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Capa: BK Designer
Revisão | Copydesk | Diagramação: Kreativ Editorial
Ilustração: Úrsula Gomes Vaz

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
É proibida a reprodução total e parcial desta obra de
qualquer forma ou quaisquer meios eletrônicos, mecânico e
processo xerográfico, sem autorização por escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei
nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

TEXTO REVISADO DE ACORDO COM O NOVO ACORDO


ORTOGRÁFICO.

1ª Edição
Criado no Brasil
Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Epílogo
Bônus – Aquele em que elas se despedem
Bônus 2
Agradecimentos
Sobre a autora
Livros da série
Outras obras
Meghan Foster, é uma das principais patinadoras da
equipe de patinação da faculdade, tem um lema em sua vida:
Pegar e não se apegar. Ela ama festas, garotos, bebidas e aos 21
anos ela sabe que está longe de encontrar um amor.
Conhecer um homem mais velho em um bar e aceitar se
render a ele por um fim de semana é a sua nova aventura. Ela só
não esperava ter uma conexão tão forte com ele, tão forte a ponto
de concordar ir a um segundo encontro.
Talvez seu lema esteja prestes a ser quebrado.
Peter James Callahan, ex-jogador de hóquei, milionário,
herdeiro e com 44 anos de idade, seu único objetivo é conquistar
o perdão da filha.
Sair com uma garota mais nova enquanto a filha está
viajando parece ser a distração perfeita, ele só não estava
preparado para ser invadido por uma avalanche de sentimentos.
Talvez seu objetivo esteja prestes a mudar.
Não há nada de errado em ter seu lema quebrado ou um
novo objetivo, porém nada é tão fácil quanto parece,
principalmente quando dois tracinhos rosa surgem em um bastão
e um segredo é revelado.
Peter é o pai da melhor amiga de Meghan!
Um deslize.
Um segredo.
Um amor proibido.
O que você acha de homens mais velhos? Eu,
particularmente, prefiro os mais novos.
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

Encaro o meu celular ao lado e faço uma careta; não quero


falar com minha mãe. O aparelho segue vibrando, então apoio
minhas costas completamente sobre a cadeira, inclino meu
pescoço para trás e fito o teto.
Sei que recusei todas as ligações da semana, enviei
mensagens vagas e em algum momento precisarei conversar com
ela, eu só não quero que o momento seja agora.
Demora até que o celular pare de vibrar, mas finalmente
cessa, respiro aliviada e volto a olhar para o livro sobre arte
contemporânea que estou lendo e está sobre a mesa à minha
frente.
Concentro-me em ler, mas não tenho muita paz, o celular
volta a vibrar, eu reviro meus olhos e em seguida o encaro. Dessa
vez, não é a minha mãe, é o meu pai. O que faz eles acreditarem
que vou atender um e não o outro?
Estou evitando os dois!
Pego o aparelho, rejeito a chamada e abro o aplicativo de
mensagens.
“Estou na biblioteca, não posso aceitar conversar agora.”
Envio para minha mãe e não estou mentindo. Guardo o
celular em minha bolsa, se eles voltarem a ligar, não irei ver. Foda-
se!
Volto a ler meu livro e só deixo a biblioteca no fim da tarde,
o Sol está se pondo e dirijo para casa.
Entro em meu apartamento e as luzes estão desligadas, a
única iluminação é a que entra pela janela. Não há nenhum som,
ou seja, minhas amigas não estão em casa. Penny deve estar com
Luke, Ava com Matteo e Liv está com Aaron, fingindo ser sua
namorada.
Acendo a luz da sala e sigo para o meu quarto. A falta de
barulho e a solidão não me soam estranhas, mas não me
incomodam, ao menos não como antes.
Largo minhas coisas sobre a cama e vou para o banheiro.
Encaro o meu reflexo no espelho e percebo que estou um pouco
destruída, meu cabelo está preso em um coque e não estou
usando maquiagem, afinal, eu treinei pela manhã e os treinos têm
sido exaustivos.
— Hora de tirar essa cara de derrota, garota.
Sorrio para mim mesma, solto meu cabelo, tiro minha roupa
e vou para o chuveiro. Deixo que a água relaxe meus músculos,
leve consigo a canseira e demoro em meu banho.
Ao sair, me enrolo em uma toalha, seco meu cabelo e saio
do banheiro. Escolho um pijama confortável e quente para vestir e
deixo meu quarto. Eu vou até a cozinha, preparo algo para comer
e vou para a sala assistir televisão.
Assisto parte de um filme, mas é chato e entediante. Um
suspense de péssima qualidade. Suspiro e me levanto, volto para a
cozinha, limpo o que sujei e me sento de frente para a ilha, fitando
a parede. Eu pensei que poderia ficar em casa em uma sexta-feira,
mas não consigo.
— Não consigo — resmungo. — O que eu posso fazer?
Eu quero uma bebida. É sexta-feira e com certeza está
rolando festa em algum lugar, porém, queria algo diferente. Faz
quase três anos que estou nessa vida de universitária e estou um
pouco enjoada das festas, quero algo novo, uma nova emoção.
Pulo do banco e caminho na direção do meu quarto
enquanto penso em minhas opções. O melhor no momento é
algum pub, algo com um clima sexy, talvez um pouco misterioso e
adulto. Algo mais maduro do que faria normalmente.
Primeiro arrumo meu cabelo, faço um rabo de cavalo baixo,
em seguida, parto para a maquiagem, algo simples, apenas uma
pele bem-feita, rímel e deixo para carregar no batom, um batom
vermelho que deixa meus lábios em destaque.
Saio da frente do espelho do banheiro e vou até o meu
guarda-roupa, escolho uma saia de couro, botas com o cano
tocando minha coxa, blusa curta que deixa uma linha da minha
barriga de fora e jogo um casaco por cima. Isso será o suficiente
para não me deixar morrer de calor até o local e está ótimo.
Paro em frente ao espelho que mostra meu corpo inteiro e
sorrio ao me encarar. Ironicamente, eu pareço mais velha do que
realmente sou. Combina com a vibe que eu quero no momento.
Ainda não toquei no meu celular desde que o joguei em
minha mochila, entretanto, não posso sair sem o aparelho, então
pego-o e confiro as notificações. Há mais de sete chamadas
perdidas dos meus pais e algumas mensagens, mas não vou lê-las,
talvez amanhã eu faça isso.
Sento-me na beirada da cama e procuro por um lugar que
nunca fui antes, quero algo novo e me deparo com um pub no
centro da cidade, não é tão longe daqui e é exatamente o que
estou procurando.
O lugar com uma pegada mais adulta, bem menos
universitária. Sorrio animada e volto a ficar em pé. Caminho pelo
quarto super empolgada, pois será um local totalmente diferente
do que estou acostumada e estou ansiosa; é um sentimento bom
de fazer algo pela primeira vez.
Eu pego uma bolsa pequena que cabe apenas dinheiro, meu
celular, o batom, cartão de crédito e uma camisinha. Sei que fiz
uma aposta com Liv de quem fica mais tempo sem sexo, mas
nunca se sabe.
Saio do quarto enquanto chamo um táxi pelo celular, eu
quero beber e não vou voltar dirigindo. Não demoro a encontrar
um carro disponível, então deixo o apartamento e o aguardo na
calçada.
Não espero por muito tempo, logo o carro para, eu entro e
vou conversando sobre o clima com o motorista, um senhor
simpático. Assim que estaciona em frente ao bar, pago o valor
devido, despeço-me dele e saio do táxi.
Eu já havia passado por aqui antes, mas nunca tinha
entrado. Entro no estabelecimento, então uma recepcionista se
aproxima e me mostra os lugares disponíveis: mesa pequena ou
banco no bar, fico com a segunda opção e vou até lá.
A iluminação é suave, uma música ecoa pelo espaço, nem
tão alta, nem tão baixa. As paredes são escuras, há bancos e
cadeiras estofadas em vermelho, um bar que ocupa toda uma
lateral com exposição de bebidas e um balcão com bancos
disponíveis, e é um deles que ocupo. Tiro meu casaco e o deixo no
assento vazio ao meu lado.
Casais e grupos de amigos bebem pelas mesas espalhadas e
não há ninguém no bar, não está lotado de gente como estaria
qualquer bar universitário, é mais intimista e gosto disso.
Uma garota simpática se aproxima e me entrega um
cardápio com as bebidas e itens disponíveis, percorro meu olhar
pela lista rapidamente, porque sei o que quero beber, então fecho-
o e ergo minha cabeça.
— Gin e tônica.
Ela sorri e assente, devolvo o cardápio e ela se afasta. Eu
fico sozinha, cruzo meus braços sobre o balcão e olho ao redor
enquanto sussurro a música que está ecoando.
Normalmente, sempre conheço alguém e tenho outra
pessoa para conversar, dessa vez estou sozinha e é diferente. Sou
minha única companhia, não é algo novo, só é algo novo nessa
situação de bar e festa.
Estar sozinha me lembra de como era quando morava com
meus pais; pais que estou tentando evitar e que estão me
infernizando por conta das minhas escolhas.
Mexo no anel, girando-o em meu dedo e me pergunto como
vou reverter essa situação com eles, já que faz quase três anos
que estamos nessa guerra, eu tenho apenas ignorado e eles
fingem que ignoram, porém, dessa vez eles parecem mais
empenhados em vencer.
Mas isso é algo que irei deixar para a Meg do futuro
resolver.
A garota que descubro ter o nome de Natalie traz meu drink
e o provo: amargo e forte como eu gosto. Eu esqueço meus
problemas e me concentro na música e na bebida que tenho em
minhas mãos. Esvazio minha mente o máximo que consigo, bato
minha unha na madeira no ritmo da música e sigo sussurrando.
Alguém se senta ao meu lado, e é alto, porque sua sombra
me cobre, olho na sua direção e me deparo com um homem. Ele é
grande, tem barba em seu rosto, cabelo curto e penteado para
cima, seu maxilar é marcado, e ele deve ter mais de trinta e cinco
anos. Continuo minha análise, notando que usa calça preta, suéter
azul e um cachecol ao redor do seu pescoço.
Ele é gostoso!
O homem percebe que estou o encarando e olha em minha
direção, seus olhos são de um verde penetrante. Um arrepio
percorre o meu corpo e lugares que deveriam ficar adormecidos,
despertam.
Não é para isso que eu vim aqui.
Seu olhar percorre meu corpo, detém seus olhos alguns
segundos na pele das minhas coxas expostas pela saia curta. Eu
gosto de como ele me encara, da expressão em seu rosto, como
se fosse um predador experiente, pronto para me ensinar tudo
que sabe.
Eu nunca estive com alguém tão mais velho que eu, o
máximo foi algum veterano da faculdade. Nunca esbarrei com
nenhum que me fizesse querer a experiência, mas, de repente, ela
parece tentadora.
Ele tem uma cara de quem sabe o que está fazendo,
diferente dos últimos garotos com quem transei.
Seu olhar volta a encontrar o meu e, caralho, há algo nele
que me faz querer ser uma garota má. Há alguns fios brancos em
seu cabelo e em sua barba que o deixam ainda mais charmoso.
— Olá.
As palavras escorregam da minha boca e sorrio.
— Olá.
Sua voz é um tanto rouca, ele mantém o olhar sobre o meu
e não desvio meus olhos. Estendo minha mão e me apresento.
— Meu nome é Meghan, e o seu?
Ele estende seu braço e no mesmo instante que seus dedos
tocam os meus, sinto um formigamento em minha pele.
— Peter.
— Olá, Peter.
Testo seu nome em meus lábios e ele sorri, um sorriso
curto, de lado e sexy. Esse homem exala testosterona e está me
atingindo diretamente. Porra, é como se eu estivesse no cio. Talvez
seja porque estou sem sexo há um bom tempo.
— Olá, Meghan.
Caralho! Tudo que consigo imaginar é ele me chamando
enquanto goza. Baixo e bem perto do meu ouvido. Engulo em
seco, toco a minha taça vazia e faço um biquinho com meus
lábios.
— Minha bebida terminou.
Ele sorri e entende exatamente o que estou fazendo. Chama
a garota que me atendeu, pede mais Gin com tônica para mim e
um uísque para ele. Assim que ela se afasta, eu giro o banco e fico
de lado, ele faz o mesmo e minha perna quase esbarra com a sua,
apenas alguns centímetros nos separam.
— Você está esperando alguém?
Pergunta e balanço a cabeça negando.
— Estou sozinha.
Assente e se inclina em minha direção, fazendo com que sua
perna encoste na minha. Mais uma vez, meu corpo entra em
alerta. Minha respiração e meus batimentos cardíacos são
afetados.
— O que alguém tão bonita está fazendo sozinha em uma
sexta à noite?
Dou de ombros.
— Apenas apreciando minha companhia. E você, está
esperando alguém?
Nega com um gesto.
— Eu só queria uma bebida. — A forma como me encara diz
que seus planos mudaram. — É a minha primeira vez aqui.
Ele confessa e sorrio.
— E por qual motivo?
Nossa bebida chega e ele demora alguns segundos para me
responder.
— Só estou na cidade de passagem. — Ele não é alguém
daqui, o que o torna ainda mais interessante, algo apenas casual,
afinal, não irei encontrá-lo, nem esbarrar com ele pela cidade. —
Você é daqui?
Ele me analisa e demoro alguns segundos para responder,
porque me dou conta de que o melhor é mentir, talvez Peter não
goste de saber que sou uma universitária. Talvez seja melhor
brincar de ser um pouco mais velha.
— Sim, eu faço um mestrado em Dartmouth. — É uma meia
verdade, porque realmente estudo em Dartmouth, apenas é uma
graduação e não um mestrado. — E por quanto tempo você ficará
por aqui?
Pego a taça e trago até meus lábios enquanto ele me
responde.
— Alguns dias.
Nós dois ficamos em silêncio, então ele traz sua mão até
minha perna e a deixa sobre meu joelho, procura por alguma
resistência, por algum sinal meu que indique que quero que ele se
afaste, mas não faço nada disso. Eu não quero que ele se afaste e
por isso amplio meu sorriso.
Seus olhos escurecem e se estreitam em minha direção,
como se estivesse me analisando.
— Devo me preocupar com sua idade?
Sorrio com malícia.
— Minha idade não é um problema, eu tenho idade
suficiente para beber.
Provoco-o e bebo mais da bebida que tenho em mãos, ele
segue me encarando com luxúria.
— E idade suficiente para eu te levar para a minha cama?
Afasto o vidro da minha boca.
— E quem disse que eu quero ir para sua cama?
Zombo e ele traz seus dedos ainda mais para cima, tocando
a metade das minhas coxas e a barra da minha saia. Não há nada
que separe seus dedos da minha pele.
— Eu estou dizendo.
Ele soa autoritário, meus seios pesam contra minha blusa e
sinto o meio das minhas pernas vibrar.
— Eu tenho vinte e sete anos.
Adiciono mais seis anos à minha idade e minto. Ele assente,
bebe o restante do uísque que há em seu copo e o deixa sobre o
balcão, então fica em pé e me oferece sua mão.
Não preciso de palavras para entender o convite.
Sei que Liv e eu temos uma aposta, mas, caralho, por esse
homem eu topo perder, então coloco meus dedos sobre os seus.
Uma das nossas patinadoras foi vista deixando o bar com
um estranho. Um estranho gostoso e bem mais velho do que ela,
talvez ele tenha idade para ser seu pai.
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

Peter me ajuda a descer do banco, para na minha frente


com seu corpo a centímetros do meu e toca a minha cintura com
sua mão livre. O local sob seus dedos queima e respiro fundo, o
que faz com que seu perfume me cerque, intenso e forte.
— Você está de carro?
Sorrio debochada.
— Esse é o momento que você tentará me sequestrar?
Ele dá de ombros e me encara com ironia.
— É um risco que você terá que correr.
Desafia-me e eu deveria ter medo, pois não é uma boa ideia
ir embora com uma pessoa que acabei de conhecer, nós trocamos
apenas algumas palavras, porém é um risco que estou morrendo
de vontade de correr. E eu não sou conhecida por ser prudente ou
responsável. Eu nunca tomo as melhores decisões.
— Para onde você irá me levar?
Ele sorri e diminui ainda mais a distância que existe entre
nós dois.
— Para o meu apartamento. — Abaixa sua cabeça e seus
lábios estão quase tocando os meus, minha respiração se torna
ainda mais irregular e meu coração está totalmente descontrolado
dentro do peito. — Para a minha cama. É isso que você quer, não
é?
Desvencilha meus dedos dos seus e toca minhas costas. Ele
me empurra contra si, puxando-me em sua direção, fazendo com
que queira me fundir a ele.
Prendo minha respiração, seu olhar encontra o meu, nossas
respirações se misturam e não preciso respondê-lo, porque ele
sabe a resposta; os segundos se tornam infinitos e depois do que
parece uma eternidade, sua boca encontra a minha.
Ele toma meus lábios e não é gentil, pressiona minhas
costas com força e sua língua duela com a minha. Peter impõe o
ritmo do beijo e rouba meu fôlego, ele é o responsável por ditar as
batidas do meu coração. Luxúria corre pelo meu sangue, o desejo
ecoa por cada parte minha, me domina. O meio das minhas
pernas vibra, meus seios pesam e só consigo pensar que preciso
desse homem.
É uma necessidade absurda!
Como ele é capaz de fazer isso com apenas um beijo? Mal
posso esperar para tê-lo entre minhas pernas, para sentir sua
língua em outros lugares.
Ele morde meu lábio inferior, interrompe o beijo e sorri, um
sorriso sexy e destruidor; destruidor de calcinhas.
— Você está de carro?
Refaz a pergunta e dessa vez o respondo.
— Não.
— Ótimo.
Dá um passo para trás e volta a ficar de frente para o
balcão, pede nossa conta e paga meus dois drinks. Eu me sinto
como se estivesse saindo com um sugar daddy, o pensamento faz
com que queira rir e mordo meu lábio inferior para me controlar.
Volta a me encarar e me oferece sua mão.
— Vamos?
Assinto, então pego meu casaco, jogo sobre meus ombros,
pego minha bolsa e deixo meus dedos sobre os seus. Há um frio
em minha barriga e uma ansiedade crescendo em meu peito.
— Qual a sua idade?
Pergunto enquanto ele me guia para a saída.
— Quarenta e três. — Ele me responde e se vira para mim.
— Por que a curiosidade?
Porra, vinte e dois anos mais velho que eu. Ele está tão bem
para alguém da sua idade.
— Nunca saí com alguém tão velho.
A malícia é evidente na maneira que eu falo e por fim faço
um biquinho com meus lábios. Peter me fita e faz com que meu
corpo se incendeie ainda mais.
— Nunca saiu com alguém tão experiente?
Ele segue na provocação.
— Então, quer dizer que é experiente?
Inclina-se em minha direção, paira com sua boca sobre
minha orelha e prendo minha respiração.
— Quando você nasceu, eu já estava transando por aí.
Morde o lóbulo da minha orelha e se afasta, como se não
tivesse acabado de me provocar. Eu volto a respirar, mas estou
ofegante como alguém que acabou de correr uma maratona, além
de que todo meu corpo está em alerta. Caralho!
Seguimos para fora do bar e nenhum de nós fala nada, ele
me leva até o estacionamento e assim que estamos perto do seu
carro, me pressiona contra ele e para à minha frente.
— Eu não estou procurando um relacionamento.
Sorrio com deboche e espalmo minhas mãos em seu peito.
— Se eu estivesse a fim de um relacionamento, não estava
prestes a entrar no carro de um estranho. — Subo minhas mãos
até seus ombros. — Nós trocamos pouquíssimas palavras, Peter,
tudo que eu quero de você é sexo.
Traz sua mão até minha barriga, enfia-a por dentro do
casaco e toca minha pele exposta pela blusa curta.
— Ótimo que estamos de acordo.
Inclina-se, seus lábios tocam meu pescoço e fecho meus
olhos, ele distribui beijos pela minha pele. Ele sabe como usar
seus lábios e como me tocar, seus dedos acariciam levemente a
minha pele, fazendo um calor irradiar pelo meu corpo.
Encosto minha cabeça no carro, levo minha mão até seu
cabelo e o impulsiono em minha direção. Eu quero mais dos seus
beijos. Ele continua e uma das suas mãos desce até a barra da
minha saia, ele a puxa para cima e seus dedos traçam círculos
invisíveis em minha coxa.
Droga, nesse momento, eu sou uma maldita marionete em
suas mãos, ele poderia fazer o que quisesse comigo.
Sua boca procura pela minha e nos perdemos em um beijo
arrebatador. Seus dedos sobem e me tocam por cima da calcinha.
Arrepios ecoam pelo meu corpo e o desejo me dominam. Enrolo
meus dedos ao redor dos fios do seu cabelo e os seguro com
força.
Caralho!
Rápido demais, Peter retira sua mão de debaixo da minha
saia e interrompe o beijo, suspiro e abro meus olhos. Ele está me
encarando com os olhos escuros e famintos.
— Vamos, antes que eu perca o controle.
Dá um passo para trás, e eu assinto, ainda desnorteada e
me afasto do carro. Ele abre a porta e eu entro, então faz a volta e
ocupa o lugar atrás do volante.
Peter coloca a chave na ignição e dá a partida, e eu tiro o
casaco. Ele dirige para longe do estacionamento, enquanto o
observo e a iluminação que entra pelos vidros o faz parecer
misterioso e intimidador.
É como se ele tivesse o mundo aos seus pés.
— Esse é o momento que você conta que está me
sequestrando e começo a gritar?
Ele apenas ri, balança a cabeça e afasta uma das suas mãos
da direção, apoiando seus dedos em meu joelho.
— Você só irá gritar por um motivo, Meghan.
Como uma frase é capaz de me desestruturar assim? Eu
respiro fundo e tento encontrar uma resposta adequada, mas é
como se meu cérebro tivesse se transformado em uma gelatina.
— Eu espero que você cumpra com tudo que está me
prometendo, Peter.
Ele ri, sua mão sobe e empurra a minha saia para cima.
Segue olhando em frente e mantém a mão em minha perna,
tocando minha pele e me deixando ainda mais excitada.
— Vou cumprir.
A tensão no carro é insuportável. Estou em alerta, morrendo
por algo, por alguma migalha, qualquer coisa. Meu peito sobe e
desce rapidamente por conta da minha respiração acelerada.
Seus dedos seguem trilhando um caminho pela minha pele
até que não consegue mais empurrar o tecido da minha saia para
cima. Estou ofegante e ele nem me tocou onde mais precisava.
Ele não vai conseguir ter acesso ao meio das minhas pernas,
mas eu posso ter acesso a ele, por isso, solto meu cinto, inclino-
me em sua direção e levo minhas mãos até o zíper da sua calça.
— O que você irá fazer?
Soa atordoado e sorrio.
— Retribuindo o carinho.
— Meghan.
Repreende-me e beijo seu pescoço. Posso sentir sua pele
arrepiada, o que faz com que me sinta poderosa, pois sou eu que
estou fazendo isso com ele. Sorrio e abro sua calça, solto o cinto e
levo meus dedos para baixo até estar o tocando, gosto do que
sinto, e ele fica ainda mais duro conforme brinco com ele.
Seu corpo está tenso e as veias em seu pescoço
aparecendo. Olho para o lado e Peter está segurando o volante
com força.
— Já que você é experiente, sabe se controlar, não é?
Provoco-o.
— Você não deveria brincar comigo.
Volto a encará-lo, mordo seu queixo e posso sentir a sua
tensão crescendo.
— Por quê?
Pergunto, com uma falsa inocência.
— Você não sabe do que eu sou capaz.
Tento tirar seu pau para fora da calça, mas não consigo.
Poxa, não vou conseguir tê-lo em minha boca enquanto ele dirige!
— Do que você é capaz? — Aperto-o em minha mão e sua
veia fica ainda mais evidente. — De me fazer gozar? De me fazer
gritar?
É um pouco difícil por conta da sua calça e cueca, mas
desço e subo meu dedo por toda sua extensão, uma simples
carícia que é a provocação perfeita.
— Meghan.
Ele me repreende novamente, dessa vez eu afasto minha
mão e volto para o meu lugar com um sorriso vitorioso no rosto.
Nós dois ficamos em silêncio e é possível ouvir o som das nossas
respirações totalmente irregulares.
E mesmo sem trocarmos nenhuma palavra, o ar se torna
mais denso a cada segundo, tudo me puxa em sua direção, e
lembrar que ele irá me tocar faz ansiedade ecoar em meu peito e
aumenta a excitação em meu corpo.
Aproximo minhas coxas uma da outra e as fricciono, na
tentativa de acalmar a dorzinha que lateja no meio das minhas
pernas.
Para meu alívio, Peter entra em uma garagem, a garagem
do prédio mais luxuoso da cidade. Ele com certeza tem muito
dinheiro, considerando onde mora e seu carro.
Estaciona e desce do veículo, eu faço o mesmo e ele
caminha em minha direção enquanto arruma sua calça. Mordo
meu lábio inferior para não rir, ele ergue sua sobrancelha e assim
que está perto o suficiente, toca minha cintura e me puxa em sua
direção.
— Você é uma maldita provocadora.
— Você me provocou primeiro.
Seus olhos brilham e ele me gira até que eu esteja com as
costas apoiadas em seu peito. Espalma sua mão em minha
barriga, joga meu cabelo para o lado e beija meu pescoço.
Ele nos impulsiona para a frente e vamos assim até o
elevador. Sua mão sobe e desce pelo meu corpo, distribui beijos
pela minha pele e tudo que consigo fazer é me inclinar para o lado
e facilitar seu acesso. É uma benção ter deixado o casaco no
carro.
Entramos no elevador e ele me vira de frente, seu olhar
encontra o meu, então pressiona-me contra a parede e traz sua
mão até minha nuca, ao mesmo tempo em que sua boca cobre a
minha. O desejo comanda nossas ações, não nos preocupamos
com o local e se estamos sendo vigiados por alguma câmera.
Peter toca a minha perna, seus dedos sobem, erguendo
minha saia e encontram minha calcinha, puxa o tecido para o lado
e um gemido escapa entre meus lábios quando enfim me toca.
Ondas de excitação percorrem meu corpo, sinto pontadas abaixo
do meu ventre e me seguro em seu ombro.
Seus dedos brincam comigo, necessidade e prazer me
dominam e me fazem buscar por mais, por isso rebolo contra sua
mão. Ele desce sua boca até meu pescoço, morde minha pele e
seguro sua cabeça, mantendo-o contra mim, então concentro-me
nas sensações que ele me causa, nas sensações que vibram em
meu peito.
Um som ecoa pelo elevador, indicando que chegamos, afasta
suas mãos de mim e me guia até a porta do seu apartamento,
abre-a e então se vira para mim, seu olhar encontra o meu e a
intensidade com que me encara faz as batidas do meu coração
ficarem ainda mais irregulares.
— Depois que você cruzar essa porta, não há mais volta.
Sorrio.
— Eu não quero voltar, você ainda não entendeu, Peter? —
Ele fica de lado para que possa entrar. — É a idade?
Provoco-o, ele fecha a porta, toca meu quadril com suas
mãos, puxa-me para trás e aproxima sua boca da minha orelha.
— Enquanto você estiver aqui, no meu apartamento, você é
minha, Meghan.
Cuidado ao sair com estranhos, eles podem ser
extremamente sedutores e te convencerem a se render por um final
de semana…
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

Caralho! Como ele me fala algo assim?


Deveria ficar com medo? Ofendida? Deveria dizer que não
sou um objeto para ser de alguém? Sou uma farsa e uma
vergonha para as feministas, porque tudo que consigo sentir é
tesão, e uma vontade louca de implorar para esse homem me
comer logo e fazer tudo o que quiser comigo.
No que eu me transformei?
Viro-me, espalmando minhas mãos em seu peito e meu
olhar encontra o seu.
— A cada segundo você aumenta ainda mais minhas
expectativas.
Inclina sua cabeça e seus lábios quase encostam nos meus.
— Eu vou suprir cada uma.
Ele me encara como se estivesse faminto, como se fosse um
caçador e eu a sua presa.
Não há mais o que ser dito e sua boca cobre a minha. Ele
dita o ritmo e tem controle absoluto, sabe exatamente como
conduzir o beijo, é intenso sem ser desesperador, faz com que o
desejo aumente, com que eu perca o raciocínio e só consiga
pensar nele e nos seus lábios sobre os meus.
Peter segue me beijando enquanto me guia pelo seu
apartamento, não tenho tempo de olhar ao redor, porque estou
muito ocupada, e foda-se como é o lugar, o que importa é o que
iremos fazer.
Abre uma porta, em seguida a fecha com um chute e
interrompe o beijo, nós dois nos encaramos e temos os lábios
inchados, respirações ofegantes e olhares sedentos.
Tiro o cachecol do seu pescoço e o jogo no chão, ele sorri
enquanto levo minha mão até a barra do seu suéter e o puxo para
cima, ele se junta ao acessório e seus músculos bem definidos
ficam expostos. Caralho!
Encaro um abdômen marcado e repleto de gominhos, ainda
mais gostoso do que imaginei que fosse, não resisto e passo meus
dedos pela sua pele. Fica evidente na forma como me olha o
quanto gosta do meu toque, o quanto está tão envolvido e
excitado quanto eu.
Move suas mãos até minha blusa e a tira do meu corpo,
encara meu sutiã vermelho e sorrio.
— Gostei da cor, combina com o seu tom de pele.
Ele ergue seus dedos, toca minha pele logo acima da borda
da peça de roupa, imitando o seu formato. Excitação vibra em
meu corpo e resulta em pontadas no meio das minhas pernas.
— É conjunto com a parte de baixo.
Seus olhos escurecem, então ele desce sua mão e abre o
zíper da saia, e nunca fiquei tão feliz em estar usando algo tão
fácil de tirar. Puxa o tecido do meu corpo assim que a tem
completamente aberta e a atira para longe.
Desce e sobe seu olhar pelo meu corpo e o desejo fica
evidente na forma como me encara. É óbvio que ele gosta do que
está vendo e isso me deixa em êxtase, faz com que me sinta
poderosa. A porra de uma rainha!
— Linda!
Desce seu dedo pela minha barriga até a borda da minha
calcinha. Suspiro e todo meu corpo se arrepia. Ele continua me
tocando, me deixando com mais calor e mais ansiosa. Ele segue
de um lado para o outro.
— Você está me torturando.
Seu olhar encontra o meu e sorri.
— O que você precisa?
Muitas possibilidades ecoam em minha mente e eu quero
todas.
— Eu preciso que você pare de me torturar.
Faço uma careta e ele ri. Dá um passo em frente e sobe sua
mão pelas minhas costas.
— Esse é o seu pedido?
— Esse é o meu pedido.
Ele me encara, sobe seus dedos até o fecho do meu sutiã,
solta-o e empurra as alças afastando-as dos meus ombros, olha
para baixo e observa a peça descer, lança o tecido para longe e
meus seios ficam a sua disposição. .
Peter volta a me fitar e seus olhos estão ainda mais escuros.
Nunca nenhum cara me encarou como ele faz, eles nunca tiveram
tanta segurança. Ele leva suas mãos até a lateral da minha
calcinha, abaixa-se, segue me encarando e a tira do meu corpo.
— Quero você com suas botas.
Seu olhar percorre meu corpo, volta a ficar em pé e me
encara. Sinto-me toda em alerta, prestes a entrar em combustão.
— Ok, mas você está muito vestido e eu te quero sem
nada.
Sussurro a última palavra. Suas mãos deixam meu corpo,
ele se afasta alguns centímetros e retira o restante da sua roupa.
Assisto-o se despindo e a cada parte do seu corpo que fica
descoberta, fico ainda mais impressionada. Ele é muito gostoso.
Todo malhado, inclusive suas coxas são torneadas, e seu pau é
bonito, tamanho e espessura perfeitos.
Mordo meu lábio inferior ao olhar para ele e pelo sorriso que
surge em seu rosto, sei que percebeu o quanto sua aparência me
agrada.
Peter caminha em minha direção assim que não há
nenhuma peça de roupa em seu corpo. Seu sorriso some e resta
apenas um olhar determinado. Esse é o momento que ele agarra a
sua presa!
Eu dou passos para trás conforme ele se aproxima, até
encostar na cama, então ele me toca e me ajuda a deitar sobre o
colchão. Abro minhas pernas, apoio o salto na beirada e fico à sua
mercê.
Peter está sobre mim, encarando-me e sustentando seu
corpo com um dos seus braços, sua mão livre toca minha pele.
Curva-se e seus lábios encontram meu pescoço.
— Você cheira tão bem.
Fecho meus olhos e ele distribui beijos pela minha pele. E
assim que aperta seus dedos ao redor do meu seio, um gemido
deixa minha boca.
— Seus seios se encaixam perfeitamente nas minhas mãos.
— Paira com sua boca a centímetros da minha. — Você é perfeita.
Cobre meus lábios com os seus e toma tudo de mim. Nossas
línguas duelam enquanto subo minhas mãos pelas suas costas, e
seus dedos brincam com o bico do meu peito.
Caralho!
Peter desce a boca pelo meu corpo, deixando beijos,
mordidas e chupões por onde passa; pescoço, seios, barriga… Ele
arranca sons de mim, gemidos e sussurros. Seus dedos encontram
meu clitóris e torna a tensão em meu corpo insuportável.
Segue descendo até ter sua boca sobre minha boceta, um
arrepio sobe pelo meu corpo, contorço-me bagunçando o lençol e
ele segura minha coxa, mantendo minhas pernas abertas e eu à
sua disposição.
Aproxima seus lábios e me toca com sua língua, um toque
sutil que faz com fique ainda mais alerta. Porra!
Rebolo e ele intensifica seu ritmo, me levando ao delírio.
Seus dedos juntam-se à sua língua e preciso me livrar do que me
aprisiona. Seguro sua cabeça e os fios do seu cabelo, forço os
saltos da minha bota contra a cama e procuro desesperadamente
por me livrar da excitação latente que vibra pelo meu corpo.
Ele continua, até que se torna insuportável e uma explosão
acontece dentro de mim. Eu me sinto como se estivesse flutuando,
em outro lugar, em uma outra dimensão.
Distraio-me com os sentimentos e sensações que ecoam em
meu peito. Peter segue tirando o máximo de mim, sinto sua barba
em minha pele, seus beijos e, mesmo de olhos fechados,
reconheço seus movimentos, e posso perceber sua sombra sobre
meu corpo, além de ouvir quando pega algo no cômodo ao lado.
Abro meus olhos preguiçosamente e me deparo com Peter
com uma embalagem de camisinha nas mãos, ele a deixa sobre o
colchão e diminui a distância entre nossos rostos.
— Como você está?
Beija a lateral da minha boca.
— Isso é você tentando alimentar o seu ego?
Toca meu corpo com a ponta dos seus dedos.
— Isso sou eu conferindo se está bem. — Dessa vez, beija o
meu queixo. — Se está pronta para mais.
— Eu sempre estou pronta para mais.
Espalmo as mãos em seu abdômen, sentindo seus músculos
contra meus dedos. Seu olhar encontra o meu e rouba meu fôlego,
a intensidade com que me encara é a faísca para voltar a ficar em
alerta.
Levo minhas mãos até seu pescoço e o puxo para baixo até
sua boca estar sobre a minha. Agora sou eu quem inicia o beijo e
dito o ritmo, mas não tenho tanto controle e nem tanta paciência
quanto Peter, sou afobada e desesperada.
Ele ri, afasta-se, morde meu lábio inferior e volta a me beijar
do seu jeito, é diferente e melhor, é como se ele soubesse
exatamente como mexer comigo.
Continua me tocando, fazendo com que volte a queimar,
desejando mais, implorando por mais.
Peter coloca a camisinha ao redor do seu pau e o guia para
dentro de mim. Nós dois gememos assim que me preenche
totalmente. Enrolo minhas pernas ao redor da sua cintura e sei
que ficará marcado por conta da bota, mas foda-se.
A cada movimento, a intensidade das sensações aumenta,
ondas de excitação vibram pelo meu corpo. Ele segue sabendo
como e onde me tocar, encontra lugares em mim que nunca
alguém encontrou.
Tenho a cabeça completamente apoiada no colchão, sons
escapam por entre meus lábios e ele reivindica minha alma. Ele
quase se retira e me invade novamente em estocadas fortes,
desfere tapas em minha bunda, na lateral da minha coxa, morde
meu ombro e seus dedos apertam minha cintura; ele não é gentil
e sabe dosar a dor com o prazer.
É ele quem controla meu corpo e quando toca meu clitóris,
me dou conta que até meu prazer é ele quem controla, ou pelo
menos é a percepção que tenho.
Dessa vez, eu grito seu nome. É tão incrível quanto antes,
aliás, é melhor, tão perfeito que minha vontade é que a sensação
nunca passe, de ficar aqui para sempre.
Peter segue me preenchendo até alcançar seu próprio
prazer, o som que deixa seus lábios faz com que eu sorria, mesmo
assim sigo de olhos fechados.
Caralho, isso foi muito bom!
Ele demora alguns segundos para se desvencilhar de mim,
afasta-se e se joga ao meu lado. Nossas respirações são o único
som do quarto e minha vontade é me aconchegar na cama, porém
não posso.
— Eu preciso ir embora.
Sussurro, mas é alto o suficiente para Peter ouvir. Não faço
nenhum gesto que indique que estou pronta para me levantar,
porque não estou.
— Fique.
Abro meus olhos ao ouvir seu pedido. Viro-me para o lado e
ele está com os braços dobrados atrás da cabeça, me encarando.
— Não sei se encaro mais uma vez.
Confesso, com uma expressão manhosa em meu rosto.
Peter muda de posição, fica de lado, apoia-se em seu braço e
espalma sua mão em minha barriga. Ele me toca e um
formigamento espalha-se pelo meu corpo.
— A novinha já cansou?
Debocha e reviro meus olhos.
— Aposto que apenas não quer admitir, mas não aguenta
outra rodada.
— Não sou o fraco de nós dois, pequena, posso garantir
isso. — Inclina-se e deixa um selinho em meus lábios. — Não
precisamos fazer nada por enquanto, apenas fique.
Seu pedido me deixa um pouco desnorteada.
— Dormir aqui?
Eu gostei de Peter, mas dormir com ele? Eu não durmo com
os caras pós sexo, dormir é algo que pode causar uma certa
intimidade, ou uma confusão nos sentimentos.
— Fique o final de semana.
Encara-me, como se não fosse nada de mais.
— Ficar aqui?
Pergunto, surpresa e desorientada. Peter está me chamando
para ficar o fim de semana com ele! Ele não parece nem um pouco
perturbado com a proposta.
— É extremamente chato ter que procurar alguém, não é
algo que ache divertido. — Traça círculos invisíveis em minha pele.
— E você já está aqui e nos demos bem.
Peter tem um ponto. Mordo meu lábio inferior. Sexo durante
o fim de semana com esse homem não é algo difícil, na verdade,
parece o paraíso.
— Então me ter aqui é fácil.
— Exato.
A proposta é tentadora. Eu nunca durmo, não passo dias na
casa de uma foda, mas não foi qualquer foda. Caralho!
— Eu não tenho o que vestir.
Faço um biquinho com os lábios e Peter sorri.
— Você pode ficar nua.
Ele me encara e espera por uma resposta, levo minha mão
até seu peito e continuo com meus olhos sobre os seus.
— Ok, Peter, eu vou ficar esse fim de semana com você.
A noite de alguém parece ter sido fantástica… E não foi a
minha!
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

Desperto com uma carícia em minhas costas, um toque gentil


que sobe e desce pela minha coluna.
— Bom dia.
Resmungo.
— Bom dia.
Peter me responde e para com a carícia. Eu estou com a
lateral do meu rosto sobre seu peito e meu corpo está sobre o seu.
Abro meus olhos e me ajeito até conseguir encarar o seu rosto.
Ele está me observando e tem uma aparência bagunçada de
quem acabou de acordar. Seus cabelos são uma desordem e mesmo
assim ele continua lindo.
As luzes estão apagadas e as cortinas estão fechadas, porém,
alguns raios de sol conseguem se infiltrar no quarto e os fios
brancos do seu cabelo e barba brilham, deixando- o ainda mais
bonito.
Sempre admirei homens mais velhos, entretanto, por fotos ou
de longe, nunca cogitei transar com um, porque parecia algo
distante da minha realidade. Agora eu tenho um deles só para mim!
— Dormiu bem?
Empurro meus pensamentos para longe e assinto. Eu procuro
algo para falar, mas não encontro nada, faz muito tempo que não
acordo com alguém ao meu lado, claro que já dividi a cama com as
meninas, porém é diferente, são minhas amigas, não alguém que
conheci em um bar.
Peter e eu não nos conhecemos, não sei nada sobre sua vida
e nem quero saber, nosso envolvimento é só sexual. O que eu devo
falar?
— Confesso que isso é meio estranho.
Sou sincera, então fico de lado e sustento meu corpo me
apoiando em meu cotovelo.
— O quê?
— Acordar ao lado de alguém que eu não conheço. — Faço
uma careta. — Eu só sei seu nome e que fode como um deus.
Ele sorri convencido.
— Fode como um deus, hein?
Reviro meus olhos.
— É claro que seria essa parte que prestaria a atenção.
— Obrigado pelo elogio. — Sua mão sobe pela minha perna e
para em minha coxa. Meu corpo entra em alerta e minha respiração
se torna irregular. — Você nunca fez isso?
Não entendo do que ele está falando e ergo minhas
sobrancelhas.
— Dormir com quem transou.
Agora sua pergunta faz sentido.
— Já fiz, mas pouquíssimas vezes, na verdade, só com o
garoto com quem perdi a virgindade. — Seu olhar permanece em
meu rosto e é como se estivesse me analisando. — E os caras da
minha idade, ou são emocionados ou uns idiotas que gostam de
espalhar por aí que você dormiu com eles.
Bufo irritada.
— É, realmente os homens costumam amadurecer depois dos
trinta.
Engulo em seco ao perceber que quase falei demais, Peter
acredita que eu tenho vinte e sete anos e que saio com caras perto
dos trinta, não perto dos vinte. Preciso tomar cuidado para não falar
demais.
— Você está acostumado a trazer estranhas para sua casa?
Mudo de assunto antes que ele perceba meu receio. Peter
não aparenta estar incomodado comigo, logo deve estar acostumado
com mulheres desconhecidas em sua cama.
— Não, quando estou na minha cidade eu sei quem chamar.
Assinto e sua mão sobe pelo meu corpo. Eu esqueço do que
estávamos conversando e fito seus olhos.
Peter não está mais sorrindo e me encara intensamente. É
aquele olhar que faz com que me sinta disposta a concordar com
qualquer coisa que deixe seus lábios.
Desço minhas mãos pelo seu corpo, seu pomo de adão sobe
e desce em sua garganta. Poder e luxúria vibram em meu peito,
tomando conta de cada parte de mim e sou guiada por eles.
Estamos ambos nus, o que facilita meu acesso, por isso levo
meus dedos até seu pau e o toco. As veias em seu pescoço se
tornam evidentes e ele mantém nosso contato visual.
Fecho minha mão ao seu redor e percorro seu comprimento,
Peter franze sua testa e suspira.
— Caralho, pequena.
Inclino-me e beijo seu queixo, desço meus lábios pelo seu
pescoço e sigo movimentando minha mão. Ele está tenso e segura o
lençol com força.
— Quanto tempo você demora para vir em minhas mãos,
hein? Anos de experiência devem ter te deixado mais resistente, não
é?
Provoco-o. Aperto seu membro com um pouco mais de força,
um gemido escapa entre seus lábios, e quando olho para o seu
rosto, ele tem os olhos fechados. Volto a depositar beijos pelo seu
peito e sigo movimentando minha mão.
Ele resiste por um tempo, nenhum de nós cronometra,
porém, sei que foi mais tempo que qualquer outro homem com que
já estive aguentou. Peter goza em minhas mãos, eu assisto a
expressão em seu rosto e seu prazer me deixa excitada.
Seu corpo relaxa, segue de olhos fechados, sorrio satisfeita e
o espero voltar a si.
— Confessa que eu sou muito melhor que qualquer novinho
que já passou pela sua cama.
Diz com sua voz um pouco rouca enquanto abre seus olhos.
— Não tenho nada a confessar.
Ele ri e de repente, impulsiona seu corpo para a frente,
segura meu quadril e nos tira da cama. Enrolo minhas pernas ao
redor da sua cintura e meus braços em seu pescoço, conforme
caminha comigo presa a ele.
— Aonde estamos indo?
— Precisamos de um banho.
É claro que não sou contra e deixo que ele me leve para o
banheiro que fica do outro lado do quarto. Peter me coloca no box,
liga o chuveiro e entramos embaixo da água.
Ele fica sob o jato e eu fico de costas para ele, Peter empurra
meu cabelo para o lado e beija o meu pescoço.
— Eu posso te ensinar muitas coisas. — Espalma uma das
suas mãos em minha barriga. — Existe algum limite, Meghan?
Engulo em seco.
— Não.
Meu corpo está em alerta, é como se estivesse com uma alta
corrente elétrica percorrendo minhas veias.
— Nenhuma mesmo? — Toca minha bunda e sei exatamente
do que ele está falando, não o respondo e sinto uma risada se
formar em seus lábios. — Alguém já esteve aqui, pequena?
Preciso respirar fundo para não me desfazer nesse momento.
— Está perguntando se meu cu é virgem?
Dessa vez, escuto o som da sua risada.
— Sim, é isso mesmo que estou perguntando.
Meus seios pesam e doem, minha boceta vibra e só de
imaginar ele me tomando, excitação corre livre pelo meu corpo.
— Ninguém nunca esteve aí, Peter.
Sua mão se aproxima do meio da minha bunda e prendo
minha respiração.
— E você irá me deixar ser o primeiro?
Toca meu pescoço e seus lábios seguem fazendo um rastro
de beijos pelos meus ombros.
— Você pode tentar, mas se doer, vai parar.
Nunca tentei, mas não posso fingir que nunca tive curiosidade
e esse é o momento perfeito, com alguém que sabe exatamente
como me tocar.
— Mais tarde.
Morde o lóbulo da minha orelha, encosta seu peito em minhas
costas e sua mão desce até o meio das minhas pernas. Peter
encontra meu clitóris, belisca-o e apoio minha cabeça em seu
ombro.
Abro minhas pernas e Peter me penetra com seu dedo.
Suspiro, fecho meus olhos e o prazer ecoa pelo meu corpo. Aperto-
o, rebolo contra sua mão e busco aplacar a necessidade que cresce
a cada segundo.
Gemidos deixam minha garganta, empurro-me contra ele e se
mais cedo ele gozou em minhas mãos, agora sou eu a gozar em
seus dedos. Seu nome escapa dos meus lábios e ele beija a lateral
do meu rosto.
Ele me segura e me mantém em pé enquanto espasmos
ainda varrem o meu corpo e preciso de alguns segundos para me
recuperar. Assim estou no controle novamente, abro meus olhos,
viro-me de frente para Peter e ataco sua boca com vontade.
Ele permite que eu comande o beijo, minhas mãos vagueiam
pelo seu abdômen e ele apenas segura minha cintura. Minha língua
encontra a sua, mordo seus lábios e obtenho dele tudo que preciso.
Não trocamos nenhuma palavra, o beijo simplesmente chega
ao fim e ele lava o meu corpo, em seguida faço o mesmo com ele,
ensaboamos um ao outro e os toques que compartilhamos são
inocentes.
Assim que terminamos, Peter deixa o chuveiro, pega uma
toalha e me entrega. Enrolo o tecido branco ao redor do meu corpo
e saio do box.
— Eu preciso de uma escova de dentes. — Ele assente,
abaixa-se em frente a pia, abre uma gaveta e me entrega uma
escova em uma embalagem fechada. — Obrigada.
Peter fica em pé e escovamos nossos dentes um ao lado do
outro. Ao terminarmos, peço um pente, ele me entrega, apoia-se no
balcão da pia e me observa desembaraçar as minhas mechas.
Enquanto o pente alinha os fios do meu cabelo, observo-o.
Peter tem uma toalha ao redor do quadril, seu abdômen está
exposto e seu cabelo é uma bagunça.
— Você também é uma bela de uma visão.
Sorrio e balanço minha cabeça, negando.
— Não estou te admirando.
Minto e ele me encara com um olhar debochado.
— Sei que está mentindo.
Desafia-me a continuar, mas eu não consigo e encaro nossos
reflexos no espelho.
— Qual a possibilidade de ter um secador de cabelo?
— Nenhuma.
Suspiro.
— É, teremos que conviver com a selvageria do meu cabelo.
Ele somente ri, enquanto faço uma careta. Peter verá a pior
versão de mim: sem maquiagem, com cabelo bagunçado e com uma
roupa qualquer.
— Eu preciso de algo para vestir.
Viro-me para ele e deixo o pente sobre a pia.
— Eu gosto de você nua.
Reviro meus olhos.
— Isso não é uma opção.
— Ok, ok, posso ceder uma camiseta.
— Ótimo.
Saímos do banheiro, eu resgato minha calcinha no chão,
visto-a e vamos até o closet. O lugar não está organizado, há duas
malas no chão e é lá que ele pega a camiseta que me entrega, visto-
a e fica enorme em mim.
Peter veste uma cueca e calça de moletom, então se
aproxima, passa seu braço pelos meus ombros e cheira meu cabelo.
— Achei que essa cor combinou com você, aliás, a camiseta
ficou bem melhor em você.
— Talvez eu a leve embora, como uma recordação.
— Eu não vou me opor.
Deixamos o closet, eu dobro e deixo minhas roupas sobre sua
cômoda. Ele me observa enquanto está apoiado na parede ao lado
da porta, eu sorrio e vou até ele, então saímos do quarto e
seguimos pelo corredor. Olho ao redor e vejo mais portas. As
paredes são decoradas com madeiras ripadas e há leds iluminando o
espaço.
— Uma parte minha ainda acredita que a qualquer momento
vou me deparar com um quarto repleto de corpos de outras
mulheres.
Brinco, porque não consigo acreditar que Peter possa me
fazer algum mal.
— Meu Deus, que imaginação é essa?
— Eu assisto muitos documentários de serial killers.
Ele ri.
— Eu aqui pensando em preparar algo para comermos e você
achando que vou matá-la.
— E porque sou eu que estou no território inimigo.
Nós dois rimos e seguimos em silêncio, conforme ele me guia
para a cozinha. O lugar é preto e branco com eletrodomésticos em
inox, tudo grita luxo e dinheiro; nada que eu não conheça.
Sento-me no banco de frente para a ilha que ocupa o meio do
cômodo e Peter se movimenta. Ele prepara nosso café e eu apenas
o observo. Detenho-me alguns segundos em suas mãos e ele não
usa nenhuma aliança, mas poderia tê-la tirado.
— Você não é casado, né?
Odiaria saber que ele é casado, não por ele ou por mim, mas
pela esposa. Ninguém merece ser traído e não quero de forma
alguma compactuar com o ato.
— Não.
Segue batendo os ovos para uma omelete.
— Não corro o risco de ser surpreendida por nenhuma ex?
É claro que ele deve ter um número considerável de ex.
— Não. — Ele ri. — Tenho uma boa relação com todas.
Ergue a cabeça e seu olhar encontra o meu.
— Você deve ter muitas, não é? — Estou curiosa, mas
também quero provocá-lo. — Por conta da idade.
— Algumas. — Soa misterioso e volta a olhar para baixo. — E
você?
— Não muitos, eu prefiro casos casuais, não tenho muita
paciência para tudo que um relacionamento exige.
Peter volta a me encarar e espalma as mãos no balcão
enquanto se inclina em minha direção.
— E o que um relacionamento exige?
Dou de ombros.
— Entrega, diálogo, esforço para fazer funcionar,
compreensão e muitas outras coisas, são tantas que nem consigo
lembrar.
Falo com desdém e ele assente.
— Você está certa.
Uma sombra surge em seus olhos, entregando que ele deve
ter uma história mal resolvida, fato que não me interessa, desde que
não me afete.
— Prefiro me divertir.
Pisco em sua direção, a sombra se dissipa e ele sorri, um
sorriso sexy que faz com que uma onda de desejo vibre em meu
interior.
— Para sua sorte, eu sou um deus nesse tipo de diversão.
Reviro meus olhos e mordo meu lábio para não rir.
— Tão modesto.
— É apenas a verdade. — É a sua vez de piscar para mim. —
E eu vou provar isso para você.
Ergo minhas sobrancelhas.
— Você continua me prometendo muitas coisas, Peter.
— Só prometo o que sou capaz de cumprir.
Sussurra e soa extremamente sexy, o suficiente para me
arrepiar. Peter se afasta e segue preparando o nosso café da manhã,
eu fico em silêncio e, de repente, o som da campainha ecoa pelo
apartamento.
Merda! Será que é algum amigo? Parente? Vizinho? Estou
usando somente a sua camiseta.
Peter não parece nem um pouco perturbado.
— É uma encomenda.
Ele deixa a cozinha e eu o espero, uma parte de mim está
morrendo de curiosidade. O que ele pediu? E quando pediu? Antes
ou depois de mim?
Peter retorna com uma caixa em mãos, a embalagem faz com
que arregale os olhos. Puta que pariu, é uma caixa de um Sex
Shop!?
— O que é isso?
Ele sorri e me entrega a caixa, então coloco no banco à
minha frente, pulo do que estou sentada e abro a embalagem. O
conteúdo faz com que olhe para Peter em choque.
— O que é isso?
Repito a pergunta e ele sorri.
— Você falou que eu sou o deus do sexo e você não está
errada.
A nossa patinadora foi vista em um carro desconhecido e
parecia um pouquinho tensa, não é?
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

