para
comandar, e nunca olhei para trás.

Voltando o rosto para a janela, tentei alguns exercícios de


respiração profunda com o pensamento de manter aquela
fachada em particular por um único dia. Meu coração estava
acelerado. — Não consigo imaginar que Richard Harper vai nos
interrogar.

Ele riu. — Conversa educada não é um interrogatório.

— Com certeza parece um. — Eu murmurei baixinho.

Ah, ele me ouviu e achou isso hilário. — Sabe, eu gosto


quando você está apenas sendo Claire.

Não, não, eu não sentiria um calor de felicidade pegajosa


com essa afirmação. Quando se é gêmeo, particularmente um
gêmeo idêntico, havia um estranho emaranhado emocional
junto. Inevitavelmente, você está vinculado a essa pessoa pelo
resto da vida. Aos olhos de muitas pessoas, você vem como um
pacote. Amigos no ensino médio e até no início da faculdade,
quando morávamos nos dormitórios, ficavam chocados se
apenas uma de nós aparecesse em um evento.
Claire e Lia.

Lia e Claire.

Pessoas demoram um segundo para terem certeza de que


sabiam com quem estavam conversando. Como se não
fôssemos completamente diferentes sob a superfície da nossa
pele. Na metade do tempo, eu nem tinha certeza se eles se
importavam em saber qual era qual.

Por alguma razão, sentada naquele carro, seguindo meu


cérebro por esse caminho, me fez pensar em algo que Brooke
nos disse há cerca de um ano antes de sair.

Estávamos dirigindo para a casa de Logan. Agora era


difícil lembrar dos detalhes, mas ela queria fazer alguma coisa,
então estava nos deixando na casa dele para que ele pudesse
tomar conta de nós. Lia e eu estávamos brigando no banco de
trás, e porque não podia ouvir sua música por causa do
barulho que estávamos fazendo, ela gritou de volta para irmos
embora.

Por ser incapaz de manter a boca fechada, Lia perguntou


docemente qual de nós precisava ficar quieta.

— Como se isso importasse, — Brooke retrucou. — Eu não


posso nem dizer qual de vocês parece pior agora, ou quem é
mais irritante. O que é o mesmo todos os dias, eu acho.

Ela conseguiu seu desejo, porque nos calou de maneiras


diferentes. Eu senti como se tivesse levado um soco no
estômago dela. O rosto de Lia ficou suave instantaneamente,
mas eu senti sua raiva. Eu senti isso zumbindo sob a minha
pele. As feridas da infância eram profundas, mesmo que você
não pensasse nelas o tempo todo.

— Você está bem? — Bauer perguntou. — Você ficou


assustadoramente quieta comigo.

Foi uma percepção dele, e isso me fez dar-lhe um olhar


curioso. Eu fiquei quieta a maior parte da viagem, mas mesmo
ele, esse homem que realmente não me conhecia, foi capaz de
dizer a diferença em meu silêncio.

Eu dei a ele um pequeno sorriso. — Apenas pensando em


trauma emocional da infância, se você quer saber.

Ele gemeu, se inclinando para a frente para aumentar a


música. — Não. Não vou lá, princesa. Nós não estamos
namorando há tempo suficiente.

Depois de uma hora e meia tentando me envolver em uma


conversa, foi isso que fez o truque. Eu me virei em meu lugar
para avaliar sua expressão facial. — Vamos lá, vou
compartilhar o meu se você compartilhar o seu.

Ele bufou. — Okay, certo.

— Ainda temos uma hora, — eu disse. — Sobre o que


mais devemos conversar?

— Literalmente qualquer coisa. — Ele mudou de faixa


após uma rápida olhada no retrovisor. — Podemos falar de
política, religião, as mulheres que dormi no passado, porque
nunca fiz a coisa de namoro. Vamos falar sobre um desses por
diversão.

Minha cabeça inclinou. — Quantos anos você tinha


quando seu pai se casou com Adele?

Bauer soltou um suspiro duro. — Lembra daquela vez em


que a minha namorada do colegial me traiu? Com meu melhor
amigo? Vamos recapitular isso em detalhes.

Um sorriso se contorceu nas bordas da minha boca, mas


eu o apertei. Ser encantada por sua reticência em falar sobre
a disfunção óbvia de sua família não me faria bem. Mesmo se
ele estivesse admitindo que era um homem honrado.

— Um dia você será uma ótima psiquiatra infantil,


princesa, — disse. — Atormentando essas pobres crianças a
compartilhar seus medos.

— Você é muito habilidoso em desviar o assunto, Bauer.

Ele me deu um sorriso torto. — Eu sou habilidoso em


muitas coisas, confie em mim. Não falar da minha família nem
está no topo da lista.

Revirando os olhos para a insinuação, voltei-me para a


janela. Seattle era linda, mas à medida que avançávamos para
o norte, as vistas pareciam aumentar em grandeza. — Não é
de admirar que você ame isso aqui, — eu disse a ele. — É
incrível.
Não que meu comentário exigisse uma resposta, mas
Bauer não disse nada imediatamente. Então ele soltou um
suspiro lento, do tipo que você daria após um bom
alongamento de ioga ou quando se entra em uma banheira
cheia de água quente atingindo a sua pele pela primeira vez.

Foi o tipo de suspiro que disse que minha alma está à


vontade.

— As montanhas são o único lugar onde não me sinto


preso em uma gaiola.

Antes que eu pudesse comentar sobre isso, a voz suave


em seu telefone nos disse para pegar a saída na estrada. Havia
edifícios à distância, o horizonte de Vancouver visível mesmo
de onde estávamos indo em direção à água, para onde Richard
nos dissera para ir.

— Quando seus pais chegaram?

Ele olhou para a tela do telefone e pensei ter visto culpa


em seus olhos. — Eles voaram com Richard em seu avião
particular há pouco tempo.

Minhas sobrancelhas deslizaram em minha testa. — E


por que não fizemos isso? Poderíamos ter chegado lá em, tipo,
trinta minutos.

— Porque eu não queria ficar preso em um tubo de metal


voador com meu pai e Adele. — Bauer me deu um sorriso
indulgente. — Eu precisava de tempo com minha garota antes
da festa do pijama desta noite.
Eu apontei um dedo para ele. — Eu te disse: quartos
separados.

— E se eu tiver controle sobre isso, seu desejo é uma


ordem. — Ele apontou um dedo. — Mas você sabe tão bem
quanto eu que se protestar demais, vai parecer estranho.

Com um gemido, deixei minha cabeça cair no banco. —


Isso é tão estúpido. Não podemos simplesmente contar a
Richard sobre a confusão?

— Sim, claro que podemos. — Bauer me deu uma olhada.


— Tenho certeza que ele adoraria entregar um cheque a Adele
depois de descobrir que todos mentimos para ele, sabendo
exatamente quem ele era.

— Eventualmente, eles terão que fazê-lo.

— Por quê?

— B-bem, — gaguejei. — Se ele é um grande benfeitor do


centro, ele não virá nos visitar?

— Claro. Sua irmã visita o centro frequentemente? — Eu


fiz uma careta, o que o fez rir.

— Mentir não é divertido, Bauer. Eu não gosto disso.


Sinto-me uma farsa e uma mentirosa, como se estivéssemos
enganando esse homem legal.

— Tudo o que você fará é responder a um nome diferente,


— ressaltou. — Quando você falou com ele pela primeira vez,
você estava fingindo ser Lia?
— Não. — Eu admiti.

A quantidade de casas aumentou à medida que


percorremos a estrada sinuosa, cercada por árvores altas e
vislumbres de água.

— Não, você não estava. Escute, a pior parte disso é que


você tem que fingir que gosta de mim por um dia.

Ele disse isso de maneira irreverente, mas havia uma


margem em suas palavras.

Por um momento, fechei os olhos e tentei imaginar que a


noite tinha acontecido do jeito que eu sonhava. Como seria se
Finn estivesse nos levando para Vancouver, e eu tivesse que
fingir ser sua namorada por uma noite?

E minha mente ficou... em branco. Meu coração estava


quieto.

Ele provavelmente ficaria tão desconfortável com isso


quanto eu. E quanto mais eu pensava nisso, sabia que nunca
estaríamos nessa posição em primeiro lugar, porque ele não
teria se aproximado de mim e deslizado o braço ao redor da
minha cintura enquanto falava com Richard. Ele não teria me
olhado como Bauer. Ele não teria dançado comigo em um
corredor silencioso.

Bauer parou o jipe na entrada da casa de Richard, mas


meu olhar não estava na vista deslumbrante ou na imponente
cabana de madeira. Estava no homem que nos levou em
direção a isso. A pele ao redor de sua boca havia se apertado
um pouco, e seus olhos haviam perdido parte da centelha de
antes. Isso era difícil para ele também, mas de uma maneira
completamente diferente do que era para mim.

Depois de respirar fundo, coloquei minha mão em cima


de onde a dele estava descansando na marcha.

Os olhos de Bauer se voltaram para mim, depois para


nossas mãos. Sua pele era quente e áspera.

— Eu gosto muito de você, Bauer, — disse a ele em voz


baixa. — Eu simplesmente não te conheço.

Suas sobrancelhas se abaixaram sobre os olhos enquanto


estudava meu comportamento repentinamente sério. — Por
que você disse o que disse quando estávamos dançando? — A
questão estava fora da minha boca antes mesmo de perceber
que havia me incomodando.

Isso provocou algo atrás de seus olhos. — O que foi que


eu disse?

— Que Finn nunca dançou comigo assim. — Meu rosto


provavelmente estava vermelho, mas parecia... importante. Se
Bauer estava sendo sincero, e sabia a noite toda que eu era
Claire, então estava falando comigo quando disse isso, não
com Lia. — Porque você disse isso?

Ele teve que desembaraçar nossas mãos para mover o jipe


para o estacionamento, e levou um segundo para encarar a
casa. Então levantou a cabeça, se inclinando na cadeira para
me encarar. — Por que você foi ao jantar para Lia se você odeia
tanto mentir?

Impasse.

Era nisso que estávamos. Se eu contasse a Bauer agora,


antes de entrar nessa performance que estávamos prestes a
tentar, ele se desligaria instantaneamente. Se eu dissesse a ele
que há anos olhava para o seu irmão como o homem perfeito,
o protótipo de tudo o que eu queria, mas os homens com quem
eu namorava sempre eram muito diferentes em comparação.

Não eram inteligentes o suficiente.

Não eram doces o suficiente.

Não eram gentis o suficiente.

Não... Finn o suficiente.

Aqui estava um homem que era exatamente o oposto de


seu irmão em todos os aspectos que eu poderia listar. E em
frente há um monte de estranhos, eu fingiria que ele era tudo
o que eu queria.

Eu respirei fundo. — Eu perguntei primeiro.

Bauer sorriu enigmaticamente. — Isso você fez, princesa.

O olhar expectante que dei a ele fez seu sorriso crescer


ainda mais. Eu queria sair do meu assento e arrancar a
resposta dele. O fato dele não responder me fez sentir nervosa,
como se houvesse uma vibração começando em algum lugar
no fundo do meu corpo, se espalhando cada vez mais até que
pudesse ver na superfície da minha pele, se não me dissesse.

— Por que você não me conta? — Eu sussurrei


impaciente.

— Por que você não me conta? — Ele disse de volta, seu


rosto se inclinando mais perto do meu nos limites silenciosos
do jipe. Seus olhos se fixaram em minha boca. — Você vai me
deixar louco antes que isso acabe, não é?

Ele quebrou o aperto entre nós e me recostei, me


achatando contra a porta do jipe. O que eu estava fazendo? O
movimento do canto do meu olho chamou minha atenção.
Richard estava parado em um convés enorme, acenando para
nós. — Nós temos companhia.

Bauer piscou. — Certo.

O ar estava pesado e estranhamente carregado, embora


não conseguisse descobrir qual de nós estava enviando toda
essa energia pulsante no espaço entre nós.

Ele me deu um longo olhar. — Hora do show, princesa.


Bauer

CLAIRE, que estava rapidamente se tornando uma das


mulheres mais fascinantes que já conheci, não conseguiu seu
desejo. A governanta de Richard, uma mulher arrumada de
quase cinquenta anos, nos mostrou nosso quarto no final do
corredor do andar de cima, e tentei não rir do olhar
descontente que Claire tentava esconder.

O quarto, assim como o resto da casa de Richard, era,


oh... eu poderia pensar na palavra certa. Esmagadora.

Embora seu lugar estivesse escondido da estrada, na


ponta de West Vancouver, com árvores lotando o terreno e
bloqueando a vista da casa da estrada, assim que entramos,
tudo era esmagador. E incrivelmente, incrivelmente feia.

Claire e eu estávamos em nosso quarto, absolutamente


sem palavras.

— É... — Sua voz parou quando seus olhos pousaram,


arregalados, redondos e chocados, na cama dominando o
espaço.

— É terrível.
Ela soltou uma risada arejada. — Acho que Richard
Harper está compensando demais alguma coisa.

— Essa é a sua opinião profissional? — Seu lento aceno


me fez rir.

Parecia um bordel francês da virada do século vomitado


sobre todas as superfícies. Em todos os lugares havia ouro
dourado ornamentado, em móveis, molduras e espelhos.
Estofos profundos, em tons de joias, me fizeram piscar em
descrença, assim como estava desde o momento em que
entramos pela porta.

— Não sei o que esperava, — disse ela. A sua mão apontou


fracamente para a cama king size com dossel, completa com
cortinas de veludo vermelho-sangue que envolveriam
completamente o espaço para dormir. — Mas não foi isso.

Eu espiei dentro do nosso banheiro e soltei um assobio


baixo. — Feche bem os olhos antes de entrar neste cômodo,
princesa. Isso fará seus olhos sangrarem.

— Pessoas ricas são estranhas, — disse ela, depois olhou


por cima do ombro para mim. — Não foi isso que você me
disse?

— Algo parecido. — Cocei minha cabeça e joguei minha


mochila no sofá emoldurado na grande extensão das janelas.
Janelas que eram totalmente cobertas pelo pesado tecido
listrado preto e dourado, com um padrão tão impressionante
que quase me senti claustrofóbico ao olhar.
— Esse sofá parece confortável.

Olhei para ela, peguei o sorriso em seu rosto e balancei a


cabeça. — Você está tentando me dizer alguma coisa?

No momento em que entramos no quarto, eu soube que


passaria a noite naquele maldito sofá coberto com um padrão
floral horrível. Seria pequeno e desconfortável, e eu faria isso,
porque, por mais que quisesse beijar Claire, fazer todo tipo de
coisa, se ela fosse receptiva, eu nunca forcei minhas atenções
em uma mulher, e com certeza não começaria com esta. Além
disso, eu peguei o olhar de sua cunhada quando me disse que
me destruiria, e eu absolutamente acreditei nela.

Claire não me respondeu, porque provavelmente sabia


todas as coisas que eu estava pensando. — Pelo menos me dê
um dos bons travesseiros, — disse a ela. Segurando o pequeno
sofá, um daqueles esquisitos e inúteis em forma de cachorro-
quente, o joguei em sua direção. — Porque eu não estou
usando isso.

Ela pegou o travesseiro com um sorriso e subiu na cama


gigantesca. — Eu acho que posso lidar com isso, já que ele me
deu, oh, vamos ver... catorze.

Eu desviei o olhar para que não me pegasse olhando para


sua bunda, mas vamos lá, ela estava de quatro em uma cama,
e eu já estava lutando para manter minhas mãos longe dela.
Foi por isso que o travesseiro me atingiu no lado da cabeça.
Suas gargalhadas eram tão adoráveis que eu
provavelmente a deixaria jogar um bloco de concreto em minha
cabeça se pudesse ouvi-las a noite toda.

— Merda. — Murmurei. Eu estava com problemas com


esta mulher, e sabia exatamente o porquê. Meu estilo de vida
não se prestava a estar perto de mulheres como Claire. Não me
interpretem mal, eu tinha amigas em Whistler. As garotas do
snowboard eram fortes e duronas, e eu considerava muitas
delas como amigas. Eu nunca dormi com nenhuma das
minhas colegas concorrentes, apenas com as coelhinhas18. As
visitantes da montanha que não tiveram problemas com o
barman por uma noite.

Mas Claire era diferente. Inteligente, doce, sem


disparates, e muito boa, até demais para mim. Claire se
encaixava em todas as características da lista hipotética que
nunca prestei muita atenção em minha cabeça – a lista com
qualidades daquelas garotas que devem ser mantidas, e é por
isso que não foi difícil para eu fingir com ela por uma noite.

Olhando para o sofá, tentei descobrir uma maneira de


convencer Richard de que precisava de uma imersão de uma
semana inteira para aprender sobre o centro comunitário,
porque eu ficaria feliz em desistir de sete noites de sono para
aquele pesadelo bordado, se tivesse mais tempo com a Claire.

18 Do original "snow bunnies”: referência às garotas encontradas nas montanhas de neve,


normalmente é uma garota sexy que pratica snowboard ou esqui, mas algumas costumam ser muito
ruins nessas atividades.
Houve uma batida suave na porta. — Entre. — Disse
Claire.

A governanta colocou a cabeça para dentro. — O jantar


será servido dentro de quinze minutos, se quiserem se juntar
ao resto da festa lá embaixo.

— Vamos descer. — Eu disse a ela.

Depois que a porta se fechou, Claire caiu de costas na


cama e cobriu o rosto com as mãos. — Isso é uma loucura.

— Você sabe o que é loucura? Você poderia colocar quinze


de você nessa cama e ainda haveria espaço.

Ela se sentou e seu cabelo, brilhante e escuro, deslizou


para fora do seu rabo de cavalo. — Verdade. O que significa
que vou dormir muito bem hoje à noite — Disse ela,
impaciente.

Fiz um gesto para a porta. — Vamos, princesa. Eu sei que


você está animada.

Quando ela pulou da cama, ajeitando o rabo de cavalo


enquanto caminhava, minha mão pairou sobre suas costas
quando saímos do quarto. Ela queria cair nessa curva, a que
estava na barra da blusa, mas coloquei meu braço de volta ao
meu lado.

Meus pais estavam esperando ansiosamente na


monstruosidade de uma mesa de jantar formal, do tipo que
acomodaria facilmente doze pessoas.
— Querida, — disse Adele em saudação, se inclinando
para beijar a bochecha de Claire. — Seja você mesma, — ela
sussurrou. — Mas, você sabe... responda a Lia.

Claire deu um sorriso fraco. — Entendi.

Richard se juntou a nós, entregando copos de vinho para


Adele e meu pai. — O que você acha da minha humilde
morada?

— É impressionante, — eu disse a ele seriamente. — Eu


nunca vi nada parecido. — Ele inchou como um pavão quando
Claire ecoou o sentimento.

— Eu passaria todo o meu tempo aqui, se pudesse, —


disse ele. — Eu me sinto como um rei.

Eu assenti. — Compreensível.

Adele me deu um olhar de aviso, e meu pai passou a mão


sobre a boca.

Sentamos para jantar, Claire à minha direita, e quando


ela quase derrubou o copo de água, puxando a cadeira para
mais perto da mesa, coloquei a mão em sua coxa e a apertei.
Eu dei a ela um sorriso encorajador, que ela retornou
fracamente.

Richard, de sua cadeira dourada e ornamentada na


cabeceira da mesa, pegou o gesto e piscou para nós.

— Então, Bauer, que bobagem é essa de você perder o seu


patrocínio? Você foi espetacular nos últimos eventos.
O rosto de Adele ficou em um tom de branco pastoso visto
que eu fui o primeiro assunto aos olhos de Richard. Engoli em
seco, sorrindo para a governanta enquanto ela colocava um
pouco de pão e sopa a minha frente e à de Claire.

— Oh, eu não sei se é uma conversa agradável na hora


do jantar, senhor.

Certamente não era para mim, porque eu estaria lutando


para recuperar qualquer tipo de tração competitiva sem um
patrocinador principal. Scotty estava trabalhando nisso, mas
essa multidão era a última com quem eu queria dissecá-la.
Especialmente na frente de Adele.

— É uma carreira tão inconstante, — interrompeu Adele.


— Tão estressante para toda a família, realmente.

Eu levantei minhas sobrancelhas para ela. — Sim. Não


consigo imaginar como você deve se sentir impotente. Você
pode ajudar todas essas crianças que precisam de você no
centro, mas seu filho está além do seu alcance. — Claire
pressionou o pé em cima do meu debaixo da mesa.

Richard sorriu entre nós, completamente alheio. — Meus


pais me descartaram há muito tempo, — disse. — Você tem
sorte de ter uma família que se importa tanto.

Meu aceno de resposta foi grave. — De fato, eu tenho.

— Falando no centro, — disse Richard entre os goles da


sopa. — Por que você não me conta um pouco sobre isso,
Adele?
Ela soltou um suspiro aliviado. — Eu adoraria.

E isso deu o tom para o resto do jantar de três pratos.


Richard e Adele dominaram a conversa com interjeições
ocasionais de meu pai, conforme necessário.

Claire assistiu tudo se desenrolar pensativamente,


balançando a cabeça algumas vezes quando Adele dizia algo
sobre o impacto positivo que um lugar como o centro poderia
ter em crianças que normalmente não teriam oportunidades.

— Você está quieta, senhorita Ward. — Disse Richard, um


pouco mais astuto do que eu acreditava.

Ela sorriu e eu estiquei meu braço atrás da cadeira. Seu


cabelo roçou contra a minha mão e, contra meu melhor
julgamento, brinquei com as pontas sedosas.

— Não há muito a acrescentar, eu acho.

— Oh, acho isso difícil de acreditar. Esta é a mesma jovem


que observou uma foto simples e quase fez um homem adulto
chorar pelo que viu nela.

Enrolei seu cabelo sobre minha junta, e Claire


estremeceu. — Umm, bem, Adele e Robert fizeram um trabalho
tão minucioso que não consigo imaginar com o que eu poderia
contribuir.

— Mas você acha que o alcance deles poderia ser maior,


— disse ele. — Ajudar mais crianças.
Ela respirou baixinho antes de responder. — Acho que há
muitos empreendimentos filantrópicos que se enquadram
nessa categoria. É preciso falar sobre os serviços para jovens
carentes; eles precisam ter a oportunidade de alcançar as
crianças que mais precisam, e nem sempre as crianças que
vivem nas imediações do local físico. É por isso que muitos
atletas, por exemplo, coordenam diferentes distritos escolares
para levar as crianças para eventos maiores. Se você está
limitado a uma área geográfica, está limitando o número de
crianças que você pode ajudar.

Meu pai assentiu. — Ela está certa. Parece que estamos


no platô nos últimos anos. Adoraríamos ampliar nosso
alcance, mas nos faltam os recursos necessários para fazê-lo.

Richard observou os dois, e seus olhos percorrendo os


dois com interesse. — Você provavelmente já esteve em
centenas desses eventos ao longo dos anos, não foi, Lia?

Ela piscou com o uso do nome da irmã e minha mão


deslizou até o ombro dela. Ela relaxou um pouco.

— Eu estive. Meu irmão nunca começou sua própria


fundação, mas apoiamos muitos de seus amigos, e é difícil
mantê-los em linha reta.

— Eu aposto que ele estava muito ocupado criando você


e suas irmãs, — disse Richard. — Com sua mãe saindo como
ela saiu.
Claire engoliu em seco. — Ele estava. Porém, muitas
pessoas não sabem detalhes de nosso passado. Ele manteve
nossa vida muito particular por esse motivo.

Aumentei a pressão dos meus dedos em seu ombro,


apenas a deixando saber que estava lá. Eu sabia um pouco do
que as irmãs Ward haviam passado por Finn, mas parecia que
Richard sabia ainda mais. Logan praticamente as criou, e seu
irmão — o outro meio-irmão de Claire — não estava muito em
suas vidas porque ele e Logan não se davam bem. Mas as
razões, bem, nunca me interessaram muito. Até agora.

O tom de Richard era compreensivo, mas ainda assim lhe


dei um estudo cuidadoso do fato dele saber sobre isso em
primeiro lugar. Ele deve ter visto algo nos meus olhos porque
levantou as mãos e sorriu. — Desculpe, não sabia que estava
entrando em algo que não deveria. Achei que era de
conhecimento geral, se alguém se importasse em cavar fundo
o suficiente.

— Não é, — disse a ele calmamente. — E nem todo mundo


gosta de falar sobre as coisas que foram ruins na infância.

Claire exalou lentamente e me deu um pequeno sorriso.


— Está tudo bem, Bauer, — disse ela. — Não há motivo para
pedir desculpas, Richard. Se alguém cavasse o suficiente,
saberia que Brooke decidiu que ser mãe não era o que queria
fazer. Minhas irmãs e eu tivemos a sorte de ter alguém como
Logan que nos amou o suficiente para nos dar exatamente o
que precisávamos. Mas nem todas as crianças têm isso. E acho
admirável que pessoas como Adele e Robert tentem ajudar
crianças que não têm outro membro da família a fazer o que
meu irmão fez.

Richard relaxou de volta em seu assento. — E acho que


isso influenciou suas escolhas educacionais.

Ela assentiu. — Sim.

— O que você espera fazer um dia?

Adele me deu um olhar que não conseguia decifrar. Claire


se mexeu desconfortavelmente em sua cadeira.

Certo. Lia Ward não era especialista em psicologia do


desenvolvimento, e quanto mais ele chegasse a Claire como
irmã, mais confuso o nó poderia se tornar.

— Ela vai salvar desgraçados sem esperança como você e


eu, Richard. — Disse, passando a mão pelas costas de Claire.

Ele sorriu, como pretendido, abrindo os braços. Um rei


mostrando seu reino. — Eu preciso ser salvo?

— Talvez pelas suas habilidades de decoração, mas é isso.


— Disse a ele. Adele respirou fundo e Claire revirou os lábios
entre os dentes.

Após uma batida de silêncio, o riso estrondoso de Richard


ecoou no teto da catedral. E, felizmente, isso quebrou o clima
enquanto terminamos o jantar.
Tudo ficou bastante nivelado com pequenas conversas
sobre Seattle e Vancouver quando nos mudamos para a sala
de estar e para o fogo crepitante. Enquanto Richard apreciava
Adele e meu pai com histórias de sua vida extravagante e
exagerada, eu olhei pelas janelas. Fora da parede de vidro, você
praticamente podia ver a frente fria entrar.

A água ficou estranhamente silenciosa quando o ar ficou


gelado. Sentado ao lado de Claire em um assento duplo
acolchoado e horrível, mantive meu braço na parte de trás dos
móveis e tentei bloquear tudo, exceto a vista pela janela e a
mulher ao meu lado. Suas pernas estavam enroladas em seu
peito, então não estávamos nos tocando, mas quase.

Quase.

Eu nunca deveria ter inventado a minha pequena história


sobre o nosso primeiro beijo. Tudo que eu podia imaginar agora
era uma cozinha escura, Claire me puxando com os punhos
cerrados na camisa, empurrando minhas costas contra a porta
da geladeira e tendo o seu caminho comigo.

Por causa dessa fantasia passando pela minha cabeça,


isso estava quase me matando. Em todo lugar, estávamos
quase nos tocando. Seu cabelo, novamente, estava além das
minhas mãos. Suas omoplatas estavam a menos de um
centímetro do meu antebraço. Seu quadril estava perto o
suficiente do meu para que eu pudesse sentir o calor do seu
corpo. E foi tortura. Por duas horas, ficamos ali sentados, cada
um de nós entrando ocasionalmente na conversa que fluía
facilmente entre meus pais e Richard.

Para todos os efeitos, éramos tão úteis quanto toda a


decoração vistosa que Richard tinha nas paredes, mas, mesmo
assim, ele nos queria lá.

Quando o sol estava completamente posto e o céu ficou


escuro, Claire bocejou atrás da mão. — Pronta para subir? —
Eu perguntei, inclinando minha cabeça na dela.

Ela assentiu, se virando para encontrar meus olhos, sem


perceber que eu havia me mudado. Sua respiração ficou presa
quando meu polegar se moveu para escovar um pedaço de
cabelo da sua bochecha.

— Você tem sardas, — Sussurrei, baixinho o suficiente


para que ninguém pudesse nos ouvir.

Seu aceno de cabeça era irregular, mas ela não se


afastou. — S-somente quando eu tomo sol.

Eu cantarolei. — Eu gosto disso.

Richard pigarreou e sua intrusão foi dura e indesejável


naquele pequeno espaço que estava ocupando com Claire. —
Bem, — ele disse, conscientemente. — Acho que é hora de
encerrar a noite.

Adele se levantou, me dando um olhar de aviso. — Sim,


parece que sim.
Claire saiu do banco antes de mim, porque precisei de dez
segundos para recitar o Juramento de Fidelidade em minha
cabeça antes de ficar de pé, ou então eu corria o risco de me
envergonhar.

— Boa noite a todos. — Disse Claire.

Eu a segui pelas escadas e pelo corredor. Nenhum de nós


disse uma palavra. A caminhada até o quarto foi tensa, e
imaginei todo tipo de cenário assim que estivéssemos a portas
fechadas.

Ela, me puxando contra seu corpo macio e quente e me


pedindo para beijá-la.

Eu, cavando minhas mãos debaixo do algodão da blusa e


descobrindo se seus lábios eram tão macios quanto imaginava,
se sua língua era doce e fria.

Ela abriu a porta e eu respirei fundo, a fechando


silenciosamente e depois descansando minhas costas contra
ela enquanto Claire caminhava direto para sua mochila, tirava
um pijama e, sem um único olhar em minha direção, entrou
no banheiro. Todo o meu ser esvaziou. Sim. Todo.

— Claro, — eu sussurrei. — O que você achou que


aconteceria?

Quando ela saiu do banheiro, vestida com outro conjunto


de bermuda de algodão e uma camiseta, eu estava
esparramado naquele sofá estúpido e olhando para o teto. De
nós dois, eu sabia quem era inteligente e, como sempre, não
era eu.

Ela provavelmente podia sentir minha aversão a qualquer


tipo de relacionamento sério. Eu não estava brincando no
carro. Eu tive uma tentativa, e terminou comigo me sentindo
um idiota. Era mais fácil sem amarras, sem rostos repetidos
ou expectativas. Dessa forma, nem precisava me preocupar
com uma precipitação confusa, causada por mim ou por outra
pessoa.

Claire subiu em sua cama muito grande e eu a ouvi


suspirar. — Isso não foi tão ruim.

Eu sorri com suas palavras faladas timidamente. — Não,


não foi tão ruim.

— O... — Ela fez uma pausa. — O sofá é terrivelmente


desconfortável?

Era pior do que desconfortável. De manhã, minhas costas


estariam dobradas ao meio e meu pescoço estaria tão
levantado que o melhor quiroprata19 precisaria de dezessete
consultas para corrigir os danos. Além disso, cheirava a
naftalina.

— Vai ficar tudo bem.

— Você está mentindo para mim, não é?

19 Aquele que se especializou


em quiropraxia, tratamento médico cuja cura de doenças é feita através
da manipulação das estruturas do corpo, essencialmente da coluna vertebral.
Virei minha cabeça para olhá-la. Seus olhos estavam
arregalados em seu rosto, e algo sobre estar neste quarto
comigo a deixava visivelmente nervosa.

— Boa noite, princesa.

O seu sorriso, o que ela me deu antes de desaparecer


debaixo dos cobertores, fez coisas tão estranhas ao meu
coração que sabia que dormiria naquele sofá centenas de vezes
apenas para ter um vislumbre dele.

Eu e Claire não tínhamos ideia de que nossa pequena


aventura ainda nem havia começado.
Claire

ACORDAR nessa monstruosidade de cama foi


desorientador, para dizer o mínimo. Estava tão, tão escuro no
quarto que levei trinta segundos para me orientar.

Em algum momento, depois que espalhou seu grande


corpo no pequeno sofá, Bauer deve ter acordado para fechar as
pesadas cortinas de veludo. A menor lasca de luz veio através
da separação dos dois pedaços de tecido e, pelo jeito que caiu,
cortou direto no meio do quarto. Quase como uma linha havia
sido traçada entre a cama onde eu estava deitada e onde Bauer
estava dormindo profundamente.

Era impossível olhar para ele e não sorrir, porque suas


longas pernas estavam penduradas na beira do sofá, e tinha
um braço musculoso com tatuagem pendurado no rosto.

O cobertor que cobria seu corpo era de uma cor escura


que eu não conseguia identificar, mas estava puxado sobre seu
peito. Talvez eu não tivesse aceitado o convite descarado nos
olhos de Bauer, mas eu era uma mulher de sangue vermelho
que não transava há mais de um ano. E a última vez foi rápida
e esquecível, o subproduto de tentar ver se alguém poderia
estar à altura de Finn em minha mente. E a mulher humana
de sangue vermelho em mim se inclinou o máximo que pode,
tentando ver exatamente o que Bauer estava escondendo
embaixo daquele algodão Henley do dia anterior.

Quando ele gemeu, o braço cobrindo seu rosto elevou-se


em um estiramento, e eu silenciosamente me abaixei e deitei
minha cabeça no travesseiro.

A decepção que senti ao não observá-lo um pouco mais


foi surpreendente, e esfreguei minha testa, tentando descobrir
de onde diabos isso veio. Bauer era... legal. Ele era engraçado
de uma maneira inteligente e autodepreciativa, mas eu
conhecia muitos homens engraçados. Caras com quem tive
aulas ou conheci quando estava com minha irmã e nossos
amigos. Isso não o fez digno de admiração diferenciada.

Claramente, também me respeitava porque não


pressionou a sorte, embora estivéssemos dividindo o mesmo
quarto. Ouvir os sons inegavelmente íntimos dele acordando,
era o fato que não podia ignorar. Além de sua aparência, que
era ridícula, se fosse sincera, a maneira como se mantinha
sobre a linha que eu desenhava na areia... bem... isso
despertou minha curiosidade.

O garoto mau que talvez não fosse tão ruim quanto


gostava de fingir ser.

O meu telefone tocou na mesa de cabeceira e rapidamente


estendi a mão para pegá-lo.
Paige: Diga-me quando você e o bad boy virão para casa.
Não gosto do sistema meteorológico virando em sua direção do
jeito que está. Eles estão atrasando os voos para fora de
Vancouver.

Paige: Melhor ainda, deixe-me rastrear sua localização,


POR FAVOR. Só perguntei dezessete vezes e não sei por que
você e suas irmãs sentem que estou invadindo sua privacidade.

Curiosa, peguei meu aplicativo meteorológico e fiz uma


careta com o que vi. Alerta de mau tempo, em letras vermelhas
brilhantes, rolava ao longo do topo, e quando li o que estava
vindo em nossa direção e ao norte de Vancouver com possíveis
níveis recordes de neve para abril, me sentei na cama, sem me
importar se Bauer estava olhando ou não. Ele estava.

— Bom dia, raio de sol. — Disse. Embora, devesse saber


melhor, olhei para ele e imediatamente me arrependi. Eu
queria saber o que o cobertor estava escondendo, e agora eu
sabia. Músculos, tatuagens e mais músculos.

Meus olhos voltaram direto para o meu telefone. Mais ou


menos. — Bom dia. Você viu esta previsão?

Ele balançou sua cabeça. — Não, porquê?

