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A Noiva do Sheik

De Sophia Lynn e Jessica Brooke

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Tabela de conteúdos
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Epílogo

OUTRA HISTÓRIA QUE VOCÊ PODE GOSTAR


O Inesperado Desejo do Sheik
Capítulo Um
Alice Winter recostou a cabeça na borda da banheira de porcelana e tentou apreciar o fato de que seus
músculos doloridos estavam mergulhados em água aromatizada com jasmins. Além disso, em apenas algumas
horas, estaria ao lado da sua melhor amiga do mundo, que se casaria com um homem que, ao que parecia, era
um dos solteirões mais cobiçados do planeta. Mas era um pouco difícil relaxar, quando uma mulher esfregava
vigorosamente seu cabelo, outra esfoliava seu rosto e uma terceira preparava suas unhas para a manicure.

De acordo com Sheridan, esta era uma tradição: as madrinhas não faziam parte necessariamente dos
casamentos islâmicos, mas a noiva era sempre banhada, paparicada e embelezada dessa forma antes da
cerimônia – por isso Alice estava recebendo um tratamento similar.

“Você tem certeza de que não sou eu que estou me casando?”, perguntou Alice, um pouco irritada.

A gargalhada alta de Sheridan ecoou do outro quarto. “Tenho certeza. Afinal, sou eu que estou com o
anel de noivado.”

“Humpf.” Alice teria dito mais, mas a mulher que esfregava seu couro cabeludo fez um gesto para que
afundasse a cabeça. Suspirando, Alice mergulhou mais um pouco na banheira e depois inclinou a cabeça, para
que a raiz do cabelo ficasse totalmente submersa. Os dedos longos da mulher deslizaram pelas madeixas
vermelhas de Alice, enxaguando o shampoo, e depois a puxaram de volta para cima, para que pudesse
começar a condicioná-las.

Alice suspirou novamente.

Eventualmente, foi libertada das garras das Três Fúrias, como as chamava – qualquer tentativa de
movimento não autorizado era seguida de uma repreensão feroz. Por libertada queria dizer que as senhoras
haviam se afastado por tempo suficiente para que ela escapasse do confinamento da banheira. Ela então foi
imediatamente seca e coberta com um robe branco macio, seu cabelo envolvido em uma toalha de microfibra
aromatizada, para que secasse mais rápido.

Pelo menos não seria preciso fazer muito em relação a isso. O seu corte estilo bob, com a parte da
frente mais longa, não permitia que se fizessem muitos penteados, além de alisá-lo ou colocar gel e deixar os
cachos bagunçados. Alice já tinha optado pelo look alisado. Dubai era mais avançada que a maioria das
cidades do Oriente Médio, mas ainda era muito conservadora, e ela precisava estar de acordo. O estilo do
seu cabelo já chamava mais atenção do que o da maioria, com seus cachos vermelho-fogo e um corte curto,
ousado.

As Fúrias a apressaram para dentro do quarto, onde Sheridan estava sentada em frente à penteadeira,
já vestida em uma ghaagra chamativa. A volumosa saia de pregas se arrastava pelo chão e cobria seus pés, e
a blusa longa do conjunto era detalhadamente bordada em ouro. Sua maquiagem já estava pronta, seus lábidos
pintados em um vermelho forte, e seus olhos marcados com kajal.

“Uau”, provocou Alice, conforme assistia a uma das assistentes deslizar uma gargantilha pesada de
ouro em torno do pescoço de Sheridan, para se unir à grande variedade de outras peças penduradas em seus
pulsos e colo. “Você está carregando ouro suficiente para o resgate de um rei”.

“Na verdade, é meu dote”, disse Sheridan, colocando a língua para fora. “Não posso entrar nesse
casamento sem nada, sabe?”
Alice riu. “Ah, sim. Porque você estaria totalmente desprovida, se não fosse a generosidade do
xeique”. Ambas sabiam que aquilo era absurdo. Sheridan tinha vindo de uma família rica e, por si só, havia
ganhado milhões de dólares no mercado imobiliário, antes de decidir vender sua empresa e ficar ao lado de
Kalid, como sua rainha.

Alice se perguntou se um dia encontraria alguém que a amasse tanto, que ela estivesse disposta a
abandonar sua carreira dessa forma. Já havia passado um longo tempo procurando, mas ainda estava por
encontrar um homem que amasse mais do que amava a moda... Ou melhor, que valesse todo esse amor. Em sua
maioria, não eram bons o suficiente para mais do que uma noite.

Uma das assistentes puxou a manga do seu robe, levando-a para longe de Sheridan. Elas soltaram as
volumosas dobras do sári de Alice em torno do seu corpo – um sári verde escuro, bordado em prateado – e
enrolaram e prenderam até que ela estivesse devidamente coberta.

Quando Alice se virou para se olhar no espelho, teve de admitir que o sári ficava realmente muito
bom nela. Se não fosse pela pouca praticidade das dobras de tecido balançando em volta e caindo sobre o
seu ombro, consideraria vesti-lo novamente. Mas, de forma geral, preferia os vestidos mais justos e mais
curtos que permitiam que tivesse mais movimento.

Você sabe que os sáris de todo dia são mais práticos do que isso.

Era verdade. Ela já havia visto programas de moda suficientes para saber que o que vestia agora era
algo cerimonial, e não para uso diário. Um sári normal provavelmente teria muito menos tecido para se
preocupar.

Por que estou pensando sobre isso? Não vou me mudar para cá ou algo assim.

Alice balançou a cabeça e as mulheres a levaram para a segunda penteadeira – montada somente para
a ocasião – para que pudessem começar a fazer sua maquiagem. Ela estava começando a se envolver no
momento. Estaria de volta aos Estados Unidos pouco depois disso, de volta à vida corrida, frenética, da
indústria da moda de Nova York, onde não havia lugar para sáris ou celebrações de casamentos com duração
de três dias. Nada disso.

Porém, os homens aqui eram surpreendentemente bonitos, ela concluía enquanto olhava para a frente e
permitia que as mulheres aplicassem pó sobre sua pele. Ontem, na cerimônia Mehendi – que era,
basicamente, um chá de panela e parte da tradicional festa de casamento muçulmana de três dias – ela havia
conhecido Karim, o irmão do Xeique Kalid. O coração de Alice bateu um pouco mais rápido quando se
lembrou de seu sorriso aberto e da forma como seus olhos cor de âmbar se iluminaram quando se apresentou
a ela. Ela não havia passado muito tempo em sua companhia, mas ele era bonito e charmoso, o que era um
bom começo. Se não fosse pelo fato de Sheridan lhe ter revelado que era noivo, talvez tivesse flertado com
ele. Mas ficava longe de homens casados e comprometidos. Adorava um desafio, assim como todo mundo,
mas não estava procurando por drama. Já tinha visto muitos relacionamentos serem destruídos pela
infidelidade e considerando quão rígidas eram as leis islâmicas, não ficaria surpresa se ter um caso com um
príncipe do Dubai a fizesse ter sua cabeça cortada ou algo assim.

“Tudo bem”, disse uma das mulheres, com um sotaque carregado. “Você está pronta.”

Alice piscou e se encarou no espelho. Elas haviam maquiado suas pálpebras com um bronze cintilante
e delineado seus olhos com kajal, e aplicado uma leve camada de blush sobre suas acentuadas maçãs do
rosto. A base suavizava sua pele pálida, e o toque dramático de vermelho nos seus lábios era incrivelmente
parecido com o de Sheridan.
Sorrindo, ela se virou para a melhor amiga. “O que você acha?”

“Maravilhoso”, declarou Sheridan, levantando-se. As dobras volumosas da saia dançavam em torno


dela conforme se mexia, e as franjas douradas na sua cintura tilintavam alegremente. “Acho que estamos
praticamente prontas, não?”

“Ainda não”, advertiu uma das mulheres. “Você ainda precisa da sua dupatta.”

Elas trouxeram um enorme pedaço de tecido vermelho e dourado, que era tão longo que poderia ser
facilmente transformado em um vestido. As mulheres cuidadosamente vestiram o tecido sobre Sheridan, para
que ficasse no topo da sua cabeça e fluísse em volta do corpo, de forma a demonstrar modéstia, ao mesmo
tempo em que não cobrisse o cabelo ou a face, ou escondesse a riqueza das joias que vestia.

“Uau”, murmurou Alice, enquanto olhava para Sheridan. Ela não sabia se era por causa da dupatta,
que se parecia tanto com um véu de noiva, mas de repente ela se deu conta, como que pela primeira vez, que
sua melhor amiga estava se casando. Lágrimas caíram dos cantos dos seus olhos e ela piscou, com força.
“Isso realmente está acontecendo.”

“Está.” Lágrimas brilharam nos olhos azuis de Sheridan, e algumas escorreram pela lateral de suas
bochechas. “Realmente está.”

“Sem chorar!”, pediu uma das mulheres, apressando-se com um guardanapo, para secar as lágrimas.
“Precisarei refazer sua maquiagem!”

“É verdade”, lembrou Alice, como se ela mesma não tivesse chorado. “E você não quer se atrasar
para o casamento, quer?”

“Não”, Sheridan fungou, depois ajeitou os ombros, com um olhar determinado em seu rosto. “Não
deixarei que algumas lágrimas me atrasem. Vamos nos casar hoje, não importa o que aconteça.”

“Assim é que se fala.”

***

Karim conferiu seu relógio uma última vez antes de sair de seus aposentos, para se dirigir ao jardim
para o Nikah – o segundo dia do casamento e o dia em que a cerimônia de fato aconteceria. O dia em que seu
irmão e sua noiva seriam unidos, transformando-se em uma só pessoa.

Os nervos pulsavam pelas suas veias conforme ele percorria o labirinto de corredores do palácio. Era
quase como se fosse ele que fosse se casar – mas não era. Sua noiva não tinha nem conseguido ir ao
casamento, então ele não poderia se casar hoje, mesmo se quisesse.

Não, este dia era para seu irmão, para sua felicidade e o “felizes para sempre”, que já tinha passado
da hora.

O murmúrio de vozes o levou a um pequeno aposento, que saía diretamente do corredor principal,
onde os convidados aguardavam nas alas laterais pelo início da cerimônia. Karim respirou e entrou no
aposento, encontrando Kahlid, que já estava lá, juntamente com o pai de Sheridan e sua melhor amiga, Alice
Winter.

Sua respiração parou quando Alice se virou para olhar para ele; seu cabelo vermelho deslumbrante
balançando em torno de seu rosto anguloso. Seus olhos verdes-garrafa se iluminaram quando o viram. Ela
vestia um sári verde escuro, fluido, que acentuava suas curvas elegantes e fazia seu coração bater muito mais
rápido do que tinha direito.

“Olá, Karim.” Ela sorriu, seus ousados lábios vermelhos se curvando nos cantos.

“Aí está você!”, exclamou Kahlid, quebrando o encanto antes de Karim ter a oportunidade de
responder. “Bem na hora também”, acrescentou, conforme a música começava a tocar lá fora.

Para fora da grande janela, filas de cadeiras haviam sido arrumadas por todo o gramado do jardim, e
o caminho entre elas levava a um arco branco rendado. Karim logo iria estar perto de Kahlid embaixo
daquele arco, ao seu lado, quando seu irmão oficialmente desse seus votos à mulher que amava.

“Imagino que deva ir buscar a noiva”, disse o pai de Sheridan, Daniel Hawkins. Ele era um homem
mais velho e robusto, com uma coroa de cabelo grosso, loiro acinzentado. Como Karim e Kahlid, ele vestia
um herwani e salwar, ao invés de um terno ocidental tradicional.

“E você precisa ir para fora”, disse Alice a Kahlid. “Você não quer que a sua noiva saia e descubra
que o noivo dela não está no altar, quer?”

“De jeito nenhum”, Kahlid riu e se apressou para fora, beijando amigavelmente o rosto de Alice,
depois dirigiu seu olhar obscuro em direção ao seu irmão. “Encontro você lá fora.”

“Claro”, Karim sorriu, de forma encorajadora. “Eu não perderia isso por nada neste mundo.”

Kahlid desapareceu no jardim e Karim o assistiu, conforme ele caminhava pelo corredor coberto de
pétalas de rosa, em direção ao altar. As fileiras de cadeiras estavam lotadas de convidados do mundo todo:
dignitários dos países do entorno, inclusive dos Emirados, assim como amigos e familiares.

A maioria dessas pessoas também viria, um dia, do mundo todo para assistir ao seu casamento.

“Acho que esta é a nossa deixa”, murmurou Alice, assustando Karim. Ele olhou para baixo, vendo-a
ao lado de seu ombro, também olhando para o jardim. Daí percebeu que a música tinha mudado para a
próxima estrofe, o que significava que era a hora de se dirigirem ao corredor.

“Sim, acho que você está certa”, disse Karim, com um sorriso. Ele ofereceu seu braço e Alice
aceitou, virando o pulso para colocar a palma da mão na parte interna do braço dele. Seu tríceps pressionou a
lateral de Karim e o coração dele pulou novamente.

Karim se perguntou se aquilo aconteceria se sua noiva estivesse lá.

Desviando-se desses pensamentos, guiou Alice para fora do cômodo e pelo corredor, até onde Karim
os aguardava. Ele sentiu os olhos da plateia sobre eles, especialmente sobre Alice. Olhos masculinos
passeando pelo seu vestido. Em resposta, ele a segurou de forma um pouco mais protetora ao seu lado. A
curva do quadril dela roçou em Karim, mas ele manteve os olhos fixamente firmes sobre seu irmão, ignorando
o impulso de olhar na direção dela.

Finalmente chegaram ao arco, e Karim soltou Alice, com um leve sinal de alívio. Ele se uniu ao irmão
de um lado, conforme Alice ia para seu lugar do outro, e todos se viraram em direção à entrada, para ver
Daniel Hawkins guiar gentilmente Sheridan através das portas para encontrar seu futuro marido. A respiração
presa de Kahlid fez surgir um sorriso dos lábios de Karim – ele estava, assim como deveria, atordoado pela
beleza de sua noiva. Ela estava deslumbrante em seus trajes de noiva, com a ghaagra e dupatta, e seus olhos
azuis brilhavam com o brilho que somente o amor e a felicidade poderiam inspirar, conforme ela se
aproximava de Kahlid.

Um dia, pensou Karim, enquanto tocava o anel em seu bolso, que logo estaria no dedo de Sheridan.
Um dia ele também estará casado e também será feliz para sempre.
Capítulo Dois
“Karim, está tudo bem com você?”

Karim disse um palavrão quando a bola de tênis passou quicando e ele se virou com o calcanhar para
ir atrás dela. Estava na quadra de tênis com Kahlid de manhã, com era sua tradição. Sempre que estavam em
casa, começavam a manhã com uma partida de tênis amistosa, tanto para fazer o sangue se movimentar, quanto
para passar um pouco de tempo juntos, antes de o dia começar.

“Estou bem”, resmungou Karim, enquanto corria atrás da bola. Ele voltou para a quadra, depois jogou
a bola para o ar e a sacou para Kahlid.

Kahlid, sem esforço nenhum, a devolveu com um backswing gracioso, e Karim se dirigiu ao fundo
para pegá-la, antes que passasse por cima de sua cabeça. Mas calculou mal, inclinando-se muito para trás.
Apesar de ter batido na bola com a extremidade traseira da raquete, perdeu o equilíbrio, caindo no cimento
verde, fazendo o barulho de uma forte pancada.

“Ok. Acabou.” Franzindo a testa, Kahlid colocou de lado sua raquete e se aproximou. A bola quicou
para longe, atrás de Kahlid, esquecida, enquanto ele esticava a mão para o irmão. “Não o vejo tão desastrado
na quadra desde que tínhamos quatorze anos. O que está acontecendo com você?”

Karim suspirou ao segurar a mão do irmão e deixá-lo ajudar a ficar de pé. “É que... Azira disse que
não conseguiria vir hoje. O seu trabalho como modelo na China foi estendido.”

“Entendo”, Kahlid olhou para ele atentamente. “E isso o está chateando?”

Karim suspirou. “Acho que não deveria. Eu sabia que, como modelo, ela teria compromissos que
criariam conflitos de agenda entre nós. Mas se ela não poderia estar aqui para o casamento, eu pelo menos
esperava que chegasse para o Valima. É que... Tenho medo de que esse tipo de coisa seja visto como uma
afronta para a nossa família.”

“Eu não me preocuparia tanto com o que o público pensa”, disse Kahlid. “O que realmente importa é
o que você pensa.”

Karim ficou sério. “Eu acho que ela é saudável, bonita e um bom par. E essas são as coisas que mais
importam quando escolhemos uma esposa.”

“É verdade”, Kahlid inclinou a cabeça, escolhendo não se envolver em uma discussão que os dois já
tinham tido várias vezes nos últimos meses.

Karim suspirou. “Podemos só jogar tênis?”

“Como quiser, mano.” Kahlid se virou, depois pulou sobre a rede baixa para recuperar a bola. Mas
enquanto via o irmão se afastar, Karim não consegui se livrar da sensação de que as palavras não ditas de
Kahlid voltariam a incomodá-lo muito em breve.

***

“Sabe?”, Alice sussurrou a Sheridan, quando entravam na sala de banquetes. “Preciso dizer que a
comida aqui sempre tem um aroma completamente divino.”

Sheridan zombou ao ver Alice fazendo quase uma varredura nas mesas do bufê, cobertas de panelas e
bandejas de prata, cheias de comida. “Calma, tigresa. Você vai babar no vestido.”

“Só um pouquinho”, Alice fingiu que limpava a baba do queixo e em seguida se aproximou da mesa
dos padrinhos, com Sheridan. Esta era a última parte da cerimônia de casamento, a Valima, em que a família
do noivo realizava um enorme banquete que significava a consumação do casamento, o que devia ter
acontecido na noite anterior.

Pelo brilho no rosto de Sheridan quando acordou nesta manhã, e o cintilar dos olhos de Kahlid quando
levantou da cadeira para receber sua nova noiva, Alice teve a sensação de que eles realmente consumaram o
casamento, e talvez tenham feito um pouco mais. Ela sentiu um lampejo de inveja com essa ideia – já fazia
duas semanas que tinha feito sexo pela última vez – o que, com essa viagem, mais o frenesi resultante de
terminar todo o seu trabalho antes de partir, significava que uma sessãozinha revigorante de sexo poderia ser
bem útil agora.

“Minha linda esposa!”, exclamou Kahlid, quando se aproximou de Sheridan com os braços abertos.
Seus olhos escuros cintilavam quando a abraçou. “Você está maravilhosa, como sempre.”

“Oh, obrigada, marido”, Sheridan brincou antes de dar um beijo na bochecha dele. Ela vestia uma
abaya azul profundo, com bordados prateados, que combinavam perfeitamente com seus olhos, e seu cabelo
estava preso, com uma pilha florescente de cachos que quase fizeram Alice desejar que tivesse mantido o
cabelo comprido, para que pudesse fazer algo parecido.

“E você também está adorável, é claro”, disse Kahlid a Alice, abraçando-a também. Ele então puxou
uma cadeira, para que Sheridan pudesse sentar perto dele, depois apontou a uma cadeira na outra ponta da
mesa. “Eu inicialmente pretendia que você sentasse perto da Sheridan, mas o pai dela insistiu em ter essa
honra. Você se importa de se sentar aqui?”

Alice piscou quando olhou para a cadeira na outra ponta da mesa. Era diretamente na frente da
cadeira em que pretendia sentar, apenas dois assentos distante da de Kahlid… E bem ao lado da cadeira
vazia, estava Karim, que olhava diretamente para ela. Uma onda quente se espalhou pelas bochechas de Alice
pela intensidade dos olhos cor de âmbar de Karim, e sua pulsação se apressou.

“Hum, claro, sem problemas”, disse abruptamente.

“Tem certeza?” O pai de Sheridan colocou a mão no seu ombro. “Não quero expulsá-la de sua
cadeira, se você estava planejando se sentar aqui.”

“Não é problema.” Sorrindo, Alice beijou rapidamente Daniel na bochecha, ganhando um sorriso do
senhor. “Tenho certeza de que Karim não morde.”

Ela então deu uma piscada para Karim, cujos olhos brilharam, com surpresa. Mas ele rapidamente se
recuperou, também com um sorriso, puxando a cadeira ao seu lado.

“Eu não mordo, a menos que haja comida envolvida”, ele sussurrou perto do ouvido dela, enquanto
empurrava sua cadeira de volta.

Outra onda de calor esquentou suas bochechas. “Bom, até onde sei, parece que há comida envolvida
aqui”, ela destacou, enquanto ele se ajeitou na cadeira ao lado dela.
Karim riu. “Sim. E, por sinal, é comida excelente”, disse ele, enquanto os garçons se aproximavam
para servi-los.

Alice recebeu um frango na manteiga, uma espécie de purê de espinafre com especiarias, arroz
basmati e uma pequena cumbuca de pepinos, embebidos em um molho picante de iogurte, no qual o pão podia
ser mergulhado. Ela passou a maior parte do tempo conversando com os vários familiares na mesa, e havia
muitos – ao que parecia, a família real tinha muitos primos e parentes distantes. Eles eram todos muito
agradáveis e bem educados e com todo tipo de histórias para contar. Alice estava preocupada que fossem um
pouco avessos a ela, por causa da diferença de raças, mas, na verdade, eram curiosos, e perguntaram tanto
sobre os costumes dela quanto contaram sobre os seus.

Quando o banquete terminou, as mesas foram retiradas, e Kahlid e Sheridan se uniram a vários outros
casais para dançar. Alice assistia desejosamente, em volta da pista de dança, enquanto Sheridan rodopiava
com seu novo marido. Ela adorava dançar, mas neste território desconhecido, não tinha certeza da forma
apropriada de abordar um homem e convidá-lo para um giro pelo salão. Normalmente, quando convidava
alguém para dançar em seu país, significava que o estava avaliando para o sexo, e frequentemente acabava na
casa dele. Mas aqui, entre todas essas pessoas do Oriente Médio, estava perdida.

“Você parece estar seriamente precisando de um par para dançar.” Alice se assustou com o som da
voz de Karim no seu ouvido. Ela olhou para cima, para vê-lo parado ao seu lado direito, seus olhos de âmbar
cintilando sobre ela, apesar de nenhum sorriso adornando seus lábios. Ele havia trocado seu sherwani de
antes por um terno escuro, que vestia perfeitamente seu corpo alto e magro. O colarinho branco reluzente de
sua camisa contrastava com a pele morena. Seus traços eram realmente divinos, como os de seu irmão: altas
maçãs do rosto, maxilar quadrado... Mas seu nariz era um pouco mais delicado, seus olhos mais pálidos, seus
lábios um pouco mais cheios. E a forma como aqueles cílios densos emolduravam aqueles olhos cintilantes,
cor de âmbar...

Para com isso, Alice. Ele é comprometido.

“Preciso de um par para dançar”, ela respondeu, com um tremor no canto dos lábios. “Você está
oferecendo?”

“Bom, considerando que a minha amada não está aqui hoje para dançar comigo, acho que preciso de
uma parceira para dançar também”, Karim ofereceu-lhe a mão.

Borboletas voaram no estômago de Alice quando viu a mão estendida de Karim. Era uma boa ideia?
Deveria dançar com ele?

Por que não? Ele certamente não iria convidá-la para dançar se isso fosse criar um problema...
Não no casamento do irmão.

“Não seria inapropriado ou algo assim, né?”

Karim balançou a cabeça. “Não, de jeito nenhum. Os pares não precisam ser casais para dançar,
desde que sigam uma certa decência.”

“Certo.” Engolindo seco, colocou a mão sobre a dele. O calor da palma dele envolveu suas mãos. Ele
encaixou os dedos nos dela e dobrou o braço, pousando as mãos em seu peito. As pessoas iam abrindo
caminho enquanto ele a guiava pela pista de dança; ela segurou a respiração, esperando que alguém fizesse
alguma objeção. Mas ninguém fez. Na verdade, Sheridan abriu seu sorriso brilhante do outro lado do salão,
claramente concedendo sua aprovação.
Bem, acho que é isso, então.

Alice levantou a cabeça para olhar para os olhos cor de âmbar de Karim, quando ele colocou uma
mão sobre seu ombro, e a outra na curva das suas costas. Uma melodia viva e exótica começou a soar dos
alto-falantes, e Karim uniu suas mãos com as dela, enviando uma onda de eletricidade.

“Relaxe”, murmurou, um sorriso fazendo seus lábios se curvarem. “Você está muito tensa.”

Alice inspirou profundamente pelas narinas e expirou lentamente pela boca, forçando os ombros a
relaxarem. Eles dançaram juntos por toda a música, em perfeita sintonia, e eventualmente Alice se esqueceu
de que estava com vergonha, das sensações que as mãos de Karim inspiraram nela, quando se perderam pela
música.

“A música aqui no Oriente Médio é muito diferente”, comentou. “Muito mais... Dramática do que
aquelas com as quais estou acostumada nos Estados Unidos.”

Karim sorriu para ela. “Esta é uma música no estilo Arabesque”, disse ele, enquanto a girava na pista.
“Apenas um entre tantos estilos musicais encontrados aqui no Oriente Médio. Você verá que temos gostos
muito variados de cultura para cultura.”

“Posso imaginar”, disse Alice. “Você gosta de música?”

“Coleciono um ou outro álbum, no tempo livre”, seus olhos piscaram. “Talvez da próxima vez que
você vier visitar, posso mostrar alguns deles.”

As bochechas de Alice esquentaram: quando um cara a convida para ir à casa dele, para mostrar a
coleção de discos, no mundo dela, é um convite para muito mais do que apenas ouvir música. Mas Karim não
a estava acariciando de forma inapropriada: era uma maneira cordial, não lasciva.

Relaxe, garota, ela se repreendeu. Ele provavelmente só está tentando ser simpático.

“Eu gostaria de fazer isso, em algum momento”, disse ela.

Eles dançaram em silêncio por mais alguns minutos, antes de ela finalmente deixar escapar o tópico
que a estava incomodando. “Então, você tem uma noiva?”

Karim errou o passo por um momento. “Tenho. O nome dela é Azisa Shahaad.”

“Oh!”, os olhos de Alice se abriram quando a imagem de uma beldade árabe de pele escura passou
pela sua cabeça. “A modelo?”

Karim elevou as sobrancelhas. “Sim. Você a conhece?”

“Bom, não pessoalmente”, disse Alice, “mas trabalho na indústria da moda, então seria difícil não ter
ouvido falar dela. Ela é uma estrela em ascensão no mundo fashion atualmente”.

“Ah, então você também trabalha no mundo da moda?” Os lábios de Karim se curvaram novamente.
“Que irônico.”

“Bem, não sou uma modelo”, afirmou Alice, “trabalho na Armani, como compradora”.

“Sério?” Os olhos âmbar de Karim a percorreram de cima a baixo, e dessa vez havia, sem dúvidas,
uma onda de calor nas suas profundezas. “Bom, você certamente não faria feio em uma passarela, se minha
opinião contar alguma coisa.”

O calor se espalhou pelo ventre de Alice por conta do olhar dele, combinado com o elogio. Karim
então mudou de direção, seus movimentos leves e graciosos, e um formigamento percorreu o corpo de Alice,
enquanto o tórax dele se esfregava contra o dela. A temperatura foi gradativamente crescendo até quase
ferver, até que seu coração estivesse disparado novamente. O ar entre eles havia se espessado a ponto de ela
quase não conseguir respirar. Nunca havia sentindo nada como isso ao dançar com um homem, e certamente
não com alguém que nem estava tentando seduzir.

Jesus, o que está acontecendo? Por que não conseguia manter o pensamento longe do pecado em
relação a este homem?

A música finalmente acabou, e Karim a guiou para fora da pista. Um alívio a atravessou, quando ele a
soltou de seu abraço perigoso. Alice tinha o mau pressentimento de que, se continuassem por mais uma
música, ela atravessaria um limite do qual iria se arrepender.

E apesar de Alice ter poucos limites na vida, orgulhava-se muito de se negar a atravessar aqueles que,
de fato, tinha.

“Obrigado pela honra de me conceder esta dança”, Karim esboçou uma reverência, com seus olhos
cor de âmbar ainda brilhando.

“Foi um prazer”, disse Alice, automaticamente devolvendo a reverência da forma mais cortês que
conseguia com sua abaya.

“Eu garanto, o prazer foi todo meu”, Karim inclinou a cabeça, depois se afastou e deixou Alice o
observando, enquanto desaparecia no meio das pessoas.

Teria de se lembrar de não ficar sozinha com ele em nenhuma circunstância, disse a si mesma
enquanto o via se afastar. Um homem que podia inspirar nela sentimentos como esses era perigoso e, se ela
não tivesse cuidado, ele a desvendaria.
Capítulo Três
Quatro meses depois.