Encaro-o incrédula, abro e fecho minha boca. Eu estou sem


reação e ele apenas ri, porque sabe exatamente o que causou em
mim. Volto a olhar para a caixa e toco alguns dos objetos; alguns
já vi, outros já usei e outros não faço a mínima ideia para que
servem.
— Você fez compras no sex shop pela internet?
Quem faz isso?
— Sim.
Olho para ele, um pouco menos atordoada, mas ainda
curiosa.
— Por minha causa?
Assente.
— Você merecia objetos novos, além de que não trouxe os
que tenho em casa comigo.
Não sei se ele realmente está confessando que usa objetos
sexuais regularmente, ou se apenas está me provocando.
— Quando você pediu isso?
— Hoje de manhã, enquanto você estava dormindo.
Franzo minha testa, deixo a caixa de lado e fico totalmente
de frente para ele. Peter dá um passo para trás, cruza os braços
sobre seu peito e preciso me concentrar para não encarar seu
abdômen.
— E se eu não tivesse aceitado ficar?
— Eu precisava arriscar e se não ficasse, poderia encontrar
outra pessoa para usar os objetos.
Dessa vez, eu sei que ele está me provocando.
— Você sempre foi assim?
Ergue suas sobrancelhas.
— Assim como?
Sorrio, demorando alguns segundos para falar e faço
suspense.
— Com o ego desse tamanho.
Faço o gesto do tamanho mais ou menos de um pau com as
minhas mãos. Peter balança sua cabeça e sorri.
— Alguém como eu só pode ter um ego desse tamanho,
pequena. — Pisca para mim. — É proporcional.
Eu tento não rir, mas falho. Ele tem um brilho em seus olhos
e descruza os braços.
— Você tem piadinhas muito imaturas para um homem da
sua idade.
Sigo o provocando e ele volta a preparar o nosso café.
— Elas não são imaturas.
Gosto das suas piadas, de como ele é leve, de como não
tenho que me preocupar em me conter. É fácil estar aqui com ele,
mesmo que não o conheça.
Peter termina o café, coloca o que preparou entre nós dois e
se senta do outro lado, à minha frente. Nós comemos em silêncio
e algumas vezes trocamos breves olhares. Não é desagradável, de
certa forma é até divertido. Poderíamos falar, mas é divertido nos
mantermos quietos e nos encarando.
Por fim, se transforma em um desafio de quem resiste sem
falar por mais tempo, eu termino de comer e não consigo me
manter em silêncio. Eu perco.
— Então, o que você faz da vida?
Ele sorri vitorioso e reviro meus olhos.
— Eu trabalho em um banco.
Peter me responde como se seu trabalho fosse algo comum.
Como se fosse um simples trabalhador!
— Você não parece apenas um bancário.
Ele faz uma careta.
— Não.
Assinto.
— Você é muito rico para ser só um bancário.
Sou sincera e Peter cruza os braços sobre a mesa.
— E como você pode ter certeza de que eu sou rico?
Encaro-o com deboche e olho ao redor com desdém.
— Olha essa cozinha... — Volto a olhar para ele e ergo
minhas sobrancelhas. — O prédio mais luxuoso da cidade e o seu
carro deve custar uma pequena fortuna.
Há um brilho divertido e provocante em seus olhos.
— E você não parece nem um pouco impressionada.
Dou de ombros e assim como ele, cruzo meus braços sobre
o balcão.
— Não estou.
— Você é rica também.
Faço uma careta.
— Não, meus pais são ricos.
Peter me encara com curiosidade.
— E eles fazem o quê?
— São donos de um hospital.
— E você é médica também?
Sorrio, uma risada irônica.
— Eles bem que queriam, mas não.
De repente, o clima entre nós muda, ganha um tom mais
sério. Peter me olha como se estivesse tentando decifrar minha
alma.
— E o que você faz?
— Eu me formei em História da Arte e estou fazendo uma
pós em Dartmouth.
É uma mentira, mas uma mentira que se tornará verdade
um dia. Esses são os meus planos.
— É por causa disso que está em Hanover?
Assinto e tento me manter o mais natural possível para que
não perceba que estou mentindo. Apesar de que essa parte é
verdade, eu estou na cidade para estudar.
— Ainda não acredito que seja um simples bancário.
Volto a transformá-lo no centro da conversa e ele ri.
— Está me julgando pelo que vê?
Dou de ombros nem um pouco constrangida.
— Estou.
Não nego e ele ri.
— O banco é da minha família e trabalho na diretoria.
Sorrio vitoriosa.
— Isso faz muito mais sentido.
Peter mantém o olhar em mim, eu o encaro de volta sem
desviar o meu olhar do seu e nós dois começamos a rir. São
segundos apenas rindo e eu nem tenho certeza do que, sou eu a
morder meu lábio inferior e a olhar para o lado. Detenho-me na
caixa que segue sobre o banco. Caralho!
— Você não irá me vendar.
Declaro ao ver a venda preta. Escuto o som do banco indo
para trás, viro-me e Peter está deixando seu lugar, caminhando em
minha direção e não há mais nenhum vestígio de sorriso em seu
rosto.
— Por que não?
Ele vem até mim, para entre minhas pernas e toca minha
cintura.
— Porque vou ficar ansiosa por não estar enxergando.
Espalmo minhas mãos em seu peito.
— Essa é a intenção. — Ergue sua mão e leva algumas
mechas do meu cabelo para trás da minha orelha. — Você ficará
sem um dos sentidos e isso irá aguçar todos os outros.
Suspiro.
— Você é sempre assim? — Pela expressão em seu rosto,
ele não entendeu o que eu estou querendo dizer. — De usar
brinquedos durante o sexo.
Seus lábios se curvam em um sorriso e desce suas mãos até
minhas pernas.
— Não, mas às vezes é legal. — Ele toca um tornozelo e
traça círculos invisíveis em minha pele. — Você já usou alguns
desses brinquedos, pequena?
— Apenas vibradores.
Seu sorriso amplia, entregando que ele gostou de ouvir a
minha resposta.
— Adoraria começar a utilizá-los agora, mas precisamos de
um tempo, não somos animais no cio.
Levo minhas mãos até seu ombro.
— E o que faremos nesse tempo?
— Não pensei nessa parte.
Confessa e balanço minha cabeça enquanto um sorriso
surge em meu rosto.
— Típico dos homens pensar apenas no sexo.
Empurro-o, ele dá um passo para trás e pulo do banco.
— Vamos limpar essa bagunça e depois pensamos no que
fazer.
Nós dois limpamos a cozinha enquanto conversamos sobre
filmes, ele tem um gosto clássico e odeia filmes de super-heróis.
— É uma grande ofensa você não gostar dos vingadores!
Exclamo enquanto passo o pano pelo balcão.
— Os únicos super-heróis que eu gosto são os Thundercats.
Faço uma careta, apoio-me na ilha e encaro suas costas, já
que ele está limpando o fogão.
— Vamos fazer uma maratona dos filmes dos vingadores.
Ele se vira com uma expressão nada divertida em seu rosto.
— Por que eu faria isso?
— É o mínimo que você pode fazer por mim. — Aponto meu
dedo em sua direção. — Você quer meu cu, lembra?
A expressão do seu rosto se desfaz ao escutar a minha
escolha de palavras e é nítido que está se segurando para não rir.
— Você não tem nenhum filtro, garota?
— Nenhum. — Vou em sua direção, jogo o pano na pia e
espalmo minhas mãos em seu peito. — Você irá assistir os filmes
comigo?
Deixo um beijo em seu queixo, seus dedos apertam meu
quadril e suspira.
— Ok, ok.
Dou um passo para trás, faço uma comemoração ridícula,
ele ri e nós dois deixamos a cozinha. Ele me leva até a sala. O
lugar é enorme, com lareira e uma parede de vidro.
A televisão é quase um telão de cinema, ele fecha as
cortinas e nos deitamos no sofá. Colocamos o primeiro filme da
franquia, então eu me apoio em seu corpo e ele mantém os braços
ao meu redor.
Seu cheiro me cerca, seus dedos espalham carinhos pelo
meu corpo, e é difícil me manter focada, por isso fico tensa. Meu
corpo está em alerta, até minha respiração está irregular. Peter
não parece ter tanta dificuldade, porque reclama a cada cinco
minutos de filme.
— Você parece um velho reclamando.
Agora sua mão está em minha coxa, subindo a camiseta e
tocando minha pele.
— Esse filme que é ridículo.
— Não é ridículo.
Seguimos discutindo enquanto suas mãos seguem me
torturando. É um alívio quando o filme chega ao fim. Suspiro e ele
ri.
— Você gostou do filme, pequena?
Ele está me provocando!
— Você estava fazendo de propósito, não é?
Afasto-me dele e me sento totalmente no sofá, ele não tem
nem a dignidade de parecer culpado.
— Também foi uma tortura para mim.
Desço meu olhar pelo seu corpo e fito a ereção visível em
suas calças.
— Espero que suas bolas fiquem azuis de dor.
Traz suas mãos até minha nuca, enrola os dedos nos fios do
meu cabelo e me força a me inclinar em sua direção.
— Não seja má, garota.
— Não me chame de garota.
Ele apenas ri e sua boca encontra a minha. É um beijo
calmo, porque ele não me permite aprofundá–lo. Maldito! Peter se
afasta de mim com um sorriso idiota em seu rosto.
— Você só está me deixando frustrada.
— Tudo tem o seu tempo certo. — Pisca em minha direção,
levanta-se e me oferece sua mão. — Vamos preparar algo para
almoçarmos.
Coloco meus dedos sobre os seus e ele me ajuda a ficar em
pé.
— Você irá preparar algo para nós dois, porque eu sou uma
visita.
Ele ri e ergue as mãos para cima.
— Ok, ok.
Nós vamos para a cozinha e, por fim, eu ajudo Peter a
preparar a comida. Conversamos sobre assuntos aleatórios, leves e
sem muita relevância. É difícil passar o dia com uma pessoa e
manter assuntos mais complexos e íntimos longe, porém nos
esforçamos para manter tudo o mais impessoal possível.
Mais uma vez, nós limpamos a cozinha e assim que
terminamos, me apoio contra a geladeira e o encaro, enquanto ele
está com a bunda encostada no balcão da pia.
— Eu preciso ir em casa.
— Por quê?
Ele não parece muito animado com a ideia e sorrio.
— Não se preocupe, eu vou voltar.
Peter faz uma careta, abre a boca para protestar, eu espero
que ele proteste e me ofereça uma carona, mas de repente muda
de ideia, um sorriso sacana surge em seus lábios e ergo minhas
sobrancelhas. Ele não fala nada, apenas se afasta do balcão e vai
até a caixa que segue aqui na cozinha.
Merda, o que ele irá fazer?
Peter pega algo dentro da caixa e minha respiração se torna
irregular. O que ele vai fazer? Ele volta a me encarar, seus olhos
estão escuros e o sorriso segue em seu rosto. Caminha em minha
direção, eu desvio meus olhos para sua mão e ele tem um objeto
rosa em suas mãos, ele tem um formato curvado e é mais ou
menos do tamanho de dois dos seus dedos.
— O que você irá fazer?
Engulo em seco e ele para a alguns centímetros de mim.
— Você pode ir.
— Nunca pedi permissão.
Provoco-o e ele estreita seus olhos.
— Mas vai usar essa camiseta, vai dirigir o meu carro e vai
estar com isso aqui em sua calcinha.
Ele me mostra o objeto e o reconheço é um vibrador que é
controlado pelo celular.
— E se eu me negar?
Eu não vou negar!
— Você não vai negar. — Diminui ainda mais a distância
entre nós dois. — Erga a camiseta.
Ele soa autoritário, minha respiração falha e meu coração
acelera. Faço o que ele pede e Peter abaixa minha calcinha, não
muito, apenas o suficiente para que consiga aproximar o objeto da
minha boceta.
Passa o plástico pelas minhas dobras e um arrepio sobe pelo
meu corpo. Engulo em seco e ele ri.
— Você será uma boa menina, Meghan?
Sorrio, apesar da nuvem que quer nublar minha mente.
— Não sou uma boa menina, Peter.
Nós dois ficamos em silêncio, ele puxa a minha calcinha
para cima, posiciona o vibrador, espalma sua mão no meio das
minhas pernas e o pressiona contra minha boceta, me fazendo
arfar.
Caralho!
— Eu vou pegar a chave do carro.
Afasta-se e eu fico contra a geladeira, respirando fundo e
tentando recobrar o controle do meu corpo. Porra!
Eu desço a camiseta que tinha embolado em minha cintura,
dou um passo em frente, enrolo meu cabelo em um coque e me
viro até ficar de frente para a geladeira, pego uma garrafa de
água, busco um copo e bebo o líquido, eu estou com muita sede!
Peter retorna, eu deixo o copo na pia e ele me entrega a
chave do seu carro.
— Você lembra como chegar na garagem e na minha vaga?
— Sim, eu poderia fugir com seu carro muito caro.
Senta-se no banco de frente para a ilha, deixa seu celular
sobre o balcão e cruza seus braços.
— Ele tem rastreador, eu conseguiria encontrar você.
Por que tudo nele soa tão sexy?
— Claro que conseguiria. — Esse homem é a minha
perdição e acaba com meu raciocínio . Eu pareço uma tola perto
dele. — Estou indo.
Viro-me e sigo para a saída da cozinha, antes que consiga
ser ainda mais tola.
— Até mais, pequena, e não esqueça de colocar suas botas
e o casaco.
É claro que estava esquecendo disso. Corro até seu quarto,
coloco as botas e como deixei meu casaco em seu carro, saio do
apartamento vestindo somente sua camisa e vou para garagem.
Visto o casaco assim que entro no carro e sorrio animada ao
tocar na direção, porque é um modelo incrível. Conecto o celular
na mídia para conseguir colocar minha playlist para tocar e dirijo
para fora do prédio.
Resmungo as letras das músicas e aproveito a sensação de
estar dirigindo um carro como esse, porém, repentinamente algo
vibra em minha calcinha e massageia meu clitóris. Dou um pulo do
banco, assustada, até lembrar do maldito vibrador!
Droga!
O negócio segue vibrando e aos poucos vai me deixando
excitada, causando fisgadas abaixo do meu ventre e fazendo que a
excitação percorra meu corpo.
Deixo seu carro em frente ao meu prédio e estou saindo do
automóvel quando a intensidade aumenta, suspiro e caminho na
direção da entrada. Abro a porta e subo as escadas.
O vibrador segue me estimulando fazendo com que a
necessidade cresça em meu interior.
Entro em meu apartamento e caminho depressa até meu
quarto. Mais uma vez o filho da puta aumenta a intensidade. E se
eu tirar essa merda?
Meus seios estão pesados, não consigo mais raciocinar e
simplesmente saio jogando tudo dentro de uma mochila. Eu
pretendo ir direto para o treino na segunda, mas não quero levar
meus patins. O que eu posso fazer?
Paro no meio do quarto e preciso de apenas alguns
segundos para lembrar que eu tenho um par no armário do
vestiário da arena. Ótimo!
Mais uma vez, o negócio acelera. Fecho meus olhos, mordo
meu lábio inferior e levo minha mão até o meio das pernas, toco-
me por cima da calcinha, pressionando o vibrador contra minha
boceta.
Um gemido escapa dos meus lábios. Porra, eu preciso gozar!
Abro meus olhos e rapidamente termino de pegar minhas
coisas, em seguida deixo meu quarto, e para minha sorte não
encontro com nenhuma das minhas amigas, acho que elas nem
estão em casa, entretanto, não tenho mente para pensar sobre
isso.
Saio do meu apartamento, desço os degraus correndo, entro
em seu carro, jogo minhas coisas no banco de trás e dirijo para
longe, pisando no acelerador sem me importar com a velocidade
máxima.
Sigo recebendo estímulo em meu clitóris, e vou todo
caminho me mexendo, tentando aplacar a sensação de alguma
forma. Estou ofegante e é como se a qualquer momento fosse
explodir.
Estaciono na garagem, pego minhas coisas e saio do carro.
Sigo para o elevador e, para meu azar, não estou sozinha. Preciso
me controlar para não deixar gemidos escaparem dos meus lábios
e para que a expressão em meu rosto pareça normal.
Eu estou suando!
Além de tudo, recebo olhares estranhos por estar de botas,
camiseta e apenas um casaco por cima. Aposto que estão achando
que sou uma prostituta e, merda, eu nem me importo com isso no
momento, talvez mais tarde eu queira matar Peter.
Caralho, eu estou em chamas!
Fico sozinha dois andares antes do meu destino, apoio
minha testa contra o metal gelado e respiro fundo.
É um alívio quando enfim as portas se abrem, então saio
depressa, entro no apartamento de Peter, jogo minhas coisas no
chão e tiro meu casaco enquanto procuro por ele.
Ele não está pela sala, jogo o casaco no sofá e caminho na
direção da cozinha. Ele me encontra na porta e vou até ele com
desespero.
— Você é um idiota!
Ele não tem tempo de me responder, porque corro e pulo
em seu colo.
Qual é o escândalo que falta nessa faculdade? Um romance
proibido. Se bem que temos uma aluna e um treinador, o que
poderia ser mais escandaloso do que isso?
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

Ele me segura com as suas mãos em minha bunda,


sustenta-me em seu colo e sua boca cobre a minha. Caralho!
Fricciono minha boceta nele, tentando aplacar a dor que está me
corroendo.
Eu estou desesperada!
Sua mão sobe até minhas costas, seus lábios seguem
devorando os meus e ele caminha comigo preso a ele. Estou de
olhos fechados e não sei nem para onde ele está me levando, mas
foda-se.
Peter coloca-me sentada sobre algo e interrompe o beijo.
Abro meus olhos e o encaro irritada.
— Por que você parou?
O bastardo ri.
— Com pressa, pequena?
Toca minhas pernas, um toque sutil que, mesmo assim, faz
com que suspire. O vibrador segue me atormentado e não preciso
de muito para chegar ao meu limite.
— Eu preciso gozar.
Ele segue rindo, apoia as mãos ao lado das minhas pernas
no balcão.
— Tão impaciente.
Respiro fundo, levo minhas mãos até a barra da camiseta e
a jogo para longe. Os meus olhos seguem fixos nos olhos de Peter
enquanto desço meus dedos até o meio das minhas pernas.
— Se você não vai me fazer gozar, eu mesma vou.
Estou prestes a colocar minha calcinha para o lado e tirar o
maldito brinquedo de mim quando Peter segura meu pulso.
— Eu vou fazer isso. — Leva minha mão para o lado. —
Primeiro com minha boca e depois com o meu pau.
Um gemido escapa da minha garganta.
— Fale menos e faça mais.
Eu estou explodindo, suando, desesperada e ele aqui
falando. Caralho! Peter ri, curva-se ainda mais em minha direção,
e beija meu pescoço. Minha pele queima onde ele me toca e fecho
meus olhos.
Suas mãos encontram meu quadril e me empurra mais para
trás do balcão. Não hesito, espalmo minhas mãos ao meu lado e
me inclino até quase ter as costas sobre o mármore também.
Ele distribui beijos pela minha pele; minha clavícula, meus
seios e vai se abaixando. Encosta seus lábios em minha barriga,
tão perto de onde preciso dele e abro ainda mais minhas pernas.
Gemidos escapam da minha boca e um gritinho deixa meus
lábios quando morde minha coxa. Suas mãos puxam minha
calcinha para o lado e ele pressiona o vibrador ainda mais contra o
meu clitóris.
— Caralho, Peter.
Impulsiono-me na direção do objeto, mas como ele é um
otário, pega-o e afasta de mim.
— Sabe, eu poderia ter aumentado ainda mais a intensidade
das vibrações e ter te feito gozar, mas eu sou egoísta e queria que
gozasse comigo.
Seus dedos forçam o tecido e rasga a minha calcinha. E não
me importo nem um pouco. Ele pode rasgar todas minhas
calcinhas se quiser!
Mais um grito escapa de mim quando sua língua encosta em
meu clitóris, morde, chupa-o e seus dedos brincam com as minhas
dobras.
— Caralho.
Uma série de xingamentos deixa minha boca e ele continua
me torturando. Tensão, desejo e luxúria tomam conta de mim.
Minha boceta pulsa, meus seios pesam e me sinto a ponto de
enlouquecer se não conseguir o que eu preciso.
Rebolo contra ele, levo minha mão até sua cabeça e o
pressiono em minha direção. Sua língua me explora, seus dentes
me arranham e seus dedos me penetram, tocando nos pontos
exatos.
As sensações vibram em meu interior, tiram-me de órbita e
gozo enquanto chamo seu nome. É incrível, como se explosões
estivessem acontecendo dentro de mim, Peter segue me chupando
e demoro alguns segundos para voltar a mim.
Sinto-o se afastando, mas continuo na mesma posição.
Escuto seus passos, ele está se movimentando, respiro fundo e
abro meus olhos, encontrando Peter mexendo na caixa e o
observo atentamente.
Ele está sem camiseta, apenas de calça e posso ver sua
ereção. Nós ainda temos muito o que fazer e pensar nas
possibilidades faz com que uma nova fisgada vibre no meio das
minhas pernas.
No que eu me tornei?
— Você irá me comer aqui?
Seus olhos estão escuros e segurando algo, caminha em
minha direção.
— Esse é lugar das refeições, não é?
Apesar de o meu corpo ainda se encontrar em estado de
êxtase, ajeito-me até ter minhas costas retas e retiro minhas mãos
do balcão.
— Então vou ser a sua refeição?
É uma conversa tosca, porém, nenhum de nós dois está
sorrindo. Peter não me responde, ele vem até mim, toca meu
quadril e me puxa para a ponta do balcão. Estou exatamente da
sua altura e a posição é propícia para muita coisa.
Ele para entre minhas pernas e deixa o que pegou na caixa
ao meu lado; uma embalagem de camisinha. Sorrio e espalmo
minhas mãos em seu peito.
Meu olhar encontra o seu e qualquer palavra que poderia
surgir, some. Talvez se me perguntassem qual é o meu nome
nesse momento, eu erraria. Minha respiração falha, meu coração
acelera e quando sua mão sobe pela minha barriga, é como se
todo o meu corpo estivesse entrando em combustão.
Desço minhas mãos pelo seu abdômen, introduzo meus
dedos por dentro da sua calça e toco o seu pau. Subo e desço por
todo seu comprimento, as veias em seu pescoço saltam e é nítido
o quanto o deixo excitado.
Peter suspira e aperta seus dedos em minha pele. Ele abaixa
sua cabeça e seus lábios encontram meu pescoço. Sigo com meus
dedos ao seu redor e gemidos escapam dos seus lábios enquanto
me beija.
— Você é tão gostosa.
Seus dedos beliscam meus seios e a pressão no meio das
minhas pernas aumenta, não importa que acabei de gozar, eu
quero outra vez. Tiro minhas mãos das suas calças, empurro-o
para trás e pego a embalagem ao meu lado.
Peter entende o que eu quero, se afasta apenas o suficiente
e tira sua calça e a cueca. Ele fica nu e se toca enquanto rasgo o
pacotinho metálico. Assim que tenho a camisinha em mãos, ele
volta a se aproximar, levo meus dedos até seu pau e coloco a
proteção ao seu redor.
Ele volta a trazer suas mãos para o meu quadril e me puxa
ainda mais para a beirada, até que seja possível me penetrar
nessa posição. Peter leva seus dedos até minha boceta e me toca.
— Você já está molhada mais uma vez. — Brinca com meu
clitóris e suspiro. — Você é uma garota gulosa.
Ele me penetra com seu dedo, olho para baixo e o assisto
me masturbar. Minha respiração se torna mais irregular, a pressão
abaixo do meu ventre aumenta e a excitação toma conta do meu
corpo.
— Eu preciso que você me foda logo, Peter.
Sorri satisfeito, torna o espaço entre nós dois o mínimo
possível e guia seu pau até minha boceta. Sons deixam minha
garganta assim que ele me penetra, por conta da posição ele
atinge certos pontos que aumentam a intensidade das sensações
que ecoam pelo meu corpo.
Caralho!
Agarro seu ombro, impulsiono-me em sua direção enquanto
ele mantém um ritmo perfeito da penetração. Fecho meus olhos,
ele morde meu pescoço, aperta meus seios e continua metendo
em mim.
É como se fôssemos dois animais no cio. Ele com certeza
deixará meu corpo marcado e não me importo nem um pouco,
tudo que eu quero é gozar.
Busco meu prazer e quando enfim consigo alcançá-lo,
chamo por Peter, explosões vibram dentro de mim. Um vazio
ocupa minha mente e tudo que consigo perceber é que ele
continua no mesmo ritmo, meu nome deixa seus lábios e de
repente ele morde meu ombro.
Peter para, ele está totalmente dentro de mim, deixando-me
completamente cheia dele.
Os sons das nossas respirações ecoam pela cozinha. Eu me
seguro nele e apoio minha testa na sua. Droga, foi uma das
melhores tardes da minha vida.
Ficamos em silêncio, recobrando nossos sentidos e começo
a rir quando me dou conta que eu estava transando no meio da
tarde.
— Não sei se ter uma garota rindo após fazê-la gozar é algo
bom. — Continuo rindo e Peter deixa um beijo na lateral da minha
cabeça. — Do que você está rindo?
Ele desvencilha-se de mim, abro meus olhos e o vejo tirando
a camisinha.
— Eu achei engraçado o fato de estar transando no meio da
tarde. — Dou de ombros. — Não é algo muito comum, nem um
horário muito propício.
— Arrependida?
Pergunta provocativo.
— Nem um pouco, Eros. — Ergue suas sobrancelhas, ele
não entendeu a referência. — Eros é o deus do sexo.
Ele ri.
— Gostei.
Amarra a camisinha e a joga no lixo.
— É um pouco nojento jogar uma camisinha no lixo da
cozinha.
Pega sua cueca no chão.
— Nós transamos na cozinha.
Veste-a, eu continuo nua e sentada sobre o balcão.
— Parando para pensar, isso também é um pouco nojento.
Volta a se aproximar e espalma as mãos ao meu lado.
— Eu não achei nada nojento. — Soa debochado, inclina-se
e deixa um beijo no meu ombro. — Adoro as suas botas.
Sorrio, viro meu rosto e meu nariz encosta no seu.
— Percebi.
Ele ri e se afasta. Tira minhas botas e me encara com um
brilho travesso em seus olhos.
— Banho?
— Banho, por favor, eu só preciso pegar minhas coisas na
sala.
— Tão desesperada que deixou as coisas jogadas pelo
chão.
Bato levemente em seu ombro.
— Eu estava realmente desesperada.
Peter dá um passo para trás e cruza seus braços sobre seu
peito.
— Você já tinha ficado tão excitada?
Não respondo imediatamente, porque não quero dar essa
moral toda a ele. Desço meu olhar pelo seu corpo, analisando-o
minuciosamente. Coxas torneadas, abdômen definido e só de
cueca.
Será que um dia encontrarei alguém mais gostoso? Talvez
não, e é por isso que vou aproveitar esse fim de semana o máximo
que eu puder.
Volto a olhar para seu rosto.
— Não. — Sorri convencido e aponto meu dedo em sua
direção antes que alguma gracinha deixe sua boca. — A culpa é do
vibrador.
— Do vibrador?
Soa incrédulo e assinto.
— Qualquer um poderia ter me deixado daquele jeito. —
Dou de ombros e acabo com seu ego. — Era só controlar a
intensidade.
Balança a cabeça e me olha como se tivesse cometido um
crime.
— Existe toda uma ciência por trás daquilo.
Assim que a última palavra sai de sua boca, uma gargalhada
deixa meus lábios. Ciência? Para comandar um vibrador? Hilário.
— Você não deveria rir de mim.
Tento parar de rir e não consigo, sendo surpreendida por
Peter, que de repente se aproxima e me toma em seus braços. Ele
me carrega como se fosse um bebê. Balanço minhas pernas e paro
de rir para poder gritar como uma criança para ele me colocar no
chão. Peter segue comigo em seus braços e me carrega para o
banheiro.
Nós dois tomamos banho juntos, provocando um ao outro e
rindo. Peter termina o banho antes e vai pegar minhas coisas, ele
traz minha mochila e assim que deixo o chuveiro, posso vestir
minhas roupas.
Eu reclamo de fome assim que estou vestindo uma legging e
um moletom, e tenho meu celular em mãos, Peter ri e me guia até
a cozinha, ele prepara nosso lanche e enquanto comemos,
conversamos sobre arte. O homem não sabe nada do assunto e é
engraçado.
Peter limpa o que sujamos e eu pego meu celular, não
respondo mensagens desde ontem e há algumas das minhas
amigas, aviso que não estou em casa e que passarei o fim de
semana com uma pessoa. Há mensagem dos meus pais, mas os
ignoro, não é o momento para pensar ou conversar com eles.
Deixo o aparelho de lado quando Peter me chama e me concentro
nele.
É legal estar em sua companhia, pois é um cara divertido e
é natural conversar com ele, os assuntos surgem e nos
entendemos, é como se nos conhecêssemos há um certo tempo.
Não parece que foi ontem que esbarramos um com o outro.
É início da noite quando vamos para a sala, Peter se joga no
sofá e eu fico em pé, me movimentando pelo cômodo e
bisbilhotando. Olho para as estantes, os objetos de decoração,
cores dos móveis e almofadas e me dou conta que o lugar não
tem personalidade.
— Essa casa é muito sem graça. — Estou de frente para a
estante e escuto o som da sua risada, então me viro e o encaro. —
Foi você que decorou?
Ele balança a cabeça negando, morde seu lábio inferior e
para de rir.
— Não, eu nem mexi na parte de decoração desse
apartamento, faz apenas uma semana que cheguei aqui e uns
nove dias que o comprei.
Ergo minhas sobrancelhas. Ele me disse que está apenas a
negócios na cidade, por que alguém que está de passagem
compra um apartamento?
— Por que você comprou um apartamento se irá ficar
apenas alguns dias na cidade?
— Achei que seria um bom investimento.
Ele ainda não me convenceu, no fundo acho que ele tem
dinheiro sobrando e sai gastando à toa por aí.
— Você realmente é muito rico.
Peter apoia os cotovelos em suas pernas e estreita seus
olhos em minha direção.
— E você também, eu sei que suas botas, por exemplo,
custam uma pequena fortuna.
Ele está certo e o encaro com uma expressão de gatos de
botas.
— Sequer pode se oferecer para ser meu sugar daddy,
porque não preciso de dinheiro.
Uma gargalhada deixa seus lábios. Eu vou até ele e me
sento ao seu lado. Ele está assistindo um jogo de hóquei.
— Isso é muito ruim.
Ele para de rir e me encara com a testa franzida.
— Você não gosta de hóquei?
Peter parece bem ofendido comigo.
— Não, é o pior esporte de todos.
Balança a cabeça, indignado com a minha resposta.
— Hóquei é o melhor dos melhores.
Sigo desdenhando do esporte e ele o defende.
— Eu joguei hóquei na faculdade.
Confessa e uma imagem de Peter jogando hóquei ecoa em
minha mente. Posso não gostar do esporte, mas alguns dos
jogadores são lindos e sexys e Peter com certeza ficava sexy
jogando.
— Você deve ter sido tão cafajeste na faculdade.
Se sua beleza era a mesma de agora, ele deveria fazer
muito sucesso entre as garotas.
— No início, sim, mas conheci uma garota no segundo ano,
nós namoramos e ela engravidou quando eu estava no terceiro
ano.
Faço as contas e seu filho deve ter a minha idade.
— Você tem um filho?
— Uma filha.
Ele tem uma filha que deve ter quase a minha idade, isso é
um pouco estranho.
— E vocês terminaram?
Deveria me manter longe da sua vida pessoal, mas a
curiosidade é mais forte do que eu.
— Nós nos casamos, mas nos separamos há treze anos.
Assinto.
— Voltando ao assunto, hóquei é horrível.
Mudo o tema da conversa e voltamos a nos provocar. Por
fim, Peter até tenta me explicar as regras do esporte e me
convencer que é um jogo maravilhoso, mas falha. Eu não consigo
entender nada do que ele está falando.
Ele desiste, eu me apoio em seu peito, ficamos em silêncio e
Peter assiste ao jogo. Meus olhos pesam, tento resistir, mas não
consigo e adormeço.
Desperto com alguém tocando as minhas bochechas. Não
abro meus olhos e apenas aproveito o carinho. Peter está
afastando algumas mechas de cabelo do meu rosto, seu toque é
gentil e faz com que me aconchegue ainda mais contra ele.
Ao abrir meus olhos, me deparo com Peter me encarando.
— Hey, bela adormecida.
Ele para com o carinho e deixa suas mãos em minhas
costas.
— Eu dormi por muito tempo?
— Quase duas horas.
Bocejo.
— Nossa, foi tempo demais. — Ele apenas ri e me
desvencilho dele. — E eu fiquei o tempo inteiro em cima de você?
Assente.
— Eu fui o seu travesseiro.
Ele não parece nem um pouco incomodado, mas não tem
como a posição ter sido agradável.
— Sinto muito, eu não deveria ter dormido tanto.
Mantenho-me de lado e o encarando. Peter tem as costas e
lateral do rosto apoiados contra o sofá.
— Não tem importância, eu gostei de segurar você.
Suspiro, porque ele não deveria ser fofo e ele ri.
— Não ria, eu até agora não encontrei nenhum defeito em
você.
Aproxima sua mão da minha perna e aperta meu joelho.
— Estou me esforçando para manter meus defeitos
trancafiados. — Pisca para mim. — Afinal, é apenas um fim de
semana, tenho que dar o meu melhor.
Ergo minha mão e com a ponta do meu dedo traço círculos
invisíveis em seu peito.
— Muito esperto da sua parte.
— E para constar, eu também não encontrei nenhum defeito
em você.
Interrompo meus círculos para bater em seu peito ao
perceber que só está me provocando. Ele se defende e diz que é
verdade, mas não acredito e me levanto.
— Pare de querer me bajular com palavras. — Estendo
minha mão. — Você pode me bajular com comida.
Entrelaça seus dedos nos meus e vamos para a cozinha. Ele
prepara o nosso jantar e o tópico da nossa conversa é exercícios
físicos, além de academia, Peter luta e gosta de correr, e como
amo correr, é o nosso assunto por um tempo.
Não falo sobre a patinação, uma parte de mim tem medo de
que ele descubra minha idade se falar do esporte, então não o
menciono.
Jantamos, arrumamos a cozinha e estou guardando a louça
enquanto Peter está sentado no banco quando me chama, viro-me
para ele e ergo minhas sobrancelhas.
— Você bebe vinho?
— Sim, não costumo beber muito, mas gosto.
Deixo o pano de prato no balcão, ele pula do banco, pega
duas taças e o vinho, e vamos para a sala. Peter acende a lareira e
nos sentamos no tapete. Ele enche as taças, deixa a garrafa ao
lado e me entrega uma.
Por comando de voz, ele pede que uma música comece a
tocar e a voz de Ed Sheeran preenche o ambiente. Peter também
por comando diminui a intensidade das luzes.
O ambiente é propício para muitas coisas, nós bebemos,
rimos, conversamos e mesmo assim é como se existisse algo que
me puxasse em sua direção.
Nós tomamos toda a garrafa, Peter e eu nos encaramos e
rimos, mas aos poucos nossos sorrisos se desfazem e a força que
me puxa em sua direção aumenta, tornando insuportável me
manter distante, então deixo a taça ao meu lado e subo em seu
colo. Enrolo meus dedos nos fios do seu cabelo e minha boca
cobre a sua.
Esse fim de semana foi longo e calmo, nenhum escândalo,
não por enquanto. Nossas únicas informações são o jogador de
hóquei e sua nova namorada na casa dos seus avós e um certo casal
misterioso trancado em um apartamento.
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

O gosto da bebida explode em minha boca, e apesar da


tensão do meu corpo, do desespero que ocupa cada parte minha,
é um beijo calmo. Não temos pressa!
E é diferente de todos os outros beijos que já
compartilhamos, mas tão incrível quanto os anteriores. Peter toca
minha cintura e seu toque é gentil, não há afobação. É como se
estivéssemos conhecendo um ao outro.
Apoio minha testa na sua quando nos falta fôlego, há um
brilho em seus olhos e ele me fita, como se estivesse
memorizando meus traços, cada detalhe meu e o encaro da
mesma forma.
Quero lembrar de Peter, dos nossos momentos juntos,
mesmo depois que deixar seu apartamento, ele fará parte das
minhas boas lembranças.
A música continua ecoando pela sala, suas mãos sobem
pelas minhas costas e ele segue sendo delicado. A cada toque é
como se recebesse uma dose de excitação, tudo continua sendo
uma tortura e Peter mexe comigo, faz com que queime por ele.
As sensações crescem gradualmente, minha respiração falha
e meu coração acelera enquanto sinto as fisgadas em meu clítóris.
— Peter.
Resmungo, ele sobe sua mão até meu pescoço e seus dedos
tocam minha nuca.
— O que você precisa, pequena?
É um simples toque, mas tão erótico. Respiro fundo e
engulo em seco.
— Eu preciso de você.
Não ligo e imploro. Se fosse outro homem, eu não
imploraria, mas é Peter e ele sabe como me fazer perder o
raciocínio. Ele desperta cada célula minha, cada músculo, cada
parte, fazendo com que tudo se torne sobre nós dois, sobre eu tê-
lo, sobre prazer.
Enrola os dedos ao redor dos fios do meu cabelo, puxa
minha cabeça para trás, fixa seus olhos nos meus e me encara
com uma intensidade absurda.
O ar ao nosso redor se torna ainda mais denso. É como se
estivesse suspenso, como se o tempo parasse e só existisse nós
dois.
Aproxima seu rosto do meu, ansiedade ecoa em meu peito e
faz com que um frio se instale em minha barriga, de repente
parece que nunca beijei ninguém, o sentimento é o mesmo de
quando perdi minha virgindade.
Como ele é capaz de fazer isso?
Ele finalmente volta a me beijar e seguimos nesse ritmo
mais calmo, sua língua explora minha boca, eu faço a mesma coisa
com a sua. Minhas mãos sobem e descem pelo seu peito, sinto
seus músculos mesmo através do tecido da sua camiseta.
O desejo cresce e ecoa pelo meu corpo, fricciono-me contra
ele e o encontro duro, ele está tão excitado quanto eu. Estamos
na mesma sintonia.
Sua boca afasta-se da minha e seus beijos descem pelo meu
pescoço. Peter dobra seus joelhos, eu me inclino para trás e
facilito seu acesso à minha pele. Ele mantém o ritmo calmo e a
forma como me deixa transtornada é diferente.
Começa devagar e se transforma em um vulcão. Como se
ele estivesse aos poucos alimentando as faíscas e me fazendo
queimar. Eu fecho meus olhos e um suspiro escapa entre meus
lábios.
Suas mãos tocam a minha blusa, ergue-a levemente e seus
dedos encontram minha barriga, arrasta-os para cima e resulta em
uma fisgada diretamente em meu clitóris.
Porra!
Esbarra em meus seios, volto a abrir meus olhos e ele está
com o olhar fixo em mim. Ele faz com que eu me sinta a mulher
mais bonita do mundo.
— Eu amo seus seios. — Fecha suas mãos ao redor de
ambos e ofego. — E amo o quanto eles cabem perfeitamente nas
minhas mãos.
Mesmo de sutiã, posso sentir o calor que emana da sua pele
e quero mais contato, preciso de mais e por isso seguro a barra da
minha blusa e a puxo para cima, Peter entende o que eu quero e
afasta suas mãos do meu corpo conforme ergo o tecido, tiro-a e a
jogo para longe.
Peter não perde tempo, seus dedos percorrem minhas
costas, pairam sobre o fecho do meu sutiã, abre-o, puxa a peça de
mim e o descarta sobre o sofá.
Foca seus olhos em meus seios, curva-se e meu inclino para
trás até estar apoiada em suas pernas. Sua boca encontra meu
mamilo e o chupa, fazendo com que uma nova onda de excitação
percorra meu corpo.
Apoio uma das minhas mãos em seu ombro e a outra deixo
sobre seu cabelo, enquanto o pressiono em minha direção. Ele me
morde, chupa, aperta e belisca meus mamilos. Ele está me
deixando alucinada, fricciono-me contra ele, buscando amenizar a
dor que lateja do meio das minhas pernas.
A cada segundo me encontro mais à beira de obter o que eu
quero. Volto a fechar meus olhos e palavrões deixam minha boca.
Não presto atenção em mais nada e também não consigo pensar.
Estou completamente tensa, dolorida e excitada.
Contraio meus músculos quando sinto o orgasmo se
aproximando, quase posso suspirar de alívio, mas de repente não
tenho mais sua boca em mim, ele afasta suas mãos e no mesmo
instante abro meus olhos.
— Estamos muito vestidos, pequena.
Seu olhar é escuro e está em chamas como o meu. Peter se
levanta comigo em seu colo e me coloca no chão. Assim que tenho
os pés no tapete e ele à minha frente, levo minhas mãos até a
barra da sua camiseta e a puxo para cima.
Ela se junta à minha e não perco tempo, fico de joelho e
trago sua calça e cueca para baixo. Sua ereção está à minha
disposição, diante do meu rosto, passo a língua pelos meus lábios,
ergo meu braço e o toco com meus dedos.
Fecho minha mão ao seu redor e o masturbo enquanto olho
para cima e assisto as expressões em seu rosto. Peter tem seu
corpo tenso, as veias saltadas, tão macho alfa que faz minha boca
salivar, então acabo com a distância entre nós e tomo-o
completamente em minha boca.
Levo-o até o fundo da minha garganta, sentindo seu gosto
explodir na minha boca, minhas mãos seguem me auxiliando e
Peter puxa meus cabelos, faço-o gemer e quase perder o
controle.
Porém ele não perde, não totalmente, e quando se torna
demais para ele, puxa os fios do meu cabelo e minha cabeça para
trás. Encaro seu rosto e ele está transtornado.
— Quando eu gozar, será dentro de você, pequena.
Ele usar o termo pequena é carinhoso, o que deixa tudo
ainda mais erótico. Eu fico em pé, Peter se aproxima e tira o
restante das peças de roupa do meu corpo, então sua boca cobre
a minha e ele me guia para a cama.
Seus lábios reivindicam os meus, ele me faz esquecer de
tudo e me concentrar apenas no aqui, em nós dois.
Meu tornozelo bate na cama, então me deito com a ajuda
de Peter, sua boca segue na minha, seu beijo continua arrancando
meu ar e me deixando desesperada.
Ele está sobre mim, dobro minhas pernas, ele se posiciona
entre elas, com uma das suas mãos sustenta seu peso e a outra
passeia pelo meu corpo. Minhas pernas, minha barriga, meus seios
e por fim, minha boceta. Brinca com meu clitóris enquanto afasta
seus lábios dos meus e distribui beijos pelo meu pescoço.
Aquele desespero volta a me perturbar e se torna mais
caótico a cada segundo, a cada beijo e mordida, e gemidos
escapam da minha garganta quando me penetra com seus dedos.
Meu corpo continua tenso, mas dessa vez é ainda pior,
porque só consigo me concentrar em meu clitóris latejando. Eu
tenho pressa! Foda-se o ritmo lento. Não quero mais ir devagar.
— Caralho, Peter.
Ele me leva ao limite, meu corpo está pronto, eu estou
pronta, mas ele para, abro meus olhos e protesto, o idiota ri e sem
me avisar troca nossas posições. Peter me deixa por cima e apoia
suas costas contra o colchão.
— Quero você por cima, pequena.
Espalmo minhas mãos em seu peito e minhas pernas estão
dobradas nas laterais do seu corpo. Seus olhos denunciam que ele
está tomado pelo desejo. Seguro seu pau e ele suspira.
Aproximo minha boceta dele e passo a glande pelo meu
clitóris, fazendo nós dois gemermos. Porra!
Com meus olhos fixos nos seus, sento-me nele, que me
preenche, fazendo-me senti-lo todo dentro de mim.
— Caralho, Meghan.
Segura meu quadril e rebolo contra ele. Merda, eu preciso
gozar outra vez! A tensão é demais, fecho meus olhos e deixo que
meu desejo me guie. Cavalgo Peter enquanto ele traz seus dedos
até minha bunda, ele brinca com uma parte do meu corpo
intocada até então, é um pouco diferente, causa um pouquinho de
desconforto, mas não demora para a dor resultar em prazer.
Ele está me preenchendo completamente. Eu me sinto tão
cheia com seu dedo em minha bunda. Meus gemidos se tornam
cada vez mais altos e desesperados.
Aumento o ritmo, em busca do meu prazer e tenho a
sensação de que acontece uma explosão dentro de mim quando
sou atingida por um orgasmo.
Minha mente fica vazia, meu corpo relaxado e Peter atinge
seu orgasmo também. Eu me jogo sobre seu peito, ele passa seus
braços ao meu redor e me abraça.
Caralho, eu estou muito cansada!
Eu simplesmente fecho meus olhos e adormeço.

Abro meus olhos ao acordar e ele está me observando, nós


dois sorrimos, um sorriso cúmplice e ele beija a minha testa. Eu
me sinto tão confortável e segura, não há nada de estranho em
estar nos braços de Peter.
Eu vou me ajeitar para ficar ainda mais confortável e faço
uma careta ao sentir uma ardência no meio das minhas pernas.
Droga, ele acabou comigo!
— Você está um pouco dolorida, não é?
Sorri presunçoso e reviro meus olhos.
— Para eu aguentar tudo que fizemos ontem sem sentir dor,
só se fosse uma boneca inflável.
Ele segue sorrindo.
— Eu estou ótimo.
Eu sei exatamente como debochar dele e sorrio animada.
— Você tomou alguma coisa, não é? — Ergue suas
sobrancelhas e preciso morder meu lábio inferior por alguns
segundos para não gargalhar. — Aquele comprimido azul...
Não termino a minha frase, porque uma ardência pinica
minha perna, porque ele desfere um tapa em minha coxa; um
tapa forte.
— O que você pensa que está fazendo?
— Você é uma garota má e merece ser castigada.
Eu protesto, tento me libertar, mas não consigo, ele me
mantém presa ao seu corpo. Nós nos mantemos nesse joguinho
por um tempo e quando cansamos, Peter me leva para o banheiro.
Dessa vez, vamos para a banheira. Ele é gentil e me trata
como se estivesse prestes a quebrar, mas eu não me importo,
aliás, amo ser cuidada como uma princesa.
Não há mais nenhum vestígio de vergonha entre nós dois, é
como se nos conhecêssemos há muito tempo.
Saímos do banho, vestimos nossas roupas e vamos para a
cozinha. Peter prepara nosso café, ficamos conversando e
comendo e vamos para a sala depois de limpar o que sujamos.
Peter me desafia no xadrez e aceito o desafio. O homem é
ótimo e perco em todas as vezes, assim que cansamos do jogo,
ele vai me mostrar o restante do apartamento. Seu escritório é
incrível e tenho ótimas ideias para ele, pena que não posso
executar no momento, porque sigo dolorida. Peter percebe que
estou tendo pensamentos impuros e me provoca.
Eu amo quando ele me provoca!
— Você deveria deixar esse lugar menos impessoal.
Comento ao sairmos do escritório.
— Eu não tenho muita paciência para isso.
Abro minha boca para me oferecer para decorar seu
apartamento, mas me contenho, afinal, só iremos nos ver esse fim
de semana. Voltamos para sala e escolhemos um filme, é a vez de
Peter e é claro que escolhe um clássico. Reclamo o filme inteiro e
ele me chama de chata.
Peter opta por não cozinhar e pede o almoço, a comida é
ótima e ficamos boa parte da tarde na sala, até que ele me leva
para a jacuzzi no andar de cima, mesmo com o frio, tiramos
nossas roupas e entramos na hidromassagem.
A dor amenizou e, mais uma vez, Peter me tem.
Deus, eu nunca vou me cansar desse homem!
Continuamos compartilhando momentos que jamais
esquecerei. Depois da jacuzzi, descemos, trocamos de roupa,
comemos e voltamos para o segundo andar. Ficamos assistindo ao
pôr do sol, conversando, rindo de coisas bestas e o tempo passa
depressa, bem mais rápido do que eu gostaria, porque significa
que estamos chegando perto da nossa despedida.
Peter faz um churrasco na cozinha Gourmet, bebemos vinho
e no fim da noite, nos deitamos em uma espreguiçadeira e
admiramos o céu. Ficamos em silêncio e ele me mantém em seus
braços.
Uma estrela cadente cruza o céu, fecho meus olhos e desejo
vê-lo outra vez. O pedido ecoa em minha mente e quando volto a
abrir meus olhos, minha boca procura a sua.
Tudo que é bom dura pouco… Vocês concordam?
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

Peter corresponde ao meu beijo e não demora para que a


luxúria tome conta de nós dois, é ela quem nos comanda, não há
razão e nem coração. Nossas mãos percorrem o corpo um do
outro sem restrições e hesitações, é como se nos conhecêssemos
perfeitamente. Ele sabe exatamente onde me tocar e eu sei onde
tocá-lo.
Ele fica em pé, enrolo minhas pernas ao redor da sua
cintura e Peter nos leva para o seu quarto. Agora, ele tira minha
roupa com calma e eu faço o mesmo com ele. É a última vez.
Procuro memorizar cada parte sua, cada detalhe.
Peter me venda e realmente estava certo, meus outros
sentidos ficam mais intensos. Ele usa alguns dos brinquedos
comigo e esquecemos de tudo, nos concentrando apenas em
nosso prazer. Tudo o que importa somos nós dois.
Ele me leva ao limite, nossos gemidos ecoam pelo quarto
enquanto reivindicamos um ao outro e Peter me marca como se
realmente fosse um deus do sexo.
Transamos mais de uma vez na noite, aproveitamos o
máximo do tempo que ainda temos juntos e só vamos dormir
quando estamos esgotados. Durmo sobre seu peito com uma
sensação de satisfação vibrando em mim.
Eu acordo com meu despertador e preciso me desvencilhar
de Peter para desligá-lo. O celular está sobre a cômoda, vou até
ele, encerro o alarme e ao me virar de volta para a cama, me
deparo com ele me encarando.
— Bom dia, pequena.
Cruza seus braços atrás da sua cabeça.
— Bom dia. — Seu olhar desce pelo meu corpo, ele gosta de
me ver nua e eu não tenho vergonha. — Eu preciso tomar um
banho.
Aponto para a porta ao lado. Foda-se que estou dolorida, eu
só quero um pouco mais dele.
— Isso é um convite?
Sorrio maliciosa.
— É claro que é um convite.
Peter não hesita e pula da cama, eu me viro e corro para o
banheiro, ele me segue e é claro que nosso banho demora bem
mais do que deveria.
Um sentimento de perda e saudade começa a se instalar em
meu peito assim que deixamos o chuveiro. Nós nos enrolamos nas
toalhas e ficamos um ao lado do outro em frente a pia, não
conversamos e é um pouco deprimente.
Peter termina de escovar seus dentes, vira-se, ficando de
lado e se aproxima.
— Eu vou preparar nosso café, sinta-se à vontade.
Beija a lateral do meu rosto e se afasta. Ele sai do banheiro
e eu fico sozinha, arrumo meu cabelo com o secador que trouxe
de casa, em seguida vou para o quarto e visto a roupa que irei
usar para treinar, coloco meus tênis e suspiro. Eu preciso organizar
minhas coisas.
É com uma pressão em meu peito e um sentimento triste de
perda que arrumo minha mochila e marco um horário com um
motorista para vir me buscar. Procuro por tudo que é meu, jogo na
mochila e a coloco sobre meu ombro assim que tudo está no
lugar.
Vou para a cozinha e Peter está com o café pronto, eu deixo
minha mochila no chão e me sento à sua frente para dividirmos
nossa última refeição juntos. Nós tentamos agir como das outras
vezes, rimos e conversamos, porém, não é da mesma forma, nós
sentimos que algo está estranho.
Demoro mais para comer do que demoraria normalmente,
adio o máximo que posso, mas não posso me atrasar demais.
— Está se aproximando do horário que marquei com o
motorista de aplicativo.
Peter enruga sua testa e resmunga sobre eu ter chamado
alguém para me buscar, eu implico com ele, porque está
parecendo uma criança chorona e bebo meu último gole de café.
— Eu preciso ir.
Peter assente e nós dois deixamos os bancos em que
estamos sentados.
— Eu te acompanho até a porta.
Pego minha mochila e, em silêncio, deixamos a cozinha,
caminhando um ao lado do outro. Ele abre a porta, apoia-se nela e
deixa um espaço para que eu possa passar. Eu me posiciono à sua
frente, Peter ergue sua mão e toca a lateral do meu rosto.
Um dos pontos positivos de nunca dormir com quem você
faz sexo é que não há constrangimento e não tem despedida.
— Um último beijo, pequena?
— Um último beijo.
Repito suas palavras, então Peter inclina seu rosto e seus
lábios se aproximam dos meus. Ele cobre minha boca em um beijo
calmo, sutil, gentil... Um beijo que nunca dei antes, porque é um
beijo de despedida.
O beijo chega ao fim, toca meu lábio com a ponta do seu
dedo e nos encaramos.
— Obrigado pelo fim de semana.
Assinto.
— Foi realmente incrível. — Ele sorri e dá um passo para
trás. Sinto um aperto em meu peito e respiro fundo. — Eu preciso
ir.
— Adeus, pequena.
Engulo em seco.
— Adeus, Peter.
Olho para ele uma última vez, viro-me ficando de costas e
sigo em frente. Sinto seu olhar sobre mim, aperto o botão para
solicitar o elevador e enquanto o espero, olho para trás, Peter e eu
nos encaramos e assim que as portas são abertas, aceno em sua
direção, ele acena de volta, então entro e ele continua me
encarando enquanto as portas se fecham, é a última vez que estou
olhando para ele, espero que minhas lembranças façam jus à sua
beleza.
As portas se fecham e suspiro. Droga, por que nunca me
avisaram que fazer isso é difícil?
Cenas do nosso fim de semana ecoam em minha mente
conforme o elevador desce. E quando chego ao térreo, ainda estou
pensando em Peter, acho que ele irá ocupar minha cabeça por
alguns dias.
Ao sair do seu prédio, encontro o motorista me esperando,
eu entro no carro, troco algumas palavras com o senhor que ocupa
a direção, confirmo o endereço e ele dirige até a arena do
campus.
Eu me despeço do senhor e como paguei a corrida pelo
aplicativo, deixo o carro. Sigo para a entrada da arena e vou direto
para o vestiário buscar os patins que tenho no armário. Não é o
meu par preferido e está um pouco velhinho, o coitadinho, mas irá
servir.
Pego a bolsa com patins, deixo o vestiário e me aproximo da
pista de patinação. Luke e Penny já estão aqui, eles riem de algo e
ele tem a mão sobre a cintura da minha amiga.
— Sinto muito interromper o casal.
Grito e os dois se distanciam no mesmo instante. Sorrio e
me sento no banco que fica de frente para a pista, troco meus
tênis pelos patins, coloco a proteção nas lâminas e volto a ficar em
pé.
Caminho até o gelo, tiro as proteções e deslizo até o centro
da pista onde estão Penny e Luke. Eles se afastaram alguns
centímetros, pois tentam se manter o mais distante possível
quando não estão sozinhos, mas qualquer um percebe na forma
como se encaram que existe algo entre eles.
— Bom dia, Meghan.
Luke me chama pelo nome e reviro meus olhos.
— Bom dia, Luke, e me chame de Meg. — Faz alguns meses
que ele está com a gente e mesmo assim não consegue nos
chamar pelos apelidos. — Você está namorando uma aluna e
mesmo assim não consegue usar um simples apelido.
Provoco-o e ele fica vermelho. Margot, a outra patinadora da
equipe com quem não temos tanta intimidade entra na pista e
paramos com as brincadeiras e provocações. Ela se aproxima, nós
a cumprimentamos e Luke faz um sinal em nossa direção.
— Ok, vocês podem iniciar o aquecimento. — Aponta para a
periferia da pista. — Correndo pela pista, três voltas.
Ele assume a postura treinador cretino. Luke pode não ser
muito bom em socializar, porém, é ótimo em ser um treinador sem
piedade. Ele tira o melhor de nós e isso significa tornar nossos
treinos um verdadeiro horror.
Penny e eu corremos uma ao lado da outra e sei que ela
está louca para me fazer perguntas, mas não faz porque Margot
está com a gente, contudo, assim que estivermos sozinhas vou ser
bombardeada.
Liv é a última a chegar, ela tem um sorriso diferente no
rosto. Algo aconteceu enquanto estava fingindo ser a namorada do
jogador de hóquei para sua família. Nossa amiga junta-se a nós
três e é uma droga não podermos fazer perguntas sobre seu fim
de semana, nós nos mantemos em assuntos mais cordiais.
Assim que terminamos as voltas em torno da pista, Luke
passa mais alguns exercícios de aquecimento e após os
executarmos, inicia o treinamento dos movimentos em si.
Ele passa diferentes treinos para cada uma de nós. Penny,
Margot, Liv e eu ficamos com todas as vagas do regional, e
precisamos estar prontas para o campeonato de seccional, Luke
acredita que podemos nos classificar para o nacional e está
exigindo nosso melhor, isso significa treinos pesados e rigorosos,
algumas vezes eu saio da arena querendo matá-lo, e sinto que
hoje será um desses dias.
Luke me obriga a fazer e refazer inúmeras vezes o Giro de
Biellmann, sempre foi algo que tive dificuldade e evitava, agora
meu treinador tem como objetivo me fazer executá-lo
perfeitamente.
É um transtorno e frustrante cada vez que ele me corrige e
me desafia a melhorar. Está quase perfeito, mas quase não é
perfeito. Isso me irrita.
Estou exausta e ao encarar minhas colegas, me dou conta
que estão tão cansadas quanto eu. Nossos antigos treinadores não
eram tão exigentes, eles também nunca levaram alguém ao
nacional. Sei que Luke tem objetivos e capacidades para nos fazer
ir além, ser o treinador que precisamos.
Finalmente o treino chega ao fim e Liv tem um leve
desentendimento com Luke, pois ela não acredita na sua
capacidade. Penny fica na pista conversando com Luke e eu
acompanho Liv para o vestiário, é nítido que ela está chateada.
— Liv, você está bem?
Pergunto e toco seu braço, minha amiga parece longe e um
pouco perdida.
— Sim, eu só estou preocupada, a competição está se
aproximando e não sei se estarei preparada.
Sorrio, enquanto ela segue parecendo preocupada.
— É claro que estará, você é incrível.
Liv sorri, mas não é um sorriso que atinge seus olhos, não é
real.
— Mas ainda não consigo executar o Flip Jump quádruplo.
Sei que Liv está preocupada com isso, é um movimento
difícil que aumentaria a nota da sua apresentação, mas ela não
precisa disso. Minha amiga é incrível.
— Mesmo se tirar essa parte da sua apresentação, você terá
chances, Liv.
— Espero que você e Penny se classifiquem, se não passar,
pelo menos irei torcer por vocês.
Sorrio e tento aliviar o clima.
— Penny com certeza irá se classificar.
— E você ficará chateada se não se classificar, Meg?
Penso um pouco sobre sua pergunta. Eu amo a patinação e
é claro que quero me classificar, mas ao pensar em meu futuro,
não me vejo sendo uma patinadora, não profissionalmente.
— Um pouco, mas não muito. — Enrugo minha testa,
porque é difícil de explicar. — Eu amo a patinação, porém, não é o
que eu quero fazer para sempre, é apenas minha paixão
passageira, não o amor da minha vida.
É a melhor forma que consigo resumir os meus
pensamentos. Nós seguimos para o vestiário em silêncio, eu tomo
meu banho e ao sair do chuveiro, Liv já não está mais aqui.
Eu encontro Penny, peço uma carona e ela assente, Margot
também pede uma carona, o que adia ainda mais as perguntas de
Penny. Minha amiga não está mais com seu carro problemático,
está usando um dos carros de Luke.
Após deixar Margot, Penny busca Maddy na casa de Luke e
nós três vamos para nosso apartamento. Penny e eu conversamos
sobre Liv, porque Luke está preocupado com ela, nós duas
também. Nossa amiga é incrível e precisa acreditar mais em si
mesma.
Ao chegarmos, nos deparamos com Ava cozinhando, então
eu vou ajudá-la enquanto Penny cuida de Maddy. Minhas amigas
contam sobre o fim de semana delas com seus respectivos
namorados e elas não tem tempo de me interrogar, porque Liv se
junta a nós três.
Ela sorri animada ao nos ver e Ava entrega uma faca e um
tomate para ela nos ajudar. Liv se aproxima e me lembro que ela
ficou o fim de semana inteiro com Aaron, seu namorado de
mentirinha, e sua família, então faço perguntas e Ava e Penny
também, nós estamos muito curiosas.
Liv nos conta como foi seu fim de semana e vamos a
loucura quando confessa que ela e Aaron transaram, apesar de ter
tornado a mentira um pouco mais real, Liv afirma que eles não
têm nada, foi apenas sexo, nenhuma de nós três acredita em
nossa amiga.
Ela nos chama de malucas quando afirmamos que ela está
diferente e de repente, encara-me com um olhar irônico.
— E você pode se vangloriar por ter vencido a aposta.
Faço uma careta.
— Que aposta?
Ava pergunta e Liv a responde.
— Meg e eu apostamos quem ficava mais tempo sem sexo e
eu perdi.
— Você não perdeu.
Confesso e Liv volta a me encarar, ela está surpresa.
— Não perdi?
Assinto.
— Eu fiquei com alguém na sexta.
Droga, eu perdi por um dia, se Liv e Aaron tivessem
transado na sexta nenhuma de nós duas teria ganhado e nem
perdido. Liv sorri vitoriosa e suspiro.
— Eu venci!
Comemora.
— Pera aí, você ficou o final de semana inteiro sumida.
Penny grita, e Ava e Liv me encaram como se eu tivesse
feito algo de outro mundo. Tudo bem que eu não durmo com
quem transei, entretanto, não é algo tão anormal assim.
— O conheci na sexta e ficamos o final de semana inteiro
em seu apartamento.
Eu lembro do que fizemos e me sinto uma devassa, e não
me arrependo.
— Você nunca ficou tanto tempo com um cara.
Liv soa em choque. Elas estão sendo tão exageradas.
— Ele foi uma exceção. — Dou de ombros, porque não é
nada de mais. — Talvez por ele ser mais velho e experiente, eu
tinha coisas para aprender.
Sorrio maliciosa e Ava me encara com deboche.
— Temos mais uma maria-cupim entre nós. — Não entendo
o termo usado por Ava e ergo minhas sobrancelhas. — Gosta de
madeira velha.
Explica enquanto faz um gesto sugestivo com as mãos. Eu
não consigo me conter ao entender e minha gargalhada ecoa pela
cozinha. Penny tenta se defender, porque claramente Ava está
falando dela que namora nosso treinador.
— Hey, Luke é só nove anos mais velho que eu.
Ava e Liv trocam um olhar repleto de deboche.
— Só nove anos.
Liv é sarcástica.
— Não é muito tempo.
Penny segue se defendendo.
— Peter é vinte e três anos mais velho que eu.
Elas gritam quando confesso isso e me provocam. Eu conto
mais sobre nosso fim de semana e nosso almoço é divertido.
No início da tarde, eu me despeço das minhas amigas e vou
para minha aula.
Tenho aula sobre Arte Contemporânea, amo o conteúdo e a
forma como a professora ensina, mesmo assim, em certos
momentos eu me pego pensando em Peter e no final de semana
que dividimos.
Não faz nem vinte e quatro horas e, de alguma forma, eu já
estou com saudades.
Eles foram vistos juntos outra vez, no mesmo bar da
semana passada. Um novo casal estaria surgindo?
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