— Devemos voltar o mais rápido possível.

Bauer se esticou, desdobrando seu corpo como um


grande felino que acabara de acordar de uma soneca em uma
pedra aquecida pelo sol. O som que soltou do fundo do peito
fez minha pele sentir-se dois tamanhos mais apertada, e olhei
com mais força para o meu telefone.

— Vai ficar tudo bem. Eles sempre agem como se fosse o


fim do mundo se tivermos uma grande nevasca em abril.

Eu dei a ele um olhar cético. — Bauer, diz que pode estar


bem acima de meio metro de neve.

Ele bocejou. — Teremos cinco centímetros, no máximo.

O radar que passava pela minha tela implorava para


diferir em tons ameaçadores de azuis e roxos.

— Alguém já lhe disse que você fica linda quando acorda


e tem essa expressão preocupada?

Suspirei, colocando meu telefone debaixo dos cobertores.


Responder a Paige teria que vir mais tarde, porque lidar com o
sedutor que dividia meu quarto aparentemente tinha que ser
tratado primeiro.

— Não posso dizer que sim. — Colocando


cuidadosamente os cobertores embaixo das axilas para
cobrir... qualquer coisa, dei a ele um olhar paciente. — Você
pode se vestir, por favor? Quero ver se há café no andar de
baixo.

Bauer se levantou do sofá devagar, e foi puro instinto que


me levou a levantar uma mão sobre os olhos quando vi aquele
corpo grande se desenrolar e sua cueca boxer preta que era a
única coisa que o cobria. Bati uma mão nos meus olhos. Como
uma criança.

Seu riso estrondoso fez meu rosto esquentar. — Se você


quer olhar, princesa, vá em frente. Estou aqui para seu
entretenimento.

Por trás da proteção da minha mão, revirei os olhos. —


Eu vou usar o banheiro, e quando eu sair, é melhor você estar
vestido.

— Estou vestido agora, — protestou ele. — Todas as


partes importantes estão cobertas.

Eu escorreguei da cama e mantive meus olhos em frente


quando cheguei à privacidade do banheiro. Quando a porta foi
fechada, me afundei contra a porta com um suspiro.
Compartilhar um quarto com Bauer era perigoso para minha
saúde.

Mas, como eu pedi, ele estava de camiseta e calça de


moletom cinza quando eu saí do banheiro com cabelos e dentes
escovados. Honestamente, porém, a calça de moletom foi pior
— ou melhor, se olhasse por tempo suficiente — do que a cueca
boxer.

Bauer não estava olhando para mim, mas para a tela do


telefone. Foi a vez dele de franzir o cenho, embora me
recusasse a dizer que ele estava adorável. Homens tão gostosos
nunca poderiam e nunca seriam descritos como adoráveis.

— O que há de errado? — Eu perguntei.


Seu rosto ficou claro instantaneamente. — Nada. Tenho
que fazer uma ligação rápida antes de descermos, mas não
sinta que precisa esperar por mim.

Dei de ombros. — Está tudo bem. Vá em frente, eu não


vou escutar.

Com uma mão esfregando a nuca, Bauer parecia


realmente... preocupado. — Ok. — Ele balançou a cabeça e
levou o telefone ao ouvido. Depois de alguns momentos, sorriu.
— Não, eu não invadi os escritórios. Tentei uma tática
diferente, mas... não ocorreu exatamente como planejado, —
assentiu. — Não me diga que você está prolongando sua
viagem. —

Ele olhou para mim.

— Sim, estou atualmente em West Vancouver agora,


então estou a uma hora de distância da sua casa. Por quê? —
Ele balançou sua cabeça. — Não, eu estava voltando para
Seattle.

Peguei algumas roupas e voltei para o banheiro, mas


mantive a porta entreaberta. Silenciosamente, quando tirei
minha bermuda e puxei a calça por cima das minhas pernas,
o ouvi murmurar uma maldição baixinho.

— Scotty, tenho uma passageira comigo, e ela não vai


gostar disso. — Ele fez uma pausa. — Não, não é bem assim.

Coloquei minha camiseta e saí do banheiro, dando-lhe


um olhar interrogativo.
Ele coçou a lateral da mandíbula. — Eu sei, Scotty, mas
tenho certeza que ela está bem. — Ele fez uma careta. — Sim,
ouvi dizer que poderia ser ruim, mas vamos lá, vivemos perto
daquelas montanhas há quanto tempo? Você está lá há cem
anos. Não me diga que eles nem sempre exageram...

O que Scotty disse do outro lado do telefone fez Bauer


soltar um suspiro lento. — Ela tem comida?

Minhas mãos baixaram lentamente onde tinha começado


a arrumar meu pijama. Oh nossa, alguém estava preso?
Perdido? Minha mente começou a acelerar, meu coração doía
por quem estivesse com problemas.

— Ela é forte, ok? Tenho certeza que Agnes vai ficar bem.
Além disso, sou a última pessoa que ela gostaria que a
checasse. Ela me odeia.

Eu teria sorrido, se o nome Agnes não tivesse conjurado


imagens mentais de uma doce velhinha, e agora nem tinha
certeza se ela tinha comida.

— Nós podemos checá-la. — Eu me ouvi dizer.

O rosto de Bauer caiu em choque. Ele piscou. — Sim,


Scotty, é ela. Mas...

— Diga a ele que vamos verificar Agnes, — eu disse, desta


vez com mais firmeza. Eu levantei meu queixo por uma boa
medida. Por alguma razão, isso fez Bauer sorrir amplamente.
— Podemos levar suprimentos de Richard, se ele nos deixar
separar alguns produtos enlatados. Vamos garantir que ela
tenha comida.

A pessoa com quem ele falava disse algo que fez Bauer
rir. — Sim, ela é definitivamente uma pessoa melhor que eu.
Embora possa se arrepender disso quando conhecer Agnes.

Minha boca se abriu. Tudo o que eu disse sobre Bauer,


eu peguei de volta. Ele era horrível, e rude e mau para as
velhinhas sem comida presas no meio do nada diante de uma
nevasca.

Seus olhos estavam colados em meu rosto, cheios de


travessuras e fogo. — Tudo bem, Scotty. Vamos embora agora,
mas tudo o que posso fazer é checá-la, garantir que esteja lá
dentro com alguma comida e depois sair. Tenho um pacote
precioso para entregar em segurança a Seattle.

— Oh Deus, — murmurei, ignorando seu olhar inabalável


enquanto fechava minha mochila um pouco mais do que o
necessário. — Você foi um pouco grosso, não acha?

Bauer se despediu de quem estava falando,


provavelmente do marido, filho ou neto de Agnes, que estava
preocupado com ela, e depois me observou em silêncio. Mexi
em minha mochila até não poder mais me mexer.

— Quem é Scotty, e por que Agnes te odeia? — Eu


perguntei.

Ele sorriu devagar. — Scotty é o homem que me ensinou


tudo. — Bauer estava sentado no sofá, enfiando os pés nas
botas de caminhada que usava no dia anterior. — Eu devo a
ele toda a minha carreira, e ele sabe disso, é por isso que me
chamou para esta tarefa horrível de checar Agnes. O que
provavelmente teria recusado, se você não tivesse se envolvido
e dado ao pobre velho esperança.

— Isso é terrível, — eu lamentei. — Você a deixaria


completamente indefesa do lado de fora?

Bauer inclinou a cabeça para o lado. — Sim. Porque ela


vai ficar bem. Ela sempre fica.

— Bauer, seja qual for o seu nome do meio, Davis, deveria


se envergonhar. — Eu apoiei as mãos nos meus quadris. — Ela
é uma velhinha e precisa de suprimentos. Eu sei que você é
durão, mas vamos lá, mesmo que você não seja tão insensível.

— Eu quase não quero te avisar. — Disse


enigmaticamente. Ele se inclinou para frente, apoiando os
antebraços no topo das coxas e as mãos balançando entre os
joelhos.

— Por que você está olhando assim para mim?

— Porque você é a mulher mais frustrante, adorável e


misteriosa que já tive o prazer de conhecer, e essa é a única
razão pela qual vou lhe contar no que você acabou de nos
inscrever.

Era impossível não querer levantar minhas mãos e cobrir


meu rosto. Eu nunca tinha sido chamada de nenhuma dessas
coisas. Ok, frustrante talvez, pelas minhas irmãs, mas eu era
um livro aberto. Literalmente. Passei minha vida em livros
abertos, tentando absorver tudo o que encontrei lá, mas, por
alguma razão, esse homem olhou para mim e viu uma versão
que eu nunca soube que existia.

Algo sobre mim o chamou. — Para que nos inscrevi?

Bauer se levantou e caminhou em minha direção, aquele


moletom cinzento pendurado nos quadris de uma maneira que
eu não estava olhando, e parou fora do alcance do braço. —
Agnes é uma gata.

Eu pisquei até o rosto dele. — O quê?

— Agnes é a gata horrível, mal-humorada e rabugenta de


Scotty que odeia todos os seres humanos, exceto ele. E ele não
consegue se lembrar da quantidade de comida que colocou no
alimentador automático, então tem medo que ela morra de
fome antes que possa chegar em casa...

— Oh. — Eu disse fracamente.

Bauer sorriu. — Sim, oh.

— Então, nós estamos... dirigindo em uma tempestade de


neve para verificar uma gata que mora no meio do nada.

O seu aceno foi lento. — Parece que sim.

Fui até a janela e puxei cuidadosamente as pesadas


cortinas. A neve já estava grudada ao chão. Os galhos das
árvores eram revestidos de branco, dando um ar mágico à vista
já deslumbrante. Como um país das maravilhas do inverno.
Exceto não parecia ser maravilhoso, não mais.

— Ele mora a cerca de uma hora daqui? — Eu perguntei


fracamente. Uma hora não era tão ruim. Não há razão para
surtar.

— Sim. É melhor tomarmos um café e pegar a estrada se


quisermos voltar para Seattle em tempo decente.

Fechei meus olhos com força. — Sinto muito. Isso é... —


Fiz uma pausa. — Eu deveria ter esperado até você desligar o
telefone.

Suas mãos pousaram nos meus ombros e gentilmente me


girou para encará-lo. Ele não falou até eu abrir as pálpebras.
— Princesa, está tudo bem. Ainda acho que essa tempestade
passará como um gatinho doce, ao contrário de Agnes, que é
uma cadela horrível, um terrível animal.

Meu sorriso veio rapidamente, e ele cantarolou fundo no


peito ao vê-lo. — Você está matando-me. — Sussurrou.

— Desculpe.

Ele apertou meus ombros. — Não, não se desculpe. Você


simplesmente não pode evitar.

Quinze minutos depois, cafés na mão, e sanduíches


embrulhados para nós pela governanta de Richard, fomos
levados para o jipe de Bauer quando grandes flocos de neve
gordos atingiram o para-brisa em pequenos sons suaves.
— Você disse à Paige que isso não foi ideia minha, certo?
— Perguntou, me assistindo digitar uma mensagem para
minhas irmãs, para que não achassem que eu tinha sido
sequestrada. — Porque ela parecia muito séria quando
ameaçou minha vida.

— Ela estava falando sério.

— Ajudou muito. — Disse secamente. Ele deu partida no


motor e recostou-se no banco.

Eu: Longa história, mas temos que desviar um pouco ao


norte para verificar algo para o treinador de Bauer. Nós
ficaremos bem.

Lia: OMG, não deixe que ele te convença a fazer algo


insano. Como se ele se importasse com uma nevasca.

Paige: É POR ISSO QUE EU DEVERIA SER CAPAZ DE


RASTREAR SUAS BUNDAS. Estou fazendo o Logan aprender a
hackear seu telefone.

Isabel: 👊 Não façam nada que eu não faria.

Molly: Quem é Bauer? ONDE VOCÊ ESTÁ? O QUE EU


PERDI? Eu odeio viajar quando coisas emocionantes acontecem
😞:(

Suspirei, colocando meu telefone em frente a minha


mochila. — Não se preocupe, ela nunca matou ninguém.
Bauer balançou a cabeça, colocando a marcha à ré. —
Vocês mulheres Ward deveriam vir com uma etiqueta de aviso,
princesa.

Quando saímos da garagem e entramos na tempestade


ameaçadora, eu não podia acreditar, mas estava rindo.
Bauer

ALGUM DIA, poderia construir um santuário para Agnes,


comemorando o fato de que Claire achava que era uma doce
idosa presa em uma tempestade de neve ao contrário da gata
diabólica que realmente era, me concedendo assim, mais
tempo com a senhorita Ward.

Só que hoje não seria esse dia porque, quando a viagem


para a cabana de Scotty demorou quase três vezes mais do que
esperava, devido à combinação de visibilidade zero, estradas
escorregadias e geladas e vento forte que até me fez apertar o
volante com força, eu só queria chegar ao nosso destino com
segurança.

Abril. Era a porra de abril, e eu não estava bem com a


tempestade do século atingindo o oeste do Canadá, enquanto
estava nas estradas com uma mulher que realmente não
conhecia, verificando uma gata que odiava com as profundezas
do meu coração, para o homem que significava mais para mim
do que qualquer outra pessoa no planeta.

Claire estava quieta no banco do passageiro, e desta vez


eu não a empurrei. Eu havia atingido o estágio irracional de
dirigir cerca de uma hora antes, onde você diminui o volume
da música para o caso de ajudá-lo a ver magicamente melhor
as estradas.

Quando avistei a caixa de correio vermelha sinalizando a


saída para a casa de Scotty, soltei um grande suspiro de alívio.
— Estamos aqui. — Eu disse a ela.

Ela pulou um pouco com o som da minha voz. — Oh, que


bom.

Olhei pelo espelho retrovisor e para o cobertor branco que


obscurecia minha visão. Havia anos desde que dirigia em algo
assim, e me ocorreu, com a casa de Scotty por perto, que
provavelmente estaríamos presos por pelo menos uma noite.

— Você está bem? — Perguntei a ela. Se eu estava


estressado... não podia nem imaginar o que ela deve estar
sentindo.

Claire ficou quieta por um segundo, e então exalou


trêmula. — Eu não acho que respirei adequadamente por uma
hora sólida.

— Estamos quase chegando. — Prometi. Ela assentiu.

Eu sorri. — Você pode dizer agora.

Claire olhou para mim. O seu rosto estava pálido e seco.


— Dizer o quê? — Levantando minhas sobrancelhas, acenei
com a mão para o para-brisa.
— Ahh. — Ela limpou a garganta. — Eu vou guardar o eu
te disse para quando estivermos em segurança dentro do seu
lugar.

O jipe se arrastou quando virei a longa entrada. Sabendo


não acelerar demais, porque a última coisa que queria era
acabar escorregando da entrada e descendo a vala que sabia
que se alinhava nos primeiros quinze metros ou mais, diminuí
a pressão de minhas mãos ao volante até que o veículo se
endireitasse. Agora que estávamos protegidos levemente pelas
árvores que lotavam a propriedade de Scotty, a visibilidade
aumentou para algo mais gerenciável do que nas estradas que
nos levavam até aqui.

— Você vai perder alguma coisa importante amanhã? —


Eu perguntei a ela.

Ela esfregou a testa. — Uma aula, mas... enviarei um e-


mail ao meu professor quando estivermos lá dentro. — Claire
gemeu. — E para minha família, porque provavelmente estão
pirando.

Visões de Paige caindo sobre mim me fizeram tremer, mas


ficar na casa de Scotty e arriscar sua ira por uma noite era
preferível a tentar qualquer viagem idiota de volta a Seattle
muito cedo.

— Eu não posso acreditar no quão rápido essa nevasca


aconteceu. — Eu disse. O pico da cabana de Scotty apareceu,
e a faixa de tensão em volta do meu peito relaxou ainda mais.
Tudo o que precisava fazer era navegar pela curva longa e leve
até a entrada da garagem, onde não havia faixas a seguir.
Usando a curva nas árvores como guia, nos empurrei para a
frente através da neve, com facilidade de quinze a trinta
centímetros de profundidade, uma vez que estava intocada.
Quando os pneus, sem correntes de neve, giraram com a
minha aceleração, xinguei. Poderosamente.

— Não acredito que um snowboard mundialmente famoso


tenha medo de dirigir na neve. — Ela brincou
inesperadamente. Surpreendente como isso afrouxou nossas
línguas por ter um abrigo à vista, mesmo que fôssemos presos
à maldita Agnes, que provavelmente arrancaria nossos olhos
no segundo em que entrarmos.

— Não tenho medo de dirigir na neve. — Eu olhei para ela


enquanto me aproximava da cabana o máximo que a neve
flutuante me permitia. — Mas eu não queria exatamente
deslizar para fora da estrada quando tenho que pensar em
você.

— Você é um querido, Bauer.

— Eu não sou assim, — respondi, completamente


ofendido. — Ninguém nunca me chamou de algo tão terrível.

Ela riu, e isso fez a minha repentina onda de defesa valer


a pena. — Por que isso te incomoda tanto?

Estava na ponta da minha língua dizer que só porque não


queria arrastar sua bela bunda pela neve não significava que
eu era um amor. Eu era durão, muito obrigado. Eu era um
malvado tatuado, com piercings, snowboarding, que nunca
teve uma mulher rindo porque me chamou de querido, e ela
poderia ter isso gravado na minha lápide porque era o quanto
eu acreditava.

Empurrando o jipe no estacionamento e expirando


pesadamente, arranquei o chapéu da cabeça e enfiei a mão no
cabelo. — Isso não me incomoda; simplesmente não é verdade.
Pergunte aos meus pais.

Ela assentiu lentamente, inclinando a cabeça levemente


enquanto me estudava.

Eu apontei um dedo para ela. — Não, nada disso. Sem


psicanálise. Eu não me importo com a sua aparência de short
de dormir. Isso não é permitido.

Claire sorriu lentamente. — Pare com isso.

Ela espalhou ainda mais o sorriso, largo o suficiente para


que seus dentes brancos e uniformes aparecessem atrás dos
lábios rosados. Uma covinha apareceu e contra o branco
ofuscante da neve, com seus cabelos escuros e olhos azuis
profundos, ela parecia a Branca de Neve.

Eu bufei. — Vamos entrar, ok?

— OK.

Sua concordância era muito quieta, muito satisfeita


consigo mesma, e isso me fez praguejar tanto quanto a
porcaria do rádio.
— A neve está profunda. Você quer que a carregue para
não molhar os sapatos?

Os olhos de Claire brilhavam. — Isso é incrivelmente...


doce... da sua parte.

— Tudo bem. Molhe seus sapatos, molhe suas calças,


tenha hipotermia, veja se eu me importo. — Inclinei-me sobre
ela no assento do jipe. — Não venha até mim no meio da noite
e me implore para aquecer você quando a temperatura do seu
corpo cair, porque você não aceitou minha oferta prática e
lógica, princesa.

Era uma mentira, porque se ela viesse a mim e pedisse


por isso, eu me despiria rapidamente. Tudo. Meus
pensamentos devem ter aparecido em meu rosto porque o
rubor se espalhou lentamente por suas maçãs do rosto.

— Eu vou arriscar, — ela disse calmamente. — Obrigada


por ser tão prático, lógico e não doce.

Revirei os olhos. — Exagero, mas de nada. Espere aqui.


Vou me certificar de que minha chave funciona primeiro.

Depois de caminhar pela neve até a varanda igualmente


nevada, espiei dentro da cabana escura para ter certeza de que
Agnes não estava esperando, garras e presas à mostra.

Debaixo do alpendre da estrutura, havia uma grande


pilha de lenha, o que me fez respirar um pouco mais
facilmente. Pelo menos ficaríamos quentes durante a noite até
podermos voltar para casa no dia seguinte. À direita da
madeira havia uma pá pesada.

— Deus te abençoe, Scotty. — Murmurei. Rapidamente,


limpei a área junto à porta para que a neve não caísse na
cabana assim que a abrisse. A chave funcionou com facilidade,
apesar do metal da fechadura estar frio como uma merda.
Sabendo que poderíamos entrar, me virei e joguei uma única
fita para que ela tivesse um caminho claro quando chegasse à
varanda.

E eu não estava fazendo isso para ser doce, só não queria


que ela tivesse meias molhadas quando entrasse. Eu não tinha
feito as malas para mais de uma noite, então imaginava que
ela também não. E definitivamente não mais do que uma noite
que incluía uma nevasca recorde.

Eu me virei e acenei para ela. Enquanto pegava sua


mochila e puxava o capuz da blusa por cima do cabelo, pensei
sobre o porquê me incomodava tanto que tivesse dito isso.
Talvez porque eu não queria que Claire olhasse para mim como
se eu fosse um amor. As pessoas chamavam Finn de doce o
tempo todo, e se isso não arruinava suas chances de transar,
eu não sabia o que faria.

Eu fui lembrado por toda a minha vida, ou todos os anos,


exceto durante os primeiros cinco anos da minha existência,
que Finn era o espécime superior em todos os aspectos que
importava para nossos pais, e apesar de ter deixado de me
incomodar com isso, não queria ser agrupado em sua categoria
também.

Quando Claire pulou na varanda e caminhou pelo


caminho que havia escavado para ela, sabia que ficar preso
com ela nesta cabana seria inegavelmente pior do que aquele
quarto berrante da mansão onde estávamos sendo observados.

Ela poderia ser ela mesma.

Eu poderia ser eu mesmo.

E não tínhamos para onde ir enquanto estava sentada,


me categorizando como um urso de pelúcia fofo e inofensivo.

— Brrrr, — ela disse enquanto se aconchegava ao meu


lado. — Esse vento é frio.

Empurrei a porta e acenei para ela entrar. — Vamos. Vou


acender a lareira.

Ela me precedeu na cabana escura, iluminada apenas por


uma pequena lâmpada ao longo do pequeno trecho do balcão
da cozinha. Claro, Scotty deixou uma luz acesa para aquele
maldito gato.

Quando fechei a porta, Claire soltou um suspiro duro. —


Isso é...

— Minúsculo? — Eu forneci.

Ela exalou uma risada. — Sim.


A cabana de Scotty era composta por uma sala, um
balcão de cozinha se estendendo ao longo da parte de trás, um
banheiro escondido ao lado, sem muito mais do que um
chuveiro, vaso sanitário e pia amontoados na pequena sala. O
que o separava da área de estar era uma pequena mesa com
duas cadeiras dobradas contra ela. Eu tive meu quinhão de
refeições naquela mesa.

O sofá e a cadeira — couro básico e marrom — ficavam


diante de uma pequena TV em uma mesa de console
igualmente pequena porque, quando Scotty estava em casa,
estava ao ar livre. Sua propriedade provavelmente tinha mais
de cinco acres de florestas densamente arborizadas, e toda a
metragem quadrada de sua cabana não poderia ter mais de
quinhentos.

O teto alto da sala principal era o que a fazia parecer


maior do que realmente era. O antiquado fogão a lenha
colocado no canto posterior dava uma sensação calorosa e
convidativa, que ficaria ainda melhor depois que o acendesse.

— Quarto no andar de cima? — Ela perguntou.

Eu assenti. — O sótão.

Ela olhou a escada com cautela.

— Não se preocupe, — disse a ela. — Eu tenho uma longa


história dormindo no sofá e tive noites muito piores do que
isso.
Claire se virou e encarou a parte da cabana que era toda
feita de janela. Era a parte favorita de Scotty, e a minha, da
sua cabana. Sim, era pequeno, mas um lado inteiro mostrava
a beleza deste lugar em que morávamos.

No momento, parecia frio e um pouco selvagem, sem nada


que impedisse de ver.

Ela estremeceu. — Eu sinto que estamos sendo engolidos


inteiros por aquela tempestade.

Inclinei minha cabeça. — Você está bem, princesa?

Ela ficou quieta, esfregando lentamente as mãos para


cima e para baixo ao longo dos braços. — Acho que, em minha
cabeça, imaginei que a viagem seria a pior parte. Há algo
terrivelmente desconcertante em ficar preso dentro da casa de
um estranho, por quem sabe quanto tempo, e apenas orando
para não congelar até a morte ou algo assim.

Aproximando-me dela cuidadosamente, coloquei minhas


mãos em seus ombros como tinha feito, merda, um dia antes
na casa de Richard. — Nós não vamos congelar até a morte.
Mesmo se o propano acabar, há muita lenha para o fogão, e
fica bem quentinho aqui.

Seus olhos eram tão grandes e confiantes. Confiando que


eu poderia nos ajudar com isso. Em vez de me fazer sentir em
pânico ou preso, como normalmente faria, meu peito se
aqueceu com a rapidez com que ela acreditou em mim. Minhas
mãos se apertaram suavemente e senti os músculos relaxarem
sob as palmas das mãos.

Claire assentiu. — Ok, então não vamos congelar, mas há


comida?

— Oh, sim. — Apertei seus ombros novamente e fui


investigar a cozinha. — Uma coisa que sei sobre Scotty é que
seu freezer está sempre cheio de refeições horríveis de solteiro.

Abri a pequena porta e não fiquei desapontado. — Viu?


— Eu disse a ela, puxando uma caixa preta e vermelha. —
Podemos conseguir o sódio de uma semana em uma refeição,
mas temos muito o que comer, e essa despensa também está
boa e abastecida. Ele não vai muito ao supermercado a menos
que esteja treinando, e está em Whistler todos os dias comigo,
pode ser que não tenhamos muita comida fresca.

Ela suspirou aliviada, e a senti chegar atrás de mim, perto


o suficiente para que o calor do seu corpo aquecesse minhas
costas. — Ele gosta de tortas de frango, pelo que vejo.

— Quem não gosta? — Eu olhei para ela por cima do


ombro. — Espero que você também, porque é isso que você vai
ganhar no jantar se eu estiver cozinhando.

Claire sorriu. — Vou verificar a despensa para outras


opções. Talvez eu possa achar outra coisa.

Um flash de movimento chamou minha atenção e me


virei, as mãos apoiadas nos quadris. — Aí está a pequena
idiota.
Claire estalou a língua. — Ela não pode ser tão ruim.

Agnes enfiou a cabeça por trás do sofá, arreganhou as


presas e sibilou para mim.

— Olhe para aqueles olhos verdes, — murmurei. — Tanta


violência escondida nessas profundezas.

Minha companheira riu, depois se agachou e estendeu a


mão. — Ei, linda menina.

Agnes lançou-lhe um olhar desdenhoso e desapareceu


atrás do sofá. Eu balancei minha cabeça. — Estou lhe dizendo.
Ela é horrível.

— Você não deveria falar sobre ela assim. Os animais de


estimação entendem o seu tom, mesmo que você pense que
não.

Eu ri. — Oh, ela entende bem. Todas as coisas más


podem entender o caos que deixam em seu rastro.

Claire se endireitou. — Onde Scotty guarda a comida


dela? Eu quero ter certeza de que ela tem o suficiente.

Depois de explicar a ela o que Scotty havia dito ao


telefone, voltei para o jipe e peguei minha bolsa junto com o
travesseiro que Claire havia deixado no banco de trás.
Coloquei-o perto do meu rosto para que pudesse sentir seu
xampu na caminhada de volta para a cabana? Claro que sim,
porra.
Se eu tivesse que ficar preso em um pequeno espaço com
uma mulher com quem realmente queria dormir, mas que
parecia me ignorar completamente, aproveitaria os momentos
que poderia conseguir. Incluindo cheirar travesseiros
aleatórios para pegar apenas um pouco do cheiro de qualquer
mistura de frutas que ela usasse.

Mais luzes estavam acesas quando voltei para dentro, e


Claire estava descendo a escada estreita que levava ao sótão,
enfiando o telefone na cintura da calça. — Ele não fica louco
vivendo em um espaço tão pequeno?

Balancei minha cabeça antes de tirar minha jaqueta e


pendurá-la no cabideiro ao lado da porta. — Ele é um cara
simples. Dê a ele ar livre para explorar e uma montanha para
descer rapidamente em um pequeno pedaço de fibra de vidro,
e ele fica feliz.

Ela sorriu. — Isso descreve você também?

Olhando em volta, percebi que meu condomínio em


Whistler parecia muito com isso. O espaço era pequeno, meus
móveis podiam ser reparados e não havia muito em termos de
decoração.

— Sim, eu acho. — Dei de ombros. — Por que gastar


dinheiro em fotos, bugigangas e porcaria que acumula poeira
quando eu poderia usá-lo para experimentar o mundo?
Claire parou e olhou para a parede ao lado da escada.
Uma pequena foto emoldurada pendia de mim e de Scotty
depois da minha primeira grande vitória.

Ele era quase trinta centímetros mais baixo que eu,


mechas de cabelo branco prateado aparecendo por baixo do
chapéu preto da sorte, mas seu sorriso era tão grande, tão
orgulhoso, que era quase difícil olhar agora. Seu braço estava
em volta dos meus ombros e eu estava segurando a medalha
em minhas mãos, um sorriso gigante no rosto e marcas de
óculos em minhas bochechas açoitadas pelo vento. Isso foi dois
anos após o conhecer pela primeira vez, quando meus pulsos
estavam algemados, e ele disse à polícia que não iria prestar
queixa.

— Você o ama. — Observou Claire.

Eu me vi respondendo honestamente. — Ele é meu


melhor amigo. A única pessoa que já... acreditou que eu
poderia fazer algo da minha vida.

Claire não olhou para mim, apenas manteve os olhos na


foto. Eu queria fazer algo, qualquer coisa, para chocá-la.
Porque, por alguma razão, tudo isso parecia íntimo demais, e
ela se sentia intrigante demais, fascinante demais para eu
contemplar.

— A primeira vez que conheci Scotty, estava algemado


porque acabara de destruir a lateral da garagem dele. — Eu
mantive minha voz enquanto seus ombros estavam tensos
visivelmente. — Não foi difícil para os policiais me encontrarem
porque a tinta spray azul que tinha usado na lateral da sua
casa estava em minhas mãos. Eu me cortara quebrando as
janelas da garagem dele.

Ela inalou. — Por que você fez isso?

— Quem sabe? — Eu admiti. — Eu tinha dezessete anos


e estava entediado, e meus amigos provavelmente pensaram
que seria covarde demais para fazê-lo. Adele ficou realmente
feliz comigo quando os policiais me trouxeram para casa e
disseram que era só por causa de Scotty que eu não tinha sido
fichado por destruição de propriedades e vandalismo.

Claire era uma pensadora barulhenta, eu estava


percebendo. Especialmente quando estava tentando descobrir
alguma coisa. Como agora, estava tentando me entender. Ela
olhou para aquela foto com tanta força que fiquei surpreso que
ela não caiu da parede.

— Não é de se admirar. — Ela murmurou.

Eu me aproximei atrás dela e respirei lentamente. Era


mais forte do que no travesseiro, aquele perfume incrível. Eu
tive que lutar para não enterrar meu nariz em seus cabelos,
envolver meus braços em volta dela por trás e me deliciar com
quão quente e macia ela seria enfiada em meu corpo.

Estava tão claro que ela queria me juntar como um


quebra-cabeça que ninguém havia resolvido. Mas,
eventualmente, ela veria que não era tão complicado assim. Eu
era o que minha família pensava. Uma bagunça e uma
decepção. Eu também era o que Scotty pensava. Um cabeça
quente que não pensa nas coisas. — Não é de admirar o quê?
— Minha voz parecia enferrujada.

Ela se virou e me encarou, e me recusei a mexer um único


centímetro. Mas, novamente, Claire também não se mexeu.

Inspirei profundamente, e meu peito quase roçou o dela,


é o quão perto estávamos. Eu queria beijá-la. Por muitas
razões. Por causa de como ela estava naquele vestido amarelo.
Porque ela ainda não me contou por que mentiu. Porque ela
estava tentando encontrar algo dentro de mim que não existia,
algo bom, doce e atencioso que significava que meus pais não
tinham me entendido completamente.

— Não é de admirar que você seja um bom homem. —


Disse ela calmamente. A respiração ficou presa na garganta.

Ela gentilmente colocou a mão sobre o meu coração, e


deslizei minha palma pelo braço para ancorá-la ali. A sua
pele... era tão, tão macia.

— Estou feliz que eles não tenham arruinado você, Bauer.

Claire puxou a mão debaixo da minha e passou por mim,


parando para mexer no rádio no balcão da cozinha.

Apoiei uma mão na parede, fechei os olhos e tentei


descobrir o que estava acontecendo dentro do meu peito depois
de apenas algumas palavras dela. Porque simplesmente, tão
rapidamente, ela puxou completamente o tapete debaixo de
mim.
A estação que ela ligou era nova, e ela girou alguns botões
para diminuir a estática.

— Bem, pessoal, — disse a voz desencarnada. — Isso está


planejando quebrar o recorde de nevasca anterior de abril em
Vancouver, e não será interrompido pelas próximas vinte e
quatro a trinta e seis horas. Portanto, fique seguro, mantenha-
se quente e aproveite a neve.

Virei minha cabeça para encará-la. Parece que tenho


algum tempo para descobrir a resposta do meu próprio
quebra-cabeça – o que diabos fazer com Claire Ward.
Claire

QUANDO ACORDEI na manhã seguinte, estava quente.

E, pela segunda manhã consecutiva, completamente


desorientada. Sem cortinas vermelho-sangue, sem uma cama
enorme. Em vez disso, uma luz cinza suave, um teto de
madeira inclinado sobre minha cabeça, quando tentei me
mover, senti algo quente em meu peito, e pisquei.

Olhos verdes fixos em um rosto de retalhos me encaravam


de onde estava deitada, e parecendo bastante confortável, em
cima de mim. — Bom dia, Agnes. — Eu sussurrei.

Ela abriu a boca para um miado melancólico, o que me


fez sorrir. Seu rabo manchado marrom e laranja tremeu atrás
dela, e suas orelhas se inclinaram sobre o rosto bonito.

— Eu sabia que ele estava exagerando. —


Cuidadosamente, levantei minha mão e a corri do topo da
cabeça pelas costas. Agnes se aproximou do meu toque.

— Você acordou, princesa? — Uma voz chamou da sala


de estar.
— Mm-hmm. Uma amiga se juntou a mim na cama ontem
à noite.

— Não brinca? — Ouvi seus pés atravessarem o piso de


madeira e dar passos cuidadosos e silenciosos até o sótão. A
cabeça de Bauer apareceu, cabelos escuros bagunçados pelo
sono, e sua mandíbula mais carregada com a barba, e sorriu
sonolento. — Bem, raios me partam.

Lentamente, muito, muito devagar, Agnes virou a cabeça


na direção de Bauer, achatou os ouvidos e sibilou.

Minha risada foi tão alta que o gato saiu da cama como
uma bala de canhão marrom e laranja, desaparecendo atrás
da cômoda escondida no canto. Ele subiu mais alguns degraus
até que seu peito nu estava visível.

— Claro que você dormiu sem camisa. — Murmurei,


virando de lado e colocando o edredom no peito.

— Você está brincando? Eu estava assando no meio da


noite. Eu disse que o fogo nos manteria aquecidos. — Seus
olhos traçaram meu rosto. — Dormiu bem?

Eu assenti. — Eu também acordei com calor.

Bauer apontou um dedo para mim. — Veja, você se deixa


aberta para comentários, princesa. Gostaria que fosse anotado
quando eu não morder a isca.

