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Noiva Para Dois Mafiosos

Angie Lavin
Capítulo 1
“HOMEM AO MAR!”

Foi a última coisa que Zoe escutou antes de entender ser sobre
ela mesma. Ela estava em queda livre.

Um minuto atrás, ela estava no convés do Nayad, um iate de


luxo. No minuto seguinte, Zoe estava afundando no furioso mar azul
profundo.

‘O que fazer?! Vou me chocar feito uma pedra na água!’

Ela agiu rapidamente e endireitou seu corpo, sentindo o impacto


doloroso quando os pés atingiram a água. Em algum momento da
sua vida, Zoe ouviu dizer que a única chance de sobrevivência ao
cair de uma certa altura num corpo aquoso era diminuir a superfície
de impacto. Ela esperava ter ouvido certo.

O líquido salgado entrou pelas narinas, ouvidos, e boca,


queimando e afogando. Seus membros ficaram moles devido ao
impacto e ela afundou nas águas tempestuosas.

Mantendo o ar nos pulmões, a jovem desesperada espalhou


seus membros, lutando contra a pressão que a empurrava para o
fundo.

‘Mal acredito que aguentei a pior parte. Eu posso sobreviver! Eu


vou sobreviver! Agora preciso voltar à superfície. O mais rápido que
eu puder.’

Zoe travou o maxilar, forçando seu corpo a obedecer. As ondas a


açoitavam, enquanto ela ia e vinha ao sabor delas. Aprumando o
corpo e movendo mãos e pés rapidamente, Zoe se impulsionou para
cima, e eventualmente alcançou a superfície.

Ela puxou o fôlego com sofreguidão. Seu corpo doía demais, e


Zoe viu uma boia salva-vidas passando por ela. Abraçando
rapidamente o objeto flutuante, depois de algum esforço, Zoe
finalmente conseguiu passar o braço por dentro da boia.

‘Ok… Você vai sobreviver, garota. Vai sim.’ Ela repetia isso como
um mantra, mentalmente, tentando afastar o pânico. Ela sabia que
não podia se entregar.

Lutando com as ondas, Zoe olhou sobre o ombro e avistou o iate


bem mais longe do que imaginava. Mantendo sua cabeça na
superfície, ela tentou nadar de volta à embarcação. Era difícil lutar
com as ondas enquanto estava segurando a boia.

Ela tinha dúvidas de que conseguiria chegar ao iate sozinha.


Mas sabia que tentariam resgatá-la! Ela era a esposa de Wolfgang
Düssel!

De repente, um pensamento caiu como uma bomba na sua


mente.

‘Eu não sei como eu caí no mar desse jeito, mas isso é
Interferência Divina, só pode! É a minha chance de escapar!’ Uma
euforia súbita arrancou um sorriso insano de seus lábios, mesmo
naquela situação. ‘De que outro jeito eu conseguiria escapar das
garras de Wolf?’

Seu coração encheu-se de medo, mas uma chama de esperança


insistia em flamejar lá no fundo. Ela realmente conseguiria fazer
isso? Se tivesse sorte, uma corrente poderia levá-la para a costa.
Mas se não tivesse sorte…

Zoe avistou potentes luzes vasculhando a escuridão. Era difícil


de ver, mas ela tinha quase certeza de que havia avistado um bote
vindo velozmente em sua direção!
‘Eles estão me procurando!' Ela balançou os braços
desesperadamente enquanto as ondas a açoitavam e a jogavam de
um lado para o outro. Mas Zoe conseguiu levantar o braço mais
uma vez…

E sentiu alguém agarrar o seu pulso!

“Zoe, AGUENTE FIRME!” Mesmo com o rugir das ondas, ela


identificou a voz dele. Os dedos firmes magoando seu braço
delgado como ferro contra a carne.

“WOLF?!”

Uma violenta onda atingiu o bote amarelo com toda força,


levantando o objeto inflável e jogando quase todos seus ocupantes
ao mar. Foi quando o aperto firme de Wolfgang escapou de seu
pulso e Zoe rodopiou mais uma vez para longe.

Quando ela conseguiu chegar à superfície de novo, ela estava a


muitos metros do bote e dos homens que lutavam para recuperar a
embarcação. Ela nem sequer avistava o iate. Zoe teve a impressão
de ver ele_ Wolf_ tentando nadar em sua direção, mas o perdeu de
vista quando outra onda os separou. Apenas se agarrou à boia,
exausta demais para tentar voltar, os pulmões e olhos ardendo após
ter engolido tanta água.

‘Meu Deus, que tragédia!’ Zoe apenas podia contar com a


clemência dos céus enquanto era levada para longe pelas ondas
bravias.

Ela começou a contar os segundos entre as ondas e impulsionar


o corpo com a boia para viajar com ela ao invés de ser atingida com
força pelo corpo d’água. Para sua sorte, Zoe era uma excelente
nadadora e fazia exercícios físicos com frequência.

Uma luz surgiu ao seu lado junto à boia, e Zoe se assustou. Ela
viu que sua boia tinha uma lanterna luminosa acoplada, mas por
algum motivo aquilo só tinha se acendido agora, e piscava
ininterruptamente.

‘Será que alguém vai me salvar?’

A náufraga se aprumou e conseguiu se manter flutuando na


maior parte do tempo. Isso sugou suas forças. Mas ainda havia uma
última esperança. Havia histórias de náufragos e pessoas que
sobreviviam por horas, até dias no mar. Ela não podia se deixar
abater.

‘Estou conseguindo até aqui. Eu não posso me exaurir. Preciso


ficar flutuando e deixar o mar me levar para a costa! E quando eu
avistar a praia, eu nado para lá!’

Isso exigiu toda a determinação de Zoe para não se desesperar


nem dormir. Ela começou a fazer listas em sua mente, organizando
por ordem alfabética. Listas de países a visitar. Listas com os
sobrenomes dos amigos. Sua melhor amiga Tess dizia que isso
ajudava a se concentrar na estrada e não dormir. Em algum
momento, ela perdeu a noção do tempo enquanto a tempestade foi
acalmando.

‘Acho que os céus ouviram minhas preces. Vou me livrar de


Wolf, e é assim que vai acontecer. Ele vai pensar que eu morri. Eu
nunca mais poderei voltar…’

Zoe não tinha ideia de localização. Estava com frio, e a chuva


fina batia em seu rosto. Ela tentou sorver a água da chuva, mas era
difícil. Então, resolveu concentrar todo seu esforço em respirar
calmamente e manter-se à tona.

Quanto tempo ela aguentaria? Uma coisa era certa, ela já estava
perdendo as forças. Os membros demoravam mais para obedecer.
Manter-se flutuando era difícil. Parecia mais fácil desistir.

Repentinamente, os olhos cansados de Zoe captaram uma fonte


de luz. Ela tentou, mas não tinha mais forças para nadar, então
apenas agitou os braços na direção do facho de luz.

Repentinamente, Zoe foi agarrada e arrastada por algo.

O pânico a atingiu novamente, e tudo que ocorreu era que um


animal marinho a devoraria agora. Ela se debateu, tentando se
livrar. Só no último momento, Zoe percebeu que era uma pessoa.
Zoe tentou agarrar-se no pescoço do homem, mas sentiu uma forte
dor do lado da cabeça.

‘Ele me bateu? Mas... por quê?!’

Ela perdeu a consciência antes de descobrir.

Durante seus momentos de breve consciência intercaladas com


apagões, ela ouvia tosse e a respiração pesada ao seu lado, mas
não tinha forças para se mover ou reagir. Em sua mente, alguém
estava morrendo ao seu lado.

‘Não morra…’ Ela pensava por si e por ele.

Zoe sentiu-se esmagada contra o peito, uma dor excruciante em seu


coração, e vagamente via a imagem borrada descendo sobre seu
rosto, pressionando suas narinas e soprando ar em sua boca. Vagas
lembranças de uma cabine e um cobertor cheirando a diesel,
barulhos estranhos e a impalpável sensação de fugir
incansavelmente a atormentaram em pesadelos entrecortados e um
estado entre a consciência e inconsciência.

∞∞∞
“Gahhh! O que está acontecendo?!” Zoe puxou o ar com
sofreguidão. Lágrimas escorreram do seu rosto e seus pulmões e
garganta ardiam muito. Mas Zoe sabia que tinha acabado.

Ela estava salva. Ela tinha sobrevivido.


E, apesar de extremamente exausta e com os pulmões
doloridos, ela sabia que estava bem.

“Calma. Calma, moça. Está tudo bem. Você está em terra firme.
Você pode me ver?” A voz masculina vindo do borrão a sua frente
perguntou. O tom calmo fazia tudo parecer mais real.

Zoe apalpou os braços fortes deste homem, e tentou se sentar.


Ele a trouxe para mais perto e apoiou suas costas.

‘Eu consegui! Eu sobrevivi! Eu cheguei na praia e... Escapei!’

Ele limpou seu rosto com um pano e tentou deixá-la mais


confortável.

Porém uma incômoda constatação assaltou seus pensamentos


quando ela levou a mão ao peito que ardia por dentro.

“EEEpa! Eu tô... pelada?! Caraca, eu perdi meu biquíni no mar!”

O tom da voz do homem ficou ligeiramente ríspido ao responder.

“É uma preocupação estranha. Você poderia ter perdido sua vida


lá, também.”

Zoe tossiu à simples menção disso, quando a realidade a atingiu.


Ele a ajudou e a trouxe para o colo dele. Os olhos ardidos de Zoe
piscaram em surpresa, e isso ajudou a lubrificá-los. Seus sentidos
não estavam nas melhores condições, mas isso não significava que
não pudesse reagir!

“EI!” Ela o empurrou com os braços, e só então percebeu o


estado de fraqueza de seu corpo. Ela não tinha como se defender,
na verdade.

O homem não parou de esfregar seus braços e costas,


ignorando seu pífio protesto completamente. “Antes que você surte,
eu não tenho nenhuma roupa seca aqui comigo. Estou só tentando
te aquecer. Você está tremendo. Não se empolgue muito.”
O sarcasmo diante de sua confusão a deixou em alerta.

O homem apalpou seu corpo com cuidado enquanto perguntava


se doía, respeitosamente.

O calor do corpo dele era gostoso, e Zoe se aproximou


inconscientemente, murmurando. “Estou exausta… E aquele
biquíni… Era vintage. Era o biquíni preferido da minha mãe.”

“Lamento por sua perda… Eu só tinha um cobertor onde te


enrolei, mas você o empurrou para a água quanto eu estava te
trazendo para terra. Não é culpa minha que você quer ficar nua,
senhorita.”

“Aquele cobertor fedia diesel.”

“A moça é bastante exigente, estou percebendo. Mas, vou


perguntar de novo. Tem alguma parte do seu corpo doendo muito?”
A voz agradável falou pausadamente dessa vez.

Zoe olhou para o rosto de seu salvador pela primeira vez. Olhos
verdes, uma pele dourada e cabelos e barba aloirados foram a
primeira coisa que sua mente registrou. Ele era másculo e forte, foi
a segunda coisa que ela constatou.

Por que ela estava pensando aquilo?! Não importava se ele era
bonito. Ela não o conhecia. E Zoe intuía que se demonstrasse estar
muito mal, ele a levaria para um hospital. E não demoraria muito
para seu marido encontrá-la.

Um novo tremor tomou seu corpo.

“Estou gelada, mas não tem nada quebrado.”

“Que bom! Você não está mais falando sobre biquínis, então
acredito que está se recuperando rápido. E isso é ótimo!” O homem
estranho comemorou.
“Não estou falando sobre meu biquíni, mas sinto falta dele em
vários níveis…”

O homem loiro em um macacão de mergulho riu, e Zoe viu


covinhas se formando sob a barba. Ele tinha gostado da piada dela.
Ela não sabia como podia ter senso de humor num momento
daquele. Talvez fosse a euforia devido ao estresse pós-traumático.
Ela não sabia. Mas sorriu com ele.

O desconhecido afastou os cabelos molhados de Zoe do rosto


dela, mas confessou com um sorriso encabulado.

“É um péssimo momento para falar isso, mas eu pensei que


você era uma sereia. É, um homem pode sonhar…”

“É uma hora estranha, mas foi bonitinho,” Zoe respondeu com


voz e sorriso fracos.

Ela percebeu agora que estavam sob uma cobertura precária de


madeira, na praia. Ela não entendia bem o que era aquela
construção. O mar continuava bravio e ainda havia chuva leve. Era
noite.

“Obrigado. Acho que devemos arriscar deixar essa tapera. Minha


maior preocupação era te levar para terra firme, mas tivemos que
fazer essa parada… O pessoal em terra firme não estava
respondendo ao rádio…” Ele abriu um sorriso e a ajudou a ficar de
pé. O estranho tentou disfarçar, mas os olhos dele percorreram seu
corpo. Zoe sentiu falta do calor dele.
O homem estranho virou as costas para ela, foi até a porta da
cabana para barcos, e olhou para o exterior. Zoe se abraçou,
tremendo de novo. A adrenalina ainda fluía em seu corpo.
“Que ótimo que está bem, moça. Isso significa que posso te levar
agora para…”
Será que ele queria dizer hospital? Ou para a polícia? Não, ele
não podia levá-la para nenhum desses lugares ou descobririam a
identidade dela. Como evitar isso? Zoe odiava mentir para o homem
que a salvara, mas disse,
“Hospital? Não precisa. Como você pode ver _ e você pode ver
tudo_ eu só tenho arranhões e isso é tudo. Preciso de roupas,
estou congelando! Detesto ter que te pedir isso, mas você pode me
ajudar a conseguir roupas?”
Ela estava a minutos nua na frente desse homem que a salvou.
Era difícil imaginar que ela passaria pelas situações que viveu nas
últimas horas, e ainda mais, ter que implorar por mais ajuda.

“Não pensei em fazer nada diferente. Estou te levando para o


outro lado da ilha. Onde fica a minha casa,” ele respondeu
balançando a cabeça. Sua surpresa deve tê-lo confundido, pois ele
sentiu a necessidade de se explicar.

“Vamos tomar conta do seu conforto antes de mais nada. Você


precisa recuperar sua temperatura o quanto antes.”

“Obrigada…”

“Tudo o mais pode esperar já que você disse que não está
sentindo nenhuma dor anormal. Eu sou Justin. E você?”

Por um momento ela ficou indecisa entre inventar um nome


qualquer ou simplesmente evitar responder, mas algum pudor a
impediu de distorcer esta informação para o homem que salvou sua
vida. Então, simplesmente disse a verdade.

“Eu sou Zoe.”

“Bonito nome. Pronta?”

Para a surpresa de Zoe, o desconhecido mergulhador parecia


não dar tanta importância a isso, e nem mesmo ao fato de que havia
resgatado alguém da morte certa. Justin agia como se nada daquilo
fosse novidade. Ele agia calmamente e com segurança.

Sem esperar permissão, Justin a pegou no colo e começou a


sair do abrigo de barcos. Zoe ia protestar, mas então avistou o
terreno pedregoso e escorregadio.
Justin escolheu a melhor rota e chegou numa trilha que subia por
uma colina rochosa cercada de árvores. Zoe voltou a tremer e
aninhou-se contra o peito do desconhecido. Ela sentia-se segura e
aquecida contra o tórax largo do homem em roupas de Neoprene.

Mesmo na escuridão iluminada apenas pela lua fraca que


começava a despontar entre as nuvens não o intimidava. Ele
caminhava com segurança pela íngreme subida cercada de árvores,
demonstrando conhecer o caminho de cor.

Arrumando Zoe nos braços, ele abriu um sorriso.

“Você não pesa quase nada, Vênus! Que sortudo eu sou!”

“Vênus?!”

“É. Vênus, a deusa do amor. Diz a lenda que ela surgiu do mar,
do nada, nua e gloriosa…! Como você.”

Ela sentiu o rosto arder.

“Obrigada por me lembrar que estou nos braços de um homem


que eu não conheço, pelada! E… gloriosa? É sério?!”

A gargalhada dele ressoou em sua caixa torácica, vibrando seu


peito onde Zoe se aninhou.

“Fala sério, eu nem estou curtindo a vista. É só trabalho e nada


de diversão para esse cara aqui!”

Finalmente eles chegaram ao topo da colina. Ela viu a silhueta


de uma casa grande de arquitetura moderna em concreto, madeira
e vidro. Era algo inesperado, mas ela estava cansada demais para
fazer perguntas.

A porta da casa estava aberta, e Justin sussurrou,

“Chegamos. Você precisa confiar em mim. Precisamos te secar e


aquecer primeiro. Vou chamar o médico enquanto você descansa.”
Zoe assentiu, por fim desarmando suas defesas e permitindo-se
desligar completamente. Mesmo querendo apagar, sua mente e
corpo agitados pareciam ter espasmos que a assustavam. Foi difícil
convencer-se de que o resgate não era um delírio causado pelo
cansaço, e que dormir era a morte certa.

O dono da casa a enrolou num edredom feito uma panqueca, em


primeiro lugar, depois a levou para o banho quente e não a deixou,
cuidando de todas as suas necessidades em silêncio.

Depois de um banho quente e rápido, ele insistiu para que Zoe


comesse algo, mas ela simplesmente não conseguiu manter os
olhos abertos.

“Obrigada, Justin…” ela disse com voz arrastada quando seu


salvador a pegou novamente nos braços, aninhada no edredom, e a
colocou na cama.

∞∞∞
PING… PING… PING…

PING… PING… PING…

Zoe acordou de supetão enquanto a chuva ainda caía no


telhado. Seu coração estava repleto de sentimentos contraditórios,
grata e assombrada pelo milagre de estar viva.

‘Tenho que aproveitar essa oportunidade. Fui resgatada por esse


cara de uma tempestade no mar, mas isso não é o fim.’

Olhando ao redor, ela viu estar sozinha no quarto, e a luz de um


abajur estava acesa. Pela grande janela com as persianas
parcialmente abertas, ela viu as primeiras luzes do amanhecer. Ao
longe era possível ouvir as ondas do mar.
Zoe sabia que sua mente ainda estava em alerta. E ela sabia o
motivo.

‘Duas noites atrás eu estava me casando… Mas ao contrário do


que eu sempre esperei, aquele foi o pior dia da minha vida.’

A mente de Zoe vagou para seu marido e as razões que a


fizeram dizer sim a um mafioso.

FLASHBACK

“O que eles disseram, papai?” Zoe estava em uma sala


adjacente, onde finalizava os preparativos para sua entrada até o
altar. O evento aconteceria em poucos minutos em um dos hotéis
mais famosos do estado.

Era o dia do seu casamento, e seu vestido de noiva, uma obra-


prima de algumas dezenas de milhares de dólares, o penteado e
maquiagem primorosos, tornavam a jovem de vinte e três anos uma
verdadeira princesa de um conto de fadas.

Apenas em aparência, no entanto. Internamente, Zoe Marie


Lovitt sentia-se um trapo.

“Me desculpe, querida. Eles disseram não. Para ser sincero, eu


tinha poucas esperanças. Eles não querem interferir,” seu pai,
Richard, respondeu com um olhar triste. “É uma quantia
significativa, e mesmo o governo não pode nos emprestar isso sem
consequências escandalosas.”

A noiva assentiu lentamente, o nó no peito tornando-se


insuportavelmente doloroso.

“Então… É o fim? Casar-se com esse homem é a única maneira


de acabar com essa dívida?”
“Sei que é repentino, e que você só o viu uma ou duas vezes,
mas… Zoe!”

“Sim, nós já falamos sobre isso antes. Eu não posso deixar isso
acontecer. Eu só queria que você nunca tivesse feito um acordo
com a máfia, pai. Você é muito importante para mim!”

“Eu também te amo, Zoe. E sou grato por você fazer isso para
salvar minha vida e tudo o que nossa família tem. Mas não fale esse
termo. Eles não gostam. Eles serão sua família agora; não há o
porquê criar atrito por um termo idiota. Eles não são como você
pensa.”

Zoe segurou as lágrimas, tentando não arruinar a maquiagem.

Sua família levou gerações construindo uma companhia têxtil.


Eventualmente, as coisas mudaram e os negócios não eram mais
tão sólidos. Seu pai tentou salvar o negócio da família. E recorreu à
máfia para isso.

Ok, tecnicamente, não era a máfia. Afinal, como aprendera


recentemente, esse termo não era sequer mais usado, ainda mais
por ‘Sindicatos’ que não tinham raízes italianas. Mas eles ainda
eram uma organização criminosa, certo?

Os Düssel emprestaram o dinheiro que seu pai precisava. Mas


as coisas não melhoraram, e a dívida só aumentou com o passar de
mais um ano.

E agora, insolvente, seu pai corria risco de morte iminente.

Não havia como ele pudesse pagar o que devia. Nem mesmo
entregando todos os seus bens a eles. Não havia esperança para
Richard e a Lovitt-Hemmer Millworks.

Até o dia que ELE a viu.


“De qualquer modo, querida, você pode se dar bem com tudo
isso. Wolfgang prometeu que vai te tratar como uma rainha.” As
palavras de seu pai tentavam trazer-lhe ânimo. “Ele está
apaixonado, tenho certeza.”

‘Sério mesmo que meu pai está tentando fazer isso parecer
bom?’ Zoe não conseguia conceber que seus sonhos e sua jovem
vida seriam arruinadas assim, por um capricho de um bandido de
boa aparência. Não importava o quê, ele era um criminoso.

“Ele não vai me deixar ter uma carreira!” Sua voz estridente fez
seu pai se encolher, mas logo Richard voltou ao seu tom conciliador.

“Oh! Sei que esse casamento está arruinando seus planos


profissionais, minha filha, mas você pode se adaptar!”

Zoe segurou suas lágrimas e o súbito ódio que as palavras de


seu pai causaram. ‘É porque não são os sonhos dele… Sonhei tanto
com meu futuro como designer de moda! Não é a vida dele sendo
jogada fora!’ Ela choramingou. “Mas Wolf não quer exposição e já
falou que posso esquecer uma carreira internacional. Qualquer
carreira, na verdade.”

“Lamento que você perceba as coisas assim, filha. Mas já é


muito tarde. Se você desistir aqui e agora, morremos os dois.’

As palavras de seu pai encheram o coração de Zoe de culpa e


medo, mas ela também tinha medo pelo seu futuro como esposa da
máfia. “Se eu me casar dentro da máfia, pai, eu nunca vou sair disso
viva. Nem eu, nem meus filhos!”

Dessa vez seu pai engoliu qualquer argumento, com o rosto


contrito.

Zoe sentiu uma pequena e mórbida satisfação ao ver seu pai se


chocar com a verdade saindo dos seus lábios.
“Não seja tão pessimista, minha linda noiva. Você diz a verdade.
Afinal, todos morrem um dia. Mas pode levar décadas. Na verdade,
vai levar.”

A repentina entrada de seu noivo fez Zoe morder os lábios,


nervosa. O homem vestido com tanta elegância quanto ela se
aproximou e acariciou seu rosto com o polegar.

‘Ele parece um modelo, eu admito. Mas… Ele é o homem


ameaçando a minha família e me forçando a casar com ele.’

Zoe sempre ficava agitada na presença de Wolfgang Düssel. Ela


provavelmente nunca tinha visto antes um homem com beleza e
poder pessoal irradiando de si como ele.

Mas ser o capricho daquele homem e o preço a se pagar


simplesmente a deixava à beira das lágrimas, sempre.

Indiferente ao seu estado, Wolf, como preferia ser chamado,


sorriu.

“Não se preocupe, nossa família ficará segura. Eu sou o melhor


em proteger o que amo. E em destruir tudo o que odeio.”

A cara inexpressiva com que ele falou isso fez Zoe estremecer
de pavor.

“Zoe está nervosa. Wolfgang. Todas as noivas são assim.”


Richard interferiu, mas Wolfgang lançou um olhar mortífero para o
pai de Zoe, e isso não escapou aos olhos dela.

Virando-se para a noiva, Wolfgang falou, “Sou afortunado por ser


o homem que passará a vida ao seu lado! Está tudo pronto, querida.
Estarei te esperando no altar. Mas não me faça esperar muito, hm?”

‘AI, QUE VONTADE DE TIRAR ESSE RISINHO DA CARA DELE


NO TAPA!’ Zoe tinha certeza de que suas emoções transpareceram
em seu rosto pela maneira como os olhos dele escureceram.
“A gente tem que conversar.” As palavras desafiadoras saíram
da sua boca antes que Zoe percebesse o que fazia.

Ele pousou um olhar indecifrável sobre a noiva e seus lábios se


curvaram em um lindo sorriso.

“Hmm. Então vamos conversar.”

Ele fez um sinal, e o casal foi deixado a sós. Zoe odiou a


arrogância dele… e como seu pai sumiu como um rato ao mero
estalar de dedos de um homem mais jovem.

Wolf se aproximou e tocou os lábios de sua noiva com o polegar


enquanto seu olhar pousou no mesmo lugar. Os sinais que ele
enviava eram confusos para Zoe, para dizer o mínimo. Wolfgang
tratava seu pai com arrogância e desprezo, mas parecia lidar com
uma boneca de porcelana quando estava com ela.

“Você é a coisa mais linda que eu já vi, Zoe.”

A afirmação fora de contexto fez Zoe sentir sua face arder. Era
um cumprimento legítimo, e ela não conseguiu responder com
indiferença. Wolfgang Düssel continuou, charmoso.

“Se você não estivesse tão nervosa… Eu adoraria te ver sorrir.


Muito. E adoraria te beijar uma vez antes do nosso casamento.
Podemos?”

Eles tinham se visto no máximo quatro vezes até o dia de hoje.


Ela não o conhecia e não sabia o que pensar ou como ler aquele
homem alto de cabelos escuros e olhos penetrantes. Apenas o
odiava e desejava que ele desaparecesse. A ideia de um beijo, ali e
agora fez seu coração disparar em pânico.

“NÃO! Quero dizer, não. Eu queria discutir nosso futuro juntos.


Nós não tivemos tempo de conversar…”
A expressão de desagrado passou rapidamente pelos olhos
azuis de Wolfgang, mas ele assumiu uma postura conciliadora e
calma.

“Olha, Zoe. Encontrei uma boa solução para ambos os lados.”

Ela demonstrou estar aberta a ouvir, e Wolfgang Düssel inclinou-


se em sua direção. Ela desviou o olhar da flor na lapela do terno
bem cortado que o fazia parecer saído de uma passarela, e o
encarou nos olhos. Wolf continuou, abrindo um sorriso sedutor e
jovial. Parecia uma abertura em sua pose de poder e controle
absolutos.

“Se unirmos as famílias, ambos os lados ganham, certo? E sobre


nós dois… O que posso dizer? Prometo que farei o melhor por nós
dois. Vamos fazer isso acontecer… se você me ajudar nisso.”

‘Outro sorriso puro e celestial. Deus, como ele consegue fazer


isso?!’ Zoe tinha que admitir que era difícil se concentrar ao encará-
lo nos olhos. Mas ela se esforçou.

“Falemos sobre os meus termos.”

“Termos?” A voz dele demonstrou desagrado imediato.

Mas antes que Zoe pudesse falar mais, alguém bateu na porta e
uma voz desconhecida se fez ouvir.

“Wolf? Seu pai está impaciente. Ele quer que a cerimônia


comece imediatamente.”

O noivo se aprumou, tornando seu rosto uma máscara


impassível e fria novamente.

“Vamos discutir os seus termos na nossa lua-de-mel. Agora,


apareça no altar, querida, e me faça um homem feliz.”

“Como discutiremos os termos se eu já estarei casada?!” Zoe


perguntou ao perceber seu parco poder de barganha.
Wolfgang abriu um sorriso de canto.

“Eu sou altamente manipulável na cama, amor.”

Ele disse essas últimas palavras enquanto saía da sala,


deixando Zoe para trás sem nenhuma concessão da parte dele.

∞∞∞
E Zoe se casou. E posou para fotos com Wolf, seu pai cruel, e
seus amigos da máfia.

Seu casamento havia sido um borrão de infelicidade, em que ela


se manteve bêbada e ausente mentalmente, para entorpecer sua
dor. E no dia seguinte, descobriu que sua lua-de-mel não seria na
Alemanha como planejado, mas em um iate.

Mas isso só aconteceu quando o motorista abriu a porta do carro


e ela viu que haviam chegado a uma marina. Sua ressaca e sono a
impediram de prestar atenção ao seu redor. Wolfgang também
estava ocupado com ligações ao seu lado no banco do carro e ela
havia colocado fone de ouvido para não ouvir o teor das conversas.
Ela simplesmente não queria saber.

Zoe estava determinada a fazer sua lua-de-mel fracassar como


ele havia feito com os seus sonhos. E fez de tudo para evitar seu
marido até o momento do embarque.

Ela estava magoada e se sentia justificada em seus atos! Eles a


trataram como se ela fosse um bem qualquer, sem opinião própria,
pronta para trocar de mãos!

Cada alteração nos planos a deixava insegura e tensa.

Assim que entrou no iate de trinta pés e dois convés, seguindo


Wolfgang de má vontade, ela agradeceu internamente ao perceber
haver tripulação. Ela não viajaria apenas com Wolfgang e seu
pequeno staff de assessores e guarda-costas. Enfim, seus homens
de confiança.

O casal e o grupo de seguranças cumprimentaram a tripulação,


e Wolfgang fez perguntas sobre os preparativos da viagem para o
capitão do Nayad.

“Não podemos simplesmente trocar de lua-de-mel!” Ela protestou


assim que pôde.

“Pensei que gostaria da surpresa. Seu pai me falou como você


gosta de praia e de nadar. E não faz sentido que todos saibam onde
passaremos nossa lua-de-mel,” Wolfgang tocou sua mão levemente,
mas Zoe afastou-se bruscamente.

“Querida, está tudo certo. Será seguro. Eu prometo.”

“Onde é o… nosso quarto?” No último momento ela trocou o


pronome. Apesar de irritada, Zoe ainda não era louca. Ela não
achava sábio desafiar Wolf na frente de seus homens. “Estou com
calor, quero tirar essas roupas pesadas.”

Suprimindo um suspiro frustrado, Wolfgang deu de ombros.


“Jason, leve Zoe até o quarto, sim? Sua tia preparou suas malas
para nossa viagem. Você encontrará tudo o que precisa, querida.”

‘Traidora…’ Isso foi uma surpresa ainda maior. ‘Minha tia Claire
participou disso e não me contou nada?! Não esperava isso logo
dela…’

O Nayad era um iate novinho em folha, e um dos mais bonitos e


modernos que Zoe já tinha visto. Era verdade que ela gostava mais
de sol do que de frio e um dos seus lugares preferidos era a Grécia.
Porém, ela até havia ficado curiosa quando seu noivo anunciou que
passariam a lua de mel entre a Áustria e a Alemanha, terra natal do
pai dele.
Virando-se para o homem que a acompanhou pelo convés
superior até a suíte principal, Zoe perguntou,

“Para onde estamos indo, afinal?”

“Sra. Düssel, pelo que sei a rota deve passar por algumas ilhas
das Bahamas. Não há nada muito definido. Mas a senhora pode
perguntar para Wolf…”

Zoe entendeu imediatamente que eles tinham ordens de chamá-


la de Sra. Düssel, mesmo que chamassem o chefe deles pelo
apelido. Jason não deu muitas informações, mas não pareceu estar
realmente escondendo algo.

“Está acontecendo algo que eu precise saber?” Ela tentou fisgar


algo.

“Não, senhora.”

“Por que ele mudou de planos?”

“Ele não mudou de planos, Sra. Düssel. Não se preocupe, como


ele disse, será uma viagem calma e agradável.” A conversa
começava a sair do controle do homem e ele parecia louco para
chegar logo à suíte master e deixá-la à própria sorte.

“Certo. Você sabe que eu mal conheço Wolf, não é?”

O homem ficou em silêncio por um momento, mas ao finalmente


chegarem à porta do quarto, Jason falou,

“Não é porque o relacionamento de vocês começou de uma


maneira tão diferente que esteja fadado ao fracasso. Wolf não
costuma dar chances às pessoas. E ele deu muitas chances aos
Lovitt. No mínimo, você deveria retribuir a gentileza… Sra. Düssel.
Imagino que seu casamento pode ser uma lua-de-mel eterna… ou
um breve pesadelo. Depende de você.”
Ele abriu a porta para ela, mas nem sequer olhou para dentro,
esperando que Zoe entrasse.

As palavras assustadoras daquele homem gelaram o coração de


Zoe, e ela ficou paralisada do lado de dentro da porta quando ele se
afastou do quarto a passos largos.

Zoe respirou fundo e olhou em volta. A linda suíte estava


decorada com flores frescas, havia pétalas de rosas espalhadas
pelo chão e sobre a cama, e até mesmo um balde de champanhe no
gelo.

Ela revirou os olhos.

‘Acho melhor ficar longe desse quarto o tempo que conseguir.’


Porém o pensamento a fez imaginar o exato oposto, em como seria
se… ela e seu marido fizessem amor naquela cama.

A mente de Zoe viajou para os lábios carnudos e sombra de


barba de Wolfgang tocando sua pele, seus corpos entrelaçados. Por
algum motivo aquilo agitou seu sangue, entre fascínio e repulsa.
Zoe praticamente apertou as coxas uma contra a outra para impedir-
se de continuar vendo em sua mente uma visão do futuro inevitável.

“Droga.”

Ela entrou no banheiro da cabine, que era tão luxuoso quanto o


resto. Havia uma espaçosa jacuzzi, cheia e com pétalas de rosas
flutuando. Todos aqueles preparativos para uma lua-de-mel a
fizeram rir em amargo desespero.

‘Parece até que somos apaixonados… Para quê tanto


romantismo, se ele sabe que me forçou a isso?’

Zoe enfiou a mão na água e puxou o tampão, vendo a água da


banheira e aquelas pétalas malditas sumirem pelo ralo com
satisfação perversa.
∞∞∞
No fim da tarde, foi impossível continuar evitando Wolfgang.
Após ter tomado um pouco de sol e relaxado no convés, Zoe tomou
uma ducha e voltou para o convés assim que seu marido entrou no
quarto para vê-la. Ele a deixou em paz ou preferiu se divertir com
seus homens, ela não sabia ao certo qual a opção.

Mas agora estavam ao lado do bar e ele havia acabado de


preparar dois mojitos. Ao aceitar o seu, Zoe ergueu o olhar para
observá-lo por trás dos óculos de sol.

‘Se ao menos beleza fosse sinal de caráter…’

Desde que o conheceu, sua beleza irritante e máscula a


perturbava.

Em sua mente ela zombava o leve bronzeado, no ponto certo


para que a pele ficasse apenas dourada, e o contraste com os olhos
cor de turquesa, o rosto de malares altos e definidos, nariz reto e
másculo, sobrancelhas perfeitas e marcantes _ enfim, o estereótipo
de beleza masculina ocidental. Não bastando isso, ele nitidamente
gastava algumas horas diárias na academia. Aliás, o Nayad tinha
uma academia no porão. ‘Quanto tempo ele deve gastar para ficar
assim? Tanto quanto eu? Onde ele arruma tempo para extorquir
pessoas e fazer negociatas escusas? Será que ele faz isso
enquanto se bronzeia? Será que ele manda matar pessoas
enquanto está fazendo supinos com seus asseclas?’

“Vamos brindar ao tempo em que teremos para nos conhecer,


Zoe. Quero muito conhecer você.” Wolf ergueu seu copo,
nitidamente aguardando sua próxima reação.

“Por quê? Por que você mudou os planos?”

“Ah, sério? Por que a gente ia passar nossa lua-de-mel em filas


para castelos e se acotovelando com turistas cafonas?” A resposta
sarcástica não foi o que ela esperava, mas ao menos demonstrou
que suas suposições sobre ele estavam corretas.

“Hm.”

“A gente pode ter tempo para nos conhecer melhor. Eu quero


estar com você,” ele pousou seu copo vazio no bar.

“Ok. Então vamos falar sobre a minha carreira, Wolf. Você


prometeu que poderíamos falar sobre isso na nossa lua-de-mel,”
Zoe foi petulante.

“Você realmente quer estragar o clima, certo? É não. E sem


'mas'. Eu não quero que você viaje por aí a negócios.”

“Você acha que isso é justo?!”

“É tão difícil de entender? Pense na logística para fazer isso


acontecer. E… como eu ia sentir sua falta.”

Wolf chegou perto de sua esposa, tirando os óculos de sol.

Os olhos da exata cor do mar das Bahamas a escanearam de


cima a baixo, e fizeram seu coração bater forte. Zoe se sentiu como
uma presa sob o olhar escaldante de seu marido, quando ele
pousou as mãos em seus ombros.

Zoe congelou, embora a sensação não tenha sido tão


desagradável quanto ela esperava.

‘Será que eu sou atraída por bad boys ou coisa assim? Tipo…
Ele é o cara mais atraente que eu já vi pessoalmente. Tenho que
admitir que ele tem essa aura de poder…, mas não é só isso…’

Wolf salpicou suas bochechas com beijos gentis, uma mão agora
brincando com uma mecha do cabelo dourado de Zoe.

Ela se recriminou ao perceber-se tentando sentir mais do cheiro


dele. Era estranhamente atrativo.
Os olhos dele ficaram escuros de desejo.

Além disso, Zoe não conseguiu lidar com a surpresa de gostar


das mãos fortes dele envolvendo seus ombros. Seus joelhos ficaram
moles quando, a seguir, ele envolveu seu rosto com as mãos, e a
língua dele percorreu seu lábio inferior.

‘Era para ser tão gostoso e dar essa sensação quente no peito?
Não! Não vou sofrer de Síndrome de Estocolmo! Não mesmo!’

Mas ele ainda não a beijou. A cabeça de Wolf se inclinou para o


pescoço de Zoe, os dentes dele arranhando levemente a pele
sensível do pescoço e colo.

Zoe engoliu em seco quando as mãos dele traçaram o contorno


de sua cintura, subindo até a lateral dos seus seios, roçando neles
levemente.

“Você quer que eu te beije?”

Essas meras carícias já foram o suficiente para fazer as coxas


de Zoe derreterem, mas ele desviou o olhar de repente.

“Puta que pariu!”

Zoe olhou na mesma direção e viu um iate ainda maior no


horizonte. Se o Nayad já tinha cerca de 30 metros de proa a popa, o
outro iate tinha o triplo do tamanho, certamente.

Os braços dele a soltaram e ele fez uma careta, chamando os


seus guarda-costas imediatamente. “Descubram o que o meu pai
está fazendo no mesmo oceano que eu.”

“Acabamos de ver, Wolf.”

‘Aquele porco! Aquele homem é ainda pior que Wolf! Se não


fosse nosso casamento, não duvido nada que esse iate estivesse
abarrotado de piranhas também!’ Zoe pensou. O pouco que sabia
sobre Walter e Wolfgang Düssel era oriundo de boatos da alta
sociedade que ela frequentava. Zoe Lovitt não frequentava os
mesmos círculos que pai e filho mafiosos costumavam frequentar,
porém os rumores sempre transpunham esses limites com anedotas
sórdidas e horrorizantes.

“Não acredito em coincidências. Ele não está somente curtindo


com suas ‘amigas’ e amigos por aqui,” o marido de Zoe resmungou
com o olhar frio, e sem falar nada, foi para a cabine de comando.

Zoe aproveitou o momento para desaparecer do cenário, usando


esta desculpa para se trancar no quarto. Mais tarde, soube que o
marido tinha ido até o outro iate sem ela.

Aquela era a lua-de-mel mais estranha de todas. Mas quanto


mais tarde, melhor. pensava Zoe. Ela não queria que Wolf sentisse
que era seu dono e o momento íntimo foi interrompido
providencialmente!

∞∞∞
No outro dia, o casal discutiu a carreira não-existente de Zoe de
novo. Wolf estava mal-humorado e irônico, e ela o evitou o resto do
dia.

Foi quando aconteceu.

Nuvens negras e vento forte surgiram quando Zoe estava


tomando banho de sol no convés superior, no começo. Ao que ela
imaginava, Wolf estava na academia do iate ou no inferno_ não
importava muito.

Ela voltou para o quarto, mas aconteceu algo estranho no


banheiro. Havia água suja voltando pelo ralo da banheira. As
pétalas malditas estavam voltando!
Zoe saiu para avisar a tripulação, sem saber o porquê estava tão
inquieta, mas ela se assustou ao ver que o mar estava bravio, e o
céu, completamente negro. Alguém da tripulação devia ter algum
remédio para enjoo, ela precisava encontrar um com urgência. O
barco balançou um pouco, e Zoe caiu de joelhos. Ao tentar se
levantar, Zoe se apoiou no parapeito e… Que idiota!

‘Não é minha culpa! Eu não quero morrer!’ O pensamento


escapou sem filtros, refletindo partes dela mesma naqueles
milésimos de segundos antes do impacto na água.

∞∞∞

Lamentando a sequência de incidentes que a fizeram cair no


mar, e temendo o futuro incerto, a mente de Zoe ficou indo e vindo
pensando sobre passado e futuro, até que caiu no sono de novo.

“Zoe… Ei, Zoe…”

O coração de Zoe acelerou ao ouvir a voz chamando seu nome,


ao seu lado na cama. Era o seu marido?

“Não!” ela abriu os olhos, assustada. Era só um sonho? Ela não


havia escapado do casamento?! Lágrimas vieram aos seus olhos.

“Ei, sou eu, Justin. Está tudo bem. Sou apenas eu, se lembra? O
cara que te tirou do mar…”

A face bela e amistosa transmitia também um pouco de


preocupação.

Ao contrário da noite anterior, quando achava estar se sentindo


bem, naquela manhã Zoe acordou com a garganta e o peito doendo,
assim como várias partes do corpo. Ela se sentia péssima e mal se
mexeu na cama.

Justin agachou-se na beirada da cama.

“Ei. Desculpa te perturbar, é que convenci um médico a te ver e


ele está aqui. E Morena trouxe umas roupas da loja dela para você.
O médico precisa te ver para sabermos o seu real estado de saúde.
Estou muito preocupado. Depois você pode voltar a descansar.
Você precisa de mais descanso.”

Zoe agarrou as mãos do seu salvador, em pânico. Eles


certamente iriam querer saber sua identidade!

Ela até mesmo pensou em fingir amnésia pelo menos até


conseguir descobrir onde estava e como desaparecer para sempre.

“Justin... Obrigada por me resgatar no mar ontem à noite. Eu te


devo minha vida. Eu só… não sei o que aconteceu comigo.”

“Não se preocupe. Nós daremos um jeito. Agora, eu vou pedir


para o Dr. Jules ver você e…”

“Eu não preciso de um médico, Justin.”

“Por quê?”

Zoe considerou as opções e pensou que ele era um homem


razoável. E isso de inventar uma amnésia… Depois de um resgate
daqueles?! Era melodramático demais. Talvez Justin até insistisse
mais em levá-la às autoridades e ao hospital.

Talvez ela pudesse contar-lhe porque não poderia ver um


médico. Ela não poderia contar para ele toda a verdade, mas pelo
menos o bastante para contar com a colaboração dele, enquanto
estivesse em sua casa.

“Escuta, Justin. Eu não quero ficar muito tempo na sua casa.


Então, não se preocupe em me arranjar um médico.”
Ele ergueu uma sobrancelha, e esperou que ela explicasse o
motivo.

“Estou fugindo. Eu partirei em algumas horas, então quanto


menos você souber de mim, melhor. Eu não quero que você se
meta em problemas por minha causa.”

“Hm. Entendi. Eu não quero estragar seus planos, mas eu não


vou deixar você ir a lugar algum. Não enquanto o médico não te
examinar.”

“Você… por que você faria isso? Não está acreditando em mim?”
Aquilo era no mínimo inusitado.

“Eu não quero estragar minha reputação de salva-vidas porque


você ficou doente após ser salva por mim. E, tudo bem.” Ele sorriu e
cruzou os braços, dando o assunto por encerrado. Mas Zoe tinha
que insistir.

“Eu não posso te expor aos meus problemas. Escute, eu…”

“Estou grato que você tenha me contado suas razões. Quanto


menos eu souber, melhor, não é? Posso conviver com isso.” Justin a
interrompeu.

“Eu estou toda ralada, eu sei, mas não é o fim do mundo e… eu


odeio agulhas.”

“Ok. Eu entendo. Eu também odeio agulhas. Mas o Dr. Jules é


nosso médico aposentado local, e eu insisti para ele vir te ver.”
Justin deu um sorriso de olhos brilhantes e juntou as mãos em um
pedido dramático. “Será que ele poderia te examinar? Por mim?
Como um favor?”

O sorriso dele desarmou Zoe.

“Ok. Se ele é um médico aposentado, suponho que ele é da


velha guarda o bastante para entender.”
“Sem dúvida. E ele é casado com a nossa curandeira local,
também. Na verdade, é um combo!”

“Então eu vou ver o doutor se ele prometer ser discreto.” A


reação de seu salvador não faz sentido para Zoe, mas ela não o
questionou agora. Ela tinha a ajuda dele por enquanto.

“Ele vai. Eu garanto.”

∞∞∞
Depois que o Dr. Jules a examinou minuciosamente e
prescreveu uma montanha de remédios para dor e possíveis
infecções, Zoe dormiu novamente. Dessa vez, o sono foi pesado e
sem interrupções, enquanto seu corpo se recuperava.

Zoe acordou com fome e sentindo-se suada. Mas ao menos sua


cabeça não doía nem se sentia febril.

Ela reparou ao redor e localizou as roupas que Justin havia


mencionado sob um banco. Mas primeiro, ela precisava de um novo
banho. Isso foi fácil de resolver, mas nem mesmo o banho
conseguiu clarear sua mente. Ela não sabia o que fazer a seguir.

Zoe encontrou escova de dentes, de cabelo, lingerie e uma


muda de roupa leve, com um par de tênis que serviram
perfeitamente. ‘Pelo jeito, Justin entende muito de mulheres. Será
que ele é casado? Ou só um Don Juan?’ O questionamento pareceu
muito errado de repente.

Ela se sentou na cama novamente para calçar o tênis. Um


retrato chamou sua atenção.

“O QUÊ?!”
Ela estendeu a mão e agarrou o porta-retratos na cômoda perto
da cama, em choque.

Em suas mãos, o retrato feliz de dois homens. Eles estavam


abraçados e rindo como velhos amigos, com uma praia ao fundo.

“É Justin… E WOLF!”
Capítulo 2
Indiscutivelmente, aquele era Wolfgang Düssel, ao lado de Justin.
Eles eram mais jovens na foto, ambos usavam roupas de mergulho
e óculos de sol, e pareciam descontraídos e próximos.

‘Qual é a relação entre eles? Será mesmo o Wolf nessa foto?’


Zoe não sabia o que concluir. Mas as mãos dela tremiam enquanto
seus olhos mantinham-se fixos nos dois homens na foto.

“Ei, Zoe, aconteceu algo?”

Zoe mal escutou quando Justin entrou no quarto espaçoso e a


encontrou com o porta-retratos nas mãos. Ela tentou soar o mais
natural que podia.

“Ah, eu estava olhando essa foto que estava em cima do móvel.


Esse é o seu quarto?”

Os olhos dele correram para o retrato nas mãos de sua hóspede,


e ele sorriu.

“Ah, sim. Essa casa tem só três quartos, mas o quarto de


hóspedes é onde eu... ah. Coloco coisas.”

“Mas… Onde você dormiu na noite passada?!” A revelação de


que ela desalojara o dono da casa a deixou envergonhada.

“Numa rede. Não se preocupe. O seu conforto era o mais


importante,” ele deu um sorriso estonteante, e Zoe, agora em plena
posse de suas faculdades mentais, ficou fascinada.

Justin era um homem alto e de ombros largos, quadris estreitos


e que exalava autoconfiança. Seus cabelos castanhos claros eram
desbotados nas pontas pelo sol, assim como a barba nitidamente
macia. Ele usava uma camiseta de malha e uma calça de moletom
larga com um mero par de chinelos comuns, mas aquilo apenas
parecia perfeito nele. O tecido mole caía sobre seu corpo definido
sugerindo seus músculos e porte atlético. Seus braços tinham
tatuagens, mas ela não focou nisso agora. Justin era um deus grego
em carne e osso. E que até a havia chamado de Vênus!

“Você parece tão feliz nessa foto…” Zoe decidiu tentar fisgar
informações discretamente, e ele casualmente olhou de novo para a
foto.

“Eu acho que sou um cara de boas, como dizem por aí.”

“E esse seu amigo?”

“Hm. Um amigo.”

A resposta fria dele não abriu espaço para mais perguntas, e


insistir seria descortês. Mas isso não parecia natural vindo dele. ‘Por
que ele ficou tão desconfortável com a minha pergunta?’

Zoe decidiu não demonstrar mais interesse pela foto, e


agradeceu a ele pelo empréstimo e pela ajuda. Ela alcançou a
camiseta que lhe serviu de pijama até ali.

“Legal. Obrigada por emprestar a camiseta. Acredito que acabei


invadindo sua vida e sua cama!”

“Não vejo porque você não poderia ficar mais tempo na minha
cama… Gosto da ideia, na verdade,” Justin respondeu prontamente.

“O homem que me salvou gosta de um xaveco, hein?!”

"Não! Eu só estou te convidando para você ficar o tanto que


quiser… na minha cama. Opa, isso soou esquisito, né?” Dessa vez
o sorriso falsamente inocente deixava claro o flerte implícito.

Zoe jogou a camiseta nele, que Justin agarrou facilmente no ar,


com olhos brilhantes e divertidos.
“Seu... malandro! Parece que… Você está brincando com a
minha cara.”

“Eu só tento tornar o clima mais leve. Tem muita coisa ruim no
mundo e eu só sigo meus instintos.”

As palavras francas dele a surpreenderam, mas ele rapidamente


pôs outro de seus sorrisos joviais no rosto. Ele era tão bonito e
sensual que Zoe flagrou-se querendo beijar aquelas covinhas e a
barba macia.

Mas ela mal o conhecia. Mesmo assim, Zoe se sentia muito


confortável perto dele, e ela não pretendia estragar isso. Mas isso
não a impediu de perguntar, com um sorriso,

“O que o seu instinto diz agora?”

“E ele diz que você está cansada e assustada. E com muita


fome! Vamos comer! Depois, eu queria te mostrar a casa e te
apresentar para o meu colega Marlo, se estiver tudo bem pra você.”

O estômago de Zoe roncou a mera sugestão de comida. Ela


cobriu a barriga barulhenta com as mãos, embaraçada e chocada.

“Vê? Parece que entendo as necessidades do seu corpo melhor


que você mesma…” Justin ergueu uma sobrancelha.

