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COPYRIGHT © 2023 Ella Ares

Capa: Maya Designer

Revisão: Deborah A. Ratton

Diagramação: Deborah A. Ratton

Esta obra foi revisada segundo o Novo Acordo Ortográfico da Língua


Portuguesa, mas contém marcas próprias da oralidade em respeito ao
contexto retratado.

É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por


qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos
xerográficos, incluindo o uso da internet, sem permissão expressa da autora
(Lei 9.610 de 19/02/1998).

Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a realidade é mera


coincidência. Nenhum dos fatos narrados e personagens citados são reais.

Todos os direitos desta edição reservados à autora.


Se você está esperando por um mocinho politicamente correto, então este
livro não é para você. Andrey pode ser tudo e mais um pouco, mas mocinho e
politicamente correto com certeza ele não é!

Beijinhos, Ella Ares


As minhas leitoras gostam de um mocinho de caráter duvidoso, possessivo e
que irá banhá-las de diamantes dos pés à cabeça.

Para Elly Magalhães. Há quedas que viram saltos. Ao seu lado consegui criar
asas e renasci para escrever Andrey e Anna.
SUMÁRIO

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13
Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26

Capítulo 27
Capítulo 28

Capítulo 29

Capítulo 30

Capítulo 31

Capítulo 32

Capítulo 33

Capítulo 34

Capítulo 35

Capítulo 36

Capítulo 37

Capítulo 38

Capítulo 39

Capítulo 40

Epílogo
Agradecimentos
ANDREY VASSILIEV

A morte é como uma sentença que todos temos que carregar. Em outros
termos, a cruz que Cristo carregou para que a humanidade tivesse uma
segunda chance. Eu não sou um homem bom, mas fui criado dentro da igreja,
por pais religiosos que não perdiam uma missa aos domingos, mas nem
mesmo ter conhecimento constante da palavra me fez desenvolver devoção
aos ensinamentos.

Eu os repudio e só estou sentado obrigado a ouvir o sermão na fileira em


frente ao padre porque minha falecida esposa, assim como meus pais são, era
devota.

Hoje faz exatamente um ano que Angelina morreu em complicações de


um parto em que só sobreviveu a nossa pequena Elly. Todos da minha
família, amigos e conhecidos estão aqui para se lembrarem da sua passagem
breve pela nossa vida.

Angelina sempre foi uma garota doce, transparente e que via o lado bom
da vida, apesar de ser também dona de uma personalidade forte, daquelas que
batem o pé no chão quando querem alguma coisa, choram até que se realize o
seu desejo.

Foi por isso que me casei com ela.

Minha falecida esposa surgiu em meu caminho feito um furacão e me


arrastou para o seu mundo colorido. Angelina trabalhava em uma das minhas
indústrias, era mais precisamente a minha secretária particular, que
organizava toda a parte burocrática dos negócios, bem como me dava seu
corpo ao fim do expediente. Foi um jogo vicioso por anos, até que enfim
decidi que era hora de encerrar a brincadeira.

Eu não tinha mais idade para brincar de casinha ou manter romances.

Casei-me então com ela.

Eu a pedi em casamento entre uma foda e outra, devorando-a como um


animal. Angelina nem mesmo cogitou recusar o pedido, pois sabia que não
tinha como fugir de mim. É claro que nesse dia me lembrei das palavras do
padre; somente a morte seria capaz de nos separar. Homem e mulher. Ela era
uma mulher boa e serviria para ocupar o papel de esposa samaritana, tanto na
cama quanto fora dela.

E teria sido assim nos últimos anos que vivemos juntos. Amantes e
amigos. Se não fosse pelo seu plano diabólico de engravidar, nada disso teria
acontecido. Hoje estaríamos juntos, vivendo como se cada dia fosse o último,
mas isso não é mais uma opção para ser cogitada. Angelina assinou a sua
sentença quando decidiu engravidar, indo contra o meu desejo de não querer
ser pai.

Eu a obriguei a fazer uso de contraceptivo regular para evitar tanto o


sangramento quanto um herdeiro inesperado que não fazia parte dos meus
planos. Nunca foi um desejo meu procriar, espalhar o meu sangue pelas
próximas gerações ou fazer com que meu sobrenome continuasse vivo após
minha morte, que em algum momento chegaria, afinal nunca estaremos livres
disso.

Não queria um filho.

Não desejei.

Assim que fui informado do falecimento de Angelina, pouco me dei ao


trabalho de ir olhar nossa filha, que foi diretamente para a UTI por ter
nascido prematura. Meu dinheiro era capaz de comprar tudo, sendo assim
providenciei todo o tratamento de que o bebê precisava, além de contratar
pessoas para a acompanharem pelo tempo que iria passar entre as paredes
daquele hospital. Eu tinha um funeral para organizar, uma vida para encarar
onde não teria mais ao meu lado a minha mulher.

Porra!

Angelina nunca deveria ter morrido.

O seu funeral foi digníssimo da pessoa que ela era e, quando vi seu
caixão sumir pouco a pouco por baixo da terra, tive pleno conhecimento de
que nunca mais voltaria a ser o Andrey que um dia fora. Uma parte de mim
também foi enterrada com a Angelina, como se não houvesse mais um
mundo, não sem o seu sorriso doce e o seu perfume suave para aquecer a
tormenta que habita em meu coração obscuro.

Não adiantava de nada ter todo o dinheiro do mundo se não pudesse


controlar o imprevisto que sobrevém a todos e impedir que a morte a levasse
para sempre.

— Hoje, honramos sua vida e lamentamos a sua ausência. Lembramos


com tristeza que faz um ano desde que você nos deixou. Sua falta é sentida
todos os dias por todos nós! — o padre recita algumas palavras para todos os
presentes na igreja, os mais próximos.

Nunca tive conhecimento de quem eram seus pais biológicos, tudo que
sei é que a minha esposa foi acolhida em um abrigo para menores
abandonados e aprendeu muito cedo a sobreviver, era isso, caso não quisesse
passar fome. Por sorte, Angelina encontrou uma família, que a abrigou, deu-
lhe um sobrenome e a chance de estudar, bem como fazer uma faculdade. Em
um curto tempo, sua vida mudou e ela deixou de ser uma garota fragilizada
para se tornar uma mulher forte e determinada.

Eu não tenho muito contato com os parentes dela desde a sua morte,
pois nem mesmo se davam ao trabalho de saber da neta, como se não se
importassem com ela.

— Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo…

Olho pelas lentes dos óculos escuros a movimentação das pessoas ao


redor e automaticamente sinto que é o momento certo de encerrar este teatro
e ir de uma vez por todas embora. Não aguento ficar mais um minuto sequer
respirando no mesmo ambiente que um dia foi palco do velório da minha
esposa.

É isso.
Levanto-me, engulo em seco e ando em passos apressados sem me
importar com o que irão falar no outro dia, ou que vire uma notícia
fresquinha para os fofoqueiros de plantão que não tiram o olhar da minha
vida desde que me tornei um homem poderoso, em outras palavras, o
imperador dos diamantes, como me chamam e reconhecem em nosso país. Eu
pouco me importo, afinal não devo explicação alguma, já cumpri com a
obrigação de estar ali e ponto-final.

Caminho rápido até o meu carro, que está parado em frente à igreja, e
cumprimento com um aceno o motorista.

Ele logo vai ocupar o seu lugar para me levar embora.

— Qual o seu próximo destino, senhor?

Trato de entrar no automóvel, ocupando logo o meu lugar no assento de


trás.

— Para a boate. Preciso de álcool — falo direto.

— Suponho que não tenha sido nada fácil a missa.

— Nunca é. Odeio que me obriguem a compactuar com isso —


comento.

É uma meia verdade. Eu só faço em memória à Angelina e aos meus


pais, que pegam no meu pé. Por mim, nada disso aconteceria, e eu tampouco
queria fazer parte.

Não preciso estar ali para me lembrar dela, basta entrar no quarto que
dividíamos para as memórias voltarem em peso. Ainda mantenho o aroma de
lavanda de que ela tanto gostava, bem como compro suas flores preferidas e
coloco na cabeceira da cama, como se de alguma forma ela pudesse vê-las.

Só que não.

— Os mortos precisam de reza, senhor Vassiliev.

— Tenho absoluta certeza de que não. Vamos embora. Preciso de bebida


e boceta.

— O senhor é que manda, Imperador.


ANNA RURIKOVA

— Tem certeza de que quer fazer isso? — Adriele pergunta.

— Sim, e não. Quer dizer. — Balanço o cabelo para o lado. — Não sei.
— Mordo a ponta do lábio, apreensiva. — No entanto, é a única saída que
tenho por ora.

— Eu já estou acostumada com esse trabalho, mas você… — Deixa em


aberto e dá de ombros. — Mas vejamos pelo lado bom, estarei aqui com
você.

Franzo o cenho.

— Se a sua intenção era me reconfortar… — Prendo o lábio para não


rir. — Você não é uma das melhores pessoas do mundo quando o assunto é
estar ao lado.

— Que é isso, garota, parece que a senhorita não tem medo de morrer,
não é? — cutuca com o dedo o meu ombro. — Falo sério. Eu trabalho no bar,
mas vez ou outra darei uma espiadinha para ver como você está. E outra. —
Ergue um dedo. — A boate é completamente segura quando o assunto é
assédio sexual de funcionários. O senhor Vassiliev não compactua com uma
coisa dessas.

— Jura? — Pisco os dois olhos, nervosa. — Jura mesmo?

— Faz mais de anos que trabalho aqui e nunca vi algo do tipo acontecer.
As garotas que por aqui vendem o corpo estão cem por cento seguras e
protegidas, afinal quem pisa os pés por aqui nada mais é que homem que
nada em dinheiro, pode acreditar.

— Eu não vou vender meu corpo — ressalto um fato importante.

Só aceitei cobrir o turno de uma conhecida por duas semanas, pois


preciso do dinheiro que será pago, será de grande ajuda para realizar o meu
sonho de entrar em uma universidade de medicina. É o meu sonho desde
pequena.

Assim como anseio encontrar um dia minha irmã gêmea, cuja existência
descobri quando tinha pouco menos de quatro anos de idade, através de uma
das freiras da igreja.

Não sei muito sobre quem ela é, desconheço até mesmo o seu nome,
pois ainda éramos muito pequenas quando o destino nos separou. Enquanto
fui criada em um orfanato de freiras, a minha irmã seguiu para outro abrigo e
desde então não tive muitas informações sobre o seu paradeiro. A nossa
genitora nos teve e sumiu no mundo, mas antes desfrutou do prazer de nos
colocar dentro de um lixão abandonado.

A sorte esteve ao nosso lado, ou por muito pouco morreríamos largadas


na podridão, passando frio e fome, era o que estava para acontecer. Fomos
então encontradas pelos policiais que faziam guarda noturna e nos levaram
para o hospital mais próximo da região. Como não tínhamos parentes ou
certidão, só nos restou ser entregues para a Justiça, que tratou por si só de
resolver a nossa questão.

Da pior forma…

Eu preferiria nunca saber desses detalhes, mas infelizmente uma ou duas


pessoas do orfanato acabaram contando, e tive conhecimento do meu passado
triste.

Por pena ou não. Quem pode julgá-los?

Por um lado ainda agradeço por ter tido um lar para morar, uma cama
quentinha onde dormir, mas se pudesse voltar no tempo queria ter idade
suficiente para ter o direito de escolher ficar com a minha irmã, que foi
separada de mim.

Eu me pergunto se somos idênticas ou se há algo que nos diferencia,


mas pelo visto essas dúvidas nunca serão respondidas. Quando atingi a
maioridade, fui procurá-la no lugar onde havia ficado, mas não havia nenhum
registro compatível com a data em que fomos entregues pela Justiça,
tampouco uma foto ou nome.

Nada.

Foi como se tivessem apagado sua existência e isso me impossibilitou de


encontrá-la, mesmo que tivesse passado os últimos anos à sua procura.
Eu segui a vida, com a ajuda de uma freira encontrei um emprego de
faxineira e com dezessete anos já era ajudante da empregada em uma mansão
onde encontrei uma oportunidade única, bem como um salário fixo, um
quarto, além de alimentação diária. A mansão da família Petrov me recebeu
de braços abertos. Desde então, com quase vinte e quatro anos, não penso em
deixá-los — eles me respeitam, nem mesmo pareço uma funcionária —,
senão para seguir o meu sonho de ser médica.

Quem sabe um dia?

Sonho com esse dia e por isso junto todo o mês um valor, tanto para
ingressar na universidade como para encontrar um lugar onde morar, pois
está na hora de deixar de viver no quartinho pequeno que divido com Marya.
Ainda continuo como ajudante, mas, conforme o tempo passou, precisei
expandir e cuidar de outras atividades domésticas. Não é um trabalho fácil,
mas eu dou conta e sou grata.

Recentemente, vi uma notícia de um vestibular que acontecerá e parece


ser a chance perfeita para tentar realizar o meu sonho. Movida por esse
anseio, aceitei quando Adriele, minha melhor amiga, me procurou para
ocupar o lugar de uma garota em uma boate. A princípio não gostei da ideia
de dançar, servir bebidas se fosse preciso e com roupas sensuais, mas bastou
ver o valor que seria pago para mudar automaticamente o meu pensamento
contrário.

Nem nos meus mais loucos sonhos imaginei que um ambiente assim
pudesse pagar tão bem para alguém se prestar a um trabalho como esse. Em
termos é obsceno e eu nem de longe sou assim, mas as regras do lugar
protegem as garotas, o que por um lado me faz respirar aliviada e, claro,
convenceu aceitar a proposta da minha melhor amiga.

— O que é uma pena, amiga. Aposto que os ricaços iriam pagar bilhões
pela sua virgindade — Adriele tenta me intimidar. — É sério. Você mataria
dois coelhos em uma tacada só. Iria perder o lacre e de quebra conseguir
dinheiro para a faculdade.

— E não iria ser feliz no fim das contas, afinal o dinheiro não compra
tudo.

— Eis que você se engana. Ele compra tudo.

Coloco um fio de cabelo atrás da orelha e direciono o olhar para o


prédio em minha frente. As cores vibrantes e vermelhas chamam a atenção. O
sobrenome do possível proprietário, ou da família, em uma fonte rústica em
contraste com o resto.

— Não vou mudar de opinião, Adri. Vamos logo entrar.

— Tomara que não encontre o dono pelos corredores — alerta.

— Por quê? Ele por acaso é um bicho assustador?

— Pior que isso. — Ela pega na minha mão. — Vamos logo entrar. E só
para constar… É melhor que não o veja.

Sem querer, suas palavras me deixam incrivelmente intrigada.


ANDREY VASSILIEV

Bebo de uma vez o décimo copo de uísque.

Tenho pleno conhecimento de que não deveria exagerar na bebida e que


a minha filha pequena está em casa com febre sem a presença do pai. Desde
que começaram a nascer os primeiros dentinhos, essas coisas vêm
acontecendo. É choro constante, cólica, entre outras mudanças que
acompanho de longe.

Elly tem mais de três babás, sendo duas enfermeiras e uma cuidadora
que fica em tempo integral, inclusive morando conosco na mansão. Não
posso parar a minha vida para trocar a sua fralda, acalmá-la ou colocá-la para
dormir, não quando tenho que dar conta do meu império e garantir que nada
falte a minha filha. Segurança e proteção. A garotinha terá tudo que sua mãe,
com vida, iria lhe proporcionar, além de amor em abundância, pois Angelina
a amou desde o primeiro teste que fez.
Amor este que a pequena nunca terá, ao menos não da minha parte.

Apesar de repudiar a ideia de ver minha esposa grávida, não a rejeitei,


tampouco a desprezei. Os meses que seguiram após a confirmação da
gestação foram intensos e, se bobear, a amei ainda um pouco mais, pois sua
felicidade estava acima da minha. Eu podia não aceitar bem a ideia de ser pai,
ou não querer o bebê, mas por amar Angelina me tornava capaz de engolir a
contrariedade e fazer o impossível para vê-la satisfeita.

No entanto, não consegui salvá-la.

Foi em uma consulta médica que descobrimos o seu problema de


pressão e a anemia, pois minha esposa sempre exibiu um padrão de vida
saudável, ao menos perante os meus olhos. E nem o tratamento e o cuidado
excessivo foram capazes de mantê-la viva após o parto, para ver a filha que
tanto desejara ter antes do nosso casamento.

Ela sempre comentava, por alto, sobre o sonho de ter uma bebê, mas
nunca contou o motivo por trás disso e algumas vezes me pegava curioso, em
busca de tentar entender o porquê. Angelina não era aberta sobre o seu
passado e eu a respeitava para não entrar em detalhes, pois também não
gostava nadinha do meu.

Assim como a grande maioria das crianças que nasceram em famílias


ricas, fui mantido dentro de uma bolha, segundo meus pais, por proteção e
segurança. Sendo privado de me relacionar com outras pessoas comuns,
garotos e garotas da minha idade, e por isso criei um comportamento rebelde.
Eu passei a fugir de casa, andei por bairros perigosos, fiz amizades com
turmas da pesada e apanhei.

Não foi uma, e sim muitas.


Ao participar muito novo de lutas ilegais, na maioria das vezes apanhava
por não ter habilidade e conhecimento de como tudo acontecia. Conforme o
tempo passou, aprendi a sobreviver, ganhar e faturar dinheiro, o que me levou
consequentemente a beber e fumar. Isso até meus pais saberem disso e tudo
acabar.

O casal me obrigou a passar um tempo morando com o meu tio no outro


lado do mundo e o que era para me ajudar só me fez ficar ainda mais
imbatível. O irmão mais velho da minha mãe, Miguel, dominava o ramo dos
diamantes e tinha mais dinheiro do que se podia contar. Foi assim que ainda
pequeno aprendi a trabalhar com ele, observar como conduzia os negócios e
prosperava sem muito esforço.

Depois de ser apresentado ao paraíso, não queria voltar para a Rússia.


Meus pais apoiaram a minha decisão. Cresci, fui adolescente e adulto,
enquanto seguia os passos do meu tio, até o dia em que ele decidiu que
passaria o seu império para meu nome. Miguel havia descoberto um tumor na
cabeça que o levaria à morte e, como havia pegado gosto pelo negócio,
aceitei dar continuidade nele.

Esse foi o motivo que me fez voltar ao meu país.

Com a morte do meu tio, não havia mais razão para continuar ali, e sim
para expandir o império pelo resto do continente. Eu, poucos anos depois,
legalizei formalmente os negócios e os fiz consequentemente crescer por todo
o mundo. O sobrenome Vassiliev era nos últimos anos referência na indústria
de joias digníssimas de diamantes, hotelarias, restaurantes e boates, todas
luxuosas.

Meu tio estaria orgulhoso se visse tudo que fiz para prosperar ainda mais
o que me havia dado em seu leito de morte. Eu o honrei com vida e continuei
após ela.
— Outra dose. — Bato o copo no balcão do bar da boate. — Não ouviu,
porra?

A bartender de cabelos ondulados, pele morena e baixinha, me encara


assustada.

— Sim, senhor. Um segundo. — Vira-se para preparar a minha bebida.

Ignoro-a e me viro para encarar o movimento da noite.

Gosto de frequentar este lugar, principalmente quando quero fugir de


algum compromisso ou simplesmente relaxar um pouco, mas desde a morte
de Angelina tenho vindo com mais frequência que antes para ser mais exato.
Sei que isso se deve ao fato de eu não querer estar em casa e ter que cruzar
com a bebê, que dentro de poucos meses irá começar a andar, aprender a
balbuciar alguma palavra sem errar como ainda faz. Algumas vezes a ouvi
sussurrar algumas coisas mesmo que de modo atrapalhado, é saudável para
alguém que nasceu prematuro, é esperta e tem todos os traços físicos da mãe,
menos os olhos, que são idênticos aos meus.

— Aqui, senhor. Precisa de mais alguma coisa? — A bartender me serve


a bebida.

— Que suma do meu campo de visão — sou grosso, sem me importar.

Giro a cabeça pelo ambiente, como se estivesse à procura de alguém,


mas nenhum rosto me soa familiar, até que vejo uma garota de cabelo preto
passar perante meus olhos. Travo o ar nos pulmões e posso jurar que estou
vendo uma miragem.

Não pode ser…


— Quem é ela? Qual o nome dela? — falo afoito, desesperado.

Espero que a mulher que trabalha no bar a conheça.

— O senhor disse para sumir…

— Preciso da porra de um nome! Quem é ela? — Aponto em direção à


garota que serve uma mesa onde há dois homens e duas acompanhantes ao
lado.

— Aquela? Então… O nome dela é Anna.

Abro os olhos e fecho duas vezes, sem acreditar no que vejo. Não pode
ser, ou é uma miragem muito idêntica a minha falecida esposa, a começar
pelos cabelos ondulados, o olhar intrigante e a altura. Eu tenho que vê-la de
perto para distinguir com exatidão a cor dos seus olhos, para ter certeza de
que não estou ficando louco. Apesar de que...

Angelina por anos pintou os cabelos de loiro.

— Chame-a aqui — disse certeiro e engoli em seco.

— Tem certeza?

— Não. Verei com meus próprios olhos quem é essa Anna.

Levanto-me da cadeira, ignoro a bebida servida e vou em sua direção. A


desconhecida parece não notar minha presença até o segundo exato em que
toco em seu ombro e ela se vira visivelmente assustada com o meu toque
inesperado.
— Meu Deus! — A garota deixa a bandeja cair no chão ao colocar a
mão no coração.

— Te achei — é a única coisa que consigo dizer.

A mulher à minha frente lembra Angelina, os olhos angelicais, os


mesmos traços físicos, até mesmo o pequeno sinal perto da boca, para
completar o pacote.

Pode ser uma miragem ou ilusão da minha cabeça, talvez efeito do


álcool.

— De onde você saiu, porra? — Em um ato inesperado, seguro em seu


braço. — Não pode ser verdade… Eu a enterrei. Como isso pode estar
acontecendo?

— Senhor? Está tudo bem? — Vejo seus lábios rosados, trêmulos. A


voz doce e serena. — Não sei do que você está falando… Deve ter me
confundido com alguém.

— Não. Eu tenho plena certeza de que é a cópia da minha esposa que


morreu.

— Não… Eu não sou. Por favor, me solte — pede em um murmúrio.

— Nunca mais, milaya — sopro as palavras próximo aos seus lábios. —


E nós vamos juntos descobrir o porquê de você vir dos mortos para me
atormentar.
ANNA RURIKOVA

Quem é este homem?

Por Deus, a única coisa que passou pela minha cabeça quando fui tocada
pela sua mão áspera foi correr para bem longe, como se isso fosse possível,
dado que estou aqui a trabalho. O meu instinto de autodefesa entrou em ação
no minuto em que nossos olhares se encontraram e consigo visualizar a fúria
que há no desconhecido que parece ter visto em mim uma alma. Eu tenho que
me livrar do seu agarre feroz, ou não serei responsável pelo que acontecerá
nos minutos seguintes.

— Vamos sair daqui, as pessoas estão começando a olhar — sua voz


grossa me deixa ainda mais assustada e em alerta.

— Não… Não posso. — Tento me soltar do seu agarre, mas ele não
permite.

— Eu não quero machucá-la, mas nós precisamos conversar — fala sem


tirar o olhar do meu.

— Não posso deixar o meu trabalho de lado, senhor. Repito. — Engulo


em seco antes de continuar falando. — Provavelmente deve ter me
confundido com alguém.

— É isso que vamos descobrir — diz firme. — Deixe as suas coisas na


mesa e me acompanhe até a minha sala, por favor. A princípio, sou o dono
deste lugar.

Arregalo os olhos automaticamente.

Um lampejo sobrevém em meus pensamentos lembrando-me de quando


Adriele me alertou sobre não cruzar o caminho do proprietário da boate;
segundo ela, não é uma das melhores pessoas do mundo. Que sorte a minha!
Em outra oportunidade ela me contou brevemente que seu chefe é dono de
uma personalidade forte, brutal e que nem mesmo se dá ao trabalho de tratar
com cordialidade seus funcionários.

Faz menos de dois dias que estou trabalhando aqui e, pelo que parece,
foi o tempo necessário para ter o azar de encontrá-lo ou, pior, ser confundida
com alguma pessoa que ele aparentemente conhece muito bem. Só que eu sei
que isso pode ser fruto de uma ilusão, a menos que o desconhecido conheça a
minha irmã gêmea.

Não.

Não pode ser.


Fecho os olhos por um segundo antes de abri-los rapidamente.

— Tudo bem. Eu aceito conversar com o senhor — falo baixo, aproveito


para deixar a bandeja em uma mesa vazia para acompanhá-lo.

É evidente que o misterioso não me deixará dar continuidade ao meu


trabalho aqui se eu não ouvir o que tem para falar, se não o ajudar a
esclarecer a maldita dúvida que cerca seus pensamentos, o que está claro na
forma como não para de me encarar.

Como se eu tivesse saído de um túmulo.

— É por aqui, Anna… — Finalmente solta a minha mão para indicar o


caminho que vamos percorrer juntos. — Por favor.

— Certo. — Passo as mãos no meu uniforme, um pouco incomodada


por ser curto demais, acima do joelho, decote exagerado nos seios, e saio
caminhando primeiro.

— Eu nunca a vi por aqui antes… Não pode ser uma ilusão da minha
cabeça. — Logo sinto a sua presença atrás de mim.

— Estou apenas cobrindo o turno de uma garota — sou sincera.

O misterioso me acompanha, passamos por um corredor enorme até


chegar a uma sala, que julgo ser o seu escritório. Passo a língua no lábio,
muito apreensiva.

Seja lá o que ele tenha para conversar, será o gatilho perfeito para no dia
seguinte eu pedir as contas, não pôr os pés em sua boate e não ter o desprazer
de ser confundida com alguém. Não que isso me incomode, exceto pela
forma como fui abordada brutalmente por ele. O homem cujo nome
desconheço parece ser assustador a ponto de me fazer recuar feito um animal
acuado.

E se a pessoa com quem me pareço for um inimigo seu? Alguém que ele
odeia?

— Pode entrar. — Indica ao abrir a porta com sua digital.

Digo um “obrigada” e entro logo, devagar, as luzes do ambiente se


acendem no automático, revelando o design interior da sala em tons escuros.
Há um amplo sofá no canto da parede, uma mesa com uma poltrona e um
quadro enorme. É o rosto de uma mulher, mesclado com as cores preto e
branco, uma imagem estranha, cujos traços são difíceis de identificar, seja ela
quem for.

Só é possível admirar o quão a obra de arte é linda, mesmo que não se


possa visualizar com exatidão a identidade da pessoa, além dos pequenos
detalhes que entregam ser uma mulher, quem sabe até mesmo uma grande
paixão sua. Por estar pendurada ali, dá a entender que é muito importante
para ele.

— Essa era a minha esposa. E por incrível que pareça… — O senhor


misterioso suspira fundo. — Vocês são idênticas. Digo, em partes, pois ela
gostava de pintar os cabelos de loiro, mas antes tinha a mesma tonalidade que
os seus fios.

— Deve ter sido um equívoco seu. — Viro-me para encará-lo. — Quer


dizer, com um mundo tão grande como este deve ser comum duas ou três
pessoas se parecerem, não é mesmo? Eu tenho plena certeza de que não…

Ele não me permite continuar falando.


— Não importa. Só preciso saber… Entender isso. Como é possível que
se pareçam tanto? — Gesticula com os dedos.

— Senhor, infelizmente não há o que entender. Como bem disse, a sua


esposa morreu e eu sou apenas uma garota qualquer que deve ter um ou dois
traços que a lembrem, e nada mais. — Dou de ombros, querendo logo
encerrar a conversa.

— Você tem até o sinal que ela tinha aqui… — Aproxima-se em passos
lentos, para em minha frente e estende a mão para tocar em meu rosto. —
Deus!

Vejo-me assustada ao me lembrar automaticamente da minha irmã


gêmea.

E se…

— Me desculpe. Eu preciso ir… — Afasto-me dando um passo para


trás.

E se a esposa do homem à minha frente for a minha irmã? Quais as


chances de isso ser verdade? Meu coração começa a bater acelerado como se
isso fosse uma possibilidade real, ainda que não possa ser, o que por um lado
me reconforta. Tem que ser mera coincidência, pois quero continuar
acreditando que a minha outra metade está viva em algum lugar do mundo.

Eu sinto lá no fundo que sim.

— Anna — sussurra o meu nome rouco.

— Adeus. — Cambaleio para trás. — Sinto muito por me parecer com


sua esposa.

É tudo que digo antes de mirar a porta e correr.

Fugindo do desconhecido igual ao Diabo que foge da cruz.


ANDREY VASSILIEV

Era um pecado o que tinha feito e iria para o inferno assim que
morresse.

Eu julguei que fosse o efeito da bebida, mas não era, ao menos em


partes.

Após o dia em que encontrei a garota que tinha os mesmos traços da


minha esposa, voltei à boate para ver sua ficha técnica e comprovei que não
estava louco. A desconhecida, que tinha o nome de Anna, era realmente real e
por sinal tinha a mesma idade da minha falecida para completar. Foram esses
detalhes que me fizeram investigá-la para descobrir qual seria a ligação entre
as duas meninas.

Angelina nunca me contou se teve irmãos, tampouco uma gêmea.


Tinha que ser mera coincidência, pois eu não sabia como iria viver em
um mundo onde havia uma cópia perfeita daquela que amei com todo meu
coração. Tinha que haver alguma coisa entre as duas que as diferenciasse e eu
esperava descobrir em breve, ou acabaria perdendo o resto de sanidade que
ainda habitava em mim.

Contratei um detetive particular para investigar a vida de Anna


Rurikova, bem como pedi a realização de um exame de DNA para identificar
o grau de parentesco com Angelina, caso realmente houvesse uma ligação
sanguínea entre elas. A pequena Elly era a única parente da minha esposa,
então o próximo passo seria conseguir o sangue da funcionária da boate para
todas as dúvidas serem sanadas.

É claro que conseguir isso não iria agregar nada a minha vida, pois não
tinha a menor intenção de me envolver com a cópia da minha esposa, como
se fosse uma espécie de fantasia erótica, bem longe disso. Mas havia a minha
filha, que merecia conhecer a tia, caso fosse comprovado o parentesco.

A bebê agora teria a chance de conhecer algum parente próximo da mãe.

— Elas são realmente idênticas. — Viktor, meu primo, comenta após


analisar a foto de Anna e de Angelina. — Mas se olhar direitinho… Há
inúmeras diferenças. Veja. — Ele me entrega a montagem que contém as
duas garotas.

Verdade.

Recebo enquanto me ajeito na cadeira do escritório. O bastardo foi o


único parente mais próximo em que pensei recorrer atrás de ajuda no dia
seguinte após o ocorrido na boate, ele é o único capaz de me ajudar numa
situação complicada como essa.
— Eu não consegui ver essas diferenças, primo, talvez se deva às doses
de uísque que bebi no dia em que a encontrei na boate. — Suspiro fundo.

— Angelina não tinha esse sinal perto do olho, veja. — Aponta com o
dedo para a imagem e olho imediatamente. — Anna tem os lábios menores, o
corpo com mais curvas, ao contrário da outra que sempre foi magrinha.

Eu jurava de pé junto que sim. Até o efeito da bebida sair do corpo.

No dia em que a encontrei, tive plena certeza de que eram idênticas, mas
talvez o álcool no sangue e as luzes do lugar tenham me confundido, o que
agora percebo.

Não são completamente iguais. Há algumas diferenças visíveis, como a


cor do cabelo.

Angelina era dona de olhos castanho-claros enquanto os de Anna são


castanho-escuros.

Angelina era dona do rosto mais acentuado, oval, enquanto a outra não.

Anna exibe uma beleza feminina que nunca vi antes e isso foi o que me
fez ficar ainda mais intrigado desde que a vi. Sua personalidade forte, o jeito
como agiu e como escapou facilmente dos meus braços.

— Você está certo. — Deixo a foto de lado e aperto o punho com força.
— Como fui cego… E acabei, no percurso, assustando a garota com minha
obsessão.

— Está na hora de virar a página, primo, e superar de uma vez por todas
a morte de Angelina — Viktor diz, certeiro. — Precisa passar dessa fase do
luto e viver o presente.

Ignoro o seu sermão, apesar de concordar, nunca assumirei isso em voz


alta.

— E elas são realmente irmãs?

— Elly no mínimo terá uma tia, veja, que maravilha, não é mesmo? —
fala sarcástico. — Eu aprecio sua confiança em me contar esse segredo, mas
volto a bater na tecla de que — ele estala os dedos — você tem que superar,
primo.

— Até quando vai ficar tentando ser um psicólogo? Foda-se, Viktor. —


Reviro os olhos. — Os seus conselhos entram por um ouvido e saem pelo
outro, simples.

— Quando foi a última vez que saiu para foder uma boceta?

— Ontem — não é uma mentira. — E pretendo comer outra ainda hoje.

Eu sempre a respeitei, nem mesmo com milhares de opções fui capaz de


traí-la, mas a sua partida me deu liberdade para seguir a vida e me envolver
com outras mulheres. E é o que eu venho fazendo nos últimos meses, tendo
casos de uma noite, seja com duas ou mais mulheres, orgias, para saciar
minha fome sexual.

Não passa disso.

Saio na calada da noite e volto com o clarão do dia. Eu não me importo


se for loira, morena, ruiva, desde que seja uma boceta gostosa e saudável, é a
única coisa que importa. Espero continuar nesse ciclo pela vida inteira, pois
jamais voltarei a subir no altar para me casar, seja com quem for.

Pode ser uma mulher pintada de ouro, ainda assim, não quero.

Casamento é uma palavra que risquei da minha vida.

Minha prioridade é continuar sendo o imperador dos diamantes, como é


de conhecimento geral, além de garantir uma vida de princesa para Elly,
ainda que nunca seja o pai que ela merece ter no final das contas. Eu sei dos
riscos que assumo ao ser ausente na vida da bebê, que de nada tem culpa, mas
nem mesmo saber disso me faz voltar atrás em busca de redenção, fora de
cogitação.

— Anton vai dar uma festinha particular — Viktor diz e logo entendo a
conotação por trás de suas palavras.

Essa é uma forma que o bastardo usa para ocultar o que acontece entre
as paredes da mansão do seu irmão mais velho, em outros termos, uma orgia.

— Estarei lá. — Passo a língua nos lábios. — Não perderei por nada.

— Quem sabe assim consiga esquecer a irmã da sua esposa — salienta.

— Ainda não é uma certeza, babaca. — Batuco os dedos na mesa do


escritório. — Há uma grande possibilidade de não ser verdade. Só um exame
dará a resposta.

— E como espera conseguir o sangue da garota? — pergunta, curioso.

— A cada três meses todos os funcionários da boate fazem exame de


sangue por segurança e proteção. E essa será a desculpa perfeita para
conseguir uma amostra da garota em questão — conto meu plano.

— E acredito que vá usar sua filha como cobaia. Estou certo, primo?

— É isso ou teremos que mexer nos restos mortais de Angelina. —


Engulo em seco.

— Tudo para tirar uma maldita dúvida, desgraçado. — Viktor balança a


cabeça negativamente. — Espero que não se arrependa no final.

— Eu nunca me arrependo de nada, primo. Essa é a certeza que tenho.

— Assim espero.

Meu celular vibra no bolso da calça e estranho o número que liga.

— O que foi?

— A babá de Elly… — Engulo em seco antes de levar o aparelho ao


ouvido e atender.
ANNA RURIKOVA

Eu não recuei como esperava fazer.

Dei continuidade ao meu trabalho na boate pelo turno da noite, mesmo


depois da conversa perturbadora com o meu chefe, afinal esse não deveria ser
o motivo pelo qual me faria recuar do meu objetivo de vida. Eu tenho um
sonho para realizar, assim como preciso do dinheiro do emprego para somar
ao que estou juntando.

E, sinceramente, não seria aquele misterioso a me fazer desistir.

Eu já passei por muitas situações difíceis ao longo dos anos e uma


pedrinha como essa colocada no meu caminho não pode servir de tropeço ou
ser forte o bastante para me colocar medo. Quando se vem de tão baixo, se
aprende a viver com pouco, descobre-se que obstáculos são gatilhos que nos
preparam para algo melhor.

Essa é a ordem.

Desde muito nova aprendi a sobreviver em um mundo onde não tinha


pais carinhosos para me abraçar, cantar músicas de ninar e comemorar o meu
aniversário, até mesmo o único elo que tinha me tiraram ainda pequena.
Talvez a minha vida tivesse sido outra se tivesse crescido com a minha
gêmea, pois juntas teríamos lutado pelos nossos sonhos, um por um, sem
soltar a mão uma da outra.

São dúvidas que nunca serão respondidas.

Marya, minha única amiga mais próxima, a quem eu vejo como irmã,
me ensinou que há um propósito por trás de tudo que passei, talvez seja
realmente verdade. Ter passado por tanto me fez desenvolver o desejo de
cursar medicina e atuar na pediatria, especialmente trabalhar em projetos
solidários que acolhem crianças abandonadas, que não tiveram a chance de
ter pai e mãe, assim como eu não tive.

Só que não é tão fácil assim.

Eu fui educada pelas freiras do orfanato, que me ensinaram a ler e a


escrever, mas ainda precisava de um certificado escolar, que só consegui
pouco tempo atrás. A família que me deu a oportunidade de emprego também
me deu a chance de terminar os estudos. Foi o primeiro passo alcançado em
busca de realizar o meu desejo de ser uma grande médica.

No entanto, para isso, preciso entrar em uma universidade, mas as vezes


que tentei ganhar uma bolsa financiada pelo governo fracassei em todas as
provas, pois não tinha tempo suficiente para estudar devido ao meu trabalho
intenso na mansão. A única saída seria pagar uma particular e para isso é
preciso ter dinheiro, então comecei a guardar uma parte do meu salário todos
os meses sem falta.

Eu me privo de muitas coisas em prol disso.

Quase nunca corto os cabelos em um salão, pois Marya, que divide o


quarto comigo, tem curso de cabeleireira e faz isso por mim sempre que
necessário. Além do mais, sempre uso as roupas cedidas ou feitas pela
mesma pessoa, que tem habilidade na máquina de costura. A nossa diferença
de idade é gritante, mas tê-la como uma irmã é o que me faz continuar
trabalhando na mansão por todos esses anos.

— Anna? Tem um minuto?

A voz da dona da propriedade me faz virar para a frente e encará-la.


Coloco o espanador no balde para cumprimentá-la adequadamente com um
sorriso de lado.

— Sim, senhora Marta.

— Amanhã irei receber alguns amigos do meu filho e quero que façam o
melhor jantar do mundo. E quando digo o melhor é o melhor mesmo,
entende, Anna? — enfatiza, deixando claro. — São pessoas importantes do
mercado e indústria, então eles merecem uma recepção à altura.

— Entendo, sim, senhora. — Mordo a ponta do lábio, apreensiva com o


seu pedido. — Irei montar um cardápio com Marya para que analise cada
prato.

— Isso. — A senhora estala os dedos, sorrindo. — Faça isso mesmo,


querida.
— Precisa de mais alguma coisa? — pergunto de forma educada.

— Ah… Preciso que limpe o quarto do meu filho. Ele está chegando de
viagem e acredito que vá querer ficar hospedado por aqui em vez de no hotel
do pai.

— Hum… É claro. — Concordo com a cabeça. — Farei isso agora


mesmo.

Meus patrões têm um casal de filhos, um menino e uma menina.


Enquanto esta cresceu, foi embora ainda adolescente e por lá se casou, o
outro pegou um rumo contrário e quase nunca volta à Rússia para fazer uma
visita aos pais. Eu não tenho muito contato com eles, mas, as raras vezes que
tive, era nítido o quanto esbanjam educação, sem se darem ao trabalho de
destratar a classe baixa.

— O meu filho vai gostar de vê-la, Anna — comenta. — Sabia que


esses dias Pavel perguntou se você ainda trabalha aqui?

Estranhei.

— Hã… Foi mesmo? — finjo estar interessada.

— É verdade. Confesso que fiquei surpresa, afinal vocês nunca foram de


ficar trocando conversinha, não é mesmo, querida? — Minha chefe dá um
risinho.

— Uhum. Se me der licença… — Eu me abaixo para pegar o balde com


o material de limpeza a fim de dar continuidade à faxina.

— Querida, depois que terminar tire um dia de folga com Marya. As


duas estão precisando passar em um salão de beleza e dar um jeito nos
cabelos, quem sabe comprar umas roupas novas? — sugere.

— Obrigada, senhora. — Forço um sorriso sem graça. — Vai ser um


prazer tirar um dia de folga com Marya, ela estava mesmo sonhando com isso
— deixo claro.

— Quero as duas belíssimas para o jantar. Quando terminar a faxina no


quarto do meu filho, passe no meu quarto para pegar um envelope para as
duas.

Franzo o cenho.

— Tudo bem. — Balanço a cabeça em concordância.

O jantar será à noite, então eu terei que faltar ao trabalho na boate,


serviço de que meus patrões não têm conhecimento. Apenas Marya sabe.

— Aguardo, querida — Marta diz antes de seguir caminho em direção à


escada e sumir do meu campo de visão.

Pego as minhas coisas e logo sigo para a cozinha em passos rápidos.

— Marya. Você não vai acreditar…

Ela está entretida cortando algumas verduras para preparar o almoço.