No meu gemido, ele riu, a cabeça desaparecendo no andar


de baixo. — Eu vou fazer café. — Ele disse.
Do meu ponto de vista no andar de cima, minha visão do
exterior não sofreu nada. A cabana de Scotty era pequena, sim,
mas havia algo incrível em rolar para ver a extensão selvagem
de árvores altas e finas, chicotadas, vento branco e os flocos
grandes e macios que caíam incansavelmente.

Que mudança estranha de acontecimentos em minha


vida ao longo de uma semana. Isso me fez pensar na escola
como a maioria das coisas. Uma das partes mais fascinantes
do que estava aprendendo era sobre as consequências de
nossas ações e como elas poderiam afetar as pessoas ao redor.

As crianças sofriam as consequências de como os adultos


em suas vidas falavam com elas, as tratavam, as ensinavam e
as amavam ou não os amava. Para cada ação, houve uma
reação. Às vezes era grande, e às vezes era pequena.

Eu concordei em fazer algo pela minha irmã. No grande


esquema da minha vida, foi uma decisão pequena, alimentada
por sentimentos que permaneceram por um período de tempo
que só poderia ser considerado grande.

As consequências dessa pequena ação foram enormes. E


eu ainda estava pensando no que elas queriam dizer e como
meu coração não conseguia decifrar o que fazer com elas.

Os sons de Bauer na pequena cozinha, procurando por


mantimentos e tentando descobrir como usar a — estúpida e
antiga máquina de merda— me fizeram sorrir, que era o ponto
de partida para o que sabia em minha mente.
Eu sabia que a nossa noite tinha sido tranquila, mas
ainda divertida. Comemos tortas de frango com sódio e gordura
em frente à lareira, enquanto ele procurava algo para assistir
na pequena gaveta de DVDs que Scotty possuía. Nós decidimos
por Tombstone, e Bauer sabia cada palavra. Ocasionalmente,
eu o vislumbrava à luz do fogo, balbuciando as linhas.

Ele ficou na cadeira, e eu fui deitar debaixo de um


cobertor no sofá.

Eu sabia, enquanto deitava na relativa privacidade do


sótão, que senti uma pontada de decepção quando ele me
mandou para o andar de cima sem nada mais do que um —
durma bem, princesa.

— O que exatamente você quer, Claire? — Eu sussurrei.

A cabeça de Bauer apareceu novamente e pulei, com


medo de que tivesse me ouvido. — Como soam panquecas?
Encontrei uma caixa na despensa.

Sentei-me devagar, as costas doendo levemente pelo


mergulho no colchão de Scott, com o qual não estava
acostumada. — Eu posso fazer um pouco, com certeza.

— Terrivelmente sexista da sua parte supor que quis dizer


que você iria cozinhar, não eu. — Com uma piscadela, ele
desapareceu.

Quando me levantei, tomando cuidado para não bater a


cabeça no teto, me vislumbrei no espelho empoeirado que
pairava sobre a cômoda. Minhas bochechas estavam
vermelhas e meu cabelo emaranhado de sono.

Honestamente, parecia que eu tinha acabado de transar.


Bem. Colocando a mão no peito, respirei fundo, segurei nos
pulmões e exalei. Às vezes, você pode seguir em frente sem se
preocupar muito com as consequências. Você poderia pular
sem saber o que havia sob seus pés.

Talvez desta vez com Bauer, inesperado e não planejado,


tenha sido uma chance para praticar isso.

Amassado no chão, junto à cama, estava um cobertor


vermelho brilhante, e eu o peguei, envolvendo-o em volta dos
meus ombros antes de descer as escadas.

Bauer estava agilmente derramando massa de panqueca


em uma frigideira escaldante que parecia mais velha do que
nós dois juntos.

— Cheiram bem, — disse a ele. — Obrigada por fazer isso.

Ele olhou por cima do ombro — agora coberto com uma


camiseta preta — e sorriu torto. — Essa é a beleza de ter baixas
expectativas de homens como eu, hein? Sigo um conjunto
simples de instruções ao lado de uma caixa e tenho a eterna
gratidão de uma mulher bonita.

— Homens como você? — Eu repeti enquanto servia uma


xícara fumegante de café. — Quem está pendurando isca para
elogios agora?
Sua risada de resposta foi um latido curto. Eu vi quando
ele habilmente sacudiu as panquecas. Quando estavam
prontas, as colocou em um prato e apontou o queixo para mim.
— Vá em frente.

As panquecas eram perfeitas. Fofas, doces e quentes, e


eu assisti Bauer fazer uma pilha do dobro da minha altura. Eu
levantei minhas sobrancelhas significativamente antes que ele
desse sua primeira mordida enorme.

— O quê? — Ele murmurou em torno de um bocado. —


Eu preciso da minha energia.

— Para quê? — Acenei com o garfo ao redor da pequena


cabana. — Estamos presos.

Seus olhos assumiram um brilho diabólico.

— O quê?

— Quanto tempo faz desde que você usou calças de neve,


princesa?

UMA HORA MAIS TARDE, Agnes me olhava com olhos


verdes cheios de julgamento e desdém. Seu rabo sacudiu
preguiçosamente enquanto me virava de lado, me olhando no
espelho do banheiro.

— Este não é o meu melhor visual. — Ela miou. — Eu sei.


Eu sei que pareço ridícula, mas confie em mim, não foi minha
ideia.

Bauer voltou do lado de fora, batendo as botas no tapete


que coloquei na entrada da cabine. — Você ainda está se
vestindo? Vamos, Claire Ward, este boneco de neve não vai se
construir sozinho.

Ele estava tão empolgado com sua ideia. Embora sair em


uma tempestade de neve parecesse horrível, eu sabia que o ar
fresco provavelmente o manteria são.

— Essas calças de neve são enormes para mim. — Eu


disse a ele.

— Para o que estamos fazendo, você ficará bem. Estou


feliz que Scotty tenha algo que funcionou para você.

Desapontada, olhei para seu traje perfeitamente


ajustado. Eu estava me afogando em um par de calças de neve
marrons e casaco de inverno direto dos anos setenta, enquanto
Bauer parecia ter pulado da Snowboarding Magazine com o
que encontrou no porta malas do jipe.

— Eu não sei se iria tão longe assim, — murmurei.


Enquanto ele ria baixinho para mim, lutei para descobrir como
apertar a faixa na cintura da calça. — Mas você continua rindo,
senhor. Quando elas caírem e você tiver que carregar minha
bunda de volta para dentro para que eu não congele até a
morte, você não achará tão engraçado.

O som do miado descontente de Agnes foi meu aviso de


que Bauer havia tirado as botas e se aproximava de mim. Desta
vez, ela se manteve firme, embora suas orelhas achatassem
um pouco quando ele se aproximou.

Suspirei e deixei cair minhas mãos. — Eu desisto. Acho


que esse estilo foi aposentado antes de eu nascer. Vou ter que
passar a noite na floresta.

— Não seja tão dramática. Você está usando leggings por


baixo. — Ele parou e tirou as luvas com os dentes. Seus olhos
encontraram os meus, e eu senti uma reviravolta involuntária
em minha barriga. — Posso?

Eu me vi balançando a cabeça lentamente.

Bauer cheirava a frio, gelo e ar fresco, e havia flocos de


neve presos na barba escura que revestia sua mandíbula. Suas
mãos puxaram a parte interna da cintura da calça de neve, e
eu respirei fundo quando suas juntas roçaram meu estômago.

Ele era muito mais alto que eu e teve que abaixar a cabeça
para ver a pequena aba de tecido que me escapou. Embora
seus dedos fossem maiores que os meus, grossos e longos,
encontrou uma pequena fenda dentro do forro da calça e
torceu o pulso.

O meu corpo inteiro estava pegando fogo. Chamas. Por


toda parte. Se pensei que estava com calor ao acordar, quando
ele fez aquela coisa de girar o pulso, parecia que Bauer me
jogou diretamente nas toras em chamas.

Para manter meus pensamentos furiosos à distância, me


concentrei em suas mãos. Em uma estava um trevo. Para dar
sorte, tinha certeza. Na outra mão um leão, meus dedos — não
estava totalmente certa quando decidiram —começar a traçar
a linha de sua crina.

Bauer congelou.

— Por que um leão? — Eu perguntei.

Sua respiração estava irregular, e ele segurou


cuidadosamente a ponta da tira elástica que apertaria as
calças ao meu redor. — Os leões são o topo da cadeia
alimentar. Eles não temem ninguém e nada em seu ambiente
natural.

A pele de suas mãos estava quente por causa das luvas,


e as veias que corriam ao longo da superfície eram
pronunciadas. Uma coisa estranhamente masculina, ter veias
assim.

— Toda vez que eu o vejo, — continuou com uma voz


áspera, apertando lentamente as calças, o que puxou meus
quadris para mais perto dos dele. — Sou lembrado de canalizar
esse tipo de destemor.

Meus olhos levantaram para os dele, que estavam focados


no meu rosto com tanta intensidade que meu rosto corou
instantaneamente. Ele não me beijaria a menos que eu desse
o primeiro passo.

Ele canalizava o leão enquanto se movia pela vida, exceto


comigo.

Isto, ele deixaria em minhas mãos, e era uma corrida


inebriante de poder saber que eu era capaz de algo assim de
um homem como este.

Bauer procurou meu olhar profundamente, depois


passou dos meus olhos para os meus lábios. — Tenha certeza,
Claire.

Eu pisquei lentamente ao seu comando áspero. Não, não


comando. Foi um apelo.

Desde a primeira noite, ele foi completamente honesto


comigo que era isso que ele queria. Ele estava seguro desse
jeito.

Expirando lentamente, eu quebrei o olhar e senti as


pontas delgadas das asas de borboleta enquanto elas
flutuavam por todo o meu corpo. Eu estava pronta para pular?

Ainda não. Mas eu também não tinha certeza do que


estava esperando.

Mas o que eu sabia? O que minha cabeça e meu coração


poderiam concordar era que nosso tempo aqui ainda não havia
terminado.
— Você quer construir um boneco de neve? — Eu disse
com um pequeno sorriso.

Bauer apertou a mandíbula e depois enconstou a testa na


minha com uma risada exalada. — Sim, princesa. Eu quero.
Bauer

TRÊS HORAS — e uma família de bonecos de neve —


mais tarde, fiz algo que nunca tinha feito antes. Tomei um
banho frio depois de estar lá fora na neve.

Eventualmente, eu teria que começar a chamar essa


reação estranha a Claire Ward de O efeito princesa porque,
caramba, a mulher estava me matando lentamente com um
olhar, um toque de cada vez.

Naquele banheiro minúsculo, ajeitando aquelas ridículas


calças de neve que eram cerca de cinco tamanhos grandes
demais para ela, quase perdi o domínio trêmulo do meu
controle. Porque, embora ela não tenha me pedido para beijá-
la, ela queria que eu o fizesse. Tudo o que vi em seus grandes
olhos azuis quase certamente se refletiu nos meus.

Talvez soubesse o que me segurava, porque não era um


cara que se ligava a uma mulher, não importa como ela
estivesse olhando para mim, mas pela minha vida, eu não
conseguia descobrir o que diabos a estava segurando.

Por horas, brincamos na neve caindo constantemente,


usando adereços ridículos para formar uma família de bonecos
de neve de quatro pessoas e, durante horas, ela evitou contato
visual prolongado ou toque acidental de qualquer tipo.

Não que eu tivesse sentido algo bom, cobertos como


estávamos. E quando a água gelada bateu em mim, tive que rir
de mim mesmo por ainda precisar de um banho frio. Porque
não importava quão pouco contato visual ou pouco toque
havia, eu queria tanto Claire que poderia derreter cada
centímetro de neve que cobria a floresta fora daquela cabana.

Arrepios estalaram em minha pele, mas ainda assim,


apoiei minhas mãos contra a parede do chuveiro e respirei
fundo algumas vezes. Minha reação a ela desafiava qualquer
senso comum, a menos que fosse apenas o fato de que ela
parecia tão inatingível. Que ela me escapou o suficiente para
que a quisesse alcançar e agarrá-la a mim, abraçá-la e sentir
tudo sobre ela que ainda não havia sentido.

Provar seus lábios para ver se eles eram tão doces quanto
eu os imaginei. Segurar sua pele e ver quais partes de seu
corpo se sentiriam melhor sob minhas mãos impacientes.

Não eram os pensamentos para se ter quando ela estava


a menos de cinco metros de mim, aconchegada sob um
cobertor no sofá, que foi onde a deixei quando entrei no
chuveiro.

Com um empurrão violento, desliguei a água e tremi.


Uma toalha puída estava pendurada na parte de trás da porta
e me esfreguei a seco o mais rápido possível. Quando vesti
minhas roupas, me senti um pouco menos enlouquecido e
muito mais frio.

Graças ao fogo que eu tinha acendido novamente depois


do nosso tempo ao ar livre, abri a porta do banheiro para uma
onda de ar quente. Perfumado ar quente.

— Que cheiro é esse? — Eu gemi alegremente.

Claire não estava mais aconchegada no sofá, ela estava


na cozinha mexendo algo em uma panela grande de ferro
fundido sobre o pequeno fogão. Ela sorriu para mim. — Eu
invadi a despensa, e ele tinha um pouco de macarrão e apenas
o suficiente para fazer um molho de tomate decente. Então... é
italiano. Espero que esteja tudo bem.

— Mais do que tudo bem. — Eu vim atrás dela, mantendo


alguns centímetros entre suas costas e meu peito. Seu cabelo
foi puxado do pescoço, com mechas de cabelos castanhos
escuros caindo ao longo do pescoço. — Paige te ensinou a
cozinhar?

Por cima do ombro, ela me deu um olhar repreensivo. —


Talvez tenha sido Logan.

Eu levantei minhas mãos com uma risada. — Touché,


princesa, touché.

Ela balançou a cabeça. — Foi Paige. Logan se saiu bem


quando éramos mais novas, mas quando ele se casou com
Paige, os jantares ficaram muito melhores. Ela estava
trabalhando como modelo em tempo integral em Milão, pouco
antes de morar conosco, então nos beneficiamos muito com as
suas habilidades culinárias.

Puxando uma cadeira da mesa com o pé, me sentei e a


observei descaradamente enquanto navegava pela pequena
área da cozinha.

— Quantos anos você tinha quando Paige e seu irmão se


casaram?

Seu sorriso estava quase invisível quando ela mexeu o


molho. — Tinha acabado de fazer doze anos.

Pensei na foto dela e Lia do apartamento delas, usando


roupas do Washington. — Deve ter sido o sonho de toda garota
ter uma supermodelo como sua nova figura materna.

Ela bufou. — Não exatamente. Estávamos... oh, — ela


suspirou. — Como eu coloco isso? Lia e eu estávamos em nossa
fase de testes de fronteira quando Paige apareceu.

Observando Claire provar o molho e depois adicionar um


pouco de sal, eu ri dessa foto. — Fase do quê?

Cuidadosamente, ela colocou o sal e se virou para mim,


um quadril encostado no balcão. — Eu vou fazer você negociar,
Bauer.

— Como é isso?

— Uma pergunta por uma pergunta. — Uma sobrancelha


se levantou lentamente em desafio. — Você desvia toda vez que
pergunto sobre o seu passado, então se você quer saber sobre
o meu, eu farei com que seja uma troca equilibrada.

Cruzei os braços sobre o peito e segurei seu olhar. —


Algumas pessoas se sentem mais confortáveis do que outras
conversando sobre a infância. A minha não foi traumática nem
nada, mas isso não significa que queira derramar minhas
entranhas sobre espaguete e luz de velas.

Em minha resposta, que era para ser superficial e casual,


o rosto de Claire brilhou com decepção, e uma pequena
semente foi plantada atrás das minhas costelas. Algo
desconfortável e indesejado. Mas encontrou um lugar para
grudar, cavar-se sob a superfície de qualquer armadura que
tivesse erguido ao meu redor que ainda precisavam provar o
quanto estava ferido pelo tratamento do meu pai e Adele.

— Verdade ou desafio, — eu alterei. Minha versão de uma


oferta de paz. — Vou jogar, mas não posso garantir que
respondo a tudo.

Claire ponderou por um longo momento, o rosto


pensativo, a linguagem corporal relaxada. — Combinado.

Enquanto ela terminava o jantar, pus a mesa com dois


pratos azuis escuros que encontrei na despensa e adicionei um
pouco de lenha ao fogo. Lá fora, o vento aumentou,
chicoteando através das árvores até balançarem de um lado
para o outro. Ainda assim, Claire não havia dito eu te avisei,
pelo fato de estarmos presos aqui. Porque no segundo dia
dessa tempestade ridícula, estávamos prontos para superar os
treze centímetros. A neve acumulada não foi o que nos manteve
presos até que ela se apagou. No momento, era o fato de
estarem tão concentrados em limpar as estradas principais
que lugares como o de Scotty ao longo de Lion's Bay estavam
bem abaixo no totem.

Claire escorreu o macarrão, liberando uma nuvem de


vapor no ar. Levantei-me para encontrar algo para beber.
Agachei-me em frente à despensa, observando Agnes
cautelosamente enquanto ela deslizava através da parede em
minha direção. — Você sabe se ele tem algum álcool escondido
neste lugar? — Eu perguntei a gata.

Ela se sentou e começou a lamber uma pata, mas não


sibilou para mim, então eu dei de ombros. Dei uma última
olhada, mas decidi que Scotty devia se odiar, já que não havia
nem uma única garrafa de qualquer coisa em todo o lugar.
Talvez seja por isso que ele ainda conseguia fazer o que fazia
fisicamente, mesmo com mais de sessenta anos.

— Eu não consegui encontrar nada divertido para beber,


— disse a Claire enquanto ela colocava a tigela de macarrão no
meio da pequena mesa. — Então é água.

— Acho a hidratação adequada divertida.

— Assim como eu. — Sentei-me em frente a ela e sorri. —


Obrigado por fazer o jantar.

Suas bochechas coraram de rosa. — Sem problemas.


A comida estava deliciosa, e eu gemi alegremente na
primeira mordida do macarrão coberto de molho. — Isto está
incrível.

— Por que você nunca volta para casa, em Seattle? — Ela


perguntou sem nenhum preâmbulo.

O macarrão se alojou em minha garganta quando tossi de


surpresa. Depois de um pesado copo de água, consegui engolir.
Quando finalmente consegui falar, minha voz estava rouca.
Você sabe, de quase engasgar até a morte. — Foi direta, hein?

— É a minha vez.

Recostei-me na cadeira e a estudei. — Seattle não é mais


minha casa. Já faz tempo. Mudei-me para Whistler aos dezoito
anos e nunca olhei para trás.

— Por que você e Adele não se dão bem?

— Oooh, sem roubar, você não recebe duas perguntas


seguidas.

Claire inclinou a cabeça. — Você me perguntou pelo


menos quatro antes de concordarmos com isso. Acho que
ganhei duas.

Apoiando os cotovelos na mesa, me inclinei para frente e


segurei seu olhar. — Por que você se importa tanto em me
entender?

Claire não ignorou minha pergunta como esperava, a


culpando por sua formação principal ou por sua própria
origem com uma figura materna que não tinha relação, ela
apenas procurou meu rosto. — Acho que, às vezes, sou tão
curiosa com as pessoas que causam danos às crianças quanto
as próprias crianças. Então, embora eu não conheça Adele
muito bem, nunca a consideraria alguém que segura os
pecados de outra mulher em uma criança inocente.

— Eu nunca fui inocente, — respondi facilmente. — Eu


botei alguns limites por conta própria quando ela e meu pai se
casaram, para não mencionar meus anos absolutamente
infernais no ensino médio. Então, não pense que facilitei para
Adele entrar em nossa família.

Ela apontou o garfo para mim. — E agora você a defende.


Vê? Isso é fascinante para mim.

Eu exalei profundamente. — Nós ainda podemos mudar


para um desafio?

— Ela obviamente foi rude com você no jantar e até na


casa de Richard, apesar do fato de que sua opinião sobre ela é
incrivelmente valiosa para ela. Eu não entendo como um
adulto pode agir assim.

— Você me conhece, princesa, — eu disse com um


encolher de ombros. — Tudo em mim incomoda Adele e tem
sido assim desde o primeiro dia. Talvez outra pessoa tentaria
obter sua aprovação ou amor, mas a última coisa que faria era
sentar na merda e insistir nisso o tempo todo.
Ler nas entrelinhas da minha resposta casual forçada foi
fácil o suficiente para alguém tão inteligente quanto Claire. E
sabiamente, ela deixou passar.

Comemos em silêncio por alguns minutos, até que me


senti um completo idiota. Não foi culpa dela, não realmente.
Quero dizer, não, Claire não teve que tentar entender por que
minha madrasta e eu tínhamos o relacionamento que
tínhamos, e como isso sangrava nos meus relacionamentos
com meu pai e irmão. Abri minha boca para me desculpar, mas
Claire falou primeiro.

— Eu não gosto de pensar muito sobre por que nossa mãe


nos deixou.

Não parecia hora de dizer nada, então eu a segurei sobre


a mesa e esperei.

Claire girou um pouco de macarrão no garfo e deu outra


mordida. Quando terminou de mastigar, largou o garfo. — Não
estou brava com ela, não de verdade. Mas quando paro e penso
demais no fato de ter deixado quatro garotas com o irmão de
trinta e poucos anos, fico muito, muito chateada.

Seu rosto estava tão calmo quando disse isso que eu ri.

— Isso é engraçado? — Ela perguntou.

— Na verdade não, — admiti. — Eu não fico bravo com


Adele. Só tenho um milhão de outras coisas que poderia fazer
com o meu tempo, então por que escolheria me debruçar sobre
essa besteira? — Essa era uma resposta que ela podia
entender, a julgar pelo olhar em seu rosto à luz abafada da
cabine. Eu levantei meu queixo em sua direção. — Verdade ou
desafio.

— Verdade, eu acho. — Ela suspirou.

Como se estivesse tentando não ser vista, observei Agnes


contornando a borda da cozinha e encontrando um canto
escuro para sentar para nos observar. Eu decidi ir com calma.

— Por que tem um gato de pelúcia no seu sofá?

Ela corou. — Eu disse a Lia que queria um gato uma vez,


e como ainda estávamos no dormitório na época, ela me
comprou isso.

— Eu aposto que Agnes iria para casa com você. — Eu


murmurei.

Claire riu. — Eu nunca faria isso com Scotty. Mas se


conseguisse um gato, — ela suspirou, — gostaria que se
parecesse com esse anjinho.

Revirei os olhos, para o deleite de Claire. Quando ela não


me fez uma pergunta imediatamente, decidi pressionar minha
sorte.

— Por que você foi ao jantar como sua irmã? — Eu


perguntei a ela calmamente.

Depois de apenas uma breve pausa, Claire se levantou e


pegou o prato. — Eu te disse, estava fazendo um favor a Lia.
Dei outra mordida no espaguete e observei seus
movimentos bruscos enquanto lavava o prato e o colocava em
uma toalha para secar. — Eu não acredito que seja isso.

Ela girou. — Bem, foda-se, você não precisa acreditar em


mim. — Minhas sobrancelhas se levantaram.

Seu rosto imediatamente se suavizou e ela esfregou a


testa. — Isso não foi... eu sinto muito. Talvez deveria fazer um
desafio.

Por que a bonita Claire Ward não queria responder a essa


pergunta? Qualquer semente plantada atrás das minhas
costelas começou a se espalhar, se espalhando mais e mais,
como se estivesse imprimindo algo de si mesma dentro de mim,
e não tinha certeza de como me sentia sobre isso. Se isso
tivesse algo a ver com Finn...

Afastei o pensamento instantaneamente, uma recusa


absoluta em aceitar a ideia. Finn, o Golden Boy que todo
mundo amava. Ele conhecia Claire desde que conhecia Lia, e
não havia nada entre eles.

Eu sorri um pouco. — Eu não acho que você quer que eu


te desafie. — Eu disse a ela. Ambos sabíamos muito bem o que
eu a desafiaria a fazer.

Ela apertou os lábios entre os dentes e tentou conter seu


sorriso crescente. Afastando-me da mesa, a ignorei quando
tentou pegar meu prato. Em vez disso, a empurrei de lado com
uma pancada do meu quadril, e ela deslizou pelo balcão, mas
não saiu.

Enquanto eu lavava o prato, o fato de ainda termos uma


noite inteira à nossa frente, e provavelmente pelo menos uma
boa parte do dia seguinte, se estendia como um doloroso
exercício de frustração. Como sentar no fundo de uma
montanha de neve fresca, mas sem ter uma prancha para
descer.

— Talvez eu faça.

Minhas mãos congelaram na água e sabão com suas


palavras calmas. Parecia que a coisa que mais queria estava
sendo pendurada fora de alcance. Eu podia ver e cheirar, talvez
até escová-la com os dedos se tentasse bastante.

Eu terminei de lavar o prato com cuidado e a cutuquei


novamente para poder colocá-lo junto ao seu. Claire não se
moveu desta vez, com a cabeça inclinada em minha direção.
Minhas mãos estavam segurando a borda do balcão com força,
e olhei para ela da mesma maneira.

— Por que você não pode simplesmente perguntar? — Eu


encarei seus lábios, abertos, convidativos e incríveis. — Porque
você não pode mais mentir para mim e fingir que isso não é
algo que você quer tanto quanto eu.

Claire exalou trêmula. — Você está certo, eu não posso.

Eu derrubei meu queixo no peito e xinguei.


— De que você tem tanto medo?

A inspiração dela era grande, não instável, mas o tipo de


respiração profunda que você respira quando tenta se
fortalecer antes de um salto gigante na beira de uma
montanha. Foi o que fiz toda vez que me amarrei a uma
prancha antes de começar a me mover.

— Você vai me olhar, Bauer?

Fechando os olhos por um momento antes de o fazer,


procurei desesperadamente todos os fragmentos de
autocontrole que tinha, se isso acabasse sendo outra noite em
que eu me deitaria em um sofá estúpido. Quando me senti
mais firme, me afastei do balcão e olhei para ela, os olhos fixos
nos dela.

— Eu não tenho medo de você. — Ela insistiu. Suas mãos


cuidadosamente, lentamente, deslizaram suavemente ao redor
dos meus quadris, subindo pela minha cintura e pelas minhas
costas, onde enrolou seus dedos em minha camisa.

Soltei um suspiro lento e permiti que minhas mãos


subissem por seus braços até tocarem os lados de seu pescoço,
meus polegares roçando a borda de sua mandíbula. Dentro de
mim, algo rosnou perigosamente, e quase não o detive. Mas eu
consegui segurar por causa do jeito que ela me olhava.

— Mas isto, — ela continuou, seus dedos aumentando a


força que tinha sobre mim, como se estivesse com medo de que
eu estivesse indo para algum lugar agora. — Isto é a coisa mais
assustadoramente inesperada que eu já quis.

Meu sorriso veio facilmente. — Princesa, você não tem


ideia. — Murmurei, baixando a cabeça sobre a dela.

Pouco antes de nossos lábios se tocarem, parei, e ela


soltou o gemido mais insanamente erótico, algo rouco de
desejo.

— Você ainda não me perguntou. — Eu disse a ela,


levantando meu queixo o suficiente para que meu lábio inferior
roçasse contra sua boca.

Agora senti as pontas das unhas dela em minhas costas.


Eu sorri.

— Bauer, sua dor teimosa em minha bunda, —


sussurrou. — Lindo, lindo, por favor, com açúcar no topo, você
quer me beijar...

Minha boca pegou a dela antes que pudesse terminar sua


frase, e eu sabia, inequivocamente, como estava destruído.
Claire

BAUER ME BEIJOU como se tivesse sido colocado nesta


terra apenas com esse único propósito.

Meus ossos derreteram como metal lentamente


aquecendo, e ele passou os braços fortes em volta do meu
corpo para me manter firmemente contra ele. Seus lábios eram
seguros e firmes, e ele chupou meu lábio inferior como se fosse
doce, rosnando quando eu lambi sua boca.

Ele era forte, duro e gostoso, e meus braços subiram ao


redor de seu pescoço enquanto me provava fundo, profundo, e
mais fundo. Este não foi o primeiro beijo típico em que ele
dançou ao meu redor, ou eu dancei ao redor dele.

Nos movíamos juntos perfeitamente, escorregadios e


doces, quando ele pegou meus lábios novamente, e de novo.
Suas mãos estavam apertadas contra mim, se ajustando ao
longo da curva da minha caixa torácica e para baixo, até que
encheu as mãos com a minha bunda. Eu rolei mais perto dele,
inspirando pelo nariz quando não conseguia nem pensar em
afastar minha boca da dele para respirar.
Meus dedos enrolaram na parte de trás de sua cabeça
enquanto o segurava, e ele sorriu contra os meus lábios.

— Tão bom, — ele murmurou. — Tão doce.

Bauer passou a ponta do nariz ao longo do meu, e tentei


não choramingar lamentavelmente que não estávamos nos
beijando porque, porque não estávamos nos beijando?

Eu queria que esse sentimento durasse para sempre. Foi


o mais perto que cheguei de paraquedismo, pular de bungee
jumping, cair livremente no ar, e meu sangue cantou
violentamente em minhas veias com o quão inebriante tudo
era.

Ele voltou com um grunhido, inclinando a cabeça para


poder varrer a língua contra a minha. Estávamos tão enrolados
um ao outro; minha perna enrolou em torno dele quando usou
a mão, segurando possessivamente em volta da minha coxa
para subir mais alto.

A forma como ele encaixou meus quadris nos dele, me


afastei do beijo com um suspiro.

Rapidamente, pequenas fogueiras irromperam quando


ele rolou contra mim, pressionando minhas costas contra o
balcão.

Estava mil graus naquela cabana, e eu tinha o


pensamento indistinto e nebuloso de que, com um toque da
sua mão, um movimento de seu corpo entre minhas pernas,
eu explodiria como uma bomba acesa.
Sua boca desceu pelo meu pescoço, chupando beijos que
certamente deixariam marcas, e assobiei meu prazer. Meus
dedos subiram por baixo do algodão macio de sua camisa, e
ronronei com o calor e a suavidade de suas costas, com a força
inacreditavelmente forte desses músculos em movimento sob
minhas mãos.

Ele lambeu a lateral do meu pescoço, parando para dar


uma mordida suave na linha da minha mandíbula, o que me
fez sorrir. — Desde o momento em que me virei, — ele
murmurou com uma voz sombria e áspera. — E te vi naquele
vestido amarelo, eu queria isso. E merda, Claire, é muito
melhor do que pensava.

Eu pisquei, tão envolvida no turbilhão do que ele me fazia


sentir, de como tudo o que aconteceu nos últimos dias levou a
esse momento inevitável, que esqueci do porquê estar aqui em
primeiro lugar.

Não foi realmente por causa de Lia. Ela era o catalisador,


não a razão. Durante anos, imaginei como seria beijar Finn.
Mas minha imaginação nunca conjurou algo assim. E não
senti culpa, não exatamente. Porque eu não era nada para
Finn, e o homem que me segurava como se mal pudesse se
controlar, estava me tocando, me provando e olhando para
mim como se eu fosse tudo. Este homem, que era o oposto de
qualquer coisa que já tivesse imaginado.
Bauer fez uma pausa e puxou a cabeça para trás,
sentindo claramente a maneira como meus pensamentos
errantes introduziram tensão no meu corpo.

Só que... não era o tipo de tensão que ele provavelmente


se preocupou, quando me advertiu para ter certeza.

Beijá-lo, isso me deu certeza. Certeza. Isso... ele, era o


que eu queria. Mas vi o momento em que ele leu algo em meu
rosto que não gostou.

— Não, Bauer, — implorei, deslizando minhas mãos das


suas costas e subindo as linhas rígidas de seu abdômen. — Eu
não estou parando.

Gentilmente, ele bateu em minha testa. — Algo aconteceu


aqui.

Olhei para baixo porque não mentiria. — Eu sei, mas...


ainda estou aqui. Estou tão aqui com você.

Subindo na ponta dos pés, sorvei seu lábio inferior


exuberante, tentando atraí-lo de volta para aquele momento
decadente comigo. Seus olhos se fecharam, e ele permitiu.

— Tão bom, — disse a ele. — É tão, tão bom.

Minhas mãos se enrolaram atrás de seu pescoço, e puxei


sua cabeça para trás, chupando a ponta de sua língua quando
mergulhou em minha boca. Seu peito reverberou com um som
faminto que fez meus cabelos se arrepiarem.
Bauer diminuiu o beijo e rolou a testa contra a minha. —
Princesa, adoraria nada mais do que levá-la para aquele sótão
e arrancar cada peça de roupa entre nós.

Minha boca se abriu porque sim, por favor.

Seus olhos se fixaram nos meus, e eu sabia o que ele


estava dizendo para mim era importante. — E se você se
arrepender amanhã porque ficou presa aqui comigo, eu nunca
me perdoaria se sentisse que a pressionei para isso.

Eu ri baixinho, mas seu rosto ficou naquela máscara


séria. Minha palma segurou o lado do rosto dele, e gostei da
sensação de seus pelos escuros em minha pele.

— Bauer, você não fez nada além de me dizer o quanto


quer isso. — Disse.

— Eu fiz. — Ele se virou e deu um beijo na palma da


minha mão. — Confie em mim, já passei dos cem por cento,
mesmo que isso me deixe louco quando as pessoas dizem
coisas como mil por cento porque é matematicamente
impossível.

Minha risada alta nos pegou de surpresa, mas quebrou


seu rosto em um pequeno sorriso. — Por que você tem tanta
certeza que vou me arrepender disso? — Eu perguntei a ele.

Ele usou a ponta do dedo para traçar uma linha em


minha testa e ao longo da borda da minha bochecha. Minhas
pálpebras se fecharam com a carícia gentil, tão diferente de
como havia me beijado. — Por causa da aparência do seu rosto
cerca de dois minutos atrás. Algo a impediu. Algo que você não
pode silenciar, — ele bateu em minha testa novamente. —
Aqui.

Como não havia percebido o quão atento ele era? Minha


boca se abriu um pouco com a rapidez com que percebeu o
desenrolar dos meus pensamentos. A incapacidade de sair da
minha mente geralmente era minha queda de qualquer
maneira.

Pensar, pensar e pensar em algo até que soubesse


exatamente o que sentia sobre aquilo. Até que minha cabeça e
meu coração estivessem na mesma página.

Agora, com Bauer, foi a primeira vez que me lembrei de


quando me deixei sentir sem precisar saber como tudo poderia
dar certo e como isso poderia parecer quando o sol surgisse
sobre a pequena cabana, nos isolando da realidade.

Quando se afastou, suas mãos caindo do meu corpo,


senti instantaneamente frio, mesmo que a cabine estivesse
quente.

— Bauer. — Eu disse calmamente.

A luz do fogo na cabine lançou um brilho mágico em seu


perfil quando parou, e vi o desejo ali em uma linha apertada
de sua mandíbula, a maneira como segurava as mãos com
tanto cuidado ao lado do corpo. Seu grande corpo, muito mais
forte que o meu, estava quase vibrando na penumbra, com a
luz tremeluzente.
— Está tudo bem, — disse lentamente. — Eu não estou
bravo. Eu só... não consigo lidar com isso se você acordar e me
olhar com decepção nesses olhos azuis, princesa.

