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Dedico essa história à Sabrina Antunes, pois sempre que duvidei que seria
capaz de ir por um caminho, ela puxou minha orelha e deu certeza que eu
conseguiria. Ezra não seria Ezra sem você, amiga. Obrigada por estar sempre
disponível para me dar conselhos sobre mantê-lo na linha “malvadão”.
Dedico à Andréia Santiago, minha amiga de anos e beta, que já me manda
“bom dia” me colocando para escrever capítulo novo. Sem você, eu não teria
me empolgado tanto, sua empolgação e amor pelo Ezra me motivou a ponto
de conseguir escrever em off. Jeysa, Jenny e Cleici, vocês três, como betas e
leitoras, acrescentaram demais, me motivaram, me inspiraram e nada disso
seria possível sem vocês, então também dedico a vocês. Ana Carolina, minha
Carolinda, também dedico a você, que vai a luta com banners, conselhos e
palavras de ânimo para meus lançamentos. Vocês são incríveis! Dedico às
minhas Julietes, que ficaram ansiosas desde o começo, que xingam Ezra na
mesma medida que o amam. Sem vocês, eu não estaria aqui. Amo vocês!
Dedico Louca Paixão à todas que preferem o vilão em vez do mocinho. Ezra
Cattaneo está prontinho para roubar os corações de vocês.
PRÓLOGO
Eu não sou o homem bom que foi prejudicado. Eu fui um bom cara,
que viu sua família ruir pelas mãos de um amigo que se achou no direito de
destruir-nos. Quando Reinaldo foi pego na cama com a mulher de quem ele
se fazia de melhor amigo, eu estava atrás do meu pai, com apenas dezenove
anos de idade, vendo uma porra daquelas. Prometi a mim mesmo que
acabaria com a vida dele. Não sujar minhas mãos, não, isso não. Há meses
venho vigiando o cretino, tentando encontrar uma maneira de entrar em sua
vida e tirar tudo o que ele tem.
Reinaldo não é um homem de família, sei que ele tem esposa e filha,
mas jamais as vi. Ele está sempre em eventos sociais, em sua empresa e com
amigos e suas esposas. No mínimo, orquestrando fazer o mesmo que fez com
minha família.
Hoje, contudo, quando ele entra em seu carro e dirige para uma área
residencial no Recreio dos Bandeirantes, eu o sigo, ansioso que esteja indo
para sua casa. Ao que tudo indica quando chegamos, sim, pois não consigo
entrar com ele, uma vez que é um condomínio caro e privado.
— Você vai destruir seu futuro se me matar. Pense bem... Seu pai e
sua mãe vão ficar arrasados. — Ele tenta me manipular.
— Meus pais não vão saber. Ninguém vai saber. Vão pensar que foi
algum homem traído de quem você enfiou esse pau sujo na esposa. E aquela
garotinha? Ela vai adorar ver você morrer. Ela vai se libertar de você.
— Ele não é meu pai. Ele casou com a minha mãe para destruí-la. Ele
me prende aqui. Ele se toca olhando para mim. Se você não puder matá-lo, eu
o mato! Eu juro que mato! — As últimas frases são gritos descontrolados.
Eu assinto com a cabeça. Um lado meu quer que ela tenha o conforto
de matar o desgraçado que fodeu sua vida, mas outra parte, uma
desconhecida, quer protegê-la, não quer que ela suje as mãos.
— Eu quero ver. — Diz, decidida. Ela parece tão dura para uma
criança. Esse miserável fez isso com ela. Reinaldo vai pagar.
— Você nunca mais vai tocá-la. Ninguém mais vai tocá-la. Ela está
sob minha proteção agora. E você, Reinaldo, vai queimar no inferno.
— Obrigada por acabar com esse desgraçado. Ele fica meses longe...
Me deixa com os empregados. Eu fico bem, torcendo que ele morra e nunca
mais volte. Então... — Uma lágrima rola por seu rosto. Dio! Ela é forte pra
caralho. Ela esteve gritando e lutando, mas não estava chorando antes. —
Então ele volta e faz isso novamente.
— Não... Ninguém.
— Treze.
— Anjinho, quem disse que sou mafioso? Matei o cara porque ele
merecia. Um mafioso, o teria esfolado vivo.
— Qual o seu nome? — Pergunto, dando-me conta que até agora não
sei.
Ela não precisa de mais nada para mostrar a que veio. É linda, tem
um corpo de matar, cabelos compridos cacheados, tingidos de vermelho e a
confiança acima da média normal humana. Michele não tem motivos para
não gostar de mim, mas a qualquer oportunidade está dando uma alfinetada.
Para mim, pouco importa. Embora, existam momentos em que eu queira
jogar água fervendo no rosto bonito dela, eu prefiro manter a paz no trabalho,
por Kelly.
O dia passa corrido como sempre e depois que saio do salão, paro no
Sr. Jorge para comprar hambúrgueres para levar para casa. Moro com Robert
e Wilson. O garoto tem dezoito anos e Robert o acolheu antes de mim.
Robert é um bom homem, já de idade avançada, com problemas nas pernas e
dificuldade para trabalhar. Ele me deu abrigo e comida até que eu pude
aprender minha profissão com Kelly, que é sua vizinha, e não tive coragem
de deixá-lo, uma vez que sua saúde piorou.
— Oh, minha jovem. Sempre bom vender para você. Como vai a
vida?
— Estou brigado com a dona Maria. Sabe, ela pensa que porque sou
velho e aposentado, devo descansar. Que descansar, minha filha? Quando a
gente quer e tem coragem, vai a luta, não se contenta com o que tem, não.
Meu filho vai ter seu primeiro filho. E eu quero mimar essa criança. Que avô
seria eu, se não mimasse?
— O senhor vai mimar o netinho mesmo que não seja com bens. Ele
vai amar o vovô.
— É isso que acontece quando você toca esse pau sujo no ônibus
para qualquer mulher, seu pervertido do caralho!
Liguei para ele para informar que chegaria tarde, porque estava na
delegacia. Não uso seu carro, pois há gastos com gasolinas e tudo mais. Mas
Wilson não trabalha e está saindo a essa hora? Enquanto eu estava na merda e
não pude ser ajudada? Fala sério. Minha paciência está esgotada.
Eu não sou ingênua. Não. A verdade é que por trás de toda a minha
coragem e força, quando estou sozinha sonho com os olhos do monstro, ouço
sua voz chamando meu nome. Sr. Jorge, já aposentado, continua trabalhando
porque não quer estar parado e quer ajudar sua família. Já Robert, se diz com
dores terríveis nas pernas e fica acomodado em casa, enquanto eu trabalho.
Tenho muita gratidão a ele, e somado ao meu medo de estar sozinha, me
mantenho aqui. Mas não sou cega. E a cada dia mais, tenho sentido vontade
de sumir. De recomeçar do zero.
— Ele deve uma fortuna para o meu chefe. E o cara não é um homem
paciente. Uma vez que ele está esperando há seis meses, já esgotou sua quota
de piedade.
— Seu chefe vai apreciá-la. Ela está na minha casa, eu dou um teto!
Ela não tem ninguém. Só a mim. Agora estou dando ela para...
Eu ainda não consigo acreditar que Ezra está aqui na minha frente.
Tantas perguntas rodam em minha cabeça. A principal é, como ele me
reconheceu se desde que fugi, tingi meus cabelos de castanho. Não tenho
mais fios loiros como antes, os mesmos que o levou a me apelidar de anjinho.
Ezra não é o mesmo que matou meu padrasto só para me salvar, no entanto.
Ele está batendo em Robert ferozmente, com uma ira, que não exalava dele
antes. Parece animalesco, gostando de feri-lo.
— O que Ezra faz aqui cobrando esse tipo de dívida? — Pergunto ao
segurança.
Os gritos de Robert me causam horror e grito para que Ezra pare. Ele
não ouve, não dá atenção.
— Por que você fugiu de mim, porra? Por que está nesse maldito
buraco? Numa favela! Sabe o quanto a procurei? — Seu tom cortante me
causa calafrios. — Achou que estava protegida com um crápula? Você não
aprendeu com o seu passado. Não lembra o que homens como esse fazem,
mio angelo? — O apelido que costumava usar no passado para se referir a
mim soa como um xingamento.
Puxo meus braços do segurança e caminho até estar de frente para
Ezra. Seu peito sobe e desce com a raiva que sente de mim, mas eu não estou
diferente agora. Afasto minha franja da minha testa, me sentindo incomodada
e aponto o dedo para ele.
— Eu não sou o seu anjo. — Cuspo, olhando para cima para encarar
seus olhos verdes faiscando de raiva. — E eu aprendi tão bem com o meu
passado que me afastei de você.
O ódio por ele ter jogado o meu padrasto abusador contra mim, como
se eu tivesse escolhido viver com Robert, tendo consciência de que ele é
igual, faz com que eu queira feri-lo também. Os olhos de Ezra brilham mais,
e suas narinas alargam, o deixando com a expressão mais animalesca. Eu não
sinto medo porque eu já enfrentei o pior da vida. Robert ter escolhido me
vender quando devia lidar com sua própria merda não foi culpa minha. Ele
sempre se aproveitou financeiramente, mas nunca agiu dessa maneira, pelo
contrário, sempre me protegeu. Seu instinto pode ter sido de sobrevivência,
uma vez que eu fui a primeira a dizer que ia embora e o deixaria se ferrar
sozinho. Afinal, o que eu deveria fazer? Embora não seja desculpa para sua
atitude e, por isso, não sinto remorso de Ezra ter agido em meu favor.
— Você não fica nessa favela nem mais um dia. Você volta comigo
de onde nunca deveria ter saído.
— Se não vir comigo por bem, coloco a polícia para investigar seus
documentos, Diana. — Ele cospe, lembrando-se do nome nos documentos
falsos que ele providenciou para mim há anos atrás.
Olho com raiva para ele. Tenho mil perguntas para lhe fazer, mas a
sensação de que ele não vai me dar respostas é esmagadora. Portanto, só me
resta enfrentá-lo.
— Quando você piscar os olhos, Ezra, eu estarei longe outra vez com
ou sem documentos.
— Eu preciso que você não fuja, Ana. Preciso que esteja protegida.
Você é responsabilidade minha.
— É como se eu fosse.
— Não sou sua filha. Vou ir sem tentar fugir por agora, mas não
prometo nada. Algo não me cheira bem, Ezra. O que você fazia aqui
cobrando uma dívida?
— As coisas mudaram desde que você sumiu, Ana. Muito disso
começou após eu matar seu padrasto, na realidade. — É o que ele diz, então
me chama, em italiano: — Vieni qui. Em casa contarei tudo.
Não reluto e nem rebato mais. Obedeço, ciente que há mais nessa
história do que gostarei de saber.
— Seus olhos. — Uau, tão detalhista. Reviro os olhos, mas ele não
vê, uma vez que vem atrás de mim.
— Não se pode ferir a cobra, Ana. Ela volta para picar você. E eu não
o perdoo por tentar vendê-la. Se eu não estivesse no carro e escutado gritos
femininos, não teria me envolvido e você estaria nas mãos de qualquer figlio
di puttana agora. — É sua resposta definitiva.
— Nos leve para casa e venha buscar Robert. Ele foi lidar com o
traficante que manda nessa favela de merda.
Quando Melina disse aquelas coisas sobre Ezra, não foi só uma vez.
A mulher me perseguiu por vezes, sempre que me via, sussurrava coisas
maliciosas, dizia que Ezra me machucaria, que seus seguranças terminariam
de me arrombar. A desgraçada não tinha pena por eu ser uma adolescente. Se
eu não conhecesse a maldade da vida, teria ficado apavorada com suas
palavras. Tive muito medo, sim, mas acima de tudo, temi perder a imagem de
Ezra como meu salvador, temi que ele fosse como o diabo que era meu
padrasto. Eu fugi com medo de que as palavras dela um dia se tornassem
verdade e eu não tivesse como olhar para trás e enxergar alguém em quem
confiar. Roubei dinheiro da carteira de Ezra, só para me manter alguns dias,
mas não foi o suficiente. Eu achava que era. Em dois dias, já não tinha mais
nada, de tanto entrar em ônibus e ir para lugares que não conhecia, até acabar
naquela favela e encontrar uma senhora que morava na rua e me acolheu com
ela. Até encontrar lugar nas ruas foi difícil, pois os mendigos brigavam por
seu território, impedindo que outras pessoas chegassem e ficassem. Eu não
precisava ter passado por tantas coisas, mas não me arrependo.
— Você pode ser educado e bater na porta antes de entrar? Essa é sua
casa, mas esse é o meu quarto.
— Que bom que sabe que é seu quarto. É bom que lembre disso antes
de tentar fugir.
— Vai me contar sobre as merdas que você se enfiou?
Ezra assente e puxa a poltrona creme para ficar de frente para mim.
Ele senta, já usando terno de cor azul marinho, a barba bem cuidada, os olhos
parecendo serenos.
— Sim, foi, não foi esse tipo de coisa que ele encobriu antes. —
Justifica e volta a explicar: — Stefano enviou homens dele para limpar a
cena. Toda e qualquer prova contra nós foi excluída, inclusive qualquer rastro
da sua existência... Roupas, objetos, antigos documentos, empregados da
casa, enfim. Fiquei com uma dívida com ele, que ele nunca cobrou. Com os
anos em que você esteve comigo, via Stefano ocasionalmente, mas me
mantive limpo, cuidando do meu clube, que estava crescendo cada vez mais,
e de você. Então você fugiu e precisei de Stefano outra vez.
— A máfia está em toda parte, mio angelo, mas não fazemos muito
aqui. Sou só um empresário e, se necessário, cobro os devedores das casas de
jogos do Stefano quando ele não está no país, mas sob o conhecimento do
chefe do tráfico de onde o devedor vive. — Dá de ombros. — Nós trazemos
as drogas para cá, é basicamente isso.
Ainda parece difícil para mim acreditar que Ana está de volta em
minha casa, em seu quarto. Desde que a perdi, sempre que entro em situações
onde há mulheres precisando de ajuda, um maldito instinto de proteção se
apossa de mim e acabo me metendo. Não ia sair do carro ontem a noite, Luigi
daria conta de cuidar do devedor, ele sempre dá, com seus quase dois metros
de altura, músculos exagerados e sorriso doentio. Entretanto, quando a ouvi
esbravejando, acreditei que a mulher estava lutando contra meu segurança e
Luigi não é conhecido por seu temperamento fácil, apesar de estar sempre
com o ar debochado, é conhecido por preferir matar com facas para ver a
morte encontrando o rosto da vítima. Então a vi. Ela estava sobre o homem, o
atacando, mas seu rosto estava virado para a porta. Pude vê-la, ver seus olhos
azul bebê profundos, aquela cor única, que eu reconheceria em qualquer
porra de lugar. Os cabelos escuros a fizeram parecer mais angelical do que
antes, pois acentuaram sua pele branca e imaculada. A procurei por anos e
não a encontrei e, novamente, por intermédio do destino, ela voltou para os
meus cuidados.
— Você parece assustada. Você não vai ter que lidar com a máfia.
Estou aqui no Brasil e não entrei para esse meio. Sou um neto bastardo, meu
avô teria muito trabalho para convencer seus homens a me aceitarem. A
máfia é cheia de regras e tradicionalismo. Imagine se os outros homens feitos
inventassem de aparecer com seus filhos bastardos exigindo cargos? — Digo
para tranquilizá-la, e também porque é a verdade.
Se eu me meti com toda essa porra, foi para encontrá-la. Desde que a
salvei, nutri proteção e responsabilidade. Fiquei louco quando ela
desapareceu. Matei dois de meus homens com minhas próprias mãos,
acreditando que tivessem feito mal a ela.
— Nonna está vindo da Itália para ficar com você. Sei que você a
adorava e ela sente sua falta. Em breve ela estará aqui.
— Senhor Cattaneo... Pensei que o senhor não vinha hoje, pois não
chegou no horário de costume. — Alessandro Espíndola, o gerente do meu
clube Hot Cattaneo diz ao me ver passando pela área do bar.
São pouco mais das dez da manhã, mas dou a volta no balcão e encho
um copo com meu uísque preferido e bebo um gole generoso. Só olho para
Alessandro e dou um aceno com a cabeça, afinal, não tenho o que lhe dizer.
O clube é meu. Eu chego a hora que eu quiser. Foda-se os pensamentos dele.
— Procure por uma nova produtora de eventos que possa lidar com o
que Melina lida aqui.
— Oh, meu Deus! Ezra, eu... Não... Por favor... Ela está mentindo...
— Melina engasga, tentando passar por mim, mas seguro seu pescoço e bato
sua cabeça contra a parede, só para amedrontá-la. Eu não bato em mulheres,
felizmente para ela. — Só queria que você me notasse... Não foi por mal. —
Chora.
Para a minha surpresa, ele se joga aos meus pés, agarrando minhas
pernas e implorando.
— Meu emprego é tudo o que tenho! Me deixe ficar! Não tire tudo de
mim, Ezra! Por favor!
— Eu era tudo o que Ana tinha. Você tirou isso dela. — Rosno. —
Agora, fora.
Olho pela janela do quarto, vendo a bela manhã lá fora. Procuro meu
celular na mochila e constato que já passam das onze horas. Começo a me
sentir solitária aqui e sempre que isso acontece, a voz daquele desgraçado soa
em meus ouvidos chamando meu nome. Não Diana, como escolhi ser
chamada quando Ezra me deu a opção de ter documentos falsos, não Ana,
como Ezra nunca deixou de me chamar. O nome que odeio ouvir porque me
lembra daquela voz asquerosa e do olhar nojento de Reinaldo.
Ela me olha com ternura em seus olhos verdes, iguais aos do neto.
— Dos filhos dela com Ezra, oras! — Nonna rebate, como se fosse
óbvio.
Pela forma que meu rosto esquenta, tenho certeza que estou vermelha
feito um tomate. Nonna não tem limites!
— Ezra me culpa por ter escondido isso da nossa família. Nunca foi o
mesmo comigo depois de ter me encontrado no escritório de Giuseppe e a
verdade ter sido derramada aquele dia.
— Nonna... — Seguro sua mão por sobre a mesa. — Vou estar aqui
para dar carinho para a senhora, não vai sentir falta daquele chato. — Brinco
para aliviar o clima, mas em meu íntimo sei que vou encher o saco de Ezra
para que perdoe sua nonna.
Não sou ingênua. Ela não está aqui para uma visita cordial. Ezra a
confrontou sobre mim. Tenho certeza.
— Eu trabalho com Ezra há anos... Você sabe. — Sua voz soa calma
e o som de seus saltos começa a ecoar pelo piso de porcelana enquanto ela
caminha de um lado para o outro. — É só dizer aos seguranças que vim
buscar algo em seu pedido e me deixam entrar. Eu sei até os códigos de
acesso...
— Ezra me tirou tudo por sua causa! — Ela grita, mostrando sua
verdadeira face.
Eu rio, sem qualquer humor. Olho para trás e sinalizo com o queixo
para a outra porta, para que nonna saia daqui. Então avanço na mulher alta à
poucos passos de mim.
— Você quer falar sobre ficar sem tudo, sua cadela?! — Grito, já em
seu rosto, então meu punho voa em sua face.
Melina grita, mas não recua. Ela avança em mim, tão irada quanto eu.
No entanto, ela não sabe porra nenhuma sobre o que é ficar sem tudo. Eu
lembro de todas às vezes que precisei me defender, porque as pessoas me
julgam como presa fácil ao olhar para o meu rosto. O que elas não sabem é
que sei me manter segura. Agora eu sei. Ezra me ensinou. Soco a mulher sem
piedade. Enquanto ela tenta me parar com arranhões e puxões de cabelo,
como a maioria das mulheres presumem que seja brigar, eu a estou
machucando de verdade.
— Ezra Cattaneo.
Ezra não me deixa sujar as mãos, mas o sangue que escorre pelas
dele, sempre irão resvalar em mim, porque, de alguma forma, sempre é por
mim que suas mãos ficam sujas.
CAPÍTULO 5
Mas mesmo assim, você tira meu fôlego e rouba coisas que eu sei
Uma semana passou desde que Ana voltou para casa. Nós dois nos
evitamos mutuamente. Eu, com a mente muito atordoada, preferi focar no
trabalho. Com Ana de volta, coloquei na cabeça que preciso me afastar da
máfia. A última vez que usei os favores do meu primo, foi para apagar
qualquer rastro do que mandei Luigi fazer com Melina. Depois disso, evitei.
Porque sei que esse mundo não é cor-de-rosa e uma hora toda a merda volta
contra sua cara. E se há a chance de voltar contra a minha, então Ana estará
em perigo e eu não a quero em perigo. Stefano não me pediu favores e deixou
Luigi ao meu dispor, não o pedindo favores também. Luigi Deluca é um
homem da máfia, não um segurança, então sei que cedo ou tarde não vou
poder contar com sua fidelidade. Ana me evitou porque esteve ocupada com
suas coisas. Nonna a adora e é recíproco, de forma que as duas passaram seus
dias como duas amigas do ensino médio, fofocando, fazendo compras e
falando da minha vida. Pedi a Gilda que procurasse saber sobre a questão da
estética e beleza que Ana gosta de lidar. Suponho que esteja sendo um
sacrifício manter para si, já que a mulher é uma tagarela. Entretanto, deixei
um sutil aviso do que aconteceria com sua língua caso ela falasse demais.
Jamais faria algo assim com Gilda, no entanto, foi só para mantê-la quieta.
— Por favor. Por favor. Por favor! — Implora. — Tira ele daqui.
Enfio a arma no cós da minha cueca, uma vez que não vou usá-la
contra o pobre sapo. Ana aponta para trás de mim e o vejo na parede. Nem
sequer é um sapo.
— É sim!
— Sua pele não é áspera como a de um sapo e suas patas não são
curtas. Sapos são enormes, Ana, e esse é pequeno. Não acredito que fez esse
escândalo por causa de um bichinho desses.
— Você vai libertá-lo? Ele vai voltar e acabar comigo! Como pode
fazer algo assim, Ezra? Lembra da cobra! Você mata!
— Não haja como uma criança pirracenta. Ele não vai voltar para te
fazer mal. Deve ter sentido calor lá fora e procurou um lugar úmido, só isso.
É isso que esses bichos fazem. E eles comem os insetos. Então, os deixe.
Em um ato infantil, finjo que vou tocar em seu rosto com a mão suja.
Ela corre para longe, então sigo para o banheiro. Lavo bem as mãos, passo
seu álcool gel e volto para o seu quarto.