Minha semana passa depressa, sem muitos acontecimentos,


estou empenhada nos treinos e na competição que se aproxima.
Eu sei que tenho capacidade para me classificar para o nacional e
vou dar o meu melhor.
O treino na sexta é um pouco tenso, Liv mais uma vez foi
rude com Luke, ela está sob muita pressão e não está
conseguindo lidar com suas frustrações. Eu converso com Liv, ela
não está bem e me sinto péssima quando não consigo ajudá-la,
minha amiga é incrível e não consegue acreditar em si mesma.
Após deixar a arena, almoço no campus e em seguida eu
vou para minha aula. É uma tarde cansativa, porque eu tenho
quatro horários seguidos. Só deixo a faculdade quando já está
escuro, eu estou cansada e dirijo para casa.
Meu celular está conectado ao carro e a música para quando
recebo uma ligação. Olho rapidamente para o visor do multimídia
no centro do painel, e ao notar que é minha mãe, suspiro.
Eu tenho recusado todas as ligações, mas não posso mais
continuar ignorando-a. Por comando de voz, aceito a ligação.
— Por que você está nos evitando, Meghan?
Nem um oi, nem um tudo bem, mas esse tratamento de
Victoria Foster não me surpreende.
— Eu estive muito ocupada.
Não me preocupo nem em pensar em uma boa desculpa.
Não ligo se ela acredita ou não, e lá no fundo sei que ela nem se
importa no verdadeiro motivo de estar evitando-os.
— Seu pai e eu estamos precisando conversar com você. —
Eu sinto um arrepio ao ouvir “precisamos conversar com você” e
me mantenho em silêncio, porque não quero saber qual teor da
conversa. — Você é nossa única filha, querida.
Ela me chamou de querida, o que significa que irei odiar
ainda mais a tal conversa. Sigo sem pronunciar nenhuma palavra.
— Você não quer assumir a presidência do hospital e só há
uma solução para nosso problema.
Um arrepio sobe pelo meu corpo e meu estômago
embrulha. Eu sei do que ela está falando.
— Mãe, isso não vai acontecer, eu tenho vinte e um anos.
— E se algo acontecer ao seu pai ou a mim? Quem cuidará
do hospital?
Do hospital... A única preocupação dos dois.
— Tenho certeza de que existe alguém capacitado para
assumir
— Mas não alguém da nossa família, isso não é algo que
iremos tolerar, você precisa cumprir o seu papel, Meghan.
Um sorriso irônico surge em meus lábios.
— Eu não tenho um papel a desempenhar.
— Você tem um dever, Meghan, como nossa filha.
Seu tom de voz está alterado, mais alto do que o normal.
— Não tenho dever nenhum.
Minha mãe fica em silêncio por alguns segundos e sei que é
porque está tentando se controlar. Meus pais são do tipo que
gostam de fingir que são boas pessoas, pacíficas e odeiam perder
o controle.
— Você virá para o aniversário do hospital, não é?
Gostaria de inventar alguma coisa e negar, mas não posso.
Algumas batalhas são preciso perder e essa é uma delas.
— Eu vou.
— Ok, vou separar o seu lugar e seu vestido, você ainda
está com as mesmas medidas?
Eu digo que sim e pelos próximos minutos conversamos
sobre a roupa, penteado, calçado e maquiagem que irei usar. Será
uma festa incrível, porque o hospital da família está completando
cem anos.
Encerro nossa conversa assim que paro em frente ao prédio,
nós nos despedimos com palavras frias e sem carinho nenhum.
Minha relação com meus pais é tão fria quanto o Alasca. Deveria
estar acostumada com isso, mas é frustrante.
Subo para meu apartamento com a cabeça doendo e o
coração acelerado, a festa acontecerá daqui a dois meses e
mesmo assim já estou perturbada só de pensar no que terei que
encarar, e com certeza o assunto irá surgir outra vez.
A ideia dos meus pais é horrível, o que eles esperam que eu
faça é inaceitável, nunca faria algo assim, nunca destinaria uma
pessoa a viver o mesmo que eu vivi.
Nenhuma das minhas amigas está em casa, eu me encontro
sozinha mais uma vez, então vou para o meu quarto, deixo minha
mochila no chão e me jogo na cama. Encaro o teto e suspiro.
Por que não poderia ter uma família normal? Boa parte da
minha vida desejei ser outra pessoa, ter outros pais e menos
dinheiro. Talvez, se não fôssemos ricos eles pudessem ser pessoas
melhores.
Lá no fundo, uma parte em mim ainda espera que eles se
tornem pais melhores, meu coração tem esperanças, enquanto em
minha mente eu sei que eles sempre serão assim.
O dinheiro, o poder, o nome e o legado sempre serão suas
prioridades.
Como ficar jogada na cama não irá mudar minha realidade,
nem interferir nos meus sentimentos, eu me levanto e vou
preparar algo para comer. Sigo para a cozinha e mesmo enquanto
faço meu jantar, continuo pensando na breve conversa com minha
mãe.
Era por isso que a evitava, porque sabia que iria interferir
em meu humor. Deveria ter continuado a ignorando.
Meu humor está péssimo e me odeio quando não estou
bem. Eu janto sentada de frente para a ilha da cozinha, assistindo
vídeos aleatórios no celular, e ao terminar de comer, limpo o que
sujei e como não tenho mais o que fazer no cômodo, apoio minha
bunda contra o balcão e suspiro.
Hoje é sexta-feira, talvez deva encontrar algo para fazer, não
quero ficar em casa remoendo a conversa com minha mãe e nem
continuar deprimida.
O que eu posso fazer?
Pego meu celular e há convites para festas, além disso,
alguns garotos me enviaram mensagens, mas nada me anima.
Inclino minha cabeça para trás, encaro o teto e imagens do
fim de semana passado ecoam em minha mente. É isso que
gostaria de fazer, repetir o fim de semana com Peter.
Um arrepio percorre meu corpo e me sinto quente apenas
de pensar nele. Eu não tenho seu número e não posso
simplesmente bater na porta do seu apartamento, ele poderia me
mandar embora.
E se ele estivesse no bar? Faz uma semana que eu o
encontrei e foi lá. A possibilidade de reencontrar Peter me deixa
animada, mesmo não sendo algo de certeza.
Mas é uma possibilidade. E isso é o suficiente para me fazer
deixar a cozinha.
Eu vou até o meu quarto, sigo para o banheiro, tomo um
banho e escolho uma roupa pensando em Peter, coloco um vestido
preto e curto, botas de cano longo e um casaco que me deixará
quente até o bar. Deixo meu cabelo solto, faço uma maquiagem
básica, apenas carrego no batom vermelho.
Assim que estou pronta, saio do meu apartamento e chamo
um carro pelo aplicativo enquanto desço as escadas. No caminho
até o bar, vou torcendo para reencontrá-lo. Peter com certeza fará
com que me distraia, ele é capaz de me fazer esquecer da minha
mãe, das suas tolices e de qualquer problema que queira me
atormentar.
O motorista para em frente ao estabelecimento, eu o
agradeço, pago a corrida e deixo o carro. Caminho depressa até a
entrada do local, claro que opto pelos bancos de frente para o bar
e conforme me aproximo, olho ao redor à sua procura.
Eu estou ansiosa, angustiada e nervosa. Sinto um frio em
minha barriga e como o aquecedor está ligado, estou com calor.
Um sentimento diferente ecoa dentro de mim quando o
reconheço. É uma mistura de empolgação com alívio. Peter está
de costas, sua postura e os cabelos grisalhos entregam que é ele,
e está vestindo uma camisa verde, calças pretas e os coturnos.
Posso sentir meu corpo diferente, vibrando ansioso por seu
toque. A cada passo em sua direção, as emoções dentro de mim
se intensificam. Caralho!
Expectativa toma conta de mim. Como ele irá reagir? Que
desculpa irei usar para estar aqui outra vez? E se ele não quiser o
mesmo que eu? Preciso me preparar para a possibilidade de ele
me dispensar.
Eu não estou nem um pouco preparada, mas mesmo assim
ocupo o banco ao seu lado. Peter olha em minha direção e meu
coração bate acelerado. Seu olhar encontra o meu. Ele não está
decepcionado, pelo contrário, há um brilho de satisfação na forma
como me encara.
— Me procurando, pequena?
Curva seus lábios em um sorriso e preciso respirar fundo.
Droga, eu estou muito nervosa. Controle-se, Meghan!
— Oh, claro que não.
Minto e ele me encara como se soubesse que não estou
falando a verdade. Peter mantém seus olhos sobre mim como se
fosse capaz de desvendar minha alma.
— Que pena, porque eu estava te procurando.
Ergo minhas sobrancelhas, ao mesmo tempo em que sinto
um frio na minha barriga. Eu entendi direito? Ele veio até aqui por
minha causa?
— Você está falando que veio até aqui na esperança de me
encontrar?
A possibilidade de Peter dizer sim mexe comigo. Eu sigo
nervosa, ansiosa e estou surtando. Caralho!
— Sim. — Ele sorri, um sorriso sexy que faz com que queira
me jogar sobre ele. — Eu não tinha seu número e me agarrei à
esperança de encontrá-la aqui outra vez, afinal, era a minha única
alternativa.
O sentimento de satisfação que ecoa em meu peito e a
forma como meu corpo desperta é impossível de explicar. É como
se o tempo tivesse parado de correr, como se fôssemos apenas ele
e eu nesse momento.
— Sabe... — Inclino-me em sua direção. — Não iria
confessar, mas já que confessou primeiro, eu posso dizer a
verdade.
Toco meus lábios com minha língua e Peter acompanha o
movimento. É óbvio que isso o excita e a sua reação me agrada.
— Eu vim aqui procurar por você.
Confesso, uma onda de desejo percorre meu corpo e resulta
em uma pontada no meio das minhas pernas. Só de olhar para
esse homem, eu me sinto molhada.
Ele toca minha perna e, porra, eu sinto toda tensão que
reprimi durante a semana. Eu sonhei com Peter, fantasiei até
mesmo acordada com seu toque, com seus beijos, com ele me
possuindo outra vez. Tentei esquecer e fingir que não estava
pensando nele, mas falhei em todas as malditas vezes.
— Diga-me, Meghan, que você quer sair daqui tanto quanto
eu.
Meus seios pesam contra o tecido e tenho minha respiração
totalmente irregular.
— Eu preciso que você me tire daqui.
Não preciso implorar duas vezes, Peter se levanta, traz suas
mãos até minha cintura e me tira do banco, mesmo quando tenho
os pés no chão, seus dedos seguem me apertando.
Ele paga a conta em tempo recorde e com seu braço ao
redor do meu corpo, deixamos o bar.
— Esse seu vestido é uma tortura.
Sussurra enquanto me guia na direção do estacionamento e
eu sorrio, porque essa era exatamente a minha intenção.
— Eu vesti especialmente para você.
Peter fica em silêncio, mas seus dedos apertam minha
cintura com mais força. Ele está no limite, assim como eu. Leva-
me até seu carro, pressiona-me contra a lataria e seus lábios
encontram meu pescoço.
— Você é um tormento, Meghan. — Sobe sua mão até
minha coxa e seus dedos tocam minha pele. — Juro que minha
vontade é tê-la aqui mesmo.
Fecho meus olhos e a necessidade rompe pelo meu corpo,
fazendo com que meu clitóris pulse e meus seios pesem contra o
vestido. Seus lábios marcam minha pele, ele faz com que me
esqueça de onde estamos e tudo que importa no momento é ele e
o que está fazendo com meu corpo.
Sua mão se infiltra por baixo do meu vestido e quase me
toca, seus dedos pairam a centímetros de onde mais preciso dele.
— Peter.
Choramingo. Ele para de me beijar e sinto sua respiração
ofegante contra o meu pescoço.
— Aqui não, pequena. — Afasta sua mão e dá um passo
para trás. — Não queremos ser presos.
Abro meus olhos e encontro os seus, eles estão de um tom
verde-escuro que entrega o quanto ele está excitado. Apenas
assinto e me distancio da porta, ele a abre e ocupo o meu lugar,
Peter a fecha, da a volta e se senta no banco atrás da direção.
Ele dirige enquanto eu o observo e a tensão entre nós é
óbvia. Tiro meu casaco, porque o calor é insuportável, porque
queimo por dentro e a culpa é toda do Peter.
— Se eu pudesse, rasgaria esse maldito vestido.
Peter me encara por alguns segundos pelo retrovisor central.
— Eu gosto bastante dele, então se comporte.
Sorri e volta a olhar para a rua à nossa frente.
— Pensei em você mais vezes do que gostaria.
A sua confissão me causa um frenesi, engulo em seco e
respiro fundo.
— Fico feliz que não fui a única a ficar viciada.
— Você se tocou pensando em mim, Meghan?
Minha respiração acelera e imagens minhas sobre a cama,
me tocando enquanto pensava em Peter ecoam em minha mente.
— Sim e você?
Ele demora alguns segundos para me responder.
— Sim, Meghan, eu me toquei como um maldito adolescente
enquanto pensava em você.
Estou ofegante, meu clitóris está latejando e levo minhas
mãos até o meio das minhas pernas. Peter diz coisas sujas e eu
me toco, tentando aplacar a necessidade que me consome. Gozo
em meus dedos instantes depois ouvindo sua voz e assim que para
o carro no estacionamento, ele desce e vem até mim. Ele me pega
em seu colo e me carrega para o elevador.
Peter só volta a me colocar no chão quando entramos em
seu apartamento, então fecha a porta, pressiona-me contra ela e
sua boca cobre a minha, roubando meu fôlego e me reivindicando
de uma forma como ninguém nunca fez.
Mais uma vez, nossa patinadora M. deixou o bar
acompanhada e pela mesma pessoa, acho que deveríamos começar
a pensar em um novo shippe.
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

Nós temos pressa e não somos nem um pouco delicados,


nós parecemos dois animais no cio, ele apenas ergue meu vestido
e abaixa suas calças. Enrolo minha perna ao redor da sua cintura e
ele guia seu pau até minha boceta.
É perfeito senti-lo outra vez dentro de mim.
Peter é bruto, minhas costas encontram a madeira da porta
e ele me penetra com força. É tudo que preciso.
Meus gemidos ecoam pelo hall de entrada, seguro-me em
seus ombros enquanto seus lábios e seus dentes marcam meu
pescoço. É a segunda vez na noite e mesmo assim, gozo fácil,
meu corpo relaxa e explosões acontecem em meu interior.
Caralho!
Peter não demora a se derramar dentro de mim e apoia sua
testa em meu ombro. Ambos estamos perdidos. Os sons das
nossas respirações é o único barulho que escutamos por um
tempo.
— Não usamos camisinha.
Peter resmunga e afasta a cabeça do meu ombro, então
abro meus olhos. Ele está me fitando com um olhar preocupado.
— Não é a primeira vez. — Ele assente. — Eu tomo
anticoncepcional, então espero que você não tenha nenhuma DST.
Deveria me preocupar mais com isso, mas é algo que some
totalmente da minha mente toda vez que Peter me toca.
— Nenhuma.
Assinto.
— Nem eu.
Peter coloca minha perna no chão, abaixa meu vestido, dá
um passo em frente e enrola os fios do meu cabelo ao redor dos
seus dedos. Ele me mantém encarando-o.
— Você faz com que eu perca a razão e o raciocínio. —
Inclina-se e seus lábios tocam meu pescoço. — Você se torna o
centro do meu universo, basta eu te tocar e estou perdido.
Respiro fundo e contenho a vontade de fechar meus olhos.
Eu acabei de gozar duas vezes, estou dolorida e mesmo assim um
arrepio percorre meu corpo.
— O mesmo acontecesse comigo, Peter.
— Eu amo quando meu nome deixa seus lábios.
Ele ergue sua cabeça, encara meus olhos e sua boca cobre a
minha. Peter nos guia até seu quarto e vamos nos beijando
enquanto nossas mãos percorrem o corpo um do outro. Tiro sua
camiseta e cinto no meio do caminho e os deixo no chão.
Seguimos com pressa e sedentos um pelo outro, assim que
estamos dentro do cômodo, ele arranca minhas botas e o vestido
do meu corpo, eu faço o mesmo com suas roupas e não
demoramos a estar nus.
Peter me guia até estarmos ambos de joelhos sobre a cama,
ele está logo atrás de mim, suas mãos estão em meus seios e
apoio minha cabeça contra o seu ombro.
Suspiros e gemidos escapam dos nossos lábios, eu inclino
minha bunda para trás e encontro seu pau duro.
— Você quer mais, pequena?
Morde o lóbulo da minha orelha. Não o respondo, apenas
rebolo contra ele. Peter traz seus dedos até o meio das minhas
pernas, belisca meu clitóris e um grito deixa minha boca.
Estou tensa, ondas de excitação circulam por mim, estou
queimando. Peter desce da cama e desfere um tapa no meio das
minhas pernas, o que faz com que eu choramingue e feche meus
olhos.
Caralho!
Sinto ele se afastar e quando abro meus olhos, encontro-o
mexendo no móvel que fica ao lado da cama. Ele abre a gaveta e
pega um tubo de lubrificante e um outro objeto que de longe
parece uma pequena joia.
Eu sei exatamente o que ele quer e tremo de antecipação.
Espero sobreviver a essa noite!
Peter volta com o plug anal em mãos e lubrificante, ele
continua em pé, deixa os objetos sobre o colchão e sua mão
encontra o meio das minhas pernas.
— Você está tão molhada. — Dois dedos entram em mim e
suspiro. — Posso colocar o plug?
Concordo e então seus dedos deixam minha boceta e se
aproximam da minha bunda. Peter beija as minhas costas, abre-
me e, com cuidado, derrama o lubrificante e insere o objeto. Dói
um pouco, mas é suportável e assim que o tenho completamente
dentro de mim, Peter volta a tocar meu clitóris.
Dor e prazer se misturam. Eu estou suando e segurando o
lençol com força enquanto estou de quatro. Choramingo e
palavrões deixam minha boca e suplico para que Peter dê fim a
minha agonia.
É como se ele estivesse me torturando e respiro aliviada
quando substitui seus dedos em minha boceta pelo seu pau. Peter
me penetra e me sinto tão cheia… completa!
Caralho! É bom demais! Porra!
Puxa meu cabelo, suor escorre pela minha testa. Marca meu
quadril com suas mãos e gemidos escapam dos meus lábios.
Empurro-me contra ele, sinto o plug em minha bunda e a pressão
crescente no meio das minhas pernas.
É insano, perfeito e ondas de prazer circulam pelo corpo!
Eu gozo gritando seu nome e ele não demora a me
acompanhar. Deito-me na cama assim que Peter se afasta, fecho
meus olhos e me sinto zonza, perdida em outra dimensão.
Peter se joga ao meu lado, puxa-me para perto e eu vou.
Apoio a lateral do meu rosto em seu peito e sinto as batidas
aceleradas do seu coração.
Os minutos passam, eu estou em um estágio de meio
dormindo, meio acordada e continuo de olhos fechados quando
Peter se movimenta, ele deixa a cama e continuo na mesma
posição, simplesmente não consigo me mover.
Escuridão me cerca, mas de repente sinto alguém me
tocando e me tirando da cama.
— Hey.
Protesto e escuto o som da sua risada.
— Banho, pequena.
Espalmo minhas mãos em seu peito enquanto ele me
carrega igual um bebê. Abro meus olhos e Peter está me levando
para o banheiro.
— Eu preferia continuar suja.
Resmungo, ele segue rindo e me ignora. Adentra o
banheiro, deparo-me com a banheira cheia de água e espuma.
Com cuidado, Peter me coloca no chão e suas mãos tocam minha
bunda, então ele retira o plug de dentro de mim e faço uma careta
ao me sentir dolorida.
— O banho vai ajudar a amenizar a dor.
— Eu acho bom, ou não vou conseguir me sentar amanhã.
Ele apenas ri e nos guia até a banheira, ele se senta com as
costas apoiadas nela e eu me sento entre suas pernas. Peter e eu
nos lavamos e é um banho relaxante.
Não conversamos, mas existe uma troca entre nós. Uma
intensidade que nos puxa na direção um do outro.
Ao voltarmos para o quarto, ele veste uma cueca e eu visto
uma camiseta sua. Deito-me de lado sobre seu braço, e ele ocupa
o lugar atrás de mim, minhas costas encontram seu peito e seu
braço recai sobre o meu corpo e ele me puxa contra si.
Nunca dormi com ninguém de conchinha. É uma boa
posição, faz com que eu me sinta segura e não demoro a
adormecer.
Desperto com alguém beijando meu pescoço, tento me
desvencilhar de Peter, mas ele me segura.
— Bom dia, pequena.
Sua voz é rouca de sono.
— Bom dia, Peter.
Seus dedos acariciam minha coxa.
— Como você está?
— Um pouco dolorida — confesso e sinto seus lábios se
curvarem em um sorriso contra minha pele. — Isso faz bem para o
seu ego, não é?
— Com certeza.
Viro-me, ficando de frente para ele e toco seu peito.
— Você sabe que não é grande coisa deixar uma garota
dolorida, certo?
Provoco-o e ele comprime seus lábios um no outro para não
rir.
— Não? — Seus dedos trazem o tecido da camiseta para
cima e acaricia minha barriga. — É uma grande coisa, sim, ou você
não teria voltado.
— Então devo me vangloriar por que você foi me procurar?
Ele ri e sua mão deixa minha pele.
— Claro.
Ergue seus dedos e afasta alguns fios de cabelo do meu
rosto. Nós dois ficamos em silêncio, apenas nos encarando, é Peter
a se aproximar e beijar minha testa.
— Vamos, vou preparar seu café.
Assinto, então me desvencilho dele e deixo a cama, ele faz o
mesmo, coloca uma calça, vamos ao banheiro e em seguida,
seguimos para a cozinha. Peter prepara o café enquanto me sento
à sua frente e o observo se movimentar de um lado para o outro.
Nunca pensei que fosse tão sexy assistir um homem cozinhar.
Peter faz uma pausa, ergo minhas sobrancelhas enquanto
ele espalma suas mãos no balcão e se inclina levemente em minha
direção.
— Eu tenho um compromisso pela tarde.
Sorrio debochada.
— Isso é você me mandando embora?
Ele volta a ficar com seu corpo ereto e passa os dedos
pelos fios do seu cabelo. Eu quero prestar atenção nele, mas seu
peito nu rouba o meu foco. Droga, ele é muito gostoso!
— Você pode ficar aqui e me esperar.
É uma ótima proposta, mas balanço minha cabeça,
negando.
— Eu não tenho roupa pra isso. — Aponto meu dedo em sua
direção. — Meu plano sempre foi apenas mais uma noite.
Ele sorri debochado.
— É por isso que você estava sem calcinha.
Dou de ombros e cruzo meus braços sobre o balcão à minha
frente.
— Sim, eu tinha esperança de encontrá-lo e que
pudéssemos repetir pelo menos um pouco do que aconteceu no
fim de semana passado. — Pisco para ele, que segue rindo. —
Meus planos nunca foram ficar o fim de semana todo, grandão.
Seu sorriso amplia ao ouvir a forma como eu o chamei.
— Grandão?
— Já que você me chama de pequena, é justo que o chame
de grandão.
Seu olhar segue com um brilho divertido.
— Só para constar, você poderia ficar nua e eu iria adorar.
Satisfação vibra em meu interior ao escutá-lo. Não sou a
única rendida aqui.
— Você realmente me quer o fim de semana inteiro outra
vez, não é?
— Eu disse que estava viciado.
Peter não nega e me sinto ainda mais satisfeita. Porra, eu fiz
isso com esse homem!
— Não vou ficar sem roupa e sem minhas coisas, mas... —
Ele me encara com expectativa. — Posso ir embora e voltar à
noite, eu aprendi o caminho.
— Estarei esperando por você, pequena.
Ele pisca em minha direção, nós dois rimos e Peter volta a
cozinhar. Nós tomamos nosso café enquanto mantemos uma
conversa animada. Peter e eu não aprofundamos nenhum assunto,
mantemos alguns detalhes longe, porém é como se a cada palavra
eu descobrisse um pouco mais sobre ele.
Eu conto sobre o meu medo de tempestades, mas não
conto o motivo. Peter me fala sobre seus relacionamentos
fracassados, entretanto, de uma maneira cômica. Dividimos alguns
receios e inseguranças, porém não de uma forma direta e nenhum
de nós faz perguntas, ambos temos segredos, isso é óbvio e não
me incomoda.
Após comermos, eu vou até seu quarto, visto minha roupa,
amarro o casaco ao redor do meu corpo para cobrir o vestido,
escovo meus dentes com a mesma escova que usei na semana
passada e quase grito em comemoração ao fato de ele não a ter
jogado fora, e retorno para a cozinha. Peter está limpando o
fogão, ele para ao me ver entrar e se apoia no armário ao lado.
— Eu gostei do casaco.
Sorri malicioso e vou até ele.
— Se comporte.
Espalmo minhas mãos em seu peito e deixo um beijo em
seu queixo.
— Eu vou levar você.
Aperta minha cintura e nego.
— Vou de táxi.
Faz uma careta.
— Acho que você não está querendo que eu descubra onde
mora.
— Talvez. — Beijo seu queixo mais uma vez. — Mas, nesse
momento, só acho que é um absurdo você sair de casa para me
levar e ter que voltar.
— Eu não me importaria.
Ele está me encarando e o encaro de volta.
— Eu sei, mas eu me importo. — Subo minhas mãos até
seus ombros e fico nas pontas dos pés. — Eu vou de táxi e mais
tarde venho de carro.
Minha boca cobre a sua e nos despedimos com um beijo.
Assim que nos afastamos, eu corro da cozinha e deixo seu
apartamento.
Peço o táxi enquanto estou no elevador e o carro não
demora a chegar. Observo as ruas pela janela e sinto um frio em
minha barriga. Acabei de sair do seu apartamento, mas estou
ansiosa para voltar. Talvez passe o dia contando as horas e os
minutos até a noite.
Quando foi a última vez que fiquei tão ansiosa assim?
Provavelmente em uma competição e, ainda assim, era diferente,
porque sabia que poderia ser algo ruim se não ganhasse. Estar
com Peter não pode acabar em algo ruim, é a expectativa de algo
bom, positivo e grande.
Passo parte da tarde estudando, ou tentando estudar, é
meio difícil me concentrar quando só consigo pensar no que farei
depois. O tempo parece estar se arrastando, os minutos nunca
demoraram tanto para passar.
Mais uma vez, nenhuma das minhas amigas está em casa e
ao fim da tarde, como algo, assisto um pouco do jogo de hóquei,
mas o esporte não me chama muito a atenção e não me prende.
O sol já terminou de se pôr quando sigo para o banheiro.
Tiro minhas roupas e demoro no banho, depilo minhas
pernas, faço uma esfoliação e hidrato meu cabelo. Estou cheirosa,
com a pele lisinha e cabelo sedoso ao sair do banheiro.
Escolho as roupas que irei usar e organizo minha mochila
enquanto estou com a toalha enrolada ao redor do meu corpo.
Demoro a escolher o que irei usar agora, como vou para o seu
apartamento, não pode ser nada muito arrumado, mas também
não quero parecer uma mendiga.
Opto por um calça preta, suéter branco, botas de cano curto
com pelos, um cachecol e um casaco. Não passo nenhuma
maquiagem em meu rosto e escovo meu cabelo, deixando-o
ondulado nas pontas.
Confiro o horário em meu celular e finalmente o relógio
decidiu correr. Pego a mochila, minhas chaves, celular e deixo meu
apartamento. Sigo para o meu carro e dirijo para longe.
Estaciono em frente ao prédio de Peter, saio do carro e
assim que me apresento na portaria, sou liberada, já que, segundo
o porteiro, tenho acesso livre ao seu apartamento. Subo até seu
andar, aperto a campainha e segundos depois ele abre a porta.
Peter sorri, meu coração acelera, dou um passo em frente e ele
toca a minha cintura.
— Eu estava esperando ansiosamente por você, pequena.
A paixão pode ser comparada a um vício e isso diz muito
sobre o sentimento!
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Peter

Acordo com meu braço dormente, abro os olhos e está um


pouco escuro, mas não totalmente, porque já amanheceu e alguns
raios solares adentram pelas cortinas.
Olho para o lado e me deparo com Meghan deitada sobre
meu braço. Ela está de lado e suas costas encostam em meu
peito, dormimos boa parte da noite assim.
Seu cabelo castanho está espalhado pela minha cama,
lençol e pelo meu corpo. Ela está dominando meu espaço e isso
não me incomoda. Eu fico a observando dormir e a admirando.
Porra, Meghan é linda!
Ela é jovem, deslumbrante, intensa, engraçada e perfeita.
Tenho muita sorte de tê-la encontrado. Lá no fundo, minha
consciência me acusa, porque ela tem vinte e sete anos, seis anos
mais velha que Liv e isso deveria me fazer recuar, entretanto, a
atração que sinto por ela é mais forte.
Não vou recuar, pelo contrário. Eu não pretendo ficar por
muito tempo na cidade, por que não aproveitar enquanto estou
por aqui? E será ainda melhor se for com Meghan. Posso ser
quinze anos mais velho, entretanto, tenho o que oferecer, sei que
nenhum cara da sua idade terá a experiência que eu tenho.
Duvido que algum deles realmente faça uma mulher gozar, eles
nem saberiam onde tocá-la.
Não gosto de imaginar outro homem perto dela, no
momento ela me pertence.
Um calafrio sobe pelo meu corpo e trinco meus dentes.
Caralho! Essa merda dói. Meu braço segue dormente, mas não
quero afastá-la. A dor aumenta e não consigo continuar a
segurando, com cuidado tiro meu braço debaixo da sua cabeça,
distancio-me dela e me jogo para trás até estar com as costas
totalmente apoiadas no colchão.
Porra, isso dói!
Massageio meu braço e a dor parece se espalhar pelo meu
corpo. Fecho meus olhos e respiro fundo.
— O que aconteceu?
Abro os olhos e me viro para o lado. Meghan está me
encarando com curiosidade e preocupação. Abro a boca para
respondê-la, mas não consigo.
— Merda.
É tudo que deixa minha boca.
— Você está com câimbra?
Pergunta e não consigo respondê-la. Eu me sento, apoio
minhas costas contra a cabeceira da cama, respiro fundo,
massageio meu braço mesmo que o contato intensifique a dor.
Aos poucos o formigamento se dissipa e posso respirar
aliviado. Essa merda dói pra caralho. Afasto minha mão e deixo
que meu braço caia ao lado do meu corpo. Tudo sob controle!
— Isso é algo da idade? Por conta de todo o esforço?
Ela claramente está me provocando. Olho para o lado e
Meghan está sentada com as costas apoiadas na cabeceira da
cama e me encarando com um olhar debochado.
— Isso é porque você decidiu fazer do meu braço seu
travesseiro — resmungo e Meghan morde o lábio para não rir. —
Deveria castigá-la por estar rindo de mim.
Ergue suas sobrancelhas.
— E como fará isso exatamente?
Pergunta-me maliciosamente. É a minha vez de sorrir
debochado. Antes que se dê conta, avanço sobre ela, puxo-a de
volta para o colchão e a aprisiono entre meus braços e pernas,
então levo minhas mãos até sua barriga.
— Não se atreva, Peter.
Ela grita, mas é tarde demais. Faço cócegas e seus gritos se
misturam com sua risada. Existe algo em Meghan que faz com que
encontre um Peter que não lembrava que existia.
Meghan tenta se desvencilhar de mim, mas eu claramente
sou mais forte e só paro quando a escuto pedir por favor. Eu me
jogo ao seu lado enquanto ela recupera o seu fôlego.
— Eu ainda vou me vingar, Peter.
— Não tenho cócegas.
Sorrio.
— Será de outro jeito.
Ela promete ainda com a voz fraca. Olho para o lado e ela
está de barriga para cima, encarando o teto e com as mãos sobre
o peito. Sigo a observando até que ela se vira em minha direção.
— Devo estar incrível: suada, vermelha e com cabelos
bagunçados.
Apoio o peso do meu corpo em meu cotovelo e me curvo
sobre ela.
— Você está incrível.
Meu olhar encontra o seu e nos encaramos por algum
tempo, até que aproximo meu rosto do seu e a beijo. Sua língua
duela com a minha em um beijo mais calmo e preguiçoso. Dura
um tempo e apoio minha testa na sua.
— Bom dia, pequena.
— Bom dia, grandão.
O apelido é horrível e me faz sorrir.
— Esse apelido é péssimo.
Eu saio da cama, fico em pé e estendo minha mão em sua
direção.
— É ótimo e combina com você.
Deixa seus dedos sobre os meus e a ajudo a levantar.
— Sei que tenho alguns atributos realmente grandes, mas...
Meghan não me deixa terminar a frase, porque bate em
meu peito.
— Não fale o que eu acho que você vai falar.
Fica a minha frente e de costas caminha na direção da
porta.
— Não falar que meu pau é grande?
Provoco-a e a sigo.
— Isso é tãooo...
Faz um sinal com as mãos, tentando explicar o quanto estou
sendo bobo. Realmente estou e não ligo.
— Grande?
Completo sua frase e sua gargalhada ecoa pelo cômodo. Eu
corro até ela, puxo-a na minha direção, beijo seu pescoço e
cruzamos pela porta. Seguimos para a cozinha com meus braços
ao redor dos seus ombros e ambos estamos sorrindo.
Eu preparo nosso café da manhã e continuamos
conversando e nos provocando. Meghan faz com que esqueça do
real motivo de estar na cidade, ela me faz esquecer até mesmo
dos meus erros.
Meghan não sabe do meu passado, não conhece minhas
falhas e meus defeitos. É como se ela fosse uma dose de ar após
estar muito tempo embaixo da água. Posso ser eu mesmo ao seu
lado, sem julgamentos e pré-conceitos.
Ela tem a minha melhor versão.
Nós vamos para a sala após o café e nos sentamos no sofá,
eu apoio minhas costas contra o estofado, Meghan mantém suas
costas contra o meu peito e nós dois temos os pés para cima,
tocando as almofadas.
— Como é ter mais de quarenta anos?
Demoro a respondê-la, porque tenho um certo receio de
descobrir sobre o que exatamente ela está perguntando.
— Eu deveria me sentir ofendido com sua pergunta?
Mantenho a conversa em um tom descontraído.
— Não. — Sua mão toca a minha e brinca com os meus
dedos. — Você parece ser bem resolvido e ter conquistado tudo
que queria.
— De certa forma, sim.
Sua colocação faz com que eu pense sobre minha vida. Eu
conquistei muitas coisas e perdi outras.
— Eu sempre penso que, quando tiver quarenta anos, quero
ter conquistado muitas coisas. — Soa sonhadora e preciso me
segurar para não rir. — Quero estar na fase de sonhar novos
sonhos.
— No aspecto profissional, eu conquistei tudo que almejei.
Sou sincero, apesar de Meghan não saber que estou me
referindo ao hóquei e não ao banco da minha família.
— E no restante?
Subo e desço meu dedo pelo seu braço. Essa é uma
pergunta complicada.
— No restante eu falhei.
Meghan se vira até estar encarando o meu rosto.
— Se eu perguntar no que você falhou, serei invasiva
demais?
A forma como está me olhando me faz querer contar tudo,
cada erro e cada detalhe da minha vida e do meu passado, porém,
não quero vê-la decepcionada comigo.
— Não, mas eu terei que responder e você ficará sabendo
dos erros idiotas que cometi.
Estreita seus olhos.
— Erros? Achei que você fosse um homem perfeito, um
anjo, aliás, quando morrer podemos te canonizar.
Sorrio da sua ironia.
— Eu fui um péssimo pai e um péssimo marido — confesso,
ela apoia a lateral do rosto em meu peito e traça círculos invisíveis
em minha pele. — Onde você pretende estar aos quarenta?
Ela demora a me responder.
— Não sei. — Suspira. — É meio frustrante, mas a verdade
é que não sei o que eu quero para o meu futuro, talvez meus pais
estejam certos.
Meghan deixa escapar mais um fato sobre seus pais, é
nítido que a relação entre eles não é das melhores.
— Nem sempre os pais estão certos.
— Espero que os meus estejam errados. — Sorri, mas não é
um sorriso real. — Eles são horríveis como pais e desejam que eu
falhe.
Toco seu cabelo e faço uma careta.
— Você não irá falhar.
Falo com convicção e dessa vez ela sorri, um sorriso que
atinge seus olhos.
— Como você sabe?
— Eu não sei. — Fixo meus olhos nos seus. — Mas estou
apostando em você.
Ela ri e beija meu peito.
— Obrigada, eu vou fazer questão de não te desapontar.
Nós continuamos conversando, não mais sobre erros e
acertos, abandonamos os assuntos profundos e falamos sobre
uma variedade de conteúdos, é fácil encontrarmos tópicos em
comum e é assim que descubro que ela também gosta de correr.
— Talvez você deva vir correr comigo qualquer dia desses.
Propõe enquanto brinco com algumas mechas do seu
cabelo.
— Que horas você corre?
Ela me pergunta.
— Pela manhã, logo após acordar, e eu costumo acordar às
seis.
Meghan assente.
— Eu posso às terças e quintas, venho de carro e o deixo
aqui enquanto vamos correr.
— Combinado, pequena.
Meghan e eu só deixamos o sofá para irmos preparar o
almoço. Ela me ajuda e abrimos uma cerveja, eu me movo pelo
espaço e às vezes faço questão de esbarrar nela para beijar sua
nuca.
O tempo com ela passa diferente e não é o suficiente.
Almoçamos, subimos para o segundo andar e ficamos um
poucona jacuzzi. Não tenho intenção nenhuma, mas no momento
que Meghan se senta em meu colo perco o controle. Tomo-a mais
uma vez e a reivindico como minha.
É incrível vê-la gozar e Meghan faz com que me sinta em
uma outra dimensão. Ela rouba meu fôlego e desperta cada
maldita molécula do meu corpo.
Deixamos a hidromassagem, enrolamos toalhas ao redor
dos nossos corpos e corremos para o meu quarto. Compartilhamos
um banho e seguimos para a cozinha, preparamos um lanche e ao
fim da tarde voltamos para a sala, assistimos um filme dos anos
2000, escolhido por Meghan é claro, pelo menos não é um desses
dramas adolescentes recentes.
A cada reclamação minha, Meghan bate em meu peito e eu
sorrio, eu gosto de implicar com ela.
Jantamos pizza sentados no tapete e terminamos a noite
dividindo uma garrafa de vinho enquanto a música ecoa pela sala.
Nós até dançamos, nenhum de nós dois é bom nos passos, mas é
divertido.
A diversão termina quando sua boca encontra a minha. O
prazer assume o controle e a levo para o quarto. Meghan é
receptiva, ela não hesita e se entrega de uma forma absurda.
Procurei por ela na sexta-feira, porque precisava repetir o
que fizemos no fim de semana passado, porque acreditei que seria
o suficiente, mas quanto mais tempo passo com ela, mais eu a
desejo.
Levo-a ao limite e ela implora por mais. Amo os sons que
deixam sua boca, seus gemidos e quando grita meu nome. Eu a
acompanho ao gozar e ficamos um tempo os dois perdidos nas
sensações que percorrem nossos corpos.
Assim que me recupero, me levanto e a pego em meus
braços, então a carrego para o banheiro e tomamos um banho
rápido. Ao voltarmos para o quarto, visto uma cueca e ela uma das
minhas camisetas, por fim nos deitamos na cama e, mais uma vez,
adormeço com Meghan em meus braços.
Acordo e encontro Meghan em pé. Eu a observo se vestir e
ela se despede de mim com um beijo e com a promessa de nos
vermos amanhã para corrermos.
Continuo deitado com o braço embaixo do travesseiro
enquanto ela deixa meu quarto. Meghan fecha a porta e suspiro.
Foi um ótimo fim de semana, mas chegou ao fim.
Deixo minha cama, vou ao banheiro e após escovar meus
dentes, retorno para o quarto e visto uma roupa para correr. Não
demoro a estar pronto, então vou para a cozinha, preparo algo
rápido para comer e saio do meu apartamento.
Corro por uma hora e meus pensamentos são dominados
por Meghan. Ela insiste em ocupar cada lugar vazio da minha
mente e ao voltar para casa, a enxergo em todos os cantos.
Passo minha mão pelo cabelo e suspiro. Não posso perder
minha mente assim.
Ao entrar em meu quarto, fico ainda mais transtornado
porque sinto seu cheiro.
Porra!
E eles foram vistos juntos pela terceira vez, correndo um ao
lado do outro e pareciam bem próximos.
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Peter

Depois de um banho demorado, visto uma roupa confortável


e sigo para o escritório. Apesar de estar distante, há muito o que
fazer, algumas pendências que consigo resolver à distância.
Respondo alguns e-mails, participo de uma reunião e analiso
uma quantidade considerável de relatórios. Faço breves intervalos
para trocar mensagens com Liv, ela está bem e minha garotinha
virá almoçar comigo
Volto ao trabalho e me concentro nos documentos abertos
no notebook.
Sempre soube que depois que me aposentasse do gelo
assumiria meu lugar na empresa, eu faria apenas por obrigação,
mas hoje me sinto realizado fazendo o que faço, aprendi a gostar
do papel que desempenho, ao ponto de ficar imerso, esquecer
compromissos e perder horários.
E sei que hoje foi um desses dias quando o som da
campainha ecoa pelo apartamento. Droga, Liv está aqui e não
preparei nosso almoço. Salvo as anotações que eu fiz
rapidamente, levanto-me e corro até a porta.
Abro-a e encontro minha filha sorrindo. Puxo-a para um
abraço e beijo o topo da sua cabeça.
— Hey, pai.
— Hey, garotinha.
Desvencilho-me dela, fecho a porta e Liv segue sorrindo.
— Quando você me chama de garotinha, sempre me sinto
com cinco anos.
Passo meu braço pelos seus ombros.
— Pra mim você sempre terá cinco anos.
Ela faz uma careta e a guio até a sala. Normalmente a
levaria para a cozinha, mas não fiz o almoço.
— Eu não preparei o almoço — confesso enquanto ela se
joga na poltrona e eu me sento no sofá ao lado. — Eu estava
muito ocupado trabalhando.
— Você está sempre trabalhando demais, pai, um
workaholic independente da função.
Liv está sorrindo, mas quando olho em seus olhos, enxergo
uma sombra. A culpa por ter sido um péssimo pai ecoa em meu
peito e me corrói.
— Sinto muito.
Nós dois sabemos que não estou falando somente de
agora.
— Ok, pai, está tudo bem.
Não está tudo bem, mas Liv e eu fingimos que sim, faz um
tempo que minha filha finge que não fui um péssimo pai e eu
aceito seu fingimento, com medo de perder o resto de respeito
que ela tem por mim.
— Eu vou pedir algo.
Ela assente, faço os pedidos e Liv pede apenas uma salada.
— Você irá comer somente uma salada?
Um alarme soa em minha mente. E odeio a simples
possibilidade de Liv não estar bem consigo mesma. Ela parece tão
bem, mas sei que parecer e estar são coisas completamente
diferentes.
— Sim, eu estou na semana da competição e estou
tentando manter uma alimentação saudável, não posso ter uma
intoxicação alimentar, não é?
Ela soa convincente, eu concordo com ela, mas irei ficar de
olho.
— E como você está se sentindo tão perto da competição?
Liv tira seus tênis, dobra seus joelhos e apoia os pés na
poltrona.
— Estou treinando como nunca treinei antes e vou fazer o
meu melhor.
Sorri e, mais uma vez, não é um sorriso que atinge seus
olhos.
— Você é incrível, Liv, eu tenho certeza de que irá brilhar.
— Obrigada, pai.
Encosta sua cabeça na poltrona e me encara. Eu estendo
minha mão e ela coloca seus dedos sobre os meus.
— Não importa o resultado, você sempre será minha
estrelinha.
Ela sorri e é quase um sorriso completo. Normalmente, seus
sorrisos não são meus, eu já machuquei Liv demais e por mais que
me esforce, não será fácil conquistar seu perdão. E talvez eu nem
o mereça.
— O que você achou do jogo de sábado?
Muda de assunto e o nosso alvo se torna seu namorado e
jogador de hóquei.
— Ele tem talento.
É possível perceber que minha filha está apaixonada pelo
garoto e ele está apaixonado por ela. Espero que ele não a
machuque, mas se caso acontecer, quero estar aqui.
Eu vim para Hanover depois de receber uma ligação de
Olívia, minha filha foi presa e fiquei preocupado. Estou tentando
ser mais presente e reconhecer quando ela precisa de mim.
Eu quero que ela tenha certeza de que sempre estarei aqui
por ela. Espero que não seja tarde demais e que um dia minha
filha me perdoe completamente.
Liv fala um pouco sobre o namorado, mas quando faço
perguntas sobre o relacionamento dos dois, muda novamente de
assunto. Ela me torna o alvo da vez.
— Espero não encontrar nenhum sutiã por aqui.
Faz uma careta e mexe nas almofadas que estão atrás das
suas costas. Ela está se referindo ao sutiã de Meghan que entrou
na semana passada.
— Não irá encontrar.
Pelo menos espero que não encontre. Droga, eu preferia
continuar conversando sobre o seu relacionamento com Aaron. Liv
inclina a cabeça para o lado e me analisa com o seu olhar.
— Você está saindo com alguém, pai?
Balanço a cabeça negando.
— Então aquele sutiã entrou voando pela janela?
Soa debochada e sinto meu rosto ficando vermelho.
— Eu estou vendo alguém, mas não é nada sério.
Liv ri e me joga uma almofada.
— Que bom, eu acho que não estou preparada para ver
meu pai namorando. — Enruga a testa. — Não tenho mais idade
para ter uma madrasta.
Ergo minhas sobrancelhas.
— E tem idade certa para isso?
— Lógico, imagina se você arruma uma namorada da minha
idade? — Da sua idade, não, Meghan tem seis anos a mais.
Mantenho meus pensamentos apenas para mim. — Seria horrível,
pai.
Liv está me provocando e dou de ombros, ela não tem com
o que se preocupar, não vou arrumar ninguém.
— Eu não vou arrumar uma namorada. — Pisco em sua
direção. — Pode ficar em paz.
Ela leva sua mão até o coração e suspira, fingindo estar
aliviada. Uma ótima atriz! Liv e eu vamos para a cozinha assim que
a comida chega e nos sentamos um ao lado do outro.
— Pai.
Liv me chama, eu baixo o garfo que estava trazendo até
minha boca e olho para ela.
— Sim, querida.
— Você realmente estará lá no sábado?
Por alguns segundos, eu vejo uma fragilidade no olhar da
minha filha que ela faz de tudo para esconder.
— Claro, eu não perderia por nada.
Ela sorri e seguimos comendo. É ótimo ter um tempo com
Liv, sei que ela ainda tem alguns receios, mas tenho esperanças de
que um dia possamos ter uma relação sem ressentimentos.
Errei como marido, errei muito com Eve, mas me perdoei. O
que não consigo me perdoar é por ter falhado com Liv, é ter culpa
sobre tudo que minha filha passou, é por não ter percebido que
ela precisava de mim.
Se eu pudesse, voltaria no passado e consertaria os meus
erros.
Liv deixa meu apartamento após almoçarmos, eu fico
sozinho e angustiado. Olívia aparenta estar bem, porém, e se algo
estiver acontecendo? E se eu estiver deixando passar algo?
Eu volto para o escritório e sigo pensando em Liv, meu
maior medo é não perceber que ela está com problemas, que tudo
se repita, e mais uma vez falhar como pai.
Só paro de trabalhar quando está anoitecendo, eu tomo um
banho, preparo algo para jantar e fico na sala assistindo um jogo
de hóquei. É um pouco solitário, mas estou acostumado com a
solidão, faz parte de quem eu sou.
Ao fim da noite, tomo uma taça de vinho e vou dormir.
Antes de fechar meus olhos, lembro que irei encontrar com
Meghan para correr e isso me deixa animado, tão empolgado que
demoro mais que o normal para pegar no sono.

Acordo com o som do alarme, desligo-o e me levanto. Dou


uma passada no banheiro, troco de roupa e sigo para a cozinha.
Após comer algo, confiro o horário e são quase seis horas, então
saio do meu apartamento.
Caminho até o elevador, encontro uma senhora dentro dele
e vamos conversando sobre o clima. A caixa metálica para no
térreo e como ela irá descer até a garagem, me despeço e cruzo
pelas portas que agora estão abertas.
Aceno para o porteiro e prossigo até a saída. Estou ansioso
para encontrar Meghan, como um garoto que está prestes a sair
com a garota mais bonita da escola, passo a mão pelo meu cabelo
e sorrio. É uma situação divertida!
Saio do prédio e meu coração acelera ao encontrá-la
apoiada em seu carro. Ela está sorrindo e, por breves segundos,
apenas a encaro como se estivesse hipnotizado e quando volto a
respirar, percorro seu corpo com meu olhar. Meghan está vestindo
uma legging preta que marca suas curvas, tênis e um suéter. Volto
a olhar para seu rosto, que está vermelho por conta do vento e
alguns fios de cabelo escapam do seu rabo de cavalo.
Adorável! Linda! Incrível!
Eu vou até ela, que se afasta do carro, inclino-me e nossos
olhares se encontram enquanto meu rosto se aproxima do seu.
Nossas respirações se misturam e é um alívio quando enfim
encosto meus lábios nos seus.
Era para ser um selinho, apenas um toque, mas é impossível
não aprofundar o beijo e minha língua explora sua boca, eu
obtenho tudo que posso de Meghan e quase me esqueço que
estamos em público.
Afasto-me, apoio minha testa na sua e respiro fundo.
— Bom dia, pequena.
Meghan deixa suas mãos sobre meus ombros e os aperta.
— Bom dia, grandão.
Mantemos o olhar um no outro por alguns segundos, é
estranho, sem explicação, mas não é desagradável.
— Vamos?
Quebro o silêncio e ela assente. Demora alguns segundos,
mas nos separamos e caminhamos um ao lado do outro.
— Quando você começou a correr?
Meghan me pergunta, curiosa.
— Quando eu estava na faculdade.
Ela segue me fazendo perguntas sobre meu hábito de correr
pelas manhãs e sobre a faculdade, é claro que ela me provoca
perguntando se eu era um cafajeste.
— Nos dois primeiros anos, sim, mas no terceiro conheci Eve
e começamos a namorar.
Ela já sabe disso, mas volto a mencionar essa parte do meu
passado.
— Você tinha quantos anos quando foi pai?
— Vinte e três.
Meghan continua com seu interrogatório e eu respondo suas
perguntas, não minto, mas escondo que joguei hóquei. Faz um
tempo que sou o James, o melhor jogador de hóquei da década
passada, e tinha esquecido como é ser só o Peter; o anonimato é
incrível.
Vamos até o parque da cidade, há uma pista de caminhada
e iniciamos nossa corrida. É a minha vez de fazer perguntas e
Meghan me responde. Ela fez história da arte aqui em Dartmouth
e foi uma garota que amava festas.
O dia está ensolarado e não demoramos a estarmos suando.
Nosso fôlego diminui com o passar dos minutos, mas
estabelecemos um bom ritmo. Meghan tem uma boa resistência
física, o que significa que pratica exercícios físicos.
— O que você faz? — Ela me encara sem entender. — De
exercício físico.
Abre e fecha a boca algumas vezes, antes de enfim me
responder.
— Corrida e academia.
Meghan parece estar me escondendo algo, mas por que
estaria fazendo isso? Não faz sentido nenhum e devo estar
maluco. Deixo para lá e mudo de assunto.
— O que você acha de sairmos quinta-feira para jantarmos?
— Ela me encara como se tivesse nascido um terceiro olho em
minha testa e acabo rindo. — Não pode ser tão assustador sair
comigo para jantar.
Ela ri e balança a cabeça.
— Não, é só que... — Faz uma pausa e parece buscar as
melhores palavras para se expressar. — Não estava esperando por
um convite desses, achei que não fosse do tipo que leva alguém
aleatório para jantar.
Ela para de correr e faço o mesmo, nós ainda estamos um
ao lado do outro.
— Não levo, mas você não é alguém aleatório.
Viro-me, ela faz o mesmo e ficamos um de frente para o
outro. Nem ligamos de estarmos no meio de uma pista de
caminhada.
— Eu sou o sexo casual.
Pisca para mim e nós dois rimos. Ela não está mentindo,
mas não a vejo assim, não mais.
— Sei que pode soar estranho, mas eu sinto uma conexão
com você, Meghan.
Pela primeira vez vejo-a corar e me sinto incrível por ter
causado essa reação em Meghan. Por alguns segundos, ficamos
em silêncio e vejo a preocupação tomar conta dos seus olhos.
— Você irá embora em algum momento.
— Eu sei, mas até lá, você poderia ser minha... — Passo
meus dedos pelos fios do meu cabelo, nem acredito no que estou
prestes a dizer. — E quando chegar perto da hora de partir,
podemos conversar sobre o futuro, talvez tenhamos enjoado um
do outro, ou talvez possamos pensar em algo.
Não estou prometendo nada, porém, sinto como se
estivesse prometendo tudo a Meghan. Isso porque ela foi capaz de
despertar em mim algo que há muito tempo não sentia.
— Não deveríamos estar tendo essa conversa.
Ela está certa, deveria ser apenas sexo.
— Não. — Dou de ombros. — Mas não sou capaz de deixá-la
ir, não por enquanto.
Meghan ri e assente.
— Ok, Peter, eu vou sair com você.
Levo minhas mãos até sua cintura, olho em seus olhos, nós
dois rimos e, por fim, nos beijamos.
Nós não voltamos a correr, vamos caminhando até meu
prédio e antes de Meghan ir embora, trocamos nossos números de
celular. Ela e eu nos despedimos com um beijo e Meghan dirige
para longe.
Eu fico a observando enquanto uma paz ecoa em meu peito.
Tenho certeza de que tomei a decisão certa, por mais impulsivo
que pareça ser.
Com certeza era um encontro e eles pareciam super
apaixonados!
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

— Você está tão nervosa.