Karim estava sentado em sua mesa e mordia a ponta de um lápis, encarando a planta de um novo
projeto de arquitetura no qual trabalhava. Como tinha estudado desenho arquitetônico, sempre era
encarregado por Kahlid de qualquer nova estrutura que estivessem construindo. As plantas atuais eram para
um novo hotel que estavam fazendo à beira d’água, em Dubai.

Como se precisassem de mais um hotel… Mas Karim confiava implicitamente no irmão em relação ao
tino para negócios, que era o seu ponto forte. Assim como Kahlid nunca questionaria a integridade de
qualquer um de seus projetos, ele nunca questionaria as decisões de negócios do irmão.

Isso não quer dizer eles se intimidavam em apontar falhas ou inviabilidades um ao outro. Se Kahlid
realmente achasse que um dos projetos de Karim fosse um desastre, não hesitaria em dizer, e Karim faria o
mesmo se achasse que Kahlid estivesse entrando em um negócio terrível. Mas, de maneira geral, os irmãos
confiavam nas decisões um do outro.

Uma batida delicada na porta tirou sua atenção da planta sobre a mesa, e ele levantou o rosto com
surpresa, imaginando quem estaria vindo falar com ele. Era um dos construtores? Ele não tinha nenhuma
reunião até o fim da tarde…

“Entre”, disse ele.

A porta se abriu. Karim piscou, surpreso, quando Azisa, sua noiva, deslizou pela porta, em um par de
escarpins nude… Ela vestia uma abaya verde-água, que fluía em torno do seu corpo, e o seu cabelo escuro e
brilhante caía em torno do seu rosto perfeito, chamando atenção para a sua fina estrutura óssea e seus olhos
grandes, com cílios grossos. Era uma imagem de elegância, a personificação da beleza. Ela sempre chamou a
sua atenção, assim como fazia com qualquer homem quando entrava em um ambiente.

“Meu amor”, Karim levantou da sua cadeira, o choque ainda ecoava nele. Ele não esperava Azisa até
a semana seguinte. “Que surpresa agradável!”

“Por favor, não se levante por minha causa.” Os lábios esculpidos de Azisa se curvaram em um
sorriso pequeno e educado, que era tão perfeito quando todo o resto dela. “Não vou ficar muito tempo. Só
vim porque precisava falar com você.”

“Certo.” Karim lentamente se sentou de volta em sua cadeira, com uma confusão no rosto. Azisa se
sentou graciosamente em uma das cadeiras de visitantes do outro lado da mesa, depois dobrou as mãos com
unhas feitas no colo e levantou o queixo. Seus olhos escuros estavam parados enquanto o encarava, e uma
sensação estranha passou pela a espinha de Karim. Seu olhar era o de quem estava prestes a negociar um
acordo comercial… Ou talvez pessoal.

“Tem a ver com o nosso casamento?”, desabafou.

“Sim.” Azisa desdobrou as mãos e, para o horror de Karim, arrancou o anel de diamante que brilhava
no seu dedo anelar da mão direita. “Gostaria de acabar com nosso noivado.”

Colocou o aro sobre a mesa de cedro, com um tilintar firme. O som chocou Karim com seu horror
estupefato, e ele desviou o olhar diretamente para o rosto de Azisa, que estava imóvel e calmo como a
superfície de uma lagoa.

“Por quê?”, questionou. “Por que você está fazendo isso, com o casamento a daqui a apenas um mês, e
os convites já enviados e confirmados?”

Uma sensação de culpa perturbou as águas calmas do rosto de Azisa, e seus olhos escuros brevemente
se desviaram. “Percebi recentemente que o momento da minha vida ainda não é o ideal para o casamento.”

Karim encarou Azisa com descrença. Meses de corte e noivado e era isso que ouvia agora? “O que
você quer dizer com o momento não é certo? Você já tem quase 26 anos, Azisa, bem a idade em que as
mulheres de nossa sociedade se casam, e eu…”

“Você precisa de uma esposa”, Azisa terminou a frase. Seus olhos escuros estavam apologéticos, mas
firmes, quando encontraram os dele. “Eu entendo sua situação, Karim, mas não posso me prender a você pela
simples razão de resolver seu problema, ao mesmo tempo em que negligencio minhas próprias necessidades.
Ainda não estou pronta para desistir da minha carreira de modelo e sossegar.”

“Não compreendo.” Karim passou uma mão em seus cabelos grossos e ondulados, e lutou contra o
impulso de arrancar um punhado deles. “Nunca lhe disse que você precisaria desistir da sua carreira de
modelo para se casar comigo. Você estaria livre para continuar trabalhando e pegando novos contratos, como
sempre fez…”

“Até quando?”, perguntou Azisa, calmamente. “Até a sua família e a minha começarem a se perguntar
por que ainda não produzimos um filho, por que eu ainda não parei para constituir nossa própria família? Até
que eles se perguntem se somos estéreis ou distantes um do outro?”

Karim balançou a cabeça. “Não vejo por que a opinião deles é importante, já que não sou herdeiro
deste trono”, insistiu. “Não somos obrigados a ter filhos antes de estarmos prontos, e eu nunca a forçaria a tê-
los antes que você estivesse pronta. Você me disse que queria ter filhos, não disse?”

“Eu quero”, suspirou. “E os terei quando estiver pronta.”

“Então, qual é o problema?”, perguntou Karim, com a cabeça girando enquanto tentava entender a
questão. Ele não conseguia compreender por que Azisa estava fazendo isso agora, quando estavam tão perto
de casar.

“Karim”, Azisa colocou as mãos no colo e tomou um tom muito paciente, como o de uma mãe falando
com um filho relutante, “nos dez meses em que nos conhecemos, e os oito em que estamos noivos, quanto
tempo passamos juntos?”

Karim fechou a boca, enquanto tentava calcular. “Diria que nos vemos cerca de uma vez por mês”,
disse, finalmente. “Mas nós temos vidas ocupadas, então isso é esperado…”

“Exatamente”, Azisa se inclinou para frente, fitando-o com seus olhos escuros. “Ambos temos vidas
ocupadas e, na verdade, nossas vidas são tão ocupadas que temos pouco tempo para passar um com o outro,
para cultivar e desenvolver um relacionamento. Por fora, posso parecer uma escultura para você, Karim, mas
sou uma mulher como qualquer outra e sonho em, algum dia, poder me unir a um homem com o qual possa
compartilhar afeição e companheirismo, quando estiver pronta. Você e eu somos tão ocupados com nossas
carreiras e aspirações que não tivemos o tempo ou a energia para investir em cultivar nosso relacionamento.
Nesse ritmo, nosso casamento será sem amor ou paixão, e isso não é algo no qual eu esteja interessada”.
Karim abriu a boca e depois a fechou novamente. O que ele poderia dizer em relação a isso? Por mais
que se negasse a admitir, Azisa estava certa. Ele não havia feito muito esforço para cultivar o relacionamento
com ela – ele, é claro, lhe dava atenção sempre que ela vinha visitar, e eles haviam descoberto alguns
interesses em comum durante esses curtos momentos que passavam juntos – mas a verdade é que ele havia
tomado o casamento como certo assim que as coisas tinham se definido, principalmente porque o casal havia
se formado por uma respeitada casamenteira. Ele havia confiado nos instintos dessa mulher e imaginado que,
pelo fato de sua possível união ter sido aprovada e abençoada, iria em frente sem tropeços.

Aparentemente, tinha imaginado errado.

“Queria que você tivesse conversado comigo sobre isso antes”, murmurou.

“Eu também queria”, Azisa admitiu. “Mas eu mesma não tinha chegado a essa conclusão até alguns
dias atrás”. Seu rosto retornou à calma de antes e Karim ficou com aquele desconforto estranho, que sempre
sentia com ela: percebeu que isso vinha do fato de ela sempre ser um pouco perfeita demais. Essa conversa
que tinham acabado de ter tinha provavelmente sido a interação mais honesta e genuína que já haviam tido…
E era uma pena que fosse a última.

“Você tem certeza de que não há nada que eu possa fazer para você mudar de ideia?”, perguntou
Karim.

“Não”, Azisa sorriu levemente, enquanto se levantava da cadeira, e Karim se levantou junto com ela.
“É uma pena, mas é a decisão final. Eu lhe desejo toda a sorte do mundo para encontrar uma noiva, e em
todos os seus negócios em geral.”

“Obrigado”, disse Karim, o mais gentilmente possível. Ele lutava contra a vontade de cerrar os
punhos, e, em vez disso, pegou a maçaneta da porta e a abriu, para que sua ex-noiva fosse embora. “Para você
também”.

Ela desapareceu pelo corredor, levando consigo o aroma de perfume floral, juntamente com as
esperanças de casamento dele. Falando palavrões, Karim encostou a cabeça na porta fechada e cerrou os
dentes, com a cabeça trabalhando rapidamente, enquanto tentava pensar no que fazer em seguida.

Se ele não se casasse nos próximos quatro meses, seus sonhos se tornariam fumaça. Mas como
encontraria uma noiva em quatro meses? E, mesmo que conseguisse, como iria convencê-la a aceitá-lo?

***

“Ai, Alice. Você precisa pelo menos considerar a ideia de se mudar para Dubai.”

Alice suspirou, enquanto segurava a cabeça entre os cotovelos, levando seu corpo para a posição do
cachorro olhando para baixo. O sol do fim da tarde batia nas suas costas e o suor escorria pelos seus braços e
no tapete de ioga abaixo dela. Quando inalava, o doce aroma de jasmim e rosas fazia cócegas em suas
narinas, vindo dos arbustos e árvores nos arredores.

“Tenho pensado nisso”, respondeu Alice. “Mas não significa que precise dar uma resposta
imediatamente, preciso?”

Sheridan virou os olhos, em seguida mudou da posição do cachorro olhando para baixo para a
posição da criança, dobrando as pernas embaixo de si mesma e alongando os braços até que seus dedos
encostassem-se ao tapete. Ela havia convidado Alice a ir com ela ao jardim, para fazerem um pouco de ioga
depois que Alice voltou de uma reunião – ela estava aqui em Dubai a trabalho, para a Armani, a terceira
viagem ao Oriente Médio nos últimos quatro meses. Ela se hospedava com a família real todas as vezes que
vinha, pois era amiga íntima de Sheridan.

“Você está sendo ridícula”, disse ela. “A Armani tem mandado você com tanta frequência para cá que
é como se você praticamente morasse aqui”. Desde que a empresa havia descoberto que Alice era amiga da
família real, eles a estavam enviando ao Oriente Médio com cada vez mais frequência, já que o seu
relacionamento com Sheridan naturalmente lhe dava uma vantagem.

“Talvez”, respondeu Alice, “mas meu gerente me disse que eu estou prestes a receber uma promoção
pelo meu desempenho e que poderei escolher ir para qualquer lugar do mundo que quiser”.

“É por isso mesmo que você deveria se mudar para cá”, Sheridan levantou a cabeça e mexeu o rosto,
até fazer um beicinho. “A menos que você não queira porque não me ama mais”.

Foi a vez de Alice virar os olhos. “Ah, Sheri. Você sabe que é minha melhor amiga. Mas eu tenho
literalmente o mundo inteiro para escolher”. Ela entrou na posição sentada e abriu as mãos. “Eu posso morar
em Roma, Espanha e até na França, a capital mundial da moda! Isso não tem a ver só com você, é da minha
vida que estamos falando, e as possibilidades são infinitas.”

“Acho que você está certa”, admitiu Sheridan, deitando de bruços e se empurrando de volta para a
posição do cachorro olhando para baixo. Alice copiou sua posição, levantando o rosto para o céu azul
brilhante e soltando um gemido quando alongou a lombar. “Não é como se eu não pudesse visitá-la ou vice-
versa, principalmente se você se mudar para a Europa. Mas ainda assim seria bom ter você aqui.”

Alice abriu a boca para responder, mas as portas duplas que levavam ao palácio se abriram
repentinamente, assustando-a. Por ela atravessou Karim e a pulsação de Alice disparou com a expressão
tempestuosa de seu rosto.

“Karim!”, Sheridan ficou de pé, com uma preocupação estampada em seu lindo rosto. “O que
aconteceu?”

Karim parou bem perto dos tapetes de ioga, suas narinas se abrindo cada vez que respirava
profundamente. Alice lentamente se levantou, e os olhos cor de âmbar de Karim focaram em sua direção,
fazendo com que borboletas voassem em seu estômago em frenesi. Quatro meses depois, e ele ainda tinha o
mesmo efeito sobre ela como teve na noite em que dançaram.

Isso tinha que acabar uma hora, não?

Os olhos dele oscilaram de volta para Sheridan, que ainda olhava para ele preocupada. “Azisa veio
me visitar hoje”, disse ele, a pele em torno dos seus olhos se estreitando. “Ela decidiu terminar o nosso
noivado”.

“Ah, não!” as mãos de Sheridan foram à sua boca, abrindo os olhos azuis cristalinos. “Por que ela fez
isso?”

Alice sabia que deveria falar algo, mas o anúncio repentino de Karim a deixou sem palavras. Azisa
havia deixado Karim? Por que faria uma coisa tão estúpida? Sim, ela era uma modelo linda, podia ter
qualquer homem que quisesse – mas, quando se tratava de solteirões elegíveis, Karim era uma escolha
excelente.

Seus olhos agora percorriam a boa forma de Karim. Ele estava usando uma camisa vermelho-sangue e
calças pretas, que vestiam perfeitamente seu corpo alto e magro. As mangas da camisa estavam dobradas,
expondo seus poderosos antebraços. E a fivela brilhante do cinto que usava chamava atenção para a sua fina
cintura. Os ângulos do seu rosto estavam duros pela raiva, mas ainda assim ele era incrivelmente bonito.
Quem, em sã consciência, desistiria disso?

“Com certeza Azisa decidiu que não conseguiria manter o equilíbrio entre o sucesso de sua carreira
de modelo e o sucesso do nosso casamento”, disse Karim, suspirando forte. “Então, fez a escolha dela.”

“Sinto muito”, disse Sheridan, colocando a mão sobre os ombros largos de Karim. A compaixão
suavizou as suas expressões. “Tem algo que eu possa fazer?”

“Tem, na verdade.” Karim respirou fundo outra vez, depois virou seu olhar cor de âmbar em direção a
Alice. Uma onda passou por ela com a intensidade do olhar dele, e os pelos do seu braço se arrepiaram com
apreensão. “Gostaria de alguns momentos sozinho com Alice Winter, para falar com ela, por favor. Agora.”
Capítulo Quatro
Não! Você não pode ser deixada sozinha com ele!

Alice abriu a boca para protestar, mas Sheridan foi mais rápida. “Posso perguntar por quê?”,
questionou, enrugando suas claras sobrancelhas, confusa. A mesma questão ecoou na cabeça de Alice, que
mordeu um dos lábios. Por qual motivo Karim precisaria falar sozinho com ela, bem agora, e com tanta
urgência que precisava interromper a sessão de ioga?

“Não gostaria de discutir isso agora”, disse Karim, com uma expressão impassível, enquanto voltava
o olhar para Sheridan. “Basta dizer que preciso consultá-la sobre um assunto.”

Me consultar? Alice ficou ainda mais confusa. Mas por quê? Os dois haviam se tornado amigos nos
últimos dois meses, ou, pelo menos, mais amigáveis, mas Alice estava tomando o cuidado de mantê-lo a uma
certa distância cada vez que vinha visitar, evitando estar em uma situação comprometedora por algum motivo.
Eles certamente não eram amigos íntimos, e Alice não conseguia imaginar por que ele, de repente, passou a
vê-la como uma confidente.

“Tudo bem.” As sobrancelhas de Sheridan ainda estavam franzidas, mas ela saiu de perto. “Estarei
nos meus aposentos, terminando meus exercícios.” Ela olhou para Alice com seus olhos azuis: “Venha me
encontrar quando tiver terminado, ok?”

Em outras palavras, me conte tudo.

“Vou”, disse Alice, dando um sorriso tenso para a amiga.

E então eram só ela e Karim, sozinhos no jardim.

Karim lentamente se abaixou para sentar em um banco de pedra embaixo de uma laranjeira e indicou,
com tapinhas, o lugar ao seu lado. “Por que não vem sentar?”, sugeriu.

Sua voz profunda, exótica, ainda estava carregada de tensão, mas fluía sobre ela mesmo assim,
puxando-a para frente pela emoção… Ou talvez fosse só sua libido, admitiu para si mesma. Ainda assim, ela
hesitou, não sabia se era uma boa ideia ficar tão próxima dele.

O que importa? Não é como se agora ele não estivesse solteiro.

Ah, é verdade! A excitação a percorreu ao perceber isso. Ela não precisava mais se preocupar com a
moralidade de cair na cama com Karim se ele não estava comprometido. Não havia nenhum perigo em
ficarem sozinhos juntos, havia?

Não sei nada sobre isso, uma voz sussurrou na cabeça dela. Karim pode ser gostoso, mas não parece
ser o tipo de cara para apenas uma noite. Alice sabia que caso caísse na cama dele, seria com a expectativa
de que não sairia de lá tão cedo. O que significava que, se fosse fazer isso, precisaria estar muito segura de
sua decisão.

Afinal, já havia prometido a si mesma que não colocaria nenhum homem na situação em que havia
estado há alguns anos, quando Jason partiu seu coração. Ela não seria essa garota. Nunca.
“E então?” Karim arqueou uma sobrancelha. “Você vai se sentar?”

“Vou.” Alice cuidadosamente se ajeitou no banco, ao lado dele, sentando o mais distante possível
enquanto tentava não fazer parecer que o estava evitando de propósito. Ela respirou profundamente, inalando
o aroma cítrico das flores de laranjeira, misturado ao perfume de Karim, obscuro, com notas de especiarias.
O calor circulava por toda a parte inferior de seu abdômen, então ela se mexeu, de maneira desconfortável,
no banco duro. “Então, o que está acontecendo?”

Karim virou a cabeça para olhar para ela, com aqueles olhos âmbar penetrantes. “Alice, o que você
acha de mim?”

Alice se sentou reta, surpresa com a pergunta. “O que você quer dizer?”

“Você acha que sou um bom homem? Você me acha interessante para conversar? Sou agradável aos
olhos?” Ele segurou a mão dela em suas mãos, com os olhos buscando seu rosto desesperadamente, sua voz
implorante.

“Você sabe que é todas essas coisas”, disse Alice, franzindo a testa, tentado ignorar o calor que
emanava das mãos dele nas suas, subindo pelos seus braços. A sensação da pele dele contra a dela a distraía,
para dizer o mínimo. “Por que você está perguntando isso para mim?” Você não pode me dizer que a rejeição
de Azisa o está fazendo duvidar de seu charme. “Ela é apenas uma mulher.”

“Sim, mas ela seria a minha esposa.” Karim soltou um suspiro exasperado, desviando o olhar. Ele
olhou para os jardins, sua expressão se tornando pensativa. “Nós nos conhecemos por meio de uma
casamenteira de grande reputação. Nós dois fizemos exame de DNA, para ver se havia algum marcador
genético que fizesse que produzíssemos filhos defeituosos, e nenhum foi encontrado. Nós éramos perfeitos...
E agora não somos nada.” O ressentimento permeava a sua voz.

Alice hesitou, com o jeito como ele falava sobre os “filhos defeituosos”, como se fossem algo a ser
fabricado, em vez de nascerem do amor ou da paixão. Ele falava do futuro casamento como se fosse um tipo
de receita, um uma série de planos fabris, e não algo criado a partir do amor e do respeito.

“Talvez fosse esse o problema”, disse lentamente, tentando descobrir como transformar isso em
palavras, sem ofender. “Talvez você estivesse muito focado em tornar isso perfeito, e não o suficiente em
fazer dar certo.”

“Mas o que isso significa?” Karim soltou da mão dela, para que pudesse lançar os braços para cima.
“Fazer algo ser perfeito não garante que dê certo?”

“Às vezes são as próprias imperfeições das coisas que as fazem dar tão certo”, disse Alice,
perguntando-se de onde é que estava tirando esta enorme sabedoria. Ela não era um modelo para os
relacionamentos: examinava e descartava homens regularmente, porque descobria o que estava faltando neles,
e não queria ir ainda mais além e se descobrir envolvida em algo que só iria terminar em desastre.
Provavelmente teria lido em algum livro, em algum lugar... Mas parecia verdade para ela, parecia apropriado
para o momento. “Eu acho que se você parar de ver o casamento como uma proposta de negócios, e sim como
um relacionamento entre duas pessoas de carne e osso, talvez você tenha mais sorte.”

“Mas essa é a coisa, Alice.” Karim colocou as mãos nas coxas novamente… Suas coxas tão
musculosas, Alice as havia notado quando as viu se dobrando, por baixo das calças escuras. “Para mim,
agora, casar tem a ver com uma proposta de negócios.”

Alice franziu a testa. “O que você quer dizer?”


Karim se virou para ela, com uma grave expressão. “Quando Kahlid e Sheridan se tornaram noivos,
comecei a perceber que queria uma esposa também. Tinha saído de um relacionamento de dois anos, que
achava que iria a algum lugar, mas acabou indo a lugar nenhum. Sentia como se tivesse perdido todo aquele
tempo e que precisava fazer minha vida voltar aos trilhos e começar uma família. Então, procurei uma
casamenteira, para encontrar uma esposa para mim.”

“Ao fazer isso, rapidamente descobri que tinha uma herança a receber, da qual nunca soube, do lado
da família da minha mãe. Eles me dariam uma propriedade e uma grande quantia em dinheiro, mas somente se
eu me casasse até o fim do ano.”

“Oh.” Alice gelou. Já era meados de setembro. “Então, em outras palavras, você está prestes a perder
a terra e o dinheiro porque Azisa esperou até o último minuto para cancelar o casamento.”

“Sim.” Karim soltou um suspiro frustrado, olhando para longe novamente. “Ela também sabia do
acordo, então teria sido bom saber antes, para que pudesse tentar tomar outras providências. Mas,
aparentemente, ela não percebeu que não ia funcionar até alguns dias atrás.”

“Entendi.” Alice franziu os lábios. “Então você vai perder a sua herança?”

Karim se virou para olhar para ela novamente, com seus olhos âmbar flamejando. “Não se eu
encontrar uma esposa.”

“Ai, não.” Ela finalmente se tocou do que Karim estava sugerindo, e se afastou dele, com o coração
batendo descompassadamente. “De jeito nenhum, Karim. Eu não vou...”

Alice se afastou do banco e quase subiu em uma árvore. Mas os braços fortes de Karim a pegaram
pela cintura, e a trouxeram de volta, puxando-a tão perto que o seu quadril estava encostado contra o dele,
seus seios quase se esfregando nos músculos firmes do peito dele. Alice respirou fundo, enquanto encarava
os olhos âmbar de Karim, resplandecentes, que agora pairavam a apenas alguns centímetros dela.

“Você não concorda, Alice Winter”, disse ele baixinho, com sua respiração suave tocando o rosto
dela, “que há... química entre nós?”

“Eu...” As bochechas de Alice coraram e ela olhou para o lado, tentando escapar do olhar quente de
Karim, para que pudesse recompor os pensamentos. Ela já havia sentindo alguns olhares calorosos dele, a
maioria na noite do casamento, mas não como estes. Nunca como agora. O fato de que ele tinha tido uma
noiva, que ela vinha visitar apenas de vez em quando, permitia que eles se mantivessem a uma certa distância.
Mas agora que ele estava solteiro novamente, e que ela estava praticamente sentada no colo dele, os motivos
para resistir estavam se tornando muito menores e mais distantes.

“Somente o fato sermos atraentes um para o outro não significa que deveríamos nos casar”, murmurou
Alice, em uma voz baixa, olhando novamente para Karim. “Já estive em muitos relacionamentos que eram
totalmente baseados na química, mas sem compatibilidade.”

“Não acho que somos incompatíveis”, murmurou Karim, baixando sua cabeça e encostando seus
lábios conta a bochecha dela. “Nós dois trabalhamos com criatividade, não? Temos idades parecidas, somos
ambiciosos, em boas condições de saúde...”

“Parece um anúncio do eHarmony”, Alice tentou fugir, mas sua voz estava ofegante demais. Karim deu
leves beijos em sua bochecha, descendo para o queixo e traçando um caminho até sua orelha, deixando suas
entranhas em chamas. Seus dedos fortes se afundaram na cintura dela, puxando-a para mais perto, enquanto as
pernas dela enfraqueciam.
“Bom, estou tentando me vender para você.” Karim gentilmente fechou os dentes no lóbulo da orelha
dela.

Alice gemeou, pois um arco de eletricidade a atingiu diretamente no seu âmago. Ela estava com calor
e pulsando, e isso não tinha nada a ver com a brutalidade do sol ou a interrupção de sua sessão de ioga.
Karim estava acendendo uma chama em Alice com nada além de carícias e palavras sussurradas... E ele nem
a tinha beijado ainda.

“Sabe, eu sempre quis saber como seria o som do seu gemido”, murmurou Karim no seu ouvido.
“Acho que agora tenho a minha resposta.”

O rosto de Alice esquentou e ela empurrou o peito de Karim, colocando uma distância entre eles. Ele
tinha acabado de admitir, em voz alta, que também tinha estado fantasiando sobre ela? Jesus, isso estava indo
longe demais.

“Não posso simplesmente me casar com você assim, Karim”, disse, de maneira firme, tentando ganhar
tempo na conversa. “Tenho que cuidar da minha vida. Acabei de receber uma proposta de promoção no meu
trabalho, e...”

“Eu soube disso”, Karim interrompeu. “Você poderia se mudar para Dubai, continuar sua carreira
aqui. Eu não impediria de continuar com a sua linha de trabalho, da mesma forma que você não interferiria no
meu trabalho como arquiteto.”

“Ai, pelo amor de Deus.” Esta era a vez de Alice se revoltar. “Primeiro Sheridan, agora você
também?”

Karim cruzou os braços. “É um argumento lógico.”

Alice o olhou com desconfiança. “Por que essa herança é tão importante para você?”, questionou.
“Você não deveria querer mais nada, afinal, é membro da família real. Mora aqui no palácio, tem uma ótima
carreira e acesso a todo o dinheiro que quiser.” Ela abriu a mão para gesticular para o palácio e para os
jardins.

O olhar de Karim ficou sério. “Isso pode até ser verdade, mas quero alguma coisa que seja realmente
minha.” Seu olhar cor de âmbar se virou para o palácio, e algo como rancor apareceu na profundeza do seu
olhar. “Não me entenda mal, Alice. Eu amo o palácio e amo meu irmão e a esposa dele. Mas sou o segundo
filho, com poucas chances de herdar alguma coisa, e minha carreira, por si só, é dependente dos
investimentos de negócios do meu irmão. Isso pode parecer um orgulho masculino tolo para você, mas quero
meus próprios bens, minha própria carreira, minha própria família. Não tenho a intenção de cortar os laços
com meu irmão ou me negar a ajudá-lo, mas fico cansado de ser nada além de uma extensão da família dele.
Quero ter a minha própria vida. Você entende isso?”

Ele virou seu olhar cor de âmbar de volta para ela e o desespero nos olhos dele tocou o coração de
Alice, apesar de tudo.

“Não consigo argumentar com lógica”, disse ela, suavemente, “mas eu também não entendo porque
você está me perguntando, quando poderia literalmente encontrar qualquer mulher solteira nesta cidade e ela
se atiraria em você sem pestanejar, por uma oportunidade de se casar com alguém da família do xeique. Se
qualquer mulher faria isso, por que precisa ser eu?”

“Porque sim”, disse Karim, com a voz ficando mais baixa, enquanto colocava a mão dela na dele
novamente. Ele pressionou seus lábios nas costas da mão dela, deixando as borboletas do seu estômago em
frenesi novamente. “Eu gosto de você, Alice. Você é bonita, inteligente e tem um excelente senso de humor. E
você foi a primeira mulher na qual eu pensei.”

Então, um tipo diferente de calor fluiu pelo peito de Alice, e ela reconheceu a sensação como orgulho.
Ele a estava elogiando, e isso estava funcionando.

“Além disso, apesar de certamente ser verdade que eu poderia escolher qualquer mulher solteira na
rua, simplesmente não é adequado para mim apressá-la em uma cerimônia de casamento. O nosso povo é
muito tradicional e esperaria todos os meses de preparação que suas filhas merecem. Você, pelo contrário,
não tem uma família islâmica para satisfazer.”

“Oh.” Alice mordeu seu lábio inferior. Ela não havia considerado isso. “Você realmente não acha que
poderia encontrar alguém por aqui em tão curto espaço de tempo?”

“Na verdade, não.” Karim balançou a cabeça.

Eles olharam para o jardim em silêncio por um longo tempo, o murmúrio das folhas ao vento e o
zumbido das abelhas eram o único acompanhamento de sua respiração silenciosa. Uma flor de laranjeira caiu
flutuando de um dossel de galhos de árvores acima deles, e Alice a pegou nas mãos e a aproximou do rosto,
para inalar sua fragrância cítrica.

Bonito, mas impermanente. Como todas as coisas, essa linda flor iria eventualmente murchar e
morrer, tornando-se nada além de uma memória.