— Não falamos sobre isso desde que cheguei, mas posso voltar a
treinar com você? Estou enferrujada.
— Para brigar nunca perco o jeito, mas não consegui acertar um soco
no Luigi. — Me olha com aqueles olhos pidões do caralho.
— Certo. Você pode sair hoje para comprar roupas e amanhã a gente
começa com uma hora de treino. Terá que acordar cedo.
— Estou acordada cedo, não está vendo? — Ana não consegue não
agir com esse tom petulante dela por muito tempo.
— Por causa do sapo, que não era sapo. — Pego minha arma sobre o
criado mudo e me encaminho em direção a porta, me sentindo desconfortável
por estar sozinho com ela em seu quarto.
Seu olhar acuado faz uma coisa ruim se instalar em meu peito. Esse
instinto de proteção que foi ligado em mim há dez anos atrás. Por causa dela.
— Por que?
Uma lágrima solitária rola por seu rosto e ela se joga em mim. Nós
nunca nos tocamos antes. Só durante as lutas. Ana nunca foi de contato e eu,
tampouco. Fico sem jeito, com a arma ainda na minha mão esquerda. Então
com o braço direito, rodeio seu ombro e deixo que ela chore com o rosto
enterrado em meu peito, seus braços em volta da minha cintura. Ouvi-la
chorar, ver a mulher durona, que não abaixa a cabeça, que esmurra quem lhe
fere, que é forte pra caralho, sofrendo faz meu peito se contorcer e meu
estômago embrulhar. Encosto meu queixo em sua cabeça, sentindo o cheiro
dos cabelos lisos em minhas narinas.
Não nego, porque é tão verdade que me afastei das coisas da máfia
durante essa semana e não pretendo voltar atrás. O lado bom de estar por trás
dos bastidores, só recebendo e fazendo favores ocasionalmente é esse. Por
um lado, compreendo minha nonna, mas ainda é difícil voltar a ser o mesmo.
Quer dizer, não sou o mesmo em nenhum aspecto da minha vida. E nunca
mais vou ser.
CAPÍTULO 6
Rihanna - Diamonds
Sei que Ezra jamais me verá dessa forma, uma vez que para ele sou
como uma irmãzinha caçula a quem ele protege, cuida e dá ordens. Todavia,
não pude me impedir de sonhar acordada e tenho a ligeira impressão que não
será a única vez.
Ela olha para mim daquele jeito engraçado dela, com os olhos
delineados com a cor lilás, assim como seu vestido estampado.
— Sem querer fazer fofoca, Aninha, mas a dona Ella recebeu uma
ligação, ficou com os olhões verdes arregalados e disse que precisava sair.
— Luigi?
— Eu só quero saber como é lá. Ele não me levava antes porque era
menor de idade, mas agora sou maior. Poderia fazer uma surpresa.
— Tenho certeza que o chefe ia ficar surpreso pra caralho com você
aparecendo lá. A surpresa depois seria minha quando ele apontasse sua arma
na minha cabeça por levar a garota dele lá.
Mal posso acreditar quando vejo uma Honda CB 500X com o tanque
na cor azul, no tom das paredes do meu quarto, como meus olhos. Me
aproximo com a mão na boca, extasiada. Comentei com ele, que estava
trabalhando e juntando dinheiro para uma moto, mas não disse que sonhava
com essa noite e dia. Deus! Esse homem é louco! Passo a mão no tanque
azul, é perfeita. Viro-me para encontrar Ezra atrás de mim, olhando minha
interação com seu presente, suas mãos nos bolsos da calça social. Tão lindo e
imponente, parecendo tão intocável.
— Por que quando pintou meu quarto escolheu azul bebê e agora a
mesma cor com a moto?
Não pergunto mais nada, porque sei que não vou arrancar nada dele.
Gostaria de saber porque sempre a cor dos meus olhos, mas deixo para outro
momento.
— Como sabia que era essa que eu queria?
É a primeira vez que falamos sobre o tema sexo, mesmo que seja tão
lógico, do jeito Ezra de falar.
— Porque eu gosto de ver você com raiva. — Sorrio e vejo seu lábio
curvar brevemente, mas ele é osso duro de roer e não me dá o gostinho de vê-
lo sorrir.
— Você não sente calor com esse terno? Está me dando agonia vê-lo
todo composto nesse calor do Rio de Janeiro.
— Ok, você não vai deixar eu pilotar minha moto sozinha até
comprovar que sei o que estou fazendo. Então, sente-se atrás de mim e
certifique-se de me manter segura.
Ezra cogita por algum tempo, mas então seus olhos se estreitam por
uns segundos antes dele recusar.
— Coloque o capacete.
— Para andar por aqui? Não. Vou chamar Luigi para me manter
segura.
Isso muda algo em sua expressão, suas íris verdes faíscam em minha
direção e não entendo a princípio, mas depois percebo que ele não queria
ficar próximo de mim sobre a moto. E agora não quer que Luigi fique.
Porque para Ezra, sou uma criancinha que deve ser protegida. E isso já está
começando a me irritar pra caralho.
— Me dá essa porra dessa chave logo ou vou mandar você enfiar seu
presente num lugar desagradável! — Alerto, já ficando puta.
Mais de meia hora passa até que entramos para tomar banho e
esquentar nosso almoço para, finalmente, comer.
— Não vou trazer mulher alguma para cá. Coma sua comida, Ana.
— Não, porra. Pare de fugir dos assuntos que não gosta. Você pode
se apaixonar, essas coisas são incontroláveis! — Grito, atraindo sua atenção.
— Você vai reparar nas manias dela e protegê-la, vai gostar do corpo dela,
mas os olhos e o sorriso vão te fascinar. Você vai querê-la por perto o tempo
todo. — Murmuro, me sentindo sobrecarregada ao imaginar Ezra amando
alguém assim. — Então, você vai trazê-la para sua vida, porque você não vai
querê-la em outro lugar.
— Não vou trazer porra de mulher nenhuma para cá. Fim, Ana.
Então, talvez
Ezra e eu não nos vimos mais ontem depois que subi. Ele enviou
minha comida por Gilda, com o aviso de que era para eu comer tudo. De
pirraça, ia mandar o prato cheio de volta para afrontá-lo, mas ninguém vale a
minha fome. Comi tudo e só desci depois que Gilda garantiu que ele tinha
voltado para o clube. Luigi me fez companhia e até pareceu agradável, se
oferecendo para sair comigo, caso eu queira pilotar minha moto por aí.
Adorei a proposta e combinei de sairmos hoje.
Agora, manhã do dia seguinte, ouço as batidas de Ezra na porta e sua
voz me chamando para treinarmos. Já escovei os dentes, penteei cabelo e me
vesti com as roupas de treino que ele fez aparecer no meu closet, uma vez que
eu não saí para comprá-las. Abro a porta e olho feio para ele, demonstrando
que não esqueci da sua inflexibilidade ontem.
— Mandei fazer depois que você fugiu. Você sempre amou ler e eu já
queria fazer uma biblioteca em algum lugar. Achei que seria legal aqui. Achei
que te encontraria rápido e você poderia ter seu próprio canto para estudar,
ler...
Mesmo com raiva dele, eu o abraço. É claro que ele estaca no lugar,
sem esperar e sem o hábito de contato físico comigo, mas não posso me
impedir. Ezra é um mandão, mas ele me conhece bem e faz de tudo para me
agradar. Saber que construiu esse cômodo há anos e o manteve mesmo
enquanto estive sumida, mexe com meus sentimentos.
Sua grande mão toca minha cabeça, enquanto o outro braço envolve
meus ombros.
Ezra sorri, é o primeiro sorriso real que ele mostra para mim. Não um
curvar de lábios sutil. Um sorriso completo, com seus dentes brancos e
alinhados à mostra e seu rosto parecendo mais bonito do que nunca.
— Você não pode entregar tudo nas minhas mãos, Ezra! — Explodo,
olhando-o com raiva.
Do outro lado, vejo seu rosto se contorcer em pura raiva. Ele estreita
os olhos para mim.
— Para você é muito fácil se impor. É fácil ouvir o que digo e não
dar a mínima. Então, aparece com um presente novo para eu calar a boca!
Mas sobre isso não vou me calar! Quero trabalhar por conta própria e
conseguir minhas coisas por meus próprios méritos! Quando vai confiar em
mim? Não vou fugir!
Em poucos passos, Ezra entra no ringue outra vez, mas ele está
furioso. Antes que eu possa assimilar, minhas costas batem no chão
acolchoado e Ezra paira sobre mim, seus olhos colados nos meus, seu nariz
quase colado no meu. A proximidade é tanta que sinto sua respiração com
cheiro de café e menta tocando meu rosto. Todo o meu corpo se torna
consciente do dele, seu peito no meu, a barriga dura, cheia de gominhos. Suas
pernas, no entanto, estão no chão, não em mim, mas eu gostaria de senti-las
também. Todo ele.
— Você está fodendo a minha paciência, Ana. — Ezra rosna. —
Você fugiu. Por anos você não esteve aqui. Eu te cacei feito um louco, porra.
Achei que o pior poderia ter acontecido. Fui assombrado por anos, achando
que algum homem meu tocou em você e que você estava lá fora
traumatizada. Você quer falar sobre confiança?
Fico quieta, com vergonha das minhas atitudes e, mesmo que não
queira, consciente demais da nossa proximidade. Fecho meus olhos,
querendo dispersar qualquer pensamento idiota, mas sinto quando Ezra
suspira e abro os olhos para vê-lo me olhando com algo feroz, mas não a
raiva de antes. Seus olhos verdes ficam escuros e uma de suas mãos
emaranham em meus cabelos, pressionando as pontas entre seus dedos.
Pelo resto do dia, não há qualquer sinal dele na mansão. Nonna está
de volta, no entanto, e confessa que passou o dia com Giuseppe. Quando
brinco com ela sobre o dia romântico, ela me olha com seriedade e diz que
Giuseppe a despreza depois de descobrir o que ela escondeu dele, que
estavam juntos por conta de um assunto sério que ele precisava tratar com
ela. Fico curiosa e preocupada, mas nonna não diz nada e passa o dia reclusa.
Também não socializo muito, chateada com o que aconteceu de manhã com
Ezra.
— Luigi, você é meu segurança, mas não sou uma prisioneira aqui.
Posso fazer minhas coisas, contanto que você me proteja, não me vigie. —
Reviro os olhos.
— Eu...
Capo?
— Eu sei que ele está no clube, só passei aqui antes para conhecer o...
— Stefano debocha ao dizer em italiano: — angelo.
Porque não há maneira no inferno que eu possa olhar para Ana dessa
maneira.
— Eu fui ver a garota com meus próprios olhos. Queria entender sua
obsessão. — Ele diz.
— Cuidado. — Advirto.
— E você mexeu com quem não devia. Estou pouco me fodendo para
quem você é. Se você não fosse meu primo e amigo, eu não teria dado só um
soco, Stefano.
— Diga isso aos soldados que são leais a mim. — Ele abre um
sorriso astuto e raivoso. — Eu fui alertá-la porque vi a merda que você ficou.
Você entrou para o lado obscuro e não queria sair. Ela voltou e você não quis
mais saber da merda que é a máfia. Eu amo essa vida, mas você sabe o que?
Agradeça a Dio por você não ser obrigado a fazer parte dela. Se você viu o
lado ruim da vida aqui fora, é porque você não conhece Giuseppe Esposito
como eu conheço. Sabe quem matou o meu pai? Você nunca saberá, mas ele
mereceu. Ele me batia noite e dia para me fazer forte. E ele me fez forte. E o
seu velho nonno, que o trata bem porque se lembra da senhora Ella... O seu
nonno é um verme e quando ele morrer, irei soltar fogos e tomar seu lugar
com alegria. Você viu essa menina ser abusada, mas eu já vi cem delas
saindo de um estupro e tive que passar a noite olhando os rostos dos seus
nojentos estupradores. Eu tive que torturá-los, mas a minha mente estava
perturbada demais quando eu era jovem e tudo o que eu queria era matá-los e
não lembrar mais de como encontrei aquelas garotas no decorrer dos anos. —
Stefano nega com a cabeça e me olha com olhos ferozes. — A sua vida não é
bonita, Ezra, mas não chega perto da vida na máfia. Essa garota te tira da
feiúra e eu não me importo se você vai me bater de novo, porque se ela fugir,
irei encontrá-la e vou amarrá-la ao seu lado porque ela te dá alguma paz.
— Você matou o seu pai? — Pergunto, por não saber o que dizer.
Ele abre um sorriso enorme, de pura satisfação.
— Não matei ninguém, mas se você me bater outra vez, você vai ter
o mesmo final que ele. — Então abre a porta do meu escritório e some.
Cazzo! Não! Isso faz eu me afastar antes que eu faça algo sem volta.
Recuo alguns passos, colocando minha mente no lugar. Não deveria pensar
em perversões com Ana. Nunca. Não deveria tocá-la de jeito algum, mas a
pego em meus braços e a levo para seu quarto. Sua respiração toca meu
pescoço e meu maldito corpo se arrepia com o contato. Inalo para me acalmar
e é uma armadilha, pois o cheiro dela enche minhas narinas. Deixo Ana em
seu quarto tão apressado que acabo batendo a porta forte demais ao sair.
— Ezra? — Ouço sua voz chamando já distante, mas não paro para
me justificar.
***
— Sim, senhor.
Vejo seus cabelos tingidos de loiros caindo por suas costas. Ela está
ajoelhada no chão, onde acabei de gozar na sua boca. Hoje, ela não recebeu
prazer algum. Eu só quis liberar minha raiva em alguém, mas quando cheguei
no quarto privado com ela, sua submissão me irritou, em vez de excitar. Eu
pensava em queixo empinado, ombros altivos, olhos azuis furiosos e uma
língua demoníaca. Me fez mal recorrer ao sexo para aplacar a loucura em
minha cabeça, pois nunca deixei uma mulher sem sua liberação e agora, essa
submissa está ajoelhada, ansiosa e não recebeu nada além da minha porra na
sua boca.
Saio do quarto privado, mas deixei reservado por horas. Ela poderá
usá-lo para relaxar, aproveitar a banheira e, se quiser, chamar alguém para
fazer o que não fiz. Não foi nossa primeira vez. Iliana já me agradou muito
outras vezes, por isso, permaneceu calada, sem retrucar, mesmo que quisesse
mais. Embora tenha a veia naturalmente submissa, se força a ser o mais
obediente possível para me agradar. Ah, se ela soubesse que estou sendo
atraído por boca afiada e rosto de falso anjo.
— Ela está bem. Quero que amanhã você a leve para ver o local que
comprei para ela, que chame Gilda e a ajude a converter o lugar em um salão
de beleza dos sonhos dela. Irei passar alguns dias fora do Brasil.
— Entendido.
Yeah, yeah
Sia - Unstoppable
Entrei em contato com Kelly e pedi ajuda, contei por alto que minha
família rica me encontrou — se considerarmos Ezra da família não será uma
mentira — e que agora poderei ter meu próprio salão. Kelly se prontificou em
vir cuidar das madeixas de algumas clientes no dia da abertura. Andei
pesquisando e decidi que faremos um dia de beleza gratuitamente, assim as
pessoas conhecerão meu trabalho sem se comprometer e poderão voltar se for
do agrado delas. Nonna entrou em contato com um buffet e preparou uma
pequena festa, o que para mim soa como um grande evento.
— Ei, menina. Cattaneo criou suas contas nas redes sociais e disse
para eu te mostrar, mas que ele irá cuidar para você até você aprender.
Mais alguns dias passam e o dia do meu evento chegou. Para a minha
surpresa, minhas redes sociais estão bombando. Ezra é um empresário e ele
sabe o que está fazendo. Fico feliz da vida ao rever Kelly e até agradecida por
Michele ter vindo junto.
— Claro que sim. Vocês estão me ajudando muito e vou pagá-las por
isso.
— Viu só, Michele? Bem que a garota não tem só a cara de rica. Ela
é rica mesmo! — Kelly gargalha ao ver a expressão irritada da morena.
Só pude fazer as unhas de uma cliente, uma vez que trabalho com gel
levam horas para ficar concluído. Já Kelly, conseguiu fazer três cabelos, e
Michele fez algumas unhas naturais e também foi bem elogiada por todos.
Muitas pessoas vem e vão. Nonna e Gilda são um arraso recepcionando as
pessoas, coisa que não sou boa em fazer, mas no meu trabalho mandei bem e
depois que minha modelo mostra as unhas para a mulherada, obrigo Luigi a
anotar na agenda todas que marcam para vir fazer suas unhas comigo na
próxima semana. Ele anota me fuzilando com o olhar.
— Estou puta que você sumiu, mas obrigada por isso. Eu esperava
três pessoas e olha só...
— Eu deveria estar aqui desde cedo, mas tive um problema com meu
pai. — Ezra murmura, sem tirar os olhos dos meus e me surpreende ao
dividir o que aconteceu. — Ele tentou se matar.
Continuo encarando seu rosto, como se fosse ter uma resposta do que
está acontecendo. Toda vez que me aproximo, Ezra recua. Sinto uma atração
enorme por ele, mas jamais passou pela minha cabeça que ele pudesse
retribuir. Todavia, começo a pensar diferente. É mais como se ele sentisse o
mesmo, mas se recusa a sentir e, por isso, recua quando temos alguma
proximidade. Como no meu quarto quando o sapo apareceu, depois no
ringue... Na noite em que me levou da biblioteca até meu quarto e acordei
com o som da porta batendo, sem entender nada, mas depois de assimilar
tudo, percebi que era ele. E agora...
— Quer gravar essa conversa para Ezra me matar e você se ver livre
de mim?
— Não seja idiota. É sério. Já viu meu rosto? Me pareço com quando
era criança. Nunca tive um rosto avassalador, menos infantil... Talvez essa
franjinha me torne ainda mais criança, mas já tenho vinte e três. Estou
genuinamente curiosa em entender a ótica masculina ao ver uma mulher
como eu. — Explico com sinceridade, mesmo que me sinta exposta, mas
confio em Luigi.
Ezra toca meu queixo com seus dedos, me fazendo encará-lo. Ele
parece um robô, me analisando com os olhos estreitos. Bufo e me solto dele,
mas vejo sua expressão abrandar antes dele dizer:
E mover montanhas
Todo o meu maldito corpo está em alerta desde que coloquei os olhos
em Ana. Não foi necessário vê-la com o vestido vermelho, cabelos presos e
maquiagem diferente. No salão, com a expressão cansada, o uniforme branco
e o avental do salão, ela já estava deslumbrante, pois seu sorriso e olhar
radiante me deixaram de joelhos.
Ana está linda, de tirar o fôlego. Não sei porque, mas acabo
perguntando:
Ainda me incomoda que eu não saiba seu nome real, mas de certa
forma é importante que ela seja Ana só para mim. Poderia ter tido acesso ao
seu nome, mas quando pedi que Stefano limpasse tudo, naquela época, quis
que queimasse tudo, incluindo seus documentos e não me arrependo. Entendo
que aquele desgraçado assombrou seu nome para ela.
— Quero beber vinho. Nunca fui de beber... Mas com você, estou
segura, então... Quero vinho. É isso. — Ela diz.
— Por que você preferiu... — Diminuo meu tom de voz ao ver seu
olhar assustado. — Por que preferiu ficar vivendo assim à voltar para casa?
Ana nega com a cabeça, como se realmente não acreditasse que não a
deixei sozinha àquela época.
***
Se há algo que nunca mais vou permitir, é que Ana consuma bebida
alcoólica. A mulher está incontrolável. Precisei arrastá-la para o carro e
prendê-la com o cinto de segurança, pois ela cismou que seria interessante
dançar sobre a mesa do restaurante. Segundo ela, serviria para perder suas
inibições com o sexo oposto. Não preciso dizer que quis estapear sua bunda
ali mesmo, mas me controlei e a trouxe para o carro. Agora está meio
dormindo, meio balbuciando enquanto nos levo de volta para casa.
— Durma, Ana.
— Encosta aqui em mim, por favor? — Sinto seu olhar em mim, mas
não desvio minha atenção da estrada.
Aperto os dentes, sem saber o que fazer com ela. Pelo amor de Dio!
Ela já é insana sóbria, eu deveria saber melhor e tê-la impedido de beber.
***
Três horas mais tarde, estou indo para academia no terceiro andar,
visto que não consegui dormir tranquilamente. Minha cabeça está à mil por
hora. Mesmo que esteja cansado, não consigo colocar a mente em um modo
de descanso, de forma que ela está sempre trabalhando e não me deixa relaxar
e adormecer tranquilamente. Fico surpreso ao ver as luzes da biblioteca acesa
e me encaminho até lá para ver Ana, também acordada, lendo um livro. Abro
as portas duplas de vidro e entro, chamando sua atenção.
— Estou exausta, com uma dor de cabeça terrível por causa daquele
vinho. — Ela suspira. — Mas meu inferno pessoal não me deixa dormir.
— Vamos descer. Vou ficar com você e vigiar seu sono. Você poderá
dormir segura, sabendo que ele jamais vai se aproximar comigo por perto.
Ana assente com a cabeça e se levanta. Ela não está mais com o
vestido que usou para ir ao restaurante, seu rosto não tem mais resquícios da
maquiagem e os cabelos estão soltos, naturais, usa um pijama e meias nos
pés.
— Ele está morto. Sou uma idiota medrosa, mas é tão... — Seus
olhos se enchem de lágrimas quando para na minha frente.
— Não quero agradecimentos, Ana. Quero que seja feliz, que esteja
segura.
— Não falo sobre eles, mas meus pais se separaram por causa de
Reinaldo. Por isso, fui até lá aquele dia. Eu deveria só vigiá-lo, mas quando
vi sua mão tentando agarrar a janela, não consegui ficar quieto no carro. —
Explico e ela não diz nada. — Ele era o melhor amigo do meu pai, viajava
para nossa casa, na Itália, várias vezes no ano. Dizia que era casado e tinha
uma filha. Nunca levava vocês até lá porque dizia que sua esposa não gostava
de aviões. Um belo dia, meu pai chegou mais cedo do trabalho e o pegou na
cama dele com a minha mãe. Eu estava atrás dele e os vi. Minha família
acabou ali. Meu pai se tornou a sombra de um homem e minha mãe vive
viajando, segundo ela para encontrar seu eu interior. Ele tenta se matar
ocasionalmente. É uma situação fodida. Vive com babás e não aceita que a
vida continua. Foi um baque forte para um homem fraco. Ele não faz ideia de
como as coisas são. Não sabe sobre o pai verdadeiro, sobre o sangue
mafioso... Nonna sempre optou por protegê-lo e Giuseppe respeitou, afinal
nunca se orgulhou do seu filho ser um fraco.
