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Copyright 2023 Luana Oliveira

Título: O NOVO EMPRESÁRIO DA POPSTAR


Escrito por Luana Oliveira

Capa(arte): Design Tenório


Diagramação: C. Oliveira
Revisão: Evelyn Fernandes
Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios, sem o consentimento do(a)
autor(a) desta obra.
Texto revisado conforme o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
NOTAS DA AUTORA:
PRÓLOGO
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EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
Olá, caro leitor! Seja bem-vindo ao O Novo Empresário da Popstar,
uma comédia romântica +18 que promete esquentar seu coração e lhe
arrancar as risadas mais sinceras.
Você está preparado para prosseguir na jornada de Michaela
McKenna e Alexander Russell? Você está preparado para viajar para Los
Angeles e fazer os melhores passeios de jatinho? Está preparado para se
apaixonar por uma criança fofa que é superfã de uma das maiores cantoras
da atualidade? Porque, se sua resposta for sim, você acabou de aterrissar na
história perfeita que eu sei que tanto precisava.
Mas antes de te deixar fazer parte desse show com a minha popstar,
preciso te dizer que, por se tratar de uma comédia romântica, esse livro não
tem nenhuma intenção de passar grandes mensagens e grandes lições.
Leitor, não espere muito drama, não espere muitas reviravoltas, mas espere
muitas cenas engraçadas, muito clichê, muito romance e muito hot. Está
diante de um verdadeiro cura ressaca com aquele famoso casal cão e gato
que amamos.
É tão cura ressaca que é super levinho, sem grandes gatilhos. Pode
ler tranquilamente, pois o livro foi pensado unicamente e exclusivamente
para que se divirta.
É exatamente o que desejo quando prosseguir para as próximas
páginas.
Sendo assim, uma ótima leitura e que a música te acompanhe
sempre.
Boa jornada.
Te espero em breve no fandom da Michaela McKenna.
“Há uma áurea deslumbrante, um tom misterioso em você, querido
Eu te conheço há 20 segundos ou 20 anos?”
— TAYLOR SWIFT
Para todos aqueles que, além dos livros, usam a música de escape.
“Eles dizem que eu fiz algo ruim
Então, por que foi tão bom?
Eles dizem que eu fiz algo ruim
Então, por que foi tão bom?
Nunca me diverti tanto
E eu faria de novo, de novo e de novo se eu pudesse”
I DID SOMETHING BAD — TAYLOR SWIFT

— Ansiosa para conhecê-lo, querida?


— Hummm... claro. — As palavras se embolam na minha língua
quando, enfim, respondo ao meu pai, que está sentado do outro lado da
mesa usando terno, gravata e com os cabelos escuros assentados
perfeitamente com gel, talvez para parecer mais sério, já que a ocasião
pede. — Não vejo a hora desse encontro acontecer, uhul — emendo,
fingindo um entusiasmo que eu definitivamente não estou sentindo no
momento, mas com direito a soquinho no ar e tudo, só para não decepcioná-
lo.
A verdade é que, mesmo sabendo da importância desse momento
para mim e para a minha carreira, não estou conseguindo disfarçar a minha
ressaca. Quer dizer, para os meus pais, que não sabem de nada do que andei
aprontando na noite passada, eu até que consegui ocultar muito bem com a
maquiagem que fiz questão de caprichar para cobrir as olheiras e o rosto de
morta-viva saída diretamente do elenco de The Walking Dead que eu estava,
após me levantar da minha noite maldormida, porém, para mim mesma, não
posso negar o quão péssima e acabada estou.
Por fora, não.
Por fora, eu estou belíssima, totalmente apresentável, como sempre
ando nos lugares.
Agora, por dentro, céus, eu estou horrorosa. Uma verdadeira
bagunça caótica. Estou com dor de cabeça, meu estômago está revirando
por eu não ter ingerido nada desde que acordei, minha boca está seca, eu
ainda estou com sono e, sinceramente, não faço ideia de como estou
conseguindo manter meus olhos abertos, sem bater a cara na mesa durante
essas cochiladas acordadas que dou vez ou outra.
Acho que é porque, no fundo, estou me forçando a isso, a ficar
acordada, a me manter aqui presente.
Posso ter cometido a maior besteira ontem, quando achei que podia
me aventurar como qualquer garota comum da minha idade costuma fazer
quando sente vontade de sair, no entanto, agora eu tinha voltado ao mundo
real, ao meu mundo real, e quando a coisa era mesmo séria e se tratava de
trabalho, de algo que eventualmente me ajudaria em um futuro próximo,
não havia escapatória, eu tinha que deixar qualquer coisa que não fosse
importante para trás, focar e me concentrar no que era exigido de mim.
Esse momento, diferente da noite passada que foi uma loucura, um
evento caótico que pode colocar tudo a perder e é por isso que só deve ser
realizado uma vez na vida, é um daqueles realmente muito importantes. É
um enorme passo para mim. Um que vai fazer com que a minha estrela
brilhe ainda mais. E meus fãs vão amar a novidade superbombástica ao meu
respeito que está por vir.
Sim, mais uma.
Mas essa pelo menos é das boas.
E é por isso que preciso ignorar os sinais estúpidos dessa ressaca
estúpida querendo comer o meu juízo.
Não tem dor de cabeça.
Não tem nada.
Eu estou bem.
Estou bem.
— Ele está meio atrasado, não? — mamãe é quem pergunta, me
despertando mais uma vez. Bocejo sem que percebam e vejo quando ela
confere seu relógio depois de arregaçar a manga do seu blazer branco, o
típico que gosta de usar nas nossas reuniões mais importantes. — Porque
ele disse que estaria aqui às 11h em ponto. Já são 11h10.
— Deve ter acontecido alguma coisa. — Dou de ombros, tentando a
todo custo me manter viva na conversa. — Sei lá, não criem paranoias,
ainda está cedo e o homem deve estar chegando. A propósito, qual é o
nome dele mesmo?
— Alexander Russell — os dois dizem em uníssono. — Mais
conhecido como Alex Russell, mas somente para os íntimos — meu pai
completa à medida que afrouxa a gravata no pescoço, parecendo mais
nervoso só por ter mencionado o nome do cara.
E eu, diferente dele, faço um biquinho impressionado nos lábios.
Alexander Russell.
Alex Russell, repasso mais uma vez em minha mente.
É um nome bonito. Imponente. Importante.
E de fato é, não tem como dizer o contrário.
Alexander Russell é um grande empresário. Ele gerencia a carreira
de várias celebridades que foram e ainda são importantes no meio artístico.
Já ouvi falar muito a seu respeito, mesmo esquecendo boa parte das coisas,
afinal, não sou muito boa de memória, e nesse estado em que me encontro,
fico pior. Sem contar que essa parte processual, a que costuma ficar por trás
de um grande artista, nunca me interessou. Eu só quero saber de compor, de
cantar, de tocar, de ter fãs, ganhar prêmios, lotar estádios. Todas as outras
coisas ficavam com os meus pais, que, até então, eram os meus
empresários, que administravam e tomavam conta da minha carreira.
Eu vim do YouTube, postava covers, e quando o meu nome estourou
e eu saí da bolha, eles foram os primeiros a me ajudar. Conseguiram um
contrato com uma gravadora importante e, quando me lançaram
oficialmente na indústria musical, até tentaram aguentar a pressão do
fenômeno que de uma hora para a outra me tornei, entretanto, fugi tanto do
controle deles que ambos perceberam que não tinha mais jeito, eu
precisava, necessitava, de um gerenciamento muito mais sério e muito mais
profissional. E isso para que eu continuasse no topo e não me perdesse no
meio do caminho.
Não quero parecer desumilde, mas sou uma das cantoras teens mais
influente dos Estados Unidos. Com milhões de seguidores nas redes sociais,
bilhões de visualizações em vídeo clipes e uma fanbase altamente engajada
e apaixonada, eu, Michaela McKenna, fiz história já no meu primeiro
álbum lançado, mesmo tendo dezenove anos na época. Foi algo
estratosférico. Ninguém acreditou.
LUNATIC, o álbum que consagrou o que sou hoje, além de estrear
em primeiro lugar na Billboard 200, uma das maiores paradas do país,
também foi um dos poucos álbuns a permanecer mais tempo charteando no
top 10, acumulando nada mais, nada menos do que quarenta e oito semanas
intacto, sendo cinco consecutivas no topo, o que fez com que vários e vários
hits explodissem pelo mundo afora, espalhando a minha voz, a minha arte e,
por consequência, meu nome e minha imagem para todos os tipos de
pessoas.
Viralizei na internet, nas rádios, nas televisões, em todos os cantos.
De pouco conhecida, me tornei extremamente famosa e compareci a
lugares que Beyoncé, Rihanna, Lady Gaga, Taylor Swift e quase todas as
minhas musas da adolescência iam. Conheci e fiz amizade com várias delas.
Além de ter sido destaque em premiações, red carpets e matérias na
imprensa, claro.
Nossas vidas mudaram, minha e de toda a minha família, e mesmo
que eles tenham ralado duro e feito um ótimo trabalho, estava na hora de
me entregarem na mão de outra pessoa mais competente. Não que eles não
fossem, eles eram, bastante, aprenderam e estudaram sobre esse mundo
junto comigo, fizeram muitas portas se abrirem nesses meus quase dois
anos de carreira, porém estavam exaustos, diziam que eu estava indo para
um patamar que não os cabiam mais.
Meu próximo álbum tinha que sair em breve, as fofocas com o meu
nome tinham que dar uma amenizada, já que eu aprontava demais para o
gosto deles, e foram em Alexander Russell que viram a perfeita
oportunidade de eu não perder o meu legado de popstar por bobagem ou,
talvez, falta de um conhecimento mais profundo da parte deles.
Como confiava nos meus pais, deixei que entrassem em contato com
o homem e marcassem tudo, inclusive essa reunião na nossa casa.
Eu sabia que ele era ótimo, eu tinha dado uma pesquisada por cima.
Não tinha visto fotos, Russell parecia não gostar muito desse tipo de
exposição, mas me recordo de ter lido sobre a sua história e a forma certeira
de como agencia a carreira de suas celebridades.
Sei que são nomes bem fortes. Nem consigo acreditar que serei um
deles.
Bom, às vezes, quase sempre, nem consigo acreditar que estou
realizando meu maior sonho. Nem consigo acreditar que tive tanta sorte,
que pessoas se identificaram comigo, com a minha arte e hoje me
acompanham e me amam da forma mais genuína possível.
Nem consigo acreditar que também me tornei rica, e, mesmo sempre
morando a vida toda em Los Angeles — o que provavelmente facilitou
mais as coisas também —, passei de um bairro desprezado para um
totalmente renomado.
Porra, como posso ter ganhado na loteria assim tão jovem?
E como posso estar sonhando e divagando tanto?
Certeza que é por causa do meu primeiro porre, que foi ontem, no
caso.
Percebi da pior forma possível que álcool e eu não combinamos.
Mas foi tão bom, a vozinha do meu subconsciente cantarola.
Com medo que escutem meus próprios pensamentos, me ajeito na
cadeira, alinho a minha coluna, aprumo os ombros e limpo a garganta, tudo
ao mesmo tempo.
Graças ao meu próprio lado perverso, acho que dessa vez, desperto
de vez.
— 11h15 — Antonella, minha mãe, informa, ainda de olho no
relógio, cronometrando o tempo do meu mais novo empresário. — Se der
11h20 e Alexander não tiver chegado, nós vamos ter que ligar para ele. Já
pensou... — Conforme dá uma pausa, seus olhos se arregalam nas órbitas.
— Ele... ele... desistiu?
Conrad parece ficar pálido na mesma hora ao ouvir sua esposa.
Não consigo não revirar os olhos.
— Meu Deus, vocês pelo menos deveriam fingir que não estão tão
desesperados assim para se livrarem de mim. Eu ainda vou permanecer
sendo filha dos dois, sabiam? Não vão ter como enfiar essa
responsabilidade também em Alexander, sinto muito. Se pensam que vou
desaparecer, estão muito enganados.
— Desculpe, querida. — Papai tenta sorrir. Tenta. Não funciona
muito bem. Ele parece um pouco desesperado. — É que você não é uma
pessoa muito fácil de lidar.
— Ei, Conrad, não fale assim com ela — mamãe parece querer
repreendê-lo, mesmo que tenha um tom divertido em sua voz, e ela fica
querendo fingir que não tem. Transformo meus olhos em fendas, sabendo
que ela também tem essa opinião. Fazer o quê, eu realmente sou
incontrolável, assumo. — Michaela é maravilhosa, lidar com os problemas
dela enquanto é nossa filha ainda vai, agora ter que lidar com o mundo todo
sabendo, aí não. Fiquei para enlouquecer ou infartar um milhão de vezes
nesses quase dois anos, agora eu só quero férias na praia da Califórnia.
— Eu também. Preciso surfar, faz tempo que não vejo a água do mar.
— Papai, que mentira. Assim faz até parecer que estava em cárcere
privado.
— Quase isso.
Meu queixo praticamente vai ao chão.
— Vocês são dois falsos que não me amam.
— Não, querida, não diga isso. — A voz doce de Antonella alcança
os meus ouvidos. — Amamos você, a Michaela, mas estamos de saco cheio
da Michaela McKenna. Ela é ótima, só é extremamente cansativa e
problemática.
— Espero que Alexander dê um jeito em você o quanto antes —
Conrad diz, e ao falar do empresário desaparecido, parece entrar em
desespero de novo, passando a mão pela testa. — Antonella, meu amor, já
são 11h20.
— Vou ligar...
E antes que mamãe consiga alcançar seu telefone, a campainha
ressoa pelo ambiente.
Estremeço, e tanto um quanto o outro paralisam.
Quando nossos funcionários vão abrir a porta, eles se levantam
rapidamente, e eu só faço o mesmo ao ouvir a voz masculina, grave e
aveludada se aproximando.
Não sei o que diabos dá em mim, mas eu pulo para o chão, fingindo
que estou procurando um brinco que deixei cair.
Não deixei, eles estão paradinhos e bonitinhos nas minhas orelhas.
Antonella e Conrad me veem e lançam olhares do tipo: “o que pensa
que está fazendo? Levante-se já daí agora, Michaela!”
Eu os ignoro, de repente nervosa, continuando a tatear o chão
mesmo sem ter nada que eu possa pegar nas mãos. Eles também nem
conseguem falar mais nada, pois o tal Alexander Russell aparece,
agradecendo a pessoa que o trouxe até aqui.
— Antonella, Conrad, desculpem o atraso, tive um problema com o
meu carro. — Me arrepio. Não sei por qual razão isso acontece, mas
acontece. E é forte. Seu timbre de voz é forte, gutural e sério. Muito sério.
— Espero que saibam que sou pontual e detesto atrasos.
— Nós sabemos.
— Isso, nós sabemos — minha mãe repete o que o meu pai acabou
de mencionar.
E então, de repente, um silêncio.
Parece que só se escuta a minha respiração e o meu coração
martelando as minhas costelas.
Ouço passos de sapatos caros pairando atrás de mim.
Se antes eu estava respirando profundamente, agora eu prendo todo
o ar nos meus pulmões.
— Michaela? — Fecho os olhos, praguejando baixinho. Merda, é
ele. E por que raios eu me enfiei nessa situação maluca? E por que raios eu
tenho que ser tão impulsiva sempre com as piores ideias? — Por que está
parada aí desse jeito?
Xingo mais uma vez só para mim antes de me levantar.
— Ah, é que meu brinco caiu e eu...
As palavras somem, provavelmente junto com a cor do meu rosto
quando meus olhos esbarram com toda força nos seus.
Fico pálida, zonza, e dessa vez tenho certeza que não é por causa da
ressaca.
Esses olhos. Esse rosto. Esse corpo.
Porra, eu me lembro.
Me lembro muito bem, principalmente porque os flashes da noite
passada pipocam em minha mente, não me fazendo esquecer.
Sua mão. Sua respiração. Seu toque. Seus… lábios.
Tudo está tão vívido. Tão recente.
Ele segue me olhando, e parece confuso, tentando entender minha
reação, o horror perpassando pelas minhas íris.
Se eu fosse você, não ia querer entender a porra da situação que nós
estamos.
Porque Alexander Russell não faz ideia, mas eu não tenho a menor
dúvida.
É ele.
Sim, é ele.
O cara misterioso que eu fiquei na balada ontem.
Agora, de misterioso ele não tem nada, pois finalmente o conheci.
E é ninguém mais, ninguém menos que meu mais novo empresário.
“Vou fazer o que eu quiser
Estou escolhendo este vestido
Provando estes sapatos
Porque estarei solteira em breve
Estarei solteira em breve”
SINGLE SOON — SELENA GOMEZ

Michaela McKenna e o Tiktoker Bradley Buck não estão mais


namorando, informa a assessoria da cantora. O casal estava junto há pouco
mais de dois meses e, para quem não lembra, haviam se conhecido em
fevereiro, num evento sediado pelo próprio aplicativo das dancinhas em que
Michaela iria fazer mais uma das suas apresentações. Contando com
Bradley, esse é o quinto relacionamento da nossa lunática favorita que não
dá certo. Certeza que os BucKenna, shipp que os próprios fãs deram na
internet, se encontram arrasados nesse momento com a notícia, já que
acreditavam fielmente que ele era o próprio príncipe encantado na vida
dela, afinal, era o que mostravam com os vídeos na internet. Mas o que eu
posso dizer é, não fiquem, isso pode significar algo bom. Pode significar
músicas novas a caminho.
Porque, olha que engraçado, perguntado sobre o término, Bradley se
manteve confuso e disse que não havia sido informado dessa decisão.
— Não acredito que você fez isso — Dakota Hartley, minha melhor
amiga, diz com a mão na boca depois de parar de ler a notícia no celular
que acabei de lhe entregar só para erguer as íris nas minhas, desacreditada.
Ao rir do seu visível espanto, me jogo ao seu lado, no colchão, e ela parece
ainda mais em choque, possivelmente por causa da minha reação. — É
sério, garota, não posso acreditar que fez uma coisa dessas. Mandou uma
mensagem para todos os sites de fofoca como se fosse sua assessoria só
para terminar com Bradley de uma forma que você não precisasse conversar
com ele?
— Sim — solto, como se fosse óbvio. — Por que você parece tão
surpresa? Bradley é um idiota e você bem sabe disso. Só estava comigo por
causa da fama, queria mergulhar no hype que é ser um dos namorados da
Michaela McKenna, por isso tantos vídeos e tanta exposição na internet. Só
não o larguei antes porque, na minha cabeça, eu pelo menos tenho que ficar
dois meses certinho com um garoto. Acho meio feio terminar antes.
— Se eu me lembro bem, você ficou um mês e meio com o anterior,
o jogador de basquete. E pior, já teve um relacionamento de duas semanas
com Chad, o modelo.
Por que ela tem que ser tão boa com números e datas?
— Dakota, isso foi ano passado, querida — desconverso. — Agora
eu sou outra mulher. Meu aniversário foi na semana passada, tenho
finalmente 21, as coisas mudaram. Eu estou até mais séria, não percebe?
De repente, deixa o celular de lado e também se deita, virando em
minha direção. Dá para ver que está tentando não dar risada do que acabei
de falar.
— Me desculpe cortar as suas asinhas, meu anjo, mas o que acabou
de fazer não foi nada maduro. O garoto deve estar com a cabeça fritando
tentando entender o que diabos está acontecendo.
— E o que eu tenho a ver com isso? — Chacoalho os ombros para
cima e para baixo. — Cada um tem de mim o que merece. Se ele não
tivesse sido um babaca, eu também não seria babaca agora. Deixe-o
fritando a cabeça… já, já ele arruma outra garota, porque nem de mim
Bradley Buck gostava de verdade. Eu peguei o celular dele recentemente e
mesmo sem querer, vi que dava em cima até de fã, mesmo estando comigo
ao lado. Acha que devo ter empatia com um homem desses? Não mesmo.
Teve sorte que só fiz esse comunicado e não acabei com a imagem de santo
que gosta de passar para os seus seguidores.
E é isso, espero que Bradley não fale nada sobre mim, não tente
entrar em contato e me esqueça, porque, caso contrário, vou o expor na
mídia sem nenhuma pena.
Não estou aqui para destruir os sonhos de ninguém, porém, se pedir,
vai levar.
Dakota transforma o rosto rapidamente em uma careta.
— É verdade, tinha esquecido o nível de babaquice dele. E eu
adorei, achei genial, não pense que desaprovei sua atitude. Estava só
chocada com o quão longe você consegue ir com as suas ideias, ainda fico
surpresa com essa sua cabecinha. — Então, como nunca consegue ficar
parada por muito tempo, minha amiga agora fica sentada na minha cama,
com a minha almofada roxa e felpuda sobre as pernas em posição de yoga.
Ela pega meu celular de novo e começa a ver que ele está acendendo a tela
e piscando com ligações e mensagens. — É ele. Bradley. Tem mais de
cinquenta mensagens e vinte ligações. Por que não responde e acaba logo
com tudo?
— Agora não, deixe-o fritar mais um pouco.
Seus lábios pintados de um batom nude se elevam pouco a pouco em
um sorriso carregado de maldade, bem característico dela.
— Meu Deus, Michaela, você é tão sonsa e perversa. Adoro isso em
você.
— Eu sei, é por isso que você me viu lá na escola, de Maria
Chiquinha, descendo a porrada no menino que roubou meu lanche e decidiu
que eu seria a sua melhor amiga para o resto da vida.
— Fazer o quê? Se seu jeito fofo e bravo me encantou.
Nós duas rimos juntas.
Pior que é verdade, eu sempre fui meio fofa e brava, diferente de
Dakota Hartley que sempre foi brava. Ela não gostava das outras meninas
no infantil, elas só gostavam de rosa, de boneca, e a minha melhor amiga
tinha umas tendências estranhas desde aquela época, pois mesmo pequena
já gostava de infernizar os garotos e brigar com eles. Quando ela me viu
fazendo a mesma coisa, se aproximou de fininho, sorriu e disse que tinha
amado o fato de eu tê-lo feito chorar. Depois desse dia, nunca mais nos
desgrudamos.
Crescemos, passamos por todas as fases juntas e até mesmo quando
me tornei a cantora que sou hoje, ela nunca foi capaz de sair do meu lado e
eu nunca fui capaz de largá-la. Dakota sempre acreditou em mim, sempre
me escutou cantar, sempre leu as minhas composições e sempre disse que
eu seria uma grande artista, mesmo quando nem eu mesma acreditava. Ela
ainda é tipo a minha maior fã, embora meu estilo musical pop e teen não
tenha nada a ver com o seu, afinal, é apaixonada por bandas e cantores de
rock, pop rock, punk, indie e até mesmo hoje em dia ainda é viciada em
Artick Monkeys, sendo o Alex Turner a maior obsessão da sua vida.
Mesmo tendo algumas diferenças, somos praticamente iguais, e
como dizem nossos pais, somos como farinha do mesmo saco, que amam
entrar em confusão desde que se entendem por gente. As diferenças mesmo
são externas, pois enquanto meu cabelo é castanho, o dela é loiro. Enquanto
eu sou mediana, ela é muito alta. Enquanto minha cor favorita é roxo e lilás,
a dela é preto. Enquanto eu tento não me maquiar tanto fora dos palcos,
Dakota sempre está com uma maquiagem que ressalta tanto seu estilo
quanto sua beleza, como agora. Ela adora pincelar seus olhos castanhos
com sombras escuras.
O melhor de tudo é que seu estilo é impecável, minhas fãs amam e
se inspiram em todas as suas roupas. Inclusive, dizem que ela é a cara da
Lily Rose Depp, a filha do Johnny Depp. Dakota Hartley dá risada todas as
vezes desses comentários, pois, segundo ela, seu maior sonho sempre foi
ser uma nepo baby, já que é uma garota americana comum, de família de
classe média comum.
Eu sempre digo que ela já foi uma garota comum, já que, depois de
mim, se tornou uma nepo friend.
— Ei, não viaja não, volta aqui pra Terra. — Estala os dedos em
frente ao meu rosto e eu pisco, sem entender nada. Ela continua sorrindo, a
propósito. Parece muito mais feliz do que antes. — Acabei de perceber que
você está solteira de novo, Mi. Você se livrou do Bradley, deu adeus a ele.
Sabe o que isso significa?
— O quê? — pergunto, desconfiada de sua expressão perigosa.
— Que nós merecemos uma comemoração em grande estilo.
Agora é minha vez de sorrir da mesma forma que ela.
Gosto tanto de sua ideia que até me sento, ficando também com as
pernas em posição de yoga.
— Sabe, acho que estamos começando a falar a mesma língua —
brinco ao passo em que faço as minhas sobrancelhas dançarem
sugestivamente. — Qual a sua ideia? O que devemos fazer? — Balanço a
cabeça, voltando atrás. — Espera, a gente pode fazer uma festa do pijama,
eu posso pedir para comprarem...
— Não, Michaela — ela me interrompe. — Todas as vezes nós
ficamos na sua casa, nos escondendo. Seu aniversário foi semana passada, a
gente também não comemorou direito. E a gente precisa, de fato, se divertir
como pessoas de 21 anos. Tem quase dois anos que não sabemos o que é
isso. Vamos para alguma festa, alguma balada, se você já pode beber,
vamos encher a cara e passar a noite inteira dançando.
Ao mesmo tempo que sua ideia me deixa extasiada, porque
obviamente quero fazer isso, quero poder me divertir até dizer chega,
também me deixa triste.
— Você sabe que eu não posso, amiga — choramingo. — Eu quero,
mas não posso. Infelizmente, com a fama, perdi minha privacidade e você
também sabe disso. Para onde vou, tenho que levar meus seguranças. Não
consigo andar por LA sem estar o tempo todo perseguida por paparazzis
querendo tirar foto. Se fomos para uma balada, pode acontecer um
alvoroço, uma confusão e, no fim, não vamos poder nos divertir.
— E acha mesmo que não tem solução para isso? — devolve,
cruzando os braços. — Em que mundo você anda? Nunca assistiu Hannah
Montana, ou nenhum filme sobre famosos que se disfarçam? — bufa uma
risada engraçada. — Qual é, amiga, é a coisa mais fácil do mundo. Se seus
pais perguntarem, você diz que vai dormir na minha casa e aí não vai
precisar de segurança nenhum na sua cola. A única coisa que vai precisar
para pôr esse plano em ação é de uma peruca, mas isso aí consigo arranjar
numa boa com o Eric, quando chegar de viagem à noite. Certeza que irá
topar também.
Eric Farrell, a ilustre presença perfeita de nosso trio.
Ele também trabalha com internet, produz conteúdo sobre todos os
tipos de artistas, e nos esbarramos por acaso em uma festa na casa do meu
ex-namorado Chad, o modelo. Como a festa estava um completo tédio e
Chad não estava me dando atenção, Eric e eu passamos o tempo todo
juntos, jogando conversa fora. Trocamos nossos números, marcamos de nos
encontrar, eu levei a Dakota e ali mesmo firmamos nosso trio. Nos
tornamos inseparáveis.
E ele só não está aqui, participando desse momento com nós duas,
porque está em Orlando com o namorado, o acompanhando nas filmagens
do seu mais novo filme. Como ele é um ator que em breve estará em
ascensão por estar quase perto de dar a vida a um personagem de uma
adaptação literária muito conhecida e cheia de fãs, Eric resolveu
surpreendê-lo para apoiá-lo nesse novo projeto, mas, a essa altura, já deve
estar dentro de um avião voltando para casa.
— Parece perfeito, Hartley, no entanto, se você pensar bem é uma
loucura — falo a verdade depois de um tempo, pois, por mais que eu queira
concordar pela emoção, tenho que ser racional. — Se você já assistiu esses
filmes, sabe que sempre dá merda no final. Já pensou, descobrem que sou
eu e aí começam a inventar na mídia que eu estava me escondendo dos
meus fãs? As pessoas são maldosas na internet, não quero arruinar minha
carreira com polêmicas, já basta essa aí de Bradley que vai correr por
semanas. E, além disso, tenho que conhecer meu novo empresário,
esqueceu? Não posso passar a noite fora.
Sem paciência, ela revira os olhos para mim.
— Presta atenção, eu entendo toda a sua preocupação, mas nada vai
acontecer. Nós estamos em LA, Michaela. A vida aqui é agitada, tem
famosos em cada esquina, e posso lhe garantir que vou atrás da balada mais
frequentada que tiver, porque assim, não teremos a atenção voltada para
nós, conseguiremos nos camuflar bem entre a multidão, ou seja, nada de
Michaela McKenna sendo descoberta e criando polêmicas. — Sorri,
parecendo já ter pensado em cada detalhe. — E sobre conhecer seu novo
empresário, não se preocupe, você irá conhecê-lo, faço questão de te trazer
sã e salva no comecinho da manhã, eu prometo.
Ainda fico desconfiada.
— Não sei, não...
— Vai, amiga, eu sei que você quer. — Faz beicinho. — Você vai
dançar, vai se divertir, vai voltar aos velhos tempos. Terá um gostinho, pelo
menos de uma noite, do que é ser uma jovem desconhecida de novo.
Podemos beber, cometer as maiores loucuras, mandar Bradley Buck se
foder e ninguém vai saber. E nem mesmo impedir.
— Dakota...
— Michaela! — me repreende e toca em meu queixo. — Olha para
mim, eu já te coloquei em enrascada alguma vez na vida?
— Porra, mulher, em milhares.
— Tá. — Rola os olhos, rindo. — Mas alguma vez você se
arrependeu ou não gostou das enrascadas que te coloquei?
— Não, porque eu não tenho juízo e você sabendo disso, não deveria
me atiçar.
— É porque você esteve presa com aquele garoto por dois meses,
agora que te tenho novamente para mim, preciso comemorar. E hoje a noite
vai ser perfeita para fazermos o que quisermos.
— Tem certeza?
Céus, não acredito que estou considerando pôr em prática mais um
dos seus planos malucos.
Sabendo que venceu essa discussão, Dakota se agita, levanta as mãos
para o alto e me puxa para fora da cama, me fazendo dançar com ela pelo
quarto, sua risada explodindo no ambiente e não me dando outra alternativa,
a não ser rir junto.
— Nós vamos dançar até nossos pés doerem nos saltos. — Me gira,
depois me agarra pela cintura e me abraça, abafando a risada no meu
pescoço. — E não sei se você quer pensar em garotos, mas nós podemos
pegar um ou dois hoje, quem sabe.
Me afasto para olhar em seus olhos, com ainda mais vontade de rir.
— Eu não sei se sabe, mas acabei de anunciar meu término para o
mundo todo.
— E daí? Nunca te impediu antes, e nem é como se você estivesse
sofrendo ou de coração partido para dizer que nunca mais quer ver homem
na vida, de qualquer maneira.
— Tem razão — concordo, mordendo o lábio inferior. — É como eu
sempre digo, se não deu certo com um, parta para o próximo. O que não
vale é perder tempo.
— Pois é, não podemos mesmo. E falando em tempo... — Dakota
fica em alerta à medida que olha de um lado para o outro. — Não podemos
perder mais nenhum segundo, então vamos rumo ao seu closet, minha
popstar favorita. Quero ver todos os seus vestidos e todos os seus sapatos
para escolhermos o melhor deles.
— É para já, capitã.
É minha vez de puxá-la, mas antes de sairmos totalmente do lugar,
eu paro de novo.
— Espera, antes de embarcarmos nessa loucura, preciso fazer uma
coisa.
Me solto de Dakota e corro para a minha cama, pegando meu celular.
Desbloqueio com o reconhecimento facial, entro na lista de contatos e
aperto no nome salvo como Amor, mudando rapidamente para Ex-
namorado Babaca Número 5.
Sorrindo, entro nas nossas mensagens e começo a digitar.
Apago e refaço a mensagem algumas vezes, mas quando vejo que
está perfeita, clico no botão de enviar.
É realmente do jeito que Bradley Buck merece.

Eu: Olá, Bradley. Acabo de perceber que você soube do nosso término por site de fofoca, que merda.
Eu até poderia me desculpar, mas é disso que você gosta, não? Mídia, holofotes, migalhas e uma
brechinha em espaços pequenos em jornais. Fui generosa e acabei de te dar o que estava procurando
quando me conheceu. Espero que meu nome te renda notícias até encontrar outra mulher com uma
fama muito superior à sua. E espero que seja logo, pois, até lá, se não encontrar, estará para sempre
marcado como o ex, o número 5 de Michaela McKenna.

Penso em acabar nessa mesmo, porém não consigo.


Só mais uma para eu entrar em uma nova etapa da minha vida.

Eu: Ah, outra coisa, Bradley. É melhor começar a rezar para que eu não vá aumentando a minha
lista, porque se tiver o número 6, 7, 8, 9, 10, e por aí vai, chegará um tempo que do 5 ninguém vai se
lembrar mais. Beijinhos.

E aperto em bloquear contato logo depois de enviar.


“Meu coração poderia estar queimando, mas você não verá isso em meu rosto
Me veja dançar
Dançar a noite toda
Eu continuo mantendo o clima animado, sem um único fio do cabelo fora do lugar
Quando meu coração se parte (eles nunca verão, nunca verão)
Quando meu mundo se abala (eu me sinto viva, eu me sinto viva)
Eu assumo os riscos
Você não me conhece?”
DANCE THE NIGHT — DUA LIPA

Antonella e Conrad não fizeram nenhuma objeção quanto a minha


saída, até porque amam Dakota, e, na cabeça deles, a garota pode me levar
para qualquer lugar que estarei em perfeita segurança.
Mal sabem eles que ela é uma péssima companhia para mim, da
mesma forma que sou uma péssima companhia para ela.
Isso sem mencionar Eric, que é o pior de nós três e eles não fazem
nem ideia.
O garoto chegou de viagem umas três horas depois de termos
chegado a casa dos Hartley e, além de trazer consigo uma peruca
perfeitamente impecável, ainda trouxe uma identidade falsa para mim, para
que nem os seguranças que ficarão na porta tenham ciência de que estarei
na festa, impossibilitando problemas futuros.
E eu juro que não faço ideia de como conseguiu uma tão
rapidamente, mas, independente de suas artimanhas, esta noite eu não sou
mais a Michaela McKenna, sou Sabrina Larsen, uma loira gostosa, que
gosta de pôr os peitos para jogo.
— Será que não está meio exagerado, não? — questiono, parando de
me olhar no espelho para me virar para eles, que estão sentados na ponta da
cama à minha frente. Remexo os lábios de um lado para o outro e olho para
baixo, conferindo o look pela milionésima vez. — Quer dizer, eu adorei a
peruca, está muito natural e me deu um charme do tipo que eu pareço uma
mulher mais velha. Adorei esse vestido prateado com todas essas
lantejoulas também, ele é bem justo, ousado e valorizou meu corpo,
principalmente meus peitos, que dobraram de tamanho nesse decote
apertado. Tem a maquiagem, que eu adorei o esfumaçado, e a bota prata de
cano curto que eu também acho que combinou, mas… sei lá, juntando tudo,
não ficou muito… demais, não?
— Não — Dakota responde.
— Nem um pouquinho — Eric fala logo em seguida, com os olhos
brilhando de emoção, já que boa parte da produção foi ele quem fez. —
Você está maravilhosa, Sabrina Larsen. Perfeita para cometer muitas e
muitas atrocidades ao lado dos seus melhores amigos. Hoje será seu dia de
sorte, está liberada para fazer tudo. Ou quase tudo, na verdade. Não
queremos você grávida e acabando com toda a sua carreira, por isso, nada
de dar para nenhum homem no banheiro da boate. Fora isso, vai aproveitar
o quanto quiser que estaremos lhe aplaudindo e comemorando junto.
Espalmo as mãos na cintura e tombo a cabeça para o lado,
semicerrando os olhos.
— Acabei de terminar meu namoro, Eric, não leu as notícias? Que
tipo de amigo você é?
— Claro que eu li, amor. É justamente por isso que eu acho que você
pode querer abrir as pernas para outro cara, Bradley não te satisfazia, tenho
certeza. Ele era um completo babaca, você demorou demais, sabia?
É, número 5, a sua fama definitivamente não estava sendo nada boa.
— Ah, sabia — arfo. — E como sabia. Tentei nos levar até o
segundo mês na força do ódio.
— Mas ainda bem que se livrou. É como dizem, antes tarde do que
nunca — diz e vem até mim para pentear a peruca que estou usando mais
uma vez. — Agora está aí, linda, livre, leve e solta, na pista para negócio.
Só espero que deixe de dedo podre e possa se apaixonar de verdade o
quanto antes, porque é lindo, mágico e você merece ter seu coraçãozinho
arrebatado.
Falando nele, meu coração murcha na mesma hora em que o escuto.
Eu sou uma pessoa namoradeira, estou sempre conhecendo homens
novos e embarcando em aventuras, não posso negar o óbvio, assim como
também não tenho como negar ou esconder que tenho o péssimo azar de me
envolver com caras errados e que sempre acabam me frustrando no final.
No começo, eles são sempre maravilhosos, me tratam como uma deusa e
me prometem o mundo, o que faz com que eu fique iludida, achando que
finalmente encontrei o homem certo, o homem que me deixa nas nuvens e
me faz ficar apaixonada, mas, depois, quando o tempo passa, a coisa toda
esfria e eu percebo que meu coração continua intacto e em completo tédio,
porque eles são sempre uma bela propaganda enganosa.
No fim, ou é culpa do meu mau gosto, ou sou eu mesma que tenho
problema em sentir e em me entregar verdadeiramente. Pensando bem,
podem ser os dois.
Quando percebo, estou arfando e suspirando pesadamente de novo.
— Que papo mais meloso. — Dakota, num instante, já está no meu
outro lado, brincando com os fios loiros do meu cabelo artificial. — Se
você está apaixonado e todo cadelinha do seu homem, Eric, fique para você,
não queira levar Michaela junto. Deixe-a aproveitar a solteirice, a garota
merece respirar longe desses machos vergonhosos que escolhe. E diferente
de você, eu acho que ela pode dar para qualquer um essa noite, porque não
será Michaela, será Sabrina, e Sabrina não é uma emocionada. Veja só para
ela, está nítido que é uma piranha.
— Ei! — A encaro de forma espantada. — Assim você me ofende.
— Não ofendo, não. Desde quando ser piranha é algo ruim? — Se
afasta só para cruzar os braços e me olhar com sua sobrancelha arqueada e
o seu olhar de deboche. — Porque eu sou piranha. Eu adoro ser piranha.
Respeite a classe predominante de mulheres piranheiras.
— Essa palavra nem existe — Eric retruca.
— O que foi, você também está com preconceito? Quer que eu
relembre seu passado aqui?
— Nunca escondi meu passado de ninguém, dona Dakota Hartley.
Muito pelo contrário, sempre deixei muito claro que eu não era só uma
piranha, eu era a maior das piranhas. Mas isso foi no passado, eu sosseguei,
pare de querer destruir meu relacionamento — ele finge estar bravo, porém
dá para notar o lampejo de um sorriso querendo aparecer em seus lábios em
formato de coração.
Já falei o quanto o meu melhor amigo é lindo? Porque, minha nossa,
ele é, e muito. Sua pele bastante clara, constantemente deixa suas
bochechas avermelhadas em qualquer situação, ele tem os olhos numa
mistura entre verde e mel, os lábios são cheios, rosados e Eric ainda tem
uma pinta adorável em cima deles, no canto esquerdo. Recentemente pintou
algumas mechas do seu cabelo castanho de loiro, apenas para realçá-lo. Eu
o adoro. Por completo. E fico feliz que, além de ter chegado a tempo com
todas as coisas que precisamos, ainda quis, mesmo estando cansado, fazer
parte disso, dessa comemoração que inventamos em cima da hora.
Na verdade, se olhar para ele, nem parece que estava dentro de um
avião, em outra cidade há algumas horas. Está impecável, inteirinho,
novinho em folha, pronto para tomar conta de mim, de Dakota e da tal
Sabrina Larsen, que darei vida assim que sairmos dessa casa.
Meu estômago revira de ansiedade só em pensar.
Quando quero falar algo, voltando para a realidade, é quando
percebo que os dois, à sua maneira, estão discutindo porque Dakota é
ciumenta demais para deixar passar batido a oportunidade perfeita de
implicar com o lado apaixonado de Eric.
— Ei, vocês! — A atenção dos dois se voltam para mim bem rápido,
até fazem silêncio. — Não sei se perceberam, mas nós não temos a noite
toda. Se continuarem assim, vamos nos atrasar. É isso que querem? Porque
não é o que a Sabrina quer.
— Não é o que Eric quer também — ele brinca.
— Nem a Dakota.
— Ah, jura? Não me pareceu.
Os dois se entreolham e dão risada.
— É melhor irmos logo — Hartley informa depois de ficar séria. —
Estou com sede.
— Ué, vá beber água.
— Não é esse tipo de sede, Michaela, é sede de álcool. Hummm... —
A garota fecha os olhos e lambe os lábios. — Salivo só em pensar. Me
lembrem de pegar Margaritas assim que chegarmos, ok? Não me façam
esquecer, por favor.
— Claro, garota pronta para ficar bêbada, não esqueceremos. — Lhe
lanço uma piscadela, fazendo-a sorrir. — Agora, será que podemos ir?
Ambos assentem e correm para pegar seus pertences.
Eu aproveito para me virar novamente para o espelho, me
aproximando só para colocar os fios da peruca na frente, cascateando meus
ombros. Arrumo a franjinha para não ficar nenhuma mecha fora do lugar e
passo a mão pelo vestido, sentindo as lantejoulas no final. Adoro que,
enquanto eu ando, elas balançam. E brilham tanto que ofuscam qualquer
visão.
Sorrio para o meu próprio reflexo.
Sabrina Larsen, querida, você está linda e pronta para entrar em
ação.
Viro sobre os ombros, vendo Dakota. Ela está com um vestido
também, daqueles tomara que caia, e ele é todo justo, todo em couro. Há
uma gargantilha com pingente de coração em seu pescoço, uma meia
arrastão cobrindo as suas pernas e botas pretas de veludo em seus pés.
Também está com um delineado bem grosso nas pálpebras e um gloss de
estrelinha em sua boca.
Eric se vira e se aproxima na mesma hora que Dakota, pegando a
mão dela e logo em seguida vindo pegar a minha.
— Sorriam, garotas — pede, já com seu sorriso no rosto. — Hoje
será inesquecível. Vamos fazer história.
— Vamos fazer história — repetimos, um apertando a mão do outro.
Esse é tipo seu mantra, toda vez que saímos, ele costuma dizer essa
mesma frase. Que o dia será inesquecível e que vamos fazer história.
Não sei por que, mas hoje me parece mais verdade do que em
qualquer outra vez que essa mesma frase saiu de sua boca.

A balada mais frequentada da noite, obviamente fica em Downtown


LA, o centro de Los Angeles, mais conhecido como o coração da cidade.
O nome é Call Emergency, ela tem toda uma pegada de bombeiro, de
fogo, de devassidão, toda em vermelho, uma coisa meio escura, sexy e
quente.
E a fila para entrar e pegar a pulseira continua crescendo, é o que
percebo quando olho para trás.
Até o momento, ninguém parece ter me reconhecido.
Até o momento, eu continuo plena.
Ou quase.
Porque o segurança brutamontes à minha frente começa a limpar a
garganta, para atrair a minha atenção e para mostrar que, além da fila ter
andado, é a minha vez.
Como se já não bastasse ele, Dakota e Eric ainda me cutucam e me
empurram para a frente.
Reprimo a vontade de olhar para trás e lançar um olhar feroz para
eles, me concentrando no segurança, já que essa é basicamente a parte mais
difícil. Estou com uma identidade falsa, se esse cara de quase dois metros
de altura desconfiar do que estou prestes a fazer, todo o nosso plano vai por
água abaixo e a chance de dar muita merda para o meu lado, a ponto de isso
sair notícia na internet é muito grande.
Tento disfarçar o nervosismo com um sorriso, que, a propósito, não é
retribuído.
Óbvio, né, Michaela, o que você esperava? O homem, não bastando
parecer a Muralha da China, ainda parece fazer seu serviço no mais puro
ódio.
— A identidade, senhorita.
Com a voz grave retumbando em meus ouvidos, ele estica a mão e
me olha de uma forma tão intensa que parece saber exatamente quem sou.
Sinto até como se estivesse me julgando.
Por que ele está me julgando?, pergunto a mim mesma
internamente, minhas mãos ficando trêmulas enquanto tiro a identidade que
está atrás do meu celular, na capinha. Oras, não é porque ele é incapaz de
sorrir que eu não posso me divertir com um simples disfarce.
— Aqui. — O entrego, e também limpo a minha garganta ao
perceber que a voz sai mais baixa do que eu pretendia. — Sou Sabrina
Larsen, é a minha primeira vez frequentando o local. Estou com os meus
amigos. — Abro caminho e os mostro atrás de mim, que, sem entender
nada, levantam a mão e dão um tchauzinho. — Eles são daqui, eu sou de
outra cidade, vim a passeio. Não é como se você estivesse se importando
com a minha vida, mas é que às vezes, quando eu estou muito animada, eu
não consigo parar de falar e aí as coisas fogem do meu controle e quando
vou ver, eu...
— Dona Sabrina Larsen! — Com seu quase grito, eu paro de falar
imediatamente, e sei que era justamente isso que queria, porque
definitivamente não se importa com a minha vida. Segundos torturantes se
passam até que ele olhe a identidade, confira a frente, confira atrás e encare
o meu rosto com cuidado e atenção. Como permanece sério e não dá
nenhum indício do seu veredito, prendo a respiração com medo, até que o
mal-humorado, diz: — Pode entrar. — Arregalo os olhos, sem disfarçar. —
E aproveite a noite.
Fico meio extasiada quando me devolve a identidade, me espera
guardá-la, põe a fita que libera o acesso em meu pulso e tira a corda que nos
separa, me permitindo entrar.
Passo por ele, toco o meio do meu peito e suspiro em alívio, um
pequeno ufa saindo pela fresta entre meus lábios.
Me mantenho ainda na entrada, espiando os meus amigos, que,
graças a Deus, não demoram muito para serem liberados e virem até mim,
me abraçando.
— Aeeeee! — comemoramos baixinho, e então rapidamente cada um
se põe ao meu lado, me deixando no meio e me arrastando para dentro da
boate, finalmente. — Caramba, isso que eu chamo de festa bem frequentada
e bem decorada — Eric assobia.
— Uau — eu soo impressionada. — Meu Deus, que frio na barriga.
Parece algo que eu nunca vi antes, de tanto tempo que faz. Será que
realmente faz tanto tempo assim ou é só a minha cabeça?
— Não sei — Dakota responde, olhando cada centímetro do
ambiente, que projeta luzes estroboscópicas por todos os lados. — Só não
vai dar pra trás, por favor. Eu já estou sentindo minha barriga revirar de
adrenalina.
— Eu, hein, parece que vocês duas nunca frequentaram festas,
deixem de fogo. — Fricciono os lábios para não rir da bronca que Eric nos
dá. — Agora, venham aqui, vamos tirar uma selfie para mostrar para o meu
amor que chegamos e estamos prontos para detonarmos tudo na pista de
dança.
Ao escutá-lo, Dakota revira os olhos dramaticamente somente para
provocá-lo, mas logo abre um sorriso e se aproxima dele quando o vê tirar o
celular do bolso da calça, colocar na câmera frontal e erguer o braço. Não
querendo também perder esse momento, eu dou uma corridinha, paro do
seu outro lado, toco seu ombro, fecho os olhos, faço um biquinho e coloco a
mão embaixo do queixo bem na hora que o ouço gritar X, tirando muito
mais do que só uma foto de nós três.
Na mesma hora, eu e Dakota Hartley sorrimos uma para a outra,
enquanto esperamos Eric enviar as fotos por mensagem para o seu
namorado. E assim que ele guarda o celular de volta no bolso, é o exato
momento em que a música se encerra e outra começa a tocar.
Demora menos do que cinco segundos para que todos nós gritemos,
sabendo exatamente de quem se trata.
De mim, claro. É a minha música.
Quer dizer, essa noite, da Michaela McKenna.
— Meu Deus, que coincidência! — Dakota berra no seu maior pico
de empolgação. — E, porra, essa é a minha favorita, vamos ter que ir para a
pista agora mesmo.
— Ah, com certeza. Nem ferrando que a gente vai perder. — Eric
entrelaça nossas mãos. — Porque você também é fã da Michaela, certo,
Sabrina?
Dou risada.
— Como eu poderia não ser fã da melhor da atualidade? — solto,
convencida, jogando os fios da peruca para trás à medida que corremos e
serpenteamos por entre a multidão.
Parece que o número de pessoas aglomeradas aumenta e, quando
percebo, estão todos gritando animados com a voz da Michaela soando
fervorosamente nas caixas de som, estrategicamente espalhadas pelo Call
Emergency. É uma verdadeira loucura, afinal, essa é Congratulations boy
you lost, um dos meus hits mais tocados e, pelo visto, mais amado. E é
lindo de ver todo mundo dançando, se divertindo, cantando junto e com a
letra bem decorada. Meu peito se enche de felicidade, emoção e me dá
ainda mais gás para me pôr no meio deles, junto dos meus melhores
amigos. Eles também se divertem, pulam na batida da música, e quando o
refrão vai se aproximando, sinto como se tudo dentro e fora de mim se
agitasse, vibrando de uma forma bizarramente incrível.
— É agora! — Eric anuncia, suas mãos para o alto e o meu coração
pulando junto com ele. — Cantem, meninas!
Dakota e Sabrina cantam, bem como todos os outros que estão na
pista. Parece um show meu e é insano. É tão alto, que eu me pergunto se
não vão ficar com problemas nas cordas vocais amanhã. Mas quem é que se
importa? É a melhor música de todas.
O refrão é simplesmente a melhor parte e eu canto a plenos pulmões.
Você se gaba com os seus amigos, dizendo que conseguiu me conquistar
Todos te parabenizam, acham que você fez um bom trabalho
Mal sabem eles que, se não fosse por mim, você jamais teria conseguido se aproximar de tão nervoso
que eu te deixava
Eu te colocava medo, e acho que até hoje você não sabe nem meu nome
E se é atenção que você quer, então, parabéns
Se é reconhecimento, então, parabéns, parabéns e parabéns
Mas parabéns, garoto, você perdeu

— If It´s recognition, then congratulations, congratulations,


congratulations. — Nossos corpos começam a rodopiar pelo pouco espaço
que nos deram, Dakota indo para um lado, eu indo para o outro, e tudo isso
nós fazemos rindo, suando, nos divertindo de verdade, como tem que ser.
— But congratulations boy you lost.
Eric me cutuca, apontando para cima, e quando percebo é o meu
vídeo clipe aparecendo no telão.
Não sei se fico feliz por isso ou se fico nervosa pela exposição, com
medo que me reconheçam. Entretanto, rapidamente me recordo do que
Dakota disse, sobre aqui ser Los Angeles, movimentado, cada um com a
sua vida, ocupados demais para se importarem com a do outro, e deixo
qualquer bobagem para lá, ficando ainda mais feliz e radiante.
Poucos minutos depois, a música termina, e nós três nos abraçamos
pela décima vez só essa noite.
Acho que já deu para perceber que gostamos de um grude, né?
— Margaritas! — Dakota relembra assim que se afasta. — Preciso
de Margaritas. Mas fiquem aqui, vou buscar para nós três. — Antes de
começar a andar, ela se vira sobre os ombros, o dedo erguido para cima,
balançando. — Uhh, essa música é boa. A playlist aqui está sensacional, me
esperem que volto para continuar dançando.
A gente concorda, e quando ela retorna com as bebidas, uivamos e
brindamos.
Depois dançamos.
E pegamos mais Margaritas.
E dançamos de novo.
E mais, mais, mais Margaritas para dentro.
O calor aumenta, a animação também, e a pista do Call Emergency
parece ficar só para nós três.
Óbvio que as pessoas continuam aqui, porém estamos tão presos na
nossa bolha que nada mais importa a não ser o nosso trio. Nós registramos
mais fotos, fazemos vídeos, Eric faz videochamada com Raphael, seu amor,
e os momentos se tornam tão intensos e engraçados que sinto meu corpo
flutuar e o meu mundo rodar.
— Ei, minha bebida acabou. — Faço um beicinho quando mostro
para eles o meu copo vazio. — Vou buscar mais porque, cacete, está muito
quente. Vocês também estão com esse calor infernal que não passa nunca ou
sou só eu?
— Você não me escuta, porém é o que eu estou te dizendo, deve ser
o fogo na sua...
— Não complete! — o repreendo com o dedo em riste. — Respeite,
pelo menos, a Sabrina Larsen. — Já que a Michaela McKenna, você não
respeita, é o que completo em mente, porém não posso dizer em voz alta
para não dar nenhum indício da popstar entre nós.
E giro nos calcanhares, indo até o bar.
Coloco a minha franja no lugar de novo, tento me recompor, respiro
fundo e agradeço mentalmente aos céus por ter um lugar vago no balcão
onde fica o barman para eu poder me sentar e descansar um pouco
enquanto faço o meu pedido e o aguardo.
— Quero uma Piña Colada — informo assim que o homem tatuado e
com alargadores nas orelhas se aproxima para me escutar. É, nada de
Margarita mais, enjoei. — Bem forte, por favor.
— Claro, senhorita. Só um momento.
Ele se vira para começar o preparo, e eu fico batucando as minhas
unhas no tampo da mesa do balcão, esperando.
— Porra! — Estremeço quando ouço o xingamento bem próximo a
mim. — Merda, merda, merda!
Tentando ser discreta, viro para o lado, flagrando o homem ao meu
lado proferindo as ofensas para a própria tela do celular, tão puto que
qualquer um aqui pode perceber.
Meu instinto de fofoqueira com alma caridosa se agita.
— Algum problema? Precisa de ajuda?
— Não, está tudo bem, são só coisas do trabalho, desculpe se te
assustei.
Estou pronta para falar que não, que não precisa se preocupar, que
não foi nada, mas todas as palavras evaporam da minha mente quando ele
tira os olhos do celular, o guarda no bolso da calça social e me encara.
Ao mesmo tempo que meu raciocínio foge, meu fôlego vai juntinho
de mãos dadas com ele, afinal, acabo de perceber que estou diante do
homem mais bonito de todos os tempos.
E eu pisco, hipnotizada.
“Se você quiser fugir comigo, eu conheço uma galáxia
E posso te levar para um passeio
Eu tive uma premonição que nós caímos em um ritmo
Onde a música não para nunca
Glitter no céu, glitter em meus olhos
Brilhando do jeitinho que eu gosto
Se você sente que precisa de um pouco de companhia
Você me conheceu no momento perfeito”
LEVITATING — DUA LIPA

Mais velho.
Ah, com certeza ele é deliciosamente mais velho.
Camisa branca social, primeiros botões abertos para revelar um
pouquinho do seu peitoral e as mangas arregaçadas até a altura dos
cotovelos, com as veias saltadas dos seus antebraços à mostra. E barba bem
aparada e feita emoldurando seu rosto levemente quadrado e com o maxilar
definido. Um verdadeiro rosto e postura de homem mais experiente.
Provavelmente na faixa dos trinta e poucos anos. Eu chutaria uns trinta e
quatro ou trinta e cinco.
Conservado.
Totalmente conservado.
E completamente malhado, pois se percebe pela sua estrutura física,
que frequenta a academia religiosamente. Seus bíceps são enormes, quando
ele os flexiona, ficam gigantes. Uma coisa absurda. Assustadora.
Terrivelmente, perigosamente e tentadoramente gostosa, do tipo que você
não consegue, nem por um segundo, nem mesmo fazendo a maior força do
mundo, parar de olhar e, até mesmo, babar.
E eu aposto que tem baba escorrendo do meu queixo agora mesmo,
enquanto deslizo minhas íris por toda a sua figura imponente, que parece
ocupar todo o espaço.
Aposto mais ainda que ele está percebendo tudo, com o olhar tão
vidrado em mim quanto o meu se encontra no dele.
Seus olhos.
Puta que pariu, seus olhos são de uma pressão esmagadora.
São castanhos escuros, bem como os fios do seu cabelo também são,
porém eles são... ah, céus, eu não sei nem explicar. É algo fora do comum.
Principalmente porque eles estão atentos a mim, eles me observam, me
analisam de cima a baixo, e brilham, e depois escurecem uns bons tons à
medida em que, aos poucos, seus lábios se retorcem discretamente em um
meio sorriso quando decide tombar a cabeça para o lado, me estudando.
Eu nem me preocupo se o desconhecido pode ou não descobrir o
meu disfarce, estou ocupada demais apenas querendo ser vista por ele, até
jogo os fios da peruca loira para trás, para que meu decote fique
completamente visível.
Eu tenho belos peitos, geralmente funciona.
Quer dizer, funciona para os outros garotos, e esse cara, ele é um
homem. Um homem com H maiúsculo, como dizem. Não há nada de
angelical ou adolescente nele.
E por mais que eu não tenha muita experiência nesse departamento,
eu adoro a ideia de me envolver com caras mais velhos, mais experientes,
que sabem o que estão fazendo e o que querem. Depois de desilusões
amorosas com os que são da minha idade, depois de perceber que eles não
valem nada e não conseguem nem um pouco me satisfazer, talvez seja disso
que eu esteja precisando. Talvez esse homem possa vir a ser o meu
presentinho de consolação após o término com Bradley.
Sei que dei a entender a Dakota e Eric infinitas vezes só essa noite
que não queria saber de me envolver com ninguém nem tão cedo, mas veja
bem, olha a oportunidade que caiu do céu para mim, eu estaria maluca se
perdesse. O homem é absurdamente lindo e está bem ao meu lado, me
devorando na mesma forma e na mesma intensidade em que eu o devoro.
Involuntariamente, eu me abano, e não tenho muita certeza se é pelo
calor infernal que estou sentindo ou se é pelo fogo que estou percebendo
crescer em suas íris e em certas outras áreas proibidas do meu corpo.
Os dois. Com certeza, essa é a resposta.
— Desculpe, mas você está me reconhecendo de algum lugar? —
questiona, ainda com o fantasma de um sorriso dançando pela sua boca
carnuda, que faz questão de umedecer quando minha atenção desce
descaradamente para ela. Eu suspiro audivelmente porque, caramba, se esse
homem tem algum defeito, só pode ser nas tripas. Cada pequeno detalhe seu
é de beleza sem igual, e ele é tão másculo, tão forte, se for se levantar desse
banco, tenho certeza de que vai se revelar para mim tão alto quanto parece
ser. Uma verdadeira geladeira inox de três portas com 540 litros. Do
jeitinho que qualquer mulher se atrai.
— Não. Por quê? Eu deveria te reconhecer de algum lugar? — a
pergunta não deveria sair da minha boca soando tanto como um flerte, mas
é justamente o que acontece, e, sinceramente, nem fico surpresa comigo. Se
eu já costumo ser assim naturalmente, imagina quando estou numa festa,
disfarçada, fingindo ser outra pessoa e podendo fazer qualquer coisa que me
der vontade, porque ninguém vai saber. Limpo a garganta e mordo um
sorriso nada inocente. — Se bem que, se eu tivesse te visto em algum canto
dessa cidade, jamais conseguiria te deixar passar despercebido.
Ele se remexe no banco e passa as mãos pelo cabelo, bagunçando-os
um pouco.
Muito sexy.
Na verdade, qualquer coisa que decidir fazer, a mais boba que seja,
será atraente para mim. Acho que esse homem tem esse grande poder de
respirar perto de uma mulher e ela já ficar com a calcinha encharcada. Falta
bem pouquinho para acontecer isso comigo. Sabe como é, sob efeito do
álcool, meus hormônios se agitam mais do que o normal, e olha que eles já
se agitam bastante.
Será que estou muito atirada em tão pouco tempo?
Dane-se, isso aqui é uma balada, no fim, as pessoas vêm com a
mesma intenção que a sua, Michaela, a voz um pouco mais ajuizada do meu
subconsciente resolve me aconselhar.
E ela tem razão, tenho certeza que não sou a primeira e muito menos
serei a última a me atirar para um completo desconhecido que, amanhã,
posso nem mesmo me lembrar.
E ninguém tem o direito de julgar uma mulher com tesão, oras.
— Não, foi exatamente por isso que perguntei. — O rapaz balança a
cabeça. — Você estava me olhando como se quisesse me prender em sua
memória. — Todo o seu corpo se volta para mim, e eu pisco, sem saber se
presto mais atenção nas suas coxas ou na sua voz que mesmo por cima da
música consegue se sobressair a qualquer som que poderia estar entre nós.
É grave, sensual e, como todo ele, muito máscula. Arrepia até mesmo a
porra da minha alma. — Fiquei impressionado — é o que admite.
Meu sorrisinho indecente não morre, só aumenta.
— Espero que tenha sido comigo.
Como se estivesse um pouco mais impressionado com a minha falta
de vergonha em agir perto dele, seu sorriso de lado aumenta. Mas só um
pouquinho. É o que me faz entender tudo, inclusive. Está tão cristalino
quanto água, que ele é daqueles caras turrões, marrentos, que são difíceis de
sorrir abertamente e que são difíceis de lidar.
Pelo menos eu não me acovardo fácil, e adoro um bom desafio, no
final das contas.
— Você é bem para a frente, garota — reflete logo em seguida, seus
olhos novamente passeando por mim, inclusive nos meus seios amontoados
no decote. Eu poderia muito facilmente esfregá-los em sua cara se ele
quisesse. — Quantos anos você tem?
Merda, pergunta errada.
— Idade o suficiente para você não se preocupar, te garanto. — Dou
de ombros.
— Você escondendo o jogo desse jeito me deixa bem preocupado, na
verdade.
— Pois não deveria.
— Tudo bem, é só me dizer sua idade e a gente pode continuar.
Semicerro os olhos.
— Olha, que coisa indiscreta da sua parte, não se deve perguntar a
idade de uma mulher de forma insistente desse jeito. E eu já disse, idade o
suficiente para não se preocupar. Acha mesmo que me deixariam entrar
nesse lugar se eu fosse de menor?
— Não acho que seja de menor, não foi por isso que perguntei. É só
que você parece um pouco mais nova. E, de qualquer forma, mesmo se
fosse, poderia muito bem estar aqui. As identidades falsas ainda existem,
sabia?
Oh, com certeza. Sabrina Larsen que o diga.
— Não é o meu caso — minto na maior tranquilidade e na maior
cara de pau. — Eu realmente posso estar aqui, confie.
— Certo... — E segue me analisando com suas íris hipnóticas. —
Não querendo ser indelicado, mas você tem o quê, vinte e cinco?
Dou de ombros novamente quando digo:
— Por aí.
Dessa vez, não há nenhuma mentira da minha parte. Vinte e um é
bem perto de vinte cinco, e, de qualquer forma, eu não confirmei nada.
— E não querendo ser indelicada... — continuo, na esperança de
mudar o foco do assunto. — Posso saber o que viu no seu celular que te
deixou tão bravo daquele jeito?
Um suspiro cansado lhe escapa no exato segundo em que me escuta,
parecendo relembrar só agora o que tinha o atormentado. E é
impressionante como, em segundos, sua expressão fica um pouco mais séria
e fria, até segura o copo de uísque que percebi só agora que estava bebendo
e entorna o restante do conteúdo de uma vez, numa velocidade tão
acelerada que mais parece que estava querendo que seus problemas fossem
embora, junto do líquido âmbar, nesse seu último longo gole do que
qualquer outra coisa.
— Vim para cá fugir do trabalho — explica depois de lamber os
lábios e bater, com leveza, o copo de vidro no tampo do balcão do bar. —
Entretanto, quando se tem um celular, o trabalho consegue vir até você num
piscar de olhos. E é um pouco irritante quando percebe que as pessoas, além
de não terem noção de horário, também não têm discernimento de entender
o que é uma pessoa de folga querendo aproveitar pelo menos um pouquinho
do seu tempo livre. Eu trabalho demais, e hoje, especialmente hoje, eu só
preciso desestressar porque, a partir de amanhã, se o meu trabalho já era
difícil, vai ficar o dobro. Infelizmente, não é todo mundo que entende isso.
Agora de lado, olhando para ele, finco o meu cotovelo no balcão e
descanso a minha cabeça na palma da minha mão, sem falar nada, apenas o
observando. Acho que fica desconfortável, pois se remexe de novo.
— Não dá para você parar?
— Parar com o quê? — Faço a sonsa.
— Com esse seu olhar, menina, ele é meio perigoso.
Elevo os ombros, com o ego nas alturas.
Se antes eu estava pensando que poderia ficar com esse cara, agora
eu tenho certeza de que vai acontecer.
— Eu diria que eu sou toda perigosa — informo, sussurrando assim
que me aproximo mais dele. Seu perfume forte logo adentra minhas narinas
quando eu inspiro, já com essa vontade mesmo de senti-lo. Com certeza vai
ficar na minha memória, afinal, amo um homem cheiroso, eles sempre
marcam. — Posso te mostrar a qualquer momento, e eu tenho certeza que,
ao invés de você mandar eu parar de te olhar desse jeito, você vai ficar
pedindo por mais quando perceber do que sou capaz.
Ouço quando arfa, e é um som tão pesado que eu juro que posso
senti-lo áspero. É exatamente o som de um homem afetado, cansado, com
desejo e uma vontade incontrolável de se aliviar e de se distrair logo depois
de enfrentar um dia difícil, como deu a entender que foi o seu caso.
E acho que usa a minha frase de incentivo para mudar a forma que
prossegue comigo, pois, quando percebo, ele acaba com qualquer distância
entre nós, seu rosto bem próximo ao meu. Cada pelo do meu corpo se eriça,
a minha frequência cardíaca triplica e, pelo seu olhar carregado de luxúria,
com aquele ar predatório, sinto que ele também está eletrizado, sentindo as
faíscas que crepitam ao nosso redor.
É surreal, indescritível, ao mesmo tempo que transmite calor com
suas íris castanhas, elas gelam só pela forma ártica como me observa, o
maxilar já trincado.
— Você não deveria sair por aí brincando com fogo, menina. Nunca
ouviu falar que fogo queima?
— Eu já me sinto queimando.
Estala a língua no céu da boca e quase caio para trás quando
finalmente me mostra o seu sorriso. É desesperador notar como é fatal,
capaz de aniquilar qualquer ser humano vivo, principalmente porque não há
nada de bondoso nele. É um sorriso bem maldoso, na verdade. Um que faz
parecer como se, em sua mente, estivesse imaginando mil e uma sacanagens
entre a gente. Minha cabeça não se encontra muito diferente no momento,
no entanto. Ela pode ser descrita como a própria moradia do diabo de tão
má e perversa.
— Tão fácil assim? — pergunta o cretino que, agora, parece estar
entendendo como jogar o meu jogo. — Acho que você não sabe direito o
que sente.
— Então me faça sentir, posso ficar bem quietinha enquanto você me
ensina.
— Não sei se gostaria de te ver quietinha, se é que me entende.
Porra, só com isso o meu ventre se contrai.
— Eu faço barulho para você, não há problema.
Eu poderia até dizer que sorri de forma atroz mais uma vez, porém
seria uma grande mentira. O homem gostoso ainda não deixou de sorrir
para mim.
Meu ventre se contrai o dobro, com a sua fixação passando a ser a
minha boca. Mordo-a só para provocá-lo.
— Infelizmente, menina, esse lugar não é propício para eu te fazer
ser barulhenta.
— Me leve para fora daqui e eu grito bastante.
Oh, céus, eu juro que não sou tão safada assim, mas não estou
conseguindo resistir, as Margaritas estão dominando a minha corrente
sanguínea e me dando uma dose extra de coragem.
— Você não deveria pedir coisas tão indecentes a estranhos, sabia?
— Por que é perigoso? Eu sei, mas como eu disse, eu posso ser bem
mais, você não faz ideia. — Cruzo os braços em frente ao peito, e dessa vez
a minha atitude é totalmente inocente, no entanto, seus olhos recaem
novamente para os meus peitos. Ele não está querendo fazer nada de forma
disfarçada. Sorrio internamente por saber que essa roupa me seria muito útil
para enlaçar possíveis pretendentes. — E quer saber de uma? Eu já entendi
tudo sobre a sua pessoa e lhe peço, encarecidamente, para parar de ser um
chato. É normal as pessoas flertarem e se pegarem em baladas sem nem ao
menos se conhecerem, sabia? Quantos anos você tem, sessenta, para parecer
e agir tanto como um velho?
Na mesma hora, se afasta de mim e retorna para a sua posição inicial
só para que eu possa ver com muita nitidez a sua expressão nada contente.
— Eu sou um homem à moda antiga — explica ao passo em que
desfaz a sua careta e olha para baixo, só para fechar um dos botões da sua
camisa social branca. Quase faço um beicinho de tristeza por ele estar
atrapalhando a minha vista do seu peitoral. — Ou sei lá, talvez eu só esteja
enferrujado nesse lance de saber movimentar a minha vida amorosa, já que
a única vida que eu sei tomar conta é a minha vida profissional. E você é
um mulherão, um que sabe o que quer, admito que me deixou meio sem
jeito, não estou muito acostumado.
— Ai, que mentira — solto aos risos. — Duvido que milhares de
mulheres não caiam em cima de você todos os dias.
— Pode parecer loucura, mas eu realmente não tenho tempo nem
para perceber se isso acontece com frequência ou não. Óbvio, não sou
inocente, elas se insinuam bastante para mim, porém geralmente eu estou
ocupado demais para retribuir.
— Com o que você trabalha? — pergunto, curiosa. — Para mim, te
olhando assim, parece que é um CEO, dono de alguma empresa bem
sucedida em Los Angeles.
Ele ri.
Ele ri.
Parece um milagre.
E parece som de anjo também, já que eu escuto perfeitamente por ser
bem na hora que a música que estava tocando se encerra.
Se estivéssemos em um desenho animado, certeza que agora mesmo
sairiam corações dos meus olhos só pela forma encantada em que o fito.
— Não sou um CEO — responde. — Mas digamos que eu tenho
algo parecido com uma empresa.
— Uhh, poucas informações, gostei, significa que quer ser
misterioso. Não há problema nenhum para mim. — Até prefiro, pois nem
morta que posso revelar a minha verdadeira identidade. — Eu gosto dessa
coisa de mistério. Você não vai saber nada sobre mim, nem eu vou saber
nada sobre você, e aí, no outro dia, seremos apenas memórias de uma noite
divertida um do outro. Se trabalha tanto como diz e precisa de uma
distração, deveria me usar. E pode ser do jeitinho que você quiser — soo
maliciosa. — Posso te ajudar no quesito flerte, pegação e essas coisas. Por
que você ainda faz essas coisas, não faz? Ou é um celibatário?
Outra vez, para me deixar mais mole, ri.
É baixo, põe até os dedos para cobrir os lábios, mas eu gosto. Faz
com que eu sinta como se estivesse arrancando a máscara séria que
provavelmente ostenta por aí, seja no seu dia a dia ou no trabalho. E posso
apostar que é só por não me conhecer e por saber que não vai me ver nunca
mais.
— Não, pode apostar que não. É um pouco difícil, porém pode
acreditar que, quando quero, tenho meus contatos para não ter que passar a
minha noite sozinho.
Faço um bico nos lábios como se eu estivesse impressionada e
assinto.
— Interessante você mencionar isso, pois se eu não tivesse chegado
aqui, você estaria sozinho.
Tomba a cabeça para o lado.
— Como pode falar com tanta convicção?
Chacoalho os ombros para cima e para baixo, fingindo que não vou
revelar minhas estratégias.
— E outra coisa, como foi que soube que, além de sozinho, eu sou
solteiro? — continua indagando. — Eu posso muito bem ter uma namorada
e você estar aí flertando à toa.
Até parece.
— Ah, essa é fácil. Seu semblante solitário me disse que você estava
desacompanhado e o seu dedo sem aliança me revelou que está
descompromissado, livre para mim. — Sorrio. — Não se impressione,
querido, sou uma mulher observadora.
Antes que o homem, cujo nome eu não sei, possa falar qualquer
coisa, nós somos interrompidos pelo barman trazendo a minha bebida.
Confesso que eu tinha me esquecido completamente dele.
— Sua Piña Colada, senhorita — diz à medida em que me entrega o
copo. — Desculpe pelo leve atraso, meu companheiro de trabalho precisou
sair mais cedo e, no momento, só eu que estou tomando conta de tudo. —
Faço um sinal com a mão livre para que ele entenda que está tudo bem, que
não deve se preocupar, porém o tatuado desvia sua atenção para o gostoso
misterioso ao meu lado. — Outro copo de uísque? — questiona, pronto para
girar nos calcanhares.
— Por favor.
E o barman assente com um aceno e vai atrás do uísque. Enquanto
ficamos o esperando trazer, me sento direito novamente no banco, mexo no
canudinho e o trago até os meus lábios, sugando a bebida, que me faz
gemer de prazer por causa do gosto que tanto adoro. Fecho os olhos e me
delicio com mais um pouco.
Não demora muito até que o cara retorne e encha o copo dele de
uísque de novo.
Aproveito dessa oportunidade para olhar para trás, verificando se
vejo algum sinal de Dakota e Eric se aproximando, porém não os encontro,
o que significa que devem estar dançando horrores na pista. É a Beyoncé
que está tocando e Eric é louco por ela, não vai sair de jeito nenhum,
mesmo que estejam achando estranho a minha demora.
Parecendo ler meus pensamentos, me sobressalto quando escuto ao
meu lado:
— Você veio sozinha?
Volto a olhá-lo e faço que não.
—Vim com meus amigos.
— E onde eles estão?
— Provavelmente dançando. Mas e os seus?
— Meu melhor amigo é o dono daqui — revela, e dessa vez eu fico
realmente surpresa. Não esperava por essa. — Estou nesse estado
deplorável porque, no dia que eu decido aceitar todos os seus convites para
encher a cara, ele não compareceu porque está cuidando da filhinha de seis
anos. Ele é pai solteiro.
— Uau. — Assobio. — Não fazia ideia.
— Pois é.
— E você?
— Eu o quê? — Para com o copo antes mesmo de fazê-lo chegar à
boca.
— Tem filhos? É pai solteiro?
— Não sabia que iríamos discutir a minha vida aqui. — Fricciono os
lábios para que um O perfeito não se forme em meus lábios com o seu
comentário petulante. — Mas não, não tenho. Nem filhos, nem namorada,
esposa, ex-esposa, viúva, nem nada do tipo.
Bebo mais um pouco da Piña Colada e a deixo repousada no tampo
da mesa.
— Claro, e já posso imaginar que é por causa do trabalho. Você é um
daqueles workaholics, que vive de terno, gravata e não consegue fazer
absolutamente nada porque é ocupado demais mandando, desmandando e
gerando dinheiro e mais dinheiro.
Estreita os olhos em minha direção.
— Pare de me ler, menina, eu quero continuar na parte do mistério
para você.
— Desculpe, não dá, você é clichê demais.
— Clichê?! — quase grita.
— Sim, daqueles totalmente previsíveis.
Rio da sua cara de quem não gostou nada do meu comentário.
Mas o que eu posso fazer se é a verdade?
— Tudo bem, tudo bem. — Deixa o seu corpo perto do meu e junta
as mãos assim que retorna para mim, me analisando de forma mais intensa
dessa vez. — Você também não foge muito do clichê, se quer saber. Posso
parecer bobo aos seus olhos, porém sei exatamente o que está acontecendo
aqui. — Na mesma hora, meu coração gela, com medo que saiba do meu
disfarce e só esteve esse tempo todo me enganando só para ver até onde eu
iria com a mentira. — Você é uma garota rebelde, ou que quer parecer
rebelde, e por isso apostou nesse visual, que talvez nem seja o que costuma
usar no seu cotidiano.
Ah, já entendi o que está fazendo.
— Hum, e o que mais? — o instigo ao me debruçar de novo no
balcão.
— Aconteceu alguma coisa na sua vida e, assim como eu, escolheu
estar aqui para extravasar. Desconfio que saiu de casa com vários interesses,
inclusive, encontrar alguém para brincar essa noite, pois pelo seu olhar
pidão, esteve um tempo presa de alguma forma e não foi bem atendida
como gostaria, o que a leva a estar aqui agora, brincando comigo, brincando
com fogo, para ter seus desejos e os seus fetiches atendidos só para se
satisfazer, para ver se encontra o que não lhe deram. Um ex-namorado,
talvez?
A parte diabólica habitando a Sabrina se agita, fazendo com que o
meu sorriso de espreita se transforme em um totalmente carregado de
volúpia.
— Bingo — sopro, depois de ter certeza de que ele vê a excitação
gritando em mim.
Seu lado predatório, louco para experimentar uma coisa diferente no
que eu suponho ser a vida monótona que leva, também parece escapar por
completo, e eu me sinto ser comida pelos seus olhos. Engolida. Devorada.
Cada pedacinho meu parece estar sendo conhecido, experimentado, numa
espécie louca de transe que me deixa ainda mais quente e molhada, o meio
entre as minhas pernas já formigando só em pensar na forma como deve ser
a sua pegada, se vai me levar ao ápice ou se vai me deixar boiando, à
deriva, perdida, e não de um jeito bom.
Não é o que eu sinto no meu coração para ser bem sincera. Esse
homem é um clichê ambulante; mais velho, sério, frio, distante, viciado em
trabalho, provavelmente rico e, como ele mesmo diz, sem tempo. O combo
perfeito para exemplificar que pode até demorar, mas quando está com uma
mulher, ele sabe fazer o serviço bem feito.
Não teria nem como ser o contrário, só de olhar para o seu rosto,
para o seu corpo, qualquer mulher já entra em estado de ter um delicioso e
belo orgasmo.
Eu, por exemplo, quero muito provar a teoria.
Cruzo as pernas para conter a necessidade, me abano mais uma vez e
pego o copo, sugando a maior quantidade possível pelo canudinho. Meu
interior todo se agita quando a bebida desce, fazendo um revertério em meu
estômago só de ansiedade.
— Você deveria ir com calma — aconselha, e não me parece ter
nenhuma boa intenção por trás disso. Deixo o copo de volta no balcão e
limpo o canto da minha boca com a ajuda dos polegares. — Se ficou tão
excitada com o que eu falei, deveria descontar em mim, não na pobre da
Piña Colada que não tem nada a ver.
Certeza que o brilho em minhas íris aumenta.
— Você disse mesmo o que eu acabei de ouvir?
— Sim.
— Então você quer mesmo me usar essa noite — é uma constatação
meio óbvia e até mesmo meio boba, mas é que eu estou... ah, sonhando.
— Sim — decreta, fazendo com que fogos de artifícios explodam
dentro de mim. — Eu posso ter sido meio lento, mas te garanto que, entre
quatro paredes, eu sou o mais rápido que você já viu.
— É o famoso come quieto.
— Que come bem.
— Que tem que me comer agora mesmo e deixar de propaganda —
digo de uma vez porque, oras, ele nem sabe quem eu sou mesmo.
E quer saber de uma, eu nem perco mais tempo, pois estou com uma
ideia em mente para sairmos daqui o mais rápido possível.
Flexiono os joelhos, me levanto, pego a minha bebida e me
aproximo dele, quase me enfiando entre as suas pernas. Mesmo com uma
clara expressão de confusão, não me para.
— O que está fazendo?
Como só tem um resto, eu começo a rodar o copo de um lado para o
outro.
— Veja, é uma delícia. — Minha voz é completamente fingida e, de
propósito, eu derrubo uma pequena quantidade em sua calça, logo me
afastando de forma dramática e pondo a mão na boca depois de soltar um
gritinho abafado de surpresa, meus olhos ainda presos na mancha molhada
que se formou. Ele chia, e eu não deixo que fale nada. — Ai, meu Deus,
que garota tonta e estabanada que eu sou, acabei molhando você sem
querer. Me perdoa, me perdoa, me perdoa. — Ponho o copo de volta no
lugar e me aproximo pela segunda vez. — Tem um banheiro aqui perto, se
você me seguir, posso ajudá-lo a se limpar.
De forma disfarçada, depois de olhar para os lados, repuxo os lábios
em um sorriso de canto, cheio de segundas intenções, que no mesmo
instante, faz sua expressão mudar, se acendendo. Na mesma velocidade, ele
se põe de pé e alterna o olhar entre mim e a mancha na sua calça, entrando
na atuação.
— Ah, moça, obrigado pela ajuda, eu não faço ideia onde ficam os
banheiros. Espero que você também possa saber como eu faço para me
livrar dessa calça.
— Não se preocupe, eu a arranco para você.
Ninguém, absolutamente ninguém, está prestando atenção em nós,
mas é isso que faz a situação ficar ainda mais divertida e gostosa, acredito
eu. Afinal, estamos fugindo do mundo lá fora e, pelo tempo que nos for
permitido aqui dentro, criaremos uma espécie de realidade alternativa para
brincarmos.
É como dizem, a noite é uma criança, e eu espero que ela esteja só
começando.
“Deixei esquisito, deixei pior
Toda vez que eu boto o pé para fora de casa
É suicídio social
É suicídio social
Quero me encolher e morrer”
BALLAD OF A HOMESHCOOLED GIRL — OLIVIA RODRIGO

