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COPYRIGHT © 2020 JULIA CRISTINA

Está é uma obra de ficção. Nomes, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência.

Nenhuma parte desta obra pode ser utilizada ou reproduzida por


quaisquer meios existentes sem autorização prévia e expressa da
autora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei
n° 9.610/98, punido pelo artigo 184 do código penal.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.
CAPA: Ellen Scofield
REVISÃO: Cleiciana Sousa
EDIÇÃO DIGITAL | CRIADO NO BRASIL
Sumário
DEDICATÓRIA 5
PRÓLOGO 6
CAPÍTULO 1 16
CAPÍTULO 2 26
CAPÍTULO 3 39
CAPÍTULO 4 50
CAPÍTULO 5 60
CAPÍTULO 6 70
CAPÍTULO 7 82
CAPÍTULO 8 94
CAPÍTULO 9 104
CAPÍTULO 10 115
CAPÍTULO 11 126
CAPÍTULO 12 137
CAPÍTULO 13 146
CAPÍTULO 14 157
CAPÍTULO 15 167
CAPÍTULO 16 178
CAPÍTULO 17 190
CAPÍTULO 18 202
CAPÍTULO 19 213
CAPÍTULO 20 224
CAPÍTULO 21 235
CAPÍTULO 22 247
CAPÍTULO 23 258
CAPÍTULO 24 269
CAPÍTULO 25 282
CAPÍTULO 26 293
CAPÍTULO 27 305
CAPÍTULO 28 318
CAPÍTULO 29 329
CAPÍTULO 30 339
CAPÍTULO 31 350
CAPÍTULO 32 360
CAPÍTULO 33 371
CAPÍTULO 34 382
CAPÍTULO 35 395
CAPÍTULO 36 406
CAPÍTULO 37 418
CAPÍTULO 38 429
CAPÍTULO 39 440
CAPÍTULO 40 451
CAPÍTULO 41 462
CAPÍTULO 42 475
CAPÍTULO 43 488
EPÍLOGO 499
REDES SOCIAIS 509
OUTROS LIVROS 510
DEDICATÓRIA

Dedico essa história à Sabrina Antunes, pois sempre que duvidei que seria
capaz de ir por um caminho, ela puxou minha orelha e deu certeza que eu
conseguiria. Ezra não seria Ezra sem você, amiga. Obrigada por estar sempre
disponível para me dar conselhos sobre mantê-lo na linha “malvadão”.
Dedico à Andréia Santiago, minha amiga de anos e beta, que já me manda
“bom dia” me colocando para escrever capítulo novo. Sem você, eu não teria
me empolgado tanto, sua empolgação e amor pelo Ezra me motivou a ponto
de conseguir escrever em off. Jeysa, Jenny e Cleici, vocês três, como betas e
leitoras, acrescentaram demais, me motivaram, me inspiraram e nada disso
seria possível sem vocês, então também dedico a vocês. Ana Carolina, minha
Carolinda, também dedico a você, que vai a luta com banners, conselhos e
palavras de ânimo para meus lançamentos. Vocês são incríveis! Dedico às
minhas Julietes, que ficaram ansiosas desde o começo, que xingam Ezra na
mesma medida que o amam. Sem vocês, eu não estaria aqui. Amo vocês!

Dedico Louca Paixão à todas que preferem o vilão em vez do mocinho. Ezra
Cattaneo está prontinho para roubar os corações de vocês.
PRÓLOGO

Se pudéssemos ver amanhã, e seus planos?

Ninguém pode viver em tristeza, pergunte a todos os seus amigos

Vezes que você superou, eles estão de volta à demanda

Eu era aquele que estava lavando o sangue de suas mãos

Não chore esta noite

Guns N’ Roses - Don’t Cry

Olho para aquele homem e me pergunto como pôde destruir minha


família sem dó, nem piedade. Nós tínhamos tudo, ou eu pensava que
tínhamos. Meu pai sempre demonstrou amar minha mãe, apesar de não ter
sido o melhor pai, e ela, sempre pareceu dedicada à nós, a ele. Reinaldo
Barcelos se mostrou um amigo, nos visitou todos os anos na Itália, desde que
me lembro, e convenceu meu pai a vir para o Brasil. Eu era, apenas, um
menino quando tudo ruiu sobre nossas cabeças. Minha mãe foi crucificada
por toda família e se afundou em sua culpa, de tal forma que hoje vive em
terapias e viagens para se “reconectar com si mesma”. Meu pai, se afundou
na depressão, mas ao contrário da ex esposa, se nega a buscar ajuda e vive
trancado em uma casa cheia de lembranças amargas. Só não ficamos na
sarjeta porque a matriarca dos Cattaneo, Ella Cattaneo, minha nonna, sempre
olhou por mim. Entretanto, como já era maior de idade, não fiz o que meu pai
esperava. Não reconstruí o que foi destruído. Eu comecei do zero. Criei meu
próprio império.

Eu não sou o homem bom que foi prejudicado. Eu fui um bom cara,
que viu sua família ruir pelas mãos de um amigo que se achou no direito de
destruir-nos. Quando Reinaldo foi pego na cama com a mulher de quem ele
se fazia de melhor amigo, eu estava atrás do meu pai, com apenas dezenove
anos de idade, vendo uma porra daquelas. Prometi a mim mesmo que
acabaria com a vida dele. Não sujar minhas mãos, não, isso não. Há meses
venho vigiando o cretino, tentando encontrar uma maneira de entrar em sua
vida e tirar tudo o que ele tem.

Reinaldo não é um homem de família, sei que ele tem esposa e filha,
mas jamais as vi. Ele está sempre em eventos sociais, em sua empresa e com
amigos e suas esposas. No mínimo, orquestrando fazer o mesmo que fez com
minha família.

Hoje, contudo, quando ele entra em seu carro e dirige para uma área
residencial no Recreio dos Bandeirantes, eu o sigo, ansioso que esteja indo
para sua casa. Ao que tudo indica quando chegamos, sim, pois não consigo
entrar com ele, uma vez que é um condomínio caro e privado.

Levo seis dias para fazer amizade com o segurança e conseguir


convencê-lo de aceitar uma boa quantia em troca de me deixar entrar. Não
quero fazer nada com Reinaldo, só vigiá-lo, uma vez que ele está há dias em
casa, depois de tanto tempo sem se importar em aparecer. Sigo para frente de
sua residência, estacionando meu carro na calçada de frente, com os vidros
escuros, consigo ver a residência perfeitamente, sem ser visto. À noite, nesse
mesmo dia, algo atrai a minha atenção. Não houve nenhum movimento na
casa durante todo o dia, mas no quarto da ponta esquerda, no andar superior,
vejo uma mão batendo na janela algumas vezes, antes de tentar se agarrar em
algo e, aparentemente, ser puxada. Isso faz todos os meus alarmes soarem.
Que porra é essa? Novamente uma tentativa de chegar a janela e vejo cabelos
tão loiros, que parecem brancos, rapidamente. É uma mulher. A esposa dele?
Está em perigo. Sinto essa merda. Minha garganta aperta e meu coração está
acelerado pra caralho. Pego minha arma, a qual não fico sem, coloco o
silenciador nela, e saio do carro. Olho em volta e está tudo quieto, as casas
dos vizinhos ficam a um espaço distante daqui. Corro até o muro de Reinaldo
e pulo sem ter qualquer problema. Não vejo mais sinal de nada na janela, mas
sei que algo está errado e preciso ver com meus próprios olhos. É como se eu
sentisse uma agonia em meu peito, que não é minha, que não me permite
ficar perto e esperar para saber o que aconteceu.

Entro feito um louco no terreno e para invadir a casa, não faço


diferente. Não é como nos filmes, que você chuta a porta e ela cede na
primeira. Essa porta é forte, então com quatro chutes, consigo me colocar no
interior. É óbvio que o som já chamou atenção de alguém. Todavia, quando
chego próximo as escadas, noto que ninguém ouviu o barulho da porta sendo
chutada, porque há gritos femininos soando no andar de cima. O meu
primeiro instinto, é dar meia volta e sair daqui. É horripilante ouvir a agonia
dessa mulher. Subo as escadas às pressas, ouvindo os gritos, buscando de
onde eles estão vindo. Entro no primeiro quarto e não há nada. São
incontáveis quartos e só encontro o certo depois de abrir seis antes dele. Me
preparo para arrombar a porta, mas de alguma maneira, toco a maçaneta e
constato que não está trancado. Abro a porta e entro sem fazer barulho. A
cena que vejo faz meu estômago embrulhar.

— Filho da puta! Saia de cima dela! — Avanço em cima de Reinaldo


assim que o nojo e desespero se fazem menor que a ira.

Ele se sobressalta, com seu pênis medíocre na mão. A mulher, não se


passa de uma criança. Criança, porra! Ela se apressa para fugir da cama, onde
estava nua, enquanto o bastardo se masturbava, olhando para ela. A garota,
que aparenta ter uns dez, onze anos, corre para trás de uma poltrona, se
escondendo.

— Você é doente. — Acuso Reinaldo, entre dentes. — Eu queria


foder sua vida, aos poucos, te jogar na merda. Mas você é um infeliz, um
destruidor de almas.

— Você vai se igualar a mim, Ezra Cattaneo? — Reinaldo diz, dando


um passo a frente e deixando evidente que me reconhece.

Ele me subestima, o estuprador miserável.


— Nem o maior dos meus pecados se compara com o que você
estava fazendo. Ela é o que? Sua própria filha? Uma criança!

Dou um passo a frente e bato com a arma na cabeça de Reinaldo. Ele


tenta reagir, mas embora seja jovem aos seus olhos, sou treinado desde
criança para ser um bom lutador, se preciso. A luta é o meu hobby. E meu
hobby hoje, é acabar com Reinaldo Barcelos.

— Você vai destruir seu futuro se me matar. Pense bem... Seu pai e
sua mãe vão ficar arrasados. — Ele tenta me manipular.

Dou um sorriso louco para ele, e passo a manga da camisa em meu


rosto, tentando afastar o suor.

— Meus pais não vão saber. Ninguém vai saber. Vão pensar que foi
algum homem traído de quem você enfiou esse pau sujo na esposa. E aquela
garotinha? Ela vai adorar ver você morrer. Ela vai se libertar de você.

— Filha, por favor, não deixe ele me matar! Por favor!

Por um segundo me assusto quando a menina levanta e corre para se


cobrir com a coberta. Ela se aproxima de mim, olhando em meus olhos. Ela
parece um anjo, cabelos loiros brancos, olhos tão azuis são uma distração
infinita em seu rosto pálido. A franjinha espalhada pelo rosto a faz parecer
ainda mais infantil. Meu peito contorce pela dor do que ela viveu.

— Ele não é meu pai. Ele casou com a minha mãe para destruí-la. Ele
me prende aqui. Ele se toca olhando para mim. Se você não puder matá-lo, eu
o mato! Eu juro que mato! — As últimas frases são gritos descontrolados.

Eu assinto com a cabeça. Um lado meu quer que ela tenha o conforto
de matar o desgraçado que fodeu sua vida, mas outra parte, uma
desconhecida, quer protegê-la, não quer que ela suje as mãos.

— Você ouviu, Reinaldo? Filho da puta! Vire-se, anjinho. — Peço a


ela, que permanece dura, encarando-me, então se vira diretamente para
Reinaldo. — Vire-se. — Insisto.

— Eu quero ver. — Diz, decidida. Ela parece tão dura para uma
criança. Esse miserável fez isso com ela. Reinaldo vai pagar.

— Você nunca mais vai tocá-la. Ninguém mais vai tocá-la. Ela está
sob minha proteção agora. E você, Reinaldo, vai queimar no inferno.

Eu gostaria de ser um criminoso experiente, então teria o prazer de


torturá-lo, de abusar dele, de acabar com seu espírito antes mesmo de enfiar
uma bala em sua cabeça, mas não sou capaz disso. Então atiro em sua cabeça.
Reinaldo gritou, chorou e implorou enquanto eu mirava. E mais importante, a
garota está livre.

— Você tem família? — Pergunto a ela.

Seu olhar está preso no corpo de Reinaldo, caído no chão.

— Obrigada por acabar com esse desgraçado. Ele fica meses longe...
Me deixa com os empregados. Eu fico bem, torcendo que ele morra e nunca
mais volte. Então... — Uma lágrima rola por seu rosto. Dio! Ela é forte pra
caralho. Ela esteve gritando e lutando, mas não estava chorando antes. —
Então ele volta e faz isso novamente.

— Ele já... — Engulo, sem conseguir concluir.

— Não... — Ela nega, rapidamente. — Ele dizia que eu valia mais


sendo intocada. Ele queria me dar para algum amigo dele em troca de uma
parceria empresarial. Ele só esperava eu completar dezoito. Você precisa me
tirar desse lugar. Eu juro que sumo de sua vista e nunca mais apareço.
Alguém pode vir atrás de mim!

— Ninguém vai pegá-la. — Garanto. — Você tem família? — Volto


a perguntar.

— Não... Ninguém.

— Quantos anos você tem?

— Treze.

É mais velha do que aparenta, mas certamente com um fardo e


maturidade que não deveria ter.

— Coloque uma roupa e pegue seus documentos. Vou esperar lá fora.


Nós temos algum tempo, uma vez que o tiro não teve som e não alarmamos
ninguém, mas quanto mais rápido sumirmos daqui, melhor.
Ela assente com a cabeça e corre para uma porta acoplada ao quarto,
que presumo ser o banheiro.

Espero do lado de fora, me questionando se estou agindo certo.


Merda! Não tenho noção do que estou fazendo. Eu estava conversando com a
menina no quarto dela, com um cara morto há alguns metros de distância. E
agora a deixei lá se trocando! Dio mio! Respiro fundo, tentando me acalmar,
mas ela surge, já vestida.

— Com pressa de sair daqui. — Ela justifica sua rapidez.

Isso me faz sorrir levemente, então começamos a caminhar.

— Está com seus documentos?

— Para que? Para me encontrarem? Se você é um mafioso ou algo


assim, você pode ver uma identidade nova para mim.

Eu gargalho agora enquanto descemos as escadas.

— Anjinho, quem disse que sou mafioso? Matei o cara porque ele
merecia. Um mafioso, o teria esfolado vivo.

— Você é italiano, não é? Seu sotaque pareceu...

— Sim, eu sou italiano, mas essa conversa de que todos somos


mafiosos, não é verdade.
— É que eu gosto de ler livros de máfia. — Suas bochechas ficam
ruborizadas. — Eles destroem os maldosos, acabam com os abusadores. Eu
sempre imaginava que era Reinaldo sendo torturado.

Uau. Fico em silêncio, sem saber o que responder. Então saímos da


casa e ela dá uma olhada para o lugar antes de suspirar e continuar me
seguindo. Quando entramos em meu carro, eu sei de uma coisa. Vou cuidar
dela e me certificar de que aprenda a se proteger. Nenhum bastardo irá abusar
dela outra vez.

— Qual o seu nome? — Pergunto, dando-me conta que até agora não
sei.

Ela parece pensar por um tempo, cogitar algumas coisas, ponderar.


Então diz:

— Ana. Me chame de Ana.

— Esse não é seu nome. — Digo, ciente de que mentiu.

— É o nome novo. O antigo eu quero esquecer. Reinaldo chamava


por ele toda vez que...

— Tudo bem. — Digo, compreendendo e sentindo o ódio voltar para


dentro de mim.

Eu gostaria de matar Reinaldo outra vez. Muitas vezes, cazzo.


— E o seu nome?

Olho para a garota uma última vez antes de colocar o carro em


movimento.

— Eu sou Ezra Cattaneo.


CAPÍTULO 1

Oh, tenho perguntado por problemas, problemas, problemas

Eu travo minha guerra, no mundo interior

Eu levo minha arma para o lado do inimigo

Oh, eu estive pedindo (confie em mim, querida)

Imagine Dragons - Bad Liar

Dez anos depois.

A pior parte de enfrentar condução lotada de pessoas, são as pessoas.


Se olhar para o lado agora, vou ver esse cara suado invadindo o meu banco.
Por que homens não podem, simplesmente, fechar suas malditas pernas
quando se sentam? Faço questão de colocá-lo em seu devido lugar, porque ao
contrário da mensagem que minha aparência angelical mostra, eu não sou um
anjo. Nem de perto.
— Senhor, por favor, ocupe apenas o seu assento. — Peço,
educadamente, e recebo um olhar exasperado em troca.

Ele recua para o seu lugar, rosnando alguma coisa. Se achando na


razão ainda por cima. Não é como se ele fosse robusto para não poder se
manter em seu lugar, é só a questão de querer parecer um machão com essa
pose. Fechem suas malditas pernas, idiotas.

Moro na periferia do Rio de Janeiro. À essa hora da manhã, enquanto


estou indo para o trabalho, sempre entram alguns adolescentes com radinhos
tocando funk, mesmo tão cedo. É. Eu amo ir para o trabalho de ônibus.

— Ei, Di! — Kelly sorri quando me vê entrando no salão. — Nossa


agenda está cheia hoje.

— Quando não está? — Retruco, divertida.

Kelly Silva é dona de um salão de beleza no Aterro do Flamengo. Ela


me deu uma profissão e sua confiança, mesmo que não saiba nada sobre mim.
Me ensinou a cuidar de cabelos, unhas, sobrancelhas, enfim, a deixar as
mulheres bonitas e sentindo-se bem consigo mesmas. Me identifiquei muito
com a área da beleza, afinal, antes eu não tinha nada, não era ninguém. Desde
que cheguei aqui há cinco anos, com dezoito anos de idade, duas peças de
roupas na mochila, traumas e uma mente fodida, tudo o que conquistei foi
graças à Robert e Kelly. Hoje sou manicure, trabalhando com especialização
em colocação de acrigel. As mulheres têm amado o meu trabalho e, de
quarta-feira à sábado, sou muito procurada, por isso abrimos cedo para dar
conta de todas que marcaram horário. Há outra menina, Michele, que também
trabalha conosco. Não somos amigas, pois prefiro ficar no meu canto.
Amizade requer confiança, e por anos foi jogado na minha cara que não devia
confiar em ninguém. Apenas uma pessoa teve minha total confiança, mas eu
traí a sua.

— Você tem cara de rica. Já te disseram isso? — Uma cliente chama


a minha atenção.

Forço minha expressão a se manter neutra. Ela está esperando por


Kelly para cuidar de seus cabelos.

— Só a cara, né? — Michele alfineta, mastigando seu chiclete


daquele jeito exagerado dela.

Ela não precisa de mais nada para mostrar a que veio. É linda, tem
um corpo de matar, cabelos compridos cacheados, tingidos de vermelho e a
confiança acima da média normal humana. Michele não tem motivos para
não gostar de mim, mas a qualquer oportunidade está dando uma alfinetada.
Para mim, pouco importa. Embora, existam momentos em que eu queira
jogar água fervendo no rosto bonito dela, eu prefiro manter a paz no trabalho,
por Kelly.

O dia passa corrido como sempre e depois que saio do salão, paro no
Sr. Jorge para comprar hambúrgueres para levar para casa. Moro com Robert
e Wilson. O garoto tem dezoito anos e Robert o acolheu antes de mim.
Robert é um bom homem, já de idade avançada, com problemas nas pernas e
dificuldade para trabalhar. Ele me deu abrigo e comida até que eu pude
aprender minha profissão com Kelly, que é sua vizinha, e não tive coragem
de deixá-lo, uma vez que sua saúde piorou.

— Oh, minha jovem. Sempre bom vender para você. Como vai a
vida?

— Está tudo bem, Sr. Jorge. E o senhor?

— Estou brigado com a dona Maria. Sabe, ela pensa que porque sou
velho e aposentado, devo descansar. Que descansar, minha filha? Quando a
gente quer e tem coragem, vai a luta, não se contenta com o que tem, não.
Meu filho vai ter seu primeiro filho. E eu quero mimar essa criança. Que avô
seria eu, se não mimasse?

Sorrio genuinamente. Se na minha vida tivesse tido um avô ou pai


como Sr. Jorge, eu teria sido feliz.

— O senhor vai mimar o netinho mesmo que não seja com bens. Ele
vai amar o vovô.

Continuamos conversando amenidades, até os lanches estarem


prontos. O desânimo vem com tudo pela necessidade de voltar de ônibus.
Estou juntando dinheiro para comprar minha moto, além de ajudar nas
despesas de casa e repor material do meu trabalho. Então não me dou ao luxo
de chamar Uber, mesmo quando sinto que estou necessitando do mínimo de
sossego.
Dez minutos mais tarde, estou no ônibus voltando para casa e não há
nada mais certo do que: eu deveria ter chamado um Uber.

— É melhor você sentar longe de mim! — Aviso ao embuste que está


alisando o pênis sobre a bermuda e olhando para minhas pernas.

O idiota sorri e continua, apertando o pau descaradamente, sem


deixar de me encarar. É um rapaz jovem, loiro e até bonito. Qual a
necessidade disso? É uma doença maldita! As pessoas no ônibus me ouviram
alertá-lo, estão olhando, mas ninguém toma uma atitude. Não há um homem
que se meta para defender uma mulher. Por sorte, eu fui ensinada a me
defender sozinha. Eu fui ensinada a enfiar a porrada em homens como esse.
Uma parte da minha mente volta a ser uma criança, amedrontada, assustada,
lutando e sem chance de fuga. Isso faz com que eu paralise por alguns
segundos e isso dá ao psicopata a chance de enfiar a mão dentro da bermuda.
Eu voo em cima dele.

O maldito bate com a cabeça no ferro do banco do outro lado do


corredor. Isso me dá tempo para sair de cima dele e me ajustar para socar a
sua cara pervertida. Ele tenta lutar, puxa meus cabelos, tenta me prender, mas
eu pulo longe e chuto suas costelas. Só paro porque caio no chão do corredor
estreito, com a freada brusca do motorista.

— É isso que acontece quando você toca esse pau sujo no ônibus
para qualquer mulher, seu pervertido do caralho!

O ônibus para, alguém me segura, e outros homens surgem segurando


o desgraçado. Agora eles se acham úteis. Foda-se! O motorista vem correndo,
assustado. Óbvio que ele não ouviu o alerta e não sabia que havia um
pervertido no ônibus. Explico tudo e ele começa a dirigir em direção a
delegacia. Por mais homens como esse! Perco horas na delegacia, registrando
um boletim de ocorrência. Três pessoas que estavam no ônibus e o motorista
ficam como testemunhas. Embora o pau murcho fique detido, conheço bem a
justiça do nosso país, portanto, é de se esperar que amanhã ou depois estará
livre para fazer com outras mulheres o que fez comigo.

— Eu queria ter ido buscá-la, mas Wilson saiu com o carro. —


Robert explica, com a expressão preocupada quando entro em casa.

Liguei para ele para informar que chegaria tarde, porque estava na
delegacia. Não uso seu carro, pois há gastos com gasolinas e tudo mais. Mas
Wilson não trabalha e está saindo a essa hora? Enquanto eu estava na merda e
não pude ser ajudada? Fala sério. Minha paciência está esgotada.

Tiro o lanche amassado da minha bolsa e jogo na mesa de centro.

— Vou tomar banho e dormir. Boa noite.

Sigo pelo corredor até meu quarto e tranco a porta ao entrar.

Eu não sou ingênua. Não. A verdade é que por trás de toda a minha
coragem e força, quando estou sozinha sonho com os olhos do monstro, ouço
sua voz chamando meu nome. Sr. Jorge, já aposentado, continua trabalhando
porque não quer estar parado e quer ajudar sua família. Já Robert, se diz com
dores terríveis nas pernas e fica acomodado em casa, enquanto eu trabalho.
Tenho muita gratidão a ele, e somado ao meu medo de estar sozinha, me
mantenho aqui. Mas não sou cega. E a cada dia mais, tenho sentido vontade
de sumir. De recomeçar do zero.

Eu já fiz isso outra vez. Nada me impede de fazer novamente.

Tomo banho e coloco um pijama fresco para dormir. Não temos ar


condicionado e o calor do Rio de Janeiro é de castigar. Ligo o ventilador e
abro a janela para amenizar, mas a situação continua horrível. Um som de um
estrondo lá fora me faz arregalar os olhos. Levanto-me às pressas, ouvindo
vozes alteradas, e visto-me com outra roupa por cima do pijama. Corro até a
sala e me assusto ao ver um homem armado, apontando uma arma para
Robert.

— O que está acontecendo? — Pergunto, tentando manter a calma.

— Está colecionando crianças para sustentar você, velho medíocre?


— O homem rosna, então me encara. — Robert sabe do que se trata, docinho.
Vá para o seu quarto e não saia de lá.

— Você não pode matá-lo! O que ele fez?

— Ele deve uma fortuna para o meu chefe. E o cara não é um homem
paciente. Uma vez que ele está esperando há seis meses, já esgotou sua quota
de piedade.

— Robert, que merda você tem na porra da cabeça? — Exclamo,


puta.

— Ela é inteligente. Gostei dela. — O brutamontes aponta a arma


para mim e sorri. — Robert é viciado em jogos e prostitutas. Ele pega
qualquer dinheiro e corre para o Leblon, na casa de jogos do meu chefe.

— Peça ao seu chefe... Não sei... Um tempo... Eu vou tentar pagar...

— Como? — Ele me mede de cima a baixo.

Nego com a cabeça, recuando. Encaro Robert, decepção estampada


em meu rosto.

— Cara, eu te devo muito, sei disso... Mas você é um adulto, não


devia ter se metido nessa. Estou caindo fora.

— Pegue ela como pagamento! — Robert grita, me fazendo dar um


pulo em sua direção.

— O que você disse?

Robert não me olha, mas sim para o segurança.

— Seu chefe vai apreciá-la. Ela está na minha casa, eu dou um teto!
Ela não tem ninguém. Só a mim. Agora estou dando ela para...

Não o deixo terminar de falar, mesmo com o peito doendo com a


traição fodida, minha reação é atacá-lo. Distribuo socos em seu rosto, mas
Robert também consegue me acertar e quando sinto sangue escorrendo por
meu nariz, vou para cima dele com mais raiva ainda.

— Eu sou dona de mim, entendeu? Maldito! Ninguém. Toca. Em.


Mim! Ninguém me vende! Nunca mais!

— Ana? — Ouço aquela voz chamar meu nome e, por um segundo,


penso que estou alucinando com meu salvador.

Ergo o olhar para encontrar os olhos verdes mais lindos do mundo.


Os olhos de Ezra Cattaneo. Meu coração erra uma batida, as lembranças de
dez anos atrás voltando com tudo, quando ele me salvou do meu padrasto
doente. Dos anos seguintes, em que me ensinou a lutar, no quanto deixou
evidente seu anseio para que eu pudesse me defender. Fico tão chocada, o
examinando. Dez anos fizeram diferença. Ezra parece mais duro, frio. Há
uma barba em seu rosto, ele usa um terno feito sob medida, continua alto e
esguio, imponente. Eu fugi dele e não quero estar perto outra vez. Embora ele
seja a única pessoa que não me apunhalou pelas costas. Eu não quis ficar para
esperar o dia que isso aconteceria.

Perco-me da minha supervisão quando sinto algo acertar minha


cabeça. Um soco de Robert. Caio para o outro lado, pois não esperava, e por
alguns instantes me sinto aérea.

— Não encosta nela, porra!

Então ele voa para cima de Robert. O segurança é quem me pega,


ajudando-me a ficar de pé, enquanto Ezra acaba com Robert. Eu queria ser
boa o suficiente para pensar nos dias bons e nas coisas boas que Robert já fez
por mim. Queria clamar por piedade. Mas a minha natureza não é essa. Eu
não sou a vítima boazinha, que se encolhe e chora. Não sei o que Ezra
Cattaneo está fazendo aqui, de tantos lugares, mas tenho certeza, que mais
uma vez, ele vai matar por mim.
CAPÍTULO 2

Não esconda seus erros

Porque eles vão te encontrar, te queimar

Então disse ele

Se você quer sair dessa vivo, corra por sua vida

Three Days Grace - Get Out Alive

Eu ainda não consigo acreditar que Ezra está aqui na minha frente.
Tantas perguntas rodam em minha cabeça. A principal é, como ele me
reconheceu se desde que fugi, tingi meus cabelos de castanho. Não tenho
mais fios loiros como antes, os mesmos que o levou a me apelidar de anjinho.
Ezra não é o mesmo que matou meu padrasto só para me salvar, no entanto.
Ele está batendo em Robert ferozmente, com uma ira, que não exalava dele
antes. Parece animalesco, gostando de feri-lo.
— O que Ezra faz aqui cobrando esse tipo de dívida? — Pergunto ao
segurança.

— Pergunte a ele, docinho.

— Não me chame de docinho, desgraçado.

Os gritos de Robert me causam horror e grito para que Ezra pare. Ele
não ouve, não dá atenção.

— Por favor, Ezra, pare! — Grito novamente e, dessa vez, surte


efeito, pois ele olha para mim.

Seu terno está desgrenhado, seus cabelos mais volumosos na parte de


cima parecem uma bagunça e seu rosto está suado. Ele parece feroz. Deus! O
que houve com Ezra? Suas roupas são caras, terno, camisa social sem
gravata, com os primeiros botões abertos, exibindo a pele morena e duas
correntinhas com pingentes de cruz, uma bem pequena e outra um pouco
maior.

— Por que você fugiu de mim, porra? Por que está nesse maldito
buraco? Numa favela! Sabe o quanto a procurei? — Seu tom cortante me
causa calafrios. — Achou que estava protegida com um crápula? Você não
aprendeu com o seu passado. Não lembra o que homens como esse fazem,
mio angelo? — O apelido que costumava usar no passado para se referir a
mim soa como um xingamento.
Puxo meus braços do segurança e caminho até estar de frente para
Ezra. Seu peito sobe e desce com a raiva que sente de mim, mas eu não estou
diferente agora. Afasto minha franja da minha testa, me sentindo incomodada
e aponto o dedo para ele.

— Eu não sou o seu anjo. — Cuspo, olhando para cima para encarar
seus olhos verdes faiscando de raiva. — E eu aprendi tão bem com o meu
passado que me afastei de você.

O ódio por ele ter jogado o meu padrasto abusador contra mim, como
se eu tivesse escolhido viver com Robert, tendo consciência de que ele é
igual, faz com que eu queira feri-lo também. Os olhos de Ezra brilham mais,
e suas narinas alargam, o deixando com a expressão mais animalesca. Eu não
sinto medo porque eu já enfrentei o pior da vida. Robert ter escolhido me
vender quando devia lidar com sua própria merda não foi culpa minha. Ele
sempre se aproveitou financeiramente, mas nunca agiu dessa maneira, pelo
contrário, sempre me protegeu. Seu instinto pode ter sido de sobrevivência,
uma vez que eu fui a primeira a dizer que ia embora e o deixaria se ferrar
sozinho. Afinal, o que eu deveria fazer? Embora não seja desculpa para sua
atitude e, por isso, não sinto remorso de Ezra ter agido em meu favor.

Ezra dá mais um passo a frente e toca as pontas dos meus cabelos,


agora escuros. Seu olhar é penetrante, tão frio e sem emoção como se eu
fosse uma mosca em sua sopa.

— É a última vez que irei perguntar, Ana. Se você não responder,


vou ficar muito puto.
— Você ainda não está puto? Fica pior que isso? — Debocho, e vejo
seus lábios quase se curvando, é claro que ele não permite, mas não perco o
brilho nas profundidades verdes de seus olhos.

— Por que você fugiu de mim?

Embora não lhe deva satisfação, devo o mínimo de gratidão. Esse é o


homem que me salvou e, acima de tudo, me ensinou a lutar por três anos
seguidos. Todos os dias tirou tempo para me ensinar a ser forte, lutou
comigo, me ensinou a atirar, me ensinou a machucar e paralisar alguém com
o dobro do meu tamanho, se necessário. Ezra Cattaneo pode parecer
aterrorizador agora, mas para mim, ele sempre será meu salvador. Não sei o
que houve nesses sete anos em que estive longe dele, mas algo sério
aconteceu com ele. Por lealdade e consideração ao jovem Ezra, que me
salvou sem me conhecer, me livrou de crescer naquele maldito lugar nas
mãos do meu padrasto, decido ser sincera.

— Você estava namorando com Melina. E ela me disse que você me


venderia quando casasse com ela, ou pior, que você me foderia e me daria
para os seus empregados, antes de me dispensar.

— Eu jamais namorei aquela puta, tampouco me casaria com ela,


caralho! Por que não perguntou a mim?

— Fiquei com medo de perder minha confiança na única pessoa que


já confiei, Ezra. — O cansaço físico e mental vencem e minha voz soa
derrotada.
Seu rosto se contorce com várias emoções que não sei discernir. Ele
lança um olhar para o segurança sobre minha cabeça e acena em direção ao
corpo de Robert. Então toca minha coluna com a palma de sua mão grande e
me guia em direção a saída. Eu estaco no lugar. Ezra me encara, impaciente.

— Você não fica nessa favela nem mais um dia. Você volta comigo
de onde nunca deveria ter saído.

— Eu tenho uma vida aqui... Um emprego...

— Eu vi o que você tem aqui. — Olha com nojo em direção a Robert.


— E, não, porra, você não fica.

— Não pode me obrigar, sou maior de idade e dona de mim.

— Se não vir comigo por bem, coloco a polícia para investigar seus
documentos, Diana. — Ele cospe, lembrando-se do nome nos documentos
falsos que ele providenciou para mim há anos atrás.

Olho com raiva para ele. Tenho mil perguntas para lhe fazer, mas a
sensação de que ele não vai me dar respostas é esmagadora. Portanto, só me
resta enfrentá-lo.

— Quando você piscar os olhos, Ezra, eu estarei longe outra vez com
ou sem documentos.

— Veremos, mio angelo.


Bato os pés, infantilmente, em direção ao meu quarto, pego meu
celular e coloco alguns itens importantes e algumas peças de roupas dentro de
uma mochila. Envio uma mensagem para Kelly, informando que um parente
está quase morrendo e que preciso ficar de fora por algum tempo. Ao mesmo
tempo que sinto raiva de Ezra por me fazer abandonar minha vida, tudo o que
conquistei até agora sozinha, sinto uma emoção sem tamanho porque Melina
estava mentindo, porque agora há alguém perto em quem, realmente, confio.

Quando me viro para sair, o vejo parado no quarto.

— Eu preciso que você não fuja, Ana. Preciso que esteja protegida.
Você é responsabilidade minha.

— Você não é meu pai. — Retruco, só por costume.

— É como se eu fosse.

— Você é o que? Dez anos mais velho? Seu esperma já tinha


potência nessa idade?

— Você é uma maldita engraçadinha.

Me permito sorrir genuinamente.

— Não sou sua filha. Vou ir sem tentar fugir por agora, mas não
prometo nada. Algo não me cheira bem, Ezra. O que você fazia aqui
cobrando uma dívida?
— As coisas mudaram desde que você sumiu, Ana. Muito disso
começou após eu matar seu padrasto, na realidade. — É o que ele diz, então
me chama, em italiano: — Vieni qui. Em casa contarei tudo.

Não reluto e nem rebato mais. Obedeço, ciente que há mais nessa
história do que gostarei de saber.

— Como me reconheceu tão rapidamente? Agora com meus cabelos


escuros...

— Seus olhos. — Uau, tão detalhista. Reviro os olhos, mas ele não
vê, uma vez que vem atrás de mim.

Quando chegamos na sala, vejo que Robert e o segurança não estão


mais presentes, mas há sangue do primeiro no chão. Recuo e olho para Ezra.

— Ele nunca me fez mal. Me acolheu e ajudou quando cheguei aqui


sozinha e sem nada. Não o mate.

— Não se pode ferir a cobra, Ana. Ela volta para picar você. E eu não
o perdoo por tentar vendê-la. Se eu não estivesse no carro e escutado gritos
femininos, não teria me envolvido e você estaria nas mãos de qualquer figlio
di puttana agora. — É sua resposta definitiva.

— Os filhos da puta com os quais você está envolvido. — Não é uma


pergunta, por isso ele não diz nada.

Um carro chamativo está na calçada com um motorista.


— Motorista, Ezra? Ficou mais fresco do que já era?

Ele me lança um olhar impaciente e abre a porta de trás para que eu


entre. Me acomodo com a mochila em meu colo e Ezra fica do meu lado.

— Nos leve para casa e venha buscar Robert. Ele foi lidar com o
traficante que manda nessa favela de merda.

Fico de ouvidos alertas, mas o motorista só assente com a cabeça e o


silêncio reina. Fico ansiosa para chegarmos onde quer que ele chame de casa
e eu possa ficar ciente desse mundo em que Ezra entrou, mas me sinto tão
exausta, que adormeço durante o caminho.

Desperto sentindo braços fortes em volta de mim, meu corpo sendo


carregado e o perfume masculino envolvendo meus sentidos. Ezra. Estou
segura. Subconscientemente, sei disso, então volto a dormir.

Levo algum tempo para assimilar os acontecimentos das últimas


horas quando acordo em um quarto diferente do meu, na realidade, é o
mesmo quarto que era meu quando morei com Ezra. Chama a minha atenção
como nada mudou. A cama com dossel imensa, a cor azul bebê nas paredes,
tapetes felpudos que eu mesma escolhi e a penteadeira, com um espelho
redondo de madeira antiga. Sentada na cama, observo tudo e meu coração
aperta com a saudade daqui. Passei por dias frios na rua, muitos dias de fome
antes de Robert me encontrar. O remorso por não fazer nada para mantê-lo
vivo começa a me corroer.

Quando Melina disse aquelas coisas sobre Ezra, não foi só uma vez.
A mulher me perseguiu por vezes, sempre que me via, sussurrava coisas
maliciosas, dizia que Ezra me machucaria, que seus seguranças terminariam
de me arrombar. A desgraçada não tinha pena por eu ser uma adolescente. Se
eu não conhecesse a maldade da vida, teria ficado apavorada com suas
palavras. Tive muito medo, sim, mas acima de tudo, temi perder a imagem de
Ezra como meu salvador, temi que ele fosse como o diabo que era meu
padrasto. Eu fugi com medo de que as palavras dela um dia se tornassem
verdade e eu não tivesse como olhar para trás e enxergar alguém em quem
confiar. Roubei dinheiro da carteira de Ezra, só para me manter alguns dias,
mas não foi o suficiente. Eu achava que era. Em dois dias, já não tinha mais
nada, de tanto entrar em ônibus e ir para lugares que não conhecia, até acabar
naquela favela e encontrar uma senhora que morava na rua e me acolheu com
ela. Até encontrar lugar nas ruas foi difícil, pois os mendigos brigavam por
seu território, impedindo que outras pessoas chegassem e ficassem. Eu não
precisava ter passado por tantas coisas, mas não me arrependo.

Ouço o som da porta se abrindo e me ajeito na cama, olhando feio


para Ezra por sequer bater.

— Você pode ser educado e bater na porta antes de entrar? Essa é sua
casa, mas esse é o meu quarto.

— Que bom que sabe que é seu quarto. É bom que lembre disso antes
de tentar fugir.
— Vai me contar sobre as merdas que você se enfiou?

Ezra assente e puxa a poltrona creme para ficar de frente para mim.
Ele senta, já usando terno de cor azul marinho, a barba bem cuidada, os olhos
parecendo serenos.

— Quando matei Reinaldo, deixei brechas que não comentei com


você. O segurança do condomínio me viu várias vezes, haviam câmeras na
propriedade e no condomínio, que capturaram minha entrada e nossa saída, e
a placa do meu carro. O crime recairia sobre mim. Então quando saímos de
lá, deixei você em casa e liguei para um amigo meu, Stefano Esposito, que
tinha envolvimento com coisas que eu não conhecia, mas sabia que ele podia
consertar a situação para mim, uma vez que ele consertou outra merda que
fizemos juntos meses antes.

— Então aquela não foi sua primeira morte?

— Sim, foi, não foi esse tipo de coisa que ele encobriu antes. —
Justifica e volta a explicar: — Stefano enviou homens dele para limpar a
cena. Toda e qualquer prova contra nós foi excluída, inclusive qualquer rastro
da sua existência... Roupas, objetos, antigos documentos, empregados da
casa, enfim. Fiquei com uma dívida com ele, que ele nunca cobrou. Com os
anos em que você esteve comigo, via Stefano ocasionalmente, mas me
mantive limpo, cuidando do meu clube, que estava crescendo cada vez mais,
e de você. Então você fugiu e precisei de Stefano outra vez.

— Ele te cobrou favores por minha causa? Porra...


— Me deixe concluir. — Resmunga e passa a mão pelo queixo
coberto pela barba. — Stefano nunca me cobrou essa dívida, pelo contrário,
enviou muitos homens atrás de você. Você deve lembrar que minha família
vive na Itália e, ocasionalmente, viajava para lá. Em uma dessas viagens, seis
anos atrás, Stefano, que também é italiano, me convidou para conhecer sua
família. Lá, seu avô me olhava com certa desconfiança, que eu não entendia.
Depois de dois dias, recebi a ligação do próprio homem, Giuseppe Esposito,
me convidando para conversarmos. Para a minha surpresa, minha nonna,
Ella, a quem você conheceu, estava com ele. E lá me foi revelado que os dois
tiveram um caso no passado, ao qual não pôde vingar, uma vez que o homem
era o futuro Capo da máfia italiana e deveria se casar com alguma esposa
escolhida dentro da Famiglia. No entanto, vovó engravidou do meu pai e
deixou Giuseppe sem que ele soubesse do seu primeiro filho. Quando me viu,
ele reconheceu a semelhança consigo mesmo quando jovem. Ao saber meu
sobrenome, investigou tudo, chamou minha avó e exigiu um DNA.

— Puta que pariu, Ezra! Que história! Nós estamos no Brasil! Há


máfia aqui?

— A máfia está em toda parte, mio angelo, mas não fazemos muito
aqui. Sou só um empresário e, se necessário, cobro os devedores das casas de
jogos do Stefano quando ele não está no país, mas sob o conhecimento do
chefe do tráfico de onde o devedor vive. — Dá de ombros. — Nós trazemos
as drogas para cá, é basicamente isso.

— O DNA te colocou na máfia. — Sussurro.

— A máfia está em meu sangue antes que eu soubesse e eu nunca


cogitei estar fora depois que descobri.
CAPÍTULO 3

E daí que você pode ver o lado mais obscuro de mim?

Ninguém nunca mudará esse animal que eu me tornei

Ajude-me a acreditar que esse não sou eu de verdade

Three Days Grace - Animal I Have Become

Ainda parece difícil para mim acreditar que Ana está de volta em
minha casa, em seu quarto. Desde que a perdi, sempre que entro em situações
onde há mulheres precisando de ajuda, um maldito instinto de proteção se
apossa de mim e acabo me metendo. Não ia sair do carro ontem a noite, Luigi
daria conta de cuidar do devedor, ele sempre dá, com seus quase dois metros
de altura, músculos exagerados e sorriso doentio. Entretanto, quando a ouvi
esbravejando, acreditei que a mulher estava lutando contra meu segurança e
Luigi não é conhecido por seu temperamento fácil, apesar de estar sempre
com o ar debochado, é conhecido por preferir matar com facas para ver a
morte encontrando o rosto da vítima. Então a vi. Ela estava sobre o homem, o
atacando, mas seu rosto estava virado para a porta. Pude vê-la, ver seus olhos
azul bebê profundos, aquela cor única, que eu reconheceria em qualquer
porra de lugar. Os cabelos escuros a fizeram parecer mais angelical do que
antes, pois acentuaram sua pele branca e imaculada. A procurei por anos e
não a encontrei e, novamente, por intermédio do destino, ela voltou para os
meus cuidados.

Não é mais a adolescente que costumava ser, seu corpo adquiriu


curvas, seu rosto parece o mesmo de antes, mas a ferocidade de antes, parece
mais evidente agora. Ana é uma lutadora. Uma vítima da vida que não
paralisa sob as circunstâncias, mas que faz as circunstâncias se curvarem sob
ela.

Seus olhos agora, depois da minha confissão, parecem assustados.


Por mim. Pelo rumo que minha vida tomou.

— Você parece assustada. Você não vai ter que lidar com a máfia.
Estou aqui no Brasil e não entrei para esse meio. Sou um neto bastardo, meu
avô teria muito trabalho para convencer seus homens a me aceitarem. A
máfia é cheia de regras e tradicionalismo. Imagine se os outros homens feitos
inventassem de aparecer com seus filhos bastardos exigindo cargos? — Digo
para tranquilizá-la, e também porque é a verdade.

Estou envolvido em sujeiras até o pescoço, mas o meu vínculo com


eles é liberal. Não comando nada, não preciso fazer o que eles querem,
tampouco me curvar sob as regras deles. Contudo, Giuseppe me deu carta
branca para que eu use os serviços da máfia sempre que precisar. Stefano já
me dava essa carta branca, mesmo sem saber que éramos primos, já tínhamos
um laço incontestável de amizade.

— Não me importo de lidar com a máfia. É que... Você mudou.

— Você fugiu. — Minha voz soa acusadora.

Se eu me meti com toda essa porra, foi para encontrá-la. Desde que a
salvei, nutri proteção e responsabilidade. Fiquei louco quando ela
desapareceu. Matei dois de meus homens com minhas próprias mãos,
acreditando que tivessem feito mal a ela.

— Eu tive medo, Ezra!

— Você não tinha o que temer. Eu te protegeria de qualquer coisa.

— Não de si mesmo! — Ana rebate. — Melina não me disse aquilo


uma ou duas vezes, foram várias vezes. Tive medo de você se cansar de mim,
não que abusaria de mim... Mas que ela conseguisse fazê-lo se livrar de mim
quando vocês se casassem. Como eu ficaria? Preferi agir por mim mesma.

— Você foi estúpida. — Rosno, a raiva por Melina ter sido a


causadora de toda essa merda me consumindo. — Você não confia em
qualquer merda que dizem por aí, ouviu bem? Você confia em mim. Só em
mim.

— Sim, papai. — Ana zomba.


Essa menina não tem limites.

— Nonna está vindo da Itália para ficar com você. Sei que você a
adorava e ela sente sua falta. Em breve ela estará aqui.

— Senti falta da nonna. — Comenta.

— Há roupas para você no closet, compradas essa madrugada. Gilda


as arrumou, mas depois você pode sair para comprar de acordo com seu
gosto. A propriedade está rodeada de seguranças, portanto, não tente qualquer
gracinha. Você está livre para ir onde quiser, contanto que me avise antes e
um dos meus homens a acompanhe.

— Resumindo, sou uma prisioneira de luxo. — Retruca, cruzando os


braços sobre o peito. — Eu tinha um trabalho, sabia? Estava conseguindo ter
uma profissão legal, juntar dinheiro para comprar uma moto... Eu... Não
quero ficar presa aqui às suas custas.

— Com o que você trabalhava? — Pergunto, ignorando sua


reclamação.

Ana levanta-se, animada, e me mostra suas unhas. Faço uma careta,


de incompreensão, então ela começa a explicar que são feitas com um gel
esquisito, que cola nas unhas. Não entendo nada do que ela diz, mas suas
unhas são bonitas de qualquer maneira. Entretanto, a deixo falar e falar,
mesmo que nada faça sentido para mim. Guardo na mente para falar com
Gilda — a antiga babá de Ana, que permaneceu comigo, mesmo depois que a
menina fugiu — para pesquisar sobre isso mais tarde.

Ana se afasta, parecendo mais relaxada depois de me contar sobre sua


profissão. Ela, realmente, gosta do que fazia e não posso privá-la disso.
Quando vai para o banho, me despeço e aviso que não estarei por aqui
durante o dia.

Tenho contas para acertar.

— Senhor Cattaneo... Pensei que o senhor não vinha hoje, pois não
chegou no horário de costume. — Alessandro Espíndola, o gerente do meu
clube Hot Cattaneo diz ao me ver passando pela área do bar.

São pouco mais das dez da manhã, mas dou a volta no balcão e encho
um copo com meu uísque preferido e bebo um gole generoso. Só olho para
Alessandro e dou um aceno com a cabeça, afinal, não tenho o que lhe dizer.
O clube é meu. Eu chego a hora que eu quiser. Foda-se os pensamentos dele.

— Onde está Melina? — Pergunto depois de finalizar o uísque.

— Cuidando do segundo andar. — Ele responde.

Bato o copo no balcão antes de virar a caminho dos elevadores, mas


olho para Alessandro sobre o ombro por um minuto.

— Procure por uma nova produtora de eventos que possa lidar com o
que Melina lida aqui.

— Melina será dispensada? — A marica fofoqueira que habita nele


não consegue reprimir a pergunta.

Recuo, virando-me e travando nossos olhares, o meu, sem nenhuma


animosidade, o seu, como uma presa acuada. Próximos, fica evidente a
diferença em nossas alturas. Alessandro deve ter vinte centímetros de altura
menos que meus 1,89.

— Saiba se colocar no seu lugar, Alessandro. Eu não dispenso


funcionários, eu me livro deles. É melhor que você se mantenha longe dessa
posição. — Rosno em seu rosto e me afasto, o deixando acuado no salão
perto do bar.

Alessandro é um homem confiável, e eu não pretendo me livrar dele,


mas há momentos que ele extrapola em sua curiosidade. Por isso, mantenho-o
sob rédea curta. Não somos amigos. Ele é meu funcionário e sabe das minhas
falcatruas, as quais não envolvem meu clube de sexo. O Hot Cattaneo é
limpo, sem mácula da máfia. Eu o criei antes de matar Reinaldo e reinei sem
precisar de subterfúgios. Me orgulho desse clube e das proporções que ele
ganhou. É o maior clube de sexo do Rio de Janeiro, sendo localizado no
Recreio dos Bandeirantes, cem por cento privativo, com entrada de aparelhos
proibidos, mantendo a descrição dos associados, que são em maior parte
políticos, figurões e famosos com fetiches que não podem ser revelados. A
construção é uma mansão enorme, protegida por portões de ferros que se
abrem, automaticamente, para associados que mostram o cartão na entrada.
As divisões são feitas em três andares, começando pelo primeiro, que é como
um bar comum, com decoração, música sensual e strippers, há também os
quartos para casais convencionais, que só estão buscando um ambiente
diferenciado, mas não querem se aventurar nos andares superiores. No
entanto, na parte de trás, há a área de voyeurismo. O segundo andar é onde
rola swing para quem curte trocar e experimentar com outros parceiros. E no
terceiro andar, meu preferido, é para os adeptos ao BDSM.

Em muitas vezes participo das cenas abertas, fazendo papel de


dominador e fodendo alguma submissa na frente dos associados que gostam
de assistir. Não sou um dominador, mas desde que minha vida tirou todo o
domínio das minhas mãos, tenho fodido mulheres ferozmente como minhas
submissas, para me sentir no controle de alguma merda.

Quando o elevador me deixa no segundo andar, procuro por Melina


nos quartos privados, os quais ela cuida das decorações. A mulher foi meu
braço direito desde o início, se jogando para cima de mim, e nunca
conseguindo nada, uma vez que consigo controlar meu pau e nunca quis um
relacionamento. O fato de ela ser uma empregada eficiente, me manteve
longe dela, pois sabia que o casual jamais funcionaria, ainda mais com sua
paixão evidente. O fato de ela ter jogado Ana para longe de mim, está me
consumindo.

— Ezra! — Ouço sua voz atrás de mim, saindo de um dos quartos.


Viro-me lentamente para encontrar seus cabelos vermelhos tingidos
balançando e seus seios saltando sob o terninho rosa apertado. — Veja esses
novos lustres que escolhi para esse andar. Estão perfeitos!

Quando percebe que estou caminhando lentamente em sua direção,


começa a recuar alguns passos, até que bate de costas contra a parede. Meu
olhar deve dizer algo, pois Melina parece amedrontada, se seus olhos escuros
arregalados querem dizer algo.

— Ana voltou. — Digo ao estar de frente para ela. — Eu sempre me


perguntei porque ela fugiu. — Me inclino para minha boca ficar perto de seu
ouvido e digo, como um segredo, baixinho: — Matei dois homens
acreditando que tinham feito mal à ela. — Então forço uma risada sombria.

— Oh, meu Deus! Ezra, eu... Não... Por favor... Ela está mentindo...
— Melina engasga, tentando passar por mim, mas seguro seu pescoço e bato
sua cabeça contra a parede, só para amedrontá-la. Eu não bato em mulheres,
felizmente para ela. — Só queria que você me notasse... Não foi por mal. —
Chora.

— Me diga tudo, Melina. Me diga a verdade e terei misericórdia de


você. Dio sabe que não sou um homem misericordioso, mas fui à missa de
domingo e, veja só, encontrei mio angelo dias depois. Estou sendo
abençoado, então serei bondoso.

Seus olhos faltam pouco pular de órbita, e eu sorrio maldosamente,


gostando do seu terror.

— Eu... Eu via como você se preocupava com ela. Como a amava...


— Minha mão aperta sua garganta com tamanho absurdo. Como ousa? Ana
era uma criança! — Por favor! — Implora, tossindo, o rosto vermelho, então
afrouxo o aperto. — Eu queria sua atenção, Ezra... Sempre quis. E a menina
tinha, você não ficava no clube até tarde, sempre voltava para ela... Para casa.
— Se corrige quando nota meu olhar.

— Eu sou um doente, mas sabe? Você é mais. Ela tinha malditos


dezesseis anos quando fugiu! Eu sou treze anos mais velho e ela era uma
criança. Como ousa achar que eu tinha interesse desse tipo numa menina? —
A solto, pois ela me dá nojo. — Eu não machuco mulheres, Melina, e essa é
sua sorte para sair daqui com vida. Não apareça mais na minha frente, ou vou
vê-la como o inimigo que você é, não como uma mulher. Estamos
conversados?

Para a minha surpresa, ele se joga aos meus pés, agarrando minhas
pernas e implorando.

— Meu emprego é tudo o que tenho! Me deixe ficar! Não tire tudo de
mim, Ezra! Por favor!

— Eu era tudo o que Ana tinha. Você tirou isso dela. — Rosno. —
Agora, fora.

Me inclino para tirar seus braços das minhas pernas e me afasto, a


deixando chorar. Não tenho pena. Nem um pouco.

Pego meu celular quando chego em meu escritório no terceiro andar e


ligo para Stefano.

— Que confusão seu anjo nos trouxe dessa vez? — Atende, já


perguntando, em nossa língua natal.
Sorrio, ele não está errado em saber que quando Ana está no meio,
confusão é garantida.

— Eu não mato mulheres, mas há uma que precisa ser tirada do


caminho.

— Diga-me o que precisa e eu farei, primo. Quer dizer, se for aí no


Brasil, meu pupilo Luigi fará.

— Certo. Vou falar com ele.

E assim, a sentença de morte de Melina foi assinada e eu perco as


contas de quanto sangue tenho em minhas mãos por Ana.
CAPÍTULO 4

E toda verdade em uma garota é preciosa demais para ser roubada


dela

É apenas o jeito que as coisas são

E talvez isso nunca irá mudar

Mas eu tenho uma mente para mostrar minha força

Fall In Line - Christina Aguilera ft. Demi Lovato

Depois de cuidar da minha higiene matinal, sigo até o closet e vejo as


demasiadas peças de roupas que Ezra providenciou. Dinheiro move o mundo
realmente. Tudo é tão fácil quando se tem nome, dinheiro e prestígio. Ezra
Cattaneo tem tudo isso, e mais um pouco. Pode ser superficial, mas depois
dos últimos anos onde dois anos passei vagando de um lado para o outro, e os
outro cinco foi me adequando a uma nova vida, me sinto grata por estar aqui.
Sei que disse à ele que iria fugir na primeira oportunidade, mas não vejo
motivos para ir para longe da única pessoa que importa para mim.

Escolho um vestido azul bebê, como meus olhos, de verão, e


sandálias rasteiras de tiras. Volto para o banheiro e tomo um longo banho, me
deliciando e relaxando sob os quatro jatos das duchas fortes. Me encaro no
espelho, após me secar e me vestir, olhando meus cabelos, lembrando-me de
como era quando era loira. Parecia mais jovem, a cor escura me faz parecer
mais velha, então irei mantê-la. Seco, superficialmente, os fios para dar
volume, passo meu batom vermelho no lábio superior e espalho pelos lábios,
deixando-me com alguma tonalidade além da minha palidez e olhos claros.

Olho pela janela do quarto, vendo a bela manhã lá fora. Procuro meu
celular na mochila e constato que já passam das onze horas. Começo a me
sentir solitária aqui e sempre que isso acontece, a voz daquele desgraçado soa
em meus ouvidos chamando meu nome. Não Diana, como escolhi ser
chamada quando Ezra me deu a opção de ter documentos falsos, não Ana,
como Ezra nunca deixou de me chamar. O nome que odeio ouvir porque me
lembra daquela voz asquerosa e do olhar nojento de Reinaldo.

Me apresso para sair do quarto em um rompante e me surpreendo ao


ver nonna Ella no corredor.

— Bambina! Você cresceu! — A senhora italiana e robusta de cachos


grisalhos se apressa para me apertar o máximo que pode em seus braços. -
Você deixou meu neto louco. Mais que o habitual. — Murmura, sem me
soltar. Eu também a abraço. Senti falta de seu jeito amoroso e borbulhante.
— Oh, Dio mio! Como cresceu! É uma bela mulher. — Nonna,
descaradamente, aperta minha bunda e assovia. — Está bunduda!

— Nonna! — Dou um pulo, mas estou rindo.

Ela me olha com ternura em seus olhos verdes, iguais aos do neto.

— O rostinho ainda é de bambina. Como um angelo. E o cabelo novo


evidenciou isso. Oh, querida! Ezra precisava tanto de você nos últimos anos.
Meu neto se perdeu... — Sua áurea feliz se esvai ao citar Ezra. — Ele me
ligou assim que vocês chegaram em casa. Entrei em um de nossos jatos antes
da meia noite e cheguei aqui há pouco menos de meia hora. Tomei banho e
vim vê-la. Ezra não tem mais aquele carinho por mim.

Agora sou eu quem a puxo para os meus braços. Nonna é um pouco


mais baixa do que eu, que sou nanica também.

— Ele me contou o que aconteceu com a senhora e o Giuseppe. — A


empurro um pouco, de brincadeira. — Que isso, hein, nonna? Pegando o
mafioso na encolha!

Ela gargalha gostoso e começa a me puxar pelo corredor. Descemos


as escadas e logo Gilda, que cuidava de mim quando era mais jovem, aparece
e me enche de carinho. Está na casa dos cinquenta anos agora, muito vaidosa,
com seus cabelos tingidos de preto e olhos escuros, sempre com um
delineado de cor diferente, combinando com o vestido rodado que usa. É
animada, amorosa e alegre.

— Oh, garota! Eu senti sua falta! Aquele italiano rabugento só me


manteve aqui porque sabia que acharia você. Mas e agora você não é mais
criança, vou cuidar de quem?

— Dos filhos dela com Ezra, oras! — Nonna rebate, como se fosse
óbvio.

Pela forma que meu rosto esquenta, tenho certeza que estou vermelha
feito um tomate. Nonna não tem limites!

— Minha paixonite por Ezra já passou, é melhor que a senhora pare


de sonhar também. — Me inclino e sussurro em seu ouvido: — Mafiosa.

Corro de perto antes de levar um tapa afiado da senhora esperta. Nós


seguimos para a copa, com as duas tagarelando, tomamos café da manhã e eu
me sinto bem, como há muito tempo não sentia. Evitava pensar nessas
pessoas, porque assim parecia mais fácil seguir longe, mas aqui há uma
família para mim, há pessoas que gostam de mim sem esperar nada em troca.
Quando Gilda recebe uma ligação particular e nos deixa, nonna conta sua
história.

— Giuseppe e eu éramos apaixonados demais, nunca amei meu


falecido esposo como o amava. Até somos capazes de amar outra vez, sabe,
mas tem amores que marcam de tal forma, que você sobrevive sem ele, mas
nunca o supera. Nunca superei aquele homem. Ele queria me escolher à
máfia, mas nós seríamos caçados. Giuseppe era filho do Capo e tinha que
seguir seus passos, uma vez que era o primogênito. Vivemos nossa paixão em
segredo e quando ele teve que escolher, eu o deixei. Descobri que estava
grávida e não queria meu filho naquela vida. Os pais maltratam os filhos para
fazê-los fortes, nunca quis que meu filho crescesse naquele meio. Nunca. Ele
se casou quando nosso filho fez cinco anos. Giuseppe ainda esperou por mim,
me procurou, mas escondi bem nosso filho e fingi estar bem com outros
homens. Ele me deixou livre, mas se tornou o homem duro que a máfia
precisava. Se casou por conveniência, se tornou Capo e permanecemos longe
até seis anos atrás quando, por obra do destino, Ezra esteve perto dele. O
sobrenome Cattaneo não lhe passaria despercebido e ele sempre foi um
falcão. Ezra entrou nesse mundo, por sorte, não por inteiro, mas se tornou o
orgulho de Giuseppe, o neto da mulher que ele amou, mesmo que hoje me
trate com desprezo. Nosso filho é a sombra de um homem, então não lhe
interessa, mas a força de Ezra, sim.

— Porque ele ainda ama a senhora. — Murmuro, tocada com toda a


história. — Espero que Ezra não se afunde mais nesse mundo. O lado bom é
que ele não pode se envolver oficialmente, ou não poderia sair.

— Ezra me culpa por ter escondido isso da nossa família. Nunca foi o
mesmo comigo depois de ter me encontrado no escritório de Giuseppe e a
verdade ter sido derramada aquele dia.

— Nonna... — Seguro sua mão por sobre a mesa. — Vou estar aqui
para dar carinho para a senhora, não vai sentir falta daquele chato. — Brinco
para aliviar o clima, mas em meu íntimo sei que vou encher o saco de Ezra
para que perdoe sua nonna.

Ela só quis proteger sua família de uma realidade brutal.

— Minha santa Rita de Cássia!


Ouvimos o grito de Gilda e ambas levantamos para ver o que está
acontecendo. No entanto, uma mulher aparece na copa antes que possamos
sair. A reconheço imediatamente. Melina. Ela parece louca, com rímel
escorrendo pelo rosto evidenciando que esteve chorando, os cabelos
alvoroçados e com borrados de batom vermelho em volta dos lábios. Nunca a
vi dessa maneira.

— O que você está fazendo aqui? — Pergunto, tentando fingir calma


que não há em mim.

Não sou ingênua. Ela não está aqui para uma visita cordial. Ezra a
confrontou sobre mim. Tenho certeza.

— Eu trabalho com Ezra há anos... Você sabe. — Sua voz soa calma
e o som de seus saltos começa a ecoar pelo piso de porcelana enquanto ela
caminha de um lado para o outro. — É só dizer aos seguranças que vim
buscar algo em seu pedido e me deixam entrar. Eu sei até os códigos de
acesso...

— Vá direto ao ponto, Melina.

Tudo o que passei durante os últimos anos surgem em minha mente,


o ódio dessa idiota crescendo dentro de mim. Sei que tenho problemas com
raiva. Quando ela surge, eu preciso agredir para fazê-la esvair e agora só
consigo imaginar o rosto de Melina sendo esmurrado por meus punhos.

— Ezra me tirou tudo por sua causa! — Ela grita, mostrando sua
verdadeira face.

Eu rio, sem qualquer humor. Olho para trás e sinalizo com o queixo
para a outra porta, para que nonna saia daqui. Então avanço na mulher alta à
poucos passos de mim.

— Você quer falar sobre ficar sem tudo, sua cadela?! — Grito, já em
seu rosto, então meu punho voa em sua face.

Melina grita, mas não recua. Ela avança em mim, tão irada quanto eu.
No entanto, ela não sabe porra nenhuma sobre o que é ficar sem tudo. Eu
lembro de todas às vezes que precisei me defender, porque as pessoas me
julgam como presa fácil ao olhar para o meu rosto. O que elas não sabem é
que sei me manter segura. Agora eu sei. Ezra me ensinou. Soco a mulher sem
piedade. Enquanto ela tenta me parar com arranhões e puxões de cabelo,
como a maioria das mulheres presumem que seja brigar, eu a estou
machucando de verdade.

Um estrondo na porta chama a minha atenção, mas não paro de


desferir socos em Melina. Seu sangue escorre por seu rosto e minhas mãos
estão ficando sujas e machucadas, mas foda-se, eu preciso de muito mais do
que isso para me encolher num canto.

— Pare, porra! — O segurança da noite passada surge em meu


campo de visão e, com adrenalina correndo em minhas veias, continuo
socando para acertar seu rosto, mas ele me para sem esforço.

— Desgraçado! Você não sabe o que ela fez comigo... Me solta!


— Eu sei que Cattaneo me colocou atrás dela para matá-la. Não a
peguei a tempo, mas é fim de linha para ela, tigresa, então acalme-se.

Recuo, acalmando a respiração e encarando seu rosto com aquele


sorriso de tubarão. O homem é lindo e horripilante ao mesmo tempo, quem
consegue ter tais características em conjunto?

— Me deixe matá-la. — Peço, olhando Melina se contorcendo e


chorando no chão. — Foi a minha vida que ela fodeu.

As sobrancelhas do brutamontes sobem, mostrando surpresa, mas ele


esconde a expressão rapidamente, assumindo a mesma de deboche de antes.
Ele pega algo em seu bolso, seu celular, então clica em algumas coisas e
coloca no viva à voz quando começa a chamar. A voz de Ezra soa no
segundo toque:

— Ezra Cattaneo.

— Chefe, as coisas perderam o rumo. Quando cheguei na Melina, ela


já estava em sua mansão e a sua garota acabou com ela. E quer finalizar.

— Não. — A voz de Ezra é dura ao negar e sem hesitação.

— Por que não? — Rebato, irritada. — É algum código de honra em


que você pode ser um assassino e eu, não?

— Se continuar sendo uma espertinha, vou cortar a sua língua. —


Ezra rosna. — A resposta é não. Luigi? — Chama o segurança, que logo
responde. — Leve Melina, faça o que tem que ser feito e fique na mansão.

— Não preciso de babá! — Grito, irritada, e saio andando para o


corredor de acesso que nos tira da copa. Antes de sair, cuspo em Melina e
olho para Luigi. — A faça sofrer. Ela não poupou uma adolescente do pior
por puro despeito.

Luigi me encara com algo, sem o deboche habitual e acena com a


cabeça. Subo as escadas às pressas e corro para o meu quarto. Tranco a porta,
me dispo e entro no banheiro, sentindo a necessidade de me esfregar para
tirar a sujeira que há em mim. Eu não sou boa. Não tenho pena das pessoas,
mas nenhuma delas tiveram pena de mim. Então eu não deveria me sentir mal
por não me sentir mal pelo fim delas.

Ezra não me deixa sujar as mãos, mas o sangue que escorre pelas
dele, sempre irão resvalar em mim, porque, de alguma forma, sempre é por
mim que suas mãos ficam sujas.
CAPÍTULO 5

Eu não digo uma palavra

Mas mesmo assim, você tira meu fôlego e rouba coisas que eu sei

Lá vai você, me salvando no meio da multidão

Fogo em chamas, somos normalmente assassinos

Sam Smith - Fire On Fire

Uma semana passou desde que Ana voltou para casa. Nós dois nos
evitamos mutuamente. Eu, com a mente muito atordoada, preferi focar no
trabalho. Com Ana de volta, coloquei na cabeça que preciso me afastar da
máfia. A última vez que usei os favores do meu primo, foi para apagar
qualquer rastro do que mandei Luigi fazer com Melina. Depois disso, evitei.
Porque sei que esse mundo não é cor-de-rosa e uma hora toda a merda volta
contra sua cara. E se há a chance de voltar contra a minha, então Ana estará
em perigo e eu não a quero em perigo. Stefano não me pediu favores e deixou
Luigi ao meu dispor, não o pedindo favores também. Luigi Deluca é um
homem da máfia, não um segurança, então sei que cedo ou tarde não vou
poder contar com sua fidelidade. Ana me evitou porque esteve ocupada com
suas coisas. Nonna a adora e é recíproco, de forma que as duas passaram seus
dias como duas amigas do ensino médio, fofocando, fazendo compras e
falando da minha vida. Pedi a Gilda que procurasse saber sobre a questão da
estética e beleza que Ana gosta de lidar. Suponho que esteja sendo um
sacrifício manter para si, já que a mulher é uma tagarela. Entretanto, deixei
um sutil aviso do que aconteceria com sua língua caso ela falasse demais.
Jamais faria algo assim com Gilda, no entanto, foi só para mantê-la quieta.

— Puta que pariu! Eu vou morrer! Socorro! — Ouço os gritos de Ana


vindo do final do corredor, onde fica seu quarto.

Passo a mão na minha arma, que fica na primeira gaveta do criado


mudo, e corro em direção ao seu quarto. O dia mal amanheceu, portanto,
estou usando apenas minha boxer, mas se Ana está em perigo, eu vou matar
quem quer que a esteja amedrontando. A mulher não é medrosa. Algo grave
está havendo. Chuto a porta do seu quarto, que bate contra a parede e faz um
estrondo, fazendo-a se calar e me olhar com esperança.

Ela está em pé em cima da cama. Seus grandes olhos azuis estão


úmidos e seus cabelos moldando perfeitamente seu rosto, assim como a
franja, que lhe faz parecer mais menina do que é. Por algum motivo infeliz do
caralho, meus olhos passam para baixo, vendo seu top do pijama, apertado
em seu corpo, deixando em evidência os seios fartos, empurrados contra a
malha fina. Sua cintura fina causa mais efeito ao quadril largo e o short curto
e leve, mal esconde qualquer coisa. As coxas grossas com pequenos pêlos
naturalmente dourados não me deixam desviar o olhar. Em seus pés, há meias
cor-de-rosa, mesmo que não esteja frio. Se há um assassino na porra do
quarto, certamente ele já atirou na minha cabeça com a demora que levei para
agir e estou tendo alguma maldita alucinação pré ida para o inferno. Por que
estou olhando para mio angelo e vendo uma maldita de uma mulher gostosa?
Pisco os olhos, mas quando olho para seu rosto, não há mais medo. É pior,
porra. Ana está olhando para o meu corpo, tão fascinada quanto estive por
ela, mas eu corto a merda, porque isso é ridículo. E a dor no meu pau é um
aviso bem claro de que passei do ponto com a única pessoa que não deveria.
Com a minha menina.

— O que há de errado, Ana? — Pergunto, minha voz soando mais


dura do que gostaria, mas é de mim mesmo que estou com raiva.

— Um sapo... Dormi com a janela aberta, Ezra... Ele tocou minha


perna quando levantei para ir ao banheiro. Foi nojento sentir aquela patinha
pegajosa. — Seus olhos novamente voltam a marejar.

— Você está com medo de um sapo? — A incredulidade em minha


voz evidencia a indignação por ela ter feito esse escândalo por causa de um
bicho inofensivo.

— Por favor. Por favor. Por favor! — Implora. — Tira ele daqui.

— Onde ele está?

Enfio a arma no cós da minha cueca, uma vez que não vou usá-la
contra o pobre sapo. Ana aponta para trás de mim e o vejo na parede. Nem
sequer é um sapo.

— Não é um sapo. — Resmungo.

— É sim!

— Sua pele não é áspera como a de um sapo e suas patas não são
curtas. Sapos são enormes, Ana, e esse é pequeno. Não acredito que fez esse
escândalo por causa de um bichinho desses.

Pego o animal entre meu indicador e o polegar e, como ela andou me


irritando além da conta, me aproximo dela, não perto o suficiente, mas ela já
começa a dar pulinhos histéricos na cama. Eu sorrio.

— É mais fácil nós o matarmos do que ele fazer mal a um de nós. -


Digo e caminho até a janela.

— Você vai libertá-lo? Ele vai voltar e acabar comigo! Como pode
fazer algo assim, Ezra? Lembra da cobra! Você mata!

Ela é insana. Eu libero o bicho quando chego na janela e a fecho para


manter a menina louca em segurança. O vejo pular até estar distante, então
olho para ela, que está de braços cruzados, com um bico enorme e me
olhando com raiva.

— Não haja como uma criança pirracenta. Ele não vai voltar para te
fazer mal. Deve ter sentido calor lá fora e procurou um lugar úmido, só isso.
É isso que esses bichos fazem. E eles comem os insetos. Então, os deixe.