“O que acontece se as coisas não funcionarem entre a gente?”, Alice perguntou delicadamente, ainda
olhando para a flor. “E se você e eu acabarmos desprezando um ao outro?”

“Não consigo nem imaginar odiar alguém tão amável quanto você.” A voz de Karim era tão suave
quanto a dela. Ele se aproximou e escorregou os dedos por baixo do queixo dela, direcionando seu olhar para
o dele. Sua expressão era solene, mas os olhos cor de âmbar eram calorosos, enquanto ele olhava para ela.
“Mas se isso a faz se sentir melhor, concordarei em liberá-la do casamento depois de um ano, caso você
realmente não consiga ficar comigo.”

Uma onda de surpresa atingiu Alice. “Um ano?”, repetiu.

Karim concordou com a cabeça. “Assim que eu receber as terras, elas não podem ser tiradas de mim,
a menos que o casamento não tenha sido consumado. Um ano é mais do que o suficiente para convencer a
minha família e o público em geral de que nós fomos casados verdadeiramente. O divórcio não é bem visto
na nossa cultura, principalmente em um casamento de jovens... Mas você é americana, e imagino que as
pessoas sejam mais compreensivas.”

Alice riu. “Você, né? Não eu. Elas vão me ver como uma prostituta atrás de dinheiro, que se casou
com você para encher os bolsos e depois foi embora, na primeira oportunidade.”

Karim se encolheu. “Só se você for embora. E mesmo se você for, por que importaria? Você estaria de
volta aos Estados Unidos, ou na Itália, ou aonde quer que escolha ir depois. Mesmo se você decidir parar de
trabalhar, eu não a deixaria destituída, não depois de um favor tão grande.”

A mente de Alice rodopiava enquanto tentava pesar todas as possibilidades. Sim, ela estava
concordando se casar com um homem que não amava, mas estava fazendo isso para ajudá-lo,
temporariamente. As pessoas não faziam isso o tempo todo, casar-se com estranhos para ajudá-los a obter
vistos e entrar e sair de seus países? E se divorciaram e continuaram com suas vidas? Por que ela não
poderia fazer o mesmo por Karim, um homem de quem ela não só gostava, mas que era parte da sua família?

Era verdade, ela estava concordando em não sair e nem fazer sexo com mais ninguém por um ano...
Mas ela poderia fazer amor com Karim sempre que quisesse, e se as faíscas entre eles eram alguma
indicação, ela sabia que ele não a deixaria insatisfeita. Além disso, ainda conseguiria trabalhar para Armani
de lá. Na verdade, o que ela tinha a perder?

“Tudo bem”, disse a ele. “Vou fazer.”

O rosto de Karim se iluminou. “Sério?”

“Sim.” Alice expirou, e isso era quase um sinal de alívio agora que tinha tomado essa decisão. Todas
essas emoções girando dentro do seu peito sumiram, sendo substituídas por um tipo de resignação. “Farei
isso porque você é parte da família. Eu gosto de você e quero ajudá-lo. Mas, daqui a um ano, a menos que
estejamos loucamente apaixonados, vamos cada um para um lado, ficou claro?”

“Cristalino.” Os lábios de Karim se curvaram em um sorriso, ele esticou um braço em torno da cintura
dela e a puxou para mais perto. “Só temos mais uma coisa a fazer agora.”

“Ah, é?” A pulsação de Alice se acelerou quando Karim a puxou forte contra ele. “E o que é?”

Karim abaixou o rosto para perto dela. “Precisamos selar o acordo com um beijo.”
Capítulo Cinco
Qualquer objeção que Alice tivesse fugiu imediatamente da sua cabeça, assim que Karim pressionou
os lábios contra os seus. Sua boca era quente e macia, movendo-se sobre a dela com golpes delicados,
agitando o seu coração e indo até o abdômen, até que subiu até o seu peito, fazendo a sua respiração parar
novamente.

As barreiras que Alice tinha gradativamente construído nos últimos meses caíram por terra quando
Karim a pegou com força, quando ela colocou os braços ao redor do pescoço dele, e o beijou de volta,
fechando os olhos para saborear a sensação dos lábios dele sobre os dela. Era uma boa sensação ter os
braços dele em torno dela, sentir a sua pulsação batendo em seu peito, tão forte e vigorosa quanto a dela. Seu
aroma masculino de especiarias envolvia seus sentidos, e ela abriu a boca, querendo mais...

Karim se afastou gentilmente, encostando-a de volta no banco. Os olhos dele brilhavam sobre sua face
escura, sua luz dourada incrivelmente parecida com a do sol que se punha atrás dele. Já estava assim tão
tarde? Quanto tempo haviam ficado sentados conversando?

“Acho que foi mais do que o suficiente para fechar o acordo”, disse ele suavemente, levantando do
banco. Alice o encarou, sem palavras, enquanto ele sorria para ela. “Vou deixá-la com seus pensamentos
agora, e procurá-la amanhã, para discutir os preparativos do casamento. Boa noite.”

Ele então se afastou, e Alice o observou. Os sapatos pretos brilhantes chutando pequenos montinhos
de poeira conforme ele andava. Ele desapareu através das portas duplas que levavam de volta ao palácio e,
com ele tendo ido embora, ela podia quase imaginar que não havia acabado de aceitar uma proposta de
casamento.

Quase.

Quando teve certeza de que ele tinha ido para onde quer que pretendesse ir, ela se levantou, depois
andou de volta para dentro, ainda anestesiada, pelos corredores que levavam ao quarto de Sheridan, que
ficava logo à frente do seu. Ela contaria tudo à sua melhor amiga, e Sheridan decidiria se jogaria algum bom
senso sobre ela ou bateria nas suas costas por ter feito um bom negócio.

Sem pensar, abriu a porta, e ficou paralizada ao ver Sheridan e Kahlid espalhados no sofá. O xeique
estava em cima de sua amiga, seu blazer jogado no chão em algum lugar, suas mãos enroladas no seu longo
cabelo loiro, enquando ele a beijava profundamente, roçando o quadril entre as pernas dela.

“Merda!” Alice tomou um susto quando percebeu que estava vendo a sua amiga se agarrar com o
marido. “Desculpem, eu devia ter batido...”

“Alice!” Sheridan imediatamente sentou, empurrando o marido para o lado – não que precisasse, já
que Kahlid pulou rapidamente para longe dela. Por sorte, ambos estavam vestidos. Kahlid estava de calça,
com uma camisa verde, agora amassada, e Sheridan ainda vestia suas calças e top de ioga. “Droga, esqueci
totalmente de você. Kahlid veio e eu...”

“Na verdade, acho que você não precisa explicar”, disse Kahlid, secamente. Passou a mão pelo seu
cabelo escuro e ondulado, depois se sentou no sofá ao lado de Sheridan, pousando um braço sobre os ombros
da esposa. “Acho que a Alice entende o que está acontecendo.”
“Entendo.” Alice limpou a garganta, sentindo-se ridiculamente desconfortável. Não que ela fosse
recatada – já havia pegado sua cota de pessoas no flagrante, fazendo até um pouco mais do que eles – mas
Kahlid era muito mais parecido com Karim, e vê-lo se mexendo e roçando na sua melhor amiga, com a língua
na garganta dela, a fez ficar incomodada. “Devo voltar em outro momento?”

“De jeito nenhum.” Sheridan ameaçou. “Quero saber sobre o que Karim tinha que falar com você, era
tão importante que ele me enxotou do meu próprio jardim.” Ela apontou um dedo em direção a uma das
cadeiras baixas e macias. “Senta.”

As sobrancelhas escuras de Kahlid se levantaram enquanto Alice obedecia, sentando-se na


confortável cadeira branca de vime. “Karim queria falar sozinho com você? Sobre o que?”

Alice pensou que podia muito bem contar tudo. “Ele me pediu para casar com ele.”

“O que?” Sheridan gritou.

“Casar com você?” Kahlid franziu a testa. “Mas ele não vai se casar com a Azisa?”

“Ia, mas ela terminou com ele hoje de manhã”, Sheridan respondeu antes que Alice pudesse fazê-lo.
Seus olhos focaram em Alice. “Por que ele está tentando substituí-la com você, e por que tão cedo?” Vocês
tem um caso do qual eu não sei?

“Não!”, falou Alice com força, suas bochechas corando. Era muito irônico que a sua melhor amiga a
acusasse da única coisa que ela queria, mas se recusava a admitir.

“Eu sei por que”, disse seriamente Kahlid. “É por causa da herança.”

“Herança?” Sheridan repetiu. “Que herança?”

Alice se sentou de volta na cadeira, enquanto Kahlid explicou a Sheridan sobre a quantia de dinheiro
e terras que Karim herdaria se se casasse com uma noiva antes do fim do ano, agradecida por haver outra
pessoa para explicar. A verdade é que a cabeça dela ainda estava um pouco confusa depois da coisa toda.

“Meu Deus”, disse Sheridan quando Kahlid terminou. “Isso é maluco. Então, você realmente vai se
casar com Karim para que ele possa receber a herança?” Seus olhos azuis se viraram em direção a Alice
novamente.

“Pois é.” Alice shifted na cadeira, sob o olhar fixo de Sheridan. “Estou sendo uma boa samaritana,
acho.”

“Mas você tem certeza disso?” Sheridan persistiu. “Quer dizer, eu sei como você se sente em relação
a entrar em relacionamentos com caras que...”

“Sheri, está tudo bem”, interrompeu Alice, antes que ela começasse a tagarelar sobre Jason. Ela não
queria compartilhar essa parte do seu passado com Kahlid, mesmo que ele fosse parte da família agora. “Não
é um problema. Karim já concordou em me liberar do casamento dentro de um ano, no caso de não dar certo.”

As sobrancelas de Sheridan se levantaram. “Mas você entende que ele não pode transformar isso em
um acordo legal de verdade, né? Se ele decidir que quer manter você, vai ter que ter de enfrentar uma batalha
legal com ele. E pode ser feio.”

“Sheridan”, Kahlid advertiu, colocando a mão sobre o joelho da esposa, enquando o coração de Alice
gelava. “Meu irmão é um homem honrado, não faria tal coisa a Alice, principalmente depois que ela efetuasse
um favor tão grande a ele. A verdadeira questão é se a Alice está confortável com a ideia de estar casada com
alguém por apenas um ano.” Ele pousou seus olhos escuros, astutos sobre Alice. “Está tudo bem para vocês?”

Alice hesitou por um brevíssimo momento. “Não vejo por que. Eu vou me mudar para cá, continuar a
trabalhar para a Armani, e se no fim do ano as coisas não funcionarem, pedirei para ser realocada. Sem
problemas, sem enganações.” Seu coração se acalmou de novo, quando falou aquilo alto. É, quando ela
explica desse jeito, não parece tão ruim, certo?

“Oh, isso mesmo!” Sheridan pulou no seu assento. “Você vai se mudar para Dubai se se casar com
Karim! Isso aí, estou super de acordo. Quando conseguiremos amarrar vocês? Tenho certeza que consigo ligar
para a mesquita e fazê-los enviar um madhun amanhã mesmo...”

“Calma lá”, disse Alice, com uma risada. “Não é porque estou fazendo isso como favor que significa
que não queira um casamento bonito. Quem pode dizer que não possa acabar casada com Karim pelo resto da
minha vida? Esta é uma grande decisão, e por isso merece ser comemorada.”

“Oh, tudo bem.” Sheridan suspirou, se jogando de volta nas almofadas. “Mas eu ainda posso ser a
madrinha e ajudá-la a planejar tudo, né?”

“É claro.” Alice grinned. “Não seria de outro jeito.”


Capítulo Seis
Três semanas depois

Quando Alice bateu a porta da suíte atrás de si, sua cabeça pulsava com dor por causa do estresse e
estava desesperada por uma bebida. Jogando a bolsa no sofá, atravessou o quarto e se agachou na frente do
armário de bebidas, para pegar uma garrafa de vinho e uma taça.

Serviu-se de uma boa quantidade, depois bebeu a taça inteira de uma vez e encostou a testa contra a
parede, com a taça pendurada frouxamente dos seus dedos, enquanto o líquido queimava sua garganta e
diminuía parte da dor que pulsava na base do seu crânio. Por um breve momento, ela considerou se servir de
outra taça. Mas seria ruim para ela aparecer no jantar de ensaio com hálito de álcool em um país onde o
consumo de bebidas alcoólicas era ilegal. Principalmente ao se considerar que eles iram se casar em uma
mesquita.

Alice mais uma vez respirou profundamente pelas narinas, depois se recompôs. Devolveu a garrafa e
a taça ao armário, depois entrou no enorme banheiro de mármore, que ficava ao lado do quarto, para poder
preparar um banho. Enquanto a banheira enchia, pegou seu vestido para o jantar de ensaio do seu closet, e o
esticou na sua cama com dossel, depois pegou os sapatos e joias que combinavam, e os colocou ao lado.

Jesus, mas ela realmente não queria ir a esse negócio.

A dor perturbava a cabeça de Alice, quando ela se abaixou para entrar na banheira, imergindo-se na
água aromática, até o queixo. Ela jogou a cabeça para trás, para que a base do seu crânio ficasse submersa na
água, esperando que o calor da banheira relaxasse os nós de tensão do seu pescoço e ombros. Não era
exatamente o jantar de ensaio que a estava irritando. Era a bagunça coletiva que vinha junto com se casar,
uma lista inacabável de atividades que havia começado há três semanas, quando ela havia concordado em se
casar com Karim e que ela sentia que nunca iria terminar.

Alice havia visitado advogados, assinado papéis, sentado em escritórios de imigração, alternando
incontáveis ligações telefônicas com diretores e chefes para trabalhar a logística da relocação. Ela havia
feito uma viagem de volta para Nova York para vender o que não queria e embalar o que queria, e ainda
estava roendo o que restava das suas unhas, ao mesmo tempo em que esperava duas caixas chegarem. Ela
havia participado de provas de vestidos, escolhido flores e decoração, babado sobre cardápios de buffets.

E hoje ela tinha visitado seu novo escritório aqui em Dubai, finalmente completando a transição.

Era definitivo. Mesmo que não se casasse com Karim, estava oficialmente relocada para Dubai agora.
Não havia nada que mudasse isso, pelo menos por um ano, a menos que quisesse procurar um novo
empregador. E apesar de seu trabalho ser estrêssante às vezes, ela amava Armani e não tinha planos de ir
embora se não precisasse.

Ela apenas desejava que pudesse ter alguns momentos de descanso, para se sentar e não fazer
absolutamente nada, a não ser olhar para o nada e refletir sobre as grandes mudanças que aconteciam na sua
vida. Mas tudo estava tão maluco nesses últimos dias que ela quase não teve tempo de olhar para onde estava
indo, imagine olhar para trás.

Seu telefone apitou, um alarme a relembrando de que precisaria sair logo. Suspirando, arrastou-se
para fora da banheira e se secou, depois enrolou o cabelo em uma toalha de microfibra e entrou nua no
quarto. Colocou o sutiã e a calcinha, depois vestiu a abaya que havia selecionado para a noite – um traje azul
escuro, com bordados prateados e mangas longas e transparentes, que fluíam ao encontro da barra de sua saia.
Os scarpins que acompanhavam eram mais pela necessidade do que pela moda – ninguém iria vê-los, mas
sem eles ela tropeçaria na bainha a noite toda.

Ela tinha acabado de se maquiar quando Sheridan bateu à sua porta.

“Você está pronta?”, ela perguntou, encostando-se no batente da porta. Estava vestida com uma abaya
roxa escura, com seu cabelo loiro penteado em uma pilha de cachos em cima da cabeça e coberta com uma
echarpe transparente da mesma cor.

“Estou. Só vou pegar minha echarpe.” Alice voltou para a porta e entrou depressa no quarto para
pegar o adorno, que colocou sobre a cabeça e enrolou em torno do pescoço em sinal de humildade, da mesma
forma que Sheridan usava a sua.

“Tem certeza de que está pronta?” Sheridan perguntou, olhando para o rosto de Alice, quando ela se
virou. “Você parece exausta.”

Alice não queria nada além de se jogar no sofá exatamente naquele momento, ou até nos braços de
Sheridan, mas apenas sorriu. “Só tive um dia longo no escritório. Vou ficar bem assim que comer alguma
coisa.”

“Ok.” Sheridan envolveu com um braço os ombros de Alice e apertou de maneira reconfortante. “Só
me avise se precisar de alguma coisa, tá? Casar pode ser bastante estrêssante. Tenho motivos para saber.”

Alice riu. “Sim, eu me lembro de você caindo no choro porque entregaram as flores erradas. Faz só
cinco meses aquilo?”

“Sim, sua chata, e obrigada por se lembrar disso.” Sheridan beliscou o nariz de Alice como se ela
fosse uma criança e Alice afastou a mão dela. “Eu sei que você ainda é a encrenqueira de sempre, então vou
parar de me preocupar.”

E com isso, Sheridan arrastou para fora da porta, para o ensaio.

***

O ensaio tinha ido bem, e Karim a observou quando eles sentaram à mesa longa e retangular do
restaurante do jantar de ensaio. Alice estava linda em sua abaya, e mesmo que não estivesse vestindo o traje
no qual se casaria, Karim ainda estava impressionado com a aparência dela quando andava pelo corredor em
direção a ele, acompanhada por Kahlid, pois não tinham mais seus pais para fazê-lo. Cada passo, cada
palavra, cada sorriso tinha sido perfeito.

“Talvez você estivesse muito focado em fazer tudo perfeito, e não o suficiente em fazer dar certo.”

Ele piscou quando a voz de Alice ecoou em sua cabeça, e olhou para o outro lado da mesa, onde ela
estava sentada. Ela não tinha repetido essas palavras, estava olhando para o seu prato vazio, enquanto os
outros se sentavam. Seu cabelo ruivo brilhante balançava para sempre, obscurecendo a sua face, então ele
não conseguia ver a expressão dela, mas de repente teve a sensação de que ela não estava feliz.

Mas por que ela não estaria feliz? Ele não tinha feito nada para desagradá-la, tinha? Ele a havia
deixado cuidar de todo o casamento, tinha concordado com cada desejo e demanda. E o ensaio tinha ocorrido
sem problemas. O que a tinha feito ficar triste?
Todo mundo se sentou e logo o garçom veio para pegar os pedidos. Eles haviam escolhido um
restaurante em um dos hotéis mais exclusivos de Dubai, localizado ao longo da costa. Era um espaço enorme,
aberto, completamente cercado de paredes de vidro por três lados e oferecendo uma vista maravilhosa do
oceano. O teto e os pisos acarpetados tinham um design que imitava as ondas, projetando-se para além das
janelas, criando um efeito que tinha a intenção de encantar. A equipe de garçons estava vestida e se
comportava de maneira impecável, cumprimentando-os com respeito, mas sem se subjugar: estavam
acostumados a lidar com os ricos e poderosos, que vinham regularmente a este hotel.

Enquanto a comida estava sendo servida, Karim esperava que Alice ficasse mais relaxada. Mas
apesar de ela estar conversando com Sheridan e Kahlid, ainda evitava seus olhos. Ela se fechou mais e mais
em si mesma, até que sentiu que iria entrar em colapso, como se fosse entrar em um buraco negro.

Finalmente, na hora em que Karim estava prestes a abrir a boca e perguntar se ela estava se sentindo
bem, ela se afastou da mesa e se levantou. “Preciso ir ao banheiro”, anunciou. “Voltarei logo.”

Ela desapareceu, com sua abaya balançando em torno dela, e Karim suspirou, esperando que quando
ela voltasse, estivesse se sentindo melhor. Mas os cinco minutos se transformaram em dez, os dez se
transformaram em vinte, e Karim começou a se preocupar.

Depois de meia hora, Sheridan finalmente colocou o garfo na mesa e fuzilou Karim com um olhar,
como se, de alguma forma, fosse culpa dele. “Vou procurá-la.”

“Não.” Karim se levantou antes de Sheridan conseguir fazê-lo. “Eu vou.”

Sheridan franziu a testa. “Tem certeza?”

“Ela é minha noiva”, disse Karim, firmemente, enquanto tentava ser o mais respeitoso possível. Ele
não queria que Sheridan ficasse olhando para ele e o tratasse como se ele não se importasse com Alice ou a
estivesse tratando mal. “E, por isso, é minha responsabilidade. Eu vou ver onde ela está.”

Não levou muito tempo para descobrir que ela não estava no banheiro – foi necessária apenas uma
pergunta à atendente para confirmar que ela já tinha vindo e ido embora há vinte minutos. Karim pensou por
um momento, depois entrou no elevador, para ir até o jardim do terraço, esperando que fosse encontrá-la lá, e
que ela não tinha saído totalmente do prédio.

O vento abafado da noite incomodou o seu rosto, quando ele saiu do elevador, ao chegar ao terraço.
Um jardim não seria a forma mais exata de descrever aquilo: era mais como um espaço aberto, com
agrupamentos de móveis destacados por palmeiras e outras plantas tropicais. Atualmente estava fechado ao
público, então não foi difícil encontrar Alice sentada em uma das cadeiras, perto de uma das paredes,
olhando para as luzes cintilantes da cidade.

Karim se uniu a ela, escolhendo colocar suas mãos na parede, em vez de nos ombros dela, como
gostaria. Ele não tinha certeza de como ela iria reagir ao seu toque no momento, e ele queria resolver essa
questão, não piorá-la.

“É uma vista linda, não?”

Alice se virou para olhar para ele. As luzes da cidade refletiam em seus olhos verde-garrafa quando
ela olhava para ele. Sua expressão era fechada, mas isso não ofuscava a beleza etérea de seu rosto delicado.

“É mesmo”, disse ela, baixinho, com os olhos piscando, conforme olhava para ele.
“Tão linda que a manteve fora do jantar de ensaio?”, ele pressionou.

Alice olhou para o lado. “Há uma paz aqui”, murmurou tão delicadamente que suas palavras quase
foram levadas pelo vento. “Eu não preciso sorrir ou falar com ninguém, nem fingir que não estou estressada
ou surtando. Nunca fui muito de ficar sozinha, de sentar em terraços ou em topo de montanhas e contemplar
meu umbigo, mas depois destas últimas semanas, estou começando a compreender isso.”

“Estressada?” Preocupado, Karim se uniu a ela no sofá bege em que estava. “Como assim estressada?
Tem a ver com o casamento? Há algo com o qual precise de ajuda?”

“Tem a ver com o casamento, a mudança, a relocação do meu trabalho, com desistir da minha antiga
vida, com tudo!” Alice pulou de sua cadeira, para que pudesse andar pelo terraço. O salto dos sapatos
batendo no concreto. O vento desarrumava seu cabelo, fazendo as mechas vermelhas irem para frente e para
trás, em volta de seu rosto anguloso, e seus olhos verde-garrafa reluziam com a emoção reprimida. “É que
parece que para todo lugar que me vire, sempre há alguma coisa nova acontecendo, e eu não consigo nem
respirar para me adaptar. Não consigo fazer isso, Karim. Não consigo.”

“É claro que consegue”, Karim tentou acalmá-la, levantando-se, para poder abraçá-la. Ele controlou o
pânico que tentava aumentar em sua garganta, sabendo que não seria bom para ele - ele precisava acalmar
Alice, e não entrar em frenesi junto com ela. “Você é uma mulher forte, Alice”, murmurou no cabelo dela,
enquanto a puxava para perto de seu corpo. “E eu estou aqui para ajudá-la. Qualquer coisa que precisar, é só
pedir. Precisamos poder contar um com o outro.”

Alice levantou a cabeça para olhar para ele, com seus olhos cintilando. “Você diz isso, mas nós pouco
nos conhecemos, Karim. Como vou conseguir contar com você, como se você fosse minha alma gêmea, se eu
praticamente nem o beijei ainda?”

“Praticamente?” Karim arqueou a sobrancelha. “Eu me lembro de tê-la beijado no jardim, quando
você concordou em se casar comigo.”

“Sim, e isso faz três semanas”, Alice atacou “Você não me beijou desde então, e nem passou muito
tempo ao meu lado, a não ser em jantares de família. Além disso, não teve nem língua, de acordo com o que
me lembro.”

“Você quer língua?” Karim perguntou delicadamente, puxando-a para mais perto até que suas curvas
suaves ficassem pressionadas contra a firmeza de seu corpo. “Então, por que você não me disse?”

Ele então a beijou, pressionando sua boca contra a dela com força e ela arfou, com os dedos
agarrados em torno das lapelas da jaqueta dele. Ele escorregou a língua para dentro da boca de Alice, que
estava aberta para ele, sentindo seu gosto pela primeira vez... E então ele gemeu, com o gosto doce de mel e
morango preenchendo seus sentidos.

Alice o beijou de volta com a mesma força, envolvendo sua língua com a dele, e ele a segurou com
força enquanto a saboreava. Alá, mas por que ele havia passado todo esse tempo sem beijá-la, sem saborear
este gosto requintado? Ela era como uma sobremesa divina, doce e suave, e viciante. Ela havia acendido uma
chama na barriga dele como nada que ele já houvesse sentido.

“Mais”, ele gemeu na sua boca. “Quero mais.”

Ele a empurrou para o sofá, depois subiu em cima dela e a beijou novamente, engolindo as arfadas
dela. As mãos dele encontraram a barra da abaya dela, e a puxaram para cima, amassando o tecido em volta
dos quadris dela. Uma adrenalina passou por ele, enquanto escorregava as mãos passando pela pele macia da
barriga lisa dela, pela primeira vez, e ele sorriu contra a sua boca, quando sentiu os músculos dela
estremecer embaixo dele. Ele foi devagar, deslizando as palmas no abdômen dela e depois pegou em seus
seios, passando os polegares pelos mamilos que estavam salientes por baixo do tecido rendado.

Alice gemeu na boca dele, arqueando até o seu peito, e Karim mordiscou seu lábio inferior. Ele abriu
o fecho frontal do seu sutiã, e então resmungou, quando os seios escaparam para as mãos dele. Ele queria ver
seus mamilos firmes, mas sabia o quão arriscado seria deixá-la totalmente nua, estando ao ar livre, então se
contentou em deslizar as mãos para cima e para baixo sobre os botões tenros, sentindo-os e tentando imaginar
a sua aparência, como se fosse um homem cego. Eles eram firmes, arredondados nas pontas e um pouco mais
longos do que a média, e quando passou os polegares pelas pontas, Alice gemeu e se contorceu embaixo dele.
Ele chupou a língua dela, engolindo os sons, e massageou os seus mamilos por inteiro, até que ela estivesse
se agarrando a ele.

“Por favor, Karim”, ela meio que sussurrou, meio que ofegou, quando ele levantou a boca para tomar
um ar.

“Por favor o que?”, ele sussurrou de volta, encarando-a no escuro. As tochas, estrategicamente
posicionadas em volta dos móveis, davam-lhe iluminação suficiente para que ele ainda pudesse ver a cor dos
lindos olhos de Alice, apesar de sua beleza ainda estar escondida pela sombra de seu corpo sobre o dela.
“Você quer mais? Você quer que eu pare?”

“As pessoas... Sentirão a nossa falta”, ela respirou, quando ele escorregou a mão mais para baixo, por
baixo da cintura da calcinha dela.

“Já sentiram a sua falta”, ele a relembrou, enquanto a ponta de seus dedos se esfregavam nos caracóis
entre as pernas dela. “O que são mais alguns minutos?”

Ele afundou a mão um pouco mais profundamente, depois alcançou sua boca com mais um beijo, ao
mesmo tempo em que seus dedos entravam em contato com o calor úmido dela. Alice gemeu dentro da boca
dele, enquanto ele explorou seus sulcos quentes e molhados, procurando o ponto certo, que ele sabia que toda
mulher possuía. Não levou muito tempo até que encontrasse a pérola lisinha e, quando encontrou, os lábios
dela se contorceram involuntariamente. Roçando contra a boca dela, ele a dedilhou com conhecimento,
girando seu polegar delicadamente sobre e ao redor de seu ponto mais doce, avançando e recuando mais e
mais, até que ela se contorcesse de vontade embaixo dele.

“Karim”, ela rosnou, batendo sua mão na dele e o empurrando com mais firmeza contra ela. “Para de
me provocar.”

“Ou você faz o que?” Ele mordiscou o lábio inferior dela. “Você vai gritar? Isso faria os guardas
virem correndo, e acho que você não quer isso, quer?” Ele apertou o clitóris dela com a ponta da unha do
polegar e ela estremeceu, mas os olhos dela flamejaram para ele, desafiadores.

“Eu acho que você vai sofrer mais do que eu se os guardas vierem correndo”, ela o desafiou. Seus
lábios perfeitamente esculpidos se curvaram nos cantos. “Por que não testamos essa teoria agora mesmo?”