Ava soa debochada.
— Esse cara deve ser um deus mesmo para Meg estar
assim.
Liv continua a provocação. Suspirando, encaro o meu reflexo
uma última vez no espelho e me viro para minhas amigas, as três
estão em minha cama, rindo de mim e me provocando.
— É claro que estou nervosa, eu nunca fui a um encontro
antes.
Liv ri, Ava me encara com pena e Pen morde o lábio inferior
para não rir.
— Ficará tudo bem.
Liv me encoraja.
— Como eu devo me comportar?
Pergunto e espero impaciente pela resposta.
— Não tenho muita experiência no assunto.
Liv me responde e faz um biquinho com os lábios. Encaro
Pen e Ava.
— Vocês duas estão namorando.
Uso isso como argumento e Pen olha para Liv com
deboche.
— Só para constar, Liv também está namorando, ela só não
assume.
Pen provoca Liv, que revira seus olhos.
— É um namoro falso.
Liv se explica, mais pra ela do que para nós três, todas nós
já entendemos que o namoro falso de Liv e Aaron se tornou um
relacionamento de verdade, eles só continuam mentindo para si
mesmos.
— Ok, ok, mas vamos manter o foco, eu quero as dicas.
Ava, Pen e até mesmo Liv me tranquilizam com algumas
dicas, e realmente não parece ser nada de mais, mesmo assim
sigo nervosa. Deveria ter ido a encontros antes. Droga!
Após ouvir minhas amigas, respiro fundo e passo a mão pelo
vestido preto que escolhi. Vestido, botas, casaco, batom vermelho
e cabelo solto. Eu me sinto bonita, mas e se tiver errado em algo?
— Eu estou bonita?
Dou uma volta para que minhas amigas possam ter uma
visão completa de mim.
— Está deslumbrante.
Liv afirma, Ava e Pen concordam com ela.
— Ok, eu vou acreditar em vocês. — Pego minha bolsa,
confiro o horário e aponto para a porta. — Eu preciso ir.
Elas me desejam um bom encontro e nós quatro deixamos o
meu quarto. Minhas amigas se jogam no sofá enquanto eu
caminho até a saída. Eu tenho a mão na maçaneta quando escuto
Pen me chamar, viro-me para trás e a encaro.
— Divirta-se, mas não se esqueça que não pode voltar
muito tarde, porque temos a última prova do nosso figurino
amanhã.
Pen soa como se fosse uma mãe.
— Claro, mamãe.
Eu a provoco, ela revira seus olhos e Ava e Liv riem.
— Alguém tem que ser a responsável.
Pen se justifica.
— Eu acho que está agindo assim por namorar o treinador.
Liv continua provocando Pen, então nossa amiga pega uma
almofada e joga em sua direção. Eu aceno para elas e deixo nosso
apartamento.
Desço as escadas, saio do prédio e entro em meu carro.
Dirijo até o restaurante que Peter escolheu com meu coração
acelerado. Sábado é o campeonato seccional em que posso me
classificar para o nacional e não estou tão nervosa, não o quanto
estou para encontrar Peter.
Estou perdida e, de certa forma, isso me preocupa, pois
namoros e garotos nunca foram minha prioridade. Sempre tive
objetivos traçados e caras nunca foram algo em minha mente.
Perdi a virgindade com um amigo da escola e nos divertimos
juntos até a faculdade e quando cheguei em Dartmouth, tinha um
plano: aproveitar o máximo que pudesse.
E agora estou aqui ansiosa por um encontro. Merda!
Além de tudo, Peter não sabe quem eu realmente sou, quer
dizer, não sabe a minha idade e que sou uma patinadora. Preciso
contar logo para ele e prometo a mim mesma fazer isso sábado
após a competição.
Deixo o carro no estacionamento e sigo até a entrada do
restaurante. É um lugar bonito, aconchegante e ao mesmo tempo
luxuoso. Combina com Peter. Há velas sobre as mesas e luminárias
penduradas no teto, as mesas são de madeira e as cadeiras
também; na decoração tem muitas plantas e quadros conceituais
nas paredes.
Uma recepcionista me cumprimenta, digo o nome de Peter e
ela me leva até ele. Assim que o enxergo, meu coração acelera,
meu olhar encontra o seu e minha respiração falha.
Peter fica em pé e puxa uma cadeira. A mulher fica de lado
para que eu possa ir até ele. Eu paro à sua frente e é como se
existisse apenas nós dois no momento.
— Hey, pequena.
— Hey, grandão.
Nós nos encaramos por alguns segundos e não demora para
que ele se incline em minha direção, sua mão toca a minha cintura
e sua boca encontra a minha. Não podemos aprofundar o beijo,
mas eu quero. Quero que ele me tome, me reivindique e me
mostre que eu sou dele.
Não nos encontramos desde terça e temos trocado algumas
mensagens. Mensagens que fizeram eu me sentir mais perto dele
e como se o conhecesse há muito tempo.
É algo novo que nunca vivi e apesar da ansiedade e do
medinho, eu estou gostando. É um sentimento bom, que mexe
comigo e me deixa como se estivesse flutuando.
Peter interrompe o beijo e dá um passo para trás, sua mão
segue em minha cintura e desce seu olhar pelo meu corpo, a
forma como me encara faz com que me sinta quente.
Ele causa uma bagunça dentro de mim.
— Você está linda.
Seus olhos voltam a encontrar os meus e respiro fundo.
Faço o mesmo que ele fez comigo, desço meu olhar pelo seu
corpo. Ele está de calça jeans, jaqueta de couro, uma camisa e
coturnos pretos.
— Você está gostoso.
Encontro um sorriso em seus lábios quando volto a encarar
seu rosto. Ele tem uma expressão debochada enquanto se curva
outra vez em minha direção.
— Você é muito engraçadinha, pequena.
Beija-me novamente e morde meu lábio inferior. Eu sorrio
assim que ele se afasta e me sento, Peter empurra a minha
cadeira e ocupa o lugar à minha frente.
— Faz algum tempo que moro aqui e nunca tinha vindo
nesse restaurante.
Confesso enquanto olho ao redor.
— Eu encontrei o lugar quando caminhava pela cidade um
dia desses.
Encaro-o.
— Gostei daqui.
Ele sorri e percebo que está aliviado. Ele queria que eu
gostasse do lugar que escolheu. Nos encaramos por alguns
segundos, mas um garçom nos interrompe e precisamos desviar o
olhar um do outro.
Nós fazemos nossos pedidos e assim que voltamos a ficar
sozinhos, Peter pergunta como foram meus últimos dias. Eu o
respondo e faço a mesma pergunta para ele. Conversamos sobre
nossas semanas, eu confesso que estou ansiosa por algo, mas
minto que é relacionado ao mestrado. Ainda não vou contar.
Peter me conta alguns detalhes do seu trabalho, eu conto o
porquê gosto de arte e meu sonho de ter uma galeria, ele me
escuta atentamente e não julga minhas escolhas.
É fácil estar com Peter, nunca ficamos em silêncio,
emendamos um assunto no outro. E quando deixo minha mão
sobre a mesa, ele faz o mesmo e seus dedos se entrelaçam nos
meus, eu sorrio e ele sorri de volta.
Mesmo quando nosso jantar chega, continuamos
conversando. Descobrimos mais um do outro, trocamos
experiências, histórias, opiniões, rimos, debatemos, nos
provocamos e o tempo passa rápido demais. Eu ficaria muito mais.
Pedimos sobremesa, um drink e ficamos o máximo que
conseguimos e só pedimos a conta quando não há mais o que ser
feito. Infelizmente, não podemos mais prolongar, além disso está
tarde e eu tenho que estar cedo na arena.
É perto da meia-noite quando deixamos o restaurante. Peter
me acompanha até o carro com seu braço ao redor da minha
cintura, eu apoio minha cabeça em seu ombro e, caralho, eu não
quero me despedir.
Aponto para a vaga em que meu carro está e ele me leva
até lá. Paramos um de frente para o outro, Peter se aproxima e me
obriga a ir para trás até que tenho minhas costas contra a lataria
do meu Jeep.
Apoia suas mãos ao lado do meu rosto e me deixa entre
seus braços. Seu olhar encontra o meu e as batidas do meu
coração se descontrolam. Deus, como que se respira? Eu acho que
esqueci.
— Eu adorei nosso encontro, pequena.
Sua mão sobe pela lateral do meu corpo. Ele rouba meu
fôlego e meus pensamentos são uma desordem, respiro fundo e
tento me manter atenta.
— Foi incrível.
Sorrio e ele abaixa seu rosto, seus lábios encostam em meu
pescoço e meu corpo desperta. Caralho, é como se com um
simples toque ele fosse capaz de me incendiar.
— Venha até meu apartamento, seguimos em carro
separados, mas venha até mim.
Eu não posso, porque preciso acordar cedo amanhã e
preciso ter boas noites de sono, porque a competição é no sábado
e preciso estar bem.
— Eu te encontro no seu prédio.
Não consigo negar, não quando tudo em mim implora por
ele. Peter ergue seu rosto, encara meus lábios e fecho meus olhos.
Espero pelo seu beijo e ele não me decepciona. Sua boca encontra
a minha e me tira de órbita por alguns segundos.
Porra!
Peter segura meu rosto, morde meu lábio inferior e dá um
passo para trás. Abro meus olhos e me deparo com suas írises
escuras inebriadas pelo desejo. Nós somos um caso perdido!
— Vamos apostar uma corrida para ver quem chega mais
rápido?
Propõe enquanto espalmo minhas mãos em seu peito, mas
Peter faz uma careta. Ops, acho que ele não gostou muito da
minha ideia!
— Não, é perigoso.
— Com medo, grandão?
Provoco-o e a expressão em seu rosto segue séria.
— Não, se eu estivesse dirigindo e você apenas no banco ao
meu lado poderíamos correr, mas você sozinha, não! — Toca
minha cintura com possessividade. — Porque não posso garantir
que esteja segura.
Diz suas últimas frases olhando em meus olhos e eu quase
me derreto aqui mesmo. Droga! Deveria estar achando um
absurdo, porém, é o contrário, gosto da proteção e do seu tom de
voz. Porra, não ligo se ele é possessivo.
— Ok, ok. — Inclino-me em sua direção e beijo seus lábios.
— Eu prometo dirigir como uma senhora de oitenta anos.
Ele beija meus lábios mais uma vez.
— Fico aliviado.
— Melhor, eu vou seguindo você.
Nós dois rimos e ele se afasta. Peter dá alguns passos para
trás, de costas, e aceno para ele. Viro-me e entro em meu carro
com um sorriso em meu rosto. Eu fecho a porta e acompanho
Peter pela janela.
Ele entra em seu carro, liga-o e faço o mesmo com o meu.
Como prometido, eu vou logo atrás dele. Nós dirigimos para o seu
prédio e no meio do caminho ele me liga para dizer que posso
deixar meu carro na garagem, porque ele tem duas vagas.
Então, estaciono ao seu lado assim que chegamos.
Descemos dos carros quase ao mesmo tempo, caminhamos na
direção um do outro e quando nos encontramos, entrelaçamos
nossas mãos.
Um simples toque e é como se recebesse uma dose de
energia, que percorre todo meu corpo e desperta cada célula
minha. Nenhum de nós fala nada e a intensidade que nos cerca só
aumenta.
É ainda mais insuportável quando entramos no elevador e
ficamos um de frente para o outro. Estamos sozinhos em paredes
opostas. Meu olhar está preso ao seu e ele me encara com tanto
desejo que faz com que me sinta uma garota má.
Uma garota má que está saindo com um homem vinte e três
anos mais velho e ele nem sabe disso. É um pouco sujo e isso me
excita. Mordo meu lábio inferior e Peter ergue suas sobrancelhas.
— Em que você está pensando, Meghan?
Solto meu lábio e sorrio.
— Em quando você finalmente irá me beijar. — Faço um
biquinho com meus lábios. — E se irá demorar... porque estou
impaciente.
Mal termino de dizer a última palavra e Peter está na minha
frente, sua mão encontra os fios do meu cabelo e sua boca a
minha. Temos urgência e não nos contemos.
Foda-se que há câmeras, foda-se se alguém estiver nos
assistindo.
Ele me toca por baixo do vestido, minhas mãos sobem e
descem pelo seu peito e quando paramos em seu andar, ele
simplesmente me vira e ataca meu pescoço com seus beijos.
Empurro minha bunda contra sua ereção e o provoco.
Continuamos nos tocando enquanto vamos na direção do
seu apartamento. Peter só se afasta para pegar a chave em seu
bolso e abrir a porta e assim que entramos, voltamos a nos beijar.
Ele me guia até seu quarto e, de repente, desacelera. Seus
olhos ainda refletem desejo, mas quando paramos no meio do
cômodo, ele me encara de um jeito diferente.
Há mais em seu olhar e um arrepio sobe pelo meu corpo.
Minha respiração acelera e meu coração parece prestes a pular do
meu peito.
Tiro meu casaco, ele faz o mesmo com o seu. Eu tiro minhas
botas e ele seus tênis. Nós dois nos despimos com calma e com o
olhar um no outro. Ele está tão próximo e não está me tocando,
isso aumenta minha tensão, faz com que tudo em mim implore por
ele e Peter só caminha em minha direção quando ambos estamos
nus.
Estou ansiosa e quando sua mão toca minha cintura, é um
alívio, ao mesmo tempo em que é insuportável, porque faz com
que precise de mais. Não é o suficiente.
Ele me puxa em sua direção, eu vou e, por alguns
segundos, apenas nos encaramos. O ar muda, o tempo paralisa e
é como se existíssemos somente nós dois. Estamos em uma outra
dimensão.
Peter me beija e me guia até a cama, deita-me sobre o
colchão e paira sobre mim.
Dessa vez é diferente. Os beijos, os toques, a forma
estamos nos olhando. Não perdemos o controle, mantemos um
ritmo menos acelerado e é ainda mais intenso que antes.
Nossa conexão é incrível. Não é só sexo ou um momento de
prazer. O que compartilhamos é indescritível, eu nunca me senti
assim antes.
Nós nos levamos ao limite, gemidos ecoam pelo quarto,
gritamos o nome um do outro e quando gozamos, estamos nos
olhando. É perfeito, memorável e preciso me segurar para não
deixar que lágrimas deixem meus olhos.
Eu sou uma bagunça e dentro de mim está um caos. São
sentimentos que nunca ocuparam meu peito.
Ainda é aquela sensação de estar flutuando e em êxtase,
ainda é como se estivesse acontecendo uma explosão em meu
corpo, mas não é apenas isso. É uma sensação estranha, de como
se estivesse exatamente onde deveria estar. Não me sinto uma
intrusa, não sinto uma vontade louca de sair correndo, é como
estar em casa.
E quando o encaro, eu vejo os mesmos sentimentos
refletidos em seus olhos.
Peter se joga ao meu lado, puxa-me para os seus braços e
ficamos em silêncio. Sua mão sobe e desce pelo meu braço, eu
traço círculos invisíveis com as pontas dos meus dedos em seu
peito. Ao mesmo tempo em que tudo me assusta, eu me sinto
bem, porque é como se fosse certo.
— Você está bem?
Peter quebra nosso silêncio.
— Eu estou bem, mais do que bem.
Segura-me em seus braços e beija a lateral da minha
cabeça. Eu me sinto protegida com Peter.
A verdade é que não me sinto sozinha quando estou com
ele.
Eu fiquei sabendo que ele é o pai da sua melhor amiga, mas,
aparentemente, ela não sabia disso…
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

Eu encaro o teto do vestiário e respiro fundo. Meu Deus, eu


estou tão nervosa! Não é a primeira competição e nem a primeira
vez que estou no campeonato seccional, a diferença é que dessa
vez sinto que posso ser classificada para o nacional. Realmente
tenho chances!
Antes de Luke, nossa treinadora não era tão focada e rígida,
contudo, ele é diferente, pois tira o melhor de cada uma de nós,
ele nos incentiva a buscar a perfeição. E agora temos chances
reais de nos classificarmos, uma parte minha, inclusive, tem a
esperança de ser classificada para o mundial. Mesmo que ser uma
patinadora não seja meu objetivo para o futuro, não reclamaria de
ter uma medalha de ouro.
Eu posso até me imaginar em um pódio, recebendo uma
medalha enquanto o hino dos Estados Unidos ecoa pela arena.
A imagem faz com que meu coração acelere ainda mais.
Droga, eu preciso me acalmar e é por isso que empurro as
imagens para o fundo da minha mente e abaixo minha cabeça.
Olho ao redor a procura das minhas amigas, não encontro
Pen e nem Ava, mas me deparo com Liv em frente ao espelho. Ela
está tocando suas clavículas e a expressão em seu rosto não é das
melhores. Sua testa está enrugada e seus lábios se encontram
contraídos. Será que algo aconteceu? Ela está passando mal? Não
hesito, vou até ela e paro ao seu lado.
— Liv, você está bem?
Liv abaixa sua mão, vira-se para mim e sorri.
— Claro. — Não é um sorriso verdadeiro e percorro seu
corpo à procura de algo. — Você está linda.
Não encontro nada de errado. Não deve ser nada de mais,
talvez ela esteja apenas nervosa, assim como eu, então sorrio e a
encaro animada. Liv também está linda com seu figurino preto e
bordados prateados.
— Você também está deslumbrante, o pobre do Aaron irá
ter um ataque do coração.
Provoco-a e ela apenas balança a cabeça e ri, eu rio com
ela, porque Liv pode estar jurando que ela e Aaron não estão em
um relacionamento, mas eles estão. O namoro de mentirinha se
tornou um romance real e nós duas ainda estamos rindo quando
Penny se aproxima.
— Nós precisamos ir, Luke está nos esperando.
Apressa-nos e Liv e eu a encaramos com deboche.
— Ela é a assistente do treinador agora.
Zombo do fato de Penny estar namorando nosso treinador e
ela revira os olhos e faz um gesto de desdém com a mão.
— Vamos logo.
Ela está claramente impaciente, então Liv e eu paramos de
provocá-la, vestimos nossos casacos e deixamos o vestiário.
Ansiedade volta a palpitar em meu peito. Eu amo estar aqui, amo
que minhas amigas também estejam aqui, Liv e Penny na mesma
categoria que eu, o individual feminino, e Ava pela patinação em
dupla.
Vamos até o lugar onde nossa equipe está posicionada, Luke
e os outros integrantes da coordenação estão andando de um lado
para o outro com pranchetas em mãos, eles estão conversando,
fazendo anotações e observando as equipes de outros estados.
Eu olho ao redor e observo o local. Estamos em uma arena
em Boston e as equipes estão espalhadas por aqui. Há muitas
garotas boas e isso é um pouco intimidante. Respiro fundo e me
lembro que sou tão boa quanto elas. Eu sou incrível!
— Vocês estão ótimas, meninas.
A voz de Luke interrompe meus pensamentos.
— Obrigada, Luke.
Liv agradece, eu olho para ele e também o agradeço. Liv e
se senta em um dos bancos que estão à nossa volta. Penny
conversa com Luke e eu sigo em pé.
Olho novamente à minha volta, as equipes, a pista de
patinação que tivemos a chance de patinar e fazer um
reconhecimento mais cedo, analiso os detalhes, tento me distrair,
mas de repente, sinto como se minha alma deixasse meu corpo
quando olho para a arquibancada.
São segundos que fico paralisada, sem entender, sem
compreender e sem reação. Não pode ser real, eu tenho que estar
maluca, alucinando, o nervosismo está fazendo com que tenha
visões.
Pisco várias vezes, olho para o lado e volto a fitar o cara
que se parece muito com Peter, ele não sumiu, continua lá. Não
pode ser ele, mas é idêntico. Será que ele tem um irmão gêmeo?
Não, ele me disse que é filho único.
Porra!
Procuro algo que confirme que não é ele, alguém parecido,
entretanto, não há um único sinal. Pelo contrário, ele está usando
o mesmo suéter que vestia quando nos encontramos pela
primeira vez.
É Peter. Eu tenho certeza. O que ele está fazendo aqui? Ele
descobriu que eu estava mentindo? Veio ter certeza? Caralho, ele
veio de Hanover para Boston por minha causa?
Como ele descobriu? Nós dois conversamos por mensagens
e ele parecia normal, não parecia alguém que tenha descoberto
uma mentira. Ele poderia estar fingindo?
Merda, eu iria contar a verdade para ele amanhã. Nós
marcamos de nos encontrarmos para almoçar e iria revelar minha
idade e sobre a patinação. Será que eu estraguei tudo?
Não gosto da ideia, porque me sinto bem quando estou com
Peter e depois da noite que compartilhamos na quinta, não quero
abrir mão dele, também não quero que ele desista de mim.
O que eu faço? Será que tenho tempo de ir até ele? Olho
para o horário que brilha no painel. Eu não tenho tempo. Terei que
esperar para falar com Peter, torço para que ele espere por mim,
que fique e assista minha apresentação.
Pensar nele me assistindo me deixa nervosa. Porra, ele irá
me assistir patinando. Pelo menos estou bonita em meu figurino
azul, minha maquiagem realça minha beleza e meu cabelo está
preso em um penteado elaborado.
Eu quero o impressionar, quero que ele fique babando
enquanto me vê no gelo.
Faz apenas duas semanas, mas nós temos uma conexão,
dividimos algo que me recuso a explicar e procuro não pensar
sobre, estou apenas aproveitando o momento e me jogando. Não
importa o que seja, eu estou me jogando!
Peter ri de algo e olha para o lado, eu acompanho seu
movimento e me deparo com um garoto, alguém bem mais jovem
do que ele e quando o reconheço, um frio se instala em minha
barriga.
Aaron está ao lado de Peter. Merda, merda, o que isso
significa?
Peter conhece Aaron? Por que ele está ao lado do garoto
que está namorando a minha amiga? Nada faz sentido nenhum,
não consigo encontrar nenhuma explicação.
Aaron ergue o braço e acena para alguém, não demoro a
descobrir que é para Liv. Volto a encarar Peter e ele está fitando
Liv e sorrindo. Peter está sorrindo para Liv, o fato se repete em um
loop em minha mente.
Não gosto de vê-lo sorrindo para outra garota, eu quero ir
até ele e perguntar que merda ele está fazendo. Eu devo ser o
centro das suas atenções.
De repente um alarme soa em minha mente e me paralisa.
Se Peter estivesse aqui por mim, ele teria me procurado e em
nenhum momento ele parecia estar procurando alguém. Desde
que estou o observando, seu olhar nunca encontrou o meu.
Ele não está aqui por mim!
Peter segue encarando Liv. Ele a conhece? Ele está aqui por
ela? Será que ele sai por aí conquistando garotas mais novas? Será
que sou apenas mais uma?
Meu Deus, eu sou uma bagunça! Minha vontade é de gritar,
puxar meus cabelos e correr até Peter e obrigá-lo a me esclarecer
que merda está acontecendo.
Mas Liv não está flertando com ele, minha amiga teria
contado se tivesse conhecido alguém e ela claramente está
apaixonada por Aaron, além do mais, Aaron não estaria ao lado de
alguém que está flertando com a sua garota.
Nada faz sentido, meu cérebro vai explodir!
Uma vozinha irritante sopra em minha mente que o pai de
Liv viria com Aaron... Desvio o olhar de Peter e caminho de um
lado para o outro sem me importar se irão me chamar de
maluca.
Peter tem uma filha da minha idade... Caralho, isso não
pode ser verdade, eu estou alucinando, o pai de Liv se chama
James. Confiro mais uma vez e não tenho tempo para ir até Peter.
Se Liv conhece Peter, ela irá me dizer e é por isso que vou
até minha amiga e me sento ao seu lado.
— Quem é aquele com Aaron?
Sussurro para que apenas ela escute, Liv olha para Peter e o
encara como se o conhecesse, como se fossem íntimos. Estou
tensa, ansiosa e angustiada, com ânsia de vômito e não tem nada
a ver com a competição ou minha apresentação, eu tenho medo
da sua resposta.
— É meu pai.
Sua resposta ecoa em minha mente. Peter é pai de Liv,
talvez tenha entendido errado. Não posso ter ouvido corretamente.
Isso não pode estar acontecendo.
— Seu pai?
— Sim, por quê?
Liv confirma e preciso me controlar para não deixar que
pavor tome conta da minha expressão. Olho para Peter enquanto
respondo minha amiga com a primeira desculpa que consigo
formular.
— Ele só parece muito novo para ser seu pai.
O pai de Liv se chama James, não Peter, talvez os dois
sejam apenas parecidos. Tento encontrar algo que diga o
contrário, mas quando olho na direção dele, vejo-o nos encarando
com uma expressão nada agradável. Mesmo de longe, posso
decifrar seu olhar e ele faz com que eu queira me encolher em
uma posição fetal e chorar.
É uma mistura de surpresa, frustração, preocupação, culpa e
decepção. Eu odeio a decepção. Ele não está feliz e não há mais
dúvidas. Peter e o pai de Liv são a mesma pessoa.
— Chame isso de boa genética. — Liv soa animada e eu
continuo encarando Peter. Peter, o pai de Liv. — Algum problema?
O que eu vou dizer? Com certeza, não vou contar que dormi
com seu pai. Abro e fecho a boca algumas vezes, porque
simplesmente não sei o que dizer ou como reagir. Enfim, balanço
minha cabeça e invento uma desculpa qualquer.
— Apenas estou nervosa.
As palavras deixam meus lábios, entretanto, ao mesmo
tempo é como se não fosse eu. Eu preciso me controlar para não
chorar, para manter as lágrimas longe dos meus olhos.
— É só isso?
Assinto e me esforço para parecer o mais normal possível.
Por dentro eu estou um caos, surtando... Eu já me meti em muitas
confusões, mas essa é a pior de todas. Transar com o pai de uma
das minhas melhores amigas é algo que eu nunca faria.
Para minha sorte, Ava e Matteo se aproximam e mudamos
de assunto. Eu participo da conversa para ninguém perceber o
meu real estado, porém, não consigo parar de pensar que eu
transei com o pai da minha melhor amiga.
Eu conheci Liv e as meninas no primeiro período, nossa
conexão foi incrível, nós nos tornamos melhores amigas, a família
uma da outra e eu dormi com o pai de uma delas. É algo
inaceitável. Porra!
Apesar de pagarmos um aluguel, o apartamento pertence ao
pai de Liv, Peter é o dono do apartamento que eu moro.
Eu me sinto sufocada, como se fosse desmaiar a qualquer
momento. Fico em pé e caminho de um lado para o outro, tiro
meu moletom e respiro fundo várias vezes.
Não consigo parar de pensar que dormi com o pai da minha
melhor amiga. Isso quer dizer que eu não posso continuar vendo
Peter e isso me machuca. Todos os nossos momentos se
transformaram em memórias na minha mente.
Eu o perdi mesmo antes de tê-lo.
Peter fará parte do meu passado quando, lá no fundo,
desejo que ele faça parte do meu futuro. Preciso encarar o teto
para que as lágrimas não caiam pelo meu rosto.
Minto que estou nervosa quando Ava pergunta se estou bem
. Eu nem consigo pensar no fato de que estarei no gelo daqui a
alguns minutos. Por que isso tinha que acontecer comigo? Logo
comigo que amava minha liberdade, a sedução e o sexo. Era só
isso que eu queria. Por que eu tinha que experimentar algo
diferente?
Uma parte de mim implora para olhar para Peter, mas me
contenho. Se o encarar eu irei desmoronar.
A voz do cerimonialista ecoa pela arena. A competição irá
começar. Respiro fundo mais uma vez e silencio o turbilhão de
sentimentos que ecoam em meu peito.
As atletas e os juízes são apresentados, a ordem das
apresentações que aconteceu por sorteio é divulgada e eu sou a
terceira. Meu nervosismo aumenta e estou suando frio.
Eu assisto as duas primeiras apresentações e a minha vez
chega. Piso no gelo e vou até o centro da pista. Meu coração está
acelerado e a adrenalina percorre o meu corpo.
Faz muito tempo que sou uma patinadora, eu sei o que
fazer. É o que digo a mim mesma.
Suspiro e assumo a posição inicial. Os segundos se
arrastam, mas enfim a música que escolhi para minha
apresentação ecoa pela arena. Rewrite The Stars, a própria versão
escrita para o filme, inicia e começo a me movimentar.
É fácil deslizar pelo gelo, é fácil acertar os movimentos. Está
tudo gravado em minha mente como se fosse uma parte minha.
Executo cada elemento com perfeição. Não erro em nenhum
momento, acompanho o ritmo e a batida da música, transformando
a música, o gelo e eu em um único elemento.
Giro, salto, corro pela pista, faço os movimentos de dança e
sou aplaudida de pé. Eu consigo fazer a apresentação perfeita e
quando finalizo, procuro por Peter, meu olhar encontra o seu e a
letra da música que escolhi ecoa em minha mente.

“Ninguém pode reescrever as estrelas


Como você pode dizer que você será meu?
Tudo nos separa
E eu não sou aquela que você deveria encontrar”
Parece que homens mais velhos também perdem o chão.
Pelo visto, Big Girls cry, sim.
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Peter

Sempre fiquei nervoso assistindo Liv competir, mas hoje


estou ainda pior. Sei que é uma competição importante, algo que a
tem deixado atormentada, além do mais, existe o medo de ela
estar se cobrando demais. Não quero que o que aconteceu no
passado se repita.
Lembrar de Liv em um hospital, deitada em uma maca e
doente porque parou de comer para ficar mais magra me causa
um desconforto no estômago. Foram dias terríveis, se eu pudesse
voltar ao passado, eu voltaria e faria tudo diferente. Teria sido um
pai melhor e protegido a minha garotinha.
Eu falhei como pai e isso me corrói. É algo que não posso
mudar e que machucou a pessoa mais importante da minha vida.
Liv é tudo pra mim, mesmo que não tenha demonstrado isso por
um tempo, ela é, sempre foi.
Quero que ela vença, mas, acima de tudo, quero que esteja
bem e feliz. Eu faria qualquer coisa para ela ser feliz e para me
perdoar.
A cada segundo que passa, fico mais ansioso. Eu converso
com o namorado de Liv a fim de me distrair. O jogador de hóquei
do time da faculdade veio dirigindo até Boston, gosto do garoto e
ele parece realmente estar apaixonado. Não sou bom no assunto
relacionamento, nunca me apaixonei de verdade, porém, quando
Aaron olha para Liv, existe algo diferente, um brilho único, e minha
garotinha o encara da mesma forma, espero que ele não a faça
sofrer.
Mantenho minha atenção sobre Liv, meu foco é ela, é nítido
que está nervosa e gostaria de ir até lá, mas infelizmente não
posso, estou preso na arquibancada.
Estou de boné, mesmo assim um cara me reconhece e pede
uma foto e um autógrafo. Faz sete anos que me aposentei do
esporte, porém sigo sendo reconhecido. É difícil me desvincular do
título de melhor jogador de hóquei da década passada.
Por muito tempo, todas minhas relações foram baseadas em
admiração e interesse, e é por isso que estar com Meghan é tão
importante, puro e genuíno. Ela não sabe sobre o hóquei e nem da
minha fama ou dinheiro. Ela gosta de mim por quem eu realmente
sou.
Assim que o fã se afasta, volto a olhar na direção de Liv e
há uma garota ao seu lado. Ela não estava ali antes e meu coração
bate acelerado em meu peito, porque ela se parece muito com
Meghan.
Merda, estou tão obcecado pela garota que a vejo em
outros rostos? Não posso ouvir o que estão falando, mas vejo as
expressões e posturas corporais e são iguais às de Meghan.
Que porra está acontecendo?
— Quem é a garota ao lado de Liv?
Pergunto para Aaron e torço para que ele não me responda
com o nome dela. Ela é só alguém extremamente parecida e estou
lembrando dela, porque estou obcecado por uma garota dezessete
anos mais nova.
— É a Meghan.
Parecida e com mesmo nome? Impossível, é ela. Meu
coração segue acelerado em meu peito. Por que ela não me
contou que é uma patinadora? Continuo a observando e ela e Liv
conversam com intimidade, elas não se conheceram agora, elas se
conhecem há mais tempo. Droga, ela conhece a minha filha!
— Ela e Liv se conhecem há muito tempo?
Aaron sorri e me encara com um olhar repleto de deboche.
— Elas são melhores amigas, você não sabia? — Balanço a
cabeça negando, enquanto uma pressão surge em meu peito. —
Elas inclusive moram no mesmo apartamento.
As informações ecoam em minha mente e demoro a
acreditar que isso realmente está acontecendo comigo. É como se
eu fosse apenas um telespectador da vida de outra pessoa. Essa
não pode ser a minha realidade!
Porra!
Liv mora com três amigas, mas nunca conheci nenhuma
delas. Caralho, como? É uma pegadinha de mau gosto?
Preciso me controlar para não demonstrar a bagunça que
sou no momento. Aaron não pode saber que transei com a melhor
amiga de Liv, ninguém pode saber.
— Eu não conhecia as meninas. — Aaron apenas assente. —
Qual é a idade dela?
Não é uma pergunta normal e claro que ele me encara
desconfiado, porém, eu preciso saber, não posso esperar para
perguntar para Meghan.
— Vinte e um.
Ela mentiu para mim. Merda, ela deve estar na faculdade
ainda. Caralho! Como eu fui me meter em um problema desses
aos quarenta e quatro anos? Quero explodir, gritar, caminhar de
um lado para o outro, passar as mãos pelos fios do meu cabelo,
mas não posso.
— Ela e Liv são da mesma equipe?
— Sim.
Aaron está me encarando com uma expressão curiosa e
antes que ele me faça perguntas, desvio o olhar dele e fico em
silêncio. Meghan tem vinte e um anos, ainda está na faculdade, é
melhor amiga da minha filha e faz parte da equipe de patinação de
Dartmouth.
Equipe essa que eu sou patrocinador. Nunca poderia ter me
relacionado com ela. Mas, porra, como eu ia saber? Meghan
mentiu para mim. Mentiu sobre a idade e sobre o que realmente
está fazendo na faculdade. Ela nunca mencionou a patinação,
minha consciência acusa que eu nunca mencionei o hóquei, além
de não ser algo tão importante.
A idade é importante, extremamente importante. Eu não
costumo ficar com garotas jovens demais, quando ela me contou
que tinha vinte e sete já foi uma exceção, mas vinte e um?
Inadmissível. É a idade da minha filha
. O que farei agora? Como seguimos a partir desse
momento?
A solução para tudo parece simples, é me afastar de
Meghan, mas existe uma conexão entre nós, algo que eu não
tenho com alguém há muito tempo.
Eu me sinto surpreso, frustrado, transtornado,
decepcionado, preocupado e culpado. Ela é apenas uma garota,
sou eu o mais velho, mais experiente, deveria ter evitado. Nunca
deveria ter ido até aquele bar e a levado para a minha casa.
Olho para as duas. Liv e Meghan continuam conversando e
Meghan se vira em minha direção. Seu olhar encontra o meu e por
mais que tente esconder, eu consigo notar a sua frustração. Ela
sabe quem eu sou e está doendo nela também. Não gosto de ver
a sombra de tristeza que toma conta do seu rosto.
Merda, eu deveria estar com raiva de Meghan, deveria estar
pronto para deixá-la partir, mas enquanto a encaro, tudo que
consigo pensar é que não quero deixá-la ir. Eu não estou pronto
para perdê-la.
Ela segue conversando com minha filha, um casal se
aproxima das duas e continuo com meus olhos sobre ela,
acompanhando cada movimento seu. Meghan está sorrindo, mas
não é um sorriso real.
Eu quero descer e ir até ela. Mas eu não posso. Meu lugar
não é ao seu lado, nunca vai ser e isso me machuca. Caralho!
De repente, ela fica em pé e caminha de um lado para o
outro. Tira seu moletom e fica vestindo apenas o seu figurino. É
como se fosse um vestido azul repleto de pedrinhas brilhantes, ele
está colado ao seu corpo, apenas depois do seu quadril que o
tecido flui ao seu redor e é possível perceber que está de short.
Pela primeira vez desde que a vi, eu realmente olho para
ela. Desço meu olhar pelo seu corpo e ela está linda. Ela parece
uma princesa, seu cabelo está preso em um coque, não é um
coque comum, há algumas tranças que deixam o penteado mais
elaborado e ela ainda mais linda.
Meghan parece mais nova, aliás, ela parece ter a idade que
tem. Nunca desconfiei que ela não tivesse vinte e sete anos por
conta da sua aparência, mas agora ela aparenta a sua real idade.
Ela caminha de um lado para o outro como se estivesse
nervosa, mas sei que não é isso.
Eu me sinto péssimo.
É angustiante vê-la assim e não poder fazer nada, mas sigo
a encarando, mesmo que em nenhum momento ela olhe em
minha direção. Uma parte de mim acredita que ela está me
evitando e isso me machuca.
Eu não deveria estar tão mal por causa de uma garota,
droga, eu tenho quarenta e quatro anos. Por que estou me
sentindo assim? E para piorar, eu a conheço há apenas duas
semanas. Estou me comportando como um maldito adolescente.
Eu vim para Hanover para me certificar que Liv está bem e
meu prazo é um mês, faltam mais nove dias, talvez, dependendo
do resultado de hoje e do comportamento de Olívia, eu possa
antecipar minha partida. Talvez seja o momento certo de voltar
para casa.
A competição tem início e me divido entre ficar preocupado
com minha filha e com Meghan. Eu não sei se seu sonho é se
classificar, mas estou torcendo por ela da mesma forma.
Meghan é a terceira a se apresentar e assim que pisa no
gelo, minha atenção é toda sua. Meu coração acelera e estou
nervoso.
— James, você está bem?
Aaron me pergunta.
— Claro.
Minto.
— Você parece tenso.
— Estou apenas apreensivo.
Aaron aceita minha resposta e fica em silêncio. As luzes da
arena se tornam menos intensas, o foco é na garota no gelo e a
música ecoa pelo espaço.
Meghan está linda e inicia a apresentação. É hipnotizante
assisti-la e mesmo se quisesse, não conseguiria desviar meus
olhos dela. É incrível vê-la deslizando pelo gelo. Ela é natural, os
movimentos são limpos, leves e sua postura é impecável. É como
se seus patins fossem parte do seu corpo.
Eu preciso me conter para não gritar e bater palmas a cada
segundo. É um alívio quando todos vibram, porque posso vibrar
junto. Seus movimentos acontecem no ritmo da música, uma
música que faz com que eu engula em seco.

“Você sabe que eu te quero


Não é um segredo que tento esconder
Você sabe que me quer
Então não fique dizendo que suas mãos estão atadas
Você diz que não está nas cartas
E o destino está te levando pra muito longe
E pra fora do meu alcance
Mas você está aqui no meu coração”

A sua apresentação chega ao fim, Meghan se posiciona no


centro da pista e seu olhar encontra o meu. Há um turbilhão de
sentimentos refletidos em como nos encaramos. No momento,
Meghan é tudo que eu quero e tudo que não posso ter.
Meghan deixa a pista, as luzes são ligadas e ela se junta à
sua equipe. Sua nota será divulgada em instantes e posso ver a
apreensão em seu olhar. Meu coração bate acelerado enquanto ela
caminha de um lado para o outro, dessa vez, seus olhos procuram
por mim e é claro que estou a encarando.
A nota é divulgada, é altíssima, ela comemora, recebe os
abraços das suas amigas e da equipe técnica, e eu permito que
meus lábios se curvem em um sorriso tímido.
Não tenho nada a ver com a sua conquista, entretanto, eu
me sinto orgulhoso.
A próxima patinadora é chamada e Meghan se senta ao lado
de Liv, eu desvio os olhos dela e encaro minha filha, ela volta a ser
a minha maior preocupação, só ela importa.
Liv assiste as próximas apresentações com a testa franzida,
é nítido que está preocupada, então quando ela olha na direção
em que Aaron e eu estamos, aceno e sussurro palavras de
incentivo.
“Você irá conseguir.”
Ela não pode me ouvir, mas talvez consiga ler meus lábios.
Como agradecimento, Liv sorri e eu me sinto um pouco mais em
paz, uma paz que não dura muito tempo.
Os minutos se arrastam e a cada segundo fico mais
apreensivo. Enfim, Liv é chamada. Meu coração parece prestes a
pular do meu peito e acompanho cada movimento seu. Aaron e eu
não trocamos nenhuma palavra.
Liv se posiciona no meio da pista de patinação, há um frio
em minha barriga e minhas mãos estão suando. Caralho!
A versão instrumental de Fix You, de Coldplay, ecoa pela
arena e Liv desliza pelo gelo. Um sorriso surge em meu rosto, essa
é a minha garota! Ela é perfeita.
Diversas lembranças de Liv no gelo inundam minha mente,
eu relembro seu percurso, de tudo que ela passou para chegar até
aqui, para ser quem ela é. Minha garota é uma força da natureza,
um furacão. Ela é o meu amor, meu orgulho e minha vida.
Seguro minha respiração a cada movimento mais difícil e só
volto a respirar normalmente quando o finaliza.
É nítido seu amor pelo esporte, sua dedicação e empenho. E
enquanto patina de um lado para o outro, é visível na expressão
em seu rosto o quanto ela está feliz.
Liv salta e por alguns segundos gira no ar, é encantador e
recebe os merecidos aplausos. Eu preciso me controlar para não
chorar de emoção.
Minha garotinha é incrível, perfeita e está em seus últimos
segundos, eu posso inclusive visualizá-la no pódio sorrindo
enquanto há uma medalha em seu pescoço.
Estou sorrindo, empolgado e animado, mas, de repente, a
preocupação toma conta de mim quando eu vejo algo na postura e
na expressão de Liv, é uma mudança sutil, porém, eu percebo.
Liv salta e grito o nome da minha filha no exato momento
em que seus patins atingem o gelo, ela não o tocou como deveria
e seu pé torce para o lado. A sensação de vê-la caindo e chorando
de dor é horrível. É angustiante e me vejo correndo pela
arquibancada em direção à pista de patinação. Aaron está logo
atrás de mim, mas o ignoro, eu só preciso chegar em Liv.
Não é a primeira vez que Liv cai no gelo, mas o sentimento
de desespero em meu peito é o mesmo. Liv fraturou o tornozelo
enquanto disputava o campeonato nacional de patinação Júnior.
Minha filha chorou horrores, ela sentiu tanta dor, além disso ficou
meses afastada e isso quase a destruiu.
Da primeira vez, ela conseguiu se recuperar, porém, o
médico deixou claro que seu tornozelo não aguentaria uma
segunda fratura.
Liv precisa ficar bem, patinação é a sua vida.
A organização não me deixa passar e eu tento ser paciente,
mas quando escuto seus gritos de dor, perco o controle. Grito e os
intimido. Eles ameaçam chamar os seguranças, mas os detenho
quando uso meu nome. Eles sabem quem eu sou e sabem que sou
um dos principais patrocinadores. Eles chamam o chefe da
organização e eu assisto minha filha ser levada em uma maca para
a sala de atendimento médico.
Assim que eles enfim liberam minha entrada, Aaron e eu
corremos até ela. Minha filha está lá gritando de dor, chorando e
tudo que queria era ser capaz de tirar sua ajudá-la, mas eu não
sou.
Eu paro ao seu lado e seguro sua mão enquanto os
socorristas chamam uma ambulância, ela precisará ir para o
hospital urgentemente. É ruim. Encaro seu pé deslocado para o
lado e preciso me segurar para não vomitar.
Liv está desesperada e preciso ser forte por ela. Inclino-me
em sua direção e beijo sua testa.
— Ficará tudo bem, garotinha.
Prometo, mesmo que isso não esteja ao meu alcance. É
horrível presenciar sua agonia e preciso me controlar para não
chorar.
Quando ela precisa ser levada para a ambulância, Aaron se
encarrega de levá-la e como está gritando muito, uma enfermeira
aplica um sedativo em seu braço.
Aaron carrega minha garotinha desacordada e eu os sigo.
Vamos na ambulância junto com Liv para o hospital, assim que
chegamos ela é levada para um quarto, enquanto Aaron e eu
ficamos na sala de espera.
Caminho de um lado para o outro ao mesmo tempo em que
a cena dela caindo ecoa em minha mente. É assustador, mil coisas
se passam em meus pensamentos e nenhuma delas é animadora.
Os minutos se arrastam, o médico aparece para nos
informar que uma cirurgia será necessária e voltamos a ficar na
espera.
É perturbador e tudo se torna pior quando Meghan chega
com as amigas de Liv no hospital. Nós nos encaramos, mas não
posso ir até ela.
Esse final de semana foi tenso. Um acidente, mentiras
reveladas, discussões e alguns corações partidos.
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

Penny e eu nos classificamos para o campeonato nacional,


Matteo e Ava também, mas não comemoramos, porque só
conseguimos pensar em Liv. O acidente foi horrível e se
pudéssemos, com certeza estaríamos no hospital.
Nós somos a família um do outro e quando um está mal,
todos estamos.
Assim que a cerimônia de premiação chega ao fim, corremos
para o vestiário, trocamos de roupa, arrumamos nossas coisas,
inclusive as de Liv e encarregamos o pessoal da equipe técnica de
levar, o que não iremos usar, de volta para Hanover, e vamos para
o hospital.
Cada um de nós tem apenas uma mochila nas costas com
alguns itens pessoais que podem ser necessários, nós também
estamos com a mochila de Liv. Vamos em dois táxis, Ava e Matteo
em um carro, Luke, Penny e eu em outro.
Solicitamos informações na recepção e somos direcionados
para o terceiro andar, recebemos alguns crachás e nos dirigimos
para o elevador. Assim que pisamos no andar, encontramos mais
uma recepcionista, é ela que nos libera e explica que podemos
ficar na sala de espera aguardando notícias de Liv.
Estamos apreensivos e com medo do quão ruim foi a sua
lesão. Seu tornozelo torceu de um jeito que nunca tinha visto, seu
pé estava deslocado para o lado, apenas de lembrar da sua
imagem no chão me causa um embrulho no estômago.
Deus, por favor, que ela esteja bem.
Matteo abre a porta e fica de lado para que possamos entrar
na sala, Ava, Penny e eu entramos. Eu sou a última e meu olhar
encontra o dele assim que cruzo pela porta.
Peter está em pé, a expressão em seu rosto deixa claro o
quanto está preocupado e com medo. Nesse momento, ele parece
mais velho e mais experiente.
— Hey.
Sua voz é rouca e sem ânimo nenhum. Minhas amigas se
aproximam e eu faço o mesmo. Torna-se insuportável o encarar,
então desvio meus olhos dos seus.
Para meu desespero, Ava e Penny o abraçam enquanto
sussurram o quanto elas amam Liv e estão preocupadas. Eu sou a
próxima e todo meu corpo está tremendo. Como vou fazer isso?
Se não fizer ficará estranho. Merda!
Penny se afasta, eu ergo o meu rosto e, mais uma vez, meu
olhar encontra o seu. Meu coração acelera e minha respiração
falha. Ele me encara de volta e tudo que sentimos durante a
semana está aqui vibrando em meu peito.
Há uma pressão dentro de mim e minha garganta embarga.
É uma situação horrível. Eu transei com o pai da minha melhor
amiga e agora estamos ambos em uma sala de espera, porque ela
se machucou durante uma apresentação.
Eu me controlo para não chorar e quase desabo quando ele
me abraça. Nem tenho o direito de estar me sentindo como estou,
só que não consigo ter domínio sobre minhas emoções.
Sempre soube como esconder meus sentimentos, ser fria e
racional, e agora, simplesmente não consigo. Agora sou uma
bagunça.
Seus braços ao meu redor são tão familiares, seu perfume
me cerca e cada parte em mim o reconhece. Queria continuar
aqui, porém não posso.
— Sinto muito.
Sussurro por conta de Liv e por nós também. Eu realmente
sinto muito pela situação em que estamos. Sinto muito por ter
mentido, por ter escondido informações, por ter transado com ele.
Por tudo e me sinto culpada, porque minha única preocupação
deveria ser minha amiga.
— Eu também, pequena.
Sussurra o mais baixo possível para que apenas eu consiga
escutar. O apelido me machuca. Ele não pode me chamar assim,
não mais.
— Não me chame assim.
Afasto-me e deixo que meus braços caiam ao meu lado.
Peter dá um passo para trás. Ele me encara e a dor em seus olhos
se intensifica, e além da dor há também mágoa, ressentimento e
decepção, aposto que está lembrando que eu menti e escondi
informações dele.
Suspiro e me viro, não suporto vê-lo me culpando e nem me
acusando, principalmente porque não podemos conversar, sequer
posso me explicar e me defender.
Eu me junto às minhas amigas e vou até Aaron, nós
repetimos o que fizemos com Peter e o abraçamos. O jogador de
hóquei tenta se conter, mas acaba chorando e nós choramos com
ele. É inevitável!
Ava olha para Peter com lágrimas escorrendo pelo seu rosto
após nos afastarmos de Aaron, estamos todos em pé espalhados
pelo espaço, eu sigo me recusando a olhar para ele.
— Como Liv está?
Ava pergunta e meu coração dispara, nenhum de nós
confessa, mas temos medo da resposta de Peter.
— Ela está em cirurgia e devemos aguardar.
Eu empurro minhas questões para longe e encaro o pai da
minha amiga.
— Eles têm alguma previsão de quanto tempo ela irá
demorar para se recuperar?
Pergunto e Peter balança a cabeça, negando.
— Eles só terão uma estimativa pós-cirurgia. — Ele engole
em seco e sei que suas próximas palavras não serão agradáveis.
— Eles não sabem se ela poderá voltar a competir.
Isso destruiria Liv, ela ama ser uma patinadora.
— Ela ficará bem.
Soo convicta, eu só não sei se estou tentando convencê-lo
ou me convencer. Peter apenas assente e desvio meus olhos dele,
viro-me para o lado e encaro Penny e Ava. Nós três nos sentamos
nas cadeiras disponíveis na sala, enquanto Matteo, Aaron, Luke e
Peter ficam em pé, eles conversam entre si.
— Vocês já conheciam o pai de Liv?
Tento soar normal ao fazer a pergunta para Penny e Ava.
Ava nega, mas Penny assente.
— Uma vez Luke estava em uma reunião com a
coordenação e alguns representantes dos patrocinadores, eu
estava o esperando do lado de fora da sala e quando terminou,
Luke me apresentou James como um dos patrocinadores e o pai
de Liv.
Engulo em seco e mais uma vez é como se estivesse
recebendo um soco no estômago. A situação só piora!
— Ele é patrocinador da equipe?
É claro que ele é, eu já sabia, Liv nos contou, eu só tinha
esquecido desse detalhe. Na verdade, uma parte minha ainda não
consegue assimilar que Peter é pai de uma das minhas melhores
amigas.
Porra, eu fiquei com um patrocinador. Seria péssimo se
alguém descobrisse.
— Sim, foi ele que nos defendeu, se não fosse James, Luke
e eu teríamos sido expulsos.
Penny soa agradecida. Então foi Peter que não deixou minha
amiga ser prejudicada por estar namorando o seu treinador.
Droga, isso não faz com que meu ressentimento por ele aumente,
pelo contrário, reforça minha admiração.
— Na verdade, o patrocinador é o banco da família de
James e eles também patrocinam o time de hóquei.
Penny explica. Então, o banco que patrocina a equipe é o
banco da família de Peter, ele nunca chegou a me falar o nome.
Será que foi algo proposital?
— Ele patrocina o time de hóquei porque já foi um jogador.
Ava comenta como se não fosse nada de mais e seria algo
irrelevante, mas não é, porque ele nunca comentou que jogou
hóquei profissionalmente em nossas conversas.
— Ele jogou hóquei?
Ava assente e um sentimento de traição e decepção ecoa
em meu peito. Ele estava só brincando comigo? Eu me sinto uma
idiota por ter acreditado que realmente tínhamos uma conexão.
— Ele foi o melhor jogador da década passada, ele é uma
estrela do esporte e uma referência para os jogadores mais novos.
Ava continua com as informações e eu encaro Peter. Ele
continua em pé junto com Matteo, Luke e Aaron. Não acredito que
fui enganada pelas suas palavras bonitas, pelo seu jeito carinhoso,
leve e tranquilo.
Eu me sinto uma otária!
Logo eu, que sempre fui tão esperta, nunca me apeguei a
ninguém, até quebrei alguns corações. Como deixei que isso
acontecesse?
Acho que estou começando a odiar Peter, ou deveria chamá-
lo de James?
Caralho!
Raiva ocupa o lugar antes ocupado pela culpa. Não me sinto
mais culpada, ele mentiu tanto quanto eu, talvez ainda mais,
porque nunca tive o intuito de brincar com ele.
Ele olha em minha direção e por breves segundos nos
encaramos. É frustrante, porque a raiva não perdura em meu
coração enquanto tenho meu olhar sobre o seu. Merda, eu sou
uma fraca!
Eu me viro de volta para minhas amigas e o ignoro, ou
tento ignorar. Concentro-me em conversar com as meninas.
Conforme os minutos passam, se torna insuportável, sei que ele
está por perto, sinto sua presença e é difícil não olhar na sua
direção, não procurar por ele.
Peter está aqui tão perto e ao mesmo tempo tão distante. É
como se tivesse um abismo entre nós, cada um de um lado e
passos nos separam, porém não podemos dar esses passos.
Nunca poderemos acabar com o espaço que nos separa.
Para o meu alívio, Ava sugere irmos comer algo, eu
concordo, não porque estou com fome, mas porque preciso sair
daqui. Então, nós três deixamos a sala de espera, pedimos
indicação de um lugar em que possamos comer para recepcionista
e ela nos indica uma lanchonete que fica em frente ao hospital.
É para lá que vamos. É um estabelecimento com portas e
paredes de vidro, um balcão de pedidos e alguns bancos à sua
frente, mesas e cadeiras dispostas ao lado da parede de vidro de
modo a permitir aos clientes uma visão do lado de fora do lugar.
Ocupamos uma mesa, Ava e Penny se sentam à minha
frente, fazemos nossos pedidos e eu olho para o lado, observo a
movimentação pelo vidro enquanto meu cérebro processa as
últimas horas.
Eu só queria que esse dia terminasse, é como se estivesse
há dias em Boston e não horas.
— Você parece tensa, Meghan.
Viro meu rosto para encarar minhas amigas ao ouvir a voz
de Penny, ela e Ava estão me olhando com curiosidade. Droga!
— Eu apenas estou apreensiva com a cirurgia de Liv.
Não é uma mentira completa. Elas assentem, expressam o
quanto estão preocupadas também e nós ficamos conversando,
não fazemos silêncio nem quando a garçonete nos traz nossos
pedidos.
Eu tento ao máximo não pensar em Peter e em nossa
situação, até mesmo porque preciso esquecê-lo.
Ao voltarmos para o hospital, eles não estão mais em pé, e
sim, ocupando as cadeiras em frente às que estávamos. Nós
ocupamos nossos lugares e perguntamos se algo aconteceu, eles
negam, não há nenhuma novidade, Liv segue em cirurgia.
Ficamos boa parte do tempo em silêncio e quando surge
algum assunto, eles chamam Peter de James. Por que ele mentiu
seu nome? É uma merda não ter nenhuma resposta.
Eu evito olhar em sua direção e me nego a falar com ele,
me recuso a ter que chamá-lo de James. Nas breves vezes que
meu olhar encontra o seu, ele está me encarando com decepção.
Por que ele me encara assim se também mentiu?
Idiota!
Finalmente, depois de horas de espera, o médico adentra a
sala e nos tranquiliza, a cirurgia foi um sucesso. Minha amiga
ainda está medicada, deve demorar para acordar e ainda não pode
receber visitas.
É um alívio saber que ela está bem, porém é devastador
quando ele nos informa que Liv não poderá mais competir, seu
tornozelo nunca mais será o mesmo. O máximo que ela conseguirá
fazer é deslizar pelo gelo.
Todos ficamos abalados com a notícia, mas Peter fica
devastado. Ele se senta com o corpo curvado para a frente,
cotovelos apoiados nas pernas, cabeça baixa e fita o chão.
Apesar de tudo, eu gostaria de ir até ele e confortá-lo,
queria segurar sua mão e ser o apoio que ele precisa no momento.
É claro que não posso fazer isso!
Não faz muito tempo que a médica deixou a sala quando um
casal adentra o espaço. É possível notar a semelhança entre a
mulher e Liv, ela deve ser a mãe da minha amiga. Eu olho para
Peter e ele fica em pé.
Sigo o observando e estou o encarando quando a mulher se
aproxima e o abraça. Um sentimento de possessividade e ciúmes
vibra em meu peito. Eu não consigo nem continuar olhando para
eles. Respiro fundo e viro-me para Penny e Ava.
— Eu vou dar uma volta.
Antes que elas possam falar algo, eu fico em pé e deixo a
sala. Eu ando igual a uma idiota pelo andar até que acho uma
porta que leva a uma varanda. Ótimo, é uma sacada. Há vento e
posso respirar. Por que eu me sinto como se estivesse sufocada?
Apoio minhas mãos no parapeito e olho para baixo, para um
jardim, é um lugar bonito e nem parece fazer parte de um
hospital. Ao fundo há uma capela e algumas pessoas estão
rezando.
A porta é aberta, a forma como meu corpo reage entrega
quem acabou de invadir meu espaço. Meu coração bate disparado
em meu peito e minha respiração acelera. Tudo em mim implora
para o encarar, para confrontá-lo e exigir uma explicação, mas não
olho e nem me viro em sua direção.
— Nós precisamos conversar, Meghan.
Eu soube de uma certa discussão em um hospital… e de um
beijo.
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