Meu coração se partiu por ele pela primeira vez desde que
o conheci. Não importa o que mais revelou, que trechos de seu
passado me deu, essa foi a primeira vez que senti o quão
profundamente ele aprendeu a se proteger. Ele se afastar era
muito mais sobre ele do que sobre mim.

— E você normalmente faz discursos como esse para as


mulheres com quem dorme? — Eu perguntei, mas perguntei
timidamente, com uma voz suave e livre de censura. — Verifica
se elas não se arrependerão de uma noite com você?

Bauer engoliu em seco. Seus olhos procuraram meu


rosto. — Elas sabem no que estão se metendo. Elas não estão
pensando além desta noite, confie em mim.

— Mas você acha que eu estou?

A ponta do seu dedo inclinou meu queixo e seu polegar


roçou meu lábio inferior. — Eu acho que você me olha de
maneira diferente do que elas, Claire. E se você não pode
acalmar essas coisas que estão te impedindo, eu não quero ser
o homem que todos eles pensam que eu sou. Não com você.
Aquele que vai empurrar para onde você me deixar, quem vai
convencê-la com meus lábios, — ele deixou cair o polegar, mas
ainda olhou fixamente para minha boca. — E minhas mãos até
você se convencer.
Minha boca se abriu para discutir com ele, mas nenhuma
palavra veio. Bauer havia se convencido de que só era capaz
de relacionamentos casuais, talvez por centenas de razões
diferentes que não tinham nada a ver com sua educação.
Crenças reforçadas eram difíceis de quebrar, e não esperava
isso dele. Não uma vez nos beijamos. Um beijo como esse,
especialmente.

Ele estava tentando fazer o que achava certo, o que era


honroso. O homem que se esforçou tanto para fingir que não
se importava com o que as pessoas pensavam dele estava
colocando minhas próprias reservas tão à frente de suas
necessidades que eu não conseguia pensar em uma única
resposta inteligente.

Foi por isso que o deixei sair da cozinha e cair no sofá


com uma expiração pesada. O som estava tão cheio de tensão
não gasta que meus lábios se curvaram em um sorriso triste.
Em que situação me encontrei.

Subi as escadas lentamente até o sótão, não porque


estava pronta para dormir — ainda era cedo, a luz do lado de
fora da cabine estava um pouco cinza quando a noite caía —
mas porque precisava de um pouco de espaço para pensar.

Enquanto me empoleirava na beira da cama, toquei com


os dedos meus lábios. Que bom momento para Bauer deixar
seu lado cavalheiresco surgir, pensei com tristeza.

Depois daquele beijo. Vinte e um anos, e de repente


pareceu um tempo impossivelmente longo para passar sem
experimentar um beijo como esse. Claro, tive alguma
experiência, provavelmente menos que as minhas irmãs, mas
era um triste estado de coisas que, mesmo quando fantasiava
sobre beijar alguém importante para mim, meu cérebro nunca
conjurou esse tipo de fome furiosa e feroz. Um desejo
impenitente se apodera de nós até que não conseguimos tocar
o suficiente, provar o suficiente ou empurrar o corpo o
suficiente.

Não queria que Bauer se contivesse. Não queria que se


preocupasse com o fato de que eu estaria pensando demais ou
se me arrependeria do meu tempo com ele. Mas eu estava
pensando demais. E precisava parar.

Normalmente, eu perguntava a Lia o que deveria fazer,


mas fiz uma careta quando pensei sobre o quão patentemente
infeliz isso a faria. Ela odiaria isso.

Não, para isto, peguei meu telefone e toquei uma


mensagem para a irmã que, acima de tudo, me daria
honestidade e pragmatismo ao lado de sua entrega sempre
franca.

Eu: Em uma escala de 1 a 10, quão estúpido seria dormir


com Bauer quando estamos presos em uma cabana pelo menos
até amanhã...

Fechei meus olhos com força ao clicar em enviar. Meu


telefone tocou quase imediatamente.
Isabel: SE NÃO FIZER, TE DESCLASSIFICO COMO MINHA
IRMÃ.

Isabel: Você está seriamente questionando isso????


Aquele homem olhou para você como se fosse uma refeição
inteira que queria devorar, e eu não consigo entender uma razão
para você não querer.

Isabel: Espere, a menos que você não queira. SE VOCÊ


NÃO QUER, diga não, e se ele não ouvir, estou amarrando
minhas botas de neve e arrancarei suas bolas e as triturarei
através de UM MOEDOR DE CARNE.

Minha risada foi suave e, imediatamente, meus olhos


arderam com lágrimas esmagadas. Era um presente raro estar
cercado por mulheres em minha vida que cometeriam atos tão
violentos em meu nome sem pensar duas vezes.

Eu: Não, não é necessário rasgar e triturar nada.

Isabel: Você percebe o quão aberto se deixa para


comentários explícitos depois de textos como esse?

Eu: Hã. Desculpe. Você sabe o que quis dizer.

Eu: Eu gosto dele, mais do que pensei que faria.

Isabel: Escute, C, se você está procurando alguém para lhe


dar permissão para parar de pensar demais e simplesmente
fazer a coisa, então eu sou sua garota. Ele é lindo, engraçado, e
não há como negar que gosta de você. A melhor pergunta é por
que não?
Isabel: Não pense muito no que acontece quando você
chegar em casa. Ok? Se hoje é o que você tem com ele, deixe que
lhe ensine todas as coisas maravilhosas que ele sem dúvida
sabe. E se isso for impossível para você, convide-o para sair em
uma data em que você e as estradas tenham sido aradas,
porque merda, as mulheres podem fazer a pergunta e não há
nada de errado nisso. Ele provavelmente adoraria se você o
fizesse.

Mordi o lábio, tentando parar o sorriso pela maneira como


seus conselhos levantaram a leve pressão em meu peito à
distância autoimposta de Bauer. Ela estava certa. Ele queria
isso e queria mais do que eu. E não importa o quanto
tentássemos ignorar a maneira como as contusões profundas
em nossas almas afetavam nossos relacionamentos, este era o
exemplo perfeito. Eu o queria. Ele me queria. Mas eu estava
pensando demais, porque queria saber que tudo acabaria bem.

Ele estava se afastando por causa de quão fortemente


evitava uma possível rejeição. Sim, ele estava me protegendo,
mas também estava se protegendo.

Éramos produtos de nossas circunstâncias, mas não


precisávamos deixar que essas circunstâncias controlassem
todas as escolhas que fazíamos. Muitas pessoas o fizeram, mas
sentada naquele sótão lentamente escurecendo, eu não queria
mais.

Quando o sol nascer pela manhã, não há como olhar para


Bauer com arrependimento ou decepção. Não, não poderia
garantir como isso iria acontecer, mas o que sabia sobre ele e
como estava me fazendo sentir era suficiente.

Levantei-me e acendi a pequena lâmpada na cômoda,


lançando no sótão um brilho amarelo suave. Com movimentos
cuidadosos, tirei meu casaco e alisei as mãos à frente da minha
camiseta simples. Como roupas sedutoras, não foi minha
melhor escolha, mas até agora, isso não tinha sido um
problema para Bauer.

O elástico em meu cabelo saiu facilmente, e meu cabelo


caiu ao redor dos meus ombros, ondas bagunçadas deixadas
para trás após o jeito que o puxei para trás depois do banho.
A garota olhando para mim no espelho não estava pensando
demais em nada. Ela sabia exatamente o que e quem ela
queria.

Desci as escadas em silêncio e parei quando vi Agnes


sentada no canto da escada de baixo. Ela lambeu a pata e me
olhou com os olhos cortados. Cuidadosamente, cocei o topo da
sua cabeça quando passei, e ela me deu um ronronar feliz e
estridente em resposta.

Isso me fez sorrir enquanto caminhava ao redor da borda


do sofá.

Bauer ainda estava deitado lá, suas longas pernas


estendidas e um braço jogado sobre o rosto, o peito subindo e
descendo em um ritmo uniforme. Brevemente, parei porque,
oh Deus, ele tinha adormecido? Mas tão rápido quanto pensei,
ele largou o braço e me prendeu com um olhar inescrutável
enquanto eu estava acima dele. Ok, então essa parte era uma
que não pensei. Como a coreografia do meu pequeno gesto.
Sem segundas intenções, eu me lembrei.

Com as duas mãos, peguei a barra da minha camisa e a


puxei sobre a minha cabeça. Bauer sentou-se devagar quando
a deixei cair no chão, sua mandíbula se contraindo, olhos
ardendo furiosamente sobre a pele que acabei de expor.
Deixando minhas leggins e meu simples sutiã, dei um passo à
frente e passei uma perna por cima do quadril para poder me
sentar em seu colo.

Suas mãos deslizaram pelas minhas costas e ele deixou


cair a cabeça na dobra do meu ombro enquanto parecia tentar
controlar a respiração. Embaixo de mim, ele estava grande.
Duro. Pronto.

Minhas mãos vagaram por seus ombros e por trás de sua


cabeça. Eu beijei sua têmpora, depois lambi ao longo da
orelha, insanamente gratificada quando seus dedos se
apertaram dolorosamente em minhas costas. Eles se mexeram,
então começaram a puxar a alça do meu sutiã. Sua boca
arrastou ao longo da pele do meu peito, pequenos beijos que
ele acalmou com a língua.

Quando alcançou o topo do meu peito, usou a ponta do


polegar para me transformar em uma massa rolante de desejo.
Ainda assim, não nos beijamos. Ainda assim, não tínhamos
falado uma única palavra.
Sua cabeça virou, os olhos quase negros à luz da fogueira,
e procurou minha expressão com cuidado.

Segurei os lados do rosto com firmeza, para que não


desviasse o olhar. — Eu quero você, — disse a ele. — Eu quero
isso com você.

Bauer avançou e pegou minha boca. Oh, ele tomou-me


profundo e doce, quente e com fome. Beijos infinitos e
maravilhosos que nos fizeram ofegar, suspirar e gemer
enquanto minhas mãos rasgavam sua camisa.

Ele teve pena, afastando-se para arrancá-la. Minhas


mãos deslizaram sobre sua pele, maravilhosa e linda e
empilhada de músculos.

Usando as mãos embaixo da minha bunda, ele me pegou


e nos virou para que eu estivesse embaixo dele no sofá. Uma
vez que estava acomodada, essas mãos se moveram sobre a
cintura da minha legging quando a tirou. Ela pousou em uma
pilha com sua camisa e a minha. Minha calcinha veio em
seguida, sua língua saindo para lamber seu lábio inferior de
uma maneira que me contorcia impotente enquanto se
levantava e tirava suas calças e cueca boxer. Antes que
voltasse entre minhas pernas, Bauer pegou sua carteira da
mesa lateral e tirou uma camisinha.

Eu ampliei minhas pernas para que pudesse acomodar


seus quadris entre elas, e nossas mãos avidamente varreram
todos os lugares agora expostos aos nossos olhos. Após apenas
alguns minutos, gritei porque aquela coisa do pulso que havia
feito no início do dia, a torção de sua mão que estava tão suja
quando eu estava completamente vestida, me deixou úmida de
suor e os dedos dos pés encolhidos no sofá.

— Você é tão perfeita. — Murmurou contra o meu peito,


beijando ao longo das minhas costelas.

Minha mão o encontrou e ele sibilou alto de prazer pela


pressão dos meus dedos e palma da mão.

— Bauer, por favor. — Implorei, arqueando meus quadris.

— Logo, princesa, — rosnou, empurrando-se em minha


mão novamente. — Eu tenho um preservativo e nenhuma
intenção de me apressar por um segundo disso.

— Por favor, por favor, — eu sussurrei contra sua boca.


— Eu não aguento mais isso.

Ele sentou-se e passei minhas unhas em seu abdômen


enquanto ele rasgava a embalagem. — Acho que teremos que
ser criativos assim que chegarmos lá em cima, hein?

Eu sorri, sentando-me para dar um beijo na borda do


osso do quadril. — Eu acho.

Bauer desceu sobre mim de novo, com as mãos entre a


cabeça no sofá. Puxei minha perna para cima, meu joelho
apoiado contra seu peito enquanto o outro enrolava ao redor
dos seus quadris.

Lentamente, ele avançou. Tão lentamente, pensei que


poderia morrer, em uma agonia sem palavras, desamparada e
incrível. Minha boca estava aberta, meu pescoço arqueado
para trás, um gemido de prazer preso em algum lugar em
minha garganta quando ele xingou tão roucamente que me vi
sorrindo.

Por um momento, ele me envolveu em seus braços e ficou


assim. Apenas... imóvel e congelado em um precipício que
parecia perigoso de quão grande era. Como se nenhum de nós
sentisse que estava pronto para o que poderia acontecer
quando ele finalmente começasse a se mover.

Ele levantou a cabeça e, por um momento, vi a


perplexidade do que estava sentindo refletida em seu rosto.

Isso é diferente. Isso é grande.

Gentilmente, ele me beijou.

E então, oh, e então, não foi tão gentil.

Era perfeito, cheio de mãos ásperas e quadris ásperos,


beijos e mordidelas dos meus dentes ao longo do seu ombro.

Meu corpo desmoronou, uma explosão ofuscante,


esmagadora no exato momento em que Bauer gritou meu
nome. Ele caiu contra mim, suas costas suadas, seus braços
apertados e tremendo ao redor do meu corpo oprimido quando
me agarrei a ele.

Quando finalmente levantou a cabeça, seu sorriso idiota


me fez rir alto. Bauer balançou a cabeça lentamente. —
Estamos prestes a ser muito, muito criativos no andar de cima.
— Estamos? — Eu mal conseguia formar as palavras em
volta do meu sorriso radiante.

— Oh, sim. — Ele me beijou. — Ou iremos, quando


conseguir mover minhas pernas.

Eu o beijei de volta. — Espero que você saiba que me


carregará pelas escadas, grandalhão. — Seus olhos estavam
tão felizes, tão satisfeitos, que meu coração ardia brilhante e
quente como um carvão.

— Eu acho que agora, daria a você qualquer coisa que


você pedisse.

— Uma cama e você. — Eu disse simplesmente.

Ele cantarolou contra os meus lábios. — Isso eu posso


fazer, princesa. Segure firme.
Bauer

ALGO FORA do comum me acordou na manhã seguinte.

Não era o sol que brilhava através da parede das janelas,


e não era o corpo delicioso de Claire envolto em meu peito. Não
era que eu precisava de café, ou mesmo que Agnes estivesse
sentada na cômoda olhando para mim com seus assustadores
olhos verdes.

Sim, aquela gata provavelmente viu coisas na noite


passada que nunca tinha visto antes. Eu sorri enquanto
pensava em todas elas.

Fomos criativos, isso é certo. Havia tantas coisas que o


corpo humano era capaz que não terminavam em sexo. E por
horas — merda, não minto, horas — nós exploramos todas
essas coisas até que ela estivesse mole, suada e me implorando
para manter minhas mãos longe dela.

Minhas costas estavam doloridas. Minhas coxas estavam


doloridas.
E se eu puxasse as cobertas, aposto que Claire tinha
marcas em metade do corpo pelas coisas que fiz a ela depois
que subimos as escadas.

Honestamente, não me surpreenderia se, no meu leito de


morte, eu me lembrasse dos sons que emitia quando me
deleitei em todo o seu corpo até que estivesse me xingando, me
arranhando, implorando sem um pingo de orgulho para puxá-
la sobre a beira.

E a reviravolta foi um jogo limpo, porque uma vez que a


boca e as mãos dela viraram as mesas para mim, eu fiquei sem
vergonha nas coisas que implorei a ela.

Mas não, nada disso foi o que me tirou do cansaço


alimentado pelo sono na manhã seguinte.

O som voltou a tocar e senti minha sobrancelha


tensionar.

Estrondo.

Raspagem.

Estrondo.

Raspagem.

Claire inalou lentamente enquanto acordava, rolando de


costas, os braços esticados sobre a cabeça.

Eu me virei e sorri para como ela parecia. Todos os seus


cabelos escuros estavam emaranhados além da esperança,
havia marcas por todo o peito e pescoço da minha boca, e a
falta de sono da noite anterior aparecia nas olheiras sob seus
olhos. Ela era a perfeição.

Eu nunca me senti assim depois de passar a noite com


alguém. Nem pela metade. De alguma forma, eu a queria ainda
mais. Mesmo enquanto meus pensamentos errantes tentavam
romper, criar raízes e me convencer de que não havia como ela
querer mais comigo.

— Bom dia. — Ela murmurou, me dando um sorriso


sonolento que fez meu coração torcer dolorosamente no meu
peito.

— Bom dia. — Inclinei-me para lhe dar um beijo.

Ela torceu o rosto adorável. — Aposto que meu hálito


matinal é ótimo.

— Eu não dou a mínima, — disse a ela. Com o polegar,


tracei seu lábio inferior. — Estes valem a pena.

À luz brilhante da manhã, foi uma descoberta deliciosa


que Claire não tinha vergonha de sua nudez, porque ela nem
sequer tentou cobrir seus seios igualmente deliciosos usando
o lençol enrolado ao redor da cintura.

— Espero que Scotty tenha Advil lá embaixo. — Disse ela.

Eu cantarolei. — Você está dolorida hoje, princesa?

— Limpe esse sorriso presunçoso do seu rosto. — Minha


risada a fez sorrir.
O sorriso foi a melhor coisa com a qual eu poderia ter
acordado. Claire não estava saindo da cama, evitando o
contato visual ou me explicando por que isso nunca poderia
acontecer novamente. Explicando o porquê de não estar
pensando quando me deixou fazer todo tipo de coisas sujas em
seu corpo incrível.

Estrondo.

Raspagem.

Claire franziu a testa, olhando por cima do meu ombro.


Sua boca se abriu em compreensão.

Minha palma deslizou por seu braço e segurou sua nuca.


Meus dedos se enroscaram naquele cabelo e ela finalmente
olhou para mim com um suspiro.

— Os limpa-neve20 estão lá fora. — Eu disse.

— Assim eu ouvi.

O que significava que não teríamos problemas em voltar


para Seattle.

Nós dois ficamos quietos, e suas pálpebras se fecharam


quando o som aconteceu novamente.

Se pensava que meu coração apertava quando ela sorria


para mim, estava dando um verdadeiro soco na decepção em
seu rosto.

É um dispositivo para remoção de neve, tanto nas vias rodoviárias como ferroviárias, permitindo
20

maior fluidez do trânsito


— Panquecas no café da manhã de novo? — Eu perguntei
a ela, passando a mão pelas linhas elegantes de suas costas.

Os dedos de Claire traçaram a face do relógio pintado em


meu peito. — Por que um relógio?

Sua evasão me fez sorrir. — O tempo acaba se esgotando


para todos. Melhor aproveitar ao máximo enquanto está do seu
lado.

Isso a fez levantar a cabeça e ela me encarou com tanta


intensidade que lutei contra o desejo de me mexer
desconfortavelmente.

O que quer que estivesse girando e girando naquele


cérebro dela, que, na verdade, me intrigava tanto quanto todas
as suas outras partes, tinha o poder de arruinar esse pequeno
pedaço do paraíso em que nos encontramos.

Eu me peguei prendendo a respiração com o que ela diria


a seguir.

— Que limpa-neve? — Ela disse.

Minha testa franziu em confusão.

— Não ouvi nada por aí, — continuou ela. — Na verdade,


tenho certeza de que não virão até amanhã de manhã.

Um sorriso lento curvou meus lábios, e não tão


gentilmente segurei seus quadris e a puxei sobre mim. Claire
se sentou no meu colo, o lençol se juntando ao redor da sua
cintura enquanto me montava como um sonho que eu
conjurei.

— É assim mesmo?

Ela mordeu o lábio e assentiu. A imagem que fez foi tão


tentadora que só consegui balançar a cabeça em descrença.
Nenhuma mulher, nem uma única, me fez pensar no futuro.
Sobre encontros e aniversários e bebês, anéis e rendas. Mas
depois de apenas uma noite com ela, algo me fez percorrer cada
uma delas. Não fazia sentido, mas caramba, se perdesse minha
oportunidade enquanto o tempo estivesse do meu lado.

— Eu também não ouvi nada, princesa.

O sorriso que se espalhou por seu rosto foi vitorioso, e me


sentei para provar com meus lábios. Ela me beijou
profundamente, puxando meu cabelo com as mãos.

Nós nos viramos e puxei os lençóis de volta sobre nossas


cabeças, bloqueando o mundo apenas por mais um pouco de
tempo. Se ela ia me dar esse dia, eu aceitaria sem um pingo de
culpa.

E acho que sabia, enterrado embaixo de qualquer prazer


físico que estivesse me dando, eu daria a Claire muito mais do
que isso, se ela quisesse.
Claire

POR TODO O DIA, me permiti ser imersa no que se


desenrolava entre mim e Bauer. Nada mais existia, e havia
uma sensação estranha e bonita de realidade suspensa que eu
nunca havia experimentado.

Tomamos o café da manhã lentamente em frente ao fogo,


sem pressa de nos vestir.

Assim que fizemos, nos juntamos novamente e


adicionamos dois bonecos à nossa família de neve. A visão da
entrada recentemente limpa foi sumariamente ignorada por
nós dois.

Houve uma breve luta com bolas de neve, onde o acertei


direto na lateral do rosto, e ele me atacou na neve.

O que aprendi depois foi que curtir na neve era muito


parecido com curtir na praia. Em teoria, era romântico, algo
passível de Instagram. Na realidade, os elementos naturais
ofensivos acabaram em lugares que você nunca os desejaria. A
neve acabou na parte de trás do meu casaco e nas minhas
botas quando ele tentou arrancar minhas calças de neve do
meu corpo para colocar as mãos geladas na minha pele. Foi
quando entramos.

No balcão da cozinha, vi meu telefone acender com


notificações. Essas, também ignorei. Minha família sabia que
eu estava segura e voltaria para casa no dia seguinte.

Lia, e qualquer surto que estivesse tendo sobre eu ficar


presa com Bauer, poderia esperar.

Eu nunca tomei uma decisão como essa, de


propositalmente pausar todas as responsabilidades que me
esperavam. A sensação de liberdade que me deu foi como
engarrafar a euforia mais alta. Esta foi uma decisão para mim.
Sobre mim. E Bauer.

O olhar em seu rosto quando disse a ele que não escutei


os limpa-neves trouxe ainda um sorriso tonto para o meu
rosto. Como ninguém havia descoberto aquele seu coração
enterrado debaixo da fachada me surpreendeu.

Eu queria saber mais. Eu queria ver mais. Ouvir mais.


Tocar mais. E ele também, mesmo que não estivesse pronto
para admitir.

O som da água corrente me fez sorrir por um motivo


diferente, o olhar aquecido que me deu quando trocamos de
lugar no banheiro. Ele e eu decidimos tomar banho
separadamente do ponto de vista puramente logístico — o
chuveiro de Scotty era minúsculo.
Foi enquanto secava meus cabelos com uma toalha e ele
estava se aquecendo, que eu lutei contra os pensamentos do
que aconteceria quando voltássemos ao mundo real.

Bauer vive uma vida muito diferente da minha e a poucas


horas de onde minha própria vida estava ancorada – onde
estavam minha escola, família e amigos.

Em circunstâncias normais, teria ignorado todos os


instintos dizendo que esse homem valia um salto arriscado e
me convencido de que era melhor não permitir que um beijo
me tentasse.

A água desligou no banheiro, e senti um arrepio percorrer


meu corpo, pensando nele nu, molhado e apenas... nu. Eu não
conseguia parar o sorriso ridículo que se espalhava pelo meu
rosto porque esse sentimento era incrivelmente delicioso, tão
viciante, que conseguia entender por que as pessoas o
perseguiam com as duas mãos, uma vez que sabiam que
existia.

Eu sabia por que minha irmã Molly havia arriscado seu


emprego para estar com Noah quando eles tinham todos os
motivos para ficar longe um do outro. Claro, acabou bem para
eles, mas na época, me deixou um pouco confusa que ela
tivesse quebrado conscientemente as regras para estar com
ele.

Bauer saiu do pequeno banheiro com uma toalha branca


enrolada na cintura e um brilho perigoso nos olhos.
— Você vai ficar com frio. — Eu disse, apontando para a
toalha dele.

— Eu tenho alguém para me aquecer agora.

— Agnes não aqueceria você nem se estivesse morrendo


de hipotermia à sua frente. — Ele riu, inclinando-se sobre mim
para dar um beijo no topo da minha cabeça.

— Verdade. Mas ela está se acostumando comigo.

— Ela não está te odiando ativamente, — eu alterei. —


Não vamos nos deixar levar.

— Pensando no jantar? — Bauer perguntou, abrindo a


geladeira vazia e franzindo a testa com o que encontrou.

Levantei-me e me aproximei dele, passando os braços ao


redor da sua cintura, beijando entre suas omoplatas enquanto
minhas mãos alisavam a pele úmida de seus abdominais. —
Teremos que ser criativos. Será um piquenique triste, mas se
estiver disposto a dividir a última refeição no congelador,
teremos o suficiente.

Foi o que fizemos, e depois que Bauer arrastou o colchão


pelos degraus, empurrou o sofá para trás para abrir espaço e
o colocou no chão em frente à lareira, decidimos que, nossa
última noite, gastaríamos tanto tempo quanto possível naquela
cama, inclusive jantando lá.

Com o fogo rugindo alegremente, estalando com a lenha


que Scotty tinha sabiamente guardado, Bauer sustentou a
última mordida de uma refeição congelada de bife Salisbury
verdadeiramente branda e eu a comi do garfo.

— Delicioso. — Eu murmurei.

Ele riu e moveu o prato da cama, se virando de lado para


me observar. Até agora, mantivemos as roupas durante as
refeições, o que era quase necessário, dado o nosso estado sem
preservativo.

Mas do jeito que estava olhando para mim, sentia minha


temperatura interna subir lentamente, tique, tique, tique para
cima. Um pequeno grau de cada vez.

— Eu nunca vou a Seattle porque é péssimo ficar naquela


casa. — Disse ele calmamente. Cuidadosamente, abaixei o
garfo e o coloquei no prato vazio no chão, mas mantive meus
olhos nele.

— Adele nunca foi abusiva comigo, então não entenda


mal. E, à medida que envelheci, fui igualmente culpado pela
forma como as coisas eram. Mas eu sempre tive consciência do
quanto não era filho dela. Mesmo antes de Finn nascer.

Meu coração apertou dolorosamente, mas fiquei quieta.

— Ela ama crianças que não são suas; ela se encontrou


criando aquele centro, — continuou. — Mas por alguma razão,
era a mim que ela não podia amar. E quando se tem isso na
cara toda sua vida, mesmo que não seja dito, custa algo.
— Tenho certeza que sim. — Eu deslizei para mais perto,
pegando sua mão tatuada e beijando os nós dos dedos. Eu tive
um pensamento, mas revirei minha cabeça algumas vezes
antes de dizer qualquer coisa. — Deve ter sido difícil para o seu
pai quando sua mãe morreu. Câncer, certo?

Ele assentiu. — Nós realmente não falamos muito sobre


esses anos. Ele se casou com Adele cerca de um ano depois
que minha mãe morreu.

— Você não se parece muito com o seu pai. — Eu disse.

As sobrancelhas dele se ergueram de surpresa. — Não,


não que me lembre da minha mãe, já que eu era muito jovem
quando ela ficou doente, mas, pelas fotos, eu pareço
exatamente com ela.

— Talvez, — eu disse devagar. — Eu posso estar errada,


mas talvez Adele odiasse esse lembrete, e é por isso que ela
nunca se deixou tratá-lo da maneira que deveria ou o amou da
maneira que você merecia ser amado.

Os olhos de Bauer procuraram meu rosto com cuidado e


prendi a respiração desejando não ter dito a coisa errada.

Ele engoliu em seco. — Eu nunca pensei nisso dessa


maneira antes. Normalmente, apenas tentava irritá-la uma vez
que tinha idade suficiente.

Eu sorri. — Estou chocada com isso.


Deitando de costas, Bauer me puxou para perto dele,
para que ficasse ao seu lado. Meus dedos traçaram a tatuagem
do relógio em seu peito. Enquanto ele falava, o estrondo em
seu peito era algo delicioso debaixo da minha orelha. — Eu
odeio que isso faça sentido para mim, princesa. Eu não quero
entender porque é mais fácil simplesmente... não gostar e
evitar.

Apoiei-me no cotovelo para que pudesse ver meu rosto. —


Não há nada de errado em reagir da maneira que você reagiu.
E não digo isso para de repente fazer você amar Adele ou
querer ter um relacionamento com ela. — Dei de ombros. —
Eu só gosto de descobrir as pessoas. Por que elas fazem o que
fazem, quais são as consequências para as pessoas em suas
vidas.

— Adele não tem muitas consequências, considerando


que nunca precisa me ver. — Ele suspirou. — E eu acho que
meu pai e Finn estão tão acostumados a eu não estar por perto
que também não se importam.

Uma refutação dessa afirmação estava na ponta da


minha língua, mas a engoli porque não queria pressionar
muito.

— Você conseguiu entender sua mãe? — Perguntou


baixinho. Sua mão encontrou meu quadril e ele apertou. Eu
amei que fez isso. Na casa de Richard, quando podia sentir que
eu estava desconfortável com nossa pequena farsa, ele me dava
uma pequena pressão em suas mãos para me avisar que
estava lá, que estava do meu lado.

Talvez o fato de ter feito de novo naquele momento seja o


motivo pelo qual eu respondi. — Às vezes acho que sim.

— Narcisista demais? — Ele perguntou.

Meu corpo tremia de tanto rir e me inclinei para lhe dar


um beijo rápido. Bauer nem tentou aprofundá-lo, o que de
alguma forma me encantou ainda mais, outra fração do meu
coração que ele pegou ao me deixar falar sobre essa coisa séria.
E falando sobre ele mesmo sem avisar.

— Provavelmente há muita verdade nisso, — eu


concordei. — Brooke era muito mais jovem que nosso pai, o
qual compartilhamos com Logan. Foi um segundo casamento
para ele e acho que, não sei, Brooke gostou da ideia de seu
dinheiro antigo ser o suficiente para ignorar a idade. Quando
meu pai teve um ataque cardíaco, de repente era uma viúva
com quatro meninas, e ele não havia deixado o dinheiro que
imaginara estar guardado em um banco em algum lugar. — Eu
estudei nossa infância de todos os ângulos ao longo dos anos,
testemunhei as várias maneiras pelas quais minhas irmãs e eu
sentimos as ramificações de sua partida, mas ainda assim
minha garganta se apertou ao tentar falar sobre isso em voz
alta.

Sua mão se moveu suavemente sobre minhas costas. —


Não precisamos conversar sobre isso.
Eu sorri para ele. — Não, está tudo bem. Só estou
pensando na ironia de que vou para a faculdade de psicologia,
e não gosto de falar sobre meus próprios problemas de
infância.

— Ela deixou você, princesa. — Seus dedos errantes


empurraram para baixo da barra da minha camisa de dormir,
varrendo em pequenos círculos em torno dos inchaços em
minha espinha. — É uma merda, e ela é uma merda, e acho
que você estar indo para a faculdade é incrível, e é algo incrível
que você não deixou que ela estragasse.

Meus olhos ardiam. — Ela nem se despediu quando nos


deixou na casa de Logan. Acho que Molly sabia que estava indo
embora, mas Lia e eu éramos muito jovens.

Seus olhos pareciam enfurecidos em meu nome, mas ele


não disse nada.

— Eu acho — continuei calmamente. — Que faz você se


sentir realmente esquecível, sabe? E pequena. Quão pequena
devemos ser aos olhos dela para nos deixar tão facilmente.

Eu funguei, inclinando o queixo para cima, porque não


choraria em minha última noite neste maravilhoso refúgio com
Bauer.

Ele balançou sua cabeça. — Você é a pessoa menos


esquecível que já conheci, Claire.

Uma lágrima escapou. Não porque o que disse me deixou


triste, mas porque nunca admiti isso para ninguém antes. E
estava dando a ele na quietude silenciosa daquela cabana, e
sua reação foi exatamente o que meu coração precisava ouvir.

Não queria que Bauer me esquecesse. E também não


queria esquecê-lo.

Ele gentilmente afastou a lágrima que escorreu pela


minha bochecha, e destrancou a última coisa que deixei de
dizer. Ela ficou escondida tão longe em minha cabeça que era
quase impossível formar as palavras.

— Estou feliz que ela tenha ido embora. — Eu sussurrei.

Bauer ficou quieto. Sua testa se enrugou um pouco, mas


fora isso, esperou para ver se eu diria mais alguma coisa.

— Eu amo minha família, — eu disse ferozmente. — A que


construímos é tão incrível, e porque posso ver isso, ver que o
que passei pode ajudar outra pessoa algum dia, fico feliz que
ela tenha partido. Estamos melhor sem ela.

Minhas palavras pairaram entre nós, e pude vê-la no


rosto de Bauer. Ele sabia que tinha acabado de lhe contar algo
secreto, algo que veio de uma parte quieta do meu coração que
eu nunca tinha dado a mais ninguém.

Seu sorriso era pequeno e doce, e o jeito que estava


olhando para mim me fez corar de uma maneira diferente. Não
foi sexual. Bauer parecia... fascinado. Apaixonado. Como um
homem que estava se apaixonando. E de repente, achei tive
dificuldade em engolir.
Desde que me lembro, queria que alguém — seu irmão —
me olhasse exatamente dessa maneira. Ver além do fato de que
sou apenas parte de um grupo, alguém que por acaso se
parecia com a Lia, e realmente me ver. Ver o que me faz
diferente e única, e Claire. Alguém que pensava que eu era a
pessoa menos inesquecível que alguma vez conhecera.

Sabendo o que sabia agora, ter sentimentos por Finn


parecia uma traição à sua ferida mais profunda, embora mal
soubesse disso. E agora, sabendo o que sabia, não queria que
Finn me visse dessa maneira. Começou lentamente, quente,
puro e maravilhoso, que só queria que Bauer me olhasse desse
jeito.

— Se eu soubesse o quão incrível você era antes... —


Disse com uma voz rouca. Sua mão saiu da minha camisa para
que pudesse cobrir o lado do meu rosto, e me inclinei em sua
palma. — Você vai fazer grandes coisas, princesa. Eu
provavelmente ficaria melhor se tivesse alguém como você para
me salvar.

Mesmo que tenha lutado mais cedo, outra lágrima


escapou, e seu rosto se comprimiu em uma expressão de dor
quando a varreu com o polegar.

Eu mergulhei minha cabeça e o beijei lentamente,


primeiro seu lábio superior, depois o inferior, sugando-o em
minha boca antes de me afastar.

Sua expressão estava um pouco atordoada, e não


conseguia parar a forma como meu coração acelerava. Talvez
fôssemos uma dupla estranha, que ninguém mais montaria,
mas eu o via. E... e do jeito que Bauer olhava para mim, acho
que ele via também.

— Talvez possamos nos salvar. — Sussurrei. Segurei seu


olhar e observei-o lentamente se acender e depois queimar tão
intensamente que lutei para não piscar, simplesmente porque
não queria perder um segundo do jeito que estava olhando
para mim.