As palavras sugestivas dele a pegaram de surpresa e Justin


pegou suas mãos nas mãos quentes e ásperas dele. “Minha boca
grande fica te provocando sem querer! Eu não consigo evitar!”

Zoe fingiu ultraje, entrando no clima provocativo de seu anfitrião.

“Só estou vendo que a boca fala o que o coração sente! E isso
me dá os mesmos direitos, Sr. Justin.”

Ele deu um sorriso radiante para a resposta inteligente de Zoe, e


mostrou o caminho, indo logo atrás dela.
O interior da casa em estilo celeiro era toda em plano aberto,
com mobília moderna e prática, mas Zoe captou o toque de um
arquiteto em tudo.

Era um lugar que a deixava à vontade, e Zoe perguntou-se como


seria morar ali. Será que ela deveria testar a sorte e tentar?

Quando chegaram à cozinha, ela exclamou, “Você tem uma


cozinha bem espaçosa, Justin!”

“É, eu gosto de receber amigos com frequência. Mas não sou um


grande cozinheiro, pra ser sincero.”

“Você parece o tipo que… Gosta de granola e whey,” Zoe


arriscou um palpite.

“É mesmo? E o que isso diz sobre mim?”

“Hm, eu acho que você é um cara que gosta de esportes, uma


vida saudável, e de malhar. E de planejar o futuro e se preparar para
isso.”

“Algo mais?” Novamente a expressão provocativa tomou conta


daquele rosto másculo e belo.

“Sim, acho que você faz o possível para se manter no lado leve
das coisas.” Era mais ou menos como juntar frases prontas de uma
revista juvenil, mas Zoe só se flagrou disso tarde demais.

“Você está um pouco certa sobre mim, mas não sobre minhas
comidas preferidas. Posso tentar adivinhar as suas?”

Zoe só percebeu que não tinha se atentado ao fato de que


deveria estar evitando ao máximo falar coisas pessoais quando
pensou na resposta. Mas suspeitava que se tentasse se esquivar
dessa conversa descontraída poderia levantar suspeitas.

“Acho que é apenas o justo,” ela respondeu simplesmente,


torcendo para parecer desinteressante com suas respostas.
“Hm, deixe-me ver… Me diga sua sobremesa favorita.”

Zoe prendeu a respiração ao perceber que a pergunta tinha um


significado oculto. Mas decidiu ser sincera.

“Brownie com Sorvete.”

Justin franziu as sobrancelhas por um segundo, então olhou


através dos cílios para ela. Zoe prendeu a respiração diante do olhar
de lobo mau dele.

“Sua escolha indica uma mulher de gostos conflituosos. Você


gosta do intenso, rico, e forte sabor do chocolate…, mas prefere
quando está misturado com um sabor refrescante, doce e
reconfortante”

“Acho que sim. Isso é um problema?”

“Eles dizem que essa escolha tem a ver com as preferências de


uma pessoa na cama. Você parece esperar uma experiência
completa, física e emocional. Você quer experiências fortes, mas
também quer se sentir segura… totalmente vale a pena tentar isso,
não?”

O olhar de Zoe percorreu involuntariamente os músculos dos


braços bronzeados dele, e a garganta ficou seca de repente.

“Uau. O que posso dizer sobre isso?” Ela tentou não corar
enquanto falava isso. Na verdade, as suposições dele eram bem
próximas da verdade. Inexperiência à parte, Zoe tinha FANTASIAS.
Com letras maiúsculas.

Ele sorriu provocativamente enquanto refletia sobre a resposta


displicente de Zoe. “Só o que quiser. Ou tudo o que quiser, hahaha.”

“Quando a conversa se tornou sobre minha vida sexual?”

“É, eu também me pergunto.” Ele piscou para Zoe com um


diabólico sorriso combinando.
‘Acho melhor mudar completamente esse assunto, ou não vou
dar conta do recado… Acho que devo me oferecer para fazer algo
em retribuição.’ Zoe concluiu. “Posso me oferecer para cozinhar
para nós? Ou pelo menos te ajudar a cozinhar?”

Ele olhou dentro dos seus olhos, um olhar intenso que a fez ficar
sem fôlego por alguma razão.

“É algo que podemos tentar, pra começar.”

“Ótimo. Não quero me sentir um fardo depois de tudo o que você


tem feito por mim.”

“Mas não há motivos para você se sentir um fardo. Você é minha


convidada. E eu te ajudo. Porque estava mesmo preocupado em
forçar você a comer minha comida.”

Ela riu.

“Ótimo! Ter um ajudante vai me fazer sentir como uma


verdadeira chef! Tenho que descobrir mais tarde se você só está
bancando o humilde sobre suas habilidades na cozinha.”

“Se quiser, eu cozinho para você, mas não será a melhor


experiência que posso te proporcionar.”

Zoe resolveu se fazer de desentendida caso aquilo fosse uma


cantada. Pois parecia ser.

Depois de checar a geladeira e a despensa, eles decidiram


juntos por um Quiche Lorraine, café e Salada Caesar. E Justin não
se importou de ser mandado picar os vegetais enquanto Zoe
dominava a cozinha como se fosse dela. Ela adorava cozinhar, na
verdade.

Enquanto se ocupavam, ela decidiu usar o tempo cozinhando


para descobrir mais sobre ele.
“Onde estamos, afinal?” Zoe fez a pergunta casualmente,
desejando saber quão longe da rota do iate tinha se desviado. Ela
esperava que bastante.

“Você está na Isleta de Naviedo. É bem pequena, mesmo. A vila


não tem mais de cem habitantes, na verdade,” Justin respondeu
sem rodeios.

“Nossa, é bem pequena.”

“Aqui costumava ser um porto de piratas e depois, um forte.


Agora é uma atração turística, embora não muito importante.”

“E por que você escolheu esse lugar para viver?”

“Por causa do meu trabalho.”

“Lembrei que você falou que tem um colega que mora com
você.”

“Sim. Marlo. É meu chapa e meu sócio também. Eu achei que ia


te apresentar ele logo, mas não sei onde ele está agora.”

“Sócio? Qual a sua linha de trabalho aqui?”

Não dava para adivinhar só de olhar para ele. Seu corpo atlético
e bronzeado gritava atividade ao ar livre, naturalmente. Justin vivia
na praia, mas na opinião de Zoe ele não tinha a vibe de surfista, por
exemplo. Aquilo era um grande ponto de interrogação, na verdade.

“Ah. Eu e Marlo temos uma sociedade. Somos mergulhadores.


Localizamos navios afundados e cargas perdidas no mar.”

Zoe ficou boquiaberta.

“O quê?! Então você é um caçador de tesouros?”

“Você pode chamar assim, se quiser.”


“Você já achou algum navio afundado com carga valiosa de
verdade?”

“Mais que um, na verdade.” Justin não conseguiu ocultar o


orgulho. “Mas nada se compara com encontrar Vênus nas águas do
mar.”

Os olhos de ambos se encontraram por um momento, e isso


provocou uma sensação quente e excitante. Mas Zoe decidiu
desviar o olhar. Ela sentia a eletricidade fluir entre eles.

Ela se pôs na ponta dos pés para alcançar um prato no armário


de cima, mas sua mente se distraiu com aquelas costas em V. Zoe o
espiou de novo, sobre o ombro. ‘Não posso negar que ele me
atrai… Que perfeição, Senhor.’

Naquele momento, Zoe perdeu o equilíbrio quando tocou o prato,


arrastando mais deles por acidente. Eles desabaram do armário
suspenso.

Foi tudo muito rápido, mas Zoe foi salva. As mãos de Justin
envolveram a cintura de Zoe enquanto ele a arrastou para si, e ela
se chocou contra o peito duro dele com impacto.

Os pratos se espatifaram contra o balcão. Justin a puxou para


longe dos cacos, a prendendo em seus braços.

“Ai! Me desculpa! Eu destruí a sua cozinha!” Zoe exclamou


irrefletidamente, sentindo-se culpada e envergonhada.

Ela disse isso com a cara enfiada no peito dele, sua voz saiu
abafada pela blusa dele. Justin esfregou suas costas
carinhosamente, e sussurrou,

“Nem liga. É só louça. Você se machucou?”

“Não…”
A sensação repentina de segurança nos braços daquele homem
desconhecido liberou sentimentos presos em seu coração. O peso
dos últimos dias e o terror que ela viveu ressurgiu com esse
pequeno incidente.

As lágrimas encheram os olhos de Zoe e correram por seu rosto.


Ela sabia ser uma reação exagerada ao incidente com os pratos,
apenas não conseguia segurar mais esse choro represado em seu
peito. Soluços escaparam de sua garganta, seu corpo inteiro
tremendo.

Justin liberou uma mão apenas o tempo suficiente para desligar


o fogão, então a consolou, a embalando em seus braços.

Zoe sentiu beijos ternos no topo da sua cabeça enquanto ele


murmurava.

“Já acabou. Você está segura agora. Não se preocupe, você


está segura aqui, Zoe.”

Ela ergueu os olhos para Justin, suas mãos agarrando o tecido


da camiseta dele agora. Os olhos dele estavam escuros e cheios de
preocupação.

Para surpresa de Zoe, ele sorriu e esfregou o nariz dele contra o


dela

“É o que minha mãe fazia quando eu estava chorando,” ele


explicou. “Nós mal nos conhecemos, mas estamos unidos para
sempre, Zoe.”

Ela fungou em resposta, mas suas mãos apertaram ainda mais a


malha da camiseta de Justin.

“Pertencemos um à história do outro, agora,” ele assegurou, e


confessou a seguir, “Foi como um pesadelo. Fiquei com medo de
deixar você escapar de mim, e te perder no mar de novo.”
Ela estremeceu ao pensar nisso, e ele a apertou ainda mais
forte.

“Mas nós conseguimos. Então não se preocupe mais. Você pode


contar comigo. Sempre.”

Zoe nunca se sentiu assim antes, e seu corpo parecia reagir do


mesmo jeito que sua alma. ‘Meu Deus, eu podia ficar assim para
sempre…’

Ela decidiu se entregar a esse momento de intimidade com um


completo estranho que calhava ser o seu salvador. Zoe apoiou sua
cabeça no peito dele mais uma vez, passando os braços pela
cintura dele. Justin a envolveu como se tivesse asas para protegê-la
mais uma vez.

A mão dele vagava pelo cabelo de Zoe distraidamente enquanto


ela ouvia o coração no peito dele batendo forte.

‘Parece quase um sonho… Não é como se eu pudesse me


apaixonar logo agora. Eu estou fugindo.’

Então, Zoe se afastou um pouco do peito dele e Justin a deixou


ir com uma expressão sofrida no rosto.

Zoe viu uma mancha molhada na camiseta dele onde ela tinha
chorado, e ficou vermelha de vergonha.

“Obrigada, Justin. Eu precisava de um ombro nesse momento,


mas acredito que estou sendo inconveniente e carente.”

Ele não respondeu, porém. O olhar dele se desviou para a


escada que vinha da porta lateral da casa. A porta se abriu.

“Tem algo queimando, Justin?”

A familiaridade com que o homem entrou na cozinha não deixou


dúvidas sobre quem ele era: o colega de Justin, Marlo.
O homem era como uma parede de músculos, com o cabelo
bem curtinho e um bronzeado profundo. Os olhos escuros dele
avaliavam Zoe, mas o rosto dele não demonstrava nada.

Zoe puxou suas mãos das de Justin, mas ele segurou seu pulso
para a impedir de se afastar. Justin explicou calmamente,
“Provavelmente, cara. Zoe, esse é Marlo, meu sócio.”

“Você descobriu o nome dela? Já sabe o que aconteceu?”

“Ela murmurou ontem em algum momento. Mas pra ser justo é


tudo o que eu sei. Ela passou por muita coisa.”

“Estou muito grato que ele tenha me salvado,” Zoe sorriu


embaraçada.

“Estou feliz que o Justin esteja vivo, Zoe. Um resgate como o


que ele fez… Ele podia ter morrido também,” Marlo comentou.

“Como foi? Eu não lembro de nada, apenas de acordar na praia,


muito nervosa e cuspindo água.”

“Ele estava sozinho no barco. Se ele não conseguisse voltar


para o barco com você_ e ele quase não conseguiu_ ambos
estariam mortos.”

“Não precisa…” Justin tentou impedir seu sócio de continuar


falando, mas o grandão o ignorou.

“Já fizemos muitas loucuras, mas essa foi uma das maiores,
cara! Você mesmo me disse que pensou que vocês dois quase
perderam a vida lá.” havia um tom de admiração, mas também
reprimenda, nas palavras do sócio de Justin.

“Eu não podia imaginar!” Zoe olhou para Justin de olhos


arregalados, pela primeira vez imaginando como deve ter sido
perigoso e difícil resgatá-la. Por mais que ele fosse um mergulhador
experiente. Sua mente vagou brevemente para o bote onde Wolf
tentou resgatá-la sem sucesso, e ela sentiu-se um pouco culpada. E
ainda mais grata a Justin por ter escolhido fazer isso mesmo
arriscando a própria vida.

“Mas que bom que deu certo… Você está aqui, sã e salva,” ele
estava embaraçado agora.

“Como você foi parar em alto mar, Zoe?” Marlo lançou a


pergunta sem rodeios.

Ele estava fazendo perguntas muito diretas. Como ela deveria


responder? Zoe escolheu o caminho das evasivas, sem muitas
escolhas no momento, e torcendo para que ele a deixasse em paz.

“Seria bom se eu lembrasse, Marlo.”

“Eh… Que estranho. Qual é a última coisa que você se lembra,


então?”

O coração de Zoe se apertou dentro do peito, enquanto Marlo


continuou a pressioná-la.

“Você estava em um barco, correto? Qual era o nome do barco?”

“Eu não prestei atenção, era…”

“Haha, como assim?! Jesus! Então você entra em um barco e


nem se importa em saber o nome? Você é garota de programa?”

“Pára, Marlo,” Justin falou friamente, lançando um olhar sombrio


para seu sócio.

“Qual é, cara, eu não ligo se ela é, mas precisamos saber quem


ela é. Ela não tem motivo pra esconder nada… A não ser que ela
tenha alguma intenção oculta.”

“Eu não tenho nenhuma intenção oculta!” Zoe protestou.

“Então, nos conte algo. Qualquer coisa.”


Marlo não estava engolindo e agora Zoe estava encrencada.
Mas ela não podia retroceder, podia? E se chamassem a polícia?

“Minha mente não está muito clara…”

Marlo cruzou os braços quando Zoe evitou dar mais


informações.

“Então, você precisa de um médico. Vamos te levar para o


continente e encontrar seu lar e seus parentes. A polícia pode
ajudar.”

“Não se preocupe, Zoe. Marlo é um cara pragmático. Ele só quer


o seu bem,” Justin tentou intermediar, mas Marlo recusou-se a
parar.

“O bem de todo mundo, na verdade. Desculpa se fui grosso, mas


alguém deve estar procurando por você nesse momento. Seus pais,
ou namorado, um irmão ou irmã amorosos; seus amigos. Mesmo
que você não se lembre, eles se lembram de você.” O grandalhão
abriu os braços como se trouxesse a melhor solução para ela.
“Assim que o seu rosto aparecer na Internet, você vai se reencontrar
com seus entes queridos. É isso que você quer, não?”

Justin tocou seu ombro, tentando acalmá-la, mas enviando um


recado sutil para seu sócio.

“Você pode ficar o tempo que quiser, Zoe. Estamos


preocupados, mas sabemos que sua cabeça está bem confusa.”

Marlo suspirou. “Esse cara salvou a sua vida. Não traga


problemas para ele. Se você não confia na gente, por que temos
que confiar em você?”

“Chega, Marlo. Zoe precisa de apoio. Agradeço sua


preocupação, cara, mas se Zoe precisar de tempo, ela terá.” Justin
finalizou o assunto, de cara amarrada agora.
“Você já deveria saber no que isso vai dar…”

Os dois homens trocaram olhares frios, e por fim Marlo deu de


ombros.

“Bom, façam o que quiserem, pessoal. Mas isso é pra lá de


estranho, só estou comentando…” Marlo pegou um fardo de cerveja
na geladeira e saiu, pisando duro.

Um clima pesado preencheu a cozinha depois dessa curta,


porém intensa conversa. Justin respirou fundo.

“Não liga pra ele. Ele sempre está pensando que vamos nos
meter em problemas por uma coisa ou outra. Não é nada pessoal.”

“Ele falou coisas certas…”

“Marlo está sendo meio exagerado. Eu falo com ele mais tarde.
Você vai gostar dele, te prometo.”

Mas as palavras do sócio de Justin reconectaram Zoe com a


realidade de novo. Ela não podia ficar muito.

‘Não vai demorar para descobrirem minha identidade, e logo


Wolf vai me encontrar de novo. Eu não quero o Justin no radar da
máfia, se isso acontecer.’

Respirando fundo, Zoe falou da maneira mais decidida que


conseguiu.

“Eu não quero causar uma briga entre sócios e por isso eu vou
embora o quanto antes.”

“Zoe. Ele não quis dizer isso,” o tom de Justin era conciliador e
preocupado.

“Eu não sei o que Marlo quis dizer, mas estou dizendo o que
preciso fazer. Odeio depender de você, Justin. Você salvou minha
vida, e isso é algo que eu nunca poderei pagar. Eu não posso ficar e
causar discórdia entre você e o seu amigo. Se você me levar até o
continente, eu me viro por lá.”

Justin coçou a cabeça com uma careta.

“Entendo sua lógica, mas não funciona assim, Zoe. Você está
vulnerável neste momento. Você não tem documentos, nem um
lugar para ficar… Eu entendo que você está em perigo, e não posso
virar as costas para isso.”

A resposta teimosa e assertiva de Justin exasperou Zoe, mas ela


não podia desistir assim tão fácil.

“Mas eu me viro. Desculpa, Justin, mas isso sou eu quem


decide. Eu não vou deixar mais ninguém fazer escolhas por mim de
novo. Vou embora amanhã.”

A determinação de Zoe abalou a dele quando Justin percebeu o


que estava em jogo para ela.

“Ok, teimosinha. Eu não queria te forçar a nada, Zoe. Eu só


estou preocupado. Mas se você quer assim, tudo bem. Pelo menos
me deixa te ajudar. Vamos achar um lugar pra você ficar no
continente.”

“Eu não julgo que…”

“Ao menos você terá um amigo por perto. Mesmo que eu passe
muito tempo no mar.”

“Eu aceito sua ajuda, mas… Eu te pago em breve.” Zoe sabia


que esse poderia ser um bom começo, mas também sabia que não
poderia ficar perto dele por muito tempo. Não só isso o colocaria em
perigo, mas Justin também mexia em algo dentro dela. E Zoe sabia
muito bem o que era.

Ambos tinham uma química incrível… e ela estava ferrada.


Ela se sentia segura perto dele. E para ser honesta, se sentia
segura sabendo ter um conhecido por perto. Era duro se sentir
sozinha no mundo.

∞∞∞
Antes de o sol se pôr, ele a levou para um passeio pela Vila de
Naviedo, a Praia da Ferradura e o Velho Forte, os únicos pontos
turísticos da ilha.

A vila em si contava com algumas lojas e restaurantes, mas tudo


era muito charmoso e bem cuidado. E não dava para ignorar como
ele acenava de volta para todo mundo e sabia o nome de todos com
quem se encontravam.

Zoe apreciou como os locais eram calorosos e a vila era


minúscula e pitoresca, parecendo mesmo um cartão-postal.

“Naviedo é linda! Então a ilha vive de turismo?”

“De certo modo. A temporada de verão é o ponto alto da


economia local, mas não seria o suficiente, eu creio. A pesca
também é importante. A ilha recebe um pequeno número de turistas.
Mal dá para se manter o ano todo. Mas é melhor assim.”

“Você parece ser um cara popular aqui…”

“É uma comunidade muito pequena e bem unida, Zoe. Todo


mundo depende um do outro.”

“Deve ser uma experiência e tanto morar aqui.”

Ele assentiu, e apontou para a colina de onde tinham vindo.

“Está vendo aquela torre no topo da colina, pra cima da minha


casa? É a torre de rádio. Não temos sinal de celular aqui.”
“Sem celular?”

“Vivemos uma vida simples aqui. E todo mundo se ajuda como


pode.”

Zoe concordou com a cabeça, enquanto algo lá no fundo parecia


dizer que havia algo que não estava certo nisso.

Justin apontou para uma rua de pedras com lojinhas de fachadas


coloridas.

“Vou te levar na loja da Morena antes que ela feche. Você pode
pegar tudo o que você precisa. É por minha conta. Enquanto você
faz isso, eu vou dar uma olhada em outras coisas. Aproveite seu
tempo com a Morena. Ela é tão simpática e espontânea que é difícil
não gostar dela.”

Zoe ficou boquiaberta, e tentou protestar.

“Não é como se você estivesse me deixando escolhas!”

“Eu só suponho que você não conseguirá viver só com uma


muda de roupa…” Ele riu.

“Você está certo…” Zoe capitulou.

Morena os recebeu na porta de sua pequena boutique ao estilo


boho. A mulher negra de curvas voluptuosas e sorriso fácil tinha
cabelos trançados longos em um penteado exótico e usava roupas
com estampas étnicas que atraíram Zoe imediatamente.

“Oi, gatão! E bonitona! Então essa é a sua amiga, querido? Ela é


tão linda! Esse homem está te tratando bem, garota?”

“Estou fazendo o meu melhor, Morena. Essa é Zoe. Morena e Dr.


Jules são os únicos além do Marlo que sabem como você chegou
aqui,” Justin falou.
“E se depender de mim, vai continuar desse jeito, querida,”
Morena não respondeu a Justin, mas a Zoe. “Tem certeza de que
você está bem? Minha mãe é a curandeira local, querida. Se meu
padrasto não resolveu seus problemas, minha mãe certamente o
fará!”

“Oi. Por enquanto não é necessário, mas lembrarei disso,


Morena! Obrigada! Justin falou tantas coisas boas de você.
Obrigada por me enviar algumas roupas mais cedo!”

“Justin pensou em tudo. Ele é um cavalheiro, na verdade. Não


tem como não gostar desse homem!”

Justin deu um sorriso embaraçado enquanto falavam dele em


sua presença, mas então ele disse o que Zoe vinha fazer e que ia
deixá-las.

“Ah, já ia esquecendo. Você não pode deixar a ilha sem


experimentar os pratos do Joaquin's. Então supus que você ia
querer jantar lá comigo esta noite.”

Ele não esperou por sua resposta, no entanto.

Morena, porém, chamou a atenção de Zoe para si, depois que as


duas passaram um momento admirando a silhueta de Justin se
afastando pela rua de pedras.

“Muito bem, minha querida, estou feliz que você esteja bem! Ele
estava tão preocupado! Mas, vamos te vestir, então.”

No provador, ela teve uma visão melhor de seu corpo com


alguns hematomas e cortes. Sua pele parecia ressecada e sem
brilho. Zoe raramente se permitia ver sem maquiagem, mais por
hábito do que por necessidade, e não estava se sentindo bonita.
Seus cabelos loiros e de ondas largas estavam emaranhados e com
frizz, sua pele, nua e irritada pelo excesso de sal.
Mas aquela mulher que mal a conhecia pareceu entender isso e
a consolou.

“Você é maravilhosa. Não está se sentindo bem porque passou


por uma experiência aterrorizante. Vamos hidratar essa pele e
colocar uma máscara nesses cílios lindos. Tão clarinhos! Tenho uma
seleção pequena de produtos de beleza aqui, mas são de ótima
qualidade, viu?”

Morena a ajudou e até mesmo esfregou hidratante em suas


costas e pernas com movimentos vigorosos, com a permissão de
Zoe. Isso a tirou de seu estado de autopiedade e a fez se sentir
muito melhor de repente. Fosse porque seu sangue circulou mais
rápido, ou porque se sentiu muito acolhida por aquela mulher
encantadora.

Zoe experimentou montanhas de roupas porque Morena


continuava trazendo mais e mais. Ela escolheu algumas, afinal.

Morena bateu palmas para a seleção final. “Ah, você tem um


olho ótimo para roupa, garota. Seu gosto é impecável. Você
escolheu o melhor da minha loja!”

“Espero que isso não seja um problema! Notei que você tem
muitas marcas famosas na sua loja, Morena.”

“Eu tenho orgulho disso. Meus clientes são exigentes. Essa ilha
é muito exclusiva. Justin garante que continue assim.”

“O que o Justin tem a ver com isso?” Zoe demorou para


entender.
“Essa ilha é dele, querida. Ilha particular. Ele poderia
simplesmente nos expulsar e fechar tudo, mas não. Ele deixa a
gente viver aqui. E os turistas que vêm aqui pagam uma taxa que
ele usa para manter a ilha e a vila. Por isso meus clientes são VIPs.”
“Mas a ilha nem sequer tem um hotel!” Ela ainda estava
processando o fato de a ilha ser de Justin. Então ele era um
milionário? Um mergulhador milionário?!
“Exato! Os turistas chegam de manhã, passeiam, aproveitam, e
vão embora ao pôr-do-sol, salvo algumas datas especiais!” Morena
explicou.
Zoe imaginava o que mais poderia saber sobre Justin e essa ilha
se quisesse. Mas seus instintos lhe diziam haver algo estranho
sobre Naviedo e seu dono.
“Ah, escolha mais um vestido. Esse é um presente meu. Use
esta noite. Uhum…” O tom malicioso e a piscadela brincalhona de
Morena fez Zoe ficar vermelha como um pimentão e se apressar
para esclarecer.
“Não é nada especial. Não é um encontro, eu juro!”
“Hm, isso é com você, garota. Mas me diz seu segredo pra
resistir àquele homem! Ele é um deus, pelos anjos do céu! Não
deixe aquele sorriso de menino te iludir! Digo só de olhar, amiga:
aquele homem é lava pura!”
‘Meu segredo é… Não querer me envolver com homem
nenhum… até ter certeza de que Wolf não virá atrás de mim.’ Zoe
pensou com tristeza. Mas disfarçou e aceitou o presente de sua
nova amiga.

∞∞∞
“Obrigada pelo jantar maravilhoso, Justin!”

O casal teve um delicioso jantar tropical num pequeno e


pitoresco restaurante à beira-mar, e agora estava voltando para
casa, caminhando sem pressa pela orla. Havia um pouco de vento
vindo do mar, mas Justin havia emprestado a jaqueta jeans dele
para Zoe.

“Falei com Marlo mais cedo. Ele não liga se você ficar. Ele até
disse que vai pedir desculpas por sua reação inicial.”

“Fico feliz em saber disso, mas isso não muda minha decisão.”
Zoe achou que tinha que soar assertiva sobre isso.
“Eu acredito que eu poderia ajudar mais se você confiasse em
mim e contasse o seu problema. Eu não vou te julgar.”

“Então, você também acredita que sou uma garota de programa,


como o Marlo insinuou?” Esse pensamento não tinha passado por
sua cabeça até agora, mas o jeito como Justin falava em não julgar
seu passado parecia demonstrar ser exatamente o que ele estava
pensando.

“Eu não teria problema algum se você fosse. Muitos milionários


vêm e vão por essas águas… normalmente em seus iates caros, e
suas belas companhias. Por isso Marlo deduziu assim.” Justin deu
de ombros. “E se você não é… É o mesmo, pra mim, na realidade.”

Zoe não soube o que falar como resposta.

“O que sei é que você teme algo, e não quer voltar para sua
antiga vida. Seja porque você caiu de um barco, ou porque tentou
escapar de uma situação difícil de alguma maneira… Eu posso
entender isso.”

Zoe ainda estava estupefata e um pouco desconfiada que Justin


realmente não se importasse com o passado de uma mulher. Mas
se ela quisesse justificar sua presença no mar, aparentemente
assumir o fato de ser uma garota de programa que caiu do iate de
um milionário, e que não seria procurada, parecia uma boa história.
‘Terrível, mas bem plausível…’

“Eu achei que você não entenderia,” ela falou, respirando fundo.

“Mas posso me esforçar para isso.”

“Eu daria tudo para não estar naquele iate… É mais complicado
ainda. Mas eu não quero mais falar sobre isso. Eu quero enterrar o
meu passado e começar de novo.”

Nada daquilo era mentira, afinal. Mas pensar no seu passado


também era pensar em Wolf. E ele e Justin se conheciam. Havia
mesmo a possibilidade que ela pudesse ficar por ali?

Zoe sabia que precisava saber o quão próximos eles eram. Ela
não podia arriscar ficar por perto se Justin pudesse simplesmente
avisar o Wolf sobre ela.

“Sobre aquele cara no retrato… Eu realmente não sei o que


pensar.”

“Esse é o seu jeito de me perguntar se sou gay?” ele parecia


divertido com a suposição.

Ela balançou a cabeça veementemente. Ela conhecia muitos


gays e Wolfgang e Justin não eram gays, com certeza.

“Eu só fiquei imaginando quem ele seria… Ele significa algo para
você. Você tem uma foto dele, no seu quarto de dormir.”

“Sim. O nome dele é Wolfgang. Ele salvou a minha vida. É por


isso que eu mantenho uma foto dele onde eu possa ver.”

“Por quê?” Ainda não fazia sentido para Zoe.

“Como uma lembrança do dia em que ele me tirou do mais


profundo desespero e me salvou. É um símbolo, na verdade.”

‘COMO É?!’ Aquilo era chocante. Seu próprio marido?! Justin


estava realmente falando sobre Wolfgang Düssel? Um criminoso
salvou a vida de Justin? Era difícil de imaginar como.

“O que aconteceu?”

Os olhos de Justin ficaram escuros, e ele resumiu,

“É uma longa e sombria história. Como você disse, é melhor que


algumas coisas fiquem no passado. Eu sei como você se sente a
respeito do passado, Zoe. Por isso posso respeitar isso.” Os dedos
dele roçaram os dela enquanto andavam pelo píer, mas ele não
disse mais nada.
‘Como ele pode saber como eu me sinto? Será que ele
realmente passou por algo terrível no passado? Ele também
começou de novo?’

Zoe foi tomada pela culpa por deixar Justin no escuro enquanto
ele demonstrava se preocupar e querer ajudá-la de verdade. Além
disso, ela não podia ignorar a intensa química que existia entre eles.
Aquela poderia ser a última noite deles juntos.

“Justin…”

Zoe chamou a atenção de Justin e seus dedos se enroscaram ao


redor do pulso dele. A mão livre dele a trouxe para mais perto.

Ela ficou na ponta dos pés para alcançar o rosto de Justin e


pressionar os lábios contra os dele, demorando apenas o bastante.

Um sorriso se formou nos lábios dele quando Zoe se afastou,


olhando para ele sob seus cílios.

“Obrigada por tudo, Justin.” O coração de Zoe batia


desesperadamente esperando pela reação dele. Ela não tinha
certeza do que aconteceria agora.

“Hm… Isso não é justo, Vênus. Eu estou tentando ser um


cavalheiro aqui. Como posso resistir a você, Vênus?” Ele acariciou o
rosto de Zoe com as costas dos dedos, falando baixinho.

“Talvez tenha sido por isso que eu te beijei. Você não está
forçando nem tirando nada de mim. Eu escolhi fazer isso,” ela
confessou, nervosa.

“Ok. Entendo o sentimento. É sua vida e são suas escolhas.


Mas… porra, eu quero mais.”

Ele apertou a mão dela entre as dele, para enfatizar o que ele
dizia. Zoe maliciosamente escapou.

“Eu não posso fazer isso agora,” Zoe murmurou.


Justin concordou com um longo suspiro, dando a Zoe o tempo
que ela precisava.

∞∞∞
Depois que voltou do jantar com Justin e tomou seus remédios,
Zoe caiu no sono logo que colocou a cabeça no travesseiro.

Mas não foi lá que Zoe acordou.

Ela despertou com um sobressalto, e um sentimento de


inquietação. Passos ao redor da cama a deixaram em alerta.

Assim que abriu os olhos, Zoe percebeu que não estava mais na
cama de Justin, na ilha. Mas ela reconhecia aquele lugar.

Era a master suíte do Nayad. Ela estava de volta ao iate do seu


marido.

Aquilo era inacreditável.

A segunda coisa que Zoe notou era que estava amarrada a algo.
Não, a alguém.

‘Justin?’

Ele estava profundamente adormecido ao seu lado, vestido só


com suas boxers.

E Zoe estava usando uma lingerie. Se é que se poderia chamar


aqueles pedacinhos de pano transparentes de lingerie.

‘Por que estamos algemados um ao outro?!’

Zoe checou os próprios pulsos. Dois pares de algemas reais e


pesadas prendia Zoe a Justin pelos pulsos. Wolf os teria drogado?
Teriam sido capturados e trazidos para o iate? Em sua mente, Zoe
sabia que Wolfgang conhecia Justin, então ele o drogou, mas…

“Por quê?!” Zoe murmurou para si mesma enquanto tentava


descobrir como abrir as algemas. Mas era impossível.

Depois de um clique, a porta se abriu. Seu coração bate forte


contra as costelas. Ela reconheceu a silhueta masculina. Seu
marido entrou no quarto, sua presença preenchendo o ambiente e a
deixando sem fôlego.

‘Wolf!’

Aquele era o mesmo homem que Zoe encontrou três vezes


antes do casamento, mas sem filtros sociais.

Um homem que Zoe não conhecia.

“É isso que você quer, Zoe?” Wolf perguntou enquanto se


aproximava, desabotoando a camisa e fingindo indiferença.

“Mas… que porra é essa?!” Zoe exclamou.


Capítulo 3
O olhar pesado de Wolf caiu sobre o corpo da esposa e ele inalou
profundamente, seus lábios se separaram ao admirá-la.

Os olhos de Zoe estavam fixos nele.

“Estou feliz que você esteja viva… Mas ainda estou furioso com
você, baby.”

Ele finalmente tirou a camisa, revelando o peito largo, braços


esculpidos, e um estômago trincado para seus olhos.

Wolfgang tinha o corpo tatuado, mas Zoe não prestou nenhuma


atenção na arte corporal enquanto estava engolindo em seco. A
região no meio das pernas reagiu involuntariamente. Era a primeira
vez que ela o via sem camisa! Zoe sempre evitou fantasiar sobre
seu noivo. E desde que soube quem ele era, Zoe fez questão de
odiá-lo!

‘Puta que pariu duplo com caramelo!’ Agora Zoe pôde admirar os
músculos firmes flexionando enquanto ele subia na cama. Ela
mordeu seu lábio inferior, vítima de sua ansiedade.

“Você gosta do que vê, Zoe?”

Ela não respondeu, mas não tinha ilusões de que conseguiria


mudar a expressão de desprezo ou nojo de seu próprio rosto. Não a
esta altura.

“Então, por que me abandonou?”

Zoe lançou um olhar rápido para Justin, ao seu lado na cama,


totalmente inconsciente do que estava acontecendo.
‘Que estranho. Eu não devia me sentir assim, não agora…’

“Por que você está fazendo isso? O que você quer?” ela
questionou.

Ele fechou os olhos, com um sorriso cínico nos lábios e


parecendo satisfeito em ouvir a pergunta dela.

“Porque é assim que eu sou… Ver você se retorcendo para fugir


de mim apenas estimula o caçador em mim.” Ele abriu os olhos e a
encarou como um predador. “E eu prefiro te mostrar como… Se
retorcer de prazer, para mim.”

“Isso não vai acontecer. Eu não sinto nada além de desprezo por
você. Você me comprou para ser sua esposa!” Ela sabia que
bastava se lembrar disso para ganhar forças contra ele.

“Sim. E é por isso que você é minha, Zoe. Parece que você
pensa que sou a pior coisa que pode te acontecer… Bom, você está
redondamente enganada.” Ele exalou novamente, enfadado.
“Infelizmente para mim, eu a vi primeiro.”

“O que você quer dizer com isso?”

“Você já pensou no que poderia acontecer com a linda filha de


um cara que devia tanta grana para os Düssel?”

Zoe se lembrou dos rumores de quão pervertido o pai de Wolf


era. A ideia de ser uma escrava sexual para Walter Düssel em troca
do débito do seu pai a fez ter ânsias de vômito!

Zoe nunca tinha pensado nessa possibilidade até Wolf jogar isso
na sua cara. Ela sabia que estava ferindo o orgulho dele com sua
atitude e palavras. E sabia que ele estava tentando feri-la com a
verdade nua e crua, também! Mas ela se recusava a ser manipulada
dessa maneira.

“Você não me salvou. Você causou isso.”


Wolf ergueu uma sobrancelha. “Não, Zoe. Não sou eu que você
tem que culpar. Mas você é muito hipócrita para apontar o dedo
para a pessoa certa.”

Ela piscou em choque, sem saber o que pensar e com muita


raiva que ele estivesse agindo como se ela fosse a culpada de toda
a situação. Wolfgang continuou.

“E vou te avisar. Posso te dar exatamente o que você pedir de


mim. Escolha com sabedoria. Quanto mais cedo você entender isso,
melhor, Zoe. Minhas pessoas não se perdem nem são tomadas
de mim.”

Ele se inclinou para perto do ouvido de Zoe, seus dentes


roçando no seu lóbulo, e sussurrou,

‘E isso inclui ele.’

Zoe ergueu as sobrancelhas em surpresa quando a mão dele


tocou os cabelos de Justin numa carícia, e então tocou seu braço a
seguir. A pele se arrepiou quando o toque dele percorreu caminho
acima para o seu ombro, leve como uma pena.

Ele afastou o cabelo loiro de Zoe do caminho.

Apenas isso já deixou seus mamilos duros como pedras e seus


seios pesados, mas Zoe fingiu que ele não estava beijando a curva
do seu pescoço.

“Olha pra você! Toda orgulhosa e metidinha. Mas seu corpo não
mente, Zoe. Você também me quer.” Wolfgang sussurrou com voz
rouca, provando seu ponto ao circular seu mamilo direito enrijecido
por cima do tecido da lingerie.

“Perseguir e conquistar me excita. Ser caçada te excita? Parece


que sim… olhe só pra você agora…”
Ela notou como sua espinha estava arqueando para seus seios
empinarem na direção do toque dele. Eles estavam doloridos e
clamando por atenção, e Zoe ficou vermelha de vergonha.

“…! Bem, não importa. É óbvio que para você isso é um jogo.”

“Sim, é um jogo. Um jogo de Verdade ou Consequência. E é a


minha vez de perguntar: você me odeia? Você realmente me
odeia?” Ele colocou a mão sobre o próprio queixo, inquisitivo, e seus
olhos de cílios longos cintilaram em provocação aberta.

Zoe ficou quieta, incapaz de abrir a boca para repetir a mentira


que disse a si mesma todos esses dias. Ela certamente o temia,
mas mesmo tentando muito, não odiava Wolf. O que ela sentia era
revolta. Revolta contra o que acontecera com ela.

“Hm… Seu silêncio diz tudo. Estou achando que o que você quer
é que eu te ame enquanto você finge que me odeia. É esse seu
jogo? Nesse caso… Eu vou escolher qual será a consequência.”

“Você não vai desistir desse jogo? É por isso que você me
algemou com este homem? Por que você fez isso?” Ele com certeza
sabia mexer com todos os seus botões, pois ela se sentia aturdida e
com as emoções à flor da pele.

Wolfgang deu uma risadinha malvada, brincando com uma


mecha do cabelo de Zoe e acariciando sua bochecha com as costas
de sua mão enorme.

“Ah, você realmente não sabe? Vocês dois… Ficam tão bem
juntos!”

Zoe duvidou da sanidade daquele homem. Mas ele continuou.

“Eu vi vocês no píer na noite passada. Os dois. Como um casal


de pombinhos tolos.”
Ela estremeceu, mas uma parte perversa nela se divertiu com os
ciúmes dele.

“E daí?”

“E eu me perguntei… sobre mim… e você… e ele…”

Ele se sentou na frente de Zoe e se inclinou, estendendo a mão


para tocar seu seio direito. Carinhosamente, pensativamente.

“O que você quer dizer?”

“É que… Gostei de ver vocês dois. Juntos. Tão puros. Tão


frescos…”

“Que lunático.”

Ele não respondeu, seu olhar absorto no seu polegar e indicador


que circulavam seu mamilo por cima do tecido translúcido.

Zoe gostaria de manter-se indiferente, mas conforme o toque


terno continuava, seu corpo reagia em aprovação. E Zoe sentiu seu
rosto queimar ainda mais.

“Ah, eu gosto das suas reações. A maioria das mulheres tem


essa fantasia, sabia? Que sortudinha que você é.”

A cara de pau dele era enervante! Zoe pensou em não lhe dar o
prazer de vê-la encolher-se ou fugir.

“Você quer dizer, casamento forçado?” ela retrucou


sarcasticamente.

Wolf ergueu o olhar brilhante para ela, brevemente, com um


enorme sorriso safado. “Sim. Contanto que seja com um cara
charmoso, rico, sexy e poderoso, como eu. Garota de sorte.”

Os olhos dele brilhavam enquanto ele observava com fascinado


interesse como o mamilo de Zoe reagia ao seu delicioso toque.
Ao mesmo tempo Zoe não sabia o que fazer com aquele seu
corpo traidor que amava o toque dele e aquela voz profunda de
macho, falando todas aquelas besteiras.

“E como você sabe disso, Sr. Espertalhão?”

“Eu também invisto em editoras, amor. E eu encontrei seu


celular.”

Zoe engoliu em seco ao imaginar o que mais ele pode ter


encontrado no seu celular. Despeitada, ela se defendeu. “Talvez eu
goste de fantasiar um pouco. Garotas também podem se divertir!”

“Eu diria mais que isso. Elas devem se divertir.”

Ele se inclinou na direção dela, e Zoe puxou o ar, vendo que os


lábios dele miravam o seu minimamente tapado seio esquerdo.

A língua úmida pressionou sobre o tecido translúcido, circulou o


mamilo, mordiscando suavemente. Zoe engoliu em seco.

Wolf ergueu os olhos para a esposa algemada, com um


sorrisinho safado e mantendo os lábios em seu seio. Uma mecha
daquele cabelo luxuriante caiu sobre os olhos dele.

“Relaxa. Se você não tivesse sido tão marrentinha antes, tenho


certeza de que a gente ia ter feito essa cama gemer, e…”

A mão dele desliza por sua barriga lisa, até o pedacinho de pano
cobrindo seu sexo, e acariciou delicadamente.

“… Eu não precisaria fazer isso com você agora.”

“Você quer dizer, ser algemada?” Seu sarcasmo não estava


tendo o mínimo efeito sobre ele, mas a tática dele já tinha deixado a
tira de pano entre suas coxas encharcadas. Ela não sabia mais o
que fazer.
“AH, uma antiga amante me contou. Tem a ver com ser livre de
culpa enquanto permite que o amante faça o que quer… ou algo
nesse sentido. Podemos descobrir, não acha?”

Zoe reparou como o pomo-de-adão dele se movia enquanto ele


escaneava o seu corpo seminu, também engolindo em seco. Ela
não podia negar que Wolfgang era diabolicamente bonito e capaz
de provocar todas aquelas sensações, mas ela ainda não confiava
nele para se entregar.

E tudo aquilo… Só podia ser uma pegadinha. Em breve ele


mostraria o real motivo por trás daquilo tudo.

“Isso é ridículo! E… Como você traz uma antiga amante na


nossa conversa?!”

“E por que você se importa? E você trouxe alguém para nossa


história, não? Para nossa cama…” ele retrucou de pronto.

‘Sei que ele não está sendo literal… É que ele nos viu no píer
mais cedo… E bolou toda essa situação sórdida de me algemar com
Justin para zoar com a minha cara.’

“Olhe para ele.” Ele tocou a linha do maxilar de Zoe suavemente,


direcionando o seu olhar para a face inconsciente de Justin.

Wolf se posicionou atrás de Zoe. Suas mãos grandes e firmes


pressionavam levemente a curva do quadril dela, e Zoe se odiou por
querer que ele pegasse com mais força.

Ele cheirou seu cabelo e sussurrou com sua voz grave e rouca,

“Não seria excitante, se eu fizesse você gozar


incontrolavelmente aqui e agora? Você se importa de ser
observada? Enquanto faço isso?”

“Está maluco?! Fazer… o quê?”


Ele usou o nó do indicador para acariciar levemente o vão entre
os grandes lábios, tocando o seu botão excitado com precisão.

“Ngh!”

∞∞∞

Zoe despertou abruptamente, se contorcendo com o clitóris


inchado, e tentando entender que diabos havia sido aquilo.

‘Foi tão real e tão confuso…’

Ela então ouviu passos, e a voz de Justin.

“Zoe, você está bem?”

Ele chegou perto da cama e tocou a testa de Zoe com dois


dedos.

“Justin?”

“Eu ouvi você gemendo. Pensei que você estava com febre ou
tendo um pesadelo…”

“Não exatamente…” Zoe estava grata por Justin não poder ver o
quão vermelha ela estava agora, ou ao menos era o que ela
supunha. Ela nem sequer sabia como classificar aquele sonho
bizarro.

“Você pode ficar aqui comigo, um pouco?” Ela pegou a mão de


Justin e a apertou. A presença dele era reconfortante, ao contrário
de seu sonho perturbador. E de uma coisa Zoe sabia: ela não queria
ficar sozinha com seus pensamentos malucos.
Ele pensou sobre o pedido por um segundo, e se esgueirou sob
o edredom enquanto Zoe se virou para encará-lo.

A lua banhava o rosto esculpido de Justin, fazendo os olhos de


Zoe finalmente pousarem sobre os lábios arrebitados e sensuais
dele. Justin continuava a encarando, então afastou uma mecha de
cabelo que caiu no seu rosto.

‘Eu não posso evitar além de… Ficar de conchinha com ele…’
Ela não pensou duas vezes e rolou na cama para caber nos braços
dele, numa conchinha. Justin passou os braços ao redor dela. Zoe
sentiu suas costas apoiando no peito largo dele, e seu bumbum
roçando no volume duro nos shorts dele. Não dava para ignorar que
a respiração dele estava pesada.

Ele sussurrou de um jeito safado,

“Ah, jogo sujo, Zoe.”

Zoe sorriu, sabendo que ele não podia ver que ela estava
achando graça na reação dele.

Os braços de Justin se prenderam bem embaixo dos seios de


Zoe, roçando e a deixando bem ciente de como seus mamilos
reagiram a ele.

“Jogo sujo… Do que você está me acusando agora?” ela


perguntou.

“Retiro a acusação se você não se mover de onde está…” Outro


sussurro cheio de malícia a centímetros do ouvido de Zoe.

“Nem um milímetro?” Ela olhou sobre o ombro para conferir a


cara dele, e se contorceu só para fazer seu corpo roçar contra o
dele eroticamente. Não havia como negar a forte química entre
vocês dois. E Zoe sabia perfeitamente ciente do fato, também. Estar
perto dele tinha esta reação estranha. Ela parava de pensar nos
problemas e apenas pensava no agora, mesmo que isso fosse
perigoso e irresponsável.

A respiração dele pausou por um momento, e Justin a virou tão


rapidamente que ela ficou zonza. Agora eles estavam de frente, e
Zoe estava presa nos braços dele, sexo contra sexo, o peito contra
o de Justin. E seus lábios a centímetros dos dele.

Zoe percebeu a sombra de um sorriso no rosto de Justin.

A encantava como seu corpo cabia certinho no abraço dele, e


quão familiar e gostoso era o corpo dele. E claro, Zoe não podia
negar como seus mamilos estão espetando o peito dele nesse
momento…

‘Ou como o volume duro dele está apertando o lado da minha


perna. Ou como gosto do fato, na verdade.’

Ele murmurou com os lábios afundados no meio dos cabelos


dela, “Eu posso ficar a noite toda se você precisar de mim…”

“Não vai se arrepender?”

“Hm. Acho que as probabilidades são mínimas.”

“Você é engraçado.”

“É que gosto de te ver sorrir… Como agora, por exemplo.”

O próprio comentário acabou fazendo Zoe sorrir, e ele beliscou o


nariz dela carinhosamente quando ela fez isso. Zoe mordeu os
lábios, nervosa sem saber por quê.

Se Zoe fosse honesta consigo, admitiria que seu corpo estava


fervendo naquele momento. Poderia ter sido o sonho, mas ela se
sentia como uma mariposa atraída para a luz dele.

Ela ergueu o olhar para Justin, e ele afastou o cabelo que caiu
sobre o rosto dela. Os olhos dele estavam escuros, as pupilas
dilatadas e ele falou em tom de confissão,

“Eu preciso te beijar agora. Me prenda depois se quiser, mas eu


vou fazer isso agora.”

A boca de Zoe até secou quando ele a comunicou de suas


intenções com voz sexy e rouca. Justin se inclinou para fazer
exatamente o que disse.

Agora de bochechas coladas, o maxilar definido de Justin


empurrou o queixo de Zoe e seus lábios sensuais percorreram sua
pele.

Nem ela mesma entendia a urgência em sentir os lábios dele


contra os seus, o calor dele, gosto, cheiro. Mas ela queria.

Zoe enfiou seus dedos nos cabelos aloirados dele, o trazendo


para si, e amassando os lábios dele, enfiando a língua. Justin não
se faz de rogado e retribuiu o tesão dela, a rolando para baixo dele
rapidamente enquanto suas línguas brincavam.

“Oh, Justin!”

Sua voz saiu rouca e sensual. Justin deixou seus lábios por um
momento e mordiscou seu pescoço, provocando Zoe.

Quando os lábios dele tocaram os seus novamente, Zoe


pressionou de volta, se entregando a esse desejo crescente entre
os dois. Ela passou seus braços ao redor do pescoço dele. Justin
mordiscou seu lábio inferior a provocando, e deixando as mãos
vagarem pelo seu corpo.

Ela já sabia que seria tão bom quanto foi com Wolf. Culpada,
Zoe expulsou esse nome de sua mente, em choque, e tentou não
assombrar o momento com comparações idiotas. Os lábios se
separaram por um momento, e Justin sussurrou,

“Meu Deus, Vênus, você é tão doce!”


Ela deu uma risadinha quando ele falou o apelido que deu a ela,
enquanto a boca dele percorria o contorno do seu rosto e pescoço
com beijos quentes sobre sua pele.

Zoe arqueou-se toda nos braços dele, facilitando o acesso e


permitindo-se tocar o corpo dele também. Ela deixou suas mãos
correrem sob a camiseta dele, sentindo aquele abdômen durinho, e
um oh! escapou dos seus lábios quando ele lambeu seu pescoço.