— Ele amava sua mãe, certamente. — Ana diz. — O amor não é uma
fraqueza. Ele foi ferido e não se recuperou, mas ele foi leal e a amou
enquanto ele pôde. Quem perdeu foi sua mãe, Ezra. Trocar um casamento
real, com amor, por aquele porco do Reinaldo, mostra que ela não tem
caráter.
Sem confronto
O deixo dormir e me delicio com sua beleza serena. Ezra tem uma
beleza fora do comum, a pele morena bronzeada, cabelos escuros e lisos, a
boca bem desenhada, mais carnuda no lábio superior, os cílios longos e
escuros, a barba bem feita, que o deixa com o ar ainda mais bruto e viril.
Dormindo com uma camiseta preta, vejo o contorno dos seus braços fortes e
as tatuagens tribais. Eu gostaria de tocá-lo, mas percebi que ele se afasta e
foge sempre que avanço um dos seus limites. Preciso ir com calma para não
espantá-lo.
À noite, estou exausta por passar boa parte do dia fora. Fico meia
hora na banheira sob a água quente e quando desço para jantar, não há sinal
de Ezra.
Luigi dá de ombros.
— No clube, provavelmente.
Uma coisa opressora e horrível faz meu peito doer ao imaginá-lo com
outras mulheres naquele clube. Suponho que todas se jogam para ele. Até se
fosse um mendigo na rua, Ezra chamaria atenção. Sendo limpo, cheiroso,
bem vestido e rico, sua beleza é só mais um complemento para que todas o
queiram. Sua imponência e áurea perigosa faz qualquer uma querer se
ajoelhar aos seus pés. Isso me incomoda.
— O chefe...
— Foda-se o chefe!
Ele puxa seu celular do bolso, ainda me encarando com raiva e disca,
provavelmente o número do bastardo do Ezra. Sem sucesso, pois bufa e enfia
o celular no bolso novamente.
— Cattaneo não atende, não irei levar você lá sem a autorização dele.
Quero sorrir e achar graça, mas não acho. Não tenho amigas da
minha idade para conversar. Só confio nas pessoas que estão nessa casa,
então acabo desabafando com minha antiga babá.
— Se você quiser ir a esse clube, Luigi não vai levar você, mas o
Stefano ainda está no Brasil... Ninguém o impedirá se você...
Tudo parece tão absurdo e irreal, que não consigo evitar ficar parada
ali no primeiro degrau da escada, e quando Ezra se vira, voltando a caminhar
na direção em que estou, ele estaca no lugar ao me notar. Seus olhos verdes
se arregalam por um momento, exibindo o mínimo de emoção. Sua expressão
endurece, como se eu tivesse culpa por ele estar pedindo uma cópia minha...
Para que?
— Só estava indo até a cozinha levar isso. Não sabia que a sala
estava interditada enquanto você criava sua própria versão de um clone meu.
A tensão sexual feroz e ardente pulsa entre nós, fazendo meu coração
pular desgovernado. Meus seios me entregam, com os bicos intumescidos
empurrando contra a malha fina do pijama. Não deixo os olhos de Ezra e vejo
o exato momento em que ele nota meu peito. Sua respiração muda, ficando
forte, dura, seu peito subindo e descendo como se fizesse algum esforço e os
olhos verdes, ficam escuros, a expressão sombria me deixa louca de desejo,
meu sexo contrai e sinto a umidade escorrendo. Só posso ser tão insana
quanto ele. Ezra inala fundo, parecendo um animal. Sua cabeça abaixa um
pouco, como se sentisse o cheiro que vem de mim. Sinto minhas bochechas
queimarem com a vergonha, a falta de experiência para agir e o desejo voraz
de saber o que fazer para deixá-lo louco agora mesmo.
Poderia chutá-lo agora, mas acho graça e ele se perde por alguns
segundos olhando meu sorriso. Meu coração acelera ainda mais.
— Não vou precisar tocá-lo para deixar você louco. Pode foder
minha cópia enquanto pensa em mim... Nunca será eu e nunca será suficiente
até que seja.
Estou me afogando
— Como você está? Acordou mais tarde. Está tudo bem? E aquela
bagunça na sala de manhã? Por que quebrou coisas?
— Estou. Vou para o clube cuidar das minhas coisas e a noite, vou
relaxar com uma das mulheres por lá. Tive dores de cabeça demais depois
que você voltou. — A intenção é de irritá-la e o som da xícara batendo na
mesa é a resposta positiva de que consegui.
— Estou indo para o salão. Vou pegar uma carona com você. — Ana
levanta-se para a minha surpresa. Então fala com Luigi: — Vai com seu carro
para quando voltarmos, Luigi. Estou protegida com Ezra, então pode terminar
seu café com calma.
— Ontem você disse que devia me manter longe. Então vai minha
pergunta: por que estou na sua casa? E hoje deixou bem claro que desde que
cheguei só teve dores de cabeça. Sabe, Ezra? Você já me deu moto, um salão,
roupas, até cem pares de meias apareceram no meu guarda-roupa... — Faz
uma expressão de confusão, porque não sabe que percebi que seus pés são
frios e que ela usa as meias para esquentá-los e como tinha poucos pares,
mandei Gilda comprar muitos. — Então por que não me dá um apartamento
até eu me estabelecer? Assim fico fora do seu caminho e o que eu fizer da
minha vida não será dor de cabeça para você. Além do mais, sobre ontem...
Vá comer meu clone à vontade. Vou fazer como você, transar por aí, relaxar
minha mente. Mas eu não vou querer um clone seu, vou querer um gostosão
bem diferente para que eu só pense nele e nem lembre da sua cara azeda.
Então sai do carro sem me dar a chance de reagir, até porque ainda
estou assimilando o trator que passou em cima de mim. Bate a porta do
veículo, causando um estrondo e sai pisando duro em direção ao salão.
Espero até Luigi estacionar atrás de mim, o que ele faz em poucos segundos.
Saio cantando pneu, irritado e louco para tirar essa confusão dos meus
pensamentos. Pensar em Ana transando por aí deixou um gosto amargo na
minha boca. Sinto vontade de socar o sujeito inexistente e sei que não é certo.
Ela é uma adulta, solteira e dona de si, pode fazer o que quiser na vida. Ficar
sozinha em um apartamento não é necessário, nunca quis insinuar que sua
presença não é boa para mim. Só quis irritá-la e consegui. Mas o feitiço virou
contra o feiticeiro, pois quem está urrando de ódio agora sou eu. A
possessividade me corrói, a ponto de quase me fazer voltar para rosnar em
seu rosto que ela não vai foder com ninguém, mas me controlo, sabendo o
absurdo que seria uma atitude assim. Duelo comigo mesmo, brigo, luto e a
sanidade vence.
Fico no clube o dia inteiro e só volto para casa tarde da noite, mas
sem ter tocado em mulher alguma.
— Vim ver se quer mais suco... Acho que esse está quente já. —
Oferece, mostrando a jarra.
Me chame
Passei alguns dias irada com Ezra, e ele não parecia diferente
comigo. Hoje, no entanto, quando o vi de sunga, todo gostoso, estirado na
espreguiçadeira sob o sol, perdi a vergonha na cara e vesti meu biquíni mais
indecente, pronta para o ataque. Me surpreendi que ele não saiu correndo
depois que voltei para colocar a jarra com suco na geladeira.
Percebi que a abordagem selvagem o afasta, então decidi começar a
ser sutil. Me aproximar de forma inofensiva. Talvez o biquíni tão pequeno
não seja inofensivo e Ezra não é bobo, mas só quis dar-lhe conteúdo para a
imaginação, sendo assim, quando eu estiver vestida perto dele, sua memória
pode se voltar para o meu corpo coberto, apenas, pela peça de banho
minúscula.
— Não treinamos mais depois daquele dia, uma vez que você viajou
e eu fiquei enrolada com as coisas do salão. Posso voltar amanhã? —
Pergunto, me acomodando na espreguiçadeira ao lado da dele.
— Não acredito que passou sete anos da sua vida sem estudar...
— Você fez tudo errado, Ana. Tudo, porra. Ainda não consigo
acreditar. — E passa a mão pelos cabelos, levando o óculos de sol direto ao
chão.
— Você só sabe julgar, mas não sabe se colocar no meu lugar. Com
você, é sempre assim. Você é minha única família, queria que eu ficasse
esperando você chutar minha bunda quando se casasse com Melina?
Ele respira fundo e me olha com raiva, mas não diz mais nada. Pega
seu óculos de sol, o coloca e volta a se deitar.
— Ezra? Sou muito branca para esse sol... Pode passar protetor em
mim? — Pergunto, parecendo inocente. Ele abre a boca para negar, mas já
digo de uma vez: — Se não puder, não tem problema, eu peço a Luigi. Acho
que ele está pelos arredores...
— Luigi não vai tocar em você. — Ezra rosna sem hesitar, retira o
óculos quase com raiva e senta-se.
Ezra nada diz. Sua mão toca meus ombros e fecho os olhos,
mordendo o lábio para conter um gemido. Sua palma é áspera, máscula,
quente e grande, com dedos longos que deixam um traço de fogo por onde
passam. Seu toque não é gentil, ele me aperta sem perceber, porque é feroz,
não sabe ser delicado. É um homem bruto e minha calcinha fica molhada só
com suas mãos em minhas costas.
— Meu pai não está nada bem. Nonna não sabe e não sei como dizer
a ela. Liguei para a minha mãe... — Comenta, me surpreendendo com o
desabafo completo. — Pedi que passe um tempo com ele, não sei, para ver se
ele reage e depois fazemos uma intervenção. Ela diz que não pode, que vai
fazer mal para sua saúde mental, que ela progrediu muito e irá regredir. É
uma bastarda egoísta! Fez o que fez e não pensa em, sequer, se redimir.
Vejo suas mãos apertando tão forte o volante que os nós dos dedos
estão brancos. Toco seu braço, sem pretensões maliciosas, só querendo
confortá-lo. Surpreendo-me, pois ele não me lança um olhar mortal,
tampouco retira minha mão ou se assusta sob meu toque. Aperto seu ombro.
— Sua mãe não vai fazer nada, Ezra. Ela escolheu esse caminho,
então deixe que viva como quer. Faça sua parte. Nonna é forte, vai até
ajudar... Quem sabe não possamos passar uma temporada com ele? Trazê-
lo...
O sinal abre e Ezra volta a dirigir, mas eu dou uma cutucada em seu
braço.
— Acho que você está enganado. Tenho certeza que teve que
modificar muito sua vida quando decidiu cuidar de uma garota de treze anos.
Vejo seu lábio se curvar.
Eu me mostro confiante
O estresse tem sido tanto nos últimos dias que a maioria das noites
não consigo pegar no sono sem um treino intenso na academia. Hoje não está
sendo diferente, portanto, visto uma camiseta e shorts e subo.
A primeira coisa que vem em minha cabeça é Ana. A forma como
tentou me ajudar, como me ouviu e compreendeu, me confortou.
“Você sempre foi assim, me dava tudo, mas não me dava sua
presença, sempre com essa sua frieza glacial. Nunca tivemos conversas, Ezra.
Sei que você moveria o mundo por mim, mas sempre foi tudo tão estranho.”
Lembro-me de suas palavras, que me fizeram ser mais presente, mais
amistoso.
— Estava subindo para ler, mas vi que você estava aqui... Voltei,
troquei o pijama por roupas de treino e aqui estou. Posso treinar com você?
— Claro.
— Vamos lutar um pouco? Dizem que a luta relaxa. Não vai ser
como uma boa foda, mas deve ajudar. — Provoca ao se recompor.
— Quero que você me derrube. Não vou lutar, só fazer força contra
você. — Digo e ela assente.
Sou pego de surpresa, pois dessa vez ela consegue acertar um soco
em meu queixo e fico aéreo por uns segundos. Com um golpe rápido, prendo
seus pulsos com uma só mão e encaro seu rosto.
— O que?
Solto seus braços e dou um passo para trás. Ana sorri, quase perversa,
e então tenta me derrubar. Ela não consegue.
— Eu derrubei você, não vê? Está onde eu quis que estivesse, Ezra.
— Ana. — Rosno.
— Ezra... — Retruca, mas sua voz soa como um gemido e ela joga a
cabeça para trás, fechando os olhos, e me usando para fazer fricção.
— Você não deve me provocar mais. É a última vez que vou tolerar
isso.
Ana empurra contra mim outra vez e seus lábios entreaberto deixam
escapar um gemido. Cazzo! Seguro sua cintura e empurro contra ela,
fazendo-a abrir ainda mais a boca e as pernas, então engulo seu gemido,
beijando-a. Ana parece surpresa e não estou diferente. Mas o instinto, o tesão
desenfreado, não me deixam recuar. Sinto todo meu corpo reagir à ela. Seus
lábios são macios e ela parece um tanto perdida. Solto seu pescoço e seguro
sua nuca, mantendo seu rosto como eu quero. Saqueio sua boca, enfiando a
língua e encontrando a sua, mordendo seu lábio, lambendo-o. Ana geme e
ondula sob mim. Meu pau estremece, precisando estar dentro dela. Sinto seus
mamilos intumescidos contra o top fino, roçando em meu peito. Desço minha
boca por seu pescoço, mordo sua carne, chupo. Ana leva as mãos aos meus
cabelos, puxando os fios, gemendo rouca. Seus gemidos fazem um fogaréu
em meu sangue. Não consigo raciocinar, só agir. Beijo o vale entre seus
seios, mordo, chupo, lambo. Faço o mesmo com a barriga. Então inalo
quando chego no cós da calça, cheirando sua boceta. Rosno, feito um animal.
Seguro seu braço, nossos corpos se colando outra vez. Ana ergue o
queixo, me enfrentando.
— Suas ameaças não surtem efeito comigo, Ezra. Você pode ser o
dono da ação lá fora, mas comigo, você fala e não age. Agora, se me der
licença, vou para o meu quarto terminar o que você começou. — Puxa o
braço para longe de mim e pula fora do ringue.
Observo enquanto ela sai, pisando duro, e acabo rindo. Ficou tão
irritada porque não a fiz gozar, enquanto seu corpo clamava por liberação.
Não estou diferente, preciso tanto quanto ela e não tive nada. Suas palavras,
seu gosto, seu cheiro não saem da minha cabeça. É meu inferno particular,
presumo. Cometi tantos pecados na vida e agora irei pagar dessa forma, com
minha própria demônia de estimação, me infernizando e tentando dia após
dia, até que o demônio que habita em mim decida dar as caras e a coloque
para correr de uma vez por todas.
CAPÍTULO 15
E eu acho engraçado
— Vou precisar voltar para a Itália por uns dias. — Nonna comunica.
— Nonna, o jato está a disposição. Hoje tenho muita coisa para fazer
no clube. Luigi, busque Ana na escola, pois não estarei disponível.
Dou um tapa em seu rosto na mesma hora. Nunca lhe faltei com
respeito dessa forma, mesmo que eu seja briguenta, mas ele passou dos
limites. Me magoou propositalmente. Ouço cadeiras sendo arrastadas para
trás, provavelmente todos ficando de pé para apartar algo. Ezra só me encara,
furioso, e solta meu queixo.
— É a última vez que você me bate, Ana. — O alerta em seu tom não
passa despercebido.
Foda-se ele! Nonna está certa. Já chega de correr atrás de Ezra. Ele
sente tesão por mim, mas deve achar que não sou boa o suficiente para ter seu
pau de ouro. Ele que enfie no buraco sujo onde bem entender! Estou fora.
— Claro, mas vou estar aqui. Fico em volta sempre. Cattaneo não
quer você sem proteção.
— Você sabe que não é assim, Diana. Não se faça de boba. Você
provoca o homem. Nonna e Gilda não escutaram o que ele disse, mas eu, sim.
Estou sempre atento, à passos, sussurros... Não pude controlar. Não deveria
me meter na vida de vocês, não sou sua amiga, sou seu segurança. Mas eu
sou fiel ao meu Capo, e Stefano Esposito é o homem mais justo que eu
conheço... E ele me pôs aqui para proteger Cattaneo, então estar me
intrometendo, é um meio de proteger vocês dois.
— Por que o salão está fechado? Ela não sabia que estávamos vindo?
— Luigi estreita os olhos e leva a mão para trás, no cós da calça jeans.
Seguro seu braço, antes que ele empunhe a arma bem aqui no Aterro
do Flamengo, para que algum guarda veja, acione a polícia e nos leve presos.
Chegamos no salão de Kelly, mas está fechado. Também não compreendo o
motivo, já que ela sabia sobre nossa vinda.
— Diana, tem que agir rápido. Vou levantar, você fica colada atrás de
mim e corre para o carro. No três... — Luigi ordena.
Analiso tudo e agora percebo que Kelly nos atraiu aqui à mando de
Wilson.
Wilson não termina de falar, pois Luigi dispara um tiro e a bala acerta
entre seus olhos. Fico chocada, tremendo e Kelly grita, desesperada, correndo
para longe.
Ouço batidas na porta e mando entrar. Não tenho uma secretária, uma
vez que não há necessidade. Dou conta do meu trabalho e a ajuda de
Alessandro é o suficiente. Deixo que cada funcionário cuide de seus
desígnios e, no final, supervisiono tudo para ver se está correto. Portanto,
ninguém tem o hábito de vir ao meu escritório. Já fico alerta e me levanto.
Quando vejo Luigi, analiso sua expressão e ela não me diz nada.
— Porra!
— A coisa foi feia. Preciso ligar para Stefano para ele entrar em
contato com conhecidos dele para sumir com as imagens das câmeras da rua.
Ele assente com a cabeça e só retorno até minha mesa para pegar
carteira, celular e molho de chaves.
Dirigi feito um louco, nervoso, ansioso para chegar até Ana. Parece
que as merdas nunca se afastam, que ela nunca pode ter um minuto desse
sossego. Nesse momento esqueço nossos últimos atritos, o quanto ela tem me
provocado e que eu cedi ontem. Só quero cuidar dela.
Tento puxá-la para mim, mas ela se joga em meus braços e me abraça
forte, de forma que fico parado e a abraço também, deixando-a se acalmar.
Ana chora por um longo tempo e a água continua caindo sobre nós.
— Você atirou em alguém? Não foi sua culpa. Nunca foi. — Garanto
à ela, erguendo-me e a trazendo comigo.
— Esqueça isso.
— Você não pode fazer tudo funcionar com suas ordens, Ezra. —
Diz, mas há um sorriso em seus olhos azuis.
Talvez ela esteja certa, mas não digo em voz alta. Quando a coloco
sobre a cama, ela se levanta.
— Pare de ordens.
— Ana...
— Não me peça isso. — Minha voz não soa como uma ordem agora,
porque não é. Me aproximo dela e seguro seu rosto entre minhas mãos. É a
primeira vez que a toco primeiro. Seus olhos azuis parecem sem vida. Eu
desejo Ana, esse não é o problema. Mesmo sabendo que não é certo, meu
corpo está reagindo agora. — Não posso fazer isso. Você está frágil. Seria
algo que você se arrependeria depois. Me odiava de manhã, Ana, e vai
continuar zangada quando o choque passar, então vai ficar com raiva de si
mesma, e mais ainda de mim, porque não vou reagir bem... Não vou
conseguir evitar. Você é para eu cuidar. A única coisa importante na minha
vida.
Isso só faz com que ela chore mais. Ana se joga em meus braços e
fica assim algum tempo até que nos encaminho para o seu closet. Separo uma
de suas roupas de dormir e entrego à ela.
— Vou ao meu quarto trocar de roupa e volto para ficar com você. Se
troque também.
— Ana? — Insisto.
— Você não tem que permitir nada. — Funga, mesmo triste não
consegue deixar de ser um pé na bunda.
Esse seu momento vulnerável me deixa sem saber como agir. Estou
acostumado a vê-la brigar, reclamar, bater... Não assim. Não é assim que
minha Ana deveria estar. Olhando em seus olhos, sem desviar, seguro a barra
de sua blusa e começo a erguê-la. Sou um bastardo, pois sinto meu pau reagir
só por eu ter a consciência de que estou a despindo. Ana arregala os olhos por
um momento, mas parece entender e ergue os braços para que a blusa saia
por sua cabeça. Pego a camiseta que separei e visto nela, sem tirar o sutiã
molhado. Depois que ela está coberta, enfio minhas mãos sob a camiseta e
toco suas costas, procurando o fecho do sutiã. Ana solta um suspiro que faz
coisas erradas comigo.
— Vista seu short. — É uma ordem, sem espaço para que recue.
Ana pula da bancada se veste, seus olhos nunca desviando dos meus.
Passo a mão pelos cabelos, nervoso, ansioso. Excitado pra caralho. Respiro
fundo, me contendo, lembrando de com quem estou lidando. A consciência
de sua situação perturbada me traz de volta ao controle. Ana precisa de mim.
— Venha. — Viro-me para ela e passo meu braço por seus ombros,
fazendo ela relaxar visivelmente.
— E meu conselho será para você me falar quem são as pessoas que
te irritam e então eu irei matá-las. Muito saudável, não?
Ana se afasta do meu peito só para olhar em meus olhos. Seus olhos
estão arregalados e ela abre um sorriso enorme.
Isso me faz sorrir e ela fica ainda mais perplexa. Eu só quero vê-la
bem. Só isso.
— Durma um pouco, mio angelo. — A puxo de volta para o meu
peito e beijo sua testa.
Seus olhos brilham, mas não consigo captar a emoção por trás. Nos
aconchegamos novamente e não demora para ela adormecer.
CAPÍTULO 17
Eu sei que deveria ser a primeira, você diz: “Espere a sua vez”
Ashlee - Prisoner
Olho pelo espelho e vejo sua imagem, uma camisa social rosa claro,
com os primeiros botões abertos, mostrando as correntes de ouro, terno cinza
e calça social da mesma cor, feitos sob medidas, deixando-o ainda mais
delicioso.
Não dúvido nada que ele possa. Se no final das contas, esse homem
revelar que é um vampiro, não será surpresa alguma para mim.
— Ah, presumo que não mesmo. — Minha voz deixa claro o duplo
sentido.
— Deluca, pode tirar seu dia para descanso. Vou ficar com Ana. —
Ezra avisa a Luigi quando passamos por ele na sala.
— Ei, sou filho do dono daqui. Já vi você ali no salão dias atrás. —
Ele comenta. — Sou Hugo... Tudo b...