Depois disso, não falamos uma palavra por muito, muito


tempo.

Bauer me puxou para baixo para que pudesse me dar


beijos ardentes. Suas mãos varreram minhas costas e minha
camisa desapareceu. As minhas fizeram o mesmo com a dele.

Conseguimos ofegar, sons quebrados, peça por peça,


emaranhados um contra o outro, completamente nus.

Ele se manteve fiel à sua palavra, usando as mãos e a


boca de maneira bastante criativa, mas fui eu quem o
empurrou de costas, depois que ele já havia me empurrado
para o limite uma vez.

Suas maçãs do rosto ardiam vermelhas quando olhou


para mim, suas mãos segurando meus quadris com tanta força
que doía.

— Por favor. — Ele implorou quando rolei meus quadris,


perto, muito perto. Os dedos apertaram minha pele e, entre
dentes, ele xingou.
Caí, meu cabelo caindo ao redor de nossos rostos como
uma cortina. — Estou tomando pílula, Bauer. Confio em você.
— Sussurrei.

Sem problemas, ele nos rolou novamente até que estava


por cima de mim, me cobrindo com tanta força e calor que eu
queria ficar lá para sempre.

Ele sussurrou uma maldição, sua expressão intensa e


perspicaz. Ele sabia o que eu estava pedindo a ele. Sabia o que
minha confiança significava.

— Claire. — Ele disse entrecortado.

— Eu confio em você. — Repeti.

Suas mãos me agarraram com força. — Eu nunca deixei


de usar um preservativo. Nunca houve ninguém... — Sua voz
parou, e por dentro, queimei tão brilhante com o que vi em
seus olhos.

— Eu sei que você está aqui comigo. — Disse a ele, minha


mão pousando em seu coração. Seu coração selvagem,
batendo, martelando.

Bauer não se apressou, não fez nada, exceto nos levar à


beira de nossa sanidade mental, e à beira do prazer e da dor,
com a forma como nos fez esperar.

Com paciência que não conseguia entender e uma


ternura que ainda não sentia dele, Bauer fez amor comigo.
Estava em cada varredura de suas mãos sobre o meu corpo.
Cada movimento de seus quadris, a cada segundo que
segurava meu olhar com o seu e se recusava a desviar o olhar.

A maneira como ele se moveu dentro de mim era lenta,


muito lenta e seu controle tornou a explosão de prazer muito
melhor quando finalmente chegou. Os movimentos se
tornaram mais rápidos e mais duros depois disso, seu controle
se desgastando enquanto eu agarrava suas costas úmidas e
suadas. Foi o meu nome que ele gritou quando a represa se
rompeu para ele. Uma segunda onda chegou devagar para mim
quando aconteceu, e eu ofeguei quando respirou da cabeça aos
pés.

Eu tive que lutar para não dizer que estava me


apaixonando por ele, e quando ele desceu lentamente, falou
algo suavemente na pele do meu ombro que não consegui
ouvir.

Era fácil imaginar que murmurava segredos em minha


pele que eu estava mantendo apertado dentro de mim.

Talvez porque ambos soubéssemos o que nos esperava


quando voltássemos à realidade e que mal estávamos em um
lugar para fazer declarações de amor depois de apenas alguns
dias. Mas pelo resto da noite, senti a verdade na maneira como
me tocou, como se eu fosse algo que estimava, algo que queria,
algo que protegeria.

No momento em que finalmente adormecemos, me enrolei


firmemente em seus braços, e eu sabia que sentia da mesma
maneira sobre Bauer Davis. Mas isso ainda não significava que
estava pronta para o nascer do sol, para a realidade se
intrometer, porque depois que isso acontecesse... não
aguentava pensar no que poderia vir a seguir.
Claire

SENTAMOS no jipe e encaramos a cabine de Scotty. A


neve começou a derreter, saindo da borda afiada do telhado da
linha A em um fluxo constante de água. Não havia mais
esconderijo, ignorar a realidade, não havia mais desculpas
para ficar.

Além disso, tínhamos acabado de deixar Scotty sem


comida. Então, a menos que quiséssemos começar a comer a
comida de gato de Agnes, era hora de encarar a vida de
qualquer maneira.

— Bem, — ele disse baixinho e olhou em minha direção.


— Devemos?

O nó em minha garganta era do tamanho do Estado de


Rhode Island21 quando tentei responder, então apenas assenti.

Ele deslizou a mão pela minha coxa, os dedos passando


confortavelmente por cima da minha perna para que pudesse
apertar. Eu estou bem aqui.

21É um dos 50 estados dos Estados Unidos. Com apenas 3 144 km², é o menor estado em área do
país, 431 vezes menor que o Alasca, o maior estado em área territorial.
Estava tão claro em minha cabeça que quase pude ouvir
sua voz.

— Por que é tão difícil sair deste lugar? — Eu disse. Eu


quase não tomei a decisão de falar o pensamento em voz alta,
mas estava lá.

Bauer suspirou, tirou a mão de mim e deu ré, navegando


pela área arada que o caminhão havia lhe dado para fazer o
retorno.

— Porque é bom se esconder de vez em quando. — Ele


parou novamente antes de sair da garagem, e peguei o jeito
que seus olhos estavam na cabine no espelho retrovisor. —
Esquecer todas as outras besteiras com as quais temos que
lidar.

Por alguma razão, sua resposta me entristeceu ainda


mais. Ele me acordou tão docemente com beijos em minhas
costas nuas e mãos vagando até que estivesse ofegando seu
nome, implorando para que tivesse pena de mim. Ele tinha as
mãos segurando as minhas, seu corpo quente e duro atrás de
mim quando encontrei alívio novamente, meus sons abafados
no colchão.

O café da manhã e a arrumação de nossas coisas


mantiveram o mesmo tom, lento e doce, beijos e carícias
persistentes, até que não conseguimos mais prolongar o
inevitável. Estava na hora de voltar.
Meu telefone ficou desligado naquele último dia inteiro e,
quando o liguei enquanto empacotava, tive que fechar os olhos
quando as notificações começaram a chegar.

Entre Paige, Lia e Logan, meu telefone estava explodindo


com mensagens de texto sobre quando estaria em casa. Mas
ainda assim, o virei para não precisar ver. Só quando me
afivelei no jipe, e recebi um novo texto de Logan, que cedi.

Logan: JURO, CLAIRE, se você não responder a um de nós


em breve, ligarei para TODOS OS POLICIAIS QUE CONHEÇO e
os encaminharei até você.

Eu: Estou bem! Desculpe. Desculpe. Serviço irregular, não


tenho verificado meu telefone.

Logan: Isso não foi legal, garota, não foi legal. Paige está
pronta para castrar esse cara por sequestrar você.

Eu: Bauer dificilmente é culpado pela tempestade de neve.


Estou bem e estou a caminho de casa, então se acalme, por
favor. Isabel sabia que eu estava bem. Nós trocamos mensagens
na outra noite.

Logan: Sim, e eu ainda estou tentando apagar


permanentemente a imagem do que aqueles textos continham
quando ela não quis me contar e Paige arrancou o telefone de
suas mãos. Minha última tentativa de derramar água sanitária
em meus olhos não fez esquecer isso, então me recuso a falar
sobre esse assunto com você.
— Sua família está enlouquecendo, hein? — Bauer
perguntou depois que finalmente parou o carro na estrada.

Meu telefone e todos os seus textos beligerantes foram


guardados com segurança em minha mochila, onde ele não os
viu acidentalmente. A última coisa que Bauer precisava era
saber que Paige, Logan e Lia estavam prontos para enviar
agentes federais atrás dele.

— Eles estão... bem. — Coloquei minha perna contra o


peito e olhei alegremente para seu perfil. — Mas estão atrás de
você, amigo. Eles sabem que as estradas foram limpas ontem.

— De mim? — Bauer me olhou. — Devo dizer a eles quem


seduziu quem a ficar por mais um dia? Porque apenas um de
nós estava de topless e implorando. Com montaria envolvida,
devo acrescentar.

Eu levantei minha mão. — Ok, ok. Entendi. Não, eles não


precisam saber disso.

Seu sorriso era perverso e maravilhoso, e eu queria comê-


lo vivo. Bauer Davis me transformou em uma viciada.

— Mas, — eu disse. — Esteja preparado. Se você pensou


que as ameaças de Paige eram ruins quando me pegou... — Eu
assobiei.

Bauer colocou um pulso no volante e colocou a mão livre


sobre minha coxa novamente. Imediatamente, teci nossos
dedos juntos. — Eles não agiram assim com os outros caras
que você trouxe para casa?
Eu ri. — Eu nunca trouxe ninguém para casa. Não
como... alguém sério.

— Okay, certo.

— Eu não fiz!

Ele olhou por cima dos óculos escuros. — Eu chamo isso


de besteira.

— Chame do que quer que seja, não tornará menos


verdade. — Dei de ombros. — Eu fui a alguns encontros no
ensino médio, com certeza, e eles conheceram caras que me
buscaram, mas nunca se transformaram em algo sério. E na
faculdade... eu não sei... minhas aulas eram sempre uma
prioridade do que namorar, então nunca tive ninguém sério ou
casual que gostaria de levar para jantar em família.

A cabeça de Bauer recuou. — Hã.

— Nem todos nós somos praticantes de snowboard


profissionais que provavelmente têm mulheres se jogando
nuas na neve em frente ao seu skate.

Parecia uma louca ciumenta? Sim. Claro que sim.

Eu parecia insegura por ter chegado tarde e não sentir a


necessidade de namorar durante o ensino médio e na
faculdade? Sim. Isso também.

— Ficar nua na neve parece uma coisa horrível. — Ele me


deu um olhar de soslaio. — E totalmente irracional, se alguém
quiser parecer sexy.
Retirando minha mão da dele, bati em seu peito. Sua
risada ecoou pelo jipe, e me vi sorrindo.

— Bundão.

Bauer pegou minha mão e beijou a sua palma. — Escute,


não vou mentir, há mulheres que perseguem praticantes de
snowboard como se fôssemos um prêmio, mas não pode ser
tão diferente daquilo que qualquer jogador de futebol tem que
lidar.

— Não, eu sei. E há tantos caras que não levam essa vida.


— Eu balancei minha cabeça. — Eu não deveria ter insinuado
que você faz.

Ele suspirou. — Eu não era um anjo. Mas a maior parte


disso ficou para trás nos meus vinte e poucos anos. Não é tão
divertido quando se começa a aproximar dos trinta. — Suas
bochechas estavam levemente rosadas.

— Você está dizendo que teve um período de seca


ultimamente, Bauer? — Eu provoquei.

O encolher de seus ombros era pequeno. — Um pouco.


Não é... não é estranho falar disso para você?

— É estranho se contasse sobre os caras com quem


namorei?

— Isso não é o mesmo.

Minha cabeça inclinou-se. — Por que não?


Ele suspirou. — Bem... você é tipo... para namorar, sabe?
Todos os pais no mundo ficariam emocionados se um cara te
trouxesse para casa.

Ahh — E você não é material para namorado?

Bauer lambeu os lábios antes de responder. — Eu não


saberia dizer.

— Hmm, bem, vamos ver. — Virei em direção a ele com


uma expressão pensativa e esperei até ver sua expressão
suavizar um pouco. — Você não é terrível de se olhar. — Ele
revirou os olhos, mas estava sorrindo, então continuei. — Você
é um excelente dançarino. — Meus dedos arrastaram ao longo
da parte superior de sua mão. — Você abre portas e faz
panquecas, abre caminhos na neve. — Peguei sua mão e dei
um beijo na palma. — Você me acorda da maneira mais doce
e sexy. E me faz sentir bonita.

Bauer olhou para mim, e o que vi em seus olhos me


matou completamente. — Você é linda. — Ele disse
asperamente.

— Você me faz sentir incrível apenas por ser você, Bauer.


— Eu mantive minha voz calma, apesar da maneira como meu
estômago tremia nervosamente. — Se isso não é material para
namorado, eu não sei o que é.

O homem ao meu lado ficou quieto, mas vi o seu pomo de


adão se mover lentamente.
— Todo mundo tem um passado, Bauer. Isso não define
quem seremos. — Eu dei um pequeno encolher de ombros. —
Então, não vou manter seu passado contra você, se prometer
fazer o mesmo por mim.

Ele enroscou nossos dedos novamente. — Então, não vou


imaginar algum nerd em sua aula de sociologia se
aproximando de você porque namoraram por cinco anos.
Porque isso provavelmente faria a mesma coisa fofinha em
minha cara que fez com a sua quando você falou sobre
coelhinhas da neve.

Eu ri. — Sério, você é um idiota.

Quando ele sorriu, senti meu estômago revirar


novamente.

Algum nerd. Não, não namorava um desses há cinco


anos, mas em minha cabeça... um morava há mais tempo. Se
Bauer e eu ficássemos juntos, e oh, meu coração queria tanto
isso, teria que admitir minha paixão inofensiva por Finn e
como isso desempenhou um papel, mas sabia que não era a
hora.

O sentimento de realidade suspensa que desfrutávamos


na cabine ainda permanecia no jipe. Dirigimos por um país das
maravilhas do inverno tão bonito que não parecia real. Eu
estava com um homem que me deu o tipo de borboletas que
nem sabia que existia – me fazia ser louca por sexo, querer
ficar em uma cama com ele por uma semana e tirar todos os
pensamentos profundos da sua mente, porque sua cabeça é
tão fascinante quanto seu corpo — e ainda não estava pronta
para estourar essa bolha.

Meu intestino gritou comigo por qualquer lógica que


minha cabeça dissesse para apenas... manter minha boca
fechada sobre Finn.

Finn nem sabia, então não havia sequer um segredo a ser


revelado. Era apenas algo que costumava sentir. Algo que
tinha superado.

— O que está esperando você quando voltar? — Ele


perguntou.

Eu sorrio, feliz pela mudança de assunto. — Jantar em


família. Nós comemos na casa de Logan e Paige todas as
semanas. É barulhento, louco e... perfeito.

— Tudo bem, princesa, me conte sobre eles. Qualquer


grupo de pessoas que faz você sorrir assim, tenho que saber.

Virando-me um pouco no lugar, tomei um momento para


avaliar sua expressão facial. Como seus olhos estavam
cobertos pelo óculos, não conseguia ler direito sobre ele, não
de verdade, mas o resto parecia relaxado e feliz. Interessado.

Éramos eu e ele fora da cabana. Ele conhecendo as outras


partes da minha vida, e eu, espero poder fazer o mesmo.

— Molly é a mais velha, — comecei. — Ela viaja muito por


causa de seu trabalho na Amazon. Ela é a diretora assistente
da série de documentários All or Nothing.
Ele assentiu. — Lembro-me de quando isso saiu. Ela e o
namorado, Noah, certo? O cara que joga no Washington.

— Sim. Então por isso faltam muito aos jantares, mas


sempre que ela está na cidade, eles estão lá.

— Em seguida é... — ele estalou os dedos. — Isabel, certo?


A única que não tentou me tirar do seu apartamento, o que me
deixa propenso a gostar dela da melhor maneira.

Eu rio. — Sim, ela é a do meio. E o engraçado é que Isabel


é geralmente a mais difícil de impressionar. Ela e Paige são
duas ervilhas em uma vagem; sempre foram. Isabel administra
uma academia, um estúdio de kickboxing.

— Agradável. — Ele assentiu de maneira apreciativa. —


Eu já ouvi falar disso?

— Talvez. O ginásio Wilson e estúdio de kickboxing.

Ele balançou sua cabeça. — Não ouvi falar. Talvez...


talvez possamos verificar isso algum dia.

Meu rosto estava quente, corado e feliz com a facilidade


com que ele sugeriu. Ele estava tentando.

Lambi meu lábio inferior, observando seu rosto com


cuidado. — Você vai ficar mais tempo em Seattle?

Seu sorriso apareceu de um lado. — Sabe, acho que posso


ficar. — Ele apertou minha mão. — Mesmo que o resto da sua
família me odeie, pelo menos sei que Isabel está do meu lado.
— Lia conhece você. — Apontei.

— Lia passou mais de dez anos como melhor amiga do


irmão mais novo que passou a vida inteira ouvindo que
influência horrível eu seria sobre ele. Confie em mim, sua irmã
não será fã disso, — olhou significativamente para mim—
Entre nós.

Eu fiz uma careta. — Ela ainda é minha irmã gêmea e


minha melhor amiga. Quando ver... — Minha voz sumiu.
Parecia um lugar estranho dizer algo grande e significativo
como ela ver o quanto você é importante para mim.

Quando ver o quão insanamente feliz você me faz, quando


ver o quão maravilhoso você realmente é. Quando ver que estou
me apaixonando por você.

Bauer ouviu algo na pausa e desviou os olhos da estrada.


— Quando ver...?

— Nós, — eu terminei fracamente. — Eu acho que se ela


puder nos ver, — gaguejei levemente sobre minhas palavras.
— Você sabe, saindo juntos ou o que quer que seja. Ela ficará
bem com isso.

Ele não parecia exatamente convencido. — Se você diz.

— Lia é protetora, assim como todos nós somos uns com


os outros. — Eu não queria me sentir defensiva sobre a
maneira como estava imediatamente descartando sua
capacidade de ver que eu estava feliz ou de lhe dar uma
segunda chance, mas o fiz. — E sim, talvez ela não o conheça
bem, mas vai conhecer. E verá que você é mais do que Adele te
descreveu.

Sentindo meu desconforto, ele levantou minha mão e a


beijou. — Tudo bem. Você a conhece melhor do que eu. Eu só
a vi como a melhor amiga de Finn. Ela é sua protetora também.

Suspirei. Ele não estava errado. — Lia é... — procurei as


palavras certas. — Ela é como... energia engarrafada dentro de
um corpo que mal consegue segurá-la. É uma das maiores
maneiras pelas quais somos diferentes. Ela sempre foi a líder
quando éramos jovens, porque seu cérebro nunca para de se
mover. Ela é teimosa e tem força de vontade. — Apesar das
minhas palavras, estava sorrindo. — E é minha outra metade.
Porque ela me ama, — terminei em silêncio. — Ela ficará bem
com você.

Bauer respirou fundo e soltou o ar lentamente. — Eu


não... não sei como é ter isso. — Seu sorriso era triste, mas eu
ainda via a tristeza agarrada às bordas. — Então, me desculpe
se pareceu que estava questionando sua irmã. Você tem uma
grande vantagem sobre todo esse negócio de família.

Em resposta, apertei sua mão e vi como seu peito e


ombros relaxavam. — Você vai ficar bem. — Ao seu olhar
cético, eu ri. — Você vai.

— Estou feliz que você tenha tanta fé em mim, princesa.


— Seu tom era irônico, mas ouvi o que estava escondido
embaixo dele. — Não sei como a ganhei, mas é apreciado.
Meu dedo traçou pequenos círculos sobre as juntas
ásperas em sua mão grande e quente. — Você vem comigo para
o jantar em família hoje à noite?

Um tipo de borboleta mais doce e suave decolou dentro


do meu corpo no momento em que perguntei. Não era sobre
sexo. Não era sobre como me fez sentir quando olhou para mim
com desejo e luxúria. Era sobre tê-lo sentado ao meu lado em
uma mesa de jantar e saber que eu podia pegar sua mão.
Tratava-se deixá-lo saber que sua presença era importante
para mim. Que eu ansiava pelas coisas normais e
intermediárias quando não estava perto de mim.

Bauer levou um momento para responder, mas quando o


fez, sua voz estava um pouco áspera, um pouco baixa.

— Sim, princesa. Eu posso tentar.

O resto de nossa viagem foi de música e conversa fácil, e


quanto mais perto chegávamos de Seattle, senti uma tensão
lenta rastejando entre as omoplatas.

O cenário era tão familiar para mim que não podia usá-lo
como uma distração adequada sobre o que pode ou não nos
esperar no jantar. Eu não preparara ninguém que estava
trazendo esse cara que consumira os últimos quatro dias da
minha vida.

Bauer pegou a saída para o meu apartamento enquanto


eu tentava — realmente, com muita dificuldade — não deixar
meu cérebro surtar pelo fato de sentir assim por alguém que
conhecia há menos de uma semana.

Meu coração achou que era romântico. Meu intestino


parecia que era todo feito por flechas, apontando diretamente
para Bauer.

Mas, por um momento, tive um pensamento horrível que


não poderia banir imediatamente na parte de trás do meu
cérebro exagerado. Brooke não foi embora porque sentiu algo
tão grande e abrangente? Ela não se importava com o que sua
família pensava ou com as consequências de suas ações. Ela
apenas deu um salto e nunca olhou para trás.

Meus dedos apertaram em torno de sua mão antes que


percebesse o que estava fazendo. — Você está bem?

Eu assenti furiosamente. — Tudo bem. Apenas... ainda


tentando me preparar mentalmente para voltar.

— Eu também sinto falta daquela cabana, princesa.

Sorrindo, pensei em algo que havia dito antes de sairmos.


— Você vai avisar Scotty de que está lhe enviando um colchão
novo?

— É o melhor. — Ele fez uma careta. — Se eu fosse ele,


gostaria de dormir no sofá até que algo aparecesse que não
estivesse sujo da maneira como sujamos aquele colchão.

Eu ainda estava rindo quando paramos em frente ao meu


prédio e todo o meu corpo congelou quando vi Lia parada ao
lado do carro de Finn, com os braços cruzados e uma
expressão azeda no rosto quando viu Bauer. Finn estava ao
seu lado, alto e bonito, com algo um pouco mais educado em
seu rosto do que minha irmã.

Sentada ao lado de Bauer, fiquei aliviada ao perceber que


Finn não me causou nenhum tipo de reação. Sem asas. Sem
vibrações. Sem segundas intenções.

Bauer assobiou enquanto puxava o jipe para uma vaga


de estacionamento. — Lembre-me o que você disse sobre Lia
de novo?

Suspirando, dei outro aperto à mão dele. — Deixe-me


falar com ela por um segundo, ok? — Ele tirou os óculos,
ignorou completamente a maneira como ambos estavam nos
olhando, e se inclinou para me dar um beijo suave nos lábios.
— Você tem certeza de que quer enfrentar esse pelotão sozinha,
princesa?

Eu balancei a cabeça lentamente, então arrisquei um


olhar para fora do para-brisa.

Finn estava nos observando com uma expressão curiosa


no rosto, que tinha apenas a menor semelhança com Bauer.

Quando vi o rosto de Lia, decidi que o pelotão de


fuzilamento era uma descrição bastante adequada de como ela
estava encarando o homem ao meu lado.

A bolha da cabana realmente estourou.


Bauer

NO MOMENTO em que minha bota bateu no concreto, Lia


agarrou a mão de Claire e começou a arrastá-la para a frente
do carro de Finn.

— Ei, — Claire objetou, plantando os pés e se recusando


a ser arrastada para qualquer lugar. — Relaxa, ok?

Lia me deu um olhar insondável, que suavizou quando


seu olhar voltou para sua irmã gêmea. — Você está bem?
Pensei que poderíamos conversar em particular.

Finn arrastou os pés e apoiou o ombro no carro. — Bauer.

Eu assenti. — Vejo que você está se sentindo melhor.

Claire assistiu nossa dura saudação por cima do ombro e


me deu um pequeno sorriso.

Lia disse algo para Claire em voz baixa o suficiente para


que não pudesse ouvi-la, e depois de um segundo, Claire
assentiu.

— Dê-nos um segundo, ok? — Ela me disse.

Eu sorri. — Eu estarei bem aqui.


— Oh, nojento. — Lia murmurou.

— Lia. — Claire retrucou.

Com interesse, vi Lia respirar fundo, deslizar a língua


sobre os dentes e dar-me um pequeno sorriso apertado. —
Desculpe. Força do hábito.

Eu levantei minhas mãos. — Perdoada.

As irmãs caminharam juntas, do outro lado do carro de


Finn, onde meu irmão e eu não seríamos capazes de ouvi-las.

— Semana estranha. — Disse Finn em tom de conversa.

Minha cabeça inclinou-se. — Uma boa semana.

Ele apertou os olhos para o sol, e tomei um momento para


estudá-lo. Eu não vinha para casa há meses, e meu irmãozinho
havia ficado um pouco mais forte, claramente estava passando
um tempo com os pesos.

— A escola está indo bem? — Eu perguntei.

Finn assentiu. — Eventualmente, poderei dormir de novo


ou ter uma vida social.

Não foi surpresa que Adele tenha lutado comigo. Finn e


eu não poderíamos ser mais diferentes. Como Claire, ele
dedicou todo o seu tempo livre aos estudos. Nada veio antes, e
isso apareceu em suas notas. E na falta de uma namorada.

— Mamãe e papai receberam o dinheiro de Richard. —


Disse ele.
Minhas sobrancelhas se levantaram em surpresa. — Bom
para eles.

— Ela estava animada.

— Adele deveria enviar a Claire uma nota de


agradecimento quando descontar aquele cheque. — Eu
apontei.

Finn olhou para as irmãs e sorriu torto, e foi um dos


momentos estranhos que notei semelhanças em nós. Aquele
sorriso parecia um pouco com o meu. — Lia também teria
conseguido.

— Eu não acho que ela teria, — eu disse calmamente.


Meu irmãozinho queria defender sua amiga, mas levantei
minha mão. — Não me entenda mal. Eu sei que Lia é
inteligente por si mesma, mas ela não é Claire. E o jeito que
Claire é inteligente, a maneira como ela lê as pessoas, foi com
isso que Richard se encantou. Não teve nada a ver com seu
nome, ou quem é o seu irmão, ou como está conectada a
Washington. Era ela.

— Hmm. — Finn me olhou com cuidado. — Parece que


você leu Claire rapidamente.

Meus olhos se voltaram para a mulher em questão, seus


gestos animados quase me fizeram sorrir, mas toda a situação
ainda era um pouco estranha demais para qualquer coisa ser
engraçada. — Acho que sim. — O dia inteiro tinha me sentido
fora de lugar depois de deixar o nosso refúgio na floresta.
Era ridículo que tivesse me preocupado em um momento
que Claire pudesse se arrepender de uma noite comigo.

Não apenas ela parecia ter zero arrependimentos, mas


também ficou de bom grado. Obstinadamente cavou dentro de
mim o que ninguém nunca tinha visto, nunca quiseram ver
antes. Aqueles seus olhos azuis vieram com uma
superpotência, visão de raios-X diretamente através de
qualquer emaranhado bagunçado que continuasse expondo na
superfície.

Quando ela olhou para mim no carro, beijou minha palma


e me disse que achava que eu era material para namorado —
que me levar para casa de sua família era algo que queria fazer
— quase chorei.

Uma lágrima viril.

Logo depois disso, pensei puta merda, não sei se consigo


fazer isso.

Por ela, no entanto, eu tentaria. Porque meu irmãozinho


estava certo. Eu tive uma leitura rápida de Claire, e ela nunca
teria dito as coisas que disse no carro se não acreditasse nelas.

Finn se virou para poder assistir as irmãs, seu polegar


batendo inquieto na lateral do carro. — Ela é Claire, você sabe.
Acho que nunca pensei muito sobre como as coisas podem ser
diferentes.

Eu queria contar a ele todas as maneiras pelas quais


Claire era diferente, porque que idiota não podia ver? Finn
pode ser inteligente com os livros, mas as pessoas inteligentes
com os livros ainda podem ser idiotas nos caminhos do mundo.

Algo na maneira como ele as observava, tentando ver o


que eu vi, me deixou nervoso. Com ciúmes. Foi uma sensação
estranha.

— Ela não é como sua irmã, — eu bati. — Eu não sei


como você perdeu isso.

Ele riu da minha bunda rabugenta, o que não ajudou o


monstro de olhos verdes a se acalmar. — Não é como se
estivesse perdendo. Eu simplesmente não... não sei. Eu não
prestei muita atenção. — Seu sorriso desapareceu quando
olhou para o meu rosto zangado. — Nunca pensei que veria o
dia em que uma mulher viraria você do avesso assim.

— Entre para o clube. — Eu murmurei.

Finn me deu um aceno avaliador. — Eu acho que ela será


boa para você.

Não podia argumentar com isso. — Obrigado por ficar


doente, a propósito.

— Ohh, foi um prazer. — Sua voz era de humor seco e


tingido de sarcasmo, e diminuiu um pouco da tensão que se
apertava em volta do meu peito durante toda essa troca.

Lia.

Finn.
E o que quer que sua família possa dizer sobre minha
presença inesperada.

Não havia mal-entendido no que essa grande coisa era, e


estava na ponta da minha língua pedir dicas a Finn. Diga-me
o que diabos fazer neste jantar em família. Perguntar a ele se
Logan Ward ia me dar um soco nas bolas pelo que quer que
tenha acontecido entre mim e Claire na cabana.

Em sua mente, eu tinha certeza de que nosso


relacionamento se desenrolava.

Não houve um primeiro encontro oficial, onde andei até a


porta e a peguei com flores na mão. Onde disse a ela que estava
linda. Onde a levei para casa mais tarde naquela noite e dei
um beijo no carro. Onde esperava um segundo encontro e
depois um terceiro. Porque se tivesse feito essas coisas, de
qualquer maneira que ele provavelmente quisesse que suas
irmãs começassem a namorar um cara, teria querido um
segundo, um terceiro e um quarto encontro a partir do
momento em que a peguei.

Eu teria puxado a cadeira para ela, segurado as portas,


feito todas as coisas cavalheirescas que pudesse pensar. Não
porque Claire não era capaz de segurar a porta sozinha ou
puxar sua própria cadeira, mas porque queria que soubesse o
quão especial ela era.

Porém, na mente de Logan, roubei um encontro que não


era para mim. Eu forcei uma situação em que Richard pensou
que estávamos namorando, a convenci passar dias presa em
uma cabana no deserto remoto comigo.

Com uma sensação de horror ao amanhecer, enquanto


assistia Lia fazer seus próprios gestos animados de volta para
Claire, percebi que sua família tinha absolutamente todos os
motivos para ser cética. O primeiro cara que levava para casa
tinha a reputação de ser cabeça quente e bêbado.

— O que é esse olhar em seu rosto? — Perguntou Finn.

Eu pisquei para ele. Aparentemente, Claire não era a


única boa em ler as pessoas. Meu primeiro instinto foi dar a
ele uma resposta irreverente para que me deixasse em paz,
restabelecendo que meu irmãozinho não sabia nada sobre
mim, porque nunca havia realmente tentado. Mas também não
tentei.

Era uma pílula difícil de engolir, mas, à luz do que Claire


disse sobre Adele e minha mãe, de quem nem me lembrava,
exceto pelas fotos, fui forçado a reconhecer minha própria
parte na briga entre mim e minha família.

E se eu tivesse o mesmo efeito na Claire? Causar algum


tipo de tensão porque eles não conseguiram conciliar quem ela
trouxe para casa.

— Todos eles vão me odiar, não vão?

Ele riu. — Nem todos eles.

— Obrigado, isso me faz sentir melhor.


Finn estava me dando um olhar curioso. — Estou
surpreso que você se importe que te odeiem ou não. Você
sempre deixou perfeitamente claro que a opinião de sua
própria família não importa. Por que a dela?

Aparentemente, o Golden Boy me conhecia melhor do que


eu pensava. A opinião da minha família não importava, não em
nenhuma das escolhas que fiz, e é por isso que nunca me
importei tanto com o fato de não terem comemorado minhas
vitórias. Dessa forma, Claire e eu não poderíamos ser mais
diferentes. Atrás dela havia um verdadeiro exército, pronto
para defendê-la contra o menor dano, percebido ou não.

Então lá estava eu.

Aquele que normalmente segurava suas mãos tatuadas,


com o dedo do meio levantado, para as pessoas que deveria
cuidar.

— Eu não tenho que me justificar para você, Finn. —


Disse. Seu corpo ficou tenso, se preparando para o que iria sair
da minha boca a seguir. Ele tinha ouvido o suficiente ao longo
dos anos. Por ela, tinha que me lembrar que poderia tentar.
Respirei fundo e tentei responder com mais calma. — Importa
porque ela é importante. Para mim. — Esclareci.

Sua mandíbula relaxou, com um choque claro nos olhos


arregalados. — Você a conhece há cinco dias.

Claire voltou sua atenção em nossa direção, e me vi


respirando mais facilmente quando seus olhos encontraram os
meus, brilhando com calor e doçura. O que quer que tenha
falado com Lia, Claire se sentiu bem com isso.

E, por extensão, senti algo aliviar dentro de mim.


Simplesmente porque ela parecia mais feliz.

Porra, se apaixonar era aterrorizante, não era?

Esta mulher poderia pedir uma faca para me esfolar vivo,


e entregaria a ela com um sorriso idiota no rosto. Foi a merda
mais assustadora que já experimentei em minha vida, que não
explicava por que tudo que queria fazer era segurar sua mão,
vê-la sorrir de volta para mim e saber que estava nisso comigo.

Finn riu baixinho do que estava em meu rosto.

— Cale a boca. — Eu murmurei.

Quando Claire entrou nos braços que nem percebi que


estavam abertos para ela, Lia fez uma careta antes que
pudesse se conter. Finn deu uma cotovelada nela, e em vez de
tentar entender o que significava, enterrei meu nariz no topo
da cabeça de Claire e respirei fundo.

Ela se sentiu tão bem em meus braços, e odiava o quanto


as inseguranças dentro de mim eram acalmadas por seu afeto
aberto em frente de sua irmã e meu irmão.

Claire deslizou o braço em volta da minha cintura e


encarou os outros dois, mas se manteve aconchegada ao meu
lado. — Para onde vocês vão?
Lia soltou um suspiro lento, e fiz questão de manter
minha expressão agradável.

Ela era teimosa, já sabia disso. E teve anos construindo


uma opinião sobre mim que não seria apagada com uma única
conversa em um estacionamento.

— Eu preciso correr para a loja antes do jantar, e meu


carro está ruim. — Disse Lia.

— De novo? — Claire balançou a cabeça.

— Aquele carro é uma merda.

Sua irmã sorriu, assim como Finn, então concluí que deve
ser uma piada entre os três.

— Eu posso olhar. — Disse a ela.

As sobrancelhas de Lia se ergueram. — Você conserta


carros?

Minha mão se enrolou no pescoço de Claire e dei um


aperto suave. — Eu posso gerenciar algumas coisas, então, se
você quiser, dou uma olhada mais tarde.

Claire sorriu para mim, claramente feliz com o esforço


que estava fazendo. Por ela, eu poderia tentar.

Lia lambeu os lábios e não respondeu imediatamente.


Finn deu uma cotovelada nela novamente e ergueu o queixo.

— Ela ficaria emocionada, obrigado.


— Sim, obrigada, — ela conseguiu dizer com o menor
aperto em sua voz. Seus olhos foram para Claire novamente.
— Estou assumindo que você virá conosco para o jantar? Uma
vez que costuma ir.

Mais uma vez, intencional ou não, foi um lembrete de que


eu era o intruso nesse pequeno trio estranho. Lia e Finn, os
melhores amigos. E Claire, que sempre acompanhava.

Isso me fez sentir protetor, porque Claire não deveria ir


junto com eles em nenhum lugar. Não como se fosse uma
reflexão tardia.

— Estou indo com Bauer. — Disse com firmeza.