Ana desce da cama e aponta seu banheiro acoplado ao quarto.

— Vá lavar essa mão suja de sapo. — Faz uma careta de nojo.

Em um ato infantil, finjo que vou tocar em seu rosto com a mão suja.
Ela corre para longe, então sigo para o banheiro. Lavo bem as mãos, passo
seu álcool gel e volto para o seu quarto.

— Durma mais. Está cedo.

— Eu te acordei? — Ela pergunta, sentando-se na beirada da cama.

— Não. Costumo acordar cedo para treinar.

— Não falamos sobre isso desde que cheguei, mas posso voltar a
treinar com você? Estou enferrujada.

— As pessoas que enfrentaram sua ira não pensam assim. — Arqueio


uma sobrancelha.

— Para brigar nunca perco o jeito, mas não consegui acertar um soco
no Luigi. — Me olha com aqueles olhos pidões do caralho.

— E por que você queria acertá-lo?

— Por que ele me impediu de continuar batendo na Melina.


Coço meu queixo, pensando. Nunca tive problemas para ensiná-la a
se defender, pelo contrário, sempre achei necessário.

— Certo. Você pode sair hoje para comprar roupas e amanhã a gente
começa com uma hora de treino. Terá que acordar cedo.

— Estou acordada cedo, não está vendo? — Ana não consegue não
agir com esse tom petulante dela por muito tempo.

— Por causa do sapo, que não era sapo. — Pego minha arma sobre o
criado mudo e me encaminho em direção a porta, me sentindo desconfortável
por estar sozinho com ela em seu quarto.

— Não. Na verdade, sempre acordo cedo, às vezes no meio da noite


também. — Sua voz soa baixa, cansada, e isso me faz recuar.

Seu olhar acuado faz uma coisa ruim se instalar em meu peito. Esse
instinto de proteção que foi ligado em mim há dez anos atrás. Por causa dela.

— Por que?

— Eu tenho a impressão que... — Ana olha para o lado e engole


antes de continuar. — Às vezes parece que Reinaldo está me observando e...
— A careta de nojo reflete a minha de ódio e impotência.

Me aproximo da cama e sento-me na beirada. Toco sua mão, que está


mexendo nos fios da coberta e ela olha em meus olhos.
— Eu o mataria de novo. E de novo. Só que se pudesse, o teria feito
gritar. Porra, o teria esfolado vivo e feito comer seu pau de merda. Meu único
arrependimento na vida é não tê-lo feito sofrer como ele merecia.

Uma lágrima solitária rola por seu rosto e ela se joga em mim. Nós
nunca nos tocamos antes. Só durante as lutas. Ana nunca foi de contato e eu,
tampouco. Fico sem jeito, com a arma ainda na minha mão esquerda. Então
com o braço direito, rodeio seu ombro e deixo que ela chore com o rosto
enterrado em meu peito, seus braços em volta da minha cintura. Ouvi-la
chorar, ver a mulher durona, que não abaixa a cabeça, que esmurra quem lhe
fere, que é forte pra caralho, sofrendo faz meu peito se contorcer e meu
estômago embrulhar. Encosto meu queixo em sua cabeça, sentindo o cheiro
dos cabelos lisos em minhas narinas.

Ana se afasta após alguns minutos e me olha. Há um sorriso genuíno


em seu rosto molhado pelas lágrimas.

— Você não precisava torturá-lo. Você fez o que mais importava. Me


libertou. Eu nunca vou poder te agradecer por ter me salvado, por ter me
tornado forte para lidar com o mundo.

Não sei o que dizer, um bolo se forma na minha garganta e só assinto


com a cabeça. Me dói lembrar a maneira como a encontrei quando era uma
criança. Se eu pudesse, cortaria a parte do meu cérebro que guarda a imagem
daquele dia. Levanto-me e a deixo em seu quarto, mesmo agora que sei que
ela é assombrada pelo passado quando está sozinha, e sinta o desejo de não
deixá-la só, o redemoinho agoniado dentro de mim, me leva para o terceiro
andar, na minha academia particular e levo o que parecem horas socando o
saco de pancadas. Não sendo suficiente, ligo para Luigi e nós dois
arrebentamos os rostos um do outro para aliviar minha merda.

— Buongiorno, nonna. — Dou bom dia a nonna quando desço para


tomar café e a vejo sentada à mesa.

— Olá, querido. — Ela me olha com a esperança de mais, de contato,


mas apesar de grato por sua atenção à Ana, ainda sinto as adagas da traição
por ela não ter contado a verdade sobre meu avô. — Como está a menina?
Ouvi seus gritos mais cedo, mas sabia que você ia vestir sua armadura
brilhante e ia salvá-la.

— Era uma rã ou uma perereca, não sei ao certo.

Nonna sorri e então minha atenção é voltada para a foto em suas


mãos. Me aproximo e ela a vira para mim, deixando-me ver o casal de
jovens, aparentemente nos anos sessenta. Reconheço a mulher de algum
lugar, mas não consigo lembrar.

— Somos Giuseppe e eu.

— Giuseppe sorrindo? — Pergunto, surpreso, visto que o velho é frio


como gelo.

— Aqueles tempos as coisas eram diferentes. — Nonna Ella suspira.


— Nós éramos muito apaixonados, Ezra. Um amor que quando você
encontra, não deve deixar passar. Fui feliz na minha vida, mas nunca o
esqueci. Já Giuseppe, se envolveu na máfia cada vez mais e não houve volta
para ele, não houve um refúgio. Eu estaria com ele se fosse seguro fugir, mas
o pai dele nos caçaria. Giuseppe seria um traidor e ele amava a máfia, apesar
de tudo. Ele não podia casar com uma estranha, como eles chamam as
mulheres de fora do mundo deles...

— Nonna... — Tento interromper, porque sua história de amor pode


ser verdadeira e sofrida, mas para mim o que importa é ter sido feito de idiota
por uma vida toda.

— Não, me escute. Nunca empurrei você ao seu limite, mas agora há


Ana e você vai concordar comigo. Você a protege desde que a conheceu e eu
protegi seu pai desde que soube de sua existência. Não importa que tipo de
amor seja, Ezra, a gente sempre vai querer proteger àqueles que amamos. Eu
optei fugir para seu pai não fazer parte daquela vida e não me arrependo.
Você protegeria Ana do mundo se soubesse que ele poderia feri-la em algum
momento. Eu sei disso.

Não nego, porque é tão verdade que me afastei das coisas da máfia
durante essa semana e não pretendo voltar atrás. O lado bom de estar por trás
dos bastidores, só recebendo e fazendo favores ocasionalmente é esse. Por
um lado, compreendo minha nonna, mas ainda é difícil voltar a ser o mesmo.
Quer dizer, não sou o mesmo em nenhum aspecto da minha vida. E nunca
mais vou ser.
CAPÍTULO 6

Nós somos belos como diamantes no céu

Você é uma estrela cadente, eu vejo

Uma visão de êxtase

Quando você me segura, sinto-me viva

Nós somos belos como diamantes no céu

Eu logo soube que nos tornaríamos um só

Rihanna - Diamonds

Desde o momento em que Ezra me salvou do sapo, não consegui tirar


seu corpo da minha cabeça. Nunca o vi sem roupa, então minha atenção foi
totalmente capturada por suas pernas firmes, o pacote generoso na boxer, os
gominhos no abdômen definido, peitoral firme e másculo. O que mais me
atraiu foi seu braço esquerdo coberto de tatuagens tribais do começo ao fim, e
uma data em números romanos sobre seu peito esquerdo. O homem é
incrivelmente lindo e me lembrou a época, anos atrás, em que nutria uma
paixão adolescente por ele. A diferença, no entanto, é que nunca senti um
rebuliço em meu estômago ao observá-lo, tampouco tive pensamentos
sexuais. Com os anos de abuso que vivi na minha infância e pré adolescência,
jamais olhei para qualquer homem com desejo. Pensar em sexo sempre me
causou calafrios. Não hoje, não com Ezra. Por várias vezes depois que saiu
do meu quarto, me peguei pensando em como seria e as imagens formadas
em minha cabeça, somado ao meu pouco conhecimento sexual, que adquiri
através de vídeos e livros, me levaram a querer me tocar pela primeira vez. E
eu o fiz. Pode parecer um pecado terrível, mas eu gostei de imaginar que
eram os dedos de Ezra, gostei de fechar os olhos e pensar em sua língua
passando pelo meu corpo. Só de lembrar, fico quente outra vez.

Sei que Ezra jamais me verá dessa forma, uma vez que para ele sou
como uma irmãzinha caçula a quem ele protege, cuida e dá ordens. Todavia,
não pude me impedir de sonhar acordada e tenho a ligeira impressão que não
será a única vez.

Pela primeira vez, o abracei. Me joguei sobre e chorei a gratidão que


sempre senti. Quando ele me achou, dias atrás, falei que iria embora na
primeira oportunidade, mas não vou fazer isso. Ezra soa como lar para mim.
O único lar de verdade que já tive.

— Bom dia, Gilda! — Cumprimento minha antiga babá e recebo um


beijo afetuoso na bochecha. — Viu a nonna?

Ela olha para mim daquele jeito engraçado dela, com os olhos
delineados com a cor lilás, assim como seu vestido estampado.

— Sem querer fazer fofoca, Aninha, mas a dona Ella recebeu uma
ligação, ficou com os olhões verdes arregalados e disse que precisava sair.

— Hum, que estranho. Será que foi o Ezra?

— Acredito que não. Quando cheguei essa manhã, os dois estavam à


mesa com cara de enterro.

— Bom dia. Tem café? — A voz de Luigi finaliza nossa conversa.

Gilda corre para servi-lo, enquanto eu retribuo o bom dia e me


encaminho para preparar meu próprio café da manhã. Geralmente, estou
sempre olhando feio para Luigi, porque não gosto do seu jeito debochado. No
entanto, ele parece me respeitar mais desde que o pedi para fazer Melina
sofrer. Deve ser algum tipo de valor mafioso. Não me importa, mas agora
quero saber algumas coisas.

— Luigi?

— Sim? — Me olha sobre a caneca de café, porque ele se recusa a


usar uma xícara minúscula.

— Onde fica o clube de Ezra?


— Pergunte à ele, docinho.

Me seguro para não xingá-lo. O desgraçado percebe e sorri,


debochado. Meu desejo é jogar essa faca, que estou espalhando manteiga nas
torradas, em seu olho.

— Eu só quero saber como é lá. Ele não me levava antes porque era
menor de idade, mas agora sou maior. Poderia fazer uma surpresa.

— Tenho certeza que o chefe ia ficar surpreso pra caralho com você
aparecendo lá. A surpresa depois seria minha quando ele apontasse sua arma
na minha cabeça por levar a garota dele lá.

— Não sou garota dele.

— Está certa. Você é o anjinho do Ezra Cattaneo. — Seu sorriso de


tubarão aumenta.

— Você é um cuzão. — Cuspo, com a paciência esgotada.

Isso o faz gargalhar.

— Gosto de você, menina, mas Cattaneo me mataria se a levar lá sem


falar com ele.

— Então ligue para ele e peça. — Insisto.


— Peça à ele quando ele chegar. É melhor. — Incentiva.

Bufo, derrotada, e me sento à mesa para comer minhas torradas.

— Suco de laranja, querida? — Gilda oferece, passando com a jarra.

Aceito e ela serve na taça para mim. Não deixo de agradecer em


pensamentos pela mesa enorme e farta, com o melhor para eu escolher, mas
também não consigo não pensar nas pessoas que precisam. Com tanta fartura
para uns, ainda há pessoas com pouco, grande parte com nada.

Depois de tomar café da manhã e ajudar Gilda com a louça, o que a


faz quase surtar, volto para o meu quarto e respondo algumas mensagens de
clientes e Kelly. Isso me faz sentir falta de trabalhar e quero continuar indo.
Minhas próprias unhas já estão precisando de manutenção. Preciso conversar
com Ezra.

Para a minha surpresa, Ezra aparece em casa na hora do almoço. No


entanto, nonna permanece sumida.

— Você sabe onde está sua nonna?

— Provavelmente se encontrando as escondidas com Giuseppe.


Soube que ele está no Brasil. — Sua careta de desgosto me faz rir.

— Está com ciúmes da vovó?

Ele rosna para mim, eu rio mais ainda.


— Eu comprei algo para você. — Ezra muda de assunto. — Quando
acabarmos de almoçar, quero te mostrar. Está na garagem.

Antes que ele finalize a última sílaba, já estou de pé, correndo em


direção a garagem. Posso estar imaginando, mas acho que ouço Ezra rir atrás
de mim.

Mal posso acreditar quando vejo uma Honda CB 500X com o tanque
na cor azul, no tom das paredes do meu quarto, como meus olhos. Me
aproximo com a mão na boca, extasiada. Comentei com ele, que estava
trabalhando e juntando dinheiro para uma moto, mas não disse que sonhava
com essa noite e dia. Deus! Esse homem é louco! Passo a mão no tanque
azul, é perfeita. Viro-me para encontrar Ezra atrás de mim, olhando minha
interação com seu presente, suas mãos nos bolsos da calça social. Tão lindo e
imponente, parecendo tão intocável.

— Por que quando pintou meu quarto escolheu azul bebê e agora a
mesma cor com a moto?

Ezra me encara e dá um passo a frente, olhando a moto.

— É a cor dos seus olhos.

Não pergunto mais nada, porque sei que não vou arrancar nada dele.
Gostaria de saber porque sempre a cor dos meus olhos, mas deixo para outro
momento.
— Como sabia que era essa que eu queria?

— Olhei nos dados de busca do seu navegador. Só havia essa moto


em suas pesquisas.

— Invadiu minha privacidade! — Acuso.

— Não olhei nada, só os dados de pesquisas.

— Poderia ter visto os nomes dos filmes pornôs que eu assisto. —


Arqueio a sobrancelha, em desafio.

Ele faz uma careta.

— Você não deve assistir essas coisas.

— Não sou uma criança, Erza. Você deveria perceber isso.

— Não disse nada disso. Pornografia é irreal e exagerado. Vai te dar


uma ideia deturpada de como são as coisas.

É a primeira vez que falamos sobre o tema sexo, mesmo que seja tão
lógico, do jeito Ezra de falar.

— Então, como devo ter ideias? — Provoco.

— Por que nós estamos falando de pornografia quando você deveria


estar testando o seu presente? — Ele passa a mão no queixo barbado,
demonstrando a irritação.

— Porque eu gosto de ver você com raiva. — Sorrio e vejo seu lábio
curvar brevemente, mas ele é osso duro de roer e não me dá o gostinho de vê-
lo sorrir.

— Você já pilotou uma moto de grande porte?

— Não. Só menores, mas dá no mesmo. Sou corajosa. Cadê a chave?

— Se nunca andou, não vou deixá-la se arriscar. — Resmunga.

— Você não sente calor com esse terno? Está me dando agonia vê-lo
todo composto nesse calor do Rio de Janeiro.

— Você pode ser menos aleatória e focar no que interessa agora,


Ana?

— Ok, você não vai deixar eu pilotar minha moto sozinha até
comprovar que sei o que estou fazendo. Então, sente-se atrás de mim e
certifique-se de me manter segura.

Ezra cogita por algum tempo, mas então seus olhos se estreitam por
uns segundos antes dele recusar.

— Não. — Sem explicação, o que me faz bufar de raiva.

— Me dá a chave, Ezra. É o meu presente. Eu vou decidir o que fazer


com ela.

— Coloque o capacete.

— Para andar por aqui? Não. Vou chamar Luigi para me manter
segura.

Isso muda algo em sua expressão, suas íris verdes faíscam em minha
direção e não entendo a princípio, mas depois percebo que ele não queria
ficar próximo de mim sobre a moto. E agora não quer que Luigi fique.
Porque para Ezra, sou uma criancinha que deve ser protegida. E isso já está
começando a me irritar pra caralho.

— Me dá essa porra dessa chave logo ou vou mandar você enfiar seu
presente num lugar desagradável! — Alerto, já ficando puta.

Ele tenta me lançar aquele olhar que faz marmanjos molharem as


calças, mas comigo não funciona. Então aponta o chaveiro no guidão do
outro lado e não perco tempo. Subo na moto e a ligo. Tenho algum trabalho
por ser baixinha e ela bem grandona, mas depois que administro o peso, fico
tranquila. O ronco do motor quando acelero é música para os meus ouvidos,
mas antes que eu saia, sou surpreendida com Ezra subindo na garupa. A
coceira que ele sente para me proteger não o permitiu ficar só olhando.
Acelero com raiva dele e saio pelo gramado extenso da área externa da sua
propriedade.

— Cazzo, Ana! — Ezra xinga, me fazendo rir ao imaginá-lo


desengonçado voando para trás.
Ele ajusta o corpo, esperando mais de minha imprudência, mas
mantenho-me tranquila agora, por não estarmos na rua. Amo isso. Meus
cabelos voam contra o vento, meu corpo vibra em contato com o sol e, em
meu íntimo, sinto-me boba por Ezra estar na garupa.

Mais de meia hora passa até que entramos para tomar banho e
esquentar nosso almoço para, finalmente, comer.

— Não tenho palavras para agradecer pelo presente.

— Não precisa agradecer.

— Eu sinto o desejo de continuar trabalhando, Ezra. Você precisa


confiar que não vou fugir mais. Com minha moto, posso ir e vir do trabalho.

— Você não precisa voltar a trabalhar para ninguém. — Ele nem me


olha ao dizer, continua cortando seu bife à rolé.

— Eu quero e preciso. Não vou me sentir bem se passar a vida


dependendo de você. É uma delícia essa vida, mas eu gosto de trabalhar.
Você acha que vai ser assim para sempre? Você me mantendo como sua filha
e quando tiver uma mulher, ela vai aceitar?

— Não vou trazer mulher alguma para cá. Coma sua comida, Ana.

— Não, porra. Pare de fugir dos assuntos que não gosta. Você pode
se apaixonar, essas coisas são incontroláveis! — Grito, atraindo sua atenção.
— Você vai reparar nas manias dela e protegê-la, vai gostar do corpo dela,
mas os olhos e o sorriso vão te fascinar. Você vai querê-la por perto o tempo
todo. — Murmuro, me sentindo sobrecarregada ao imaginar Ezra amando
alguém assim. — Então, você vai trazê-la para sua vida, porque você não vai
querê-la em outro lugar.

Ezra pisca incontáveis vezes, é a primeira vez que o vejo aparentando


estar... Perdido? Não sei direito.

— Não vou trazer porra de mulher nenhuma para cá. Fim, Ana.

Solto o talher na mesa, irritada com sua mania feia de evitar


conversas, sempre achando que sua palavra tem que ser a última.

— Então, e quando eu me apaixonar? E quando eu quiser ter um


homem que me queira por perto, e eu o queira igual? Você vai adotá-lo
também? — Rio sem humor. — Deixe-me ter a minha vida. Deixe-me
trabalhar.

— Eu não vou deixar qualquer marmanjo fazer você de boba, mio


angelo. — Ezra diz o apelido, mas sua voz é um trovão raivoso.

Levanto-me, com raiva, empurrando a cadeira para trás, de forma que


ela quase cai. Aponto o dedo para ele e grito:

— Eu não sou o seu anjo! — Então saio andando em direção ao


corredor que nos leva para a sala.
Subo as escadas correndo e me enfio no meu quarto, querendo socar
a cara de Ezra.
CAPÍTULO 7

Eu amo como você está tão a frente

Está cedo demais para dizer que estou me apaixonando?

Então, talvez

Talvez nós sempre tenhamos sido feitos para nos encontrar

James Arthur - Maybe

Ezra e eu não nos vimos mais ontem depois que subi. Ele enviou
minha comida por Gilda, com o aviso de que era para eu comer tudo. De
pirraça, ia mandar o prato cheio de volta para afrontá-lo, mas ninguém vale a
minha fome. Comi tudo e só desci depois que Gilda garantiu que ele tinha
voltado para o clube. Luigi me fez companhia e até pareceu agradável, se
oferecendo para sair comigo, caso eu queira pilotar minha moto por aí.
Adorei a proposta e combinei de sairmos hoje.
Agora, manhã do dia seguinte, ouço as batidas de Ezra na porta e sua
voz me chamando para treinarmos. Já escovei os dentes, penteei cabelo e me
vesti com as roupas de treino que ele fez aparecer no meu closet, uma vez que
eu não saí para comprá-las. Abro a porta e olho feio para ele, demonstrando
que não esqueci da sua inflexibilidade ontem.

— Buongiorno. — Diz ele.

Resmungo um “bom dia” sem vontade. Ele passa na minha frente,


seguindo para o fim do corredor, em direção a escada que leva para o terceiro
andar. Não estive lá desde que cheguei, mas lembro que no passado, era uma
enorme academia. Reparo a bunda dura de Ezra enquanto ele caminha, o
short fino não deixa muito para a imaginação, tampouco a camiseta colada
branca, que molda seus músculos costais.

— Há uma coisa que quero te mostrar. — Avisa quando paramos na


academia.

Observo em volta e vejo que o espaço parece menor. Há um ringue


no centro, pois Ezra é amante de luta. Sacos e mais sacos de pancadas, assim
como quaisquer equipamentos que você possa encontrar em uma academia. A
única diferença é a porta de vidro enorme no meio e o cômodo que não havia
aqui antes. Ezra me puxa pela mão e me leva, interrompendo meu escrutínio.

Meu queixo quase toca ao chão quando me aproximo das portas


duplas de vidro e consigo ter um vislumbre do interior. É uma biblioteca!
Solto a mão de Ezra e me apresso para olhar tudo. Há tantos livros que eu
jamais serei capaz de lê-los em uma só vida, mas o que me chama a atenção é
uma prateleira no fundo que tem todos os livros que Ezra havia me dado no
passado. Eu os escolhi, pois me deixava fugir da realidade do meu passado
através da leitura.

— Você fez essa biblioteca desde que eu cheguei? — Pergunto,


achando impossível, pois não notei qualquer barulho ou pessoas
perambulando pela casa para fazer a mudança.

— Mandei fazer depois que você fugiu. Você sempre amou ler e eu já
queria fazer uma biblioteca em algum lugar. Achei que seria legal aqui. Achei
que te encontraria rápido e você poderia ter seu próprio canto para estudar,
ler...

Mesmo com raiva dele, eu o abraço. É claro que ele estaca no lugar,
sem esperar e sem o hábito de contato físico comigo, mas não posso me
impedir. Ezra é um mandão, mas ele me conhece bem e faz de tudo para me
agradar. Saber que construiu esse cômodo há anos e o manteve mesmo
enquanto estive sumida, mexe com meus sentimentos.

— Sinto muito ter ido embora. Sinto tanto...

Sua grande mão toca minha cabeça, enquanto o outro braço envolve
meus ombros.

— Você está aqui agora. É assim que deve ser.

Ergo a cabeça para olhar em seus olhos verdes e aceno.


— Sim. É assim que deve ser. Não vou fugir outra vez. — Prometo a
ele.

Ezra me encara por alguns segundos, então assente com a cabeça e se


afasta. Ele começa ajeitar algumas coisas e então me chama para alongar.
Alongamos por meia hora, depois Ezra joga luvas para mim, então coloca as
suas. Com as luvas evita que eu me machuque, por isso ele vai usá-las.
Fazemos o básico, repassamos coisas que eu já sabia, de forma que ele fica
seguro em dar andamento as coisas.

— Vou derrubá-la. Você precisa evitar que eu a derrube, mas se eu


conseguir fazê-lo, vai se livrar de mim no chão.

— Isso não é lutar, Ezra. Eu sei me defender. Quero lutar de verdade!

— Por que você sempre tem que discordar? — Ezra resmunga,


parecendo impaciente.

— Porque você sempre quer ordenar que as coisas sejam de um


determinado jeito sem se importar com minha opinião.

— Me importo com seu bem estar. Isso basta.

Sufoco um grito de raiva e conto até dez mentalmente, mas não


chego ao sete e Ezra me derruba.

— Devia estar prestando atenção.


— Cretino! — Rosno, entre dentes.

Ezra sorri, é o primeiro sorriso real que ele mostra para mim. Não um
curvar de lábios sutil. Um sorriso completo, com seus dentes brancos e
alinhados à mostra e seu rosto parecendo mais bonito do que nunca.

— Ana, atente-se! Me tire de cima de você.

Isso me tira da sarjeta e começo a lutar para me livrar do seu peso.


Ele é grande e pesado, então não vou conseguir empurrando-o. Como ele
mesmo me ensinou no passado, forçá-lo para longe só vai me cansar. Tento
livrar meus braços e com um deles soco seu rosto. Ele desvia, mas afrouxa o
aperto, então tento acertar o meio de suas pernas e ele se lança para longe.

— Teria conseguido se livrar de qualquer desavisado.

— Não de você. — Sento-me, respirando ofegante.

— Não de mim. Ou qualquer pessoa que possa lutar e antecipar seus


atos.

Ele me puxa pela mão e começamos a trocar alguns socos e chutes


leves. Ezra me coloca no chão várias vezes e já me sinto exausta. No fim, sou
eu quem preciso derrubá-lo e, obviamente, não consigo. Ezra desce do ringue
para beber água, enquanto fico esperando-o.

— Comprei um lugar para você ter seu próprio salão de beleza. —


Ele diz.

Demoro alguns segundos para assimilar. A gratidão me faz querer ser


sua cadelinha e agradecer, mas uma parte teimosa de mim, se ressente por ele
não confiar em me deixar trabalhar fora, por medo que eu vá fugir outra vez.

— Você não pode entregar tudo nas minhas mãos, Ezra! — Explodo,
olhando-o com raiva.

Do outro lado, vejo seu rosto se contorcer em pura raiva. Ele estreita
os olhos para mim.

— Eu posso e vou. Foda-se quem disser o contrário.

— Para você é muito fácil se impor. É fácil ouvir o que digo e não
dar a mínima. Então, aparece com um presente novo para eu calar a boca!
Mas sobre isso não vou me calar! Quero trabalhar por conta própria e
conseguir minhas coisas por meus próprios méritos! Quando vai confiar em
mim? Não vou fugir!

Em poucos passos, Ezra entra no ringue outra vez, mas ele está
furioso. Antes que eu possa assimilar, minhas costas batem no chão
acolchoado e Ezra paira sobre mim, seus olhos colados nos meus, seu nariz
quase colado no meu. A proximidade é tanta que sinto sua respiração com
cheiro de café e menta tocando meu rosto. Todo o meu corpo se torna
consciente do dele, seu peito no meu, a barriga dura, cheia de gominhos. Suas
pernas, no entanto, estão no chão, não em mim, mas eu gostaria de senti-las
também. Todo ele.
— Você está fodendo a minha paciência, Ana. — Ezra rosna. —
Você fugiu. Por anos você não esteve aqui. Eu te cacei feito um louco, porra.
Achei que o pior poderia ter acontecido. Fui assombrado por anos, achando
que algum homem meu tocou em você e que você estava lá fora
traumatizada. Você quer falar sobre confiança?

— Ezra... — Murmuro, me sentindo mal por imaginá-lo sob essa


perspectiva.

— Silêncio. — Me silencia, com o rosto tão inflexível e raivoso de


antes. — Você quer brigar por qualquer merda, não quer? Mas por isso, não.
Você não merece minha confiança, mas estou dando a você. Te dar um
estabelecimento próprio não é confiança? Só no seu mundo de merda. É seu e
não vou me meter nas suas coisas. Você vai cuidar, contratar quem quiser,
trabalhar como estipular e será dona do que conquistar. Então, não me venha
dar crise adolescente, nem agir como uma rebelde. Não vou tolerar essa
merda.

Fico quieta, com vergonha das minhas atitudes e, mesmo que não
queira, consciente demais da nossa proximidade. Fecho meus olhos,
querendo dispersar qualquer pensamento idiota, mas sinto quando Ezra
suspira e abro os olhos para vê-lo me olhando com algo feroz, mas não a
raiva de antes. Seus olhos verdes ficam escuros e uma de suas mãos
emaranham em meus cabelos, pressionando as pontas entre seus dedos.

— Cazzo... — Ele xinga em italiano e salta para longe de mim, como


se eu o estivesse queimando.
Engulo em seco e levanto-me, mas não há tempo de me desculpar por
ser idiota ou inventar qualquer coisa para que o último minuto não pareça tão
constrangedor, pois Ezra sai feito um furacão apressado.

Pelo resto do dia, não há qualquer sinal dele na mansão. Nonna está
de volta, no entanto, e confessa que passou o dia com Giuseppe. Quando
brinco com ela sobre o dia romântico, ela me olha com seriedade e diz que
Giuseppe a despreza depois de descobrir o que ela escondeu dele, que
estavam juntos por conta de um assunto sério que ele precisava tratar com
ela. Fico curiosa e preocupada, mas nonna não diz nada e passa o dia reclusa.
Também não socializo muito, chateada com o que aconteceu de manhã com
Ezra.

Só a tarde, saio do quarto e chamo Luigi para sairmos de moto.

— Preciso ligar para o chefe antes.

— Luigi, você é meu segurança, mas não sou uma prisioneira aqui.
Posso fazer minhas coisas, contanto que você me proteja, não me vigie. —
Reviro os olhos.

Luigi parece considerar.

— Cattaneo disse isso. Que devo protegê-la, não vigiá-la.

— Pois bem. — Digo, sem paciência.


O brutamontes sorri com deboche e me segue. Passamos uma hora
andando pelo Recreio e paramos na orla da praia para beber água de coco
antes de voltar. Já está escuro quando voltamos e há um carro de luxo
impedindo nossa passagem pelos portões. Deixamos a moto na calçada e
entramos. Luigi liga para Ezra para saber o que está havendo, mas continuo
andando.

— Ora, se não é a famosa Ana. — Uma voz grossa com o sotaque


italiano mais pronunciado do que o de Ezra me assusta quando chegamos na
varanda da frente da mansão.

Me viro para encontrar um homem alto e forte como Ezra, mas


quando ele se aproxima vejo que é loiro, com olhos tão azuis quanto gelo.
Seu rosto livre de barba é lindo, mas há algo que me deixa com medo
imediatamente. Há uma cicatriz em seu queixo, que desce um pouco por sua
mandíbula e para antes de chegar na garganta. Ele caminha em seu terno
escuro, uma mão no bolso e outra passando pela cicatriz onde eu estava
reparando. Parando perto de mim, me olha por cima.

— Há sete anos atrás, você fugiu e deixou Ezra louco.

— Eu...

— Shh. Não é seu momento para falar. Vim para o Brasil


especialmente para conhecê-la. — Ele sorri, maldoso. — Se você foder a vida
do Ezra outra vez, serei eu quem irá caçá-la. E de mim ninguém se esconde.
Lembre-se disso.
Embora tenha ficado amedrontada ao seu redor, meu instinto nunca é
recuar, então estou prestes a xingá-lo e socar seu rosto quando Luigi se
aproxima e diz:

— Capo, Cattaneo o está esperando no clube.

Capo?

Stefano Esposito. Meus olhos se arregalam involuntariamente e


Stefano sorri, seu escrutínio ainda preso em mim. Luigi parece preparado
para me proteger, mesmo que seu chefe, o real, esteja aqui, parecendo prestes
a me esmagar. Parece que a áurea dele deixa evidente o perigo que o ronda.
Se eu o atacar, ele vai me matar e Ezra pode se virar contra ele e morrer
também. Isso me faz recuar.

— Eu sei que ele está no clube, só passei aqui antes para conhecer o...
— Stefano debocha ao dizer em italiano: — angelo.

— A sua quota de encher meu saco se esgotou, senhor Esposito.


Você pode ser o Capo, mas é melhor me respeitar. Você se preocupa com
Ezra e eu também, então é melhor tolerarmos um ao outro para que ele não
fique sabendo como você me tratou agora pouco. — Minha voz não falha e
não recuo, embora esteja sentindo medo dele.

— Entre, bambina. — Luigi exige.

— Não, Deluca. — Stefano o corta e volta a olhar em meus olhos. —


Então você acha que Ezra ficaria do seu lado?
— Surpresa, surpresa. O capo é sentimental. — Zombo e vejo sua
expressão se fechar, o sorriso idiota dando lugar a sua verdadeira face
impaciente e raivosa.

— Cuidado. — Ele alerta.

— Boa noite, Stefano. — Digo e entro na mansão, me sentindo


irritada por não enfrentá-lo.
CAPÍTULO 8

De braços abertos eu permaneço sozinho

Eu não sou nenhum herói e não sou feito de pedra

Certo ou errado, eu mal posso dizer

Se estou do lado errado do céu

Ou do lado justo do inferno

Five Finger Death Punch - Wrong Side Of Heaven

A manhã de hoje foi perturbadora. Ana testa a minha paciência de


todas as maneiras e, geralmente, consigo manter minha merda em ordem,
mas hoje ela passou dos limites. Quando dei por mim, estava em cima dela,
impondo-me e deixando-a assustada. O pior, é que por alguns segundos, a
fúria abrandou, e estive ali, consciente da mulher sob mim. Eu quis beijá-la e
não entendi porra nenhuma do tesão que comecei a sentir por Ana. Seus seios
subindo e descendo por conta da respiração ofegante, a boca entreaberta, os
olhos arregalados... Nada me passou despercebido. E eu fugi.

Porque não há maneira no inferno que eu possa olhar para Ana dessa
maneira.

Agora é noite, mas me escondi no clube e pretendo sair daqui tarde o


suficiente para chegar e não me deparar com Ana. É melhor evitá-la até
entender o que está havendo comigo. Ela se tornou uma linda mulher, não é
mais uma criança, e meu corpo se recusa a não notar isso. Em minha
consciência, sei que é totalmente escroto. Mas preciso de um tempo para me
acostumar com a nova Ana, até que sua beleza e corpo deslumbrante passem
despercebidos por mim.

Há tantas mulheres nesse clube loucas para que eu estale os dedos


para elas, então poderão vir correndo para mim. Por anos, coloquei minha
raiva no sexo pesado, subjugando mulheres que estavam dispostas, mas
agora, a ideia não me atrai tanto.

Após receber a ligação de Luigi, sobre a presença de Stefano em


casa, me preocupo imediatamente com seu encontro com Ana. Ambos não
são fáceis, então aviso a Luigi para proteger Ana. Meia hora depois, Stefano
aparece em meu escritório. Com sua pose de dono do mundo, entrando sem
bater.

— O que foi fazer na minha casa se sabia que estou aqui? —


Pergunto, passando meu polegar em meu queixo.
Stefano estreita os olhos para mim, então levanto-me e caminho até
ele. Temos a mesma altura e não tenho medo dele por ele ser quase um Capo
da Famiglia. Embora eu não faça parte do mundo deles e não tenha poderes
de mandar e desmandar, como ele tem, meu avô, Giuseppe, é muito mais
afeiçoado a mim do que a Stefano. Eu sou o neto que o lembra da nonna.
Giuseppe amava Ella, e por isso ele me ama. Stefano pode ser o próximo
Capo por não ser um neto bastardo, mas enquanto nonno ainda estiver vivo,
minha bunda está salva de qualquer merda que eu fizer.

— Nem um boa noite? É assim que sou recebido depois de horas de


viagem até aqui?

— Corta a merda, Stefano.

Ele arqueia a sobrancelha e caminha pelo meu escritório. Não é um


espaço enorme, só o suficiente para eu administrar o clube e ficar de olho na
parede com os televisores, que passam as imagens das câmeras. Minha mesa
fica no canto oposto a porta, de forma que tenho a visão imediata de quem
entra. Há um banheiro acoplado no lado esquerdo e um closet, no direito.
Minha mesa só tem meus objetos de trabalho e dois porta retratos, um é uma
foto dos meus pais e nonna comigo enquanto eu era criança e outro, é uma
foto de Ana quando ela tinha dezesseis anos. Alguns dias antes de fugir. Eu a
coloquei depois que ela foi embora, pois a anterior era uma foto de quando
ela tinha quatorze. Seus cabelos loiros voam contra o vento, e seus olhos
azuis parecem felizes, há um sorriso em seus lábios avermelhados e suas
mãos estão para cima, fazendo gesto de dois dedos para cima, como paz e
amor. Era o dia do aniversário de nonna e Ana preparou uma festa surpresa.
Ela estava, especialmente, feliz nesse dia.
Stefano ronda meu escritório e seus olhos param nas fotos à mesa.

— Eu fui ver a garota com meus próprios olhos. Queria entender sua
obsessão. — Ele diz.

— Cuidado. — Advirto.

Stefano ri sem humor e me encara.

— Eu disse à ela, que se fugir novamente, irei encontrá-la.

Não me importo com nossa amizade, com seu poder e que,


provavelmente, ele pode puxar sua arma e acertar um tiro na minha testa
antes que eu o alcance. Ele pode me matar sem uma arma se quiser. No
entanto, meu punho acerta sua mandíbula com força e Stefano não pega sua
arma para revidar.

— Você está se esquecendo de com quem está lidando. — Ele não


revida, mas seu olhar me queima com ódio.

— E você mexeu com quem não devia. Estou pouco me fodendo para
quem você é. Se você não fosse meu primo e amigo, eu não teria dado só um
soco, Stefano.

— Sou o Capo, Ezra. Lembre-se dessa merda.

— Você não é o Capo. O nonno é. Você pode comandar a porra toda,


mas enquanto ele ainda tem seu título, você faz o que ele manda.

— Diga isso aos soldados que são leais a mim. — Ele abre um
sorriso astuto e raivoso. — Eu fui alertá-la porque vi a merda que você ficou.
Você entrou para o lado obscuro e não queria sair. Ela voltou e você não quis
mais saber da merda que é a máfia. Eu amo essa vida, mas você sabe o que?
Agradeça a Dio por você não ser obrigado a fazer parte dela. Se você viu o
lado ruim da vida aqui fora, é porque você não conhece Giuseppe Esposito
como eu conheço. Sabe quem matou o meu pai? Você nunca saberá, mas ele
mereceu. Ele me batia noite e dia para me fazer forte. E ele me fez forte. E o
seu velho nonno, que o trata bem porque se lembra da senhora Ella... O seu
nonno é um verme e quando ele morrer, irei soltar fogos e tomar seu lugar
com alegria. Você viu essa menina ser abusada, mas eu já vi cem delas
saindo de um estupro e tive que passar a noite olhando os rostos dos seus
nojentos estupradores. Eu tive que torturá-los, mas a minha mente estava
perturbada demais quando eu era jovem e tudo o que eu queria era matá-los e
não lembrar mais de como encontrei aquelas garotas no decorrer dos anos. —
Stefano nega com a cabeça e me olha com olhos ferozes. — A sua vida não é
bonita, Ezra, mas não chega perto da vida na máfia. Essa garota te tira da
feiúra e eu não me importo se você vai me bater de novo, porque se ela fugir,
irei encontrá-la e vou amarrá-la ao seu lado porque ela te dá alguma paz.

Fico sem palavras diante de toda essas revelações, Stefano nunca me


contou nada disso. Ele passa por mim, como se estivesse prestes a ir embora,
mas o seguro.

— Você matou o seu pai? — Pergunto, por não saber o que dizer.
Ele abre um sorriso enorme, de pura satisfação.

— Não matei ninguém, mas se você me bater outra vez, você vai ter
o mesmo final que ele. — Então abre a porta do meu escritório e some.

Quando chego em casa, a primeira coisa que faço é olhar no quarto


de Ana, uma vez que a porta está entreaberta. Não há sinal dela, mas a cama
não está feita, então imagino que tentou dormir e não conseguiu. Suponho
que esteja na biblioteca e por ser tarde, me preocupo que tenha adormecido
lá. Subo para o terceiro andar e a encontro dormindo na poltrona, com um
livro em seu peito e a mão torta por baixo. Vejo seu pijama curto e fino
demais, mas há meias em seus pés, novamente não está frio, mas ela está
usando meias. Isso me deixa curioso.

Tiro o livro de sua mão, a capa com um marmanjo mostrando o


abdômen já deixa claro que o conteúdo é adulto. Ao mesmo tempo que
conheço Ana há anos e a tenha observado atentamente enquanto convivemos,
ela é um mistério para mim. Não sei seu nome real, a chamo de Ana, mas os
outros a conhecem como Diana. Ela foi vítima de abuso, mas tem uma força
descomunal, ao qual não costumo ver em vítimas de abuso. Nunca se abate.
Não tem medo do meu olhar sombrio. Seu rosto é de um anjo, mas sua língua
afiada é de um demônio. Seus olhos azuis nunca saíram dos meus
pensamentos, como uma visão de dias melhores. Nunca pensei nela
sexualmente antes, mas já fazem anos que esses olhos me trazem alguma paz.
Agora, vendo suas pernas torneadas, a pele tão branquinha e os seios
empurrados contra o tecido fino da blusa do pijama, sinto-me excitado,
querendo passar meu dedo por sua pele, ansiando ver a marca da minha mão
nessa palidez.

Cazzo! Não! Isso faz eu me afastar antes que eu faça algo sem volta.
Recuo alguns passos, colocando minha mente no lugar. Não deveria pensar
em perversões com Ana. Nunca. Não deveria tocá-la de jeito algum, mas a
pego em meus braços e a levo para seu quarto. Sua respiração toca meu
pescoço e meu maldito corpo se arrepia com o contato. Inalo para me acalmar
e é uma armadilha, pois o cheiro dela enche minhas narinas. Deixo Ana em
seu quarto tão apressado que acabo batendo a porta forte demais ao sair.

— Ezra? — Ouço sua voz chamando já distante, mas não paro para
me justificar.

***

— Já tive o suficiente por hoje. — Digo, abotoando o meu paletó.

A submissa, de cabeça baixa, assente com a cabeça, mesmo que em


seus olhos veja que anseia por mais.

— Sim, senhor.

Vejo seus cabelos tingidos de loiros caindo por suas costas. Ela está
ajoelhada no chão, onde acabei de gozar na sua boca. Hoje, ela não recebeu
prazer algum. Eu só quis liberar minha raiva em alguém, mas quando cheguei
no quarto privado com ela, sua submissão me irritou, em vez de excitar. Eu
pensava em queixo empinado, ombros altivos, olhos azuis furiosos e uma
língua demoníaca. Me fez mal recorrer ao sexo para aplacar a loucura em
minha cabeça, pois nunca deixei uma mulher sem sua liberação e agora, essa
submissa está ajoelhada, ansiosa e não recebeu nada além da minha porra na
sua boca.

Que porra de dominador se irrita com uma submissa e almeja uma


rebelde para afrontá-lo? Nunca me iludi, sempre soube que só buscava esse
tipo de prazer por fuga. Entretanto, fugir do desejo que comecei a sentir por
Ana não deu certo dessa forma.

Saio do quarto privado, mas deixei reservado por horas. Ela poderá
usá-lo para relaxar, aproveitar a banheira e, se quiser, chamar alguém para
fazer o que não fiz. Não foi nossa primeira vez. Iliana já me agradou muito
outras vezes, por isso, permaneceu calada, sem retrucar, mesmo que quisesse
mais. Embora tenha a veia naturalmente submissa, se força a ser o mais
obediente possível para me agradar. Ah, se ela soubesse que estou sendo
atraído por boca afiada e rosto de falso anjo.

Saio do clube depois de algumas tentativas de mulheres se atirando


em mim. Até penso em tentar algo sem jogos, com alguém nova, mas não me
atraio por ninguém. Pego meu celular quando entro em meu carro e disco o
número de Luigi. São por volta das duas da madrugada, mas o homem atende
ao terceiro toque.

— Ana está bem? — É a primeira coisa que ele pergunta e isso me


faz estreitar os olhos.

— Ela é Ana só para mim. Para você e qualquer outro, é Diana.


— Certo, chefe. — O deboche em sua voz não passa despercebido.

— Ela está bem. Quero que amanhã você a leve para ver o local que
comprei para ela, que chame Gilda e a ajude a converter o lugar em um salão
de beleza dos sonhos dela. Irei passar alguns dias fora do Brasil.

— Entendido.

— Mantenha suas mãos longe dela, Deluca, ou eu as corto.

O desgraçado gargalha e eu encerro a chamada.

Alguns dias na Itália irão me fazer colocar a mente no lugar e poderei


verificar o meu pai.
CAPÍTULO 9

Eu sei, já ouvi essa história que mostrar seus sentimentos

É a única maneira de fazer amizades crescerem

Mas eu tenho muito medo agora

Yeah, yeah

Eu coloco minha armadura, te mostro o quanto eu sou forte

Sia - Unstoppable

Uma semana após o sumiço de Ezra, consegui o número do celular


dele com Luigi, mas ele não atendeu nenhuma das minhas chamadas. Está
tudo bem, só que, mesmo com seu jeito distante, ele nunca se ausentou antes,
então me preocupo bastante que esteja sozinho lidando com algo. Se ele faz
tanto por mim, também posso ser seu apoio se precisar. Gostaria que Ezra
entendesse isso.
Com a ajuda de nonna e Gilda, meus dias foram recheados de
ocupações com meu novo espaço para criar um salão. Está quase tudo pronto,
exceto que Ezra entrou em contato com Luigi e disse que devo criar contas
nas redes sociais para atrair pessoas, até que o dia da abertura do salão possa
ser um evento, para não se igualar a qualquer estabelecimento.

Entrei em contato com Kelly e pedi ajuda, contei por alto que minha
família rica me encontrou — se considerarmos Ezra da família não será uma
mentira — e que agora poderei ter meu próprio salão. Kelly se prontificou em
vir cuidar das madeixas de algumas clientes no dia da abertura. Andei
pesquisando e decidi que faremos um dia de beleza gratuitamente, assim as
pessoas conhecerão meu trabalho sem se comprometer e poderão voltar se for
do agrado delas. Nonna entrou em contato com um buffet e preparou uma
pequena festa, o que para mim soa como um grande evento.

— Ei, menina. Cattaneo criou suas contas nas redes sociais e disse
para eu te mostrar, mas que ele irá cuidar para você até você aprender.

— Cattaneo pode ir se catar. — Resmungo, já irritada com a saudade


que estou sentindo daquele rabugento.

Mais alguns dias passam e o dia do meu evento chegou. Para a minha
surpresa, minhas redes sociais estão bombando. Ezra é um empresário e ele
sabe o que está fazendo. Fico feliz da vida ao rever Kelly e até agradecida por
Michele ter vindo junto.

— Senti falta de você. — Abraço Kelly, que me aperta em seus


braços.

— Vai me pagar para cuidar dessas ricaças? — Michele resmunga,


chamando atenção.

— Claro que sim. Vocês estão me ajudando muito e vou pagá-las por
isso.

— Viu só, Michele? Bem que a garota não tem só a cara de rica. Ela
é rica mesmo! — Kelly gargalha ao ver a expressão irritada da morena.

— Diana? — Ouço a voz de Luigi me chamar e viro para encontrá-lo


vindo em minha direção com uma senhora ao seu lado. — Cattaneo mandou
fotógrafos.

— Que coisa chique... — Ouço Kelly murmurar com a outra.

Só pude fazer as unhas de uma cliente, uma vez que trabalho com gel
levam horas para ficar concluído. Já Kelly, conseguiu fazer três cabelos, e
Michele fez algumas unhas naturais e também foi bem elogiada por todos.
Muitas pessoas vem e vão. Nonna e Gilda são um arraso recepcionando as
pessoas, coisa que não sou boa em fazer, mas no meu trabalho mandei bem e
depois que minha modelo mostra as unhas para a mulherada, obrigo Luigi a
anotar na agenda todas que marcam para vir fazer suas unhas comigo na
próxima semana. Ele anota me fuzilando com o olhar.

No final da recepção, ouço uma certa comoção e quando avisto a


entrada, vejo Ezra caminhando em minha direção. Mal posso acreditar que
ele está de volta. Esqueço-me de tudo e corro para seus braços. Ele paralisa
por um momento, antes de me envolver em um abraço desajeitado.

— Estou puta que você sumiu, mas obrigada por isso. Eu esperava
três pessoas e olha só...

— Você é uma empresária agora. Terá que administrar mais do que


colocar a mão na massa. Irá fazer seu próprio dinheiro, gerar empregos... Não
vai depender de ninguém, Ana.

Olho seus olhos e vejo a necessidade de me ver bem na vida. Seu


protecionismo aquece meu coração, em vez de me irritar. Tudo o que me deu
foi sem interesse. Nunca tive nada para dar em troca e desde que me
encontrou, Ezra não hesitou em me tratar como um achado precioso.

— Obrigada. Estou feliz que você veio.

— Eu deveria estar aqui desde cedo, mas tive um problema com meu
pai. — Ezra murmura, sem tirar os olhos dos meus e me surpreende ao
dividir o que aconteceu. — Ele tentou se matar.

— Oh, meu Deus! — Fico horrorizada. — Você está bem? Vamos


para casa... Você precisa descansar. — Involuntariamente, toco seu rosto e
ele recua de imediato. — Calma, Ezra. Só estou preocupada. Você parece
cansado.

Ezra quebra nossa troca de olhares e olha em volta, dando um passo


atrás, acabando com o momento que estávamos tendo.
— As pessoas estão esperando para falar com você. Vá até elas. Logo
nós poderemos ir.

Continuo encarando seu rosto, como se fosse ter uma resposta do que
está acontecendo. Toda vez que me aproximo, Ezra recua. Sinto uma atração
enorme por ele, mas jamais passou pela minha cabeça que ele pudesse
retribuir. Todavia, começo a pensar diferente. É mais como se ele sentisse o
mesmo, mas se recusa a sentir e, por isso, recua quando temos alguma
proximidade. Como no meu quarto quando o sapo apareceu, depois no
ringue... Na noite em que me levou da biblioteca até meu quarto e acordei
com o som da porta batendo, sem entender nada, mas depois de assimilar
tudo, percebi que era ele. E agora...

Não o confronto. Só sorrio quando vejo seus olhos estreitados ao


notar meu escrutínio e saio de perto dele, precisando de um momento para
assimilar tudo com calma.

Arrasto Luigi comigo para a área externa.

— Depois que você começou a gostar de mim, está enchendo meu


saco, garota. Acho melhor voltar a me odiar. Me colocar para anotar aquela
merda?

— Você acha que sou atraente? — Pergunto e recebo um olhar


cômico do sujeito.

— Quer gravar essa conversa para Ezra me matar e você se ver livre
de mim?

Eu rio um pouco, mas reviro os olhos para ele.

— Não seja idiota. É sério. Já viu meu rosto? Me pareço com quando
era criança. Nunca tive um rosto avassalador, menos infantil... Talvez essa
franjinha me torne ainda mais criança, mas já tenho vinte e três. Estou
genuinamente curiosa em entender a ótica masculina ao ver uma mulher
como eu. — Explico com sinceridade, mesmo que me sinta exposta, mas
confio em Luigi.

— Você é bella, Diana. E o chefe a enxerga como qualquer homem,


só que ele a protege demais e talvez a esteja protegendo de si mesmo.

— Não tenha medo de Ezra, Luigi. Honre esse tamanho! Me diga


algo além desse bella aí. — Resmungo.

— Dizendo como não deveria dizer em torno de você... — Luigi


suspira e passa um olhar pelo meu corpo, embora eu esteja usando o avental
do salão. — Você é gostosa. Muito gostosa.

— Certo! — Respondo, animada, ele resmunga. — Tem algo


rolando. Eu vou dar uns pegas no Ezra. Quem diria? Já fui apaixonada nele
quando era novinha, mas agora é tesão.

— Olha, adorando o clube da Luluzinha, mas essa não é minha praia.


— Luigi rosna.
— Não tenho amigas. — Suspiro, fazendo drama.

— Tem a nonna e a Gilda. Me esquece, docinho. — E com isso, ele


se afasta, pisando duro.

Remoo suas palavras por alguns segundos antes de voltar a socializar.


Sinto os olhos de Ezra em mim o tempo todo. Um magnetismo forte que me
puxa para ele. E eu nunca estive tão consciente do meu corpo e de como o
desejo. Luigi estava certo em dizer que Ezra me protege, até de si mesmo.
Mas eu sou uma boa lutadora. Aprendi com ele. E ele é o melhor.

— Querida, já é hora de comemorar seu sucesso! — Nonna exclama


e me abraça forte. — Ezra nos convidou para jantarmos em comemoração,
mas Gilda e eu já estamos velhas e cansadas. Luigi ficará em casa para nos
proteger. Então o jantar será só para vocês dois.

Nós acabamos de chegar em casa, após toda a loucura no salão. Ezra


enviou um segurança para deixar Michele e Kelly em casa e elas me
agradeceram pela quantia que as paguei como agradecimento. Foi um dia
incrivelmente bom e minhas redes sociais bombaram com pessoas me
marcando em fotos do evento. Ganhei uma quantidade incrível de seguidores
após as divulgações que fizeram de bom grado.

Imediatamente sorrio com a ideia de nonna, mas quando vejo a


expressão dura de Ezra encarando a avó, fico um pouco envergonhada. É isso
que quero? Me jogar para ele enquanto recebo sua frieza absoluta? Ezra me
encara, quase como se me culpasse por qualquer merda que passa por sua
cabeça. Meu desejo de lugar não faz sentido se só estiver imaginando coisas.

— Não precisamos ir, Ezra. Pode desmarcar. — Digo, olhando para


qualquer lugar distante dele.

Ezra toca meu queixo com seus dedos, me fazendo encará-lo. Ele
parece um robô, me analisando com os olhos estreitos. Bufo e me solto dele,
mas vejo sua expressão abrandar antes dele dizer:

— Vamos jantar. Hoje é seu dia. Vamos finalizar a noite


comemorando.

A veia teimosa em mim quer mandá-lo pastar, mas a outra parte me


faz acenar com a cabeça, concordando.

Subimos para o andar superior. Cada um se arruma em seu quarto.


Levo um longo tempo sob a ducha morna, tentando aliviar a dor nos pés por
ter ficado de pé a maior parte do dia. Seco meus cabelos e faço um coque
largo no topo da cabeça, prendendo minha franja com uma presilha no topo,
tentando parecer mais mulher fatal do que um anjo. Bufo comigo mesma e
me agrado com o que vejo. Passo batom vermelho nos lábios e faço um
esfumaçado escuro para contornar meus olhos azuis claríssimos. Visto um
vestido vermelho com o tecido parecido com seda, ele é colado no corpo, mas
o decote é baixo e enrugado, deixando um vislumbre dos meus seios, as alças
são finas e ele chega até a metade das minhas coxas. Mesmo com os pés
arrasados, calço saltos pretos de tiras até o tornozelo. Mal acabo de espirrar
um perfume adocicado quando ouço batidas na porta.
Respiro fundo e caminho até lá. Não pego bolsa, celular, nada. Não
vou precisar mesmo. Abro a porta e me deparo com Ezra, em um terno
escuro, com um cheiro delicioso chegando em meu nariz e um olhar
abrasador. Vejo quando ele checa meu corpo, com os olhos alargando-se
quase de modo imperceptível. A careta que ele faz quase me deixa sem
coragem de sair assim, mas não vou recuar. Fiquei linda, e é bom sentir-me
poderosa assim.

— Vamos? — Chamo, quebrando o silêncio constrangedor.

Ezra pigarreia e, por fim, estende o braço para eu encaixar o meu no


meio. Nós descemos em silêncio, mas um poder absoluto toma conta de mim
por estar linda e com esse homem, que chega a ser indecente de tão lindo que
é. Nonna está no hall de entrada com Gilda e Luigi. O segurança disfarça um
sorriso, mas parece que achou seu próprio clube da Luluzinha vigiando nossa
saído junto das senhoras. Olho para ele, tentando mostrar meu deboche, mas
o sem vergonha evita meu olhar.

— O que é isso? Estavam cansados para ir conosco, mas não parecem


cansados para fazer disso um show. — Ezra resmunga.

— Só desci para comer e encontrei Gilda indo fazer o mesmo. O


pobre Luigi estava à postos.

— Nonna... — Ezra não compra sua conversa.

Ela acena com a mão, fazendo pouco caso.


— Preciso de um celular, vocês estão lindos. Preciso de uma foto
para o meu álbum!

Ezra, surpreendentemente, não faz um caso sobre tirar a foto, embora


não mostre nem um sorriso quando Gilda captura nossa imagem. Nonna a faz
tirar algumas e depois da terceira Ezra já está me arrastando porta afora.

Me surpreende que ele vá dirigindo, pois quando me trouxe para


casa, havia um motorista. Entretanto, perco o tempo distraída, observando-o
atento ao trânsito, a expressão compenetrada, os olhos de águia nunca
desviando. Sinto-me desejosa de conhecê-lo, além da convivência distante
que tivemos e temos agora. Sou uma adulta e não há outro homem no mundo
que eu confie para fazer sexo.
CAPÍTULO 10

E você não se sente um lutador

Mas eu vejo isso em você, então vamos sair dessa

E mover montanhas

Vamos sair dessa

Andrea Day - Rise Up

Todo o meu maldito corpo está em alerta desde que coloquei os olhos
em Ana. Não foi necessário vê-la com o vestido vermelho, cabelos presos e
maquiagem diferente. No salão, com a expressão cansada, o uniforme branco
e o avental do salão, ela já estava deslumbrante, pois seu sorriso e olhar
radiante me deixaram de joelhos.

Agora, enquanto entramos no restaurante italiano, vejo os olhares de


cobiça da maioria dos homens presentes. Deixo minha mão espalmada na
parte inferior de sua coluna e dou só um olhar de aviso para quem vejo em
minha frente. A hostess nos leva até a mesa que Gilda reservou a meu pedido.

Estava louco para chegar a tempo da inauguração do salão de Ana,


mas meu pai tem sido um caso sério nos últimos anos. Enquanto minha mãe
quis esbanjar dinheiro para curar sua “depressão” com viagens e garotos de
programa, meu pai continua depressivo e preso em nossa antiga casa. Nada o
faz sair. O obrigo a ver um psicólogo semanalmente em casa, mas ele não
tem progresso, pois não quer ter. É necessário ter mais de uma empregada
agindo como sua babá, uma vez que ocasionalmente tenta se matar. Quase
não dormi na última semana, pois ele quis se suicidar duas noites seguidas.

— Nunca estive em um lugar tão caro. — Ana sussurra, olhando em


volta. — Só esses lustres devem custar o valor de um carro.

— É o melhor restaurante italiano do recreio. Os donos são filhos de


italianos. Nonna os conhece e me trouxe aqui há alguns anos atrás. — Digo,
observando seu pescoço esguio, a pele cremosa tão clarinha que dá para ver a
veia pulsando.

Ana está linda, de tirar o fôlego. Não sei porque, mas acabo
perguntando:

— Qual é seu nome verdadeiro?

Ela pisca, como se não esperasse, então recua um pouco.


— Meu nome é Ana para você. E Diana para os demais. Fim.

Ainda me incomoda que eu não saiba seu nome real, mas de certa
forma é importante que ela seja Ana só para mim. Poderia ter tido acesso ao
seu nome, mas quando pedi que Stefano limpasse tudo, naquela época, quis
que queimasse tudo, incluindo seus documentos e não me arrependo. Entendo
que aquele desgraçado assombrou seu nome para ela.

O garçom interrompe qualquer chance que eu tenha de retrucar. Ana


pede que eu escolha uma entrada para ela, uma vez que não conhece tão bem
a culinária italiana. Peço o mesmo para nós dois e depois voltamos a ficar
sozinhos. Sua beleza está me deixando inquieto. Ela é linda todos os dias,
mas sem os cabelos moldando o rosto de anjo, fica mais evidente o quão é
impressionante. Parece mais mulher com a maquiagem escura.

— Quero beber vinho. Nunca fui de beber... Mas com você, estou
segura, então... Quero vinho. É isso. — Ela diz.

Peço o melhor vinho e me abstenho de álcool para cuidar dela, para


nos manter seguros.

— Me conte como foram os anos em que esteve longe. — Peço,


genuinamente curioso.

— Os dois primeiros foram difíceis. Passei a maior parte do tempo


vivendo nas ruas. — A revelação faz a raiva tomar conta de mim.

O garçom volta com nossas entradas e isso me dá algum tempo para


respirar fundo e não fazer uma cena.

— Por que você preferiu... — Diminuo meu tom de voz ao ver seu
olhar assustado. — Por que preferiu ficar vivendo assim à voltar para casa?

— Já te disse o motivo, Ezra. Medo. Covardia. Eu fugi por medo de...


— Ana engole em seco e desvia o olhar. — Medo de perder você. Acreditei
na Melina e não quis ficar para ver o que poderia acontecer. Tantas coisas
passavam na minha cabeça. Era nova, imatura e já tinha visto o pior da vida.
Não queria perder a confiança em você, a ideia de salvador que tenho,
tampouco a pessoa. Não seria uma única perda, me entende? Você é minha
única família. Sua nonna, Gilda... Até Luigi. Eles são importantes e você os
deu para mim. Até hoje não entendo porque me manteve com você. Poderia
ter me largado... Mas não...

Ana nega com a cabeça, como se realmente não acreditasse que não a
deixei sozinha àquela época.

— Eu prometi cuidar de você. Prometi te proteger. — Justifico,


sentindo-me nervoso com o rumo dessa conversa.

Lidar com sentimentos e expor vulnerabilidade não é algo que estou


acostumado a fazer. Ana é a pessoa mais importante do mundo para mim e
não tenho uma razão ou justificativa para isso. Naquele dia, ela se tornou
alguém que eu queria proteger para sempre. A perdi por sete anos e imaginar
o que passou longe de mim, me deixa puto de raiva. Só quero vê-la feliz.

— Essa conversa está me deixando emocional. Vou beber e ficar


alegre. — Ela sorri, fazendo as coisas voltarem a ficar leves.

Em poucos minutos, seguimos um rumo mais ameno, falando sobre


empreendimentos. Ela quer aprender comigo e explico sobre a importância
das redes sociais nos dias de hoje. Ana fica atenta, bebendo seu vinho,
comendo e me escutando com interesse. Falar sobre trabalho é uma área
segura e tenho a impressão que nesses minutos falo mais coisas com ela do
que já disse em toda a nossa convivência. Ana está sorrindo fácil e suas
bochechas coradas deixam claro que está ficando bêbada rapidamente por
falta de costume em consumir álcool. Não a reprimo, eu a deixo beber porque
vou estar aqui para cuidar dela.

***

Se há algo que nunca mais vou permitir, é que Ana consuma bebida
alcoólica. A mulher está incontrolável. Precisei arrastá-la para o carro e
prendê-la com o cinto de segurança, pois ela cismou que seria interessante
dançar sobre a mesa do restaurante. Segundo ela, serviria para perder suas
inibições com o sexo oposto. Não preciso dizer que quis estapear sua bunda
ali mesmo, mas me controlei e a trouxe para o carro. Agora está meio
dormindo, meio balbuciando enquanto nos levo de volta para casa.

— Ezra? — Ana chama e, pela pouca experiência com seu “eu


bêbado”, sei que devo responder de uma vez, ou ela ficará repetindo a mesma
coisa até que eu fique louco.

— Durma, Ana.
— Encosta aqui em mim, por favor? — Sinto seu olhar em mim, mas
não desvio minha atenção da estrada.

— Que conversa é essa? Você está bem? — Pergunto, mas estico o


braço e toco seu ombro com minha mão.

— Nada. Só senti calor e queria me refrescar com a sua frieza. —


Ana zomba e começa a gargalhar, como se fosse muito engraçada.

Aperto os dentes, sem saber o que fazer com ela. Pelo amor de Dio!
Ela já é insana sóbria, eu deveria saber melhor e tê-la impedido de beber.

Ao estacionar o carro na garagem, Ana está adormecida e a pego em


meus braços para levá-la para casa. Levo-a até seu quarto e a coloco sobre a
cama. Tiro as sandálias de salto dos seus pés e sinto a frieza nos mesmos.
Isso me faz sorrir, entendendo o motivo de ela usar meias sempre. Coloco os
saltos perto da porta e me encaminho até seu closet. Nas gavetas em que
acredito que fique suas meias, abro e encontro calcinhas. Puta merda. Não me
deixo fantasiar, fecho a gaveta rapidamente e abro a seguinte. Sutiãs. Fecho e
parto para a próxima, então encontro as meias. Só há três pares e, certamente,
vieram com ela na mochila que ela trouxe, pois não mandei comprar meias,
não pensei nisso. Volto para o quarto e coloco as meias em seus pés, então
ligo o ar condicionado, verifico se as janelas estão fechadas, a cubro com sua
coberta e a deixo adormecida em seu quarto.

***

Três horas mais tarde, estou indo para academia no terceiro andar,
visto que não consegui dormir tranquilamente. Minha cabeça está à mil por
hora. Mesmo que esteja cansado, não consigo colocar a mente em um modo
de descanso, de forma que ela está sempre trabalhando e não me deixa relaxar
e adormecer tranquilamente. Fico surpreso ao ver as luzes da biblioteca acesa
e me encaminho até lá para ver Ana, também acordada, lendo um livro. Abro
as portas duplas de vidro e entro, chamando sua atenção.

— Acordada a essa hora?

— Estou exausta, com uma dor de cabeça terrível por causa daquele
vinho. — Ela suspira. — Mas meu inferno pessoal não me deixa dormir.

Sempre que cita Reinaldo seus olhos perdem o brilho. Aquele


maldito a oprime mesmo depois de tantos anos, mesmo estando morto. Faço
o impensado antes que possa evitar.

— Vamos descer. Vou ficar com você e vigiar seu sono. Você poderá
dormir segura, sabendo que ele jamais vai se aproximar comigo por perto.

Ana assente com a cabeça e se levanta. Ela não está mais com o
vestido que usou para ir ao restaurante, seu rosto não tem mais resquícios da
maquiagem e os cabelos estão soltos, naturais, usa um pijama e meias nos
pés.

— Ele está morto. Sou uma idiota medrosa, mas é tão... — Seus
olhos se enchem de lágrimas quando para na minha frente.

— Shh... — Toco sua franja, afastando-a de seus olhos, mas os fios


voltam para o mesmo lugar. — Você não é idiota, tampouco medrosa. Não
diga isso nunca. Você é corajosa pra caralho, Ana. Agora, vamos. — Estico
minha mão e ela coloca a sua dentro da minha.

— Eu nunca vou poder te agradecer por tudo.

— Não quero agradecimentos, Ana. Quero que seja feliz, que esteja
segura.

Caminhamos em silêncio e descemos para o seu quarto. Ela se deita


na cama e eu deito na outra ponta. Não nos tocamos, mas Ana fica me
encarando o tempo todo.

— Me conta algo até eu pegar no sono. — Pede.

A resposta imediata é dizer que não há nada para contar. Contudo,


vendo seus olhos azuis em mim, a confiança que ela tem que eu posso
protegê-la, mesmo de sua própria mente, faz com que eu confie nela também.

— Não falo sobre eles, mas meus pais se separaram por causa de
Reinaldo. Por isso, fui até lá aquele dia. Eu deveria só vigiá-lo, mas quando
vi sua mão tentando agarrar a janela, não consegui ficar quieto no carro. —
Explico e ela não diz nada. — Ele era o melhor amigo do meu pai, viajava
para nossa casa, na Itália, várias vezes no ano. Dizia que era casado e tinha
uma filha. Nunca levava vocês até lá porque dizia que sua esposa não gostava
de aviões. Um belo dia, meu pai chegou mais cedo do trabalho e o pegou na
cama dele com a minha mãe. Eu estava atrás dele e os vi. Minha família
acabou ali. Meu pai se tornou a sombra de um homem e minha mãe vive
viajando, segundo ela para encontrar seu eu interior. Ele tenta se matar
ocasionalmente. É uma situação fodida. Vive com babás e não aceita que a
vida continua. Foi um baque forte para um homem fraco. Ele não faz ideia de
como as coisas são. Não sabe sobre o pai verdadeiro, sobre o sangue
mafioso... Nonna sempre optou por protegê-lo e Giuseppe respeitou, afinal
nunca se orgulhou do seu filho ser um fraco.

— Ele amava sua mãe, certamente. — Ana diz. — O amor não é uma
fraqueza. Ele foi ferido e não se recuperou, mas ele foi leal e a amou
enquanto ele pôde. Quem perdeu foi sua mãe, Ezra. Trocar um casamento
real, com amor, por aquele porco do Reinaldo, mostra que ela não tem
caráter.

— É minha mãe, mas não temos um vínculo de afeto. Ela entra em


contato comigo para pedir mais dinheiro para suas viagens e eu mando
porque não me importo com o que ela está fazendo, contanto que esteja
longe. Reinaldo não só a fodeu sob nosso teto, ele faliu a empresa do meu pai
com falsas promessas de negócios que dariam certo. Não foi só perder a
esposa que deixou meu pai doente. O poder e o dinheiro também
contribuíram. No fim, não há todo esse amor, Ana.

— Você nunca falou sobre os seus pais antes. — Comenta, parecendo


feliz. Estica o braço e toca minha mandíbula. — Obrigada por confiar em
mim.

Sua confiança causa um aperto em meu peito porque estou mentindo


em grande parte. Seu toque inesperado me causa diversas sensações.
Primeiro, o susto e estranheza. Não estou acostumado. Depois, aprecio, eu
gosto do toque de Ana. Sua mão é quente em minha barba e seu toque é
carinhoso, deixando claro que ela se importa comigo. Por último, a culpa. Eu
não deveria gostar. Estou deitado em sua cama, mas mantendo o respeito,
longe dela, sem nutrir pensamentos idiotas, porque estou aqui para que ela
possa dormir em paz. Seguro seu pulso e coloco seu braço de volta ao lado do
seu corpo.

Ana suspira e fecha os olhos, sendo vencida pelo sono e cansaço.

— Durma tranquila, mio angelo. — Sussurro.


CAPÍTULO 11

Queria não ter expectativas

Eu gostaria de poder colocar isso na sua cabeça

Sem confronto

Eu realmente gostaria que pudéssemos conversar sobre isso em vez


disso

Lauren Jauregui - Expectations

Há alguns minutos estou acordada, totalmente imóvel em minha


cama, observando Ezra adormecido. É a primeira vez que o vejo vulnerável,
com a expressão serena, calmo. Ele estava exausto na noite anterior e,
enquanto zelava o meu sono, acabou adormecendo, o que me deixa feliz. Já
passam das nove da manhã, um recorde para nós dois. Nunca dormi tão bem
continuamente. Meu sono sempre é interrompido por armadilhas da minha
mente. Lembro-me que quando vim viver com Ezra, ele me fez ver uma
psicóloga e fazer terapia, mas nunca fui honesta com a mulher. Odiava
lembrar o que me aconteceu por anos. Nem mesmo Ezra sabe que desde que
fiz nove anos, Reinaldo fazia aquilo comigo. Ele era um doente e me
inferniza até depois de morto. Toda a minha coragem nunca serviu para pará-
lo. Somente Ezra parou o infeliz e, mesmo com as peças que minha mente me
prega, ele me protegeu enquanto eu dormia e pude ter um sono prazeroso.

O deixo dormir e me delicio com sua beleza serena. Ezra tem uma
beleza fora do comum, a pele morena bronzeada, cabelos escuros e lisos, a
boca bem desenhada, mais carnuda no lábio superior, os cílios longos e
escuros, a barba bem feita, que o deixa com o ar ainda mais bruto e viril.
Dormindo com uma camiseta preta, vejo o contorno dos seus braços fortes e
as tatuagens tribais. Eu gostaria de tocá-lo, mas percebi que ele se afasta e
foge sempre que avanço um dos seus limites. Preciso ir com calma para não
espantá-lo.

A vontade de fazer xixi aperta e não consigo mais continuar


admirando Ezra, então sigo para o banheiro e aproveito para cuidar da minha
higiene matinal e tomar banho. Acabo me demorando, pois quando saio do
banheiro, usando um roupão atoalhado, não vejo Ezra na minha cama.

Sou obrigada a me arrumar para ir ao salão, uma vez que marquei de


começar entrevistas com possíveis candidatas depois das dez horas. Nonna e
Gilda irão comigo, então é provável que já estejam me esperando no andar
inferior. Quero ir até o quarto de Ezra e procurá-lo, conferir se está tudo bem
com a gente, visto que ele é tão escorregadio quanto um sabonete, mas não há
tempo.
Passo o dia ocupada no salão, as entrevistadas me agradaram demais
e, aconselhada por nonna, começo contratando duas para cada área. Me
surpreendi com a quantidade de mensagens que recebemos nas redes sociais,
já que as pessoas estão esperando que comecemos a trabalhar a partir de
semana que vem, como fizemos questão de divulgar na abertura ontem.