Minhas costas se batem contra o azulejo quando o estranho à minha


frente me empurra, depois de ele ter expulsado todo mundo para fora e ter
nos enfiado e trancado discretamente aqui dentro do banheiro. A sorte é que
o dono da boate não economizou no espaço, e caso a gente queira
corromper todo ele, podemos fazer acontecer sem nenhum problema, pois
temos tudo isso aqui só para nós dois, exatamente como eu tinha sonhado
desde que o encontrei naquele bar improvisado.
Sorrio ao vê-lo me olhar com muita fome, e lambo os lábios, sedenta
pelo que está por vir.
— Agora que estamos entre quatro paredes, você vai me conhecer de
verdade. — Meu coração erra umas duas batidas na mesma hora em que o
ouço, certeiro, seu timbre fazendo todo o meu organismo vibrar de
ansiedade. Diferente de antes, como se estivesse tentando a todo tempo se
conter, ele me mostra o que eu suponho ser o seu verdadeiro lado. Um
homem tipicamente malvado, que não tem dó nem piedade. Deve ser esse
tom que usa quando está dando ordem aos seus funcionários. Não que eu
esteja reclamando. — É bom que esteja preparada, porque me atiçou e
agora eu vou fazer você queimar de verdade, de uma forma que nunca viu
igual. Ficará para sempre com esse momento na memória, se lamentando
por não poder mais me ter em sua vida, e a única forma de me manter
presente será quando se tocar com os dedos pensando que sou eu a fazer
isso com você, bem aí entre essas suas pernas lindas.
— Ou talvez venha a ser o contrário — respondo, afiada — Talvez
você que se lamente e use suas mãos para se lembrar de mim, a loira
peituda gostosa que pegou no banheiro de uma boate, com The Weeknd
tocando ao fundo. Você não vai conseguir superar tão cedo uma mulher
como eu. Sou rara. Uma em um milhão, querido.
— Isso aí, infelizmente, eu já não posso negar. — Como um animal
na sua função de predador cercando sua presa, ele vem até mim,
lentamente, um pé, depois o outro, um pé, depois o outro. Suas íris são puro
fogo, caos e desordem. — E já que você tocou nesse assunto, talvez eu
volte atrás. Talvez eu queira saber seu nome. Talvez eu queira saber seu
número, seu endereço e todo o histórico da sua vida para eu ficar obcecado.
Acho que você é a mulher mais gostosa que meus olhos já viram.
— Nem pensar — arfo quando ele fica por cima de mim, com sua
mão acima da minha cabeça, se apoiando na parede. Muito, muito perto.
Sua boca está simplesmente a pouquíssimos centímetros de distância da
minha. Acabo de perder todo o ar no meu pulmão quando, com a mão livre,
toca e ergue meu queixo, nivelando nossos olhares. — Esse momento aqui é
o nosso “faz de conta”. Nossa fuga da realidade. Aproveite e faça comigo o
que você tem vontade, meu bem.
— Não me chame assim, menina.
— Por que, meu bem? — cantarolo, brincando.
— Porque aí vou colocar na minha cabeça que você realmente me
pertence.
— E eu pertenço — afirmo, mas o vejo ficar espantado. — Essa
noite — relembro.
— Olha, não é querendo me gabar, mas acho que você vai me querer
por mais vezes. Tem certeza que não quer me dizer o seu primeiro nome?
— Na verdade, nesse momento, eu estou a fim de te dar outra coisa.
— Estou falando sério.
— E quem disse que estou brincando?
Ele não responde, fica em silêncio me olhando como se me
repreendesse.
Ok, já entendi, é um momento muito sério agora.
— Sabrina — sopro e fico na ponta dos pés para diminuir ainda mais
toda e qualquer distância que possa estar nos afastando. Quero o máximo
possível dele. — Se você quer um nome, esse é o nome. Sabrina.
Porque é quem está aqui com você agora. Esse é o nosso faz de
conta. E ela é a protagonista dessa nossa história.
— Sabrina. — Meu nome falso desenrola em sua língua, e o homem
parece estar sentindo o gosto da palavra em sua boca. — Sabrina... —
repete. — Entendi. Como a Aprendiz de Feiticeira. Acabo de saber o
motivo de eu estar aqui com você, na droga de um banheiro de boate, como
se eu ainda fosse um garoto novinho em busca de boceta. Você me jogou
um feitiço. Estou enfeitiçado e sem mais nenhum juízo no corpo.
Rio.
— Não, eu diria que você está completamente lúcido, querendo ter
uma noite diferente do que está acostumado.
— Tem razão, porque não sou esse tipo de homem. Se soubesse um
terço da minha reputação, se soubesse que tipo de trabalho eu faço, ficaria
completamente surpresa em me ver aqui.
— E isso é ruim? — Elevo as sobrancelhas. — É ruim sair da rotina
e relaxar um pouco? — Aperto seus braços e mordo os lábios, sentindo seus
músculos totalmente duros. — É ruim que esteja aqui comigo?
Balança a cabeça, negando.
— Não, é assustadoramente muito bom. Eu nem consigo me
reconhecer.
— E está tudo bem, eu também não me reconheço, e, sinceramente,
essa é a graça da coisa. Nós estamos praticamente na Terra do Nunca,
podemos ser quem quisermos. Seja o meu Peter Pan, e eu serei a sua
Wendy.
— Eu prefiro muito mais o Capitão Gancho.
Dou risada outra vez.
É claro que prefere.
— Tudo bem, podemos fazer dessa forma, seja o Capitão Gancho,
enganche essa mão no meu pescoço e me beije. Me possua. Me arruíne. Me
faça sua essa noite. Seja inesquecível — peço baixinho, ao resvalar meus
lábios nos seus.
A temperatura automaticamente muda, e se antes o banheiro parecia
espaçoso, agora as paredes me deixam claustrofóbica, apertada, fazendo o
meu corpo criar uma urgência muito grande de querer se fundir com o seu.
Ele também parece sentir o mesmo que eu, pois no minuto seguinte sua
mão se infiltra pelo meu cabelo, toca a minha nuca e me empurra contra a
sua boca. A explosão que sentimos é tão mágica que grunhimos e gememos
ao mesmo tempo, afobados, como se estivéssemos esperando esse tempo
todo por esse momento.
Eu, pelo menos, estava esperando, e como estava.
Me perco na sua boca, e sem querer perder mais tempo, dou
passagem para sua língua adentrar e encontrar a minha. Elas duelam juntas.
Meu coração se agita como se eu estivesse disputando uma maratona de
uma cidade à outra. O homem rosna, selvagem, bruto, primitivo, e sua mão
que não está na minha nuca se firma em minha bunda, a apertando com a
mão cheia, com gosto. É enlouquecedor. Me faz gemer de novo.
Em poucos segundos, ainda me beijando, me devorando e me
levando à loucura com seus lábios macios e quentes, eu sou surpreendida
quando me pega novamente pela bunda e me faz entrelaçar as pernas em
sua cintura, começando a andar comigo às cegas pelo banheiro.
Ele até se bate com uma coisa ou outra, o que faz com que a gente se
separe no beijo para rirmos um da cara do outro, porém a coisa volta a ficar
séria quando me repousa na pia do banheiro, abrindo as minhas pernas e
ficando no meio delas.
— Não é só seu corpo que é gostoso, sua boca também é. — E você
é todo gostoso, é o que eu penso, mas não dá tempo de falar. Estou ocupada
me deslumbrando com a visão do seu rosto corado, sua testa suada e seu
cabelo bagunçado. — Caralho, você é uma delícia, eu com certeza vou ter
que usar as minhas mãos no meu pau para poder me lembrar de você
depois. Não quero te esquecer. Quero que seja a minha Wendy.
— Seja um bom menino e deixe a janela do quarto aberta, quem sabe
eu não entre.
Sua expressão rapidamente se torna confusa.
— Isso é o Peter Pan quem faz, não a Wendy.
— E daí? — Dou de ombros. — Essa é a nossa história, quem faz as
regras somos nós.
Ah, céus, ele sorri, e eu estou adorando quando faz isso,
principalmente o vendo agora, na completa bagunça em que eu causei.
— Você tem sempre uma resposta para tudo?
— É porque minha língua é descontrolada — explico. — Meus
amigos costumam dizer que ela tem vida própria.
— Descontrolada ou não, só posso dizer que ela faz o trabalho bem
feito.
— Isso é sobre o meu beijo?
— Ah, com certeza é sobre o seu beijo.
Estreito os olhos, fingindo estar desconfiada.
— E você conseguiu ter noção só com aquilo? Não, não, negativo.
Você precisa de mais.
— Se tratando de você, eu preciso de muito mais.
— E eu vou te dar.
É o que falo antes de agarrá-lo de novo, sendo a minha vez de puxá-
lo pelo pescoço, aproveitando a oportunidade para passar as mãos pelos fios
do seu cabelo, descendo as unhas por sua nuca e passando as mãos pelos
seus ombros largos. Ele solta sons desconhecidos, mas não se afasta de mim
por nada, continua me beijando, provando da minha boca, depois descendo
os lábios pelo meu queixo e pescoço, sugando a minha pele para me deixar
marcas avermelhadas amanhã. Não reclamo, no entanto. Eu quero que ele
me marque, que me possua, que me deixe um presente, nem que seja na
minha pele, de que esse momento foi real e não um surto da minha
imaginação por conta do álcool que tomei mais cedo.
— Tão doce — balbucia, voltando a me olhar. — Tão safada e cheia
de fetiches. Espero que eu esteja realizando cada um deles.
— Acho que a gente já conversou demais. Está na hora de você
parar.
— Ok, Wendy. Entendi o recado. Vou focar em te foder.
— Isso, assim. — Reviro os olhos quando mordisca os meus lábios e
aperta a mão em meu seio sob o vestido. — Gosto de palavras sujas.
— Safada — me chama de novo.
Eu apenas o ignoro, e deixo que tome meus lábios de novo, dessa
vez de forma muito, mas muito mais urgente. O ambiente fica ainda mais
quente e um raio parece atingir o meio entre as minhas pernas.
Começo, também às cegas, a tentar desabotoar sua camisa social, e o
sinto novamente infiltrar sua mão pelos meus fios, agora pegando um
punhado e apertando. Sirenes vermelhas se ligam na minha cabeça e me
deixam estática, tentando entender o que devo ter de alerta. É quando o
homem tenta puxar minha peruca que eu grito, assustada, o empurrando.
Obviamente ele estava tentando ser sexy, mas porra, que situação do
cacete. Se ele puxa um pouco mais forte, minha peruca sai do lugar e o meu
disfarce vai completamente para o buraco. Continuo segurando meu cabelo,
tentando, de forma disfarçada, voltar a colocá-lo no lugar, já que ficou um
pouquinho torto, contudo nada que vá conseguir perceber.
Só que... merda, ele fica me estudando, tentando entender o que pode
ter feito de errado.
A sorte é que ele realmente não entende, acho que percebe que estou
normal e conclui que estou bem, novamente indo de encontro com a minha
boca. Num estalar de dedos, esqueço de todas as preocupações, me
afogando em seu delicioso gosto de menta e uísque.
Grito de novo e o assusto quando faz menção de tocar em meu
cabelo em tempo recorde.
— Foi mal — adianto logo antes que pense que fez algo, e dou uma
risadinha. Espero que não tenha saído tão forçado e tão sem graça quanto
eu imagino. — É que antes de eu vir para cá, fiz uma técnica de escova
nova e moça do salão acabou deixando uma ferida no meu couro cabeludo e
ele está meio sensível. Se der para não mexer, puxar ou tocar tanto assim
nele, eu agradeceria. Realmente dói.
— Desculpe, é que eu imaginei que você gostasse de... hum...
— Eu gosto — o corto, para que não me entenda mal. — E você
pode fazer o que quiser comigo, apenas não no meu cabelo. E juro que é só
nesse momento.
É só nesse momento mesmo, pois mesmo não querendo, estou te
enganando. Eu não sou Wendy, nem Sabrina, nem loira, muito menos
peituda. Até meus pobres seios estão mentirosos essa noite, porque nem são
desse tamanho todo. É tudo culpa do decote.
— Certo, tudo bem. Nada de mexer no seu cabelo.
— Isso. — Assinto. — Agora vem aqui, vamos entrar no clima de
novo. Quer dizer, espero que ainda tenha um.
Ele me obedece e volta, tocando nossas testas.
— Nem o susto que você me deu foi capaz de fazer meu pau deixar
de ficar duro.
— Hum, isso é bom. Muito bom. Vou precisar dele assim.
— Será todo seu.
Mal vejo a hora.
Repuxo os lábios para cima de forma ladina e continuo mexendo em
sua camisa, terminando de desabotoá-la. Eu fico aqui concentrada nos
botões, de vez em quando, ergo o meu olhar no seu só para vê-lo ansiando
pelos próximos momentos, e tenho certeza que fico rindo internamente por
senti-lo tão na palma da minha mão.
— Você está um pouco lenta, posso te ajudar se preferir, afinal, não
temos todo o tempo do mundo. Se você não sabe, eu coloquei uma
plaquinha de interditado na frente do banheiro, mas tenho certeza que não
vai demorar muito até algum funcionário perceber que tem alguma coisa
muito errada acontecendo aqui dentro.
— Certo, deixe comigo, eu só estou...
Hum, merda, talvez não me sentindo muito bem.
Acho que por toda a adrenalina, minha barriga está começando a
borbulhar. Mas é apenas um enjoo básico, não deve ser nada. Não deve ser
a bebida também. Eu posso ter bebido muitas Margaritas e uma Piña Colada
sem muito costume, entrando na onde de Dakota e Eric, porém não estou
me sentindo bêbada, apenas mais alegre e mais corajosa.
— Aconteceu algo? — Ele parece preocupado quando vê que deixei
a minha frase morrer e parei de mexer em sua camisa.
Faço que não várias vezes com a cabeça.
— Estou ótima.
Ao olhar para ele, me sinto tonta, e deve ser porque mexi demais
com a cabeça justo agora.
Merda.
— Tem certeza?
— Tenho, acho que você só me deixou meio fraca. Eu preciso só...
descansar um pouco.
— Vem, eu posso abraçar você.
Sorrio.
— Muito gentil da sua parte.
Ele ri baixinho e eu aceito quando abre os braços para me
aconchegar contra seu corpo. Eu respiro fundo, agarro sua cintura, coloco a
minha cabeça deitada em seu ombro, fecho os olhos por algum tempo e
alterno entre inspirar e expirar o ar algumas vezes, só para voltar ao meu
estado normal.
— Não sabia que terminaríamos assim — brinca.
— Ainda não terminamos — aviso. — Só estou recuperando as
forças que você me arrancou com o seu beijo.
— Nossa, então você vai ter que comer muito para ficar forte e me
aguentar. Se só um beijo está assim, imagine se eu te pegasse aqui nessa
pia. — Continua me abraçando, afagando as minhas costas em um carinho
que nem percebe ser extremamente acolhedor. Parece que está passando. —
É, acho que nossos planos foram arruinados.
— Não! — solto, brava. — Se você sair desse banheiro sem fazer o
que prometeu, eu realmente entro pela sua janela à noite, mas vai ser para te
descer o cacete.
— Mas aí a culpa é sua, não minha.
— Eu já estou ficando boa, pode me soltar.
— Não acho que seja uma boa ideia.
— Você não tem que saber de nada, é o meu desejo. — O empurro,
porém, obviamente, nem sai do lugar. — Obrigada pelo abraço fofo,
estranho, mas pode me soltar.
— Não.
Bufo, e me chacoalho mais uma vez, só que ao invés de eu ter algum
resultado da parte dele, eu tenho da minha parte. O enjoo aumenta e a bile
sobe.
— Me solte — peço, desesperada, com a barriga se revirando. — Eu
preciso que me solte.
— Deixe de desespero, fique mais um pouquinho aí.
— Não, é sério. — Me debato, e a coisa só fica pior. — Eu tô prestes
a...
Não consigo completar a frase, muito menos sair do seu agarre,
então, quando percebo, o enjoo se torna muito mais forte e muito mais
impiedoso, fazendo com que eu vomite em cima dele, colocando para fora
cada maldita gota de álcool que tomei hoje.
Ele se afasta na mesma hora e eu ponho a mão na boca, impedindo
que mais saia. É quando vejo sua camiseta branca toda melada. De mim. Do
meu... ah, não. Não, não, não. Me recuso a falar a palavra vômito. Que
vergonha. Que nojo.
Não acredito que fiz isso, que passei essa vergonha.
Vergonha não, humilhação.
Meus olhos queimam com lágrimas, principalmente quando vejo sua
boca entreaberta, sua expressão pétrea e o olhar que fica dando entre mim e
a mancha em sua camiseta, não parecendo acreditar nem um pouco no que
acabou de acontecer.
Espero que grite comigo, que me faça ouvir poucas e boas,
entretanto, não é o que acontece. Ele fica parado ali, com nojo, em puro
choque.
Pisco, limpo minha boca com o dorso das mãos, desvio do seu olhar
e pulo para fora da bancada da pia, ajustando as minhas roupas e o meu
cabelo, que com certeza também está podre a uma hora dessas.
— Sabrina. — Sua voz me deixa ainda mais com vontade de chorar.
— Você... está bem?
O quê?
Eu vomito em cima dele e ele vem perguntar se estou bem, querendo
pagar de preocupado?
Meu Deus, que vergonha. Eu quero simplesmente desaparecer.
E, em poucos segundos, é exatamente o que eu faço. Permaneço sem
trocar nenhum olhar, nem mesmo um de adeus, e corro até a porta, a
destrancando e saindo, com lágrimas molhando meus olhos. Lágrimas de
vergonha, nojo de mim mesma e raiva.
Muita, muita, muita raiva.
Raiva por ter bebido demais.
Raiva por não ter conseguido chegar nos finalmentes.
Raiva por ter estragado tudo e passado a maior vergonha do século.
E olha que eu achava que a noite seria longa, mal sabia eu que
vomitaria em cima do cara mais gato que já vi em toda a minha vida.
A minha sorte, ou o meu terrível azar, é que ele nem corre atrás de
mim.
Também, como poderia? Sendo que o deixei para trás naquele
estado.
Enxugo as lágrimas, me xingo mentalmente, tento despistar das
pessoas que passam por mim e, como não sei muito bem o que estou
fazendo ou para onde estou indo, sou parada justamente por Dakota e Eric,
que me olham sem entender nada.
— Michaela! — Eric sussurra-grita como se estivesse preocupado.
— Onde você se meteu, garota?
— Estávamos que nem loucos procurando por você — Dakota fala.
— Já estávamos prestes a ligar para a polícia para relatar seu
desaparecimento. Mas... espera aí. Por que está tão bagunçada? O que foi
que aconteceu?
— Vamos embora — digo, olhando para trás. — Por favor, eu só
preciso sair daqui. Prometo que conto tudo a vocês no caminho.
Ou quase tudo.
Sinceramente, não sei se vou ter coragem de contar aos meus amigos
que tive a oportunidade perfeita de uma noite mágica e que ela acabou
assim, sendo a maior tragédia da minha vida.
Se eu posso ter algum pensamento positivo, é que pelo menos eu
nunca mais o verei novamente.
Nunca mais.
“Eles dizem que eu fiz algo ruim
Então, por que foi tão bom?
Eles dizem que eu fiz algo ruim
Então, por que foi tão bom?
Nunca me diverti tanto
E eu faria de novo, de novo e de novo se eu pudesse”
I DID SOMETHING BAD — TAYLOR SWIFT

A maciez da minha cama era tudo o que eu estava precisando depois


da desgraça que cometi na Call Emergency.
Acho que já passou uma hora desde que cheguei escondida, e ainda
estou me sentindo vermelha de vergonha. Não consegui nem contar para
Dakota e Eric. O máximo que consegui foi falar que encontrei um cara na
hora de pegar a bebida, por isso a minha demora, fui tentar ficar com ele e
passei mal, o que estava me levando a pedir para que eles me tirassem
daquele lugar urgentemente.
Não foi uma mentira, mas nem de longe foi o que aconteceu.
E mesmo eles insistindo que queriam entrar aqui em casa para cuidar
de mim, eu, com muita determinação, consegui convencê-los que durante a
viagem de volta, parei de me sentir tão enjoada como antes, o que foi uma
verdade absoluta. Eu tinha melhorado. É claro que tinha melhorado, depois
de ter colocado para fora tudo o que estava me fazendo mal.
Me aconchegando melhor no meu travesseiro, paro de ficar de
barriga para cima, fitando o teto, e viro para o lado, uma risadinha nervosa
saindo por entre meus lábios depois de eu ficar algum tempo com o olhar
fixo em algum ponto aleatório do meu quarto, repassando a bendita cena do
banheiro na minha cabeça como um looping.
Não consigo acreditar que aquilo realmente aconteceu.
Não consigo acreditar que ele me abraçou para me ajudar a melhorar
e eu... vomitei nele.
Vomitei. Eu vomitei.
Não, só pode ser alguma pegadinha. Cadê as câmeras? Cadê alguém
para me dizer que estou no programa da Ellen DeGeneres? Juro, eu não
ficaria nem um pouco surpresa se isso acontecesse, afinal, o que eu fiz só
pode se enquadrar em um quadro terrível de comédia.
Preferia mil vezes que essa história de Sabrina Larsen não tivesse
existido, ou que meus pais tivessem me proibido de sair de casa, porém eles
não fazem isso de jeito nenhum, sou maior de idade, trabalho duro, sou
dona de mim, do meu dinheiro e, na cabeça deles, o que eu sei que é o
certo, posso fazer o que bem entender. Inclusive, essa mansão em que estou,
eu comprei e dei a eles, e também tenho meu próprio apartamento, que é
uma cobertura, no entanto, sou tão apegada a ficar sempre tão cercada de
gente que passo a maior parte dos meus dias aqui, vivendo junto com eles.
Só fugi mais cedo para a casa de Dakota e entrei de fininho aqui, porque
amanhã tenho um compromisso importante, e as pessoas que trabalham
comigo brigariam pelo horário e por eu ter me enfiado em uma balada
disfarçada.
Mas o que custava Antonella e Conrad serem um pouco mais
controladores? Nada. Não custaria nada. E certamente me livrariam de
muita encrenca.
Grunho, voltando a ficar de barriga para cima, porque estou
impaciente.
Deveriam me impedir de sair pelo resto da vida.
Deveriam me interditar, me prender.
Mas se bem que, se isso tivesse mesmo acontecido, eu não teria o
conhecido, não teria sentido o gosto dos seus lábios antes da terrível
tragédia. E mesmo tendo sido a pior experiência que já tive, não posso dizer
que não gostei de ter ficado em seus braços.
Eu fiz algo errado, eu sei, mas foi tão bom. Não vou conseguir tirá-lo
da minha cabeça tão cedo, o Capitão Gancho da nossa Terra do Nunca.
E se eu não posso tê-lo mais, é por culpa minha, pelo menos que eu
sonhe fazendo o que deveria ter feito: dado para ele na merda daquele
banheiro. Só assim o final, pelo menos no meu subconsciente, pode ser
diferente.
Bufo, fechando os olhos, agora um pouco com sono.
Melhor dormir logo, só assim eu esqueço a parte da vergonha e
descanso o quanto antes para o meu compromisso amanhã, embora ache
que meu sono será péssimo.

— Ansiosa para conhecê-lo, querida?


— Hummm... claro. — As palavras se embolam na minha língua
quando, enfim, respondo ao meu pai, que está sentado do outro lado da
mesa usando terno, gravata e com os cabelos escuros assentados
perfeitamente com gel, talvez para parecer mais sério, já que a ocasião
pede. — Não vejo a hora desse encontro acontecer, uhul — emendo,
fingindo um entusiasmo que eu definitivamente não estou sentindo no
momento, mas com direito a soquinho no ar e tudo, só para não decepcioná-
lo.
A verdade é que mesmo sabendo da importância desse momento
para mim e para a minha carreira, não estou conseguindo disfarçar a minha
ressaca. Quer dizer, para os meus pais, que não sabem de nada do que andei
aprontando na noite passada, eu até que consegui disfarçar muito bem com
a maquiagem que fiz questão de caprichar para cobrir as olheiras e o rosto
de morta-viva saída diretamente do elenco de The Walking Dead que eu
estava após me levantar da minha noite mal dormida, porém, para mim
mesma, não posso negar o quão péssima e acabada estou.
Por fora, não.
Por fora, eu estou belíssima, totalmente apresentável, como sempre
ando nos lugares.
Agora por dentro, céus, por dentro eu estou horrorosa. Uma
verdadeira bagunça caótica. Estou com dor de cabeça, meu estômago está
revirando por eu não ter ingerido nada desde que acordei, minha boca está
seca, eu ainda estou com sono e, sinceramente, não faço ideia de como
estou conseguindo manter meus olhos abertos, sem bater a cara na mesa
durante essas cochiladas acordadas que dou vez ou outra.
Acho que é porque, no fundo, estou me forçando a isso, a ficar
acordada, a me manter aqui presente.
Posso ter cometido a maior besteira ontem, quando achei que podia
me aventurar como qualquer garota comum da minha idade costuma fazer
quando sente vontade de sair, no entanto, agora eu tinha voltado ao mundo
real, ao meu mundo real, e quando a coisa era mesmo séria e se tratava de
trabalho, de algo que eventualmente me ajudaria em um futuro próximo,
não havia escapatória, eu tinha que deixar qualquer coisa que não fosse
importante para trás, focar e me concentrar no que era exigido de mim.
Esse momento, diferente da noite passada que foi uma loucura, um
evento caótico que pode colocar tudo a perder e é por isso que só deve ser
realizado uma vez na vida, é um daqueles realmente muito importantes. É
tipo um enorme passo para mim. Um que vai fazer com que a minha estrela
brilhe ainda mais. E meus fãs, possivelmente, vão amar a novidade
superbombástica ao meu respeito que está por vir.
Sim, mais uma.
Mas essa pelo menos é das boas.
E é por isso que eu preciso ignorar os sinais estúpidos dessa ressaca
estúpida querendo comer meu juízo.
Não tem dor de cabeça.
Não tem nada.
Eu estou bem.
Estou bem.
— Ele está meio atrasado, não? — mamãe é quem pergunta, me
despertando mais uma vez. Bocejo sem que percebam e vejo quando ela
confere seu relógio depois de arregaçar a manga do seu blazer branco, o
típico que gosta de usar nas nossas reuniões mais importantes. — Porque
ele disse que estaria aqui às 11h em ponto. Já são 11h10.
— Deve ter acontecido alguma coisa. — Dou de ombros, tentando a
todo custo me manter viva na conversa. — Sei lá, não criem paranoias,
ainda está cedo e o homem deve estar chegando. A propósito, qual é o
nome dele mesmo?
— Alexander Russell — os dois dizem em uníssono. — Mais
conhecido como Alex Russell, para os íntimos — meu pai completa à
medida que afrouxa a gravata no pescoço, parecendo mais nervoso só por
ter mencionado o nome do cara.
E eu, diferente dele, faço um biquinho impressionado nos lábios.
Alexander Russell.
Alex Russell, repasso mais uma vez em minha mente.
É um nome bonito. Imponente. Importante.
E de fato é, não tem como dizer o contrário.
Alexander Russell é um grande empresário. Ele gerencia a carreira
de várias celebridades que foram e ainda são importantes no meio artístico.
Já ouvi falar muito a seu respeito, mesmo esquecendo boa parte das coisas,
afinal, não sou muito boa de memória, e nesse estado em que me encontro,
fico pior. Sem contar que essa parte processual, a que costuma ficar por trás
de um grande artista, nunca me interessou. Eu só queria saber de compor,
de cantar, de tocar, de ter fãs, ganhar prêmios, lotar estádios. Todas as
outras coisas ficavam com os meus pais, que até então, eram os meus
empresários, que administravam e tomavam conta da minha carreira.
Eu vim do YouTube, postava covers, quando o meu nome estourou e
eu saí da bolha, eles foram os primeiros a me ajudar. Conseguiram um
contrato com uma gravadora importante e, quando me lançaram
oficialmente na indústria musical, até tentaram aguentar a pressão do
fenômeno que de uma hora para a outra, me tornei, entretanto, fugi tanto do
controle deles que ambos perceberam que não tinha mais jeito, eu
precisava, necessitava, de um gerenciamento muito mais sério e muito mais
profissional. E isso para que eu continuasse no topo e não me perdesse no
meio do caminho.
Não quero parecer desumilde, mas eu sou uma das cantoras teens
mais influentes dos Estados Unidos. Com milhões de seguidores nas redes
sociais, bilhões de visualizações em vídeo clipes e uma fanbase altamente
engajada e apaixonada, eu, Michaela McKenna, fiz história já no meu
primeiro álbum lançado, mesmo tendo, na época, dezenove anos. Foi algo
estratosférico. Ninguém acreditou.
LUNATIC, o álbum que consagrou o que sou hoje, além de estrear
em primeiro lugar na Billboard 200, uma das maiores paradas do país,
também foi um dos poucos álbuns a permanecer mais tempo charteando no
top 10, acumulando nada mais, nada menos do que quarenta e oito semanas
intacto, sendo cinco consecutivas no topo, o que fez com que vários hits
explodissem pelo mundo afora, espalhando a minha voz, a minha arte e
meu nome e minha imagem para todos os tipos de pessoas.
Viralizei na internet, nas rádios, nas televisões. Em todos os cantos.
De pouco conhecida, me tornei extremamente famosa e compareci a
lugares que Beyoncé, Rihanna, Lady Gaga, Taylor Swift e quase todas as
minhas musas da adolescência iam. Conheci e fiz amizade com várias delas.
Além de ter sido destaque em premiações, red carpets e matérias na
imprensa, claro.
Nossas vidas mudaram, minha e de toda a minha família, e mesmo
que eles tenham ralado duro e feito um ótimo trabalho, estava na hora de
me entregarem na mão de outra pessoa mais competente. Não que eles não
fossem, eles eram, bastante, aprenderam e estudaram sobre esse mundo
junto comigo, fizeram muitas portas se abrirem nesses meus quase dois
anos de carreira, porém estavam exaustos, diziam que eu estava indo para
um patamar que não os cabiam mais.
Meu próximo álbum tinha que sair em breve, as fofocas com o meu
nome tinham que dar uma amenizada, já que eu aprontava demais para o
gosto deles, e foram em Alexander Russell que eles viram a perfeita
oportunidade de eu não perder o meu legado de popstar por bobagem ou
talvez falta de um conhecimento mais profundo da parte deles.
Como confiava nos meus pais, deixei que entrassem em contato com
o homem e marcassem tudo, inclusive essa reunião na nossa casa.
Eu sabia que ele era ótimo, eu tinha dado uma pesquisada por cima.
Não tinha visto fotos, Russell parecia não gostar muito desse tipo de
exposição, mas me recordo de ter lido sobre a sua história e a forma certeira
de como agencia a carreira de suas celebridades.
Sei que são uns nomes bem fortes. Nem consigo acreditar que serei
um deles.
Bom, às vezes, quase sempre, nem consigo acreditar que estou
realizando meu maior sonho. Nem consigo acreditar que tive tanta sorte,
que pessoas se identificaram comigo, com a minha arte e hoje me
acompanham e me amam da forma mais genuína possível.
Nem consigo acreditar que também me tornei rica, e, mesmo sempre
morando a vida toda em Los Angeles — o que provavelmente facilitou
mais as coisas também —, passei de um bairro desprezado para um
totalmente renomado.
Porra, como posso ter ganhado na loteria assim tão jovem?
E como posso estar sonhando e divagando tanto?
Certeza que é por causa do meu primeiro porre, que foi ontem, no
caso.
Percebi da pior forma possível que álcool e eu não combinamos.
Mas foi tão bom, a vozinha do meu subconsciente cantarola.
Com medo que escutem meus próprios pensamentos, eu paro de
ficar largada na cadeira, alinho a minha coluna, aprumo os ombros e limpo
a garganta, tudo ao mesmo tempo.
Graças ao meu próprio lado perverso, acho que dessa vez desperto
de vez.
— 11h15 — Antonella, minha mãe, informa, ainda de olho no
relógio, cronometrando o tempo do meu mais novo empresário. — Se der
11h20 e Alexander não tiver chegado, nós vamos ter que ligar para ele. Já
pensou… — Conforme dá uma pausa, seus olhos se arregalam nas órbitas.
— Ele… ele… desistiu?
Conrad, na mesma hora, parece ficar pálido ao ouvir sua esposa.
Não consigo não revirar os olhos.
— Meu Deus, vocês pelo menos deveriam fingir que não estão tão
desesperados assim para se livrarem de mim. Eu ainda vou permanecer
sendo filha dos dois, sabiam? Não vão ter como enfiar essa
responsabilidade também em Alexander, sinto muito. Se pensam que vou
desaparecer, estão muito enganados.
— Desculpe, querida. — Papai tenta sorrir. Tenta. Não funciona
muito bem. Ele parece um pouco desesperado. — É que você não é uma
pessoa muito fácil de se lidar.
— Ei, Conrad, não fale assim com ela — mamãe parece querer
repreendê-lo, mesmo que tenha um tom divertido em sua voz, e fica
querendo fingir que não tem. Transformo meus olhos em fendas, sabendo
que ela também tem essa opinião. Fazer o quê? Eu realmente sou
incontrolável, assumo. — Michaela é maravilhosa, lidar com os problemas
dela enquanto é a nossa filha, ainda vai, agora ter que lidar com o mundo
todo sabendo, aí não. Fiquei para enlouquecer ou infartar um milhão de
vezes nesses quase dois anos, agora eu só quero férias na praia da
Califórnia.
— Eu também. Preciso surfar, faz tempo que não vejo a água do mar.
— Papai, que mentira. Assim faz até parecer que estava em cárcere
privado.
— Quase isso.
Meu queixo praticamente vai ao chão.
— Vocês são dois falsos que não me amam.
— Não, querida, não diga isso. — A voz doce de Antonella alcança
os meus ouvidos. — Amamos você, a Michaela, mas estamos de saco cheio
da Michaela McKenna. Ela é ótima, só é extremamente cansativa e
problemática.
— Espero que Alexander dê um jeito em você o quanto antes —
Conrad diz, e ao falar do empresário desaparecido, parece entrar em
desespero de novo, passando a mão pela testa. — Antonella, meu amor, já
são 11h20.
— Vou ligar...
E antes que mamãe consiga alcançar seu telefone, a campainha
ressoa pelo ambiente.
Estremeço, e tanto um quanto o outro paralisam.
Quando nossos funcionários vão abrir a porta, eles se levantam
rapidamente, e eu só faço o mesmo ao ouvir a voz masculina, grave e
aveludada se aproximando.
Não sei o que diabos dá em mim, mas eu pulo para o chão, fingindo
que estou procurando um brinco que deixei cair.
Não deixei, eles estão paradinhos e bonitinhos nas minhas orelhas.
Antonella e Conrad me veem e lançam olhares do tipo: “o que pensa
que está fazendo? Levante-se já daí agora, Michaela!”
Eu os ignoro, de repente nervosa, continuando a tatear o chão,
mesmo sem ter nada que eu possa pegar nas mãos. Eles também nem
conseguem falar mais nada, pois o tal Alexander Russell aparece,
agradecendo a pessoa que o trouxe até aqui.
— Antonella, Conrad, desculpem o atraso, tive um problema com o
meu carro. — Me arrepio. Não sei por qual razão isso acontece, mas
acontece. E é forte. Seu timbre de voz é forte, gutural e sério. Muito sério.
— Espero que saibam que sou pontual e detesto atrasos.
— Nós sabemos.
— Isso, nós sabemos — minha mãe repete o que o meu pai acabou
de mencionar.
E então, de repente, um silêncio.
Parece que só se escuta a minha respiração e o meu coração
martelando as minhas costelas.
Ouço passos de sapatos caros pairando atrás de mim.
Se antes eu estava respirando profundamente, agora eu prendo todo
o ar nos meus pulmões.
— Michaela? — Fecho os olhos, praguejando baixinho. Merda, é
ele. E por que raios eu me enfiei nessa situação maluca? E por que raios eu
tenho que ser tão impulsiva sempre com as piores ideias? — Por que está
parada aí desse jeito?
Xingo mais uma vez só para mim, antes de me levantar.
— Ah, é que meu brinco caiu e eu...
As palavras somem, provavelmente junto com a cor do meu rosto
quando meus olhos esbarram com toda força nos seus.
Fico pálida, zonza, e dessa vez tenho certeza que não é por causa da
ressaca.
Esses olhos. Esse rosto. Esse corpo.
Porra, eu me lembro.
Me lembro muito bem, principalmente porque os flashes da noite
passada pipocam em minha mente, não me fazendo esquecer.
Sua mão. Sua respiração. Seu toque. Seus... lábios.
Tudo está tão vívido. Tão recente.
Ele segue me olhando, e parece confuso, tentando entender minha
reação, o horror perpassando pelas minhas íris.
Se eu fosse você, não ia querer entender a porra da situação que nós
estamos.
Porque Alexander Russell não faz ideia, mas eu não tenho a menor
dúvida.
É ele.
Sim, é ele.
O cara misterioso que eu fiquei na balada ontem.
Agora, de misterioso ele não tem nada, pois finalmente o conheci.
E é ninguém mais, ninguém menos que meu mais novo empresário.
“Atenção
Eu preciso de atenção
Você tem perguntas?
Eu preciso de respostas
Apenas respostas erradas, apenas respostas erradas,
apenas respostas erradas”
ATTENTION — MILEY CYRUS

— Você está... bem?


Senhor do céu, essa frase de novo não.
Pronto, se antes eu tinha ficado traumatizada, agora eu fico o dobro.
Não bastando ter que ouvir algo do tipo naquele banheiro, agora tenho que
escutar na minha própria casa. Na frente dos meus pais. Com ele sendo o
meu novo empresário. Nessa situação tenebrosa do cacete.
Tusso para disfarçar o clima, conserto a barra da minha saia lilás e
escondo as minhas mãos trêmulas atrás das costas.
— Hum, sim... claro.
Que mentira. Que mentira mais descarada. Que mentira mais
absurda.
Se tem uma coisa que eu não estou, essa coisa é bem.
Porque eu estou surtando.
Não, não pode ser.
Dentre todas as pessoas do mundo, meu empresário tinha que ser
justo ele?
Esse é o maior azar da minha vida, sem contar que é a maior
enrascada que me enfiei. Mas não posso externar que estou em surto por
dentro. Pelo menos não agora. Tenho que me manter firme, plena e
sorridente, para que ninguém perceba que há algo de errado pairando por
aqui. Afinal, se descobrem, tudo pode ir por água abaixo, inclusive minha
carreira e a reputação que eu já nem tenho.
Só que sinceramente, a coisa está ficando pior. Sim, ela está ficando.
Porque antes ele estava tranquilo, mas agora que ouve a minha voz, o
sujeito me olha de forma atenta, um tanto quanto desconfiada, seus olhos
tentando encontrar algo nos meus.
Será que ele está percebendo uma certa familiaridade entre mim e
Sabrina?
Ai, meu Deus...
Já que está me encarando assim, fico realmente a um passo de
demonstrar que não estou nem um pouquinho bem, porém Alexander
balança a cabeça de um lado para o outro, como se buscasse concentração,
pisca os cílios um bocado de vezes e dá um passo na minha direção, me
estendendo sua mão para eu apertar.
— Não havíamos sido apresentados antes — é o que fala depois de
limpar a sua garganta, a voz marcante da qual me lembro tão bem, saindo
levemente falhada. Ele também estaria tão nervoso quanto eu? Não.
Obviamente não. — Sou Alexander Russell, seu novo empresário. É um
prazer finalmente te conhecer, senhorita McKenna.
Por que não se apresentou assim ontem? Pouparia tantos problemas,
mas pelo menos esse é um dos bons, a voz diabólica na minha mente faz
questão de cantarolar para que eu escute.
Tusso mais uma vez, com medo que possa escutá-la, e aperto logo a
sua mão de um jeito claramente nervoso e desengonçado.
— Pode me chamar apenas de Michaela. — Balanço a sua mão
rapidamente, forço um sorriso e já a recolho, colocando-a de volta atrás das
minhas costas, trocando o peso das pernas e fingindo que não senti coisas
por sentir sua pele na minha de novo. — E... hummm... o prazer é meu. —
Nos primeiros três segundos em que eu vejo que está começando a ficar um
silêncio mortífero, pelo menos para mim, meu cérebro, no mesmo instante,
já se comunica com a minha língua, que não fica quieta em momentos de
tensão. E em nenhum outro momento também, claro. — D-desculpa ter...
é... estado naquela situação quando você chegou, estava procurando meus
brincos, e, infelizmente, não os encontrei em lugar algum, acredita? Não sei
onde foram parar. Gostava tanto deles.
Mais uma vez, o homem me olha de forma diferente, conferindo
cada lado da minha cabeça.
— Mas os seus brincos estão bem aí.
Me empertigo.
— Onde?
— Ué, aí.
— Onde? — repito, desentendida.
— Aí. — Aponta. — Bem nas suas orelhas.
Merda.
Tinha esquecido que eu não podia soltar essa desculpa em voz alta,
porque obviamente ela é ridícula.
— Caramba! — é o que exclamo quando, para fingir, toco nas
minhas orelhas e os sinto, soando surpresa. Bato a mão levemente contra a
testa e libero uma risada engessada. — Minha nossa, não sei onde eu estava
com a cabeça. Que vergonha. Mas olha só, são eles mesmo. Eles estavam
comigo esse tempo todo e eu nem percebi. — Rio outra vez, e, enquanto
isso, penso: Como atriz, Michaela, você é uma ótima cantora, saiba disso.
— Ainda bem que me ajudou a achá-los. Viu só, mãe? Viu só, pai? —
Alterno o olhar entre os dois, só para não ter que olhar para ele. — O
trabalho anda me deixando doidinha.
Mais uma vez, outra mentira.
Mais uma vez, não sei onde enfiar a minha cara e nem como calar a
minha boca.
Entretanto, Antonella e Conrad percebem o que está acontecendo
aqui, pelo menos parcialmente, pois sabem a filha desastrada e nervosa que
eles têm, e vêm para me ajudar, cada um se posicionando em um lado meu,
de frente para o homem que vai ser meu novo empresário.
O homem que me pegou no banheiro de uma boate ontem, inclusive.
Eu ainda não superei isso, só para deixar claro. Pretendo não superar tão
cedo, na verdade.
Estou completamente ferrada. Fodida. Lascada.
Porém, continuo sorrindo. E é de puro desespero.
Espero que não estejam percebendo, embora eu acredite que tem
uma placa gigantesca na minha testa escrita: ei, fiz uma merda das grandes
ontem, vocês não percebem?
Cala a boca, escuto a voz na minha cabeça voltando de novo para
me atazanar e para me fazer lembrar que nem nos meus próprios
pensamentos eu consigo ficar quieta, pois até mesmo a minha mente
consegue ser tão ligada no 220 quanto eu.
Tenho que parar, repito para mim mesma. Tenho que respirar e ficar
calma.
Tenho que, agora mesmo, escutar e prestar atenção nos meus pais.
— A Michaela é uma figura — papai fala em meio à uma risada
seguida de mamãe, conhecendo os dois como eu conheço, diria que eles
estão sentindo uma enorme vergonha alheia por mim. Minhas bochechas
esquentam um pouco por causa disso. — Mas que bom que no fim deu tudo
certo e você conseguiu chegar a tempo, Russell. Ficamos felizes pela sua
presença. Seja muito bem-vindo à nossa casa.
Russell olha para o teto, para os lados, mexe na sua gravata e volta
suas íris para o meu pai, parecendo impressionado.
— Ela é tão bonita por dentro quanto é por fora. Vejo que têm bom
gosto.
— Ah, gentileza sua — minha mãe soa de forma amorosa, porém dá
para notar que está um pouco convencida. Ela adora decorações, e, para
falar a verdade, praticamente todas as coisas que enfeitam essa mansão,
Antonella quem deu palpites. Ouvi-lo falar algo assim é como receber um
baita elogio. — Que tal se formos para o nosso escritório? Acredito que
conseguiremos conversar melhor por lá.
— Certo. — Alexander concorda. — Por mim, tudo bem.
— Deseja algo antes de irmos? — Conrad questiona. — Uma água,
um café, um suco? Uma bebida um pouco mais forte?
— Nada de álcool! — A frase sai tão rápida que pressiono os lábios
quando percebo que ela escapou de mim, antes mesmo de passar por uma
aprovação. Todos os três me encaram na mesma hora. — Quer dizer... —
Diminuo o meu tom de voz e aprumo os ombros, novamente sorrindo com
nervosismo, minhas mãos suando como a minha testa também está, o que é
surpreendente, visto que estamos no ar-condicionado. — Nada de álcool
porque o horário não permite e eu duvido que o Sr. Russell beba enquanto
está trabalhando. Bem, nem combina também. É melhor água para todos.
— Minha filha... — Antonella murmura de forma disfarçada ao meu
lado à medida em que finge olhar para os seus saltos. — Se contenha, pelo
amor de Deus. Por que está se comportando dessa maneira tão estranha?
Nem te conto, mamãe. Nem te conto.
— Uma água. — Paro de prestar atenção nela quando a voz
imperiosa vem para arrepiar até mesmo a minha alma. E, agora, olhar para
ele é como um profundo mistério. Não porque Alexander está diferente do
que eu imaginei que seria na sua rotina, não, nada disso. Ele está realmente
o clichê que eu mesma disse ontem; terno, gravata, roupas sociais, postura
autoconfiante, educação e seriedade. O que eu estou querendo dizer é que é
um mistério tentar entendê-lo agora. Parece que me estuda, que me observa
querendo saber quem eu sou, mas não obtendo resultado e tendo que ficar
por isso mesmo. Daria tudo para ler seus pensamentos nesse exato
momento. — É... — Respira audivelmente e desvia sua atenção. — Uma
água é o suficiente.
— Vou pedir para levarem para nós — minha mãe avisa.
Na mesma hora, ela sai andando e chamando o nome da nossa
governanta umas duas ou três vezes.
Papai ri da sua esposa.
— Vamos, é logo aqui no corredor. — Olha para Alexander e, antes
de começar a andar, aponta a saída para o homem, que assente e afunda
uma das mãos no bolso da sua calça preta social. — A propósito, você disse
que tinha acontecido algo com o seu carro. Foi sério? Precisa de algum tipo
de ajuda? Tenho alguns contatos. — Os dois agora ficam lado a lado.
— Não, não. Muito obrigado. Foi apenas uma falha, e eu mesmo
consegui arrumar no caminho. Deu um pouco de trabalho, por isso o meu
atraso, o que peço desculpas de novo, mas no fim deu tudo certo.
— É o que importa — papai diz.
E eles engatam em outro assunto, caminham juntos e nem percebem
que me deixam para trás, com meus sapatos criando raízes no assoalho,
nem uma única fibra do meu corpo querendo se mover.
Estou parada no mesmo lugar.
Estagnada.
Com o queixo quase atingindo o chão de tão chocada que me
encontro.
Uma vez sozinha, sinto uma vontade enorme de gritar, pular, chorar,
surtar, me jogar no chão e me bater por ser tão estúpida e por sempre, não
importa o que seja, tomar decisões extremamente erradas e que acabam me
colocando em problemas que nunca faço a mínima ideia de como resolver.
Tipo esse, que também não faço a mínima ideia de como agir.
Na realidade, eu até sei, só não sei se vou conseguir. Entretanto, é
necessário. Tenho que continuar fingindo. Tenho que esquecer que um dia
já vi esse homem na vida.
As memórias devem ser de Sabrina, e não minhas. Eu tenho que
ignorar completamente. Tenho que esquecer do seu beijo, da sua pegada, do
fato que fui ontem à balada e, principalmente, do vômito horrível que
estragou tudo. Tenho que deletar completamente aquela noite da minha
vida.
Para Alexander, eu sou uma estranha, e é isso que ele deve ser para
mim também, afinal de contas, teremos uma relação apenas profissional.
Extremamente profissional.
É, é isso.
Ontem nem existiu.
Eu não saí da casa de Dakota, ficamos a noite toda acordadas
maratonando séries junto de Eric, que mais uma vez, pediu para colocarmos
Gossip Girl assim que chegou da viagem à Orlando. Foi tudo leve,
divertido e pacífico, nada aconteceu.
Nada mesmo.
Nadinha.
E agora estou eu, pronta para conhecer meu novo empresário. Vou
entrar naquela sala, no escritório, sentar na cadeira e ficar plena e contente
enquanto o vejo falar sobre nosso futuro juntos na música. Falaremos sobre
a minha carreira e como seguiremos daqui em diante.
Ergo a cabeça, arrumo a minha saia outra vez e coloco um sorriso no
rosto, dessa vez muito mais confiante do que antes. Pelo menos tentando
parecer mais que antes.
E quando já estou perto de dar um passo para sair daqui, papai
aparece, colocando a cabeça na fresta para me ver, um vinco formado entre
as suas sobrancelhas.
— Filha, vem logo — ele chama, mas o vinco não some enquanto
me encara. — Por que continuou aí?
Olho para os lados.
— Porque eu estava procurando... — Balanço a cabeça, soltando um
muxoxo. — Quer saber, deixa para lá. — Não vale mais a pena inventar
desculpas. Caminho em direção a ele, ainda ostentando o mesmo sorriso. —
Vamos logo conhecê-lo, papai. Sei que deve estar ansioso.
Ele me abraça de lado.
— Viu que o cara é bonitão?
Engulo em seco na mesma hora.
— Vou fingir que não ouvi isso.

Mesmo o escritório gelado por conta do ar, eu me sinto queimar,


porque na mesa, eu estou bem ao lado de Alexander, que vira e mexe
também parece estar com calor ou levemente desconfortável. Não sei se
está desse jeito mesmo ou se é uma mania sua, já que a cada cinco minutos
ele mexe na sua gravata. Seja afrouxando-a ou colocando-a em uma nova
posição, sempre faz questão de ficar tocando nela, principalmente quando é
necessário me olhar ou falar algo diretamente para mim.
— Eu trouxe o contrato e algumas cópias para vocês lerem. —
Entrega os papéis para mim, para Antonella e Conrad.
Meus olhos passeiam pelas palavras, embora eu esteja bem ciente de
que não vou conseguir ler nada agora. De qualquer forma, acredito que
meus pais vão conseguir lidar melhor com essa questão do que eu, afinal,
me recordo deles dizendo que já leram porque Alexander Russell passou
um e-mail com as vigências do contrato para eles uns dias atrás, fizeram
questão de me mostrar e de me deixar a par do que o empresário havia dito.
— Sei que nós conversamos previamente e ficamos acordados de
seguirmos com a parceria, mas acredito que vocês conhecem a minha fama,
sabem que gosto de trabalhar de forma honesta e sempre deixando muito
claro quais são as minhas funções e o meu percentual, então resolvi reforçar
outra vez para saber se é isso mesmo que desejam para a artista Michaela
McKenna. Acho que sabem que eu também não costumo prender ninguém
comigo, ou seja, fiquem à vontade para voltarem atrás. Se quiserem um
tempinho para pensar mais um pouco, também não há nenhum problema
para mim, podemos conversar depois.
— Não, não. — Papai, na cadeira da ponta, é o primeiro a se
manifestar. — Entramos em contato com você justamente por isso.
Ouvimos recomendações, pessoas que trabalharam e trabalham na sua
empresa, elas só elogiaram e nos garantiram que a forma como trabalha é
totalmente íntegra, de respeito e no nível da minha filha. O contrato passou
por nós três e foi aprovado. Sabemos que ela estará em boas mãos.
Boas mãos.
Sim, elas são boas mesmo. São grandes, firmes e adoram puxar
cabelos.
Quer dizer, estou supondo pelo tipo de homem que ele parece ser.
Não que eu saiba disso. Não que eu tenha sentido ou testado. Não que eu
queira repetir de novo. Não que eu esteja pensando em uma possível noite
nesse momento. De forma alguma.
Me remexo na cadeira como uma forma de parar de pensar e deixo o
contrato em cima da mesa, assentindo quando Alexander vira para mim,
parecendo estar em busca de uma resposta da minha parte.
— Tem muitos empresários filhos da puta, que gostam de sugar e se
dar bem em cima dos artistas, levando vantagem. — Bato as minhas unhas
levemente contra o vidro da mesa e afundo os incisivos no meu lábio
inferior apenas por alguns segundos. — Não acho que seja o seu caso.
Dessa vez, não estou contando nenhuma mentira. Como eu disse, eu
pesquisei sobre a sua vida, até porque não posso me enfiar em qualquer
coisa, e o cara realmente tem uma fama impressionante, inatingível. Ele é o
maior queridinho das celebridades. Parece que diferente dos outros,
Alexander Russell realmente ama o que faz. Tanto que não há polêmica o
envolvendo. Todos os artistas parecem adorá-lo. Venerá-lo. Tratá-lo como
um deus na área musical. E talvez ele seja mesmo. Mas não somente nessa
área.
— Não te chamaríamos aqui se não tivéssemos certeza — é a vez da
minha mãe. — A minha filha virou um fenômeno, ultrapassou todas as
barreiras possíveis, e meu marido e eu não temos problema nenhum em
falarmos que mesmo estudando não estamos mais no nível de ajudá-la. —
Antonella se volta para mim, sorrindo como a mulher angelical que é. —
Ela se tornou uma diva pop. Uma cantora internacionalmente conhecida e
amada. Nós ainda estaremos aqui para ela, brincamos, mas jamais
deixaremos Michaela McKenna de lado. Ainda seremos uma equipe, mas
agora de outra forma.
— Sim. — Sorrio de volta, também olhando para o meu pai no
processo. — Eu agradeço muito por tudo que fizeram por mim. Se hoje eu
sou o que sou, foram vocês que também fizeram por onde. Vocês sempre
serão uma parte grande da Michaela McKenna e eu tenho muito orgulho de
tudo que construímos juntos.
— Fico feliz em ouvir isso, Michaela é um fenômeno mesmo, e é
por isso que estou aqui. O potencial é gritante — Alexander fala, no
entanto, não parece nem um pouco feliz como diz. Ele continua sério,
mantendo a postura de homem rico, poderoso, executivo, que tem tudo aos
seus pés e não precisa estar sorrindo e mostrando seu outro lado para
desconhecidos por aí. Como Sabrina suspeitou desde o princípio. — Então,
estão todos de acordo mesmo? Podemos prosseguir?
— Sim — meus pais concordam juntos.
— É o que você deseja, Michaela? — Seus olhos profundos me
encaram. Me arrepio dos pés à cabeça, porque agora ele fala meu nome,
diretamente para mim. Agora ele me conhece. Sabe muito bem quem está à
sua frente. Eu me tremo.
— Sim. — Minha voz custa a sair, e eu arrumo a minha bunda na
cadeira de novo. — É o que eu desejo, Sr. Russell. Você será meu novo
empresário. Está feito.
— Ok. Nós estaremos ligados um no outro a partir de agora. —
Negativo, Sr. Russell, nós fomos ligados ontem, muito antes dessa conversa,
e você não faz nem ideia. O vejo tocar na sua gravata de novo, depois no
seu blazer, tirando uma caneta de dentro dele para poder me entregar. Eu a
pego entre os dedos e vejo seu sobrenome brilhando nela. — Você deve
assinar bem aqui. — Aponta para o papel que está com ele, no finalzinho da
página. Balanço a cabeça, confirmando, sabendo que ali é o original, o
oficial. — Seu nome e seu sobrenome, por favor — informa, depois de me
passar arrastando o contrato pela mesa.
Mexo a caneta entre os dedos e finjo que estou lendo, mas só estou
mesmo refletindo que já era. Isso aqui não é só um contrato que vou assinar
para a minha carreira, é, além disso, um contrato que vai realmente me
proibir de qualquer dia, mesmo lá para a frente, mencionar o que aconteceu
entre a gente. Aqui é o fim. O fim definitivo de uma história que nem
começou. É a prova crucial que tenho de apagar minhas memórias.
Todas elas. Até mesmo Sabrina Larsen.
E eu dou tchau para ela assim que assino o meu nome no papel e o
entrego junto da caneta.
Nem agora, quando vê que temos um acordo feito, Alexander é
capaz de sorrir.
Bem, ele só dá um indício de um erguer de lábios, mas é totalmente
raso, porque, no fundo, o homem também parece preocupado.
Ele não me reconheceu não, né?
Não, claro que não. Ele não prosseguiria com essa história se tivesse
reconhecido. Além do mais, eu estava disfarçada. Tinha uma peruca loira,
uma franja, uma maquiagem forte, um decote exagerado e um vestido que
me fazia parecer um mulherão. Olhando para mim vestida assim agora, com
toda a minha aura e sabendo quem sou, tenho certeza que me olha só como
uma jovem de 21 anos que jamais agiria daquela forma naquela noite.
— Tudo certo por aqui. — Alexander guarda os papéis na maleta
que trouxe junto com ele e se volta para nós entrelaçando suas mãos em
cima da mesa. — Michaela McKenna é oficialmente uma das minhas
estrelas. Agradeço a confiança, te dou as boas-vindas e te afirmo com toda
certeza que temos muito trabalho e um longo caminho pela frente para
trilharmos juntos. Garantirei e te darei a minha palavra que manterei seu
sucesso no nível que está e até mais. Você estará somente entre os grandes,
e eu farei o que estiver ao meu alcance para ser o melhor empresário que
poderia ter nesse momento tão especial de sua carreira.
— Muito obrigada — agradeço, e é de coração. No fim, é isso que
realmente importa. Minha carreira, meu sonho, meu trabalho, meus fãs, por
todas essas coisas, eu enfrento o que for. — Saiba que também farei tudo ao
meu alcance para ser a melhor possível.
— A gente também agradece, tá bem? — Mamãe ri. — E cuida da
nossa menina. Ela é a nossa estrelinha.
— Sim, a mais brilhante — papai emenda.
— É como eu digo, o céu é o limite. — Alexander mira suas íris nas
minhas. — E nós vamos trabalhar duro. Falando nisso, posso dar uma
palavrinha com a Michaela um instante?
O medo e o terror me alcançam em segundos.
Olho rapidamente para os meus pais, achando que eles vão
permanecer onde estão, mas é claro que ambos já estão se levantando para
nos deixar à sós.
— Fique à vontade — Conrad diz. — A partir de hoje, você poderá
resolver tudo diretamente com ela. O trabalho será entre vocês dois, minha
esposa e eu ficaremos nos bastidores, mas caso precisem de nossa ajuda, é
só chamar que estaremos à disposição.
— Isso mesmo. — Antonella se junta ao seu marido e os dois se dão
as mãos, prontos para saírem daqui. Minha nossa, não acredito que vou
ficar sozinha com Alexander. Não, não, não. Por favor, não. — Aproveita,
filha, e conta para ele das ideias para o seu álbum novo, que você está
trabalhando.
— Pode deixar, eu vou querer saber disso também — meu
empresário responde por mim.
Eu sorrio, sem saber muito bem o que fazer.
Quando eles saem e a porta fecha, meu coração acelera, porque todo
o clima muda quando se volta para mim, encosta as costas na cadeira e
passeia com as mãos pelo queixo, na sua barba. Seus olhos ficam me
observando atentamente de novo.
Ele também fingiu.
Esse tempo todo, Alexander fingiu e vai agora mesmo me pegar na
mentira, dizendo na minha cara que sabe muito bem quem eu sou.
— Finalmente a sós. — Finalmente. Ele disse finalmente porque vai
me expor agora. — Você não precisa parecer tão assustada, Michaela, eu
não vou fazer nada só porque pedi para ficar sozinho com você, se é isso
que está pensando.
— Não estou assustada com isso.
Ergue as sobrancelhas.
— Está assustada com o quê, então?
— Com o que você está querendo falar para mim.
— Ah, sobre isso. Tem razão. — Como a cadeira que está sentado é
de rodas, ele se afasta, se aproxima e gira um pouco a minha, para ficarmos
frente a frente. Sinto seu perfume de novo e o meu coração vai a milhão.
Tenho certeza que nesse momento me encontro pálida por nossa
aproximação e, claro, por toda a atmosfera que mudou entre nós. — Eu não
sou uma pessoa de dar recados, senhorita McKenna. Eu gosto de falar na
cara, olho no olho. E como agora você é minha artista, preciso que saiba
que tenho algumas exigências quanto ao seu comportamento.
— O que tem meu comportamento?
Mudando seu perfil comigo, ele ri, e não é uma risada agradável de
se escutar.
— Vamos ser sinceros, ele é horrível — declara. — Você é uma
pessoa polêmica, Michaela, e são polêmicas de subcelebridade. Comigo,
não vou tolerar que se comporte da maneira que vem se comportando na
mídia. Isso é algo que farei questão de trabalhar, porque vou investir pesado
na sua imagem.
Pestanejo, com meu rosto esquentando, e dessa vez não é de
vergonha.
— Espera aí. — É a minha vez de rir, também sem humor. — Você
acabou de me chamar... do quê?
“Tão fora do alcance, mas parece perto
Não presuma o que você não sabe
Você age muito quente, mas ainda é frio”
DON’T ASSUME WHAT YOU DON’T KNOW — GRACE VANDERWAAL

Alexander parece ficar confuso com o meu quase grito.


— Do que você está falando?
— Do que você acabou de me chamar.
— Desculpe, mas eu não te chamei de nada.
Outro riso me escapa, e eu preciso segurar bem forte os braços da
cadeira em que me encontro.
— Subcelebridade — repito pausadamente, meus olhos um pouco
furiosos cravando nos seus. — Foi disso que você me chamou. Disse que
sou polêmica e que ajo como subcelebridade.
— Não, eu não disse isso. — Ele ergue um dedo no ar. — Eu disse
que suas polêmicas são de subcelebridade, não que você é uma.
— Disse sim, eu ouvi. — Estalo a língua no céu da boca e cruzo os
braços, sem acreditar. — E, de qualquer forma, dá no mesmo. Mas fique
sabendo que eu não procuro polêmica alguma, elas que me procuram. Não
posso fazer nada se sou uma pessoa falada, conhecida e interessante.
— Justamente por isso que vamos trabalhar a sua imagem.
Me levanto da cadeira, me lembrando de algo muito mais
importante.
— Você disse que minha imagem era horrível! — acuso, ainda com
os braços cruzados. — Como pode, sem nem me conhecer, ser tão rude
assim?
— Michaela, você não está sabendo fazer interpretação, porque não
foi isso que eu quis dizer em momento algum.
— Ah, ótimo, agora está me chamando de burra.
Suspirando, Alexander abaixa o olhar e aperta a ponta do nariz,
como se estivesse buscando forças para não se descontrolar.
— Pare já com isso — pede, com o maxilar travado e a mão já indo
afrouxar a sua gravata. Céus, por que ele já não a tira logo de uma vez?,
penso, com raiva. Está mais folgada do que tudo e, se o incomoda, não deve
ficar a usando desse jeito, até porque esse mexe, mexe também já está me
incomodando. — Meu Deus, eu sabia que você ia ser difícil, eu só não
imaginava que seria tanto.
É só escutá-lo que um flash de ontem me atinge com força, me
deixando levemente bamba.
Me lembro da nossa conversa.
Me lembro que ele disse que precisava relaxar porque nos próximos
dias seu trabalho ficaria difícil, algo mais ou menos assim. Ele já estava ali
se preparando para mim, porque possivelmente já tinha muitos preconceitos
bem estabelecidos sobre a minha pessoa na droga dessa sua cabeça-dura.
Deve me achar polêmica, o que até já confirmou, infantil, rebelde e que
precisa de modos e um freio, algo que deve achar que meus pais não deram
e essa é a sua função agora.
— Por que aceitou o trabalho se não gostava da conduta da cantora?
— indago, na lata, dando um passo para a frente de sua cadeira. — Ah, já
sei, pelo seu papinho, você quer me consertar. Tudo bem, eu entendo que
tenho muita coisa a melhorar, que tenho que parar um pouco de expor tanto
a minha vida na internet, tipo os meus relacionamentos, e juro, eu estou
tentando, até não estaria agindo dessa forma se você fosse um pouco mais
educado na sua forma de abordar esse assunto, eu estaria muito aberta em
ouvir os seus conselhos, mas não, você já veio me acusando e me chamando
de subcelebridade. Quem você pensa que é?
— Eu...
— Não, sério. Quem você pensa que é? — o corto, começando a
ficar muito irritada. E não só por isso, mas por causa de toda a situação. Até
há poucas horas, eu estava surtando, sofrendo, me culpando, com pena por
ter feito aquilo com ele no banheiro. E há poucos minutos, eu estava aqui,
desesperada por ter que esquecê-lo, no entanto, a verdade é que vai ser bem
fácil se continuarmos assim. E, inclusive, vai ser bem fácil eu parar de me
culpar e achar bem feito eu ter sujado toda a sua camisa, caso decida
continuar por esse caminho. — Não é só porque você é quem você é, que
trabalha para quem trabalha, que pode me diminuir como pessoa e artista.
Não sou de me gabar, me considero uma pessoa humilde, mas se for
preciso, eu digo a você tudo o que eu conquistei em dois anos de carreira.
Na verdade, acho que nem precisa. Se está aqui agora, é porque sabe muito
bem.
Irritado, ele se levanta num ímpeto, a cadeira até indo para trás com
a força e a brutidão com que fica em pé.
— Eu mal falei nada e você já fez todas as interpretações possíveis
de algo que eu nem disse, o que me faz crer que talvez, só talvez, eu possa
voltar atrás e confirmar que seu comportamento realmente precisa
urgentemente ser melhorado.
Encurta a nossa distância, querendo roubar meu fôlego.
— Eu entendo que é jovem, com os hormônios à flor da pele e
vivendo tudo o que jamais imaginou viver um dia, mas você não pode ficar
explodindo desse jeito, e foi justamente por esse seu jeito que comentei
aquilo. Você é autêntica, tem personalidade forte, é por esse motivo que se
envolve em tanta confusão e nem percebe. — Outro passo. — E é esse
quem eu sou. Alguém que vai cuidar de você. Alguém que vai cuidar da sua
carreira, da sua imagem e fazer você alavancar mais e mais. Alguém que
vai manter você no topo das celebridades A-List, e que para isso, você não
pode fazer birra, tem que me ouvir e seguir os meus conselhos como
alguém que está nesse meio há anos, que é experiente e que sabe o que faz.
Quando percebo que estou batendo o pé no chão como criança, é que
tenho uma noção que talvez, talvez mesmo, eu esteja provando todos os
pontos que ele acabou de citar.
— Tá. — Reviro os olhos. — Mas essa sou eu, fique sabendo. Não é
porque você é experiente, bom no que faz e tem uma fama impecável que
pode me ofender e eu terei que ficar calada.
— Eu não te ofendi, senhorita McKenna, esse é o meu jeito de me
expressar.
— Que é horrível — deixo claro, e Alexander me imita, cruzando os
braços e tombando a cabeça para o lado. — O quê? Se pode falar do meu
comportamento, eu também posso falar do seu. A abordagem foi péssima,
você me chamou de subcelebridade. E nem vem dizer que não, eu já sei
como se comporta. É sério, autoritário, rude, sem graça, detesta sorriso,
felicidade e só sabe tratar as pessoas assim desse jeito.
Outro silêncio sepulcral se instala entre nós, pois Alexander não fala
nada. Ele não retruca, não se defende, não me ofende, nada. Ele fica apenas
calado, com a cabeça ainda tombada para o lado, me analisando de um jeito
diferente, como se... me reconhecesse. Como se estivesse vendo algo em
mim que é muito familiar com o de alguma outra pessoa.
Merda.
E sabe o que é pior? A minha língua coça.
— Por que está me olhando assim? — Acho que os papéis se
inverteram aqui.
— Porque você não parece ter medo de mim.
— E por que eu teria medo de você? Não tenho medo de ninguém.
Seus lábios se erguem.
Sim, seus lábios se erguem, como na festa, entretanto, agora é um
pouquinho mais soberbo, cheio de arrogância e prepotência.
— Porque eu sou Alexander Russell, e eu costumo fazer isso com as
pessoas. E você sendo uma das minhas estrelas, deveria fazer que nem as
outras, me temer, ou ao menos, mostrar respeito a mim.
Dou de ombros.
— Eu mostraria, se você tivesse me respeitado primeiro.
— Tudo bem, como eu disse, eu já sabia que seria difícil. — Lambe
os lábios, me olhando de cima a baixo. Não há desejo como na noite
anterior, não há luxúria, não há nada disso, ele só parece mesmo atento,
curioso, nostálgico. — E você me tratando assim, me fez lembrar de uma
pessoa. Uma que também não teve modos quando me conheceu. Vocês até...
— Deixa no ar enquanto parece procurar algo em meu rosto.
Prendo a respiração, mas não consigo ficar calada por muito tempo,
quero saber em quem está pensando.
— Vocês até...? — instigo.
— Nada, não é da sua conta.
A resposta curta parece como um tapa na minha cara.
— Uau, belos modos você tem também. Chega a ser invejável.
— Já ouviu aquele ditado? Faça o que eu falo, mas não faça o que eu
faço.
Bufo.
— E qual a moral que você tem?
Também revira os olhos, e eu posso ver o restante da sua paciência
indo embora.
— Você não consegue simplesmente controlar a boca? — solta,
depois de passar as mãos pelo cabelo. — Vai ficar bem difícil se tudo o que
eu falar, você se opor.
Ergo uma sobrancelha e, quando percebo, já estou batendo o pé no
chão de novo.
— Deve ser porque, graças a Deus, eu possuo opinião própria. —
Agora, espalmo as mãos na cintura, não desviando do seu rosto por nenhum
momento. Se antes eu tinha vergonha, agora eu tenho muita vontade de
encará-lo o tempo todo, para que veja com seus próprios olhos que não vou
abaixar a cabeça só porque ele acha que tem moral aqui. — E não é porque
vou trabalhar com você e vice-versa que vou te deixar me moldar. Gosto de
falar, gosto de dar minha opinião, gosto de ser quem eu sou e é bom que já
fique ciente disso. Seja lá qual for o plano que tenha para a minha carreira,
espero que seja bom, porque, caso contrário, eu vou falar que não gostei e,
se for necessário, vou brigar para defender aquilo que acredito. Não sei
como são as suas outras artistas, mas eu, Michaela McKenna, não deito para
ninguém.
Escuto sua respiração se descontrolando.
— Depois diz que não é polêmica. — Ele também espalma as mãos
na cintura, o peito subindo e descendo como se agora estivesse começando
a ficar nervoso. — Já vi que vai ser daquelas que vai me dar muita dor de
cabeça.
— Não. — Nego, um pouco venenosa. — Se me tratar bem, eu vou
te tratar melhor ainda. Se me tratar mal, com ignorância ou arrogância, eu
vou ser o seu inferno particular pelo tempo que se estender o nosso
contrato.
— Porra, você é muito desaforada para o meu gosto, menina.
Menina.
Automaticamente, me lembro da nossa noite, de como chamava
Sabrina.
— Eu sou ótima, você que é grosso e estúpido.
Minha vontade é de falar que ontem não foi assim que ele me tratou,
que tentou ser alguém legal fora do seu trabalho, me abraçou, me acolheu e
me beijou com urgência, mas se para ele é tão difícil ser assim com outras
pessoas, então eu vou ser pior, só para que se toque que não é desse jeito
que deve tratar ninguém, nem mesmo no âmbito profissional.
É por isso que repito: Quem ele pensa que é?
Aposto que as pessoas enchem demais a bola dele, e é por isso que é
assim, não saindo do seu pedestal por nada, achando que pode opinar no
comportamento alheio.
Ele deveria se enxergar, isso sim.
Acho que acabo resmungando e pensando alto, pois num segundo,
Alexander está se esquivando de mim, no outro, ele está frente a frente
comigo, tocando meu braço, com o olhar nivelado no meu, transbordando
tantos sentimentos que não consigo nem pôr em palavras.
— Mocinha, eu estava até tentando levar numa boa para não causar
uma péssima primeira impressão, mas é melhor você me respeitar. —
Engulo em seco já que diferente de antes, ele parece mesmo muito mais
sério, muito mais bravo e muito mais sem paciência. Esse tempo todo,
Russell estava tentando se controlar, buscando forças para não me mostrar a
sua real face, que é o que acontece agora, porque agora sim ele parece puto,
pronto para me colocar medo, para imputar respeito. Ele sabe que sou fora
da casinha, e que só agindo assim comigo vai fazer com que eu entenda que
às vezes, a minha melhor opção é guardar os insultos que desferi contra ele
para mim mesma. — Eu não quero e não aceito que extrapole os limites
comigo. Não vou ser seu saco de pancadas só porque você é mimada e acha
que pode enfrentar quem quiser. Comigo, a coisa é mais séria.
— Me chamou de quê? — Tento me soltar, mas ele continua me
segurando.
— Você pode ter parafusos a menos, mas tenho certeza de que ouve
muito bem.
— Mimada é seu...
— Olhe a boca. Que tipo de artista descontrolada é essa?
— O tipo que quer que você me solte.
— Com muito prazer.
Alexander me solta, e não se afasta, continua no mesmo lugar, não
dando nem um único passo, nem para a frente, nem para trás. E eu continuo
na mesma, estagnada e presa no seu olhar.
— Olha, Michaela... — Tosse, sem jeito. — Você é uma menina
muito jovem, é a mais jovem com quem já trabalhei, inclusive, e acho que
estou desacostumado em lidar com essas atitudes menos maduras, mas eu
não sou uma pessoa que perde as estribeiras com os meus artistas. Eu tenho
um relacionamento ótimo com todos, por mais que para você seja uma
surpresa, e não quero que criemos um clima hostil entre nós. É nosso
primeiro encontro, olha só como está se saindo. Dessa forma, como vai
confiar em mim e eu em você? Nossa relação tem que ser cordial, a base do
respeito, profissional.
Rio.
— Menos madura? — repito o que disse no começo. — Por que não
me chama de infantil logo de uma vez? Tenho certeza que é isso que pensa.
— Mais uma vez, você colocando palavras na minha boca.
— E no seu vocabulário, menos madura significa o quê?
Com as mãos ainda na cintura, meu empresário olha para um lado,
para o outro, confere seus sapatos brilhando e então volta a me encarar, seu
rosto numa expressão fria.
— Você vai continuar me enfrentando até quando?
Ergo as mãos.
— Não está mais aqui quem falou.
— Ótimo, porque de tudo o que eu falei, você só prestou atenção no
que não devia.
— Certo, certo. — Balanço a cabeça à medida em que dou o braço a
torcer. — Também não concordo que devemos brigar, mas lembrando que
foi você quem começou. E eu já disse, a pessoa tem de mim o que ela me
der.
Seus olhos castanhos se estreitam em minha direção.
— Se ofendeu tanto assim só por causa da palavra subcelebridade?
Estreito os olhos de volta.
— Está confirmando que quis me chamar de subcelebridade?
Rola os olhos com uma lufada de ar escapando pela fresta entre seus
lábios.
— Eu falo sério quando digo que você precisa de mais interpretação.
— Abro a boca para obviamente respondê-lo à altura, mas me calo no
instante em que o vejo erguer a palma da mão só para me parar. — Acha
mesmo que eu aceitaria te agenciar se fosse uma subcelebridade? Já me viu
alguma vez com alguma delas?
— Não conheço muito o seu trabalho — falo para alfinetá-lo.
— Duvido — soa arrogante e... divertido? Não, eu é quem duvido
disso. Ele é um chatão. — Porém, posso te dizer que só trabalho com
patente alta.
— Devo levar como um elogio?
— Claro — dessa vez ele parece sincero. — Eu gosto da sua música,
Michaela. Gosto da sua voz, da sua presença de palco, do seu carisma e de
como se comporta com o seu público. Gosto também das suas letras, e de
saber que é você quem compõe boa parte delas. — Me surpreendendo,
Alexander volta a puxar a cadeira para poder se sentar. — Falando nisso,
depois quero marcar uma reunião com o seu produtor. Quero ficar por
dentro do seu novo álbum.
— Ok. — Desvio do seu olhar porque agora fico sem graça. Não
estava esperando que fosse fazer um comentário positivo justo agora. — Eu
posso te contar sobre tudo do que penso para o novo álbum, não tem
problema algum. Vou querer sua opinião.
— Uau. — Assobia, me fazendo voltar a olhá-lo. — Isso é você
sendo legal?
Me sento de novo na cadeira, cruzo as pernas e puxo mais a saia.
— Já falei, se você for legal comigo, eu vou ser legal com você.
Assente, passeia os dedos longilínios pela barba, em todo o maxilar
definido, e acaba soltando uma risada rouca e baixa, que entra pelos meus
ouvidos muito bem.
Me arrepio, pois mesmo não querendo, não consigo esquecer de
ontem.
— Vou continuar insistindo no que eu disse, você será difícil,
senhorita McKenna. Extremamente difícil.
— E você também não será nada fácil, Sr. Russell.
— E como nós iremos fazer isso dar certo?
— Não faço a menor ideia.
Ele se curva, pondo os cotovelos fincados nas coxas.
— Vamos ter que descobrir — informa e, então, se levanta. —
Infelizmente, não vai ser agora. Daqui, preciso partir para outro
compromisso e receio que eu já esteja atrasado novamente.
— Hummm, talvez você não seja tão profissional quanto diz.
Ele me ignora.
— Não vai me levar até a porta?
Olho para as minhas unhas e finjo desinteresse.
— Você tem uns parafusos a menos, mas acredito que pode muito
bem encontrar sozinho o caminho da saída.
Ao erguer meu olhar, eu sorrio, praticamente dizendo: viu só, eu
sempre dou o troco.
E me surpreendendo mais uma vez, Alexander também sorri, só que
falsamente.
— Obrigado pela gentileza, senhorita McKenna.
— Não há de quê, Sr. Russell. — Dou aquele tchauzinho,
balançando os dedos no ar antes de vê-lo girar nos calcanhares. — Volte
mais vezes. E, ah, você está esquecendo nosso contrato.
Girando, volta para pegar a maleta, mas não sem antes continuar
com o sorriso forçado na minha direção.
— Isso, por aí mesmo — incentivo quando o vejo tocar na maçaneta
da porta.
Ao ver meu novo empresário ir embora, praticamente fugindo, eu
sinto a minha dor de cabeça voltar.
Simplesmente, não sei mais o que pensar.
Em uma noite, tivemos química de sobra, e hoje, nesse belo dia, mal
conseguimos suportar um ao outro.
Talvez somente Sabrina seja capaz de funcionar com aquele cara, e
quer saber de uma? Ele realmente tem que ficar no passado junto com ela.
Ele é um porre como empresário, e olha que legal, é o único lado
dele que terei.
Estou mesmo chafurdada na merda.
“Ela arrumou o vestido, ela mordeu o lábio
Ela me iluminou
Eu conheci uma garota de sapatos loucos e azul-bebê
O jeito que ela se move está mudando todo o meu mundo
Eu conheci uma garota”
I MET A GIRL — SAM HUNT

Quando eu recebi a ligação de Conrad e pude conversar um pouco


com ele, gostei do homem, da sua gentileza e da sua visão de trabalho logo
de cara. Posso dizer que nos demos bem no primeiro minuto de conversa, e
quando citou sua filha, Michaela McKenna, obviamente eu já a conhecia. A
garota vem fazendo um sucesso absurdo, com músicas que explodiram na
internet, fora dela, e os seus shows pelos Estados Unidos foram motivo de
manchetes pelos jornais e por toda imprensa, justamente pela capacidade
máxima atingida e pelo seu próprio show em si, que foi considerado um
espetáculo à parte, totalmente irreverente, jovem e marcante.
Eu a achava um baita sucesso, uma artista que mesmo com poucos
anos de carreira, tinha uma presença e um talento absurdo, um diamante
que podia muito bem ser mais lapidado, então, costumava acompanhá-la
justamente por esse motivo. Eu adorava estar por dentro do que estava em
alta no mercado, e como ela vinha sendo muito consumida, acabou meio
que virando um objeto de estudo meu.
Quando surgiu o convite, e Conrad mencionou que precisava da
minha ajuda, não tive como recusar, muito menos achar que era uma
péssima ideia. Não, nada disso. A ideia era ótima. Eu podia transformar
aquela garota em uma artista de peso, extremamente consolidada, e eu
estava louco para poder embarcar nessa.
Mas como eu a acompanhava, sabia que teria problemas pela frente.
Michaela, além de muito jovem, tanto na vida quanto nesse meio, era uma
explosão de personalidade. Suas redes sociais são superativas, porque ela
não para de postar nada, e os paparazzis a adoram, juntamente com as
colunas de fofoca. Sua vida pessoal, muito badalada por causa dos seus
namoros e affairs, para eles acaba sendo muito mais interessante do que sua
vida profissional, que é incrível, e essa seria a minha principal preocupação;
melhorar a sua imagem para que essas coisas ficassem como plano de
fundo, e não o lado principal da artista Michaela McKenna.
Afinal, para mim, quem vive de polêmica é subcelebridade, para
poder ganhar seus cinco minutinhos de fama nas colunas de fofocas e,
assim, não ser esquecida.
E eu achava que teria muito trabalho pela frente, que talvez ela não
fosse ser fácil, que pudesse me dar dor de cabeça e ser um pouco mimada,
indo contra minhas sugestões, mas, sinceramente, nada, nem minha
conversa com Conrad ou as vezes que procurei seu nome nas redes sociais,
me preparou para o que seria conhecê-la pessoalmente.
A garota é um porre.
Uma coisa absurda de chata.
Ela é desbocada, barraqueira, mimada, tem a língua afiada e só gosta
de fazer as coisas do jeito dela.
Não quis deixar tão perceptível, mas, porra, eu não a suportei.
Vou ser bem franco, na verdade, aquela conversa que tivemos me fez
foi detestá-la.
Ela me olhou com desdém, me tratou com desdém e ainda teve a
audácia de falar comigo daquela forma, perguntando quem eu era. Em
nenhum momento, ela mostrou respeito. Em nenhum momento, ela se
sentiu acuada ou preparada para me ter em sua vida. E em todo o momento,
eu estava à beira de perder o controle. E eu nunca perco o controle. Pelo
menos não com quem eu trabalho. Sou sério, controlado e tento ser pacífico
o tempo todo, justamente para não criar um ambiente ruim e desconfortável
com ninguém.
Tudo bem, posso ser difícil, posso não dar muita abertura e posso ter
o costume de ser direto demais, sem gostar de floreios, porém todo mundo
sabe e entende o meu jeito, minha personalidade. Ninguém me cutuca, me
alfineta ou fala na minha cara que sou grosso e estúpido. Ninguém me deixa
tão puto ao ponto de me deixar com a cabeça doendo.
E Michaela McKenna me deixou.
Eu saí da sua mansão como se ela estivesse pegando fogo, correndo
para o mais longe que eu pudesse. E olha que foi nosso primeiro encontro.
Ainda nem começamos direito nosso trabalho. Isso me deixou nervoso e,
sinceramente, sem ideia de como será daqui para a frente.
Só espero que depois que eu saí, ela tenha refletido. Que nas
próximas vezes, possamos nos entender e criar um ambiente melhor entre
nós. Estou pensando e acreditando nisso para não enlouquecer de vez,
afinal, como vou conseguir fazer meu trabalho junto de alguém como ela?
Espero que tenha sido só uma má impressão, e que ela mude o
quanto antes para o bem da minha sanidade mental.
— Cara, achávamos que você não vinha mais. — Oliver me
cumprimenta com uma expressão emburrada pior do que a minha. — Mais
um minuto e íamos embora.
Esse aí é Oliver Olsen. Dono da boate Call Emergency. Pai solo.
Mais conhecido como o meu melhor amigo desde o Ensino Médio. Fomos
para a mesma universidade, a UCLA, dividimos o mesmo dormitório e,
desde então, não sabemos o que é vivermos sem a presença sufocante um
do outro.
— Olá para você também — murmuro ao forçar simpatia. — Ei,
desfaça essa cara de cu agora mesmo, ontem você me deu um bolo enorme
e mesmo assim eu estou aqui, não estou?
— Eu estava com a Iris, e ela é muito mais importante que você, seu
merda.
Iris Olsen. Filha de Oliver. Minha sobrinha de coração e afilhada.
Seis anos de pura esperteza e amor pelo píer de Santa Mônica, que é
exatamente onde vim parar agora, só para fazer seus gostos. Estou na
personalidade tio babão ativada, sem o terno, sem a gravata, sem a maleta,
apenas de óculos escuros e com a minha camisa social com os primeiros
botões abertos, revelando um pouco do meu peitoral.
No calor da Califórnia, não tem como ficar diferente.
— Eu sei que ela é, idiota, por isso que você está aí ainda bem
vivinho. — Olho para todos os lados, inclusive sobre os ombros de Oliver.
— E onde ela está nesse momento?
— Lá dentro. — Aponta para a sorveteria favorita de Iris às suas
costas, uma que sempre frequentamos juntos todas as vezes. — Ela disse
que se fosse para esperar, iria esperar sentada porque em pé cansava.
Não me aguento, dou risada ao imaginar a minha garotinha falando
isso. É bem a cara dela.
— Sempre muito sensata — brinco, e o olho com estranhamento, por
percebê-lo diferente somente agora. — Você está com olheiras e parece
péssimo.
— Nossa, obrigado por dizer o óbvio, filho da puta. Eu tenho
espelho em casa.
— Ui, está mal-humorado?
Oliver bufa, com seus olhos azuis sendo revirados nas órbitas.
— Você demorou, e eu não dormi muito bem à noite, tive um
trabalho escolar da Iris para fazer de última hora.
Fricciono os lábios para não rir e levanto um pouco mais as mangas
da minha camisa.
— Natasha jogou essa bomba para você, não foi?
Meu melhor amigo passa as mãos pelos fios castanhos do seu cabelo,
um pouco mais exasperado do que nunca. Tento, inutilmente, segurar o riso
na garganta, disfarçando com o que eu acredito ser a minha quase seriedade
de sempre. É porque Oliver realmente está acabado, suas roupas pretas
estão amassadas, seu rosto está com barba por fazer, e olha que ele sempre
tira, porque diz que gosta de ostentar seu rosto de bebê por aí, já que na sua
cabeça, ele parece bem mais novo do que é, mas ainda tem as benditas
olheiras e o cabelo desalinhado para complementar todo esse seu visual.
Entretanto é aquela coisa, mesmo desse jeito, como quem se
arrumou às pressas, o que eu acredito ter acontecido por passar mais tempo
arrumando e cuidando de Iris, esquecendo de si de vez em quando, ele
ainda é bonitão. Na faculdade, Oliver Olsen era o galã, o popular, o canalha
desgraçado quebrador de corações. Eu também era galã, bastante disputado,
não posso deixar de mencionar, mas enquanto eu estava ralando duro para
me formar, querendo ser alguém na vida, meu melhor amigo estava apenas
aproveitando o que a vida universitária tinha de bom para lhe oferecer;
transa, garotas, festas, bebidas e drogas.
Diferente de mim, Oliver veio de família rica, e por mais que nunca
tenha gostado de pedir nada aos pais, querendo ou não, tudo o que ele
precisasse, ele tinha aos seus pés. Lutar para ganhar a vida nunca foi seu
propósito, pelo menos não quando era jovem. Depois dos 25, ele sossegou e
tomou prumo no que queria fazer, então aquele seu bar, que é a sua vida,
nasceu, lhe dando responsabilidades e um verdadeiro propósito. Dali em
diante, ele amadureceu bastante, e aí quando Iris chegou, ele só melhorou.
Ainda gosta de farra e diversão? Obviamente, porra, ele é dono de
um dos bares mais famosos de LA, isso explica muita coisa, porém, ainda
assim, a sua função pai estará sempre em primeiro lugar, como podemos
perceber agora, o que para mim é muito adorável e digno.
— A mãe dela teve que viajar, então, dessa vez, acho que só tive um
grande azar mesmo.
Rio.
Natasha foi um caso de uma noite só que o meu amigo teve, e
quando ela descobriu que estava grávida, sumiu por alguns meses, com
medo da reação de Oliver, mas quando retornou, ele confiou cem por cento
na palavra dela e não exigiu nada, disse que assumiria a criança e, ao
contrário do que ela imaginou, meu melhor amigo não surtou, ele ficou
feliz. No fundo, ele sempre teve o sonho de ser pai. Eles até tentaram
engatar em um relacionamento, moraram juntos e tudo, mas perceberam
que eles são ótimos como amigos, apenas isso, e é desse jeito que se
encontram até hoje. Possuem uma ótima relação e a guarda da Iris é
compartilhada, ou seja, é a bonequinha preferida da mamãe e do papai.
E do titio também, porque sou ciumento se tratando da minha
pequena.
— Falando em azar... — Me lembro rapidamente dos meus últimos
acontecimentos e franzo o nariz em uma careta. — Passei por duas
situações terríveis no seu bar e na casa de Michaela McKenna, que você
não vai nem acreditar.
Sua expressão se ilumina na mesma hora em que me escuta.
— O que foi que você fez no meu bar?
É óbvio que é tudo com o que se importa.
— Eu não fiz nada — me defendo. — Fizeram comigo.
— O quê? — Cruza os braços, desconfiado.
— Conheci uma mulher... — Minhas mãos começam a suar na
mesma hora, me obrigando a passá-las na calça. — Eu estava bebendo
uísque, e ela se aproximou. — Sinto uma guinada no meu coração. —
Assim que a olhei, fiquei encantado. Ela era linda, tinha o corpo perfeito e,
para piorar, uma boca que não conseguia controlar. Quando percebi, nós
estávamos conversando, com ela claramente flertando e dando em cima de
mim. Fiquei surpreso, encantado, enlouquecido com aquela mulher e a quis
no mesmo instante. Nós fomos ao banheiro, estávamos nos pegando lá
dentro quando algo aconteceu.
Espero que Oliver pergunte o que aconteceu, que ele fale alguma
coisa, porque estou dando essa deixa para ele, mas o meu amigo parece
chocado o bastante para proferir qualquer coisa. Ele fica assim por quase
um minuto inteiro, o que me deixa apreensivo sob seu escrutínio.
Oliver pisca uma, duas, três vezes.
— Você... — começa, finalmente. — Você está me dizendo que
estava prestes a foder uma desconhecida no banheiro da minha boate?
— Ah, caralho, quantas vezes você não fez isso? Vai se importar
logo agora?
Nega várias vezes com a cabeça.
— Não, não. Veja bem, não estou surpreso com essa nojeira, porque
não vou ser hipócrita, eu também já fodi alguém ali, em cima da pia é
ótimo, meio apertado, mas ótimo. O que estou querendo dizer é que você,
Alexander Russell, que só sabe falar em trabalho e não tem tempo de pôr o
pau para fora nem para mijar, conseguiu fazer coito ontem? — Assobia,
perplexo. — Isso para mim é surpreendente.
Opto por ignorar suas ofensas disfarçadas de gracinha e continuo
com a história.
— É aí que mora o problema, meu caro. Se você estivesse me
zoando por algo que eu fiz, eu até suportaria, mas não aconteceu.
— O que não aconteceu?
— O coito. O sexo, Oliver — falo com um pouco mais de
impaciência do que o normal. — A mulher passou mal. A mulher
simplesmente bebeu demais, passou mal e vomitou em mim. Em cima de
mim. E depois disso ela fugiu, me deixando todo sujo na porra daquele
banheiro. Eu ainda fiquei preocupado, tentei ir atrás dela, mas acho que
você pode perceber que eu não estava nas melhores condições para sair
andando pela festa. Tive que tirar a camisa, lavar e ficar esperando ela
secar. Demorou horas. Horas.
Novamente, ele fica quieto, apenas por poucos segundos, já que sua
risada consegue se reverberar por todo píer de Santa Mônica e até mesmo
de toda Califórnia.
Endureço minha expressão.
— Não, Alex, nem fodendo que isso aconteceu com você. Porra,
qual a probabilidade?
— Um azar do caralho — suspiro. — E eu não faço a mínima ideia
de quem ela é, qual seu sobrenome, onde mora, o que faz da vida, nada.
Não tenho nenhuma informação que possa me levar até ela para saber se
está bem. O que eu tenho são apenas memórias e o gosto daquela boca
petulante na minha.
— Ah, não. Nem vem. — Pestanejo, sem entender sua reação, que se
aproxima só para colocar a mão em meu ombro. — A mina não te deu um
chá de boceta, ela vomitou em você, e mesmo assim você ficou amarradão
nela?
Dou de ombros, fingindo indiferença.
— Ela não quis vomitar em mim, ela passou mal e aconteceu, não a
julgo, qualquer pessoa poderia passar por aquela situação. — Sem contar
que eu lembro muito bem que ela me pediu para que eu a soltasse, porém eu
fiquei com ela ali, agarrada a mim, o que me faz ter uma certa culpa no
cartório. — E se você tivesse a conhecido, me entenderia. Ela era gostosa,
pra frente, sabia o que queria e era sexy pra caralho.
— Você está sorrindo agora, Alex, só para te informar.
É, eu sei que estou sorrindo, e é porque as memórias estão surgindo
em minha cabeça e eu não posso ignorar. Ela se tornou a minha... Wendy. A
minha garota perdida. A mulher que vai se manter nos meus sonhos para
sempre como a minha fuga da realidade.
Pode parecer loucura, mas, ontem, quando cheguei em casa, deixei a
minha janela aberta, na esperança que em algum momento da noite, ela
fosse entrar por ali.
Desde então, todas as vezes que olho para os lados, torço para
encontrá-la de novo. E acho que fiquei tão fissurado na loira que quando me
deparei com Michaela, vendo-a se levantar daquele chão, alguma coisa nela
me fez lembrar de Sabrina. Quando soltou as primeiras palavras em minha
direção, eu achei que tinha escutado aquela voz em outro lugar. Me parecia
familiar, e, em pouco tempo, percebi que estava delirando demais, fazendo
comparações infundadas com pessoas infundadas.
Michaela não tinha nada de parecida com Sabrina, além da língua
afiada. Compará-las seria uma ofensa terrível contra a minha Wendy. Uma é
loira, a outra é morena. Uma é uma mulher de verdade, mesmo mais nova, e
a outra é só uma menina.
Eu até tentei dizer que elas se pareciam, entretanto, quando percebi a
burrada que eu ia fazer, me contive.
Até parece, rio internamente.
Nunca na vida.
É praticamente impossível uma porra dessa.
— Certo, cowboy, já chega de sonhar acordado. — Oliver dá tapas
no meu peito para me trazer de volta à realidade. — Nossa noite foi
péssima, embora eu ache que você tenha ganhado essa, mas a minha filha
não tem culpa alguma e não merece mais ficar esperando. Ela só quer tomar
sorvete se for com você junto, então é melhor entrarmos logo, caso
contrário, aquela pequena vai nos comer vivos quando for tomar chá com as
suas bonecas.
Na mesma hora, meu corpo todo entra em alerta e fica pronto para se
mover e entrar na sorveteria, que é o que acontece quando Oliver se põe ao
meu lado, me guiando.
O sino avisando a ilustre presença dos clientes toca assim que
abrimos as portas duplas e a pequena Iris, que está sentada nas primeiras
mesas, levanta a cabeça e abre um sorrisão banguela assim que me vê se
aproximar.
— Tio Alex! — Sua felicidade é nítida, me contagia, faz com que eu
acene seu tchauzinho de volta. — Papai! Finalmente vocês chegaram! Oba!
— Achei que ela fosse ficar brava — Oliver cochicha ao meu lado.
— Não quando ela me ama e estava morrendo de saudade de mim —
cochicho de volta, baixinho, como se estivesse compartilhando o maior dos
segredos.
Sei que o homem ao meu lado fala algo, provavelmente esbanjando
o seu ciúme, porém não dou ouvidos, corro para abraçar Iris por trás, a
pegando desprevenida.
— Oi, minha bonequinha. — A encho de beijos, fazendo-a
gargalhar. — Já estava cheio de saudades de você, sabia?
— Sabia — ela concorda, alegre, me vendo arrastar a cadeira para
sentar ao seu lado, com seu pai na nossa frente, de olho em tudo. — Eu
também estava com muita, muita saudade de você, tio Alex.
Me viro para Oliver, não dizendo uma única palavra, mas meu olhar
convencido, como quem diz: está vendo só, aceite que sua filha é incapaz
de ficar brava comigo, já sendo capaz de expressar tudo.
— Não seja tão exagerada, minha filha. — Oliver a encara. — Você
viu o seu tio quando, na semana passada?
— O que seria semana passada, papai? — questiona, alternando o
olhar entre nós dois. — É muito ou pouco tempo? Acho que muito, porque
meu coração estava quase explodindo com vontade de ver o tio Alex.
Escondo o rosto para que não veja meu sorriso convencido.
Por que Oliver Olsen não aceita logo que eu sou o melhor padrinho
do mundo?
— Meu coração também estava explodindo para vê-la, bonequinha.
Me perdoe pelo atraso e por fazer você esperar bastante, é que eu estava
ocupado com as coisas do trabalho.
— Tudo bem. — Iris continua sorrindo, com um dente da frente
faltando, totalmente fofa de janelinha. Ela é fofa, na verdade. Minha
afilhada puxou os olhos azuis do pai, e o cabelo loiro e encaracolado da
mãe. Parece um leãozinho com ele todo volumoso assim. Se torna ainda
mais perfeita com todas essas suas roupas coloridas e cheias de babado, que
não larga por nada nesse mundo. Iris Olsen também é bem autêntica,
deixando claro, é sempre ela quem escolhe o que quer vestir. — Eu te
perdoo por eu estar até agora sem tomar sorvete. Só espero que vocês já
saibam o que querem pedir, porque eu já sei o meu sabor.
Chocolate com morango. Sem baunilha. Esse é sempre o seu pedido.
— Eu já sei o meu — digo.
— Eu também — o pai dela diz logo em seguida. — Sendo assim,
vou lá pedir.
Concordamos e Oliver arrasta a cadeira para trás, pronto para fazer o
nosso pedido dos sorvetes.
Assim que Iris e eu ficamos sozinhos, a vejo colocar os cotovelos na
mesa, juntando as mãos abaixo do queixo e me olhando de forma diferente
agora.
— Tio Alex?
— Sim, bonequinha?
— O papai me disse que você estava na casa da Michaela McKenna,
é verdade?
Na mesma hora que eu balanço a cabeça em uma única confirmação,
a garotinha ao meu lado se agita, abrindo a boca em um perfeito O.
— Meu Deus! — exclama, pondo a mão na boca. — Você viu a
Michaela McKenna de pertinho? De pertinho mesmo, mesmo, mesmo?
— Vi sim.
— Não acredito, tio, vou morrer. — E põe a mão na testa, toda
dramática.
Inspiro uma grande quantidade de ar para os meus pulmões,
ignorando a pontada no meu peito quando falo:
— Você é fã dela?
— Muito!
Eu até poderia falar que ela não tem idade para escutar ou sequer
entender as músicas de Michaela McKenna, mas seria estupidez, porque sei
que as crianças a amam e que ela tem vários fãs dessa idade, exatamente
como a Taylor Swift ou qualquer outra artista tão jovem quanto ela.
— Hum, interessante — me limito nisso.
Não estou incomodado pela minha afilhada gostar dela, estou? Rio
por dentro com a pergunta que me faço. Não, claro que não. É ótimo que
Iris goste dela. Pelo meu trabalho, todo mundo precisa gostar dela.
Crianças, adultos, homens. Eu próprio.
A última parte eu juro que vai dar certo. Tem que dar.
— Como foi o encontro? — parece mesmo curiosa, animada, com os
olhinhos brilhando. — Como foi falar com ela? Ela é mesmo bonita daquele
jeito?
Ponho a mão na boca, tossindo.
Que tipo de pergunta é essa, dona Iris Olsen?
— É, tipo isso.
— Tipo isso o quê, tio?
Não acredito que ela vai me forçar a falar isso em voz alta.
— Bonita. Michaela McKenna é bonita. — Limpo a garganta
quando vejo que falei alto demais, não querendo olhar para os lados para
não conferir quem está olhando para nós. — Por que você gosta tanto dela,
hein?
— Porque ela é incrível. — Oh, se é. — E eu adoro ir para a escola
escutando as músicas dela no carro. A mamãe é uma grande fã como eu.
Você também é fã dela, tio Alex? É por isso que foi vê-la na casa dela?
— Não, querida. — Toco seu rosto. Mesmo nesse assunto, eu adoro
ver a sua inocência. — O seu tio aqui foi resolver coisas do trabalho.
Michaela e eu vamos trabalhar juntos agora.
— Ai, meu Deus! Ai, meu Deus! — Iris vibra mais ainda ao ouvir
essa informação. — Tio, por que você não está surtando como eu?
— Acredite, bonequinha, eu também estou.
Mais uma vez, sua inocência não permite entender do que estou
falando.
— Vai me deixar conhecê-la também? — Faz um biquinho nos
lábios e me olha como um cachorrinho que acabou de cair da mudança.
Esse é o seu típico olhar de quando quer alguma coisa, quando quer atingir
o coração do seu pai, da sua mãe e até mesmo o meu. — Por favor! Por
favor! Por favor! Diz que sim, diz que sim, diz que sim!
Oliver volta com os sorvetes e nos entrega, também já sabendo de
cor nossos sabores favoritos. Ele parece desconfiado quando se senta.
— O que essa mocinha está te pedindo agora, Alex? — quer saber.
— Conhecer a Michaela McKenna! — ela mesma responde, rápido e
alto, erguendo uma mão no ar. — Tio Alex disse que foi na casa dela
porque vai trabalhar com ela. E papai, eu adoro a Michaela, você sabe
disso. Quero conhecê-la também.
Olho para Oliver, que dá de ombros e ataca o seu sorvete.
— Isso aí é com você, cara.
— Não fale de boca cheia, papai, é feio.
Ele se encolhe na cadeira por causa de Iris, se calando e engolindo.
— Desculpe, querida, tem razão.
A menina se volta para mim de novo.
— Então, tio Alex, vai me dizer um sim? — Pisca os seus grandes
olhos azuis, pidona.
— Sim. — E eu tenho outra opção? — Qualquer dia desses, eu te
levo para conhecê-la. Agora tome o seu sorvete, ou ele vai derreter.
Ela dá soquinhos no ar com a minha resposta, extremamente feliz, e,
como o pai, ataca o seu sorvete de chocolate com morango.
Faço o mesmo com o meu, entretanto, não na mesma empolgação.
— E aí, como foi lá? — Oliver pergunta, aproveitando que Iris está
distraída para saber mais do que eu falei mais cedo, que foi desastroso. —
A garota é daquelas que tem o rei na barriga só porque é a nova popstar do
momento?
Espero que desabafando para Oliver, um peso saia dos meus ombros,
por isso que respiro fundo, me preparando.
— Não sei nem por onde começar...
“Eu sou uma grande rainha do drama
Prefiro não dizer, mas a minha vida é bem complicada
Lamento dizer
Mas eu sempre estou certa
Dramática, dramática, dramática
Eu sou tão complicada”
DRAMA QUEEN — SILLY SILK