Sua voz faz com que um arrepio percorra meu corpo. Por
que ele tem que causar essas sensações em mim? Meu corpo é
um maldito traidor!
Respiro fundo e me viro. Peter está a poucos centímetros da
porta, com os braços cruzados sobre o peito e me encarando com
uma expressão e pose de todo poderoso. Quem ele pensa que é?
— Não temos o que conversar.
Ele ergue suas sobrancelhas e sorri, mas não é um sorriso
amigável.
— Você mentiu para mim.
É a minha vez de rir.
— Você quer falar sobre mentiras? — Balanço minha cabeça,
incrédula. — Você não teve nem a capacidade de me falar seu
verdadeiro nome.
Raiva e ódio me dominam. Eu não consigo nem raciocinar
direito.
— Eu não menti, eu me chamo Peter, Peter James.
Ele soa como se isso não fosse nada de mais. Todas as suas
omissões ecoam em minha mente. Adrenalina reverberar pelo meu
sangue. Eu sinto meu corpo tremer, inclusive meus dedinhos do
pé.
— Você não me contou que já foi um jogador de hóquei e
nem que tinha uma filha estudando em Dartmouth.
— Era irrelevante você saber disso.
Muda de posição e passa os seus dedos pelos fios do seu
cabelo. Ele também está impaciente.
— Não era irrelevante, se eu soubesse disso teria
confessado minha real idade, teria admitido que era uma
estudante, provavelmente teria descoberto antes que é o pai de
uma das minhas melhores amigas.
A raiva está presente em minha voz, ela soa mais alta que o
normal e tenho que me controlar para não gritar. Como ele ousa
dizer que era irrelevante?
— Então eu deveria ter sido sincero para você também ser
sincera?
Uma ruga surge em sua testa. Eu fecho meus olhos por
alguns segundos, suspiro e volto a abri-los.
— Qual era o seu plano? — Minha raiva é substituída por
mágoa. — Por que me levou para um encontro se queria apenas
sexo, o papo de conquistas era só para o seu ego?
Eu me sinto usada, um objeto. Peter me encara em choque,
como se eu tivesse dado um tapa nele.
— Não é nada disso, Meghan. — Suspira e mais uma vez
toca em seu cabelo. — Eu só queria ser alguém com você, eu não
queria ser o pai que está tentando consertar seus erros, nem o ex-
jogador de hóquei famoso, queria ser só eu e por isso usei o Peter
e não o James.
O pior é que eu não queria acreditar nele, porém, eu
acredito.
— Você deveria ter me falado a sua idade, Meghan. — Ele
repete mais uma vez depois de ficarmos alguns segundos em
silêncio. — Eu jamais teria ficado com alguém que tem a mesma
idade da minha filha, deveria ter falado que estudava em
Dartmouth...
— Eu falei, só menti que era uma pós-graduação.
Interrompo-o.
— Você sabe do que estou falando, alguém da pós-
graduação em história da arte não teria contato com a minha filha,
que faz fisioterapia.
— Eu sei.
Sussurro por fim. Estou exausta, essa conversa está
acabando com o que resta das minhas forças, porque eu sei qual é
o final dela. Peter me encara e eu não desvio os meus olhos.
Aquela força que parece existir entre nós me puxa em sua direção,
rouba meu fôlego e faz com que esqueça onde estou.
Ele suspira, dá um passo em frente e lágrimas piscam em
meus olhos quando traz suas mãos até minha cintura.
— Porra, como vou esquecer? Como vou ficar perto de
você?
Fecho meus olhos e ele apoia sua testa na minha. Seu
perfume me cerca, seu toque faz com que um formigamento se
espalhe pelo meu corpo e eu deseje estar em qualquer outro lugar.
— Não podemos continuar com isso, Peter.
Espalmo minhas mãos em seu peito, mas não o empurro, e
quando sua boca cobre a minha, não o afasto, pelo contrário,
correspondo ao beijo. Seus lábios reivindicam os meus, ele me
marca pela última vez.
Ele toma tudo de mim. Ele me beija de uma forma como
nunca beijou, eu correspondo de uma forma que nunca
correspondi. Roubamos o fôlego um do outro.
É o nosso beijo de despedida.
Infelizmente, não podemos ficar aqui para sempre. Peter
interrompe o beijo, volta a apoiar sua testa na minha, eu abro
meus olhos e encontro os seus.
— Sinto muito por essa confusão, Meghan. — Traz sua mão
até meu rosto e com as pontas dos seus dedos acaricia a minha
bochecha. — Se eu pudesse, desapareceria da sua vida, faria isso
por você.
Suas palavras ecoam em minha mente e entendo o que está
querendo dizer.
— Você ficará em Hanover cuidando de Liv.
— Sim, não vou deixar minha filha sozinha quando ela mais
precisa de mim e não vou forçá-la a ir embora comigo.
Seu olhar implora para que eu o entenda.
— Nunca pediria para você ir embora, Liv é minha amiga, eu
a amo e me importo com ela. — Minhas mãos caem ao lado do
meu corpo, sua testa se afasta da minha e dou um passo para
trás. — Ela precisa do pai aqui.
Nós dois sorrimos, sorrisos fracos e gentis.
— Eu vou me manter distante, Meghan.
Assinto, não porque é o que desejo, mas é o que precisa ser
feito.
— Ela nunca ficará sabendo, Peter.
— Obrigado.
Ele não precisa me agradecer, isso machucaria minha amiga
e prejudicaria nossa amizade. Olho para o lado e mordo meu lábio
inferior. Essa é a nossa despedida.
— Nunca vou esquecer o que compartilhamos.
Ele não me diz nada, evito olhar para ele e dou alguns
passos em frente, porém ele segura meu pulso e me para.
— Foi incrível, Meghan.
Eu preciso me conter para não olhar para trás, apenas
assinto e ele demora alguns segundos para soltar meu pulso e
assim que estou livre, caminho para longe dele. Cruzo a porta e
sigo sem rumo pelo corredor.
Nossa conversa ecoa em minha mente e meus lábios
continuam dormentes do beijo. Um misto de sentimentos ocupa
meu coração. Deveria continuar com raiva de Peter, mas ele
parecia tão sincero, tão… destruído.
Sigo as placas indicativas e encontro um banheiro, espalmo
minhas mãos no balcão da pia e encaro meu reflexo. Meus olhos
refletem o meu tormento.
Como eu fiquei assim por causa de um homem? É irônico eu
estar me sentindo assim, logo eu... O caralho de uma ironia.
Eu jogo água em meu rosto, levo uma mão molhada até
minha nuca e respiro fundo algumas vezes.
Saio do banheiro mentalizando que tudo que Peter e eu
vivemos chegou ao fim, foi bom enquanto durou, porém terminou
e bora seguir em frente. Foram somente duas semanas, não pode
ser assim tão difícil ignorar sua existência. Ou pode?
Tudo bem que eu me senti protegida em seus braços, o
sexo era maravilho e a nossa conexão parecia surreal, mas homem
é o que mais existe no mundo, não foi algo único.
Inclusive, eu estava mentindo e sendo emocionada quando
disse que nunca vou esquecer o que compartilhamos, é claro que
eu vou esquecer. Em algum momento ele se tornará apenas uma
lembrança distante, perdida em minha mente.
Assim que eu entro na sala de espera, sei que estou errada,
porque eu vejo Peter sentado ao lado de Luke e meu coração
dispara. Maldito traidor. Por que não posso ser imune a ele? Por
que um toque, ou simplesmente um olhar é capaz de fazer meu
corpo inteiro formigar?
É doloroso ter que desviar meu olhar do seu, não poder ir
até Peter e ser ignorada por ele. Respiro fundo e ajo como se ele
não estivesse aqui. Cruzo meus braços abaixo dos meus seios e
me sento nas cadeiras mais ao canto da sala e mais distante de
Peter.
Ava sai do lugar em que está sentada e ocupa a cadeira ao
meu lado.
— Você está bem?
Assinto, mas ela me encara com um olhar curioso, tentando
descobrir o que está acontecendo. Droga, por que ela tem que ser
tão perspicaz?
— Você está escondendo algo.
Sussurra para que apenas eu escute. Merda!
— Não estou.
Ava claramente não acredita em mim.
— James saiu e voltou um pouco antes de você, você estava
com ele?
Meu coração dispara, posso sentir um suor frio deixando
minhas mãos e um peso em meu estômago. Ava não podia ter
percebido!
— Lógico que não, por que estaria com ele?
Finjo uma incredulidade, Ava estreita seus olhos e angústia
vibra em meu peito. Ela está me analisando e odeio essa
sensação, principalmente porque estou fazendo algo que não
deveria fazer, aliás, eu fiz algo que não deveria ter feito.
— Eu espero estar errada, Meg.
Não sei qual é a sua suposição, mas ela suspeita de algo.
Sorrio, um sorriso falso, porém espero que seja convincente.
— É claro que você está.
Ava apenas olha em frente e ficamos em silêncio. Eu mordo
meu lábio inferior e sinto o olhar de Peter sobre mim, é uma
batalha, entretanto, consigo não me virar em sua direção.
O tempo passa devagar, é como se estivéssemos vivendo
uma eternidade a cada segundo. É um alívio quando um médico
entra na sala, Liv está bem e deve acordar nas próximas horas,
duas pessoas estão autorizadas a ficar com ela e Aaron e Peter
ficarão.
Nós permanecemos no hospital, Luke e Matteo descem para
comer, a mãe e o padrasto continuam aqui e Penny, Ava e eu
fazemos algumas orações, estamos preocupadas em como Liv irá
reagir, afinal, patinação é a sua vida.
Luke e Matteo voltam para a sala de espera, seguimos
ansiosos e assim que Aaron retorna, ficamos em pé. Ele não tem a
melhor das expressões.
— Tão ruim assim?
Assente e seu pomo de adão sobe e desce em sua garganta.
— Ela chorou bastante, recusa-se a conversar e agora está
dormindo.
Matteo abraça Ava, Luke abraça Penny e eu suspiro. Odeio
que isso esteja acontecendo com Liv. Eu amo as quatro, mas Liv e
eu temos mais coisas em comum; Ava e Penny são as mais
centradas, enquanto nós duas somos as mais encrenqueiras.
Detesto saber que ela está sofrendo.
Nós somos liberadas para vê-la, então vamos até seu
quarto. Liv está dormindo e tudo que podemos fazer é deixar um
beijo em sua testa e desejar melhoras.
Como Liv está fora de risco, não podemos ficar no hospital,
poderíamos ir para um hotel, mas Luke e Penny precisam voltar
para Maddy, e os horários de visitas para quem não é parente é
restrito. Optamos por voltar para Hanover.
É estranho estar em casa sem uma de nós e sentimos a sua
falta. Aaron nos mantém informadas e até tentamos conversar
com Liv por chamada de vídeo, mas ela simplesmente se recusa a
falar com a gente e fica em silêncio durante toda a ligação. Nossa
amiga está mais magra, há olheiras abaixo dos seus olhos e a
expressão em seu rosto é distante, como se ela estivesse perdida.
Estamos as três na sala, Ava no sofá, Penny e eu sentadas
no tapete e assim que desligamos a chamada, choramos. É
horrível, principalmente porque não podemos fazer nada.
No terceiro dia da nossa volta, Aaron nos informa que Liv
ficará na casa do pai e pede para que levemos as coisas dela até o
apartamento de James e organizemos o quarto que irá ocupar. O
porteiro abrirá o apartamento com a chave extra, é claro que
concordamos, então ele nos envia o endereço e eu preciso fingir
que nunca fui até lá.
Nós arrumamos as malas de nossa amiga e é um pouco
triste. Não é uma despedida, nem algo definitivo, mesmo assim
somos nostálgicas e conversamos sobre todos os momentos que já
compartilhamos. Também nos damos conta de que nunca mais
seremos nós quatro juntas em uma competição, sempre foi algo
que sonhamos e não irá acontecer.
Era para ser nós quatro no nacional e Liv não estará lá.
Organizamos tudo e vamos até o prédio de Peter, vamos no
meu carro por ser o maior e preciso fingir que não conheço o
caminho. É uma tortura ter que esperar pelas coordenadas do
GPS.
Eu estaciono em frente ao prédio, deixamos o carro e
pegamos as malas, travesseiros e cobertas de Liv. Penny e Ava
ficam impressionadas com o prédio luxuoso e preciso fingir a
mesma reação.
— Sempre esqueço o quanto o pai da Liv é rico.
Penny declara enquanto caminhamos até a entrada.
— Ele é solteiro, será que está precisando de uma sugar
baby?
A frase de Ava me incomoda e não pelos motivos certos, eu
estou incomodada, porque estou com ciúmes, porque odeio
imaginá-lo com outra garota. Minha amiga está apenas brincando
e aperto o travesseiro ainda mais contra o meu corpo porque
estou com ciúmes. Deplorável!
— Vou contar para o Matteo.
Esforço-me para parecer debochada e descontraída, não
preocupada e ciumenta. Ava apenas ri com a minha colocação e
Penny nos encara com malícia.
— Ele é bonito, né? Nem parece ter a idade que tem.
Ah, meu Deus, por que elas estão prestando atenção nele?
Não quero desejar furar os olhos das minhas amigas.
— Vocês têm namorados, suas piranhas.
— Isso não me deixou cega. — Ava dá de ombros enquanto
me responde. — Você não o acha bonito?
Penny e ela me encaram curiosas. Merda! Engulo em seco e
forço um sorriso, o mesmo sorriso debochado que minhas amigas
têm no rosto.
— Ele é bonito.
Confesso. Lindo, gostoso, incrível, minha obsessão atual.
Nós continuamos rindo, eu controlo meu ciúme e seguimos
até a portaria, mas, para meu azar, o porteiro me reconhece, é
uma sorte ele não mencionar meu nome, porque assim que nos
afastamos eu digo as meninas que ele deve ter me confundido
com alguém, mesmo assim as duas me encaram desconfiadas.
Ignoro-as e vamos até o elevador. Elas voltam a falar do
quanto James tem dinheiro, elas falam sobre o banco da família e
sua carreira como jogador de hóquei.
— Como vocês sabem disso?
Eu tenho interesse sobre o assunto e lá no fundo sinto um
pouco de inveja, porque elas sabem mais de Peter do que eu.
— Aaron contou para Matteo, que me contou.
Ava me responde.
— E Luke me contou.
Penny também responde. O elevador para, saímos e vamos
até o seu apartamento. Ava está com a chave e abre a porta. Eu
sou a última a entrar e preciso fingir, mais uma vez, estar tão
empolgada e perdida quanto minhas amigas. É péssimo, porque
tudo que consigo pensar é no que eu vivi com Peter nesse lugar,
em cada canto há uma lembrança diferente e sei que não
voltaremos a viver nada disso.
Ava e Penny fazem questão de bisbilhotar cada cômodo do
apartamento e é uma tortura. E quando entramos no quarto de
Peter, meu coração dispara. Sigo fingindo não estar sentindo nada
quando, na verdade, sou um turbilhão de sentimentos, depois
disso com certeza mereço ser indicada ao Oscar pela melhor
atuação.
É ainda mais desafiador quando Penny e Ava enxergam um
sutiã sobre a cômoda. Eu sei a quem esse sutiã pertence, preciso
virar minha cabeça para o lado para que minhas amigas não
percebam que estou vermelha.
— Vamos sair logo daqui.
Penny grita como se fosse uma criança e corre do quarto.
Ava se aproxima e toca meu braço, eu olho para ela e encontro
uma expressão de preocupação em seu rosto.
— Esse sutiã é seu, não é?
Encaro minha amiga sem reação nenhuma.
Merda, merda, merda!
Pior do que um amor não correspondido, é um amor
impossível, e sim, eu estou falando por experiência própria.
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

Abro e fecho minha boca, sem saber o que falar. Eu não


esperava que Ava fosse reconhecer o meu sutiã. Porra, ela só viu a
peça de longe, como pode ter identificado?
— Não precisa me responder, sua cara já é resposta o
suficiente. — Ava toca o seu rabo de cavalo e suspira. — James é
o cara mais velho que estava saindo, não é?
Eu penso em mentir, mas encaro Ava e ela tem certeza,
minha amiga já entendeu o que aconteceu. Apenas assinto e ela
faz uma careta.
— Não irá se repetir. — Fecho meus olhos por alguns
segundos e suspiro. — Não sabíamos quem nós éramos e nem que
tínhamos alguém em comum.
Abro meus olhos e Ava agora está me encarando com pena.
Ela deve ter percebido o quanto eu gosto de Peter.
— O que vocês irão fazer?
Sorrio, mas é um sorriso fraco que não chega aos meus
olhos.
— Nada, vamos fingir que nunca aconteceu nada entre nós.
— É a minha vez de fazer uma careta. — Não conte para ninguém,
por favor, nem para Matteo e nem para Penny.
Minha amiga assente.
— Obrigada.
Ela sorri, um sorriso fraco de gentileza.
— Vamos, antes que Penny suspeite de algo.
Eu concordo com ela e nós duas deixamos o quarto de
Peter. Vamos até o cômodo em que Liv irá ficar e organizamos
tudo para nossa amiga.
É fim da tarde quando deixamos o prédio, nós vamos até o
nosso café preferido e ocupamos os lugares de sempre. É
divertido, mas a todo instante sentimos falta de Liv, é como se
estivesse faltando uma parte de nós.
Olívia precisa voltar logo!

Seguimos com nossas vidas, iniciamos o treino, vamos para


nossas aulas, mas sua ausência é nítida. São quatro dias no
hospital e quando retorna para Hanover, Liv não é mais a mesma,
ela é uma casca do que foi um dia. É como se ela estivesse
perdida em sua própria mente. Nós vamos visitá-la todos os dias
ao fim da tarde, nós nos sentamos ao seu lado na cama e
conversamos, mas ela nunca responde. Liv não está falando e é
angustiante vê-la assim.
A cada dia que passa, ela parece mais fraca e deprimida.
Penny, Ava e eu temos que nos esforçar para não chorarmos
diante dela, por mais triste que possamos estar, soamos animadas
e felizes na tentativa de obter uma reação sua.
Nós fazemos o possível para vê-la feliz, inclusive empurrar
para longe nossos sentimentos.
Peter e eu somos cordiais um com o outro, mal nos
encaramos e dói quando ele conversa com minhas amigas, mas
me evita. Seria tão mais fácil esquecê-lo se não o encontrasse
todos os dias, mas não vou deixar de ir ver Liv, ela precisa de
mim.
Eu me sinto a garota mais idiota do mundo quando no
sábado eu choro no banho depois de voltar da casa de Peter. Tudo
porque ele não olhou em minha direção e porque o vi conversando
com a ex-mulher.
Por que estou chorando por causa de um cara? Essa não
sou eu, é apenas um surto e é para provar a mim mesma que
posso voltar a ser a Meghan desapegada de sempre, que respondo
um dos inúmeros convites para festas que recebi durante o dia.
Eu marco de sair com o pessoal do meu curso para uma
festa na casa do quarterback do time de futebol americano da
faculdade.
Faz três semanas que não saio para uma festa e estou
animada, eu amo dançar, beber e me divertir. Escolho uma
minissaia preta com branco, um suéter preto, meia calça preta, um
sobretudo vermelho e botas de cano curto com um salto
moderado. Escovo meu cabelo e faço ondas, opto por uma
maquiagem leve e carrego no batom vermelho.
Não é como a maioria das garotas se veste para uma festa
universitária, mas não sou a maioria das garotas, além disso,
quero chamar a atenção. Eu amo ser o centro das atenções.
Hoje eu não estou para brincadeiras!
Eu vou de carona com uma amiga para poder beber, ela me
busca em casa e o caminho até a casa do jogador é divertido,
vamos cantando e soltando gritinhos animados.
Adrenalina corre pelo meu sangue e me deixa
extremamente empolgada, mas mesmo com todo entusiasmo, lá
no fundo há algo que me incomoda, um incômodo que ignoro,
pois recuso-me a pensar sobre.
Nós duas chegamos, entramos na casa, eu busco uma
cerveja e não demoramos a encontrar nossos amigos. O lugar está
com pouca iluminação e a música é alta. Rimos, conversamos,
dançamos e bebemos.
Eu me sinto eu mesma, porém, há um “mas”. É inexplicável,
é como se algo estivesse sobrando e, ao mesmo tempo, faltando.
Nem beber me ajuda.
Enquanto estou dançando, o quarterback se aproxima para
dançar comigo, eu correspondo, deixo que coloque as mãos em
minha cintura e permito que beije meu pescoço, mas não sinto
nenhuma faísca. Seus lábios são gelados, não há nenhum arrepio,
nem um desejo desenfreado, pelo contrário, eu me sinto suja.
Como se estivesse fazendo algo errado.
Um alarme soa em minha mente. Ele não é Peter. Droga!
Por que eu simplesmente não consigo o esquecer? Por que
ele tem que ser um tormento? Não vou deixá-lo ditar minha vida.
Eu me viro e beijo o garoto, pego-o desprevenido, mas ele não
demora a corresponder.
Eu tento me conectar com ele, forço-me a acreditar que é
um bom beijo, mas é péssimo, horrível. Afasto-me e o empurro.
Ele me encara curioso e dou de ombros.
— Não se preocupe, o problema sou eu.
Forço um sorriso debochado e me afasto. Merda, eu odeio
Peter, odeio meu corpo traidor, odeio não sentir nenhuma atração
pelo maldito do garoto.
Não volto a me aproximar dos meus amigos, eu preciso de
um tempo.
Sigo até a cozinha onde estão as cervejas, pego duas
garrafas e saio para o jardim. Apesar de estar frio, há algumas
pessoas espalhadas pelo espaço, eu me sento em uma
espreguiçadeira e abro uma garrafa. Eu tomo a bebida como se
fosse a solução para o caos em que me encontro.
Ela termina muito rápido e abro a segunda garrafa, acaba
tão rápido quanto a primeira. Droga, eu ainda não estou bêbada,
ainda não o esqueci.
Levanto-me e busco mais bebida, dessa vez eu trago três
garrafas comigo. Finalmente minha visão começa a ficar
embaçada, mas não o esqueci, pelo contrário, é como se ele
estivesse ocupando cada parte do meu cérebro e do meu coração.
Eu busco mais duas cervejas e quase caio ao me sentar
outra vez na espreguiçadeira. Sorrio, sem saber exatamente o
motivo, é tão bom rir que sigo rindo, mas meus lábios não ficam
curvados por muito tempo.
De repente, não estou mais feliz, e o motivo da minha
tristeza ecoa em minha mente. Eu sinto falta de Peter, falta do seu
toque, ele me atormenta. Não consigo esquecê-lo e nem ignorá-lo.
Não consigo fingir que ele nunca esteve em minha vida.
Por que ele não me deixa? Por que não consigo pensar em
outra coisa? Eu o odeio!
Não estou pensando, meus sentimentos são uma bagunça e
meus pensamentos, um caos. O álcool fala por mim e pego meu
celular em minha bolsa, procuro pelo seu número e envio uma
mensagem para Peter.
“Eu te odeio”
Ele me responde no mesmo instante.
“Posso saber o porquê do sentimento?”
Mordo meu lábio inferior enquanto o respondo. Sou sincera,
muito mais sincera do que seria pessoalmente e sóbria.
“Eu não consegui sentir nada ao beijar outro cara, ele é
gostoso, o meu tipo e tudo que consegui sentir foi repulsa. E a
culpa é sua.”
Lágrimas querem descer pelo meu rosto, mas respiro fundo
e me obrigo a não chorar.
“Onde você está, Meghan?”
Sinto um arrepio ao imaginá-lo dizendo isso com sua voz
rouca. Tudo que não consegui sentir com o quarterback, eu sinto
com apenas uma mensagem sua, apenas de imaginá-lo
sussurrando em meu ouvido. Eu estou perdida.
“Não interessa.”
“Envie o endereço, eu estou indo até você”
Eu não envio o endereço, eu aperto no botão de ligação e
trago o aparelho até minha orelha. Peter atende no mesmo
instante.
— Meghan.
— Eu te odeio.
Minha voz soa embargada.
— Onde você está? — Sua voz soa como se ele estivesse
com raiva. — Eu estou indo buscar você.
Balanço a cabeça, mesmo que ele não esteja me vendo.
— Você é um filho da puta — xingo-o enquanto sinto uma
pressão em meu peito. — Eu quero que você vá embora.
— Meghan.
Peter parece estar exausto. Eu também estou exausta.
— Não suporto mais ser ignorada por você.
Confesso e preciso fechar meus olhos para evitar que as
lágrimas desçam pelo meu rosto.
— O quão bêbada você está?
Sorrio e nego.
— Não estou bêbada.
Escuto ele xingar, mas não consigo compreender sua
próxima frase, porque minha amiga para na minha frente.
— Meghan, você está bem?
Engulo em seco, afasto o aparelho da minha mão e encerro
a chamada.
— Não, você pode me levar embora?
— Claro.
Eu me levanto, mas cambaleio, então Dulce se aproxima.
— Eu ajudo você.
Eu me apoio nela e ela me ajuda a caminhar até o carro.
Estou tonta, tudo ao meu redor gira e fecho meus olhos assim que
estou sentada no banco ao seu lado.
— Desculpa estragar sua noite.
Sussurro enquanto ela dirige. Eu estou péssima e sinto meu
estômago embrulhar. Caralho, eu bebi demais.
Dulce precisa me ajudar a subir até meu apartamento. A
sorte é que Ava está na sala, então ela me entrega para minha
amiga e se despede de mim, mais uma vez peço perdão e ela me
deixa com Ava.
— Você está péssima.
— Eu queria esquecê-lo.
Ava suspira.
— Você precisa de um banho.
Não protesto e deixo que ela me leve para o meu banheiro.
Ava me ajuda a tirar minha roupa e estou de sutiã e calcinha
quando faço um sinal para ela se afastar e me ajoelho de frente
para o vaso, curvo-me e vomito.
Eu me sinto como se estivesse morrendo.
Assim que meu estômago está vazio, fico em pé e Ava me
leva para baixo do chuveiro. Minha amiga fica tão molhada quanto
eu.
— Desculpe.
Sussurro e ela revira seus olhos.
— Tudo bem.
Ela lava meu cabelo e desliga o chuveiro. Então, me entrega
uma toalha e pega uma para si, consigo tirar meu sutiã e calcinha
e começo a me secar sem sua ajuda, enrolo uma toalha ao redor
do meu corpo e escovo meus dentes.
Ava se seca um pouco e me ajuda a voltar para o quarto,
ela pega uma camiseta para mim, a que roubei de Peter, eu me
visto e me sento na beirada do colchão da minha cama.
— Eu acho que estou apaixonada.
Choramingo enquanto encaro minha amiga.
— Eu também acho.
Ava suspira. Ela para à minha frente e apoia suas mãos em
seu quadril.
— Eu não queria, como faço para me desapaixonar?
Lágrimas se acumulam em meus olhos.
— Não sei, Meghan, eu não sei.
Finalmente, deixo-as rolarem pelo meu rosto. Ava se
aproxima, se senta ao meu lado, eu apoio minha cabeça em seu
ombro e choro. Soluços escapam da minha boca e meu peito dói.
É uma sensação que nunca senti antes.
Choro horrores e quando as lágrimas cessam, eu deito na
minha cama em posição fetal, Ava se deita ao meu lado e cobre
nós duas.
— Eu não queria que isso acontecesse, eu não queria me
apaixonar por ele.
Sussurro enquanto meus olhos pesam, eu não tenho outra
alternativa a não ser fechar meus olhos e ceder à escuridão.
Eu acordo sozinha na minha cama com minha cabeça
doendo e meu estômago queimando, além de tudo, assim que me
levanto, descubro que ainda estou tonta.
Meu Deus, eu estou péssima!
Eu vou ao banheiro e vomito mais uma vez. Será que um
caminhão passou por cima de mim?
Depois de uns minutos curvadas sobre o vaso, eu fico em pé
e encaro meu reflexo no espelho que fica pendurado na parede
em frente a pia. Eu estou deplorável, rímel borrado, meu cabelo é
um ninho de passarinho, porque nem o penteei ontem à noite.
Faço uma careta e escovo meus dentes. Eu quero voltar a
dormir, mas preciso de água e remédio, então deixo meu quarto.
Encontro Ava na cozinha e ela não está sozinha, Matteo está com
ela. Minha amiga não me faz perguntas sobre ontem porque seu
namorado está aqui, os dois apenas me provocam por causa do
estado em que me encontro.
Eu passo o dia todo na cama, porém, no horário que sempre
vamos visitar Liv, levanto-me, visto uma roupa e encontro Penny e
Ava na sala, elas já estão de saída.
— Eu vou junto.
Ava me olha e uma ruga surge em sua testa.
— Não é melhor você ficar em casa?
Nós duas sabemos que não é o melhor momento para
encontrar Peter.
— Não, eu estou melhor.
Respondo-a de maneira que pareça que estamos falando da
minha ressaca para que Penny não desconfie. Ava segue com uma
ruga em sua testa, ela realmente acredita que é melhor eu ficar
em casa, mas não argumenta e somente assente.
Nós deixamos nosso apartamento e vamos para o carro de
Ava. Eu estou nervosa e ansiosa.
Como será que ele irá reagir?
É a mãe de Liv quem abre a porta, o que me causa ciúmes.
Ela explica que Peter não está em casa e frustração toma conta de
mim. Caralho!
Respiro fundo e empurro meus sentimentos para longe. Eu
vim aqui por Liv.
Seguimos para o seu quarto e pelas próximas horas
tentamos conversar com nossa amiga, e mais uma vez não temos
sucesso.
Eve insiste para ficarmos para jantar, então ficamos.
Estamos ao redor da mesa quando Peter chega e dessa vez, seu
olhar encontra o meu e um arrepio sobe pelo meu corpo quando
ele me encara com raiva.
Engulo em seco e ele desvia os olhos dos meus. Eu estalo
meus dedos que estão escondidos embaixo da toalha da mesa.
Meu coração está acelerado e minhas mãos estão suando.
— Boa noite.
Ele soa seco, nós o respondemos e ele dá um passo em
frente.
— Você não quer jantar com a gente?
Ele olha para Eve e balança a cabeça, negando.
— Não, obrigado, eu comi algo na rua.
Eve assente e ele caminha para longe. Eu o observo com
uma dorzinha de frustração. Será que ele está com raiva por
ontem?
— Acho que alguém está de mau humor.
O padrasto de Liv zomba e alivia o clima estranho que de
repente pairou sobre o ambiente. Converso e finjo rir com as
pessoas à minha volta, porém eles não têm a minha total atenção.
Peter ocupa minha mente e meu coração.
Há um tipo de dor terrível, uma dor que médico nenhum
consegue resolver.
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan
Minha semana é uma merda, os treinos para o nacional
iniciaram, Luke está ainda mais exigente, nossa carga horária
aumentou, além de estarmos gastando mais tempo na academia.
Liv segue sem nos responder, não fala e passa o dia inteiro deitada
na cama, ela só toma banho e come porque a obrigam. E Peter
está me evitando.
Desde domingo ele nunca está em casa quando vamos
visitar Liv. Eu deveria me sentir aliviada por não encontrar com ele,
afinal, não era isso que eu queria? Mas não me sinto aliviada, pelo
contrário, estou com raiva! Racionalmente, sei que não deveria
cultivar o sentimento, sequer tenho motivos, porém não consigo
evitar. O que eu queria? Queria vê-lo, queria gritar com ele, queria
que ele me acusasse...
São cinco dias sem vê-lo e mesmo assim ele segue sendo
constante em minha mente. Eu durmo e acordo com ele em meus
pensamentos e há uma parte de mim que tem medo de esquecê-
lo, medo de que as nossas lembranças sejam apagadas com o
tempo.
Deveria desejar esquecê-lo, mas não consigo. Sou um caso
perdido!
Como nada está tão ruim que não possa piorar, Ava e Penny
estão ocupadas e sou a única a ir visitar Liv.
Mesmo sabendo que não encontrarei com Peter, eu estou
nervosa, seguro a direção com força enquanto dirijo e mordo meu
lábio inferior a ponto de sentir o gosto de sangue em minha boca.
Acho que, lá no fundo, eu tenho esperança de vê-lo.
Sou mesmo uma idiota!
Estaciono em frente ao prédio, deixo meu carro, fecho a
porta, aciono o alarme e sigo até a entrada com meu coração
disparado. É como se estivesse no automático. Respiro fundo
algumas vezes e tento não surtar.
Cumprimento o porteiro com um aceno e vou até o elevador.
Assim que estou dentro da caixa metálica, apoio-me contra a
parede e mentalizo que Peter é só mais um cara, eu tenho tentado
me convencer disso a semana inteira e tenho falhado
miseravelmente.
Minha mente e meu coração estão em uma batalha. Minha
mente sabe que tenho que esquecê-lo e meu coração se recusa,
além disso, ele nem quer esquecê-lo. É o racional contra o
emocional.
O elevador para, caminho até seu apartamento, aperto a
campainha e meu coração segue batendo rápido. Minha respiração
está alterada e ansiedade vibra em meu peito, causando uma
sensação de pressão e aperto.
A porta é aberta, mas não é Peter. Sorrio e empurro minha
frustração para o fundo da minha alma. Foda-se o Peter!
— Hey, Eve.
Ela sorri gentilmente.
— Hey, querida.
A mãe de Liv fica de lado para que eu passe, eu entro no
apartamento, mas ela segue em sua posição e seu marido surge
vindo da sala, ele me cumprimenta e passa por mim, então os dois
seguem até o corredor e ficam à minha frente. Encaro-os sem
entender.
— Malcom e eu estamos de saída, eu preciso de um tempo
— Eve me explica. — James não deve demorar, mesmo assim
deixei meu número anotado em uma folha que está sobre o
aparador.
Aponta para o móvel que fica na parede ao lado.
— Qualquer coisa me ligue. — Eve sorri e acena. — Tchau,
querida.
Aceno de volta para o casal que fica de costas para mim e
caminha na direção do elevador. Não tenho muitas opções, então
fecho a porta e adentro o apartamento. O lugar está vazio,
silencioso e há um clima sombrio no ar. Um arrepio percorre meu
corpo como acontece quando estou com frio, eu cruzo meus
braços abaixo dos meus seios e sigo para o quarto de Liv.
Eu entro no cômodo e as cortinas estão abertas, permitindo
que a luz do sol entre no espaço, mesmo assim Liv está enrolada
nas cobertas e parece estar dormindo.
— Olá, Liv.
Ela não me responde e me sento na cama ao seu lado. Eu
apoio minhas costas na cabeceira e estico minhas pernas sobre o
colchão.
— Sua mãe saiu, somos só nós duas, deveríamos aproveitar
para tomar um dos uísques caros do seu pai.
Eu me dou conta tarde demais que falei o que não deveria.
— Ele deve ter algum, não é?
Tento consertar o meu erro, mas Liv continua em silêncio e
suspiro.
— Nós sentimos sua falta. — Eu preciso me controlar para
não chorar. — Até Maddy resmungou seu nome essa semana.
Menciono a garotinha para tentar obter alguma reação de
Liv, mas minha tática não funciona.
— Você imaginaria que uma de nós teria uma garotinha tão
nova?
Encosto minha cabeça na cabeceira e encaro o teto. É muito
difícil não ter respostas e continuar falando. É um monólogo e eu
amo conversar, porém, não sozinha.
— Sei que Maddy não é da Penny, mas ela vai ser, não há
dúvidas que Penny a ama o suficiente para ser sua mãe.
Penny já é melhor que muita mãe por aí, inclusive a minha.
— Nunca imaginei, quando nos conhecemos há dois anos,
que uma de nós seria mãe. — Faço uma pausa, porque um novo
pensamento cruza minha mente. — Aliás, nunca imaginaria que
estaríamos apaixonadas.
Uma parte de mim ainda espera ouvir a sua voz, mas nada
acontece e preciso continuar falando sozinha.
— Ava se apaixonou pelo patinador que odiava, Penny pelo
nosso treinador e pai da garotinha que era babá e você está
apaixonada pelo jogador de hóquei tímido que estava fingindo ser
seu namorado.
Anseio por escutá-la dizer que não está apaixonada por
Aaron, porém Liv segue sem pronunciar nenhuma palavra, nem
um suspiro escapa dela.
— É um pouco irônico, você não acha?
Omito a maior ironia de todas, que é eu estar apaixonada
pelo seu pai. Talvez se confessasse isso a Liv, ela reagisse de
alguma forma, mas é claro que não o faço, não tenho coragem e
também não quero causar ainda mais danos à minha amiga. Com
certeza não seria uma reação positiva.
Eu não consigo mais continuar conversando sozinha e fico
em silêncio. É tão triste não ter Liv aqui, vê-la tão deprimida e não
poder fazer nada. Viro-me para o lado e cubro sua mão com a
minha.
— Espero que você fique bem logo.
Sussurro. Pela forma como Liv está respirando, ela
realmente está dormindo. Eu olho ao redor do seu quarto à
procura de algo para fazer e o cesto de roupas sujas está cheio.
Eu me levanto e vou até o cesto, pego-o e deixo seu quarto.
Ninguém irá se incomodar se eu colocá-las para lavar. Vou para a
lavanderia, o cômodo é grande, quase maior que meu quarto, tem
duas máquinas, duas secadoras, um armário e espaço para
guardar roupas, tanto sujas quanto limpas. Tudo nesse
apartamento é extremamente exagerado.
Coloco o cesto sobre as secadoras e procuro o sabão no
armário, encontro-o e então me aproximo da máquina. É diferente
da que costumo usar, não há uma lavanderia individual em nosso
apartamento e ocupamos a disponível no subsolo do prédio.
Logo consigo entender como usá-la e coloco as roupas
dentro dela, abro o compartimento para despejar o sabão e estou
concentrada na tarefa quando uma voz ecoa pelo espaço e me
assusta.
— O que você está fazendo aqui?
Meu coração dispara e um grito escapa entre meus lábios.
— Caralho! — O sabão escorrega da minha mão e cai no
chão. — Merda.
— O que você está fazendo aqui?
Peter volta a me perguntar. Eu nem preciso olhar para ele
para saber que está com raiva, porque seu tom de voz deixa óbvio
que não está feliz em me ver em sua lavanderia.
Raiva vibra em meu peito e sinto meu rosto ardendo por
conta da vermelhidão que tomou conta dele. Quem ele pensa que
é para falar assim comigo?
— Estou colocando a roupa para lavar.
Eu respondo enquanto me viro em sua direção. Peter está
parado na porta, ele está apenas com uma toalha ao redor da
cintura e os fios do seu cabelo estão molhados. Eu posso sentir
seu cheiro mesmo daqui e sinto uma vontade imensa de ir até ele
e tocá-lo.
Por que ele precisa ser tão bonito? E esses gominhos são
uma tentação... Eu o odeio e me odeio por sentir todo meu corpo
em alerta, implorando por ele.
— Não estou falando sobre isso.
É claro que ele não está, sorrio debochada.
— Qual seu maldito problema?
Ele entra na lavanderia e caminha em minha direção.
— Meu maldito problema?
Ele soa tão bravo, tudo nele exala raiva, como se uma besta
estivesse o possuindo. Seus olhos estão escuros, seu rosto
marcado pela expressão de indignação e deveria ser um pecado,
porque ele está ainda mais bonito. Meu corpo é um traidor, porque
gosta do que vê. Vibra e anseia por tê-lo descontrolado.
— Você na minha casa é o meu maldito problema.
Suas palavras me machucam e minha vontade é socá-lo.
Idiota, babaca, filho da puta.
— Eu estou aqui pela sua filha, se eu pudesse, nunca mais
cruzaria com você. — Minha voz soa mais alto que o normal. —
Não estou aqui por você.
Satisfação ecoa em meu peito ao ver seu olhar vacilar, eu
posso machucá-lo tanto quanto ele pode me machucar. Peter
caminha em minha direção e dou alguns passos para trás até
bater com minha bunda na máquina de lavar.
Peter não para até estar à minha frente. Apoio minhas mãos
na máquina ao lado e minha respiração está totalmente irregular.
O perfume do seu sabonete me cerca e meu peito infla de
saudade.
Como posso sentir tanta saudade de alguém? Como posso
sentir como se meu coração estivesse doendo.
— O que você pensou que estava fazendo me enviando
aquelas malditas mensagens?
Peter soa como se tivesse algum direito sobre mim. Ele
mantém os olhos sobre os meus como se estivesse prestes a me
possuir. Eu sou uma trouxa, porque gosto, porque um calor sobe
pelo meu corpo e se aloja no meio das minhas pernas.
— Eu não estava pensando. — Sorrio debochada. — Eu
estava bêbada.
Seu olhar fica ainda mais intenso e se inclina em minha
direção.
— Você foi uma criança, Meghan, eu fiquei preocupado.
Não gosto da acusação, o meu sorriso se desfaz.
— Não me chame de criança.
— Então, não aja como uma.
Volto a sorrir, mas dessa vez é um sorriso sem humor.
— Quem agiu como uma criança me evitando a semana
inteira foi você.
Acuso-o e é como se estivéssemos prestes a entrar em
combustão.
— Você disse que queria que eu fosse embora, eu só agi
como você desejou.
Balanço a cabeça negando, perco-me na escuridão do seu
olhar. Esqueço-me dos meus sentimentos, do que deveria ou não
sentir, não importa que tenha me ignorado, nem que tenha me
feito chorar.
— Eu menti, Peter — sussurro enquanto levo minhas mãos
até seu peito. — Eu menti.
Todas as nossas barreiras são desfeitas. Não resta
nenhuma, ele suspira, apoia sua testa na minha e nada mais
importa.
— Queria ter sido capaz de rastrear o seu telefone.
Confessa enquanto sua mão encontra a minha cintura.
— Você tentou?
Sussurro e é a sua vez de rir sem nenhum humor.
— Tentei, eu fiquei maluco em pensar em você bêbada com
outro cara. — Sua voz volta a refletir raiva, mas dessa vez não é
destinada a mim. — Eu queria socá-lo, mesmo sem o conhecer.
Sua mão sobe pela minha cintura e suspiro quando toca
minha barriga. Peter rouba meu fôlego, faz com que perca minhas
forças e minha razão.
— Você me deixou desesperado, Meghan. — Seus dedos
seguem me tocando, até ele enrolar os fios do meu cabelo ao seu
redor. — Eu nunca senti tanta raiva na vida.
— Desculpe, eu não queria te deixar com raiva, aliás, eu
queria, mas não daquele jeito. — Mordo meu lábio inferior, respiro
fundo e reorganizo os meus pensamentos. — Na verdade, eu só
queria que você se sentisse tão atormentado quanto eu.
Peter dá mais um passo em frente e torna o espaço entre
nós o menor possível. Seu nariz encosta em minha bochecha e
ofego.
— Você conseguiu, pequena. — Puxa meu cabelo e me força
a inclinar a cabeça para o lado. — Quem está com Liv?
Engulo em seco e respiro fundo.
— Ela está dormindo.
— Eve e Malcom devem demorar.
É tudo que ele diz antes da sua boca encontrar a minha.
Nos esquecemos de tudo, nada mais importa. Seus lábios devoram
os meus. É tão perfeito, é como respirar depois de um longo
tempo embaixo da água. Minhas mãos percorrem seu peito e sinto
o calor da sua pele.
Tudo em mim anseia por tudo dele.
Seus lábios deixam minha boca, descem pela minha
clavícula até meu pescoço.
— Por que você não prosseguiu com o garoto, Meghan? —
Ele me morde e não consigo me concentrar o suficiente para
respondê-lo. — Vamos, me responda.
Ele dá um tapa na lateral da minha perna, ofego e dou a
resposta que ele tanto quer.
— Porque ele não era você.
É a resposta que ele precisa para perder o controle total.
Peter volta a me beijar e suas mãos se infiltram por baixo do meu
suéter. Desejo percorre meu corpo, resultando em fisgadas no
meio das minhas pernas e uma luxúria incontrolável toma conta de
mim.
Foda-se!
Levo minhas mãos até seu cabelo e puxo sua cabeça para
trás, o forçando a afastar a sua boca da minha.
— Eu preciso de você, Peter.
Seus olhos escuros brilham e refletem o mesmo desejo que
corre em mim. Peter não perde tempo e me deixa nua. Ele é
rápido, então me coloca sentada sobre a máquina enquanto eu
puxo a sua toalha e a jogo no chão, junto com as minhas peças de
roupa.
Nós temos pressa!
Seus dedos encontram o meu clitóris, abro minhas pernas o
máximo que consigo, espalmo minhas mãos na máquina e me
curvo para trás.
— Ninguém será capaz de te tocar como eu faço, Meghan.
— Ele me penetra com seus dedos e choramingo. — Ninguém.
Ele tira seus dedos, mas não tenho tempo para reclamar,
porque ele me traz para a ponta da máquina, eu enrolo meus
braços ao redor do seu pescoço e ele guia seu pau até minha
entrada. Ele me penetra e nos perdemos um no outro.
Nossos gemidos e o som dos nossos corpos se encontrando
ecoam pela lavanderia. Entregamos tudo o que temos e somos.
Nossos beijos são urgentes, arranho suas costas e ele deixa a
marca dos seus dentes em minha pele.
É insano, é carnal, mas ao mesmo tempo é muito mais. É
uma conexão inexplicável, é como se todo sentimento preso em
meu peito explodisse, se transformasse em algo concreto.
É muito mais que sexo!
Nós dois chegamos ao orgasmo juntos e é tão incrível
quanto das outras vezes, talvez ainda melhor, porque eu
necessitava tanto disso. Eu preciso me controlar para não chorar.
O sentimento que me preenche é tão bom, tão leve e puro.
Eu me mantenho de olhos fechados até Peter se afastar. Abro
meus olhos enquanto ele apoia as mãos na máquina ao lado e se
curva para a frente. Não me encara e fita o chão.
— Você sabe, isso foi apenas mais um deslize.
Tudo que estava sentindo evapora, suas palavras me
machucam, mas sorrio e assinto. Recuso-me a chorar na sua
frente.
— Claro, só mais um deslize.
E aquele casal não foi mais visto junto… Será que o motivo
da relação não ter ido para frente é o fato de ele ser o pai da melhor
amiga da garota?
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Peter

Assim que as palavras deixam minha boca, eu tenho


vontade de me socar. Caralho! Meghan não merece nada disso.
Estou garantindo uma passagem só de ida para o inferno
— Claro, só mais um deslize.
Ela tenta soar debochada, mas lá no fundo está a mágoa e
o rancor. Meghan não me engana e eu me odeio. Eu me odeio
tanto que não consigo nem olhar em sua direção.
Sou um idiota covarde que segue na mesma posição,
encarando o chão enquanto ela desce da máquina e veste sua
roupa. Eu sou o pior dos seres humanos. Mas, caralho, o que eu
poderia fazer?
Meghan é melhor amiga da minha filha, vinte e três anos
mais jovem e patinadora da equipe que sou patrocinador. Ela é
apenas uma garota. Isso faz com que me recorde que eu deveria
ser o adulto, eu deveria me controlar.
— Adeus, Peter.
Sua voz e seus passos ecoam pela lavanderia.
— Adeus, Meghan.
Respondo-a enquanto tudo em mim implora para que eu me
vire, olhe em sua direção, implore pelo seu perdão e para que ela
fique, mas não posso fazer isso.
Meghan não pode ser minha, mesmo que tudo em mim
clame por isso.
Ela sai e fecha a porta com força, um estrondo rompe pelo
cômodo. Eu suspiro e fico em pé. Pego a toalha no chão e a enrolo
ao redor da minha cintura outra vez.
Deixei cair no chão as roupas que iria colocar na máquina
assim que encontrei Meghan em minha lavanderia, então as busco
e as jogo na máquina junto com as roupas que ela deixou aqui.
Tudo que consigo pensar é se Meghan chegou bem em
casa. Como ela estará? Eu a magoei? Sequer posso enviar uma
mensagem para ela.
Saio da lavanderia e volto para o meu banheiro, eu preciso
de um novo banho. Água gelada caindo do chuveiro não faz com
que esqueça o que compartilhamos e nem como a magoei.
Não tive nem coragem de olhar em seu rosto, porque sabia
que ficaria devastado se a encarasse, se visse a mágoa em seus
olhos. Eu sempre soube que iria machucá-la e era isso que queria
fazer, foi a única maneira que encontrei de fazê-la se afastar.
Uma vozinha irritante soa em minha mente, zombando que
agora ela pode ficar com os garotos da idade dela. O simples
pensamento faz com que uma raiva tome conta de mim, enxergo
vermelho, sou dominado pelo sentimento e ergo minha mão e
soco o azulejo à minha frente.
Dor se espalha dos nódulos dos meus dedos para o restante
do meu corpo.
— Caralho.
Grito enquanto trago minha mão até meu peito e a embalo
como se isso fosse capaz de amenizar a dor. Sinto meus dedos
latejarem e minha visão está turva.
Eu tive algumas lesões durante o tempo em que jogava
hóquei e não será um soquinho na parede que me fará desmaiar,
mas dói pra caramba. Saio de baixo do chuveiro, estendo minha
mão e deixo que a água gelada escorra pelos meus dedos e
nódulos.
A região está vermelha e já está inchada. Ótimo, era tudo
que eu precisava! Apenas mais uma das minhas ações
inconsequentes. Estou agindo como um garoto e não como um
homem de quarenta e quatro anos.
Vergonhoso!
Desligo o chuveiro, pego uma toalha, seco meu corpo e vou
até o quarto. Coloco uma cueca, calça de moletom e enrolo uma
faixa de atadura ao redor da minha mão.
Pelo menos a dor foi capaz de me distrair e, por alguns
minutos, esqueci de Meghan, porém é claro que ela voltou a
ocupar minha mente. O pior é que não existe nada que possa
fazer para obter informações suas.
Passo a minha mão boa pelos fios do meu cabelo e suspiro.
Porra! Como Eve saiu e Liv está sozinha, saio do meu quarto e vou
até o seu. Minha garotinha está dormindo, ela está encolhida e
nessa posição parece bem mais nova do que seus vinte e um
anos. É como se ela tivesse dez anos outra vez.
Eu fecho as cortinas, ligo a luminária que fica sobre a
cômoda ao lado da sua cabeceira e me apoio na parede em frente
à sua cama.
Observar Olívia faz com que eu lembre quando ela era só
uma criança. Acho que ela nunca soube, mas eu sempre ia ao seu
quarto após os jogos quando Eve e eu ainda éramos casados.
Liv nunca soube o quanto eu a amo, nunca entendeu,
porque nunca demonstrei da forma correta, mas eu a amo e
renunciaria à minha felicidade por ela. Eu estou renunciando à
minha felicidade por ela!
Gostaria de voltar ao passado e não ser um péssimo pai,
porque sei que é muito tarde para ser um pai melhor, talvez seja
muito tarde, inclusive, para obter seu perdão.
Liv segue dormindo, eu fico aqui olhando para ela por um
tempo, perdido em culpa, ressentimento e arrependimento. As
pessoas aplaudem minha carreira no hóquei, porém, se soubessem
o que me custou, ninguém me admiraria.
Saio do quarto de Liv e vou para a cozinha atrás de algo
para comer. Eu encontro Malcom e Eve guardando algumas
compras nos armários. É estranho tê-los aqui e sei que também é
difícil para eles, estamos tentando nosso melhor por Liv.
Cumprimento-os com um aceno de cabeça, pego na
geladeira o necessário para fazer um sanduíche e deixo os itens
sobre a bancada. Inicio o preparo do meu lanche e ignoro o que
eles estão fazendo ao meu redor.
— O que você fez na mão?
Eve pergunta enquanto se aproxima.
— Eu me machuquei.
Ela para ao meu lado.
— Posso dar uma olhada, se você quiser.
Oferece seus serviços de enfermeira e balanço minha cabeça
negando.
— Obrigado, mas realmente não foi nada, apenas uma
batida.
Olho em sua direção e ela assente. Malcom vem até ela e
beija sua testa.
— Eu estou indo para o quarto.
Ela sorri e beija sua bochecha.
— Ok, eu já vou.
Seu marido deixa a cozinha e nós dois ficamos sozinhos.
Permanecemos em silêncio, nenhum de nós se lembra como
conversar com o outro, nós já fomos amigos, já tivemos um
relacionamento, mas hoje somos dois estranhos.
— Você quer um sanduíche?
— Não, obrigado, Malcom e eu saímos para jantar.
Eu assinto, volto a encarar os pães à minha frente e volto a
preparar o meu sanduíche.
— Como Liv está?
— Na mesma.
Eve suspira, eu deixo meu lanche de lado e me viro até ter
minha bunda apoiada na bancada.
— Não sei mais o que fazer — confesso enquanto passo a
mão pelo meu cabelo. — Eu queria ser capaz de ajudá-la, mas não
sou, talvez seja melhor levá-la com você.
Eve e eu decidimos que seria melhor Liv ficar comigo,
porque aqui ela tem suas amigas, seu namorado, sua
universidade, só que eu não sou capaz, eu sou um desastre.
— Você não pode resolver o passado agindo exatamente
como agiu. — Encaro-a e ergo minhas sobrancelhas. Do que ela
está falando? — Você afasta Liv por medo de não ser o que ela
precisa.
Faço uma careta e cruzo os braços em meu peito.
— Eu não sou quem Liv precisa, é muito tarde para
consertar nossa relação.
Eve balança a cabeça e olha para mim como se eu fosse
uma criança teimosa.
— Você sempre se colocou nesse posto de não ser o
suficiente e Liv acredita que ela não é o suficiente, vocês precisam
resolver isso, James, por Liv e por você.
Suas palavras ecoam em minha mente, mas eu
simplesmente não consigo acreditar que posso ajudá-la.
— E se eu não conseguir? E se eu falhar de novo? E se tudo
se repetir?
Eve sabe que estou falando sobre a anorexia, sobre Noah,
sobre tudo que aconteceu com Liv. Nenhum de nós dois foi capaz
de perceber o quanto ela precisava de ajuda. Falhei com a única
pessoa que não deveria ter falhado!
— Eu também me sinto culpada, James, e talvez realmente
tenhamos errado, só que isso não muda o quanto nós a amamos,
nós não erramos de propósito, erramos porque somos humanos.
— Eve sorri, um sorriso gentil. — Eu sinto muito por não ter
notado que nossa filha estava com um transtorno alimentar, por
não ter percebido que o fisioterapeuta estava a assediando, e claro
que se eu pudesse faria tudo diferente, mas não posso, e a culpa
não vai me ajudar e nem ajudar nossa filha.
Olho para baixo e fito o chão.
— Eu queria ser capaz de ser quem ela precisa.
Eve toca meu braço.
— Ela só precisa de um pai, James, ela só precisa de você.
— Há um caroço em minha garganta e lágrimas se acumulam em
meus olhos. — Ela só quer que você lute por ela, James.
— Será que um dia ela vai me perdoar?
Sussurro enquanto respiro fundo e evito que as lágrimas
deixem meus olhos.
— Claro.
— E você? — Volto a olhar para Eve, que me encara sem
entender. — Será capaz de me perdoar um dia?
Ela ri como se eu fosse um maluco.
— Eu já perdoei, James, além do mais, esse seu pedido está
doze anos atrasado.
Eve tem razão, eu nunca pedi perdão após nosso divórcio.
Uma parte de mim tinha vergonha, porque não fui capaz de fazê-la
feliz. Eu cometi uma sucessão de erros em nosso passado.
— Mais um motivo para pedir perdão.
— Bem que dizem que depois dos quarenta os homens
ficam mais sábios.
Ela soca meu braço e dou de ombros.
— Sigo tentando ser alguém melhor.
Eve assente e a expressão mais descontraída some de seu
rosto.
— Nosso divórcio foi meio conturbado, eu estava com raiva
e você não entendia o porquê, mas depois de um tempo percebi
que foi o melhor que podíamos ter feito por nós e por Liv. — Eve
faz uma pausa. — Se formos sinceros, nós nem éramos
apaixonados de verdade, James, só ficamos juntos por causa de
Liv.
A expressão descontraída volta para o seu rosto.
— Hey, eu gostava de você.
Defendo-me e ela ri.
— Gostar é diferente de amar. — Aponta o seu dedo em
minha direção. — O fato é que namoramos porque éramos
amigos, casamos porque engravidei, tentamos por tanto tempo
por conta de Liv e fomos um desastre juntos.
Faço uma careta ao lembrar do nosso tempo juntos. Eve e
eu éramos muito novos, cometemos todos os erros possíveis.
— Eu era um péssimo marido.
Na minha cabeça precisava trabalhar acima de qualquer
coisa, priorizei o profissional para criar uma estabilidade e pagar
nossos luxos, perdi datas importantes e acontecimentos únicos,
como os primeiros passos de Liv.
— Era mesmo, mas eu também era uma péssima esposa.
Como estamos sendo honestos, eu concordo com ela. Eve e
eu quase nunca fazíamos as refeições juntos, quando eu estava
em casa, era ela que não estava, nunca assistia aos meus jogos e
me deixava sozinho nos feriados para estar com sua família.
— Não deveríamos ter insistido por tanto tempo.
— Você combina muito mais com Malcom. — Eve assente.
— Desde o momento que vi você com ele, três anos depois da
nossa separação, soube que você seria muito mais feliz com ele do
que foi comigo.
— Ele e eu nos entendemos. — Encara-me com curiosidade.
— E você, James, não encontrou ninguém?
Sua pergunta me faz engolir em seco.
— Nunca encontrei ninguém.
Enquanto a resposta deixa meus lábios, o rosto de Meghan
ecoa em minha mente. Caralho!
— Um solteiro convicto.
Sorrio e escondo meu desconforto com o tópico da
conversa.
— Sempre.
Eve e eu continuamos conversando como velhos amigos e
por fim, ela suspira.
— Eu senti mais falta do meu amigo do que do meu marido.
Confessa e nossas gargalhadas ecoam pela cozinha. Eve se
despede de mim assim que para de rir e eu fico sozinho. Finalizo o
meu sanduíche, pego uma cerveja na geladeira e me sento de
frente para o balcão que ocupa parte da cozinha.
Eu precisava dessa conversa com Eve, um encerramento
tardio, mas necessário.
Assim que termino de comer, eu sigo para a sala e paro em
pé de frente para enorme parede de vidro, encaro a noite lá fora e
suspiro. Minha mão segue doendo e Meghan continua ocupando
meus pensamentos.
Ela é tudo em que eu consigo pensar!
Não foi fácil evitá-la durante a semana e Meghan esteve em
minha mente todos os malditos dias. Não dormi direito em
nenhuma noite depois daquela sua ligação, eu só conseguia
pensar nela com um garoto e ninguém deveria tocá-la além de
mim.
Ela desperta uma possessividade em mim que nunca senti
antes.
Após aquela ligação, tentei rastrear seu celular, porque tudo
que eu conseguia pensar era que deveria ir até ela, jogá-la sobre
meu ombro e trazê-la embora, mas não consegui e isso me deixou
péssimo, com raiva e um mau humor terrível.
Menti para mim mesmo que estava com raiva da sua atitude
infantil, entretanto, estava com raiva de mim. Tentei agir com
indiferença, entretanto, desejava um vislumbre seu.
Eu me obriguei a me manter distante, saí quase todos os
dias enquanto ela estava aqui e no único dia que a encontrei, eu
falhei.
Meghan é meu ponto fraco e eu não posso me aproximar
dela.
Meu novo lema e objetivo de vida é me manter distante de
Meghan, fazer o possível para evitá-la. E nos próximos dias eu
consigo, saio do meu apartamento antes de Meghan e suas
amigas chegarem e só volto ao fim da noite. Entro em bares
aleatórios e fico bebendo, algumas vezes volto bêbado para casa,
o que é ótimo, porque é mais fácil de dormir, sem bebida eu fico
pensando nela, pergunto-me o que ela deve estar fazendo e às
vezes abro seu Instagram e vejo suas fotos.
Ela é meu tormento, sinto sua falta e é como se fosse um
viciado em abstinência.
Eles voltaram a ser vistos juntos e preciso confessar que
acho eles um lindo casal. Estou torcendo por eles…