Justin apertou as nádegas de Zoe com ambas as mãos, a


fazendo passar as pernas ao redor dos quadris dele. O volume dele
pressionava seu sexo, a rigidez roçando contra a calcinha
encharcada.

Foi só o tempo de Zoe apreciar o sorriso provocante que surgiu


no rosto dele, e Justin se inclinou para mordiscar seus seios por
cima da camiseta de algodão, primeiro um depois o outro.

Zoe empurrou seus quadris, se esfregando nele, enquanto ele


apertava sua carne com vontade.

Ela agarrou a cabeça de Justin com ambas as mãos para beijar


mais aquela boca deliciosa. Longos, molhados, sensuais beijos se
seguiram enquanto o casal movia os quadris em sintonia, ainda com
as roupas.

Ele mordiscou seu lábio inferior e sussurrou, como se sua


garganta estivesse seca,

“Me deixa te provar.”

‘Ele quer… fazer sexo oral em mim?’

O fato é que, das amigas de Zoe, ela era a menos experiente.


Uma virgem! Ela nunca saiu com ninguém como Wolf ou Justin…
Alguém capaz de fazer suas calcinhas escorregarem para o chão no
primeiro encontro!
As amigas a chamavam de 'metidinha' e 'enjoada pra macho',
mas talvez elas estivessem certas.

Para ser honesta, Zoe só saiu com caras que o seu pai
aprovava: de boas famílias, com boa educação… enfim, chatos.
Esnobes que nem ela. Morninhos na maioria. Zoe mal aguentava os
beijos deles ou uma eventual passada de mão, e conseguia mantê-
los sob controle sendo indiferente.

Apenas dois homens fizeram o sangue dela ferver, sua xana


arder em chamas e clamar por atenção…

‘Justin é um deles. Tenho certeza de que ele me faria ver


estrelas!’

Mas Zoe sentia que devia desacelerar as coisas um pouco. Ela


sabia que iria perder o controle se deixasse Justin seguir.

Porém, por mais que ela quisesse o alívio para o seu clitóris
latejante, Zoe não tinha planos de transar naquela noite. Ela tinha
medo de perder o controle e arrastar Justin para sua história
complicada se cedesse ao prazer. Ela já tinha deixado ir longe
demais, e não queria que ele acabasse em perigo, como no seu
sonho. ‘Quero ser capaz de parar a hora que eu quiser… Eu acho.’

“Não tão rápido, querido…” Ela pediu, prendendo a respiração, e


sentiu a hesitação dele e como seus músculos ficaram tensos, mas
então ele riu alto.

“Caramba! Vênus, você está mesmo testando meu autocontrole!”

Ela concordou, erguendo os olhos para ele e fazendo cara de


falsa inocente.

“Eu só acredito que a gente não precisava ter pressa…”

“E por que você age como se soubesse que está me passando a


perna?”
“Nesse caso, eu estou me enganando, também.”

“Tudo o que quero é que você curta estar comigo. Você tem
certeza do que quer? Nesse caso eu não vou poder ficar aqui. Vai
ser impossível ficar na mesma cama que você e não te tocar.” Ele
admitiu.

“Você está dizendo que não vai me ouvir se eu pedir para você
parar?”

Os olhos dele ficam escuros como se algo perturbador passasse


pela mente dele, mas então Justin sorriu.

“Meu pai é esse tipo de cara. E eu não sou como ele. Não se
preocupe. Você está segura quanto a isso.”

As palavras dele fizeram Zoe se perguntar sobre o passado dele.


Mas também a fizeram se sentir totalmente segura.

Ele ainda segurava seu ombro, esperando sua palavra final, e


brincava com um dedo preguiçoso contornando os detalhes do seu
rosto. Ela não queria sair debaixo dele, ela tinha que admitir.

“Eu não consigo resistir…” Zoe murmurou, e isso foi o bastante


para ele.

Enchendo a mão com o seu bumbum redondinho, Justin deixou


a outra mão vagar, acariciando a parte interna das coxas de Zoe.

E ela escorregou sua mão dentro dos shorts dele e deixou seus
dedos sentirem aquele mastro quente, a superfície sedosa, o relevo
com veias. O membro dele vibrou com o seu toque, e Justin grunhiu,

“É todo seu, Vênus.”

A mão dele afastou sua calcinha para o lado, explorando o vão


escorregadio e encontrando o seu botão rosado, ao mesmo tempo,
Zoe agarrou o pau dele com mão firme, e pressionou seu delta
contra a mão dele, numa sugestão muda.
“Hmm… O que eu quero é fazer você gozar na minha boca. Zoe.
Quero te dar prazer.”

Zoe sentiu sua boca até salivar com a promessa dele. A


combinação da voz dele com os movimentos em círculo em volta do
seu ponto sensível faziam seu íntimo latejar forte e Zoe literalmente
se retorceu sob Justin.

Zoe apalpou os bíceps durinhos e afundou seus dedos nos


braços de Justin, lambendo seu pescoço e a pele sensível sobre o
pomo-de-adão. Então o ajudou a tirar a camiseta, salpicando aquele
peito e abdômen maravilhoso com beijos e lambidas. Zoe sentiu ele
engolir em seco e se arrepiar.

Ela deslizou ambas as mãos para a virilha dele, sentindo tudo,


do seu pau rígido a suas bolas. Quando retornou sua atenção
novamente para os lábios dele, ele a abraçou novamente e fingiu
morder sua bochecha com a boca aberta, como um predador
querendo devorá-la.

“Não me engane… Eu quero fazer você gozar com a minha


boca, Vênus.”

“Hahaha, não!” internamente ela se perguntava se ele percebia


que ela tremia de antecipação.

“Sim…” ele procurou convencê-la mais uma vez.

Seus lábios se uniram novamente para um beijo de tirar o fôlego.


As mãos dele brincavam com as bordas da calcinha, empurrando
para o lado totalmente agora. Zoe perdeu todas as chances quando
ele a agarrou pelos quadris e ergueu essa parte do colchão,
plantando um beijo no seu monte-de-vênus.

“Justin!”

“Shhh!”
Ele pediu silêncio e mordiscou sua carne levemente. Isso
espalhou arrepios por todo o corpo de Zoe.

Justin a recolocou nos travesseiros e entrou entre suas pernas


com um olhar intenso, escuro, que fez o coração de Zoe palpitar
forte.

Uma longa e úmida lambida por toda a extensão da sua xana


inchada a fez agarrar os lençóis em surpresa. Zoe teve certeza de
que o sangue que devia oxigenar o seu cérebro foi para delta entre
suas pernas, porque sua mente simplesmente entrou em pane.

Novas, vagarosas e fenomenais lambidas se seguiram, fazendo


Zoe se abrir para ele. Ela torcia para que a língua dele enfim
encontrasse seu clitóris, mas ele claramente estava adiando este
momento enquanto a torturava em antecipação.

A língua dele cercou seu botão, dando vergastadas suaves. Zoe


empurrou o quadril contra ele, desejosa.

Justin a prendeu no lugar, erguendo o rosto por entre suas


pernas, e Zoe choramingou, dengosa.

“Justinnnn!”

Ele voltou para sua tarefa, fazendo sons e deixando a língua


passear por cada canto da sua xana, até a surpreender e prender
seu clitóris entre os lábios.

Zoe deu um solavanco enquanto ele sugava, circulava, surrava,


dava lambidas e mordiscadas, alternando movimentos suaves e
rudes, e a levando a um crescendo de sensações.

Se retorcendo em agonizante prazer, Zoe repentinamente


chegou ao clímax.

Ele espaçou as lambidas de sua língua morna para maximizar o


orgasmo dela.
As pernas de Zoe estavam tremendo. E mesmo quando ele
afrouxou o aperto em suas coxas ela continuou tendo espasmos de
prazer, se retorcendo com os pequenos choques retardados que se
espalhavam a partir de seu ponto sensível.

Era um pouco embaraçoso, e ela queria rir de si mesmo


enquanto choramingava, querendo que aquilo parasse. Era intenso
demais!

“Ohhhh! Faz parar! Eu estou só...ohh!”

Ele acariciou o monte sobre o seu centro e apenas isso enviou


novamente sensações para sua xana ainda latejante e sensível.

“É assim que… você sempre faz isso?!”

Ele pareceu tão surpreso quanto ela e a apertou nos braços.

“É, parece que treinei minha vida toda só para te dar prazer,
Vênus. Mas valeu a pena. Definitivamente valeu a pena.”

A mente de Zoe leva um tempo para processar o comentário


engraçadinho, e então ela deu um tapa do peito dele, rindo e
exausta

“O que você acabou de dizer?!”

“Que quero fazer todas as tuas partes felizes, e pelo menos uma
está feliz nesse momento.”

“Você tem um senso de humor muito doido.”

“Eu nem estou tentando ser engraçado. É que fico nervoso perto
de você.”

Ele ergueu o queixo de Zoe para ele e inclinou-se para um longo


e sensual beijo. Zoe sentiu o pau dele cutucando sua barriga, e a
mão dele correu para o seu seio, o envolvendo ternamente.
Então ambos ouviram passos pesados lá embaixo e a voz de
Marlo chamando Justin.

“Cara, tem um problema lá no porto. Estão chamando a gente.”

Zoe tinha certeza de que Marlo sabia exatamente onde Justin


estava. Ela sentiu quando o homem em seus braços ficou tenso.

“Droga.”

Zoe se sentou, sabendo que, o que quer que fosse, ele tinha que
ir checar.

“Tudo bem… Você tem que ir, eu sei.”

Justin lançou um olhar triste e já saudoso, antes de pegar as


roupas dele.

“Descanse. Eu voltarei ao assunto de fazer outras partes de você


gostarem de mim…”

∞∞∞
Justin saiu com Marlo para a marina particular para checar o
barco deles. Zoe aproveitou para tomar um banho.

Sua mente ainda vagava para os momentos nos braços dele e


as sensações que ele conseguia provocar nela.

Ainda assim, a memória confusa de seu marido e a iminência do


perigo a impediam de viver esse romance plenamente.

‘Como eu poderia?’

Ela se lembrou do sonho de mais cedo e ponderou sobre isso.


Os pensamentos vinham como ondas, a enchendo de culpa por ter
se entregado egoistamente ao prazer como se não tivesse um
passado a perseguindo. O sonho, em especial, parecia um alerta
latejando para que ela não esquecesse de Wolfgang Düssel.

‘Foi algum tipo de profecia? Ou mais tipo o meu subconsciente


falando?’

‘O 'Wolf' nos meus sonhos me disse para eu ser mais honesta


com meus sentimentos. Sobre o que eu quero…’

‘Eu quero, mas... Grrr! Eu estou perdida!’

‘Na vida real, Wolf ofereceu uma alternativa, uma aliança. Meu
pai aceitou. Esse foi o problema.’

‘Eu sempre fiz tudo o que o meu pai me pediu. Eu achava que
estava retribuindo todo o seu amor e cuidado, sendo uma boa
garota.’

‘Boas notas, amigos aceitáveis, sempre polida, bem composta,


uma perfeita boneca na vitrine!’

‘Tão perfeita que ele me vendeu!’

‘Seja como for, se eu for voltar para o meu marido, ele nunca
poderá saber sobre Justin.’

‘Mas eu não quero voltar! Eu não quero ser uma mulher-troféu!


Alguém que Wolf comprou na liquidação!’

‘Eu quero ser eu mesma!’

‘Mas não acho que eu possa me esconder aqui. Eu preciso dar


um jeito e cuidar de mim mesma.’

‘Meu pai não pode ser culpado pelo acidente. De qualquer modo,
Wolf é o novo dono da companhia, como meu viúvo.’
‘Eu fui feita a única dona antes do casamento. Eles precisam do
meu pai para gerenciar a fábrica. Ele vai ficar bem.’

‘Eu só tenho que fazer uma nova vida, como uma nova Zoe.’

Assim que amanheceu de verdade, Zoe enfiou suas roupas em


uma mochila, e se esgueirou para a vila e para o porto.
Capítulo4
A brisa morna da manhã brincava com os cabelos longos de Zoe, e
o sol radiante banhava a Vila de Naviedo e o mar azul com sua luz
dourada. O caminho até o porto era uma visão paradisíaca que Zoe
sabia que ficaria gravada em sua memória para sempre.

Ela imaginava que não iria cruzar com Justin por lá, pois pelo
que ouviu brevemente da conversa dele com seu sócio, entendeu
que eles iriam a algum lugar no ‘Ghost’, que era o nome do barco
deles. Provavelmente já estavam longe a esta altura.

Na marina, as pessoas eram polidas o bastante para a ignorar, e


ela se perguntou se, para eles, essa mulher que apareceu do nada
era apenas mais uma ‘peguete’ que Justin trouxe para a ilha.

Zoe não conseguia ver o continente no horizonte, então


imaginava que Naviedo ficasse a uns bons quilômetros de distância
da costa.

Agora que estava ali, precisava encontrar alguém disposto a


levá-la para o continente… de graça.

Ela observou quando um grupo entrou em uma pequena balsa


decorada com bandeirolas coloridas. Era um tipo de ferry de
travessia. Uma mulher os cumprimentava alegremente ao lado da
rampa de acesso, como quem conhecia todos eles.

A mulher de pele bronzeada e cabelos cor de mel presos em um


rabo de cavalo falava alto e trocava ora provocações, ora palavras
ternas, com todos. Caixas entravam e saíam do barco, e ela dava
instruções a dois assistentes. Aparentemente ela trazia e levava
coisas do continente, além de passageiros.

Zoe logo entendeu que tinha que falar com ela para usar a balsa.
Mas Zoe não conseguiu se convencer a pedir ajuda na frente de
todas aquelas pessoas que a viram passeando na tarde anterior ao
lado de Justin. ‘Preciso trabalhar meu orgulho, mas não se trata
disso. Só não quero que dê tempo de alguém avisar Justin… se eu
puder fazer isso de forma discreta, será melhor.’

Ela viu quando a mulher fez um sinal para alguém no barco e


mandou ligar o motor.

Quando Zoe se aproximou, teve a impressão de que era


avaliada discretamente pela outra mulher. A morena parou o que
estava fazendo quando Zoe se aproximou o bastante, e a abordou.

“Erm. Oi. Tenho que deixar a ilha, mas para ser honesta eu não
tenho dinheiro nenhum aqui comigo.”

A mulher escaneou Zoe de cima a baixo com seus olhos verdes


estonteantes, pensativa.

Zoe já a admirava de longe, mas de perto a mulher, apesar das


roupas despojadas, era muito bonita. Assim como Morena e outras
mulheres da região, usava brincos de argola grandes e adereços
chamativos.

“Como foi que você chegou à ilha?” A nativa perguntou com seu
belo sotaque mal disfarçando o tom imperativo.

“Vim com um amigo, e… Preciso voltar. Tô com um problema e


sem grana. Me ajude, por favor.” Zoe não imaginou que seria difícil,
pois nunca em sua vida precisou pedir nada para ninguém sem que
pudesse pagar pelo aborrecimento. Mas a mulher parecia não
querer facilitar.

“Sério? Bem, garota. Por que não pede para quem te trouxe te
levar de volta?”

“Como eu coloco isso…” Zoe sabia que se a mulher continuasse


fazendo perguntas, talvez ela acabasse chamando Justin ou algo
assim. E Zoe precisava ir antes que ele descobrisse. “Eu preciso ir
antes que Justin me ache.”

A mulher arqueou a sobrancelha diante da sua resposta


inesperada.

“Você veio para esta ilha com o Marlo ou com o Justin?”

Dizer que não era da conta dela estava fora de questão. A balsa
estava partindo em poucos minutos, e era a melhor chance de Zoe.

“Justin. Mas não é este o ponto. Eu preciso deixar a ilha, me


ajude!” A contragosto, ela revelou, imaginando que isso era uma
coisa fácil de se descobrir.

Aquilo só podia ser um teste do universo. Ela, Zoe, de uma


família influente, nunca precisou pedir nada de graça. Agora ela não
tinha um centavo no bolso e estava implorando por uma carona
naquela balsa enferrujada... ou podia voltar para o luxo da minha
nova casa com Wolf. Como propriedade dele. De novo a boneca na
vitrine.

Lágrimas inundaram os olhos de Zoe. Não por causa de seus


atuais dilemas, mas porque no fundo, ela se sentia traída e
humilhada.

Ela concluía pouco a pouco que tinha vivido até ali como as
pessoas decidiram ser o melhor para ela. Ela tinha se deixado
convencer de que era para o meu próprio bem. Mas suas
perspectivas eram iguais às de uma nobre dama na Idade Média!
Sem voz, e que acabava em um casamento arranjado!

Zoe sentia-se como se sua vida não fosse sua até o momento
em que ela pudesse tomar suas próprias decisões.

“Ei, garota. Se acalma e sobe. Eu não vou virar minhas costas


para outra garota que está tão desesperada. Nós mulheres
devemos nos ajudar.” A mulher falou.
“Me desculpe de novo. E obrigada!”

“Você e Justin… se desentenderam?”

Zoe não hesitou em balançar a cabeça afirmativamente.

“Essa foi a coisa mais doida que eu ouvi em anos, então se


prepare para me explicar. Não quero me meter em problemas.”

Zoe sabia que não iria achar outro meio de deixar a ilha, então
concordou. ‘Não parece que eu vou conseguir ficar de boca
fechada…’

“Posso te contar durante o trajeto.”

“Ok, garota. Sobe, e fica na cabine do capitão. Sou Jackie. E


você?”

“Sou Zoe.”

“Muito bem, fique lá; partimos daqui a alguns minutos.”

∞∞∞
Depois que a balsa partiu do pequeno porto de Naviedo, Zoe
sentiu seu coração apertado sem saber por quê.

Ela tinha deliberadamente escolhido a rota mais dura, e devia


pagar o preço de suas escolhas. Não era isso mesmo o que ela
queria? Sua decisão era a de proteger o homem que a tirou do mar,
e não depender dele. Naquele momento, ela precisava do favor
dessa mulher, Jackie. Mas faria o possível para retribuir assim que
conseguisse.

“Então, você é Zoe. Você claramente não é daqui.”


Enquanto o Santa Martha singrava as águas cor de turquesa,
Zoe estava distraída com as informações no painel. Para sua
surpresa, Naviedo ficava a quase trezentos quilômetros da costa, e
isso significa uma longa, longa viagem.

Jackie checou o painel novamente e fez um gesto para uma


garrafa térmica.

“É café. Pode se servir. Tem água e lanche no frigobar se você


quiser, também.”

“Obrigada.” Zoe fez como ela sugeriu porque seu estômago


estava prestes a roncar. A mulher pareceu satisfeita que Zoe
estivesse comendo algo.

“Você estava olhando o painel. Entende algo de barcos?”

“Muito pouco. Pilotei uma pequena lancha uma vez. Mas eu tinha
supervisão, quero dizer. Eu só estava pensando que Naviedo é
mesmo muito longe da costa.”

“HM. É sim. Chegaremos lá somente à noite. Faço esta rota


somente uma vez por semana antes da alta temporada de turistas.
E duas vezes quando eles estão por aí. Nos outros dias faço rotas
perto das ilhas maiores.”

Zoe percebeu que havia dado uma informação importante para


Jackie, sobre não ter vindo do continente. Então tentou focar o
assunto na outra mulher.

“Você é a capitã?”

“Sim! E não me pergunte se herdei o barco do meu pai. Não é


como se uma garota só pudesse ser capitã nesse caso.” A
expressão meio orgulhosa e meio aborrecida encontrou ressonância
em Zoe, que exclamou,
“É, eu sei como é isso! Mas acredito que você deve ouvir isso o
tempo todo.”

“Ah, sim, os turistas perguntam isso o tempo todo! Mas não. Eu


sempre quis ter meu barco. Peguei um empréstimo com um amigo
para comprar essa lata velha, outro empréstimo com o banco para
reformá-lo, e aqui estou. Dona da minha vida. Dona do meu barco.”

“Uau. Quando crescer quero ser igual você!” Zoe brincou,


sentindo uma conexão com esta mulher também. Será que todas as
mulheres das Bahamas eram tão calorosas e interessantes quanto
Jackie e Morena? Essa pergunta passou pela mente de Zoe
enquanto se alimentava com um sanduíche e suco engarrafado.

Depois de um momento ocupada com o painel de controle, a


capitã colocou um novo sorriso no rosto e se virou com olhos
empáticos

“Escuta, eu sou toda ouvidos. Não vou julgar. Nós, mulheres


bonitas, estamos sempre nos encrencando por causa de macho.”

Zoe achou graça nas palavras de Jackie. Não porque não


fossem verdade, mas como foram ditas. A capitã continuou,
enfática.

“Sim. Sempre encrencadas. Porque a gente os ama, ou, porque


a gente não os ama… Mas, nem posso imaginar que este seja seu
problema com Justin.”

‘Ela está assumindo muita coisa…’

“Ah. Mas não é nada disso. Eu não sou namorada dele nem
nada disso… Ele... Só me salvou do mar.”

“Sério?! Menina! Como foi isso?!”

Zoe decidiu contar a ela parte da verdade. Ela teria que distorcer
os fatos para proteger a todos, mas isso seria mais plausível e
menos assustador do que toda a verdade.

“Estou fugindo do meu marido. Ex. Ex-marido. Eu me separei e


consegui uma ordem de restrição, mas não adiantou. A maneira
mais rápida e fácil que encontrei de escapar dele foi comprar uma
passagem para as Bahamas em um cruzeiro, pensando em ficar por
aqui por um tempo. Eu estava indo para Nassau.”

“Bingo. Então você com certeza está na categoria 'homens que


não amamos.' Como você chegou na ilha?”

“Eu pensei que tinha avistado o meu ex no píer, e me joguei no


mar. Claro que foi uma péssima ideia. Mas Justin estava por ali, e
me salvou. E me trouxe para cá. Sei que ele só queria me ajudar.
Mas não dará certo…” Zoe corou, relembrando seus momentos na
cama com Justin. Ela teve a impressão de que seu rosto vermelho
não escapou da capitã.

“Combina muito com Justin Sanderson, na verdade. Mas você


não quer dar trabalho pro cara que te salvou. Você se ligou que sua
história não o envolve. Saquei.”

“Sim, é isso mesmo. Ele é um cara legal e já me salvou. Eu não


quero ser um fardo. Quero encontrar um trabalho e um teto, cuidar
da minha vida e ficar bem longe do meu ex. É isso.”

“Mas se você foi resgatada no mar, você não tem nada além da
roupa do corpo e o que está nessa mochila, não é?”

“Sim, Jackie. E até isso eu devo a Justin e à Morena,” Zoe falou


com tristeza. “Eu não tenho documentos, nada.”

“E você não pode voltar para sua família?”

“Minha família nos Estados Unidos? Não, meu ex controla tudo.


Você não tem ideia… Eu não tenho para onde ir. Se você puder me
dar umas dicas, eu agradeço. Porque eu nem sequer conheço a
região.”
“Bom, se você não for exigente, pode ficar no meu apartamento
por uns dias.”

“Nossa, muito obrigada!”

“E talvez eu conheça um cara que pode te arranjar um trampo.


Isso é, sem documentos ou referências... Não será fácil arranjar um
emprego de verdade, mas se você está realmente a fim de começar
de novo…”

“Eu acho que não posso ser exigente, você está certa. Obrigada
por me ajudar, Jackie. Vou te pagar assim que puder!”

“Não me agradeça ainda. Eu não estou te arranjando um


emprego, eu só disse que posso te apresentar a um amigo meu.”
Jackie deu de ombros. “E sobre a ajuda… É mais difícil começar do
zero do que você imagina. Só funcionará se você tiver resiliência.”

Zoe assentiu, compreendendo o que estava por trás das


palavras.

“É como ser capitã do seu próprio navio. Pode não ser o melhor
do mundo, mas é seu!” Jackie abriu um novo sorriso. “Sei que você
consegue, se não tiver medo de batalhar por isso.”

“Sim, Eu serei capitã da minha própria vida!”

Ela riu e Zoe se juntou a Jackie. As duas deram um high-five,


eufóricas.

“Isso mesmo, menina! É assim que se fala!”

Mas logo a seguir, Zoe viu o rosto da Jackie ficar sombrio, e


olhou para o mesmo ponto no horizonte que ela.

Suas pernas amoleceram ao ver o mega iate de seu sogro,


Walter Düssel, na linha de visão do Santa Martha, e na rota dele.
“Que merda é aquela?” Jackie resmungou, alcançando o
comunicador do rádio. Zoe sentiu seu coração falhar uma batida,
quando Jackie sintonizou um canal aberto.

Mas não havia nada, e Jackie apenas esperou, sem nenhuma


comunicação por parte do capitão da outra embarcação.

“Idiotas milionários. Quem precisa de uma coisa dessas?”

“Justin disse que esses iates passam por aqui o tempo todo.”
Zoe sentiu a necessidade de falar algo para desviar qualquer
ligação que Jackie pudesse fazer. Ao mesmo tempo, ela torcia para
que ninguém entrasse no canal de rádio para falar com o Santa
Martha.

Jackie estava recalculando sua rota para passar ao largo do


grande barco.

“Sim, mas este negócio… É daquele tipo que tem até mesmo um
heliporto, não é?”

“É imenso, sim.”

Zoe sentou-se, sentindo-se zonza de tensão. Não demorou


muito para se aproximarem da sombra da embarcação gigantesca
com vários decks e o propício nome Leviathan impresso na lateral.

Ela também percebeu embarcações menores ao redor. Lanchas


de velocidade? Mesmo de dentro da cabine, Zoe podia ver que as
pequenas embarcações iam e vinham como peixes-piloto em torno
de um grande tubarão.

Jackie, que havia saído da cabine por um momento para atender


ao chamado de um de seus auxiliares, voltou irritada.

“Quanto mais rápido saímos de perto desse monstro, melhor.


Isso não me cheira nada bem. Eles têm homens armados e estão
fuçando algo na região.”
“O-o que seria, na sua opinião?” Sua voz saiu trêmula, mas
dessa vez Jackie estava preocupada com outras coisas para notar.

“Eu não sei, Zoe. Mas o mar é cheio de contrabandistas e gente


perigosa. Essa região é um lugar muito perigoso, na verdade. Lindo
e perigoso.”

∞∞∞

Após chegar no continente, no fim da tarde, Jackie levou Zoe


para o apartamento dela num condomínio bem comum. Durante
todo o trajeto, Jackie disse que Zoe devia ficar na cabine, pois
quanto menos pessoas a vissem, mais tempo demoraria para
começarem a falar.

“Zoe, você pode ficar no quarto extra. É pequeno, mas tem um


sofá-cama. Tem comida na geladeira, também.”

“Obrigada.”

“Amanhã vou te levar no bar do meu amigo. Tenho umas


entregas e encomendas, então voltarei tarde. E amanhã durante o
dia tenho outra rota para fazer, então…”

“Não se preocupe. Eu ficarei bem. Obrigada pela confiança.”

Jackie mostrou-lhe o apartamento e a cozinha, e depois de um


banho e uma refeição rápida com sua nova hóspede, ela deixou Zoe
sozinha no apartamento.

Zoe usou o computador de Jackie para checar notícias sobre a


tempestade e qualquer pessoa desaparecida.
Ela encontrou notícias sobre a tempestade de alguns dias atrás.

‘Ah, como eu suspeitei! Eles falam sobre uma mulher


desaparecida, mas não mencionam a identidade nem o nome do
iate… A máfia tem muito a esconder.’

Ela também pesquisou sobre as rotas e correntes marítimas,


assim como estudou mais sobre o arquipélago das Bahamas e onde
estava agora.

“Jesus, parece que vim parar bem longe de onde eu


supostamente deveria ser encontrada! Mas, o que Walter Düssel
ainda está fazendo por aqui?”

Zoe não conseguia imaginar se tinha alguma ligação com o


incidente do seu naufrágio ou com o contrabando, como Jackie
desconfiava.

‘Estou triste porque meu pai provavelmente pensa que estou


morta. Mas num certo sentido, a velha Zoe está. Assim que possível
e for seguro, eu encontrarei um jeito de me comunicar com ele. Ele
não merece acreditar que estou morta.’

Zoe passou o outro dia descansando, checando as notícias, e


também pesquisando sobre como conseguir novos documentos.

∞∞∞
Na noite seguinte, como prometido, Jackie a levou em um bar
chamado Dorado's VIP Club.

O local era bem diferente do que Zoe esperava, ou seja, um


point na beira da praia destinado a turistas, ou algo como uma
lanchonete para os nativos. Ela não sabia definir se o lugar era
brega ou luxuoso. Os sofás de couro falso, painéis escuros e
espelhos eram estranhos para o seu gosto sofisticado.
‘Contanto que eles me paguem para servir mesas…’

Jackie pareceu perceber a inquietação de Zoe, e falou,

“Marcus Dorado é um amigo de longa data, gente boa, e


honesto. Eu não teria te trazido aqui se ele não fosse. Espero que
ele esteja contratando.”

“Que tipo de lugar é esse?” Zoe perguntou.

“É um bar voltado para o público masculino. Mas é bem


comportadinho, até.”

Zoe teve suas dúvidas quanto a isso e começou a questionar


suas opções, quando Marcus chegou.

“Oi, garotas. Jackie, como é bom te ver.” Ele era um homem com
quase dois metros de altura, pele da cor do caramelo como Jackie,
que usava uma camisa muito chamativa e o cabelo escuro puxado
em um rabo-de-cavalo ao estilo Steven Seagall. Ele possivelmente
já esteve em melhor forma, mas ainda mantinha a reminiscência de
um corpo de lutador. Jackie o cumprimentou com um longo abraço e
beijinhos no rosto.

“Digo o mesmo, Marcus. Essa é Zoe, sua nova contratada.”

O homem grandão gargalhou da cara de pau de Jackie, e ela se


juntou a ele. Zoe esperou os amigos trocarem os elogios mútuos
para cumprimentá-lo também.

“Oi, Marcus. Prazer em te conhecer. Mas não sei se você tem


um emprego pra mim…”

Ele assobiou em apreciação ao reparar melhor em Zoe, mas isso


não soou ofensivo. Era um talento raro. Algo no comportamento
dele o fazia bastante amigável. Os olhos dele sorriram antes de
seus lábios.
“Bem-vinda, Zoe. Talvez eu tenha algo para você, sim. Mas não
parece que você tenha a experiência necessária…” Ele deixou no
ar, e Jackie explicou-lhe,

“Zoe teve um problema e perdeu todos os documentos. Mas ela


se propõe a trabalhar duro. Você tem algo pra ela?”

Zoe falou, um tanto ansiosamente, “Faço qualquer coisa


contanto que pague.”

Marcus balançou a cabeça.

“Uau, qualquer coisa é bem abrangente, menina. Posso ver que


você tá com a corda no pescoço. Não farei perguntas. Você não é a
primeira garota encrencada que eu aceito aqui, mas você também
precisa fazer sua parte. Trabalhar duro.” Ele cruzou os braços. “Mas
eu não estou certo se aqui é lugar pra você.”

“O que você quer dizer? Por que você pensa isso?”

“Porque aqui não é um lugar para mocinhas cheias de pudores.”

“O seu bar é um…” Zoe arregalou os olhos.

“Não, aqui não é um bordel. Eu não tenho licença para um, nem
quero ter um.” Ele gargalhou, mas seus olhos não sorriram dessa
vez.

“Zoe, não seja rude! Além disso, e se fosse, qual o problema?”


Jackie a repreendeu.

Zoe ponderou que, contanto que o local não estivesse


explorando e forçando mulheres, realmente não era da sua conta.

‘Mas também me pergunto se é o único lugar onde posso


arranjar serviço, sem documentos ou referências.’

“Me desculpa. Eu não quis ser rude. Então, é só um bar…?”


“Sim, é um bar onde seu trabalho seria servir comidas e bebidas,
basicamente, e eu preciso de garotas bonitas e simpáticas. Mas
talvez ainda seja um lugar muito ousado para você…”

As coisas faziam cada vez menos sentido para ela. Marcus viu
sua confusão.

“Você não explicou para ela, Jackie?”

“Eu queria que ela visse primeiro você e o local. Ela precisa da
grana, mas aparentemente não vê seu próprio potencial…” Jackie
deu ombros.

“Hm. Zoe, as garotas não chegaram ainda, mas elas podem


explicar melhor as particularidades do métier aqui…”

“Métier…?! Desculpa se eu não me confundi, mas ainda não


estou entendendo.”

“Pra você entender, aqui é um tipo de Hooters. Não é um bordel


nem um clube de strippers, se isso te importa,” o dono do
estabelecimento explicou.

Jackie completou. “As atendentes usam tops bem ousados e


algumas fazem topless em dias especiais, ou em troca de gorjetas
altas. Os clientes dão gorjetas generosas, aliás. Fiz uns bicos aqui
quando Marcus estava começando e eu queria juntar dinheiro.
Posso te garantir ser seguro e limpo, e Marcus vai te tratar bem.”

“Quando você falou que a casa era voltada ao público masculino,


eu pensei que eles vinham aqui atrás de sexo.”

“Da última vez que ouvi, soube que algumas garotas fazem
programa por fora. Outras não.” Jackie esclareceu.

“Essa parte é totalmente com elas, eu não me importo contanto


que os problemas fiquem do lado de fora e elas cumpram seus
turnos em boas condições. Eu só quero meus clientes felizes,
gastando com bebidas e entradas.” Marcus deu seu ponto de vista.

‘Eu não esperava por isso, mas eu realmente preciso de um


trabalho… '

“Você não tem vaga pra outra coisa? Eu acho que eu não levo
jeito para isso.” Zoe perguntou. “Posso fazer qualquer outra coisa,
tipo cuidar do escritório ou até limpar.”

“Bom, eu discordo que você não leva jeito para a coisa, mas
você pode mudar de ideia mais tarde. Eu não preciso de ajuda no
escritório, mas tem uma vaga na cozinha se você insiste. Porém,
não ganha gorjeta.”

“Ah.”

“É tudo o que tenho a oferecer se você não quiser servir mesas


aqui. Mas é um desperdício. Tenho certeza de que você
rapidamente estaria ganhando super bem. Se você tem medo dos
clientes, fica tranquila. Nossos seguranças são muito bons e as
garotas podem contar comigo pra chutar o rabo de cliente folgado e
abusado.”

Zoe trocou um olhar com Jackie, e Marcus comentou,

“Se você quiser tentar, descobrirá ser mais fácil do que parece.
Contanto que você consiga equilibrar bandejas… Bom, eu deixarei
você se decidir enquanto vejo outras coisas. Você pode começar
hoje, na cozinha ou no salão.”

Marcus deixa o salão vazio, e Jackie se virou para Zoe.

“Você acha que não é para você?”

“Não tenho certeza, Jackie.”

“Você precisa de dinheiro rápido para os documentos, amiga.


Não posso te ajudar nisso, tenho as prestações da balsa…”
“Eu sei. Você já está ajudando muito.”

“No fim, a escolha é sua, amiga. Como atendente, vai chover


gorjeta. Mas você pode trabalhar na cozinha, também.”

“Eu me pergunto se seria tão difícil conseguir emprego sem


documentos…”

“Bom, eu não sei, mas te aconselho a pegar uma das ofertas do


Marcus para conseguir pelo menos algum dinheiro rápido. Sem
dinheiro ou documentos você não vai a lugar algum.” Jackie
comentou, deixando Zoe ter um tempo para pensar enquanto ia
conversar com o bartender que estava chegando para seu turno.

‘Bom, também não posso ficar escolhendo muito. Eu pegarei a


vaga de atendente. Preciso de dinheiro rápido.’

Quando Marcus retornou, Zoe já tinha uma resposta para ele.

“Como você disse que ninguém vai me forçar a nada que eu não
queira aqui, e que os clientes não podem me tocar, vou aceitar a
vaga de atendente.”

O dono do Dorado’s confirmou. “Não se preocupe, os clientes


não têm permissão para tocar suas ‘minas de ouro’! É só chamar
um dos seguranças e eles vão lidar com os clientes mais folgados.
A regra é: pode olhar, mas não pode tocar. Isso deixa os caras ainda
mais bobos e as gorjetas ficam ainda maiores.”

“Mas você nem pediu para olhar os meus seios para ver se estão
no padrão da casa…” Zoe ponderou.

“Acredite-me: estou nesse trabalho há anos e eu sei que você


tem umas belezuras aí para combinar com o seu belo rosto.”

“Obrigada, eu acho?”

“Venda minhas bebidas com eles, trate os clientes bem, paquere


um pouquinho. É tudo o que eu peço.”
“Entendi! Bom, eu nunca fiz nada parecido na vida, mas não
estou com medo de tentar. Estou pronta para um teste esta noite!”
De fato, havia algo na proposta que a excitava. Era como quebrar a
casca de sua vida toda certinha até ali, e fazer algo totalmente fora
da curva. Ela seria capaz?

“Faremos o teste de uma noite, então. Tudo o que você precisa


fazer é servir rápido e com gentileza, talvez flertar um pouquinho, e
manter o sorriso no rosto. Mas já aviso, se você ficar, você não pode
trazer problemas para a casa, como um namorado ciumento ou
coisa do tipo.”

“Ok. Estou dentro!”

Marcus ficou satisfeito com sua decisão e a levou até Jeanne, a


gerente, que apresentou Zoe às outras garotas.

"Meninas, esta é Zoe. Zoe está precisando da nossa ajuda e


está disposta a trabalhar. Então deem uma força, ok?"

Ela recebeu um curso relâmpago e um uniforme, que consistia


em shorts jeans e uma camiseta branca muito cavada que permitiria
que seus seios fossem espiados a cada vez que servisse ou
limpasse a mesa.

No primeiro momento, Zoe quase correu do vestiário onde as


outras meninas de todos os estilos possíveis se trocavam em meio à
muita conversa. Porém, ela se convenceu a ficar, pois havia
assumido um compromisso. Não só um compromisso com Marcus e
Jackie, mas consigo própria. E se considerava esperta o suficiente
para prestar atenção ao menor sinal de perigo.

A maioria de suas colegas de trabalho a recebeu bem, enquanto


outras se mostraram indiferentes. Zoe conseguiu desviar-se das
perguntas porque tinha suas próprias para fazer a elas.

Depois de um momento, Zoe viu e falou tanto de seios que se


tornou natural pensar neles como meros agentes provocadores,
‘minas de ouro’, ou ‘armas de sedução’.

Zoe, que havia vivido até ali uma vida de elite e sob a educação
de uma verdadeira dama, sua tia Claire, começava a se libertar das
amarras que impediam sua autoexpressão. Ela gostava da ideia de
usar seu corpo para seduzir e ter algum poder. Isso era excitante, na
verdade!

“Sei que eu não posso pensar que isso aqui são só rosas e
glamour, mas até que é liberador. É diferente de ser espiada sem
permissão. Sou eu permitindo ser vista e desejada.”

As melhores dicas das veteranas foram sobre manter o controle


o tempo todo. E como ganhar gorjetas ainda melhores. Zoe fez
questão de ouvir todas as dicas que pôde até a hora de começar a
trabalhar.

A colocaram em uma área perto de uma veterana. E Zoe fez


muito sucesso com os clientes, para sua surpresa. Os telões
transmitiam variados esportes e os homens conversavam
animadamente entre si.

Enquanto ela os servia com bebidas e petiscos, Zoe descobriu


que a clientela era mais civilizada do que ela esperava. As piadinhas
bobas e os flertes foram recebidos por ela com bom humor e
disposição, e eles lhe deram gorjetas generosas. Quando ela se
atrapalhou com os pedidos, Shawn, o bartender, e Dani, a outra
atendente, a ajudaram rapidamente.

A noite não estava tão agitada, e o bartender a chamou de canto


um momento. Zoe se aproximou, ávida por um descanso. Seus pés
a estavam matando!

“Jackie ligou pra saber como você está se saindo.”

“E o que você disse?”


“Você me surpreendeu, guria. Parecia que você não ia durar nem
a primeira hora com esse teu naipe de menina rica, mas você foi
bem! Você foi bem!”

“Que bom que a equipe está me ajudando a aprender o serviço,


mas eles não estão brincando. É um trabalho muito cansativo. Ao
mesmo tempo, é o meu primeiro emprego, e eu estou orgulhosa
disso.”

“Os clientes gostaram de você. Daqui do bar eu vi alguns


embasbacados. Acho que ainda não tínhamos a ‘princesinha’ aqui
no bar. Foi uma grande adição. Toda inocentinha e tal. Deixa os
caras ainda mais tarados.”

Zoe riu. Ela entendia o que Shawn estava falando. Apesar de


usarem o mesmo uniforme básico, as mulheres preenchiam alguns
arquétipos típicos das fantasias masculinas com acessórios,
tatuagens e piercings, cortes de cabelo e suas atitudes. E pelo jeito
ela também cabia em um deles.

“A melhor parte é quando eles esquecem o pedido que estão


fazendo e ficam babando! Eles se derretem se sorrio ou pisco, e
parecem lobos espiando meus ‘meninos’.”

“Nenhum deles foi engraçadinho além da conta?”

“Não. Talvez seja como você disse por causa do meu jeito. Eu
não sei como reagiria se um cliente fosse rude…”

“Quando uma mulher é dona de si, nenhum homem abala a


confiança dela. Mas isso uma garota tem que aprender sozinha…”

“É esquisito ouvir esse tipo de conselho de um homem…” ela


sorriu, e Shawn também.

“Conheço muitas garotas. Algumas quebram os caras. Outras


deixam os caras as quebrarem. E os caras não terminam com
nenhuma dessas garotas, no fim. Vai por mim! Eu sou um cara!”
“Que bom que você aprova meu trabalho e é tão bom com
conselhos. Talvez eu devesse melhorar minha autoconfiança.”

“Tenho certeza de que isso está dentro de você. Só não se


envergonhe e deixe isso florescer! Um monte de problemas vai
desaparecer quando você fizer isso. Você vai ver!”

“Obrigada, Shawn! Espero ouvir mais da sua sabedoria no


futuro!”

Zoe não teve problema algum durante a noite e ficou feliz ao


contar suas gorjetas depois que seu turno acabou.

‘Se isso continuar pagando assim, vou conseguir arranjar um


lugar pra mim logo. E novos documentos também!’ ela comemorou.

∞∞∞

Para a surpresa de Zoe, Marcus a esperava quando ela estava


prestes a ir embora. Porém, ele estava sério e pensativo, e não
sorridente como antes.

Zoe sentiu imediatamente que havia algo errado, e travou o


maxilar para impedir que o corpo tremesse em pânico. Algo lhe dizia
que ela não iria gostar disso, fosse o que fosse. Ela tentou encarar
aquilo com um sorriso, na esperança de conseguir reverter algum
mal-entendido.

“Creio que subestimei meu poder de adaptação… Você estava


certo sobre mim, Marcus.”

“Verdade. Você foi excepcionalmente bem, Zoe.”

“Bom, que legal. Mas, por que parece que você está prestes a
me dar más notícias? Eu fiz algo errado?” Zoe foi direta. “Posso
fazer melhor amanhã. Só me diga o que preciso fazer.”

“Não, docinho. Todo mundo gostou de você, e eu também. Eu


estava achando que você não ia se adaptar, mas olha aí.” Ele
suspirou. “Não é sobre isso, na verdade. Desculpa, Zoe, mas não
posso te manter no Dorado's.”

“Mas então… Por quê?!”

Marcus pegou o celular, e depois de zapear um pouco, ele


mostrou a tela para Zoe.

Estamos procurando por esta mulher, viva ou morta.


Zoe Düssel; sobrenome de solteira Lovitt, 23 anos. Altura:
1,71. Peso: 50 kg. Loira. Sem tatuagens. Cidadã norte-
americana.

A família Düssel vai recompensar generosamente por


informações sobre o paradeiro dessa mulher.

O texto era acompanhado por uma foto recente de Zoe. Não


tinha como ela negar ser aquela pessoa.

“Eu sabia que você estava encrencada, Zoe. Mas eu não posso
te ajudar. Desculpe.”

Ele franziu o cenho, envergonhado por sua decisão, e se


justificou. “O bar é frequentado por gente ligada aos Düssel. Eu já
tive problemas com eles no passado. É por isso que você não pode
ficar. Eu não posso arriscar, menina. Tem muita coisa envolvida.
Desculpe.”

Zoe não sabia que a influência da família Düssel chegava até ali,
mas ela estava aprendendo rápido.

“Eu nunca imaginei. Por favor, não conte para eles.” Zoe juntou
as mãos em um apelo dramático.
“Zoe, eu não vou contar, mas acho que é só questão de tempo.
Mais um dia aqui e seria impossível fingir que não sabemos quem
você é. Fugir é sua única opção?”

“Eu… Não importa. Eu tenho que ir. Obrigada por tudo, Marcus.
Eu não quero te prejudicar ou prejudicar a Jackie. Tenho que ir para
longe.”

Ele colocou um envelope com dinheiro na mão de Zoe, com a


expressão contrita.

Os olhos de Zoe se encheram de lágrimas, e seu coração se


apertou sabendo que a máfia continuava atrás dela.

‘O que eu faço agora?’

Zoe ficou paralisada por um momento, até perceber que não


daria conta sozinha.

‘Ver aquele alerta me fez lembrar que Wolf é mafioso. E ele tem
uma face a manter. Não é como se ele fosse aceitar que eu voltasse
sem me pressionar até descobrir tudo… Onde eu estive e com
quem. E como ele e Justin se conhecem… Como eles iriam lidar
com isso? Eu não posso voltar para Naviedo! Ou posso?’

Suas costas escorregaram contra a parede, e Zoe segurou as


lágrimas. E por mais que quisesse confiar em Justin, ela não tinha
certeza de nada. Além disso, o que Wolf faria se apenas imaginasse
que ela e Justin haviam chegado muito perto de transar?

A única solução era deixar aquele lugar. Ela tinha o bastante


para pegar um ônibus e viver por alguns dias. Se fosse discreta e
estivesse longe da área de influência deles, Wolf acabaria
acreditando que ela estava morta. Era o que Zoe queria acreditar.

A ideia de contatar seu marido e dizer que estava viva cruzou


sua mente, mas logo Zoe afastou aquela possibilidade. ‘Ele iria me
interrogar até acabar descobrindo sobre Justin… Não é como se um
mafioso fosse deixar isso passar.’

Zoe pegou um táxi e voltou para o apartamento de Jackie, com a


cabeça cheia de conflitos e pensamentos tortuosos. Ela planejava ir
embora logo de manhã, mas antes precisava dizer adeus para
Jackie.

Ela encontrou a porta do prédio destrancada. Seu coração


acelerou, mas Zoe tentou convencer a si mesma que era só uma
coincidência.

Passo a passo, ela subiu as escadas, prestando atenção a cada


som. Era tarde da noite e não tinha ninguém pelos corredores.

De repente, Zoe ouviu um som abafado de arrastar, seguido por


sussurros altos e nervosos. Então, ela ouviu a voz de Jackie.

A outra mulher tentava manter a voz baixa, mas era nítido que
ela estava assustada e com raiva.

“Não! Pára! Tira a mão de mim!”

“A essa altura você devia estar mais esperta. Não tenta me fazer
de bobo. Onde está ela?!”

Eles não podiam vê-la, mas Zoe os via parcialmente no lance de


escadas acima. Marlo e Jackie estavam discutindo!

O sócio de Justin também estava furioso e sibilava as palavras


ameaçadoramente.

Zoe congelou por um momento, com o coração batendo forte


enquanto ela os espiava das sombras.

Ela não sabia o que estava acontecendo, mas não podia deixar
um cara grande feito o Marlo ferir a Jackie! Ele estava ficando muito
agressivo.
“Você devia estar me agradecendo, não me ameaçando!” Jackie
rosnou.

“Você não tem ideia do que está fazendo, tem?” Marlo foi seco
em sua resposta.

“Eu tentei ajudar ela, isso é tudo. Mas ela é problema. Recebi
uma mensagem no rádio mais cedo. Ela pertence à máfia.”

As palavras dela a fizeram repensar sobre sair do seu


esconderijo para ajudá-la. Ela decidiu escutar mais um pouco.

“Ah, corta essa. Não é como se você não estivesse lucrando em


ajudá-la a deixar a ilha.” Marlo zombou da resposta da mulher.

“E se eu estiver? Por que eu tenho que ficar parada olhando


outra mulher chegar e seduzir o Justin? Ainda mais sabendo que ela
faz isso apenas por interesse?!”

“Então você rapidamente fingiu ser amiga dela e a


contrabandeou para longe.”

“Sim. Ela já saiu da cidade.”

“Você está mentindo. Me leva onde você a deixou. Senão…”

“Senão o quê?!” Jackie o peitou.

“Não me provoca, Jackie. Não me importa se o Justin fode você.


Ele está atrás daquela garota como doido e acha que fui eu.”

“Os Düssel também estão atrás dela. Se eu soubesse…”

“Merda. Olha o que você fez. Nunca mais se mete nos nossos
assuntos de novo, está me ouvindo?”

“Não aperte meu braço, seu imbecil.”


“Então não chegue perto dos assuntos dos Düssel, sua doida.
Estou te avisando, ninguém vai te ajudar se você fizer isso. Se você
gosta de ser capitã daquela balsa, é melhor me escutar.”

“Isso não é justo!” Pela primeira vez Jackie pareceu levar a


ameaça de Marlo a sério.

“Tenha certeza de que se o Justin descobrir que você fez isso


porque acredita que é mais que uma ‘peguete’ dele… Você vai ver a
outra face dele. E não vai gostar.”

“Ele não é como você!”

“Claro que não é. É por isso que ele continua ajudando gente
que nem você e ela… Mesmo quando piranhas que nem você
acabam o apunhalando pelas costas.”

“Hah. Quero ver quando Wolfgang Düssel descobrir…”

“Vou falar de novo: não é da sua conta. Chega de papo. Me leva


onde ela está.”

Marlo voltou a arrastar Jackie escada abaixo.

Enquanto isso a mente de Zoe estava trabalhando


freneticamente. ‘Jackie é… um casinho do Justin! E ela me ajudou
só pra me tirar da ilha e da vida dele…?! Tudo o que ela falou era só
parte do plano, o tempo todo?! E Marlo… ele é tão assustador!’

Zoe não podia mais ficar escondida, e se esgueirou para a porta


da frente antes deles. Porém, a porta bateu com estrondo após sua
saída.

“É ela!” Jackie gritou.

Zoe correu o mais rápido que podia, o instinto comandando suas


ações. Ela não confiava mais em nenhum deles.
Ela sabia que Marlo a perseguia, mas não tinha coragem de
olhar para trás.

Ela ouvia os passos dele em seu encalço, e a voz dele


chamando seu nome.