— Ele é péssimo! — grunho, praticamente chorando como uma


criancinha enquanto afundo meu rosto entre as minhas almofadas, querendo
me esconder do mundo.
— Como assim seu novo empresário é péssimo, Michaela? Levanta
essa cabeça e explica essa história direito, pelo amor de Deus.
Eu grunho de novo, sem saber se quero colocar para fora ou não.
— Calma, Dakota — pede Eric. — Primeiro ela tem que ter o
momento dela, depois ela vai abrir essa boca, eu te garanto.
Grunho pela terceira vez, e dessa vez é por causa deles.
Pedi que viessem para minha casa assim que me certifiquei que
Alexander Russell tinha ido embora, mandando uma mensagem com SOS
bem em negrito no nosso grupo, coisa que fazemos quando um está
precisando da ajuda do outro, e, desde que eles chegaram, subiram para o
meu quarto e se sentaram no chão, comigo aqui na cama, não fiz nada além
de balbuciar, resmungar e grunhir palavras inteligíveis. Estou desse jeito há
quase trinta minutos. E há quase trinta minutos eu os escuto me mandando
parar de fazer drama.
Eu acho que eles estão esquecidos, mas no LUNATIC, eu tenho uma
música chamada my name is drama, didn’t you know?, que é basicamente
uma reflexão minha sobre o quanto eu adoro fazer drama e o quanto o
drama me adora.
E, nesse momento, eu estou em perfeita comunicação com ele.
Brincadeira.
Dessa vez é coisa séria.
Estou enfiada em uma bola de confusão tremenda, que eles não
fazem nem ideia.
Choramingo, quase chorando de verdade, e agora me levanto, me
equilibrando nas mãos e olhando para eles ali embaixo, sentados no meu
tapete felpudo lilás.
— Ufa, se levantou. Está pronta para falar? — a loira pergunta.
Acanhada, eu balanço a cabeça devagar.
— Vou explicar a situação — fungo e me sento corretamente. —
Como vocês sabem, Alexander Russell, meu novo empresário, viria hoje
aqui para assinarmos o contrato e conversarmos um pouco sobre a minha
carreira e o que faríamos daqui em diante. Estava tudo certo, tudo lindo, até
ele aparecer, atrasado — friso, porque acho importante —, pagar de
supereducado na frente dos meus pais e pedir um minutinho a sós comigo
para, na minha cara, dizer que eu preciso urgentemente rever meu
comportamento e a forma como eu ajo perante a mídia porque sou polêmica
demais, parecendo uma subcelebridade, e é, inclusive, isso que ele quer
mudar em mim.
Uma espécie de gritinho escapa da boca de Eric Farrell quando me
vê terminar de falar.
— Ele te chamou de... subcelebridade? — Também parece ficar
perplexo com essa informação. — Não, não pode ser. Você é Michaela
McKenna, se eu fosse você, falaria poucas e boas e não deixaria barato.
— Óbvio que eu não deixei barato — continuo. Ele não me
conhece? — Eu perguntei quem ele pensava que era para falar aquilo de
mim e mais um monte de coisas, chamei-o até de grosso e estúpido, porque
é exatamente isso que ele é. Vocês precisam ver, o cara se acha só porque é
um dos maiores empresários dos Estados Unidos, tendo só artistas da
categoria A-List no seu currículo. É todo sério, todo pomposo, com ar de
arrogância e superioridade. Arrgh! — Reviro os olhos, raiva borbulhando
em minhas veias.
— Tá, calma. — Dakota se levanta, vindo até mim, e busca um lugar
na minha cama para ela. — Ele realmente quis te chamar disso ou você está
exagerando um pouquinho?
Olho feio para ela.
— Dakota Hartley, por acaso está me chamando de mentirosa?
— Não, amiga, não é isso. É que eu te conheço, sei que você tem um
ótimo instinto para histórias dramáticas, com uma leve inclinação em
interpretações equivocadas.
— Você está falando igualzinha a ele agora.
— Tá vendo — enfatiza, querendo mostrar que ela sabe muito bem
do que está falando.
Resmungo pela milionésima vez.
— Tudo bem, vou recapitular. Eu achei que ele tinha me chamado de
subcelebridade, exatamente como o Eric interpretou, porém Alexander
disse que não, que estava apenas dizendo que as polêmicas em que me enfio
possuem esse tom e que se ele realmente achasse que eu sou uma, não
estaria trabalhando comigo agora. Falou também, do jeito sem graça dele,
que me acha uma artista grandiosa e com muito potencial. — Meus amigos
se entreolham, e eu já sei exatamente o que está passando na cabeça dos
dois, mesmo sem eles falarem nada. — Ei, não. É que eu falando assim, dá
até para dar uma reduzida em toda situação que eu passei hoje, fazendo-a
parecer simples e menos pior do que eu quis mostrar no começo, mas é que
vocês precisavam estar lá vendo e o ouvindo para sentirem na pele o quão
grosso e arrogante ele pode ser. Aquele cara ainda me chamou de mimada,
infantil e encrenqueira. Quem ele pensa que é?
Juro, até agora eu estou me perguntando isso.
Quem Alexander Russell pensa que é?
— Não querendo defendê-lo, porque nem o conheço, mas você já
parou para pensar que pode estar sendo muito dura com ele? Tipo, te dizer
coisas como essas, não seria o trabalho dele, no final das contas? — Minha
melhor amiga me encara de forma analítica, no desejo de ser sensata.
Desvio do seu olhar, prestando atenção em Eric, e o garoto parece
prestes a concordar com ela.
— É, se ele vai ser seu empresário, tem que te dizer tanto os pontos
positivos quanto os pontos negativos. Se for para te bajular, como você vai
crescer como artista? — meu melhor amigo complementa o pensamento de
Dakota.
Desde quando isso se tornou um complô contra mim?
Uma respiração exasperada me escapa.
— Vocês estão distorcendo tudo. Nunca quis que ele me bajulasse,
falando assim, parece até que sou realmente uma garota mimada, e eu não
sou. Quer dizer, talvez eu seja um pouquinho. — Faço a quantidade com o
polegar e o indicador juntos perto do meu rosto. — Sou filha única, tenho
essa tendência, mas posso garantir que dessa vez, não tem nada a ver com
isso. Se Alexander quisesse falar tudo de ruim sobre mim, poderia. O
problema é que ele não teve tato, não teve cuidado, ele nem ao menos
perguntou se eu estava bem antes de começar a disparar seus achismos
sobre mim. Foi horrível. Uma experiência péssima.
Na visão deles, eu sei que parece que estou só exagerando, contudo,
não poderiam me entender nem se ficassem se esforçando para isso. Dakota
e Eric não sabem que Alexander é o homem da festa ontem, na verdade,
eles não sabem praticamente nada do que aconteceu ontem, e, sinceramente,
não vão saber tão cedo. Se eu disse que iria ficar no passado, enterrado
junto com Sabrina, então é isso que vou fazer, porém eu, pelo menos dentro
de mim, não consigo esquecer que Russell agiu de uma forma comigo, e
depois agiu de outra.
Tudo bem que ele não sabia que era eu, Michaela McKenna, mas sei
lá, estou me sentindo enganada. Eu podia imaginar que ele era um homem
difícil, porém não tanto.
Se eu soubesse, jamais entraria naquele banheiro.
E eu estou fervilhando de raiva. Mais ainda.
Raiva por ele ser meu empresário, raiva por ele ter agido rude
comigo, quando esteve há pouco tempo implorando por mim, raiva por ele
não se dar conta que tem um lado muito mais legal para mostrar para as
pessoas e simplesmente não mostra, e raiva por nem mesmo os meus
melhores amigos da face da Terra estarem me entendendo.
Droga, nem eu estou me entendendo. São muitas emoções dentro de
mim.
Quero esbofeteá-lo, chacoalhá-lo por não me enxergar, por ter uma
visão totalmente equivocada sobre mim, e ao mesmo tempo quero sentá-lo
em uma cadeira e pedir para ele se observar, rever seu jeito sério de
workaholic mal-humorado e entender que o único que será prejudicado, no
futuro, será ele mesmo. E eu vi na balada que ele mesmo já se sente assim,
só é turrão e cabeça-dura o bastante para não querer mudar.
Querendo chorar de novo, eu jogo todo meu corpo para trás, caindo
no meu colchão. Pego uma almofada de novo e a enfio no meu rosto,
estrangulando um gritinho na garganta.
— É sério... — Jogo a almofada para o lado e fito Dakota, depois
Eric. — Não tem como esse cara deixar de ser meu empresário, não?
— Você já assinou o contrato? — ela pergunta.
Faço que sim, com um biquinho se formando em meus lábios.
— Então, não. — Dakota balança a cabeça, se deita ao meu lado e,
em questão de segundos, Eric já está pulando na cama para se infiltrar entre
a gente. — Fique calma — é o que pede quando começa a alisar minha
cabeça, tentando, de alguma forma, me consolar. — Você pode ter se
enganado, ou simplesmente pegou Alexander em um mau dia. O homem é
totalmente profissional, trabalha com gente de respeito e, se for pesquisar,
não tem uma única matéria falando mal dele. Muito pelo contrário,
Michaela. Ele, além de ser um empresário muito prestigiado, é um homem
muito cobiçado. Está entre os solteiros de Los Angeles mais desejados e
disputados. Uma pena que não tenha foto nenhuma dele. — Hartley
também faz bico, ao soar triste.
Uma pena mesmo, pois se tivesse, facilitaria muita coisa na minha
vida. Ontem mesmo eu teria metido o pé e corrido para bem longe daquele
bar infernal assim que o reconhecesse.
Não foi o que aconteceu, no entanto.
— Falando nisso... — Eric cantarola ao passo em que ergue a cabeça
para ver melhor minhas reações. — Alexander Russell é mesmo bonito
como dizem?
Porra, sim.
Sim, sim, sim.
Muito bonito, forte, alto, gostoso, másculo, cheiroso, com uma ótima
pegada e um gosto viciante. O homem é realmente a personificação viva do
que é beleza. Se não fosse empresário, eu diria que era um modelo
renomado, porque chega a ser assustador o quão fora de órbita consegue
ser. Acho que nunca vi homem nenhum daquele jeito. Deveria ser crime.
Aposto que todos os homens desprovidos de beleza choram e se sentem
intimidados quando olham para ele, e as mulheres, claro, se derretem em
sua presença.
Porque não dá para não dizer que ele não é fascinante.
Russell com certeza está no patamar do Henry Cavill, Chris Evans,
Chris Hemsworth, Tom Hiddleston. Dava fácil, fácil para ser um desses
atores de super-heróis de Hollywood.
Mas tudo o que eu respondo é um belo e audível:
— Não.
— Que mentira! — Eric se prontifica a cortar minhas asinhas, junto
com Dakota, que ri à beça. — Olha para você, Michaela, está louquinha
para falar que seu novo empresário é um grande gostoso.
— Eca! Não! — minto, com uma careta tão falsa que chega a dar dó.
— Meu Deus! — Dakota se levanta e se senta na cama na
velocidade de um tornado. — Rá! Já sei! Agora eu entendi tudo. Sim, eu
entendi. Não sei como não tínhamos percebido antes. Quanta inocência da
nossa parte.
Eu fico confusa, e acho que Eric também.
— Sabe por que ela está reclamando do Alexander esse tempo todo?
— o questionamento é direcionado apenas ao nosso amigo, porque ela finge
que eu não estou nem aqui. — Porque nossa querida amiga o achou um
tesão, todo lindo e gostoso, e ficou puta porque não vai poder dar pra ele, já
que ele é seu novo empresário e essas coisas são tipo proibidas no meio em
que ela vive.
Eric também se levanta, agitado como ela.
— É isso! — Aponta para Dakota, também me ignorando. — Puta
que pariu, é claro que é isso. Ela não está irritada com ele, está irritada com
a situação. Não sabe como vai se manter profissional ao lado dele se ficou
interessada. A verdade está brilhando nos olhinhos dela.
— Vocês estão malucos! — É a minha vez de me sentar, tipo um
tornado também, indignada. Mesmo eu estando como estou agora, os dois
seguem dando risada, achando muito engraçado toda a conclusão que
fizeram. — Sério, estão malucos mesmo! Onde já se viu soltarem uma ideia
tão absurda dessas?
— Mas você ainda não negou... — Dakota faz questão de lembrar,
me alfinetando.
— E nem vai negar, ela sabe que é verdade — Eric diz, com veneno
gotejando em cada sílaba.
Abismada com a audácia dos dois, pego as minhas almofadas e jogo
neles, que se esquivam, agora gargalhando ainda mais do que antes.
Bufo.
— Vou chamar meus seguranças para levarem vocês embora daqui
agora...
— É brincadeira! — Os dois erguem as mãos para o alto ao mesmo
tempo. — Nem tanto — A clone da filha do Johnny Depp expõe, pois não
tem medo nenhum de brincar na cara do perigo. Quando estou prestes a
arremessar outra coisa em cima dela, ela fecha a boca. — Calma, calma. Eu
já parei. Prometo.
— Eu parei também — Eric avisa, depois pressiona os lábios como
se fosse para se conter, o que só dura pouco tempo, claro. — Mas vai,
Michaela, seja sincera. Você não o achou bonito, nem mesmo um
pouquinho?
— É, nem um pouquinho? — Dakota fecha um dos olhos e
transforma os dedos numa pequena quantidade.
Não queria, mas acabo rindo dela e da sua tentativa ridícula de
parecer inofensiva e fofa.
— Tá. — Reviro os olhos dramaticamente enquanto cruzo os braços
em frente ao peito. — Ele é bonitinho.
— Bonitinho? — os dois quase gritam, em uníssono.
— É. — Dou de ombros. — Bonitinho, normalzinho. Nada de mais.
Na verdade, não tive nem tempo de reparar. Estive ocupada demais o
xingando de chato de galocha em minha mente.
— Você sabe que é uma péssima mentirosa, né? — Eric ergue uma
sobrancelha.
— É, pior que sei.
Há um breve silêncio antes de nós três cairmos na risada ao mesmo
tempo.
— Acho que não vai dar para negar por muito tempo — menciono,
após cessar as risadas. — Mais cedo ou mais tarde, vocês vão vê-lo.
— Sim, e vamos perceber que ele é um gato, o que vai sair feio para
você — Dakota brinca, e é com aquele fundo de verdade. A contragosto, eu
balanço a cabeça, concordando. — E ele é mais ou menos bonito que o
carinha da festa que você conheceu ontem?
Ah, não. Não acredito que ela está tocando justo nesse assunto.
Pior, misturando os dois.
— Não vi direito o cara da festa — minto outra vez. — Foi rápido e,
como vocês sabem, eu estava levemente bêbada e disposta a passar mal, o
que fez com que se tornasse um borrão maluco na minha cabeça.
— Sabe, nós ficamos preocupados com você quando você sumiu —
Farrell comenta, se deitando novamente agora que estamos todos mais
calmos. Aparentemente.
— Eu não tive a pretensão de sumir — sou extremamente sincera
agora. Aproveito a deixa para me enfiar entre eles também, com a minha
cabeça repousando no colo de Dakota, as pernas esticadas e jogadas para o
lado de Eric, que não reclama. — Eu fui pegar uma bebida, o encontrei e,
quando percebi, já tinha se passado um bom tempo. Graças a Deus que
depois encontrei vocês para me tirarem daquele lugar.
— Foi fácil para você dormir? — Ela começa a mexer nos fios do
meu cabelo. — Ou passou mal de novo?
— Não, não passei mal de novo, ainda assim, não tive das melhores
noites. Acordei com dor de cabeça, tive que passar por tudo isso hoje e,
sendo bem sincera, me sinto extremamente cansada. Meus pés estão doendo
tanto, acho que preciso de uma massagem.
Estico ainda mais eles para Eric, que logo entende o recado.
— Você é tão folgada — reclama em murmúrios, mas já pronto para
atender aos meus pedidos.
— Eu sou perfeita, isso sim.
Sinto um relaxamento impressionante quando, com mais murmúrios
irritados, ele começa a apertar meus pés do jeito que sabe fazer muito bem,
afastando a dor do salto que usei por muito tempo com a sua massagem
perfeita.
— É por essas e outras que Alexander não foi com a sua cara — meu
melhor amigo joga essa, fazendo minha boca se abrir em um O gigantesco,
tamanha surpresa com sua fala. Aproveito que estou com meus pés bem
perto dele e o chuto sem nem pensar. — Ai, Michaela! Doeu!
— É pra doer mesmo.
E é óbvio que Dakota Hartley ri da nossa interação, principalmente
da careta que Eric faz para mim.
— Pare de rir, Dakota, que você também está no meio. — Ela põe a
mão no peito, fingindo inocência, e entreabre os lábios. — É, vocês são dois
falsos, que nem o conhecem e já estão do lado dele. Aposto que se eu falar
qualquer coisa, meus pais também vão ficar. É o meu fim.
— Mais uma vez, estou aqui para te pedir para deixar de drama. —
Ele pega meu pé de novo para recomeçar as massagens. Não reclamo,
apenas fecho os olhos, sentindo essa sensação tão boa. — Afinal, você está
com sorte, está com Alexander Russell. Sabe quantos artistas queriam estar
no seu lugar? — Fico calada dessa vez, porque, merda, sei que Eric tem
razão. É realmente um grande passo. — Estávamos brincando esse tempo
todo, mas agora vou falar sério.
Abro os olhos, já sabendo que vai me dar seus conselhos de verdade,
daqueles que eu sempre levo para a vida, pois isso é o que costuma fazer o
tempo todo. Nós podemos xingar, podemos discutir, falar mal um da
personalidade do outro, mas tudo não passa de brincadeiras, tirações que
fazemos só porque amamos os nossos amigos e temos intimidade de sobra.
Isso inclui Dakota também. Somos os três assim. Mas quando queremos
falar sério, quando queremos ajudar o outro, fazemos, e somos rápidos em
reconhecer quando o momento importante chega.
É o que faço agora, me despindo de todas as coisas que disse e fiz
desde que chegaram.
— Eu, Eric, consigo sim imaginar muito bem alguém como
Alexander, na posição que ele está para a sociedade, ser exatamente do jeito
que você descreveu. Não duvido em nenhum momento que ele pode ter sido
direto demais, indelicado, soberbo e até mesmo grosso, como você falou,
porém, eu, como seu amigo que te ama, devo te dizer que você não pode, de
jeito algum, deixar que isso afete o seu trabalho e o momento incrível da
sua carreira. Não estou te dizendo para aceitar grosseria e ficar calada, não
mesmo, você tem que se impor, sim, é o seu sonho em jogo, entretanto, a
meu ver, eu acho que também não pode, só por causa de hoje, odiar o cara
do fundo do seu coração e o transformar num vilão.
— Não pode mesmo, até porque vai trabalhar com ele — Dakota
acrescenta.
— Exatamente. E você vai trabalhar com ele. Com Alexander
Russell. Amiga, só quem é dessa indústria entende o peso desse nome. E ao
invés de ficar gastando seu tempo e toda a sua energia com coisas bobas,
gaste ele aprendendo, se reinventando, tirando experiências desse homem
que é tão bom no que faz. Pense no seu futuro na música. Pense nos seus
fãs, na artista que eles devem ter daqui para a frente. Tenho certeza que o
homem quer e vai te ensinar muitas coisas, então foque nessa parte. Não
surte. Fique feliz com a oportunidade.
— Concordo em cada palavrinha — nossa amiga diz. — Não é para
abaixar a cabeça, até porque você também nem conseguiria fazer isso,
sabemos disso, é só para olhar para o lado mais profissional da coisa. Dane-
se quem ele é, pense no que você vai querer ser no futuro.
Subo e desço o queixo numa confirmação para mostrá-los que estou
conseguindo entender o ponto.
— Alexander não vai querer piorar você, Mi, não precisa quebrar a
cabeça se preocupando. — Outra vez, eu assinto ao ouvi-lo. — O que ele
vai querer de você, pode ter certeza, é o seu melhor. Até porque é o nome
da empresa dele que também está em jogo.
Nisso, Eric e Dakota têm mesmo razão.
O nome de Alexander também está em jogo, e por maior que seja
nossas diferenças, ele nunca vai querer me sabotar, só ajudar.
— Eu sei que ele está preocupado com a minha imagem — cedo
essa informação, não tendo mais motivo para fazer drama, pelo menos não
agora que estamos mesmo falando sério aqui. — Que está preocupado em
me deixar na linha, querendo que eu me porte como uma celebridade de
renome, e eu concordo que tenho muito a melhorar, minha mãe e o meu pai
falavam e ainda falam isso direto para mim, vocês até sabem que estou
disposta a isso, tanto que quase nem aceitava o convite da balada ontem,
com medo de me enfiar em mais um escândalo, mas eu só queria mesmo
que ele tivesse sido um pouquinho mais... — arfo. — Ai, sei lá, sabe.
Agora, estou pensando se eu não exagerei.
Será que eu exagerei e surtei à toa?
Não descarto, eu estava, e ainda estou, abalada por ter descoberto
daquela forma quem ele é. Minha cabeça não estava na melhor das
condições para que tivéssemos qualquer conversa.
Quando percebo, estou choramingando de novo, sem saber se agi
certo ou errado.
— Sabe por que você está assim? — Dakota fala, me abraçando. —
Porque não dormiu, está exausta. Shhh. — Ela me consola, junto de Eric.
— Não se culpe. Acontece, acontece. Vai ficar tudo bem.
Será?
Porque, a essa altura, eu já não sei mais de nada.

Pouco tempo depois daquela conversa, meus amigos arrumaram as


suas coisas e foram embora, com a desculpa de que precisavam me deixar
sozinha para eu descansar, o que não consegui descansar à noite.
Acho que Dakota e Eric sabiam do que eu precisava muito mais do
que eu mesma, pois só foi eles irem embora e eu ficar sozinha no meu
quarto, que o sono me alcançou.
Dormi por horas. Praticamente o dia todo.
Acordei agora, no começo da noite, com o meu celular vibrando na
cama com mensagens.
Antes de lê-las, eu jurava que era um dos dois, mas me surpreendo
ao ver que não é nenhum deles.
É alguém que nem o contato salvo eu tenho.
Coço os olhos, tentando me acostumar melhor com a claridade da
tela. Demora um pouco até que as letras façam sentido para mim.
Número desconhecido: Olá, Michaela. Tudo bem com você? Espero que esteja mais calma. É o seu
empresário aqui.

Mudo rapidamente de posição na cama, sem acreditar no que está


bem diante dos meus olhos.
Eu: Como você conseguiu o meu número?
Os três pontinhos surgem na tela, dançando.
Número desconhecido: Seus pais.

Claro, que surpreendente.


Eu: O que você quer?
Número desconhecido: Quero que você adicione o meu número também. Se precisar falar comigo
urgente, pode ser por aqui.

Quanta gentileza.
Eu: Ok. Vou salvar. Mais alguma coisa?

Enquanto não recebo outra mensagem dele, aperto em salvar


contatos e, do jeito que gosto de fazer, coloco um nome extremamente
interessante no seu para ficar bem bonito na minha agenda.

Capitão Gancho de Araque: Não, mais nada. Te encontro amanhã.

Meus olhos se arregalam no mesmo instante.

Eu: AMANHÃ?? ONDE????


Capitão Gancho de Araque: Gravadora, Michaela. Sei que estará lá.

— Porcaria.
Reviro os olhos, desligo o celular e o deixo de lado, nem me dando
ao trabalho de perguntar como sabe disso.
Tenho para mim que a partir de agora, Alexander Russell vai estar
ciente de todo e qualquer passo meu.
“Cada promessa que você faz, você cumpre
Nunca conheci ninguém assim
Somente os anjos falam assim
Sua voz é música para os meus ouvidos,
Estou bem acordado
Preso no jeito que as suas frequências ressoam”
ANGELS SPEAK — JUSTIN BIEBER FT. POO BEAR

Hoje será melhor que ontem.


Hoje será melhor que ontem.
Hoje será melhor que ontem.
Esse foi o mantra que elaborei para mim mesmo assim que abri os
olhos essa manhã, pus os pés para fora da cama e me lembrei do meu
segundo encontro com Michaela McKenna.
A verdade é que eu não tenho e nunca tive a melhor fama de quem é
cheio de positividade, entretanto, se tratando daquela cantora, eu não tinha
outra alternativa a não ser confiar que boas coisas viriam, exatamente como
pensei na sorveteria junto de Oliver e Iris, afinal, se tudo desse errado, o
meu trabalho seria todo prejudicado e definitivamente não é o que eu
gostaria de receber do Universo, já que prezo muito pela minha reputação e
pelos excelentes serviços que ofereço.
Sendo assim, eu repeti quase o dia todo e ainda estou fazendo
questão de repetir a mim mesmo que com certeza hoje será melhor que
ontem. E Michaela vai estar ótima. Ela não vai me estressar e nem vai agir
de forma imatura, muito pelo contrário, se tudo sair como o planejado, a
garota vai se aproximar de mim e pedir desculpas pelo outro dia, dizendo
que não estava no seu melhor humor e que sente muito. Ela vai sorrir, vai
ser gentil, vai cantar e vai mudar toda a percepção que eu tive dela por
causa de ontem.
Hoje, na gravadora, mais especificamente agora, será perfeito.
Excelente. Um dia espetacular. Muito profissional e cheio de aprendizado.
Será tão incrível que o outro dia será apenas uma única memória
engraçada. Vai até me fazer rir com Michaela.
Eu espero.
Balanço a cabeça, parando de falar comigo mesmo mentalmente, e
presto atenção na hora de atravessar a rua e ficar na calçada da gravadora
Public Records, onde já me conhecem.
É rápido e muito fácil meu acesso, antes mesmo de eu raciocinar
quantos minutos levam para eu fazer todo o trajeto, eu já me encontro
batendo na porta do estúdio onde se encontram Michaela e seu produtor.
Arrumo a gravata em meu pescoço enquanto espero, ansioso.
Confesso que essa é a parte que eu mais gosto. Digo, estar no
ambiente favorito dos meus artistas, vendo-os fazerem o que sabem fazer de
melhor. Gosto de acompanhar de perto, de saber os detalhes, de opinar, de
estar realmente nos bastidores.
Eles geralmente gostam da minha companhia, vamos ver se isso se
estende a ela também.
Mexo na gravata de novo.
Hoje vai ser melhor que ontem.
Hoje vai ser melhor que ontem.
Hoje vai ser...
Tusso, meus pensamentos sendo interrompidos quando Lynx, o
produtor, que é alguém que eu conheço há um bom tempo também, me
atende já com o dedo indicador pressionando seus lábios, claramente me
pedindo para fazer silêncio.
— Ela está concentrada — sussurra ao me informar, ainda com o
dedo próximo à boca, me dando passagem para entrar. — Mas fique à
vontade para observar, em silêncio, o show da nossa estrela. — E fecha a
porta e vai se sentar em frente à sua mesa de som e produção.
Eu fico entre lhe lançar um olhar feio ou lhe ignorar para poder
observar Michaela na cabine de gravação, mas essa dúvida rapidamente
nem parece fazer sentido em minha cabeça, pois no próximo minuto, eu já
estou mergulhado na segunda opção, meus ouvidos aguçados na voz que
preenche todo o espaço e que até então eu não tinha nem me dado conta.
Fico estático, apenas a ouvindo.
E eu pisco um bocado de vezes.
Pareço hipnotizado, e, de certa forma, é assim que eu estou.
Quer dizer, óbvio que eu já a ouvi cantar outras vezes, no som do
carro, na televisão, na internet, em festas, e em várias outras oportunidades,
mas agora parece diferente. Parece mais próximo, mais íntimo, mais
singelo, mais natural, mais... bonito. Meu coração dispara levemente e,
caramba, acho que estou suando, me sentindo claustrofóbico dentro dessa
pequena sala, com ela à minha frente.
Porque... é a porra da voz mais linda que já escutei na vida.
É angelical e suave. Doce e potente. Forte e impressionante.
Não demora muito até Michaela reconhecer minha presença
atordoada no estúdio, pois mesmo cantando com as mãos nos fones de
ouvido e o microfone grande demais, quase empatando a sua visão, ela
ergue seus olhos espertos e me encontra, ainda parado no mesmo lugar, sem
conseguir mover um músculo mesmo sob seu escrutínio.
Não sei se ela está tentando me cumprimentar, mas ela balança a
cabeça imperceptivelmente e sorri. Também não sei se essa parte do sorriso
vem para mim, para Lynx, para si mesma ou para a própria música que
canta, porém eu meio que... retribuo. Ou pelo menos tento.
— Ei, Russell — Lynx me chama, me fazendo rapidamente desviar a
atenção, engolindo em seco. — A cadeira desocupada ao meu lado não está
assim à toa. Sente-se.
Confirmo, indo até ela para me sentar, agora um pouco mais
próximo da cantora.
— Nós estamos trabalhando no novo álbum dela — conta, e eu
assinto outra vez. — O primeiro, LUNATIC, foi puxado para um pop
dançante, uma coisa totalmente jovem, irreverente, com indiretas,
experiências amorosas desastrosas, e esse a Michaela está tentando fazer
uma coisa mais suave e tocante, embora ainda tenha resquícios de suas
experiências que de forma alguma vai deixar de lado. Mas nesse, ela
também resolveu compartilhar seu coração, canções que fez quando se
sentiu apaixonada, tanto pela vida quanto pelas pessoas ao seu redor. Ainda
estamos escolhendo as faixas e vendo a melhor forma de organizá-las,
porém acredito que você, assim como os fãs, irá gostar bastante do que está
por vir.
— Ótimo — falo, entrelaçando as mãos. — Ela precisa mesmo
seguir por essa linha, era o que eu também tinha em mente. Acho que
podemos usar e abusar bastante desses dois lados dela. O enérgico e o
romântico. Os fãs irão adorar mais músicas nesse estilo para se sentirem
representados por ela, afinal, qual jovem que não passa por desilusões
amorosas, não é mesmo?
Lynx ri, manuseando nos botões da mesa à medida em que faz algum
comando para Michaela.
— A nossa estrela que o diga.
— Verdade. — Pressiono os lábios, escondendo um sorriso. — Mas
vem cá, e o nome do álbum, já escolheram?
Ele sobe e desce o queixo em uma pequena confirmação.
— Purple Heart.
Elevo uma sobrancelha.
— Por causa das Forças Armadas dos Estados Unidos?
É realmente uma dúvida minha, mas Lynx acha que estou brincando,
porque ri outra vez.
— É, a gente achou que pudessem fazer essa associação. Mas não.
Além de ser a cor favorita de Michaela McKenna e fazer parte da
identidade visual dela, o roxo costuma ser uma cor de significados
contrastantes. Ao mesmo tempo que pode ser descrito como a cor da
realeza, do misticismo, do poder espiritual, do mistério, da extravagância,
da sensualidade e da criatividade, também pode ser associada àquilo que é
fúnebre e melancólico. A ambiguidade perfeita que habita no coração da
nossa estrela e a mesma ambiguidade que faremos questão de trazer nesse
álbum.
— Uau — solto, impressionado. — Vejo que pensaram em cada
mínimo detalhe.
— Nós não brincamos em serviço, Alexander Russell.
Balanço a cabeça.
— Muito menos eu.
Me sento direito na cadeira acolchoada, me virando novamente para
vê-la, que segue cantando, agora com seus olhos fechados. Ela parece sentir
a música, mechas do seu cabelo castanho caindo sobre seus olhos. Está
serena. Pacífica. Em completa ordem. Dá para ver que acertou em cheio na
escolha do nome do álbum, porque Michaela canta com o coração, com
toda a sua alma. E nessa posição em que nos encontramos, eu cá e ela lá,
me faz sentir como se eu estivesse diante de um anjo. Um que tem o coro
dos céus junto consigo, despertando qualquer ser humano morto por dentro,
trazendo luz.
E... merda, ela me faz lembrar Sabrina. A minha Wendy Perdida.
Não sei o que diabos posso dizer que encontro de tão parecido, mas,
mais uma vez, está aqui dentro de mim. E eu sei que é só o meu sentimento,
infelizmente, querendo encontrá-la de novo, sentindo a necessidade de
jamais deixá-la cair em esquecimento.
Entretanto, não é justo. Sua imagem poderia vir de qualquer forma,
mas não na forma da minha cantora. É ridículo. Totalmente desrespeitoso
da minha parte. Michaela é só uma menina.
Sinto a gravata começando a me enforcar outra vez.
Hoje já está sendo melhor do que ontem, Alexander, a voz
encorajadora do meu subconsciente faz questão de me lembrar, para me
manter calmo e quieto no lugar.
— Ela que compôs essa letra. A menina é um gênio, talento puro. —
Quase sobressalto com Lynx ao meu lado, que parece empolgado e
orgulhoso à medida em que olha para Michaela, mesmo falando comigo. —
Você consegue sentir absolutamente tudo que ela está sentindo. É bizarro. É
arte pura.
Eu me remexo na cadeira, porque ainda não parei para analisar a
composição.
Estreito meu olhar para a garota e não penso mais em nada. Nem nos
nossos problemas, nem nos meus problemas, em nada. Eu crio, de uma hora
para a outra, uma habilidade impressionante de silenciar tudo ao meu redor
só para escutar seu canto, que eu não sei mais se é de anjo ou de sereia,
pronto para enlaçar e enfeitiçar as pessoas.
Eu não sei o que há em mim, que parece ser tão difícil
Por mais que eu tente, o amor é como uma língua
Uma língua que eu não falo
Eu não sei o que há em mim, que me faz achar que eu a entendo
Não sei se são os filmes, os livros ou os personagens fictícios que me
apaixono, mas uma coisa é certa, o amor eu não encontro
Ele é mostrado nas telas, eternizado nas páginas, no meu coração, ele
é só uma falha
E eu falhei com você
Ou você falhou comigo primeiro?
Nunca saberemos, porque o amor é como uma língua
Uma língua que eu não falo
Uma língua que eu apenas ouço falar...
Pestanejo, sentindo meu coração bater ainda mais forte contra as
minhas costelas, agora que compreendo a sua letra. E essa letra parece que
me compreende também.
Lynx está completamente certo, essa menina é um gênio, e ela
representa tantas pessoas. Até mesmo eu, um homem de 35 anos que por
maior que tenha sido minhas experiências, tanto na fase jovem como na
fase adulta, ainda não aprendeu a falar a língua do amor.
Como na música, eu só vi o amor em filmes. Nas telas de um
cinema. Sempre muito longe, sempre muito inalcançável, sempre prestes a
estar em segundo plano. Nunca tive tempo, e, até hoje, acho que o amor não
tem tempo para mim.
Mas não que ela precise saber disso, jamais admitirei em voz alta
que sua canção, mesmo que pouco, foi capaz de mexer comigo ao ponto de
me levar para lugares que nem eu mesmo gosto de visitar.
Limpo a garganta, pois sei que Lynx está esperando uma opinião da
minha parte.
Mesmo ainda de frente, vidrado em Michaela, posso sentir o olhar
dele em mim.
— Eu... gostei — soo sincero, já que não há motivo algum para
mentir. Esse aqui também é, de certa forma, meu trabalho. — É uma
gravação teste?
— Sim. — Ele começa a mexer de novo nos botões, e eu, como
sempre tive curiosidade em saber como que essas coisas funcionam, fico de
olho em suas mãos se movimentando de um lado para o outro, muito
agilmente. — Tudo que estamos fazendo por aqui ainda é um teste. Estamos
na fase de preparação. Em breve, o mais rápido possível, teremos tudo
pronto para poder lançar e aguardar os números estratosféricos. Michaela
McKenna, com certeza, vai explodir bem mais do que a primeira vez.
— Esse é o meu desejo — afirmo, categórico. — Farei tudo o que
tiver ao meu alcance para que ela quebre mais recordes e mostre ao pessoal
que não acreditou, que ela não é só um rostinho bonito que teve sorte. Ela é
Michaela McKenna. E ela veio para ficar e para se consolidar como uma
das maiores cantoras da nossa atualidade.
Lynx assobia.
— Você fala e pensa como eu, amigo. Na verdade, não tem como
pensar o contrário.
— Sim, porque ela é o próprio sol do seu universo.
— Falou bonito, Russell — parece impressionado de novo.
E eu me encolho na cadeira, envergonhado por ter pensado alto.
Por que caralhos eu disse o que eu disse?
Chacoalho a cabeça, e acho que o homem careca ao meu lado
percebe a minha leve confusão. Ignoro e finjo que nada aconteceu até ele
ignorar e fingir que não viu nada também.
— Sobre a música... — Mudo de assunto, tocando na gravata.
Diferente das outras vezes, eu não a desalinho, apenas a seguro, porque não
tenho muito o que fazer e estou começando a deixar o clima estranho e
pesado. — Como ela vai se chamar?
Em um primeiro momento, Lynx não me responde, ele fica
manuseando sua máquina, como se estivesse bastante ocupado no momento
para me dirigir a palavra. Não falo nada, muito menos o pressiono, fico
calado e o observo mexer por ali, seguindo suas mãos tocarem e girarem os
botões. Encosto minha cadeira ainda mais na mesa, me aproximo e,
disfarçadamente, estico o pescoço para não perder de vista nada que o
produtor faça.
Embora eu não entenda absolutamente nada dessa parte em questão,
não posso negar o quão divertido e interessante é olhar esse trabalho.
— Ah, o nome... — finalmente fala, mas não sem parar de mexer e,
vez ou outra, acenar para Michaela, que segue cantando e fazendo seus
ajustes na voz e na música. — Love is not like in the movies.
Meus olhos se arregalam.
— Não... espera — rio, sem graça. — Como assim não é love is a
language?
Eu estava crente que esse seria o título. Na minha cabeça, fazia
sentido e era a melhor combinação.
— Porque é love is not like in the movies — Lynx responde como se
fosse óbvio, e do jeito que ele fala, parece até que eu falei a coisa mais
estúpida possível. Oras, ele que não está compreendendo meu raciocínio
aqui. — E Michaela é a compositora, ela quem escolheu e definiu do jeito
que a agradou. Eu também não vi problema, eu gostei. Você não?
Respiro fundo, e apoio o cotovelo no canto da mesa, um pouco
afastado dos botões.
— Não — começo. — Quer dizer, a música é ótima. O timbre dela
está ótimo. A letra é ótima. O que eu estou querendo dizer... — Lynx vem
para o meu lado, me atropelando e passando por cima de mim, o que faz
com que eu bata o cotovelo em alguma coisa. Não dói, não foi importante,
então, como sempre faço, ignoro as adversidades e continuo falando, depois
de aprumar os ombros e ficar direito na cadeira. — É que, para mim, love is
not like in the movies não combina com o que eu acabei de ouvir. Eu
esperava... algo diferente. Não sei dizer exatamente o que eu estava
esperando, mas, talvez, o que eu acabei de mencionar tivesse ficado melhor
na minha... — Paro, quando vejo o produtor ficar congelado feito estátua.
— O que foi?
Na mesma hora em que as palavras saem da minha boca, eu entendo
o que foi.
Eu escuto esse o que foi, inclusive, bem alto, ressoando nas caixas de
som espalhadas pelo estúdio, como se eu tivesse...
Ah, claro.
É claro que sim.
Como se eu tivesse apertado em algum botão e ativado essa
comunicação entre nós e... Michaela.
Que ouviu tudo.
E que parou de cantar por causa disso.
Mas ela me entendeu, certo? Estava ouvindo desde o início e
conseguiu compreender minha fala sobre o título em específico, não é
mesmo? Porque pela letra eu tinha imaginado outra coisa, e eu só estava
dando a minha opinião. Uma opinião pessoal, do Alex, não do Alexander
Russell empresário. E a cantora conseguiu captar isso... não é?
Errado.
Erradíssimo.
Michaela está com os fones tirados, a expressão completamente
mudada, não mais serena. E por mais incrível que pareça, não parece com
raiva. Seus olhos, nesse momento, não estão me fuzilando como eu
esperava, eles estão bem piores.
Estão brilhando, com... mágoa?
Ah, não, era só o que me faltava.
Prendo todo o ar quando ouço seus passos, saindo da cabine.
Assim que abre a porta e sai para fora, ficando a passos de distância
de onde estou sentado, ela cruza os braços e, mais de perto, enxergo a sua
expressão de decepção e mágoa, mesmo tentando a todo tempo mascará-la.
— Queria saber o que foi que eu fiz agora — a voz sai baixa, num
sussurro entrecortado, que nem eu mesmo sei como escuto. — Não
responda, já entendi. Foi para isso que veio. Para me criticar de novo. É só
isso que sabe fazer, Sr. Russell? — Morde os lábios, desviando o olhar. —
Se falasse na minha frente, ainda ia, mas não, foi nas minhas costas. Ou...
— Volta a me encarar, diferente. — Foi você quem apertou o botão para que
eu escutasse — acusa, a raiva já começando a aparecer. — Fez de propósito
— novamente, não é uma pergunta, é uma afirmação.
Me levanto em um ímpeto.
Antes mesmo de conseguir pronunciar qualquer coisa, eu escuto a
minha própria voz gritando no meu interior.
Hoje definitivamente não vai ser melhor que ontem.
“E eu sei que não conseguirei controlar as coisas que digo
Sim, eu estava procurando por uma saída, e agora, não consigo escapar
Nada acontece depois das duas, é verdade, é verdade
Meus hábitos ruins me levam até você”
BAD HABITS — ED SHEERAN

Ela continua me encarando, petulante, esperando uma reação da


minha parte que explique o que foi que eu acabei de fazer, porque, pela sua
expressão de fúria e pelo que acabou de dizer, tem certeza de que eu abri o
som para tentar de alguma forma humilhá-la.
Se antes Michaela achava que eu não gostava dela, agora ela parece
ter a mais absoluta certeza.
E olha que eu não falei nada de mais, está mais uma vez tirando suas
próprias conclusões, que são precipitadas. Eu só estava falando da porcaria
do título que eu imaginava diferente pelo que eu ouvi, não foi uma afronta a
música em si.
Olho para Lynx, buscando por uma saída, mas ele parece tão confuso
e perdido que seria incapaz de me ajudar, mesmo se quisesse muito.
Coço o nariz, e como não falo nada, ela se irrita mais, me dando as
costas e voltando para dentro da sala. Aperto o passo e vou segui-la, pois se
pensa que vai dar mais um show aqui, está muito enganada.
— Nem pense nisso — digo, entredentes, quando seguro a porta da
cabine que ia fechar na minha cara. Mesmo não querendo, eu entro junto
com ela, nos fechando aqui dentro, com Lynx ainda lá fora, que, por sorte,
desligou as caixas de som e não pode nos ouvir. Vejo Michaela dar passos
para trás, quando vou até ela. — Você não pode simplesmente agir assim
comigo na frente dos outros. Cadê a sua educação e o seu respeito?
— Eu não gritei, não xinguei, não te ofendi, embora merecesse. —
Abraça seu próprio corpo, olhando para o lado só para sorrir em escárnio.
— Engraçado, eu estava na minha, trabalhando, concentrada, você resolveu
novamente pegar no meu pé e a culpa é minha?
— Como foi que eu peguei no seu pé, Michaela?
Pela segunda vez consecutiva, ela sorri, sem nenhum pingo de
humor.
— Além de grosso, é sonso. — Segue, por alguns segundos, sem me
olhar, mas depois decide me enfrentar, com o nariz empinado. — Você
ligou o som de propósito e eu ouvi muito bem. Você disse que love is not
like in the movies não era boa o suficiente e você tinha imaginado outra
coisa.
O quê?
Meu Deus, foi isso que ela entendeu?
— Você está equivo...
— Sério, eu fico realmente impressionada — Michaela me atropela,
passando por cima da minha fala e da minha voz, como se sequer tivesse a
escutado, o sorriso sórdido não saindo do seu rosto nem por um segundo. —
Além de não se agradar com nada do que eu faço, ainda foi maldoso,
querendo me destratar na frente do meu produtor. Qual é a sua, hein? Você
por acaso é um hater e está destinado a fazer da minha vida um inferno?
— Hater? — A palavra sai com indignação. — Eu não sei da onde
você tirou essa ideia descabida e...
— Rá! É claro! Só pode ser isso — ela segue me ignorando
completamente, como se estivesse falando consigo mesma, sua cabeça
trabalhando para pensar sozinha nas diversas teorias que provavelmente
deve estar fazendo nesse momento. — Você aceitou trabalhar comigo, não
porque gostou de mim e da minha carreira, você aceitou trabalhar comigo
porque me detesta, é um hater. Mas você sabe, Sr. Russell, que todo hater é
um fã encubado, certo? — agora me dirige a palavra, suas íris finalmente se
esbarrando nas minhas. As narinas estão dilatadas, com raiva, e mesmo que
pareça prestes a apertar meu pescoço com as suas mãos pequenas, dá um
passo em minha direção e circula os seus lábios com a ponta da língua,
tentando esconder mais um dos seus sorrisos perversos. — O que foi, você
me mandou alguma mensagem numa rede social e eu o ignorei? Comentou
numa foto minha e não recebeu um coraçãozinho de volta? Tentou me
encontrar em algum aplicativo de paquera e não teve sorte?
Meu Pomo de Adão desce e sobe em minha garganta, porque não
estou gostando nada da sua expressão diabólica, muito menos do caminho
que seus olhos fazem, escorregando para a minha boca.
— Escutou alguma música minha e eu te fiz chorar, porque você se
lembrou de alguma ex que lhe deu um pé na bunda? — prossegue, cada vez
mais malvada e, merda, por que ela parece tão sedutora agora, nessa
posição, vindo para cima de mim? Michaela ainda pega minha gravata,
brincando com ela entre os dedos. Para mim, é o fim. Não consigo respirar
com ela tão perto. — Vai, Sr. Russell, fala. O que foi que eu fiz para que
você tenha pegado uma birra gigantesca de mim? É alguma dessas coisas
ou você guarda por aí algum segredinho sujo que eu não posso saber?
Como ela, minhas íris também descem sem permissão para os seus
lábios, que se encontram naturalmente avermelhados e retorcidos num
sorriso de lado. Fico paralisado, sua mão ainda na minha gravata, e sinto
como se Michaela estivesse dando um nó na minha cabeça com ela, de tão
embaralhados que se encontram os meus pensamentos. Estou com o ar
preso nos pulmões, pensando como a atmosfera entre nós pôde ter mudado
tanto em questão de segundos.
Num minuto, a garota estava com raiva, no outro, ficou desse jeito,
perversa, como quem quer de alguma forma me provocar além da conta,
além do moralmente aceitável. Pelo menos é o que parece. Pelo menos é o
que eu estou conseguindo enxergar, e talvez, quem sabe, eu não esteja tão
certo disso. Talvez eu esteja delirando.
Desde que eu a comparei com Sabrina mais cedo, talvez eu esteja
vendo coisa.
Porra, é fodido pra caralho.
Sem nem pensar, faço com que ela solte a minha gravata, me
afastando uns bons passos. Desalinho os fios do meu cabelo quando posso
respirar em paz e olho para trás, para ver se Lynx pôde presenciar essa cena,
mas não o encontro mais na sala. Deve ter percebido que precisávamos
conversar a sós e nos deu esse espaço. Não sei se o agradeço pela sua
atitude ou se o mato por me deixar aqui sozinho, sem supervisão. Essa
garota é maluca.
Eu solto um resmungo com o pensamento, xingando baixinho
palavras desconexas, que nem eu mesmo entendo, e ao voltar a fitá-la, ela
permanece parada no mesmo lugar, na mesma pose, ainda sustentando cada
maldita palavra que saiu de sua boca.
— Srta. McKenna... — Arrumo a gravata porque sinto como se ela
estivesse pinicando a minha pele. — Não sei o que você pensa que está
fazendo, mas pare imediatamente.
— Com o quê? — zomba.
— Com as gracinhas. — Permaneço sério. — Não tolero esse tipo de
comportamento. Não sou um dos seus amigos, muito menos um dos seus
namoradinhos para você falar coisas como aquelas para mim. E não, não
sou um hater. E não, não mandei mensagem alguma. Me respeite, porque
eu jamais daria em cima de você. Sou um homem íntegro, extremamente
profissional, nunca dei qualquer tipo de liberdade às mulheres com quem
trabalho e não lembro de em momento algum ter feito ou dito algo que
pudesse te fazer pensar o contrário.
Não sei se acabo sendo duro demais, mas é nítido que sua expressão
muda na mesma hora, a pose de confiante e inabalável murchando
conforme me ouve. Seus olhos brilham com algo que parece ser mágoa
outra vez, e, por mais que eu não tenha a intenção de deixá-la triste, preciso
mostrar para ela que há limites. Para mim também.
— Desculpe, eu... eu... eu não quis...
— E outra coisa — é a minha vez de ignorá-la. — Eu não estava
falando mal da sua música, e muito menos liguei o som de propósito. Lynx
esbarrou em mim e eu acabei, sem perceber, esbarrando em algum dos
botões. O que eu estava falando com ele era sobre o título. Perguntei qual
era o nome da música e, quando me respondeu, eu mostrei surpresa, porque
escutando um pedaço da letra, eu tinha colocado na minha cabeça que teria
algo a ver com amor e língua. Aquilo que eu disse foi uma opinião pessoal,
com base no que eu tinha escutado, não foi nenhuma crítica. Aposto que
ouvindo melhor toda a canção, vou entender o título e está tudo bem.
Mesmo que não mereça escutar isso agora, eu gostei da música. Sempre
gosto das suas músicas.
Me surpreendendo, Michaela fica calada, olhando fixamente para
seu All-Star.
Uma fresta de ar escapa pelos meus lábios, e eu me aproximo.
— Não gosto quando você tira conclusões — deixo claro à medida
em que fico ao seu lado e acabo cruzando os braços em frente ao peito. —
Aconteceu isso ontem e aconteceu isso agora. Até quando vamos ficar
assim?
Ela rapidamente levanta a cabeça.
— Até o dia em que você começar a ser mais claro nas coisas que
diz.
— Eu sou sempre muito claro, você que é uma pimentinha, Srta.
McKenna.
Um vinco engraçado se forma em sua testa.
— Pimentinha?
— É. — Balanço a cabeça. — Pimentinha. Explosiva. Estourada
demais. Não pode ouvir nada que já quer sair brigando.
— Explosiva e estourada até vai, mas pimentinha não.
— E posso saber por que não?
— Porque parece que você está me vendo como uma criança —
resmunga, e eu a olho de esguelha para ver se está chateada. — Não há
nada em mim parecido com uma criança, Sr. Russell.
Parece que ela está novamente me provocando como mais cedo,
querendo que eu a perceba de outra forma, porém não há sorrisos maldosos
ou olhos diabólicos cravados em mim dessa vez. Sou só eu e a minha
imaginação, afinal, Michaela pode muito bem estar falando isso porque
acha que eu a vejo como uma garota imatura, e não é desse jeito que deseja
que eu a enxergue.
Será que se ela soubesse da forma como eu a enxerguei naquele
momento em que se aproximou e tocou na minha gravata, iria gostar?
Receio que não, porque não foi nada bom.
Passo a mão pelo cabelo de novo, o bagunçando.
Preciso parar.
Tudo o que eu preciso é parar com essa merda.
— Ok — respondo, por fim.
Michaela não parece muito satisfeita, no entanto.
— É sério, eu não sou. Tenho 21 anos, sou uma mulher adulta.
— Ok.
— É sério!
— Tudo bem, já entendi. Por que está querendo tanto se provar para
mim? Você está parecendo atirada e isso está... — Engulo a bola de saliva
que parece ter se alojado na minha garganta e acabo desapertando um pouco
mais a gravata. — Me deixando incomodado.
Paralisa, abrindo e fechando a boca uma, duas, três, quatro vezes.
— Eu... eu não estou... — Sua expressão já se transforma, em
segundos, numa nova. É aquela conhecida, a de quem está prestes a entrar
em um embate comigo de novo. — Droga, por que você não consegue ser
minimamente normal? Seu ogro! — xinga, se afastando e começando a
recolher suas coisas. — Eu estava tentando manter um diálogo com você,
mas já vi que é impossível. Sério, vai à merda. Vai. À. Merda! — esbraveja,
com a bolsa no ombro e o celular na mão. Como o furacão que é, sai da
cabine, me deixando sozinho, e vai para fora, bem na hora que Lynx entra.
Também saio.
— Está tudo bem aqui? — Lynx alterna o olhar entre nós dois,
desconfiado. Parece que saiu para beber café, porque retornou com uma
xícara fumegante em mãos.
— Vou precisar sair mais cedo, tem algum problema? — Michaela
fala diretamente com ele, e noto que segura com força a alça da sua bolsa,
os nós dos dedos esbranquiçados. — Amanhã venho mais cedo para
acertarmos tudo o que não conseguimos fazer hoje. — O seu produtor
assente e ela força um sorriso para parecer que está tudo bem. — Obrigada
pela compreensão e pelo dia de hoje, Lynx. Até mais.
Michaela não espera por uma despedida, ela já abre a porta e foge.
Viro-me para Lynx, que permanece sem entender nada.
— Ela é sempre assim? — Aponto com o indicador e o polegar para
a porta que ela deixou aberta.
Não querendo se comprometer, ele apenas ergue os ombros e enche a
boca de café, mantendo-se ocupado por um bom tempo.

Pego meu carro no estacionamento da Public Records, faço a volta e,


quando entro na próxima rua, me surpreendo ao ver Michaela McKenna
caminhando sozinha pela calçada.
Aperto mais forte as minhas mãos no volante.
O que ela pensa que está fazendo?
Diminuo a velocidade e vou atrás dela.
Ela se sobressalta e se assusta, mas tenta se manter neutra quando
percebe que sou eu, voltando a olhar para a frente e me ignorando. Do jeito
que anda, parece que não há ninguém a seguindo.
— Para onde você vai? — pergunto, com a cabeça um pouco para
fora da janela.
Só posso ter me tornado um fantasma, porque não me responde, o
olhar ainda à frente.
— Estou falando com você, Michaela. — Trinco o maxilar. — Quero
saber para onde você vai andando sozinha. Cadê seu motorista? Cadê a
porra dos seus seguranças? Que bando de incompetentes. Não é possível...
Não é possível que vou ter que falar a Conrad para demiti-los.
— Eles não são incompetentes e você deveria cuidar da sua vida! —
Ela para, me obrigando a parar o carro também. — Quero ficar sozinha,
será que não posso?
— Não! — soo firme, a vendo revirar os olhos de forma exagerada.
— Você tem que andar protegida, não desprotegida. Se é para casa que está
indo, então entra no carro, eu te levo.
— Pegar uma carona com você? — ri quando aponta para mim. —
Não, muito obrigada. Prefiro morrer a ficar mais minutos na sua presença.
Se quiser, pode passar o carro por cima de mim, eu prefiro essa opção.
— Muito tentadora a sua proposta.
— Há, há, há. Acha que estou brincando?
Também reviro os olhos, sem paciência.
— Entra no carro, Michaela.
— Não. — Pisa duro.
— Entra logo, eu não vou pedir duas vezes.
— Pra que eu vou fazer isso, pra você achar que eu quero te dar?
— Menina! — a repreendo, e acabo buzinando no processo, a
assustando. Por ficar bem mais sério e bem mais autoritário, Michaela se
recolhe, calada. — Seu pai disse que eu poderia botar você na linha, e é isso
que estou fazendo. Entre no carro agora ou eu vou ter que te dedurar para
ele. Todos os seus comportamentos, até mesmo esse. O que acha que
Conrad vai pensar sobre esse tipo de palavreado? Ainda mais sendo
direcionado a mim?
Com a cara fechada e totalmente puta, Michaela finalmente dá a
volta e entra no meu carro, fazendo questão de bater a porta com força, se
virando para mim.
— Você é um ogro! — repete aquilo que eu já sei. — Eu nunca,
nunquinha, nem que você fosse o último homem da face da Terra, jamais
daria em cima de você, Sr. Russell. Você não faria meu tipo nem se
nascesse de novo.
— Coloque o cinto — ordeno e me viro para a frente, fingindo que
não estou nem aí para os seus chiados quando, com raiva, resolve me
obedecer. — E é claro que eu não faço o seu tipo, pimentinha. Você namora
com garotos, eu sou um homem.
De rabo de olho, vejo que o que eu disse lhe golpeou, mas tenta se
manter indiferente.
— Você é um velho chato, isso sim.
— Sou seu empresário — reforço. — E você deveria me respeitar.
— Você pode ser um ótimo profissional, mas é uma péssima pessoa,
e se quer saber, não te respeito. — Tomba a cabeça para o lado, seu corpo
sofrendo um solavanco quando começo a dirigir mais rápido. — Posso até
fingir que te respeito quando tiverem outras pessoas em volta, mas quando
for assim, só eu e você, vou ser desse mesmo jeitinho. Vai ser o preço que
terá que pagar por ter me feito assinar aquele contrato.
Viro sobre os ombros.
— Como é que é? — minha voz sai um pouco mais alta do que eu
gostaria. Limpo a garganta e volto a olhar para a frente, para não criar
nenhum problema de trânsito. — Se alguém te ouvir falando isso, vai achar
que eu te obriguei a algo. Eu não te obriguei a nada. Se não se recorda, eu
ainda te dei a opção de voltar atrás. Por que não fez?
— Porque eu não te conhecia! — ela grita no mesmo tom que usei.
— E, mesmo não gostando de admitir, você é bom para mim e para a minha
carreira.
— Você também — murmuro.
— Ótimo.
— Ótimo — repito.
Antes que a cantora possa falar qualquer coisa, o som do meu carro
avisa que tem alguém me ligando. É Oliver.
— Fique quietinha, Srta. McKenna — é o que peço antes de atender.
— Alex? — Ouço a voz do meu melhor amigo.
— Sim?
— Preciso de um favor seu. — Xiii, lá vem. Fico em silêncio, o
esperando soltar a bomba. — Tive que encontrar alguns fornecedores do
Call Emergency e não vou conseguir pegar a Iris na escola a tempo.
Natasha ainda não voltou de viagem também. Será que pode, por favor,
quebrar essa para o seu lindo, gostoso e perfeito melhor amigo? Você sabe,
ela vai adorar a surpresa em ser você dessa vez.
— Claro, Oliver, sem problemas. Estou no carro agora, aqui perto —
informo, pois não poderia negar nada para a minha pequena.
— Muito obrigado, amigo, você é um amigo — brinca. — Diz a Iris
que eu a amo e que logo, logo a pego em sua casa.
Antes mesmo de eu conseguir confirmar, ele desliga.
Viro-me para Michaela, sabendo que ela já está me olhando.
— Iris... — Sorri com o nome. — Quem é?
— Filha do homem que acabou de ligar, meu amigo, e minha
afilhada.
— Quantos anos? — parece mesmo genuinamente curiosa.
— Seis.
— Que fofa! — Por que ela parece... feliz? — Eu amo crianças. —
Bate as mãos, empolgada, me dando a resposta de que eu precisava.
Ela ama crianças.
É bom mesmo, porque na hora que Iris vê-la aqui dentro, a coisa vai
se transformar num verdadeiro caos.
Mas fico quieto, seguindo no volante, porque nem a pau que
Michaela McKenna vai escutar da minha boca que a minha afilhada é a
maior fã dela.
“E eu sei que não conseguirei controlar as coisas que digo
Sim, eu estava procurando por uma saída, e agora, não consigo escapar
Nada acontece depois das duas, é verdade, é verdade
Meus hábitos ruins me levam até você”
BAD HABITS — ED SHEERAN

Oliver Olsen é a porra de um filho da puta sortudo, a escola da Iris é


bem próxima de onde fica a gravadora, o que faz com que eu consiga salvar
a sua pele tão rápido que quando estaciono em frente à entrada e mando
mensagem dizendo que já cheguei para buscá-la, ele manda uma outra
demonstrando totalmente a sua surpresa pela minha velocidade e agilidade,
coisa que eu duvido que ele seja capaz de ter.
Bem, eu também não tenho muita moral para falar, pois mal sabe
Oliver que adiantei ainda mais o processo para não ter que me sentir na
obrigação de puxar conversa com Michaela. Afinal, com Iris aqui dentro, a
pimentinha — acho que só posso me referir a ela assim agora — estará tão
ocupada em responder os questionamentos da pequena que esquecerá da
minha presença e, assim, não terá tempo de brigar comigo para me deixar
ainda mais enlouquecido, fervilhando nos nervos, de um jeito que só ela é
capaz de fazer.
Com Iris aqui dentro, acredito que a coisa toda sairá um pouquinho
menos tensa, complicada e com um ar muito mais leve do que denso. Minha
afilhada tem esse poder, o de fazer qualquer ambiente se adaptar ao seu
lindo alto-astral e bom humor.
Se Michaela ama mesmo crianças como diz, vai amar Iris.
E eu não preciso nem dizer que ela vai amar conhecê-la também, não
é mesmo?
Porque vai, e muito.
Assim, o caminho irá melhorar ao invés de piorar. Minha dor de
cabeça agradece.
— Cadê ela? — A garota estica o pescoço e decide colocar o rosto
para fora da janela. — Me diz como ela é, porque aí eu posso tentar achá-la
daqui, gritar e... Ai! — reclama quando eu a puxo de volta para sentar
direito no banco, meu olhar a repreendendo. — Mas será possível! O que
foi que eu fiz agora? — Puxa de volta seu braço, que eu estava segurando
pela jaqueta jeans larga que usa, um bico já se formando nos lábios.
— Nada, não fez nada, você estava apenas querendo anunciar a sua
presença na frente de uma escola infantil — soo irônico, como se, de fato,
não fosse nada de mais. — Nem geraria um surto coletivo e uma histeria
generalizada, imagina. — Ergo os ombros à medida que com a mão arrumo
o cabelo enquanto encaro o retrovisor. — Se as crianças descobrem que
Michaela McKenna está dentro desse carro, o que você acha que pode
acontecer?
— Você é tãããããão chato — bufa, em puro drama. — Eu só estou
animada para conhecê-la, e, de qualquer forma, não teria problema algum
se as crianças me vissem e decidissem se aproximar. Eu atenderia todas elas
de muito bom grado. Diferente de você, eu sou uma pessoa legal e me
importo com quem gosta de mim.
Mais uma vez, Michaela fazendo interpretações erradas sobre o que
eu falo. Alguma vez essa garota vai conseguir falar a mesma língua que
eu?
— Eu não acharia ruim. Como eu poderia? São crianças.
— Você acabou, literalmente, de mandar eu ficar escondida para que
elas não me vissem. Às vezes, eu acho que você me acha idiota, só pode.
A encaro.
— Deus... — suspiro, a pouca paciência que me restou já querendo
fugir do meu corpo pela segunda vez. — Eu não disse para você se
esconder, disse para evitar aparecer dessa forma, gritando e chamando
atenção. As crianças viriam todas juntas para cima do meu carro, e você
sabe muito bem como elas são, num piscar de olhos o meu pobre carro seria
destruído. Sabe quanto isso aqui vale? Sem contar que eu já tive um
problema com ele recentemente, não quero e nem posso ter de novo.
Como se eu tivesse dito outra coisa mais estúpida ainda, ela, além de
revirar os olhos, ainda ri.
— Que coisa de gente pão dura e mesquinha, Alexander. — Franze o
rosto em uma careta de descrença, e eu só consigo prestar atenção no meu
nome saindo pelos seus lábios. Porra, parece tão... familiar. Parece tão
pessoal, como se tivesse dito muitas outras vezes antes. Me traz uma
sensação fodida de déjà vu, o que é estranho pra cacete. Eu mal a conheço,
por que me parece que eu a conheço? Que eu já a vi antes? Tá vendo, não
tem outra explicação. Essa mulher já está me deixando mesmo maluco. —
Você é milionário — ela continua. — Tem dinheiro de sobra. Não queira
estragar a felicidade de menininhas só por isso.
— Então tudo bem, vá em frente, coloque a cabeça para fora do
carro e faça o seu show particular. Qualquer coisa que venha a acontecer, eu
desconto do seu dinheiro. Ou acha que eu também não sei que você já está
milionária?
Semicerra os olhos em minha direção e me ergue um dedo assim que
fala:
— Espertinho.
— Muito. — Umedeço os lábios, tentando não sorrir. — Estarei
sempre um passo à frente, pimentinha, não adianta. Sei muito bem como
lidar com mulheres como você.
Seus olhos se arregalam um pouquinho e brilham.
— Mulheres como eu?
— Garotas como você — me corrijo, sabendo muito bem o que está
tentando fazer.
Não importa, Michaela sorri e faz parecer que acabou de ganhar na
loteria.
— Eu ouvi muito bem, tá? — Estala a língua no céu da boca quando
cantarola, vitoriosa. — E olha que engraçado, eu achei que você tivesse me
dito que não tinha tempo para conhecer muitas mulheres, já que vive
ocupado com o trabalho. Achei que...
— Espera — a corto, rindo fraco. — O que foi que você disse?
Ela se espanta na mesma hora, e cobre a boca com os dedos. Parece
ter acabado de ser pega no flagra fazendo ou falando algo que não devia.
— Eu... eu disse...
— Disse que eu te falei que eu não tinha tempo para conhecer muitas
mulheres — respondo por Michaela, tendo certeza que um vinco de
estranhamento se forma entre as minhas sobrancelhas. — Quando foi que
eu te disse isso? Não, melhor, quando foi que eu sequer te contei algo sobre
a minha vida?
Se a situação estava estranha e embaraçosa demais, acaba de ficar
pior, porque, do nada, uma risada histérica explode no ar, me assustando. E
é claro que vem de Michaela. Não sei que merda pode ter soado tão
engraçado, mas a cantora ri. Ela ri alto. Ri mais e mais. Ela até dá um
empurrãozinho no meu ombro, como se não pudesse se aguentar e como se
também fôssemos amigos, cheios de intimidade.
A sua risada, ao mesmo tempo que parece engraçada e descontraída,
me é estranha. Parece, no fundo, no fundo, um pouco nervosa.
Eu fico na minha.
Na mesma.
Tão sério que quando ela percebe que é a única vendo graça onde
não tem, tosse, sem jeito, embora um leve sorriso ainda esteja serpenteando
seus lábios.
— Acabei de me deparar com algo... — Michaela respira, seu peito
inflando. — Com uma observação, na verdade.
— Que observação?
— Que você já é um coroa com a audição prejudicada — implica,
me fazendo olhá-la com desdém. — É sério! Meu Deus, eu não falei nada
do que você disse. Como eu poderia saber qualquer informação sobre a sua
vida se a gente mal se conhece? Nós nunca nem nos vimos antes. Nunca
conversamos sobre nada, quem dirá sobre os seus relacionamentos e a sua
forma enferrujada de agir com as mulheres... — Ela para, tossindo de novo.
— Quer dizer, desculpe, eu nem sei se você é enferrujado, ativo ou não,
nem sei se é solteiro, casado ou viúvo, não sei absolutamente nada da sua
vida e também não me leve a mal, está ótimo assim. Não sei e nem quero
saber. O que eu estava querendo dizer é que, para mim, você parece que não
tem tempo para se envolver com mulheres. Não foi uma verdade absoluta.
Como eu disse, não sei da sua vida e...
— Ei! Ei! Ei! — Toco no seu braço de novo, fazendo-a se virar para
me olhar e, assim, calar a boca de uma vez. — Se acalme. Pare de falar. Já
entendi. Não precisa ficar nervosa, soltando mil coisas de forma acelerada.
Assim você acaba com o meu juízo de vez, porque para te acompanhar fica
difícil. E acho que por ontem e por hoje já deu, não aguento mais esse disse
e não disse entre nós.
O peito sobe e desce de novo, e ela joga os fios do cabelo para trás, a
testa salpicada de gotas de suor se formando.
— Tudo bem... — Volta a puxar o braço, com cautela, agora
entrelaçando as mãos em cima das coxas e olhando para elas, para os
dedões que começam a duelar.
— Você é uma criatura extremamente difícil de lidar — murmuro, e
quando Michaela ergue seus olhos para encontrar os meus, eles parecem tão
inocentes, tão puros, tão enérgicos. Parece os olhos de uma menina
sonhadora, verdadeira, que fala tudo o que vem à mente e depois se
arrepende, quando é repreendida. E é surreal porque mesmo enxergando
completamente esse seu lado, eu também enxergo o seu brilho caótico. O
brilho poderoso, deslumbrante, aquele que nunca abaixa a cabeça. Ela é a
droga de uma mistura, e eu não vou nem dizer com quem. Me recuso. —
Você parece mais difícil que Iris, e olha que ela só tem seis anos de idade.
— Além de audição prejudicada, vejo que sua mente não se encontra
muito diferente. Pois, por falar na sua afilhada, me recordo. Cadê ela que
você ainda não foi buscar?
Viu só, a inocência acabou de dar lugar ao seu lado mais diabólico,
que só serve para acabar ainda mais com a minha sanidade mental.
Dessa vez, pelo menos, é por uma boa causa.
— Esqueci — vocifero. — A minha outra criança esteve me
mantendo ocupado. Culpa dela, não minha — a provoco, já que não é só ela
que pode fazer isso comigo.
— Jura? — é debochada. — E onde é que essa criança está, que eu
não estou vendo?
— Olhe para um espelho e você a encontrará rapidinho. No
retrovisor também funciona.
Abro a porta do carro, pronto para descer, mas sua boca em O
perfeito me para por alguns segundos.
— Cretino! — me xinga e é... maravilhoso.
Não há raiva dessa vez, é... uau, nunca pensei que fosse falar isso,
mas é divertido. Principalmente porque admirar sua expressão assim,
desacreditada, é impagável.
E olha nós de novo numa montanha-russa sem fim. Numa hora é
discussão, briga, desentendimento, desrespeito, e em outra é provocação,
brincadeira e uma estranha vontade de sorrir. Que é basicamente o que
acontece nesse momento, coisa que ainda não havia acontecido antes.
Não deveria acontecer em momento algum, na verdade.
Se eu trato todo mundo bem, de forma profissional, por que com
Michaela tem que ser tudo tão diferente?
Por que ELA tem que ser tão diferente?
Como se essas coisas já não bastassem, a nossa relação também,
pelo visto, é diferente, afinal, por mais que eu exija que ela me respeite e
tenha falado de tudo para convencê-la de que não pode agir do jeito que age
comigo, não adianta, ela jamais irá me temer ou me ver como alguém que
admira, alguém que fará de tudo para manter uma boa relação de
empresário e artista, sendo ambos profissionais. Não, ela está preparada e
destinada a me enfrentar de todas as formas possíveis. Pelo visto, eu posso
ser até Alexander Russell, mas ela continua sendo Michaela McKenna, e
Michaela McKenna sempre faz e consegue tudo o que quer. Não tem jeito.
Não adianta.
Mesmo que volte atrás em algumas coisas, sei que a garota não tem
nem um pingo de medo de mim. E isso vai ser péssimo. Terrível. Eu só não
tenho noção ainda do quanto.
— Se comporte — aviso logo após balançar a cabeça, retornando à
realidade. — Volto em menos de cinco minutos. Não faça nada que vá nos
enfiar em confusão, sua pimentinha.
— Vou ficar quieta, mas não pense que é por você estar mandando,
seu ogro. E pelo amor de Deus, quer parar com esse apelido ridículo?
Saio para fora do carro, e quando estou prestes a bater a porta, eu
sopro, com a cara enfiada na fresta da janela:
— Azeda, ácida, forte, ardida, capaz de deixar qualquer pessoa com
dor de cabeça. Essa é você. Pimentinha.
Giro nos calcanhares, deixando-a me xingar outra vez.
Por estar de costas e ela não poder me ver, eu abro o meu maior
sorriso à medida em que caminho.
Nem fodendo que vou parar de chamá-la assim, é a melhor definição
para aquela peste.
Caralho, Alexander, não acredito que você está tratando uma artista
sua assim, escuto a voz sensata do meu subconsciente querer acabar com a
pouca diversão que eu havia encontrado.
No entanto, é verdade. Uma coisa é Michaela passar dos limites,
outra coisa bem diferente sou eu saber que estou passando dos limites e
prosseguir.
Mas o que posso fazer, se ela já está me deixando todo confuso?
Entre no eixo de uma vez, Alex, e assim seu trabalho não será
prejudicado.
Estou prestes a concordar comigo mesmo quando alcanço a porta da
escola de Iris, cumprimentando os seguranças que já me conhecem, já que
quando Oliver e Natasha não podem buscá-la, eu faço esse papel. Sou o tio
dela, afinal de contas.
— Vou chamá-la para você — o segurança baixinho me informa, e
eu assinto, esperando. — Só um segundo, ela deve estar brincando com as
amiguinhas aqui por perto.
— Sem problemas, obrigado.
Enquanto ele se afasta, eu me viro para observar se Michaela não
está aprontando nada. Aparentemente, não. Minha Lamborghini segue no
mesmo lugar, com o vidro fosco pela metade, e, daqui, consigo enxergar a
parte dos seus olhos para cima. Aposto que eles estão de olho em mim
também, de alguma forma, consigo senti-los queimando às minhas costas.
— TIO AAAAAALEX! — O tempo de eu virar para a frente é o
tempo exato de eu vê-la correndo em minha direção, gritando e já de braços
abertos para um abraço. Eu me agacho para ficar em sua altura e assim
recebê-la em meus braços. Quando se joga em mim, os pulsos finos se
entrelaçam em meu pescoço e eu, com os olhos fechados, abraço seu corpo
miúdo de volta, rindo quando a ouço rir também, cheia de felicidade. —
Não acredito que você veio hoje! Não acredito, não acredito e não acredito!
Por que papai não me disse nada?
Se afasta para me olhar nos olhos.
— Porque não foi algo marcado, princesa — conto quando coloco
um cacho do seu cabelo atrás da sua orelha, fazendo-a sorrir daquele jeito
adorável; de janelinhas e com as bochechas prontas para ficarem vermelhas.
— Sua mãe ainda está viajando e o seu pai ficou preso no trabalho, então o
seu Super Tio Alex veio te salvar.
Ela me abraça outra vez, me pegando desprevenido, quase caio para
trás com a força em que se joga.
— O Super Tio Alex me salvou — sussurra em meu ouvido, como
se fosse um segredo nosso. — Isso significa que vou para a sua casa, né?
— Sim, sim. — Afirmo ao balançar a cabeça, e Iris dá passos para
trás, ficando à minha frente. Aproveito para me levantar e lhe estender a
mão. — Seu pai disse que assim que estiver livre, vai passar para te buscar
lá. Mas isso não é importante, o que importa mesmo é que você passará o
restante do dia com o seu tio maravilhoso aqui. Já tenho várias coisas em
mente do que podemos fazer. — Danço com as minhas sobrancelhas de
forma sugestiva, e a minha pequena gargalha com as minhas besteiras.
Só ela mesmo para me tornar assim, um verdadeiro palhaço.
— A gente pode assistir ao Disney Channel e comer muitos e muitos
e muitos doces. — Faz a quantidade com as mãos, exagerada do jeito que é.
— Podemos — falo, baixinho, mais um segredo também. — Mas
você não pode contar nada para o seu pai. Muito menos para a sua mãe.
Ela finge que passa um zíper na boca.
— Não conto nada, tio, prometo. Palavra de escoteira.
Cruzo os braços, a olhando de forma engraçada.
— E desde quando você se tornou uma escoteira, querida?
Chacoalha os ombros para cima e para baixo, a mochila às suas
costas se balançando junto.
— Vou ser sincera, não sei o que é escoteira, mas eu sempre ouço
essa palavra quando as pessoas fazem promessas. Deve ser um juramento
muito forte, né não, tio Alex?
— Muito forte — garanto. — Palavra de escoteiro não se pode
quebrar nunca.
— Não vou quebrar. — Fica na postura e bate continência. Essa
menina não existe, penso ao rir internamente. — Prometo de novo. Não vou
contar nada ao papai e nem à mamãe. Vamos comer doces e ninguém ficará
sabendo disso.
— Certo, princesa, acredito em você. Mas será que podemos ir
agora? — Estendo a mão de novo, para que ela a segure. Iris balança a
cabeça, empolgada, e logo vem até mim, segurar a minha mão. —
Inclusive, queria te perguntar uma coisa... — menciono assim que
começamos a andar, nos distanciando da sua escola e chegando perto do
carro. — Você sabe que eu sou o melhor tio do mundo, não sabe?
— Oh, tio Alex bobão. Claro que sei. — Tomba a cabeça para me
fitar e ri, extremamente fofa. — Por quê?
— Porque... — Sorrio. — Tenho uma surpresa para você no carro.
— Oba!
“Eu não mudaria nada nisso
Esta é a melhor sensação
Esta inocência é brilhante
Espero que ela dure
Esse momento é perfeito”
INNOCENCE — AVRIL LAVIGNE

Eles estão vindo.