P.S Eles são um casal fitness foram vistos correndo em um


parque.
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

Entrar no apartamento de Peter causa uma sensação de


formigamento em meu corpo. É uma mistura de anseio,
nervosismo e adrenalina.
Faz uma semana desde nosso encontro na lavanderia, ele
me machucou e mesmo assim, só de pensar nele meu coração
acelera e sinto minhas pernas tremerem. Sei que não vou
encontrá-lo, porque ele nunca está em casa e tenho certeza de
que é minha culpa, ele está me evitando, mesmo assim, lá no
fundo tenho esperanças.
Mais uma vez, Ava, Penny e eu viemos até Liv e ele não
está, é Eve a nos receber e vamos direto para o quarto da nossa
amiga. Liv segue na mesma, sem falar, com os pais a obrigando a
comer e a tomar banho. Sua única reação foi com Aaron, o
jogador de hóquei nos relatou que ela chora em seus braços pela
noite desde que voltou do hospital.
Nós estamos preocupados porque amanhã faz duas
semanas do acidente, ela já deveria estar reagindo e nem com a
psicóloga tem conversado.
Ava e Penny se sentam ao seu lado na cama, eu ocupo a
cadeira que fica de frente para a mesa de estudos e a giro até
estar em uma posição que me permite encarar minhas amigas.
Nós conversamos e fazemos perguntas a Liv, ela tem os olhos
abertos, está sentada com as costas apoiadas na cabeceira, mas
não emite nenhuma reação. É como estar diante de outra pessoa,
um zumbi, a sombra do que nossa amiga já foi.
É desesperador, a cada dia que passa Liv parece ainda pior.
Algumas vezes, eu tenho impressão de que estamos a perdendo,
como se a cada dia ela estivesse mais distante.
Eu faria de tudo para conseguir alcançá-la, resgatar Liv da
sua própria mente e trazê-la de volta.
Nós ficamos uma hora com Liv, uma hora que pareceu
infinita, é angustiante e um tormento. Ao sairmos do seu quarto,
não conseguimos nos conter, as lágrimas rompem e choramos. Eu
tento parar de chorar, mas simplesmente não consigo.
Encontramos Eve na sala e ela começa a chorar ao ver
nosso estado. É difícil para todo mundo. Confortamos umas às
outras e, por fim, nos abraçamos.
Eu não estou bem e uma parte minha só queria um abraço
de Peter. Eu daria tudo para vê-lo. É claro que ele não aparece e
mais uma vez, eu não o vejo.
Nós saímos do apartamento e decidimos parar em um
restaurante para jantar. Sentamo-nos ao redor de uma mesa e
Penny suspira.
— Eu queria tanto que ela estivesse aqui.
Ela não precisa explicar, sabemos que ela está falando de Liv
e sentimos o mesmo.
— Não suporto vê-la daquela forma.
Confesso e volto a chorar. Ava e Penny concordam comigo e
deixam suas lágrimas rolarem também. Somos um caos.
Choramos, lamentamos,e só depois jantamos.
É uma sexta-feira, em outra época iríamos para uma festa,
ou algo do tipo, mas nenhuma de nós tem ânimo. Assim que
chegamos, cada uma vai para o seu quarto.
Eu tomo banho, visto a camiseta que roubei de Peter, busco
o celular que deixei sobre a cômoda, jogo-o na cama e me deito
de barriga para cima. Encaro o teto e ele invade minha mente. Por
que não consigo parar de pensar nele? Por que ele tem que ser
assim tão memorável? Como posso sentir tanto sua falta?
Sou um caso perdido!
O meu celular toca, e pelo som é uma chamada de voz.
Quem está me ligando a essa hora? Pego o aparelho e me deparo
com o nome da minha mãe piscando na tela.
Merda!
Eu tenho rejeitado suas ligações e apenas respondido suas
mensagens. Confirmei minha ida até a festa de aniversário do
hospital daqui a duas semanas, dei meu palpite no maldito vestido
que irei usar e jurei que seria o suficiente para ela não me
incomodar, mas, aparentemente, estava errada!
Aceito a ligação e deixo o telefone sobre o colchão ao meu
lado.
— Hey, mãe.
— Finalmente você me atendeu.
Reclama e reviro meus olhos.
— Eu estive ocupada, minha amiga está doente e comecei a
treinar para o nacional.
Espero por algum comentário acerca de ter me classificado,
nem que seja algo negativo, mas ela simplesmente segue
ignorando esse fato sobre a minha vida.
— Eu preciso conversar com você sobre a festa.
Eu enviei uma mensagem contando sobre a minha
classificação para ela e para o meu pai, ambos ignoraram e
seguem ignorando. Não deveria me magoar, porém me magoo.
Acho que sempre vou esperar por algo, nem que seja uma
migalha.
— Nós já conversamos sobre a festa.
— Não o suficiente, nós precisamos conversar sobre o seu
par.
— Meu par?
Soo incrédula. Do que diabos ela está falando?
— Você precisa de um acompanhante.
Bufo irritada.
— Eu não preciso de um acompanhante.
Que merda eles estão pensando? Eles não podem me obrigar
a ir com alguém para essa maldita festa.
— Óbvio que precisa, querida, você e Romeu precisam
começar a fazer aparições públicas, ou será estranho quando
surgirem como um casal.
Tudo nessa sua frase é um problema. Meus pais juram que
devo me casar com esse tal de Romeu, ele e eu nunca conversamos,
porém, para eles, somos o casal perfeito porque ele é herdeiro de
um hospital também, se nos casarmos poderemos unir os dois e eles
terão alguém para administrar o hospital, já que eu não sou
capacitada e nem faço questão de assumir.
É apenas um negócio e eles querem que eu me submeta a
isso.
— Nós nunca seremos um casal e não vou com ele a festa
nenhuma.
— Meghan, isso não está em questão, nós já deixamos você
patinar e escolher esse curso medíocre.
Ela me machuca sem pensar duas vezes. Minhas escolhas e
minha felicidade não importam nem um pouco.
— Eu não vou me casar e não vou a essa festa com esse
cara, eu sequer o conheço.
Sento-me e passo as mãos pelos fios do meu cabelo. Minha
vontade é puxá-los e gritar. Eu não quero nada disso!
— Meghan, você não está sendo razoável, será um ótimo
negócio, vocês se casam, vocês têm um herdeiro, ele assume os
hospitais e você pode trabalhar com arte como tanto deseja.
As palavras que ela usou ecoam em minha mente, negócio e
herdeiro, além disso, suas últimas palavras foram ditas com desdém.
— Isso soa como um desastre para mim.
Escuto o som da sua risada, falso e forçado, e isso faz com
que um arrepio suba pelo meu corpo.
— Seu pai e eu temos um casamento baseado nesses termos
e eu sou feliz.
O pensamento de ter um casamento igual ao dos meus pais
me deixa com o estômago embrulhado. Preferia ser picada por um
milhão de formigas ao mesmo tempo do que viver uma vida igual à
da minha mãe.
— Eu não quero ser igual a você, mãe.
Antes que ela continue com seu discurso, pego o celular e
encerro a chamada. Volto a me jogar sobre a cama, pego meu
travesseiro e o pressiono contra meu rosto enquanto um grito
escapa dos meus lábios.
Há uma pressão em meu peito, um desespero misturado com
frustração vibra em meu coração, mas nenhuma lágrima escapa dos
meus olhos. Não existe mais choro por conta dos meus pais.
Não mais! Uma parte de mim está acostumada com esse
tratamento frio e distante, a outra, uma pequena parte, tem
esperança de que eles se transformem em pais e pessoas melhores,
mas a cada dia se torna menor e mais insignificante, tão pequena
que não me causa mais uma grande dor ou faz com que eu chore.
Minha mãe e meu pai só se casaram por um propósito, nada
mais que um negócio e o objetivo sempre foi um herdeiro. Eu nasci
com um papel a cumprir, assumir o hospital da família, continuar
com o legado, mas nunca quis nada disso e sou a decepção dos
meus pais. Segundo eles, minha chance de consertar tudo é me
casando com Romeu, assinando um papel que deixe claro que tudo
será do filho que teremos.
Eles querem que eu produza um herdeiro! Como se uma
criança fosse um objeto. Afasto o travesseiro do meu rosto e sorrio
ironicamente. Para eles, um filho é realmente um objeto, foi assim
que fui tratada boa parte da minha vida.
Criada por babás, quase não os via, posso contar nos dedos
os abraços e beijos que recebi dos dois. Eu não sei nem se eles me
amam, aliás, não sei nem se eles sabem o que é o amor.
Tudo que eu quero é evitar repetir a mesma história.
Como eles podem acreditar que devo me casar com alguém
que não conheço? Eles não se importam com a minha idade, com as
minhas escolhas e com os meus sonhos.
Não tenho boas referências de pais, porque meus avós são
da mesma forma, mas me recuso a acreditar que isso é o normal da
humanidade.
Suspiro e pego o celular, há várias mensagens da minha
mãe, não abro nenhuma, chega por hoje. Não quero lidar com ela
no momento, eu estou exausta. Bocejo, então me ajeito na cama e
me cubro com meu cobertor.
Eu vou deixar alguns problemas para a Meg do futuro,
fecho meus olhos e Peter preenche minha mente. É claro que vou
continuar pensando nele!
Durmo, sonho e acordo pensando nele. O que ele está
fazendo? Ele está sentindo minha falta?
Mesmo sendo um sábado, acordo cedo, eu até tento voltar
a dormir, mas falho miseravelmente, então me levanto, escovo meus
dentes e visto uma roupa de academia. Eu treinei e malhei a
semana inteira, mas exercícios físicos nunca são demais quando
preciso me preparar para o campeonato nacional de patinação que
irá acontecer em dois meses.
Nada de folga!
Eu tiro minha corrente e meus brincos, mas deixo minha
pulseira, eu a comprei quando tinha quinze anos, porque tem um
patins como pingente. É meu amuleto da sorte.
Como algo e saio para correr. Vou até o parque da cidade e
fico correndo ao redor do lago. É uma ótima vista, o ar puro me faz
bem e posso sentir o vento em meu rosto.
Estou com fones de ouvido e mantenho meus passos no
ritmo da música, e para não pensar em Peter e nem na minha mãe,
me concentro em relembrar o que irei apresentar no nacional, faço
um checklist mental do que preciso melhorar e até mesmo me
imagino no pódio.
O sonho da minha vida é ter uma galeria de arte, descobrir
novos artistas, fazer curadorias, mas não faria mal nenhum obter
uma medalha de ouro na patinação. Encontraria um lugar de
destaque para ela em minha casa ou até mesmo na minha galeria!
Aproveito os minutos correndo para sonhar, imagino meu
futuro, minhas conquistas, não me reprimo e finjo que não há
obstáculo nenhum à minha frente. Finjo que a vida é um cupcake de
morango!
Só encerro minha corrida quando minhas pernas estão
doendo e estou suando. Eu decido voltar caminhando para casa e
estou quase deixando o parque quando me dou conta que falta algo
em meu pulso, olho para baixo e não estou usando a minha pulseira.
Droga, eu a perdi, caralho!
Olho ao meu redor e não a encontro. Não posso
simplesmente ir embora sem ela e é por isso que volto pelo caminho
que acabei de cruzar. Eu tenho os olhos fixos no chão e procuro
minuciosamente pela minha joia. A ideia de perdê-la para sempre
causa um aperto no meu peito.
Estou tão desesperada que me ajoelho no chão e tateio a
grama. Estou de quatro em um parque, bem humilhante e
vergonhoso, mas no momento nem me importo. Minha pulseira é
mais importante que minha dignidade.
Estou concentrada e focada na minha missão e mesmo
quando sinto um formigamento, sigo a procurando. A sombra de
alguém me cobre e paro, meu coração acelera e minha respiração
falha ao ouvir a sua voz.
— Procurando por isso?
Ainda de joelhos, olho para cima e me deparo com Peter. É
uma sensação estranha vê-lo dessa posição. Ele tem a minha
pulseira em mãos. Eu engulo em seco, fico em pé e com a minha
mão limpo a minha legging que está suja de terra.
Faz uma semana que não o vejo e quando finalmente
acontece, estou nesse estado. Deplorável!
— Eu a perdi enquanto corria.
Eu o encaro e meu coração bate diferente. A saudade
ganha ainda mais intensidade agora que ele está aqui na minha
frente. Dói!
— Eu a encontrei no chão e achei que pudesse ser a sua.
Assinto. É como se ele enxergasse a minha alma e eu a
sua. É como se eu pudesse escutar as batidas do seu coração.
— De todas as pessoas que poderiam encontrar minha
pulseira, você a encontrou. — Sorrio. — A vida está pregando uma
peça em nós dois.
Peter ri, olha para baixo, abre a minha pulseira, então se
aproxima e toca meu pulso, prendo minha respiração e minha pele
se arrepia. Deus, não acredito que ele está me tocando!
Como pode alguém fazer tanta falta assim!?
Preciso me segurar para não fechar meus olhos enquanto
ele deixa a pulseira em meu pulso. Ele dá um passo para trás e volto
a respirar.
— Obrigada.
— De nada.
Seguimos um de frente para o outro e nos encarando.
Deveria estar chateada pelo que ele me disse da última vez, mas eu
o entendo. Lá no fundo sei que disse o que precisava dizer para me
afastar. Nós não podemos de forma alguma alimentar o que
sentimos um pelo outro.
— Como você está?
Não resisto e pergunto. Isso é tudo que quis saber durante
a semana!
— Deveria dizer que estou bem, mas não consigo mentir
para você.
Mais uma vez, meu coração dá um pulo em meu peito. Por
que ele tem essa capacidade?
— Acho que isso não é um bom sinal.
Ele ri.
— Talvez.
Sorrio, mas é um sorriso breve, porque volto a fazer a
pergunta.
— Então, como você está?
Espero ansiosa por sua resposta. Peter mantém seus olhos
nos meus e posso ver a luta interna que ele está travando. O certo e
o errado!
— Não estou bem.
Confessa.
— Por causa de Liv.
Ele dá de ombros e sorri, um sorriso sem humor.
— Por causa de tudo, por causa de Liv, dos meus erros do
passado e por causa do que falei a você.
— Eu entendi o que estava fazendo.
Ele ergue suas sobrancelhas.
— Entendeu?
Assinto.
— Você me magoou, eu quis matá-lo, mas depois de uns
dias finalmente entendi. Ìsso entre nós... — Faço um gesto com a
mão, apontando dele para mim. — Não pode acontecer, então você
me magoou, é claro que não sou só um deslize, eu vejo a forma
como você me olha.
Ele ri, mas dessa vez chega aos seus olhos. Toda tensão se
dissipa ao nosso redor. É como se fôssemos apenas nós dois, sem
problema nenhum e sem impedimentos, como foi naqueles dois fins
de semana que não sabíamos quem realmente éramos.
Peter me encara com admiração, o que faz com que me
sinta satisfeita. Droga, estar aqui com ele é insano, faz com que
vários sentimentos ocupem meu coração e nesse instante eu sou
uma bagunça.
— Você não deveria ser assim.
Ergo minhas sobrancelhas.
— Assim como? Gostosa?
Brinco, ele ri enquanto balança a cabeça.
— Madura. — Ergue sua mão como se fosse colocar fios do
meu cabelo para trás da minha orelha, mas desiste no último
segundo. — Você tem vinte e um anos, deveria ser irresponsável,
irritante e egoísta.
Faço uma careta.
— E iria me odiar.
Nós dois rimos e começamos a caminhar em frente um ao
lado do outro. É natural e simplesmente seguimos. Continuamos
conversando e eu falo sobre meu treinamento para o nacional, ele
me parabeniza e pergunto sobre como era ser um jogador de
hóquei, ele me conta suas experiências e nos despedimos em frente
ao parque com um aceno de mão.
É pouco, mas é tudo que podemos ter!
No dia seguinte volto ao parque na esperança de vê-lo
outra vez e o encontro. Assim como no dia anterior, caminhamos um
ao lado do outro e conversamos.
Nas próximas duas semanas, Peter e eu corremos juntos
todas as manhãs. Nós dois fingimos que é por acaso, mas sabemos
que não é. Os assuntos se tornam mais profundos conforme os dias
passam, ele e eu criamos uma conexão muito maior.
Não é mais apenas físico, talvez nunca tenha sido, é
emocional, é como se minha alma tivesse encontrado a sua.
É natural contar sobre meus pais, assim como é natural
para ele me falar sobre seu passado, seus medos e fantasmas.
É insuportável, mas não nos tocamos. Resistimos, porque
sabemos que se ultrapassarmos esse limite, precisaremos nos
afastar, e é melhor uma migalha do que nada.
O que estamos fazendo? Nenhum de nós dois tem ideia.
Eu tenho uma bomba, mas ainda não posso revelar... Uma
dica? Ela demorará nove meses para ficar pronta.
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

Pela terceira vez consecutiva, acordo e preciso correr para o


banheiro, e assim que piso no cômodo, me curvo sobre o vaso e
despejo tudo que comi na noite passada.
Meu estômago está um caos, queima como se estivesse
pegando fogo, enquanto há algo, eu estou vomitando. Eu me sinto
péssima, mal consigo respirar e é como se estivesse sendo
sufocada.
Deus, eu estou morrendo!?
Depois de alguns segundos que parecem durar uma
eternidade, consigo me afastar do vaso. Sento-me no chão com as
costas apoiadas na parede e aperto minhas mãos contra minha
barriga na tentativa de aliviar a queimação.
O que caralhos está acontecendo comigo? Nem quando
estou de ressaca eu fico assim. Achei que pudesse ser o milk
shake que tomei na terça, mas depois de quatro dias eu deveria
estar melhor.
Talvez deva ir ao médico.
Respiro fundo e fico alguns segundos encarando o teto até
ter certeza de que não vou vomitar outra vez.
Eu me levanto, apoiando na parede e dou passos em frente
e devagar, não quero fazer nenhum movimento brusco para não
piorar a dor em meu estômago. Acho que por enquanto não vou
mais vomitar!
Tiro minha roupa e sigo para o chuveiro. Demoro no banho,
na esperança de que a água me ajude a melhorar, apesar de não
estar mais vomitando, ainda me sinto estranha, fraca, sem forças,
enjoada e um pouco tonta. Os outros dias consegui ir correr, mas
hoje não vou conseguir.
Além de estar mal, Peter perceberia que algo está errado
comigo e não quero deixá-lo preocupado, porém, não gosto da
ideia de não o ver. A dependência emocional é uma merda.
Saio do banho, enrolo uma toalha ao redor do meu corpo e
outra em meu cabelo. Eu continuo me sentindo doente. Droga!
Minha sorte é que hoje é sábado e não tenho treino, porque com
certeza não conseguiria treinar, estou enjoada, tonta e sem
equilíbrio, seria uma péssima ideia executar qualquer movimento.
Suspiro enquanto deixo o banheiro. Preciso melhorar até
segunda, não posso me dar o luxo de ficar doente e perder o
treino, todo treino é importante e realmente estou empenhada em
me classificar para o mundial.
Eu visto uma roupa confortável, legging e um suéter velho,
os planos para meu dia são: ficar deitada assistindo alguma
comédia romântica. E enquanto estou de frente para o espelho
penteado meu cabelo, eu me pergunto se devo enviar alguma
mensagem para Peter avisando que não vou correr hoje.
Desisto da ideia, não temos um acordo ou um combinado, é
só algo que fazemos. Se não dermos nome para nossos encontros
enquanto corremos, se torna menos proibido.
Assim que largo a escova que estava utilizando e tenho
meus cabelos alinhados, eu pego meu celular e encaro o aparelho,
mordo meu lábio inferior e uma luta acontece dentro de mim. O
que eu devo fazer contra o que eu quero fazer.
A razão vence e não envio mensagem.
Meu estômago segue embrulhado, mas tenho fome, então
deixo meu quarto e vou até a cozinha. Ava está preparando seu
café da manhã no balcão da ilha, de modo que está de frente para
a porta, ela ergue sua cabeça ao escutar meus passos e franze a
testa ao se deparar comigo.
— Você está péssima.
Sorrio debochada.
— Obrigada pelo elogio.
Ava dá de ombros enquanto eu me aproximo.
— Você realmente está péssima. — Minha amiga desce seu
olhar pelo corpo, como se estivesse à procura de algum problema.
— Você está bem?
Eu me sento no banco à sua frente e balanço minha cabeça.
— Não, eu estou me sentindo péssima.
Confesso e Ava volta a olhar para o meu rosto.
— O que você tem? Continua vomitando?
É possível notar a preocupação em sua voz, Ava sabe que
passei mal no dia anterior e no retrasado, ela percebeu que algo
estava errado comigo assim que me viu na quarta-feira.
— Sim, eu vomitei tudo que tinha no meu estômago e agora
estou enjoada, tonta e com um mal-estar estranho.
Faço uma careta e minha amiga me encara com pesar.
— Você precisa ir ao médico.
Assinto.
— Se continuar assim, amanhã eu vou.
Pela expressão no rosto de Ava, ela não concorda comigo.
— Deveria ir hoje, você realmente não parece bem, Meghan.
Suspiro.
— Hoje eu só quero ficar deitada, assistindo algum filme
bobo.
— Ok, mas se você piorar, irei levá-la arrastada até o
hospital.
Aponta a colher que tem em mãos em minha direção.
Levanto minhas mãos para o alto.
— Ok, ok, mamãe.
Nós duas rimos, mas não por muito tempo, porque Ava ativa
seu modo amiga preocupada.
— Você quer que eu prepare algo para você comer?
Faço um beicinho com meus lábios. Não quero abusar da
minha amiga, mas já que ela está se oferecendo…
— Iria adorar se você me fizesse as suas panquecas com
banana e mel.
Pensar na comida me deixa com água na boca. Deus, tudo
que eu quero são essas panquecas!
— Eu estava pensando em algo mais leve.
— Eu sei que deveria comer algo mais leve, mas agora não
consigo parar de pensar nas suas panquecas maravilhosas, por
favor, Ava. Juro que estou sentindo o gosto delas na minha boca.
Minha amiga ri, mas cede e inicia o preparo das panquecas.
— E Penny?
Pergunto pela nossa amiga e Ava suspira, é um suspiro falso
e exagerado.
— Ela está com Luke, definitivamente perdemos nossa
amiga para nosso treinador.
Ava está fingindo estar chateada e sorrio. Penny passa mais
tempo no apartamento do Luke do que no nosso, realmente
sentimos sua falta, mas ela está feliz e isso é tudo que importa.
— Você continua vendo Peter?
Ela pergunta de repente e engulo em seco.
— Não.
Minto, Ava desvia os olhos da massa das panquecas e me
encara com um olhar de quem sabe que não estou falando a
verdade.
— Não estou mentindo, não está acontecendo nada entre
nós dois, só às vezes nos encontramos enquanto estamos
correndo.
Dou de ombros como se não fosse nada de mais, Ava franze
sua testa e me analisa.
— Ao acaso? — Assinto e Ava bufa. — E eu nasci ontem,
Meghan.
Eu fico em silêncio, porque não existem argumentos que eu
possa usar e qualquer coisa que eu falar pode piorar ainda mais a
minha situação.
— Nunca pensei que eu seria a mais sensata — resmunga.
— Uma se apaixona pelo treinador, a outra mente que está
namorando e você se apaixona pelo pai da nossa melhor amiga.
Eu não posso nem dizer que não estou apaixonada por
Peter, porque confessei para Ava enquanto estava bêbada algumas
semanas atrás.
— Mas eu não fiz de propósito. — Eu me defendo. — Não
sabia que Peter é pai da Liv.
Ava deixa os preparos de lado, espalma as mãos sobre o
balcão e me fita com seriedade.
— Como você realmente está com isso tudo?
A pergunta faz com que lágrimas nublem minha visão.
Merda, eu estou mais emotiva que o normal!
— Mal, não queria gostar dele. — Minha voz embarga. — Sei
que nunca o terei, mas ele é tudo que eu quero, é bobo, mas às
vezes eu fico pensando em como seria se nós pudéssemos ficar
juntos.
É bom finalmente poder falar sobre o assunto com alguém.
— Contar para Liv não é uma opção?
— Não, Liv está lidando com muitas situações delicadas no
momento, jamais jogaria mais esse fardo sobre ela, com certeza
não é algo que lidaria bem.
Quem lidaria bem com o pai e a melhor amiga transando?
— Então vocês nunca irão contar o que aconteceu entre
vocês?
— Não, é algo que apenas ele, eu e você saberemos. —
Sorrio, um sorriso sem humor. — Em algum momento só seremos
lembrança um do outro.
— Isso não parece justo com nenhum de vocês.
Ava me encara com pesar.
— A vida não é justa.
Morde seu lábio inferior por alguns segundos.
— Eu acho que vocês deveriam contar para Liv.
Nego.
— Liv recém está se recuperando do acidente, saber algo
desse tipo só a faria regredir e quero vê-la feliz, Liv já enfrentou
muitas coisas, não vou jogar sobre ela mais o lance de o seu pai
ter dormido com sua melhor amiga.
Faz uma semana que Liv voltou a falar, ela está melhor, mas
são passos de bebê, alguns dias são melhores que outros. Ainda é
cedo e ela está sofrendo por ter pedido para Aaron se afastar, não
vou aumentar o fardo sobre minha amiga.
— Eu ainda acho que vocês deveriam conversar com Liv.
Fico em silêncio, Ava concentra-se em suas panquecas e
quando volto a falar, é sobre o nacional. Ava e Matteo estão
empolgados, eles são incríveis juntos e temos muitas expectativas
nos dois.
Ava termina as panquecas e se senta ao meu lado. Eu as
saboreio como se fosse minha última refeição da vida, estão uma
delícia, esqueço qualquer problema que tive nos últimos dias.
— Estava divino, Ava, você é a melhor cozinheira de
panquecas do mundo.
Elogio minha amiga assim que termino de comer e me
inclino em sua direção, abraçando-a e ela ri.
— Obrigada, acho que depois desse elogio até vou largar a
patinação e abrir um lugar que só venda panquecas.
Nós duas rimos, eu volto a minha posição normal e
seguimos sentadas uma ao lado da outra, fofocando sobre a nova
edição do Jornal de Dartmouth. Os minutos passam e sinto meu
estômago pesando com a panqueca. Droga, não deveria ter
comido! Eu continuo conversando e sorrindo, mas estou
respirando fundo na tentativa de não enjoar.
De repente, a ânsia de vômito toma conta de mim. Não
posso mais segurar, trago a minha mão até minha boca, pulo do
banco e corro para o banheiro.
Caralho!
Abro a porta com força e me ajoelho no chão, assim que
afasto minha mão despejo tudo que acabei de comer. Merda! É tão
ruim quanto foi mais cedo, é como se estivesse deixando minha
alma aqui.
São segundos debruçada sobre o vaso sanitário, mas é
como se fossem horas. É horrível.
Como estou no banheiro social, não tenho uma escova de
dentes aqui, então só lavo minha boca com enxaguante bucal, o
que quase me faz vomitar outra vez.
Saio do banheiro com a mão sobre minha barriga e encontro
Ava apoiada na parede em frente.
— Você está bem?
— Não, eu acho que vou precisar ir ao médico.
Minha amiga assente e me encara com pesar. Ergo minhas
sobrancelhas, Ava morde seu lábio inferior e demora alguns
segundos para me explicar o porquê de estar me olhando dessa
forma.
— Meghan. — A maneira como diz meu nome faz com que
meu coração acelere. — Existe alguma possibilidade de você estar
grávida?
Sua pergunta ecoa em minha mente e simplesmente não faz
sentido nenhum. Abro minha boca para respondê-la, porém
nenhum som sai dos meus lábios. Imagens de todas as vezes que
não usamos camisinha ecoam em minha mente, e foram muitas
vezes.
— Eu tomo anticoncepcional.
É o que digo a mim mesma e à Ava, porém, um alarme soa
em minha mente. Minha menstruação está há uma semana
atrasada. Um caos se instaura dentro de mim, há uma pressão em
meu peito e as palavras não, não e não ecoam em minha mente.
— Você e James sempre usaram camisinha?
A pergunta de Ava parece soar longe, eu encaro minha
amiga, mas sua imagem é apenas um borrão. Eu nego balançando
minha cabeça. Pensar em uma criança faz com que entre em
pânico.
Nunca pensei em crianças. Nunca me imaginei sendo mãe
ou segurando um bebê. O que eu faço agora? Dou passos para
trás até minhas costas encontrarem a parede, eu escorrego até me
sentar no chão, dobro meus joelhos e trago as mãos até minha
cabeça.
E se eu estiver grávida?
Meu Deus, eu posso estar grávida e o bebê será irmão da
minha melhor amiga. O que eu vou fazer? Não consigo raciocinar e
só consigo pensar que nunca estive com um bebê antes, Maddy é
o mais perto de uma criança que já cheguei.
— Hey, Meghan. — Minha amiga se abaixa à minha frente.
— Não surte.
Olho para ela, respiro fundo e lágrimas deixam meus olhos e
descem pelo meu rosto.
— Como não vou surtar? Eu não tenho idade, nem dinheiro
e nem emocional para ser mãe.
Dizer meus medos em voz alta os torna ainda mais
aterrorizantes.
— É só um talvez, Meghan.
Ava está certa, não tenho certeza e não posso ficar na
dúvida.
— Você pode buscar um teste na farmácia pra mim?
Ela assente, mas segue agachada à minha frente.
— Você irá ficar bem? Eu posso ligar para Penny ou Matteo,
se você preferir, posso dizer que é para mim.
Balanço a cabeça negando.
— Vá você, eu vou ficar bem.
— Ok.
Ava hesita, mas por fim fica em pé e me deixa sozinha.
Meus pensamentos não param e minha mente está uma bagunça.
Não posso ser mãe. E se der positivo, como eu vou falar para
Peter? Como eu vou contar para minha melhor amiga?
Eu me levanto e caminho de um lado para o outro no
corredor. Passo minhas mãos pelos fios do meu cabelo e rezo por
um negativo. Espero que meus enjoos e a minha menstruação
atrasada seja apenas uma coincidência, uma ironia da vida, o
universo querendo rir da minha cara.
O tempo se arrasta. Eu me sinto sufocada e as lágrimas
seguem descendo pelo meu rosto. É uma mistura de tudo. De
medo por agora, dos últimos acontecimentos, da briga com minha
mãe, do fato de Peter ser pai de Liv. É tudo que de repente rompe
e me destrói.
Minha vida se transformou em um caos nas últimas
semanas, eu nem sou a mesma pessoa que eu era há um mês.
Eu ainda estou caminhando de um lado para o outro, com
mil pensamentos ecoando em minha cabeça quando Ava volta com
três exames. Ela me alcança, corro para o banheiro e fecho a
porta. Preciso fazer isso sozinha!
Minhas mãos estão tremendo enquanto faço xixi nos
palitinhos. Sigo rezando por um negativo. Posiciono os três
bastões sobre a pia, espalmo minhas mãos no balcão, fixo meus
olhos no chão e tento me acalmar.
É impossível, sigo impaciente, morrendo de medo e nervosa
como nunca estive na vida. Nada me preparou para esse
momento.
E quando volto a olhar para os bastões e todos eles têm o
mesmo resultado, sinto o mundo ruindo ao meu redor. Positivo. O
ar me falta e ao pensar em meu futuro enxergo um vazio. É como
se todos meus sonhos estivessem sendo dilacerados. O que eu vou
fazer com uma criança? O choro se intensifica e o desespero me
preenche.
Eu não tenho nem uma mãe para me ajudar. O pensamento
me paralisa e faz com que me dê conta de algo. Tudo que eu vivi
ecoa em minha mente. Eu não posso fazer o mesmo com uma
criança. Não posso desprezá-la como meus pais fizeram comigo.
Eu não posso desprezá-la.
Levo minha mão até minha barriga, fecho meus olhos e
mentalizo um bebê que se pareça comigo e com Peter.
— Hey, desculpa, eu não esperava por você, mas prometo
que não vou te desprezar. — Lágrimas descem pelo meu rosto. —
Eu prometo que não vou fazer o mesmo com você.
Quanta diferença um tracinho pode fazer na vida de
alguém? Por aqui ficamos sabendo que muita. Pelo visto, idas
rápidas à farmácia pela manhã nem sempre são apenas para curar
ressaca de certas meninas de Dartmouth.
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

Eu respiro fundo, empurro todos meus medos para longe e


por alguns segundos apenas fico encarando minhas mãos sobre
minha barriga. Eu vou ter um bebê! Uma mini pessoa, uma
pessoinha que irá depender de mim e ser uma mistura minha e de
Peter.
Peter... Como eu vou contar para ele?
Que caos! Eu não quero surtar, mas não querer e conseguir
são coisas totalmente diferentes. Olho mais uma vez para os
testes e os encaro como se eles fossem capazes de exterminar
todos os meus medos.
E se eu não for uma boa mãe? E se eu for igual aos meus
pais? Eu balanço minha cabeça, não posso pensar assim, não
posso cogitar não ser uma boa mãe, porque estarei fazendo o
mesmo que meus pais fizeram.
— Eu vou conseguir, irá dar tudo certo. — Encaro meu
reflexo no espelho, há lágrimas descendo pelo meu rosto e tenho
os olhos inchados. Toco minha barriga mais uma vez. — Prometo
fazer o meu melhor.
— Meghan, você está bem?
Ava me pergunta enquanto bate na porta. Não respondo
minha amiga, porque eu me viro e abro a porta. Ela me encara
curiosa.
— Eu estou grávida.
As palavras soam estranhas. Eu mesma estou dizendo isso?
Ava não sabe como reagir, ela me encara com uma expressão de
quem não estava preparada para isso.
— Não sei o que dizer — confessa. — Mas eu estarei aqui
para o que precisar.
Assinto e sorrio, um sorriso nervoso.
— Eu vou ter o bebê e não quero desprezá-lo como meus
pais fizeram comigo. — Ava me escuta atentamente. — Não queria
engravidar tão cedo, mas vou aprender a ser uma boa mãe por
esse bebê.
Ava dá um passo em frente e me puxa para seus braços.
Sigo chorando enquanto estou abraçada à minha amiga.
— Nós seremos as melhores tias e vamos te ajudar.
Não consigo respondê-la no momento que escuto suas
palavras, mas faço isso assim que me desvencilho dela.
— Obrigada.
Ava toca meu braço com carinho.
— Nós somos uma família e sei que Penny e Liv irão amar
esse bebê também.
Ava está me encarando com carinho, mas lá no fundo dos
seus olhos, eu posso ver as dúvidas.
— O que você quer me perguntar?
Ela morde seu lábio inferior e demora alguns segundos para
me responder.
— Você irá contar para Peter?
— Ainda não sei. — Empurro alguns fios do meu cabelo para
trás da minha orelha. — Sei que ele é o pai, mas isso complica
tudo, além do mais, o bebê será irmão da minha melhor amiga... é
um caos.
Suspiro e Ava assente, ela me entendeu, mesmo que tenha
feito uma bagunça com as palavras. Não consigo pensar em contar
para Peter por enquanto, no momento minha cabeça só está
preenchida pelo fato que terei um bebê.
— E para Liv e Penny, quando irá contar?
— Eu vou esperar algum tempo, você pode guardar
segredo?
— Claro.
— Obrigada, Ava. — Engulo em seco e evito que lágrimas
deixem meus olhos. — Obrigada por estar aqui.
Minha amiga me abraça mais uma vez.
— Sempre estarei aqui — sussurra contra meu pescoço e sei
que é verdade. — Você quer fazer algo?
Ela pergunta assim que nos afastamos e balanço minha
cabeça negando.
— Eu preciso de um tempo sozinha para pensar.
— Ok, se precisar de mim é só chamar, ficarei aqui em casa
hoje.
Faço uma careta.
— Não precisa fazer isso por mim.
Ela dá de ombros.
— Somos uma família, lembra?
Ava pisca para mim, deixa um beijo em minha bochecha e
segue para o seu quarto. Eu volto para o banheiro, enrolo os
testes no papel higiênico e os jogo no lixo, então vou para o meu
quarto.
Sento na beirada da cama e tento resolver algumas
questões. Primeiro, entro em contato com a minha ginecologista e
consigo uma consulta para segunda de tarde, minha médica está
tão chocada quanto eu com a minha gravidez.
E assim que encerro a ligação, eu suspiro e minha mente é
inundada por uma série de pensamentos. Não posso continuar
patinando, não vou participar do campeonato nacional e meus pais
irão odiar saber sobre o bebê.
Na segunda-feira não vou treinar pela manhã, mas vou à
arena, irei conversar com a coordenadora da patinação e me
desligar da equipe.
Abrir mão da patinação é doloroso, mas não é insuportável,
eu sempre soube que não seria algo que faria para sempre,
incomodar meus pais não me afeta.
Eu preciso encontrar um emprego e meu foco terá que ser
em terminar a faculdade. Meu maior problema será estudar, cuidar
de uma criança e trabalhar. Minha sorte é que tenho uma conta
em que meus pais não têm acesso, é um bom dinheiro e sei que
posso terminar de pagar meus estudos com a quantia, caso eles
decidam me deserdar.
O próximo fim de semana é a festa do hospital, eu tinha
desistido de comparecer ao evento, mas sei que agora precisarei ir,
meus pais precisam saber sobre o bebê, lá no fundo eu ainda
tenho uma esperança de que a reação deles não seja tão ruim.
Toco minha barriga e suspiro.
— Irá ficar tudo bem, eu prometo.
Como vou cumprir com a promessa? Não sei, mas vou
cumprir, custe o que custar. Eu me deito na cama e fico encarando
o teto. Como Peter reagiria em ser pai outra vez? Ele me culparia?
Ele seria responsável? Imagens dele segurando um bebezinho
ecoam em minha mente e, Deus, eu quero que a cena se torne
real.
Uma parte em mim sabe que Peter jamais rejeitaria um
filho, mas como posso contar para ele sem causar um dano na
nossa relação com Liv? Não quero que ele tenha que escolher
entre mim e a filha, porém, não quero esconder um filho dele.
As nossas conversas enquanto caminhávamos pelo parque
ecoam em minha mente. Peter está feliz e realizado pela
aproximação com Liv, ele acha que enfim a filha irá perdoá-lo e
não posso estragar isso.
Por enquanto, não posso contar. Ainda não!

Peter

Mais uma vez, não encontro Meghan no parque. É o terceiro


dia consecutivo que não a vejo. Ela não estava aqui no sábado,
nem ontem e nem hoje.
Nós não tínhamos nenhum combinado, mas durante duas
semanas foi aqui que nos encontramos e abrimos nossos corações.
Nós conversamos sobre os assuntos mais dolorosos e mais
íntimos. Meghan me contou sobre a relação conturbada com os
pais, eu falei sobre meus fracassos e sobre meus medos.
Ela me desperta coisas que ninguém jamais despertou,
Meghan faz com que eu experimente sentimentos totalmente
novos. Ela tem uma parte de mim que ninguém nunca teve.
Eu sou alguém muito melhor quando estou com ela.
O que eu sinto por ela é inexplicável, foi difícil não tocá-la,
não beijar seus lábios, não sentir sua pele ou seu toque, mas estar
com ela era o suficiente.
Todos os dias, eu me pergunto se existiria um jeito de tê-la
na minha vida constantemente. Não quero renunciar aos meus
sentimentos, não quero deixá-la ir embora. É egoísta, mas quando
penso nela com outra pessoa, um aperto surge em meu peito e
me sinto sufocado.
Eu corro e caminho pelo parque por duas horas e ela não
aparece. Nesse fim de semana ela também não foi ver Liv, suas
amigas estiveram em meu apartamento, mas Meghan não. Será
que algo está acontecendo? E se ela não estiver bem? Será que
encontrou alguém? Enfim percebeu que é uma péssima ideia estar
perto de mim?
Eu pareço um adolescente com medo de ser rejeitado pela
garota mais popular do colégio. Suspiro e assim que entro em meu
carro para ir embora, pego meu celular. Deveria deixá-la livre, mas
simplesmente não consigo. Sou um bastardo, um idiota egoísta.
Envio uma mensagem para Meghan.
“Hey, tudo bem? Faz três dias que não nos encontramos...
sei que não era algo certo, mas por duas semanas você não faltou
nenhum dia, você também não foi ver Liv, algo está acontecendo?
Você está bem? Eu estou preocupado...”
Envio o texto, apoio minha cabeça contra o banco e por
alguns segundos fico parado. Como eu pude me apaixonar pela
melhor amiga da minha filha? Como eu saio dessa situação?
Meghan é uma das melhores coisas que já me aconteceu e
ao mesmo tempo, tê-la encontrado foi o pior que poderia ter
acontecido para nós dois.
Eu dirijo para casa, assim que eu chego tomo um banho e
vou para a cozinha preparar o café da manhã. Encontro um bilhete
de Eve, ela e Malcom foram caminhar pela cidade.
Enquanto preparo algumas panquecas, rezo para que Liv
esteja em um dos seus bons dias, minha filha esteve melhor
durante o fim de semana, ela saiu da cama, conversou e deu
algumas risadas. Ver seu progresso me deixa emocionado e
esperançoso. Ela irá ficar bem.
Mais uma vez, minha garotinha irá se reerguer. Liv é uma
das pessoas mais fortes que eu conheço. Ela superou a anorexia,
um abuso e agora a perda de algo que ama.
Eu não seria capaz de ser tão forte quanto ela.
Essa última semana foi uma sucessão de altos e baixos,
alguns dias ela estava bem e em outros não, e o dia que ela me
chamou para assistir um jogo de hóquei foi incrível. Eu me senti
importante, um super-herói e um pai de verdade.
Meu objetivo é preparar o café e ir acordá-la como Eve e eu
temos feito todos os dias desde o acidente, mas, para minha
surpresa, sua voz me surpreende.
— Hey, pai, bom dia.
Eu me viro e me deparo com minha garotinha cruzando a
porta.
— Hey, garotinha, bom dia.
Com a ajuda de uma muleta, ela caminha pela cozinha e se
senta de frente para a bancada. Seu progresso é visível, seu olhar
está diferente, é como se ela estivesse pronta para seguir em
frente.
Preciso me controlar para não chorar!
— Decidi vir tomar café aqui com vocês hoje.
— Sua mãe e Malcom não estão.
Ela assente, mas não parece desapontada pela ausência da
mãe e do padrasto. Nós conversamos sobre amenidades enquanto
preparo nosso café.
Eu termino de cozinhar, organizo as comidas na bancada e
me sento à sua frente. Nós dois nos mantemos em silêncio
enquanto comemos, mas de repente Liv me encara com uma
expressão séria em seu rosto. Deixo meu café de lado e olho para
ela preocupado.
— Pai. — Ergo minhas sobrancelhas e Liv faz uma pausa, o
que me deixa apreensivo. — Uma parte minha o culpa por tudo
que aconteceu comigo.
Encaro Liv, surpreso, eu sei que precisamos ter essa
conversa, só não esperava que fosse agora, além de tudo, ouvir
suas palavras doem. Lá no fundo sempre soube que ela me
culpava e eu me culpo.
Nunca quis que minha filha sofresse, nunca foi de propósito
e mesmo assim a machuquei. Acreditei que minha ausência era o
necessário e isso foi o que mais a destruiu. Eu faria tudo diferente
se pudesse!
— Garotinha, eu sinto muito. — Odeio ter causado dor à
minha filha, odeio não ter sido capaz de protegê-la. — Deveria ter
sido mais presente, você sempre deveria ter sido a minha
prioridade.
Sigo olhando em seus olhos, embora isso me cause dor.
— Eu acreditei que se não tivesse se separado da mamãe,
se não tivesse tanto tempo fora de casa, tudo seria diferente. —
Sua voz embarga e preciso respirar fundo. — Eu o culpava, porque
queria que você tivesse sido meu herói.
Mesmo tentando evitar, uma lágrima desce pelo meu rosto.
Eu não fui seu herói. Eu fui péssimo, alimentei suas inseguranças,
não segurei sua mão quando precisou. Falhei inúmeras vezes
como pai, eu falhei com a pessoa que eu mais amo na vida.
— Eu deveria ter percebido que você estava doente quando
parou de comer, deveria ter percebido que tinha algo errado com
seu fisioterapeuta, deveria ter percebido que estava mentindo
sobre seu namoro... — As lágrimas descem com mais intensidade
dos meus olhos, meu peito aperta e meu coração se encontra
destruído. — Mas falhei todas as vezes, eu nunca consegui ser o
pai que você merece, garotinha.
Eu não percebi que Liv estava evitando comer por conta da
anorexia, eu não notei quando estava sendo assediada pelo seu
fisioterapeuta. Eu não consegui evitar nenhum dos seus acidentes.
Por que eu não fiz tudo diferente? Por que não consegui ser
quem ela precisava? Eu só queria ter sido capaz de tê-la salvado.
— Mas não é sua culpa, pai, ninguém poderia ter impedido o
que aconteceu comigo. Nem eu mesma... nem eu mesma.
Enquanto ela admite em voz alta, algo acontece; algo
dentro de mim e algo com ela. Seu olhar se mantém preso ao
meu, eu recebo o seu perdão e minhas lágrimas se intensificam.
Ela me perdoou! Minha filha me perdoou!
Eu fico em pé, vou até ela e a puxo para os meus braços. Eu
a abraço como há muito tempo queria, não há mais uma
hesitação,] ou medo de ser rejeitado, apenas amor. Olívia chora
como uma criança e eu a seguro com força.
Ela é a minha garotinha, a minha filha.
— Eu amo você, pai.
Sussurra e eu choro ainda mais. Eu não sei nem qual foi a
última vez que minha filha disse que me amava, mas faz muito
tempo. Ela me ama e dizer isso em voz alta significa uma
liberdade, para mim e para ela.
— E eu amo você, garotinha. — Beijo o topo da sua cabeça.
— Você sempre será a minha garotinha, a minha menininha.
Eu continuo segurando Olívia e ela me abraça de volta, de
verdade, sem receios, sem mágoa, isso é tudo que sempre
desejei. Eu vejo Eve entrar na cozinha, meu olhar encontra o seu e
ela sorri ao entender o que está acontecendo.
Ao perceber a presença da mãe, Liv se desvencilha de mim
e vai até ela, as duas se abraçam e choram juntas. Observo-as
com lágrimas descendo pelo meu rosto. Meu coração está mais
leve e um fardo deixou minhas costas.
Nós três precisávamos disso!
Assim que Eve e Liv se afastam, elas se aproximam e nos
sentamos ao redor da bancada. Conversamos, rimos e Liv confessa
que está apaixonada por Aaron. Nem eu e nem Eve estamos
surpresos.
Foi um baque saber que minha filha estava mentindo sobre
estar namorando para não me deixar preocupado, mas entendi
seus motivos e nós percebemos que era uma falsa mentira, ela
sempre esteve apaixonada por ele. Nós a incentivamos a voltar
com o garoto, é nítido que terminar com Aaron os destruiu.
Almoço com Liv, Eve e Malcom e pela tarde me tranco no
escritório para trabalhar, porém não consigo me concentrar.
Minha filha me perdoou, eu estou muito feliz, mas ainda há
um vazio em meu peito. Passo as mãos pelo meu cabelo, apoio o
cotovelo na minha mesa e fixo o olhar na madeira.
O que eu vou fazer com o que sinto por Meghan?
Alguém me contou que uma garota foi vista no banheiro
vomitando. Será que a cegonha visitou uma das nossas alunas?
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

Estou em aula quando recebo duas mensagens de Ava, uma


em nosso grupo e outra no privado. Abro primeiro o grupo que
temos, eu, Ava, Penny e Liv, Ava está comunicando Penny e eu
que encontrou Liv no campus e as duas estão indo para Corner
Park, e ela está nos chamando para nos juntarmos a elas. Um
almoço em nosso café preferido, algo que não fazemos há um
tempo.
Eu quero encontrar minhas amigas, porque amo estar com
elas, porém não sei se estou pronta para ver Liv, além disso, estou
extremamente enjoada, só de pensar em comer meu estômago
embrulha.
Abro a mensagem que Ava me enviou no privado.
“Hey, como você está? Eu posso inventar alguma desculpa
caso não queira encontrar com Liv.”
Eu me sinto culpada ao ler sua mensagem. Liv nos enviou
mensagem mais cedo, é o primeiro dia que está deixando o
apartamento do seu pai desde o acidente, isso é motivo de
comemoração, um motivo para estarmos as quatro juntas, rindo e
conversando. Minha amiga não merece que eu siga a evitando.
Escrevo minha resposta e a envio para Ava.
“Não precisa, eu vou encontrar com vocês assim que minha
aula terminar”
“Certeza?”
“Certeza.”
Eu fico apreensiva, o que faz com que meu enjoo piore.
Ótimo! Assim que a professora encerra a aula, corro para o
banheiro, debruço-me sobre o vaso e despejo o que tinha no
estômago.
Incrível!
Ao sair da cabine, há uma garota lavando as mãos na pia e
ela me encara pelo reflexo do espelho com um olhar de
julgamento. É tão óbvio que estou grávida?
Ignoro-a, uso a escova que trouxe comigo para o caso de
uma emergência e escovo meus dentes. A garota sai do banheiro
alguns segundos depois, ela tem um sorrisinho debochado em seu
rosto e reviro meus olhos. Vaca!
Após terminar e lavar meu rosto, deixo o banheiro e sigo
para o estacionamento. Continuo apreensiva, pois terei que olhar
para Liv e agir normalmente. Como vou fazer isso?
Entro em meu carro, ligo-o e por alguns segundos penso em
desistir, em enviar uma mensagem para Ava pedindo para ela
justificar minha ausência com alguma desculpa, mas uma hora
terei que enfrentá-la e não posso continuar a evitando, eu fiz isso
nos últimos três dias, sábado, domingo e segunda.
Liv está reagindo, seguindo em frente e não está sendo
fácil, ela precisa de mim. Eu preciso apoiar minha amiga e estar lá
por ela. Respiro fundo e espalmo minhas mãos em minha barriga.
— Que tal ser um bebê adorável e não causar enjoo na
mamãe? Vamos encontrar sua irmã e ela ainda não sabe sobre
você.
As palavras deixam a minha boca, mas é como se estivesse
escutando outra pessoa. Bebê, mamãe, irmã... é a minha nova
realidade, mas soa tão estranho.
Suspiro e dirijo na direção de Corner Park. Deixo o carro em
frente ao estabelecimento, entro no local e encontro Penny em
nosso lugar habitual, ela está com Maddy, sentada em um dos
sofás que ficam um de frente para o outro com uma mesa entre
eles. Eu me aproximo e me sento ao seu lado.
Cumprimento minha amiga, mas minha atenção é toda da
sua garotinha. Meu coração bate acelerado enquanto encaro
Maddy, ela não é mais um bebê de colo, mas é um bebê de quase
dois anos. Encaro-a admirada e me pergunto como será o meu
próprio. Será uma garotinha? Terá os meus olhos, ou os olhos de
Peter? Ou uma mistura de nós dois?
— Você está bem, Meg?
Pisco e olho para Penny, ela tem uma expressão de
curiosidade em seu rosto, engulo em seco e assinto.
— Claro que eu estou.
Penny franze sua testa.
— Nós fomos comunicadas que não irá mais patinar e
renunciou à sua vaga para o nacional, eu questionei Luke, mas ele
não me contou sobre seus motivos. — Suas palavras fazem com
que fique sem reação. — Por que você está abrindo mão da
patinação, Meg? O que está acontecendo?
Mordo meu lábio inferior. Droga, eu achei que demoraria
mais tempo para comunicarem às patinadoras sobre meu
afastamento, mas a coordenação foi rápida.
Ontem eu não compareci ao treino de patinação, mas fui até
a arena e conversei com a coordenadora da equipe. Informei sobre
meu desligamento e revelei o verdadeiro motivo para minha saída.
A coordenadora merecia saber a verdade, pelo tempo que me
acolheram, que se dedicaram a mim, não podia mentir ou fazê-la
acreditar que pudesse existir algo que me faria mudar de opinião.
Eu contei sobre a gravidez e ela me pediu permissão para
contar ao restante da coordenação e patrocinadores, porque
precisa emitir um parecer sobre meu afastamento da equipe. Eu
autorizei-a, pedi apenas para manter segredo dos patinadores e
patinadoras, ela me garantiu que apenas anunciaria para meus
colegas a minha saída.
O anúncio já foi feito e como Penny não sabe, ela cumpriu
com o que me prometeu, manteve minha gravidez em segredo.
Minha amiga continua à espera de uma resposta. Penny
namora Luke, ele faz parte da coordenação e deve saber sobre o
real motivo, talvez só esteja me dando a oportunidade de ser eu a
contar para Penny.
— Eu estou grávida.
Confesso e por alguns segundos Penny me encara surpresa.
Abre e fecha sua boca algumas vezes, até enfim sair algo dos seus
lábios.
— Como isso aconteceu?
Pergunta-me em choque. Maddy pede para sair do seu colo
e ela coloca a garotinha no chão.
— Uma cegonha colocou um bebê em minha barriga. —
Sorrio debochada, Penny se vira para mim e revira seus olhos. Dou
de ombros. — Você sabe como aconteceu.
— Não usou camisinha?
— Não, confiei apenas no anticoncepcional e ele falhou.
Penny parece sair do seu choque inicial e uma ruga surge
em sua testa.
— Como você está?
— Tentando não surtar. — Sorrio, um sorriso nervoso. — O
fato é que vou ter o bebê e vou amá-lo, vou ser para ele tudo que
meus pais não foram.
Penny sorri e entrelaça minha mão com a sua.
— Você será uma ótima mãe e seremos as melhores tias
desse universo.
Eu preciso me controlar para não chorar.
— Vocês são incríveis.
Sussurro e Penny aperta minha mão com a sua.
— Sempre estaremos aqui.
Sorrio agradecida e o olhar de Penny muda, ela está curiosa,
ergo minhas sobrancelhas e ela morde seu lábio por um tempo
antes de me fazer uma pergunta que sei que está a perturbando.
— O bebê é do seu sugar daddy?
Assinto e faço uma careta.
— Ele não é meu sugar daddy.
Ainda não é o momento de Penny saber quem realmente é
Peter.
— E você irá contar para ele?
Desvio meu olhar de Penny e encaro a garotinha que agora
está brincando com algumas revistas que há sobre a mesa.
— Não sei, eu acho que sim, mas não tenho certeza de
como e quando contar.
Penny não faz mais perguntas e ficamos em silêncio. Maddy
ri sozinha e sorrio com ela. Ela é adorável e me faz desejar ver o
meu bebê logo. Eu só paro de admirar a garotinha, porque lembro
de fazer um pedido para Penny.
— Ainda não contei para Liv, você pode não comentar sobre
o bebê perto dela?
Viro-me para Penny e ela assente.
— Claro, não se preocupe, não irei falar nada e Ava?
— Ava estava comigo quando descobri, aliás, foi ela que
levantou a hipótese da gravidez.
— Quando foi isso?
Penny me questiona.
— Sábado de manhã.
Ela assente e não me faz nenhuma pergunta, então eu faço
uma pergunta que no momento só ela pode me responder. Penny
é a única pessoa que eu conheço que convive com uma criança.
— Como é cuidar de uma criança?
— Exaustivo. — Ela ri. — Mas é incrível e vale a pena.
Apoio minha cabeça em seu ombro, nós duas encaramos
Maddy, sigo fazendo perguntas e ficamos assim até Ava e Liv
entrarem no café. Levanto minha cabeça depressa, olho para
minhas amigas e meu estômago embrulha quando meu olhar
encontra com o de Liv. Eu me sinto uma traidora diante dela,
escondo que transei com seu pai e agora que estou grávida de um
bebê que será seu irmão.
Sorrio e finjo que tudo está bem. Ava e Liv se aproximam,
nós nos abraçamos e quase choro quando abraço Liv, apesar de
todos os sentimentos negativos por conta da culpa, eu tenho
saudades dela.
Elas se sentam à nossa frente, fazemos nossos pedidos e
enquanto almoçamos, fofocamos e conversamos. Ainda me sinto
culpada ao olhar para Liv, mas não é o sentimento que mais
prevalece em mim, porque amo estar com minhas amigas, elas
conseguem tirar o melhor de mim.
Mesmo com meu esforço, Liv percebe que algo está errado
e quando pergunta se estou bem, eu preciso mentir. Eu quase não
como nada porque estou enjoada e quando elas pedem seus cafés
preferidos, fico apenas observando, pois segundo a médica, não
posso ingerir muita cafeína.
E é enquanto elas tomam café que Liv nos conta sobre seu
passado, partes que Peter não me contou por serem pessoais
demais, agora eu sei e isso me deixa com coração apertado. Minha
amiga passou por tanta coisa e nós nunca soubemos, sequer
notamos quando algo não estava bem.
Deixamos o café no meio da tarde, e como tenho uma aula,
vou para Dartmouth. Estou com sono e passo boa parte do tempo
bocejando, nunca fui de sentir sono durante as aulas, demoro
alguns minutos para entender que é só mais um efeito da
gravidez.
Eu volto para casa quando a noite está iniciando, estou
exausta e com fome. Deixo minha mochila na sala assim que entro
no apartamento e sigo direto para a cozinha. Na tentativa de evitar
os enjoos, faço uma sopa.
Janto sozinha enquanto assisto uma série e permaneço o
restante da noite assim, porque Penny e Ava estão com os
namorados. Limpo o que sujei e vou para meu quarto.
Ao entrar no cômodo, ligo as luzes e olho ao redor. A solidão
mais uma vez me cerca, porém agora é diferente, eu sei que não
serei mais sozinha, não mais. Espalmo minhas mãos sobre minha
barriga e olho para ela.
— Seremos você e eu.
Imagens de um bebê risonho preenchem a minha mente e
sorrio. O medo ainda está aqui gritando dentro de mim, mas não é
o único sentimento. Eu pego o meu celular e me sento na cama
com as costas apoiadas na cabeceira.
Abro a ultrassonografia de ontem. Imagens do meu bebê
ficam diante de mim. É apenas um pontinho, mas que faz meu
coração bater mais forte. Todos os dias eu o amo mais um
pouquinho, descubro um novo amor.
Ontem descobri que ele está bem, eu soube dos cuidados
que devo ter e do que devo esperar de uma gravidez. Eu fiquei
assustada, com medo e com receio de ter que enfrentar tudo isso
sozinha, mas quando o vi na tela do ultrassom, um sentimento
que nem sabia que podia existir tomou conta de mim. Eu farei
qualquer coisa por esse bebê. Não importa o quão difícil seja, eu
vou conseguir!
Ainda estou com a imagem aberta quando recebo uma
mensagem e leio o nome do remetente na notificação. Meu
coração dispara, minha respiração falha e mordo meu lábio
inferior.
É Peter! O que ele quer comigo? Um misto de sentimentos
vibra dentro de mim. Estou nervosa, ansiosa e lá no fundo um
pouco esperançosa. Eu clico na notificação e abro a sua
mensagem.
Ele consegue me destruir com uma frase.
“Boa noite, pequena. Eu sinto sua falta.”
Engulo em seco, lágrimas se acumulam em meus olhos e
resisto à vontade de respondê-lo. Ele não deveria me enviar esse
tipo de mensagem, principalmente enquanto estou encarando uma
foto do nosso bebê.
Vocês têm problemas com os pais? Aparentemente, é um
problema bem comum entre os estudantes dessa faculdade.
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