— O quê? Vai chover dinheiro amanhã? — Marya brinca, voltando-se


para me encarar. — Quer dizer… Eu ouvi sua conversa com a senhora Marta.
— Então. — Deixo o balde no chão para lavar as mãos na pia. — Pelo
visto vamos preparar um jantar para um pessoal rico e de quebra ganhamos
uma folga.

— Um corte de cabelo e uma voltinha pelas lojas de roupa — fala rindo.

— Sim. Ao menos uma vez na vida saímos beneficiadas por cozinhar


para esse povo. — Seco as mãos na toalha. — Que maravilha! — digo
irônica.

— Quando a esmola é demais até o cego desconfia.


ANDREY VASSILIEV

— Você não vai mesmo parar de olhar para mim? É um pouco tarde
para uma bebê da sua idade estar acordada, sabia? — digo sem tirar o olho da
garotinha, que está meio entretida, agarrada ao urso que ganhou da minha
mãe.

Elly faz um barulho na boca e volta a me encarar.

É um pouco tarde da noite e dentro de duas horas irei a um jantar na


casa de um amigo de meus primos. Aceitei o convite por não ter opção
melhor, afinal venho evitando pôr os pés na boate desde que tive
conhecimento de que a Anna irá continuar cumprindo o seu turno de trabalho.
Não é justo demiti-la por ter os traços físicos que lembram a Angelina, isso
está fora de cogitação.
— Da — a bebê balbucia e empurra o urso em minha direção.

— É seu, princesa — digo e logo me vejo abalado por chamá-la assim


em voz alta.

Este é o meu primeiro contato com a minha filha desde que Angelina
morreu, pois evito ao máximo me aproximar da garotinha, tanto por rejeitar a
ideia de ser pai, como por não me achar capaz de amá-la como um dia amei a
sua mãe.

Isso só está acontecendo devido à ligação que recebi da babá da bebê e


que consequentemente mudou o rumo da minha vida. Naquele dia, fui
comunicado de que a criança estava com febre alta e não pensei duas vezes
antes de largar tudo para levá-la ao hospital. Dentro de minutos foi
constatado que a minha filha estava com uma virose além de um problema
respiratório leve, e que era necessário um acompanhamento para observar
melhor o motivo por trás disso.

Foi tudo que precisei ouvir para a ficha cair.

A minha filha precisava de mim.

Elly recebeu todo atendimento necessário, além de fazer uso de inalação


e todos os procedimentos recomendados antes de ser liberada e voltar para
casa. Enquanto estávamos naquele hospital, só pensei no dia em que perdi
sua mãe, e em seguida as enfermeiras a trouxeram para que visse a minha
filha. Por muitos meses, a desprezei pelos motivos errados, mas bastou vê-la
frágil, indefesa, para ter o conhecimento do quanto precisava ser um pai de
verdade e mais atento à garotinha.

Elly precisa de mim.


Desmarquei todos os meus compromissos na empresa, reuniões e
acordos que seriam selados, apenas para ficar em casa enquanto observava de
perto a melhora da minha filha. Graças a todos os santos a quem minha mãe
rezou, a pequena Elly teve avanço, aos poucos respirava normalmente, sem a
lentidão que apresentara no hospital.

O homem que me tornei não acreditava em milagres, mas ver a minha


herdeira bem me fez agradecer pela primeira vez aos céus a chance que me
foi concedida. Eu jurei que dali para a frente iria me esforçar para ser uma
outra pessoa, ao menos para ela e em memória de Angelina, que amou essa
criança antes mesmo de ela nascer.

— Da. — Ela parece determinada a me fazer segurar o urso. — Lala.

Dou de ombros antes de segurar e fazer uma careta.

— Lala seria o nome deste animal feio? — pergunto, curioso, sabendo


no fundo que a bebê na minha frente não entende muito bem o que falo.

— La. La. — Estende os braços em minha direção e engulo em seco.

Ela provavelmente quer colo.

O que eu faço?

— Se o senhor quiser, posso já colocá-la para dormir — uma das babás


do turno da noite fala rápido, como se tivesse notado a minha expressão de
nervoso.

— Não… Quer dizer. — Fico estático olhando para a garotinha, que me


observa atenta. — Eu nunca a segurei antes… Tenho medo de machucá-la
ou…

— Ela é uma bebê forte. Se quiser, posso ajudá-lo — a babá diz,


solícita.

— Está tudo bem… Acho que consigo. — Deixo a pelúcia de lado e me


preparo para pegá-la. Não será uma tarefa difícil perto de tantas que já
executei ao longo da vida. — Vem cá… — Seguro-a com cuidado e a trago
para meu colo.

Sinto de imediato uma sensação desconhecida para mim.

— Olha só… Eu consegui. — Ajeito-a pacientemente e ela logo trata de


tocar em meu rosto com sua mão gordinha. — Não vá se assustar com a
feiura do seu pai… — falo tão rápido que só depois me dou conta da palavra
que me escapa.

— Pa.

— Parece que sou isso mesmo. — Suspiro fundo.

— Pa. Pa — Elly dispara a balbuciar, agitada, enquanto tenta pegar nos


fios do meu cabelo.

É incrível que, ao olhá-la de perto, consigo encontrar traços que


lembram a mim quando pequeno. A minha filha tem os cabelos ondulados e
os olhos, de tom azul, foram herdados da genética da minha família.

Eu nunca tinha parado tanto tempo assim para admirá-la de perto, ver o
quanto é linda, a coisa mais linda do Universo, tão pequena, delicada, as
bochechas gordinhas e o olhar mais puro e inocente que já vi. É impossível
não sentir uma pontada de dor no coração ao me lembrar da minha esposa,
que lutou bravamente para tê-la, mas nem mesmo teve a chance que estou
tendo neste exato minuto.

Desgraça…

— Eu preciso sair… Pode pegá-la? — Tiro o olhar da bebê e peço em


um murmúrio para a babá vir tirá-la do meu colo, pois não aguento mais ficar
nesta bolha.

Preciso de álcool e sair desta casa o mais rápido possível.

A mulher que cuida da minha filha a pega pacientemente, mas, ainda


assim, a pequena Elly demonstra a sua insatisfação e começa a choramingar
alto.

— Tenho que sair com os meus primos. Caso aconteça algo ou precise
de alguma coisa, é só me ligar. Estarei com o celular o tempo todo ligado.
Estamos entendidos?

— Sim, senhor — a babá sussurra, enquanto tenta acalmar a bebê.

Dou uma última olhada na minha filha, que não quer se calar, antes de
sair do seu quarto e seguir caminho para o meu. De repente, eu me sinto
sufocado, abalado com essa aproximação desconhecida e um tanto inesperada
da minha parte.

Há um longo caminho a ser percorrido, pois não irei me tornar o pai que
ela merece da noite para o dia, como água se transforma em vinho. Existe
todo um processo por trás, que levará um pouco mais de tempo, afinal passei
meses excluindo esse sentimento da minha vida e desprezando-o
miseravelmente.
Tudo seria mais fácil se…

Não. Não posso passar uma vida inteira pensando “e se…’’

Está mais que na hora de virar a página e superar a perda de Angelina


para sempre, aceitar que nada no mundo será capaz de trazê-la de volta, assim
como reconhecer que a minha filha não é culpada por minha esposa ter vindo
a óbito no parto. É hora de arregaçar as mangas, deixar o passado para trás e
seguir em frente, engolindo a dor do luto de uma vez. No final das contas,
meu primo está realmente certo ao afirmar que me encontro preso a um
sentimento que só me faz regredir em um poço profundo.

— Preciso esquecê-la… Preciso esquecê-la.

Assim que entro no quarto e vejo a nossa foto de casamento estampada


em um quadro luxuoso, a primeira coisa que passa em meus pensamentos é
começar tirando aquele registro dali.

O primeiro passo.

Há muita coisa dela ainda por aqui, mas na manhã seguinte serão
colocadas em uma casa que temos no sul da Rússia. Um dia, quando ela tiver
idade suficiente, irei levá-la para conhecer um pouco da sua mãe, que partiu
cedo demais.
ANNA RURIKOVA

— Não acha que está arrumada de mais? É só um jantar… — Marya


para em frente ao espelho e fica me analisando à procura de algum defeito.

— Não. O que tem de mais? — Balanço a cabeça para um lado e paro o


outro.

Não estou vestindo nada além do habitual, uniforme de empregada. No


entanto, uso um batom rosa-clarinho o que é notável, os cabelos estão feitos
em uma trança para trás e, para completar, uso um pouco de rímel a fim de
dar aquele up e ao menos não parecer pobretona demais perto de tanta gente
rica.

A minha colega de quarto é um pouco mais simples e não gosta de se


arrumar. Marya tem uns vinte e nove anos, mas parece ter muito mais por ser
dona do espírito de uma senhora. Ela não usa os cabelos soltos, sempre
presos em um coque, tampouco se dispõe a colorir os lábios volumosos e
belos que tem.

É sem dúvidas uma mulher madura, mas com uma beleza adormecida.
Não sei muito sobre a vida dela, pois nunca paramos para falar sobre, nem
mesmo me sinto no direito de invadir a sua privacidade com perguntas
pessoais, assim como ela também não faz o mesmo comigo. Só que eu
sempre fui uma garota muito falante, mesmo que nunca para contar do meu
passado melodramático.

Não é da minha índole viver voltada para o meu abandono e o


sofrimento que tive ao saber que fui separada de uma irmã, pois a vida no
final das contas não gira em torno de mim. É claro que algumas vezes me
pego triste, melancólica demais, qual ser humano não se sentiria assim? Só
que isso logo passa e sigo em frente, pois sinto que no tempo certo tudo
encontrará o seu devido lugar.

A ordem da vida.

Todavia, Marya é o meu completo oposto, sempre com a cara fechada,


nunca sorri ou para a fim de fazer uma brincadeirinha e descontrair o dia.
Algo me diz lá no fundo que seu passado a tornou assim, fria e apática a tudo.

— Você se arrumou como se fosse se sentar à mesa e…

— Pode parar com esse seu humor ácido, por favor. — Ergo um dedo e
solto um grunhido baixo. — A princípio… Não fiz nada além de passar um
batom e algo nos olhos para disfarçar as olheiras. Por que não tenta fazer o
mesmo? — sugiro.

— Sabe muito bem que não gosto disso. — Revira os olhos, indo se
sentar em sua cama. — Seja lá o que tiver para fazer ainda, termine, pois já
vamos descer.

O nosso dia foi intenso, apesar de a dona da mansão ter contratado mais
funcionários com o intuito de nos ajudar a preparar um jantar formal para
seus convidados. Montamos um cardápio e tanto, com direito aos melhores
pratos e sobremesas. O coquetel ficará a cargo de uma equipe que foi
escolhida pela senhora Petrova.

Tudo está impecável. Eu ajudei a Marya na parte de preparação de


algumas comidas e ainda dei uma forcinha às meninas na decoração do
ambiente. É claro que estou um pouco cansada por ter passado as últimas
horas correndo para lá e para cá, as pernas quase não se aguentam mais em
pé, mas também, por outro lado, me vejo satisfeita por ter conseguido
cumprir com o papel que me foi dado.

Ainda bem que consegui escapar da boate por uma noite em prol desse
evento.

A minha melhor amiga inventou uma desculpa para justificar minha


ausência. Eu pedi a ela esse favor, afinal espero continuar com o trabalho por
mais alguns dias, até que a menina que estava ausente volte para ocupar o
lugar que é seu por direito.

Eu não tenho a menor pretensão de ficar com aquele trabalho, ainda


mais depois do ocorrido com o dono da boate, que por sorte ou obra do
destino nunca mais vi. Às vezes à noite me assusto com seu olhar furioso que
me vem em forma de pesadelo, ou sua voz grossa me causando um susto no
meio da madrugada fria.

Não sei por que o misterioso surge em meus pensamentos ou o motivo


pelo qual de alguma forma me sinto ligada a ele, como um ímã que me leva à
cova do leão.
Não é o momento de pensar nele… Não mesmo!

— Já estou pronta, Marya — dou um último gritinho no espelho. —


Vamos lá.

— Não vejo o porquê de ficar tão animada se você vai passar as últimas
horas trabalhando. Deveria no mínimo estar triste — diz com desdém.

— Você nunca baixa a guarda, Marya? — Eu me viro para encará-la e


cruzo os braços.

— Não. E só para constar… nunca irei fazer isso. — Ela gesticula com o
dedo.

— O quê? Tentar ser feliz mesmo cansada? Querendo dormir? Tudo


depende da forma como enxerga a vida, Marya. Um problema pode se tornar
pequeno se…

— Tchau. — Vejo-a soltar um suspiro fundo, levantar-se da cama e sair


do quarto.

Ah, não….

— Não me deixe falando sozinha, garota… — tento falar, em vão.


O sapato está apertando meu pé, mas não posso de forma alguma parar o
trabalho para subir até o quarto nos fundos e trocá-lo por outro mais
confortável.

Estou na cozinha ajudando Marya a formar as bandejas com aperitivos


enquanto o jantar ainda não é servido para as visitas que estão na sala. Há
garçons para fazer isso, o que nos deixa ocupadas com outras funções
paralelas.

Minutos atrás vi o filho da minha chefe, que veio humildemente nos


cumprimentar com seu sorriso maroto. Pavel se tornou um homem muito
bonito por sinal e percebi o quanto a Marya fica abalada com sua presença
entre nós, mesmo que seja visível que o bonitão não tirava o olhar de mim, o
que de fato me deixou um pouco incomodada. Por sorte, o herdeiro da família
foi embora usando a justificativa de que precisava receber seus convidados,
que haviam chegado, e nos deixou livres para continuarmos com as
atividades domésticas.

Quando acabarmos o serviço, perguntarei a minha companheira de


quarto se ela tem uma paixonite pelo bonitão de terno, e que Marya me
perdoe de antemão.

— Leve isto… E isto aqui. ANNA!


Estou organizando uma bandeja quando levo um pequeno susto.

— O que foi? — respondo e direciono o olhar para Marya. — Precisava


gritar?

— Preciso que vá receber uma caixa com uns docinhos que ainda não
vieram…

— Tá. Eu posso fazer isso. — Dou de ombros e vou logo lavar as mãos.
— Será que aconteceu alguma coisa para não terem trazido ainda?

— A mulher disse que teve um imprevisto na cozinha, mas nada que


atrapalhasse a produção. Ao menos só vamos servi-los no final do jantar,
então temos tempo.

— Não vai precisar de ajuda enquanto eu estiver esperando lá fora?

— Com esse tanto de gente por aqui? Pode ir, menina.

Solto um beijinho no ar só para provocá-la e saio pela porta dos fundos.

A noite está incrivelmente bela, uma frieza no ar que causa arrepios.

Caminho em direção ao portão que é usado para receber entregas, bem


como dá acesso livre para os funcionários entrarem e saírem sem dar
explicações. Eu faço muito uso dele, principalmente para trabalhar no meu
segundo emprego.

— Não me diga que está tentando fugir outra vez.


Paro.

Aquela voz…

Não pode ser!

— Minha nossa! Não pode ser… Não pode ser. — Fecho os olhos, na
esperança de ser uma peça pregada pela minha imaginação fértil.

— Pode se virar. Estou a um passo de você.

Pelo visto é real. Abro os olhos e me viro em um rompante para vê-lo de


uma vez.

— Você de novo. — Lamento ao comprovar a verdade.

O misterioso está ali.

Desta vez posso observá-lo melhor, é um homem muito belo, alto


demais. Usa um terno preto, banhado pelo glamour, luxo e os cabelos bem
alinhados para trás. A dimensão do seu olhar azulado causa uma estranha
sensação de desconforto.

É como se fosse impossível respirar estando tão perto dele.

— Andrey — murmura rouco, ao colocar as mãos no bolso da calça.

— Oi? — Franzo o cenho, sem conseguir parar de admirá-lo pela beleza


descomunal.
— Esse é o meu nome.

— Ah, legal — demonstro surpresa. — É… Eu preciso ir. Tenho que


receber uns doces.

— Sei que está tentando fugir, Anna, mas quero que saiba que nunca
mais irei tocá-la daquela forma ou usar o tom que usei para abordá-la na
boate.

— É um bom começo… — Engulo em seco. — Pelo visto se deu conta


de que não me pareço com a sua…

— Sim. Foi um erro da minha parte, afinal nem se quisesse… Você


nunca seria como ela. E quando digo isso não é sobre beleza, pois ambas são
lindas, no entanto a minha esposa tinha uma coisa especial que nenhuma
outra mulher tem.

Não sei o que falar depois de ser acertada pelas suas palavras.

— Hã… Boa noite, senhor Andrey — é tudo que sai pelos meus lábios.

— Boa noite, Anna.

Sou salva pela buzina do carro, o que me faz sair correndo logo em
seguida.
ANDREY VASSILIEV

O destino parece querer brincar com a minha cara.

Como se não bastasse ter o desprazer de cruzar com a garota na boate,


agora descubro que ela também trabalha como empregada na mansão do
amigo em comum dos meus primos, para completar a desgraça. Não importa
o quanto me esforce para me manter longe da desconhecida, tudo me volta
para ela.

Não posso ficar respirando o mesmo ar que Anna, pois isso representa
perigo iminente e não só pelos traços físicos que lembram a mãe da minha
filha, pois a esta altura do campeonato tenho pleno conhecimento da
diferença entre as duas garotas, desde a cor dos cabelos até os olhos, ambos
de tonalidades diferentes. Na noite em que a encontrei não consegui ver esses
detalhes, mas, depois de ver umas três fotos, eles se tornaram óbvios e
visíveis.

Tão claros como o sol.

A começar pelo sinal que Angelina não tinha na região do olho e Anna
sim, além da cor deles que não é igual, enquanto uma tinha o tom mais claro
e a outra, não. O que ainda as liga talvez seja compleição física, mas isso é
algo comum entre as pessoas, afinal existem muitas outras com
características assim.

Eu passei muito tempo dividindo uma vida com a mãe da minha filha
para comprovar, com as duas vezes que encontrei a misteriosa da boate, que
não podem ser cópias cem por cento perfeitas, não tanto quanto julguei que
fossem a princípio.

Nunca.

Angelina esbanjava doçura na mesma proporção que tinha um nariz em


pé, queria tudo e ao mesmo tempo nada, mas sem dúvidas as duas vezes que
cruzei com Anna pude sentir que é dona de uma só personalidade a qual me
deixa intrigado para vasculhar mais de perto, mesmo sabendo que seria um
erro grave.

Jamais.

O exame que mandei realizar para sanar as minhas dúvidas ainda não foi
feito, mas foi planejado para que nada saia errado ou tenha falhas. Eu ainda
tenho uma decisão sobre o que farei quando sair o resultado, pois trazer a
possível irmã da minha falecida esposa para dentro de casa não é uma opção.
No entanto, não posso tirar o direito da Elly de conhecer a tia, caso seja
comprovado o parentesco.

— Vai passar a noite toda largado aí nesse banco? — escuto a voz de


Anton.

O irmão de Viktor se aproxima em passos lentos em minha direção.

Após a recepção calorosa do jantar, decidi sair um pouco para tomar um


ar e conferir as mensagens no celular. A babá tinha avisado que Elly estava
bem, apesar de ter chorado muito, mas conseguiu dormir logo e estava
respirando serena, o que me deixou um pouco aliviado, sinal que a maldita
virose estava passando rápido.

— Não. Só vim atender ao telefone, babaca — minto para não dar mais
justificativas.

— Ah, tinha me esquecido… Como está a sua filha, Imperador? — O


bastardo para em minha frente, degustando o seu copo de vinho.

— Bem. Quando quiser vê-la, as portas de casa estão abertas para


recebê-lo — digo baixo.

— Sim, é claro. Você sabe como a minha vida é um pouco agitada,


então…

— Isso não é nenhuma novidade, bastardo. — Solto um suspiro fundo.


— O que me estranha é que Angelina sempre foi muito amiga sua, no entanto
você não se dá ao trabalho de ir ver a filha que ela deixou — falo direto e
sem rodeios.
O babaca do meu primo sempre foi muito amigo de Angelina e nunca
foi um problema, para mim, aceitar a amizade que tinham, como se fossem
irmãos, pois era visível o quanto se gostavam e se respeitavam. Essa
aproximação deles se deu na minha empresa quando ela ainda trabalhava
como minha secretária e o bastardo aparecia lá para fechar negócios, afinal,
mesmo que tenhamos sobrenomes diferentes, o império de diamantes nos une
ainda mais sobre todas as coisas.

O nosso parentesco é de segundo grau, mais precisamente do lado do


meu pai, no entanto, por termos mantido um contato direto desde pequenos,
esse vínculo se fortificou cada vez mais. Anton e Viktor em partes também
são considerados imperadores em seus negócios espalhados por todo o
mundo.

Em nossa língua comercial, o imperador vem dar o título àquele que tem
poder e um negócio próspero pelo continente. Assim como eu sou dos
diamantes.

— Assumo a minha culpa, primo. Não há perdão para minha ausência…


É que… — ele para um pouco para respirar fundo — não consigo me perdoar
por ter discutido naquele dia com ela e poucos dias depois descobrir que
morreu sem antes ouvir o meu pedido de desculpas. — Solta uma exalação.

— Angelina sempre quis o seu bem, inclusive que se acertasse com


Yelena. Ela torcia para que vocês ficassem juntos, mesmo eu a impedindo de
se meter em sua vida amorosa. — Engulo em seco, antes de cruzar os braços.

— Aquela desgraçada tinha o dedo podre para resolver assuntos que não
lhe cabiam. — Anton dá um sorriso de lado. — Sinto saudades dela e de seus
puxões de orelha. — Prometo que vou visitar a pequena Elly e levar Yelena.

— Pelo visto, se acertaram, ou estou errado?


Meu primo tem um caso com uma das herdeiras de uma vinícola, a
garota em questão nada mais era que amiga de Angelina, que por outro lado
torcia para que o casal ficasse junto, mas isso não seria possível, nem mesmo
em sonhos. Anton tinha suas questões pessoais e eu o respeitava.

— Não — conta com desdém. — É só sexo...

Fico surpreso por vê-lo falar assim de alguém que foi tão importante em
sua vida.

— Pelo visto perdi alguma coisa pelo caminho. Quer me contar o que
houve, bastardo? — Ajeito-me no banco e direciono o olhar para ele.

— É melhor não ficar sabendo ou…

— Fala, desgraçado — aumento o tom da voz.

— Aquela puta andou desviando alguns milhões da minha conta, mas


sigo mantendo contato ainda que sexual. Faz parte do meu plano — conta de
uma vez.

Quase não acredito.

— E o que pretende fazer com ela? — vou direto ao ponto.

— Fazê-la pagar com a vida — Anton sussurra, maquiavélico.

Sua resposta não surpreende. Eu não esperava menos vindo do


desgraçado.
ANNA RURIKOVA

DIAS DEPOIS

A noite está límpida, serena e a lua brilha acompanhada pelas estrelas.

Eu sempre gostei de me sentar, cruzar as pernas e ficar tentando contar


quantas estrelas há no céu azulado, mas isso é meio impossível levando-se
em consideração que existem bilhões e bilhões dessa pequena obra de arte.

Ficar parada aqui, admirando-as expostas a quilômetros e quilômetros


da Terra, me faz sentir conectada com a minha irmã de alguma forma, como
uma linha que nos liga apesar da distância que nos cerca. Eu me pergunto por
onde anda, se está viva, quais são os seus sonhos ou se já construiu uma
família.
Perguntas sem respostas.

Em dias como este a tristeza vem em peso, pois é meu aniversário. O


nosso.

Não gosto de comemorar esta data, pois não há motivos plausíveis para
isso, não até que tenha a sorte de encontrar a minha gêmea. Uma parte de
mim acredita que ela está em algum lugar da Rússia, enquanto a outra se nega
a crer nessa teoria que não passa de uma simples suposição paralela.

São tantas dúvidas.

Estou juntando um dinheiro extra para voltar ao abrigo em que foi


acolhida a fim de tentar novamente buscar alguma informação sobre seu
paradeiro, mesmo sabendo que posso voltar com a mão vazia como todas as
outras vezes. Eu sei que, no fundo, é dedo da família que provavelmente fez a
adoção e se deu ao trabalho de proibir que algum detalhe pessoal dela fosse
compartilhado.

Não julgo, no entanto dificulta a minha vida.

Este é só mais um de muitos aniversários que passo sem tê-la ao meu


lado.

Tento não chorar, pois tenho um trabalho para executar nas próximas
horas, clientes para receber com um sorriso simpático, de orelha a orelha,
mesmo que por dentro a única coisa que queira fazer seja chorar até o
cansaço me devastar por inteira.

É sempre assim.
Cada aniversário traz consigo a lembrança dolorosa de ter sido
abandonada, órfã e criada por terceiros que só exerceram um papel em minha
vida por obrigação.

Eu tento ver a vida por outro ângulo, mas a verdade é que não dá para
ser forte o tempo todo. Em algum momento, temos que baixar a guarda, tirar
o Band-Aid da ferida e deixar que machuque por algumas horas, até que não
doa nunca mais.

O sorriso largo sempre faz morada em meu rosto mostrando uma


fachada radiante, esperançosa, forte e com fé de viver um futuro muito
melhor do que o passado pelo qual sobrevivi. No entanto, às vezes sinto falta
de um abraço, um colo e um afago que só uma mãe de verdade pode dar aos
seus filhos, o que nunca tive a chance de sentir na vida.

Eu nunca irei entender o motivo que levou a minha genitora a abandonar


duas bebês e deixá-las à mercê da morte, como se aquelas duas vidas que
tivessem sido geradas em seu corpo não fossem importantes e tampouco
merecessem viver.

Ninguém tem o direito. Eu tenho pleno conhecimento de que nunca irei


encontrá-la, pois, se largou as filhas para morrer, provavelmente não quer ter
contato algum. Só que, apesar desse ato horrível e desprovido de amor, ainda
assim consigo perdoá-la, mesmo que no final das contas não seja digna de
receber essa dádiva.

— Parabéns pra você, nesta data querida… — Adriele vem toda


sorrateira para o meu lado. — Muitas felicidades, muitos anos de vida…

Termino de higienizar a mesa da boate e ignoro a sua presença.

— O quê? Vai me ignorar mesmo? Então vou ter que cantar mais alto.
— Sabe muito bem que não gosto de comemorar aniversário, Dri. —
Reviro os olhos, finalizo o meu trabalho.

Cheguei um pouco mais cedo que o normal no serviço e aproveitei que


tinha algumas garotas cuidando da organização do lugar para ajudá-las
enquanto esperava dar a hora em que as portas seriam abertas dando enfim
início.

O turno começa lá pelas dez e meia da noite e não tem horário fixo para
acabar. Nos primeiros dias foi uma luta para me acostumar a essa rotina
conturbada, pois mal conseguia dormir bem quando chegava em casa, e logo
vinha o clarão do dia, quando eu tinha que levantar para começar na cozinha
com a Marya.

Adriele é quem me dá carona, tanto me busca quanto me deixa, o que


me dá um pouco de fôlego e segurança, pois tenho muito medo de andar
pelas ruas sozinha, nem mesmo tenho coragem de fazer uso de transporte
altas horas da madrugada, ainda mais no mundo em que vivemos, onde
mulher é facilmente vista como uma presa fácil para os homens, imagina
andando sozinha por aí?

Deus me guarde e me livre.

— Nunca é tarde para aprender a gostar. — Minha amiga para ao meu


lado. — Que tal assim que acabar aqui… — deixa em aberto.

Nego de imediato com a cabeça.

— Não. A única coisa que quero de presente é a minha cama. — Cruzo


os braços e me viro de lado a fim de encará-la. — Pode ir curtir com seus
amigos, Adriele.
Ela sempre me chama para estender a noite em algum lugar, beber,
fumar, como faz com sua turminha e umas garotas que trabalham na boate,
mas eu nunca quis ir. Sei que dentro de horas tenho o trabalho na mansão e
Marya nunca irá me perdoar por chegar em casa alcoolizada, cheirando a
fumaça de cigarro.

— É só uma saidinha. Eu prometo levá-la em segurança para casa.

— Você já faz isso e sou imensamente grata, Adri. — Dou um sorriso


de lado.

É verdade.

Adriele pode ir para onde quiser com sua turma de desocupados, mas
antes cumpre com sua promessa de me deixar em casa, o que me faz lhe
agradecer.

— Se por acaso mudar de ideia… Saiba que poderá perder a melhor


noite da sua vida. — Dá de ombros, demonstrando sua insatisfação contrária
a minha resposta.

— Estou cansada, com os pés e a coluna pedindo arrego. — Faço careta.


— Eu só preciso de um banho quentinho e dormir por algumas horas. —
Suspiro fundo.

Não está sendo fácil trabalhar em dois empregos, um pelo dia e outro à
noite, mas desistir não é uma opção. Ao menos não tenho mais cruzado com
o misterioso que me abordou na boate e que tive o desprazer de encontrar na
mansão da família Petrov, é um dos motivos pelos quais ainda continuo nesse
serviço.

Não o encontrar é uma garantia segura.


— Vem cá… Não pensa em deixar o outro emprego e ficar de uma vez
aqui?

— E roubar assim na caradura o emprego da sua amiga? — Franzo o


cenho.

— Podemos encontrar uma saída para resolver essa questão. E outra,


não é bem um roubo, desde que queira ocupar essa vaga pelo tempo que
quiser.

— Não posso abandonar a Marya. — Engulo em seco. — Ela foi uma


das primeiras pessoas que me acolheu quando saí do orfanato, afinal sem o
seu apoio nunca teria sido aceita naquela mansão. Sabe muito bem que a
tenho com uma irmã.

— E esse é o único motivo pelo qual se mata de trabalhar? O salário que


te pagam aqui é duas vezes maior do que o que você tira naquela mansão.

Outra verdade.

— Eu preciso pensar primeiro e conversar com a Marya.

— Se ela te amar de verdade, vai ser a primeira pessoa a te apoiar nessa


decisão.

Por que sinto lá no fundo que não?


ANDREY VASSILIEV

É uma tolice e eu sei exatamente por quê. Svetlana e Vladimir, mais


conhecidos como meus pais, se uniram para fazer um aniversário da minha
primogênita, pois tiveram conhecimento de que deixei essa data passar em
branco.

Eu sei que foi um erro, mas quem pode me julgar?

O dia em que Elly nasceu é justamente o que marca a morte de


Angelina.

Não há muitos motivos para comemorar e essa foi a razão pela qual
deixei passar batida a data e fingir que não precisava ser festejada. Só que,
mesmo morando tão afastado dos meus pais, os dois sabem de quase tudo que
acontece na vida da neta e na minha para completar o pacote. E foi assim que
ambos vieram de mala pronta para passar alguns dias hospedados na minha
casa e fazer uma festa.

Eu tentei intervir, mas foi uma idiotice da minha parte.

A única opção que sobrou foi recebê-los de braços abertos, como se os


amasse, mas nem de longe sinto isso, pois o mais próximo de amor familiar
que tive foi o meu tio. Se os meus pais quisessem me educar no passado da
maneira correta, nunca teriam me enviado ao outro lado do mundo para ser
criado por outra pessoa.

Só agradeço, no fundo, por terem feito isso, pois consequentemente


evoluí, deixei de ser um garoto imprudente para me tornar um homem
maduro, responsável e assim ser o que sou hoje, conhecido por todo o país
como o Imperador dos Diamantes.

As empresas Vassiliev’s Diamonds têm filiais por todos os países do


mundo, as joias mais lindas e brilhantes são lapidadas por nossas mãos,
estampadas em colares, brincos, anéis, entre infinidades de peças refinadas
em diamante. Atualmente, sou o CEO, prestes a lançar uma coleção que irá
marcar uma nova era.

É claro que ninguém tem conhecimento de que essa nova coleção de


diamantes é especialmente feita em homenagem a Angelina, que com vida
me ajudou a desenhar algumas peças que seriam elaboradas e lançadas no
mercado, mas ela nem sequer teve chance de ver a produção de perto, pois
aconteceu justo quando precisou se ausentar do trabalho, na véspera de
completar os nove meses de gestação.

Resolvi dar continuidade ao plano inicial como forma de eternizá-la em


minha vida, na empresa em que se dedicou por tanto tempo para entregar um
trabalho de qualidade, bem como a da nossa filha que iria para sempre
lembrá-la com carinho.
— Ainda bem que tirou as fotos daquela mulher desta casa, filho.

Levo um pequeno susto ao ouvir a voz da minha mãe abrindo a sala do


meu escritório. Essa manhã tirei o dia de folga para acompanhar de perto os
preparativos de aniversário da minha filha, o qual acontecerá no mais tardar à
noite.

— Perdeu a educação na viagem, Svetlana? Ou devo lembrá-la de que


esta não é sua casa para invadir quando bem entender? — sou rude, pouco me
importando.

— Eu sou a sua mãe, devo lembrá-lo disso também, Imperador?

A mulher em minha frente revira os olhos. Apesar da idade avançada na


certidão, fisicamente continua imbatível, pronta para atacar como a leoa que
é.

— O que é uma pena, mamãe. — Solto uma lufada de ar. — O que quer
falar?

— Ah, estava dando uma volta pela casa e percebi que tirou as fotos e
tudo relacionado àquela mulher. — Gesticula com os dedos, com desdém.

— Aquela mulher… Ela era a minha mulher e mãe da sua neta.


Svetlana.

Desde o tempo em que fui morar com meu tio, perdi o costume de
chamá-la por “mãe’’, bem como tratava o meu pai pelo seu primeiro nome
também.

— Saber disso nunca me fez amá-la, Andrey, e isso é de conhecimento


geral. Sua filha, minha neta, nunca teve culpa alguma por ter aquela mulher
como mãe.

Aperto o punho com força.

Angelina nunca se deu bem com a minha mãe, e vice-versa. As duas não
se davam bem e sempre que estavam juntas acabavam discutindo à toa, por
alguma bobagem.

Eu nunca compreendi o porquê de tanto ódio, mas não forçava a barra


para prover a paz e dava espaço para que continuassem com a teima sem fim
que tinham.

— Tem mais alguma coisa para dizer ou pretende continuar a insultar a


minha falecida esposa, mamãe? Deveria ser pecado, não? Destratar quem
partiu dessa para melhor?

Alfineto-a, sem contar a ironia, pois foi graças a sua ideia que fiz,
poucos dias atrás, uma missa em memória a Angelina, mesmo sabendo que lá
no fundo não passou de um teatro da sua parte para se exibir perante a
maldita sociedade.

— Com toda certeza, sim. No entanto, já rezei para que a alma dela seja
salva. — Observo-a fazer o sinal da cruz. — Eu só queria dizer que o
ambiente agora parece mais leve e consigo facilmente respirar sem pensar
naquela mulherzinha…

— Não vou tolerar que continue falando assim da mãe da minha filha, a
quem esta casa pertence. Ao menos respeite a alma dela, por favor — digo
sério.

— Tudo bem, filho. Me perdoe por isso, é que é inadmissível que você
ainda não tenha se dado conta da verdade. — Cruza as mãos, soltando um
suspiro. — Ela não estava ao seu lado por amor, e sim por interesse, meu
querido.

Cá estamos de volta ao assunto que ela tanto prega desde a morte de


Angelina.

— E afirmar isso faz de mim um idiota, mamãe? — ironizo. — Quem


dividiu uma cama com ela fui eu, quem trepava dia e noite era eu, entre tantas
outras coisas que poderia mencionar. Em respeito a sua idade, não irei falar,
mas tudo leva a um único ponto. Eu amava aquela desgraçada e ela a mim,
satisfeita, caralho?

— A paixão cega as pessoas e espero que no tempo certo descubra a


verdade.

— Façam a porra do aniversário de Elly e saiam da minha casa quando


acabar.

— Eu espero que se arrependa por não ouvir uma única vez sequer a sua
mãe, filho.

— E eu espero que engula todas as ofensas que, com vida e morte de


Angelina, saíram por sua boca. — Dou um soco na mesa. — Saia da minha
sala, agora!

Vejo seus olhos azuis se arregalarem.

O seu teatrinho não irá me convencer desta vez.

— Preciso repetir, caralho? Saia da porra da minha sala! — falo alto e


grosso.

— Apesar de tudo, eu te perdoo, Andrey. Você ainda está sob o efeito


daquela mulher, só que mais cedo ou mais tarde a verdade virá à tona e você
descobrirá que estive certa o tempo todo, meu filho — é como se falasse em
códigos, pois não faz sentido algum. — Fique bem — diz por fim, antes de se
virar e sair.

Não tenho motivos para desconfiar da mulher que amei por anos, mas a
minha genitora, assim como o meu pai algumas vezes, quer a todo custo me
fazer acreditar que Angelina era uma farsa, que nunca me amou de verdade.

O meu coração se recusa a acreditar que isso seja real.

Vasculho a mesa do escritório com as mãos em busca do meu celular.


Assim que encontro, vejo uma mensagem do detetive particular. Abro o
recado e leio devagar.

“Precisamos nos ver. Eu encontrei as respostas que tanto procura…’’

Fico parado, olhando para a tela do aparelho meio perdido.

O que farei ao descobrir a verdade?

Os últimos dias, que passaram na velocidade da luz, me fizeram


esquecer completamente a existência de Anna Rurikova, mas cá estou, de
volta à estaca zero. Só que não é mais uma opção apagá-la do meu caminho,
ainda mais quando ela parece estar ligada a minha única herdeira e à mulher
que enterrei.

“Onde? E quando?”
É tudo que envio antes de guardar o celular e trazer as mãos ao rosto.
ANNA RURIKOVA

Já que estou na chuva, tenho que me molhar.

É uma frase contraditória, mas que em partes faz total sentido.

— Tem certeza de que vamos fazer isso mesmo? — pergunto, receosa.

— Você precisa de um pouco de aventura. Que mal há nisso? — minha


amiga, que parece não ter um pingo de juízo na cabeça, responde.

— Talvez comprometa a minha integridade física, Adriele. — Cruzo os


braços. — Eu não sei o que tenho na cabeça para aceitar uma coisa dessas…
— Suspiro.
— E eu, para aceitar vir junto — Marya finalmente fala. — É melhor
voltarmos…

— Nem pensar, meninas. É hora de colocar as máscaras, por favor — a


garota em nosso meio intervém antes de darmos qualquer passo para trás.

Olho de relance para minha amiga de quarto e dou de ombros.

Não é momento de recuar.

— Ok. Já que estamos no meio de um temporal, o que nos resta além de


nos molharmos? — Tento demonstrar confiança, afinal o que pode
acontecer?

É só uma festinha particular organizada pelo filho da dona da mansão.

Dias atrás, Pavel surgiu na cozinha e, como quem não quer nada,
depositou alguns convites na mesa deixando claro que queria a nossa
presença em seu evento. Tanto eu quanto Marya não falamos uma palavra,
mas bastou que o bonitão saísse para que fôssemos olhar de perto de que se
tratava o papel, o que nos surpreendeu totalmente.

Eu nunca imaginei que o ricaço iria nos convidar para um evento aonde
provavelmente só iriam pessoas de sua classe social, mas Pavel parecia ter
outras intenções ao nos convidar pessoalmente, ou só queria forçar uma
amizade enquanto passava uma temporada em sua terra natal. De toda forma,
não contei para ele, mas com certeza eu marcaria presença com as únicas
amigas que tinha.

Foi assim que mandei uma foto do papel luxuoso no WhatsApp para
Adriele, que logo tratou, por si só, de nos levar para escolher roupas
elegantes e dar um jeito no trabalho na boate para que fôssemos juntas, além
de carregar a Marya junto. Esta última foi mais difícil de convencer a ir ao tal
evento, pois em termos ela é uma mulher muito conservadora e que não sai
da rotina por nada neste mundo.

Cá estamos, enfim. Eu consegui escapar do trabalho da mansão com a


Marya, sem problemas, assim como Adriele conseguiu alguém para cobrir
nosso turno da boate para que viéssemos as três juntas à mansão onde
acontecerá a festa. A cobertura por fora é toda banhada em tons escuros,
luzes coloridas, passa um ar sombrio e segue à risca o convite, que deixa
claro que as identidades de todos têm que ser ocultas, ou seja, o uso de
máscara é obrigatório desde a entrada.

Eu uso um vestido vermelho curtinho, com um decote que realça meus


seios. O cabelo está feito em uma trança embutida e fiz uma maquiagem leve,
pois a máscara que uso no rosto a cobre, exceto pelo batom vermelho nos
lábios.

Um belo contraste. Quase não me reconheci ao me ver no espelho.

Adriele está em uma vibe toda Mulher-Gato, enquanto Marya escolheu


algo mais casual voltado para uma camponesa, o que de fato realçou mais a
sua beleza.

— Talvez pegar um guarda-chuva e dar dois passos para trás? — Marya


está aqui só para me acompanhar, quando a outra parte quer qualquer
desculpa para recuar. — Isso tem cheiro de problema e um dos grandes
problemas, Anna.

— Vamos entrar logo! — Adriele sentencia, dando um passo em direção


à entrada.

Ainda não criamos coragem para entrar no evento, mas a minha amiga
de pouco juízo decidiu tomar a iniciativa, o que por fim nos faz acompanhá-
la também. Na porta há alguns seguranças, que fazem a leitura com um
aparelho na pulseira que cada uma usa, liberando assim uma por uma para
entrar na festa.

Fico um pouco surpresa assim que entro e vejo a quantidade de pessoas


que já está por aqui, uma música alta no fundo, bebidas sendo servidas para
lá e para cá.

— Por favor… Não podemos nos perder uma da outra. — Marya para
ao meu lado.