— Você não conhece aquele garoto. Não deve dar corda para
qualquer um. Devia saber mais com seu histórico.
— Pois pense antes de falar! — Forço seu corpo para longe do meu e
ele se afasta, respeitando meu desejo.
— Ana...
— Não quero mais ir para o seu maldito clube e não quero ficar com
você.
Caminho pela calçada até ver a praia. Não sei em que posto estou,
mas não quero me banhar no mar, então não há preocupação com isso. Sei
que Ezra está atrás de mim, mas ao menos respeita o meu espaço. Atravesso a
pista e caminho até a areia. Sento-me próxima do mar, vendo as famílias, os
casais, crianças, idosos, cães. A vida de todos parece incrível, mas a minha é
essa montanha russa. Sinto-me agoniada, como se não pudesse mudar isso,
como se fosse uma injustiça. Pergunto-me se fui marcada, de alguma forma,
para sofrer. Existe isso? Destino? Por que alguns são felizes e outros não?
Então penso nas pessoas que passam fome, que não tem casa... Nos tempos
em que fui uma delas... E constato que meu desespero agora é infundado. Se
fui marcada para sofrer, pelo menos tenho sofrido com comida boa, cama
macia e um teto espetacular sobre a cabeça, além de pessoas que se importam
comigo. Há gente que passa fome a vida toda, gente com problemas que se
refugia nas drogas e nunca consegue se livrar. Se somos marcados pelo
destino, por que há tantas pessoas que tem tudo fácil e outras, que não tem
nada? É tão difícil entender, tão complexo.
Olho para trás e vejo Ezra, sentado distante, mas com os olhos presos
em mim. Está sem o paletó, usando a camisa dobrada nos antebraços, sem os
sapatos caros, que estão ao seu lado, e os pés descalços na areia, com a calça
social também dobrada nas pernas. Nem assim, parece um homem comum. É
poderoso, lindo, imponente, implacável. É frio.
Sinto sua presença antes que eu o veja, então ele senta-se ao meu
lado, olhando na mesma direção que eu, para o mar.
— Pode me xingar.
— Não irei tratá-la como uma criança novamente. Não a vejo como
criança há muito tempo.
Levanto-me às pressas.
— Sem fome.
— Preciso verificar uns papéis e quero que você suba comigo. Acabe
de comer de uma vez e vamos logo.
Eu deixo que saia, pois caso contrário irei me jogar pela janela. Só
rosno para que Alessandro suma da minha frente e ele é esperto o suficiente
para fazê-lo. Pelas câmeras vejo Ana chutando o metal do elevador e depois
pulando de dor. Isso me faz rir de nervoso. Dio mio! Que mulher demoníaca!
Penso em contatar Luigi, mas recordo que lhe dei o dia de folga, então ligo
para um segurança que está na área externa do clube e exijo que seja a babá
de Ana. Vejo quando ele se aproxima dela no andar inferior e o quanto ela
discute com ele e bufa quando ele diz algo, provavelmente que eu o mandei.
Ana anda por todo o clube, vê os quartos privados, as áreas comuns, as
paredes de vidro espelhados que permite que os casais sejam vistos transando
no segundo andar, ou vice versa, para casais que gostam de ver as pessoas,
sentir o perigo, mas preferem não serem vistos. Acabo mal trabalhando,
obcecado com suas reações, a forma como arregala os olhos azuis, como a
boca fica aberta, em choque, como passa os dedos por coisas que chamam
sua atenção, principalmente nos chicotes e palmatórias. Mio angelo está em
meu inferno, mais do que nunca.
Busco na internet por um vestido que seja digno da rainha que ela é,
uma vez que a própria esqueceu disso. Passo por muitos deles e escolho o que
combina perfeitamente. Preto, com as costas totalmente nuas, suspenso por
uma corrente dourada, com uma manga só, no ombro esquerdo, chegando na
altura de suas coxas. O salto azul, nem perto do tom de seus olhos, pois é
difícil encontrar, assim como a garota clone, que não tinha olhos azuis bebê
como os de Ana. Eu deveria fazer mil coisas agora, mas perco meu tempo
com moda só para ter um ereção crônica mais tarde diante da beleza e
petulância de Ana.
Seu vestido sobe nas coxas e ela sabe disso. Meus olhos não se
afastam da pele branca com pêlos pequenos loiros. Fico louco para passar
minha língua, mas não demonstro. Ergo meu olhar e encontro seu rosto,
concentrada em mim, mordendo o lábio inferior, com os olhos brilhando e as
bochechas vermelhas.
— Você jamais irá usar algo que uma das mulheres daqui usou ou
usa, Ana. — Digo e levanto-me, indo em direção ao sofá encostado na parede
oposta, perto da porta.
— Não, Ana. Você não vai olhar para o lado. Vai ficar comigo, sem
homens rondando.
— Você não manda em mim. Acha mesmo que vou ficar atrás de
você depois de ver a palhaçada que você arrumou? Uma mulher igual a mim,
Ezra? Foi a maior escrotice do mundo. Enfia ela no rabo, porque eu estou
fora. Vou caçar um homem normal, que não seja estúpido e escroto.
Ana tropeça e pisca algumas vezes, chateada. Não queria fazer isso,
mas ela tem passado dos limites e não estou aqui para ser feito de idiota. Ela
pega a caixa da mesa com raiva e vai para o banheiro.
— Desde que você não faz nada para que eu sinta medo, não.
Quase duas horas mais tarde, o clube está a todo vapor. Estive
ocupado com alguns políticos que chegaram e, ao me ver, quiseram
conversar. Ana ficou surpresa com a maioria das pessoas que viu.
Especialmente o ex jogador famoso de basquete, Anthony Mesquita, e sua
esposa. São associados do clube há dois anos e sua parada é sempre no
terceiro andar.
— Meu Deus! Esses famosos são pervertidos! Será que Anthony bate
na bunda dela com o chicote? Sigo a Clarissa no Instagram, ela não tem cara
de quem leva chicotada.
Tiro a taça de vinho de sua mão e a puxo até o bar. Coloco a taça
sobre o balcão e peço água. Obrigo Ana a beber para que não fique bêbada
rapidamente. Seguro seu queixo entre meus dedos e me inclino para falar em
seu ouvido.
— Você também não tem cara de quem gosta de levar chicotada, mas
garanto que iria gostar.
— Deus, Ezra!
Pensei que ela se assustaria aqui e sairia correndo. Não está saindo
como planejei, mas prometi não tratá-la como criança.
Estou em choque e sei que o que estou vendo, não é metade do que
rola no Hot Cattaneo. Vi famosos, políticos, pessoas que jamais poderia
imaginar frequentar esse tipo de lugar. Senhoras, jovens, senhores, todo tipo
de gente. Mas acho que o mais surreal dentre os frequentadores, sou eu, uma
virgem no meio dessa putaria toda. Pior é que me senti excitada vendo os
casais transando e todas aquelas pessoas a volta, algumas olhando e outras
aproveitando o clima para se pegar por ali.
— Aqui é como uma boate comum. Muitas pessoas vem aqui para
flertar, conhecer alguém com os mesmos interesses e depois vão para os
quartos privados, naquele corredor. Há aquários, como na outra área, em que
podemos vê-los na prática, mas só aqueles que gostam de se exibir e para
quem gosta de ver.
— Será que lá na outra área a coisa está muito bizarra para eu ver?
— Só estou de passagem. Não vou ficar por aqui, Celina. — Ezra diz.
— Percebi.
— O sexo simples pode dar prazer, Ana, mas quando você se dispõe
a descobrir mais, a buscar o máximo que pode obter do seu corpo, o simples
se torna uma cócega perto de um vulcão.
— Você não gosta de sexo simples, então? — Pergunto, percebendo
que minha voz soa rouca.
Fiquei excitada com aquela cena lá atrás, com Ezra tocando minhas
costas, com a consciência de que ele também estava ali vendo. Esse lugar é
sensual e impressionante, como o dono.
— Dio, Ana! Está deslumbrante com esse olhar de tesão. Sinta como
me deixa. — Ezra segura minha cintura com força e empurra contra mim,
deixando-me sentir sua ereção grossa em minha bunda.
Olho sobre o ombro e vejo seu rosto, seu olhar carregado, faminto.
— Ezra...
— Veja como ele passa com o chicote pelos seios dela, Ana. — A
voz rouca de Ezra sussurra em meu ouvido. — Imagine que sou eu fazendo
isso com você. Eu seria suave, pois sua pele é como uma porcelana, mas
quando chegasse em seu mamilo, eu daria um golpe, para o seu sangue
bombear mais forte e você delirar quando sentisse minha língua.
Olho para o casal, agora o homem está dizendo coisas a ela e sua
resposta é sempre “sim, senhor”. Mal consigo assimilar tudo. Ezra é demais
para mim. Sua presença, sensualidade, poder e suas palavras, a consciência
de que está excitado e falando essas coisas para mim porque quer, sem
minhas provocações. Meu sangue bombeia tão forte que ouço um zumbido
em meus ouvidos.
— Olhe como ele vai estapear a boceta dela agora. — Ezra avisa na
mesma hora que o estalo do chicote soa. A mulher conta “um”, então há mais
golpe e ela conta “dois” e continua a cada vez que ele a golpeia. — Com esse
estímulo da dor, o sangue bombeia nos lugares certos e ela fica tão louca, que
vai gozar sem parar quando o senhor dela deixar.
Ezra ri em minha orelha e, pasme, sua língua passa pela mesma e ele
morde a cartilagem sensível.
— Claro.
Não presto atenção em mais nada e desço com Ezra. Nós dois não
tocamos no assunto sobre o que aconteceu lá em cima e ele pede uma dose de
vinho para mim. Aceito e bebo de uma só vez.
— Nunca curti minha juventude. Será que você pode dançar comigo?
Será minha primeira vez na balada. Eu posso fingir que não estamos num
puteiro por uma música.
Eu vim da lama
Cometi uma loucura e não parei para pensar ainda, de forma que não
houve espaço para me martirizar e me arrepender. Ana está exultante,
dançando, bebendo, rindo sem parar e se divertindo. Algumas vezes esqueço
que é só uma jovem, devido a sua bagagem tão grande. Quando não, estou
colocando na cabeça que é uma criança e que precisa estar em uma redoma
de vidro.
— Vai ficar mudo aí? Vem cá! — Ana puxa minha mão e me leva
para o bar e pede mais um drink da bebida rosa que ela escolheu depois que
começou a dançar. — Toma. Você precisa beber. — Segura meu queixo e
leva o copo até minha boca, virando e me obrigando a beber para evitar que o
líquido caia em minha roupa.
Entro em casa com ela em meus braços, com todo cuidado para não
acordá-la, mas ela desperta assim que entramos na sala e a luz acesa
incomoda sua vista.
— Sim.
Olho para o sofá e vejo nonno, com um copo na mão, o qual ele
remexe, fazendo o líquido âmbar sacudir de um lado para o outro. Suas
pernas cruzadas, seu olhar astuto sobre Ana e eu e o fato de estar na minha
sala às três horas da madrugada demonstram que seu interesse por Ana pode
vir a ser uma preocupação para mim.
Não gosto nem um pouco disso e não confio nele. Nunca entrou no
meu caminho, mas conheço sua fama através de Stefano e sei que nada o
impede de fazer qualquer coisa que ele julgue certa em sua mente deturpada.
Deixar Ana na cama é um sacrifício, uma vez que ela insiste que eu a
beije e eu afirmo que não o farei sem que ela esteja sóbria. Tiro seus saltos,
mas sou obrigado a deixá-la dormir com o vestido apertado, pois meu
autocontrole já tem sido grande demais. Fico deitado com ela até que pegue
no sono. Só então vou até meu quarto, tomo banho calmamente e depois
desço para falar com Giuseppe.
Imagino-me parecido com ele quando tiver sua idade. Pois dizem que
era parecido comigo quando jovem, exceto por meus olhos, que são herança
da nonna, e os dele são negros. Ele passa a mão por seus cabelos brancos.
— Não ando encontrando Antonella. O que ela fez não tem perdão.
— Rosna. — A fraqueza do seu pai foi nossa pauta. Não vejo necessidade de
você perder seu tempo com um fraco como ele. Ele não é um homem
honrado. Nós não somos dependentes de mulheres, entende, figlio? Elas
foram feitas para nós fazermos o que bem entendermos.
— Não vou fazer nada a respeito. Ele está o incomodando por quê?
Você nunca se importou com ele. A fraqueza dele sempre o manteve
afastado, nonno. Então continue.
— Por acaso todo esse rodeio não é para insinuar que mio angelo é
uma ameaça? — Estreito os olhos e ele também, principalmente por eu ter
feito questão de chamá-la pelo apelido.
— Bom. — Rosna, e fica de pé. - E sobre não ser capaz de matar uma
mosca, se não fosse por ela. Ah, meu rapaz, você mataria, sim. Tenha certeza
disso. Meu sangue corre em suas veias e os homens Esposito são assassinos
frios que gostam de cada segundo quando matam alguém.
— Presumo que isso não seja do agrado do meu primo, uma vez que
sequer comentou comigo.
— O velho foi aí então. Eu sabia que o sumiço dele não era boa
coisa, mas seus soldados mais próximos são leais e não consegui descobrir
para onde ele estava indo.
— Ana está correndo perigo agora que nonno acha que ela pode me
tornar fraco.
— O que ele está querendo com ela? Hoje exigiu que eu a obrigasse a
ficar com o meu pai para que ele se cure.
Stefano solta uma gargalhada forte.
— Ora, ora, então você não é tão diferente do velho assim, Cattaneo.
Seu anjo sabe?
Yeah
O mundo está nos meus ombros, deixe seu corpo aberto para eu
nadar
— Hoje não.
— Muito engraçado. — Olho feio para ele, mas sabendo que estou
sendo relapsa com meu salão. — Preciso de um tempo para mim. Semana
que vem, volto a ser responsável.
— Você só vai parar com esse apelido escroto quando eu acabar com
sua raça.
— Achei estranho você estar sumido até tarde. Não imaginei que
pudesse estar dormindo ainda.
Mal assimilo como vou parar dentro do seu quarto. Com um baque,
meu corpo é empurrado contra a porta, que fecha com o impacto. Arregalo os
olhos, chocada e ansiosa, trêmula e eufórica, tudo ao mesmo tempo. Ezra
paira sobre mim, alto, forte, com as pupilas dilatadas e o rosto em uma
expressão louca, selvagem.
Engulo, sentindo sua mão subindo por meu braço, tocando meu
ombro e se fechando em minha nuca, puxando meus cabelos e mantendo
minha cabeça presa na posição que ele quer. Seu olhar penetrante me alerta
de que ele quer uma resposta.
— Não...
— Nada será o mesmo, você não vê? Foda-se, Ana. Você escolheu
ficar.
Quero revidar, quero dizer que vou bater nele se me bater, mas não
sou capaz. Tudo isso me excita ao extremo. Fico desacreditada de mim
mesma por gostar de cada imagem que vem em minha cabeça com a ameaça
de Ezra.
Dessa vez obedeço. Ezra desliza a mão pela minha barriga, desce até
o cós do short jeans e abre o botão e depois o zíper. Ele empurra por minhas
pernas e logo a peça vira um amontoado em meus pés.
— Está molhada para mim? Quero que me diga o que está sentindo.
Ezra abre minha dobras e sua respiração se torna mais forte quando
ele sente a umidade. Ele espalha por meu sexo e me provoca, sem me dar o
toque que eu preciso. Ele empurra seu pênis duro contra a minha bunda e
gemo alto, meu sexo contraindo, precisando de contato.
— Sabe uma coisa que estou louco para ver? Me masturbei pensando
nisso antes de você chegar. — Sua voz é um sussurro calmo. — Será que
esses pêlos são loiros? Diga para mim, Ana, sua boceta é loirinha como você
naturalmente é?
Ele me solta e quase caio para trás, tão mole minhas pernas estão.
Toda eu, na verdade, me sinto mole, trêmula, bêbada pela luxúria crua.
Caminho até a cama e deito-me. Ezra se aproxima, ainda com sua calça de
moletom e não faz menção de tirar minha blusa rasgada. Parece que é para
lembrar que eu neguei seu desejo e o resultado que obtive com isso.
Ezra olha meus olhos por um longo tempo, depois que se dá por
vencido, move o dedo lentamente e seu olhar suaviza. Seu comportamento
muda totalmente depois de se dar conta que sou virgem. Ele deixa a
ferocidade de lado e até as palavras sujas somem. Ezra me beija na boca, seu
dedo vem e vai devagar, me abrindo e preparando, sua outra mão passeia pelo
meu corpo sem os apertões brutos de antes. Ele tenta se afastar e eu deixo
para que tire a roupa. Respiro fundo, sabendo que esse é o momento. Ezra tira
preservativos de sua carteira e os joga ao meu lado na cama, depois tira sua
calça e a boxer de uma só vez. Bebo de sua imagem como uma mulher
sedenta. Ele é perfeito, viril e lindo. Seu rosto só complementa a perfeição de
seu corpo. Ombros largos, braços fortes, peitoral e abdômen definidos, aquele
V marcante, uma linha de pêlos ralos que descem até seu pênis grande e
grosso. Fico presa em seu comprimento, babando, imaginando-me levando-o
em minha boca, querendo aproveitar tanto dele quanto quero que ele faça
comigo. Ezra sorri vendo meu olhar e caminha em minha direção. Vê-lo
deslizar a camisinha por seu pau faz com que eu me contorça na cama,
totalmente excitada e pronta para ele.
— A primeira vez não será boa para você, Ana. Irá doer, mas vou
fazê-la gozar antes para que sua mente esteja focada no prazer do orgasmo
em vez da dor quando eu penetrá-la. Capisce?
— Sim. Eu quero isso, Ezra. E não importa que amanhã você seja um
cuzão, porque você sempre é, mas você também é quem cuida de mim, a
única pessoa que confio e eu jamais poderia dar o meu corpo a outro.
Passo minhas mãos por seu rosto, acariciando a barba, passo meu
dedo por suas sobrancelhas grossas e negras, no vinco que se forma entre
elas. Então sorrio e enlaço seu pescoço, o puxando para me beijar. Nos
beijamos, sôfregos, famintos e ansiosos. Ezra esteve confiante a todo
momento, sem demonstrar qualquer emoção, mas tenho a ligeira impressão
de sentir seus dedos trêmulos quando ele aperta minhas coxas e respira fundo
na minha boca. Ele desce seus beijos por meu pescoço, volta a brincar com
meus seios e tira o que resta da minha blusa. Ele lambe meus seios e chupa
com tanta ânsia, enquanto leva seu dedo ao meu clitóris e estimula o nervo
inchado. Aplicando uma pressão certa, ele move o dedo dando atenção a cada
um dos meus peitos. Reviro os olhos de prazer, murmuro seu nome,
choramingo e quando estou quase gozando, Ezra se afasta um pouco e segura
a base do seu pau. Fico tensa, achando que vai me penetrar agora, mas ele
esfrega em minhas dobras e meu clitóris, fazendo o orgasmo voltar com tudo.
Todo meu corpo grita, febril, minha vagina lateja, a umidade escorre para os
lençóis, me sinto pronta. Quando gozo, Ezra me penetra lentamente.
Realmente o orgasmo faz com que o prazer nuble a dor quando rompe meu
hímem, mas a ardência continua mesmo depois, pois Ezra é bem dotado. Ele
beija minha boca enquanto se move lentamente. Me sinto uma boba,
emocionada por ter perdido minha virgindade com ele e por ele ter se tornado
suave. Por mais que tenha amado sua selvageria, precisava dessa calma na
minha primeira vez. Me perco tocando os ombros de Ezra, beijando seus
lábios, observando o prazer em seu rosto. Ezra nunca esteve mais bonito do
que agora, os sons que ele faz são guturais, másculos, seus lábios estão
entreabertos e os olhos cerrados. Meu prazer volta arrebatador com sua
imagem e as estocadas lentas e fundas logo se tornam um pouco mais fortes
quando ele se deixa ter seu próprio prazer. O homem goza forte, grunhindo,
lindo, e cai sobre mim, enfiando o rosto em meu pescoço. Acaricio suas
costas suadas, lânguida, satisfeita.
CAPÍTULO 22
Estreito meus olhos, meu cérebro recapitulando tudo o que foi dito.
— A de ontem a noite.
Ele não captou a mensagem mortal em meu olhar quando questionei.
Guinaldo assinou sua sentença de morte. A fera que, a muito custo, tenho
mantido presa se solta, pronta para matar a fome.
— Ela não é uma submissa e você nunca, jamais, irá tocar em um fio
de cabelo dela, tampouco fazer dela sua prostituta. — Rosno e seguro seu
colarinho com uma mão, puxando seu rosto assustado para perto do meu. —
Preste bem atenção em quem você confunde com puta de luxo. Você não está
na porra de um puteiro. — Dito isso, inclino suas costas contra o balcão e
soco seu rosto com a mão livre.
Solto Guinaldo, sem olhar para seu rosto, ciente de que o maior
fodido de todos aqui sou eu. Me desvencilho de Stefano e sigo em direção ao
elevador, passando a mão por meu cabelo, nervoso, agoniado, confuso.
Stefano me deixa sozinho e quando entro no meu escritório e vejo Ana ainda
com aquele garoto, explodo em ira. Chuto a cadeira giratória, tamanha força
que a faz voar na mesa. Enxergo preto, jogando longe tudo o que vem a
minha frente. A única coisa que seguro em minhas mãos e olho com atenção
é o porta retrato com a foto de Ana mais jovem. Cabelos loiros, olhos azuis,
sorriso sincero. Mio angelo... Eu não posso envolvê-la em meu inferno e isso
não me impediu de possuí-la. Não me impede de pensar em repetir mais e
mais.
— Você não tem que se meter comigo e Ana. Nós não somos um
problema seu para resolver.
— Tudo bem então. Vim para o Brasil depois da ligação que você me
fez, para ver como as coisas estão de perto. Irei ficar por aqui por alguns dias,
se precisar de algo, me ligue. À noite vou estar aproveitando meus dias de
solteiro. — Faz uma careta debochada e dá tapinhas no meu ombro.
— Sair com Hugo. — Ana sorri para mim, como se tudo estivesse
perfeito.
O rosto de Ana congela e ela puxa o braço do meu agarre, irada. Sua
expressão endurece e seus olhos faíscam com a raiva. Meu desejo é empurrá-
la contra a parede e transformar sua irritação em paixão com uma foda
selvagem.