À noite, estou exausta por passar boa parte do dia fora. Fico meia
hora na banheira sob a água quente e quando desço para jantar, não há sinal
de Ezra.

— Onde Ezra está? — Pergunto a Luigi.

Luigi dá de ombros.

— No clube, provavelmente.

— Até essa hora? Não é o horário que começa a orgia?

Luigi ri e Gilda se benze, com os olhos arregalados.

— Bambina, Ezra deve estar resolvendo algumas questões. — Nonna


sorri, acolhedora.

Uma coisa opressora e horrível faz meu peito doer ao imaginá-lo com
outras mulheres naquele clube. Suponho que todas se jogam para ele. Até se
fosse um mendigo na rua, Ezra chamaria atenção. Sendo limpo, cheiroso,
bem vestido e rico, sua beleza é só mais um complemento para que todas o
queiram. Sua imponência e áurea perigosa faz qualquer uma querer se
ajoelhar aos seus pés. Isso me incomoda.

— Me leve ao clube. — Digo à Luigi.

— O chefe...

— Foda-se o chefe!

— Respeito, Diana. — Luigi rosna, mostrando seus dentes para mim


e isso me faz lembrar o quão perigoso ele é.

— Por favor, Luigi!

Ele puxa seu celular do bolso, ainda me encarando com raiva e disca,
provavelmente o número do bastardo do Ezra. Sem sucesso, pois bufa e enfia
o celular no bolso novamente.

— Cattaneo não atende, não irei levar você lá sem a autorização dele.

— Certo. — Suspiro, me sentindo cansada e sobrecarregada, então


sem mal ter mexido no prato, me retiro da mesa. — Vou me deitar um pouco.
Estou exausta.

Depois de algum tempo encolhida na cama, Gilda bate na porta do


quarto e entra, trazendo uma sobremesa para mim.
— Não tinha feito nada antes, mas fiz esse mousse de morango para
adoçar sua vida, querida.

— Obrigada, Gilda. — Sorrio, grata.

— Homens como o Ezra não são para as mulheres se apaixonarem,


Dianinha. Ele é duro, frio e intocável.

— Não estou apaixonada por ele. Só quero transar com ele.

— Misericórdia! — Ela arregala os olhos com minha sinceridade.

Quero sorrir e achar graça, mas não acho. Não tenho amigas da
minha idade para conversar. Só confio nas pessoas que estão nessa casa,
então acabo desabafando com minha antiga babá.

— Ezra me trouxe para cá porque meu padrasto abusava de mim. Ele


se... Masturbava... — Engulo o nó na minha garganta. — Ele se tocava
olhando para mim. Me despia e me obrigava a ficar lá enquanto ele queria.
Ezra me salvou... Mas depois que fugi, sempre tive nojo de qualquer homem
que se aproximasse. Só confio em Ezra para isso e não está sendo uma ideia
inventada da cabeça só para perder a virgindade, é que eu senti atração por
ele. Eu sinto... E quero saber como é o sexo de verdade. Não só pelos livros.

Gilda me encara com carinho e me puxa para os seus braços.

— Oh, criança. Lembro de você jovenzinha, tão desconfiada com


todos que surgiam. Até para mim demorou para se aproximar... Agora
entendo. Ninguém nunca mais irá machucá-la. Ezra não vai deixar. Nenhum
de nós vamos. Não fuja mais. Ele ficou louco com seu sumiço, não esqueceu
nem deixou de tentar encontrá-la nem por um momento.

— Eu sei. — Sussurro arrependida por ter sido tão tola em fugir.

— Se você quiser ir a esse clube, Luigi não vai levar você, mas o
Stefano ainda está no Brasil... Ninguém o impedirá se você...

— Stefano é um monstro. Não vou pedir nada à ele.

— Ele é como Ezra, mas pelo menos sorri às vezes e é bondoso


comigo e nonna. — Ela dá de ombros.

Lembro-me do sorriso dele, mais assustador que o sorriso de Luigi


costumava ser antes de se acostumar comigo.

— Vá dormir, Diana. Você precisa descansar sua mente. — Gilda


beija minha bochecha e me deixa com o mousse de morango.

Como todo o doce e desço para levar o recipiente sujo e a colher.


Ouço a voz de Ezra de longe enquanto desço a escada e me aproximo quieta.
Ele está andando de um lado para o outro na sala e rosna:

— Quero uma branca, de olhos azuis claros e cabelos escuros... —


Ele para por um momento e continua: — Com uma porra de franja... Baixa,
corpo esguio, seios avantajados e pernas naturalmente grossas, não
exagerado...

Tudo parece tão absurdo e irreal, que não consigo evitar ficar parada
ali no primeiro degrau da escada, e quando Ezra se vira, voltando a caminhar
na direção em que estou, ele estaca no lugar ao me notar. Seus olhos verdes
se arregalam por um momento, exibindo o mínimo de emoção. Sua expressão
endurece, como se eu tivesse culpa por ele estar pedindo uma cópia minha...
Para que?

— Por que você está ouvindo a minha conversa?

Mostro os objetos na minha mão.

— Só estava indo até a cozinha levar isso. Não sabia que a sala
estava interditada enquanto você criava sua própria versão de um clone meu.

— Ana... — Ele rosna, tão puto, que mostra os dentes.

— Ezra. — Eu o desafio, de saco cheio da sua frieza. — Por que você


cuida de mim e me mantém à um braço de distância?

— Por que eu deveria não mantê-la à um braço de distância? A


realidade é que eu deveria mantê-la mais longe do que isso, cazzo!

Suas palavras me magoam. É mais fácil para eu lidar com a raiva do


que com a mágoa. Passo por ele e vou até a cozinha. Ele não me segue. Lavo
minha louça, respirando fundo para não chorar. Então seco minhas mãos e
volto, disposta a passar direto por Ezra novamente. Todavia, ele segura meu
braço e me faz recuar, de forma que meu peito encosta na parede de músculos
que é o seu corpo. Ele me encara nos olhos, franzindo a testa, como se
estivesse me estudando, tentando me desvendar quando, na realidade, a única
incógnita aqui é ele.

A tensão sexual feroz e ardente pulsa entre nós, fazendo meu coração
pular desgovernado. Meus seios me entregam, com os bicos intumescidos
empurrando contra a malha fina do pijama. Não deixo os olhos de Ezra e vejo
o exato momento em que ele nota meu peito. Sua respiração muda, ficando
forte, dura, seu peito subindo e descendo como se fizesse algum esforço e os
olhos verdes, ficam escuros, a expressão sombria me deixa louca de desejo,
meu sexo contrai e sinto a umidade escorrendo. Só posso ser tão insana
quanto ele. Ezra inala fundo, parecendo um animal. Sua cabeça abaixa um
pouco, como se sentisse o cheiro que vem de mim. Sinto minhas bochechas
queimarem com a vergonha, a falta de experiência para agir e o desejo voraz
de saber o que fazer para deixá-lo louco agora mesmo.

Puxo meu braço do seu aperto e me afasto, quebrando o feitiço, me


sentindo dividida, mas a mágoa mantendo minha mente no lugar.

— Se me quer longe, não deveria ter me trazido para sua casa,


tampouco me segurar e olhar dessa forma, como se quisesse me comer. —
Cuspo, para feri-lo como me feriu.

Ezra dá um passo para trás, parecendo envergonhado, passando as


mãos pelos fios negros de seu cabelo, deixando-o ainda mais bonito e
másculo.
— Ana, eu não devia olhá-la assim. Não tenha medo de mim.

Eu rio da sua ingenuidade ou idiotice.

— Eu gosto que me olhe como se quisesse me comer, Ezra. — Sorrio


quando vejo seus olhos quase saltarem de órbita e sua respiração engatar. —
É mais intenso que nos meus sonhos... Aqueles que tenho acordada...

— Já chega. — Ezra rosna, a raiva nublando o desejo em seus olhos.

— Não entendo porque precisa de um plágio quando pode ter a


original. É isso? — Me aproximo, tocando seu peito com minhas mãos. Para
a minha surpresa, ou não, tão rápido quanto o toco, ele prende meus pulsos
com uma só mão. Não me intimido. — Esse desejo que você sente não é
errado. Eu já li livros sobre atrações fortes que não podem ser contidas.
Nunca imaginei que poderia existir, mas a nossa é assim.

— Você tem o rosto de um anjo, Ana. — Suas palavras são doces,


mas o tom é quase ofensivo. — Mas a boca é de um demônio.

Poderia chutá-lo agora, mas acho graça e ele se perde por alguns
segundos olhando meu sorriso. Meu coração acelera ainda mais.

— Um anjo é puro e intocado. Veja o lado bom de demônio, você


não precisa corrompê-lo. Ele que vai te corromper. — Forço minhas mãos
entre seus pulsos, tentando tocá-lo outra vez.

Ezra empurra minhas mãos e rosna:


— Não brinque comigo. Não me toque.

— Não vou precisar tocá-lo para deixar você louco. Pode foder
minha cópia enquanto pensa em mim... Nunca será eu e nunca será suficiente
até que seja.

Viro-me, o deixando ali e subo as escadas. Escuto o som de algo


atingindo a parede e depois explodindo no chão. O homem vai lutar contra
isso, mas eu também vou. Se havia alguma dúvida de que ele está fugindo,
acabou de ser confirmada. Nós somos bons lutadores. No ringue, Ezra
Cattaneo vence, mas agora vai além... E eu sairei vencedora.
CAPÍTULO 12

Minha vida está bem

Só quando você não está perto de mim

Minha vida está bem

Eu sinto que estou me afogando

Estou me afogando

Você está me puxando para baixo

Two Feet - I Feel Like I'm Drowning

Subo para a academia como se fugisse de mil demônios, mas a


realidade é que estou fugindo de um só. A demônia com rosto de anjo. Não
consigo acreditar que Ana teve o disparate de sugerir tais coisas. Eu a vi
criança! Já tenho me condenado por esse desejo que venho sentindo por ela.
Quando acordei no seu quarto, de manhã, e ouvi o som do chuveiro, só
pensava em entrar no banheiro e fodê-la contra a parede. Porra, isso é
absurdo! Ana não me conhece, não sabe o que faço no clube, embora
ultimamente eu só pense nela, que não fiz mais qualquer jogo, apenas tentei
com uma submissa, mas acabou com um boquete e olhe lá. Olho para as
mulheres e fico esperando ver um nariz arrebitado e queixo empinado, além
dos malditos olhos azul bebê. Cheguei ao ponto de pedir a Tadeo, o sujeito
que recruta prostitutas para trabalharem no clube, para que arrumasse uma
com a descrição de Ana. Isso é doentio, mas cheguei à esse maldito ponto e
ela ouviu e riu na minha cara, foi insolente e me deixou louco! Não vou
avançar em direção à ela. Não tenho relacionamentos, não vivo de romances
e ela é jovem, viveu o lado ruim da vida desde cedo e não merece um cara
que só vai usá-la. Ana merece um homem decente e esse não sou eu. Nunca
serei. Me importo com ela e jamais a deixaria estar com alguém como eu, e
se é necessário protegê-la de mim, então eu o farei.

Tenho trinta e seis anos, se não me embrenhei com ninguém


enquanto jovem, não é agora que irei ter pensamentos e desejos românticos.
O que sinto por Ana é desejo puro e selvagem. Uma vontade louca de chupar
seus seios grandes, aqueles mamilos com bicos que intumescem com o tesão
que ela sente por mim. Quero lamber sua boceta e beber seu gozo, então me
enterrar nela e fodê-la até nós dois não aguentarmos mais. Aquela bunda
branca e arredondada ficaria perfeita com a marca das minhas mãos e com
meu pau enfiado até o talo no seu cuzinho. Sou puro instinto, nenhum
sentimento, e não vou misturar as coisas com a única mulher que me faz
acreditar que ainda tenho um coração. Não sei dar nome ao que sinto por
Ana, uma vez que ela não é família, mas também não é qualquer uma. Sinto
puro protecionismo, desde sua infância, e isso não mudou. Com a luxúria me
cegando, fica difícil entender qualquer coisa, e é exatamente por isso que não
há uma chance no inferno de ultrapassar essa linha com ela.

Me dispo quando chego na academia, ficando só com a boxer branca.


Chuto e soco o saco de pancadas até perder a noção do tempo, até o suor
respingar em minha testa por meus ombros, peitoral e costas, até o dia
começar a clarear lá fora, até eu estar exausto. Volto para o meu quarto e
tomo banho, tranco minha porta porque não confio em Ana, com sua pré
disposição para ser diabólica, e adormeço. Mas até em meus sonhos, ela me
persegue. Sobe em minha cama, esfregando a bocetinha toda molhada em
mim e abaixa minha cueca, chupa meu pau, com aqueles cabelos caindo pelo
seu rosto. Fico louco, acordo quase gozando, duro feito uma barra de ferro, à
ponto de uma dor que nunca senti antes. Fecho meus olhos e respiro fundo
para me acalmar, mas tenho a visão daquele rosto corado, o peito subindo e
descendo enquanto estávamos envolvidos naquela tensão sexual forte,
potente, quase a ponto de ser sentida fisicamente no ar. Estou fodido! Me
entrego e seguro minha ereção, apertando a cabeça e bombeando a base forte
e rápido, imaginando Ana em cima de mim. Com os olhos fechado, consigo
vê-la, revirando os olhos, gemendo meu nome, arranhando-me e quicando no
meu pau até que gozo pela minha mão e minha barriga, gemendo seu nome.

— Mio angelo... Maledizione! — Xingo, puto de raiva de mim


mesmo por ceder.

Levanto-me, possesso, com um humor do cão e tomo outro banho


para me limpar da bagunça que fiz e dissipar os pensamentos doentios da
minha cabeça. Meu desejo é virar Ana em minhas pernas e surrar sua bunda
para aprender a não me provocar, a não me tirar da porra do eixo. Volto a
ficar excitado com a imagem que minha mente forma por conta do
pensamento, mas dessa vez luto comigo mesmo e não me masturbo. Tomo
banho rápido, coloco minhas correntes de ouro com pingentes de cruz, visto
uma camisa social branca, calça social cinza chumbo, combinando com o
terno feito sob medida para mim, embora essa peça eu não vista agora, por
conta do calor até chegar no clube e da minha irritação. Calço meus sapatos
sociais italianos, arrumo os cabelos, a barba e me perfurmo. Ligo para saber
do meu pai e as notícias não são nada reconfortantes. O homem precisa ser
mantido longe de objetos cortantes, pois tentou se esfaquear. Um inferno em
vida. Como pode ser fraco à esse ponto? Adoecer por uma mulher, pelo
dinheiro que perdeu? A fraqueza do meu pai é mais uma ponta na minha
certeza de me manter longe do perigo que é dar brecha para o tesão que sinto
por Ana.

— Bom dia. — Digo ao passar pela copa e encontrar todos à mesa.

Todos dizem “bom dia” em resposta.

— Como você está? Acordou mais tarde. Está tudo bem? E aquela
bagunça na sala de manhã? Por que quebrou coisas?

Encaro Gilda demonstrando minha irritação com tantas perguntas.

— Ezra ficou nervoso ontem a noite. Ele está precisando relaxar um


pouco. — Ana diz, condescendente.
Nem ouso olhar em sua direção, mesmo que pareça haver um ímã me
puxando para olhá-la. Mais do que isso, a necessidade de jogá-la sobre essa
mesa, deixando todos os objetos caírem ao chão e castigá-la por ter a língua
afiada.

— Estou. Vou para o clube cuidar das minhas coisas e a noite, vou
relaxar com uma das mulheres por lá. Tive dores de cabeça demais depois
que você voltou. — A intenção é de irritá-la e o som da xícara batendo na
mesa é a resposta positiva de que consegui.

O silêncio é sepulcral. Não sento a mesa, somente bebo um pouco de


café, lavo a xícara e me encaminho para a saída.

— Estou indo para o salão. Vou pegar uma carona com você. — Ana
levanta-se para a minha surpresa. Então fala com Luigi: — Vai com seu carro
para quando voltarmos, Luigi. Estou protegida com Ezra, então pode terminar
seu café com calma.

Não recuso, mas a vontade que tenho de fazê-lo é enorme. Ela só


quer me infernizar e deixo, para demonstrar que não estou afetado. Saímos
em silêncio, ela com uma bolsa enorme e usando roupas brancas, que
escolheu como uniforme do salão. Abro a porta do carona para que ela entre e
ela passa por mim, com uma expressão séria, então entra. Dou a volta no
carro e me acomodo no banco do motorista. Começo a dirigir em direção ao
seu salão, que fica a uns sete minutos da nossa casa. Quando estaciono em
frente ao estabelecimento, Ana vira-se para mim e diz muito séria:

— Ontem você disse que devia me manter longe. Então vai minha
pergunta: por que estou na sua casa? E hoje deixou bem claro que desde que
cheguei só teve dores de cabeça. Sabe, Ezra? Você já me deu moto, um salão,
roupas, até cem pares de meias apareceram no meu guarda-roupa... — Faz
uma expressão de confusão, porque não sabe que percebi que seus pés são
frios e que ela usa as meias para esquentá-los e como tinha poucos pares,
mandei Gilda comprar muitos. — Então por que não me dá um apartamento
até eu me estabelecer? Assim fico fora do seu caminho e o que eu fizer da
minha vida não será dor de cabeça para você. Além do mais, sobre ontem...
Vá comer meu clone à vontade. Vou fazer como você, transar por aí, relaxar
minha mente. Mas eu não vou querer um clone seu, vou querer um gostosão
bem diferente para que eu só pense nele e nem lembre da sua cara azeda.

Então sai do carro sem me dar a chance de reagir, até porque ainda
estou assimilando o trator que passou em cima de mim. Bate a porta do
veículo, causando um estrondo e sai pisando duro em direção ao salão.
Espero até Luigi estacionar atrás de mim, o que ele faz em poucos segundos.
Saio cantando pneu, irritado e louco para tirar essa confusão dos meus
pensamentos. Pensar em Ana transando por aí deixou um gosto amargo na
minha boca. Sinto vontade de socar o sujeito inexistente e sei que não é certo.
Ela é uma adulta, solteira e dona de si, pode fazer o que quiser na vida. Ficar
sozinha em um apartamento não é necessário, nunca quis insinuar que sua
presença não é boa para mim. Só quis irritá-la e consegui. Mas o feitiço virou
contra o feiticeiro, pois quem está urrando de ódio agora sou eu. A
possessividade me corrói, a ponto de quase me fazer voltar para rosnar em
seu rosto que ela não vai foder com ninguém, mas me controlo, sabendo o
absurdo que seria uma atitude assim. Duelo comigo mesmo, brigo, luto e a
sanidade vence.
Fico no clube o dia inteiro e só volto para casa tarde da noite, mas
sem ter tocado em mulher alguma.

Passaram dois dias desde que tivemos nosso pequeno “impasse”. É


assim que estou chamando a cena no carro. Ana se afastou de mim,
trabalhando muito, resolvendo sobre novos funcionários do seu salão.
Continuo cuidando das redes sociais através do meu celular, embora ela
também esteja fazendo, muito focada e decidida, indo muito bem. Vejo que
está andando com suas próprias pernas e sinto orgulho. Hoje é sábado e é o
primeiro dia que irá ter atendimento no salão. Muitas pessoas marcaram, pelo
que soube por Luigi, Ana não irá trabalhar, só fiscalizar suas funcionárias. Ao
que entendi, ela pretende dar cursos para todas as funcionárias de como fazer
as unhas como ela, mas para isso, precisa refazer os cursos que já fez, porém
como professora. Está muito focada nisso e vai longe.

Surpreendo-me na hora do almoço quando ela volta para casa com


Luigi, provavelmente para almoçar. Estou na beira da piscina, apenas de
sunga, pegando sol e bebendo suco de laranja. Acordei com uma dor forte de
cabeça e decidi ficar em casa, uma vez que Ana iria trabalhar. Meia hora mais
tarde, sinto uma sombra sobre mim e quando abro os olhos, vejo Ana
pairando com um biquíni vermelho, pequeno, só cobrindo seus mamilos e a
calcinha que não deixa nada para a imaginação. Sento-me, o óculos de sol em
meu rosto impedindo que ela veja meus olhos.

— Vim ver se quer mais suco... Acho que esse está quente já. —
Oferece, mostrando a jarra.

Seus cabelos estão presos em um rabo de cavalo, de forma que o


pescoço imaculado e macio está a mostra. A franjinha está presa por alguma
coisa no topo da cabeça e o rosto bonito está todo a mostra. Ana é
extremamente linda. Desço meus olhos, vendo os seios redondos e cheios,
lindos. A barriga reta, com algumas sardas abaixo dos seios, a cintura fina e
os quadris largos, o triângulo da calcinha do biquíni só cobre a boceta
pequena e as tiras nas laterais são um atentado ao pudor, pois me vejo
puxando-as e deixando-a peladinha para mim. Então olho as pernas. Solto um
suspiro, louco para tocá-la, apertá-las... São naturalmente grossas, com os
pêlos dourados, lindas.

— Ezra? — Ana chama.

Recobro minha atenção e aceito o suco. Seguro o copo e ela o enche.


Bebo o líquido de uma só vez e ela se vira, rebolando, com uma porra de tira
minúscula enfiada na bunda.

Ela veio para me tentar. Se eu continuar indo para longe, irá


continuar pensando que me afeta. Tenho que agir normalmente, controlar
meu pau e fingir que não me afeta. Isso irá fazê-la recuar.

E se Ana não recuar, irei perder a paciência com seus joguinhos,


surrar sua bunda e deixá-la bem ciente de que tipo de homem sou. Assim,
será ela a fugir. Para o seu próprio bem.
CAPÍTULO 13

A luz guiará o caminho para te libertar

Eu estou apenas procurando por um pouco de paz

E quando a noite cair

Me chame

Só não se esqueça de mostrar alguma misericórdia

Banners - Shine A Light

Passei alguns dias irada com Ezra, e ele não parecia diferente
comigo. Hoje, no entanto, quando o vi de sunga, todo gostoso, estirado na
espreguiçadeira sob o sol, perdi a vergonha na cara e vesti meu biquíni mais
indecente, pronta para o ataque. Me surpreendi que ele não saiu correndo
depois que voltei para colocar a jarra com suco na geladeira.
Percebi que a abordagem selvagem o afasta, então decidi começar a
ser sutil. Me aproximar de forma inofensiva. Talvez o biquíni tão pequeno
não seja inofensivo e Ezra não é bobo, mas só quis dar-lhe conteúdo para a
imaginação, sendo assim, quando eu estiver vestida perto dele, sua memória
pode se voltar para o meu corpo coberto, apenas, pela peça de banho
minúscula.

Volto para a área da piscina, usando óculos escuros, estratégia para


poder comê-lo com os olhos sem ser flagrada. Ezra ouve meus passos, agora
atento à mim, mas só se mexe e continua pegando sol. Ele já tem a pele
naturalmente bronzeada, mas o brilho de suor em seu peito me faz querer
montar nele e lambê-lo. Seu pênis marca a sunga, deixando claro que é bem
dotado. Até desvio o olhar, um tanto assustada.

— Não treinamos mais depois daquele dia, uma vez que você viajou
e eu fiquei enrolada com as coisas do salão. Posso voltar amanhã? —
Pergunto, me acomodando na espreguiçadeira ao lado da dele.

— Pode. — Responde, simples. Ele coloca os óculos sobre a cabeça e


me encara, com aqueles olhos verdes fascinantes. — E no salão, como tem
ido as coisas?

— Está indo tudo bem. Eu percebi que administrar dá trabalho e


queria até perguntar a você sobre como funciona a faculdade.

Isso parece animá-lo. Ele curva os lábios em um sorriso sutil e senta-


se. Falar de trabalho é a abertura.

— É excelente que você pense em se especializar para cuidar do seu


negócio. Podemos começar a ver faculdades para você entrar.

Suspiro, chateada, e ele franze a testa. Ergo meus óculos também,


visto que estamos só encarando o rosto um do outro.

— Não terminei os estudos, Ezra. Saí daqui sem concluir o ensino


médio e vivendo na rua mesmo que não consegui. Tudo o que sei aprendi
com os professores que você pagava para mim e com a escola particular que
estudava antes.

— Não acredito que passou sete anos da sua vida sem estudar...

— Minha prioridade era sobreviver. — Retruco na defensiva, por


conta do seu tom acusador.

— Você fez tudo errado, Ana. Tudo, porra. Ainda não consigo
acreditar. — E passa a mão pelos cabelos, levando o óculos de sol direto ao
chão.

— Você só sabe julgar, mas não sabe se colocar no meu lugar. Com
você, é sempre assim. Você é minha única família, queria que eu ficasse
esperando você chutar minha bunda quando se casasse com Melina?

— Eu não ia me casar com ela, cazzo!


Quando começa a misturar o italiano com o português, sei que não
devo mexer com a fera.

— Foda-se! Eu não sou uma adivinha! Viviam juntos, ela tinha


acesso à sua casa a hora que quisesse... Você sempre foi assim, me dava tudo,
mas não me dava sua presença, sempre com essa sua frieza glacial. Nunca
tivemos conversas, Ezra. Sei que você moveria o mundo por mim, mas
sempre foi tudo tão estranho. Você não pode me julgar! E eu não vou
justificar mais.

Ele respira fundo e me olha com raiva, mas não diz mais nada. Pega
seu óculos de sol, o coloca e volta a se deitar.

— Ezra? Sou muito branca para esse sol... Pode passar protetor em
mim? — Pergunto, parecendo inocente. Ele abre a boca para negar, mas já
digo de uma vez: — Se não puder, não tem problema, eu peço a Luigi. Acho
que ele está pelos arredores...

— Luigi não vai tocar em você. — Ezra rosna sem hesitar, retira o
óculos quase com raiva e senta-se.

Pego o protetor solar na mesa próxima do outro lado dele e volto.


Sento-me na beirada da sua espreguiçadeira e sinto quando ele senta atrás de
mim. Suas pernas longas ficam ao lado das minhas, sem tocar. Só a sensação
de tê-lo atrás de mim me deixa quente, em expectativa. Ezra pega o produto
da minha mão, porque perdi a noção e não o entreguei. Então escuto o som da
tampa abrindo e faço uma loucura, desato o no nas minhas costas e seguro a
parte da frente em meus seios. Sinto a respiração dura de Ezra em meu
pescoço, pois estou com os cabelos presos.

— O protetor pode manchar meu biquíni. — Justifico o ato.

Ezra nada diz. Sua mão toca meus ombros e fecho os olhos,
mordendo o lábio para conter um gemido. Sua palma é áspera, máscula,
quente e grande, com dedos longos que deixam um traço de fogo por onde
passam. Seu toque não é gentil, ele me aperta sem perceber, porque é feroz,
não sabe ser delicado. É um homem bruto e minha calcinha fica molhada só
com suas mãos em minhas costas.

— Você precisa voltar para a escola. — Ezra quebra o silêncio, sua


mão me deixando.

— Faça o nó para mim, por favor? — Viro, para olhá-lo sobre o


ombro e vejo suas pupilas dilatadas, quase sem o verde de seus olhos. Nossos
olhares se prendem um no outro, a tensão disparando, o tesão crepitando
entre nós. — Se eu soltar aqui na frente, meus seios ficarão expostos. —
Sussurro.

São tantas sensações desconhecidas e fortes, que me sinto tímida e


insegura por um momento. A realidade é que eu estou provocando uma onça
com vara curta quando não passo de um filhotinho inexperiente.

Ezra se inclina um pouco na minha direção, com seus olhos ferozes, a


expressão dura, selvagem. Sinto seus dedos passando pela lateral do meu
corpo. Ele me toca sutilmente, subindo um único dedo de cada lado. Arfo,
sem conseguir evitar e ele não tira os olhos dos meus. Seus dedos sobem até
estarem embaixo dos meus seios. Fico louca, minha vagina contraindo, meus
seios pesando e os bicos ficando duros, doloridos. Esfrego minhas coxas,
querendo aliviar a dor e Ezra inala profundamente, então fecha os olhos,
como se conseguisse sentir o cheiro da minha excitação. Ele rosna e abre os
olhos, tão louco de raiva e desejo ao mesmo tempo. Quase gozo só com seus
olhares, só com a fúria nublada com a luxúria em sua expressão, com a
sensação quente de seu corpo atrás do meu. Os dedos sobem mais e puxam as
tiras do biquíni, puxando-os para trás lentamente, tocando-me durante o
processo, tão leve, tão leve, que quase imploro que me aperte de uma vez.

— Está amarrado, mio angelo. — Ezra avisa, se afastando, com a voz


e olhar carregados.

Tão presa em sua sensualidade, continuo parada, ofegante, olhando


sobre o ombro. Quando ele se levanta, vejo sua ereção grossa e comprida sob
a sunga e lambo meus lábios, meus olhos piscando, com medo e desejo.
Medo de não saber como agir, de querê-lo tanto e não ser páreo para ele e
desejo de tocá-lo, de tê-lo na boca. Puro instinto me dominando.

Ezra se vira e vai caminhando pelo gramado extenso até a mansão.


Seu corpo é maravilhoso, forte, poderoso, com músculos bem construídos e
sem exageros em toda parte. Ele caminha com confiança, como se o mundo
fosse dele. Olho em volta, sabendo que estou sozinha e levo minha mão
dentro da calcinha, sentindo a umidade, minha carne latejando, o clitóris
inchado. Quase me toco aqui, mas a ideia de que alguém poderia ver me
trava. Me jogo na piscina, precisando da água fria para aplacar meu fogo,
mas de nada adianta. Cinco minutos mais tarde, estou correndo em direção ao
meu quarto e lá me entrego ao desejo de me tocar, imaginando o toque
daquele italiano delicioso.

Depois da situação na piscina, dei uma pausa para Ezra, mas na


verdade foi por minha causa. Por não conseguir entender a intensidade de
tudo. Não consigo entender se Ezra é intenso sempre ou se toda aquela
combustão, quase tangível, é só com nós dois. Fui a academia todas as
manhãs na última semana, deixando-o agir do seu modo calado. Ezra
conseguiu uma escola que me aceitasse, mesmo já tendo passado do meio do
ano. Comecei a ir às aulas à noite e, para a minha surpresa, Luigi não me
buscou nem um dia, mas, sim, Ezra. Deixou claro o quanto se importa com
minha educação, questionando se precisava de ajuda com as tarefas para casa.
Me senti uma criança, na maioria das vezes e acabava dando uma patada, sem
motivo real, só sendo mimada. Mas é que quero que me veja como mulher e
oferecendo ajuda com meus exercícios do ensino médio, me fez sentir como
uma adolescente. Treinamos, ele voltou a jantar em casa após me buscar na
escola. Me aconselhou sobre o salão, apareceu lá em dois dias para ver como
as coisas estavam indo e me chamar para almoçar com ele. Almoçamos no
clima de sempre, com ele sendo frio e exigindo as coisas do seu jeito e eu,
retrucando e deixando-o puto. Ezra não mudou nem por um segundo, mas
senti que se esforçou para estar mais próximo de mim, mesmo com sua frieza
constante.

Hoje, duas semanas após a cena na piscina, começo a perceber que


minha paixão por Ezra nunca desvaneceu. Era algo platônico anos atrás e,
com minha vida atribulada, empurrei para um lado esquecido da minha
mente. Nunca senti atração por sentir, sempre foi por ter sentimentos e
confiança em Ezra.

Encaro-o, enquanto dirige em direção a nossa casa. Está calado, mais


do que o normal. Usa uma camisa social cor de vinho, como sempre dobrada
nos antebraços, exibindo as tatuagens no esquerdo e as veias proeminentes,
até seus braços são sexys. Os primeiros botões estão abertos, exibindo as
correntes que ele nunca deixa de usar.

— Por que está tão calado? Mais que o normal monossilábico.

— Palavra nova que aprendeu na escola? — Ezra resmunga,


arqueando uma sobrancelha, sem olhar-me.

— Sim. Aprendi outra também: idiota. Ah não, essa eu aprendi desde


que conheci você. — Retruco, irritada com sua estupidez.

— Meu pai não está nada bem. Nonna não sabe e não sei como dizer
a ela. Liguei para a minha mãe... — Comenta, me surpreendendo com o
desabafo completo. — Pedi que passe um tempo com ele, não sei, para ver se
ele reage e depois fazemos uma intervenção. Ela diz que não pode, que vai
fazer mal para sua saúde mental, que ela progrediu muito e irá regredir. É
uma bastarda egoísta! Fez o que fez e não pensa em, sequer, se redimir.

Vejo suas mãos apertando tão forte o volante que os nós dos dedos
estão brancos. Toco seu braço, sem pretensões maliciosas, só querendo
confortá-lo. Surpreendo-me, pois ele não me lança um olhar mortal,
tampouco retira minha mão ou se assusta sob meu toque. Aperto seu ombro.
— Sua mãe não vai fazer nada, Ezra. Ela escolheu esse caminho,
então deixe que viva como quer. Faça sua parte. Nonna é forte, vai até
ajudar... Quem sabe não possamos passar uma temporada com ele? Trazê-
lo...

— Já tentei fazê-lo vir. Ele não aceita.

— E desde quando Ezra Cattaneo precisa que alguém aceite algo? E


para o bem dele. Traga-o e foda-se. Aqui cuidamos dele.

Paramos em um sinal e Ezra me olha com a expressão suave,


sorrindo de um jeito que me deixa bamba.

— Mio angelo, na casa dele foram escondidas facas, objetos que


cortam... Linhas, cordas... Coisas simples, que ele já usou para tentar se
matar. Teríamos que ter uma mudança drástica. Não vou modificar nossas
vidas, viver pisando em ovos.

— É seu pai, Ezra. — Suspiro, mas também o entendo.

— Estou sendo honesto com você. Não há um grama de bondade em


mim a ponto de modificar minha vida por qualquer pessoa.

O sinal abre e Ezra volta a dirigir, mas eu dou uma cutucada em seu
braço.

— Acho que você está enganado. Tenho certeza que teve que
modificar muito sua vida quando decidiu cuidar de uma garota de treze anos.
Vejo seu lábio se curvar.

— Foi a única vez. — Não nega e eu sorrio, satisfeita, enfim


deixando-o quieto.
CAPÍTULO 14

Você tem controle sobre mim

Você nem faz ideia do seu poder

Eu me mostro confiante

Mas desmorono na sua presença

Você me mostra uma porta aberta

E depois bate na minha cara

Shawn Mendes - Mercy

O estresse tem sido tanto nos últimos dias que a maioria das noites
não consigo pegar no sono sem um treino intenso na academia. Hoje não está
sendo diferente, portanto, visto uma camiseta e shorts e subo.
A primeira coisa que vem em minha cabeça é Ana. A forma como
tentou me ajudar, como me ouviu e compreendeu, me confortou.

“Você sempre foi assim, me dava tudo, mas não me dava sua
presença, sempre com essa sua frieza glacial. Nunca tivemos conversas, Ezra.
Sei que você moveria o mundo por mim, mas sempre foi tudo tão estranho.”
Lembro-me de suas palavras, que me fizeram ser mais presente, mais
amistoso.

Estar próximo dela não é um sacrifício, é um deleite. Embora eu não


queira analisar ou pensar a respeito, tenho a consciência de que temos uma
conexão fora do comum. Me mantive próximo depois de ver que minha
distância e frieza a magoavam. Mesmo após aquela situação na piscina, onde
meu desejo era curvá-la sobre a espreguiçadeira e mordê-la toda antes de
fodê-la. Me provocou com aquele protetor e tirando o biquíni, me deixou
louco, duro feito pedra. Nunca precisei reprimir meus desejos e nossa tensão
sexual é algo incontrolável, justamente por estar me privando. Todas as
sensações parecem mais fortes do que já senti na vida. Por ser proibido, tem
sido mais intenso do que qualquer coisa que já experimentei. Estou por um
triz de não resistir, porque basta olhá-la, sentir sua presença, seu cheiro, que
imagino-me fazendo tudo com ela. Nos meus sonhos, Ana me atormenta e,
mesmo quando não me provoca propositalmente, me sinto consciente dela. A
quero como nunca me senti querendo outra mulher. A diferença de treze anos
de idade não é o que me impede, o que me faz recuar é que a vi criança, é o
quão importante para mim ela é. Não sei se sou capaz de amar alguém, mas
certamente se há sentimentos bons em mim, são todos voltados à ela. Desde
que a conheci, talvez pela situação em que se encontrava, eu me senti ligado à
ela e prometi cuidá-la. Falhei, deixando-a fugir e me sinto no dever de apagar
os sete anos difíceis que teve longe. Nada do que faço por Ana é esperando
algo em troca. Penso em seu futuro, em seu sucesso próprio e independência.
Se um dia quiser fugir de mim, terá seu dinheiro, sua vida estável e jamais
precisará passar necessidades, tampouco conviver com o tipo de homem que
ela convivia, que na primeira oportunidade tentou vendê-la.

Tiro minha camiseta e me encaminho até a esteira. Dou uma corrida


para o corpo se acostumar com os exercícios, mas antes que eu pare, vejo
Ana entrando no cômodo. Ela me encara e se aproxima, também usando
roupas para treinar. Um top, que deixa sua barriga lisa à mostra e uma calça
legging preta, colada ao seu corpo, moldando as pernas grossas, sem deixar
nada para a imaginação.

— Estava subindo para ler, mas vi que você estava aqui... Voltei,
troquei o pijama por roupas de treino e aqui estou. Posso treinar com você?

Sinto vontade de deixá-la treinar a vontade e voltar para o meu


quarto, mas permaneço firme na decisão de me mostrar forte, sem fugir dela.

— Claro.

— Noite difícil? — Ela pergunta, se alongando próxima ao ringue.

— Cabeça cheia. E você?

— Antigamente eu pensava muito, achava que via Reinaldo, mas


agora tenho dormido bem. Ele não me assombra mais desde aquela noite em
que você dormiu comigo.

Sorrio ao vê-la sorrindo, aliviada.

— Fico feliz, Ana.

— Mas eu sinto umas coisas... Tem me impedido de dormir bem. Eu


acordo me sentindo... — Ana ergue aqueles olhos azuis tão lindos em minha
direção, olhando-me sob os cílios grossos, quase inocente. — Me sinto
quente... Dolorida em... Alguns lugares. — Lambe os lábios, deixando-me
louco ao vê-la apertar as pernas. — Meu corpo pede por algo e eu... Não sei o
que...

— Talvez você precise transar. — Digo, sem rodeios, acabando com


seu joguinho de fingir inocência. — Isso soa como tesão para mim.

Ela arregala os olhos, provavelmente não era a resposta que ela


esperava de mim. Mantenho-me firme, a encarando, mesmo que minha
ereção esteja incomodando, mesmo que eu queira surrar sua bunda por ser
uma demônia. Me sinto estranho pra caralho por falar assim com ela, mas
Ana já apertou todos os meus botões. Estou contra atacando para que ela me
veja como o oponente forte que sou e recue.

— Vamos lutar um pouco? Dizem que a luta relaxa. Não vai ser
como uma boa foda, mas deve ajudar. — Provoca ao se recompor.

Não consigo evitar um sorriso. Ana não tem pudor e desconhece


limites. Com esse rostinho de anjo, é capaz de iludir até o mais experiente
dos homens. Desligo a esteira e me encaminho até ela, sem pressa. Entramos
no ringue, ambos estamos sem luvas. Geralmente as uso para não machucá-la
caso a acerte, mas sempre sou cuidadoso para não acertá-la.

— Quero que você me derrube. Não vou lutar, só fazer força contra
você. — Digo e ela assente.

Ana ginga em minha direção e se inclina, ajeitando-se. Com rapidez,


ela se posiciona e chuta a lateral da minha coxa direita. Dou um passo em sua
direção, gingando também, mas sem reagir. Ela dá um soco em meu peito e
recua, dizendo:

— Quero ir ao seu clube.

Sou pego de surpresa, pois dessa vez ela consegue acertar um soco
em meu queixo e fico aéreo por uns segundos. Com um golpe rápido, prendo
seus pulsos com uma só mão e encaro seu rosto.

— O que?

— Pesquisei sobre o clube. Hot Cattaneo... Pedi a Luigi mil vezes


para me levar e ele nunca o fez, diz que tenho que pedir a você. Sou maior de
idade. Sei que lá só entra figurão, tem que ser associado... Mas você poderia
abrir uma exceçãozinha para mim, certo?

— Está louca? É um clube de sexo. — Explico, como se ela fosse


uma idiota.
— E é justamente por isso que quero conhecer.

— Para que quer conhecer um clube de sexo? — Rosno.

— Para que as pessoas vão ao seu clube, Ezra Cattaneo? — Ela


cantarola, debochada. — Certamente minhas pretensões são as mesmas...
Agora me solta.

— Não me provoque, Ana. — Alerto, com raiva dela por me


envolver em seus joguinhos e conseguir resultado e de mim mesmo por cair,
por desejá-la, por querer dar a ela o que ela quer encontrar no clube, sem que
ela tenha que ir até lá.

Solto seus braços e dou um passo para trás. Ana sorri, quase perversa,
e então tenta me derrubar. Ela não consegue.

— Provocar você por quê? Só quero me divertir. Conhecer pessoas...


Ajudar com essa agonia que tenho sentido no meu corpo. Você mesmo disse
que eu preciso transar.

Sou como uma criança, reagindo sem racionalidade ao ser provocado.


Em dois segundos ela está com as costas no chão do ringue e eu estou
montando-a.

— Por que não pensa na luta? No desafio de me derrubar em vez de


perder tempo com asneiras?

Nossos narizes estão quase encostados um no outro. Seus olhos azuis


duelam com os meus. Me perco em seu peito subindo e descendo, o pescoço
esguio, os cabelos espalhados pelo ringue. Ana sorri.

— Eu derrubei você, não vê? Está onde eu quis que estivesse, Ezra.

Então, Ana empurra o quadril e esfrega a boceta no meu pau. Mesmo


com as roupas, fico louco de tesão, com a ereção pulsando e babando na
boxer.

— Ana. — Rosno.

— Ezra... — Retruca, mas sua voz soa como um gemido e ela joga a
cabeça para trás, fechando os olhos, e me usando para fazer fricção.

Levo minha mão ao seu pescoço e aperto de leve, fazendo-a me olhar


com espanto, os olhos arregalados, o peito subindo e descendo mais depressa.
Suas bochechas ficam coradas. A maldita gosta disso.

— Você não deve me provocar mais. É a última vez que vou tolerar
isso.

Ana empurra contra mim outra vez e seus lábios entreaberto deixam
escapar um gemido. Cazzo! Seguro sua cintura e empurro contra ela,
fazendo-a abrir ainda mais a boca e as pernas, então engulo seu gemido,
beijando-a. Ana parece surpresa e não estou diferente. Mas o instinto, o tesão
desenfreado, não me deixam recuar. Sinto todo meu corpo reagir à ela. Seus
lábios são macios e ela parece um tanto perdida. Solto seu pescoço e seguro
sua nuca, mantendo seu rosto como eu quero. Saqueio sua boca, enfiando a
língua e encontrando a sua, mordendo seu lábio, lambendo-o. Ana geme e
ondula sob mim. Meu pau estremece, precisando estar dentro dela. Sinto seus
mamilos intumescidos contra o top fino, roçando em meu peito. Desço minha
boca por seu pescoço, mordo sua carne, chupo. Ana leva as mãos aos meus
cabelos, puxando os fios, gemendo rouca. Seus gemidos fazem um fogaréu
em meu sangue. Não consigo raciocinar, só agir. Beijo o vale entre seus
seios, mordo, chupo, lambo. Faço o mesmo com a barriga. Então inalo
quando chego no cós da calça, cheirando sua boceta. Rosno, feito um animal.

— Ezra... Por favor...

Olho para cima, encontrando seu rosto, as pálpebras pesadas, boca


entreaberta, cabelos bagunçados, bochechas coradas. Linda pra caralho.
Imagino como deve ficar ainda melhor gozando. Algo em minha mente me
alerta. É a Ana. Mio angelo... Não posso. Porra!

— Ana... Não é certo. — Saio de cima dela e a puxo, trazendo-a


comigo.

— Ezra, não é possível! — Ana se irrita. — Não sou criança! Não


sou sua irmãzinha, muito menos filha! Que merda!

— É minha menina. Meu anjinho. Não posso estragar tudo. —


Esfrego meu queixo, nervoso, com raiva de mim mesmo, optando ser sincero
com ela. — Meus relacionamentos são totalmente sexuais, Ana. Eu fodo e
vou embora. As mulheres no clube sabem para o que eu sirvo. Sou bom em
dar prazer e em obtê-lo. Você é importante para mim. Não sou cego e sei que
há algo entre nós, mas não podemos fazer nada a respeito.
— Você já fez. Esfregou seu pau em mim, me mordeu, me cheirou...
Me beijou! Não tem mais volta. — Ana nega com a cabeça, muito chateada.
— Olha... Escuta só... Eu quero me relacionar com alguém que confio. Não
vou ficar no seu pé, Ezra. É só sexo. Acabamos com esse tesão enrustido e
seguimos em frente. Vamos continuar sendo os mesmos.

— Ana, não. Eu protegi você sempre que pude. E vou continuar


protegendo.

— Não quero sua proteção! — Ela grita.

Seguro seu braço, nossos corpos se colando outra vez. Ana ergue o
queixo, me enfrentando.

— Não me teste. — Advirto, entre os dentes.

— Suas ameaças não surtem efeito comigo, Ezra. Você pode ser o
dono da ação lá fora, mas comigo, você fala e não age. Agora, se me der
licença, vou para o meu quarto terminar o que você começou. — Puxa o
braço para longe de mim e pula fora do ringue.

Observo enquanto ela sai, pisando duro, e acabo rindo. Ficou tão
irritada porque não a fiz gozar, enquanto seu corpo clamava por liberação.
Não estou diferente, preciso tanto quanto ela e não tive nada. Suas palavras,
seu gosto, seu cheiro não saem da minha cabeça. É meu inferno particular,
presumo. Cometi tantos pecados na vida e agora irei pagar dessa forma, com
minha própria demônia de estimação, me infernizando e tentando dia após
dia, até que o demônio que habita em mim decida dar as caras e a coloque
para correr de uma vez por todas.
CAPÍTULO 15

Esconda minha cabeça, quero afogar minha tristeza

Sem amanhã, sem amanhã

E eu acho engraçado

Eu acho isso meio triste

Os sonhos em que estou morrendo

São os melhores que eu já tive

Imagine Dragons - Mad World

— Bom dia, Dianinha. — Gilda cumprimenta quando sento à mesa.

Todos estão aqui, inclusive o negador de orgasmos.

— Está mais para diabinha. — Ouço Ezra resmungar.


Ninguém escuta, somente eu que estou ao seu lado. Acabo sorrindo.
Desejo bom dia a todos e começo a tomar meu café da manhã. Não treinei
com Ezra na parte da manhã hoje, já que tivemos fortes emoções na
madrugada.

— Vou precisar voltar para a Itália por uns dias. — Nonna comunica.

— Ah, nonna, por quê?

— Meu filho, querida. — Justifica e entendo que Ezra conversou


com ela.

O clima muda, todos ficando em silêncio. Luigi parece não se


importar, mas já costuma ser calado a maior parte do tempo. De qualquer
forma, Ezra também está com sua máscara fria, de quem não se importa com
nada. Isso me faz lembrar de horas atrás, na academia. Em como sua
expressão selvagem e necessitada lhe cai bem. Ezra é um homem viril,
másculo, mas a áurea sexual é seu elemento. Quando segurou meu pescoço
quase gozei, assustada e excitada, mas a excitação teve um pulo triplo com o
ato. Sentir seu membro grande e grosso, aquela fricção deliciosa, me deixou
bêbada. Consegui compreender porque tem mulheres que perdem a razão e se
rebaixam a qualquer migalha, o sexo pode ser enlouquecedor e aquela
lânguidez que senti, não me deixaria ser racional. Pelo menos senti sua boca,
seu beijo dominador, seu toque, seus lábios em mim, aquele tesão absurdo
quando começou a me cheirar, tão animalesco. Não trocaria aquele momento
por nada, mesmo tendo ficado puta por ele ter me deixado em combustão e
não ter terminado o serviço. Mas sei que eu é quem está procurando isso, eu o
provoquei e ele reagiu por instinto, não resistiu. Embora tenha recobrando a
consciência antes de fazermos algo mais “drástico”, me deu um gostinho do
que ele é, de como é, e agora só penso em mais.

— Nonna, o jato está a disposição. Hoje tenho muita coisa para fazer
no clube. Luigi, busque Ana na escola, pois não estarei disponível.

— Muito ocupado ou fugindo? — Rebato, sem olhá-lo.

Ezra segura meu queixo, quase com irritação, e me obriga a encarar


seus olhos. Todos à mesa parecem parar até de respirar.

— Nessa madrugada fui provocado por uma menina e hoje a noite,


vou resolver a situação com uma mulher... — Baixinho, só para eu ouvir, ele
me insulta.

Dou um tapa em seu rosto na mesma hora. Nunca lhe faltei com
respeito dessa forma, mesmo que eu seja briguenta, mas ele passou dos
limites. Me magoou propositalmente. Ouço cadeiras sendo arrastadas para
trás, provavelmente todos ficando de pé para apartar algo. Ezra só me encara,
furioso, e solta meu queixo.

— É a última vez que você me bate, Ana. — O alerta em seu tom não
passa despercebido.

— Vai fazer o que na próxima? Revidar?

— Não machuco mulheres, muito menos você. Mas um corretivo, se


necessário, eu darei. Vou colocá-la sobre meus joelhos e surrar a sua bunda
para que aprenda a ter modos. — Ezra rosna o aviso e levanta-se.

Levanto-me também e empino o queixo, encarando-o.

— Não sou sua filha para você me educar, seu idiota!

— Está avisada. E abaixe esse tom comigo a partir de agora. — Diz


entre dentes e vira as costas para mim.

Faço menção de avançar nele, mas meu braço é segurado firmemente


por trás. Olho e vejo Luigi, sério, parecendo nervoso.

— Chega, Diana. Dio mio! As mulheres da máfia são mansas e você


é louca! Foi uma coisa boa do destino o Cattaneo não ser um mafioso de fato,
ou você acabaria sendo morta por enfrentar os homens dessa maneira!

— A máfia é tosca, colocando homens como lei, mas não estamos na


porra da máfia e, na minha vida, a lei sou eu. Ele não vai me fazer de idiota!

— Acalme-se, querida. — Nonna se aproxima e me abraça. — Ezra


está muito nervoso, parece por um fio de surtar com qualquer um de nós há
dias. Não sei o que está acontecendo, mas é melhor deixá-lo em seu canto.
Não escutamos o que ele disse para você ter tal atitude, mas não fique perto
de quem a trata mal. Deixe que esfrie a cabeça e veja que está sendo um tolo.

Foda-se ele! Nonna está certa. Já chega de correr atrás de Ezra. Ele
sente tesão por mim, mas deve achar que não sou boa o suficiente para ter seu
pau de ouro. Ele que enfie no buraco sujo onde bem entender! Estou fora.

— Você precisa me buscar aqui às três horas. Kelly me ligou e pediu


que eu leve uns materiais aqui do salão, que ficaram sobrando, e eu prometi
levar para ela. — Aviso a Luigi quando ele estaciona em frente ao meu salão.

— Claro, mas vou estar aqui. Fico em volta sempre. Cattaneo não
quer você sem proteção.

— Ele diz isso? Engraçado, às vezes parece querer me ver pelas


costas!

— Você sabe que não é assim, Diana. Não se faça de boba. Você
provoca o homem. Nonna e Gilda não escutaram o que ele disse, mas eu, sim.
Estou sempre atento, à passos, sussurros... Não pude controlar. Não deveria
me meter na vida de vocês, não sou sua amiga, sou seu segurança. Mas eu
sou fiel ao meu Capo, e Stefano Esposito é o homem mais justo que eu
conheço... E ele me pôs aqui para proteger Cattaneo, então estar me
intrometendo, é um meio de proteger vocês dois.

— Você é fiel à ele, mas estava prestes a me defender naquele dia. —


Interrompo, sem entender.

— Quando comecei a trabalhar com Cattaneo, Stefano me fez


prometer que seria leal à ele, mesmo que um dia isso me fizesse me virar
contra a Famiglia. Sou leal ao Ezra porque prometi ao meu Capo. Stefano
ainda não é o Capo de verdade, mas a maioria de nós, soldados, o seguimos e
o obedecemos. Ele é o homem certo para nos liderar e confiei nele que Ezra
precisava de mim e também era como nós. Desde que você chegou, Ezra
cuida de você, e se sou leal à ele, cabe a mim mantê-la segura. Até mesmo do
Esposito.

Arregalo os olhos, bem chocada com tudo.

— Você ama a máfia... E está preso sendo babá...

— Fazer parte da máfia não é fácil, Diana. Não é só glamour.


Perdemos pessoas que conhecemos toda a vida, somos torturados se pegos
pelo inimigo, missões para resgatar drogas de locais fodidos, com armadilhas
fodidas... Estar por aqui não é ruim. — Ele pisca para mim, sorrindo
debochado. — Comecei a falar da máfia para chegar a um ponto. Stefano
confia em Ezra de olhos fechados e ele sempre diz que o primo não esconde
que é um mafioso, mesmo que não possa ser. Deixe Ezra em paz. Ele a ama e
a protege. Eu sei reconhecer um homem que ama uma mulher, porque eu
nunca vi, no mundo que eu vivo, uma mulher sendo amada e cuidada como
você. Vocês tem uma coisa forte, especial até, mas ele vai relutar porque vê
como errado. Não por você, mas por ele. Porque ele esteve no lado negro do
mundo, fez coisas sujas e erradas. E você, com esse rosto de menina, faz
qualquer um pensar que seu lugar é longe da sujeira.

— A sujeira na vida dele começou por minha causa. — Digo, mesmo


que compreenda melhor as coisas sob a perspectiva de um terceiro, e sabendo
que é a melhor pessoa para dizer, uma vez que é tão observador e honesto.
— Se insistir, vai se magoar, Diana, porque Ezra vai começar a reagir
de acordo com seus atos. Você não será tratada como o anjo dele. Você será
tratada como uma mulher normal e ele não é um príncipe encantado. Nem
mesmo o sapo. Está mais para o vilão da história. — Luigi está sendo honesto
e concordo com ele.

— Fique despreocupado. O que ele me disse hoje vai demorar para


sumir da minha cabeça. Quero que ele se dane.

Luigi suspira, como se não acreditasse, e bagunça meus cabelos,


como se eu fosse um moleque. Que vontade de socá-lo!

— Por que o salão está fechado? Ela não sabia que estávamos vindo?
— Luigi estreita os olhos e leva a mão para trás, no cós da calça jeans.

Seguro seu braço, antes que ele empunhe a arma bem aqui no Aterro
do Flamengo, para que algum guarda veja, acione a polícia e nos leve presos.
Chegamos no salão de Kelly, mas está fechado. Também não compreendo o
motivo, já que ela sabia sobre nossa vinda.

— Calma, mafioso louco. — Resmungo para Luigi e pego meu


celular no bolso da calça.

Antes que eu possa ligar, a grande porta de ferro começa a subir e


Kelly aparece através das portas duplas de vidro. Seus olhos parecem
inchados, ela nega com a cabeça e na mesma hora Luigi me joga no chão.
Ouvimos o som de tiros e o corpo do segurança se mantém sobre o meu. Fico
em pânico, sem entender o que causou tudo isso e preocupada com Luigi.

— Diana, tem que agir rápido. Vou levantar, você fica colada atrás de
mim e corre para o carro. No três... — Luigi ordena.

Antes do dois ele já está de pé e me colando em suas costas. Corro


quando ele manda e me escondo atrás do carro.

— Se continuar atirando, vou matá-la. — Ouço uma voz conhecida e


quando consigo me ajeitar para olhar a situação, vejo Wilson, o rapaz que
morava comigo e com Robert segurando Kelly e apontando uma arma na
cabeça dela.

— Eu não me importo. — Luigi retruca.

— Luigi, Kelly é minha amiga. Não...

— Sua amiga te colocou numa emboscada, docinho.

Analiso tudo e agora percebo que Kelly nos atraiu aqui à mando de
Wilson.

— Eu não queria... — Ela chora. — Esse garoto chegou aqui armado


e... — Se cala quando o idiota bate na cabeça dela com a arma.

— A polícia vai chegar a qualquer momento. Ouviram os tiros. —


Luigi avisa. — Não tenho nada a perder, já você...
— Perder? — Wilson rosna. — Já perdi tudo! Diana tirou Robert de
mim. Ele era minha única família. Agora não tenho como bancar aquela
casa... Não tenho nada! E quando vejo no Instagram dessa daqui... — Sacode
Kelly pelos cabelos. — Vejo que Diana está com um salão de bacana... Toda
fina... E eu na merd...

Wilson não termina de falar, pois Luigi dispara um tiro e a bala acerta
entre seus olhos. Fico chocada, tremendo e Kelly grita, desesperada, correndo
para longe.

— Sem tempo para desespero, porra! — Luigi grita, se aproximando


dela e a pegando pelos ombros. — Foi uma briga de dois jovens armados
aqui na frente. O outro atirou, esse morreu, o outro correu. Se você der com a
língua nos dentes, volto e corto sua língua. Capiche?

Me aproximo, tentando parar de tremer.

— Tem câmeras nas ruas, Luigi... Que merda!

— Das câmeras eu cuido, Diana. Se acalme, cazzo!

— Kelly, por favor, faça o que ele está dizendo...

— Foi vocês que sumiram com Robert... — Ela acusa, arregalando os


olhos. — O que está fazendo da sua vida, Diana?

Luigi me encara, sua expressão dizendo tudo. Na mesma hora


começo a chorar e viro de costas. Ouço o grito de Kelly, o disparo. Meu
Deus! Por que toda essa merda? Luigi me arrasta para o carro e sai dirigindo
feito um louco. Ouvimos carros de polícia se aproximando, mas não paramos.
Tudo aconteceu tão rápido, que ainda não consigo acreditar.

— Você não teve culpa. Ela ia falar demais. — Luigi diz.

Quando chegamos em casa, saio do carro e corro para o meu quarto.


Entro na ducha com roupa e tudo, me sentindo uma merda pelo o que acabou
de acontecer. Nunca quis esse tipo de vida, mas desgraças parecem me
perseguir. Me sinto exausta, culpada por tudo. Até Ezra ter se envolvido com
tanta merda foi por minha causa. Se não tivesse pedido favores à Stefano,
talvez fizesse vista grossa sobre quem ele era e jamais seriam mais próximos
do que já eram. A água continua caindo e me sento no chão, precisando que a
água leve tantas coisas. Mas tudo continua. Nada se vai.
CAPÍTULO 16

Esqueça o mal que eu fiz

Ajude-me a deixar para trás alguns motivos para fazer falta

E não se ressinta de mim

E quando você estiver se sentindo vazio

Mantenha-me na sua memória

Esqueça todo o resto

Linkin Park - Leave Out All The Rest

Meu escritório parece a ponto de se encolher e me esmagar. Me sinto


claustrofóbico desde que saí de casa. Não tenho interesse em transar com
mulher alguma, só disse aquilo para magoar Ana e sei que funcionou.
Justamente por isso me sinto mal. Ana não é qualquer uma. É minha menina
e feri-la me deixa perturbado. Sempre a protegi, e agora tenho que protegê-la
de mim, mesmo que isso nos leve a ficar putos um com o outro. Ana
consegue me levar ao meu limite.

Ouço batidas na porta e mando entrar. Não tenho uma secretária, uma
vez que não há necessidade. Dou conta do meu trabalho e a ajuda de
Alessandro é o suficiente. Deixo que cada funcionário cuide de seus
desígnios e, no final, supervisiono tudo para ver se está correto. Portanto,
ninguém tem o hábito de vir ao meu escritório. Já fico alerta e me levanto.
Quando vejo Luigi, analiso sua expressão e ela não me diz nada.

— O que você está fazendo aqui sem Ana?

— Precisamos ir para casa. Não podia falar por ligação.

Dou a volta em minha mesa e avanço em direção ao segurança.


Seguro-o pelo colarinho de sua camisa social e o empurro contra a porta.
Luigi é um cara alto e grandalhão, todo forte, mas não me intimido.

— Você deixou que a machucassem? Ela fugiu outra vez? — Rosno,


sentindo minhas mãos tremerem de raiva e, pior, medo.

— Ela está em casa. — Luigi esclarece e empurra minhas mãos,


afastando-me. — Houve uma merda... Uma emboscada e eu tive que matar
duas pessoas. Inclusive a amiga dela. Diana está horrorizada e eu precisei...

— Porra!
— A coisa foi feia. Preciso ligar para Stefano para ele entrar em
contato com conhecidos dele para sumir com as imagens das câmeras da rua.

— Obrigado, Luigi. Vá cuidar disso. Estou indo para casa.

Ele assente com a cabeça e só retorno até minha mesa para pegar
carteira, celular e molho de chaves.

Dirigi feito um louco, nervoso, ansioso para chegar até Ana. Parece
que as merdas nunca se afastam, que ela nunca pode ter um minuto desse
sossego. Nesse momento esqueço nossos últimos atritos, o quanto ela tem me
provocado e que eu cedi ontem. Só quero cuidar dela.

Corro para o seu quarto quando chego em casa. Nonna já retornou


para a Itália e Gilda não apareceu. Seu quarto está vazio, mas vejo a porta do
banheiro aberta e o som de água caindo, assim como de soluços.

Uma coisa horrível, pesada, incômoda, se instala em meu peito


quando vejo Ana encolhida no box, usando roupas, sob o jato do chuveiro.
Seu rosto está em seus joelhos e as mãos em volta das pernas, prendendo-as
contra a barriga. Tiro meu paletó e o colete, me desfaço dos sapatos e entro
para pegá-la.

— Mio angelo... O que fizeram com você...?

Ana ergue a cabeça, os olhos inchados, nariz vermelho e cabelos


grudando em seu rosto por conta da água.

— Ela... Eu... — Não consegue falar por conta dos soluços.

Tento puxá-la para mim, mas ela se joga em meus braços e me abraça
forte, de forma que fico parado e a abraço também, deixando-a se acalmar.
Ana chora por um longo tempo e a água continua caindo sobre nós.

— Foi minha culpa... Sempre tem desgraça, Ez...ra. — Seus soluços


aliviaram, mas ainda assim continuam.

— Você atirou em alguém? Não foi sua culpa. Nunca foi. — Garanto
à ela, erguendo-me e a trazendo comigo.

— Minhas mãos estão sujas... Mais que as de todos...

— Não diga besteiras, Ana.

— Não consigo esquecer o som do grito dela, do olhar acusador


quando associou o que aconteceu com... Robert... O tiro... Não a vi, mas a
imagem do seu corpo no chão está presa... Aqui... — Aponta a têmpora.

— Esqueça isso.

— Você não pode fazer tudo funcionar com suas ordens, Ezra. —
Diz, mas há um sorriso em seus olhos azuis.

— Seria bom se você me obedecesse, para começar.


— Você não iria gostar de mim.

Talvez ela esteja certa, mas não digo em voz alta. Quando a coloco
sobre a cama, ela se levanta.

— Vou molhar tudo.

— Vá se trocar então, mas não fique mais daquele jeito.

— Pare de ordens.

— Ana...

Ela se aproxima de mim, me encarando com lágrimas nos olhos.

— Me faça esquecer, Ezra. Quando você me tocou, todo o resto...


Tudo sumiu... Só você tomou conta de tudo... Só... — Ana fecha os olhos e
suspira. — Tire o que tem na minha cabeça agora e me deixe ficar
embriagada de... Você.

— Não me peça isso. — Minha voz não soa como uma ordem agora,
porque não é. Me aproximo dela e seguro seu rosto entre minhas mãos. É a
primeira vez que a toco primeiro. Seus olhos azuis parecem sem vida. Eu
desejo Ana, esse não é o problema. Mesmo sabendo que não é certo, meu
corpo está reagindo agora. — Não posso fazer isso. Você está frágil. Seria
algo que você se arrependeria depois. Me odiava de manhã, Ana, e vai
continuar zangada quando o choque passar, então vai ficar com raiva de si
mesma, e mais ainda de mim, porque não vou reagir bem... Não vou
conseguir evitar. Você é para eu cuidar. A única coisa importante na minha
vida.

Isso só faz com que ela chore mais. Ana se joga em meus braços e
fica assim algum tempo até que nos encaminho para o seu closet. Separo uma
de suas roupas de dormir e entrego à ela.

— Vou ao meu quarto trocar de roupa e volto para ficar com você. Se
troque também.

Ana só assente com a cabeça.

— Ana? — Insisto.

— Não demora, por favor. — Pede.

Assinto com a cabeça e me afasto, ainda que pareça errado ir para


longe dela quando ela precisa tanto de conforto. Depois de tomar banho
rapidamente e vestir uma camisa e bermuda de ficar em casa, volto para o
quarto de Ana. No entanto, sem sinal dela, a procuro no closet.

— Cazzo! — Xingo ao vê-la ainda molhada, com a mesma roupa,


encolhida no chão, em frente a uma parte com espelho no closet, encarando
sua própria imagem. — Por que não trocou de roupa? — Me abaixo,
olhando-a. Parece em choque.

— Quantas pessoas ainda vão morrer por minha causa?


— Ana...

— Você não vê? Estou cercada de coisa ruim... Quando me achou,


foi como se fosse amaldiçoado...

— Não diga isso. — Digo em um tom de voz que não deixa


alternativa. Ela ergue os olhos marejados para mim. — Você está se culpando
por coisas que não tem controle e não vou permitir que faça isso.

— Você não tem que permitir nada. — Funga, mesmo triste não
consegue deixar de ser um pé na bunda.

— Estou falando sério, Ana. Ascolta...

— O que é isso? — Pergunta, fazendo-me perceber que embolei os


idiomas sem perceber.

— Escuta. — Explico. — Você vai ao banheiro, trocar essa roupa


molhada pelas peças que te dei e nós vamos deitar um pouco. Vou cuidar do
seu sono e quando acordar, iremos conversar. Temos muito o que falar.

— Não quero me trocar. Só quero me encolher e esquecer.

— Ana. — Resmungo, impaciente.

Ana joga a cabeça para trás e fecha os olhos, parecendo exausta.


Levanto-me e a puxo para cima. Ela reage, me olhando confusa e suspira.
Busco a peça de roupa que havia separado sobre uma prateleira, seguro a mão
dela e a levo até o banheiro. Quando chegamos, seguro sua cintura e a coloco
sobre a bancada de mármore da pia.

— É tão bom quando você me toca. — Ana sussurra. — Eu nunca


tive afeto, Ezra... Nada de ninguém. Quando minha mãe morreu, ela já não
era carinhosa há muitos anos porque vivia a disposição de Reinaldo. Se ela
foi carinhosa algum dia, minha mente excluiu as memórias, porque eu passei
a culpá-la por aquele monstro ter ficado na minha vida. Foi ela quem o
levou... Ela morreu e se livrou, e eu...

Esse seu momento vulnerável me deixa sem saber como agir. Estou
acostumado a vê-la brigar, reclamar, bater... Não assim. Não é assim que
minha Ana deveria estar. Olhando em seus olhos, sem desviar, seguro a barra
de sua blusa e começo a erguê-la. Sou um bastardo, pois sinto meu pau reagir
só por eu ter a consciência de que estou a despindo. Ana arregala os olhos por
um momento, mas parece entender e ergue os braços para que a blusa saia
por sua cabeça. Pego a camiseta que separei e visto nela, sem tirar o sutiã
molhado. Depois que ela está coberta, enfio minhas mãos sob a camiseta e
toco suas costas, procurando o fecho do sutiã. Ana solta um suspiro que faz
coisas erradas comigo.

— O fecho é frontal. — Seu sussurro faz meu sangue ferver.

Engulo em seco, mantendo nossos olhos fixos. É como se


duelássemos com o olhar. Ela me seduzindo, deixando-se levar, as pupilas
dilatando, as pálpebras pesadas. E eu, tentando mostrar uma firmeza que não
há em mim. Tiro seu sutiã fazendo todo esforço para não tocá-la, mas sempre
que resvalo em sua pele, sinto a minha própria queimar, o sangue ferver. Ela
se livra das alças do sutiã e o deixa sobre a pia. Abaixo-me, tiro suas
sandálias rasteiras, a faço se erguer para tirar a calça, então a puxo até que ela
só está com a calcinha. Não há mais olho no olho e caio na armadilha de estar
tão perto das pernas que tanto me enfeitiçam. Mantenho minha máscara
neutra, fingindo ser o que não sou, sentir o que não sinto. Ou fingindo não
sentir o que está transbordando em mim. Puxo sua camisa para que cubra sua
calcinha, então enfio minhas mãos nas laterais e puxo por suas pernas.
Quando a peça cai por seus pés até o chão, levanto-me como um menino
amedrontado.

— Vista seu short. — É uma ordem, sem espaço para que recue.

Ana pula da bancada se veste, seus olhos nunca desviando dos meus.
Passo a mão pelos cabelos, nervoso, ansioso. Excitado pra caralho. Respiro
fundo, me contendo, lembrando de com quem estou lidando. A consciência
de sua situação perturbada me traz de volta ao controle. Ana precisa de mim.

— Venha. — Viro-me para ela e passo meu braço por seus ombros,
fazendo ela relaxar visivelmente.

Seguimos até sua cama e nos deitamos. Ana se embrenha em meus


braços e eu deixo. Fecho meus olhos e espero que durma, mas para a minha
surpresa, ela conta o que aconteceu que a deixou desse jeito. Consigo
entender, mas minha gratidão por Luigi dobra de proporções. Ana está
magoada e se culpando pela amiga, mas a mulher não daria conta de manter a
boca fechada e o tal garoto, eu mesmo o mataria se não tivesse sido feito.
— Você não tem culpa de nada. O idiota que morava com você que
causou isso. Mais uma vez, você nao deveria ter fugido. Nunca deveria ter
convivido com esses dois homens malditos. — Rosno. — Luigi protegeu
você. E não importa quem ele tenha matado, para mim, o importante é você
estar protegida. Sua mente está abalada, você não está bem. E agora, vou
contratar uma psicóloga para vê-la, para cuidar de você. Critiquei tanto o meu
pai por não fazer terapia e não me atentei a você, que precisava se cuidar
desde que voltou. No passado, lembro que eu paguei muitas sessões, mas
você era fechada. Agora estarei verificando como andam as coisas.

— Não vou me abrir com uma estranha. Se você me der a chance, eu


converso tudo que sinto com você.

— E meu conselho será para você me falar quem são as pessoas que
te irritam e então eu irei matá-las. Muito saudável, não?

Ana se afasta do meu peito só para olhar em meus olhos. Seus olhos
estão arregalados e ela abre um sorriso enorme.

— Isso é sério? Você fez uma brincadeira?

— Não aja como se fosse um evento.

— Mas é! Fiquei até um pouco animada.

Isso me faz sorrir e ela fica ainda mais perplexa. Eu só quero vê-la
bem. Só isso.
— Durma um pouco, mio angelo. — A puxo de volta para o meu
peito e beijo sua testa.

Os pés de Ana tocam minha canela e sinto-os gelados. Começo a me


afastar e ela me olha sem entender. Dou um sorriso e vou até seu closet. Pego
um par de meias, retorno e coloco-as em seus pés.

— Você reparou que meus pés...

— São frios. — Concluo.