Virando rua após rua, depois de alguns minutos, Zoe precisou


parar. Seu baço estava doendo e ela estava perdendo o fôlego.

‘Onde se esconder?’

Olhando ao redor, ela viu um beco estreito com um muro baixo


encimado por uma cerca. Não foi muito fácil, mas ela escalou a
cerca, pousando do outro lado. Ofegante, Zoe ainda ouvia Marlo a
chamando. Mas acreditava que ele não conseguiria vê-la. E decidiu
esperar mais um pouco para ter certeza de que ele se foi.

Ela olhou em volta, ainda ofegante, procurando saber onde


estava e o que fazer a seguir.

‘Eu não conheço essa cidade, eu não tenho um celular… Eu


estou perdida!’

Para sua angústia, três caras suspeitos vieram em sua direção,


fechando a saída do beco. Não havia dúvidas de que a viam como
uma presa fácil.

Um deles falou com ela, “Ei, garota bonita… Você tá perdida? A


gente te ajuda.”

Ela não tinha como ignorá-lo, e respondeu, sua voz tremendo.


“Não, eu estou bem, obrigada.”

O mais alto e forte deles riu. “Que bom saber, gata… Nesse
caso, você pode fazer companhia pra gente, certo?”

O terceiro aproximou-se, e assobiou após avaliar Zoe.


“Caralho, você é uma gostosa! A gente pode te mostrar a
cidade… E outras coisas também. Uma gatinha dessas num lugar
desses só pode estar procurando uma coisa…”

Os outros caras riram da óbvia insinuação do colega. Um deles


tentou agarrar seu braço, mas Zoe se encolheu, evitando o toque.

Os outros caras a cercaram, e Zoe deu alguns passos para


trás…

“Me deixem em paz!”


Capítulo 5
Lágrimas de terror escorreram pelo rosto de Zoe ao perceber os
três homens a cercando, com os dentes arreganhados como
predadores. Ela não tinha dúvidas do que lhe aconteceria.
“Por favor, não…”
“Zoe. Algum problema?”
Os passos ecoaram nas lajotas imundas do beco. Justin parou a
alguns passos do grupo, estudando seus inimigos.
“Justin!”
O trio olhou por cima dos ombros para ver o recém-chegado. Em
tom ríspido, um deles falou,
“Cai fora, campeão. Não tá acontecendo nada. Nada da sua
conta. Vai arranjar outro lugar pra mijar.”
Os homens viraram as costas para Zoe para encarar Justin.
Justin os deixou ter um relance da arma em suas mãos. “Vocês não
estão entendendo. Vocês é que vão cair fora… Preferem ir andando,
ou em sacos pretos? Vocês escolhem.”
Zoe não imaginava o ver tão transformado. Ele não estava
blefando, ela podia sentir isso. Tudo em sua postura exalava perigo
e determinação. Ele não hesitaria, e sequer os considerava
ameaças reais.

“É… Sanderson!” Um deles exclamou, alertando os colegas. A


atitude agressiva do trio mudou imediatamente. “Epa, cara, foi mal.
A gente não sabia que… não era pra mexer com a mina.”

“Isso. É melhor vocês sumirem se gostam das caras feias de


vocês.”

“Vamo, galera. Tava muito bom pra ser verdade…”

“É, vamos vazar, galera.”


Os três importunadores fugiram como ratos, e Justin se
aproximou de Zoe, a enlaçando em seus braços.

Zoe afundou o rosto no peito de Justin, agarrando a jaqueta dele,


enquanto seu corpo tremia incontrolavelmente.

“Calma, está tudo bem. Acabou. Acabou. Vamos sair daqui.” Ele
sussurrou, acariciando os cabelos dela.

∞∞∞

Justin a levou para um hotel elegante, e Zoe mal prestou


atenção a alguma coisa até que pudesse tomar um banho quente e
tirar suas roupas sujas. Ela se envolveu num roupão macio do hotel.

Enquanto Justin tomava um banho também, ela enviou a roupa


de ambos para a lavanderia do hotel. Ela se surpreendeu ao
perceber que Justin havia levado a arma e o celular para o banho,
ao pegar a jaqueta. Chaves e carteira estavam sobre a mesa.

‘Ele não confia em mim ou espera que o quarto seja invadido por
bandidos? Sinceramente eu não sei o que pensar disso…’

A adrenalina ainda corria por seu corpo, e sua mente ainda não
havia esquecido dos momentos terríveis antes de Justin chegar
àquele beco.

O que teria acontecido… Ela tinha certeza de que teria sido algo
horrível e degradante.

Nem o que aconteceu depois. Como aqueles bandidinhos


fugiram como ratos quando perceberam que era Justin Sanderson.

‘Não faz sentido! Não faz o menor sentido!’


Ele teria atirado se eles não tivessem corrido como ele mandou.
Disso ela não duvidava nem por um momento.

Justin tinha feito aqueles caras paralisarem em terror! Até


mesmo Zoe congelou no lugar quando o viu naquele beco! Ele não
estava blefando. E Marlo havia dito algo. Eles estavam cientes dos
negócios dos Düssel naquela região. Justin tinha até uma foto com
Wolf!

O que aquilo significava? Marlo disse aquelas coisas, mas não


soava como se eles fizessem parte dos Düssel. E aquilo confundia a
mente de Zoe.

As primeiras luzes do amanhecer entravam pelas persianas


quando Zoe as fechou com o blecaute, preparando tudo para que
pudessem descansar.

Ao sair do banho, Justin foi para a cama, e passou a ler as


mensagens em seu celular, com o cenho franzido em pensamentos
sombrios.

‘Parece que ele está de mau-humor de novo… Não é de se


admirar…’

Zoe deitou-se ao lado dele na cama, em silêncio. Ela estava


muito agitada para dormir, mesmo que seu corpo precisasse. Mas
não sabia como começar a se explicar. Ela sentia a irritação dele, e
compreendia o motivo. Zoe perguntou, cautelosa.

“É algo importante? Eu queria falar com você.”

“Bom, Jackie está tentando falar comigo. Contar a versão dela


dos fatos.”

“O que ela te disse?”

“Que o amigo dela enviou pra ela uma mensagem dizendo que
não podia ficar com você no bar dele.”
“Ela está tentando te alertar contra mim?”

“Parece que sim. Mas é desnecessário. Posso tomar minhas


próprias decisões.”

Ainda assim, o rosto dele estava duro. Após digitar algo,


finalmente, Justin colocou o celular de lado.

“Eu não sei por quê você fez isso. Eu te prometi que ia encontrar
um lugar pra você e te ajudar.”

“Pra ser honesta, eu achei que ia causar mais problemas se eu


dependesse de você. Eu tentei fazer as coisas sozinha.”

Justin balançou a cabeça em desaprovação.

“Eu tive a estúpida ideia de que eu ia dar conta sozinha e confiei


na primeira pessoa que pareceu empática…” ela continuou.

“Hmmm.”

“Mas calhou que vocês têm uma história. E ela é bem


ciumenta…” Zoe não pôde deixar de alfinetá-lo com isso.

Justin não se deu ao trabalho de negar, mas ficou preocupado.

“O que Jackie fez pra você?”

“Ela não chegou a me fazer nada de mais. Mas ela queria me


afastar, e confessou isso para Marlo. Não sei o que ela queria. Eu
acabei ouvindo a conversa deles, e fiquei assustada. Por isso que
eu saí andando sozinha pela noite.”

“Esse jogo está totalmente contra você, Zoe. Eu espero que você
perceba que precisa de ajuda,” Justin falou, suspirando
pacientemente.

“O que você sabe sobre mim?” Zoe perguntou.


“O iate gigante de Walter Düssel estava por essas águas na
mesma noite que eu te encontrei. Você sabe quem ele é, certo?”

Zoe concordou lentamente, notando como uma veia na testa


dele parecia que ia explodir.

O tom amargo também não foi difícil de notar. Zoe ia perguntar o


óbvio quando percebeu que os olhos dele estavam marejados.

Zoe percebeu que, o que quer que ligasse Justin aos Düssel
parecia ainda ser uma ferida aberta. Ela sentia que era melhor
deixar isso quieto por enquanto. Considerando o histórico horrível
do sogro que ela tinha em Walter Düssel, Zoe tinha certeza de que
era algo chocante, triste e desagradável. E de sua própria parte, ela
sentia o mesmo.

“É um assunto que eu não estou preparada para explicar agora,


Justin. É doloroso e vergonhoso. Por favor, me dê um tempo para
eu lidar com isso na minha mente primeiro.”

“Então, você está se escondendo dos Düssel.” Ele concluiu.


“Você pode ficar na ilha. Os Düssel não vão te achar a não ser que
você atraia a atenção para si.”

“Obrigada, Justin.”

Depois de Justin ter atravessado o mar e a salvado, ela não


pensaria em fazer nada diferente. Zoe sabia que ele ainda estava de
mau-humor, e gostaria de poder amenizar o clima entre eles.

“Você já sabe a essa altura que sou uma tola inexperiente e


incapaz de sobreviver sozinha como eu imaginava. É que eu queria
poder cuidar disso por mim mesma… Foi isso.”

“Um dia você provavelmente conseguirá, mas você pode contar


com amigos também. Não precisa ter vergonha disso.”

“Você é meu amigo?”


“Se você me colocar na friendzone, provavelmente é assim que
você me vê. Mas eu não pretendo ficar lá, Zoe.”

Ela corou, porque definitivamente ela não conseguia vê-lo


somente como amigo.

“E isso não significa que você não pode contar comigo mesmo
assim, se você preferir dessa maneira. Acredite em mim: eu te
ajudaria de qualquer maneira.”

“Isso é muito reconfortante de se ouvir, Justin.”

“Bom, eu estou curioso: onde você estava antes de eu te


encontrar?”

Zoe respirou fundo. Ela gostaria de manter as mentiras ao


mínimo agora. Porém, como voltar atrás e contar o motivo pelo qual
ela fugia dos Düssel? O tom de Marlo e de Justin sobre a família
mafiosa dava a entender que havia rivalidade entre eles. Agora que
Zoe sabia que Wolf tinha salvado Justin, ela se perguntava se o
retrato no quarto era um lembrete moral ou algo do tipo.

Mas agora, ela ainda ia descobrir como Justin reagiria ao saber


como ela passou a noite na cidade.

“Desculpe. Eu não sei o que você vai pensar disso. Jackie me


apresentou para Marcus Dorado…”

“Eu acho que já ouvi esse nome antes…” O tom de Justin era
neutro.

“Ele tem um bar chamado Dorado's. Ele foi legal. Na verdade,


todo mundo foi.”

“Então você arranjou um emprego lá? Como foi?”

“Bem, é um bar para o público masculino. As atendentes ficam


com os seios em evidência, por assim dizer,” Zoe ficou atenta à
reação dele.
“Hm… eu não posso imaginar você nesse tipo de trabalho…
Espera! Na verdade, eu posso! Uau, essa história está ficando cada
vez mais interessante…” O sorriso diabólico que se formou nos
lábios dele deixou Zoe confusa. “É tão sexy e tão familiar…”

Justin reagia diferente do que qualquer um dos ex-namorados de


Zoe teria feito. Ela esperava desaprovação ou sarcasmo velado e
não foi isso o que recebeu. Ele definitivamente não era igual às
pessoas que ela já tinha conhecido na vida!

“E como foram as coisas por lá?”

“Eu trabalhei duro e o bartender me deu dicas valiosas sobre


mim mesma. Valeu a pena. O que ele me disse me fez pensar.”

“O que ele falou que foi tão inspirador?” Justin quis saber.

Zoe decidiu fazer mistério, apenas para parecer mais


interessante para ele, e deu de ombros. “Eu te conto, um dia.”

“Eu só sei que teria falido se você servisse minha mesa…”

Zoe riu diante do elogio exagerado, mas no fundo gostou. Ela se


sentiu sexy e mais confiante do que nunca. Ela alcançou a bolsa e
mostrou as notas com orgulho infantil. “Eu tirei umas gorjetas boas,
pra falar a verdade!”

Justin gargalhou e aplaudiu.

“Que pão-duros! Você merece mais, muito mais! Você ficou com
vergonha?”

“Nas primeiras duas mesas eu estava nervosa, mas depois,


relaxei. Eles não agiram como predadores. Sei que sou bonita, mas
é diferente. Eu nunca fui abertamente desejada, de um jeito não-
ofensivo. Isso me excita.”

“Hm… Quanto mais penso nisso, mais vejo que o mundo é


injusto. Eu acho que minha Vênus devia pagar peitinho pra mim…
Seu mais leal adorador.”

O sorrisão sem-vergonha foi tão de menino e delicioso que Zoe


teve vontade de beijar ou até morder as bochechas dele!

“Seu bobo! Mas não é algo que eu teria feito se não precisasse
realmente, sabe? A experiência foi interessante, mas eu prefiro
um… público mais restrito?”

“Bom saber. Seus maravilhosos seios não ficarão hipnotizando


homens aleatórios por aí como fizeram comigo. A sociedade está
em segurança. Boa garota.”

O senso de humor dele te faz rir.

“O que você quer dizer com isso?!

Fala sério, Vênus! Você sabe! Se seus olhos não fossem tão
especiais, seria difícil tirar os olhos dos teus peitos.”

“Essa é a sua melhor cantada?! É sério isso?!” Zoe gargalhou


até sua barriga doer, enquanto Justin a olhava com olhos divertidos.

“Você descobriu minha fraqueza. Eu não consigo evitar falar o


que penso e acabar feito um pateta na sua frente. Eu até tentaria
ser sedutor e misterioso, mas gosto de te fazer sorrir,
principalmente. Eu amo seu sorriso.”

“Bom, eu gosto que você não finja ser o que não é quando está
comigo…”

E, no fundo, Zoe sabia que ele era misterioso e sedutor, também.


E ela sabia que esse jeito brincalhão era um modo de fazer as
pessoas acreditarem que ele era inofensivo e confiável. Ela o tinha
visto agindo naquela mesma noite. Justin teria puxado o gatilho se
aqueles caras tivessem puxado briga. Ela sabia que ele teria feito.

“Por que isso é tão importante, afinal? Prefiro mudar o assunto


para o homem alto e charmoso que me salvou depois…”
“E aquele cara prefere não passar por isso de novo; mas ele não
ia achar ruim de ganhar um beijo ou dois pelo trabalho…” Justin
falou casualmente.

“Ai ai…” Ele era inacreditavelmente charmoso fazendo toda essa


cena, e ela se conteve para não rir.

“Ou talvez encenar como a donzela em perigo se torna louca de


paixão e desejo pelo seu salvador canastrão e durão? Hm?”

“Ah, então você gosta de roleplay?” Zoe perguntou.

“Roleplay sexual? Você curte?” Ele perguntou, parecendo muito


animado com as coisas que estava descobrindo sobre Zoe. E
naquele momento, Zoe estava muito animada com o flerte explícito
para se policiar.

“Eu posso ter uma ou duas ideias sobre isso… Na verdade, isso
me excita sim.

“Vênus, você é realmente a deusa do amor.”

Num capricho, Zoe mostrou rapidamente um seio para ele, com


um sorriso malicioso e uma piscadela. E logo o tapou de novo.

Justin ficou boquiaberto, e implorou, “EI! Mais! Por favor, mais!”

“O que é isso?!” Zoe ergueu uma sobrancelha, saboreando a


ansiedade dele. Os olhos dele brilhavam, ansiando por mais do seu
corpo.

“Então… Você quer mais?”

“Cada pedacinho de você, e mais um pouco.”

Dessa vez a voz dele saiu rouca e grave, e seus olhos estavam
escuros. Zoe pôde ver o volume armando-se sob o robe dele. Uma
ideia surgiu em sua mente.
“Bom… Então que tal uma regra, em troca de mais?”

“Que regra?” ele perguntou, entre desconfiado e animado.

“Sem mãos. Sem conversa. Eu no comando.”

Ele deu um sorrisinho safado.

“E se eu desobedecer?”

“Então eu vou… Parar nossa brincadeira.”

Zoe engatinhou na cama numa pose felina, deixando o roupão


escorregar pelo ombro e dando a ele um vislumbre do seu corpo.

Os olhos verdes dele ficam escuros, e os lábios ligeiramente


entreabertos, e Zoe viu os músculos dos braços dele contraírem
enquanto ele se reajustou no lugar, nitidamente se contendo.

Ela manteve contato visual enquanto engatinhava e montava


sobre as pernas dele.

‘Quero mostrar a ele que sou eu quem está no comando…’

As mãos dele estavam firmemente fixas ao lado do corpo. Justin


encarou Zoe em expectativa, mas seus olhos não eram inocentes.

Claro que não eram inocentes, ela refletiu. Ela imaginava que as
mulheres vinham atrás dele como enxames. Mas ele não era um
playboy… Ou era?

Zoe mordeu o lábio inferior, e lançou um olhar sob os seus


longos cílios, deixando o robe deslizar totalmente, assim revelando
sua nudez para ele.

Ao mesmo tempo, ela se inclinou para frente e desatou o robe


dele, afrouxando o suficiente para ter acesso ao peito de Justin.
É como se as peles de ambos se provocassem. Ela notou o
corpo musculoso e dourado de Justin se arrepiar, assim como o seu
próprio estava.

Os olhos claros dele a devoravam, e a barriga de Zoe esbarrou


em algo duro e protuberante ali embaixo.

“Hahaha!”

Ela piscou para Justin e deu um risinho charmoso, apenas para


fazer seus seios trepidar e atraírem a atenção total dele.

Os músculos dele moviam-se sob a pele, e Justin engoliu em


seco e molhou os lábios enquanto tentava manter as mãos sob
controle.

Zoe esperava que esse jogo fosse tão excitante para ele quanto
era para ela. Seu íntimo pulsava em antecipação.

Zoe colocou as mãos perto das dele no colchão, agora


totalmente de quatro sobre ele. E o mais sedutoramente que
conseguiu ela se inclinou mais, alcançando seu peito musculoso e
beijando logo acima do seu coração que batia forte.

Não é como Zoe não soubesse que logo atrás dela existia um
espelho enorme, e Justin tinha uma visão privilegiada e podia ver
perfeitamente seu traseiro nu e empinado.

Ela traçou um caminho molhado e quente com sua língua, até o


pescoço dele, e exultou internamente quando ele gemeu quase
dolorosamente.

Quando ela prendeu entre os dentes um pouco da pele, logo


abaixo do maxilar, ele grunhiu, “Você está me matando…! Estou tão
duro nesse exato momento!”

Zoe afundou o rosto na curva do pescoço de Justin, e riu


baixinho.
“Perdeu! Você falou! Quanto tempo levou?! Um minuto?!”

As mãos dele a agarraram tão rapidamente que o mundo girou


ao redor dela. Zoe deu um gritinho de surpresa.

Ela não tinha certeza se isso era uma manobra amorosa ou um


golpe de judô, mas o resultado foi o mesmo: agora, ela era a presa!
De barriga para baixo, pulsos presos no colchão, e sob o corpo dele,
encarando o espelho!

“Como… Você fez isso?!” Isso só confirmava que ela vinha


lidando com um lobo em pele de cordeiro todo aquele tempo!

Ele não respondeu, aspirando e beijando o pescoço de Zoe


enquanto a pélvis se esfregava contra seu bumbum. O pau dele
roçava a xana encharcada de Zoe.

Soltando por um momento um de seus braços, ele usou a mão


sob a barriga dela, a içando e fazendo Zoe ficar novamente de
quatro. A mão dele deslizou para um dos seios de Zoe e o apertou
com vontade, dois dedos como uma tesoura ao redor do seu
mamilo. Zoe gemeu muito alto, para sua própria surpresa.

Dando uma olhada rápida no espelho, Zoe teve uma perfeita


visão do que estava acontecendo.

Os olhos de ambos se encontraram e se conectaram no espelho.

Era bonito de se ver; excitante. Zoe sentiu sua xana inundando


com o ligeiro roçar e a promessa do que viria depois.

E claro, como quão sexy os dois estavam naquele exato


momento.

‘Adoro sentir a respiração dele no meu pescoço. O calor do


corpo dele contra o meu! O aperto dele na minha carne!’

Isso faz os joelhos de Zoe bambearem. Mas ela empinou o


bumbum e esfregou-se contra o pau de Justin, o provocando.
“Ah, você nem sabe o que eu vou fazer com você…”

Ele grunhiu perto do ouvido de Zoe, passando a lamber e


mordiscar seu lóbulo.

“Isso é guerra?!”

Zoe rebolou e sentiu o pau dele deslizar pela extensão da sua


xana escorregadia. Seu botão latejou com o toque.

Ela mordeu o lábio para não gemer, mas Justin viu sua reação
pelo espelho.

“Não me ameace… Você não sabe do que sou capaz…” Ele


murmurou, arrepiando todos os pelos do corpo de Zoe que ainda
faltavam.

Seus lábios se encontraram num beijo sedento e selvagem, mas


quando terminou, ela tinha uma resposta,

“Você também não sabe do que sou capaz…”

A mão de Justin deixou o seu seio para alcançar a junção entre


suas pernas, circulando seu clitóris intumescido.

“Ahmmm!”

Zoe deu um solavanco e choramingou, manhosa.

Por trás, ele a guiou para que ela descansasse o bumbum nas
coxas dele, quase sentando-se no colo dele, enquanto ele afastava
as pernas de ambos. Ela pôde ver seu corpo frontalmente, exposto
para ele pelo espelho, enquanto Justin ia para frente e para trás
entre suas dobras.

Era quase impossível para Zoe não implorar para ele acabar
com essa tortura e enfiar aquele pau delicioso e pulsante nela.

“Zoe, você me deixa doido!”


Mas um pensamento arteiro veio à mente de Zoe quando ela o
viu jogar a cabeça para trás com os olhos fechados em êxtase.

Ela escapou dos braços dele para fora da cama. E nunca saberia
como havia juntado forças para isso.

“Espera! O que aconteceu? Tem alguma coisa errada?” Ele abriu


os olhos de novo, surpreso, enquanto Zoe vestia e amarrava seu
robe.

“Nada de errado… Você perdeu, se esqueceu?”

“Puta que pariu! Mas que danadinha, hein?!”

“Você sabia que era um joguinho. E tentou trapacear e escapar


da punição!” Zoe expôs a trapaça dele. Justin riu e a seguir grunhiu
e suspirou em derrota.

Ela resolveu expor seus verdadeiros motivos também.

“Mas você não sabia que eu estava blefando. Eu só quero ter


certeza do que estou fazendo. Na verdade, eu sou virgem.”

Zoe viu como a expressão dele mudou com as suas palavras.


Justin mergulhou em seus próprios pensamentos por um momento,
e então se virou para Zoe, boquiaberto.

“Espera… Não é um crime ser virgem nessa área, é?” Ela tentou
brincar, incerta do motivo da reação dele.

Justin balançou a cabeça e franziu o cenho novamente, perdido


em novos pensamentos. “Eu não estou entendendo… E para ser
sincero, achei que a gente estivesse na mesma página…”

“Me desculpa por te provocar. Eu nitidamente não sabia estar


brincando com fogo. É que…” Zoe decidiu expor seus sentimentos,
a única coisa com a qual ela podia ser honesta com ele no
momento.
"Eu não vou negar que você me atrai. Mas eu percebi que sou
muito inexperiente _ na vida, na cama, em tudo_ pra saber o que eu
estou fazendo."

Ela respirou fundo para continuar, percebendo que ele prestava


muita atenção em suas palavras.

“Eu fui colocada numa situação contra a minha vontade… Eu


estava naquele iate contra a minha vontade.”

“Sinto muito, Zoe.”

“E fui arrastada pelo mar… No fundo, foi como uma benção e


uma segunda chance, Justin. Eu quero ter o controle sobre minha
vida! Para tomar decisões informadas, sólidas! E por isso,”

“… Você não quer deixar as coisas acontecerem no calor do


momento e depois se arrepender.” Justin a interrompeu
completando o óbvio fim da sentença de Zoe. "Acho que entendi
agora."

∞∞∞
“Eu não acredito! Já é noite novamente!” Zoe acordou sozinha
na cama. Justin não estava no quarto. Isso causou ansiedade em
Zoe, que após se vestir notou que nada dele estava ali.

‘Ele… Me abandonou aqui?’

Ela estava tão nervosa que não conseguia pensar direito, então
vestiu sua roupa que a lavanderia havia entregado e desceu para a
recepção do hotel.

Em sua mente sentimentos confusos de abandono e traição.


Seus velhos medos de não ser boa o suficiente, de fazer coisas que
afastassem as pessoas, voltaram a assombrá-la. Porém, dessa vez,
ela estava consciente deles.

‘Será que ele me achou muito piranha? Será que ele descobriu a
verdade? Será que ele apenas fingiu ser compreensivo e, na
verdade percebeu que sou uma virgem confusa e cheia de
problemas? Sei que sou muito insegura… Será que é isso que faz
com que os homens não fiquem perto de mim? Será que eu os
afasto com meu comportamento? Por que sou assim?!’

Sua mente perturbada não a deixou em paz durante todo o


trajeto do elevador.

Ao chegar na recepção, Zoe foi direto ao balcão.

“Oi, com licença. O hóspede do 1102 deixou o hotel?” Sua voz


ansiosa nem parecia a da mulher que ontem quis comandar na
cama. Zoe tinha os nervos em frangalhos.

“Olá, boa noite. O Sr. Sanderson?” o atendente deu seu sorriso


profissional. “Ele pode ser encontrado no restaurante.”

“Uh?” Novas perguntas a assaltaram. Aquilo não fazia sentido. A


outra recepcionista se ofereceu:

“Se quiser posso levá-la até o restaurante, madame.”

Ela assentiu e foi acompanhada pelo saguão até o restaurante


do hotel de luxo. Ela certamente não estava vestida para o ambiente
clássico, mas essa era a menor de suas preocupações.

Não demorou muito para localizar apenas com o olhar Justin em


uma mesa, conversando com um homem grisalho e bronzeado ao
extremo. Ambos olharam para ela assim que ela pousou os olhos
neles.

Justin sorriu com os lábios, porém seu olhar era sério.


Mas ele se levantou e veio até ela. Seu sorriso se tornou mais
franco conforme se aproximou.

“Oi, dormiu bem. Eu queria voltar logo, mas encontrei um velho


amigo. Venha conhecê-lo.” A mão dele em seu ombro foi a melhor
coisa naquele momento.

Justin a conduziu de volta à mesa, onde o homem corpulento e


de sorriso franco se levantou para cumprimentá-la.

“Zoe, este é Hendrik Janssen, um amigo que também está na


área da exploração submarina. Hendrik, esta é minha namorada
Zoe.”

“Uau, Justin, será que é dessa vez?” o homem tinha um


inconfundível sotaque holandês. Zoe simpatizou com ele, que não
foi logo elogiando como ela era bonita.

“Se depender só de mim, nos casamos depois de amanhã,”


disse Justin ainda acariciando seu ombro e a olhando como se ela
fosse a coisa mais preciosa do mundo. Zoe retribuiu o sorriso sem
nem perceber, ainda assustada como sua mente havia criado
pensamentos horríveis minutos antes.

“Ah, sim! Aqui nas Bahamas você pode casar em três dias! Eu
tinha me esquecido do fato!”

Zoe se sentou com eles, e Justin lhe mostrou a mochila ao seu


lado. A mochila de Zoe. Ela ficou surpresa, mas ele explicou.

“Eu desci para pegar suas coisas. Um entregador veio deixar


aqui no hotel. Foi quando encontrei Hendrik. Uma ótima
coincidência.”

“Ah, sim! Este cara torna tudo difícil. Já estava me preparando


para ir a Naviedo! Mas, Zoe… de onde eu te conheço mesmo?”
A mão de Justin parou no lugar sobre o ombro de Zoe, e ele
respondeu por ela,

“Zoe e eu nos conhecemos no Brasil quando ela estava de férias


em Trancoso. Tive que persegui-la muito. Não jogue seu charminho
barato para cima dela, Hendrik!”

“Ah, longe de mim! Eu apenas tive a impressão de ter visto seu


rosto recentemente…”

O estômago de Zoe fisgou de medo, e ela agradeceu a mentira


de Justin e seu abraço.

“Eu gostaria de tê-lo conhecido antes, Sr. Janssen, mas estive


nos últimos dias em Naviedo com o Justin, então…”

“É, pode ser. O tempo no mar me deixou meio míope, mas


insisto em não usar óculos…”

A conversa mudou para outros assuntos. Os dois homens


falavam sobre as explorações do passado com empolgação, e
Hendrik passou a aliciar Justin para uma nova aventura.

Em um momento quando o holandês pediu licença para ir ao


banheiro, Justin desculpou-se com Zoe.

“Sei que nós não falamos nada disso. Porém, não quero que
meu amigo seja a pessoa a te expor, mesmo que sem querer. Por
isso inventei todas essas mentiras. Nesse momento, temos que ser
cuidadosos, até eu conseguir resolver essa situação. E eu vou
resolver. Só me dê alguns dias.” Ele foi resoluto.

“Você disse ao seu amigo que somos namorados…”

“Foi para o seu bem… Mas são meus planos para o futuro, não
se esqueça.” Justin piscou para ela, que acabou sorrindo sem
querer.
“Ao menos estou vendo que Hendrik realmente quer você nessa
nova expedição. Ele veio de longe para te convencer.”

“Sim! Mas passar a noite com ele não era exatamente o meu
sonho para esta noite!” O sorriso malicioso de Justin combinava
com o brilho dos seus olhos. Porém, ele baixou o tom para pedir,
desta vez sério. “Zoe, você precisa voltar para o quarto. Se você for
vista agora, será muito ruim. Me desculpe.”

Zoe não era tola o bastante para discutir sobre isso. Ela pegou
sua mochila e sorriu sinceramente.

“Agora eu sei. Não tenha pressa. Eu vou jantar e assistir TV.”

“Volto assim que possível.” Justin beijou seu rosto ternamente.

Ao retornar para o quarto, Zoe sentia-se angustiada. Somente


naquele momento ela entendeu o quão sortuda estava sendo até ali.
Na noite anterior, ela tinha até mesmo servido drinks a potenciais
informantes dos Düssel, sem saber.

‘Será que simplesmente não podiam associar a mulher


sorridente e com os seios quase que totalmente à mostra num bar
com Zoe Marie Lovitt, a herdeira perdida, procurada por mafiosos?’

Ao mesmo tempo, toda a preocupação de Justin e como ele


estava se envolvendo nisso tudo lhe causava sensações
conflitantes. Ao mesmo tempo em que seu coração se apertava de
receio pelo que poderia acontecer com ele, Zoe sentia um calor no
peito, sentindo-se protegida e acolhida.

∞∞∞
Zoe retornou para a ilha com Justin no Ghost, se perguntando
como as coisas seriam dali em diante. Marlo também estava no
barco, porém mal estava trocando palavras com Justin, muito
menos com ela. Ele se enfurnou em algum lugar dizendo que iria
dormir mais. Como a viagem terminaria somente no fim da tarde,
Justin não o forçou.

Enquanto olhava o interminável horizonte azul, Zoe refletia.

Ela ainda não tinha se decidido sobre voltar para seu pai e seu
marido, mas ela sabia que com o tempo, Wolf a esqueceria. Ele
provavelmente tinha um harém de ex-namoradas e ‘peguetes’ para
o consolar. Zoe só precisava descobrir o que ligava Justin a Wolf. A
reação dele ao nome dos Düssel era estranha, mas tinha tudo para
ser uma história trágica. E ela ainda não sabia como tocar no
assunto. Zoe não queria faze-lo ele se sentir mal ou testar os limites
dele.

Zoe decidiu mostrar o seu melhor lado e trabalhar para tornar


sua estadia agradável para todos.

“Justin, eu estava pensando… Além de ser boa em ser salva, eu


sei algumas receitas e sou boa na cozinha… Eu acho. Posso fazer
uma paella para nós esta noite?”

“Eba!”

“Bom, eu pensei em ser útil e manter a mente sã. O que eu


poderia fazer em Naviedo?”

“Se seus planos são conseguir um emprego em Naviedo… Não


há nenhum. Na baixa temporada tem muito pouco para se fazer na
ilha.”

“Talvez eu possa ajudar na casa? Limpar e cozinhar…”

“Nós já temos uma senhora que cuida da casa e ela é bem


ciumenta. E a gente raramente cozinha aqui na ilha. Eu até aguento
minha própria comida em alto mar, mas Joaquin nos envia comida
fresca e congelada quando estamos aqui. Não se preocupe. Tenho
certeza de que acharemos algo que você possa fazer.” Vendo a
expressão triste de Zoe, ele se apressou em completar. “E você
pode cozinhar por prazer, sempre que quiser. Talvez você acabe
gostando de viver conosco.”

“Mas eu não gosto de me sentir uma hóspede folgada. Quero


ajudar… Ou pelo menos me sentir mais independente.”

“Entendo você, Zoe. Se você se sente assim, você pode ir


conosco e ajudar a bordo.”

“Não é como se eu não pudesse aprender, mas… Você acha que


eu consigo?”

“Claro que consegue! Se você quiser, claro. Vou te levar para


mergulhar para você ter uma experiência de primeira mão.”

“O que você acha?”

“Eu adoraria. Mas, será que Marlo vai gostar da ideia?”

“Ele não vai se opor se você aprender rápido. Sei que ele te
assustou na última noite. Ele me mandou uma mensagem.”

“É. E eu não acho que ele goste de mim.”

“É porque ele costumava ser um guarda-costas… Ele reage mal


ao que ele considera ameaça, mas ele está errado dessa vez.”
Justin esfregou a própria têmpora franzida com uma careta. “E eu fui
babaca com ele na noite anterior. Eu o acusei de te contrabandear
para fora da ilha, pelas minhas costas.”

“Oh. Como eu já disse, ele não estava envolvido.”

“Por isso sou eu que precisa pedir desculpas a ele. Marlo é meu
camarada, e eu o tirei do sério. Dá uma chance pra ele. Você vai
descobrir que ele é um cara legal. O rei do karaoke!”

“Bom, espero que ele me aceite no time também. Penso que


preciso pedir desculpas a ele também.”
“Mas viajar conosco em alto mar requer responsabilidade. Se
depois de algumas excursões você julgar que isso não é para você,
você tem que nos contar, certo?”

“Certo.”

∞∞∞

A longa viagem passou sem incidentes. Marlo só apareceu na


parte da tarde para render Justin no comando do barco.

Justin passou algum tempo com Zoe falando da região e de suas


aventuras mergulhando em mares distantes. Aos poucos, Zoe
entendia que a vida no mar era complicada e cheia de restrições,
porém Justin era apaixonado por aquilo e conseguia narrar suas
experiências de forma fascinante.

Ao aportarem em Naviedo, o sol estava descendo no horizonte.


Após atracarem na marina, Marlo ficou para trás conversando com
alguns homens.

Ela e Justin passaram na peixaria para comprar o necessário


para a paella, e depois disso o casal voltou a pé pela estrada que
levava à colina particular e à casa de Justin.

Eles estavam no meio do caminho, caminhando devagar para


aproveitar a linda vista, quando um adolescente os interceptou,
ofegante de correr.

“Ei, Justin! A peça de reposição finalmente chegou. Estamos


consertando o rádio nesse momento.” Uma pausa para tomar fôlego
e o garoto continuou. “Papa levou o engenheiro e sua equipe para a
antena… pensamos que você gostaria de falar com ele.”
“Ah, graças a Deus!” Justin exclamou. “Já era hora.”

“O que aconteceu com o rádio? A tempestade danificou o


equipamento?” Zoe perguntou, e Justin respondeu,

“Não. Nos últimos meses o rádio vem agindo estranhamente;


tivemos muitos problemas com isso.”

“Às vezes ficamos totalmente sem sinal!” o garoto informou à


Zoe. “Nossa ilha depende de rádio para se comunicar com o
continente e barcos. Celulares não funcionam aqui…”

“Não entendi, mas acho que vou aprender algo aqui!” Zoe foi
sincera. Justin pediu ao adolescente.

“Clayton, você pode acompanhar Zoe até a casa? Zoe, eu


preciso falar com os engenheiros, e saber o que eles pretendem
fazer para resolver o problema. Talvez eu acabe demorando.”

“Claro, Justin!” Clayton foi solícito. E Zoe respondeu.

“E eu vou mexer na sua cozinha, enquanto isso. Boa sorte com


sua antena.”

“Mal posso esperar para provar sua comida!”

Ele acenou e Zoe viu quando ele virou à direita numa estradinha
de terra subindo a colina em direção à antena de rádio.

Clayton a acompanhou para a casa como prometido e disse até


logo, nitidamente nervoso por estar a sós com uma linda mulher.

Ela o chamou para retornar para o jantar, mas ele disse que
tinha dever de casa aquela noite. Zoe soube que a esposa de
Joaquin, o dono do restaurante, era professora na única escola da
ilha, que só tinha seis alunos da idade de Clayton.

O sol estava se pondo, e Zoe duvidava que Justin demorasse


tanto assim. Ela decidiu mostrar o melhor de suas habilidades
culinárias no jantar daquela noite.

Enquanto fazia o jantar, alguns pensamentos sobre sua vida


amorosa assaltavam sua mente. ‘Eu quero tanto o Justin! Só
gostaria de não pensar no Wolf o tempo todo! Eu mal o beijei. Nós
nem chegamos a transar!’

Zoe gostaria de não ter esse sentimento de culpa tão estranho


em seu peito.

Após gastar algum tempo na cozinha preparando comidas e


bebidas, ela estava exausta. O resto da casa, fora a cozinha, estava
no escuro conforme a noite chegou sem que ela percebesse,
enquanto cozinhava.

Como ninguém apareceu, Zoe decidiu tomar um banho antes


que eles chegassem para o jantar.

Enquanto subia as escadas, ela ouviu um estranho estalo alto.

Zoe levou um susto, até perceber que os estalos se repetiam,


junto com chiados, vindos de trás de uma porta semiaberta.

‘É… um rádio!’

Zoe quase riu por conta da sua imaginação que a fez pensar
absurdos.

Curiosa, ela entrou no pequeno escritório, ligando o interruptor


de luz. Aquele era provavelmente o antigo quarto de hóspedes.
Havia uma escrivaninha, um grande mapa-múndi muito detalhado
na parede, com correntes marítimas e fotos coladas neles. O lugar
era cheio de mapas, papéis e caixas, além de partes sobressalentes
de equipamentos que Zoe não tinha ideia do que fossem.

O equipamento cheio de luzes vermelhas, amarelas e verdes


piscando sobre a escrivaninha voltou à vida com um novo estalo.

Depois de um chiado alto e irritante, Zoe ouviu.


É
“Juliet Sierra Zero Dois? É Whiskey Delta Nove Zero.
Confirme. Câmbio.”

Zoe congelou onde estava. Ela reconheceu a voz.

‘É Wolf!’
Capítulo 6
“JulietSierra Zero Dois? Aqui é Whiskey Delta Nove Zero. No
aguardo. Câmbio.”

A segunda vez só confirmou o que a mente de Zoe já sabia.

Wolfgang Düssel, seu marido, estava mais perto do que ela


imaginava.

Zoe ouviu passos atrás de si e se virou em terror, como se


tivesse sido pega em flagrante.

Marlo a encarou com olhar questionador, então franziu o cenho e


entrou no escritório, pegando o comunicador.

“Whiskey Delta Nove Zero? Aqui é Juliet Sierra Zero Dois.


Estamos consertando nossa antena de novo. Em manutenção.”

“Juliet Sierra Zero Dois, copiado. Diga a Sanderson que


preciso falar com ele. É urgente, Câmbio.”

“Whiskey Delta Nove Zero, Wilco. Câmbio.”

Marlo repetiu essa mensagem, rapidamente olhando um papel


pregado na parede e os números no display. Ele parecia confirmar
algo que escapava a Zoe. Do outro lado, a voz conhecida disse,
despedindo-se.

“Aqui é Whiskey Delta Nove Zero. Copiado. Câmbio


Final.”

Marlo desligou o equipamento bruscamente depois disso.

Ela gostaria de saber o que estava acontecendo, e sabia que


poderia tentar descobrir mais tarde, mas era nítido que Marlo não
estava nada feliz com aquele contato, Zoe refletiu. Mas ela também
pensou que se conseguisse se manter calma o suficiente, ela
poderia usar a oportunidade para pedir desculpas a Marlo.

“O que está acontecendo?” ela perguntou casualmente.

“Como você acabou de ouvir, alguém está tentando entrar em


contato, mas estamos com problema com a transmissão.”

“Tenho uma ótima notícia.” ela falou, fingindo animação. ‘Alguns


engenheiros estão arrumando isso nesse exato momento. Justin
está com eles. E, na verdade, achei a transmissão bem limpa.”

Marlo olhou para o outro lado. “Bom... Ou nem tanto…”

“O que você quer dizer com isso?” Zoe perguntou.

O sócio de Justin deu uma risadinha sarcástica. “Você é uma


garota engraçada. Você parece mais bobinha do que realmente é.
Te dou esse crédito. Mas vou te dizer: Se você respeitar nossa
inteligência, será melhor para todo mundo.”

Zoe engoliu em seco, mas decidiu que não devia deixar as


coisas assim entre eles.

“Odeio dizer isso, mas eu realmente não entendo porque você é


tão agressivo comigo. Eu queria ajeitar as coisas. Eu soube que
você e Justin brigaram por minha causa ontem. Eu lamento muito.”

“Tudo bem. Entendo porque ele é assim e porque decidiu te


ajudar.” Ele deu de ombros. “Quando você foder com a mente dele e
for embora, eu pago algumas cervejas pra ele e fica tudo bem.”

Zoe percebeu que seria difícil mudar a mente de Marlo se ele


tinha essa visão do futuro. Mas ela precisava tentar.

“É simples, Marlo. Quero ser sua amiga. Eu não conheço a


pessoa do rádio, então não temo nenhum de vocês.”
“Que bom saber. Teve outro mal-entendido entre nós. Eu não
queria ter te assustado na noite anterior. Mas eu estava furioso com
a Jackie… Por que ela havia mentido sobre você, no começo.”

“Ela é realmente ex de Justin?” a pergunta escapou da boca de


Zoe. A expressão no rosto de Marlo tornou-se mais divertida.

“Ela nunca chegou nesse status, baby. Você não pode chamar
de ex se nunca acabou o que tinham. Têm. Sei lá.” Um novo dar de
ombros e ele continuou. “Você me entendeu. Ela claramente pensou
que você era uma completa idiota. Na real, você agiu como se
fosse.”

“Ei, isso magoa!”

“Princesinha, todo cara baba por uma 'donzela em perigo', mas


cresça. Sobreviva. Te desejo sorte. Mas… se você sacanear com o
meu chapa, você claramente é a idiota que não merece ser
respeitada.”

“Então isso significa que você não quer amizade comigo?” Zoe
se sentiu boba por fazer aquela pergunta, mas julgou que essa era
uma maneira de fazê-lo repensar o que tinha acabado de dizer. E
ele acreditou ter tido algum efeito sobre Marlo pelo que ele
respondeu a seguir.

“Prove que eu estou errado e seremos amigos. Isso não quer


dizer que eu vou ficar no seu pé ou te vigiando. Não será
necessário. Você é bem transparente.”

“Transparente?” Quando ela achava que estava virando o jogo,


Marlo tinha uma surpresinha para ela, aparentemente.

“Você reconheceu aquela voz, certo? Você sabe quem chamou.”


Aquilo a pegou totalmente de surpresa. Ele tinha realmente armado
o bote.
“Hm?!” Zoe tentou fazer-se de desentendida, mas Marlo apenas
ergueu uma sobrancelha.

“Eu vi na sua cara.”

Ela percebeu que negar seria inútil.

“Sim. Eu reconheci. E vi a foto dele na mesa de cabeceira do


Justin. Qual a ligação entre eles?”

Marlo gargalhou.

"Lamento, Zoe. Você é igual ao sol enganador que brilha antes


da tempestade. Sinto isso nos meus ossos. Vou perguntar de novo:
por que você está tão assustada? Por minha causa, ou... Por causa
da pessoa que estava no rádio?"

“Eu deveria temer você?” Zoe sentia que seu rosto havia perdido
totalmente a cor, e isso não ajudava a parecer menos culpada.

“É claro que você deveria temer um homem que encontrou em


uma ilha distante…” Marlo fez um gesto amplo com as mãos. “Do
mesmo modo que eu não devo confiar em uma garota que está
fugindo dos Düssel…”

Zoe sabia estar tremendo naquele exato momento. Foi quando


Marlo a encarou e mudou de atitude. Ele já tinha as confirmações
que queria, aparentemente.

“Mas vou te dar um voto de confiança, por enquanto. Eu acho


que você pretende ficar segura, e não planeja foder com nenhum de
nós… Num mal sentido, pelo menos.”

‘Que vulgar… Ele ainda está rancoroso devido à noite


passada…’ Zoe concluiu.

Zoe não conseguiu pensar em nenhuma boa resposta para


aquelas palavras suaves, porém perigosas, e ele deu uma risadinha.
“Que bom que estamos na mesma página agora. Seja uma boa
garota, e eu serei legal, também. Gostei da nossa conversa, mas
agora preciso de uma ducha. Com licença.”

Ele foi até a porta e segurou a maçaneta, claramente esperando


que Zoe saísse da sala de rádio antes dele.

Marlo agia como um amigo leal de Justin, mostrando que seu


único interesse era impedir que Zoe o sacaneasse. Talvez fossem
os conflitos e mal-entendidos que tinham desde o começo, mas Zoe
tinha uma má intuição sobre ele. Ela estaria errada?

∞∞∞
Quando Justin chegou, porém, nem Zoe, nem Marlo
demonstraram nada sobre o clima tenso de momentos antes.

“Sua paella é divina, Zoe! Eu comeria mais, porém depois só


guincho pra me tirar dessa cadeira!” disse Marlo, se recostando na
cadeira após terminar seu prato.

“Aposto que você teve muito trabalho para cozinhar isso. Está
perfeito! Joaquin ficaria com inveja de você!” Justin completou,
tirando um sorriso embaraçado de Zoe.

“Minha tia Claire é quem merece os elogios. Eu só segui a


receita dela ao pé da letra…”

Os olhos dos dois homens se fixaram nela, esperando suas


próximas palavras. Zoe levantou os olhos do prato.

“O quê?! Não se preocupem! Não é a única receita que conheço!


Não vou forçar vocês a comer paella para sempre!” ela improvisou,
se recriminando internamente.

Eles riram e fingiram estar aliviados com o fato, só para provocá-


la um pouquinho. O clima descontraído parecia maculado com algo,
e Zoe sabe que as coisas ainda não estavam perfeitas como todos
gostariam que estivessem.

‘E eu tenho que ser mais cuidadosa com o que eu falo!’


Inesperadamente para Zoe, Marlo anunciou que ia ao bar local
encontrar com amigos, e deixou a casa depois do jantar.
Mas algo não escapou da atenção de Zoe. ‘Ele não comentou da
chamada de rádio com o Justin… Será que devo contar pra ele
sobre a mensagem?’
Enquanto Zoe e Justin estavam cuidando da louça na cozinha,
ela enfim decidiu que era melhor deixar ele saber. Não queria deixar
Marlo ter algum motivo para pensar que poderia a chantagear no
futuro. E talvez isso lhe dissesse algo sobre o real relacionamento
de Justin e Wolf.
“Hm, o Marlo não te contou sobre a pessoa no rádio?”
Justin carregava a lava-louças quando ouviu a pergunta, e
pareceu tão surpreso quanto Zoe esperava. Ele levou um tempo
para responder,
“Não, ele não falou. O que aconteceu?”
Zoe tentou soar indiferente, mas vigiava as expressões dele.
"Um homem que se identificou como Whiskey Delta Nove Zero
perguntou especificamente por você."
Justin deu uma olhadela de canto para Zoe, e seus olhos se
encontraram.
“Quando isso aconteceu?”
“No começo da noite. O rádio ligou sozinho e uma voz começou
a falar. Marlo chegou e lidou com isso.”
Uma pausa, e ele respondeu,
“Hm… obrigado por me contar, Zoe. Você ouviu algo de nota?”
“Não. Marlo disse que o rádio estava em testes e que daria o
recado. Você está esperando alguma mensagem importante?”
“Acredito que não.”
Justin assentiu e continuou seu trabalho em silêncio, mas a
mente de Zoe concluía: 'Eu ainda não sei como descobrir qual é o
relacionamento deles, mas uma coisa é certa: Justin ainda não
confia em mim.’
Então ela se deu conta que era ela que guardava um segredo
dele. ‘Como posso culpá-lo por proteger sua história se eu nem
contei nada para ele ainda? Fui eu que disse que deveríamos ir
devagar…’

∞∞∞

Mais tarde, Justin estava na grande sala lidando com algum


manual do equipamento de rádio, e fazendo notas. Zoe decidiu
juntar-se a ele, e do topo das escadas, viu caixas com o novo
equipamento. Ela o observou um pouco antes de interrompê-lo,
notando como ele tinha um jeito peculiar de franzir a testa quando
estava lendo. Zoe teve uma espécie de déjà vu, mas passou antes
que ela pudesse realmente processar aquilo.
‘É porque ele podia ganhar uma boa grana como modelo
masculino.’ ela refletiu, animada.
Justin ergueu o olhar para ela e o canto de seus lábios ergueu-
se, embora ele estivesse sério, depois abaixou o olhar para o
manual novamente. Zoe teve outra constatação. ‘Ele é de tirar o
fôlego e sabe disso.’
“Será que eu vou poder aprender a mergulhar com vocês?” A
pergunta era mais para não se sentir uma stalker babando por ele.
Ela desceu as escadas.
“Hm… Me convença.”
Ele ergue os olhos do manual, dessa vez com um sorriso
provocante. Zoe abriu a boca exageradamente para fingir ultraje.
Justin deu um sorriso sarcástico e fingiu prestar atenção ao
manual novamente. ‘Esse joguinho está interessante…’ pensou ela.
“Eles já terminaram de consertar a antena de rádio?”
“Vai levar cerca de uma semana. Essa peça vai ser substituída e
calibrada. Então não teremos mais problemas com isso.” Justin
apontou para a peça que estava na mão dele.
“O que há de errado?”
Justin suspirou, contendo sua frustração. “Eu não sei. O
engenheiro disse que essa peça foi danificada de propósito. Eu
confiava em todos que vivem aqui. Digo… O serviço de rádio serve
a todos da vila. Por que alguém iria danificar o rádio? Todos se
beneficiam. Há muito tempo não há vandalismo aqui.”