Minha semana é um caos; os enjoos continuam, não


importa o quão leve seja a comida, estou em semana de prova,
meus pais lotam meu celular com mensagens, além de me ligarem
sem parar, mas recuso todas as vezes e mesmo assim não
desistem, eles só esquecem de mim quando confirmo minha ida
até Worcester.
E Peter continua me enviando mensagens. Ele pergunta se
estou bem, diz que sente minha falta e quer me encontrar para
conversarmos. Me mata não o responder, mas como vou encontrá-
lo se ainda não sei como contar que estou grávida?
Não vou mais ao seu apartamento, Liv está melhor e nos
encontramos no Campus ou no Corner Café, lugar onde começarei
a trabalhar na semana que vem. Tinha uma vaga para garçonete e
me candidatei. Nunca trabalhei, não faço ideia de como ser uma
garçonete, mas preciso de um emprego, principalmente porque
não sei qual vai ser a reação dos meus pais diante da descoberta
sobre o bebê.
Tudo me deixa estressada, angustiada e exausta. Nunca fui
alguém assim, mas estou um caos. Eu só quero paz, só queria
acordar com tudo resolvido.
É como se tivesse envelhecido anos nos últimos dias, de
repente eu me tornei uma adulta.
Acordo na sexta-feira muito enjoada, sei que isso é por
conta da viagem. Não quero ver meus pais, não quero ir a essa
maldita festa, e só de pensar na reação deles quando descobrirem
que eu estou grávida, já me desespero.
Não consigo comer nada no café da manhã e nem no
almoço. Entro em meu carro no meio da tarde e dirijo pela rodovia
na direção de Worcester. Não era para ser uma viagem demorada,
menos de três horas, entretanto, eu preciso parar muitas vezes
para vomitar. Para não desidratar, eu tomo Gatorade e como
barrinhas de cereal, não é o ideal, mas é tudo que consigo comer
por enquanto.
Eu preciso parar em três postos de gasolina e após deixar o
terceiro, entro no carro, toco minha barriga, suspiro e encaro
minhas mãos sobre minha blusa.
— Desculpe a mamãe, mas é tudo que eu consigo comer e
sei que a culpa não é sua, não totalmente, pelo menos, estou um
pouco nervosa.
Falar com meu bebê me deixa um pouco mais calma e
depois de quase quatro horas, enfim estaciono na frente da
mansão dos meus pais, um lugar exagerado e enorme para
apenas duas pessoas.
Sigo até a entrada e quem está me esperando é Edward, o
mordomo que trabalha na casa há mais de vinte anos.
Provavelmente, os seguranças devem ter visto minha chegada
pelas câmeras e o avisaram.
Ele tem os cabelos brancos e é um senhor gentil, quando
era criança, meu desejo era que ele fosse meu avô. Ele me recebe
com um abraço e um beijo no topo da minha cabeça.
— Como você está, criança?
Pergunta-me enquanto nos desvencilhamos.
— Bem e você, Ed? Suas costas melhoraram?
— Estou ótimo e minhas costas estão novinhas em folha, eu
me sinto como um garoto.
— Você é um garotão, Ed.
Ele passa o braço pelo meu ombro e entramos na casa dos
meus pais.
— Senti sua falta, Meg, essa casa não é a mesma sem você.
— Você é um puxa-saco, Ed.
Atravessamos o hall de entrada e seguimos na direção da
sala.
— É a verdade, você é a minha preferida.
Pisca para mim e sorri.
— Obrigada, Ed, você segue sendo ótimo para meu ego.
— Eu estou ao seu dispor, senhorita.
Nós entramos na sala rindo, porém, ambos paramos de rir
ao ouvir a voz da minha mãe.
— Eu achei que você viria mais cedo.
Ela está sentada no sofá folheando uma revista. Engulo em
seco e encaro a mulher loira bem-vestida e com uma expressão de
repreensão no rosto.
— Eu avisei que só iria sair de Hanover após o almoço.
Deixa a revista ao lado e fica em pé, seu olhar percorre meu
corpo e preciso me conter para não me encolher. Vitória tem esse
poder de me deixar desconfortável. Eu me aproximo da minha
mãe, ficamos uma de frente para a outra e Ed deixa a sala.
— E eu enviei uma mensagem avisando que deveria vir mais
cedo.
Como discutir não irá mudar nada, fico em silêncio e ela
segue me inspecionando.
— Você está péssima.
Sorrio irônica.
— Obrigada pelo elogio.
Ela não ri e me repreende com seu olhar.
— Você está pálida e… você engordou? Achei que deveria se
manter mais magra por conta da patinação, mas nem para isso
serve.
Reviro meus olhos.
— Eu não estou me sentindo bem. — Dou um passo na
direção das escadas que levam ao segundo andar. — Vou para o
meu quarto.
— Meghan — Vitória me chama, paro e a encaro. — Nós
teremos convidados para o jantar, esteja arrumada à noite, use um
pouco de maquiagem para disfarçar essas olheiras e sua palidez.
Ela nem finge estar preocupada comigo.
— Não vou descer para o jantar.
Ela ri e balança a cabeça negando.
— É claro que irá descer para o jantar.
— Não estou bem.
Ergue suas sobrancelhas bem desenhadas e marcadas.
— E o que isso tem a ver com o jantar?
Eu mal cheguei e já estou arrependida de ter vindo até aqui.
— Tem a ver que não estou bem para participar de um
jantar.
Suspira, como se eu estivesse a chateando, e provavelmente
estou.
— São pessoas importantes para nossa família e jantarão
conosco por sua causa, porque nossa filha está em casa.
Dessa vez, sua voz soa amorosa, ela está fingindo e
tentando me manipular. Minha mãe agiu assim boa parte da vida e
por um tempo, conseguia me convencer a fazer exatamente o que
ela queria usando essa tática. Porém, não funciona mais!
— Então iremos bancar a família perfeita?
Sorrio irônica e uma ruga surge em sua testa repleta de
Botox.
— Meghan. — Ela me repreende mais uma vez. — Não seja
irônica comigo, eu sou sua mãe.
Minha vontade é gritar que ela não é minha mãe, mas me
contenho. Minha cabeça está doendo, eu estou exausta e não
quero mais discutir, por isso deixo que ela vença.
— Eu estarei no jantar.
Ela assente e subo para o meu quarto. Entro no cômodo,
olho ao redor e não sinto nenhuma saudade. Aqui não é meu lar e
nunca foi!
Largo a mochila sobre a cama, pego uma mala em meu
closet e separo algumas roupas, livros e fotos para levar comigo
para Hanover. Ed bate na minha porta e pergunta se quero comer
algo, eu digo que sim, apesar de estar enjoada, estou com fome e
sei que preciso me alimentar.
Assim que ele se afasta e fico sozinha, fecho a porta e
caminho pelo quarto. Eu estou ansiosa, estar aqui me deixa
ansiosa! Fecho meus olhos e respiro fundo. Meu bebê sente tudo o
que eu sinto, preciso ficar bem por ele.
Como ficar aqui não vai me ajudar, eu desço e vou para a
cozinha. Assim como Edward, as cozinheiras trabalham há muito
tempo aqui, é divertido reencontrá-las, elas me mimam e me
tratam melhor que minha mãe, inclusive me perguntam se estou
bem.
Eu me sento com elas e Ed e consigo me alimentar, eles me
contam histórias sobre os três e minhas risadas ecoam pelo
espaço. Nossas risadas cessam quando meu pai para na porta.
— Você não deveria comer com os funcionários, Meghan.
É como se eu fosse uma garotinha outra vez, sendo
repreendida por um pai ausente. George, assim como Vitória, não
me pergunta se estou bem, ele não liga se faz meses que não me
vê. É como se eu fosse apenas um objeto.
Não gosto da forma como encara os funcionários e por isso
me levanto.
— Eu estou de saída.
Ele assente, satisfeito. Tudo que eles querem é que eu os
obedeça, seja uma maldita marionete.
— Esteja pronta para o jantar às sete horas.
É tudo que me fala, vira-se e se afasta. Eu suspiro e deixo a
cozinha. Volto para o quarto, arrumo minhas coisas e as deixo
ajeitadas para minha saída, não posso ficar aqui, logo após o
jantar vou embora. Não pertenço a esse lugar.
Eu tomo um banho, escovo meu cabelo, faço uma
maquiagem e escolho uma roupa que tenho certeza de que minha
mãe irá julgar adequada. Raiva vibra dentro de mim a cada
segundo. Detesto estar aqui, detesto a ideia de fingirmos ser uma
família perfeita.
Odeio o fato de os meus pais não serem pais de verdade.
Às sete em ponto deixo meu quarto e assim que piso na
sala, meu pai e minha mãe me encaram com satisfação. Nenhum
elogio, nenhuma palavra, apenas nos sentamos no sofá e
esperamos os convidados.
É uma merda que deixei meu celular lá em cima e sou
obrigada a encará-los. Eles são frios e rígidos. Deus, eu só quero ir
embora daqui.
A campainha toca, Edward vai atender a porta e depois de
alguns segundos os convidados dos meus pais entram na sala e é
como se todo sangue do meu corpo estivesse sendo drenado.
O que merda a família Sugg está fazendo aqui? Estão o
casal e os dois filhos, a garota, que deve ter uns quinze anos e
Romeu Sugg, que é quatro anos mais velho que eu. O cara com
quem meus pais querem que eu case.
Meus pais ficam de pé para recebê-los e sorriem, eu
continuo com uma expressão nada amigável em meu rosto. Eu
não me levanto e minha mãe direciona um olhar hostil em minha
direção, meu pai faz o mesmo e fico em pé.
Cumprimento-os sem sorrisos e tenho vontade de vomitar
quando Romeu beija o meu rosto e toca minha cintura. Quem ele
acha que é para me tocar assim sem permissão?
— Você continua muito bonita, Meghan.
Sussurra enquanto seu olhar percorre meu corpo, dou um
passo para trás, aumentando a distância entre nós dois. O sorriso
em seu rosto amplia e o encaro com desdém.
Não o conheço e não quero nenhum tipo de contato com
ele.
Ficamos os sete na sala, minha mãe e a senhora Sugg
ocupam um sofá, meu pai e o senhor Sugg ficam em pé, eles vão
até o bar no canto do cômodo, a garota ocupa uma poltrona e fica
no celular, eu me sento no sofá vazio e Romeu se senta ao meu
lado. Ele tenta se aproximar, mas me distancio. Não olho em sua
direção e a raiva em meu peito cresce a cada instante.
Não estou prestando atenção, mesmo assim Romeu fala
sobre como assumiu o hospital da família recentemente. Ele é um
idiota exibido, fala de números, dos seus patrimônios e do quanto
ele é bom em tudo.
Edward entra na sala com uma bandeja com espumante e,
meu Deus, como queria poder beber nesse momento, mas não
posso e quando Edward me oferece uma taça, nego. Romeu pega
uma taça e Ed se afasta.
— Gosto de mulheres que não bebem.
Reviro meus olhos e mordo meu lábio inferior para não o
mandar tomar no cu. O babaca segue listando suas qualidades, ou
o que ele acha que são qualidades, já que para mim ele é um lixo.
Bocejo mais de uma vez e mesmo assim ele não para. Eu
acho que nunca estive tão entediada na minha vida
— Nossos pais desejam que você se case comigo.
Sorrio, um sorriso repleto de deboche e desdém.
— Eu não vou me casar.
— Não acho que você tenha uma opção.
Ele finalmente obtém minha atenção e me viro em sua
direção.
— Acredite, eu não vou me casar.
Franze sua testa e abre sua boca, porém, minha mãe é mais
rápida.
— Meghan está apenas sendo uma garota difícil. — Olho
para ela e minha mãe pisca para Romeu. — Tenho certeza de que
quando vir o tamanho do diamante do anel que escolheu, irá
mudar de ideia.
Suas palavras se repetem em minha mente, ao mesmo
tempo que Romeu se aproxima e sua mão paira sobre minha
perna, ele me toca sem permissão e isso é o bastante para fazer
com que eu perca o controle. Foda-se! Chega dessa merda!
— Que palhaçada é essa?
Grito e encaro a minha mãe. Ela fica em pé e me fuzila com
seu olhar.
— Meghan. — Usa sua voz passiva agressiva. — O que é
isso, querida? Você não precisa ficar nervosa.
Sorrio e balanço minha cabeça negando.
— Não estou nervosa. — Olho para os nossos convidados. —
Vocês fazem parte desse circo? Ou realmente acreditam que eu
vou me casar com esse idiota?
Eles parecem surpresos, eu não ligo e encaro Romeu.
— Nem morta eu me casaria com você.
— Meghan.
Meu pai me repreende enquanto se aproxima e toca meu
braço na tentativa de me controlar. Eu me afasto e não permito
que me toque.
— Meghan, o caralho. — Há uma pressão em meu peito,
mas a ignoro. — Anel? O que vocês pretendiam, um noivado?
Pela expressão no rosto do meu pai, é exatamente isso, eles
pretendiam que eu ficasse noiva.
— Eu não vou me casar com esse imbecil e quer saber o
real motivo de eu estar aqui? — Mais uma vez, curvo meus lábios
em um sorriso debochado. — Eu vim contar para vocês que estou
grávida. Olha que divertido, Meghan Foster terá um filho fora de
um casamento, um escândalo.
Ironizo, olho para os dois e eles têm expressões vazias. Nem
assim eles conseguem se expressar. Espero que falem alguma
coisa, mas nenhuma palavra deixa a boca de nenhum deles.
— Não me ameacem com dinheiro que não irá funcionar,
não quero nenhum vínculo com vocês, aliás, será um prazer não
ter nenhuma ligação com vocês.
Saio da sala sem olhar para trás, sei que alguém está me
seguindo e quando passo do último degrau da escada e piso no
corredor, escuto minha mãe me chamando.
— Meghan. — Viro-me e a encaro. — Não precisa ser assim.
— Do que você está falando?
Aponta para minha barriga e meu coração acelera.
— Da criança, você pode se livrar dela, nós podemos
conseguir com que faça um aborto. — Ela está sugerindo que eu
mate o meu bebê e não há nenhum sentimento em sua voz. —
Seu pai e eu iremos perdoar o que aconteceu lá embaixo, tenho
certeza de que até mesmo os Suggs podem superar o acontecido
se for uma boa menina.
Balanço minha cabeça e luto contra minhas lágrimas.
— Vocês são uns monstros.
Eu me viro e sigo para meu quarto. Pego minha mochila e
minha mala. Lágrimas nublam minha visão e me sinto péssima. Eu
só quero sair daqui! Deixo o cômodo e os encontro no corredor.
Eles me encaram com olhares de julgamento, como se eu
estivesse fazendo a pior escolha da minha vida.
— Você irá se arrepender.
É tudo que meu pai diz. Olho para eles uma última vez e
sigo meu caminho. Deixo essa maldita casa, entro em meu carro e
dirijo para longe. As lágrimas rompem e descem pelo meu rosto. É
doloroso, mesmo que tenha feito o que era necessário.
O choro se intensifica e preciso parar no acostamento.
Curvo-me sobre a direção e levo minha mão até minha barriga. Eu
me sinto destruída, exausta e perdida. Eu não tenho para onde ir
ou alguém para quem ligar e estou a três horas de distância das
minhas amigas.
Pela primeira vez, eu queria ter alguém ao meu lado, queria
não ser sozinha.
Alguém para atrás de mim, provavelmente uma viatura de
polícia, sigo na minha miséria e com a testa apoiada no volante.
Pelo menos se for presa, terei onde passar a noite.
Uma batida na janela faz com que eu erga minha cabeça e
olhe para o lado. O meu farol ligado e o seu me permitem vê-lo
nitidamente. Peter está aqui.
Não sei como ele chegou aqui, mas não importa. Eu só
preciso dele, então abro a porta e me jogo em seus braços.
Ficaram sabendo da reunião com a coordenação de
patinação e os patrocinadores? Há boatos que uma das
patinadoras saiu da equipe, o motivo segue sendo confidencial.
Apenas uma observação: talvez, daqui a alguns meses esse
motivo se torne bem aparente.
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Peter

Entro na sala, cumprimento a todos e me sento entre Nastya,


a treinadora das duplas da patinação, e um dos patrocinadores, os
treinadores das equipes masculinas e femininas também estão aqui,
assim como outros patrocinadores e alguns representantes.
A coordenadora de patinação artística da faculdade de
Dartmouth nos convocou urgentemente, o assunto deve ser
extremamente importante para a rapidez da reunião, nunca se reúne
o conselho sem antecedência e ela parece nervosa.
Eu suspiro e encaro o teto. Eu não queria estar aqui, mas
tenho um comunicado e precisei comparecer. A coordenadora talvez
surte com meu anúncio, mas não me importo. No momento, poucas
coisas realmente me importam!
— O assunto deve ser realmente importante para estarmos
aqui em plena sexta-feira, pelo amor de Deus, esse é o horário de
estarmos em um Happy Hour.
O cara ao meu lado sussurra. Eu apenas assinto, não quero
conversar e ele tem razão, são cinco horas de uma sexta-feira, é
quase uma verdade universal que não se faz reuniões esse horário e
quando alguma acontece, é porque o assunto é urgente.
Raven caminha de um lado para o outro, eu confiro meu
relógio e já se passaram dez minutos. Porra, eu só quero que essa
merda termine logo, mas se ela não começar, nunca irá acabar.
Apoio meu cotovelo na mesa e minha testa em minhas mãos
e encaro a madeira abaixo de mim. Não sei do que se trata essa
reunião, mas uma coisa eu tenho certeza: irei anunciar que não
serei mais um patrocinador da equipe.
Não posso ser um patrocinador, não quando pretendo
conquistar uma das patinadoras.
Demorei dias para aceitar que não vou superar Meghan e
para admitir que estou totalmente apaixonado por ela, não vai ser
algo passageiro e nem quero que seja.
Meghan segue sem me responder e se fosse um cara
decente, a deixaria em paz, mas simplesmente não posso, não sem
lutar, não sem correr atrás dela, não sem admitir que estou
apaixonado e que enfrentarei qualquer coisa por ela, inclusive minha
filha. Liv está melhor e irá entender, talvez demore algum tempo,
mas acredito que ficará tudo bem.
Uma parte em mim diz que deveria esquecer Meghan, é o
melhor para ela e para Liv, só que, pela primeira vez na vida, eu
quero lutar por algo, por alguém e pela minha felicidade.
Talvez esteja agindo como um adolescente emocionado,
afinal, estou ignorando todos os motivos pelos quais deveria me
afastar de Meghan, colocando várias coisas em jogo e me arriscando
em algo que não tenho certeza. Meghan pode ter encontrado uma
outra pessoa, ou ela simplesmente pode não sentir o mesmo que eu.
Estou arriscando minha relação com a minha filha, a forma
como as pessoas irão me encarar, porque serei o cara que está com
uma garota mais nova, com certeza seremos julgados.
Lá no fundo da minha mente, uma voz ainda sussurra que
deveria esquecê-la, bloquear seu número, ir embora da cidade e agir
como se nunca tivéssemos vivido o que vivemos.
Só que é impossível, eu não consigo e eu não posso!
Liv está na casa do namorado e irá passar o fim de semana
com a família de Aaron, Eve e Malcom foram embora e eu vou
recuperar a minha garota. Meghan não responde minhas
mensagens, não vai mais ao parque correr, mas eu irei até ela.
— Boa tarde. — Levanto a minha cabeça ao ouvir a voz de
Raven, ela está em pé e na ponta da mesa. — Peço desculpa por
marcar a reunião sem nenhuma antecedência, mas algo aconteceu e
quero que vocês saibam por mim e não por revistas ou jornais de
fofoca.
Todos sabemos que ela está se referindo ao jornal ridículo da
faculdade.
— Eu confesso que não estava esperando pelo que
aconteceu.
Olho ao redor e os treinadores não esboçam nenhuma
reação, não estão surpresos, nem curiosos, nem chateados pela
reunião, eles já devem saber o que aconteceu.
Raven faz uma pausa, ninguém se manifesta, então ela
continua.
— Uma das nossas patinadoras pediu afastamento da equipe.
Isso chama a atenção de todos.
— Espero que não seja nenhuma das classificadas para o
nacional.
Um dos patrocinadores soa irritado. Raven suspira e pela
expressão em seu rosto, ela não pode negar a sua suposição e um
alarme soa em minha mente. Eu me ajeio na cadeira e estalo meus
dedos. As classificadas para o nacional foram Penny e Meghan, além
de Ava, que foi classificada para a patinação em dupla.
— Foi uma das garotas do individual que foi classificada para
o nacional.
Raven confessa. No mesmo instante olho para Luke, ele é o
namorado de Penny, se for ela, ele vai esboçar alguma reação. Mas
ele não reage, continua como antes e parece tranquilo. Não foi ela e
só resta a Meghan!
Por que Meghan pediria afastamento da equipe? Em uma das
nossas conversas, ela me revelou que ama a patinação, mas seu
sonho não é ser uma patinadora profissional, porém ela estava
empolgada com o campeonato nacional.
O que mudou? O que aconteceu?
Ela está indo embora? Essa possibilidade me faz entrar em
desespero. Meghan não pode ir embora, não sem antes
conversarmos, não sem antes eu vê-la e implorar para que fique.
— Meghan Foster não faz mais parte da nossa equipe.
Raven confirma que é Meghan. Seu nome ecoa em minha
mente, meu coração acelera e frustração vibra em meu peito.
Preciso fazer algo, não posso ficar aqui parado, entretanto, o que
vou fazer?
Deus, eu sou uma bagunça!
— Você está dizendo que perdemos duas patinadoras em
menos de dois meses?
Um dos patrocinadores soa indignado, Raven suspira e
assente.
— Por qual motivo ela pediu o desligamento?
Pergunto, porque preciso saber. Agonia me cerca,
preenchendo cada espaço desocupado dentro de mim. Porra! Para
piorar minha angústia, Raven faz um maldito suspense;
— Ela está grávida.
Por um segundo, o tempo para ao meu redor, prendo minha
respiração e a palavra grávida ressoa em minha mente. Grávida,
Meghan está grávida!
Eu me recordo de todas as vezes que não usamos camisinha,
ela está grávida e não preciso de uma confirmação sua para saber
quem é o pai. Vozes se alteram ao meu redor, porém, nada mais faz
sentido.
Meghan está grávida. Eu vou ser pai outra vez.
Como vou fazer isso? Meus maiores erros foram como pai,
não obtive êxito na função mais importante da minha vida. E, porra,
eu tenho quarenta a quatro anos, não tenho idade para ser pai
novamente. Como deixei isso acontecer? Além de tudo, Meghan tem
apenas vinte e um anos, sequer terminou a faculdade, vai ser tão
difícil para ela, aliás, já está sendo, ela precisou renunciar à
patinação.
Uma vozinha irritante me recorda que eu era apenas dois
anos mais velho quando Liv nasceu, lembro dos sentimentos e do
caos que foi, não posso deixar minha garota sozinha. E uma imagem
de um bebezinho preenche minha mente, um bebê indefeso que nós
dois criamos, não posso falhar com ele também.
Meghan e o nosso bebê precisam de mim!
— Por que você não a convenceu a fazer um aborto? — O
idiota ao meu lado ri. — Tenho certeza de que você poderia
persuadir a garota, ainda dá tempo, Raven, o desligamento não foi
finalizado e seria um presente para ela nos livrarmos da criança,
aposto que é uma dessas vagabundas e nem sabe quem é o pai.
Eu vejo vermelho. Raiva toma conta de mim e me deixo ser
dominado por ela. Fico em pé, puxo-o pela gola do suéter que está
usando e faço com que se levante.
— Quem você pensa que é para falar assim dela?
Solto-o e meu punho acerta seu rosto. Ele empurra a cadeira,
dá um passo para trás e continua com o sorriso idiota no rosto.
— Por que está a defendendo? Ela é só mais uma puta
abrindo as pernas para qualquer um...
Não deixo que termine a frase, parto para cima dele, desfiro
socos em seu rosto. Não sinto mais nada, não penso em mais nada,
tudo que eu sei é que ele não pode falar assim de Meghan.
Ninguém fala assim dela.
Ele tenta se defender, mas não consegue, não permito e só
me afasto quando me seguram e me levam para longe dele. Sigo
vendo vermelho e querendo acabar com o verme à minha frente.
— Chega, James.
Luke sussurra ao meu lado. Dois homens socorrem o verme,
ele tem sangue pelo rosto e está inchado. Ele merecia mais, mas
não tenho tempo para isso. Eu preciso ir até Meghan.
— Me solte, Luke, eu não vou mais bater no idiota.
Luke hesita, mas me solta.
— Eu vou chamar a polícia.
O babaca grita, mas ignoro-o, viro-me e caminho na direção
da saída. Saio da sala, bato a porta e corro para o estacionamento,
entro em meu carro e dirijo para sua casa.
Piso o pé no acelerador, não ligo para as possíveis multas por
velocidade excedida, eu só me importo em chegar até ela.
Minha mente é um caos. Eu vou ser pai. Uma parte de mim
ainda não consegue acreditar nisso, a outra está em surto, e uma
pequena parte anseia por ter um bebê em meus braços.
E se eu falhar outra vez? E se eu não nasci para ser pai? E se
Meghan não me quiser perto do bebê?
Eu não tenho certeza de como vai ser, mas eu vou fazer o
meu melhor, serei tudo que deveria ter sido pra Liv e não fui. É a
minha segunda chance e não vou desperdiçá-la.
E Meghan? Como Meghan está? Como descobriu? É por isso
que ela tem me evitado? Ela não iria me contar? Ela vai manter o
bebê? E se ela não quiser ser mãe? Ou não estiver preparada?
São questionamentos que só ela pode responder. Deixo meu
carro em frente ao seu prédio e corro para a entrada, por sorte a
porta está aberta, então eu entro e subo as escadas depressa.
Meu coração bate acelerado quando paro diante da porta do
seu apartamento, é uma mistura de ansiedade com nervosismo,
saudade, necessidade e medo.
Respiro fundo, ergo minha mão e aperto a campainha. Faz
uma semana que não a vejo, uma semana sem uma resposta sua e
agora sei que ela está esperando um filho meu.
A porta é aberta, mas não é Meghan que vejo. Ava me encara
surpresa.
— James? Liv não está aqui.
— Eu preciso conversar com Meghan, eu preciso vê-la.
Sou direto, porque não tenho tempo a perder. Estou
desesperado!
— Ela não está.
Fecho meus olhos por alguns segundos, respiro fundo e volto
a fitá-la.
— Eu preciso muito conversar com ela.
Suplico e Ava me encara com piedade.
— Você descobriu, não é?
É óbvio que Ava sabe sobre nós dois e sobre o bebê, por isso
apenas assinto.
— E preciso vê-la.
Não tenho vergonha de implorar ou de parecer desesperado.
A verdade é que estar com Meghan é uma necessidade.
— Ela não está, James, ela foi ver os pais.
— Você sabe onde eles moram?
Para meu alívio, Ava diz que sim, elas têm um aplicativo com
a localização uma da outra em tempo real no celular para segurança
e passa o endereço em que Meghan se encontra. Eu agradeço Ava e
volto para meu carro.
Eu coloco o endereço no GPS e dirijo o mais depressa
possível. Meghan está em Worcester, em uma outra cidade e vou até
lá, porque eu iria até o fim do mundo por ela.
O trajeto deveria durar em torno de três horas, mas faço o
caminho em duas horas e meia. Eu tenho pressa e um objetivo.
Meghan me contou sobre seus pais serem frios e viciados em
dinheiro, poder e status, mas não me importo de encontrá-los, não
sei exatamente o que ela está fazendo aqui, porém não tenho medo
do que terei que enfrentar.
Minha mente segue em disparada e faço planos, traço
alternativas, eu vou me mudar para Hanover até Meghan terminar a
faculdade, irei cuidar do bebê e depois ela pode decidir o que
faremos. Eu tenho dinheiro e posso trabalhar de qualquer lugar do
mundo.
Ela pode não me aceitar? Rejeitar todos meus planos? Pode,
mas a esperança é o que me move no momento.
Estou dirigindo pela rua que leva até o endereço que Ava me
passou. quando noto um carro no acostamento, é Meghan, dou meia
volta e estaciono logo atrás do seu Jeep.
O que ela está fazendo aqui? Está escuro, não há nenhuma
casa por perto. É perigoso. Saio do carro e corro em sua direção. Ela
está curvada sobre a direção. Ela está ferida? Mil possibilidades
ecoam em minha mente e odeio todas.
Bato no vidro da sua janela e mantenho minha respiração
suspensa enquanto espero por uma reação sua. Se ela não reagir,
eu vou abrir a porta à força. Eu volto a respirar quando Meghan
ergue a cabeça e se vira em minha direção.
Há lágrimas descendo pelo seu rosto, seu olhar encontra o
meu e minha garota parece estar destruída. Dou um passo para trás
no mesmo instante que ela abre a porta.
Meghan deixa seu carro e se joga em meus braços, eu a
seguro e é como se o mundo parasse de girar e o tempo congelasse.
Mantenho-a presa a mime seu cheiro me cerca.
Deus, como eu senti sua falta. É como se tivesse encontrado
algo que faltava em mim, um pedaço do meu coração. Ela está aqui,
meu mundo está em meus braços outra vez.
Nada mais importa a não ser ela. Eu a afasto apenas alguns
centímetros para me certificar de que está bem.
— Você está ferida? — Ela balança a cabeça negando. —
Sente dor em algum lugar?
Balança a cabeça, negando mais uma vez, mas segue
chorando e continuo a inspecionando. Eu preciso descobrir o que
está errado. Só paro quando Meghan traz suas mãos até meu rosto
e me força a encará-la.
— Estou bem.
Eu ergo meus braços e limpo as lágrimas das suas bochechas
com as pontas dos meus dedos.
— Então, por que você está chorando?
Apoio minha testa na sua e uma fina garoa cai sobre nós
dois.
— Eu briguei com meus pais, eles querem que eu me case
com um idiota, mas não vou fazer isso, não vou me submeter as
escolhas deles e rompi com eles, não há mais nenhum vínculo entre
nós. — A mágoa é evidente em seu olhar. — Eu fiz a escolha certa,
mas dói, porque eles são meus pais e deveriam me amar e me
proteger.
Meghan abaixa suas mãos e as deixa estendidas sobre meu
peito.
— Pela primeira vez na vida, eu não queria estar sozinha.
Mantenho meu olhar sobre o seu.
— Você não está mais sozinha, pequena. — Afasto minha
testa da sua e abaixo minha cabeça até meus lábios estarem sobre
os seus. — Você não está mais sozinha.
Meghan agarra meu suéter, puxa-me em sua direção e nossos
lábios se encontram. E estou em casa outra vez!
Existe algo mais clichê do que um beijo na chuva? P.S
Confesso que nunca beijei alguém enquanto estava chovendo,
alguém se habilita a ser o meu par para o experimento?
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Peter

Meus lábios reivindicam os seus, minha língua explora a sua


com desejo e posse. Ela me pertence! Meghan é minha, assim
como eu sou dela. Segura meu suéter com seus dedos e me
corresponde da mesma forma, ela sente a mesma saudade que
eu.
Levo meus dedos até seu pescoço e sinto sua pulsação
acelerada, seu corpo reage ao meu e satisfação vibra em meu
peito. Esse tempo todo era isso que eu procurava. Vivi até aqui por
esse momento, para me render diante dela, para deixá-la ter
domínio sobre mim e sobre meus sentimentos.
A chuva se intensifica e as gotas de água atingem meu
cabelo, meu pescoço e se infiltram pela gola do meu suéter,
mesmo assim sigo a beijando, como um viciado que encontra sua
droga após meses em abstinência.
Desço minhas mãos até sua bunda, aperto-a e puxo em
minha direção, sons escapam entre seus lábios e, porra, resultam
em uma onda de desejo percorrendo meu corpo e terminando em
minha ereção.
Quero essa garota como nunca quis alguém, mas não é
apenas sexual, é além disso, é uma necessidade absurda, um
sentimento e uma força que me arrastam em sua direção. Ela faz
com que eu me esqueça tudo ao nosso redor, tira-me de órbita e
bagunça todas minhas certezas.
Ela é tudo que eu precisava e não sabia!
As gotas se tornam mais pesadas, mordo seu lábio inferior,
abro meus olhos, ela faz o mesmo e seu olhar encontra o meu.
Acaricio a lateral do seu rosto e deixo um beijo em seu pescoço.
— Nós precisamos sair daqui, você conhece algum hotel
onde possamos nos hospedar?
— Sim, há um que fica apenas a alguns minutos daqui.
Beijo sua testa.
— Você vai na frente e eu te sigo, ok? — Ela assente, mas
não me solta. — Eu vou encontrá-la lá, pequena.
Meghan fecha seus olhos e suspira.
— Eu sei. — Volta a abrir seus olhos e posso ver toda sua
fragilidade refletida neles. — Só estou com medo de ser uma
alucinação e você não estar realmente aqui.
Toco sua bochecha com meus dedos.
— É real, eu estou aqui e vou segui-la, não vou a lugar
nenhum sem você. — Beijo sua testa mais uma vez. — Não vou
sair do seu lado.
Ela assente e nos afastamos, eu a ajudo a ocupar seu lugar
atrás do volante e corro para o meu carro. Assim como prometi,
eu a sigo. Estou um pouco molhado, mas nem ligo, eu encontrei
Meghan e isso é tudo que importa.
A imagem das lágrimas descendo pelo seu rosto ecoam em
minha mente e odeio seus pais. Como eles foram capazes de
magoá-la? Minha sorte é tê-la encontrado, algo poderia ter
acontecido... Balanço minha cabeça e empurro os pensamentos
negativos para longe, nada aconteceu e ela está segura, eu
cheguei a tempo.
Dirijo ansioso para estar com ela. Nós dois precisamos
conversar; sobre o bebê, sobre seus pais e eu preciso prometer
não deixá-la sozinha nunca mais. Não vou abandoná-la e nem a
deixar escapar.
Meghan chega no local, um hotel quatro estrelas, para em
uma vaga no estacionamento, eu paro ao seu lado, deixo o carro e
vou até ela. Meghan tem uma mochila e uma mala, eu pego suas
coisas e passo meu braço pelos seus ombros, puxo-a em minha
direção e beijo o topo da sua cabeça.
— Você terá que arcar com as despesas, porque aposto que
meus cartões já foram bloqueados.
Ela brinca, mas lá no fundo há um ressentimento em sua
voz.
— Acredite, não vou ficar menos rico por isso.
Ela ri. E, caralho, eu estava com saudade do som da sua
risada!
— Ótimo, hoje vou ser bancada pelo meu sugar daddy.
Meghan me provoca.
— Continue me chamando assim e será punida.
Sussurro, ela olha em minha direção e a forma como nos
encaramos faz com que tenha certeza de que ela deseja mesmo
uma punição.
— Você será minha morte, Meghan.
Resmungo, ela ri e seguimos até a recepção do hotel. Eu
faço o check-in, pego a chave do quarto, entrelaço minha mão na
sua e vamos até o elevador. Não somos os únicos a entrar na caixa
metálica, então me apoio contra a parede e Meghan se apoia em
meu peito.
Eu coloco seu cabelo para o lado e acaricio seu pescoço com
a minha mão esquerda e mantenho a direita em seu quadril,
minha vontade é de subi-la até sua barriga, mas me controlo.
Como não estamos sozinhos, nos mantemos em silêncio.
Há um casal conosco, eles devem ter cerca de trinta anos e
nos encaram com curiosidade. Não preciso ler mentes para saber
que é a nossa diferença de idade que os intriga.
É isso que, de certa forma, teremos que enfrentar. Ignoro-
os, mas não é algo agradável.
O elevador para, pego as nossas coisas e uno nossas mãos,
saímos e a porta está se fechando quando Meghan olha para trás
e sorri.
— Aposto que meu homem fode muito melhor que o seu.
A mulher encara Meghan em choque, mas ela não tem
tempo de reagir, porque as portas se fecham.
— Vaca.
Meghan resmunga e eu olho para ela com um sorriso em
meus lábios.
— Seu homem, é?
Provoco-a, Meghan dá de ombros e seus lábios se curvam
em um sorriso discreto. Ótimo! Seguimos até o quarto, abro a
porta, Meghan desvencilha-se de mim e caminha à minha frente.
Assim que fecho a porta, sigo-a e deixo suas coisas sobre a cama.
Ela olha ao nosso redor, analisando o cômodo e eu vou até o
painel de controle de temperatura, ajusto-a e volto a olhar para
Meghan.
— É melhor você tirar essa roupa molhada.
Ela se vira para mim e sorri.
— Isso é uma desculpa para me ver nua?
Sorrio e balanço a minha cabeça.
— Se ficar molhada irá pegar um resfriado.
Embora continue rindo, faz o que eu pedi, tira o casaco,
suéter e as botas, ficando apenas com uma blusa fina e uma calça
apertada. A roupa marca suas curvas e dou uma boa olhada em
seu corpo; não sou discreto e ela me encara com malícia.
— Você é linda.
Revira seus olhos e aponta seu dedo em minha direção.
— Você também está molhado.
Eu tiro minha jaqueta, camiseta, tênis, meia e fico apenas
de calça. Ela olha meu peito nu e é a minha vez de sorrir
debochado.
— Não tenho muito o que fazer, não trouxe nenhuma roupa
extra.
Seu sorriso se desfaz e morde seu lábio inferior. Meghan dá
alguns passos para trás, até ter a bunda encostada no aparador
que há no quarto. Eu fico à sua frente, esperando pelos seus
questionamentos.
— Como você me encontrou, Peter?
— Ava me passou seu endereço.
É a resposta para a sua pergunta, mas não é a resposta que
ela quer.
— Por que você estava aqui?
— Eu vim atrás de você.
— Por quê?
Posso ver a confusão e o medo em seu olhar.
— Eu estava em uma reunião com a coordenação de
patinação artística, Raven, treinadores e patrocinadores.
Meghan tem os olhos mais expressivos que eu já vi e ela
sabe o que essa reunião significa.
— Então, você já sabe?
Assinto e posso ver o pânico tomar conta do seu olhar.
— Eu já sei.
— É por isso que você está aqui?
Passo minha mão pelos fios do meu cabelo.
— Não e sim. — Suspiro e busco a melhor forma de me
explicar. — Antes da reunião eu já estava decidido, Meghan, eu fui
até a arena disposto a desistir de ser um patrocinador da equipe,
porque meus planos eram lutar por você, ainda são, na verdade.
Algumas lágrimas nublam sua visão e ela suspira, como se
estivesse aliviada, como se enfim pudesse voltar a respirar.
— E Liv?
Dou de ombros.
— Liv é adulta, eu amo minha filha e faço de tudo por ela,
mas não posso abrir mão de você, da minha felicidade. — Dou um
passo em frente. — Eu sempre fiz o que achava ser o melhor para
os outros e nisso magoei minha melhor amiga, minha filha e
aprendi a ser infeliz, mas dessa vez eu vou lutar pelo que eu
quero, chega de arrependimentos e frustrações.
— E se eu não estiver disposta a ficar com você?
Uma parte do meu coração tem medo de que ela esteja
falando sério, a outra sabe que é apenas uma hipótese, ela sente
o mesmo que eu, está exposto em seus olhos.
— Eu não posso obrigar você a ficar comigo, mas acho que
será uma péssima ideia se você não me deixar ser quem você
precisa. — Caminho em sua direção. — Eu quero você, Meghan,
quero enfrentar o mundo por você e com você.
Paro à sua frente e levo minha mão até sua barriga.
— Quero cuidar desse bebê com você. — Mantenho meus
olhos presos aos seus. — E o que você quer, pequena?
Por alguns segundos, ela apenas me encara. É como se meu
coração parasse de bater e como se o tempo ao nosso redor
congelasse. Ele só volta ao normal quando ela sorri, traz suas
mãos até meu ombro e toca meu pescoço.
— Eu quero você, Peter.
Meu coração volta a bater, minha boca cobre a sua e
selamos o que sentimos com um beijo. Não há mais medo, receio
ou o sentimento de que estamos fazendo algo errado. É como a
primeira vez que a beijei, só que mais forte e mais intenso.
Somos apenas nós, sem empecilhos, expostos sem
nenhuma barreira. Dessa vez não temos pressa, porque sabemos
que não é a última.
Ergo-a e a coloco sentada sobre a mesa, levo minha mão de
volta à sua barriga, ergo sua blusa, acaricio sua pele e afasto
minha boca da sua.
— O quão assustada você está?
Abro meus olhos, ela faz o mesmo e nos encaramos. Não há
mais nenhuma sobra em seu olhar e ela sabe que estou falando
sobre o bebê.
— Um pouco, mas desde o momento que descobri sobre
ele, soube que não poderia desprezá-lo como meus pais fizeram
comigo. — Suas mãos se juntam à minha, então olho para baixo e
fito nossas mãos sobre sua barriga. — Esse bebê é a chance de eu
ser diferente dos meus pais.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, até ela me
chamar.
— Peter. — Ela faz uma pausa, volto a encará-la e está
mordendo seu lábio, ergo minha mão e o solto dos seus dentes. —
Esse bebê é seu, não tenho nenhuma dúvida.
— Eu sei, soube desde o momento que Raven revelou o
motivo de ter deixado a patinação.
Inclina a cabeça para o lado e me analisa.
— O que você sente sobre eu estar grávida?
Respiro fundo e ela volta a morder seu lábio inferior.
— Eu dei uma leve surtada, porque eu fui um péssimo pai e
tenho medo de falhar outra vez, além disso, eu tenho quarenta e
quatro anos, e claro que me culpei por você ter engravidado tão
nova, eu sou o mais velho e deveria ter lembrado da camisinha. —
Uma ruga surge em sua testa, ela está preocupada com minha
reação, mas continuo falando a verdade. — Fui pai antes dos trinta
e sei o quão difícil e desafiador pode ser...
Ela não suporta e me interrompe antes que conclua minha
frase.
— Então, você não quer o bebê?
Seu lábio treme e lágrimas voltam a se acumular em seus
olhos.
— Mas eu percebi que esse bebê é a minha segunda
chance, ele é a chance de fazer certo, de ser um pai melhor. — Eu
fico de joelhos e deixo minha boca na altura da sua barriga. — Eu
quero esse bebê, Meghan.
Ergo ainda mais sua blusa e beijo sua barriga.
— Hey, sou o seu papai e prometo fazer o meu melhor.
Uma emoção toma conta do meu peito e preciso respirar
fundo para não chorar. Beijo sua barriga mais uma vez e volto a
ficar em pé. Meghan me encara como se eu fosse um maldito
herói e eu a tomo em meus braços.
Sento-me na cama com as costas apoiadas na cabeceira e
Meghan se posiciona entre minhas pernas, com as costas apoiadas
em mim.
— Você não precisa desistir da patinação. — Ela se ajeita até
conseguir olhar em meu rosto. — Você pode voltar a treinar depois
que o bebê nascer, eu vou ficar em Hanover, trabalhar de casa e
vou cuidar do bebê enquanto você treina e estuda.
Meghan faz uma careta.
— Não quero voltar a patinar, eu amo a patinação, mas
minha fase como atleta chegou ao fim, quero terminar a
graduação e abrir minha galeria de arte.
Assinto.
— Ok, ficamos em Hanover e depois você decide para onde
iremos.
Ela ri e beija meu peito.
— Eu gosto de Nova York, podemos ir para lá assim que
terminar a faculdade.
Beijo sua testa.
— Ok e quero que você vá morar comigo.
Meghan faz uma careta.
— E Liv?
— Iremos conversar com ela e há quatro quartos no
apartamento, cabe todos nós perfeitamente.
Ela não parece se tranquilizar.
— Quando iremos conversar com ela?
— Assim que possível. — Meghan parece hesitante. — Ela
irá aceitar, pequena, talvez demore um pouco, mas irá se
acostumar com a ideia.
Suspira e coloco alguns fios do seu cabelo para trás da sua
orelha.
— Eu amo Liv e não quero vê-la magoada comigo.
— Tudo ficará bem.
Tranquilizo-a e rezo para estar certo.
— Meus pais com certeza irão bloquear meus cartões e se
negarão a continuar pagando o meu curso, eu tenho um dinheiro
em uma conta que eles não têm acesso e consigo pagar a
faculdade, mas preciso arranjar um emprego, aliás, já achei, como
garçonete naquele café que as meninas e eu amamos...
Dessa vez, sou eu a interrompê-la.
— Você não precisa trabalhar, Meghan, eu tenho dinheiro o
bastante.
Franze seu nariz.
— Não sei se gosto dessa ideia.
Subo meu dedo pelo seu braço.
— Será apenas até terminar a faculdade ou encontrar algo
na sua área, não quero você grávida servindo mesas.
Ela parece pensar, hesita, mas por fim aceita minha
proposta.
— Tenho imagens do ultrassom, você quer ver?
— Claro.
Meghan pega o celular na mochila que está aos nossos pés
e volta para os meus braços. Ela me mostra o nosso bebê e o
torna ainda mais real. Nós teremos um bebê, eu vou ser pai outra
vez.
— Eu prometo que iremos amá-lo muito e nunca seremos
iguais aos seus pais.
Ela desvia os olhos do celular e me encara.
— Obrigada.
Beijo seu ombro.
— Você quer conversar sobre o que aconteceu com eles
hoje?
Meghan desliga o celular e o deixa sobre o colchão ao nosso
lado. Ela me conta tudo, não chora, mas é óbvio que o que
aconteceu mexe com ela. O meu ódio por seus progenitores
aumenta, minha vontade é invadir sua casa e confrontá-los.
— Seus pais são uns idiotas, Meghan, mas se você quiser,
podemos ir conversar com eles amanhã, talvez eles mudem de
ideia.
Não quero que ela se aproxime deles outra vez, porém, se
ela quiser, iremos até lá. Para meu alívio, Meghan nega.
— Não, está tudo bem. — Pega minha mão e a coloca sobre
sua barriga. — Eu tenho tudo que preciso bem aqui.
Qual é um bom motivo para abalar uma amizade? Pegar a
melhor amiga e o pai em um ato um tanto íntimo com certeza é
um bom motivo. Eu, com certeza, não perdoaria, nenhum deles, é
claro.
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

Sou sincera, eu tenho tudo que preciso bem aqui. Ainda


sinto muito sobre meus pais, mas eles não irão mudar e não estou
mais sozinha. Eu fiz as melhores escolhas, escolhi ser feliz e não
vou me arrepender.
— Nós sempre estaremos aqui por você, pequena.
Peter inclina sua cabeça e me beija. Perco-me em seus
lábios, suspiro e me ajeito até estar sentada sobre ele, com as
minhas pernas ao redor da sua cintura.
Deus, eu senti tanto sua falta!
Sua mão sobe pelas minhas costas e enrola seus dedos ao
redor dos fios do meu cabelo. Meu corpo inteiro desperta e anseio
por ele, foram semanas sem sentir seu toque e mesmo assim meu
corpo o reconhece. Cada parte minha se submete a ele.
Ele dita o ritmo, sua língua explora minha boca e eu permito
que ele tenha cada parte minha. Peter me tem, como se eu
realmente pertencesse a ele.
Solta meu cabelo, desce suas mãos até a barra da minha
blusa e seus lábios deixam os meus. Peter puxa minha blusa para
cima, ergo meus braços e ele joga a peça de roupa para o chão.
Estou sem sutiã e ele encara meus seios com malícia e
luxúria. Ele me olha como se estivesse faminto, pronto para me
devorar, a ideia resulta em uma pontada no meio das minhas
pernas e posso sentir minha calcinha ficando úmida.
Porra!
— Eles estão maiores. — Traz suas mãos até eles, toca-os e
um suspiro escapa por entre meus lábios. — E mais sensíveis.
Belisca o bico do meu peito, fecho meus olhos e rebolo
contra ele.
— Incline-se, pequena, para que eu possa tê-los em minha
boca.
Eu faço o que ele pede e no mesmo instante tenho seus
lábios em meu seio. Peter tem a boca sobre um e a mão sobre o
outro, gemidos escapam dos meus lábios e levo minhas mãos até
sua cabeça, mantendo-o pressionado contra mim.
Caralho, eu poderia gozar só com ele me chupando assim.
A pressão e a necessidade por mais pulsa em meu interior.
Fricciono o meio das minhas pernas contra sua barriga, o que é
um alívio e uma maldição, porque não é o suficiente.
Eu abro meus olhos, puxo sua cabeça para trás e o encaro.
— Eu preciso gozar, Peter. — Suspiro. — Por favor.
Imploro e ele sorri debochado, como se me fazer implorar
fosse seu plano desde o início. Suas mãos descem pelo meu corpo
e ele pressiona os dedos contra minha boceta por cima da minha
calça.
— É aqui que você precisa de mim, pequena?
Desejo corre solto em mim, suspiro e queria que não
existisse nada entre seus dedos e minha boceta.
— Você sabe que é.
Peter se afasta da cabeceira, leva suas mãos até minha
cintura, inverte nossas posições e me coloca deitada sobre o
colchão enquanto paira sobre mim. Ele fica de joelhos, curva-se
em minha direção, puxa minha calça e calcinha e vai levando as
peças de roupa para baixo e me revelando, então distribui beijos
pela minha pele conforme vai descendo e a cada beijo é uma nova
onda de prazer.
Suspiros escapam da minha garganta e seguro o lençol com
força. Peter joga minhas últimas peças de roupa para longe e
empurra minha mala e mochila para fora da cama, nem o barulho
delas caindo no chão nos desconcentra.
Toca meu pé, suas mãos sobem pelas minhas pernas e
segue distribuindo beijos pela minha pele, é como se a cada toque
seu eu recebesse uma dose de energia, uma nova injeção de
luxúria. Desperta cada célula minha, faz com que o calor se torne
insuportável e que eu me comporte como se estivesse prestes a
entrar em combustão.
Seus dedos e sua boca tocam minhas coxas um pouco mais
e os tenho onde mais preciso dele. Suspiro, levo minha mão até
sua cabeça e seguro os fios do seu cabelo.
— Acho que alguém está ansiosa.
Ele me provoca e posso sentir seu sorrisinho contra minha
pele.
— Peter.
Choramingo, ele segue rindo, mas continua subindo e paira
com a boca onde mais preciso dele. Sinto sua respiração contra
minha boceta e minha respiração falha.
Porra!
— Senti falta do seu cheiro. — Dobro minhas pernas e ele
fica entre elas, seu nariz me toca enquanto seus dedos me abrem
para ele. — E do seu gosto.
Sua língua toca meu clitóris e fecho meus olhos. Acaricia de
leve, mesmo assim me faz delirar. É apenas o começo e sei disso.
Eu quero mais, eu preciso de mais.
Peter sabe disso e seus dedos me penetram enquanto brinca
com meu clitóris com a sua língua. O prazer cresce junto com suas
investidas, ele me fode com seus dedos e sua língua, nada mais
interessa à minha volta e a luxúria me domina.
Dor e prazer pulsam pelo meu corpo e é tão gostoso! Eu
amo sexo e amo sexo com Peter. Como eu senti falta disso! E
agora, eu só preciso gozar.
— Caralho, Peter — grito e seus dedos encontram o meu
ponto G. — Isso.
Palavras desconexas e palavrões seguem deixando minha
boca e ele não para. Aumenta o ritmo com que seus dedos me
penetram, morde a lateral da minha perna, meu clitóris e segura
minha cintura enquanto eu rebolo contra sua boca.
É demais, eu estou perdida, alucinada e finalmente o
orgasmo vibra pelo meu corpo, fazendo uma explosão de prazer
acontecer dentro de mim.
Estou em êxtase, como se estivesse flutuando e, por alguns
segundos, permaneço de olhos fechados, imersa na emoção que
tomou conta de mim. Posso sentir Peter se afastando e pisando no
chão, mas não ligo, não nesse momento.
— Hey, pequena, eu ainda não acabei com você.
Ele me chama e abro meus olhos, ele tem um joelho sobre a
cama e toca minha cintura. Sorrio e ele se joga ao meu lado.
— O que você pretende?
Desafio-o, ele se apoia em seu cotovelo, inclina-se em
minha direção, seus lábios se aproximam do canto da minha boca
e seus dedos brincam com o bico do meu seio esquerdo.
— Quero você gritando meu nome mais uma vez.
Sua voz rouca causa um frenesi abaixo do meu ventre.
Acabei de gozar e mesmo assim meu corpo desperta. Peter me
beija, correspondo-o na mesma intensidade e não demora para
que estejamos completamente envoltos em uma bolha de prazer.
Peter toca minha cintura, joga-se para trás até ter suas
costas completamente contra o colchão e sei o que ele quer. Subo
sobre ele, que sorri malicioso.
— Isso mesmo, pequena.
Deixo minhas mãos sobre seu peito, mantenho meus olhos
nos seus enquanto ele me toca e assim que tem certeza de que
estou molhada o suficiente, guia seu pau para dentro de mim e
leva suas mãos até minha bunda. Ele me preenche e a cada
segundo me sinto mais entregue.
Eu o cavalgo enquanto seu dedo encontra minha outra
entrada, ele me penetra e me sinto cheia, tão cheia, que acelero
os movimentos e fecho meus olhos.
— Caralho.
Grito e tudo que importa é gozar outra vez. Seu dedo
continua me penetrando no mesmo ritmo que seu pau entra e sai
de dentro de mim. O calor é insuportável, é como se estivesse
pegando fogo.
É tudo tão mais intenso, o tempo é diferente, o prazer
assumiu completamente nossos corpos. De repente, Peter afasta
suas mãos da minha bunda, segura minha cintura e me tira de
cima dele. Eu sei o que ele quer e por isso fico de quatro ao seu
lado.
Peter não demora a assumir a posição atrás de mim, sinto
uma ardência em minha pele quando bate na lateral da minha
perna e choramingo quando seus dedos entram em minha boceta.
Ele não demora a substituir seus dedos pelo seu pau. Então,
me fode e faz com que me sinta no paraíso e me leva a um
orgasmo insano, Peter não demora a me acompanhar.
Por alguns segundos, permaneço desorientada.
E quando Peter se afasta, caio sobre a cama, ele se joga ao
meu lado e me puxa para os seus braços. Ele beija a lateral da
minha cabeça e passo meu braço sobre seu abdômen.
— Você está bem, pequena?
— Estou exausta.
Resmungo, ele ri e beija a lateral da minha cabeça. Meus
olhos estão fechados e estou quase dormindo, mas Peter me
chama.
— Nós precisamos comer e você precisa de um banho.
— Eu preciso dormir.
Ele me ignora, fica em pé e me carrega para o banheiro.
Sou obrigada a abrir meus olhos, reclamo, mas ele apenas ri e me
leva para baixo do chuveiro.
Peter me ajuda a me lavar, eu faço o mesmo com ele. Ele
ensaboa minha barriga com carinho e por mais tempo que o
necessário. Ergo minhas sobrancelhas e ele dá de ombros.
— Estou tendo um tempo com o meu filho.
Sorrio e ele segue com os movimentos circulares. Existe
uma cumplicidade e uma intimidade entre nós que faz com que
tudo pareça natural, como se fizéssemos isso há anos.
Saímos do chuveiro, enrolo uma toalha ao redor do meu
corpo e outra no meu cabelo, Peter tem apenas uma em sua
cintura.
— Você me deixou dolorida.
Resmungo enquanto deixamos o banheiro. Peter traz suas
mãos até minha cintura e me puxa para trás até eu ter minhas
costas apoiadas em seu peito.
— Isso é um elogio!?
Dou uma leve cotovelada em sua barriga.
— Convencido.
Ele apenas ri e vamos para o quarto. Peter veste apenas sua
cueca, eu abro minha mochila e pego a camiseta que roubei dele.
Ele me encara com um sorriso debochado.
— Por isso minha camiseta sumiu, você roubou.
Dou de ombros.
— Eu precisava de uma lembrança sua.
Ele apenas ri. Eu tiro a toalha da cabeça para arrumar meu
cabelo e Peter pede nossa comida, então nos sentamos na cama
para esperar. Nós ficamos conversando. Estar com Peter me passa
tranquilidade, um sentimento que preenche os vazios da minha
alma e do meu coração.
Eu sinto como se ele realmente fosse a minha metade.
Nós jantamos e vamos assistir um filme, mas estou exausta
e adormeço nos primeiros minutos.