— Eu não! Vocês que ficam… Um beijo. — Observo Adriele sumir


entre as pessoas e sequer consigo contê-la ou impedi-la de nos deixar
sozinhas.

— Que filha da puta essa sua amiga, Anna! E agora?

— E agora… Vamos tentar nos divertir. — Dou de ombros.

Aproveito que um garçom passa servindo uma bebida e pego logo duas
taças.

— Ei… Marya. Só por hoje — agradeço ao homem e dou uma a Marya.


— Vamos tentar nos divertir um pouco, que tal?

— O meu medo é que essa diversão não termine nada bem, Anna.

Fico surpresa ao vê-la beber de uma vez o vinho.


— Um brinde à nossa desgraça!

— Tim-tim! — Dou uma risada e bebo em seguida. — Forte! — Faço


careta.

Marya balança negativamente a cabeça e me puxa para a pista de dança


assim que uma música de Lady Gaga começa a tocar muito alto.

Eu vou dançar, dançar, dançar

Com minhas mãos, mãos, mãos

Acima da minha cabeça, com as mãos juntas

Vou perdoá-lo antes que ele morra, porque

Eu não vou chorar por você

Eu não vou crucificar as coisas que você faz

Eu não vou chorar por você

Bloody Mary - Lady Gaga


Em algum momento da noite, perdi a noção de quantas taças de vinho
tomei e nesta altura do campeonato não faço ideia de por onde minha colega
de quarto anda. Uma nova música começa e me recuso a sair da pista de
dança. Eu rebolo, jogo os braços para cima e deixo a batida da letra ecoar
pelo meu corpo.

— Não vou chorar por você… Eu vou dançar, dançar… — canto alto.

Eu me remexo para os lados até que sinto mãos grandes me abraçarem.

— Te peguei… Eu não conseguia parar de te olhar, como a porra de um


marinheiro enfeitiçado por uma sereia — a voz grossa, ao pé do ouvido,
causa-me arrepios. — Diga o seu nome, sereia.

— Não… Não posso — sussurro com dificuldade, a voz entrecortada.

— Então permita-me levá-la ao meu inferno particular?

O que dizer? Lembro-me automaticamente do ditado; se está na chuva…

— Tenho medo do fogo — é a única coisa que digo. — Mas quero pecar
com você.
ANDREY VASSILIEV

Quem é a porra daquela mulher?

Sei que no dia seguinte irei culpar o álcool, mas não posso negar o
quanto estou enfeitiçado pela desconhecida em que não paro de babar desde o
primeiro segundo em que a vi dançar. Ela se destaca no meio de tantas outras
pessoas mascaradas.

Parece única.

Especial.

Envolvente.
É como a porra de um ímã.

Minha cabeça está a mil, especialmente sobrecarregada por eu ter


passado os últimos dias com meus pais. Sem falar no aniversário de Elly, em
que tive que atuar como um pai, posar para fotos, receber pessoas, esbanjar
sorrisos para lá e para cá. Sem dúvidas, quando recebi o convite de Pavel por
e-mail não pensei duas vezes antes de marcar presença, pois tudo de que
precisava era fugir um pouco da rotina.

Bebidas.

Bocetas.

Tudo que precisava era dessas duas coisas exageradamente para me


reconectar outra vez.

Eu só não contava com que me veria tão atraído pela primeira mulher
que encontrei na festa, perdida no meio de tantas pessoas, rebolando o corpo.
A bunda moldada pelo vestido marca cada pequeno detalhe da sua silhueta,
como se fosse a porra de uma sereia pronta para mim, ao meu dispor.

Eu sou um maldito de um possessivo, descontrolado, pois bastou vê-la


para determinar que seria minha e que seria o meu pau a tomar sua boceta
pela noite inteira, até deixá-la em carne viva, marcada, inteiramente possuída
por mim, mãos e bocas. A desconhecida da noite em questão não teria tempo
para correr ou fugir.

Ela não tem escolha.

E não há saída.
É minha.

Ela será minha.

— Tenho medo do fogo — a sua voz doce me quebra. — Mas quero


pecar com você.

— Sábia escolha, sereia — digo rouco.

A sua resposta me acerta em cheio e é o gatilho perfeito para virá-la de


uma vez por todas para mim, para saquear sua boca, tomando-a em um beijo
faminto, desesperado a ponto de não deixar espaço para que recue do meu
agarre. Sou golpeado pelos seus lábios macios, tão doces, a língua envolvida
na minha, as pequenas mãos ganhando rumo em volta do meu pescoço.
Automaticamente o meu pau ganha vida na cueca e trato de me esfregar em
seu corpo, que é tão desproporcional ao meu, para que ela sinta o que lhe
aguarda logo mais.

— Vamos… — Preciso me afastar da sua boca deliciosa para falar. —


Sair daqui.

— Tá… Vamos, sim.

Observo o exato segundo em que seus olhos se abrem, mas, devido à


máscara que cobre quase todo seu rosto, assim como a minha esconde o meu,
não imagino quem seja a desconhecida por trás, pois de alguma forma não
me soa nada familiar.

Melhor assim.

Não quero problemas.


— Confia em mim, sereia?

— Talvez não? — ela sussurra trêmula, os lábios borrados de vermelho


pelo beijo.

— Vou levá-la ao pedaço do inferno. — Seguro em sua mão com força,


puxando-a para passarmos no meio das pessoas que dançam e bebem sem
parar.

Sei que há uma sala do pecado e que foi reservada para casais irem
aproveitar com mais privacidade, além de que não há chance de vazar fotos.
Essa é uma das regras do evento, nada de celulares ou coisas do tipo.

A identidade é totalmente preservada, sem vestígios ou registros.

Eu também tenho conhecimento de que os babacas dos meus primos


estão por aí, pois os encontrei na entrada do evento, e aposto que estão se
divertindo.

— É por aqui, sereia… — Conduzo-a até a porta e o segurança nos dá


acesso livre para entrar. — Seja bem-vinda à sala dos pecados.

A única luz que há é vermelha, quase apagada, ilumina pouco o


ambiente ao passo que o deixa sombrio, sem mostrar de fato quem está
curtindo por aqui. Uma música sensual toca baixo, cobrindo o som de sexo,
mas é possível identificar gemidos, o que torna tudo ainda mais excitante,
eletrizante.

— Deus… — ouço a voz da garota e a sinto apertar a minha mão.

— Pretendo fazê-la gemer, sereia, mas com certeza será o meu nome —
digo sério.

Não perco tempo ao levá-la para um espaço livre que encontrei em um


sofá, ignorando os casais que se pegam no caminho, é como uma espécie de
orgia acontecendo em tempo real, sem reservas, o que só contribui para me
deixar ainda mais excitado, querendo acabar com o joguinho e possuir a
minha garota.

— Vem, sente-se aqui no meu colo, sereia — ordeno ao me acomodar


no sofá. — Mas antes erga a porra do seu vestido, preciso tocar no caralho
dessa boceta.

Apesar da pouca luz, observo-a suspirar, antes de obedecer a minha


ordem.

Se estivesse com ela em outro lugar, gostaria de possuí-la sob a


claridade para captar cada pedacinho do seu corpo, tomá-la com lentidão e
saboreá-la sem pressa. No entanto, tudo que temos é esta maldita sala e um
curto tempo para curtir.

Por ora tem que servir.

— As pessoas… Elas vão nos ver… Não posso fazer isso.

— Deixa que apreciem o show, sereia. Aqui nesta sala estamos livres do
pudor e de regras, tudo acontece em tempo real sem levar em consideração o
julgamento dos outros. Olhe para mim — peço rouco, fazendo-a me encarar
nos olhos.

Ainda não tive esse contato com a desconhecida e por uma fração de
segundos tenho um vislumbre familiar, a impressão de já ter visto esse olhar
em algum lugar, mas movido pela excitação ignoro esse pensamento que
passou rápido pela minha cabeça.

— Só… Vá devagar.

Fico surpreso com seu pedido e passo a língua nos lábios.

— Não me diga que essa bocetinha nunca sentiu um pau?

Observo-a negar com a cabeça e preciso conter um rosnado alto.

Porra!

Estou de frente para uma garota virgem.

Em todos os meus quarenta anos, nunca tive o prazer de tirar a


virgindade de alguém, nem mesmo da mulher com que dividia a cama ou de
outras bocetas desconhecidas que fodi por aí em casos paralelos. Um alerta
soa na minha cabeça e tenho o conhecimento imediato de que não poderei ir
longe com a maldita sereia.

Desgraçada!

No entanto, não posso deixá-la partir sem antes fazê-la gozar nos meus
dedos.

— Tudo bem… Tentarei ser cauteloso e nos proporcionar uma amostra


do paraíso.

Não dou tempo para que responda, seguro logo seu rosto, com força, e
tomo sua boca, capturando seus lábios delicados, macios demais, esfomeado
e querendo sentir um pouco do seu sabor doce e intrigante tanto quanto a
própria seria.

De onde diabos saiu esta mulher?

Esfrego meu pau duro em sua barriga, fazendo-a sentir o quanto a


desejo, anseio tirar todas as roupas que nos separam e fodê-la de uma vez,
mas o lembrete de que estou de frente para uma virgem não sai da minha
cabeça. Porra!

Desço a mão livre, acariciando o seu corpo ainda que minúsculo, tão
perfeito. Aproveito para apalpar os seios durinhos por cima do vestido e parto
em direção ao paraíso que me espera por baixo de suas pernas. A
movimentação das pessoas por aqui, as trocas sexuais, deixa o ambiente
ainda mais atraente.

Quente.

Sujo.

Afasto-me de sua boca a duras penas, encerrando o beijo.

A garota, ao sentir minha mão invadindo suas partes íntimas, cede


espaço e consigo abrir caminho em direção à sua bocetinha, que por sinal está
livre, sem a porra de uma calcinha. Desgraçada! Xingo-a mentalmente por
tamanha ousadia e por estar em uma festa como esta sem nada por baixo.
Nada me preparou para encontrá-la molhada, mergulho os dedos em sua
boceta e espalho o líquido pelos lábios íntimos.

— Já gozou antes, sereia?


— Sim — diz baixinho, rebolando a cintura em minha direção.

Se não fosse a porra do hímen no caminho, facilmente foderia esta


garota.

Dou uma batidinha no clitóris, antes de sondar sua entrada com cuidado
e penetrar um dedo, sentindo de imediato a resistência, o aperto delicioso no
caminho.

— Esse será o seu primeiro orgasmo da noite, de muitos outros, sereia


— decreto.

— Sim… Por favor.

Ouvi-la implorar é uma delícia, posso facilmente gozar.

De repente, as luzes da sala se acendem e o meu olhar assustado se volta


para a desconhecida em minha frente. A máscara dela se afastou em meio aos
amassos bruscos de minutos atrás e vejo de relance o sinal em seu rosto, o
qual até então não tinha visto.

— Pessoal. Desculpa aí… Foi um erro aqui.

Dentro de um segundo tudo volta a ficar escuro, com a luz vermelha no


alto, mas já é tarde demais, o clima vai para o inferno quando fica claro que
quem está aqui sentada em meu colo não é ninguém menos que a cópia da
minha esposa.

Afinal, posso estar sob efeito de álcool, mas reconheceria até morto esse
sinal.
Anna.
ANNA RURIKOVA

Que noite!
Eu ainda não consigo acreditar que por um momento andei perto de
perder a virgindade com um desconhecido e o pior é que iria acabar me
entregando sem me preocupar que, no outro dia, não o veria nunca mais.
Tudo isso se deu por conta da bebida, eu bebi além do ponto e no caminho o
meu juízo desapareceu, o que me tornou uma imprudente.

Se não fosse por aquelas malditas luzes que acenderam, provavelmente


teria tido um orgasmo com o homem que não parava de me chamar de sereia.
Eu nunca mais ouvirei aquele nome sem pensar no misterioso que me beijou
ferozmente, que me levou para a sala onde acontecia de tudo um pouco, troca
de casais e muito sexo livre.

Foi uma experiência intensa, avassaladora, ainda que, por conta da


iluminação, não desse para ver com perfeição tudo que acontecia. Eu nunca
imaginei que iria presenciar uma orgia, mas só os gemidos já tornavam o
lugar eletrizante, sombrio e excitante em níveis elevados.

Eu posso ser uma garota pura, na flor da idade, mas não estou morta e
tenho desejos obscenos como qualquer outra mulher. Só ainda não me
entreguei a ninguém sexualmente porque nunca namorei a sério com nenhum
homem ou rapaz da minha idade. O meu trabalho não me dá tempo para ter
uma vida social de qualidade e espaço para encaixar algum outro
compromisso amoroso.

No fim, pareço-me com Marya mais do que gostaria.

Solto um suspiro fundo ao lembrar do momento exato em que a conexão


sexual com o desconhecido acabou, após as luzes se apagarem e o vermelho
dominar tudo novamente. O meu parceiro da noite me tirou do seu colo e,
todo apressado, disse que precisava sair dali, pois se lembrara de que tinha
que encontrar o seu irmão.

Foi uma desculpa e tanto, o que me fez quase acreditar.

Eu caí para o sofá, meio aérea, perdida, e nada disse além de concordar
com a cabeça, observando o misterioso sumir do meu campo de visão em
segundos.

Rejeitada. Foi como me senti ao ser deixada naquela sala privada para
sexo.

Eu fiquei lá, travada, por alguns minutos até que outro homem de
máscara veio se sentar ao meu lado. Ele tentou puxar gentilmente conversa e,
como não tinha mais nada para fazer, acabei lhe dando espaço, deixando-me
levar pelo calor do momento. Foi questão de segundos para que acabasse me
beijando, levando-me para seu colo e enfim saciei o meu desejo de ter um
orgasmo proporcionado por ele.

E, sinceramente? Foi estupendo!

O homem que ocupou o lugar daquele que me largou ao usar uma


desculpa aleatória foi um parceiro e tanto, o que me surpreendeu em níveis
extremos. Eu fui embora depois de muitos beijos calorosos, pegações que não
passaram de toques, pois sabia que, se ficasse mais um pouco ali, o resto do
juízo que tinha iria para o ralo.

Convenhamos, como me manter sã tendo um amante daqueles ao meu


lado? O homem me beijou, chupou todo o meu pescoço, não teve piedade ao
sugar meus seios, tocar a minha boceta a ponto de fazê-la explodir em um
orgasmo, eu não aguentaria muito.

Não havia calcinha que suportasse tanta pressão, quer dizer, deixei por
lá para ele.

Eu fui embora e ainda me dei ao trabalho de tentar encontrar Marya


junto de Adriele, mas foi uma missão fracassada, o que me levou à estaca
zero. Todavia, assim que cheguei em casa, após pegar um carro de aplicativo
e ter sorte de encontrar uma motorista mulher, que me trouxe em segurança,
tive a surpresa de ver que a minha companheira de quarto havia chegado
primeiro.

Não conversamos muito além do básico, não entramos em detalhes


sobre o que tinha acontecido na noite e até achei melhor, pois não queria
contar que de um colo masculino pulei para outro ainda mais quente, que fez
o papel que o fujão não fora capaz de fazer. A minha amiga de quarto, assim
como eu, parecia ter tido sua cota de aventura e deduzi isso apenas por ver
que estava visivelmente abalada.

Eu não iria ficar em paz até descobrir se a minha intuição estava certa…

Hoje acordei cedo como de costume, mesmo querendo continuar


dormindo até mais tarde, fiz a minha higiene matinal e me arrumei para o
trabalho.

— E então? Você gostou da festa? — pergunto enquanto coloco café


com leite.

Marya está entretida fazendo umas panquecas, de costas no fogão.

— Não tenho nada para falar, Anna — diz baixo.

— Não? Então você ficou lá a noite toda rodando para lá e para cá? —
Termino de me servir e vou me sentar, puxo logo uma cadeira da mesa. —
Marya?

— Sabe muito bem que cheguei primeiro e… — ela se atrapalha toda.

— Isso não é uma garantia de nada. — Assopro o copo na vã tentativa


de esfriá-lo antes de beber. — Não andou beijando nenhuma boca por lá?
Não é mesmo?

A casa está silenciosa, o que nos dá privacidade para conversarmos


melhor, e somos as únicas dentre os funcionários que estão de pé a esta hora.

— E você pelo visto andou beijando, não é, Anna? — Vira-se para


colocar umas panquecas em um recipiente para me servir em seguida. —
Pode contar também.

— Sim. Eu beijei duas bocas e ainda tive um delicioso orgasmo. — Dou


de ombros.

— E conta assim, sem vergonha alguma na cara? — Marya parece


chocada.

— Sim. Era uma festa de máscaras e isso diz muito sobre liberdade,
sabe? A maioria das pessoas que estavam ali queriam se divertir sem se
preocuparem com o amanhã.

— Não me diga que se entregou a algum desses homens. — Gesticula


com os dedos, com desdém.

Parece ainda surpresa com a minha revelação da noite.

— Andei muito perto, mas me controlei para não perder o controle. —


Dou um risinho. — Agora é a sua vez de me contar sobre o que aprontou
sozinha.

— Não fiz nada que você e aquela outra maluca não fariam —
finalmente confessa.

— E? Conta logo, Marya! — De repente me vejo ansiosa. — Vai,


garota!

Ela desliga o fogo, seca as mãos e vem se sentar ao meu lado à mesa.
— Eu fiz sexo com Pavel, satisfeita? — diz sem rodeios.

É a minha vez de arregalar os olhos, quase sem acreditar.

— Como… Como… — gaguejo, sem saber formular uma frase.

— Quer também que eu ensine como isso acontece, Anna? Oras, sexo é
sexo.

— Não… A última coisa que você disse. — Engulo em seco, ainda


perplexa. — Isso de você e Pavel terem ficado. Me conta isso direito, Marya.

— Não há muito o que contar. Eu acabei me esbarrando com ele em um


corredor… Infelizmente o idiota não me reconheceu, mas eu o reconheceria a
quilômetros de distância, dados todos os anos em que trabalho aqui. — Ela
suspira fundo.

O filho da nossa chefe é alguns anos mais novo que a minha amiga, mas
esse não é um fator relevante para se colocar em questão, pois ambos são
adultos, vacinados, responsáveis e totalmente livres para ter qualquer tipo de
relação. A surpresa é constatar o que sempre desconfiei, Marya nutre uma
paixão por Pavel.

Paixão esta que explodiu.

— Jura que ele não te reconheceu? Como isso aconteceu?

— Nós conversamos um pouco e ele me ofereceu uma bebida… Bom,


depois de um copo, muitos outros vieram até que fomos parar em um quarto
reservado, era uma suíte daquelas bem luxuosas, sabe? — Suspira. — Eu não
quis tirar a máscara por um segundo, mesmo depois de ficar sem roupa,
enquanto ele, por outro lado, tirou e então aconteceu. O resto você sabe como
funciona…

Pisquei os dois olhos, ainda mais surpresa.

— E foi ao menos bom? — pergunto para descontrair.

— Maravilhoso! Eu nunca tive uma noite assim em toda a minha vida.


— Dá um sorriso de lado. — Ele parecia não se importar com nada, me
beijou, me tocou… E pela primeira vez em anos me senti uma mulher
amada… Ainda que fosse uma ilusão.

— De onde tirou isso de ilusão? Você é uma mulher linda, Marya!

— Com toda certeza, se não fosse aquela máscara e a bebida…, Pavel


nunca seria capaz de me desejar sexualmente. Olhe só para mim — diz,
engolindo em seco.

— Que bobinha. Você é muito linda, amiga, só precisa tirar essa venda
dos olhos e passar a ver a beleza que existe aí, tão rara quanto sua
personalidade única.

— É… — Ela fica sem jeito. — Depois da terceira rodada, fui embora.


Aproveitei que a exaustão o consumiu para me vestir e sair de uma vez por
todas daquele quarto. Sabe o que é pior? Eu deixei a minha pulseira em
algum lugar por lá…

Sinto o cheiro de problema.

— Não me diga que é a que você não tira por nada neste mundo?
— Sim. Estou rezando para todos os santos para que ele não a encontre
ou…

— Vai saber automaticamente que a mascarada é você. — Acabo rindo.

— Eu trabalho aqui faz anos, não é como se nunca tivessem visto a


peça. É certo que o babaca passou uma temporada viajando, então posso
contar com a sorte?

— Deveria. — Balanço a cabeça para o lado. — Que os anjos te


protejam.

Marya choraminga. Certamente, nos seus piores pesadelos imaginou ver


o mascarado da última noite adentrando a cozinha tão cedo, pegando-nos
enfim de surpresa.

— Bom dia, Anna. Marya? Acho que você esqueceu isso ontem…

Preciso morder o lábio com força para não rir da cara da minha amiga.
ANDREY VASSILIEV

— Tem certeza de que vai mesmo submeter sua filha a um exame


desses?

Eu chamei o meu primo, o único em que confio além de Anton, assim


que recebi por e-mail todos os dados necessários para montar o quebra-
cabeça.

Estamos reunidos na sede da minha empresa para uma reunião


particular.

— Ela é muito pequena e talvez um dia me agradeça por isso.

Solto um suspiro fundo.


Corro os dedos pelos papéis espalhados na mesa do meu escritório. O
investigador particular passou os últimos dias vasculhando o passado de
Anna Rurikova.

O que sabemos sobre a garota é que foi criada em um orfanato de freiras


e o seu sobrenome é de uma das irmãs da igreja que resolveu registrá-la,
mesmo que entre ambas não tivesse ligação alguma familiar, sendo só um
mero ato de compaixão pela órfã que acolhera. Os registros constavam que,
quando foi encontrada abandonada, Anna estava acompanhada de outro bebê,
ou seja, as duas crianças eram gêmeas.

Foi o que o conselho responsável constatou pelas semelhanças físicas.

Ou seja, Angelina e Anna eram realmente irmãs.

Não é uma afirmação da minha cabeça ou uma suposição, e sim o que os


dados mostram em tempo real. As duas nasceram no mesmo dia, deram
entrada no hospital com o estado crítico de abandono, apesar de terem sido
separadas logo depois pela Justiça, que as colocou em lares diferentes para
serem criadas.

Angelina e Anna teriam a mesma idade, fisicamente seriam quase


idênticas e um exame de sangue só irá corroborar ainda mais essa verdade
incontestável.

— Sabe que não precisa fazer isso se quiser, bastardo. — Viktor


pragueja. — Os documentos enviados pelo detetive não nos deixam dúvida
alguma sobre elas, a legitimidade é real. As duas são irmãs e até mesmo um
cego saberia reconhecer isso. Eu não vejo necessidade de submeter sua filha a
um exame de DNA.

— Ainda assim pode existir um erro… Uma coincidência? Desgraçada!


— Tento encontrar uma justificativa, apesar de concordar com ele. — O mais
estranho é que Angelina nunca comentou sobre ter uma irmã… Quer dizer, é
evidente que ambas tiveram vidas diferentes, enquanto minha esposa foi
adotada e…

— Anna não teve a mesma sorte e precisou trabalhar cedo para


sobreviver — meu primo completa. — Sabe que, ao omitir esse segredo da
garota, você a impede de conhecer a sobrinha? Quem sabe até usufruir de
uma qualidade de vida melhor? Afinal, meu caro, Angelina era sua esposa e
dona de alguns milhões…

— Elas eram recém-nascidas, talvez nunca tenham tido contato de fato


desde que nasceram gêmeas. É uma probabilidade, veja só. — Aponto para o
papel na mesa. — O detetive disse que essa é uma possibilidade, o que me
permite encerrar esse assunto após comprovar que são realmente irmãs pelo
exame de sangue.

— Ainda acho que essa não é a melhor saída para resolver o seu
problema, imperador. A verdade, por mais que tente escondê-la… — Ele faz
uma pausa. — Sempre vem à tona. E espero que saiba tomar uma decisão
quanto a isso.

Aperto o punho com força.

— Eu pensei que… Eu pensei que quando tivesse uma meia verdade


saberia o que fazer, pois a princípio iria dar o direito da minha filha conhecer
a tia perdida da mãe, mas, agora que estou de frente para esse detalhe, me
vejo regredindo. E se ela não passar de uma interesseira? E se só quiser saber
do dinheiro da irmã e, depois de conseguir, sumir pelo mundo? — digo, pois
é a coisa mais provável de acontecer.

A minha união com a Angelina consequentemente adicionou um valor


estimável em sua conta bancária, como se fosse um dote e presente de
casamento que me vi sujeito a fazer movido pela paixão desenfreada pela
mãe da minha filha. Meus pais não apoiaram essa ideia ao terem
conhecimento do meu plano inicial, pois sempre a julgaram como uma mera
interesseira, mas tive motivos de sobra para confiar na mulher que eu tinha
escolhido para dividir uma vida toda, além de que tinha dinheiro suficiente
para isso a ponto de não me fazer falta alguma.

Sempre confiei em Angelina. Todavia, sua irmã gêmea é um completo


mistério.

O meu primo, que também estava na festa, ainda não sabe que, por uma
pegadinha do destino, acabei com Anna em meu colo e por um fio quase não
a fodi. Por muito pouco. Afinal, se ela não tivesse confirmado que ainda era
virgem, eu provavelmente teria perdido o controle ao possuí-la no meio
daquelas pessoas.

Um erro técnico na sala fez as luzes claras se acenderem e vi o maldito


sinal em seu rosto. É claro que aquele detalhe poderia ser uma coincidência,
mas para o meu total azar não era, o que tornou a minha situação ainda mais
complicada. Eu não sabia o que a tinha levado a estar naquela festa, mas
bastou juntar dois mais dois para ter a resposta. O bastardo do Pavel,
provavelmente, a convidou.

A desgraçada trabalha na casa do dono da festa e estava lá a convite


dele, foi o que eu deduzi assim que a deixei na mão para ficar plantada no
estofado, como quem estava a um passo de cair em tentação e pecar comigo.
Maldita Anna Rurikova!

O seu rostinho inocente poderia enganar qualquer um, menos a mim,


que tive a prova do quanto não passa de uma safada, disposta a perder o lacre
com o primeiro desconhecido que surgiu em seu caminho. Se é que aquela
boceta era realmente virgem, pois não avancei o sinal ao ponto de romper o
seu hímen.
— É só omitir que a irmã deixou uma conta bancária milionária. De toda
forma, esse dinheiro passará para Elly, assim que tiver idade suficiente para
usufruir da grana.

— A minha filha não precisa desse dinheiro, pois tem e terá sempre a
mim — digo.

É verdade.

A garotinha tem se recuperado da virose, está visivelmente saudável e


aproveitou a festa feita pelos avós, que apesar dos defeitos a amam demais.
Eu posso ser fechado, ser considerado por aí como um sem coração, mas
consigo ver que os meus pais têm um carinho muito grande pela neta.

— Podemos encerrar, por ora, esse assunto e focar nos negócios?

— Sim, apesar de que tenho que tomar uma decisão sobre o exame.

— Se fizer isso, vai te deixar menos aliviado, é só fazer e problema


resolvido — Viktor sugere, girando na cadeira. — É só dizer quando, meu
caro.

— Eu preciso pensar com calma. — Engulo em seco.

— Tenho uma solução imediata para isso. Vamos hoje à boate… Quero
ver com os meus próprios olhos se são realmente idênticas.

— Elas não são… Quer dizer. Dá para assimilar quem é quem.

— E pelo visto o Imperador já tem essa opinião formada. Agora me


diga, baseada em quê? — O bastardo foca o seu olhar no meu. — Tem algo
para me contar?

— Talvez tenha enfiado um dedo na boceta da irmã da minha mulher?


— falo de uma vez. — E quase a fodi naquela maldita sala dos pecados.

— Essa história está ficando cada vez mais engraçada, Imperador.


Conte-me mais.

Realmente.

Eu estou dentro de um fogo cruzado.


ANNA RURIKOVA

Nada como um dia após o outro.

Alguns dias se passaram desde a noite imprudente que tive com minhas
duas amigas, pois, como se não bastasse o que aconteceu comigo e a Marya,
Adriele também teve sua cota de loucura ao passar a noite com dois homens,
que por sinal eram irmãos. Eu fiquei com a boca no chão quando tive
conhecimento desse ocorrido, pois nunca havia passado pela cabeça que algo
assim iria acontecer com ela.

Quer dizer, não esperava menos vindo da maluca. Adriele me contou


assim que pisei os pés na boate para trabalhar, e não poupou detalhes do ato
sexual, o que me fez ficar com uma faísca de inveja. No quarto em que
ficaram, as máscaras se perderam pelo caminho e o que prevaleceu foi o
despudor, sendo assim sabia que seus parceiros eram irmãos e que naquela
noite queriam dividir uma parceira sexual.
Como não tinha juízo, simplesmente foi lá e se jogou em uma aventura
com eles.

Bem servida. Essas foram as palavras usadas pela minha amiga.

Eu imaginava que tinha sido, pois tudo que ouvi pelos seus lábios só me
fez imaginar a cena na minha cabeça fértil, que idealizou cada momento
sexual ocorrido no quarto em que ficaram. No final das contas, acabamos
rindo, pois, apesar de termos nos separado no evento, as três viveram
experiências únicas.

É claro que não contei da cilada em que a pobre de Marya se meteu ao


parar na cama do filho da nossa chefe; nem que teve sua identidade revelada
e agora está em uma situação complicada. Desde o dia em que Pavel passou
pela cozinha para entregar a pulseira perdida, o clima ficou tenso e a observei
se fechar em seu mundo particular, reclusa, falando o básico quando era
necessário.

Sinto muito por ela.

Tentei algumas vezes puxar assunto sobre o ocorrido, mas minha amiga
se esquivou e tentou levar tudo na naturalidade, ignorando, como se nada
tivesse acontecido, quando eu sabia que lá no fundo estava visivelmente
abalada com o que acontecera, além do que nas próximas semanas Pavel
voltava para sua vida longe da Rússia.

Uma relação entre eles não pode passar do sexo, pois vivem em mundos
diferentes, dentre outras coisas que entram em questão. Eu não o conheço tão
bem quanto a minha amiga, que trabalha na mansão há mais tempo, conhece,
mas ele é um homem visivelmente comprometido, responsável e só o fato de
nos tratar sem preconceito pela classe social já diz muito sobre o seu caráter.
Todos naquela casa são assim, começando pela nossa patroa, e seu
comportamento respeitoso segue para os filhos, pois nunca passei por algo
constrangedor dentro daquelas paredes, assim como a minha amiga Marya
também não.

No mundo em que vivemos é normal ser tratado como inferior pelos de


alta classe, mas isso está fora de cogitação dentro dessa mansão e sem
dúvidas é um dos motivos pelos quais gosto da família de Pavel.

— E você não ficou sabendo o nome dos bonitões, não? — pergunto a


Adriele.

Estou encostada no balcão da boate, organizando a bandeja para servir


uma mesa. O expediente começou há poucos minutos e então a
movimentação está muito fraca, pois só aumenta no mais tardar da noite.

— Não. E, sinceramente? Prefiro não saber — Adriele responde,


revirando os olhos. — Aqueles desgraçados me deixaram por dias sem
conseguir urinar direito. Tem noção de que precisei comprar uma pomada
para assadura?

— Sério? — Prendo o lábio para não rir. — Doeu tanto assim?

— No dia em que tiver dois paus enfiados dentro de você vai saber o
que é dor.

— Suponho que tenha gostado dessa dor, não? — Dou de ombros.

— No momento, sim, mas a dor veio com força no dia seguinte e isso
não recomendo a ninguém. Foi como se tivesse sido atropelada por dois
carros.
— O negócio então foi bom. — Dou um risinho. — Valeu a pena no
final das contas.

— HAHA! Engraçadinha! A senhorita também teve sua cota de


diversão. Como é mesmo… — Ela gesticula os dedos. — Pulou do colo de
um para outro.

— Quando um não quer tem outro por aí que quer — digo. — E foi
muito bom.

— Não me diga que também não ficou sabendo o nome dos bonitões?

— Foi só um, Dri. — Reviro os olhos. — Quer dizer. Eu fiquei com um


e na hora de avançar o sinal me deixou na mão, mas logo surgiu outro, que
fez o papel completo.

— Era gostoso ao menos? Conseguiu tocar no pau do desgraçado? —


Adriele ri.

— Eu só consegui sentir… — falo baixinho. — Só que, se fosse para


escolher, teria perdido a virgindade com o primeiro. Sabe? O beijo dele era
de outro mundo, o jeito como me pegava, me apertava e ficava me chamando
de sereia. — Suspiro.

— Quem sabe não tem a sorte de encontrá-lo por aí.

— Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, amiga. — Ajeito a


bebida na bandeja com os copos. — Chega desse assunto. Eu tenho que
servir…

— É bom mesmo, afinal olha quem acabou de chegar.


— Quem? — falo e em seguida me viro para ver quem tinha entrado na
boate.

Ele.

O nosso chefe e por azar o babaca que me interceptou duas vezes.

Fazia muito tempo que não o via por ali, apesar de que essa noite estava
acompanhado de outro homem alto e que conseguia ser tão belo quanto ele.

— Tá vendo esse bonitão do lado? — Adriele perguntou baixo.

— Uhum? — Fico sem jeito e me viro de costas de novo.

— Foi ele que acabou com a minha boceta.

— Você o conhece? Por que não me disse logo? — Arregalo os olhos.

— E tirar a graça de todo o mistério? Ele é primo do dono desta boate e


pouquíssimas vezes põe os pés aqui. É claro que o bonitão não se lembra de
mim, mas eu não conseguiria esquecê-lo nem se quisesse. Quando o vi tirar a
máscara junto do irmão não pensei duas vezes em tirar a minha roupa — diz
rindo.

— Tão fácil assim? Eu esperava mais de você, Adriele.

— E eu ia perder a chance de trepar com um dos caras mais poderosos


do país? É claro que não, sua boba! Apesar de acabarem comigo, foi uma
noite memorável.
— Aproveita que ele tá por aqui hoje, quem sabe possam repetir?

— Aquela noite foi uma exceção, querida. Aqui o babado é outro. —


Ela dá de ombros. — Vá servir a mesa deles, pois estão sinalizando…

Arregalo os olhos.

— Eu tenho que primeiro servir estas…

— Pode deixar, eu faço isso por você.

— Sabe que agora te odeio um pouco mais, né?

— E eu te amo, sua vadia!

Viro-me para encará-los outra vez e vejo o tal do Andrey me


observando.

Estou completamente em um beco sem saída.


ANDREY VASSILIEV

— Ela consegue ser ainda mais bonita que a irmã — Viktor alfineta.

— É uma piada por acaso? Angelina é sem sombra de dúvidas ainda


mais bela.

— Então quer dizer que acha a irmã dela possivelmente bonita? — tenta
me provocar.

O desgraçado não para de encarar Anna, fissurado em cada detalhe seu.

Bebo minha bebida e de repente estou um pouco incomodado com isso.

— Não tente compará-las, primo. As duas têm sua peculiaridade e


beleza única. O que as une além do sangue é a aparência física que lembra
muito a Angelina, alguns traços do rosto. — Aperto o copo com força. — A
cor dos olhos não é igual, nem a cor do cabelo, porra. Apesar de terem a
mesma altura, Anna tem um corpo cheio de curvas.

— Está tentando me convencer ou se convencer desse detalhe,


imperador? É claro que não sou idiota para não ver as semelhanças entre as
duas. — Gargalha. — Uma pena que tenha escolhido a gêmea errada, pois
Anna é um manjar dos deuses.

Coloco o copo vazio na mesa e me sirvo com mais uma dose de uísque.

— Pare de babar na irmã da minha mulher, caralho! — rosno.

— Pelo que me lembro…, é apenas uma suposição. Coincidência,


talvez?

O bastardo me provoca sem piedade, usando as palavras que usei contra


mim. Se não o considerasse demais como irmão e não soubesse que essa é só
a sua forma de tirar a minha paciência, provavelmente pegaria os cacos de
vidro e o esfolaria vivo.

Viktor é o meu lado completamente oposto. O maldito do meu primo


sabe como me desestabilizar e, dado que contei o que aconteceu na festa com
Anna, o bastardo não mede esforços para tentar tirar o resto de sanidade que
há em mim. Depois de ouvir a história por cima, ele não para de dizer que eu
estou atraído pela gêmea da minha mulher, o que sem dúvidas é uma
completa e pura mentira.

Eu não posso, sob hipótese alguma, voltar a me envolver daquela forma


tão íntima, sexual demais com Anna, pois isso resultará em danos
irreparáveis e nunca iria me perdoar. O correto a fazer é me manter distante
da garota, colocar um ponto-final após o exame de DNA ser feito e tentar
ignorá-la o máximo que conseguir, começando por evitar pôr os pés na minha
própria boate, caso seja preciso.

Não será uma tarefa muito fácil.

Trata-se de uma sociedade com meus primos e algumas vezes se faz


necessário estar presente para acompanhar o desempenho, lidar com assuntos
burocráticos pelos quais só o dono pode se responsabilizar e executar, então
encontrá-la por corredores pode se tornar parte da minha rotina.

Por bem ou por mal.

Eu não posso simplesmente demiti-la levando em consideração os


motivos errados e a única coisa, no fim, que me resta é tentar suportá-la,
fingir que não andei muito perto de fodê-la, tomá-la naquela maldita festa que
arruinou todos os meus planos.

— Foda-se, Viktor! Não tem nenhuma boceta para foder, bastardo?

— A única coisa que quero, pelo visto, está fora do meu alcance. — Dá
de ombros, rindo. — Ou será que tenho o passe livre para investir em sua
cunhada, primo?

— Mantenha o seu pau bem longe dela, ouviu bem? Eu tenho assuntos
para resolver com essa desgraçada e você não pode entrar nessa equação —
decreto.

Anna está por aí, cumprindo com o seu papel na boate, passa algumas
vezes, sorrateira, pela nossa mesa e outras nos serve, sem demonstrar medo
ou qualquer outro receio por nos ter nesta noite como clientes. Imagino que a
garota não saiba que o homem por trás daquela máscara era eu, pois fui
habilidoso e tive todo cuidado do mundo, ao contrário dela, que por um
vacilo entregou um detalhe que não poderia passar despercebido pelos meus
olhos.

O minúsculo sinal perto da boca.

Uma manchinha preta, ainda mais visível do que a que Angelina tinha
mais apagada, um pontinho de nada. Esse foi outro ponto entre as duas que
notei.

Quando a abordei na festa não tinha visto isso, pois o contraste das luzes
vermelhas, ofuscadas demais tornava impossível ver com perfeição detalhes,
além da máscara que era o principal acessório para ocultar qualquer
identidade.

Fui pego pelo inesperado.

A desgraçada tem um beijo delicioso, intenso, os lábios mais delicados


que já provei. Ela se entregava sem reservas e não tinha receio com toque,
tampouco pudor na hora em que o desejo nos consumiu. Sei por que muito
pouco não tirei sua virgindade e o pior é que ela iria ceder, Anna realmente
não tem noção do perigo.

A maioria das pessoas, se tivesse conhecimento do que aconteceu na


festa, iria me julgar, alegar que ao tocá-la e beijá-la estava fantasiando a
minha esposa morta, mas não é verdade. Eu realmente senti desejo pela
Anna, por quem ela é, sua essência, sua personalidade e sem pensar em mais
ninguém.

Não consegui visualizar o rosto de ninguém senão o dela, apenas ela, ao


beijá-la, bem como não tinha a menor pretensão de usá-la para tapar buraco
deixado por outra, isso nunca. A nossa conexão veio de forma explosiva, e
quando me dei conta estava desejando-a como mulher, ignorando os avisos
para parar.

Querendo a garota, que por sinal não é nada inocente.

— Então se fosse você… — fala baixo —, tentaria ter essa


conversinha…

Observo Viktor indicar com a cabeça a direção do bar da boate e vejo o


momento exato em que Anna fala com a amiga, saindo pelas portas dos
fundos.

— Eu preciso de um pouco de ar fresco. — Levanto-me de uma vez.

— Boa sorte, Imperador.

Babaca! Ignoro a sua resposta e caminho em direção à saída. Não sei o


que me leva a procurá-la, só sigo o instinto, ignorando mais uma vez o alerta
que me faz recuar e não ficar tão perto do perigo.

Não posso.

Não posso.

Mas por que ainda assim me vejo tão atraído a ponto de querer infringir
as regras?

Procuro pela garota e a encontro de costas, entretida com sua tarefa de


separar algumas sacolas de lixo antes de descartá-las no cesto.
— Anna?

Basta ouvir minha voz para tomar um susto e se virar, espantada.

— Você? Meu Deus! — Parece ofegante, quase sem acreditar. — Que


susto!

— Sim, sou eu. — Dou um passo em sua direção. — Sou tão assustador
assim?

— Basicamente… É que você sempre chega sem fazer barulho, como


quem tem realmente interesse em me assustar, ou será apenas impressão
minha? — pergunta.

— Talvez. Quem sabe? — Passo a língua nos lábios.

Deixo-a ainda mais intrigada.

— Então… O senhor quer alguma coisa? Eu só estou terminando aqui


para voltar ao trabalho — tenta se explicar e passa as mãos no uniforme,
meio atrapalhada.

— Temos um assunto pendente, Anna. — Mordo a ponta do lábio.

Recue…

Não vá em frente…

Não diga nada.


Tarde demais.

— Hã? E o que seria, senhor?

— Você tem algo que me pertence, senhorita Rurikova. — Contenho o


rosnado. — E sabe o que faço com pessoas que costumam me negar isso?

— Eu… Não sei. — Observei-a engolir em seco, atordoada. — Seja


mais claro.