Ana passa por mim com aquele vestido apertado em sua bunda
redonda, o rabo de cavalo se movendo, me atiçando a puxá-la e proibí-la de
estar tão linda assim para outro homem. Mas eu não a mereço e, por um
momento, penso que talvez seja o melhor, permiti-la ter um homem normal,
não um pervertido que só quer sexo.
CAPÍTULO 23
Estou tão irada e frustrada, que sinto minhas mãos tremerem. Não há
encontro algum com Hugo. Embora devesse, não consigo confiar em
qualquer pessoa e esse lado meu não mudou de uma hora para outra. Veja
bem para onde isso me levou, a foda mais épica da vida — não que eu já
tenha tido outras —, em contrapartida também me levou a ter que lidar com a
ausência de Ezra e a certeza de que ele fugiu, arrependido com o que
aconteceu. Confio só em Ezra e paguei o preço por isso, mas não me
arrependo.
Passei o dia triste, chateada, perguntando-me se para ele não foi bom
como foi para mim, se todo aquele prazer que vi em seu rosto era coisa da
minha cabeça. Hugo me encontrou novamente na sorveteria e nos demos tão
bem que ele ficou comigo no salão. Decidi ir trabalhar para não passar o dia
pensando em Ezra, mas de nada adiantou estar fora de casa, uma vez que ele
não abandonou meus pensamentos.
Acordo com o som do toque do meu celular. Levo algum tempo para
despertar de fato. Tiro os cabelos do meu rosto e passo o braço pela cama
imensa do quarto de hóspedes de Luigi, procurando o aparelho que não para
de fazer barulho. O encontro sob o travesseiro no exato momento em que ele
para de tocar. Vejo que Ezra que me ligou e bufo. Logo uma mensagem
chega.
Não respondo. Ezra não merece que eu esteja à sua disposição. Ele
pode ser maravilhoso no papel de cuidar de mim, mas como amante — se é
que posso chamá-lo assim —, ele só prestou no quarto. Era isso que eu
queria, não era? Sexo alucinante com Ezra? Consegui. Nem eu mesma
entendo porque nunca estou satisfeita.
— A hora que ele cortar minha garganta você se vira com outro
segurança sem carisma que ele encontrar.
— Errei feio, Ana, mas para proteger você de mim. Você viu meu
clube, aquilo é o que eu sou, mas não é tudo. Você é a única pessoa que me
importo em manter protegida. Lidar com o desejo por você me deixou fora de
mim. — Sua palma sobe até meus joelhos, acariciando atrás. Suspiro. —
Quero você. Muito. Você não é a única querendo mais aqui. Não sei quanto
tempo vamos continuar tendo desejo um pelo outro, mas proponho que a
gente explore isso. Você mesma disse que era só sexo, que podemos separar
as coisas. Vou continuar vendo-a como mio angelo, mas dentro do quarto ou
onde for que eu queira ter você, a verei como a mulher gostosa e fogosa, que
vai queimar de prazer junto comigo. Minha única condição é que a gente não
se beije mais. Para não haver confusão, não surgir pensamentos errados sobre
nós.
Pisco algumas vezes, o calor que seu toque causava sendo substituído
pelo balde d’água fria que as palavras finais me deram. Minha atitude
original e impensada, seria bater no rosto escroto de Ezra agora mesmo. Mas
talvez sua frieza tenha passado um pouco para mim nesse momento tão
necessário e eu só sorrio e digo:
— Aceito.
— Ótimo.
Ezra me deixa a vontade, dançar, beber, dizer onde quero ir. Ele me
segue, parecendo relaxado, em prontidão para mim. Não bebo, pois quero
estar consciente e permaneço no andar inferior, só curtindo a noite. Em certo
momento — que eu torcia e contava que chegasse —, um homem, que eu
reconheço como senador, se aproxima de Ezra e monopoliza a atenção por
uns minutos. Ezra está sempre com as mãos em mim, então disfarço
sentando-me na banqueta perto do bar. Ele confere onde estou e continua a
conversa em seguida. Escapo para a pista de dança, já procurando minha
vítima. Vejo um homem me olhando e começo a dançar com ele. Suas mãos
abusadas logo tocam minha cintura, mas deixo, pois isso não é nada perto do
que vai acontecer. Olho para trás e vejo o exato momento em que Ezra nos
vê. Seu semblante escurece, é quase irreal o quão amedrontador ele se torna.
Seguro o rosto do cara e o beijo na boca. Alheio ao homem vindo até nós, ele
enfia as mãos entre meus cabelos e retribui o beijo, ansioso. Seus lábios não
fazem o efeito que os de Ezra fizeram, mas continuo o beijando até que
braços me afastam dele.
— Não brigue com ele. Foi eu que o agarrei. É bom deixá-lo quieto.
— Alerto.
Bem, se há um sinal de algo é que ele está puto. Minha vingança foi
bem sucedida.
CAPÍTULO 24
Eu quero gritar
Me liberte
— Você acha que eu sou um robô, Ezra? Não sei como você está
acostumado a lidar com as mulheres na sua vida, mas comigo não será assim.
Você me conhece melhor. Sabe que eu odeio que me controlem. Quando fez
suas imposições, sexo sem beijos e blá blá blá, pensou se eu iria gostar
daquilo? Você agiu e eu reagi.
E sou calada com um beijo. Ezra me beija com raiva, certamente por
eu ter beijado outro antes. Sua mão aperta minha garganta e ele me empurra
até que meu corpo tombe contra sua mesa. Ele afasta a mão de mim e o som
dos objetos caindo no chão deixa claro que estava liberando o espaço para me
deitar sobre a mesma. Seguro sua nuca, raspando minhas unhas pelo seus
cabelos, beijando-o com vontade e sentindo todo o meu corpo reagir em
resposta, o que não aconteceu com o carinha lá embaixo. É totalmente
diferente o que o beijo com Ezra me causa. Sinto-me quase bêbada de desejo,
quase a ponto de jogar para o lado minha rebeldia para aceitar qualquer coisa
que ele queira me dar.
— Ezra, não vou ser tratada por você como um objeto, mesmo que
seja só uma coisa sexual.
Ezra estuda meu rosto, estica a mão em minha garganta para que o
polegar alcance meu lábio inferior, então o pressiona ali, me deixando toda
ardente com seu toque. Ele puxa a mão com o cigarro já no final e dá a
tragada final. Porra, como é lindo e sexy! Tenho um fraco sério por homem
malvado e filho da puta, acabo de ter certeza.
— Eu não ficaria um dia sequer sem beijar essa boca depois que
provei. Quis me proteger, mas não resistiria, Ana. Você foi longe demais
beijando outro na porra do meu clube, na minha frente. — Sua voz é dura
como um trovão.
— Se você não quer que eu reaja desse jeito no futuro, não faça mais
o que fez. Ambos iremos desfrutar do que estamos prestes a ter. Não há
motivos para estresse, confusão e ordens.
Seu olhar ainda é sério, raivoso, sua expressão dura, mas ele leva a
mão ao meu rosto e acaricia. Sua carícia é sútil, quase com medo de me tocar,
como se ele não soubesse agir assim, mas seu esforço faz meu coração errar
uma batida. Ele encosta a testa na minha e parece perturbado ao confessar:
Ele puxa o decote do meu vestido e expõe um seio, o qual ele chupa,
morde, lambe, mamando e me fazendo gritar de prazer, com o calor que vai
direto para a minha vagina, fazendo eu puxar seus quadris, precisando de
contato. Ezra faz o mesmo com o outro seio, enlouquecendo-me.
— Levante-se. — Ordena.
— Você não precisa fazer nada, Ana. Eu tenho muito para fazer com
você. Mandei se levantar para se despir.
— Você quer que eu te ensine como chupar o meu pau, mio angelo?
— Vou gozar.
Gozo por ficar ainda mais excitada com sua voz rouca, o sotaque
italiano mais pronunciado do que nunca. Ezra morde meu ombro com força
enquanto o orgasmo me arrebata e parece que a dor me leva a um nível mais
alto do clímax. Fico sem entender, mole, piscando, com a cabeça apoiada em
seu ombro. Só reajo porque Ezra me vira, colocando-me sobre suas pernas,
deixando-me de cabeça para baixo e bunda para cima. Meus cabelos caem
para frente, cobrindo minha visão, meus olhos ficam arregalados e eu grito,
assustada.
— Ezra...
Então sinto o baque de sua mão contra uma nádega. Eu gemo e grito,
me remexo. O tapa não machucou, só fez arder e meu sangue parece correr de
um lado para o outro na região e minha vagina responde contraindo,
derramando mais líquidos.
— Dois...
Eu faço e dessa vez o tapa não vem em uma nádega, mas sim na
minha vagina. Fico alucinada, gemendo, quase chorando, bêbada pela
devassidão. Os tapas continuam, na minha bunda, me deixando ansiosa,
esperando mais, então ele troca o lugar e estapeia minha vagina. Me perco na
contagem duas vezes e ele me faz voltar do início, me contorço em seu colo,
choro de tesão e quando ele bate em minha boceta outra vez, gozo tão forte,
que ejaculo nas pernas de Ezra no meio da contagem.
Fico sem acreditar quando sinto todo meu corpo reagindo, incapaz de
entender como ainda posso ficar excitada após tanto. Ezra se afasta para
pegar um preservativo. Ele me puxa para o seu colo e senta-se na cadeira,
deixando-me montada nele. Seus olhos estão brilhando, parecendo
impressionado. Ele acaricia meus cabelos, beija minha boca e diz:
— A segunda vez ainda será dolorida. Então você vindo por cima,
pode controlar como fazer melhor para você.
— Sabe o que será bom? Esfrega seu grelinho em mim. Vai te dar
prazer. — Sussurra, mordendo minha mandíbula.
Seus olhos brilham e ele leva sua mão entre nossos corpos, me
tocando, conduzindo meu prazer com seu toque preciso em meu clitóris.
Gozo muito gostoso e Ezra estoca por baixo até que ele goze também.
CAPÍTULO 25
Ao meu lado
— Um acidente. — Digo.
Ela me olha com curiosidade, querendo saber mais, mas sabendo que
é tudo o que vou dizer.
— Vamos tomar banho, estou suada e exausta.
Sorrio, pois por mim nós passaríamos a noite fodendo. Mas sei que
ela deve estar dolorida por sua primeira vez não ter sido a muito tempo e
também por ainda não ter se acostumado com sexo.
Consigo tomar banho com ela, receber seus toques e tocá-la sem
estarmos transando sem demonstrar estranheza. Não estou acostumado a ser
tocado, a receber carinho. Nunca convivi com isso. Desde que meus pais se
separaram, fiquei por minha conta. Nonna sempre foi amorosa, mas com o
passar dos anos e das merdas da vida, eu me afastei, principalmente depois
que descobri o que ela escondia sobre o passado. Me ressenti e aí nossa
relação mudou de vez. As pessoas sempre abriram as portas de tudo para
mim porque sabem que tenho dinheiro. O mundo é movido a interesses e se
você for capaz de suprir os interesses dos demais, você será bem recebido e
bem visto. Isso é tudo o que tive, e por esse mesmo motivo, nunca confiei em
ninguém. Somente Ana e Stefano tem minha confiança total. É um tanto
insano que eu confie tanto nela, uma vez que ficou sumida por anos e não
queria voltar a viver comigo. É imprudente e vai contra tudo o que aprendi.
Se meu pai não pôde confiar na própria esposa e no melhor amigo, em quem
é indicado confiar? Sempre nutri esses pensamentos, mas nunca os usei
contra Ana. A forma como ela entrou em minha vida a legitimou a ser parte
de tudo e nunca lutei contra isso. De alguma forma, do meu jeito errado ou
não, Ana sempre foi parte de mim. E agora, mesmo que tudo seja estranho,
eu não vou ser um escroto com ela. Essa experiência será boa para ambos e
quando acabar, não teremos lembranças ruins, somente boas.
— Nonno fez questão da nossa presença. — Explico a Ana enquanto
andamos em direção a saída do Aeroporto Internacional Marco Polo, em
Veneza.
— Não entendo o motivo de eu ter que estar aqui, mas espero poder
passear um pouco. Quando me trouxe aqui, anos atrás, não me levou para
conhecer nada.
— Consegui enrolar até que fizesse vinte. Ela faz em seis meses.
— Leve-a com você. Não vou demorar. Só quero te dar uma coisa e
tem que ser no meu escritório.
— Certeza?
Stefano me encara com aquele olhar irritado dele, mas apressa Luigi
e volta para o carro. Eles saem e Ana e eu entramos na mansão.
— Ah, vocês chegaram finalmente! — Nonna diz em italiano, então
lembra-se que Ana não entende e repete em português. — Senti sua falta,
bambina.
— Não sou mulher dele. — A voz de Ana vem de trás de mim e ela
para ao meu lado, entrando no campo de visão de Giuseppe.
— Não sabia que você estaria aqui na casa de Stefano. Vim para vê-
lo.
— Imaginei que você apareceria para ver seu primo e fiquei por aqui.
— Nonno cruza as pernas e olha Ana. — Finalmente nos conhecemos.
Meu olhar preso em Ana capta o momento em que seus olhos ficam
arregalados. Ela olha Stefano, quase sem acreditar que ele passou tal coisa.
Ele se afasta, sentindo que está sendo observado.
Isso tudo está passando por um motivo: nonno pensa que Ana é uma
ameaça. Stefano acaba de comprar essa briga, e os dois só não se mataram
ainda porque traição não é bem vista na máfia. Cada vez mais quero Ana
longe disso tudo.
CAPÍTULO 26
— Ainda me sinto cansada, mas não vim para a Itália para ficar
descansando. Vamos! — Digo, animada.
— Luigi só fez o que eu pedi. Eu não sou uma propriedade para que
você decida quem pode tocar ou não, Ezra. Controle seu temperamento pelo
menos enquanto estamos aqui. — Reclamo. — Podemos ir para o nosso
passeio?
Ezra me olha de cima, mais bonito do que nunca com uma camiseta
branca, shorts de pano leve e óculos de sol no topo da cabeça.
Ele passa por mim sem me esperar. Olho para Luigi em um pedido
silencioso de desculpa, mas ele pisca para mim. Deus! Esses homens! Pego
minha bolsa e acompanho Ezra e quando entramos no carro o clima pesado
parece sufocar.
— Sabe o que quero fazer agora? Fazê-la pagar por me deixar tão
fora de controle.
— É muito lindo e mesmo com essa natureza incrível, vejo que tem
quiosques...
— É incrível.
— Sim, porque quero estar com você, mas eu posso conduzir com
tranquilidade.
— Eu aposto que sim. — Bufo. — O que você não sabe fazer, hein?
— Toma. Para você. — Ezra estende uma taça para mim com um
líquido transparente. — É vinho branco.
— Sim.
— Ana?
— Ele não vai tocar em você. Ninguém vai. Estou aqui para que você
possa dormir bem.
— Você sabia que eu estava com medo? — Pergunto, atônita.
— Não, Ana, mas eu não posso deixá-la sozinha aqui. Eu vim porque
eu preciso ter meus olhos em você a noite toda.
Algo passa em seus olhos, mas ele não diz nada. Ezra puxa meu
pescoço e apoia minha cabeça em seu ombro. Ele não faz carinho, não
demonstra qualquer ternura, mas me mantém em seus braços e está aqui para
me manter segura.
Posso estar me enganando, mas há uma sensação de que Ezra pode
sentir algo por mim, além do tesão e do sentimento familiar que sempre
nutriu desde que me salvou. Talvez ele não saiba amar, mas me pergunto se
ele poderia sentir algo forte por mim. Porque eu me sinto cada vez mais
afundando no caos de Ezra Cattaneo.
CAPÍTULO 27
— O velho colocou gente dele para tentar pegar fotos da sua mãe.
Presumo que o intuito dele seja jogar a bomba no colo da sua mulher.
— Não acredito nessa porra, mas foi sorte, Ezra. — Stefano passa a
mão pelos cabelos e senta-se em uma das poltronas de couro. — Um dos
homens que foi, é fiel à mim. Não tenho muitos infiltrados com ele, já te
disse que a maioria aplaudem o bastardo. Você teve sorte, porque sabendo
disso, dei ordens para que cuidassem de não deixar que ela fosse vista.
— Ele não vai feri-la, mas ele acha que ela vai amolecer você.
— Se ele a ferisse, eu mesmo o mataria sem me importar com quem
me caçaria depois, Stefano. Ninguém encosta as mãos sujas em Ana.
— Você é a única parte que presta dessa família. Acaba com essa
loucura e vá seguir sua vida, Ezra.
Está usando short jeans, camisa gola pólo cor de vinho e sandálias
rasteiras nos pés. Tão pequena e linda, com as pernas grossas expostas e o
rosto sem qualquer artifício, só o molde dos cabelos escuros e a franja. Me
sinto faminto dela e não é sobre sexo. É uma necessidade latente de tê-la em
meus braços, de tocá-la, beijá-la, ter seu cheiro me envolvendo, ouvir sua
voz.
Subo as escadas e Ana parece tão presa em mim quanto estou nela,
visto que não se move, só segura no corrimão, como se precisasse de apoio.
Paro em sua frente, sentindo que vou enlouquecer se não beijá-la. Então
seguro seu rosto e sua cintura, colando nossos corpos e a beijo. Ana parece
quase surpresa, demorando para reagir, mas quando reage a química que há
entre nós, explode, fazendo-nos esquecer de onde estamos, até quem somos.
Só importa me embriagar dela.
— Ops... Por essa eu não esperava. — A voz de nonna faz Ana saltar
para longe de mim e quase bater com a cabeça na pilastra.
Ajeito-a para que fique firme e encaramos nonna com um sorriso que
deixa evidente que ela esperava, sim, por isso.
— Bem, querida, marquei salão para nós duas... Não sabia que ia
estar ocupada.
— Eu levo vocês. — Ofereço, uma vez que vou estar mais tranquilo
com a certeza que Ana está em segurança, além de que esse tempo sozinho
será bom para acalmar meus demônios.
***
— Nós não iremos demorar. — Digo à ele. — Tenho uma coisa para
mostrar a Ana quando sairmos daqui. — Estreito os olhos para ele, em um
aviso.
— Eu sei lidar com punhaladas, nonno. Por isso somos tão parecidos.
Preferimos ser ruins a lidar com o fato de que fomos inúteis para quem
amamos. Meus pais nunca demonstraram que eu era prioridade e o senhor,
minha nonna o deixou.
A garota aparenta ter a idade de Ana, mas Stefano já havia dito que
ela ainda vai completar vinte. Prestes a se casar com um homem quinze anos
mais velho. Não posso dizer nada, pois tenho treze anos a mais que Ana e,
nem mesmo nossa história, me impediu de desejá-la e tê-la.
***
— Alessa é tão boa. Você acha que Stefano pode fazer mal à ela?
— Se ela for uma bomba relógio como você, eles irão se matar. —
Respondo, dirigindo para minha casa.
— Onde estamos?
— É onde seu pai vive? — Seu olhar suaviza e ela leva sua mão
sobre a minha, dando conforto.
— É onde minha mãe vive.
— Você disse que sua mãe estava viajando para... Para reconectar-se
com si mesma... Você até tentou a ajuda dela com seu pai e...
— Oh, meu Deus, Ezra! — Nunca vi seus olhos tão arregalados como
agora. — Isso... Você não pode!
— Eu não podia muitas coisas, Ana, e fiz todas elas. E gostei de cada
segundo. Esse sou eu. Não se iluda por eu ter sido bom para você. Sou o vilão
da história, o próprio diabo. No meu inferno, todos acabam queimando, seja
pelo meu querer ou não.
Beijo os lábios de Ana com paixão, com uma calma que não me cabe.
Nos emaranhamos no banco, com ela me montando, com as costas contra o
volante, nunca deixando de nos beijar. Subo seu vestido e abaixo minha
calça, sem preliminares, sem ordens, sem brutalidade. Meto nela devagar e
ela sobe e desce no mesmo ritmo, gemendo, puxando minha cabeça para ter
mais de mim. Nunca houve nada mais intenso na minha vida. Sua boceta me
aperta como nunca antes, quente e molhada, pronta para mim mesmo sem eu
prepará-la. É como se nos consumíssemos e eu me sinto como um viciado,
sempre necessitando dela para encontrar lucidez na confusão sombria que é
minha mente. Quando sinto Ana se entregar ao seu orgasmo, gemendo meu
nome, se tornando mais bruta e selvagem, eu me libero em um gozo
arrebatador.
— Nonna estava feito louca preocupada com vocês. Ligou para cá.
— Gilda parece curiosa. — O patrão saiu cedo, o dia mal tinha clareado. E
Luigi está com uma cara de quem não está gostando de algo.
— Luigi já chegou?
— Sim, Dianinha, já é de tarde. Faz poucas horas que ele chegou com
uma fome danada, comendo até as panelas da casa se eu deixasse. — Bufa.
— Nunca vi mulher mais bonita. É mais nova do que eu, mas parece
um mulherão. Loira, alta, olhos azuis, cabelos longos e ondulados, além de
ser um doce de menina. Gostei dela imediatamente.
— Ela poderia estar morta. Deve dar graças a Dio pela bondade de
Cattaneo por mantê-la viva, em uma bela casa, com empregados e tudo do
melhor. — Arqueia a sobrancelha.
— Não vou discutir nada disso com você. Nossos mundos são
totalmente diferentes. — É sua resposta irritada.
— Torturá-la até que ela aceite ficar com o filho fraco dele? Um
último teste para ver se o sujeito tem o sangue Esposito vivo nas veias? —
Luigi dá de ombros. — Vai saber o que passa na mente dele...
Ele analisa meu rosto por um tempo, então concorda com a cabeça.
Hoje faz cinco dias que Ezra está fora e percebi que esse tempo foi
bom para mim. Ele tem a capacidade de consumir meus pensamentos e pude
me deixar avaliar as coisas com calma, decidindo como será meus próximos
passos. No entanto, quando Ezra entra pela porta da sala, à noite, enquanto
Luigi e eu estamos assistindo tv e comendo pipoca que eu fiz, fico chocada
por um tempo ao ver o casal que entra atrás dele.
Olho Luigi, sem entender, e ele me lança um olhar de aviso. Ezra nos
encara como se fôssemos nada, nem o ciúme e possessividade que
demonstrou algumas vezes, estão ali.
— Boa noite. — Consigo sorrir olhando para eles. — Tudo bem com
vocês?
— Embora minha mãe tenha andado muito por terras brasileiras, não
compreende perfeitamente seu idioma.