Sim, eles estão vindo.
Alexander e sua afilhada, de mãos dadas, se aproximando da
Lamborghini em que me encontro no banco da frente.
De repente, me sinto tensa, nervosa, e nem sei direito o porquê.
É só Alexander e uma... criança. Não deveria ser nada de mais.
Mas é.
É porque Iris é a afilhada dele, sua única, creio eu, e se ela não
gostar de mim, ferrou, é aí que Alexander não vai me ver com bons olhos
nunca.
Não que eu esteja me importando, claro.
Eu estou bem.
Estou ótima.
Se aquele ogro metido a besta continuar me provocando e tendo suas
ideias bem convictas sobre mim, problema o dele. Continuarei do jeito que
estou e não mudarei nada.
Ficarei bem.
Ficarei ótima.
Vai dar tudo certo e, como eu disse, eu amo crianças. Vai ser moleza.
Acho que acabo viajando demais nos meus próprios pensamentos,
pois, quando percebo, meu corpo está sobressaltando pelo falatório que se
aproxima junto com a porta do carro sendo aberta.
As portas, no caso. Primeiro é a de trás, com Iris pulando para dentro
enquanto conversa com seu tio, que está segurando e fechando a porta para
ela. Depois é o próprio Alexander, voltando para o seu lugar no canto do
motorista. Ele põe o cinto e coloca a mão no volante, não sabendo se troca
um olhar comigo ou com a própria Iris, que segue falando, conversando,
sem nem ao menos perceber que tem alguém aqui na frente.
Será que o cretino não contou que eu estou aqui e vai me fazer ir
calada durante todo o trajeto?
Não, não mesmo, rio comigo mesma, mas sem humor. Nem eu, nem
a menina somos duas bestas. Uma hora ou outra, ela vai acabar me
percebendo aqui, só não deve ter feito isso ainda porque, pelo seu tom de
voz, parece eufórica, afoita, sem saber onde e como fixar a sua atenção.
— Tio, estou falando com você, por que não está prestando atenção?
— soa magoada, e embora não seja de verdade, Alexander logo vira o rosto
para encará-la, com medo que ela acredite que realmente está sendo
ignorada por ele. Parece que tem pavor disso. Parece que quer que a
garotinha perceba que não importa o que esteja fazendo, sua atenção
sempre será dela e de mais ninguém. — Ah, ótimo, agora sim. Onde está a
minha surpresa? É um presente? Eu posso vê-lo? Porque não tem nada aqui
atrás, apenas eu com a minha mochila e o meu cinto de segurança.
— Sim, você pode ver o seu presente, querida — ele responde, e sei
que me olha de rabo de olho. Espera... a surpresa sou eu? Por quê? Fico
com as mãos suando, me obrigando a limpá-las no jeans da jaqueta. Não a
vejo, fico paradinha, com medo até mesmo de respirar e ela poder notar,
mas posso imaginar seu belo rostinho fofo na expectativa. Meu Deus, será
que a afilhada dele nem me conhece e isso é algum tipo de zoação com a
minha cara? Juro por tudo que é mais sagrado, se for, eu... — É só você
prestar mais atenção nessa moça que está aqui ao meu lado.
É, acho que chegou o meu momento.
Me viro, finalmente me apresentando com um tchauzinho e um
sorriso que parece sair mais acanhado do que qualquer outra coisa, podendo
observá-la mais de perto pela primeira vez.
Penso que Iris vai me dar um tchau de volta, ou que vai sorrir, ou
que vai ficar na sua, tímida e sem entender nada, mas o que acontece a
seguir pega a mim e ao seu tio desprevenidos. Porque quando pisca e
entreabre os lábios, ela parece ainda estar assimilando o fato de ter alguém
aqui, os grandes olhos azuis passeando pelo meu rosto com rapidez. E,
depois, quando parece ter essa noção, os olhos se arregalam mais. Os lábios
também, com o queixo quase indo ao chão. Parece surpresa. Desacreditada.
Em choque. Em negação. Sua pele branquinha ficando toda vermelha
conforme os segundos passam.
— MEU DEUS! — a criança grita, de repente, colocando a mão na
testa. Meu sorriso, ao invés de acanhado, fica tenso na mesma hora. Todos
os músculos do meu corpo se retesam, porque não faço ideia do que pode
estar acontecendo. É por ela estar... me vendo? Céus, será que ela me odeia
também? Eu posso até entender Alexander não gostar de mim, mas uma
criança... ai, minha nossa, aí já é demais. É desesperador. — MEU DEUS!
MEU DEUS! MEU DEUS! — repete, sem parar. — Tio Alex, me ajude,
por favor, acho que estou passando mal. Acho que vou desmaiar agorinha.
— O QUÊ? — Alexander também grita, aparentemente nervoso e
desesperado pela fala dela, que claramente não estava esperando.
— É a Michaela! — Aponta para mim, e é quando percebo seus
olhinhos brilhando, marejados. Uma luz repentina se acende em minha
cabeça. Eu conheço esses olhos. Por sorte, já vi milhares deles. São olhos
de pessoas que me admiram. Que me amam. São os olhos de um fã. Os
inconfundíveis olhos de um fã, aqueles que têm o amor mais puro e genuíno
que uma pessoa conseguiria ter em seu coração. Se antes eu estava tensa,
todo o meu corpo relaxa e um sorriso maior se abre, ocupando todo o
espaço em meu rosto. E meus olhos, nesse momento, brilham tanto quanto
os dela, sei disso. — É a Michaela McKenna! — a voz de Iris treme,
emocionada.
Ótimo, acho que meu coração acaba de explodir no meu peito de
tanto amor.
— Oi! — Eu aceno para ela uma outra vez, agora sabendo que pode
retribuir com mais calma. Talvez. — Você que é a Iris, não é? — Balança a
cabeça, rápida, os cachos dourados se movimentando junto. — É um prazer
te conhecer, Iris! Como você está? Está bem?
— Eu estou... — a garotinha arfa, como se estivesse sonhando. —
Maravilhada.
— Maravilhada? — Alexander ri, e é a primeira vez que eu ouço
algo do tipo saindo da sua boca. Uau, acho que eu quem estou maravilhada
aqui. Achei que esse ogro fosse impossível de fazer algo do tipo, já que
parece desconhecer a palavra alegria. Olho para ele, mas é rápido, porque já
estou novamente de olho em Iris. — Você nem sabe o que essa palavra
significa, princesa.
— Mamãe e papai falam direto, eles me ensinaram — diz ao dar de
ombros, nem ao menos fazendo questão de olhar para o seu tio de volta. Eu
rio, e ela faz o mesmo, passando a língua pelo espaço aberto que antes
ficava o seu dentinho de leite. Adorável. Completamente linda, com a
roupinha cor de rosa da Barbie, e os cachos loiros bagunçados de um dia
agitado na escola, caindo e emoldurando seu rosto. — Mas não fala comigo
agora, tio, por favor. Eu quero falar com... ela — outro suspiro.
Da parte do seu tio, quando ele volta para o volante, tudo o que eu
escuto é um resmungo de chateação.
O que faz com que tudo se torne ainda mais legal, claro.
— Michaela... — me chama, envergonhada, e, sério, é tão fofo. —
Posso te dar um abraço?
Ai.
Meu.
Deus.
Ai. Meu. Deus.
Meu coração foi para o espaço, não existe mais nada em mim desde
que Iris o transformou em fogos de artifício.
— Sim, meu amor, claro que pode — respondo, tão emocionada
quanto ela. — Não estamos numa posição muito favorável agora, mas vem,
quero te abraçar o quanto antes.
E Iris, sem nem pensar, tira o cinto e vem até mim, não se
importando com o nosso abraço desajustado, por causa de nossas posições
diferentes no carro. Mas eu a aperto do jeito que posso, lhe dando um beijo
na bochecha quando está prestes a se afastar para esquadrinhar meu rosto,
agora bem mais de perto. Ela põe os dedinhos na minha pele, me sentindo
enquanto faz carinho.
— É real — sopra, baixinho, muito mais para si do que para mim. —
É real. Você está mesmo aqui.
— Sim, linda, é real. Eu estou mesmo aqui com você.
— Caramba... — não deixa de parecer impressionada. — Minha
mamãe não vai acreditar nem um pouco nisso. Ela te adora. Vive te
escutando no carro, em casa, e até mesmo nos fones de ouvido, quando vai
fazer caminhada na praia. Ela é muito, muito, muito sua fã. Eu também. Eu
também adoro as suas músicas e sempre escuto com a mamãe. É por isso
que ainda não estou acreditando que isso está mesmo acontecendo. Quer
dizer, meu tio Alex me disse que me deixaria te conhecer, mas, puxa, eu não
imaginava que fosse ser tão rápido.
— Ah, é? — De esguelha, tento observar Russell, porém o homem
permanece quieto, fingindo que está alheio a nossa conversa enquanto
encara a rua. — Que legal, ele não tinha me falado nada ainda, acredita? —
faço questão de cutucar com um deboche que só o meu empresário
perceberá, porque sei perfeitamente que fez de propósito. Não me contou
sobre Iris, e muito menos quis revelar que a menina era minha fã. Nem
antes, nem em momento algum. — Alexander deve ter esquecido — minto.
— Mas estou muito feliz de poder te conhecer, e mais feliz ainda de saber
que você e a sua mãe gostam do meu trabalho. Espero um dia poder
conhecê-la também.
— Ela iria surtar, como eu — revela, espontânea. — Provavelmente
ia desmaiar, cair durinha no chão.
— Falando nisso, mocinha... — agora ele resolve adentrar no
assunto, virando o corpo de uma forma que consegue vê-la. — Você me
assustou. Achei que fosse desmaiar de verdade. Não faça mais isso com o
meu pobre coração, tudo bem?
— Desculpe, tio. Eu realmente achei que fosse desmaiar. É a
Michaela McKenna. Olha, bem na minha frente.
Fricciono a minha boca, mas não consigo segurar o riso por muito
tempo, principalmente porque Alexander me olha como quem diz: Tá
vendo? Isso é tudo culpa sua.
— Oh, linda, acho que seu tio não vai entender muito bem esse
sentimento... — reflito, mais uma vez querendo provocá-lo. — Eu acho que
ele não gosta muito de mim.
A garota, que está colocando o cinto de novo, simplesmente para as
suas ações, virando o pescoço tão rápido que parece uma cena de O
Exorcista, só que numa versão nadinha macabra e assustadora.
— COMO ASSIM MEU TIO NÃO GOSTA DE VOCÊ? — A cada
sílaba proferida, um tom de voz esganiçado diferente. Iris balança com a
cabeça, me dizendo, sem nem dizer nada nesse momento, que é totalmente
inacreditável esse meu pensamento. — Não, não pode ser. Impossível. Ele
me disse que vocês estavam trabalhando juntos.
— Sim, é verdade, mas...
— Ele também disse que você era bonita — me interrompe, com
uma informação que eu não estava esperando.
Arregalo os olhos, surpresa.
Alexander, no entanto, dá outro grito daqueles, que com certeza agita
até mesmo a escola do outro lado da rua.
— EU DISSE... O QUÊ? — Ele se embola até mesmo quando
decide se virar mais uma vez, enfiando a mão na buzina. Mesmo o som
também estrondando lá fora, o homem aqui dentro parece não estar nem aí.
— Iris! — Estremece com a mão na gravata. — Menina, não acredito que
vou ter que falar com seus pais sobre isso. Com quem foi que você
aprendeu a mentir desse jeito? Você nunca foi disso. Que coisa feia.
— Mentir? Eu? — O seu dedo indicador afunda em seu peito e ela
parece indignada. — Eu não estou mentindo, tio. Você disse sim! — garante
à medida em que cruza os braços. — Disse na sorveteria do píer, como pode
ter esquecido?
— Eu...
— Acusar os outros de algo só porque você não quer admitir é muito
feio, Alexander Russell. Principalmente quando é uma criança, e essa a sua
afilhada. O que custa você dizer que me achou bonita? — Ergo uma
sobrancelha, com o fantasma de um sorriso adornando os lábios.
Eu não estou muito convicta de que é verdade, mas nem de longe
vou descartar a possibilidade. Me dá até frio na barriga só de imaginar a
cena, ele parando para falar com a Iris sobre mim e sobre a minha beleza.
Um tanto quanto impossível? Com certeza, no entanto, gosto da ideia de tê-
lo me observando além do que mostra. E, se a gente for parar para analisar,
esse seu comportamento levemente desesperado pode significar que acabou
de ser pego no pulo.
— É, o que custa? — Iris me acompanha nessa. — Espera... agora
estou com uma dúvida. Uma não, duas. Por que vocês dois estavam
andando sozinhos de carro? Por acaso estão namorando? — As mãos se
erguem no ar, e a sua expressão muda drasticamente. — Digam que sim,
digam que sim, digam que sim! Eu preciso muito ser da mesma família da
Michaela McKenna. Então, tio, meu querido tio, diz que sim, diz que sim,
diz que sim! Por favoooooor! — prolonga as sílabas, os olhinhos fechados e
as mãos juntas em oração.
Agora, eu estou morrendo de vergonha, e quando me viro para
Alexander, estamos nós dois sem sabermos onde enfiar a cara.
— Iris... — Como o sem paciência que é, ele aperta a ponta do nariz,
tentando regularizar a sua respiração que não está nada tranquila. — Olha,
eu entendo a sua euforia, princesa, trouxe a Michaela justamente para você
ficar feliz, já que me pediu muito para que eu realizasse esse sonho, mas
você já está passando dos limites, e se continuar assim, seu tio vai ficar
chateado e não vai querer assistir nem Disney Channel, nem comer doces
com você.
— Nossa, tio, mas eu não fiz nada. O que foi que eu fiz? Só
perguntei se estavam namorando. — Cruza os braços em frente ao peito,
quase emburrada. — Não precisa ficar chateado, eu hein... É você quem
está estranho hoje. Está um verdadeiro chato.
Pressiono os lábios.
— E em alguma vez na vida ele consegue não ser chato, Iris?
— Ele é ótimo, melhor que meu pai, às vezes, porque meu pai me
proíbe de muita coisa, mas o tio Alex não. Só que... agora está chato, nem
estou fazendo nada e ele já está reclamando.
— Deve ser porque estou aqui — explico. — Como eu disse, ele não
gosta muito de mim.
— Então, o tio Alex não sabe é de nada.
— Ei! — ele reclama, como se tivesse sido atingido pelo comentário
da pequena. — Eu ainda estou aqui. Vocês duas não se voltem contra mim.
— Não, é sério, tio, você tem que gostar dela. Ela é a Michaela,
linda, perfeita, legal e com as melhores músicas da face da Terra. Se não
gosta dela e se não estão namorando, o que estão fazendo juntos, vindo me
buscar na escola?
Ergo os ombros.
— Vai, amigão, responde essa — eu brinco, jogando a bomba para o
seu colo.
Alexander revira os olhos e trinca o maxilar.
— Você não poderia ser menos inteligente para a sua idade, não, Iris
Olsen? — Como eu, ela também ergue os ombros diante da pergunta do seu
tio, na sua melhor expressão de confiança e convencimento. — Enfim, se
quer tanto saber, Michaela e eu estávamos trabalhando antes de chegarmos
até aqui. E antes do seu pai me ligar perguntando se eu poderia passar na
sua escola para te buscar, eu estava dando uma carona a ela, iria deixá-la em
casa. Simples assim. Sou o empresário dela, tomo conta dela e,
principalmente, da carreira. Não é nada do que está pensando e, se possível,
não repita mais isso, em lugar algum. Se as pessoas ouvem, pode ser muito,
muito ruim para nós dois.
— Mas tio... eu não entendo. — Joga os braços ao lado do corpo, e
parece realmente não entender ou não ver sentido na conversa, já que um V
se forma em sua testa. — Por que poderia dar ruim? Que mal tem em um
namoro? Namorados não se amam? E amor não é uma coisa muito bonita?
Eu acho que sim — ela mesma responde seus questionamentos. — Sabe por
quê? Porque o papai, a mamãe e a minha professora sempre vivem falando
que devemos amar o próximo, porque só o amor é capaz de transformar o
mundo. Então, se você amar a Michaela e as pessoas ficarem sabendo, vai
ser... lindo. — Junta as mãos em frente ao rosto, piscando os longos cílios
claros toda inocente. — Você ama a Michaela, tio Alex? Eu amo ela. A
mamãe também. O papai eu já não sei, mas posso fazer com que ele a ame
também.
Pronto, essa última pergunta de Iris é o suficiente para o rosto de
Alexander Russell ficar tão vermelho quanto um pimentão. Ele bagunça o
cabelo, daqui dando para perceber que está com a testa salpicada de
gotículas de suor, parecendo nervoso.
Faço questão de encará-lo, de mostrar que estou o encarando mesmo,
a espera de uma resposta da sua parte, afinal, se a situação está
extremamente embaraçosa e comprometedora para ele, para mim,
automaticamente, ela se torna a melhor situação de todas.
Deus, se o senhor estiver me ouvindo, obrigada por já ter colocado
essa pequena garotinha na minha vida. Se ela é o terror do tio, nós seremos
simplesmente melhores amigas, cheias dos mesmos objetivos daqui pra
frente.
— Eu... — Me remexo ao ouvi-lo e me concentro, porque não quero
perder nada de suas próximas palavras e expressões. — Eu... hum... —
Limpa a garganta uma, duas, três vezes, claramente enrolando. — Eu acho
que não temos mais tempo para conversas porque estamos há mais de cinco
minutos parados aqui e outras pessoas querem estacionar. Preciso começar a
me mover e para que isso aconteça, as duas crianças aí precisam permitir
que eu faça o meu trabalho.
Rá! É claro que ele iria por esse caminho, o de fugir da brincadeira
sem se manchar.
O único problema é que eu, seu terror número 2, não irei deixar
barato.
— Seu tio é um covarde, pequena Iris. — Projeto o lábio inferior
para baixo para parecer triste. — Viu só o que ele acabou de fazer? Mudou
de assunto para não se comprometer e para não ter que quebrar o seu
coraçãozinho, porque a verdade mesmo é que ele está trabalhando comigo à
força. Já até me chamou de subcelebridade, mimada, infantil, pimentinha —
friso, horrorizada — E um montão de coisas. Alexander não gosta de mim.
Tem certeza absoluta de que seu tio não falou nada sobre isso com você?
— Tenho certeza! Absoluta! — diz, rápida. — Eu falei que era sua
fã, que queria te conhecer e tio Alex me disse que iria realizar o meu sonho.
Depois eu perguntei se você era mesmo bonita como nas fotos e nos vídeos,
e ele confirmou, disse que você era mesmo bonita como eu imaginava. Foi
na sorveteria, na frente de todo mundo. Por favor, Michaela, acredite em
mim, eu não estou mentindo, eu juro. Não posso mentir, nem minha mãe,
nem meu pai deixam. Se eu mentir, eles me põem de castigo. Eu não quero
ficar de castigo. — Iris volta a cruzar os braços, com seu tio ao meu lado já
querendo pedir a morte. — Por isso, admita, tio. Admita que você falou que
a Michaela era bonita. Admita que você gosta dela.
Mordo um sorriso e volto a ficar com o meu corpo certo, de frente
para a rua, Alexander também voltando para a posição correta.
— Sabe, Alexander, você não pode negar o óbvio — falo baixinho,
somente para que me ouça. — E se você fala coisas à sua afilhada, você tem
que assumir essas coisas, e não deixá-la passar por mentirosa. Quem está
bancando o infantil imaturo agora? — provoco.
— Juro por Deus, Michaela, se você corromper a Iris, eu...
— Ei, eu consigo ouvir vocês cochichando. — A pequena faz com
que a gente se cale no mesmo instante. Eu rio sozinha, comigo mesma,
enquanto Russell parece tensionar todo o seu corpo novamente. — E eu já
sei, já entendi o que está acontecendo. Meu pai e a minha mãe fazem a
mesma coisa quando estão juntos. Vocês estão só brincando um com o
outro, e estão brincando comigo também. Mas vocês se gostam. Sim, sim,
sim! Se gostam!
Alexander fecha os olhos, tomba a cabeça no conforto do seu banco
de motorista e fala sozinho. Ou melhor, com Deus ou com alguma coisa que
acredita, clamando por algo que não tem: paciência.
— Eu não sei o que eu fiz para merecer — sussurra.
— Cala a boca! — sussurro de volta, mas mais alto e mais grave um
pouco. — Para de criticar a sua afilhada que é feio.
— Quem disse que estou criticando ela? Estou criticando você.
— Eu? — Afundo o dedo no meu peito.
— Sim. Por que você tem que ser tão boa no que faz, ser carismática
e encantar até mesmo as crianças? Se fosse um poço de chatice
despreparado e sem talento, Iris não estaria nesse momento implorando para
que você seja a minha...
— Namorada? — indago, e meu empresário só não fica mais
vermelho porque é assim que ainda se encontra. — É, eu te entendo, a ideia
também me parece terrível.
— Terrível? É a porra da ideia mais perturbadora de todas.
Você não achava isso no Call Emergency, querido...
— Não quando você confessa para uma garotinha de seis anos que
eu sou bonita.
— Eu não disse nada!
— DISSE SIM! — Iris, lá atrás, esbraveja, o que faz com que eu e
Alexander voltemos a nos virar, surpreendidos por ela ter estado esse tempo
todo nos escutando. — Sério, tio, você já está começando a me irritar com
essa conversa besta. Ela não está nem fazendo sentido.
— Alexander Russell não faz sentido, linda. Eu, pelo menos, nunca
consigo decifrá-lo. É extremamente grosseiro, complicado e metido.
— Como assim? — Fica boquiaberto. — Vai deixá-la falar assim de
mim, Iris? Defenda seu tio, pelo amor de Deus.
A loira de cabelos cacheados dá de ombros.
— Tirando hoje, você pode ser uma pessoa maravilhosa, tio Alex,
mas a Michaela McKenna é a Michaela McKenna e ela é muito, muito mais
legal que qualquer um. Vou sempre escutá-la.
— Mas eu sou o seu tio!
— E ela é a minha cantora favorita!
Fico com o meu sorriso de orelha a orelha, com um sentimento
enorme de vitória florescendo em mim.
— Eu te dou o mundo e você me retribui assim, só por causa dela?
Quanta falsidade, dona Iris Olsen. — Balança o dedo no ar, encenando e
colocando para fora seu lado fingidamente magoado. — Se eu soubesse da
sua ingratidão, não teria a trazido junto comigo para poder conhecê-la. Mas
tudo bem, está tudo bem. Agora peça para ela passear à tarde com você, já
que pelo visto prefere muito mais Michaela do que eu.
O seu tio Alex deveria ter mais cuidado com o que diz, pois de
acordo com os seus olhos azuis se tornando maiores, dá para decodificar,
perante sua reação, que acabou de ter uma ideia daquelas.
— Michaela! — Me assusto levemente com a sua empolgação e o
seu gritinho. — Minha nossa, como não pensei nisso antes? Titio tem razão,
por que não passa a tarde com a gente?
— Iris, querida, foi só uma brincadeira, um modo de fa...
— A gente pode ir tomar sorvete — menciona com tanta rapidez que
eu me pergunto se ela não é o próprio The Flash dos quadrinhos, o original.
— No píer de Santa Mônica. É o meu lugar favorito de Los Angeles. Foi
nessa sorveteria que ele te chamou de bonita, Michaela, quer conhecê-la?
— Não vai dar, Iris, Michaela tem coisas para fazer, ela...
— Sorveteria? — Me dirijo só a pequena de propósito, e ela afirma
incontáveis vezes com a cabeça, toda sorrindo à toa. — Seu lugar favorito?
— Sim.
— E o local que o seu tio, o Sr. Russell, admitiu que eu sou bonita?
— Sim, sim e sim.
— Então, eu preciso urgentemente conhecê-lo.
É engraçado no minuto seguinte, porque a buzina lá fora ressoa de
novo, e dessa vez é com Alexander batendo a testa no volante, como quem
já desistiu da vida.
“Eu não mudaria nada nisso
Esta é a melhor sensação
Esta inocência é brilhante
Espero que ela dure
Esse momento é perfeito”
INNOCENCE — AVRIL LAVIGNE

É só eu colocar os meus pés finalmente no chão, sentindo o sol de


Los Angeles esquentar meu corpo inteiro depois de mais de trinta minutos
com a minha bunda agarrada a um banco de um carro, que Iris vem
correndo, sem aviso prévio, se jogar para cima de mim, num abraço que
diferente de antes, agora sai completamente certo, seus bracinhos ao redor
da minha cintura e a sua cabeça repousada em minha barriga. Respira tão
forte que parece que está sorrindo.
Quase voo para trás com a surpresa da sua presença, mas ela é forte,
não me deixa cair, e eu, com as minhas mãos acariciando suas costas, sorrio
largamente por mais uma demonstração sincera do seu carinho tão
apaixonante.
— Sei que já falei isso um milhão de vezes, mas ainda acho que
estou sonhando. Porque estou simplesmente vivendo o melhor dia de todos!
— Ainda agarrada a mim, Iris tomba a cabeça para trás, me fitando com
suas íris azuis brilhantes e os lábios erguidos num sorriso que até faz suas
bochechas rosadas se tornarem mais salientes. — Eu conheci você,
Michaela McKenna, conversei com você, te abracei, duas vezes — dá
ênfase ao erguer seus dois dedos, me envolvendo nesse momento só com
um braço, que não solta por nada —, e agora eu e meu tio trouxemos você
para o píer de Santa Mônica, meu lugar favorito no mundo todo. Sabe como
isso não parece nem um pouco real? É, não parece. Não parece mesmo,
mesmo, mesmo. Ah! — Parece se lembrar de alguma coisa. — E você ainda
vai tomar sorvete comigo. — Faço que sim, apertando seu nariz e ouvindo o
som da sua risada. — Você já sabe o sabor que vai escolher? Vai ser na
casquinha ou no pote? Vai querer tomar o sorvete dentro da sorveteria ou
aqui fora, na praia? A gente pode caminhar, tentar ver as gaivotas e...
Não consigo responder, nem Iris consegue terminar de falar, porque
é bem nessa hora que Alexander aparece, travando a Lamborghini e
guardando as chaves no bolso da sua calça social. Faço a maior força
extracorpórea para continuar prestando atenção na sua afilhada, e não nele,
já que resolveu deixar o blazer e a gravata de lado e ficar só com a camisa
de botões, que está quase explodindo por causa de seus músculos
imprensados nela.
Automaticamente, minha mente me trai e vai para a noite em que
nos conhecemos. Na balada. No bar. Em que Alexander Russell estava
exatamente nessa pose, séria, perigosa e atraente demais para o seu próprio
bem. Além de que estava, claro, muito gostoso. Tão gostoso quanto agora.
Tão gostoso quanto todas as vezes que decidiu aparecer para me atormentar,
porque pode ser um energúmeno, um grosso e um insuportável, mas,
infelizmente, nada vai mudar o fato de ser um filho da mãe absurdamente e
injustamente bonito.
E eu quase reviro os olhos por isso.
Sério, não dava para na hora de irem à busca de um empresário para
mim, escolherem um que fosse baixinho, calvo, rechonchudinho, com
barriga de cerveja e que tivesse um rato em forma de bigode na cara?
Nossa, seria tão mais fácil.
— Dona Iris, dona Iris... — Para em nossa frente, e fica olhando para
a garotinha como se não acreditasse no que está vendo. — Novamente,
estou aqui para dizer que entendo a sua euforia e a acho linda, mas será que
você não está incomodando a Michaela, não?
— Eu estou? — Ela faz um bico nos lábios, o olhar de cachorrinho
que acabou de cair da mudança.
Meu coração se comprime, sério, como uma criaturinha dessas pode
estar incomodando alguém?
Nunca.
Muito mais fácil ele incomodar, isso sim.
— Nem um pouco, linda — sou sincera, e ela me abraça mais forte
outra vez. Rio e a aperto de volta. — Estou mesmo muito feliz em poder
estar aqui com você, sabia?
— E eu muuuuuuuuito mais! — Radiante e saltitante, Iris se afasta, e
agora para poder ir atrás do seu tio, o pegando pela mão para fazer com que
ele se aproxime mais de nós duas. — Estou tão, tão, tãããããão feliz! Meu tio
Alex é o melhor do mundo!
— Eu sou?
— Ele é? — Também me faço de desentendida.
— Simmmm! — Não consigo não rir de novo, porque é muito fofo a
sua mania de prolongar as sílabas quando está extremamente feliz, de um
jeito que qualquer pessoa, até mesmo de longe, consegue notar. — Ele
trabalha com artistas, e se ele não trabalhasse com você, eu jamais teria te
conhecido. É o melhor do mundo, sim!
Alexander cruza os braços diante do que ouve.
— Ah, só por isso? Só por que eu te trouxe a Michaela McKenna, eu
sou o melhor do mundo?
Iris troca um olhar engraçado comigo.
— Acho que Alexander está com ciúmes — digo, depois de
friccionar os lábios. — Avisa a ele que eu sou incrível, Iris, por favor.
— Para de tentar corrompê-la!
— Não grita com ela, tio!
— Toma! — Faço careta como uma criança, mesmo que depois eu
acabe dando risada. — Eu tenho a minha miniadvogada, e qualquer coisa
que você queira fazer contra mim, Sr. Russell, ela estará aqui para me
defender. Nada, repito nada, passará despercebido.
Ele a encara, como quem realmente quer saber se o que eu estou
falando tem fundamento.
Mas Iris Olsen é mesmo minha miniadvogada, dando de ombros sob
o olhar julgador do seu tio Alex.
— Vou defendê-la custe o que custar — avisa, séria, aprumando os
ombros. — Desculpe, titio, mas agora eu estarei sempre ao lado dela,
porque agora nós seremos melhores amigas. Melhores amigas inseparáveis.
Vou até fazer inveja às meninas da minha classe.
Alexander balança a cabeça.
— Até parece...
— Claro que vamos ser — rebato, não gostando nem um pouco do
que está querendo sugerir. — Ou você acha mesmo que vou querer me
afastar da sua afilhada? Está muito enganado, querido. Eu e a Iris já somos
melhores amigas, você gostando ou não.
— Tio Alex não tem que gostar de nada, Michaela — ela mesma o
cutuca, e é claro que eu acho engraçado. — Como eu disse, hoje ele está um
chato, e tô começando a achar que é pra aparecer pra você. — É a sua vez
de se virar e transformar o rosto em uma careta para o meu empresário.
— Olha... — Alexander respira fundo à medida que fecha os olhos e
aperta o ossinho em seu nariz. — Tudo bem. — Joga as mãos para o ar,
desistindo. — Sendo assim, eu vou embora e você fica só com a Michaela.
Você peça a ela para pedir seu sorvete, para te levar para casa, para colocar
sua Disney Channel, pegar o cobertor das princesas para te cobrir, para ela
separar os seus doces favoritos e, claro, para ela preparar seu achocolatado.
Tudo o que você quiser, peça a ela, porque já que eu não importo mais aqui,
ela ficará no meu lugar e eu vou embora da sua vida de vez — faz drama, e
sei que é para ver se ela se comove. — Vou sumir. Desaparecer. Nunca mais
você me encontrará de novo.
— Nãããããão, tio Alex! — choraminga, o agarrando pelas pernas. —
Eu estava apenas brincando. Não faz isso comigo. Por favooooor. Sem você
também não tem graça. Fica comigo e com a Michaela, a gente toma
sorvete, se diverte e esquece do que eu falei.
Ele ri, gostando de sua escolha de palavras, e, quando resolve pegá-
la no seu colo, a girando e a fazendo rir, mesmo que eu esteja adorando a
cena de poder finalmente vê-lo livre de sua carranca de workaholic que
sustenta por aí, me faço de ciumenta também.
— Poxa, Iris, achei que você não fosse me abandonar, mas agora
está aí, nos braços do rival querendo voltar atrás no que falou...
Deitando a cabeça no peito do tio, ela me lança um sorriso e põe o
seu indicador nos lábios, fazendo um shhh silencioso, um que Alexander
não consegue perceber.
Que garotinha mais sapeca essa, viu.
Faço, tão discreta quanto ela, um sinal de que entendi exatamente o
seu pedido de segredo.
Quando Iris gargalha, no entanto, todo o nosso plano vai por água
abaixo.
— Ei... — Os olhos castanhos de Russell se tornam duas fendas
quando decide alternar o olhar entre a pequena em seu colo e eu, paradinha
aqui, tentando muito não sorrir com o som que ela fez, bem como as
expressões que ele faz agora. — O que foi que acabou de acontecer aqui e
eu não vi? Posso saber o que as duas bonitas estão tramando?
— Nada, titio, nada.
— Nadinha — acompanho Iris, mas tem tanto deboche no meu tom
de voz que Alexander não é bobo, ele percebe. Mas sabe o que é mais
surpreendente? Ele, no fundo, no fundo, parece estar gostando de toda essa
nossa interação. Parece estar gostando do fato de estarmos nós três aqui,
nesse lugar, um brincando com o outro, se divertindo. Parece gostar de estar
fazendo a sua afilhada feliz, mesmo que isso signifique, no nosso joguinho,
perder para mim. E eu não sei se quanto a mim, é capaz de perceber, mas eu
estou gostando também, além de estar verdadeiramente surpresa. Eu não
esperava que alguém como ele pudesse ter esse lado tão família e tão
coração. Achava que Alexander Russell nem tinha um, para começo de
conversa. — Mesmo que estivéssemos tramando alguma coisa, garotas não
contam seus segredos.
— Mas a minha pequena Iris me conta, sim, senhora. — Faz cócegas
em sua barriga, o que faz com que ela volte com as gargalhadas, que já
tinham cessado. — Não conta? Vai, diz para a Michaela que você me conta
tudo. Diz a ela que você divide todos os seus segredos comigo, muito mais
do que com a sua mãe e o seu pai.
— Muito mais que com a mãe e o pai? — eu indago. — Ah, não, aí
eu duvido. É verdade, Iris?
— Si...mmm — solta, pausadamente, como quem está calculando
cada palavra e entonação. Sério, se existe uma criança mais sabida, eu
desconheço. Ela até volta a deitar no seu tio de novo, o abraçando pelo
pescoço. — É porque meu pai e minha mãe brigam comigo, e o tio Alex
nunca briga, então, quando eu posso, conto tudo a ele. Mas, por favor, não
conta isso a eles, acho que ficariam tristes se soubessem.
— Não vou contar — prometo.
— É, querida, ela não conta. — Alex a beija na bochecha e depois
me encara. — Vai ser um segredo nosso. Meu, seu e da Michaela.
— Como um trio? — Ergue a cabeça, mais uma vez o seu sorriso
sendo mais radiante do que o próprio sol de Los Angeles acima das nossas
cabeças. — Eu, você e a Michaela seremos um trio a partir de agora? Tipo
Os Três Mosqueteiros?
Minha risada se mistura com a de Alexander, e ele, que não deixa de
me encarar, balança a cabeça em uma confirmação quase imperceptível.
Minha barriga se revira só de olhá-lo.
E não é ruim, não mesmo, é como se mil borboletas estivessem
usando o meu estômago de jardim, todas batendo as asas de uma só vez.
Toca o meio do meu peito.
Droga.
Até o meu maldito coração está acelerado, já que desde que fomos
oficialmente apresentados um ao outro, essa é a primeira vez em que não
estamos, de fato, brigando, nos estranhando ou fazendo suposições malucas
um sobre o outro. Nós estamos juntos, conversando, sorrindo, como na
boate. É também a primeira vez que consigo o enxergar de novo como o
enxerguei naquela festa. Eu o enxergo por completo. Sem muros, sem
barreiras, sem mundo externo o afetando e o transformando, que eu sei,
pelo que pude observar, que não gosta de ser, mas que o seu trabalho pede
essa postura mais firme.
Aqui, agora, ele não é o empresário renomado da Michaela
McKenna ou o de outras celebridades, não é o cara que tem a melhor
reputação e trabalha duro para não estragá-la, não, não mesmo, aqui ele é só
o padrinho da Iris, o seu tio favorito, a fazendo surpresas e transformando o
seu dia de um jeito que ela nunca vai conseguir esquecer.
É tão bonito.
Eu quase suspiro.
Não dá para ele ser assim sempre?
— Nós podemos ser o que você quiser — eu respondo, simples, e
dou um passo na direção deles. Meu coração se agita ainda mais quando eu
me aproximo, ficando tão pertinho dos dois. É tão perto que quando ergo os
olhos para Alexander, ele já estava me observando por inteira bem antes. —
Porque quem manda aqui é você. Só você.
— Ebaaaaaa! — Então, de repente, Iris se estica para poder
enganchar o seu bracinho no meu pescoço, me abraçando de um lado e o
Alex do outro. — Muito bom saber disso, porque tudo o que eu quiser,
vocês vão fazer, e agora eu quero que a gente entre na sorveteria desse jeito.
Juntinhos. Como uma linda família — cantarola. — A Michaela pode ser da
nossa família, não pode, tio? Você sempre diz que é da família do meu pai,
e vocês são só amigos. Amigos podem, sim, ser família. Eu quero que ela
seja a minha. Quero que ela esteja seeeeeempre na minha vida. Na nossa.
Pra sempre.
— Calma, querida. Um passo de cada vez, que tal? — Os dois se
olham, e a menina balança a cabeça, assentindo. — Você falando assim vai
assustá-la. Não é seu primeiro encontro com ela? — Iris balança a cabeça
mais uma vez. — Então, foque em conhecê-la, depois, o que for para ser,
vai ser.
— Não se preocupe com o que seu tio fala, linda — me sinto na
obrigação de fazê-la ficar empolgada de novo. É óbvio que ele tinha que ser
um estraga-prazer. Dane-se se ele se assusta com a possibilidade de me ter
na vida dele, isso não está em pauta aqui, o que está em pauta é o que a
pequenina em seu colo quer. E o que ela quiser, eu vou fazer, porque essa
sou eu, faço tudo por crianças, principalmente quando essas se sentem tão
conectadas a mim por causa do meu trabalho. — Nós já somos, sim,
amigas, e nada do que você me falar vai fazer com que eu fique assustada.
Eu estou lidando com Alexander Russell, nada mais me abala.
— Há, há, há. Muito engraçadinha. — O homem imita uma risada
forçada, enquanto Iris, voltando a deitar no colo dele, me lança mais um dos
seus sorrisos e olhares cúmplices. Pisco para ela. — Se querem saber,
donzelas, Alexander Russell aqui já se cansou de tanto papo. Será que
podemos ir logo tomar sorvete ou alguma de vocês duas precisa me ofender
mais um pouco?
— Eu jamais te ofenderia, chefinho — brinco com um ar
fingidamente inocente, que não lhe passa despercebido.
— Chefinho? — Ergue uma das sobrancelhas.
— É. Não é isso que você é meu?
— Sim, Srta. McKenna, mas preste bem atenção em mim, há algo
aqui que possa ser descrito no diminutivo?
Ah, não.
Não, não, não.
É sério isso? Ele está mesmo me provocando?
Pois bem, se é isso que Russell está fazendo, vou fazer bem pior.
Faço questão de lhe direcionar meu sorriso mais perverso,
percorrendo minhas íris dos seus pés à cabeça, e da cabeça aos pés.
— Visualmente, Sr. Russell, minha resposta seria não, porém sabe
como é, não é? Nem tudo que você guarda aí dentro, meus olhos
conseguem captar para saber o tamanho, se é que me entende.
Que Iris não entenda.
Por incrível que pareça, ele não me repreende e não pede por
respeito, como fez mais cedo, na gravadora. Alexander fica só assim,
sustentando meu olhar, eu podendo escutar daqui as engrenagens do seu
cérebro trabalhando a todo vapor para saber se ele aceita o meu comentário
e vira a chavinha entre nós, ou se repreende e me dá um basta mais uma
vez.
A verdade é que ele não faz ideia do que decidir, não faz ideia se
entra em um jogo extremamente perigoso comigo, já que não consegue
ignorar essa coisa que temos e que provavelmente nem entende como
surgiu, por não saber que eu sou a Sabrina que esteve no banheiro do Call
Emergency com ele, ou se me deixa separada, congelada num espaço da sua
vida que eu jamais poderei acessar. Está num verdadeiro duelo consigo
mesmo, e se fosse antes, em qualquer lugar em que Iris não estivesse, sua
postura comigo com certeza seria bem diferente, não tenho a menor dúvida
que não seria difícil para continuar bancando o empresário grosso, frio,
insensível e extremamente insuportável, que é o que esteve esse tempo todo
destinado a fazer.
Mas agora, no entanto, é diferente. No posto de tio favorito de sua
afilhada, ele não quer vacilar e estragar o momento. Tudo o que Alexander
mais quer é vê-la feliz, e se vê-la feliz significa me tratar minimamente
bem, é o que vai fazer, mesmo que vá contra tudo o que sente e acredita ao
meu respeito.
Não sei muito bem o que pensar, sendo sincera, o que eu sei é que...
bem, também não quero deixar Iris triste. Eu quero que ela tenha
simplesmente o melhor dia de todos, no píer de Santa Mônica, na sorveteria
Cheryl´s, o seu lugar favorito em Los Angeles.
No fim das contas, a pequena merece que a gente dê uma trégua, por
mais que as nossas provocações não consigam cessar por completo.
— Srta. McKenna... — A voz grave de Alexander Russell me traz de
volta à realidade como se tivesse sido em um estalar de dedos. — Eu
realmente acho que a gente deveria parar de conversa fiada e entrar de uma
vez na sorveteria antes que Oliver ligue e o tempo de Iris acabe —
finalmente menciona, e eu sei que essa foi a sua decisão, depois de algum
tempo pensando.
Acabou de ignorar. Acabou de adentrar o jogo.
Assinto, não deixando de esconder a minha surpresa por ter decidido
não me congelar dessa vez.
Altos e baixos. Pelo visto, isso é tudo o que temos e o que vamos ter
no futuro.
— Isso! Sorveteria! — Iris se levanta do peito de Alexander, me
solta e ergue o punho no ar, exalando o quanto se sente vitoriosa pelo
momento finalmente ter chegado. Bato palmas e solto um uhul, no minuto
seguinte, a vejo me acompanhando, uivando com todo o seu fôlego. — Tio,
anda rápido comigo, porque... QUEM CHEGAR POR ÚLTIMO É A
MULHER DO PADRE!
Não tenho nem tempo de pensar direito, pois antes mesmo de eu
raciocinar por completo o que acabei de escutar, Alexander já está correndo
com ela em seus braços, me deixando para trás.
— Céus, esse homem é cheio de camadas... — reflito sozinha, antes
de começar a me movimentar para conseguir alcançá-los.
Só espero que de uma forma ou de outra, eu possa descobri-las.
Na maior parte das vezes, eu adoro a minha vida.
Sempre adorei, na verdade.
Mesmo muito antes de sonhar em ser famosa, eu adorava a vida que
eu levava. Adorava Los Angeles. Adorava a minha família, os meus
amigos, quem eu era, o que eu fazia. Tudo. Eu gostava de tudo, ou pelo
menos quase tudo, e até hoje, se uma pessoa me perguntar se eu gosto do
jeito que vivo agora, mesmo tendo mudado tantas e tantas coisas, eu ainda
vou sorrir e dizer que sim, ainda gosto de quem sou e ainda gosto da minha
vida.
Ou melhor, eu amo quem sou e amo a minha vida.
Porém, se fosse para apontar um único defeito, eu diria que esse. O
de ter perdido um pouco da minha privacidade. Embora eu saiba que esse é
o preço que nós, artistas e figuras públicas, num geral, pagamos por
estarmos em uma posição tão privilegiada, eu ainda não consigo não parar
de ficar levemente incomodada com a forma que um local se porta todas as
vezes que estou presente neles, fazendo qualquer coisa normal que qualquer
ser humano normal, na mesma idade que eu, também faria.
Por exemplo, agora, enquanto estou sentada com Alexander e Iris,
esperando nossos sorvetes, algumas pessoas me encaram. Tipo, pra valer.
Sem nem disfarçar. Outras cochicham, apontam, levantam um burburinho e
outras, geralmente exageradas, começam a falar alto sobre mim como se eu
sequer estivesse aqui, podendo ouvir tudo. O ar fica até diferente, parece
que ninguém sabe muito bem, ao certo, como agir comigo.
E por mais que eu esteja inserida nessa realidade há um bom tempo
para me acostumar, ainda é estranho. Desconfortável, eu diria.
Entretanto, dentro de todos os males, esse definitivamente é o menor.
O local permanece sendo legal, agradável, e os clientes aqui
presentes, por mais que façam tudo isso, ainda me respeitam e me deixam à
vontade como podem.
Eu também não posso fingir. Ter olhos voltados para mim não é algo
que abomino.
Não, nem um pouco.
Os olhos de Alexander e Iris, que estão focados em mim, por
exemplo, se tornaram os meus favoritos aqui dentro.
— Acham que vai demorar muito? — a pequena questiona, para
ninguém em específico.
— Não — seu tio a responde. — Acredito que já vão trazer o nosso
pedido.
— Tuuuudo bem. — Ela finca os cotovelos em cima da mesa e
repousa o queixo nas mãos, as íris azuis bem à minha frente, embora
estejamos separadas pela mesa quadrada do estabelecimento. — É que...
estou um pouco com sede. A minha garrafinha com água ficou na escola.
— Não tem problema, princesa, vou pegar uma para você.
Ele arrasta a cadeira para trás, flexiona os joelhos, se levanta e vai
até o balcão.
Não sei quanto tempo fico o encarando se afastar, admirando sua
estrutura larga de homem que ocupa qualquer espaço, mas só paro quando
Iris começa a tossir, claramente chamando minha atenção.
— Por que está sorrindo desse jeito, mocinha? — pergunto,
desconfiada.
— Porque... — suspira. — Você acha o meu tio bonitão, não acha?
É a minha vez de tossir, sendo pega de surpresa.
Céus, seus olhos ficam me queimando, como se soubesse
exatamente o que eu estava pensando há poucos minutos.
— Eu... e-eu não sei do que está falando.
— Ah, para. Sabe sim.
— Não sei, não.
— Saaaaabe.
— E o que é que eu sei, então, pequena?
— Que meu tio é bonitão. — Dá de ombros.
— De onde tirou isso, posso saber?
— Não, não pode, mas eu sei. — Sapeca do jeito que é, curva seu
corpinho mais para a frente, se aproximando. — Não precisa ter vergonha
de falar. Ele também te acha bonita. Ele me disse. Juro que não estou
mentindo.
— Sério? — resolvo entrar na sua brincadeira. — Ele disse isso
mesmo?
— Disse! — sussurra-grita. — Disse aqui, nesse mesmo lugar. Acho
que ele só está com vergonha de dizer na sua frente. Será que isso significa
que ele gosta de você? Será que isso significa que ele quer namorar você?
E se ele te namorar, você vai ser a minha madrinha também? Madrinha é
melhor que ser melhor amiga ou melhor amiga é melhor do que ser
madrinha? Ai, minha cabeça. Fiquei confusa.
Acho graça de todos os seus questionamentos.
— No momento, Iris, eu só sou a artista do seu tio. Nada mais. E a
sua amiga também, claro.
— Poxa... — Tomba a cabeça para o lado, parecendo me estudar de
outro ângulo. — Mas você disse no momento. Isso significa que depois
você pode se tornar outra coisa dele?
Ao me ver entreabrir os lábios, ela se apressa para dizer:
— NÃO! SHHH! — Pressiona o indicador nos lábios. — Tio Alex
está voltando agora. Não fala nada ou ele vai brigar comigo.
Sorrio, dizendo que está tudo bem, que não falarei nada.
No entanto, é só Alex se sentar e entregar nossos sorvetes que ele
parece perceber tudo o que acabou de acontecer aqui.
— Eu não disse nada — Iris logo se defende, empurrando o sorvete
na boca para se manter ocupada, e é só se voltar para mim que eu percebo
sua expressão implorando para eu lhe cobrir nessa.
Chacoalho os ombros para cima, também me entupindo de sorvete.
— Hummmm — me delicio e aponto para o creme. — Você não vai
experimentar o seu, Sr. Russell?
Ri nasalado e balança a cabeça, olhando para o seu pote depois de
praticamente demonstrar que está ferrado com nós duas.
Me mantenho calada e não faço nenhuma objeção, porque ele está
mesmo.
“Está tudo bem eu ter dito tudo isso?
É normal que você esteja na minha cabeça?
Porque eu sei que é delicado (Delicado)
Está tudo bem eu ter dito tudo isso?
Será que é muito cedo para fazer isto ainda?
Porque eu sei que é delicado
Não é, não é, não é?”
DELICATE — TAYLOR SWIFT

Sorvetes passaram a ter um significado diferente para mim desde o


passeio com Alexander e Iris no píer de Santa Mônica, há duas semanas.
Posso dizer, com cem por cento de certeza, que foi um momento
muito descontraído e divertido. Ainda hoje, mesmo depois de dias, me pego
pensando nas nossas conversas no carro e na sorveteria. Ainda me pego
pensando nele. Em como me mostrou um outro lado seu, em como foi
diferente, muito mais leve, muito mais disposto a me ouvir e a me entender.
E é engraçado porque horas antes nós estávamos praticamente nos matando na
gravadora, totalmente enfurecidos. Mas depois, quando a sua pequena afilhada chegou, por incrível
que pareça, tudo mudou e o clima passou a ser mil vezes melhor.
Ficamos brincando um com o outro, com Iris fazendo perguntas
como a tagarela que é, vez ou outra querendo saber mais coisas sobre mim,
sobre minhas músicas e os meus shows, e, na imensa maioria das vezes,
soltando algo que deixasse seu tio constrangido e morto de vergonha. Por
causa disso, passei o tempo inteiro rindo, não sabendo se eu concentrava
minha atenção no sorvete ou nas oportunidades que Iris Olsen me entregava
de mão beijada para eu zoar e provocá-lo mais um pouco.
Quer dizer, acho que consegui dosar muito bem essas minhas duas
funções, porque, se não estou enganada, me lembro muito bem que
enquanto me deliciava com as colheradas, eu ficava o alfinetando como
quem não quer nada. E me surpreendendo também, Alexander não achava
ruim, pelo menos não queria achar na frente da sua garotinha e algumas
vezes até entrava na brincadeira.
Claro, do jeito limitado dele, porém, ainda assim, pude perceber que
se esforçou para não deixar o seu lado predominantemente chato vir à tona.
Estava claro que ele queria proporcionar o melhor momento para a sua
sobrinha do coração, e eu, como estava sendo a privilegiada ali por poder
vê-lo daquela maneira, fiz o que pude para aproveitar o máximo possível, já
que no fundo sabia que seria passageiro e logo, logo nós entraríamos em
conflito de novo, afinal, parecia impossível pensar que poderíamos parar
com o nosso pé de guerra, visto que sempre acabávamos indo, toda as vezes
que nos encontrávamos, para um caminho totalmente contrário daquele que
deveria ser o da paz.
No entanto, algo surpreendente resolveu acontecer de novo. Nós
fomos embora do píer, voltamos ao carro, ele me levou em segurança para
casa, deixou que Iris se despedisse de mim com um abraço e com uma
promessa de que nos veríamos em breve, e, como se não fosse o bastante
tudo o que passamos naquele dia, ainda fez questão de me mandar uma
mensagem de texto assim que eu cheguei ao meu quarto.
Quando o celular vibrou, a tela acendeu e eu pude ver o que estava
escrito no visor, quase caí para trás.
A mesma coisa acontece agora quando encaro a mensagem de novo,
que logicamente não fiz a mínima questão de apagar. Parece que ainda tem
o mesmo efeito sobre mim, o mesmo da primeira vez em que a li. E mesmo
tendo passado duas semanas que a recebi, eu ainda sinto que posso cair para
trás todas as vezes que a vejo brilhando no meu celular, não importando a
hora, o lugar, ou o momento em que eu decido espiá-la outra vez.

Capitão Gancho de Araque: Sei que começamos o dia no pé esquerdo, mas gostaria que você
soubesse que desde que soube que iria trabalhar com você, esse sempre foi o clima que desejei para
nós dois, embora você, pimentinha, possivelmente não acredite por eu ser tão péssimo em me
expressar quanto você. E se for para dizer algo que sei que irá entender agora, eu te digo: obrigado.
Obrigado pela nossa tarde e obrigado por ter realizado o sonho da Iris.

Ela está até agora emocionada, não consegue parar de falar o quanto
está feliz por ter te conhecido. E eu estou imensamente contente por ela
estar feliz. Se me permite dizer mais uma coisa, a Michaela que eu vi hoje é
a Michaela que eu sabia que iria encontrar quando seu pai me ligou. A
Michaela do sucesso. Pare de ser polêmica e assuma ela mais vezes. É
brincadeira (nem tanto).
Arfo, com o coração dando uma cambalhota no peito.
Poderia imaginar de tudo, mas jamais algo do tipo.
Nessa mensagem, parece que Alexander se desarmou completamente
e me deixou vê-lo sem o seu escudo, aquele que usa para se proteger contra
o mundo. Parece também que passou por cima do seu ego, da sua soberba,
dos seus preconceitos que pareciam bem estabelecidos sobre mim e
resolveu ser sincero, sincero de verdade, disposto a reconhecer a troca legal
que tivemos no passeio sem pedir nada em retorno.
E o que eu achei? Porra, eu achei uma atitude muito nobre. Uma
atitude digna de ser aplaudida. Uma atitude digna de me deixar
completamente sem palavras.
E olha só que divertido, me deixou mesmo.
Me deixou tão sem palavras que eu só visualizei, não respondi.
Eu ia responder, juro que ia, mas fiquei tanto tempo de boca aberta e
surtando internamente que quando percebi, tinha deixado o celular e ido
fazer outras coisas. Ao retornar, já tinha passado horas, era como se não
fizesse mais sentido. Acho que ele tinha entendido que eu tinha visto e, se
não o mandei pastar, significava que tinha acertado uma vez na vida e que
eu tinha o aprovado. Sem contar que depois, Alexander me mandou outras,
tanto naquela noite quanto ao longo dos dias, porque ele é meu empresário
e, pelo visto, adora ficar me dando ordens do que devo fazer, do que não
devo fazer, do que tenho que postar nas redes sociais, do que devo retirar
imediatamente, onde eu tenho que ir, quais os meus compromissos, e assim
por diante.
Russell também deve ter se surpreendido, pois por mais que eu tenha
revirado os olhos todas as vezes que entrou em contato comigo para
perturbar a minha vida, eu não me opus. Muito pelo contrário, aceitei cada
conselho, sempre mandando no final um: você quem manda, chefinho.
Porque, no fim, é isso que tem que acontecer, nossos muros não
podem ficar sempre erguidos se ficaremos presos um ao outro por anos.
E ele meio que foi legal, eu não podia continuar sendo uma vadia do
mal.
Mas se meu chefinho mudar, eu mudo também.
Como eu disse, o que ele me der, ele vai receber em dobro.
Por enquanto estamos em paz.
Aparentemente.
— Ei, Michaela. — Quase grito de susto quando Lynx entra de novo
no estúdio, que tinha deixado para buscar seu café, e aparece às minhas
costas. Com medo que perceba que eu estava olhando como uma maluca
para uma mensagem em específico do meu empresário. Desligo o meu
celular e o coloco virado para baixo em um espacinho que tem na sua mesa
de produção. Sentada na cadeira giratória, me viro rapidamente para o meu
produtor e lhe encaro com as sobrancelhas erguidas e um sorriso. — Foi
mal, não queria te assustar. — Bebe um gole do seu café, e eu balanço a
cabeça como quem diz que está tudo bem, não foi nada. — Desculpe se te
deixei esperando demais, a máquina lá fora parece estar com problemas.
— Que nada, Lynx, não demorou nem um pouco.
— Sério? Que estranho. Tive a sensação de que demorou mil anos.
Bem, a verdade é que eu nem tive como perceber, perdi a noção do
tempo enquanto lia mais uma vez a mensagem de Alexander.
Porém, desse detalhe ele não precisa saber.
Rio do seu comentário para descontrair, e o vejo se sentar na sua
cadeira enquanto a arrasta para se aproximar da sua mesa.
— Estava ouvindo mais cedo algumas músicas que havíamos
gravado e percebi que precisamos fazer alguns ajustes — comenta, e eu
assinto agora séria, esquecendo totalmente da minha vida lá fora. Aqui
dentro, só importa uma única coisa: minha arte. E como meu próximo
álbum, Purple Heart, está nascendo e cada vez mais perto de ser revelado
para o mundo, nada pode tirar o meu foco de trazê-lo em perfeito estado.
Aprumo os ombros e aguço os meus ouvidos, afinal, o que meu produtor
maravilhoso falar, eu assinarei embaixo. Ele é ótimo, e está comigo desde o
começo, quando nem eu mesma acreditava que seria capaz de conseguir. —
Você se importa se eu te der a minha sugestão? É algo com a batida, com o
ritmo. Podemos escutá-la do jeito que havíamos gravado e agora do jeito
que tenho em mente. Mas só se você quiser.
— É claro que eu quero — respondo, firme. — Lynx, você sabe que
eu sempre estou disposta a ouvir seus conselhos. Se não fosse sua ajuda,
LUNATIC não sairia tão perfeito do jeito que saiu. Então vai, pode começar
a falar. É algo com Love is not like in the movies?
Não sei o motivo, entretanto, ele ri, e é uma risada tão genuína e
espontânea que me vejo rindo também.
— O que foi? — eu mesma questiono, achando graça de uma coisa
que nem mesmo sei.
— Não, nada, é que eu me lembrei daquele dia, quando o Russell
esteve aqui. Vocês estavam discutindo por causa dela, não foi? Quero dizer,
da música. — Antes que eu possa responder qualquer coisa, Lynx descansa
o seu copo de café também na mesa, com as íris escuras ainda fixas em
mim, divertidas. — Sabe, como você é uma filha para mim e nós temos
uma intimidade de sobra, acho válido eu te dizer que naquele dia você
exagerou.
Franzo uma careta, e é para mim mesma.
— Sério?
Meu produtor assente com a cabeça.
— Não fiquei para ouvir tudo, senti logo de imediato que aquela
discussão não cabia a mim, mas, pelo pouco que ouvi e pude perceber, sim,
Michaela McKenna, você exagerou. O pobre do Alexander estava
conversando comigo sobre seu novo álbum, como estava sendo os
preparativos, como ele seguiria na parte da estética, e então, na hora que a
senhorita estava cantando, ele virou para mim e perguntou se a canção já
tinha nome. Eu respondi que sim. Quando ouviu minha resposta, ficou
surpreso, porque acabou fixando sua atenção num trecho específico e
acreditou fielmente que teria a ver com o título. Ou seja, seu empresário não
estava falando mal da música, de você ou algo do tipo, só estava
comentando como, na cabeça dele, era uma coisa, e na verdade foi outra.
Simples assim.
Minha careta continua mesmo quando Lynx para.
— Essa foi exatamente a mesma resposta que ele me deu —
comento, embasbacada. — Tipo, sem mudar uma vírgula. Exatamente
igual.
— Porque é a verdade — insiste. — Óbvio, naquele momento eu não
ia falar nada, e, sinceramente, ainda fiquei pensando se deveria tocar nesse
assunto ou não, mas sei que você de alguma forma ia me escutar e não ia se
chatear. Você me conhece, você sabe como sou, eu detesto qualquer tipo de
injustiça. Aquele dia, infelizmente, eu presenciei uma.
Suspiro, jogo os braços ao lado do corpo e escorrego um pouco mais
a minha bunda na cadeira.
— É que Alexander e eu não tivemos um bom primeiro encontro —
comento, não tendo motivos para mentir para Lynx. — Eu achei que ele
tinha me chamado de uma coisa, e fiquei colocando na minha cabeça que
aquele homem não gostava muito da minha pessoa, embora tenha aceitado
trabalhar comigo. Quando a voz dele reverberou pela cabine e eu pude
escutar a conversa, pelo menos uma parte dela, tive a certeza de que ele
estava mais uma vez me criticando, e dessa vez para você. — Reviro os
olhos. — Você também me conhece e sabe quem eu sou, eu não costumo ter
sangue de barata, Lynx. Sou impulsiva, emotiva, escuto o meu coração,
faço o que ele manda e depois eu me lasco. Foi basicamente o que
aconteceu, porque eu tinha a certeza absoluta que Alexander estava sendo
maldoso.
— Não, ele não estava — garante depois de liberar uma única risada.
— Sério, não estava mesmo. Eu conheço de longe uma pessoa quando está
sendo maldosa.
— Tem certeza?
— Muita.
— Mas e a questão de ele ter ligado o som? — pergunto, somente
para saber se a sua resposta vai ser também parecida com a que Russell me
deu quando estávamos bem aqui nesta sala. — Porque isso você não pode
negar, ele ligou o som. Qualquer pessoa acharia que foi de propósito.
— Disso não tenho certeza, mas acredito que me bati em Alexander
enquanto conversávamos. Teve uma hora que precisei meio que passar por
cima dele para ajustar algo na sua voz, nos botões, e deve ter sido bem na
hora que ou o meu cotovelo ou o dele bateu no botão que entraria em
contato com você. Foi, literalmente, um deslize sem querer.
Bingo.
Mesma coisinha.
É, devo admitir, naquele dia mesmo, na sorveteria, eu já podia sentir
que havia sido estupidamente exagerada na abordagem, talvez até infantil
demais, porque tinha, no fundo, acreditado nas suas palavras, pois sabia que
se fosse o caso, Alexander seria sincero e seria o primeiro a falar na minha
cara que não tinha gostado, que sua opinião seria aquela mesmo e acabou, o
que não foi o caso, contudo, nesse momento, ao ouvir meu produtor, acabo
de perceber que a minha reação foi ainda pior do que eu tinha imaginado e
que se tem uma coisa que aquele homem não é, essa coisa é mentiroso.
O que sair da sua boca, não importa o que seja, sendo bom ou não
para quem está ouvindo, é a verdade, mesmo que seja a verdade apenas
dele. Eu já deveria saber disso.
Essa é mais uma das nossas principais diferenças, porque sou uma
maldita mentirosa que o engana e o esconde coisas.
Deus, praguejo na minha própria cabeça, é tão difícil ser eu.
— É, Lynx, vocês não combinaram de ter a mesma versão não, né?
Porque estão bem compatíveis.
— Michaela, ele te contou a verdade, possivelmente quando vocês
estavam brigando, e nessa hora nem aqui eu estava. Foi ou não foi? — Me
esquadrinha como se eu fosse uma criança de cinco anos que precisa ter
tudo sempre muito bem explicado.
— Foi...
— Pois é — ri com a minha expressão de derrota. — Muito simples,
tá vendo? Admitir o óbvio não é tão difícil assim.
Quando me dou conta, já é tarde, meus olhos estão semicerrados.
— Você está do lado dele ou do meu?
— Do lado da verdade e da justiça.
— Sei... — ironizo com o meu olhar desconfiado. — Você deve ser
que nem meu pai, fã do cara, capaz de endeusá-lo em qualquer situação.
— Eu não.
— Ah, não? Pois tá parecendo.
— Sim, ele pode ser Alexander Russell, o grande empresário de Los
Angeles que tem um currículo impecável, uma carreira invejável, sem
manchas, sem polêmicas, que dirige um carro muito foda, que anda numa
pose de patrão, que tem dinheiro de sobra, é muito legal e inteligente,
entende do meio como ninguém, mas... não, eu não sou fã dele.
— Claro, claro, essa descrição aí jamais me faria achar o contrário.
— Prendo uma risada ao pressionar os lábios um no outro.
É a vez de Lynx revirar os olhos à medida em que volta a pegar o seu
copo de café em mãos.
— Você não tem o direito de me julgar — pontua, tentando soar
sério. Não consegue, só para deixar claro. Lynx é a pessoa mais divertida e
leve que conheço. Para ele, a vida é bela, o mundo é incrível e não há tempo
ruim. Nada é capaz de tirá-lo do sério. A não ser mentiras e injustiças,
claro. — Está aí, na pose de quem odeia o próprio empresário, aquele que
vai cuidar da sua carreira daqui para a frente. Seria muito melhor se você
fosse uma fã também.
— Não, não é bem assim... — Paro, quando enfim compreendo o
que acabou de dizer. Ergo as sobrancelhas. — Espera. Também? Isso
significa que você está finalmente admitindo que é um baba ovo?
— E o “não é bem assim” que você acabou de soltar, significa que
está finalmente mudando seu pensamento sobre seu novo empresário? —
rebate.
Não.
Sim.
Não.
Sim.
Sim.
Não.
Talvez.
Quem sabe.
Dou de ombros, pois por mais que a mensagem de texto possa
parecer um grande divisor de águas, eu ainda não o encontrei pessoalmente
de novo, e eu só vou poder ter a minha resposta quando esse novo encontro
acontecer. Tudo depende de como nos trataremos quando estivermos a sós.
Mas... talvez.
Talvez possa mudar.
Talvez um pouco.
Talvez nada.
Talvez para pior, quem sabe.
Acabo só dando de ombros.
— Não vou falar nada, seu traíra, porque você pode muito bem ir
correndo contar para ele. Ou você acha que eu não sei que vocês dois se
conhecem há anos?
Enche mais um pouco a sua boca com café, e quando termina de
engolir, estala a língua no céu da boca, sorvendo o gosto da bebida ainda
quente.
Quando chega o seu momento de fazer careta, eu me forço a ficar do
mesmo jeito.
— Falando bem sério agora, mocinha, eu realmente conheço
Alexander Russell há bastante tempo. O cara pode ser durão, muitas vezes
frio e introspectivo demais, mas ele sabe o que faz. Não deixe seu gênio
atrapalhar a sua carreira, é tudo que mais peço.
A nossa atmosfera muda, e não preciso ser um gênio para saber que
Lynx está me dando mais um dos seus conselhos supervaliosos.
— Relaxe, o desentendimento foi só no começo, mas agora eu estou
ótima, pode até mesmo perguntar a ele. Já tem duas semanas que tudo que
Alexander me pede, eu faço sem mesmo reclamar. Estou focada no meu
Purple Heart, amigo, e é só nele em quem eu tenho pensado.
— Boaaaaaaaa! — ele estende as sílabas como Iris gosta de fazer, o
que me faz dar risada por me lembrar logo dela e do seu jeito espevitado. —
É isso mesmo que gosto de ouvir. — Junta as mãos e começa a esfregá-las
umas nas outras, empolgado. — Se é em trabalho que você pensa, é em
trabalho que eu também penso. Por isso, vamos ao que interessa?
— Ufa, achei que esse momento nunca fosse acontecer — brinco.
— Jamais, aqui você encontra profissionalismo, dona Michaela.
— Então, com profissionalismo, dê play na música, por favor.
Vamos fazer esse álbum ficar perfeito.
— É pra já, senhorita.
Lynx mexe no som e coloca minha música para tocar, a partir de
agora sendo um momento só nosso, de total trabalho e dedicação.
Ajustamos umas coisas, mudamos outras, discordamos, entramos em
consenso, gravamos mais um pedacinho, regravamos outros, ouvimos todas
as alterações e, enfim, quando dá o nosso horário, deixamos as coisas
pendentes, que não são muitas, para o nosso próximo encontro.
Me despeço de Lynx, que corre para a máquina de café de novo
como o maníaco da cafeína que é, e uma vez dentro do elevador pronta para
ir para o térreo, meu celular vibra na minha mão.
Viro a tela para mim.
Não é mensagem, é ligação.
Do meu empresário, ou aquele que eu apelido secretamente de
Capitão Gancho de Araque.
Estava demorando.
— Pois não? — Levo o celular à orelha.
— Michaela... — Mesmo do outro lado da linha, separados por uma
tela, escutar a sua voz proferindo o meu nome me faz arrepiar da cabeça aos
pés. — A uma hora dessas, você já deve estar saindo da Public Records.
Provavelmente no elevador.
Crispo a testa.
— Como sabe?
— Suba — me ignora ao repassar a ordem. — Quarto andar.
Primeira sala à direita. Estarei te esperando.
Depois disso, não ouço mais nada, pois Alexander desliga na minha
cara.
Abaixo o braço, o celular ainda ligado, e pestanejo, cheia de
perguntas.
Esse tempo todo ele esteve aqui? Fazendo o quê?
E, sala no quarto andar? Por quê?
Como soube que eu...
Paro.
Capaz de ter dedo de Lynx nisso.
Sem muita opção, aperto no botão 4 do elevador, e à medida que a
caixa metálica me leva de volta para cima, eu reviro os olhos e rio de mim
mesma.
Desse jeito, parece que é o chefinho quem manda mesmo.
“Eu não sei se você sabe como
Mas, garota, tenho a sensação de que você sabe agora”
SLOW DOWN — CHACE ATLANTIC

Estou sentado na poltrona acolchoada, olhando para um desses


quadros de discos de ouro e discos de platina, que estão estrategicamente
espalhados pelas paredes como enfeites extremamente valiosos da Public
Records, quando escuto três batidas receosas sendo desferidas contra a
porta.
Meu corpo automaticamente entra em estado de alerta, pois sei que é
ela.
— Pode abrir — aviso, com o meu tom de voz controlado.
Espero e, em pouco tempo, Michaela põe a cabeça pela fresta, depois
de abrir a porta bem devagar. Segurando-a, ela permanece ali, desconfiada,
com seus olhos percorrendo cada centímetro da sala, parecendo com medo
do que pode encontrar aqui dentro, só por eu tê-la chamado daquela forma,
pedindo para que subisse em um local que não é meu para eu ter acesso
desse jeito.
Entendo a sua desconfiança, ainda mais pelo nosso histórico, mas
reviro os olhos mesmo assim por ela não ter a mínima decência de disfarçar.
Ela acha o quê? Que estou planejando seu assassinato dentro de uma
das maiores gravadoras do mundo?
Só se eu fosse muito otário.
— Você não precisa ter medo, Michaela, pode entrar. — Mantenho
meu tom de voz calmo, inclino o corpo na mesa e finco os cotovelos no
vidro. Enquanto a observo ainda parada à entrada, passeio meus dedos pela
minha barba. — É sério que você vai ficar aí? Qual é, me respeite, eu só
quero conversar.
Ela troca o peso dos pés, a porta ainda está aberta às suas costas.
— Não estou com medo de você, se é o que está achando. Estou com
medo da situação. O que está fazendo sentado aí? — indaga num sussurro,
como se fosse minha mãe me pegando fazendo coisa errada num lugar
errado. Se eu não tivesse que manter a minha pose, eu até riria da sua forma
engraçada de agir e falar comigo agora. É quase como se pudesse me dar
uma bronca. — Sério, Alexander, esse lugar é provavelmente do diretor, ou
sei lá, do dono dessa empresa. O que pensa que está fazendo dentro da sala
dele e ainda sentado na cadeira dele? — Os olhos ficam arregalados, e ela
parece mesmo preocupada.
Inferno, não queria ter que admitir isso, mas é tão bonitinho vê-la
assim.
Michaela está uma mistura de braveza, preocupação, desconfiança e
uma leve vontade de, como sempre, esganar o meu pescoço porque na sua
cabeça eu sempre faço tudo errado. E é mesmo muito bonitinho de ver,
chega a ser fofo. Seu cabelo castanho, mesmo preso em um rabo de cavalo,
cai duas mechas em cada lado do seu rosto, e ela faz questão de afastá-las
com lufadas de ar, cansada de tê-las ali lhe atrapalhando. Está com uma saia
curta, meia arrastão, All Star decorado com flores lilás e uma camiseta
branca, amarrada na frente para ficar mais curta e deixar um pouco da pele
da sua barriga à mostra, com uma frase que tenho quase certeza de ser
alguma música sua.
Olhando assim, parece mesmo uma popstar, tão autêntica que chega
a ser impossível lembrar de cabeça qualquer pessoa deste século ou de
outro, que se assemelhe um pouquinho com ela. É praticamente impossível
ter essa memória. A garota é única, tanto na personalidade, no estilo e no
que faz.
E... porra, por que Michaela está tão bonita hoje? E ainda mais
saindo com uma saia tão curta dessas, com essa droga dessa meia realçando
suas pernas? Ela perdeu o juízo?
E eu perdi o meu? Porque só pode, se estou reparando em uma coisa
dessas.
Não é porque naquele dia ela decidiu ser legal com você e Iris,
deixando seu lado insuportável de lado, que você terá que vê-la de outra
forma. Ela é sua estrela, sua celebridade, alguém para quem você trabalha.
E é 14 anos mais nova que você, pelo amor de Deus, Alexander Russell,
minha parte sensata decide gritar na minha mente. É errado. Proibido.
Fodido pra caralho. Tão fodido quanto o fato de você ter vindo aqui hoje e a
mandado subir só para ter uma desculpa para vê-la, porque ficou duas
semanas inteirinhas mal conseguindo trabalhar só procurando uma brecha
para poder ficar frente a frente com ela outra vez.
Ei, parou. Isso aí já é mentira. Não é bem assim, tenho coisas para
falar.
Acho que acabo deixando alguma coisa passar em voz alta, pois vejo
que Michaela tomba a cabeça de lado para me entender melhor, e eu
balanço a minha para focar no que realmente interessa. Aprumo os ombros
e arregaço mais um pouco as mangas da minha camisa social.
— Você deveria parar com os questionamentos, fechar essa porta e
se sentar aqui à minha frente — finalmente consigo falar, com os ombros
aprumados. — É sério, estou mandando, e você deve me responder com o
seu lindo e tocante você quem manda, chefinho. Gostei do seu
comportamento esses dias, devo admitir.
Michaela resmunga baixinho, fecha a porta e vem se sentar à minha
frente. Ela segura nos braços da cadeira, encosta as costas e cruza as suas
pernas de uma forma tão lenta e torturante, com as íris tão presas nas
minhas, que chego a pensar que está fazendo de propósito, já que a sua
função favorita é me enlouquecer.
Limpo a garganta, me obrigando a manter os meus olhos nos seus,
não desviando para lugar proibido algum, e ela, parecendo perceber tudo,
dá um meio sorriso de lado.
Ela é tão diabólica, tão perversa, tão ousada, será que ninguém se dá
conta que a sua carinha de inocente, não tem nada?
Concentra, Alexander. Concentra.
— Chefinho, chefinho... — cantarola, cada sílaba gotejando veneno.
— Vejo que gostou desse apelido. Mas espera aí, me deixe saber do que
gostou mais, desse apelido ou do fato de ter me visto tão submissa a você,
sempre calada e aceitando as suas ordens?
Como fico em completo silêncio diante do seu questionamento, isso
a motiva a continuar despejando suas maldades cheias de segundas
intenções sobre mim.
— É disso que gosta, Sr. Russell, de relações de poder? — Lambe os
lábios. — Em quem você se inspira, Christian Grey?
— Você, pelo visto, na Anastasia.
Na mesma hora, sua boca se entreabre, e é como se ela tivesse
adorado a resposta que acabei de dar. Suas íris brilhando me mostram que
se possível é esse tipo de reação que sempre quer me arrancar. A reação
com uma provocação mais crua e suja possível.
— Não sabia que seu intelecto grandioso lhe permitia assistir 50
Tons de Cinza, chefinho.
Nem estou usando gravata dessa vez, mas sinto como se ela estivesse
bem aqui no meu pescoço, me apertando, me deixando sem ar.
Porra, que situação do cacete. Chega a ser ridículo para mim. Como
pode eu, um homem de 35 anos, vivido, criado, de renome, sendo
praticamente coagido por uma garotinha?
Vou me matar.
Vou pegar a gravata que costumo usar e me enforcar de tanta
vergonha.
— Você não tem noção das coisas que meu intelecto grandioso é
capaz de fazer, Srta. McKenna — me obrigo a dizer no seu mesmo tom,
minha voz imperiosa saindo e deixando um rastro de queimação na minha
garganta. — Não tem noção do quão grandioso eu sou. E agora nem é do
meu intelecto que estou me referindo.
É, de fato, eu deveria me matar agora. Estou sendo totalmente
irracional. Inconsequente. Leviano. Infantil, imaturo e nada, nada
profissional.
Cadê aquele cara que, um dia desses, estava a imprensando e
exigindo respeito?
Que merda eu tenho na cabeça agora?
Meu maxilar endurece quando a assisto, sorrindo maldosamente, se
inclinar.
— Chefinho, foi para isso que me chamou aqui? — A chama em
seus olhos me incendeia, o ar-condicionado parecendo cuspir fogo por
causa do calor que, de repente, se alastra por toda a minha pele. — Foi para
isso que reservou sei lá como essa sala? Para jogar um jogo comigo no qual
você sabe que vai perder?
Filha da mãe.
Desgraçada.
Com apenas 21 anos, ela é a mulher mais confiante que já vi. Chega
a ser igualzinha a Sabrina, a Wendy, que a essas horas, parece ter sido
apenas um delírio meu. Sabrina não parece mais real, ao contrário de
Michaela, que está aqui, bem na minha frente, me levando ao limite, me
trazendo sentimentos e pensamentos que jamais imaginei ter antes.
Não consigo parar.
Sei que tenho que parar, mas não consigo, chega a ser mais forte até
mesmo do que eu.
Enquanto respiro fundo, para parecer mais relaxado, de uma forma
que a pimentinha possa imaginar que eu tenho tudo sob controle, me
encosto no estofado da poltrona, cruzo os braços e deixo que uma risada
gutural me escape.
— Você se acha muito, sabia, Michaela McKenna? — solto, com um
veneno parecido com o que a garota costuma guardar dentro de si. —
Acredita veementemente que o mundo gira ao seu redor, quando não é
verdade. Estou aqui porque conheço o dono, ele me adora, e sempre me
deixou com acesso livre nesse prédio para eu fazer o que bem entendesse.
Como eu sabia que você viria e como eu sabia que precisava tratar de
alguns assuntos com você, pedi permissão para usar a sala dele e ele deixou,
para ser mais rápido tanto para mim quanto para você. Simples, prático e
rápido. Não há nenhum motivo perverso oculto por trás, como
provavelmente estava pensando nessa sua cabecinha maldosa.
— Que pena, que chato. — Faz beicinho na cara dura. — Eu estava
mesmo gostando da conversa de Christian Grey e Anastasia. Eu poderia
fazer o papel dela na sua vida fácil, fácil.
Balanço a cabeça, como quem não acredita.
Por que sabe o que é o pior? Ao mesmo tempo que Michaela pode
muito bem estar falando a verdade, ela pode muito bem estar apenas zoando
com a minha cara. Pode estar só esperando que eu fale algo de errado ou
cometa algum deslize para poder sair me difamando por aí.
Mesmo que nosso clima esteja melhorando, não confio cem por
cento nessa menina.
Se bem que... eu também não sou cem por cento bom, certo?
Certo.
— Michaela, Michaela... — É minha vez de provocá-la. — Se seu
pai soubesse as coisas que a filha dele fica insinuando para homens mais
velhos por aí, como você acha que ele iria se sentir?
Dá de ombros.
— Não sei, você vai me dedurar?
— Se você continuar insistindo, eu acho que seria bom.
Bufa uma risada, totalmente desacreditada.
— Não se faça de santo, Sr. Russell, eu conheço muito bem os
homens. Você, antes, tinha ficado apavorado comigo, mas agora... é só olhar
para você, entrando na onda, jogando comigo sem querer dizer que está
jogando, não mais exigindo por respeito. Está gostando. Naquele dia gostou
também, só não soube muito bem como lidar. E não faça essa cara, está
tudo bem, eu sei que eu sou mesmo irresistível.
Rio, e espero que não tenha saído uma risada de nervoso.
— Você deveria parar com isso, achar que todos os homens te
querem.
— Sr. Russell, por Deus, você não fez o dever de casa direito? Não
pesquisou sobre a minha vida? Não sabe quantos namorados eu tive só esse
ano?
A irritação por esse assunto vir à tona começa a pinicar o meu corpo.
— Seus namorados... — ironizo, revirando os olhos. — Deve ser por
isso que está solteira, não arruma ninguém que preste.
Acho que Michaela vai se irritar, que vamos entrar em uma
discussão de novo por causa da minha fala nada gentil, mas não é o que
acontece. Michaela só sorri.
— Nisso, vou ter que concordar com você, chefinho. Não arrumei
ninguém que preste.
— Claro — continuo, inflado. — Teve um modelo, um jogador de
basquete, por último agora o tiktoker. Só garotada. Até parece que aquelas
crianças dariam conta de você.
— Tem razão novamente, Sr. Russell. — Quando percebo, ela se
inclina mais um pouco e fica com os braços na mesa, claramente querendo,
pelo menos um pouco, acabar com toda a distância entre nós. — Eles são
mesmo garotos. Crianças. É por isso que larguei todos eles e agora eu estou
em busca de um homem de verdade. Um mais velho, mais experiente, mais
alto, mais forte, mais másculo, que esteja inserido no meu mundo. Será que
você viu algum desses passar por aí?
— Não — a corto, porque sei o que está fazendo. — Me responda,
você fica dando essas brechas para os seus seguranças? Para todos os
homens que trabalham com você?
— Por quê?
Porque, se for, eu...
Aperto o braço da poltrona com força, não querendo nem pensar.
Suas sobrancelhas dançam sugestivamente quando vê minha
respiração mudar de ritmo.
— Por acaso está com ciúmes, Sr. Russell? — Estala a língua no céu
da boca, atroz. — Calma, não fique. Eu não costumo ter conversas assim
com ninguém, só com meu empresário, porque ele quem cuida de mim. —
Pisca ao fingir uma inocência que ela não tem. — Eu prometo.
Caralho, não acredito que posso ficar duro por ela.
Não acredito mesmo.
Eu não posso estar afetado por essa garota. Eu não deveria estar em
busca de Sabrina? Eu não deveria ter que estar pensando desesperadamente
nela? Não foi ela que entrou magicamente na minha cabeça e me fez ter
uma noite inesquecível?
Foi tudo aquela loira, não a morena à minha frente.
Deus, preciso urgentemente me embebedar com Oliver, como
fazíamos na adolescência.
— Veja bem... — começo, depois de ter contado até dez
mentalmente. Jesus, que vergonha. Que humilhação. Eu é quem estou
parecendo a porra de um adolescente virgem, com os hormônios à flor da
pele. — Para o nosso próprio bem, Michaela, acho que devemos falar sobre
o que te trouxe até aqui. Vamos falar sobre a sua agenda e sobre o seu
trabalho, que é mil vezes melhor e não nos colocará em problemas.
— Eu gosto de problemas — choraminga.
— Mas eu não — sou curto e grosso.
— Sim, eu sei, por isso que te acho chato.
Não falo nada, paro de olhá-la e abro o meu MacBook que deixei na
mesa, só para checar mais uma vez sua planilha de compromissos.
Diferente do que a minha consciência quis passar mais cedo, eu
também precisava trazê-la aqui para conversarmos sobre os próximos
passos de Michaela McKenna. Em breve, lançará álbum novo, terá que
fazer divulgações, comparecer a jornais, dar entrevistas, participar de
eventos, fazer pequenos shows aqui e ali, e tudo está passando por mim
antes, porque Antonella e Conrad estão fazendo questão de me manterem
informados até mesmo das coisas que nem me dizem respeito. Eu
particularmente estou gostando.
— Vamos lá. — Uma lufada de ar me escapa quando decido virar o
notebook em sua direção. — Estou com a sua agenda de compromissos para
o final desse mês e do próximo, como o álbum está vindo, nós vamos ter
que trabalhar pesado tanto no pré quanto no pós. Como eu disse, quero
melhorar a sua imagem, fazer você ser vista nos quatro cantos. Inclusive,
você tem uma estilista ou algo assim? Quero que fale com ela que a partir
de agora, somente roupas na paleta de cor do Purple Heart, por favor. Pode
ter brilho também, acho que vai combinar. Quero uma coisa bem mulher
madura.
— Ainda nisso que me acha infantil?
A ignoro de novo.
— Vamos para os primeiros compromissos importantes agora — dou
continuidade, também ignorando sua revirada de olhos porque tinha certeza
que eu ia continuar suas provocações infundadas. Não dessa vez,
pimentinha. — No sábado, você terá uma sessão de fotos para escolher a
capa do álbum e, claro, as que farão parte da divulgação das redes sociais.
Já estava sabendo disso?
— Sim, sim. Eu mesma marquei com o meu fotógrafo.
— Ótimo. Eu gosto bastante de montar essa parte da estética, então,
se eu estiver livre no dia, posso dar uma passada no local para acompanhar
de perto seu ensaio.
Volto a pegar no computador, e ela me chama.
— Alexander?
Ergo meu olhar.
— Sim?
— A sessão de fotos vai ser em Las Vegas — explica, e há um pouco
de receio na sua voz. — Além do ensaio em estúdio, vamos fazer algumas
no externo também. Não acho que tenha como você...
— Você tem um jatinho?
Sua testa crispa com o meu comentário.
— O quê?
— Você tem um jatinho? — repito, mais incisivo.
— Tenho...
— Não é só você que tem, eu também tenho. — Cruzo os braços em
cima da mesa. — Posso voar para qualquer lugar, pimentinha. Me
entendeu? — Lhe lanço uma piscadela.
Acho que pela primeira vez, a deixo sem palavras, porque sua boca
fica aberta em um “O” perfeito por vários segundos, e se estenderia
facilmente a um minuto se eu também não falasse nada. Eu decido falar, no
entanto:
— Não se surpreenda comigo, eu sou capaz de tudo — digo,
sinceramente. — Mas o que mais sou capaz de fazer agora é passar para os
próximos tópicos. Você tem algumas entrevistas e podcasts para ir na
intenção de promover o álbum, porém acho que disso você também já está
sabendo. O que eu acho que não está sabendo são dos shows e das
premiações. Quer dizer, primeiro vem a premiação. O VMAs. Você foi
convidada a apresentar uma categoria e se apresentar no palco.
— Sério? — Sua expressão rapidamente muda para completa
felicidade quando eu assinto. Certeza que ela também percebe minha
empolgação, afinal, ano passado, ela levou quase todos os prêmios para
casa; artista do ano, vídeo do ano, música do ano, artista revelação, e
acredito que teve outros também. Foi o maior comentário na internet. E esse
ano, mesmo que não tenha conseguido lançar nada a tempo para concorrer,
ainda assim, obviamente, foi incluída como convidada de honra, e
justamente perto de mais uma estreia sua. Foi o momento perfeito para
colocá-la mais em evidência, do jeitinho que precisávamos. — Meu Deus,
que incrível! Será que conseguimos lançar o meu primeiro single a tempo
para eu já me apresentar lá com ele?
Sorrio genuinamente.
— Essa foi exatamente a ideia que tive. A primeira apresentação do
seu single tem que ser no VMAs. Imagina todo mundo parando para te
assistir? Nossa, seus fãs vão enlouquecer.
— Eles vão mesmo, porque estão morrendo de saudade de mim nos
palcos. Desde que a LUNATIC TOUR acabou, eles só ficam me pedindo a
próxima. Desse álbum faremos, não faremos?
— Claro, e agora temos que expandir a turnê para a América Latina
também.
— Sim, com certeza. Estou louca para ir ao Brasil. Eles são sempre
os fãs mais incríveis e apaixonados. Já viu algum vídeo de artista se
apresentando no país? É insano, a gente não consegue ouvir a voz do cantor
de tanto que eles gritam e cantam junto. Muito, muito lindo. Estou louca
para viver essa experiência.
— É verdade, eu já vi. Eles são assim mesmo.
— Perfeito! — Não para de sorrir nem por um minuto. — Sério,
Alexander, está tudo perfeito. Você é mesmo um ótimo profissional, isso eu
tenho que admitir.
— Muito obrigado — agradeço, e é de coração, porque Michaela
parece mesmo muito sincera e muito grata. Ela está, inclusive, radiante. —
Pronto, basicamente era isso que eu tinha para falar com você. É bom saber
que estamos alinhados com os nossos propósitos. — Balança a cabeça,
assentindo com um sorriso ainda maior do que antes. — Antes de vermos
tudinho sobre a próxima turnê, você vai ter alguns shows para fazer
também, mas é mais para o final do ano. Grandes eventos estão de olho em
você.
— Muito bom saber disso, Sr. Russell.
Assinto.
— Muito bom tratar de negócios com você, Srta. McKenna.
Me levanto da cadeira quando ela se levanta e estendo a mão para
ela.
— Viu só? Mais um encontro civilizado entre nós — brinco quando
nossas mãos se tocam e se apertam em um cumprimento rápido. — Acho
que estamos melhorando.
Contorno a mesa e me aproximo para ser educado e a conduzir até a
porta.
Mas paro ao seu lado, porque fica me olhando dos pés à cabeça com
aquele seu ar perigoso querendo voltar.
— Quando quiser me ver, Sr. Russell, é só avisar, eu sei que você é
bom em mandar mensagens.
Mensagens.
Sei bem de que mensagens Michaela está falando. Aquela que lhe
mandei depois da sorveteria no píer.
— Se quiser aquele lance de Anastasia e Christian Grey, me mande
também — prossegue como a pimentinha que é, louca para deixar o clima
mais quente.
— Vou esquecer que você falou essa parte. — Aperto a ponta do
nariz. — Vou esquecer da mesma forma que você esqueceu de responder
meu agradecimento.
— Eu sei, eu errei, mas não vou errar mais.
A encaro.
Faço o maior esforço para não sorrir e estragar ainda mais a sua
mente dissimulada.
— Vai para casa, Michaela — é o que peço, pois sei que é o melhor.
— Vai para casa e não deixe os seus seguranças ficarem com ousadia. Nem
você dê ousadia a eles. Sério, Michaela, se eu descubro...
— Não se preocupe, chefinho, a única ousadia que eu dou é a você.
— Lentamente, como se fosse a porra de uma predadora, a garota vem até
mim, tocando no colarinho da minha camisa. Ao subir os olhos devagar
para o meu rosto, sinto que acabo de morrer. Só espero que não coloquem
na minha lápide: Aqui Jaz Alexander Russell, morto pelo olhar de uma
mulher extremamente poderosa e perigosa, que ele deveria continuar não
suportando. — E posso te dar mais coisas também, se você fizer por
merecer.
— Michaela... — Minha voz sai em tom de súplica.
— Eu não disse o que eu ia te dar, então deixe de sofrer por
antecipação.
Tento procurar por ar enquanto digo:
— Vá logo para casa, vá.
Ela dá duas batidinhas em meu peito, circulando os lábios com a
língua.
— Estou indo, mas se quiser me encontrar, você já sabe. Mande
mensagem.
Quando a assisto girar nos calcanhares e sair rebolando, passo as
mãos no cabelo, me sento na primeira cadeira que encontro e urro assim
que escuto o barulho da porta sendo fechada, indicando sua saída desta sala.
Que merda está acontecendo comigo? Que merda está acontecendo
entre nós?
Porra, vou ligar para o Oliver agora e dizer que caso tenha planos
para mais tarde, os cancele, porque precisarei ir para a porcaria da sua boate
me encher tanto de álcool que nem me lembrarei do meu nome.
Dane-se se eu dizia que não era homem de fazer isso, agora eu sou.
“Isso é tudo o que elas realmente querem,
um pouco de diversão
Quando um dia de trabalho termina
Oh, garotas, elas querem se divertir
Oh, garotas só querem se divertir”
GIRLS JUST WANT TO HAVE A FUN — CYNDI LAUPER

Tudo bem, muitas coisas são engraçadas nessa vida, mas chegar em
casa, procurar meus pais e me deparar com os dois na área da piscina da
nossa mansão é simplesmente hilário. Primeiro, porque a minha mãe está
sentada, de maiô, em uma dessas cadeiras que ficam meio deitadas meio
sentadas, com um chapéu enorme na cabeça, óculos de sol da Gucci
escorregando pela ponta do seu nariz e suas duas mãos ocupadas, uma
segurando o copo de limonada enfeitado com o canudo de guarda-chuva e a
outra segurando o Kindle que está lendo agora.
Segundo porque, não bastando a minha mãe estar na sua maior pose
de patroa despreocupada, o meu pai, seu marido, está deitado todo largado
na boia da piscina, pegando as vitaminas D do sol à medida em que se
refresca bebendo a sua cerveja. Se encontra até de olhos fechados, a boia
em formato de unicórnio flutuando pela nossa piscina em formato de violão
— ideia minha e da mamãe.
Com uma cena dessas bem diante dos meus olhos, eu não tenho
condições de fazer outra coisa a não ser gargalhar, tendo a certeza de que
essa imagem ficará bem viva em minha memória por anos.
— Ora, ora, ora... — cantarolo para anunciar a minha chegada e paro
bem no meio da área em que se encontram, meio que de frente para Conrad
e meio que de lado para Antonella. Os dois, assustados, logo se
sobressaltam achando que aconteceu alguma coisa quando ouvem uma voz
que não estava esperando escutar, já que não haviam me percebido antes e,
até então, não sabiam que eu estava em casa. Cruzo os braços em frente ao
peito e alterno o meu olhar entre a minha mãe na cadeira e o meu pai
boiando na água da piscina. — E não é que o ditado está mesmo certo?
Quando os gatos saem, os ratos fazem a festa.
— Como é? — Mamãe é a primeira a se indignar, deslizando o
óculos de sol ainda mais para a ponta do seu nariz, na intenção de me
observar. — Desde quando você pode chamar seus próprios pais de ratos,
mocinha? — Rio ainda mais por causa da sua pergunta.
— E o pior, eu me assustei — Conrad reclama. — Quase que eu me
desequilibro e caio dessa boia. Não viu que seu papai está tomando cerveja,
não, meu amor?
— Viiiiiii — soo como Iris, e sorrio ainda mais por uma coisa que,
nesse momento, só eu sou capaz de entender. — E como eu vi. Na verdade,
já a vi brilhando junto com o sol desde que eu cheguei. Impossível não vê-
la, papai. Está de parabéns. Os dois estão. — Passeio com o indicador entre
ele e Antonella, que segue com a sua limonada e o seu Kindle em mãos,
muito mais tranquila depois do susto ter passado. — Aproveitando a folga e
o tempo livre, huh? Se divertindo enquanto Alexander Russell trabalha.
— Mas é claro. — Papai entorna o líquido espumante em sua boca e
depois a limpa com o dorso da mão. — Nós já trabalhamos muito, querida,
já quebramos muito a cabeça com a Michaela McKenna, agora é só curtir
um solzão, piscininha, churrasquinho, sua mamãe gata ali lendo um
livrinho, tudo na paz. Se há alguém que deve esquentar a cabeça com você
agora, esse alguém é Russell. Ele que aguente o coração e sobreviva ao
rojão. Você é minha filha linda, mas sei que não é nada fácil.
— Ah é, né? — Bato o pé no chão. — Até parece, viu. Eu sei que
você tá sempre em contato com o meu empresário, trabalhando junto com
ele. Sei que vocês dois só fingem, mas não conseguem se desligar da minha
empresa. — Eles se olham, como se estivessem acabado de serem pegos no
flagra, e eu balanço a cabeça de um lado para o outro, adorando, de fato,
toda a cena. — E espero que saibam que eu só estava brincando. Quero ver
mais de vocês dois assim, descansando, curtindo a vida que eu posso lhes
oferecer. Não precisam se cobrar tanto, como vocês podem ver, eu estou
bem. Estou ótima.
— Sim, Alexander está fazendo um ótimo trabalho. — Agora
Antonella se senta para valer, com as pernas em posição de yoga. Ela deixa
as coisas repousadas na pequena mesa ao seu lado e continua de olho em
mim aqui em pé e no seu marido ali ainda na piscina, em cima do unicórnio.
Sim, é definitivamente a melhor imagem de todas, só para deixar claro
outra vez. — Inclusive, falando nele, vocês chegaram a conversar hoje?
— Sim — assinto, empolgada, rapidamente me lembrando do que
conversamos. A parte profissional que digo, porque a outra não é nem um
pouco bom me lembrar agora, ainda mais na frente dos meus pais.
Especialmente na frente deles. — Alexander me contou sobre o convite do
VMAs, nossa, eu fiquei muito, muito feliz. Se Deus quiser e tudo seguir
como o planejado, vamos conseguir divulgar meu single lá. E sábado estarei
voando para Las Vegas, para fazer as primeiras fotos do que pode vir a ser a
capa do álbum.
Estou toda saltitante, fazendo a minha dancinha da vitória quando
ambos começam a me aplaudir, orgulhosos por mim.
— Nós já sabíamos, ficamos muito felizes — da boia, meu pai
informa. — Iríamos te contar, mas Alexander pediu para que fosse o
primeiro a lhe dar a notícia. Você vai arrasar. Vai ser, com certeza, mais um
grande sucesso. Um enorme passo na sua carreira.
— Vai ser mesmo, filha — minha mãe concorda, com um sorriso de
orelha a orelha. — Será mais uma caminhada inesquecível. Quero te ver
linda no Red Carpet, hein?
— Pode deixar, mamis. — Pisco para ela. — Assim que eu tiver as
ideias do vestido, te mostro em primeiríssima mão. — Troco mais um olhar
significativo com os dois. — Mas agora, vou deixar vocês dois aí
aproveitando o sol e a piscininha e vou subir, fiquei um pouco cansada
depois de tanto cantar com Lynx. Qualquer coisa que precisarem, me gritem
que eu apareço.
— Certo, querida, vai lá descansar, você precisa.
— Isso mesmo — Antonella reafirma o que seu marido disse. — Se
precisar da ajuda de qualquer um de nós, é só chamar que iremos correndo.
— E deixar vocês entrarem no meu quarto pingando de cloro? —
pergunto, em tom de brincadeira. — Não, não, não. Nem pensar. Fiquem
por aí mesmo.
Giro nos calcanhares, rindo sozinha quando os escuto darem aquela
boa risada às minhas costas.
Adoro isso.
Adoro poder dar essa vida confortável a eles, e adoro mais ainda
quando se permitem desfrutar de todos os nossos privilégios. Me dá ainda
mais motivação para continuar trabalhando.
Estou prestes a alcançar as escadas quando a campainha ressoa
estrondando pela casa, bem a tempo de ainda me pegar aqui embaixo.
Não faço nem cara de estranhamento, porque se a pessoa conseguiu
passar por toda segurança e está agora nesse exato momento na porta da
minha casa, significa que é alguém bastante conhecido e de confiança.
Resumindo, só pode ser ou Dakota ou Eric.
Pela insistência e falta de paciência, a minha resposta vai na minha
loirinha emburrada.
Paro uma das nossas funcionárias assim que a vejo passar correndo
por mim para atender e abrir a porta.
— Não precisa, não se preocupe, pode deixar que eu atendo, deve
ser para mim.
— Tem certeza, dona Michaela?
— Ei, o que foi que eu te disse sobre esse dona? — faço como quem
está dando uma bronca nela, de mentirinha. — Não sou dona de nada. Sou
apenas a Michaela. E tenho certeza, sim. Vou lá atender agora, se eu
demorar mais um pouco, a pessoa do outro lado é capaz de morrer.
— Tá bom — ri, indo em direção a cozinha.
Me movimento, finalmente abrindo a porta.
Como eu suspeitava, é ela, Dakota Hartley, em carne, osso e
impaciência.
— Achei que fosse me deixar plantada aqui fora — já reclama ao
adentrar.
Fecho a porta e me viro.
— Oi, para você também, amiga. Como está? Bem? Sim, eu também
estou ótima — ironizo.
— Desculpe, não quis ser indelicada, é que você demorou.
— Amiga, tenho certeza que não demorou nem dois minutos.
Franze o nariz.
— Você contou? Porque eu não contei, e, de qualquer maneira, se
fosse para contar, com certeza teria dado bem mais do que dois minutos.
— Hum, certo, vamos deixar essa história de lado. O que importa é
que agora você já está aqui dentro. A que devo a honra?
— Ah, não, nada especial. — Dá de ombros. — Estava com tédio
em casa e decidi atazanar um pouco a vida da minha melhor amiga para ter
o que fazer. Acho que já comecei bem com a questão da campainha, não
foi?
A olho como quem diz: “é sério, veio aqui realmente só para isso?”
— Sim, Michaela, eu vim realmente só para isso — ela me conhece
tão bem que responde meu questionamento, mesmo sem eu o expor. — O
que foi? Não quer mais me receber na sua mansão quilométrica, é isso?
— Meu Deus, quem é que está sendo a dramática agora?
Ela tenta esconder seu sorriso, mas é inútil.
— Eu, porque convivo demais com você e acabo pegando suas
manias. E são sempre as piores.
— Olha só, que legal, obrigada, eu também amo você. — Faço o
contrário de novo, e dessa vez Dakota não se aguenta, mesmo revirando os
olhos nas órbitas, ela dá risada. — Vai, vem logo, deixa de bobagem e me
acompanhe, porque desde que cheguei da gravadora, ainda não consegui ir
ao meu quarto, e minha coluna está choramingando desesperadamente por
um colchão macio. Preciso me deitar o quanto antes.
Lhe dou as costas, indo em direção às escadas sabendo que está logo
bem atrás de mim.
— Credo, Michaela, você falando desse jeito parece que já tem
oitenta anos.
— O que posso fazer se a minha coluna é de uma idosa?
— Minha nossa.
Estagno os meus passos e me viro nos ombros para olhá-la.
— Sobre o que já está reclamando de novo?
Atrás de mim, ela ergue a cabeça.
— Não estou reclamando, estou só surpresa pela sua coluna. E anda
logo, você está interditando a escada.
— Tudo bem, já vou.
— É, vai logo, ou eu não vou ter outra opção a não ser ferrar mais
um pouco com a sua coluna lhe dando um empurrão.
Guardo a vontade de revirar os olhos para mim mesma, voltando a
subir os degraus.
— Cansei desse assunto, vamos partir para o próximo.
Entramos no corredor e andamos até o meu quarto.
— Claro, com muito prazer, não vim aqui falar da sua coluna de
velho, nem fisioterapeuta eu sou. Vim aqui saber das novidades. Como foi
na gravadora?
Dakota me espera tirar os tênis, a meia arrastão e ainda me espera
guardar o meu celular que estava na saia, no primeiro lugar seguro que
encontro, porque quando me jogo no colchão, de braços abertos, ela
também faz o mesmo.
— Ufa, enfim em casa. — Respiro com tranquilidade, fecho os olhos
e entrelaço as mãos sobre a barriga. Posso estar desse jeito, mas
conhecendo minha melhor amiga como eu a conheço, posso apostar que ela
está da mesma forma que eu, com os olhos fechados enquanto tenta
controlar sua respiração. — O dia hoje foi agitado. E parece que você
adivinhou, Hartley, tenho mesmo novidades. Mas acho que só posso
começar a contar quando Eric estiver com a gen...
— O QUÊ? — Dakota se levanta e se senta, acabando com toda a
paz que eu estava tendo. Abro os olhos e, com o pescoço esticado, a
observo, incrédula. — Não mesmo. Se era isso que você queria, deveria ter
guardado a informação de que tinha novidades. Porém, agora que já sei que
você tem coisa para contar, exijo que me conte. Não estou nem aí se Eric
não está agora, você pode muito bem contar para ele em outro momento.
Agora o momento é meu, então, vamos, comece a abrir essa boquinha linda
o quanto antes.
— Tem certeza? — Faço um bico de lado. — Ele pode ficar
chateado.
— Eric não tem motivos para ficar chateado. Você não ficou sabendo
que ele foi viajar para surpreender o namorado nas gravações?
Meu queixo cai.
— De novo? — Fico embasbacada.
— Sim, Eric Farrell é um falso que ama mais o Raphael do que nós
duas. — Não deixa de evidenciar seu ciúmes. É engraçado, ela sempre faz
questão de cutucá-lo, entretanto, quando ela e Raphael estão juntos, é o
maior amor. Os dois se adoram, mesmo que fiquem implicando um com o
outro boa parte do tempo. Raphael é ciumento, ela também, então dá para
imaginar como os dois se comportam juntos. Sobra sempre para Eric. — Só
que isso não é importante agora, deixe esses dois pra lá. Me fale das
novidades. O que aconteceu?
Certo, tudo bem, acho que dá para contar.
— VMAs — solto de uma vez. — Fui convidada para me apresentar
esse ano. Vou apresentar meu single pela primeira vez lá.
Não sei qual das duas começa a gritar primeiro, porém é assim que
nos encontramos agora. Dakota se joga em meus braços, e, em um abraço,
rola comigo na cama. Nós duas rindo, gritando e comemorando como
sempre fazemos. Acho que nunca vamos nos acostumar com o meu
sucesso, não importa quanto tempo passe. Qualquer coisa que acontece, é
sempre uma novidade incrível pra gente.
— Você merece, amiga! — Ela me enche de beijos estalados na
bochecha, o que faz com que minhas risadas aumentem. — É a maior do
mundo, sim. Minha estrela. Minha diva icônica.
— Te amo, amiga. — Ficamos deitadas uma de frente para a outra.
— Vou precisar da sua ajuda em muitas coisas, viu? Sábado, inclusive, vou
fazer, em Las Vegas, aquela sessão de fotos que te falei. Preciso da sua
opinião na hora de escolhermos a foto do álbum e as que iremos divulgar
nas minhas redes sociais. Vou ter que falar com Eric também.
— Sim, sim, claro. Tudo o que você quiser — soa afoita. — E o seu
empresário grosso e gostoso? Já está sabendo?
— Já. — Subo e desço o queixo em uma confirmação. — Foi ele
quem me contou. Esteve lá na gravadora hoje mais cedo.
— Uiiii, como ele é prestativo — zomba e quase vem me fazer
cócegas na barriga, mas eu me esquivo, rindo. — Afinal, quando é que eu
vou poder conhecer esse cara?
— Pra quê? Alexander é meu empresário, não vai ser um amigo
nosso.
— Não é disso que estou falando, estou falando de conhecê-lo
pessoalmente, ver como ele é. Não posso estar curiosa?
— Pode, eu também estaria no seu lugar.
— Então...
— Então que eu não sei quando isso acontecerá, mas pode ser em
breve. Acho que nós estaremos sempre juntos daqui pra frente, e como nós
também sempre estamos juntas, não vai demorar muito para vocês se
cruzarem.
Um sorrisinho estranho desponta em seus lábios, e eu uno as
sobrancelhas.
— O que é que já está passando dentro dessa sua cabecinha
maldosa?
— Sei lá, é que você parou mesmo de reclamar dele. Tudo bem que
disse que conheceu a afilhada deles, vocês foram tomar sorvete porque era
o que ela queria, mas, uau, estou impressionada, não imaginava que você
fosse baixar a sua guarda tão rápido.
— Não baixei.
Eu baixei?
Não, não baixei.
Posso estar jogando com ele, brincando, querendo provocá-lo,
porque é bom provocá-lo, desde aquela noite na Call Emergency, eu gostei
de fazer isso, mas é basicamente só isso. Provocações. Brincadeiras. Não
vai dar em nada, obviamente, porque nós não podemos nos envolver.
Ele é tipo meu chefe, nós trabalhamos juntos, é proibido, antiético,
se a mídia descobre, seria uma polêmica danada e é justamente disso que
ando fugindo. Piorou Alexander, que nem de polêmica gosta. No fim, eu só
quero que tenhamos um ambiente muito mais descontraído e divertido,
mesmo que minha língua não se segure quando estou perto dele.
Juro que eu realmente não estou com maldade.
Talvez um pouco.
Mas um pouquinho, assim, quase nada.
Porque nem ferrando que eu penso no seu beijo toda vez que olho
para ele. Nem ferrando que ainda penso em como seria seus puxões no meu
cabelo de verdade, não naquela peruca loira que estragou tudo. Nem
ferrando que eu penso no corpinho dele nu, em cima do meu, me fazendo
ver as estrelas que ele não me fez ver naquele banheiro. Nem ferrando que
eu o desejo ainda. Nem ferrando mesmo. Eu juro que essa página já virou.
Ficou no passado.
Eu já experimentei um pedaço do pecado e não vou pecar
novamente. Nem mesmo se Alexander Russell implorar por mim.
— Meu Deus, Michaela!
Sobressalto.
— O que foi, criatura?
— A sua cara.
— Que cara? — Balanço a cabeça para desfazer qualquer coisa que
eu tenha feito sem perceber.
— Essa aí que você acabou de fazer. Eu conheço ela muito bem.
Você acabou de imaginar safadezas com o seu empresário, e nem adianta
negar. Está estampado na sua testa, tem um letreiro enorme piscando para
quem quiser ver.
A belisco, e ela grita.
— Ai!
— Pra você parar de sempre pensar o mal de mim.
— O que posso fazer se você é uma safada de marca maior?
— Como se você também não fosse — retruco.
— Eu sou, mas não sou eu que estou tendo fantasias com o meu
empresário.
Me sento na cama em um ímpeto.
— Eu não estou tendo fantasias com ele!
— Não? — Dakota ergue uma sobrancelha para mim. — Então se eu
chegar a vê-lo qualquer dia desses, posso dar em cima dele numa boa?
A mera imagem de Dakota dando em cima de Alexander me dá
ânsia.
— Que nojo. Não.
— E por que não, Michaela McKenna? — Me fita como se soubesse
cada um dos meus pensamentos.
— Porque... porque... bem, porque ele é o meu empresário, você é
minha melhor amiga e seria estranho.
— Aham.
— É sério.
— Sim, me engana que eu gosto.
Rolo os olhos enquanto bufo.
— É melhor a gente parar com essa conversa, tenho certeza que é
capaz de você fazer isso mesmo quando ver Alexander.
— Pode ficar tranquila, amiga, não sou talarica.
— E desde quando ele é meu para você ser talarica?
— Está na sua testa, Michaela, não tenta me enganar.
Voo para cima dela, sendo a minha vez de atacá-la com cócegas.
Dakota grita, implorando que eu pare, porém ela não merece. O que ela
merece é que eu acabe com ela por falar inverdades e por tentar me
provocar falando dela e de Alexander.
— Pare! Pare! Pare! — Continua a implorar. — Já não está mais
aqui quem falou, eu juro! — Então paro, resfolegando.
Ficamos as duas tentando voltar ao normal, e é tão engraçado que
acabamos explodindo em gargalhadas de novo, nossas costas voltando a ir
de encontro ao colchão.
— Sabe, brincadeiras à parte, eu estou me sentindo nas nuvens. Seu
álbum está para chegar e você vai se apresentar no VMAs esse ano. Minha
amiga é mesmo um fenômeno. — Dakota gira o corpo, fica com os
cotovelos fincados na cama e começa a tirar as mechas do meu cabelo do
meu rosto. — Sabe o que essa novidade incrível nos mostra? — Faço que
não, porque não sei mesmo. — Que merecemos uma comemoração.
Puta merda, já sei o que essa sua cara significa.
— Não, não, não. Eu não vou a uma festa disfarçada de novo. —
Estou traumatizada, quase completo, porém deixo só para mim.
— E quem está falando de disfarce agora, Michaela? Você não se
meteu em confusão nenhuma da última vez, e, pelo que me lembro, estava
tão escuro e tão movimentado que ninguém ligou para quem estava lá ou
deixou de estar. Aposto que famosos entram e saem daquele lugar o tempo
todo e nada acontece. E não foi você que falou que o Call Emergency é do
melhor amigo de Alexander, o pai de Iris? Então, muito melhor. Caso algo
aconteça, ele nos ajuda. E se for uma coisa muito maior, Alexander dá um
jeito também.
“Você não se meteu em confusão nenhuma da última vez.”
Meu Deus, imagina se ela soubesse.
Entretanto, Dakota tem um ponto. O local é mesmo bem
frequentado, quase não dá para ver os rostos dos que estão ali presentes. E
eu também não vou fazer nada, não vou querer ficar com ninguém, e dessa
vez de verdade. Eu só iria para dançar, para comemorar e me divertir.
Ainda estou com a sorte do ambiente ser de alguém conhecido.
Quer dizer, por mais que eu não conheça o pai de Iris, Alexander
conhece, e é meio como se eu estivesse em casa.
Vou me comportar, nada poderia dar errado, não é?
Suspiro.
— Só se você prometer que também vai se comportar e vai ficar de
olho em mim para eu seguir com a minha reputação. Meu álbum está vindo,
não posso fazer besteira. Alexander me mataria.
Ela aperta a minha mão.
— Relaxe, eu cuido de você e você cuida de mim. Não faremos nada
além do considerado normal e aceitável.
— Promete? — Ergo o meu mindinho no ar.
— Prometo. — E Dakota engancha o dela no meu.
Ergo os lábios num sorriso.
— Hoje à noite?
— Definitivamente, hoje à noite.
“Ele disse: Estou só curioso, isso é de verdade ou só uma encenação?
Não dá para saber se você me ama ou me odeia, nunca conheci alguém assim
Me deixa tão-tão-tão louco, você sabia que causa esse efeito?
Eu disse: Me deixa verificar, sim
Eu também iria me querer
Querido, por favor, acredite em mim
Eu vou fazer você passar pelo inferno
Só para me conhecer, sim, sim
Tão seguro de si
Querido, não seja ganancioso
Essa merda não vai acabar bem
Não, isso não vai acabar bem”
GREEDY — TATE MCRAE

Olha só que impressionante, como o mundo dá voltas.