— Eu tomo. — Dou um passo, ficando a centímetros de distância de


seus lábios feito uma fera. — Não peço permissão alguma… Simples,
reivindico o que é meu por direito.

— Não estou entendendo, senhor… Eu… — Tenta dar um passo para


trás, mas não permito, segurando-a pelo braço. — Eu tenho que voltar para o
trabalho.

— Não sem antes me dar o que é meu, sereia. — Direciono o olhar para
seus lábios. — O seu orgasmo que ficou pendente e me privou de prová-lo
naquela noite.

— Então era você. — Anna arregala os olhos. — Não pode ser…

— Sim, sereia. Não tente me impedir, pois só irei sair daqui depois de
sentir o seu prazer e matar a minha fome da boceta que me deixou com as
bolas roxas.
ANNA RURIKOVA

Corra!

O alerta não para de soar na minha cabeça, mas como um maldito ímã
me vejo atraída para pecar com meu chefe, a palpitação presente em cada
respirada funda. Então o homem com que eu quase perdi o controle na sala
dos pecados era ele. Andrey. O mesmo que semanas atrás me confundiu com
outra mulher, mas que nesta altura do campeonato parece ter se dado conta de
que foi um erro, uma confusão.

Recue.

Não dê liberdade ao desconhecido.

— Deve ter sido um engano seu, senhor — tento encontrar uma


desculpa.

Nunca me ocorreu que o desconhecido da noite tivesse sido ele, pois não
consegui encontrar nada que os ligasse, talvez culpa da bebida ou da máscara
que ele usava. A verdade está bem aqui, sendo jogada na minha cara,
revelada da pior forma.

Eu estou entre a cruz e a espada, como se não houvesse a menor


possibilidade de meu chefe me deixar ir embora sem sentir o gostinho da
nossa aventura juntos. E, sinceramente? Pouco me importa. É como se o meu
corpo chamasse por ele.

— Eu vi isto… — Ele estende a mão para tocar em meu rosto, passando


o dedo perto da minha boca. — Esta pintinha. Então não tente me dizer que
foi um engano, pois vi agora mesmo o quanto ficou abalada ao me ver
chamá-la de sereia.

— Ainda assim é muito errado. — Respiro fundo. — Foi um momento


que deve ser esquecido e mantido no passado — disse tentando me
convencer.

É lógico que ainda me lembro do seu beijo intenso, me pego revirando


as memórias daquela noite, criando situações em que finalmente ficamos
juntos de verdade. Não foi um, mas muitos sonhos que tive fazendo sexo
depravado com o misterioso, só nunca pensei que por trás dele fosse meu
chefe e o dono da boate.

— Resposta errada, sereia. Pelo que me lembro. — Desce a mão pelo


meu pescoço, circulando-o com os dedos. — Eu te devo um orgasmo…

Abro a boca e a fecho, em choque.


— Aqui? Onde qualquer um pode ver? — Pisco os olhos sem acreditar.
— É muito errado, senhor.

— Continue me chamando assim, que rasgo este uniforme e te fodo


nessa lata de lixo — murmuro em um rosnado. — Essa é a sua resposta final?

Olho para os lados, mordo o lábio sem saber qual resposta dar.

Eu não tenho muito a perder nem a ganhar, então decido ser imprudente
de novo.

Uma última vez.

Amanhã provavelmente irei chorar muito e me arrepender; e nunca mais


porei os pés nesta boate, evitando o desprazer de encontrá-lo nos corredores.

— Não tenho muito tempo, preciso voltar para o trabalho. — Suspiro.

— Meu carro está estacionado no outro lado da rua. É a sua hora de


recuar, sereia. — Meu chefe estende a mão em um convite silencioso.

Olho para ele, visualizando desejo em seu olhar, e dou um passo para a
frente, aceitando assinar a minha própria sentença ao ir direto para o inferno
com o Diabo.

— Fez a escolha certa, sereia.

Sou puxada em um tranco firme e conduzida pelo meu chefe até onde
seu carro está parado. A vergonha me consome, o rubro provavelmente está
visível no meu rosto. Por muito pouco não solto seu enlace e saio correndo
feito um animalzinho ferido, mas o desejo de sentir mais uma vez o seu beijo,
ser tocada, fala mais alto.

Algo nos liga, como se seu olhar me atraísse, sua voz me seduzisse e eu
estivesse sempre a um passo de cair de um precipício, uma vez que ele estará
lá para me segurar firme, me tomar e saciar o desejo que parece só se
multiplicar.

Gradativamente.

Paramos em frente ao automóvel e entendo que é a linha de chegada.

Andrey tira a chave do bolso da calça para destravar o carro, no caminho


desabotoou os primeiros botões do terno preto que usa e não me dá tempo de
falar nada, simplesmente me conduz a entrar de uma vez por todas.

Ele vem logo em seguida, fechando a porta, certificando-se de deixá-la


trancada. Penso em abrir a boca para perguntar se é seguro, mas sou golpeada
pelo seu beijo, guiada para subir em seu colo, sendo bem recebida pelo seu
pau na calça já duro.

Merda! Por que tem que ser tão bom?

Passo as mãos em volta do seu pescoço, aprofundando-me no beijo,


embriagada pelo seu sabor mesclado com a bebida que ele tomou na noite.
Dou uma minirrebolada para sentir a pressão do seu membro na boceta, que
está tão perto dele; o vestido, no calor do momento, já se ergueu até a cintura.

Andrey dá uma mordida forte nos meus lábios antes de se afastar da


minha boca para descer até o meu pescoço, saqueando cada pedacinho da
pele, deixando mordidas sem piedade, sugadas que provavelmente deixarão
marcas roxas no outro dia.
Suas mãos grossas tomam posse dos meus seios, apalpando-os por cima
do tecido até que inesperadamente ele desce as alças para ter livre acesso. Em
questão de segundos sua boca desce para meus mamilos, onde captura um por
um, desesperado, faminto, mamando, e é o meu fim. Começo a cavalgar
devagar em seu colo para provocá-lo, adorando sentir a pressão do seu pau
em minha boceta.

— Desgraçada! Continue rebolando essa boceta no meu pau, que não


respondo por mim. — Andrey suga o bico do meu seio e o puxa com força.
— Estou tentando ser um bom-moço e respeitá-la, mas está ficando cada vez
mais difícil…

— Você prometeu um orgasmo — digo em um gemido manhoso.

— E vou cumprir com a minha promessa, no entanto o desejo de fodê-la


neste carro, onde qualquer outro que passar pela rua pode ouvir seus
gemidos, é demais. Só que sou um maldito e irei me controlar por nós, sereia.
Essa noite terá apenas o seu orgasmo. — Desce com uma mão por baixo,
parando-a por dentro da minha boceta. — Molhada, caralho! Fode mais com
a porra da minha cabeça, desgraçada!

— Hum… Minha nossa! Por favor — gemo ao sentir um de seus dedos


ganhando espaço na minha entrada, devagar, sendo acompanhado em seguida
por outro.

Meu chefe tem toda paciência ao me tocar, afundando-os dentro com


cautela, respeitando o limite que separa minha virgindade intacta. A sua boca
volta a tomar meus seios, mordiscando-os, enquanto seus dedos me fodem
lentamente.

— Mais… — peço desesperada.


Eu não me reconheço mais, ao passo que o calor cresce em meu ventre.
Andrey aumenta os movimentos, tocando com precisão o meu ponto de
prazer, vindo e voltando, ganhando espaço, tomando tudo pelo caminho feito
um tsunami.

É o meu fim.

— Molha o meu dedo, sereia. Vem para mim… Liberte o seu prazer,
porra!

Meu corpo obedece ao seu comando, acabo explodindo em um orgasmo.

— Primeiro… Continue gozando. Só sairá deste carro quando saciar


minha fome.

Andrey não tem piedade alguma, continua me fodendo com os dedos,


prolongando meu prazer; é demais, parece que irei explodir.

E aqui tenho plena certeza de que não irei mais conseguir escapar da sua
fúria.

Vendi a minha alma ao Diabo.


ANDREY VASSILIEV

— Qual dessas bonequinhas você quer? Essa? Ou que tal essa? —


Mostro uma por uma para a minha filha, que encara tudo com seus olhinhos
azuis brilhantes.

— Dá papá! — A bebê estende a mão em direção à primeira, a da


Barbie.

— Eu vou te dar, princesa. — Entrego para ela e a vejo agarrar a


boneca. — Pelo visto gostou dos presentes, não é mesmo? — Dou um sorriso
de lado.

Tirei um tempo na agenda para levá-la ao pediatra e abrir alguns dos


presentes que ganhara na festa de seu primeiro aniversário. Os embrulhos
estavam guardados em uma sala vazia desde que os meus pais foram embora
e então decidi que iria abri-los com a minha filha no momento certo, afinal
Elly tem muitos brinquedos, muito além do que qualquer criança da sua idade
poderia ter.

Angelina foi extremamente exagerada quanto a isso, pois antes mesmo


de a menina nascer torrou uma nota com acessórios, roupas e objetos para
nossa filha usufruir quando tivesse a idade para isso, o que nos obrigou a
fazer um quarto enorme para armazenar uma parte com todas as coisas que
tínhamos comprado durante a gestação.

O quarto da pequena Elly é sem dúvidas a coisa mais linda que já vi,
sendo a parte doce da casa, pois foi montada pela sua mãe nos mínimos
detalhes, com uma decoração toda voltada para as princesas da Disney. A
minha filha com certeza é uma dessas crianças que nasceram em berço de
ouro.

Não era para menos.

Ser filha de um imperador dos diamantes tem lá suas vantagens.

— Quer saber qual presente comprei? — pergunto baixo, sem tirar o


olho da pequena, que está linda, usando um vestidinho florido e com uma
tiara na cabeça.

Elly é uma bebê de um ano e ainda não tem muitos cabelos na cabeça,
então as babás que ficam na parte de cuidado sempre colocam adereços para
compor seus looks. Eu não tenho muito o que reclamar delas, pois exercem
bem o seu papel na vida da menina e sempre a encontro bem alimentada,
vestida e segura.

As mulheres que contratei para me auxiliar nos cuidados com uma bebê
pequena têm o meu voto de confiança por cumprir com excelência todas as
tarefas, uma vez que eu estava sempre trabalhando e me recusava muitas
vezes a cumprir com o meu papel de pai na vida da menina, o que fez de mim
um mero ausente.

Por meses foi assim.

No entanto, nas últimas semanas venho me esforçando para mudar essa


situação. Eu ainda falho muito, pois algumas vezes chego tarde em casa e a
encontro já adormecida, mas no dia seguinte só saio para trabalhar depois de
vê-la, trocar uma pequena interação que soma a um passo relativamente
positivo.

Não dá para mudar da noite para o dia, e isso é fato real, mas estou
tentando vencer o medo de segurá-la, me aproximar, interagir com
frequência. Aos poucos engulo a porra do meu orgulho, o que me fez rejeitá-
la na barriga da mãe mesmo que Angelina nunca tivesse ouvido uma palavra
sequer de desprezo saindo pela minha boca.

Isso nunca.

Era de conhecimento da minha falecida esposa o meu desejo de não ter


um filho, mas nunca fui desumano ao expor a minha insatisfação quando ela
fez o teste de gravidez e deu positivo. Eu jamais seria capaz de me prestar a
esse papel, pois em partes esse era o seu maior sonho. Não era o meu, mas
ainda assim a respeitei.

Eu não soltei a sua mão, nem mesmo a deixei sozinha quando ia fazer
exames de rotina, compras para a nossa bebê, entre outras coisas, estava
sempre lá por ela.

E, de alguma forma, por elas.


— Esse é um presente que infelizmente só irá usar quando estiver
grandinha… — Estico a mão para pegar na cabeceira da cama uma caixinha
vermelha. — A sua mãe desenhou para você, Elly. — Mostro a ela, que
observa curiosa.

— Papá! Dá! — Agita a mão, querendo pegar.

Ainda é uma surpresa vê-la me chamando de pai embolando as palavras,


e sei que isso é dedo da minha mãe, que quase todos os dias liga para
conversar com a neta. As babás me contam tudo, inclusive dessas ligações
que acontecem durante o dia.

— Pode não — tento explicar. — Vamos só abrir para olhar, tá? Ok?

É impossível não sorrir ao vê-la balançar a cabeça, como se tivesse


entendido.

— A sua mãe era muito talentosa, sabia? O sonho dela era lançar uma
coleção de joias com peças mais preciosas. — Sorrio de lado. — Andei
gastando alguns milhões ao comprar pedras raras para a confecção e essa foi
a primeira feita.

Abro a caixa revelando um colar de ouro branco e diamantes. No meio


há a letra inicial do nome dela, acompanhada por uma rosa minúscula e bem
discreta.

— Este é o meu presente e da sua mãe. — Engulo em seco.

— Ma? Mamama! — dispara falando.

— Isso mesmo, querida. — Mostro mais e a faço segurar com cuidado.


— É seu.

Fico admirando a bebê toda curiosa, enquanto tenta levar a peça que
custa milhões à boca, como se fosse algo de comer. A porta do quarto se
abre, aproveito então para pegar de volta o colar e guardá-lo na caixinha.

— Senhor Vassiliev. O carro está nos esperando — a babá diz.

— Ok. Pode pegá-la. Só vou vestir o terno e já desço — aviso.

Levanto-me da cama, mas antes dou um beijo no rostinho da bebê.

Espero que a mulher pegue a minha filha no colo e em seguida saia do


quarto para que eu possa terminar de me arrumar e acompanhá-las em uma
consulta.

A consulta decorreu de forma bem tranquila. Minha filha está


visivelmente saudável, esperta, se desenvolvendo bem, com um peso ideal
para sua idade, apenas tem que iniciar aulas de natação para melhorar a
circulação de ar nos pulmões. A pediatra recomendou que observemos
melhor a respiração da bebê que apresenta episódios de lentidão respiratória
desde que teve uma virose.
Asma. Elly foi diagnosticada por outro médico com essa doença crônica,
literalmente herdada da sua mãe, que também sofria do mesmo problema.
Farei absolutamente tudo que estiver ao meu alcance para promover à
pequena uma qualidade de vida segura, e o impossível para vê-la sempre
bem.

Não importa como.

— O motorista as levará para casa, tudo bem? Eu tenho reunião com o


meu primo — explico para a babá, que concorda com a cabeça.

Elly está entretida em seus braços, agarrada à boneca da Barbie. Eu me


aproximo da bebê para dar um beijo em seu rostinho e, ao me afastar, dou de
cara com Anna passando na rua. O que ela está fazendo ali?

— Andrey — cumprimenta-me baixo.

Logo vejo que está acompanhada de outra garota.

— Anna — respondo rouco, vendo a babá entrar no carro com a Elly.

— Tchau, Sr. Vassiliev. Dá tchau ao seu pai, bebê.

— Au, papá! — Elly fala embolado e solta um beijinho como aprendeu


a fazer.

Eu me despeço das duas antes de me virar e encontrar o olhar surpreso


de Anna.

— Não sabia que era casado… Uma filha? Minha nossa!


— Podemos conversar? — peço com educação.— Por favor!

— Não. Eu tenho que ir… Tchau. — Anna pega na mão da amiga e sai
andando.

Desgraçada!

É a primeira vez que a encontro desde o episódio no carro em que a fiz


ter dois orgasmos seguidos em meus dedos e por muito pouco não a fodi no
meio da rua. Eu regredi, fui contra todos os meus conceitos pregados e paguei
a língua da pior forma possível. Após o momento quente no automóvel, Anna
me deu um beijo apaixonado e disse que precisava voltar ao trabalho. Eu
simplesmente a deixei ir, pois era isso ou perder o pouco do controle que
ainda me restava.

Tinha simplesmente fodido a gêmea da minha falecida esposa.

Quase.

O pior é que não me arrependo nem um pouco e me sinto atraído para


repetir a dose, mesmo que agora esteja em um impasse, pois preciso contar
uma parte da verdade, revelar que tenho uma filha, bem como que sou um
homem livre e viúvo.

Espero que a desgraçada ao menos me dê a chance para me explicar.


ANNA RURIKOVA

— Não sabia que gostava de ficar com homem casado — Marya me


provoca.

Eu sabia que faria isso assim que estivéssemos sozinhas, pois estava do
meu lado quando encontrei Andrey saindo de uma clínica com uma mulher e
uma bebezinha. Maldita seja a minha boca frouxa, que resolveu se abrir e
contar a Marya que tive um momento quente com ele tanto na festa como em
seu carro no meio do meu expediente.

Que merda!

Estávamos indo comprar algumas coisas no mercado, por azar alguns


metros ao lado da clínica onde tive o desprazer de ver o meu chefe com sua
família; ao menos foi o que deduzi ao vê-los em uma completa sintonia
perfeita.

Pai. Mãe. Filha.

Eu o vi de longe e aproveitei para apresentá-lo a minha colega de quarto,


que estava curiosa desde que contei o que tinha acontecido entre nós dois,
mas levei um balde de água fria, pois não contava que veria uma cena que
faria de mim uma amante.

— Eu não sabia que ele tinha uma filha, uma esposa… Quer dizer. —
Coloco as mãos no rosto, nervosa. — Não sei nada sobre a vida daquele
homem.

— Mas soube subir em cima do colo dele duas vezes — continua me


provocando.

— E que moral você tem para me julgar, Marya? Não era você que
estava dias atrás tomando remédio para evitar uma possível gravidez? —
Cruzo os braços.

Eu não sou do tipo que julga o outro pelas suas escolhas ou pela maneira
como vive, mas a minha colega de quarto às vezes me faz ser esse tipo de
pessoa, pois quase nunca me apoia, e sim coloca mais lenha na fogueira para
me deixar mal.

Confesso que tento entender seu jeito recluso e a grosseria com que age
na maioria das vezes, mas Marya por outro lado não retribui, sendo no
mínimo arisca e apática. Eu juro que me esforço para ser uma amiga de
verdade, conto meus segredos, partilho um pouco da minha vida, mas odeio
quando ela age dessa forma.

Fria.
— Quantas vezes vou ter que contar que foi só por precaução? Nós
usamos camisinhas, sua boba.

— Eu não te julgo por isso se quer saber. Só espero um pouco de


empatia e menos julgamentos da sua parte, pois, como eu disse, não sabia
nada sobre ele — revelo, caminhando até a mesa e puxando uma cadeira para
me sentar.

Depois de fazermos as compras, voltamos para casa de carro de


aplicativo e as piadinhas começam em peso, o que de fato me incomoda
muito. Em outro momento, talvez não desse tanta importância, mas estou
realmente abalada.

Tive um momento casual com meu chefe, ainda que não tenha passado
de uma preliminar em seu carro onde fui apenas a beneficiada com orgasmos,
beijos cheios de paixão, ardência, o que só me fez, no fim, desejá-lo um
pouco mais.

Não posso negar o inevitável.

Estou atraída pelo homem que não está disponível, pois, com base no
que acabei vendo, meu chefe tem uma família e eu nunca serei capaz de me
prestar ao papel de amante, uma segunda opção. Deus me livre!

Irei à igreja mais próxima para acender uma vela e pedir perdão por ter
sido atraída pelo Diabo a ponto de pecar com um homem que não pode ser
meu, quebrando assim um dos mandamentos mais importantes da Bíblia.

— Me desculpe, Anna. É que você precisa ver as caras e bocas que faz
quando digo isso… — Marya dá um risinho de lado. — Eu prometo que vou
parar com isso.
— É bom mesmo, ou digo ao Pavel que você pode estar grávida dele.

Vejo-a arregalar os olhos, esse é o seu ponto fraco.

— Não diga uma coisa dessas nem brincando, Anna. Por favor!

Ergo as mãos em rendição.

— Você que começou com a brincadeira de mau gosto, estou só


retribuindo. — Rio.

Marya ainda está abalada com tudo que aconteceu naquela noite e o fato
de sua identidade ter sido descoberta pelo filho da nossa chefe. Pavel a
deixou em uma situação delicada quando apareceu na cozinha para entregar o
pertence esquecido por ela, e em seguida não disse mais nada, pegou rumo
contrário ao ir embora.

Ele realmente tinha ido.

Tivemos conhecimento pela dona da casa de que o seu filho tinha


partido, voltado para sua vidinha longe da Rússia, o que contribuiu para a
minha amiga ficar ainda pior. Era visível que a forma como ele reagira fez
com que ela se sentisse rejeitada.

Obviamente o que tiveram não teve significado algum.

Para ele…

— Tudo que mais quero é apagar da minha cabeça essa noite. — Solta
um suspiro fundo. — Maldita a hora em que aceitei ir com você…
— É tarde demais para chorar pelo leite derramado, amiga. Veja pelo
lado bom… Agora você tem memórias para colecionar. As melhores para ser
mais exata.

— Tá de brincadeira, não é? Não sei o que foi pior. — Resmunga. — Eu


ter ficado com alguém que visivelmente se arrependeu por constatar a
verdade ou o fato de você ter ficado com um homem que para completar tem
uma família.

— É isso que chamam de desgraça. — Dou de ombros. — Vamos


trabalhar.

Eu me levanto da cadeira em um rompante.

— Nada como uma mente ocupada para esquecer os problemas.

— Isso. — Marya concorda, balançando a cabeça positivamente.

Eu espero que sim.

O turno na boate começou cedo, pois irá acontecer uma festinha


particular para um casal de noivos no andar de cima e fomos escalados para
servir as bebidas. Eu estou um pouco cansada depois de ter passado o dia
fazendo faxina com Marya e ainda tenho que passar algumas horas em cima
do salto, andando para lá e para cá.

Está a cada vez mais difícil ter dois empregos.

Andei pensando nas palavras ditas por Adriele poucos dias atrás, sobre
ficar apenas com o serviço da boate, mas o amor e consideração que tenho
por Marya, bem como por aquela casa, me fazem recusar. O que me motiva a
continuar me dividindo em duas é o sonho de entrar na faculdade, o qual se
aproxima devagar.

Degrau por degrau.

— O senhor Vassiliev pediu para deixarem uma bebida em sua sala.

Adriele comunica ao me entregar uma bandeja.

— É sério isso? — Seguro sem ter outra opção a não ser ir até ele.

— Isso mesmo. Vá lá, pois estou muito ocupada aqui, amiga.

Solto um suspiro fundo e concordo com a cabeça. Despeço-me dela e


saio caminhando em direção à sala em que o nosso chefe aguarda. Eu não
fazia ideia de que o maldito bonitão estava por ali, pois não o vi quando
cheguei. Droga!

Paro em frente à sala e toco na porta.

— Está aberta.
Escuto sua voz rouca e assim entro devagar.

— Com licença, senhor Vassiliev. — Ando em sua direção para tirar a


bebida da bandeja e servi-lo, como faço com todos os outros clientes da
boate.

— Por que fugiu daquele jeito e não me deu o benefício da dúvida?

— Não temos nada para conversar, senhor — sussurro baixinho.

— Quem decide isso sou eu, porra! E antes que diga mais alguma
coisa… Aquela era a babá da minha filha — diz de uma vez. — Eu sou
viúvo, Anna.

Fico parada, estática com sua revelação e ao mesmo tempo aliviada por
dentro.

— A minha esposa morreu no parto e deixou uma filha para eu cuidar.


Essa é a verdade sobre mim e você nem sequer me deu espaço para contar
naquele dia.

Oh, merda! Isso é mil vezes pior.


ANDREY VASSILIEV

Anna simplesmente resolveu me ignorar.

Eu consegui o seu número de telefone com a sua amiga que trabalha em


minha boate e desde então venho tentando entrar em contato com a irmã da
minha esposa, enviei algumas mensagens, até mesmo cheguei a ligar, mas
foram tentativas fracassadas.

Todas elas.

É claro que isso se deu por ter descoberto que sou viúvo e tenho uma
filha, como se esses detalhes fossem motivo suficiente para me ignorar, como
se o que tivemos não tivesse tido significado algum. Eu deveria tomar a
mesma posição que a garota e me afastar, manter distância, mas me via outra
vez indo contra meus conceitos.
Era um erro.

Eu sabia que estava pagando a língua por ter batido no peito ao afirmar
que jamais me envolveria com a mulher que lembrava fisicamente a minha
falecida esposa, mas não foi exatamente isso que fiz. Ao beijá-la e tocá-la
sexualmente, passei por cima de uma linha tênue perigosa, pois me via
enfeitiçado por Anna.

Embriagado.

Perdido.

Não era o certo e eu sabia que iria pagar caro por isso. Ao me deixar ser
seduzido pelo pecado, junto trazia a garota para a minha teia de mentiras,
uma vez que não seria capaz de abrir a boca e revelar a verdade envolvendo
seu passado e Angelina.

Eu posso estar cego de paixão, desejo pela Anna, mas isso não me faz
confiar e contar de uma vez que andei investigando sua vida. Isso sem falar
no exame de DNA que encomendei sem o seu conhecimento e que só
comprovou o que estava bem nítido.

Elas eram irmãs.

Anna não faz a mínima ideia de que o exame de rotina que realizou na
boate nada mais foi que um pretexto que usei para fazer o teste comparando
com o da minha filha, colocando assim um ponto-final em todas as minhas
dúvidas. A verdade não me surpreendeu. Ainda que uma parte de mim tivesse
desejado que aquele DNA viesse com um resultado negativo, não foi isso que
aconteceu.

O resultado saiu faz poucos dias e só quem sabe é o meu primo Viktor.
Ninguém além do bastardo precisa ter conhecimento disso, uma vez que irei
esconder a sete chaves. Se um dia cogitei contar à garota ou a minha filha,
esse desejo morreu no instante em que me envolvi sexualmente com Anna.

Eu estou dentro de um fogo cruzado.

O certo seria me manter distante, o mais longe que conseguir, queimar


os dados desse exame e deixar as coisas como estão, no entanto anseio por
encontrar Anna, beijá-la, entre tantos outros pensamentos obscenos que
passam pela minha cabeça desde que a vi sair pela minha sala, depois de
ouvir o que temi tanto contar.

Se a desgraçada não tivesse cruzado meu caminho naquele dia, nunca


teria revelado esses detalhes tão íntimos e que poucos sabem. Sou visto pela
sociedade como imperador dos diamantes por ser um dos homens mais ricos
do país, mas a forma como conduzo minha vida pessoal não é uma pauta
pública.

As notícias que publicam por aí sobre mim são relativas e não revelam
nada importante, além das minhas aparições em eventos sociais e negócios
selados. Eu tenho todo cuidado para assuntos pessoais não caírem nas mãos
erradas, assim como privei à minha filha pequena para não ser exposta em
revistas ou sites.

Ninguém nunca fotografou seu rosto ou o de Angelina nesses últimos


anos.

Isso é um fato importante e que me assegura, pois assim não há o risco


de Anna procurar na internet informações sobre mim e se deparar com o rosto
da irmã. Por sorte, sempre fui atento e tirei do ar tudo que a envolvia desde o
nosso namoro.
As pessoas sabem que fui casado e que tenho uma herdeira, mas nunca
obtiveram informações necessárias para expor nas manchetes por aí. Eu sou
ardiloso e sei que isso me dá segurança, em caso de qualquer tipo de ameaça
ou emboscada.

É o preço que se paga por ter tanto dinheiro.

Torna-se um alvo para inimigos.

O telefone na mesa do escritório toca e estendo a mão para atender.

— Senhor Vassiliev — minha secretária cumprimenta. — Nikolay


Lansky se encontra na recepção. Posso liberar a sua entrada?

O desgraçado do mafioso.

— Não deveria perguntar isso, sabe muito bem que sim. — Engulo em
seco.

Eu tenho uma aliança secreta com o chefe da máfia faz muitos anos e
esse acordo se mantém forte uma vez que eu esteja sempre disposto a fazer o
que ele queira.

— Ok. — Ela encerra a chamada e em seguida coloco o telefone no


mesmo lugar.

O que esse bastardo quer tão cedo?

As suas visitas à minha empresa Vassiliev’s Diamonds não costumam


acontecer com frequência, além de que o desgraçado nunca vem
pessoalmente selar nada, é sempre um de seus irmãos que assume a liderança.
Eu os conheci em um evento renomado que aconteceu tempos atrás e desde
então venho facilitando algumas coisas para o todo-poderoso expandir seus
negócios ilícitos pelo país.

— É sempre bom vê-lo, Imperador.

A porta é aberta e o vejo passar ao lado de seus seguranças.

— Resolveu sair do castelo para colocar a mão na massa, Nikolay? —


digo.

— Às vezes é necessário dar uma pausa na matança para assumir outra


posição. Você sabe como essa merda funciona. — Gesticula com os dedos.

Observo-o se sentar em minha frente, impassível e sério. Nunca o vi


sorrir.

— Então? — Eu me ajeito na cadeira, ansioso pela próxima ordem do


bastardo.

— Vim convidá-lo pessoalmente para o meu noivado.

Por essa não esperava.

— Parabéns! Nunca pensei que fosse um desses homens… Desculpe —


brinco. — É que o vejo em eventos sempre com mulheres diferentes.

— Preciso que o conselho me deixe em paz e para isso tenho que me


casar. Além do mais, não é como se eu fosse me apaixonar pela minha
esposa, é só um acordo.

— Obrigado pelo convite, Nikolay — é tudo que digo.

— No entanto, preciso que descubra algo para mim, Imperador. —


Vejo-o tirar do terno um papel e jogar na minha mesa. — Esse bastardo
andou causando confusão em uma das boates da nossa família e machucou
uma das garotas…

— Preciso lembrá-lo de que não sou policial ou algo do tipo? — Olho


para o papel.

Vejo a foto de um desconhecido.

— Pouco me importa se é ou não, Imperador. Eu preciso encontrar esse


estorvo e colocar no mínimo três tiros em sua cabeça, fui claro o bastante?

Aperto o punho com força.

Desgraçado!

Se não temesse tanto pela segurança da minha família, seria capaz de


matá-lo.

Só que não é uma das coisas mais fáceis do mundo executar o chefe da
máfia.

— Ok. Vou tentar usar os meus meios para encontrar esse homem —
falo rouco.
— Ótimo! Conto com sua presença em meu noivado?

— Farei um esforço. — Forço um sorriso.

— Não se esqueça de levar a sua filha, será um prazer vê-la. Suponho


que esteja grandinha, não é mesmo? — o desgraçado menciona o meu ponto
fraco.

— Era só isso que tinha para falar, Nikolay? Tenho uma reunião em
minutos…

— É só isso. Nos vemos por aí, Imperador.

Balanço a cabeça para o lado.

Agora tenho que me desdobrar em dois para investigar algo para o


mafioso.
ANNA RURIKOVA

— Eu não sei se isso foi uma boa ideia… Quando, em toda minha vida,
pensei que estaria em um lugar desses? — Marya murmura, toda descrente.

— Nunca é tarde para mudar a realidade. — Dou de ombros. — São só


algumas horinhas. Depois, se quiser ir para casa, posso chamar um carro de
aplicativo.

— E correr o risco de ser assassinada? Sequestrada? Eu nunca pisei


neste lugar, mais precisamente nesta parte da cidade, Anna. — Solta um
suspiro longo.

A minha amiga faz um pré-julgamento errado sobre todas as coisas. Não


importa o quanto eu tente convencê-la do contrário, Marya deduz tudo
errado.
— Eu posso pedir a alguém daqui para levá-la a casa, tudo bem?

— Desde que chegue viva, tudo certo. — Revira os olhos com desdém.

— Você tem que relaxar um pouco, ou vai ficar com cabelos brancos. —
Rio.

— Já te disseram que seu humor é péssimo?

— E já te falaram que você é uma velha para alguém que nem chegou
aos trinta?

— Isso é questão de meses. Que tal conversar menos e me servir uma


bebida?

É a minha vez de revirar os olhos e concordar com a cabeça.

Caminho para dentro do bar e peço para um dos rapazes preparar uma
bebida para a minha companhia da noite, já que a minha outra amiga
bartender não está por aqui. Adriele pegou uma virose e está de licença
médica por alguns dias; enquanto isso outra pessoa assume o seu papel na
boate.

Convidei Marya para me acompanhar no trabalho com a intenção de vê-


la sair da rotina e se divertir um pouco, afinal nos últimos dias está um mar
de tristeza. Desde que soube que Pavel foi embora, a minha amiga se afundou
em dor.

O seu olhar após a partida do bonitão é impassível, acinzentado, nem


mesmo se dá ao trabalho de me provocar com piadinhas, pois até para isso
tem perdido o gosto. Eu sinto muito por vê-la assim e foi movida por isso que
decidi chamá-la para conhecer a boate, assim iria se distrair com as
apresentações.

Nessa noite uma banda eletrônica irá tocar, acompanhada em seguida


pelas meninas que apresentam um número de dança sensual, o que é um
verdadeiro espetáculo para ser assistido, leva à loucura os ricaços que
frequentam a boate.

Eu até tentei aprender alguns passos com as meninas esses dias, mas não
é algo que eu queira levar adiante, pois gosto do meu cargo em que só preciso
servir bebidas. Meu tempo neste lugar está se esgotando, pois logo a garota
que estou substituindo voltará para assumir seu posto, então, caso queira
continuar, terei que falar pessoalmente com o dono.

Andrey.

Só de pensar nele um calor sobe percorrendo todo o meu corpo.

Estou correndo dele assim como o Diabo foge da cruz, ainda mais
depois de ter conhecimento de que tem uma filha pequena e uma esposa
morta. É claro que esse detalhe não me soava desconhecido. O babaca tinha
me contado naquele dia em que me confundiu com a esposa, mas confesso
que eu tinha me esquecido disso.

Me confundiu…

Engulo em seco só por lembrar.

Não consigo mais ficar perto dele sem que a insegurança venha com
força. Andrey está tentando brincar comigo, assim como talvez esteja me
usando enquanto imagina que sou outra. Será que me beijou pensando na
mulher que julgou ser idêntica a mim?
Será?

Eu sou realmente idiota por ter me permitido ir tão longe assim.

O babaca descobriu o meu número e desde então não me deixa em paz.


São mensagens diárias, ligações constantes, que de certa forma me sufocam.
Andei muito perto de bloqueá-lo, mas sei que isso só iria atiçar a sua fúria.

Assinei a minha sentença naquele maldito dia.

Eu não tenho muita saída e trabalhar no lugar de que ele é o dono não
ajuda em nada. O certo seria ir embora e dar um jeito para que não me
encontre mais. Mas como fazer isso? Não sei por onde começar ou qual passo
dar primeiro.

A sorte esteve ao meu favor por não o ter encontrado mais na boate.
Acabei descobrindo com uma das funcionárias que Andrey não costuma vir
com frequência, a não ser para tratar de negócios, o que me dá um pouco de
fôlego.

É tempo para pensar, é claro.

— Fique à vontade para beber o que quiser, tá? — falo com Marya.

Logo o rapaz vem servi-la com um drinque especial feito pela casa.

— Está com tanto dinheiro assim para me bancar? Isso deve ser caro. —
Ela recebe a bebida e faz uma careta. — Eu não quero ficar bêbada, espero
que isso não…
Ergo um dedo para que pare de falar.

— Pode beber sem medos, Marya. Você está segura aqui. — Sorrio de
lado. — Vou deixá-la um pouco sozinha, ok? Eu tenho que ir lá em cima
checar umas caixas que chegaram, pois Adriele não está aqui e a mulher me
pediu para fazer isso — comento.

Recebi essa ordem assim que pisei os pés no trabalho. Maryanna é a


responsável pelo bar e vive para dar ordens. No entanto, eu ainda não
encontrei tempo para executar a função que foi solicitada. Até agora.

— É, você disse… Uma pena. Estimo melhoras à coitadinha — diz com


desdém.

Nego com a cabeça.

— Se cuide. Eu volto logo. — Passo para fora do bar e me despeço dela.

— Sei me cuidar, não é como se tivesse menos de vinte anos…

Não dou atenção e a deixo delirando sozinha.

O movimento da boate ainda está fraco e só irá aumentar mais tarde,


sempre é assim. Subo pela escada que leva ao sótão, onde devo averiguar o
material que será reposto no bar e anotar em uma planilha que será enviada à
direção do lugar. É um procedimento padrão de segurança para, caso o
produto comprado seja entregue, enviar uma notificação à empresa
transportadora.

Pego a chave no bolso do meu uniforme, onde a coloquei poucos


minutos antes de vir, paro em frente à porta e abro com cuidado, entrando
logo em seguida.

Fico surpresa ao ver que o local está com as luzes acesas.

— Oi? Tem alguém aí?

— Por que demorou tanto?

Andrey. Paro no meio da sala, quase sem entrar.

— Está tentando fugir de novo, sereia? Ainda não se deu conta de que
não conseguirá se ver livre de mim? A menos que tente me matar… — Vejo-
o sair por trás das caixas e pairar em minha frente. — É bom revê-la
novamente, Anna.

Foi tudo um plano seu.

— Pelo visto não tem nada para checar aqui… — Dou um passo para
trás.

— Não tente ir embora — diz rouco. — Pare de tentar fugir de mim,


porra. Eu não sou um monstro e tampouco serei capaz de machucá-la,
entendeu? Tudo que quero é entender por que saiu daquele jeito da minha
sala e não atende às minhas ligações? Estou há dias tentando entrar em
contato, mas então sou ignorado.

Cruzo os braços e suspiro fundo.

— Não há muito que falar, senhor. Pensei que tudo estivesse claro entre
nós… O que tivemos foi um envolvimento rápido e que deve ficar no
passado.

— Isso é só porque sou viúvo e tenho uma filha? — pergunta, sem tirar
o olhar do meu.

— Bem longe disso, Andrey. Não é um problema. — Forço um sorriso.


— O problema em questão é que esqueci que, na primeira vez que me viu
aqui, me confundiu com uma mulher que por sinal era sua esposa. Como fui
tonta… Eu deveria ter associado uma coisa à outra, mas me deixei ser
seduzida.

— O que quer dizer com isso, porra?!

— Já esqueceu daquele transtorno que me fez passar? Quando me


confundiu com alguém? — Pisco os olhos, engulo em seco.

— Pelo que me lembro, foi um engano da minha parte e deixei bem


claro isso. Por que agora está trazendo de volta esse assunto? — Aproxima-se
devagar. — Foi um erro e peço desculpas… Sei que já deveria ter pedido isso
antes, mas nunca é tarde, não é? — Seu olhar percorre o meu, captando cada
reação do meu corpo.

— Não sei… Só me veio à cabeça que pode estar brincando comigo,


quem sabe me usando só por me julgar ser parecida com alguém do seu
passado. Quem sabe?

— Caralho! Tire isso da cabeça, porra! Quantas vezes vou precisar dizer
que foi um erro? Eu estava embriagado naquela noite, Anna, foi um lapso de
delírio. — Sua mão toca o meu rosto com cuidado, faz uma leve carícia. —
Nunca brincaria com você, sereia, pois nem mesmo tenho mais idade para
joguinhos assim.
Eu deveria dar um voto de confiança? É claro que não, mas ainda assim
acredito. Andrey parece estar usando da sinceridade ao expor seus
argumentos, consigo sentir isso, e é claro que não sou nenhuma alienada, sei
que naquela noite o bilionário estava bêbado ao me abordar da maneira mais
errada possível.

Um alerta na minha cabeça me manda correr enquanto o outro diz para


ficar.

Um impasse.

— Só dessa vez… — Mordo a ponta do lábio. — Vou tentar acreditar


em suas palavras. No entanto, se for uma mentira. — Ergo um dedo. — Corto
o seu pau.

— E seria mesmo capaz de fazer isso com o brinquedo em que ainda


nem teve a chance de sentar, Anna? Quanta agressividade, sereia.

— Nunca duvide da força de uma mulher enganada, bonitão. — Sorrio.

— Feche a porta. Agora.

Vejo o seu sorriso malicioso brotando no rosto. Eu estou fodida.


ANDREY VASSILIEV

Anna só pode estar brincando com a minha cara, uma dessas piadas de
muito mau gosto por sinal, afinal não tenho mais idade para brincadeirinhas
do tipo.

É claro que não vejo outra quando a beijo, quando a toco com desejo,
nem mesmo teria a ousadia de dizer que a estou usando como cópia para
tapar buraco deixado por outra. Eu a desejo por quem ela é, assim como
consigo vê-la exclusivamente sem pensar em mais ninguém, afinal sua
essência é única.

Estou atraído por uma mulher que de inocente só tem a virgindade e que
cruzou o meu caminho. Dona do olhar mais puro, meigo e transparente que já
vi em todos os meus anos de vida. Vejo-me enfeitiçado por cada pedacinho
seu, até mesmo pelos contrastes físicos que a tornam diferente, especial,
desde o contorno do rosto até os lábios pequenos e a manchinha que tem
perto do olho.

Ela é única.

Não atuo movido por uma fantasia ou ilusão pregada pela minha cabeça,
muitos diriam isso se tivessem conhecimento, mas a verdade é outra. Eu sou
um homem mais velho, maduro, bem resolvido a ponto de assumir que estou
totalmente rendido pela mulher mais improvável que surgiu em meu
caminho, apenas por ela ser quem é, sem ligação com mais nenhuma outra,
na mesma proporção em que sei que Anna não pode ser oficialmente minha
por tudo que nos separa.

Mas, entre quatro paredes, posso tomá-la como minha.

Só que a garota em minha frente não é qualquer uma por aí que já fodi,
está visível a sua insegurança, o medo de ser enganada e usada como cópia de
outra.

Eu nunca seria capaz disso.

Existem coisas sobre o seu passado que não irei revelar, não quando
ainda estamos nos conhecendo, mesmo que da maneira errada. Não é o
momento certo para fazer isso, pois temo as consequências que virão em
seguida.