Pela expressão dela, percebo que, sim, ela entende tão bem que
compreendeu perfeitamente a escrotice que ele acabou de dizer. Sinto o
desejo de me rebelar contra Ezra, exigir respostas para entender que porra é
essa, mas fico calada. Como se tudo isso não pudesse me importar menos,
levanto-me, pego a vasilha com a pipoca, encaro Luigi e digo:
Me sinto inquieta por quase toda a noite, sem conseguir dormir bem,
rolando de um lado para o outro. Em certo momento, olhando através da
janela, vejo Ezra sentado em um dos bancos que fica no quintal, fumando
cigarro, com o calcanhar apoiado no joelho e a expressão difícil de decifrar
diante da distância. Coloco um robe atoalhado e desço, sem conseguir me
conter.
Ezra parece sentir minha presença assim que saio da casa e ando em
sua direção, mesmo sem eu estar fazendo barulho algum. Ele expira a fumaça
do cigarro pelo nariz e traga outra vez. Sento-me ao seu lado no banco e
encaro o céu estrelado. Nunca me senti nervosa perto de Ezra e é horrível
essa sensação, de forma que me faz repensar se estar perto é uma opção a
continuar insistindo.
— Talvez você seja o próprio diabo, mas nunca foi para mim.
— Como você pode não correr para longe de mim, Ana? — Seu olhar
se enche de emoções que não consigo discernir.
— É isso que você quer que faça? A última vez que fiz, você me
encontrou, mesmo anos depois.
— Talvez eu devesse deixar você ir, porque aos poucos tenho perdido
o controle de mim mesmo. Sei lidar comigo sendo isso, sendo ruim, mas não
sei lidar com quem me torno em volta de você.
Entendo que está se referindo a nossa última vez juntos. Ele apaga o
cigarro e deixa a binga sobre o outro lado do banco. Ficamos em silêncio por
um tempo, pois não tenho o que dizer a respeito disso.
— Deixe sua mãe ser livre, Ezra. — Peço, colocando minha mão em
seu ombro. — Você não é ninguém para decidir que sentença ela deve
cumprir. Interne seu pai em uma clínica para que ele se trate. A ameace,
coloque um segurança na cola dela para que ela não cogite se vingar, mas
deixe-a.
— Eu sei disso. Mas também sei que você é justo. Você nunca foi
ruim por prazer.
Faça o certo
Se for para acabar tudo, eu quero deixar você ficar por essa noite
Faz gostoso comigo mais uma vez como fizemos da última vez
Azee - Fahrenheit
Tudo o que eu mais quero é tocá-la. Nunca lidei com sentimentos tão
fortes na minha vida como nos últimos dias. Ana se embrenhou em mim, de
forma que não posso lidar com algo tão desconhecido. Passei os dias na Itália
sentindo falta do cheiro, imaginando coisas, sentindo seu toque ao acordar,
seu cheiro antes de dormir. Só precisava fechar os olhos para vê-la. Eu nunca
fui fraco na minha vida, mas agora não vejo minha força.
— Eu desejo.
— Por que você não está lutando comigo? Por que não está me
xingando por ser um filho da puta? — Pergunto, agoniado, quase sufocado.
Ana passa a mão por minha mandíbula, meu queixo, pescoço, e seu
toque me acalma, ao mesmo tempo que faz meu sangue bombear com mais
rapidez e meu pau ficar ainda mais duro.
— Sou um animal irracional, Ana. Não sei ser diferente do que sou e
você é tudo o que há de melhor nesse mundo.
Conduzo-nos para a cama e a deito lá. Caminho até meu closet e pego
uma de minhas gravatas, uma vez que não tenho nenhum objeto de
dominação aqui. Retorno e ajusto os braços de Ana para cima, juntando suas
mãos sobre a cabeça e amarrando os pulsos com a gravata preta. Ela se
contorce, ansiando, apertando as coxas uma na outra. Inclino-me e tomo um
mamilo rosado na boca porque ela é perfeita e não consigo resistir, não
consigo jogar e ficar tanto tempo sem tocá-la. Volto para o meu closet e pego
uma pena em um chapéu antigo que usei uma vez para um baile de máscara
no clube.
— Será que você vai gostar quando sentir a pena roçando no seu
grelinho, Ana? Ou está ansiosa demais para ter o meu pau? — Pergunto e
esfrego a pena em seu clitóris inchado.
Ela leva suas mãos ao cós da minha boxer e tenta livrar meu pau. Eu
a ajudo e me livro da peça. Por mais que não queira subjugá-la, sou
naturalmente dominante. Viro Ana de barriga para baixo, com sua bunda
branquinha empinada para mim, agarro seus cabelos em punho e dou um tapa
na sua bunda.
Ana obedece e me olha sobre seu ombro. Ela é a imagem mais bonita
que já tive o prazer de ver. Corada, suada, ansiosa, com os olhos em mim,
cabelos selvagens, caindo pelo rosto. Me inclino, ficando com o rosto em sua
bunda e lambo a pele vermelha onde bati. Ana geme e rebola no meu rosto.
Abro suas nádegas e penetro sua boceta molhada com dois dedos. Enfio meus
rosto entre suas dobras, inalo seu cheiro, esfrego minha barba, apertando sua
bunda e curvando meus dedos dentro dela, buscando seu ponto G. Ana grita,
choraminga, empurra mais a bunda para mim, chama meu nome e pede mais.
E eu dou. Lambo seu cuzinho, bato com minha língua e subo até a bocetinha
loira. Mordo seus lábios, chupo e continuo trabalhando com meu dedo. Ana
desmorona, gozando forte, incapaz de reagir.
Pego um preservativo no criado mudo e monto nela, apoiando-a pela
cintura enquanto deslizo a camisinha por meu comprimento dolorido por ela.
Afasto os cabelos de sua nuca e mordo a pele sensível com força, trazendo-a
de volta às sensações, e funciona, então lambo e escuto seu gemido. Suas
mãos agarram meus lençóis escuros e ela se empina para mim. Esfrego meu
pau em sua abertura, fazendo movimentos sexuais sem estar dentro dela.
Depois de tê-la sentido sem camisinha, meu desejo é não usar mais a barreira,
mas não posso perder a cabeça mais uma vez sem que Ana tome algum
contraceptivo.
— Ezra...
Eu amo como sua voz está rouca e sensual, como meu nome soa
como um clamor, uma necessidade.
Seu tom me deixa alarmado. Saio de dentro dela e a levo comigo para
o banheiro. Me livro do preservativo e coloco a banheira para encher sem
tirar Ana dos meus braços. Ela apoia o queixo em meu ombro e se mantém
silenciosa.
Ana olha em meus olhos, com tantas coisas passando nas íris azuis,
que não consigo lê-la.
— Eu nunca disse que não era. Só que antes eu só era chamada pelo
segundo nome. Mas quando conheci você, não havia uma forma de não
confiar em você, uma vez que me salvou do meu pior pesadelo. Aprendi a ser
forte com você, Ezra, a lutar, a atirar, ter coragem para enfrentar o mundo.
Desde o primeiro momento te vi como um salvador e, mesmo que tenha
pensado em dizer um nome falso e quisesse esquecer o meu segundo nome,
não pude dizer uma mentira para você.
Ana Luísa... Dio mio! Por que me sinto assim? Por que não sei lidar
com isso tudo de forma prática como sempre?
— É sério, Luigi. Não vou mais morar com Ezra. Tenho meu salão,
minha moto, que não vou ser orgulhosa de deixar para trás, uma vez que não
estou fugindo. Mas se for necessário, vendo até bala no trem. Nunca corri dos
sacrifícios da vida. Agora cabe a você me deixar no seu apartamento ou eu
alugo outro. — Encaro meu reflexo no espelho e deixo o pente sobre a
penteadeira.
— Cattaneo não vai deixar você ir embora outra vez, Diana. Ele vai
fazer um inferno para encontrar você. Sei do que estou dizendo e você está
sendo ingênua se não sabe.
— Em meu apartamento você vai estar segura, então. Vocês dois que
se matem.
— O que você quer dizer? — Sua voz soa brusca e ao olhar seu rosto,
vejo a expressão se tornando dura.
Ezra segura meus braços e deixa nossos narizes quase colados, mas
não é raiva que vejo em sua expressão, é desespero. Meu peito aperta, minha
garganta embarga. Quero sair de perto dele e nunca mais sentir essa angústia,
essa sensação de estar nas mãos de alguém... Nunca quis estar a mercê de
ninguém, mas me coloquei nas mãos de Ezra por livre e espontânea vontade.
E não é que ele me machuque, mas sua frieza machuca meu coração. Seu
longe e perto, quente e frio. A verdade é que comecei a querê-lo perto e
quente o tempo inteiro. Conheci um lado seu no nosso passeio de lancha na
Itália e naquela mesma noite, que não quero esquecer e não posso fingir que
não existiu e seguir em frente. Ou Ezra me dá tudo, ou prefiro não ter nada.
— Você pode ter dado tudo que acha necessário, mas não é tudo que
eu preciso, Ezra. — Digo, cansada. — Não quero mais lidar com suas fugas
quando perde o controle de si mesmo. Gozou dentro de mim, se abriu sobre
sua mãe e depois fugiu. Quando chegou, era como se eu não fosse ninguém.
Se não fosse ao seu quarto, ficaríamos assim até quando?
— Você acha que eu resistiria por quanto tempo? Estava louco para
te beijar, para ter você...
— Não sei lidar com sentimentos, não quero pensar nisso tudo... Não
sei dizer.
— Ana. — Sua voz é um aviso para que eu pare, mas não o obedeço.
— Eu amo você. Se você não sabe lidar com isso, problema é seu.
Você quem está perdendo. Sabe por quê? Eu não me espanto com sua
maldade, não tenho medo de você. Eu sei que jamais me faria mal
intencionalmente. Você reparou em como meus pés são frios e comprou uma
quantidade absurda de meias para mim, Ezra... Sabe o tom exato dos meus
olhos. Dividiu sua academia para criar uma biblioteca para mim... Eu poderia
dizer o que você sente, mas você precisa entender sozinho e eu, preciso viver
por minha conta. Porque eu achava que aprendi com você a vencer meus
fantasmas, mas você nunca os venceu. Você esconde eles e eu fiz o mesmo.
Não quero fazer mais. — Me sinto quase sem ar depois de falar tantas coisas,
mas ainda crio forças para sair do quarto e deixar Ezra.
— Ana... Não, cazzo! Não vou deixá-la ir. — Em poucos passos, ele
me puxa para ele e olha em meus olhos. Pela primeira vez vejo sua maldade
direcionada a mim. Sinto um frio subir pela minha espinha. — Quer pagar
para ver? Vai ser minha nova prisioneira se eu quiser. Porque eu posso tudo.
Você me ama? — Ele faz um som de desdém. — Eu não sei o que é amor,
Ana Luísa, mas eu sei que quem ama não vai embora. Quem ama, fica.
— Oh, figlia... Cheguei agora da Itália. O que meu bambino fez com
a mamma dele? Vim às pressas quando soube! — Sua voz é horrorizada,
magoada, e presumo que ela não sabia sobre o cárcere de Giovanna. — O que
ele fez com você?
— Não fez nada comigo, nonna. Estou indo embora. É difícil demais
amar Ezra. Ele não se deixa ser amado. — Fungo em seu ombro, sentindo o
consolo de seu toque e o desespero com mais sons de coisas se quebrando.
— Ele não sabe ser amado, bambina. Seu pai idolatrava a mãe e
sucumbiu quando ela se foi. E a mãe nunca se importou com Ezra. Eu tentei
dar-lhe amor, mas errei demais em esconder toda a verdade e ele me excluiu
quando descobriu. Só me deixou aproximar agora que você voltou. — Nonna
chora baixinho.
— Figlio mio...
Sigo meus dias oscilando entre a certeza de que estou bem cuidando
de mim mesma e louca de saudade de Ezra, queimando durante as noites
solitárias, imaginando-o comigo, querendo-o mais do que nunca. Sonho com
ele e acordo molhada, aflita. Outros dias, acordo chorando, sem forças para
trabalhar, para seguir meus planos. Trabalho e escola ocupam muito do meu
tempo, mas nem sendo a pessoa mais atarefada do mundo, eu seria capaz de
esquecer o homem que amo e que não me procurou dia algum.
CAPÍTULO 31
Sete anos atrás Ana fugiu. Não foi minha culpa, mas me culpei dia e
noite por não ter antecipado seus atos, acreditando que um dos meus
seguranças pudesse ter abusado dela, de forma que até matei. Mil coisas
passavam por minha cabeça e a culpa não me abandonou. Contudo, percebo
que nada se aproxima da culpa que sinto agora, uma vez que tive
responsabilidade direta por ela ter ido. Ana confiou em mim, me deu sua
virgindade, sua lealdade, seu amor. Posso ter sido cego, mas repensando
tudo, fica claro que sempre me deu carinho e amor, que nunca recebi antes,
com carícias, com seus olhos nos meus. Diferente de tudo o que já
experimentei e me viciou. Me sinto um dependente precisando de mais uma
dose.
Ana disse que me ama e, por isso, não a obriguei a ficar. O desejo de
ser ruim, de obrigá-la e mantê-la aqui era grande, mas saber que isso só iria
feri-la mais, abriu passagem para o protecionismo que sempre nutri por ela.
Antes de qualquer coisa, ela é mio angelo, a quem cuido, a única no mundo
que conhece alguma parte boa de mim. E eu fodi com tudo.
Por que Ana tocou em mim algo que ninguém nunca conseguiu?
Nunca foi igual com ela, nunca foi o mesmo. Ana está sob minha pele, eu
querendo admitir ou não. Foi doloroso perdê-la. A última vez que chorei, era
uma criança. Mas não pude me conter, tamanha onda de ódio, mágoa e amor,
uma coisa louca, sufocadora, um terror, medo de ficar sem ela, e chorei
quando tudo já tinha sido quebrado em seu quarto.
“Eu nunca tive ninguém por mim, sempre achei que tivesse você,
mas vejo que estava enganada. Você está mostrando a sua face que eu nunca
vi voltada para mim antes e agora, mais do que nunca, sou só eu por mim
mesma.”
Suas últimas palavras ecoam como um castigo. Quis ser cruel com
ela, mas jamais conseguiria. Deixei-a pensar, com razão, que está sozinha.
Agora, estou longe por vergonha de mim mesmo, por não saber como agir e
por medo de Ana não querer mais olhar na minha cara.
O momento que nonna chega de uma visita a Ana tem sido o ápice
dos meus dias. Como um faminto, espero uma simples migalha para
continuar sobrevivendo.
— Ela sente sua falta. Se preocupa com você. Ana te ama, filho.
— Nonna...
— Toda vez que falo de amor você recua. — Diz, caminhando até
sentar na cadeira do outro lado da minha mesa. Ela estica a mão e pega o
copo com uísque, afastando-o de mim. — Está bebendo todos os dias.
— Bom que você vai lembrar cada palavra que irei dizer, bambino.
— Ela me encara com firmeza. — Tentei nos últimos dias, três semanas para
ser específica, deixá-lo viver seu luto para que, finalmente, chegue o
momento que você vai a luta.
— Eu não vou lutar por nada. Ana está melhor sem mim. Vou
continuar suprindo qualquer necessidade dela, mas vou ficar longe. Ela quis
isso, não quis? — Rosno, impaciente.
— Você ama Ana. A essa altura, é provável que você não consiga
entender porque nunca sentiu amor, nunca recebeu. Só não fique parado até
descobrir. Sempre foi um bom lutador, Ezra. Vá à luta.
— Nunca tive o amor que eu queria ter, nonna, que era dos meus
pais, mas é ingratidão da minha parte não lembrar do amor que sempre tive
da senhora. Grazie.
Aperto seu pulso e a faca cai no chão e empurro mais seu corpo. Ele
não ouviu meu conselho para apagar o fogo e agora começa a reclamar sobre
estar se queimando.
— Nunca mais tente nada contra mim. A minha palavra é lei entre
vocês, não a sua. Você nunca foi homem, sempre foi um fraco. Agora vai
viver em uma clínica para tratar sua sanidade, pois para mim já deu de lidar
com sua loucura. E me agradeça por não matá-lo. — Digo sob seus gritos de
desespero.
Me afasto dele, o jogando mais forte contra o fogão uma última vez e
me viro para minha mãe.
Vejo quando ela sai, conversando com duas garotas de sua idade e
bebo de sua imagem. Linda como sempre, parecendo mais magra, a franja
caindo pelos olhos e ela bufa algumas vezes para afastar os fios de sua visão.
Sinto um aperto no peito, um sentimento forte pra caralho à ponto de me
fazer questionar tudo. Eu nunca tive maldade com Ana enquanto ela era uma
criança, mas desde que a reencontrei tudo mudou. Não sei quando isso
começou, mas me sinto tão louco por ela, que é um maldito sacrifício ficar
longe. Sinto raiva de mim mesmo toda vez que essa vulnerabilidade me
assola. Quero correr, fugir, nunca mais sentir isso, manter minha vida segura.
A conversa com nonna foi a chave que eu precisava para abrir meus olhos.
Quero Ana em minha vida e estou disposto a tudo para tê-la.
— Não há nada bem, mio angelo. — Digo com sinceridade e toco seu
rosto, a pele macia e pálida. — Precisamos conversar.
Nós seguimos para o meu carro, abro a porta para que ela entre e
depois dou a volta para me acomodar no banco do motorista. Fico nervoso,
sentindo-me desajeitado com as palavras. Me acostumei tanto com o silêncio,
que é difícil me expressar agora. Entretanto, ficar sem Ana não é mais uma
opção.
CAPÍTULO 32
Ver Ezra me desnorteou por uns segundos. Não esperava que ele
fosse me procurar depois de quase um mês sem dar as caras. Não consegui
evitar não me ressentir, mas me obriguei a lembrar que eu decidi ir embora,
não ele. Então tive que engolir minha revolta infundada. No entanto,
interiormente sei que a frustração é por querer que ele me ame, que se declare
como eu o fiz. Em contrapartida, tenho a consciência de que Ezra jamais teve
algum relacionamento forte com uma mulher a ponto de se apaixonar e de
abrir mão de suas convicções para cair de cabeça em algo desconhecido.
Como nonna bem disse: ele não sabe ser amado, pois nunca teve esse tipo de
afeto dos seus pais. Então por que eu seria o alecrim dourado?
Nesse momento pude ver com mais atenção o seu pescoço e vi uma
mancha de sangue. Logo me preocupo.
— O que é isso no seu pescoço? Não percebi antes por estar escuro,
mas...
— Ezra...
— Você vai reparar nas manias dela e protegê-la, vai gostar do corpo
dela, mas os olhos e o sorriso vão te fascinar. Você vai querê-la por perto o
tempo todo. Então, você vai trazê-la para sua vida, porque você não vai
querê-la em outro lugar. — Ele repete as palavras que eu sequer lembrava ter
dito, mas que batem em mim com uma força descomunal. — Eu não sei o
que é isso. Não consigo entender e, para ser honesto, está sendo difícil aceitar
essa dependência, mas é como me sinto, Ana.
— Eu não entendo... Você está me dizendo tudo isso para que então?
— Porque não posso lutar contra. Não tê-la não é uma opção.
Me pego sem saber o que dizer, com as emoções a flor da pele. Essa
não é uma declaração de amor, mas já é algo tão grande saber que se sente
tão parecido como eu meu sinto. Poderia ser orgulhosa, como sempre fui, e
brigar, dizer que não é suficiente. Só que eu também estaria perdendo. Então
decido ser sincera, sem birras.
Lembrar de sua mãe me faz querer pedir que ele a liberte, mas
escolho não criar um conflito agora.
Penso um pouco, mas não estou disposta a ceder sobre isso. Não
estou agindo para sair por cima, é por querer que tenhamos mais que sexo,
que possamos nos conhecer.
— Não vou voltar para sua casa. Nós precisamos começar do
começo, namorando, se conhecendo. Tudo o que conhecemos um do outro é
por convivermos de um jeito diferente. Eu estava sendo chata e brigando o
tempo inteiro, querendo atenção, e você estava sendo mandão, dando a última
palavra. Em um namoro, vamos nos conhecer, não só transar e brigar.
— Não, Ana. Você volta para casa comigo. Sei tudo sobre você. Já te
conheço. Isso basta. — Ezra exige.
— Para algo entre nós acontecer, vamos ter que aprender a ceder. Já
estou cedendo, contendo meu gênio para não brigar a toa e vou continuar
fazendo isso. Custa muito você também tentar? Já estamos começando com
divergências. — Bufo.
Ezra estica a mão por meu rosto e toca minha testa. Um sorriso
contido toma seu rosto.
— Meu pai tentou me esfaquear com uma faca de serra. — Ezra abre
um sorriso maldoso. — Por você, só por isso, libertei minha mãe e o mandei
para uma clínica psiquiátrica.
— Meu Deus! Ele tentou te matar? Você deu uns socos nele? —
Pergunto, irada só de imaginar.
Suspiro, assentindo.
Deus! Ele é tão lindo assim rindo, relaxado. Agora sou eu quem o
beijo.
— O que você fez com o seu pai e para onde sua mãe foi?
— Eu só o ameacei. Não fiz nada com ele. Minha mãe quis voltar
para a Itália. Me pediu dinheiro para continuar sua viagem pelo mundo. Eu
mandei para sua conta, mas lavei minhas mãos. Nunca se importaram
comigo, são os motivos de eu ser assim. Não consigo reconhecer meus
sentimentos porque nunca os conheci para começar.
— Quero ser mais que um namorado, mio angelo. — Ele passa a mão
por meu rosto, minha nuca e junta meus cabelos ali. — Vou fazer sua
vontade. Te dar um tempo. Mas eu vou cansar disso e vou arrastá-la para o
seu lugar.
— Deveria ser, mas você é sem graça, né? Me leva para algum lugar
espaçoso para a gente transar, Ezra. — Dou um tapinha no seu ombro e me
acomodo novamente no banco.
— Preocupada demais com ele, não acha? Será que ainda continuam
assistindo filmes e comendo pipoca todas as noites? — Resmungo, irritado só
de lembrar.
— Luigi se tornou um irmão para mim, Ezra. Não seja tolo. Pode ter
certeza que ele me enxerga da mesma forma.
— Será que ainda vou vê-lo? Não tenho amigos... Luigi é o único. —
Ana parece chateada.
Olho para ela sem entender de onde vem todo esse afeto por Luigi,
mas fico quieto. Entro no estacionamento térreo do prédio, deixo meu carro e
saio com Ana. Subimos pelo elevador até a cobertura e deixo que ela entre na
minha frente para olhar em volta.