Estou diante daquele mesmo segurança da primeira vez que vim à
Call Emergency, aquele brutamontes enraivado, que não me deu nem um
boa-noite e um sorriso. Porém, diferente daquela noite, não estou como
Sabrina, não estou como uma desconhecida qualquer, estou como Michaela
McKenna, cantora internacionalmente conhecida, e é claro que agora ele
me reconhece e entende o meu valor. Sei disso porque não está mais de cara
fechada, está com um sorriso de orelha a orelha, me olhando dos pés a
cabeça como se eu fosse uma deusa na sua frente.
Falsamente ou não, devo admitir que o homem está fazendo seu
trabalho bem feito.
Se eu não tivesse o conhecido antes, diria que é a pessoa que mais
trabalha feliz no mundo, já que é o que está parecendo essa noite.
— É um prazer termos a senhorita aqui. — Sei, penso. Da outra vez
só faltou me queimar viva com aquele olhar mortal. Nunca me esquecerei.
Muito menos a Sabrina que ainda habita em mim. O medo que senti foi tão
grande que quase me tremi inteirinha. — As senhoritas, perdão — completa
com ênfase depois de Dakota tossir audivelmente para ser notada. Pressiono
os lábios para não rir, sabendo que a loira perigosa ao meu lado notou a
mesma coisa que eu. Que esse cara daí é um fingido, um interesseiro. —
Aqui estão as suas pulseiras. — Esticamos nossos braços e ele as coloca na
gente. — Podem entrar, meninas. Tenham uma ótima noite.
— Obrigada... — Olho para seu terno à procura da plaquinha
indicando seu nome. — Robert. — Ergo minhas íris para o seu rosto, sorrio
e dou alguns tapinhas em seu ombro antes de passar por ele. — Obrigada,
Robert, pelo atendimento, você é um poço de gentileza. Tenha também uma
ótima noite.
— Isso, Robert. Obrigada. Você é uma gracinha.
Dakota faz uma voz extremamente vergonhosa, e o homem fica
claramente morto de raiva, mas segue não perdendo sua postura quando nos
libera a passagem.
Uma vez longe dele, nós duas enganchamos os nossos braços e
rimos, como duas crianças.
— Sério, você também pensou o mesmo que eu? — Afirmo sua
indagação em meio às risadas. — Nossa, ele não estava nem um pouco
assim quando estivemos aqui da outra vez. Você não ouviu, e eu e Eric
esquecemos de dizer, mas aquele homem só faltou gritar com a gente por
termos demorado a pegar nossas identidades. Ele foi meio babaquinha, e aí
agora só porque viu Michaela McKenna entrando, quis fazer graça e bancar
o simpático? Me poupe.
— Eu também fiquei de cara, juro. Mas não é importante, estou meio
acostumada a ver essas coisas no meu dia a dia. O que importa mesmo é
que estamos finalmente aqui dentro.
— Sim, e olha só, está cheio, como sempre.
Paramos na entrada para observarmos o local. Consideravelmente
cheio, escuro, com a música estrondando nas caixas de som e a energia
mais impressionante de todas.
Não sei como Dakota está se sentindo, porém a minha barriga
congela. De animação, de vontade de me jogar junto com eles que estão na
pista e, o mais importante, claro, congela com as lembranças que inundam a
minha mente como um tsunami. Vários flashes do que aconteceu naquela
noite dançam em minha cabeça, quase me deixando tonta, e só Alexander é
capaz de fazer parte de boa parte das memórias que chegam até mim, se não
todas.
Vem ele gritando com o celular ao meu lado. Vem ele falando
comigo pela primeira vez. Vem a sensação que tive ao me deparar com a
sua beleza. Vem nossa conversa de Peter, Wendy e Capitão Gancho. Vem a
imagem de quando derrubei bebida nele, de quando o levei comigo ao
banheiro, de quando nos beijamos, de quando senti sua mão passeando pelo
meu corpo e me firmando contra ele, enquanto me levava em direção à pia.
Consigo visualizar até mesmo o ponto mais desastroso da noite: o vômito.
E eu só posso ser mesmo muito doida se depois de tudo o que
aconteceu, eu ainda tive essa coragem de pôr os meus pés aqui de novo
outra vez. Duvido que se fosse outra mulher no meu lugar, teria essa
audácia. Bem que mamãe diz que meu juízo é nos pés e que eu só tomo as
piores decisões no calor do momento.
— O que você acha de uma foto para o Eric? — Me desperto e deixo
de pensar no passado quando minha melhor amiga balança o seu celular
para mim.
— Eu acho que ele vai ficar morrendo de ciúmes.
— Melhor ainda.
Dou risada e ela já vem com o celular para capturar nossos rostos,
me pegando totalmente desprevenida e espontânea. Não reclamo quando a
vejo encaminhar nossa selfie para Eric, pelo que pude ver de relance, ficou
bonitinha e engraçada, e como é somente para o nosso amigo, não tem mal
algum. Aposto que mesmo com ciúmes, ele vai adorar e vai mostrar nós
duas a Raphael todo orgulhoso, porque é simplesmente a pessoa que mais
nos incentiva a curtir a vida, até mesmo quando não pode estar presente.
Que é quase sempre, afinal, é um bobo apaixonado que só tem tempo
para o seu amado.
— Eric visualizou — ri à medida em que guarda o aparelho de volta
na sua bolsinha da Prada, um dos presentes que fiz questão de lhe dar no
aniversário do ano passado. — Ele disse que se a gente não contar tudo para
ele do que aconteceu essa noite, vai soltar inverdades nossas em páginas de
fofocas no Instagram.
— Então me lembre de não esquecer nenhum detalhe amanhã,
porque Eric Farrell é bem capaz de fazer isso.
— Claro, aquele loiro de farmácia é a pessoa mais vingativa que
existe.
Dou risada.
Adoro quando Dakota chama Eric de loiro de farmácia só porque ele
não é loiro de verdade. É sempre muito engraçado.
— Sabe de uma coisa? — comento enquanto enfim me mantenho
séria. — Deixe nosso amigo se divertindo lá e vamos nos divertir cá. Escuta
só, está tocando Taylor Swift, é a melhor hora para fazermos uma entrada
triunfal.
Não estou mentindo, é End Game que está nas caixas de som, do
Reputation, melhor álbum da carreira daquela loira. Meu favorito. E a
própria Taylor sabe disso, fiz questão de informá-la quando conversamos no
pós Grammy, ano passado.
Dakota me encara como se estivesse pronta para ser debochada.
— Ninguém vai nos perceber, Michaela.
Dou de ombros.
— E daí? O que importa é a gente se sentindo demais. Vamos logo.
Puxo seu braço para voltar a andar junto a mim e adentramos à festa
bem na hora que Taylor começa a cantar o trecho que diz: big reputation.
Verdadeiramente a nossa deixa.
Sorrio, com as luzes estroboscópicas que alternam entre as cores
passando e mudando toda a nossa visão do lugar. É como entrar no
ambiente mais quente e sexy que existe, como se fosse um mundo à parte. É
tudo muito bonito, calculadamente pensado e de deixar qualquer pessoa
queimando e com os hormônios à flor da pele.
Me arrepio toda, e não sei se é por isso ou se é por, conforme
adentramos e serpenteamos pelas pessoas, mais memórias com o meu
empresário vêm à tona.
Não é preciso escolher, pode muito bem ser os dois.
— Bem, gatinha, estamos aqui. — Paramos perto da pista, e viramos
uma para a frente da outra só para nos aproximarmos e conversarmos
melhor, já que obviamente a música consegue se sobressair a qualquer tipo
de som. — O que quer fazer primeiro, sentir o clima na pista de dança ou ir
atrás de um drinquezinho para dar uma animada?
— Não me diga que você vai querer beber todas, Dakota...
— De jeito nenhum. — Ela faz questão de negar. — É que eu não
sobrevivo a uma noite sem Margaritas, elas são essenciais. Juro que é só
uma. — Levanto uma sobrancelha, porque não acredito nem um pouco
nessa sua afirmação claramente duvidosa. — Ou duas. Coisa tranquila,
tranquila. Prometo não me embebedar e não tirar os olhos da sua pessoa
nem por um minuto.
— Tudo bem, mas o limite fica sendo duas Margaritas.
— E se a gente arredondar para quatro?
Meu Deus, não acredito que estou ouvindo uma coisa dessa, justo
quando disse que iria só tomar uma ou duas.
Acredito que a loira percebe minha expressão como uma resposta
muito concreta para a sua pergunta descabida, pois rola os olhos
dramaticamente e volta a enganchar seu braço no meu.
— Três — avisa enquanto caminhamos, os três dedos erguidos no ar.
— Três Margaritas e não se fala mais nisso.
— Três — concordo, embora, no fundo, no fundo, eu tenha a noção
de que é só uma grande balela. — Quero ver só se você vai cumprir.
— Tudo depende do tanto de calor e de sede que vou sentir. Agora,
por exemplo, eu já estou morrendo.
Bato a mão levemente contra a testa.
— Então estamos ferradas.
Dakota ri, porém não nega.
Também, como poderia, se é a verdade?
Sorrio junto, e quando nos aproximamos cada vez mais do bar que
estamos indo em busca das nossas Margaritas, minha expressão vai se
transformando conforme vamos dando nossos próximos passos. Primeiro,
porque meu coração palpita, ansiedade mais pura se fazendo presente em
mim por causa da sensação de déjà vu, segundo, porque parece que o bar
está lotado e teremos que enfrentar uma fila, e nem uma cadeira vaga
possivelmente encontraremos para ficarmos enquanto esperamos a nossa
vez chegar.
Impressionante, hoje parece estar ainda mais cheio, já que eu
consegui muito bem me espremer entre as pessoas e me enfiar por ali na
outra noite, tanto que foi no balcão do bar que encontrei Alexander e tudo
se desdobrou do jeito que tinha que se desdobrar. Falando no meu
empresário, estou tanto com ele na minha cabeça desde que pisei os meus
pés aqui na Call Emergency que estou estreitando meus olhos, achando que
o homem de costas, com camisa social, bebendo uísque enquanto conversa
ao lado com outro homem, esse muito mais despojado e aparentemente
mais jovem, se assemelha muito com Alexander. E eu quase rio de mim
mesma. Só posso estar delirando.
Onde já se viu, ficar o vendo em outros homens?
É mesmo um delírio.
Um delírio dos grandes.
Alexander não estaria aqui na festa hoje. Ele nem é muito fã de
festas. Muito pelo contrário, ele é um homem ocupado, cheio de tarefas e
agendas de celebridades para cuidar. Não voltaria aqui de novo, não quando
ficou traumatizado da última vez.
Quer dizer, eu espero que ele tenha ficado traumatizado a esse ponto,
pois não quero nem cogitar a possibilidade de ter tido um azar desses.
Estou ciente que posso o encontrar em todos os lugares possíveis que
posso vir a frequentar, e realmente não estou me importando mais quanto a
isso, o meu problema é que aqui... ah, não, aqui já é demais. Não posso vê-
lo uma segunda vez num ambiente como esse, em que tivemos toda uma
história e um histórico perturbador. Seria... perturbador.
Eu rio de mim mesma, dos meus medos sem sentido, com Dakota
ainda me puxando pela mão. A loira me olha sobre os ombros, confusa.
— O que foi que eu perdi para você estar rindo desse jeito? Qual foi
a graça?
— Não, não, nada, é que por um momento eu achei que aquele cara
ali fosse o meu...
Minha frase morre completamente no instante em que nos
aproximamos, por coincidência, dos dois homens sentados no bar, bem às
costas dos rapazes. Assim como a minha frase se perde no ar, toda a cor do
meu rosto se perde junto, porque, merda, agora não tem mais como errar,
agora não tem mais como pensar que estou imaginando coisa. Agora é real.
Meus medos são reais. Meu azar também.
— O seu o quê, Michaela?
Pronto, a frase de Dakota sendo dita no momento em que a música
End Game termina era tudo o que eu precisava. Ah, sim, com certeza.
Afinal, sua voz soa alta, pois achava que continuaria sendo ruim a nossa
comunicação por causa do barulho, e é nessa de sair alta que as pessoas ao
nosso redor também a escutam, além de mim.
E é só ouvir o Michaela, que o homem se vira abruptamente.
No mesmo instante, suas íris me encontram, mesmo eu querendo
desesperadamente ter poderes para me tornar invisível.
Elas se arregalam, e eu sorrio, sem graça, tão pega de surpresa
quanto ele.
— O meu empresário — sopro, respondendo à Dakota e finalmente
caindo a minha ficha. — Alexander Russell — digo de maneira mais alta e
mais firme, e tenho certeza que também me escuta. — Bem aqui. Que
grande surpresa. Olá, chefinho. — O cumprimento com os dedos
balançando no ar, com uma pose tentando parecer inabalável.
O outro homem também ao seu lado se vira para observar o que está
acontecendo, mas eu estou presa demais em Alexander para me importar
em prestar atenção nele. Meu empresário se empertiga e trava o maxilar,
principalmente quando seus olhos, nada disfarçados, descem pelo meu
corpo, visualizando meu vestidinho colado lilás e de alcinha. Ele tem um
pouco de brilho e um leve decote, porém nada comparado ao que usei
quando estava disfarçada de Sabrina.
Esse é comportado, mas só um pouco. E minhas pernas estão
cobertas por uma meia-calça nude, praticamente da cor da minha pele, de
strass e cheia de estrelinhas, o salto alto todo fechado e da mesma cor do
vestido complementando meu look, que parece estar sendo bastante julgado
e desaprovado por Alexander.
Por que está feio?
Por que está curto?
Por que estou ainda mais gostosa?
Não consigo decifrar, mas Alexander parece incomodado, e eu adoro
vê-lo incomodado pela minha pessoa, porque assim mostra que de alguma
forma, eu mexo tanto com ele que sou capaz de alterar o seu humor em
questão de segundos. É perfeito.
— Michaela... — Meu nome por seus lábios sai entredentes, no
entanto, Russell quer tanto mostrar impassibilidade que engole em seco,
apruma os ombros e abre um meio sorriso totalmente desajustado quando
pergunta: — O que está fazendo aqui?
— Oras, chefinho, que pergunta mais inocente. — Rio e olho de
esguelha para Dakota, que parece prestes a deixar o queixo atingir o chão
quando permanece fixando suas íris em Alexander. Sei exatamente o que
pode estar pensando, e sim, amiga, essa praga é mesmo um grande gostoso
que mulher alguma consegue se manter minimamente normal quando põe
os olhos nele pela primeira vez. É um absurdo de homem. Ainda irritante,
grosso, chato e totalmente proibido porque trabalha logo para mim. — O
que você acha que se faz em um lugar como esse? Acompanhar uma missa
é que não é.
A pessoa ao seu lado dá risada, e Dakota, ao meu, me dá uma
cotovelada leve para que eu pare. Disfarçando, minha amiga também ri e eu
não vejo outra alternativa a não ser acompanhá-la, para não gerar um clima
estranho.
Alexander, como sempre, segue na mesma, não movendo um
músculo, porém ainda sem desviar o olhar do meu.
— Estou surpreso — ele decide dizer. — Não achava que poderia te
encontrar aqui. Na verdade, não sabia nem que você frequentava a Call
Emergency, você nunca me falou nada.
— Não frequento — respondo, rápida, e olho rápido para Dakota
para que ela entenda que não pode, em momento algum, sob hipótese
alguma, dar qualquer indício de que viemos antes. Sei que entende, pois dá
uma balançada rápida de cabeça e troca outro olhar comigo que me
confirma isso. Ela pode não saber sobre Alexander, mas sabe sobre Sabrina,
e sabe que não é bom para mim que deixe escapar qualquer coisa do tipo.
— É minha primeira vez. Nossa — me corrijo à medida em que aponto para
nós duas. — Inclusive, Alexander, essa aqui é a minha melhor
amiga,Dakota Hartley. Dakota, esse é o meu empresário, Alexander.
Com ela, ele tenta ser um pouco mais simpático, assente e estende a
mão.
— O famoso Alexander Russell — ela solta após se
cumprimentarem. — Ouvi falar muito sobre você esses dias, Alexander, e é
um prazer poder te conhecer.
— O prazer é meu. — Ele devolve o sorriso e une as sobrancelhas.
— Ouviu, é? — Passa a me olhar. — Espero que tenha sido só coisas boas.
— Não parece muito certo disso. Eu fricciono os lábios, evitando rir.
— Ah, claro, foi só coisas boas — Ela garante. Mentirosa. Será que
percebem o tom malicioso dela? — Michaela está muito feliz com tudo que
está acontecendo na vida dela, por isso viemos comemorar hoje à noite. É
mais um grande passo na carreira dela.
— E falando em comemorar hoje à noite... — O homem ao lado de
Alexander se levanta e vem até nós. Meu empresário parece ficar ainda
mais de olho. — Eu sou Oliver Olsen, dono da Call Emergency e melhor
amigo de Alexander. — Estende a mão tanto para mim quanto para Dakota,
que sorri largamente para Oliver, e há um pouco de segundas intenções no
seus trejeitos todo animadinho, afinal, o melhor amigo do Alex e o pai da
Iris, é verdadeiramente bonito. Sua aparência parece um pouco mais jovem,
livre de barba, e ele tem os mesmos olhos azuis poderosos da filha, só que
com cabelos escuros. — Apesar do Alexander ser mal-educado, eu não sou,
e vim aqui me apresentar a vocês, meninas. Estou muito feliz que a festa
esteja tão bem frequentada.
Pelo seu sorrisinho retorcido de canto, já entendo logo. Seu amigo é
um verdadeiro pé no saco, enquanto ele, Oliver, é o engraçadinho divertido,
com pinta de galã de filme, que é um verdadeiro conquistador nato, o
famoso cara galinha, mulherengo. Até sua forma de falar e agir é mais leve,
mais solta, e um pouco sedutora também.
— Você nem me deu tempo — Alex reclama com ele e, quando
percebo, também já está de pé, bem à minha frente. Me pego também o
olhando da cabeça aos pés, da mesma forma que fez comigo. Eu o admiro,
no entanto. Sua camisa de botões é preta, os braços quase explodindo o
tecido, como sempre, e a calça social da vez é uma cinza, com listras. Está
diferente, os fios do cabelo um pouco mais rebeldes, e a visão é a
personificação do paraíso, me deixa com calor e eu ainda nem bebi nada. —
Mas é claro que você faria isso, Oliver, é bem a sua cara já pagar de
bajulador.
— É claro, é Michaela McKenna e Dakota Hartley, eu tenho que ser
receptivo. É o mínimo que posso fazer quando se tem uma filha
completamente apaixonada por tudo que envolve a Michaela.
— A Iris! — Meu peito se enche de amor ao me lembrar dela. —
Meu Deus, Oliver, aquela garotinha é perfeita, eu amei tanto conhecê-la.
Como ela está?
— Perfeitamente bem. — Seu sorriso é obviamente de um pai muito
orgulhoso. — Desde que ela te encontrou, não conhece a palavra tristeza ou
birra. Todos os dias são ensolarados e perfeitos. Agora que estou aqui na
sua frente, posso finalmente te agradecer pelo que fez. Muito obrigada,
muito obrigada mesmo, por ter sido tão gentil e por, além de ter realizado o
sonho dela, ter topado passar uma tarde ao seu lado.
— Magina, eu quem agradeço — digo, do fundo do meu coração. —
Conhecer a Iris foi um dos momentos mais legais que tive na minha vida.
Pode ter certeza que ela já mora no meu coração e que eu pretendo, o
quanto antes, encontrá-la novamente.
— Ela vai amar. — Oliver sorri. — E pirar muito também.
— A mim ninguém agradeceu — Alex murmura. — Deus está
vendo, Oliver Olsen.
— Porque você não fez mais que a sua obrigação, já que prometeu a
sua afilhada que a faria conhecer Michaela McKenna naquele dia no píer de
Santa Mônica.
— E cumpri com o prometido.
— Cumpriu nada — eu implico com ele. — Você não preparou
aquele momento, foi total coincidência. Se ele não tivesse acontecido, eu
sinceramente não sei quando você me contaria sobre Iris.
— Você não contou a ela sobre a minha filha? — Oliver
praticamente grita.
Alexander respira fundo, e me encara como se pudesse me fuzilar.
— Eu não contei porque não tinha encontrado a oportunidade — se
defende. — Você sabe que é verdade, Michaela, nós nem conseguíamos
manter um diálogo antes.
— Isso é verdade — tenho que concordar. — Então não vamos
crucificá-lo tanto, Oliver, eu aposto que em algum momento ele tentaria
pela afilhada, mesmo eu o assustando.
— Quem disse que você me assustou, menina?
Menina.
Olha a droga desse apelido de novo.
— Não precisou ninguém dizer, eu vi. — Dou de ombros.
Antes que Alexander possa falar alguma coisa, Oliver intervém.
— Certo, certo... — Ele ri de forma nervosa. — Nada de clima tenso
por aqui, por favor. Se vocês vieram para se divertir no meu
estabelecimento, é isso que vocês vão conseguir. Podem se sentar ali, vou
chamar o Ralph, nosso barman, para fazer suas bebidas. Quando acabar,
podem pedir quantas quiserem, fica por conta da casa.
— Nossa, Oliver... — Dakota dá uma secada nele e, antes de se
sentar em um dos bancos, diz, sedutora como só ela consegue ser: — Mal
conheço e acho que já te amo.
— Que coisa incrível de ouvir, loira. — Os dois praticamente se
comem com os olhos. Oliver Olsen está perto de dar a volta e entrar na
parte onde o barman está quando decide se virar para mim. — Se alguém
mexer com você, te perturbar ou se sua experiência for prejudicada só por
você ser a cantora famosa que é, me avisa, que na mesma hora eu coloca a
pessoa, ou as pessoas, para fora num segundo.
— Obrigada, mas acredito que não vai ser preciso, está tudo
correndo muito bem.
Oliver assente, piscando, e corre para ficar atrás do balcão, entrando
numa conversa com Dakota. A própria, inclusive, está com os cotovelos no
tampo da mesa, se inclinando para ouvi-lo melhor.
Não tenho mais tempo de prestar atenção, porque Alexander limpa a
garganta, e quando eu decido encará-lo, estranho sua expressão fechada,
como quem está puto com alguma coisa.
— O que foi? — questiono, em dúvida.
— Aquele cara é um filho da puta engraçado. — Aponta para o seu
melhor amigo lá atrás, e mesmo dizendo que Oliver é engraçado, o que eu
não entendo, ele ainda assim não ri ou dá qualquer indício de que está
brincando. Ele parece ficar mais puto. — Como ele pode dizer algo como
aquilo se eu estou aqui?
— Não estou entendendo do que você está falando, Alexander...
— De te proteger! — grita por cima da música, e me assusto com a
forma feroz em que solta sua indignação. — Aquele papinho idiota de que
você deve dizer algo a ele caso alguém mexer com você. Ele não está me
vendo aqui? Não foi capaz de perceber que não importa o que aconteça,
estarei com os olhos bem abertos para possíveis abutres em cima de você,
Michaela? Porque eu estarei, e estou ordenando que esqueça o que aquele
crápula deu a entender. Não fale nada a ele. Fale a mim. Eu quem devo
sumir com a pessoa em segundos, e não ele. Eu. Só eu. E, porra, eu sumo
mesmo.
Alexander parece ficar vermelho.
Parece estar nervoso, as narinas se inflando à medida que respira
fundo.
E eu... puta merda, eu sorrio. Eu só sei sorrir.
— Está com ciúmes do seu amigo, Alex? — Seu apelido se
desenrola na minha língua com malícia, e eu me aproximo para tocar em
um dos botões da sua camisa, com o olhar erguido nos seus. — Ou está com
ciúmes de... mim?
— Ciúmes? — Ri, mas é uma risada totalmente sem humor. — Não
seja tão sonhadora, Srta. McKenna, estou só querendo fazer o meu trabalho.
— Você não precisa fazer trabalho nenhum aqui.
— Preciso. Se você está perto de mim, eu preciso. E sabe por que
preciso?
— Por que, chefinho?
Só em me ouvir, Russell parece perder mais uns dez anos de vida.
— Porque você está com esse vestidinho, e a porra da festa inteira
está te olhando como se quisesse te comer.
Cruzo os braços, minha expressão em puro deboche.
— Engraçado, não vejo ninguém me olhando como você me olha.
Sua preocupação está sendo com a festa inteira ou com você mesmo?
— Eu já disse, menina, que você deveria parar com isso e me
respeitar.
Lambo os lábios bem lentamente enquanto me mantenho mais
próxima, quebrando toda a nossa distância. Por causa do salto que uso,
nossa diferença não fica tão gritante assim, e é bom. Muito bom.
— Você não quer meu respeito, você quer outra coisa minha e não
está sabendo como pedir.
— Vá se sentar no banco, Michaela — pede ao desgrenhar mais os
fios do seu cabelo. — Vá se sentar e ficar bem quietinha lá, antes que eu te
fale coisas que eu não devo.
Mordo o polegar, escondendo meu sorriso.
— Eu doidinha para sentar em você, você me pede para eu sentar no
banco? Que desperdício.
A vermelhidão em seu rosto aumenta, e ele quase engasga.
Quando decide esquadrinhar meu rosto, eu quase morro. Que
homem. Que homem delicioso.
— Você quer mesmo que eu jogue esse jogo, não é, pimentinha?
Vejo que está empenhada. — Afirmo, sem vergonha alguma. — Não vai
rolar. Eu sou a porra do seu empresário.
— Tudo bem, se você não vai querer jogar, posso procurar outro que
queira. — Finjo procurar pela festa, adorando quando o ouço rosnar. —
Você mesmo disse que estão todos me olhando, querendo me comer. Aposto
que não vai ser tão difícil. — Volto a olhá-lo, mas depois fixo minha
atenção em um ponto às suas costas. — Será que Oliver gostaria? Ele
parece ser um bom jogador. Pode ser que ele me queira, ele disse que me
protegeria. Já é um bom começo para uma possível brincadeira, não acha?
O osso em sua mandíbula salta, e me surpreendendo quando um
gritinho me escapa. Mas é porque Alexander Russell firma sua mão em
minha cintura e me aperta.
Que delícia.
Porra, que delícia poder senti-lo de novo.
— Não me teste. — Olhar para os seus olhos é como ver labaredas
dançando. — Porque se testar, você não vai gostar do resultado. Mas se
quiser, faça isso. Encoste em Oliver, ou em qualquer outro homem nesse
lugar, e vai ver as pessoas dessa festa realmente precisando ligar para a
emergência, porque o caos vai se instaurar aqui dentro.
— É uma ameaça, chefinho?
— Eu poderia dizer que não, mas é, sim — Quase choramingo
quando ele me solta, sério. — Cabe a você decidir me desafiar ou não.
Bato os meus pés no chão e arrebito o nariz, o desafiando.
— E se eu quiser, o que vai acontecer?
Ele morde o lábio inferior por um tempo, como se estivesse
pensando, e a pequena ação é o suficiente para me deixar de pernas bambas.
— Acho que devo te contar uma coisa. — Continuo com os braços
cruzados, esperando. Alexander dá um passo, seu perfume me invadindo, e
já perco completamente o fôlego. — Eu e seu pai, quando ele me procurou,
conversamos muitas coisas a seu respeito. Coisas boas, coisas ruins, coisas
a serem melhoradas. Seu pai confiou tanto em mim que disse que eu podia
fazer o que eu quisesse com você, contanto que te colocasse na linha. E
você sabe, não é? Eu estou mesmo aqui para isso. As coisas comigo são
duras.
— Posso imaginar que sim... — Deixo no ar, olhando para todo o
seu corpo e me concentrando no meio de suas pernas.
— Criatura... — exaspera. — Por que tão nova e tão safada?
— Idade é só um número, querido.
— O da polícia também. Muito fácil de discar, inclusive.
Inflo o ar nas bochechas.
— É uma indireta sobre eu estar te perseguindo ou sobre a minha
idade?
— Os dois — responde.
Reviro os olhos.
— Quanto drama, Alexander, pelo amor de Deus. Eu não tenho 17,
18, 19, tenho 21. Sou uma mulher adulta, perante a lei, perante tudo.
— Eu sei, Michaela, eu sei — diz ao balançar a cabeça. — Mas isso
não anula as coisas. Eu tenho 35. São 14 anos de diferença. E mesmo se não
tivesse esse lance da idade, é errado, porra. Não dou em cima das minhas
estrelas, elas não falam coisas como as que você diz para mim, já disse isso
um milhão de vezes. Se eu sou extremamente profissional com as outras,
por que caralhos com você eu não consigo ser?
Porque nós temos uma história, Alexander.
Porque você não sabe, mas nós temos uma química que nos
atropelou desde o primeiro dia em que nos vimos. Porque nós temos algo
inacabado, algo que, por mais que a sua mente não saiba, seu corpo tem a
plena noção disso, porque ele sentiu tudo o que eu senti naquele banheiro e
ainda hoje, quando me vê, sua pele se conecta com a minha de uma forma
que para ele é totalmente anormal, irreal, errado e proibido.
Porque não sabe que nós nos vimos antes, não sabe que
conversamos, que nos beijamos, que quase nos entregamos um ao outro.
Ele não sabe de tudo o que passamos.
— Porque você me quer, não outra, mas a mim — é o que me limito
a responder. — Porém, está tudo bem. Eu sei e entendo que não podemos
passar de meras provocações. — É por isso que não te conto sobre Sabrina,
porque seria muito, muito pior. Uma coisa é jogar, outra coisa bem diferente
é esfregar na sua cara que ele perdeu, que ficou com uma das suas estrelas e
que provavelmente vai se arrepender para sempre disso. — Você pode ficar
tranquilo. Se eu não posso ter o que eu quero, vou fazer questão de arrumar
em outro lugar. Espero que saiba que eu não estou nem aí para a sua ameaça
de merda.
Acho que meu empresário vai enlouquecer mais uma outra vez,
porém ele não consegue falar nada porque do banco em que se encontra,
Dakota grita por mim e faz com que a gente se afaste na mesma hora.
— Olha, Oliver nos trouxe Margaritas! — A loira radiante no bar por
causa da sua bebida favorita levanta o seu braço, já com o copo na mão para
poder nos mostrar. — Vem, Michaela, tem aqui para você também.
Exatamente como combinamos.
Eu sorrio, avisando que já estou indo.
Mas antes de acompanhar minha melhor amiga, eu olho para o
homem, e dessa vez não está mais olhando para mim. Está olhando para o
chão, perdido em pensamentos. Com o osso na sua mandíbula tão estufado
quanto antes.
Se está com raiva, que se exploda, então.
“Esta noite vou pegar mais pesado com você
Esta noite vou revirar seu corpo ao avesso
Relaxe, deixe-me fazer isso como eu quero
Se você tiver, eu preciso e vou fazer isso
Aperte os cintos, vou te dar com mais força
Mãos pra cima, podemos ir por mais tempo
Esta noite eu vou enlouquecer um pouco
Enlouquecer um pouco, querido”
RUDE BOY — RIHANNA

Ao me sentar no banco vago ao lado de Dakota, a garota já está


entornando uma grande quantidade de álcool em sua boca, tão enérgica que
todo a Call Emergency parece vibrar por causa dela.
— Ei, mocinha, vamos dar uma maneirada aí — a alerto, já me
debruçando sobre o balcão. — Céus, não acredito que você está assim. Qual
que foi o nosso combinado mesmo?
— Foram três Margaritas — relembra ao mesmo passo em que limpa
a sua boca com o dorso da mão e repousa o copo no vidro, bem próximo a
ela. Acho que fica com medo que por causa da minha quase bronca, eu o
tire dali à força. — E olha que incrível, essa ainda é a primeira, por que está
sendo tão chata? É como eu estava dizendo ao Oliver, você não precisa
mais se preocupar. Estamos totalmente protegidas pelo dono da balada e
pelo melhor amigo dele. Nada pode nos acontecer. Nadinha.
— É verdade — Oliver chega na conversa, com um pano nos
ombros. — Pode tirar qualquer preocupação da sua cabeça, Michaela
McKenna. Se quer beber, beba. Se quer se divertir como se não houvesse
amanhã, se divirta. Não é porque eu sou o dono, mas a Call Emergency é
um local bem frequentado, eu conto nos dedos as vezes em que tivemos
problemas com os clientes, e até mesmo polêmicas que alcançaram os
ouvidos de Los Angeles. Somos bem avaliados, famosos frequentam aqui
direto, quem vem aqui já está acostumado, e por Alex ser meu amigo e
trabalhar nesse ramo, eu sempre faço questão de ficar de olho em quem
entra e em quem sai. Não aceitamos paparazzis.
— Isso é bom — eu digo e pego a minha Margarita para que veja
que confio em suas palavras. — Se bem que hoje em dia, qualquer um pode
fazer papel de paparazzi, é só ter um celular em mãos.
— Mas se ficar pensando sempre nisso, como você vai viver?
Bebo um longo gole, e puxo todo o ar para dentro dos meus pulmões
depois.
— É um bom ponto. — Dou de ombros. — É que quando você passa
muito tempo sendo vista como um bicho num zoológico, acaba se
acostumando com o tratamento. Para mim, é normal sair e ficar pensando
nas pessoas, nas fotos, nas polêmicas.
— É, polêmica é com ela mesmo. — Minha melhor amiga me
dedura, em meio às risadinhas. — Não pode ver uma vergonha que já quer
passar. Não pode ver um macho que já quer pegar.
— Dakota!
Oliver tomba a cabeça para trás e gargalha, enquanto a cobra criada
me olha como quem diz: o que foi, por acaso estou mentindo?
— Falando nisso... — Com graça, ele atrai nossa atenção. — A Iris
me contou sobre isso um dia desses, mas não acreditei. Cinco
relacionamentos que não deram certo? — Balanço a cabeça e sinto uma
vontade enorme de poder chorar em sua frente só pela forma em que está
me encarando. Na verdade, só por ter tocado nesse assunto também. —
Como isso acabou acontecendo, garota?
— Dedo podre — é Dakota de novo.
Dessa vez, não tenho como discordar ou repreendê-la.
— Os homens me enganam — minha fala é cansada. — Eles
prometem o mundo e o que me trazem mesmo é o próprio inferno. Minhas
escolhas são péssimas. São todos uns tontos.
— Onde você encontra esses homens, no bueiro? — Oliver zomba.
— Eu ficaria ofendida, se não fosse ver...
— Não são homens, são meninos. — Me calo quando Alexander
aparece, ficando ao meu lado. Ele se apoia no balcão, e, mesmo não
olhando nos olhos, consigo perceber que está alternando o olhar entre mim,
o pai de Iris atrás do balcão do bar, junto do barman, e Dakota que, por
surpresa, também decide se manter calada, só observando a situação e a
atmosfera entre nós dando um giro de trezentos e sessenta graus. —
Meninos que não sabem nada da vida, e é por isso que quebram o seu
coração como se você não tivesse sequer valido a pena.
Decido o encarar, porque parece que está querendo me alfinetar por
causa da última coisa que te disse antes de vir sentar aqui, e me surpreendo
quando percebo que seu rosto continua endurecido de raiva e seriedade. Eu
não sei se Oliver e Dakota percebem, talvez sim, pois ele não está fazendo a
mínima questão de esconder que o assunto lhe incomoda.
Agora deu, penso.
Esse cara é a pessoa mais complicada que existe.
Não me quer, mas também parece não gostar da ideia de me ver com
outro. Fora sua ameacinha de merda, essa é a segunda vez que fala de
forma negativa sobre meus ex-namorados. Tudo bem que nenhum deles
merece ser aplaudido ou exaltado, entretanto, Alexander nem os conhece,
nem sabe das coisas que passei em meus relacionamentos, só sabe o que a
mídia mostra, e isso não o faz ter direito e moral nenhuma para falar.
— Meu coração está muito bem, obrigada — faço questão de dizer
com o nariz empinado. — A propósito, meu último relacionamento, eu
quem terminei.
— Sim, com aquele tiktokerzinho — resmunga.
Os olhos de Oliver se iluminam quando com muito esforço encara o
amigo e tenta muito não rir, mas acaba soando alto demais. Ele vira para o
lado, disfarçando, e é como se tivesse percebido algo que havia deixado
passar. O acompanhando, Dakota faz o mesmo, contudo acaba por ocupar
sua boca com mais um gole da sua Margarita.
Ocupo a minha com a Margarita também, e é com as minhas íris
focadas no meu empresário. Ele agora fica de lado, se debruça sobre o
balcão e acaba com o silêncio instaurado entre nós quando pede por mais
um copo de uísque a Oliver. Eu o observo, com o meu coração ressoando
tão alto no meu ouvido quanto as frequências da música que saem pelas
caixas de som conseguem.
Estar perto dele é sempre caótico. Meus sentimentos sempre me
deixam à flor da pele. E caramba, acho que nunca vou conseguir superar o
quão bonito ele é.
Nunca vi uma pessoa ser tão perfeita de perfil, mas o filho da puta
consegue. Seu nariz é afilado, arrebitado e todo certinho, parece até que fez
rinoplastia, o que eu duvido muito, só foi uma grande sorte que esse maldito
teve. Além de parecer naturalmente harmonizado, com a porra do maxilar
perfeito, marcado e quadradinho, coberto pela barba bem aparada.
E é o olhando que eu fico indignada, porque por sua personalidade
irritante, ele deveria ser feio. Deus não deveria ter o ajudado na hora de
criá-lo. Deveria deixá-lo sofrer na mão de cirurgiões plásticos, mas não, o
desgraçado tinha que vir com todas as cirurgias possíveis já do útero da sua
mãe. Uma sorte dessa quem realmente merece não tem.
Sobressalto, com Dakota me cutucando quando se aproxima para
sussurrar:
— Pare de encará-lo, você não está conseguindo disfarçar sua
vontade esmagadora de dar para ele.
Meus olhos quase saltam das órbitas.
— Do que você está falando? — sussurro de volta, entredentes, e
aproximo mais meu rosto no seu para garantir que de forma alguma,
Alexander possa nos escutar.
— Obviamente do seu interesse pelo seu empresário — devolve
como se fosse óbvio. — E do interesse dele por você. — As batidas do meu
coração triplicam. — Óbvio, eu te conheço, eu já sabia que por todas as
nossas conversas em que o envolvia, você estava caidinha por ele. O que eu
definitivamente não imaginava é que ele poderia estar da mesma forma.
Tipo, o cara é mais velho, mais experiente, do jeito que você falava, dava a
entender que ele te olhava como uma criancinha pequenininha e mimada
que, obrigatoriamente, tinha que proteger. Mas não. Definitivamente não.
Aquele homão quer te devorar como se você fosse a Chapeuzinho Vermelho
e ele o Lobo Mau.
— Você enlouqueceu.
Tento disfarçar rindo, agindo normalmente enquanto olho para a
minha bebida, mas a verdade é que meu coração está nas alturas. Uma coisa
é eu imaginar, outra coisa bem diferente é alguém ao seu redor perceber o
mesmo que você, e esse alguém ser justamente sua melhor amiga, que
nunca mente ou te engana.
É para ficar nervosa.
— Você viu a forma como ele falou dos seus ex-namorados? —
Prendo a respiração quando a pergunta é sussurrada próxima ao meu
ouvido. — Acabou de ganhar na loteria, McKenna, o seu empresário é a
porra de um gostoso. Meus olhos não estavam preparados para tanta beleza.
E o melhor amigo dele, Oliver? Que gato. Tem certeza que ele é cem por
cento solteiro, não é? Sem problemas com a mãe da filha dele?
Ergo os ombros e balanço a cabeça.
— Não sei muito sobre isso, amiga.
— Vou ter que descobrir.
Claro que sim.
Quando Dakota Hartley quer alguma coisa, ela vai até o fim.
— Vocês duas ainda estão aí? — Nos assustando, Oliver ressurge
com o uísque de Alexander em mãos, parecendo decepcionado por ainda
não termos terminado nossas Margaritas. Contudo, a loira se vê incentivada
pelos olhos azuis do dono do local, entorna todo o conteúdo alcoólico na
boca e, após não restar mais uma gota, ela bate o copo no tampo da mesa,
pedindo por mais. Ele assente, ri e faz um bico impressionado nos lábios.
— É isso que eu gosto de ver. Não quero ninguém aqui dormindo no ponto.
Como eu disse, bebidas por conta da casa. Mas aí qualquer coisa vocês
pedem a Ralph, porque agora vou continuar ao lado do meu amigo para
beber com ele. Estou um pouco off dos serviços esta noite.
— Nada mais justo — eu comento, com o copo da Margarita perto
dos meus lábios.
Acho que vou passar o restante da noite só com ela, porque já estou
sentindo meu estômago embrulhar e não quero ter que precisar vomitar em
nada. Ou em alguém.
Com meus olhos, acompanho Oliver pedir uma nova Margarita para
o barman, dizendo que é para entregar a Dakota, se afastar do balcão,
serpentear pelas pessoas e vir ficar perto da gente, mais especificamente
perto de Alexander. Agora que estão perto um do outro e eu estou nessa
posição, percebo que seus portes físicos são diferentes.
Mesmo Olsen tendo um corpo bonito e definido, ele não é malhado e
tão grande quanto o Alex. É como se um frequentasse a academia vez ou
outra, sendo agraciado já pela sua genética, e o outro fosse um neurótico
pela saúde e por puxar ferro, porque só isso explica o fato do Alex ser desse
jeito, tão gostoso.
Seus braços são... surreais.
Acho que se esse homem me pegar de jeito, ele me quebra. E em não
sei quantas partes.
Deus, é sua filha aqui de novo, que essa benção caia sobre mim.
Será que o desgraçado é capaz de ouvir meus pensamentos? Porque,
bebendo um gole do líquido âmbar, ele me encara, impassível.
— O que vocês pensam em fazer por agora? — Oliver decide puxar
papo, e suas íris alternam entre mim e Dakota. — Não sei se vocês podem
perceber, mas eu meio que estou no tédio aqui. Meu melhor amigo me
convida, diz que quer sair, que precisa urgentemente beber, e quando chega
aqui fica assim, calado. Se bem que antes de vocês chegarem, ele estava
conversando. — Alexander resmunga algo que ninguém entende, porém o
pai de Iris não para de falar. — O que foi, cara? O que foi que aconteceu?
Por que você está assim tão tenso?
Oliver parece saber exatamente o motivo dele estar do jeito que está,
dá para perceber pelo sorriso retorcido em sua boca, no entanto, prossegue
com as gracinhas, agora apertando o ombro de Russell.
— Vamos, Alex, fale, coloque suas emoções para fora, irmão.
— Vai se foder, Oliver — soa irritado. — Acho que foi uma péssima
ideia ter vindo.
Sinto um cutucão da minha melhor amiga em mim novamente, e sei
que ela está com a mente tão maldosa quanto Oliver Olsen.
Bem, se você tem limões, faça uma limonada.
Lambo os lábios e viro sobre os ombros.
— Você parecia tranquilo antes de eu me aproximar — comento
como quem não quer nada, mas sei bem que ele me entende, e já é o
bastante. — Estou preocupada agora, chefinho, aconteceu alguma coisa?
Será que eu posso resolver?
Alexander me encara como se estivesse prestes a me degolar, suas
íris castanhas flamejando de raiva. Meu sorriso aumenta quando percebo
que sou fácil, fácil em atormentá-lo.
— Tudo bem, se quer ficar à sós com seu amigo, não tem problema
algum. — Termino a Margarita, deixo ela no balcão e flexiono os joelhos
para me levantar do banco em um ímpeto. — Vou aproveitar a pista de
dança com Dakota. — Puxo-a, e ela se levanta cambaleando por causa do
susto. — Desde que chegamos, ainda não dançamos, e acho que preciso
extravasar um pouco com alguém. Meu corpo está clamando por um
parceiro. — Pisco, e nem espero para observar sua reação, já giro nos
calcanhares ao lado de Hartley, porque é exatamente o que desejo, deixá-lo
se mordendo às minhas costas.
— Você vai fazer aquele homem ter um infarto. — Ela dá uma risada
maquiavélica à medida em que vira sobre os ombros para dar uma rápida
olhada nele. — Sério, ele parece que vai quebrar aquele copo de uísque na
cabeça de alguém a qualquer momento.
— Ele não sabe o que quer da vida. — Reviro os olhos. — Não sabe
se me quer perto, não sabe se me quer longe. Não sabe se fica mais leve,
não sabe se fica o tempo todo irritado daquele jeito. Acho que é a pessoa
mais instável que já conheci na vida.
— Porque você é a pedra no sapato dele — se diverte, e alcançamos
a pista. — Mas sabe o que você faz? — Olho-a como quem diz: o quê? —
Continua. Alexander Gostosão Russell estará de olho em você, em cada
passo que der nessa pista, e se quer testá-lo, faça o que disse. Dance comigo
e, se for da sua vontade mesmo, ache um possível parceiro. Aí você vai ver
o que é um homem morrer de verdade.
Para mim, a ideia parece ótima.
Sorrio e fico atrás dela, a empurrando para o meio das pessoas
aglomeradas. Dakota já ergue os braços, começa a balançar o corpo no
ritmo da música e ainda uiva, se envolvendo pela batida sensual da música.
Eu a acompanho, e quando ficamos uma de frente para a outra, ela me dá a
mão e me faz rodopiar, depois me trazendo para perto outra vez.
— Você é a mulher mais gostosa que já vi, Michaela McKenna! —
grita.
É a minha vez de a rodopiar, as luzes estroboscópicas passando por
nós.
— Não há espelhos em sua casa, loira?
— Ah, é verdade, primeiro vem eu.
Convencida, Dakota beija o ombro, e nós duas damos risadas.
Não demora muito até que ela se aproxime mais.
— Eu te amo muito, sabia?
Faço um biquinho emocionado.
— Que lindo. Por que está me dizendo isso agora?
— Porque eu quero. — Dá de ombros. — Porque eu sou sua maior
fã. Na área musical e na vida. Agora bem mais na vida, já que você
conseguiu fisgar aquele macho.
Sem acreditar, eu rio e a empurro.
— Eu não consegui fisgar ninguém, sua piranha. Deixa de pensar
com essa sua amiga aí de baixo.
— Não conseguiu ainda — faz questão de frisar quando estica o
pescoço para conseguir ver além de mim. — Eu consigo ver daqui ele com
os olhos em você, então, vai, anda, mexe esse seu corpinho aqui comigo. —
Dakota joga os cabelos para o lado e vira para mim, de costas, já pegando
as minhas mãos e colocando na cintura dela. Ela rebola os quadris,
lentamente, e eu jogo a cabeça para trás, rindo, mas também fazendo o
mesmo. — Isso mesmo, amiga. Dê o show que ele quer. Feche os olhos e
não pare.
Ok, tem razão.
Eu não vou parar.
Me recomponho, fico levemente séria para sentir a música, ainda de
olhos fechados, e dou quase pulinhos saltitantes quando percebo que é um
remix da música da Rihanna, Rude Boy. A voz dessa mulher, junto da
batida e do ambiente agora em tons vermelhos quentes, são as coisas mais
sexys que já vi.
Meu corpo reage na mesma hora.
Meu coração vai a milhão.
Eu continuo com uma mão na cintura da minha amiga, mas a outra
eu uso para passá-la no meu próprio corpo, do cabelo até o quadril. Eu
rebolo junto de Dakota, nós jogamos nossos braços para o alto e, quando a
gente percebe, há um espaço para nós, como se as pessoas na pista tivessem
se afastado para nos olhar e para nos deixar brilhar. E é o que acontece,
porque há muitos pares em nós, observando nossa dança, observando nosso
show particular.
A sensação é insana.
Tudo fica quente, meu pescoço com gotículas de suor já se
formando.
Ela vira para mim, e agora é a sua mão na minha cintura.
— Eu acho que está dando certo. — Seus lábios se erguem num
sorriso maldoso. — Você é a estrela, garota. Você quem comanda esse
lugar.
— Nós comandamos.
Dakota assente com a cabeça, e se ela ia falar alguma coisa, desiste,
porque dois garotos se aproximam de nós duas.
Eu pisco, tentando enxergá-los no escuro.
— Michaela?
É um fã.
Certeza que é um fã.
Estreito os olhos.
Não é um fã.
— Bradley?
Merda, primeira vez que vejo meu ex-namorado depois do término.
E que ótimo, parece que todo mundo resolveu vir para a mesma festa
que eu.
Qual a probabilidade?
Dakota segura minha mão, e o olha da cabeça aos pés.
— Não acredito que te encontrei aqui — ele fala, e sua voz, mesmo
gritando por causa da música, parece tranquila, como se tivéssemos
terminado bem. — Caramba, quanto tempo. Como você está?
Que falso.
Bradley Buck é a pessoa mais falsa do planeta Terra, eu consigo
notar a leve fúria em seus olhos. Ele está morrendo de raiva de mim, e não
preciso ser um gênio para saber disso. Na verdade, é bem óbvio. Eu
terminei com ele naquelas condições, mandei aquelas mensagens e o
bloqueei do meu celular e da minha vida. Nunca mais quis olhar em seus
olhos e agora estou aqui, bem na sua frente, num lugar que jamais imaginei
encontrá-lo.
Quer dizer, Bradley adora festas, mas sei lá, ele não deveria estar
aqui agora, porque eu estou.
— Estou bem — respondo, sem ânimo, e sinto o aperto da minha
melhor amiga me apoiando.
— Que bom. — Joga a franja do seu cabelo no estilo Justin Bieber
no clipe de Baby para o lado, e dá um passo. É só fazer isso que Dakota dá
outro, o impedindo de se aproximar muito de mim. Ele olha para ela com
desdém, mas, como é falso, faz questão de sorrir. A bile me sobe. Que nojo
que sinto de alguém como ele. Não consigo acreditar que me sujeitei a isso
só por carência. Bradley é a porra de um sanguessuga. — Eu estava mesmo
querendo te encontrar, sabia? Acho que você me deve uma última conversa.
— É, Michaela, o meu amigo precisa de você — o idiota ao seu lado
fala. Quem é esse?
— Se manca, Buck, ela não quer nada com você — Dakota o peita,
me protegendo. — E isso aqui é uma festa, pelo amor de Deus. Quer
conversar com Michaela McKenna? Manda uma mensagem para a
assessoria dela e vê se obtém resposta.
Sorrio internamente.
Eu amo essa garota.
— Ou você pode falar comigo.
É só ouvir a voz dele que meu coração para.
Como foi que chegou aqui tão rápido e eu nem o vi se aproximar?
Alexander está atrás de Bradley, e quando o garoto se vira para saber
de quem se trata, ele dá uma assustada, mas tenta disfarçar, e é patético.
Com seus 1,75 cm, o tiktoker parece uma criancinha indefesa perto de
Russell. Não bastando ser alto, ele ainda é largo. Ou seja, meu ex-namorado
é uma formiguinha sob o ponto de vista tanto desse homem quanto de todos
nós.
— Desculpe, mas quem é você mesmo?
— Sou o empresário dela — ele soa certeiro, e porra, tão, tão sexy
com raiva, quase podendo ir para cima de Bradley Buck, porque suas mãos
estão cerradas ao lado do corpo. — E você, pelo visto, é o número 5.
— Número 5?
— É, namorado número 5. Não é assim que te chamam?
— Meu nome é Bradley Buck — corrige, com audácia e ignorância.
— Foi mal, eu não sabia — Alexander é debochado. — Era pra
saber?
Aperto os lábios para não rir, porém Dakota não faz o mesmo que
eu, ela ri na cara dura, em alto e bom som para Bradley e seu amigo idiota
escutarem.
Seu amigo se constrange, mas o meu ex não, ele respira fundo,
ignora Alex e me encara.
— Podemos conversar? — pergunta. — Eu prometo que é rápido, só
queria entender algumas coisas.
Alexander pega no ombro dele e faz com que se vire de novo, com
uma risada totalmente dura lhe escapando.
— Será que Michaela não foi clara? — A mandíbula do meu
empresário se contrai. — Ela está numa festa, ela não quer conversar. Se
você tem algo para lhe dizer, pode falar diretamente comigo. Quer dizer...
— Ele balança a cabeça de um lado para o outro. — Não precisa nem falar
nada, eu já posso imaginar qual o assunto. Possivelmente o término. Mas
qual vai ser a linha que irá seguir, chorar pelo pé na bunda? Implorar por
uma volta? Brigar com ela por que ela te expôs na mídia pela última vez e
agora você não tem mais conteúdo e precisa urgentemente que ela volte à
sua vida para você ter um mínimo de relevância? — Parece que o aperto
aumenta no ombro de Bradley, porque ele faz uma careta, e Alexander sorri.
Sorri ferozmente. — Se seu engajamento baixou desde que terminou,
Michaela sente muito, mas ela não vai continuar lhe dando fama porque
está ocupada demais conquistando a dela sozinha.
— É verdade. — Arrebito o nariz e decido enfrentá-lo, porque meu
empresário está aqui mesmo, de qualquer forma. — Eu não preciso me
escorar em ninguém, ao contrário de você. E se mesmo depois de tudo que
fiz ainda não ficou claro, então, agora olhando na sua cara, eu lhe digo:
acabou. Na verdade, eu e você nunca existiu. Agora, vá embora e me deixe
em paz. Não quero ver essa sua cara de parasita nem pintada de ouro.
Dakota me aplaude, e Bradley fica como um touro, rosnando de
raiva.
— Sua...
— Sua o quê? — Alexander fala ainda mais alto quando decide ficar
cara a cara com ele. — Vamos, fala, xinga ela na minha frente para eu ver
se você tem coragem. Porque, se tiver, seu merdinha, eu, com meus
próprios punhos, estrago essa sua cara todinha para você nunca mais poder
gravar mais um vídeo sequer para a internet de tão desconfigurado que vai
ficar. Se já não tem fãs com essa cara que fica achando que é bonita,
imagina depois.
Bradley fica furioso, e antes de ir embora junto do seu amigo, que
está como uma espécie de estátua desde que Alexander chegou, ele olha
para mim uma última vez. Eu não desvio o olhar, se é isso que estava
pensando. Eu sustento até vê-lo sumir daqui.
Quando me viro para agradecer a Alexander por ter aparecido para
me defender, ele está com o peito subindo e descendo como se tivesse
acabado de correr uma maratona, os olhos fixos no chão, perdidos.
Dou um passo para a frente, mas é bem na hora que ele dá um para
trás.
Seus olhos encontram os meus, ele exaspera e, me deixando sem
entender nada, se vira e vai embora da pista, passando como um furacão por
entre as pessoas que antes estavam nos observando.
Fito Dakota, cheia de perguntas, e tudo que ela me diz é:
— Vai atrás dele.
E eu vou, porque não sei o que pode estar acontecendo.
Aperto o passo, faço o mesmo caminho, corro por onde Alex passou
e peço desculpas quando acabo esbarrando em alguém. Por sorte, consigo
vê-lo, está indo para a saída de emergência. Sem nem pensar e sem nem
mesmo me importar com os meus saltos, continuo apressada. Ele bate a
porta, indo para o lado de fora, e eu a abro, com o vento forte me
cumprimentando. Meu cabelo bagunça, caindo sobre meus olhos, e eu
continuo andando mesmo assim. Deixo a porta fechar por si mesma e arfo
quando o vejo de costas, parado na rua, nesse beco escuro que parece não
passar um pé de pessoa.
Suas mãos estão na cintura, suas costas estão tensionadas e, como na
pista, olha somente para o chão. Me aproximo, e Russell se retesa mais, o
que significa que sabe muito bem que estou aqui.
— Você não deveria ter saído daquele jeito quando tudo que fez foi
me defender — digo, receosa, e chego cada vez mais perto. — Você me
defendeu, Alexander. Eu gostei.
Ele vira sobre os ombros, e o seu olhar é desesperador, parece estar
em agonia.
— Saia daqui.
— Não. — Balanço a cabeça. — Quero ficar aqui. Por que você está
agindo assim?
— Saia daqui — repete, entredentes.
— Pare com isso.
Suas narinas se dilatam.
— Michaela, não me faça repetir pela terceira vez.
— Eu. Não. Vou. Sair. Daqui! — falo pausadamente e jogo os braços
ao lado do corpo. — Não adianta, eu vou ficar. Na verdade, eu não estou
nem entendo porque você está agindo assim. O que aconteceu? Foi pela
forma como você gritou e ameaçou Bradley?
Ele ri, e é tão frio que arrepia minha espinha.
— Acha que estou assim por causa da forma que falei com aquele
babaca? — Seu corpo agora se volta ao meu e ele fica na minha frente, me
engolindo. Lembro, na mesma hora, do que a minha melhor amiga disse.
Aqui, nesse lugar, nesse escuro, ele parece o próprio Lobo Mau interessado
em devorar a Chapeuzinho. — O que eu falei ainda foi pouco. Ele merecia
mesmo uns murros pra parar de ser otário, chegando perto de você como se
você quisesse qualquer coisa com ele. Aquele filho da puta.
— Certo, se não foi isso, foi o que, então? Você parece caótico,
Alexander.
— Porque você me deixa assim, sua garota maldita! — grita, sem
paciência, soltando essa informação como se tivesse finalmente podendo
arrancá-la de seu peito. — Você, desde que apareceu, está se tornando um
inferno na minha vida. Você me enlouquece, me provoca, me faz ter
pensamentos inapropriados, tira a minha paciência e ainda me faz agir
como um animal irracional, um adolescente que não suporta estar no
mesmo ambiente que a garota popularzinha da escola. E eu tenho 35 anos,
Michaela. 35, não 17. E não bastando a raiva que me fez sentir daquele
garoto, você veio até essa balada quando o que eu mais queria era esquecer
de você, se enfiou nesse maldito vestido, disse aquelas coisas e ainda foi
sensualizar naquela pista de dança para todos os outros olharem aquilo que
deveria ser só meu. Porque você é minha estrela, minha Michaela
McKenna, não de mais ninguém.
Quando termina, Alexander está resfolegando e a veia do meu
pescoço latejando.
— Você me parecia uma pessoa, uma pessoa que eu tinha conhecido,
mas você é você e, porra, nada mais faz sentido na minha cabeça. Tudo o
que eu sei fazer é ficar confuso e com medo, porque não posso me
desvencilhar de você. Você não me respeita, não vai me respeitar e ainda
estaremos presos por um contrato.
Elevo a cabeça para nivelar nossos olhares e tento me fazer de plena,
mas a verdade é que eu estou toda formigando. O meio das minhas pernas
principalmente.
— Entre nós, só você que está vendo toda essa situação como algo
ruim. — Desfaço a pouca distância que tínhamos. — Temos um contrato
que nos liga por anos, que maravilha. Por que você não para de ter medo e
se beneficia?
— Eu não posso! — grita de novo, atordoado. — Eu juro, eu sou um
homem correto, eu não faço essas coisas, não me relaciono ou desejo as
mulheres com quem trabalho. Eu também não me envolvo com mulheres
tão mais novas assim, nossas vivências são outras, é errado, completamente
errado. Fica muito feio para mim.
Rolo os olhos como quem diz: Meu Deus, quanta baboseira.
Toco seu rosto, fazendo-o olhar para mim de novo, e ele treme sob
meu toque.
— Eu já te disse isso um milhão de vezes, mas vou repetir para ver
se isso entra na sua cabeça. Eu sou uma artista adulta. Sou dona de mim, do
meu dinheiro e sei exatamente o que quero, quando quero e como quero.
Não sou influenciada por nada, apenas pelas minhas vontades. Você não
deve se cobrar tanto por isso, se eu te quero, você me quer, somos dois
adultos, que mal tem? — Quando o vejo fazer menção de falar, eu o
impeço. — Se é por você ser meu empresário, também não deveria se
importar. Não quando estamos aqui, nessa posição. Aqui, você é Alexander,
não está trabalhando nem para mim nem para ninguém. E aqui eu não sou
uma cantora, sou uma jovem de 21 anos de idade querendo se divertir e
ficar com um cara. Pense nisso. Não pense em mais nada.
Reluta, segurando meu pulso e me afastando, mesmo que
minimamente.
— Eu não posso. Não posso manchar a carreira que arduamente lutei
para conseguir.
— Você não vai manchar.
— Vou sim, Michaela, e pode ter certeza que nada importa mais para
mim do que o meu trabalho. Não vou deixar meus desejos de homem falar
mais alto, é por isso que você deve se afastar, vou conseguir lidar melhor
com isso sozinho.
— Vai? — solto, venenosa, colando nossos corpos e já sentindo
aquilo em mim. — E esse seu pau duro aqui implorando pela sua estrela,
sua Michaela McKenna? — Alexander paralisa, mas sua respiração se
descontrola, porque faço questão de deslizar a mão que estava em seu rosto
por seu peito, barriga e, claro, seu membro tão duro quanto pedra. Ele xinga
e tomba a cabeça para trás, com o peito mais pesado do que antes. — Me
deixe acabar com esse seu desejo, chefinho. Me deixe senti-lo. Me deixe
tomá-lo, mesmo que só por essa noite.
— Não posso ficar com você, vai estragar tudo.
Um sorriso atroz se instala em minha boca.
— Tudo bem, você não precisa ficar comigo. Não precisa me beijar.
Não precisa enfiar seu pau na minha boceta.
O pego de surpresa quando, aos poucos, desço para ficar de joelhos.
— Mas eu posso colocar seu pau na minha boca. — Certeza que vê a
luxúria perpassando por meus olhos. — Posso acabar com essa sua dor, te
dar prazer e mesmo assim nos manter intactos. Sem beijo, sem sexo.
Apenas um boquete. Um boquete qualquer um pode fazer, não é mesmo?
Amigos fazem isso. É por pura amizade aqui, garanto. Não veja com
maldade. Só quero aliviar a sua dor, e é uma atitude bem nobre, não acha?
— Caralho. — Revira os olhos quando toco novamente em seu pau,
por cima da calça social. — Você vai me matar. Você vai me destruir. Mas,
porra, você é gostosa demais. Irresistível. Meu inferno particular. Minha
perdição.
— E eu vou te proporcionar o melhor boquete de todos, chefinho.
Toca no meu rosto, no meu queixo, apertando-o entre seus dedos.
— Gostosa do caralho — rosna. — Safada. Quer me dar um boquete
aqui mesmo num beco, não é? — Faço que sim, achando tudo delicioso. —
E se alguém passar por essa porta e ver você aqui?
— Então me deixe chupar você rápido.
Seu aperto em mim aumenta.
— Sua boca não vai caber, pimentinha, você vai ter que se esforçar,
porque, além de eu ser grande, eu não vou ter pena.
— Tudo o que eu mais quero é que você não tenha pena, chefinho.
— Então vou foder a sua boca com força.
— Não, minha boca vai foder seu pau com força.
Deixo-o sem palavras, tanto pela minha frase quanto pelo que faço a
seguir, pois, lambendo os lábios e ainda com os olhos presos nele, eu
desabotoo a sua calça e a desço pelas suas pernas, visualizando, finalmente,
seu pau na cueca boxer preta bem perto da minha cara. Ele é grande.
Enorme. Não é uma surpresa, no entanto. Olha esse homem, é claro que o
pênis dele seria de respeito. Tudo o que o envolve é de respeito.
— Porra, essa sua cara de santa é de foder qualquer um. Mas olha só
pra você, pronta para chupar o pau do seu chefe nos fundos de uma balada
como se fosse uma… — Ele pressiona os lábios, com medo de soltar o que
tinha em mente.
— Puta? — A palavra sai com tanta facilidade da minha boca que
Alexander balança a cabeça. — Você pode falar. Eu gosto.
— Continue assim e eu gozo na sua cara antes mesmo de você me
colocar nessa sua boquinha linda.
Ah, merda, eu quem vou gozar só com esse desgraçado falando.
Sorrio sacana mais uma última vez e, sem aviso prévio, desço sua
cueca até os calcanhares. No mesmo instante, seu pau grande, grosso e ereto
salta, brilhando com o líquido perolado do pré-gozo, dançando pela cabeça
rosada do seu pau. Minha boca fica cheia de sede e eu me sinto com um
tesão tão grande que a minha calcinha fica encharcada por baixo do vestido.
— Olha isso — eu me delicio com a vista. — Todo meu.
— Todo seu, pimentinha. Porra, todo seu.
Ergo minhas íris.
— Você não vai esquecer isso quando sairmos daqui, vai?
— Não, mas você vai ter que fazer bem gostoso.
Com muito prazer, chefinho.
Mordo o lábio inferior e, com a barriga revirando de ansiedade, eu o
pego na minha mão e o sinto quente, pulsando, tão duro que pela sua cara,
aposto que já está doendo. Acho maravilhoso, porque significa que ele
realmente me deseja, que não era coisa da minha cabeça e da minha
imaginação. Então, com gosto, o tateio, o conhecendo pela primeira vez. A
sensação é maravilhosa, me deixa em êxtase, principalmente quando
espalho seu pré-gozo da ponta por toda a base, não me importando em
molhá-lo, já que, no fim, pretendo engolir tudo. Pressiono o dedão da
cabeça do seu pau, fazendo massagem, e Alexander revira os olhos, xinga
infinitos palavrões e as pernas tremem, com tanto desejo e tesão que não
consegue esconder a vontade de me ter o tomando por completo.
— Me fode, Michaela — não pede, ele suplica. — Me fode logo,
colocando essa sua boca no meu pau e me fazendo esquecer da porra dessa
situação em que nos enfiamos. Me fode todo de uma vez, porque já me
sinto fodido por completo por você.
— Calma, não vai morrer do coração, hein? — zombo, por causa da
sua idade.
— Morrer vai você já, já se não fizer o que eu mando, sua ordinária.
— Adoro quando você me xinga.
— Safada.
— Totalmente — concordo com a minha mão ainda subindo e
descendo por seu pau.
— Malcriada e inconsequente. Você não tem noção da vontade que
eu estou de te pegar de jeito agora.
— Já disse, agora é questão de honra, chefinho, eu quem vou pegar
você de jeito. E vai ser tão gostoso, mas tão gostoso, que vai voltar para
casa com a sensação da minha boca no seu pau. Vai sentir por dias. Vai
lembrar de mim por horas e horas. E é de propósito, porque quando menos
perceber, vai estar implorando na minha porta para me foder. Me foder de
verdade.
É tudo uma questão de estratégia, e, em questão de pouco tempo,
Alexander Russell quem estará de joelhos por mim.
Pode achar que não, mas já era. Estamos ligados há muito tempo e
ele nem sabe disso.
Sem aguentar mais esperar, aproximo meu rosto do seu pau e inspiro
o seu cheiro, revirando os olhos de prazer. Passo a língua na ponta, só para
provocá-lo, e quando o sinto estremecer, sei que fiz um bom trabalho e não
devo mais torturá-lo, porque também estarei torturando a mim mesma. O
enfio de uma vez na minha boca, o gosto salgado se esparramando em
minha língua. Como não o aguento por completo, o alcanço até a metade, e
o resto eu o estimulo com a minha própria mão. Primeiro vou devagar,
querendo saber do jeito que gosta, e quando o tiro e o coloco de novo na
boca, gotículas de suor já estão pela minha testa, sei que Alexander quer
mais. Muito mais.
Sugo, com vontade, fazendo-o do meu doce favorito. O homem
revira os olhos, murmura, treme, e quando deixa o animal enjaulado sair de
dentro do seu corpo, rosna e coloca as mãos por entre os fios do meu
cabelo, pressionando o pau até o fundo da minha garganta quando decide
conduzir meus movimentos, só que agora muito mais forte, rápido e duro,
sem tempo para me deixar respirar, exatamente do jeito que disse que ia
fazer. Meus olhos enchem de lágrimas pelo fato do seu quadril ir para a
frente e para trás, arremetendo em minha boca, a fodendo, e quando consigo
tirá-lo minimamente para respirar, sinto minha baba escorrendo pelo meu
queixo e pelo comprimento do seu pau.
— Você é o próprio diabo, Michaela. — Com a voz grave e rouca,
ele prende as mãos no meu cabelo e os puxa, me fazendo olhá-lo nos olhos.
Sinto uma pontada muito maior na minha boceta, porque, iluminado pela
luz proeminente da lua vertiginosa acima de nós, consigo encontrá-lo uma
verdadeira bagunça. A própria personificação do tesão, do perigo, da
devassidão e da luxúria. Seus olhos brilham com pura maldade, como o
próprio Lobo Mau, ou Capitão Gancho que tanto disse que era. Os fios do
seu cabelo estão desgrenhados, ensopados de suor, e sua boca está toda
vermelha por ele ficar a mordendo toda hora, tentando conter seus gemidos.
— Queria que seu pai soubesse o que a filhinha dele é capaz de fazer
comigo. O que é capaz de fazer com si mesma quando está querendo dar.
Fica no beco, com os joelhos no chão, para mamar o seu chefinho,
querendo que ele goze na cara dela. O que ele acharia, huh? Será que sua
mamãe ficaria orgulhosa? Será que ficaria feliz sabendo que a garotinha que
criou com tanto amor e carinho gosta de ser xingada e tratada como minha
puta?
Provavelmente não, mas quem se importa? Eu adoro. Adoro ser a
safada dele, do meu chefinho.
Não o respondo, porque não tenho nada para lhe dizer, tenho para lhe
mostrar. O abocanho mais uma vez, chupando seu pau, lambendo a cabeça e
brincando até mesmo com as suas bolas, para fazer com que Alexander
chegue mais rápido. Ele parece adorar o que faço, porque xinga e o aperto
no meu cabelo fica maior, e é um ardor delicioso, um ardor que eu estava
querendo sentir justamente no dia em que estava com aquela maldita peruca
que estragou tudo. Mas eu consegui. Eu finalmente consegui, e além de
puxão no cabelo, agora eu sinto seu pau inchado em mim, pois me lambuzo,
cuspo e bato uma pra ele com a minha mão, fazendo tudo para deixá-lo vir,
para que seu sémen quente seja jorrado em minha garganta.
Seu quadril volta a bombear dentro da minha boca mais rápido,
saindo e entrando, saindo e entrando, com Alexander xingando infinitos
palavrões.
— Porra, sua safada — exaspera. — Porra, porra, porra. Vou gozar.
Vou encher você de porra também. Vou te foder e te sujar todinha, e se
reclamar, faço você voltar para dentro daquela festa com ela escorrendo
pelo seu rosto para que entendam de uma vez a quem você pertence. Porque
vou te marcar, sua desgraçada. Vou te marcar por completo. Ai, caralho! —
grita quando eu desço meus lábios para as suas bolas, sugando uma para
dentro.
E quando volto a dar atenção para o seu pau, o masturbando,
brincando com a minha língua, não demora muito até ele cumprir o que
prometeu. Ele goza, seu líquido sendo jorrado em minha garganta e
descendo pelos cantos dos meus lábios. Acho que Alexander fica pensando
que vou dar a entender ou vou fazer alguma coisa para indicar que não
gostei, mas não, muito pelo contrário, eu engulo tudo, cada gota, e ainda
limpo os resquícios com os dedos, também os sugando para limpá-los.
Seus olhos escurecidos de desejo me acompanham, e ficam
atordoados mais ainda quando me ergo e abro o maior dos meus sorrisos,
parecendo recuperada, enquanto ele não.
— Você parece muito mais tranquilo agora, chefinho — brinco, o
provocando. — Boa sorte para arrumar essa bagunça, porque agora que está
bem, vou voltar para a festa, não quero mais te atrapalhar.
E lhe dou as costas na maior cara de pau, ignorando seus murmúrios
e os seus chamados com um sorriso de vitória no rosto.
No nosso jogo, o placar acaba de contar 1x0 para Michaela
McKenna.
“Algo em você
Faz com que eu me sinta uma mulher perigosa
Algo em, algo em
Algo em você
Me faz querer fazer coisas que eu não deveria fazer”
DANGEROUS WOMAN — ARIANA GRANDE

Dakota é uma pessoa extremamente observadora, mas, por sorte,


quando voltei da saída de emergência, ela nada percebeu. Claro que passei
no banheiro antes, me arrumei, dei um jeito na bagunça do meu cabelo, do
meu vestido e já voltei puxando um outro assunto, dando graças a Deus por
ela estar se afogando em Margaritas com a ajuda de Oliver e Ralph, seu
barman.
Não chegou a ficar bêbada, porque Oliver Olsen não deixou, porém
ela estava tão alegre e tão feliz da vida que quando me viu, só fez gritar
meu nome e me abraçar, já mencionando várias das coisas que encontrou
em comum com o dono da Call Emergency. Nós ficamos todos conversando
naquele momento, e quando Alexander chegou, uns cinco ou dez minutos
depois, quem estava ali presente não associou que estávamos juntos
anteriormente.
Bem, se associaram, não deram indícios, e a noite seguiu tranquila,
embora meu empresário ficasse vez ou outra me encarando, como se não
pudesse acreditar no que havia rolado. Ele não parecia com raiva,
arrependido, nem nada do tipo, só parecia... incrédulo. Me encarava com
aquelas íris e, em algum momento ou outro, sorria perplexo para mim
enquanto decidia esconder seus lábios com o copo do uísque.
Eu amei cada segundo, para ser bem sincera.
Estávamos todos nos divertindo, e conhecer Oliver foi maravilhoso.
Ele é realmente muito legal e divertido, fez o DJ tocar só minhas músicas lá
pelo fim da madrugada. Dava para perceber porque Alexander o amava
tanto, assim como também adivinhar a quem Iris Olsen havia puxado
aquela sua energia e carisma.
Tanto pai quanto filha são uma figura, e pelo que conversei com ela
na volta, Dakota Hartley também o adorou. Adorou a companhia, a festa em
si e as próprias Margaritas. Ainda teve um momento que ela tentou
perguntar o que deu a conversa entre mim e Alexander, mas depois voltou
atrás, e até hoje acho que foi por ter pensado se estávamos bem um com o
outro quando voltamos da saída, já tínhamos nos entendido e não adiantava
mais tocar no assunto, pois ele era passado.
Como eu estava morrendo de vergonha de contar o que fiz naquele
lugar escondido, fiquei calada e continuei com a minha vida. Não conseguia
falar em voz alta o que tinha feito e, sobretudo, o que tinha pedido para
Alexander, tão safada quanto Sabrina conseguiu ser na outra noite. Era
impressionante como todas as vezes em que estávamos juntos, eu me
transformava verdadeiramente numa mulher. Uma mulher poderosa, fatal,
perigosa, muito mais do que já costumo ser diariamente, porque só ele
parece ter esse poder sobre mim. Só ele consegue me deixar tão confiante e
focada.
E quando eu penso nele, as horas passam.
O tempo passa.
Puta merda, passa mesmo, porque já tem algum tempo desde que...
bem, fiz aquilo com Alexander no local de trabalho do seu melhor amigo
Oliver, com a minha melhor amiga lá dentro.
Pensando assim, parece tão horrível o que fiz.
E não foi horrível, foi maravilhoso.
Delicioso.
E a gente continua mantendo contato, mas é cordial e profissional,
ninguém ousa, por telefone ou até mesmo pessoalmente, as poucas raras
vezes que nos vimos na gravadora ou aqui em casa, quando vem pegar
alguma coisa rapidamente com Conrad, mencionar o acontecido. Foi como
se tivéssemos feito um pacto sem termos.
Eu não vou reclamar, no entanto. Estou achando tudo muito
divertido, proibido.
Estou voltando para casa com o meu motorista quando me desperto
dos meus pensamentos, porque há alguém me ligando.
Tiro o celular da bolsa a tiracolo e confiro o visor.
É um número desconhecido, não é um número salvo, não é uma
pessoa que conheço.
Aperto o botão de desligar, porque não aceito ligações ou mensagens
de quem não sei quem é.
Infelizmente, a pessoa do outro lado da linha retorna.
E eu desligo.
E ela liga de novo.
Eu aperto no botão.
A tela acende novamente.
Respiro fundo e fico sem paciência quando coloco o celular no
ouvido.
— Quem me incomoda? — questiono, realmente incomodada.
— Michaela? — A voz masculina na linha me parece familiar. —
Meu Deus, Michaela, desculpa estar incomodando, mas é o Oliver. Oliver
Olsen, melhor amigo do Alexander, do Call Emergency, acho que você se
lembra de mim. — Ele ri, e meu rosto fica completamente vermelho de
vergonha por causa da minha vergonha descabida. É claro que tinha que ser
eu a soltar uma dessas. — Eu e a Dakota trocamos nossos números e hoje
eu pedi que ela me passasse o seu. Desculpa ter ficado insistindo, a sua
amiga disse que isso provavelmente aconteceria por ser número novo e que
era para eu ficar insistindo até você aceitar. Pensei que não fosse me
atender, mas que bom que deu tudo certo, estava mesmo precisando te pedir
um favor. Porém, novamente, desculpa a insistência.
— Oliver... — Seu nome por minha boca sai de forma extremamente
envergonhada, e eu até ponho a mão na cabeça enquanto a balanço de um
lado para o outro, sem acreditar em mais um azar da minha parte. Podia ser
todo mundo me ligando, mas tinha que ser justamente ele quando eu decido
ser grossa? — Meu Deus, e, desculpa digo eu. Que vergonha. Sério, me
perdoe por ter atendido daquela forma, eu jamais falaria daquele jeito se
soubesse que era você. Achei que algum hater tinha descoberto meu
número e já estava pronto para fazer da minha vida um inferno.
— Não se preocupe, não é hater, é fã mesmo. — Sorrio ao assentir,
embora ele não esteja nem podendo me ver. — Desculpa mesmo entrar em
contato com você dessa forma, mas é que eu pedi para Alexander lhe dar
um recado e como eu duvido muito que ele faça isso, seja lá qual for os
motivos daquele cara, eu mesmo decidi fazer por minha conta.
— Sério? Que convite? — Fico genuinamente curiosa.
— A Iris te contou sobre a Natasha?
— A mãe dela? — pergunto.
— Isso, a mãe dela — responde, rápido. — Natasha é uma grande fã
sua, aposto que a minha pequena deve ter contado, ela conta isso para Deus
e o mundo.
— E não é que aquela sapequinha contou mesmo? — brinco.
— Eu sabia! — Mesmo não podendo ver Oliver nesse momento, ele
soa extremamente orgulhoso por sua filha, e com razão, a garotinha
cacheada é uma criança linda, adorável e esperta demais para a idade. — A
Iris é uma figura mesmo. Mas enfim, como eu estava dizendo, Natasha é
muito sua fã, e hoje ela está fazendo aniversário. Eu e a Iris estamos juntos
fazendo uma festinha surpresa para ela, vai ser na minha casa mesmo, e a
gente pensou que seria superlegal te convidar. Se você aceitasse, seria mais
um dos nossos presentes. Natasha com certeza ia amar. Não sei se vai fazer
alguma coisa hoje ou se seria muito incômodo, mas, por ela, pela minha
melhor amiga, acho que valeria a pena a tentativa. Desculpa se estou sendo
inconveniente mais uma vez.
— Não acredito que está me falando algo assim — lhe dou uma
bronca, com o tom de voz fingidamente bravo. — Jamais seria um
incômodo, jamais seria um problema. Sendo bem sincera, estou me
sentindo muito honrada e muito emocionada. Não esperava pelo convite.
Pode ter certeza que estou muito feliz — digo, sendo bem sincera. — E
olha que perfeito, acabei de realizar todos os meus compromissos e minha
agenda está liberada. Estou completamente livre para comparecer na
surpresa. O que eu levo?
— Nada, pelo amor de Deus. Não queremos que você traga nada. Só
sua presença já será de bom tamanho.
— Não — soo firme. — Nada disso. Festa é festa e a gente precisa
levar presentes. Vou levar e ponto final. Tanto para Natasha quanto para a
Iris. Se achar ruim ou falar qualquer coisa agora, eu não vou. Essa é a
minha principal e única condição.
— Nossa, bem que Alexander diz que você é extremamente difícil.
— Noto seu quê de zombaria e não tenho como não dar risada junto com
Oliver. — Mas eu estou falando mesmo sério, Michaela. Não precisa se
incomodar. Sua presença já será de muita importância e eu estou aqui de
antemão para te agradecer mais uma vez por sua solidariedade. Fez a Iris
feliz e agora fará a Natasha, eu realmente não tenho nem palavras.
— Eu que agradeço por Alexander e você terem me apresentado fãs
tão apaixonadas. — Me viro para o vidro no carro, ainda com o celular na
orelha, e observo Beverly Hills passar diante dos meus olhos. — A Iris
mesmo, nem se fala. Me apaixonei e já estou doida para encontrá-la uma
outra vez.
— Ela só sabe falar de você o tempo todo — menciona, e o meu
coração se enche de amor. — É Michaela para lá, Michaela para cá. Vai te
alugar muito hoje, você se prepare. Não sairá do seu pé por nada.
— E espero que não saia mesmo — respondo com convicção. —
Quero conversar com as duas a noite inteira. Por que vai ser à noite mesmo,
certo?
— Certo — ele confirma. — E vai ser na minha casa. Um pouco
depois das 19h. Cedo assim porque a Iris tem o costume de dormir nesse
horário mesmo.
— Não há problema, eu estarei lá — garanto.
— Sabe... — Oliver suspira do outro lado da linha. — Eu convidei
Dakota, disse que seria uma festa surpresa para Natasha, uma festa íntima,
só para amigos, mas ela me deu uma desculpa, disse que tinha programado
uma ida ao shopping com a sua mãe naquele horário e que não sabia a hora
que poderia estar livre. Em minha concepção, acho que ela ficou receosa
por causa da mãe da minha filha. Será que eu estaria abusando demais se
pedisse, por favor, para você explicar a sua amiga que eu e a Natasha não
temos absolutamente nada um com o outro? Somos melhores amigos,
somos família, ela é solteiríssima e eu também. Não teria problema algum
se ela decidisse comparecer.
Uma interrogação paira acima da minha cabeça assim que um V bem
formado se fixa em minha testa.
— Agora que você falou, me lembrou bem de perguntar. — Cruzo as
pernas à medida em que me encosto mais no banco do carro. — O que está
rolando entre você e a Dakota?
Como a minha melhor amiga não conseguiu perguntar nada de
Alexander para mim naquele dia, eu também não quis pagar de chata
hipócrita a perguntando por algo que se ela não falou é porque não se sentia
à vontade para compartilhar. Por isso, fiquei na minha, calada, e na festa
mesmo já comecei a observar as movimentações.
Eles ficaram conversando muito, rindo de forma alternada enquanto
um esperava o outro terminar de falar, e agora com o próprio Oliver me
contando que pegou seu número, que conversaram e que estava hoje mesmo
a mandando mensagem para convidá-la para uma festa em sua casa, fico
confusa e cheia de suspeitas, porque os dois são mesmo bem iguais. São
divertidos, engraçados, pegadores, falam o que pensam e fazem o que
querem.
Eles parecem ter criado uma conexão imediata, e eu não tenho muita
certeza até onde ela foi.
— Nada do que está pensando. — Há uma movimentação atípica na
chamada quando resolve responder e acredito que esteja se locomovendo.
— Estou deixando isso claro da Natasha porque acho que ela pode ter
interpretado de outra forma e não querer ir por achar que a mãe da minha
filha vai se incomodar ou sentir ciúmes. Não é verdade. Somos, de fato, só
amigos, e não quero que Dakota pense outra coisa ou até mesmo deixe de
comparecer porque está criando caso onde não tem. Posso apostar que as
duas vão se adorar.
Sei.
Sua preocupação me parece bem suspeita, acho que ele deve estar
querendo pegar a Dakota.
Bem, tudo bem, eu é que não vou me meter, só vou ficar de olho
para ver no que essa história vai dar.
— Vou avisá-la, eu prometo — informo para não deixá-lo mais
preocupado. — Será que agora você poderia me enviar a localização da sua
casa?
— Nem pensar, Alexander vai buscar você.
— Como, se ele nem quis me passar esse convite?
— Não interessa. — Visualizo, na minha mente, ele dando de
ombros. — Vou falar para ele ir buscar você e não quero nem saber, aquele
crápula vai ter que me obedecer.
— E você ainda diz que eu sou complicada — bufo de brincadeira.
— Complicado é seu melhor amigo, que ninguém entende o humor dele. É
sempre uma incógnita saber se vamos encontrá-lo bem ou encontrá-lo mal.
Como você consegue ter paciência?
— Só Deus sabe — Oliver responde, com graça. — Nós estudamos
juntos, nos conhecemos por anos, quase que uma vida, e, dentre esse tempo,
devo ter me acostumado. Mas não me pergunte como, porque ainda é um
mistério para mim.
Nós dois rimos ao mesmo tempo.
— Olha, sinceramente, você deveria ganhar um prêmio.
— Você também, dona Michaela, porque o jeito que Alexander é
possessivo com você, ele não é com ninguém.
— Ele não é possessivo comigo. — Mordo o interior da bochecha.
— Ah, é sim, e eu percebi lá na festa. No momento em que viu
aqueles garotos chegarem em você na pista de dança, saiu parecendo um
furacão, totalmente transtornado, de um jeito que eu nunca vi antes. — Ah,
que beleza, é só eu escutar isso que o meu coração martela no meio do meu
peito. — Alexander é um cara intenso, e você também. Não sei muito bem
o que tá rolando, mas só queria deixar claro que estou com meus olhos bem
abertos. Vocês não me enganam.
— O quê? Nossa, não estou te ouvindo, Oliver. A ligação está
ficando ruim — minto, e é só brincando, porque sei que ele sabe.
— Claro, claro, claro — zomba. — Mas não vou ser mais malvado,
não falarei mais nada e te deixarei em paz, não quero mesmo te incomodar
ou te irritar. Te vejo hoje à noite, certo? Estamos mesmo combinados?
— Estamos mesmo combinados, Oliver Olsen.
— Obrigado, Michaela McKenna. — Sorrio e me encontro
desacreditada, pois diferente do amigo, ele é um poço de educação, aquele
tipo de homem que sabe muito bem o que dizer para impressionar. Tinha
percebido isso antes, mas agora, em que a minha teoria se confirma mais
uma vez, não consigo não ficar chocada com a clara diferença entre os dois.
Por que fiquei obcecada justamente pelo que é um ogro chato? — Você fará
a noite de todos ser inesquecível. E não crie desculpas, venha com
Alexander porque, como eu disse, não vou te passar localização alguma.
Tchauzinho.
E desliga na minha cara.
Fico encarando o celular de boca aberta.
Se está tão empenhado em me ver chegar ao lado do meu
empresário, é porque quer de todos os jeitos me jogar para ele. Sou esperta
como Oliver e sei bem o tipo de joguinho que está fazendo.
A sorte dele é que sou uma jogadora à altura.
— Rafe — chamo meu motorista, que também é um dos meus
seguranças. — Você pode, por favor, dar meia-volta? Vamos ao shopping.
Quero ir às compras.
— Você quem manda, Srta. McKenna.
Ele pisca para mim e volta sua atenção para o volante.
Sorrio, animada na compra dos presentes para mais tarde, e
desbloqueio meu celular de novo. Entro nas mensagens e aperto nas mais
recentes, os dedos deslizando pela tela com agilidade.
Eu: Olá, chefinho, como vai? Passando para te informar que mesmo
você querendo me afastar da sua vida pessoal, seus amigos já me adoram e
me querem junto deles no grande evento de hoje. Venha me buscar quando
estiver indo para lá. Não é um pedido, é uma ordem da sua estrelinha e
pimentinha favorita.
Cerca de um minuto depois, Alexander me envia uma mensagem de
volta.
É só o emoji de um diabinho, que é claramente direcionado à minha
pessoa.
Rio, porque me lembro dele me dizendo que eu sou o inferno na vida
dele.
É o bastante para eu saber que Russell vai vir me buscar.