A boca de Lia caiu aberta.

— Ele vem para o jantar?

Finn deu-lhe um olhar de aviso.

Lutei poderosamente contra a minha primeira reação,


que era dizer algo para irritá-la.

Claire deslizou a mão por baixo da minha camisa e


apertou mais. Era patenteada, um sinal que não podia ser
desperdiçado, e merda, adorei. Naquele momento, ela acalmou
o touro pronto para atacar. — Ele vai, e eu mal posso esperar
para apresentá-lo a Logan e Paige, — disse ela à irmã. — É por
isso que você vai cumprir a promessa que me fez, Lia.

Suas palavras tiveram o efeito pretendido em Lia porque


seu corpo esvaziou um pouco e perdeu a tensão chocada.
— Você sabe que sim, — respondeu Lia calmamente.
Então olhou para Finn, que assentiu. — Acho que vamos
encontrar vocês lá.

Claire olhou para mim. — Quero me refrescar antes de


irmos.

Finn assentiu para mim antes de subir no banco do


motorista. Claire saiu do meu alcance por um momento para
apertar sua irmã. Lia fechou os olhos enquanto se abraçavam,
e era mais fácil vê-la no papel de irmã protetora e amorosa,
como alguém que oscilava entre odiar e mal me tolerar ao longo
dos anos por causa da minha família. Por minha causa.

Enfiei meus dedos nos de Claire enquanto se afastavam,


e assim que o carro de Finn saiu do estacionamento, me virei
e segurei seu rosto em minhas mãos, a pressionei contra o
carro e tomei sua boca em um beijo profundo e intenso.

A nossa ligação acendeu imediatamente, e ela passou os


braços em volta do meu pescoço enquanto provava a doçura
em sua língua, a suavidade em seus lábios.

Sim, por ela, eu poderia tentar. Eu ainda me sentia


desequilibrado e a cerca de mil quilômetros fora da minha zona
de conforto, mas quando a toquei, e a senti me tocar de volta,
tudo voltou a se encaixar.

Minha mão afundou na parte de trás de sua legging, e


gemi feliz quando ela rolou seus quadris. Se estivesse escuro,
se estivéssemos escondidos e fora do alcance de olhares
indiscretos, eu a teria levado lá contra o meu jipe. Rápido e
duro, com pouco preâmbulo, simplesmente para acalmar
qualquer vício que tomou sobre todos os cantos da minha
alma.

Alguém gritou uma obscenidade pela janela do


apartamento e arranquei minha boca da dela.

Eu ri contra sua boca. — Desculpe.

Seu rosto estava atordoado. — Pelo que foi isso?

— Pelo que você disse a ela, — eu admiti. — E por me


convidar para jantar. Por ser louca o suficiente para me querer
lá.

Claire sorriu. — Não me agradeça ainda.

Minha testa pressionou contra a sua, e a respirei,


tentando lutar contra o meu desejo por ela sob controle, uma
vez que estávamos em público. — Eu quero levar você a um
encontro, princesa. Um real. Eu te pego, e você sabe que sou
eu quem vou. — Minha voz era áspera e minhas mãos a
seguravam com força. Ela deve ter sentido uma mudança em
mim porque deslizou as mãos no meu peito e as manteve lá. —
Você pode se vestir, e eu vou te levar a algum lugar caro e
pensar em beijar você a noite toda.

— Tudo bem, — ela respondeu suavemente. — Acho que


podemos fazer isso.
Envolvendo-a em meus braços, a beijei na têmpora. O que
Claire Ward estava fazendo comigo, não tinha muita certeza,
mas estava em pé instável. Ela me fez equilibrar em uma trave,
fina e trêmula, sobre uma extensão aberta e sem rede.

Enquanto estávamos sozinhos, me senti mais forte no que


estávamos construindo entre nós. Mesmo agora, apenas um
golpe dela em minha corrente sanguínea, e me acalmei. Eu
teria que compartilhá-la eventualmente, e talvez Claire
estivesse certa quando disse que eu seria capaz de passar pelo
jantar.

— Bom. — Eu enterrei minha cabeça no cabelo dela


novamente.

— Você sabe o que eu quero fazer? — Ela perguntou. Sua


boca mordeu minha mandíbula.

— O quê?

Seus olhos azuis brilhavam com malícia.

— Mostrar a você minha cama antes de irmos.


Bauer

QUANDO VOCÊ começa a dirigir para a casa de uma


antiga estrela do futebol, especialmente aquele que é agora um
dos treinadores mais respeitados da liga, você começa a
receber uma certa imagem em sua mente sobre o que a casa
pode parecer.

Entrada longa e curva. Paisagismo exuberante. Arcos e


janelas grandes e uma casa com piscina. Um lugar onde me
sentiria uma fraude do caralho ainda mais do que já sentia.
Mas quando entrei com meu jipe em uma entrada de carros
normal e cheia, demorei um segundo para olhar em volta.

Sim, era um bairro agradável, mas a casa era... normal.


Grande, mas normal.

— Pronto? — Claire perguntou.

— Sim. — Arranhei o lado do meu rosto. — Não é o que


eu esperava.

Ela piscou para a estrutura de tijolos. — A casa?

— Eu pensei que estaria dirigindo até uma mansão com


um código e merdas assim. — Claire sorriu. — Sem códigos,
sem portões, apenas... — Ela encolheu os ombros. — Apenas
em casa.

Da variedade de veículos estacionados à nossa frente e a


julgar pelo barulho que saiu como uma explosão quando um
menino pequeno abriu a porta da frente e veio voando em
nossa direção, parecia que todos chegaram primeiro.

— Claire! — Ele se atirou nela, e ela o pegou rindo. —


Pensamos que você tinha morrido.

— Não, você não pensou. — Ela beijou o topo de sua


cabeça, coberto por um cabelo castanho avermelhado, e na
curva do seu sorriso, vi uma forte semelhança com ela. — Eu
estava presa na neve, pateta.

O garoto soltou Claire e me deu um olhar arregalado. —


Eles estão falando muito de você lá dentro.

Claire riu enquanto franzi o cenho. Ótimo. Exatamente o


que queria antes de entrar — confirmação do que estava
preocupado. Mas não era culpa desta criança.

Em vez de me agachar, estendi minha mão e apertei a sua


como se fosse um homem. Isso fez seu peito magro inchar. A
criança não poderia ter mais de oito ou nove anos.

— Qual é o seu nome, senhor?

— Emmett Ward. — Ele continuou apertando minha mão,


como se não tivesse certeza de quem deveria soltar primeiro.
— Eu sou o sobrinho de Claire, mas não a chamo de tia porque
ela não parece velha o suficiente para ser tia de alguém.

Eu dei a Claire uma inspeção da cabeça aos pés, e suas


bochechas coraram furiosamente. — Você pode estar certo
sobre isso, Emmett.

— Ooooh, você não deveria olhar para ela assim quando


entrar lá em casa. — Avisou. Claire tapou a boca com a mão.

Olhei de volta para Emmett surpreso. — Eu não deveria?

Emmett balançou a cabeça. Seus olhos tinham o tom


exato de azul que os de Claire.

Antes de perguntar, sabia que provavelmente era


estúpido fazer isso, mas eu não lidava muito com crianças.
Além disso, achei que era jovem demais para saber que tipo de
olhar dei a ela poderia significar. — Como eu olhei para ela?
Conte-me para não fazer de novo.

Ele suspirou profundamente. — Como se você quisesse


beijá-la. Minha mãe disse que arrancaria suas bolas se olhasse
para Claire com olhos sexuais à mesa de jantar.

Claire gemeu atrás da mão e eu fiz uma careta poderosa.

Emmett deu de ombros. — Beijar leva a sexo, e sexo leva


a bebês. Então... não faria isso lá se fosse você.

Com isso, ele se foi, voltando para casa, deixando Claire


e eu em um silêncio atordoado. Ela soltou uma risada
histérica.
— Bem, — eu disse. — Isso foi divertido. Mal posso
esperar para entrar.

Ela deixou cair a mão e plantou um beijo suave em minha


bochecha. — Você vai ficar bem.

Estava claro que ela acreditava no que dizia. Não havia


falso entusiasmo, nem falso incentivo. Pela centésima vez
desde que saímos da cabana, repeti meu novo mantra. Por ela,
eu poderia tentar.

A única vez que tentei impressionar alguém foi quando


meus pés estavam firmemente plantados na superfície lisa do
meu snowboard, minha cabeça coberta com um capacete e
óculos de proteção sobre o rosto. Isso era algo que sabia sem
pensar duas vezes. Eu podia contorcer meu corpo, mudar de
posição e me mover com o impulso da montanha para não
encarar a neve e o gelo.

Nunca se tratou da minha personalidade, nunca sobre o


que saía da minha boca ou como eu tratei alguém. Não era
sobre como eu era ou como provava meu valor como pessoa.

As pontuações que recebi, o tempo que passei no curso


de um mapa, os truques que completei — eram sobre a minha
capacidade de executar fisicamente.

Isso — atravessar aquela porta com Claire ao meu lado —


era sobre todo o resto. A única coisa em que eu era bom
naquele momento era completamente e totalmente inútil.
Então, enquanto a certeza dela era grande, não parecia
que eu ficaria bem quando apertou minha mão e nos levou
para dentro atrás de Emmett.

Mas eu não queria fazê-la pensar se fez bem em me trazer,


então mantive minha boca teimosa fechada.

A entrada de dois andares era brilhante, com


equipamento esportivos espalhado pelo piso de madeira. O
corredor em arco adjacente a ele levava a uma cozinha grande
e iluminada, cheia de cheiros incríveis e gargalhadas
femininas.

Era uma casa que era vivida e bem amada. As marcas nas
paredes pintadas eram abundantes, e vi uma brecha na parede
de gesso que parecia suspeita como uma roda de bicicleta se
implantando ali. As paredes estavam cobertas por fotos de uma
família que tinha crescido junta ao longo dos anos, e cada uma
que passamos me deixou um pouco mais à vontade.

O amor neste lugar estava transbordando. Em cada


centímetro, dominando todos os sentidos. Tudo isso deveria ter
me feito sentir melhor, mas só me fez sentir pior. Porque esse
não era o tipo de casa que eu conhecia. Eu aumentei meu
aperto em seus dedos, e ela os apertou em troca.

Chegamos à cozinha, que era um grande espaço aberto


que fluía para uma sala familiar enorme e confortavelmente
mobiliada. Uma grande tela plana montada na parede estava
congelada em um jogo de futebol. Nenhuma surpresa.
A maior parte da família estava de costas para nós com a
forma como se aglomeravam ao redor da grande ilha de
mármore onde Paige e Logan estavam cozinhando.

Logan nos viu primeiro, e respirei fundo e firmemente


com o olhar que ele apontou em minha direção.

Ele era um cara alto, largo e forte, e suas têmporas e


linhas levemente acinzentadas ao redor dos olhos eram o único
sinal de que tinha mais de quarenta anos. Em vez de
interromper a história que Isabel estava contando, ainda alheia
à nossa entrada, pousou a mão nas costas da esposa e saiu da
cozinha.

Ele deu a volta à ilha e algo sobre sua marcha, sua


presença dominante me fez ficar mais ereto. Lia notou e
cutucou Isabel. Isabel se aquietou e jogou uma toalha em
Paige, que finalmente levantou a cabeça.

Agora, o olhar que recebi dela tornou difícil de engolir.


Sim, ela estava imaginando todos os pesadelos que eu conjurei
para este jantar em família.

Logan deu um abraço apertado em sua irmã,


despenteando seus cabelos quando se afastou. — Você chegou
em casa segura?

Ele a olhou como se estivéssemos realmente presos lá fora


na tempestade de neve, e ela revirou os olhos.

— Sim. As estradas estavam boas quando saímos esta


manhã.
— Eu aposto. — Paige murmurou.

Isabel pigarreou e continha um aviso por trás. Finn


sufocou um sorriso, e eu queria jogar alguma coisa em sua
cabeça pelo fato de estar aqui para testemunhar isso.

Ele se virou para mim e estendeu a mão, o que eu peguei.


Eu juro, tentei não me encolher com o seu aperto, realmente
tentei.

— Logan. — Disse.

— Bauer Davis, — disse a ele. — Aprecio você me receber,


senhor.

Com isso, ele finalmente abriu um sorriso relutante. —


Eu não sou tão velho assim. Logan está bem.

Isabel virou o banquinho, enchendo Claire de perguntas


sobre onde ficamos, e Lia sussurrou atrás do balcão com Paige.

Emmett andou pela casa, alheio a qualquer tendência da


minha visita.

A tagarelice da família nunca diminuiu, apenas ficou em


um zumbido constante. Um zumbido que parecia ficar cada
vez mais alto em meus ouvidos.

— Isso é romântico como a merda, — ouvi Isabel


exclamar. — Uma pequena cabana na floresta? Não podia
pedir melhor.

Claire riu baixinho, pegando minha mão.


O pequeno gesto já parecia uma âncora, me segurando
firme. Ela saberia que eu precisava disso?

Claro que saberia. Ela era perspicaz o suficiente para


saber que grandes famílias não eram exatamente a minha zona
de conforto, especialmente quando duas das pessoas
presentes provavelmente estavam esperando que eu fugisse.

Talvez porque eu absolutamente quisesse. Fugir parecia


ótimo. Levar Claire e voltar para a sua cama. Melhor ainda,
levá-la até Whistler para que pudéssemos entrar em minha
cama também.

Paige desligou o fogão e limpou as mãos em uma toalha


pendurada no ombro.

Era impossível não compará-la com a única outra


matriarca que conhecia, Adele. A ironia era que, enquanto
Paige ganhava a vida como supermodelo, anos antes, e Adele
ajudava jovens em risco, sabia qual mulher eu queria no meu
canto. E qual mulher era absolutamente aterrorizante de se ter
contra você quando me olhava do jeito que estava olhando.

Ela me lembrou uma leoa quando deu a volta à ilha e


seguiu em nossa direção. Pronta para me despedaçar com seus
dentes nus.

— Bauer, — Paige disse calmamente. — Como você se


saiu em sua parte do acordo?

Eu soltei um suspiro. — O acordo em que ameaçou minha


vida se eu a machucasse?
Paige inclinou o copo de vinho para mim. — Sim, esse.

Logan se juntou a nós, deslizando um braço ao redor de


sua cintura. — Você está sendo legal, minha doce esposa?

Para parar minha risada nervosa, apertei meus lábios.

Paige sorriu para ele. — A mais legal.

— Isabel estava contando seus louvores antes de você


chegar. — Disse Logan.

Eu ri desconfortavelmente. — Ela estava?

— Ouvi dizer que você é um ótimo concorrente. — Logan


deu a Paige um olhar carregado. A inquisição terminou, pelo
menos por enquanto. — Embora, para ser sincero, eu não
conheço muito o snowboard como esporte.

— É frio e você não ganha muito, — disse a ele o mais


honestamente que pude. — Mas eu não trocaria por nada.

Ele sorriu. O que mais faria? O homem recebia um


cheque anual com uma tonelada de zeros atrás dele. Mesmo
que eu pudesse encontrar outro patrocinador, a maioria dos
praticantes de snowboard profissional raramente rachava
cinquenta mil por ano. Era por isso que a maioria dos meus
amigos serviam mesas. Por isso eu cuidava de um bar na baixa
temporada. Por que a maioria de nós encontrava empregos
estranhos enquanto viajávamos para nossos lugares favoritos
para pegar neve fresca.
— Ser capaz de encontrar algo que você ama e que é bom,
— disse ele. — Não acontece com a maioria das pessoas. Você
tem sorte.

Sua reação foi uma que eu poderia acrescentar a uma


lista do que já era tão diferente do que eu sabia.

Mais uma vez, sabia que deveria ter me sentir mais


confortável em sua casa, cercada por todas essas pessoas que
amavam Claire tanto que estavam dispostas (em vários graus,
obviamente) a me receber em sua casa. Mas, em vez disso, fez
a pele coçar sob a gola da minha camisa.

Mas nunca, nem uma vez, uma mulher me olhou com


tanta expectativa em seus olhos. E agora, ela veio com uma
família que gostaria de saber o que eu fazia, como ganhava a
vida, porque isso afetava Claire também, ou poderia algum dia.
Minhas mãos começaram a formigar e meu peito estava
apertado.

— Com licença. — Disse a eles e soltei minha mão da de


Claire para que pudesse ir ao banheiro que vi da cozinha.

Depois que a porta foi fechada, apoiei minhas mãos na


pia e olhei para o meu reflexo. Os raios de pânico que
apertavam os músculos das minhas costas eram estranhos,
mas a única razão pela qual eu sabia que não estava tendo um
ataque cardíaco ou algo assim era o desejo avassalador de
fugir.
Eu queria estar de volta àquela cabana onde tinha sido
simples. Onde meus sentimentos vinham com facilidade, e
poderia me apropriar deles. Onde não era difícil colocar
palavras no que ela estava fazendo comigo. Naquela cozinha
lotada e feliz, tive que enfrentar a percepção de que não sabia
como estar em um relacionamento sério do caralho. Eu não
sabia como compartilhar alguém por quem estava me
apaixonando, com esse grupo gigante de pessoas que estava
apenas esperando que eu estragasse tudo.

Acionando a água, coloquei minhas mãos embaixo da


torneira e espirrei em meu rosto algumas vezes. Quando senti
que meu ritmo cardíaco diminuiu e conseguia respirar
normalmente de novo, saí. Lia estava na lavanderia ao lado do
banheiro, terminando uma ligação.

— Sim, obrigada, estou emocionada. — Ela levantou um


dedo para mim, mas porque parecia feliz, não senti que ela
estava me provocando. — Eu ligo para você amanhã com toda
a certeza. Obrigada.

Coloquei minhas mãos nos bolsos da calça e soltei um


suspiro lento. Ela fez o mesmo. Antes que começasse a falar,
eu poderia dizer que ela estava tentando. Talvez estivesse
repetindo o mesmo mantra que mantive em minha mente o dia
todo. Isso por Claire, ela tentaria.

— Prometi à minha irmã que te daria uma chance, —


disse Lia. — Porque ela nunca... — ela balançou a cabeça. —
Isso é novo para Claire. Estar em um relacionamento como
esse.

Sua franqueza facilitou uma admissão dos meus lábios.


— Para mim também.

Lia sorriu. — Eu sei. Eu ouvi isso. — Quando levantei


uma sobrancelha, ela levantou as mãos. — Desculpe. Eu tenho
quase dez anos pensando em você de uma certa maneira, e seu
irmão me contou sobre isso no caminho para cá. Que você e
Claire não têm nada a ver com o que há entre você e seus pais.

A ideia de que Golden Boy estava me defendendo me fez


recuar um pouco. — Ele fez?

— Sim. Finn não é como a mãe dele, você sabe. Ele não
mantém nada disso contra você. A distância entre você e eles.

Eu assenti lentamente. — Finn é uma pessoa mais


clemente do que eu. Acho que devo agradecer por isso agora.

— Sim, você me deve muito, se pensar sobre isso.

— Suponho que sim. — Eu concedi.

— Não é como se eu pudesse receber crédito por Finn ficar


doente. — Lia deu de ombros. — Embora, se tivesse me
avisado, Claire teria corrido em um segundo.

Inclinei minha cabeça. — Você acha?

— Quero dizer, vocês conversaram sobre por que ela foi,


certo?
— Nós fizemos. — Eu disse. Porque nós tínhamos,
apenas... não muito.

— Eles são muito parecidos, você sabe. É provavelmente


por isso que nunca me preocupei com isso. — Lia olhou para
a cozinha. — Ela provavelmente nem percebe que eu sabia que
ela gostava dele.

Seguir a linha de seu olhar era impossível de resistir, e


mesmo que tivesse sido uma coisa minúscula, perceber que ela
tinha ido por causa de Finn, para passar um tempo com Finn,
de repente parecia muito, muito grande.

De pé na beira da montanha gigante. Se eu me sentia


uma causa perdida antes do que Lia havia dito, não era nada
em comparação com o que sentia agora. Se ela tivesse jogado
a bigorna proverbial em minha cabeça, teria tido menos efeito.

Claro, Claire foi por causa de Finn. Todos, incluindo a


mulher pela qual eu estava tentando tanto, preferiam ele.

O bom irmão. O irmão esperto. Aquele que não a


envergonharia.

— Mas você queria ter certeza de que eu sabia. — Disse


em um tom calmo e perigoso.

Os olhos de Lia se voltaram para mim, arregalados e


chocados em seu rosto. — Umm, considerando a senhora de
olhos gigantes em que transformou minha irmã, presumi que
havia lhe dito que foi por isso que concordou, considerando
que vocês não tinham nada além do tempo para conversar por
dias.

Cruzei os braços sobre o peito e tentei parar de olhar para


Finn parado ao lado de Claire na cozinha. Ele estava servindo
um copo de vinho para ela, rindo de uma maneira amigável de
algo que ela disse.

Lia agarrou meu braço e desviei o olhar da cena da


cozinha. — Ela não me contou.

Os seus olhos se arregalaram ainda mais. — Bauer, me


desculpe. Eu não... — Ela balançou a cabeça. — Isso não é
grande coisa, eu juro.

Meu riso áspero e baixo a fez apertar ainda mais o meu


braço.

— Ei, estou falando sério. A razão pela qual isso não é


grande coisa é porque sabia que Claire encontraria alguém
mais adequado para ela do que Finn. Eles são basicamente a
mesma pessoa e ela precisa de alguém que a empurre quando
precisar ser empurrada. — Os seus dedos se apertaram. — A
sua paixonite era inofensiva, ok? Finn nunca a olhou dessa
maneira.

Meu silêncio estava começando a assustá-la, mas meus


dentes estavam cerrados com força demais para tentar dizer
qualquer coisa. Eu escolhi uma maneira infernal de mergulhar
na piscina do namoro, não é?
Com uma mulher que era boa demais para mim, mas
agora eu tinha que aceitar o fato de que só tinha conseguido a
minha chance porque ela estava querendo meu irmãozinho há
anos. Meus olhos voltaram para eles, um casal dourado, com
cabelos escuros, cérebros grandes e corações gentis.

— Bauer, — Lia retrucou. — Olhe para mim.

Eu olhei, e ela imediatamente começou a balançar a


cabeça com o que viu.

— Não, não a abandone por causa disso. Vou dizer que a


culpa é minha e ela vai me perdoar. — A voz dela ficou instável.
— Ela é minha gêmea, e é assim que soube, porque às vezes
sabemos coisas uma da outra que nem queremos saber, mas
simplesmente porque sentimos isso, ok? Mas por favor, por
favor, não quebre seu coração agora por causa de qualquer
dinâmica estranha que você tenha com Finn. Por favor.

Foi a oscilação em sua voz que me fez parar. Meu cético


interno gritava que Lia fez isso de propósito, mas não achei que
fosse capaz de fingir o pânico estampado em seu rosto ou a
emoção em sua voz.

— Você tem cinco minutos para contar a ela antes que eu


a puxe para o lado, — disse a Lia. — Porque não há como me
sentar durante um jantar, olhando para eles, e fingir que estou
bem com o que você acabou de me dizer.
— O que vocês dois estão fazendo aqui atrás? — Claire
perguntou. Ela estava se aproximando de nós com um sorriso,
mas pude ver a curiosidade cautelosa.

Lia compartilhou um olhar de pânico implorando para


mim. — Eu só estou calando a boca, e Bauer está...

O rosto de Claire começou a cair, e quando seus olhos


azuis e profundos me estudaram, vi seus ombros tensos. —
Bauer está o quê?

— Eu disse a ela que te daria cinco minutos, — eu disse


categoricamente. — Vou esperar lá fora. Não posso entrar lá
agora.

— Bauer, espere. — Claire implorou, estendendo a mão


para agarrar meu braço. Eu parei porque sim, minha mente
estava disparada e não havia nenhuma maneira de fingir algo
na frente da sua família, não na primeira noite em que os
encontrei, mas se arrancasse meu braço dela agora...

Então, parei, mas fechei os olhos.

— Você está me assustando. — Ela sussurrou.

— Apenas... fale com sua irmã por cinco minutos, ok?

— Não.

Meus olhos se abriram ao seu tom firme. Lia disse o nome


da irmã.
O olhar de Claire nunca vacilou no meu. — Eu quero falar
com você. Lia, você pode nos dar um pouco de privacidade?

— Claire, a culpa é minha, eu juro, — disse Lia às


pressas. — Por favor, me deixe...

Claire levantou a mão. — Eu nunca peço que você me


deixe em paz Lia, mas este é um momento em que preciso que
você vá embora para que possa falar com Bauer.

Os olhos de Lia se arregalaram, e até eu fiquei surpreso


com a reação de Claire. Mas Lia respeitava sua irmã gêmea,
balançando a cabeça lentamente.

Estava quieto o suficiente na cozinha para perceber que


reunimos uma audiência. — Merda, — eu sussurrei. — Eu não
posso fazer isso aqui.

Claire soltou um longo suspiro. — O que está


acontecendo? Fale comigo.

Meu queixo caiu ao meu peito. Eu ia estragar tudo, já


sabia. Eu gostaria de nunca ter saído daquele banheiro. Eu
gostaria de ter dito a ela que poderia conhecer sua família
outro dia. E gostaria de saber como fazer uma merda destas
com uma mulher que já significava demais para mim.

Tanto que o pensamento dela querendo meu irmão me fez


bater em seu rosto estúpido, logo depois que arranhei meu
coração para tentar moderar esse... sentimento.
Olhando para ela, tentando descobrir o que queria dizer,
e como e onde, tudo o que conseguia imaginar era ela naquele
vestido amarelo com o batom vermelho aplicado
meticulosamente. O olhar em seus olhos quando me virei, e ela
me viu pela primeira vez que não tinha sido capaz de mascarar.

Não foi o choque que a manteve tão quieta na estrada. Foi


decepção. Foi por isso que me virei e saí pela porta, e não tinha
certeza se queria que ela me seguisse.
Claire

A AMPLA EXTENSÃO das costas de Bauer nunca me


pareceu ameaçadora.

Forte.

Capaz.

Sexy.

Mas nunca ameaçadora.

Fiquei boquiaberta, ao vê-lo se afastando de mim, pela


porta que dava para a garagem, foi a coisa mais aterrorizante
que eu já vi. Principalmente porque estava tão confusa, tão
completamente perdida, não sabia o que diabos estava
acontecendo.

O barulho explodiu atrás de mim quando ele saiu da casa,


e me recusei a dar à minha família um olhar para trás, porque
não conseguia explicar nada. Saí correndo de casa e gritei seu
nome quando o vi passar entre os carros estacionados.

— O que está acontecendo? — Eu implorei. — Você se foi


por três minutos e, de repente, está saindo?
Bauer parou de andar, com as mãos apoiadas nos
quadris, enquanto olhava para o céu sem nuvens.

Talvez fosse algo estranho notar que o dossel acima de


nós era claro e brilhante, mas me fez desejar estar de volta
àquela cabana.

Lá tivemos cobertores brancos, nuvens e vento para


abrigar nosso pequeno espaço. De repente, eu queria aquela
sensação de segurança de volta.

— O que Lia disse para você? — Eu perguntei baixinho.


Estava tomando tudo em mim para não marchar até ele e
sacudir a resposta.

— Eu posso ver isso.

Minha cabeça se inclinou com sua resposta estranha. Eu


me senti como um peixe que retirado foi sem cerimônia de seu
aquário. Era difícil respirar, porque não tinha noção de como
passar por isso. — Ver o quê?

Ele exalou lentamente, finalmente se virando para mim.


— Você e Finn.

Meu estômago agora era a coisa que me dava toda a


sensação ameaçadora, porque se transformava perigosamente.
O que diabos minha irmã disse a ele?

— Eu e Finn, — repeti calmamente. — Bauer... eu...

Negação presa em minha garganta. Nada mais surgiu.


Porque não conseguia mentir. E ele viu isso no meu rosto.
Ele assentiu. — Vocês ficariam ótimo juntos. E
provavelmente é realmente estúpido da minha parte nunca ter
considerado que você fora naquela noite por causa dele.

— Eu não quero o Finn, — argumentei. Cuidadosamente,


me aproximei dele com as mãos levantadas. Não assuste o
snowboarder, Claire, porque ele saiu daquela casa e já estava
decidido. — Eu não sei o que Lia disse para você, ou o que
pensa que sabe, mas se falou algo que faz você pensar que eu
não quero ficar com você, está errada.

— Não fique brava com ela. — Ugh, minha pele recuou


com seu tom casual. A maneira como enfiou as mãos nos
bolsos como se isso não fosse grande coisa, apenas qualquer
outra conversa que poderíamos ter, parados sob um céu sem
nuvens. — Ela está apenas falando a verdade.

— Como eu vou saber? Você não me contou o que ela


disse.

— É justo, — admitiu. Bauer apoiou um ombro na lateral


do jipe e estudou meu rosto. — Você teria cancelado em um
piscar de olhos se soubesse quem iria aparecer. Sem vestido
amarelo. Sem batom vermelho. Não é necessário mentir.
Porque a única razão pela qual você fez o que fez foi porque
queria um encontro com o Golden Boy.

Normalmente, me orgulhava de ser uma pessoa


equilibrada. Vendo os dois lados. Compreendendo opiniões
diferentes. Mas agora eu vi vermelho.
— E você saiu da casa da minha família, porque eu
poderia ter tomado uma decisão diferente se talvez soubesse
que ele estava doente, quando nunca sequer te conheci antes
daquela noite? — Meu tom aumentou gradualmente de
volume, no campo, em absoluta raiva. — Isso é uma piada?

Seu rosto endureceu lentamente em uma máscara. — Eu


com certeza não acho engraçado.

— Nem eu, Bauer. — Eu o encarei. — Eu não te conhecia.

— Não, mas você com certeza o conhecia. — Ele inclinou


a cabeça para trás e soltou uma risada seca. — Tudo o que
você disse no carro... tão compreensiva sobre o meu passado.
Você estava cobrindo sua bunda.

— Eu não estava fazendo isso. — Protestei. Mas eu não


estava? Só um pouco. O desconforto aumentou minha raiva
mais um pouco.

— Eu tenho um medidor de besteira muito bom, Claire,


então tenha cuidado.

— Eu não estava me protegendo, Bauer. Estava tentando


te conhecer, conversar com você sobre coisas normais de um
relacionamento. Você perguntou se já tinha trazido um
namorado para casa, e não o fiz. Só você.

— Sim, — disse lentamente. — Porque o cara que você


queria estava aqui para todos os malditos jantares.
— E você está me punindo porque tive uma queda
estúpida e boba por ele, uma que consegui ignorar por um
longo tempo. Não posso mudar o que senti antes de conhecer
você.

Não é surpresa, mas a máscara não se moveu e nenhuma


palavra saiu da linha dura de sua boca.

Esfreguei minhas têmporas. — Bauer, vamos lá, você é


inteligente o suficiente para saber que é grosseiramente injusto
sustentar isso contra mim. Eu não te conhecia.

Sua mandíbula apertou e suas sobrancelhas abaixaram


uma fração. Ele não queria que eu estivesse certa, mas eu vi
nos seus olhos – a completa e absoluta incapacidade de
discutir comigo.

— Você vai ficar aí parado? — Eu falei.

Isso finalmente quebrou a máscara. — O que você quer


que eu diga, Claire? — Ele abriu os braços. — Agora, é
impossível para mim olhar para você, sem ver você com ele.
Que é impossível pensar em você querendo ele, mesmo que
fosse antes de mim, sem querer estragar seu rosto de menino
bonito? Isso faria você se sentir melhor? — Ele gritou.

Engoli em seco, colocando meus braços ao redor da


minha cintura. — Não.

— Eu tenho um membro da minha família que não me


trata como um idiota completo, e é ele, e agora eu quero
quebrar o nariz dele.
Meus olhos se fecharam.

— Talvez não seja justo. Mas se eu entrar ali e dizer a ele,


fizer com ele tudo o que isso me faz querer fazer, cortarei todo
e qualquer relacionamento com minha família. Sem mencionar
o que sua família pensará de mim.

— Isso é uma piada? — Eu apontei de volta para a casa.


— Você conheceu Paige? Ela arrancaria os olhos de alguém se
achasse que estavam fazendo uma cilada para Logan. Eu a vi
xingar tanto as groupies de futebol que meus ouvidos quase
sangraram.

Bauer passou a língua sobre os dentes. — As groupies


não são iguais ao meu irmão.

— Seu irmão era uma paixão inofensiva e nada mais, —


disse ferozmente. — Ele nunca olhou duas vezes para mim. E
agora? Estou feliz que não o fez. Porque eu tenho você.

Ele cerrou os dentes novamente, observou com cautela


quando me aproximei. Mas seus olhos assumiram um brilho
de aviso quando me mudei para tocá-lo. Foi por isso que parei.
Era como se aproximar de um urso prestes a atacar.

Estávamos perto o suficiente para que pudesse levantar


uma mão e ela pousaria em seu peito. Eu seria capaz de saber
se o seu coração estava batendo rápido do jeito que o meu
estava.

Um pensamento veio à minha mente rapidamente, que


talvez isso fosse tudo o que Bauer e eu estávamos destinados
a ser. Algo brilhante, quente e rápido. Nada que pudesse se
sustentar por causa da maneira como começamos.

Era muito intenso, e queimamos o calor que havia


acendido entre nós, simplesmente pela natureza de como
nosso relacionamento havia começado. Trancado em uma
panela de pressão. Era uma maneira rápida de começar, mas
assim que a tampa foi aberta, tudo se dissipou em fumaça.

— Você nunca deixará isso passar, não é? — Eu disse


calmamente. Assim que disse, minha raiva esvaziou
imediatamente para tristeza.

Bauer abaixou o queixo e respirou fundo. — Você


poderia?

— Eu não mantenho seu passado contra você. Porque é


irracional e injusto, e você sabe disso.

— Não é isso que quero dizer. — Ele levantou a cabeça,


segurou meu olhar, e a determinação que vi lá me gelou
profundamente. — Você poderia ignorar isso se lhe dissesse
que apareci naquela noite para sair com Lia?

As palavras se foram. Minha boca estava seca como areia


com o que aquilo fez comigo.

Ele continuou falando, palavras calmas e perigosas que


fizeram coisas horríveis no meu coração. — Se eu lhe dissesse
que pensei em estar com ela, tocá-la, beijá-la, e por um
momento, fiquei decepcionado por estar com você.
Tomei uma respiração assustada.

— Sim, — ele disse devagar, suavemente. — Você também


não poderia ignorar. Porque esse olhar em seus lindos olhos
azuis, princesa. Parece que dei um soco no seu estômago, não
é?

Meus olhos se encheram de lágrimas e o odiei. Eu odiava


que ele estivesse certo. E por apenas um momento, um fugaz
e rápido, odiei minha irmã pelo que tinha dito, odiei Finn por
estar dentro de casa e me odiei por não dizer algo quando tive
a chance.

Porque Bauer estava certo. O pensamento de que ele


poderia ter tido sentimentos por Lia, oh, isso doeu. Até a ideia
disso fez meus ossos congelarem, racharem perigosamente
quando tentei respirar fundo demais, como se pudesse quebrar
de dentro para fora.