Ela abriu a boca para gritar, mas Karim a cobriu com a sua boca, colocando a língua dentro dela, para
abafar o som. Ao mesmo tempo, ele deslizou dois dedos para dentro dela, profundamente. Ele engoliu um
grito assustado, e depois um gemido profundo, quando enfiou seus dedos de maneira firme dentro dela,
fazendo seus quadris sacudirem e o seu corpo estremecer. Ele amou a forma como eram as paredes internas
dela, tão lisas e quentes e úmidas, quando mergulhou os dedos mais e mais, levando-a à beira do êxtase.
Finalmente, ela afundou as unhas no couro cabeludo dele e se enrijeceu. Seu corpo se arqueava sob o
dele, ao mesmo tempo em que as paredes da sua vagina estreita apertaram os dedos de Karim. O corpo dela
tremeu nos braços dele quando ela gozou, e ele a deixou se agarrar fortemente a ele, enquanto sentia seus
dedos e gritava dentro da sua boca.

No momento seguinte, ela se jogou nas almofadas do sofá, e ele soltou a boca dela, para que pudesse
respirar melhor. O peito dela se levantou e caiu rapidamente enquanto ela ofegava, com os olhos bem abertos,
olhando para ele na escuridão.

“Isso foi...”, Alice balançou a cabeça. “O que foi isso, meu Deus?”

“Acho que se chama orgasmo”, Karim brincou, sentindo-se um tanto presunçoso.

“Sim, bem, Não acho que esse truque que você fez é o suficiente para me manter satisfeita. Você
precisará me oferecer um pouco mais disso eventualmente.”

“Ah, eu vou”, disse Karim, rindo. “Mas, por enquanto, acho que deveríamos voltar para a companhia
dos outros.”
Capítulo Sete
“Isto é tão surreal”, sussurrou Alice, enquanto mantinha os braços para cima e fora do caminho, para
que uma das Fúrias pudesse dobrar sua saia corretamente.

“O que?” Perguntou Sheridan. Ela estava sentada em frente à penteadeira, já vestida com um sari azul
claro e prateado, perfeitamente parada para que a mulher à sua frente pudesse terminar de aplicar a sua
maquiagem.

“Essa coisa toda.” A Alice acenou no ar, e os sinos da saia dela balançaram um pouco. Ela havia
escolhido um verde escuro para o seu traje de casamento, em vez do vermelho de Sheridan, mas, exceto isso,
todo o resto era o mesmo – o estilo das roupas, a duração de três dias, as assistentes com jeito de Fúrias que
a estavam aprontando. “É quase que uma exata repetição do seu casamento, exceto que estamos nos
arrumando no meu quarto, em vez de no seu.”

“Sim, e você está se casando com Karim, não com Kahlid”, disse Sheridan de maneira direta.

“Eu sei.” Borboletas voaram no estômago de Alice, quando pensou em Karim, na forma como ele a
havia beijado no jardim do terraço, e depois lhe deu tanto prazer que ela quase considerou deitar lá depois,
em vez de voltar para o jantar de ensaio, no restaurante. Fazia dois dias, mas a memória estava marcada na
sua mente, sua pele, sua língua...

Seus dedos se curvaram e um calor se espalhou pelo seu ventre.

“Senhorita?” Uma das atendentes balançava a mão em frente ao seu rosto. “Senhorita, precisamos
aplicar a sua maquiagem agora.”

“Oh. Certo.” Alice piscou, voltando dos pensamentos no terraço, de volta aos preparativos do
casamento. Sheridan já havia liberado a cadeira da penteadeira, e olhava para Alice com uma expressão
perplexa, enquanto as atendentes a levavam até a cadeira.

“O que foi?” Alice perguntou, quando uma das mulheres trouxe um frasco de base.

“Nada”, disse Sheridan, inocentemente. Ela encostou-se à parede e cruzou os braços em frente ao
peito, olhando para Alice com seus olhos azuis, que brilhavam um pouco demais.

“Ah, tá.” Alice também teria cruzado os braços, se não estivesse com medo de atiçar a ira das Fúrias.
“Reconheço essa expressão nos seus olhos. Conta tudo.”

“Ah, é que você estava olhando para o nada e corando, há apenas alguns segundos”, Sheridan apontou,
com um sorrisinho felino curvando seus lábios. “E esses dias, quando Karim saiu para procurá-la, ficou
sumido um pouquinho de tempo demais.”

Um calor atravessou as bochechas de Alice, com o gracejo da voz de Sheridan. “Ah, você não me
perguntou isso. Não vou entrar nisso agora. Não na frente das Fúrias.”

Sheridan riu – Alice já tinha contado a ela sobre o apelido. “Ah, por favor. Você nunca teve
problemas para me contar as coisas. Por que não agora?”
“Porque não”, Alice desviou do assunto quando uma das assistentes segurou um batom, indicando que
ela abrisse os lábios. Ela fez o que a assistente pediu, depois esperou por cerca de um minuto para que a
mulher terminasse de passar, antes de começar a falar de novo. “Só é estranho, ok?”

“Tá, acho que entendo o que você quer dizer.” Sheridan sentou na ponta da cama de Alice, com um
suspiro. “Mas não ache que vai fugir assim tão fácil.”

Elas não se falaram mais até que as Fúrias tivessem finalmente terminado a maquiagem de Alice.
Quando elas arrumaram suas coisas e foram embora, Alice ficou em frente ao espelho de corpo inteiro e
admirou como sua saia colorida balançava ao redor de seus tornozelos, quando mexia os quadris. O tecido
verde-esmeralda destacava perfeitamente seus olhos, e o bordado dourado refletindo as luzes como fogo. A
dupatta combinando fluía em torno de seus ombros, cobrindo a parte de trás de sua cabeça, ao mesmo tempo
em que ainda mostrava seu cabelo vermelho e brilhante, assim como a riqueza das joias de ouro penduradas
nas suas orelhas, pescoço e pulsos.

“Você está linda”, disse Sheridan suavemente atrás dela.

As pulseiras de Alice balançavam ao mesmo ritmo dos sinos de sua saia, quando ela virou para olhar
para a sua melhor amiga. “Você acha mesmo?”, perguntou, permitindo que um pouco da ansiedade que se
agitava em seu abdômen transparecessem em sua voz. “Eu... Eu não sei... Me sinto tão deslocada.”

Sheridan balançou a cabeça, compreensivamente. “Entendo o que você quer dizer”, disse ela,
levantando-se, para poder dar um abraço na amiga. Alice fechou os olhos quando voltou do abraço,
desfrutando um pouco do conforto. “Quando comecei a usar abayas, era estranho para mim também. Só tive
mais tempo para me ajustar do que você, e também passei minha faculdade no Oriente Médio, então fiquei
mais exposta a isso, de maneira geral. Você se acostuma com o tempo, confie em mim.”

“Mas e Karim?” Alice se perguntou em voz alta. “Vou me acostumar com ele? E se não der certo, e se
ele se tornar outro Jason?”

Sheridan suspirou, levantando a mão para passar pelo cabelo, e depois parando, percebendo que iria
estragar o penteado. “É diferente de Jason. Você sabe no que está se metendo e tem uma cláusula de exclusão
preparada, caso não funcione.”

“Eu tecnicamente também tinha uma cláusula com Jason”, disse Alice, amargamente. “Apenas
desperdicei três anos da minha vida antes de perceber que precisaria utilizá-la.”

“Ah, querida.” Sheridan a abraçou novamente. “É com isso que você está preocupada? Você acha que
vai desperdiçar mais um ano de sua vida com um homem que não a ama?”

Alice hesitou. Ela não estava realmente desperdiçando sua vida – não havia melhor partido para ela e
ainda contava com sua carreira e suas ambições, como sempre.

“Eu acho que só estou preocupada em acabar na situação em que estava com Jason, ou que eu me
apaixone por Karim e ele não me ame ou, pior, que ele se apaixone por mim, mas eu não me apaixone por
ele.” Alice enrolou seus dedos nas pontas de sua dupatta, apertando forte o suficiente para deixar marcas no
tecido. As Fúrias iriam matá-la se soubessem.

“Você sabe que Karim nunca iria forçá-la a ficar se você não quisesse”, disse Sheridan,
delicadamente. “Apesar de o que eu disse quando você me contou, Karim é um bom homem. Ele nunca
abusaria de você.”
“Eu sei”, sussurrou Alice. “Só não quero que ninguém se machuque.”

Sheridan suspirou. “Na minha experiência, você não consegue nada que valha a pena sem se abrir
para a possibilidade de se machucar”, afirmou. “Quer dizer, veja Kahlid e eu. Se eu tivesse me recusado a
ajudá-lo a comprar aquela casa, estaria a doze mil quilômetros daqui, ainda vendendo imóveis em Nova York
e partindo todos os corações por lá. Sim, eu tive que me abrir à possibilidade de me machucar, mas se não
tivesse feito isso, não teria reencontrado a minha alma gêmea.”

“Não sei se Karim é minha alma gêmea”, argumentou Alice, tentando não ser influenciada pela
tentação das palavras de Sheridan. Ela tinha um pouco de inveja do quão completamente apaixonados eram
Sheridan e Kahlid, mas não queria se enganar, pensando que a mesma coisa iria acontecer com ela e Karim.
Isso só iria abrir para ela um mundo de frustrações.

“Sim, mas também não sabe se ele não é.” Sheridan tocou seu rosto. “Já notei a forma como vocês
dois se olham às vezes, quando o outro não está olhando. Vocês fazem isso desde o momento em que se
conheceram. Você vai negar que existe química entre vocês?”

“Eu...”, Alice disfarçou, pois não conseguia arrumar um argumento.

“A-hã.” Os olhos de Sheridan estavam piscando novamente. “Você ainda não me contou o que
aconteceu naquela cobertura.”

Alice bufou. “Nós nos beijamos”, contou, decidindo ceder. “Ele foi lá para falar comigo e eu
desabafei sobre como eu não o conhecia, e que nós havíamos mal nos beijado, e de repente eu estava nos
braços dele, e a língua dele estava na minha boca.” Um calor a percorreu novamente com a lembrança.

“Eeeeee...?” Ele beija bem?”

“Excelente”, sussurrou Alice. “E me faz ter bons orgasmos também.”

“Eu sabia!” Sheridan deu um gritinho. “Vocês fizeram sexo lá em cima!”

“Não houve penetração de fato”, disse Alice, de forma meio seca. Ela não conseguia acreditar com o
quão excitada Sheridan estava ficando com a história dos amassos. “Ele só usou os dedos.”

“É, devem ser dedos mágicos, a julgar pelo olhar no seu rosto quando vocês voltaram para o jantar.
Você parecia um gato que tinha lambido uma tigela de sorvete.”

Alice sentiu seu rosto esquentar novamente. “Ai meu Deus. Todo mundo percebeu?”

Sheridan encolheu os ombros. “Acho que não. Mas você é minha melhor amiga e eu conheço a sua
cara logo depois de transar.”

Alice foi poupada de mais questionamentos pelo alarme do seu celular. “Oh, olha isso”, disse,
olhando para o aparelho, para poder desligar o som. “É hora de ir encontrar o nosso motorista. Não vamos
querer nos atrasar para o casamento, vamos?”

“Casamento, casamento”, disse Sheridan, enquanto pegavam suas coisas. Mas ambas sorriam, e
quando Alice saiu do quarto, sentiu-se um pouco mais esperançosa do que antes em relação aos rituais
nupciais que estavam por vir.
Capítulo Oito
Karim respirou fundo quando entrou no salão de orações da mesquita onde se casaria naquele dia. O
azulejo colorido no chão, sob seus pés descalços, estava frio, e ele não fez nenhum som quando atravessou o
hall amplo, mas austero, onde muitos muçulmanos se ajoelhavam em tapetes de preces, quando comungavam
com Alá. Não era um horário oficial de orações — esses sempre eram liderados pelo imã – mas, ainda assim,
cidadãos podiam ser vistos por lá todas as horas do dia.

Esta mesquita era um dos lugares mais bonitos de Dubai, na opinião de Karim. Apesar de o salão de
orações ser bastante simplista e despido de adornos além dos tapetes, as paredes eram muito altas, subindo
centenas de metros para finalmente se encontrarem no centro, no formato de um domo. E fora do salão de
orações havia muitas outras salas, usadas para educação, tutoria e eventos.

“Salaam”, Karim cumprimentou Imã Faraj e Imã Kahn, que esperavam ao lado de um pequeno palco,
montado em direção à frente do salão. Os dois líderes estavam ali para conduzir a pequena cerimônia.

“Wa’alaykum”, responderam, saudando-o com sorrisos. Ambos os homens tinham idade similar, em
torno dos cinquenta anos, e tinham barbas longas e escuras e pés-de-galinha em volta dos olhos pretos. Eles
vestiam thobes, mas o de Imã Faraj era apenas branco com bordados dourados em volta dos punhos e do
colarinho, enquanto o do Imã Kahn era azul escuro com punhos e colarinho brancos.

“É bom ver você finalmente se casando”, murmurou baixinho Imã Faraj, para não incomodar aqueles
que estavam orando.

“Obrigado, Imã.” Karim engoliu seco, lutando contra o nervosismo. Ele ainda não estava tranquilo,
pensou, enquanto olhava em direção à entrada. E não o estaria até depois que a cerimônia e a festa
acabassem e o casamento fosse consumado.

Um certo pensamento pecaminoso de luxúria mexeu com suas entranhas: a ideia de finalmente ter
Alice em sua cama, nua embaixo de si, com ele podendo fazê-la gemer e chorar de prazer sem ter medo de
serem ouvidos por ninguém. Tinha sido tão bom tê-la em seus braços na noite anterior... Beijá-la e dar-lhe
prazer com seus dedos tinha acendido um desejo dentro dele, de uma forma que nunca havia sentido antes. Ele
precisava tê-la novamente, e logo.

Kahlid entrou no salão vestindo um sherwani verde e dourado, que era apenas um pouco menos
chique que o de Karim. Os imãs o cumprimentaram e também se curvaram respeitosamente, pois Kahlid era o
seu líder. Pouco depois, Mirwais, o advogado da família, entrou – ele estava lá como a segunda testemunha e
também em uma posição legal, caso surgisse a necessidade.

Os segundos se alongaram, parecendo minutos, e mesmo que Karim soubesse que sua noiva não estava
nem um pouco atrasada, não conseguia evitar a ansiedade apertando seu peito. Ela viria? Ela faria o que
prometeu, certo? Ele pretendia consolá-la naquela noite na cobertura, mas, em vez disso, ele a dominou, com
seus desejos carnais. Havia pressionado demais, talvez? Estaria ela indo embora para Nova York agora?

Se ela o abandonasse no altar, isso iria matá-lo. Ele não sabia se conseguiria lidar com a perda e a
humilhação.

Não seja ridículo. Ela já assinou todos os documentos necessários, vendeu o apartamento, mudou
todas as suas coisas. Ela não vai a lugar nenhum, pelo menos não tão cedo.
Ainda assim, quando Alice entrou na mesquita, com Sheridan ao seu lado, ele quase sentiu que iria
desmaiar de alívio. Mas até isso logo foi embora, quando ele foi surpreendido pelo quão incrivelmente bonita
ela estava, em sua ghaara verde e dourada. Alice havia insistido nessas cores para o casamento e ele teve de
admitir que estava absolutamente maravilhosa. Os tecidos coloridos envolviam seu corpo de uma forma que
era tanto modesta quando provocativa, cobrindo-a e dando dicas do prêmio que estava por baixo. O seu
cabelo vermelho e brilhante brilhava por baixo da cobertura de sua dupatta, e seus olhos verde-garrafa eram
hipnotizantes, pois olhavam para ele através de cílios densos, que haviam sido pintados de preto e
contornados com kajal.

Pareceu levar uma eternidade para ela atravessar o salão de orações pelo braço de Sheridan, mas elas
finalmente chegaram, e Sheridan lhe entregou sua futura esposa.

“Como sou eu que a estou entregando, achei que você precisasse saber que é tradicional que homens
americanos ameacem a vida de seus genros, caso façam qualquer coisa para machucar a filha que estão
recebendo”, disse Sheridan, em uma voz baixa, para ser ouvida apenas por ele. “Mas como sei que Alice
consegue dar conta de você sozinha, só lhe desejo boa sorte.”

Ela deu uma piscada, depois foi até a lateral, perto de Alice.

Sem pressão.

Em vez de olharem um para o outro, como fariam em uma cerimônia tradicional no ocidente, Karim e
Alice se viraram para olhar para os dois imãs. Imã Khan estava lá para representar Alice e Imã Fariq
representava Karim. Em vez de os noivos dizerem seus votos, os dois líderes religiosos o fariam em seu
lugar.

Como os dois imãs falavam em árabe, lendo ayats de casamento do Alcorão, Alice se aproximou de
leve na direção de Karim. Ele quase pulou quando a mão dela encostou na sua, enviando uma onda de energia
através de seu corpo. Alá, essa mulher o afetava de uma maneira como nenhuma outra fazia. Ele olhava para
ela com o canto dos olhos, seus lábios quase tremendo com o brilho de suas íris verde-garrafa.
Sorrateiramente, esfregou os dedos nos dela para retribuir, não exatamente de mãos dadas, e manteve o olhar
fixo nos imãs, enquanto eles terminavam de ler os votos.

Finalmente, Imã Khan se virou em direção ao noivo: “Karim Bahar, você aceita Alice Winter como
sua esposa?”

“Khabul Hai”, respondeu, balançando a cabeça positivamente. Com o canto dos olhos, viu Alice
sorrir.

Imã Fariq então se virou para Alice: “Alice Winter, você aceita Karim Bahar como seu marido?”

Karim segurou a respiração quando Alice hesitou, esperando que ela desse a resposta apropriada.

“Não”, disse ela.

Karim exalou, com alívio. Em um casamento muçulmano, é tradicional que o celebrante pergunte três
vezes à noiva se ela aceita, e é considerado extremamente rude e desrespeitoso que ela diga sim na primeira
tentativa; Imã Fariq sorriu, depois perguntou novamente.

“Alice Winter, você aceita Karim Bahar como seu esposo?”

“Não.”
A ansiedade mexeu com o peito de Karim novamente e ele teve que controlar sua expressão. Ela não
precisava dizer não na segunda tentativa, apenas na primeira. Ela estava brincando com ele? Ou ela queria
recusá-lo? Sua expressão era totalmente ilegível, então ele não conseguia dizer.

Alá, por favor, faça com que ela me aceite.

“Alice Winter”, o Imã perguntou pela última vez, “você aceita Karim Bahar como seu esposo?”

Houve um longo momento de silêncio, depois Alice sorriu e disse: “Khabul Hai”.

Karim deixou escapar um suspiro de alívio e Alice lhe deu um sorrisinho. Então ela estava brincando
com ele! Que safadinha! Ele a faria pagar por isso depois, com certeza... Mas, agora, só estava feliz por ela
ter aceitado.

“Muito bem. Vamos assinar os documentos, para que vocês dois possam ir em frente como marido e
mulher.”

***

Alice e Karim assinaram os documentos do casamento, depois entraram no salão de banquetes da


mesquita, para a maior festa que ela já tinha visto na vida. Havia mais de quinhentas pessoas dentro da
mesquita para a celebração, e elas dançavam e riam e cantavam, enquanto a música alta e animada tocava.

Alice e Karim se uniram à celebração e, apesar de Alice ainda estar um pouco chocada com o fato de
estar casada, foi rapidamente envolvida na atmosfera festiva e também dançava, ria e cantava. Ao fim da
noite, tinha feito um milhão de amigos e tinha chás da tarde agendados com cerca de três dúzias de mulheres,
para quando voltasse da sua lua-de-mel. Ela se tinha medo de não conseguir se adequar, pois era branca, mas
todos eram tão simpáticos e acolhedores que ela se esqueceu de todos os seus medos.

Horas depois, quando já estavam satisfeitos e exaustos, Alice e Karim foram finalmente
acompanhados para fora, para entrar na limusine que os esperava. Os convidados os saudaram com pétalas de
flores e desejos de felicidade, e Alice e Karim correram em direção ao carro, rindo e acenando.

Fecharam a porta, ainda rindo, e Alice se jogou no banco, exausta, mas feliz.“Tem pétalas no seu
cabelo”, brincou com Karim, esticando-se para puxar uma pétala de rosa branca dos cabelo escuro e
ondulado do marido.

“No seu também”, disse ele, com os olhos cor de âmbar brilhando, enquanto tentava alcançar o cabelo
dela. Mas quando ele tocou seu cabelo ruivo, seus olhos se suavizaram. “Mas em você, ficam lindas.”

A mão dele escorregou do cabelo para o rosto dela e contornou sua pele macia, enquanto olhava
profundamente em seus olhos. O coração de Alice começou a bater mais rápido enquanto a limusine se
afastava, unindo-se ao tráfego da madrugada. Eles estavam sozinhos pela primeira vez desde as últimas duas
noites, no terraço onde ele a havia prendido no sofá e lhe dado prazer como nenhum outro homem havia feito,
apesar de sua vasta experiência.

“Acho que elas ficam bonitas em você também”, disse baixinho, esticando-se para passar os dedos
pelos cabelos grossos dele. “Elas parecem flutuar, pois seu cabelo é bem escuro.”

“Homens não devem ser bonitos”, disse ele de maneira áspera mas, ao mesmo tempo, com olhos
calorosos. “Devem ser charmosos.”
“Sim, talvez eles sejam charmosos e bonitos ao mesmo tempo.” Ela se aproximou e mexeu de maneira
divertida na ponta do nariz dele.

Quando deu por si, os braços dele estavam envolvidos fortemente em torno dela e ela estava em seu
colo. A boca quente de Karim se aproximou da dela, que arfou quando a tensão sexual entre eles aumentou.
Ele a beijou com força, depois profundamente, deslizando a língua dentro da sua boca até que ela não
conseguisse mais respirar – mas ela não se importava com isso, pois estava dominada pelas sensações. O
gosto dele, o cheiro dele, o toque dele... Ela se deixou envolver, agarrando-se a ele e querendo mais.

Mas ele se afastou, ajeitando-a gentilmente no banco ao seu lado. “Deveríamos esperar até chegar em
casa”, ofegou, com o peito largo pesando embaixo de seu sherwani. “Não desejo consumar nosso casamento
no banco de uma limusine.”

É verdade. “Tudo bem”, disse Alice, delicadamente, pegando a mão dele na sua dessa vez e um leve
arrepio a percorreu quando os dedos fortes e quentes dele se entrelaçaram com os dela. Meu Deus, mas quem
diria que se sentiria dessa forma em relação a alguém que conhecia há tão pouco tempo?

Ela olhou para fora da janela, para os arranha-céus que se impunham em torno deles, e deixou sua
mente vagar de volta para o casamento. O alívio e a admiração nos olhos de Karim eram inconfundíveis – ele
queria muito esse casamento, não havia dúvidas disso, mas também parecia satisfeito com ela, e não havia
dúvidas de que eles queriam um ao outro sexualmente. Mas mais do que isso, quando haviam trocado seus
votos, apesar da brincadeira de Alice, ela sentia que algo no seu peito havia se encaixado no lugar, quase
como se algo estivesse faltando tivesse sido colocado de volta aonde pertencia.

Talvez seu casamento não precisasse ser uma farsa. Talvez eles realmente tivessem uma chance de
viverem um amor.

Conforme continuava a olhar pela janela, ela notou que os arranha-céus passaram a ficar escassos.
Mas, em vez de virar para a esquerda, na estrada principal em direção ao palácio, eles viraram à direita, em
direção ao outro lado da costa.

“Para onde estamos indo?”, perguntou, virando-se para Karim.

Ele deu sorriso misterioso, com os olhos cor de âmbar brilhando. “Para casa.”

“Mas o palácio é para aquele lado.” Alice apontou para a outra direção.

“Não se preocupe.” Karim apertou a mão dela. “Tudo logo vai se tornar mais claro.”

Um leve arrepio de apreensão percorreu a espinha de Alice com essa frase. Karim não sabia que isso
era o que os vilões diziam nos filmes bem antes de eles revelarem que estavam prestes a destruir o mundo?
Jesus, mas para onde ela a estava levando?

Relaxe. É Karim, seu marido. Não é um mestre diabólico. Ele não vai machucá-la.

Alice soltou a respiração. É claro que ele não iria machucá-la. Ela só estava deixando sua imaginação
hiperativa a perturbar. Ele provavelmente só estava tentando fazer uma surpresa, com algo no dia do
casamento. A ideia a fez se sentir quente e animada por dentro – se fosse verdade, era um gesto doce.

A limusine continuou em outra rua que subia mais e mais alto até que se tornou claro que estavam indo
para uma falésia costeira. Alice olhou pela janela, vendo as ondas baterem abaixo deles, contra a costa, e
suspirou um pouco pela forma como a luz da lua dançava sobre o mar. Lá longe, conseguia ver o formato do
barco a vela do hotel em que haviam estado no jantar de ensaio, e suas bochechas esquentaram novamente,
quando se lembrou do que ela e Karim haviam feito no terraço.

Conforme continuaram na estrada, a vista do oceano foi substituída por sequências de casas no estilo
vila, em grandes lotes de terra, com palmeiras frondosas e piscinas. Os olhos de Alice se abriram quando
eles estacionaram perto de uma vila especialmente imponente, localizada perto do topo da falésia. Era uma
estrutura enorme, de dois andares, com tetos quadrados e arcos árabes. Palmeiras emolduravam a entrada
azulejada. Os azulejos desapareciam perto da garagem para três carros que ficava na lateral, deixando claro
que havia muito mais coisa a ser vista no fundo.

“Ai meu Deus”, sussurrou, quando finalmente se tocou. “Karim, esta é a propriedade que a família de
sua mãe deixou para você?”

“É.” Karim apertou a mão dela, uma alegria silenciosa em sua voz profunda. “Você gostou?”

“É fantástica!” Ela apertou a mão dele de volta, depois praticamente o arrancou da limusine, quando o
motorista abriu a porta para deixá-la sair. “Ai meu Deus, você precisa fazer um tour comigo. Você já
conheceu o lugar?”

“Já.” Um divertimento coloria a voz dele, enquanto a seguia. “Estive trabalhando para tornar esta casa
habitável nas últimas semanas, para que pudéssemos ter a nossa noite de núpcias aqui.”

“Casa.” Alice riu, enquanto olhava para a enorme estrutura. “Isto é uma mansão.”

Karim pôs as mãos nos seus ombros, depois deu um beijo no topo de sua cabeça. “O que quer que
seja, agora é o nosso lar.”

Alice ficou parada, em choque, absorvendo tudo, enquanto Karim se movia em torno dela, para
destrancar a entrada e desligar o sistema de segurança. Caramba. Essa era a casa deles agora. Ela sabia que a
propriedade vinha com Karim, que na verdade ela estava se casando com Karim por causa da propriedade,
mas não tinha pensando de que isso significa que eles iriam, de fato, morar aqui.

Mas é claro que iriam, ela se repreendeu, quando entrou na casa depois dele. Ele havia dito que uma
das razões pelas quais queria a propriedade era que poderia ter alguma coisa própria, para que pudesse
começar sua própria família e a vida que era independente do palácio e de seu irmão.

“E aí?”, perguntou, quando fechou a porta atrás dela. “O que você acha?”

Alice deixou os olhos vagarem pelo enorme espaço aberto no lobby de entrada. O chão abaixo de
seus pés era de quartzo branco frio e o teto acima tinha claramente sido elevado, dando ao espaço uma
sensação arejada. Mais à frente, ela podia ver a sala de estar, sala de jantar e cozinha – havia divisões sutis
entre os ambientes, que davam estrutura ao espaço, mas era basicamente uma planta aberta.

“É lindo”, ela murmurou, passando pela entrada e caminhando pela sala. O azulejo de quartzo branco
estava coberto por um tapete vermelho grosso e denso, e a mobília pesada de cedro era estofada com a
mesma cor, mas com listras de cores vibrantes, adicionando detalhes interessantes. Para o seu lado esquerdo,
a uns dez metros de distância, ficava um bar de mármore negro, que delimitava a área da cozinha, dividindo-a
da sala de estar. Recobrindo toda a parede à sua frente ficava uma série de janelas que ofereciam uma vista
ampla dos jardins que, pelo que conseguia ver, incluíam uma piscina longa e retangular e um tipo de gazebo.
O melhor de tudo é que ainda podia ver o oceano de onde estava.

“É possível ver o Oceano Índico de praticamente qualquer lugar desta casa”, contou Karim,
abraçando a sua cintura e a puxando em sua direção. Alice inalou seu aroma profundo de especiarias quando
se encostou nele, desfrutando da sensação de estar em seus braços fortes, que a envolviam. “Esta é uma das
minhas coisas preferidas neste lugar.”

“Tenho a impressão de que a piscina será uma das minhas coisas favoritas”, disse Alice, olhando para
o seu formato retangular. Ela adorava nadar. “Eu poderia fazer disso parte da minha rotina matinal.”

“Também tem uma jacuzzi ali, que pode ser especialmente maravilhosa nas noites de inverno.” Karim
deu um beijo no topo da sua cabeça, depois foi para trás e puxou a sua mão. “Vem, deixa eu lhe mostrar o
resto da casa.”