— Você tem certeza de que não vai? — pergunto à Dakota ao


telefone, pelo que eu acho ser a décima vez desde que decidi discar seu
número.
— Tenho, amiga. — E essa é sempre a mesma resposta que me dá.
— Por mais que você e Oliver achem que não, eu realmente marquei de
sair, tenho um compromisso e não posso faltar. Mas aquilo que ele acha de
Natasha é verdade, eu não me sentiria confortável. Eu quero pegar o pai da
filha dela, como ela lidaria com isso?
— Ah, então você quer mesmo pegar o cara, sua safada.
— Ao contrário de você, eu não minto. — Franzo uma careta
sozinha diante da sua indireta bem direta. — Acho que ele quer me pegar
também, o que eu acho ótimo, mas agora um convite já assim de cara para
conhecer a mãe de Iris? Não, obrigada, eu passo. Totalmente constrangedor.
— Oliver disse que eles são melhores amigos — comento. — E um
dia desses, Alexander me disse que eles só foram um caso de uma noite, e
ela acabou engravidando da menina. Parece que Natasha e Oliver até
tentaram viver uma vida de casal, mas não deram certo, eles só
combinavam como amigos e é dessa forma que permanecem sendo até hoje.
Você não tem com o que se preocupar.
— Eu sei, mas é que... sei lá, é estranho.
— Ele queria que você fosse.
— Talvez em outra oportunidade.
— Tem certeza mesmo?
— Tenho, amiga, agora não vai dar, e não é nada contra a Natasha,
eu juro.
— Sim, eu sei que não quer causar nenhuma situação chata, mas
Oliver garantiu que não iria, você sabe, né? — Olho para os portões da
mansão sendo abertos e observo o carro de Alexander se aproximar,
iluminando a noite com os seus faróis. — Amiga, vou ter que desligar,
Alexander acabou de chegar para me dar uma carona. Prometo que te
mantenho informada de cada detalhe.
— Tá bom, amiga. Te amo. Divirta-se. Beijos — soa apressada, e eu
estico meus lábios num sorriso.
— Beijos...
Nem sei se chega a me escutar, porque encerra a ligação bem rápido.
E o tempo que a Lamborghini leva para se aproximar do lugar onde
estou, no último degrau, é o tempo que guardo meu celular, abaixo a minha
saia de couro, aprumo os meus ombros e equilibro melhor as sacolas dos
presentes que comprei mais cedo no shopping.
— Entra — é tudo o que diz quando estaciona e põe a cara para fora
da janela, com seus olhos me medindo de cima a baixo.
— Boa noite, seu grosso. — Empino o queixo, ando até lá e quando
abro a porta da frente, ao seu lado, ele já vai tomando de mim as minhas
sacolas para colocá-las nos bancos do fundo. Resmungo sozinha, mesmo
sabendo que fez por gentileza, e ponho o cinto. — Achei que fosse me
deixar plantada esperando.
Sua atenção se volta para a frente à medida em que coloca a mão no
volante e o aperta.
— Você foi bem clara na mensagem — diz. — Eu não tinha como
não vir te buscar, você mesma disse.
— Sim, o problema é que você me mandou um horário e atrasou.
— Cinco minutos, Michaela. — Me encara, e eu não sei dizer se já
está sem paciência ou se está se sentindo envergonhado por estar na minha
frente depois do que fizemos nos fundos do Call Emergency. — Foram só
cinco minutos. Eu não consigo controlar o tempo, não tenho esse poder,
imprevistos acontecem.
— Ei, calma. — Em um ato impensado, ponho a minha mão em uma
das suas coxas, e, no mesmo instante, Alex já se retesa todo. — Foi só uma
brincadeira — continuo. — Você não precisa segurar a respiração desse
jeito, não precisa ficar tão tenso. — Minha mão o aperta, e ele chia, o peito
inflado. — Mas sabe de uma coisa, Sr. Russell? Eu sou ótima em fazer o
senhor relaxar — dou ênfase na palavra só para perturbá-lo. — Quer que eu
use aquela técnica novamente, com você dirigindo?
Um ar pesado escapa da sua boca quando decide afastar minha mão
dali.
— Era justamente por isso que eu não queria ter que ficar a sós com
você — resmunga, arrancando com o carro para fora da minha mansão, e
acho que fica com um certo medo de que meus pais ou os nossos
funcionários vejam certas conversas e movimentações estranhas aqui
dentro. — Maldito Oliver. Ele estava achando que eu não queria te
convidar, então decidiu falar com você por si só. Não tinha nada a ver.
Porra, não tinha nada a ver. O que eu não queria era ter você aqui agora,
nessas condições.
Mordo um sorriso.
— Isso é você com medo de mim, chefinho?
— Claro! — Sua voz reverbera, gutural, e eu adoro ver que já está
vermelho, totalmente afetado por mim, e olha que eu nem fiz nada ainda. —
Você sempre está me enlouquecendo, Michaela, e agora não seria diferente.
Do jeito que sei como é, não ia deixar o que aconteceu passar batido, ia
continuar me provocando. Mal entrou dentro da porra desse carro e é
exatamente o que já está fazendo.
— Só por que eu toquei na sua coxa? — Reviro os olhos
dramaticamente. — Nossa, Sr. Russell, o senhor está ficando precoce
demais, sem aguentar um mísero toque meu.
— Me chame de senhor de novo e vou te mostrar o que esse senhor é
capaz de fazer.
— O quê, brochar? Tomar uns comprimidinhos para ficar animado e
ver se aguenta a novinha aqui?
Ele ri, aquela sua típica risada gélida, e como não me olha dessa vez,
o rosto virado para a rua, só tenho o belo vislumbre do seu maxilar ficando
proeminente à medida em que rilha os dentes.
— Comprimidos? — debocha. — Na minha goela eu não vou enfiar
nada, agora já na sua...
— Já enfiou — relembro, com cada sílaba gotejando veneno. — Mas
se quiser fazer de novo, eu estou disposta.
— Você não presta.
— Claro que presto, e presto tanto que vou te falar a verdade agora,
você não precisa de comprimidos, você precisa de chá.
Suas sobrancelhas se unem quando vira sobre os ombros.
— Chá?
— Sim.
— De que tipo de chá você está falando?
— Do chá da minha boceta.
Arfa quando me ouve.
— Porra, Michaela, ou você para agora ou eu não vou fazer a gente
chegar lá e Natasha não vai ter surpresa alguma.
Pressiono os lábios e levanto as mãos em rendição.
— Não está mais aqui quem falou. — Me inclino e, sem pedir
permissão, aumento o volume do som. — Assim está perfeito, tudo fica
bem melhor com música.
Me encosto mais confortavelmente no banco, cruzo as pernas e
continuo o encarando. Dessa vez, para a minha completa surpresa,
Alexander sorri. Sorri de verdade. Totalmente genuíno, os dentes brancos e
alinhados aparecendo todos de uma vez.
Cacete, esse homem é lindo, mas ele sorrindo é simplesmente a
oitava maravilha do mundo.
— Agora você falou algo que eu concordo. — Alex lambe os lábios,
e meus olhos brilham enquanto contemplam seu sorriso, que permanece em
seu rosto e não faz questão de sumir. — Tudo fica bem melhor com música.
Música é vida. Bem, sei que é meio ridículo falar isso justamente para uma
cantora, mas é a mais pura verdade, não é? Essa é uma das artes mais lindas
que existe.
É a minha vez de sorrir, porque, passado a hora da brincadeira, esse
aqui é um momento e um assunto que me deixam totalmente leve. Falar de
música é como se fosse falar de mim. Nós duas somos uma só, e é há
muitos anos que é assim.
Alexander parece tão apaixonado pelo que faz quanto eu. Acho que é
uma das coisas que mais nos conecta também, porque a música está
presente em nossas vidas desde o dia em que a gente se conheceu. Primeiro
na festa, depois pela forma que ele chegou até mim, sendo o meu
empresário. Foi tudo, de fato, uma grande obra do destino.
— Sim, cantar e compor são o que eu mais amo no mundo. — Cruzo
os braços e olho para as ruas que passamos com um ar sonhador só por estar
com Alexander tocando num assunto que me faz tão bem. — Eu achava que
nunca seria capaz de chegar onde cheguei, ainda hoje penso que é um sonho
e que vou acordar a qualquer instante, porque sempre, sempre idealizei
trabalhar nos palcos. Sempre desejei ter fãs, cantar em estádios lotados,
fazer meu nome, viver disso. De todas as formas possíveis. De corpo, alma
e coração. E, cara, não é um sonho que eu seja tão amada? Não é um sonho
que eu esteja agora mesmo a caminho de fazer uma surpresa para uma
mulher que admira o meu trabalho?
Viro minha cabeça em sua direção, sorridente, e Alexander já estava
de olho em mim muito antes.
— É um sonho mesmo — admite. — Muitas gostariam de ser você,
de ser a Michaela McKenna, a garota que ama lilás/roxo e é a nova
queridinha da América.
Rio.
— É verdade, eu tenho total noção disso. E me sinto muito
abençoada.
— Por que você não me conta do seu começo? Quer dizer, o
caminho é longo, por que não me conta toda a sua trajetória até chegar
aqui?
Estreito os olhos.
— Achei que soubesse tudo sobre mim — aponto.
Sorri e dá de ombros.
— Eu sei tudo sobre você, e não é brincadeira ou exagero da minha
parte.
— Então não preciso te contar nada.
— Claro que precisa, eu necessito ouvir da sua boca, e quero
detalhes novos que mídia alguma conseguiu escrever — ordena, e meu
maldito coração não para quieto dentro de sua caixa torácica. — Quero que
me diga tudo, que não me esconda nada.
Tombo a cabeça para o lado, e puxa, esse seu lado é perfeito. Posso
ficar no carro por horas a fio se continuar assim.
— Mas por que o interesse? — não deixo de querer saber.
— Porque... porque sim. Porque quero ouvir suas histórias. Porque
quero ouvir a sua voz durante todo o caminho. Porque quero te manter
entretida com assuntos sérios para que não desvirtue sua atenção para
aquilo que não deve, se é que me entende.
Brincando.
Alexander está brincando comigo, e mesmo com o que falou para
mim assim que entrei em sua Lamborghini, está me mostrando que não
temos mais problemas um com o outro. Agora, diferente de antes,
conseguimos dosar muito bem todas as provocações e conversas. Agora, de
um jeito completamente caótico, nós nos entendemos e falamos a mesma
língua, porque sabemos muito bem o que queremos um do outro, embora
ele ainda não esteja pronto para saciar todas as suas vontades.
Eu sei que é só questão de tempo, no entanto.
— Tudo bem. — Respiro fundo e me sinto preparada para falar
sobre tudo. — Como você sabe, eu sou filha única, não nasci rica e, por
causa disso, morei a vida toda em um bairro simples e esquecido daqui de
Los Angeles. Meus pais não cantavam, ninguém da minha família tinha o
dom da música, porém eu lembro que ainda muito pequena, minha mãe me
levava para a casa da nossa vizinha, uma senhora de quase oitenta anos, e
tanto ela quanto os seus netos cantavam o dia inteiro. A gente fazia a maior
festa quando nos juntávamos. Até que um dia aquela mesma senhora me
disse que eu levava jeito. E eu amava. Amava ela, amava a nossa bagunça,
as músicas que cantávamos.
— E onde está essa senhora agora?
— Ela faleceu há muito tempo, e a vida passou, todo mundo cresceu,
cada um foi para um canto, perdemos o contato. — Encaro meus dedos
entrelaçados sobre a saia, um sorriso triste desabrochando em meus lábios.
— Mas é engraçado porque eu nunca deixei de cantar, e sempre estava
consumindo artistas que marcaram a minha infância. Aos oito, minha mãe
me colocou na aula de canto e eu passei a integrar a banda da escola.
Aprendi a tocar instrumentos, fui me aperfeiçoando, aumentando a minha
paixão, os meus sonhos e aí, aos dez, tive minha primeira desilusão
amorosa.
— Aos dez? — Alexander quase grita, e me fita embasbacado
quando seu carro para no sinal.
— Shhhhhi — peço por silêncio com o dedo pressionando a boca. —
Não atrapalhe a minha história, porque são fatos novos e que nunca contei à
mídia.
— Tudo bem, namoradeira, vá em frente.
— Obrigada. — Jogo o cabelo para trás, fingindo que sou
convencida. — Porque essa desilusão foi por um garotinho da minha sala.
Nós éramos amigos, e eu fiquei meio que apaixonadinha por ele, então,
quando fui me declarar, ele disse que não podia fazer nada porque não
gostava de mim, gostava de uma menina mais velha de outra sala. Fiquei
arrasada, quando cheguei em casa, entrei no meu quarto e comecei a chorar.
Foram tantos sentimentos dentro de mim que quando percebi, estava
pegando um papel e uma caneta para compor a minha primeira música.
Óbvio, ela não saiu muito boa, não tinha experiência, mas para uma menina
de dez anos, na época, eu havia arrebentado. E naquele instante eu soube
que para cada coisa que acontecesse na minha vida, eu escreveria uma
música. Desabafaria sempre daquela forma, e até hoje guardo esse
caderninho com minhas primeiras composições.
Quando paro, fecho a cara, porque Alexander está rindo.
— Qual é a graça, posso saber?
— Não, nada, é que você sempre foi muito intensa, mas não pare,
estamos chegando no nosso destino e eu preciso saber de mais.
Se está gostando tanto, me sinto mais motivada para continuar, agora
sendo a minha vez de querer desesperadamente que ele saiba tudo sobre
mim. Tudo.
— Bem, eu continuei com as aulas, continuei compondo, continuei
tendo desilusões amorosas, cresci e encontrei no Youtube uma forma de
tentar me divulgar. Sei lá, eu achava que o que tinha acontecido com o
Justin Bieber podia acontecer comigo, um empresário ver meu vídeo,
gostar, entrar em contato comigo e eu estourar. Não foi exatamente assim,
mas foi quase. Alguns vídeos viralizaram, meus pais conseguiram a
gravadora e o resto é história. Certeza que você sabe de cor.
— Sim, eu sei. — Meu corpo dá um solavanco quando põe o pé no
acelerador. — A melhor parte aconteceu, eu cheguei na sua vida para
colocar ordem.
— Até parece, Sr. Russell. Você bem sabe que não anda podendo
comigo.
— Ninguém pode. Você é uma força da natureza, Michaela
McKenna.
— Ainda bem que sabe disso.
— É, é, eu sei. Pode continuar.
— Mas eu já acabei.
— Não, me fale mais coisas. Tipo, qual o seu filme favorito?
Meu filme favorito? Sério?
Quando foi a última vez que um cara me perguntou algo assim?
Fico boquiaberta, porém tento seguir como se fosse a coisa mais
normal do mundo.
— Meu filme favorito é High School Musical. Não sei escolher qual
dos três.
A cara de estranhamento de Alexander é impagável.
— Você ama música, mas detesta cinema, pelo visto.
— Ei! — soo ofendida. — High School Musical é cinema!
— Dos horrores, só se for.
— Não fala assim, o Troy e a Gabriella são perfeitos.
— Quem?
Aperto a ponta do nariz e balanço a cabeça, inconformada.
— O Zack Efron e a Vanessa Hudgens, vai dizer que não conhece?
— Ah, sendo assim, sim, mas é uma coisa meio infantil, não acha?
Seguro a vontade de revirar os olhos.
— Vai, Dr. Asilo, qual o seu filme favorito, então? E o Vento Levou?
— Aí também não. — Arranco uma risada dele. — É O Poderoso
Chefão.
— Nossa, melhorou muito, bem mais atual — ironizo.
Meu empresário me empurra, ainda rindo, mas não deixa de
continuar perguntando minhas coisas favoritas.
E ele segue assim até estacionarmos na frente da casa de Oliver.
“Eu continuo segurando firme
Porque seu corpo está me dizendo: Não me deixe ir
Nós estamos começando a criar problemas
Eu sei, eu sei, eu sei
Isto está trazendo meus demônios para fora
Mais do que nunca agora
Sua beleza poderia iniciar uma guerra
Assim que você entra pela porta”
WOLVIES — ONE DIRECTION

Michaela parece deslumbrada quando, após sairmos da Lamborghini,


alcançamos a entrada e ela vê de perto a fachada da casa de Oliver. A garota
tomba a cabeça para trás, entreabre os lábios e um pequeno “uau”
impressionado lhe escapa.
Quando ela olha para mim, com seus olhos castanhos arregalados, eu
disfarço para que não me veja sorrindo e achando graça da sua reação fofa e
espontânea.
A popstar é rica, milionária, sua mansão muito provavelmente dá
duas da de Oliver e mesmo assim ela parece estar diante da coisa mais
deslumbrante que já presenciou na vida. E tudo bem, a casa do meu melhor
amigo é mesmo muito bonita e moderna, toda preta, de vidro, e com um
jardim bem bonito e bem cuidado, as flores coloridas ao redor dando o
charme e o toque necessário que faltava, entretanto, ainda assim, me admiro
em vê-la se sair tão gentil e tão humilde desde que colocou as suas botas de
salto alto aqui, como se nunca tivesse sequer visto algo igual.
— Caramba, Alex, que arquitetura mais linda.
Eu assinto com um acenar comedido de cabeça, mas o que estou
mesmo focado agora é na maneira que o Alex naturalmente sai por entre
seus lábios.
Meu apelido, apelido esse que só os íntimos me chamam,
escorregando daquela boca gostosa como se fosse a coisa mais natural do
mundo. Parece a porra do paraíso, e eu não posso nem colocar para gravar,
o que é uma merda do cacete. Queria acordar todos os dias com esse som.
Queria acordar todos os dias com a boca dela no meu pau.
É, foda-se, estou admitindo essa merda. Queria que Michaela me
chupasse de manhã, de tarde e de noite. Queria que me fizesse gozar
daquele jeito por um ano inteiro, porque caralho, que boquete foi aquele?
Eu ainda estou meio perdido e sem rumo desde que aconteceu, e olha que
desde garoto já recebi uma infinidade de boquetes, não é como se eu fosse
inexperiente e só tivesse provado o dela.
Me odiei muito por ter deixado aquilo acontecer? Com certeza, mas
eu já estava no inferno desde que essa garota apareceu, e eu queria muito
queimar com ela. Ainda quero. Quero o tempo todo. E sei que é errado, sei
que é absurdamente errado, estou fazendo de tudo para me manter longe e
para não cair nas suas provocações, porque é só ela me olhar com aqueles
olhos pidões que sei que serei fraco.
Eu não tenho autocontrole nenhum quando se trata dessa pimentinha,
que me lambeu na porra de um beco só porque estava me vendo naquela
situação tenebrosa por causa daquele merdinha do seu ex-namorado. Não
teve medo, não teve vergonha, não teve nada, ela simplesmente se abaixou,
ralou os joelhos no chão e me mamou.
Ela me mamou.
A garota de 21 anos que eu deveria tomar conta, que eu deveria
administrar a carreira, que eu deveria evitar que se envolvesse em mais
polêmicas. Cacete, a filha de Conrad e Antonella. A menininha deles. A
superstar do mundo, que todo mundo ama.
Eu fiz isso com ela.
Ela fez isso comigo.
Nós dois estamos em completo pecado, e eu sei que ela quer pecar
mais, eu sei que ela quer arrancar tudo de mim. Ela quer me destruir. Quer
arrumar a maior polêmica de sua vida, e eu, sabendo disso, deveria estar
fugindo para as montanhas, para as colinas, deveria estar em qualquer outro
lugar, menos aqui, divagando com ela bem na minha frente e com o meu
pau já prestes a inchar na calça por causa das lembranças e da minha
esmagadora vontade de fodê-la com tanta força que vai chorar, se
arrependendo por ter brincado com fogo, por ter implorado por uma coisa
que sabia que não ia aguentar.
Sério, desde a festa, estou como um maldito animal em completa
urgência. Mas é por ela. Não quero outra. Não estou nem aí para Sabrina ou
quem quer que seja. Eu quero Michaela.
E essa filha da mãe me quer.
Por que tem que ser tão insistente?
Por que tem que ser tão safada?
Por que tem que ser tão bonita, tão talentosa, tão inovadora, tão...
cheia de luz, sendo que eu achava, até pouco tempo, justamente o contrário?
Como e quando foi que tudo mudou? Como deixei chegar nessa
situação?
E por que meu coração bate tão rápido em sua presença?
— Alexander! — Pestanejo de susto quando Michaela bate o pé no
chão para me trazer de volta à realidade. — No que está pensando? Você
nem mesmo está me ouvindo.
Limpo a garganta.
Nem fodendo que vou deixá-la saber o que se passa na minha cabeça
perversa do cacete.
— Desculpe, viajei por um segundo. — Na verdade, eu estava
pensando no meu pau na sua boceta, porém acho melhor você não descobrir
algo assim dessa forma. Limpo novamente a garganta. — O que foi que
disse mesmo?
— Que eu amei a casa, que ela é linda. E perguntei se a gente já
podia entrar, porque, como é surpresa, estou com medo da Natasha chegar e
me ver aqui na frente, quando agora não é o momento de me revelar.
— Sim, tem razão, é melhor entrarmos.
— Eu vou precisar me esconder dela, não vou? Ia ser tão legal se
vocês gritassem surpresa primeiro e depois eu aparecesse gritando surpresa
sozinha. Natasha ia ficar muito feliz, não ia?
Quando Michaela fala assim, uma coisa por cima da outra, já sei que
está nervosa, então acabo com a nossa distância e coloco uma mecha do seu
cabelo para trás da sua orelha, afinal, o vento aqui fora fica sempre tentando
atrapalhar sua visão.
— A Natasha gosta muito das suas músicas, não precisa ficar
preocupada se ela vai gostar ou não de você, porque é óbvio que vai —
garanto, descendo minha mão pelo seu rosto, o dedão escovando a sua
maçã. Diante do carinho, Michaela engole em seco, porém nem se afasta,
nem desvia sua atenção de mim. — Iris te amou, e vai acontecer o mesmo
com a mãe dela. Como pode ser sempre assim se o mundo inteiro te ama,
menina?
Ela nega com a cabeça.
— Não, o mundo inteiro não me ama, eu tenho haters, assim como
qualquer artista.
— Deixe de bobagem. — Prendo seu queixo com meus dedos em
formato de pinça. — Você sempre se mostra ser a pessoa mais confiante que
existe, e aí, nessas horas, fica com medo. Por quê? — Dá de ombros para
fingir indiferença, e quando tenta desviar o olhar, com os dedos mesmo em
seu queixo, levanto a sua cabeça e a faço ficar com as íris nas minhas. —
Não me diga que se acha pouca coisa, Michaela McKenna. Não me diga
que não se vê do jeito que você se vende ao público.
— Não, eu realmente sou confiante, realmente me amo, mas sempre
acho que mesmo que eu tente muito, não vou conseguir mostrar aos outros
como eu mesma me vejo. Sei lá, é estranho. Quando você tem muitos
relacionamentos que acabam não dando certo, você acaba se questionando
se o problema não é em você. E eu sei o que vai falar, sei que todos que me
envolvi são uns babacas, mas eles nunca se apaixonaram por mim. Sou
humana, não tenho como não ficar me perguntando o porquê. — Como se
percebesse o que está fazendo, balança a cabeça e afasta a minha mão do
seu rosto. — Desculpe, eu não deveria estar falando essas coisas para você.
Não tem nem nada a ver com o momento, e não quero quebrar o clima com
as minhas idiotices.
Não deixo que se afaste, prendo a minha mão em sua cintura.
— Quem disse que é idiotice? — solto, já com raiva por vê-la se
reduzir assim. — E quem foi que disse que você não é apaixonante? Foda-
se aqueles garotos, Michaela. Foda-se eles. Nenhum, repito, nenhum,
saberia apreciar você. Nenhum saberia como te beijar, como te marcar,
como te tomar nos braços, como te amar de verdade. Eles não se
apaixonaram por você, e você muito menos por eles, porque não era o
momento. Nenhum seria o cara certo, e o problema está única e
exclusivamente neles. Porque você é perfeita. É chata? Com certeza. É
desobediente? Pra caralho. Infantil e mimada? Levemente, mas esse é o seu
jeito e não dá para mudar nada. Tem uma estrela enorme brilhando na sua
testa e é por isso que quando as pessoas param para te ver, elas te adoram
no mesmo instante. É muita luz, muito brilho, chega a incandescer.
Se antes parecia acanhada, agora dá um passo, com um pequeno
sorriso manhoso despontando em seus lábios.
— Isso significa que você deixou de me odiar e agora me adora, Sr.
Russell?
Malandra.
Essa garota é uma malandra, e nunca dá ponto sem nó. Sempre
encontra uma brechinha para me seduzir, para me manipular e para me
deixar completamente ensandecido por ela, fervilhando por dentro.
Sinto uma vontade enorme de beijá-la, de tomá-la aqui e agora, de
fazê-la minha sem nem pensar nas consequências, porque tudo o que eu
mais quero é poder me enterrar dentro dela, fazendo-a gritar por meu nome.
Eu acabo com toda a nossa distância, passeando o polegar pelos seus
lábios volumosos, e quase perco o pouco do autocontrole que estou
tentando ter quando a ouço gemer baixinho.
— Por que ao invés de falar você não me mostra? — Pressiono mais
o seu lábio inferior, e ela o entreabre para mim. — Por que você não para de
pensar no que é certo e no que é errado e age logo de uma vez? — me
instiga, meu coração se contorcendo por dentro. — Pare de pensar tanto no
seu trabalho e viva, Alexander. Faça o que tem vontade, não se reprima.
Minha risada sai rouca.
— Acha mesmo que posso fazer alguma coisa aqui? — Estalo a
língua no céu da boca depois de mais uma risada sem humor. — Acha que
vou conseguir me controlar? Acha que vou conseguir parar? Não se faça de
boba, pimentinha, eu mais do que ninguém sei que esse papel de ingênua
não combina nem um pouco com você.
— Eu...
Seja lá o que Michaela gostaria de falar, é interrompido quando nos
separamos bem rápido, pois ouvimos o barulho da porta sendo aberta.
— Nossa, olha só vocês — é Oliver, descendo os degraus para nos
encontrar. Eu coloco minhas mãos para trás, com medo que de alguma
forma meu amigo consiga perceber que elas estavam tocando Michaela
agora há pouco. — Iris estava lá dentro reclamando da demora, e como
Alexander tinha me mandado uma mensagem dizendo que estava a
caminho, vim conferir se já tinham chegado. Que grande coincidência.
— Sim, muita coincidência. — Ela ri de forma nervosa e troca um
olhar comigo, parecendo dizer: nossa, por pouco não nos pega aqui. Eu rio
da mesma forma para acompanhá-la e volto a fitar Olsen. — Já íamos
entrar, acredita? — Por ficar afobada demais e não conseguir demonstrar
calma, sorrindo, meu amigo olha para mim, e sei que ele não precisa ser um
gênio para entender que se demoramos é porque estávamos fazendo algo.
Nada do que você está imaginando, infelizmente, penso. — Natasha já
chegou? Eu trouxe presentes! — E ergue as sacolas de compras que fez no
shopping.
Para a minha felicidade, Oliver parece se importar muito mais com
isso agora, porque põe a mão na cabeça, sem acreditar que Michaela fez
isso mesmo.
— Alex, por que você admitiu que ela fizesse isso? — Aponta para o
meu próprio peito, sem entender sua bronca comigo. — Caramba, garota,
eu te falei que não precisava se incomodar e que só a sua presença bastava.
Mas veja só, você fez exatamente o oposto.
— Ah, claro, como se ela fosse te obedecer — bufo uma risada. —
Se ela não me obedece, quem é você na fila? — atiro para o meu amigo.
— Isso é verdade, eu só obedeço a mim mesma — ela brinca ao
chacoalhar os ombros para cima. — E eu não podia vir de mãos abanando
para um aniversário, seria falta de educação e eu posso ser tudo, menos
mal-educada.
— De verdade, Michaela, você já está fazendo muito — Olsen
agradece. — E me deixe segurá-las para você, me deixe ser o cavalheiro
que Alexander Russell não consegue ser.
Cavalheiro?
Não fode, eu posso ser isso e muito mais.
Ela está prestes a entregar as bolsas para ele quando eu a impeço.
— Me dá isso aqui. — Sei que fico de cara feia quando as arranco
devagar das suas mãos, mas não estou nem aí. Estou pouco me importando
para a risada de Oliver também. — Você deveria parar de ser inconveniente.
— Franzo uma careta para ele. — Por que não vai cuidar da sua vida?
— Credo, cara, para que todo esse ciúme? Eu não estava me
oferecendo para pegar Michaela, estava me oferecendo para pegar as
bolsas.
— Foda-se, ela sabe que eu tenho mãos, posso muito bem fazer isso,
não precisamos da sua ajuda. Se quer tanto ser gentil, vá em frente e abra a
porta.
Oliver revira os olhos, mas gira nos calcanhares para fazer o que eu
peço.
Michaela se põe ao meu lado, só para sussurrar:
— Você não pode falar assim com o seu melhor amigo, Alex.
Semicerro os olhos em sua direção.
— Ele não precisa ficar te oferecendo coisas. Se quer algo, você
deve pedir a mim.
— De novo esse papo? — Ergue uma sobrancelha.
— É, de novo esse papo — confirmo. — Quantas vezes vou ter que
dizer que você trabalha comigo, não com ele? É minha. Minha
responsabilidade.
— Esse seu chilique não é sobre trabalho, e nós dois sabemos disso.
Até o próprio Oliver sabe.
Dou de ombros, porque não quero mais me estender no assunto ao
ponto de não perceber e acabar confirmando suas suspeitas.
— É melhor entrarmos logo, Natasha pode chegar a qualquer
momento.
Não responde, ela só sai andando, me deixando aqui atrás, segurando
os seus presentes.
Xingo baixinho e começo a andar depois que Michaela passa pela
porta, eu parecendo seu cachorrinho.
Era só o que me faltava.
Tenho uma reputação a zelar, trabalho com outras pessoas de peso, e
olha só o que estou fazendo por Michaela McKenna agora.
A que ponto cheguei? Me irritando até mesmo com o meu melhor
amigo. Só pode ser uma praga mesmo, algum tipo de penitência da vida
passada.
Resmungo e, ao passar pela porta e fechá-la, deixo as coisas no chão,
já podendo ouvir o barulho e a bagunça se formando no hall de entrada.
Óbvio, protagonizada por Iris e Michaela.
A popstar está no chão, agachada, sendo agarrada pelo pescoço pela
minha própria afilhada, que ainda não superou o fato de poder já ficar cara a
cara com ela, sua cantora favorita.
— Michaela McKenna está na casa do papai! — a pequena grita,
ainda a abraçando, e tanto ela quanto eu e Oliver rimos pela sua alegria de
sobra. — Michaela McKenna está na casa do papai! — repete, parecendo
mais animada quando a sua ficha cai. — Michaela McKenna vai conhecer a
mamãe! A mamãe vai conhecer a Michaela McKenna!
— Sim, sim, sim! — Michaela entra na sua animação e a beija na
bochecha. — Estou muito feliz por você ter me convidado, sabia?
— Siiiiiiiiiiim! — Agita as mãos no ar. — Eu que tive a ideia da
festa surpresa. Eu que tive a ideia de pedir para o tio Alex te chamar. E eu
que tive também algumas ideias para a decoração, porque fui sair com o
papai para comprar. Eu acho que a mamãe desconfiou um pouquinho, mas
não importa, a surpresa maior será quando ela ver você, Michaela.
— Estou bem animada para que isso aconteça, linda.
Com a janelinha aberta, ela sorri para qualquer um ver.
— Você quer ver o bolo que compramos?
— Claro que quero, mas primeiro eu tenho uma coisa para te dar.
— Tem? — Os olhos azuis de Iris brilham com a descoberta.
— Sim, é um presente. — Michaela sorri de volta.
— UM PRESENTE? — Olho para Oliver com o cenho franzido
assim que a sua filha grita, e ele faz o mesmo, como se tivesse sido
combinado. — Meu Deus, eu quero ver. Eu posso ver, né?
A cantora sobe e desce o queixo várias vezes ao confirmar, e vira
sobre os ombros para me ver, ainda agachada no chão para ficar à altura de
Iris Olsen.
— Alex, você pode me trazer aquela bolsa vermelha, por favor? —
Aponta com o dedo indicador para o local em que eu as deixei, e confirmo,
indo até lá para pegar e depois a entregar. — Obrigada.
Na hora que Michaela começa a desfazer o embrulho, sinto alguém
me cutucar nas pernas, e é a minha doce e falsa afilhada, que pelo visto, só
notou que eu existo agora.
— Titio!
Penso em reclamar, penso em lhe dar um pouco de gelo, mas perco
totalmente as estribeiras quando a vejo abrir os braços para pedir meu colo.
Morrendo de saudade, eu a pego e a encho de beijos.
— Sua sapequinha. — Faço cócegas em sua barriga, ela grita de
susto e se contorce. — Você não pode fazer isso com seu tio, mocinha. Se
me ver em qualquer lugar, mesmo diante de uma multidão, é comigo que
tem que falar primeiro. Quem é seu padrinho? Quem foi que trocou suas
fraldas? Quem foi que arrancou esse seu dentinho aqui porque seu pai é um
bunda mole e estava com medo? — Continuo com as cócegas, rindo ao
escutar sua gargalhada. — Pois é, eu. Seu tio Alex. O melhor de todos.
— Tudo bem, tio Alex, já falei com você e também acho que é o
melhor de todos, agora me coloca no chão que tenho que ficar com a
Michaela. Veja, ela está abrindo um presente para mim.
Balanço a cabeça enquanto arfo, e a coloco no chão, fazendo seus
gostos. Ela arruma a tiara na cabeça e sai saltitante para se deparar com o
presente da sua artista e agora melhor amiga, como faz questão de dizer pra
todo mundo.
Seus grandes olhos duplicam de tamanho conforme Michaela abre o
embrulho.
— Senhor, isso é um... iPad? — O queixo de Iris quase encontra o
chão.
O meu está a mesma coisa, assim como o de Oliver.
— Isso, um iPad. — Michaela sorri de orelha a orelha quando o
entrega. — Eu não sei se você tem um, mas resolvi trazer mesmo assim, é
de última geração. Para você poder ouvir as minhas músicas e ver os meus
videoclipes da melhor forma possível.
Iris segue sem acreditar.
Eu também.
Sei que ela tem dinheiro de sobra, ainda assim, eu esperava um urso
de pelúcia, uma boneca, alguma coisa de criança, de menor valor, e não um
aparelho eletrônico de última geração da Apple.
Se para Iris que é pequena foi isso, para a Natasha ela trouxe o quê,
um carro?
Oliver parece finalmente sair do transe, dando um passo à frente.
— Não, não podemos aceitar — ele diz.
— Ué, podemos sim, papai. — Ergue os olhos para o pai em
completa confusão. — Eu não tenho nem um iPad, nem um celular, uso o
seu ou o da mamãe quando quero fazer algo, e não é justo, eu já tenho seis
anos, não sou mais um bebê.
— Eu sei, filha, estava nos meus planos te dar um, mas...
— Nem mais, nem menos — Michaela o corta e se levanta. — Eu
faço questão de proporcionar esse momento para ela, comprei justamente
para deixá-la feliz e não aceito um não como resposta.
— Tá vendo, papai, ela não aceita um não. É melhor pararmos de
falar essa palavra logo de uma vez.
Sabida.
Muito sabida.
Todo mundo ri por causa disso, e quando meus olhos contemplam a
felicidade de Michaela, somado ao fato de ela ter feito isso para a minha
afilhada, não consigo não me sentir um filho da puta sortudo do cacete.
Tê-la na minha vida profissional já é uma grande conquista, mas tê-
la na minha vida pessoal, aqui com Oliver, com Iris, transformando mais
uma vez o dia da minha pequena, é muito mais do que eu poderia um dia ter
pedido.
É surreal, principalmente se pensarmos como foi nosso primeiro
encontro, em que não estávamos nem um pouco alinhados. O que ela
falava, eu entendia errado, e o que eu falava, ela entendia bem pior. Foi um
caos. Um completo desafio. E as peças parecem estar finalmente se
encaixando, cada coisa acontecendo como tem que acontecer.
Alexander, Alexander, o mundo realmente dá voltas, e nem sempre
demora.
Paro de pensar e presto atenção no meu amigo, que passa quase um
minuto sem saber o que fazer.
— Tudo bem — é o que diz em um suspiro, por fim, e antes que Iris
comece a se agitar de novo, ele continua: — Mas nem pense que você vai
usar isso desenfreadamente, mocinha. Não vai. Você terá tempo
cronometrado, e sempre será após as tarefas escolares, quando eu me
certificar que fez tudo certinho e se comportou.
— Ok, papai. — Ela balança a cabeça, meiga.
— Isso, tem que ouvir o seu pai — Michaela incentiva. — Tem que
usar moderadamente e sempre tem que priorizar as tarefas escolares.
— Eu vou.
— Você me promete? — A minha popstar ergue o mindinho no ar.
— Porque vou entrar direto em contato com o seu pai e com o seu tio, e se
eu souber que quebrou nossa promessa, vou ficar muuuuuito triste. Não vai
querer me ver triste, vai?
— Não, não quero ver, você é minha nova melhor amiga, não posso
te deixar triste. Vou me comportar, eu prometo.
As duas engancham seus dedos mindinhos e sorriem uma para a
outra.
— Estou confiando.
Michaela aperta as bochechas de Iris e a menina entrega o iPad para
o pai, que diz que vai guardá-lo em seu quarto, junto de suas coisas.
— Agora dê um abraço nela, filha. A agradeça.
Ele não precisa nem dizer duas vezes, a miniloira cai nos braços de
Michaela, e as duas se balançam de um lado para o outro.
Quando se separam, Iris já está novamente eufórica.
— Você vem comigo ver o bolo da mamãe? É roxo também.
— Sério? Eu quero ver agora mesmo.
As duas se dão as mãos e a pequena Olsen a conduz até a mesa do
bolo, que está toda decorada e é só agora que vejo.
O bolo é de dois andares, realmente roxo, e tem um monte de doces
decorativos ao redor. Também tem balões, faixas e o número 29 colado na
parede, a idade que Natasha está fazendo.
Quando ela entrar por aquela porta, inclusive, tem uma faixa de miss
escrita Birthday Girl a aguardando.
E depois de conferir cada detalhe, meus olhos se concentram em
Michaela e Iris, que conversam. Elas dão risada, brincam, pegam um
docinho como se ninguém estivesse vendo e, sinceramente, não sei quanto
tempo fico estagnado com a cena, mas é Oliver quem tira a minha
concentração quando decide surgir ao meu lado como a porra de um
fantasma.
— Quando você vai começar a assumir para mim que está, pela
primeira vez, pegando na surdina uma das suas estrelas?
Meus músculos se retesam, porque da maneira como ele fala, é como
se soubesse de tudo.
E em voz alta parece ainda pior do que é na minha mente.
— Certo, vou entender essa sua postura como quem não quer falar
do assunto agora, e por mim tudo bem, não estava esperando conversar na
festa de aniversário da Natasha, mas só queria que você soubesse que eu
sei. — Sua mão aperta meu ombro. — Parabéns, amigo. Finalmente sinto
que está pronto para viver de verdade, e estou aqui para te apoiar, não
importa o quão errado pareça. Afinal, é como dizem, proibido é mais
gostoso. E uma vez na sua vida você tem que parar de ser tão moralmente
certo. É chato.
Ele ri, e eu só sei revirar os olhos.
Vivendo de verdade.
Ainda não me sinto vivendo de verdade.
Ainda não fiz nem um terço do que sinto vontade.
No entanto, não consigo externar nada, pois um dos vizinhos de
Oliver liga para avisar que Natasha já está perto de bater na porta, e a gente
entra em desespero para se esconder.
Quando cada um fica na sua posição combinada, com Michaela se
escondendo melhor, não demora muito até que a campainha soe e o dono da
casa vá atender, só para disfarçar.
De onde estou, checo Michaela, e ela, sorrindo como uma garota
travessa, me mostra suas duas mãos em sinal de positivo. Faço o mesmo.
E o barulho que estava mais afastado, enfim se aproxima.
Os dois estão conversando, e quando ouvimos Natasha perguntar por
sua filha, se aproximando da mesa do bolo, eu cutuco Iris e nós dois saímos
de perto da parede, gritando:
— SURPRESAAAA! — Oliver também entra no coro.
Natasha Wheeler se sobressalta, assustada, e põe a mão na boca
quando finalmente percebe a sua festa pronta ao seu redor.
— Meu Deus, não acredito que vocês fizeram mesmo! — Encara o
bolo, a decoração e em seguida nos encara. Cada um de nós. — Eu estava
um pouco desconfiada por Iris querer ficar tanto com o pai hoje, mas sei lá,
não imaginava que fosse dar tempo de preparar tudo.
— Ingenuidade da sua parte, querida, eu sou rico, se esqueceu? —
Oliver bagunça o cabelo cacheado dela.
— E nós não podíamos não fazer uma festa surpresa para você,
mamãe.
— Ah, vem cá, minha garotinha linda. — Natasha pega Iris no colo e
a gira com ela. — Muito obrigada, eu amei. Amei tudo. Vocês são demais.
Imagina quando se deparar com o que está escondido bem aqui
perto.
— Não convidamos muitas pessoas, só foi algo para nós mesmo, foi
realmente em cima da hora e não daria para fazer nada muito grande —
Oliver se explica, com as mãos nos bolsos da sua calça. — Mas foi de
coração, dona Natasha. É para aproveitar.
— Obrigada, meus amores. — A garota se vira para mim. — E
Alexander, você está aqui. Que coisa incrível. Do jeito que vive ocupado,
me surpreende ter saído da toca.
— Há, há, há. — Forço uma careta. — Você continua tão chata como
sempre.
— Posso te dizer o mesmo.
Ficamos nos encarando por um tempo, fazendo careta, porém não
dura muito, eu me aproximo dela e a abraço, com Iris também participando.
— Parabéns, sua fedelha. — Bagunço seu cabelo também, e ela me
dá um tapa. — 29, hein? Está ficando velha. Um dia desses você tinha 22.
— Se eu estou velha, você e Oliver estão pré-históricos.
— Ei, me tire do bolo, eu não estou ofendendo ninguém — ele
reclama.
É engraçado, porque nos conhecemos há muito tempo, e quando,
mesmo sem querer, Natasha entrou na vida de Oliver, ela entrou na minha
também. No começo, eu não gostei muito dela, confesso, porque fiquei
receoso de que ela estivesse tentando enganar o meu melhor amigo. Fiquei
desconfiado por alguns meses desde que ficou grávida, no entanto, quando
Iris nasceu, logo nos seus dois primeiros meses de vida, eu já sabia que,
além de uma mãe incrível, também era uma pessoa incrível. Nos
aproximamos muito por causa disso, e de lá para cá, nos tornamos uma
família; eu, Oliver, Iris e ela.
— Certo, certo, parei. — Natasha põe Iris no chão e espia de novo a
mesa do bolo. — Por sorte, vim para cá sem comer nada e estou morrendo
de fome. É agora que cantamos os parabéns e comemos o bolo?
— Não! — Iris grita, atraindo o olhar da sua mãe, porém disfarça
quando percebe que ela fica desconfiada. — Eu acho que o Tio Alex precisa
te entregar um presente primeiro, mamãe.
— Sério?
Balanço a cabeça várias vezes.
— É só um instantinho, fica parada aí, Wheeler.
Giro nos calcanhares e vou até a pilastra onde Michaela está
escondida, e a cantora me encara com um sorriso divertido e nervoso nos
lábios. Eu a puxo e a coloco atrás de mim, e quando retorno, Natasha fica
tentando enxergar o que se mexe atrás de mim.
— SURPRESAAAA! — grito outra vez e Michaela McKenna se
revela.
— Feliz aniversário, Natasha! — ela soa animada, com os braços
abertos.
Iris pula de um lado, Oliver ri do outro, eu bato palmas e toda a cor
do rosto da aniversariante some.
— Puta que pariu! — Na mesma hora que percebe que xingou na
frente da sua filha, Natasha põe a mão na boca, mas não deixa de parecer
chocada por nada. Seus olhos ficam arregalados e ela fica encarando
Michaela como se a garota fosse uma miragem, algum tipo de programação
do seu subconsciente. — Não, só pode ser brincadeira. Michaela McKenna
na minha festa de aniversário surpresa? Não estou acreditando. Não, é
mentira.
— Vai, mãe, abraça ela. — Iris a empurra. — Você não ficou o
tempo todo falando que não achou justo que só eu a conheci? Chegou a sua
vez. Abraça ela logo.
— Tudo bem, querida, eu estava brincando a maior parte do tempo,
mas... caramba que felicidade. Claro que vou abraçá-la.
E as duas se abraçam, fazendo a pequena Olsen gritar de felicidade.
— É um prazer conhecê-la. — McKenna sorri largamente quando as
duas se afastam. — Iris, Oliver e o próprio Alexander me falaram muito
sobre você, Natasha. Fiquei muito feliz em poder conhecer sua filha, e mais
ainda agora estando em sua frente. Queria muito agradecer por todo carinho
e dizer que já adoro todos vocês. De verdade.
— Eu adoro as suas músicas — a loira conta o que todo mundo já
sabe. — Não é porque está na minha frente agora, mas eu realmente te
tenho como uma das minhas cantoras favoritas do momento. Te ouço no
carro, na academia, nos fones, em todos os lugares, e quando Oliver me
contou que Alex seria seu empresário, por um momento pensei que a gente
pudesse se conhecer, mas não coloquei tanta fé, admito. Você é uma estrela,
uma cantora internacional, não imaginei que fosse ter tempo. Eu tô mesmo
muito feliz. É definitivamente a melhor surpresa de aniversário de todas.
— É claro que eu ia arrumar um tempinho. — Michaela sorri para
Iris, porque minha afilhada corre para abraçá-la. — Fiquei encantada com
essa menina, ela é incrível.
Natasha transborda emoção quando alterna o olhar entre sua
garotinha e a sua cantora favorita.
— Ela é mesmo.
— E você não sabe... — Oliver chega para se enfiar entre elas. —
Michaela trouxe um iPad de presente para Iris, você acredita?
Seu queixo, exatamente como o nosso quando vimos o presente, vai
ao chão.
— Um iPad? Tá brincando comigo.
— É verdade, mamãe. Foi um rosa.
Natasha direciona seu olhar para Michaela, que ergue os ombros
como quem diz: sim, culpada.
— E não acabou, eu trouxe um presente para você também, Natasha
— a informa.
— Não precisava ter se incomodado.
— Foi exatamente o que eu disse, mas ela não me ouviu. — Oliver
balança a cabeça.
— Eu disse que ela era teimosa. — Também ergo os ombros, não
podendo fazer nada.
Michaela ri e vai atrás do presente.
Ao retornar, entrega com uma felicidade clara estampada nos lábios.
Ela está adorando estar aqui, não precisa fazer muito esforço para
perceber isso. A pessoa consegue perceber isso na maneira como fala, na
maneira como anda, como sorri, até mesmo na maneira particular em que
seus olhos brilham. É perceptível como ama presentear os outros, como
ama fazê-los felizes, porque cada ação e fala sua é extremamente genuína.
E outra coisa, parece ter perdido o medo de não ser aceita por
Natasha. A loira conseguiu deixá-la bem tranquila, irradiando a sua luz por
onde passa, e eu estou gostando pra caralho te estar presenciando isso.
— É só uma lembrancinha.
— Lembrancinha? — Natasha ri ao desembrulhar seu presente. —
Isso é uma bolsa da... Prada?
— É, eu amo dar bolsas para as minhas amigas, e não podia vir sem
trazer uma para você.
— Garota, vem cá, me dá outro abraço. — Sem nem mesmo esperar,
a assisto puxar Michaela na sua forma mais calorosa de ser. — Bem que a
Iris disse que você também era incrível como pessoa. — Ainda agarradas,
Wheeler a puxa outra vez e as duas param à minha frente, com a
aniversariante já com a bolsa em seu ombro. — Por que eu ainda não ouvi
da sua boca você falando que está empresariando simplesmente a mais
incrível de todas? Vai, fala, eu sei que ela já é a sua favorita.
Minha estrela me encara pra valer, e sei que também quer ouvir da
minha boca.
Aqui não, princesa...
Respiro audivelmente, aprumo os ombros e a única coisa que digo é:
— Quem é que vai cortar o bolo?
“Oh, amor, olha o que você começou
A temperatura está subindo aqui
Isso vai mesmo acontecer?
Estive esperando e esperando você tomar uma iniciativa
Antes que eu tomasse uma iniciativa
Então, amor, venha me acender
E talvez eu te deixe por cima
Um pouco perigoso
Mas, amor, é assim que eu quero
Um pouco menos de conversa
E um pouco mais de toque no meu corpo
Porque eu estou tão afim de você, tão afim de você”
INTO YOU — ARIANA GRANDE

— Michaela, você também ama bolo?


A pergunta de Iris não pega a todos nós desprevenidos na mesa,
porque, enquanto come, ela já me perguntou várias outras coisas, ainda
assim eu, Alexander, Oliver e Natasha rimos de sua curiosidade, que parece
nunca ter fim.
— Filha... — Oliver, quando decide repousar seus talheres no prato,
a olha como se pedisse para ela parar. — Desse jeito, você não vai deixar a
Michaela comer.
— Não, desse jeito a mocinha aqui não vai deixar sequer Michaela
respirar — a mãe complementa.
— Poxa, só estava querendo saber se ela também gostava de comer
bolo como eu. — Faz beicinho, e enfia uma garfada cheia de chocolate na
boca. — Mas você gosta? — Seus longos cílios se chocam quando me fita,
inocentemente.
— Eu adoro — respondo depois de também comer mais um pedaço.
— E esse aqui está uma delícia.
— Está mesmo. — Natasha afirma com um gemido de adoração. —
É uma bomba calórica? É uma bomba calórica, mas é a bomba calórica
mais gostosa de todas.
— Ah, mamãe, não é hora de se importar com isso agora. —
Novamente, o azul dos olhos dessa criança maravilhosa me encontra. —
Michaela, você vai à academia como a minha mãe?
Mais uma vez, todos riem.
— Já está bom, não é, minha filha? — Oliver não consegue esconder
o seu sorriso. — Michaela veio para uma festa de aniversário, não para uma
entrevista.
— Deixa ela, gente. Pode perguntar, Iris, não se acanhe.
Iris dá de ombros e fica mexendo no seu prato com o garfo, sem
comer nada.
— Poxa, não estou mais me lembrando.
Sorrio e me inclino na cadeira.
— Tudo bem, deixa que eu te faço perguntas agora. — A pequena
volta a se empolgar na mesma hora. — Qual música minha que você mais
gosta?
— Ah, essa é fácil. Feeling Epic.
Assinto, impressionada, porque essa é mesmo muito boa.
— E qual o seu desenho favorito?
— Princesinha Sofia.
Alex parece ficar surpreso.
— E quanto a Doutora Brinquedos que você me faz assistir com
você o dia todo no sofá da minha casa?
Iris ri com tanta vontade, que eu também me pego rindo.
— É verdade, tio, eu tinha me esquecido da Doutora Brinquedos. E
agora?
— Você pode dizer que são os dois — seu pai sugere.
— Então, são os dois. — Ela balança a cabeça para cima e para
baixo à medida em que sorri. — Pergunta mais — me pede.
— Qual sua brincadeira favorita de todas?
— Cabaninha com lençóis!
— E comida favorita?
— Sorvete do píer de Santa Mônica!
— O mais óbvio de todos — Alex murmura com a boca cheia, e é
claro que a sua afilhada já o olha de cara feia para que ele não repita mais
isso. Meu empresário engole. — Foi mal, princesa, não quis ser mal-
educado.
— Foi meio feio, tio. Ahhhhhhhh! — Iris parece se lembrar de algo.
— Falando no meu tio... Michaela, você já está namorando com ele?
Porque vocês juntos parecem namorados.
Alexander engasga, e eu que nem estou com comida também, porque
ela consegue me pegar de surpresa.
— Iris, minha filha, já deu. — Sua mãe, mais séria, agora lhe
repreende. — Você não pode falar coisas assim, eles trabalham juntos.
Oliver não fala nada, porque está ocupado demais tentando esconder
o seu sorriso.
Desgraçado.
Nem pra fingir que não percebeu nada.
Só a pobre da Natasha, que não tem nem noção e ficou
envergonhada pelo comentário da pequena. Suas bochechas brancas estão
vermelhas, e seus olhos, que não são azuis, e sim castanhos, não conseguem
me encarar agora.
Será que ela acha que vou ficar chateada?
Preciso aliviar o clima e entrar na brincadeira, já que Alexander fica
fingindo estar ocupado demais na sua comida, deixando a bomba para mim.
— Seu tio não pode namorar comigo, linda. — Repouso o queixo na
mão e passeio minhas íris por ele também. — Sabe por quê?
— Por quê?
— Porque ele já está em um compromisso sério.
— Com quem? — parece ficar indignada.
— Com a chatice. Não vê que a carrega com ele para todos os lados?
Iris explode em uma gargalhada gostosa, e isso sim é como música
para os meus ouvidos.
— Caramba, é verdade, então ela namora com ele há muito tempo já.
É minha vez de rir bem alto com o seu comentário extremamente
esperto.
— Como você nunca a viu, Iris? — finjo estar surpresa, e a menina
me acompanha.
— É porque ele tenta esconder a chatice com a falta de educação.
— Pelo amor de Deus! — Alex bate levemente contra a mesa, só
para chamar atenção e se fingir de bravo. — Eu não vim aqui ouvir ofensa
de vocês duas, senhoritas. Sério, é a segunda vez que isso acontece. Quem
vocês acham que são? — ele brinca, cruzando os braços e fazendo uma cara
feia, que de feia não tem nada. Mas é engraçado.
— Eu sou a sua afilhada, sua sobrinha linda do coração — é rápida
em responder, manhosa. — Eu só não sei o que a Michaela é sua. O que ela
é sua, tio Alex?
E Iris Olsen ataca novamente.
— Não sei o que eu sou dele, mas posso te dizer que ele é o meu
karma.
Alexander cobre a boca com os dedos, e sei que é para evitar sorrir.
— Rá! Então ele é seu namorado mesmo. — Aponta.
— Por que diz isso? — quero saber.
— Porque a Taylor Swift disse que karma é o namorado dela.
Demora um pouco, mas eu entendo.
Karma is my boyfriend.
Todos sentados nessa mesa não se aguentam, acabam rindo outra vez
com a genialidade da garotinha.
E cada minuto que passo com eles, eu adoro.
Quando chega a hora de me despedir, meu coração se comprime.
— Michaela, obrigada por ter vindo. — Natasha, na porta, segura as
minhas mãos enquanto me agradece. — Obrigada pela surpresa, pela
companhia, pelos presentes, por tudo. Eu amei te conhecer, você é uma
menina linda, e é muito bom poder ver que a fama não lhe mudou em
absolutamente nada. Você sabe, tem muitos artistas que não são assim, são
nariz em pé e se acham mais do que tudo.
— Magina, não precisa me agradecer por nada. E é verdade, tem
mesmo.
— Precisa agradecer, sim. — Oliver, com Iris adormecida em seu
colo, me abraça do jeito que nossas posições permitem. — Foi tudo mais do
que incrível. E se a minha filha te incomodou com alguma coisa, pedimos
desculpas, ela nunca sabe a hora de parar.
— Eu a adoro — digo, de coração. — E adoro a espontaneidade dela
que parece tanto com a minha.
— Obrigada mesmo. — Natasha sorri. — Nos vemos em breve?
— Com certeza. — Pisco, e puxo Alexander para perto de mim. —
Ele que lute, porque essa é a primeira reunião de muitas que teremos.
Anotem.
— Anotadíssimo — a loira brinca comigo, me retribuindo a
piscadela.
— Tá bom, deixem de papo, me deixem levar a minha estrela em
segurança para casa antes que fique mais tarde do que já está.
Quando ele fala isso, sua mão agarra minha cintura, o que faz o meu
coração se agitar dentro do peito, tanto por sentir seu toque quanto por ele
ter ligado o foda-se e ter me segurado dessa forma na frente de seus
melhores amigos.
Continuo com o meu sorriso, fingindo que nada me abalou, mas é
óbvio que Oliver e Natasha percebem, eles até se entreolham, e sei que é
aquele tipo de olhar capaz de falar muito mais do que qualquer palavra
conseguiria.
— Fique à vontade, Alexander — Oliver é quem decide provocar. —
Vá lá levar sua estrela — a ênfase que ele dá é cheia de deboche.
Quase o xingo mentalmente de desgraçado outra vez.
Não é como se Alexander deixasse, no entanto. Ele sorri uma última
vez de forma forçada para os seus amigos e, ainda me segurando
possessivamente, me faz andar junto a ele até chegarmos em sua
Lamborghini. Quando a alcançamos, abre a porta para mim e só a fecha
quando vê que estou toda acomodada no banco acolchoado e caro do seu
carro milionário.
Coloco o cinto, e Russell entra para dirigir e dar partida.
— Eu poderia achar ruim ter Natasha e Oliver sabendo sobre nós. —
A mão estala em minha perna, com ele apertando a carne com força.
Minhas unhas se cravam com urgência no banco, e tenho certeza que o
mundo afora consegue ouvir o gemido que foge da minha garganta sem
aviso. — Mas a verdade é que eu não consigo esconder o que você faz
comigo, ainda mais para as pessoas que me conhecem até mesmo do
avesso.
A veia do meu pescoço lateja em adrenalina.
— Nós? — Estou resfolegando, o peito subindo e descendo
conforme Alex, para me deixar enlouquecida, alisa toda a pele da minha
coxa, praticamente querendo se infiltrar para dentro da minha saia. — Não
existe um nós, Alexander — falo com dificuldade. — Como pode haver, se
você morre de medo de se entregar para esse desejo que está crescendo cada
dia mais em você? — Mordo o lábio inferior, sentindo todo o meu corpo
esquentar ao ouvi-lo rosnar, com os dedos cada vez mais perto da minha
calcinha. — Porra, você sabe que você quer. Está duro de novo, eu sei.
— E você encharcada, caralho.
— Será? — o provoco. — Por que você não enfia seus dedos e
descobre?
Os nós dos seus dedos no volante ficam esbranquiçados de tanta
força que os aperta.
— Michaela, é sério, você não está entendendo.
Parece rilhar os dentes quando faz uma pausa.
— Se eu te pegar, vou acabar com toda essa sua marra de malcriada
e te garanto, não vou ser nem um pouco bonzinho, porque não sou seus
outros garotos, você bem sabe disso. Vou ser o homem que está necessitada.
— Solto um gritinho quando, do nada, ele simplesmente para o carro na
primeira rua desértica que encontra. — Eu não vou apenas te beijar, eu vou
te devorar — informa, com raiva e cheio de fome. — Vou te arruinar. Vou te
marcar. Vou foder com a porra da sua vida, e não pretendo parar. Não, não
mesmo. Na hora que eu começar, vai se arrepender de ter invocado o diabo
em mim. Vai gritar, vai chorar, vai querer nunca ter me conhecido, pois irá
se deparar com a dura realidade de que me pertence, e que nada do que fizer
vai mudar isso. Vai se deparar com a dura realidade de que esse tempo todo
esteve desperdiçando boa parte da sua vida sentando em paus errados,
quando o único que pode lhe proporcionar o que quer é o meu. O único que
vai te satisfazer. O único que você vai poder sentir. Sabendo disso, vai
querer prosseguir, sua pimentinha? Porque, caso aceite, não terá mais volta.
Eu vou para o inferno, mas vou fazer questão de te arrastar comigo.
Lambo os lábios e tiro o cinto, a atmosfera dando um giro de
trezentos e sessenta graus entre nós.
— Não precisa me arrastar para lugar algum, eu mesma faço questão
de sentar no colinho do capeta, e espero que entenda isso como um sim.
Passo para o seu colo em questão de segundos, num ímpeto, não me
importando nem um pouco de, na hora de ficar com as pernas em cada lado
do seu corpo, acabar empurrando minhas costas na buzina.
Alexander enche suas mãos com a minha bunda, e a respiração
quente e descompassada ondula contra o meu rosto, que está bem próximo
do seu nesse momento. A primeira coisa que faço, nesses primeiros
segundos, é encarar seus olhos. Estão completamente atordoados. Cheios de
desejo. Pegando fogo pelas bordas, me queimando, fazendo o suor se
acumular em minha testa e em meu pescoço.
— Você é tudo o que eu quero, Sr. Russell — sopro. — Desculpa se
eu fui tão malcriada, mas que tal se você começar a me punir agora?
— Vou punir agora, depois, quando eu quiser — diz entredentes. —
Vou morder essa sua boca, bater nessa sua bunda e acabar com essa sua
boceta safada. Vou te destruir todinha.
Não há um maldito centímetro seco em minha calcinha.
Estou totalmente molhada.
Me movimento em seu colo e espalmo as minhas mãos em cada lado
do seu rosto.
— Pare de falar e comece a agir, chefinho. Me beije.
Vai acontecer, é o que penso quando fecho os olhos.
Aquilo que foi interrompido no banheiro da balada, vai acontecer
aqui e agora.
Os pensamentos se dissipam um a um quando a sua boca finalmente
toca a minha. Não é fofo, não é calmo, não é romântico, é destruidor, como
nossos sentimentos são. Alexander enfia a língua para dentro da minha
garganta, infiltra os dedos pelos fios do meu cabelo e, com a mão livre, me
força a sentar mais no seu colo, a minha calcinha roçando contra o seu pau
já duro abaixo de mim.
Um formigamento anormal invade o meio entre as minhas pernas e
eu gemo contra os seus lábios, ouvindo o urro de dor escapar de sua
garganta, um sinal claro do desejo que estava guardando esse tempo todo,
só esperando o momento certo para ser liberado.
Mas nós não paramos e nem nos separamos em momento algum,
muito pelo contrário, o beijo, por mais surpreendente que pareça, só se
intensifica, só fica mais urgente, mais carnal, mais visceral, mais quente e
assustador. Porque ele me beija como se estivesse desesperado. Louco.
Incontrolável. Ele me beija como se quisesse fundir seus lábios nos meus,
como se quisesse nos tornar um só, como se quisesse roubar a minha alma e
todo o meu ser para dentro dele.
É totalmente diferente da primeira vez, e acho que por isso
Alexander nem nota a semelhança ou me liga à Sabrina, porque tem mais
vontade, mais desejo, mais química e mais conexão do que os que
dividimos àquela noite. Afinal, não somos mais meros desconhecidos que
se encontraram num bar, somos duas pessoas que dividiram e ainda
continuam dividindo momentos. Todos eles incríveis e que me incentivam a
dar o melhor de mim, pois se quer me marcar, eu também quero marcá-lo.
Também quero que seja só meu, e vou começar o arruinando para qualquer
outra, aqui mesmo dentro da droga desse carro.
— Inferno de boca gostosa — ronrona depois de morder meu lábio
inferior e passar a língua sobre ele. — Inferno de mulher gostosa. Como
pode? Como pode ter me enlouquecido tanto?
Me esfrego mais contra seu pau, salpicando beijos pela pele do seu
pescoço.
— Você ainda não viu nada, chefinho.
— Que Deus me perdoe pelo que estou fazendo com você, mas que
Ele também saiba que é só o começo.
Retoma o beijo, agora suas mãos apalpando cada centímetro do meu
corpo. É coxa, bunda, cintura, seios. Sua mão aperta o bico do meu peito, e
ele, meu empresário sorri, safado, notando pela primeira vez que estou sem
sutiã e que meus mamilos se encontram totalmente duros e pontudos para
ele e por causa dele.
— Minha estrela, minha popstar — geme quando engancha um dos
bicos entumescidos entre seus dedos, o apertando e me vendo revirar os
olhos, com a cabeça tombada para trás. Ele aproveita para chupar um ponto
específico do meu pescoço, bem onde a minha veia pulsante se encontra. —
Tão saborosa, tão deliciosa, tão perfeita. Provei sua boca de tantas formas
que não quero me separar dela nunca mais.
É a minha vez de beijá-lo, com calma, com ternura, com avidez.
Sinto meu coração zumbir em meus ouvidos, batendo com toda força contra
as costelas, e também não quero nunca sair desse momento. Quero ficar
presa nos seus lábios. Quero ficar presa dentro desse carro, protegida contra
o mundo lá fora, que é cercado por problemas e mentiras.
E daí que somos proibidos?
Nada disso deveria parecer errado, não quando é tão certo.
Não quando me faz sentir borboletas no estômago.
Não quando me faz sentir a garota mais sexy de todas.
— Eu não quero que isso acabe. — Encosto a testa na sua para
recuperar o fôlego, o ar dentro do carro se tornando cada vez mais quente.
— Não quero voltar para casa, não quero acabar essa noite que foi e ainda
está sendo tão maravilhosa. Eu quero ficar com você. Por favor, não me
deixe ir.
— Eu não vou, pimentinha — ele garante com tanta certeza que meu
coração se enche de esperança.
— Então me beije — peço mais uma vez. — Tire a minha roupa e
me foda aqui dentro. Me faça ser sua por completo, como disse que ia fazer.
— Vejo que balança a cabeça, negando, e na mesma hora eu murcho. — Por
que não?
— Porque você não quer ir para casa, eu também não quero, e nós
vamos ter algumas horas ainda pela frente — explica ao tirar uma mecha do
meu cabelo da frente do meu rosto. — Que tal se aproveitarmos?
Faço cara de pidona e uso minha voz manhosa.
— Mas eu quero seu pau dentro de mim, Alex.
Ele ri, batendo na minha bunda.
— Você vai ter. — Lambo os lábios de empolgação ao escutá-lo. —
Mas primeiro vou te levar a um lugar especial. — Pincela o meu nariz com
o seu dedo e aperta a pontinha. — Vai, agora se senta lá, me deixa dirigir.
— Tudo bem, mas antes só mais um.
Não estou nem aí se Alexander não quer, eu puxo seu rosto de
encontro ao meu e o beijo outra vez.
Ouço fogos de artifício.
Ouço meu coração retumbando.
Que saudade eu senti disso.
Que vontade que eu estava disso.
Mesmo negando a mim mesma para não causar nenhum tipo de
problema, estar nos braços de Alexander de novo, sempre foi o que eu mais
quis. Ele precisava ser meu, e eu não suportava a ideia de ele não me
enxergar. Mas ele enxerga. Sempre enxergou. No bar, quando me viu pela
primeira vez, em todos os lugares. É meu e não pode fazer nada para mudar
isso, porque sou extremamente possessiva com o que me pertence.
— Prontinho. — Sorrio maldosamente quando me afasto, e quase me
contraio de tesão ao vê-lo demorar para abrir os olhos, com a sua boca toda
inchada e vermelha por minha causa. — Vou voltar a me sentar ali, mas se
isso for só uma técnica sua para voltar atrás e me levar para casa, vou ficar
bastante chateada.
— Eu já disse, entrei no inferno com você e não vou sair. Agora vá,
se sente, quero te levar para um dos meus lugares favoritos dessa cidade.
Passo para o banco que eu estava e bato as mãos uma na outra,
ansiosa.
Essa noite, nada pode nos parar.

Alexander me leva ao letreiro de Hollywood.


Não lá embaixo, para admirarmos de longe, mas aqui em cima, com
a melhor vista de todas, depois de ter passado o caminho todo ao telefone,
falando com alguns dos seus contatos para que isso fosse possível.
Eu fico surpresa.
Desacreditada.
Mesmo morando aqui há anos, nunca consegui esse feito.
É lindo. Me deixa encantada. Sem ar. Fico toda boba, olhando para o
céu e para as estrelas com Alexander atrás de mim, me abraçando pelo
pescoço.
— Eu vinha aqui quando pequeno — informa, e sei que seus olhos
também estão perdidos na paisagem. — Não aqui, aqui em cima, mas você
entendeu. — Ri fraco. — Também era o lugar favorito do meu pai.
Giro para ficar em sua frente e entrelaço meus pulsos ao redor do seu
pescoço.
— Me conte sobre ele, sobre sua família. Onde estão?
— Mortos. — Dá de ombros, e não parece afetado ao dizer isso. Pelo
menos é o que quer passar, tenho certeza. — Quer dizer, meu pai morreu
muitos anos antes da minha mãe, quando eu ainda era um garoto. Nós não
morávamos na Califórnia, a propósito, morávamos em Illinois, e ele tinha o
sonho de ser um cantor famoso e reconhecido.
— Seu pai era cantor? — o interrompo, porque a informação me
pega de surpresa. Eu não fazia ideia.
— Sim, ele amava cantar. Era a vida dele. — Um sorriso triste
aparece à espreita nos seus lábios, e os olhos ficam perdidos.
Provavelmente no passado. — Eu lembro dele cantando por toda a casa. E é
engraçado, porque me lembro até hoje do som da sua voz, do som do seu
violão, do som que o seu disco de vinil arranhado do Elvis Presley fazia
quando decidia colocá-lo para ajudar a minha mãe nas tarefas de casa. Eu
lembro de tudo, e, sendo bem sincero, não tive como esquecer. Eu cresci
com esse gosto. Cresci com essa paixão. Cresci com o meu pai tentando dar
certo na indústria. E ele tentou, Michaela. Ele tentou muito. Conheceu um
homem que dizia ser do showbusiness enquanto fazia seus shows pela
cidade e o homem o prometeu céus e terras para ser o seu empresário. Meu
pai acreditou. Ele era sonhador, iludido, e fez com que mamãe e eu
largássemos tudo para nos mudarmos para LA. Não tínhamos grana, mas
meu pai confiou tudo o que tinha àquele seu empresário.
Quando para, na intenção de respirar, eu toco o seu rosto.
— E deixe-me adivinhar, aquele homem enganou o seu pai?
— Sim. — Seu pomo-de-adão sobe e desce. — O filho da puta era
um charlatão, brincou com o sonho do meu pai, roubou as poucas coisas
que ele tinha e sumiu do mapa. Meu pai não conseguiu realizar nada do que
havia sonhado. Entrou numa depressão profunda, estava cheio de dívidas e
bem, na cabeça dele, não tinha outra alternativa a não ser ir embora desse
mundo. E ele foi. Ele tirou a sua vida e nos deixou aqui.
— Caramba, Alex. — Descanso meu rosto em seu peito. — Eu sinto
muito. Eu sinto muito mesmo. Mal posso imaginar a sua dor.
— Doeu muito por vários e vários anos, mas eu era pequeno na
época, e, com o tempo, a dor se transformou em saudade. — Acho que ele
nem percebe, mas me abraça, e eu o abraço de volta, podendo sentir os
batimentos acelerados do seu coração em meus ouvidos. — E a raiva que eu
senti por muito tempo daquele homem que praticamente matou o meu pai,
eu precisei ressignificar. Foi quando fiz uma promessa a mim mesmo que,
apesar de eu não ter o talento para trabalhar com música, eu iria trabalhar
com ela custe o que custasse. Eu iria fazer diferente nessa indústria, porque
eu sabia que não tinha sido só meu pai que havia sido enganado daquela
forma. E eu queria fazer pelos outros o que não tinham conseguido fazer
pelo meu pai. Quando dei por mim, eu estava me tornando um empresário.
Um empresário de verdade. Um empresário de sucesso.
— É por isso que se dedica tanto — reflito em voz alta. — É por isso
que se empenha e vive o trabalho mais do que vive sua própria vida. Agora
tudo faz sentido. Você tem medo de falhar, tem medo de não ser bom o
suficiente.
— E tenho medo de ter a minha carreira arruinada, porque batalhei
muito para conseguir. Porque foi tudo uma promessa — Alex completa,
com as mãos fazendo um carinho singelo em minhas costas.
— Mas você não pode parar de viver por isso. — Me afasto para
olhar no fundo dos seus olhos. — Você é incrível, já é o melhor na
indústria, já conseguiu fazer o seu nome, já realizou um monte dos sonhos
de outras pessoas, você não pode deixar de viver, não pode deixar de fazer o
que quer. Já está na hora de acordar, não acha?
— Acho. — Resvala os lábios nos meus, me fazendo grunhir. — E
eu estou aqui com você, não estou? É o que eu quero.
— Acho bom. — Lhe dou um beijo rápido, e é bem rápido mesmo,
porque ainda quero conversar, ainda quero saber tudo sobre ele e sua vida.
— E a sua mãe? O que aconteceu com ela? Como ela ficou?
— Arrasada, e precisou trabalhar muito para nos reerguer. Ela não
pensou em sair de Los Angeles por nada, era a cidade favorita do meu pai,
não queria ter que dar adeus, pois se sentia ligada com ele aqui de alguma
forma. — Assinto, e suas íris se erguem para o céu agora. — Ela foi a
melhor mãe de todas, e sempre me fazia ver o letreiro quando podia. Foi tão
incrível que conseguia muito bem fazer o papel dos dois. Me viu crescer,
me viu sair do Ensino Médio, me viu entrar na faculdade, me viu formado,
e quando eu estava perto de completar 26 anos, 9 anos atrás, ela partiu de
causas naturais. O coração parou, e não resistiu. Foi um completo susto,
porque ela não tinha problema até então.
— Eu sinto muito também.
— Obrigado, pimentinha, mas você não precisa ficar com essa
carinha. Por mais triste que possa parecer, tudo isso faz muitos anos, e eu
ainda continuo tendo uma família. Tenho o Oliver, a Natasha e a minha
pequena Iris, o maior tesouro da minha vida. Aquela garota é como uma
filha para mim também, e desde que ela chegou, meus dias são
infinitamente mais coloridos. E eu gosto da vida que tenho.
Por mais que diga isso, por mais que mostre que seguiu em frente,
tem muitos resquícios do seu passado nele. Não tem como esconder. Sei
que está bem, mas, ainda assim, ele não é uma pessoa fechada e sem tempo
para fazer as coisas mais simples da vida à toa. Porém, agora que me
conhece, agora que me tem em sua vida, vou fazer questão de colocá-lo
para viver, para aproveitar tudo o que se nega.
Vou ser a diferença.
— Sabe de uma coisa? — Sorrio para mudar o nosso clima e
começo, sem pretensão, a mexer nos botões da sua camisa social que tanto
adoro. — Preciso te dizer que não está mais aqui quem falou. Você não é só
chato e insuportável, mas também é cheio de qualidades, e me arrependo de
não ter visto logo de primeira. Te julguei como uma criança estúpida e
mimada, não me dei nem a chance de conhecê-lo. Ainda bem que, de
alguma forma, mesmo errando muito, encontramos uma forma de fazer dar
certo.
— Sim, pimentinha. — Nossas testas se encontram e Alex respira
fundo. — Tivemos um começo cheio de turbulências, e ainda estamos
inseridos no meio de um caos agora, mas não tem nada a ver com a gente.
Porque agora te conheço. E é a mulher mais gentil e encantadora de todas.
Minha família a adora, e isso já é muito importante para mim.
O sorriso que ostento ao escutá-lo, quase é capaz de partir meu rosto
em dois. Minhas bochechas até doem.
— E quanto a você, Sr. Russell? — brinco cheia de provocação. —
Me adora?
— Você vai ver só o quanto.
Não fala mais nada, Alexander simplesmente me beija. Me possui
mais uma vez, e agora a céu aberto, no letreiro de Hollywood, o lugar mais
fantástico e sonhador de todos, com as estrelas nos observando e sendo
testemunhas de nossos desejos.
Ficamos de joelhos, na toalha quadriculada de piquenique que meu
empresário tinha guardado no carro por causa de sua afilhada, e seus beijos
descem pela lateral do meu pescoço, alcançando a minha clavícula. Ele me
olha, pedindo por permissão para fazer o que quiser comigo neste lugar, e
eu assinto sem nem pensar duas vezes, porque o quero dentro de mim o
mais rápido possível, e se fosse na estrada, no asfalto quente, eu ainda
assim concordaria com toda a empolgação que habita em meu ser.
— Porra, Michaela, você é tão linda, tão proibida. — Mais beijos se
espalham por meu colo. — Tão minha. Minha e de mais ninguém. — Me
surpreendendo, ele aperta as minhas bochechas e me faz encará-lo. — Vai,
diz que você é minha. Diz que não vai deixar homem nenhum tocar na sua
boceta que implora por mim.
— Não vou — garanto, porque também nem quero, e meu tesão
aumenta ao assisti-lo me entregar um sorriso predatório e possessivo. — Eu
quero você. Só você. Estou desejando esse seu corpo gostoso por tempo
demais, tanto que nem me aguento.
— E eu? Porra, estou perdendo o juízo.
Não deixo que fale mais nada, começo a desabotoar sua camisa, me
sentindo febril, e ele me ajuda, a descartando em qualquer lugar longe. Fica
sem nada, com o peitoral nu bem na minha frente. Não consigo não correr
os olhos por cada centímetro do seu corpo, ainda mais impressionada ao ver
seus músculos brilhando para mim.
Eu já sabia que ele era grande, mas, puta merda, ele é mesmo
enorme.
Lambo os lábios, porque me sinto de repente com a boca seca, e
deslizo minha mão pelo seu peitoral, indo de encontro aos gominhos duros
em sua barriga, que parecem se arrepiar sob meu toque. É instantâneo.
Minha boceta pulsa com necessidade e se encontra tão molhada na calcinha
que se torna insuportável.
Da mesma forma que fico afetada, Alexander também fica, porque
posso ver seu pau duro daqui. E ele rosna diante do que eu faço, não se
aguentando e vindo para cima de mim, me beijando enquanto decide
arrancar as minhas roupas sem nenhum tipo de cuidado. Eu o ajudo, levanto
os meus braços, e o meu cropped num instante vai ao chão, meus seios
livres pulando bem diante dos seus olhos. Os mamilos ficam tão
endurecidos que chega a doer, uma mescla do vento que congela a minha
pele e do desejo que só cresce em meu interior.
— Caralho, vou gozar nas calças só com você assim. — Trinca o
maxilar e, no mesmo segundo, me deita com cuidado sobre a toalha,
ficando por cima de mim. Arqueio meu quadril contra ele, porque começa a
distribuir novos beijos, chupões e mordidas, descendo do pescoço para o
vão entre meus seios, num passeio delicioso que se estende até a minha
barriga, perto da minha saia. — Estou louco para foder sua boceta, você
pode perceber isso pelo fato do meu pau estar quase explodindo na calça,
mas não é ele que quero usar agora, e espero que se conforme. Primeiro vou
usar minha língua. Vou retribuir, da forma mais gostosa possível, aquele
boquete que você me fez no beco da balada.
Arfo, quase querendo gritar quando o sinto puxar com tudo a minha
saia. Com a ajuda dos calcanhares, o ajudo a me livrar completamente dela.
Fico equilibrada nos cotovelos, somente para vê-lo observar a calcinha
preta de renda que uso, com um lacinho na frente. Alexander xinga, parece
perder a cabeça, e, num piscar de olhos, o homem que certas vezes parece
tão calmo, simplesmente a rasga com suas próprias mãos, transformando-a
em fiapos, não sobrando nem um mísero tecido para contar a história.
Agora, estou nua. Definitivamente nua sob Alexander, que não
consegue tirar os olhos da minha boceta. Na verdade, tirando meu fôlego,
ele se agacha, ficando com a cabeça entre o meio das minhas pernas.
Também as afasta, querendo total liberdade para poder me ver pingar por
ele, minha umidade quase escorrendo pelas coxas.
— Encharcada, com a boceta molhadinha para o seu chefinho — faz
questão de dizer o óbvio, e eu quase me pego querendo gozar na sua cara
também só por vê-lo inspirar meu cheiro e gemer audivelmente. — Tão
safada, quando eu enfiar meu pau bem aqui. — Dedilha a minha virilha só
para me torturar. — Ele vai escorregar bem fundo, fácil, fácil.
— Seu desgraçado, me alivie logo — peço, em murmúrios, gotículas
de suor deslizando pela minha pele. Não há mais frio, tudo o que eu sinto é
calor. — Para de enrolar e me chupa de uma vez.
O brilho em seu olhar é lúdico quando ergue a cabeça.
— E qual é a palavrinha mágica?
O fito de cara feia, cheia de tesão e raiva.
— Vai me fazer implorar?
— Você foi desobediente todo esse tempo, pimentinha. Gritou
comigo, me estressou, me torturou. Se quer tanto uma coisa, você tem que
pedir. Qual é a palavrinha mágica?
Solto um palavrão, e não estou disposta a ceder fácil, mas Alexander
percebe e como quer me ouvir falar, ele enche sua mão com um dos meus
seios. Começa a brincar com o meu mamilo, o apertando entre os dedos.
Rolo os olhos, e caio na toalha, sem força.
— Por favor — um sopro sôfrego me escapa. — Por favor,
Alexander.
— Por favor, o quê? — insiste, e eu cravo as minhas unhas em seus
ombros, com força, meu peito subindo e descendo com minha respiração
pesada. — Diz e eu faço. É só você dizer.
— Me faça gozar — digo em alto e bom tom. — Por favor.
Ele ri.
O filho da puta ri, rouco, grave, sensual, e antes de se direcionar para
a minha boceta molhada, beija a minha virilha. É rápido, apenas um
prelúdio do que está por vir, porque, também ardendo em vontade, Russell
enfia o rosto entre as minhas pernas e me deixa completamente fraca e
bamba quando decide separar as minhas dobras, procurando meu clitóris
com fome.
— Porra, assim — gemo, me contorço abaixo dele e prendo meus
dedos entre seus fios, o empurrando mais contra minha boceta. — Isso,
chefinho, isso. Não para. Por favor, não para. Ajuda essa sua garotinha
malcriada — peço, o ouvindo gemer.
Reviro os olhos, sentindo sua língua brincar com meu ponto
sensível, ele todo duro e vibrando dentro de sua boca.
Mordo os lábios, e Alexander não para. Ele me chupa, suga com
vontade e raspa os dentes no meu clitóris, só para me provocar. O aperto em
seu cabelo só se intensifica, porque suas investidas em minha boceta
também só melhoram, só se tornam mais firmes, fazendo todo o meu corpo
tremer, e eu não consigo não o conduzir, não consigo não ficar me
esfregando contra o seu rosto e sua barba, que parece deixar a coisa toda
ainda mais gostosa e sensual.
— Que delícia. — Sua voz sai abafada. — O gosto mais doce de
todos. E se esse é o preço que terei que pagar por cair em tentação, então
pode ter certeza que não pararei de pecar por nada. Vou comer essa boceta
como café da manhã, almoço, ceia, e não vou parar até deixar a dona dela
sem aguentar.
— Eu aguento — respondo, com dificuldade.
— Meu pau nem chegou dentro de você, e você já vai gozar. Aham,
aguenta sim, pode continuar mentindo.
— Ogro. Grosso. Idiota — o xingo ao colocá-lo de volta entre as
minhas pernas, e grito quando penetra um dedo em mim.
— Me xingue de novo e eu coloco mais um.
— Ordinário.
Brinco na cara do perigo.
Ele insere o segundo.
Não falo nada, porque meu empresário — sim, meu empresário —
começa a me foder com os seus dedos, bombeando dentro do meu interior
enquanto continua chupando a minha boceta, sua língua entrando, saindo,
circulando meu clitóris e me fazendo ficar sem ar, com o quadril erguido e
roçando cada vez mais rápido em sua cara. Seus dedos se encontram tão
ágeis quanto meu corpo ligado de adrenalina, pois meus músculos internos
o envolvem muito bem. Tão bem que consigo ver estrelas. Tão bem que me
sinto quase lá.
— Vem para mim, Michaela — pede ao dar tudo de si. — Goza na
minha língua, goza na boquinha do seu chefe que anda te comendo
escondido.
— Cretino!
— Olha, vou inserir o terceiro dedo em você.
E nem dá tempo, porque me desmancho diante de suas palavras
sujas. Meu primeiro orgasmo me varre, e Alexander geme audivelmente por
conseguir me lamber por completo, retirando tudo de mim. Fico fraca,
completamente mole, e nem consigo me recuperar ou buscar por ar, pois já
o tenho de novo sobre mim, se equilibrando para poder me beijar e
transferir meu gosto para a minha própria boca. Ainda assim, mesmo me
devorando aqui em cima, não deixa de brincar com os meus lábios de baixo,
porque não quer parar de me deixar excitada, lubrificada e pronta para a
próxima.
— Eu estou tão faminto por você, que, caralho, meu pau tá doendo
de verdade — me informa ao se afastar, e eu rio, de olho naquela região que
parece ainda maior desde que começamos.
— Coloque ele para fora, Alexander, não dá para eu ser a única
exposta aqui — cantarolo.
E deitada, eu assisto o seu show completo. Ele tira com cuidado sua
calça, sua cueca, e fica como eu, completamente nu na parte de cima, para a
frente de toda a cidade. O pau duro e com as veias saltadas também pula
para fora, brilhando com a sua umidade perolada.
Minha boca saliva ao vê-lo e a minha boceta se contrai, já molhada
de novo.
Porra, que figura é essa que está à minha frente? É uma miragem?
Uma pintura? Uma amostra do que é o paraíso?
Bem, essa última parte eu já não sei, afinal de contas, ele parece o
próprio diabo carregado de luxúria.
— Tá vendo isso aqui? — Sua mão circula o seu pau, e Alexander o
balança em minha direção. — Vai entrar de uma forma em você que nunca
mais vai esquecer.
Mordo o lábio, e quase gozo de novo ao vê-lo descer os olhos para o
seu pau, sua mão o acariciando. É, novamente, para me torturar. Para me
deixar louquinha. Fecho as pernas em agonia.
Ainda segurando seu membro, Russell procura algo em suas roupas,
mais especificamente no bolso da calça. É a camisinha, a que eu o vi
pegando antes de sair do carro.
De novo, eu penso: Vai acontecer. Vai mesmo acontecer.
Rasga a embalagem e, num piscar de olhos, cobre o seu pau e vem
até mim, o olhar me queimando por inteira, porque, antes de se colocar
sobre mim outra vez, faz questão de me comer com os olhos.
— Abre as pernas para mim, amor.
Amor.
Ah, eu só posso estar sonhando mesmo.
Mas obedeço.
Abro as minhas pernas e o sinto se colocar entre elas. Me beija nos
lábios com carinho, com cuidado, morde o lábio inferior e me encara, com
o pau pincelando a minha entrada. Arfo.
— Agora não tem mais volta, pimentinha. Estamos arruinados.
Balanço a cabeça e cravo as minhas unhas em seu braço.
— Aproveite a noite comigo, Alex. Deixe-a mágica. Viva e não
pense mais em nada.
— Oh, Michaela, eu não quero pensar. Eu só quero a sua boceta.
— Pegue-a para você, chefinho.
— Minha. — Empurra seu pau contra mim e aperta as minhas coxas.
— Apenas minha.
Grito, sentindo-o me preencher. Meus músculos internos o
envolvem, o apertam, e quando Alex parece perceber que me acostumo com
o seu tamanho e a sua grossura, começa a se movimentar, tombando a
cabeça para trás e gemendo. Ele geme meu nome. Porra, o meu nome. Não
de Sabrina, não de nenhuma outra mulher, o meu.
Fecha os olhos, se controlando, e fisga meu lábio no seu, depois
aprofunda o beijo enquanto me penetra. Primeiro, é devagar, com carinho,
fica parecendo que não quer me machucar, como se eu fosse feita de vidro,
mas depois, quando eu entrelaço minhas pernas em seu quadril, lhe dando
completo acesso para fazer o que quiser comigo, Alexander deixa seu
autocontrole de lado e se descontrola, me penetrando mais duro e
fortemente.
— Finalmente — debocho com um sorriso, completamente
encharcada. E agora é de suor que estou falando. — Achei que não fosse
me mostrar do que é capaz.
Ele ri, não deixando de arremeter o quadril contra mim, nossos
corpos se movimentando numa frequência absurda. Nossos sexos se
friccionam de maneira deliciosa por causa disso.
— Acha que estou mostrando? — é sua vez de mostrar deboche, e eu
reviro os olhos quando seu pau atinge um novo ponto dentro de mim. —
Esse aqui é o primeiro estágio, linda. Uma amostra do que está por vir. Que
você e sua boceta se preparem, porque vou castigá-las.
Eu não tenho a menor dúvida disso.
Aperto minhas unhas de modo mais firme em sua carne e o sinto
entrar e sair, indo fundo em minha boceta, querendo enfiar todo o seu
comprimento dentro de mim, não querendo deixar nenhum centímetro de
fora.
É perfeito.
Eu não quero que deixe mesmo.
Quero que empurre, que me foda, que não pare, que não tenha pena.
E o provoco tanto que, mesmo cansado, suado e gemendo como um animal
selvagem, não deixa de se preocupar com os meus prazeres. Ele enfia o
dedo entre nós e pressiona o meu clitóris na intenção de me masturbar, para
eu gozar mais rápido.
— Segundo orgasmo da noite, Michaela, vamos — incentiva, meu
corpo inteiro tremendo, até os dedos dos pés se contorcem de prazer e
excitação. — Mele a porra do meu pau agora. Goze comigo, com o seu
chefinho, com o seu empresário.
— Porra, eu vou. — Resfolego.
— É pra vir mesmo, é uma ordem, sua safada. Goze e grite para Los
Angeles inteira saber quem é que tá te fodendo.
— Você — respondo. — Você quem está me fodendo, Sr. Russell.
Você quem vai me fazer gozar.
— Isso mesmo. Eu, porra. Mais ninguém.
E eu gozo, caindo para trás na toalha. Olho para o céu, vendo a lua,
tontinha, e Alexander continua entre as minhas pernas, bombeando para
dentro.
Quando urra, sei que gozou também.
Ao cair do meu lado, a primeira coisa que faço é tatear seu corpo,
para ver se é ele mesmo, para ver se é real.
É real.
Eu e ele.
Nós dois.
Na cidade dos anjos, em Hollywood, protagonizando a melhor noite
da minha vida.
O abraço, e vejo que já, já o sol vai nascer no horizonte.
“Oh, nós quase escapamos, chegamos perto
A cidade está ficando barulhenta
Se eu engasgar, é só porque estou com medo de ficar sozinha
Estou tentando resolver isso, você deve saber
Eu faria o que você quisesse
Nós não temos que sair do apartamento
Te conheci na hora certa”
FEELS LIKE — GRACIE ABRAMS

Eu sei que foi real.