Acordo com meu estômago revirando, estou sobre o peito


de Peter e seus braços estão ao meu redor, preciso me
desvencilhar depressa e corro para o banheiro.
Assim que me curvo sobre o vaso, o líquido gosmento deixa
minha boca. Estou com a cabeça quase dentro do vaso e Peter
invade o banheiro, ele para logo atrás de mim, segura meu cabelo
e acaricia minhas costas.
Parece que demora uma eternidade até meu estômago
normalizar. Peter me ajuda a ficar em pé, dou a descarga e vou
até a pia.
— Você está bem?
Assinto.
— Acho que esse é meu novo normal.
Ele faz uma careta enquanto me observa escovar os dentes.
Quando voltamos para o quarto, Peter pergunta se preciso de
algo, eu nego e ficamos um tempo deitados na cama com ele me
fazendo carinho.
Mesmo quando deixamos a cama, Peter segue me mimando
e eu não reclamo. Almoçamos em um restaurante da cidade e
voltamos para Hanover, é uma droga termos que ir em carros
separados.
Vamos direto para o seu prédio, deixo meu carro na
garagem ao lado do seu, ele abre a porta para que eu desça e me
jogo em seus braços, ele me beija como se estivéssemos há um
longo tempo sem nos vermos.
Eu pareço uma idiota apaixonada, mas isso não incomoda.
Estou feliz e é tudo que importa.
Peter carrega minha mala e mochila e sua mão livre está
entrelaçada em meus dedos. É de mãos dadas que entramos em
seu apartamento após deixarmos o elevador e ele me guia até seu
quarto.
— Esse será seu novo quarto.
Peter deixa minhas coisas ao lado da porta. Eu adentro o
espaço e vou até as portas que levam até a varanda.
— Posso mexer na decoração?
Abro as portas e deixo que o vento bagunce meus cabelos.
— Você acha minha decoração ruim?
Viro-me para trás, encontrando-o parado no meio do
quarto, me encarando como se eu fosse a garota mais bonita e
incrível do mundo.
— É péssima.
— Você pode mexer no que quiser, pequena.
Sorrio animada. Ele vem até mim, saímos para a sacada, eu
me apoio contra seu peito e ele coloca suas mãos sobre minha
barriga. Eu faço o mesmo que ele.
— Você consegue imaginar um bebê em nossos braços
daqui alguns meses?
Pergunto enquanto imagino um bebê em meus braços,
ainda é difícil de conseguir visualizar que esse bebê será o meu
filho.
— Consigo, mas ainda é algo distante.
Entendo exatamente o que ele está querendo dizer.
— Você acha que será um menino ou uma menina?
Sigo com as minhas perguntas.
— Uma menina.
Ele soa confiante.
— Por quê?
— Intuição de pai.
Nós dois rimos e ficamos aqui um tempo observando a rua
lá embaixo. Como Liv não está, ela foi viajar com Aaron para casa
dos seus avós e só retorna na segunda, eu fico aqui com Peter,
me acostumando que em breve esse apartamento será o meu lar.
Peter e eu entramos, preparamos algo para jantar e vamos
para o andar de cima, ficamos lá admirando o céu e fazendo
planos. E quando ele me beija de uma forma mais sensual, me
perco completamente e ele também. Peter me leva para o nosso
quarto e me mostra o quanto seu coração é meu, assim como o
meu é seu.
Nosso domingo é preguiçoso, ficamos no sofá assistindo
filmes e pedimos o almoço por delivery. Um almoço que me faz
mal e é por isso que Peter decide fazer uma sopa para o jantar.
Eu me sento no balcão ao lado da pia enquanto ele cozinha.
Eu escolho uma música, Peter bebe uma cerveja e eu uma soda.
— Sabe, eu não sou fã de sopas.
Suspiro, Peter está cortando batatas, então para e vem até
mim. Ele se posiciona entre minhas pernas e descanso minhas
mãos em seu ombro.
— Mas é algo leve e vai ajudar a não passar tão mal.
Faço uma careta.
— Isso é culpa do seu filho.
Ele ri e toca minha barriga que está exposta por conta do
top que estou usando.
— Meu filho? Achei que ele fosse seu também.
Embora minha testa esteja enrugada, meus lábios estão
curvados em um sorriso. Peter se inclina mais um pouco e sua
boca fica a centímetros da minha barriga.
— Hey, você precisa dar uma folga para a sua mãe.
Nós dois seguimos rindo, porém, de repente escuto uma voz
que faz o sorriso em meu rosto desaparecer. Eu me sinto gelada e
meu estômago embrulha.
— Que merda está acontecendo aqui?
Viro-me para o lado, deparando-me com Liv e minha amiga
me encara com um olhar repleto de desprezo.
Um ex-jogador de hóquei foi visto em uma pista de
patinação e ele não estava jogando hóquei, e sim, patinando com
uma patinadora 23 anos mais nova.
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

— Liv.
Peter se afasta de mim depressa e se vira para a filha. Eu a
encaro sem reação. O que eu faço? O que eu digo? Merda, não era
para ela descobrir assim.
— Por que minha melhor amiga está só de top na sua
cozinha? — Liv dá um passo em frente e continua me encarando
com um olhar de desprezo, embora sua pergunta tenha sido
destinada a Peter. — E ele estava falando com sua barriga? Ele te
chamou de mãe?
Dessa vez, ela está falando comigo.
— Eu posso explicar, Liv.
Pulo do banco enquanto minha amiga ri, uma risada sem
humor nenhum.
— Explicar o quê? — Apoia-se na muleta e permanece em
pé. — Vamos, eu estou esperando uma explicação.
Abro a boca, mas nenhum som sai de mim. Peter me encara
e enruga sua testa.
— Você não precisa explicar nada, pequena.
— Oh, meu Deus, vocês inclusive têm apelidos fofos?
Desvio os meus olhos de Peter e olho para Liv.
— Liv...
Sussurro, mas ela balança a cabeça e me interrompe antes
que possa continuar.
— Não fale comigo como se eu fosse uma criança, pois
embora você esteja transando com meu pai, temos a mesma
idade. — A forma como soa magoada me machuca. Sabia que
seria difícil, achava que estava preparada, mas não estou. — Vocês
estão transando, não é?
A forma como a pergunta deixa seus lábios faz com que me
encolha, ela está nos acusando e agindo como se fosse algo sujo.
— Liv, nós precisamos conversar.
Peter dá um passo em frente e Liv balança a cabeça para
ele não se aproximar.
— Eu quero que me responda. — Mantém o olhar magoado
sobre o Peter. — Pai, você está transado com a minha melhor
amiga?
Ela sabe a resposta e apenas quer uma confirmação.
— Olívia.
Peter a chama com um tom de repreensão.
— Agora eu sou a Olívia.
Liv ri e o encara com ressentimento.
— Meghan e eu estamos juntos.
Uma ruga surge em sua testa.
— Desde quando? — Ela não espera Peter responde e volta
a me encarar. — Ele é o cara mais velho do bar? Aquele que você
passou o fim de semana inteiro transando?
Odeio como as palavras soam ao deixar sua boca. Eu me
sinto péssima com suas acusações, não consigo nem elaborar
argumentos, nem explicar que eu não sabia que ele era seu pai.
— Eu conheci Peter lá, mas eu não sabia quem ele era, eu
não sabia que ele era seu pai.
Quase imploro para que ela entenda, mas Liv não se
importa. No momento, ela nem liga com o tipo de sentimento que
está despertando em nós dois, ela só quer nos machucar.
— Por que ela está te chamando de Peter?
Volta a sua atenção para o pai.
— Foi como eu me apresentei a Meghan, Liv, eu também
escondi o motivo de estar na cidade, nós não sabíamos quem
éramos, não sabíamos sobre você.
Peter tenta explicar, mas pela expressão de nojo no rosto de
Liv, ela segue nos julgando.
— Meu Deus, encontrei o seu sutiã perdido na sala.
Desvia seu olhar para mim e odeio a forma como me
encara.
— Liv, não foi proposital.
Ela balança a cabeça negando, ela não quer me escutar.
— Por que meu pai estava falando com a sua barriga? —
Abaixa sua cabeça e encara a minha barriga, no mesmo instante a
cubro com minhas mãos como se isso fosse a proteger do seu
olhar de reprovação. — Além de estar transando com ele, você
está grávida?
— O bebê não tem culpa de nada, Liv.
Defendo o meu bebê, Liv baixa a guarda um pouco e
suspira, como se estivesse chateada.
— Eu nem sabia que você estava grávida.
Ela está magoada por que eu não contei para ela?
— Eu quis te poupar, porque você não estava bem.
Sorri com desdém.
— Essa é a desculpa então? Usaram minha doença como
desculpa para não me contar que estavam transando pelas minhas
costas... vocês são dois cínicos.
Ela consegue me atingir, lágrimas nublam minha visão e dou
um passo em sua direção.
— Liv, você não sabe do que está falando, nós tentamos nos
afastar, só que...
— Só que o quê? Não conseguiu manter a porra das suas
pernas fechadas?
Volto a dar um passo para trás.
— Liv, você está sendo injusta.
Sussurro enquanto suas palavras ecoam em minha mente.
Droga, isso é tudo que queria evitar!
— Você transa com meu pai, esconde isso de mim, finge
que está tudo bem, e não vamos esquecer o fato que vou ser
promovida a irmã mais velha e eu estou sendo injusta? — Ela grita
e seu rosto fica vermelho, tamanha é a sua raiva. — O que mais
vocês estão escondendo de mim? Vão casar e se mudar para o
Alasca?
— Caralho, chega, Olívia.
Peter grita, o que surpreende nós duas. Liv recua e seu
olhar é tomado por mágoa.
— Você está gritando comigo?
Viro-me para Peter e ele está passando a mão pelos fios do
seu cabelo.
— Eu sou seu pai e você está agindo como uma criança.
— Você nunca gritou comigo.
Lágrimas se acumulam em seus olhos.
— Você nunca passou dos limites.
A raiva some dos seus olhos e eles são preenchidos
completamente por uma sombra de ressentimento. Eu me
aproximo de Peter e toco seu braço.
— Peter, está tudo bem.
Ele não precisa brigar com ela por minha causa, não quero
isso. Peter me encara, seu olhar suaviza e o que eu vejo faz com
queira me jogar em seus braços. Nunca alguém me protegeu
assim!
— Não, Meghan, ela não pode falar assim com você, nós
não fizemos nada de errado e precisamos conversar como adultos,
Liv não pode agir como uma criança mimada.
— Eu preciso sair daqui.
Liv sussurra e nós voltamos nosso olhar para ela.
— Liv, eu não queria que você soubesse dessa forma, nós
iríamos contar para você assim que voltasse da viagem com Aaron.
Eu tento mais uma vez me explicar e ela faz um gesto com a
cabeça, afirmando que não quer me ouvir. Liv pega o celular em
seu bolso, seus dedos se movem sobre a tela e leva o aparelho até
sua orelha.
Peter entrelaça minha mão com a sua e aperta meus dedos
contra os seus. Nós dois observamos sua filha falar ao telefone
com alguém, não demoramos a perceber que é com Aaron.
— Você pode voltar e me buscar?... Sim, algo aconteceu...
Obrigada.
Ela dá meia volta e deixa a cozinha. Desvencilho minha mão
de Peter e vou atrás dela.
— Liv.
Ela olha para trás e suspira.
— Meghan, eu preciso de um tempo.
Assinto.
— Só quero que saiba que nunca foi proposital, mas a gente
não sabe por quem vai se apaixonar.
Ela me encara por alguns segundos e eu acho que vai falar
algo, mas por fim apenas se vira e caminha para longe. Meus
olhos se enchem de lágrimas enquanto a assisto sair pela porta da
frente.
Liv sai, bate a porta, eu sinto os braços de Peter me
cercarem, então viro-me e deixo que ele me abrace enquanto
rompo em lágrimas. Eu nem queria estar chorando, mas é mais
forte do que eu, acho que são os hormônios.
Peter nos guia até o sofá, senta-se e ele me segura como se
fosse um bebê. Eu apoio a lateral do meu rosto em seu peito e
traço círculos invisíveis em seu braço.
— Você acha que ela irá nos perdoar?
Minhas lágrimas seguem manchando sua camisa.
— Acho que sim.
— Sinto muito, sei que vocês acabaram de se entender.
Meu choro se intensifica e Peter beija o topo da minha
cabeça.
— Ela irá entender, pequena, só precisa de um tempo.
Eu espero que ele esteja certo.
— Ela é minha melhor amiga, minha família, e vou odiar se
ela nunca mais me perdoar e não quero que ela odeie você ou o
nosso bebê.
Choramingo. Deus, eu pareço uma chorona dramática, mas
não consigo me controlar.
— Ela não nos odeia, Meghan, só é uma situação difícil.
— Você realmente acredita nisso, ou está tentando ser
positivo?
Seus dedos sobem e descem pelas minhas costas em uma
carícia delicada.
— Eu realmente acredito nisso.
Nós ficamos nessa posição por um tempo, Peter envia uma
mensagem para Aaron, Liv está com ele e está bem.
— Você precisa comer, pequena.
As lágrimas já não caem mais pelo meu rosto e faço um
beicinho dramático com meus lábios.
— Eu não quero comer.
— Mas você precisa.
Ele tem razão e é por esse motivo que o deixo me levar para
a cozinha. Peter termina de preparar a sopa enquanto eu me sento
de frente para a ilha que ocupa parte do cômodo.
— Eu me sinto culpada por você ter ficado comigo —
confesso. — Você deveria ter ido atrás da sua filha.
Peter se vira, espalma as mãos no mármore e seu olhar
encontra o meu.
— Não fui atrás de Liv porque ela realmente precisa de um
tempo, essa situação não é convencional, mesmo a pessoa mais
de boa com o universo reagiria mal, pelo menos até assimilar.
Peter tem razão, suspiro e assinto.
— Você tem razão, eu só não queria que fosse assim.
— Tudo ficará bem, eu prometo.
Mesmo que não seja algo que dependa exclusivamente dele,
eu acredito em Peter.
Ele termina a sopa, jantamos na cozinha, limpamos e
finalizamos a noite sentados no sofá que fica na sacada da sala.
Há uma coberta sobre nós dois e trocamos histórias sobre nossa
infância.
E quando vamos para o quarto, Peter faz as mais diversas
promessas enquanto me beija, toca e me possui.
Apesar de querer ficar com Peter pela manhã, volto para
meu apartamento, não vou me mudar enquanto não nos
acertarmos com Liv. Ela não volta nem para o nosso apartamento
e nem para o apartamento do pai, ela segue com Aaron.
É difícil me manter longe dele e continuar sem conversar
com minha melhor amiga. Peter e eu nos encontramos para correr,
almoçar e jantar durante a semana, mas não volto com ele para
sua casa e Liv continua se mantendo distante, e embora tenhamos
enviado mensagens, ela não responde para nenhum de nós dois.
Na quinta-feira, eu não vou de carro para a faculdade,
porque Peter e eu marcamos de nos encontrar para patinar. Eu
vou com Penny para o Campus e após minha última aula, no meio
da tarde, vou até o estacionamento e encontro Peter apoiado
contra seu carro. Ele está usando apenas uma camisa xadrez,
calças jeans e coturnos, já que não está tão frio, e óculos escuros.
Gostoso demais e as garotas que deixam o prédio praticamente
babam quando o enxergam.
Eu vou até ele, paro à sua frente, levo minhas mãos até seu
pescoço e o puxo em minha direção. Peter não hesita e sua boca
cobre a minha. Beijo e mostro que ele é gostoso, mas tem dona.
Peter sorri assim que nos afastamos.
— O que foi isso?
Dou de ombros e limpo o meu batom borrado.
— Você não pode aparecer assim aqui.
— Assim como?
Pergunta enquanto se afasta do carro e abre a porta para
que eu possa entrar.
— Gostoso, todas as garotas estão te olhando.
Ele sorri, toca minha cintura e aproxima seu rosto do meu.
— A única garota que eu quero está bem aqui.
Beija meus lábios rapidamente e quando dá um passo para
trás, seguro sua camisa.
— Ótima resposta e só para você saber, se uma delas
encostasse em você, eu a destruiria.
Ele ri, eu o largo e entro no carro. Peter ainda está rindo
quando ocupa o lugar atrás da direção.
— Não sabia que era ciumenta.
— Nem eu, mas descobri que eu sou.
Suspiro e ele segue rindo. Peter dirige e assim que para de
rir, pergunta como foi meu dia, eu respondo e faço a mesma
pergunta, nós vamos conversando durante o trajeto.
Ao chegarmos, deixamos o carro no estacionamento, Peter
pega nossos patins e de mãos dadas entramos na arena e
seguimos até a pista de patinação.
Patinar é algo que Peter e eu amamos e ainda não fizemos
juntos. É irônico como foi algo que omitimos, ele me escondeu que
é um ex-jogador de hóquei e eu escondi que fazia parte de uma
equipe de patinação.
Não há muitas pessoas na pista, para nossa sorte, então
trocamos nossos tênis por patins e pisamos no gelo. Não posso
fazer nada muito elaborado por conta da gravidez, mas posso
deslizar.
— Eu amo estar aqui.
Confesso enquanto patinamos um ao lado do outro.
— Eu também.
Eu olho para ele e sorrio.
— Você acha que teremos um filho apaixonado por
patinação?
Ele ri e assente.
— Eu diria que tem uma chance de noventa por cento, uma
mãe e uma irmã apaixonadas por patinação e um pai ex-jogador
de hóquei, estará em seu DNA.
Peter está certo e eu consigo imaginar uma garotinha
deslizando pelo gelo.
— Não podemos esquecer do cunhado jogador de hóquei.
Peter faz uma careta.
— Aaron.
— Sim, nossa garotinha nem nasceu e tem um cunhado.
Nós dois tentamos não rir, mas é impossível.
É estranho pensar que os filhos de Liv chamarão meus filhos
de tios, mas é como nossa família irá funcionar e não há
problema nenhum nisso, o importante é o amor. Eu tive uma
família tradicional e foi um desastre.
Peter e eu seguimos patinando, ele é tão natural e o
imagino como um jogador de hóquei, talvez tenha que assistir
algum dos seus jogos.
— Como era ser um jogador?
Ele se vira para mim e soa nostálgico enquanto me
responde.
— Foi a realização de um sonho, sempre sonhei em ser um
jogador, eu fiz a faculdade que meus pais queriam, mas meu foco
era o hóquei e ser um jogador profissional.
Há paixão na forma como fala do esporte. Eu me posiciono
à sua frente e deslizo para trás.
— Você se arrepende de alguma coisa?
A intensidade com que me encara faz com que meu coração
acelere. Ele sempre fez meu coração bater diferente, desde a
primeira vez!
— Antes eu voltaria no passado, mas não faria mais isso,
porque foram meus erros e acertos que me trouxeram até você.
Suspiro apaixonada. Sempre foi impossível me manter
imune a Peter.
— E eu pensando que fui só um deslize.
Segura minha cintura e me puxa em sua direção.
— Você foi o meu melhor deslize, pequena.
E tudo terminou bem!

P.S Menos para mim!

Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

Depois que saímos da arena, paramos em um restaurante


oriental para jantar e após a sobremesa, quando ele pergunta se irei
com ele para o seu apartamento, eu respondo que sim, não posso ir
para o apartamento das meninas, não hoje, não depois do nosso
tempo na pista de patinação.
Eu vou com ele, estar com Peter é tão intenso quanto das
outras vezes, talvez até um pouco mais, porque faz alguns dias que
não estamos juntos, não dessa forma. Seus toques e seus beijos são
capazes de me incendiar, e quando ele está dentro de mim não
estamos apenas fazendo sexo, é amor também. Faz um tempo que
deixou de ser apenas desejo, há sentimento, cumplicidade e uma
necessidade um do outro.
A cada dia eu me apaixono ainda mais por ele!
Durmo com as costas apoiadas em seu peito, seus braços ao
meu redor e suas mãos em minha barriga. Eu poderia ficar aqui para
sempre, mas claro que isso não é possível e quando acordo pela
manhã, sou obrigada a me desvencilhar depressa dos braços de
Peter e correr para o banheiro.
Início o dia debruçada sobre o vaso sanitário, Peter entra no
banheiro e segura meu cabelo. Uma parte de mim não queria ele
vendo essa cena deplorável, uma outra ama o fato de não estar
sozinha.
Escovo meus dentes assim que a ânsia de vômito diminui,
Peter faz o mesmo e após guardarmos as escovas, ele me leva para
um banho. Eu me sinto fraca, então me apoio nele e deixo que lave
meu cabelo e ensaboe meu corpo.
Peter desliga o chuveiro e me seca, apenas enrolo minha
toalha em meus cabelos e faço um biquinho com meus lábios
enquanto ele amarra uma outra toalha ao redor do meu corpo.
— Eu não vou reclamar de ser mimada por você e nem vou
mandá-lo parar, então quando cansar terá que parar por conta
própria.
Ele ri e beija minha testa.
— Eu não irei cansar de mimá-la.
Peter pisca para mim, enrola uma toalha ao redor da sua
cintura e saímos do banheiro. Como não tenho nenhuma aula pela
manhã, visto uma de suas camisas e Peter veste apenas uma calça.
Eu penteio meu cabelo, ele deixa o seu uma bagunça e
vamos para cozinha. Enquanto Peter prepara o nosso café, eu me
sento de frente para a ilha e pego meu celular, assim que o ligo me
deparo com a notificação de uma mensagem de Liv, abro-a no
mesmo instante.
“Hey, Meg, nós podemos nos encontrar para conversar no
horário do almoço?”
Meu coração bate acelerado, digito uma resposta e envio
imediatamente.
“Hey, Liv. Claro, você tem algum lugar em mente para nos
encontrarmos?”
Espero impacientemente por sua resposta, mordo meus
lábios e bato no balcão com as minhas unhas. Liv recebe a
mensagem, mas não a visualiza. Como me enviou ontem à noite,
talvez ainda esteja dormindo, ou não esteja com o celular por perto.
— Aconteceu algo?
Ergo minha cabeça e encaro Peter com um sorriso em meu
rosto.
— Liv me mandou uma mensagem, ela quer conversar
comigo e me chamou de Meg. — Soo animada. — Ter usado meu
apelido tem que ser um bom sinal.
Seus olhos brilham e posso ver a esperança neles.
— Com certeza é um bom sinal.
O celular vibra em minhas mãos, olho para baixo e é a
notificação de uma nova mensagem.
— Ela me respondeu.
“Você consegue me encontrar no Corner Café às 11:45?”
Digito a minha resposta e a envio.
“Eu estarei lá.”
“Ok, até mais!”
É uma mensagem curta, mas é algo. O fato de ir encontrar
minha amiga me deixa ansiosa, Peter termina de preparar nosso
café e se senta ao meu lado. Eu mal consigo tocar nos ovos e
panquecas que preparou.
— Você deveria comer mais.
Faço uma careta.
— Estou enjoada e nervosa porque irei encontrar com Liv, e
se não for um bom encontro?
Minha mão está sobre o balcão, ele a cobre com a sua e a
aperta.
— Dará tudo certo.
Não sei se ele está tentando me convencer ou a se
convencer, mas assinto. Eu como mais um pouco, limpamos a
cozinha e vou até o quarto, troco de roupa, colocando a que estava
usando ontem à noite, Peter veste uma camisa, uma jaqueta,
coturnos, prendo meu cabelo em um coque bagunçado e seguimos
para a garagem.
Peter dirige, minha playlist está tocando e estamos em
silêncio. Estou nervosa e tentando controlar meu enjoo. Levo minhas
mãos até minha barriga, olho para baixo e a encaro.
— Vamos lá, colabore com a mamãe que estou indo
encontrar com a sua irmã.
Peter ri ao meu lado, estende sua mão e toca meu joelho.
— Eu vou esperar por você no carro, se precisar de algo me
ligue.
— Ok.
Peter para do outro lado da cafeteria, inclino-me em sua
direção e ele beija meus lábios.
— Vai ficar tudo bem, pequena.
Assinto e deixo o carro. Atravesso a rua, entro no
estabelecimento, o sino toca, olho ao redor e encontro Liv em uma
mesa para duas pessoas mais afastada da entrada e do movimento.
Não é o lugar ao qual estamos acostumadas a ocupar.
Eu vou até ela com meu coração em disparada. Estou
nervosa e meu estômago está embrulhado. Respiro fundo e diminuo
a distância entre nós duas. Liv está com a cabeça baixa fitando o
celular, ela ergue o olhar ao perceber minha aproximação. Por
alguns segundos, apenas nos encaramos, engulo em seco e abro a
minha boca.
— Oi, Liv.
Forço um sorriso e ocupo a cadeira à sua frente. Odeio o
fato de não me sentir confortável com Liv, ela é uma das minhas
melhores amigas.
— Oi, Meg.
Ela sorri também.
— Como você está?
Pergunto e suspiro aliviada quando Liv me responde de
forma sincera e sem ironia.
— Meu tornozelo ainda está doendo, uma parte minha segue
lamentando o fato de não poder mais patinar, mas estou melhor,
consigo visualizar um futuro e sei que serei feliz. — Seu olhar é bem
mais leve e tranquilo, o que me deixa feliz, eu quero que Liv seja
feliz, eu a amo e desejo a sua felicidade. — E você, Meg?
Mordo minha bochecha e pondero se devo ser sincera, e se
ela reagir mal à minha resposta? Por fim, decido ser sincera, não
posso omitir informações se pretendo ter uma conversa honesta com
Liv.
— Eu estou bem, mas um pouco enjoada, tenho passado
boa parte dos meus dias assim.
Liv sabe que é por conta do bebê, ela não é burra.
— Como você está se sentindo sobre ter que desistir do
nacional?
Dou de ombros.
— Doeu um pouco, mas eu tinha um motivo maior para
desistir, eu amo a patinação, porém, não é a minha prioridade, não é
o que eu mais amo na vida, eu tenho outras prioridades... outros
amores.
Ficamos em silêncio por alguns segundos. Liv segue me
encarando e ela não parece com raiva, mesmo assim estou
apreensiva.
— Você está falando do meu pai?
Não tenho tempo para respondê-la, porque a garçonete se
aproxima, fazemos nossos pedidos e assim que voltamos a ficar
sozinhas, respondo Liv.
— Sim, eu estou falando do seu pai. — Admito, mesmo que
não tenha admitido isso a Peter ainda. — Eu o amo.
Liv assente, fita a mesa e quando volta a me encarar, há
arrependimento explícito em seu olhar.
— Desculpe por segunda, eu fui injusta com você.
Posso enfim ficar calma e um fardo é tirado das minhas
costas ao ouvir sua confissão.
— Está tudo bem, eu entendo sua reação.
Ela assente e morde seu lábio inferior.
— Nunca me passou pela cabeça que uma das minhas
amigas pudesse transar com meu pai. — Faz uma careta. — Foi algo
que nunca cogitei e de repente, vocês estavam ali em um momento
íntimo, meu pai falando com a sua barriga.
Faz uma careta.
— Eu não sabia que ele era seu pai assim como ele não
sabia que eu era sua amiga, ele não me falou seu nome completo e
eu menti a minha idade.
Ela fica em silêncio e me permite explicar. Eu conto como
nos conhecemos, como tentamos nos distanciar quando
descobrimos quem éramos, mas não conseguimos.
— Nós tentamos, porém falhamos. — Suspiro e é a minha
vez de olhar para baixo e fitar minhas mãos sobre a mesa. — Queria
dizer que sinto muito, mas eu não sinto, eu amo Peter e não me
arrependo do que aconteceu entre nós dois.
Tenho receio da expressão que irei encontrar em seu rosto,
mesmo assim volto a encará-la e Liv não parece chateada.
— Foi estranho encontrar vocês, mas o que mais me doeu
foi me sentir traída, eu amo vocês e vocês me esconderam algo
importante. — Um sorriso repleto de mágoa surge em seu rosto. —
Eu perguntei inúmeras vezes se você estava bem e todas as vezes
você me disse que sim, eu sequer sabia que você estava grávida.
— Nós estávamos tentando te proteger, você estava mal por
conta do acidente, como jogaríamos algo assim sobre você? — Faço
uma pausa e suspiro. — Eu tinha medo da sua reação, medo de
perder sua amizade ou colaborar para sua depressão. E sobre a
gravidez, eu descobri há duas semanas, Ava estava comigo quando
descobri e só contei para Penny porque Luke sabia do motivo do
meu desligamento da equipe e queria que ela soubesse por mim.
Fico em silêncio e espero por alguma pergunta sua, mas Liv
se mantém quieta.
— Foi difícil te olhar e saber que estava escondendo algo tão
grande, mas como iria te contar? Você estava recém se recuperando
e se regredisse por minha causa? Você é minha família, Liv, mesmo
antes do seu pai. — Lágrimas nublam minha visão. — Eu me senti
uma traidora, mas não sabia como te contar, meu maior medo era
perder a sua amizade, e ainda é.
Liv olha para o lado, como se estivesse lutando contra suas
próprias lágrimas.
— A semana passada foi um caos, eu descobri sobre a
gravidez, briguei com meus pais, Peter me encontrou e confessou
que iria lutar por mim, mas ele não precisava, Liv... eu já era dele. —
Minha amiga volta a me encarar e sorri. — Nós íamos conversar com
você assim que você chegasse de viagem, não era para você
descobrir como descobriu. Nós dois te amamos e não queríamos te
magoar. Sinto muito, Liv.
— Eu amo meu pai, eu amo você e quero que vocês sejam
felizes. — Não consigo mais me segurar e as lágrimas rompem dos
meus olhos. — Só precisava de um tempo para entender que não
era sobre mim, era sobre vocês.
O choro se intensifica, eu tento me controlar e parar, até
pego um guardanapo da mesa e limpo as lágrimas do meu rosto,
mas é em vão. Droga, eu sou uma bagunça!
— Quem diria que você se transformaria em uma manteiga
derretida, Meghan, logo você, a mais durona de nós quatro.
Ela me provoca.
— Cala boca, isso é culpa do bebê.
Respondo enquanto sigo tentando parar de chorar.
— Pobre do meu irmão. — Vê-la se referir ao bebê como seu
irmão faz com que chore ainda mais, e minha amiga não controla
sua risada.
— Droga de hormônios.
Resmungo.
— Sabe, aposto que será uma péssima grávida, porque
sempre foi uma péssima doente.
Eu nem tento me defender, porque Liv tem razão, sou uma
péssima doente. Nossos pedidos chegam, eu finalmente consigo
parar de chorar, então envio uma mensagem para Peter dizendo que
iremos demorar e que tudo está bem.
“Eu prometi que tudo ficaria bem...”
Sorrio ao ler a sua resposta e Liv faz uma careta.
— O pior de tudo será presenciar a troca de carinho entre
vocês.
Ela revira seus olhos, pego o garfo e o aponto em sua
direção.
— Você e Aaron são extremamente grudentos quando estão
juntos.
Ela dá de ombros.
— Aaron não é o seu pai.
Ela tem um ponto e não tenho como contra-argumentar, sou
obrigada a ficar em silêncio e Liv sorri vitoriosa. O enjoo passou e
consigo comer. Enquanto almoçamos, Liv me faz perguntas sobre o
bebê e preciso me controlar para não voltar a chorar.
Nós conversamos, rimos e não há mais nenhum
ressentimento. Tudo ficará bem, porque o amor é o que nos une. Liv
é uma parte de mim, assim como eu sou uma parte sua e Penny e
Ava também fazem parte da nossa família e é por isso que enviamos
mensagens para as duas assim que terminamos de almoçar.
Elas nos encontram no café no início da tarde, então
mudamos de mesa e ocupamos os nossos lugares preferidos. Liv e
eu em um sofá, Penny e Ava no outro. Pedimos os nossos cafés, o
meu é sem cafeína, e nossas amigas nos encaram com deboche.
— Então, Liv irá chamar você de mamãe?
Ergo meu dedo do meio para Ava e Liv revira seus olhos.
— Como vocês são engraçadas.
Sou irônica e as duas apenas riem.
— Amo que, de nós duas, Meghan foi a mais ousada, ela
conseguiu uma madeira ainda mais velha.
Penny me provoca por conta do termo maria-cupim.
— Acho que eu consegui uma madeira ainda maior.
Faço um gesto com a mão que nós quatro sabemos que tem
conotação sexual. Continuamos nos provocando até que Ava soa
nostálgica.
— Quem diria que nos apaixonaríamos antes de terminarmos
a faculdade?
Sua pergunta faz com que me recorde de quando nos
conhecemos na pista de patinação.
— Nunca imaginei que aquelas garotas um dia se
apaixonariam.
Eu falo com ironia e nós quatro rimos.
— Realmente inacreditável. — Liv concorda com a gente e
suspira. — É um plot twist que eu não imaginava.
Concordamos com ela.
— Eu também não imaginava que nos tornaríamos uma
família.
Penny confessa.
— Eu acho que deveríamos fazer uma tatuagem juntas.
Ava grita animada e a ideia é ótima, nós decidimos que
iremos tatuar um par de patins na nuca assim que eu estiver
liberada para fazer uma tatuagem.
A patinação foi o nosso amor em comum, ela nos uniu e nos
marcou de uma forma única. Não fará parte do meu final feliz e nem
do de Liv, mas nossa amizade? Nossa amizade é para sempre.
E eles se assumiram como um casal. O melhor casal de
todos? (Confesso que eles são os meus preferidos)
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Peter

Escuto o som da porta sendo aberta, mas continuo sentado


no sofá. Eu sei que é Liv, Meghan me avisou que Ava deixaria
minha filha aqui e que ela iria para o apartamento das amigas,
porque Liv e eu precisamos conversar.
— Pai.
Ela grita.
— Na sala.
Grito de volta e não demora para que Liv chegue onde
estou. Meu olhar encontra o seu e não há ressentimento nenhum,
nem mágoa, um peso deixa meu coração e sorrio. Liv também
sorri e se aproxima, ela larga as muletas na poltrona à nossa
frente e se senta ao meu lado, eu passo meu braço pelos seus
ombros e puxo-a em minha direção, Liv não oferece resistência
nenhuma e apoia sua cabeça em meu peito.
— Hey, querida.
Beijo o topo da sua cabeça.
— Hey, pai.
Seguro-a em meus braços como se ela ainda fosse aquela
garotinha indefesa.
— Às vezes eu sinto saudade de quando era apenas uma
garotinha.
Confesso, ela ri e se desvencilha de mim. Liv fica de lado e
me encara com deboche.
— Você sente tanta falta de quando eu era uma garotinha
que decidiu ser pai de novo?
Não há amargura em sua voz, ela só está me provocando.
— Não exatamente, mas não estou lamentando que isso
tenha acontecido.
Liv assente e o deboche deixa seu rosto, ela me encara com
uma expressão mais séria.
— Meghan e eu conversamos... — Morde seu lábio inferior e
procura pelas melhores palavras, eu fico em silêncio, é o seu
momento de falar. — Eu precisava conversar com ela primeiro,
porque no fundo tinha ficado mais magoada com ela do que com
você.
Suspira.
— Você e eu tínhamos nossas questões, você é meu pai, é
claro que você tentaria me proteger acima de qualquer coisa e
talvez até ficasse cego por conta desse amor, mas Meghan é
minha melhor amiga, ela deveria ter me contado.
— Eu tentei te proteger e até tentei me manter longe de
Meghan por sua causa.
Confirmo sua tese e Liv apenas assente.
— Meghan me contou que vocês tentaram se afastar, mas
estou feliz que não conseguiram. — Ergo minhas sobrancelhas
surpreso e Liv sorri. — Eu amo vocês e só quero que sejam
felizes.
— Obrigado e sinto muito que tenha descoberto da forma
que descobriu, eu queria que tivesse sido diferente.
Liv apoia seu cotovelo no sofá e o rosto em suas mãos. Sua
perna com a bota por conta do tornozelo segue esticada.
— Realmente, não foi a melhor forma, mas poderia ter sido
pior, vocês poderiam estar transando. — Ela faz uma careta. —
Isso seria traumatizante.
Eu fico vermelho de imaginar Liv nos flagrando em uma
situação dessas, ela ri e faz um gesto de desdém com a mão.
— Passou, pai, não há mais nenhum ressentimento ou
mágoa. — Encara-me pensativa. — Eu precisei de um tempo para
assimilar que meu pai e minha melhor amiga estão namorando e
vão ter um filho juntos, também precisei superar o sentimento de
traição, mas passou, ficou no passado, eu amo vocês e sei que
vocês me amam e isso é tudo que importa.
Ela está certa, mas ainda há algo que me incomoda.
— Você está certa, mas não deveria ter gritado com você
daquela forma, sinto muito.
— Está tudo bem, pai. — Ela volta a me encarar com
deboche. — Você nunca tinha gritado comigo, no momento eu
fiquei indignada, mas agora acho engraçado, a primeira vez foi
para defender a mulher que ama, fofo da sua parte.
Ela ri e me provoca. Eu a acompanho e sorrio também. E ela
está certa, eu amo Meghan!
— E eu sinto muito por ter sido injusta com você na
segunda.
— Você não foi injusta, duvido que alguém teria reagido de
uma forma diferente.
Defendo-a, mas ela faz uma careta.
— Fui um pouco mimada sim.
Ela está certa e nós dois rimos. Liv se ajeita até estar com
as costas completamente apoiadas no sofá, estica a outra perna e
encara o teto, eu me sento assim como ela.
— Como você está se sentindo sendo promovida a irmã
mais velha?
Pergunto com um certo receio.
— Estou pronta para comprar muitas tiaras e vestidos rosa.
Ela soa animada e volto a respirar normalmente.
— Então você também acha que é uma menina?
— Sim, você e Meg tem jeito de pais de meninas.
Imaginar Liv segurando a irmã faz com que deseje que os
próximos meses passem depressa.
— Sei que já conversamos sobre isso, mas queria te pedir
perdão mais uma vez por não ter sido o pai que você merecia.
Liv se aproxima e se deita com a cabeça apoiada em meu
peito.
— Você é o pai que eu mereço agora, você esteve aqui no
momento que eu mais precisei, você tentou abrir mão da mulher
que ama por minha causa. — Passo o braço sobre o seu corpo. —
Você e Meg serão ótimos pais, os melhores.
Beijo o topo da sua cabeça.
— Você é incrível e obrigado por entender.
— Como eu não entenderia? Eu só quero que você seja feliz,
pai.
Suas palavras ecoam em minha mente e ficamos em
silêncio. Não é desagradável e é como se todos aqueles pedaços
quebrados da nossa relação estivessem sendo colados nesse exato
momento.
— Eu te amo, querida.
— Eu te amo, pai.
Beijo o topo da sua cabeça mais uma vez.
— Você irá continuar morando aqui?
— Não, você e Meghan devem ficar sozinhos, eu vou
continuar com Ava, logo mais Penny também irá se mudar e não
vou deixar minha amiga sozinha.
Queria que continuasse aqui, mas entendo a sua posição.
Nós ficamos mais um tempo em silêncio e algo surge em minha
mente. É uma péssima ideia, mas não consigo esquecê-la. Droga!
— E se eu pedi-la em casamento, você acha precoce?
Liv ri, desvencilha-se de mim e me encara totalmente
surpresa.
— Acho precoce, mas sendo sincera, vocês vão morar
juntos, ter um bebê... — Dá de ombros. — Um pedido de
casamento é perfeito, principalmente porque será ótimo provocar
Meghan, de nós quatro ela irá se casar primeiro, tão imprevisível e
fantástico.
Liv comemora com um brilho em seus olhos.
— Você me ajuda a escolher um anel?
— Claro.
No mesmo instante eu fico em pé e ajudo minha filha a se
levantar. Nós dois deixamos o apartamento, descemos até a
garagem, entramos no meu carro e vamos até a única joalheria da
cidade.
Liv me ajuda a escolher o anel perfeito, delicado, mas ao
mesmo tempo imponente, assim como Meghan. A pedra é um
diamante rosa com alguns outros diamantes ao redor. Uma
pequena fortuna, mas que não faz nenhum impacto na minha
conta bancária.
É fácil saber o tamanho certo, porque, segundo Liv, ela e
Meghan já se emprestaram anéis, o tamanho do dedo das duas é
igual. Minha filha e eu estamos sentados de frente para uma mesa
e assim que o escolho, a vendedora se retira para arrumar o anel
na caixinha e ficamos sozinhos.
— Você acha que ela irá aceitar?
Olho para o lado e Liv sorri.
— Tenho certeza que sim.
— Você está bem com nós dois nos casando?
Ela assente.
— Desde que eu seja uma dama de honra, está tudo certo.
— Não poderia ser outra pessoa.
Ela sorri, beija meu rosto e a vendedora retorna. Eu finalizo
o pagamento e saímos da loja. Eu deixo Liv no apartamento das
garotas e vou para casa.
A sacolinha com o anel fica sobre o sofá enquanto eu
caminho de um lado para o outro. Eu tenho um anel, mas e
agora? Como faço um pedido? Existe um protocolo? Posso ter sido
casado, porém nosso noivado foi uma conversa após descobrirmos
sobre a gravidez.
Apesar de Meghan estar grávida como Eve estava na época,
é totalmente diferente. Eu amo Meghan.
A forma como a conheci ecoa em minha mente, assim como
os momentos que dividimos até esse instante. Ainda não sei como
pedir para ela ser minha para sempre, mas sei como quero
encontrá-la essa noite.
Envio uma mensagem e peço para que ela me encontre no
mesmo bar que nos encontramos pela primeira vez. Ela me liga no
mesmo instante, rejeito a ligação e a envio uma nova mensagem.
“Eu quero você naquele bar, usando a mesma roupa, no
mesmo horário, no mesmo lugar (sentada no mesmo banco) e não
vá de carro”
Ela me responde no mesmo instante.
“Você só irá me falar isso?”
Sorrio ao imaginar a expressão em seu rosto, ela com
certeza está indignada com a falta de informação.
“Sim...”
“Talvez eu esteja lá. Talvez não.”
É a última mensagem que ela me envia e eu também me
mantenho em silêncio. As próximas horas são angustiantes, os
segundos demoram a passar, assisto um jogo de hóquei, porém
não me distrai.
Muito antes do horário, estou pronto e com a caixinha em
meu bolso. Nunca estive tão nervoso na vida e continuo sem saber
como fazer o pedido.
Propositalmente, saio atrasado de casa e ao chegar no bar
Meghan já está aqui, ela está no mesmo banco, de costas, seu
cabelo está preso como naquela noite. Ela está usando a mesma
roupa, como eu pedi. Posso ver a saia curta, as botas tentadoras e
o top que deixa um pouco de pele exposta.
Naquela noite, ela me chamou atenção assim que eu
coloquei meus olhos sobre ela. Algo me puxava em sua direção,
Meghan sempre me deixou hipnotizado, sempre foi ela. Nunca fui
de sair com garotas mais novas, porém, quando a encontrei, eu
soube que precisava dela. Uma necessidade se apoderou de mim e
só ficou mais intensa quando a toquei.
Os pelos da sua nuca se arrepiam quando me aproximo,
mas ela segue olhando em frente, então assim como naquela
noite, eu me sento ao seu lado. Ela se vira para mim, há um brilho
em seus olhos e um sorriso surge em seus lábios pintados de
vermelho.
Caralho, ela será a minha morte!
Seu olhar percorre meu corpo e faço o mesmo com ela.
Gostosa, linda e minha! Detenho-me em suas coxas e preciso me
controlar para não a tocar. Ainda não! Nossos olhares se
encontram e é como se eu encontrasse o meu lar.
— Olá, Peter.
Ela sussurra enquanto segue tentando não rir.
— Olá, Meghan.
Dessa vez pulamos as apresentações. Ela sorri maliciosa e
me mostra o copo que tem em mãos.
— Olha que coincidência, o refrigerante que estava bebendo
acabou.
Faço um sinal para a garçonete, ela se aproxima e peço dois
refrigerantes, hoje nenhum de nós dois irá beber. Meghan gira o
banco, eu faço o mesmo e nossos joelhos se tocam.
Um simples toque que me incendeia, um lembrete a quem
pertenço.
— Você está esperando alguém?
Pergunto, ela morde seus lábios e franze sua testa.
— Sim.
— Quem?
Ela sorri e se inclina em minha direção.
— Um cara.
Não consigo mais me controlar e levo minha mão até seu
pescoço.
— Ele é especial?
— Ele é tudo que eu quero.
Olho em seus olhos, o passado se mistura com o presente e
selamos nosso futuro. Cubro seus lábios com os meus e a beijo. É
um beijo que faz meu coração acelerar, minha pele formigar e
foda-se o que viemos fazer aqui. Tê-la é o mais importante.
Enrolo os fios do seu cabelo ao redor da minha mão, mordo
seu lábio inferior e puxo sua cabeça para trás.
— Vamos sair daqui.
Ela não hesita, pago a conta e deixamos o bar. Temos
pressa, levo-a para o meu carro e Meghan ri assim que estamos
em nossos lugares.
— Esse era o seu plano?
Ela me provoca e dou de ombros.
— Fodam-se os meus planos.
Ela ri mais alto e dirijo depressa para casa. Assim que
deixamos o carro, eu levo minhas mãos até sua bunda e minha
boca encontra a sua. Seguimos nos beijando no elevador e
enquanto entramos no apartamento, tiramos nossas roupas a
caminho do quarto.
Somos dois viciados em busca da droga perfeita e
encontramos um no outro o que precisamos.
Reivindico cada parte sua e ela faz o mesmo comigo. Somos
um dos outro. E não é apenas sexo, talvez nunca tenha sido.
Terminamos a noite em nossa cama, ambos satisfeitos
depois de nos perdemos um no outro, Meghan veste apenas
minha camisa e eu uma cueca, a única luz é a que entra pela
janela.
Seu corpo está praticamente todo sobre o meu, minha mão
está sobre sua barriga e a outra brinca com seus dedos.
— Esse era o seu plano?
— Você bagunçou todos meus planos.
Ela ri da minha resposta.
— Eu amo o som da sua risada. — Viro minha cabeça para o
lado e beijo a lateral do seu rosto. — Aliás, eu te amo e quero
você bagunçando todos os meus planos pelo resto da minha vida.
Sinto-a ficando mais tensa.
— Do que você está falando?
Eu queria planejar algo, mas somos péssimos em planos e
seguir protocolos. Eu me afasto de Meghan, corro até a minha
calça que ficou no corredor, pego a caixinha e volto para o quarto.
Meghan está em pé, como uma deusa sendo iluminada pela
luz da lua.
— Estou falando do para sempre, estou falando em
casamento. — Eu sorrio e me ajoelho à sua frente. — Eu quero me
casar com você, Meghan, você irá se casar comigo?
Um sorriso surge em seu rosto e ele ilumina todo meu
mundo.
— É claro que eu vou me casar com você.
Coloco o anel em seu dedo, jogo a caixinha longe, fico em
pé e a tomo em meus braços. Eu a giro pelo quarto e o som das
nossas gargalhadas ecoam pelo ambiente.
Assim que paramos de girar, Meghan deixa suas mãos em
meu peito e seu olhar encontra o meu.
— Eu amo você — ela me diz, fica nas pontas dos pés e
beija meu queixo. — Você também é o meu deslize preferido,
Peter.
Nunca um fim, sempre um recomeço…

Escândalos e fofocas de Dartmouth

Alguns meses depois

Meghan

Entro em nosso apartamento, as luzes estão apagadas e não


escuto nenhum barulho.
— Peter.
Ele não me responde. Será que não está em casa? Olho ao
redor e posso ver a luz acesa em um dos quartos, um quarto em
específico. Toco minha barriga.
— O que seu pai está aprontando, hein?
Tiro meus tênis, eu fico de pés descalços, deixo a mochila
sobre o sofá e sigo na direção da luz. Ele deve estar tão concentrado
que sequer me ouviu chamá-lo.
Abro a camisa xadrez de Peter que estou usando, é a única
coisa que me cabe e está um pouco apertada. Eu estou enorme e
ainda falta dois meses para a data prevista do parto!
Eu vou até o quarto, abro a porta e Peter está de costas,
abaixado enquanto lê o manual do berço que está tentando montar.
Ele se vira e meu olhar encontra o seu.
Ele sorri e fica em pé. Seu cabelo está uma bagunça,
denunciando que passou sua mão muitas vezes pelos fios. Ele não
está vestindo uma camisa e suor brilha em seu peito.
Comprimo meus lábios um no outro para não rir, mas não
consigo me controlar e acabo rindo. Faz uma semana que Peter está
tentando montar esse berço. Ele franze a testa e caminha em minha
direção.
— Não estou entendo o motivo da risada.
O bebê em meu ventre reconhece a voz do pai e sinto um
chute contra minha pele.
— Você sabe o porquê estou rindo.
Peter sabe o motivo, apenas está sendo cínico. Ergo minhas
sobrancelhas e ele balança a cabeça.
— Você não deveria rir do seu marido.
Assim como acontece quando eu lembro que somos casados,
uma onda de excitação percorre o meu corpo, o sorriso inclusive
desaparece do meu rosto. Peter toca minha cintura, curva-se e sua
boca paira a centímetros da minha orelha.
— Eu amo que eu sei exatamente como te deixar sem
palavras.
Trago minha mão até seu peito, respiro fundo e recobro um
pouco da minha razão, o suficiente para encontrar uma maneira de
provocá-lo.
— Você deveria contratar alguém para ajudá-lo.
Peter dá um passo para trás, afasta sua boca da minha orelha
e estreita seus olhos em minha direção.
— Quem vai montar o berço da minha filha sou eu.
Eu desvio os olhos dele e olho ao redor, o quarto da nossa
pequena está um desastre; há ferramentas espalhadas pelo cômodo
e uma parte muito pequena do berço está montada.
— Faz uma semana que você está tentando.
Não quero pressioná-lo, mas preciso do berço para ajeitar o
resto do quarto, pois além de ferramentas há sacolas e caixas
espalhados pelo cômodo.
— Estou perto de conseguir. — Suspiro, seu olhar encontra o
meu e ele toca minha barriga. — Relaxe, pequena, tudo está sob
controle.
Faço um biquinho com meus lábios.
— Só lembre-se de que precisamos desse berço para que ela
possa dormir.
Peter ri, beija minha testa, passo o braço pelo meu ombro e
me guia para fora do quarto da nossa garotinha.
— Como foi sua aula?
Ele e eu caminhamos até a sala.
— Um pouco entediante, é péssimo ter que ficar saindo a
todo instante da sala de aula para ir ao banheiro.
— Falta pouco, pequena.
Beija a lateral da minha cabeça e a garotinha volta a pular em
minha barriga, ela é tão puxa-saco do pai. Suspiro e levo minha mão
até ela.
— Ela está agitada?
— Ela não estava, mas foi só ouvir a sua voz...
Peter nos para a alguns centímetros do sofá, abaixa-se, fica
de joelhos e aproxima sua boca da minha barriga.
— Hey, garotinha, como você está? — Sua mão encontra
minha pele exposta pelo top que estou usando embaixo da camisa,
nossa garotinha chuta sua mão e ele sorri. — Eu também te amo.
Eu amo quando ele fala com nossa garotinha. Eu amo tudo
sobre Peter, cada detalhe dele!
Eu amo como ele me ama, amo o quanto ele ama nossa
garotinha, amo o fato de ele ter topado se casar comigo há dois
meses em Las Vegas, apenas ele, eu, minhas amigas e os seus
namorados. Foi perfeito!
Peter volta a ficar em pé. Ele para ao meu lado, apoio parte
do meu corpo contra o seu e ele encosta sua testa na lateral do meu
rosto, acaricia minha bochecha enquanto eu seguro minha barriga.
— E eu te amo, pequena.
Fecho meus olhos e sorrio.
— E eu amo você, grandão.

Alguns meses depois


Peter

Acordo, abro meus olhos e alguns raios de sol se infiltram


pelas frestas da cortina. Escuto o choro de bebê, o choro que me
despertou do nosso cochilo. Meghan e eu estamos tentando nos
adaptar ao horário maluco
Olho para o lado e Meghan não está aqui, no seu lugar sobre
o seu travesseiro está a babá eletrônica e um bilhete. Sento-me e
pego o papel.

“Eu precisei sair e já volto. Bjs e amo vocês ❤ ️”

Nossa garotinha volta a chorar, eu pego a babá eletrônica e


vou até o seu quarto. Mazie está em seu berço, o berço que eu
demorei duas semanas para montar, mas enfim consegui.
— Hey, princesa, eu estou aqui.
Deixo a babá eletrônica sobre a cômoda e vou até ela. Há
muitas lágrimas escorrendo pelo seu pequeno rostinho. Eu a tiro do
berço e dou algumas batidinhas em seu bumbum.
— Pronto, o papai está aqui.
Aos poucos, enquanto a embalo, seu choro diminui de
intensidade, transforma-se em um choramingo. Beijo a lateral da sua
cabeça e a levo até seu trocador, coloca-a deitada sobre ele e para
de resmungar, apenas mantém seus olhos verdes em mim.
— Vamos trocar essa fralda? — Faço uma careta. — Você está
uma princesa muito fedida.
Toco sua barriga com a ponta dos meus dedos e ela sorri com
a carícia. O sorriso banguela que eu amo.
— Você, sua mãe e sua irmã são as detentoras do meu
coração, sabia? — Abro o seu body. — Eu faria qualquer coisa por
vocês, espero que consiga demonstrar todos os dias o quanto eu te
amo, falhei com a sua irmã, mas ela é uma garota incrível e me
perdoou, aliás, você tem sorte de tê-la.
Eu converso com Mazie enquanto troco a sua fralda.
— Liv sempre irá te proteger, sei que existe uma enorme
diferença de idade entre vocês, mas espero que sejam amigas. —
Sorrio quando um pensamento cruza minha mente. — O bom é que
ela será um pouco velha para levar você para festas.
Mazie sorri, como se estivesse me entendendo.
— Você é muito inteligente para uma garotinha de quatro
meses. — Jogo a fralda suja no lixo. — A garotinha mais inteligente
do universo.
Limpo-a, jogo talco na sua bundinha e coloco a nova fralda.
Fecho os botões do body e a trago para o meu peito.
— Limpinha. — Ela chupa seu dedo e sei o motivo. — Você
está com fome, não é?
Busco uma das mamadeiras com o leite que Meghan
bombeou na geladeira e vou para a sala, sento-me no sofá, deixo
Maize deitada em meus braços e aproximo o bico da mamadeira dos
seus lábios, ela não parece muito animada.
— Sei que prefere sua mamãe, mas ela precisou sair.
Mesmo contrariada, chupa o bico da mamadeira.
— Onde está a sua mamãe, hein? Ela não te contou? —
Seguro sua mão e ela aperta o meu dedo. — Pois é, o papai também
não sabe.
Seus olhos verdes seguem abertos, me encarando.
— Nós aproveitamos que hoje é sábado e você dormiu para
deitarmos um pouquinho também, é uma péssima ideia ir dormir às
cinco horas da tarde? É, porém você tem nos deixado bem exaustos.
— Maize larga meu dedo e passo a ponta dele pela sua testa. — E
quando acordei, sua mãe simplesmente não estava na cama.
Sigo conversando com minha garotinha e assim que ela
termina de mamar, posiciono a mamadeira em pé sobre a mesinha
de centro e me levanto.
Deixo Maize em pé em meu colo, com a barriga apoiada em
meu peito e o rostinho em meu ombro, dou leves batidinhas em
suas costas até ela arrotar.
— Ótimo, querida.
E é nesse momento que escuto a porta sendo aberta e
segundos depois, Meghan entra na sala. Ela está vestindo um top
branco e tem uma das minhas camisas jogadas por cima e uma
calça preta, mas é seu cabelo e a maquiagem em seu rosto que me
chamam atenção.
— Você está linda.
— Você se esqueceu, não é?
Ergo minhas sobrancelhas enquanto ela caminha até nós.
Meghan para à minha frente, levo minhas mãos até suas costas e
me inclino em sua direção.
Seu olhar segue sendo misterioso e seus lábios estão
curvados em um sorriso. Apoia uma das suas mãos nas costas de
Maize e a outra nas minhas costas.
Ela está usando um gloss, seus lábios estão uma tentação, eu
não resisto e a beijo. É Meghan a pôr fim no beijo, ela se afasta
alguns centímetros e seu corpo fica de lado, eu mudo Maize de
posição, seguro-a em meu braço e apoio minha testa na testa de
Meghan.
— Eu estava em um salão, em breve Liv e Aaron estarão aqui
para ficar com Maize e sairemos para um encontro. — Ela sorri
enquanto eu tento me lembrar do que estou esquecendo. — Hoje
faz um ano do deslize perfeito.
Finalmente acaba com meu tormento. Suas palavras ecoam
em minha mente e me dou conta do que esqueci.
— Faz um ano que nos conhecemos.
Ela assente.
— Você se arrepende de algo?
Pergunta enquanto mantém os olhos presos aos meus.
— Como eu poderia me arrepender? — sussurro. — Se você é
o melhor deslize que já aconteceu em minha vida.
Essa é a minha despedida desse jornal, peço desculpas a
todos que ofendi nos últimos anos. (E não, eu não me arrependi
de nada do que eu escrevi)
Escândalos e fofocas de Dartmouth

Meghan

— Essas são as últimas caixas.


Liv decreta e ergo minhas mãos para os céus.
— Até que enfim.
Penny e Ava também comemoram. Estamos exaustas, faz
muitos dias que estamos encaixotando e desocupando o
apartamento. O apartamento que dividimos por alguns anos.
Penny e eu não moramos mais aqui, e Ava e Liv passam muito
mais tempo na casa dos meninos, mesmo assim o mantemos. Era
aqui que nos reunimos quando queríamos fugir dos meninos, ou
apenas nos encontrar, só as garotas.
Agora estamos formadas e chegou o momento de deixar
Hanover. Peter vendeu esse apartamento, assim como o nosso
apartamento e estamos nos mudando para Boston.
As caixas estão no lugar onde ficava o sofá, Liv empilha a
última e se aproxima de mim. Penny e Ava fazem o mesmo e
encaramos a nossa sala enquanto estamos de pé uma ao lado da
outra.
— Eu vou sentir falta desse apartamento.
Penny exclama e suspira.
— Eu também. — Concordo com Penny e suspiro também.
— Em cada canto desse lugar há uma história.
Olho ao redor do nosso antigo apartamento após a minha
frase.
— Há muitas lembranças aqui.
Ava está certa.
— Vivemos momentos incríveis aqui.
Liv complementa, então nos abraçamos e precisamos nos
segurar para não chorar. O que põe fim em nosso momento
nostalgia são gritinhos infantis.
Uma garotinha de quatro anos cruza correndo por nós
quatro e uma outra de um ano e meio tenta acompanhá-la. Elas
são o sinal de que somos outras pessoas, que não é um fim,
apenas um recomeço.
Nós nos encaramos e sorrimos. É um adeus a Hanover, mas
continuamos em Boston, poderíamos cada uma seguir seu
caminho, mas somos uma família. Peter e eu decidimos ir para
Boston assim que Aaron foi convocado para o time de hóquei da
cidade e Liv deixou claro que iria com ele, Peter irá trabalhar na
sede do banco de lá e eu vou abrir a minha galeria de arte.
Matteo, Ava, Luke e Penny são os melhores da patinação,
eles obtiveram inúmeros convites e escolheram a equipe de
patinação de Boston. Amanhã viajaremos todos para lá, hoje é a
nossa despedida da cidade.
Matteo, Luke, Aaron e Peter sobem para buscar as últimas
caixas. Eu encaro meu homem usando um boné e todo suado e
tenho vontade de pular sobre ele.
— Você deveria ter mais respeito, Meghan.
Liv me dá uma cotovelada. Eu aponto a língua em sua
direção, Peter ri e pega uma das caixas e assim que eles descem
com o restante da mudança, eu pego Maize, Penny pega Maddy,
então juntas desligamos a luz e deixamos o local.
Os meninos terminam de carregar o caminhão e vamos até
o hotel onde estamos hospedados. Peter e eu tomamos um banho,
eu me arrumo, deixo Maize com ele e vou me encontrar com as
meninas.
Nós nos encontramos no lobby do hotel e caminhando
vamos até Corner Coffee, tomamos nosso último café, recordamos
nossos últimos cinco anos, rimos e nos provocamos, e no final da
tarde vamos até um estúdio de tatuagem. Finalmente marcamos
em nossas peles o amor pela patinação. Em nossas nucas
tatuamos os nossos patins.
Saímos do estúdio quando está anoitecendo, chamamos um
táxi e vamos até a Arena Thompson. Chegamos e com o coração
acelerado caminhamos na direção da pista de patinação.
Os meninos já estão com as nossas garotinhas no gelo. E é
em Peter com nossa filha em seus braços que me concentro. Ela
está rindo alto enquanto ele desliza pela pista.
Nós colocamos nossos patins e nos juntamos a eles. Eu vou
até o homem que amo e que possui meu coração, ele me beija e
só nos afastamos quando Maize chama nossa atenção, então nos
separamos e beijamos suas bochechas.
Eu estou feliz como nunca pensei que seria!
E quando olho ao meu redor, encontro a minha família. Eu
encaro minhas amigas e nós quatro sorrimos. É aqui que tudo
começou e é aqui que tudo termina.
E foram felizes para sempre...

P.S Eu fiquei sabendo que andaram questionando sobre a


minha identidade e ainda não é o momento de me revelar... ainda
não, mas em breve.
Escândalos e fofocas de Dartmouth
Hey, gente!

Mais um livro e dessa vez, é um encerramento de série. Eu


estou tão feliz, com um sentimento de dever cumprido e desde já
com uma saudade imensa das minhas meninas.
Amei escrever Meghan e James, mesmo que eles tenham me
dado um trabalho no final, mas deu tudo certo e isso é tudo que
importa. Espero que eles conquistem você e estou esperando pelas
avaliações, feedbacks e mensagens no insta (lanasilva.sm).
Muito obrigada a todos vocês que toparam conhecer as
meninas de Dartmouth, obrigada por confiarem no meu trabalho,

❤️
por terem me permitido compartilhar mais uma história com vocês.
Vocês são incríveis e sem vocês jamais estaria aqui

Sobre as pessoas especiais e incríveis que me ajudaram nesse


livro, sem elas Peter e Meghan nunca teriam chegado até vocês, às
vezes ser uma autora é solitário, porém algumas pessoas entram em
nossas vidas e são exatamente o que precisávamos. Karine,
obrigada por ter ficado até às seis da manhã aqui comigo trazendo
esse livro pro mundo.
Minhas betas incríveis: Liv, Larissa, Priscylla, Erika, Marina e
Becca obrigada pela paciência e pelo apoio. Maria Eduarda, Júlia
Falcão e Silvia, obrigada por terem sido muito além de betas nesse
lançamento, sei que nosso projeto secreto só inicia em maio, mas
desde já vocês têm sido perfeitas.
Sobre a série. Eu amei escrever os quatro livros, amo
patinação há muito tempo e escrever sobre o tema foi um sonho,
uma realização e quero agradecer a cada um que embarcou nessa

realidade. Muito obrigada ❤


comigo. Mais uma vez, vocês transformaram meus sonhos em
️.
(E sobre o autor (a) do jornal, Alex e Paul, ainda não me
decidi, por enquanto não, mas talvez um dia).
Mais uma vez, muito obrigada, e espero vocês em Maio com
um outro universo e uma nova aventura.
Lana Silva, 26 anos, gaúcha de Santa Maria – Rio Grande do
Sul. Formada em Engenharia Civil, mas nunca exerceu de fato a
profissão. Começou a ler por conta da saga Crepúsculo e a
escrever por conta de Sussurro. Autora de mais de 20 livros,
apaixonada por comédias românticas e livros com esportes. Em
seus livros você sempre encontrará muito romance, cenas fofas e
protagonistas rendidos. Seus objetivos com suas histórias são uma
leitura leve, animada e que resulte em muitos suspiros.
Amor & patins – Livro 1
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