Zoe pensou um pouco, mas sua mente não chegou à hipótese


nenhuma. “Também não consigo entender. Mas se eu viverei aqui,
acho melhor começar a entender tudo sobre Naviedo.”

“Você vai sim. Vem cá.”

Zoe obedeceu e se aninhou toda dengosa na curva do braço


dele. Justin beijou o topo da cabeça dela, que ronronou de prazer.

“Aw, vou te levar amanhã num lugar onde você pode aprender a
mergulhar. Vai ser divertido.”

Zoe o encarou, interessada, e Justin explicou suas intenções,

“Espero conseguir te treinar a tempo da nossa próxima


expedição. Pelo menos você pode ficar no barco conosco.”

“Então você aceitou o convite do Sr. Janssen? E Marlo? Você já


falou com ele?”

“Ainda não, mas sei que Marlo está tão ansioso quanto eu para
uma nova expedição. Vamos nos juntar a outra equipe próxima dos
Açores, para resgatar o galeão Infanta Dona Carmen. É um navio
que afundou em 1740. Mas isso é meio puxado para um novato…”

“Quando?”

“A gente vai daqui a três meses. Hendrik disse que


provavelmente ficaremos por lá por mais seis meses.”

Zoe piscou. Foi a primeira vez em que ela realmente se


questionou se aquela vida era para ela. ‘Nossa! Será que estou
preparada para viver no mar? Não como férias de verão numa ilha
paradisíaca, mas… como Justin vive?’
Ao notar que ele tentava se concentrar nos manuais dos
equipamentos, Zoe pensou em deixá-lo sozinho, mas também
percebeu que ele franzia mais e mais o cenho.

“Esse manual é muito confuso?”

Justin hesitou, e Zoe percebeu que ele ficou ansioso. Era a


primeira vez em que ele parecia realmente desconfortável.

“Estou me intrometendo demais?”

“Não, não é isso. Estou reagindo como um idiota a uma pergunta


simples. Uma das coisas que me fez amar o mar é que era uma das
coisas que me acalmavam… quando eu era criança, sabe? Eu era
aquele tipo que não pára quieto. Ler era algo que exigia uma
concentração que eu simplesmente não podia ter… Por diversas
razões”

Zoe leu nas entrelinhas. O que quer que ele estivesse se


lembrando naquele exato momento, era algo doloroso, e que o fazia
se sentir mal ainda hoje. Aquilo tocou em algo estranho e
adormecido dentro dela, e antes que mergulhasse em seu próprio
passado, ela afirmou com um sorriso, “Mas você mudou muito de lá
pra cá. Você é bastante focado.”

Ele pensou sobre as palavras de Zoe por um momento com o


olhar perdido no espaço. Ela estava surpresa de que ele tivesse
revelado essa vulnerabilidade. Ao mesmo tempo em que sabia que
era a ponta de um iceberg muito maior. Zoe sentia que ele queria
confiar nela.

“Sim, eu mudei. Apenas às vezes, eu simplesmente não confio


que li as coisas certo. Eu não sou o mais intelectual dos caras.”

“É impossível que um homem como você esteja duvidando de


sua capacidade.”
“Não me interprete mal, Vênus!” Ele riu, coçando a testa. “Eu me
garanto em outras áreas. Talvez sua presença seja a culpada por
minha falta de concentração.”

“Ei! Não me culpe! O que acha se eu te ajudar com isso?”

“Eu acho… Que esta é uma desculpa para você ficar perto de
mim.”

“Claro que é, por que eu iria querer ficar sozinha? Por que você
não me explica como funciona esse negócio? Vai ser uma boa
maneira de passar o tempo.”

“Você vai se aborrecer. Isso é incrivelmente chato e técnico.”

“Você sabe, questionários são a melhor maneira de descobrir se


realmente sabemos alguma coisa…”

“Ok, vamos fazer do seu jeito.”

Zoe usou a FAQ para fazê-lo responder, e Justin e ela foram e


voltaram nas particularidades técnicas do equipamento até que ela
bocejou, com seus olhos lacrimejando. Justin fechou o manual.

“Epa, chega. Vamos encerrar por aqui. Muito obrigado por me


ajudar.”

“Foi legal, mas admito que estou exausta. Eu penso que até
aprendi uma coisa ou duas sobre rádios… Achei interessante! O
manual é bem completo, eu vou ler mais um pouco depois!”

“Estou vendo que você era a CDF da turma…” ele provocou,


pinçando a ponta do nariz dela numa brincadeira jovial.

“Eu tentava. Fui a 'Garotinha do Papai' por um bom tempo.


Sempre tentando não o desapontar e fazer o meu melhor,” Zoe mal
sabia porque revelou aquilo em voz alta.

“O que aconteceu?”
“Julgo que acabei descobrindo que eu não era mais que algo a
ser olhado. A bonequinha do vestido de babados.” Ela baixou o
olhar, sentindo um nó na garganta. “Porque, assim que meu pai
ficou em dificuldades financeiras, eu fui vendida como uma tela do
Monet. Algo que uma família tem orgulho em ter… mas vai vender
se precisar.”

Justin a apertou nos braços dele, e sussurrou,

“Eu lamento que tenha sido assim. A verdade sobre nossas


famílias pode ser cruel.”

“E você?” Zoe perguntou.

“Meu pai nem fingia gostar de mim. Então não havia ilusões para
serem quebradas.” Ele observou as reações no rosto de Zoe antes
de continuar. “Como você, houve um momento catártico em minha
vida. Eu escapei vivo. E pude recomeçar. Espero que você também
possa.”

“É por isso que você está me deixando ficar?” Zoe indagou,


apesar de intuir a resposta, que foi direta e honesta.

“Sim. É por isso.” Justin se levantou, se espreguiçando. “Mas


você sabe que estou a fim de você, mais do que eu gostaria, não
sabe?”

Zoe não sabia o que responder àquilo, mas Justin apenas disse.
“Boa noite. Amanhã partimos cedo, durma bem.”

Ele não esperou sua resposta e foi para a cozinha.

‘Ele está me dando o tempo que eu pedi… ’ Ela tinha que admitir
que ficou um pouco desapontada. ‘Justin claramente teve uma vida
difícil e não gostava de falar disso. É por isso que ele também não
me pressiona…’

Mas onde Wolf se encaixava naquela história?’


Zoe sabia que não teria uma resposta naquela noite e foi para a
cama sozinha. Antes de dormir, sentiu uma estranha sensação no
peito, e a última imagem que viu foi a de Justin, sorrindo para ela. A
imagem mudou para Wolfgang, sorrindo para ela quando
terminaram seu primeiro beijo, na frente do altar…

∞∞∞

“Então… Nada disso aconteceu?” Zoe perguntou atônita,


sentindo-se arrepiar ao perceber que estava novamente na capela
onde casou, cercada por convidados e fotógrafos. Ao fundo,
indefinidamente ela percebia a figura de seu pai e do terrível pai de
Wolfgang, e se encolheu.

“Aconteceu, Sra. Düssel. Sorria, é nossa primeira foto de recém-


casados!” Wolfgang pegou sua mão fria com a dele novamente. O
peso da aliança em torno de seu dedo anular parecia insuportável.
“Está tudo bem,” ele sussurrou. “Aguente por uma hora e prometo
que vai acabar.”

“Não. Eu não quero,” dessa vez, Zoe puxou sua mão com
violência, ignorando os convivas e sem se importar com as
aparências. “Eu não quero nada disso!”

“Mas você não tem querer. Você é apenas uma boneca!” A voz
seca e arrepiante de Walter Düssel veio das sombras atrás dela.
Zoe virou-se, ao mesmo tempo em que seu pai, agarrado pelos
capangas do mafioso, falava com voz fraca e olhos suplicantes,

“Fuja, Zoe!”

Levantando a volumosa saia com as duas mãos e livrando-se


dos sapatos, Zoe começou a correr. Ela sabia que Wolf estava ao
seu encalço, e fazendo jus ao seu nome, ele a perseguia na forma
de um lobo cinzento.

Zoe correu por praias escuras até avistar uma casa. Aquela era
a antiga casa de praia dos Lovitt em Cape Cod.

Tudo o que ela pensava era em entrar e encontrar abrigo na


casa de veraneio de sua infância. A porta estava encostada apenas,
e Zoe entrou com cautela, encontrando apenas silêncio e tudo
exatamente como se lembrava.

“Pai?”

“Filha…” Seu pai estava no meio do corredor a caminho dos


quartos, e a encarou com um olhar desolado. Ele tinha um pedaço
de papel na mão.

“Isso é uma carta?”

“É sim, Zoe. Você não quer brincar mais um pouco com suas
amigas lá na praia?”

“Uh?” Zoe estava confusa que seu pai a visse como uma menina
de cinco anos, quando ela era uma noiva em fuga. “Você está bem,
papai?”

“Zoe. É melhor você ir lá fora. A mamãe precisa descansar mais


um pouco, ok?”

“Zoe…” A voz atrás de si a arrepiou. Ela não precisava olhar


para trás para saber que era Wolf, em forma lupina. “Não obedeça.”

“O quê? Papai, me ajude!”

“Ele não vai te ajudar, Zoe. O papel, Zoe.”

“O papel?”
Zoe olhou o papel na mão de seu pai, que estava trêmula
quando ele lhe perguntou,

“Zoe, por que você trouxe esse animal para casa? Ele vai nos
devorar… Não o escute, Zoe.”

O lobo se dirigiu ao pai de Zoe, zombeteiro.

“Huf, você deixou a porta aberta, se esqueceu? Agora ela é


minha. Tudo é meu.”

Zoe agora tinha consciência que isso era um sonho, e forçou-se


a olhar para trás, ao sentir a presença agora humana a um passo de
suas costas.
Seus olhos se encontraram. O rosto de Wolf era encoberto pelas
sombras, mas o verde-turquesa de seus olhos era inconfundível.
Suas peles se roçaram.
“Você não devia olhar para mim…” ele sussurrou. “Mas continuar
sua fuga.”
“Eu… Não sei o que fazer. Eu não quero mais fugir.”
Então Wolf tocou seu queixo lentamente, sensualmente, e a fez
olhar em frente novamente. Seu pai continuava parado no corredor,
no meio do caminho, com uma carta nas mãos. Seus olhos aflitos e
cenho franzido eram sinais inegáveis de seu nervosismo, apesar de
usar seu corpo como um obstáculo entre a filha e o fim do corredor.
“Agora você é minha. Se não quer mais fugir… devore-o.” Os
lábios de Wolf roçaram sua orelha, seu hálito quente contra sua pele
eriçou os pelos do corpo de Zoe. Ela sentia-se nua, assim como
Wolf estava nu. Seu pai se encolheu em terror à sugestão do marido
de Zoe.
“Uh?!” ela exclamou em choque.

∞∞∞
Isso foi o suficiente para que Zoe despertasse, com a respiração
presa no peito. Ela estava sozinha no quarto, e quando sua
respiração se acalmou, ela esperou a visita de Justin. Mas ele não
veio, e ela se perguntou porque raios havia sonhado aquilo.
‘Devore-o?’
O sonho era perturbador demais, e Zoe não conseguiu evitar
pensar em sua infância e na morte de sua mãe.

Patricia Lovitt, sua mãe, havia se suicidado aos trinta e dois


anos, quando Zoe tinha apenas cinco anos.

Uma semana depois que voltaram de uma viagem pela Europa,


sua mãe anunciou que ia para a casa de praia. Zoe pensou que iria
com ela, mas sua mãe não quis que a filha a acompanhasse. Alguns
dias depois, com muito tato, sua tia Claire veio ao seu quarto lhe
contar que sua mamãe não iria mais voltar.

Zoe lembrava-se de quando entendeu que isso era um fato


impossível de se negociar. E em sua lembrança, o fato de que sua
mãe, desde o fim da viagem, parecia muito triste e irritada, fez com
que ela pensasse ser a culpada, por ter sido manhosa e insistente
em Paris.

Apenas quando mais velha, sua tia lhe explicou que sua mãe
havia ingerido muitas pílulas para dormir. Seu testamento deixava
suas posses para Zoe, sob a tutela da cunhada, Claire.

Aquilo era tão confuso em sua mente, e seu pai se esquivava do


assunto, tornando-se nervoso e dizendo que a esposa havia sido
injusta com eles que Zoe passou a evitar o assunto também. Ela
não queria que ele a odiasse por causa das decisões de sua mãe.

Seu pai ficou desolado, mais ausente. Somente quando Zoe já


estava na faculdade ele se casou de novo. Zoe e sua madrasta
tinham uma boa relação, porém o casamento de seu pai não andava
nada bem desde o início das dificuldades financeiras.
Mergulhada no lodo de suas lembranças, e querendo
simplesmente uma noite de sono reparador, Zoe apenas concluiu
que estava se sentindo culpada. Culpada porque seu pai, mais uma
vez, foi abandonado por alguém. Por ela.

Mas ela não queria voltar…

∞∞∞
Logo cedo, Justin a chamou para uma viagem rápida até uma
ilhota deserta perto de Naviedo. Zoe lavou o sono do rosto e foi com
ele até a marina. Por causa de sua noite mal dormida, ela estava
silenciosa e introspectiva por grande parte do caminho, ainda
refletindo sobre seu estranho sonho.

Depois de 40 minutos de viagem, o Ghost chegou aos recifes


que Justin queria mostrar a Zoe.

A pequena ilha era uma visão paradisíaca de verde contrastando


com areias límpidas e um mar cor de turquesa cintilando ao sol da
manhã. Justin circundou a ilha com o barco para que Zoe visse o
arrecife e uma pequena baía protegida.

“É tão lindo!” ela exclamou, sentindo que seu vocabulário era


incapaz de expressar seu encantamento com tamanha beleza
natural.

“É uma área de preservação. Incrivelmente, essas águas são


mais rasas e muitos navios naufragaram nesta área até Naviedo, na
época dos piratas. Mas hoje em dia esse pequeno paraíso abriga
pássaros marinhos, basicamente.”

“Eu me surpreendo que esse lugar não tenha um hotel ou


pertença a um milionário… Não vai me dizer que essa ilha também
é sua?”
“Haha. Eu não sou milionário. Pude comprar Naviedo porque é
muito longe do continente e eu teria que me livrar dos moradores
por minha conta.”

Por mais que ele quisesse diminuir o fato de ser dono de uma
ilha, Zoe sabia que esse era apenas o jeito dele de ser modesto.
Vendo que não conseguiu convencer Zoe, Justin olhou ao redor,
mudando de assunto.

“Quanto a esta ilha, ela é protegida por lei ambiental. É preciso


uma licença para mergulhar aqui.”

“E nós temos?”

“Acredito que você vai gostar da experiência.” Ele não respondeu


sua pergunta.

“Para falar a verdade, estou um pouco ansiosa.” Zoe confessou.

“Acho que sua última experiência no mar foi aterrorizante, para


dizer o mínimo. Se você acha que não consegue, tudo bem.” Justin
percebeu que Zoe se encolheu quando ele lhe estendeu o snorkel.
“Podemos apenas passar o dia na ilha aproveitando a vista e coisas
assim. Ou talvez você queira ver o fundo do mar…”

“Eu não sei se estou preparada para mergulhar. Eu acho que eu


não estava pensando direito quando achei que queria mergulhar. Na
verdade, estou com medo.”

"Tudo bem, Zoe. Talvez você mude de ideia depois, mas não
precisa ter pressa. Ainda podemos nos divertir."

Justin foi gentil, mas Zoe podia notar que ele estava
desapontado. Afinal, ela havia dito que iria tentar. Ela se apressou
em dizer,

“N-não, pensando bem, podemos tentar sim.”


“Ei. Pára com isso. Vem cá.” Ele a chamou com um gesto e uma
voz gentil.

Zoe obedeceu e Justin segurou seus quadris com suas mãos


firmes e grandes, para poder olhar diretamente em seu rosto. Seus
olhos se encontraram, e mesmo diante do olhar bondoso de Justin,
as bochechas de Zoe arderam.

“O que foi?”

“Prometa que não vai fazer coisas só porque supõe que alguém
quer que você faça.”

Zoe não esperava por isso, e Justin continuou.

“Prometa que só vai fazer o que você realmente quer, como no


hotel.” Ele sorriu. “Você não precisa aceitar fazer algo só pra
agradar os outros, se você não está confiante. Certo? Você
promete?”

Agora suas orelhas também ardiam.

“Sim.”

“Você está falando isso só pra me agradar?” ele provocou.

“Não.”

“Então… me beija?”

A falsa expressão de inocente, traída pelo brilho risonho nos


olhos de Justin roubou uma risada de Zoe. E dessa vez ela o
respondeu com um flerte impensado.

“Me convença…”

O sorriso de Justin aumentou diante da resposta dela.

“Eu sei o que você está fazendo, sua safadinha…”


Zoe correu dele pelo convés do Ghost, e Justin a perseguiu. Não
foi nada difícil para Justin alcançá-la e agarrar sua cintura, a virando
para si. Sua reação natural foi envolver o pescoço dele com os
braços, em rendição.

Os olhos brilhantes de Justin desceram para seus lábios por um


momento, e os próprios lábios dele se curvaram em um sorriso
convencido e sensual.

“Que fique registrado: considero isso prova o bastante que você


foi convencida. Vou resgatar meu beijo grátis depois…”

O coração de Zoe estava batendo forte e ela ouvia o dele


também. Ela sabia que não resistiria se ele quisesse cobrar seu
beijo naquele momento. Na verdade, era o que ela secretamente
desejava. Mas ele olhou ao redor, afrouxando os braços ao redor de
sua cintura.

“Vamos visitar a ilha, senão eu vou passar o dia aqui te


convencendo com meus argumentos.”

“Não nego que gosto dos seus argumentos, mas você precisa
trabalhar mais alguns…” Zoe o provocou, e Justin estreitou os olhos
para ela, fingindo estar bravo, mas seus lábios se repuxaram em um
sorriso.

“Veremos quanto a isso…”

A provocação brincalhona de Justin ficou no ar, e a seguir eles


visitaram a ilha deserta, e se maravilharam com o paraíso natural
perdido no mar.

Enquanto andavam pela pequena ilha, Zoe pensou que poderia


aproveitar o momento em que Justin estava relaxado para fazer
uma pergunta importante. Não havia motivos para ele desviar do
assunto ali. Ela tocou a mão dele, que caminhava um pouco a
frente. Isso o fez virar-se para ela.
“Justin… Qual é sua relação com os Düssel?” Zoe venceu sua
hesitação e perguntou, seus olhos pedindo desculpas por isso
antecipadamente.

Ele puxou o ar profundamente. Zoe lamentou ter estragado o


clima bom, mas eventualmente Justin respondeu, olhando para a
mão dela na sua.

“Eu era ligado aos Düssel no passado. Mas não sou mais. É
isso. Para deixar aquele mundo, eu tive que morrer. Não é algo que
eu goste de falar.”

Zoe piscou diante da constatação de que suas suspeitas tinham


fundamento. Porém, o tom de tristeza na voz de Justin a compeliu a
perguntar,

“Desculpa, mas não estou entendendo… Você deixou alguém


para trás?”

O porta-retratos no quarto dele já era uma pista. Mas ele poderia


mencionar a família real dele, uma namorada, filhos… E por algum
motivo isso a deixava muito ansiosa.

Justin esfregou o olho, olhando o horizonte e evitando seu olhar.


Por um momento, Zoe distraiu-se diante da perfeição máscula da
pessoa à sua frente. E ele era muito mais do que aparência. Ela não
queria acreditar que ele tinha um passado de bandido ou algo
assim.

Justin deu um sorriso sem graça, balançando a cabeça ao


responder, assim que seus pensamentos sobre o passado deixaram
sua mente.

“Uau, você veio com tudo, hein? Sim, eu deixei muitas pessoas
importantes para mim. Pelo menos uma pessoa. Meu mano.”

Zoe engoliu em seco.


“Você está falando… do homem na foto com você? Ou de outra
pessoa?”

Ele assentiu.

“Sim, Wolf. Alguém com quem lutar ao lado, alguém por quem
lutar. É algo que vai além de laços de sangue, Zoe.” Ele esfregou a
mão dela e a soltou, finalmente. “É algo meio cármico.”

Zoe estremeceu… As palavras bonitas dele a emocionaram, mas


também traziam ainda mais preocupação.

Justin balançou a cabeça vagarosamente, e perguntou,

“E você? Deixou alguém para trás, alguém para quem voltar?”

“Não. Eu só caí daquele iate, e não posso voltar,” ela respondeu


sentindo seus olhos marejarem diante da constatação.

“E as pessoas que você deixou para trás?”

“Eles vão ficar bem. Mais pobres, porém vivos.”

“Namorado?”

A imagem de Wolf de terno, e sua aura de autoconfiança tirando


o ar do salão de festas veio à mente de Zoe, mas ela se forçou a
balançar a cabeça.

“A coisa mais próxima disso não me via como uma pessoa.”

Justin lançou um olhar preocupado para Zoe, e ela agradeceu


quando ele não a pressionou mais sobre o seu passado.

“Bom, eu vejo porque você é cautelosa sobre nós dois. Mas


penso que você devia nos dar uma chance.”

Zoe ficou em silêncio. Ela queria muito, mas por que ela se
sentia ligada àquele homem com quem se casou forçada? E, ao
mesmo tempo, o que Justin havia acabado de dizer deixou pelo
menos outra pergunta no ar.

“E seu nome é mesmo Justin? Ou você trocou de nome?”

Ele respondeu sinceramente, mas pareceu um pouco aborrecido


por isso.

“Isso. Tive que mudar documentos, tudo. Você terá que fazer
isso também. Mas eu sou Justin já faz um tempo… E eu gosto da
pessoa que sou agora. Às vezes, com um nome, qualquer carma
trágico com o qual você nasceu se desfaz.”

Zoe alcançou a mão dele de novo, o que o fez sorrir.

“Gosto da pessoa que você é, Justin Sanderson. Eu conheço um


pouco o homem de agora e sei que sua história fez de você uma
pessoa boa.”

“Eu não sei se sou bom. Mas provavelmente minha história


moldou um pouco de quem sou hoje, sim. É um pouco como sua
história, eu acho. Muito, suja, feia, e que machuca. Não vale a pena
revirar.”

Zoe sabia que deveria parar com as perguntas agora. Ele queria
seu espaço, e ela teria que respeitar isso como ele a respeitava.

“Certo…”

“Aqui e agora, eu quero falar sobre você e eu.”

Os polegares dele fizeram círculos nos seus quadris, acariciando


sua pele.
“Eu quero você, Zoe. E sei que você me quer, também. Eu ainda
não sei aonde isso vai nos levar…
“E o que você quer que eu diga? Você acha que sei mais que
você?!”
Ele passou os dedos pelos cabelos, frustrado.
“Caramba, eu sei lá! Que você não está me fazendo de trouxa,
talvez?”
“Eu não estou te fazendo de trouxa.”
"Me mostra. Me deixa saber o que você quer. Eu não posso só
sair pegando o que eu quero, porra." O cenho franzido denotava sua
frustração e nervosa, Zoe escapou pelo caminho mais fácil.
"Pra ser sincera… agora eu estou com fome."

∞∞∞

Depois de um gostoso almoço com coisas que tinham trazido,


eles descansaram sob as sombras das árvores à beira-mar,
apreciando a vista.

O azul do mar e do céu se mesclavam; o quebrar das ondas


rítmico e relaxante fez Zoe fechar seus olhos preguiçosamente,
descansando a cabeça no colo de Justin.

‘É tão bom estar aqui, com Justin brincando com os meus


cabelos, pensativo, só aproveitando a brisa morna…’

Ela abriu seus olhos para observá-lo, e admirar sorrateiramente


aquela pele dourada, corpo e rosto perfeitos. ‘Ele é tão perfeito… Eu
já conheci homens bonitos antes, mas só outro antes dele tinha
essa aura…’

Zoe apertou os olhos, afastando da mente pensamentos sobre o


outro homem comparável a Justin. Wolf. ‘Droga! O que há comigo?
Eu o deixei para trás! Eu podia ter sido sua esposa, mas eu fugi!
Agora estou aqui com Justin. Eu não devia perder o meu tempo com
o passado.’

Percebendo a tensão de Zoe, Justin perguntou,

“Ei, aconteceu algo, Zoe?”


A quem ela estava tentando enganar? Zoe estava tentando ficar
com as mãos longe dele a manhã toda! Ela começou
inocentemente, acariciando a coxa firme dele distraidamente.

Justin pegou a mão de Zoe e levou até a boca, mordendo de


levinho como um aviso.

“Lindinha e arteira feito uma gatinha, estou vendo.”

Ela riu e se retorceu no colo dele, pedindo

“Você pode soltar um pouco o nó do meu biquíni? Está


machucando minhas costas.”

Justin resmungou algo e deu uma palmada estalada e sonora no


seu traseiro, como resposta. Depois, ele esfregou a área
vagarosamente. Zoe apertou os lábios para não gemer. Isso a
deixou com mais tesão ainda.

“Estou te avisando, Zoe: se você continuar com arte, não vou


deixar você ir até você gemer e soluçar meu nome.”

“Talvez eu precise te acalmar, de alguma maneira? Você me


deixa ir se eu fizer isso?” O flerte era uma segunda natureza para
ela perto de Justin. Zoe alcançou o volume nos shorts dele,
arranhando levemente o tecido com a ponta dos seus dedos, como
uma promessa.

“Isso é uma fantasia? De submissão?” Justin perguntou,


erguendo uma sobrancelha.

“Todo mundo tem fantasias.” Ela sentiu a necessidade de se


justificar, sem saber se ele a estava julgando ou não. O canto da
boca de Justin ergueu-se num sorriso divertido.

“Não estou certo quanto a isso, mas estou bem interessado em


ouvir suas fantasias… para tomar notas.”
Zoe deu uma palmada brincalhona no peito dele, e Justin
prendeu a mão dela sob a dele, contra seu coração.

A outra mão foi para seu ventre, fazendo movimentos circulares


perto do elástico do biquíni. Ele insistiu. “Vamos, me conte suas
fantasias. As Top 3, pelo menos.”

“Você terá que descobrir. Além disso, eu sou só uma virgem


imaginativa. O que pode haver para contar?”

A mão dele deslizou para dentro da calcinha do biquíni de Zoe, e


ela nada fez para impedir… Pelo menos por enquanto.

“Mas isso é excitante. Fantasias de virgem são as mais loucas


porque você pensa que nunca vai realizá-las.”

Zoe riu, e perguntou, “Você já teve a chance de realizar todas as


suas fantasias de quando era virgem?”

“Será que devo te contar?” Ele fingiu dúvida.

“Uhum…” Ela nem sequer escondia a excitação sobre o assunto.

“Sim, quase todas. Mas não me importaria de começar de novo.”

“Que resposta safada e cara de pau!”

“Ei! Você pediu a verdade…!” Ele fingiu ultraje, mas acabou


rindo.

Zoe não podia ignorar a respiração pesada e o volume nos


shorts de Justin enquanto os dedos dele se esgueiravam para sua
fenda.

Ela ainda não sabia se sua atração por ele era porque Justin a
estava ajudando, porque ele era um deus grego ou porque estava
vivendo aventuras ao lado dele. Tudo o que Zoe sabia era que
gostava de tudo nele. Aquilo era tão conflitante! E o pior: ela sabia
que não fazia sentido, mas não conseguia parar de pensar em Wolf
pelos cantos da sua mente!

‘Eu acho que eu não deveria deixar isso acontecer só pelo calor
do momento ou algo assim.’ Sua mente se digladiava e talvez suas
expressões demonstrassem isso, pois a mão dele parou onde
estava.

Zoe suprimiu um protesto. Ela procurou os olhos dele, e o


encontrou olhando para seu rosto, esperando sua reação.

Zoe abriu suas pernas, dando acesso a sua fenda molhadinha, e


traçou os contornos do abdômen dele com os dedos, descobrindo
que ele se arrepiava e mordia o lábio inferior sob o seu toque.

‘Ele me faz me sentir tão bem… Me sinto tão segura… Nunca foi
assim com nenhum namorado. Sempre me sentia julgada.’ ela
refletia enquanto se entregava às sensações. ‘Talvez fosse culpa
minha também. Talvez eu fosse muito obcecada em ser a Garota
Exemplar. Eu nunca me permitia relaxar. Porém, mais que relaxar…
Eu anseio por seu toque! Quero estar nos braços dele!’

Seus olhos nunca se deixaram até que ele começou a circular


seu clitóris, então Zoe não conseguiu mais mantê-los abertos e
gemeu.

“Hmmg!”

Justin parou e removeu a mão, e Zoe abriu seus olhos, se


perguntando o que havia de errado dessa vez.

Então ela o viu fazendo a coisa mais sexy que ela já tinha visto:
após tirar os dedos da sua xana inchada, ele os saboreou, como se
fosse a mais fina iguaria, lambendo o seu mel deles, enquanto seus
olhos divertidos estavam fixos em Zoe.

Ele não fazia nenhum som, mas o êxtase estava estampado na


expressão dele.
“Eu estava me perguntando o que o havia feito parar.”

“Acho que vou te dar a chance de parar por aqui,” foi a críptica
resposta dele.

Mas Zoe não queria que fosse assim. Ela deslizou o dedo sobre
o tecido fino dos shorts de Justin, diretamente sobre o que o fazia
erguer-se como uma tenda.

“Me mostra.”

Os olhos dele brilharam quando Zoe fez o pedido, os lábios


curvados num permanente e sardônico sorriso.

“E eu que me deixei enganar por seu rostinho angelical… Você é


mesmo uma pimentinha, hein?” A reclamação extremamente
dramática terminou com um sorriso safado.

Ele abaixou o elástico dos shorts, libertando seu mastro rijo e


pulsante, apenas o suficiente para Zoe ter uma boa visão de
diâmetro, comprimento, em toda sua glória.

‘Meu Pai, eu nunca imaginei que eu iria querer sentir isso na


minha boca como agora!’ Quase hipnotizada, Zoe sentiu a
necessidade de tocá-lo, sua garganta de repente seca em
antecipação. Ela estendeu a mão, mas ele a empurrou, negando
com a cabeça.

“Nada disso, sua pequena sedutora. Isso só pode ser seu se


você prometer que vai me tratar bem pra variar.”

“Eu estou… Chocada. Você não quer?!”

Ele arrumou os shorts no lugar de novo, com uma gargalhada


maliciosa e sensual.

“Eu quero tudo, Zoe. Vamos ter um encontro de verdade essa


noite. Então minha Vênus pode ter cada centímetro, cada gota de
mim. Todo o meu insaciável eu, dando, mostrando, exigindo tudo o
que você quer… e mais.”

“Mas já não estamos aqui, e agora? Por que você quer empurrar
a responsabilidade de definir nosso relacionamento pra mim?” As
palavras escaparam da boca de Zoe num tom agressivo e exigente.

Ele ergueu uma sobrancelha em uma pergunta muda sobre sua


reposta ousada, mas depois a verbalizou, um tanto chocado.
“Espera aí, você realmente quer que eu te agarre, te jogue no ombro
e…”

“Não! Claro que não!”

“Então só diga, 'Sim, eu também te quero!' Ou 'Não, cai fora!'


Seus sinais confusos estão me matando! Eu não consigo te ler!”
Justin colocou suas cartas na mesa.

A resposta abrupta e honesta de Justin pegou Zoe de surpresa.


Ele parecia impaciente, mas seus olhos buscavam compreensão
dos dela. Porém, essa exigência dele era pressão demais para
alguém como ela, que estava dividida entre muitas coisas.
Novamente as palavras escaparam de seus lábios em um tom
ofendido.

“Por que eu tenho que me comprometer?”

“Hm, porque você parece chateada com o fato de não opinar na


própria vida?” O tom zombeteiro e desdenhoso de Justin foi um
balde de água fria na pose petulante de Zoe. “Se é assim, eu posso
tomar todas as decisões por nós dois, ou melhor, deixar nossos
corpos decidirem por nós,” ele falou a seguir, mostrando-lhe os
perigos de fazer isso. “Sei o que o seu corpo anda dizendo… Eu só
não quero ouvir seus lábios dizerem o contrário.”

A enormidade do que ele diz a Zoe a fizeram piscar em


compreensão.
‘Ele ouve o que eu falo. Ele quer saber se tenho certeza das
minhas decisões. E eu aqui agindo como uma mimadinha!’

“Me desculpa. Eu acho que não tinha entendido.” Zoe escondeu


o rosto sob suas mãos em concha, sentindo as bochechas arderem.
Mas Justin cuidadosamente as afastou e a fez o encarar. Seu olhar
era gentil, seu sorriso era devastador quando ele perguntou.

“Então temos um encontro? Essa noite?”

Ela balançou a cabeça, ainda envergonhada.

“Espero não amarelar…”

Justin balança os ombros, demonstrando que não pode fazer


nada a respeito.

∞∞∞

Não muito mais tarde, eles retornaram para Naviedo. Zoe teve o
resto da tarde livre para pensar no encontro daquela noite.

Ela estava tão acostumada a ir no piloto automático, fazendo as


coisas que as pessoas esperavam que ela fizesse. E Justin estava
dizendo que ela tinha que tomar uma decisão, parar de ficar de
chove-não-molha, e crescer. Era um pouco difícil se acostumar com
fazer diferente. Zoe tinha dito mais de uma vez que queria fazer
suas próprias escolhas. E agora descobria que tinha que se
responsabilizar por elas, também.

Ir ou não ir era se comprometer com suas próprias decisões e


consequências. Ela estava preparada para isso?
Capítulo 7
“Como assim?! Você não pode me dizer uma coisa dessas!”
Morena exclamava visivelmente transtornada e chocada.

“Ei, garota, não é minha culpa! Você não fechou o pedido dentro
do prazo, Morena! Foi o que eles disseram!” Jackie respondeu à
dona da loja.

“Droga! Agora, como eu vou passar a alta temporada sem


biquínis para vender?!”

“Eu sei Morena, que pena! Porém, ele disse que não podia
esperar. Ele já vendeu o estoque todo dele para lojas que fizeram os
pedidos mais cedo. Você devia ter imaginado que um distribuidor de
marcas tão famosas não ia ficar segurando uma quantidade de
peças exclusivas apenas para você, amiga…”

Foi essa a conversa que Zoe interrompeu quando chegou à loja


de Morena naquela mesma tarde. Ela não estava ansiosa para
reencontrar Jackie, mas queria um vestido novo para seu encontro
com Justin àquela noite. Zoe respirou fundo e virou-se para um
cabideiro de roupas após acenar para Morena.

Ela preferia esperar que a conversa acabasse antes de ir falar


com sua nova amiga.

Jackie acintosamente a ignorou e virou-se para Morena.

“Vou deixar você atender a aproveitadora que o Justin hospedou.


Falamos depois. Vou arranjar outro distribuidor pra você.”

“Ok. Obrigada, Jackie.” A voz de Morena soava constrangida.


Zoe respirou fundo. Ela nunca teve confrontos antes de conhecer
Wolf. Mas se ela foi capaz de discutir com um mafioso, ela podia
exigir explicações daquela mulher.

“Ok, Jackie, não vai dar pra somente ignorar você mesmo. É
melhor você parar.”

Jackie, que se virava para sair, arregalou os olhos em descrença


e deboche.

“O quê?!” Ela parou, e se virou para Zoe com um sorrisinho


arrogante.

Morena intercedeu, entrando entre as duas. “Garotas, não


vamos brigar por causa de homem…”

“Eu não quero brigar, Morena” Zoe falou, “Quero agradecer a ela
por tudo o que ela fez por mim, mesmo com má intenção.”

“Má intenção?! Foi você que chegou aqui com má intenção! Me


pergunto porque você veio parar aqui…”

Zoe balançou a cabeça, sem entender se Jackie estava em seu


juízo perfeito. “O quê?! Se afogar em mar aberto parece um bom
plano para seduzir alguém?! Esperava mais de uma capitã…”

“Isso não muda o fato de que você voltou pra cá, mostrando que
aquela historinha de 'preciso de emprego' era balela,” a outra mulher
respondeu, os lábios crispados e o rosto lívido de ódio.

“Eu ouvi sua confissão aquela noite, Jackie. Eu não posso te


impedir de me odiar, garota, mas pare de me difamar por aí. Não é
justo.”

Jackie cerrou os punhos, e olhou Zoe com desprezo.

“Não é mentira coisa nenhuma. Você é uma piranha


aproveitadora. Você quer continuar bancando a donzela pura e
sonsa? Justin vai se arrepender de ter te conhecido, tenho certeza.”
“Você podia ter mostrado sua cara logo de início, Jackie, e não
bancado a solidária quando queria que eu me ferrasse. Você me
acusa de duas caras, mas foi você que agiu assim. O que você
pretendia? Por que você colocou o Marco nisso? Que tipo de amiga
é você?” Zoe a metralhou e os olhos verdes da morena cintilaram de
ódio. Morena estava aflita entre as duas.

“Meninas!”

“Morena, eu vou indo. Me desculpa, amiga.” Jackie cedeu por fim


aos olhares suplicantes da dona da loja.

Zoe abaixou os olhos, envergonhada por ter causado a cena ali.


Mas, no fundo ela sabia que não ter respondido à altura daria a
Jackie a sensação de que estava certa.

Morena parece mortificada quando Jackie saiu pela porta e


cruzou a rua, e se virou para Zoe, fechando a porta.

“Me desculpa, Zoe. Estamos nervosas. Ela não levou numa boa,
mas… isso não é culpa sua. O tempo vai curar tudo.”

“Morena, você não tem que tomar partido. Eu não vou te pedir
isso. Também não vou falar mal dela. Ela não chegou a me
prejudicar. Tudo acabou antes de começar. Talvez ela apenas
precise de um tempo para ver que eu não vim tomar nada que era
dela…”

“Exato, menina. Pessoas não são propriedades. Mas pode levar


um bom tempo para ela entender isso.” Morena ficou pensativa, e
depois sorriu, finalizando o assunto em sua mente. “Bem, evite ela
por enquanto. Eventualmente ela vai superar isso.”

“Sim, querida. Não é como se fosse o único problema do


mundo.”

Zoe concordou e olhou ao redor. Ela também preferia mudar o


assunto agora, porém ela percebia que apesar de Morena tentar
agir no seu usual humor, ela ainda estava nervosa. E ela estava
longe de agir como a pessoa calorosa de sempre.

“Não posso fingir que não acabei ouvindo a conversa de vocês,


Morena. O que está acontecendo?”

“Ai, menina, não posso mais esconder que vou começar a chorar
a qualquer momento, posso?”

Zoe balançou a cabeça em negativa e ofereceu um abraço, que


Morena aceitou. Ela expôs seu problema.

“Tive um problemão com meu fornecedor de moda praia. Não


consegui fazer o pedido a tempo, e agora é tarde demais para
conseguir preços justos… será que eu terei que apelar para outlets
de estações passadas?”

Zoe compreendeu imediatamente. ‘Sei bem do que ela está


falando. Eu me graduei em Design de Moda e sou_ fui_ herdeira de
uma companhia têxtil… Ela é apenas uma pequena loja fazendo
pedidos com um atravessador de grifes famosas da Europa. Não só
ela já paga preços exorbitantes pela moda praia de marca, como ela
pode ser preterida em favor de outras lojas…’ Então ela tinha uma
resposta para dar à sua nova amiga. “Entendi. Como o seu público é
bem seletivo, você não pode simplesmente repor o estoque com
coisas de estações passadas ou genéricas. E o ponto alto de
vendas começa em poucas semanas, mas você não tem a
mercadoria certa para quando os iates chegarem.”

Morena concordou com a cabeça, e Zoe completou seu


raciocínio.

“Você vai só arranjar dívidas se tentar vender roupas abaixo das


expectativas do seu público-alvo.”

“Ah, alguém que me entende! Graças a Deus! Todo mundo que


tenta me ajudar não consegue ver isso como você.” Morena
desabafou colocando as mãos para o alto.
Ela se virou para Morena, uma ideia se formando na sua mente.
Talvez Zoe pudesse ajudá-la a ter sua própria marca de moda praia.
Exclusiva e voltada para clientes VIPs. Zoe sabia como ela poderia
conseguir suprimentos baratos e de boa qualidade. E até como ela
poderia contratar costureiras, a um preço justo e sem comprometer
a qualidade nem a dignidade dos trabalhadores.

Zoe hesitou porque não sabia como fazer aquilo funcionar. Mas
teoricamente, poderia funcionar. Ela estava animada com a ideia.
Sua mente estava fervilhando de ideias, para ser sincera, mas ela
tinha um grande empecilho. Zoe não tinha dinheiro. E além de tudo,
envolver-se nisso poderia acabar expondo sua identidade e
localização.

Mas seu coração falou mais alto. ‘Ok, acho que não posso
ignorar uma pessoa que foi sempre tão boa comigo. Ela até já me
presenteou duas vezes! Além disso, ela é a única pessoa que é
próxima de mim nessa ilha. Como posso ignorar os problemas
dela?’

“Estou tendo uma ideia ambiciosa, Morena. Acredito que você


teria ao menos algumas peças exclusivas antes da alta temporada.”

“Do que você está falando, querida?” Morena arregalou os olhos


com um pequeno brilho de esperança neles.

Zoe respondeu com um sorriso.

“Eu não tenho toda a ideia formada na minha mente ainda, mas
talvez isso possa ser o começo de algo novo e grande. Você quer
ouvir?”

“Claro, amiga! Seus olhos estão brilhando! Só pode ser uma


coisa ótima!”

Zoe começou a explicar sua ideia de uma marca indie com um


conceito bem pessoal. E demonstrou a Morena que tinha
conhecimento sobre cadeia de produção, e como ela poderia
encantar os clientes VIPs com o combo: marketing de storytelling,
design, e qualidade.

“Uau… Eu estou… UAU! Zoe, isso é tudo o que eu sempre


sonhei! E você conhece tanto! O que é você?! Uma fada-
madrinha?!” Morena não conseguia parar de sorrir.

“Hehehe, não. Bem que eu queria. Mas para isso, eu precisaria


ter dinheiro para investir. Porém, eu não tenho um tostão.”

“Não, mas… Eu amei a ideia! Eu vou convencer uns parentes a


entrarem comigo nessa empreitada e também vou pedir um
empréstimo no banco. Mas…”

“Mas…?”

“A parte mais importante… O estilista… Nós não temos um


designer de moda.”

“Eu esqueci de falar? Eu faço essa parte.” Zoe corou,


percebendo que havia tomado isso como implícito o tempo todo.
“Quer dizer, se você confiar em mim. Olha, eu volto amanhã com
alguns croquis.”

“Sério? Isso é melhor que um sonho!”

“Eu me inspirei muito com as coisas que eu vi hoje mergulhando


aqui perto. Mas eu vou precisar da sua opinião sincera.”

“Eu ainda estou zonza, guria,” Morena parecia nem ouvir as


palavras cautelosas de Zoe a este ponto.

“Se você não amar o conceito da primeira coleção, nem adianta


levarmos isso adiante.” Zoe exigiu.

Mas Morena fez um gesto com a mão, afastando a modéstia de


Zoe para longe. “Ahh! É isso! Eu sabia que você era especial! O seu
bom gosto! Nossa Senhora! A moda é o seu lugar, garota!”
Zoe se rendeu ao entusiasmo de Morena, por fim. “Assim que eu
tiver os croquis prontos, discutimos os detalhes. Estou animada em
ser sua sócia!”

A duas se abraçaram em euforia, torcendo para que seus planos


não se desfizessem no dia seguinte.

“Agora, me ajude com o vestido! Tenho um encontro essa noite!”

“Claro, querida. Fiquei tão empolgada! Eu quase esqueci porque


você veio aqui, afinal!”

∞∞∞

Zoe voltou para a casa de Justin e ficou desenhando croquis de


moda praia até o anoitecer.

O que iria acontecer no futuro não importava naquele ponto, já


que ela estava contagiada pela euforia de Morena e sinceramente
grata por poder usar tudo o que sabia para talvez construir uma
nova história. E o passeio com Justin pela manhã havia enchido sua
mente de inspiração.

Zoe transbordava criatividade e terminou mais de uma dúzia de


croquis antes de perceber que já é noite. Ela sentiu falta de suas
aquarelas e canetas especiais, porém sabia que poderia resolver
isso mais tarde a aperfeiçoar seus desenhos. Mas ela
definitivamente não pretendia deixar Justin esperando.

Após se vestir, Zoe olhou novamente a nota que Justin deixou


sobre a cama, acompanhada por uma flor.

Siga o fio, se você tiver coragem…


‘Hm… Isso foi romântico…’

Ela encontrou um fio luminoso de LED preso na maçaneta da


porta principal quando saiu. Rindo nervosamente, Zoe entrou nessa
brincadeira romântica, cuidadosamente seguindo as luzes para o
outro lado da casa.

Ela nunca tinha estado ali, e ficou incerta se o encontro seria no


bosque ou na beira da praia.

Ela andou por um caminho coberto por deck de madeira,


seguindo o fio luminoso, e após cerca de cem passos, Zoe
encontrou com um grupo vindo em direção oposta.

Ela reconheceu que eles estavam usando o uniforme do


Joaquin's. E eles a cumprimentaram timidamente ao passarem,
carregando caixas e contêineres.

‘Justin até encomendou um jantar no Joaquin's. Está ficando


mais elaborado do que eu esperava para algo de última hora.’

Um pouco depois, ela chegou até um gazebo na beira da praia,


iluminado por tochas e fios de luzes.

“Oi.”

O coração chegou a falhar uma batida. Justin ainda era ele


mesmo, mas vendo ele naquele lugar, a encarando com aquele
sorriso misterioso nos lábios…

‘Ele está mais gostoso que nunca.’ Zoe sabia que era só questão
de tempo até estar na cama com ele. Ela sentia isso em sua carne.

Justin, vestido casualmente com uma calça clara de linho e uma


camisa de tecido rústico e leve, simplesmente exalava uma
sensualidade natural e parecia muito confortável em sua própria
pele. Aquele era um fato fascinante sobre ele.
“Caralho,” Justin murmurou, enquanto os olhos dele devoravam
cada centímetro de Zoe enquanto ela diminuía a distância entre os
dois.

Zoe usava um minivestido claro que lembrava uma bata larga


salpicada de lantejoulas douradas aqui e ali, com um cinto de couro
cru trançado sobre os quadris, que pendia com penas de um lado.
Um colar étnico e sandálias com tiras que subiam por suas pernas
complementavam o visual. Ela sentia-se linda, bronzeada, e apenas
havia realçado seu rosto com máscara nos cílios e lip tint.

Nem no dia de seu casamento ela sentiu-se tão linda, nem tão
eufórica.

“O quê?” ela perguntou.

“Não liga pra mim. Só… que gata! Uau.”

Ela tentou não sorrir diante do elogio, mas seus lábios não
obedeceram. ‘Nós dois sabemos o que vai acontecer hoje… Mas eu
não sei o que devo fazer. Apenas vou resistir essa urgência de
simplesmente ir beijá-lo e pular o resto…’

Esse breve momento de hesitação de Zoe os fez ficarem se


encarando por um minuto inteiro. Por fim, vencida pela imagem linda
e tentadora de Justin, Zoe cruzou a distância entre os dois, e o
trouxe para si pelos passadores da calça de linho claro.

Ele aceitou seu movimento com um sorriso e envolveu a cintura


de Zoe com os braços frouxamente, a deixando no comando.

Levantando a cabeça, Zoe mordiscou os lábios pecaminosos de


Justin.

“Mmmm…”

Ele gemeu quando Zoe saboreou os lábios dele devagar,


explorando seu relevo e então sua língua penetrou sensualmente.
Justin a puxou para si depois de um tempo, a mão dele
envolvendo sua nuca possessivamente. Ele aprofundou o beijo até
que ambos estivessem sem fôlego.

Ele murmurou no ouvido dela, arfando,

“Eu não acho que eu vou conseguir ficar de conversa depois


desse começo…”

“Nah, você devia… Pelo menos me oferecer um vinho.”

Isso o pegou de surpresa e ele ergueu uma sobrancelha numa


pergunta muda. Zoe assentiu.

Por fim, Justin deu um grande sorriso, e dando alguns passos


para longe de Zoe, passou os dedos pelos cabelos, olhando ao
redor.

“Bem, eu tive que usar toda a minha influência e criatividade


para fazer isso. Espero que você goste.”

Zoe se forçou a parar de olhar para ele e escaneou ao redor com


curiosidade.

O gazebo tinha sido decorado com folhagens tropicais,


pequenas luzes e cortinas diáfanas, o chão forrado com esteiras de
palha. Havia dois sofás enormes, tapetes e almofadas num visual
boêmio muito chique.

Ela também viu baldes de gelo com vinho, e comida também.

“Adorei o seu esforço. Valeu a pena. E como você prometeu,


parece mesmo um encontro romântico.”

“Obrigado.”

A olhadela maliciosa que ele lança a Zoe quando estava


ocupado abrindo uma garrafa de vinho rosé acendeu algo nela.
‘Os olhos dele prometem tanta coisa!’

Logo, ele oferece a Zoe a taça de vinho e ergue a sua, para um


brinde.

“À Vênus, a deusa que o mar trouxe a esta ilha e… ao amor.”

“Vamos brindar às segundas chances.”

Zoe notou como ele sorriu sardonicamente ao seu brinde, e suas


taças se tocaram. Zoe tomou um gole do delicioso vinho.

Casualmente depois do primeiro gole, Justin comentou.

“Clayton me disse que emprestou os antigos materiais de


desenho dele para você. Isso me deixou curioso. Então você tem
um lado artístico?”

“Como posso explicar…” Zoe não imaginava que Justin


descobrisse tão rápido. Ela ainda não sabia como explicar, mas
também não seria possível esconder isso.

“Se é só um hobby, você não precisa se envergonhar…”

“Não. Não é isso. Tenho planos para o futuro, agora. Planos


profissionais, é isso.” Zoe abriu um sorriso, pensando que nem
sequer tinha pensado em como contar a Justin sobre seus planos.
‘Preciso organizar meus pensamentos. Eu não tenho que ter medo
dele. Preciso encontrar uma maneira de dizer a ele sobre quem sou,
mas… Se eu fizer isso esta noite, eu estarei estragando tudo!’

“Aos nossos planos profissionais!” Justin exclamou, erguendo a


taça novamente. Ele indicou um dos confortáveis sofás e almofadas
do gazebo. Zoe sentou-se ao lado dele. Justin questionou
casualmente.