— É seu? Jesus, você é podre de rico. Que lugar lindo! — Ana olha
em volta, mas o que atrai sua atenção são as portas de correr de vidro, que
levam para sacada. A sigo, observando-a, tão jovial e linda, parecendo
relaxada e feliz. — Posso olhar a sacada?
— Claro.
Seguro seu pescoço, doido para me fundir com ela. Tomo a frente do
beijo, saqueando sua boca, brincando com a língua atrevida. Ana finca as
unhas em minhas costas, enquanto aperto um pouco o pescoço. Ela geme e
joga a cabeça para trás. A inclino contra o guarda corpo e ela se deixa ir, com
suas costas apoiadas no ferro e deixando-se em minhas mãos. Afasto sua
blusa com a mão livre e me abaixo para tomar seu seio na minha boca. O
mamilo rosado desponta em minha língua e Ana geme.
— Se alguém olhar para cima vai vê-la gostando de ter minha boca
em você, Ana...
Ana arregala os olhos por um momento, mas se vira. Ela me olha por
sobre o ombro, mas encosta os seios no vidro. Seus olhos reviram quando
sente o gelado fazendo fricção nos mamilos intumescidos. Abro sua bunda
para mim e lambo o cuzinho, fazendo-a se contrair toda para mim. Desço
minha língua por sua boceta, lambendo todinha, chupando e mordendo os
lábios inchados. Brinco com o clitóris, sem dar a devida atenção, só
provocando, até que Ana começa a rebolar em meu rosto. Me farto dela,
chupando, esfregando minha barba, meu nariz e lambendo seu ânus, atiçando.
Ana está toda pelada para mim, no topo em um dos maiores prédios
do Rio de Janeiro, na minha sacada, sem pudor, sem vergonha. Embora
ninguém possa nos ver através do vidro temperado e escuro, sua coragem e
falta de pudores me deixa insano de tesão. O vidro é mais baixo do que ela,
mas seu corpo está protegido, pois está inclinada nele.
— Não deve ser normal, mas nada com a gente é. Pega no meu pau,
Ana. Segura e enfia ele na sua bocetinha.
Isso é suficiente para ela ficar de pé, da altura dos seus seios para
cima podendo ser vista acima do guarda corpos, assim como eu atrás dela,
mas mantenho seus seios cobertos, enquanto ela segura meu pau e encaixa
nela.
— Eu sei... Quero sentir você. Vou gozar na sua bunda. Tudo bem
para você?
— Sim.
Ana me olha sobre o ombro e examina meu rosto. Ela consegue ver
mais de mim do que quero mostrar, então tomo sua boca na minha, afastando
qualquer questionamento ou dúvida. Ela encaixa nossos sexos e meto fundo,
entrando todo nela. Sua boceta me abraça como uma luva, toda molhada e
quentinha. Ana empina a bunda para mim, se abrindo, facilitando, levando as
mãos ao ferro de apoio e jogando a cabeça para trás. Eu a fodo toda. Aperto
seus seios, mordo seu pescoço, chupo sua pele, meto com força, belisco os
mamilos, fazendo sua boceta contrair, me arrancando grunhidos. Fodemos
feito animais que somos, tendo um alívio que só um pode dar ao outro. Sua
pele fica vermelha sob minha brutalidade, sua bunda branquinha chama por
minhas palmadas, mas me controlo para manter seus seios escondidos. Enfio
meu rosto em seu pescoço e subo com mordidas até sua orelha.
— Estou louco para surrar sua bunda, para apertar sua cintura, seu
pescoço, suas coxas... Lá dentro vou encher você de palmadas, de apertões...
— Você tem ideia que se algum infeliz olhar e ver você, depois vou
ir atrás e matá-lo? — Rosno em sua orelha, tirando todo meu pau e deixando
só a cabeça dentro dela. Sinto-a contraindo, ficando mais excitada com minha
possessividade. — Responda.
Ana rebola, tentando me ter todo dentro dela de novo, mas mantenho-
me quieto, esperando.
Ana é minha.
***
— Todos precisam.
— Mas no meu caso não percebia que minha raiva desenfreada era
por culpa de Reinaldo. Eu achava que estava legal ser forte, mas se você
olhar um pouco, vê que nunca deixei ninguém se aproximar. Só espantei as
pessoas e resolvi a maior parte de tudo na mão. Não é aceitável na sociedade.
— Mas deveria ser. — Sorrio. — Você sabe se defender, está segura,
não precisa mais continuar presa ao passado.
Seguro sua mão e trago até meus lábios, olhando seus olhos e
deixando um beijo casto na pele macia. Ana sorri para mim e eu retribuo, me
sentindo bem pra caralho por estar aqui com ela, leve. Eu quero transar mais
com ela, mas se nós ficarmos assim, para mim vai ser satisfatório também. Só
estar com Ana me enche de contentamento.
CAPÍTULO 34
— Bom dia, Ezra. Está muito bom aqui, mas eu preciso fazer xixi.
— Também quero passar um tempo com você, mas preciso ver Luigi
hoje, saber quando ele vai embora e me despedir dele.
— Luigi? — Chamo.
— A noite foi boa, hein, docinho. — Ele surge sem camisa, vindo da
cozinha.
Difícil não admirar seu corpo forte, bruto. Luigi é um homem muito
bonito, principalmente se não estiver com aquele sorriso de Coringa dele.
— Nem continue.
Sinto quando seu corpo se retesa e ele ergue o olhar para encarar
Luigi. Faço menção de me afastar, afinal fica claro que está desconfortável,
mas ele me segura pela cintura e beija minha testa.
Ergo uma mão entre nossos corpos e seguro a cruz em uma das
correntinhas que ele sempre usa.
— Tem comida para mim também? Não vou ficar vendo ceninha de
amor a troco de nada. — Luigi provoca, pegando as sacolas de Ezra.
Dois dias depois estou indo para a casa de Ezra, uma vez que Stefano
e Alessa juntamente com os pais dela estão aqui no país para conhecer o
Brasil e mais dos negócios do mafioso. Hoje irão jantar conosco. Eles ainda
não se casaram, mas sendo quem é Stefano, os pais da noiva irão carregá-la
como uma marionete onde quer que ele ordene.
— Nonna e Luigi estarão lá. — Ezra diz, puxando minha mão de sua
perna e depositando um beijo na mesma.
— Você era uma criança, nunca olhei para você com malícia antes.
— Não sei. Pela cara de Stefano, ele também não sabe. — Ezra
resmunga, mas ao contrário de seu primo que demonstra raiva cortante, ele se
mantém neutro.
— Grazie...
Nós saímos de braços dados e vejo quando Luigi passa por mim, mas
fica à espreita, de olho em nós duas.
Fico curiosa, uma vez que fica óbvio que eles já tem uma história,
mas não faço questionamentos. Nós usamos o banheiro e voltamos, todavia,
encontramos Giuseppe no corredor antes de chegarmos na sala.
— Esse jantar não vai acontecer com seu nonno junto conosco. Ele
acabou de nos ameaçar. — Digo para Ezra assim que o vejo retornando à
sala, sem me importar se eu deveria agir como Alessa que já parece
recomposta e está calada pronta para dançar conforme a música desses
homens.
Giuseppe parece inflar vendo nós dois sendo cruéis com ele. Não
entendo o que passa em sua cabeça doentia, mas torno a avisar:
— Desde que você não amoleça, você pode enfiar seu pau em
qualquer buraco, Ezra. Se amolecer, eu dou fim a quem for para fazê-lo
rígido outra vez.
— Não mate seu nonno... Você não precisa desse pecado, meu filho.
— Ouço a súplica de nonna.
— Ele é o capo. Stefano será visto como traidor. Punido. Você será
caçado. Ana será caçada. — Deluca se mantém firme e me faz recobrar a
consciência.
— Eu não queria que você fizesse nada... Não foi para isso que falei.
Sou muito explosiva e bocuda. Devia ter ficado quieta! — Ela lamenta, com
os olhos cheios de lágrimas.
Não lhe dou atenção, mas sinto Ana ficar tensa. Continuo saindo com
ela e só consigo respirar tranquilamente quando entramos em meu carro. Ana
fica calada todo o caminho, parecendo chateada.
— Sinto que você é tão frio e calculista, pensa antes de agir, sabe se
manter calado, neutro. Já eu... Sou descontrolada, me deixo levar pela raiva
facilmente... Fiquei indignada com a ameaça dele, me sentindo impotente por
não poder socá-lo... E explodi de outra forma.
— A terapia tem feito bem. Você mesma disse que está entendendo
os motivos de suas reações abruptas a esse tipo de coisa. Eu sinto raiva
também, mas nunca fui ferido como você foi, Ana. Não há desculpa para
mim. Mas e você? Esteve presa nas mãos daquele maldito por muito tempo,
tendo que ser submissa às vontades dele porque era criança, estava presa.
Agora seu mecanismo de defesa leva você a lutar quando não quer estar em
alguma posição. É necessário aprender a se controlar para que não perca sua
razão, mas seu pecado é perdoável.
Ela me encara com aqueles olhos azuis bebê, tão brilhantes, ainda
mais expressivos com as lágrimas contidas. Tiro meu cinto de segurança e me
inclino para tirar o dela. Puxo seu corpo para mim e a aninho em meu colo.
Inalo em seus cabelos, sentindo o cheiro delicioso, seus braços envolvem
meu pescoço, e eu a seguro como se fosse a coisa mais preciosa do mundo,
porque ela é. Faço um pequeno esforço para sair do carro com ela em meu
colo, sequer me preocupo em travar as portas. No clube, quando passo por
meus seguranças, o salão ainda não está cheio de sócios, pois ainda é cedo,
mas os funcionários estão a todo vapor e ficam chocados ao me ver andando
com uma mulher em meu colo. Sinto-me irritado sob tantos olhares, como se
fosse um instrumento para pesquisas, mas foco em subir até meu escritório.
— Dormi muito?
— Poucos minutos.
— Mio angelo...
— Eu não quero que seja aqui no sofá... Quero que faça comigo o
que você faz aqui no clube, Ezra. Que me amordace, me amarre, use chicote.
Não me machuque, mas quero que faça o que você gosta. Sei que vou gostar.
— Eu gosto de foder você. Não preciso usar nada para que seja a
melhor foda da minha vida. — Deixo claro. — Assim como você tenta se
manter no controle socando as pessoas por aí, eu usava a violência no sexo
como uma forma de me sentir no controle. Sou dominante com você, gosto
de me impor e, nesse aspecto, você é naturalmente submissa. Mas gosto dos
seus toques, dos seus olhos nos meus, dos beijos, de deixá-la fazer comigo o
que sentir vontade. Não sinto necessidade de subjugá-la. Eu me sinto o dono
da porra do mundo quando estou dentro de você. Sem precisar de maneiras
enganosas de estar no controle. Vou estapear sua bunda quando senti
vontade, sua boceta, morder você toda, apertar... Porque sou bruto e você
gosta assim. Fica pingando quando eu digo que vou surrá-la. — Sorrio ao ver
seu olhar desejoso. — Mas é o nosso jogo, sem denominações.
— Levante-se. — Ordeno.
— Aqui eu sou o seu senhor. E você é minha para fazer tudo o que eu
quiser. — Ele me envolve com seu braço e segura meu queixo, fazendo-me
encará-lo sobre o ombro. — Entendeu, Ana? É isso o que quer?
Ele não demonstra emoção alguma, seu rosto é uma máscara de frieza
e imponência. A consciência de que não vai me machucar, que isso já é parte
do jogo que eu pedi, faz com que eu acene e diga:
— Sim, senhor.
Ezra deixa que eu tenha meu tempo para observar tudo e isso parece
fazer parte do jogo, pois vendo todas essas coisas, sinto-me louca por insistir
em fazermos desse jeito. A excitação, no entanto, não deixa de existir,
mesmo que haja certo temor.
— Bom.
— Tire a roupa para mim, Ana. — Ezra ordena, mas nem presta
atenção em mim enquanto o obedeço.
Caminha pelo quarto, observando uma das prateleiras e pega algo que
não consigo identificar. Trêmula, me dispo, desço dos saltos e espero por ele.
Ezra retorna com um lubrificante pequeno em uma mão e um plug anal na
outra com uma jóia verde, logo para atrás de mim. Espero, ansiosa, sem
conseguir ouvi-lo até que sua mão afasta minhas nádegas. Ele passa o óleo
em meu ânus e faço de tudo para ficar relaxada, mas é impossível.
Ezra sai de trás de mim e para na minha frente. Seu rosto não está
impassível, há calor e paixão. Fico quieta, ansiosa. Então ele se inclina e
chupa meu seio esquerdo, mamando com força, causando dor e me levando à
loucura. Gemo e, involuntariamente, toco suas costas sobre a camisa,
arranhando-o, querendo mais.
Ezra estreita os olhos para mim e me dou conta que devia ter ficado
quieta. Ele arqueia uma sobrancelha e caminha até uma das prateleiras com
apetrechos. Volta de lá com um tipo de grampo e sinto minha vagina latejar,
tamanha necessidade.
— Ezra...
— Desculpe, senhor.
Sua boca bate contra a minha, duro e faminto, mordendo meus lábios,
saqueando tudo. Ele é delicioso. Fecho as mãos em punho para não tocá-lo,
mas é difícil agir com coerência quando estou latejando por ele. Ezra se
afasta e segura meu peito, então coloca o grampo no meu mamilo. Gemo com
a dor, uma ardência terrível, e ele faz o mesmo com o outro. Ofego, sentindo
minhas coxas ficarem meladas com minha vagina tão molhada, contraio toda,
cheia de tesão.
Assinto com a cabeça, sem forças para concluir uma frase. Com as
mãos trêmulas começo a descasar os botões de sua camisa e o tiro por seus
braços. Ezra não tira os olhos de mim. Desabotoo a calça, mas ela fica presa
em seus sapatos. Me ajoelho e os tiro de seus pés, depois as meias e a calça.
Suas coxas grossas com pelos ralos atraem minha atenção, a pele morena.
Raspo minhas unhas, vendo-o se arrepiar. Não resisto e beijo sua pele. Para
minha surpresa, Ezra permite, o que me dá mais confiança e fome para beijá-
lo todo. Beijo-o com amor, demonstrando como sei. Nós somos errados de
tantas formas, mas somos certos de mais formas ainda. Tiro sua boxer e o
deixo nu para mim, seu pênis grosso e longo em riste, tão lindo quanto ele.
Fico ajoelhada na sua frente, esperando uma ordem, mas Ezra parece perdido,
me encarando. Seguro a base do seu membro e o levo à boca, uma miríade de
sentimentos passando entre nós. Eu me sinto tão dele e fico emocionada,
porque juro que ele parece se sentir meu. O tomo com desejo e prazer,
sentindo-me escorrer entre as pernas. Lambo, beijo, chupo suas bolas, louca
para ver sua expressão perdida sumir e consigo. Ezra demonstra sentir tesão,
gemendo, entreabindo os lábios, tão másculo, e lindo. Suas correntes no
pescoço e o Rolex no braço o fazem parecer ainda mais delicioso.
— Oh... Ezra...
Ezra para de se mover, puxa meus braços para trás e prende meus
pulsos com uma só de suas mãos.
— Toma, Ana. — Ezra me dá, metendo fundo e longo, então leva seu
braço pela minha frente e começa a estimular meu clitóris. Sua boca em
minha orelha sussurra: — Está sentindo meu pau crescer dentro de você?
Vou gozar na sua bunda. Agora você pode gozar comigo.
Grito com suas estocadas e gozo sem controle. Não sei o que
acontece depois, porque simplesmente perco minhas forças, voando em outro
mundo, sentindo-me plena e acabada ao mesmo tempo.
CAPÍTULO 37
— Está bem.
— Não sou uma deusa. Tanto é que você encontrou uma idêntica a
mim. — Arqueio a sobrancelha.
— Não toquei mulher alguma depois que toquei você. — Ezra não
desvia os olhos dos meus, convicto.
— Ela foi antes...
Assinto com a cabeça, entendendo que depois que nos beijamos, ele
foi só meu. Beijo seu queixo coberto pela barba, subindo beijinhos pela
mandíbula, até beijar seus lábios. Vejo seu sorriso contido e sorrio antes de
aprofundar o beijo. Mesmo totalmente satisfeita e cansada, meu corpo reage a
ele. É impossível não reagir. Suas mãos passeiam por minhas pernas e costas,
mas não passamos disso. Encerramos as carícias com um selinho e nos
encaminhamos para o primeiro andar.
As pessoas não tiram os olhos de nós, acredito que por não estarem
acostumados a ver Ezra de mãos dadas com uma mulher. Ficou claro na outra
vez que estivemos aqui a surpresa de todos, assim como agora. Ele é saudado
por todos, muitos tentam pará-lo para conversar, mas Ezra é resoluto em dizer
que está com pressa. Seu funcionário, o mesmo que levou minha clone para
ele algumas semanas atrás, surge falando sobre a noite e como as coisas estão
indo. Ezra trata Alessandro com seu mau humor característico e tenho que me
segurar para não revirar os olhos para o homem que não retruca à altura.
Entretanto, eles que se entendam. Não sei se é por estar perto de muitas
pessoas, com música tocando alto, mas começo a sentir minha cabeça
girando.
— Sua mão está suando frio. Está havendo algo? — Seu olhar varre
meu rosto. — Está sem cor, Ana.
— Ana, como você está se sentindo? Cazzo! Isso é por tê-la deixado
com fome e ter sobrecarregado você...
Não consigo concluir minha frase, pois uma ânsia forte de vômito
sobe por minha garganta e só consigo ter tempo de correr até pia e vomitar.
Ezra, mesmo nervoso, murmurando em italiano, segura meus cabelos e apoia
meu ombro. É horrível a sensação de fraqueza que sinto, visto que não há
muito em meu estômago para colocar para fora.
Assinto com a cabeça e abro a torneira para molhar meu rosto e lavar
minha boca. Ele me puxa para os seus braços após eu me secar, sinto-me
trêmula, respirando fundo para acalmar a reviravolta em meu estômago.
— Vou buscar nossa comida. Você espere aqui. Não vou demorar. —
Ele beija minha testa e sai, apressado.
Sinto uma coisa ruim em sua expressão, algo que ela está deixando
evidente quando me encara com desdém. Ergo o queixo e respondo com
altivez:
Ela retorce as mãos uma na outra. A bota dela está toda vomitada e
ela não fala nada para se mostrar uma cadelinha obediente para Ezra.
Não quero que mais uma pessoa morra por minha causa. Não
acreditei na palavra dela. Tive muitas dúvidas quanto ao futuro e continuarei
tendo, pois não sabemos como o amanhã será, porém, hoje sei que Ezra me
ama. E, louco do nosso jeito, não há necessidade dele expressar em palavras
o que deixa tão evidente com gestos. Ela tentou me envenenar. Ontem eu
teria acreditado nela, mas depois de vê-lo quase matar o próprio avô, de nossa
conversa no sofá em seu escritório e de vê-lo perder sua pose de bandido mau
quando me ajoelhei e o beijei, tive a convicção de que é recíproco. Ele não
conhece o sentimento para colocá-lo em palavras, mas ele me ama com
loucura.
— Ela só queria sua atenção, Ezra. Que mulher não iria querer?
Ezra me tira do banheiro e me leva para uma sala privada com mesa e
cadeiras. Nós jantamos em silêncio, olhando com cumplicidade um para o
outro. Ele se mantém preocupado e, no fim, após o jantar me obriga a ver um
médico, o qual ele havia feito Alessandro contatar quando foi buscar nossa
comida. O homem me examina superficialmente, fazendo perguntas bobas,
até que meu alarme soa quando ele pergunta:
Minha cabeça gira, cheia de dúvidas, e sinto Ezra recluso depois que
nos despedimos do doutor e voltamos para a mansão em seu carro. Me sinto
estranha, preocupada e, pela primeira vez, pensando que posso estar grávida.
Por incrível que pareça a ideia não me aterroriza. Mas quando olho para Ezra
tão sério dirigindo, percebo que tudo pode mudar entre nós amanhã de manhã
com o resultado dos exames.
CAPÍTULO 38
— Despertei agora. Mas você está assim desde que vimos o médico.
— Oh, meu Deus, Ezra! — Ana enrola os braços com tanta força em
volta do meu pescoço que me desequilibro um pouco, mas é muito devido a
emoção que sinto, ao embargo na garganta, a esse sentimento desconhecido e
louco. Feroz, como Ana ressaltou. Eu a amo antes de aceitar, antes de
entender algo que nunca senti antes. — Eu te amo muito, meu amor.
Enquanto ele se enrola para dar uma explicação, Ana murmura algo e
eu me aproximo dela.
— Bom dia. Me chamo Denise Terra e sou a técnica que vai fazer sua
ultrassom. — Se apresenta para Ana.
Ana está tão ansiosa que nem termina de comer a maçã e me entrega.
Exijo que ela beba a água e isso, pelo menos, ela o faz. Me entrega a garrafa e
jogo no lixo junto com os restos da fruta. Ana segura firme minha mão
quando me aproximo e tento conter meu desejo de matar Evandro Lameira
por toda essa merda. Ana só irá ficar ainda mais decepcionada depois de ter
esperança. Meu desejo é tacar fogo em sua maldita clínica. A técnica expõe a
barriga de Ana e abre o botão e zíper da calça jeans. Nós olhamos um para o
outro e ela sorri. Passo a mão livre por seus cabelos, querendo protegê-la de
tudo e dar a ela tudo o que ela quer. Todos os meus medos estão em segundo
plano, porque o desejo de vê-la radiante ofusca o resto.
Me perco olhando seu rosto e fico confuso quando um som alto toma
conta do ambiente. Olho a tela, não conseguindo discernir nada. Até que vejo
Ana chorando e a técnica diz:
— Estive aéreo. O que foi dito lá? — Toco seu rosto para que ela não
pense que mudei de ideia em relação a conversa que tivemos mais cedo.
Assinto com a cabeça e retiro para ele. Deixo sobre a palma da minha
mão, que estendo em sua direção. Ezra me ergue no seu colo, deixando me
sentada sem precisar do apoio do seu braço. Pega a correntinha, afasta meus
cabelos e coloca em volta do meu pescoço.
— Obrigada.
— Não a tire nem para tomar banho. É ouro, não vai estragar. É para
sua proteção sempre. — Ele reitera seriamente e beija minha testa.
— Está bem.