Seus olhos brilham, mas não consigo captar a emoção por trás. Nos
aconchegamos novamente e não demora para ela adormecer.
CAPÍTULO 17

Eu sei que vou ficar bem

Eu prometo que vou ficar bem

Você é uma benção e uma maldição, tem jeito com as palavras

Eu sei que deveria ser a primeira, você diz: “Espere a sua vez”

Nunca passei por isso

Mas eu sei que você vai sentir falta do meu amor

Ashlee - Prisoner

Durante a semana, Ezra cuidou de mim. É meu céu e inferno, porque


por mais que queira odiá-lo em relação a me evitar, e por me tratar como
criança, por ter sido escroto comigo citando outra mulher... Não há
possibilidade de fazer isso quando ele me trata como se eu fosse a coisa mais
importante no mundo. Foi exatamente o que ele fez todos esses dias. Não
consegui dormir sozinha, fiquei muito mal com o acontecimento com Kelly.
Me culpei e continuo culpando. Quando a psicóloga apareceu aqui, decidi
obedecer Ezra pela primeira vez na minha vida e me abri com ela. A mulher
não piscou um olho, então é provável que já conheça o mundo obscuro de
Ezra Cattaneo. Me fez bem e mal desabafar, contar sobre o meu passado.
Mas de certa forma, esperava que ela me dissesse palavras “mágicas” que me
ajudassem a curar a dor, mas nada foi dito em relação a isso. Tudo é sempre
como eu devo aprender a lidar com minha mente e meus traumas, que não
são poucos. Como de costume, segui em frente. Voltei a lutar todas as
manhãs com Ezra, sem insinuações ou segundas intenções. O respeitei mais
do que nunca por não ter aceitado minha proposta no momento em que eu
estava vulnerável.

— Está pronta? — Ouço a voz de Ezra invadindo meu quarto.

— Você pode começar a bater na porta? Se fosse uma pessoa


suscetível a sustos, estaria infartando agora. — Reclamo, passando a escova
por minha franja.

— Não é qualquer coisa que pode matá-la. — Rebate.

Olho pelo espelho e vejo sua imagem, uma camisa social rosa claro,
com os primeiros botões abertos, mostrando as correntes de ouro, terno cinza
e calça social da mesma cor, feitos sob medidas, deixando-o ainda mais
delicioso.

É a primeira vez que vou voltar ao salão depois do que aconteceu. A


primeira vez que vou sair de casa, na verdade. Não me sinto pronta ainda,
mas Ezra insistiu que a vida deve continuar, e a psicóloga também. Por sorte,
as pessoas que contratei para trabalhar, deram conta. O que me levou a
decidir que estarei melhor conduzindo o negócio, do que trabalhando nele.

— Não podemos afastar nossos fantasmas, Ana. Só podemos criar


forças, ser nossa própria armadura, estar endurecido para colocá-los para
correr. — Ezra diz, como se pudesse ler meus pensamentos.

Não dúvido nada que ele possa. Se no final das contas, esse homem
revelar que é um vampiro, não será surpresa alguma para mim.

— Não sei se consigo ser forte desse jeito. — Respondo.

Ezra se aproxima de mim e coloca as mãos em meus ombros. Ele se


inclina para que sua cabeça apareça no espelho em cima da minha, uma vez
que estou sentada de frente para a penteadeira.

— Você é forte. Alguém fraco não ia querer matar Reinaldo, ia se


encolher no canto e chorar. Alguém fraco, não bateria naquele bastardo que
tentou te vender. Sabe quantas mulheres param em prostíbulos por causa de
dívidas dos outros? Você lutou e por causa disso, eu ouvi sua voz exaltada e
entrei. Você nunca correu de uma boa briga, Ana. Não há um osso fraco em
você. Agora precisa virar isso para seu interior e lutar com os fantasmas da
sua mente.

— Você é um homem mole de coração. — Brinco.


— Não há nada mole em mim. — Ele bufa, se afastando.

— Ah, presumo que não mesmo. — Minha voz deixa claro o duplo
sentido.

— Ana. — Alerta, olhando-me feio.

— O que? Não falei nada. — Levanto-me e olho para ele. — Estou


brincando para descontrair, mas você tem razão. Eu nunca vou me entregar.
Vou morrer lutando.

Pela intensidade em seu olhar e a falta de palavras, presumo que


entenda que isso significa que também não desisti de tê-lo.

— Podemos ir? — Pergunta, já impaciente.

— Sabe? Não quero trabalhar. Posso olhar como estão as coisas e


ficar com você?

— Preciso dar uma olhada no clube. — Ezra passa a mão pelos


cabelos, mostrando sua impaciência. — Se quiser ficar em casa, fico com
você. Mas preciso saber como andam as coisas por lá.

— Me leva com você. — Coloco as mãos na cintura, deixando claro


que não vou recuar.

— Você vai me infernizar, não é? — Ezra suspira e eu assinto com a


cabeça. — Vamos, Ana.
Mal posso conter a excitação, mesmo sabendo que por ser cedo, não
há movimento ou toda a putaria que rola naquele lugar, mas pelo menos irei
conhecer, dar uma imagem para minha imaginação.

— Deluca, pode tirar seu dia para descanso. Vou ficar com Ana. —
Ezra avisa a Luigi quando passamos por ele na sala.

Dou uma piscadela para Luigi e um sorriso convencido. Ele nega


com a cabeça e nos segue para a saída. Lá ele acena e vai para o seu carro.

— Luigi é fiel a você. — Comento com Ezra.

— Ele é um bom homem. — Concorda.

— Sim, na sua concepção de bom homem, ele deve ser. — Rio,


entrando no carro quando ele abre a porta para mim.

Estou usando um vestido de verão laranja e sandálias rasteiras nos


pés. Meus cabelos estão soltos e certamente estou parecendo uma menina,
mas não consigo parar de pensar em Ezra de forma nada amigável. Há uma
lembrança que não sai da minha cabeça. O momento em que ele me despiu,
como foi cuidadoso para não ver meu corpo, para não me tocar com maldade,
mas eu via seus olhos em chamas. Estava tão presa em meu torpor, que não
agi, mas eu teria amado senti-lo, vendo aqueles olhos encarando os meus. Ele
fecha a porta, quebrando nosso contato visual propositalmente, dá a volta no
carro, entra e começa a dirigir em direção ao salão.
Fico no salão por meia hora, conversando com as funcionárias e Ezra
mexe em algo no programa das câmeras. As mulheres ficam muito sem jeito
perto dele, entre obcecadas com sua beleza e amedrontadas por sua expressão
fechada. Quando acabamos, saímos do salão e Ezra avisa:

— As imagens das câmeras vão ficar aparecendo para mim em meu


escritório. Não gostei dessas mulheres, elas não são de confiança.

— De quem você gosta? — Rebato, ironizando, parando na calçada


para olhá-lo.

— Não comece a me testar. — Adverte, com a expressão mais azeda


do que nunca.

— Espera só um minuto? Vou comprar um sorvete. — Aponto a


sorveteria há poucos passos do salão.

Ezra assente e fica encostado no carro, enquanto eu caminho até lá.


Enquanto espero o sorvete ficar pronto, vejo um rapaz loiro de olhos cor de
mel se aproximando. Parece ter minha idade e ser tímido, mas fica me
olhando sem parar. Fico com as bochechas vermelhas. Provocar Ezra?
Check! Agora lidar com outros homens que não seja para dar uns socos? A
donzela fica envergonhada.

— Ei, sou filho do dono daqui. Já vi você ali no salão dias atrás. —
Ele comenta. — Sou Hugo... Tudo b...

— O sorvete está sendo fabricado ou fica pronto hoje, Diana? — A


voz arrogante de Ezra ressoa no ambiente e não consigo acreditar que ele está
me fazendo passar essa vergonha absurda, mas quando olho para ele, pronta
para fulminá-lo, vejo seu olhar sombrio voltado para Hugo.

Por sorte, a senhora atrás do balcão me entrega o sorvete. Pago e ela


demora demais para me dar o troco. Quase corro porta a fora quando ela me
entrega. Para a minha surpresa, Ezra segura minha mão e entrelaça nossos
dedos.

— Marcando um território que nem é seu, Ezra? Está louco? — Puxo


minha mão quando saímos do estabelecimento.

— Você não conhece aquele garoto. Não deve dar corda para
qualquer um. Devia saber mais com seu histórico.

Seguro meu sorvete com raiva e tento acertar no rosto escroto de


Ezra, mas não consigo, com seu reflexo, ele tira minha mão e só consigo
sujar um pouco do seu terno.

— Pare de jogar na minha cara a porra desse histórico! Acha que eu


queria ter sido abusada e quase vendida? Não adianta ter me salvado e
quando aparece uma oportunidade fica jogando esse maldito histórico na
minha cara! — Grito, descontrolada, sem me importar onde estamos ou que
Ezra pode se enfurecer por meu ato infantil com o sorvete.

Contrariando tudo, ele me puxa e abraça forte. Tento me soltar


porque o estou odiando agora.
— Não devia ter dito isso. Sinto muito. — Diz, segurando-me. —
Não tem desculpa, mas só... Não sei como agir... Falei sem pensar.

— Pois pense antes de falar! — Forço seu corpo para longe do meu e
ele se afasta, respeitando meu desejo.

— Ana...

— Não quero mais ir para o seu maldito clube e não quero ficar com
você.

— Você não vai ficar sozinha.

— Foda-se! Talvez, com meu histórico, eu ache algum homem que


me conceda abrigo em troca de algo!

— Chega, porra! — Ezra grita, de verdade.

Eu já o vi frio, puto, rosnando, falando mais baixo, mas nunca


gritando. Ele leva as mãos aos cabelos e parece extremamente nervoso. Bom
para ele!

— Não quero você perto de mim. — Reitero e saio andando.

Caminho pela calçada até ver a praia. Não sei em que posto estou,
mas não quero me banhar no mar, então não há preocupação com isso. Sei
que Ezra está atrás de mim, mas ao menos respeita o meu espaço. Atravesso a
pista e caminho até a areia. Sento-me próxima do mar, vendo as famílias, os
casais, crianças, idosos, cães. A vida de todos parece incrível, mas a minha é
essa montanha russa. Sinto-me agoniada, como se não pudesse mudar isso,
como se fosse uma injustiça. Pergunto-me se fui marcada, de alguma forma,
para sofrer. Existe isso? Destino? Por que alguns são felizes e outros não?
Então penso nas pessoas que passam fome, que não tem casa... Nos tempos
em que fui uma delas... E constato que meu desespero agora é infundado. Se
fui marcada para sofrer, pelo menos tenho sofrido com comida boa, cama
macia e um teto espetacular sobre a cabeça, além de pessoas que se importam
comigo. Há gente que passa fome a vida toda, gente com problemas que se
refugia nas drogas e nunca consegue se livrar. Se somos marcados pelo
destino, por que há tantas pessoas que tem tudo fácil e outras, que não tem
nada? É tão difícil entender, tão complexo.

Olho para trás e vejo Ezra, sentado distante, mas com os olhos presos
em mim. Está sem o paletó, usando a camisa dobrada nos antebraços, sem os
sapatos caros, que estão ao seu lado, e os pés descalços na areia, com a calça
social também dobrada nas pernas. Nem assim, parece um homem comum. É
poderoso, lindo, imponente, implacável. É frio.

Talvez eu seja só uma idiota por gostar tanto de Ezra e querê-lo


quando ele faz e diz tanta merda, mas não consigo não me sentir ligada à ele.
Não consigo evitar querê-lo.

Horas passam e continuamos desse mesmo jeito. Ele não se move e


não vai para o seu clube. A constatação disso faz com que eu sinta uma
pontada de culpa, mas não faço nada a respeito. Não pedi que ficasse comigo.

Sinto sua presença antes que eu o veja, então ele senta-se ao meu
lado, olhando na mesma direção que eu, para o mar.

— É uma merda você estar me ignorando dessa forma.

— Isso é para eu não xingar você, Ezra.

— Pode me xingar.

— Não vou perder meu tempo. Já tenho gastado muito da minha


energia com você.

— Eu senti ciúme, Ana. Me deu uma coisa no peito quando vi aquele


moleque indo, todo interessado, até você. Não sabia que porra era aquilo, mas
você está me deixando insano e agi assim, com insanidade.

— Não tenho culpa de você ser um louco. E seu ciúme não me


importa, porque não é o tipo de ciúme que eu quero. É um protecionismo
idiota. — Retruco, mantendo uma pose forte, mas sendo idiota e sentindo
meu coração pular no peito por ele confessar que sentiu ciúme.

— Não irei tratá-la como uma criança novamente. Não a vejo como
criança há muito tempo.

— Então me leve para o clube com você.

— Eu já deixei. Você não está comigo lá porque parou aqui.

— Estou falando a noite, para ver como é.


— Ana. — Sinto seu olhar em mim e o encaro.

— Vai me tratar como criança mesmo depois do que fez hoje?

Ezra rosna, puto, encurralado.

— Vamos agora comigo e você fica lá até a noite.

— Vestida assim? Sei que lá é chique e quente. Quero ir vestida a


altura...

— Você escolhe o vestido que quiser pela internet e eu vou cuidar de


que esteja à sua disposição na hora certa.

Levanto-me às pressas.

— Nem acredito que vou conhecer seu puteiro!

— Meu clube não é um puteiro.


CAPÍTULO 18

Bem, talvez eu pudesse te chamar de papai

E você poderia me ensinar todas as regras

Sim eu sou uma boa menina é verdade

Mas eu quero ser muito má com você.

Veja que você poderia me ter na varanda da frente

Ou me leve para o seu quarto

Kimberly August - Wallflower

Ainda estou sem acreditar na minha estupidez. Fui burro, idiota, e


agora pago o preço sendo obrigado a ter Ana no Hot Cattaneo para aliviar
minha barra. Nunca a quis aqui e agora, aqui está ela, almoçando no balcão
do bar na área principal e me dando um sorrisinho bobo e sincero, de menina.
Fui sincero quando disse que não a vejo como criança, mas o
protecionismo que sinto por ela vive me fazendo cometer loucuras. Uma
delas foi me afastar do meu carro e ir para a frente da sorveteria para ficar de
olho nela. Quando vi aquele garoto se aproximando e as bochechas de Ana
ruborizando, fiquei louco. Não consegui entender o que sentia, mas depois,
com as horas que ela me deu de gelo, pude entender. Daria qualquer coisa
para me desculpar pela merda que falei e aqui estou prestes a enlouquecer
enquanto pago pelos meus pecados. E não é nem o começo.

— Você não vai comer? — Ana pergunta.

— Sem fome.

— Come um pouco pelo menos. — Insiste.

— Preciso verificar uns papéis e quero que você suba comigo. Acabe
de comer de uma vez e vamos logo.

— Dá para você parar de falar assim?

— Assim como, Ana?

— Como se eu fosse um cachorro adestrado, porra.

— Não me teste. — Aviso, passando a mão em meu queixo, irritado.

— Não me teste você, Cattaneo. Você que está me devendo, lembra?


Não te desculpei ainda, então baixe sua bola.

Respiro fundo. Honestamente, é um milagre ainda não termos nos


matado. Essa mulher é um pé na bunda. Ana termina de comer em silêncio e
eu bebo uma dose de uísque para não enlouquecer. Subimos, com Ana
tagarelando sobre não ser criança e querer ver tudo sem eu estar em sua cola.
Nem fodendo. Chegamos em meu escritório e ela vai escovar seus dentes no
meu banheiro. Avisto as pastas com os papéis deixados aqui por Alessandro e
dou uma conferida nos monitores. Ligo os dois, aos quais programei no
aplicativo das câmeras do salão de Ana para as imagens aparecerem aqui, e
confirmo que está ok.

Ouço batidas na porta e permito a entrada. Alessandro entra, trazendo


uma mulher branca, de cabelos castanhos e cabeça baixa, submissa. No exato
momento, Ana sai do banheiro e se depara com a cena, ao mesmo tempo que
a jovem olha para mim e vejo seus olhos azuis. Puta que pariu! Ana fica
paralisada, assim como eu.

— A submissa que pediu, senhor Cattaneo. Foi difícil encontrá-la,


mas foi o mais perto que consegui chegar... — Alessandro para de tagarelar
quando vê Ana. — Oh! Não sabia que já havia encontrado uma...

— Eu não sou submissa. — Ana retruca, com os olhos estreitos na


cena. — É mais fácil ele ser meu submisso.

Não consigo nem me expressar diante da sua audácia. Alessandro


arregala os olhos e a submissa também. Ana só vai me levar a sério quando
eu surrar a bunda dela. Só assim aprenderá sobre limites.
— Alessandro, depois falarei com você. Leve a moça.

Meu funcionário assente com a cabeça e começa a recuar.

— Não precisa. Pode testar a sua... Submissa... — Ana cospe a


palavra — Minha clone, não é? Muito bonita, mas faltou a franjinha. —
Então ela segura os seios, os fazendo quase saltar fora do vestido. — Os
peitos podiam ser um pouco menores. — Desce as mãos e puxa a barra da
saia, erguendo e exibindo a coxa grossa. — E as coxas não fazem jus a essas
belezuras aqui. Mas... Quem sou eu para dizer, não é mesmo, chefão? — Se
aproxima e dá tapinhas abusados em meu ombro e começa a sair do
escritório.

Eu deixo que saia, pois caso contrário irei me jogar pela janela. Só
rosno para que Alessandro suma da minha frente e ele é esperto o suficiente
para fazê-lo. Pelas câmeras vejo Ana chutando o metal do elevador e depois
pulando de dor. Isso me faz rir de nervoso. Dio mio! Que mulher demoníaca!
Penso em contatar Luigi, mas recordo que lhe dei o dia de folga, então ligo
para um segurança que está na área externa do clube e exijo que seja a babá
de Ana. Vejo quando ele se aproxima dela no andar inferior e o quanto ela
discute com ele e bufa quando ele diz algo, provavelmente que eu o mandei.
Ana anda por todo o clube, vê os quartos privados, as áreas comuns, as
paredes de vidro espelhados que permite que os casais sejam vistos transando
no segundo andar, ou vice versa, para casais que gostam de ver as pessoas,
sentir o perigo, mas preferem não serem vistos. Acabo mal trabalhando,
obcecado com suas reações, a forma como arregala os olhos azuis, como a
boca fica aberta, em choque, como passa os dedos por coisas que chamam
sua atenção, principalmente nos chicotes e palmatórias. Mio angelo está em
meu inferno, mais do que nunca.

Busco na internet por um vestido que seja digno da rainha que ela é,
uma vez que a própria esqueceu disso. Passo por muitos deles e escolho o que
combina perfeitamente. Preto, com as costas totalmente nuas, suspenso por
uma corrente dourada, com uma manga só, no ombro esquerdo, chegando na
altura de suas coxas. O salto azul, nem perto do tom de seus olhos, pois é
difícil encontrar, assim como a garota clone, que não tinha olhos azuis bebê
como os de Ana. Eu deveria fazer mil coisas agora, mas perco meu tempo
com moda só para ter um ereção crônica mais tarde diante da beleza e
petulância de Ana.

— Pensei que você estava mais preocupada em usar outra roupa. —


Digo, recostado em minha cadeira, vendo Ana entrar na minha sala.

— Tanta raiva da sua cara de pau faz parte do meu raciocínio


derreter. Tem algo de uma das suas putas que eu possa usar? — Senta-se na
beirada da minha mesa, de frente para mim.

Seu vestido sobe nas coxas e ela sabe disso. Meus olhos não se
afastam da pele branca com pêlos pequenos loiros. Fico louco para passar
minha língua, mas não demonstro. Ergo meu olhar e encontro seu rosto,
concentrada em mim, mordendo o lábio inferior, com os olhos brilhando e as
bochechas vermelhas.
— Você jamais irá usar algo que uma das mulheres daqui usou ou
usa, Ana. — Digo e levanto-me, indo em direção ao sofá encostado na parede
oposta, perto da porta.

Pego a caixa e entrego a ela.

— Vá se aprontar. Vou para o outro andar tomar banho e me vestir


com uma roupa limpa. Volto para descermos juntos.

— Uau. — Ana sussurra abrindo a caixa. — Vestido mulherão fatal!


Aparece uns gatos normais por aqui?

— Não, Ana. Você não vai olhar para o lado. Vai ficar comigo, sem
homens rondando.

— Você não manda em mim. Acha mesmo que vou ficar atrás de
você depois de ver a palhaçada que você arrumou? Uma mulher igual a mim,
Ezra? Foi a maior escrotice do mundo. Enfia ela no rabo, porque eu estou
fora. Vou caçar um homem normal, que não seja estúpido e escroto.

Com isso, ela desce da mesa e faz menção de ir até o banheiro. A


puxo pelo seu braço e ela quase bate com o rosto no meu peito, mas empina o
queixo e tenta me enfrentar, mesmo que seu pulso acelere sob meus dedos.

— É a última vez que vou advertir você, Ana. Eu cuido e protejo


você, é a única pessoa no mundo que me tem fazendo questão de me redimir
por ter sido rude. Não confunda isso com ser um babaca em quem você pode
pisar. Não brinque comigo. Você conhece essa versão boazinha até hoje, não
queira conhecer o meu pior lado. — Aviso e a solto.

Ana tropeça e pisca algumas vezes, chateada. Não queria fazer isso,
mas ela tem passado dos limites e não estou aqui para ser feito de idiota. Ela
pega a caixa da mesa com raiva e vai para o banheiro.

Não é surpresa alguma quando volto para o escritório e não encontro


Ana me esperando. O clube ainda está vazio, mas logo começará a chegar os
associados. Por ser dia de semana, não ficará tão cheio como nas sextas e
sábados, então desço para procurá-la. Vejo o segurança que mandei mais
cedo em seu encalço e fico tranquilo. Observo o vestido colado em seu corpo,
as costas nuas e parece uma tolice tê-la deixado mais deslumbrante que o
normal para os olhos de outros homens. Embora goste de me enfrentar a todo
segundo, irei ficar colado nela a noite toda. Alessandro surge e pergunta se
preciso de algo.

— Providencie um jantar para dois. Leve para o segundo andar.

— Sim, em quinze minutos estará tudo pronto.

Peço ao barman uma dose de uísque e depois de beber de uma só vez,


sigo em direção a Ana. A conduzo para o andar superior e jantamos juntos
em silêncio. Ana parece não estar me tolerando e eu finjo que não me
importo.

— Você é um dominador? — Pergunta, abruptamente.

Examino seu rosto, tentando decifrar o motivo da pergunta.


— Terá medo de mim se eu for?

— Desde que você não faz nada para que eu sinta medo, não.

— Já usei e abusei do que o clube oferece. — É a resposta que dou.

— Entendi. — Assente, pensativa, e beberica o vinho em sua taça.

Afasto a manga do paletó do meu pulso esquerdo e vejo a hora no


Rolex. Ana parece ansiosa e até animada. Terminamos o jantar e descemos de
braços dados.

Quase duas horas mais tarde, o clube está a todo vapor. Estive
ocupado com alguns políticos que chegaram e, ao me ver, quiseram
conversar. Ana ficou surpresa com a maioria das pessoas que viu.
Especialmente o ex jogador famoso de basquete, Anthony Mesquita, e sua
esposa. São associados do clube há dois anos e sua parada é sempre no
terceiro andar.

— Meu Deus! Esses famosos são pervertidos! Será que Anthony bate
na bunda dela com o chicote? Sigo a Clarissa no Instagram, ela não tem cara
de quem leva chicotada.

Tiro a taça de vinho de sua mão e a puxo até o bar. Coloco a taça
sobre o balcão e peço água. Obrigo Ana a beber para que não fique bêbada
rapidamente. Seguro seu queixo entre meus dedos e me inclino para falar em
seu ouvido.
— Você também não tem cara de quem gosta de levar chicotada, mas
garanto que iria gostar.

— Deus, Ezra!

Escondo a satisfação por deixá-la envergonhada e espalmo minha


mão na base de sua coluna, a guiando pelo clube.

Conduzo Ana para a área de quartos privados do primeiro andar. Não


há nada diferenciado aqui, somente as luzes vermelhas no corredor entre as
portas e o segurança na passagem. Música alta e sensual toca a todo vapor.
Ana observa as strippers, os homens sentados nas poltronas em volta delas.
Subimos para o segundo andar e percebo sua pele se arrepiando. É diferente
de ver tudo vazio. Há casais se beijando encostados nas paredes, se
masturbando, mulheres entre dois homens, homens entre três mulheres. Mais
adiante, em dois quartos espelhados para o público, há cenas que fazem Ana
paralisar. Paro ao seu lado e deixo que veja o homem lambendo a boceta da
acompanhante dele. É uma mulher mais velha com um jovem, e ela parece ir
a loucura com o que o rapaz faz com ela. Sinto os arrepios de Ana em minha
palma e sinto a ereção crescente ao imaginá-la ficando excitada com a cena.
No outro quarto, o homem está fodendo a garota, que parece bem jovem, por
trás. Ele segura sua cabeça contra o vidro, obrigando-a a olhar para as
pessoas aqui fora. Vejo o momento em que seu olhar cruza com o de Ana e
ela lambe os lábios.

— Demais? — Pergunto em seu ouvido.


— Sim. Não. Um pouco. Mas quero ver tudo.

Pensei que ela se assustaria aqui e sairia correndo. Não está saindo
como planejei, mas prometi não tratá-la como criança.

— Se você está pedindo. A próxima área, nesse mesmo andar é de


swing. Vamos.
CAPÍTULO 19

Eu aceitaria uma chance, cairia, levaria um tiro por você

Eu preciso de você como um coração precisa bater, isso não é


novidade

Eu amei você com um fogo vermelho e agora está ficando azul

E você diz: "eu sinto muito" como um anjo

Timbaland ft. OneRepublic - Apologize

Estou em choque e sei que o que estou vendo, não é metade do que
rola no Hot Cattaneo. Vi famosos, políticos, pessoas que jamais poderia
imaginar frequentar esse tipo de lugar. Senhoras, jovens, senhores, todo tipo
de gente. Mas acho que o mais surreal dentre os frequentadores, sou eu, uma
virgem no meio dessa putaria toda. Pior é que me senti excitada vendo os
casais transando e todas aquelas pessoas a volta, algumas olhando e outras
aproveitando o clima para se pegar por ali.

Agora Ezra está me conduzindo pelo segundo andar em direção a


portas duplas enormes de vidro, mas não mostra nada do que acontece lá
dentro. Quando o segurança abre para que a gente entre, fico surpresa por não
vermos de cara um monte de gente pelada transando. Há um DJ tocando,
diferente do andar inferior, pista de dança, bar e um palco.

— Aqui é como uma boate comum. Muitas pessoas vem aqui para
flertar, conhecer alguém com os mesmos interesses e depois vão para os
quartos privados, naquele corredor. Há aquários, como na outra área, em que
podemos vê-los na prática, mas só aqueles que gostam de se exibir e para
quem gosta de ver.

— Mas swing não são todos transando uns com os outros?

— Há um limite para o explícito aqui nessa área. Você pode estar


aqui por curiosidade, então ninguém pode tocá-la sem seu consentimento.
Isso é uma regra. Nos dias de sábado, há um show explícito aqui, então as
pessoas já sabem o que irão encontrar. Um casal profissional fazem sexo na
frente de todos, eles podem vir acompanhados por mais parceiros. É preciso
ter a mente aberta para estar presente.

— Entendi. — Engulo em seco.

— Vamos um pouco no bar, para você perguntar o que quiser. Depois


podemos ir na outra área.
Assinto com a cabeça e sigo com ele. A decoração é de bom gosto,
assim como lá embaixo. Nada do tipo “puteiro”, um ambiente bem classudo,
na verdade.

— Será que lá na outra área a coisa está muito bizarra para eu ver?

— Nada aqui é bizarro. — Ezra me repreende. — São só pessoas


com gostos diferentes para o sexo, com fetiches. Muitas vem por curiosidade,
depois não voltam mais.

Um barman se aproxima e Ezra pede uma dose de uísque, enquanto


eu prefiro me manter sóbria, então peço refrigerante.

— O seu segurança me fez deixar minha bolsa em uma caixa com


ele. Disse que não pode haver nenhum tipo de aparelho que possa filmar ou
fotografar aqui, certo? — Pergunto e ele assente com a cabeça. — Mas e
aquelas câmeras que vi em seu escritório? Não são contra as regras também?

— Os associados sabem das câmeras de segurança. É para o bem


estar de todos, para não ser permitido assédio, estupro, crime algum aqui
dentro. Não há nenhuma nos quartos privados, somente nas áreas comuns. A
privacidade de todos dentro dos quartos, é devidamente respeitada. Todos
sabem que é para estarem seguros e que jamais vou quebrar a
confidencialidade. Se o fizer, perco uma fortuna, e eu não tenho motivos para
foder com meu negócio. — Justifica-se.

Nossas bebidas chegam, mas no lugar do barman, quem as traz é uma


mulher alta e loira, com os olhos de águia em cima de Ezra.
— Cattaneo! Que milagre o traz em nossa área? Se estiver
desfrutando, quero que me chame para desfrutar com você. — Ela me ignora
completamente, colocando as bebidas sobre o balcão, toda serelepe para o
lado do italiano.

— Só estou de passagem. Não vou ficar por aqui, Celina. — Ezra diz.

— Uma pena! Você nos deixa enciumado mostrando-se somente no


terceiro andar. — Ela sorri, batendo os cílios para ele.

Ezra não responde e volta a me encarar. A tal Celina fala mais um


pouco e depois se afasta.

— Ela trabalha aqui.

— Percebi.

— Ela é uma profissional que se exibe com outro rapaz. É


competente.

— Ah, sim. — Fico um tanto abobalhada com a informação.

Ezra toca meu queixo, fazendo-me encará-lo.

— O sexo simples pode dar prazer, Ana, mas quando você se dispõe
a descobrir mais, a buscar o máximo que pode obter do seu corpo, o simples
se torna uma cócega perto de um vulcão.
— Você não gosta de sexo simples, então? — Pergunto, percebendo
que minha voz soa rouca.

Fiquei excitada com aquela cena lá atrás, com Ezra tocando minhas
costas, com a consciência de que ele também estava ali vendo. Esse lugar é
sensual e impressionante, como o dono.

— Eu gosto de sexo e manipulo o prazer que quero extrair como bem


entender.

Bebo o refrigerante, meus olhos presos em Ezra.

— Me mostra a outra área? — Peço.

Vejo os olhos de Ezra arregalarem bem rápido, mas ele se recompõe


e assente com a cabeça. Vira o líquido âmbar do copo em uma só golada e
levanta-se. Dessa vez, me surpreende ao me dar a mão em vez de continuar
tocando minhas costas. Caminhamos de mãos dadas, novamente um
segurança permite nossa passagem para o corredor dos quartos. À princípio,
só vejo as portas, mas conforme continuamos andando e viramos para olhar o
último cômodo, que diferente dos outros é todo de vidro. O aquário, como do
outro lado, como Ezra explicou. Há duas mulheres e três homens na cena. As
duas estão se beijando, enquanto um dos homens penetra uma delas por trás,
o segundo homem está abaixado atrás da outra mulher, lambendo o sexo dela.
O outro deles está sentado no sofá, se masturbando enquanto os observa. Fico
horrorizada com a normalidade que cinco pessoas estão tendo relações
sexuais ao mesmo tempo, em contrapartida, sinto todo meu corpo reagir.
Fecho meus olhos por uns segundos, tentando acalmar meus pensamentos,
sentindo-me doer entre as pernas. Ouço o som de passos se aproximando e
quando abro os olhos vejo um casal gay se beijando, encostados no vidro.
Eles se beijam com força, se apertam, empurram contra o outro mesmo
estando vestidos. Isso me deixa tão excitada, que fico chocada comigo
mesma. Quando olho novamente para o vidro, o homem que antes se tocava,
agora está colocando a mulher, que estava sendo chupada, de quatro e a
penetra de uma vez só. O olhar dela é de puro deleite e paixão. O outro que
estava fazendo oral nela, está sendo chupado pela outra, que foi inclinada
pelo parceiro que a está pegando por trás. Todos parecem longe de parar e
por um instante, imagino-me no meio de outros homens. Não consigo frear
meus pensamentos. Sinto o corpo de Ezra atrás do meu e me deixo encostar
nele, sentindo sua respiração quase tão ofegante quanto a minha.

— Dio, Ana! Está deslumbrante com esse olhar de tesão. Sinta como
me deixa. — Ezra segura minha cintura com força e empurra contra mim,
deixando-me sentir sua ereção grossa em minha bunda.

Olho sobre o ombro e vejo seu rosto, seu olhar carregado, faminto.

— Ezra...

— Venha, quero te mostrar o terceiro andar.

Ele segura a minha mão e, praticamente, me arrasta dali. Me deixo


ser arrastada, com meu corpo em chamas, minha mente a mil. Entramos no
elevador e o clima pesado, a tensão sexual é palpável entre nós. Encosto-me
na parede de alumínio e tento controlar minha excitação. Os olhos de Ezra
não saem de mim, posso senti-los, tamanha intensidade do seu olhar. Quando
as portas se abrem, saímos na área de BDSM. É o ambiente mais “sombrio”,
a decoração é propositalmente parecendo com uma construção antiga, como
uma masmorra, com cálices de fogo em áreas estratégicas nas laterais das
paredes. O salão principal está tomado de pessoas, há sofás de couro pretos
desocupados e quando as pessoas abrem caminho para Ezra, uma cruz
aparece em minha visão, com uma mulher negra presa na mesma e um
homem com um traje escuro, com capa e capuz, botas e chicote na mão. A
mulher está nua, sob os olhares de todos, e ele, não demonstra nada em sua
expressão. Ezra me move até que eu fique com as costas na sua frente. O
homem passa com o chicote pelo peito da mulher, que observando bem
agora, consigo ver com grampos presos em seus mamilos. Sinto minha
intimidade contrair e a umidade escorrer por minha coxa. Tudo isso pode ser
muito diferente, mas é extremamente excitante.

— Veja como ele passa com o chicote pelos seios dela, Ana. — A
voz rouca de Ezra sussurra em meu ouvido. — Imagine que sou eu fazendo
isso com você. Eu seria suave, pois sua pele é como uma porcelana, mas
quando chegasse em seu mamilo, eu daria um golpe, para o seu sangue
bombear mais forte e você delirar quando sentisse minha língua.

Ezra sequer me toca, mas me deixa louca. Faço menção de me virar


para ele, mas ele segura meu ombro.

— Olhe para eles. Veja agora.

— Você só pode ser louco por gostar disso. — Sussurro.


— É assim que eu sou, Ana. Eu me imagino surrando sua bunda a
maior parte do dia. Quando me enfrenta, penso em jogá-la sobre minhas
pernas e só soltá-la depois de deixá-la toda vermelha. Mas depois eu cuidaria
de você. Lamberia e te faria gozar tão forte...

Olho para o casal, agora o homem está dizendo coisas a ela e sua
resposta é sempre “sim, senhor”. Mal consigo assimilar tudo. Ezra é demais
para mim. Sua presença, sensualidade, poder e suas palavras, a consciência
de que está excitado e falando essas coisas para mim porque quer, sem
minhas provocações. Meu sangue bombeia tão forte que ouço um zumbido
em meus ouvidos.

— Olhe como ele vai estapear a boceta dela agora. — Ezra avisa na
mesma hora que o estalo do chicote soa. A mulher conta “um”, então há mais
golpe e ela conta “dois” e continua a cada vez que ele a golpeia. — Com esse
estímulo da dor, o sangue bombeia nos lugares certos e ela fica tão louca, que
vai gozar sem parar quando o senhor dela deixar.

— É isso que você faz com as mulheres? — Pergunto.

— É isso que eu quero fazer com você.

A cena continua, mas tudo se perde porque eu sinto tudo se quebrar


dentro de mim quando eu gozo só sentindo Ezra atrás de mim, só com suas
palavras e a visão do casal. Uma única roçada sútil da renda da minha
calcinha em meu clitóris quando eu esfrego uma perna na outra faz com que
tudo aconteça. Fico perdida no tempo, presa em mim mesma e presa no
homem que fez isso comigo. O seu poder se mostra mais forte do que eu
poderia ter imaginado. Sem me tocar, ele fez isso. Me trouxe aqui para eu ver
do que ele é capaz e nem assim, quero fugir. Talvez eu devesse, mas não vou.

Quando volto a mim, sinto os braços de Ezra em volta de mim,


mantendo-me de pé, apoiada em seu peito. Ele afasta os cabelos do meu
ombro e se inclina.

— Não acredito que gozou só com minhas palavras.

— Eu não gozei. — Minto, mortificada.

Ezra ri em minha orelha e, pasme, sua língua passa pela mesma e ele
morde a cartilagem sensível.

— Sei que gozou. Não precisa se envergonhar. Não há nada errado


em sentir tesão vendo aquela cena, em se imaginar ali. Sei que se imaginou
fazendo tudo o que viu, Ana.

— Só posso ser louca. — Murmuro, confusa com tudo.

— Não é. — Ezra garante e isso faz com que eu relaxe um pouco.

— Podemos voltar lá para baixo? — Peço.

— Claro.

Não presto atenção em mais nada e desço com Ezra. Nós dois não
tocamos no assunto sobre o que aconteceu lá em cima e ele pede uma dose de
vinho para mim. Aceito e bebo de uma só vez.

— Nunca curti minha juventude. Será que você pode dançar comigo?
Será minha primeira vez na balada. Eu posso fingir que não estamos num
puteiro por uma música.

Ezra me olha feio, mas me puxa em direção a pista de dança do salão


comum na área do primeiro andar. Aqui é tudo tranquilo, sem nenhuma
loucura acontecendo. Ganho minha semana quando Ezra dança comigo, me
conduzindo ao som do pop melódico, fazendo-me questionar se há algo que
esse homem não seja bom ao fazê-lo. Ele se move incrivelmente, atraindo a
atenção de várias mulheres.
CAPÍTULO 20

Eu vim da lama

Há sujeira em minhas mãos

Forte como uma árvore

Existem raízes onde estou

Oh, eu tenho fugido da lei

Espero que eles não me derrubem logo

D Fine Us - Howling At The Moon

Cometi uma loucura e não parei para pensar ainda, de forma que não
houve espaço para me martirizar e me arrepender. Ana está exultante,
dançando, bebendo, rindo sem parar e se divertindo. Algumas vezes esqueço
que é só uma jovem, devido a sua bagagem tão grande. Quando não, estou
colocando na cabeça que é uma criança e que precisa estar em uma redoma
de vidro.

— Você não vai beber um pouquinho e deixar de ter essa cara de


mau? — Ana murmura segurando minha cintura.

Eu poderia colocar a culpa na idade, dizer que fiquei chato com o


passar dos anos, mas estaria mentindo. Muitas coisas aconteceram na minha
vida e ser implacável não foi uma escolha, foi uma necessidade. Não tenho
tempo para diversão, para sentar e conversar, beber e deixar a vida passar. Os
meus fantasmas lutam contra mim diariamente e se eu demonstrar fraqueza,
até em pensamento, serei consumido por eles. Ana é a única coisa boa em
meio ao inferno que é a minha vida. No caos e culpa em minha consciência,
ela reina sendo a luz no fim do túnel. Porque eu nunca me obriguei a ser bom
para ela. Pelo contrário, quando tento afastá-la estou me obrigando a tomar
tal atitude que a magoe, ou em determinado é só meu gênio ruim não
aceitando ser contrariado. Ela é tudo que há de bom em mim e misturar as
coisas me fará perdê-la, sei disso, todavia, tem se tornado cada dia mais
difícil resistir a ela.

— Vai ficar mudo aí? Vem cá! — Ana puxa minha mão e me leva
para o bar e pede mais um drink da bebida rosa que ela escolheu depois que
começou a dançar. — Toma. Você precisa beber. — Segura meu queixo e
leva o copo até minha boca, virando e me obrigando a beber para evitar que o
líquido caia em minha roupa.

Dio! A mulher sóbria é um problema, mas bêbada, ela se supera.


Bebo o líquido para agradá-la e porque é algo fraco. Peço água, bebo e a faço
beber também. Depois sou arrastado para a pista de dança. Ela se acaba de
dançar e saímos do clube suados. Há anos não saia para dançar e até me sinto
cansado também. Ana adormece no caminho para casa, com a cabeça
encostada na janela do carro.

Entro em casa com ela em meus braços, com todo cuidado para não
acordá-la, mas ela desperta assim que entramos na sala e a luz acesa
incomoda sua vista.

— Em casa? — Murmura, enfiando o rosto em meu pescoço.

— Sim.

— Presumo que esteja tarde para conhecer o famoso anjinho do meu


neto? — A voz grossa e o sotaque italiano mais carregado do que o meu atrai
minha atenção.

Olho para o sofá e vejo nonno, com um copo na mão, o qual ele
remexe, fazendo o líquido âmbar sacudir de um lado para o outro. Suas
pernas cruzadas, seu olhar astuto sobre Ana e eu e o fato de estar na minha
sala às três horas da madrugada demonstram que seu interesse por Ana pode
vir a ser uma preocupação para mim.

— É seu nonno? — Ana pergunta baixinho. — O Capo da máfia?


Não deixa ele me matar, Ezra... Ele é ruim.
— Shhhh. Vou levá-la até seu quarto.

— Como já vai se recolher? Quero conhecê-la.

Não gosto nem um pouco disso e não confio nele. Nunca entrou no
meu caminho, mas conheço sua fama através de Stefano e sei que nada o
impede de fazer qualquer coisa que ele julgue certa em sua mente deturpada.

— Ana vai dormir, nonno. Aliás, já estava dormindo quando


chegamos aqui. Ela bebeu e se cansou. Vou deixá-la na cama e volto. —
Reitero e caminho em direção às escadas.

Deixar Ana na cama é um sacrifício, uma vez que ela insiste que eu a
beije e eu afirmo que não o farei sem que ela esteja sóbria. Tiro seus saltos,
mas sou obrigado a deixá-la dormir com o vestido apertado, pois meu
autocontrole já tem sido grande demais. Fico deitado com ela até que pegue
no sono. Só então vou até meu quarto, tomo banho calmamente e depois
desço para falar com Giuseppe.

— O que faz acordado até tão tarde, nonno?

— Esperando o meu bambino. — Arqueia uma sobrancelha,


referindo-se a mim como menino. — Sua empregada de roupa colorida
deixou-me entrar e esperar a vontade.

— Pois bem. — Sento-me no sofá de frente para ele. — Não deveria


perder sua noite de sono me esperando. Quem falou sobre Ana?
— Antonella adora a menina e não pôde deixar de citá-la quando nos
vimos.

— Então vocês andam se encontrando? — Não tiro os olhos do seu


rosto, mas ele não deixa nenhuma emoção visível.

Imagino-me parecido com ele quando tiver sua idade. Pois dizem que
era parecido comigo quando jovem, exceto por meus olhos, que são herança
da nonna, e os dele são negros. Ele passa a mão por seus cabelos brancos.

— Não ando encontrando Antonella. O que ela fez não tem perdão.
— Rosna. — A fraqueza do seu pai foi nossa pauta. Não vejo necessidade de
você perder seu tempo com um fraco como ele. Ele não é um homem
honrado. Nós não somos dependentes de mulheres, entende, figlio? Elas
foram feitas para nós fazermos o que bem entendermos.

— Pelo pouco que ouvi nonna falar do romance de vocês... — Faço


questão de frisar o tom irônico ao dizer romance. — O senhor não pensava
assim quando era apaixonado por ela.

Seus olhos poderiam lançar adagas em mim agora.

— E veja o que ganhei em troca? O meu primogênito criado longe de


mim e se tornando um fraco por causa de uma boceta. E o meu neto, sendo
obrigado a estar fora da máfia. Aprendi da pior forma para o que as mulheres
servem. — Seu tom é cortante e seu olhar raivoso. — Faça algo a respeito do
seu pai. Você tem controle sobre a puttana da sua mãe, coloque-a para chupar
o pau dele para motivá-lo. Se não der certo, dê um tiro na cabeça dele. É mais
digno do que viver como um fraco.

— Não vou fazer nada a respeito. Ele está o incomodando por quê?
Você nunca se importou com ele. A fraqueza dele sempre o manteve
afastado, nonno. Então continue.

— Stefano está ansioso para assumir o controle. Se eu continuar


protelando, aquele diabo vai acabar me matando para assumir o poder. —
Giuseppe parece orgulhoso ao dizer isso. — Portanto, preciso deixar você o
mais confortável possível. Você não é parte da máfia, mas a máfia é parte de
você. Stefano vai cuidar para que você esteja bem, no entanto, há coisas que
vocês não enxergam como ameaça, mas eu, sim.

— Por acaso todo esse rodeio não é para insinuar que mio angelo é
uma ameaça? — Estreito os olhos e ele também, principalmente por eu ter
feito questão de chamá-la pelo apelido.

— Depende se esse anjo pode transformar você em seu pai no futuro.


Foi isso que vim saber com meus próprios olhos.

— Se não fosse por Ana, eu não mataria uma mosca. — Aviso, em


tom de voz cortante. — Por ela, eu matei a primeira vez e vou continuar
fazendo, se preciso.

— É uma ameaça, Ezra?

Levanto-me do sofá e caminho em direção às escadas.


— É a realidade, nonno. Eu jamais ameaçaria um chefe da máfia
italiana.

— Bom. — Rosna, e fica de pé. - E sobre não ser capaz de matar uma
mosca, se não fosse por ela. Ah, meu rapaz, você mataria, sim. Tenha certeza
disso. Meu sangue corre em suas veias e os homens Esposito são assassinos
frios que gostam de cada segundo quando matam alguém.

— Ninguém nasce um assassino. — É minha resposta.

Ele me encara com desdém, pouco se importando com algo além de


sua opinião.

— Volto agora mesmo para a Itália. Quero que vocês estejam no


noivado de Stefano.

— Stefano irá noivar? — Isso chama a minha atenção.

— Um Capo respeitado precisa ser um homem com uma família, com


herdeiros.

— Presumo que isso não seja do agrado do meu primo, uma vez que
sequer comentou comigo.

— Pouco me importa se isso o agrada. A jovem é belíssima e de uma


boa família. Se ele queria se apaixonar à primeira vista, pensou errado. — Ele
abotoa seu terno e caminha até a porta. — Irei fazer com que o convite
chegue até vocês e os quero lá.
Nem questiono se não vai passar a noite aqui. A noite já se foi e
Giuseppe é desconfiado demais para dormir na casa de qualquer pessoa. Por
isso orgulha-se de Stefano querer matá-lo, porque isso mostra a força do neto
e futuro Capo, além de inflar seu ego, visto que ele jamais se deixará ter um
fim desse. O homem é frio e calculista, sem misericórdia de qualquer um. Me
surpreende que demonstre um tipo de apreço por mim, que deixe evidente seu
desgosto por eu não fazer parte da máfia. Talvez para ele só isso importe, a
utilidade das pessoas ao seus olhos, a força que acredita que elas têm.

Caminho até a porta e a tranco. Qualquer animosidade que existia


entre nonno e eu deixa de existir agora, visto que ele pode tentar algo contra
Ana. Em vez de ir para o meu quarto, sigo até meu escritório e pego o
aparelho celular que Stefano me deu tempos atrás e que só ele tem o número.
Como a diferença de fuso horário de cinco horas a frente na Itália já faz com
que lá seja de manhã e Stefano certamente está acordado, mando uma
mensagem para ele e espero que me retorne.

Como esperado, um número desconhecido pisca na chamada e eu


atendo.

— Quem é vivo sempre aparece. — Atende falando em italiano.

— Eu que deveria dizer isso ao noivo do ano. — Permaneço falando


em nosso idioma.

— O velho foi aí então. Eu sabia que o sumiço dele não era boa
coisa, mas seus soldados mais próximos são leais e não consegui descobrir
para onde ele estava indo.

— Ele está um passo a frente você admitindo ou não.

— Foi para isso que ligou? — Irrita-se.

— Ana está correndo perigo agora que nonno acha que ela pode me
tornar fraco.

— Não concordo com aquele velho trapaceiro em nada, mas


concordo que você não deve se deixar ser fraco por causa de uma mulher,
Ezra. Essa garota já fugiu. Ela não é de confiança.

— Stefano. — Alerto, irritando-me.

— Eu sempre protegi você e vou continuar fazendo isso e se Ana faz


parte do pacote, saiba que ela também estará protegida. O velho não vai
encostar num fio de cabelo dela.

— Não queria sua proteção. Eu posso protegê-la. Só quero ter certeza


que você não irá compactuar com qualquer merda que ele inventar de fazer.

— Nunca vou compactuar com os meios de Giuseppe. — Stefano


cospe. — Um segurança dele andou rondando a casa da sua mãe. — Soa
contrariado. — Reforcei a segurança lá.

— O que ele está querendo com ela? Hoje exigiu que eu a obrigasse a
ficar com o meu pai para que ele se cure.
Stefano solta uma gargalhada forte.

— Ora, ora, então você não é tão diferente do velho assim, Cattaneo.
Seu anjo sabe?

— Não e não irá saber.

— Até quem nunca teve um relacionamento ou se importou com


alguém, como eu, sabe que segredos obscuros podem detonar uma relação
quando vem a tona.

— Só virá à tona se eu permitir e eu não vou. — Encerro o maldito


assunto e a chamada de uma só vez.
CAPÍTULO 21

Você escolheu dançar com o diabo e acabou tendo sorte

Yeah

As águas estão esfriando, me deixe nadar em seu oceano

Por aí na Califórnia, eu venho ansiando por isso

Muito difícil te ignorar, principalmente quando estou fumando

O mundo está nos meus ombros, deixe seu corpo aberto para eu
nadar

Chase Atlantic - Swim

Não vi Ezra durante a manhã. Mesmo tendo passado boa parte da


noite acordada, não consegui dormir até tarde por conta de um enjôo que me
fez correr para o banheiro. Depois disso, não consegui pegar no sono
novamente. Por mais que me sentisse levemente enjoada, não vomitei e fiquei
bem depois do café da manhã. Gilda contou sobre a presença do avô de Ezra,
mas me fiz de boba.

Lembro-me de tudo o que aconteceu ontem, inclusive de o termos


encontrado na sala quando chegamos. Naquele momento eu estava mais
embriagada pelo sono do que por álcool, mas não esqueci sua voz rude e nem
a forma como Ezra me apertou em seus braços enquanto estávamos na
presença dele. Parecia protetor, mas ele sempre é, então talvez seja só uma
loucura da minha cabeça bêbada.

— Vai para o salão? — Luigi perguntando, surgindo de sei lá onde e


comendo uma maçã.

— Hoje não.

— Se você fosse minha funcionária, já teria sido demitida. — Ele


zomba.

— Muito engraçado. — Olho feio para ele, mas sabendo que estou
sendo relapsa com meu salão. — Preciso de um tempo para mim. Semana
que vem, volto a ser responsável.

— Sim, senhora. Soube que o velho Esposito esteve aqui ontem... —


Sonda, sentando-se do outro lado da mesa, de frente para mim.

— Pois é. Não o vi, mas o ouvi. A energia dele é ruim. — Digo.


— Todo ele é ruim, docinho.

— Você só vai parar com esse apelido escroto quando eu acabar com
sua raça.

Luigi me olha com desdém. É claro, com seu tamanho e músculos eu


jamais conseguirei acabar com ele. Mostro o dedo do meio e termino meu
almoço. Depois que acabo, digo que vou verificar Ezra, pois até agora não
deu o ar da graça. Subo as escadas ouvindo a risada debochada de Luigi e
bato à porta de Ezra. Segundos depois, a porta é aberta e um corpo delicioso e
sem camisa aparece em minha visão.

— Tudo bem? — A voz rouca e o rosto sonolento evidenciam que


acordou a pouco tempo.

Me recomponho para não babar em sua frente.

— Achei estranho você estar sumido até tarde. Não imaginei que
pudesse estar dormindo ainda.

— Precisei resolver outras coisas depois que chegamos, então só


dormi quando já amanhecia. — Explica, passando a mão pelo queixo coberto
pela barba.

Olhando-o assim, de perto, analiso seu peitoral e abdômen em


exibição, os pêlos ralos e as tatuagens o deixando ainda mais gostoso aos
meus olhos, másculo e viril. Sinto minhas bochechas queimarem e meu sexo
latejar com as memórias da sua voz em meu ouvido ontem a noite, com as
depravações que me disse. Em contrapartida, lembro-me de como dançou
comigo, cuidou de mim e deixou-me ficar a vontade para me divertir.

— Ana. — A voz de Ezra é um aviso cortante. — É melhor você


descer.

Pisco algumas vezes, sentindo-me tonta pelo desejo. Encaro seus


olhos e vejo seu olhar focado em meus seios. Conferindo o que ele tanto olha,
vejo os bicos intumescidos bem evidentes através da regata verde claro. Que
se foda!

— Por que eu devo descer? — Pergunto, dando um passo a frente. —


Depois de ontem, de ter me feito gozar, de tudo o que disse, acha que vai ser
tudo bem fingir que nada aconteceu, Ezra?

Mal assimilo como vou parar dentro do seu quarto. Com um baque,
meu corpo é empurrado contra a porta, que fecha com o impacto. Arregalo os
olhos, chocada e ansiosa, trêmula e eufórica, tudo ao mesmo tempo. Ezra
paira sobre mim, alto, forte, com as pupilas dilatadas e o rosto em uma
expressão louca, selvagem.

— Acordei a meia hora. Escovei os dentes, tomei banho e deitei de


novo. Sabe por quê? — Pergunta, em tom de voz rascante.

Engulo, sentindo sua mão subindo por meu braço, tocando meu
ombro e se fechando em minha nuca, puxando meus cabelos e mantendo
minha cabeça presa na posição que ele quer. Seu olhar penetrante me alerta
de que ele quer uma resposta.
— Não...

— Porque se eu descesse poderia jogá-la contra a primeira parede


que visse. Me infernizou até em meus sonhos. Acordei com o pau tão duro! E
sabia que não haveria jeito... Sabe desde quando você tem sido meu
tormento, mio angelo? Você não faz ideia do que desejo fazer com você. —
Ezra diz tudo com raiva, como se odiasse se sentir assim.

— Não sou uma criança e nem da sua família.

— Você é minha para cuidar e eu vou foder com tudo.

— Você não precisa estragar nada. É só sexo... Nossa relação pode


continuar sendo a mesma.

— Nada será o mesmo, você não vê? Foda-se, Ana. Você escolheu
ficar.

E sua boca bate contra a minha, abrupto, cheio de lascívia e desejo


violento. Gemo, alucinada, abrindo os lábios para ele, segurando seus
ombros, cravando minhas unhas em seus músculos. Ezra enfia uma perna
entre as minhas e faz fricção em meu sexo, me deixando louca de tesão. Sua
brutalidade quase me faz recuar, com medo de que seja dolorido, mas não há
chance de eu fugir disso depois de querer tanto. E Ezra não vai me machucar.
Sei disso.

Ezra se afasta, deixando de me tocar, mantendo a máscara de frieza,


mas seu olhar parece louco.

— Tire a roupa. — Exige.

— Se você me quer nua, é melhor você fazer o trabalho. Me dar


ordens não vai funcionar. — Digo sob minha respiração ofegante.

Eu jamais conseguiria me despir com meus dedos trêmulos como


estão agora. Ezra estreita os olhos para mim, mas em vez de me despir me
puxa para ele e me vira de costas, colando seu peito em mim e sua boca em
meu ouvido.

— Aqui não há espaço para sua rebeldia, Ana. — Então segura a


barra da blusa nas laterais e, com um puxão, faz o tecido rasgar no meio,
expondo meus seios, ficando intacta só na costura acima do peito e nas alças.
Grito, assustada, e sinto umidade escorrer entre minhas coxas. Deus! — Na
próxima recusa, vai ficar sobre meus joelhos e contar enquanto eu surro sua
bunda.

Quero revidar, quero dizer que vou bater nele se me bater, mas não
sou capaz. Tudo isso me excita ao extremo. Fico desacreditada de mim
mesma por gostar de cada imagem que vem em minha cabeça com a ameaça
de Ezra.

— Abra as pernas para mim.

Dessa vez obedeço. Ezra desliza a mão pela minha barriga, desce até
o cós do short jeans e abre o botão e depois o zíper. Ele empurra por minhas
pernas e logo a peça vira um amontoado em meus pés.

— Está molhada para mim? Quero que me diga o que está sentindo.

— Estou. — Gemo, então sua mão adentra minha calcinha. —


Porra...

Ezra abre minha dobras e sua respiração se torna mais forte quando
ele sente a umidade. Ele espalha por meu sexo e me provoca, sem me dar o
toque que eu preciso. Ele empurra seu pênis duro contra a minha bunda e
gemo alto, meu sexo contraindo, precisando de contato.

— Sabe uma coisa que estou louco para ver? Me masturbei pensando
nisso antes de você chegar. — Sua voz é um sussurro calmo. — Será que
esses pêlos são loiros? Diga para mim, Ana, sua boceta é loirinha como você
naturalmente é?

Fico mortificada. Minha depilação está sempre em dia, mas a última


vez deixei um triângulo pequeno.

— Sim... Sou loira aí embaixo.

— Cazzo! Deite-se de pernas abertas para eu ver essa bocetinha loira.

Ele me solta e quase caio para trás, tão mole minhas pernas estão.
Toda eu, na verdade, me sinto mole, trêmula, bêbada pela luxúria crua.
Caminho até a cama e deito-me. Ezra se aproxima, ainda com sua calça de
moletom e não faz menção de tirar minha blusa rasgada. Parece que é para
lembrar que eu neguei seu desejo e o resultado que obtive com isso.

— Abra. — Ele manda e empurra minhas pernas. Tira minha


calcinha e a leva até o nariz, cheirando-a e fechando os olhos, tão primitivo
que sinto minha boceta pulsar, liberando lubrificação que escorre até meu
ânus. — Esse cheiro... — Rosna, enfiando a calcinha no bolso e se aproxima,
olhando-me. — É loirinha, caralho.

Se aproxima e se inclina, enfiando a cabeça em meu sexo. Ezra não


lambe, ele me come. O que sua boca faz comigo é delicioso e indomável. Ele
me lambe de cima a baixo, passando os dentes, chupando, mordendo os
lábios vaginais, me deixando louca. Suas mãos seguram minhas coxas com
força, bruto, a ponto de dor, mas eu aprecio tudo. Sua língua circula meu
ânus e, sem pudores, me estimula ali, deixando claro que não há nada
proibido em um quarto com ele. Ele bate em meu clitóris sem dó e eu ondulo,
querendo mais. Seguro seus cabelos, puxo, tão perdida na onda de luxúria
que grito sem pudores. Meu orgasmo vem com força e ele não dá pausa,
batendo com a língua em meu clitóris e abrindo a boca em toda a minha
boceta, passando o dente de um jeito que me faz delirar. Ezra sobe por meu
corpo e lambe meus mamilos, um de cada vez, então quando me situo e olho,
ele prende um bico intumescido entre seus dentes e morde a ponto de dor. A
fisgada vem com força e então ele chupa forte meu seio, e minha vagina
encharca novamente em resposta.

— Você gosta de sentir a dor... — Ezra murmura, examinando meu


rosto. Seu dedo roça meu clitóris e então ele me penetra e arregala os olhos
quando sinto a ardência e reteso o corpo. — Não, Ana. Porra, não...
Enrolo minhas pernas em sua cintura e meus braços em seu pescoço.
Ainda me sinto bêbada por causa dele, mas a indignação me faz recuperar um
pouco de coerência mental.

— Sim e se você parar por causa de qualquer idiotice da sua cabeça,


eu vou embora, Ezra. Me respeite como a mulher que eu sou. Se eu quero
isso, você não tem que decidir nada por mim.

Ezra olha meus olhos por um longo tempo, depois que se dá por
vencido, move o dedo lentamente e seu olhar suaviza. Seu comportamento
muda totalmente depois de se dar conta que sou virgem. Ele deixa a
ferocidade de lado e até as palavras sujas somem. Ezra me beija na boca, seu
dedo vem e vai devagar, me abrindo e preparando, sua outra mão passeia pelo
meu corpo sem os apertões brutos de antes. Ele tenta se afastar e eu deixo
para que tire a roupa. Respiro fundo, sabendo que esse é o momento. Ezra tira
preservativos de sua carteira e os joga ao meu lado na cama, depois tira sua
calça e a boxer de uma só vez. Bebo de sua imagem como uma mulher
sedenta. Ele é perfeito, viril e lindo. Seu rosto só complementa a perfeição de
seu corpo. Ombros largos, braços fortes, peitoral e abdômen definidos, aquele
V marcante, uma linha de pêlos ralos que descem até seu pênis grande e
grosso. Fico presa em seu comprimento, babando, imaginando-me levando-o
em minha boca, querendo aproveitar tanto dele quanto quero que ele faça
comigo. Ezra sorri vendo meu olhar e caminha em minha direção. Vê-lo
deslizar a camisinha por seu pau faz com que eu me contorça na cama,
totalmente excitada e pronta para ele.

— A primeira vez não será boa para você, Ana. Irá doer, mas vou
fazê-la gozar antes para que sua mente esteja focada no prazer do orgasmo
em vez da dor quando eu penetrá-la. Capisce?

— Sim. Eu quero isso, Ezra. E não importa que amanhã você seja um
cuzão, porque você sempre é, mas você também é quem cuida de mim, a
única pessoa que confio e eu jamais poderia dar o meu corpo a outro.

— Ana. — Ezra parece perturbado com minhas palavras.

Passo minhas mãos por seu rosto, acariciando a barba, passo meu
dedo por suas sobrancelhas grossas e negras, no vinco que se forma entre
elas. Então sorrio e enlaço seu pescoço, o puxando para me beijar. Nos
beijamos, sôfregos, famintos e ansiosos. Ezra esteve confiante a todo
momento, sem demonstrar qualquer emoção, mas tenho a ligeira impressão
de sentir seus dedos trêmulos quando ele aperta minhas coxas e respira fundo
na minha boca. Ele desce seus beijos por meu pescoço, volta a brincar com
meus seios e tira o que resta da minha blusa. Ele lambe meus seios e chupa
com tanta ânsia, enquanto leva seu dedo ao meu clitóris e estimula o nervo
inchado. Aplicando uma pressão certa, ele move o dedo dando atenção a cada
um dos meus peitos. Reviro os olhos de prazer, murmuro seu nome,
choramingo e quando estou quase gozando, Ezra se afasta um pouco e segura
a base do seu pau. Fico tensa, achando que vai me penetrar agora, mas ele
esfrega em minhas dobras e meu clitóris, fazendo o orgasmo voltar com tudo.
Todo meu corpo grita, febril, minha vagina lateja, a umidade escorre para os
lençóis, me sinto pronta. Quando gozo, Ezra me penetra lentamente.
Realmente o orgasmo faz com que o prazer nuble a dor quando rompe meu
hímem, mas a ardência continua mesmo depois, pois Ezra é bem dotado. Ele
beija minha boca enquanto se move lentamente. Me sinto uma boba,
emocionada por ter perdido minha virgindade com ele e por ele ter se tornado
suave. Por mais que tenha amado sua selvageria, precisava dessa calma na
minha primeira vez. Me perco tocando os ombros de Ezra, beijando seus
lábios, observando o prazer em seu rosto. Ezra nunca esteve mais bonito do
que agora, os sons que ele faz são guturais, másculos, seus lábios estão
entreabertos e os olhos cerrados. Meu prazer volta arrebatador com sua
imagem e as estocadas lentas e fundas logo se tornam um pouco mais fortes
quando ele se deixa ter seu próprio prazer. O homem goza forte, grunhindo,
lindo, e cai sobre mim, enfiando o rosto em meu pescoço. Acaricio suas
costas suadas, lânguida, satisfeita.
CAPÍTULO 22

Ultimamente, eu tenho me perdido em você

Eu destruí seu mundo como se não fosse novo

Nunca sangrei tanto quando não precisava

Eu desisti de uma vida vivida

Todos os dias sou escravo da mágoa

Lewis Capaldi - Lost On You

Observo o corpo adormecido de Ana na minha cama e não posso


conter a miríades de sentimentos desconhecidos que tomam conta de mim.
Fico nervoso, tentando domar a fera dentro de mim que quer acordá-la com
meu pau dentro dela, que quer virá-la e pegá-la por trás. Cazzo! Nunca me
senti tão sem rumo, não desde que ela voltou para casa.
Ana adormeceu assim que terminamos. Fiquei calado, não pude dizer
nada. Descartei o preservativo, voltei com uma toalha úmida e limpei sua
boceta. Depois de deixar no cesto de roupa suja, voltei para a cama e fiquei
com ela, ambos em silêncio. Foi sua primeira vez e eu tomei isso, sem me
arrepender, sem hesitar. A consciência tentou me impedir, mas não consegui
ser forte. Me senti um rei do caralho. A luxúria crua e insana que me envolve
quando se trata de Ana é incontrolável. Nunca me senti assim. Já transei na
frente de pessoas, já dominei, subjuguei, tive três mulheres ao mesmo tempo
ao meu dispor, mas nunca foi tão prazeroso, nunca foi um ápice de verdade.
Antes eu conhecia o que era uma liberação e hoje conheci o que é chegar ao
ápice. Com Ana, pegando leve para ser bom para ela. Mas seria hipocrisia
dizer que não gostei de cada segundo. Sem chicotes, sem submissão de sua
parte, o que convenhamos: nunca vai acontecer, a mulher é uma rebelde.
Gozei tão forte, tão duro e gostoso, que precisei de um tempo com o rosto
enfiado em seu pescoço, entre seus cabelos cheirosos. Eu fui ao paraíso e
voltei. Sem motivos além de que Ana está me enlouquecendo, que faz meu
coração bater acelerado e meu sangue bombear forte. Não sei mais como agir
e essa perspectiva me faz parecer fraco.

Levanto-me da cama após, com cuidado, tirar sua cabeça do meu


braço, evitando fazer movimentos bruscos e sons altos. Pego uma peça de
roupa e sapados, então me dirijo para um dos quartos de hóspedes e tomo
banho no banheiro acoplado do mesmo. Visto-me e desço, mas nem almoço,
só peço a Luigi que fique atento à Ana. Dirijo pelo o que parecem ser horas e,
ao mesmo tempo, parecem segundos, uma vez que minha mente não para.
Sigo em direção ao clube e peço comida quando sinto meu estômago
protestar, visto que minha última refeição foi ontem a noite.
Já em meu escritório, me surpreendo ao ver, pelas câmeras, Ana no
salão. Sua expressão não demonstra nada, mas tenho certeza que está irritada,
até magoada, por eu ter saído enquanto ela dormia. Perco o foco em qualquer
possível chance de colocar o trabalho em dia, obcecado em cada ação de Ana.
Poucos minutos depois, Alessandro traz minha comida e permaneço no
automático, com os olhos nas telas.

— Senhor Cattaneo, gostaria de saber se irá querer a submissa que


trouxe ontem... — Ouço Alessandro dizer, o que me traz a consciência de que
ele permanece aqui.

Afasto o prato, bebo um gole de suco, devolvo o copo à mesa e limpo


minha boca com o guardanapo. Encaro-o meu braço direito aqui no clube.
Tento agir com racionalidade. Eu tive sexo com Ana e quero mais, não posso
mentir para mim mesmo quanto a isso. Uma barreira já foi quebrada e não
adianta recuar agora. Transar com outras mulheres poderia me afastar da
obsessão, mas não consigo me imaginar tocando outra depois de ter tocado
Ana. Preciso ter mais dela até que ela saia do meu sistema e nós possamos
voltar a conviver como antes.

— Eu não a quero. — Respondo, por fim.

Alessandro parece perceber minha energia sombria e sai do escritório


sem mais uma palavra. Não volto a tocar na comida, minha atenção voltada
para Ana no salão. Me recosto na cadeira, me rendendo ao fato de que não há
mais nada que eu vá conseguir fazer hoje, além de observá-la como uma
maldita obsessão, uma fraqueza a qual estou permitindo.
Ana sai do salão e some por alguns minutos, fico ansioso para que
volte, precisando de migalhas porque a minha vida de merda não me permite
saber me comportar como ela merecia. Aperto minhas mãos em punhos
quando vejo o garoto da sorveteria entrar no estabelecimento com Ana ao seu
lado, rindo de algo que ele disse. Meu desejo é de ir até lá, atirar na maldita
cabeça dele e jogá-la em meus ombros, mas sei que ela me odiaria e nós dois
falaríamos coisas que não devemos. Respiro fundo, tentando me acalmar,
entretanto, nem assim consigo tirar meus olhos da tela.

Alessandro volta e atrai minha atenção, mas nesse exato momento,


me imagino jogando-o contra a parede e descontando minha frustração nele.

— O que você quer?

— Um dos sócios do clube, Guinaldo Ferrara, está lá embaixo


querendo falar com o senhor pessoalmente.

Levanto-me, com os olhos voltando para as telas e vendo Ana


sorrindo para aquele moleque outra vez. Minha máscara fria não está em
minha expressão, certamente. Pelo olhar apavorado de Alessandro, estou
deixando claro o desejo de matar alguém. Desço, deixando-o para trás, e vejo
Guinaldo no bar, sentado, com um segurança perto dele. Não há
funcionamento no clube a essa hora, o que leva o meu estranhamento por sua
presença.

— Cattaneo. — Levanta-se com seu sorriso falso de assessor de


vários famosos. — Uma honra que você esteja aqui para me receber.
— Presumo que veio tratar de negócios? Não falo diretamente com
ninguém, como você deve saber.

— Oh, sim, eu sei que sua vida é ocupado, mas Alessandro me


deixou entrar e disse que tentaria convencê-lo a falar comigo.

Alessandro não precisou de esforço, uma vez que eu necessitava sair


do meu escritório e fugi de lá. Mais uma vez fugindo.

— Diga o que precisa, Guinaldo.

— Alessandro já me cedeu algumas de suas submissas...

— Não tenho submissas. — Corrijo. — Eu fodo e depois não tenho


nada com elas.

— Exato! — Sorri, parecendo animado com isso. — Justamente por


saber que você não tem relacionamentos estou aqui. A última que esteve com
você, passei a noite observando-a. Fiquei louco por ela... Eu mantenho as
mulheres por algum tempo comigo, com contrato, benefícios para elas... Se
tiver acabado com ela, arranje algo para que ela seja minha.

Estreito meus olhos, meu cérebro recapitulando tudo o que foi dito.

— Você está dizendo a última submissa que esteve comigo?

— A de ontem a noite.
Ele não captou a mensagem mortal em meu olhar quando questionei.
Guinaldo assinou sua sentença de morte. A fera que, a muito custo, tenho
mantido presa se solta, pronta para matar a fome.

— Ela não é uma submissa e você nunca, jamais, irá tocar em um fio
de cabelo dela, tampouco fazer dela sua prostituta. — Rosno e seguro seu
colarinho com uma mão, puxando seu rosto assustado para perto do meu. —
Preste bem atenção em quem você confunde com puta de luxo. Você não está
na porra de um puteiro. — Dito isso, inclino suas costas contra o balcão e
soco seu rosto com a mão livre.

Meus seguranças não se metem e quando sou segurado por trás,


sendo impedido e contido, sei que não se trata de nenhum dos meus
funcionários.

— Ora, ora. De frio como uma geleira, a fervendo como um vulcão


em erupção. — A voz grossa e o tom debochado, além do sotaque italiano,
deixa claro que se trata de Stefano. — Solte o pescoço do seu cliente, Ezra,
você vai se foder com um processo.

— Me solte, não vou processar ninguém... Juro! Me solte!

Solto Guinaldo, sem olhar para seu rosto, ciente de que o maior
fodido de todos aqui sou eu. Me desvencilho de Stefano e sigo em direção ao
elevador, passando a mão por meu cabelo, nervoso, agoniado, confuso.
Stefano me deixa sozinho e quando entro no meu escritório e vejo Ana ainda
com aquele garoto, explodo em ira. Chuto a cadeira giratória, tamanha força
que a faz voar na mesa. Enxergo preto, jogando longe tudo o que vem a
minha frente. A única coisa que seguro em minhas mãos e olho com atenção
é o porta retrato com a foto de Ana mais jovem. Cabelos loiros, olhos azuis,
sorriso sincero. Mio angelo... Eu não posso envolvê-la em meu inferno e isso
não me impediu de possuí-la. Não me impede de pensar em repetir mais e
mais.

— Uau, você saiu dos trilhos, irmão. — Stefano diz ao entrar no


escritório e se deparar com a destruição que fiz. — O que está acontecendo
com você? Não sou um amigo, digamos, que irá dar o ombro para você
chorar, mas posso saber de umas coisas e outras, posso ajudar a matar quem
está te deixando nervoso ou arrumar uma puta para te chupar até você gozar
fora todo estresse.