“Então, quais são seus planos profissionais? Nós nunca falamos


sobre isso.”
Ela prendeu a respiração por um momento, incerta. Então
lembrou-se de como ele reagiu ao saber sobre seu trabalho no
Dorado’s.

Com certeza ele entendia o que era trabalhar por paixão, e ele
respeitaria suas escolhas. Aquilo era um encontro, e ela percebeu
confiar em Justin o bastante para acreditar que ele a apoiaria de
novo. Afinal, ele era um caçador de tesouros!

“Bom, eu sou uma designer de moda. Eu tinha planos


detalhados para criar minha própria marca até que… a vida
aconteceu,” ela começou a revelar.

Enquanto jantavam, Justin fez as perguntas certas para Zoe


continuar falando da sua paixão por criação de moda. Ela também
mencionou ter planos de começar uma linha de moda praia com a
Morena como sua sócia.

“Estou falando demais?” Ela perguntou enquanto ele ouvia em


silêncio.

“Estou tão animado quanto você pelos projetos que fazem seus
olhos brilharem tanto.” Foi a resposta dele.

As palavras dele tocaram seu coração de uma maneira especial.

“Sinto como se estivesse saindo de uma crisálida para abraçar


minha verdadeira forma, Justin,” Zoe confessou. Nesse momento,
ela percebia que a ideia de um encontro havia sido genial. Ela se
sentia à vontade para conversar com ele pela primeira vez.

“Deixando o quê para trás?”

“Deixando meu lado ‘Caxias’ e muitos preconceitos para trás. O


que aconteceu virou meu mundo de cabeça para baixo.” Ela refletiu
por um momento. “Eu não sou quem eu achava ser.”
“Gosto de como quando você fala essas coisas. Você parece
brilhar como uma estrela. Você realmente acredita nisso,” ele falou,
“E eu me identifico com suas palavras muito bem…”

“Como?”

“Não vamos estragar o clima do momento. Prometo que te conto


mais tarde,” ele desviou o assunto.

Zoe concordou, sabendo que não era uma promessa vazia. Ele
realmente pretendia fazer isso.

“Então, … Segunda chance no amor, ou na carreira?” Ele a


pegou pela mão para dançarem, uma sobrancelha erguida em
questionamento. Zoe o seguiu.

A música suave confundia-se com o ritmo das ondas, mas era


bom demais apoiar uma mão no bíceps de Justin, enquanto se
balançavam sem pressa, olhando-se reciprocamente.

“Muito cedo para sabermos ainda,” Zoe respondeu


honestamente. “Mas gosto de você, Justin. Gosto mesmo.” E um
pouco mais baixinho, porém com os olhos fixos nos dele num
desafio implícito, ela confessou.

“E você sabe que quero você. Você poderia usar a deixa nesse
momento.”

Os lábios tentadores dele se curvaram num sorriso malicioso e


feliz, e seu corpo assumiu uma nova postura.

“Tipo… Agora?”

“Sim. É o que eu quero. Agora. Sei que estou a um passo de me


apaixonar por você, mas tenho medo do abismo que o amor é.” Zoe
abriu seu coração.

Ele se aproximou e beijou seus lábios levemente, sussurrando,


“Podemos mergulhar nesse abismo juntos, Zoe. Eu quero
descobrir o prazer e a dor de te amar.”

As palavras dele foram a coisa mais bonita que Zoe ouviu em um


longo tempo. ‘Sinto que… é para ser. E, ao mesmo tempo, não é.
Mas eu não vou estragar esse momento pensando nisso. Quero
viver esse romance e ser feliz, pelo menos por uma noite.’ Ela
ponderou, enquanto Justin a mantinha em seus braços, também
imerso em seus próprios pensamentos. “Vamos deixar a conversa
para outro momento, Justin. Eu não quero pensar. Eu quero você.”

“Tem certeza?”

Zoe bebeu o resto do vinho em sua taça e a colocou de lado,


olhando para ele em expectativa. “Esse é aquele momento em que
digo… Estou aqui, não estou? Cala a boca e me beija.”

“Hm, eu gosto de quão exigente você pode ser… Sua sede me


excita…” Justin a apertou contra o peito dele, mordiscando o lóbulo
de sua orelha, sussurrando no seu ouvido. A mão dele dançou em
suas costas, rumo ao seu traseiro.

‘Hm, eu gosto dessa sensação… Eu me sinto como uma fêmea,


uma mulher com um amante ardente e sem pudores.’ Zoe ofereceu
seus lábios a ele, e ele os tomou com voracidade. Zoe estava
decidida a se comprometer com aquele momento. ‘Quero ele entre
as minhas pernas, dentro de mim… Eu já estou ardendo por ele.’

As mãos dele vagavam sob o vestido de Zoe e desceram suas


calcinhas mais rápido do que ela poderia piscar.

Os dedos dele se enroscaram no tecido elástico e a puxaram


para ele como rédeas. Suas línguas duelavam e dançavam.

‘Eu quero dar prazer a ele primeiro’, Zoe pensou.

Ela podia ver o exato contorno do pênis rijo e grande nas calças
dele. Sem resistir, ela o apalpou com vontade por cima do tecido.
O interesse de Zoe o faz dar um passo atrás, permitindo-lhe
explorar o corpo dele, curioso sobre as próximas ações dela.

‘Sério, minha boca chega a estar seca… Eu nunca senti nada


além de uma certa repulsa por alguns dos meus ex… Mas com ele
quero dar prazer… sentir na minha língua.’ Zoe sentia-se um pouco
zonza de desejo, e um pouco tola ao lembrar-se. ‘Como fiz com
aquele dildo idiota, com minhas amigas na festa do pijama da
faculdade… Aquela foi minha única experiência chupando um pau
até hoje… espero que eu consiga fazer ele sentir prazer.’

Deixando suas calcinhas finalmente chegarem ao chão, Zoe se


livrou delas e puxou Justin consigo pelo cós da calça em direção ao
maior e mais confortável sofá do gazebo, o chamando com o dedo
sedutoramente.

Quando ele se sentou e abriu os braços para recebê-la neles,


Zoe pegou a mão dele e deu uma mordidinha de leve.

Então escolheu um dedo da mão grande de Justin. E lambeu


todo o comprimento dele, da ponta até a base. Ele mal segurou um
gemido ao ver a cena sugestiva.

“É isso que você quer?”

Justin a fez montar o colo dele, o encarando. Os joelhos de Zoe


afundaram nas almofadas macias. Ela concordou com a cabeça.

“Sim, eu quero sentir e saborear você na minha boca.”

Ela guiou o dedo que lambeu para o meio das suas pernas
delicadamente, para que ele sentisse como ela estava molhada.

O dedo dele percorreu sua fenda, acariciando seu botão e


voltando ao seu centro, cuidadosamente penetrando, até a base.

Zoe mordeu o lábio sentindo a invasão no seu íntimo quente, se


acomodando e cabendo devagar.
“Ngh…”

“Ah, que carinha mais linda você está fazendo…” ele provocou.

“Então… Você vai deixar?”

“Ah, eu estou com medo de que, quando você colocar essa


boquinha em mim, eu vou ficar viciado… em você.”

“Gosto de como isso soa…”

Ele removeu o dedo devagar de dentro de Zoe, e usando o


polegar ele massageou seu botão habilmente. Algo prazeroso
começou a crescer em Zoe, e ela já sentia falta de uma parte de
Justin dentro de si.

Ele deixou que Zoe libertasse o pau dele de dentro de suas


calças, e observou enquanto a mão dele agarrava e sentia a textura
sedosa e morna, a pulsação e o comprimento, a superfície cheia de
veias.

Zoe se inclinou para lamber a cabeça com uma lambida longa e


lenta, sentindo o sal, e deixando sua mão brincar para cima e para
baixo, experimentando o aperto e a velocidade.

Enrolando a ponta da sua língua na cabeça ou deslizando por


todo o comprimento, antes de finalmente sugar e deixar sua boca
quente e úmida ser invadida por ele, centímetro a centímetro.

Justin tocou seus seios, acariciando, empurrando o vestido para


baixo para libertá-los. As mãos dele começaram a brincar com seus
mamilos: circulando, apertando, beliscando; a provocando.

Ela gemeu com ele na sua boca, e ele sibilou e grunhiu, tentando
controlar o tesão. Seus olhos encontraram os dele, e Zoe saboreou
a face torturada de Justin enquanto ele estava em sua boca,
decidindo o quanto dele ela recebia. Ela o surpreendeu deixando o
pau dele entrar mais e mais fundo… O quanto conseguisse.
Justin engasgou e latejou em sua boca, e agarrou seus cabelos
com ambas as mãos.

“Caralho!”

Zoe o provocou até o limite com sua língua e boca. Seus olhos
se reencontraram, enquanto ele acariciava sua face e cabelos.

Justin a removeu com cuidado dele e a trouxe para um beijo


avassalador e possessivo.

Justin se inclinou para mordiscar e sugar um mamilo de Zoe, e


ela gemeu alto, sentindo como se houvesse uma ligação com o seu
centro encharcado. Ele a guiou sobre ele, e logo ela sentiu sua xana
roçando o pau rijo dele, pronto para a empalar.

Justin focou em lhe dar prazer, deixando Zoe deslizar para frente
e para trás em seu mastro, sentindo a cabeça tocar todas as partes
mais íntimas.

“Você está tão molhadinha, tão quente! Você está me


derretendo, Vênus!”

Cada vez que ela se movia, ondulando para responder ao


estímulo no seu clitóris, Zoe ouvia como ele gemia e arfava.

Selando os lábios em um longo e apaixonado beijo, Zoe


controlou sua descida naquele mastro, sentindo entrar nela.

Lentamente penetrando, invadindo; lentamente a preenchendo.

“Ahh… É muito…” Zoe choramingou um pouco, o acomodando


pouco a pouco dentro de si.

Os braços de Justin foram para sua cintura, e os olhos verdes


dele buscaram os dela, enquanto ele tinha um sorriso travesso no
rosto.
“Logo você vai estar implorando por mais. Eu sei que você vai
adorar isso todinho em você.”

Ela não tinha dúvidas e ele continuou provocando. “Você vai


adorar o que eu tenho pra te dar…”

“Então me dá. Mais…”

Ele concordou com a cabeça e um sorriso safado, e Zoe se


empalou nele, até o talo, com um soluço de satisfação, sentindo as
paredes internas pulsarem e o apertarem e envolverem.

“Que delícia, Vênus!”

Ele a abraçou apertado, literalmente a imobilizando nos braços


dele, totalmente enterrado em Zoe enquanto ela estava no colo
dele.

Ambos respiravam pesadamente um nos braços do outro. Zoe


ouvia as batidas aceleradas do coração dele. E sentia o pau dele
pulsando dentro dela, do mesmo jeito que sua xana o envolvia e
ordenhava.

Justin estava claramente se controlando para não começar a se


mexer dentro de Zoe, do mesmo modo que ela tentava não ondular
os quadris para ter mais e mais dele. Zoe sussurrou, arfando,

“Você está certo… Quero mais de você.”

Quando Zoe era uma adolescente, ela tinha todo o tipo de ideias
românticas. Ela costumava fantasiar um monte. Como quão
modesta e dócil ela seria, quão galante e perfeito seu Príncipe
Encantado faria este momento ser.

‘Que bom que eu estava errada. É perfeito, mas totalmente


diferente. Eu estou com tanto tesão! É a minha primeira vez, e eu só
quero que ele me foda até eu desmaiar! É tão perfeitamente carnal!
Como Justin consegue ser um amante tão perfeito?’
Justin beijou seus lábios mais uma vez, suavemente, e empurrou
levemente o seu torso de Zoe para trás.

Ele continuava sentado enquanto costas de Zoe descansavam


nas coxas dele. Cada respiração trazia novas sensações dentro
dela.

Zoe o encarou, seus corpos unidos pelas suas partes mais


íntimas. Ela estava totalmente exposta para ele.

O jeito que ele a olhava, o pomo-de-adão se movendo, os lábios


entreabertos, o olhar vidrado… Isso a fez se sentir uma deusa.

“Está doendo?” ele perguntou.

“Não agora.”

“Certo…” Ele se moveu dentro de Zoe só um pouquinho, e


começou a trabalhar seu clitóris novamente. Zoe se contorceu
imediatamente.

Justin engoliu em seco e a ajustou contra ele de novo. Logo, Zoe


estava se contorcendo e rebolando.

Ela sentia uma sensação quente e boa crescer dentro de si, até
que implorou,

“Vai! Me deixa!”

O olhar divertido de Justin quase fez Zoe ficar com raiva dele, e
Justin perguntou,

“Deixar você o quê?”

“Me deixa te cavalgar. Me deixa te foder. Me deixa gozar!”

Zoe xingou Justin baixinho, e ele riu, agora movendo os quadris


com vontade, bombeando dentro dela.
“Desculpa, mas agora estou no controle.”

Agora, ele a deitou completamente contra as almofadas, indo e


vindo dentro de Zoe, sem restrições.

Seus corpos se chocavam com um som agradável que a deixava


ainda mais excitada. As pernas de Zoe envolviam a cintura dele,
para senti-lo ainda mais dentro de si, se isso fosse possível.

Sob seus cílios, Zoe podia ver os cabelos dele grudados na


testa. O corpo dele brilhava com uma fina e sexy camada de suor. E
ela estava completamente perdida nele.

Zoe chegou à beira do seu orgasmo e murmurou o nome dele,


apertando os braços dele e cravando as unhas em sua carne.

“Sim, Sim, Justin… Me faz… Gozar…!”

Sua vagina o apertou e ondulou enquanto ela se retorcia em


orgasmo debaixo dele, e Justin também perdeu o controle.

Com um grunhido ele gozou dentro dela. Aquele momento foi tão
poderoso que Zoe viu tudo branco por um instante, e então retornou
à realidade, o seu corpo mole e relaxado.

Justin a depositou com grande cuidado nas almofadas, saindo


de dentro dela, e beijando sua bochecha com tanto carinho que ela
sentiu as bochechas arderem.

Agora os dois precisavam de um tempo para voltarem a respirar


e permitir que os corações desacelerassem.

“Você está bem?” Justin perguntou. Ele estava deitado ao seu


lado e ergueu a cabeça para olhar o seu rosto.

“O sorriso no meu rosto não é resposta o bastante para você?


Posso fazer isso a noite inteira.”
Ele riu, e então sentou por um momento e começou a procurar
algo nas almofadas, finalmente pescando um celular de lá.

“Você não estava nos gravando, estava?”

Zoe se ajoelhou nas almofadas para tirar o telefone dele,


aterrorizada com a ideia. Agarrando o objeto da mão dele, ela
inspecionou-o freneticamente.

Justin entregou o celular a Zoe sem dar trabalho algum, seus


olhos mais ocupados em devorar o seu corpo nu na frente dele.

Ele se inclinou para morder sua barriga de brincadeira,


agarrando o traseiro de Zoe enquanto ela checava o celular.

“Você está tão ferrado se eu encontrar um ícone de GRAVANDO


ou algo assim, Justin Sanderson…”

Ele deu um tapinha no bumbum dela só para ver Zoe dar um


pulo de susto e fazer manha.

“Ah! Justin!”

“Sim, Sra. Policial, pode checar tudo o que quiser, eu sou


inocente!”

A imagem na tela inicial mostrava um lindo pôr-do-sol na praia e


nada havia de suspeito acontecendo.

“Uhn, por que você precisa desse telefone logo agora? Telefones
nem funcionam aqui!”

“Vamos tirar uma selfie _ nossa primeira.”

Isso a pegou completamente de surpresa.

“O quê?! Eu estou toda zoada!”


“Não, você está perfeita! Seus lábios inchadinhos, o brilho nos
seus olhos… Te olhar está me deixando excitado de novo!”

Justin se reclinou no sofá e Zoe apoiou sua cabeça no ombro


dele, assim ambos poderiam tirar uma selfie dos ombros para cima.

Ela admirou o resultado na tela, com um sorriso.

“Tenho que admitir que ficamos ótimos nessa foto!”

“Não é mesmo? Eu e minha namorada. Depois do nosso


primeiro e delicioso sexo. Mas é uma foto comportada…
considerando que…”

Zoe deu um sorriso malicioso, o desafiando a falar.

"Considerando que tirávamos essa foto enquanto a mão da


minha namorada não parava de mexer pra cima e pra baixo… Pra
cima e para baixo… Devagar e com firmeza…"

“Devo dizer Oops, lamento?” Zoe riu provocativa, continuando o


movimento que ele narrou.

“Espero que você não lamente e que continue fazendo… Você


tem um talento natural.”

Eles se beijaram ardentemente de novo, e logo estavam prontos


para um segundo round.

Como Justin prometeu, ele mostrou a Zoe todo o lado insaciável


dele naquela noite.

∞∞∞
Zoe se lembrava que Justin colocou um edredom macio sobre
eles e como o barulho do mar a fez dormir, temporariamente
saciada.

Ela acordou se sentindo estranha. Sua cabeça estava leve e o


quarto ao redor dela, um pouco errado. Ela estava na praia!

O sol estava subindo no céu, tingindo o horizonte com incríveis


tons de violeta e amarelo. O mar estava mais agitado que na noite
anterior, e as cortinas do gazebo balançavam ao vento.

‘Onde está Justin?’

Ela se lembrava terem se aninhado debaixo do edredom, antes


dela cair no sono nos braços de Justin.

‘Mas ele se foi, e meu corpo sente falta do dele desde que ele se
levantou.’

Após se vestir, seus olhos buscaram ao redor até Zoe o


encontrar na praia, a alguns metros do gazebo.

Ele estava com o rádio comunicador, e estava falando com


alguém pelo aparelho.

Seu instinto parecia pulsar incomodamente, lhe dizendo que


havia algo perigoso acontecendo.
Capítulo 8
O sol estava nascendo.
“Yawnnn…”

Zoe havia acabado de acordar no gazebo, envolvida em um


edredom macio. Mas Justin não estava com ela.

Ao invés disso, ele estava a alguns metros, falando num


equipamento de rádio.

‘Eu não sei por quê, mas eu não gosto disso.’ Ela teve um
pressentimento estranho. Ainda enrolada no cobertor, Zoe se juntou
a ele na praia.

Ela o enlaçou pela cintura com seus braços, por trás, e encostou
sua cabeça nas costas dele.

“… Dia.”

A mão dele cobriu a dela e levou aos lábios carinhosa e


brevemente antes de continuar a falar no rádio.

“Então, ele retornou para o covil dele? Que alívio, Wolf.


Isso significa que eu poderei checar isso pessoalmente.”

Zoe se forçou a ficar impassível, enquanto seu coração


acelerava. A voz familiar no rádio falava,

“Ok. Tem sido um inferno e... Deixa pra lá. Se você


conseguir isso, vamos manter a aliança com aqueles filhos
da mãe.”

“O que está rolando? Eu sei que você tá nervoso


demais…” Justin respondeu.
Zoe percebeu que a comunicação estava clara como cristal com
este novo aparelho. E sua mente agora ignorava códigos
irrelevantes, estalos e chiados, focando somente na mensagem.

“Fora nosso pai, nossos aliados mimizentos, e…? Meu


Deus... Ferrei tudo, ferrei mesmo! E agora ela se foi!”

Wolf gargalhou amargamente do outro lado, e Zoe estremeceu.

As palavras dele martelaram na sua mente: “NOSSO PAI. ELA


SE FOI.”

“Wolfie, mano, ei. Me dá alguns dias pra arranjar isso


com a outra família. Daí VOCÊ VEM. Ou vamos combinar
um novo lugar.”

Do outro lado, Wolf respondeu.

“Ok. Só faz isso e me reporta. O Dia D está chegando,


maninho. Não se preocupe comigo. Se prepare. Câmbio
final.”

“Como eu poderia não me preocupar com você? Você é


a porra do meu irmão, caramba!” Justin explodiu.

A agitação se transferiu para o corpo, e Zoe percebeu o quanto


ele estava tenso. Mas só estática respondeu Justin dessa vez.

Justin desligou o transmissor, o apertando em seu punho


fechado.

Depois de respirar profundamente algumas vezes, ele se virou e


abraçou. Zoe. O queixo dele se apoiou no topo da sua cabeça.

“Você faz a minha manhã bem melhor, sim” ele falou com voz
suave.

Zoe sabia que a cabeça dele estava girando em torno do que


quer que Wolf estava dizendo antes.
‘Ao menos posso esconder minha cara no peito dele! Que
loucura! Nunca imaginei que eles fossem irmãos. Literalmente!’

Sua mente tentava achar sentido em tudo isso. Além de serem


diabolicamente lindos, não havia semelhanças óbvias! Mas… Lá, no
fundo, Zoe sentia que havia algo estranho. Até seus sonhos… “Meu
Deus! Eu sou… Tão. Burra!”

E o pior era a constatação. ‘Estou passada! Estou FERRADA!


Isso não pode estar acontecendo! Como?!’

Zoe não pôde suportar isso. Ela havia sido praticamente jogada
nos braços de Wolf Düssel por seu pai. E quando Zoe julgou que
tinha escapado, ela acabou nos braços do irmão dele?!

Ela empurrou Justin e começou a andar sem direção pela praia,


seus lábios tremendo.

“Espera, Zoe. Espera! Me deixa explicar!” Justin chamou, a


seguindo imediatamente.

Os olhos de Zoe estavam secos. Seu choque e medo estavam


tingidos por raiva… raiva inexplicável contra Justin. ‘Se ele sabia
que eu estava fugindo dos Düssel… Ele devia ter me contado que
era um! Ele devia ter me dito claramente que Wolf era irmão dele e
não um amigo qualquer como ele insinuou. Será que… Ela sabia
quem eu era desde o princípio?!’

“Zoe, espera! Sinto muito! Eu te devo explicações. Por favor,


ouça o que tenho a dizer…”

Ela se virou para ele, abraçando a si mesma, buscando em seu


olhar algum sinal de malícia. Mas ela não conseguiu ver nada além
de preocupação e culpa. O grosso de sua raiva foi derretida por
aquele olhar. Justin parecia tão sincero!

“Francamente… Os Düssel destruíram a minha vida. Mas… Eu


não penso que posso te culpar. Por que você confiaria sua
identidade a alguém que você acabou de conhecer?” Ela era a
mentirosa ali. Ela também não havia revelado tudo a ele.

Mas Justin afastou as palavras dela com um gesto de mão.

“O ponto não é esse, Zoe. Você estava traumatizada, e eu queria


dar a você um tempo, antes de nos abrirmos sobre essas coisas.
Foi por isso que eu nunca te pressionei.”

Os olhos dele traçam o rosto de Zoe em busca de algo, e ele


apertou os lábios.

“Eu sei que você não gostaria de ouvir que sou o filho do homem
que forçou você a tudo isso, mas… Eu prometo: Eu não sou como
ele. Espero que você me dê uma chance de provar isso. Mas você
está certa: essa conversa tem que esperar. Preciso deixar a ilha por
alguns dias. Você ouviu.”

Zoe não conseguia não confiar nele. Ele havia demonstrado isso
desde o início. E mais do que isso: ‘Por mais chocada que eu esteja,
Justin está tão focado com seus pensamentos que não percebeu
minha reação. Eu não quero que ele saiba que eu sou esposa do
irmão dele… Agora. Preciso arranjar um jeito de explicar isso tudo.
Mas eu não posso entrar em pânico… Como Justin reagirá quando
descobrir? E… Ele se voluntariou para alguma missão. O que será?
Será perigoso? Preciso arranjar um jeito de arrumar essa bagunça,
mas não parece que esse é o melhor dos momentos… tenho que
me manter calma… Pra ser honesta, eu só quero desaparecer. O
que vai acontecer agora?’

“Ok. Porém, eu não vou aguentar esperar tanto. Eu preciso


saber de algumas coisas. Não me negue isso.”

Apesar de demonstrar que queria que Zoe confiasse nele, Justin


cruzou os braços, e disse,

“Ok. O que você quer saber? Além do fato que estou me


escondendo de Walter, com a ajuda do meu irmão mais velho,
Wolfgang? O homem da foto. Você o conheceu?”

Zoe engoliu em seco, e assentiu, suas mãos suadas.

“Mas eu não posso dizer que o conheço… Nós só nos


encontramos em eventos estranhos e falamos tão pouco!”

“É uma pena.” Justin lamentou. “Se ele tivesse notado que você
havia sido forçada a ser uma das garotas de Walter, por assim dizer,
ele teria te resgatado.”

Zoe engoliu em seco novamente como se isso fosse realmente


possível. Justin justificou a distração de seu irmão, e revelou mais
fatos importantes.

“Bom, Wolf está com muita coisa na cabeça no momento. Walter


começou a suspeitar de algo. Na verdade, temos certeza de que ele
já sabe que estou vivo. Eu estava indo me encontrar com Wolf no
iate dele, quando avistei o mega iate de Walter. Eu sabia que tinha
algo errado. Wolf tentou me alertar, mas eu mal escapei daquela
área.”

“Eu… estou ligando os pontos aqui e percebi que seu pai chegou
bem perto do seu esconderijo…” Zoe ganhou fôlego para continuar.
“Só agora percebi que você nunca me contou como você me
encontrou no mar… Você ouviu o Mayday ou algo assim?”

“Não, eu não ouvi Mayday nenhum, Vênus. Foi uma coincidência


assustadora. Ou como chamo, destino.”

“Então… como?!”

“Bom, passei algum tempo sem notícias de Wolf, mas não é


incomum. Viajo bastante, também. Mas alguns dias antes,” Justin
começou a explicar. “… ele me pediu para encontrá-lo no iate dele.
Ele parecia bem animado e misterioso…”
Justin pareceu lembrar da cena, franzindo as sobrancelhas a
seguir. “Eu estava a caminho quando vi Leviathan, o ridículo mega
iate de Walter. Percebi que não podia ser só coincidência… Parecia
uma armadilha, na verdade. O rádio deles tentou me contatar.
Desliguei o rádio do meu barco.”

Zoe podia entender o porquê. Justin continuou contando.

“Resumindo, ele mandou asseclas para checar o barco que não


respondia, e eu tentei me livrar deles. Perdi um tempo com isso.
Então a tempestade desabou. Eu estava voltando para casa quando
eu te vi… Felizmente eu estava por lá para te avistar nas águas.”

Relembrar daquele momento fez Zoe se emocionar. Ela se


aproximou dele e o abraçou forte, deixando as barreiras caírem.

“Você me salvou, apesar de arriscar sua vida no mar aberto,


durante uma tempestade! Eu te devo a vida!”

“Você não me deve nada, Zoe. Que bom que eu estava lá.
Então, eu não me importo se você era uma acompanhante ou suas
razões para estar a bordo naquela noite.” Ele suspirou, fazendo
carinho nos cabelos de Zoe. “Você pode discordar, mas no momento
em que você caiu daquele iate, você foi salva das perversões de
Walter. Pelo que eu ouvi dizer, poucas garotas sobrevivem a mais
que um mês ou dois das torturas sádicas dele.”

“Meu Deus!”

“A família Düssel tem patrulhado essas águas, procurando pelo


cadáver de uma mulher. E certamente procurando por mim.” Justin a
informou. “Wolf me pediu para não ir para o mar por enquanto.”

“O que ele disse? Estão procurando pelo meu corpo? Ele falou
especificamente de mim?”

“Não, ele não disse nada específico sobre você. Eu que estou
ligando os pontos. Ele só insistiu que eu não saia do personagem e
não navegue.”

A cabeça de Zoe parecia que ia explodir tentando processar tudo


o que ela tinha acabado de ouvir.

“Eu já disse que eu não era acompanhante… Na verdade, eu


sou…”

“Eu sei. Sei pai te vendeu ou deu de presente para Walter.”

Zoe quase retrucou que não foi bem assim, mas percebeu que,
na verdade foi. Por sorte ela acabou casando com Wolf.

“Desculpe. Sei que é muito recente, e que ainda dói,” Justin a


consolou.

“Sim, ainda dói. Mas percebi que vi só o que eu quis ver. E que…
preciso saber mais antes de julgar.”

“Sei, Zoe. Tem algo mais que você queira saber?”

“Eu ouvi você dizendo que você vai ajeitar a situação com outra
família. O que isso significa?”

“Significa que, além da minha sociedade com Marlo, eu ajudo


meu irmão com um negócio paralelo. Mas não é algo para a família
Düssel. Wolf e eu estamos trabalhando para preparar o momento
quando…”

“Os irmãos vão destronar o Rei do Crime Walter Düssel!” Zoe


completou as palavras seguintes de Justin em chocada
compreensão. Justin não negou.

“Mas parece que Walter começou a suspeitar… Temos operado


independentemente até agora, fazendo alianças… Juntando forças
e recursos… Para o momento certo.”

“Espera… Você disse antes que forjou sua própria morte…


Então seu pai não sabe que você está vivo? Eu realmente não
entendo o que está acontecendo.”

“Não posso te culpar. Walter Düssel… meu pai. Acredito que


você já saiba a essa altura. Ele é insano. Um maldito sociopata.”

Zoe assentiu, dando tempo para Justin conter o tom agressivo


de suas palavras. Ele continuou.

“Ainda antes de ficar viúva da primeira esposa, a mãe de Wolf,


ele conheceu minha mãe. E fez dela sua amante.” Justin riu
amargamente. “Bem, isso é um eufemismo. Eu não vou te chocar
com o relato de como ele abusou e aterrorizou ela, causando danos
mentais irreversíveis. Talvez Walter já fosse o demônio encarnado
naquela época, mas passava despercebido.”

“Oh!”

“Seja como for… Eu tinha 12 anos quando ele matou minha


mãe. Eu tentei defendê-la. Em desespero, eu atirei nele.”

Justin se calou por um momento, o olhar vazio e distante,


provavelmente vendo em sua mente tudo de novo. “Infelizmente eu
não consegui matá-lo, então… ele só me manteve vivo porque 'eu
era o filho dele' ou algo assim.”

“Meu Deus!”

“Foi quando a violência e a paranoia contra mim, começaram.”


Os olhos de Justin estavam vermelhos, mas secos como o deserto.
Ele tentava manter a história o mais impessoal possível, para evitar
que as lembranças o afetassem.

“Oh, Justin…!”

“Bem, Wolf tentou me proteger como ele podia. Ele tem só cinco
anos a mais que eu, então… Não era tão fácil. Walter é um monstro,
mas Wolf é esperto e também se impôs contra aquele cuzão
algumas vezes.”
A narrativa de Justin fez Zoe temer os detalhes que ele omitiu.
Zoe tentou imaginar como podia ter sido, mas não gostou daquilo
que sua imaginação produziu. Ela tinha certeza de que havia sido
horrível para ambos. Justin riu com um tom de deboche.

“Aquele degenerado insano vive numa montanha de bosta do


seu glorioso passado como mafioso. Mas ele trata Wolf diferente.
Ele admira seu primogênito. Não só Wolf trabalha duro pra limpar as
merdas que meu imprevisível pai faz contra aliados e amigos
indiscriminadamente, como provou ser um bom administrador.
Assim, Walter confia nele. Wolf é a única pessoa que ele confia…”

Isso era chocante.

“Eu acho que ele vê Wolf como um reflexo de si mesmo. Ele não
poderia estar mais errado…”

“Eu mal consigo imaginar como escapar daquele homem!” Zoe


confessou, horrorizada.

“Wolf bolou um plano para me libertar daquela vida miserável


nas garras de Walter. Ele forjou minha morte.”

A pausa permitiu que Zoe recuperasse seu fôlego, pois parecia


que ela era que tinha passado por tudo isso.

“Wolf tomou conta de tudo. Me salvou. Arranjou essa ilha. Uma


nova identidade. Eu recuperei minha sanidade mental. Eu devo a
ele minha vida e o homem que sou hoje.”

“Esse não é o homem que eu conheci!” Zoe deixou escapar e se


arrependeu logo a seguir.

“Então, você só o encontrou. Você não o conheceu.”

Era a primeira vez que Justin reagia mal a algo que Zoe falava!
Ela teve certeza de que ele realmente adorava o irmão!’ Zoe
constatou.
“Sim. Você tem toda razão. Passei apenas algumas horas perto
do seu irmão. Não posso dizer que o conheci.”

Justin pareceu apaziguado o suficiente pelas palavras de Zoe,


que eram, à sua maneira, verdadeiras. “Você teria gostado dele, eu
acho. E o mais importante: ele é totalmente diferente de Walter.”

“Qual foi o negócio que você mencionou?” Zoe ainda estava


preocupada.

“Você não está mais brava comigo? Está tudo bem entre nós?”
Justin perguntou, com um sorriso. Ele a ergueu pela cintura, tirando
seus pés do chão.

“Mhmmm… Não, eu não estou mais brava com você.” Zoe fez
biquinho, então respondeu, sentindo-se corar pela gratidão que
sentia àquele homem. Ele tinha salvado sua vida. Gratidão,
atração… e talvez algo mais? Será que ela estava se apaixonando?

“Zoe, eu vou precisar deixar a ilha por alguns dias.”

“Então é assim que você me amacia, e depois, vem e diz isso?”

“Droga, é um jeito de dizer isso, mas… sim. Na realidade, te


amaciar é uma ideia boa!”

“Justin, seu mente poluída!”

“É difícil não pensar besteira quando olho para você, Vênus!”

“É melhor se esforçar!”

“Desculpa, Vênus. Tivemos um problema com uma entrega.


Tenho que descobrir o que aconteceu, e resolver o problema para
não perdermos a aliança. Eles são aliados importantes.”

“Mas você sabe… Seu pai está suspeitando. E se for uma


armadilha?”
“Serei cuidadoso. Eu não posso me eximir e deixar Wolf sozinho
nisso. Ele está arriscando bastante, também.”

“Então você deve ir. Eu estarei esperando”

Zoe ainda não sabia o que fazer, mas sabia que tem que
começar a consertar o estrago. Ela não queria ser a causa de uma
ruptura entre os irmãos. Mas ela não podia simplesmente contar
tudo agora. Ela sabia que Justin ia lidar com outros mafiosos e era
algo importante. Ele precisava estar focado e de cabeça fria. A sua
história poderia esperar alguns dias mais.

Justin concordou, mas Zoe podia ver que ele estava preocupado.
Era uma reação natural antes de uma missão crítica, ela concluiu.

“Que bom que você entendeu agora. Sei que ainda temos muito
a conversar, e poderemos fazer isso quando eu voltar.”

“Sim, temos muito a conversar, da minha parte também.” Ela


concordou. “ Mas você está certo; isso pode esperar. Apenas…
Prometa que não vai arriscar sua vida, tudo bem?”

“Prometo que voltarei, Vênus.”

“O Marlo também vai?”

“Erm. Não. Marlo precisa ficar. Ele tem uma carga para entregar
nos próximos dias. Ficarei em contato via rádio.” Para reassegurá-
la, Justin afirmou. “A ilha é mais protegida do que você imagina.”

Se, por um lado, Zoe não estava animada de ficar com Marlo, ao
menos sabia que ele iria deixá-la em paz, como já vinha fazendo.
Zoe também podia passar meu tempo com Morena e fazer planos
para a coleção moda praia. Ela conseguiria estar ocupada o
bastante para se distrair. Talvez fosse o bastante para não ficar
pensando tanto e me preocupando com a segurança deles…
‘Espera! DELES?!’ Zoe se chocou ao incluir inconscientemente
seu marido em seus desejos de segurança.

“Está tudo bem?” Justin perguntou.

“Estou nervosa, sabia?!”

“Certo. Sei que não é o que você precisa, nem o que você quer.
Mas por favor. Fique aqui até eu voltar. É mais seguro para você.”

Justin acariciou seu cabelo, colocando o queixo no topo da sua


cabeça. Ele aproveitou para ter Zoe nos braços por um momento.

Zoe concordou, sabendo que era verdade. Pelo menos por


enquanto.

∞∞∞

Não houve tempo para romance antes que Justin partisse no


meio do dia.

Ele usou a maior parte do tempo para se comunicar com seus


associados no continente, e falar com Marlo. Zoe tentou não
atrapalhar, mas fez questão de estar no píer para se despedir.

O dia estava claro, mas ventava bastante, e Zoe observou


quando Justin carregou algumas caixas e malas suspeitas para o
barco.

‘Não é preciso dizer que o que ele vai fazer é perigoso, muito
perigoso… Mas, ao mesmo tempo, eu tenho convicção de que ele
dará conta do recado…’

“Não se preocupe muito. Com o novo equipamento de rádio,


Justin pode entrar em contato conosco o tempo todo.” A voz de
Marlo ao seu lado a fez ter um sobressalto. Mas o amigo de Justin
tinha um sorriso no rosto, enquanto trazia mais algumas caixas para
o barco.

Justin estava vindo lá de dentro e respondeu ao sócio.

“Zoe sabe mais de rádio que nós dois juntos. Ela realmente
estudou aquele manual.”

“É sério?”

“Não mesmo,” Zoe respondeu, não querendo parecer a sabe-


tudo. Apesar de ter realmente lido o manual, ela não tinha confiança
em seu conhecimento recém-adquirido. Ela confessou. “Tenho medo
de usar isso. É um pouco intimidador.”

Marlo zombou de maneira amigável. “Ha. Que pena para a


garota viciada em celular. Bom, quando Justin chamar, e se você
estiver por perto… Posso te deixar falar com ele… Em troca de sua
comida maravilhosa, Zoe!”

“Isso significa que terei que te estufar de comida, Marlo!” Zoe


imaginou que Marlo queria superar os mal entendidos agora que
sabia que ela e Justin eram praticamente um casal. E ela não queria
alimentar discórdias desnecessárias, então entrou no espírito
brincalhão da conversa.

“Hahaha. Eu vou chamar pelo menos duas vezes ao dia. Não se


preocupe…” Justin deu tapinhas nas costas do amigo, enquanto
piscava para Zoe, sorridente.

“A única coisa que me preocupa é a tempestade que está


chegando em alguns dias…” Marlo falou, mudando a expressão e
olhando o horizonte em direção do mar.

“Tempestade?” Zoe não via sinais disso, mesmo que estivesse


um vento um pouco forte aquela manhã.
“Marlo tem sexto sentido para coisas de meteorologia… E ele
está certo na maioria das vezes.” Justin explicou a Zoe.

“Eu penso que tem uma tempestade de sudeste armando para a


próxima semana… Mas isso não deve atrapalhar nenhum de nossos
planos.” Disse Marlo, tranquilizando Justin.

Justin concordou. “Nenhum de nós estará em alto mar, de


qualquer modo. E eu não penso que vou demorar tanto assim para
voltar.”

Depois que Marlo foi para o interior do barco, Justin enlaçou a


cintura de Zoe de surpresa, a tirando do chão.

“Ei!”

“Me beija.” Ele exigiu, com os olhos brilhantes.

Zoe passou seus braços ao redor do pescoço dele, enquanto ele


a mantinha erguida em seus braços.

Justine Zoe se beijaram, foi doce e quente… Espalhando aquela


sensação gostosa por todo o corpo dela como sempre. Quando
seus lábios se separaram, Justin estava sem fôlego.

“Você é incentivo o bastante para não me demorar nem mais um


segundo que o necessário…”

“É melhor você fazer a espera valer a pena, Justin…” Zoe o


provocou carinhosamente.

Quando ele a colocou de novo no chão, Zoe sentiu algo gélido


tomando o seu corpo. Um pressentimento estranho e nada bem-
vindo.

“Por favor, tome cuidado. Sei que Morena pode te dar todo o
suporte como uma boa amiga.” Ele esfregou a nuca, e Zoe suspirou
à visão quando ele parece tão charmosamente confuso e
embaraçado.
“Quando eu voltar, nós teremos ‘aquela’ longa conversa… Sei
que não podemos mais evitar. Colocaremos tudo às claras, Zoe. Eu
prometo.”

Ela concordou, sabendo que aquela era a tempestade que ela


temia de verdade. Ele falava de seus próprios segredos, mas ela
também tinha coisas a confessar que poderiam mudar tudo!

Quando Justin disse adeus e partiu em seu barco, Zoe sentiu um


dilúvio de lágrimas chegar de surpresa aos seus olhos. ‘Eu estava
tão errada em tudo o que eu fiz! Wolf só estava tentando me salvar!
E agora eu me envolvi com o irmão dele…!’

Mas onde estava o real arrependimento?

∞∞∞
TRÊS DIAS DEPOIS

O clima mudou de novo: ventava muito e nuvens escuras


atravessavam o céu. Mas Zoe tivera dias calmos na ilha.

Ela havia gastado seu tempo com Morena na loja de sua nova
amiga. No final. Morena havia ficado muito animada com seus
planos e com os croquis.

Ela estava ativamente trabalhando para conseguir pelo menos


algumas peças prontas o mais rápido possível!

“Garota, eu nunca estive tão animada em toda a minha vida! Na


próxima semana vou ao continente, E vou falar com essa empresa
que imprime estampas customizadas no tecido. Eles são
barateiros!”

“Ótimo, Morena. Me fale mais sobre eles.” Zoe pediu.


“Eu também comecei a conversar com um sindicato de
costureiras. Mas seria melhor se você viesse comigo!”

“Ah, falta só alguns dias até Justin voltar, mas… eu suponho que
Jackie não vai ficar feliz se eu ousar a pisar na balsa dela.”

“Ah, é mesmo! Ela ficou muito ressentida depois que os caras do


Joaquin's começaram a fofocar sobre um certo jantar…” Morena
suspirou. “Mas eu acredito que posso convencê-la a superar isso.
Ela tem que arranjar um cara legal, isso sim. Se bem que, quando
você conhece o paraíso, não é fácil se contentar só com um jardim,
não é mesmo?”

“Uh, eu acho melhor não testar minha sorte nem te envolver


diretamente nisso.”

“Será que o Marlo não pode nos dar uma carona?”

“Hmm, eu não quero incomodar ele. Ele tem as coisas dele pra
fazer… E no fim, eu prometi a Justin que não sairia da ilha.”

“Ai, querida, eu sei. Você não quer quebrar sua promessa, não
é? Aquele homem está totalmente na sua, certo?”

“Eu não sei, mas gosto de pensar que sim…”

“Bom, e…?”

“E eu não posso realmente fazer planos. Morena. Meu melhor


plano é ajudar você com a coleção. Eu não posso planejar… Pelo
menos não a longo prazo…”

“Não, não diga isso! Mas sei reconhecer quando uma mulher
está surda a bons conselhos, e eu não sei os motivos… Então
vamos mudar esse clima! Me diz, você está conseguindo falar com
o Justin?”

“Sim. Ele liga tipo umas duas vezes por dia. Ele está super
ocupado e Marlo está sempre por perto.” Zoe riu. “Então não tem
conversa romântica nem nada. Você sabe… pff.”

“Ai que chato que a gente não pode ter uma conversa picante no
rádio, guria! Câmbio e desligo broxa qualquer um!”

Zoe riu, e isso animou sua amiga a fazer mais comentários sem
sentido e hilários.

“E Roger, e Wilco, eles estão participando também? Parece


nome de pessoa, né? Você mal percebe e já está numa suruba!”

Zoe riu até chorar com as piadas dela.

De repente, ambas ouviram um estalo familiar e o sistema de


som da praça central de Naviedo transmitiu o alerta comunitário.

“ALERTA DE FURACÃO. REPETINDO, ALERTA DE FURACÃO


PARA OS PRÓXIMOS QUATRO DIAS.”

A seguir, uma mensagem pré-gravada explicou informações


técnicas sobre o furacão tropical cruzando a área.

Zoe não entendeu quase nada, mas captou a mensagem geral:


nos próximos dias um ciclone ou furacão afetaria a região.

O evento climático estava cruzando a região indo na direção


norte, e deveria aumentar de intensidade e nível de perigo conforme
avançasse.

Zoe trocou olhares preocupados com Morena.

“Devemos nos preocupar?”

“Talvez,” sua amiga respondeu. “Naviedo já foi totalmente


destruída quinze anos atrás pela inundação que se seguiu ao
furacão. Devemos esperar as próximas transmissões e seguir as
instruções. Justin segue todas elas. Evacuando se for sugerido.”

“Mas pode acontecer de novo?”


“Sim, amiga. Mas na maioria das vezes, ciclones nessa área
significam apenas tempestades e algumas poucas propriedades
danificadas.”

“Bom, agora eu não sei se devo ficar preocupada ou não.”

“Eu julgo que você deveria falar com Marlo, caso ele não tenha
ouvido o alerta,” Morena aconselhou.

Zoe deixou Morena com seus assuntos depois disso, ainda


decidindo se seguia ou não o conselho dela.

‘Eu não sei bem onde ele pode estar nesse momento… ’ Porém
Morena estava certa, Marlo saberia dizer se deveriam esperar Justin
voltar ou tomar alguma atitude para proteger as pessoas da vila. Ele
era experiente e tinha até mesmo previsto a tempestade mesmo
antes de qualquer sinal.

Zoe foi à marina, mas Marlo não estava lá. Ela perguntou às
pessoas se o viram, mas ninguém sabia de nada.

Após procurar mais um pouco, Zoe descobriu que ele não estava
na casa nem nos lugares que ele normalmente estava, mas isso era
um pouco estranho para ela.

‘Que estranho… Ele não deixou a ilha porque Ghost e a lancha


estão onde sempre ficam…

Ainda procurando por Marlo, Zoe vagou pela ilha, se distraindo


com a linda natureza. As partes rochosas eram de tirar o fôlego e a
floresta no topo da colina relaxam a mente de Zoe por um momento,
a inspirando.

A vista do forte preservado, o covil de piratas em ruínas, e a


isolada praia de areias brancas que os turistas amavam…

‘Posso usar isso de inspiração para mais croquis!’


Num passo sem pressa, Zoe foi até o outro lado da ilha, onde ela
havia desembarcado nos braços de Justin.

‘Esse lugar… Foi aqui que acordei…’

Zoe avistou o abrigo de barco em ruínas. Foi lá que Justin se


abrigou com ela.

‘Eu me lembro como eu estava assustada e ele me fez sorrir!’

Com o canto do olho, Zoe percebeu movimentos no canto da


pequena baía deserta.

‘O que é aquilo?!’

Ela viu uma traineira em um velho trapiche no fim da baía.


Estava um pouco escondida, na verdade. ‘O que este barco está
fazendo nesse lugar solitário?’ ela se perguntou.
Capítulo 9
Zoe viu sem querer uma traineira do outro lado da praia deserta,
ancorada perto de um costão rochoso e meio escondida pelas
rochas. Ela se perguntava por quê.

Apertando os olhos para ver melhor, Zoe avistou dois homens


indo e vindo no velho trapiche. Ela reconheceu o maior.

“Marlo?! O que ele está fazendo?”

Sua experiência anterior com Marlo lhe dizia que não devia
confiar nele plenamente. Zoe não sabia como Justin podia confiar
nele. Ela sentia algo estranho a respeito dele, e sabia que ele só
tolerava sua presença e se fingia de amigável e coisa e tal. Mas Zoe
definitivamente não gostava de como ele a espiava quando achava
que ela não estava olhando. E não custava checar antes de deixá-
lo saber que ela estava por aqui. Zoe tinha impressão de que talvez
ela não devesse estar testemunhando aquilo. Mas se Marlo estava
fazendo algo pelas costas de Justin, aquela era uma oportunidade
perfeita para descobrir.

Com isso em mente, Zoe contornou o costão e pegou uma trilha


que subia por ele, até mesmo se agachando para não ser vista. Ela
se posicionou atrás de algumas rochas e arbustos quando chegou
mais perto, e espiou o trapiche a alguns metros abaixo.

‘Ah! Parece que tem uma caverna ou algo assim bem embaixo
de mim! E considerando que eles estão tirando caixas de lá, deve
ser algum tipo de depósito. Mas na última conversa com Justin pelo
rádio, Marlo disse que já tinha entregado a carga. Hm, por que ele
está ajudando esse cara a carregar aquele barco? Ambos estão
armados. Então definitivamente é o que eu acho que é. Mas tenho
certeza de que Justin não está sabendo!’
Zoe tinha uma boa visão dos dois homens quando eles pararam
para conversar no trapiche.

O visitante acendeu um cigarro e pareceu relaxar, olhando o mar


por um momento. Era um homem moreno de sol e magro demais,
com um aspecto que fez Zoe se arrepiar. Ela lembrou-se daqueles
tipos que a cercaram no beco, com propósitos macabros. E mesmo
que ele não fosse um deles, Zoe não conseguia evitar a repulsa
natural que ele lhe causava.

O homem falava com Marlo,

“Amigo, você é um homem de palavra. Certo? Foi um prazer


trabalhar com você.”

“Eu não chamaria isso de 'trabalhar com você', amigo. Mas sim,
sou um homem de palavra.”

Apenas acompanhando de longe, Zoe não podia ver detalhes


das expressões dos dois, apenas podia ouvir a resposta de Marlo,
com desdém mal disfarçado.

“Uh, Marlo. Eu não quero ferir seus sentimentos. Você tinha que
parar de jogar quando está perdendo, só isso…” a risadinha que
acompanhou o comentário estava à altura do desdém do outro.

Marlo não respondeu. O visitante falou, mudando o assunto.

“Parece que eu terei que esperar alguns dias para receber o


resto do pagamento. Tem uma tempestade chegando, certo?”

“Sim, tem uma tempestade chegando, Louie. E não, você vai ter
que esperar mais que isso. Essa carga tem comprador.”

O homem fez um gesto mostrando impaciência. Marlo deu de


ombros.

“Eu não posso tirar muito sem causar problemas para nós…
Desculpa, cara, mas você tem que ser razoável e esperar.” Apesar
de suas palavras, Marlo não estava pedindo, e sim comunicando.

“Muito bem”, disse o homem a quem Marlo chamou de Louie.


“Queria saber como vocês conseguem vender isso mais barato que
os Düssel. Mas você não vai me contar, vai?”

Zoe prendeu o fôlego em descrença. Marlo estava roubando de


Justin e Wolf para pagar suas dívidas de jogo?

Outra constatação surgiu em sua mente. ‘E se foi Marlo que


sabotou o rádio e se aproveitou do problema de comunicação para
encobrir seus negócios escusos?’

A direção do vento mudou e as palavras deles se perderam, e


Zoe decidiu mudar de esconderijo para continuar ouvindo.

Cuidadosamente dando a volta no costão, Zoe chegou perto da


boca da caverna e se escondeu atrás de umas rochas pontudas. Ela
tentou encontrar uma posição a favor do vento para ouvir melhor a
conversa deles.

“Eu ouvi de um amigo que é amigo dos Düssel, amigo! Wolfgang


está procurando o corpo da esposa dele.”

“Então a garota desaparecida não é mais uma das biscatinhas


do harém do Walter?”