Eles fizeram um breve tour pela cozinha, que era dominada pela ilha e os balcões de mármore preto.
As pias eram em preto-escovado e os eletrodomésticos e os armários eram iluminados, para que a pessoa
pudesse saber onde estavam as coisas mesmo no escuro, para não precisar acender toda a luz caso tenha
vontade de comer alguma coisa durante a noite. Uma sala de café da manhã, clara e espaçosa, ficava ao lado,
com vista para o jardim com paisagismo detalhado.

Alice e Karim saíram para o jardim passando pelas portas duplas, e Alice inalou o ar quente, denso e
perfumado, arrematado com o aroma doce de plumérias e outras flores. O som da água correndo saudou seus
ouvidos. Vinha de diversos pontos diferentes de água em espalhados pelos jardins, juntamente com as
esculturas de mármore, e ela notou que esses objetos decorativos marcavam áreas discretas onde casais
podiam se sentar e ter um pouco de privacidade... Talvez algo mais. Havia várias luzes coloridas situadas ao
longo de diversas passagens, para garantir que ninguém se perdesse no escuro, apesar de ainda deixar
espaços suficientes nas sombras para aqueles que desejassem.

“É como um sonho”, disse Alice, enquanto olhava para uma fonte de água elegante esculpida em
mármore preto. Ela se sentou em um banco de pedra combinando e Karim se uniu a ela. “Acho que, no fim,
casar comigo valeu a pena, não?”

“Alice.” A voz de Karim era suave, e as mãos dele estavam levemente pousadas sobre seus ombros.
Ele a virou, para olhar para ele, e a respiração de Alice se acelerou com a ternura em seus olhos cor de
âmbar. “Pode ser que eu tenha ganhado esta bonita propriedade, mas também ganhei você. E apesar de ter
feito isso pela minha independência, você ainda é muito mais valiosa do que qualquer outra coisa material
que eu pudesse ter.”

Lágrimas se acumularam nos cantos dos olhos de Alice, e ela os fechou quando Karim a beijou,
permitindo que pequenas gotas escorressem pela sua face. O dia havia começado com nervosismo e tensão,
mas terminou de maneira tão bonita que tudo aquilo foi esquecido. Ela começou a pensar que, se fosse essa a
forma como iriam começar o casamento, com palavras tão comoventes e tanta beleza deslumbrante, talvez
houvesse muito mais coisas boas reservadas a eles que valeria a pena esperar mais do que um ano.

Mas conforme a boca de Karim se aproximava da dela, esses pensamentos se esvaíram, sendo
substituídos pelo desejo carnal que tinha ficado latente desde que ela o havia conhecido. Agora, veio com
toda a força, correndo pelo seu sangue como fogo, e ela envolveu seus braços em volta do pescoço de seu
novo marido e o puxou para perto, abrindo sua boca para ele, para que pudesse saborear seu sabor exótico e
obscuro. A echarpe que envolvia seus ombros e seu corpo escorregou, desnudando sua pele ao ar quente da
noite. Mas Karim a trouxe para ainda mais perto, pressionando seu corpo rígido contra sua pele nua.

“Não quero mais esperar”, ele grunhiu em sua boca.

“Então não espere”, ela respirou. “Me possua.”


Ele deslizou a mão embaixo de suas nádegas, e Alice arfou quando ele a pegou em seus braços. Ela se
agarrou a ele com força quando ele parou de beijá-la, encostando a cabeça dela no seu peito, para que ela
ouvisse sua pulsação, tão instável quanto a dela. Os músculos de Karim se contraíram embaixo de suas
roupas quando ele a carregou para dentro da casa e subiu uma escada ampla, virando à esquerda em um
corredor que, ela imaginou, levaria para os quartos.

Alice levantou a cabeça para dar leves beijos no pescoço e no maxilar do marido. Ela sorriu quando a
respiração dele se acelerou e não pode evitar rir quando ele se atrapalhou algumas vezes na hora de abrir a
porta no fim do corredor. Quando finalmente conseguiu, revelou uma suíte master espaçosa. Alice viu
rapidamente os azulejos em quartzo branco, móveis em cerejeira escura e tapetes vermelhos quando Karim a
pousou em cima de uma cama king-size com dossel, mas depois se esqueceu de tudo, quando ele se despiu de
seu sherwani.

Meu Deus, pensou, quando se sentou apoiada nos cotovelos, estupefata com ele. A luz da lua
atravessando as janelas contornava cada linha e cada músculo... E havia muitos. Seus ombros, braços,
peitorais... Tudo isso era coberto por feixes de músculos rijos e esguios, conduzindo para um abdômen
marcado e quadris definidos. Seu tórax era coberto por uma fina camada de pelos escuros, e esses pelos
continuavam em um caminho para os quadris, desaparecendo por baixo da cintura das calças largas, de
amarrar...

“Gosta do que vê?”, ele pergunta, com uma voz baixa, sussurrante. Seus olhos brilhavam enquanto ele
avançava sobre ela, com um tremor de ansiedade percorrendo a sua espinha.

“Gosto”, disse ela – o que, na verdade, era a única coisa que conseguia dizer. O desejo quente
percorrendo seu corpo não deixava espaço em sua mente para respostas espirituosas. Só havia um tórrido
desejo, que só ele poderia satisfazer.

Balançando a cabeça com o apelo silencioso na voz ela, ele tirou a calça, empurrando-a com os pés.
A boca de Alice secou ao vê-lo – ele não usava nenhuma roupa íntima e, pela luz da lua, ela conseguia ver
suas pernas musculosas em todo o seu esplendor. A sua ereção se elevou, altiva e grossa, uma das maiores
que já tinha visto, e ela lambeu os lábios, querendo envolver seus dedos em volta do pênis dele.

Karim vinha em direção a ela como um predador e Alice foi indo para trás, com uma corrente de
nervos e ansiedade a percorrendo. Ele a cobriu com seu corpo grande, duro e nu, e a beijou profundamente,
depois a puxou, para que ficasse sentada e ele pudesse tirar a sua blusa. A blusa esvoaçou até o chão como
seda, assim como seu sutiã, deixando a parte superior de seu corpo totalmente exposta ao olhar faminto de
Karim.

“Você é bonita”, sussurrou, com o olhar cor de âmbar aquecendo a sua pele, enquanto ele se embebia
dela. As mãos de Karim escorregavam pelo seu abdômen nu, deslizando sobre a sua pele firme. Envolvendo
seus seios com a mão os apertou delicadamente. Alice arfou quando ele passou o polegar sobre os seus
mamilos, e eles se endureceram com o toque. Ela arqueou as costas quando ele pegou uma das suas
protuberâncias sensíveis com a boca, chupando-a delicadamente, e gemeu quando as correntes de sensações a
percorreram.

Ele brincou com os seios dela em sua boca e mãos por um longo tempo, dispensando atenção a cada
um, individualmente, até que ela estivesse arfando de desejo. Querendo mais, ela deslizou as mãos pelo
abdômen firme de Karim, sentindo os músculos se contraírem com o seu toque, depois envolveu uma mão em
torno do seu longo pênis. Ele se enrijeceu com isso, depois exalou um gemido quando ela apertou.

“Mais”, ele pediu, levantando a cabeça dos seios dela, para encará-la com um olhar quente.
Alice fez o que ele pediu, deslizando a mão para cima e para baixo, em golpes lentos e firmes. Ela viu
as pálpebras dele quase se fecharem, seus olhos cor de âmbar escurecidas de prazer, e os músculos na sua
face se contraírem quando as sensações o percorriam. Aquele pênis pulsava na mão dela, ela o apertava e
mexia, sentindo que ficava molhado em suas palmas, quase tanto quanto a umidade entre as suas próprias
pernas.

Um tremor o percorreu e ele fechou os olhos. “Pare”, ele ordenou, buscando a mão dela e a tirando
do seu órgão. Ele puxou a mão dela para o seu rosto e beijou lentamente cada articulação, com os olhos ainda
fechados, e Alice sentiu algo em seu peito, um tipo de calor e ternura que nunca havia experimentado. Era
quase como se a conexão entre eles tivesse se aprofundado, crescido um pouco e se tornado mais forte e
segura, neste breve momento na escuridão.

Sem dizer nada, Karim colocou a mão dela de volta na cama, depois deslizou a sua saia e a sua
calcinha pelos seus quadris e coxas. A seda e a renda escorregavam sobre a pele dela, enquanto uma
ansiedade a percorria, enquanto Karim terminava de remover suas roupas. Seu olhar cor de âmbar a
percorreu inteira, quando olhou para seu corpo nu pela primeira vez e, pela primeira vez em muito tempo,
Alice se sentiu um pouco envergonhada.

“Não sei como alguém pode ser tão perfeita”, suspirou, contornando os quadris dela com os dedos.
Um leve tremor percorreu a pele dela, seguido de calor, e Alice não conseguiu evitar sorrir.

“Eu poderia dizer o mesmo de você”, disse ela, esticando-se para envolver seus braços em torno
dele. Ela o beijou profundamente, puxando-o para perto de si, e desta vez abriu as pernas e enganchou os
calcanhares em volta das coxas dele. E quando ele a penetrou de maneira profunda, ambos gemeram ao
mesmo tempo.

Alice levantou os quadris para se encaixar às estacadas de Karim, sentindo-o ainda mais
profundamente, e fechou os olhos, saboreando a sensação do pau dele dentro dela. Era tão grosso e tão duro,
que ela se sentiu mais preenchida do que nunca, esticada ao máximo, e o nó de prazer em seu ventre cresceu
com a sensação de ele estar dentro dela. Afundando as mãos nos cabelos dele, ela o beijou, enquanto ele
começava a penetrá-la, sentindo-o por inteiro.

O sabor, a sensação, o cheiro de fazer amor com o seu novo marido pela primeira vez foi algo que ela
queria que ficasse marcada em sua mente, como uma memória da qual pudesse se lembrar a cada vez que as
coisas ficassem difíceis.

Não importava o que acontecesse entre ela e Karim, eles sempre teriam esse momento.

As nuvens fora da janela mudaram e os raios de luar atravessavam a janela, iluminando o corpo
magnífico de Karim com toques de prata. Ela deslizou as mãos pelo cabelo dele para tocar a sua face, vendo
a luz passar por suas maçãs do rosto marcadas e mandíbulas fortes. Ela já havia estado como muitos homens
elegantes na vida, mas poucos tão exoticamente bonitos quanto ele – por isso gostava de olhar para aquele
rosto.

O brilho nos olhos cor de âmbar de Karim se escureceu, e ele começou a acelerar seus movimentos,
com seu rosto tenso enquanto lavava ambos ao clímax. O suor escorria em sua pele escura, pela sua fronte,
escorrendo pelos seus braços e as laterais de sua face, misturando-se à transpiração que cobria sua própria
pele, e seus corpos escorregando um contra o outro toda vez que eles se aproximavam mais. O prazer que
crescia no ventre de Alice finalmente tornou-se insustentável, e ela jogou sua cabeça para trás e gritou
enquanto ondas de êxtase percorriam seu corpo. Agarrou-se com força a Karim, com seu corpo estremecendo,
e depois ele se contraiu em seus braços, com o seu pênis pulsando dentro dela, gozando também.
Quando acabou, ele enterrou o rosto no pescoço dela, apoiando a maior parte do seu peso sobre os
joelhos, enquanto deitava em cima dela. A respiração ofegante dos dois era o único som que preenchia o ar
enquanto eles deitavam ali, e Alice limpou suor de Karim, enquanto olhava para o tecido transparente que se
esticava sobre o dossel de sua cama.

“Isso foi maravilhoso”, disse ela, finalmente, depois que a respiração de Karim se acalmou e ela
votou a respirar normalmente.

“Foi.” Karim levantou a cabeça com um brilho em seus lindos olhos cor de âmbar. Seus dentes
brancos brilhavam na escuridão quando ele sorria, e o coração de Alice vibrou, um calor se espalhando pelo
seu peito novamente. Ele parecia um menino quando sorria daquele jeito, tão bonito e tranquilo, e isso mexia
com o coração dela de alguma forma.

“Talvez possamos fazer isso de novo outra hora”, sugeriu Alice, arqueando as costas e alongando os
braços acima da cabeça. Seus braços e pernas estavam soltos e relaxados – tinha sido um orgasmo
maravilhoso.

“Outra hora?” Karim repetiu, rolando-os na cama, para que ela ficasse em cima de seu corpo grande e
firme. “Por que não agora?”

E seus lábios encontraram os dela, e Alice não conseguiu pensar em mais nenhum motivo para
recusar.
Capítulo Nove
“Então, como está indo a lua-de-mel até agora?”, perguntou Sheridan, quando Alice atendeu ao
telefone.

Alice suspirou feliz, recostando-se na cadeira e olhando para o Rio Sena, que brilhava com a luz do
fim da tarde, a uma distância não muito grande. Ela estava sentada ao ar livre em um café perto do Triangle
d’Or, uma das áreas de compras mais exclusivas de Paris, tomando uma xícara de café e um croissant,
enquanto esperava por Karim, que ia encontrá-la para jantar. Uma brisa quente e suave brincava com o seu
cabelo vermelho, trazendo consigo os aromas da cidade.

“Está perfeita”, contou, com um sorriso nos lábios. “Passei a manhã fazendo um tour pelo Louvre e a
tarde inteira fazendo compras no Triangle d’Or. Estou tão feliz de ter pedido que as coisas sejam entregues no
meu quarto de hotel… Eu estaria enterrada sob uma montanha de sacolas agora.”

Sheridan riu. “Conhecendo você, tenho certeza disso. Você é uma compradora de moda, Alice. É isso
que você faz da vida.”

“Com certeza, mas normalmente quando compro em grandes volumes faço isso para a Armani, não
para mim”, Alice riu. “Na verdade, eu provavelmente não teria gasto tanto se Karim não me tivesse dado o
cartão de crédito dele e me dito que eu poderia comprar o que eu quisesse.”

“Ah, então o seu novo marido é generoso, além de bonito, é?”, brincou Sheridan. “Pode-se dizer que
você achou uma mina de ouro.”

Alice suspirou. “Bem, talvez seja melhor dizer que eu ajudei Karim a encontrar ouro.” Mas o fato não
a incomodou tanto quando costumava. “Nós ainda não arrancamos os olhos um do outro em duas semanas,
então talvez haja esperança para nós.”

No dia seguinte ao do casamento, a família de Karim ofereceu um enorme banquete, que era
tradicional e a terceira parte do casamento, e depois eles partiram para a lua-de-mel, um tour de duas
semanas pela Europa que eles basicamente foram planejando no caminho, porque Alice não estava
interessada no itinerário que Azisa havia planejado. Pode ser que tivesse se casado com Karim como um
favor, mas este era o seu casamento, e ela queria ter a sua própria lua-de-mel. Já era ruim o suficiente ver o
rosto de Azisa sorrindo para ela em praticamente toda revista de moda pela qual ela passava. Mesmo que não
tivesse motivos para ficar com ciúmes daquela mulher, ela não precisava tê-la no casamento deles.

Karim não tinha discutido com ela nenhuma vez: na verdade, tinha estado perfeitamente contente em se
sentar em seu jatinho e deixar Alice dizer ao capitão para onde voar. Até então, já tinham estado na Itália,
Holanda, Alemanha, Espanha e França, que era um dos últimos destinos antes de voltarem para casa. Ela e
Karim passaram uma grande parte do tempo juntos, mas ele teve reuniões, tanto por telefone quanto
pessoalmente, quando estavam em cidades onde ele tinha contatos, como agora. Durante esses momentos,
Alice ficava mais do que feliz em caminhar pela cidade sozinha, fazendo compras e turismo, além de
aproveitar os pontos turísticos.

“Sabe, eu realmente espero que as coisas deem certo entre você e Karim”, disse Sheridan, sua voz
ficando mais séria. “Vocês dois merecem ser felizes e, pelo que posso ver, vocês se dão muito bem.”

“É verdade”, admitiu Alice, tomando um gole de café. O sabor rico, intenso, fluiu suavemente pela
sua língua, com apenas um pouco de creme e açúcar. “E o sexo tem sido muito bom até agora. Eu não vou me
importar em ficar com ele caso as coisas funcionem”. Mas as borboletas começaram a se agitar novamente no
seu estômago ao pensar nisso, e ela se mexeu na cadeira. Isso iria mesmo acontecer? Será que ela poderia
confiar em Karim, de todo o coração? Ela não tinha motivo para não confiar, mas…

“Ah, é?”, um tom safado tomou a voz de Sheridan. “Ele não decepciona no departamento de
performance?”

“Sheridan!” Alice exclamou, fingindo estar escandalizada. “Não tenho certeza se é adequado você ter
tantos pensamentos sobre o seu cunhado.”

“Ah, por favor!”, Sheridan zombou. “Para de enrolar e me conta. Já tentaram fazer sexo na banheira?
A primeira vez que Kahlid e eu…”

“Ops, preciso ir!” Alice disse apressada quando viu Karim se aproximando do café pela multidão de
pessoas fazendo compras. “O Karim chegou. Falo com você mais tarde, Sheri.”

Ela desligou o telefone com a melhor amiga, que ainda gaguejava, e sorriu por ter a última palavra. O
sorriso se ampliou quando Karim sorriu de volta para ela, que recostou na cadeira e admirou a vista enquanto
ele se aproximava. Ele vestia um terno escuro com uma camisa branca reluzente, com o colarinho aberto,
revelando apenas um pedaço do seu peito largo e musculoso. Um par de óculos tipo máscara escondia seus
olhos, dando-lhe um ar de mistério, e o vento leve brincava com seu cabelo escuro e ondulado, tornando-o
sexy e safado ao mesmo tempo.

“Minha querida esposa”, ele exclamou, quando ela se levantou para cumprimentá-lo. “Como você está
esta tarde?”

Alice deu uma gargalhada quando ele a levantou e a girou, bem perto das mesas e cadeiras. Ela
envolveu seus braços em volta do pescoço dele e o beijou carinhosamente, saboreando a sensação da boca de
Karim na sua, e a fragrância de especiarias se misturando aos aromas do ar.

“Eu estava tendo uma tarde muito boa até você chegar”, brincou ela, beliscando o nariz dele quando
ela a deixou no chão.

“Assim você me machuca, meu amor.” Karim pressionou uma mão no seu peito, fingindo estar
machucado. “Acho que precisarei compensá-la, proporcionando bons momentos esta noite.”

“É, não vai doer tentar”, brincou Alice, pegando o braço que ele oferecia.

Andaram juntos pela Place de Madeline e entraram no Caviar Kaspia, um dos mais renomados
restaurantes de frutos do mar de Paris. O exterior era charmoso: uma construção branca, com um toldo azul e
branco se projetando sobre a calçada, para que os clientes pudessem achá-lo facilmente, e grandes janelas de
vidro, que permitiam que aqueles sentados nas mesas à janela tivessem as melhores vistas da igreja
neoclássica Madeliene, do outro lado da rua.

Quando entraram, o maître os acompanhou a uma das mesas à janela e Alice se permitiu percorrer os
olhos pela decoração tradicional, estudando a luz, as paredes com painéis de madeira, os carpetes e assentos
em tons de cinza, e as os detalhes pontuados com trabalhos de arte e porcelana. A mesa grande, quadrada,
onde estavam sentados, era coberta de tecido verde água que complementava a decoração, e pratos delicados
de porcelana e talheres já esperavam por eles.

“O que achou desse lugar?” Alice perguntou a Karim depois que o garçom pegou seus pedidos de
bebidas e eles se ajeitaram na mesa.

“Humm?”, Karim perguntou, levantando a taça de vinho.

Alice riu. “Você sabe o que eu quero dizer”, disse ela, olhando em torno. “O que você acha da
arquitetura?”

Ela fazia esse jogo com ele em todos os lugares aonde iam, de hotéis a museus, perguntando sua
opinião sobre a arquitetura e sobre com ele faria as coisas se pedissem para que ele as redesenhasse.
Normalmente, ele se lançaria em explicações animadas, e ela adorava aprender sobre o design de prédios e
assistir à excitação e paixão em seu rosto. Mas desta vez, ele apenas sentou na cadeira e deu um sorriso
presunçoso.

“Por mais que eu adore falar sobre arquitetura, acho que é hora de falarmos sobre você.”

Alice quase derrubou sua taça de vinho. “O que?”

“Disse para falarmos sobre você”, Karim de inclinou para a frente, alfinetando-a com seu olhar cor de
âmbar. “Gostei muito das duas semanas com você, Alice, mas toda vez que sentamos para ter uma conversa,
sempre parece que sou eu que passo a maior parte do tempo falando.” Ele esticou a mão para alcançá-la do
outro lado da mesa e passou o polegar nos nós de seus dedos. “Quero saber mais sobre a mulher com quem
me casei. Eu sei que ela ama os Beatles, tem uma paixão pela moda e um zelo pela vida que é admirável. Mas
também sei que ela não tem família e, apesar de saber que posso investigar sobre qualquer coisa que quiser
saber, prefiro ouvir a história de você.”

Um peso se instalou no peito de Alice com a menção de sua família e o seu passado, mas o olhar de
Karim era tão terno, que ela não conseguiria afastá-lo da forma como fazia com outros homens que
perguntavam sobre o seu passado. Além disso, ele era seu marido. Mas mesmo assim…

“Não é fácil falar sobre isso”, ela se protegeu.

“Mesmo assim, eu gostaria que você tentasse.” Karim deu uma apertada reconfortante em sua mão.
“Por favor, não vou julgá-la. Você precisa saber disso.”

Alice soltou um suspiro. “Perdi a minha mãe quando tinha nove anos”, contou, virando-se para poder
olhar para fora da janela, para a igreja. Parecia-se mais com um templo grego do que com uma igreja, ela o
apreciava, seus olhos percorrendo uma fileira de colunas grossas de pedra e o frontão do telhado com
entalhes neoclássicos. “Meu pai eu nunca conheci, ele foi embora antes de eu nascer. Mas minha mãe era
costureira, trabalhava em uma alfaiataria. Não ganhava muito, mas o suficiente para nos sustentar. O que não
conseguia me dar em dinheiro ou posses, compensava com amor.”

Alice engoliu seco, com o nó na garganta repentino, e piscou. Ela podia ver Karim a olhando com o
canto dos olhos, mas sabia que se seu olhar se encontrasse com o olhar dele de compaixão neste momento, ela
acabaria chorando, então continuou virada para a igreja, traçando o contorno das colunas os olhos.

“Quando eu tinha sete anos, um dia ela chegou em casa chorando. Eu estava na mesa da cozinha
fazendo tarefa da escola e me lembro de pular da minha cadeira e abraçá-la, perguntando se havia alguma
coisa errada. Ela parecia tão abatida, seu cabelo bagunçado pelo vento, seu rosto pálido marcado pelo
estresse e fadiga, mas ela sorriu para mim e me disse para não me preocupar e para ajudá-la com o jantar. Eu
só descobri uma semana depois que ela estava com câncer.”

“Ai, Alice”, Karim apertou sua mão. “Sinto muito.”


Alice balançou a cabeça. “Não é culpa de ninguém”, ela disse baixinho, tirando os olhos da igreja,
para encarar seus dedos entrelaçados. “Por um longo tempo, tentei encontrar alguém para culpar depois que
ela morreu – os médicos, meu pai, Deus, qualquer um. Mas, às vezes, essas coisas acontecem e não há
ninguém para colocar a culpa”, Alice suspirou. “Ela morreu um ano depois, mas nunca parou de tentar viver.
Quando não estava trabalhando na alfaiataria ou cuidando de mim, ficava acordada até tarde, na máquina de
costura, trabalhando nas suas próprias criações. Ela amava a moda e tinha uma ótima visão. Acho que se ela
tivesse vivido o suficiente, teria tido sucesso.”

“Foi por isso que você decidiu trabalhar com moda?”, perguntou Karim, com sua voz incrivelmente
gentil. “Por causa da sua mãe?”

Alice assentiu, com um sorriso, curvando seus lábios levemente. “Eu não tenho o talento da minha
mãe com a máquina de costura, mas tenho o olho dela, e decidi que iria fazê-la se orgulhar de mim. Essa
determinação me permitiu manter a cabeça erguida durante o tempo em que passei nos orfanatos, e estudei e
fiz um estágio e, eventualmente, fui parar na Armani.”

“Isso é bem impressionante”, Karim levou a mão dela até a sua boca, para poder beijá-la. Como
sempre, a sensação dos lábios dele na sua pele enviava ondas de calor pelas suas veias, e ela ficou mais
animada. “Muitas pessoas se curvam ao enfrentar uma tragédia, mas você usou a sua para se levantar. Acho
que se eu tivesse que fazer isso, não sei se conseguiria.”

“Não sei”, comentou Alice, abrindo um sorriso. “Pelo que vi, você é bastante ambicioso. E eu já dei
uma olhada nos seus projetos nos quais você trabalha, no seu caderno de rascunhos. Você tem talento.”

As bochechas de Karim ficaram rosadas, em sua pele escura. “Você é muito bondosa.”

“Você ficou com vergonha?”, Alice riu. “Não sabia que pessoas com pele escura pudessem ficar
coradas.”

As sobrancelhas de Karim se levantaram. “Qualquer outra pessoa diria que isso é racismo.”

“Sim, mas você não é qualquer um. E, para deixar registrado, acho que usar o argumento do racismo o
tempo todo é besteira.” Sorrindo, Alice puxou a mão dele em sua direção e deu um beijinho.

Karim só riu. “Concordo.”

A comida chegou, e Alice e Karim se afundaram pratos enormes de blinis – panquecas finas ao estilo
russo, com manteiga – que estavam absolutamente divinas. Também havia pratos de batatas assadas com
caviar, peixe defumado e foie gras, tudo delicioso.

“Meu Deus”, disse Alice quando experimentou a vodka, servida pelo garçom em uma jarra sobre
gelo. Era bastante fresca, com um toque de especiarias, e descia tão macia que ela não conseguia acreditar.
“Esta é a melhor vodka que já experimentei!”

“É vodka Bison Polish”, Karim contou, experimentando seu próprio copo. “Minha favorita.”

“É, deve ter sido um belo bisão, para poderem fazer vodka com ele.”

Karim soltou uma gargalhada. “Na verdade, não é feito de bisão.”

“Eu sei, só estou brincando”, mas Alice sorriu.


“Acho que nunca vi você tão relaxada”, Karim notou, quando terminavam a refeição. “Você finalmente
está se acostumando à ideia de que somos casados?”

Alice encolheu os ombros. “Acho que estou”, disse ela, espetando um morango com o garfo – o
garçom tinha trazido tigelas enormes de frutas vermelhas de sobremesa, servidas com um pouco de creme. “Já
tive tempo suficiente para me acostumar.”

“Normalmente leva todo esse tempo para você se acostumar?”, perguntou Karim. “Com homens,
digo.”

Alice colocou uma frutinha em sua boca, e mastigou bastante, enquanto pensava na melhor resposta.
“Para ser honesta, faz alguns anos que não namoro um homem por tempo suficiente para precisar de tempo
para me acostumar.”

“Alguns anos?”, as sobrancelhas de Karim se levantaram. “Com certeza, uma mulher tão bonita
quanto você não passaria muito tempo sem um homem.”

Alice sorriu um pouco encabulada. “Não disse que era celibatária”, contou, baixando um pouco a voz.
“Só que não tive nenhum relacionamento.”

“Ah”, Karim foi surpreendido. “Então você dormia por aí”.

“Não diria isso”, o rosto de Alice corou e as pontas de suas orelhas queimaram de vergonha. “Todo
homem com quem estive era um possível candidato. Mas nenhum realmente passou do primeiro encontro, e
depois de um tempo, fazia tanto tempo que eu não fazia sexo, que não resistia a me divertir com alguns deles.
Uma mulher precisa fazer alguma coisa quando está desesperada para fazer sexo, e alguém como eu
certamente não vai pagar por isso.”

Karim enrugou o nariz. “Espero que não”, disse ele, e depois provocou a curiosidade dela. “Fico me
perguntando como você saberia, no primeiro encontro, que os homens eram inadequados. Pela minha
experiência, normalmente leva mais de um encontro para conhecer qualquer pessoa. Por que você não quis
dar a eles mais uma oportunidade?”

Alice mordeu o lábio, desconfortável com a questão. “Acho que podemos dizer que tenho problemas
com confiança.”

“Tais como?”

Ela suspirou, passando os dedos pelos cabelos. “Há alguns anos, antes de começarem meus gloriosos
encontros de uma noite só, conheci um cara chamado Jason Trevayne. Ele era corretor de Wall Street, vinha
de uma família rica, era incrivelmente bonito e inteligente e eu, a pequena órfã, me apaixonei por ele. Muito.
No começo, ele não sabia da minha história e, para ele, eu era uma fashionista bonita e inteligente, perfeita
para um cara como ele.