Eu senti o seu abraço.
Eu senti o seu beijo.
Eu senti o seu corpo em sincronia com o meu.
E, para completar, nós assistimos o nascer do sol juntos.
Cheguei em minha casa e ainda podia sentir o gosto dos seus lábios,
como se Alexander Russell tivesse mesmo me marcado.
Na realidade, ele me marcou mesmo, porque ainda hoje, depois de
ter feito várias coisas, só consigo pensar nele, aérea.
E o pior, ele também não ajuda.
Eu deveria estar agora ansiosa pelas fotos que estou indo tirar do
meu novo álbum, porque o dia tão aguardado finalmente chegou, no
entanto, não é o que acontece. Minha ansiedade nesse momento se deve
exclusivamente ao fato de que estou esperando suas próximas mensagens.
Alex pediu que, assim que eu estivesse dentro do jatinho, lhe
mandasse uma mensagem. Foi o que fiz. Acabei de enviar uma foto minha
deitada na poltrona e estou esperando uma resposta da sua parte.
Cerca de dois minutos depois, em que eu já estava prestes a roer as
minhas unhas, seu nome aparece em minha tela de bloqueio. Meu coração
reage batendo forte na mesma hora e eu sorrio, abobalhada, para a sua
mensagem brilhando no celular que seguro em minhas mãos como se fosse
a coisa mais sagrada do mundo.
Capitão Gancho de Araque: Nossa, que mulher linda na foto. De quem é?

Ok, essa é a coisa mais brega que existe, mas, porra, eu não consigo
me controlar.
Eu: Sua.
Capitão Gancho de Araque: Sempre soube disso.

Estou prestes a digitar, quando chega outra notificação sua.


Capitão Gancho de Araque: Acabo de perceber o braço de um homem na poltrona ao seu lado.
Quem é que está nesse jatinho com você, Michaela? Por favor, me diga que é o seu pai.

Pressiono os lábios para não rir.


Eu: Ué, é o meu fotógrafo. Você esperava o quê, que meu pai fosse tirar as fotos para o meu álbum?
Só se eu estivesse maluca.
Capitão Gancho de Araque: Certo, tudo bem, faz sentido. Mas tem mais alguém junto com vocês,
certo?

Tiro os olhos da tela para olhar ao meu redor, no jatinho já voando


no céu rumo à Las Vegas.
Eu: O piloto.
Na mesma hora, os três pontinhos dançam pela tela.
Capitão Gancho de Araque: Vou infartar.

É tudo o que responde, e eu caio na risada.

Eu: Calma, não se preocupe, eu estou bem.


Capitão Gancho de Araque: Eu sei que você está bem, quem não está bem sou EU.

Achei que a dramática aqui fosse eu.

Eu: Não vai acontecer nada, eu prometo. Meu fotógrafo é de confiança.


Capitão Gancho de Araque: Não existem homens de confiança, Michaela.
Eu: Meu Deus, não é da sua conta, mas ele nem gosta de garotas.

O olho de esguelha, e o pobre do Colton está dormindo, tranquilo, no


seu sono da paz.
Ele está comigo desde o ano passado, e eu o adoro. Suas fotos são
perfeitas.
Capitão Gancho de Araque: Eu só sei que eu não posso deixar você sozinha assim. Vou fazer os
ajustes da agenda de uma outra artista minha e vou tentar chegar em Las Vegas a tempo.

Meus dedos são rápidos para lhe entregar uma resposta.


Eu: Não precisa se preocupar comigo, Alex. De verdade. Vai fazer suas coisas, eu me viro por aqui.
Capitão Gancho de Araque: Me manda os endereços de onde você vai tirar as fotos e de onde vai
ficar hospedada. Qualquer coisa, te encontro em um desses lugares.

E vai dar tempo? Duvido muito, mas mando mesmo assim.


Alexander visualiza, mas passa um, dois, três, quatro, dez minutos e
não me responde.
Bufo, sabendo que deve estar ocupado no momento.
Viro-me para Colton e me sobressalto com o susto de pegá-lo com os
olhos bem abertos e o rosto virado para mim.
— Cacete! — Ponho a mão no peito e tento voltar a respirar
tranquilamente, com a sua risada explodindo no ar. — Meu Deus, você não
estava nesse instante dormindo?
— Como a pessoa consegue dormir com você o tempo todo
mexendo no celular e falando em voz alta?
— Eu falei em voz alta? — me assusto de novo.
Céus.
Será que foi possível meu fotógrafo descobrir qual o teor da minha
conversa com o meu empresário?
Não, não é possível.
Sei que sou azarada, mas a esse ponto? Não pode ser.
— Sim, falou — responde, e tem um quê de diversão em seu tom de
voz. — Mas não se preocupe, dona Michaela McKenna, eu estava com
tanto sono que não entendi nada. Achei que você ainda se lembrava.
Uno as sobrancelhas.
— Me lembrava do quê?
— Que eu apago todas as vezes em que estou viajando.
— Caramba, é verdade, tinha me esquecido disso.
— Seja em carro, avião ou jatinho, eu sempre vou para o destino
dormindo. Eu até gosto, se eu morrer, não vou nem ter tempo de perceber,
então é bom que a passagem já será feita bem tranquila.
Empurro seu ombro, rindo, e é de desespero.
— Credo, Colton! — Franzo uma careta, mas como o meu fotógrafo
não para de rir, eu não consigo ficar séria. — Poxa, estamos viajando dentro
de um jatinho, não é coisa que se diga. Eu ainda tenho um pouco de medo,
sabia? Estou tentando me acostumar.
— Você é uma diva pop, vive viajando, ainda não se acostumou?
Dou de ombros.
— Mais ou menos.
— É, tudo bem, parei, realmente é difícil se acostumar. Também não
gosto muito. Mas minha querida, estamos indo a Vegas, qualquer sacrifício
vale a pena.
Colton tem um ponto.
Las Vegas é simplesmente incrível, eu amo toda a vibe da cidade.
— Sim — soo animada, só não dou pulinhos porque estou na
poltrona e não posso. — Estou tão ansiosa para fazermos as fotos,
principalmente as do estúdio.
— Já se prepare, porque tenho várias ideias. Quero o fundo bem
lilás, você no centro e uma coisa bem Selena Gomez na era Revival. A
pose, tá? Não vamos ter Michaela McKenna nua na capa. Não combinaria
com a sua identidade visual.
Solto um suspiro.
— Ufa, que susto.
— É, por isso que afirmei logo, não queria te deixar preocupada.
Relaxo mais na cadeira, afinal, ainda temos mais alguns minutinhos
de voo.
— Certo, e o que mais você pensou? Vai, me conta, quero saber de
tudo. Ao invés de dormir, você vai conversar comigo agora e não quero
nem saber. Não vou ficar de cara para cima sozinha.
Colton ri, pegando seu celular para me mostrar as inspirações.
Mostra tanto para o lado externo, que postaremos nas minhas redes
sociais, quanto para o estúdio.
Fico apaixonada por tudo que fala e não vejo a hora de pôr em
prática minha beleza.

Vou falar a verdade agora, depois de horas torrando no sol de


Nevada para as fotos externas, ao chegar no estúdio, me sinto acabada e
com as minhas pernas doloridas.
Eu ainda encontrei com alguns fãs no caminho, parei para tirar foto e
cumprimentá-los.
Uma hora dessas, minha beleza já não se encontra mais intacta.
Por sorte, tem maquiadores no estúdio, coisa que a minha equipe fez
questão de contratar, e eles me arrumam agora. Retocam a minha
maquiagem, o meu cabelo e trocam as minhas roupas.
E eu faço tudo isso com a cara enfiada no celular, a procura de uma
resposta de Alex.
Nada.
Meu empresário não mandou absolutamente nada, nem se ia dar
tempo de vir ou se tinha desistido.
A essa altura do campeonato, aposto que desistiu.
Fico um pouco triste, confesso que, no fundo, ainda havia uma parte
minha com esperança de que pudéssemos passar o restante da tarde e à
noite juntos, entretanto, pelo visto, não vai acontecer. Ele deve ter ficado
com trabalho até o pescoço e não deu tempo de organizar seu jatinho, ou,
sei lá, só não quis me ver por estar cansado demais para uma viagem de Los
Angeles a Las Vegas, que, por mais que seja rápida, ainda é cansativa.
Eu super entenderia numa boa, era só ele me mandar uma mensagem
avisando.
Por que não me mandou?
Suspiro, deixando para lá.
E o que recebo no celular me deixa um pouquinho mais feliz.
Não é Alexander, mas é o meu melhor amigo e isso já é o bastante.
Incrível Eric: Oi, piranha. Passando para te desejar o melhor photoshoot de todos. Sei que vai
arrasar e ficar linda em todas as fotos. Te amo, mocreia. Manda um beijo para o Colton.

Ah, Colton vai gostar de saber disso.


Eles eram superamigos no passado, mas já ficaram, e como Eric
namora agora com o Raphael, não são tão próximos como antes. Mas meu
fotógrafo vive perguntando por ele, e parece que Colton está em um
relacionamento também, com um modelo, se não me engano.
Seria o momento ideal para pararem de besteira e se unirem de vez.
E daí que se pegaram? Todo mundo se pega em Los Angeles.
Veja eu, pegando meu empresário 14 anos mais velho.
Não, ninguém veja isso, é melhor deixar quieto.
Balanço a cabeça para afastar os pensamentos intrusivos e começo a
digitar.
Eu: Obrigada pelo apoio, meu loirinho de farmácia. Quando eu chegar em LA, espero que você e
dona Dakota Hartley estejam me esperando na porta. E pode deixar, vou mandar seu beijo ao Colton.
Ele está aparecendo na minha frente agora, inclusive. Está com aquela cara de quem quer me matar.
Vou ter que ficar off por enquanto, longe do celular. Beijos, te amo, mocreio.
A palavra nem existe, mas combina tanto com ele que eu a envio
mesmo assim, guardando o celular no lugar onde estava, junto das minhas
coisas, e encarando Colton como uma continência.
Meu fotógrafo me olha de maneira desconfiada.
— Eu sumo por um minuto e você já some do seu trabalho? — Sua
cabeça balança de um lado para o outro, em negação. — Não mesmo,
querida, vamos voltando. Trouxe algumas coisas novas para testarmos.
O acompanho, grudando no seu braço para podermos caminhar
juntos.
— Acessórios novos e uma peruca linda — comenta, e eu paraliso.
— Peruca? — Tento não soar tão nervosa, porém acho que é assim
que sai. — Não lembro de termos comentado sobre perucas.
— Não comentamos, mas acho que poderíamos fazer um teste.
— É da cor do meu cabelo? Colorida? Ruiva?
— Não, é loira. Acho que a gente poderia jogar nas redes sociais
também, seus fãs iam ficar malucos sem saber se você pintou o cabelo para
a nova era ou não.
Hum, ok, é uma ideia ótima, mas... loira?
Só pode ser brincadeira também.
Tanta cor de cabelo, e Colton me vem com uma dessas.
— Eu acho que não combinaria — minto, porque, se eu for no seu
pensamento, estou ferrada. Se Alexander tiver acesso às fotos, não será
burro, ele vai ligar uma coisa a outra, principalmente se me ver assim,
maquiada, com a roupa cheia de brilho igual Sabrina. Que pesadelo. —
Acho que podemos deixar a peruca para o próximo álbum, não sei. Agora
não ficaria legal.
— Por que não? — Ele ergue uma sobrancelha para mim,
desconfiado. — É só um teste, Michaela. Não quer dizer que vai ser a foto
do álbum ou que vamos jogá-las na internet. Você pode ver isso com a sua
equipe depois, não é algo que cabe a mim. Eu só acho que poderia ser legal,
rolaria mais comentários sobre seu nome, sua aparência, pintou ou não
pintou, consequentemente, o álbum em alta. Vai, é só testar. — Faz
beicinho, com a carinha de cachorro que acabou de cair da mudança. — Vai
testar ou não?
— Não sei...
— Meu Deus, Michaela, quando foi que ficou tão chata? Você
sempre apoia as minhas ideias.
— Mas eu apoio.
— Não está apoiando agora.
Ai, merda.
Não quero que Colton se sinta magoado, ou que ache que estou
fazendo pouco caso porque só quero fazer o que eu quero. Não é verdade.
Não mesmo. Eu adoro as suas ideias, amo nossas fotos, nossos ensaios, e
sempre o escuto quando me dá alguma sugestão.
Se fosse em outro momento, eu já estaria ali mesmo, nos holofotes,
com a peruca na cabeça para testar as fotos. Iria amar divulgar no Instagram
e ficar por lá só vendo os comentários dos fãs e suas teorias. No entanto, o
momento não é o dos melhores.
Mas é só eu não postar nada, certo?
Tiro as fotos, faço o que Colton pede e depois as arquivo, para que
não tenha chance alguma de Alexander me ver de peruca loira. Estou
mentindo para ele, escondendo coisas, e por mais que eu tenha pensado
várias vezes em contar a verdade, ainda não tive coragem. Estamos em um
momento tão bom um com o outro que não quero que nada nos atrapalhe.
Tenho medo que me ache uma mentirosa que fez tudo de propósito e que,
de alguma forma, tentou se beneficiar com a história.
Eu não sei nem se essa merda faz sentido, mas eu tenho medo, e
medo por si só não tem explicação.
— Tudo bem — digo, por fim, e coloco um sorriso no rosto. —
Vamos testar.
Que mal pode acontecer?
Meu fotógrafo se agita e me puxa para junto das suas coisas,
pegando a peruca de dentro da bolsa.
Uau.
É linda, bem loira, longa e quase igual a de Eric.
Será que eles compraram no mesmo lugar? Só pode ter sido.
Respiro fundo ao vê-lo correr para colocar em mim, a ajustando da
melhor forma. No mesmo instante, minha barriga se revira, e é como se a
Sabrina se incorporasse dentro de mim.
Eu nunca saí de dentro de você, querida, sempre estive bem aqui,
você que está fazendo de tudo para me esconder, é como se eu pudesse
ouvi-la falar.
Céus, só posso ter ficado maluca.
Seguro os fios do cabelo artificial entre os dedos, o analisando, e
caramba, fico impressionada ao olhar no espelho que Colton ergue para
mim, o quão diferente eu fico com essa cor.
Parece, de fato, outra pessoa.
Somado a todo estilo, não teria como descobrir.
Estou quase como a própria Hannah Montana.
— Magnífica! — ele me elogia quando fica em minha frente. —
Nunca pensou em pintar dessa cor, não?
— Não! — a resposta sai tão rápido, que ele ri. — Nada contra, acho
lindo, mas é que amo ser morena.
— Faz sentido. — Pisca. — Vamos, quero você ali no meio, sentada
no chão.
Me aproximo do fundo roxo, coloco os fios para cascatearem meus
ombros e me sento no chão como Colton pede, ele já com a câmera ligada e
pronto para me fotografar.
Antes de começar, ele vira todas as luzes para mim.
— Perfeita, linda. — Seus elogios me fazem rir. — Junta mais as
mãos. — Faço o que pede e começa a tirar as fotos, uma seguida da outra,
seu flash sendo disparado todas as vezes em que faço pose. — Agora coloca
a mão abaixo do queixo. Isso, assim mesmo, McKenna. Uma diva.
Superstar.
Rio, e não faço ideia de quantas fotos minhas, Colton tira. É
desprevenida, espontânea, sorrindo, séria, e isso tudo com a peruca loira na
minha cabeça, realmente parecendo ser o meu cabelo de tão perfeita que
fica.
— Vem ver algumas dessas para ver o que acha — me chama à
medida em que começa a manusear sua câmera.
Flexiono os joelhos e me aproximo, vendo-o passar uma por uma.
— Uau — soo impressionada, e fico mesmo, pois estão perfeitas.
Combinou tanto com o fundo. — Nossa, olha essa. Eu amei.
— Sim, ficou perfeita mesmo. O que você achou dessa?
Enfio meu rosto para perto da câmera para ver melhor, e ele está de
palhaçada comigo, porque é uma em que saí conversando com ele, triste de
feia, com a cara toda torta e a mão tremendo. Começo a rir, e quando ergo
meu olhar ao seu, digo:
— Essa você pode excluir para sempre, porque eu...
Minha frase morre quando o meu fotógrafo para de prestar atenção
em mim e olha para a frente.
Faço o mesmo, não entendendo o que pode ter chamado sua atenção,
mas é só seguir para onde seus olhos estão fixados que eu entendo.
É, eu entendo.
E entendo até demais.
Alguém entrou e ficou parado na porta, observando tudo calado.
Não alguém desconhecido, mas alguém que eu conheço. Alguém
que não deveria estar aqui. Alguém que eu definitivamente achei que não
conseguiria chegar a tempo.
Alex.
Seus olhos estão arregalados, distantes, mas de encontro aos meus.
Claro, porque esteve esse tempo todo me assistindo tirar fotos com a peruca
loira, aquela tão parecida com a que usei na nossa primeira noite. Ele
percebe, eu sei que sim. Não é bobo, não é idiota, e eu consigo ver através
das suas expressões que já entendeu tudo, as suas engrenagens trabalhando
duro para encaixar todas as peças do quebra-cabeça.
— Alexander... — Seu nome me escapa em um sussurro de pesar.
Ele não se mexe.
Fica ali parado, plantado na porta, tendo a plena noção de que menti
bem na sua cara.
Sei que não dá mais tempo, sei que não importa mais, porém eu tiro
rapidamente a peruca, deixo que meu cabelo natural caia livremente e a
jogo no chão. Apesar de tudo, não consigo me mover também, eu só fico o
encarando de volta, tentando mostrá-lo que sinto muito. Que não queria
enganá-lo. Que nada do que fiz foi planejado. Que não quero nem posso
magoá-lo.
Mas ele parece... chocado? Abalado? Destruído? Eu... eu não sei
dizer.
O que eu sei é que estou totalmente sem chão.
Parece algo bobo, mas eu sei que não é.
Quando enfim movo meu corpo para ir até ele, já é tarde demais,
porque Alexander gira nos calcanhares e, na mesma facilidade em que
entrou, vai embora. E vai sem dizer uma única palavra.
— O que está acontecendo? — o fotógrafo pergunta quando me vê
correr para sair do estúdio.
— Desculpa, Colton, mas é importante.
Saio por onde meu empresário foi e tento correr atrás dele, mas
também é tarde, porque não consigo encontrá-lo na rua e nem sei para qual
lado correu.
Estou sozinha.
Com meu coração quebrado, sabendo que a minha infantilidade e
falta de coragem podem ter acabado com o que estávamos construindo.
Tudo o que eu mais detesto na vida é magoar alguém, e tudo o que
eu menos queria era magoar... ele.
Eu só queria que aquele homem fosse meu.
De verdade.
E agora? Agora eu não sei nem se vai ser capaz de me perdoar.
De cabeça baixa, volto para o estúdio, afinal, não importa o que
aconteça na minha vida, eu tenho que ser profissional. Se esse é meu
compromisso do dia, vou terminá-lo, mesmo que quando eu chegar no hotel
tenha que desabar de vez.
Posso ser a maior burra do planeta, mas Colton e os meus fãs não
têm nada a ver com isso.
E é só por causa deles que ergo a cabeça.

Meu jatinho já vai partir, e Alexander não atende minhas ligações,


todas vão para a caixa postal.
Não sei onde ele está, e por mais que eu já tenha todas as minhas
coisas arrumadas, ainda não tive coragem de sair do hotel. Estou há meia
hora parada, em pé na varanda, olhando o movimento e o brilho à noite que
Las Vegas tem, que não combina nem um pouco com a tristeza que estou
sentindo no momento.
Eu não o quero longe de mim.
Não quero que acabe com nós dois, não quando demoramos tanto
para chegar nessa fase.
Porra, meu coração está esmagando no peito sem notícias suas.
Preciso conversar, preciso acertar tudo. Preciso verdadeiramente me
desculpar.
Não por Sabrina, não pela noite que tivemos, eu não sabia que seria
meu empresário, e tudo o que vivemos foi completamente real. O que quero
mesmo me desculpar é pela omissão, pelo fato de tê-lo escondido um fato
tão importante sobre a minha vida e a dele.
Suspiro fundo, prestes a deixar uma lágrima derramar, quando batem
na porta do quarto que estou no hotel.
Vou até lá, imaginando quem pode ser.
A abro.
— Colton, eu ainda não desci por...
Paro.
Não é Colton.
É Alexander.
Parado à porta, inclinado no batente, os olhos castanhos subindo do
chão até encontrar os meus.
Uma lufada de ar escapa pela fresta entre meus lábios e quando
decido trocar o peso dos pés para poder falar algo, começando por um
pedido de desculpas, sou pega totalmente desprevenida quando o homem
entra com tudo no quarto, fecha a porta e avança em minha direção. Penso
que vai brigar, que vai me xingar, que vai partir ainda mais o meu coração e
dizer que nem eu, nem Sabrina significaram nada na sua vida, mas não, não
é o que acontece.
Ele espalma as mãos em meu rosto e... me beija.
Me beija.
Como estou com os olhos abertos, em choque, vejo que fecha os
seus, aproveitando o momento.
Não entendo o que está acontecendo, fico perdida, confusa, tonta,
com o coração desenfreado, mas tudo que consigo fazer é beijá-lo de volta.
Finalmente fecho os olhos e os meus lábios se prensam nos seus, os
esmagando. Na hora que pede passagem e começa a me puxar para o seu
corpo, eu me afasto, olhando dentro dos seus olhos.
— O que você está fazendo? — é impossível esconder a minha
dúvida.
Esse homem me viu loira, percebeu tudo, fugiu, sumiu e agora
aparece na porta do hotel, não fala nada e me beija como se nada tivesse
acontecido?
Não, pior, ele me beija como se tudo fosse diferente, como se, de
uma hora para a outra, todo o seu sentimento tivesse se tornado mais
intenso, mais eufórico e mais esmagador. É de deixar qualquer pessoa
confusa, e eu fico com medo de encontrar alguma pegadinha.
— Eu entendi — solta, e minha confusão não passa. — Porra, eu
entendi tudo. Te vi ali, loira, e na mesma hora a minha ficha caiu. É você.
Esse tempo todo foi você. A Sabrina. A garota da festa, da Call Emergency,
que me levou para o banheiro e mudou toda a porra da minha noite. Passei
dias querendo te encontrar de novo, passei dias querendo saber onde te
procurar, onde conseguir ficar com você. Mas aí eu te conheci, te conheci
de verdade, a Michaela, e aí, com o tempo, a Sabrina já não existia mais na
minha mente. Tudo se resumia a você, e eu não entendia o motivo. Mas
agora eu entendo. Sempre foi você. O tempo todo, desde que cruzei o seu
caminho, a minha obsessão foi você. Poderia ser a Sabrina, a Michaela, até
mesmo a porcaria da Wendy, mas meu coração, minha mente, meu cérebro,
minha pele, te reconheceria de qualquer forma.
Ainda bem que Alexander me segura, pois minhas pernas se
encontram moles como duas gelatinas.
— Eu achei... — As palavras se perdem diante de tanta fraqueza que
sinto, porém não posso ficar calada. Não agora. Não quando o destino me
dá mais uma chance para acertar todas as nossas pendências. — Eu achei
que estivesse com raiva. Achei que estivesse magoado por eu não ter
contado nada.
— Eu fiquei — responde. — Eu cheguei naquele estúdio, te
encontrei daquele jeito e o meu chão abriu. Quando você me encarou, eu
não conseguia acreditar. Meu coração foi parar na garganta, meu mundo
rodopiou e eu precisava de um pouco de ar. Precisava pensar. — Noto que
seu coração bate forte contra a palma da minha mão quando decido encostá-
la em seu peito como uma maneira de acalmá-lo. — Fiquei repassando
todos os nossos momentos e as coisas fizeram cada vez mais sentido. No
meu interior, eu sabia que era você, só não quis acreditar. Eu te achava
parecida com ela, principalmente a voz, o brilho nos olhos, a maneira de me
enfrentar, certas coisas de falar. Mas, porra, Michaela, você era uma das
minhas estrelas, eu não podia acreditar.
— Sim, eu sei, e foi por isso que não falei nada, eu não queria
atrapalhar a relação profissional que deveríamos ter. Não queria deixar um
clima ainda mais estranho para nós, então fiz questão de esconder. Você não
me suportava, eu não te suportava, e, sendo bem sincera, era bem melhor
para mim que continuasse daquele jeito. Se permanecêssemos naquela
linha, eu não iria continuar te querendo. Deu certo? Óbvio que não, porque
eu também sempre quis você. Desde o primeiro olhar, naquele maldito bar,
passei tempo demais me enganando.
— Eu também. — Suas mãos continuam em cada lado do meu rosto,
e Alex se aproveita disso para descansar sua testa na minha. Nossas
respirações descompassadas se ondulam juntas. — Eu também passei
aquele começo me enganando, porém chegou um tempo que se tornou
insustentável. Não existia mais Sabrina, eu só conseguia pensar em você.
Mas é porque sempre foi você, entende? Por todas as suas versões eu me
encontraria rendido, e não estou com raiva, saiba disso. Eu entendo todos os
seus motivos para ter omitido, não vou ser hipócrita, se fosse ao contrário,
também optaria por esquecer e não falar nada.
— Sim, eu sei, mas nossa relação não ficou no profissional, eu
poderia ter te contado, e eu ia. Juro que ia. Só estava esperando entender a
melhor forma de fazer isso.
— Está tudo bem.
— Por que você parece tão feliz?
— Porque eu estava maluco, porra. Porque eu estava me sentindo
culpado, me sentindo confuso, tentando entender como isso aconteceu,
como eu fui ficar de quatro por você, uma garota por quem trabalho,
quando disse mil vezes que nunca tinha feito isso antes. Não é óbvio?
Temos uma história, pimentinha. Você chegou para mim muito antes, você
foi minha Sabrina, minha Wendy, a garota que vomitou em mim.
Rio de vergonha.
— Céus, por favor, não lembre disso, foi a maior vergonha da minha
vida.
— Eu não me importei. — Minha expressão é de quem não acredita
muito, porém, Alexander faz questão de balançar a cabeça para confirmar,
sorrindo. — É sério — insiste. — Eu só ficava pensando se você estava
bem. Ia até correr para te ajudar, mas fiquei preso no banheiro por causa da
minha camisa.
Escondo meu rosto em seu peito, morrendo de vergonha mesmo.
— Me desculpa — peço, baixinho. — Me desculpa, Alexander. Me
desculpa de verdade. Pelo vômito, por ter escondido, por ter feito você
descobrir dessa forma. Me desculpa mesmo, posso fazer o que for para me
redimir, só não me afaste, não quero ter que ficar longe de você.
— Ei, não. — Toca meu queixo suavemente e me faz olhar para ele.
— Não peça desculpas por nada, é a nossa história. Tinha que ser assim. E
se quer saber, eu te agradeço.
— Me agradece? — Rio fraco. — Pelo quê?
— Por ter aparecido na minha vida, por ter voltado, por ser você. É a
minha garota misteriosa, a minha estrela, a minha pimentinha. Só Deus sabe
o quanto estou feliz por isso, por finalmente poder perceber como tudo faz e
continua fazendo sentido.
O beijo, também sem acreditar.
— Sabe... — Lambo os lábios. — Achei que fosse incapaz de fazer
esse feito, de conseguir, de certa forma, te conquistar de novo, mas é como
você disse, tinha que ser. Tinha que ser eu. Desde aquela noite, estava
marcado. Podíamos brigar, podíamos nos odiar, no entanto, em algum
momento, acharíamos o caminho de volta um para o outro de novo.
— Porque você é a minha obsessão, Michaela McKenna. É tudo
sobre você.
— Graças a Deus — brinco, envolvendo meus pulsos ao redor do
seu pescoço. Percebo que está de gravata e que continua com aquela mania
de afrouxá-la sempre que está em minha presença. — Você está nervoso?
— Bastante.
Acho graça.
— Então é por isso que vira e mexe você mexia nessa gravata, não
é? Ficava nervoso perto de mim.
— Claro, você vivia pronta para me foder.
O puxo mais para mim quando o pego pela gravata.
— Sempre sonhei em arrancá-la de você, chefinho.
— Engraçado, porque eu sempre pensei em amarrá-las no seu pulso
enquanto a fodo.
Ao imaginar a cena, um raio atinge o meio entre as minhas pernas.
Eu choramingo, no entanto.
— Infelizmente, não vamos poder realizar essa fantasia. — Projeto o
lábio inferior para baixo com tristeza. — Meu jatinho vai partir, Colton, o
fotógrafo, provavelmente está me esperando lá embaixo.
— Foda-se. — Pestaneja. — Eu fiz uma viagem de jatinho de LA
para cá só para te ver, deixei todos os meus compromissos de lado, com a
maioria sem finalizar, descobri a verdade, estou com você aqui em Vegas
para eu fazer o que quiser e acha mesmo que vou te deixar ir embora? De
maneira alguma. Cancele. Mande o piloto ir embora só com esse Colton,
porque eu mesmo te levarei de volta para casa amanhã. Ainda temos essa
noite, e nós vamos aproveitar tudo o que não aproveitamos naquela em que
era Sabrina. Começaremos do zero e faremos tudo ser mágico, sem mais
mentiras, sem mais segredos. Apenas nós.
Sinto meu coração indo a milhão.
— Tem certeza?
— Absoluta.
— Certo, vou avisar para Colton ir sozinho.
— Faça isso.
Me afasto, indo em busca do meu celular, porém paro no meio do
quarto quando me chama.
— Ainda está com aquela roupa da sessão de fotos?
Subo e desço o queixo em uma confirmação.
— E a peruca?
— Aqui.
Por sorte, Colton a guardou nas minhas coisas, as suas não possuíam
mais espaço.
— Coloque-a, quero você nela.
Ao esticar os lábios num sorriso torto, sei exatamente o que se passa
na sua cabeça.
Hoje não vai ser com a Michaela que vai querer foder, vai ser com a
Sabrina.
E é bom porque, no fim, sou eu. Sempre será eu.
“Viva Las Vegas transformando dia em noite
Transformando noite em dia
Se você for lá uma vez
Você nunca mais será o mesmo”
VIVA LAS VEGAS — ELVIS PRESLEY

Sentado na cama, vejo quando ela passa do banheiro para o quarto.


Acabou de colocar a peruca loira e o vestido de brilho.
Eu até poderia dizer “nossa, não acredito que isso está acontecendo”,
mas seria uma grande mentira. É claro que está acontecendo. É claro que
Michaela é Sabrina. É claro que Sabrina é Michaela. Estava óbvio esse
tempo todo, e eu que não quis perceber. Porque também era óbvio que eu
sabia. Era óbvio que eu sentia a verdade dentro do meu coração, as duas
eram cheias de semelhanças.
E porra, eu não brinquei quando disse que agora tudo faz sentido.
Tudo realmente faz. Tudo se alinhou, e meu coração bate na garganta por
isso.
Ficar triste? Não.
Ficar com raiva? Impossível.
Ela é minha, sempre foi minha, sempre vai ser minha, não
importando a versão que use.
E a garota anda de um lado para o outro de Sabrina, rebolando e me
provocando. A acompanho com os olhos.
Louco. Fissurado. Obcecado. Enlouquecido. É assim que me
encontro.
Finalmente vou te pegar, loira.
É com esse pensamento que me levanto da cama e me arrasto até ela.
Percebo que refez a maquiagem, os olhos com sombras azuis, cheios de
glitters e pedrinhas sendo a primeira coisa que me chama atenção.
Sabe o melhor de tudo? Michaela continuará escondida do resto do
mundo assim, disfarçada, porém não de mim. Serei o único a poder estar
diante das duas, as adorando.
Pego uma mecha da peruca entre os dedos, brincando com ela
quando decido esquadrinhar seu belo rosto.
— Completamente linda — sibilo. — Sabrina, certo? — a provoco, e
ela pisca os cílios, inocente. — Vou te esperar lá embaixo, no bar do hotel.
— Vai jogar no cassino?
— Não, vou jogar com você.
Sorrindo, eu me afasto e começo a andar para fora do quarto. Antes
de passar pela porta e seguir pelo corredor, dou uma última olhada nela
parada ali. Seus olhos me acompanham, se encontram carregados de
luxúria. Ela sabe muito bem o que está por vir. Sabe muito bem o que
pretendo fazer com ela.
Nós vamos realmente retomar àquela noite e fazer o que deveríamos
ter feito.
Pisco como uma forma de aviso antes de sair e, lentamente, fecho a
porta. Sigo pelo corredor, chamo o elevador e espero menos de um minuto
para ele se abrir. Me coloco na caixa metálica junto de mais outras duas
pessoas e espero.
Uma vez no saguão do hotel, um dos mais luxuosos de Las Vegas, eu
passo o olho pelo lugar. Os homens andam de terno, as mulheres de vestido
e a decoração grita que só as pessoas mais importantes e influentes do país
andam aqui dentro.
Sigo algumas delas e passo pelos jogos de azar antes de chegar nos
fundos, ao bar. Escuto murmúrios, gritos de vitória, conversas e me sinto
tão poderoso quanto eles quando, com os ombros aprumados, eu agradeço
mentalmente pela vaga que encontro para me sentar em um dos bancos.
— Opa — chamo a atenção do homem fazendo as bebidas, que logo
vem me atender quando me acomodo. — Um copo de uísque, por favor.
Ele assente, e quando se vira para ir em busca da bebida que pedi, eu
me viro sobre os ombros, a esperando entrar pelo meu campo de visão.
Minhas mãos estão suando.
Estou ansioso.
Nervoso.
Cheio de expectativa.
Cacete, acho que estou hiperventilando. Nunca senti isso antes.
Nunca nem esperei por mulher nenhuma antes. É a primeira vez que me
sinto assim; flutuando, nas nuvens, vivendo o momento certo.
É, vivendo.
Não mais escondido, não mais deixando o trabalho falar mais alto,
apenas vivendo, fazendo tudo o que eu quero fazer. Não há mais espera nem
perda de tempo.
Só há o agora.
Agradeço quando o homem retorna com o uísque, entorno um pouco
do líquido âmbar na boca e continuo esperando, meus olhos vão em direção
à entrada para não perder nada. Quero vê-la chegar, quero ser o primeiro,
quero admirá-la andando até mim.
Não demora muito para que meu coração salte no peito, quase indo
parar na garganta quando minhas íris flagram a loira entrar, à minha
procura. Ela olha para um lado, olha para o outro, e enquanto não me
percebe aqui, vislumbro seu corpo no vestido justo. As pernas brilhando, a
cintura modelada, os seios turbinados pelo decote.
Gostosa.
Gostosa pra caralho.
Claro, alguns homens a observam, olhando-a de cima a baixo, mas,
por mais surpreendente que pareça, no momento, eu não me importo com
isso. Eu só me importo com o momento em que Sabrina irá me achar, e
quando isso acontece, não parece mais perdida.
A autoconfiança brilha em seus olhos, o sorriso de canto aparece em
seus lábios quando fixa a atenção no meu rosto e ela não se importa com
mais nada, porque seus saltos tilintam no chão enquanto desfila para pegar
o que tanto quer. Eu.
Bebo mais um pouco do uísque para aliviar a boca seca e o repouso
no tampo do balcão assim que para ao meu lado, no banco vazio. Em um
primeiro momento, não se senta, mas se escora no vidro e fica fingindo que
não está me vendo, sua atenção voltada para o cardápio de bebidas à sua
frente.
— Nossa, me desculpa — entra na atuação quando, de propósito,
bate seu cotovelo contra o meu ao se mexer. É aí que seu olhar sobe para o
meu rosto e tudo se acende, porque faz questão de me mostrar a mesma
expressão de surpresa e adoração que fez àquela noite, quando, sem
nenhum pudor, me analisou de cima a baixo por longos segundos. — Eu
não tinha te visto aqui. Que tolice a minha.
Bate levemente contra a testa, e de boba não tem nada.
Porém, entro no personagem também.
— Não, não se preocupe, está tudo bem. Eu só estava aqui sozinho
lidando com as coisas do trabalho, que é um saco.
— Olha que divertido, você acabou de ganhar uma companhia. —
Sorrio, e a garota misteriosa se senta no banco, cruza as pernas e chama o
barman. — Uma Piña Colada, por favor.
— Uma Piña Colada saindo, senhorita — o homem diz com o seu
sotaque.
— Acho que acabo de ter um dèjá vu — menciono assim que seus
olhos me fitam. — Não sei, como se eu tivesse vivido uma situação
igualzinha a essa.
— Sério? — Confirmo ao subir e descer a cabeça, e por mais que eu
tente muito ficar ao menos impassível, sou um péssimo ator e começo a rir.
Mas disfarço, porque ela empurra seu joelho no meu só para eu me
concentrar. — Pior que estou com esse pressentimento também. É como se
eu te conhecesse. Como se eu tivesse visto você em outro bar, em outra
festa, em outra cidade. É quase como se eu pudesse te ver no banheiro junto
comigo.
— Quanta coincidência! — faço como se eu realmente estivesse
surpreso. — Eu estou conseguindo visualizar a mesma coisa, e é engraçado
porque eu te vejo vomitando em cima de mim e fugindo depois. Que
loucura, não é mesmo? Tenho certeza que você jamais poderia fazer algo
vergonhoso assim.
— Nunca, não é do meu feitio, eu jamais faria isso.
É só essa frase sair da sua boca que a Michaela aparece, rindo do
nada.
Ela cobre a boca com a mão na mesma hora, no entanto. Não vai
deixar o teatro morrer, afinal, não quer sair do personagem por nada, pois
está bem claro que ama se sentir dessa forma.
— Na verdade, eu não sei quem poderia fazer algo assim —
continuo, já que percebo que não vai conseguir falar agora por ainda estar
se recompondo. — Eu jamais me interessaria por uma mulher que não
tivesse modos ou que não me dissesse ao menos seu nome. Você vai me
dizer seu nome, loira?
— Meu nome é Wendy.
Mordo os lábios.
— Ah, não, algo me diz que você se chama Sabrina.
Faz questão de aproximar seu rosto do meu, com o sorriso
novamente dançando pelos seus lábios.
— Como adivinhou?
Toco um lado do seu rosto para trazê-la mais para perto.
— A droga da sensação de déjà vu, gata.
— Ela só pode estar querendo nos dizer alguma coisa. — Estou
quase prestes a agarrá-la agora, aqui mesmo, sem nem me importar com
quem pode estar olhando, porém nos afastamos quando o seu drinque chega
e ela precisa pegá-lo. Agradece ao barman, mexe no canudinho e não olha
para mais nada além de mim. — Aposto que está querendo dizer que você
deve passar essa noite comigo.
Porra, vou ter uma ereção na frente de todo mundo nesse cassino
com ela assim, me desafiando com sua voz sensual.
— Está dando em cima de mim, menina? Você não deveria brincar
com fogo — relembro e praticamente uso todas as palavras daquela noite.
— Eu adoooooro brincar com fogo — cantarola, safada. — E sei que
você pode me queimar.
— Mas eu nem te conheço, eu nem ao menos sei o seu nome —
brinco.
— É Sabrina mesmo. — Bebe mais um pouco da sua Piña Colada e
decide se levantar do banco, só para ficar bem próxima a mim. — Sabrina
Larsen — sussurra, como se fosse um segredo.
— Larsen? — Fico surpreso de verdade, e a minha Sabrina assente.
— Era o que estava escrito na sua identidade falsa?
— Eu não sei do que está falando, Sr...? — deixa no ar, fingindo não
ter ideia de quem sou eu.
— Russell — digo, e engulo em seco quando decide enrolar minha
gravata em seus dedos, na mão que está livre. Na mesma hora, suas íris
ficam carregadas de desejo e de tesão. Aposto que está molhada. Aposto
que está doida para que eu a foda como Sabrina, porque essa é uma fantasia
sua também. — Alexander Russell.
— Não, espera. Você é o novo empresário da popstar?
— Se for de Michaela McKenna que você está falando, sim, sou eu.
Ela franze o rosto em uma careta engraçada.
— Credo, não vou com a cara dela.
Rio.
— Não vai?
— Não.
— E posso saber por que não?
A loira dá de ombros.
— Acho que ela se acha um pouco.
— Você a conhece?
— Não — finge indiferença, deixa o copo de bebida no balcão e
agora brinca com a minha gravata com as duas mãos. Seguro sua cintura e a
trago para mais perto, entre as minhas pernas. — Também nem quero
conhecê-la.
— Por quê?
— Porque ela parece ter tudo o que quer, e se ela quiser você, não
vai sobrar nem um pedacinho para mim.
Me divirto com o seu sorriso acanhado, embora meu pau se contorça
na calça.
— Vou te contar um segredo... — Meu aperto em sua cintura se
intensifica e cacete, essa mulher quase me faz rosnar quando morde o lábio
inferior para conter seus gemidos. — Promete que vai guardá-lo para você?
— Vou guardar no meu coração, Sr. Russell.
— Quero foder você — confesso, a voz gutural soando em seu
ouvido. — Não, deixe-me reformular. Eu vou foder você. É simplesmente a
mulher mais linda que já vi.
Me faz olhá-la só para perguntar:
— Mais que Michaela?
Tombo a cabeça para o lado.
— Aí você me fode.
— Vamos, Alexander, responda.
Me encontro totalmente desconfiado no momento.
— Por que você parece com ciúmes, pimentinha?
— Porque eu quero saber sua resposta, oras. Quem é mais bonita, eu
ou Sabrina?
Certo, saiu do personagem, está mesmo com ciúmes.
Ela me tira a risada mais sincera de todas por causa disso.
— Vocês são a mesma pessoa, minha querida, não está se
lembrando?
Chacoalha os ombros para cima e para baixo.
— Queria que você dissesse que sou eu.
— Mas é você — respondo o óbvio.
— Como Michaela ou como Sabrina?
— Para com isso, pimentinha. — A abraço, e mesmo que tente se
desvencilhar de mim, só para fingir chateação, não consegue sustentar a
pose por muito tempo, já que acaba me abraçando de volta enquanto dá
risada. — Estou tão feliz, sabia? — Michaela envolve meu pescoço com os
pulsos e repuxa os lábios para cima. — A melhor coisa que fiz foi ter vindo
aqui. Eu precisava descobrir a verdade para que um peso enorme saísse dos
meus ombros, e devo dizer que ele saiu. Não há nada pesando mais em
mim. Estou leve. Estou me sentindo até mais jovem, cheio de disposição,
como um garoto que chegou na melhor fase da vida.
— Fiquei com tanto medo que me odiasse...
Seu suspiro pesado me corta o coração.
— Desculpa por ter saído daquela forma e por ter feito você pensar o
oposto.
— Não, eu quem peço desculpas. Menti e ainda fui uma completa
chata com você no começo.
— Pois saiba que eu não mudaria nada. — Dou um beijo rápido em
seus lábios, porque realmente não estou nem aí, agora que tem como, quero
fazer todas as demonstrações públicas de afeto possíveis. — Foi engraçado?
Foi engraçado. Você acabou com o meu juízo com sua petulância? Ah, com
certeza, mas deve ter sido por causa disso que deu tão certo. Eu precisava
de alguém como você, e você precisava de alguém como eu. Antigamente,
não acreditava muito nessas coisas, sei que vou até soar piegas agora,
porém olha só a coincidência, Michaela. Você me conheceu naquele bar um
dia antes de nos conhecermos oficialmente, isso para mim só pode ter sido
o destino.
— Eu também acho.
Beijo-a de novo, só que agora no pescoço.
— Mas de verdade mesmo, eu não fiz nada na maldade. — Segura
meu rosto outra vez porque quer me olhar e quer fazer com que eu veja a
sinceridade transparecendo em suas íris. — Sabia sobre você, o grande
Alexander Russell, mas não te conhecia, nunca tinha visto foto nenhuma na
internet. Achei que era um homem mais velho e realmente desconhecido.
No outro dia, tive a surpresa. Fiquei em choque, porque te reconheci logo
de cara. Nós conversamos, tivemos aquela péssima impressão e aí foi que
eu disse a mim mesma que, como você não seria capaz de descobrir que era
eu naquela festa, ia me esquecer completamente do acontecido. Tudo fugiu
do meu controle, as coisas foram se tornando uma bola de neve e eu não
consegui encontrar uma forma certa para te contar, mesmo quando já
havíamos nos aproximado.
— Eu sei, amor — a palavra sai naturalmente por entre meus lábios,
e a faço sorrir. — Quando eu digo que consigo te entender, é porque
consigo. Se fosse eu o disfarçado e se fosse eu a descobrir que passaríamos
a trabalhar juntos no outro dia, também guardaria o momento para mim.
Acho que qualquer pessoa faria isso. E depois... bem, depois eu também
ficaria à procura da melhor forma para revelar o segredo.
— Provavelmente você não escolheria uma sessão de fotos em Las
Vegas para fazer isso — zomba.
— Não, mas que bom que você escolheu, que bom que estamos aqui
e que podemos aproveitar, ter essa noite só para nós. O que deseja fazer,
loira?
— Eu...
— Algum lugar específico? Alguma coisa específica? Tipo jogar
poker e tentar ganhar uma grana no cassino? Visitar algum ponto turístico?
Voltar para o quarto? — sugiro. — Você quem escolhe, eu estou realmente
aqui para esquecer de tudo e aproveitar.
— Achei que você fosse me foder, Alexander — quase chora,
necessitada.
— Eu vou fazer isso, sua safada, mas não vai ser no banheiro só
porque estamos revivendo aquela noite. É justamente por estarmos tendo
uma segunda chance para completá-la que quero fazer o que é certo, o que
eu deveria ter feito quando te conheci.
— Certo. — Meu coração martela as costas quando seu sorriso
aparece e ilumina tudo ao redor. — Nós podemos visitar a High Roller, o
que acha?
— A roda-gigante?
Confirma.
— Todas as vezes que venho a Las Vegas, é a trabalho, nunca
consigo ter tempo para visitá-la. Sempre foi o meu sonho.
— E por que não falou isso logo?
Me levanto em um ímpeto, entorno o restante do uísque, deixo
alguns dólares em cima da mesa e a puxo para mim, seu corpo encostando
no meu em um solavanco.
— Estou aqui para realizar todos os seus desejos, amor. Se é a High
Roller que você quer ir, é para lá que nós iremos.
Quando se tem contatos, e precisamente dinheiro, tudo fica mais
fácil, incluindo conseguir ficar na High Roller sozinho com Michaela
dentro das cabines, as famosas gôndolas, que geralmente comportam mais
de vinte pessoas, fora o barman para servir as bebidas.
A cabine é espaçosa, com vidro do chão ao teto, disponibilizando a
melhor vista de todas para os turistas, e ainda tem música para melhorar a
experiência. E é lindo. É mesmo mágico. Daqui de cima conseguimos
observar toda a cidade luxuosa e agitada, principalmente os hotéis, cassinos
e as montanhas distantes.
Assim como Michaela, também nunca passeei na roda-gigante de
Las Vegas.
— Isso aqui é tão alto.
Sua admiração e sua incredulidade não têm como passar batido.
Ela está topando no vidro, com o rosto bem próximo como se não
pudesse acreditar que está onde está. Parece maravilhada. Emocionada.
Feliz demais para conseguir pôr em palavras.
— Tem medo? — A abraço por trás e a garota repousa a cabeça em
meu peito. — Porque não é para você ficar, estou aqui para te proteger.
Sua risada explodindo no ar é a melhor música que existe.
— Você não é o Superman para me salvar de uma altura dessas,
Alex. Aqui tem 180 metros.
— Quem disse? Eu posso muito bem ser o Clark Kent e você não
está nem sabendo.
Enquanto ri outra vez, sei que pode sentir meu coração acelerado.
— Já chega de disfarces. — Gira o seu corpo, e as suas costas
passam a ficar coladas no vidro. Me aproximo, espalmando uma das mãos
acima da sua cabeça. — Não acho que eu aguentaria descobrir que você
também é outra pessoa, pelo menos não quando ainda não aproveitamos
totalmente a Sabrina.
Umedeço os lábios e dedilho seu rosto com cuidado, a luz da
gôndola tornando-a ainda mais sexy e fazendo-a brilhar tanto quanto a
cidade lá fora. Está a própria personificação de Las Vegas, e eu só consigo
sentir uma vontade imensa de beijá-la por toda a noite, por todo o sempre,
porque nunca vou ser capaz de me cansar do seu gosto, do seu brilho, da
sua incrível vontade de viver e ser feliz, que tanto mexe comigo.
— Verdade, é melhor deixarmos essa história de Clark Kent para lá
— respondo depois de ficar tempo demais a admirando. — Sabrina está
aqui comigo, não na Call Emergency, mas no topo da High Roller. Eu não
posso desperdiçar essa chance.
— Chance de quê?
Outra vez me puxa pela gravata, se insinuando quando decide roçar
sua boca gostosa na minha, me fazendo grunhir.
— De te beijar — sopro contra seus lábios. — Porque você tá um
tesão da porra.
— E eu estou doida por você, Alexander. Doida para me queimar no
fogo.
Mordo seu lábio bem na hora que vem roçá-lo em mim de novo, e é
a sua vez de gemer.
— Merda — choraminga e em seguida lambe a parte em que mordi.
— Eu deveria ter aceitado a opção que me deu de voltarmos ao quarto do
hotel, porque uma hora dessas eu deveria estar me acabando de sentar em
você. Certo, a vista é linda, sempre tive o sonho de conhecer, mas a vista do
seu pau e o sonho de te ter dentro de mim é muito melhor do que qualquer
outro.
Com a mão cerrada, eu bato contra o vidro de leve, só porque me
deixa tão excitado que não sei o que fazer para reprimir todo o desejo que
sinto.
Afinal, perto de Michaela, me torno insaciável. Quanto mais tenho
dela, mais eu quero, e nunca é o suficiente. Vou precisar de umas três vidas
— ou mais — até ser possível fazer tudo o que sinto vontade com essa
garota, que, a qualquer momento, é capaz de me causar um infarto. Não
duvido nada que meu coração pare por sua casa.
— Você não consegue pensar na mesma fantasia que eu, pimentinha?
— Ah, eu penso em tantas, se você soubesse...
— Aqui — atiro, rápido. — Foder você aqui. Não precisamos de um
quarto de hotel para eu te comer. Posso te comer onde você quiser, onde
estiver com vontade.
Michaela se engasga e seus olhos saltam.
— Aqui? — Tosse de novo. — Não, Alexander... — Ri, nervosa. —
Estamos numa roda-gigante, na frente de um monte de prédio, em meio à
cidade movimentada, seria loucura e...
— Você mesma disse que estamos a 180 metros, quem vai ver? —
Minhas sobrancelhas dançam em desafio. — Meu pau está duro por você,
Michaela, e nós temos ainda trinta minutos de passeio. Dá tempo de sobra
para uma rapidinha.
— E cadê a camisinha?
— No meu bolso. — Dou de ombros. — Acha que saio com você
despreparado? Só se eu fosse maluco, sei a mulher que tenho, e ela é uma
grande coelhinha.
— A mulher que você tem? — repete, porque é só nisso que parece
ter focado.
— Não aja como se eu não tivesse dito mil vezes que você é minha,
Michaela.
— Sabrina. — Empina o queixo e me faz segurá-la na cintura. —
Estou de peruca, você vai foder é com ela.
— Vou foder com as duas, porque essas duas me foderam primeiro.
— É...
Calo a sua boca na mesma hora, pois não sinto vontade mais de
conversar. Porra, meu pau está endurecido na calça, praticamente
implorando para ser liberado de tanto que maltrata o zíper. E eu sei que ela
se encontra da mesma forma, tanto que grunhe um xingamento e continua
forçando a boca na minha para encontrar a minha língua, desesperada para
me sentir, desesperada para que elas duelem numa guerra em que todo
mundo sabe que não há vencedor.
E ainda me beijando, Michaela segura o meu pau na sua mão, sob a
calça, e o aperta, se afastando só para gemer enquanto revira os olhos. No
mesmo segundo, não deixo que me escape, volto a beijá-la com ainda mais
intensidade, um tempo depois descendo a minha boca pela sua mandíbula,
pescoço e aproveitando para enterrar meu rosto entre seu decote, com os
seios empinados e amontoados, totalmente maravilhosos.
Arfando e se deliciando com a minha língua, sugando e brincando na
região da sua pele, suas mãos trêmulas começam a tentar encontrar o zíper
da minha calça, que desce com rapidez assim que o acha, claramente
desesperada e afoita.
— Entendo sua pressa, amor, mas primeiro precisamos disso —
brinco ao entregá-la um sorriso sacana quando puxo a camisinha antes de
ter a minha calça social atingindo os meus tornozelos, com a embalagem
laminada erguida brilhando entre os dedos. — Uhh, ok, tudo bem,
nervosinha, arranque minha cueca, se está tão desesperada assim para
encontrar o seu brinquedo favorito.
Ela rola os olhos diante do meu sarcasmo, e continua deslizando a
cueca pelas minhas pernas mesmo assim, fazendo-a se embolar nos meus
calcanhares também. É tudo tão caótico, tão eufórico, tão cheio de
desespero, que agora nós nos embolamos em beijos, mordidas e chupadas
quando vê que me encontro totalmente livre na parte de baixo.
Me afasto mais uma vez só para encapar meu pau, porque Michaela
implora por isso.
— Já disse que você é um tesão do caralho?
Outra revirada de olhos, pois está sem paciência, com a boceta
ensopada por mim.
— Já disse. Porra, olha os minutos, Alexander.
— Calma. — Pego-a pelo pescoço e a empurro novamente contra o
vidro. — Eu já disse que você tem que me obedecer. Quem é que manda
aqui? — Passo a língua sobre seus lábios, a saboreando. Meu aperto em seu
pescoço aumenta quando a ouço resmungar mais uma vez, como a
desobediente que é. — Eu vou te dar o que você quer, vou te comer
gostoso, você só precisa ter um pouco mais de paciência.
— Como posso ter paciência se estamos na porra de uma roda-
gigante, com a cidade lá fora nos observando e o passeio podendo acabar a
qualquer momento?
A cabine continua se movendo, agora atinge o ponto mais alto, e é
definitivamente o momento certo para fodê-la no High Roller.
Pressiono nossos corpos e não tenho nenhum dó de a encurralar.
— Não é maravilhoso? Não te dá mais tesão saber que pode ser
observada, mesmo que muito, muito de longe? — Pelo jeito como se
contorce, sei que a resposta é sim. — Não te dá mais tesão saber que vou
foder você em mais um ponto turístico de uma cidade? Porque, para mim,
dá um tesão da porra. Principalmente quando eu penso que os Estados
Unidos é grande demais e nós provavelmente teremos que passar anos até
macularmos todos.
— Alexander... — geme com os olhos fechados e me traz para perto
da sua boca pela gravata. — Por favor.
Merda, ela pede com tanta vontade, tanta precisão e urgência que
não posso mais torturá-la.
— A sorte é que você está de vestido, amor, então será fácil, fácil.
— Sim, coloque a minha calcinha de lado e entra de uma vez. Por
favor.
Não deixo que me implore outra vez.
E também gemendo por vê-la nesse estado, eu a pego no colo e a
deixo ainda imprensada contra o vidro. Engulo um palavrão quando sinto
suas unhas em minhas omoplatas.
Posso ainda estar vestido da cintura para cima, mas o que posso
fazer se suas garras são afiadas e doem. Pelo menos é uma dor deliciosa.
Olho para Las Vegas se movimentando e, aproveitando que seu
vestido já subiu por causa da nossa posição, por estar com as pernas ao
redor do meu quadril, faço o que me pediu, coloco sua calcinha de lado, a
equilibro só com um braço e entro com meu pau na sua boceta molhada.
Ao sentir seus músculos me apertarem, tombo a cabeça para trás e
gemo.
— Porra!
Tão quente.
Tão apertada.
Tão molhada, faminta e necessitada.
— Caralho, Michaela, sua boceta vai esmagar o meu pau desse jeito
— vocifero, com o suor já salpicando a minha testa.
Tem ar-condicionado na desgraça dessa roda-gigante, mas nem
parece. Estou suando junto com ela, como se estivéssemos dentro de uma
sauna cheia de gente. Até mesmo os vidros da cabine começam a embaçar
por causa do nosso sexo feroz.
— Meu... D-deus... — Parece sem ar, fraca, com o corpo pulando à
medida em que a penetro, saindo e entrando dentro da sua boceta com tanta
rapidez que o vidro na gôndola começa a tremer, fazendo barulho. —
Cacete, Alex. — Seus dedos se infiltram e puxam meu cabelo. — Isso é
tão... bom... — Mal consegue falar, porque a bombeio com tanta vontade
que tiro as suas forças. Cada vez mais a sinto amolecer, vez ou outra fecha
os olhos, os abre, os arregala e grita como se nunca tivesse sentido nada
igual. Como se nunca tivesse sido comida dessa forma. E provavelmente
não foi, duvido que algum dos seus ex-namorados idiotas a proporcionou
um momento desses. — Porra, onde você esteve por tanto tempo? Por que
deixou que eu passasse... tanta... tanta vontade?
O ar sai quente dos meus lábios, e como também não consigo
formular nada em minha mente para respondê-la à altura, porque a sinto
completamente embaçada de tesão, lhe dou uma resposta com mais um
beijo. Um que é mais ardente, mais duro, mais sujo, totalmente irregular,
afinal, como meu pau não para de meter na sua boceta que me aperta e me
engole cada vez mais, nossos corpos continuam se movimentando.
O dela, inclusive, pula junto dos seus seios, que quase estão saindo
para fora do decote.
Estão implorando por mim da mesma forma que a minha boca
implora por eles.
Como não tenho outra alternativa, coloco um deles para fora e, do
jeito que dá, o abocanho. Eles não são grandes, são médios, mas são
perfeitos, porque conseguem encher a minha boca quando eu os sugo para
dentro. E o seu bico duro, que é a minha parte favorita, fica ainda mais
delicioso quando eu o mordo e o chupo, seu puxão no meu cabelo se
intensificando à medida em que a minha língua fica brincando e circulando
a aréola, deixando a região tão molhada quanto a sua boceta é capaz de ficar
em todas as vezes que costumamos transar.
Mas meu pau continua a castigando, nossos corpos continuam
suando e tudo o que a cabine faz é cheirar a sexo, o vidro ainda mais
embaçado do que quando estava no começo. Fica tanto a marca da minha
mão quanto a do seu corpo, e é lindo. Uma puta visão.
A roda sobe, a roda desce, as luzes piscam lá fora e, se alguém nos
assiste, o que eu acho bem difícil por ser praticamente impossível de
enxergar, que possam aprender o que é se entregar de verdade. O que é dar
prazer a sua parceira, o que é fazer com que ela chegue lá, e não só você. E
que vejam o quanto de mim, ela tem. O quanto estou em suas mãos. O
quanto me tremo de tesão. O quanto a acho a mulher mais gostosa do
mundo e o quanto não tenho intenção nenhuma de parar de fodê-la quando
e onde eu quiser.
— Eu disse... — Arquejo e sinto meu pau continuar a entrar bem
fundo, meu quadril ajudando nas estocadas que continuam fazendo-a gritar
como a minha puta. — Eu disse que essa noite ia ser da Sabrina. Eu disse
que ia pegar você de jeito, sua loira safada. Era isso que ia acontecer
naquele banheiro. Porra, caralho, era isso sim.
— Sabrina nunca vai esquecer. — Sua boca entreaberta procura pela
minha de novo e as nossas testas pingando de calor se juntam. O vidro não
para de balançar. Seu corpo também não. Gememos juntos quando meu pau
parece arremeter em um ponto novo na sua boceta. — E... que... e que bom
que vamos... poder finalizar esse ciclo. Agora seremos... — Ela tenta
encontrar mais uma vez o ar que parece rarefeito. — Só você e eu. Sem
mais mentiras ou segredos entre nós.
— Sem mais — afirmo ao enterrar meu rosto na curvatura do seu
pescoço, sentindo o seu cheiro e já sabendo que vou gozar, que não vou
aguentar mais tempo. — Agora estamos começando pra valer.
Michaela balança a cabeça em confirmação, mas me aperta mais.
— Vou gozar — avisa.
E eu gozo em seguida, enchendo a camisinha de porra.
Tento me recuperar, e com a loira ainda agarrada contra o meu
corpo, meus olhos encaram o além, mais especificamente as montanhas de
Vegas, gravando cada centímetro da cidade na memória.
Depois de Los Angeles, Las Vegas acaba de se tornar uma das
cidades mais importantes da minha vida. E é óbvio que é tudo por causa da
garota no meu colo.
Não tem para onde correr, é tudo sobre ela. Tudo.
Estou mesmo inteiramente e completamente fodido.
“Eu acordei bem a tempo
Agora eu acordo ao seu lado
Meu único, meu salva vidas
Eu acordei bem a tempo
Agora eu acordo ao seu lado
Minhas mãos tremem, não posso explicar isso
Diga meu nome e tudo simplesmente para
Eu não quero você como um melhor amigo
Só comprei este vestido para que você pudesse tirá-lo”
DRESS — TAYLOR SWIFT

Primeiro, um passeio daqueles na roda-gigante.


Depois, um banho de banheira e uma conchinha em um dos hotéis
mais luxuosos de Las Vegas ao lado do meu empresário.
Eu já sabia que a minha vida era incrível, mas quando foi que ela se
tornou tão... perfeita?
Ou quase.
— Alexander, vou te confessar uma coisa, estou toda dolorida. — O
som da sua risada grave e rouca me faz rir também enquanto dedilho seu
peito, minha cabeça repousada no vão entre seu pescoço. — É sério, estou
até agora sem sentir as minhas pernas.
— Eu te machuquei?
Parece preocupado, até ergue o pescoço para poder analisar meu
rosto.
Continuo sorrindo quando balanço a cabeça.
— Pelo menos não no sentido ruim — digo, e é a mais pura verdade,
porque meu corpo está todo dolorido de toda adrenalina que foi essa noite.
Na verdade, que foi esse dia num geral. Teve a viagem, o ensaio, a
descoberta, Alexander aparecendo na minha porta, todo o nosso passeio e,
por fim, a loucura que cometemos na roda-gigante. Ainda estou até agora
sem acreditar no que o meu tesão por esse homem foi capaz de me fazer.
Sério, onde eu estava com a cabeça? Não dá para dizer que eu não amei, no
entanto. — Meu corpo todo dói, acho que estou me tornando uma velha
igual você.
Gargalho, pois troca nossas posições na cama, ficando por cima de
mim ao passo em que prende minhas mãos acima da minha cabeça. Tento
me mexer, sair daqui, porém é inútil.
— Quem é o velho? — pergunta todo maldoso, nossos narizes se
tocando.
— Você.
— Ah, é? — Mordo um sorriso ao fitá-lo como quem diz: é, é isso
mesmo que você ouviu. Não demora nem dois segundos e eu já me
arrependo da minha audácia, pois começa a me fazer cócegas na barriga.
Explodo em risadas, Alexander me acompanha também, se divertindo com
o que está fazendo comigo. — Como é que pode, mesmo depois de tudo o
que eu te proporcionei, ainda está tendo coragem de me chamar de velho?
Por acaso um velho é capaz de te comer daquele jeito na roda-gigante? Teve
momentos que eu te segurei só com um braço, Michaela, pelo amor de
Deus. Me respeite.
Não paro de rir, mas dessa vez não sei se é pelas suas mãos em
minha barriga ou por sua fala engraçada, cheia de raivinha e indignação.
— Se você faz academia, tem mais é que me carregar mesmo —
resmungo quando se afasta para que eu visualize sua boca se entreabrindo
em um “O” perfeito e aproveito sua distração para jogá-lo de volta na
direção dos travesseiros, onde estávamos. Jogo também todo meu corpo
para cima do seu de novo, fazendo questão de colocar uma perna por cima
do seu quadril só para tê-lo agarrado a mim de qualquer jeito. — E fique
aqui quieto, por favor, já disse que estou precisando descansar.
Ouço quando bufa.
— O que foi? — Encaro seus olhos castanhos, com um vinco
formado na testa.
— A senhorita tá querendo mandar demais em mim, não estou
gostando.
— Uhum — soo irônica.
— É sério, não estou gostando — continua.
Não sabe nem mentir, porque está exatamente agora afagando as
minhas costas e cheirando o meu cabelo, nem um pouco parecido com
alguém que não está gostando da situação em que se encontra.
— Entenda de uma vez por todas, querido, eu também mando em
você, quer queira, quer não. — Continuo alisando a sua pele e escondendo
meu sorriso abobalhado. — Mando na relação empresário e artista e nessa
nossa relação. A propósito, queria deixar umas coisas bem claras.
Como o papo é sério agora, faço questão de sentar na cama. Ele não
muda nada, continua deitado, porém cruza os braços e ergue uma
sobrancelha na intenção de me incentivar a falar.
— Vou contar para os meus amigos sobre nós — falo rápido para
poder jogar a bomba no seu colo de uma vez. Como percebo que não
esboça nenhuma reação de desaprovação, continuo, pois me sinto na
obrigação de explicar melhor. — Não estou te pedindo nada, sei que toda
nossa situação é complicada e entendo completamente se você só estiver se
divertindo comigo, mas é que eu estou escondendo nossa verdadeira
história desde a noite na balada. Eric e Dakota sabem que fiquei com um
cara e que passei mal, mas não sabem o que rolou de fato e nem sabem que
era você, meu empresário. Apesar disso, eles ficam implicando comigo
dizendo que estou caidinha por você e eu não queria mais ter que esconder
nada. Não gosto de sentir que estou omitindo algo importante da minha vida
para os meus melhores amigos, eles sempre sabem tudo sobre mim.
— Tudo bem.
— Não queria fazer algo nas suas costas também, por isso tô te
falando e vou entender se...
Paro, a sua frase de minutos atrás rebobinando em minha cabeça.
— Tudo bem? — repito o que disse, sem acreditar. — Você disse
que tudo bem? Foi isso mesmo que escutei?
— Sim. — A tranquilidade com que a afirmação sai da sua boca
também me assusta. Pestanejo. — Não espero que minta para eles, e
também não vou mentir para os meus. Sabe por quê?
— Por quê?
Num segundo, estou sentada, o encarando, no outro, Alexander está
me puxando pela mão só para poder me envolver com os seus braços outra
vez.
— Porque não estou me divertindo — imita a minha voz com ar de
deboche, e eu bato em seu braço para que pare. — Não, não estou. O que
estou fazendo ao seu lado é viver. Já disse, não quero mais ninguém. Quero
só você, Michaela. Só você. Não é algo de momento, eu prometo.
O meu coração acaba de dar uma cambalhota no peito,
surpreendendo um total de zero pessoas.
— É bom que prometa e esteja sabendo mesmo o que está falando,
porque você conhece a minha fama.
— Qual delas?
— A que não fica tanto tempo com um cara sem ser para ser pedida
em namoro — murmuro.
— Engraçado, você acabou de dizer que não estava me pedindo
nada.
Meu coração para por um segundo, mas Alexander está brincando,
ele até tenta me fazer cócegas de novo, porém falha na sua missão porque
eu o afasto a tempo para dizer:
— Ainda não estou te pedindo nada, só soltei essa informação.
— Tudo bem. — Dá de ombros. — A questão é que eu já sabia dela
há muito tempo, não precisa se preocupar. Eu também tenho 35 anos,
pimentinha, já passei da idade de levar as coisas a sério.
Sua indireta é bem direta e é como um tapa na minha cara.
— Mas... — Afundo os incisivos no lábio inferior por um momento.
— Hum... bem, achei que fosse ficar preocupado com o que as pessoas vão
falar, porque você é meu empresário.
— Sim, tem isso. Acha que seus pais vão querer me matar? Acha
que vão querer quebrar nosso contrato?
— Sinceramente? Não. Meus pais te adoram, Alexander.
Principalmente meu pai. É Deus no céu e você na Terra. E eles sempre me
apoiaram em tudo, tudo mesmo, nunca foram pais de me proibirem de nada,
você consegue perceber, e o que eles mais pregam é que sou livre, sou
adulta, sou dona das minhas escolhas e tudo o que os cabe fazer é me
instruir nos bons e maus momentos. De verdade, eles são minha última
preocupação.
— Pois são a minha primeira.
Rio.
— Quanto a isso, podemos ficar tranquilos — digo, sinceramente. —
Agora com a mídia, eu já não sei como vai ser.
É só mencionar isso que sinto seu corpo tensionar.
— Vou ter que prepará-la — fala depois de alguns segundos. — Vou
ter que achar o melhor caminho para não sermos prejudicados. Nem o meu
trabalho, nem o seu. Seu novo álbum vai ser lançado, não podemos
manchar a sua estréia. É por isso que devemos ter um pouquinho de calma e
cuidado.
— Sim, eu também acho. Mas essa parte fica para você, tudo bem?
Toda essa coisa de relações públicas me dá nos nervos.
— Deixe comigo. — Beija o topo da minha cabeça e eu me
aconchego mais em seu corpo, o envolvendo com os meus braços e
fechando os olhos para poder sentir e aproveitar cada minuto do seu toque.
Quando me vê praticamente adormecer de cansaço, se inclina para apagar a
luz do abajur, mas não se move por nada, me deixa continuar em cima dele.
— Dorme, minha pimentinha. Descansa. Daqui para a frente nós teremos
mais noites mágicas e quero você recuperada. Amanhã nós voltamos para
LA.
— Obrigada — sussurro, quase dormindo. — Por tudo. Você é o
homem que eu precisava.
Fecho os olhos por completo, sentindo seu carinho em minhas
costas, e tenho quase certeza que me agradece de volta.
Flutuando.
É como me sinto desde que Alexander Russell apareceu.
O vento de Las Vegas pela manhã ricocheteia meu cabelo e tenta
atrapalhar minha visão em sua verdadeira bagunça, entretanto, fico
hipnotizada demais para me mexer.
Estou na pista, com Alexander ao meu lado, de frente para o seu
jatinho particular. Coloco a mão em formato de concha acima dos olhos e
os estreito para conseguir ver melhor mesmo no sol que está fazendo hoje.
E, puta merda, se o meu as pessoas já consideram chique e bonito,
esse aqui consegue ser muito mais. É de um preto brilhante, todo
sofisticado e ainda tem o nome da empresa de Alexander escrita em letras
cursivas e douradas. As escadas já estão até para fora, nos aguardando. O
piloto acabou de entrar primeiro.
— Vamos? — Meu empresário me estende a sua mão.
Quando voltarmos para Los Angeles, tudo vai ser diferente.
Empino o nariz e aceito sua mão na minha.
— Vamos.
Alexander começa a andar, sobe as escadas comigo logo atrás e,
assim que passamos pela porta, ela é fechada.
Uau.
Estou mesmo impressionada.
Por fora é lindo, por dentro é espetacular. Tudo em couro, também
preto, e muito moderno. O jatinho grita luxo e poder para quem quiser
ouvir.
— Você se superou, chefinho.
Senta na poltrona e me puxa para o lugar ao seu lado.
— Me superei no quê? Na gata que está ao meu lado?
É só ele me olhar e tocar no meu rosto que fico amolecida.
De uns tempos para cá, esse homem só melhora, mas nunca o vi tão
feliz e sorrindo à toa como agora, e olha que ele nem sorria antes.
— Nisso também — entro na brincadeira, mas dou risada. — Não,
não é isso não. Estou falando desse jatinho. Ele é lindo, grande, me dá
vontade de morar dentro dele e nunca sair.
— Isso parece você descrevendo meu pau, também.
Lhe dou um tapa fraco.
— Que desrespeito! Estou falando sério!
— Eu também?
Reviro os olhos.
Rindo roucamente, o homem ao meu lado faz o mesmo.
— Veja, já vamos decolar! — Aponto para a janela ao meu lado, e
noto que continua rindo. — O que foi? — Semicerro os olhos.
— Nada, é que você parece muito animada. Parece ser a sua primeira
vez andando de avião.
— Mas é a minha primeira vez mesmo, só que aqui. Não posso ficar
animada?
— Claro que pode. Por favor, continue, eu amo a sua animação.
Amo.
A escolha da palavra faz meu coração ir tão às alturas quanto esse
jatinho, que me faz cravar as unhas na poltrona quando começa a decolar
para nos levar embora dessa cidade.
Mesmo com o coração maltratando meu peito, eu praticamente enfio
minha cara na janela.
— Adeus, Las Vegas! — Dou tchau para a cidade sumindo e ficando
cada vez mais longe. — Foi muito bom tudo o que passamos juntos. E me
desculpa, High Roller.
— Desculpa? — Sua voz levemente indignada me chama atenção.
— Por acaso está se arrependendo do que fizemos ontem, mocinha?
— Não estou me arrependendo, foi ótimo, incrível, maravilhoso,
mas não foi muito certo.
— Quem liga? — Passeia as mãos pela sua barba e me olha da forma
mais sacana possível, porque provavelmente relembra a cena da roda-
gigante em sua mente. — E não se faça de santa, você não é.
— Não sou. Nem eu, nem você.
— E desde quando estou me fazendo? — Repousa a mão na minha
coxa, e mesmo que tente parecer uma ação inocente, sei que não é. Faço o
maior esforço para que não perceba minha respiração se desregulando. —
Quando eu quero foder você, eu digo que quero foder você. Não sou um
homem de mentiras.
— Tudo bem, tudo bem, já entendi — digo, apressada.
— Está com medo?
Droga, um sorriso retorcido aparece no canto dos seus lábios para
me mostrar que sabe muito bem o que estou fazendo.
— Não tenho medo de você.
— Nem se eu disser que quero macular esse jatinho?
— Não inventa.
— O quê? Posso ter tomado café no hotel, mas o que tenho fome
está aqui, bem aqui na poltrona ao lado da minha.
Seu aperto na minha coxa se intensifica, mordo o lábio inferior para
não gritar.
— Você colocou outro vestido de propósito que eu sei. Gostou da
facilidade que é para eu estar dentro de você, huh?
Ok, tudo bem, culpada.
Não preciso falar nada, na verdade, Alexander nem deixa, ele faz
questão de afastar as minhas pernas só para fazer um caminho que o
aproxime da minha boceta. Para me provocar, começa a me tocar por cima
da calcinha. Guardo mais um gemido e continuo apertando a poltrona com
força conforme desce e sobe os dedos para cima e para baixo, numa
brincadeira torturante de vai e vem sobre a renda.
— Está toda molhada — constata o óbvio, e ri com tanta
perversidade que me dá raiva. — Porra, Michaela, sua calcinha já está toda
melada e você ainda teve a coragem de se fazer para mim? Estou
começando a achar que é uma estratégia sua para me provocar e para fazer
com que eu te coma com vontade.
Rolo os olhos e pressiono os lábios com toda força, porque agora faz
questão de enfiar os dedos dentro da calcinha, separando as minhas dobras
para encontrar o meu clitóris já duro e inchado por sua causa.
— Fale alguma coisa, sua safada. Fale que você me quer. Fale que
está pensando em como seria ser fodida nas nuvens pelo seu empresário
louco por você.
— Não — resmungo, e quase choro de verdade quando para de me
masturbar. Alexander arranca sua mão da minha boceta, me deixa sem o seu
toque e começa a lamber seus dedos, sugando meu gosto para si, sabendo
exatamente o que está fazendo. — Sério, não podemos fazer isso aqui. —
Minha calcinha fica mais molhada com o pensamento e eu me obrigo a
engolir em seco. — É sério, não podemos. Tem gente. E, porra, qual é o seu
problema com camas? Tem alguma coisa contra?
Ri nasalado, seus dedos melados ainda em sua boca porque faz
questão de me torturar lambendo um por um bem lentamente. Seus olhos
ficam bem grudados nos meus em todo o processo.
— O piloto não vai ver nada, só tem ele aqui. Se você ficar bem
quietinha, ele também não vai te ouvir. E sobre a cama, não tenho problema
algum. É só clichê demais e eu já disse que quero aproveitar todos os
lugares com você.
— Mas num jatinho? Voando?
— Esse jatinho é meu e meu pau também. Faço o que eu quiser.
Antes que eu possa falar qualquer coisa, decide me calar com um
beijo. Sou pega desprevenida quando sinto colocar minha calcinha de lado e
enfiar um dedo em mim. Quando estou prestes a gritar por introduzir mais
outro, Alex engole meu gemido quando encontra a minha língua e a suga
para dentro da sua boca.
— Você gosta assim, não gosta? — Começa a movimentar os dedos
para dentro da minha boceta, do jeito que sabe que me alucina. — Imagina
se for o meu pau? — Afundo tanto meus dentes no meu lábio inferior para
conter meus sons de prazer que já posso sentir o gosto metálico na boca. —
Você falou tanto de sentar em mim, que quando tem a oportunidade
entregue de bandeja, recusa? Isso não me parece certo, pimentinha.
Olho para a janela, sendo fodida pelos dedos de Alex, e porra, quer
saber de uma coisa? Eu vou sentar nesse macho só para ver se ele cala a
boca.
Ao me virar para fitá-lo, sabe o que vou fazer só de encarar meus
olhos, porque tira seus dedos de novo de dentro de mim, me deixando
vazia, e já pega a camisinha no bolso da sua calça.
Tiro o cinto, passo a calcinha pelas pernas e o observo descer sua
calça e sua cueca com urgência. O pau duro pula para fora, e quando o
cobre com a camisinha, as mãos trêmulas de ansiedade, eu rio com um
misto de descrença e necessidade.
— Você anda sempre tão preparado — debocho quando pulo para o
seu colo e eu mesmo enfio seu pau em mim.
— Claro, eu sou um ninfomaníaco quando se trata de você — geme
baixinho e estala um tapa em minha bunda para me incentivar a descer. —
Caralho, Michaela, nunca vou superar essa sua boceta gostosa. Me engula
mais. Isso, assim. Porra, eu sei que você consegue.
Seu pau é tão grande e tão grosso que, nessa posição, sinto minha
boceta se expandir de uma forma nunca feita antes. Dói um pouco, mas
logo passa, e é a melhor sensação da vida. Eu sinto que me preenche todo.
Que me preenche por completo. E quando vê que estou totalmente pronta
para começar os trabalhos, algo que sempre sonhei e desejei, ele põe uma
mão na minha nuca, me beijando, e a outra fica apertando a minha bunda,
me ajudando na hora da minha boceta cavalgar no seu pau.
— Cacete. — Arfo com a minha testa encostada na dele, nossos
olhares presos um no outro. Vejo seu rosto caótico, cheio de desordem, as
íris flamejando com a volúpia que nos engloba e sinto ainda mais tesão,
uma personalidade ainda mais forte que a que eu já tenho naturalmente
comandando todo o meu corpo, que, por incrível que pareça, não se cansa.
Ele fica ainda mais febril. Eufórico. Agitado. Conforme desço e subo,
sentando nele, a porra da vontade não passa. Sinto sua língua sugar o meu
pescoço e tombo a cabeça para trás para ter livre acesso, rolando os olhos
quando faz questão de tirar um dos meus seios para fora do vestido, a fim
de ficar sugando e mordiscando o bico do meu peito. — Caralho, Alex!
Outro tapa em minha bunda.
— Gema meu nome mais baixo, gostosa, ou o piloto não vai ter
dúvidas que você está dando pra mim.
Filho da puta.
Desgraçado.
Grosso.
Rude.
Gostoso.
O único capaz de me fazer cometer loucuras. O único capaz de me
dar tanto prazer que, se antes eu já desconfiava que não tinha lá as melhores
experiências no sexo, agora não me restam mais dúvidas. Eu nunca fui
tocada dessa forma. Nunca fui venerada assim. Nunca um parceiro meu me
desejou tanto que não se importasse onde estávamos ou quem estava
presente, como Alexander, que não se segura.
E nenhum, nunca, fez com que eu me sentisse dessa forma. Porque
há tudo em mim, menos pouco sentimento.
Estou sonhando.
Vivendo tudo o que sempre quis viver.
Sem medo e, porra, sem nenhum tédio. Alexander Russell é mesmo
o que eu tanto precisava.
Sei que não posso gemer alto, mas gemo, porque além de ter seu pau
em mim, comigo sentando e rebolando, eu o tenho no meu coração. Eu o
tenho na nossa língua, na nossa linguagem do desejo, da fome, do amor,
que mesmo não sendo a mais perfeita, ainda assim é a nossa.
— Veja quem come quem agora, linda — rosna. — Isso mesmo, essa
sua linda bocetinha gulosa.
Sei que vou gozar, sei que estou bem perto, mas me sobressalto
quando Alexander transforma a poltrona que estamos em uma quase cama.
Ele me tira de cima dele, me põe de quatro e se segura no avião para
conseguir pincelar a minha entrada por trás, querendo experimentar também
essa nova posição.
Quando percebo, minha cara está bem virada para a janela, com o
céu limpo e azul me dando “olá”.
Que Deus me perdoe por isso.
— Veja o que eu faço com você, Michaela. — Enfia seu pau na
minha boceta, com a minha bunda toda virada para ele, me segura pelo
quadril e começa a bombear mais rápido, vários murmúrios e xingamentos
soando às minhas costas. Entreabro os lábios e jogo a cabeça para trás
quando sinto sua mão agora enroscar o meu cabelo para puxá-lo. — Olha só
quem vai te comer gostoso onde quer que você vá.
Meu Deus.
Por tudo que é mais sagrado, QUE HOMEM É ESSE?
Eu sei que disse várias vezes que ele não daria conta de mim, mas
estou voltando atrás agora mesmo. Eu quem não dou conta dele.
Desse jeito, vai me destruir.
Desse jeito, vai acabar com a minha boceta.
E tomara que faça isso mesmo.
Busco por ar, com seu pau me engolindo por trás, comigo empinada
de quatro. Não sei se gemo por estar sendo fodida desse jeito, ou se gemo
por sentir o aperto e os puxões em meu cabelo, que só melhoram a
sensação.
Independente de qual motivo seja, sei que o piloto escuta e se dá
conta de tudo o que está acontecendo aqui atrás. Sei que não consigo ser
silenciosa.
Nem Alexander, que castiga a minha nádega toda vez que me escuta
gritar seu nome.
Estou toda marcada.
Vermelha.
Suada.
Exausta.
Sem ar.
Com o orgasmo se aproximando toda vez que seu quadril arremete
contra a minha bunda, seu pau me fodendo bem fundo.
Há muitos barulhos.
Muitos suspiros.
Muito cheiro de suor.
E eu praticamente desmaio contra a poltrona quando chego ao meu
limite.
Vejo pontinhos pretos embaçando a minha visão e tudo que escuto é
o meu coração zumbindo em meu ouvido junto com o barulho
inconfundível do voo.
Mais um lugar totalmente inusitado para a lista.
Acho que Alexander percebe o que penso, porque me traz para o seu
colo, tira a mecha molhada de suor do meu rosto e diz:
— Não há nada comum na nossa relação, amor. Nunca terá.
Não tenho a menor dúvida quanto a isso.
É mais do que óbvio que nunca cairemos na rotina.
“Eu te vejo de terno e gravata
Me passando um bilhete que diz: Me encontre hoje à noite
Então nós nos beijamos, e você sabe que vou guardar segredo, é
E eu posso te imaginar sendo o meu vício
Você pode me ver como uma missão secreta
Vamos nos esconder e eu começarei a me controlar”
I CAN SEE YOU — TAYLOR SWIFT