— Não preciso de nada disso, Stefano. — Rosno, impaciente.

— É a Diana, não é? Essa garota é problema.

— Não diga algo que vai levar um de nós a matar o outro. —


Advirto, levantando-me do sofá.

— Não consigo entender. — Stefano caminha até a mim e segura


meus ombros, obrigando-me a encarar seus olhos azuis escuros. — No meu
mundo, escolhem a mulher com quem devo me casar. Por conveniência, para
ser respeitado, uma aliança talvez, foda-se, mas é assim que é. Ninguém casa
por amor na máfia. Você gosta dessa garota e não faz nada sobre isso. Pode
ficar com a mulher de sua escolha e reluta.

— Luigi está te contando as coisas. — Resmungo, me afastando do


seu escrutínio.

— Não confio nela e ele tenta me fazer confiar.

— Você não tem que se meter comigo e Ana. Nós não somos um
problema seu para resolver.

— Tudo bem então. Vim para o Brasil depois da ligação que você me
fez, para ver como as coisas estão de perto. Irei ficar por aqui por alguns dias,
se precisar de algo, me ligue. À noite vou estar aproveitando meus dias de
solteiro. — Faz uma careta debochada e dá tapinhas no meu ombro.

Chego em casa antes do clube começar a receber os sócios. Ana


havia fechado o salão há algumas horas e depois de repensar muito, percebi
que será melhor se eu deixar que as coisas rolem sem pressão. Não preciso
ficar pensando a respeito, complicando tudo. Ana mesmo disse que era só
sexo, então assim será. Vou usufruir do seu corpo o máximo que puder, darei
o melhor do prazer à ela e depois cada um segue sua vida. Continuarei
protegendo-a e cuidando para que sua vida seja boa. Nada irá mudar.

No entanto, assim que piso no primeiro degrau da escada, vejo Ana


surgir no topo, usando um vestido azul curto e decotado entre os seios, saltos
pretos com tiras enroladas em suas panturrilhas, cabelos presos em um rabo
de cavalo e as franjas caindo por sua testa.

Ouço um assobio atrás de mim e a voz de Luigi em seguida:

— Hoje esse moleque vai ter uma noite de sorte, docinho.

Ana parece sair do transe em que se encontrava me olhando, assim


como eu, que recuo meus passos e espero que ela desça.

— Para onde você vai? — Pergunto, em um tom áspero, sentindo


uma coisa horrível por vê-la tão bonita e com a frase dita por Luigi.

— Sair com Hugo. — Ana sorri para mim, como se tudo estivesse
perfeito.

Seguro seu braço e a puxo comigo para um lado afastado da sala,


longe dos ouvidos atentos do segurança.

— Você fodeu comigo de manhã e a noite vai sair com outro? — No


instante que as palavras saem, já me arrependo, mas não consigo recuar.

O rosto de Ana congela e ela puxa o braço do meu agarre, irada. Sua
expressão endurece e seus olhos faíscam com a raiva. Meu desejo é empurrá-
la contra a parede e transformar sua irritação em paixão com uma foda
selvagem.

— E se eu for? Você tem algo a dizer sobre isso, Ezra? Ao que me


consta sou maior de idade e dona de mim. — O tom condescendente em sua
voz me deixa puto e eu me afasto dela para não fazer algo que vá me
arrepender. — Boa noite. Com licença.

Ana passa por mim com aquele vestido apertado em sua bunda
redonda, o rabo de cavalo se movendo, me atiçando a puxá-la e proibí-la de
estar tão linda assim para outro homem. Mas eu não a mereço e, por um
momento, penso que talvez seja o melhor, permiti-la ter um homem normal,
não um pervertido que só quer sexo.
CAPÍTULO 23

É por isso que eu guardo para mim mesma

Eu não preciso ser incomodada pela sua negatividade

Então nem se incomode

Abaixe o tom, eu não sou sua filha

Lauren Jauregui - Lento

Estou tão irada e frustrada, que sinto minhas mãos tremerem. Não há
encontro algum com Hugo. Embora devesse, não consigo confiar em
qualquer pessoa e esse lado meu não mudou de uma hora para outra. Veja
bem para onde isso me levou, a foda mais épica da vida — não que eu já
tenha tido outras —, em contrapartida também me levou a ter que lidar com a
ausência de Ezra e a certeza de que ele fugiu, arrependido com o que
aconteceu. Confio só em Ezra e paguei o preço por isso, mas não me
arrependo.

Passei o dia triste, chateada, perguntando-me se para ele não foi bom
como foi para mim, se todo aquele prazer que vi em seu rosto era coisa da
minha cabeça. Hugo me encontrou novamente na sorveteria e nos demos tão
bem que ele ficou comigo no salão. Decidi ir trabalhar para não passar o dia
pensando em Ezra, mas de nada adiantou estar fora de casa, uma vez que ele
não abandonou meus pensamentos.

Luigi percebeu que eu estava para baixo e quando chegamos em casa,


ele se ofereceu para me levar para conhecer uma balada com pessoas da
minha idade. Aceitei e me deliciei com cada segundo que Ezra pareceu
surpreso e hipnotizado por minha aparência. É óbvio que ele tinha que ser um
idiota, querendo se impor, dizendo coisas estúpidas. Luigi jogou a isca para
fazer ciúmes e eu fui na onda. Sei que o incomodou, agora se foi por ciúme
ou o protecinismo idiota que ele sempre sentiu, não parei para analisar e nem
quero.

— Não quero sair. Estou me sentindo a ponto de explodir. Não quero


me indispor com alguém na rua e que você tenha que se envolver para me
proteger. — Suspiro quando Luigi estaciona um dos carros de Ezra.

— Voltamos para casa então?

— Não quero passar a noite lá. — Olho suplicante para ele.

— Tem meu apartamento, que é seguro e limpo, mas o Cattaneo não


vai gostar nada de você dormir fora de casa.
— Você mesmo diz que você não tem que me vigiar, somente
proteger. Ele não tem que achar nada. Se estou segura, é o que importa.

Luigi me encara por alguns segundos e suspira.

— Você é quem sabe, docinho.

Reviro os olhos e ele volta a dirigir. Através do vidro da janela vejo a


movimentação no bairro. Mesmo sendo quinta-feira, as pessoas estão pelas
ruas e bares, rindo e conversando, há movimentação no calçadão da praia.
Uma normalidade da qual eu nunca fiz parte e, por mais que devesse, não
sinto o desejo de me misturar.

Acordo com o som do toque do meu celular. Levo algum tempo para
despertar de fato. Tiro os cabelos do meu rosto e passo o braço pela cama
imensa do quarto de hóspedes de Luigi, procurando o aparelho que não para
de fazer barulho. O encontro sob o travesseiro no exato momento em que ele
para de tocar. Vejo que Ezra que me ligou e bufo. Logo uma mensagem
chega.

Ezra: Precisamos conversar.

Não respondo. Ezra não merece que eu esteja à sua disposição. Ele
pode ser maravilhoso no papel de cuidar de mim, mas como amante — se é
que posso chamá-lo assim —, ele só prestou no quarto. Era isso que eu
queria, não era? Sexo alucinante com Ezra? Consegui. Nem eu mesma
entendo porque nunca estou satisfeita.

Levanto-me e saio do quarto, indo até o banheiro no corredor. Faço


minha higiene matinal, xixi, lavo as mãos e procuro por Luigi. Estou usando
uma camisa enorme do brutamontes, chegando em meus joelhos e cabem
mais duas de mim dentro. Nunca vi alguém maior e mais forte que Luigi.
Avisto sua careca e ouço sua voz.

— Você me deu ordens para cuidar dela e protegê-la. Lembro-me de


que foi claro quando disse que não era para controlá-la, tampouco vigiá-la.
Me disse que ela era a dona da casa, não uma prisioneira. — A voz do
segurança é carregada de ironia. Ele escuta algo que Ezra diz, pois certamente
é ele do outro lado da linha e responde: — Quando ela quiser, vou levá-la
para casa em segurança, Cattaneo.

Luigi desliga e eu me aproximo. Dou um tapinha na sua cabeça e ele


resmunga.

— Obrigada por segurar minha onda.

— A hora que ele cortar minha garganta você se vira com outro
segurança sem carisma que ele encontrar.

— Eu não aceitaria outro segurança. Com você foi amor a primeira


vista. — Brinco, o fazendo rir.

— Lembro bem do seu amor por mim. — Luigi ri de um jeito


genuíno e percebo que tenho um carinho enorme por ele.

— Espero que não se torne um costume você saindo e chegando no


outro dia.

Ergo o olhar e vejo Ezra sentado na beirada da minha cama. Está


usando uma camisa gola pólo verde claro, calça jeans e tênis, todo casual e
mais lindo do que nunca. Mantenho a expressão séria e termino de entrar no
meu quarto.

— Realmente vai ficar agindo como se fosse meu pai? — Pergunto,


cansada desse hábito ridículo.

— Estou aqui para conversar com você. Como adultos.

— Então você deveria ter começado agindo como um. — Provoco.

Sento-me na beirada da cama e me inclino para tirar os saltos. Para a


minha surpresa, Ezra puxa minha perna e apoia meu pé em sua coxa. Observo
suas mãos morenas em minha pele clara, seus dedos longos se movendo para
afastar a tira da sandália, o toque sutil, mas que espalha brasa pelo meu
sangue. Engulo em seco e encaro seus olhos, só para descobrir que ele está
olhando meu rosto com total atenção.

— Você dormiu com outro homem essa noite, Ana?


— Você não é meu marido, querido. Vá interrogar as submissas do
seu puteiro. — Retruco, sem conseguir manter minhas garras por mais tempo.

Um salto sai do meu pé e Ezra faz questão de passar com a palma da


sua mão em minha pele, provocando. Ele puxa a outra perna e começa a
trabalhar no outro salto.

— Você não esteve com outro homem porque me deseja ainda e é


esperta o suficiente para saber que não vai encontrar em outro o que eu posso
te dar, o que seu corpo quer, mesmo que você não saiba.

— Não conhecia esse seu lado bastardo prepotente. Acho que eu


gosto mais do idiota monossilábico.

Ezra sorri e a visão de seu rosto com um sorriso genuíno é a coisa


mais linda desse mundo. Então ele suspira e tira minha sandália, mas mantém
as mãos passeando por minhas panturrilhas. Um toque tão inocente, mas que
faz coisas que não devia comigo.

— Errei feio, Ana, mas para proteger você de mim. Você viu meu
clube, aquilo é o que eu sou, mas não é tudo. Você é a única pessoa que me
importo em manter protegida. Lidar com o desejo por você me deixou fora de
mim. — Sua palma sobe até meus joelhos, acariciando atrás. Suspiro. —
Quero você. Muito. Você não é a única querendo mais aqui. Não sei quanto
tempo vamos continuar tendo desejo um pelo outro, mas proponho que a
gente explore isso. Você mesma disse que era só sexo, que podemos separar
as coisas. Vou continuar vendo-a como mio angelo, mas dentro do quarto ou
onde for que eu queira ter você, a verei como a mulher gostosa e fogosa, que
vai queimar de prazer junto comigo. Minha única condição é que a gente não
se beije mais. Para não haver confusão, não surgir pensamentos errados sobre
nós.

Pisco algumas vezes, o calor que seu toque causava sendo substituído
pelo balde d’água fria que as palavras finais me deram. Minha atitude
original e impensada, seria bater no rosto escroto de Ezra agora mesmo. Mas
talvez sua frieza tenha passado um pouco para mim nesse momento tão
necessário e eu só sorrio e digo:

— Aceito.

Ezra sorri, diferente de todos os sorrisos que já vi dele, o que não


foram mais que dois. Parece sedutor e se inclina para beijar meu ombro.

— Tomou a decisão certa, mio angelo.

— Você não deveria me chamar assim quando o clima estiver sexual,


Ezra. — Sorrio e empurro seu ombro, então me levanto e continuo a dizer: —
Para não confundirmos as coisas. Aqui eu sou só uma mulher gostosa e
fogosa, que vai queimar de prazer junto com você. — Repito suas palavras e
pisco. — Vou tomar banho e descansar. A noite foi longa. Pode me levar ao
seu clube essa noite? Quero conhecer melhor, você sabe, como as coisas
entre nós podem ser por lá.

Ezra pensa por uns segundos, os olhos parecendo preso em minha


boca. Só pelo desaforo, lambo os lábios e vejo a mudança em seu olhar,
aderindo a selvageria que conheci ontem.
— Sim. Saímos daqui às dez da noite.

— Ótimo.

Começo a tirar o meu vestido, ainda envergonhada demais para não


sentir as bochechas queimarem, mas deixo que a peça deslize até meus pés e
me viro, indo só com a calcinha minúscula e branca para o banheiro, visto
que não uso sutiã com essa peça. Tranco a porta do banheiro e me inclino
contra o balcão da pia, olhando meu reflexo no espelho e apertando o
mármore, tamanha minha indignação.

Talvez eu seja uma idiota que queria sexo e agora estou me


incomodando com a praticidade de Ezra. Entretanto, talvez ele precise de
uma liçãozinha. São só talvez... Mas as minhas regras quem faz sou eu.

— Você está meravigliosa. — Ezra sussurra em meu ouvido quando


entramos no salão comum do primeiro andar no clube. — Me segurei no
caminho para cá, mas desde que a vi, não consigo tirar os olhos de você e
precisava dizer.

Só assinto com a cabeça, sequer me dou o trabalho de olhá-lo. Ele é


uma armadilha para minha motivação, principalmente com esse cheiro
delicioso e falando italiano em meu ouvido. Estou usando um vestido
vermelho, com mangas compridas 3/4, tecido fluido, curto e com um decote
em V pronunciado entre meus seios, quase até o umbigo. Estou usando saltos
escuros, o que é bom perto da altura e imponência de Ezra.

Ezra me deixa a vontade, dançar, beber, dizer onde quero ir. Ele me
segue, parecendo relaxado, em prontidão para mim. Não bebo, pois quero
estar consciente e permaneço no andar inferior, só curtindo a noite. Em certo
momento — que eu torcia e contava que chegasse —, um homem, que eu
reconheço como senador, se aproxima de Ezra e monopoliza a atenção por
uns minutos. Ezra está sempre com as mãos em mim, então disfarço
sentando-me na banqueta perto do bar. Ele confere onde estou e continua a
conversa em seguida. Escapo para a pista de dança, já procurando minha
vítima. Vejo um homem me olhando e começo a dançar com ele. Suas mãos
abusadas logo tocam minha cintura, mas deixo, pois isso não é nada perto do
que vai acontecer. Olho para trás e vejo o exato momento em que Ezra nos
vê. Seu semblante escurece, é quase irreal o quão amedrontador ele se torna.
Seguro o rosto do cara e o beijo na boca. Alheio ao homem vindo até nós, ele
enfia as mãos entre meus cabelos e retribui o beijo, ansioso. Seus lábios não
fazem o efeito que os de Ezra fizeram, mas continuo o beijando até que
braços me afastam dele.

Viro-me para Ezra, meus olhos pegando fogo, finalmente a frieza


caindo por terra e a raiva me dominando.

— Já que você só serve para foder, escolhi o homem para me beijar


essa noite, Ezra. Depois que ele me esquentar, nós podemos subir para você
concluir o trabalho.

Ezra me puxa e em um segundo estou sendo jogada sobre seu ombro.


Solto um grito pelo susto.
— Você não encosta nela nunca mais. — Ele avisa a minha vítima.

— Não brigue com ele. Foi eu que o agarrei. É bom deixá-lo quieto.
— Alerto.

Ezra não faz nada com o cara e se vira, me carregando em direção


aos elevadores. Chamamos atenção de todos por todo trajeto até chegarmos
em seu escritório no terceiro andar. Ele me coloca no chão e levo um tempo
até me orientar. Olho em volta e vejo tudo destruído. Fico sem entender o que
aconteceu e encaro Ezra.

Bem, se há um sinal de algo é que ele está puto. Minha vingança foi
bem sucedida.
CAPÍTULO 24

Perdendo o controle da realidade

Estou além do limite

Eu quero gritar

Eu sou um prisioneiro aqui, venha me pegar

Me liberte

Raphael Lake - Prisoner

— O que você pretende fazendo esse tipo de merda? — Ezra rosna,


andando pelo escritório, que mais parece um ambiente pós guerra.

— Você acha que eu sou um robô, Ezra? Não sei como você está
acostumado a lidar com as mulheres na sua vida, mas comigo não será assim.
Você me conhece melhor. Sabe que eu odeio que me controlem. Quando fez
suas imposições, sexo sem beijos e blá blá blá, pensou se eu iria gostar
daquilo? Você agiu e eu reagi.

— Você disse que aceitava. — Acusa, indo até sua mesa e


procurando algo em uma gaveta na parte inferior.

— Porque eu estava pensando que se você não quer me beijar,


certamente há quem queira. E não errei, viu só?

Observo-o enquanto me olha, furioso, então pega um maço de cigarro


de uma marca cara e retira um. Ele acende e fuma. Fico um tanto obcecada
por sua aparência fumando, parecendo uma fera enjaulada.

— Vou mandar Luigi vir buscá-la. — Ele avisa, resoluto.

Me aproximo dele e retiro o celular de sua mão. O empurro — e ele


permite — até que ele sente na sua cadeira. Olho em seus olhos e digo:

— Não vou embora. Se não me quer aqui, vou aproveitar a noite lá


embaixo. Quero transar com você, Ezra, mas que fique claro que eu é quem
vou usá-lo, não o contrário. Eu quis você e fui atrás disso até conseguir. Você
não vai me fazer de gato e sapato, nem me dar ordens sobre como as coisas
serão. É sexo e ponto final. Depois disso, você não manda em mim e não se
envolve quando eu estiver beijando alguém.

Ezra dá uma tragada e joga a fumaça lentamente em meu rosto. O seu


olhar me prende. Ele se levanta e prende minha garganta com uma só de suas
mãos, a outra permanece segurando o cigarro. Minha garganta fica seca e sua
proximidade mexe com minha líbido. Ezra se inclina e passa a língua,
descaradamente, por meus lábios, umedecendo-os.

— A sua boca é minha. Assim como todo o resto.

— Não há nada seu a...

E sou calada com um beijo. Ezra me beija com raiva, certamente por
eu ter beijado outro antes. Sua mão aperta minha garganta e ele me empurra
até que meu corpo tombe contra sua mesa. Ele afasta a mão de mim e o som
dos objetos caindo no chão deixa claro que estava liberando o espaço para me
deitar sobre a mesma. Seguro sua nuca, raspando minhas unhas pelo seus
cabelos, beijando-o com vontade e sentindo todo o meu corpo reagir em
resposta, o que não aconteceu com o carinha lá embaixo. É totalmente
diferente o que o beijo com Ezra me causa. Sinto-me quase bêbada de desejo,
quase a ponto de jogar para o lado minha rebeldia para aceitar qualquer coisa
que ele queira me dar.

Empurro seus ombros e ele pisca, como se também estivesse tão


afetado com o beijo que não esperava que acabasse.

— Ezra, não vou ser tratada por você como um objeto, mesmo que
seja só uma coisa sexual.

Ezra estuda meu rosto, estica a mão em minha garganta para que o
polegar alcance meu lábio inferior, então o pressiona ali, me deixando toda
ardente com seu toque. Ele puxa a mão com o cigarro já no final e dá a
tragada final. Porra, como é lindo e sexy! Tenho um fraco sério por homem
malvado e filho da puta, acabo de ter certeza.

— Eu não ficaria um dia sequer sem beijar essa boca depois que
provei. Quis me proteger, mas não resistiria, Ana. Você foi longe demais
beijando outro na porra do meu clube, na minha frente. — Sua voz é dura
como um trovão.

Saber que me beijaria de qualquer jeito faz com que eu amoleça.

— Se você não quer que eu reaja desse jeito no futuro, não faça mais
o que fez. Ambos iremos desfrutar do que estamos prestes a ter. Não há
motivos para estresse, confusão e ordens.

— Você está certa. — Diz, para a minha surpresa.

— O inferno vai congelar por você concordar comigo.

Seu olhar ainda é sério, raivoso, sua expressão dura, mas ele leva a
mão ao meu rosto e acaricia. Sua carícia é sútil, quase com medo de me tocar,
como se ele não soubesse agir assim, mas seu esforço faz meu coração errar
uma batida. Ele encosta a testa na minha e parece perturbado ao confessar:

— Há tanta merda na minha vida. Você é a única parte boa de mim,


Ana. Eu não sei como agir com você.

Respirando ofegante, seguro seu rosto em minhas mãos, a barba


espessa em minha palma. Ezra aperta o maxilar, mas permanece quieto. Me
estico para beijar sua boca e sussurro:
— Me foda aqui. Eu quero que faça o que quiser comigo.

É o suficiente para ele se permitir. Minhas costas batem contra a


madeira da mesa e Ezra vem sobre mim, beijando-me ferozmente, tocando
minhas pernas, levantando meu vestido e apertando minha carne, bruto,
animalesco. Suas mãos parecem estar em todos os lugares, puxando meus
cabelos, apertando minha garganta, cintura, bunda e coxas. Eu escolhi ter sua
brutalidade e aqui está. Sua boca desce por minha garganta, mordendo meu
pescoço, chupando, moendo contra mim. Ezra não parece no controle como
em seu quarto ontem, ele parece como uma fera, que não sabe por onde
começar, mas que vai me devorar.

Ele puxa o decote do meu vestido e expõe um seio, o qual ele chupa,
morde, lambe, mamando e me fazendo gritar de prazer, com o calor que vai
direto para a minha vagina, fazendo eu puxar seus quadris, precisando de
contato. Ezra faz o mesmo com o outro seio, enlouquecendo-me.

Cedo demais, ele se afasta e começa a tirar sua própria roupa.

— Levante-se. — Ordena.

Obedeço, pois já entendi que gosto de seus modos dominantes


quando se trata de sexo. Ele fica nu, delicioso, forte e como um banquete para
mim. Senta-se na sua cadeira novamente e pega outro cigarro. Ezra volta a
fumar e eu juro que meu maior desejo agora é poder tirar uma foto dele
assim. Me aproximo dele e toco seus ombros, descendo minhas mãos por
seus braços fortes, as tatuagens, a pele bronzeada. Me inclino e beijo seu
pescoço e ele permite, quieto, calado, com a expressão dura. Mordo a pele
sensível e ouço seu rugido em resposta. Levo uma mão ao seu pênis robusto e
comprido e o masturbo, tentando demonstrar uma confiança que não tenho.
Ezra envolve minha mão e começa a ditar seu ritmo. Beijo seu peitoral,
lambo a tatuagem em número romano, seus mamilos e vejo seu corpo todo
ficar arrepiado. Fico de joelhos na sua frente, com meus olhos em seu rosto.
Ele solta a fumaça pelo nariz em minha direção.

— Eu nunca fiz isso.

— Você não precisa fazer nada, Ana. Eu tenho muito para fazer com
você. Mandei se levantar para se despir.

Nego com a cabeça e lambo meus lábios, me aproximo e passo a


língua pela cabeça grossa. Ezra leva a mão ao meu cabelo e segura firme, me
parando.

— Você quer que eu te ensine como chupar o meu pau, mio angelo?

— Sim. — Assinto com a cabeça e passo a língua novamente, me


deliciando quando ele fecha brevemente os olhos e fuma o cigarro.

Ele aperta a ponta na mesa e apaga-o, então o joga no chão e se


concentra em mim.

— Tome-o na boca e veja se gosta. — Ezra diz e eu faço. Vejo como


aperta o maxilar para não reagir. — Gosta?
— Sim. — Murmuro e faço o que presumo ser correto, o levando até
onde consigo, o que não é muito, e faço uma sucção lenta até a cabeça.

— Deixe sempre um pouco de saliva na boca para tornar mais fácil a


sucção. Pode usar os dentes de leve, sem morder, só raspando. Segure na base
e masturbe onde sua boca não alcança.

Seus comandos fazem minha vagina latejar e deixar minha calcinha


molhada. Me concentro em arrancar alguma reação dele e realmente fico
excitada por ter seu pau na boca. Quando meus lábios começam a doer com a
sucção, alterno com lambidas em toda sua extensão. O rosto de Ezra continua
como pedra, então raspo minha unha atrás de suas bolas e seguro as mesmas,
alternando as lambidas nelas. Isso faz um gemido gutural sair de sua boca.
Volto a tomar seu pênis e o chupo com vontade, sentindo minha intimidade
contrair de tesão. Sinto quando seu membro cresce e Ezra logo avisa:

— Vou gozar.

O chupo mais forte, querendo marcá-lo, querendo suas reações, seu


gozo, tudo, e engulo o líquido espesso e amargo quando ele goza. Suas mãos
me puxam e ele me acomoda em seu colo, mal me dando tempo para reagir
quando ele saqueia minha boca com um beijo devastador. Sua mão se infiltra
sob meu vestido, ele brinca com minha calcinha e a afasta, então toca meu
sexo molhado. Ezra espalha a umidade, levando até meu clitóris, tocando-me
ali, arrancando gemidos meus. Agarro sua nuca, enfiando minhas unhas em
sua pele, indo ao auge do tesão. Ele enfia seu dedo em mim e mete devagar,
depois adiciona outro e mais outro. Sinto um incômodo, uma ardência chata,
mas com a lubrificação e seu vai e vem lento tudo se transforma em prazer.
Ele mete com seus dedos e o polegar manipula meu clitóris.

— Estou louco por essa bocetinha loira. — Ezra sussurra, mordendo


meu queixo. — Hum... Está escutando esse som? Está tão molhada que faz
um barulho toda vez que meu dedo afunda... Gostou de chupar meu pau,
Ana? De beber minha porra? Goza para mim. Depois disso, tenho algo para
você por ser uma filha da puta lá embaixo.

Gozo por ficar ainda mais excitada com sua voz rouca, o sotaque
italiano mais pronunciado do que nunca. Ezra morde meu ombro com força
enquanto o orgasmo me arrebata e parece que a dor me leva a um nível mais
alto do clímax. Fico sem entender, mole, piscando, com a cabeça apoiada em
seu ombro. Só reajo porque Ezra me vira, colocando-me sobre suas pernas,
deixando-me de cabeça para baixo e bunda para cima. Meus cabelos caem
para frente, cobrindo minha visão, meus olhos ficam arregalados e eu grito,
assustada.

— Acalme-se. Eu não sou um homem que volta com a palavra, Ana.


E eu prometi há pouco tempo atrás que surraria sua bunda se você
continuasse me dando dor de cabeça.

— Ezra...

— Você não quer? Se disser não, é simples, será não.

Me sinto agoniada porque não consigo entender porque gosto desse


tipo de coisa, mesmo sem nunca ter experimentado. Curto seus apertões mais
brutos, suas mordidas, o jeito que pega meu pescoço, meus cabelos, como
mordeu meu ombro e até na primeira vez quando mordeu o bico dos meus
seios. Quero esses tapas porque quando ele diz que irá fazer, sinto-me
excitada.

— Eu quero saber como é. — Digo a verdade.

— Bom. — Ezra responde, passando a mão pela parte de trás da


minha coxa. Levanta meu vestido e expõe minha bunda. — Essa bunda vai
ficar ainda mais linda com a marca das minhas mãos. — Ele enfia a mão
dentro da minha calcinha e sente a umidade. — Está molhada, ansiosa
querendo apanhar. Porra, Ana. Você é uma pervertidazinha.

Então sinto o baque de sua mão contra uma nádega. Eu gemo e grito,
me remexo. O tapa não machucou, só fez arder e meu sangue parece correr de
um lado para o outro na região e minha vagina responde contraindo,
derramando mais líquidos.

— Você esqueceu de contar. Por isso vamos começar de novo. — E


bate novamente.

— Dois...

— Não, espertinha. É do começo. E agora de novo. — Ezra rosna e


estapeia minha outra nádega.

— Um. — Choramingo, tão excitada que sinto vontade de chorar.

— Empine-se e arreganhe-se para mim. Quero ver sua boceta


engolindo a calcinha de tão molhada que está. — Ele manda.

Eu faço e dessa vez o tapa não vem em uma nádega, mas sim na
minha vagina. Fico alucinada, gemendo, quase chorando, bêbada pela
devassidão. Os tapas continuam, na minha bunda, me deixando ansiosa,
esperando mais, então ele troca o lugar e estapeia minha vagina. Me perco na
contagem duas vezes e ele me faz voltar do início, me contorço em seu colo,
choro de tesão e quando ele bate em minha boceta outra vez, gozo tão forte,
que ejaculo nas pernas de Ezra no meio da contagem.

— Cazzo... Dio! Ana... — Ezra me pega no colo e me joga sobre a


mesa. Estou tão lânguida que não consigo abrir os olhos, detectar a emoção
em sua voz. Nada. — Porra... Veja isso. Você ejaculou. Che bella... —
Arranca minha calcinha de forma brusca e cai de boca, me lambendo,
chupando, raspando seus dentes.

Fico sem acreditar quando sinto todo meu corpo reagindo, incapaz de
entender como ainda posso ficar excitada após tanto. Ezra se afasta para
pegar um preservativo. Ele me puxa para o seu colo e senta-se na cadeira,
deixando-me montada nele. Seus olhos estão brilhando, parecendo
impressionado. Ele acaricia meus cabelos, beija minha boca e diz:

— A segunda vez ainda será dolorida. Então você vindo por cima,
pode controlar como fazer melhor para você.

Fico receosa, mas curiosa ao mesmo tempo. Seguro a base de seu


pênis e desço por ele. Não tenho jeito nenhum para me mover, mas Ezra
segura minha cintura e me mantém firme. Sorrimos um para o outro, eu meio
que agradecendo e ele me beija. Esse momento que passa entre nós enche
meu peito de algo tão forte, mas evito pensar nisso agora. Ezra beija minha
boca até que eu consiga descer por toda sua extensão. Arde e dói até que eu
me acostume, mas conforme começo a me mover, crio confiança e me sinto
bem com a sensação. As mãos de Ezra ficam firmes segurando minha bunda,
apertando e me puxando contra ele.

— Sabe o que será bom? Esfrega seu grelinho em mim. Vai te dar
prazer. — Sussurra, mordendo minha mandíbula.

Faço como ele disse e, realmente, a fricção me deixa louca. Começo


a me mover mais rápido e forte, gemendo de prazer, buscando meu orgasmo,
enquanto Ezra me observa, parecendo estar fazendo de propósito, deixando
por minha conta para que eu saiba lidar comigo mesma. Gosto disso, que
mesmo sendo dominante, quer me ensinar mais do que só receber. Nos
beijamos e o monto, perseguindo meu clímax, que parece nunca vir.

— Toca em mim... Com você o tesão duplica. — Peço, gemendo em


sua boca.

Seus olhos brilham e ele leva sua mão entre nossos corpos, me
tocando, conduzindo meu prazer com seu toque preciso em meu clitóris.
Gozo muito gostoso e Ezra estoca por baixo até que ele goze também.
CAPÍTULO 25

E oh, eu faço tantas coisas estúpidas

Eu estou longe de ser bom, é verdade

Mas ainda assim eu te encontro aqui

Ao meu lado

Imagine Dragons - Next To Me

Dou um nó no preservativo e o jogo no vaso. Puxo a descarga e


encaro meu reflexo no espelho. Prometi a mim mesmo que deixaria quaisquer
questionamentos de lado, mas é difícil não sentir-me atordoado com a
intensidade presente entre Ana e eu. O sexo com ela foi avassalador, melhor
que na primeira vez e, ainda assim, não me sinto satisfeito. A quero mais,
com gana e loucura.
Volto para o meu escritório e encontro Ana ajeitando sua roupa, ela
parece ansiosa, provavelmente esperando que eu vá ser um idiota outra vez, a
deixando sozinha e fugindo.

— Que tal um banho? O banheiro aqui é espaçoso. — Proponho,


sentindo-me nervoso, mas querendo mostrar para ela que estive de acordo
com tudo, mesmo que meu sangue ainda congele quando penso que seus
lábios foram tocados por outro.

Me aproximo dela e vejo um pouco de surpresa e satisfação em suas


feições. Inclino-me e beijo sua boca de leve, para mostrar à ela que só eu irei
beijá-la.

— Sua boca é minha, Ana. Você me entendeu?

Ana revira os olhos, mas acena com a cabeça, em concordância.

— O que aconteceu com seu escritório? — Indaga, olhando em volta


por toda a bagunça que fiz ontem.

Esqueci de avisar a Alessandro para chamar alguém para cuidar


disso.

— Um acidente. — Digo.

Ela me olha com curiosidade, querendo saber mais, mas sabendo que
é tudo o que vou dizer.
— Vamos tomar banho, estou suada e exausta.

Sorrio, pois por mim nós passaríamos a noite fodendo. Mas sei que
ela deve estar dolorida por sua primeira vez não ter sido a muito tempo e
também por ainda não ter se acostumado com sexo.

Consigo tomar banho com ela, receber seus toques e tocá-la sem
estarmos transando sem demonstrar estranheza. Não estou acostumado a ser
tocado, a receber carinho. Nunca convivi com isso. Desde que meus pais se
separaram, fiquei por minha conta. Nonna sempre foi amorosa, mas com o
passar dos anos e das merdas da vida, eu me afastei, principalmente depois
que descobri o que ela escondia sobre o passado. Me ressenti e aí nossa
relação mudou de vez. As pessoas sempre abriram as portas de tudo para
mim porque sabem que tenho dinheiro. O mundo é movido a interesses e se
você for capaz de suprir os interesses dos demais, você será bem recebido e
bem visto. Isso é tudo o que tive, e por esse mesmo motivo, nunca confiei em
ninguém. Somente Ana e Stefano tem minha confiança total. É um tanto
insano que eu confie tanto nela, uma vez que ficou sumida por anos e não
queria voltar a viver comigo. É imprudente e vai contra tudo o que aprendi.
Se meu pai não pôde confiar na própria esposa e no melhor amigo, em quem
é indicado confiar? Sempre nutri esses pensamentos, mas nunca os usei
contra Ana. A forma como ela entrou em minha vida a legitimou a ser parte
de tudo e nunca lutei contra isso. De alguma forma, do meu jeito errado ou
não, Ana sempre foi parte de mim. E agora, mesmo que tudo seja estranho,
eu não vou ser um escroto com ela. Essa experiência será boa para ambos e
quando acabar, não teremos lembranças ruins, somente boas.
— Nonno fez questão da nossa presença. — Explico a Ana enquanto
andamos em direção a saída do Aeroporto Internacional Marco Polo, em
Veneza.

— Não entendo o motivo de eu ter que estar aqui, mas espero poder
passear um pouco. Quando me trouxe aqui, anos atrás, não me levou para
conhecer nada.

— Cattaneo sempre fica ocupado por aqui, mas eu levo você,


docinho. — Luigi se intromete e lhe lanço um olhar irritado.

— Você pode visitar sua família, Deluca, eu cuido de Ana aqui. —


Digo entre dentes.

Duas semanas passaram desde que Ana e eu começamos a transar. As


coisas tem seguido assim entre nós desde então. Ela tem se mostrado curiosa,
aceitando tudo o que ofereço, mas não deixou de se impor fora do âmbito
sexual. Continuamos brigando quando discordamos de algo. Não voltamos ao
clube novamente e ela tem insistido para voltarmos, mas estive muito
ocupado adiantando o trabalho para ficar aqui na Itália por três dias e sempre
que tive tempo livre, me permiti me perder dentro dela. Ana é naturalmente
sensual e fogosa, tudo o que acontece entre nós é de uma intensidade absurda.
Me pergunto quando a luxúria irá diminuir, quando se mostrará cansativo
estar com a mesma mulher, mas não sinto sequer falta de agir como
dominador. Sou naturalmente dominante, mas não sinto o desejo de subjugá-
la. Antes tinha necessidade de me sentir no controle no sexo porque a minha
vida nunca esteve no controle das minhas mãos. Busquei nisso, um jeito de
me sentir no poder, entretanto, com ela não há meus fantasmas envolvido. É
só tesão puro e cru, prazer absoluto. A única linha que não cruzamos foi
dormir juntos.

Caminhamos pelo aeroporto, eu carregando a mala enorme de Ana e


conduzindo-a com a mão em suas costas. Ela está cansada, sentindo a
diferença do fuso horário, uma vez que aqui já é de manhã e no Brasil ainda
estaríamos dormindo, por conta das cinco horas à frente na Itália. Não trouxe
bagagem, visto que tenho roupas e tudo o que é necessário na casa de nonna.
Não vou me hospedar em minha casa, pois não há como com Ana aqui. Só de
pensar como ela reagiria ao ver com os próprios olhos quem eu sou de
verdade, me faz sentir uma coisa ruim no peito.

— Stefano já enviou o carro para nos buscar.

— Não iremos ficar na casa dele, né? — Ana pergunta.

— Ficaremos na casa de nonna.

O carro de luxo não demora a chegar e nos surpreende que Stefano


esteja dirigindo.

— Capo. — Deluca o cumprimenta.

— Corta a formalidade, Luigi.

Luigi é o homem de confiança de Stefano, sempre foi. Eles se


conhecem desde criança e sempre foram amigos. É provável que Deluca seja
o único homem em quem meu primo confia.

— Stefano. — Cumprimento assim que abro a porta para que Ana


entre e se acomode entre os bancos de trás.

Guardo a bagagem dela no porta malas e Luigi se acomoda ao lado


de Stefano. Sento-me ao lado de Ana e sinto sua tensão por estar na presença
de Stefano. Isso me incomoda, pois não quero que ela se sinta mal ou coagida
aqui. Vejo que está passando as palmas das mãos em sua calça jeans e,
agindo por impulso, movido pelo protecionismo, para vê-la mais calma, pego
sua mão na minha e entrelaço nossos dedos. Sinto seus olhos grandes em
mim, mas não encaro seu rosto.

— Prontos para conhecerem minha jovem noiva?

— Quantos anos ela tem? — Luigi pergunta.

— Consegui enrolar até que fizesse vinte. Ela faz em seis meses.

— É normal em nossos ciclos os homens se casarem com jovens.

— Se fosse para escolher, eu casaria com Donatella. É a puta que faz


o melhor boquete de Veneza.

Luigi solta uma gargalhada e Stefano o acompanha. A viagem segue


assim até que ele nos deixa na garagem de nonna.

— Aguardo você lá em casa para que possamos conversar antes do


noivado, Ezra. — Stefano avisa, saindo do carro enquanto eu retiro a
bagagem do porta-malas.

— Ana está comigo e combinei de mostrar Veneza à ela.

— Leve-a com você. Não vou demorar. Só quero te dar uma coisa e
tem que ser no meu escritório.

Estranho a conversa, mas concordo. Me afasto do carro.

— Luigi, pegue carona com Stefano. Vá tirar esses dias de descanso.

— Certeza?

Arqueio a sobrancelha para ele, sem paciência. Ele concorda e vai


falar algo com Ana. Vejo quando ela ri para ele e se estica para dar um beijo
na bochecha do bastardo. Até Luigi parece surpreso com a atitude dela, mas
logo ele passa a mão pelo cabelo dela, bagunçando-os como se ela fosse uma
criança. Ana bufa e o olha feio. Fico enciumado, não gostando dessa
proximidade inesperada que está acontecendo entre os dois.

— É bom eu ficar longe dessa garota. Ela parece encantar os homens


à volta dela. — Stefano zomba.

— Pode ficar longe, mas a respeite. Isso é tudo.

Stefano me encara com aquele olhar irritado dele, mas apressa Luigi
e volta para o carro. Eles saem e Ana e eu entramos na mansão.
— Ah, vocês chegaram finalmente! — Nonna diz em italiano, então
lembra-se que Ana não entende e repete em português. — Senti sua falta,
bambina.

— Também senti a sua, nonna.

As duas se abraçam e eu observo, esperando nonna para que


possamos nos recolher para descansar um pouco.

— Separei o melhor quarto de hóspedes para você, com banheiro,


portas duplas de vidro com a visão do terreno e, o melhor de tudo, uma
varandinha... Ezra já tem o dele. Venha, querida, eu levo você.

Então nonna monopoliza Ana, e eu, que pensei que poderíamos


relaxar um pouco, fico no esquecimento. Deixo sua mala em seu quarto e saio
em direção ao meu, irritado sem saber ao certo com o que. Estar aqui na Itália
com Ana, nas circunstâncias em que as coisas se encontram, me deixa
nervoso. Nonno não é de confiança, é instável e narcisista. Vou passar cada
segundo em que estou aqui preocupado com a segurança de Ana. Sem contar
que aqui estamos perto do que eu tenho escondido há anos.

— Sua mulher veio com você? — Nonno questiona assim que me vê


entrando na sala de estar.

— Não sou mulher dele. — A voz de Ana vem de trás de mim e ela
para ao meu lado, entrando no campo de visão de Giuseppe.

Ele a encara sem demonstrar emoção alguma. Encosto a mão na base


da coluna de Ana e andamos até o centro do cômodo.

— Não sabia que você estaria aqui na casa de Stefano. Vim para vê-
lo.

Ana dormiu a maior parte da manhã. Depois do almoço pedi que


viesse comigo, ela não queria, mas não havia alternativa, pois não vou tirar os
olhos dela enquanto estivermos aqui.

— Imaginei que você apareceria para ver seu primo e fiquei por aqui.
— Nonno cruza as pernas e olha Ana. — Finalmente nos conhecemos.

Ana sorri, mas é falso. Stefano quebra o clima pesado entrando na


sala.

— O nonno sentiu minha falta hoje, dá para acreditar? Nunca ficamos


na presença do outro mais do que um minuto por todo ano, mas hoje ele veio
na minha casa fazer uma visita. — A ironia de Stefano não passa
despercebido para ninguém.

— Não vim para visitá-lo, você não me importa, Stefano. —


Giuseppe retruca. — Estou aqui para conhecer a Diana.

Stefano o fuzila com os olhos e se aproxima de Ana e eu. Indo contra


tudo o que esperamos, ele passa o braço pelos ombros de Ana. O olho no
exato momento pronto para afastá-lo dela, mas ele me lança um olhar
significativo e diz:

— Você não precisa se preocupar. Eu a conheci há algumas semanas


e ela se tornou minha protegida. Descanse seu olhar de águia, seu passeio
nesse céu já acabou há algum tempo.

Giuseppe levanta-se irado e para em nossa frente.

— Se eu estivesse fora você não precisaria da minha palavra final


para tudo, Stefano. Se continuar me insultando, eu nomeio qualquer soldado
como Capo e acuso você de traição.

Stefano sorri sem humor.

— E seu narcisismo permite que você aceite a hipótese do nome


Esposito não continuar reinando? Se fosse tão fácil, você já teria me matado,
não só obrigado seu filho merda a me surrar dia e noite.

Meu olhar preso em Ana capta o momento em que seus olhos ficam
arregalados. Ela olha Stefano, quase sem acreditar que ele passou tal coisa.
Ele se afasta, sentindo que está sendo observado.

Isso tudo está passando por um motivo: nonno pensa que Ana é uma
ameaça. Stefano acaba de comprar essa briga, e os dois só não se mataram
ainda porque traição não é bem vista na máfia. Cada vez mais quero Ana
longe disso tudo.
CAPÍTULO 26

Estou livre como um pássaro quando voo para sua gaiola

Estou mergulhando fundo e estou andando sem freios

Estou sangrando de amor

Você está nadando em minhas veias

Liam Payne ft. Rita Ora - For You

Ezra não se afastou de mim por nem um segundo enquanto Giuseppe


Esposito esteve presente. Me surpreendeu que Stefano tenha me defendido,
deixando claro que me protegeria se seu avô tentasse algo. Me senti
aterrorizada entre os dois, em uma briga de gigantes, um duelo dos grandes.
Depois que o velho se deu por vencido e se retirou, o clima amenizou. Minha
concepção a respeito do primo de Ezra mudou potencialmente depois de
ouvi-lo expor que apanhava enquanto criança, e ver o tratamento de seu
próprio avô. Ele não foi criado para ser menos amedrontador do que é,
tampouco ser suave, e agora entendo e respeito porque sei que está disposto a
proteger Ezra a qualquer custo. A conversa entre os dois não aconteceu, visto
que Ezra não saiu de perto de mim. Stefano não o chamou, mas nos olhava
com curiosidade ocasionalmente. Eles combinaram de conversar em outro
momento e nós saímos de lá.

Agora acabamos de entrar na casa de nonna e Ezra chama a minha


atenção dizendo:

— Ainda há tempo de darmos um passeio antes do anoitecer. Há


ilhas bonitas aqui, podemos dar um passeio de lancha.

— Você tem uma lancha?

— Nonna tem. — Seu tom divertido me faz relaxar um pouco depois


de tudo.

— Ainda me sinto cansada, mas não vim para a Itália para ficar
descansando. Vamos! — Digo, animada.

— Vá se vestir adequadamente. Em meia hora já vou ter


providenciado tudo.

Meu desejo é me aproximar dele e beijá-lo, mas entre tudo o que


temos feito, demonstrações de afeto além do sexual não foi um passo que
algum de nós deu, portanto não quero ser a primeira a ultrapassar essa linha.
Subo e escolho um dos três pares de biquínis que trouxe. Visto o
amarelo, mas minha pele pálida demais parece ainda mais branca do que
nunca em contraste com a cor. O vermelho é indecente demais e meus seios
quase saltam fora da cortininha. Opto por ficar com o verde água, quase
confundindo com azul, prendo meus cabelos em um rabo de cavalo e a franja
com uma presilha, deixando o rosto livre. Visto uma saída de praia branca e
havaianas nos pés. Os italianos que lutem, não sou obrigada a abandonar o
hábito carioca de estar sempre de chinelos. Guardo meu celular, protetor solar
e óculos de sol dentro da bolsa pequena de palha.

Volto a sala e vejo Luigi sentado no sofá, mexendo no celular.

— Ei, sentiu saudade já?

— Stefano acha melhor eu continuar de olho em vocês.

— Por causa do avô? — Pergunto.

O homem me odeia, fez questão de deixar claro, e não faço ideia do


porquê, pois nem me conhece, tampouco quero me esforçar para entender,
mas ele é perigoso, não é qualquer um que eu possa espernear ou socar.

— Não sei de nada, docinho, só cumpro ordens. Você parece tensa.

Suspiro e me jogo no sofá ao lado dele.

— Faz uma massagem aí. Estou precisando relaxar.


— Vê se eu tenho cara de massagista?

Olho para ele, fingindo pensar na questão.

— Olha, você daria um bom massagista. Com esses braços enormes e


tudo.

— Folgada. — Luigi resmunga.

Viro-me, ficando de costas para ele e esperando a massagem. O


venço pelo cansaço e ele começa a fazer meus músculos relaxarem um
pouco.

— Que porra está havendo aqui?

Dou um pulo ao ouvir a voz de Ezra, mas Luigi continua


massageando meus ombros.

— Massagem. A menina está tensa. — O segurança responde


casualmente.

Viro para encontrar a expressão raivosa de Ezra no exato momento


que ele rosna:

— Não toque nela.

— Relaxa, cara, se você quiser te faço uma massagem também. —


Luigi abre seu sorriso debochado característico.
Ezra faz menção de avançar nele, mas levanto-me e fico entre os
dois, embora Luigi nem tenha se movido do sofá.

— Luigi só fez o que eu pedi. Eu não sou uma propriedade para que
você decida quem pode tocar ou não, Ezra. Controle seu temperamento pelo
menos enquanto estamos aqui. — Reclamo. — Podemos ir para o nosso
passeio?

Ezra me olha de cima, mais bonito do que nunca com uma camiseta
branca, shorts de pano leve e óculos de sol no topo da cabeça.

— Vamos. — Seu grunhido é a única resposta que obtenho.

Ele passa por mim sem me esperar. Olho para Luigi em um pedido
silencioso de desculpa, mas ele pisca para mim. Deus! Esses homens! Pego
minha bolsa e acompanho Ezra e quando entramos no carro o clima pesado
parece sufocar.

— Sabe o que quero fazer agora? Fazê-la pagar por me deixar tão
fora de controle.

— Você vive fora de controle, Ezra. Talvez devesse fazer terapia


comigo. — Dou de ombros.

Ezra me olha com raiva e começa a dirigir. Imaginei que nós


fôssemos ter uma foda raivosa, mas seguimos o caminho sem pausar. Vejo o
mar através das janelas, a cidade bonita, com tantas pessoas nas ruas, então
Ezra deixa o carro em um grande estacionamento e desce do veículo. Ele abre
a porta para que eu desça e me dá sua mão. Andamos de mãos dadas até que
a praia quase deserta entre em meu campo de visão e Ezra começa a explicar:

— Essa é a praia Punta Sabbioni. É gratuita, sem lotação. Aqui é


onde se encontra o parque turístico de Cavallino-Treporte e se estende a praia
com liberdade para fazermos o que quisermos.

Olho em volta enquanto nos aproximamos e me encanto com a beleza


incrível. Tudo demonstra um contexto que é possível intimidade e liberdade,
o que provavelmente ajudou na escolha de Ezra de estarmos aqui. Apesar de
tudo, o ambiente parece selvagem. Com costas incríveis e com dunas e flora
se destacando atrás da praia.

— Aquela é como a entrada para a vegetação do interior. — Ezra


explica, vendo para onde meu olhar está atraído. — Ali são pinheiros
domésticos e marítimos, muitos deles.

— É muito lindo e mesmo com essa natureza incrível, vejo que tem
quiosques...

— Ali fica o único restaurante daqui e há uma sorveteria também. —


Ezra aponta na direção dos estabelecimentos citados.

— É incrível.

— Aquela é nossa lancha. — Ele me guia em direção ao barco já na


água.
É um veículo extravagante, como tudo o que Ezra ou sua família
possuem. Eu esperava uma coisa pequena, mas é imensa. Ezra me ajuda a
subir e depois sobe com facilidade.

— Há alguém para conduzir isso para nós?

— Sim, porque quero estar com você, mas eu posso conduzir com
tranquilidade.

— Eu aposto que sim. — Bufo. — O que você não sabe fazer, hein?

Ele me encara de um jeito engraçado e me leva para a cabine, onde


cumprimentamos o piloto e descemos para que eu conheça a área interna. É
como uma casa, há quarto, banheiro, sala e até cozinha. Na parte externa,
vejo uma churrasqueira náutica, um espaço que cabe até duas
espreguiçadeiras, a cabine e uma escada que nos permite ficar na parte
superior. Encosto-me no suporte de ferro e me inclino, olhando a longa
extensão do mar, é incrível e perfeito. A temperatura é boa, com uma leve
brisa suave de verão e um céu azul bonito.

— Toma. Para você. — Ezra estende uma taça para mim com um
líquido transparente. — É vinho branco.

— Obrigada. — Aceito e bebo um gole.

Eu poderia cair no mar se não fosse pelo suporte e as mãos de Ezra


em minha cintura, mas quando sinto sua boca em meu ombro e o beijo suave
que ele deposita em minha pele, quase desfaleço. Me surpreendo com o quão
relaxado ele parece. Ele segura a barra da minha saída de praia e me ajuda a
me livrar da mesma, depois tira sua camisa e me abraça por trás, sem me dar
chance de sequer olhá-lo. Ficamos assim até que acabo o vinho da taça.

— Que tal um mergulho? — Pergunta, esfregando a barba atrás da


minha orelha, arrepiando-me inteira. Suas mãos não saem da minha pele,
acariciando minha barriga, tocando minha bunda. — A água está fresca.

— Sim.

Ezra e eu ficamos no mar por um tempo, depois voltamos para a


lancha e aproveitamos para observar a beleza de tudo. Ele sempre vai até a
cozinha e traz algo para eu comer ou beber e o silêncio entre nós é agradável.
Certo momento ele se estica na espreguiçadeira e crio coragem de beijá-lo
sem propósito, só porque eu quero e já que ele me deu abertura me abraçando
no outro momento, acho que posso fazer isso agora. Deito ao seu lado e ele
abre o braço para que eu me acomode. Beijo seu peito, seu pescoço e ele vira
o rosto para me beijar antes que eu o faça. Namoramos por um longo tempo
na espreguiçadeira.

Nós só voltamos para casa quando a noite chega.

Olho pela sacada do quarto em que estou hospedada e vejo inúmeros


seguranças em volta da mansão. Passo as mãos pelos meus braços, sentindo-
me um tanto amedrontada. A situação com Giuseppe não sai da minha cabeça
agora que estou sozinha. Não confio nele e em ninguém que está protegendo
essa casa. Somente Ezra e Luigi são de minha confiança, todavia eles estão
em seus quartos e podem nem ver se algo acontecer à mando do homem
ruim.

Retorno para o quarto e fecho as portas duplas de vidro ao mesmo


tempo que alguém força a fechadura da porta do quarto pelo lado de fora.
Arregalo os olhos e fico quieta, quase me entregando para o medo.

— Ana?

Suspiro, aliviada, ao ouvir a voz de Ezra e corro para destrancar.


Abro passagem para que ele entre com seu olhar aguçado fazendo uma
varredura em tudo.

— Por que a porta estava trancada?

— Ah, pronto, está pensando o que? Que tenho um Ricardão


embaixo da cama? Me poupe, Ezra, mas aquele seu avô é um tirano
amedrontador e estou com medo até da minha sombra aqui no território dele.

A expressão de Ezra endurece, bem irritado. Se aproxima de mim e já


me preparo para uma briga em que ele vai defender o seu nonno. Toca meu
rosto com suas mãos e me faz olhar em seus olhos.

— Ele não vai tocar em você. Ninguém vai. Estou aqui para que você
possa dormir bem.
— Você sabia que eu estava com medo? — Pergunto, atônita.

— Não, Ana, mas eu não posso deixá-la sozinha aqui. Eu vim porque
eu preciso ter meus olhos em você a noite toda.

Meu coração acelera e só assinto com a cabeça, sentindo um nó na


garganta que me impede de falar. Me vejo sem ação, mas Ezra nos guia até a
cama. Observo quando ele tira sua arma da parte de trás do cós da calça de
moletom e a coloca sobre o criado mudo ao lado que ele vai ficar da cama.
Encaro seu rosto tão bonito, a seriedade, os traços bem construídos, os
cabelos sem estarem penteados, a barba bem feita. Ezra é lindo. Seu corpo
forte e poderoso se acomoda na cama e ele abre o braço para que eu me junte
à ele. Espero que ele faça algum movimento para que role sexo, mas isso não
acontece. Me ergo para olhar seu rosto e me encorajo para acariciar sua
barba, seu pescoço, os ombros cobertos pela camisa.

— Qual é seu nome? — Seu murmúrio me pega de surpresa.

Evitar esse assunto sempre foi um jeito de me proteger, tanto da


lembrança escrota de Reinaldo, como para me dar uma segurança que se
precisasse escapar, Ezra não saberia meu nome totalmente.

— Você sabe quem eu sou. — É minha resposta.

Algo passa em seus olhos, mas ele não diz nada. Ezra puxa meu
pescoço e apoia minha cabeça em seu ombro. Ele não faz carinho, não
demonstra qualquer ternura, mas me mantém em seus braços e está aqui para
me manter segura.
Posso estar me enganando, mas há uma sensação de que Ezra pode
sentir algo por mim, além do tesão e do sentimento familiar que sempre
nutriu desde que me salvou. Talvez ele não saiba amar, mas me pergunto se
ele poderia sentir algo forte por mim. Porque eu me sinto cada vez mais
afundando no caos de Ezra Cattaneo.
CAPÍTULO 27

Eu a pegarei pela mão

E mostrarei um mundo que você pode entender

Esta vida é cheia de sofrimento

Quando a felicidade não der certo, confie em mim e segure a minha


mão

Three Days Grace - Pain

Desperto sentindo um formigamento em meu braço, então levo


alguns segundos para assimilar tudo e entender que adormeci enquanto
cuidava do sono de Ana. Sinto cócegas em meu pescoço causada pelos fios
de seus cabelos embolados na região. Em minhas narinas, seu cheiro
delicioso toma conta de tudo. Seus pés, normalmente frios, estão sem meias e
emaranhados em minhas pernas, quentes graças ao calor do meu corpo.
Dormi bem como há muito tempo não dormia. Abro os olhos, deixando-me
despertar e vejo seu rosto sereno e perfeito, com a pele de porcelana, sem
mácula, os cílios compridos, lábios cheios, os quais preciso me segurar para
não encher de beijos durante o dia inteiro.

Há tanto de Ana tomando conta de mim. É como se ela estivesse em


toda parte. Seu toque em minha pele, seu gosto em minha boca, seu cheiro
em meu nariz... Quase me sinto sufocando, sem entender a dimensão disso
tudo, lembrando-me do nosso passeio, do último dia, em como a desejei o
tempo todo, mas estive em paz só de tê-la junto comigo. Tudo isso me
confunde e faz querer fugir, mas eu prometi que afundaria esses pensamentos
para longe e deixaria as coisas acontecerem. Estou tentando e tem sido
prazeroso conhecer um lado de Ana que eu não conhecia, até mesmo
descobrir que sinto prazer com pequenas coisas.

Tiro-a do meu braço, com cuidado para não acordá-la, e vou ao


banheiro para cuidar da ereção matinal dolorosa. Vou ao meu quarto em
busca do meu celular, vejo que já passam das dez da manhã e que há ligações
de Stefano. Retorno para ele, que reitera que precisa falar comigo
pessoalmente. Peço que venha até aqui enquanto Ana está dormindo e
encerro a chamada. Passo a mão pelo cabelo, nervoso, sabendo que há algo
para Stefano parecer preocupado. Tomo banho rapidamente, me visto de
forma adequada e retorno ao quarto de Ana, conferindo que continua
dormindo.

Stefano chega quinze minutos depois, vestido formalmente com terno


escuro, cabelos compridos abaixo das orelhas penteados para trás e os olhos
astutos procurando por Ana em volta.
— Ana está dormindo.

— Bom. — É sua resposta. — Sua nonna pode nos escutar, então


vamos a um cômodo reservado.

Concordo com um aceno de cabeça e viro em direção ao escritório


que sempre uso quando estou aqui. Stefano me segue e tranco a porta de
madeira grossa quando entramos. Ele retira o celular do bolso e me mostra
fotos da minha casa que fica na cidade de Padova, a meia hora aqui de
Veneza.

— O velho colocou gente dele para tentar pegar fotos da sua mãe.
Presumo que o intuito dele seja jogar a bomba no colo da sua mulher.

— Como você conseguiu as fotos?

— Não acredito nessa porra, mas foi sorte, Ezra. — Stefano passa a
mão pelos cabelos e senta-se em uma das poltronas de couro. — Um dos
homens que foi, é fiel à mim. Não tenho muitos infiltrados com ele, já te
disse que a maioria aplaudem o bastardo. Você teve sorte, porque sabendo
disso, dei ordens para que cuidassem de não deixar que ela fosse vista.

— Cazzo! — Bato com a mão na mesa e me inclino sobre a mesma,


sem saber o que fazer. — Ana vai estar na presença dele novamente no seu
noivado hoje a noite.

— Ele não vai feri-la, mas ele acha que ela vai amolecer você.
— Se ele a ferisse, eu mesmo o mataria sem me importar com quem
me caçaria depois, Stefano. Ninguém encosta as mãos sujas em Ana.

Stefano fica em silêncio por um longo tempo e eu também, me


recompondo, tentando colocar meus pensamentos em ordem.

— Acho que agora você sente um pouco o gosto do narcisismo de


Giuseppe, mas esse noivado vai me servir para chegar ainda mais perto do
poder. Em seis meses, o casamento acontece e ele vai estar fora de jogada.
Fique tranquilo e se não quer que ela saiba, vai ter que ser mais rígido com
sua prisão.

Viro-me encarando-o e entrego seu aparelho celular.

— Depois do seu noivado, eu tomo uma decisão. Obrigado.

— Você é a única parte que presta dessa família. Acaba com essa
loucura e vá seguir sua vida, Ezra.

Não o respondo, então ele destranca o escritório e sai. O sigo e o vejo


deixar a casa.

— Ezra? — A voz de Ana atrai minha atenção e olho em direção às


escadas para vê-la no topo.

Está usando short jeans, camisa gola pólo cor de vinho e sandálias
rasteiras nos pés. Tão pequena e linda, com as pernas grossas expostas e o
rosto sem qualquer artifício, só o molde dos cabelos escuros e a franja. Me
sinto faminto dela e não é sobre sexo. É uma necessidade latente de tê-la em
meus braços, de tocá-la, beijá-la, ter seu cheiro me envolvendo, ouvir sua
voz.

Subo as escadas e Ana parece tão presa em mim quanto estou nela,
visto que não se move, só segura no corrimão, como se precisasse de apoio.
Paro em sua frente, sentindo que vou enlouquecer se não beijá-la. Então
seguro seu rosto e sua cintura, colando nossos corpos e a beijo. Ana parece
quase surpresa, demorando para reagir, mas quando reage a química que há
entre nós, explode, fazendo-nos esquecer de onde estamos, até quem somos.
Só importa me embriagar dela.

— Ops... Por essa eu não esperava. — A voz de nonna faz Ana saltar
para longe de mim e quase bater com a cabeça na pilastra.

Ajeito-a para que fique firme e encaramos nonna com um sorriso que
deixa evidente que ela esperava, sim, por isso.

— Buongiorno, nonna. — Cumprimento e ela retribui a saudação.

— Bem, querida, marquei salão para nós duas... Não sabia que ia
estar ocupada.

— Eu levo vocês. — Ofereço, uma vez que vou estar mais tranquilo
com a certeza que Ana está em segurança, além de que esse tempo sozinho
será bom para acalmar meus demônios.
***

Nonna monopolizou o dia de Ana, nós só almoçamos juntos e elas


voltaram para o salão para fazer mais coisas. Continuei esperando no carro,
pensando e repensando minha vida. Já perto de anoitecer, voltamos para casa
e Ana vai se arrumar para a festa de noivado. Levo mais de uma hora para
fazer o mesmo, pois não demoro. Quando acabo, vou em seu quarto apressá-
la, mas ela abre a porta antes que eu possa entrar. Ana está deslumbrante com
um vestido longo de seda, na cor azul marinho, há uma fenda começando na
sua coxa até o pé, ele é tomara que caia ela usa um colar com uma pedra da
mesma cor, que já vi nonna usando, combinando com os brincos. Seus
cabelos estão presos em um coque, mas a franja cai pela testa. Seus olhos
azuis estão sombreados de escuro e os lábios só tem uma coisa brilhosa. Ela
está mais linda do que nunca.

— Você está perfeita, mio angelo.

— Você também. — Ana sorri.

Nós seguimos de braços dados para o andar inferior, depois para a


área externa da casa. O motorista de nonna irá nos levar, então sento-me ao
lado de Ana depois de abrir a porta de trás para ela entrar.

O caminho é curto e logo chegamos à mansão de nonno, visto que ele


insistiu que toda pompa acontecesse aqui. Luigi chega atrás de nós, em seu
próprio carro e acena com a cabeça para mim, deixando claro que vai estar
por perto. Entramos e nos deparamos com muitas pessoas vestidas com seus
melhores trajes, virando-se para nos ver. Todos sabem que sou o “bastardo”,
mas nunca me faltaram com respeito, embora não me aceitem dentro do seu
ciclo. Cumprimento alguns rostos conhecidos e logo nonno surge em meu
campo de visão. Ele falta babar reparando a beleza de Ana na cara de pau.
Não vejo maldade, no entanto, só surpresa. Há um momento que olha para
mim e nega com a cabeça de forma quase imperceptível, então volta a encará-
la.

— Você está divina, menina. Agora entendo o fascínio do meu neto.


— Ele diz em italiano, mas não o alerto sobre Ana não entender, embora ela
pareça curiosa ao meu lado.

— Nós não iremos demorar. — Digo à ele. — Tenho uma coisa para
mostrar a Ana quando sairmos daqui. — Estreito os olhos para ele, em um
aviso.

Giuseppe abre um sorriso esperto, perspicaz.

— É assim que começa. Você conta seus segredos, a enche de sua


melhor versão e então, ela te apunhala pelas costas.

— Eu sei lidar com punhaladas, nonno. Por isso somos tão parecidos.
Preferimos ser ruins a lidar com o fato de que fomos inúteis para quem
amamos. Meus pais nunca demonstraram que eu era prioridade e o senhor,
minha nonna o deixou.

— Cuidado, moleque. — Ele range os dentes para mim.

Sinto o aperto de Ana em minha mão, sem entender nosso idioma e,


novamente, Stefano salva o clima, se aproximando com uma jovem alta e
loira de braços dados com ele. Sua noiva é belíssima, vejo, mas apesar dos
sorrisos falsos para os olhos dos demais, vejo que ela parece estar apavorada
e meu primo não demonstra qualquer suavidade.

— Aqui está a futura senhora Esposito. — Apresenta. — Esse é meu


primo e a mulher dele.

A garota aparenta ter a idade de Ana, mas Stefano já havia dito que
ela ainda vai completar vinte. Prestes a se casar com um homem quinze anos
mais velho. Não posso dizer nada, pois tenho treze anos a mais que Ana e,
nem mesmo nossa história, me impediu de desejá-la e tê-la.

— Sou Alessa Bianchi. — Estica a mão e cumprimenta Ana, depois a


mim. — Stefano disse que você é brasileira, espero que o pouco que aprendi
nas viagens que fiz com minha mamma, você possa me entender.

— Está perfeito. Eu preciso tomar vergonha na cara e aprender


italiano. — Ana responde com um sorriso, parecendo gostar da menina de
cara.

As duas se dão bem imediatamente e a tensão perceptível em Alessa


se esvai conforme Ana e ela conversam. Stefano não da espaço para nonno
me espezinhar, mas ele não sai de perto de nós, olhando as pessoas com
soberba, orgulhoso por seu neto estar noivando com uma jovem linda e que
seu nome irá continuar reinando na Itália.

***
— Alessa é tão boa. Você acha que Stefano pode fazer mal à ela?

— Se ela for uma bomba relógio como você, eles irão se matar. —
Respondo, dirigindo para minha casa.

Deixei o motorista com Luigi e tomei o rumo necessário.

— Se ela for como eu, ela o mata primeiro. — Brinca.

No entanto, não tenho cabeça para brincar agora. Estou chegando em


Padova, perto de mostrar quem eu sou para Ana.

Ao chegarmos, paro por um tempo, sem sair do carro. Sinto a mão de


Ana em meu ombro, sua preocupação é latente.

— Antes de tudo, não fuja de mim. Sou um monstro, mas minha


maldade nunca será direcionada a você.

Ana arregala os olhos, sem entender direito.

— Onde estamos?

— Estamos na cidade de Padova. Essa é minha casa. — Aponto para


os portões de grade de ferro, que permitem a vista da grande mansão.

— É onde seu pai vive? — Seu olhar suaviza e ela leva sua mão
sobre a minha, dando conforto.
— É onde minha mãe vive.

Ana franze a testa e se afasta, claramente acreditando ter entendido


algo errado.

— Você disse que sua mãe estava viajando para... Para reconectar-se
com si mesma... Você até tentou a ajuda dela com seu pai e...

— Tentei no passado. Meses depois que você fugiu, o momento em


que eu mais gostei de fazer coisas ruins. Ela não quis me ajudar, não quis
ajudar o homem que ela ajudou a destruir. Ela não sai dessa casa desde então,
Ana.

— Oh, meu Deus, Ezra! — Nunca vi seus olhos tão arregalados como
agora. — Isso... Você não pode!

Sorrio um pouco, sem humor, o meu lado sombrio me saudando por


todas as merdas que fiz.

— Eu não podia muitas coisas, Ana, e fiz todas elas. E gostei de cada
segundo. Esse sou eu. Não se iluda por eu ter sido bom para você. Sou o vilão
da história, o próprio diabo. No meu inferno, todos acabam queimando, seja
pelo meu querer ou não.

Ana assente com a cabeça lentamente, se recompondo, pensando,


analisando tudo. Ela parece surpresa, até assustada, mas não com medo.
— Por que fez isso com sua mãe, Ezra? — Pegunta, baixinho.

— Porque eu não podia matá-la, Ana. O que nós fazemos com as


cobras? — Questiono, tirando o cinto de segurança e aproximando-me dela.
Seu olhar não desvia do meu, então seguro sua garganta, sem pressionar, e
volto a perguntar: — O que fazemos com a cobra?

— Nós matamos, se não ela volta para nos picar.

— Ana. — Sinto meu sangue correr e meu coração acelerar quando


seu olhar recai em minha boca e ela lambe os lábios.

— Me mostre o seu inferno. E eu queimarei com você.

A resposta dela faz um vulcão inundar meu corpo, me deixar em


chamas. Alucinado, com um nó na garganta e emoções desconhecidas
tomando conta de mim. Ana ergue a mão entre nossos troncos e acaricia meu
rosto. Eu sempre preferi as mulheres algemadas, mas com Ana, eu sentiria
falta de ter suas mãos em mim. Seu toque parece uma promessa tão forte, que
eu perco o controle dos meus atos.

Beijo os lábios de Ana com paixão, com uma calma que não me cabe.
Nos emaranhamos no banco, com ela me montando, com as costas contra o
volante, nunca deixando de nos beijar. Subo seu vestido e abaixo minha
calça, sem preliminares, sem ordens, sem brutalidade. Meto nela devagar e
ela sobe e desce no mesmo ritmo, gemendo, puxando minha cabeça para ter
mais de mim. Nunca houve nada mais intenso na minha vida. Sua boceta me
aperta como nunca antes, quente e molhada, pronta para mim mesmo sem eu
prepará-la. É como se nos consumíssemos e eu me sinto como um viciado,
sempre necessitando dela para encontrar lucidez na confusão sombria que é
minha mente. Quando sinto Ana se entregar ao seu orgasmo, gemendo meu
nome, se tornando mais bruta e selvagem, eu me libero em um gozo
arrebatador.

Ficamos por um tempo acalmando nossas respirações, a cabeça de


Ana em meu ombro, enquanto acaricio suas costas. Então me dou conta do
porque foi tão intenso. Não coloquei preservativos. Em toda a minha vida
nunca fodi sem camisinha e agora... Perdi o controle de tudo. Afasto Ana do
meu colo, colocando-a de volta no banco do carona. Ela me encara ainda
lânguida, com tantas emoções evidentes em seu rosto. O meu desejo é abrir a
porta do carro e correr para o mais longe possível dela e ela nota a mudança,
pois ajeita o vestido e encara a janela, até que eu me arrumo e dirijo em
direção ao aeroporto. Não posso ficar mais um dia aqui, não tão próximo de
Ana depois de ter me exposto tanto.
CAPÍTULO 28

Quando as luzes se apagam e te deixam no escuro

Ninguém nunca te disse que isso seria tão difícil

Eu sei que você acha que o seu fogo está queimando

Mas eu ainda te vejo brilhando

Banners - Got It In You

Nós voltamos ao Brasil de forma abrupta. Diferente dos dois dias na


Itália, com direito a passeio incrível, seus braços em volta de mim enquanto
dormia, seu cuidado e até uma certa leveza, assim que chegamos Ezra se
trancou em seu escritório e não o vi mais.

Saímos da frente da sua casa na Itália direto para o aeroporto. Só ouvi


sua voz enquanto ele ligava para o piloto do seu jato particular e exigia que o
homem estivesse no aeroporto no momento em que chegássemos lá. Luigi
nem veio conosco, pois Ezra parecia fugir de demônios o perseguindo. Eu
entendi que o demônio de quem ele fugia, era eu. Não peguei minha mala,
nem me despedi de nonna, também não fiz questão de dirigir a palavra a ele.

Minhas forças para lutar parecem dar espaço a fadiga. Me sinto


exausta psicologicamente. Penso no relacionamento conturbado que comecei
a ter com Ezra, de sua frieza repentina após o sexo intenso no carro. Ezra
parecia entregue à mim, mas se escondeu atrás de sua pose impenetrável.
Entreguei minha alma ao diabo naquele momento, quis queimar no inferno
dele, mesmo sabendo que Ezra é capaz de manter a própria mãe em cárcere
privado. Isso é absolutamente doentio e bárbaro, mas não foi assim que o
conheci? Matando por mim? Nunca tive uma versão romantizada de Ezra
para me iludir, sempre vi seu pior lado e, ainda assim, queimei por ele e me
vejo querendo queimar cada vez mais.