“Nós namoramos por cerca de um ano e, em um dado momento, ele ficou sabendo do meu passado,
mas nós ainda parecíamos gostar um do outro o suficiente para que aquilo não importasse, então fui morar
com ele. No segundo ano, eu estava na expectativa de ele me pedir em casamento a qualquer momento. No
terceiro ano, eu me posicionei e fui bem direta quando ele me levou para sair no nosso aniversário e meu deu
um colar, em vez de um anel de noivado.”

“Quando perguntei por que ele não havia de pedido em casamento ainda, ele me disse que achava que
eu soubesse, que entendia o nosso ‘acordo’: que estávamos juntos por causa do dinheiro dele e porque ele
precisava de ‘uma barba’”, um ressentimento preenchia a voz de Alice. “Aparentemente, ele estava dormindo
com outras pessoas o tempo todo, e eu era tão burra e desesperada que não tinha ideia. Fico espantada de não
ter contraído HIV ou outra doença.”

“Uma barba?”, Karim piscou. “Acho que não entendi.”

Alice riu. “Se eu pudesse ser assim tão inocente”, disse ela, depois engoliu o resto da vodka. O gelo
balançou no copo quando ela se encostou de volta na cadeira. “Uma ‘barba’ é basicamente quando um cara
gay tem uma esposa ou namorada, para parecer que ele é um ‘homem de verdade’, enquanto ele continua a
transar com outros caras. Basicamente, só para manter as aparências, se você não estiver confortável em
sair do armário.”

O queixo de Karim caiu, em choque. “Você estava em um relacionamento com um homossexual o


tempo todo? E ele nunca lhe contou?”

Alice balançou a cabeça. “Aparentemente, ele achou que eu iria descobrir, ou que tínhamos algum tipo
de acordo silencioso ou algo assim. Honestamente, ele era um babaca – acho que só dizia aquilo para si
mesmo para justificar me usar o tempo todo. Ele sempre me levava a eventos sociais e festas do escritório,
coisas assim – como corretor, trabalhava em um ambiente muito masculino, então eu acho que se sentia
melhor tendo uma mulher ao seu lado. Acho que ele não pensou no fato de que basicamente me fez
desperdiçar três anos da minha vida, que nunca terei de volta.”

“Que desgraçado egoísta”, os olhos cor de âmbar de Karim escureceram com raiva, e ele cerrou o
punho da mão que estava sobre a mesa. “Não acredito que ele a usaria dessa forma em benefício próprio, e
depois fingiria que devia saber exatamente o que ele estava fazendo o tempo todo. Tenho certeza de que posso
encontrar alguém em Nova York que me deva um favor, para tornar a vida desse cara bem desconfortável.”

Alice riu, sua ira tinha ido embora. “Por mais que isso pareça carinhoso, Karim, não estou buscando
vingança neste momento da vida. Eu não quero ter mais nada a ver com Jason. Eu superei.”

“Se você realmente tivesse superado”, disse Karim, suavemente, “não teria tanto medo de ter
segundos encontros com outros homens.”

“Eu não tinha medo de segundos encontros”, insistiu Alice.

“Ah, é?”, Karim cruzou os braços. “Então do que chamaria isso? Alergia?”

Alice olhou com desconfiança: “espertinho.” Mas ela mordeu o lábio, pois pensava em como explicar
isso para ele. “Não que eu achasse que esses caras iriam me machucar… é só que eu não confiava mais no
meu próprio discernimento. Tinha medo de acabar em outro relacionamento onde pensava que um homem me
amava, mas ele não amava, ou pior, que ficasse presa a uma situação em que ele me amasse, mas eu não. Não
quero colocar ninguém na situação de coração partido em que Jason me deixou. Não é certo.”

“Oh, Alice.” Karim beijou a mão dela novamente, com seu rosto ficando mais brando. “Você é uma
mulher melhor do que imaginei”.

O calor se espalhou do centro do peito de Alice e por todo o seu corpo, fazendo seus dedos dos pés
se dobrarem e os dedos das mãos formigarem. O enaltecimento na voz e nos olhos de Karim a fizeram se
sentir bem. “Só estou tentando ser um ser humano decente.”

“Bem, você é mais do que decente”, disse Karim, colocando a mão dela em seu rosto. “Você é
perfeita.”
Capítulo Dez
As palavras de Karim ecoaram nos ouvidos de Alice enquanto eles voltavam, de braços dados, pela
Rue Godot de Mauroy, em direção ao Hotel du Triangle d’Or, onde estavam hospedados. Ela estava bastante
satisfeita com a refeição e muito contente em andar com Karim, mas as palavras continuavam em sua mente
como uma pedrinha dentro do sapato: irritante, mas de alguma forma difícil de alcançar. Ela sabia que estava
longe de ser perfeita, mas não havia motivo de discutir o assunto com Karim, e ela não tinha muita certeza por
que o elogio dele a havia incomodado tanto.

Talvez porque você sinta que não merece isso.

Alice apertou os lábios. A forma como Karim olhava para ela todos os dias, com uma afeição que se
aprofundava, fazia com que se sentisse um tanto culpada pelo fato de ainda estar se prendendo ao prazo de um
ano para o fim deste casamento. Sim, seria besteira imaginar que mudasse de ideia tão cedo, depois de
apenas duas semanas, mas ainda assim Karim parecia se encantar com ela, dando a ela sua atenção e afeição
exclusivas, e isso a fazia se perguntar se estava jogando tão seriamente quanto ele. Ele estava dando mais do
que ela? Ele iria se apaixonar antes dela, ou pior, iria amá-la enquanto ela não retribuía os sentimentos?

Ela não queria que isso acontecesse, nunca. E ainda sim não queria que acontecesse o contrário: ela o
amando e ele não correspondendo aos seus sentimentos. Deus, mas ela estava tão confusa em relação a ele.

Sheridan diria que ela precisa relaxar e apenas confiar nele. O que era meio engraçado, considerando
os próprios hábitos de Sheridan em relação aos seus relacionamentos antes de conhecer Kahlid. Mas, se ela
havia mudado, Alice também poderia. Só que era difícil, muito difícil.

“Você está tensa”, murmurou Karim, quando eles entraram em sua suíte no hotel. Ele pegou o casaco
dela, depois o pendurou em um cabide, na sala de estar espaçosa. “Por que não vai deitar na cama e eu faço
uma massagem?”

Um calor e uma ansiedade percorreram as veias de Alice, e ela sorriu, apesar de estar nervosa.
“Parece bom.”

Ela andou em direção ao quarto que, como a sala, era decorado em tons de roxo e branco e tirou o
sapato de salto antes de se deitar sobre a colcha púrpura. Sua saia e blusa caíram no chão e, apenas de sutiã e
calcinha de renda branca, deitou-se de bruços, esticando e abrindo os braços e as pernas, enquanto suspirava.
Estressar-se com os problemas não resolveria nada. Naquela hora, ela precisava aproveitar o momento, e
naquele momento ela estava na lua-de-mel com o seu marido. Então precisava agir de acordo e apreciá-la.

Os sons de Karim mexendo no banheiro atingiram seus ouvidos, mas ela não se virou – em vez disso,
pressionou o rosto sobre o colchão, fechando os olhos. Alguns momentos depois, a cama se afundou com o
peso dele e ela ouviu o som de uma garrafa sendo colocada na mesa de cabeceira.

“Bem, você já parece relaxada”, Karim brincou, enquanto abria o sutiã dela. “Talvez nem precise de
massagem.” Ele passou óleo nas costas nuas de Alice.

“Ah, eu definitivamente preciso”, começou ela, gemendo quando Karim afundou os dedos bem no
meio das suas costas, atingindo um ponto dolorido. Ele pressionou toda a sua coluna, depois em torno dos
músculos que cobriam os ossos do quadril, aliviando ondas de tensão de suas costas.
“Jesus, isso é maravilhoso”, gemeu.

“Que bom”, ele sussurrou, dando um beijo logo abaixo de sua orelha. Ela estremeceu, uma sensação
diferente a preenchendo agora. Ele continuou a massageá-la, percorrendo suas costas inteiras, a partir dos
ombros, até que ela estivesse toda mole, com toda a tensão indo embora de seus músculos e ficando tão
relaxada que achava que não conseguiria se mexer, caso tentasse. E então as mãos grandes de Karim se
moveram até as curvas de suas nádegas, puxando sua calcinha para baixo. Ele apertou e apertou os músculos
arredondados, com seus dedos fortes se afundando nela.

“Ohhh”, ela gemeu, contorcendo-se embaixo dele. “Não sabia que era possível ficar tensa aí”.

“É possível ficar tensa em praticamente qualquer lugar”, disse Karim, com uma voz baixa e obscura.
Tocou os lábios na curva das suas nádegas, depois puxou a calcinha até os joelhos, abrindo as suas pernas.
Um calor a percorreu, quando sentiu a respiração dele na sua vulva, mas ele não a tocou. Em vez disso,
apertou a parte de trás das suas coxas com os dedos – e ela quase caiu da cama.

“Jesus!”, gritou, se contorcendo embaixo dele, enquanto risadas histéricas ameaçavam se apropriar
dela. “Isso faz cócegas!”

“É só a tensão”, ele a acalmou, prendendo-a com uma mão, enquanto continuava a massagear a sua
perna direita com a outra. “Vai passar logo e você não vai mais sentir cócegas. Agora pare de se
contorcendo.”

Alice segurou a respiração e tentou fazer o que ele pedia, mas era difícil. Mas, depois de um tempo,
assim como ele havia dito, a tensão foi embora, juntamente com a sensação de cócegas. Agora ela só
conseguia sentir os pontos doloridos quando ele afundava os dedos sobre os músculos. Suspirando, relaxou
novamente na cama, permitindo que ele massageasse sua perna inteira, arrancando a sua calcinha quando
atingiu seus tornozelos. De alguma forma, ele consegui encontrar pontos de tensão até ali, além de certamente
ter encontrado alguns nos seus pés – seus dedos pareciam o paraíso quando pressionavam a sola de seus pés.

“Você deveria ser pago por isso”, ela gemeu.

“Ah, acredite em mim: vou receber meu pagamento, logo, logo”, disse Karim, com uma risada
obscura.

Uma sensação erótica a percorreu com essa escolha de palavras. Alice abriu a boca para perguntar
sobre o tipo de pagamento que ele iria querer exatamente, mas ele começou a subir, beijando a sua perna
direita, e as palavras fugiram dela. Ondas de calor começaram a se elaborar em suas entranhas, espalhando-
se pelos seus nervos, enquanto os lábios quentes de úmidos dele percorria a parte de trás da sua coxa, e em
torno da parte de baixo da sua nádega. Sua vagina palpitou quando ele abriu suas pernas novamente,
deixando-a de joelhos, e ela quando ele passou a língua em suas partes.

“O seu gosto é bom, Alice”, ele sussurrou contra a sua pele.

Alice gemeu quando ele lhe deu uma lambida longa e vagarosa, enfiando sua língua pelas suas partes.
Ele a lambeu de novo, e de novo, até que, na quarta lambida, encontrou seu clitóris. Ela gritou de prazer, e ele
repetiu, depois trocou a língua pela mão, deslizando o polegar para dentro dela, enquanto usava dois dedos
para massagear o clitóris.

“Aí”, Alice gemeu, mexendo o quadril na mão dele. “Não para.” Ela se esfregou nele sem inibições.
Meu Deus, se ele continuasse a fazer isso, ela iria gozar…
“Acho que agora é a hora do meu pagamento”, disse ele, com a sua voz obscura e rouca, quando tirava
a mão de dentro dela. Alice sentiu a ausência e depois arfou, quando ele agarrou seu cabelo com uma mão e,
com a outra, a lateral do seu quadril. Seu pênis grosso a penetrou, e ela gritou quando um orgasmo a atingiu
imediatamente, atirando-a em uma satisfação irracional.

Enquanto desfrutava as ondas de prazer, Karim começou a meter nela, batendo os quadris em suas
nádegas, mais e mais forte, enquanto a preenchia com seu pau. Alice agarrou a cabeceira da cama com força,
enquanto absorvia as ondas do impacto e, apesar de a sensação dele puxando seu couro cabeludo ser
dolorosa, ainda era gostoso senti-lo dentro dela. O prazer e a dor juntas criavam uma experiência erótica. Ela
gostaria de ter visto a cara dele, mas também havia algo de excitante em saber que ele estava ali atrás. Ela
sentia as mãos dele em seu cabelo e seu pênis batendo nela, mas não conseguia vê-lo.

Quando ele gozou, gemendo o nome dela, ela fechou os olhos e imaginou a cara dele. Seus olhos cor
de âmbar escurecendo, seu rosto ficando mais tenso e aqueles lábios lindos e bem esculpidos se abrindo,
enquanto ele gemia de prazer. A imagem disso em sua mente e os sons dele gozando atrás dela a fizeram
chegar ao clímax novamente. Agarrou novamente a cabeceira, com força, tremendo.

Quando acabou, ele não disse nada, apenas a pegou em seus braços e a abraçou. E Alice fechou os
olhos, adorando a forma como ele a envolveu com seu corpo grande, ela pensou que, se esse era o tipo de
pagamento que ele estava pedindo, ela conseguiria se tornar uma boa esposa.
Capítulo Onze
Alice suspirou ao entrar com seu Mercedes prateado novinho na garagem da sua casa nova. Ele tinha
lhe dado um Mercedes como presente de casamento, tinha deixado na garagem para ela, e ela ficou tão
animada em vê-la – ninguém nunca tinha lhe dado um carro de presente. Mas três semanas depois, o glamour
e a excitação da lua-de-mel e a casa e os presentes luxuosos começaram a se desgastar e, em seu lugar, estava
o buraco criado pela ausência de Karim.

Tudo bem, pensou, enquanto saía da Mercedes e entrava em casa. Ele estava com ela na cama todas as
noites e eles compartilhavam o café da manhã todas as manhãs antes de cada um ir trabalhar. Mas eles não se
viam muito à noite: às vezes, porque ele tinha que trabalhar até mais tarde, ou viajar para algum lugar, mas
mais e mais tinha a ver com o fato de que ele ficava no escritório por longos períodos de tempo, trabalhando
em suas criações, falando com gestores de projetos e sabe-se lá o que mais, além de ajudar o irmão. Alice
estava começando a sentir o peso da sua ausência no casamento.

Se está assim no primeiro mês, como conseguiremos passar de um ano?

Não. Ela não iria pensar assim. Não havia motivo para ser derrotista, principalmente não agora, no
começo. Ela ligou para Karim perto do meio-dia, perguntando se ele se atrasaria e, depois de ele dizer que
chegaria em casa no horário, ela ligou para o mercado e pediu alguns itens específicos para serem entregues
em casa. Ela faria um jantar fabuloso para os dois, e eles se sentariam lá fora e comeriam e beberiam vinho e
conversariam e ririam. E talvez até fizessem sexo.

Mais animada, pegou a caixa com as compras que haviam sido entregues, depois programou a
temperatura do forno e começou a cortar, fatiar, saltear e grelhar. Uma hora depois, tinha um prato cheio de
filés, um risoto de funghi, pães frescos com manteiga e uma grande tigela de salada israelense para
acompanhar.

E nada de Karim.

Esperou por mais de uma hora antes de decidir se servir e sentar lá fora, tranquilamente, perto da
piscina, enquanto saboreava a refeição. Era uma comida boa, pensou consigo mesma enquanto mastigava um
pedaço de um filé saboroso. Realmente boa, e seu marido não estava nem em casa para experimentar.

Talvez ele chegue logo e eu ainda possa me sentar com ele enquanto ele come. Isso ainda seria
alguma coisa, não?

Mas se passaram mais duas horas e ela finalmente guardou a comida e subiu, com um nó na garganta.

Isso é estúpido, pensou consigo mesma, brava, enquanto tirava os sapatos e pegava o pijama. Por que
ela estava fazendo todo esse esforço, quando estava evidente que Karim não estava? Claramente, a carreira
dele como arquiteto tinha prioridade sobre qualquer outra coisa, inclusive o casamento. Talvez Alice devesse
tratar sua carreira na moda da mesma forma e se jogar em seu trabalho, para não se abrir para a mágoa e a
frustração.

Mas, se ela fosse fazer isso, deveria então arranjar um apartamento e se mudar de vez. Qual era o
sentido em morar com um homem, de estar casada, se não podia desfrutar dos benefícios de passar tempo
com ele? Não faziam sexo há quase duas semanas e ela sentia falta da sensação do corpo dele contra o dela e
de seus beijos apaixonados. O conhecimento de que ele era um bom amante só fez com que o fato de ele a
negligenciar doesse ainda mais.

Alice ligou a TV de tela plana e assistiu ao Netflix por um tempo – nenhum dos canais locais tinha
qualquer coisa que ela conseguisse entender – e, depois, finalmente apagou as luzes e foi dormir.

As lágrimas não começaram a cair até a hora em que Karim entrou em casa, de forma relativamente
silenciosa, mas não o suficiente para que ela não ouvisse a porta se fechando atrás dele. Quando os pingos
salgados atingiram o travesseiro, ela mordeu os lábios e fungou um pouco, recusando-se a mostrar a ele o
quando isso machucava. Ela não iria implorar a sua atenção – não era assim tão carente, não tão baixa. Alice
sabia o quanto valia e, se Karim não conseguia ver isso, era problema dele.

Quando ele foi dormir, deslizando silenciosamente para debaixo das cobertas, enganchou um braço
em torno dela e a puxou para perto de seu peito, como sempre fez, como se não houvesse nada de errado entre
eles e eles fossem um casal normal, apaixonado, dormindo de conchinha no escuro.

Mas, pela primeira vez, Alice encontrou a força para empurrá-lo, e agarrou um travesseiro em seu
peito do outro lado da cama, segurando-o forte, até que finalmente dormiu.

***

Karim franziu a sobrancelha ao olhar sua esposa, enquanto a ajudava a sair da limusine nas escadas
de Burj Al Arab, o hotel mais exclusivo de Dubai, onde um baile de gala de caridade estava sendo realizado.
Desde aquele momento, três noites atrás, quando tentou dormir de conchinha com ela e ela o rejeitou, a
atmosfera entre ele e Alice estava carregada de tensão e não tinha ideia do que fazer em relação a isso.

Ofereceu um sorriso juntamente com seu braço, mas ela apenas lhe deu um olhar vazio quando o
pegou, e ele suspirou. Conforme subiram os degraus até o lobby, que tinha uma fonte luminosa e enormes
colunas douradas, a mente dele trabalhava, tentando descobrir o que precisava fazer para consertar as coisas.

Ele tentou conversar com ela na manhã seguinte, no café, mas ela simplesmente lhe deu um olhar
soturno sobre seus olhos inchados de sono, e ele decidiu que provavelmente seria melhor não falar com ela
quando ela tinha dormido pouco. Mas, nas últimas duas noites, quando ele chegou em casa, ela estava na
cama assistindo TV e estrategicamente o ignorando, e as coisas estavam tão estranhas que ele não sabia como
quebrar a tensão entre eles. Então, ficaram cada um em um canto da cama e da casa, cruzando-se quando
precisavam e ficando longe um do outro quando não.

Mas esse tipo de impasse não podia durar para sempre. Afinal, eles precisariam fazer coisas juntos
em algum momento, como participar desse evento de gala. Se eles sempre fossem agir de maneira fria um
com o outro, outras pessoas iriam notar, e ele não precisava que pessoas de fora especulassem sobre a
situação desse casamento.

Ele tentava cruzar seus olhos com os de Alice enquanto eles atravessavam o lobby, mas o pescoço
dela estava rígido, seu olhar prestando atenção ao padrão de colmeia do piso do hotel. Ele parecia avançar
ao infinito, indo tão alto que eles não conseguiam nem ver o teto de onde estavam. A camada de gelo se
quebrou por um instante, quando os olhos dela se encheram de encantamento, absorvendo tudo.

“É lindo, não?”

O rosto dela se fechou imediatamente. “Acho que sim”, disse ela, quando eles entraram no elevador.

Karim deu um leve suspiro. “Eu ajudei a desenhar este hotel, sabia?”
“Ah, é?” Os olhos dela piscaram brevemente com interesse, mas ela simplesmente observou as unhas,
como se estivessem falando de algo tão inconsequente quanto o clima.

Karim sentiu como se tivesse levado uma facada no peito. Ela sempre amou quando ele falava de
arquitetura, e agora estava agindo como se não se importasse com ele ou suas paixões. Ele tinha que consertar
isso de alguma maneira.

“Alice…”, ele começou.

A porta do elevador se abriu e ele parou de falar, pois seis pessoas entraram. A irritação o preencheu
com a interrupção, mas ele engoliu suas palavras – ele não conseguia falar sobre isso na frente de estranhos
ou, na verdade, na frente de qualquer pessoa. Era particular, entre ele e Alice, e eles precisavam resolver
isso.

Eles finalmente saíram na cobertura, onde ficava o salão de banquetes principal, e Karim entrou com
Alice pelo braço. O gelo tinha saído da sua expressão, substituído com um olhar calmo, quase sereno, mas ela
ainda o ignorava, com seus olhos verde-garrafa observando a vastidão de pessoas, a decoração extravagante,
a fileiras de mesas de comida e a enorme palco no fundo da sala que havia sido instalado para o leilão e o
entretenimento.

Não havia tempo para falar com Alice depois disso – eles foram envolvidos imediatamente com
cumprimentos de muitas pessoas. Como o irmão do xeique, Karim não podia ser deseducado e ignorá-las.
Felizmente, Alice cumpria seu papel perfeitamente como a esposa de um membro da família real, sorrindo e
sendo bonita, e rindo e distribuindo elogios quando se dirigiam a ela. Todos que falavam com eles
rapidamente caíam no encanto de seu charme e o parabenizavam por ter encontrado uma esposa tão bonita e
simpática.

O que o teria feito se sentir fantástico, se não fosse o fato de sua esposa o estar tratando feito lixo.

Eles passaram o jantar e uma grande parte do entretenimento sem incidentes, e Karim desistiu de
interagir com Alice de alguma forma, envolvendo-se em conversas com políticos, diplomatas e homens de
negócios, enquanto Alice conversava com suas esposas e também com alguns homens que queriam saber
sobre sua vida nos Estados Unidos. Ele ficou um pouco irritado com a quantidade de atenção que ela estava
recebendo dos homens solteiros, mas ninguém estava sendo desrespeitoso, então não havia nada com o que
ele pudesse cismar e deixar que o ciúme o consumisse.

Em um momento, ele pediu licença para ir ao banheiro e, quando tinha terminado, apoiou as mãos na
bancada e se encarou no espelho por um longo tempo. Ela estava brava por ele trabalhar tanto? Ela se sentia
negligenciada? Ele sabia que estava passando muito tempo longe de casa, mas ela sabia que ele era ocupado,
e tinha sua própria carreira, não tinha? Ela certamente sabia que eles nem sempre podiam estar juntos.

Mesmo assim, se ela se sentia negligenciada, ele precisava fazer alguma coisa em relação a isso.
Talvez tivessem que definir algum tipo de agenda, que os permitiria passar algum tempo juntos sem
comprometer suas carreiras.

Decidido, saiu do banheiro e voltou para a mesa. As luzes estavam mais baixas, pois havia uma
apresentação no palco, um grupo de dançarinas árabes dançando com luzes coloridas e música ao vivo, então
não foi até chegar até a mesa que notou que Alice não estava lá.

“Você sabe aonde foi a minha esposa?”, perguntou a uma das mulheres, falando baixo, para não
atrapalhar os espectadores.
“Acredito que ela tenha ido procurar mais bebida na mesa do buffet”, respondem a mulher com um
sorriso amigável.

“Obrigado.” Ele teria se sentado, mas sentiu a necessidade de encontrá-la e garantir que estivesse ao
seu lado, então, em vez disso, ele se dirigiu às mesas do buffet do outro lado do salão.

Ele a encontrou lá com bastante facilidade, com uma taça de vinho, e não estava sozinha. O sangue de
Karim ferveu, quando ele a viu conversando e rindo baixo com Nabil Ali, o endinheirado proprietário de uma
olaria e um conquistador conhecido, para início de conversa. E conforme se aproximava, o bastardo inclusive
teve a coragem de colocar sua mão nojenta sobre o ombro de Alice, um gesto íntimo que era altamente
inapropriado.

“Boa noite, Nabil”, Karim colocando a mão em torno do braço de sua esposa e a puxou para longe de
Nabil, cerrando os dentes em um sorriso feroz. “Vejo que você conheceu minha esposa, Alice.”

“Oh, olá, Karim.” Os olhos de Nabil se arregalaram e, apesar de ter esboçado um rápido sorriso, ele
se afastou, nervoso. “Muito bom ver você novamente. Eu estava falando com Alice sobre…”

“Sim, bem, na verdade eu preciso falar com minha esposa sobre algo, então você precisará nos dar
licença." Karim balançou a cabeça rapidamente, desafiando Nabil com os olhos. “Boa noite.”

Ele arrastou Alice protestando silenciosamente do salão de banquetes, em uma sala menor, ignorando
suas tentativas de soltar sua mão de seu braço.

“O que está acontecendo com você?”, ela perguntou quando ele a colocou dentro de uma pequena sala
de reuniões, trancando a porta atrás de si. O rosto dela estava transtornado, e seus olhos verdes brilhavam
com raiva. “Como você ousa me tratar deste jeito?”

“E como você ousa flertar com outro homem em público, pelas minhas costas?”, gritou Karim, com a
raiva o dominando. “Eu me viro por um momento para usar o banheiro, e quando volto, encontro-a em um
canto escuro com Nabil. Você acha que sou idiota?”

“Flertando!”, Alice pousou as mãos em sua cintura curvilínea e o encarou. “Do que você está falando?
Eu não estava flertando com ele, só fui até lá me servir de bebida e comida e ele estava lá, e nós começamos
a conversar.”

“Alice”, Karim rosnou, avançando sobre ela. Ela deu um passo para trás, com os olhos se
arregalando, e ele a pressionou contra uma parede, com seu pulso palpitando forte em seus ouvidos. “Nabil é
um conquistador famoso, e você estava falando e rindo com ele sozinha, no escuro, e permitindo que ele
colocasse suas mãos sobre você. Se qualquer um tirasse uma foto disso, estaria no noticiário nacional, e eu
seria motivo de piadas.”

Ele esperava que Alice estivesse arrependida mas, em vez disso, ela mexeu a cabeça e o encarou,
desafiadora. “Ah, é? Bom, talvez se isso acontecesse você iria se ligar e começar a levar nosso casamento a
sério!”

“Levar o nosso casamento a sério?”, Karim exclamou. “O que isso quer dizer?”

“Isso quer dizer passar tempo comigo!” Alice bradou, olhando para ele. “Significa chegar em casa na
hora certa, jantar comigo, assistir TV comigo, sei lá, talvez até fazer sexo! Talvez se você realmente me
satisfizesse, não precisaria se preocupar se estou ou não flertando com outro homem!”
“É isso?” Karim perguntou delicadamente, pressionando-a novamente contra a parede, enquanto a
raiva o dominava. Ele não conseguia acreditar que estava ouvindo isso. “É isso que precisa acontecer que
você não volte para aquele salão de banquetes, Alice, e flertar com Nabil novamente? Eu preciso fodê-la,
aqui e agora?”

A incerteza fez Alice piscar os olhos, e ela mordeu o lábio, mas o desejo era inconfundível. “Eu…”

Karim a beijou, forte, enfiando as mãos em seu cabelo curto, cor de fogo. Um protesto saiu dos lábios
dela, mas ele a prendeu rapidamente na parede, enfiando a língua na sua garganta e silenciando seus
protestos. A fúria percorrendo sua corrente sanguínea rapidamente se transformou em luxúria e sua ereção
pressionando tensamente contra o cordão das suas calças, pressionando no osso do quadril de Alice. Ele a
iria tomar agora, para relembrá-la de que ela era dele e de ninguém mais, não importava o que acontecesse.

Os protestos de Alice rapidamente se esvaíram, substituídos por uma necessidade feroz, enquanto se
agarrava a ele. Envolveu suas pernas em torno dos quadris dele e o beijou, brigando para soltar a mão, mas
ele se recusava a deixá-la, mantendo-a presa da forma como estava. Eventualmente, ele agarrou sua bunda
com força e a puxou, depois a jogou em cima da longa mesa de reuniões de mogno e arrancou o paletó. Não
havia nenhuma necessidade de se preocupar com ela fugir – Alice se sentou e pegou o cinto dele, puxando-o
para mais perto, para que pudesse abrir a fivela.

Ainda irritado, ele a empurrou de volta para a mesa: a necessidade de estar em controle era grande
demais para permitir qualquer liberdade a ela. Ainda assim, a centelha faiscante nos olhos Alice e o rubor em
suas bochechas o excitaram – ele gostava do fato de ela lutar de volta, tentar dominá-lo, mesmo que não
houvesse nenhuma maneira de ganhar. Cerrando os dentes, ele arrancou as calças largas por baixo de sua
abaya, mergulhando seu pênis dentro dela, em um único golpe, rápido e certeiro.