O outro homem gargalhou. “Não, amigo. Wolfgang está pagando


uma boa grana para quem der informações sobre essa mulher.” Ele
tirou um celular do bolso. Zoe horrorizou-se quando o homem
mostrou a tela do aparelho para Marlo, dizendo. “Era a esposa dele,
certo? Uma loira bonita que desapareceu no mar… Olha. Essa é a
foto dela. Era um filé, hein?”

Marlo apenas assentiu lentamente, digerindo a informação. O tal


Louie continuou. “Tem uma caçada literal por cadáveres de
mulheres na região… Roubados dos necrotérios e tal.”
“Credo.”

“Eu ouvi dizer que o ‘Príncipe’ Düssel já inspecionou


pessoalmente pelo menos uma dúzia deles em busca da esposa,
hahaha.” Louie guardou o telefone. “Dizem que o Velho Düssel já
está cansado disso e aumentou o prêmio. Para o filho voltar ao
trabalho logo, decerto.” Louie parecia ter prazer em informar essas
coisas bizarras.
Zoe engoliu em seco. A mera ideia a fez querer vomitar, e
sentimentos confusos invadiram sua mente. ‘Eu nunca imaginei que
Wolf estaria passando por tudo isso!’
“Então… O dinheiro é bom mesmo?” O que Marlo perguntou
casualmente ao visitante gelou a espinha de Zoe.
“Pode apostar. Uma grana preta pelo que sobrou dela. Vou te
dizer, homens eu e você faríamos um bom uso dessa grana.”
Marlo não respondeu dessa vez, e Zoe se agitou em sua posição
agachada, o terror perturbando sua mente.
O cascalho rolou sob o pé de Zoe, e ela perdeu o equilíbrio,
caindo de bunda no chão no meio dos arbustos. Ela tapou a boca
para abafar sua exclamação involuntária.
Desesperada, Zoe se virou para ir embora, mas a ponta do
barranco onde ela estava suportando seu peso para vê-los
desmoronou parcialmente, derrubando pedras e terra e chamando a
atenção deles.
Zoe conseguiu se reequilibrar e se abaixou rente ao chão para
evitar ser vista.
“O que foi isso?” perguntou Louie para Marlo, agora em alerta.
“Alguém.”
“E agora, chefia?”
“Você vai por aquele lado que eu vou por aquele. As pessoas
desse lugar sabem bem que não devem espiar nossos assuntos.”

‘Ele sabe que sou eu! Ele sabe!’ Zoe freneticamente pensou em
suas poucas alternativas agora. Ela ponderou entre tentar manter-se
escondida e correr, mas quanto à primeira alternativa, ela sabia que
seu esconderijo era precário, para dizer o mínimo. Ela seria pega e
teria grandes dificuldades em negar que estivesse espiando.
E Zoe sabia que, se corresse, Marlo a veria e a reconheceria.
Ela não conseguiria escapar dele ou da ilha.

‘É melhor fingir que acabei de chegar e que nem percebi o que


eles estão fazendo…’

Ela gritou o nome dele, de cima das pedras.

“Ei. Marlo, é você?!”

“Sim. O que você está fazendo aqui?” Poucos momentos depois,


ele respondeu, mas seu tom ainda tinha uma nota de suspeita. Ela
olhou cautelosamente para baixo, deixando-se ser vista.

Marlo escalou as rochas tão facilmente que parecia brincadeira


de criança para ele.

A esperança de Zoe é que ele pensasse que ela não tinha


ouvido nada, e que fosse ele o preocupado em inventar uma
desculpa para encobrir o que realmente ali. Mas percebeu a cara
intrigada dele quando ele chegou a ela. Zoe apontou a parte onde o
solo desmoronou.

“Uau, quase me dei mal aqui. Que bom que você está aí. Eu
estive te procurando. Eu estava andando pela ilha e parei para ver a
vista… Mas eu quase caí! O que você está fazendo aqui?
Pescando?”

Os olhos de Zoe se desviam para a arma na mão dele, no


entanto.

“Uma… arma?”

Zoe ouviu passos no terreno pedregoso e se virou, surpresa. O


outro homem chegou pelo outro lado, derrapando nos pedregulhos
da trilha atrás dela e bloqueando sua única rota de fuga. Louie
apontou a semiautomática para ela.
Encurralada, Zoe olhou assustada para ambos, demonstrando
confusão. Ela ainda esperava convencê-los de que tudo não
passava de um mal-entendido e que ela não era uma ameaça para
eles.

“É ela! A mulher na foto! A mulher de Wolf Düssel!” Louie


exclamou, chamando a atenção de Marlo.

BANG!

Zoe ouviu o estalido alto de um disparo de arma de fogo e ficou


imediatamente surda. Seu instinto foi fechar os olhos, e ela fez isso.

‘Um tiro?! Mas não foi em mim?!’ O pensamento passou como


um flash. Quando ela se forçou a abrir os olhos, Zoe viu um buraco
sangrento na cara do homem, e o corpo tombou para o lado.

Zoe desviou o olhar antes que o corpo caísse no chão. Ela se


virou para Marlo, que abaixou a arma com a expressão dura.

Ele finalmente guardou a arma na cintura e olhou para Zoe. Ela


balbuciou, em choque. Ele havia acabado de matar aquele homem.
Por… ela?! Aquilo era tão confuso!

“Marlo… Obrigada… Você…”

“Sim. Eu salvei sua vida, Sra. Düssel.”

“Me deixa explicar. Eu…”

“Não precisa. Eu não fiz isso por você. Eu sabia que você era
problema desde o início.”

“Me desculpa, não era essa a minha intenção…”

Marlo foi até o corpo caído e o checou com expressão de nojo.


Zoe continuava tremendo e com a audição diminuída. Ela havia
acabado de testemunhar um assassinato a sangue-frio.
“Se esse cara tivesse passado a mensagem no rádio, você
estaria tão fodida…” Marlo resmungou.

Talvez por algum mecanismo de sobrevivência e dissociação,


Zoe preferia focar no futuro imediato do que pensar muito sobre o
corpo ainda quente caído a alguns metros de si. “O que fazemos
agora?”

Marlo ignorou sua pergunta, e fez seu próprio questionamento


em tom agressivo. “O que você está fazendo aqui?”

‘Ok. Claro. Marlo está nervoso porque ele acabou de matar um


homem para me salvar. Uau.’ Ela respirou fundo antes de gaguejar
a resposta.

“E-eu te procurei para falar sobre o furacão. Me desculpa!”

O olhar avaliativo de Marlo a deixava nervosa, e ela confessou


seus medos a Marlo. “Eu não sei mensurar corretamente, mas sei
que as coisas escalaram irreversivelmente. Justin e Wolf vão me
odiar!”

Um sorriso de canto se abriu no rosto de Marlo.

“Ei, Zoe. Eu te safei dessa, hein? Mas para ser honesto você não
tem muitas chances de escapar viva disso.”

Marlo virou as costas para Zoe, olhando para o barco na ponta


do trapiche.

“Não se iluda com qualquer papo meloso que eles te disseram


até aqui, Zoe. Eles vão arrancar seu coração.”

Ela se encolheu de medo. Marlo falou calmamente.

“Se você quer viver, é melhor me ouvir, Zoe. Sou sua única
chance agora.”
Zoe percebeu como ele mudou quando se virou novamente para
ela. Os olhos dele percorreram seu corpo de maneira avaliativa. O
sócio de Justin continuou.

“Um homem esperto tem apenas três opções numa situação


dessas. Um: Te ajudar com tudo o que ele pode, te tirando da ilha e
te escondendo muito bem… Antes que os irmãos briguem pelo
privilégio de ser o primeiro a te torturar por sua audácia.” Ele fez
uma pausa para deixar a frase assentar nos ouvidos e mente de
Zoe.

“Dois: Deixá-los fazer isso e pegar o balde de pipoca. Então vê-


los brigar porque você arruinou o relacionamento deles.” Ele deu de
ombros com um sorriso malicioso, mas seu gesto foi seguido de
uma frase pensativa.

“Três: Impedir que isso aconteça te entregando para Walter…”

Zoe engoliu em seco.

“Sim, ele adoraria saber que você está viva. Tenho certeza de
que ele dará tratamento especial a mulher que ousou fugir dos
Düssel. Do herdeiro dele! Que heresia!”

Zoe nunca teve grandes expectativas sobre Marlo, mas não


esperava nada do que estava acontecendo naquele momento. Ela
simplesmente não conseguia falar nada.

Ele havia acabado de descobrir que ela era a mulher de Wolf!


Claro que ele a odiaria! Apenas o fato de que eles viviam isolados
naquela ilha praticamente sem comunicação tinha tornado a farsa
de Zoe possível. Mas claro, não por muito tempo.

Marlo a tirou de seus pensamentos.

“Bom, Zoe, o que devo fazer?”


Seu tom implicava que haveria um preço, e Zoe o odiou por ser
tão desprezível.

Ele não tinha matado aquele homem para salvá-la, mas para
assumir o controle! Zoe estava entre o diabo e a caldeira agora…
“Eu não sei o que fazer…”

“Não mesmo?! Você não viu o que acabou de acontecer aqui,


baby? Você trouxe isso para você mesma.” Ele balançou a cabeça e
olhou o horizonte. “E eu ganho mais se eu deixar aquele tirano te
picar em pedaços antes de te entregar para o seu maridinho… O
lado ruim disso é que, enquanto ele te tortura, você pode deixar
escapar sobre Justin e o que você viu aqui. Você realmente destruiu
tudo…”

Lágrimas enevoaram a visão de Zoe.

“Mas, seja esperta pelo menos uma vez na vida. Eu não faria
isso como minha primeira opção. A não ser que você me force a ter
que me livrar de você ou me deixe muito puto…”

Um pensamento surgiu na mente de Zoe. ‘Não tem nem como


saber se ele está blefando após ter visto ele assassinar aquele cara
a sangue-frio…’

“Você não precisa se precipitar, Marlo. Este é um assunto


delic…”

“Então você acha que eu não deveria me meter?” ele a


interrompeu. “Deveria deixar os irmãos brigarem? É isso que você
quer?! Você é uma infiltrada? Ou você tem uma birra com Wolf e
decidiu vingar-se, virando amante do irmão dele?”

“NÃO! Eu não sabia que eles eram irmãos até dois dias atrás!”

Marlo balançou a cabeça, demonstrando que tinha suas dúvidas.


“Posso chamar Wolf no rádio e descobrir tudo o que preciso
saber… Antes de expor o tipo de pessoa que você é para ambos! Já
que vamos fazer isso, vamos fazer direito, certo?”

“Você realmente não gosta de mim…” Foi tudo o que ela


conseguiu dizer. Mas ela sabia que ele queria controlar ela, agora
que ela sabia do segredo dele também.

“Não ainda. Mas posso começar a gostar, porque você tem


qualidades que eu admiro. Isso é,” Marlo deu um sorriso de canto.
“Se você usar seu cérebro pra me ajudar a te ajudar.”

“Ok. Preciso da sua ajuda.” As palavras saíram da boca de Zoe


em uma voz fraca. Ela se odiava por não poder fazer nada.

Marlo sorriu.

“Ok… Vou te ajudar. Mas não gosto do jeito que você está me
olhando agora.”

“Deve ser porque sei que tem uma condição. Você está me
chantageando!”

“Eu não chamo isso de chantagem. Chamo de gratidão e bom


uso das oportunidades.”

“Isso só significa que estou certa. Você não está fazendo isso
para me ajudar.” As lágrimas teimavam em inundar seus olhos, mas
sua raiva era maior. Marlo suspirou, cansado daquilo.

“Não, você não entendeu. Eu já estou ajudando você. Nada de


manha, nada de confusão. E principalmente,” ele deu uma pausa,
como se achasse o que ia dizer a seguir muito óbvio. “Não tente me
fazer de bobo.”

Zoe ficou em silêncio, com um mau pressentimento sobre essa


mudança de dinâmica. Ele questionou.

“E então?”
Marlo ergueu uma sobrancelha, diminuindo a distância entre
ambos. A mão dele deslizou da bochecha de Zoe para sua nuca.
Ela estava tão chocada que apenas ficou travada no lugar.

“O quê?!”

“Hm, se eu vou arriscar tudo para te salvar, você devia mostrar


pelo menos alguma simpatia…”

‘Nãooo…’ Zoe gritou em seu íntimo, intuindo problemas em


breve. Seu corpo ainda estava tenso desde o assassinato e saber o
que Marlo era capaz, totalmente a sangue-frio, a deixava nauseada.
E as palavras seguintes dele lhe causaram náuseas.

“Lembre-se, eu estou arriscando muito para salvar você.”

De repente, ela teve a noção de que não devia demonstrar


repulsa ou medo. Ele acreditava que ela tinha feito tudo de
propósito. Que ela era uma oportunista que faria tudo para
sobreviver. E algo mais passou por sua mente. Marlo também
estava em perigo. Ele estava roubando de Wolf e Justin. Mesmo
que ele alegasse ser amigo de Justin, ele o estivera roubando para
pagar suas dívidas. E agora que Zoe sabia, o que o impedia de
matá-la e continuar com seu segredo?

Talvez ele tivesse um plano que envolvesse Zoe, agora.

Zoe se esforçou para controlar a tremedeira na voz e perguntar,


o mais friamente que conseguiu.

“Qual é o plano?”

Ela não sabia como conseguiu perguntar algo ou sequer abrir a


boca, mantendo uma expressão neutra, enquanto os dedos fortes
dele envolviam seu crânio, enterrando-se em seus cabelos.

“O plano é… mostre que você está comigo, e você terá minha


proteção.”
Ele lançou uma pergunta muda com o olhar, sem entender ainda.
Mas os olhos de Marlo estavam frios quando ele completou.

“Demonstre qualquer outra coisa, e você vai se arrepender.”

Respirando fundo e lutando contra a vontade de tirar a mão dele


de seus cabelos, ela perguntou.

“Eles realmente confiam em você?”

“O bastante, eu diria.”

“Eu não tenho outra escolha senão aceitar.”

“Não faça parecer como se você fosse a vítima aqui. Você


mentiu desde o primeiro dia.” Ele zombou, beliscando o seu queixo
dolorosamente. Zoe estremeceu quando Marlo lambeu os lábios,
olhando para os dela.

“Agora seja uma boa garota e mostre o quão grata você está.
Sou eu limpando suas merdas desde o princípio, sabia?”

“O quê?!”

“Sim, Zoe. Fui eu que busquei as fitas de segurança do


Dorado's, apagando provas de sua passagem por lá. E agora… Eu
vou ter que te esconder ainda melhor, certo?”

O queixo de Zoe cai em surpresa. Marlo se curvou e cheirou a


curva do seu pescoço, com ambas as mãos em sua cintura.

“E vendo você em vídeo me fez fantasiar um pouco… Que tal


você me mostrar algum apreço? Acabei de matar um homem por
você.”

As mãos dele correram em direção aos seios de Zoe, e ela


segurou os pulsos dele para impedi-lo de continuar.

Marlo reclamou.
“O quê?! Eu quero transar com você, Zoe. Eu estou com um
tesão do cacete.”

Apesar da vontade de sair correndo imediatamente, ela buscou


dentro de si mais frieza e estratégia. Ele estava armado e tinha uma
ótima mira. E Zoe não queria morrer.

“Ok, você quer sexo ou uma namorada?”

Marlo riu.

“Me faça feliz e eu te farei feliz também, Zoe. Sua boa vontade
vai me mostrar o seu comprometimento com nosso acordo. Esta é a
proposta: saímos dessa praia como parceiros nisso, ou você me
forçará a usar o plano que não te favorece nem um pouco.”

Ela não tinha certeza se aquilo era um teste para ver como ela
reagiria ou se ele realmente tinha a intenção de fazer como dizia.
Seu sangue gelou em segundos e os pelos do corpo se arrepiaram
em terror.

“Hm, já excitada?” Marlo não entendeu o motivo corretamente, e


cheirou seu cabelo voluptuosamente. A mão dele foi da sua cintura
para seu seio, e ele o apertou avidamente. Então ele a pegou pelo
pulso e começou a andar pela praia na direção do velho abrigo de
barcos.

Zoe parou, repentinamente. ‘Não! Não pode ser que ele vai… fazer
isso comigo naquela cabana!’

“O quê?!” ela exclamou por instinto. Ela precisava ganhar tempo


para encontrar uma solução!

“Não. Cuide do corpo primeiro. Estou nauseada. Eu não tenho o


seu sangue-frio, Marlo! Tem um cadáver a poucos metros de nós!
Não é um pouco… demais?!” Sua voz saiu aguda e trêmula, mas
era a única coisa que ela tinha para fazê-lo parar.
Marlo suspirou.

“Uh… Que saco. É um fato. Melhor eu me livrar disso e daquele


barco velho enferrujado…”

Zoe o observou enquanto ele franzia o cenho, pensando em


algum plano.

“Além disso,” Zoe decidiu tentar o seu melhor para soar


convincente e ultrajada. “Concordei em ir até este ponto com você,
mas eu não preciso pegar uma pereba no processo! Esse lugar
fede! Ugh!”

“Ah. Ok. Você não está errada. Eu também prefiro lençóis limpos
na nossa primeira vez. Isso está ficando romântico, hein?”

Zoe apenas desejava quebrar a cara dele e correr, mas ergueu


seu queixo desafiadoramente.

“Você sabe… Sou adaptável às circunstâncias. Eu quero


sobreviver. Me trate bem, e te tratarei igual, Marlo. Romance é uma
possibilidade.”

Ele piscou diante da atitude de Zoe, achando graça.

“Não perca tempo. Nós não queremos levantar suspeitas, certo?”


Zoe fez a sua cara mais convincente para combinar com as palavras
saindo da sua boca.

“Hm, chega de xeretas intrometidos por hoje, eu diria. Sorte sua.


Eu vou usar esse tempo para me livrar de provas, então.”

Zoe assentiu, afastando-se dele. Marlo ainda fez uma carícia em


seu rosto antes que ela se soltasse completamente.

“Você… É melhor você fazer um ótimo jantar hoje, hm? Vamos


nos divertir bastante essa noite…”
“Você pelo menos me ouviu, Marlo? Vim te avisar sobre o alerta
de furacão. Não é um bom momento, e Justin…”

“Hmmm. Ele não vai voltar a tempo. E… Será a melhor hora para
que eu tire você das vistas deles para sempre…”

“Do que você está falando?”

“Vamos evacuar a ilha, e eu vou te levar para um esconderijo,


onde você vai esperar por mim. Quando ele retornar, eu direi a ele
que te levei para o continente com o resto das pessoas da vila e que
você aproveitou o momento e fugiu.”

‘Ele é muito esperto! Mas eu terei que ser mais esperta que ele!’

Zoe deu de ombros. “Eu te agradeceria, mas sei que temos um


longo caminho de parceiros por conveniência para verdadeiros
amigos.”

“Sou um cara simples de se agradar, Zoe. Você vai saber como.”

Zoe manteve seu rosto o mais impassível que podia, sabendo


muito bem o que ele pretendia dizer com aquilo.

“Bom, então eu vou indo. Algum pedido especial para esta


noite?”

“Sim. Eu não quero estragar o clima esta noite, então estarei


ocupado com isso e vou chegar tarde. Vou checar com os
moradores sobre o furacão. Então, isso pode ser óbvio, mas vou
reforçar: eu ainda não confio em você.”

Zoe engoliu em seco. Marlo continuou.

“Duas regras para esta noite. Primeiro: Não traga ninguém para
a casa. Eu não me importo que desculpa você vai dar a eles. Não
use ninguém como seu escudo. Se você fizer isso… Eu vou usar o
rádio para espalhar a notícia da sua localização. Não me provoque.”
Ele tocou o comunicador no bolso de trás da bermuda.

‘Ele é maluco o bastante para fazer isso, agora eu sei…’ ela


pensou.

“Segundo: se você contar ou envolver alguém, eu vou matar


essa pessoa e entregar você pessoalmente para Walter. Capisce?”

Zoe sentiu um nó na garganta, e sabia estar completamente à


mercê dele. “Sim. Entendido. Algo mais?”

Ele apenas fez um gesto com a mão a mandando embora e


retornou para o trapiche. A presença opressiva dele se afastou e
Zoe pôde respirar novamente.

‘O que fazer agora?’

A única esperança de Zoe era tentar escapar da ilha. Ela correu


para a marina e para Ghost, o barco de Justin e Marlo. essa foi sua
primeira ideia, e não a melhor delas, mas Zoe estava desesperada.
Ela não podia envolver ninguém mais!

Eu havia pilotado uma lancha uma vez, só por diversão. Mas ela
teve supervisão, naquela ocasião. Será que ela ao menos
conseguiria manobrar este barco para fora da marina?

Entrando no barco, ela checou o painel e as luzes se


acenderam. Suas esperanças se desfizeram imediatamente.

'Eu não vou conseguir. Tenho certeza de que eu vou afundar


esse barco se eu tentar.

Quando a tempestade passasse, Zoe queria ser a primeira a


falar com Justin e contar o que aconteceu. Mas agora, ela iria ficar
presa na ilha com aquele bastardo, então era melhor estar armada.

De volta à casa, Zoe pegou uma mochila e a encheu de lanches


e biscoitos, água, vários itens úteis e duas facas. Ao menos ela
queria ter provisões se precisasse fugir repentinamente.
‘Eu não sei atirar. Isso significa que eu vou ter que arrumar
coragem para usar uma faca se eu realmente precisar. Atirar vai ser
a primeira coisa que eu vou aprender se eu sobreviver a isso!’

Zoe torcia para que alguma ideia brilhante surgisse em sua


mente enquanto trabalhava, e retornou à vila para ajudar.

Os líderes da comunidade estavam organizando uma evacuação


ordeira, obedecendo ao protocolo para furacões.

Enquanto Marlo e Zoe estiveram fora, mais relatórios sobre o


furacão chegaram.

“O que isso significa? Estou tão perdida!” ela admitiu quando


ouviu alguém repetir as informações perto dela.

“O clima está mudando rapidamente e o furacão está previsto de


atingir Naviedo em 36 horas.” Morena resumiu para a amiga.

O jovem Clayton também quis esclarecer. “Está chovendo, e as


ondas estão ficando mais altas, então evacuar rapidamente é vital
para a segurança de todos.”

Ela assentiu, ainda um pouco atordoada.

Jackie, Morena e outros estavam ajudando a proteger as casas e


lojas o melhor que puderem, e Zoe se juntou a eles.

Marlo apareceu cerca de duas horas depois e não se comportou


nem um pouco com o homem que ela havia encontrado na praia
deserta.

‘Marlo está tão prestativo, caloroso, pé-no-chão! Não parece


nada com o bastardo frio e manipulador que ele é!’ Ela mal
conseguia acreditar na capacidade de enganar que aquele homem
possuía.

E de repente, uma ideia começou a se formar na sua mente.


‘É uma ideia maluca, mas ao menos vai me conseguir algum
tempo… Eu vou desligar o rádio depois que a maioria dos
moradores partir. Eu também preciso desligar o rádio do Ghost se
ele ficar para trás. Isso o impedirá de falar onde eu estou. E eu
tenho que me esconder em algum local… E fazer ele pensar que
consegui entrar no Santa Martha no meio dessa confusão! Jackie
partirá com as pessoas em breve.’

“Eu vou empacotar alguns suprimentos para vocês,” ela disse.


“Tenho certeza de que Justin faria o mesmo. Marlo, você precisa de
algo?”

“Sim, me traga outro martelo e pregos, por favor, Zoe. Será que
você poderia me trazer galochas também?”

Apesar no sorriso nos lábios, seu olhar era frio, e ele trocou
olhares com Zoe em uma ameaça velada.

“Sim. Volto logo.”

“Não se preocupe,” Marlo disse a ela. “Se não pudermos deixar a


ilha hoje, haverá tempo o bastante para fazer isso amanhã cedo no
Ghost. O resto de nós ainda vamos proteger as casas antes de
partir, de qualquer modo.”

“Dá para ver que estou aterrorizada?” ela perguntou para as


pessoas ao seu redor.

“Sim, um pouco. Não se preocupe tanto, senhorita. Estamos


acostumados com isso. Vai dar tudo certo, como sempre.”

“Ok. Vou confiar em vocês…”

Quando Zoe notou que Marlo estava distraído o bastante


ajudando a comunidade de Naviedo como esperado, ela escapou
das vistas dele de novo e subiu a colina. Assim que ela chegou na
casa de controle logo abaixo da torre de rádio, Zoe usou a chave e
entrou no local escuro.
‘Essa é a peça que faz tudo funcionar. Se eu remover essa peça,
os aparelhos num raio de 30 milhas não vão funcionar.’ Zoe
suspirou. ‘A menos que tenham suas próprias antenas. Como
muitos barcos possuem… Será mesmo que é um bom plano?
Preciso decidir, e rápido!’

Ela viu as pequenas luzes no console e estremeceu diante da


enormidade do que estava prestes a fazer.

‘Só espero que esta seja a melhor decisão…’

Ela desligou o equipamento e retirou a peça do gabinete. Várias


luzes começaram a piscar e um longo bip soou.

Zoe enfiou o equipamento em sua mochila e saiu, puxando o


gorro da sua capa de chuva sobre a cabeça.

‘O próximo passo é sabotar o rádio do Ghost… Espero fazer isso


certo. Então assim que eu abrir o painel, não tem mais volta…’

Zoe puxou alguns fios com violência, esperando que aquilo fosse
o suficiente, e deixou a marina apressadamente antes que alguém
note o que ela estava fazendo.

‘Agora, a última parte: se esconder!’

O único prédio que Zoe conseguiu invadir foi o pequeno e fétido


escritório da velha paróquia. A velha igreja estava em ruínas depois
da última inundação, Morena havia contado a Zoe. Ninguém iria
checar aquele prédio.

‘Eu me sinto menos culpada porque esta não é a casa de


ninguém! Agora só preciso aguentar até a tempestade passar… E
rezar para que Marlo não me encontre!’

Zoe improvisou um saco de dormir e estremecia a cada vez que


um trovão ressoava à distância. O tempo escorria lentamente.
E após comer alguns biscoitos, ela acabou caindo no sono,
exausta.

∞∞∞

“ZOE!!!”

Ela acordou subitamente no escuro. Seu coração estava na


garganta, e ela prendeu o fôlego, tentando ouvir.

A princípio, Zoe apenas ouvia o vento uivante, a chuva batendo


contra as janelas e paredes do prédio.

Então ela viu fracos fachos de luz através do vidro grosso e sujo,
e ouviu seu nome sendo novamente chamado.

“ZOE!!!”

‘Ele está perto! Ele está tão perto!’

Zoe ouviu um forte BANG! contra o tapume na porta. O tapume


não foi bem pregado para que ela pudesse entrar e sair.

Ela estremeceu em terror quando o ouviu testando novamente,


golpeando contra o tapume.

BANG!!!

“Será que eu achei seu esconderijo, sua ratinha?”

BANG!
Capítulo 10
BANG!
BANG!

Zoe saltou de onde estava, sabendo que ficar parada não era
mais uma opção. Seu movimento brusco fez barulho, e ela ficou
imóvel e quieta, esperando que ele não tivesse ouvido.

“Hahaha! Então você está aí mesmo, Zoe! Eu te disse pra não


me fazer de besta, não disse?”

Marlo finalmente arrombou a porta, e entrou molhado da cabeça


aos pés. Sua figura grande e musculosa impunha terror.

“Eu vou fazer você pagar por isso, piranha!”

‘O que devo fazer? Eu não posso deixá-lo me encurralar aqui.


Vai ser o meu fim!’ Zoe não perdeu tempo e diminuiu a distância
entre ela e Marlo, sacando a grande faca de cozinha que trouxera
consigo. ‘Eu não vejo outra saída! Eu vou ter que fazer isso!’

Ela tinha uma ligeira vantagem, já que seus olhos estavam


acostumados com a escuridão, e atacou com a faca quando ele veio
em sua direção

“GHHH!”

Zoe só não contava na superioridade dele para esse tipo de


coisa. Seu ataque foi facilmente desviado e ela foi arremessada com
toda força contra a prateleira perto da porta.

“AHHH!” O impacto em suas costas a atordoou por um momento.


Ele a pressionou contra a superfície dura com um braço e com o
outro apertou sua mão até Zoe soltar a faca.

“Nhg!” ela gemeu, em terror e dor.

“Vai se acostumando com o meu aperto, Zoe. Você não devia ter
tornado as coisas difíceis para nós.”

Zoe lutou para se soltar e chutou a prateleira, a fazendo desabar.


Marlo soltou o aperto forte em seu pescoço, e ela se esgueirou sob
o braço dele e conseguiu escapar pela porta enquanto ele estava
lidando com a prateleira desabando.

Zoe começou a correr sem rumo certo, em pânico e sem noção


nenhuma de onde estava. As pernas dela falharam e Zoe desabou
cegamente no chão enlameado. Sentindo a presença dele se
aproximando, ela se virou.

“Não! Por favor!!!”

Mas Zoe não podia se defender dele. Ele sorriu zombeteiro, a


agarrando pelos cabelos.

“Você escolheu seu destino, Zoe. Agora você não pode correr
nem fugir…”

Ela tentou se livrar, tropeçando e chorando, mas ele era muito


forte para ela. Zoe gritou por ajuda, mas ninguém veio.

“Tão estúpida! Ninguém vai te ouvir, vadia. Todos estão


abrigados no forte agora.”

Ele a arrastou consigo. Por mais que Zoe tentasse escapar, ela
apenas conseguiu se machucar contra pedras e arbustos.

Marlo a arrastou até a casa da colina. Zoe estava congelando e


ferida. Ele a enfiou dentro do escritório do rádio.
Zoe olhou para o aparelho de rádio sobre a mesa. Todas as
luzes estavam vermelhas, indicando que havia algum problema.
Mas Marlo ainda não tinha notado isso.

Ela abraçou a si mesma enquanto Marlo arrancou a própria capa


de chuva com um grunhido. Ele sacudiu a arma em sua direção.

“Adivinha, geniazinha… Você desperdiçou sua chance. Você vai


desejar ter se afogado quando Walter terminar com você.”

Zoe ficou em silêncio, observando os movimentos dele. Marlo foi


até o rádio, apertou alguns botões, mas nada aconteceu.

A tensão aumentou e ela engoliu em seco, dando uma olhadela


disfarçada para o remo que estava perto da porta. ‘Esse bastardo
maluco! Ele sabe que tem que se livrar de mim o mais rápido
possível agora. Ele quer me levar para o meu sogro, talvez até
mesmo vender informações sobre o plano de Wolf e Justin para
salvar o próprio rabo! Mas duvido que os homens de Walter virão
me pegar esta noite. Não com esse tempo ruim. Não duvido que ele
pense em me matar ele mesmo, ainda esta noite…’

Marlo estava mexendo no rádio, resmungando.

‘Ele está distraído o bastante. Mas isso não vai durar…’

A compreensão finalmente atinge Marlo, e ele perguntou,

“Você fez, não é? Você sabotou o rádio…”

Mas ele não completou a frase. Zoe o acertou com o remo de


madeira, se encolhendo com o som do impacto.

“ARGHHH!” Pego de surpresa pela dor, Marlo foi empurrado


contra uma mesa e tropeçou, o que deu tempo para Zoe fugir.

Ela correu de novo, dessa vez para o topo da colina. Seus


instintos de sobrevivência a mantinham em movimento.
‘Talvez se eu me esconder na caverna… ou for para o forte…’

Zoe decidiu ir para o forte, lembrando-se de alguém dizendo que


era onde eles se reuniam em situações assim.

‘Talvez tenha alguém abrigado lá. Ele não terá coragem de fazer
nada comigo na frente de testemunhas!’

Estava muito escuro e Zoe precisou usar a lanterna para


enxergar o caminho, no entanto. O terreno lamacento e a chuva
forte atrasavam seu progresso. Para ser honesta, ela nem sequer
sabia se estava na trilha certa!

Zoe freneticamente apontou a luz para a trilha a frente quando uma


grande sombra cruzou seu caminho e a atropelou, quando Marlo a
jogou ao chão violentamente.

Ela vislumbrou o reflexo do metal na mão dele e reconheceu a


arma quando suas costas se chocaram no chão lamacento.

Por instinto, ela o chutou o mais forte que conseguiu. A arma


voou da mão de Marlo, indo parar sabe-se-lá-onde.

‘Gah! Esse pesadelo nunca acaba!’

Agarrando Zoe por ambos os pulsos, Marlo a arrastou por alguns


metros, ignorando suas tentativas de escapar.

Então ele parou. Zoe reparou onde estavam. E entrou em pânico


ao perceber quais eram as intenções de Marlo agora!

“O quê?! NÃOOO! NÃO! Por favor, NÃOO!”

Ela estava na beira de um precipício, e tudo o que ela podia ver


lá embaixo eram pedras açoitadas por ondas violentas!

“Um acidente na tempestade. Isso é perfeito.” Marlo falou,


ofegante, juntando ar em seus pulmões antes do seu ato final. Zoe
se sentia muito exausta para reagir.
“Por favor… Não faça isso. Não me mate…” Ela estava
chorando, implorando por sua vida, pois acreditava que suas forças
tinham acabado.

“Tarde demais, baby. Adiós.” Foi a resposta que obteve do


homem determinado a matá-la.

Indiferente a suas súplicas, Marlo a ergueu no ar e então a


soltou. Zoe tentou se agarrar nele, mas ele se afastou. Ela sentiu
seu corpo no ar.

Caindo.

“Ahhhahh…”

Quando Zoe conseguiu agarrar os galhos de um arbusto à beira


do precipício, ela se sentiu um gato com nove vidas.

‘Ahhh! Minhas mãos! Tem espinhos! Mas eu não posso soltar!’

Água da chuva e lama escorriam por seu rosto enquanto seus


pés balançavam no ar, mas Zoe não iria desistir tão cedo.

“Você é resistente, hein?” Marlo zombou, um pouco surpreso,


mas ainda mais irritado. Ele chegou mais perto e pisou em suas
mãos. Os galhos espinhosos furaram suas mãos, e Zoe gritou em
dor e terror.

‘Quanto tempo você vai aguentar? Estou curioso.’

Zoe olhou para cima e para ele, sentindo suas mãos cederem e
soltarem dos galhos. A chuva lavava suas lágrimas finais.

Repentinamente Marlo foi atingido por um clarão. E depois outro.


E outro e outro.

O corpo dele chacoalhou e tropeçou. Ela ouviu mais tiros. O


rosto de Marlo foi pego de surpresa.
Então a cabeça dele explodiu…

E o corpo de Marlo passou por Zoe, mergulhando nas águas


furiosas abaixo.

‘O quê?! Como?! Quem?!’ Sua mente estava confusa, e tudo o


que podia pensar é que aquilo era a justiça divina. Deus havia
mandado seu anjo vingador.

Zoe não pôde elaborar quando seus dedos adormeceram e ela


perdeu a força, deixando os galhos escaparem de suas mãos…

“AHHHHHHHHHHHHHHH!”

Mas um firme punho envolveu o pulso de Zoe no último


momento.

Outro raio cruzou o céu, e ela vislumbrou a face do homem que


a estava içando.

"Wolf!"

∞∞∞
“Ei. Acabou.”

Wolf pegou Zoe nos braços, e os seus penetrantes olhos verdes


olharam dentro de sua alma, assegurando suas palavras.

“Ahh!”

Ela apenas sentia medo e pânico, mas de algum modo Zoe


sabia que poderia confiar nele.

Suas lágrimas embaçavam sua visão, de qualquer modo, e Wolf


pressionou sua cabeça contra o peito dele e começou a andar.
Zoe sentia que deveria dizer algo a seu marido antes de
desmaiar. E juntou forças para dizer,

“Eu não fugi. Não foi minha culpa.”

Depois de alguns momentos, Zoe ouviu a resposta ofegante.

“Acredito em você.”

∞∞∞
Zoe retornou à consciência alguns momentos mais tarde.

“Eu mal acredito que é ele! Wolf! Ele descarregou a arma em


Marlo! Ele me salvou! Ele matou aquele bastardo!”

Ele lavou as mãos cortadas e rosto ferido de Zoe com cuidado,


silêncio e preocupação. Então ele lavou seus cabelos e corpo.

Zoe se sentia anestesiada e chocada. Como se suas emoções


fossem tão fortes que estivessem anulando umas às outras. Zoe
deixou a água lavar de si todo o terror.

Finalmente, Wolf deixou a água enxaguar a ambos e a abraçou


forte, pressionando Zoe contra ele.

‘Isso é tão reconfortante… Eu me sinto tão segura agora.’

Porém, as dúvidas assolaram seus pensamentos logo a seguir.

‘Ele é o meu marido, mas tem o Justin… Eu deveria me sentir


tão confortável deixando Wolf abraçar meu corpo nu?’

Talvez ela tivesse se enrijecido nos braços dele, pois ouviu sua
voz grave e rouca sussurrar.
“Parece que você está bem o bastante para retomar sua
guerrinha contra mim… Que tal uma trégua esta noite?”

“Minha… guerrinha?!” Aquilo era um tanto confuso. Ele


realmente pensava que ela ainda era a garota que ele conheceu
antes de cair do iate? Talvez sonho e realidade estivessem se
misturando. Aquilo era muito distante para ela, como se tivesse
ocorrido a décadas atrás. Porém, apenas duas semanas tinham se
passado, certo?

Wolf não a respondeu, a enrolando em uma toalha e


examinando suas mãos.

Uma olhada e Zoe descobriu como era seu marido sem roupas.
A aparência de deus grego ficou registrada em suas retinas
cansadas.

Wolfgang ignorou completamente a própria nudez e a encarou


de volta ao perceber seus olhos perdidos nele. Ele tinha a mesma
altiva, confiante e poderosa aura de quando vestido.

Agora que Zoe havia abandonado seus preconceitos contra ele,


ela se perguntava,

‘Existe algo que pode abalar a autoconfiança desse homem? É


quase inumano!’ esse sentimento de que ele era essa rocha segura
era avassalador. Zoe o abraçou, afundando seu rosto contra o peito
dele e deixando as lágrimas fluírem. “Sinto muito! Eu estava brava e
confusa! Mas juro, eu não fiz de propósito!”

“Ei, vamos falar disso depois, uh? Você está muito nervosa. Você
sofreu muito ultimamente e… Acabou, Luvinhas.” Ele disse
claramente em seu ouvido enquanto suas mãos massageavam suas
costas, acalmando seus soluços.

“Luvinhas…?!” com voz fraca, ela perguntou, confusa.


“Ei, não me julgue. Não quero ver você chorar, Zoe. Não vale a
pena. Você foi muito corajosa lá atrás.” Seu tom, acompanhado de
um leve sorriso culpado tinha a clara intenção de tornar o clima
menos tenso e de acalmá-la. Mas Wolf completou, com olhos
escurecidos olhando atentamente nos olhos de Zoe. “Eu imagino
tudo o que você passou. Eu queria ressuscitar aquele verme só pra
matá-lo de novo.”

“Eu não quero falar sobre isso agora, por favor…” ela balançou a
cabeça, angustiada.

“Certo. Eu vou pegar o kit de primeiros socorros e depois checar


o gerador… E você, Luvinhas, vai pra cama. Quando eu voltar,
cuidaremos desses ferimentos…” ele alcançou a toalha para secá-
la.

O vento uivante chacoalhava as partes mais frágeis da casa na


colina, e Zoe tremeu diante do prognóstico.

“Eu não quero ficar sozinha! Não vá, por favor!”

Wolf enrolou Zoe na toalha e a carregou no colo para o quarto.


“Ok, eu posso ficar mais um pouco, mas também preciso fazer isso
mais cedo ou mais tarde. Eu não quero que você sinta dor, e os
remédios vão ajudar nisso. Só se lembre, eu estou por perto, e você
está segura.”

Zoe assentiu, confiando nele.

“Eu não duvido disso. Nem mesmo zumbis poderiam me


machucar, parece. Como pode ser assim?” Ela realmente quis dizer
isso. É assim que ela se sentia agora, perto dele.

“Eu sou Wolfgang Düssel. Essa é a razão.”

Parecia idiota, mas ele realmente queria dizer isso mesmo, ela
constatou. Ele era tão seguro de si que tinha a mesma altiva e
confiante aura... vestido ou não.
“Eu sei.”

‘Ele não está nem um pouco desconfortável de estar nu perto de


mim. Será que ele é assim com todas as garotas, ou será porque
sou a esposa dele? Ou por que ele sabe ser abençoado com esses
genes de deus grego? Se eu não estivesse tão exausta, eu poderia
ficar olhando para ele a noite toda…’

Zoe bocejou, seus olhos quase fechados, e Wolf a enfiou


debaixo das cobertas, indo para o closet de Justin.

Ela achou que ia fechar os olhos e dormir, mas seu coração


estava apertado no peito, ao descobrir que ela tinha construído
muros que agora a faziam se sentir solitária e com medo. Ela queria
que ele retornasse, e a salvasse da tempestade, da cama vazia,
suas memórias, e da dor do corpo e da alma.

Quando ele ressurgiu, com roupas emprestadas de Justin, indo


imediatamente em direção à porta do quarto, Zoe o chamou.

“Ah… Por favor, não vá.”

Ele se voltou para la e deu um sorriso cansado. Ainda assim, ele


não parecia ter medo ou remorso.

‘Sua aura de poder é inabalável.’

“É tudo o que quero, Luvinhas. Volto logo. Prometo. Podemos


ficar abraçadinhos até o fim dos dias, depois.”

“Luvinhas?!”

“Sim. Você não entendeu por quê? Eu vi você agarrada naquele


precipício com suas mãos pequenas, tentando se salvar… Assim
como vi sua mão erguida nas águas, procurando agarrar a minha…
Você parecia um gatinho molhado lutando para sobreviver. E
parece.”
“Não… Espera… Você acha que pareço um gatinho fofo que tem
aquelas 'luvinhas[1]' nas patas?”

Ele sorriu.

“Você tem nove vidas, é arisca e bonita como uma gata… e eu


gostaria de te ouvir ronronar e miar pra mim, pra variar.”

Zoe tentou rir, mas seu sorriso saiu fraco. Wolf se aproximou da
cama novamente, falando.

“Além disso, você usou suas 'patinhas' e unhas muito bem lá no


penhasco. Estou orgulhoso de você, Zoe”. Ele apertou seu pé
debaixo do edredom, e isso faz Zoe sorrir. Sem seus preconceitos,
ela podia finalmente vê-lo como ele era.

Ele então saiu e não demorou muito para retornar com


medicamentos e ataduras. Ele era hábil com tudo aquilo e descobriu
que Zoe não tinha nenhum osso quebrado, apenas escoriações no
rosto e nas mãos que se bem tratadas se curariam logo.

Depois que ele ministrou uma injeção que tirou completamente


sua dor e fez os curativos, Zoe o observava, tão concentrado e
calado, sem saber o que esperar a seguir.

Então Zoe perguntou.

“Wolfgang… Você me odeia?”

Ele bufou ironicamente,

“Não, Luvinhas. Pelo contrário. Meu coração está centena de


vezes mais leve agora que sei que você está viva.” E levantando-se,
ele falou.

“Descanse agora.”

Enrolada nos cobertores e aliviada pelo anestésico, Zoe caiu no


sono e no esquecimento.
∞∞∞
Relâmpagos a fizeram acordar sobressaltada, de repente. Mas
ela estava envelopada por calor reconfortante. Zoe estava nos
braços de Wolf.

Zoe se lembrava dele dizendo algo sobre desligar a energia. E


como ele colocou bandagens em suas mãos e deu remédios. Ela
sentia-se bem fisicamente, apenas com a boca seca e um pouco
rígida.

Ela se virou na conchinha e encarou seu marido. Zoe ouvia o


coração compassado no peito rijo e largo, a barba rala, os traços
cinzelados e belos do seu rosto.

‘Eu nem saberia dizer qual deles é o mais bonito. Ou o que tem o
cheiro mais gostoso. Eu estou ferrada…!’

Zoe mal conseguia acreditar que todo o seu choque da noite


anterior era obliterado pela sensação de segurança ao lado dele. Ou
melhor, em seus braços.

‘Este homem… Ele esteve procurando por mim todo este tempo!’

“Não pense muito, Luvinhas. Deixe essas coisas no passado.”


Ele resmungou com voz rouca, ainda com os olhos fechados.

“Você não sabe o que eu estava pensando.” Zoe se perguntou


se ele acordou quando ela se mexeu em seus braços ou se Wolf
nem sequer tinha dormido.

“Sobre a noite anterior? E como aquele bastardo mereceu cada


bala e mais?” ele resmungou novamente.

“Não. Eu estava pensando sobre você.”


“Nesse caso, não. Não deixe no passado. Sou seu presente. E o
seu futuro.”

“Que horas são agora? Você realmente desligou o gerador?


Devíamos checar lá fora.”

Ele checou o relógio e se espreguiçou, terminando oficialmente


com o 'momento de ficar abraçado na cama', mas não a informou
sobre que horas eram.

"Eu decidi poupar energia. As últimas notícias sobre o furacão


são alarmantes. E… Eu perdi meu barco."

Wolf fez o último comentário com um sorriso engraçado como se


ele estivesse achando graça do fato.

“O quê?! Como?!”

“Aparentemente, eu não o prendi bem o bastante para essa


tempestade. Essa é a razão. Eu estava com pressa.”

Zoe riu, incrédula com a indiferença dele.

“Eu estou… pasma, eu acho. Você é cheio de surpresas.”

“Penso que sim.”

“E é meio convencido, não?”

“Nem um pouco.”

Zoe gemeu diante da bravata dele, secretamente apreciando


isso.

“Seus dedos não são o bastante para contar minhas


peculiaridades.” Ele comentou.

Ela ergueu suas mãos ao nível dos olhos dele, mostrando as


bandagens.
“Você me fez merecer este apelido, hein? Parece mesmo que eu
estou usando luvas de forno.”

Ele fingiu morder as mãos de Zoe, e ela involuntariamente deu


risadinhas bobas em seus braços, escapando dele.

“Seu grande Lobo Mau!”

“Sim… Rawrrrr!”

Essa brincadeira boba aqueceu os ânimos e Zoe sentiu algo


duro pressionando sua coxa. ‘É como se es coisas estivessem
normais entre nós… Só que não estão…’ ela constatou.

“Ei, como você pode estar todo animado assim depois…


depois…”

“Sim? Estou me sentindo ótimo. Pensa que eu vou lamentar a


morte daquele lixo humano? Ou reclamar que a natureza nos fez
assim? Estamos vivos!”

Ela o encarou boquiaberta.

Wolf rolou para longe e se sentou na cama, de costas para Zoe.

“Então… Você não está muito feliz em me ver.”

“Isso não é verdade.” Zoe não podia mais deixar mal-entendidos


como este entre eles. E atendeu sua urgência e seu desejo mais
sincero, sem pudores, simplesmente tocando seu ombro e o
fazendo virar para si. Usando suas 'luvas' para envolver o rosto
dele, Zoe se aproximou para um beijo.

Wolf correspondeu sem hesitação.

Logo suas línguas se enroscaram em um delicioso beijo que fez


o sangue de Zoe ferver.

Wolf a trouxe para mais perto, uma mão apertando seu bumbum.
Ele geme em sua boca,

“Meu Deus, você é tão deliciosa…”

Os lábios tentadores dele traçam o maxilar de Zoe, indo até seu


lóbulo. Zoe amassou seus seios contra o peito duro dele.

Ela lamentava não pode realmente tocá-lo com seus dedos, mas
o trouxe para um novo beijo enquanto ele brincava com a borda de
suas calcinhas.

Zoe se surpreendeu como ele conseguia deixá-la tão desejosa


com apenas um beijo. Ela pulsava por ele.

“Droga, estou encharcando aqui!”

“E eu estou bem duro por você, Zoe. É melhor fazermos algo a


respeito.” Wolf ergue uma sobrancelha para ela enquanto as mãos
dele agarraram a cintura de Zoe para fazê-la montá-lo.

“Sim… Faça com que seja doce e inesquecível, por favor.”

Zoe sussurrou no ouvido dele, beijando seu lóbulo. É tudo o que


ela queria. E ela não pretendia se negar isso. ‘Não sei o que vai
acontecer depois. Se ele vai me odiar ou não. Mas quero ter uma
boa memória com ele. Ao menos uma.’

“Você sempre me tira da minha zona de conforto. Eu não sou


doce.”

Zoe deu uma risadinha. Aquele era o homem que saía do seu
caminho para salvar as pessoas que ele amava.

Ela se perdeu nos olhos verdes dele.

Zoe sabia agora que Justin se inspirava na ética de Wolf. Mas


ela não consegue evitar amar Wolf. A eles. Pelo que eles eram.
“Então, faça amor comigo. Faça amor tântrico comigo.” ela
pediu. “É a nossa primeira vez, mas faça como se fosse a última…”

“Depois que eu começar eu não terei nenhuma pressa em


terminar, Luvinhas…”

Zoe buscou sua boca e saboreou os lábios dele como uma


sobremesa. As mãos dele brincam com os seus seios, amassando,
provocando… Ambos estavam em posição de lótus, e moviam os
quadris juntos em um ritmo inconsciente, sensual e ancestral.

Wolf se curvou para sugar seus mamilos enrijecidos, a língua


dele mandando sensações deliciosas para o delta de Zoe.

Ele mordiscou, lambeu, sugou, os tornando muito sensíveis e


latejando por mais. Então Wolf se deitou ao seu lado, a encarando,
seus desgrudar os olhos dos dela.

“Que pena que você não pode me tocar… Eu estou morrendo


para fazer amor com você, mas não antes de te fazer gozar
algumas vezes.”

Zoe mordeu o lábio inferior, excitada com esta promessa. Ele


perguntou, reagindo à face corada e olhos brilhantes da esposa.

“Você quer que eu te faça gozar agora?”

“Sim.”

Ele concorda, e depois de um beijo de tirar o fôlego, ele girou


Zoe, repousando suas costas no peito dele.

“Vamos dançar…”

As mãos dele vagaram livremente pelo corpo de Zoe, e Wolf


brincou com a língua em sua orelha, descendo para seus ombros,
nuca. Ele tirou suas calcinhas devagar, cobrindo cada parte exposta
com beijos.
“Até sua pele tem um gosto bom…”

Ele continuou beijando e mordiscando sua nuca enquanto seus


dedos encontram seu caminho em suas dobras. Zoe morde os
lábios, seus quadris avançando quando ele habilmente escorregou
dois dedos dentro do seu interior quente e úmido, e o polegar dele
pressionava seu botão.