Depois daquela loucura no jatinho e de um banho bem tomado no


banheiro, porque, sim, havia uma ducha lá, nós chegamos em Los Angeles
sem nenhuma intercorrência, e como Alexander tinha trabalhos importantes
para terminar, ele pediu que meu motorista fosse me buscar e me trazer em
casa em segurança.
Estou quase subindo as escadas com as minhas coisas quando a
minha mãe chega para me ajudar.
— Michaela do céu! — Ela, com a minha mala em mãos, arfa como
se tivesse corrido a casa inteira para me alcançar. Pelo seu rosto vermelho,
deve ter sido isso mesmo. — Filha, vi a mensagem que me mandou sobre
ter que resolver algumas coisas em Las Vegas, mas depois você não me
respondeu mais, fiquei preocupada. Onde você se meteu?
A pergunta certa é: Quem meteu em você?
Balanço a cabeça, chocada com meus próprios pensamentos.
Faço uma nota mental para contar isso para Alexander depois,
porque estou passando tanto tempo com ele que minha mente poluída, que
já era ruim, acabou de ficar pior depois de conhecê-lo.
— Desculpa, mamãe, acabei me empolgando com o hotel — minto.
— Tinha piscina, banheira, sauna, cassino, bar, academia, um monte de
coisa. Aproveitei para tirar um diazinho de lazer para mim. Eu mereço, não
acha?
Céus, que coisa horrível. Que cara de pau a minha.
Estive ocupada? Estive, claro, mas com outra coisa.
— Ah, claro, claro. — Sorri. — Sendo assim, está ótimo. — Me olha
de cima a baixo, e está um pouco desconfiada. — Não cometeu nenhuma
atrocidade, não, né?
— Mamãe! — Bato o pé no chão, como se eu tivesse sequer algum
direito para reclamar. — Olha, sei que você e o papai não confiam em mim
na maior parte do tempo, mas eu juro que tomei cuidado. Não fiz nada que
colocasse a Michaela McKenna em perigo.
Dessa vez, não é uma mentira.
Não coloquei Michaela McKenna em problemas, já a Sabrina
Larsen... bem, não posso dizer o mesmo.
— Tudo bem, tudo bem, não precisa se chatear, só estava me
certificando se tomou juízo. Vai que você conheceu um cara desconhecido,
bebeu todas e resolveu se casar em Vegas com ele? — diz, começando a
subir com a minha mala lá para o meu quarto.
Dou risada e a acompanho.
— Dessa vez, esse enredo de livro não vai ser meu, mãe.
— É uma pena.
— Mamãe!
Ela para com as mãos espalmadas na cintura.
— O quê? Estou viciada nos livros do Kindle, minha filha, o que
posso fazer?
— Meu Deus, está mais romântica do que eu — a provoco, mas
Antonella nem liga.
Ela abre a porta do meu quarto, entra na frente, meus olhos
acompanham quando deixa minha mala perto da parede e quase me assusto,
caindo para trás, quando vejo Dakota e Eric sentados na minha cama.
— Cacete! — Coloco uma mão na boca e uma no coração, sentindo-
o quase pular para fora do peito. — Seus malucos, vocês me assustaram!
Mamãe ri, porque sabe que estava guardando segredo de propósito.
— Eles pediram para eu não contar que estavam aqui — se defende
do meu olhar acusatório sobre ela. — Foi surpresa. Chegaram há cinco
minutos.
Gosto de saber, fico toda radiante, porque é nessas pequenas coisas
que vejo como os meus melhores amigos se preocupam comigo. Mandei
uma mensagem há um tempinho dizendo que estava chegando em Los
Angeles, dizendo apenas isso, e eles já correram para cá somente para me
ver.
Não sei o que fiz na vida passada, mas se existe mesmo isso, deve ter
sido bom, porque nessa nasci com uma sorte danada em termos de amor
familiar e amizade.
— Obrigada — agradeço à minha mãe. — Você é a pessoa mais
incrível que conheço.
— Depois de você, filhota.
Me dá um beijo estalado na bochecha e diz que vai me deixar à sós
com eles.
Quando observo mamãe sair do carro, corro para a cama, caindo em
cima de Dakota e Eric.
— Que saudadeeeeeeeeee! — Minha voz sai abafada e exagerada, o
que faz com que riam do meu drama, afinal, não cheguei nem a passar dois
dias completos fora. — Nossa, seus chatos, estou falando mesmo sério. Não
via a hora de chegar e encontrar meus melhores amigos.
— Sei. — Dakota murmura, e quando me sento no meio deles,
percebo que os dois, sim, os dois, me encaram com pura desconfiança, mas
é Dakota Hartley que expõe primeiro. — Olha, só para você saber, essa
conversinha de coisa para fazer em Las Vegas depois da sessão de fotos não
colou para ninguém, principalmente porque Colton disse a Eric que você o
mandou vir embora ontem mesmo, e ainda com o seu jatinho. Se seu jatinho
não estava lá em Nevada, a senhorita voltou para cá como, voando com
suas próprias asas? É o quê, uma fada da Barbie?
— Credo. — Franzo uma careta de brincadeira. — Quanta
indelicadeza.
— E Colton ainda completou dizendo que viu você com um homem
mais velho. Um de barba, todo social, todo gostosão — é a vez de Eric me
expor, insinuando um monte de coisa sem nem precisar falar.
— Meu Deus. — Finjo que estou horrorizada. — Você e Colton
ficaram um tempão sem se falar, aí decidem voltar com a amizade só para
fofocarem sobre a minha vida? Isso é um absurdo.
— Não tente mudar de assunto — Dakota sai na frente para poder,
do seu jeito, brigar comigo. — Nós já podemos imaginar o que está
rolando, Michaela McKenna. Você, sua safada, foi pegar seu empresário em
Vegas.
— Shhhhh! — Olho para os lados e, por sorte, visualizo que a minha
mãe fechou a porta antes de sair. — Fala baixo, garota. Ficou maluca?
— Não, pelo visto quem ficou maluca foi você. — Eric me empurra
de leve, todo curioso. — Quando pensou em nos contar a verdade?
— Vocês, por acaso, deixaram? — reclamo. — Eu falei com ele e
vim justamente nessa intenção, porque não posso esconder nada de vocês,
mas aí, é claro, que já tiveram que saber bem antes de escutarem sair da
minha boca.
— Foi Colton, ele é fofoqueiro — Eric diz, como se ele também não
fosse. Balanço a cabeça de um lado para o outro e dou risada. — Não
devemos nos preocupar com isso agora, devemos?
— Não, não devemos — Dakota solta em seguida, me encarando. —
A nossa atenção agora deve ser focada em você pegando Alexander
Russell. Pode começar a nos contar agora mesmo. Como foi que começou?
Quer dizer, eu e Eric já desconfiávamos desde o primeiro minuto que
começou a implicar muito com ele, porém decidimos esperar para ver o que
aconteceria. Aconteceu o que estávamos esperando, claro, mas queremos
saber como. Queremos saber tudinho. Abra essa boca e não nos esconda
nada.
Respiro fundo e busco por fôlego, porque a história vai ser longa.
— Tudo bem, vou contar. — Me posiciono mais confortavelmente
na minha cama e deixo minhas pernas em posição de yoga depois de
colocar uma almofada em cima do meu colo. — Tudo começou no Call
Emergency, na noite que coloquei aquela peruca loira pela primeira vez.
Nós fomos para a balada, entramos, aproveitamos a noite, dançamos,
bebemos e chegou a hora que eu fui pegar uma nova bebida para mim,
lembram? — Os dois fazem que sim com a cabeça ao mesmo tempo,
imersos na história. — Pois bem, fui para o bar, pedi minha Piña Colada e
enquanto esperava o homem me entregar, decidi me sentar um pouco. Foi
quando reparei num homem sentado ao meu lado. Era ele.
— Era Alexander? — Eric Farrell quase grita.
— Sim — prossigo e ambos ficam chocados. — Eu não sabia como
era o meu empresário, vocês sabem disso, então não o reconheci ali. E no
primeiro segundo em que o vi, o achei um verdadeiro gato. Fiquei
encantada. Nós começamos a conversar, eu comecei a flertar com ele, ele
flertou de volta e em nenhum momento me disse seu nome. Também não
insisti, não queria saber, afinal, minha intenção era que minha noite fosse
completamente mágica para a Sabrina. Apesar disso, Alexander insistiu
muito para que eu lhe desse um nome e eu falei a verdade, disse que era
Sabrina, porque era quem realmente estava ali com ele. — Sorrio com um
pouco de nostalgia ao me lembrar. — Resumindo, nós decidimos nos pegar
no banheiro. Aconteceu. Nós nos beijamos, nos pegamos mesmo e vocês já
podem imaginar o que viria a acontecer depois.
— Foi por isso que demorou? — Dakota pergunta. — Estava dando
para o seu futuro empresário no banheiro de uma balada?
— Mas ela disse que estava ficando com um homem e passou mal
— Eric relembra, confuso.
— Calma — eu peço. — Vou chegar nessa parte. Na realidade, ela
está bem perto de acontecer, porque, enquanto estávamos naquele fogo
todo, as Margaritas começaram a fazer efeito em mim e ele de imediato
percebeu que eu não estava bem. Sem nem me conhecer, Alexander me
abraçou, cuidou de mim, tentou ser gentil, mas eu só piorava. Tentei me
afastar, ele achou que eu estivesse fazendo algum tipo de charmezinho e
não quis me soltar, então o pior aconteceu. O pior é a coisa principal que me
fez esconder exatamente toda essa parte para vocês.
Mordo o interior da bochecha em expectativa.
— Fala logo — os dois pedem, em uníssono.
— Eu vomitei. — Faço outra careta. — É, vomitei. Não no banheiro,
não na pia, não no vaso, não nos sapatos dele, e sim em cima dele. — Sinto
vontade de chorar só de lembrar. — Foi desastroso. Vergonhoso.
Humilhante. Quando vi o que tinha feito, saí correndo sem dizer uma única
palavra, querendo poder nunca mais vê-lo. Foi exatamente a hora que vocês
me encontraram e me pararam. No outro dia, na reunião, vocês já podem
imaginar a minha surpresa.
— Ele não te reconheceu? — meu amigo questiona. — Tipo, em
nenhum momento?
— Não, pelo menos não comigo. Vim descobrir que tinha
desconfiado um pouco, mas só não queria acreditar, então preferiu se iludir.
Mas essa também já é outra parte, preciso recapitular um pouco.
— Recapitule, querida, estamos esperando — Dakota brinca.
— Voltando à reunião, eu vi Alexander ali na minha frente e meu
mundo ruiu. Não conseguia acreditar que aquele homem do bar era o meu
novo empresário. Quis gritar, quis surtar e até quis rasgar o contrato e
mandá-lo embora, mas eu não podia, o cara era simplesmente o maioral da
indústria da música e eu não podia fazer isso comigo mesma, com os meus
sonhos. E já que não tinha me reconhecido, disse a mim mesma que aquelas
memórias seriam de Sabrina e não minhas, que elas seriam totalmente
esquecidas e que eu ia ser profissional. Depois vocês sabem o que
aconteceu, eu o detestei logo naquele primeiro momento pela forma como
estava me tratando, totalmente diferente de quando ficamos, e foi quando
fiquei com mais raiva ainda e disse a mim que nunca mais queria saber
dele.
Dou de ombros, rindo, porque, pelo visto, deu tudo errado para dar
certo.
— Depois, nós tivemos mais algumas brigas, desavenças e, quando
menos percebemos, estávamos trabalhando juntos, tentando encontrar uma
forma que não ficasse sempre um clima tão pesado entre nós. Por incrível
que pareça, encontramos.
— Estou passado. — Eric deixa o queixo cair à medida em que
pisca, absorvendo todos os detalhes na sua mente. — Meu Deus, não sei
nem como você ficou. Quanta coincidência.
— Pois é, desculpa não ter contado antes, fiquei meio sem jeito. —
Agora abraço as minhas próprias pernas. — Também não tinha contado de
Sabrina a Alexander, tinha escondido. Como eu disse, ele descobriu ontem,
quando chegou em Las Vegas de surpresa e foi logo me ver no estúdio.
Colton tinha dado a ideia de pôr uma peruca loira e ele viu tudo. Tentei me
explicar, mas ele saiu correndo e eu não consegui, fiquei achando que
estava me odiando. Quando foi à noite, apareceu na minha porta e disse que
tudo começou a fazer sentido, que descobrir que era eu na festa tirou um
grande peso dos seus ombros. Eu pedi desculpas, nos acertamos e por aí
podem imaginar o que aconteceu depois, certo? Sem mais detalhes.
— Ah, eu posso imaginar coooom certeza — Eric soa malicioso, e
Dakota, ao seu lado, dá risada, assentindo porque também imagina a mesma
coisa. — Você levou pirocada do gostosão do seu empresário da noite até o
amanhecer. Inclusive, aposto que deu pra ele antes mesmo de chegar até
aqui.
— Capaz de ter dado no jatinho que ele provavelmente a trouxe —
Dakota deduz.
Meu queixo vai ao chão quase como o de Eric antes.
— Como sabem disso?
— Está totalmente óbvio — nosso loiro de farmácia responde. —
Assim como está óbvio que você já está apaixonada por ele.
Meu peito já começa a doer por causa do meu coração acelerado.
— E Alexander apaixonado por ela — Dakota conta a Eric, como se
eu nem estivesse aqui. — O cara deixou o trabalho de lado e foi vê-la na
sessão de fotos em uma outra cidade. Também não ligou por Michaela ter
mentido, na verdade, ele disse que adorou saber. Ficou macetando ela em
Las Vegas e, fora isso, você ainda tinha que ver como o homem agiu na Call
Emergency. Estava espumando de ciúmes o tempo todo e quase faltou dar
um soco no Bradley Buck quando ele apareceu na pista para tentar falar
com ela.
— Merda — Eric xinga. — Eu deveria ter estado aqui naquele dia.
— Sim, mas você estava com o Raphael. — Dakota revira os olhos.
— Ótimo, era só o que faltava, meus dois melhores amigos apaixonados e
totalmente cadelinhas de seus parceiros. Acho que vou vomitar.
— Em nenhum momento eu disse que estava apaixonada — me
defendo, e sinto uma pontada no peito.
— Você não precisa dizer, bonitona, nós estamos vendo pela sua cara
— Eric informa, cutucando Dakota para poderem rir de mim. — E digo
mais, nunca vi esse brilho nos seus olhos com ninguém. Você já teve cinco
namorados, é verdade, mas parece diferente agora.
— Porque é — a loira completa. — É diferente e ela também sabe
disso.
É, eu sei.
— Você está ferrada, amiga — Eric cantarola. — Seu empresário
conseguiu derreter seu coraçãozinho de gelo. Que lindo. Quando eu ficar
cara a cara com ele, vou dar meus parabéns, o cara deve ser fodão mesmo
para conseguir esse feito.
Me jogo no colchão, suspirando por lembrar de Vegas. Por lembrar
de Alexander. De tudo.
Meus amigos também se deitam, rindo, pois sabem exatamente o que
pode estar passando na minha cabeça.

O que parecia demorar tanto, está mais perto de acontecer do que


nunca. Estava nesse instante com Lynx escutando todo o álbum Purple
Heart, e ele está perfeito, todo prontinho.
O meu single de estreia será Love is not like in the movies, e
Alexander está aqui também, para dar sua opinião.
Ele adorou.
Disse que será um grande sucesso.
E o VMAs, que também vai acontecer logo mais, está nos deixando
ansiosos.
Todo mundo, na verdade. Eu, Alexander, meus pais, meus amigos,
incluindo Oliver, Natasha, minha pequena Iris, Dakota e Eric também. Eles
ficam me monitorando, querendo saber se já tenho o vestido pronto, se já
sei a maquiagem, o cabelo, e apesar de eu saber de tudo e já ter passado
todos os detalhes para a minha equipe, disse que faria surpresa e que eles
devem me assistir no dia assim como todos os meus fãs.
Ainda adoro fazer suspense, principalmente em momentos
importantes, como um comeback.
E sobre a minha vida pessoal... ela está às mil maravilhas.
Nada mudou.
Na verdade, só melhora conforme os dias passam. E parece que a
nossa fome um pelo outro só aumenta drasticamente. Um tempinho longe e
já é suficiente para acender o fogo em mim.
E mais ainda nele, que aproveita que Lynx vai pegar café para me
colocar sentada em seu colo.
— Não consigo ficar longe dessa sua boca gostosa — diz, já vindo
em minha direção me beijar. — Estou tão feliz por você, pimentinha. Muito
feliz por tudo o que vai conquistar com esse álbum. Prepare-se para mais
recordes quebrados.
— Que Deus te ouça. — Pressiono o meu indicador em seus lábios
quando vejo que quer me beijar de novo. — Para com isso, você nem me
deixa falar.
— O que você quer que eu faça, se está com a cara enfiada na
minha? Não consigo ter autocontrole.
— Consegue sim, é só respirar fundo e me escutar — digo, e ele
realmente faz o que digo. Respira fundo e presta atenção nos meus olhos.
Acabo sorrindo por isso. — Eu queria te deixar ciente de uma coisa. Com
toda essa correria de deixar o álbum pronto, acabei esquecendo de te contar.
Seus olhos se arregalam um pouco quando me escutam.
— É pra dizer que se cansou de mim? Porque, se for, já aviso logo
que não quero nem saber, vai ter que ficar comigo mesmo assim.
Toco em um lado do seu rosto, rindo.
— Não é isso não, bobo.
— Então, o que é?
— Contei para Eric e Dakota sobre nós — aviso.
— Ótimo.
Uno as sobrancelhas.
— Ótimo?
— É. — Dá de ombros. — Também contei aos meus sobre você.
— E eles?
— Natasha foi a que ficou mais surpresa, mas Oliver disse que já
sabia e que só estava esperando o tempo que eu fosse contar a ele.
Fricciono os lábios para não rir.
— Dakota e Eric disseram a mesma coisa.
— É claro que disseram, a gente não conseguiu disfarçar nada.
Libero a risada que estava segurando e, por um momento, encosto
minha testa em seu ombro.
— Imagina só se a Iris descobre? — brinco. — Ela vai desmaiar, de
tanto que fala disso.
— Não tenho a menor dúvida, já que ela é tipo nosso cupido.
— É verdade, se não fosse por ela e aquele dia que fomos buscá-la
na escola, talvez a gente ainda continuasse se odiando.
— Deus me livre — Alexander logo fala, e parece se lembrar de algo
importante. — Falando na pequena, combinei de levá-la no Pacific Park,
porque ficou pedindo a semana toda para comer algodão doce enquanto
tenta a sorte de pegar algum brinquedo nas barraquinhas de jogos. Quer ir
comigo? Vou pegá-la na casa de Oliver assim que terminarmos aqui.
— Vamos ser vistos andando juntos na luz do dia por toda Santa
Mônica — o lembro, receosa.
— E o que é que tem, Michaela?
— Não precisa ficar chateado, não estou achando ruim, só estou
lembrando desse fato, de que as pessoas vão nos ver juntos assim. Para mim
está tudo bem, e para você?
— Também — responde. — Todo mundo sabe que, acima de
qualquer coisa, também sou seu empresário e posso estar em qualquer canto
que estiver.
— Tudo bem, chefinho. Você manda. — Me levanto do seu colo
quando percebo que já passou tempo demais e Lynx pode aparecer a
qualquer momento. — Está lindo hoje, sabia? — Pego a sua gravata, a
torcendo na mão para poder trazê-lo até mim, porque também não consigo
ficar muito tempo longe.
— E você uma delícia.
Claro que tinha que ser indecente.
Rio, calando sua boca suja com a minha.
Sim, mais uma vez.
— Michaela, olha o meu algodão doce, é lilás!
Iris estica seu algodão doce para eu conferir, depois de seu tio tê-lo
comprado na barraquinha do parque. Ela está toda saltitante, enérgica,
brincou em vários brinquedos e aparentemente ainda não se cansou.
— Que lindo! — o aprecio e sorrio quando o coloco perto do seu
rosto. — É a minha cor favorita — conto, e como a garotinha balança a
cabeça, sei que ela sabe. É meio óbvio, no entanto. Eu mesma faço questão
de espalhar essa informação na minha identidade visual e até mesmo na
internet. — Mas e aí, como ele está? Bom?
— Uhum. — Coloca uma grande quantidade do doce na boca. —
Uma delícia.
— É bom estar mesmo... — Alexander se aproxima e guarda a
carteira no bolso. — Achei o preço um verdadeiro absurdo. Um roubo.
Minha cabeça balança quando uma risada genuína me escapa,
porque parece mesmo inconformado.
— Deixa de ser mão de vaca, Alex.
— É, tio Alex, deixa de ser mão de vaca. —Toda suja de açúcar, Iris
se volta para mim. — O que é ser mão de vaca mesmo?
Sério, nunca vou superar essa menina, ela é simplesmente perfeita.
Eu e Alexander nos entreolhamos para rirmos juntos.
— Alguém que tem muito dinheiro e nunca quer gastar com nada —
exemplifico para ela. — Exatamente como seu tio.
Come mais do algodão doce.
— Ah, então meu tio é um grande mão de vaca mesmo.
— Que mentira — Alexander protesta. — Tudo o que você me pede
eu te dou.
— Então vamos atirar nos patos! — Segura a mão do tio e começa a
arrastá-lo pelo parque. — Vem, Michaela, corre, fica aqui do meu lado. Não
consigo pegar na sua mão agora porque estou terminando de comer o
algodão doce.
Acelero o passo para ficar ao seu lado.
— Não se preocupe, linda, estou aqui.
Continuo caminhando com eles, e percebo que, enquanto isso,
muitos que passam por mim ficam me encarando. Alguns acenam, outros
cochicham, e eu tento ao máximo ser simpática com todos.
Estava com medo de causar uma histeria, mas até agora, tudo certo.
Acho que os óculos de sol que coloquei devem ter ajudado mais um pouco.
Abraço meu próprio corpo e assisto Alexander ir primeiro ajudar Iris
na brincadeira de acertar os patos. Fico um pouco de longe, rindo quando
ele fica com raiva em perder.
— Vem aqui, Michaela! — Corro até Alexander quando o ouço me
chamar. — Fica aqui, você vai ser meu amuleto da sorte.
— O nosso — Iris implica com ele, com ciúmes.
— Calma, estou aqui, tem Michaela para todo mundo — brinco.
— Anda, Iris, é sua vez. — Alexander fica atrás da sua sobrinha, ao
meu lado, a ajudando. — Isso, mais forte. Um pouco mais rápido. Para o
lado agora. Vai, vai, vai, você consegue.
E a nossa garotinha se agita, cada vez mais animada para ganhar o
brinquedo do parque.
Quando percebe que a afilhada está se divertindo e já pegou o jeito
da coisa, ele me abraça de lado, a esperando terminar.
É uma ação tão natural que nenhum de nós percebe mal algum.
“Passeando de carro, eu era um ideal
Parecia tão viva, no fim das contas, não sou real
Só algo pelo qual você pagou
Para que fui criada?
Hum
Porque eu, eu
Eu não sei como me sentir”
WHAT WAS I MADE FOR? — BILLIE EILISH

Meu Deus, é hoje.


É HOJE.
O VMAS É HOJE!!
Não estou fazendo a linha fina, eu estou surtando.
— Você precisa se acalmar — minha mãe tenta falar comigo ao me
ver rodar pela casa toda pronta, o meu salto tilintando incessantemente
contra o chão. Papai, ao lado dela, parece a um passo de me puxar pelos
cabelos para que eu me sente. — Você vai abrir um buraco no chão andando
desse jeito, minha filha.
Eles têm razão, mas não consigo pôr em prática o que me pedem.
— E ela já se apresentou no VMAs antes, Antonella — os dois
começam a conversar, me ignorando, e isso só piora a minha ansiedade. —
Ela já subiu naquele palco antes, fora que ensaiou lá, conhece a estrutura,
sabe como vai ser. Eu realmente não estou entendendo a afobação.
— E a música dela que saiu ontem e já está sendo o maior estouro?
Isso é verdade.
Love is not like in the movie saiu em todas as plataformas digitais
ontem e, por mais que ainda não tenhamos números por ser ainda muito
cedo e ainda estar sendo contabilizado, conseguimos ver o burburinho na
internet. O Spotify praticamente parou. O nome da minha música ficou em
alta no Twitter e a divulgação começou pesada nas redes sociais,
principalmente dos meus fãs. Eles já estavam muito ansiosos pelas fotos
que comecei a soltar no Instagram, aquelas que tirei com Colton, e sim,
foram as de peruca loira.
Como eu não tinha mais o que esconder, e particularmente havia as
achado lindas, não foi difícil na hora de montar o cronograma de postagem.
Além disso, como era muito importante para mim, escolhi uma também
loira para ser a capa do álbum Purple Heart, afinal, nada é capaz de
exemplificar mais o meu coração roxo do que a própria Sabrina, que reflete
o meu interior, que reflete Alexander, que reflete toda a nossa história.
Falando nele, no meu empresário, ele está vindo me buscar para
irmos juntos ao Red Carpet.
Quer dizer, não juntos, juntos, porque entrarei sozinha, mas ele irá
ficar nos bastidores para me apoiar. Eu disse que não conseguiria sem ele, e
ele disse que jamais me deixaria sozinha em um momento tão importante.
Acho que é por isso que estou tão elétrica, não vou conseguir me acalmar
até estar ao seu lado, em seu carro, ouvindo a sua voz me dizendo que vai
dar tudo certo e que vou arrasar mais uma vez.
Por sorte, não estou chorando, porque aí eu iria borrar a minha
perfeita maquiagem que demorou tanto para ser feita. Contratei todos os
tipos de maquiadores, de cabeleireiros e fiz o meu próprio salão dentro de
casa, sendo ajudada por meus pais, Dakota e Eric, que estavam aqui até
alguns minutos, mas tiveram que sair porque iriam se arrumar para a festa
que Oliver Olsen está dando no Call Emergency em minha homenagem. Ele
vai transmitir o VMAs em um telão de lá, e assim que eu terminar, meu
after e o de Alexander não será junto com os outros famosos, será com os
nossos amigos.
Não vejo a hora.
Meu Deus, estou toda ansiosa.
— É sério, você não vai parar? — mamãe reclama de novo.
Paro, dando meia-volta para poder olhá-la.
— É a minha volta aos palcos — explico, com os ombros erguidos.
— Minha primeira apresentação de Love is not like in the movies, não
tenho como não surtar.
— Vai dar certo, minha querida — Conrad diz com seu sorriso capaz
de acender todo o Universo. — Já deu certo, na verdade. Você é uma
estrela. Nasceu para isso. O palco é sua casa e os seus fãs te amam.
— Será lindo, filha — minha mãe afirma, também com seu sorriso.
Me aproximo deles dois e os abraço. — Você está perfeita! Olha para isso...
— Me faz dar uma voltinha, e eu acabo rindo da sua expressão e do seu
assobio. — Parece uma boneca. E esse vai ser o vestido mais lindo do Red
Carpet, pode ter certeza.
— Que exagero, dona Antonella.
— Não é exagero, é a mais pura verdade.
Sorrio, dando mais uma voltinha quando ela pede, sendo a vez do
meu pai agora de assobiar. Aproveito para olhar para o vestido em meu
corpo, para admirá-lo mais uma vez junto dos meus pais.
É impressionante o quão bonito ele é.
É lilás, tem decote em formato de coração, é todo brilhoso e há uma
fenda generosa na minha perna esquerda. Sem contar no detalhe no meu
peito, que há um desenho todo bem construído de um coração no meio para
representar o meu álbum. Foi tudo milimetricamente pensado e calculado
para ter coisas a ver comigo, com o meu estilo e com a minha própria arte.
Falando em coração, o meu bate fortemente contra a caixa torácica
quando, de repente, a campainha ressoa pela mansão.
É ele.
Ai, meu Deus, é ele.
Ele chegou.
— Olha, seu empresário. — Minha mãe aponta para às suas costas.
— Ele veio te buscar, querida. — Começo a limpar as mãos suadas no
vestido e Antonella já vem me conter, segurando as minhas mãos e as
beijando. — Infelizmente, não temos como ir acompanhar você, mas
estaremos aqui, eu e seu pai, te assistindo, vibrando como seus maiores fãs.
Estaremos te mandando as maiores e as melhores energias, para que brilhe
em cima do palco e faça uma ótima e inesquecível estreia. A gente te ama.
— Amamos muito — papai completa e segura meu rosto para me
dar um beijo na testa. — Independente do que aconteça, você é o nosso
maior orgulho. Te amamos.
— Obrigada. — Sorrio para eles com os meus olhos marejados. —
Eu também amo vocês. Muito, muito, muito e muito. Do tamanho do
Universo. Infinitamente.
Pego a minha bolsa de mão e mando um beijo no ar para eles, que
devolvem.
— Arrasa, filha — mamãe fala, e sei que, quando eu sair daqui, vai
chorar cheia de emoção.
Só não faz isso agora porque não quer me deixar ainda mais nervosa.
— Te amamos — Conrad lembra de novo.
Assinto, me despeço mais uma vez e começo a andar até a porta,
segurando a barra do vestido para poder não causar nenhum acidente.
Empino o queixo, pisco os olhos várias vezes para poder não deixar
a lágrima cair e passo pela porta, a fechando com cuidado.
Descendo as escadas, nossos olhares se encontram e todos os fogos
de artifício explodem no ar — pelo menos na minha cabeça e no meu
coração.
Ele está com um terno azul-marinho, gravata da mesma cor e os
cabelos assentados perfeitamente, parecendo um deus grego.
Vem até mim, me estendendo a sua mão quando me vê prestes a
descer o último degrau.
— Você está completamente perfeita. — Seu elogio me deixa nas
nuvens. — Amei o vestido.
— Sério?
— Sim, no chão do meu quarto ficaria melhor ainda.
— Alex! — o repreendo. — Já estou nervosa, não abale mais os
meus nervos, por favor.
— Nervosa? — Faço que sim diante de sua pergunta. — Não pode
ser. Não entendo como a maior popstar do momento, a maior atração da
noite, pode estar se sentindo desse jeito.
Estreito os olhos.
— Não ajudou.
— Foi mal. — Ri. — Só estava querendo demonstrar que te acho
incrível.
— Eu sei disso, e é por isso que vou arrebentar naquele palco. Para
que você nunca possa se arrepender daquele contrato que assinei.
— O contrato que me trouxe você? — Mais outra risada. — Rá! Isso
nunca.
— Acho bom.
Ele aperta meu queixo.
— Vamos ao maior show da sua vida, minha estrela?
— Vamos, chefinho — digo com convicção, porque ao lado de
Alexander Russell, eu posso ser capaz de ir para qualquer lugar nesse
mundo.

O local onde vai acontecer o VMAs está, como sempre, lotado na


entrada.
São paparazzis, câmeras, carros milionários e artistas para todos os
lados.
O frio na minha barriga aumenta.
Acho que Alexander percebe, pois repousa gentilmente sua mão na
minha coxa, nós dois ainda dentro da sua Lamborghini.
— Como eu disse, pimentinha, estarei nos bastidores. — Assinto,
mordiscando o lábio inferior. — Vou ficar te assistindo e torcendo pela
melhor apresentação da sua vida. Inclusive, quando você vai escrever uma
música sobre mim, hein?
Dou uma gargalhada sincera, porque, como eu imaginei, só ele é
capaz de aliviar todo o meu estresse em momentos como esse.
— Você não sabe, mas eu já posso estar escrevendo — brinco, com
um fundo de verdade nisso. Talvez, só talvez, eu já esteja começando a
compor a do meu próximo álbum, que sei que vai ser totalmente na era
Lover da Taylor Swift.
— Que ótimo, porque me dá um pouco de ânsia saber que são para
os seus ex-namorados.
— Eles nem me importam.
— Eu sei que não, e eu nem tenho ciúmes.
Meu Deus, que mentira mais deslavada.
— Aham.
— Tô falando sério, Michaela, me respeite.
Cruzo os braços.
— E por acaso eu estou te desrespeitando?
— Está me desrespeitando agora mesmo, cruzando esses braços.
Descruze agora mesmo porque vou começar a ficar de pau duro com esse
seu decotão aí.
— Uma hora dessas e você pensando com a sua cabeça de baixo? —
O empurro de leve.
— É só brincadeira, para te deixar sorrindo assim.
— Sei, sei, sei, me engana que eu gosto.
Meu empresário revira os olhos.
— É melhor a gente descer, porque não quero ter que te atrasar.
— Tudo bem. — Respiro fundo. — Vamos nessa, chefinho. Sua
estrela precisa brilhar.
— Me aguarde, vou abrir a porta para você.
O assisto abrir a porta, flexionar os joelhos e vir caminhando até o
meu lado. Como acompanho cada movimento seu, percebo que, assim que
alguns paparazzis o flagram, começam a tirar foto dele.
— Que estranho, eu não sou o famoso aqui — é o que diz quando
abre a porta e me ajuda a descer.
— Deve ser porque sabem que você é meu empresário e que vou
descer agora.
— Sim, pode ser por isso, mas detesto quando tiram fotos minhas.
— Não se preo...
A minha frase morre porque é só começarmos a andar até a entrada
que uma onda de paparazzis se aproxima.
Ok, eu já estava esperando por isso, entretanto, ainda assim, é
estranho porque todas as câmeras se voltam para nós, como se nada mais no
evento importasse.
Jornalistas com microfones em mãos também aparecem, nos
encurralando.
Tentamos seguir em frente, mas a coisa só piora, e a primeira ação de
Alexander é passar o braço ao redor da minha cintura para me proteger. São
tantos flashes que fico assustada.
— Michaela McKenna, Alexander Russell — uma das jornalistas
começa a falar, nos acompanhando junto com os fotógrafos. O que diabos
está acontecendo?, penso ao colocar a mão sobre o rosto, meus olhos já
ardendo pelas luzes me ofuscando. — Vocês podem falar com a gente um
minutinho?
— É melhor darem licença — Alex pede, sem paciência.
— É rapidinho — a moça continua. — Queremos saber uma resposta
de vocês a respeito do que acabou de sair agora pouco na mídia.
Eu e ele nos entreolhamos, afinal, não programamos nada para que
soltassem hoje além da divulgação da minha apresentação no VMAs.
— Perdão... — Eu limpo a garganta, sorrio um pouco sem graça e
faço Alexander parar no lugar. Todos que estavam em cima da gente
também param, mas continuam com as câmeras posicionadas em nossos
rostos, como se não pudessem perder nada do que acham que pode vir a
acontecer. — De que notícia exatamente você se refere?
— Michaela... — Ouço meu empresário reclamar baixinho em meu
ouvido, porque, obviamente, está com medo do que eu possa fazer ou falar,
já que não vim preparada para isso.
Simplesmente o ignoro, pois desejo saber qual o motivo de todo
alvoroço.
É por causa da minha música?
Da minha apresentação?
Se for, não teria problema algum em falar um pouquinho com eles.
— Da notícia que saiu no TMZ — a jornalista revela, meu coração
pulando só pelas três letrinhas. Todo famoso seria capaz de gelar igual a
mim ao ouvir esse nome. — Diz o seguinte... — Ela pega o celular para ler,
com o microfone à boca. — A cantora Michaela McKenna, que está prestes
a lançar seu segundo álbum de estúdio e está deixando seus fãs
enlouquecidos de tanta espera, foi flagrada em Santa Mônica, no Pacific
Park, ao lado do seu novo empresário Alexander Russell, em clima de
romance. Nossas fontes que estavam naquele mesmo dia junto com eles nos
reportaram que os viram ao lado de uma criança pequena, e quando não
tinha ninguém olhando, eles faziam pequenas demonstrações de carinho,
como segue a foto abaixo. — Toda a cor do meu rosto empalidece quando
vejo a foto que saiu no jornal, nós dois abraçados naquela barraquinha que
Iris foi jogar. — A matéria continua dizendo: Todos nós sabemos que
Michaela é a nossa maior it girl namoradeira do momento, mas seu
empresário é 14 anos mais velho que ela, será que está rolando mesmo ou
será que ele é só mais uma figura paterna para a nossa eterna rainha
lunática?
Se a jornalista continua lendo mais alguma coisa ou para, não faço
ideia, pois tudo que consigo fazer nesse momento é encarar Alexander. Ele
se encontra da mesma forma que eu, sem cor, totalmente pego
desprevenido. Quando percebe que está me segurando ainda pela cintura,
nos mantendo próximos, me solta, como se percebesse que eu tenho alguma
doença.
O pomo-de-adão se mexe com frequência em sua garganta,
principalmente quando percebe os jornalistas que não param de chegar com
as câmeras voltadas para nós.
Agora é um homem que fica ao lado da mulher, querendo perguntar
mais coisas.
— Você está namorando com Michaela McKenna, Alexander? —
Pisca uma, duas, três vezes, abrindo a boca na mesma frequência. As
palavras tentam sair, mas parece não ter forças para colocá-las para fora.
Começo a sentir todo o meu interior se revirar. — O que tem a dizer das
pessoas nos comentários dizendo que você foi antiético e que talvez não
confiam mais no seu trabalho?
Alexander coloca a mão na boca e percebo que elas tremem, assim
como seu lábio inferior.
Seu olhar fica vago, perdido, e pela careta que faz, parece imaginar
mil cenários terríveis no momento.
— É mentira — sopra. — É tudo mentira.
É mentira.
É tudo mentira.
Do que exatamente ele está falando?
— O que é mentira, Alexander? — a moça parece ter coragem de
perguntar por mim.
— A porra dessa reportagem. — Agora quem treme sou eu. — Não
podem duvidar do meu trabalho, não quando passei anos da minha vida me
esforçando para ser quem sou. Quem vocês pensam que são? — cospe,
nervoso.
Então, me olhando uma última vez, com o olhar opaco, Alexander se
vira, sai e me deixa aqui sozinha, cercada por paparazzis e perguntas das
quais não quero ter que responder.
Me viro para me certificar que realmente foi embora, e foi mesmo.
Não há nada dele por aqui.
No momento mais importante da minha vida, nega tudo e some.
Ele vai embora e não tem mais ninguém aqui para me dar apoio.
Pestanejo e quando volto a olhar para eles, os fotógrafos e
jornalistas, estão todos esperando uma resposta sobre a minha vida.
— Deve ter sido um engano — eu respondo, envergonhada. — Me
desculpem. Minha assessoria pode falar com vocês depois. Eu tenho... eu
tenho... que ir.
Passo por eles, seguro a barra do meu vestido e apresso o passo,
tentando não chorar.
Eu tenho um show para fazer.
Tenho que cantar, tenho que me apresentar, não posso chorar por
causa dele, nem mesmo se meu coração estiver aos caquinhos.
Porque Alexander negou.
Ele negou tudo.
E sabe o pior?
Ele foi embora.
Passo pelo tapete vermelho, e ao invés de desmoronar, tenho que ser
fortaleza. Tenho que sorrir.
Mas não consigo parar de pensar: ele te deixou sozinha, idiota.
Me deixou sozinha, jogada aos leões, quando disse que eu não
precisava me preocupar com a mídia, porque ele cuidaria de tudo.
Agora eu tenho que cuidar de tudo.
De um evento.
De uma premiação.
De um show.
De um coração quebrado.
“É, é tarde demais agora, para pedir desculpas?
Porque eu sinto falta mais do que só do seu corpo
É tarde demais para pedir desculpas?
É, eu sei que te decepcionei
É tarde demais para pedir desculpa?”
SORRY — JUSTIN BIEBER

Durante toda a minha vida, lutei para ser um profissional de respeito.


Nunca tive polêmicas. Nunca passei por cima de ninguém. Nunca julguei,
nunca ofendi, nunca subi em um pedestal para a mídia, por mais que me
achasse um dos melhores.
Tudo o que eu tive, durante muito tempo, foi o meu trabalho, o meu
nome, a minha marca, a minha reputação. Eu queria ser o empresário que o
meu pai não teve a chance de ter. Eu queria ser um jovem apaixonado por
música, mas que soubesse exatamente todas as técnicas e todos os
ensinamentos para poder não iludir ninguém.
Eu estudei.
Lutei.
Batalhei, comi o pão que o diabo amassou para sair da pobreza e ser
um homem de sucesso. Trilhei um caminho árduo, porra, para o quê? Para
aos 35 anos ser cobrado por um bando de abutres, colocando em prova a
minha dignidade e o meu esforço?
Para ser encurralado, menosprezado, humilhado?
Porque foi isso que aconteceu quando aqueles jornalistas nojentos
apareceram para informar que estavam falando na internet que eu corrompi
alguém, mais especificamente a Michaela.
Na hora, gelei, pensei em todo meu trabalho indo para o lixo, com as
pessoas me atacando e pensando inverdades ao meu respeito, inverdades
sobre o meu relacionamento. Não consegui ficar naquele lugar nem por
mais um minuto, porque sabia que não suportaria. Eu tive medo de, além de
acabarem comigo, acabarem com ela.
Saí da entrada do VMAs o mais rápido possível, entrei no meu carro
e fui embora, me tremendo. Estava enxergando vermelho. Estava arrasado.
Destruído. Porque era eu quem deveria ter cuidado de tudo, era eu quem
deveria ter tomado cuidado, quem deveria ser mais atento, mais
profissional, mais organizado e centrado. Não podia ter dado bandeira
daquele jeito no parque quando ainda não tinha criado uma boa estratégia
para nos mostrar na mídia.
Toda a bomba foi jogada na minha cara sem que eu tivesse como
prever, porque nem a porra do celular eu vi antes de sair de casa. E aí eu fui
destruído bem ali. Fiquei como um rolo. Fiquei em choque, paralisado, sem
palavras.
Não conseguia dar suporte nem para mim, quem dirá para Michaela.
Eu estava com vergonha, vergonha de mim, do que tinha feito, do que tinha
dito, do que tinha visto, então simplesmente corri. Fugi. Acelerei para a
minha casa e assim que cheguei, fechei todas as janelas e desliguei o
celular.
Estava mal.
Não queria ver jornal, não queria ver notícia, não queria ter que vê-
la.
E não porque me arrependia de Michaela, não porque queria acabar
com tudo entre nós, e sim porque estava com medo de ter sido leviano e ter
acabado comigo mesmo.
O que eu ia fazer sem meu trabalho?
O que eu seria se não fosse empresário?
Nunca liguei para a opinião pública, mas o que aconteceria se
estivessem me odiando? O que aconteceria com ela se estivessem me
odiando?
Como ficaria sua carreira?
Como ficaria o seu sonho?
Como eu poderia continuar cuidando dela se não fui nem capaz de
cuidar de nós?
Estava me sentindo um lixo.
Ainda estou, na verdade. O banho gelado que tomei, a escuridão que
deixei o quarto e a garrafa de uísque que bebi quase inteira não amenizaram
porra nenhuma.
Só pioraram.
E como já estou fodido mesmo, deito na cama e ligo a minha
televisão, colocando na MTV. É bem no tempo em que estão anunciando a
sua apresentação.
Sinto meu coração apertar, doer como o inferno no peito.
A tela da TV escurece, mas quando retorna, ela já está no centro do
palco, deitada numa cama em um cenário de quarto, com vários pôsteres na
parede que remetem a filmes famosos. Ela se levanta e olha para a câmera,
cantando a música que tanto ouvi ser produzida na gravadora.
Está linda, com um cropped com a cara do Leonardo DiCaprio, um
mini shortinho como roupa de dormir e pantufas nos pés, totalmente sexy e
encantadora. Parece que nada aconteceu. Ela sorri, canta com a sua alma e
Love is not like in the movies já parece estar na boca do povo, porque a
plateia canta bem alto no refrão, e é quando pula da cama para poder
performar junto dos dançarinos.
A câmera a ama.
O palco também.
Ela é luz, é a sua própria estrela.
Mas está lá, no fundo dos seus olhos, eu consigo ver. Sei tudo sobre
ela. Está triste. Seu sorriso é fingido, e por mais que ninguém possa
perceber, eu percebo. Percebo que não está bem, que só está sendo
profissional e fazendo o seu dia dar certo.
Enterro meu rosto no travesseiro e urro, com raiva, com dor. Pego no
sono por causa da garrafa toda de uísque que bebi ou morro sufocado com o
travesseiro no rosto, porque não vejo mais nada, só tudo preto.
No dia seguinte, acordo com a claridade da janela em meu rosto.
Com o barulho dela sendo aberta também, e quando abro os olhos e tento
enxergar, não demora muito até que eu reconheça Oliver no quarto.
— Levanta da porra dessa cama, Alexander — vocifera, bravo. —
Anda, já chega de se lamuriar, sei que fez muito isso ontem, já que não
atendeu a droga do seu celular. Que porra você fez?
Não, primeiro eu pergunto: Como foi que entrou aqui?
Ah, é, lembrei, a chave de emergência que dei a ele no mês
retrasado. Nós fizemos juntos.
A contragosto, eu me sento na cama, mas faço questão de jogar um
travesseiro contra ele, que, obviamente, nem chega a passar perto do seu
corpo de tão ruim que me encontro.
— As pessoas me odeiam — murmuro. — Estou fodido, Oliver.
Fodido. Não vou mais poder trabalhar, porque acabei com toda a minha
carreira. Joguei tudo no lixo, fui um merda. Estudei tanto pra nada.
Meu melhor amigo rola os olhos e se senta à minha frente.
— Não tem ninguém te odiando, não tem ninguém te xingando, não
tem ninguém querendo destruir a sua vida além de você mesmo — fala. —
Vi o que saiu no TMZ e vi algumas das matérias que falaram sobre você no
Red Carpet. As pessoas só estão curiosas, ninguém está afirmando nada, só
queriam saber o que estava acontecendo entre você e Michaela. Óbvio, é
internet, claro que tem gente especulando e falando bobagem, mas também
tem quem shippe, quem apoie, quem defenda, quem queira acompanhar os
desdobramentos. Mas você desmentiu tudo, certo? Quebrou o coração da
menina na frente de todos aqueles jornalistas.
— Eu não desmenti exatamente sobre nós, eu quis desmentir a
matéria, as pessoas que estavam falando mal do meu trabalho. Eu não... eu
não quis... Porra! — Solto um ar exasperado. — Foi o que pareceu? Que eu
estava negando sobre nós?
— Claro, Alexander! — Sua resposta sincera e a sua expressão de
raiva são como balas em meu peito, me dilacerando por dentro. — Você
podia falar a verdade, podia fazer o certo, assumi-la ali mesmo, ser gentil e
contar ao menos como se conheceram, nem que fosse por cima, e eu tenho
certeza que os jornalistas teriam repassado a informação verdadeira. Mas
não, claro que não, você simplesmente surtou e negou tudo, a fez parecer
mentirosa na frente de todo mundo. Que porra passou na sua cabeça? —
Outro tiro, diretamente no meu coração. — Michaela ficou arrasada, sabia?
A Natasha ligou pra ela. A coitada não tinha nem voz pra falar. E sabe a
merda maior? Ela foi encontrar Dakota e Eric no Call Emergency depois da
premiação, eu mesma a vi sair chorando de lá.
Chorando.
Michaela chorando. Por mim.
Eu sabia que tinha feito merda, sabia que para me explicar seria
difícil, mas não imaginava que poderia ser tanto.
Porque está achando que desmenti sobre nós. Está achando que
fiquei com raiva de ter sido descoberto. Mas não é o caso. Caralho, não é. O
que me pegou naquele momento foi o julgamento, o medo, principalmente
o medo de ter a carreira destruída e a levar junto.
Eu poderia aguentar qualquer coisa, menos arruiná-la.
Mas eu a arruinei.
A deixei de coração partido.
Fui mais uma desilusão amorosa para a sua lista.
Não.
Grito por dentro.
Não posso.
Isso eu não admito.
É inadmissível pensar que a quebrei, sendo que tudo que fiz foi
tentar consertá-la enquanto tirava todos os resquícios dos seus ex-
namorados para que percebesse que tudo o que estava faltando na sua vida
era alguém como eu. Um homem como eu.
Na hora de demonstrar, fui um moleque.
— Então já pode declarar, Oliver, minha vida acabou. Sem
Michaela, nada faz sentido.
O sinto prestes a me dar um soco na cara.
— Sério, por que você não pensou nisso antes, otário? Por que só
deu a entender que tudo que se importa é o seu trabalho?
— Não! — esbravejo. — Ela é mais importante.
— E o que foi que você fez para provar isso?
Mais uma vez, sua pergunta me deixa em pedaços, sem reação.
Nada.
Nada é a resposta.
Não fiz nada, porque nunca faço o certo, e esse é o meu maldito
problema.

Uma semana se passa e Íris está tentando me manter feliz, todas as


vezes ela vem me encontrar com um desenho da nossa família em mãos.
Para a minha afilhada, sempre sorrio, porque sei que pode perceber
que não estou bem, que algo aconteceu, mas, para o resto do mundo, estou
um verdadeiro pé no saco.
Voltei ao trabalho, mas nada me agrada mais.
Tentei entrar em contato com Michaela várias vezes, e a droga do
seu celular só cai na caixa postal, claramente me evitando.
Os números do seu single saíram, ela bateu mais um recorde,
entretanto, não pude estar ao seu lado para comemorar como disse que
faria. Só pude ver suas postagens nas redes sociais agradecendo.
Aparentemente ali, por trás de uma tela, parece estar feliz.
Parece.
Não sei se está.
Não sei se foi capaz de esquecer o ocorrido ou se, todas as noites,
pensa nele antes de dormir como eu.
A verdade é que tentei lhe dar seu tempo, tentei lhe dar um espaço,
porém não posso suportar mais. É caso de vida ou morte se eu não falar
com aquela garota.
Me pegando de surpresa, quando eu abro a porta, é ela quem
aparece.
Meu coração vai parar na garganta quando me sobressalto.
— Michaela?
Será que consegue ouvir os sons do meu coração?
Seria bom, porque aí saberia que estive esse tempo todo chorando
por ela.
— Oi, Alexander. — A voz é fria, contida. — Posso entrar?
— Claro.
Lhe dou passagem e ela entra.
Ao fechar a porta, a conduzo até a sala e peço que fique à vontade.
— Desculpe vir sem avisar, é que, por mais que eu tente, não
consigo ficar com coisas entaladas na garganta e precisava te ver antes de
sufocar. — Abraça seu próprio corpo e finalmente consegue me encarar. —
Eu acho que você pode perceber que fiquei magoada. Que ainda estou
magoada.
— Sim, eu...
— Peço que não fale nada, que apenas me escute, porque preciso ser
breve.
Engulo em seco diante do seu tom cortante.
— Fiquei me martirizando em casa. Confesso, estava bem mal. E
provavelmente diferente do que pensa, eu consigo entender a sua reação. Da
mesma forma que foi compreensivo comigo com a história de Sabrina, eu
sou com você nesse aspecto.
— É?
— É, entendo que se assustou, que ficou com medo, que não estava
esperando por aquilo e qualquer coisa que disser, vou entender também.
Não duvido dos seus sentimentos por mim. Não duvido de nada do que
vivemos. Mas, apesar de tudo, não consigo acreditar que foi capaz de me
abandonar naquela situação. Que se virou, que me deixou sem apoio no
momento mais importante da minha carreira e fugiu. Eu não precisava do
Alexander naquele momento, eu precisava do meu empresário, aquele que
liga tanto para o trabalho e fala tanto dele que, na oportunidade em que as
coisas se apertaram para mim, só pensou em si mesmo e se foi. Não viu
minha apresentação, não assistiu ao show, não ficou para me parabenizar.
Nada. Você me deixou ali, com leões famintos que só queriam um deslize
nosso para nos atacar.
Bagunço os fios do meu cabelo, pois nem eu mesmo me aguento.
Quando penso no que fiz, só sei sentir raiva.
— Eu sei, eu sei, Michaela, eu errei. Porra, eu errei e como errei.
Não sou perfeito, mas eu não conseguia acreditar, não conseguia pensar em
te arrastar para a minha vida que seria destruída. Eu fiquei preocupado,
fiquei totalmente sem chão e agi errado. — Dou um passo em sua direção.
— Entendo se me odiar, porque errei e estou aqui assumindo todos os meus
erros, mas preciso ser sincero. Não conseguiria ser frio e agir como seu
empresário, porque há tempos eu não sou só mais isso. Há tempos que me
envolvi, há tempos que te deixei entrar na minha vida e há tempos que sou
seu. Porque me apaixonei perdidamente por você, Michaela. Me apaixonei
e só senti medo. De perder você, de perder minha credibilidade, de perder o
que construí. Fui egoísta e equivocado.
Ela abre e fecha a boca, surpresa.
— Se apaixonou? — é tudo no que consegue prestar atenção.
— Sim, completamente, e me desculpe também por não ter dito
antes. Não queria confessar agora só para você achar que estou tentando te
ganhar no vitimismo, mas também não poderia deixar para outra hora
porque, quanto mais tarde, pior. — Seguro as suas mãos e coloco em meu
coração. — Desde que chegou, você mudou a minha vida, Michaela. Com o
seu charme, suas birras, seu humor, seu sorriso, sua luz. Eu nunca me
apaixonei antes, sempre tive relacionamentos fracassados, que nunca me
causaram nada, e o que eu sinto por você é muito mais do que um dia
poderia sonhar. É paixão, fogo e devassidão. Sou seu, cheio de defeitos, de
erros e de ambições, mas nunca quis te deixar na mão daquela forma. Foi
por impulso. Em nenhum momento pensei direito.
— Alexander...
— Sinta — falo. — Sinta meu coração. Sinta como está desesperado
por você. Porque ele está. Fiquei maluco todo esse tempo por não ter
conseguido entrar em contato. Me desculpe mesmo. Me perdoe.
— E se você mudar de ideia? — questiona, mordendo o lábio em
nervosismo.
— Não vou — garanto com seriedade.
— E se tornar a repetir aquilo outra vez? Não posso suportar de novo
— Eu preferia morrer a fazer aquilo outra vez — soo de forma
sincera. Extremamente sincera. — E se quiser, eu faço o que for para te
mostrar meu arrependimento. Dou entrevista a Oprah, ligo para o rádio,
canto, danço, apareço na TV, peço sua mão aos seus pais, crio redes sociais
e posto foto nossa com um texto enorme em todas elas e, se for possível,
mando pintar o letreiro de Hollywood de lilás só para te mostrar o quão
enlouquecidamente apaixonado estou por você e não me importo mais com
o mundo afora, porque sei que você é tudo o que importa, e se lidar com
críticas for a única objeção, eu lido até o fim da minha vida. Batalhei muito
para provar o meu valor, se quiserem que eu prove mais só por estar ao seu
lado, eu provo. Não estou brincando.
— Não está mesmo?
— Não estou — repito ao segurar seu rosto, querendo que me olhe
nos olhos para ver a verdade neles.
— Então prove — é tudo que diz. — Escolha alguma dessas coisas
para fazer e me prove que realmente se arrepende e que realmente me quer
pra valer, não só me assumindo para as pessoas que conhecemos, e sim para
o mundo. Quero que me dê uma segurança.
— Vou te dar quantas for preciso. Uma chance é só o que peço para
mudar o erro que cometi.

— O que é que você vai fazer? — Oliver está com os olhos


arregalados, desacreditado no que acabou de ouvir quando invado seu
escritório à noite.
— Vou fazer uma operação resgate à minha garota. — Dou de
ombros ao colocar as mãos no bolso da calça social. — Nós conversamos,
eu pedi desculpas, assumi meus erros, disse que estava apaixonado e ela
pediu provas. Vou fazer algumas.
Meu melhor amigo aperta a ponta do seu nariz, sabendo que aí vem
coisa.
— Quais provas, Alexander?
— A primeira é: vou dançar a coreografia de Feeling Epic junto de
Iris. Quero ajuda da sua filha porque fica mais fofo e quero mesmo
impressionar.
— É sério isso que estou ouvindo? Você vai... dançar?
— E cantar também.
— Minha nossa, alguém me mata.
— É sério, porra. Me escuta, caralho. Não estou nem aí se vou
passar vergonha, é para passar mesmo, só assim Michaela se sentirá
vingada pela vergonha muito pior que eu a fiz passar.
— Certo, certo. E onde vai ser isso?
— Na apresentação que a Iris vai fazer na escola — explico, porque
pensei em tudo. — Na aula de artes. Ela não vai ter que fazer a coreografia
de uma música ao lado de um familiar? Então, não sei se ia você ou a
Natasha, mas peço por misericórdia que deixe ser eu. Deixe que eu dance
com Iris e esteja na plateia para me gravar dançando.
— Só pode ser brincadeira — Oliver balança a cabeça de um lado
para o outro, mas sei que vai me ajudar, porque quer que eu recupere
Michaela mais do que eu mesmo quero.
Como combinado, ele me ajuda.
Eu passo dias ensaiando com Iris e a gente se diverte muito.
Quando eu danço no pequeno palco da sua escola, Oliver filma tudo,
e no fim da noite, envio o vídeo para Michaela.
Tudo o que recebo seu é um emoji pensativo, como se quisesse me
dizer que está de olho, só me analisando.
Só me incentiva mais a continuar.
No dia seguinte, invado o escritório de Oliver de novo.
— Meu Deus, o que foi agora? — Joga os pés em cima da sua mesa
de trabalho e cruza os braços. — Ah, já sei, outra prova, desembucha.
— Ligue para a rádio, por favor, eles estão pedindo confissões de
amor. Quero fazer uma.
Ele corre para pegar seu celular, enquanto coloca o número de uma
das rádios mais famosas de Los Angeles, eu mando uma mensagem para
Michaela colocar na estação, porque vou falar, como disse que faria.
Correndo até mim, Oliver me entrega seu celular.
— Boa noite — solto, com receio.
— Boa noite, ouvinte. Qual a sua confissão?
— Quebrei o coração de uma garota e espero que ela esteja ouvindo
o que vou falar agora. — Limpo a garganta e começo, vendo meu melhor
amigo me mandar um joinha. — Michaela, de nós dois, é a melhor com
palavras. Como pode ver, sou péssimo, mas estou falando agora do meu
coração. Eu não sei como viver sem você. Não sei como olhar para uma
roda-gigante e um jatinho particular sem lembrar da gente, dos nossos
momentos, do nosso amor intenso. Sei que errei, sei que te magoei, sei que
perdi um dos momentos mais importantes da sua vida, mas queria que
soubesse que me arrependo profundamente e que nunca, jamais, vou voltar
a repeti-lo. Não me entenda mal, eu vou errar sim, vou fazer você ficar com
raiva, querendo me matar e tudo o mais, mas não importa o que aconteça,
não saio do seu lado por nada, nem mesmo que um furacão passe por nós.
Quero seu sorriso, seu abraço e os seus xingamentos de volta. Me perdoa.
— Obrigado, ouvinte, foi lindo, que você consiga recuperá-la o
quanto antes.
Desligo a ligação, e Oliver me olha.
— Será que Michaela ouviu?
— Eu acho que sim, ela visualizou minha mensagem.
— É um bom sinal. — Senta-se ao meu lado e põe uma mão em meu
ombro. — Vai dar tudo certo, irmão. Ela com certeza está vendo o seu
esforço.
— Eu espero que sim. — Respiro audivelmente. — Em breve
começam os seus shows, e eu preciso acompanhá-la como empresário e
futuro namorado.
— Você vai conseguir, Alex, só não pode desistir.
Agora, desistir não faz mais parte do meu vocabulário.

Encontro Michaela na frente da sua casa, ela se surpreende ao me


ver.
— Dança, canto e ligação no rádio. — Faz um bico impressionado
enquanto contabiliza nos dedos. — O que mais falta fazer, dar entrevistas?
Criar as redes sociais? Pintar o letreiro de Hollywood com a cor roxa? Acho
bem difícil, hein.
— Está me provocando?
— Estou te dizendo a verdade. — Cruza os braços e tomba a cabeça
para o lado. — Todas essas coisas são praticamente impossíveis de se fazer.
A entrevista até vai, as redes sociais também, por mais que você as deteste,
agora o letreiro de Hollywood? Só se você quisesse pegar prisão perpétua.
— Se eu fosse você, não duvidaria da minha capacidade de te pedir
perdão.
Cheia de desafio, ela quebra a nossa distância, com o queixo
empinado.
— Essa eu pago para ver.
— Já disse para você não brincar com fogo.
Dá de ombros.
— E eu já disse que gosto de me queimar.
— Então vamos ver — a provoco de volta.
— Certo, certo. O que veio fazer aqui, me provar mais alguma
coisa?
— Sim e não.
— Como assim sim e não?
— Vim falar com seus pais, não com você.
Começo a andar para subir as escadas de sua casa, Michaela ao meu
encalço.
— Com meus pais? — não parece mesmo acreditar. — Só pode ter
ficado louco.
— Sou louco por você, pimentinha, e ainda não viu nada —
murmuro sobre os ombros.
Mas me viro de volta, batendo na porta.
Para a minha surpresa, ela a abre para mim, e quando vejo uma
funcionária, a chamo.
— Tem como chamar Antonella e Conrad para mim, por favor?
— Só um minuto.
E a moça corre para o andar de cima, fazendo o que eu pedi e me
ajudando muito.
Michaela ainda fica ao meu lado, embasbacada.
Para a minha sorte, não dá nem dois minutos e eles aparecem para
mim.
— Aconteceu alguma coisa? — Conrad é o primeiro a perguntar,
preocupado.
— Aconteceu — respondo de maneira firme. — Não sei se a sua
filha chegou a contar a vocês, acredito que sim, mas nós nos conhecemos
por acaso, em uma noite muito antes de ela saber que eu seria seu
empresário. Sendo bem sincero, acho que me apaixonei pela sua filha,
Conrad, no primeiro instante em que a olhei. Nós não planejamos o que
sentiríamos um pelo outro, apenas aconteceu. Eu lutei muito, tentei ao
máximo me manter longe, eu sabia que era errado, que não podia
desrespeitar você dessa forma, mas não consegui. Fracassei, errei, mas me
apaixonei. Me apaixonei de verdade. Me apaixonei tão verdadeiramente que
me tornei um medroso, um garotinho adolescente que se rebela quando
ouve o que não gosta e decide ir pelo caminho errado. Mas estou aqui para
consertar os meus erros, começando com essa conversa, porque quero fazer
o certo. Quero ter a bênção de vocês, Conrad e Antonella.
— Alexander. — Seu pai dá um passo à frente. — Michaela nos
contou o que houve, assim como vem nos contando suas tentativas de
conquistar o perdão dela. Ficamos muito tristes com tudo o que aconteceu,
e tanto eu quanto a minha esposa gostamos verdadeiramente de você, deve
saber disso, porém não é conosco que deve se preocupar. Nós estamos aqui
para apoiar a nossa filha, o que ela decidir, para nós está de bom tamanho.
— Isso. — Antonella se junta ao marido. — Não concordamos nem
um pouco com o que fez, nem a omissão nem o fato de tê-la deixado
sozinha, mas também sabemos que você teve muitos outros acertos antes e
não podemos te julgar por um único erro. Chances estão aí para serem
dadas, se não acreditarmos na evolução do ser humano, no que esse mundo
vai se tornar? Então, se for da sua vontade, persista. E se for da vontade da
minha filha, que ela volte para você ou só mantenha a relação profissional
harmonicamente. Iremos aceitar qualquer escolha, só queremos que ela seja
feliz e faça aquilo que tem vontade. Nunca a impedimos de nada e Michaela
sabe bem disso.
— Ela sabe, sim. Ela é muito feliz em ter os pais que tem, e
extremamente sortuda também. — Troco o olhar com os três. — Obrigado
por todas as palavras, e podem ter certeza que não vou desistir. Que fique
aqui minhas desculpas mais uma vez.
Dou meia-volta e saio, deixando-a com mais um tempo para pensar,
afinal, não quero pressioná-la.
Tenho uma leve pontada de esperança porque, ao entrar no carro,
antes de dar partida, a vejo me olhar pela janela. E eu posso jurar que,
daqui, a vejo sorrir.
A operação para recuperar a minha garota ainda não acabou.
“Incapaz de falar
Incapaz de descobrir o amor
Mas você chegou
E seu amor é a minha língua
Você é a minha linguagem do amor
Me pegue, amor, nunca pare
Seja meu daqui até a eternidade
Viva nessa roda-gigante e me fale
Você sabe o que é amor de verdade?
É você, você é a minha minha linguagem do amor”
YOU ARE MY LOVE LANGUAGE — MICHAELA MCKENNA

Capitão Gancho de Araque: Vê as notificações do seu Instagram.

Pronto, não bastando o que fez nas últimas semanas, agora chegou a
parte do Instagram.
Visualizo a sua mensagem e já corro para o aplicativo, porque é
óbvio que a minha curiosidade fala mais alto.
E aqui está, ganhei um novo seguidor, que acabou curtindo todas as
minhas fotos no feed.
@alexanderussell35
Cubro a mão na boca.
Meu Deus, ele fez mesmo o Instagram, e é tão da década passada
que ainda colocou a sua idade no user. É brega e ao mesmo tempo muito
fofo.
Ainda mais curiosa, clico em seu perfil.
Começo a rir na mesma hora.
Não, não pode ser possível.
A foto de perfil dele é uma montagem, metade eu e metade ele. Na
sua bio está especificando que é o meu empresário e o meu maior fã.
E tem fotos.
Ou melhor, dois vídeos. Um deles dançando na escola de Iris, aquele
que enviou para mim, e um que é novo. Aperto nesse na mesma hora em
que o vejo e, antes de aumentar o volume, vejo que está possivelmente de
frente para o celular, em uma parede branca, gravando o vídeo sozinho.
Alexander entra bem no enquadro da câmera, olha fixamente para
ela e começa a falar:
— Oi! — Acena e eu sorrio com a sua falta de jeito. — Para quem
não me conhece, sou Alexander Russell, trabalho como empresário. Por
causa da minha vida sempre corrida, nunca gostei muito de parar para olhar
as redes sociais, mas sei que vocês, da geração de hoje, prezam muito por
ela e resolvi criar essa conta para uma pessoa especial. O nome dela é
Michaela McKenna. Aposto que muitos de vocês conhecem. Ela é uma das
minhas estrelas, e muitos podem não acreditar, mas tivemos nossos
caminhos cruzados bem antes de trabalharmos um para o outro. Foi uma
coisa de destino. Foi a maior química de todas, sem nem percebermos, nos
apaixonamos e mesmo que parecesse muito errado, para nós, sempre foi
muito certo. Sei que quando aquelas fotos saíram, dei a entender que não
estávamos juntos. Fui um covarde. Fiquei com medo da opinião pública e
agi como um bobo, porque também tinha medo de atingir meu trabalho. E
hoje, apesar de estar fazendo esse vídeo, não estou aqui para me explicar
para ninguém, e me desculpe se estou soando grosso, mas é a verdade.
Dou uma pausa no vídeo porque meus olhos ficam marejados
demais, não me possibilitando enxergar seu rosto com facilidade. Passo o
dorso de uma das mãos nos dois olhos e, quando percebo que melhorou,
coloco o vídeo para continuar.
—... Eu estou fazendo esse vídeo só para assumir publicamente que,
sim, me apaixonei por Michaela e não tenho mais medo de admitir. Ela é
tudo o que eu quero e tudo o que eu preciso. Se vocês não me apoiarem,
tudo bem, respeito, mas se me apoiarem, por favor, comentem aí embaixo
corações roxos, para que ela possa ver. Porque você é meu coração roxo,
Michaela. — Seu olhar para a câmera é totalmente voltado para mim, eu
sei. — Você me faz viver. Eu estou louco para poder continuar a vida com
você. Que esse vídeo te toque assim como você foi capaz de me tocar.
Beijos, é isso.
E desliga.
Fico paralisada, em choque.
Não acredito que realmente foi capaz de fazer isso, que foi capaz de
assumir assim, publicamente, se tornando vulnerável para a mídia e para as
pessoas, não se importando nem um pouco com o que os outros vão pensar.
Mais lágrimas caem dos meus olhos, e quando atualizo seu
Instagram de novo, começo a perceber que seus seguidores aumentam e
explodem a cada segundo. No vídeo, é uma loucura, já passa de 500 mil
visualizações, e isso em apenas uma hora.
Abro os comentários de novo e vejo uma enxurrada de corações
roxos.
De pessoas desconhecidas, amigos, fã clubes, equipe, todo mundo.
Estão todos o apoiando.
E a verdade é só uma: desde que se declarou em sua casa, desde que
começou com essa operação de me fazer perdoá-lo, eu já sabia que
conseguiria o meu sim, mas esperei para ver. Esperei para poder observar
de perto o que escolheria fazer e como seria o seu empenho.
Confesso, nada do que pensei em minha mente chegou nem perto
disso. Alexander se superou. Ele não mostrou só a mim, ele mostrou ao
mundo, deu a cara a tapa e disse que está completamente apaixonado por
mim, como sempre quis ouvir.
Quando me deixou sozinha em frente aos paparazzis, doeu,
principalmente ter que cantar na TV com um sorriso no rosto, mas os meus
pais têm razão, todo ser humano merece uma segunda chance, e diante de
tanto acerto, eu não posso crucificá-lo por um único erro, não quando eu
errei também, lá na história de Sabrina.
Nós nos apaixonamos, somos o que somos e eu não posso mudar a
nossa história.
Pouco tempo depois, recebo mensagens de Dakota e Eric no celular,
porque acabaram de me enviar o vídeo.
Basicamente, os dois dizem a mesma coisa: Meu Deus, você viu
isso? Ele realmente está empenhado, amiga, não consigo sentir raiva por
muito tempo, por favor, dá uma chance para vocês fazerem o certo e serem
felizes.
Meus pais apoiam, meus melhores amigos apoiam, meu coração
apoia, por que prolongar mais o sofrimento?
Eu o quero.
Eu o amo.
Alexander Russell é tudo o que preciso e não posso deixá-lo escapar,
não quando sei que é capaz de mover céus e terras por mim.
Mais uma mensagem sua aparece e faz meu coração acelerar.
Capitão Gancho de Araque: Me encontra na Call Emergency, por favor?

Sorrio, já sabendo.
Nosso lugar.
O primeiro momento em que nos apaixonamos.
Eu: Estou indo, chefinho. Me surpreenda.

Deixo o celular de lado, pulo da cama e começo a me arrumar o mais


rápido possível, porque não vejo a hora de poder vê-lo.

Meu motorista me deixa na frente da balada de Oliver e já vejo os


seguranças na frente para liberar a minha entrada, inclusive aquele que não
fui muito com a cara.
Me aproximo, achando estranho o fato de não ter ninguém na fila, e
antes que eu possa pegar minha identidade para poder pegar a pulseira, o
homem já me libera sem nem mesmo conferir meu documento e sem nem
mesmo me dar uma pulseira.
Certo, o que está acontecendo aqui?
Desconfiada, entro sorrateiramente, olhando de um lado para o outro
para ver se posso encontrá-lo.
Então, mais um choque.
A Call Emergency está totalmente vazia.
Sim, vazia. Numa sexta-feira à noite.
Grito, assustada quando sinto que colocam algo em meus olhos.
— Calma, pimentinha, sou eu. — Respiro mais aliviada e tateio a
venda em meus olhos. — Quero te fazer uma última surpresa, então me
acompanhe, por favor. Isso, com cuidado, não tenha medo, eu te levo
comigo.
— Você que fez isso? — Balanço a cabeça e começo a tatear o ar
quando me coloca um pouco mais à frente. — Digo, deixar a balada vazia
só para nós dois?
— Sim — confirma. — Pedi ao Oliver que me ajudasse nessa, nem
que fosse por algumas horinhas. Eu queria fazer minha última tentativa
aqui, nesse lugar que foi tão importante para nós e nos juntou. E também a
outra surpresa que preparei só cabia aqui.
— Outra?
Ele ri às minhas costas.
— Qual a surpresa? Eu disse que não ia medir esforços.
— Uau, estou vendo.
Sinto que fica bem atrás de mim, minha barriga começa a se revirar
de ansiedade.
— Vou tirar a venda, pode ser?
— Pode — afirmo várias vezes, mas sinto que Alex quer fazer
suspense. — Vai logo, tira, ou vou ter um piripaque.
— Não, não trouxe você aqui para morrer, trouxe para te recuperar
— brinca e, aos poucos, desfaz o laço. Não tira completamente, porque
ainda diz: — Com você, a coisa mais incrível e surpreendente que vai ver
em sua vida.
A venda sai por completo dos meus olhos e eu quase caio para trás,
rindo bastante.
Na verdade, rindo, chorando, rindo mais um pouco, tudo ao mesmo
tempo.
Porque na pista de dança, Alexander colocou um miniletreiro de
Hollywood. Um miniletreiro de Hollywood todo roxo e cheio de brilho, a
minha cara.
— Você tinha razão, eu não podia fazer isso no letreiro de verdade,
mas aí eu pensei: se não posso fazer, posso criar. Então aí está. Pintado à
mão por mim mesmo. Joguei até glitter, depois fiquei parecendo um filhote
de unicórnio. Iris adorou.
Ainda fico sem reação, alternando o olhar para o letreiro roxo e para
o seu rosto, que está esticado num sorriso de orelha a orelha.
Coloco a mão na boca para abafar os gritinhos quando o vejo se
ajoelhar.
— Michaela McKenna, o mundo inteiro sabe do meu amor por você,
coloquei minha cara aos quatro cantos, passei vergonha, dancei, vi tutorial
no Youtube de como criar um Instagram só por sua causa e hoje estou aqui,
mais uma vez, nesse nosso lugar especial, para te pedir desculpas de novo e
perguntar se você aceita, com todo o seu coração, ser a minha namorada?
Ele tira a caixinha de veludo do bolso e a abre para mim, me
revelando um anel com uma pedra de ametista no centro, lilás para
combinar com os nossos corações.
Balanço a cabeça várias vezes, aceitando enquanto choro.
— Sim, sim, sim — digo mais uma vez quando o vejo colocar a
aliança de compromisso em meu dedo, se levantar e me pegar no colo, me
rodando junto com ele. — Obrigada por cada uma das demonstrações, eu
amei. E te desculpo. Te quero só para mim. Para todo o sempre.
— Para todo o sempre.
E me beija, fazendo com que toda a saudade que senti suma de uma
vez.
— Você é minha, Michaela McKenna.
— E você é meu, Alexander Russell. Só meu. Estou completamente
apaixonada por você. Pela primeira vez na vida, alguém derreteu meu
coração, e fico feliz que tenha sido você.
— E eu fico mais feliz ainda por conseguir esse feito.
Ele me segura, me inclina e me beija de novo.
Ao nos separarmos, joga os braços no ar e grita:
— PESSOAL, ELA DISSE SIM!
Então a música começa e todos os nossos amigos saem do fundo,
correndo para comemorar com a gente. Vem Dakota, Eric, Raphael, seu
namorado, e claro, Oliver, Natasha e até mesmo Iris.
Caio na risada, também sem acreditar que preparou mais essa
surpresa.
Não preciso de mais nada, aqui já encontro tudo.
São a minha base para continuar dia após dia.

Nos bastidores do primeiro show da Purple Heart Tour, eu escuto os


gritos. Os aplausos. A euforia dos fãs. Meu coração vai a milhão e me sinto
completamente em casa.
Tenho o meu amor, que está lá embaixo, no camarote, junto dos
nossos amigos e familiares, um microfone na mão e fãs apaixonados que
me esperaram por tanto tempo para que eu voltasse aqui, para os palcos.
Eu aprumo os ombros, espero a contagem regressiva passar e entro
no palco.
A primeira música não é Love is not like in the movies, e sim uma
que fiz para o meu namorado.
Meu namorado.
Ainda me sinto boba por falar isso.
Mas é isso que ele é, meu namorado, meu ogro, o amor da minha
vida.
E ela se chama You are my love language.
Minha música Top 1. A mais amada pelo nosso fandom.
Sim, fandom, porque, com os vídeos na internet, Alexander Russell
conquistou uma legião de admiradores.
Quando eu entro para cantá-las, toda a plateia em Los Angeles canta
junto.
Por muito tempo, achei que fosse incapaz de amar
Incapaz de falar
Incapaz de descobrir o amor
Mas você chegou
E seu amor é a minha língua
Você é a minha linguagem do amor
Me pegue, amor, nunca pare
Seja meu daqui até a eternidade
Viva nessa roda-gigante e me fale
Você sabe o que é amor de verdade?
É você, você é a minha linguagem do amor
Em meio à multidão no estádio lotado, eu o acho.
Não tenho mais dúvidas.
Ele é o meu amor de verdade.
“Eu gosto de coisas brilhantes, mas eu me casaria com você com anéis de papel
Uh, uh, isso mesmo
Querido, é você quem eu quero”
PAPER RINGS — TAYLOR SWIFT

ANOS DEPOIS

Acho que Alexander, mesmo depois de todos esses anos, gostou


desse negócio de vendas nos olhos, porque, depois de completarmos cinco
anos de namoro, eu já com 25 e ele 40, me leva para algum lugar só para
me fazer uma surpresa por hoje ser nosso aniversário de namoro.
Não sei o que pretende fazer, mas sei que não serei a única
surpreendida.
— Amor, olha por onde anda — pede às minhas costas, me
segurando para que eu não caia.
— O que posso fazer se você parece que está me levando para as
montanhas?
Ri, e como o conheço, sei que está revirando os olhos.
— Todos esses anos e você continua sendo uma mimadinha — me
provoca, ainda me conduzindo, como se estivéssemos subindo para um
local alto. — Nem a Iris, com 11 anos, faz mais essas manhas como você
faz.
Rio, porque, puta merda, é verdade.
Iris Olsen deixou de ser nossa pequena.
Quer dizer, só no tamanho e na idade, pois sempre continuará sendo
nossa menininha pequena, mesmo que não goste quando a chamamos
assim, pois, segundo ela, já é pré-adolescente e não pode mais ser tratada
como um bebê. Continua superinteligente, uma das melhores alunas da
classe e continua sendo minha fã número 1 até hoje, como está crescida,
faço questão que me acompanhe em alguns shows — quando pode e é perto
de casa, claro — e sempre escuto seus conselhos ao mostrá-la as minhas
letras. Ela tem um ouvido aguçado como ninguém e, por mais que tenha
vergonha, tenho certeza que tem uma voz linda, vez ou outra a escuto
cantarolar baixinho, quando vai me ver gravar na Public Records, ao lado
de Lynx, a quem eu não largo por nada.
E o pai de Oliver, inclusive, se tornou ainda mais coruja e babão com
o tempo, como Natasha.
Os dois ainda não conseguiram encontrar um amor, acredita?
Eric continua com Raphael, estão noivos, e tanto Oliver quanto
Natasha e Dakota permanecem solteiros, curtindo a vida.
Hartley se tornou melhor amiga de Oliver, e, sendo bem franca, até
hoje eu não sei se ela conseguiu pegá-lo ou não, o que sei mesmo é que não
se desgrudam por nada, afinal, viramos uma verdadeira família bagunceira.
E, caramba, a gente não chega nunca?
Fala sério, estou me sentindo cansada, e não posso fazer muito
esforço, tenho que repousar.
— Chegamos! — Finalmente paramos, o que me alivia. — Vou tirar
sua venda, mas só um minuto.
— Nossa, amor, você é tããããão enrolado — soo dramática, para
continuar enchendo o saco.
O que posso fazer, se nosso amor e a forma como nos tratamos não
muda nunca, não importa quantos anos passem?
Nós somos namorados, melhores amigos, amantes, vivemos no ódio,
na raiva, no desejo, e quando estamos em pé de guerra, acertamos tudo com
uma boa rodada de sexo.
Sim, é isso mesmo que está pensando, ainda somos como dois
coelhos.
— Deixa de chatice, Michaela, vou retirar agora. Em 3,2,1...
E tira mesmo, a venda voando para longe com o vento do local.
Sorrio, porque é claro que tinha que ser aqui para comemorar nosso
aniversário de namoro. Diferente de quando fez o pedido, esse é o real. O
letreiro de Hollywood verdadeiro, o que tivemos nossa primeira vez, o
memorável, jamais esquecido.
Sorrio, emocionada, como a boba que ele sempre conseguiu me fazer
ser.
Fico o procurando, mas quando me viro, Alexander está, mais uma
vez, no chão.
— Não acredito! — por causa dos hormônios, já estou chorando.
— Michaela McKenna, minha pimentinha, minha estrela mais
brilhante, amor da minha vida, você aceita se casar comigo? Aceita ser a
Sra. Russell? Aceita dividir a cama comigo por toda a eternidade?
Mordo os lábios, trêmulos.
— É claro que aceito, seu bobo.
Com a maior sensação de déjà vu, o assisto colocar mais um anel em
meu dedo, subindo para me beijar com a mesma paixão e intensidade que
há cinco anos, quando tudo começou.
Ao se afastar dos meus lábios, continuo o abraçando, mas,
disfarçadamente, pego algo da minha bolsa e o ergo perto dos nossos rostos.
O de Alexander parece confuso na mesma hora, demorando mil anos
para poder raciocinar o que está bem diante dos seus olhos.
Um teste de gravidez.
— Deu positivo — declaro, com mais lágrimas rolando pelas minhas
bochechas. — Eu estou grávida.
— VOCÊ ESTÁ GRÁVIDA? — grita, e sei que toda LA é capaz de
nos escutar.
— Sim, gravidíssima. — Aliso a minha barriga. — Você será papai,
Sr. Russell. Nossa família está crescendo...
Em todos esses anos, nunca o vi chorar, sempre quer ostentar sua
pose de durão, mas, agora, Alexander chora, sem nenhum pudor. Nós
encostamos as nossas testas e só sabemos chorar, porque realizamos todos
os nossos sonhos. Ficamos juntos, enfrentamos todas as diversidades e
agora estamos noivos e grávidos.
— Acha que ele ou ela foram concebidos onde? — brinca. — Na
nossa ida a Las Vegas ou na sua turnê pelo Brasil, mais especificamente no
Rio?
— Tem tudo para ter sido no Brasil, amor.
Nós rimos, e quando se agacha, beija a minha barriga.
— Olá, criança no forninho, o papai te ama.
É, acho que vivi para ver essa cena, Alexander Russell falando com
voz de bebê.
Meu noivo.
Pai do meu filho.
Meu amor.

FIM
Uhuuuul, se você chegou até aqui, caro leitor, MUUUITO obrigada
por essa jornada incrível com a popstar e seu empresário.
Antes de você se despedir deles, preciso fazer meus agradecimentos
completos para as pessoas mais especiais da minha vida.
Primeiramente, vou começar agradecendo a Deus, por ter me dado a
honra de poder ser escritora. Até hoje, não acredito que tenho essa bênção,
que posso tocar tantos corações com a minha arte. É incrível poder viver
daquilo que sempre sonhou, daquilo que tanto ama e se orgulha. Cada livro
finalizado, é como uma grande conquista para mim. Esse aqui não foi
diferente. Michaela e Alexander ganharam meu coração logo de cara,
quando apareceu para mim no momento que mais precisava deles, depois
de escrever duas histórias extremamente difíceis. Esses dois, para mim,
foram leve, foram meu conforto, minha dose diária de alegria e altas
risadas. Eu amei cada segundo que passamos juntos.
Gostaria de agradecer também ao meu pai, que, de onde está, sempre
me ajuda e nunca me deixa desistir. Ele era o meu maior apoiador, e se hoje
estou aqui podendo contar mais uma história para vocês, foi por causa dele,
que, desde quando eu era pequena, fazia questão de introduzir a leitura na
minha vida. Sou extremamente grata a ele por isso e por todos os
ensinamentos que me deixou. Eu o amo mais que o infinito.
Minha mãe, a melhor de todas, obrigada por ser o meu maior ponto
de refúgio e por, junto comigo, ter feito essa história nascer. Se não fosse
você e o seu lado criativo, não sei nem se seria capaz de fazer isso tão bem.
Obrigada por me apoiar tanto. Te amo!
Minha família, meus irmãos, primos, tios, obrigada também por
serem os meus maiores fãs e por entenderem perfeitamente todo o esforço
que faço quando estou na reta final de um livro, sei que fico mandando
vocês fazerem silêncio o tempo inteiro, mas eu juro que vocês nem são tão
barulhentos assim. Brincadeiras à parte, vocês sabem que são os melhores,
certo?
E Vanessa Pavan, minha assessora, uma das melhores pessoas que
conheci nesse meio literário, obrigada por cuidar tão bem de mim e do meu
trabalho. Você é especial demais, faz parte da minha família e, mesmo que
eu diga isso sempre, vou repetir aqui: não consigo imaginar minha vida sem
você e sem o nosso CEO Boris. Obrigada por tudo.
Evelyn Fernandes, revisora, obrigada por todo carinho e preparo
com esse texto. Você, com certeza, foi primordial para que essa história
fosse finalizada. Não tenho palavras para mensurar minha gratidão por ter
te encontrado.
Iali, amiga, mais uma vez, esse livro é totalmente para você, pode ter
certeza disso. Espero que tenha se acabado de dar risada com a Michaela e
tenha se sentido totalmente num episódio maravilhoso de uma comédia
romântica. Você é o meu presente, alguém que vou levar para o resto da
vida, e se não fosse pelo seu apoio, carinho e força, eu não seria nadinha. Te
amo muitoooo.
Carol, você é para mim como a Dakota é para a Michaela. Acho que
nem preciso falar muito com uma declaração dessas, certo? Obrigada por
tudo, amiga. Por toda a nossa amizade que já dura bem mais de uma
década.
E, claro, obrigada a você, leitor, que acompanhou até aqui. Obrigada
a você que chegou de paraquedas, que me acompanha há muito tempo, que
sempre interage comigo nas redes sociais e que faz o meu trabalho ser
possível. O carinho que recebo todo dia de vocês me move e me faz querer
continuar criando mais e mais casais apaixonantes para vocês.
Parceiras de lançamento, muito obrigada por estarem comigo nessa e
em mais uma jornada inesquecível.
Obrigada pelo show, espero que tenham gostado.
Com amor, Luana Oliveira.

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