Alice gritou, e Karim gemeu quando sua boceta apertada se contraiu em torno do seu pau. Ela era tão
gostosa, tão quente e molhada, mas ele cerrou os dentes, lutando conta as palavras, e enterrou dos dedos no
quadril dela, despejando sua frustração com estocadas duras, punitivas. Ela colocou a mão entre as pernas e
começou a massagear o clitóris em movimentos brutos e circulares, zombando-o com os olhos enquanto
proporcionava prazer a si mesma, como se os movimentos dele não fossem bons o suficiente para ela.

Com um som gutural, ele se inclinou para a frente e prendeu as mãos na mesa, angulando os
movimentos de forma a atingir o clitóris. Os gemidos dela então cresceram, e suas mãos saíram da sua
boceta, com os dedos se afundando nos ombros dele, através da camisa de linho e enviando pequenas picadas
de dor através da pele dele. E quanto ela gozou, foi glorioso – ela pressionou forte contra ele e gritou seu
nome, e ele teve que colocar uma mão sobre a boca dela, para evitar que os outros ouvissem.

As paredes da sua vagina apertaram o pau dele, que gemeu quando o orgasmo chegou intenso. O
prazer o percorreu, levando consigo toda a sua fúria e energia, e ele precisou apoiar as mãos contra a mesa
novamente, para evitar cair, quando seus músculos relaxaram.

Eles se encararam por um longo tempo, respirando forte, e Karim não sabia o que dizer. Alice se
mexeu primeiro, empurrando-o para o lado, para que pudesse descer da mesa, colocar a calça de volta e
ajustar sua abaya.

“Eu fiz o jantar, sabia?”, ela disse baixinho, sobre o ombro dele.

Karim congelou. “O que?”

“Na noite em que o empurrei”. Ela nem olhava para ele, simplesmente olhava para longe. “Eu liguei
para você para perguntar se você chegaria tarde em casa, e você disse que não, então comprei algumas coisas
e fiz o jantar para a gente. Mas você chegou tarde, não ligou, enviou mensagem nem nada, então eu jantei
sozinha e guardei o resto. Estava muito bom, sabia? Acho que você teria gostado se estivesse lá.”

Sem mais nenhuma palavra, virou a chave e saiu da sala, deixando Karim lá em pé, sentindo-se como
o mais idiota do mundo.
Capítulo Doze
Alice quase derrubou a bandeja de salmão que estava tirando do forno quando ouviu a porta da frente
se abrir. Ela estava fazendo o jantar para si mesma e não esperava ninguém, principalmente às seis da tarde.

“Oi?”, ela chamou, sabendo que podia ser apenas uma pessoa, mas querendo a confirmação.

“Sou eu”, respondeu Karim, e o seu coração deu uma batida esperançosa. Ela se virou para vê-lo
pendurar seu paletó no cabide, com um sorriso no rosto. “Vejo que você fez o jantar.”

“Oh.” Corando, ela colocou a panela com o salmão na bancada. “Só cozinhei para uma pessoa”, disse
ela, sentindo-se apologética, apesar de não ter nenhum motivo para tal. “Imaginei que você não viria para
casa cedo de novo.”

“Não, não se preocupe.” Karim balançou a mão quando veio para sentar em um dos bancos do outro
lado da grande bancada de mármore preto. “Eu deveria ter dito que chegaria cedo. Afinal, não criei o hábito
de chegar em casa na hora do jantar”, deu um sorriso encabulado.

“É, não criou”, Alice queria fazer a declaração soar acusadora, mas soou exausta, e suspirou. Ela
estava cansada de brigar com Karim – eles tinham tido sua briga enorme na noite anterior, no evento, e tinha
acabado com uma intensa sessão de sexo raivoso, como nada que havia tido na vida. Apesar do fato de que
ele a havia dominado completamente, ela ainda tinha tido as últimas palavras no fim, não tinha? O que mais
havia a se fazer?

Os olhos de Karim a seguiram pela cozinha, enquanto ela se servia de vagens e purê de batatas para
acompanhar o salmão. Colocou o prato na bancada, depois encontrou os olhos cor de âmbar dele, que
estavam pensativos enquanto a olhavam, não conservando nada da raiva da noite passada.

Bufando, ela pegou outro prato e o colocou na bancada. “Aqui, vou dividir com você.”

“Não precisa, na verdade”, Karim protestou, levantando as mãos. “Tenho certeza de que consigo
preparar algo.”

“Não, não.” Alice cortou o pedaço de salmão pela metade, depois colocou no prato dele antes de
pegar purê e vagem – de qualquer forma, tinha feito um pouco mais dos acompanhamentos. “Eu queria que
você jantasse comigo e aqui está você. Seria idiota não alimentar você também.”

Os lábios de Karim tremeram. “Bom, se vamos jantar juntos, talvez devamos nos sentar na mesa de
jantar, lá fora?”

Um calor se espalhou pelo peito de Alice. “Eu gostaria muito de fazer isso”, disse ela, baixinho.

Karim pegou os dois pratos e saiu pelas portas de vidro, e ela o seguiu, com uma garrafa de vinho e
duas taças. Eles se sentaram à mesa que ficava entre a piscina retangular e os jardins e comeram em silêncio,
vendo o sol se por no horizonte, pintando o oceano com lindos tons de rosa, vermelho e dourado.

“É lindo, não?”, ela murmurou.

“É”, Karim concordou. “Mas não tão bonito quanto você.”


Alice ficou feliz com o elogio, mas não disse nada, simplesmente tomando mais um gole de vinho e
esperando Karim falar. Ele hesitou por um momento, mas finalmente colocou a taça na mesa.

“Eu estava errado em ficar tão furioso ontem”, disse ele, em tom baixo, com seus olhos cor de âmbar
delicados e sinceros. “Você não está acostumada com a nossa cultura, e eu entendo que você pode não ter
percebido o quão ofensivo foi o que fez.”

Alice desviou os olhos, encarando as profundezas azuis da piscina. “Não”, discordou. “Eu posso até
não ter entendido a gravidade das minhas ações em público, mas sabia que aquele homem estava flertando
comigo. Eu deveria tê-lo feito calar a boca imediatamente e voltado para a minha mesa. Mas eu estava brava
com você, e sentia como se você não se importasse, então foi bom receber atenção de outro homem, mesmo
que por apenas alguns momentos.”

“E isso foi culpa minha”, reconheceu Karim. “Se eu estivesse prestando mais atenção a você, fazendo
o esforço para passar um tempo com você, isso não teria acontecido.” Ele buscou a mão dela e a apertou. “Eu
deveria ter lhe dito que viria para casa mais tarde naquela noite, em vez de fazê-la esperar por mim… Não,
na verdade eu deveria ter vindo para casa. Eu fico até tarde porque sou absorvido pelo trabalho, mas na
maioria das vezes não é necessário, e eu devo voltar para casa, para você, na hora se não for uma
emergência. Prometo que, a menos que haja um prazo muito apertado ou algo importante me mantendo no
trabalho, virei para casa às seis e meia, todo dia.”

Alice irradiou alegria, o nó no seu peito se soltando, enquanto o alívio a percorria. “Vou cobrar isso,
viu?”

“Se você continuar a fazer comida desse jeito, não vou me importar em você me cobrar”, disse Karim,
com um sorriso.

Ela riu, e eles terminaram a refeição em um silêncio de parceria. Ao final, Karim a ajudou com a
louça e, enquanto trabalhavam, contavam um ao outro sobre o seu dia. Pela primeira vez em semanas, Alice
se sentiu contente, como se estivesse realmente atingindo algum tipo de normalidade – vir para casa ao fim do
dia, conversar e jantar com seu marido, fazer as coisas que as famílias normalmente faziam juntas.

Quando terminaram, Alice estava quase subindo, mas Karim a interrompeu. “O que você acha de
nadarmos um pouco na piscina? Pelados?”

“Pelados?”, Alice arqueou a sobrancelha. “Isso não seria ferir as leis da decência pública e
levaríamos pedradas ou algo assim?”

Karim riu e a puxou, dando-lhe um beijo. “Não em uma propriedade privada.”

Então, eles apostaram corrida, no calor da noite escura, tirando a roupa enquanto corriam. Karim
chegou primeiro, pulando como uma bola de canhão na água, com sua cueca boxer pendurada em um
tornozelo. Alice se encolheu quando foi atingida com um respingo de uma onda d’água, ainda vestida com sua
blusa e, quando viu, Karim tinha saído da água e a agarrado pela cintura. A água se apressou para recebê-la,
quando ele caiu de costas na piscina e ela deu um mergulho.

Karim a soltou imediatamente e, quando ela levantou a cabeça para respirar, gaguejando, ele já estava
boiando de costas. “Seu idiota!”, ela gritou, com uma gargalhada na voz. “Você acabou com a minha blusa!”,
exclamou enquanto tirava a roupa e a jogava nele. A blusa aterrissou no rosto de Karim, fazendo o som de um
tapa molhado.

“Eu compro outra”, Karim disse, rindo, arrancando seda ensopada do rosto e a jogando para o lado.
Ele se ajeitou na água, com seus olhos cor de âmbar se aquecendo, enquanto a olhava de cima a baixo. “Mas,
por enquanto, acredito que devemos ficar pelados. E você ainda está com a roupa de baixo.”

Ele a puxou para perto e uma eletricidade atravessou Alice quando o corpo rígido de Karim
pressionou contra o dela. Seu pênis ereto tocou a coxa dela, já duro e pronto para ela, e um calor a tomou por
inteira, fazendo-a esquecer de sua irritação. Sua respiração parou quando ela abriu o fecho do sutiã. Os olhos
dele não deixavam o seu rosto. A peça rendada foi levada pela água e seus seios boiaram diretamente para as
mãos de Karim, que os esperava.

“Não consigo acreditar que eles sejam tão perfeitos”, murmurou, apertando-os delicadamente. Seus
olhos se desviaram em direção aos mamilos dela, que ficaram duros com o peso de seu olhar. Sem falar nada,
ele a empurrou contra a parede de pedras da piscina, depois afundou a cabeça, para experimentar um de seus
seios. Alice gemeu quando ele esfregou seu mamilo com a língua, depois envolveu as suas pernas em torno da
cintura dele, balançando seu abdômen contra seu pênis ereto. Karim rosnou em resposta, mordiscando o
mamilo dela, e ela gritou com a dor e o prazer. Ele tinha uma expressão selvagem no escuro, seus olhos
brilhando, a luz da lua ondulando sobre seu corpo forte e musculoso, fazendo com que parecesse que ele
tivesse sido esculpido pela luz prateada. Mas a pele dele era muito mais quente que a luz da lua ou o
mármore e, quando se encostou nela, provocou um calor em suas veias, preenchendo-a com um fogo
inebriante que ela nunca havia sentido com ninguém.

Ele a provocou até que ela estivesse implorando, esfregando seu pau contra o tecido que cobria a
boceta dela, enquanto brincava com seus mamilos com os dentes e a língua, até que ela se tornasse o mais
puro e intenso desejo. Quando finalmente tirou a calcinha dela, ela ficou surpresa que a água em torno deles
não estava fervendo, e gritou de prazer e alívio.

“Sim”, ela gemeu, agarrando-se a ele, ficando as unhas nos ombros largos dele.

Ele então a beijou, preenchendo a boca dela com a língua enquanto começava a se mexer dentro dela
com estocadas lentas, mas certeiras. Alice o beijou da mesma forma feroz, perdendo-se completamente nele.
A água se mexia em volta deles, com um pouco mais de força a cada golpe, provocando os seios dela com o
calor molhado, enquanto ele a fodia lentamente, mas intensamente. Não era como sexo violento, raivoso da
noite anterior, quando haviam arrancado a roupa um do outro e brigado pela dominação. Essa vez era mais
como se ele estivesse tentando possuí-la e marcá-la como sua propriedade.

“Eu te amo”, ele grunhiu dentro a boca dela, e depois a penetrou tão profundamente que a fez chegar
ao limite. Alice se agarrou a ele enquanto tremia com a força de seu orgasmo, com o prazer a atingindo em
ondas, e por todo o tempo a declaração dele ecoou na cabeça dela, mais e mais, até que não houvesse mais
nada.

E quando o prazer foi se esvaindo, ela sabia que qualquer coisa que acontecesse entre eles, ela tinha
certeza de uma coisa.

“Eu também te amo”, sussurrou, e depois o segurou bem perto, enquanto ele encontrava seu prazer
dentro dela.
Epílogo
Dez meses depois

Quando Karim entrou na sala de orações da mesquita, uma sensação de paz o dominou. Não por ver
os imãs lá na frente, sorrindo calorosamente para ele, ou por causa dos vários fiéis ajoelhados em seus
tapetes de oração, ou até por este ser um local sagrado.

Não, a paz vinha do fato de que o lugar estava exatamente da mesma forma como estava há um ano,
quando ele havia entrado aqui e sua vida havia mudado para sempre.

“Karim”, Imã Fariq disse tranquilamente quando Karim se aproximou. “Parece que o casamento está
lhe fazendo bem.”

“Está, muito bem”, disse Karim, abraçando-o. Fez o mesmo com Imã Khan. “E vocês dois também
parecem muito bem.”

“Alá também nos abençoou”, disse Imã Khan, com os olhos brilhando enquanto recebia Karim. “Vejo
que você decidiu vir com um traje menos tradicional, desta vez.”

Karim deu um sorrisinho, quando olhou para o terno preto e a gravata vermelha que vestia. “Alice
insistiu”, disse ele. “Como nosso casamento foi tão tradicional da primeira vez, ela decidiu que queria um
toque um pouco mais ocidental da segunda vez.”

“Ah, sim, estou vendo”, disse Imã Fariq, com seus olhos buscando a porta. “E parece que a sua
esposa tem muito bom gosto.”

Karim se virou para ver Alice entrando pela porta, e sua respiração parou ao vê-la. Ela vestia um
vestido verde fluído, com um decote quadrado e uma cintura império, que chamava atenção para a sua barriga
redonda, de grávida. Como sempre, quando ele via sua barriga, o orgulho o atravessava, com a lembrança de
que ele iria ser pai, que em apenas um mês ele teria uma linda garotinha em suas mãos.

Fazia um ano que eles tinham declarado seus votos de casamento, e Alice poderia ter escolhido deixá-
lo no dia de hoje, voltar para os Estados Unidos ou ir para qualquer lugar do mundo que quisesse. Mas, em
vez disso, ela estava entrando no salão de orações, em sua direção, radiante nesse vestido, com seu lindo
cabelo ruivo esvoaçante. Ela o havia deixado crescer, porque sabia o quanto ele amava cabelos longos. Caía
sobre seus ombros em ondas soltas, refletindo a luz que passava pelas janelas de vidro. Seus olhos verde-
garrafa brilhavam com o amor e a saúde, e ele sentia sua afeição crescer dentro do seu coração.

Quando ela finalmente chegou, ele pegou ambas as suas mãos, sorrindo tanto que parecia que seu
rosto iria explodir.

Os olhos de Alice piscaram com alegria quando ela olhou para ele. “Acho que, se eu continuar
olhando para você, posso ficar cega com esse sorriso”, brincou ela.

Bom, então talvez você deva se virar, para olhar para os Imãs”, murmurou ele, mas estava relutante
em deixá-la fazê-lo.

Imã Fariq pigarreou por um momento. “Podemos começar com a cerimônia, então?”
“Você está pronta?”, Karim perguntou a Alice, com uma voz suave. Ele olhou profundamente nos
olhos dela, em busca de uma resposta. É claro que ele sabia que ela não iria dizer não. Afinal, eles estariam
para sempre ligados por aquela criança, independentemente do caminho que escolhessem na vida. Mas ela
poderia ter escolhido dizer não, poderia ter ido embora, e ele nunca iria se esquecer do fato de que ela havia
escolhido ficar e lutar por aquele casamento.

“Estou pronta para qualquer coisa, desde que esteja com você”, disse Alice, suavemente. Então
deslizou sua mão na dele e eles se viraram para os Imãs, com amor e esperança em seus corações, e um futuro
brilhante à frente. Não importaria o que acontecesse, eles sempre teriam um ao outro, e apesar de Karim ter
pensado o contrário no começo, isso era tudo o que ele sempre havia sonhado.

Fim.
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O Inesperado Desejo do Sheik

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Todos os direitos reservados.


Copyright 2015-2016 Sophia Lynn
CAPÍTULO UM
Mesmo no ar condicionado do interior de seu Mercedes, Leah podia ver o brilho de calor subindo do
pavimento, nas proximidades. Foi mais um dia quentíssimo em Los Angeles, e quem era esperto estava o
passando dentro de casa confortavelmente ou ao lado de uma piscina azul reluzente, usando óculos escuros e
mergulhando na água sempre que o calor incomodasse.

Leah suspirou. Pelo menos, essa era a imagem que tinha de Los Angeles quando ela foi para lá pela
primeira vez. E era mesmo a realidade de alguns dos clientes de sua empresa. No entanto, como uma
advogada emergente no campo do entretenimento, suas horas eram longas, seu trabalho era muitas vezes
desgastante, e muitos de seus luxos, como seu carro amado, foram adquiridos de segunda mão de pessoas que
estavam em condições muito melhores.

Ela trocou olhares com um dos guardas de segurança que estava andando para cima e para baixo na
calçada. Eles já tinham conversado sobre quanto tempo ela estava autorizada a esperar na área de embarque
do aeroporto. Ela não sairia dali. Este caso poderia fazer sua carreira, e a última coisa que ela estava
disposta a fazer era estragar tudo por manter o Xeique Zayn al-Fasi esperando. Ela estava se preparando para
bater boca com o guarda novamente quando houve um tumulto perto das portas.

Havia vários homens vestidos com ternos escuros formais. Eles até poderiam estar impecavelmente
vestidos para Nova Iorque ou Boston, mas no calor e atmosfera casual de Los Angeles, eles pareciam
irremediavelmente deslocados. Apesar do calor, nenhum deles pareceu sentir a mudança do saguão do
aeroporto com ar condicionado para o ensolarado calçamento exterior.

Leah começou a se perguntar se era por eles que ela estava procurando quando seus corpos se
separaram e ela viu o homem de pé ao centro.

Ele era enorme, facilmente meia cabeça mais alto do que a maioria dos homens ao seu redor, largos
ombros e uma paciência nobre de uma leão se aventurando entre os animais menores. Ele estava vestido todo
de branco, túnica e calças cortadas para se adequarem ao seu grande corpo, e o branco contrastou bem com
sua pele escura, a barba acompanhado a linha de sua mandíbula e a escuridão absoluta de seu curto cabelo
preto.

Por alguma razão, Leah sentiu um frisson de tensão passando através de seu corpo. Algo neste homem
fez os cabelos na parte de trás do pescoço dela se levantarem.

Quase como se ele pudesse sentir seu olhar, ele se virou para ela. Agora ela podia ver que seus olhos,
que ela imaginara serem tão escuros quanto seus cabelos, eram na verdade de uma chocante luz verde. Isso
fez parecer como se ele pudesse ver através dela. Talvez, naquele momento, ele pudesse mesmo.

Seu rosto, em repouso, estava calmo, mas no momento em que eles trocaram olhares, algo se passou
entre eles. Ele passou de repouso a uma espécie de avidez de caçador que fez o coração dela bater mais
rápido. Era assim que as gazelas na savana se sentiam antes de fazerem uma corrida desesperada pela
sobrevivência?

A abordagem do segurança acordou Leah de seu devaneio. De repente, ela percebeu duas coisas. O
homem de branco era provavelmente exatamente quem ela estava esperando, e o segurança não iria impedi-la.

Com uma maldição murmurada, ela saiu do carro, ficando de pé e encarando o guarda. Ela não era
uma mulher alta; seus saltos pretos afiados a deixavam com pouco menos de 1,65m. Seu cabelo castanho
escuro estava preso em um coque intrincado, e ela usava uma elegante blusa creme e uma calça escura que ela
esperava que a ajudasse a parecer um pouco mais alta.

"Ei, eu disse que você só tem dez minutos para ficar aí, depois tem de sair," disse o guarda.

"Quinze," ela retrucou. "Eu li essa placa, e eu tenho quinze. Estou pegando meu passageiro neste
momento, então recue."

O rosto do guarda escureceu, e ele foi na direção dela. "Você fala demais," ele rosnou.

Em outro momento, talvez Leah teria sido intimidada ou desistido do trabalho em função desta
situação. Agora, no entanto, ela tinha uma missão a cumprir, e ela não podia ser distraída por pessoas
pensando que poderiam simplesmente ser truculentas.

"Tudo bem," ela retrucou, puxando seu smartphone. Com o toque de um botão, ela transformou-o em
um moderno dispositivo de gravação em alta resolução, e ela focou no homem, que se aproximava dela.

"Você não quer dizer nada para a câmera? " ela rosnou. "Existe alguma coisa que você queira dizer
para seus chefes, que receberão isto se der mais um passo em minha direção?"

Pareceu que o homem começaria a argumentar, que se danassem as provas em vídeo, mas, em seguida,
ele sacudiu a cabeça, obviamente pensando melhor.

"Basta mover-se com rapidez," ele se exaltou, e passou a incomodar as pessoas estacionadas atrás
dela.

Leah fez uma careta por trás dele, mas, em seguida, ela se lembrou de que tinha saído de seu carro por
um motivo. Ela girou para encontrar o misterioso homem de branco olhando para ela, e o olhar no rosto dele
era de ampla aprovação e humor.

Em um momento, sua vitória tornou-se humilhação, e se um buraco se abrisse no quente pavimento,


ela pularia para dentro dele de bom grado. Em vez disso, ela sempre foi uma mulher que sabia quando tinha
que dançar conforme a música, então ela se forçou a prosseguir.

"Xeique Zayn al-Fasi? Sou Leah Montgomery da Hiller e Hiller."

Seu sorriso não mudou nem um pouco, e ele avançou para a cumprimentar. "Sou Sheik Zayn," disse
ele, em uma voz baixa surpreendentemente suave. "Você é minha acompanhante, então."

"Eu sou, mas não me falaram sobre sua comitiva," disse ela, olhando para os homens de preto. Agora
que estava mais perto, ela podia ver que eles realmente não eram executivos, ou até mesmo assistentes que os
ricos e poderosos pareciam adquirir em Los Angeles. Em vez disso, os homens se moviam com a calma
garantia e presença vigilante de guarda-costas.

Zayn acenou com a mão de forma negligente. "Eles não são uma comitiva, e eles conseguem se virar
bem, tenho certeza," disse ele incisivamente, voltando-se para um homem mais velho que era alto, tinha cara
de falcão e estava ao seu lado. "Você não pode, Azim?"

Azim fez uma careta. "Não é o mais seguro..."

"Nenhum lugar do mundo é seguro, velho amigo," disse Zayn sem rodeios. "Afinal de contas, poderia
você discordar do fato de que terei uma proteção com essa aqui?"

Leah piscou quando percebeu que eles estavam se referindo a ela. De repente, ela estava presa sob os
olhos escuros de meia dúzia de homens que pareciam estar inspecionando-la como se fosse a segurança do
xeique. Azim começou a falar novamente, mas Zayn o dispensou com um aceno.

"Encontre-me no hotel. Vou pedir para a Sra. Montgomery me levar lá, e nós podemos discutir nossa
estratégia, uma vez instalados. Essa é a minha última palavra sobre isso."

Ela pensou que Azim continuaria argumentando. Ela já tinha ficado à margem de várias discussões
entre talentos e seguranças, mas, aparentemente, Zayn impunha mais presença do que uma mimada estrela do
rock ou ator iniciante resoluto. Uma vez feito o pronunciamento de Zayn, Azim assentira brevemente.

"No hotel, então, meu senhor."

Como Azim afastara-se para lidar com o próprio transporte dos seguranças, Zayn se virou para ela.

"Vamos, Sra. Montgomery?"

Ela sabia, em sua cabeça, que não poderia ter sido um momento tão longo assim desde que o tempo
parou e ela simplesmente ficou olhando para esse homem que se elevava acima dela. Era provavelmente
menos do que alguns segundos, mas ainda assim ela teve de se endireitar.

"Sim, vamos," ela disse decisivamente. "Vamos lá, e eu vou fazer com que você se estabeleça no
hotel."

O primeiro percalço veio quando ambos vieram para o lado do motorista do carro.

"Bem?" Zayn perguntou, e ela olhou para ele com curiosidade.

"Há... algo de errado com a porta do lado do passageiro?" ela perguntou.

"Não, mas se vou dirigir, eu vou precisar dessas chaves."

Os pais de Leah sempre diziam que era uma maravilha que ela conseguisse viver como advogada
quando sua boca simplesmente dizia o que quer que sua mente pensasse. Desta vez, não foram nem palavras,
mas uma risada brilhante.

"Ha, isso é engraçado. Você não vai dirigir meu carro."

Ele levantou uma sobrancelha para ela, abrindo a boca para falar, mas xeique ou não, ela já teve
muitos homens que tentaram lhe dizer o que era certo e o que não era nesta altura.

"Olhe, não. Eu morei em Los Angeles por seis anos. Antes disso, eu estava em Nova Iorque. Eu tive
que dirigir em Pequim e Calcutá, e deixe-me dizer-lhe, aqueles eram lugares incrivelmente terríveis para
estar em um carro. Então, a menos que você possa me mostrar um currículo comparável, isso significa que
não tem mesmo como eu deixar você dirigir este carro."

Por um longo momento, ele simplesmente olhou para ela, os olhos apertados. Isso deu a ela tempo
para rever mentalmente suas palavras e perceber exatamente como ela soou. Seu estômago afundou.

Oh Deus, uma hora serei demitida e expulsa.


Em seguida, o xeique deu de ombros, um leve sorriso nos lábios. "Muito bem, vou confiar em seu
julgamento, Sra. Montgomery."

De alguma forma, ele a fez sentir como se ele estivesse fazendo um favor quando se sentou no banco
do passageiro. Ela ficou chocada por um momento, mas depois ela pulou para o lado do motorista, grata pela
súbita rajada de ar fresco.

Havia algo um pouco enervante sobre a maneira como ele a olhava com aqueles olhos verdes,
impressionados, conforme ela saía da vaga e juntava-se ao fluxo do tráfego. Lembrou-se daquela repentina
sensação de ser perseguida, de ser um animal de rapina que tinha sido avistado por um predador. Ela se
perguntou por que aquilo fez seu coração bater um pouco mais rápido.

"Bem-vindo aos Estados Unidos, Xeique al-Fasi," disse ela, limpando a garganta. Ela era uma velha
profissional do silêncio quando precisava fazer as pessoas no banco das testemunhas suarem, mas quando se
tratava de pessoas que estavam simplesmente olhando para ela enquanto ela tentava navegar na hora do rush,
era, aparentemente, uma situação diferente.

"Xeique Zayn basta," disse ele, uma nota divertida em sua voz. "É assim que eu seria tratado em
Almira.

"Há... há algum nome diferente pelo qual devo chamá-lo?" ela perguntou, hesitante.

"Quando se tratar de registros de tribunais, devo ser chamado de Xeique Zayn ou Xeique Zayn al-
Fasi. Você, no entanto... você deve me chamar de Zayn."

A nota deliberada de doçura na última frase fê-la arriscar um rápido olhar para ele. Ele parecia
deslocado no carro dela, como se ela tivesse simplesmente visto um leão descansando no confortável assento
de couro. Foi lindo, ele estava simplesmente a observá-la, e, a qualquer momento, ela sentiu que ele a
atacaria. O que aconteceria depois disso...

"Zayn ..." O nome parecia estranhamente sensual em sua língua. Ela se obrigou a prestar atenção no
tráfego. A rodovia era rápida e selvagem, e precisava de atenção, mas mais do que isso, ela também queria
ter certeza de que não estava se concentrando demais na maneira como ele estava fazendo seu coração bater
mais rápido, na maneira como ela podia sentir um incomum rubor subindo por suas bochechas.

“Hmm. E você é Sra. Montgomery?"

Leah riu um pouco. "Somos bastante informais com tudo aqui na Costa Oeste," disse ela. "Só Leah
está ótimo."

"Leah. Muito bonito."

Ela começou a responder, mas, em seguida, um caminhão veio se emparelhando do nada, fazendo com
que ela mudasse de pista com um puxão rápido do volante. Uma buzina ecoando lhe mostrou o que as pessoas
atrás dela acharam de suas manobras, e ela resistiu à vontade de mostrá-los o dedo do meio em deferência à
sua companhia.

Outro olhar rápido para Zayn assegurou-lhe de que ele não estava horrorizado com o tráfego de Los
Angeles, mas, em vez disso, sorrindo amplamente com sua habilidade em lidar com dele.

"Então você estava falando a verdade quando disse que era habilidosa," disse ele.
"Sim, e, bem, este é o meu bebê," disse ela com um pouco de culpa, tamborilando os dedos no
volante. "Você poderia ser um piloto da NASCAR e eu provavelmente não o deixaria dirigir."