Ouço batidas na porta do quarto e, sabendo que não é o causador dos


meus pensamentos aflitos pelo simples fato de que Ezra não bate à porta,
grito que entre.

Gilda surge, com um vestido laranja, delineado da mesma cor nos


olhos e cabelos presos em um coque no topo da cabeça. Ela sorri para mim e
ergue a bandeja com o almoço.

— Você não desceu para o café e eu sabia que estava cansada da


viagem, até perdida com os horários, mas já passou da hora do almoço e você
vai ficar fraquinha, minha filha.
— Ah, Gilda, obrigada. — Agradeço, sinceramente, mesmo estando
sem fome.

Pego a bandeja de suas mãos e me sento, apoiando a mesma em


minhas pernas para eu comer.

— Nonna estava feito louca preocupada com vocês. Ligou para cá.
— Gilda parece curiosa. — O patrão saiu cedo, o dia mal tinha clareado. E
Luigi está com uma cara de quem não está gostando de algo.

— Luigi já chegou?

— Sim, Dianinha, já é de tarde. Faz poucas horas que ele chegou com
uma fome danada, comendo até as panelas da casa se eu deixasse. — Bufa.

— Ezra deve ter esquecido de avisar a nonna e meu celular está


desligado no criado mudo. Foi Ezra quem o deixou, pois eu estava sem bolsa,
então o deixei no carro quando fomos para o noivado de Stefano.

— E a noiva dele como é? — Gilda senta-se na beirada da cama


enquanto eu como.

— Nunca vi mulher mais bonita. É mais nova do que eu, mas parece
um mulherão. Loira, alta, olhos azuis, cabelos longos e ondulados, além de
ser um doce de menina. Gostei dela imediatamente.

— Isso deve significar algo, porque você é encrenqueira igual o Ezra.


— Ela ri enquanto eu nego com a cabeça.
A presença de Gilda serve para me animar e, pela primeira vez na
vida, depois que ela sai do quarto, procuro minha terapeuta de bom grado.
Coloco meu celular para carregar enquanto tomo banho e me ajeito, então
ligo para ela e ficamos uma hora conversando via chamada de vídeo. Não
digo nada sobre o segredo de Ezra, mas desabafo minhas angústias e seu
conselho é que eu abra mão desse relacionamento, uma vez que está me
fazendo mal. Concordo com ela, mas sinto que Ezra também sente algo por
mim e está relutando, é por isso que ele fugiu, porque se entregou demais e
não sabe lidar com isso. Confesso à ela que o amo. Não sei se isso vem de
anos, ou se intensificou depois que começamos a nos relacionar. Durante
anos, só tive coisas boas para dizer sobre ele, mas romanticamente falando,
Ezra não foi o melhor para mim, pelo contrário. Mas se eu desistir no meio
do caminho, vou sentir que falhei comigo mesma. Só que agora, preciso ouvir
seu conselho de que devo descansar minha mente e me preocupar comigo
mesma em primeiro lugar. Vou tentar com Ezra pela última vez depois que os
ânimos se acalmarem, mas se provando que só eu estou tendo sentimentos, é
melhor recuar para não me perder de vez.

— Ezra me deixou ciente de que você sabe de tudo. — Luigi


comenta, sua expressão séria.

Sento-me ao seu lado no sofá e assinto com a cabeça.

— Fiquei sabendo ontem.


— Ele teve que voltar para a Itália. Giuseppe Esposito está tentando
colocar as mãos na Giovanna, mãe de Ezra e, por isso, ele precisou voltar.

— Puta merda. O que ele quer com a mulher? Já não é suficiente


ficar presa sem ter cometido crime algum?

— Ela poderia estar morta. Deve dar graças a Dio pela bondade de
Cattaneo por mantê-la viva, em uma bela casa, com empregados e tudo do
melhor. — Arqueia a sobrancelha.

— Você é um escroto machista. Todos vocês são. Aposto que esses


homens do seu ciclo vivem traindo as esposas, mas a mulher que traiu o
marido, deve ser punida? Fala sério!

— Não vou discutir nada disso com você. Nossos mundos são
totalmente diferentes. — É sua resposta irritada.

— O que Giuseppe quer com ela?

— Torturá-la até que ela aceite ficar com o filho fraco dele? Um
último teste para ver se o sujeito tem o sangue Esposito vivo nas veias? —
Luigi dá de ombros. — Vai saber o que passa na mente dele...

— Ezra não pode enfrentá-lo... Aquele homem é louco.

— Stefano está com o seu amado, fique tranquila.

Suspiro, assentindo com a cabeça.


— Podemos sair um pouco? Não como meu segurança, mas como
companhia mesmo. Estou me sentindo sozinha. — Confesso, porque, no
fundo, Luigi é meu único amigo.

Ele analisa meu rosto por um tempo, então concorda com a cabeça.

Luigi e Gilda fizeram meus dias tranquilos e animados. Trabalhei, saí


para dançar, até paquerei, mas nunca senti aquela atração avassaladora, de
fazer o cérebro ficar lento, por ninguém.

Hoje faz cinco dias que Ezra está fora e percebi que esse tempo foi
bom para mim. Ele tem a capacidade de consumir meus pensamentos e pude
me deixar avaliar as coisas com calma, decidindo como será meus próximos
passos. No entanto, quando Ezra entra pela porta da sala, à noite, enquanto
Luigi e eu estamos assistindo tv e comendo pipoca que eu fiz, fico chocada
por um tempo ao ver o casal que entra atrás dele.

Olho Luigi, sem entender, e ele me lança um olhar de aviso. Ezra nos
encara como se fôssemos nada, nem o ciúme e possessividade que
demonstrou algumas vezes, estão ali.

— Luigi, quero que você os leve para meu apartamento de Ipanema e


coloque um dos seus homens de confiança com eles, para a segurança.

Encaro a cena, sem conseguir assimilar imediatamente. Reparo na


mulher, cabelo escuro, parecido com o de Ezra, olhos da mesma cor, batom
vermelho nos lábios, bem maquiada, vestido caro preto, saltos. Seu olhar
quase morto, evidenciando seu desgosto em tudo, me faz ficar, levemente,
desconfiada de quem ela é. Já o homem mal olha em volta, uma vez que seus
olhos parecem atraídos somente para ela. Ele é bonito, bem vestido, tem a
pele bem clara e cabelo grisalho, mas são seus olhos verdes únicos, idênticos
a um par tão conhecido por mim, que causa uma confusão em minha mente.

— Essa é Diana. — A voz de Ezra chama a minha atenção e olho


para ele enquanto aponta de mim para os pais. — Esses são Giovanna e
Sergio Cattaneo, meus pais.

— Boa noite. — Consigo sorrir olhando para eles. — Tudo bem com
vocês?

Ezra encara ambos e sorri, maldoso, quando seus olhos se fixam na


mãe.

— Embora minha mãe tenha andado muito por terras brasileiras, não
compreende perfeitamente seu idioma.

Pela expressão dela, percebo que, sim, ela entende tão bem que
compreendeu perfeitamente a escrotice que ele acabou de dizer. Sinto o
desejo de me rebelar contra Ezra, exigir respostas para entender que porra é
essa, mas fico calada. Como se tudo isso não pudesse me importar menos,
levanto-me, pego a vasilha com a pipoca, encaro Luigi e digo:

— Como você tem trabalho, amanhã a gente continua vendo o filme.


— Me inclino e beijo a bochecha dele, grata pela lealdade nos últimos dias.
— Boa noite para vocês. — Me despeço dos pais de Ezra e sigo em direção
às escadas.

Me sinto inquieta por quase toda a noite, sem conseguir dormir bem,
rolando de um lado para o outro. Em certo momento, olhando através da
janela, vejo Ezra sentado em um dos bancos que fica no quintal, fumando
cigarro, com o calcanhar apoiado no joelho e a expressão difícil de decifrar
diante da distância. Coloco um robe atoalhado e desço, sem conseguir me
conter.

Ezra parece sentir minha presença assim que saio da casa e ando em
sua direção, mesmo sem eu estar fazendo barulho algum. Ele expira a fumaça
do cigarro pelo nariz e traga outra vez. Sento-me ao seu lado no banco e
encaro o céu estrelado. Nunca me senti nervosa perto de Ezra e é horrível
essa sensação, de forma que me faz repensar se estar perto é uma opção a
continuar insistindo.

— Por que sua mãe e seu pai estão aqui?

— Eu quis soltá-la e a opção sempre foi ficar com ele.

— Você a tirou de uma prisão para outra, Ezra.

Ele me encara, olhando em meus olhos pela primeira vez depois de


dias.
— É assim que eu sou, Ana. Como o próprio diabo. Dou com uma
mão e tiro com a outra.

— Talvez você seja o próprio diabo, mas nunca foi para mim.

— Como você pode não correr para longe de mim, Ana? — Seu olhar
se enche de emoções que não consigo discernir.

— É isso que você quer que faça? A última vez que fiz, você me
encontrou, mesmo anos depois.

— Talvez eu devesse deixar você ir, porque aos poucos tenho perdido
o controle de mim mesmo. Sei lidar comigo sendo isso, sendo ruim, mas não
sei lidar com quem me torno em volta de você.

— Você não precisa lidar, só precisa se deixar viver e depois tudo se


ajeita.

— Nunca fodi sem camisinha antes. Nunca perdi o controle.

Entendo que está se referindo a nossa última vez juntos. Ele apaga o
cigarro e deixa a binga sobre o outro lado do banco. Ficamos em silêncio por
um tempo, pois não tenho o que dizer a respeito disso.

— Deixe sua mãe ser livre, Ezra. — Peço, colocando minha mão em
seu ombro. — Você não é ninguém para decidir que sentença ela deve
cumprir. Interne seu pai em uma clínica para que ele se trate. A ameace,
coloque um segurança na cola dela para que ela não cogite se vingar, mas
deixe-a.

— Você não vai mudar quem sou, Ana. Ninguém vai.

— Eu sei disso. Mas também sei que você é justo. Você nunca foi
ruim por prazer.

— Vamos entrar. — Ele diz, dando fim ao assunto.

Não há beijos, carinho, nada, sequer olhares. Meu coração fica


esmagado no peito. Eu sempre me considerei boa de briga, mas até o melhor
lutador sabe o momento de se render.
CAPÍTULO 29

Algo me diz que o nosso tempo está acabando

Faça o certo

Se for para acabar tudo, eu quero deixar você ficar por essa noite

Faz gostoso comigo mais uma vez como fizemos da última vez

Azee - Fahrenheit

Depois que Ana e eu entramos, cada um seguiu para seu quarto.


Tomei banho, fui para academia, soquei, chutei, malhei e a infinidade de
emoções conturbadas continuaram me frustrando. Voltei para o meu quarto e
tomei outro banho para me preparar para dormir.

Agora estou prestes a deitar, mesmo sem sono, quando a maçaneta da


porta é forçada. A porta é aberta, visto que não tranquei, e Ana entra, com o
mesmo roupão que estava usando quando foi lá fora para falar comigo.

Tudo o que eu mais quero é tocá-la. Nunca lidei com sentimentos tão
fortes na minha vida como nos últimos dias. Ana se embrenhou em mim, de
forma que não posso lidar com algo tão desconhecido. Passei os dias na Itália
sentindo falta do cheiro, imaginando coisas, sentindo seu toque ao acordar,
seu cheiro antes de dormir. Só precisava fechar os olhos para vê-la. Eu nunca
fui fraco na minha vida, mas agora não vejo minha força.

— Há algo errado? — Pergunto, parado só de cueca boxer, de frente


para ela.

— Eu quero saber se você ainda me deseja. — Sua resposta me


surpreende.

De alguma maneira idiota acreditei que podíamos nos evitar e tirar


um do sistema do outro. Todavia, essa é Ana e ela não tem medo de nada,
tampouco de dizer o que pensa e questionar o que quer saber.

— Eu desejo.

Seus olhos brilham de um jeito diferente, então ela puxa a corda do


roupão e o tira por seus braços. A peça cai por seus pés e o corpo nu de Ana
fica livre para os meus olhos. Fecho minhas mãos em punho, nervoso,
abalado, sem controle de mim mesmo quando ela vem caminhando em minha
direção.

— Quero que você me possua hoje, Ezra. Me amarre, use chicote se


tiver um aqui. Quero que você me dê o máximo de prazer que pode dar sendo
quem você é. Solte a fera. Eu quero queimar no seu inferno hoje.

— Ana. — Minha voz soa abalada, meu coração galopa no peito.

Eu a quero com loucura. É tão assolador, devastador, que sempre que


a vejo nua, fico trêmulo, perco minha razão e ajo por puro instinto. Ana
envolve seus braços em meu pescoço, ficando na ponta dos pés e beija meus
lábios. Algo nela está diferente.

— Por que você não está lutando comigo? Por que não está me
xingando por ser um filho da puta? — Pergunto, agoniado, quase sufocado.

Ana passa a mão por minha mandíbula, meu queixo, pescoço, e seu
toque me acalma, ao mesmo tempo que faz meu sangue bombear com mais
rapidez e meu pau ficar ainda mais duro.

— Porque eu cansei de lutar. Ser um lutador é glorioso, mas ser forte


o tempo inteiro é cansativo. Nunca confiei em ninguém para me deixar ser
fraca, para me render. Mas eu confio em você.

— Você não devia confiar em mim. Eu... — Engulo em seco e tento


me afastar, mas ela me cala com um beijo.

Sua língua adentra minha boca de forma selvagem, afoita. As unhas


longas cravam em minha pele, o corpo busca o calor do meu, se esfregando.
A sua calma de antes em nada faz parte do momento agora, onde ela parece
querer me consumir. Eu a entendo, também sinto a necessidade de consumi-
la. A minha vida é um caos, meus sentimentos desconhecidos, mas quando
Ana está em meus braços, tudo parece certo. A abraço com força, a apertando
e retribuindo tudo, dando e tomando. Além do tesão absurdo, com ela fico
atento a tudo, ao cheiro delicioso, aos cabelos tocando-me, a textura da pele,
o calor. Seguro sua bunda e a puxo, então ela rodeia as pernas em minha
cintura e ando com ela no quarto até tê-la encostada em uma parede. Nos
beijamos freneticamente, faço fricção em sua boceta, sentindo sua umidade
encharcar o tecido da minha boxer. Passo minhas mãos por suas pernas,
bunda, apertando, cravando meus dedos na carne branca, marcando. Ana
rebola em mim, sem me soltar, se esfregando sem pudor, dando pausa ao
beijo só para respirar. Nos consumimos feito animais. Ela afasta o rosto do
meu e encara meus olhos, o peito subindo e descendo, respirando pesado.
Encosto nossas testas, sentindo o turbilhão de emoções me consumindo.

— Sou um animal irracional, Ana. Não sei ser diferente do que sou e
você é tudo o que há de melhor nesse mundo.

— Nunca pedi para você ser diferente, Ezra.

Assinto com a cabeça, sentindo um maldito nó na garganta, que me


impede de retrucar, de explicar para ela que o maior erro de sua vida foi se
envolver comigo. Entretanto, sou fraco demais. Protegi Ana do mundo
inteiro, mas não consegui protegê-la do pior monstro de todos: eu.

Conduzo-nos para a cama e a deito lá. Caminho até meu closet e pego
uma de minhas gravatas, uma vez que não tenho nenhum objeto de
dominação aqui. Retorno e ajusto os braços de Ana para cima, juntando suas
mãos sobre a cabeça e amarrando os pulsos com a gravata preta. Ela se
contorce, ansiando, apertando as coxas uma na outra. Inclino-me e tomo um
mamilo rosado na boca porque ela é perfeita e não consigo resistir, não
consigo jogar e ficar tanto tempo sem tocá-la. Volto para o meu closet e pego
uma pena em um chapéu antigo que usei uma vez para um baile de máscara
no clube.

O corpo de Ana parece o paraíso, exposto para mim. Sua entrega e


paixão evidentes me enervam, mas há um algo mais em seu rosto e sua
calma, que me amedronta. Me aproximo e passo a pena por seu pescoço, ela
se contorce com a cócega, desço a tortura suave por seus seios e esfrego nos
mamilos. Vejo sua pele clara, imaculada, se arrepiar sob o toque sútil e
continuo descendo a pena.

— Será que você vai gostar quando sentir a pena roçando no seu
grelinho, Ana? Ou está ansiosa demais para ter o meu pau? — Pergunto e
esfrego a pena em seu clitóris inchado.

Ana tenta mover os braços para me tocar, mas é impedida pela


gravata. Ela geme e minha pele queima, como se ansiasse seu toque. Me
obrigo a não soltá-la, mas é uma luta árdua comigo mesmo. Inclino a cabeça
e lambo sua boceta, abro suas pernas para mim, com os olhos nela, vendo
suas reações, atento aos seus gemidos, querendo tê-la de todas as formas,
como se tudo não fosse nunca suficiente. Não há necessidade de prendê-la, há
necessidade de senti-la. Largo a pena de lado, subo por seu corpo e desato o
nó da gravata, soltando Ana. Suas mãos, imediatamente, me agarram e
rolamos na cama, fervendo em paixão, numa luxúria animalesca e distinta.
Como uma droga forte que eu jamais poderei ficar sem.
A vida todo acreditei que eu era um dominador, mas que tipo sou eu,
se não quero submissão da mulher sob mim? Se quero suas mãos tocando-me
como quiser? Quero seu queixo e nariz empinado me enfrentando, seus olhos
nos meus e não para o chão?

Ela leva suas mãos ao cós da minha boxer e tenta livrar meu pau. Eu
a ajudo e me livro da peça. Por mais que não queira subjugá-la, sou
naturalmente dominante. Viro Ana de barriga para baixo, com sua bunda
branquinha empinada para mim, agarro seus cabelos em punho e dou um tapa
na sua bunda.

— Isso é por eu ter chegado e encontrado aquela cena ridícula. Filme


e pipoca com Luigi. — Rosno, puxando seus cabelos e me inclinando para
falar em seu ouvido: — Beijou ele, me deixou louco, Ana. — Dou outro tapa
forte. Ela se contorce e grita. — Esse é pelo beijo. Continue nessa posição e
abra as pernas para mim.

Ana obedece e me olha sobre seu ombro. Ela é a imagem mais bonita
que já tive o prazer de ver. Corada, suada, ansiosa, com os olhos em mim,
cabelos selvagens, caindo pelo rosto. Me inclino, ficando com o rosto em sua
bunda e lambo a pele vermelha onde bati. Ana geme e rebola no meu rosto.
Abro suas nádegas e penetro sua boceta molhada com dois dedos. Enfio meus
rosto entre suas dobras, inalo seu cheiro, esfrego minha barba, apertando sua
bunda e curvando meus dedos dentro dela, buscando seu ponto G. Ana grita,
choraminga, empurra mais a bunda para mim, chama meu nome e pede mais.
E eu dou. Lambo seu cuzinho, bato com minha língua e subo até a bocetinha
loira. Mordo seus lábios, chupo e continuo trabalhando com meu dedo. Ana
desmorona, gozando forte, incapaz de reagir.
Pego um preservativo no criado mudo e monto nela, apoiando-a pela
cintura enquanto deslizo a camisinha por meu comprimento dolorido por ela.
Afasto os cabelos de sua nuca e mordo a pele sensível com força, trazendo-a
de volta às sensações, e funciona, então lambo e escuto seu gemido. Suas
mãos agarram meus lençóis escuros e ela se empina para mim. Esfrego meu
pau em sua abertura, fazendo movimentos sexuais sem estar dentro dela.
Depois de tê-la sentido sem camisinha, meu desejo é não usar mais a barreira,
mas não posso perder a cabeça mais uma vez sem que Ana tome algum
contraceptivo.

— Ezra...

Eu amo como sua voz está rouca e sensual, como meu nome soa
como um clamor, uma necessidade.

— Sim, mio angelo, estou aqui.

Entro fundo de uma só vez, fazendo Ana gritar e se apoiar nos


braços. Minha fome por ela é implacável. Mordo seus ombros, suas costas e
não paro de meter. Agarro sua bunda em minhas mãos, sem parar o vai e vem
frenético. Ana geme feito louca e rebola ao meu encontro. Seu corpo está
suado, sua pele arrepiada, seu cheiro toma conta de todo o ambiente. Ana
toma conta de tudo. Me abaixo, colando meu peito em suas costas e seguro
seu queixo para ela me olhar sobre o ombro. Beijo sua boca com necessidade
e ela acompanha meu ritmo, mesmo que se perca entre gemidos. Seus lábios
ficam entreabertos para gemer e eu enfio minha língua, querendo estar dentro
dela em todos os lugares.
— Dê tudo para mim, Ana. E tome tudo. — Murmuro, lambendo seu
queixo e volto a beijar sua boca.

Minhas estocadas se tornam mais frenéticas e sinto quando ela


começa a me ordenhar. Me perco, sem controle e gozo junto com ela. Nossos
corpos cedem na cama, o meu sobre o dela, sentindo o cheiro de seus cabelos,
sentindo a pele suada na minha. Não me apresso para sair, mas me policio
para não deixar todo meu peso em Ana. Há um momento de silêncio, até que
pergunto:

— Você está bem?

— Sim. Podemos falar por um minuto?

Seu tom me deixa alarmado. Saio de dentro dela e a levo comigo para
o banheiro. Me livro do preservativo e coloco a banheira para encher sem
tirar Ana dos meus braços. Ela apoia o queixo em meu ombro e se mantém
silenciosa.

— O que você tem a dizer?

Ana olha em meus olhos, com tantas coisas passando nas íris azuis,
que não consigo lê-la.

— Meu nome é Ana Luísa.

Não estava esperando e fico completamente atordoado. A coloco


sobre o mármore da pia do banheiro e me afasto, passando a mão pelos
cabelos, nervoso.

— Seu nome é Ana...

— Eu nunca disse que não era. Só que antes eu só era chamada pelo
segundo nome. Mas quando conheci você, não havia uma forma de não
confiar em você, uma vez que me salvou do meu pior pesadelo. Aprendi a ser
forte com você, Ezra, a lutar, a atirar, ter coragem para enfrentar o mundo.
Desde o primeiro momento te vi como um salvador e, mesmo que tenha
pensado em dizer um nome falso e quisesse esquecer o meu segundo nome,
não pude dizer uma mentira para você.

Tudo isso me bate como um soco na cara, com um impacto absurdo.


Sempre quis saber seu nome, era como se fosse uma necessidade, uma prova
de sua confiança e agora... Ana sempre confiou em mim. Cazzo! Sinto
vontade de gritar, de apertar minha própria garganta para afastar esse nó
maldito que me deixa rouco. Encaro Ana, que permanece me olhando com
seriedade. Ela pula da pia e me lança um último olhar antes de fechar a
torneira da banheira e sair do banheiro. Não consigo andar, paralisado,
impactado, me sentindo sobrecarregado.

Ana Luísa... Dio mio! Por que me sinto assim? Por que não sei lidar
com isso tudo de forma prática como sempre?

Sento-me na beirada da banheira, com os cotovelos apoiados nos


joelhos e deixo cair a cabeça em minhas mãos. Preciso de um tempo, preciso
da frieza de sempre.
CAPÍTULO 30

Quando você perceberá, querido

Eu não sou como o resto

Que eu não quero partir seu coração

Só quero dar um tempo à ele

Demi Lovato - Give Your Heart A Break

Entro no meu quarto e tiro o roupão, indo direto para o banheiro. Me


expus demais para Ezra e quis que fosse assim. Dessa vez quando eu sair, não
será fugindo, será para ter minha própria vida e deixar Ezra ser livre para se
destruir sem que eu tenha que ver. Tomo um longo banho, me visto com
jeans e regata branca, coloco um casaco leve por cima só por ainda ser
madrugada, visto sapatilhas e ligo para Luigi enquanto penteio meus cabelos.
— Quem me incômoda à essa hora?

— Será que você deixa eu morar no seu apartamento por um tempo?

— O que? Não, eu ouvi, só não entendi.

— É sério, Luigi. Não vou mais morar com Ezra. Tenho meu salão,
minha moto, que não vou ser orgulhosa de deixar para trás, uma vez que não
estou fugindo. Mas se for necessário, vendo até bala no trem. Nunca corri dos
sacrifícios da vida. Agora cabe a você me deixar no seu apartamento ou eu
alugo outro. — Encaro meu reflexo no espelho e deixo o pente sobre a
penteadeira.

— Cattaneo não vai deixar você ir embora outra vez, Diana. Ele vai
fazer um inferno para encontrar você. Sei do que estou dizendo e você está
sendo ingênua se não sabe.

— E ele vai fazer o que? Me prender? Quando me tirou da favela, foi


plausível porque eu não tinha eira nem beira, mas agora não há nada que vá
me impedir, Luigi.

— Em meu apartamento você vai estar segura, então. Vocês dois que
se matem.

Ele encerra a chamada, então deixo o celular sobre o criado mudo e


sento-me na beirada da cama. Sinto minha bunda levemente dolorida das
palmadas de Ezra, minha vagina sensível, e meu corpo ainda ardendo de
desejo só de pensar em tudo o que fez comigo, querendo mais. Toco meus
lábios inchados dos seus beijos e sinto vontade de chorar, mas me contenho.
Ezra e eu estamos fazendo mal um para o outro, foi um erro achar que
conseguiria manter uma relação sexual sem envolver meus sentimentos, que
antes já eram intensos por ele, mesmo que eu evitasse pensar a respeito.

Fico olhando a janela, vendo o nascer do sol e o dia amanhecer,


pensando em cada segundo. A porta do quarto se abre e Ezra entra, com um
roupão atoalhado, tão lindo e poderoso quanto quando está em seus ternos
italianos caros. Seu rosto parece abatido e ele senta ao meu lado.

— Precisamos conversar. — Digo, pois desde que saí do seu quarto


sem qualquer reação dele após eu confessar meu nome, esperava que ele me
procurasse, o que demorou quase uma hora para acontecer. — Quero viver
por conta própria, seguir meu caminho.

— O que você quer dizer? — Sua voz soa brusca e ao olhar seu rosto,
vejo a expressão se tornando dura.

— Vou morar no apartamento de Luigi por um tempo até encontrar


um para mim.

— Você não vai. — Ezra rosna, resoluto, e segura meu pulso,


fazendo meu corpo ficar mais próximo do seu. — Não sei que porra é essa,
mas é melhor pensar suas batalhas, Ana, pois quando o oponente sou eu, eu
venço quando quero e, nesse caso, eu vou vencer.

— Foda-se! — Puxo meu braço do seu agarre. — Vai fazer o que?


Me prender? Vai me tornar sua nova cativa, agora que acredita que livrou sua
mãe? — Cuspo, toda a raiva que estava contida dentro de mim dando as
caras, visto que é mais digno do que me encolher e chorar.

— Veja o que está dizendo! — Ezra grita, claramente irritado. —


Está acabando com minha sanidade... Foi ao meu quarto, me fodeu e vai
embora? Cansou de brincar com o cara mais velho e vai caçar moleques
agora?

Minha mão voa em seu rosto imediatamente. O estalo é o único som


no quarto silencioso, assim como a respiração ofegante de Ezra.

— Não pense que eu sou uma de suas putas, Ezra! Tampouco, um


brinquedinho seu! — Grito, sem recuar.

Ezra segura meus braços e deixa nossos narizes quase colados, mas
não é raiva que vejo em sua expressão, é desespero. Meu peito aperta, minha
garganta embarga. Quero sair de perto dele e nunca mais sentir essa angústia,
essa sensação de estar nas mãos de alguém... Nunca quis estar a mercê de
ninguém, mas me coloquei nas mãos de Ezra por livre e espontânea vontade.
E não é que ele me machuque, mas sua frieza machuca meu coração. Seu
longe e perto, quente e frio. A verdade é que comecei a querê-lo perto e
quente o tempo inteiro. Conheci um lado seu no nosso passeio de lancha na
Itália e naquela mesma noite, que não quero esquecer e não posso fingir que
não existiu e seguir em frente. Ou Ezra me dá tudo, ou prefiro não ter nada.

— Você não pode ir embora, Ana. Não pode me deixar. — Parece


que ele faz um esforço para dizer, então encosta a testa na minha. — Eu
quero você. Não sei me expressar, mas quando estamos juntos você pode
sentir... Não sente? Porque eu te dei tudo todas as vezes.

— Você pode ter dado tudo que acha necessário, mas não é tudo que
eu preciso, Ezra. — Digo, cansada. — Não quero mais lidar com suas fugas
quando perde o controle de si mesmo. Gozou dentro de mim, se abriu sobre
sua mãe e depois fugiu. Quando chegou, era como se eu não fosse ninguém.
Se não fosse ao seu quarto, ficaríamos assim até quando?

— Você acha que eu resistiria por quanto tempo? Estava louco para
te beijar, para ter você...

— Eu não tenho como ler mentes e está me fazendo mal tentar


adivinhar o que você sente e pensa. Você pode me dizer o que sente por
mim? — Pergunto, num fio de voz.

Ezra tenta me dobrar com um beijo, soltando meus braços e


segurando meu rosto, puxando-me para o seu colo, mas eu recuo e levanto-
me.

— Ana... Mio angelo... Não faça isso.

— O que você sente por mim, Ezra?

— Não sei lidar com sentimentos, não quero pensar nisso tudo... Não
sei dizer.

— Se você, pelo menos, me respeita e ainda pensa em me proteger,


respeite minha decisão de sair daqui. Eu não vou ficar, Ezra. — A convicção
em minha voz espanta até a mim mesma. Olho seu rosto perturbado e deixo
uma lágrima escapar. — Você não sabe o que sente por mim, mas eu sei o
que sinto por você. Eu sinto amor.

— Ana. — Sua voz é um aviso para que eu pare, mas não o obedeço.

— Eu amo você. Se você não sabe lidar com isso, problema é seu.
Você quem está perdendo. Sabe por quê? Eu não me espanto com sua
maldade, não tenho medo de você. Eu sei que jamais me faria mal
intencionalmente. Você reparou em como meus pés são frios e comprou uma
quantidade absurda de meias para mim, Ezra... Sabe o tom exato dos meus
olhos. Dividiu sua academia para criar uma biblioteca para mim... Eu poderia
dizer o que você sente, mas você precisa entender sozinho e eu, preciso viver
por minha conta. Porque eu achava que aprendi com você a vencer meus
fantasmas, mas você nunca os venceu. Você esconde eles e eu fiz o mesmo.
Não quero fazer mais. — Me sinto quase sem ar depois de falar tantas coisas,
mas ainda crio forças para sair do quarto e deixar Ezra.

— Ana... Não, cazzo! Não vou deixá-la ir. — Em poucos passos, ele
me puxa para ele e olha em meus olhos. Pela primeira vez vejo sua maldade
direcionada a mim. Sinto um frio subir pela minha espinha. — Quer pagar
para ver? Vai ser minha nova prisioneira se eu quiser. Porque eu posso tudo.
Você me ama? — Ele faz um som de desdém. — Eu não sei o que é amor,
Ana Luísa, mas eu sei que quem ama não vai embora. Quem ama, fica.

— Ninguém deve amar o outro antes de amar a si mesmo. Eu nunca


tive ninguém por mim, sempre achei que tivesse você, mas vejo que estava
enganada. Você está mostrando a sua face que eu nunca vi voltada para mim
antes e agora, mais do que nunca, sou só eu por mim mesma.

Isso o faz recuar, como se levasse um golpe. Seu rosto se contorce


em emoções, principalmente confusão, então ele se afasta mais, me deixando
ir. Saio do quarto e dói tudo de mim, principalmente quando ouço o som de
seu rugido, como um animal ferido, seguido de objetos se quebrando.
Começo a chorar e braços me amparam sem eu perceber.

— Oh, figlia... Cheguei agora da Itália. O que meu bambino fez com
a mamma dele? Vim às pressas quando soube! — Sua voz é horrorizada,
magoada, e presumo que ela não sabia sobre o cárcere de Giovanna. — O que
ele fez com você?

— Não fez nada comigo, nonna. Estou indo embora. É difícil demais
amar Ezra. Ele não se deixa ser amado. — Fungo em seu ombro, sentindo o
consolo de seu toque e o desespero com mais sons de coisas se quebrando.

— Ele não sabe ser amado, bambina. Seu pai idolatrava a mãe e
sucumbiu quando ela se foi. E a mãe nunca se importou com Ezra. Eu tentei
dar-lhe amor, mas errei demais em esconder toda a verdade e ele me excluiu
quando descobriu. Só me deixou aproximar agora que você voltou. — Nonna
chora baixinho.

Me pego consolando-a, entendendo suas palavras e tendo mais


empatia por Ezra, mas não deixando meu amor próprio de lado. Luigi sai de
seu quarto e Gilda também, seguranças sobem, todos preocupados com os
gritos de Ezra e com tudo sendo quebrado no meu quarto. Nonna se
desespera e caminha até lá, Luigi enxota todos para fora.
Cometo a maior tolice da minha vida, que é olhar para o interior do
quarto quando os barulhos cessam e nonna entra. Vejo Ezra ajoelhado no
meio do quarto destruído. Eu não sei como, mas minha cama está de pé
jogada contra a parede e os móveis já eram, o lustre está estilhaçado no chão.
Tudo já era. Mas a cena que me rasga ao meio é Ezra quebrado, agoniado.
Ele olha para um lugar qualquer e eu vejo o exato momento que uma lágrima
desliza por sua bochecha.

— Figlio mio...

— Minha Ana me deixou, nonna.

— Tudo vai se resolver, querido. — Nonna diz, tocando o ombro


dele, enquanto ele permanece ali, parado, estóico.

As minhas próprias lágrimas começam a cair em rompantes. É Luigi


quem me afasta, levando-me escada a baixo e me dando água com açúcar
quando chegamos a cozinha. Suplico para que ele me leve embora, porque o
meu desejo é esquecer tudo isso e confortar Ezra. Mas eu não posso. Eu já dei
demais de mim.

— Tem notícias de Ezra? — Pergunto a Luigi, enquanto remexo em


minha comida à mesa.

— Me ligou hoje cedo e ameaçou arrancar minha cabeça se algo de


ruim acontecer com você.

Assinto com a cabeça. Faz três dias que estou morando no


apartamento de Luigi. Ezra manteve o segurança me protegendo, mas não
entrou em contato comigo. Algumas de minhas roupas foram trazidas por
nonna e Gilda, mas não houve sinal dele e ninguém comentou sobre o
“incidente” que aconteceu naquele dia.

— Só vim para almoçar e descansar um pouco. Foi loucura no salão


hoje.

— Eu vi. Final de semana e as mulheres ficam loucas para se


embelezar. — Luigi se esforça para entrar no assunto por minha causa.

— Coloquei uma maquiadora para começar a trabalhar lá. Ficou de


olho em você, perguntou se era meu namorado.

— Eu prefiro foder prostitutas, elas não esperam nada de mim e eu só


espero uma boa gozada.

— Que escroto! — Faço uma careta de nojo.

Luigi gargalha, feliz da vida com meu constrangimento. Esse imbecil.

Depois do almoço, volto para o salão, trabalho, me distraio. Ao sair


do trabalho, vou para a terapia, pela primeira ao invés da doutora ir em casa
me atender. Me ajuda muito desabafar e ouvi-la me dizer que faço bem em
priorizar a mim. Ela também diz que devo me afastar de Ezra porque ele é
violento, mas eu sei que qualquer pessoa pensaria isso.

Sigo meus dias oscilando entre a certeza de que estou bem cuidando
de mim mesma e louca de saudade de Ezra, queimando durante as noites
solitárias, imaginando-o comigo, querendo-o mais do que nunca. Sonho com
ele e acordo molhada, aflita. Outros dias, acordo chorando, sem forças para
trabalhar, para seguir meus planos. Trabalho e escola ocupam muito do meu
tempo, mas nem sendo a pessoa mais atarefada do mundo, eu seria capaz de
esquecer o homem que amo e que não me procurou dia algum.
CAPÍTULO 31

Bem, você só precisa de luz quando está escurecendo

Só sente falta do sol quando começar a nevar

Só sabe que a ama quando a deixa ir

Passenger - Let Her Go

Sete anos atrás Ana fugiu. Não foi minha culpa, mas me culpei dia e
noite por não ter antecipado seus atos, acreditando que um dos meus
seguranças pudesse ter abusado dela, de forma que até matei. Mil coisas
passavam por minha cabeça e a culpa não me abandonou. Contudo, percebo
que nada se aproxima da culpa que sinto agora, uma vez que tive
responsabilidade direta por ela ter ido. Ana confiou em mim, me deu sua
virgindade, sua lealdade, seu amor. Posso ter sido cego, mas repensando
tudo, fica claro que sempre me deu carinho e amor, que nunca recebi antes,
com carícias, com seus olhos nos meus. Diferente de tudo o que já
experimentei e me viciou. Me sinto um dependente precisando de mais uma
dose.

O problema é não saber lidar com esses sentimentos, é sentir falta


sem saber o porquê, todavia, temer ser abandonado a qualquer momento se
me entregar. Sinto ódio por toda a situação, até mesmo de Ana por ter ido, de
mim mesmo por ser fraco, dos meus pais principalmente por terem me
deixado ser esse tipo de merda. Olho em volta, meu escritório de casa, sem
fotos de Ana, mas é só fechar os olhos que vejo seu rosto. A mágoa que ela
sentia não sai da minha cabeça. Olho para o copo com uísque, meu fiel
companheiro nesses dias. Me sinto rasgado por dentro, louco por algo que
não sei o que é. Aperto o objeto em minha mão, quase fazendo o vidro trincar
e bebo mais um gole.

Ana disse que me ama e, por isso, não a obriguei a ficar. O desejo de
ser ruim, de obrigá-la e mantê-la aqui era grande, mas saber que isso só iria
feri-la mais, abriu passagem para o protecionismo que sempre nutri por ela.
Antes de qualquer coisa, ela é mio angelo, a quem cuido, a única no mundo
que conhece alguma parte boa de mim. E eu fodi com tudo.

Por que Ana tocou em mim algo que ninguém nunca conseguiu?
Nunca foi igual com ela, nunca foi o mesmo. Ana está sob minha pele, eu
querendo admitir ou não. Foi doloroso perdê-la. A última vez que chorei, era
uma criança. Mas não pude me conter, tamanha onda de ódio, mágoa e amor,
uma coisa louca, sufocadora, um terror, medo de ficar sem ela, e chorei
quando tudo já tinha sido quebrado em seu quarto.
“Eu nunca tive ninguém por mim, sempre achei que tivesse você,
mas vejo que estava enganada. Você está mostrando a sua face que eu nunca
vi voltada para mim antes e agora, mais do que nunca, sou só eu por mim
mesma.”

Suas últimas palavras ecoam como um castigo. Quis ser cruel com
ela, mas jamais conseguiria. Deixei-a pensar, com razão, que está sozinha.
Agora, estou longe por vergonha de mim mesmo, por não saber como agir e
por medo de Ana não querer mais olhar na minha cara.

— Figlio, estive com Ana hoje. — Nonna comenta, entrando em meu


escritório algumas horas mais tarde.

Continuo sentado no mesmo lugar, com o mesmo copo sobre a mesa,


com uísque intocado. Meus pensamentos fazendo papel de inimigo, trazendo
coisas as quais eu prefiro esquecer.

— Como ela está?

O momento que nonna chega de uma visita a Ana tem sido o ápice
dos meus dias. Como um faminto, espero uma simples migalha para
continuar sobrevivendo.

— Ela sente sua falta. Se preocupa com você. Ana te ama, filho.

— Nonna...
— Toda vez que falo de amor você recua. — Diz, caminhando até
sentar na cadeira do outro lado da minha mesa. Ela estica a mão e pega o
copo com uísque, afastando-o de mim. — Está bebendo todos os dias.

— Só bebi um único gole hoje e eu não preciso de babá. — Meu


gênio ruim começa a dar as caras, pois ultimamente ela tem me deixado
quieto e agora, ali sentada, parece prestes a ficar aqui.

— Bom que você vai lembrar cada palavra que irei dizer, bambino.
— Ela me encara com firmeza. — Tentei nos últimos dias, três semanas para
ser específica, deixá-lo viver seu luto para que, finalmente, chegue o
momento que você vai a luta.

— Eu não vou lutar por nada. Ana está melhor sem mim. Vou
continuar suprindo qualquer necessidade dela, mas vou ficar longe. Ela quis
isso, não quis? — Rosno, impaciente.

— Ezra, muitos anos atrás Giuseppe era um bom homem. Assassino,


criado na máfia, mas que matava pelo o que acreditava ser justo. Semanas
atrás ele foi me procurar, com uma expressão doentia de prazer, para contar
que você manteve sua mãe em cárcere privado por seis anos e meio, e que
agora a obrigava a ficar com o meu filho. A maldade estava explícita no seu
nonno. E acho que foi só ali que eu entendi, de verdade, que o meu Giuseppe
já não existe há muito tempo. Não ter amor fez isso com ele, figlio. A falta de
amor o deixou amargurado e maldoso, querendo que todos sejam infelizes
porque ele é. Nós nos amávamos com loucura e ele quis me ferir, porque
acredita que o deixei por não amá-lo o suficiente. — Uma lágrima escorre por
seu rosto, mas ela logo a afasta e respira fundo. — Você sempre foi um
homem justo, cometeu erros, puniu sem ter o direito, mas sempre foi justiça
aos seus olhos. Mas isso o que fez com sua mãe? Completamente levado pela
mágoa, por se sentir no direito de proteger seu pai. Proteger de quê? Querido,
ele nunca foi um santo. Sua mãe não é o motivo da depressão dele, a perda do
poder é. Não se engane. Seja justo como sempre foi. Aja para que sua vida
não seja isso... Ficar preso no escritório, bebendo uísque, remoendo a mágoa,
deixando o amor que sente por Ana se tornar ódio, até que um dia a culpe por
ter ido embora e acabe ferindo-a de alguma forma.

— Nunca vou ferir Ana. — Digo, sentindo um aperto no peito com


toda sua conversa.

Nonna sorri, mas é triste, e mais lágrimas escapam.

— Meu Giuseppe jamais me machucaria também. E ele o fez. Não


fisicamente, mas foi pior. — Levanta-se e caminha até parar na minha frente.

— Você ama Ana. A essa altura, é provável que você não consiga
entender porque nunca sentiu amor, nunca recebeu. Só não fique parado até
descobrir. Sempre foi um bom lutador, Ezra. Vá à luta.

Assinto com a cabeça, vendo todo o cenário mudar em meus


pensamentos após essa conversa. Nonna tem razão. Me obrigo a ser grato e
fico de pé, enfiando as mãos nos bolsos da calça social.

— Nunca tive o amor que eu queria ter, nonna, que era dos meus
pais, mas é ingratidão da minha parte não lembrar do amor que sempre tive
da senhora. Grazie.

Nonna abre um sorriso enorme e emocionado, então quase me


derruba de volta na cadeira com um abraço afoito e apertado. É tão pequena,
que lembra a altura de Ana. Me esforço para retribuir o abraço e o faço.

Entro no apartamento e olho em volta. Não há sinal de ninguém na


sala. Caminho até a cozinha e vejo meu pai, cozinhando algo, parecendo
animado.

— Não ouvi você entrando. Sua mamma te atendeu?

— O apartamento é meu. Tenho a chave. Onde ela está?

— Ezra... — Ouço a voz da minha mãe vindo de trás de mim e me


viro para olhá-la.

Ela parece péssima. Com olheiras, cabelos presos, sem maquiagem,


roupas desleixadas. Nunca a vi assim.

— Vim para que possamos conversar. Apague o fogo, pai. — Alerto


e não me dou o trabalho de sentar. — Já vou dizendo à ela: — Não é pela
bondade do meu coração, mas você não é mais uma prisioneira. Meus
homens estarão sempre ao seu encalço, não mais para vigiá-la, mas para me
manter certificado que você não vai tentar algo contra mim. Esteja avisada,
mãe, você é a primeira cobra que deixarei ir. Se voltar para me picar, será
uma só vez, pois vou matá-la.

Seus olhos ficam arregalados, como se não acreditassem. Mas não


tenho tempo de prestar atenção nela, pois ouço meu pai mexendo com os
talheres e espero sua sandice. Ele avança em mim, com uma faca de Serra e
tenta me prender em um mata-leão. Eu deixo para ver até onde ele vai, mas
por ser mais baixo que eu, tem dificuldade de se ajustar para pressionar a faca
em meu pescoço. Perco a paciência e me viro com tudo, jogando-o contra o
fogão. No momento em que virei, a faca fez um pequeno rasgo em meu
pescoço, nada horrível. Só sinto a leve ardência.

— Você não vai tirá-la de mim! Ninguém vai! — Ele grita em


italiano, nervoso.

Aperto seu pulso e a faca cai no chão e empurro mais seu corpo. Ele
não ouviu meu conselho para apagar o fogo e agora começa a reclamar sobre
estar se queimando.

— Nunca mais tente nada contra mim. A minha palavra é lei entre
vocês, não a sua. Você nunca foi homem, sempre foi um fraco. Agora vai
viver em uma clínica para tratar sua sanidade, pois para mim já deu de lidar
com sua loucura. E me agradeça por não matá-lo. — Digo sob seus gritos de
desespero.

Me afasto dele, o jogando mais forte contra o fogão uma última vez e
me viro para minha mãe.

— Vamos. Meus seguranças já tem instruções para lidar com ele.


Saio sem olhar para trás e ela me segue, apressada. Provavelmente as
três semanas sendo obrigada a viver com ele foram um maior castigo do que
deixá-la seis anos e meio presa na Itália.

Espero Ana sair da escola particular em que está estudando a noite.


Luigi já foi informado sobre minha presença aqui e voltou para o
apartamento sob minhas ordens. Ele pareceu aliviado em me ver.

Vejo quando ela sai, conversando com duas garotas de sua idade e
bebo de sua imagem. Linda como sempre, parecendo mais magra, a franja
caindo pelos olhos e ela bufa algumas vezes para afastar os fios de sua visão.
Sinto um aperto no peito, um sentimento forte pra caralho à ponto de me
fazer questionar tudo. Eu nunca tive maldade com Ana enquanto ela era uma
criança, mas desde que a reencontrei tudo mudou. Não sei quando isso
começou, mas me sinto tão louco por ela, que é um maldito sacrifício ficar
longe. Sinto raiva de mim mesmo toda vez que essa vulnerabilidade me
assola. Quero correr, fugir, nunca mais sentir isso, manter minha vida segura.
A conversa com nonna foi a chave que eu precisava para abrir meus olhos.
Quero Ana em minha vida e estou disposto a tudo para tê-la.

O momento em que Ana me vê, ela para por um momento. O mundo


em volta perde a cor, uma vez que nossos olhos se fixam e uma imensidão de
coisas se passam entre nós. Saudade. Eu senti muito a falta dela. Ana se
recompõe, mantendo a postura que conheço, forte e durona, então caminho
até ela.
— Ana.

— Ezra... Está tudo bem...?

— Não há nada bem, mio angelo. — Digo com sinceridade e toco seu
rosto, a pele macia e pálida. — Precisamos conversar.

— Podemos conversar. — Responde, deixando claro que concorda,


não que aceita minha imposição.

Nós seguimos para o meu carro, abro a porta para que ela entre e
depois dou a volta para me acomodar no banco do motorista. Fico nervoso,
sentindo-me desajeitado com as palavras. Me acostumei tanto com o silêncio,
que é difícil me expressar agora. Entretanto, ficar sem Ana não é mais uma
opção.
CAPÍTULO 32

E eu não quero que o mundo me veja

Porque eu não acho que eles entenderiam

Quando tudo é feito para ser quebrado

Eu só quero que você saiba quem sou eu

Goo Goo Dolls - Iris

Ver Ezra me desnorteou por uns segundos. Não esperava que ele
fosse me procurar depois de quase um mês sem dar as caras. Não consegui
evitar não me ressentir, mas me obriguei a lembrar que eu decidi ir embora,
não ele. Então tive que engolir minha revolta infundada. No entanto,
interiormente sei que a frustração é por querer que ele me ame, que se declare
como eu o fiz. Em contrapartida, tenho a consciência de que Ezra jamais teve
algum relacionamento forte com uma mulher a ponto de se apaixonar e de
abrir mão de suas convicções para cair de cabeça em algo desconhecido.
Como nonna bem disse: ele não sabe ser amado, pois nunca teve esse tipo de
afeto dos seus pais. Então por que eu seria o alecrim dourado?

Observo-o enquanto dirige, concentrado no trajeto, usando camisa


social preta, com as mangas dobradas nos antebraços, os primeiros botões
abertos, exibindo seu pescoço com as duas correntes com pingentes de cruz
que ele sempre usa. Ezra é lindo, nunca me canso de admirá-lo. Forte, viril e
poderoso. Sua barba lhe dá um ar de bruto, a pele morena é minha perdição,
os cabelos estão maiores, caindo pela testa, que ocasionalmente ele afasta
com impaciência. Sinto-me toda desejosa só por estarmos tão perto e
sozinhos, um desejo tão grande de beijá-lo, uma saudade. Me sinto fraca
perto de Ezra.

Tempos atrás sentia necessidade de brigar o tempo inteiro para


chamar atenção, talvez por gostar dele e querer mais do que ele me dava.
Ezra me deu tudo que alguém como eu poderia querer. Me salvou do meu
pior pesadelo, me trouxe para sua vida, cuidou, protegeu e me deu “tudo”.
Mas com o tempo comecei a querer mais. Atenção, afeto... Quando fugi, quis
esquecer de tudo, fui fraca e acreditei em Melina. Ezra me aceitou de volta,
nunca perdeu a cabeça comigo. Reconheço tudo isso e, com o tempo afastada
dele, tentei ver as coisas sob uma perspectiva neutra e ouvi muito minha
terapeuta. Não me afastei por ele ser ruim comigo ou para mim, mas por não
aguentar amá-lo e não ter reciprocidade. Sua frieza só me machucou por eu
ansiar demais seus sentimentos.

Agora, todavia, não sinto vontade de brigar, de gritar ou me impor.


Nós precisamos resolver as coisas e quero deixar claro minha gratidão por
tudo. Sem Ezra eu não seria ninguém. Teria sido abusada toda a minha vida e
depois vendida para algum homem tão medíocre quanto Reinaldo era. Estou
estudando graças à ele, tenho meu próprio salão, condições para cursar uma
faculdade, teto e perspectiva de vida.

— Para onde estamos indo? — Pergunto, quebrando o silêncio, me


sentindo sufocada com meus pensamentos.

— A lugar algum, só procurando um lugar tranquilo para estacionar.


— Me olha por um instante e volta a atenção para a estrada.

Nesse momento pude ver com mais atenção o seu pescoço e vi uma
mancha de sangue. Logo me preocupo.

— O que é isso no seu pescoço? Não percebi antes por estar escuro,
mas...

Ele fica em silêncio até que para em um sinal e me encara.

— Você se preocupa comigo, Ana? — Algo em sua expressão


carregada e a voz mais dura que de costume deixa claro que essa não é uma
simples pergunta.

— Me preocupo. — Respondo. — Assim como você se preocupa


comigo.

Ezra só me encara, assente com a cabeça e volta a dirigir quando um


carro buzina atrás de nós. Não demora a estacionar em uma rua residencial.
— Uma vez você me disse uma coisa que eu fiz questão de esquecer,
mas nas últimas semanas se tornou difícil não pensar no que você disse. —
Ezra começa e me encara. — Cada vez que fechei os olhos, vi você bufando
para cima, fazendo suas franjas voarem. Guardei suas meias em uma mala e
mandei Gilda levar para você não ficar com os pés frios... Sonhei com seu
corpo no meu, com seu gosto, os seios, o calor, seus lábios, mas quando
pensava em seus olhos e sorriso, fiquei com uma coisa ruim no peito e na
garganta, Ana. Eu quis ter você na minha casa, na minha cama, todos os dias,
porque é como se eu não conseguisse mais ficar longe.

Meus olhos ficam embaçados e minha garganta travada, mal consigo


respirar. Ezra parece nervoso, até raivoso, apertando o volante com força, me
olhando com aquela intensidade típica.

— Ezra...

— Você vai reparar nas manias dela e protegê-la, vai gostar do corpo
dela, mas os olhos e o sorriso vão te fascinar. Você vai querê-la por perto o
tempo todo. Então, você vai trazê-la para sua vida, porque você não vai
querê-la em outro lugar. — Ele repete as palavras que eu sequer lembrava ter
dito, mas que batem em mim com uma força descomunal. — Eu não sei o
que é isso. Não consigo entender e, para ser honesto, está sendo difícil aceitar
essa dependência, mas é como me sinto, Ana.

— Eu não entendo... Você está me dizendo tudo isso para que então?

— Porque não posso lutar contra. Não tê-la não é uma opção.
Me pego sem saber o que dizer, com as emoções a flor da pele. Essa
não é uma declaração de amor, mas já é algo tão grande saber que se sente
tão parecido como eu meu sinto. Poderia ser orgulhosa, como sempre fui, e
brigar, dizer que não é suficiente. Só que eu também estaria perdendo. Então
decido ser sincera, sem birras.

— Eu não me sinto diferente. Gostava do que tínhamos, mas depois


da Itália, comecei a querer mais do que sexo, Ezra. Tive um outro lado seu lá.
Você conhece meus sentimentos, não posso continuar lidando com sua frieza.

Nenhum de nós colocou o cinto de segurança, uma vez que ambos


estávamos nervosos demais para lembrar. Bem, pelo menos eu estava. Ezra
solta o voltante e se vira para mim, se aproximando, nossos joelhos se
tocando e suas mãos sobem por meus braços até o meu pescoço. Ele me
segura ali, com seus dedos resvalando em meu queixo. Até sendo suave tem
esse jeito dominador, dono de tudo.

— Na Itália não foi bom só para você. Perdi o controle depois de


contar sobre minha mãe e... Fazer sexo sem camisinha mexeu demais com a
minha cabeça, Ana. Nunca tive com outra mulher o que nós dois estávamos
tendo. Era novo para mim. É novo.

Lembrar de sua mãe me faz querer pedir que ele a liberte, mas
escolho não criar um conflito agora.

— E o que você quer comigo? — Pergunto, encarando seus olhos.


— Quero você comigo, mio angelo. Quero entender tudo o que você
me causa. Sem ter medo, sem fugas dessa vez.

Sorrio e arqueio a sobrancelha para provocá-lo.

— Acho que o que você está querendo é me pedir em namoro.

— Ana. — Ezra resmunga, aproveitando que mostrei meu “eu


habitual”, para mostrar o dele também.

— Vamos lá, Ezra. Faça um pedido de namoro decente. Você é


capaz. — Provoco.

— Não quero namorar você. Quero você na minha casa, na minha


cama, todos os dias. Isso é mais que um namoro.

Meu sorriso murcha um pouco e me afasto, sem saber como me


expressar.

— Acho que nós precisamos nos conhecer melhor como pessoas


normais, sem pular etapas, sabe?

— Não, eu não sei. — Seu tom é de impaciência.

Penso um pouco, mas não estou disposta a ceder sobre isso. Não
estou agindo para sair por cima, é por querer que tenhamos mais que sexo,
que possamos nos conhecer.
— Não vou voltar para sua casa. Nós precisamos começar do
começo, namorando, se conhecendo. Tudo o que conhecemos um do outro é
por convivermos de um jeito diferente. Eu estava sendo chata e brigando o
tempo inteiro, querendo atenção, e você estava sendo mandão, dando a última
palavra. Em um namoro, vamos nos conhecer, não só transar e brigar.

— Não, Ana. Você volta para casa comigo. Sei tudo sobre você. Já te
conheço. Isso basta. — Ezra exige.

— Para algo entre nós acontecer, vamos ter que aprender a ceder. Já
estou cedendo, contendo meu gênio para não brigar a toa e vou continuar
fazendo isso. Custa muito você também tentar? Já estamos começando com
divergências. — Bufo.

Ezra estica a mão por meu rosto e toca minha testa. Um sorriso
contido toma seu rosto.

— Você sopra sua franja do rosto quando está impaciente.

— Você me deixa impaciente. — Sorrio falsamente. Então volto a


olhar seu pescoço, mesmo sob a luz fraca do carro, passo o dedo no corte e
vejo que não é nada grave. — O que foi isso?

— Meu pai tentou me esfaquear com uma faca de serra. — Ezra abre
um sorriso maldoso. — Por você, só por isso, libertei minha mãe e o mandei
para uma clínica psiquiátrica.

— Meu Deus! Ele tentou te matar? Você deu uns socos nele? —
Pergunto, irada só de imaginar.

Agora Ezra sorri genuinamente, um sorriso lindo, que poucas vezes


vi. Ele segura meu rosto e beija meus lábios sem pressa.

— Você é violenta, Ana.

Suspiro, assentindo.

— Minha terapeuta chegou a conclusão que, devido ao meu passado


ter ficado à mercê de alguém por tanto tempo, sem ter voz ou forças para
lutar, acabei perdendo o controle da minha raiva depois que você me livrou.
Estou controlando isso, está dando certo.

— Estou vendo. — Ezra ri.

Deus! Ele é tão lindo assim rindo, relaxado. Agora sou eu quem o
beijo.

— O que você fez com o seu pai e para onde sua mãe foi?

— Eu só o ameacei. Não fiz nada com ele. Minha mãe quis voltar
para a Itália. Me pediu dinheiro para continuar sua viagem pelo mundo. Eu
mandei para sua conta, mas lavei minhas mãos. Nunca se importaram
comigo, são os motivos de eu ser assim. Não consigo reconhecer meus
sentimentos porque nunca os conheci para começar.

— Fico feliz que você tenha se livrado desse fardo. — Digo e o


abraço. Ele não demora a envolver meu corpo em seus braços, cheirando
meus cabelos, me apertando. — E aí, vai me pedir em namoro ou não?

— Você é minha, Ana. Eu corto a mão de qualquer um que tocar em


você.

— Mas não vai cortar a minha se eu tocar em alguém. — Me julgue,


mas amo ver esse homem irritado.

— Não me provoque. — Suas mãos se movem rapidamente e ele


aperta minhas coxas, os olhos faiscando em mim.

— Me peça em namoro e evitamos transtornos. Seremos só você e


eu. — Minha insistência é toda para ver esse homem resmungão e malvado
fazendo o pedido que ele acha bobo.

— Quero ser mais que um namorado, mio angelo. — Ele passa a mão
por meu rosto, minha nuca e junta meus cabelos ali. — Vou fazer sua
vontade. Te dar um tempo. Mas eu vou cansar disso e vou arrastá-la para o
seu lugar.

— Onde é o meu lugar? — Sorrio.

— Comigo, Ana. Capisce?

— Capisco. — Pisco e Ezra puxa meu rosto para me beijar.

Nos beijamos e tentamos nos agarrar, mas o pouco espaço do carro


irrita Ezra — novidade.

— Você é minha namorada, Ana. — Ezra avisa.

Sinto vontade de chutá-lo, mas acabo rindo. Que homem mandão!

— Está bem, poderoso chefão. Agora você pode me deixar em casa e


me buscar só final de semana para passearmos, nos conhecermos...

Ele arqueia a sobrancelha, sem achar graça alguma.

— Isso é uma brincadeira?

— Deveria ser, mas você é sem graça, né? Me leva para algum lugar
espaçoso para a gente transar, Ezra. — Dou um tapinha no seu ombro e me
acomodo novamente no banco.

Sinto seu olhar em mim, mas me finjo de desentendida. Estou


demonstrando tranquilidade, mas quando há tanto sentimento envolvido, é
impossível estar tranquila. Quero ficar com Ezra e quero fazer dar certo. Não
quero mais pensar em como as coisas podem dar errado, estou disposta a
curtir o momento, sem pensar no amanhã. Ele deixou claro que tem fortes
sentimentos por mim, mesmo que não saiba discerni-los por desconhecê-los.
Criar expectativa é meio caminho para me frustrar se não der certo. Portanto,
o ideal é não esperar nada.

Nesse momento, eu só espero tê-lo em mim.


CAPÍTULO 33

E eu encontrei o amor onde ele não deveria estar

Bem na minha frente

Faça isso ter algum sentido

E eu te usarei como um marcador temporário

De quanto ceder e de quanto receber

Amber Run - I Found

Dirijo para minha cobertura que fica em Copacabana. Nunca trouxe


Ana aqui. Quero privacidade para não precisarmos ficar trancados no quarto e
sei que ela vai gostar do lugar. Ana parece ansiosa, tocando minha coxa, meu
braço, se contorcendo no banco. Evito sorrir para não provocá-la, mas ela
está louca para ser devidamente fodida. Entendo-a completamente. Sei me
controlar melhor, manter a expressão neutra, mas a quero com loucura e só
não estou a tomando nesse carro porque uma vez só não será suficiente. Ela
inventou essa história de namoro, mas nem vai se dar conta quando
adormecer na minha cama.

— Meu Deus! Esqueci de Luigi...

— Luigi sabe que estou com você.

— Ah, ainda bem.

— Preocupada demais com ele, não acha? Será que ainda continuam
assistindo filmes e comendo pipoca todas as noites? — Resmungo, irritado só
de lembrar.

— Luigi se tornou um irmão para mim, Ezra. Não seja tolo. Pode ter
certeza que ele me enxerga da mesma forma.

— As coisas vão se complicar, Ana. Luigi precisará voltar para a


Itália. — Digo.

— O que? Por que?

— Stefano não confia em qualquer um para ser seu braço direito.


Terá que manter o conselheiro do meu avô, mas certamente esse cargo será
de Luigi no futuro e é necessário que ele esteja lá a partir do momento que
meu primo assumir a liderança da Famiglia. — Justifico.

Stefano teve essa conversa comigo e Luigi há poucos dias. O próprio


não demonstrou estar tendo problemas em ser apenas um segurança, mas
reconheço que merece viver a vida que cresceu destinado a viver.
Stefano cogitou mandar outro segurança, mas tenho meus homens de
confiança, e não deixarei nenhum tão próximo de Ana quanto Luigi fica.

— Será que ainda vou vê-lo? Não tenho amigos... Luigi é o único. —
Ana parece chateada.

Olho para ela sem entender de onde vem todo esse afeto por Luigi,
mas fico quieto. Entro no estacionamento térreo do prédio, deixo meu carro e
saio com Ana. Subimos pelo elevador até a cobertura e deixo que ela entre na
minha frente para olhar em volta.

— É seu? Jesus, você é podre de rico. Que lugar lindo! — Ana olha
em volta, mas o que atrai sua atenção são as portas de correr de vidro, que
levam para sacada. A sigo, observando-a, tão jovial e linda, parecendo
relaxada e feliz. — Posso olhar a sacada?

— Claro.

Ela destrava as portas e sai para a sacada, observa a mesa de madeira


rústica e as cadeiras, alguns vasos com plantas e o sofá branco com várias
almofadas coloridas. Então se aproxima do guarda corpo de vidro que
protege a sacada, com ferros na parte superior, onde ela coloca as mãos e olha
para a imagem do Rio de Janeiro aos nossos pés.

— Cara, é lindo... Muito mesmo!


Me aproximo dela, colando meu peito em suas costas e me inclino,
cheirando seu pescoço. Seus cabelos ficam soltos em meu rosto e Ana
empurra o corpo contra o meu.

— Só consigo ter olhos para você agora. A cidade não é nada.

Ana vira, ficando de frente para mim, seus olhos entregues, um


sorriso suave nos lábios. Ela fica na ponta dos pés e me beija, enrolando seus
braços em meu pescoço.

— Posso conhecer os outros cômodos depois... — Ela diz.

Seguro seu pescoço, doido para me fundir com ela. Tomo a frente do
beijo, saqueando sua boca, brincando com a língua atrevida. Ana finca as
unhas em minhas costas, enquanto aperto um pouco o pescoço. Ela geme e
joga a cabeça para trás. A inclino contra o guarda corpo e ela se deixa ir, com
suas costas apoiadas no ferro e deixando-se em minhas mãos. Afasto sua
blusa com a mão livre e me abaixo para tomar seu seio na minha boca. O
mamilo rosado desponta em minha língua e Ana geme.

— Se alguém olhar para cima vai vê-la gostando de ter minha boca
em você, Ana...

— Estou com saudade de ter você, Ezra. Por favor.

— Nós temos toda a noite.

Bato minha língua em seu mamilo e mordo em volta, fazendo-a


gritar. Ana parece mais fogosa do que nunca, sentindo com mais intensidade.
A solto para tirar sua roupa e ela agarra meus braços, bamba com tão pouco.
Estreito os olhos, procurando se há algo diferente, mas não há. Ela parece
mais linda do que nunca, mais magra, no entanto, e com os seios mais
volumosos, mas provavelmente estão sobressaindo por ela ter perdido peso.
Me ajoelho na sua frente para tirar a sandália e a calça com a calcinha. Sua
boceta loirinha está toda molhada para mim e a abro com meus dedos,
olhando. Eu sinto um tesão do caralho só de olhar. Meu pau pulsa sob a
roupa.

— Que bocetinha linda, cazzo... Nunca vou me acostumar. — Passo


minha língua entre suas dobras e Ana derrama mais de seu líquido em minha
boca. — Vire-se. Encoste os seios no vidro e apoie as mãos no ferro. Empine
a bunda para mim. Vou comer você toda hoje, mio angelo.

Ana arregala os olhos por um momento, mas se vira. Ela me olha por
sobre o ombro, mas encosta os seios no vidro. Seus olhos reviram quando
sente o gelado fazendo fricção nos mamilos intumescidos. Abro sua bunda
para mim e lambo o cuzinho, fazendo-a se contrair toda para mim. Desço
minha língua por sua boceta, lambendo todinha, chupando e mordendo os
lábios inchados. Brinco com o clitóris, sem dar a devida atenção, só
provocando, até que Ana começa a rebolar em meu rosto. Me farto dela,
chupando, esfregando minha barba, meu nariz e lambendo seu ânus, atiçando.

Ana está toda pelada para mim, no topo em um dos maiores prédios
do Rio de Janeiro, na minha sacada, sem pudor, sem vergonha. Embora
ninguém possa nos ver através do vidro temperado e escuro, sua coragem e
falta de pudores me deixa insano de tesão. O vidro é mais baixo do que ela,
mas seu corpo está protegido, pois está inclinada nele.

— Vou gozar, Ezra... Está muito... Porra... Forte!

E ela dá um show, ondulando, gemendo, sem medos, toda minha.


Dou um tapa em sua boceta para prolongar seu orgasmo e continuo
lambendo, querendo mais e mais. Não dou descanso. Passo o dedo por sua
lubrificação e esfrego em seu ânus, ameaçando penetrá-la com o dedo ali.
Espero que negue, mas ela não faz, então continuo. Seu corpo se retesa
quando meu dedo entra, começo a dar atenção ao seu clitóris com minha
língua e ela relaxa. Quando meu dedo começa a entrar e sair facilmente,
adiciono mais um e Ana geme, sentindo a ardência, choramingando. Retiro
os dedos e levanto-me, arrancando minha roupa, louco de luxúria, ansioso
para fodê-la.

— Ana, você é uma visão do caralho... Sem igual. — Digo, colando


meu peito em suas costas e cubro seus seios com minhas mãos. — Pega no
meu pau, coloca ele dentro de você. Se alguém olhar da janela, vai ver você
querendo ser fodida, mas não vão ver seu corpo, porque seu corpo é todo
meu.

— Meu Deus, Ezra... Você me deixa insana... Isso não é normal. —


Ana murmura, entregue.

— Não deve ser normal, mas nada com a gente é. Pega no meu pau,
Ana. Segura e enfia ele na sua bocetinha.

Isso é suficiente para ela ficar de pé, da altura dos seus seios para
cima podendo ser vista acima do guarda corpos, assim como eu atrás dela,
mas mantenho seus seios cobertos, enquanto ela segura meu pau e encaixa
nela.

— Você está sem camisinha... — Ana alerta.

Quase corro para longe dela, é coisa de segundos, vem na minha


cabeça o desejo de fugir, mas eu controlo. Me inclino e beijo seu ombro,
tentando mostrar calma, enganando a mim mesmo.

— Eu sei... Quero sentir você. Vou gozar na sua bunda. Tudo bem
para você?

— Sim.

Ana me olha sobre o ombro e examina meu rosto. Ela consegue ver
mais de mim do que quero mostrar, então tomo sua boca na minha, afastando
qualquer questionamento ou dúvida. Ela encaixa nossos sexos e meto fundo,
entrando todo nela. Sua boceta me abraça como uma luva, toda molhada e
quentinha. Ana empina a bunda para mim, se abrindo, facilitando, levando as
mãos ao ferro de apoio e jogando a cabeça para trás. Eu a fodo toda. Aperto
seus seios, mordo seu pescoço, chupo sua pele, meto com força, belisco os
mamilos, fazendo sua boceta contrair, me arrancando grunhidos. Fodemos
feito animais que somos, tendo um alívio que só um pode dar ao outro. Sua
pele fica vermelha sob minha brutalidade, sua bunda branquinha chama por
minhas palmadas, mas me controlo para manter seus seios escondidos. Enfio
meu rosto em seu pescoço e subo com mordidas até sua orelha.
— Estou louco para surrar sua bunda, para apertar sua cintura, seu
pescoço, suas coxas... Lá dentro vou encher você de palmadas, de apertões...

— Faça agora. — Ana geme. — Ninguém vai ver.

— Você tem ideia que se algum infeliz olhar e ver você, depois vou
ir atrás e matá-lo? — Rosno em sua orelha, tirando todo meu pau e deixando
só a cabeça dentro dela. Sinto-a contraindo, ficando mais excitada com minha
possessividade. — Responda.

Ana rebola, tentando me ter todo dentro dela de novo, mas mantenho-
me quieto, esperando.

— Você não pode matar alguém só porque viu meus seios.

— Você diz isso como se sua boceta não estivesse escorrendo,


contraindo, com minhas palavras, não é? — Sorrio, maldoso. Beijo seu
pescoço, sua mandíbula e mordo seu lábio inferior. Então digo, enquanto
entro nela lentamente: — Eu posso e vou.

Ana geme, tentando aumentar o ritmo, e faço sua vontade,


empurrando-a contra o vidro e estocando com força. Não demora para ela
gozar, toda mole em meus braços, gemendo e caindo em meus braços.
Consigo ter autocontrole para meter mais duas vezes e sair de dentro dele
para gozar em sua bunda. Esfrego meu pau na pele manchada pelo meu
sêmen, com a líbido reagindo a cena.

Ana é minha.
***

— Difícil acreditar que você preferiu comer em vez de transar mais.


— Ana implica.

— Você emagreceu bastante. Não se alimentou bem os últimos dias.


— Digo. — Se continuasse, ia desmaiar de exaustão. Coma.

— Estou comendo. — Ela revira os olhos.

Ela tomou banho após nossa rodada de sexo na varanda, enquanto eu


ligava para um restaurante próximo daqui e pedia comida. Depois tomei
banho e Ana esperou a entrega. Agora estamos sentados no chão da sala, com
a comida separada sobre a mesinha de centro, enquanto colocamos o que
queremos em nossos pratos.

— O que fez no último mês?

— Estudei, trabalhei... E me aproximei da minha terapeuta, em


relação a aceitar que preciso cuidar da minha mente.

— Todos precisam.

— Mas no meu caso não percebia que minha raiva desenfreada era
por culpa de Reinaldo. Eu achava que estava legal ser forte, mas se você
olhar um pouco, vê que nunca deixei ninguém se aproximar. Só espantei as
pessoas e resolvi a maior parte de tudo na mão. Não é aceitável na sociedade.
— Mas deveria ser. — Sorrio. — Você sabe se defender, está segura,
não precisa mais continuar presa ao passado.

— Acho que a gente sempre fica preso ao passado, e é um passo


gigante quando assumimos isso.

— Você estava certa quando disse que eu escondia meus demônios,


em vez de lutar com eles. Meus pais sempre foram um assunto fodido para
mim. Sempre os amei e odiei na mesma medida. E agora consegui me
desligar dos dois, me sinto mais leve.