Poderia perdê-la em um único estalar.

Tempo ao tempo.

Eu primeiro irei fazê-la sentir na prática o quanto a desejo como mulher,


sem pensar em nenhuma outra, assim como irei provar que esse desejo é
exclusivamente seu. Nessa equação não há espaço para terceiros.

Não.

Isso nunca.

— Não posso fechar a porta… Eu tenho que voltar ao trabalho.

Sua voz me traz de volta à realidade, eu me encontrava perdido em


pensamentos.

— Não foi um pedido, Anna. Feche a porra da porta. Não vou voltar a
repetir.

Passo a língua nos lábios e não consigo parar de idolatrar seu corpo com
o olhar.

— Odeio que tenha tanto poder sobre minhas ações. — Solta um


rosnado, mas sai batendo o salto alto no chão em direção à porta para trancá-
la. — Não tenho muito tempo para… essas coisas — diz e se vira fazendo
gestos com os dedos.

— Tempo para foder? Para gozar gostoso? — Avanço feito um animal


em sua direção. — Sério que não tem tempo para isso, Anna? — pergunto,
rouco.

— Sereia. Eu prefiro que me chame assim.

Encurralo-a contra a parede, vendo-a ofegar com minha aproximação.


— Hoje vou começar pela sua boceta. Não quero essa boca gostosa. —
Passo os lábios nos seus. — Por mais que esteja tentado a beijá-la, primeiro
vou começar saboreando o meu paraíso particular, de que fui privado naquele
carro.

— Não… Não é apropriado fazer isso. — Morde a ponta dos lábios.

— Que se fodam as regras, sereia! Eu vou chupá-la e nada me fará


parar, ouviu?

— É que… — Seus olhos se fecham. — Não me preparei para fazer


isso.

Logo consigo identificar a que se refere.

— Foda-se, porra! Não me prive do seu corpo por causa de pelos bobos.
Agora, se ofereça para mim e deixe os olhos abertos para ver o que farei com
sua boceta. — Eu me contenho para não a beijar e cumprir com a minha
promessa.

Anna abre-os, encarando-me e a vejo ofegar baixinho.

— Não ouviu o que disse, porra?

— Mandão! — Pragueja brava.

A garota em minha frente se contorce, abrindo as pernas devagar para


me dar acesso, o que me faz sorrir por vê-la se permitir embarcar em minha
loucura.
Anna não tem um pingo de receio, nem mesmo se dá ao trabalho de ir
contra as minhas regras, tampouco consigo ver medo em seu olhar, só
excitação.

Parecemos peças que foram feitas para se encaixarem.

Dou uma última olhada para minha garota antes de me ajoelhar em sua
frente, passo as mãos em suas pernas torneadas e trato logo de erguer o seu
vestido, deixando-o enrolado na barriga. Sou presenteado com uma visão da
sua boceta coberta pela calcinha simples de algodão, o que só serve para me
enlouquecer.

O rastro da sua lubrificação não me passa despercebido e a abro um


pouco mais com os dedos. Coloco a peça fina para o lado e enfim vejo o que
tanto sonhei por dias. É ainda mais linda do que previ, delicada, pequena,
mesmo que os pelos escuros cubram esse manjar; pouco me importa, afinal
depois irei fazê-la tirá-los.

Por ora, isso não será um empecilho. Ela poderia estar coberta de sangue
que ainda seria capaz de chupá-la. Que homem seria se tivesse nojo da minha
companheira?

— Não tente me tocar ou perderei o controle, ouviu? Mantenha as mãos


para cima, pode apertar os seios, o que quiser, mas não ouse tocar em mim…

— Por… Por quê? — sussurra, ofegante demais.

— Eu não vou fodê-la nesta sala, Anna! Você merece muito mais que
isso — deixo claro. — Hoje só quero fazê-la sentir prazer e me alimentar do
seu orgasmo.

— Oh, minha nossa! — O rubor domina seu rosto.


Sorrio satisfeito.

Volto a admirar sua boceta, que agora é minha, e sinto a boca salivar
para prová-la. Cutuco a sua entradinha com os dedos, vasculhando cada
pequeno detalhe seu, então trago os lábios até sua intimidade, circulando a
língua em volta do clitóris.

Deliciosa…

Seu sabor me embriaga, coloco cada perna sua em volta do meu ombro,
deixando-a totalmente aberta para que me dê liberdade para tocá-la. Esfrego o
rosto em sua boceta, fissurado pelo cheiro feminino, único, querendo gravá-lo
na mente para que nunca mais consiga esquecer, se é que isso seria possível.

Eu nunca ousarei esquecê-la.

Desesperado, abocanho sua boceta com fome, bebo seu prazer, circulo a
língua em sua entrada apertada e faço movimentos. Anna começa a gemer
alto, sem se importar que qualquer pessoa possa passar por aquele corredor e
ouvi-la. Pouco me importo em avisá-la, pois isso é como música para os
meus ouvidos.

— Grite mais alto, caralho! Que boceta gulosa você tem, sereia… Veja.
— Mamo sem piedade, sentindo-a se lubrificar cada vez mais. — Quente!
Minha!

— Ah!!! Andrey!

— Sim, sereia. Eu vou dar tudo que você quer. — Afasto-me da sua
intimidade a fim de molhar os dois dedos e enfiar em sua fenda, com cuidado
para não tirar sua virgindade. — Não sabe o quanto quero fodê-la, tirar a
porra desse lacre.
— Eu quero. Quero que seja você. — Rebola sem pudor em minha cara.

— É claro que serei eu a reivindicar esta boceta como minha, caralho!


Se um dia cogitar fazer isso com outro, considere o bastardo como um
homem morto. — Estoco os dedos devagar, volto a chupá-la com força e
precisão.

— Ah… Sim… É só você. — Anna começa a rebolar, desesperada por


mais.

— Então encha minha boca com seu mel, desgraçada. Me dê tudo que
me pertence. — Fodo com mais rapidez, circulando-os, mamando na sua
boceta sem piedade, até que a sinto quicar em busca de mais, sempre por
muito mais.

— Andrey! Ai, porra! — Anna joga a cabeça para trás e começa a se


desmanchar em minha boca, uma cena exuberante e linda, para ser exibida
em um quadro.

A porra do meu quadro.

Minha.
ANNA RURIKOVA

Um caminho sem volta. É assim como me sinto.

Exatamente assim.

A primeira vez trancada naquela sala com Andrey, que nada mais é que
meu chefe, foi só a primeira de muitas outras que aconteceram desde então. O
babaca passou a ir todas as noites à boate e sempre dá seu jeitinho para me
pegar, me encurralar contra uma parede com as portas fechadas onde tudo
acontece.

Andrey me toma sem dó ou piedade.

Eu perdi a conta de quantas vezes gozei em sua boca, seus dedos. Outras
vezes sou golpeada pelo seu gozo, que inunda meus seios, até mesmo na
boceta, pois o meu chefe se toca descaradamente na minha cara, dando o
vislumbre do seu pau.

E que pau!

Andrey tem um mastro enorme, coberto de veias, grosso demais, e


cheguei à conclusão de que não irei aguentar receber aquilo tudo sem ser no
mínimo rasgada. No entanto, ele afirmou com todas as letras que irei dar
conta e pedirei por muito mais.

Eu duvido disso.

A única pessoa que sabe do nosso envolvimento é Adriele, que me dá


cobertura para fugir e dar uma escapada em cima do colo do nosso chefe, sem
que os outros funcionários tenham conhecimento do que de fato acontece
entre nós.

Eu tenho muito cuidado quanto a isso, mas Andrey parece não se


importar com nada, ainda mais quando me chama na frente dos outros para ir
servir uma bebida em sua sala. Nesses momentos ele pega no meu braço com
um gesto espontâneo, assim dando a entender que temos uma intimidade que
vai muito além do trabalho formal.

É questão de tempo até que todos estejam falando.

Por enquanto estamos mantendo essa relação baseada em orais, toques,


até dar o último passo, que será a penetração. Mas acho que isso está cada
vez mais próximo de acontecer, ao passo que nos envolvemos. Estou certa de
que Andrey será o meu primeiro homem, pois quero viver todas as aventuras
sexuais com ele.

Todas.
No caminho em busca disso irei blindar meu coração, pois é muito óbvio
que não iremos passar de sexo, afinal Andrey é muito poderoso, tem uma
família, uma filha e me incluir nisso não faz parte dos seus planos, ao menos
é o que me faz pensar. Ele nem sequer fala sobre um possível
relacionamento, sua intenção comigo não passa de desejo sexual, assim como
também me sinto em relação ao meu chefe.

Eu tenho maturidade suficiente para lidar com isso de maneira sensata,


uma mulher de mente formada, maior de idade e vacinada, afinal também
tenho o direito de me sentir atraída sexualmente por ele ou qualquer outro,
desde que não passe disso.

— Nem acredito que uma coisa dessas esteja acontecendo. — Marya


entra na cozinha, nervosa.

Desde o dia em que a levei à boate para se divertir, ela vai sempre que
dá. Eu adoro vê-la por lá, assim como aprecio a forma como vem se
permitindo viver.

— O que aconteceu? — pergunto.

Estou mexendo uma massa para um bolo que irei levar para assar.

— Sério que não viu? Está brincando, não é mesmo? — Ela para na
minha frente, cruzando os braços.

— Eu juro de dedinho que não sei do que está falando. — Dou de


ombros.

— O desgraçado do Pavel… Ele tá aqui — sussurra o final baixinho. —


E sabe o que é pior nisso tudo? Ele não para de me mandar mensagem.
Franzo o cenho.

Eu não sabia que o filho da nossa chefe estava de volta ao país.

— Quando ele voltou? — pergunto.

— Hoje. Acabei de vir lá do quarto dele — conta e arregalo os olhos. —


Não é nada disso que está pensando. Eu só fui lá para levar umas mantas que
a mãe dele pediu.

— Estou surpresa, é só isso. E quanto às mensagens? Como pegou seu


número?

— Aposto que foi alguma pessoa que trabalha nesta casa, quem sabe o
motorista? Ah. — Cruza os braços. — Pouco me importa quantas mensagens
mande…

— E o que ele tanto te disse para deixá-la assim?

— Talvez tenha dito que não consegue me esquecer? Que, sei lá, quer
repetir?

— É só admitir que sente o mesmo, afinal passou as últimas semanas na


fossa. — Dou de ombros. — Um date quem sabe possa resolver as coisas?

— Você é uma péssima amiga, Anna! — diz com desprezo.

E eu sei que é só para me provocar.

— Eu não posso me envolver com ele ou serei demitida, caso


descubram.

— É para isso que existem hotéis, já ouviu a palavra segredo? É só ficar


e deixar isso em off. — Pisco um olho para a minha amiga.

— Não sabe o quanto isso é perigoso, é como assinar a minha demissão.

— Ninguém vai descobrir, Marya. Me dê aqui seu celular — peço.

— Jamais! Pode voltar ao seu trabalho aí. — Gesticula com os dedos.

Eu me levanto após finalizar a massa e sigo para a pia a fim de lavar as


mãos.

— Como você é boba, amiga. O que custa ceder um pouco? Os dois são
pessoas adultas, podem facilmente resolver esse assunto com uma conversa.

— E é movida a isso que você tem chegado em casa com marcas no


pescoço?

Dou um risinho e seco as mãos.

— Quando vai me contar quem é o cara que está deixando você


imprudente?

Eu ainda não lhe contei sobre isso, pois não achei necessário, já que não
tenho um rótulo e presumi que fosse me julgar por estar me envolvendo com
o meu chefe

— Ainda é cedo para revelar a identidade dele — digo.


— Espero que não seja quem estou pensando, ou se esqueceu de que o
bilionário lá tem uma esposa e uma filha?

Solto um suspiro fundo.

— Viúvo. Eu descobri… Uma pessoa me contou sobre isso — minto.

— Por que será que não consigo acreditar nisso, Anna?

— Deve ser porque só faz isso na maioria do tempo — falo brava. —


Nunca acredita em mim, sempre faz pré-julgamentos antes de qualquer coisa.

Literalmente, eu a deixo sem palavras e com a boca aberta.

— Anna… — diz baixinho.

— Vou precisar sair. Pode terminar o bolo? — peço com educação.

Pego o meu celular no bolso da calça e vejo que há uma notificação.


Desbloqueio o aparelho e leio a mensagem enviada por Andrey há pouco
menos de um minuto.

Andrey: “Esteja neste endereço. Faça tudo o que for necessário. Não
vejo a hora de fodê-la…”

Arfo só por ler.

No nosso último encontro, Andrey me pediu para ir a um ginecologista a


fim de fazer uso de um método contraceptivo, após ter conhecimento de que
eu não usava nada para fazer o controle de natalidade. Eu concordei, não está
em meus planos lidar com uma gravidez, ainda mais gerar um filho de um
homem que nunca me amaria.

Coincidentemente, a consulta está marcada para hoje às nove e meia da


manhã.

Eu: “Ok.”

Envio e guardo o aparelho.

— Quer que eu a acompanhe? — Marya fala toda mansa.

— Não. — Despeço-me dela e saio da cozinha em passos rápidos.


ANDREY VASSILIEV

DIAS DEPOIS

Eva traiu Adão por ter provado o fruto proibido.

E eu pequei contra mim mesmo por ter me envolvido com a gêmea da


minha esposa morta. Eu fui contra todos os meus malditos conceitos e estou
sentenciado ao fogo do Inferno por simplesmente não conseguir me afastar de
Anna Rurikova.

Nada no mundo será capaz de tirá-la de mim.

É um erro sem perdão e eu tenho pleno conhecimento disso, mas nem


saber isso me fará recuar e desistir de tê-la. O monstro que habita em mim a
tomou como propriedade, como sua mulher e não tem menor pretensão de
deixá-la ir embora.

Não é uma opção.

No entanto, sei que assim que Anna souber que escondo segredos que
envolvem seu passado com a irmã perdida, nunca me perdoará por essa
omissão. Eu, em seu lugar, faria o mesmo, para ser sincero, mas por mim essa
revelação me acompanhará até o túmulo, mesmo que seja algo considerado
impossível.

Ao passo que as pessoas tiverem conhecimento do nosso envolvimento,


ainda que não passe de sexo, irão associar uma coisa à outra.

A verdade está visível para quem quiser ver e me surpreendo de que


ninguém ainda tenha feito a comparação entre as duas garotas gêmeas. Talvez
seja porque Angelina nunca tenha sido uma pessoa assídua na boate, sempre
foi muito reservada, certa demais, e se manteve longe até mesmo da mídia.

As pessoas só sabiam da existência da mãe da minha filha quando eu a


levava a eventos. Isso me dá um pouco mais de espaço para encontrar uma
saída.

Anna ainda não sabe sobre a irmã falecida, tampouco viu alguma foto
sua, o que me dá mais tempo para fazer as coisas da maneira mais correta
possível. Eu não posso aparecer com a garota em nenhum lugar público, nem
mesmo levá-la para minha casa, além de que preciso ter cuidado para que
meus pais não sabem.

Não posso correr o risco de que algo saia do que está planejado.

Só me resta curtir em segredo até que o inesperado nos pegue de


surpresa.
Os momentos quentes que vivo com Anna acontecem sempre na boate,
pois lá é o único lugar seguro, longe de tudo e onde tenho controle para que
ninguém ouse atrapalhar, o que torna tudo entre nós ainda mais quente e
perigoso.

Eu me acabo naquela boceta deliciosa, perco-me no seu sabor,


embriagado pela sua mistura inocente demais, em contraste com seu lado
lascivo, intrigante e faminto. Anna é uma mulher que sabe o que quer no
sexo, não tem pudor algum ou vergonha, sabe implorar, receber e me puxar
para a pura perdição.

A perdição que ela é.

Está cada vez mais difícil me controlar e por isso mandei que fosse à
ginecologista para uma consulta geral, garantindo assim o controle de
natalidade. Eu não quero ser pai novamente, nunca foi um desejo meu e, se
atualmente tenho uma herdeira, não foi por escolha minha, mas sim porque
Angelina foi contra a minha opinião.

Eu estou seguro, livre de doenças e sei que Anna igualmente, pois o


exame que fez na boate, além de provar o laço sanguíneo com a minha filha,
também indicava que era uma garota saudável, algo de que nunca duvidei,
para ser sincero.

Agora é questão de tempo.

Eu irei tomar sua virgindade.

Dou um gole na minha bebida e coloco o copo vazio na mesa. Sinto o


celular vibrar no bolso da calça e estendo a mão para pegá-lo. Visualizo logo
que é uma mensagem do meu motorista, que mandei passar na casa de Anna
para buscá-la.
“Estamos chegando.”

Leio o recado e guardo de volta o aparelho.

O Pakhan da Máfia, Nikolay Lansky, enviou um convite formal para


minha casa do seu noivado com uma jovem garota que foi entregue para ser a
futura esposa do todo-poderoso. O evento acontecerá dentro de algumas
horas em sua mansão e chamei Anna para me acompanhar, uma vez que não
há risco algum.

Aparecer com ela será seguro, pois as únicas pessoas que estarão ali para
prestigiar um acordo selado entre famílias são do submundo, além de outros
nomes importantes que estarão presentes. Não será a primeira nem a última
vez que irei a eventos assim, o que me dá ainda mais segurança.

Aproveito que tenho alguns minutos para ir ao quarto da minha filha e


cumprimentá-la. Eu ainda não sei exatamente como ser um pai presente, nem
mesmo sei como dar amor paterno, mas continuo me esforçando dia após dia.

Fiquei poucos segundos vendo a minha filha dormir, tão serena,


enrolada em uma manta colorida. Eu me despedi com um beijo no topo da
cabeça dela e em seguida saí de casa para esperar, na porta, o motorista que
viria me buscar.
Logo o Koenigsegg CCXR para ao meu lado, solto uma exalação e trato
de abrir a porta que já estava destravada, para entrar.

— Pensei por um minuto que estava sendo sequestrada — a voz suave


de Anna me faz sorrir. — Boa noite.

— Boa noite, sereia. — Eu me ajeito no banco para dar-lhe a devida


atenção.

Está linda.

Os cabelos estão penteados para trás, leva pouca maquiagem no rosto e


usa o vestido azul longo que comprei e enviei para a casa em que ela trabalha.
Anna por si só é bela, tem sua beleza natural, tão única. Ela não precisa de
muito para ser atraente ou despertar olhares. Sua simplicidade a torna única.

— Se estivesse sendo sequestrada, acredite que estaria indo para a cova


do leão. — Mordo a ponta do lábio, louco para beijá-la. — Eu seria porra de
um sortudo se a tivesse como minha refém.

— Suponho que nem sequer iria me alimentar… Eu no mínimo iria


morrer em suas mãos — brinca. É uma delícia vê-la rir, a forma como seus
olhos acompanham o movimento. — O que foi? Estou muito feia para ir a
esse tal noivado?

— Muito pelo contrário, printsessa. Você não está apenas linda, como é
linda. — Estendo a mão para tocar em seu rosto. — Só que essa noite está
ainda mais… Eu vou ter um pequeno infarto hoje pela quantidade de babacas
que irão cobiçá-la.

— Desde quando tem ciúme de mim? — Faz um bico com os lábios.


— Desde o dia em que sua boceta se tornou minha, Anna — digo sério.

— Assim você me deixa morrendo de vergonha. — Cutuca o meu


ombro com o dedo. — O que faço para levar essa sua boca suja, hum?

— Tenho múltiplas formas para fazer isso, talvez pode começar


levantando esse vestidinho e me alimentar um pouco com seu mel — rosno.

Meu pau já está completamente duro e pulsando pela maldita.

— Não podemos fazer isso — sussurra baixo. — Ou vamos perder o


noivado.

— Pouco me importa… Vem aqui, agora — peço rouco.

— Controle-se, Andrey. — Faz uma careta ao me repreender. —


Então… Quer me contar um pouco sobre esse tal noivado? Eu estou meio
curiosa desde a mensagem que recebi com o convite.

— É de pessoas importantes e perigosas, Anna. É melhor que não saiba


muito…

Seus olhos se arregalam com a minha resposta.

— Bandidos? Assassinos? Minha nossa! Eu não sei se vou me sentir à


vontade.

— Quase isso. Não precisa se preocupar, tudo bem? Não vou sair do seu
lado — prometo. — E outra, o noivo em questão é meu sócio em algumas
coisas.
— Eu não sei se isso me conforta ou se me deixa ainda mais apreensiva.

— Apenas tente se divertir um pouco, ok? É só um noivado bobo…


Estaremos algumas horas afastados da cidade, o que nos dará tempo para
aproveitarmos — comento com malícia. Tenho segundas intenções essa
noite. — Como foi na médica?

— Correu tudo bem e já estou tomando os comprimidos, senhor. — Dá


de ombros.

— Quer dizer que já posso encher sua boceta de porra? — Coloco a mão
em sua perna, aperto com força a coxa por cima do vestido. — Quero uma
resposta, Anna.

— Quem sabe? — murmura baixinho.

— Vamos descobrir, sereia. — Sorrio.


ANNA RURIKOVA

— Qual é o seu nome? — pergunto à garota que está ao meu lado.

Andrey saiu para cumprimentar algumas pessoas conhecidas e me


deixou confortável a uma mesa, onde fui servida com docinhos, entre outras
iguarias.

A viagem até o evento em que acontece o noivado demorou mais de


uma hora, o que deu tempo para o bilionário me atacar, sem se importar com
a presença do motorista que nos conduzia. No entanto, não passamos de
beijos e toques obscenos, sem ir muito além, eu não queria chegar à festa
com cara de quem deu uma escapadinha.

Ainda tive que retocar o batom, que borrou em meio a tantos beijos, por
sorte trouxe em uma bolsinha pequena com algumas coisas que poderia
precisar, dar uma leve alinhada no penteado, que andou muito perto de ficar
bagunçado com tanta pegação. Andrey é como um furacão, quando me toca
parece que quer me marcar, me devastar, nem mesmo me dá tempo e espaço
para respirar.

— Deborah Moretti, e o seu?

Poucos segundos que ele saiu do meu lado, uma garota veio se sentar a
minha mesa, como quem não queria nada. Confesso que fiquei um pouco
assustada com sua aproximação, mas desconsidero ao notar sua cordialidade
e simpatia.

Foi o que me fez relaxar um pouco.

O evento está bastante movimentado, bem-organizado. Há muitas


pessoas com rostos que nunca vi na vida e uma música suave ao fundo cuja
melodia desconheço. Não deixei de perceber que no meio do salão há um
símbolo, quase como um brasão, em destaque. Parece ser algo ligado à
família do noivo, ou da noiva, em questão. A decoração faz qualquer um
suspirar tamanho o luxo.

Sem dúvidas, todos aqui cheiram a dinheiro puro.

— Anna. — Sorrio de lado. — Anna Rurikova.

— Hum… Você é alguma coisa de alguém daqui? Filha de algum


conselheiro?

— Hã? Não. — Balanço a cabeça para o lado. — Eu não conheço


ninguém aqui. Só vim acompanhar uma pessoa — deixo claro. — E você? —
pergunto.
Deborah é uma garota muito jovem, até mesmo mais nova que eu; dá
para notar pelos seus traços angelicais. Provavelmente tem em torno de
dezoito anos. Os cabelos longos, em um ruivo tão vibrante que lembra o
fogo.

— Sim, sou — conta. — O meu pai é amigo do noivo, em outros


termos… O seu braço-direito dentro da máfia. — Suspira. — Só estou aqui
por falta de opção.

Ok. Tudo é muito confuso e me vejo sem saber o que responder.

— Posso te contar uma coisa? Acho que nunca mais vou te ver na vida
mesmo…

— Aham, pode, sim — é a única coisa que consigo falar.

— Eu amo alguém que está prestes a ficar noivo de outra e, sabe o que é
pior nisso tudo? Poucos dias atrás me vi envolvida com ele, mesmo sabendo
que era um erro.

Pego a minha bebida na mesa para dar um gole e digerir tantas


informações.

— Você está tentando me contar que é apaixonada pelo noivo desta


festa?

— Fala baixo, por favor. Se alguém escutar e contar ao meu pai, serei
morta.

— Pelo visto é muito mais grave do que cogitei — falo baixinho. —


Pode ficar tranquila, pois não irei abrir a boca para contar a ninguém. Eu
nunca vim para este lugar, nem mesmo conheço essas pessoas. — Faço um
gesto com os dedos.

— Acho que fui com a sua cara, Anna. — Ela dá um risinho.

Sorrio. Eu também gosto da garota ruiva.

— Sinto muito que esteja passando por isso. Ninguém merece ver
alguém a quem ama escolher ficar com outra — exponho minha opinião. —
Você é uma garota muito bonita e com certeza irá sobreviver ao primeiro
coração partido.

— Talvez. A nossa história é muito complicada… — Ela suspira fundo.

— Não precisa me contar se não quiser. — Dou de ombros. — Vamos


só tentar distraí-la para não ficar pensando muito. Me fala mais sobre isso de
máfia…

— Prefiro não falar sobre isso, entende? Ainda mais que o meu desejo é
me ver livre de tudo que envolve a máfia, pois agora que fiz dezoito é
questão de tempo até que o meu pai arrume um marido para me entregar de
mão beijada — sussurra.

— Isso não é meio antiquado? Estamos no século vinte e um, onde as


pessoas têm total liberdade para escolher se querem casar ou não — falo, um
pouco nervosa.

— Não quando se nasce dentro da máfia e filha de um mafioso que tem


um cargo importante como o do meu pai.

— Sinto muito por isso também, Deborah. — Estendo a mão para tocar
na sua. — Vou passar meu número, caso pense em visitar qualquer dia
desses.

Eu só conversei com a ruivinha poucos minutos e já sinto como se a


conhecesse há anos.

Uma conexão surreal.

— Não seria má ideia…

— Então me conta mais sobre esse seu tal envolvimento?

Deborah faz uma careta e começa a falar sem parar, enquanto escuto
curiosa.

— Pelo visto, gostou daqui, sereia. — Andrey acaricia com os dedos o


meu rosto. — Não parece um lugar muito improvável ou assustador?

Ele demorou um pouco para voltar, o que me deu tempo para me distrair
com a ruivinha, que me trouxe entretenimento ao compartilhar um pouco
sobre seu romance proibido com o único homem na face da Terra que ela não
pode ter.
Deborah foi embora assim que Andrey se sentou à mesa, despediu-se
com um abraço e prometeu entrar em contato após ter pegado o meu número.

— No começo senti um pouco de medo, tendo em vista o que você disse


no carro, mas consegui relaxar depois de ter passado esse tempinho falando
com a ruivinha.

— O que ela tanto te contou? — pergunta, curioso.

— É segredo. — Pisco um olho. — E sou muito boa em guardar


segredos.

— Falar isso me deixa, digamos, um pouco excitado, sabia? — sussurra


rouco. — Não aguento mais ficar aqui… Que tal estendermos a noite?

— E para onde vamos?

— O bastardo do Nikolay me deu as chaves de um certo lugar e


pretendo levá-la. Aceita?

— É claro que sim, afinal, quando foi que te disse um não?

— Muito bem, sereia, vejo que você aos poucos está aprendendo sobre
quem manda aqui… — Seu olhar percorre meu rosto e se fixa na minha boca.

E eu sei que o nosso momento chegou.

Finalmente iremos nos tornar um só.

Pecado.
Desejo.
ANDREY VASSILIEV

O motorista nos leva até um dos hotéis da família do mafioso, pedi ao


Nikolay um quarto para estender a noite com a minha acompanhante, afinal
aquela era a chance que tinha para tomá-la como minha e fazê-la enfim
mulher.

Bastou uma única ligação feita pelo bastardo para que a melhor suíte
fosse liberada, o que me deixou ainda mais afoito para pegar de uma vez
Anna e sairmos do evento no qual não aguentava ficar mais um minuto
sequer. O Pakhan da Máfia não chegou a dar evidências, pois sempre foi um
homem fechado, mas em uma ida minha ao banheiro vi algo que poderia
comprometê-lo e mudaria o seu noivado.

O mafioso está em maus lençóis.


Eu não disse a Anna, pois não queria trazê-la para o fogo cruzado, caso
alguém tivesse me visto perto da cena onde um quase escândalo aconteceu,
então era melhor mantê-la no escuro. Acabei flagrando o mafioso aos beijos
desesperados com a ruivinha, que estava sentada minutos depois à mesa com
minha garota.

Nikolay quase a devorou viva.

O bastardo agora tem em minhas mãos um segredo, dado que em uma


apresentação formal descobri que a ruiva é filha do seu melhor amigo. Se ele
um dia ousar me ameaçar por alguma coisa, usarei essa situação como
proteção.

O escândalo será grande.

Afinal, o desgraçado está noivo de uma garota de família importante. No


entanto, isso não vem ao caso. Eu deixarei esse acontecimento o mais off
possível, pois tudo que me importa é dar a Anna uma primeira vez à altura.

— Estou tentada a pedir as contas do meu trabalho e vir tentar uma vida
por aqui.

Viro-me para encarar Anna, que parece apaixonada por cada parte do
hotel. O motorista nos deixou em frente ao prédio poucos segundos atrás e a
conduzi para dentro. Fazemos o percurso todo em silêncio, dando tempo para
que a garota possa assimilar o que está prestes a acontecer e que mudará a
nossa vida.

Faço o check-in e assim seguimos para a suíte presidencial.

Já fui a vários hotéis, em países diferentes, mas sem dúvidas este ganha
de todos os outros, por todo luxo e decoração.
A janela dá a visão privilegiada da parte mais linda de Moscou.

— E vai me deixar? — Caminho em sua direção e a abraço devagar pela


cintura. — Quer ter um momento sozinha para tomar banho? — Beijo seu
ombro.

— Por que será que tenho a leve impressão de que nunca mais me verei
livre de você? — sussurra.

— Está certa, sereia. Deixá-la partir não é uma opção. — Dou uma
mordida em seu ombro. — Não pretendo abrir mão de você tão cedo, Anna.
Se um dia pensar em ir embora, saiba que irei queimar o mundo para
encontrá-la e trazê-la de volta.

— Isso era para ser uma declaração fofa? — Dá um risinho.

— Eu nunca fiz o tipo romântico. — Viro-a para mim. — Não


respondeu à pergunta que fiz, sereia. — Olho dentro de seus olhos.

— Aceito tomar banho, desde que me acompanhe. — Sorri.

— Estou me esforçando para ser um cavalheiro essa noite, mas com um


pedido desses… — Desço o olhar pelo seu corpo. — Tudo bem, posso tentar
acompanhá-la. É só um banho, não é mesmo?

— Sim, é. — Anna se afasta, dando-me a visão privilegiada do seu


corpo bem desenhado no vestido longo. — Quer me ajudar a tirar isso aqui?
— pede.

— Rasgar não pode ser uma opção? — brinco.


Não demora muito para me obedecer.

— Eu nunca tive um vestido tão caro assim… Pretendo guardá-lo. —


Suspira.

Tenho pleno conhecimento de que Anna é de classe baixa, não passa de


uma simples empregada, nem mesmo chegou a cursar alguma faculdade, ao
contrário da irmã, que teve uma infinidade de possibilidades para subir na
vida.

— Não se preocupe, sereia, pois irei banhá-la de diamantes. — Toco


com os dedos em suas costas e tiro delicadamente o seu vestido. — Dos pés à
cabeça…

— Não quero que me dê nada, Andrey — diz.

— Imperador. Aqui dentro deste quarto quero que me chame assim —


sentencio.

Termino de tirar sua peça com sua ajuda e jogo em qualquer lugar no
chão.

— Imperador? — Vira-se para mim e babo na visão dela só de lingerie.

— É assim que as pessoas me chamam por aí e quero vê-la gritar ao


gozar na minha boca, no meu pau… — Puxo-a pela cintura e beijo seus
lábios. — Talvez devêssemos deixar essa ideia de banho para depois, hum?

— Não é uma má ideia levando em consideração que vamos nos sujar


— provoca ao envolver os braços em volta do meu pescoço. — Eu esperei
por isso… Não me faça esperar mais, Imperador.
É o meu fim.

— Sim, sereia. Chegou o momento de acabar com esses joguinhos. Vá


até aquela cama e fique de quatro para mim, por favor — quase imploro,
excitado demais.

Eu estou à beira de gozar nas calças. Minhas mãos que o digam, pois
não aguento mais me masturbar feito um animal no cio, querendo acabar de
uma vez com isso e tomá-la de uma vez por todas. Anna ofega e segue até a
cama.

É uma delícia vê-la me obedecendo. Em seguida, vou atrás da minha


garota, mas antes tiro o paletó do terno, os sapatos e, por fim, a calça junto da
cueca, libertando o meu pau duro feito pedra, que não aguenta mais a pressão
sobre ele.

Minha boca se enche de saliva ao ver Anna nessa posição, a bunda


durinha, os seios presos no sutiã, seu corpo ao meu dispor, como um
banquete enviado pelo Diabo para me tentar. Darei um fim nas peças da sua
lingerie uma por uma, mas antes matarei a fome que sinto da sua boceta, que
implorava silenciosamente por mim.

— Se apoie na cama. — Ajeito-me por trás da garota, cutuco a sua


intimidade com os dedos e afasto a calcinha dela para o lado, encontrando
sua boceta encharcada. — Desgraçada! Está pingando, caralho… Está doida
para receber meu pau, não é?

— Sim! — diz entre gemidos. — O tempo todo… — confessa.

— E irá recebê-lo, sereia. A noite toda. — Abaixo o rosto para senti-la,


abocanho logo de uma vez sua boceta, que agora está completamente livre de
pelos.
Deixo-a com as pernas abertas, enquanto passo a língua de cima para
baixo, saboreando o seu sabor feminino, salgado, ao mesmo tempo que se
torna doce, tão puro. Esfrego o rosto, raspando a barba recém-feita em seu
clitóris.

Anna começa a rebolar em meu rosto sem vergonha, como fez das
últimas vezes que a comi com a boca, e me deixou ainda mais excitado. Não
perco tempo ao introduzir dois dedos na sua entradinha apertada, com
cuidado, a fim de prepará-la ainda mais para receber meu mastro enorme.
Mamo sem piedade, dou mordidinhas para a atiçar e ser agraciado com a
lubrificação que banha o meu rosto todo.

Minha perdição!

— Eu necessito beber o seu prazer… Toque seus seios, sereia, mas antes
tire essa peça do nosso caminho, pois logo irei deixá-los vermelhos,
marcados por mim.

Anna geme em resposta e obedece a minha ordem ao descartar a última


peça.

Dou mais algumas estocadas com os dedos em sua boceta e a tenho


explodindo em um orgasmo delicioso. É sempre assim, pois Anna é sensível,
ela se entrega facilmente. Eu nunca tive uma mulher em minha cama assim,
tão receptiva e fogosa.

Sei que essa será nossa primeira vez de muitas outras que virão.

— Ah, porra! Continue gozando… Deixe essa boceta pingando para


receber meu pau. — Com a mão livre, pego o meu membro e começo a me
masturbar.
— Por favor… — Rebola sem pudor, aproveito-me para chupá-la mais e
prolongar o seu prazer. — Ah…. Não aguento, Imperador.

— Vai aguentar tudo e pedir por muito mais… — Afasto a boca a duras
penas da sua intimidade, para roçar o pau em sua entradinha. — Sente isso?

Enfio sem aviso um pouco a cabeça do meu membro só para provocá-la.

— Eu quero… Por favor — geme manhosa.

— É seu, sereia. Eu sei que vai doer, mas isso é inevitável. — Dou um
beijo em suas costas. — Vire-se e se deite — peço e a ajudo a encontrar uma
posição na cama para me receber.

Seu olhar encontra o meu e engulo em seco.

Porra!

Como poderei deixá-la partir depois de hoje?

— Está pronta? — pergunto e ela concorda com a cabeça. — Vou


começar a entrar com cuidado… Se estiver insuportável, é só falar que paro
na hora, tudo bem?

Ela balança a cabeça positivamente. Seguro meu pau e direciono em sua


boceta, aos poucos vou entrando, devagar, deslizando sem resistência por tê-
la bastante lubrificada, até que chego à barreira. Encosto meu rosto no seu,
esfrego meu nariz sobre sua pele com sutileza, tomo seus lábios em um beijo
apaixonado e dou um impulso com força, rompendo de uma vez por todas a
barreira da sua virgindade.
Ah, porra!

Engulo o grito de dor de Anna, paro automaticamente para que possa se


acostumar com meu membro, que tenta ganhar espaço em sua entrada
apertadinha. Pela primeira vez preciso me controlar para não agir feito um
animal, pois a minha garota merece muito mais que uma foda desesperada.
Continuo a beijando, faço carinho em seu rosto com a palma da mão,
enquanto deslizo a outra para tocar em sua boceta; aproveito o tempo que
tenho para tocá-la ali e deixá-la mais relaxada.

Separo nossos lábios com muito custo, para olhar em seus olhos.

— Ah… Minha nossa!

— Doendo tanto assim? — pergunto preocupado, acaricio seu rosto.

— É estranho… Me sinto cheia. — Gemo baixo. — Mas vai passar. Só


se mexe…

— Irei com cuidado e aos poucos vou aumentando a velocidade, tudo


bem?

Ela assente e me dá liberdade para continuar.

Abraço sua cintura e começo a penetrá-la com cuidado. Encosto o rosto


no vão do seu pescoço, distribuo beijinhos e mordidas para despertar
sensações no seu corpo e fazê-la ficar ainda mais excitada. Aumento um
pouco a velocidade, indo e voltando, esfrego os pelos da barba em sua pele e
recebo o seu gemido alto.

— Mais…. — ela pede e dou. — Eu preciso de mais.


Aos poucos vejo que a dor vai indo embora, dando lugar ao prazer.

Dou estocadas fundas, com mais força, intensidade. Afasto-me do seu


pescoço para descer com a boca até seus seios e atacá-los, começo a sugar
desesperado um por um. Anna toca em meus cabelos, aperta-os entre os
dedos e arremeto meu pau em sua boceta com fome, com brutalidade,
arrancando de seus lábios gemidos altos.

— Desgraçada! Vou deixar essa boceta na carne viva, sereia.

— Por favor… Sim! Andrey!

Estou por um fio, o ápice se formando ao passo que a fodo feito animal.
Ganhando cada vez mais espaço em sua intimidade, dou golpes brutos e
fortes.

— Vou gozar, porra… Não vou aguentar mais, Anna. — Explodo em


um orgasmo, enchendo-a, sem me preocupar com o fato de que esqueci o
caralho do preservativo. — Sinta…. — rosno alto, despejando até a última
gota dentro dela. — Não acabamos, sereia. Agora é a sua vez de gozar
gostoso no pau do seu homem.

A nossa noite está apenas começando…


ANNA RURIKOVA

— Vamos poder voltar outras vezes? — pergunto enquanto confiro


mensagens no meu celular.

Andriele me mandou algumas e Marya enviou uma sequência.

Não avisei a minha companheira de quarto que iria a uma festa de


noivado com o homem com que estava ficando e tampouco avisei que não
voltaria no dia seguinte. A nossa chefe está em uma viagem, o que me deu
espaço para pegar uma folga sem que Marya tivesse conhecimento algum
disso, pois eu não quis falar.

Ela provavelmente iria me julgar como sempre faz, então achei melhor
ficar calada. Quando Andrey me fez o convite para acompanhá-lo, não pensei
duas vezes antes de aceitar, pois estava precisando mesmo de um pouco de
aventura e sair da rotina. Assim entrei em contato com a senhora Petrova,
minha chefe, para pegar dois dias livres, alegando que iria fazer uma viagem
importante. E ela assim deixou.

Andrey adorou saber disso.

Contei esse pequeno detalhe após acordarmos juntos pela primeira vez e
fui agraciada em seguida com um delicioso orgasmo como presente, pois
ainda estava dolorida demais para receber o seu enorme pau, que quase me
rasgara em duas.

A minha primeira vez foi incrível e nunca irei esquecer, nem mesmo se
quiser. Andrey soube conduzir tudo da melhor maneira possível, ainda que a
dor tivesse sido inevitável como ele havia advertido antes de me penetrar. No
entanto, o resto foi marcante, único e, se eu puder, reproduzirei por
incontáveis vezes seguidas.

Só preciso me recuperar da primeira.

— É claro que sim, desde que encontre uma folga na minha agenda.

— É, tinha me esquecido de que o senhor é um imperador, não é


mesmo? — Sorrio.

Imperador dos Diamantes, segundo me contou é assim que o chamam.

Acabamos de sair do banho e estou enrolada na toalha, enquanto penteio


os cabelos. Eu não trouxe nenhuma peça de roupa, nem mesmo Andrey o fez,
mas ele tratou de pedir para seu motorista resolver esse problema.

Estou à espera, enquanto o dono da boate está de calça e com o peitoral


exposto. Andrey é um homem muito bonito, musculoso e tem poucas
tatuagens no corpo. Os cabelos, de um tom castanho-escuro, os olhos azuis, a
barba sempre bem-feita, que o torna ainda mais atraente, em contraste com
seus quarenta anos.

Afinal, ele parece ter bem menos que isso.

— É só um título que colocaram, Anna. Em outros termos, não faço


parte da monarquia ou algo do tipo — explica, indo se sentar na beira da
cama. — O meu tio tinha um império de diamantes e eu passei boa parte da
minha infância com ele para aprender o suficiente e tocar o seu negócio após
a sua morte.

Franzo o cenho.