Desde que Luigi voltou para seu país natal, eu gostaria de não ter
mais um novo segurança. Ezra confessou que seu plano era que eu não
tivesse, embora depois de descobrir sobre o bebê, ele voltou atrás. Há um
brutamontes mal encarado na entrada do meu salão e ele, provavelmente, está
espantando clientes com sua expressão assassina. Ao contrário de Luigi,
Rezende não dá um sorrisinho nem de deboche, nem de dar medo. Só a cara
feia mesmo.
Ezra não quer que eu trabalhe, sua condição para não encher minha
cabeça foi que eu aceitasse o segurança atrás de mim para que em uma
possível eventualidade, ele me socorresse às pressas para uma clínica.
Aceitei, não vou morrer por isso, obviamente.
— Trouxe uma para você. Fiz bem, eu acho. — Ele brinca ao ver
minha expressão.
Sorrio e pego de sua mão sem hesitar. Hugo acabou se tornando uma
figura presente aqui no salão depois que eu saí da casa de Ezra semanas atrás.
Quando nos acertamos não excluí o rapaz da minha vida, seria ridículo e sem
nexo. Ezra é dono de um clube de sexo, vive rodeado das mais belas
mulheres todos os dias, muitas delas ficam nuas no Hot Cattaneo e ele, que
não é cego, vê. Todas disponíveis para ele, a maioria só esperando uma
chance de tê-lo, as que já o tiveram, assim como Iliana, são capazes de
qualquer coisa para um repeteco. Nunca dei a louca com ciúmes sobre isso,
portanto espero o mesmo dele em relação a minha amizade com Hugo.
Para a minha surpresa, Hugo toca a ponta dos meus cabelos. Mas não
vejo maldade nele, só certa curiosidade.
Nesse exato momento meu celular toca. Espio a tela e vejo que é uma
chamada de Ezra. Faço um sinal para Hugo e atendo.
— Ei...
— Por que esse moleque está tocando você? Por que você está
deixando? Aceitando sorvete, risadinhas e agora toques...
— Você vai cair e se machucar, Ana. Desça daí! Você nunca foi um
anjo... Maldição de mulher! — Ezra ladra, puto, para o meu deleite.
Ele não volta para o Hot Cattaneo. Depois que encontro uma jarra
para deixar minhas rosas, até me ensina a colocar a imagem da câmera no
notebook e finge que nunca agiu como um tosco. Fica comigo até a hora que
fecho o salão.
— Estava com pressa, então deixei o carro do outro lado e vim
andando. Aqui não tinha vaga. — Ezra explica, enquanto caminhamos até
onde ele deixou o veículo.
Todo meu corpo paralisa quando vejo a pessoa que fez ter essa
sensação. Ezra diz algo, segura meu rosto, mas tudo fica longe.
E o rio já secou
— Preciso que você seja forte agora, Ana. Você foi todos os dias.
Vou cuidar de você logo, logo. Per favore, angelo mio, seja forte. — Suplico,
sentindo minha alma rasgar por vê-la tão fragilizada, assustada.
Avanço até o desgraçado, mas para a minha surpresa, ele sorri, como
se esperasse por isso. Agarro-o pelo colarinho e o arrasto até meu carro. Ouço
o choro de Ana quando me aproximo dela e do veículo, mas me obrigo a não
olhar, a não parar.
— Você vai fazer comigo o que fez com o meu irmão? Aquele que
me criava e me dava tudo... O único que eu tinha antes de ser abandonado
sozinho?
Irmão de Reinaldo. Foda-se! Uma ponta solta, uma que eu não fazia
idéia. Abro meu carro e o jogo no banco do carona. Travo as portas e ligo
para Stefano.
— Preciso de você aqui. Eu não posso deixar Ana sozinha por muito
tempo e uma merda acaba de estourar na minha cara.
Ana pisca algumas vezes, respirando fundo. Ela procura meus olhos e
nega com a cabeça.
— Esse irmão veio atrás de mim, sabe que o matei. Ninguém vai te
fazer mal outra vez.
— Eu não tenho medo por mim. Não mais. Ezra, o nosso filho... O
mundo... As pessoas são cruéis... Nós não...
As palavras me atingem, me sinto imponente porque sempre fui
obcecado por protegê-la e ela fugiu anos atrás. E agora não pude evitar que
esse fantasma surgisse do nada, pois fui pego de surpresa, não estava a um
passo à frente como sempre fiz questão de estar. Se eu não amasse Ana, seria
fácil me livrar dele, mas agora eu tenho a quem proteger e terei que dar fim a
todas as pontas soltas. Matá-lo sem tirar informações, sem saber se há outros
por aí em busca de vingança seria tolice.
— Deixe seu carro aqui, depois você volta com outro funcionário
para buscá-lo. Vá atento ao homem que está no meu carro. Qualquer deslize,
olhar, pensamento, respiração errática, pode nocauteá-lo. — Deixo bem claro
e me aproximo do carro. — Reviste-o e me dê ok para entrar com Ana.
— Mauro.
Depois que nonna chegou com Gilda, pedi que ambas ficassem com
Ana e fui cuidar de Mauro na garagem. A coisa certa a fazer seria levá-lo
para o local onde Stefano mantém para cobrar seus devedores. Mas com a
necessidade de estar perto de Ana, fiz da minha garagem um abatedouro. O
maldito se mostrou firme em suas palavras. Dei-lhe alguns socos, mas não
quis causar grandes danos. Stefano está a caminho e garantiu que já há
pessoas investigando a vida do bastardo, uma vez que lhe passei os dados dos
documentos que encontrei em sua carteira.
— Nonno, o problema sempre foi meu. Stefano fez o que eu pedi que
fizesse e eu nem fazia ideia que havia máfia envolvida, tampouco que
Reinaldo deixava família. — Justifico, nervoso.
Todos olhamos feio para ele, o que obviamente resulta em seu sorriso
debochado se tornando ainda maior. O desgraçado não tem amor à vida.
— Pois bem. Você vai torturá-lo até que ele abra a boca e diga todas
as pretensões dele. — Nonno ordena a Stefano.
— Eu não chamei você aqui para nos dar ordens. — Digo, irritando-
me. — Chamei Stefano.
— Não me teste, moleque! Você já foi fodido nessa vida? Pois bem,
eu fui vinte vezes mais. Sabe quando você já esteve à beira da morte tantas
vezes que sente o cheiro da ruína de perto quando ela chega? É esse cheiro
que sinto aqui desde que soube que Stefano estava vindo às pressas. Por isso
estou aqui. Para limpar a bagunça de vocês, porque são iniciantes, não sabem
fazer nada direito! — Ele grita, tão puto quanto eu.
— Essa porra vai doer depois que seu sangue esfriar, Cattaneo. É
certo que quebrou. — Deluca suspira. — Diana está no seu quarto? Vou ficar
de prontidão enquanto você resolve as coisas.
Senti tanto medo nas últimas horas, que não levei em conta que o
homem que amo iria ao inferno para garantir que eu esteja segura. Ezra
parece exausto, com olheiras, sangue respingado em suas roupas, as mãos
totalmente manchadas de vermelho, cabelos desgrenhados.
— Não me importo como você está, meu amor, não há nada que vai
me assustar e me impedir de vê-lo. — Digo e estico o braço para alcançar seu
rosto. — Vem. Seu lugar é aqui. Comigo.
Ezra me olha com tanta intensidade que meu coração erra uma batida.
Ele se aproxima e beija minha testa com os olhos nublados de ternura, então
entra no quarto. Olho para Luigi, que está com o habitual sorriso debochado.
Sorrio para ele, de certa forma mal assimilei sua presença por minha
cabeça estar a mil. Então lhe dou um breve abraço e sigo Ezra. Ele já está no
banheiro se despindo e tomo o seu lugar, livrando-o de sua roupa.
Tiro seus sapatos, a camisa e a calça social. Sua boxer fica por último
e então me livro do meu pijama. Entramos no boxe, ligo a ducha e cuido dele,
lhe limpando, deixando todo sangue ir pelo ralo. Vejo sua mão direita após
lavá-la e percebo que está machucada.
— O que aconteceu?
— Soquei a parede.
— Nós não iremos sair de casa, Ana. Aquele merda morreu sem dizer
o que o trouxe aqui e há mais gente envolvida nisso. — Ele segura meu rosto
com as mãos e parece desesperado ao dizer: — Eu não vou perder você.
— Você não vai me perder. Você nunca vai deixar nada de ruim
acontecer. — Digo com confiança, pois confio nele.
Ainda estou aterrorizada, mas é muito mais por ter acreditado que
Reinaldo havia voltado. Por um momento, na minha mente deturpada pelo
medo, realmente pensei que fosse o maldito me assombrando. Era como se eu
voltasse a ser a Luísa menina, que não tinha forças para se livrar, que gritava
e nunca era ouvida. Contudo, se enquanto criança eu não deixei de lutar, não
será agora que irei parar. Ezra Cattaneo me salvou do meu pior pesadelo de
muitas formas e muitas vezes. Ele ama com ferocidade e não há ninguém em
quem eu confie como confio nele.
— Não vou deixar. — Ele reitera.
Ambos entramos debaixo das cobertas sem nos importar com roupas.
Todavia, pego meu celular e mando mensagem para Luigi, pedindo que faça
com que algum médico venha até aqui ver a mão de Ezra. Meu amigo
responde e isso me tranquiliza.
Me inclino para ficar com a cabeça em seu braço e ele me puxa para
si.
— Luigi irá trazer alguém confiável. Sua mão não pode ficar assim,
Ezra. Você cuida de tudo, deixa eu cuidar de você pelo menos agora. —
Suspiro.
— Mio angelo. — Sua voz suaviza enquanto ele segura meu queixo
para que eu encare seus olhos ternos. — Você acabou de me ver cheio de
sangue e não se apavorou. Antes de dormir, estava tão triste e amedrontada,
mas quando me viu, assumiu sua versão forte e cuidou de mim sem hesitar.
Você não faz ideia de como era não ter você antes. Você já faz tanto sem se
esforçar e depois de hoje, só quero destruir tudo o que se levantar contra nós
e ser feliz com você. Porque eu nunca fui feliz antes, mas com você eu sou.
Com você não preciso de subterfúgios, de poder, de controle. Basta ter você.
Ezra seca minhas lágrimas com seus dedos e vejo a careta que ele faz
rapidamente quando usa a mão direita. Isso faz com que eu levante da cama e
me vista sob seus protestos.
— Vou buscar gelo para a sua mão. Você está sentindo dor. Para de
ser teimoso ou vou quebrar sua outra mão. — Advirto e isso o faz sorrir.
Ele levanta da cama nu, em toda sua glória, mas evito deixar minha
mente ir por esse caminho. Afinal, ainda quero saber o que aconteceu com o
homem, quero saber quem ele é, o que queria. Ezra se veste com uma
bermuda e camiseta e nós descemos de mãos dadas. Enquanto ele senta em
uma banqueta, pego um pano de prato e coloco gelo sobre ele, depois o dobro
e entrego para Ezra.
— Mauro é o nome do bastardo. — Parecendo saber meus
questionamentos internos, Ezra começa a dizer: — Irmão do Reinaldo. Me
culpou por matá-lo, disse que perdeu a única família e ficou sozinho no
mundo.
— Pode ser, mas eu não suportei esperar mais e arranquei o pau dele.
A imagem que meu cérebro reproduz faz com que eu sinta ânsia de
vômito. Ezra solta a compressa e me puxa para o meio de suas pernas.
Levanto a cabeça e encosto a nuca em seu ombro, tentando me controlar.
— Estou bem. — Digo, baixinho.
— Desculpe. Eu não devia ter dito isso, mio angelo. — Ele beija
minha bochecha e coloca sua mão aberta em minha barriga. Todo meu corpo
esquenta com esse contato dele direto com nosso filho pela primeira vez. —
A raiva ao lembrar de tudo me fez perder completamente o filtro. A única
coisa que basta você saber é que vocês dois estão seguros. Eu não vou sair do
seu lado até que consiga descobrir o que está acontecendo.
Coloco minha mão sobre a sua e viro minha cabeça para beijar sua
boca. Ouvimos o som de alguém limpando a garganta e vejo Giuseppe, Luigi
e mais um homem desconhecido na entrada da cozinha. Faço menção de me
afastar de Ezra, mas ele me puxa e me coloca sentada em seu colo.
— Não, mas...
— Ezra! — Repreendo.
Ele percebeu que estou grávida quando viu Ezra com a mão na minha
barriga mais cedo. Tomou o tiro em meu lugar pelo seu bisneto.
Rezende aperta meu braço e grunhe. Choro baixinho, com tanto medo
que meu corpo treme.
— Eu quero ver seu sorriso continuar assim depois que eu matar a
sua puta.
Sia - Helium
Travo uma batalha em meu interior sobre ser fatal contra Rezende ou
me preocupar com a merda respingar em Ana, mas tudo concorda que ela não
pode sair daqui nas mãos desse maldito traidor. Eu prometi cuidar dela e, por
um momento, o desespero de vê-la sob a mira do revólver me fez
desmoronar. Ela me pediu para ser frio.
Mauro e Rezende eram vítimas minhas, uma vez que matei Reinaldo.
Entretanto, eles deixaram o papel de vítima quando decidiram culpar Ana
pela morte do abusador. Isso fez deles cobras peçonhentas da mesma laia. Se
eu os tivesse encontrado, os teria matado, mas quem quer que Stefano
mandou resolver toda a situação, os deixou viver e agora eles voltaram para
me picar. Um morreu sem me dar as informações que eu queria, mas com
Rezende não vou cometer o mesmo erro.
Quando Rezende passa ao meu lado, Ana me olha uma última vez e
lágrimas escorrem por suas bochechas. Recobro a cena e vejo que a arma
ainda está travada. Sinalizo com a cabeça para ela e seus olhos azuis
aumentam de tamanho.
O meu anjo forte não se entrega e no mesmo momento que ela bate
com as costas da mão no revólver. Rezende deixa a arma cair e puxa Ana
pelos cabelos. Em dois segundos estou nas costas dele. Ana escapa, gritando
e socando, conseguindo se esgueirar para o chão. Rezende tenta chutá-la e
embora ele seja grande e musculoso, a fera presa dentro de mim se solta e eu
só paro de socá-lo quando ele está no chão.
— Maledizione...
— Você não faz ideia do que vai acontecer se você não abrir o bico
sobre tudo o que sabe a respeito de Rezende e Mauro. Por que você estava no
meu clube?
— Mauro queria sequestrar Ana. Queria deixar você louco por alguns
dias e depois matá-la e mandar o vídeo para você. Ele tinha certeza que ela
iria fugir quando Iliana dissesse aquelas coisas. Como não aconteceu o que
esperava, ele se frustrou e sabia que a aparência com meu pai poderia colocá-
la num lugar de desespero. Seu plano era desestabilizar vocês, entrar em suas
mentes, enfraquecê-los para que eu a matasse. Se sacrificou para que eu
concluísse... — Rezende cospe, puto de raiva. — Esperei cada minuto desse
dia para vê-la sozinha, mas não tive oportunidade. Quando ela chegou na
cozinha, vi minha chance, eu só não contava que aquele velho estivesse
atento como um maldito falcão e antecipasse meu ato. Ele a salvou de estar
morta agora.
— Como você pode ser tão escroto? Convive com a gente todo esse
tempo! Sabe que eu jamais fiz mal a alguém! — Ana retruca, indignada. Ela
avança até ele, mas a seguro. — O seu pai era um estuprador demoníaco!
Você se torna o que defendendo a honra dele? Desgraçado!
— Você é tão imundo quanto ele! — Ana tenta se soltar, mas não
permito.
Ela chora de raiva, passando a mão pelo rosto. A puxo para mim,
tentando acalmá-la.
— Mauro já sabia das coisas que meu pai fazia. Conhecia o seu pai.
— Rezende diz de má vontade, seus olhos presos em Iliana. — Eu vou dizer
tudo, me tortura, acaba comigo, mas mate Iliana rápido.
— Mauro não era tão jovem, então sabia o que meu pai fazia. Seus
deslizes com garotas mais novas.
— Muito bem. E eu vou cortar seu pau quando tudo acabar, em honra
dele. — Sorrio e solto suas orelhas. — Assim como fiz com seu tio. Agora
me conte tudo.
Analiso tudo e, por mais louca que seja a história, fica evidente para
mim que não é mentira. A doença de Mauro e Rezende também fica óbvia.
Ambos culparam Ana, enquanto ela era a vítima. Quantos homens assim
existem por aí? Sabia do que Reinaldo fazia e o vigiava com câmeras,
provavelmente porque deviam esperar que seu fim fosse esse. Quantas mais
garotas ele estuprou? Não fez com Ana porque queria entregá-la virgem para
algum figurão. Dio! Meu sangue esquenta de ódio.
— Stefano, ele matou o seu Capo. Eu acho que isso o torna problema
da máfia, certo?
— Uma atitude honrosa não irá mudar o lixo que ele foi por toda a
vida. Pelo menos serviu para morrer de uma vez e me deixar liderar sem que
ele fique enfiando o nariz o tempo todo. — Stefano me olha com raiva.
É justamente por esse desejo, de estar com Ana, de paz, que abri mão
de fazer com Rezende o que prometi que faria. Matar a mulher que ele parece
amar em sua frente é castigo suficiente. E o que os soldados fiéis a Giuseppe
Esposito farão com ele, é certamente mais cruel do que eu conseguiria.
— Meus homens irão limpar a bagunça. Você terá que estar na Itália
para o enterro do velho. Vá descansar com sua mulher um pouco. Você
tentou ser bonzinho, mas não deu muito certo. Problemas caçam essa garota.
— Stefano zomba, dando tapinhas em meu ombro.
— Eu te amo.
— Sou louco por você. Sono molto appassionato, angelo mio.
— Sou muito apaixonado. Foi o que eu disse. Vou dizer todos os dias
até você cansar.
— Nunca vou cansar. Eu sou louca por você. — Ela beija meu
queixo e encara meu rosto com curiosidade. — Luigi disse que trancou Gilda
e nonna. Você as destrancou antes de vir para cá?
— Sim, tive que dar a notícia da morte do nonno. Ela está arrasada.
Teremos que voar para a Itália amanhã. — Acaricio seu rosto.
Sorrio, pois mesmo com sua “reclamação”, ele soa carinhoso. Depois
de tudo o que aconteceu com Mauro, Rezende e Iliana, Ezra se tornou muito
mais protetor. Ainda temia que alguém pudesse aparecer para tentar concluir
o plano dos parentes de Reinaldo.
— Eu amo ter o seu amor, porque é o amor mais bonito que conheço.
***
Olho para ele por sobre o ombro e o vejo caminhando até parar atrás
de mim. Ezra afasta meus cabelos e beija minha nuca. Volto a encarar meu
reflexo e ele apoia o queixo no meu ombro, procurando meu olhar através do
espelho.
— Sim. Só nós dois. Você está mais linda do que nunca hoje.
— Você corrompeu seu anjo, meu amor. — Passo meus braços por
sua cintura, o agarrando.
Ele assente e beija minha testa. Então entrelaça nossos dedos e nos
guia para fora do quarto. Passamos pelos cômodos pequenos e Ezra me
coloca na frente dele para subir as escadas até chegar na proa. A mesa que
não estava ali antes, adornada com belas louças com o jantar, velas e rosas
me fazem paralisar.
— Eu aceito.
Mas eu quero ficar com você até que fiquemos grisalhos e velhos
— Deixei você descansar e fui cuidar da Poli. Ela está com a nonna e
a Gilda no jardim. Precisei me vestir para ficar com nossa filha, mas sei que
você pode resolver essa questão.
— Hummmm...
Beijo sua boca e libero suas mãos, porque preciso que me toque.
Começo a despi-la e, como tirou minha boxer antes do boquete, Ana segura
meu pau e me masturba.
Seguro sua cintura e a puxo para mim. Ana geme com minha
brusquidão, com as mordidas em suas dobras, as batidas duras da minha
língua no clitóris intumescido. Ela delira de tesão e se esfrega toda no meu
rosto. Penetro o canal molhado com a língua e me deleito em seu suco
agridoce. Explodindo em prazer, ela rebola sem pudor e goza na minha boca.
Seu corpo cai sobre a cabeceira, mas a seguro, mantendo-a na posição e me
ajoelho atrás dela. Seguro meu pau e estimulo sua bocetinha.
— Bom.
Meto nela por trás de uma só vez para calar sua boca esperta. Ela
sorri e geme ao mesmo tempo, revirando os olhos azuis, os cabelos colando
em sua pele suada. Minha perdição. Minha salvação. Ana contrai a boceta,
me fazendo grunhir, tamanho tesão, então rebola, revirando os quadris de um
jeito delicioso. O vai e vem é delicioso e nós dois gozamos juntos, chamando
o nome um do outro.
— Seu pai estava dormindo, Poli, eu falei com você mais cedo. —
Ana explica, acariciando os fios loiros da nossa filha.
— Papa, por que o nome da minha mamãe é Ana, mas você chama
ela com o nome igual do meu amigo da escola? O Ângelo... — Poli solta uma
de suas pérolas, o que faz todos nós rirmos à mesa.
— Assim como te ensinei que “papà”, é papai em italiano e
“regazza”, como chamo você, é menina... Mio angelo, como chamo sua mãe
também é um apelido vindo do meu idioma natal. Significa “meu anjo”, mas
também é o nome do seu amigo.
— Sim, eu sou Ana Cattaneo, porque me casei com seu papa e ele me
deu o nome dele.
FIM.
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SALVA-ME
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Jasmim Maria é uma jovem cheia de vida e amor. Vivendo no sítio dos seus
avós, pouco se importa com as poucas oportunidades na vida e com a
pobreza. Seu sonho é poder ajudar os dois velhinhos que são donos do seu
coração.
No fim, a mocinha precisa salvar seu mocinho, não tão herói assim. Talvez
seja fácil. Talvez não. Principalmente se ele não se achar merecedor de ser
salvo.
Ariella é livre e sabe o que quer, entretanto, nem em seus sonhos mais
tórridos poderia imaginar que dois homens iam querer dividi-la. Ela não
consegue evitar entrar naquele jogo de sedução que os gêmeos a enredam.
Miguel e Murilo Toroza são lobos, cansados das ovelhinhas. Enxergaram em
Ariella, uma caçadora, como eles. Essa é uma situação para não deixar
passar. Apesar de seus traumas do passados, riscos de se envolverem além da
conta com aquela mulher quinze anos mais jovem, os gêmeos estão dispostos
à tê-la. Contudo, com Ariella Ribas nada é como eles esperam e o jogo só dá
início, quando ela apertar o play.
Uma tórrida aventura e adeus, ou enfrentar o mundo para lidar com um amor
considerado horrível aos olhos do mundo?