Após o ponto comprovado com precisão impressionante,


Bauer exalou lentamente. — Foi bom, você sabe?

— O quê? — Eu sussurrei. Minha garganta doía por


conter lágrimas.

— Que ela me contou. — Ele olhou para atrás de mim


para a casa. — Eu não me encaixo aqui mais do que na minha
própria casa. Esta não é a minha cena, e não sei por que pensei
que seria.

A dor que sentia era impressionante, e ameaçava dobrar


meus joelhos, se deixasse. — Não faça isso, — sussurrei. — Eu
vejo exatamente o que você está tentando fazer, e eu não
acredito em você.

— É a verdade, queira você acreditar ou não. — Bauer


mal podia me olhar nos olhos agora. — Tivemos um ótimo final
de semana, princesa, e provavelmente é melhor que o deixemos
aí.

Meus olhos secaram, e meu coração se enroscou


enquanto uma fera rugindo e furiosa tomou conta da minha
cabeça. — Você é o maior covarde que já conheci.

Oh, ele não gostou disso. Mas se Bauer arremessou


alguns dardos para mim, que deixei penetrar em minha pele
repetidas vezes, eu não seria a única a sangrar quando
terminássemos essa conversa horrível e insana.

— Sente-se melhor me insultando?

— Eu conheci crianças com mais maturidade emocional


do que você, Bauer Davis, — disse. Ele começou a assentir,
puxando as chaves do bolso da frente.

— Bom, fique chateada comigo, princesa. Vai facilitar a


minha partida.

— Não me chame assim, — eu bati. — Eu não sou uma


princesa. Não sou uma coisa guardada e intocada em uma
torre, e ficarei chateada porque vejo um homem inteligente que
significa muito para mim jogando fora a possibilidade de algo
incrível, porque é muito covarde para resolver seus problemas.
— Avancei os últimos passos entre nós e agarrei seu rosto com
as mãos. Sua mandíbula estava dura como granito sob meus
dedos, foi assim que cerrou os dentes. — Eu não vou facilitar
para você sair, Bauer, porque sei que não é isso que você
realmente quer fazer. Você se sentiu exatamente como eu,
neste fim de semana e está fugindo assustado na primeira
oportunidade disponível.

Seus olhos estavam fixos nos meus e, por um momento,


pensei que cederia. Ele enrolou as mãos em volta dos meus
pulsos e puxou cuidadosamente até que não tivesse escolha a
não ser liberar seu rosto.

Minhas mãos caíram quando ele a soltou e,


estranhamente, não senti nada no momento em que fizeram.
Sem raiva. Sem medo. Sem dor.

Dentro de mim havia um silêncio estranho, uma quietude


repentina que só podia ser uma clareza autoprotetora.

— Eu fui uma tola por confiar em você com qualquer


pedaço de mim, — disse a ele. — Não fui?

Ele admitiu isso com um aceno lento, e minha mão coçou


para dar um tapa naquela máscara plácida de seu rosto.

— Finn é o irmão de confiança, princesa. — Ele sorriu, e


parecia cruel e frio, e o odiei. — Eu sou a pessoa que você
procura para diversão, e acho que você conseguiu isso.

O gelo nos meus ossos endureceu em aço, e levantei meu


queixo enquanto me afastava dele. — Você deveria ir embora
enquanto entro naquela casa, porque no segundo que fizer,
não posso ser responsabilizada pelo que acontecerá com você.

Ele riu baixinho, girando as chaves em torno de um dedo.


— Não é um problema, senhorita Ward. Seu desejo é uma
ordem.

Desta vez, fui eu mostrando-lhe minhas costas, e


esperava que não visse a lágrima que escorria pelo meu rosto
quando o fiz. O bater da porta do carro soou como um tiro, e
mantive o ritmo enquanto entrava na garagem escura. Meu
coração disparou dolorosamente quando abri a porta, e me vi
envolvida pelos braços do meu irmão mais velho.

Nunca ouvi o jipe sair porque não conseguia ouvir nada


além do meu coração.
Claire

— VOCÊ NÃO PODE ME IGNORAR PARA SEMPRE.

Meu nariz ficou colado no livro e passei um marcador sob


uma frase que queria lembrar.

Lia sentou em minha cama, embora não a convidei para


o meu quarto. Quarenta e oito horas depois que voltamos de
Logan e Paige para casa – em um silêncio pedregoso, Lia me
implorando para falar com ela, Finn me olhando
desconfortavelmente pelo retrovisor – estava provando para
minha irmã que poderia, de fato, ignorá-la para sempre.

Eu nunca passei tanto tempo sem dizer uma palavra a


ela. Mas estava chateada. Com ela. Com Bauer. Comigo. E,
infelizmente, para Lia, como minha colega de quarto, se tornou
o bode expiatório mais conveniente para essa raiva.

— Claire, vamos lá, — implorou. — Eu não sei mais como


me desculpar, ok? Sinto muito. Você sabe que falo demais às
vezes, e não deveria ter dito nada a ele, mas juro, achei que ele
soubesse. Pensei... pensei que você soubesse que eu sabia.
Meu marca-texto congelou na página, e tive que apertar
meus dentes com força para não gritar com ela de que não
havia maneira concebível que pudesse saber quando nunca
tínhamos falado sobre isso.

Lia, como um cão raivoso, viu a pausa no meu movimento


e atacou.

— Ele disse que você falou sobre isso, ok? Sobre por que
você foi. E eu só... estava tentando conversar, porque sério,
estava tentando ser legal com ele.

Ao dizer a ele que eu tinha uma queda por seu irmão! Eu


queria gritar. Meus olhos se fecharam. Isso estava me
matando.

Porque não importava o quanto eu estava chateada, eu


sentia penetrar através da minha pele o quanto Lia estava
miserável. Ela estava triste. Ela ficou frustrada. Ela estava
assustada.

Entre nós duas, sempre fui a primeira a ceder. Quem


tentou manter a paz. Quem deixou as coisas deslizarem. E não
queria deixar isso passar, porque também estava infeliz. Eu
sinto falta de Bauer. Eu queria dar um soco no Bauer por ter
agido como agiu.

No entanto, entendi. Ele era um homem com zero


experiência de relacionamento, e não apenas isso, mas não foi
criado de uma maneira que via uma pessoa saudável modelada
para ele. Lia e eu éramos jovens o suficiente quando nos
mudamos com Logan e, por extensão, Paige, para que
soubéssemos como deveria ser.

Fomos criadas em uma casa onde vimos – dia após dia –


amor e respeito, comunicação e estrutura da maneira que as
crianças precisavam. Logan era a base, as fortes madeiras que
mantinham a casa em pé. E Paige, ela era as paredes, o
telhado, as janelas. O que completou nossa família e a tornou
segura.

— Eu errei, C. — Lia sussurrou. Eu a ouvi dizer isso mil


vezes no último dia. — E me desculpe. Eu te amo.

Meu nariz queimava e minha mão começou a tremer. Mas


empurrei o marcador para frente até senti-la em pé.

A teimosia que eu estava sentindo era tão arraigada que


nem sabia de onde vinha. Para ser sincera, nem tinha certeza
do que queria de Lia.

Que ela voltasse no tempo, talvez?

Pelo canto do olho, eu a vi fazer uma pausa antes de sair


do meu quarto.

— Eu não sabia o quão importante ele era para você.


Pegou-me de surpresa. E, — Lia fungou ruidosamente. — Isso
está me matando, C. Você não pode me ignorar
completamente. Grite comigo, jogue algo em mim, me dê um
tapa, alguma coisa! Eu mereço.
De repente, ela estava de joelhos à minha frente, e não
tinha escolha a não ser olhar para ela. O rosto dela estava
molhado. O meu também.

— Eu sei o quanto isso está matando você também, —


sussurrou com uma voz grossa. — Você é minha melhor amiga,
e posso sentir o quanto isso é horrível para você, e não acha
que isso é uma punição suficiente para mim? Eu sei o quanto
seu coração está partido, porque eu posso senti-lo.

— Eu... — Fiz uma pausa. — Eu ainda estou tão


machucada, Lia. Porque parece que você disse algo de
propósito para estragar tudo.

O rosto dela desabou. — Eu juro que não.

— Eu sei que você continua dizendo isso, — chorei.


Coloquei meu livro de lado. — Mas esta é a primeira vez que
tenho algo que é apenas meu, e sim, deveria ter dito a ele, e
eventualmente teria, mas era meu dever dizer a ele. Não o seu.

— Eu sei. — Ela fungou. — Eu sinto muito.

Eu me levantei da cama e passei pelo meu quarto. — E é


constrangedor, ok? Eu não posso acreditar que você soubesse
que eu tinha uma queda por Finn o tempo todo e nunca disse
nada. Por que você não me disse que sabia?

Ela encolheu os ombros. — Porque... eu não sei! Conheço


vocês dois tão bem, C. Você é... é a mesma pessoa. Eu amo
Finn, eu o amo, e amo você mais do que qualquer coisa no
mundo inteiro...
— Mas? — Cruzei meus braços firmemente sobre o peito
e esperei que ela saísse. Ela não queria dizer o que ela estava
prestes a dizer.

Lia mudou do chão para a minha cama. Ela lambeu os


lábios, e notei pela primeira vez que tinha olheiras
correspondentes. Parecia que nenhuma de nós tinha dormido
na noite anterior.

— Mas vocês seriam o casal mais chato de todos os


tempos.

Minha boca se abriu. — Isso é tão rude. — Eu sussurrei.

— Não, eu quero dizer... — Ela esfregou a testa. — Ok, eu


só quero dizer que não haveria nenhuma faísca. Sem fogo. Você
provavelmente seria perfeitamente feliz e doce e blábláblá, mas
Finn é a sua versão masculina. — Os seus olhos imploraram
para mim. — Por que você acha que me dou tão bem com ele?
Ele é como você.

Lentamente, afundei na cadeira em frente à minha mesa


e processei o que ela estava dizendo. E Lia não estava errada.
Finn e eu tínhamos muito em comum. Era estranho, porém,
agora, tentar pensar nele em um sentido romântico.

Não apenas por causa do que Lia disse, mas por causa do
que havia experimentado com Bauer – oh inferno, meu coração
nunca se aquietaria ao pensar no nome dele? – que estava em
um universo totalmente diferente.

Ele era o meu oposto. O de Finn também.


E, por mais puta que ainda estivesse por ele ter saído
furioso, não pude deixar de olhar para minha irmã e tentar me
colocar no lugar de Bauer. Como ele disse, o pensamento de
querer algo com Lia naquela noite, esperando poder atravessar
algum limite invisível, doeu. Oh, como doía.

— Eu não deveria ter ignorado você, — sussurrei. — Eu


também sinto muito.

Ela caiu de alívio. — Não, tudo bem que você estava


chateada. Você tinha todo o direito de estar.

— Talvez estivesse canalizando minha Lia interior. — Eu


sorrio. — Eu não sei de onde esse raio de teimosa veio.

Minha irmã bateu no rosto e riu. — Eu sei, né?

Soltei um suspiro que veio de tão longe em minha alma


que Lia riu novamente.

— Eu não sei o que devo fazer com todos esses, — apontei


para o meu peito. — Sentimentos.

Lia apoiou os braços nas coxas e se inclinou em minha


direção. — Ok, fale comigo. Conte-me tudo. Quero dizer, talvez
não goste dos detalhes sexuais. Mas... o que aconteceu
enquanto esteve fora?

Então, ela deu um tapinha na cama. Todo o meu ser se


estabeleceu de volta no lugar quando Lia e eu apoiamos nossas
costas contra a parede. Ela enrolou a mão em volta da minha
com as pernas esticadas na cama e eu descarreguei pela
próxima hora.

Depois de um tempo, ela apoiou a cabeça em meu ombro,


e a coloquei sobre a dela, e ficamos em silêncio antes de chegar
à cena na entrada da garagem. Eu nem tentei limpar as
lágrimas que escorriam pelo meu rosto durante essa parte.

— Estou tão brava com ele por sair, — disse, a voz rouca
de falar. — Mas entendo. Não quero, mas entendo.

— Eu não.

Eu a cutuquei. — Eu não preciso que você o ofenda. Paige


já fez o suficiente.

Lia riu baixinho. Após o confronto na garagem, o jantar


em família foi uma merda. Chorei em meu antigo quarto,
enquanto Isabel, Paige e Lia gritavam umas com as outras
sobre o que aconteceu. Logan continuou batendo na porta,
tentando falar comigo, e Emmett alegremente sentou à mesa
com um Finn estranhamente quieto.

— Eu não estou tentando difamá-lo, por si só. — Ela


cutucou de volta. — Quero dizer, claro, não poderia ser fácil
ouvir isso sobre Finn, mas literalmente, nada aconteceu entre
vocês dois. Nem mesmo um único olhar carregado. Eu acho
que se tivesse dado ao seu temperamento quente cinco
segundos para se acalmar, ele teria pensado nisso e visto que
você ainda era a durona, que abalou o mundo em que estava
na cabana e acabou por superar isso.
— Aqui também. — Eu me ouvi dizer.

— O que aqui também?

Olhei para a minha cama com um sorriso tímido.

— Oh meu Deus, — Lia gemeu. — Sério? Não me diga


coisas assim. É Bauer. Eu ainda estou me acostumando a essa
coisa toda.

Isso fez com que o meu coração fizesse a coisa estranha e


dolorida novamente. Eu sentia falta dele. Fazia dois dias e
sentia falta dele.

— Não há nada a que se acostumar. — Suspirei. — Ele


deixou claro que não valia a pena lidar com esse tipo de
bagagem emocional.

— Claire, fala sério, você sabe que aquele homem é louco


por você, certo? Como... estupidamente apaixonado por você.

— Se é, — disse cuidadosamente. — Ele tem uma maneira


estranha de mostrar isso.

— Bauer tem o QI emocional de uma criança de seis anos,


C. Você sabe disso.

— Não, a maioria das crianças de seis anos poderia se


comunicar melhor do que ele naquela garagem. Ele tem o QI
emocional de um atrofiado de 26 anos que não tem nenhuma
pista de como estar em um relacionamento. Combine isso com
a sua cara estúpida, músculos estúpidos e trabalho estúpido,
e isso faz dele a criatura mais perigosa viva. — Bati minha
cabeça contra a parede. — E eu sou estúpida, eu pensei...

— O quê?

Bang.

— Eu pensei que ele estaria disposto a entender isso por


mim. Por causa do que tínhamos juntos. — Eu rio. — E veja
onde isso me levou. De coração partido, sendo irracionalmente
teimosa com minha irmã gêmea que realmente não fez nada de
errado, e sentindo falta dele como se tivesse cortado uma parte
do meu corpo e levado com ele.

— Confuso, mas tudo bem, estou entendendo. — Ela


olhou para mim. — Por que você está sendo tão dura consigo
mesma sobre isso?

Bang.

— Eu sou a pessoa que deveria estar estudando o


comportamento humano, certo? Causa e efeito. Saber como o
trauma da infância pode se estender até a idade adulta. É como
se visse Bauer e cada impulso que pudesse dar estivesse
gritando comigo. Exceto os vários orgasmos que me deixaram
mais idiota.

Bang.

— Número um, — disse Lia. — Pare de bater com a cabeça


na parede. As concussões não ajudam ninguém. E número
dois, Adele fez um número sobre ele. Tá pirando por quê?
Brooke fez um número conosco, e você sabe por que não somos
atrofiadas emocionalmente?

Virei minha cabeça para olhá-la. — Por quê?

— Alguém que nunca desistiu de nós. Um grupo de


pessoas. Nós tínhamos uns aos outros e tínhamos Logan.
Depois tivemos Paige. — Ela gemeu. — E não acredito que vou
dizer isso, mas Bauer nunca teve ninguém que se recusasse a
desistir dele.

Uma imagem desbotada na parede de uma cabana surgiu


em minha cabeça. — Ele teve uma pessoa. Mas entendo o que
você está dizendo.

Os dedos de Lia apertaram os meus. — Se esse homem é


tão importante para você quanto acho que é, mostre a ele como
se sente. Se recuse a desistir dele se ele sentir o que eu acho
que sente. Ele nunca ficaria tão chateado se você não tivesse
cravado suas garras fofas em seu coração emocionalmente
atrofiado.

Suspirei. — Então, apenas... ignoro a besteira que falou


e digo que não vou a lugar nenhum? Isso parece saudável.

— Nããããão. Se soubesse o que é bom para ele, haverá um


pedido de desculpas copioso. Mas você não precisa decidir
nada agora, ok?

Enrolando em minha irmã, a deixei me abraçar. Parecia


que poderia dormir por uma semana depois dessa conversa. —
OK.
— Eu sei o que vai animá-la, — disse ela. — Álcool e uma
semana na praia?

— Não. — Ela riu. — Eu acho que você deveria ir a um


lugar comigo neste fim de semana.

Eu me sentei com um suspiro. — Onde?

Lia ficou quieta por um segundo. — Adele e Tom estão


fazendo uma grande festa de comemoração no centro na noite
de sábado, e acho... acho que você deveria vir e ver.

O rosto que me veio à mente agora foi o que menti, e me


vi fazendo uma careta. — Richard Harper terá uma surpresa
ao ver nós duas.

— E você explicará a ele, e ele ficará bem. Finn me disse


que tem sido incrível o quão envolvido ele quer estar no centro.

Eu assenti. — Eu me sentiria melhor se pudesse pedir


desculpas a ele.

— Não que você realmente tenha alguma coisa para se


desculpar. — Lia apontou.

Não querendo dizer isso, deixei que ela pensasse o que


quisesse. — O que eu teria que vestir? Porque se exigir outro
vestido extravagante, estou fora.

— Casual fofo vai ficar bem. É um centro comunitário,


não um salão de baile.
— Bauer estará lá? — Eu perguntei com cuidado. — Não
é que eu... não sei, vou evitar ir se ele estiver, mas não sei se é
esse o lugar que quero vê-lo pela primeira vez.

Lia me apertou, e meu coração deu um soluço estranho,


pensando em Bauer fazendo a mesma coisa. — Vou checar
com Finn, mas nunca o encontrei em um evento lá. Nunca.

— Ok. — Eu bocejei. — O que faria sem você, Lee?

Ela estava quieta e olhei para o seu rosto.

— O quê? — Eu perguntei.

— Nada, o quê? — Ela disse rápido demais.

— Lia, — eu avisei. — Você fez uma pausa. Por que você


fez uma pausa?

Ela torceu o rosto. — Eu fiz?

Eu me sentei para frente. — Oh meu Deus, o que é? Você


está se mudando? Você está saindo? Você está doente?

— Devagar, louca, — disse rindo. — Eu não estou doente,


meu Deus.

Meu coração voltou a um ritmo normal. — Bem, é alguma


coisa.

— Eu não queria dizer nada com todos os sentimentos.


— Ela gesticulou para mim. — Mas posso estar indo para
Londres.
— O quê? — Eu gritei animadamente. Viajamos um pouco
ao longo dos anos, mas nunca estivemos na Inglaterra e, para
alguém como Lia, era o seu sonho visitar. — Quando? Com
quem? Por quanto tempo?

Lia riu. — Margaret Atwood meio que... me convidou para


estudar lá... — Ela fez uma pausa, avaliando meu rosto. — Por
um semestre.

Meu rosto caiu. Um semestre longe de Lia. Nós nunca


ficamos separadas por tanto tempo.

— Lia, — eu sussurrei. — Isso é incrível.

Seus olhos se encheram, e os meus também. — É muito


tempo, eu sei.

A outra metade de mim atravessaria o oceano por meses.


Pareceu-me uma eternidade. Mas oh, a alegria que senti vindo
dela me fez tão feliz.

Ela soltou uma risada aguada. — Eu não disse sim ainda.


Eu queria ter certeza de que você... ficaria bem.

Eu agarrei suas mãos. — Se você não disser sim, eu


realmente nunca vou te perdoar.

Lia me envolveu em um abraço apertado. — Nada com


que precisamos nos preocupar agora. Vamos pegar um pouco
desse álcool que vai fazer você se sentir melhor, ok?
Bauer

— BEM, ISSO FOI ESTÚPIDO.

Revirei os olhos com o tom de Scotty, estremecendo


quando derramei peróxido de hidrogênio na estrada
queimando minha panturrilha. Sibilou e borbulhou, e Scotty
se inclinou para olhar os danos.

— Não foi estúpido, — disse a ele. — Eu andei de bicicleta


nessa trilha mil vezes.

Suas sobrancelhas cinza, espessas e descontroladas, se


ergueram gradualmente na testa enrugada. — Alguns dias
depois que uma tempestade de neve monstruosa derreteu, e
está coberta de lama?

Endireitei minha perna, satisfeito quando os músculos se


esticaram sem mais dores. — Você tem sorte de não ter
quebrado um osso, seu idiota.

— Quem te convidou para vir aqui de novo? — Eu


murmurei.

Scotty saiu da minha pequena cozinha, acenando com a


mão para mim como se fosse uma causa perdida, parando
apenas quando viu a garrafa vazia de Jack Daniel jogada no
chão ao lado da lata de lixo. Ele balançou a cabeça, mas não
disse nada.

O que foi bom porque, durante quatro dias, não fui


sensível ao expulsar alguém que chegasse perto demais.

Eu me senti como Agnes.

— Obrigado por verificar minha gata enquanto estive fora.


— Disse enquanto se afundava na cadeira de couro ao lado do
sofá. Ele sempre ocupava minha cadeira. Eu realmente
precisava parar de convidá-lo.

— Oh, foi um prazer. — Meu tom era cáustico e não


conseguia parar. Por quatro dias, longos, intermináveis e
horríveis, fiz o possível para ignorar tudo o que aconteceu.

Eventualmente, seria capaz de tirar o pensamento dela


da minha cabeça. Eventualmente, seria capaz de beber o
suficiente para não sonhar com ela. Eventualmente, me
esforçaria o suficiente para que todo o sangue em minhas veias
se concentrasse em manter meu coração funcionando em vez
de gritar comigo que era o maior idiota do mundo pela forma
como agi.

Mas ainda não estava acontecendo.

Quando ignorei as ligações de Finn ao longo da semana,


não senti o menor pingo de culpa. Quando Scotty ficou sem
resposta também, apareceu em minha porta, e agora a culpa
era tudo que eu sentia.
— Você está um doce hoje, — disse Scotty. Da mesa ao
lado dele, ele pegou um prato sujo e fez uma careta para o que
restava na superfície. — O que aconteceu enquanto eu estive
fora?

Fechei a porta do armário da cozinha quando o peróxido


estava de volta na prateleira. — Não. Não estou falando sobre
isso.

Ele piou. — Oh cara, quem quer que ela seja, fez um


número em você, não foi?

Ao virar, apontei um dedo para ele. — Velho, acabei de


dizer que não queria falar sobre isso.

— Merda difícil, garoto. — Ele levantou as mãos. — Não


vejo mais ninguém fazendo fila para ajudá-lo com seus
problemas.

— Não tenho problemas, exceto que deixei metade da


minha perna na estrada.

Assobiando baixinho, Scotty cruzou os braços e me deu


aquele olhar que odiava tanto. Era um olhar que ele reservava
para momentos em que pensava que eu estava sendo
desnecessariamente teimoso, quando não trabalhava em um
truque para o qual pensava que eu estava pronto. Quando não
me esforçava tanto quanto sabia que eu poderia ser
empurrado. Normalmente, demorava um pouco, mas admitia
relutantemente que estava certo. Fazia o truque pela milésima
vez, até que meu corpo soubesse cada dobra e volta, e meus
músculos queimassem de exaustão. Fazia um curso mais uma
vez, apesar de meus joelhos e costas queimarem em protesto.

Mas desta vez, eu encontrei seu olhar com o meu. Eu


conhecia esse homem tanto quanto conhecia qualquer pessoa
e, quando vi a decepção em seus olhos, fui o primeiro a desviar
o olhar.

A tela do meu telefone se iluminou na mesa de café


desgastada que continha todas as minhas edições anteriores
da Sports Illustrated, e Scotty se inclinou para frente para
apertar os olhos para a tela.

— Golden Boy, — ele leu. Seus olhos levantaram para os


meus. — Diz quatro chamadas perdidas.

Inclinei minha cabeça contra o sofá e fechei os olhos. —


Sim, ele tem sido uma verdadeira dor de cabeça esta semana.
Não é o único, devo acrescentar.

— Oh nossa, as pessoas estão preocupadas com você.


Quão difícil deve ser pra você.

Abrindo os olhos, apontei para o telefone. — Ele não está


preocupado comigo. Ele está tentando cobrir sua bunda,
porque se não fosse por ele, eu realmente estaria... — Eu parei
antes de deixar escapar. Se não fosse por ele, eu estaria feliz
agora.

Eu estaria com ela.


Eu poderia ter passado os últimos quatro dias com Claire,
conhecendo-a, conversando com ela ao telefone, vendo como
ela era em minha cama. Beliscando a ponte do nariz, desejei
que minha mente parasse de andar em volta desses
pensamentos, porque não importava. Foi um fim de semana
da minha vida, e foi isso.

Eu superaria isso. Eu a superaria.

Meu telefone acendeu novamente e eu suspirei. — Eu não


sei o que ele poderia querer me dizer.

A poltrona reclamou quando Scotty se inclinou para


frente. — Eu também estou curioso. Alô?

— O que você está fazendo? — Eu gritei. — Dê-me esse


telefone.

Quando tentei deslizar para ele, ele me virou. — Finn?


Sim, é o Scotty. Eu treino o imbecil rabugento.

Mesmo que minha perna gritasse em protesto, me


levantei do sofá e ergui sobre Scott, estendendo a mão e dando
a ele o meu olhar mais proibitivo.

Ele me ignorou. — Hmm. Claro, sim. Faz sentido.

— Dê-me o telefone, Scott.

— Ótima ideia, Finn. Sim, eu gosto.

Quando me entregou o telefone, exalei profundamente.


Então vi que a ligação já estava desconectada.
Eu pisquei. — Ele desligou?

— Acho que sim.

Minhas sobrancelhas se levantaram lentamente. — O que


ele disse?

Scotty se recostou na poltrona e apoiou as mãos na


barriga. — Puxa, eu mal me lembro desde que sou tão velho.

Murmurando palavrões baixinho, voltei à cozinha e abri


a geladeira. Era fora de temporada, então se quisesse tomar
uma cerveja no almoço, nem Scotty iria me impedir.

— Conte-me sobre ela.

Fechei os olhos com força quando o primeiro gole de


cerveja caiu como um tijolo. O jeito que ela riu deslizou como
névoa através do meu cérebro relutante. O jeito que ela sorriu.
Como se sentiu sob minhas mãos e lábios.

O que ela fez com meu coração, aquele horrível


desperdício de órgão que se recusava a parar de pensar nela
ainda.

— Eu não posso. — Eu falei.

Scotty saiu da cadeira com um gemido, e me preparei


para o interrogatório continuar. Mas isso não aconteceu. Ele
passou pela cozinha até a porta do apartamento. — Você está
saindo? — Eu perguntei.

— Não.
Balançando a cabeça, tomei outro gole de cerveja. — Você
e aquela gata maluca se merecem.

Ele abriu a porta e quase cuspi minha cerveja quando o


Golden Boy entrou.

— O que diabos você está fazendo aqui? — Eu rugi.

Os dois idiotas em meu apartamento me ignoraram


completamente, apertando as mãos e se apresentando como se
não estivessem se intrometendo completamente na minha
privacidade. Finn nunca veio aqui. Nem uma vez.

— Lugar legal. — Disse ele, olhando ao redor do pequeno


condomínio em que eu morava há dois anos. Não era grande,
mas eu tinha uma cama, uma cozinha e vista para as
montanhas pela minha janela. A vila de Whistler era como
qualquer cidade montanhosa de estância, grandes
condomínios e prédios de apartamentos que abrigavam
pessoas como eu, que perseguiam a neve, e desistiam de
metragem quadrada por proximidade com o que eu mais
amava.

Nenhum deles se encolheu quando eu bati a garrafa de


cerveja no balcão. — Você precisa ir.

— Não até eu falar com você. — Meu irmão levantou o


queixo e senti uma pontada de admiração que ele estivesse
disposto a subir aqui e me encarar.

E eu odiei, odiava ouvir a voz de Claire em minha cabeça,


me pedindo para lhe dar uma chance. Ouça o que ele tem a
dizer. Finn também não teve escolha sobre quem eram nossos
pais. E se ignorasse o fato de que eu ainda queria colocar meu
punho na cara dele por ter anos com Claire bem na frente dele,
tinha que admitir que Finn nunca me tratou com a reserva que
sua mãe fazia.

Eu estendi meus braços. — Então diga. Vamos acabar


logo com isso.

Finn suspirou. — Podemos sentar?

— Sim, — Scotty concordou. — Vamos sentar.

— Você acha que faz parte dessa conversa? — Eu


perguntei a ele, incrédulo.

— Inferno, sim, eu faço. — Ele deu um tapinha nas costas


de Finn e o levou em direção à sala de estar. — Você me deve,
garoto. Se não fosse por Agnes, você nunca ficaria preso com
ela em primeiro lugar.

A série de palavrões que lancei para ele fez sua risada


crescente encher todos os cantos da sala.

— O que você fez em sua perna? — Finn perguntou


quando puxei um banquinho do balcão da cozinha e me sentei.

— Mountain bike, — disse a ele. — O que você quer?

Ele exalou uma risada. — Nossa. Você está de mau


humor, assim como Claire, esta semana.
O som do seu nome nos lábios dele iluminou minha pele
com raiva reprimida, sentimentos que tentei sufocar durante
toda a maldita semana sobre ela. — Se você quer escapar dessa
visita improvisada sem um olho roxo, que tal não me dizer
coisas assim?

Finn inclinou a cabeça.

— Só sei o que Lia me disse, — explicou. — Eu não a vi.

Meus ombros relaxaram e eu olhei para Scotty quando ele


sufocou um sorriso satisfeito com a minha reação.

Saber que meu irmão não a tinha visto acalmou a reação


imediata de homem das cavernas que nunca havia
experimentado antes dela. E isso não era louco? Foi eu quem
se afastou dela. Foi eu quem disse coisas pelas quais ainda
não tinha me perdoado. E uma única menção de como ela
estava teve todos os instintos possessivos rugindo à vida
dentro de mim.

Ambos estavam me olhando.

— Eu só quero ela fora da minha cabeça, ok?

Finn levantou uma sobrancelha. Scotty cobriu a boca


com a mão.

— O quê? Eu quero. Se idiotas como vocês parassem


constantemente de me lembrar sobre... Claire, — minha voz
tropeçou em seu nome. — Então eu seria capaz de esquecê-la.
Então, por que meu corpo inteiro ficou em pânico com a
própria ideia disso?

Finn respirou fundo. — Bauer, tenho sido um irmão de


baixa qualidade em muitos aspectos, ok? E você não tem sido
muito melhor, — ressaltou com cuidado. — Mas queria que
você ouvisse o meu lado, mesmo que Claire tivesse alguma...
queda por mim por um tempo, não percebi e nunca a olhei
dessa maneira.

A respiração estava sendo cortada violentamente dentro


e fora do meu peito, mas mantive todos os meus pensamentos
fervendo por dentro.

Aparentemente, considerou seguro continuar falando


porque assentiu lentamente. — Ela é gêmea de Lia. E Lia é...
minha melhor amiga. É como, tentar imaginar eu e Lia juntos
e apenas... — Sua voz sumiu. — Não faz sentido em minha
cabeça.

— Você entende por que isso me deixa louco, certo? — Eu


perguntei.

— Por cerca de um dia, com certeza. — Ele encolheu os


ombros. — Mas o que você está fazendo agora? Isso não tem
nada a ver comigo, ou o que ela sentiu antes de conhecer você.

Eu piei de tanto rir. — Nada a ver com você? Por favor,


me esclareça isso, futuro Dr. Davis.

— Eu não sou psiquiatra, mas Claire é a primeira mulher


a fazer você querer algo mais. E você teria que colocar todas as
suas partes em risco para tornar algo real com ela. É
assustador, e você nunca fez isso e você pegou a desculpa mais
conveniente para tornar a vida mais fácil. Essa desculpa é
besteira, mas você vai se apegar a ela como se fosse um bote
salva-vidas.

Bem. Eu olhei poderosamente para ele, porque


claramente alguém tinha usado seu tempo subindo aqui para
preparar exatamente como me ajoelhar nas bolas proverbiais.

Scotty murmurou como se estivesse ouvindo um bom


sermão. Ele também recebeu um olhar.

Finn se inclinou para frente. — E se ela tivesse sido a


única a aparecer à sua porta?

No segundo em que disse isso, meu coração reagiu sem


um único pensamento da minha parte. Correndo, batendo,
batendo de maneira irregular com a mera menção a ela do
outro lado daquela porta. Eu queria tanto isso. Queria-a.

— E se você tivesse a chance, agora, de refazer o dia em


que vocês voltaram? — Finn continuou.

— Você não pode apagar o passado, — interrompi. Eu me


levantei do banquinho e andei pela sala. — Não importa como
me sentiria se ela aparecesse, ou se pudesse voltar no tempo,
não posso voltar atrás no que aconteceu. O que ela disse. O
que eu disse. Está feito.

— Mas não precisa terminar, — disse ele. — Você é um


idiota tão teimoso, Bauer. Ela é louca por você, e olhe para
você! Você está uma bagunça porque reagiu mal e teve uma
discussão de merda. E daí? As pessoas discutem e dizem
coisas estúpidas, e às vezes precisamos perdoá-las por essas
coisas, porque sabemos que é mais importante seguir em
frente.

Minhas mãos se lançaram impotentes em meus cabelos e


balancei a cabeça. Os sentimentos que tomavam conta do meu
corpo eram quase mais do que podia suportar, porque eram
altos, esmagadores e aterrorizantes.

Nem uma vez, mesmo quando minha prancha se


equilibrava na borda gelada antes de uma corrida, me senti
assim. Não importa o que tentaria ou o tamanho das apostas.
Nenhuma competição ou prêmio chegou tão perto do que
sentia que estava em jogo quando pensei na possibilidade de
consertar as coisas com Claire.

— Eu não sei... não sei como melhorar isso, — admiti


calmamente. Finalmente, o olhei completamente. — O que eu
disse a ela...

— Oh, eu ouvi, confie em mim. — Ele respondeu com um


sorriso irônico.

— Você ouviu?

Ele levantou as mãos. — Não fui eu quem abriu a janela,


mas sim, o ouvi.

— Merda, — eu gemi. Apenas o que eu queria ouvir.


— Você terá trabalho a fazer.

— Essa família vai me jogar na bunda com duas pernas


quebradas se tentar aparecer novamente.

— Não, eles não fariam isso. — Ele parecia tão certo.

Levantando a sobrancelha, tentei esperar a verdade dele.

Ele levantou as mãos. — Eles não vão. Porque se você


quer dizer a Claire o que acho que quer, eles vão superar. Não
vai demorar muito, e tudo o que você precisa fazer é... provar
que você está falando sério.

— Isso é tudo? — Eu perguntei secamente.

— Sim. Depois que você fizer isso, eles estarão do seu


lado, tanto quanto do dela.