— Os meus pais me mandaram muito novo para morar com esse meu
tio. Ao chegar lá, amadureci e muito cedo comecei a trabalhar, o que fez com
que consequentemente me tornasse digno de receber uma herança
multibilionária.

— Oh, que bom para você, não é mesmo? — Termino de pentear os


cabelos.

— Literalmente, sim. Eu venho de uma família muito poderosa e rica,


ganhar essa herança só fez triplicar o que sempre tive de certeza. — Ele sorri
de lado.

— E como começou isso de Imperador dos Diamantes? — Vou me


sentar do seu lado. — Confesso que estou curiosa.

— Ao passo que fui exibindo o negócio pela Rússia e em outros países.


Eu tenho muitas empresas multinacionais espalhadas por onde menos
imaginar, Anna — conta. — Até mesmo alianças com pessoas do submundo.

— Foi o que percebi ontem. Aquela ruivinha chegou à mesa contando


umas coisas que de primeira pareciam sem nexo, até que juntei uma coisa à
outra. — Suspiro. — Estávamos em uma festa de noivado onde a grande
maioria era da máfia, certo?

— Exatamente, Anna. — Andrey me puxa para me sentar em seu colo.


— Espero não a ter assustado. Eu iria até contar, mas preferi não a envolver
nisso. Me desculpa?

Toco em seu rosto e beijo seus lábios.

— Está tudo bem, ao menos nada de mais aconteceu. — Sorrio.

— E, em caso de acontecer, eu a teria protegido com a minha vida,


Anna. — Ele me abraça pela cintura. — Jamais colocaria sua vida em perigo,
sereia. Só a levei porque sabia que nada iria acontecer, afinal conheço muito
bem Nikolay…

— Pelo que pude perceber, Nikolay é o tal do noivo. — Lembro-me


automaticamente da história que a garota ruiva contou do mafioso.

— Aquela garota que se sentou à mesa com você contou alguma coisa?

— Ela tinha que me contar? — Encaro-o e mordo o lábio. — Quer


dizer… Ela contou umas coisas e outras acabei deduzindo sozinha. — Dou de
ombros.

— Eu não queria falar isso, mas já que estamos conversando sobre…


Acabei vendo aquela maluca aos beijos com o Nikolay — revela sem rodeios.
— Por sorte, ninguém viu o que vi e pelo visto o evento correu bem, ao
menos é o que podemos imaginar.

— Acho melhor pegarmos as nossas coisas e voltar para casa, não? —


sugiro.

— Não quero deixá-la, Anna. Temos mais algumas horas, certo? Vamos
aproveitar o restinho da sua folga. — Deixa um beijo em meu ombro. —
Ainda quero tê-la mais um pouco antes que voltemos para nossa maldita
realidade. — Suspira.

— Não sei se vou aguentar uma sentada no seu colo — digo com
malícia. — Ainda me sinto extremamente dolorida — não é uma mentira.

— Quem sabe com mais alguns beijinhos não possa curá-la? Eu tenho
paciência, Anna. Assim como tive por todos esses dias em que me contentei
em comê-la só com a boca e os dedos. — Aperta a minha cintura e esfrega o
nariz em meu pescoço.

— Aham, quem sabe esses tais beijinhos resolvam esse problema. —


Rio. — O seu motorista ainda vai demorar muito para trazer nossas roupas?

— Não. Vou ver se mandou alguma mensagem. — Coloca-me sentada


na cama para pegar o celular em seu bolso.

Assim que toca na tela, vejo a foto da filha.

Eu não tinha percebido antes que a garotinha tem um sinal perto da


boca, igual ao meu. A única vez que a vi foi muito rápido para decorar cada
tracinho seu, mas bastou bater o olho nessa foto para ver esse pequeno
detalhe intrigante.
Uma mera coincidência? Talvez! Quantas outras pessoas no mundo não
têm um?

— Hum… Ela é muito linda — resolvo falar.

— Sim, é. Ela se chama Elly — pela primeira vez o vejo falar da filha.
— Tem um ano.

— Os olhos são idênticos aos seus… — comento.

— É. — Andrey se levanta. — Pode ficar aqui um pouco? Vou descer


para pegar as nossas roupas, espero que uma das que ele comprou sirva para
você.

— Tudo bem — é tudo que digo.

Eu só tinha visto aquela bebê uma vez e agora novamente a vi por uma
foto aleatória na tela do seu pai, mas de alguma forma me sinto intrigada para
conhecê-la pessoalmente, como se fosse um chamado que veio de forma
inesperada.

Do nada.

Sinto um aperto no coração.

O que significa isso?


ANDREY VASSILIEV

— Há algo que o senhor gostaria de mudar ou acrescentar?

— Não. Apenas acrescente as iniciais de Angelina — falo e engulo em


seco. — Ela não gostaria de saber que tiraram os créditos de sua arte. —
Sorrio.

Dentro de um mês acontecerá o lançamento das joias de diamantes que


foram desenhadas por mim ao lado da minha falecida esposa. Dei uma pausa
nesse projeto até que estivesse recuperado emocionalmente e tivesse passado
pela dor do luto para encarar o presente, para então dar continuidade ao seu
grande sonho.

As peças estão em fase de finalização para serem exibidas ao público em


um evento que acontecerá em uma das minhas joalherias no centro da cidade.
O meu primo Viktor está à frente de tudo, cuidou da parte burocrática, o que
me deu um pouco mais de tempo para respirar e não pensar tanto no passado.

Lidar com isso de perto é como ser levado à escuridão em que fiquei por
meses.

Não posso voltar.

Nunca mais.

Viktor foi um grande parceiro quanto a isso, ao tomar as rédeas em meu


nome.

Em algum momento, as coisas foram ficando claras, límpidas como


água cristalina e me dei conta de que há muito tempo superei a morte da
Angelina, detalhe importante que até então estava oculto, pois de alguma
forma me fechei para a realidade paralela em que vivia. Eu sempre disse que
uma parte de mim tinha partido com ela, mas isso foram só desculpas que
usei para me manter no casulo.

Preso em minha própria solidão.

Como se isso fosse a minha rota de fuga.

A verdade é que sinto que fechei essa página e a deixei no passado,


lugar esse em que deve ficar para sempre, permitindo-me seguir em frente
sem me prender a alguém que nunca mais voltará à vida. Eu nunca irei me
esquecer da sua passagem em minha vida, dos momentos incríveis e intensos
que vivemos, nem mesmo do presente que ela me deixou para cuidar e amar.
A nossa filha. O amor que um dia senti por ela nunca acabará, pois não se
trata de um sentimento que pode ser deletado, mas guardado em um lugar
especial para que meu coração seja liberto e assim consequentemente seguir
em frente.

Estou livre.

Finalmente consigo respirar em paz e tenho liberdade para viver o


amanhã sem temer ou me reprimir como fiz por tanto tempo. A morte dá ao
outro que fica vivo a possibilidade de viver uma segunda chance e eu sinto
que estou livre para isso, mesmo que me apaixonar outra vez não seja uma
opção.

Não tenho planos de me apaixonar de novo…

Anna de alguma forma desempenha um papel importante no meu


recomeço, como se a luz que há em seu olhar me tirasse da escuridão em que
me vi refém. Não é só sexo no final das contas. A garota que surgiu de forma
inesperada em minha vida trouxe-me cor para os dias obscuros e me fez
sentir vivo de novo.

Vivo.

Com ela ao meu lado, não há dor ou culpa. Encontrei em seu sorriso um
motivo simbólico para valorizar o meu, Anna sem sombra de dúvidas me fez
ver que havia muito para ser vivido e que a morte de alguém que amei não
podia ser o meu fim.

Nunca será.

Movido por esse pensamento, dei continuidade a remoção das coisas de


Angelina da minha casa e enviei para outro destino, lugar este que só será
visitado por Elly quando tiver idade suficiente para saber mais sobre a mãe.
Eu pedi aos funcionários da mansão que mudassem o meu quarto todo, novos
móveis foram comprados, uma nova decoração chegou, assim como outras
partes do meu lar, pois queria tirar tudo que foi ornamentado pela falecida.

Não quero nada que me lembre dela. O único lugar em que se manterá
viva será nos meus pensamentos, apesar de que nem neles consigo mais me
recordar como antes, como se estivesse caindo no esquecimento. Eu sei que
isso não será o fim dela, pois há um segredo que a liga a Anna e isso virou a
minha tormenta.

Desgraça!

— Claro, senhor Vassiliev! Deseja mais alguma coisa? — Minha


secretária termina de guardar as pastas com as informações da coleção de
joias para sair.

Essa será a última coisa que farei em memória da falecida, lançarei a sua
coleção.

— Não. Obrigado. — Engulo em seco e pego o meu celular em cima da


mesa.

— Tenha um bom dia! Licença — a mulher se despede e sai da sala logo


em seguida.

Desbloqueio o aparelho e procuro pelo contato de Anna. Trato logo de


enviar uma mensagem.

Eu: “Onde você está?’’

Envio.
Aperto na sua foto de perfil e automaticamente me vejo sorrindo bobo.

Como podem ser tão idênticas e ao mesmo tempo tão diferentes? Eu não
costumo compará-las, pois isso não importa, afinal cada uma tem, ou tinha,
sua peculiaridade, personalidade, essência, e a semelhança nunca foi o
principal fator que me fez me envolver com Anna. A garota nunca será um
tapa-buraco nem nada do tipo.

Isso nunca!

Anna: “Estou no trabalho… Aconteceu alguma coisa?’’

Não aceito que se divida em dois empregos e espero resolver isso logo.

Eu: “Pensei que seria legal dar um passeio com a minha filha.’’

Respondo rápido.

No dia em que voltamos do evento de noivado, eu a deixei na casa em


que ela trabalha e vive com a melhor amiga e desde então nunca mais a vi,
pois tinha alguns compromissos pendentes para resolver e que me fizeram
não ir à boate.

Percebi que Anna ficou intrigada com a foto da minha filha que uso na
tela do celular, pude ver o quanto ficou curiosa e isso vem me causando um
desconforto, então pagarei a língua de novo por quebrar uma regra ao
apresentá-las.

Tia e sobrinha.
Porra!

Anna: “Tudo bem. Pode vir me buscar?’’

Abro um sorriso de lado ao ver sua resposta.

Eu: “Chego em vinte e cinco minutos.’’

Fecharei minha agenda do dia para encontrá-la junto da minha filha.

Passo em casa rapidamente para tomar um banho, vestir algo menos


casual e peço para uma das babás da minha filha se preparar para me
acompanhar a um passeio com a bebê. Não pretendo ir sem um suporte,
afinal ainda não sei como me virar com uma criança, nunca fiz isso antes. Em
minutos, estou arrumado e logo sou agraciado com a visão da minha filha
usando um vestido florido.

Elly usa um lacinho na cabeça e ao me ver estende os braços pedindo


para pegá-la no colo. Eu a seguro e interagimos um pouquinho antes de
sairmos de casa, pois o motorista nos aguarda para nos levar a um parque que
escolhi.

Pedi para meu outro funcionário ir buscar Anna e nos encontraremos lá.
Faz poucos segundos chegamos ao nosso destino, minha filha está com a
babá, atenta a tudo, observando a imensidão de árvores.

O carro que trará Anna está demorando e me vejo um pouco ansioso.

— Merda… — resmungo baixo.

— Andrey?

Sua voz me faz virar as costas e a cumprimento com um sorriso.

— Demorou. Estava começando a pensar que não viria — digo.

Ela usa uma roupa simples, uma calça jeans meio surrada e blusa
moletom. Os cabelos estão presos em um coque, por sorte a babá que me
acompanha não se dará ao trabalho de abrir a boca e compará-la com a mãe
da minha filha.

Fui esperto quanto a isso e pedi discrição total.

— É que precisei terminar de lavar a louça para vir. — Faz careta.

— Sinto muito. — Sorrio de lado.

Peço para a babá me entregar a minha filha e nos deixar um pouco


sozinhos.

— Esta aqui é a minha filha. Elly, dá oi para ela… — Apresento minha


filha e a tia.
— Oh, ela é tão linda. Uma verdadeira princesa. — Anna estende a mão
para acariciar o rosto da bebê, que não tira o olhar do seu até que sorri fofa.

— Acho que ela foi com sua cara, não é, princesa? Diga “oi, Anna” —
incentivo.

— Nana. — Elly se agita em meu colo e estende os braços para a sua


tia.

Ainda que não tenha conhecimento sobre esse pequeno detalhe.

— Posso pegá-la?

— É claro que sim — permito e passo minha filha para seus braços. —
Esta garotinha não estranha ninguém. — Observo Anna segurá-la com
cuidado, sorrindo largo.

— Tão perfeita. — Começa a dar beijos na bochecha gordinha da bebê.


— Da próxima vez prometo trazer um brinquedo bem fofinho pra você, tá?
Foi tão rápido esse convite que nem me toquei quanto a isso — diz, toda
meiga.

— Não precisa se preocupar, Anna. — Coloco as mãos nos bolsos da


calça.

— Eu acho interessante que temos o mesmo sinal perto da boca, né,


bebê? — comenta, interagindo com a minha filha. — Talvez seja por isso que
não me estranhou de cara. O que você acha, Elly? — pergunta sem tirar o
olhar da criança.

Engulo em seco. Como não pensei nisso antes?


— Mama! — Elly balbucia ao unir as duas mãos e tocar no rosto de
Anna.

— Não, princesinha. É Anna… Consegue dizer?

— Mamamamama!

Preciso fazer alguma coisa para acabar com isso.

— É… Quem quer tomar sorvete? — finalmente falo.

— Hum! Eu quero muito. E você, bebê?

— Mama! Da!

— Pelo visto ela aprendeu mais uma nova palavra — busco amenizar a
situação. — A minha mãe quase todos os dias interage com a minha filha e
aproveita para incentivá-la a dizer algumas coisas — minto em partes. —
Desculpe por isso…

— Não tem problema. Confesso que adoraria ter uma filha assim. — Ela
se agarra à bebê, que está agora entretida tentando pegar seus cabelos.

Mordo o lábio com força.

— Vem… Vamos tomar um sorvete ou beber alguma coisa — sugiro.


— Está com fome, Anna?

— Estou, sim — fala sem rodeios. — Não deu tempo de comer nada.
— Então vamos alimentá-las, as minhas garotas.

O seu olhar se volta contra o meu e sinto o meu coração bater mais forte.

Estou em meio a um fogo cruzado.

Não há mais certo ou errado.


ANNA RURIKOVA

DIAS DEPOIS

— Então quer dizer que decidiu deixar de ser certinha? — provoco


Marya.

— Eu ainda sou — ela se contradiz. — Em partes…

— Pode afirmar em voz alta, sabe que não vou te julgar. — Dou de
ombros.

Desde que o filho da nossa chefe voltou ao país para passar uma
temporada aqui, minha companheira de quarto se vê em uma encruzilhada,
pois o bilionário de olhos azuis resolveu fazê-la recuar e repetir a dose que
tiveram em sua festa secreta.
Marya tentou de todas as formas ignorá-lo e não responder a nem uma
de suas mensagens, mas não obteve êxito algum no final, pois Pavel estava
disposto a ganhar essa guerra que se instalou entre os dois, até que finalmente
ela cedeu.

Agora estão vivendo uma espécie de romance escondido, ainda que a


minha amiga afirme com todas as letras que não passa de sexo, e nada mais.
Ela sai de fininho no meio da madrugada do quarto e só volta quando o sol
nasce, foi assim que acabei descobrindo que algo estava acontecendo com a
Marya.

Foi muito fácil perceber.

Marya não é do tipo que se presta a um papel desses por nada.

A princípio não quis me contar sobre, mas, quando a flagrei saindo na


madrugada, não teve outra saída senão abrir o jogo e revelar o que estava em
evidência. Só que, ao contrário do que ela faz comigo, não fui capaz de julgá-
la por isso, afinal os dois são adultos e não vejo problema algum no fato de se
envolverem assim.

Ao menos em partes.

É claro que isso não passará de sexo casual, pois o bilionário não é do
tipo que se apaixona, foi o que ela me contou esses dias. Pavel vem de uma
família muito rica e Marya nem sequer tem contato com os pais. A diferença
entre os dois vai muito além da classe social que os separa.

— Desculpa se às vezes sou chata, Anna. É que a vejo como uma irmã e
como mais velha me sinto na obrigação de tentar protegê-la. Entende?

Eu sei que sim, apesar de muitas vezes discordar.


— Sim, Marya. — Forço um sorriso de lado. — Só tente maneirar um
pouco. Os seus puxões de orelha quase sempre me deixam triste.

— Sinto por isso. — Suspira fundo. — Eu só tenho medo de que se


machuque ou que alguém faça isso, então tento no mínimo mantê-la desperta
para qualquer situação.

— Eu não sou de papel, não é como se isso fosse acontecer —


argumento.

— Aham. Então me diga… Está apaixonada por aquele homem?

— Quê? De onde tirou isso? — Arregalo os olhos e dou um espirro.

Estou com uma virose que me deixou alguns dias de cama, tive febre
alta entre outros sintomas. Ainda estou de licença médica nos dois empregos,
o que me dá mais tempo para descansar e me recuperar de forma adequada.
Marya é quem vem cuidando de mim ao fazer chás de ervas que ajudam na
imunidade, além de preparar sopas ou outras coisinhas que são sempre muito
bem-vindas.

Resolvi não ter contato com Andrey enquanto estiver assim de saúde,
pois não quero contaminá-lo e correr o risco de que ele passe o vírus para a
sua filha.

Elly.

O encontro no parque com Andrey e sua filha foi memorável, um dia


incrível. Vez ou outra me pego lembrando com carinho. Eu me conectei
muito com a bebê, que também se apegou a mim a ponto de chorar quando
teve que se despedir.
Meu coração se apertou. Eu senti muito porque, assim como eu, Elly
cresce sem amor materno. Pelo que eu soube, a esposa de Andrey morreu
antes mesmo de chegar a conhecê-la. Mas ela ao menos tem o pai presente e
uma babá para lhe dar a devida atenção, mesmo que nada ocupe o lugar que
só uma mãe exerce na vida de um filho.

Esse papel é insubstituível.

Dali então passei a mandar mensagem para ele com mais frequência, vez
ou outra pergunto da sua filha e ele responde com fotos da pequena. A minha
galeria já está cheia com registros seus, pois me recuso a apagá-las, como se
não quisesse esquecê-la, nem mesmo tirá-la da minha vida, isso nunca mais.

Eu gostaria muito de ser convidada para ir visitar a casa onde moram pai
e filha, mas esse convite ainda não aconteceu; é claro que talvez nunca
aconteça, pois o que vivemos não tem um rótulo como a maioria dos outros
casais por aí.

Os nossos últimos encontros deixaram de ser escapadinhas rápidas na


boate para acontecer com mais intensidade em hotéis. Andrey espera o meu
turno acabar para finalizar a minha noite em seus braços, sendo amada e
idolatrada por ele.

Eu me tornei maníaca por sexo, pois basta estarmos sozinhos em um


quarto bem longe de tudo, para que as roupas se percam no caminho, mãos
desesperadas se tocando sem parar, bocas famintas se procurando e tudo
termina com seu pau possuindo a minha boceta desesperadamente.

Um ciclo sem fim.

O tempo passa e o que temos parece nunca acabar.


Andrey nunca deixa claro se quer formalizar isso e eu nem me dei ao
trabalho de cobrar uma posição as vezes que ficamos, mas nos últimos dias
isso vem atormentando os meus pensamentos com uma intensidade
assustadora para ser sincera. Eu não sei ao certo em que ponto estamos, para
onde iremos com isso e nem mesmo quando irá acabar, talvez esteja na hora
de conversar sobre isso.

Talvez?

Minha cabeça é um verdadeiro redemoinho de confusão, sem saber se


faço ou não. A única certeza que tenho é de que dentro de poucas semanas
irei realizar mais uma prova de vestibular para a faculdade de medicina e não
posso perder o foco por nada.

— Só vive no mundo da lua, Anna. Tá na cara que se apaixonou pelo…

— Não termine de dizer isso. — Cruzo os braços.

— Vou ficar calada… Vamos comigo à farmácia então?

Marya termina de secar as louças e vai lavar as mãos.

— Ah, obrigada por lembrar. Eu vou mesmo, até tenho que pegar mais
uma cartela do meu anticoncepcional — lembro.

— Sabe que ao tomar comprimido junto do antibiótico as chances de


não ter surtido efeito são grandes, não é mesmo?

Arregalo os olhos.
Antes de ter pegado virose, foram muitas as vezes que fiz sexo com
Andrey, afinal estava tomando o contraceptivo certinho, seguindo as
recomendações médicas. Algumas vezes, usamos preservativo no ato, em
outras nem sequer nos lembramos.

— Está tentando me assustar ou algo do tipo? — pergunto.

— Talvez fosse bom esperar sua menstruação descer e iniciar uma nova.

— Dentro de poucos dias então, mas vou comprar só por garantia. —


Sorrio.

— Ok. Vou pegar a minha bolsa para irmos então.

Concordo com a cabeça e permaneço sentada na cadeira da cozinha.

— Quer dizer que Pavel te faz andar feito cachorrinho pelo quarto?

— Dá para parar com essas conversas feias? — Marya faz careta,


constrangida. — Eu não disse nada disso.

— Então vem dizer que não gosta quando ele te coloca…. — não
termino de dizer.

Estou brincando com ela a fim de deixá-la sem graça, nada de mais.

— Já te falaram que você é chata? Insuportável?

Dou de ombros e gargalho.

Pego o celular na bolsa para conferir se o carro de aplicativo está perto


de chegar. Viemos à farmácia para comprar algumas coisas, inclusive uma
pílula do dia seguinte para Marya tomar depois de revelar que a camisinha
estourou. Eu só comprei um pacote de absorvente e o anticoncepcional que
não pode faltar.

— Você me ama, Marya… — Pisco os olhos.

— ANGELINA!

Uma voz masculina grita e me viro no automático, curiosa.

— Porra! Faz quanto tempo que não te vejo.

Fico estática ao ver um homem alto caminhar em nossa direção.

— Espere, por favor, não vá.

Ele está literalmente falando comigo?

Olho para os lados a fim de conferir se não foi um erro seu.


— Angelina, porra, quanto tempo! — Sem mais, o desconhecido me
abraça.

— Me… Me solte! — Dou um passo para trás. — Não chegue mais


perto… Eu nem sequer sei quem é essa tal Angelina.

— Por Deus, não pode ser… Não pode ser um erro — repete.

Eu nunca vi este homem na minha vida.

— Foi um erro. O meu nome não é esse… Licença. — Pego no braço de


Marya.

Por sorte o carro de aplicativo para ao nosso lado e buzina.

— Não foi um erro, querida. Você é sem dúvidas idêntica a Angelina.

Não dou atenção, abro a porta do carro e entro de uma vez, ainda
assustada.

E uma coisa é certa… Não posso contar a Andrey que isso aconteceu ou
ele será capaz de colocar uma escolta para me proteger de qualquer
imprevisto.
ANDREY VASSILIEV

— Você precisa parar de ficar me deixando, sereia. — Percorro os dedos


pelo rosto de Anna. — Eu quase fui ao inferno e voltei de tanta saudade que
senti.

É verdade.

Passar os últimos dias longe desta garota só me fez ver o quanto a quero
em minha vida. Eu preciso dar um jeito de apresentá-la de uma vez por todas
às pessoas mais próximas a mim sem correr risco de que a confundam com a
sua irmã Angelina, mesmo sabendo que seria quase impossível de acontecer e
um risco iminente.

Não tenho muito contato com meus pais, então tenho tempo para
preparar o terreno antes que tenham conhecimento do nosso envolvimento,
quando vier à tona. Só quem sabe até o momento são meus primos Viktor e
Anton, além de minha filha.
— Não podia correr o risco de contaminá-lo — sussurra baixinho.

— Bobagem, porra. Eu adoraria ter ficado ao seu lado nesse momento e


ter me prestado ao papel de enfermeiro particular. — Beijo seus cabelos.

Anna está deitada em cima de mim, agarrada a minha cintura após


termos feito amor pela segunda vez seguida. A exaustão nos consome, apesar
de me sentir ainda excitado demais, mas não irei avançar o sinal até vê-la
totalmente recuperada.

— Marya fez esse papel por você, pode ficar tranquilo, imperador —
comenta.

Lembro de ter ouvido que essa é a sua amiga de quarto.

— Não me faça a começar ter ciúmes dessa garota, pois sem dúvidas a
invejo por ter o privilégio de estar ao seu lado todos os dias. — Sigo
acariciando seu rosto. — Inclusive, como vocês se conheceram?

— Uma freira do orfanato conhecia a família dela e sabia que Marya


trabalhava em uma mansão, onde sempre tinha uma vaga para alguma coisa
— comenta. — Foi graças a ela que consegui uma oportunidade de emprego,
mesmo que fosse só lhe auxiliar nas tarefas e receber inicialmente muito
pouco.

Suspiro.

— Não foi uma vida muito fácil — é tudo que digo.

— Faz parte, não é mesmo? Cada um tem uma cruz para carregar. —
Ela me abraça apertado, esfregando o rosto em meu peitoral. — Só que, ainda
assim, tenho muitos motivos para agradecer. Marya sempre foi generosa, ela
me ajudou desde o começo e foi muito mais que uma amiga. Eu a vejo como
uma irmã mais velha.

— Não tenho irmãos, então não sei como é essa sensação — solto um
detalhe sobre minha vida que nunca tinha tido antes. — Os meus pais nunca
foram do tipo que quer ter mais que um filho e em partes foi melhor assim.

— Eu… Eu tive uma irmã.

Revela e engulo em seco com sua confissão. É a primeira vez que fala
disso.

— Hum… Sério? E onde ela está? — pergunto.

— Eu não sei. Fomos separadas quando pequenas e só tive


conhecimento disso tempos depois. A única coisa que sei sobre ela é que
somos gêmeas, o seu nome ou por onde anda desconheço. — Solta um
suspiro. — Assim que completei a maioridade, fui atrás dela, mas não achei
nada, é como se sua existência tivesse sido apagada. Penso que foi algo que
seus pais adotivos fizeram, quem sabe?

— Como tem tanta certeza de que essa irmã foi adotada?

— É o que tudo indica. — Ela se afasta e vem se deitar ao meu lado. —


Ao menos teve a sorte de ter uma nova família, enquanto nem sequer tive
essa chance.

— Nunca quiseram te adotar? — Viro-me de lado para encará-la.

— Não. Hoje em dia penso que foi melhor assim. — Fecha os olhos. —
Eu não tenho muitos recursos para procurar pela minha gêmea, mas se
pudesse não hesitaria.

De repente tenho uma ideia, ainda que seja perigosa.

— Eu posso ajudá-la? Tenho um amigo detetive muito bom em


investigação…

Abre os olhos, arregalando-os após ouvir a proposta.

— Hum… Sério mesmo?

— É, posso fazer isso. — Pigarreio, nervoso. — Não custa nada tentar.


Eu só preciso que me passe as informações que tem para que ele possa dar
início à procura por sua irmã. — Eu me aproximo para dar um beijo em sua
testa.

— Não sei o que dizer, nem como irei pagá-lo. — Seus olhos se enchem
de lágrimas. — Sabe quantas vezes quis encontrá-la? Sabe quantas vezes
implorei aos céus para que me enviassem uma direção até onde ela estava?
Foram muitas…

Vê-la vulnerável me quebra em dois.

— Por favor, não chore. Estou aqui com você e farei o impossível para
encontrá-la. — Eu a puxo com cuidado e a abraço apertado. — Não está mais
sozinha, Anna.

Perdoe-me.
Perdoe-me.

Neste momento constato que nunca terei o seu perdão.

Anna jamais será capaz de me perdoar ao saber o segredo que escondi.

— Obrigada, Andrey. Eu não me sinto mais sozinha. — Ela me aperta,


encostando o rosto em meu pescoço. — Ao seu lado, eu me sinto segura…
Protegida. Você nunca seria capaz de me magoar, não é mesmo? — Afasta-se
para olhar em meus olhos.

Sim.

Não.

— É claro que não, Anna — minto.

Pois mesmo que não quisesse, de alguma forma já fiz isso, por ter
escondido a verdade sobre o seu passado.

— Obrigada. — Volta a me abraçar com força e me permito fechar os


olhos.

— Não me agradeça, sereia. Eu não sou um bom homem de verdade,


mas prometo que daqui para a frente irei me esforçar para ser um e fazê-la
feliz — prometo.

— Não brinca. É claro que você é um homem bom, senão o melhor que
já conheci. — Deixa uma mordidinha em meu ombro. — Eu não quero que
isso acabe…
— Não vai, ouviu bem? Nunca mais vou soltá-la, sereia. — Eu a faço
olhar para mim. — Tire esse e qualquer outro pensamento da sua cabecinha,
entendeu?

— O que temos não passa de algo casual, Imperador. — Morde a ponta


do lábio.

— Vamos resolver isso então… Case-se comigo, Anna — falo de uma


vez.

Essa é a única forma que encontrei para prendê-la em minha vida.

— Casar? Casamento? Como assim, Andrey? Nós nem chegamos a


namorar. — Faz careta. — Andou bebendo vinho estragado?

— Estou falando sério, caralho! Case comigo, seja minha mulher.

— Aceito no mínimo ser sua namorada. Peça com mais carinho, vai —
provoca, dando um beijo em meus lábios.

— Não tenho mais idade para namorar, porra! É tudo ou nada. — Jogo
seu corpo contra a cama com cuidado. — Talvez deva pedir de outra forma,
quem sabe?

— Tente, quem sabe eu possa mudar de opinião?

É uma delícia vê-la toda nua, sem nada que tire a visão do seu corpo
perfeito.

Desço o olhar pelos seus seios vermelhos de chupões, parando em cima


da sua boceta, o meu paraíso particular. Anna aos poucos abre as pernas para
me provocar, pego o meu pau já duro feito pedra e começo a me masturbar
devagar.

— Vou fazê-la aceitar se casar comigo… — Aumento o movimento no


meu pau, não perco tempo em me posicionar por cima do seu corpo sem
exercer força e levá-lo até a sua boceta, que se encontra completamente
molhada.

— Pode tentar. — Geme baixinho. — Ah…

— Desgraçada! — Penetro em uma estocada bruta e a faço gritar de


prazer.

Anna já se desmancha, excitada demais, puxando-me para me beijar


apaixonada.

— Diga sim para mim, diga — imploro ao devorar sua boca, meu pau
vindo e voltando com força, em uma velocidade rápida, sem me preocupar
com a intensidade.

— Ah… — Anna geme desesperada, em busca de mais.

— Sim? — Dou uma sequência de estocadas fundas, sem parar.

— Sim… Sim…

Olho em seus olhos antes de segurar seu rosto e voltar a beijá-la.

Não há mais volta.


Eu me casarei com Anna Rurikova antes que ela saiba de toda a
verdade.
ANNA RURIKOVA

ALGUMAS SEMANAS DEPOIS

— Não sei se é certo fazer isso… — Cruzo os braços.

— Sabe que precisa, sim, esqueceu do que falei naquele dia?

Minha menstruação está atrasada faz dias e me recuso a fazer um teste


de gravidez que Marya insiste em me empurrar para fazer. Eu não contei a
Andrey sobre isso, nem mesmo para qualquer outra pessoa senão a minha
amiga mais próxima, pois foi a primeira a suspeitar desde que me viu vomitar
sem parar.

Não pode ser.


O maldito comprimido não fez efeito ou este foi cortado pelos
antibióticos.

— Você tem a boca de praga mesmo, Marya. — Sento-me na cama. —


Aposto que ainda vai descer, deve estar atrasada só por causa do efeito dos
comprimidos.

— Para de ficar criando possibilidades, garota. E os últimos vômitos?


Ou o fato de ter enjoado no seu santo café? — Vem se sentar do meu lado. —
Não acha muito estranho esses sintomas?

Infelizmente, qualquer coisinha é motivo para me dar um embrulho no


estômago. Vomitei mais vezes nos últimos dias do que em toda a minha vida.

— E você por acaso virou médica para me dar esse laudo? — Afasto-me
dela.

— Isso é o que acontece quando se transa feito coelho, não usa


camisinha e nem sequer faz uso do comprimido certinho, Anna — lembra o
que sei de cor.

Como se ela também não tivesse o mesmo com Pavel.

E outra…

Não é como se não tivesse tomado a pílula regularmente.

Eu realmente tomei um por um sem fazer pausa, mas ao pegar uma


virose que me fez ficar de cama me esqueci de tomar um ou dois pelo que me
lembro. Desço o olhar pela minha barriga coberta pelo moletom e
choramingo.
Não pode ser.

Não mesmo!

Estou perto de realizar meu sonho de cursar medicina, assim como


Andrey procura junto do detetive pelo paradeiro da minha irmã gêmea, então
quando tudo se encaixa em seu devido lugar eu me vejo com a possibilidade
de estar grávida.

Merda!

Isso pode ser chamado de tudo menos sorte.

Não estou preparada para ser mãe nestas condições, vivendo na casa dos
outros, sem ter dinheiro suficiente para sobreviver, mesmo que em partes
esteja noiva de Andrey, que me pediu da forma mais improvável do mundo.
Eu aceitei e só de me lembrar sinto um frio na barriga, pois o meu imperador
dos diamantes colocou na cabeça que um relacionamento entre duas pessoas
tem que começar pelo altar. Eu no mínimo sou mais louca que ele por
concordar.

Noiva?

Então…

O nosso relacionamento está oficialmente nesse patamar, o que ainda é


uma surpresa, até mesmo para minhas duas amigas, que se recusam a
acreditar nisso. Eu tenho um grupo no WhatsApp com Adriele e Marya, foi
justo lá que contei, ao lado de Andrey, que estava noiva, sem ter sequer
recebido uma aliança ou um buquê.
Aposto que nenhuma outra pessoa na face da Terra recebeu um pedido
assim.

Só que nem isso anula a realidade. Eu sou a noiva de um dos homens


mais poderosos do país, por quem me apaixonei, sentimento este que vim
perceber não faz muito tempo, pois sempre julguei que tinha domínio sobre o
meu coração.

Só que não.

Eu me apaixonei perdidamente por Andrey.

— Assumo a minha parcela de culpa… — falo baixo.

— Anna, você não fez esse filho sozinha. — Pega na minha mão. —
Vamos fazer esse teste para tirar a dúvida… Eu não vou sair do seu lado,
tudo bem?

— E depois? E se der positivo?

— Tem que contar ao seu noivo. Ou espera esconder até os nove meses?
— brinca.

Entrar em contato com Andrey não é uma opção, uma vez que está
ocupado lidando com um lançamento de alguma coisa em uma de suas
empresas; é tudo que sei e me fez compreender a sua ausência na semana que
passou.

Só nos falamos por celular, dado que o imperador estava ocupado com
seus negócios, mas logo estaremos juntos para fazer uma viagem à Grécia,
foi tudo que disse na mensagem que enviou mais cedo. Eu apenas concordei,
ainda mais agora, que saí oficialmente do trabalho na boate, pois a garota
voltou a sua função.

Foi melhor assim.

Eu não pretendia ficar trabalhando ali por tempo indeterminado, mesmo


que fosse melhor remunerado comparado a outros serviços que havia por aí.

— Tá… Eu vou fazer isso — sussurro.

— Primeiro vamos fazer um teste de farmácia e depois um de sangue.

— Vou trocar de roupas para irmos… — Eu me levanto da cama.

— Vou pedir para Pavel nos levar — comenta, animada.

— Não! — falo rápido. — Ficou louca? Ele conhece Andrey…

Lembro-me automaticamente desse detalhe, mesmo que a maioria das


pessoas não saiba do nosso envolvimento, muito menos que estamos noivos.

Ninguém precisa saber se estou ou não.

— Ok. Vou pedir um carro… — Marya diz serena. — Eu só ia pedir


para facilitar e não termos que pagar, Anna.

Os dois pombinhos estão cada vez mais envolvidos e me sinto feliz por
ela. Marya merece viver uma grande história de amor, mesmo que seja ainda
proibida.
— Faça isso, por favor.

Caminho até o meu guarda-roupa para pegar uma peça confortável e


vestir.

Estou grávida!

Gravidíssima!

Os três testes que fiz ao comprar na farmácia deram positivo, assim


como o exame de sangue que fiz no dia seguinte, que confirmou o que eu já
sabia. Grávida!

Guardo o papel com o resultado na minha bolsa e prendo as lágrimas.

— Tem que contar ao pai dessa criança…. — Marya me abraça de lado.


— Apesar de tudo, saiba que não está sozinha, ok? Estarei com você
independentemente de tudo…

— Não sei o que fazer — choramingo. — Andrey de repente parou de


mandar mensagens… Aposto que deve estar ocupado fazendo alguns milhões
por aí.
É verdade. O imperador sumiu e não mandou mais nada nas últimas
horas.

O que não me ajuda em nada.

E se ele não quiser o bebê?

— Você pode fazer uma surpresa na empresa dele, hum? Não deve ser
tão difícil achar a localização, é só dar um Google.

— Tem certeza de que fazer isso é uma boa? — pergunto, esperançosa.

— Sim, vamos procurar saber onde ele trabalha… Eu te levo lá. —


Sorri.

Vou até a cama do meu quarto e me sento.

— Tá…

Não sei por que, mas algo me diz que isso não terminará muito bem…

Um mau pressentimento.
ANDREY VASSILIEV

O dia da inauguração das joias de Angelina chegou.

Passei os últimos dias envolvido até o topo na produção, acompanhando


de perto para que tudo ocorresse sem falhas, bem como na organização do
evento geral. As peças ficaram lindíssimas, saíram do papel e foram
transformadas da forma que ela, se estivesse viva, teria aprovado com os
olhos cheios de lágrimas.

A mãe da minha filha ia selar o seu legado com o lançamento das joias
que levam o seu nome na marca, uma forma simbólica que usei para
homenageá-la.

Angel's Diamonds.
Há uma infinidade de colares luxuosos, anéis, entre outras peças
banhadas por diamante. Se fizerem o sucesso esperado, venderemos alguns
milhões. Cada joia está avaliada em um valor altíssimo, dado que eu investi
uma grande importância em sua produção, bem como na organização de
lançamento.

Não faço isso por ainda amá-la, mas sim em sua homenagem, pois esse
foi o seu grande sonho, ter uma coleção de diamantes. E com certeza o lucro
maior será colocado em uma conta para nossa filha, a sua única herdeira.

Sem dúvidas isso marcará o nosso fim.

O final de uma era.

Ela será mantida para sempre em meu passado.

O meu presente é com Anna, a garota que me devolveu a vontade de


viver e me faz querer ser um homem para tê-la de todas as formas possíveis,
em especial como a minha esposa. Eu a pedi em casamento da pior forma,
mas assim que o evento ocorrer em paz irei resolver essa questão e fazer da
maneira certa.

Mandei confeccionar um anel banhado em diamante em lapidação de


princesa para pedir sua mão em casamento, fruto de um desenho que fiz em
uma madrugada em que não conseguia tirar o seu sorriso e seu rosto da
minha cabeça.

Minha maior tormenta.

À medida que o tempo passa, as coisas se apertam e fica cada vez mais
difícil esconder o segredo que, quando vier a público, mudará tudo. Tudo!
Anna provavelmente não me perdoará por essa omissão, sobretudo por ter
tirado o seu direito como tia na vida da minha filha, quanto a isso tenho
absoluta certeza.

Não me perdoará…

Nunca.

Foi assim que, movido pelo medo, prometi que iria investigar sobre a
vida da sua irmã perdida, sem revelar que eu na verdade já sabia de tudo. É
claro que só foi uma desculpa para acalmá-la, assim ganharia tempo para
bolar um plano.

Só que ainda não sei o que fazer ou por onde começar.

Ainda que entregue a ela todas as informações da irmã, Anna irá juntar
uma coisa à outra, afinal fui casado com a sua gêmea, assim como tive uma
filha com esta.

A verdade está na cara…

Culpado!

Não tenho muitas opções em mãos ou uma solução exata, o que me faz
tardar um pouco mais nesse segredo pelo tempo que consigo deixá-lo
guardado, trancado a sete chaves, pois posso botar tudo a perder antes de nos
casarmos.

Pego meu celular na mesa do escritório e vejo que há algumas


mensagens de Anna, não pude responder até me ver livre do lançamento das
lojas.
— Primo.

A porta da minha sala se abre, Viktor e Anton entram.

— O que os traz aqui a esta hora? — pergunto ao guardar o aparelho


celular.

— É assim que trata os seus sócios? — Anton brinca e vem se sentar em


frente a minha mesa, junto do irmão mais velho. — Eu não podia deixar de
prestigiar o lançamento da minha melhor amiga. — Suspira.

— Ah, sobre isso. — Eu me ajeito na cadeira. — A coleção só leva o


nome dela.

— Foi por isso que vim pessoalmente para entregar um quadro que
mandei fazer em memória de Angelina — meu primo diz.

— Isso foi ideia dele, Imperador — Viktor fala em seguida. — Não


tenho nada com isso, só vim prestigiar mesmo e quem sabe comprar uma ou
duas joias.

Franzo o cenho.

— Não estou entendendo — é tudo que digo.

— É só um quadro que paguei para pintarem com o rosto da minha


adorável amiga. E eu quero que exponha no evento, primo — Anton segue
falando.

— Não posso permitir uma coisa dessas. Sabe que isso está fora de
cogitação, porra. — Aperto o punho da mão com força. — Estamos
entendidos, caralho?

— O que te faz recuar? Você não a amava tanto assim?