Zayn deu de ombros. "Eu gosto bastante de dirigir, mas quando se trata de ir de um lugar para outro,
prefiro cavalos. Eu dou bastante trabalho para meu motorista lá em casa, em Almira, mas no final das contas,
eu prefiro montar um cavalo. Essa é a única maneira de ver o deserto."

Algo sobre a ideia de ver Zayn em um garanhão do deserto a fez piscar um pouco, e ela tossiu para
esconder.

"Você pareceu um pouco assustado quando eu quis dirigir," ela comentou. "É... é que as mulheres não
dirigem em Almira?"

Seja qual fosse o espaço que ela estivesse tentando preencher com aquelas palavras pueris, ele ficou
carregado com um frio frígido e gelo. Ela nem sequer teve de olhar pelo espelho para ver que a expressão
dele estava congelada.

"É claro que as mulheres dirigem em Almira," disse, cortante. "Elas também têm empregos,
conquistam o nível superior, e votam. Eles votam desde os anos 1900, algo que não pode ser dito dos Estados
Unidos."

Ela poderia dizer que ela tinha tropeçado de cabeça em um assunto delicado, e quando ela pensou
sobre isso, ela se encolheu. Houve o impulso instintivo de voltar atrás, falar que ela não quis dizer aquilo,
mas o problema foi que, apesar de negligente, ela de fato disse.

Ela estava ciente de que, no espaço de poucas palavras, ela poderia ter danificado o interesse e a
disposição deste imensamente poderoso homem em trabalhar com ela e sua empresa. Não havia nada que
pudesse fazer a não ser pedir desculpas.

"Sinto muito," ela disse sem rodeios. "Eu falei fora de hora sobre um assunto que não conheço, e eu
adicionei uma pitada de racismo ainda por cima. Vou pensar antes de falar novamente sobre o tema, eu juro, e
eu prometo que vou fazer melhor no futuro."

Havia apenas silêncio do outro lado do carro, mas, desta vez, tinha de manobrar em volta de um
Corvette lento, e ela não teve tempo para olhar para ele.

"Quanto tempo até chegarmos ao hotel?" ele perguntou. Ela estava pelo menos um pouco satisfeita por
ele já não parecer tão gelado quanto antes, mas estava longe de seus tons mornos anteriores. Isso poderia
muito bem custar o seu emprego, e ela não poderia dizer que não merecia isso.

"Vinte minutos, mais ou menos," disse ela, uma risada inadequada chegando em sua garganta. Ela
engasgou, um olhar horrorizado em seu rosto, mas ela sabia que tinha de se conter. Ainda assim, ela sabia que
tinha chamado sua atenção, e sabia que teria de explicar.

"Los Angeles é uma cidade de vinte minutos," explicou ela. "Quero dizer, nos últimos anos, ela pode
ter se tornado uma cidade de trinta minutos, mas o ponto é que qualquer coisa que você queira, qualquer coisa
que você queira comer ou fazer, fica a cerca de 20 minutos. Temos tudo que você possa querer fazer, mas
você tem de lembrar que são necessários vinte minutos para chegar lá."

“Hmm. Muitas das coisas que desejo fazer tendem a levar muito mais tempo do que vinte minutos...
espero que valha a pena."
As palavras foram proferidas tão suavemente que Leah teve de reproduzi-las em sua cabeça. As
coisas que Zayn gostaria de fazer... que levassem mais do que vinte minutos.

Certamente ele não queria dizer o que ela achava que ele queria. Não, de modo algum.

Desviando de um grande caminhão de móveis, ela rapidamente decidiu que o silêncio valia ouro. Se
ela só conseguisse levá-lo para o hotel sem trocar os pés pelas mãos, talvez isso fosse suficiente. Talvez ela
ainda pudesse se safar desta, ou talvez um dos sócios da empresa estaria disposto a escrever uma referência
digna, às escondidas, depois de terem despedido dela.

Sua mente estava cheia destes pensamentos sombrios quando ela finalmente saiu da rodovia e parou
no Marseilles. Era um hotel luxuoso, em mármore branco por todas as direções e cercado por uma vegetação
luxuriante, que certamente não era nativa do calor de Los Angeles. Ela encostou no meio-fio, onde um homem
imediatamente apareceu para levar suas bagagens, que, ela rapidamente percebeu, Zayn não tinha. O xeique
viu sua confusão e teve pena dela.

"Eu queria ter certeza de que eu estaria adequadamente vestido para o Ocidente," ele explicou. "Eu
vou pedir para confeccionarem algumas roupas antes de minhas reuniões na segunda-feira."

"Ah, claro," Leah disse sem muita convicção. Às vezes, ela ainda era pega de surpresa pela enorme
riqueza de alguns dos clientes da Hiller e Hiller.

"Tudo bem, alguém vai levá-lo até seu quarto."

"Você."

Leah piscou. “Perdão?”

"Você vai me levar até meu quarto."

Ele ficou na escadaria de mármore do Marseilles, totalmente calmo e imóvel. Ele falou como se seu
pronunciamento fosse lei, e não apenas do homem, mas do próprio universo.

"Sim...," disse ela depois de um momento. "Sim, deixe-me cuidar de tudo."

Ela correu para dentro, onde ela recebeu os cartões-chave da recepção. Ela encontrou Zayn olhando
em volta para a pura opulência do hotel - sua cascata extravagante e o alto teto de vidro abobadado - com
calma aceitação. Se Leah estivesse sozinha, ela estaria muito mais inclinada a olhar em torno dela em choque
e admiração. Mas naquele momento, ela simplesmente murmurou: "Por aqui," para Zayn, levando-o até o
elevador.

Haviam reservado para ele a cobertura, é claro. O enorme apartamento se alastrava, ocupando todo o
andar superior do Marseilles. Conforme o elevador subia e subia, ela se sentiu um pouco presa, mas,
estranhamente, ela não tinha nenhuma vontade de correr.

Zayn parecia não ter nenhum interesse em falar, e apesar de Leah estar grata pela oportunidade de
manter a boca fechada e se certificar de que não se constrangeria ainda mais, ela desejava saber o que ele
estava pensando por trás daqueles finos olhos verdes.

Se o saguão do Marseilles era de cair o queixo, a cobertura era muito além do incrível. O elevador se
abriu para uma linda sala de estar rebaixada, cercada por sofás de frente para um enorme centro de
entretenimento de última geração. Mais à frente ficavam dois quartos e um banheiro, fechados atrás de
impressionantes portas duplas.

"Aqui está," ela disse o mais rapidamente quanto podia. "Espero que tudo esteja conforme você
desejava-"

Ele começou a falar, e ela queria ouvir o que ele diria, mas o celular tocou. Ele levantou um dedo
para mantê-la lá, e ele atendeu o telefone, afastando-se.

Agora que ela estava fora de seu carro e fora do trânsito, ela poderia respirar um pouco. Os cabelos
flutuantes que sempre escapavam de seu coque tinham escorrido absolutamente selvagens, e ela
distraidamente empurrou-los atrás das orelhas. Ela estava começando a se preocupar com o que ela iria fazer
quando seu próprio celular tocasse. Ela nunca responderia normalmente a uma mensagem quando ela
estivesse com um cliente, mas parecia que Azim estava falando com Zayn, e eles estavam ocupados em uma
conversa distraída no idioma nativo de Almira.

Ela puxou o celular de sua bolsa e piscou.

Ei, você já o viu???????

Daisy, sua prima da Albânia. Daisy sempre foi a quieta da família. Ninguém tinha se surpreendido
quando Mira fugiu para se casar com a realeza do Oriente Médio, mas absolutamente ninguém esperava que
Daisy seguisse os passos de Mira.

Ele quem? Leah mandou uma mensagem de volta com cautela.

Você sabe! Zayn al-Fasi!!!!

Leah percebeu que estava olhando para os textos, múltiplos pontos de exclamação e tudo, com uma
grande dose de cuidado.

Daisy, quê diabos você sabe sobre isso? Minha empresa ACABOU de receber este aviso de que nós
seríamos anfitriões do xeique de Almira, e que seria melhor estarmos prontos se soubéssemos o que era
bom para nós.

Houve uma pausa conforme Daisy digitava uma mensagem mais longa.

Zayn é um velho amigo de Rashad. Ele tem alguns problemas reais com os quais eu sei que você
pode ajudá-lo. Eu prometo, você é a pessoa certa para lidar com o caso, e para lidar com ele. Vai ficar
tudo bem. Falei com Rashad, e até com Mira e Kahlil, e ambos concordam!

Leah apertou os dentes. Daisy era uma das pessoas mais positivas no mundo quando ela animada, mas,
às vezes, sua visão da realidade não correspondia exatamente com o mundo.

Daisy... Eu sou uma advogada de Direito do Entretenimento. Eu não sou uma especialista em
Direito Internacional ou seja o que for que ele precisa. Eu preciso que você entenda isso.

Não se preocupe! Você é exatamente o que ele precisa.

Leah pensou em sua gafe no carro e se encolheu. Quando Daisy estava errada, ela estava
incrivelmente errada, mas havia algo encorajador sobre a fé que a mulher tinha nela. Ela tinha ouvido falar
que Rashad era muito bom em restringir algumas das idéias mais erráticas dela, ao mesmo tempo sendo
absolutamente deslumbrante em mimá-la.
Ela começou a digitar uma resposta quando ela olhou para cima e viu Zayn olhando para ela. Com
uma maldição em voz baixa, ela empurrou seu celular de volta na bolsa. Para seu alívio, ele não parecia
zangado, apenas pensativo.

"Você está perdoada," disse ele suavemente.

Ela piscou. "O quê?"

Ele deu de ombros. "Eu te perdoo pelo que você disse no carro. As pessoas no Ocidente ouvem falar
de lugares como Almira, Samara e Marat, e têm visões em suas cabeças. Tapetes voadores e haréns são a
melhor parte. A pior, na verdade. Na pior das hipóteses, eles vêem selvagens. Bárbaros a alguns centímetros
de distância de assaltar suas cidades e tomar suas mulheres."

Leah mordeu os lábios, porque, em muitos aspectos, ele estava certo. Vestido com suas roupas vivas e
encantadoras do deserto, Zayn era uma visão da beleza masculina, mas havia aqueles que sempre iriam vê-lo
como uma espécie de monstro estranho e exótico.

"Obrigada por me perdoar," disse ela. "Eu entenderia se você não perdoasse."

Pela primeira vez, Zayn sorriu para ela, uma exibição deslumbrante de dentes brancos que
contrastaram com seu rosto escuro. Ela tinha vivido em Los Angeles durante anos, cercada por estrelas de
cinema e aspirantes a estrela de cinema, e esse sorriso os deixava no chinelo.

"Isso significa que eu estava certo em fazê-lo. Venha, sente-se comigo, e vamos falar sobre o meu
caso."

Leah piscou, um pouco atordoada sobre o quão rápido tudo estava se movendo. “O quê? Não... sinto...
sinto muito, eu acho que você está confuso. Eu sou uma parceira júnior da Hiller e Hiller. Será Bryce Hiller
que tomará conta de seu caso, provavelmente ele e Grant Chastain."

Seu sorriso ainda estava agradável, mas agora havia um pouco de dureza por trás dele. "Não. Será
você."

Uma série de argumentos apareceram na cabeça dela. Ela era jovem. Ela tinha apenas alguns anos de
experiência. Ela cutucaria várias feridas se roubasse este caso dos sócios seniores. Ela fechou a boca para
todos estes argumentos.

“Sim. Poderia, por favor, dar-me licença? Eu gostaria de descer ao saguão para fazer algumas
ligações."

Zayn inclinou a cabeça graciosamente. "Contanto que você volte logo."

Ela murmurou algo sobre permanecer na tarefa e tudo mais, mas cambaleou de volta para dentro do
elevador. Em seu caminho para sair dele, ela passou por Azim e os seus homens, ainda vestidos de preto,
ainda muito sérios. Azim, com os braços cheios de pacotes, lançou-lhe um único olhar penetrante quando eles
entraram no elevador, e ela se perguntou o que ele pensava de tudo isso.

Parada em um canto do saguão, sentindo-se muito mais maltrapilha do que devia em sua roupa, ela
respirou fundo e ligou para Hiller e Hiller. Ela teve sorte, conseguiu falar com Grant na primeira tentativa.

"Ei, Leah, você está com o cara?"


"Sim, estou, mas nos encontramos em uma situação interessante..."

Grant ficou totalmente em silêncio enquanto ela explicava a situação para ele, revelando tudo,
incluindo sua ligação com Daisy e Mira, embora ela tivesse deixado de fora o deslize com Zayn no carro.

"Então... é assim que as coisas estão. Ele quer que eu atue no caso, e se você quiser vir brigar com ele
por isso, você está convidado a vir aqui pessoalmente e fazê-lo."

Grant respirou fundo. Ele era quase uma década mais jovem do que Bryce Hiller, mas, ainda assim,
muito mais velho do que Leah. Quando ela veio trabalhar na Hiller e Hiller, ele tinha sido um dos seus
maiores defensores. Ela podia ouvir a fé que ela tinha construído ao longo dos últimos anos sendo testada
naquela respiração longa.

"Tudo bem," disse ele. "Certo. Vou ver Bryce em alguns minutos, e eu vou acertar isto com ele com
uma condição."

"Qual?"

"Preciso que você esteja totalmente certa de que você pode lidar com isso. Você não pode estar
oitenta por cento certa, ou noventa por cento, ou mesmo noventa e oito por cento certa. Eu quero um garantia
de cem por cento de que você possa fazer isso, Montgomery. Caso contrário, eu irei até lá explicar as coisas.
Você decide."

Leah apertou seu punho livre para evitar que ele tremesse. "Estou cem por cento certa," ela disse, sua
voz forte e firme. "Eu posso lidar com o que quer que ele jogue para cima de mim."

"Bom. Isso é o que eu precisava saber." Ela ficou satisfeita ao ouvir o quão acalentadora a voz de
Grant estava. Uma vez que ela tivesse aceitado o trabalho, ela sabia que ele daria completo suporte a ela.
Ainda mais importante, ele manteria Bryce longe dela.

"Vá em frente. Mantenha-nos informados, e não ouse faltar em conferências comigo ou Bryce, mas nós
vamos apoiá-la."

“Obrigada,” ela disse. "Eu não vou deixar vocês na mão."

"Eu sei que você não vai."

Por um longo momento, ela permaneceu no saguão com o telefone na mão. Ela se sentiu um pouco
tonta. Ela não tinha certeza com o que ela mesma havia se comprometido, mas havia algo no ar que lhe dizia
que sua vida tinha mudado.

De alguma forma, entre discutir com um guarda de segurança do aeroporto e desligar o telefonema
com Grant, tudo tinha mudado.

"Tudo bem," ela disse suavemente. "Certo."


CAPÍTULO DOIS
Quando ela saiu do elevador e entrou no apartamento, ela ficou surpresa ao encontrá-lo em silêncio.
Então ela percebeu que Azim e seus homens provavelmente foram acomodados nos andares abaixo, deixando
a cobertura para o esplendor único e solitário de Zayn.

“Olá?” ela chamou, perto das portas do elevador. "Você ainda está aqui?"

A porta do quarto se abriu, e ela olhou.

Vestido com suas roupas brancas, Zayn estava lindo. Agora ele estava vestido casualmente em um
afiado jeans escuro e uma camiseta preta que esticava sobre seu peitoral largo. Mesmo com os pés descalços,
ele se parecia com um aspirante a ator incrivelmente bonito saindo para uma noite na cidade. A mudança
repentina foi o suficiente para fazer a cabeça dela girar, e ela teve que forçar para que sua boca fechasse.

"Aí está você," disse ela. "Eu falei com o escritório, e eu vou cuidar de seu caso."

"Eu não aceitaria nenhuma outra pessoa," disse ele com um encolher de ombros extremamente casual.
"Ou eles lhe davam o caso, ou eu teria de encontrar outra empresa."

Era uma política incrivelmente ruim perguntar para um cliente por que ele havia exigido os serviços
dela, mas Leah ficou tão curiosa por um momento que ela quase o fez. Em vez disso, ela engoliu a dúvida,
sentando-se no imaculado sofá branco.

“Certo. Estou contente por sua fé em mim, e se você não estiver muito cansado de seu voo, eu não me
importaria em receber uma noção básica de você sobre o seu caso. Você tem sido muito reservado a respeito
disso até agora, mas o tempo durante o qual você possui esse luxo está chegando ao fim."

Zayn deu-lhe um semblante de sorriso quando ele veio se sentar ao lado dela. Por um momento, ela se
perguntou se ele estava sentado perto demais. Ela quase podia sentir o calor da perna dele através do fino
tecido de sua calça. Ela sacudiu tanto a ideia tola quanto a atração.

"Percebo que você vai direto ao assunto," ele comentou. "Estou contente de ver que a avaliação que
fiz no aeroporto estava correta."

Leah ia perguntar o que ele queria dizer, mas então se lembrou, mordendo o lábio com uma careta.

"O guarda de segurança," disse ela com desgosto. "Não foi o meu melhor momento."

Zayn riu, um som escuro e quente. "Então eu realmente anseio por ver qual poderia ser o seu melhor.
Preciso de uma lutadora, Sra. Montgomery. Preciso de alguém me ajude a acertar as coisas."

"Para isso é que estamos aqui," disse ela com sinceridade. Era algo que ela havia dito para muitos
clientes, mas ela nunca foi tão sincera.

"Eu vou pedir comida," ela disse rapidamente. "Você provavelmente está morrendo de fome do seu
voo, e a última coisa que eu quero que aconteça é que você caia de fome quando nós realmente começarmos a
conversar."
"Muito bem," disse Zayn, sorrindo com tolerância. "Eu não tenho restrições alimentares, então
simplesmente peça o que você achar que nós dois gostaremos."

Ela sorriu. "Los Angeles tem alguns dos pratos mais interessantes do mundo. Deixe-me fazer uma
ligação. Você não vai se arrepender."

Ela pediu a comida em menos de cinco minutos, e então ela se acomodou para trabalhar.

"Então me fale sobre o que está acontecendo," disse ela, puxando seu tablet. "Eu preciso ouvir tudo."

Por um momento, Zayn pareceu assustado. Ela percebeu com surpresa que ele a estava observando
enquanto ela pedia a refeição. Por um momento de auto-consciência, ela se perguntou o que ele tinha visto,
mas depois lembrou-se de que ele estava pagando por suas habilidades e não por sua aparência.

Ele suspirou um pouco. "No fundo, é muito simples. Uma empresa de produção aqui em Los Angeles
chamada Ice Fields está criando um filme, e eu quero que eles parem."

Leah esperou para ouvir mais, mas ele simplesmente olhou para ela com expectativa.

"Vou precisar de saber mais do que isso," disse ela. "Eles estão infringindo algo que pertence a você?
Você ou um membro da sua família escreveu uma história ou filme muito parecido com o enredo? Estas são
coisas difíceis de provar, e quanto mais você me disser, melhor eu serei..."

A mandíbula de Zayn cerrava, e aqueles extraordinários olhos verdes escureceram como a tempestade
que se aproxima de um mar de vidro. "De muitas maneiras, todas essas coisas são verdadeiras. Para começar
desde o início, o chefe da Ice Fields e alguns de seus homens foram a Almira há um ano atrás. Eles vieram
como parte de um intercâmbio cultural, e no começo estava indo tudo muito bem. Eles aprenderam,
aprendemos com eles, e quando os enviamos para casa, foi com uma grande quantidade de celebrações e
agradecimentos. Presumi que tínhamos aprendido uns com os outros um respeito mútuo com os respectivos
jeitos e culturas. Há um mês atrás, eu descobri que isso estava longe de ser verdade."

Um breve olhar de dor cruzou o rosto de Zayn, fazendo Leah chegar a tocar sua mão. Era mais do que
ela teria feito em outro caso, mas quando ela tocou sua pele quente, ela sabia que era o certo a fazer.

Ele sorriu brevemente antes de continuar. "Eu recebi a notícia de um de meus adidos culturais que a
Ice Fields estava fazendo um set de filmagem em Almira e... bem, isso é baseado em algumas fofocas bastante
repugnantes."

Leah estava começando a ver o formato do caso, mas ela não podia ir para a guerra com base em
sentimentos e orgulho feridos. O que quer que seja que a Ice Fields estivesse fazendo, estava perturbando
muito Zayn, mas, até agora, não era algo que ela pudesse impedir.

"Sinto muito," ela disse suavemente, "mas se é para eu ajudá-lo..."

"Você precisa saber mais, é claro." Zayn assentiu, de repente, parecendo muito cansado. "A história é
sobre minha mãe e meu pai. Em resumo, minha mãe era uma mulher inglesa que veio para Almira quando ela
era apenas uma adolescente, filha de um diplomata. Durante aquela época, houve uma grande quantidade de
conflitos no país. O corpo diplomático foi transferido para o palácio, e foi ali que ela conheceu meu pai,
Safir al-Fasi. Ele era mais velho do que ela, muito mais velho, mas ela era atirada. Quando ela descrevia
aquele tempo, ela falava de si mesma como uma leoa perseguindo sua presa, e ela não descansaria até que ele
fosse dela. Eles se amavam muito, e eles se casaram quando ela tinha dezoito anos."
“O que aconteceu com eles?” Leah podia ver, uma adolescente teimosa e selvagem em uma terra
estranha. Ela podia sentir o amor e a paixão que devem tê-la levado a seguir um homem que se parecia com
Zayn ao redor do palácio, aprendendo seus costumes e encontrando a coragem para falar com ele, e depois
falar com ele de novo quando ele a rejeitara por ser jovem.

O sorriso de Zayn foi irônico. "O que acontece com todos nós, se tivermos muita sorte," disse ele.
"Eles se casaram e governaram juntos por quase trinta e cinco anos. Ela era sua rocha, o poder que mantinha
as costas dele retas e seus olhos brilhantes, mesmo quando os assuntos de Estado queriam devorá-lo por
inteiro. Ele era sua paixão, e sempre que ele estava na sala, os olhos dela o seguiam. Há quase três anos
atrás, ela morreu de câncer, e meu pai, bem, ele não estava interessado em viver sem ela."

Leah titubeou com aquela fria análise, e ela teve que se forçar a falar. "Isso soa como uma história
maravilhosa," ela arriscou.

A risada de Zayn era amarga. "Sim, e foi, e se essa fosse a história que eles quisessem contar, eu
deixaria que filmassem em Almira sem pedir um único centavo. Não, o que eles querem filmar é uma farsa,
com base em fofocas antigas que foram circulando por inimigos da minha família por tanto tempo que ele se
tornaram histórias esfarrapadas."

“O que você quer dizer?”

Zayn hesitou, e, quando ele falou em seguida, era como se as palavras estivessem sendo arrastadas de
dentro dele.

"A história que querem contar é um monte de mentiras. Eles querem contar sobre uma menina inglesa
corajosa que chegou em uma terra selvagem que estava dilacerada pela guerra. Eles querem reduzir a minha
mãe a uma criança assustada que tinha pavor de tiros, e que chamou a atenção de um homem que era tanto
animal quanto soldado. Ela é uma inocente que ele captura e estupra, e então ele faz dela sua esposa e rainha
de uma terra monstruosa. Ela vê a terrível terra que deve governar, e ela está presa, mantida até que ela dá à
luz um filho que muda tudo."

"Você," Leah adivinhou, estremecida.

"Sim, para minha consternação. Então, um filho aparece, e ela sabe que ela deve mudar tudo. Ela parte
para matar o maligno rei, mas antes que ela possa matá-lo, ele também a mata, e morrem juntos, deixando uma
criança que vai levar os bons ideais ingleses de sua mãe para a barbárie de uma terra selvagem e retrógrada."

Leah se encolheu, porque ela pôde entender. Era como quaisquer destes filmes esquecíveis que
vinham saindo ao longo dos últimos anos. Ela poderia até mesmo adivinhar quais aspirantes a estrela de
cinema poderiam ser cotados para interpretar a inglesa corajosa que sofre e perde tudo. Quando havia
pessoas reais por trás disto, tornava-se uma verdadeira farsa.

"E você quer que esta história pare. Você quer que a produção cesse, isso está correto?"

Algo negro brilhou nos olhos de Zayn. "Eu quero que isso acabe," ele cuspiu. "Se estivéssemos em
uma época diferente e um tempo diferente, mostraria a eles o que significava brincar com a família de um
xeique de Almira. Gostaria de mostrar-lhes como um verdadeiro bárbaro se comporta. Mas não. Eu quero que
isso pare."

Leah assentiu lentamente. Esta era uma situação por que ela definitivamente já tinha passado antes.
Ela tinha trabalhado com os pessoas em trabalhos semelhantes, embora nenhum deles tivera sido tão
importante quanto a Ice Fields ou Zayn.
"Eu acho que sei qual será a resposta, mas eu tenho que perguntar," disse ela. "Você está disposto a se
contentar com um valor em dinheiro? Isso vai ser a primeira coisa que eles vão oferecer."

Zayn bufou. "É claro que eles tentariam me comprar. Não. Isto não é algo que eu vou aceitar."

“Certo. Só para ser clara sobre como prosseguiremos. Isto é bem próximo do que eu preciso. Hoje à
noite eu posso começar a montar meu dossiê, e, enquanto isso, vou enviar uma carta de cessação e desistência
para a Ice Fields. Em um mundo perfeito, eles vêem que estão ultrapassando o limite e pisam no freio, mas
eles não vão fazer isso. Esta é apenas uma formalidade."

Zayn olhou-a com algo novo em seus olhos. Parecia respeito e uma espécie de admiração que ela não
costumava ver nos homens, particularmente aqueles que eram ricos e poderosos.

"Parece que você está pronta para ir para a guerra por mim," observou ele.

Leah sorriu. "Em muitos aspectos, isso é exatamente o que estou fazendo. "

Então ela fez uma pausa. Uma das primeiras regras do negócio era que ela não deveria deixar seu
coração ignorar seu bom senso. Ela nunca deveria deixar que a paixão tomasse as rédeas quando ela
precisasse de uma cabeça fria. No entanto, havia algo sobre Zayn que lhe dizia que se havia algo que ele
respeitava, esse algo seria a paixão. Ele iria entender isso.

"Eu vou fazer tudo que puder para parar a produção deste filme," disse ela. "Eu não vou parar até que
eles desistam. Pode não ser fácil, e tenho certeza que haverá algumas partes que parecerão muito escuras, mas
vou fazer o meu melhor para você. Vou te dar tudo o que tenho."

Zayn assentiu lentamente. "Na longa história de Almira, fomos para muitas guerras, inúmeras lutas. Na
última geração, temos nos mantido bem longe deles. Como é estranho vir para outra terra e me preparar para
uma batalha com você como minha amazona. Muito bem, Sra. Montgomery. Coloco minha fé, minha honra e
minha vontade em suas mãos."

Havia algo surpreendentemente formal sobre tudo isso, como se fosse uma cerimônia real, em que ela
estava sendo investida com poderes reais. Leah sentiu um rubor chegar ao seu rosto, mas ela assentiu.

"Eu serei digna delas," disse ela. "Agora, está ficando um pouco tarde, e tenho certeza de que você
vai querer algum tempo para si mesmo, para se recuperar."

Zayn arqueou uma sobrancelha escura para ela. Alguma parte atenta dela notou como era escura e
bela, como se tivesse sido desenhada pela mão de um artista talentoso.

"Indo embora tão cedo? Receio que se você será minha amazona, há mais uma parte do serviço a que
você deve se submeter."

Algo em Leah tremeu com a ideia de submissão, mas ela ignorou. “De que você precisa?” ela
perguntou, por sua vez.

Ele sorriu, mostrando aqueles dentes brancos e afiados. "Eu preciso que você se junte a mim para
irmos comer e beber. Partir o pão é sagrado em todo o mundo, e é isso que temos de fazer."

Leah mordeu o lábio. Nada a excitava mais do que a ideia de ir se juntar a Zayn, mas havia uma
grande quantidade de trabalho a ser feito. "Nesta tarde, preciso elaborar alguns papéis e preparar a carta de
cessação e desistência. Eu preciso informar Hiller e Hiller sobre o que está acontecendo. Mas à noite, às dez,
serei toda sua."

Nuvens amotinadas formaram-se ao longo do rosto dele. O xeique não era um homem que estava
acostumado a ser rejeitado. Difícil. Ele estava no terreno dela agora, e ele precisava jogar pelas regras dela.
Ela endireitou os ombros, pronta para lutar contra ele se precisasse. Em vez disso, ele sorriu de novo, e deu
de ombros.

"Você vai lutar por mim. É bom que você tenha dentes. Muito bem. Venha para os portões do hotel às
dez, e eu vou lhe mostrar exatamente por quê se comprometer em me servir é a escolha certa."

Leah mal pôde evitar saudar de forma esperta as palavras dele. Em vez disso, ela limitou-se a um
sorriso e um aceno com a cabeça. "Hoje à noite, então."
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