Era quase demais para suportar, a fonte de esperança


que surgiu. Eu queria esmagá-la com ambas as mãos e triturá-
la com a bota, porque havia tentado tanto ignorar o quão
horrível havia me sentido a semana toda, o quanto sentia falta
dela e a triste verdade de que eu era tão lento em relação aos
relacionamentos aos vinte e seis anos, tinha estragado minha
primeira chance real de felicidade. O tipo de felicidade que fez
um infeliz sem esperança como eu pensar em para sempre.

Mas talvez, apenas talvez, não tivesse estragado tudo


além do reparo. Finn me observou com cuidado, assim como
Scotty.
Dei de ombros. — Então faço o quê? Apareço e peço
desculpas e espero que não bata a porta na minha cara?

Finn exalou lentamente. — Eu tenho uma ideia melhor,


se você estiver disposto a vir a um lugar comigo.

— Onde?

— Você não vai querer ir.

Eu olhei para ele, porque só conseguia pensar em alguns


lugares que me recusaria a ir com meu irmãozinho que estava
estranhamente, inexplicavelmente, tentando me ajudar com
isso.

— Mas ela estará lá? — Eu perguntei.

Finn assentiu. — Ela vai.

Eu segurei o olhar de Finn. — Você conseguiu um acordo.


Claire

— EU SABIA, — sussurrei para Lia. — Eu disse que seria


a única usando um vestido.

As pessoas circulavam pelo centro, e todos aqueles


idiotas vestindo jeans e leggings camisetas fofas eram uma
provocação gigante quando pensei no fato de ter raspado
minhas pernas para isso.

Lia revirou os olhos. — É um vestido de verão, acalme-se.

Puxando a bainha, dei-lhe um olhar suave. — Diz a garota


de jeans.

Ela me ignorou, e admiti o fato de que me trouxe aqui, e


o fato de eu ter tomado banho, depilado e vestido algo que me
fazia sentir bonita ainda era um milagre.

Sim, a semana melhorou quando comecei a falar com Lia


novamente, mas meu coração não se enganava achando que
as coisas estavam resolvidas. Durante toda a semana, eu virei
minha cabeça, pensando e pensando no que fazer com Bauer.

Bauer, que estava assombrando meus sonhos agora. Que


não tinha mandado mensagem ou telefonado. E que ainda era
a primeira pessoa em que penso quando acordo. A última
pessoa em que penso antes de dormir.

Lia me pegou assistindo repetições de competições de


snowboard no YouTube na noite anterior e, em vez de me
castigar, se sentou no sofá, jogou-se nos meus ombros e
assistiu em silêncio ao meu lado.

E se havia bolsas debaixo dos meus olhos para combinar


com o azul do meu vestido, era porque os vídeos que assisti
desencadearam alguns sonhos sexuais sérios, onde Bauer
estava me jogando na neve como se estivéssemos recriando um
Cirque du Soleil no gelo ou alguma coisa assim.

Respirei fundo para tirar essas memórias da minha


cabeça, porque olá, nunca foi apropriado relembrar os sonhos
sexuais de alguém em uma festa em um centro comunitário
que ajudava crianças pequenas.

Quando Lia viu Finn e tocou meu cotovelo para avisar que
estava indo falar com ele, levei um segundo para estudar o
espaço.

Estava maravilhoso. Grande, iluminado e arejado, com


murais coloridos que decoram as paredes e os espaços para as
crianças se sentarem, brincarem, criarem e aprenderem. As
fotos emolduradas penduradas nas paredes eram mais fáceis
de focalizar do que os rostos dos estranhos que circulavam pela
sala, então eu levei um tempo andando pelo perímetro,
sorrindo com alguns dos sorrisos desdentados capturados no
filme.
Quaisquer que fossem os defeitos dos pais de Finn, e eles
os tinham, fizeram um bom trabalho aqui. E talvez tenham
sido um daqueles casais que estavam tão concentrados em
ajudar os filhos de outras pessoas que nem conseguiam
reconhecer onde haviam errado nas quatro paredes de sua
própria casa.

Parei para estudar uma foto quando senti alguém se


aproximar. Meu coração acelerou antes de ouvir a voz, que não
pertencia a Bauer.

— Parece que precisamos nos reapresentar. — Disse


Richard Harper suavemente.

Eu me virei, dando a ele um sorriso tímido. — Adele te


contou?

Com as mãos nos bolsos, ele sorriu de volta. — Ela fez.


Pouco antes de eu entregar o cheque.

— Richard, — eu disse. — Não posso lhe dizer o quanto


me matou mentir sobre quem eu era.

Ele olhou para a foto atrás de mim. — Mentira é uma


palavra dura, Claire. E não estou chateado com você porque
parece que você foi colocada em uma posição estranha, com
base nas decisões de muitas outras pessoas. Sua irmã, Adele
e Bauer. — Ele disse, observando meu rosto com cuidado.

Não havia como controlar minha expressão quando disse


o nome de Bauer, então eu olhei para baixo. — Isso é verdade.
Mas eu era uma hóspede em sua casa e não fui criada para
enganar as pessoas, então espero que você possa me perdoar.

— Já perdoei. — Ele balançou nos calcanhares. — Adele


e Tom podem ter ficado um pouco... excessivamente zelosos
em sua abordagem, pensando que eu precisava de alguém para
me impressionar, a fim de ouvir o que tinham a dizer, mas
mesmo se agissem da maneira errada, estão fazendo muito
bem aqui. E você, moça, também fará muito bem algum dia.
Espero que você perceba isso.

— Acredito que sim. — Eu sorrio.

— Eu disse a Adele que deveria contratar você, na


verdade.

— Você disse?

Ele assentiu. — Sua paixão por crianças, sua formação,


você seria uma aliada perfeita para crianças que poderiam
desesperadamente usar um.

Enquanto olhava ao redor do espaço, era fácil me ver lá.


Exceto pelo impasse com Bauer. Porque a verdade era que
ainda não sabia exatamente como abordar isso. E trabalhar
para os seus pais poderia ser uma conexão estranha se ele se
recusasse a me ver novamente.

Porque não importa o que Lia dissesse, poderia aparecer


à sua porta, e ele ainda poderia ter decidido que tínhamos
terminado completamente.
Um fim de semana divertido porque ele realmente
acreditava que era tudo o que era capaz. E eu não sabia se meu
coração poderia suportar ouvir isso dele novamente.

— Bauer está aqui? — Perguntou Richard.

De alguma forma, mantive meu sorriso no lugar. — Não


tenho certeza.

Seus olhos procuraram meu rosto até que ele assentiu.


— Ahh.

— Outro engano, acredito.

Richard cantarolou. — Oh, não tenho certeza se acredito


nisso. Bauer Davis me parece o tipo de homem que não seria
capaz de fingir nada.

Suspirei. — Talvez ele não fosse. Mas... de qualquer


maneira, ainda não era real. Quando estávamos lá.

— Mas tornou-se real? — Ele perguntou gentilmente.

Eu assenti. — Sim. E agora, — dei de ombros. — É difícil


pensar nele. — Ri baixinho. — Sinto muito, tenho certeza que
você não quer ouvir sobre o drama do meu relacionamento.

Ele acenou. — Gostei de vocês dois. E se você se lembra,


começamos tudo isso porque você me contou o que estava
pensando.

— Verdade. — Eu concedi.
— Acho que Bauer passou por dificuldades, — disse
Richard. — Ele me lembra muito de mim quando era mais
jovem. Talvez seja por isso que eu gosto tanto dele.

— Teimoso como o inferno? — Eu perguntei.

Ele assentiu. — Sim. Qualquer um que tenha alcançado


sucesso deve ser teimoso. Tenaz. Recusa-se a recuar. E gosto
desse fogo nele. Mas torna difícil deixar alguém entrar quando
você olha para cada parte da sua vida dessa maneira.

A verdade disso me fez suspirar profundamente. — Eu


tenho meu trabalho voltado para mim, não tenho?

Richard me deu um sorriso gentil. — Eu sei que disse na


primeira vez que te conheci, Claire Ward, mas vou dizer de
novo. Eu gostaria de ter alguém como você do meu lado quando
era mais jovem. — Ele deu um tapinha no meu braço. — Eu
usei todas as minhas fichas para aumentar minha fortuna. E
tive sucesso nisso, mas esse dinheiro não me mantém quente
à noite, e há muitos dias em que sou forçado a admitir que,
por um longo tempo, acreditei na mentira de que estava melhor
sozinho.

— Mas como alguém pode forçá-lo a confrontar essa


verdade? — Eu perguntei. — É fácil você dizer isso, mas não
posso fazer Bauer se abrir para mim.

Agora, seu sorriso era triste. — Não, você não pode.

Deslizei minhas mãos no meu cabelo e balancei a cabeça.


— Todo mundo faz parecer tão simples.
— O amor é sempre um risco, Claire. Sempre. Todos os
dias, mesmo quando estão juntos, porque no dia em que se
deixa de escolher seu parceiro é o dia em que corre o risco de
o perder. Essa é a verdade, no amor e nos relacionamentos,
nos negócios e na vida. Aplica-se em todas as linhas. Fazemos
escolhas no que é importante para nós, mas nem todos são
corajosos o suficiente para dar esse passo sem saber que temos
alguém pronto para o levar conosco.

— Richard, — eu disse devagar. — Acho que você é o


homem solteiro mais inteligente que já conheci. — Ele riu, mas
eu vi o rubor cobrir suas bochechas. Impulsivamente, subi na
ponta dos pés para lhe dar um beijo suave na bochecha.

— Obrigada. Eu precisava ouvir isso.

— De nada, Claire. — Ele enfiou as mãos nos bolsos. —


Agora o quê?

Eu exalei devagar. — Bem, agora acho que preciso roubar


o carro da minha irmã e dirigir até Whistler.

Richard olhou por cima do meu ombro e sorriu. — Ou


talvez você deva adiar o grande roubo de automóvel, por
enquanto.

Quando me virei lentamente, não demorei muito a vê-lo.

Bauer ainda não tinha me visto, e meu coração se apertou


dolorosamente quando o vi estender a mão e puxar
nervosamente a gravata que estava vestindo. Ele odiava se
vestir e vir a este lugar seria difícil para ele, mas eu sabia, o
vendo parado na entrada, que ele estava aqui por mim.

Meu sorriso era infinito, e meu coração disparou ainda


mais do que isso para um lugar que nem tinha certeza de ter
um nome. Era assim que estava, além de qualquer definição
que conseguia pensar.

A única coisa que poderia ter desviado minha atenção de


Bauer foi minha irmã correndo para o meu lado com um
sorriso malicioso no rosto.

— Sua pequena dissimulada. — Murmurei.

— Adivinha quem está feliz em usar um vestido agora?

— Você fez isso?

Lia deu de ombros. — Eu meio que lhe devia. Finn


ajudou.

Eu dei-lhe um aperto rápido. — Obrigada.

— Vá buscá-lo, C. — Seus olhos brilhavam com lágrimas,


e senti sua felicidade por mim como uma onda doce.

Ninguém prestou muita atenção em mim quando


atravessei a sala em direção a Bauer, que ainda não havia
entrado. Porque ele queria saber se eu estava lá, esperando.

Seu olhar percorreu a sala e depois descansou em mim.

O peito de Bauer se expandiu em uma respiração


profunda, e seus olhos se aqueceram em seu belo rosto. Seu
cabelo escuro estava penteado para trás ordenadamente, e se
barbeou. A camisa branca que cobria seu peito estava
engomada e arrumada, a gravata de uma cor azul que
combinava com meus olhos.

Eu o amava. E eu sabia sem uma única palavra trocada


que ele também me amava. Ele nunca teria aparecido se não o
amasse.

Bauer entrou na sala, e finalmente notei que na outra


mão estava uma cesta com uma alça comprida.

— Oi. — Disse baixinho quando ele parou a minha frente.


Mas, por um momento, ele ficou quieto, apenas me bebendo.
Sua mão subiu lentamente e deslizou o polegar ao longo da
minha bochecha.

— Eu sou o maior idiota do mundo inteiro.

Minha risada foi alta, e Bauer sorriu enquanto esfregava


meu rosto na palma de sua mão. — Não, você não é, —
argumentei. — Você ficou surpreso e fora de seu elemento, e
deveria ter ouvido de mim.

— Não me deixe escapar, princesa. — Ele largou a mão,


mas seus olhos ainda estavam fixos nos meus lábios. — Sinto
muito pelo que disse e pretendo me desculpar com Logan e
Paige por ter saído de sua casa. Não tenho desculpa.

— Ok.

Ele sorriu. — Tudo bem?


Minhas mãos subiram por seu peito, uma caminhada
lenta, e apreciei o calor de sua pele atravessando o material de
sua camisa. Eu só parei quando minha palma parou em seu
coração batendo. — Sim. Acho que nenhum de nós precisa de
palavras bonitas ou grandes discursos sobre o que aconteceu.
Eu só... só preciso que saiba que estou nisso com você, mesmo
que você estrague tudo, o que você vai fazer. Assim como eu
também.

Bauer arrancou minha mão do peito e deu um beijo


fervoroso na minha palma. Coloquei meu outro braço ao redor
da sua cintura, ele deslizou o braço em volta das minhas costas
e me puxou para seu abraço.

Tudo se estabeleceu no lugar, um calor feliz enchendo


todos os lugares frios que não sabia que existiam até ele. O que
quer que tenha acontecido para trazer isso, ele, em minha vida,
fiquei tão agradecida que mal conseguia pensar em uma
maneira de processá-lo.

— Estou tão apaixonado por você, Claire. — Ele


sussurrou em meu ouvido.

Apertei-o com mais força ainda, minha testa descansando


contra o lado de seu pescoço enquanto eu o respirava. — Eu
também te amo.

Bauer se afastou, seu rosto se abriu em um sorriso


enorme. — Você realmente acha que podemos fazer isso?

— Eu gostaria de ver quem poderia nos parar.


Seu peito roncou com risadas satisfeitas, e desejei que
não estivéssemos cercados por dezenas de pessoas. Metade
deles encaravam com curiosidade a pequena cena que se
desenrolava no meio da sala.

Alheio a tudo, menos a mim, Bauer abaixou a cabeça e


roçou a boca uma, duas vezes sobre a minha. O som que
emitiu, daqueles dois pequenos beijos, me arrepiou. Era um
zumbindo de contentamento, um rosnado de satisfação, e eu
queria gravá-lo em loop pelo resto da minha vida.

Pressionando a parte de trás de sua cabeça, aprofundei o


beijo, deixando minha língua roçar contra a dele apenas uma
vez. Suspirei alegremente em sua boca, o que o fez sorrir no
beijo.

— Você quer sair daqui? — Eu murmurei contra seus


lábios.

Bauer se afastou e balançou a cabeça. — Olhe para você,


pronta para pular a grande festa.

— Não pular, — expliquei. — Talvez apenas... sair mais


cedo.

Bauer sorriu. — Antes de abrir seu presente?

Em sua mão livre, ainda segurava a pequena cesta. Eu


sorri. — O que é isso?

— A razão pela qual me atrasei, — me disse. — Eu pensei


que seria mais fácil de encontrar.
Sobrancelha franzida, soltei sua cintura para pegar a
cesta. Era pequena, com um pequeno gancho de olho
mantendo a tampa fechada. Algo se moveu por dentro, e olhei
rapidamente para ele. Ele estava sorrindo amplamente.

Foi quando ouvi o miado mais pequenino e minúsculo


que ouvi na vida. — Você não fez. — Eu respirei.

Não consegui abrir a cesta rápido o suficiente. Em minha


pressa de abrir o trinco, quase o derrubei. Ele teve pena de
mim com uma risada e apoiou o fundo com uma mão.
Cuidadosamente, levantei a tampa e o pequeno rosto de
retalhos que apareceu me deixou ofegando de prazer.

Tinha olhos verdes brilhantes e orelhas marrons, longos


bigodes brancos e manchas alaranjadas no rosto. O gatinho
miou lamentando quando o levantei da cesta e o coloquei no
peito. — Oh, meu Deus, — eu sussurrei. — Você não é o bebê
mais lindo que já vi?

— Você disse que queria um que se parecesse com Agnes,


— disse Bauer. Ele passou a mão grande por cima da cabeça.
— Mas tinha que ter certeza de que este não me odiasse
primeiro.

— Você me deu um gatinho. — Eu disse.

Ele deu de ombros, parecendo tímido pela primeira vez


desde que pôs os olhos em mim. — Eu daria a você o que você
quisesse, princesa. Qualquer coisa para fazer você sorrir como
está sorrindo agora.
O gato encostou a cabeça em meu queixo e ri, tão cheia
de amor que nem parecia justo.

— Só você. — Eu disse a ele.

— Então, posso manter o gato comigo em Whistler?

Eu beijei sua cabecinha. — Não.

Ele riu alto. — Você vai ter que nomeá-la.

— Ahh... — olhei para o pequeno rosto de olhos verdes e


sorri. — Você é uma garota?

Bauer coçou o queixo e ela miou novamente.

— Belle. — Eu disse.

Seu sorriso de resposta foi enorme. — Como você soube?

— Soube o quê? — Belle lambeu meu queixo com a língua


de lixa e eu rio.

— Minha princesa favorita da Disney, a número um. —


Os seus olhos brilharam maliciosamente. — Por que você acha
que comecei a te chamar assim?

Ele pegou minha boca em um beijo lento e doce, e quando


nos afastamos, senti os olhos em nós.

— Devemos dizer oi? — Ele disse.

Olhei por cima do ombro. Lia estava sorrindo como uma


dopada, assim como Finn. Ao lado deles estava Richard, que
não parecia menos extasiado.
— Richard não pareceu muito surpreso em vê-lo. —
Pensei em voz alta.

Bauer passou um braço em volta dos meus ombros


quando começamos a ir na direção deles. — Isso é porque ele
me ligou esta manhã.

— Ele ligou?

Ele assentiu. — Aparentemente, pensou que teríamos


mais tempo para conversar em sua casa, e é por isso que
nunca descobrimos sua razão para me convidar em primeiro
lugar.

Eu parei de andar — Por que isso?

Bauer levantou um queixo em saudação ao homem em


questão. — Acontece que ele é o principal investidor de um
futuro fabricante de snowboard há cerca de duas semanas.

— Realmente? — Eu sorrio. — E?

— E ele quer que um imbecil obstinado e teimoso seja a


nova cara da empresa deles.

— Bauer! — Exclamei, dando-lhe o máximo de abraço que


pude com um gatinho contorcido apertado no peito. — Isso é
incrível.

— É, — ele admitiu. Suas bochechas estavam


carinhosamente rosadas pelos meus elogios. — Mas ainda não
é a melhor parte.
— Tem mais?

Ele balançou a cabeça, olhos traçando todos os traços em


meu rosto. — Aí está você. Essa sempre será a melhor parte do
meu dia.

— Material total de namorado. — Sussurrei através do


meu sorriso enorme.

Quando encaramos a sala juntos, agarrei sua mão,


enrolei meus dedos nos dele e apertei.
Bauer

DOIS MESES DEPOIS

— BAUER, isso está ficando completamente fora de


controle.

Eu amava quando Claire fazia isso. Quando colocava as


mãos nos quadris e olhava para mim com esse ar de estou
falando sério agora. Era como ser repreendido pela professora
gostosa por quem você sempre foi apaixonado.

— Ela precisa disso.

— Ela absolutamente não precisa disso.

Porque ela estava ali como estava, me olhando como


estava, eu a puxei para mim para um beijo duro. — Eu gosto
de estragar minhas garotas, — disse contra seus lábios, doce
e suave. — Eu não ouvi você reclamando ontem à noite quando
comprei aquela coisa naquela loja.

Claire bufou. Quando a garota mimada em questão saiu


do quarto de Claire, ela correu para a bolsa estendida no chão
ao lado dos meus pés. Seu rabo tremeu enquanto cheirava ao
longo da borda superior.
Antes de me sentar no chão para abri-la, eu bati na
bunda de Claire.

Com a bolsa deixada de lado assim que apoiei as costas


no sofá, puxei a caixa e comecei a abrir os lados. Belle se
enrolou em volta da minha perna e bateu a cabeça na minha
coxa quando não cocei a sua cabeça imediatamente. — Hey,
garota bonita, — murmurei. — Comprei algo novo para você
para quando a mamãe estiver te ignorando para fazer a lição
de casa. Ela é má, não é?

Claire suspirou profundamente, o que me fez sorrir.

— É um programa de mestrado, Bauer, e não a estou


ignorando. Ao contrário de você, acho que a gata ficará bem se
não for mimada a cada segundo do dia.

Quando puxei a engenhoca de madeira para fora da caixa


e a coloquei no chão para Belle inspecioná-la, Claire se
dissolveu em risadas impotentes.

— Onde diabos você achou isso? — Ela disse enquanto


limpava as lágrimas dos cantos dos olhos.

— No melhor site de todos os tempos. Onde mais ia


encontrar um brinquedo de bater-na-toupeira para gatos?

Belle estudou o arranjo, enfiando o nariz cautelosamente


no primeiro dos buracos. Tecendo seu pequeno corpo para a
frente, olhou para as alavancas de madeira antes de empurrar
uma com a pata.
Quando uma pequena toupeira azul apareceu no buraco
correspondente, ela recuou. Eu sorri para Claire, que estava
balançando a cabeça.

— Viu? Ela adora.

— Você vai falir comprando todos esses brinquedos para


ela. — Eu levantei com um gemido.

— Seu joelho? — Ela perguntou. — Devo dizer a Scotty


para ir com calma com o seu pobre corpo? Ele está treinando
você demais.

Apontando para o ponto dolorido, me inclinei para outro


beijo rápido. — Meu quadril. O que é sua culpa, não de Scotty.

Claire sorriu.

Como ainda vivíamos separados por duas horas e meia,


compensamos o tempo que perdemos durante a semana nos
fins de semana. E nós inventamos tudo. Mas isso mudaria em
breve.

— Você ainda está bem em conferir aquele apartamento


comigo? — Eu perguntei a ela.

— Sim. Eu terminei com o meu trabalho, então estou


pronta para ir quando você estiver.

Claire terminou o bacharelado e ingressou diretamente


no programa de mestrado em saúde comportamental para
crianças e adolescentes da Universidade do Sul da Flórida, e
sua ética de trabalho me surpreendeu. Às vezes tinha que
terminar uma tarefa e quando eu terminava, às vezes me
sentava e a encarava com total admiração enquanto
trabalhava em um artigo ou pesquisa.

Fantasia sexy de professora, estou lhe dizendo. Eu


implorei para ela usar óculos de armação preta e prender o
cabelo em um coque uma noite, e ela o fez, depois de apenas
um pouco de persuasão. Eu quebrei a sua mesa naquela noite,
mas como ia saber que não era para suportar o peso de dois
adultos?

Como Belle estava totalmente encantada com seu novo


brinquedo, um dos cerca de uma dúzia que comprei nos
últimos dois meses, saímos do apartamento antes que pudesse
sair correndo pela porta aberta conosco.

— Ela nem notará que fomos embora. — Disse Claire. Ela


gostava de me provocar sobre ser um pai de gato, mas
realmente, o momento do meu presente não poderia ter sido
melhor. Lia partiu para Londres algumas semanas antes, o que
significava que Claire estava morando sozinha pela primeira
vez em toda a sua vida.

Se algum de nós se sentisse pronto para o próximo passo,


provavelmente teria me mudado com ela, mas diabos... ela
tinha apenas vinte e um anos e estávamos namorando há
alguns meses. E eu precisava encerrar as coisas em Whistler
antes de poder me mudar para mais perto de Seattle.
Snoqualmie22 foi um compromisso perfeito. Eu tinha uma
montanha para me manter ocupado e estaria a menos de 50
quilômetros de Claire. Mais perto era definitivamente melhor.

Eu não podia acreditar no quanto sentia sua falta


durante a semana em que estávamos separados. Eu queria
poder almoçar com ela na terça-feira. Ou parar para tirar uma
soneca com ela na quinta-feira. Assistir a um filme na
segunda-feira porque nós dois estávamos de folga. Encontros.
Coisas de namorado e namorada.

Porque, como se viu, Claire estava certa sobre uma coisa.


Eu estava arrasando como namorado. Eu adorava fazer toda
essa merda idiota por ela que nunca poderia ter imaginado
fazer antes. Trazer o café da manhã na cama. Lavar o cabelo
dela quando dividíamos o banho em seu apartamento.

Comprar flores para ela no mercado simplesmente porque


a cor me lembrava seus olhos. E eu amei as coisas de
namorada que ela fez por mim.

Ligou-me apenas para ver como foi o meu dia. Esfregou


minhas costas e ombros quando eu estava dolorido. Certificou-
se de que eu estava comendo direito desde que estava
treinando tão duro até a próxima temporada. Cada ponto que
ganhei nas diferentes competições me aproximou um pouco do
primeiro lugar na equipe olímpica e ela sabia disso.

Porque ela se importava o suficiente para saber.

22 É uma cidade localizada no estado norte-americano de Washington, EUA.


Eu estava começando a perceber, quando comecei a
pensar em nosso relacionamento em termos dos meses em que
estivemos juntos em vez de semanas, que a razão pela qual eu
era namorado era por causa de quem era minha namorada.

Qualquer coisa boa em mim que começou a crescer


através das rachaduras, foi por causa dela.

— O que estamos vendo hoje? — Ela perguntou enquanto


eu dirigia o jipe pela estrada.

— Os apartamento de dois quartos junto ao parque. —


Entregando meu telefone, a vi digitar a senha. — Está marcado
como um dos nossos favoritos.

— Ah, sim, eu gostei que este estivesse em um beco sem


saída.

Eu assenti. — Mais perto da estrada também.

Deslizando minha mão sobre sua coxa enquanto


dirigíamos, fiz o que sempre fazia quando Claire e eu
estávamos a caminho de verificar um lugar para mim. Era a
nossa quarta visita, e antes mesmo de entrar pela porta, pensei
em como poderíamos usar esse espaço.

Porque mesmo que ela não estivesse morando comigo,


queria que se sentisse em casa onde eu deitava minha cabeça.
Eu já sabia que o segundo quarto seria usado como espaço de
escritório/estudo para ela, embora estivesse disposto a
conceder um sofá-cama, caso Scotty viesse dormir em minha
casa. Ou Finn.
Muito, muito devagar, ele e eu estávamos tentando
reparar os anos que passamos afastados. Eu não estava pronto
para fingir que Adele e meu pai eram meus novos melhores
amigos, mas ela estava surpreendentemente feliz por mim e
Claire. Ela até contratou Claire como estagiária para ajudar a
criar um currículo para determinados programas
comunitários.

Era assim que pensava, com sua mão entrelaçada na


minha enquanto dirigíamos para um lugar que imaginaria
para nós dois começarmos a construir uma vida juntos.

Meus dedos apertaram os dela, e peguei as bordas de seu


sorriso quando seu rosto capturou o sol entrando pelas janelas
abertas.

— Eu te amo. — Eu disse a ela. Simplesmente porque eu


não podia deixar de falar. As palavras apenas... se recusaram
a ficar dentro de mim, agora que sabia o que significavam.

Claire olhou para mim com um sorriso suave nos lábios.


— Eu também te amo.

Na maioria dos dias, não sabia se o destino, Deus ou


apenas um monte de merda aleatória foi o que me trouxe a
Claire. O que trouxe Claire para mim.

Não importava o que fosse, ela tinha a mim, e sempre


teria.
Lia

Londres

A CHUVA VEIO do nada, e como uma novata, deixei meu


guarda-chuva no flat.

Meu flat, não meu apartamento, porque eu estava em


Londres, e chamamos de flat, muito obrigada.

Mesmo que tenha levantado o capuz da minha jaqueta,


isso não ajudou muito a me proteger da chuva repentina;
então, quando olhei para cima e vi uma placa de madeira
escura para um pub na esquina, rapidamente corri em volta
de um grupo de turistas em um passeio a pé e entrei pela
pesada porta de madeira.

Estava tudo quieto lá dentro, horas ainda antes de o


happy hour ter um lugar como esse cheio até a borda com
homens vestindo ternos perfeitamente cortados, querendo
uma cerveja.

Deus abençoe Londres, porque, na verdade, os britânicos


sabiam usar ternos. Claro, só estou aqui há duas semanas,
tempo suficiente para me recuperar completamente do meu jet
lag, aprender a andar de metrô, mas não demorou muito para
reconhecer o quão superiores eram aos homens americanos a
esse respeito.

Um velho limpando o balcão de madeira reluzente acenou


para mim enquanto deslizava até um banquinho. — O que
posso conseguir para você?

Olhei atrás dele para o que estava na torneira. — Quero


uma Stella, por favor.

Ele assentiu, habilmente puxando um copo sob a torneira


correta. — Quer algo para comer, querida?

Eu sorrio. Os sotaques e o carinho casual ficariam


velhos? — Não, obrigada. Só a cerveja por enquanto.

Ele colocou a minha frente. — Saúde.

Depois do meu primeiro gole, olhei em volta do pub. Tudo


estava quieto, com apenas duas mesas ocupadas por outros
clientes. Eu estava sozinha no bar. Sozinha.

Minhas duas primeiras semanas aqui foram um


turbilhão, sim, mas ainda passava muito tempo sozinha. O que
era... estranho para mim. A ocupação e a exaustão de me
acostumar com a mudança de fuso horário impediram que a
solidão me inundasse.

Mas sentada sozinha no bar, senti uma dor visceral no


coração, sentindo falta de Claire. O resto da minha família.
Comecei a puxar meu telefone quando ouvi sua voz atrás de
mim.
— Você pode ligar a TV para mim, Carl?

O barman assentiu, dando um sorriso rápido para quem


pertencia àquela voz profunda, gloriosa e com sotaque.
Quando Carl ligou a TV montada de frente para o bar, mantive
meus olhos na minha cerveja, tomando cuidado para não virar
e ficar de boca aberta. Porque ele parecia sexy. Realmente,
realmente, nota 10 do nível A, e não queria fazer beicinho se
ele não fosse o nível A da nota 10.

Deixando um assento vazio entre nós, deslizou sua


estrutura alta e larga em um banquinho e cruzou as mãos
grandes à sua frente no bar. A tatuagem subiu pelos
antebraços, assim como os músculos e as veias fortes.

Você já tentou verificar um homem sem que ele


percebesse? É preciso habilidade, pessoal. Sua atenção nunca
vacilou no jogo de futebol que apareceu na tela, na grama verde
esmeralda e nas camisas coloridas dos jogadores que passam
a bola para frente e para trás antes do início do jogo. O jogo.
Tanto faz. Eu bufei em minha cerveja.

— Não é uma fã de futebol? — Ele perguntou.

Em vez de virar completamente para ver se seu rosto era


tão quente quanto sua voz, mãos e antebraços, mantive meus
olhos para frente, exatamente como parecia estar fazendo. —
Futebol, sim, — disse. — O verdadeiro.

Ele assobiou ao soco. Eu tentei esconder meu sorriso


tomando outro gole da cerveja. Quando respondeu, sua voz
estava seca, uma leve diversão pendendo deliciosamente de
cada sílaba falada. — Odeio discordar de você, amor, mas esse
esporte que os americanos chamam de futebol não é o
verdadeiro.

Agora me virei, porque o Sr. Voz Gostosa e Antebraços


Musculosos não queria seguir por esse caminho. E quando fiz,
congelei. O seu rosto combinava com todo o resto. Combinou,
superou, soprou a voz e os músculos para fora da água. E
quando sorri, ele mudou.

Seu olhar estudou meu rosto cuidadosamente por algo. O


que quer que tenha visto o fez relaxar. — O quê? — Ele
perguntou.

Eu apontei para a TV. — Eu não acho que esse seja um


argumento que você queira entrar comigo.

Ele lambeu o lábio inferior e, reflexivamente, senti


minhas coxas se apertarem. Os seus olhos, de uma cor
indecifrável na penumbra do balcão, nunca se desviaram dos
meus. — Carl, coloque outra bebida para a dama na minha
conta, por favor.

Eu levantei uma sobrancelha. — Quem disse que queria


outra?

Seu polegar bateu na superfície do balcão. Seus lábios se


curvaram em um sorriso malicioso que fez meus dedos
enrolarem dentro dos meus sapatos. — Porque estou prestes a
lhe dar uma aula, amor.
Deixe-me começar com uma nota para meus leitores que
esperavam que Finn fosse o herói. Eu tentei. Eu realmente,
realmente tentei. Tentei por alguns meses, na verdade. Depois
de escrever um pedaço realmente sólido de palavras, eu bati
em uma parede. Não importa quantas conversas animadas
tenha dado a mim mesma (ou recebido de amigos escritores),
não pude seguir em frente com este livro, e é a primeira vez
que aconteceu nos oito anos desde que comecei a escrever.
Algo estava errado, e não importa o que tentasse, a história
não estava funcionando.

A razão pela qual dediquei este livro a Fiona Cole é porque


ele estava em uma mensagem de voz particularmente violenta
e emocional sobre o porquê de meu cérebro estar quebrado e
por que não conseguia escrever este livro, eu disse algo como
— Eu só queria que esse maldito Finn tivesse um irmão pirado
ou algo assim e poderia ter escrito para ele.

Eu parei. Eu deixei meu cérebro recuperar o atraso do


que acabara de sair da minha boca. E, instantaneamente,
sabia que era o que precisava fazer. Tudo se encaixou no lugar,
quando Bauer estava começando a se formar em minha
cabeça. Joguei fora todas as palavras que tinha escrito.
Comecei do zero e me senti incrível com a história que havia
traçado.
Então o mundo explodiu. RI MUITO. Escrever um livro
durante a quarentena, quando estava tentando educar meus
filhos em casa e administrar um tempo realmente ansioso para
viver neste mundo, não foi fácil. Na verdade, foi muito, muito
difícil no começo. Eu tinha que manter meus olhos vendados
e deixar Fiona gritar comigo que, a menos que escrever me
fizesse sentir pior, eu tinha que apenas fazê-lo.

Então foi o que eu fiz. E eu não poderia ter feito isso sem
ela.

Essa é a coisa sobre este trabalho. Sim, é solitário.


Ninguém poderia escrever este livro para mim, mas, por outro
lado, eu NÃO poderia escrevê-lo e escrevê-lo dentro do
cronograma, se não fosse pelos amigos que fiz neste mundo
dos livros. Fiona era uma, e as outras, que incentivavam,
ouviam, lamentavam e quebravam o chicote (Kathryn
Andrews, Kandi Steiner, Amy Daws, Brittainy Cherry, ME
Carter e Staci Hart), OBRIGADA é totalmente insuficiente.

Para meu marido, que era o são em nosso casamento


durante a quarentena. A Najla Qamber por outra surpresa.

A Janice Owen e Jenny Sims por limparem minha


bagunça de um manuscrito. A Michelle Abascal Monroy, por
me manter organizada durante o lançamento.

A Michelle Clay pela leitura e por acalmar meus nervos


desgastados por não estragar completamente esse.

À Jornada Sedutora pela ajuda promocional.


Ao meu grupo de leitores, The Sorensen Sorority, por ser
IMPRESSIONANTE. E como sempre, ao meu Senhor e Salvador
Jesus Cristo.

Filipenses 4: 6-7

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