— Bom, sim…

Ele não me deixa continuar falando.

— Então, seu desgraçado! Dê-me a permissão para exibir o rosto dela e


deixar que as pessoas vejam quem foi que desenhou cada peça.

Troco um olhar rápido com Viktor, que observa tudo em silêncio.

— Não! Isso está fora de cogitação, Anton! Preciso repetir?

— Isso tudo é medo de que aquela garota veja o rosto da irmã?

Como o desgraçado sabe sobre Anna?

— O que você tanto sabe sobre ela, porra? — altero o tom da voz e me
levanto da cadeira.

— Pensou que ia ficar brincando de casinha por aí e ninguém ia saber?


Eu vi, porra! Estava também naquela festa de noivado, é claro que cheguei
pouco tempo depois e só os vi saindo em um carro, mas ainda consegui ver o
rosto da menina. Caralho, você estava fodendo o tempo todo uma gêmea da
sua mulher, imperador de merda!

Anton se levanta, me acusa duramente sem medir o peso das palavras.


— Não fale mais nada, saia da minha sala! Agora!

— É por isso que fez de tudo para que o rosto de Angelina não fosse
exposto ao público, porque sabia que iria correr o risco de a outra ver. Foi
isso, ou não? É claro que foi, seu desgraçado!

— Foda-se, saia da minha sala, ou serei capaz de matá-lo.

Eu me controlo para não avançar em cima do maldito do meu primo.

— Com certeza você fodeu tudo. Diga-me, a boceta dela também é igual
à de Angelina? Quantas vezes gozou pensando na sua esposa morta, hein?

Viktor se levanta e se interpõe entre mim e seu irmão.

— Parem… Vamos embora, Anton!

— Não. Eu quero vê-lo assumindo que só a fodeu porque pensava que


era Angelina, por isso fez de tudo para mantê-la escondida esse tempo todo.
Quando a vi quase não acreditei, mas fui investigar usando meus meios e
descobri tudo.

Permaneço estático, prestes a perder a porra do controle e socá-lo.

— Foi aí que decidi fazer esse quadro para comprovar com meus
próprios olhos que estava certo o tempo todo. Tentou brincar de casinha com
a gêmea da sua mulher, porra, e pensou que ninguém iria descobrir. Foi bom
trepar com a cópia da outra?

É o fim.
Afasto-me da mesa e vou em sua direção, mas sou impedido pela porta
aberta.

Anna.

Os seus olhos estão banhados por lágrimas.

Ela ouviu tudo… Absolutamente tudo.

— Você ainda não respondeu à pergunta dele, Imperador dos


Diamantes. Foi bom trepar com a cópia da sua esposa?
ANNA RURIKOVA

O meu mundo desabou.

Eu tinha encontrado a localização de onde Andrey trabalha, foi uma


missão complicada, pois apesar de ser uma figura pública o imperador
mantém muitas informações sobre sua vida em oculto, o que não facilitou em
nada para mim.

Existe não só uma, mas várias empresas filiais ligadas ao seu império.

Marya conseguiu encontrá-lo através de trocas rápidas de mensagem


com Pavel, enquanto eu preparei uma surpresa para entregar ao Imperador.
Comprei uma caixa pequena sem muita decoração e coloquei uma chupeta
branca ao lado de um sapatinho da mesma cor, foi a forma que achei para
contar sobre a gravidez.
Surpresa essa que irá para o lixo.

Quando cheguei ao prédio em que Andrey estava, nenhum funcionário


me deu atenção, talvez por estar com os cabelos presos, usando uma roupa
qualquer e um óculos escuros para completar o pacote, o que talvez tenha
dificultado tudo.

Só que encontrei uma faxineira, que foi gentil, ao contrário de outros


com que tentei contato por ali. A senhora baixinha de cabelos da cor de mel
foi a única que me ensinou onde era a sala em que o Imperador estava, mas
avisou que eu não iria conseguir passar se não fosse parte do setor da
empresa, limpeza ou segurança. Foi aí que tive uma ideia maluca de me
passar por uma funcionária com a ajuda dela para entrar.

Contei para a senhora a minha história e que estava ali para fazer uma
surpresa ao meu noivo, agora pai do filho que estava sendo gerado em meu
ventre. Argumentei dizendo que não tinha avisado a ele que iria e nem
mesmo havia pisado neste lugar alguma vez, e que por isso nenhuma outra
pessoa além dela tinha me dado uma mísera atenção.

Por sorte o corredor da sala do imperador estava vazio.

Até que encostei o rosto na porta e ouvi tudo.

Palavra por palavra.

“Diga-me, a boceta dela também é igual à de Angelina?”

“Quantas vezes gozou pensando na sua esposa morta, hein?’’

“Foi bom trepar com a cópia da outra?’’


Escutei tudo, palavra por palavra, e me senti sendo jogada no fundo do
poço.

O que significava aquilo tudo?

Então, como um lampejo, tudo ficou claro, como se um tampão tivesse


sido tirado dos meus olhos. Lembrei-me do nosso primeiro encontro quando
me confundiu com uma mulher, além do desconhecido que me abordou na
rua me chamando por Angelina.

Minha irmã. Só pode ser ela.

A minha gêmea é a tal esposa morta de Andrey.

— Você ainda não respondeu à pergunta dele, Imperador dos


Diamantes. Foi bom trepar com a cópia da sua esposa?

— Anna. — Andrey está assustado, como se tivesse visto um fantasma.


— O que você está fazendo aqui? Como conseguiu entrar aqui sem avisar?

Olho para os dois homens que estão na sala e engulo em seco.

— Por que fez isso comigo? No final das contas, eu fui só mais uma
peça em seu jogo sujo? Um tapa-buraco para ocupar o lugar da minha irmã
gêmea?

— Saiam daqui, saiam! — expulsa os homens da sala, e eles logo


tomam caminho ao nos deixar sozinhos. — Anna, por favor… Me escute.

— Eu não tenho nada para ouvir, Andrey. Já ouviu aquilo de que “contra
fatos não há argumentos”? Você ficou esse tempo todo escondendo que foi
casado com a minha irmã! Me usou para saciar a porra da sua fantasia! Era
nela que pensava ao me beijar?

— Não, porra… Não ouse dizer uma coisa dessas! — Tenta tocar em
meu rosto, mas não permito ao dar um passo para trás. — Só me escute, por
favor.

— Eu não tenho nada para ouvir, Imperador dos Diamantes. Você


mentiu o tempo todo e me privou da verdade. — Choramingo, o meu coração
se partiu em dois com a verdade. — Era ela que via quando me levava para
aquela cama? Era nela que pensava ao trepar comigo, Andrey? Diga-me! —
grito.

— Nunca, caralho! É só por você que meu corpo anseia, somente pelo
seu toque! Eu nunca pensei na Angelina estando com você! — ele se exalta,
nervoso.

— Mentiroso! Eu te desprezo, Andrey Vassiliev!

— Anna Rurikova, me escute — implora ao ficar de joelhos em minha


frente. — Eu nunca seria capaz de me prestar a esse papel. Quantas vezes
terei de repetir? Que só você domina a porra dos meus pensamentos!

— Não ouse se aproximar de mim, ou faço um escândalo nesta empresa


— ameaço. — Até porque posso facilmente me passar pela minha irmã,
mesmo que esteja morta, não é mesmo? Afinal, se você a enxergou em mim,
qualquer um pode fazer o mesmo.

— Nunca será como ela, Anna. Isso nunca…

— Então por que quis se envolver comigo? Por que me seduziu? Se não
era isso o que mais poderia ser, Imperador dos Diamantes? — cuspo as
palavras. — Você nunca seria capaz de olhar para mim se não fosse por causa
dela. Dela, Andrey.

— Você nunca foi uma cópia dela, Anna. E eu nunca pensei nela
enquanto te beijava e te fazia mulher em meus braços, isso nunca, sereia. —
Seus olhos estão marejados. — Nunca a vi em você… Acredite em mim,
porra!

— Não consigo acreditar em nada que sai por sua boca mentirosa! Foi
tudo uma mentira, Imperador dos Diamantes! O que tivemos não passou de
uma ilusão, afinal eu sou uma cópia barata da mulher que você amava —
sussurro em lágrimas.

— Amei no passado, mas não amo mais, porra! Me escute, Anna, por
favor. — Ele se levanta e tenta vir em minha direção, mas novamente não
permito. — A primeira vez que te vi, realmente acreditei que fossem
idênticas por causa dos traços físicos, então tentei me afastar, pois sabia que
não iria terminar nada bem se continuasse me aproximando ainda que fosse
movido por curiosidade. Eu falhei miseravelmente. Vocês duas não são
iguais e descobri isso faz muito tempo.

— Então por que nunca me disse? Por que nunca disse que sabia que
éramos irmãs?

— Eu não tinha muita certeza no começo, pois sempre pensei que fosse
uma mera coincidência, até que mandei um investigador vasculhar a sua vida
e peguei uma amostra de sangue sua em um dos exames que fez para
trabalhar na boate.

Ele me quebra um pouco mais…


— Não acredito que fez isso, Andrey… — Choro. — Por quê?

— Eu precisava saber se eram realmente irmãs, só que era tarde demais,


Anna, pois já estava enfeitiçado por cada pedacinho seu, apenas você, o que
me fez esconder esse segredo — revela. — Não podia correr o risco de perdê-
la…

— Falhou miseravelmente, pois me perdeu para sempre na mesma


intensidade em que o odeio e o desprezo, Andrey. — Aponto um dedo em
sua direção. — Eu me apaixonei por você, que por outro lado só via outra em
mim… — Passo por ele e vou até sua mesa, começo a vasculhar em meio a
tantos papéis espalhados. — Preciso de uma tesoura… Uma… — Abro as
gavetas um por uma até achar uma pequena e que terá que servir.

— Anna… O que pretende fazer? Vamos conversar, por favor.

Andrey vem em minha direção, mas aponto o objeto cortante para meu
rosto.

— Não chegue perto…

— Tudo bem… Só cuidado. Anna. — Seus lábios tremem, nervoso.

Com uma mão solto os cabelos e trago-os para a frente.

— Eu só vou terminar o que você começou, Andrey — grito alto.

Não consigo raciocinar, não consigo pensar em mais nada senão isso…

Não há sanidade.
Apenas escuridão.

— Vou destruir tudo que nos liga, Andrey. Era nela que pensava, não é
mesmo? — Começo a cortar as pontas dos meus cabelos.

— Não faça isso, Anna.. Por favor, sereia. Olhe para mim… Sempre foi
só você.

Implora, mas não dou atenção e sigo dando fim aos meus cabelos, até
que fiquem no tamanho em que quero deixá-los, na altura do ombro. Não
consigo parar de chorar em meio aos fios escuros que se grudam em meu
rosto molhado.

— Você me destruiu, Andrey… E estou destruindo a cópia da minha


irmã. Eu não quero ser ela, não quero que enxergue ela ao me olhar —
soluço.

Andrey parte para cima e toma a tesoura da minha mão com cuidado
para não me machucar, mas é tarde demais, pois já dei fim aos meus fios
longos.

— Não existe outra além de você. Sempre foi você. E eu juro que irei
reconstruir cada parte que quebrei do seu coração. — Seus braços fortes me
abraçam com força.

Não consigo dizer nada, só choro o mais alto que consigo.

Dor…

Por que dói tanto?


ANDREY VASSILIEV

O amor não é sobre destruir quem se ama.

No entanto, foi tudo que fiz.

A verdade veio e a teia de mentiras que fiz caiu sobre mim. Eu tinha
simplesmente quebrado cada pedacinho do coração da mulher que me
devolvera a vida. Anna, em meio a um surto, perdeu a racionalidade diante
daquela revelação e quase se feriu ao cortar os cabelos, como se aquele ato
fosse fazê-la se desligar da irmã.

Eu a destruí.

Ela não quer estar ligada a alguém que nem sequer teve a chance de
conhecer e julgou que aquele ato inútil fosse a coisa mais correta a fazer. Os
cabelos foram cortados, uma ponta maior que a outra, tudo ficou
desproporcional, mas isso será arrumado assim que ela estiver
completamente sã da cabeça.

Assim que tirei a peça de sua mão, tentei acalmá-la e em seguida a


carreguei nos braços, sem me importar com o que as pessoas iriam dizer nos
correios da empresa, pois naquele momento só tinha que levá-la para casa em
segurança.

Eu sabia onde a garota morava e foi para lá que fui, com Anna o tempo
todo calada, impassível, sem dizer uma única palavra até o segundo em que
falei educado que iria levá-la ao hospital, dado seu frágil estado mental, mas
ela parecia melhor ao abrir a boca para dizer que não iria para nenhum lugar
comigo. Tudo que fiz foi respeitar sua decisão, pois não queria piorar as
coisas.

Jurei que iria juntar cada pedacinho seu que quebrei.

Deixei Anna aos cuidados da amiga e pedi a ela que entrasse em contato
caso acontecesse alguma coisa ou ela precisasse. Ficaria disponível o tempo
todo, afinal deixá-la partir da minha vida não era uma opção. Eu não tinha
ido tão longe para perdê-la para uma meia verdade.

Tinha escondido sobre sua irmã pelos motivos errados, mas nunca fui
capaz de ficar com ela enquanto pensava em sua gêmea, nem mesmo a usei
como cópia ou tapa-buraco. Anna tem que me ouvir, saber que eu a quis
desde o começo por ser quem ela é, sem levar em consideração fisionomia ou
qualquer outra coisa.

Sempre foi sobre ela.

Sempre.
Irei esperar a poeira baixar para ir procurá-la e tentar me explicar mais
uma vez, nem que precise dizer incontáveis vezes até que ela consiga
acreditar em mim. Desde que ela descobriu tudo, duas semanas se passaram e
respeitei o seu tempo em silêncio.

Eu a escolhi.

Apaixonei-me por Anna Rurikova e não por uma cópia.

Anna nunca será como a sua irmã, quanto à personalidade, carisma,


essência e tantas outras coisas, detalhes tão simples que a tornam verdadeira,
inigualável. Anna é bondosa, transparente e tem um jeito doce de viver a
vida.

Aperto o celular na mão e mando em seguida uma mensagem para


Marya.

Eu: “Como ela está?’’

Viktor me ajudou a encontrar o número da amiga de Anna, pois é fera


quando o assunto é tecnologia ou hackear sistemas levantando qualquer
informação pessoal. Eu ainda não perdoei o showzinho que seu irmão fez
movido pelo amor que sentia por Angelina, com vida foram como unha e
carne. O ato de Anton foi por mera revolta, ou ciúme, mesmo sabendo que
sua amiga nunca mais voltaria à vida.

Foi como se ele quisesse provar a mim que precisava ser fiel a quem
morreu.

Nunca mais.
Finalmente segui em frente e espero viver um futuro com Anna. Irei
conquistar seu perdão e fazê-la ver que não foi uma ilusão o que tivemos; não
me apaixonei pelo que imaginei pensando em outra, mas sim por quem ela é.

O celular vibra e vejo a resposta.

Marya: “Vai ficar bem. E pare de me mandar mensagens.’’

Esta não é a primeira vez que ela diz isso, mas irei continuar tentando.

Já comprei vários chips para falar com a garota, pois bloqueia meu
contato depois de não aguentar a infinidade de perguntas que faço a respeito
de Anna.

Não irei parar.

Eu: “Não posso… Preciso saber como ela está para poder respirar.
Anna foi embora da minha vida após acreditar em coisas que não eram
verdade. Estou dando um tempo para que se recupere, mas esse prazo
está quase acabando. Não posso perder a mulher que amo.’’

Envio.

Marya: “Se amasse, não teria escondido a verdade sobre a irmã


dela… Diga-me, em algum momento você pensou na outra enquanto estava
com ela?’’

Leio e suspiro fundo.

Eu: “Sempre foi ela. Nunca pensei em ninguém… E vou repetir isso
até a morte. Eu amo sua amiga com todo meu coração…’’

Eu a amo e me dei conta disso tarde demais.

Em algum momento deixou de ser paixão para virar amor, a ponto de eu


não conseguir respirar direito sem antes ter a certeza de que Anna estava
bem, como se não existisse mundo sem tê-la do meu lado, afinal se estava
vivo outra vez era porque ela tinha me devolvido esse prazer de lutar por um
futuro e por um nós.

A garota, depois da minha resposta, demorou para enviar a sua.

Marya: “Quem ama não destrói o outro assim…”

Algo me diz que desta vez quem respondeu isso foi Anna.

Eu: “Me perdoe…”

Mando e vejo mais um número ser bloqueado. Respiro fundo e me jogo


na cama.

Não consigo fazer mais nada, fechei a minha agenda de compromissos e


até mesmo cancelei a inauguração das peças de Angelina, provavelmente
nunca mais darei continuidade a esse projeto, pois foi graças a ele que tudo
ruiu.
— Você está tão linda, filha. — Dou um beijo na testa dela. — Acho
que está na hora de visitar sua tia Anna, princesa. O que acha, hum?

— Mama! — Ela me olha curiosa, entretida em tocar nos pelos da


minha barba.

— É, amor, quem sabe… Iria ser muito bom, não? Sim? — incentivo-a
a falar.

— Si!

Começa a pular animada nas minhas pernas e a seguro com cuidado.

— Então é isso. Nós vamos fazer uma visita a sua tia Anna. — Sorrio de
lado.
ANNA RURIKOVA

O tempo vem sendo o meu remédio para curar as feridas abertas que
insistem em doer. Passei anos acreditando que quando encontrasse minha
irmã sentiria um mundo de felicidade, mas tudo que senti foi desprezo e ódio
por sermos idênticas.

E ela está morta.

Eu nem sequer tive a chance de encontrá-la com vida...

O mais interessante nisso tudo é que não estivemos muito longe uma da
outra. Eu me pergunto por que, com todos os recursos que Angelina tinha,
nunca me procurou. Ela foi casada com um dos homens mais poderosos do
país, facilmente poderia me encontrar, dado que tinha tanto dinheiro. Eu não
tinha bens, dinheiro, nada, mas, se tivesse, não hesitaria em fazer isso.
Talvez não soubesse de mim.

Eu só sabia sobre sua existência porque quando era pequena me


contaram. Não sei se também partilharam dessa informação com minha irmã,
no entanto com uma busca fácil descobriria que chegamos juntas ao hospital,
não tinha erro.

A verdade está clara para mim.

Angelina nunca voltou ao passado para vasculhar suas origens, pois não
pareceu se importar enquanto passei anos desejando ter a chance de encontrá-
la.

Nada mais faz sentido.

Ela morreu.

Eu darei à sua memória o mesmo terço de importância que deu a suas


origens ao não se preocupar em saber sobre sua identidade real ou se tinha
uma irmã.

Em partes, preferiria mesmo que Andrey tivesse continuado a esconder


esse segredo, pois assim teria me impedido de passar pelo que estou
passando.

Ao saber da verdade, tive uma crise e a primeira coisa que fiz foi cortar
os cabelos. No dia seguinte veio o arrependimento, mas era tarde demais para
chorar pelo leite derramado. Marya, ao ver meu estado, tratou de reparar o
dano e fez um corte Long Bob, afinal foi tudo que deu para consertar em
meio ao caos.
Até que ficou bom.

Eu gosto de usar os cabelos longos, mas ouvir a conversa de Andrey


com aquele homem me fez ter nojo de mim mesma, como se não quisesse ter
a minha identidade associada a ninguém e realmente não queria mesmo. Esse
foi outro motivo que me fez descolorir o meu cabelo e fazer uma morena
iluminada.

Ficou bom também…

Nas semanas que passaram, fiz de tudo para me sentir bem de dentro
para fora, mas está sendo muito difícil, ainda mais com uma gravidez que
preciso encarar, os sintomas com que tenho que lidar, enjoos constantes e
muito sono, além do que escondi do pai do bebê, que nem sequer sabe de sua
existência.

Ainda não sei se é a coisa mais certa a fazer.

O que sei é que preciso me priorizar, mais precisamente minha saúde


mental, pois me sinto confusa em meio a tudo que vem acontecendo em
minha vida. Eu comecei a fazer terapia on-line, o que vem sendo de grande
ajuda para conseguir me levantar da cama todos os dias, pois até para isso
perdi a vontade.

Eu penso muito em Andrey, a ponto de sentir meu coração se apertar.

Uma parte de mim se nega a acreditar que ele mentiu para mim e me
usou como tapa-buraco por conta da minha semelhança com a sua falecida
esposa. Ainda não vi nenhuma foto da minha irmã e nem sequer tenho
vontade, para ser sincera, ainda mais depois das coisas que ouvi na sala do
seu escritório, além das outras que me fazem duvidar do que vivi com o
Imperador dos Diamantes.
A outra parte acredita no caráter de Andrey, afinal, é possível alguém
fingir assim? O que tivemos pareceu tão real, em especial quando me beijava,
me abraçava como se nunca quisesse me soltar, a forma como me olhava,
essas coisas que me fazem acreditar que o Imperador não foi um mero ator.

Não pode ser uma atuação.

Em algum momento realmente acreditei que Andrey enxergava a minha


irmã quando me olhava, mas basta me pegar pensando no que vivemos para
esses pensamentos irem embora, o que de alguma forma me ajuda a ter paz.

No entanto, talvez nunca o perdoe por ter mentido.

— Anna? — Marya entra no quarto. — Tem visita…

— Quem? — pergunto ao me levantar da cama. — É Adriele?

— Antes fosse, mas… é ele. — Logo entendo que é Andrey. — E a


filha.

Sabia que era questão de tempo até que ele desse as caras, pois não
parou de entrar em contato com Marya todos os dias. Ligava para ela, uma
vez que quebrei o meu celular junto do chip.

— Com a bebê? Sério?

Se estivesse sozinho, seria fácil para expulsar, mas…

A menina é minha sobrinha.


Suspiro.

— Tá. Pode mandar entrarem.

Marya concorda com a cabeça e sai. Eu me ajeito na cama, aproveito


também para dar uma arrumada na roupa amassada por passar tanto tempo
deitada.

— Anna?

Vejo Andrey adentrar o cômodo com a filha em um bebê-conforto.

— Oi. — Cruzo os braços. — Preciso deixar claro que estou permitindo


que entre aqui porque não veio sozinho, afinal… essa menina é minha
sobrinha. — Suspiro.

Ele assente com a cabeça e vem colocá-la do meu lado para ir sentar na
beira da cama de Marya. Logo abro um sorrisinho de lado ao ver a criança
acordada.

— Oi, princesa… — Estico os braços para pegá-la com cuidado e a


abraço. — Eu nunca pensei que a conexão que tivemos fosse por termos o
mesmo sangue. Você é a única parte boa em meio a tudo isso. — Dou um
beijo em sua cabecinha.

— Anna. Eu passei todo esse tempo te dando espaço, mas não dá mais
para manter as coisas como estão… Fiz isso porque vi como ficou abalada
em meio a tanta informação — sussurra. — Seus cabelos ficaram lindos…
Preciso ressaltar que não havia necessidade de fazer isso, pois nunca vi
ninguém quando estava com você e não importa quantas vezes precisarei
dizer isso.
— Veio aqui só para dizer isso? — Ajeito Elly em meu colo.

— Você ouviu tudo que aquele desgraçado disse, mas nada que saiu pela
boca suja de Anton é verdade. Assumo a minha parcela de culpa por ter
escondido que fui casado com sua irmã, assim como o fato de que a minha
filha é sua sobrinha. Eu sei que não é certo o que fiz, mas se não tivesse feito
não teríamos vivido tudo que vivemos juntos.

— Isso é desculpa barata, Andrey. A verdade, por mais que doa, sempre
será a verdade. Eu preferia que tivesse aberto o jogo desde o princípio, afinal
era pouco provável que conseguíssemos evitar o nosso envolvimento, fosse
eu irmã dela ou não.

— Me perdoe por não ter feito as coisas da maneira mais correta, Anna.
Eu me encontrei destruído, o meu coração se partiu quando a vi tendo aquela
crise… Estou morto por dentro desde que a deixei aqui. — Não para de me
olhar. — Me perdoe.

— Tudo ainda é muito confuso e recente, Andrey. — Suspiro.

— Sei que precisa de um pouco mais de tempo para assimilar as coisas,


bem como entender de uma vez por todas que não foi uma cópia em minha
vida, ouviu bem? Eu fui sincero em todos os momentos em que ficamos
juntos e em que a amei. Como sempre deixei claro, não tenho tempo para
joguinhos, Anna, o que faz de mim maduro o suficiente para admitir que o
que senti por você e sinto foi verdadeiro.

Olho de relance para ele e engulo em seco.

— Não sei o que dizer… Preciso de tempo. — Ajeito a pequena nos


braços. — Só não me prive mais de ficar com a única coisa que sobrou da
minha irmã, por favor.
— Tudo que você quiser, Anna. Mais alguma coisa?

— Pare de me procurar. Não me mande mensagens ou queira saber


sobre mim — peço com o coração partido. — Eu preciso ficar longe de você
para entender o que estou sentindo em meio a tudo isso que aconteceu… E no
fim, se eu chegar à conclusão de que o que tivemos foi real, então serei eu a
procurá-lo.

— Posso… Eu vou esperar, Anna. Não importa quanto tempo passe.

— Obrigada.

— Vou esperar pela segunda chance. Até lá, mesmo que distante, irei
provar que o que tivemos foi real, afinal estou apaixonado por você, Anna.
Eu… Eu te amo.

— Só o tempo irá trazer a resposta para o que sentimos, Andrey.

E esse é o nosso “Adeus”.

Em outros termos, um “até breve’’.


ANNA RURIKOVA

ALGUNS MESES DEPOIS

"Irmã, se algum dia você aparecer e por algum acaso ler esse diário,
espero que me perdoe por não a procurar ainda em vida, me desculpe, por
favor!

Espero que conheça Elly, sei que ela será uma menina incrível…

Com amor Angelina"

Termino de ler e passo logo para a próxima página.

Dia 20 de fevereiro: "Sou COVARDE! Não tenho coragem de


confrontar meus pais adotivos e questioná-los a respeito da minha irmã, e me
torno mais covarde ainda por não conseguir procurá-la. Será que ela está
bem? Será que gostaria de mim?"

Dia 28 de março: “Sinto-me incompleta, por mais que eu tenha


dinheiro, uma família e um marido incrível, sinto que me falta algo, como se
a minha metade não fosse realmente o Andrey, e sim a minha irmã que eu
nem sequer sei onde está."

Sem que eu tenha controle, uma lágrima escorre pelos meus olhos.

Dia 02 de abril: “Olho para diversos rostos espalhados por aí em busca


de alguém que me parece no mínimo familiar, após descobrir que tenho uma
gêmea perdida…"

O meu coração se aperta e me vejo chorando.

Dia 10 de maio: "Estou prestes a cometer uma loucura! E espero que


Andrey me perdoe. Escondi dele a verdade e sei que irá me odiar por isso...
Eu não poderia levar essa gravidez adiante, sei dos riscos altos para minha
saúde e sei que poderá ser fatal para mim, mas não posso mudar isso. Elly
virá ao mundo e será responsável por trazer a luz de que Andrey precisa, luz
esta que não está em mim..."

Passo a mão no rosto e fecho o diário da minha irmã gêmea.

Recebi algumas caixas com os pertences de Angelina faz pouco tempo,


mas demorei algumas semanas para abri-las. Andrey me enviou isso sem me
avisar, mas não pude fazer nada senão aceitar. Finalmente tive acesso a fotos
da minha irmã, desde sua infância até a fase adulta, além de suas roupas,
sapatos, joias, álbuns de viagens, até mesmo registros do tempo que passou
na faculdade.
Foi aí que entendi que sua intenção em fazer isso era só me dar a chance
de conhecer mais daquela que não tive a oportunidade de conhecer com vida.

Ao conferir as caixas uma por uma, encontrei alguns cadernos coloridos,


o que a princípio pensei que fosse algo sem importância, até que parei para
ler uma página e vi que se tratava de cartas escritas por Angelina. Foi aí que
me vi entretida, voltando ao seu passado, lendo tudo que viveu e passou em
todas as fases da sua vida.

Tive a chance de conhecê-la de verdade, sem filtros, como se cada linha


tivesse o poder de me conectar com sua alma, pois bastava fechar os olhos
para consegui-la sentir perto de mim, até mesmo conseguia imaginá-la do
meu lado.

Angelina foi tudo que não fui e era sem sombra de dúvidas o meu lado
oposto. Foi uma mulher reservada, leviana e que se privou de muitas coisas
por medo, o que a fez consequentemente acabar não me procurando. Ela
deixou muito claro em algumas páginas que só teve conhecimento da minha
existência quando estava grávida e em uma discussão que teve com seus pais
adotivos, que tiveram o prazer de jogar em sua cara que não passava de uma
órfã que foi separada da irmã.

Pelo que pude entender, Angelina não tinha uma boa relação com seus
pais, que a criaram impondo muitas regras e assim foram omissos a respeito
do seu passado por anos. Andrey surgiu em sua vida como oportunidade para
se livrar daquele lar, levando-a a vê-lo como uma tábua de salvação, mesmo
que não o amasse.

Foi a coisa mais estranha que descobri ao longo da leitura das cartas.

Angelina não amava Andrey de verdade, mas ainda era fiel e queria
formar uma família, apesar de que seu coração pertencia a um homem
chamado Anton. Ela não especifica nas cartas esse sentimento, mas deixa
bem claro do que se trata.

A verdade é que a minha irmã não teve tempo de conseguir me


encontrar, pois passou por uma gravidez de risco, que a fez se dedicar
exclusivamente em trazer Elly ao mundo. Ela esperava ter a filha em
segurança para depois continuar a tentativa de me encontrar, mas isso não foi
possível, dado que acabou morrendo.

— Até quando vai ficar lendo esses diários? — Marya fala ao entrar no
quarto. — Sabe que essa tristeza toda pode passar para o seu bebê, não é
mesmo?

— Ainda tenho muita coisa para descobrir… — Deixo o caderno de


lado e suspiro. — Cada vez que conheço mais sobre a minha irmã, eu me
sinto conectada com ela. Essas cartas me fazem senti-la aqui, sabe? É meio
estranho isso, mas…

Não termino de falar e passo a mão no rosto para limpar as lágrimas.

Algumas páginas estão manchadas, em geral são as que possuem os


relatos mais tristes de sua vida. É fácil somar os fatos e associar essas
manchas às lágrimas que minha irmã possivelmente derramava ao escrever
cada página de seu diário.

— Ainda não sei por que aquele imperadorzinho mandou te entregar


isso.

— De alguma forma, ele quis me dar a chance de conhecê-la de verdade.


— Suspiro. — Sabe, não estou achando ruim ter acesso à vida de Angelina…
Eu só fico triste por não ter chegado a conhecê-la com vida.

— Sinto muito por isso, Anna. — Vem se sentar ao meu lado e pega na
minha mão. — Talvez seja hora de virar essa página e deixar o passado
apenas no passado. Era sua irmã e, agora que já a conhece intimamente, é o
momento de dar adeus. Você pode começar fazendo isso ao ir visitá-la no
cemitério e se despedir…

— Eu não sei se consigo fazer isso. — Engulo em seco e coloco a mão


na barriga, logo sinto o meu filho dar um chute. — Oh…

— Não me diga que nosso rapazinho está mexendo?

— Sim. Oh. — Levo a mão dela até o ponto da minha barriga em que
ele se mexe.

— Eu disse… Nosso Mikhail está sentindo essa tristeza toda, Anna. Vá


logo lavar esse rosto e me ajudar a preparar uma sopa, não parece bom? —
Sorrio largo.

— Tá… Só vou guardar esses diários.

— Guardar e devolvê-los para o lugar de onde vieram, assim como


preciso dar uma resposta àquele advogado que não para de mandar
mensagem para mim.

— Ainda não sei o que fazer, Marya. — Fico acariciando a barriga.

Os meses se passaram e estou com mais de vinte e quatro semanas de


gestação. Exibo um barrigão enorme, que já não consigo esconder com as
roupas largas que usei todo esse tempo para ocultar a gestação. No entanto,
só compartilho esse detalhe com as pessoas mais próximas, tendo todo o
cuidado necessário para que essa informação não chegue aos ouvidos de
Andrey, o pai do meu menino.
O Imperador dos Diamantes vem respeitando o meu tempo e não me
procurou, mas eu sei que isso não é o nosso fim. Andrey manda Elly vir me
visitar toda semana acompanhada da babá para ficar um tempo comigo, além
de que nunca deixa de me mandar flores, chocolates, às vezes joias, recados
com trechos de músicas que falam sobre amor e perdão.

Ele não me dá uma liberdade total, pois sempre se faz presente, mesmo
que não venha em carne e osso, por isso tive dificuldade para esconder a
gravidez do Imperador dos Diamantes até agora. Por obra do destino, no
entanto, Marya está esperando um filho de Pavel — que, é claro, foi homem
para assumir a criança — e às vezes faço o pré-natal com ela como se fosse
apenas a sua acompanhante, apenas para ter uma desculpa e disfarce. Do
contrário, dou um jeito de fazer as consultas em outra cidade e Adriele me dá
suporte para tudo correr bem. É claro que precisei me trancar em casa e quase
nunca saio, para não correr perigo.

Só que não dá mais para continuar escondendo…

Nos primeiros meses foi fácil fingir que não estava grávida, pois não sou
uma dessas mulheres que têm um barrigão acentuado, mas, conforme o
tempo passa isso toma novos rumos, pois Mikhail cresce em meu ventre, tão
forte e saudável, o que me deixa feliz.

Eu ainda continuo apaixonada por Andrey, mas nunca pensei em


procurá-lo, pois sentia que ainda não era o momento para dizer que o perdoei
por ter guardado o segredo que envolvia o meu passado. As coisas
aconteceram entre nós porque tinham de acontecer e não podia ficar
remoendo esses sentimentos ruins para sempre, afinal só iria me deixar ainda
mais doente por algo que não podia mudar.

Não dá para alterar a ordem de como tudo acontece.

Esse é o nosso destino.


As terapias me fizeram entender o que sinto pelo Imperador dos
Diamantes. Eu o amo com todo meu coração e esse sentimento foi o principal
fator que me fez perdoá-lo de uma vez por todas, pois devido a isso consegui
entender que Andrey nunca viu Angelina em mim. Ele não mentiu quando
disse aquelas coisas e tentou provar a sua verdade, mas na época estava
abalada demais para acreditar.

Só que agora acredito.

Andrey realmente se apaixonou por mim e não pela versão de outra.

— Você já tem a resposta, Anna… Sabe que não pode ficar para sempre
neste quarto que mal comporta nós duas. Por muito tempo viver aqui foi
tranquilo, mas agora temos filhos a caminho — Marya fala algo importante.
— Eu não vou ficar aqui para sempre. Pavel está vendo um cantinho para
morarmos juntos.

A vida da minha amiga está sendo resolvida. Os pais do bilionário já


sabem da chegada da criança e, apesar da diferença social que os cerca,
aceitaram sem rejeição alguma, bem como Pavel vem provando ser um
homem de caráter.

Eu fico muito feliz pelo casal.

— Fico feliz por vocês, Marya. — Sorrio de lado. — Prometo que vou
dar mais uma lida no documento enviado pelo advogado da minha irmã.

Romeu Sanchez entrou em contato através de Marya, pois eu ainda


estava sem celular, afinal foi uma escolha que fiz e fazia parte do meu
processo de ficar bem. O advogado tinha algo para me entregar e nada mais
era que uma herança deixada pela gêmea. Angelina possuía alguns bens, além
de uma conta bancária, e Andrey achou justo que fosse eu a receber,
ignorando o fato de que a verdadeira herdeira dela é Elly.

Eles alegavam que a bebê estava segura e tinha sua parte enquanto a
outra seria destinada a mim, caso aceitasse assinar os papéis liberando a
transferência. Eu ainda não dei uma resposta final, ao passo que penso em
aceitar, afinal isso me daria a chance de comprar um lugar para morar e
realizar meu sonho.

Eu fui aprovada no vestibular de medicina, mas ainda não comecei. Se


aceitar a tal herança de Angelina, poderei pagar o curso sem precisar me
preocupar, afinal com a chegada de um bebê ficarei apertada financeiramente.

— Mande uma mensagem para esse Romeu… Diga que vou à tal
reunião.

— E eu estarei lá com você, amiga. — Marya sorri.

— Obrigada por ficar ao meu lado. — Puxo-a para um abraço apertado.

O primeiro passo será dado.

Encerrar um ciclo para que novos sejam abertos.


ANDREY VASSILIEV

— Então ela finalmente vai aceitar. — Bebo um pouco de vinho.

Estou em uma ligação extremamente importante.

— Vamos nos encontrar hoje para assinar a papelada necessária.

O advogado que contratei ficou responsável por entrar em contato com


Anna, a respeito de passar os bens deixados por Angelina para o seu nome, e
isso envolve principalmente a conta bancária em que acumulou alguns
milhões. Ele foi a única opção que achei distante para resolver essa questão
sem que qualquer outra pessoa da minha família ou empresa tivesse
conhecimento algum.

Mandei algumas coisas de Angelina para a irmã, a fim de que pudesse


então conhecer um pouco daquela que partiu. Uma funcionária que estava
separando as coisas para entregar a Anna mencionou cartas deixadas pela
minha falecida e, movido pela curiosidade, fui ver com meus próprios olhos
do que se tratava. Nem sequer me lembrava de ter visto Angelina tirando seu
tempo para escrever alguma coisa. Só que fui surpreendido ao saber que
dentro de algumas caixinhas havia muitos diários. Não cheguei a ler todos,
mas os que li só me deixaram ainda mais atormentado e deprimido.

“Eu amo você, Andrey! E sempre irei amá-lo, pois você serviu como
uma âncora em minha vida. Mas sei que eu não sou o amor da sua vida, e
espero que o encontre. Quando encontrar, não pense em mim, pois tudo que
eu quero é que seja feliz…’’

“A chegada de Elly será um marco na vida de todos e eu tenho total


ciência disso! Mas quero que entenda, ela não tem culpa de absolutamente
nada do que aconteceu. Eu fiz a minha escolha, não é justo privá-la de vir ao
mundo e conhecer o homem incrível que você é!’’

Angelina sempre soube que iria morrer no parto.

“É um homem incrível! E quando o verdadeiro amor bater à sua porta,


por favor, deixe-o entrar!’’

O maldito diário que li foi justamente o último escrito por ela. Sempre
foi de conhecimento de todos que sua gravidez era de risco, mas nunca
passou pela minha cabeça que Angelina sabia que não iria conseguir
sobreviver ao parto.

Foi como ter levado uma facada. A minha falecida esposa foi uma
mulher forte por ter se mantido inabalável e cheia de fé para trazer à vida a
nossa filha, apesar dos riscos. Irei honrar o amor que ela teve por Elly e farei
de tudo para proteger nossa pequena.
Sua morte não foi vã.

A coleção que leva seu nome foi adiada, dado o que aconteceu no dia
em que Anna descobriu tudo, mas estou focado no último mês em retomar
com tudo e selar o seu legado, esse mesmo que ficará de herança para a nossa
filha.

O trabalho e o amor pela bebê são a única coisa que me mantêm são,
uma vez que uma parte do meu coração se encontra destroçado e partido em
mil pedacinhos. Eu não consigo seguir em frente, não sem Anna ao meu lado,
sem saber como está, se um dia me perdoará por tudo que fiz e por trazê-la
para uma teia de mentiras. Os meses passaram na velocidade de uma
tartaruga, tão lentos, tão devagar, cada dia foi como uma maldita tormenta,
onde me vi obrigado a levantar da cama e fingir estar bem sendo que a
verdade era totalmente outra.

Não estou bem.

Nunca ficarei.

Não até que ela me perdoe.

Eu respeitei o seu tempo e venho fazendo isso a duras penas, sendo


preciso usar uma força sobrenatural para não largar tudo só para ter o prazer
de reencontrá-la. O que me faz ficar firme no propósito de respeitá-la é a
faísca de esperança que tenho de que em algum momento irá me procurar,
como prometeu na última vez que nos vimos, mas esperar por isso sentado é
a coisa mais difícil do mundo.

Eu lhe dei espaço para pensar, respirar e se reconstruir após quase a


destruir, mas sobreviver com a incerteza, sem saber se poderemos voltar, me
mata aos poucos. O anel que mandei fazer para pedi-la em casamento não sai
do meu bolso, como se fosse um cordão religioso e que me mantém, por um
lado, confiante de que um dia irei colocá-lo em seu dedo, lugar este que foi
feito para recebê-lo.

Estou longe de Anna, tão distante de seu olhar, ao mesmo tempo que
estou por perto, pois não houve um dia sequer em que não tentei reconquistá-
la com pequenos gestos, com flores, ou outras coisas que provavelmente
arrancariam um sorriso de seu rosto, assim como mandei levarem Elly para
passar um tempo com a tia, a fim de fazê-las criar uma conexão, que por um
momento cheguei a pensar em proibir.

Se no começo tivesse feito tudo certo, nada disso teria acontecido.

— Onde? Quero o endereço, pois irei fazer uma surpresa a minha


mulher…

— Tem certeza de que isso é realmente necessário, senhor?

— Sim. Aguardo o endereço por mensagem, Romeu. Adeus — digo e


encerro a chamada, pois não temos mais nada para conversar.

Tudo na vida tem um prazo e o meu finalmente se esgotou.

Eu preciso saber se ainda há a possibilidade de ela me perdoar ou não.