— Fico feliz, Ezra. — Ana estica o braço sobre a mesinha e toca


minha mão.

Seguro sua mão e trago até meus lábios, olhando seus olhos e
deixando um beijo casto na pele macia. Ana sorri para mim e eu retribuo, me
sentindo bem pra caralho por estar aqui com ela, leve. Eu quero transar mais
com ela, mas se nós ficarmos assim, para mim vai ser satisfatório também. Só
estar com Ana me enche de contentamento.
CAPÍTULO 34

Eu escalaria todas as montanhas

E nadaria todos os oceanos

Só para estar contigo e consertar o que quebrei

Porque eu preciso que você veja

Que você é o motivo

Calum Scott - You Are The Reason

Depois que Ezra e eu jantamos, fomos para a suíte e matamos a


saudade. Fiquei fora de mim, tão exausta, que adormeci sem me dar conta em
qual momento aconteceu.

Assimilo onde estou ao despertar e sentir os braços fortes de Ezra em


volta de mim. Estou com o rosto colado em seu peito, sentindo seu cheiro
delicioso, ouvindo seu coração. A barba se mistura aos meus cabelos, suas
pernas envolvem as minhas e nós parecemos bem assim, embora a
necessidade de fazer xixi me faça começar a afastá-lo. É necessário o mínimo
toque para Ezra despertar. Ele me aperta em seus braços e inala em meus
cabelos. Sorrio, maravilhada com tudo isso. A todo momento esperei que
nossa proximidade fosse fazê-lo surtar e fugir, mas isso não aconteceu. Nós
tivemos muito sexo, mas conversamos também e não vi aquele olhar de quem
está louco para fugir em seus olhos.

— Bom dia, Ezra. Está muito bom aqui, mas eu preciso fazer xixi.

— Bom dia. — Sua voz grossa me saúda e sinto um beijo no topo da


minha cabeça.

Ezra me libera e corro para o banheiro, sem receios sobre minha


nudez, e mais feliz do que já estive em toda a vida. Não quero pensar nos
contras. Estar com Ezra do jeito que estivemos ontem é perfeito. Quero que
possamos nos conhecer de verdade, saber tudo sobre o outro, ouvir os
interesses, sentir saudade e poder matá-la. Faço minhas necessidades matinais
e uso a escova de dentes reserva que encontro lacrada na gaveta sob a pia.

Vejo, através do espelho, o corpo imponente de Ezra atravessar o


cômodo. Ele analisa meu corpo, despido e sem vergonha de se exibir.
Vergonha de que, afinal? O sujeito é lindo, maravilhoso. Caminha até a
banheira e gira a torneira para que comece a encher. Sem palavras, nos
encaramos pelo espelho e ele se aproxima de mim, afastando meus cabelos
para meu ombro esquerdo e se inclinando para beijar o direito, que fica livre.
Nossos olhares ficam travados um no outro, sem palavras, mas meu coração
quase salta do peito. Eu sou louca por esse homem. Ele me desequilibra e me
faz a mulher mais feliz ao mesmo tempo. Pode não ser saudável, mas o quero
com voracidade e loucura, o mesmo que vejo em seu olhar.

— Tome um banho na banheira comigo.

Assinto com a cabeça, totalmente presa em sua áurea sedutora,


hipnotizada olhando seus lábios em minha pele, suas mãos morenas subindo
por meus braços. Ezra se afasta e pega alguns sais de banho e despeja na
água. O cheiro delicioso toma conta do ambiente. Viro-me para admirá-lo,
seus movimentos decididos, sua beleza. Tudo nele me deixa apaixonada. Ele
fecha o registro e ergue o braço em minha direção. Seguro sua mão e entro na
banheira, a água morna fazendo meu corpo relaxar imediatamente. Sento-me
e Ezra se posiciona atrás de mim, colando minhas costas em seu peito,
afastando meus cabelos e massageando meus ombros. Sinto sua barba roçar
em meu pescoço, me provocando. Ele é tão calado, mas não sinto falta das
palavras nesse momento.

Ezra se estica por um segundo e pega um shampoo. Olho sobre o


ombro, cheia de suspeita, e ele mantém a máscara neutra. Sorrio quando
despeja o líquido espesso em suas mãos e passa em meus cabelos. Enquanto
Ezra esfrega o shampoo em meu couro cabeludo, divago como nunca
imaginei isso acontecendo. Seu silêncio sempre está entre nós, mas os seus
toques dizem muito.
— Você não vai trabalhar cedo hoje? — Pergunto a Ezra enquanto
tomamos café da manhã.

Ele beberica em sua xícara de café antes de responder:

— Estou bem em passar um tempo com você.

— Também quero passar um tempo com você, mas preciso ver Luigi
hoje, saber quando ele vai embora e me despedir dele.

— Eu não entendo esse seu interesse no Deluca, Ana. — Sua falta de


animosidade é evidente na expressão e no tom de voz.

Levanto-me da cadeira ao seu lado esquerdo e me sento em seu colo.


Ezra afasta a cadeira da mesa para que eu fique à vontade. Seguro seu rosto
em minhas mãos e dou um beijinho em seu nariz. Ainda parece estranho que
estejamos assim, que eu me sinta à vontade para beijá-lo, para nos tornarmos
íntimos.

— Luigi é como um irmão. Se você tivesse dúvida disso, não me


deixaria na responsabilidade dele.

— Você é minha, Ana.

— Porque eu quero ser. — Reitero, olhando-o com intensidade. —


Contanto que você seja meu.
Ezra segura meu rosto e bate a boca contra a minha, me beijando
ferozmente.

Mesmo com sua carranca, ele me leva para o apartamento de Luigi,


onde continuo morando. Ezra e eu nos beijamos e entro em casa. Sei que ele
não está nada satisfeito com esse arranjo de namoro, mas somos dois
cabeças-duras, e acredito que o certo é nos conhecermos melhor sem riscos
de Ezra continuar vendo-me como a Ana por quem se responsabilizou e não
como sua namorada. É até estranho pensar em nós dois como namorados,
mas me sinto feliz da vida com o título.

— Luigi? — Chamo.

— A noite foi boa, hein, docinho. — Ele surge sem camisa, vindo da
cozinha.

Difícil não admirar seu corpo forte, bruto. Luigi é um homem muito
bonito, principalmente se não estiver com aquele sorriso de Coringa dele.

— Você não me contou que vai voltar para a Itália! — Me jogo no


sofá, deixando a mochila no chão.

— Estava esperando você e o Cattaneo se acertarem. Não a deixaria


sozinha. — Luigi passa a mão por meus cabelos, bagunçando como sempre
faz, como se eu fosse criança.

— Estou triste que vai embora. — Confesso, sentindo meus olhos


marejarem. — Você é minha companhia sempre e aprendi a gostar de você.
— Para com o sentimentalismo. Dio mio! — Reclama. — Não chore,
mulher. Vocês sempre irão à Itália e eu estarei vindo aqui. Não vou sumir do
mapa. Não chore...

O brutamontes acaba me abraçando, todo sem jeito, inclinado em


minha direção, horrorizado por me ver chorar. Parece bobagem chorar, porém
Luigi, realmente, se tornou importante para mim, ainda mais nessas últimas
semanas.

— Vamos fazer qualquer coisa de mulherzinha para você calar essa


boca, Diana. — Ele resmunga, se afastando e passando a mão na cabeça
raspada.

— Vamos no shopping comigo, fazer compras, comer na praça de


alimentação...

— Nem continue.

— Mas você disse qualquer coisa de mulherzinha.

— Cazzo, foi da boca para fora.

Bufo e rio ao mesmo tempo da expressão indignada que ele faz.

— Vou sentir sua falta de verdade.

— Eu sei, é impossível viver sem mim, mas você pode sobreviver. É


a vida.

— Babaca! — Dou um tapa no seu braço e antes que ele retruque


com deboche, a porta é aberta.

Luigi leva a mão a arma no cós de sua calça de moletom e eu fico


nervosa imediatamente, até que vejo Ezra entrando com uma sacola na mão e
a expressão assassina.

— Será que você não usa camisas, Deluca?

— Estava malhando, chefe. — Luigi responde com a expressão mais


debochada possível.

— Houve algo? — Levanto-me atenta a Ezra.

— Trouxe seu almoço. Você emagreceu. Deve se alimentar.

— Volta às imposições? — Implico, passando meus braços por sua


cintura.

Sinto quando seu corpo se retesa e ele ergue o olhar para encarar
Luigi. Faço menção de me afastar, afinal fica claro que está desconfortável,
mas ele me segura pela cintura e beija minha testa.

— Você perdeu peso, precisa se alimentar nos horários certos.

Ergo uma mão entre nossos corpos e seguro a cruz em uma das
correntinhas que ele sempre usa.

— Obrigada por se preocupar sempre.

— Tem comida para mim também? Não vou ficar vendo ceninha de
amor a troco de nada. — Luigi provoca, pegando as sacolas de Ezra.

— Obviamente não trouxe para você.

— Claro que tem para você.

Ezra e eu dizemos ao mesmo tempo. Luigi abre seu sorriso de


tubarão horroroso para Ezra e nós acabamos almoçando todos juntos.

Dois dias depois estou indo para a casa de Ezra, uma vez que Stefano
e Alessa juntamente com os pais dela estão aqui no país para conhecer o
Brasil e mais dos negócios do mafioso. Hoje irão jantar conosco. Eles ainda
não se casaram, mas sendo quem é Stefano, os pais da noiva irão carregá-la
como uma marionete onde quer que ele ordene.

— Nonna e Luigi estarão lá. — Ezra diz, puxando minha mão de sua
perna e depositando um beijo na mesma.

Borboletas voam em meu estômago enquanto o observo dirigir sem


soltar minha mão. Está lindo como sempre, com a usual vestimenta cara,
camisa social branca com os primeiros botões abertos, paletó e calça social
azul escuro e as duas correntinhas.

— Depois disso, Luigi vai voltar com eles, não é?

— Sim, mio angelo.

— Eu amo quando você me chama assim. — Confesso.

Ezra me olha por um segundo e sorri.

— Sempre a chamei assim. — Diz e volta sua atenção para a estrada.

— Mas antes era diferente.

— Você era uma criança, nunca olhei para você com malícia antes.

— Mas não resistiu e agora vê. — Provoco.

— Se você soubesse quantas vezes enlouqueci querendo surrar sua


bunda por ser uma provocadora.

Um sorriso enorme reparte meu rosto até a hora que chegamos na


mansão de Ezra e o clima já se demonstra desconfortável quando Giuseppe
entra em nosso campo de visão.

— O que ele está fazendo aqui?

— Não sei. Pela cara de Stefano, ele também não sabe. — Ezra
resmunga, mas ao contrário de seu primo que demonstra raiva cortante, ele se
mantém neutro.

— Olá, caro mio. — Giuseppe cumprimenta Ezra, fazendo questão


de me lançar uma olhadela e não se dirigir a mim com palavras.

— Bambina. — Nonna sente o desconforto e se aproxima, me


puxando para um abraço.

Stefano e a noiva se aproximam de braços dados e, uau, eles são


incríveis juntos. Ambos loiros, altos e lindos. Alessa parece calma, mas em
seu olhar vejo desespero. Olho em volta e não vejo seus pais. Me aproximo
dela e a cumprimento sob o olhar duro do primo de Ezra.

— Boa noite, que bom ter você aqui no Brasil!

Alessa suspira um sorriso e se inclina para darmos um breve abraço.

— Grazie...

Stefano muda de postura olhando sobre minha cabeça e Alessa


demonstra um desconforto maior.

— Ora, se não são as belas mulheres dos meus netos juntas...

Nonna se aproxima de mim e segura minha mão ao mesmo tempo


que Ezra me puxa para os seus braços.
— O que você veio fazer aqui para começar? — Stefano rosna.

— Eu vim para o jantar em família. — Giuseppe sorri maldoso. -


Veja, como o meu soldado, pai da menina Bianchi até desistiu de vir... Ele
não é da família. Então o descartei.

Stefano parece irado ao encarar Alessa, entendendo que o pai dela


contou tudo para Giuseppe.

— Vamos ao toalete comigo? — Puxo o braço de Alessa e ela


assente imediatamente com a cabeça.

Nós saímos de braços dados e vejo quando Luigi passa por mim, mas
fica à espreita, de olho em nós duas.

— Não precisa ficar com medo. — Sussurro para Alessa. — Stefano


irá proteger você.

— Ele já protege. — Ela diz, seu sotaque bastante carregado. — Eu...


Esse mundo é asqueroso, mas Stefano já fez muito por mim e sei que estou
melhor com ele.

Fico curiosa, uma vez que fica óbvio que eles já tem uma história,
mas não faço questionamentos. Nós usamos o banheiro e voltamos, todavia,
encontramos Giuseppe no corredor antes de chegarmos na sala.

— Eles deixaram o cão de guarda deles de olho nas duas preciosas


damas e foram tramar algum segredo maligno contra mim. — Ele sorri, sem
resquício algum de humanidade. Alessa segura meu braço, recuando um
passo, coisa que eu não faço. — Só quero avisar que saibam o seu lugar e não
tentem destruir a vida dos meus netos ou irão pagar caro.

— Não estamos tramando na...

— Capo. — A voz de Luigi soa atrás de nós, me interrompendo. —


Cattaneo e Esposito deixaram ordens claras para não deixar as garotas a sós
com o senhor. Vamos, senhoritas.

Luigi passa em nossa frente, ficando frente a frente com Giuseppe, e


espera que nós duas passemos. Engulo o bolo na garganta, porque o desejo
que sinto é de esmurrar esse velho, mas nem eu sou louca a esse ponto.
Alessa está trêmula, amedrontada.

— Esse jantar não vai acontecer com seu nonno junto conosco. Ele
acabou de nos ameaçar. — Digo para Ezra assim que o vejo retornando à
sala, sem me importar se eu deveria agir como Alessa que já parece
recomposta e está calada pronta para dançar conforme a música desses
homens.

— Já chega, Stefano. — Ezra rosna e sai marchando em direção ao


seu avô.

Nesse exato momento eu acabo de me arrepender de agir por


impulso, principalmente quando vejo o sorriso no rosto de Stefano.
CAPÍTULO 35

Você diz que sua vida não é justa

O que é certo e o que é errado?

Você tem suas necessidades e simplesmente não se importa

De novo e de novo nós retornamos

De volta para onde estávamos antes

Lost Prayer - Zakk Wilde

Antes que eu possa me encaminhar para fora da sala, nonno aparece,


com seu sorriso arrogante, o olhar maldoso. O porém é que hoje ele pisou no
meu calo. Tiro minha arma do cós da calça, sob o paletó e aponto para ele. O
desgraçado nem pisca. Ele sabe que sou tão frio e calculista quanto ele.
Poderia colocar uma bala na sua cabeça agora mesmo, mas Stefano seria
acusado como traidor e perderia tudo o que fez até hoje na máfia, uma vez
que não entregaria minha cabeça como prêmio à ninguém. O silêncio na sala
se torna sepulcral e o olhar desafiador de Giuseppe me faz avançar.

— Nunca mais ameace Ana. Eu não tenho nada a perder, nonno. —


Cuspo as palavras, segurando-o pelo colarinho e colocando o cano da arma
sob seu queixo.

— Eu esperava essa atitude de Stefano. — Giuseppe ri. — Essa é a


atitude de um homem, futuro Capo. Ezra é meu primeiro neto e o dono dessa
posição, mas você deu sorte de estar nela, não é? Agora ele está prestes a
fazer o que você nunca foi homem para...

Interrompo seu discurso dando uma coronhada em sua cabeça.


Stefano se aproxima de nós, com um sorriso de tubarão.

— Ah, nonno, matá-lo e perder a oportunidade de ver seu rosto azedo


quando eu mandar em tudo no seu lugar? Eu não perderia isso por nada.

Giuseppe parece inflar vendo nós dois sendo cruéis com ele. Não
entendo o que passa em sua cabeça doentia, mas torno a avisar:

— Não se aproxime de Ana. Deixe-a em paz. O senhor é um homem


mafioso, pode ser o diabo, mas não sabe o que um homem é capaz de fazer
para defender quem ele protege. E eu protejo Ana. — Advirto, olhando-o
bem nos olhos.

Giuseppe empurra minha mão e ajeita o próprio colarinho, sua


têmpora ficando inchada com o golpe que levou.

— Desde que você não amoleça, você pode enfiar seu pau em
qualquer buraco, Ezra. Se amolecer, eu dou fim a quem for para fazê-lo
rígido outra vez.

A clara ameaça faz com que eu destrave a arma e atire. Tudo


acontece rápido, ouço os gritos de “não” de Ana e nonna, Deluca salta sobre
mim e a bala desvia do alvo.

— Não mate seu nonno... Você não precisa desse pecado, meu filho.
— Ouço a súplica de nonna.

— Eu já vou para o inferno, mais um pecado não fará diferença. —


Rosno, empurrando Deluca. — Nunca mais interfira nas minhas decisões,
cazzo.

— Ele é o capo. Stefano será visto como traidor. Punido. Você será
caçado. Ana será caçada. — Deluca se mantém firme e me faz recobrar a
consciência.

Busco Ana com o olhar, parecendo preocupada, até arrependida de


ter explodido após ter sido ameaçada. Stefano é como um irmão, mas nesse
momento só o que me faz recuar é saber que Luigi está certo. Se a máfia
estiver atrás de mim, significa que Ana estará em perigo. As ameaças de
Giuseppe são perigosas, mas não tanto quanto mafiosos em busca de
vingança porque eles não são meu sangue e não terão misericórdia, tampouco
irão desconsiderar meus desaforos, como nonno faz. A razão duela com a
emoção e no meio disso a raiva por Ana me fazer fraco. Se não fosse por ela,
eu não teria nada a temer, nada a perder. É uma fraqueza que jamais quis ter.

Nonna ajuda Giuseppe a se recompor e vejo o quanto ela o ama. Me


questiono como pode? Entretanto, como posso julgá-la? Ela conheceu a
bondade dele, que ninguém pôde conhecer. Assim como Ana me ama,
mesmo que eu seja um monstro. Coloco o revólver de volta ao cós da calça e
Ana corre até a mim, segurando meu rosto e encarando meus olhos com
preocupação.

— Eu não queria que você fizesse nada... Não foi para isso que falei.
Sou muito explosiva e bocuda. Devia ter ficado quieta! — Ela lamenta, com
os olhos cheios de lágrimas.

— Se você não falasse, eu falaria. — Deluca diz à ela.

Procuro por Stefano e vejo que ele e a noiva desapareceram das


nossas vistas. Ele não parece tão indignado com o casamento como estava
quando estive na Itália.

— Esse jantar acabou. Venha, Ana. — Apoio a palma da mão na base


de sua coluna e começo a nos guiar para a saída.

— Você é meu neto, Ezra. — Giuseppe diz, atraindo nossa atenção,


mas não o olho. — E eu me encho de orgulho que você seja tão ruim quanto
eu.

Não lhe dou atenção, mas sinto Ana ficar tensa. Continuo saindo com
ela e só consigo respirar tranquilamente quando entramos em meu carro. Ana
fica calada todo o caminho, parecendo chateada.

— Eu não quis causar isso.

— Eu sei que não. — Digo, passando pelos portões do clube após o


segurança ver meu rosto.

— Sinto que você é tão frio e calculista, pensa antes de agir, sabe se
manter calado, neutro. Já eu... Sou descontrolada, me deixo levar pela raiva
facilmente... Fiquei indignada com a ameaça dele, me sentindo impotente por
não poder socá-lo... E explodi de outra forma.

A vulnerabilidade em sua voz é evidente. Odeio vê-la triste. Vê-la


lutando, brigando e gritando é fácil. Gosto que ela seja forte, mesmo que me
deixe puto quando briga por coisas desnecessárias ou é birrenta feito uma
criança. Deixo o veículo em minha vaga no estacionamento particular do
clube e a encaro.

— A terapia tem feito bem. Você mesma disse que está entendendo
os motivos de suas reações abruptas a esse tipo de coisa. Eu sinto raiva
também, mas nunca fui ferido como você foi, Ana. Não há desculpa para
mim. Mas e você? Esteve presa nas mãos daquele maldito por muito tempo,
tendo que ser submissa às vontades dele porque era criança, estava presa.
Agora seu mecanismo de defesa leva você a lutar quando não quer estar em
alguma posição. É necessário aprender a se controlar para que não perca sua
razão, mas seu pecado é perdoável.
Ela me encara com aqueles olhos azuis bebê, tão brilhantes, ainda
mais expressivos com as lágrimas contidas. Tiro meu cinto de segurança e me
inclino para tirar o dela. Puxo seu corpo para mim e a aninho em meu colo.
Inalo em seus cabelos, sentindo o cheiro delicioso, seus braços envolvem
meu pescoço, e eu a seguro como se fosse a coisa mais preciosa do mundo,
porque ela é. Faço um pequeno esforço para sair do carro com ela em meu
colo, sequer me preocupo em travar as portas. No clube, quando passo por
meus seguranças, o salão ainda não está cheio de sócios, pois ainda é cedo,
mas os funcionários estão a todo vapor e ficam chocados ao me ver andando
com uma mulher em meu colo. Sinto-me irritado sob tantos olhares, como se
fosse um instrumento para pesquisas, mas foco em subir até meu escritório.

Ana estava tão cansada mentalmente que adormeceu. Aproveitei para


adiantar meu trabalho e ligar para Stefano. Segundo ele, só foi levar Alessa
para pegar ar. Contou-me também que nonno saiu da minha casa sem falar
mais uma palavra com ele e nonna ficou, o que mostra que tem algum bom
senso. Deluca irá embarcar com Stefano para a Itália amanhã e nosso jantar
também seria uma forma de despedida. Giuseppe estragou tudo. Me preocupa
que Ana tenha ficado tão abalada, mas também demonstra que está
amadurecendo, reconhecendo suas falhas e tentando melhorar. O único
problema é se cobrar demais a cada erro e piorar a situação.

Ela se mexe no sofá de couro na outra extremidade do escritório. Seu


vestido sobe um pouco, exibindo mais da coxa grossa e branquinha. Ana é
minha bênção e minha maldição. Eu sinto-me fraco por causa dela, em
contrapartida sou o homem mais forte do mundo quando estou com ela.
Repenso minha vida, em como me tornei esse homem frio por nunca
receber afeto, por desconhecer o amor. Crescendo com pais como os meus,
que sempre estiveram focados em seus próprios interesses e nunca no único
filho, seria impossível ser diferente. Cruzar com Ana e matar Reinaldo foi a
tampa do caixão que me transformou, que fez com que o monstro saísse e
tomasse a frente da minha alma.

Ana continua se mexendo até que desperta e franze a testa sem


assimilar onde está. Espero que olhe para mim e ela sorri quando me vê.

— Dormi muito?

— Poucos minutos.

— Estou me sentindo estranha. O sono veio do nada. — Ela bufa,


daquele seu jeito, soprando a franja da testa.

— O esgotamento mental fez isso. — Levanto-me da cadeira atrás da


mesa e caminho até ela.

Ana senta e espera que eu me acomode para montar em meu colo.


Olhando em meus olhos, ela diz:

— Eu amo você, Ezra.

Meu peito parece expandir ao ouvir suas palavras. Medo, paixão,


poder. Tudo me envolve.
— Não posso dizer o que eu sinto por você com tão poucas palavras,
Ana.

— Você me ama também. — Ana pisca algumas lágrimas. Suas


palavras deveriam, mas não me fazem querer fugir. — Eu fui burra achando
que não, mas desde que começou, nós dois nos amamos. É forte demais o que
há entre nós. E o jeito feroz que você me protege, que cuida de mim... Só
alguém que ama muito para fazer. Eu não ligo que você não diga as palavras.
Sei que não entende sobre amor. Na verdade, o amor que conheço é só esse
que temos... Nós não tivemos amor antes e estamos bem em amar do jeito
que sabemos. Louco, intenso... Eu aceitei que vou queimar com você... No
seu inferno... E estou bem com isso.

— Se entrar no meu inferno irá queimar para sempre, pois eu nunca


irei deixá-la. Será para sempre, mio angelo. — Afirmo, segurando seu rosto
em minhas mãos, sentindo que esse momento é como se estivéssemos
selando um acordo com o diabo.

— Eu já disse que você pode me mostrar seu inferno. Você dúvida


que estou louca para queimar com você, Ezra Cattaneo? — Ana sorri,
enfiando os dedos entre meu cabelo, raspando as unhas em meu couro
cabeludo.

— Mio angelo...

— Você é meu anjo. — Ana sussurra e esfrega os lábios nos meus.


Seguro sua nuca e a beijo com volúpia. Toda essa conversa intensa
me deixando louco para levá-la ao limite assim como me deixa. Meu coração
salta disparado e o tesão parece triplicado. Os sentimentos de Ana por mim
me deixam orgulhoso e excitado. Eu quero fodê-la, amá-la, cazzo. Quero Ana
gemendo meu nome, dizendo que me ama a cada vez que sentir meu pau
batendo fundo dentro dela. Mudo nossa posição, virando-a para que eu fique
por cima e suas costas no sofá. O beijo frenético só é interrompido para
respirarmos, ela envolve as pernas em minha cintura, com os saltos fincados
em minha bunda. Começo a tirar seu vestido, mas ela me impede, respirando
fundo. Parece uma miragem, os olhos azuis únicos, cabelos soltos pelo sofá,
o vestido escuro dando mais ênfase à sua pele clara. É linda. Minha.

— Eu não quero que seja aqui no sofá... Quero que faça comigo o
que você faz aqui no clube, Ezra. Que me amordace, me amarre, use chicote.
Não me machuque, mas quero que faça o que você gosta. Sei que vou gostar.

Eu sorrio e enfio meu rosto em seu pescoço, mordendo a pele


sensível e lambendo. Volto a encará-la.

— Eu gosto de foder você. Não preciso usar nada para que seja a
melhor foda da minha vida. — Deixo claro. — Assim como você tenta se
manter no controle socando as pessoas por aí, eu usava a violência no sexo
como uma forma de me sentir no controle. Sou dominante com você, gosto
de me impor e, nesse aspecto, você é naturalmente submissa. Mas gosto dos
seus toques, dos seus olhos nos meus, dos beijos, de deixá-la fazer comigo o
que sentir vontade. Não sinto necessidade de subjugá-la. Eu me sinto o dono
da porra do mundo quando estou dentro de você. Sem precisar de maneiras
enganosas de estar no controle. Vou estapear sua bunda quando senti
vontade, sua boceta, morder você toda, apertar... Porque sou bruto e você
gosta assim. Fica pingando quando eu digo que vou surrá-la. — Sorrio ao ver
seu olhar desejoso. — Mas é o nosso jogo, sem denominações.

Ana assente com a cabeça e se esfrega em mim, toda ansiosa.

— Não temos necessidade disso, mas eu quero ver como você é,


mesmo que seja um lado mais suave comigo. Quero estar em um desses
quartos com você, experimentando isso...

Pondero a situação. Jamais irei tratar Ana como tratava as outras


mulheres, mas posso dar esse material que ela quer. Saio de cima dela,
levantando-me. Observo-a, já com minha expressão fria. Tiro o paletó e o
jogo ao seu lado no sofá. Sem tirar os olhos dos dela, retiro meu cinto,
enrolo-o em minha mão, vendo o peito de Ana subir e descer depressa.

— Levante-se. — Ordeno.

Ana arregala os olhos, mas obedece, trêmula, ansiosa e um pouco


receosa. Agora ela terá o que desejou.
CAPÍTULO 36

Eu marcharei em uma rua vazia como um navio numa tempestade

Sem me render, sem recuar

Eu derrubarei cada parede

Apenas para te manter aquecida

Apenas para te trazer para casa

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Todo meu corpo está em alerta. Me sinto eufórica, ansiosa e


extremamente excitada. Ezra está atrás de mim, segurando seu cinto,
enquanto caminho em sua frente, trêmula, tentando ser submissa e não abrir a
boca para perguntar para onde estamos indo, se as pessoas nos verão. O que
vão pensar se o virem com o cinto atrás de mim? Para ser honesta, isso não
me importa muito, uma vez que minha curiosidade borbulha para saber o que
ele fará comigo. Eu que pedi por isso, sim, mas a expectativa me deixa
nervosa.

— Pare aí. — O comando soa atrás de mim, seco, altivo.

Respiro fundo e paro em frente ao último corredor com a divisória


que afasta a parte do escritório de Ezra da área de BDSM no terceiro andar do
clube. Sinto Ezra se aproximando, tocando meus cabelos, então sua voz soa
em meu ouvido:

— Aqui eu sou o seu senhor. E você é minha para fazer tudo o que eu
quiser. — Ele me envolve com seu braço e segura meu queixo, fazendo-me
encará-lo sobre o ombro. — Entendeu, Ana? É isso o que quer?

Ele não demonstra emoção alguma, seu rosto é uma máscara de frieza
e imponência. A consciência de que não vai me machucar, que isso já é parte
do jogo que eu pedi, faz com que eu acene e diga:

— Sim, senhor.

Os olhos de Ezra brilham notavelmente e ele empurra seu pau duro


contra minha bunda.

— Vamos. — Ordena, passando na minha frente e abrindo as portas


duplas de vidro escuro.

Quando o ambiente do outro lado entra em meu campo de visão,


parece que estamos em outro lugar. O corredor de quartos privados tem a
decoração que faz me sentir em uma masmorra. É lindo e sombrio, com
tochas de fogo erguidas nas paredes perto de cada porta de madeira grossa e
preta. As paredes com tijolinhos escuros de cima a baixo, o chão de
madeira... Tudo faz pensar que estamos em um lugar perigoso. Ezra pega
algo em seu bolso e abre um dos quartos, o que faz com que eu solte um
suspiro aliviado e ansioso ao mesmo tempo.

Entramos no quarto e levo meu tempo observando tudo em volta.


Vejo as cortinas vermelhas, uma porta que parece ser de um banheiro
acoplado. Não há uma cama para começar. O que atrai minha atenção logo de
cara é uma cruz em formato de X, maior do que eu, exposta num canto do
cômodo. Meus olhos varrem o ambiente e vejo as inúmeras prateleiras
exibindo muitos objetos, alguns que nunca vi na minha vida e não faço ideia
de para o que servem. Vejo palmatórias, luvas, plugs de todos os tamanhos,
vibradores, chicotes, algemas, cordas, vendas, coleiras, trajes de couro. O que
mais acho bizarro é um acessório como um cinto de couro com um pênis de
plástico preso a ele. Há uma maca como as que já vi em consultórios
ginecológicos, ela tem duas barras na parte inferior, para que a pessoa erga as
duas pernas e fique exposta quando está sobre ela. No meio, com correntes
presas no teto, há um balanço. Todo meu corpo se arrepia ao me imaginar
nele.

Ezra deixa que eu tenha meu tempo para observar tudo e isso parece
fazer parte do jogo, pois vendo todas essas coisas, sinto-me louca por insistir
em fazermos desse jeito. A excitação, no entanto, não deixa de existir,
mesmo que haja certo temor.

— Vontade de fugir, mio angelo? — Ezra murmura na minha frente.


Encaro-o, tentando mostrar toda a confiança que há em mim, mesmo
estando um pouco incerta. Ele sorri, um sorriso maldoso, deixando claro que
não o engano.

— Não vou fugir. — Digo com convicção.

— Bom.

Ele enrola o cinto em seus dedos, somente o polegar ficando de fora.


Não tira os olhos dos meus enquanto o estica fazendo barulho, que me faz
ficar toda arrepiada.

— Tire a roupa para mim, Ana. — Ezra ordena, mas nem presta
atenção em mim enquanto o obedeço.

Caminha pelo quarto, observando uma das prateleiras e pega algo que
não consigo identificar. Trêmula, me dispo, desço dos saltos e espero por ele.
Ezra retorna com um lubrificante pequeno em uma mão e um plug anal na
outra com uma jóia verde, logo para atrás de mim. Espero, ansiosa, sem
conseguir ouvi-lo até que sua mão afasta minhas nádegas. Ele passa o óleo
em meu ânus e faço de tudo para ficar relaxada, mas é impossível.

— Vou começar com um plug pequeno. A jóia vai ficar perfeita


pendurada no seu cuzinho, Ana. Vou alargar você aos poucos para aguentar
meu pau. — Ezra murmura, passando mais lubrificante, deixando-me pronta,
então ele começa a enfiar o plug. Sinto arder, me contorço, gemo, mas é
incrível a excitação crescente em mim, visto que mal fui tocada. — Está
perfeita. Cazzo... — Balança a jóia que fica pendurada.

Me sinto estranha, tão excitada, suja e, ainda assim, louca de desejo,


dona de mim, por ter coragem de fazer o que sinto vontade, por me entregar
para Ezra, estando disposta a descobrir o que gosto e até onde posso ir.

Ezra sai de trás de mim e para na minha frente. Seu rosto não está
impassível, há calor e paixão. Fico quieta, ansiosa. Então ele se inclina e
chupa meu seio esquerdo, mamando com força, causando dor e me levando à
loucura. Gemo e, involuntariamente, toco suas costas sobre a camisa,
arranhando-o, querendo mais.

— Não pedi o seu toque, Ana.

— Mas você gosta. — Retruco, arfando.

Ezra estreita os olhos para mim e me dou conta que devia ter ficado
quieta. Ele arqueia uma sobrancelha e caminha até uma das prateleiras com
apetrechos. Volta de lá com um tipo de grampo e sinto minha vagina latejar,
tamanha necessidade.

— Vou castigá-la por ter a boca diabólica.

— Ezra...

Ele agarra meus cabelos pela nuca, puxando-me com brusquidão, me


fazendo olhar em seus olhos.
— Seu senhor, Ana.

— Desculpe, senhor.

Sua boca bate contra a minha, duro e faminto, mordendo meus lábios,
saqueando tudo. Ele é delicioso. Fecho as mãos em punho para não tocá-lo,
mas é difícil agir com coerência quando estou latejando por ele. Ezra se
afasta e segura meu peito, então coloca o grampo no meu mamilo. Gemo com
a dor, uma ardência terrível, e ele faz o mesmo com o outro. Ofego, sentindo
minhas coxas ficarem meladas com minha vagina tão molhada, contraio toda,
cheia de tesão.

— Por que essa dor me faz sentir isso? — Pergunto a Ezra.

— A dor faz tudo se intensificar porque seu sangue bombeia mais


nessa região. Nos mamilos o estímulo é direto para sua boceta. Não são todos
que gostam, mas você demonstrou desde a primeira vez que fica mais
excitada com a dor. — Ele segura meu queixo e me beija brevemente. Então
pergunta: — Sua bocetinha está doendo por alívio, não está? E seu cuzinho?
Será que já aguenta mais? — Seus olhos verdes estão escuros, as pupilas
dilatadas. — Tire minha roupa, Ana.

Assinto com a cabeça, sem forças para concluir uma frase. Com as
mãos trêmulas começo a descasar os botões de sua camisa e o tiro por seus
braços. Ezra não tira os olhos de mim. Desabotoo a calça, mas ela fica presa
em seus sapatos. Me ajoelho e os tiro de seus pés, depois as meias e a calça.
Suas coxas grossas com pelos ralos atraem minha atenção, a pele morena.
Raspo minhas unhas, vendo-o se arrepiar. Não resisto e beijo sua pele. Para
minha surpresa, Ezra permite, o que me dá mais confiança e fome para beijá-
lo todo. Beijo-o com amor, demonstrando como sei. Nós somos errados de
tantas formas, mas somos certos de mais formas ainda. Tiro sua boxer e o
deixo nu para mim, seu pênis grosso e longo em riste, tão lindo quanto ele.
Fico ajoelhada na sua frente, esperando uma ordem, mas Ezra parece perdido,
me encarando. Seguro a base do seu membro e o levo à boca, uma miríade de
sentimentos passando entre nós. Eu me sinto tão dele e fico emocionada,
porque juro que ele parece se sentir meu. O tomo com desejo e prazer,
sentindo-me escorrer entre as pernas. Lambo, beijo, chupo suas bolas, louca
para ver sua expressão perdida sumir e consigo. Ezra demonstra sentir tesão,
gemendo, entreabindo os lábios, tão másculo, e lindo. Suas correntes no
pescoço e o Rolex no braço o fazem parecer ainda mais delicioso.

— Ana... Mia cara... — Ele me puxa para os seus braços e me beija


cheio de fome. Seu peitoral esfrega os grampos em meus seios, o que faz a
sensação voltar com força e queimar minha pele, fazendo minha vagina
latejar ainda mais. Ezra me conduz até o centro do cômodo e me deixa
parada. Então me vira de costas e tira o plug lentamente. Ele se afasta e volta
com outro maior. — Esse é médio. Estou louco para comer você toda. —
Murmura e fica de joelhos atrás de mim. Abre minhas nádegas e enfia o
objeto. Relaxo o corpo, sentindo minha pele arrepiar da cabeça aos pés, toda
ansiosa, em chamas, explodindo. Ele enfia a cabeça entre minhas pernas e me
come com sua boca. Explodo em questão de segundos por ter ficado tanto
tempo ansiando por alívio e pelo estímulo nos seios e no ânus. — Que
gostosa... Goza mais para mim. Sinta isso...

— Ezra... — Gemo, sentindo quando me penetra com um dedo e o


curva dentro de mim. Me sacudo toda, em uma sensação devastadora de
deliciosa. — É demais...

Gozo mais, sentindo que os orgasmos não acabam. Quando pausa,


vem outra vez, menos forte, mas sem me dar descanso. Grito e choramingo,
fraca. Ezra me pega no colo e me beija, dizendo coisas que não assimilo. Me
sinto mole, plena em um mundo só meu. Sinto meu corpo ser ajustado no
balanço. Ele ajeita minha bunda para ficar fora do assento, de forma que não
pressiono o plug. Fico com o corpo um pouco inclinado para trás e a boceta
para frente, exposta para ele. Ele passa um cinto de couro por minha cintura.

— Segure-se firme. — Ezra avisa e mexe em algo na corrente, e isso


faz o assento subir, deixando-me na altura que ele quer. — Agora está
alinhada para eu te comer toda.

Ezra abre minhas pernas e me penetra de uma só vez, o balanço vai


para trás com sua arremetida. Ele segura nas correntes e conduz como quer.
Puxando para meter e deixando-me ir para trás quando estoca forte. É tão
surreal e louco, tudo tão nosso, tão nós, que o prazer é descomunal. Eu gemo
e deixo-me ir, confiando, beijando-o quando nos aproximamos, indo ao céu
com cada estocada bruta, gritando com a ardência causada pelos grampos
quando seu corpo bate no meu, me sentindo mais excitada do que nunca por
sentir o plug me enchendo lá atrás e Ezra na frente.

— Cazzo... — Ezra rosna feito um animal, seu peito suado, as narinas


dilatadas. Tão avassalador.

Perco as estribeiras quando solta as correntes e bate na minha bunda.


Grito e começo a gozar feito louca. Ezra agarra as laterais do assento e
começa a fazer o vai e vem louco como quer, animalesco, esfomeado. Ele tira
o cinto e me puxa para o seu colo e continua metendo até diminuir o ritmo e
parar, sem ter gozado, mas eu me entrego a um orgasmo avassalador. Beija a
minha boca com volúpia e enfia uma das mãos entre minhas nádegas, tirando
o plug.

— Não precisa de outro plug... — Sussurro, rouca. — Quero você em


todo o meu corpo...

— Eu não joguei com você. — Ezra murmura, tirando os grampos


dos meus seios e os jogando pelo chão. — Fico louco para te tocar, para te
comer e não consigo jogar.

— Minhas pernas bambas e minha vagina ardida pensam o contrário.


— Brinco.

Seus olhos brilham e, novamente, ele me leva até o balanço, só que


dessa vez coloca minha barriga sobre o assento. Fico de cabeça para baixo, os
cabelos caindo pelo rosto, a bunda para cima, e as pernas abertas, tentando
me manter firme, mas ele passa o cinto por minha cintura e relaxo. Ezra se
afasta, pega o lubrificante, camisinha e volta. Abre minhas nádegas e esfrega
meu ânus, espalhando o óleo, deixando-me preparada, coloca o preservativo e
passa lubrificante em seu pênis. Descarta no chão aos seus pés e começa a me
penetrar. Nem de perto os plugs arderam tanto quanto a ardência que sua
grossura e comprimento causam, mas ele para e me deixa acostumar,
passando as mãos em minhas costas, apertando minha bunda.

— Che culo caldo... — Ezra geme, começando o vai e vem lento.


— O que? — Arfo, entregando-me ao prazer quando a dor começa a
parecer longe.

— Que bunda gostosa. Você é toda gostosa, Ana. Eu queria ter um


pau para cada buraco seu, para te comer toda ao mesmo tempo... É safada, ia
adorar. Agora mexe nesse grelinho para mim, esfrega ele até eu mandar você
gozar.

— Oh... Ezra...

Ele dá um tapa na minha bunda e começa um ritmo frenético. Nós


dois gememos, me pego tentando bater contra ele. O balanço vai e vem à
cada arremetida. Ezra me estapeia, se inclina e morde minha nuca, costas,
ombros. Depois lambe as áreas sensíveis e beija. Minha vagina escorre,
palpita. Fico louca, me mexendo com o balanço, perdendo as forças de mim
mesma. Começo a me entregar ao clímax, mas Ezra agarra meus cabelos e
murmura:

— Não goza agora. Só quando eu mandar.

— Não consigo... — Gemo.

Ezra para de se mover, puxa meus braços para trás e prende meus
pulsos com uma só de suas mãos.

— Consegue agora, Ana? Me obedeça. — Então bate na minha


bunda e mete fundo, fazendo todo meu corpo ir para frente com o balanço e
voltar com tudo em seu pau. Ele me penetra de novo, mantendo-me cativa. —
Se você sempre gozar, irá ficar fraca e não aguentar. Eu quero que você
aproveite o máximo, que sinta tudo comigo.

— Por favor... — Imploro, nem sei pelo quê.

— Toma, Ana. — Ezra me dá, metendo fundo e longo, então leva seu
braço pela minha frente e começa a estimular meu clitóris. Sua boca em
minha orelha sussurra: — Está sentindo meu pau crescer dentro de você?
Vou gozar na sua bunda. Agora você pode gozar comigo.

Grito com suas estocadas e gozo sem controle. Não sei o que
acontece depois, porque simplesmente perco minhas forças, voando em outro
mundo, sentindo-me plena e acabada ao mesmo tempo.
CAPÍTULO 37

Minha cabeça está submersa

Mas estou respirando sem problema

Você é louca e eu estou fora de mim

Porque eu por inteiro

Amo você por inteiro

Amo suas curvas e suas extremidades, todas as suas imperfeições


perfeitas

John Legend - All Off Me

Volto a mim quando Ezra me coloca sob a ducha do chuveiro.


Tomamos banho juntos, mas eu sinto mais como se ele cuidasse de mim,
novamente lavando meus cabelos, me tocando o tempo inteiro, naquele seu
silêncio característico, mas com o olhar contemplativo, cheio de emoções que
não costumava deixar transparecer antes. Ezra parece o mesmo de sempre,
em contrapartida parece tão distinto, pelo menos em relação a nós dois.
Saímos do chuveiro, ele me seca e me enrola em um roupão de banho. Se
seca e se veste com a cueca e calça que vestia antes. Não faz questão de pegar
suas outras peças de roupa, mas pega as minhas. Abre a porta do quarto e
olha antes de me chamar. Fico presa em seu peitoral exposto, a tatuagem de
números romanos sobre o peito, as tatuagens no braço. Por mais que tenha
acabado de me
fartar dele, sua beleza é sempre demais e me deixa de boca aberta.

— Venha. Você pode se vestir no meu escritório enquanto faço uma


rápida ligação para pedir nosso jantar.

— Está bem.

De mãos dadas, passamos pelo corredor deserto até atravessar para


sua área de trabalho. Entramos em seu escritório e Ezra beija minha testa
antes de sumir por uma porta que presumo que seja um tipo de closet. Me
visto e sigo até o banheiro. Penteio meus cabelos e tento parecer o melhor
possível sem a maquiagem de antes. Depois disso volto para o escritório e me
sento na cadeira atrás de sua mesa. Ezra retorna, falando ao celular, pedindo o
jantar e depois desliga. Se aproxima de mim e me faz ficar de pé para que ele
se sente, então me acomoda em seu colo, com uma mão em minha cintura e a
outra em minha perna. Envolvo seu pescoço com meus braços e descanso
minha cabeça em seu ombro, inalando o cheiro suave do sabonete líquido que
usamos no banho.
— Eu devia ter te dado o que comer antes da nossa maratona.

— Você devia ter me dado essa maratona antes de enfrentarmos seu


nonno. — Sorrio. — Mas a verdade é que me fez esquecer toda aquela
merda, então foi bom que tenha sido depois.

— Não parece, mas perdemos quase duas horas naquele quarto. O


clube já está a todo vapor. Alessandro está bastante ocupado e terei que
descer para buscar nossa comida, não confio em outras pessoas subindo aqui.
Quer ir comigo ou prefere esperar?

— Estou morta e horrorosa. Mas minha curiosidade de ver tudo aqui


sempre vence.

Ezra segura meu queixo, fazendo nossos olhos se encontrarem.

— Você é sempre linda, Ana. Eu nunca vi mulher mais bonita.

— Não sou uma deusa. Tanto é que você encontrou uma idêntica a
mim. — Arqueio a sobrancelha.

— Nunca foi idêntica a você. Jamais seria.

— Você tocou nela? — Pergunto, nervosa de pensar que pode ter


ficado com outras mulheres nas nossas idas e vindas antes de nos acertarmos.

— Não toquei mulher alguma depois que toquei você. — Ezra não
desvia os olhos dos meus, convicto.
— Ela foi antes...

— Antes do sexo, não antes de eu tocá-la.

Assinto com a cabeça, entendendo que depois que nos beijamos, ele
foi só meu. Beijo seu queixo coberto pela barba, subindo beijinhos pela
mandíbula, até beijar seus lábios. Vejo seu sorriso contido e sorrio antes de
aprofundar o beijo. Mesmo totalmente satisfeita e cansada, meu corpo reage a
ele. É impossível não reagir. Suas mãos passeiam por minhas pernas e costas,
mas não passamos disso. Encerramos as carícias com um selinho e nos
encaminhamos para o primeiro andar.

As pessoas não tiram os olhos de nós, acredito que por não estarem
acostumados a ver Ezra de mãos dadas com uma mulher. Ficou claro na outra
vez que estivemos aqui a surpresa de todos, assim como agora. Ele é saudado
por todos, muitos tentam pará-lo para conversar, mas Ezra é resoluto em dizer
que está com pressa. Seu funcionário, o mesmo que levou minha clone para
ele algumas semanas atrás, surge falando sobre a noite e como as coisas estão
indo. Ezra trata Alessandro com seu mau humor característico e tenho que me
segurar para não revirar os olhos para o homem que não retruca à altura.
Entretanto, eles que se entendam. Não sei se é por estar perto de muitas
pessoas, com música tocando alto, mas começo a sentir minha cabeça
girando.

Ezra me olha, parecendo perceber.

— Sua mão está suando frio. Está havendo algo? — Seu olhar varre
meu rosto. — Está sem cor, Ana.

Ele nem me dá tempo para retrucar, deixa Alessandro falando


sozinho e me pega no colo. Sinto-me nauseada, com vontade de vomitar.
Fecho os olhos e respiro fundo. Ezra me leva por entre as pessoas e chegamos
em uma área onde o som não é tão alto quanto no salão comum. Sou
colocada no chão e vejo que estamos no banheiro.

— Ana, como você está se sentindo? Cazzo! Isso é por tê-la deixado
com fome e ter sobrecarregado você...

— Ezra, acalme-se... Eu só...

Não consigo concluir minha frase, pois uma ânsia forte de vômito
sobe por minha garganta e só consigo ter tempo de correr até pia e vomitar.
Ezra, mesmo nervoso, murmurando em italiano, segura meus cabelos e apoia
meu ombro. É horrível a sensação de fraqueza que sinto, visto que não há
muito em meu estômago para colocar para fora.

— Está melhor? — Ezra pergunta, preocupado.

Assinto com a cabeça e abro a torneira para molhar meu rosto e lavar
minha boca. Ele me puxa para os seus braços após eu me secar, sinto-me
trêmula, respirando fundo para acalmar a reviravolta em meu estômago.

— Preciso comer algo porque vomitar de barriga vazia é horrível. —


Suspiro.
Ezra concorda com a cabeça, seu olhar como uma águia em mim,
então me guia até um puff preto e ajoelha-se na minha frente após me sentar.

— Vou buscar nossa comida. Você espere aqui. Não vou demorar. —
Ele beija minha testa e sai, apressado.

Levanto a cabeça e encosto contra a parede, mas o som de saltos


batendo no chão faz com que eu olhe na direção da porta, que não faz barulho
algum ao ser fechada ou aberta. Vejo uma mulher alta, de cabelos cacheados
cor de mel, pele morena, do tom de Ezra, olhos castanhos fixos em mim,
vestida com peças de couro e botas até a metade das coxas.

— Você é a nova sub do Ezra Cattaneo? — Ela pergunta, olhando-


me de cima a baixo.

Sinto uma coisa ruim em sua expressão, algo que ela está deixando
evidente quando me encara com desdém. Ergo o queixo e respondo com
altivez:

— Se está na fila para ser a próxima, hum... Do que você chamou


mesmo? Ah... Sub... Pode esquecer. Sou a namorada e não divido.

Sinto novamente uma onda de enjôo querendo vencer, mas


mantenho-me com a mesma expressão, apenas sem forças para conseguir
ficar de pé e arrancar essa expressão escrota que está me incomodando dela.
O que é bom, uma vez que minha terapeuta insiste que não posso resolver
tudo batendo nas pessoas.
— Você sabe quantas vezes eu estive sonhando que ele me
escolhesse para ser sua submissa? Muitas, garota. E quando ele escolheu,
nunca mais voltou. Até semana passada. Nós fomos melhores do que na
primeira vez e ele vai voltar de novo. Espero que o namoro de vocês seja
recente, pois semana passada, ele fez de tudo comigo...

Sinto meu sangue gelar. É inevitável conter o nervosismo, meu


coração corre a mil por hora. Esqueço a minha terapeuta e levanto-me para
esfregar a cara dessazinha no vaso sanitário, mas Ezra entra e eu vomito nas
botas da ridícula.

— Ana… Mio angelo...

As sacolas de Ezra são colocadas no balcão da pia e ele vem me


ajudar, segurando-me como fez anteriormente, enquanto espasmos violentos
continuam me assolando. Quando meu organismo acalma, fico chocada que a
tal submissa continua parada no mesmo lugar, sem se mover, ou dar um pio.
Olho para ela e vejo que está de cabeça baixa, olhando para Ezra com
evidente submissão. Isso é sério?

— Eu vou... — Minha garganta arranha, a voz rouca por causa do


esforço que fiz. — Qual é o nome dela, Ezra? — Pergunto, sem encará-lo.

Ela retorce as mãos uma na outra. A bota dela está toda vomitada e
ela não fala nada para se mostrar uma cadelinha obediente para Ezra.

— O que? — Ezra ladra, me puxando para o puff novamente. — Vou


pegar a comida.
— Ela disse que vocês transaram semana passada. Eu ia bater nela
quando vomitei. Sorte a dela, não é?

A expressão de Ezra gela, mas não é de surpresa, é a frieza calculista


de sempre, e voltada para a bonita.

— Eu conheço meus funcionários. Você é Iliana. Eu joguei com você


em algum momento, mas se estou bem da cabeça não foi semana passada. O
que pretende perturbando minha mulher? — Sua voz controlada me assusta.

Não quero que mais uma pessoa morra por minha causa. Não
acreditei na palavra dela. Tive muitas dúvidas quanto ao futuro e continuarei
tendo, pois não sabemos como o amanhã será, porém, hoje sei que Ezra me
ama. E, louco do nosso jeito, não há necessidade dele expressar em palavras
o que deixa tão evidente com gestos. Ela tentou me envenenar. Ontem eu
teria acreditado nela, mas depois de vê-lo quase matar o próprio avô, de nossa
conversa no sofá em seu escritório e de vê-lo perder sua pose de bandido mau
quando me ajoelhei e o beijei, tive a convicção de que é recíproco. Ele não
conhece o sentimento para colocá-lo em palavras, mas ele me ama com
loucura.

— Ela só queria sua atenção, Ezra. Que mulher não iria querer?

Ezra olha feio para mim, me advertindo por me meter.

— Estou passando mal. Esqueça essa mulher, a demita e foda-se ela.


Agora eu preciso de comida. — Insisto.
Isso vira a chavinha. Iliana parece pequena diante dele, ansiosa e
amedrontada.

— Fora do meu clube. — Rosna.

Iliana ainda tem a última atitude de murmurar:

— Sim, senhor. — E se vai.

— Isso foi real? — Suspiro.

— Eu não estive com ela, Ana. Com nenhuma outra e...

— Eu sei. — Encaro seus olhos preocupados e sorrio. — Confio em


você. Me dê comida agora?

Ezra me tira do banheiro e me leva para uma sala privada com mesa e
cadeiras. Nós jantamos em silêncio, olhando com cumplicidade um para o
outro. Ele se mantém preocupado e, no fim, após o jantar me obriga a ver um
médico, o qual ele havia feito Alessandro contatar quando foi buscar nossa
comida. O homem me examina superficialmente, fazendo perguntas bobas,
até que meu alarme soa quando ele pergunta:

— Sua menstruação está atrasada?

Minha reação é responder que não imediatamente, mas faço as contas


rapidamente e recobro a consciência de que com os últimos acontecimentos,
mudança da casa de Ezra, nosso afastamento, o retorno, entre minhas
obrigações, acabei esquecendo de prestar atenção nisso.

— Está, mas é devido a todo estresse que tive no último mês. —


Justifico, sentindo o olhar de Ezra em mim.

— Não há como fazer um exame de sangue agora, mas você não


aparenta estar com problema algum de saúde. Podem ir até a clínica onde
trabalho amanhã de manhã e fazemos um check-up completo?

— Estaremos lá cedo. — Ezra confirma.

Minha cabeça gira, cheia de dúvidas, e sinto Ezra recluso depois que
nos despedimos do doutor e voltamos para a mansão em seu carro. Me sinto
estranha, preocupada e, pela primeira vez, pensando que posso estar grávida.
Por incrível que pareça a ideia não me aterroriza. Mas quando olho para Ezra
tão sério dirigindo, percebo que tudo pode mudar entre nós amanhã de manhã
com o resultado dos exames.
CAPÍTULO 38

Algumas pessoas querem tudo

Mas eu não quero nada

Se não for você, baby

Se eu não tiver você, baby

Alicia Keys - If I Ain't Got You

Desde que a possibilidade de Ana estar grávida pairou sobre nós,


ficamos silenciosos e reclusos em nossos próprios pensamentos. Muitas
coisas encheram minha cabeça. Não tenho parâmetro algum para ser um bom
pai, tampouco Ana para ser mãe, além de sua juventude e impulsividade.
Como pode dar certo uma criança no meio da confusão que nós dois somos?
O sexo que fizemos ontem a noite foi outro tópico. Fui bruto, coloquei-a
naquele balanço, não fazia ideia que havia um bebê ali para ser protegido. Se
eu não fosse tão preocupado com Ana, seu mau estar não passaria disso em
nossas conjecturas, jamais suspeitaria de uma gravidez, visto que só gozei
dentro dela uma vez, há semanas atrás quando estávamos na Itália. Chamei
um médico porque não podia suportar vê-la daquele jeito, me culpei por
sobrecarregá-la e não alimentá-la e quis ter certeza. Agora, em meu íntimo,
sinto que há um bebê. Pode ser o medo falando mais alto, mas nunca estive
errado com meus instintos. Não quero criar um filho deixando-o com babás,
como eu fui criado. Eu não sou um homem que nasceu para ser pai. Essa
ideia de filhos, família, nunca passou por minha cabeça.

Observo Ana, adormecida na minha cama. Novamente consegui


convencê-la a ficar comigo, dessa vez alegando minha preocupação com seu
estado de saúde. Ela não parecia abatida, mas optou por ficar. Não a soltei em
momento algum enquanto dormia, em contrapartida tive o sono agitado,
preocupado com o que está por vir. Já devíamos estar fazendo os exames,
mas deixei que ela descansasse mais tempo possível, pois foi dormir tarde e
com coisas demais na cabeça.

Sinto seu corpo se movendo, as unhas fincando em minha cintura.


Ela esfrega o nariz em meu pescoço e suspira.

— Por que está tão pensativo?

— Você estava acordada?

— Despertei agora. Mas você está assim desde que vimos o médico.

— Há a possibilidade de você estar grávida, Ana. E eu já comecei


falhando, fiz tudo com você naquele quarto, não percebi que havia algo
errado e...

— Uma gravidez não é algo errado, Ezra. — Me surpreende seu tom


irritado.

Ela se afasta de mim e senta-se na beirada da cama. Observo as


costas nuas, os cabelos caindo pelos ombros, as sardas pintando a pele
branquinha, a cintura fina, a curva para os quadris.

— Não quis dizer que é algo errado. — Sento-me também, ao seu


lado. — Eu não sou um bom homem, não vou saber ser um bom pai. Olhe o
pai que tenho.

— Se você já está se preocupando com um bebê que nem tem a


existência dada como real, você já é melhor que seu pai. Você relutou para
me aceitar na sua vida como mulher, porque você é um homem ruim, que
mata, que se vinga. O que você não nota é que isso faz do seu amor, um amor
feroz, o mais verdadeiro. Você não ama e protege qualquer pessoa, Ezra, mas
quando o faz, é com ferocidade. É o amor mais forte de todos. E você já sente
a necessidade de proteger esse bebê, que nem é real ainda. — Seus olhos se
enchem de lágrimas quando ela me encara. — Sei que você será um bom pai.
E se não tiver um bebê aqui, eu quero um, porque por mais fodida que minha
cabeça seja, sinto que quero uma família que nunca tive, quero cuidar como
nunca fui cuidada, proteger como você me protege e amar ferozmente.

— Mio angelo. — Sinto meu peito doer e a puxo para os meus


braços. — Eu sou sua família. E eu posso ter medo de dar errado, de ser
horrível, mas se existir um bebê seu, eu vou amá-lo como eu te amo.

— Oh, meu Deus, Ezra! — Ana enrola os braços com tanta força em
volta do meu pescoço que me desequilibro um pouco, mas é muito devido a
emoção que sinto, ao embargo na garganta, a esse sentimento desconhecido e
louco. Feroz, como Ana ressaltou. Eu a amo antes de aceitar, antes de
entender algo que nunca senti antes. — Eu te amo muito, meu amor.

Afasto as lágrimas de suas bochechas e beijo sua testa, prendendo-a


em meus braços. Aceitando minhas palavras, meus medos, meu amor.
Aceitando que Ana é minha fraqueza, mas que acima de tudo, eu me sinto
forte com ela. Aceito tudo isso e prometo a mim mesmo que vou lidar com o
que tiver que lidar para ter Ana comigo para sempre.

Nós estamos há meia hora no consultório do doutor Evandro


Lameira, o mesmo que foi até o clube atender Ana ontem. Ele é parente de
Alessandro e clínico geral renomado aqui no Rio de Janeiro.

Ana e eu estamos de mãos dadas, sentados nas cadeiras em frente a


mesa dele, enquanto ele lê o resultado do exame dela.

— E então? — Ana pergunta, parecendo ansiosa.

— No exame não mostra nenhuma alteração. — Doutor Lameira diz,


franzindo a testa.
Estou atento a expressão de Ana, então vejo quando ela murcha,
evidenciando o quanto queria um bebê. Me pergunto como ela pode querer
uma criança em sua vida, mas respeito que ela queira uma família, queira
cuidar e amar. Mais do que isso, eu quero vê-la feliz, e sinto a necessidade
absurda de dar um bebê para ela agora. Dio! Ana me enlouquece e me tira
dos trilhos. Faz de mim uma marionete sem se dar conta, sem tentar.

— Exames podem errar. — Ana afirma duvidosa, apertando minha


mão. — Há aparelhos de ultrassonografia aqui?

— Ana. — Chamo, porque não quero vê-la mais triste ainda se


insistir nisso e não for nada.

Ela me olha, chateada, e se levanta.

— Tudo bem. Não há nada de errado comigo. Então vamos embora.

Levanto-me, vendo-a já caminhar em direção a porta do consultório,


mas seu corpo se desequilibra e Ana quase cai no chão, se não é por meu
reflexo. Sem me importar em levantar da cadeira, me jogo no chão e seu
corpo cai sobre o meu. A seguro, vendo-a desacordada. O médico corre e
puxa uma maca, enquanto levanto-me com ela em meus braços. Minhas mãos
tremem, me sinto desesperado. Se não há um bebê, que porra é essa que está
havendo com Ana?

— Vou chamar um enfermeiro para aferir a pressão dela enquanto


eu...
— Nada de enfermeiro, cazzo! Você já está aqui. Você faça o mais
rápido possível! — Brado para o homem e coloco Ana, com cuidado, na
maca. Eu o puxo pelo colarinho do jaleco e rosno: — Resolva isso, descubra
o que ela tem. Cobre quanto for, faça o que for para que ela fique bem.

Lameira demonstra pavor, mas se ele sabe o mínimo, através de


Alessandro, ele deve saber que é melhor não me contrariar. Assentindo com a
cabeça, se afasta quando o solto e trata de aferir a pressão de Ana.

— Está baixa. Presumo que seja melhor fazermos a


ultrassonografia...

— O exame na sua clínica não é cem por cento confiável? —


Pergunto, entre dentes.

Enquanto ele se enrola para dar uma explicação, Ana murmura algo e
eu me aproximo dela.

— Ezra... Acho que vou vomitar.

— Fica com a cabeça para cima e respire fundo. Nós já vamos


descobrir o que está havendo.

— Pode ser cedo demais para descobrir o bebê... Os sintomas


começaram ontem. — Lameira diz.

— Eu não quero saber de suposições, doutor. — Olho bem nos olhos


dele.
Vejo-o engolir em seco e assentir com a cabeça. Ele sai do
consultório e volta com dois enfermeiros carregando uma máquina com uma
tela. Outra enfermeira chega mais tarde com uma maçã e entrega para Ana.

— Ajuda com o enjôo. — Ela justifica e sorri.

Pego de Ana e vou até a pia do banheiro do médico, sem permissão, e


lavo a fruta bem lavada.

— Traga água gelada para ela. — Digo a enfermeira, que assente.

Tudo se ajeita rapidamente e uma médica entra no consultório depois


que os enfermeiros ajustam a máquina.

— Bom dia. Me chamo Denise Terra e sou a técnica que vai fazer sua
ultrassom. — Se apresenta para Ana.

Ana está tão ansiosa que nem termina de comer a maçã e me entrega.
Exijo que ela beba a água e isso, pelo menos, ela o faz. Me entrega a garrafa e
jogo no lixo junto com os restos da fruta. Ana segura firme minha mão
quando me aproximo e tento conter meu desejo de matar Evandro Lameira
por toda essa merda. Ana só irá ficar ainda mais decepcionada depois de ter
esperança. Meu desejo é tacar fogo em sua maldita clínica. A técnica expõe a
barriga de Ana e abre o botão e zíper da calça jeans. Nós olhamos um para o
outro e ela sorri. Passo a mão livre por seus cabelos, querendo protegê-la de
tudo e dar a ela tudo o que ela quer. Todos os meus medos estão em segundo
plano, porque o desejo de vê-la radiante ofusca o resto.
Me perco olhando seu rosto e fico confuso quando um som alto toma
conta do ambiente. Olho a tela, não conseguindo discernir nada. Até que vejo
Ana chorando e a técnica diz:

— A partir de quatro semanas, já conseguimos ouvir o coração com a


ultrassom. Aqui está parecendo que o feto já tem seis semanas. Ele ainda é do
tamanho de um caroço de feijão, seus batimentos são fortes e ele está bem.

Fico petrificado. Há um bebê. Nunca me senti tão congelado na vida.


Perco tudo em volta, meu foco na tela que não sou capaz de entender nada
que está se passando, mas com a consciência de que é meu filho lá. A técnica
fala, o médico escroto também, Ana aperta minha mão, ri, chora. Mas tudo
parece longe. É real. Eu não sei o que sinto diante de tudo isso, mas
mantenho-me firme sobre não dar corda aos meus fantasmas. Por muito
tempo, eu os deixei de lado e me fingi de dono do mundo para banir da
consciência que não passava de um menino que queria atenção dos pais.
Depois que me livrei deles, entendi que os mantinha perto por um desejo de
criança que nunca foi saciado dentro de mim.

E agora me vejo perdido sobre como serei para o meu filho.

— Você esteve calado desde o consultório. — Ana me encara com


cautela quando estaciono na garagem da mansão.

— Estive aéreo. O que foi dito lá? — Toco seu rosto para que ela não
pense que mudei de ideia em relação a conversa que tivemos mais cedo.

— Me deram essas duas fotos do nosso filho. — Ela sorri e exibe


com orgulho “as fotos” em suas mãos.

Pego uma delas e me esforço o máximo que posso para reconhecer


algo no meio de tanto preto e branco.

— É incrível. — Digo, não pela imagem, mas ainda estar incrédulo


sobre tudo.

— Você pode ficar com essa. — Ana diz. — O doutor Emerson


indicou um obstetra da clínica para começarmos o pré natal...

— Você não pisa mais naquela merda. — Digo. — Não foram


capazes de obter um resultado de exame plausível. Você desmaiou daquele
jeito e eu pensei o pior.

— Talvez tenha sido porque você exigiu que queria um resultado


rápido, Ezra. Tem coisas que não dá para controlar. Qualquer exame tem uma
porcentagem de margem de erros.

— Você vai para a melhor clínica, Ana. E eu vou me certificar que


seja a melhor. Antes eu vou ter uma conversa com Alessandro sobre o
parente dele.

— Vamos dar um tempo de violência, Ezra. — Ana sussurra,


parecendo fragilizada. — Eu não quero que meu filho me veja descontrolada.
Quero ser um bom exemplo.

Fica evidente que me enganei julgando a idade de Ana e sua


impulsividade quando pensei nos contras para sermos pais. Ela já é uma boa
mãe, isso fica claro para mim agora.
CAPÍTULO 39

O amor é minha religião, mas ele era minha fé

Algo tão sagrado e difícil de substituir

Me apaixonar por ele foi como cair da graça

Tudo em um, ele era um dos meus pecados

Julia Michaels - Heaven

Depois que descobrimos a gravidez, Ezra se tornou muito mais


cuidadoso comigo, tanto que me incomodou. Deixei que escolhesse a clínica
que irei fazer o pré-natal. Deixei-o intimidar o obstetra em nossa primeira
consulta, enchendo o homem de perguntas com aquela sua expressão do
Spike, aquele cão zangado do desenho Tom e Jerry. Mesmo ficando irritada
em diversas ocasiões nas últimas três semanas, engoli por saber que ele
estava confuso, amedrontado e, ainda assim, passava sua força para mim, não
deixando-me pensar o contrário em momento algum. Para mim foi uma
surpresa que Ezra reagisse bem à gravidez. Confesso que esperava que ele
regredisse totalmente e agisse como fazia no início do nosso relacionamento,
fugindo. Entretanto, ele não o fez, o que não é mais que sua obrigação, é
claro, mas deixou-me com o coração quentinho por saber o quão ferrada sua
cabeça é.

Nós temos sido mais próximos do que nunca, principalmente depois


que Luigi voltou para a Itália. Ezra me leva para o trabalho e escola, o que
tem gerado nosso impasse, visto que ele acredita que a gestação me deixou
aleijada e que preciso, segundo ele, parar de me desgastar. Sobre isso não
estou engolindo, então tivemos uma quantidade exagerada de brigas na
última semana.

A porta do banheiro se abre e Ezra vem caminhando com uma toalha


pequena na mão, esfregando os cabelos escuros. Seu corpo está coberta
apenas por outra toalha enrolada em volta de sua cintura. Há gotinhas de água
em seu peitoral e abdômen que fazem ainda mais ênfase para sua beleza
diabólica. O homem é uma visão deliciosa, principalmente com essas feições
duras, esse olhar malvado de sempre.

— Buongiorno. — Ezra saúda ao me ver acordada, se aproxima e


beija minha boca. — Sem enjôos essa manhã?

— O remédio está ajudando, mas me senti enjoada quando tentei


levantar. Por isso recuei e fiquei deitada mais um pouco. — Passo minhas
unhas por seus braços, observando sua pele arrepiar e seus olhos estreitarem.
— Queria me juntar com você no banho.
Ezra deixa a toalha, que usava para secar o cabelo sobre o criado
mudo, sorri e senta-se na cama. Me puxa para o seu colo, com o cuidado de
me manter deitada e me ajusta sobre suas pernas. Eu amo seu sorriso e
sempre me choca vê-lo sorrindo abertamente. Mal posso acreditar que ele me
ama, que é todo meu, embora isso seja uma realidade para mim. Há
momentos em que me choco com tudo o que está acontecendo. Sou mãe do
filho de Ezra Cattaneo. Isso é surreal. Toco seus pingentes de cruz, as
correntes em seu pescoço. Ele me encara com carinho.

— Tire uma corrente dessa, per favore.

— Eu amo como essas correntinhas ficam em você. Todo fodão, de


terno, camisa social com botões abertos, sem gravatas, mas com as
correntinhas. — Sorrio.

— Fodão, é? — Sinto suas mãos subindo por minhas costas numa


leve carícia até meus ombros, onde ele começa a massagear. — Tire uma só.

Assinto com a cabeça e retiro para ele. Deixo sobre a palma da minha
mão, que estendo em sua direção. Ezra me ergue no seu colo, deixando me
sentada sem precisar do apoio do seu braço. Pega a correntinha, afasta meus
cabelos e coloca em volta do meu pescoço.

— Nonna me deu essas correntinhas quando você fugiu. Ela disse


que uma era para minha proteção, mas que a segunda era para a sua e que,
mesmo de longe, surtiria efeito para você. Quis me apegar a isso e acreditei.
Foi uma das poucas coisas em que tive fé nos últimos anos. — Ezra
confidencia, passando a ponta do dedo pela cruz, agora pendurada um pouco
abaixo do meu pescoço.

Me emociono, porque ultimamente tudo me faz querer chorar, ainda


mais se for um vislumbre de doçura nesse homem rude.

— Obrigada.

— Não a tire nem para tomar banho. É ouro, não vai estragar. É para
sua proteção sempre. — Ele reitera seriamente e beija minha testa.

— Está bem.

Nos beijamos apaixonadamente, é como se eu flutuasse nessa miríade


de sentimentos e sensações boas que sinto.

Desde que Luigi voltou para seu país natal, eu gostaria de não ter
mais um novo segurança. Ezra confessou que seu plano era que eu não
tivesse, embora depois de descobrir sobre o bebê, ele voltou atrás. Há um
brutamontes mal encarado na entrada do meu salão e ele, provavelmente, está
espantando clientes com sua expressão assassina. Ao contrário de Luigi,
Rezende não dá um sorrisinho nem de deboche, nem de dar medo. Só a cara
feia mesmo.

Ezra não quer que eu trabalhe, sua condição para não encher minha
cabeça foi que eu aceitasse o segurança atrás de mim para que em uma
possível eventualidade, ele me socorresse às pressas para uma clínica.
Aceitei, não vou morrer por isso, obviamente.

Enquanto administro umas coisas pelo computador, as minhas


funcionárias atendem suas clientes. As coisas tem ido muito bem, tenho
aprendido a gerenciar dia após dia e desisti de vez de atuar como manicure,
pois percebi que gerenciar dá trabalho, muito mais para mim que não tenho
experiência, nem estudo. Porém, vou caminhando para chegar lá e tenho
memória boa para não esquecer nada que Ezra me ensina.

Ouço um borburinho de vozes das mulheres e olho para a porta para


ver Hugo entrando. Ele está trazendo dois sorvetes de casquinha. Minha boca
enche d’água.

— Trouxe uma para você. Fiz bem, eu acho. — Ele brinca ao ver
minha expressão.