Se Anna disser olhando em meus olhos que “não’’, tudo que me restará
será aceitar e criar uma possibilidade de continuar vivo sem ela do meu lado.
Eu a amarei para sempre, mas tenho uma filha para criar e que precisa de um
pai presente. É claro que não seria o imperador de antes, mas continuarei
resistindo em nome do amor.
Coloco o celular na cômoda do quarto e me levanto da cama para tomar
um banho.

Horas depois estou em frente à filial do escritório de advocacia.


Segundo as informações que recebi do Romeu pelo WhatsApp, a reunião já
começou faz alguns minutos. Cheguei um pouco atrasado, dado que fiquei
entretido com a minha filha, que anda bem manhosa e chorona esses dias.

Dou uma olhada no relógio e decido entrar de uma vez por todas.

Assim que entro no prédio, sou bem recebido por uma funcionária e
aviso que irei encontrar o advogado. Como ele mesmo já sabia que eu estaria
por aqui, tenho o acesso liberado para seguir caminho até a sala onde os dois
estão em reunião.

Passo pelo corredor e paro em frente à porta.

O que farei?

O que direi?

Dou um passo para a frente e, quando penso em abrir, sou surpreendido


de uma vez.
Anna.

— An… Andrey? — Seus olhos se arregalam, surpresa ao me ver.

Só que a minha surpresa é maior ao descer o olhar pelo seu corpo e ver o
volume que exibe sua barriga, mesmo usando um desses vestidos longos que
disfarçam.

Grávida?

Ela está com um copo na mão, talvez estivesse saindo para enchê-lo de
água.

— Anna — digo ao engolir em seco. — Tudo bem?

— O que você está fazendo aqui, Andrey? Quer dizer… É meio óbvio.
— Tenta proteger a barriga ao cruzar os braços.

— Sim, Anna. Eu vim porque queria falar com você — falo. — Passei
todo esse tempo respeitando o seu silêncio, ao passo que consequentemente
isso me matava por dentro. Precisava ver com meus próprios olhos como
estava…

— Estou bem, será que não consegue ver?

— Que bom que aceitou receber o que Angelina deixou… — Vejo-me


perdido.

Não consigo sequer tirar o olhar do seu ventre. Anna está grávida…
Esse filho pode ser meu, não?

— Fiquei por muito tempo pensando em recusar, pois nunca fui do tipo
que quer as coisas dos outros, mas, depois de receber os pertences dela que
você mandou, percebi que não tinha nenhum problema em aceitar — sussurra
baixo. — Eu passei a minha vida toda procurando por ela e tudo que tenho
hoje são só coisas materiais, que no final das contas não suprem a falta que
deixou no meu coração.

— Fez a escolha certa, Anna. Agora terá a chance de reconstruir sua


vida. — Coloco as mãos nos bolsos da calça. — Será que podemos
conversar?

— Aqui parece perfeito.

— No meio de um corredor? Serão só alguns minutos…

— Tá. Romeu precisou ir atender a um telefonema, então podemos


conversar, seja lá o que queira falar. — Dá espaço para que eu possa passar e
entrar na sala.

Entro no ambiente e Anna vem logo em seguida, ao fechar a porta.

— Então, Andrey? O que quer falar?

Viro-me para encará-la.

— Nunca pensei que depois de tanto tempo afastados fosse encontrá-la


grávida. Suponho que esse filho seja meu… Como isso aconteceu, Anna? Eu
fui bem claro com você, deixei explícito que não queria ser pai, afinal pedi
que tomasse remédio.
— Eu não fiz por querer! Pensa que eu arquitetei isso propositalmente?
— fala magoada.

— Você fez uma escolha, Anna, e não pensou nas consequências. No


entanto… pelo visto é um pouco tarde para mudar isso. Quantos meses de
gestação?

— Claro. — Passa a mão na barriga, nervosa. — Você não quer este


filho porque eu não sou a Angelina, a mulher da sua vida! Talvez porque
agora já não me pareço tanto assim com a minha irmã? — cospe as palavras
duramente.

— Anna...

Em segundos me arrependo da forma como me expressei.

— Não toque em mim! Você sempre me viu como uma cópia barata,
não é? Quer dizer, passei esse tempo todo tentando acreditar que não tinha
sido isso, mas agora vendo esse desprezo todo em seu olhar… — Seus olhos
se enchem de lágrimas.

— Anna... Por favor, me ouça! — Tento tocar em seu rosto. — Não


pense que estou rejeitando a criança… É só tudo um pouco confuso. Eu
nunca quis ser pai, Angelina engravidou pelas minhas costas e agora a vejo
grávida…

— Te faço pensar que sou como ela… — As lágrimas escorrem pelo seu
rosto.

— Não, porra! Eu me apaixonei por você, caralho! Eu te amo! Quantas


vezes terei que dizer que nunca vi ninguém enquanto te amava com todo o
meu coração?
— Eu já entendi, Imperador… Entendi perfeitamente.

— Não, Anna… — Aproximo-me e toco em seu rosto. — Você não


entendeu porra nenhuma! Eu te amo, sereia. Confesso que estou nervoso e
confuso com o fato de que te engravidei, mesmo não querendo que isso
acontecesse, mas já que temos um bebê a bordo… vou me esforçar para amá-
lo e ser um pai melhor do que não fui nos primeiros dias de vida de Elly. —
Dou um beijo em sua testa.

Anna tenta se afastar, mas eu não deixo.

— Por favor, acredite em mim. Nunca houve outra ou cópia de ninguém.


O meu coração escolheu você, porra! — Pego sua mão e levo aonde bate
acelerado. — Olhe. Cada batida forte é por sua causa, Anna, única e
exclusivamente.

— Não sei se devo acreditar em você, Andrey.

— Eu lhe darei mais de um motivo para confiar em mim, sereia. Só não


me deixe mais no escuro… Me deixe reconquistá-la e provar a verdade em
tempo real. — Eu me ajoelho em sua frente. — Eu nunca seria capaz de
desprezar o nosso filho.

— É realmente um menino… — sussurra baixo.

Meu coração se aperta e abraço sua cintura, esfregando meu rosto em


seu ventre.

— Não me deixe, Anna… Me perdoe e me aceite — imploro. — Eu te


amo e prometo que vou me esforçar por você… — falo com o bebê — de
todo meu coração.
Só o amor em ações é capaz de reconstruir as partes quebradas e
perdidas.

— Por favor, Anna…

— Uma última e única chance, Imperador…

— É tudo que necessito para fazer acontecer o nosso final feliz.


ANNA RURIKOVA

Existe uma frase de William Shakespeare que diz que é muito melhor
viver sem felicidade do que sem amor. E, bom, o autor desse texto estava
realmente certo ao afirmar isso, pois sem dúvidas não é possível ser feliz sem
uma dose de amor.

Eu amo Andrey.

E Andrey me ama.

A nossa história de amor não tinha nada de linda e andava muito longe
de ser um conto de fadas, mas em sua forma sublime era a mais emocionante
de todas. Se um dia alguém falasse para mim que eu iria viver tudo que vivi
nos últimos meses, eu provavelmente iria rir até a doer a barriga, pois julgaria
algo um tanto impossível.
Só que aconteceu.

O destino por si só me trouxe para os braços do Imperador dos


Diamantes. Esse homem um dia pertenceu a minha irmã gêmea, mas esse
detalhe não me incomoda mais, pois nesta altura do campeonato tenho pleno
conhecimento de que o nosso amor é um só, sem ligações com terceiros ou
fantasmas do passado.

Andrey se apaixonou por mim, sem levar em consideração terceiros. É


claro que algumas vezes cheguei a cogitar essa possibilidade, mas a verdade
estava em evidência, principalmente quando me olhava cheio de amor e
admiração.

Eu estou surpresa com o pai do meu filho, em especial por estar se


esforçando diariamente para ser digno do meu coração, atencioso, carinhoso
ao passo que também se doa para ser cada vez mais presente na vida da
minha sobrinha.

Desde o dia em que resolvi dar uma segunda chance, Andrey não mede
esforços para tentar consertar as coisas e faz o impossível para demonstrar o
amor que sente por mim. É tudo ainda muito novo para mim, pois nunca
chegamos de fato a fazer as coisas da maneira certa, tudo entre nós sempre
foi intenso demais.

Só que Andrey quer começar do zero.

Depois da nossa conversa, o pai do meu bebê ficou ao meu lado durante
a reunião com o advogado e me esperou assinar toda a papelada necessária
para receber o dinheiro da minha irmã. Logo mais, ele me levou de volta para
casa e aproveitei para contar qual caminho seguiria após receber a herança.
Eu disse a Andrey que iria arrumar um cantinho para morar, ainda mais com
um bebê para chegar.
É claro que ele não deixou.

Andrey disse que podia me mudar para sua casa, assim teria um tempo
de qualidade para ficar com a minha sobrinha pequena, o que no fim só me
fez aceitar. Eu não queria ficar mais tanto tempo longe da única pessoa que
era ligada ao meu sangue. Naquele mesmo dia, eu me despedi de Marya, que
logo mais também iria embora, fiz as minhas malas e me mudei oficialmente
para a mansão do pai do meu filho.

Faz algumas semanas que estou oficialmente em sua casa. Eu tenho a


minha privacidade, um quarto bem longe do seu e acesso a tudo que nunca
pensei ter. Passo mais tempo com minha sobrinha e estou pensando em
oficialmente começar a faculdade que até então não iniciei por medo de não
conseguir.

No entanto, agora, como saí do trabalho na mansão e possuo milhões em


uma conta no banco, tenho segurança para estudar e promover uma qualidade
de vida segura para meu filho, posso respirar um pouco mais tranquila.

— Daaaaa! — Elly chama a minha atenção pedindo a boneca que está


em minha mão.

Estava tão distraída em pensamentos que nem mesmo percebi.

— Sim, princesinha. Desculpa a titia Anna? — Entrego a ela, que


recebe.

— Mama? — Fica me olhando.

— É Anna. Fala assim, ó: Anna! — incentivo-a a falar.


Eu tentei não só uma mas várias vezes fazê-la aprender a me chamar da
maneira correta, no entanto a pequena garotinha, que já anda, não quis me dar
atenção.

Na sua cabecinha, eu realmente sou sua mãe.

— Tudo bem, pelo visto decidiu que sou isso, não é? Sim? Não?

— Si! — Deixa a boneca no chão para se levantar e vir para meu colo.

— Vamos ter que conversar com seu pai sobre isso, ok? — Seguro-a
com cuidado e a coloco na minha perna. — Quer conversar um pouco com
seu irmãozinho?

Levo uma mão livre em direção ao meu barrigão.

Quase não acredito que cada vez mais se aproximava o dia do


nascimento de Mikhail.

— Mamo?

— Sim, ele vai ser o seu mano. Um irmãozinho. — Sorrio de lado.

Andrey não perde nenhuma consulta do filho. Às últimas fui


acompanhada dele, que fechou a agenda para me levar. É visível que se
esforça para aceitar a ideia de ser pai, e o que posso perceber é que essa
resistência à paternidade não tem nada a ver comigo ou a outra, mas com algo
ligado ao seu passado problemático.

O Imperador dos Diamantes abriu a sua vida para mim e contou um


pouco do que foi até se tornar um homem poderoso. Pelo que pude entender,
essa rejeição se deu por conta da criação conturbada com os pais. Não o
julgo, afinal ele vem dando o seu melhor para converter isso e ser digno dos
filhos que tem.

Andrey chega em casa tarde do trabalho, mas mesmo assim para tudo
para brincar com Elly. Até mesmo a coloca para dormir, e em seguida vem
ficar um pouco comigo, faz massagens nos meus pés e fica acariciando meu
barrigão.

Não passa disso.

As nossas noites são assim. Ficamos um pouco na sala, outras vezes em


sua varanda, conversando sobre tudo um pouco, como se estivéssemos no
começo de um relacionamento sério, em que duas pessoas se conhecem antes
de fazer sexo.

Eu até acho melhor assim.

Não me sinto preparada para dar outro passo e apressar as coisas, uma
vez que tudo está indo bem, enquanto estamos apenas respeitando o nosso
tempo. Eu sei que em algum momento algo mais irá acontecer, pois minha
boca saliva de fome de Andrey, é um tanto difícil ficar tão próximo sem tocá-
lo, mas não posso avançar.

— Olha quem está acordada…

Escuto a voz do Imperador dos Diamantes e sorrio.

— Papá!
A pequena traidora de olhos azuis me deixa para ir receber o seu pai.
Aproveito para dar uma pequena organizada na bagunça que se formou no
quarto da criança.

Andrey dispensou duas babás que a menina tinha para deixar apenas
uma, já que agora se faz presente na criação da garotinha, participando
ativamente.

Dá até gosto de ver.

Sua rotina continua a mesma, muitos compromissos, mas isso não é um


obstáculo em meio ao seu desejo de ser o pai que a Elly merece ter ao lado.

Andrey pega a menina nos braços e vem se sentar em minha frente.

— O que as duas estavam aprontando para fazerem essa bagunça? —


brinca.

— Sua filha é arteira. — Faço careta. — Saiu mais cedo hoje do


trabalho?

— Sim. Eu quero levá-la a um jantar — diz. — Tenho o seu “sim’’?

— Isso é um pedido? — Franzo o cenho. — Peça direito, Imperador.

— Ok… Que tal me ajudar, filha? — Balança a criança no colo. —


Anna, me dá a honra de levá-la a um jantar? Agora é sua vez… — incentiva a
pequena.

— Mamá! Vamu!
Acabo dando uma risada.

— Os meus pés estão inchados demais… Esse jantar não pode ser aqui?

É real. Eu sinto como se fosse uma bolinha de tão pesada que estou.

Ganhei peso na gestação, no pacote os pés inchados e muita fadiga.

Mikhail provavelmente irá nascer pesando muito bem.

— Tudo bem, vou ver o que posso fazer quanto a isso. — Andrey sorri.
— Ela pelo visto te adotou por mãe…

— É. — Fico sem jeito. — Juro que tento incentivá-la a me chamar de


tia.

— Não se escolhe a quem amar, Anna. Elly te escolheu como mãe… E


só te resta aceitar isso. De alguma forma, essa menina vê em você amor
materno.

Malditos hormônios! Meus olhos se enchem de lágrimas.

— Até pouco tempo não me via nem sendo mãe de Mikhail, mas agora
tenho a chance de amar duplamente ao ser presenteada com dois filhos. Eu
aceito amá-la como a minha filha, Andrey, e prometo ser a melhor mãe do
mundo.

— Nós não tivemos a chance de ter uma família perfeita, Anna, mas a
nossa será a melhor de todo o Universo. Vamos aprender juntos a cuidar dos
nossos filhos.
— Sim.

— Estarei ao seu lado o tempo todo. Porque te amo e esse amor nunca
vai morrer.

Sinto vontade de dizer… Eu te amo, Andrey, com todo meu coração.


Mas tudo que faço é concordar com a cabeça, afinal tenho plena certeza de
que iremos conseguir.

Juntos.
ANDREY VASSILIEV

Todo começo tem um meio e fim, mas nossa história de amor está
apenas começando. Há um longo caminho pela frente para ser percorrido e
desafios para serem superados juntos, de mãos dadas, como deveria ter sido
desde o princípio.

Errei.

Falhei incontáveis vezes.

Só que pela primeira vez em anos estou focado em fazer as coisas da


maneira correta. Eu convidei a minha mulher para um jantar, só nós dois,
mas, dado o seu estado de gravidez, a fadiga constante, sono e inchaço, ela
recusou.
Eu não me importo com essas coisas, mas Anna, por outro lado, sim. Ela
pediu que o jantar fosse feito em nossa casa, onde seria algo menos casual, e
acabei adiando meu plano inicial. Agora tenho que preparar algumas coisas,
além de organizar uma decoração para que não seja algo simples ou sem
importância.

Na verdade minha intenção por trás de tudo é ter um momento a sós


com a mãe do meu filho e tirar de uma vez por todas o anel que não sai do
meu bolso. Eu quero pedir Anna em casamento, bem como entregar-lhe outro
presente simbólico.

Ela não sabe, mas desenhei uma coleção especial banhada a ouro e
diamantes. Pode soar como algo clichê, já que a sua irmã teve também um
lançamento de joias, mas as que fiz para Anna são completamente diferentes
de todas que já foram produzidas em minhas joalherias. Cada peça tem uma
pedrinha de cor peculiar, desde azul a rosa, além de que a sua fabricação foi
voltada apenas para anéis.

O mais importante disso tudo é que todo dinheiro arrecadado será doado
para orfanatos de crianças que tiveram o mesmo destino que Anna e
Angelina.

Eu planejo fazer isso com ela ao meu lado, após contar o meu plano, que
até então eu executava por baixo dos panos, esperando pelo momento certo.
O meu primo Viktor me ajudou na produção, afinal é o único com quem
mantenho contato, já que me recuso a manter vínculo algum com seu irmão.
Anton tentou falar comigo algumas vezes para pedir desculpas, mas não lhe
dei atenção, afinal só o tempo para resolver esse conflito que se instalou entre
nós dois.

Só assim para, quem sabe, perdoá-lo.

A única pessoa nessa história que merece um pedido de desculpas é


Anna, a que mais foi atingida pela soberba e palavras tóxicas desferidas por
Anton.

Um dia desses, Anna me disse que sua irmã escreveu, em um dos


diários, que tinha uma paixão pelo meu primo, o que me pegou de surpresa,
mas não chegou a causar desconforto ou algo do tipo, pois eu já não nutria
mais nada por Angelina a essa altura. Se tivesse tido acesso a essas cartas
antes, tudo teria sido diferente, mas a maldita foi esperta ao escondê-las
muito bem pelo tempo que ficamos juntos.

A verdade é que fui enganado em partes.

O que me conforta é saber que ela com vida ao menos foi fiel, assim
como fui, pois não suportaria saber que a minha filha pequena poderia ter o
sangue de outro homem.

Elly é a minha filha.

Os meus pais, a esta altura, já têm conhecimento da existência de Anna e


da sua ligação com a Angelina, assim como souberam do bebê. Apesar de
terem sido por anos uma pedra no meu sapato, fiquei surpreendido com a
aprovação deles. A minha mãe, em uma ligação para a minha filha, teve a
chance de conversar com a minha futura esposa e a conexão entre as duas
veio de imediato.

Até mesmo o meu pai gostou da mãe do meu filho.

Conforta-me saber disso, afinal é um problema a menos com que terei


que lidar.

— Espero que ela goste — falo baixo ao dar mais uma olhada na
decoração que mandei fazerem em prol do nosso jantar romântico.
Quem diria que o Imperador dos Diamantes se tornaria nisso?

Há velas por todos os cantos, uma pequena fogueira acesa, flores


vermelhas por todos os lugares e um telão que mandei colocar para fazer uma
apresentação. Eu estou ansioso para descobrir o que ela dirá ao ter
conhecimento do que fiz.

— Só preciso que diga sim, sereia… — sussurro, coloco a mão no bolso


para conferir a caixinha com o anel. — Um sim para a nossa segunda chance.

Agora é só esperar a minha convidada chegar à varanda onde tudo a


espera.

— Meu Deus, Andrey! — A primeira coisa pela qual Anna se apaixona


é a decoração. — Oh! Eu vou depois sair pegando essas flores uma por uma
— brinca.

— Posso comprar um buquê por dia, se esse for o seu desejo. — Sorrio.

— E assim iria facilmente à falência, não é mesmo? — Coloca uma mão


na barriga.

Ela veste um vestido longo, usa os cabelos presos e pouca maquiagem


no rosto.

Eu a amo dessa forma.

Tão simples.

Tão única.

— O seu pai é um fofo, sabia? — fala com nosso filho. — Mikhail,


espero que consiga ser um por cento do que esse Imperador dos Diamantes é.
— Sorri.

— Sabe que ando muito longe de ser um príncipe. — Caminho em sua


direção e estendo a mão para tocar em seu ventre. — Espero que você, filho,
seja cem por cento igual a sua mãe — digo com o olhar fixo nos seus. —
Única e verdadeira.

— Ainda é muito cedo para me fazer chorar e quero antes comer uma
dessas comidas que parecem me convidar silenciosamente para provar uma
por uma.

— É, claro. A prioridade aqui é alimentar a minha mulher grávida. —


Fico tocando em sua barriga e sinto o nosso pequeno chutar. — Pelo visto os
dois estão com fome. — Dou um risinho.

— Eu sei, isso é péssimo. — Faz careta. — Já ganhei mais peso do que


em toda minha vida, olhe só para mim… Estou parecendo uma vaquinha. —
Ri sem som.

— Continua linda, senão ainda mais bela. Eu nunca te achei feia e nunca
irei achar.
— Diz isso porque ainda não viu como estou cheia de estrias…
Provavelmente, dentro de poucos meses, meus seios não serão mais durinhos
como antes.

— Isso era para me deixar broxado ou algo do tipo? — Franzo o cenho.


— Porra, se der uma olhadinha para baixo vai ver que só me deixou ainda
mais excitado…

Desde que voltamos, ainda não fizemos sexo, nem mesmo nos beijamos.
Eu estou me aliviando sozinho, pois não aguento mais vê-la e não poder tocá-
la.

Sinto-me dentro de uma prova de resistência.

No entanto, respeitei seu espaço e tempo, pois não queria forçar as


coisas. No momento certo tudo irá se resolver e finalmente voltaremos a ser o
que fomos.

— Ai, não. — Anna finalmente vê o volume que exibo na calça.

— Estou com as bolas roxas, mas a minha mão tem servido para aliviar
isso.

Anna dá uma gargalhada.

— Isso não é a coisa mais importante no momento. — Suspiro. — Sexo


nunca foi tudo que eu quis com você, Anna. É claro que é um tempero
essencial para nossa relação; juntos somos uma dupla e tanto na cama, mas…

— Mas? — me incentiva a continuar falando.


— Eu quero uma vida com você. Filhos e tudo que for da sua vontade.
— Pego em sua mão. — Preciso e necessito de tê-la ao meu lado para
sempre.

— Estou aqui… — diz baixinho.

— Nunca é suficiente, entende? Quanto mais te tenho, mais anseio ter o


dobro. É um desejo incontrolável, como se não houvesse a menor chance de
viver sem você. Esse tempo que passamos separados só me fez compreender
isso. Eu te amo e irei passar uma vida toda provando que sou digno de uma
segunda chance.

— Sem mentiras, sem omissões, por favor…

— Isso nunca mais! Eu prometo. — Levo suas mãos aos lábios e beijo.

— Isso é um bom começo. — Sorri de lado.

— Quero te mostrar uma coisa, Anna. — Pego no bolso o controle para


ligar o telão. — Vem aqui… — eu a chamo para irmos nos sentar em um
sofá.

Ela me acompanha um pouco apreensiva e se acomoda no estofado.

— O que… O que significa isso, Andrey?

— Apenas assista… Depois quero te fazer uma pergunta.

Logo começa a apresentação da coleção que fiz especialmente para


minha mulher.
— Ai, meu Deus do céu! Sou eu. Eu… — Fica sem acreditar.

— Sim. Eu fiz tudo isso enquanto estávamos separados. Todas as


minhas madrugadas foram montando isso — digo, com o olhar vidrado na
tela. — Uma por uma. Vamos lançar juntos e todo dinheiro das vendas será
doado para os orfanatos.

— Ah…. Vai fazer isso mesmo? Jura? Ai, Andrey! — Ela se emociona.

Anna começa a chorar, como vinha fazendo nos últimos dias devido aos
hormônios.

— Sim. Eu vou doar todo o dinheiro para esses lares mais pobres. Quem
sabe, assim, algumas crianças possam ter uma qualidade de vida melhor. —
Sorrio.

Sou surpreendida por ela, que me abraça apertado.

— Eu te amo. Te amo mesmo! — sussurra em lágrimas.

— Sempre soube que sim, sereia. E eu te amo o dobro. — Dou um beijo


em sua testa. — Olhe para mim, por favor — peço gentil.

Anna assente e se afasta para me encarar.

— Estou com algo para te dar faz um tempo já… — Deixo o controle de
lado para pegar a caixinha de veludo no meu bolso. — Sei que fiz esse
pedido uma vez da forma mais errada possível, mas agora tenho uma segunda
chance para fazê-lo de verdade. — Abro-o e tiro o anel de dentro. — Aceita
se casar comigo, Anna Rurikova?
— Ai! Sim — responde rápido. — É claro que sim, Imperador dos
Diamantes.

— Aqui selamos o recomeço da nossa história de amor. — Pego em sua


mão. — Eu te amo para sempre, sereia.

— Para sempre.

Coloco a aliança em seu dedo e a puxo para um beijo apaixonado.

O nosso final feliz começa aqui.


ANNA RURIKOVA

ANOS DEPOIS

Finalmente as férias chegaram.

O tempo passou tão rápido, mas se fechar os olhos consigo facilmente


reviver tudo que aconteceu até os dias de hoje. O meu casamento com o
Imperador dos Diamantes aconteceu duas semanas depois que aceitei dando-
lhe um sim, e isso foi o gatilho perfeito para que o pai dos meus filhos fizesse
acontecer um evento luxuoso dentro de um curto período de tempo, o que não
me surpreendeu.

Andrey havia mudado muito, se tornou um homem tão digno do meu


coração e amor, assim como era dos nossos filhos também. Mas ainda
mantinha sua essência, um tanto protetor, possessivo, e fazia a maioria das
coisas à sua maneira.

Eu não me importava quanto a isso, nem mesmo revirava os olhos


quando batia na tecla sobre algum assunto ou qualquer outra coisa aleatória
do dia a dia, pois aprendi a amar cada pedacinho seu, até seus defeitos, que
viraram qualidade.

Andrey sempre foi intenso, desde o nosso começo, e continua sendo até
aqui.

— Essa roupa está bonita, mamãe? — Elly sai do banheiro e para em


minha frente. — Não tá muito brega? — Pisca os olhos, nervosa. — Hum?

A minha filha cresceu, tornou-se uma adolescente tão linda quanto um


dia foi sua verdadeira mãe, herdando assim um pouco dos traços que eu e a
minha irmã tínhamos em comum.

Quando Elly começou a entender um pouco mais sobre a vida, eu e seu


pai contamos a verdade sobre Angelina, sua mãe biológica, mas isso não
causou conflitos entre nós, pois desde pequena a garotinha passou a ver em
mim amor.

Essa revelação não mudou em nada a nossa relação ou com o seu pai, na
verdade tudo continuou como estava, senão ainda mais forte que antes.

É a minha filha.

Elly finalmente completou os seus dezoito anos e viemos comemorar em


família. Ela escolheu o lugar para o passeio, assim como cuidou de toda a
viagem, pois desde muito nova aprendeu a ter gosto para resolver as coisas,
tomava posição em tudo e esse foi o motivo pelo qual seu pai arrumou um
cargo em suas empresas.
A nossa filha mais velha é funcionária em uma filial do Imperador dos
Diamantes e conduz seu trabalho com maestria, o que enche nosso coração de
orgulho da garota. Ela é o completo oposto do nosso filho Mikhail, que não
tem muito interesse, pois o seu desejo nada mais é que ser um piloto de avião,
é claro que nisso o apoiamos.

Eu e Andrey sempre damos liberdade para que nossos filhos possam


escolher qual caminho seguir, seja para dar continuidade ao legado dos
diamantes ou qualquer outra coisa ou área, caso seja o desejo do coração de
ambos.

— Ficou muito linda, meu amor. Nem acredito que minha bebê
cresceu…

— Mikhail também, oras. — Cruza os braços. — E nem por isso o trata


assim.

— Sabe muito bem que é só porque aquele cabeça-dura parece o pai. —


Rio. — Inclusive, sabe me dizer onde os dois estão?

O meu segundo filho sem dúvidas é o clone do Andrey. Herdou tudo,


desde os traços de personalidade forte, além de ter no percurso me dado
alguns cabelos brancos.

— Dando uma volta pelos cassinos, mãe. Onde mais estariam? —


Revira os olhos. — Será que já podemos agilizar as coisas para ir também?

Fomos convidados para visitar os cassinos do casal Kiara e Alexandre


Dubrov, esses mesmos que se tornaram parceiros de negócios do meu
imperador.

— Sim, só vou colocar os sapatos. — Sorrio. — Será rapidinho.


Eu me formei em medicina um pouco tarde, pois demorei para iniciar os
estudos, uma vez que decidi só começar depois que o meu filho tivesse uns
cinco meses e pudesse ficar com a babá que encontrei apenas para ficar
enquanto fosse estudar.

Fui uma daquelas mães que se desdobrava em duas para dar conta de
tudo, já que me recusei a ter um ajudante. Andrey me ajudou muito na gestão
e pós também.

Realizei o meu maior sonho de me tornar uma médica pediatra e


trabalho em um hospital particular durante toda a semana, mas todos os
sábados participo de projetos humanitários em bairros carentes, onde presto
atendimento gratuitamente. Eu também sou madrinha de alguns orfanatos e
realizo doações anuais para ajudar nos gastos, promovendo assim uma
qualidade acessível às crianças abandonadas.

Uma parte do dinheiro deixado por Angelina foi doado a esses lares que
necessitavam de ajuda para se manterem ativos e promover tudo que fosse
necessário.

Ela provavelmente ficaria orgulhosa.

Eu doei todas as suas coisas com a ajuda de Elly, assim como coloquei
fogo em seus diários, pois não havia mais necessidade de continuar com seus
pertences.

— Tá, mãe. Eu vou chamar o Alek enquanto isso.

— Faça isso, meu amor. — Eu me levanto da cama para colocar os


sapatos.

Alek é o meu filho mais novo e que nasceu seis anos depois de Mikhail.
Eu não pretendia ter mais bebês, mas Andrey me pediu muito por um e só
tive quando finalmente decidi que era o momento de aumentar a nossa
família.

Meu menininho.

Dos três, ele é o único que se parece comigo na personalidade toda, tão
compreensivo, carinhoso e gosta de ser chamado de imperadorzinho.

A nossa família está completa.

Eu ainda sou muito amiga de Marya, mesmo que ela agora viva em
outro país com seu marido e os filhos que teve com Pavel. Adriele também
encontrou a tampa da sua panela depois de resistir muito a essa ideia de se
apegar e vive a sua história de amor com um rapaz chamado Alexandre, que
trabalha em um hospital.

Todas as peças, uma por uma, encontraram o seu encaixe.

— Já te disse que é a mulher mais linda dessa noite? Não… A mais


linda da minha vida. — Andrey me abraça por trás e beija meu ombro. — Te
amo tanto…
— Não me canso nunca de ouvir. Continua dizendo, que provavelmente
vamos voltar um pouco mais cedo para casa. — Fecho os olhos.

— Não importa quanto tempo passe, sereia, a sua boceta continua


desesperada pelo meu pau, nem mesmo parece que passei uma tarde toda
dentro dela… — Dá uma mordidinha na minha orelha.

— Se comporte ou as pessoas vão ver essas suas safadezas, velhote. —


Rio baixo.

— Continue me chamando assim, que irei mostrar o que o velho aqui


vai fazer quando estivermos sozinhos. — Aperta a minha cintura devagar. —
Tô doido para comer o seu cuzinho, sereia… — sussurra baixo ao pé do meu
ouvido.

— Não temos mais idade para essas festinhas, velhote. Que tal sairmos
de fininho, hum? — Viro-me para encará-lo.

— Acho perfeito, sereia. Vamos. — Morde a ponta do lábio e me puxa


para um abraço. — Sabe que te amo, não é mesmo?

— Para sempre, esqueceu? — Envolvo os braços em volta do seu


pescoço.

— Eu te amo.

Fecho os lábios, fico na ponta dos pés para beijar o homem que amo.

O homem que amei no passado e amo no presente.


O homem que irei amar até o meu último suspiro.

É possível encontrar o amor verdadeiro, mesmo que pelo caminho


encontremos motivos para desistir de acreditar em um possível final feliz.

O amor não é realmente belo.

Só que o nosso é sim e reviveu mesmo após passar pela tormenta.

O nosso amor sobreviveu.

FIM
~Conheça Outras Obras da Autora~

Ella Ares

Uma dívida.
Uma inocente.
Um bebê inesperado.
Romeu, o irmão mais velho da família Sanchez, é um advogado criminalista,
recluso, que leva uma vida dupla. Ele é o mais prudente dos cinco irmãos, o
cabeça que mantém a ordem nos negócios.
Seus irmãos tinham sede de vingança e poder.
Quando soube da decisão deles em cobrar uma dívida, ele fez de tudo para
proteger aquela garota inocente, mesmo que às escondidas.
Romeu queria mantê-la segura e, em meio a toda aquela sujeira, iria infringir
as
regras ao se apaixonar por ela.
Ísis Andrade viu sua vida dar um giro quando precisou se mudar para a casa
da Família Sanchez.
Não sabia, mas os irmãos queriam vingança, e ela seria o plano perfeito para
que conseguissem atingir seus objetivos.
Ao se apaixonar por um dos irmãos, ela se entrega de corpo e alma, porém
um
bebê inesperado entra em cena e muda todos os planos.
Honra e dever se cruzam em uma linha tênue.
Um amor avassalador.
Uma jovem virgem proibida.
Um homem quebrado em busca de redenção.
Ela precisa de proteção.
Ele a deseja, sem poder tê-la.
O que será do destino da jovem ao descobrir toda a verdade?
Rafael Sanchez era um playboy milionário inconsequente que nunca
respeitou limites. Brincava com o perigo até que um acidente de carro mudou
tudo. Anos de sua vida foram roubados em uma cama de hospital quando ele
entrou em coma e, quando finalmente despertou, tudo que queria era
descobrir quem era o responsável por aquela tragédia. Ele queria vingança,
mas seus planos mudaram quando deparou com a dona da voz de anjo que o
seduzia na inconsciência daqueles anos perdidos...
Daniele Arantes era uma jovem recém-formada em enfermagem. Coagida
pelos irmãos Sanchez a trabalhar como cuidadora de um milionário, não teve
como escapar. Ela queria poder se dar ao luxo de recusar a estranha proposta
daqueles homens sombrios, mas precisava do dinheiro que ofereciam para
proporcionar um tratamento de saúde decente para sua mãe e sabia que não
teria outra chance como essa. Não esperava aquela química explosiva e que
quando aquele homem misterioso acordasse as coisas ficassem tão quentes
entre eles a ponto de... Ele querer demiti-la? Como assim?
Mas Daniele não cederia facilmente, a guerra estava declarada e fadada a
terminar assim: com os dois dividindo a mesma cama.
Claro que não estava nos planos uma gravidez inesperada.
Nem dois bebês.
E tampouco gêmeas!
Atormentado e preso em sua própria escuridão, Apolo Makris não acreditava
mais em redenção desde que perdeu sua esposa com o fruto desse amor no
ventre. O CEO de uma das maiores redes de hotelaria da Grécia se afundou
em culpa e amargura. Ele jamais se perdoaria por ter sido o responsável pelo
trágico acidente, carregando a solidão no peito e tornando-se cheio de
amarras que o prendiam de continuar seguindo sua vida.
Um episódio marcante fez com que o comando das suas empresas fosse
tirado de suas mãos sem que pudesse fazer nada para contê-los e impedi-los.
Ele perdeu tudo.
Não havia salvação até ela chegar.
Lidiane Galini, é uma garota jovem, garçonete e que lutava para proteger a
sua irmãzinha que ficou sob sua proteção desde que foi abandonada. Ela não
queria nada além do sorriso no rosto da pequena Anne Galini, por quem era
capaz de tudo. Inclusive, aceitar e assinar um contrato.
Ela precisava de proteção.
Ele queria uma esposa para gerar seu herdeiro.
Ela apaixonou-se desde o dia que o viu e o salvou em seus braços.
Ele nunca seria capaz de amá-la.
Ela amou todas as suas imperfeições.
Uma gravidez que fazia parte de um plano.
Uma linha foi cruzada sem volta.
Só o amor era capaz de curar e libertar.
E se você acordasse na cama do homem que mais odeia na vida?
Natália Brown só tinha um único objetivo: pagar as parcelas do seu
apartamento e se tornar uma advogada de sucesso, mas com o trabalho de
garçonete em uma boate esse sonho estava cada vez mais longe de se realizar.
Mas uma coisa é certa; ela odiava com todas as forças seu chefe tatuado.
Isso até acordar na cama dele.
Não!
Ser levada em uma viagem secreta.
Miguel Sanchez vivia nas alturas, navegando entre dois mundos,
aproveitando a vida enquanto quebrava algumas regras pelo caminho. O
bilionário tatuado não se prendia a ninguém e com um passado traumático
que o tornou um homem quebrado, isso estava fora de cogitação. Até ela
chegar.
Um plano sórdido;
Um acordo de prazer;
Dois inimigos declarados; e
Um bebê inesperado e rejeitado.
Bento Fontana é um bilionário arrogante, herdeiro de um império que
acumula milhões todos os dias. Ele só tinha um único objetivo que era
continuar se mantendo implacável, expandindo os negócios pelo mundo
inteiro. Até se ver devastado pela morte do seu pai e descobrir que um
testamento o levaria para as terras onde abandonou anos atrás...
Ele só tinha que dar um fim a um ciclo e seguir sua vida. Isso até cruzar no
meio do caminho com a misteriosa garota das flores.
Flora Azevedo é uma jovem garota destemida que acabou de completar seus
dezoito anos e não quer nada além de continuar trabalhando com seu pai
como auxiliar de veterinária. Flora tem uma mania de enxergar o lado doce
da vida, acredita quem em tudo sempre há dois lados e foi dado a isso que se
viu intrigada na teia de mentiras com o herdeiro Fontana.
Ele estava só de passagem e ela era só um meio para ajudá-lo a conquistar
seu objetivo, nem que para isso fosse preciso fingir um namoro de mentira.
Uma paixão avassaladora e intensa.
Ele partiu prometendo voltar;
Ela descobriu toda a verdade;
Ele iria reconquistá-la isso até...
Um acidente trágico muda todo o cenário.
Flora não esperava descobrir que o homem por quem se apaixonou e ficou
grávida era uma farsa e nada a preparou para reencontrá-lo com uma noiva.
Ela protegeria sua filha do pai...
Ele não se lembrava dela e tampouco do bebê.
O que acontecerá quando a verdade vier à tona? E as peças perdidas
encontrarem seu lugar?
Bernardo Mancini é um homem ambicioso, arrogante e que desde pequeno
sempre soube que teria que dar continuidade ao legado do seu pai na política.
Ele é o futuro presidente. O magnata perdeu a noiva em um acidente de carro
e desde então seu único foco na vida era continuar sendo implacável,
ignorando todo luto ao seguir em frente sem temer o amanhã.
Ele só não contava que um assunto do passado viesse a tona e trouxesse
de volta sentimentos que foram adormecidos.
Ele não se lembrava mais dela até certo dia...
Monaliza Bianchi tem duas certezas na vida. Nunca irá se casar sem amor e
odeia com todas as forças o seu ex-melhor amigo. Ela, quando era pequena,
se apaixonou pelo filho dos patrões de seus pais, mas esse ciclo se encerrou
da pior forma possível, restando um coração quebrado e um amor rejeitado.
Ela não queria vê-lo nem pintado de ouro.
No entanto, tudo isso mudará.
Um encontro com o passado vai levar o presidente e a ex amiga a entrarem
em uma situação de impasse, onde nenhum dos dois contava com uma
gravidez inesperada.
Ele não lembrava de nada.
Ela pior ainda.
Um casamento era a melhor saída para o presidente que se via dentro de um
fogo cruzado e então iria se promover em cima de uma "família de fachada".
O que nenhum dos dois contava é que isso não terminaria bem...
Obrigações. Segredos. Revelações.
Era possível ter um "final feliz"?
Meu Deus do céu! Mais uma história concluída com sucesso. Este livro veio
no momento mais confuso da minha vida, em que pensei muitas vezes em
desistir de ser escritora, mas existe uma força suprema que não me deixou
levar isso adiante.

Jeová Deus, obrigada pela saúde e por me dar lições que me fazem forte.
Eu não seria nada sem o seu amor e sua graça, que me ilumina até aqui, para
todo o sempre.

Eu quero agradecer aqui aos meus leitores verdadeiros e carinhosos,


afinal são o principal motivo pelo qual venho dando o meu melhor para
escrever histórias e os levar para um universo imaginário. Sou tão grata a
cada um que abraça meus romances e faz de mim a bonequinha colorida mais
feliz do mundo. Eu amo vocês.

EV, você é e continua sendo o amor da minha vida. Obrigada por não
desistir de mim e acreditar que tenho capacidade de voar muito alto. É uma
delícia saber que posso não ser para o mundo, mas sou a top 1 no seu
coração. Eu te amo tanto, viu?

Mãe, eu te amo muito. Você não leu ainda nenhuma das minhas
histórias, mas torce por mim e mesmo tão longe me protege em suas orações.
Para sempre, nós.

Elly, ou a sua versão fora dos livros (haha), obrigada por surgir em
minha vida DO NADA e fazer toda a diferença. Eu serei eternamente grata
por você ter passado todas as tardes comigo, por surtar em cada capítulo, bem
como ter me ajudado no desenvolvimento geral, leitura beta e até criticar se
fosse necessário. Te amo!

Deh, minha revisora, amiga e mãe dos meus livros (hehe). Obrigada por
ter me socorrido recentemente, por não me julgar e me conduzir pelo
caminho certo. É uma dádiva saber que tenho você, alguém que sempre vai
remar o barco do meu lado. O meu amor e admiração por quem é me
acompanharão para todo o sempre.

Aqui deixo a minha gratidão.

Com amor, Ella Ares.

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