Sorrio e pego de sua mão sem hesitar. Hugo acabou se tornando uma
figura presente aqui no salão depois que eu saí da casa de Ezra semanas atrás.
Quando nos acertamos não excluí o rapaz da minha vida, seria ridículo e sem
nexo. Ezra é dono de um clube de sexo, vive rodeado das mais belas
mulheres todos os dias, muitas delas ficam nuas no Hot Cattaneo e ele, que
não é cego, vê. Todas disponíveis para ele, a maioria só esperando uma
chance de tê-lo, as que já o tiveram, assim como Iliana, são capazes de
qualquer coisa para um repeteco. Nunca dei a louca com ciúmes sobre isso,
portanto espero o mesmo dele em relação a minha amizade com Hugo.

— Você estava adivinhando que eu queria sorvete antes mesmo que


eu soubesse que queria. — Brinco.

— Você está diferente. — Hugo franze a testa, me analisando. —


Parece mais... Não sei... Feliz? Acho que sim. Nos últimos dias tenho
reparado isso.

— Eu estou feliz, mas não tem nada anormal acontecendo.

Omito minha gravidez, pois Ezra e eu decidimos não contar para


ninguém antes de passarmos do primeiro trimestre. Só nonna, Luigi, Stefano
e Gilda sabem. Foi uma escolha minha, na verdade.

Para a minha surpresa, Hugo toca a ponta dos meus cabelos. Mas não
vejo maldade nele, só certa curiosidade.

— Seus cabelos estão brilhosos e maiores. A franja está cobrindo


seus olhos. — Ele implica e se afasta.

Nesse exato momento meu celular toca. Espio a tela e vejo que é uma
chamada de Ezra. Faço um sinal para Hugo e atendo.

— Ei...

— Por que esse moleque está tocando você? Por que você está
deixando? Aceitando sorvete, risadinhas e agora toques...

— Que porra é essa, Ezra. Está louco? — Irrito-me.


Percebo que atraio a atenção de algumas pessoas no salão e respiro
fundo antes de mostrar um sorriso amarelo e entrar no banheiro.

— Vá para o salão, eu quero ver sua expressão quando fala comigo.


— Ezra exige.

Eu rio da cara dele, de puro nervoso e raiva.

— É aquela maldita câmera que eu esqueci completamente que


estava aqui, não é? — Bufo, pensando na minha idiotice.

Tanta coisa aconteceu no dia que ele instalou esse sistema de


segurança, que esqueci completamente. Mesmo quando estive em seu
escritório não reparei que dentre aquelas inúmeras em uma das paredes, havia
uma que mostra o que acontece aqui no salão. Com raiva, enfio o resto da
casquinha do sorvete na boca e como de uma só vez.

— Eu não quero esse moleque te tocando, Ana. Ninguém toca em


você. Está me ouvindo?

— Calma aí, tigrão. Vou resolver seu problema. — Caminho pelo


banheiro até pegar uma fita durex preta na gaveta do armário que fica sob a
pia.

— O que você está fazendo?

— Devo estar escondida me agarrando com alguém. — Debocho.


Sigo de volta para o salão. Hugo me olha preocupado, mas as clientes
e funcionárias estão distraídas com suas coisas. Puxo um puff quadrado e o
coloco sob a câmera. Subo no mesmo ouvindo os protestos de Ezra.

— Você vai cair e se machucar, Ana. Desça daí! Você nunca foi um
anjo... Maldição de mulher! — Ezra ladra, puto, para o meu deleite.

Dou um sorrisão quando meu rosto fica na frente da câmera, corto


um pedaço da fita no dente e colo nela, impedindo Ezra de me vigiar.

— Quando a segurança se torna vigilância, está extrapolando limites,


Ezra. Eu não sou sua filha, nem sua subordinada. — Deixo bem claro minha
irritação e desligo sob seus protestos.

Desço, inspirando e respirando fundo. Sorrio para Hugo como se


nada tivesse acontecido e volto para o computador, onde mexo em tudo para
descobrir como mudar a configuração dessa câmera para que eu veja tudo no
meu celular e Ezra não veja mais droga nenhuma.

Depois de alguns minutos Hugo retorna para a sorveteria e, para


mim, não é surpresa nenhuma quando escuto os suspiros das mulheres e vejo
Ezra entrando. Surpresa é ver o enorme buquê de rosas vermelhas sendo
carregado por ele. Arregalo os olhos, chocada.

— Mio angelo. — Ele diz, encarando-me com intensidade. — Eu fico


louco e perco a noção com você.

Dou a volta e pego o buquê, emocionada com o gesto, mesmo que


ainda esteja zangada com ele. Ezra me abraça e pressiona os lábios na minha
testa.

— Você trabalha rodeado de mulheres, Ezra. Numa porra de puteiro.


E eu não surto com ciúmes, porque sei que se escolheu ficar comigo como
nunca ficou com outra antes, é porque quer e não vai estragar isso. Se o fizer,
é escolha sua. Ficar vigiando e enchendo o saco só vai me tornar uma chata.
Sempre quis você, não vou mudar de ideia agora. — Digo só para ele ouvir.

— Racionalmente sei disso, mas não sou racional quando se trata de


você. Só vi aquele garoto jovem, da sua idade... Enquanto eu sou treze anos
mais velho. — A insegurança soa totalmente errada vindo de alguém como
Ezra.

Encaro seus olhos e beijo seu queixo brevemente.

— Eu te amo. Posso ser nova, mas você é tudo o que eu quero e


sempre vou querer. Se você não agir como um louco e me fazer te matar
antes do para sempre, é claro.

Ezra sorri e beija minha boca. Por um momento esqueço onde


estamos e me entrego. Ele é quem se afasta, com um sorriso tão sincero que
me faz suspirar. Eu amo odiar esse homem.

Ele não volta para o Hot Cattaneo. Depois que encontro uma jarra
para deixar minhas rosas, até me ensina a colocar a imagem da câmera no
notebook e finge que nunca agiu como um tosco. Fica comigo até a hora que
fecho o salão.
— Estava com pressa, então deixei o carro do outro lado e vim
andando. Aqui não tinha vaga. — Ezra explica, enquanto caminhamos até
onde ele deixou o veículo.

Antes de respondê-lo, algo me faz olhar para trás, como se me


sentisse sendo observada. Tenho essa impressão quando Rezende está por
perto, mas Ezra o dispensou.

Todo meu corpo paralisa quando vejo a pessoa que fez ter essa
sensação. Ezra diz algo, segura meu rosto, mas tudo fica longe.

— Reinaldo... É ele. — Minha voz soa esquisita, frágil.

Ezra nega, lembra-me que ele o matou. Agarro seu colarinho e o


obrigo a olhar. Quando vejo o homem imponente ficando pálido, chocado,
tenho a certeza que não é minha mente pregando uma peça. É pior. É real. O
meu padrasto psicopata está aqui.
CAPÍTULO 40

Olhe-me nos olhos

Diga-me que tudo não está bem

Ou as pessoas não estão felizes

E o rio já secou

Você pensou que poderia se livrar

Grandson - Blood Water

Mal posso acreditar quando vejo o homem idêntico a Reinaldo. Pego


de surpresa, chego a cogitar que seja o maldito defunto, mas lembro-me bem
de ter lhe dado um fim certeiro. Reinaldo deixou um filho, que aparenta ser o
próprio maldito, como ele era anos atrás para ser mais específico. Meu desejo
é ir até ele e matá-lo aqui mesmo, mas há uma mulher desesperada e
assombrada pelo passado ao meu lado. A minha mulher. Não tiro os olhos
dele, enquanto puxo Ana para os meus braços.

— Preciso que você seja forte agora, Ana. Você foi todos os dias.
Vou cuidar de você logo, logo. Per favore, angelo mio, seja forte. — Suplico,
sentindo minha alma rasgar por vê-la tão fragilizada, assustada.

É o maior impasse da minha vida. Deixar Ana sozinha enquanto ela


está com medo e exterminar uma ameaça ou ficar com ela e deixar que a
cobra volte para nos picar. Obrigo-me a ser calculista, frio. Há meu filho e
minha mulher para serem protegidos, custe o que custar.

Avanço até o desgraçado, mas para a minha surpresa, ele sorri, como
se esperasse por isso. Agarro-o pelo colarinho e o arrasto até meu carro. Ouço
o choro de Ana quando me aproximo dela e do veículo, mas me obrigo a não
olhar, a não parar.

— Você vai fazer comigo o que fez com o meu irmão? Aquele que
me criava e me dava tudo... O único que eu tinha antes de ser abandonado
sozinho?

Irmão de Reinaldo. Foda-se! Uma ponta solta, uma que eu não fazia
idéia. Abro meu carro e o jogo no banco do carona. Travo as portas e ligo
para Stefano.

— Preciso de você aqui. Eu não posso deixar Ana sozinha por muito
tempo e uma merda acaba de estourar na minha cara.

— Certo. Chegarei o mais rápido possível.

Encerro a chamada, perdido. A consciência de que eu daria um fim a


esse cara em outros tempos me irrita. Agora tenho outras prioridades. Ligo
para Rezende e exijo que venha até aqui o mais rápido possível.

Volto para Ana e a puxo para mim.

— Ana, não é o Reinaldo. Você viu quando o matei. Lembra disso?


Não há mais ninguém para fazer mal a você. Confie em mim.

— Ele é igual. — Ana soluça.

— Anos se passaram. Ele teria envelhecido. Esse disse ser um irmão


mais jovem. Você conheceu algum irmão daquele crápula?

Ana pisca algumas vezes, respirando fundo. Ela procura meus olhos e
nega com a cabeça.

— Não conheci ninguém da família dele.

— Esse irmão veio atrás de mim, sabe que o matei. Ninguém vai te
fazer mal outra vez.

— Eu não tenho medo por mim. Não mais. Ezra, o nosso filho... O
mundo... As pessoas são cruéis... Nós não...
As palavras me atingem, me sinto imponente porque sempre fui
obcecado por protegê-la e ela fugiu anos atrás. E agora não pude evitar que
esse fantasma surgisse do nada, pois fui pego de surpresa, não estava a um
passo à frente como sempre fiz questão de estar. Se eu não amasse Ana, seria
fácil me livrar dele, mas agora eu tenho a quem proteger e terei que dar fim a
todas as pontas soltas. Matá-lo sem tirar informações, sem saber se há outros
por aí em busca de vingança seria tolice.

O mais atípico de tudo é que vejo policiais e guardas rondando


próximo a nós, mas o homem não faz qualquer sinal no carro. Ele só espera,
quieto, e isso me dá a certeza que queria ser pego, que está tramando algo.

— Ninguém irá fazer mal ao nosso figlio.

Ela assente com a cabeça e enterra o rosto em meu peito, enquanto


acaricio seus cabelos e a apoio. A fera dentro de mim quer socar o maldito até
a morte e tento conter a ira.

Rezende chega mais rápido do que esperava.

— Deixe seu carro aqui, depois você volta com outro funcionário
para buscá-lo. Vá atento ao homem que está no meu carro. Qualquer deslize,
olhar, pensamento, respiração errática, pode nocauteá-lo. — Deixo bem claro
e me aproximo do carro. — Reviste-o e me dê ok para entrar com Ana.

Destravo as portas e espero que Rezende entre. Sua expressão


naturalmente assassina faz o irmão de Reinaldo recuar, mas ele o revista e
sinaliza que está tudo bem. Abro a porta do carona para Ana e entro em
seguida. Dirijo com cautela, atento, para casa.

Quando chegamos Rezende continua tomando conta do homem e eu


entro com Ana. Cuido dela, tomamos banho juntos e fico com ela até que
pegue no sono. Não há chance de sair e deixá-la sozinha, mas não encontro
nonna, tampouco Gilda em casa.

Desço e retorno para onde o segurança e o prisioneiro estão.

— Qual é o seu nome? — Indago, abrindo a porta.

— Mauro.

— Você sabia o que ia encontrar se metendo no meu caminho,


Mauro? — Puxo-o para fora, observando seus olhos escuros ficarem
arregalados.

— Eu não sabia de nada. Só queria ver o homem que matou meu


irmão e a garota que causou tudo.

Estreito os olhos e bato com sua cabeça na porta do carro.

— Não há uma garota que causou tudo. Havia um filho da puta


abusador, que morreu sem pagar o mal que fez. Você me compreende? — Eu
sorrio, sentindo meu sangue correr mais rápido com a perspectiva de me
vingar. — O que você não faz ideia é que vai ser prazeroso para mim arrancar
sua pele e imaginar que é Reinaldo. Me cobrei todos esses anos por não tê-lo
destrinchado antes de acabar com ele. Sei que você não veio aqui para olhar
para nós, mas saiba que não tenho pressa. Há algum tempo que não cometo
maldade, você é bem vindo para ser meu brinquedinho até que decida abrir a
boca e dizer o que planeja.

— Eu já disse tudo. — Mauro rebate, tentando soar firme, mas


percebo a contração em sua pálpebra.

— Vou descobrir se você disse tudo. Pode ter certeza disso.

Meu sorriso maldoso não morre. Entretanto, mando Rezende trancar


Mauro na garagem enquanto nonna e Gilda não chegam.

Retorno para o interior da mansão e zelo o sono de Ana. Deito ao seu


lado e a seguro em meus braços, sentindo espasmos ocasionais do seu corpo,
por ter dormido chorando. Se eu tiver que passar por cima de Mauro e de
quantos mais aparecerem, eu passo só para ver minha Ana livre de
sofrimento.

Depois que nonna chegou com Gilda, pedi que ambas ficassem com
Ana e fui cuidar de Mauro na garagem. A coisa certa a fazer seria levá-lo
para o local onde Stefano mantém para cobrar seus devedores. Mas com a
necessidade de estar perto de Ana, fiz da minha garagem um abatedouro. O
maldito se mostrou firme em suas palavras. Dei-lhe alguns socos, mas não
quis causar grandes danos. Stefano está a caminho e garantiu que já há
pessoas investigando a vida do bastardo, uma vez que lhe passei os dados dos
documentos que encontrei em sua carteira.

A noite se arrastou e não preguei os olhos em nenhum segundo.


Stefano, Luigi e, para a minha surpresa, meu nonno chegam durante a
madrugada. Ana havia acordado anteriormente, se alimentado, conversado
comigo, demonstrando calma, e voltou a dormir mais tarde. Então deixo-a
descansando e desço assim que recebo o sinal de um dos seguranças pelo
celular.

— Eu não acredito que vocês fizeram um trabalho de amador desses!


— Nonno explode assim que me vê. — Deixando inimigos por aí para se
criar e voltar contra vocês! Cazzo!

— Nonno, o problema sempre foi meu. Stefano fez o que eu pedi que
fizesse e eu nem fazia ideia que havia máfia envolvida, tampouco que
Reinaldo deixava família. — Justifico, nervoso.

— Nós vamos resolver isso agora mesmo. — Stefano rosna.

— Nem deu tempo de sentir falta do meu casal problema favorito. —


Luigi zomba com seu sorriso de tubarão.

Todos olhamos feio para ele, o que obviamente resulta em seu sorriso
debochado se tornando ainda maior. O desgraçado não tem amor à vida.

— Pois bem. Você vai torturá-lo até que ele abra a boca e diga todas
as pretensões dele. — Nonno ordena a Stefano.
— Eu não chamei você aqui para nos dar ordens. — Digo, irritando-
me. — Chamei Stefano.

— Não me teste, moleque! Você já foi fodido nessa vida? Pois bem,
eu fui vinte vezes mais. Sabe quando você já esteve à beira da morte tantas
vezes que sente o cheiro da ruína de perto quando ela chega? É esse cheiro
que sinto aqui desde que soube que Stefano estava vindo às pressas. Por isso
estou aqui. Para limpar a bagunça de vocês, porque são iniciantes, não sabem
fazer nada direito! — Ele grita, tão puto quanto eu.

Avanço nele, mas para minha surpresa Stefano entra na frente e


impede.

— Tem merda grande, Ezra. O nome no documento que o bastardo


carregava era falso. Ele está aqui de caso pensado.

Grunho, revoltado e soco a pilastra ao meu lado. Meu ódio é tanto


que mal sinto a ardência, mas o gesso da parede racha sob a pancada.

— Essa porra vai doer depois que seu sangue esfriar, Cattaneo. É
certo que quebrou. — Deluca suspira. — Diana está no seu quarto? Vou ficar
de prontidão enquanto você resolve as coisas.

Aceno em concordância e Luigi entra na mansão, sumindo de nossas


vistas.

— Preciso ir ao maldito banheiro. — Nonno avisa com raiva e entra


pisando duro.
— O velho está atravessado, e acho que é preocupação. Vai saber.
Por isso não o joguei do avião. — Stefano sorri maldoso.

— Ana está grávida, Stefano. — Lembro que não há tempo para


brincadeiras.

— Eu sei. — Ele passa a mão pelos cabelos. — Irei arrancar dele o


que nós precisamos saber. Vá ficar com ela.

— Eu vou ficar e matá-lo quando ele contar tudo.

— Bem, vamos ao que interessa então. — Seu rosto se reparte em um


sorriso psicopata, a expressão de quem ama torturar.

Seguimos para a garagem e nonno logo se junta a nós. Vemos o dia


amanhecer enquanto torturamos Mauro, que não abre o bico para contar nada.
Tudo o que ele repete é o que já havia me dito. Minha mão começa a doer de
forma quase insuportável, cobrando o preço pela minha idiotice de socar a
pilastra. Nonno parece exausto e Stefano a ponto de arrancar a cabeça do
homem ensanguentado de uma vez por todas.

A sensação de impotência por não descobrir nada me deixa nervoso,


descontrolado. Certo momento sou eu quem tomo a frente e, olhando o rosto
tão parecido com o do homem que abusou do meu anjo, eu pego uma das
facas de Stefano e rasgo a calça de Mauro. Eu me regozijo enquanto arranco
seu pau imundo e vejo-o morrer de tanto sangrar. Stefano ladra, nonno
também. Deveria deixá-lo vivo para que abrisse o bico. O que mais ele diria
se não disse nada até agora? É menos uma ameaça e se outras aparecerem,
não importa como, vou dar um fim nelas também.

— Eu não tenho direito dos benefícios de comandar soldados, de ter


políticos e policiais na folha de pagamento como vocês, mas se eu faço parte
dessa merda, descubra sobra a família de Reinaldo. Com o nome dele, dá
para descobrir se há mais algum filho da puta com o sangue imundo dele por
aí para eu destruir. — Aviso e deixo a faca cair.

Com os pensamentos a mil, uma confusão de pensamentos e


emoções, cometo a loucura de ir até o meu quarto, porém, Luigi é quem me
impede de entrar para que Ana não me veja todo ensanguentado.
CAPÍTULO 41

Quando os anjos caem com asas quebradas

Eu não posso desistir, eu não posso ceder

Quando tudo está perdido e a luz do dia chega ao fim

Eu te levarei e vamos viver para sempre

Breaking Benjamin - Angels Fall

Escuto a voz de Ezra e Luigi vindo de fora do quarto. Ansiosa,


levanto-me e caminho até a porta. Tudo o que atrai meus olhos quando chego
no corredor é o tanto de sangue em que Ezra está banhado.

— Estou indo tomar banho e já volto.


— O seu banheiro é aqui. — Digo.

— Não era para você me ver assim, Ana.

Senti tanto medo nas últimas horas, que não levei em conta que o
homem que amo iria ao inferno para garantir que eu esteja segura. Ezra
parece exausto, com olheiras, sangue respingado em suas roupas, as mãos
totalmente manchadas de vermelho, cabelos desgrenhados.

— Não me importo como você está, meu amor, não há nada que vai
me assustar e me impedir de vê-lo. — Digo e estico o braço para alcançar seu
rosto. — Vem. Seu lugar é aqui. Comigo.

Ezra me olha com tanta intensidade que meu coração erra uma batida.
Ele se aproxima e beija minha testa com os olhos nublados de ternura, então
entra no quarto. Olho para Luigi, que está com o habitual sorriso debochado.

— Pode ir descansar. Ezra está aqui e ele cuida de mim.

— Pode deixar, chefa.

Sorrio para ele, de certa forma mal assimilei sua presença por minha
cabeça estar a mil. Então lhe dou um breve abraço e sigo Ezra. Ele já está no
banheiro se despindo e tomo o seu lugar, livrando-o de sua roupa.

Tiro seus sapatos, a camisa e a calça social. Sua boxer fica por último
e então me livro do meu pijama. Entramos no boxe, ligo a ducha e cuido dele,
lhe limpando, deixando todo sangue ir pelo ralo. Vejo sua mão direita após
lavá-la e percebo que está machucada.

— O que aconteceu?

— Soquei a parede.

— Acho que está quebrada. Você precisa de um médico...

— Nós não iremos sair de casa, Ana. Aquele merda morreu sem dizer
o que o trouxe aqui e há mais gente envolvida nisso. — Ele segura meu rosto
com as mãos e parece desesperado ao dizer: — Eu não vou perder você.

Toco suas mãos e assinto com a cabeça, sentindo minha garganta


embargar com as emoções em seus olhos verdes.

— Você não vai me perder. Você nunca vai deixar nada de ruim
acontecer. — Digo com confiança, pois confio nele.

Ainda estou aterrorizada, mas é muito mais por ter acreditado que
Reinaldo havia voltado. Por um momento, na minha mente deturpada pelo
medo, realmente pensei que fosse o maldito me assombrando. Era como se eu
voltasse a ser a Luísa menina, que não tinha forças para se livrar, que gritava
e nunca era ouvida. Contudo, se enquanto criança eu não deixei de lutar, não
será agora que irei parar. Ezra Cattaneo me salvou do meu pior pesadelo de
muitas formas e muitas vezes. Ele ama com ferocidade e não há ninguém em
quem eu confie como confio nele.
— Não vou deixar. — Ele reitera.

Depois que o sangue é lavado de seu corpo, eu fecho o registro do


chuveiro e pego a esponja para limpá-lo melhor. Ele se inclina e lavo seus
cabelos escuros, sorrindo por ser tão pequena perto dele, de forma que tem
que se curvar todo para concluir minha tarefa. Quando termino de ensaboá-lo
por completo, abro novamente o registro e deixo a água enxaguá-lo. Ezra
termina de se lavar e nós dois saímos para nos secar.

Ambos entramos debaixo das cobertas sem nos importar com roupas.
Todavia, pego meu celular e mando mensagem para Luigi, pedindo que faça
com que algum médico venha até aqui ver a mão de Ezra. Meu amigo
responde e isso me tranquiliza.

— Um médico virá examinar sua mão.

— Não quero estranhos entrando aqui. — Ezra reclama, olhando


meus olhos.

Me inclino para ficar com a cabeça em seu braço e ele me puxa para
si.

— Luigi irá trazer alguém confiável. Sua mão não pode ficar assim,
Ezra. Você cuida de tudo, deixa eu cuidar de você pelo menos agora. —
Suspiro.

— Mio angelo. — Sua voz suaviza enquanto ele segura meu queixo
para que eu encare seus olhos ternos. — Você acabou de me ver cheio de
sangue e não se apavorou. Antes de dormir, estava tão triste e amedrontada,
mas quando me viu, assumiu sua versão forte e cuidou de mim sem hesitar.
Você não faz ideia de como era não ter você antes. Você já faz tanto sem se
esforçar e depois de hoje, só quero destruir tudo o que se levantar contra nós
e ser feliz com você. Porque eu nunca fui feliz antes, mas com você eu sou.
Com você não preciso de subterfúgios, de poder, de controle. Basta ter você.

Não consigo evitar derramar uma lágrima.

— Eu te amo. Do nosso jeito louco, mesmo com nossa criação, a


raiva, medo, mágoa, carência e falta de sabedoria com alguns sentimentos, a
gente sabe se amar e cuidar um do outro. Isso basta.

Ezra seca minhas lágrimas com seus dedos e vejo a careta que ele faz
rapidamente quando usa a mão direita. Isso faz com que eu levante da cama e
me vista sob seus protestos.

— Ana, volte para a cama.

— Vou buscar gelo para a sua mão. Você está sentindo dor. Para de
ser teimoso ou vou quebrar sua outra mão. — Advirto e isso o faz sorrir.

Ele levanta da cama nu, em toda sua glória, mas evito deixar minha
mente ir por esse caminho. Afinal, ainda quero saber o que aconteceu com o
homem, quero saber quem ele é, o que queria. Ezra se veste com uma
bermuda e camiseta e nós descemos de mãos dadas. Enquanto ele senta em
uma banqueta, pego um pano de prato e coloco gelo sobre ele, depois o dobro
e entrego para Ezra.
— Mauro é o nome do bastardo. — Parecendo saber meus
questionamentos internos, Ezra começa a dizer: — Irmão do Reinaldo. Me
culpou por matá-lo, disse que perdeu a única família e ficou sozinho no
mundo.

— Como ele sabia que havia sido você?

— Ele não respondeu pergunta alguma, Ana. Seus documentos eram


falsos, o desgraçado não deixou brecha nenhuma. Se eu não conhecesse
muito dessa vida, acharia que foi uma eventualidade, que ele apenas queria
ver com seus próprios olhos o assassino do irmão. Mas quem arruma
documentos falsos para isso? O jogo dele é sujo e ele sabia que ia morrer. O
desgraçado veio sabendo que seria devastado pelas minhas mãos. — Ezra
rosna, apoiando a compressa na mão.

— Meu Deus. — Minha cabeça gira diante das informações, tudo


ficando ainda mais confuso e preocupante. — Vai ficar tudo bem... — Digo
mais para mim mesma. — Ele preferiu sofrer, morrer, do que entregar
alguém... Tem certeza que ele mentiu? Ninguém aguenta tanto sem dizer a
verdade...

— Pode ser, mas eu não suportei esperar mais e arranquei o pau dele.

A imagem que meu cérebro reproduz faz com que eu sinta ânsia de
vômito. Ezra solta a compressa e me puxa para o meio de suas pernas.
Levanto a cabeça e encosto a nuca em seu ombro, tentando me controlar.
— Estou bem. — Digo, baixinho.

— Desculpe. Eu não devia ter dito isso, mio angelo. — Ele beija
minha bochecha e coloca sua mão aberta em minha barriga. Todo meu corpo
esquenta com esse contato dele direto com nosso filho pela primeira vez. —
A raiva ao lembrar de tudo me fez perder completamente o filtro. A única
coisa que basta você saber é que vocês dois estão seguros. Eu não vou sair do
seu lado até que consiga descobrir o que está acontecendo.

Coloco minha mão sobre a sua e viro minha cabeça para beijar sua
boca. Ouvimos o som de alguém limpando a garganta e vejo Giuseppe, Luigi
e mais um homem desconhecido na entrada da cozinha. Faço menção de me
afastar de Ezra, mas ele me puxa e me coloca sentada em seu colo.

— E então, a cena é apenas bonita ou vocês tem algo para falar


comigo? — Ele indaga aos três homens parados nos observando.

— A cena era bonita, sim, chefe. — Luigi zomba e abre um sorriso


enorme. — Esse é o médico que a Diana pediu que eu buscasse. É de
confiança, já sabe que se tentar alguma gracinha, eu arranco a pele dele e faço
um tapete.

Vejo o rosto do homem ficar pálido, mas Ezra sorri, adorando a


babaquice de Luigi. Até nonno acha graça. Reviro os olhos diante da barbárie
e digo ao médico:

— A mão direita de Ezra precisa ser examinada.


— Sou ortopedista, Claudios Moretto. — O doutor se apresenta e se
aproxima.

Ezra estica a mão direita sobre o balcão, mas mantém a esquerda em


minha barriga e enfia o rosto em meus cabelos, enquanto o homem o
examina, seu nonno nos vigia com olhos estreitos e Luigi não tira os olhos do
médico, como se ele fosse, a qualquer momento, tentar algo contra nós.

— Ao que parece houve uma lesão de ligamento, mas preciso que


você vá comigo até a clínica para fazer raio-x... Então poderei ser preciso.

Ezra apoia o queixo no meu ombro e olha para Claudios.

— Minha mão vai cair ou ficar imóvel?

— Não, mas...

— Então me passe um analgésico para dor e terá feito o suficiente.

— Ezra! — Repreendo.

— Um homem mafioso honrado sequer toma analgésicos! —


Giuseppe zomba.

— Eu nunca fui honrado, nonno. Tampouco o senhor é.

Todos os homens gargalham. Eles são loucos. Não adianta tentar


protestar para Ezra ir à clínica, pois entendo que não vai sair de perto de mim,
muito menos querer que eu esteja exposta saindo de casa.

Passamos a maior parte do dia descansando. Fico na cama, pois


finalmente Ezra consegue dormir e não saio de perto dele, justamente para
deixá-lo descansar. Na parte da tarde, sinto fome e desço para preparar um
lanche para eu comer. Encontro Giuseppe e Rezende na cozinha.

— Boa tarde. — Digo.

— Abaixe, Ana! — Nonno exige, mas não assimilo há tempo


suficiente, então Rezende atira na minha direção e grito horrorizada ao ouvir
o som do disparo.

Em meio ao desespero, espero o tiro me acertar, mas é nonno quem


cai nos meus braços. Começo a chorar ao constatar que entrou na minha
frente. Ele tosse várias vezes e procuro o sangramento, colocando minha mão
em cima.

— Por favor, não... Você não devia... Por favor...

Eu o odiei a maior parte do tempo, mas ele acaba de salvar minha


vida.

— Sem conversinha fiada. Passe para cá agora. — Rezende exige,


apontando o revólver em minha direção.
— Vá com ele, bambina. Não faça nada... Ezra e Stefano vão buscá-
la... Não diga nada... Cuide do bebê... — Giuseppe tosse e tenta se soltar de
mim.

Ele percebeu que estou grávida quando viu Ezra com a mão na minha
barriga mais cedo. Tomou o tiro em meu lugar pelo seu bisneto.

Ouço os gritos de Ezra, as ordens de nonno e as do segurança, que


deveria me proteger, mas está aqui me obrigando a largar Giuseppe e me
puxando para si. O cano da arma encosta na minha têmpora no exato
momento em que Ezra aparece, com a respiração ofegante, olhos
desesperados, apontando a pistola, sem saber o que está acontecendo, mas já
sentindo. Quando me vê, seu rosto desmorona, é visível. Luigi chega atrás e
corre para ajudar nonno, o retirando às pressas.

— Solte-a agora. — Ezra rosna, sua voz dura feito um trovão. — O


que já fiz antes não vai ser nada perto do que vou fazer com você se você não
soltá-la agora.

— O que eu tenho a perder? — Rezende rosna. — Você matou o meu


pai e meu tio por causa dessa cadela mentirosa!

— Seu pai? — Ezra ri, maldoso. — Então você é filho daquele


verme? Documentos falsos você não entregou à minha equipe, nos teríamos
descoberto. O que então? Ele não te registrou?

Rezende aperta meu braço e grunhe. Choro baixinho, com tanto medo
que meu corpo treme.
— Eu quero ver seu sorriso continuar assim depois que eu matar a
sua puta.

— Já eu não estou interessado em sorrisos, Rezende. Estou


interessado no grito de dor e no seu sangue.

— Poderia matá-la aqui na sua frente, já seria o suficiente para você


pagar por tudo, mas eu me infiltrei aqui por anos, ganhei sua confiança,
soube tudo sobre você e até pensei em desistir. Então essa garota voltou e
meu ódio veio com força total. Todos perdemos a linha, Mauro não suportou
o ódio e não me ouviu. Agora tenho outra pessoa da família morta por suas
mãos. Não vou matá-la aqui e ir embora. Vou levá-la e deixar você saber que
todos os dias ela estará sofrendo por sua causa. Você vai se corroer, vai
querer saber como eu estou aqui, como nunca souberam de mim, como eu
soube sobre você, mas nunca saberá. Vai morrer sem saber.

Ezra grita de ódio e desespero, parecendo um leão enjaulado e isso


me quebra mais do que a perspectiva de que vou morrer. Me quebra saber
que não terá rendição para ele caso isso aconteça.

— Ezra... — Chamo, com a voz falhando pelo choro. Rezende


começa a me puxar, sem baixar a guarda, andando para trás para manter Ezra
em suas vistas. — Mantenha a calma. Seja frio. Eu sou forte. Vamos ficar
bem.

— Não, Ana... Não!


Suas mãos tremem empunhando o revólver. Aposto que ele atiraria e
poderia acertar a cabeça de Rezende se quisesse, mas não o faz por mim, por
medo de eu levar um tiro no processo. Minha visão fica turva por conta das
lágrimas, mas tento me manter forte por Ezra.
CAPÍTULO 42

Eu nunca quis precisar de alguém

É, eu quis jogar duro

Considerei que poderia fazer tudo sozinho

Mas mesmo uma Super Mulher precisa da alma de outro Super


Homem

Sia - Helium

Travo uma batalha em meu interior sobre ser fatal contra Rezende ou
me preocupar com a merda respingar em Ana, mas tudo concorda que ela não
pode sair daqui nas mãos desse maldito traidor. Eu prometi cuidar dela e, por
um momento, o desespero de vê-la sob a mira do revólver me fez
desmoronar. Ela me pediu para ser frio.
Mauro e Rezende eram vítimas minhas, uma vez que matei Reinaldo.
Entretanto, eles deixaram o papel de vítima quando decidiram culpar Ana
pela morte do abusador. Isso fez deles cobras peçonhentas da mesma laia. Se
eu os tivesse encontrado, os teria matado, mas quem quer que Stefano
mandou resolver toda a situação, os deixou viver e agora eles voltaram para
me picar. Um morreu sem me dar as informações que eu queria, mas com
Rezende não vou cometer o mesmo erro.

Quando Rezende passa ao meu lado, Ana me olha uma última vez e
lágrimas escorrem por suas bochechas. Recobro a cena e vejo que a arma
ainda está travada. Sinalizo com a cabeça para ela e seus olhos azuis
aumentam de tamanho.

O meu anjo forte não se entrega e no mesmo momento que ela bate
com as costas da mão no revólver. Rezende deixa a arma cair e puxa Ana
pelos cabelos. Em dois segundos estou nas costas dele. Ana escapa, gritando
e socando, conseguindo se esgueirar para o chão. Rezende tenta chutá-la e
embora ele seja grande e musculoso, a fera presa dentro de mim se solta e eu
só paro de socá-lo quando ele está no chão.

— Luigi, cazzo! — Grito, mantendo Rezende preso com um mata


leão.

Luigi aparece na cozinha com uma expressão de merda, então


recordo de nonno.

— Leve Ana para o andar superior e a mantenha protegida!


— Eu não vou subir, Ezra. Quero saber de tudo... O nonno... Esse
cara atirou em mim e ele...

— Ele está morto. — Deluca informa. — Eu tranquei Ella e Gilda em


um dos quartos.

— Maledizione...

Rezende gargalha e eu o sufoco, apertando mais o braço em seu


pescoço. Me deleito com o som do seu engasgo e Luigi se aproxima de mim.

— Consegue mantê-lo preso e levá-lo para garagem?

— Está brincando comigo? — Deluca se ofende.

Levanto-me e deixo Rezende sob seus cuidados, mas antes de sair da


cozinha, pego sua arma no chão e atiro em cada uma de suas coxas, só para
não arriscar. Ele berra de dor e sou eu quem sorri dessa vez. Me aproximo
dele e olho seu rosto.

— O Mauro era algum tipo de psicopata, que aguentou um pouco de


dor e não abriu o bico, mas tenho métodos melhores para você. Vou me
esforçar para descobrir se ainda tenho jeito e as ameaças se voltam contra
você. E mais, eu quero saber tudo. Quero saber como soube sobre mim, como
Mauro escapou do radar dos mafiosos que foram se livrar de qualquer prova.
Você eu entendo, é um filho esquecido, sem o sobrenome do pai, largado. —
Zombo, maldoso, só para feri-lo, não que nada disso importe.
— Eu não fui largado! — Rezende grita. — Meu pai era envolvido
com coisas perigosas e não me registrou para me proteger!

Luigi chuta uma de suas pernas, fazendo-o berrar de dor e calar a


maldita boca.

— Quer contar tudo antes de começar a sofrer, Rezende? Ou você


prefere dizer o que quero saber enquanto sufoca com seu próprio sangue?

— A festa começou sem mim? — Ouço a voz e sotaque de Stefano e


franzo a testa quando o vejo segurando Iliana pelo braço. Ela está apavorada.
— Bem, acho que vocês descobriram quem é o traidor. Nonno suspeitava de
alguém próximo e passei o dia investigando todos os funcionários. Na casa
do Rezende encontrei essa belezura aqui. Trabalha no seu clube, mas é puta
particular dele. Ela me contou umas coisinhas quando arranquei as unhas
dela.

— Rezende... — Iliana chora.

Ana se aproxima, analisando Iliana e então me encara.

— Ela é a submissa lá do clube? Aquela que tentou semear a


discórdia?

Assinto com a cabeça, observando-a. Ana dá um tapa no rosto de


Iliana, que tenta avançar nela, mas é mantida presa por meu primo. Rezende
grita de raiva.
— É bom ser opressor, não é? Ser oprimido não. — Rio dele.

Me aproximo de Iliana e a encaro nos olhos.

— Você não faz ideia do que vai acontecer se você não abrir o bico
sobre tudo o que sabe a respeito de Rezende e Mauro. Por que você estava no
meu clube?

— Rezende ficou sabendo que tinha vaga e me colocou lá para ficar


de olho em tudo o que acontecia. — Ela chora e nega com a cabeça. — Não
sei de tudo, mas eles planejavam fazer sua namorada fugir. Naquela noite eu
tentei...

— É melhor você concluir a história dela. Sem deixar brechas.


Stefano já arrancou as unhas, eu vou começar a cortar dedo por dedo cada
vez que você hesitar.

— Mauro queria sequestrar Ana. Queria deixar você louco por alguns
dias e depois matá-la e mandar o vídeo para você. Ele tinha certeza que ela
iria fugir quando Iliana dissesse aquelas coisas. Como não aconteceu o que
esperava, ele se frustrou e sabia que a aparência com meu pai poderia colocá-
la num lugar de desespero. Seu plano era desestabilizar vocês, entrar em suas
mentes, enfraquecê-los para que eu a matasse. Se sacrificou para que eu
concluísse... — Rezende cospe, puto de raiva. — Esperei cada minuto desse
dia para vê-la sozinha, mas não tive oportunidade. Quando ela chegou na
cozinha, vi minha chance, eu só não contava que aquele velho estivesse
atento como um maldito falcão e antecipasse meu ato. Ele a salvou de estar
morta agora.
— Como você pode ser tão escroto? Convive com a gente todo esse
tempo! Sabe que eu jamais fiz mal a alguém! — Ana retruca, indignada. Ela
avança até ele, mas a seguro. — O seu pai era um estuprador demoníaco!
Você se torna o que defendendo a honra dele? Desgraçado!

— Meu pai sustentava você, sua cadela! Tinha do bom e do melhor!

— Você é tão imundo quanto ele! — Ana tenta se soltar, mas não
permito.

— Ele vai ter o que merece. Suba, Ana. Pelo bebê.

Ela chora de raiva, passando a mão pelo rosto. A puxo para mim,
tentando acalmá-la.

— Há mais alguém da família do Rezende, boneca? — Stefano


pergunta a Iliana.

— Sua mãe morreu há dois anos. Era só Mauro e ele...

Ana se afasta e fica encostada no balcão, de braços cruzados, só


observando. Volto minha atenção para o traidor.

— Como Mauro conseguiu escapar dos homens de Stefano?

— Mauro já sabia das coisas que meu pai fazia. Conhecia o seu pai.
— Rezende diz de má vontade, seus olhos presos em Iliana. — Eu vou dizer
tudo, me tortura, acaba comigo, mas mate Iliana rápido.

Luigi gargalha alto, enquanto Stefano e eu rimos baixo.

— Dio mio! Temos um gentleman aqui! — Deluca zomba.

— Pensei que ele ia oferecer a verdade dele pela liberdade da amada.


— Stefano nega com a cabeça. — Não se fazem cavaleiros de armadura
brilhante como antigamente.

— Por favor... Eu não sei de nada disso. Me deixem ir! — Iliana


implora.

— A morte dela será rápida. — Digo a Rezende enquanto ela começa


a gritar e implorar.

— Mauro não era tão jovem, então sabia o que meu pai fazia. Seus
deslizes com garotas mais novas.

— Deslizes? — Rosno. — Você acha que eram deslizes?

Me aproximo dele e seguro suas orelhas, puxo com tanta força


enquanto Luigi o mantém preso que sinto quando a carne atrás começa a
rasgar.

— Não se chama de deslize, cazzo! Se chama de estupro! — Grito,


furioso. — Diga agora que seu pai era um estuprador! Diga, maledizione!
Rezende até tenta lutar, mas ele não é páreo, principalmente quando
se torna insuportável. Seus gritos e de Iliana se tornam música para os meus
ouvidos. Eles tocaram na única coisa que não deviam, tentaram tirar Ana de
mim e agora a minha escuridão ofuscou qualquer coisa boa.

— Meu pai era um estuprador! Ahhhh!

— Muito bem. E eu vou cortar seu pau quando tudo acabar, em honra
dele. — Sorrio e solto suas orelhas. — Assim como fiz com seu tio. Agora
me conte tudo.

— Mauro sabia das coisas e já tinha documentos falsos. Ele tinha


acesso às imagens das câmeras de segurança e viu quando você entrou e
depois saiu com Ana. Não foi preciso fazer muitas pesquisas para descobrir
sobre você. Famoso dono de um clube de sexo, o maior clube do Rio de
Janeiro. Mauro estava obcecado em achar você, em saber tudo a seu respeito.
Ele sabia o que você havia feito por Ana, mas nunca soube de sua ligação
com ela. Quando eu vim trabalhar aqui, ouvi boatos da menina que havia
fugido, mas nunca consegui saber o suficiente. Eu dizia para ele que achava
que era ela e ele tentou de tudo para encontrá-la. Quando ela voltou para cá,
se tornou a obsessão dele fazê-la pagar.

Analiso tudo e, por mais louca que seja a história, fica evidente para
mim que não é mentira. A doença de Mauro e Rezende também fica óbvia.
Ambos culparam Ana, enquanto ela era a vítima. Quantos homens assim
existem por aí? Sabia do que Reinaldo fazia e o vigiava com câmeras,
provavelmente porque deviam esperar que seu fim fosse esse. Quantas mais
garotas ele estuprou? Não fez com Ana porque queria entregá-la virgem para
algum figurão. Dio! Meu sangue esquenta de ódio.

— Há mais alguém da sua família ou alguém envolvido nessa


vingança ridícula, Rezende?

— Éramos só nós dois. Não há mais o que falar. — Ele abaixa a


cabeça.

— Ana, vou subir, vá na frente.

Ela assente, parecendo exausta, entendendo que agora é o momento


em que ele sofre antes de morrer. Após Ana sumir pelo corredor, puxo Iliana
do agarre de Stefano.

Nunca matei mulher alguma antes, mas vendo o olhar de dor de


Rezende, faço questão de puxar o gatilho para Iliana morrer. Jogo seu corpo
desfalecido em cima dele, que urra de raiva, imponente, como eu me senti
quando ele apontava uma arma na cabeça da minha mulher.

— Stefano, ele matou o seu Capo. Eu acho que isso o torna problema
da máfia, certo?

— Sim, eu tenho homens que vão amar esfolá-lo na Itália. — Stefano


sorri, maravilhado com a morte do nonno.

— Ele morreu para salvar Ana. — Digo.

— Uma atitude honrosa não irá mudar o lixo que ele foi por toda a
vida. Pelo menos serviu para morrer de uma vez e me deixar liderar sem que
ele fique enfiando o nariz o tempo todo. — Stefano me olha com raiva.

— Que seja. — Resmungo, impaciente e louco para acabar com tudo


isso e seguir em frente.

É justamente por esse desejo, de estar com Ana, de paz, que abri mão
de fazer com Rezende o que prometi que faria. Matar a mulher que ele parece
amar em sua frente é castigo suficiente. E o que os soldados fiéis a Giuseppe
Esposito farão com ele, é certamente mais cruel do que eu conseguiria.

— Meus homens irão limpar a bagunça. Você terá que estar na Itália
para o enterro do velho. Vá descansar com sua mulher um pouco. Você
tentou ser bonzinho, mas não deu muito certo. Problemas caçam essa garota.
— Stefano zomba, dando tapinhas em meu ombro.

— Cattaneo, me ajuda a carregar esse cara. Ele é maior do que eu. —


Luigi resmunga, arrastando Rezende.

— Acabou? — Ana pergunta quando entro sob as cobertas junto com


ela.

— Acabou o medo e o sofrimento. — Beijo sua testa.

— Eu te amo.
— Sou louco por você. Sono molto appassionato, angelo mio.

— O que você disse? — Ana sussurra, com os olhos azuis bebê


brilhando. — Não sei o que significa, mas é a coisa mais linda que já ouvi.

Sorrio com carinho, respirando aliviado depois de tudo, em paz, feliz.

— Sou muito apaixonado. Foi o que eu disse. Vou dizer todos os dias
até você cansar.

— Nunca vou cansar. Eu sou louca por você. — Ela beija meu
queixo e encara meu rosto com curiosidade. — Luigi disse que trancou Gilda
e nonna. Você as destrancou antes de vir para cá?

— Sim, tive que dar a notícia da morte do nonno. Ela está arrasada.
Teremos que voar para a Itália amanhã. — Acaricio seu rosto.

— Ele morreu para me salvar, Ezra. Foi um tiro certeiro. Giuseppe


estava atento a nós dois e falou sobre o bebê. Ele quis protegê-lo.

Fico pensativo, é difícil pensar em nonno sendo um homem emotivo,


mas o Giuseppe Esposito que minha nonna diz ter amado, faria isso sem
hesitar. Talvez ele tenha se amargurado a ponto de se tornar o monstro que
era, mas provou que ainda existia algo bom.

Eu agarro o meu algo bom e a aperto em meus braços. Nunca vou


soltá-la.
CAPÍTULO 43

Desculpa a forma como te encaro

Ninguém chega aos seus pés

Ver você me deixa fraco

Eu fico sem palavras

Shawn Mendes - Can't Take My Eyes Off You

Cinco meses depois.

A impressão do clarão em meu rosto faz com que eu abra os olhos.


Sorrio ao ver Ezra tirando foto.

— Você não cansa? — Pergunto, risonha.


— Eu não canso. — É sua resposta acompanhada de um sorriso.

— Vem ficar aqui comigo.

Nós estamos em seu barco, novamente na praia Punta Sabbioni,


refazendo aquele passeio que fizemos quando estivemos aqui na Itália para o
noivado de Stefano. Venho sonhado com isso há meses, porém, os enjôos
incessantes fizeram com que não voltássemos. Há um mês não sinto-me
nauseada, então decidimos fazer a viagem.

Ezra coloca o celular sobre uma das espreguiçadeiras e vem deitar


comigo na toalha que deixei aberta no chão. Estou pegando esse sol
fraquinho da manhã. Com um chapéu de palha enorme sobre a cabeça, óculos
de sol, muito protetor solar — tudo recomendação de Ezra.

— Como ela está? — Pergunta, acariciando minha barriga


protuberante.

— Está calma. Acho que gosta do mar.

— Poliana é como você. Agitada e vai me deixar de cabelos brancos.

Sorrio, pois mesmo com sua “reclamação”, ele soa carinhoso. Depois
de tudo o que aconteceu com Mauro, Rezende e Iliana, Ezra se tornou muito
mais protetor. Ainda temia que alguém pudesse aparecer para tentar concluir
o plano dos parentes de Reinaldo.

Passei semanas temendo, abrindo mão da escola e do trabalho, mas


depois que vi que minha barriga começava a crescer, entendi que se já fui
uma lutadora antes, agora é hora de ser ainda mais pelo meu bebê. Na época,
não sabíamos que é uma menina, mas se toda aquela confusão serviu para
algo, foi para Ezra perder o medo de amar de vez. Ele não mudou seu jeito de
ser, ainda é calado, mas seu amor é evidente por nós duas. A cada consulta,
ultrassonografia, vejo-o criando um laço maior com nossa filha, mas sua
ficha só caiu quando ela chutou a primeira vez para ele. Ficamos extasiados e
Ezra não conteve a emoção. Embora tenha tentado esconder, vi seus olhos
úmidos.

Depois que deixei o medo de lado, Ezra e eu brigamos muito porque


ele ainda não queria que eu voltasse a sair sem ele. Passamos a viver juntos
quando tudo ocorreu e não fiz força para morar sozinha, mas a minha
liberdade e independência, lutei até o fim para voltar a ter. Continuei
trabalhando e estudando até o recesso para o final de ano iniciar. Passamos o
natal com nonna, Stefano, Gilda e Luigi na mansão que Ezra mantinha a mãe
presa, dando ao lugar um recomeço muito necessário. Hoje é o último dia
desse ano e nós vamos passar sozinhos na lancha extravagante, uma vez que
tem cômodos de sobra como uma casa.

— Poli irá fazê-lo de gato e sapato. — Brinco.

— É bom encomendarmos um irmão para me ajudar a cuidar de


vocês duas.

— Já está pensando em outro filho? — Franzo a testa, passando


minha mão por seu braço tatuado.
— Depois que quase perdi você, que quase não consegui protegê-la,
tudo o que penso é em ter uma vida com você, Ana. Eu lutava comigo mesmo
a todo momento para aceitar que te amava, já era uma luta perdida, mas me
rendi de vez ali. Tudo o que vier, tudo o que tivermos juntos, para mim será
bem vindo e aceito. Todos os filhos que tivermos, irei amar como amo você.

Acaricio seu rosto e beijo o canto de sua boca.

— Eu amo ter o seu amor, porque é o amor mais bonito que conheço.

— E o único que irá conhecer. — Ezra me olha feio e eu beijo seu


bico fofo.

***

Olho-me no espelho e passo a mão em minha barriga grande. Meu


vestido frente única, longo, vermelho, colado no corpo caiu muito bem. Meus
cabelos estão soltos, maiores, com a franja jogada para o lado para não cobrir
minha visão. Nunca estive mais bonita na vida e não é sobre aparência física,
é sobre como me sinto. Me sinto radiante, amada, plena. Amo estar grávida,
sentir os chutinhos de Poli, os carinhos de Ezra, os momentos em que ele
apoia a cabeça para senti-la. Ele não é um pai que conversa com ela, é muito
fechado para ter esses momentos, mas o seu olhar sempre fala de amor e
proteção.

— Mio angelo, está pronta? — Pelo espelho vejo Ezra entrando no


quarto, ele precisa se inclinar um pouco para passar.
Sua pele está mais bronzeada devido ao sol de hoje, seus cabelos
desgrenhados, os olhos parecem mais verdes do que nunca. Com uma camisa
social vermelha, com botões abertos e mangas dobradas nos antebraços, e
bermuda cáqui, Ezra parece mais lindo do que nunca.

— Não sabia que você já tinha voltado.

Olho para ele por sobre o ombro e o vejo caminhando até parar atrás
de mim. Ezra afasta meus cabelos e beija minha nuca. Volto a encarar meu
reflexo e ele apoia o queixo no meu ombro, procurando meu olhar através do
espelho.

— Só fui até lá em cima para trazer a lancha de volta. O piloto ficou


no deck, liberei-o para iniciar o ano com sua família.

— Agora somos só nós dois aqui? — Arqueio uma sobrancelha,


tentando provocá-lo.

Ezra esfrega o nariz em meu pescoço.

— Sim. Só nós dois. Você está mais linda do que nunca hoje.

— Você diz isso todos os dias.

— E é a verdade. — Ele puxa meu queixo e me beija lentamente,


lambendo meu lábio e enfiando a língua de forma sensual.

Viro-me de frente para ele e enrolo meus braços em seu pescoço,


minha barriga impede de ficarmos colados, mas não impede que meu corpo
fique em chamas. Ezra aperta minha bunda e sobe as mãos por minhas costas,
numa carícia lenta e tortuosa. Gemo em protesto quando ele se afasta.

— O novo ano está chegando. Vamos subir. — Ele diz, sorrindo,


maldoso.

— Aqui na Itália estamos a cinco horas na frente, portanto, só vou


considerar um novo ano quando for lá no Brasil. Isso significa que nós
podemos transar por essas horas.

Ezra gargalha e me puxa para um abraço.

— Uma safada. Isso é o que você é.

— Você corrompeu seu anjo, meu amor. — Passo meus braços por
sua cintura, o agarrando.

— Meu anjo sempre foi um demoninho. — Ezra diz. — Nunca


precisei corrompê-la. Se bem me lembro, foi você me seduzindo e me
deixando louco dia após dia.

— Está reclamando? — Olho feio para ele de brincadeira.

— É uma constatação. Nunca reclamação. Eu nunca teria dado o


primeiro passo por medo de errar com você e feri-la. Nunca fugi ou disse
coisas duras de engolir por não te querer, Ana. Era uma maneira de te afastar
para protegê-la de mim.
— Acho que agora nós dois sabemos que estou muito melhor em
todos os sentidos assim. Nós somos mais fortes juntos.

Ele assente e beija minha testa. Então entrelaça nossos dedos e nos
guia para fora do quarto. Passamos pelos cômodos pequenos e Ezra me
coloca na frente dele para subir as escadas até chegar na proa. A mesa que
não estava ali antes, adornada com belas louças com o jantar, velas e rosas
me fazem paralisar.

— Enquanto você dormia eu encomendei um jantar com o melhor


restaurante de Veneza e tudo o que era necessário para fazer dessa noite
especial.

— Está tudo perfeito. Vai ser o melhor réveillon. Eu amei... — Digo,


me aproximando da mesa e pegando uma das rosas.

— Encomendei o jantar que não falta na mesa de um italiano no Ano


Novo. — Ezra sorri. — Há lentilhas, cotecchino, um embutido feito com
carne da bochecha, pescoço e ombros do porco, temperado com muitas
especiarias, e zampone, a pata dianteira do porco recheada com carne de
várias partes dele. Nós, italianos, acreditamos que as lentilhas se assemelham
à moedas pequenas e trazem riqueza, enquanto o teor de gordura da carne de
porco significa abundância e prosperidade. Estarmos de vermelho também é
tradição aqui. Acreditamos que usar essa cor na véspera do Ano Novo traz
sorte para nós.

— Você me explicou que o réveillon aqui é tão grandioso quanto no


Brasil.

— Sim, mas mais importante do que o réveillon e qualquer festa que


esteja acontecendo, quando você disse que queria iniciar o novo ano aqui
somente comigo, percebi que você se sente como eu, com a necessidade um
do outro e nossa filha, apenas. — Ezra me puxa para si e segura minha mão
na sua.

— Sim. Eu acho que nosso jeito errado dá muito certo. — Fico na


ponta dos pés para beijá-lo, mas sou surpreendida quando ele se coloca de
joelhos na minha frente. — Ezra!

— Hoje é mais importante do que qualquer dia, é o dia que planejei


pedir você para ser minha esposa, Ana. Para sempre, sem caminhos incertos
daqui para frente. Eu me comprometo a passar por cima de quem entrar em
seu caminho, derrubar o mundo se preciso, porque eu te amo e minha missão
na vida é fazê-la feliz. Case-se comigo, mio angelo? Seja minha para sempre.

— Eu já sou sua para sempre. Te amo tanto! É claro que eu caso. —


Me inclino para abraçá-lo, emocionada, louca de amor.

Ezra pega uma caixinha de veludo vermelha e a abre exibindo um


anel de noivado e duas alianças de ouro. Ele fica de pé e segura minha mão
esquerda, obviamente ele não seguiria um roteiro, pois tem o seu próprio.
Coloca o anel de noivado em meu dedo anelar e em seguida segura a aliança,
olhando em meus olhos.

— Nós iremos assinar os papéis em breve, mas hoje e aqui, eu quero


que você se torne minha esposa. Você aceita?

Fungo e enxugo as lágrimas, sorrio ao mesmo tempo sentindo Poli


fazer uma festa na minha barriga e assinto com a cabeça.

— Eu aceito.

— Prometo te amar todos os dias, fazê-la feliz, respeitá-la, honrá-la,


adorá-la. Sou seu devoto, Ana. — Ele declara e coloca a aliança no mesmo
dedo.

Pego a que ele escolheu para si e seguro sua mão esquerda.

— Prometo te amar todos os dias, te fazer feliz, cuidar de você


mesmo quando não quiser, mesmo sendo o homem mais forte do mundo.
Prometo derrubar o planeta por você. — Engulo em seco, tentando acalmar o
choro de emoção. — Você é minha felicidade e eu prometo ser o que você
precisa. Vou te provocar, brigar e lutar sempre, porque sua vida seria sem
graça se eu não o desafiasse. Eu te amo.

— Minha Ana Cattaneo. Minha esposa. Bella mia.

Já sem conseguir conter as lágrimas empurro a aliança por seu dedo e


me sinto Ana Cattaneo, finalmente com uma identidade real depois de
carregar um sobrenome falso por tantos anos. Não há necessidade de um juiz
ou um padre nos dar a benção, sinto que o “nosso casamento” foi mais forte e
bonito do que qualquer outro.
Ezra se inclina e me beija com uma paixão sem tamanho. Sua
emoção sendo exposta de outra forma, com toques famintos e apaixonados,
seu beijo feroz e delicioso. Retribuo da mesma forma, tão ansiosa quanto ele
demonstra estar.

Nós só paramos quando ouvimos os sons de fogos vindo da Praça


São Marcos, onde Ezra havia me dito que aconteceria uma das maiores
queimas de fogos de Veneza. Paramos abraçados encarando o céu, só nós
dois e Poli. Como pode um mundo inteiro serem só duas pessoas? Meu
mundo inteiro está aqui. Só nós.
EPÍLOGO

Querida, seu amor vale mais do que ouro

Nós chegamos longe, minha querida, vejo que crescemos

Mas eu quero ficar com você até que fiquemos grisalhos e velhos

James Artur - Say Tou Won't Ler Go

Tres anos e alguns meses depois.

A reação em meu corpo faz com que eu desperte. Explodindo de


tesão, sentindo meu pau duro e pesado, meu corpo todo arrepiado, olho para
baixo e vejo minha esposa engolindo-me, sorrindo de maneira diabólica.

— Que ótimo jeito de acordar...


— É seu boquete especial de quarenta anos. Feliz aniversário, meu
amor. — Ana sussurra e volta a tomar meu membro na sua boca gulosa.

Ela raspa o dente na cabeça protuberante e chupa, enquanto masturba


a base e segura as bolas com a outra mão. Seus cabelos escuros caem por
minhas pernas, os olhos azuis bebê não saem do meu rosto, captando minhas
reações. Agarro seus cabelos em meu punho e movo sua cabeça na
velocidade que eu quero. Ana chupa com maestria e me deixa enlouquecido
de tesão. É um custo não jogá-la na cama e me enterrar fundo nela. Anos se
passaram e minha paixão por Ana só cresceu, meu desejo cada dia se torna
maior e ela sabe disso. Assim como vejo seu amor aumentar.

— Gostosa. Isso... Assim.

Ana aumenta o ritmo da sucção, enquanto balanço sua cabeça e a


faço me levar mais fundo. Ela geme e engasga, mas não para de me chupar.
Para me levar ao êxtase, ela passa sua unha comprida em minhas bolas, então
chupa cada uma delas e volta a engolir meu pau quase todo. Gozo na sua
boca, enchendo-a de porra e ela bebe tudo.

Mudo nossas posições, jogando-a de costas na cama e monto em suas


pernas, prendendo seus pulsos sobre sua cabeça. Ana morde o lábio inferior,
ansiosa. Enfio meu rosto em seu pescoço, cheirando, lambendo.

— Por que está vestida?

— Deixei você descansar e fui cuidar da Poli. Ela está com a nonna e
a Gilda no jardim. Precisei me vestir para ficar com nossa filha, mas sei que
você pode resolver essa questão.

— Sim, eu posso e vou. — Levanto a regata, expondo os seios fartos


e dou uma mordida leve no bico intumescido.

— Hummmm...

— Irei ser rápido agora, mas a noite nós iremos ao clube.

— Estou ansiosa por isso. — Ana geme e empurra o corpo no meu,


tentando receber alguma fricção.

Beijo sua boca e libero suas mãos, porque preciso que me toque.
Começo a despi-la e, como tirou minha boxer antes do boquete, Ana segura
meu pau e me masturba.

— Essa carinha de anjo engana qualquer um. Só eu sei o quanto gosta


de uma putaria. Não vou surrar sua bunda agora porque estamos em casa,
mas a noite, vou amarrá-la, surrá-la e comer você toda.

— Eu nunca fui um anjo, você quem quis acreditar nisso. — Ela


sorri, toda maldosa.

Termino de despi-la e me ajusto entre suas pernas, enquanto ela leva


meu pau até sua abertura molhada.

— Mio angelo. Sempre será. — Beijo sua boca. — Toda molhada


sem precisar de estímulo. Estava com tesão chupando meu pau?

— Sim. — Ana geme e começo a meter forte e duro.

Suas unhas fincam em minhas costas, seus dentes buscam minha


pele. Mordo seus ombros, pescoço, queixo, aperto sua carne. Ela enrola as
pernas em volta da minha cintura e vou cada vez mais fundo. Nós deliramos
na nossa luxúria, do nosso jeito bruto e delicioso. Me inclino e dou atenção
ao seios, mamando, chupando, dando leves mordidas. O meu paraíso
particular é o corpo dessa mulher.

— Agora vem cá. — Puxo seu corpo e a coloco ajoelhada na cama,


empurro suas costas até que fica apoiada na cabeceira, com a bunda
empinada para mim. Deito-me e enfio meu rosto entre suas pernas. Dou um
tapa em sua boceta e ordeno: — Rebola. Senta na minha cara.

— Oh, porra... Ezra...

Seguro sua cintura e a puxo para mim. Ana geme com minha
brusquidão, com as mordidas em suas dobras, as batidas duras da minha
língua no clitóris intumescido. Ela delira de tesão e se esfrega toda no meu
rosto. Penetro o canal molhado com a língua e me deleito em seu suco
agridoce. Explodindo em prazer, ela rebola sem pudor e goza na minha boca.
Seu corpo cai sobre a cabeceira, mas a seguro, mantendo-a na posição e me
ajoelho atrás dela. Seguro meu pau e estimulo sua bocetinha.

— Esses pelos loiros nessa boceta rosada me deixam louco. Toda


você me deixa insano. — Esfrego-me nela, a puxando de volta para o
momento. Ana geme e se esfrega em mim. Com minha mão livre estímulo
seus peitos, beijo seu pescoço, mordo a carne sensível. — Tão gostosa. Toda
minha. Diga quem é seu dono, Ana.

— Eu sou sua dona. — A demoníaca murmura, mesmo sem forças.


Dou um tapa em sua bunda e vejo seu sorriso. Levo minha mão ao seu
pescoço e aperto de leve. — Você é meu escravo, Ezra Cattaneo. — Ela
geme.

— Meu anjo diabólico.

— Meu diabão. — Ana sorri e busca meus lábios.

— Eu sou sua e sempre vou ser, porque essa é minha vontade.

— Bom.

Meto nela por trás de uma só vez para calar sua boca esperta. Ela
sorri e geme ao mesmo tempo, revirando os olhos azuis, os cabelos colando
em sua pele suada. Minha perdição. Minha salvação. Ana contrai a boceta,
me fazendo grunhir, tamanho tesão, então rebola, revirando os quadris de um
jeito delicioso. O vai e vem é delicioso e nós dois gozamos juntos, chamando
o nome um do outro.

Ana e eu saímos do banho, mas antes que eu possa me vestir ouço


batidas na porta.
— Essa menina é impossível, eu tentei mantê-la lá embaixo.

— É aniversário do meu papa! Uhuu! Abre!

Sorrio ao mesmo tempo que Ana revira os olhos. Nos vestimos


apressados e sigo até a porta, ansioso para ver minha regazza.

— Feliz aniversário, papa! Eu queria ter sido a primeira! — Poli pula


em meus braços e me ajoelho para abraçá-la.

— Seu pai estava dormindo, Poli, eu falei com você mais cedo. —
Ana explica, acariciando os fios loiros da nossa filha.

— Mas, mamãe, já deu tempo de acordar.

Poliana é uma cópia minha com os cabelos loiros, como os da sua


mãe quando ela não os tingia de escuro. Parece um anjo, mas é tão
determinada quanto eu e brigona quanto a mãe. Ana diz que estou estragando
nossa filha, sempre fazendo suas vontades, mas a verdade é que essa
miniatura de três anos me tem enrolado em seus dedos. E Ana não é diferente
quando se trata de mimá-la.

— Agora você já deu o parabéns do papai, vamos descer para


cantarmos todas juntas para ele? — Gilda chama.

— Eu preparei uma surpresa. Quero que você fique muito surpreso,


papa. Com a cara assim ó! — Ela faz uma expressão exagerada de surpresa e
sai correndo.

— Deus, ela é um furacão! — Ana resmunga e segue atrás dela.

Gilda me deseja um feliz aniversário e passa na frente, ainda incerta


sobre mim, porque continuo sendo o mesmo homem fechado de sempre,
apenas não com as mulheres da minha vida.

Desço e me junto à nonna, Ana, Poliana e Gilda. Finjo surpresa como


minha filha exigiu ao ver o bolo sobre a mesa. Hoje estou completando
quarenta anos e nunca imaginei, em toda minha vida, que comemoraria dessa
forma, com uma família. Elas cantam “parabéns”, batem palmas, exigem
fotos e depois tomo café da manhã, com Poliana tagarelando sobre nossa
próxima viagem à Itália, uma vez que diz estar com saudade do padrinho,
Luigi. O bastardo sempre com jeito com minhas garotas.

No entanto, Ana está no segundo ano da sua faculdade de gestão


empresarial e, por isso, estamos ficando mais no Brasil. Ela tem sido muito
bem sucedida na sua rede de salões, que agora são quatro, espalhados pelo
Rio de Janeiro. Encontrou funcionárias de confiança para gerenciar seu
negócio, e trabalha supervisionando cada um em dias específicos da semana.
Sempre na parte da tarde, pois ama acordar e cuidar da nossa filha, faz
questão de que todos nós estejamos juntos nos horários das refeições. Ela dá
o amor que nunca recebeu, ela nos faz família em todos os sentidos.

— Papa, por que o nome da minha mamãe é Ana, mas você chama
ela com o nome igual do meu amigo da escola? O Ângelo... — Poli solta uma
de suas pérolas, o que faz todos nós rirmos à mesa.
— Assim como te ensinei que “papà”, é papai em italiano e
“regazza”, como chamo você, é menina... Mio angelo, como chamo sua mãe
também é um apelido vindo do meu idioma natal. Significa “meu anjo”, mas
também é o nome do seu amigo.

— Então minha mãe não é Ângelo. — Ela suspira. — Eu esqueci seu


nome, mamãe. O papa só chama de angelo e eu, de mamãe. — Poli se
aproxima de Ana com uma expressão cômica de tristeza.

— Me chamo Ana, querida. Não tem problema ter esquecido. — Ana


beija a cabeça dela.

— A Fernanda da minha sala disse que meu nome é Caetano, mas eu


disse para ela que é Cattaneo. Você também tem o nome igual o do papa? —
Pergunta à mãe.

— Sim, eu sou Ana Cattaneo, porque me casei com seu papa e ele me
deu o nome dele.

As duas embarcam nessa conversa de nomes e fico relaxado, somente


escutando. Ana se tornou minha esposa depois de uma cerimônia em que só
nós dois estávamos presentes na minha lancha, no réveillon em Veneza.
Ambos ficamos satisfeitos em sermos só nós dois e quando a peguei de
surpresa com um pedido de casamento, a surpreendi ainda mais quando
propus que nos casássemos ali e depois assinássemos os papéis com um juiz.
O fizemos semanas depois e ela passou a carregar meu sobrenome. Embora
seus novos documentos continuassem sendo falsos depois que ela abriu mão
de usar o nome Diana, Ana me garantiu que sentia que aquela era sua
verdadeira identidade quando pegamos os documentos novos após a mudança
de seu sobrenome. Ana Cattaneo combina perfeitamente com ela.

Encaro minha filha, linda, inteligente e sinto meu peito inflar de


amor. Um amor que nunca senti antes, nem mesmo por Ana. Vejo minha
mulher, fazendo cachinhos no cabelo da filha, interessada no que ela diz,
cheia de amor no olhar. Treze anos mais jovem que eu, mas com uma carga
emocional e muito aprendizado nas costas. Ela nunca deixou a terapia, mas
confesso que a maternidade foi como sua salvação. Ana é a melhor mãe que
já vi. É a mãe que eu gostaria de ter tido, é tudo. A nossa filha nunca sentirá o
que eu senti, ou o que a mãe sentiu. Ana ama com a mesma ferocidade que
eu. Nós amamos poucas pessoas, mas essas poucas são tudo.

FIM.
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OUTROS LIVROS

ONDE MENOS ESPEREI


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Onde Menos Esperei é um clichê que conta a história de duas pessoas


distintas que se completam. Iris Falcão é uma jovem de 22 anos, focada nos
estudos e com sua vida milimetricamente planejada para ser conforme seus
planos. Apaixonada por séries e, principalmente, animes, tem como
companheiro apenas Sasuke, seu cão e melhor amigo. Ela não espera ter que
dividir seu apartamento com um cara debochado, implicante, louco e que não
curte usar roupas, mas vai ter que lidar com isso. Levi Arantes é um rapaz de
24 anos, que foi criado com todo amor e carinho dos seus pais, mas depois
que os perdeu em um acidente de carro, passou a conviver com o tio Félix,
que desconhece tratamentos carinhosos. Seu castigo para Levi é colocá-lo
para conviver com uma jovem “chata”.

Nessa mistura conhecemos um casal que se baseia na amizade e confiança,


aprendem um com o outro. Leitura rápida, muito divertida e fluída.

SALVA-ME
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Jasmim Maria é uma jovem cheia de vida e amor. Vivendo no sítio dos seus
avós, pouco se importa com as poucas oportunidades na vida e com a
pobreza. Seu sonho é poder ajudar os dois velhinhos que são donos do seu
coração.

Natan Cassillas não conhece o amor, não conhece a liberdade e, tampouco,


motivos para ser feliz sem ganhar algo troca. Ele cresceu sem ser apresentado
aos sentimentos nobres da vida. Saindo do Rio de Janeiro para passar uma
temporada na grande fazenda dos seus avós em Minas Gerais, conhece
Jasmim. A primeira vista, a garota alegre dançando na chuva o encanta.
Todavia, quando começa a ter sentimentos por ela, percebe que Jasmim é
pura demais para ser manchada por alguém como ele.

No fim, a mocinha precisa salvar seu mocinho, não tão herói assim. Talvez
seja fácil. Talvez não. Principalmente se ele não se achar merecedor de ser
salvo.

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É possível se apaixonar no primeiro olhar? É possível se tornar de uma


pessoa e não perceber?

A atração é imediata quando Pietra e Estevão se conhecem. A barriga


protuberante só o faz quere-la mais e a criança que cresce em seu ventre faz o
alemão vislumbrar um futuro onde os dois são a coisa mais preciosa que ele
poderia ter. Estevão nem hesita em fazê-los dele e quando ele têm algo tão
valioso, ele protege com todas as suas forças.

O PRAZER É MEU (Este livro contém ménage, linguagem imprópria e um


relacionamento que envolve mais de duas pessoas.)
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Ariella é livre e sabe o que quer, entretanto, nem em seus sonhos mais
tórridos poderia imaginar que dois homens iam querer dividi-la. Ela não
consegue evitar entrar naquele jogo de sedução que os gêmeos a enredam.
Miguel e Murilo Toroza são lobos, cansados das ovelhinhas. Enxergaram em
Ariella, uma caçadora, como eles. Essa é uma situação para não deixar
passar. Apesar de seus traumas do passados, riscos de se envolverem além da
conta com aquela mulher quinze anos mais jovem, os gêmeos estão dispostos
à tê-la. Contudo, com Ariella Ribas nada é como eles esperam e o jogo só dá
início, quando ela apertar o play.

Uma tórrida aventura e adeus, ou enfrentar o mundo para lidar com um amor
considerado horrível aos olhos do mundo?

“Cosideramos justas toda forma de amor...” Lulu Santos.

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