A outra mão de Wolf foi dos seus seios aos seus lábios, e ela
lambeu os dedos dele e os chupou sedutoramente.

“Você quer mais de mim?”

“Sim… Quero mais de você, Wolf.”

O pau dele pressionava seu bumbum e Zoe estava com tesão o


bastante para rebolar contra ele, provocando. Ele gemeu no ouvido
da esposa, em apreciação. Wolf moveu seu polegar em círculo, às
vezes alternando sua mão livre para prender seu clitóris em tesoura,
maximizando suas sensações até que uma onda de prazer
comparável a um choque tomou Zoe. Ela se contorceu e gemeu tão
alto que se poderia ouvir acima da tempestade lá fora…

“Oh, Deus, Deus. Wolf…!”

Tremores tomam seu corpo, e Zoe agarrou o braço dele, o


fazendo parar.

O gozo escandaloso de Zoe o faz gargalhar, e ele a virou para si


e a abraçou forte.

“Eu te quero tanto, Zoe.” Ele mal esconde o sorriso satisfeito, o


canto de sua boca repuxando. “Estou morrendo para experimentar
sua xana maravilhosa…”

Zoe não esperava por isso, mas Wolf foi descendo, trilhando o
caminho com beijos e mordidinhas. Ele começou lambendo a junção
de sua virilha, esse ponto sensível ganhando muita atenção de um
amante meticuloso e totalmente sem pressa.

Wolf ergueu seu bumbum do colchão para saborear melhor o


gosto da sua pele, os vales entre suas pernas.

A antecipação foi crescendo em Zoe, e ela queria mais toques.


Ela mesma se tocaria, mas suas mãos estavam com bandagens.

Wolf não tinha frescuras e mordiscou, provou, beijou e lambeu


até chegar ao seu pote de mel, com uma longa e vagarosa lambida
desde lá de baixo até a ponta do seu clitóris latejante. Foi como
mágica. Zoe se controlou para não se retorcer todinha, porque ela
queria que durasse. Zoe queria que essa energia se acumulasse em
um orgasmo de tremer o chão.

Wolf gemia enquanto saboreava o seu néctar, dando


vergastadas e brincando com a língua, com os dentes e os lábios, e
sugando.

“Oh! Mais… Mais!”

Seus quadris estavam se movendo, sua xana pulsando e


clamando por algo substancial que a preenchesse. Mas Wolf a
domava com intensidades variadas de estímulo, e para sua
surpresa, o dedo dele começou a provocar seu ânus, pressionando
enquanto ele chupava seu clitóris deliciosamente. Zoe se
pressionou contra o dedo dele, querendo isso.

Depois de alguns momentos, ela já tinha o dedo dele invadindo


sua porta dos fundos, trazendo toda uma nova experiência.

“Sua xana parece que está em chamas!” ele exclamou,


extasiado.

“Sim…! Oh, Wolf! Oh, eu estou gozando de novo, Wolf,


Wolfgang!”
Zoe se projetou insensatamente, se retorcendo em seu poderoso
clímax, soluçando incoerentemente, chamando por ele, enquanto
ele surrava o clitóris de Zoe supersensível vagarosamente agora.
Seus músculos internos se contraíram com força, enquanto ele
bebia seu néctar.

Zoe se sentia como geleia quando ele removeu o dedo de dentro


dela. Seus membros estavam moles, sua cabeça leve. Wolf a trouxe
para seus braços, sua voz rouca praticamente grunhe,

“Eu te quero tanto, Zoe!”

Zoe arfou, mal recuperada do gozo e já sentindo mais vontade


dele novamente. “Quero você devagar, e totalmente, dentro de
mim…”

Ela olhou nos olhos dele intensamente e fez uma carícia de leve
em seu rosto, com sua mão enfaixada.

“Tentador…” o sorriso dele foi devastador.

Ele a provocou, deixando o pau duro e inchado escorregar por


sua fenda úmida até que começasse a empalar Zoe pouco a pouco.

Wolf segurou seus quadris, controlando a descida de Zoe sobre


o mastro dele, e ela saboreou essa sensação de completitude a
cada centímetro, até o fim. Ele a beijou, intensamente,
sensualmente, a apertando em seus braços.

Ambos aproveitaram o momento sem se mover, por um minuto


ou dois. Zoe podia sentir plenamente como suas partes se
encaixavam e pulsavam; como ela o envelopava, e como ele a
invadia.

Zoe prestou atenção desde a pele ligeiramente bronzeada dele,


a barba rala e macia em seu maxilar, até os olhos turquesa. O ritmo
de sua respiração, compassado, e o tambor no peito, sob os
músculos, pulsando.
“Posso ouvir as batidas do seu coração…” ela confessou.

“Posso ouvir as suas, também…” ele respondeu.

Em posição de lótus, Wolf começou a se mover lentamente,


como prometeu. Zoe se juntou a esta ondulação, e se movem em
uníssono, eventualmente mudando o tempo, e intensidade, para
dentro e para fora, até que o prazer assim construído explodiu e Zoe
chegou ao clímax novamente.

Wolf a abraçou mais forte, constrito por seus músculos internos,


aumentando sua velocidade, até gozar com um quase literal uivo.

Zoe saboreou a sensação das estocadas e dos espasmos de


seu marido liberando sua semente dentro de si, e tomou a boca dele
para um último longo e profundo beijo.

Eles descansaram nos braços um do outro.

∞∞∞

A tempestade parecia que não iria parar tão cedo, mas não era
tão intensa como foi no final da manhã.

O vento ainda uivava e o mundo lá fora estalava e rugia, mas


nada havia que Zoe pudesse fazer sobre isso a não ser rezar pela
segurança e bem-estar de todos.

‘Espero que Justin esteja a salvo, também…’

Ao menos a caldeira estava funcionando, e ela conseguiu tomar


um banho morno para se recuperar. Zoe se olhou no espelho,
checando as feridas da noite anterior… e as marcas dessa manhã.

‘Primeiro, eu preciso me vestir. Depois… enfrentar a realidade.’


Após Zoe se vestir, eles se reuniram na cozinha. Era perto de
meio-dia, mas parecia noite.

Com as luzes de emergência ligadas, Wolf improvisou uma


comida surpreendentemente saborosa. Ele estava usando as
roupas emprestadas do irmão, e era a primeira vez que Zoe
conseguia ver similaridades entre os dois. Principalmente nos
ombros largos e pernas longas, o maxilar marcado e a cabeleira
abundante.

A princípio, ambos começaram a comer em silêncio, lançando


olhares um para o outro com sorrisos ternos.

A tempestade castigava as paredes resistentes da casa, e Zoe


suspeitava que esta não era a realidade de outras casas da vila.

Wolf a tirou de seus pensamentos com sua voz.

“Temos que conversar. Quero ouvir tudo.”

"…!" Zoe se engasgou, sem saber por onde começar.

“Você pode começar contando sobre você e Justin.”


Capítulo 11
Zoe engoliu em seco, mas se recompôs rapidamente.
“Antes de tudo, prioridades. Fiquei desorientada com nosso
reencontro, mas agora posso pensar direito novamente.” Era uma
maneira de ganhar tempo, mas ela também estava ansiosa por
saber. “Quero notícias do meu pai.”

Wolf coçou o queixo como se estivesse prestes a falar de um


assunto desagradável. O coração de Zoe apertou no peito.

“Ele está bem… considerando a situação. Ele crê que você está
morta e me culpa por isso.” Ele demonstrava um pouco de
preocupação no olhar, nitidamente avaliando as reações de Zoe.
“Sua madrasta quer organizar seu funeral.”

Foi um choque para Zoe. Ela sabia que seu pai estaria
devastado por sua perda, mas Zoe não tinha pensado em nenhum
momento sobre os detalhes dessa situação. E se sentiu mal por
isso.

“Eu estava tão ocupada, me preocupando em me esconder e


recomeçar de novo que subestimei o sofrimento que estava
causando.” Ela confessou.

“Você realmente estava se escondendo… de mim?”

“Você é um mafioso!” Zoe exclamou, incrédula, que ele pensasse


que ela podia tê-lo visto antes de tudo isso como alguém em quem
pudesse confiar.

Ele riu com vontade.


“Um mafioso? Isso não é um termo glamoroso para criminosos?
E do tipo italiano?”

Zoe não sabia o que pensar da reação dele.

“Você sabe do que estou falando. Não negue.”

“Espero que você não fique falando isso por aí, Luvinhas. Pode
nos causar problemas. Sou um homem de negócios.”

“Isso não muda o fato que eu estava apavorada quando te


conheci e quando nos casamos.”

Ele suspirou.

“Então você acreditou que poderia usar o acidente para se livrar


de mim? Bom, isso foi uma iniciativa ousada. Intrigante.”

“O quê?!” Ela não imaginava que neste ponto ele iria pensar
dessa maneira.

Wolf piscou maliciosamente para a esposa. “Estou feliz que você


não seja a bonequinha frágil que parecia ser na primeira vez que
nos encontramos.”

“Sou tão estúpida! Eu nem consegui fugir sozinha do Marlo!”

“Bem, ele não era um marginalzinho qualquer. Ele foi um guarda-


costas altamente especializado no passado. Eu ficaria com medo de
você se você tivesse conseguido lidar com ele só com sua
graduação em Moda e suas aulas de balé.”

Zoe gelou em realização. Ela se lembrava de quando Marlo


matou aquele homem tão rápido que ela mal teve tempo para piscar.
E mal acreditou que teve coragem de desafiá-lo sozinha. Mas se
Wolf não tivesse chegado…

“Mesmo assim, você não teve nenhuma dificuldade em acabar


com ele como um...Especialista.” Ela acusou.
Wolfgang deu de ombros.

“Na verdade, estou meio enferrujado. Mas bem, Marlo mexeu


com as minhas pessoas. Foi incentivo o bastante.”

Zoe balançou a cabeça em incredulidade.

“Você deve estar brincando. Nada faz você perder a cabeça,


afinal?!”

“Perder a cabeça é um luxo que eu não posso me dar.”

As palavras de Wolf deixam Zoe sem fala.

“Desculpe Wolf, mas eu quis dizer que houve um grande mal-


entendido. Eu nem sei como começar, mas eu morria de medo de
você. Fui forçada a me casar!”

Ele assentiu, colocando a xícara de café com muita calma sobre


a mesa. Zoe continuou de um fôlego só.

“Você sabe que nós mal nos vimos. Primeiro pensei que você
propôs juntarmos as famílias para tomar posse da companhia. Só
depois que cheguei aqui que entendi que escapei de acabar
como…”

Wolf a interrompeu com um gesto.

“Jurei que não deixaria isso acontecer contigo. Ele _Walter _ tem
uma tara em destruir mulheres bonitas e inocentes.”

Zoe o olhou em choque. “Então… Essa é a razão real por trás de


nosso casamento?”

“Em parte. Mas eu tinha esperança de que pudéssemos nos


comunicar melhor após assinar os papeis. Eu sabia o quanto você
estava assustada… e sentindo-se em perigo. Não sem razão, aliás.”
Zoe o encarou sentindo que talvez não estivesse captando tudo
o que ele queria dizer com aquilo. Mas ele estava certo sobre tudo.

“Admito que tive a impressão errada sobre nosso casamento. E


gostaria que tivéssemos sido honestos desde o começo. Eu estava
tão assustada, tão frustrada! Eu não queria voltar para minha antiga
vida. Senti-me como uma esposa-troféu, apenas uma mercadoria
passando de mãos…”

“Eu não te culpo por isso. É difícil explicar o que estava


acontecendo…”

“Me diz… O que estava rolando? Não precisa enfeitar a verdade.


Vamos ser honestos um com o outro daqui por diante.”

“Então… O seu pai não te falou nada?”

“Não. O que supostamente ele teria que ter dito?”

Wolf ficou pensativo, depois resmungou sardonicamente,

“Eu não vou falar mal do meu sogro antes de você checar os
fatos pessoalmente.”

“O quê?! O que você quer dizer com isso?”

Wolf coçou o queixo, encarando Zoe intensamente.

“Honestidade. Se nós vamos fazer isso, Luvinhas, é um


compromisso de verdade. Mais ou menos como quando assinamos
aqueles papeis.” ele a encarou. “Se eu vou fazer um novo trato com
você, eu quero saber se você está realmente se comprometendo.
Conosco."

“Preciso pensar melhor sobre isso.” Zoe desviou-se de dar uma


resposta agora. Ela ainda tinha muito a pensar, não?

“Hm.”
Zoe sabia de uma coisa: o que Wolfgang Düssel tinha de mais
perigoso era sua mente afiada. Ela se sentia à vontade com Justin,
mas Wolf a deixava agitada o tempo todo. Como se ela tivesse que
ser o meu melhor, o tempo todo. Ela estava sempre muito
consciente de si mesma, quando ele estava no mesmo ambiente
que ela. Esses pensamentos conflitantes a faziam se sentir tensa o
tempo todo.

“Temos que conversar bastante antes de assumirmos um


compromisso desse um com o outro,” ela disse. A cara de pôquer
de Wolfgang a impeliu a se justificar em voz alta.

Eles haviam acabado de fazer amor e a história deles não era a


mais simples. Não era um encontro de uma noite só do qual ela
podia se desvencilhar tão facilmente. De fato, Zoe estava apenas
tentando se preservar. 'Eu não estou pronta para assumir um
compromisso com Wolf e nosso casamento.' Ela não sabia como
Wolfgang iria reagir.

Wolf deu um sorriso sardônico e concordou. “Faz sentido. Então,


é melhor você descobrir o porquê eu me casei com você por si
mesma.”

‘Droga. Até concordo que mereci esse gelo dele. Quanto mais eu
penso, mas vejo que aquele meu sonho acertou bastante… Acho
que meu subconsciente captou fatos e nuances da personalidade de
Wolf no pouco tempo que tivemos juntos. O bastante para fazer
previsões acuradas… E eu devo admitir que eu estava, e estou,
fascinada por Wolfgang Düssel. Mas ainda não sei aonde isso está
me levando…’

Zoe foi até a janela e viu que a tempestade estava mais fraca
que horas atrás. O vento não estava tão forte, mas ainda chovia. Ela
não podia ver muito além de um borrão cinzento lá fora, e se
perguntava como estavam as áreas mais baixas da ilha.

“Talvez devêssemos verificar se as pessoas que estão abrigadas


estão bem…” ela comentou, preocupada, mas seu marido ignorou o
que acontecia fora daquelas paredes naquele momento.

“Então… Sim, ou não?” Wolf questionou. E Zoe sabia a que isso


se referia.

‘Não posso deixar de dar uma resposta a ele…’ Respirando


fundo, ela assumiu.

“Sim. Aconteceu.”

As pupilas dele dilataram, e Zoe prendeu o fôlego logo após


dizer isso.

“Ele não sabia minha identidade, nem eu a dele. O resto… você


sabe o resto. Eu só segui meu coração.” Zoe não sabia se era
corajosa ou louca. Ou possivelmente ambas as coisas. A cara de
pôquer de Wolf não dizia muita coisa.

“E então? Agora que você sabe da verdade?” ela questionou.


Seu coração batia forte.

“Quem disse que eu já não sabia?”

Zoe o encarou, abismada. “E quando você soube que eu estava


aqui?”

“Justin. Ele falou comigo ontem à tarde. Ele descobriu sobre a


traição de Marlo, e me avisou. E antes de desligar, falou que estava
preocupado com a garota dele. Ele perguntou quem você era para
os Düssel. Então ambos descobrimos ao mesmo tempo o que
estava acontecendo.”

Ela sentiu uma dor no peito, imaginando como teria sido para
ambos. “Me desculpe,” ela falou.

“Tivemos uma enorme falha de comunicação. Não é culpa de


ninguém. Eu e Justin não podíamos nos falar o tempo todo ou
acabaríamos revelando o paradeiro dele. O velho está desconfiado
de algo, eu sei.”
“O rádio estava com problemas até dias atrás,” Zoe completou,
entendendo completamente tudo o que levou àquela situação
inusitada.

“Sim. Tem outra coisa que quero saber,” Wolf perguntou


levantando-se da cadeira. “Descobri que o rádio não está
funcionando de novo. Foi coisa do Marlo? Existem peças
sobressalentes em algum lugar? Vou tentar fazer aquela coisa
funcionar.”

A mudança completa de foco a impressionou e assustou. Ela


ainda não conseguia entender Wolf completamente. Isso era uma
maneira de se preservar e esconder seus pensamentos? Ele
realmente não estava bravo com ela? Era ilógico pensar que sim.

Wolf era um poço profundo e misterioso, o tipo que não gostava


de dividir seus pensamentos com ninguém. E isso a deixava
completamente às cegas. Zoe queria acreditar que poderiam, os
três, resolver essa situação sem discórdia. Mas isso também não
parecia possível.

O que ela podia fazer? Nesse momento, Zoe queria estar


arrependida de ter transado com seu próprio marido, mas seu corpo
não deixava.

Ela estava brava consigo mesma por se sentir tão volúvel e por
ter transado com Justin, mas as lembranças em sua mente também
não permitiam isso.

Ela havia amado os momentos com cada um deles.

Naquele momento, Zoe lembrou-se de seu sonho estranho da


primeira noite da ilha, em que ela estava algemada a Justin e
prisioneira de Wolf.

A mera lembrança daquilo foi confusa e excitante. ‘Eu mal


acredito que vivi isso. Um relacionamento assim. E eu mal acredito
que terei que renunciar a um deles se quiser viver… Quero acreditar
que se Justin ainda me quiser, Wolf me deixaria ficar com o irmão…
Mas o que isso causaria na relação deles à longo prazo?’ Ela se
perguntava. ‘E se Wolf me quiser de volta, como Justin vai reagir?’
As dúvidas assolavam sua mente, e a principal delas eras: ‘E eu? O
que eu quero?’

Mas para todas essas perguntas e principalmente para a última,


Zoe não tinha resposta. Imersa em seus pensamentos, ela registrou
que Wolfgang a havia deixado sozinha na sala, indo na direção da
sala de rádio.

‘Sei que ele vai ficar furioso porque desliguei o rádio, mas talvez
eu não deva esconder esse fato.’

Zoe levantou-se e foi até o escritório, onde encontrou Wolf


frustrado com o rádio. Ele passou a mão pelos cabelos quando ela
entrou, confessando.

“Eu não entendo nada de eletrônica! Não estou conseguindo


fazer funcionar!”

“Hmmm. Talvez eu possa.”

O jeito que Wolf a olhou quando Zoe disse isso foi tão fofo que
ela teve vontade de morder as bochechas sexies dele.

“Uau, você está me olhando como se eu fosse um ser celestial


ou algo assim!”

“Se você pode mesmo fazer isso, sim, você é! Eu não imaginava
que você tinha tantos talentos, mas gosto disso!”

Zoe riu, deliciada.

“Eu gosto muito disso, na verdade!” ele insistiu.

“Nós precisamos ir à torre,” ela falou. “Eu a desliguei. Fique


bravo comigo mais tarde, se você quiser.”
Os olhos dele se arregalaram, e ele a encarou em descrença,
franzindo o cenho logo depois.

“Eu disse, mais tarde. E se vamos, é melhor você pegar uma


capa de chuva no closet.” Ela decidiu não ter medo das
consequências agora. Ela havia feito o que precisava para
sobreviver, e continuaria fazendo isso.

“Por que você fez isso?” ele perguntou.

Zoe contou o que aconteceu desde que avistou Marlo e o outro


cara na praia deserta, até o momento em que Marlo matá-la. Para
sua surpresa, relembrar os fatos só a deixava com MUITO ÓDIO.

“… Apelei para isso depois que ele me chantageou, dizendo que


não me enviaria para você, mas para Walter Düssel.” Zoe baixou a
cabeça. “Eu entrei em pânico. Sinto muito.”

“Ei. Olha pra mim.” Wolf tocou seu queixo com sua mão enorme
e bem cuidada. Zoe cautelosamente ergueu seus olhos para ele.

“Foi arriscado, mas esperto. Se Marlo os tivesse chamado, Justin


estaria ferrado.”

Ela assentiu, porém, as lembranças de tudo o que ela havia feito


e causado ainda incomodavam sua mente. Era incrível que ele
acreditasse nela após saber que ela tinha ocultado sua identidade
para Justin.
“E por que você está com tanto medo do meu julgamento?” Wolf
insistiu, acariciando seu queixo com o polegar. “Você estava lutando
por sua vida. Espero que você aniquile sem remorsos seus inimigos
da próxima vez, se necessário.”
“Eu… achei que você estaria furioso comigo.”
“E eu acredito que você vive sob a sombra de manipulações e
apavorada com possibilidades, não fatos.”
Dessa vez, Zoe o encarou em repentina compreensão.
“Você está certo. Vivi em completo terror de ser julgada e punida
por não fazer o que era esperado.”
Wolfgang casquinou. “Bom, eu tirei vantagem disso e me casei
com você, não é? Falamos sobre minha culpa nisso depois. Vamos
consertar o rádio, agora.”

∞∞∞
Um pouco mais tarde, Zoe e Wolfgang deixam a casa debaixo da
chuva insistente, protegidos por capas de chuva. Eles chapinharam
na lama morro acima até a torre. Wolfgang abria o caminho e Zoe o
seguia pisando nos passos dele.

Numa parte do caminho, ela avistou um deslizamento de terra.


Wolf olha para trás, notando que ela não o estava seguindo.

“Ei, Luvinhas, o que foi?”

“Uh, nada. Eu só estou impressionada com a destruição que


essa lama toda causou. Imagino o que aconteceu lá na vila…”

“Podemos checar mais tarde. Vamos logo antes que você pegue
um resfriado.”

“Estou indo!”

Mais alguns passos e Zoe parou, com o coração batendo


estranhamente no peito.

“Wolf, eu tenho um mau pressentimento sobre isso…”

Ela parou e apontou a rota de destruição que a lama causou,


arrastando tudo no seu caminho. Wolf cuidadosamente retornou até
onde ela estava, cautelosamente olhando ao redor.

“Eu também não gosto nada disso. Qualquer um andando por


aqui não teria tido chance contra isso.”
Após olhar os destroços enlameados à distância, vocês decidem
ignorar isso e voltar ao plano original.

Assim que chegam na cabine da antena de rádio, Wolf


rapidamente reconectou o equipamento com as instruções de Zoe.
O rádio tinha seu próprio gerador e Wolf se certificou que estava
funcionando.

Ela o instruiu sobre como religar a antena de forma assertiva e


confiante. Ele seguiu todas as instruções de Zoe com uma
admiração crescente estampada no rosto. Em meia hora, o casal fez
o equipamento funcionar como antes.

“Uau, eu mal posso entender esse painel e todos esses botões.


Azimute, largura de onda, amplitude, e coisa e tal.” Ele comentou.

“Então você tem fetiche em mulheres que dominam tecnologia?”


Zoe perguntou com malícia na voz.

“Acabei de descobrir que sim.” Wolf deslizou a mão para seu


bumbum, enchendo a palma com as curvas do seu traseiro,
pressionando o corpo contra o seu.

“Hm, essa é sua antena me cutucando?”

Wolf foi pego de surpresa pelo senso de humor de Zoe e


gargalhou. O corpo dele estremeceu e o dela também, e isso a
excitou.

“Ao que parece… Mas você sabe lidar com isso, não é mesmo?”
ele provocou.

Zoe não resistiu e tocou o volume dele sob os jeans,


massageando só para sentir aquilo crescer sob sua mão enfaixada.

Infelizmente, eles tinham outras coisas a fazer.

“Pronto. Ainda vamos transmitir e receber em baixa qualidade,


mas pelo menos está funcionando.” Zoe soltou um suspiro aliviado
quando fizeram o teste final.

Wolfgang a virou para ele e deu um selinho em seus lábios.

“Ok, agora você volta para casa e eu vou verificar as outras


pessoas na ilha.”

“Espera… Acho que devemos continuar juntos.” Zoe pediu.

“Hm, você não quer ficar sozinha na casa, é isso? Você devia
ficar perto do rádio caso Justin chame.”

“Sim, essa é uma razão. Mas ninguém deveria andar sozinho


num clima desses. Nem mesmo o poderoso Wolf.”

Pego de surpresa por suas palavras honestas, Wolf gargalhou.

“Hm, suponho que acabarei me acostumando com essa


preocupação com minha segurança… Eu deveria?”

‘Sou só eu, ou ele ficou vermelho?’ Zoe se perguntou. ‘Ele


realmente não está acostumado a ter pessoas se preocupando com
ele?’

Mas a pergunta retórica dele merecia uma resposta.

“Você deveria se acostumar com isso.”

Ele riu da resposta de Zoe, sem levá-la a sério.

"Ok. Como queira. Se você está pronta, eu não vou gastar nosso
tempo precioso." Ambos deixaram a cabine da torre de rádio e viram
nuvens negras e assustadoras rolando rápido pelo céu, vindo em
direção à ilha mais uma vez.

“Parece que temos uma pequena janela de tempo antes do pior


do furacão vir em direção à ilha. Temos que nos apressar.” Wolf
falou após avaliar as nuvens no céu.
Zoe concordou, quando viu um objeto esquisito sendo arrastado
pela enxurrada que escorria colina abaixo. Ela perguntou,
apontando o objeto para Wolf, “Aquilo não é… uma espingarda?”

Ele estreitou os olhos e foi até o objeto, o fisgando das águas


barrentas.

Zoe tinha acertado, e o semblante de Wolfgang mudou


imediatamente. “É melhor procurarmos pela área, Zoe.”

Ela não saiu do lado dele, enquanto cuidadosamente


procuravam por mais pistas do que aconteceu. Zoe foi a primeira a
ver.

“Ali! Uma pessoa!” Ela localizou um borrão colorido num


barranco a poucos metros, próximo do grande deslizamento.

No ímpeto de ajudar, Zoe apressadamente correu em direção à


pessoa caída, torcendo para que estivesse viva. Ela quase caiu no
barranco, mas Wolf a agarrou no último segundo.

“Cuidado! Pare de se colocar em perigo, Luvinhas!”

Eles chegaram até a pessoa, semienterrada sob a lama.

“É Jackie!” Zoe paralisou, vendo a forma toda desconjuntada


dela meio enterrada na lama.

Ela mal podia acreditar naquilo.

Mesmo que não fosse de seu feitio, O primeiro pensamento em


sua mente foi surpreendente. ‘Carma é foda mesmo, hein?’ Aquela
mulher tinha desejado o mal a ela sem que Zoe tivesse feito nada
para ela. Zoe não sabia o que pensar disso. “Será que ela ainda
está viva?”

“Você conhece essa mulher?” Wolf perguntou, passando por Zoe


e indo até Jackie. Ele procurou os sinais vitais dela, enquanto Zoe
apenas assistia à cena, indecisa.
“Vamos, Zoe! Desembucha! Por que você está quieta?! Quem é
essa mulher?!” Wolfgang gritou com ela, a tirando do torpor de seus
pensamentos mesquinhos.

“Ela é Jackie. Amiga do Justin. Capitã da balsa.” A voz brava e


impaciente de Wolf a fez cuspir a resposta e perceber que seu
rancor estava trazendo o pior de si à tona.

‘A vida de Jackie importa. Devo ajudá-la!’

Jackie gemeu, ao perceber que pessoas a cercavam.

“A- Aju… Ajuda…” Ela estava consciente, mas muito fraca e


congelando.

“AHhH! AIIIH!” Jackie gritou de dor quando Wolf tentou removê-


la do lamaçal.

“Nós não temos equipamento, não podemos esperar por ajuda


especializada! Você vai ter que aguentar!” As palavras assertivas e
impiedosas de Wolf fizeram Jackie se agarrar a sua única
oportunidade de sobreviver.

“Faça o que for preciso, mas por favor… Não me… abandone
aqui…”

Depois de muito trabalho duro e ideias inteligentes, Zoe e Wolf


conseguiram resgatar Jackie do banco de lama. Eles improvisaram
uma maca com lona e remos que encontraram na casa.

Jackie gemeu, os alertando enquanto eles faziam a manobra


para carregá-la sem arriscar machucá-la ainda mais. “Eu acho…
que quebrei minhas pernas…”

Ao chegarem na casa, Zoe a ajudou com um banho, enquanto


Wolf falou no rádio…

Ou ao menos tentava. Zoe rezava para que ele conseguisse


ajuda para Jackie. Ela havia ouvido falar de gangrena antes.
Julgando pelo estado das pernas dela, completamente pretas e
inchadas, Zoe temia pelo pior.

Suas mãos feridas não eram nada comparadas àquilo.

Ela colocou Jackie na cama e cuidou de seus ferimentos. Ela


tinha febre, e Zoe cuidou dela o melhor que pode. Após ministrar os
analgésicos e anti-inflamatórios que havia ali, Zoe questionou a
outra mulher.

“O que você estava fazendo lá? Morena disse que a balsa


estava saindo ontem com pessoas para um lugar seguro!”

Fracamente, Jackie respondeu. “Meu substituto levou a balsa…


Mas eu fiquei… Ainda tinha umas pessoas aqui, e Marlo estava
agindo estranho…”

“Nem me fala.”

“Ele fez… algo a você, não foi?” Jackie perguntou.

As palavras dela chocaram Zoe. “Por sorte, ele não conseguiu ir


até o fim no que pretendia. Mas você sabia que ele estava tramando
algo?”

“Eu sentia, garota. Justin teria… levado as pessoas para o


continente, ou pelo menos… abrigado as que ficariam em sua
casa… e Marlo fez o mesmo outras vezes… Mas ele não fez agora.”

“Ai, guria!”

“Eu me perguntei o porquê. E tive certeza de que ele estava


aprontando alguma pro seu lado… Com Justin fora…”

Zoe estava pasma. Ela não imaginava que Jackie fosse esse tipo
de pessoa. Que, no fundo, a outra mulher ainda se preocupava que
ela estivesse bem. Jackie ainda falou.
“Fiquei procurando você… Eu pedi pros caras do forte me
ajudarem, mas…”

“Eles não quiseram se meter com Marlo.” A voz de Wolf


completou a frase por Jackie. Ele entrou no quarto com uma
expressão preocupada no rosto. Jackie concordou com uma careta.

“Você tentou me salvar do Marlo!”

“Mas o deslizamento me pegou de surpresa… Eu pensei que eu


ia morrer…!”

“Não, você não vai,” disse Wolf, entrando no quarto. “Eu


consegui mandar um pedido de socorro. Eles estão mandando um
helicóptero para nos resgatar.”

“Eles vão?! Nossa, graças a Deus! Mas, com esse tempo?!” Zoe
exclamou.

“É perigoso, mas não iriam negar meu pedido. Vou até o forte
buscar quem está lá e reunir todos aqui.”

Zoe tinha medo de que Wolf andasse sozinho pela ilha naquelas
condições, mas ela tinha que ficar com Jackie agora. Wolf as
tranquilizou.

“Aguentem firmes, meninas. Descanse, Jackie. A ajuda está


chegando.”

“Obrigada… Sr. Düssel.” Jackie respondeu, com a voz arrastada


por causa do medicamento potente que Zoe ministrou para aplacar
a dor da capitã. Ela não se admirava que Justin tivesse esse tipo de
medicamento ali, considerando o tipo de vida que vivia.

“Me chame de Wolf.”

O que a surpreendeu foi ouvir seu marido respondendo para


Jackie, com um leve sorriso. ‘O QUÊ?! Me chame de Wolf?!’
Ela seguiu seu marido para fora do quarto. Wolf vestia uma capa
de chuva limpa, e Zoe sussurrou, cutucando o ombro dele,

“Que negócio é esse de 'Me chame de Wolf'?!”

“Ei. Olhe para você. Imitando minha voz e com seus lindos olhos
saltados para o meu lado. Isso é ciúmes?”

Zoe sentiu-se ridícula, mas não negou. “Talvez.”

“Hm, bom saber. Mas bem, só pessoas que eu não gosto me


chamam de Sr. Düssel. Existe outro Sr. Düssel. Meu pai.”

“OH…!”

“Cuide dessa mulher, Zoe. Você pode fazer isso? Podemos


conversar sobre sua possessividade depois.”

“...” ela sentiu-se corar. Era verdade. Ela tinha ciúmes dele.

“Como estão suas mãos?” ele perguntou, mudando de assunto.

Zoe olhou para suas mãos. Elas doíam porque Zoe havia
exagerado e as usou sem cuidado, mas ela não reclamou.

“Estou bem. Não posso reclamar. Só queria que a ajuda


chegasse rápido. Estou com medo pela vida de Jackie…”

“Você é uma mentirosa muito sexy e corajosa…” Wolf acariciou


seu rosto ternamente, antes de beijar sua bochecha vermelha.

Com isso, ele a deixou e Zoe voltou ao quarto. Jackie estava


dormindo, mas Zoe não se permitiu elaborar o mesmo.

De tempos em tempos ela monitorava a temperatura de Jackie e


começou a considerar aplicar um banho frio para baixar a febre
dela.
Não passou muito tempo até que Zoe ouvisse um barulho alto e
estranho se aproximando. Era mais alto que o barulho das ondas
bravias, e Zoe foi à varanda.

“Ah! É o helicóptero! Graças aos céus!”

Olhando colina abaixo, Zoe avistou Wolf e outras cinco pessoas


chegando à casa quase ao mesmo tempo. Zoe reconheceu 'Papa' e
Clayton entre eles. ‘Papa’ Estevez era o líder comunitário que
cuidava da vila, e também pai de Clayton.

“Bem a tempo!” Wolfgang exultou ao ver o helicóptero sobrevoar


o topo da colina, em meio à garoa fina.

O helicóptero pousou no campo do heliporto a poucos metros da


casa, e a adrenalina correu por suas veias.

Para sua surpresa, ela reconheceu um dos homens usando um


headset na cabine do helicóptero.

“Justin!”

Justin saltou do helicóptero assim que possível, correndo até


Zoe e Wolf.

Ela ficou extremamente ansiosa e não pôde evitar isso. Era tão
bom vê-lo de novo na sua frente, são e salvo! Ao mesmo tempo, ela
se sentia muito insegura, pois era a primeira vez que ela e os irmãos
Düssel se encontram, os três!

Zoe alcançou e apertou forte a mão de Wolf. “Você se importa se


eu abraçar Justin? Estou aliviada que ele voltou são e salvo.”

“Acho que devíamos fazer isso, na verdade. Ele teve sua cota de
péssimos momentos nos últimos dias, também.”

Zoe meio que esperava algo assim como resposta. Mas isso a
fez perceber que Wolf a incluía em sua ideia de família. E ele não
cogitava deixar que coisas como ciúmes ou sentimento de posse
estragassem isso, ela ponderou.

Ela abraçou Justin apertado, e ele retribuiu da mesma forma.

“Você está atrasado para a ação, Justin. Mas que bom que
conseguiu chegar.” Wolfgang se fez ouvir.

Justin a soltou.

Zoe deixou as emoções dominarem e se uniu a eles em um


abraço coletivo. Quando suas testas se tocaram, ela confessou, em
lágrimas:

“É tão bom te ver de volta, são e salvo, Justin! Eu estava tão


preocupada! E Wolf, eu estava preocupada com você, também!”

“Preocupada comigo?! Comigo?!”

“Sim, Senhor Frieza. Deslizamentos não são intimidados por


sua… Aura de Alfa Inabalável.”

Wolf gargalhou, e Justin saiu com uma piada,

“Eu não diria isso… É bem capaz dele conseguir, hahaha.”

Quando Zoe os deixou se afastar, os irmãos deram um abraço e


tapinhas nas costas um do outro.

“Você demorou, Justin, mas que bom que finalmente chegou.”


Wolfgang comentou. Justin explicou.

“Está inavegável nesse momento, cara. Que bom que você


chegou antes e garantiu a segurança de todos.”

“Bom, isso foi um colateral apenas. Mas Zoe é que merece os


louros, ela foi corajosa e aguentou até eu chegar.”
Eles conversavam como se tivessem se visto a minutos atrás, e
isso era chocante. Mas Zoe se lembrou do que Justin tinha dito.
Eles tinham uma ligação forte. Ela os observou mesmerizada
enquanto eles trocavam informações.

Wolfgang explicou a Justin.

“A capitã Jackie está ficando pior a cada segundo. Tem um cara


que é diabético e ficou sem insulina, também.”

“E Marlo?” Justin perguntou.

“Uma história curta e já finalizada.” Foi o que Wolf respondeu,


olhando nos olhos do irmão por um instante.

Mas eles não perderam tempo e ajudaram o paramédico a


mover Jackie para o helicóptero.

“Precisamos nos apressar, ou a paciente pode sofrer danos


irreversíveis!” O paramédico que havia vindo no helicóptero explicou
a eles, depois de examinar Jackie e garantir que ela seria
transportada com o máximo de conforto e estabilidade possíveis.

“Tenho uma pequena janela de tempo para chegar até o


continente antes que a tempestade fique pior.” O piloto interferiu.
“Não podemos perder um minuto. Vamos agora!”

Mas Zoe ouviu a seguir a constatação do paramédico. “O


helicóptero tem mais cinco assentos além de mim, o piloto e a
paciente…”

O piloto olhou ao redor e deu seu veredito.

“Desculpe. Três de vocês precisam ficar para trás. A tempestade


está vindo com força total, mas eu não posso arriscar mais do que já
estou arriscando.”

Os moradores da vila entraram em pânico, olhando um para o


outro esperando ver quem iria ficar. O único adolescente que Zoe
havia conhecido na ilha, Clayton, disparou:

“Eu não quero ir! Tenho medo de voar! Tem uma tempestade
horrível, vamos todos morrer!”

O pai dele ralhou imediatamente. “Não! A sua mãe está


preocupada com você lá no continente. Ela vai me matar se eu
chegar lá sem você. Você vai, eu fico.”

“Mas pai…”

“Não seja idiota, a vila está inundada! A encosta está deslizando;


não existe lugar seguro aqui.”

Porém, Zoe sabia que, embora silenciosos, todos os outros


desejavam que a decisão fosse tomada logo. Todos queriam partir.
Eles murmuravam sobre os deslizamentos e como aquela
tempestade já era bem pior do que todos esperavam. Eles estavam
com medo de ficar, mas também com medo de ir. Porém, mais que
isso, Zoe percebeu que ninguém discordaria do que os irmãos
Düssel decidissem.

Wolf interferiu, chamando a atenção de todos.

“Justin e eu vamos ficar. Vocês só precisam decidir mais uma


pessoa para ficar. Mas decidam agora.”

Justin virou-se para o pai de Clayton. “Papa, você vai e toma


conta de Jackie e dos outros, ok? Você pode fazer isso? Por
Naviedo?”

Papa concordou. “Sim. Por todos meus amigos, chefe. Mas as


mulheres precisam ir. É o certo.”

Wolf e Justin lançaram um olhar preocupado e inquisitivo na


direção de Zoe.

‘Como posso ir e deixá-los?! Mas eu preciso decidir! Agora!’ ela


se angustiou.
Capítulo 12
Zoe se virou para eles, vendo a preocupação no olhar de ambos.
Eles esperam que ela fosse sem eles? A lógica dizia que deveria
ir. Ambos possivelmente concordavam que Zoe ficaria mais segura
no continente, e perto de socorro médico etc. Mas em seu coração,
ela tinha dúvidas. Deveria deixá-los para trás? Ou ficar?

Zoe concordou, não querendo causar mais demoras. “Certo,


vamos fazer isso logo. Jackie não pode ficar esperando!”

Justin a abraçou.

“Vá para o mesmo hotel que ficamos aquela noite, e espere por
nós. Diga o meu nome lá. Isso será o bastante.”

“Não. Ela não deve ir.”

Wolf a segurou pelo braço, e falou em voz baixa para que só Zoe
e Justin pudessem ouvir suas palavras.

“Tem um preço pela cabeça dela, viva ou morta. E sem mim lá


para parar esta ordem, a vida dela pode estar em perigo.”

“Oh! A gente já ia esquecendo disso!” Zoe exclamou. Não era de


se admirar, com o clima como grande vilão, que isso tivesse ficado
em segundo plano. Mas não para Wolfgang.

"Está acertado, então," disse ele a seu irmão. “É melhor


mantermos Zoe debaixo de nossas vistas até essa tempestade
acabar."

“Certo,” respondeu o irmão mais novo. “E garantir que Zoe esteja


segura enquanto estiver aqui conosco.”
Os olhos de Justin foram para as mãos enfaixadas de Zoe.

“Estou certa de que ambos vão fazer o melhor,” ela disse a eles.
“Mas agora vamos garantir que esse helicóptero parta o mais rápido
possível.”

∞∞∞
Depois de alguns minutos os três observam a aeronave levantar
voo na chuva. Zoe não conseguia evitar ficar apreensiva.

Da varanda, ela observava o helicóptero desafiar o clima e


deixar a ilha. Zoe sentiu uma mão pousar na sua cintura.

“Não se preocupe. Max é o melhor piloto que o dinheiro pode


pagar. Ele é acostumado com climas adversos. Vai dar certo.”

Poucos segundos depois, outra mão pousou em seu ombro.

“O pior problema numa situação dessas não é falta de abrigo,


mas quanto tempo suprimentos duram, e se há uma emergência
médica. Isso é o mais preocupante para um grupo grande. Mas para
nós três, creio ser possível gerenciar bem.”

Zoe perguntou. “Mas o helicóptero voltará para nos buscar


quando o tempo melhorar, certo?”

“Sim, depois que o furacão passar por aqui.” Justin respondeu, e


virou-se para o irmão mais velho. “Suponho que você não devesse
estar aqui, mano. Walter começará a procurar por você logo”.

“Eu dei a ele uma desculpa, mas não vai durar muito. Preciso
voltar logo ou ele vai pirar.”

Ambos os irmãos trocam olhares longos e significativos. ‘Wolf


põe a vida de quem ele nem conhece acima de seus interesses. Eu
mal consigo acreditar que ele é um mafioso.’ ela ponderou. ‘Ou, por
tudo o que está implicado, que Justin também seja. Ainda preciso
aceitar isso totalmente. Quero conhecer quem eles são de verdade,
em seus íntimos. Eles são tão fascinantes e cheios de nuances!’

Zoe tinha certeza, no entanto, que a principal preocupação deles


era a de que Walter Düssel, mesmo na maior das improbabilidades,
surgisse na ilha com seus homens, e encontrasse Justin. Não havia
como prever o que aconteceria a seguir, mas Zoe intuía que seria
feio. Mesmo assim, ela preferia ter esperança de que o único
problema que enfrentariam ali seria uma terrível tempestade. Por
isso até mesmo cogitaram em deixá-la ir com o pessoal da vila.

Seus pensamentos são interrompidos quando os irmãos falam


quase em uníssono.

“Melhor começar os preparativos para uma longa noite de


tempestade. Vamos checar as janelas e todo o resto.”

“Acha que devemos checar a vila de novo?” Wolf perguntou.

“Sobrevoamos a vila, ela está parcialmente inundada. É muito


perigoso irmos lá,” Justin explicou.

“Eu ficarei fora do caminho enquanto vocês fazem o trabalho


difícil…” Zoe olhou as nuvens escuras e depois a eles, tentando
imprimir bom humor mesmo naquela situação. De fato, ela estava
eufórica. Ela estava com Justin e Wolf, e não tinha medo de nada.
Apenas que eles iniciassem um julgamento contra ela. Mas eles não
iriam fazer isso, iriam?

Eles exageraram na reação de surpresa, também preferindo


manter o humor leve diante do perigo em que viviam. Wolf falou
para o irmão.

“Haha. Então ela quer ser mimada por nós? Ela está bem
confiante em seu poder sobre nós, não?”
Justin a defendeu de maneira marota.

“Vênus só está exigindo o que é dela, eu acho.”

“O que você quer dizer? E… Vênus?! É sério isso?!” Wolfgang


ergueu uma sobrancelha.

“Sim senhor. Vênus, a deusa que veio das ondas do mar…”


Justin deu um enorme sorriso olhando para Zoe.

“Nada disso: ela é Luvinhas: pura fofura, fúria, e garras afiadas,”


retrucou Wolf, como se sua palavra fosse a final.

Justin caiu na gargalhada. “AHAHAHA!”

“Parem com isso já! Eu estou bem aqui!” Zoe protestou,


fingindo estar brava com os dois.

“Suas mãos parecem em mal estado, Vênus. Na verdade, trocar


de roupas e ficar aquecida é uma boa ideia.”

Wolfgang concordou. “Só se enrosque num sofá e tire uma


sonequinha se quiser, Luvinhas. Deixe os caras construírem um
forte ao nosso redor.”

Mas Zoe queria participar. “Eu quero 'brincar' de forte, também,


Wolf. Pra ser sincera, eu só não sei como ajudar, mas estou aberta
a sugestões!”

“Se você quer ajudar, verifique os mantimentos e arranje roupas


secas para todos nós. Resumindo, o que for leve de fazer.”

“Anotado!” Se era aquilo que ela podia fazer, ela faria de bom
grado. “Bom, eu vou checar nossos suprimentos e depois fazer o
jantar.”

Eles riram do seu entusiasmo, e Zoe passou a próxima hora


checando os suprimentos de comida e água.
Ela foi para a despensa e descobriu que poderiam sobreviver ao
apocalipse zumbi à base de whey protein e suplementos.

‘Isso era parte da dieta de Marlo… Ug, lembrar dele me dá até


um negócio ruim…’

Mas ela encontrou comida normal e garrafas de água, e calculou


o quanto os três poderiam sobreviver à base de comida enlatada e
bobagens.

A porta da despensa deslizou atrás dela. Antes que Zoe se


virasse, ela já sabia quem era, só pelo jeito que seu corpo reagiu

“Hm… Wolf?”

Ele chegou mais perto, colando o corpo dele no dela. Zoe se


arrepiou da cabeça aos pés.

“Ahhh! Não sabia que despensas eram tão apertadas.” Wolf


brincou.

“Hahaha. Não é tão apertada, mas você bem que preenche todo
o ambiente com sua presença.”

Por que estar em um espaço apertado com seu próprio marido


parecia tão perigoso e excitante nesse momento?

“Existem outras coisas que eu gostaria de preencher bem


agora… Você.” A mão dele apertou o quadril de Zoe, e ela engoliu
em seco enquanto ele sussurrou em seu ouvido, mordiscando seu
lóbulo para maior efeito!

“Você não devia estar ajudando Justin?” ela perguntou, tentando


fingir que nada estava acontecendo.

“É, eu deveria. Mas ele pediu pra que eu achasse um galão de


óleo… para lubrificar…”

“Óleo? Ah, entendi. Você tem certeza de que é óleo comestível?”


Zoe olhou por sobre o ombro, e descobriu que isso colocava
seus lábios a centímetros dos lábios carnudos e desejáveis dele.

“Oops… Eu não tenho certeza… Eu deveria mesmo saber


disso?”

Zoe girou para ficar de frente para ele agora. Ele chegou perto
de novo, até que suas bochechas estivessem se tocando, e ele
respirou em seus lábios entreabertos. As costas de Zoe encostaram
em uma prateleira.

“Droga. Seria mais fácil se você não me fizesse me sentir desse


jeito…” ele resmungou como se para si mesmo.

A mão enorme dele deslizou das suas costas para sua nuca,
fazendo o coração de Zoe bater ainda mais rápido.

‘Oh... Na verdade, eu concordo com isso… Se minhas calcinhas


não estivessem encharcadas agora, e você não fosse tão
fascinante, Wolf…’ A mente de Zoe girava com milhões de
pensamentos fragmentados, mas ela apenas conseguia balançar a
cabeça e engolir em seco, lambendo seus lábios em antecipação.

“Precisaremos continuar essa conversa mais tarde, do ponto em


que paramos…” ele sussurrou. Os lábios dele chegaram a tocar os
de Zoe enquanto ele falava, fazendo seus joelhos tremerem.
“Podemos continuar isso mais tarde?”

‘Dois podem jogar esse jogo, Wolf.’ Zoe pensou, sentindo-se


excitada com aquela situação. Empurrando o quadril contra os jeans
dele, ela provou seu ponto esfregando-se em círculos contra o
volume dele.

“Hm, Luvinhas, garota má! Você merece levar o troco, não?”

Wolf sibilou e grunhiu no ouvido de Zoe, a trazendo mais para


perto pelos quadris. A mão dele foi até seu delta sobre a roupa.
Zoe engasgou quando a pressão sobre ambos os pontos
aqueceram seu íntimo.

“Devo aumentar a aposta?” ela ergueu o queixo.

“Se eu te mostrar minha mão, você vai perder até as calcinhas,


Luvinhas.”

Com um arfar pesado, ele a farejou. “Mas eu não posso te dar a


atenção que você merece, agora.”

Mas apesar de suas palavras, Wolf a puxou pelos cotovelos e


tomou sua boca possessivamente.

Os joelhos de Zoe fraquejaram, seu íntimo latejou enquanto a


língua dele saboreava a dela. Quando seus lábios se separaram, ele
falou com voz rouca,

“Eu só queria me certificar que você não se esqueça de como é


estar nos meus braços. Mas podemos continuar essa conversa mais
tarde.”

Zoe não conseguia pensar em nada para falar. Wolf agarrou uma
lata de óleo e saiu.

Ela, por sua vez, se agarrou à beira da prateleira para ter certeza
de que seus joelhos não a trairiam. ‘Caraca… O que foi isso?! Sou
esse tipo de mulher?!’

∞∞∞
‘Enquanto eles estão pregando tábuas nas janelas e protegendo
a casa, eles devem ter muito a conversar. Eu me pergunto se eles
estarão conversando sobre mim… E também me pergunto… O que
fazer?’
Zoe fez o melhor para criar uma refeição apresentável, mas
devido às circunstâncias suas opções eram limitadas. Enquanto
cuidava disso, sua mente vagava. ‘Parece que a ligação deles é tão
forte, e nada pode abalar. Mas quem sou eu entre eles? E para
cada um deles?’

Ela pôs o café recém passado na garrafa térmica, agradecendo


saber passar café sem uma cafeteira. ‘Obrigada, tia Claire, pelo
tempo que passou me ensinando a cozinhar! Sinto tanto sua falta!’

Zoe percebeu tarde demais a presença de alguém chegando


bem próximo por trás. Mas foi uma surpresa agradável, na verdade.

“…! Justin!”

Justin envolveu a cintura de Zoe, descansando o queixo no seu


ombro. Seu toque frio a fez rir e se encolher de susto.

“Wolf me contou o que Marlo fez com você. Sinto muito, Zoe. Eu
confiava naquele canalha até o último momento. O que há de errado
comigo? Eu achava que ele era meu amigo. Passamos tantas
coisas juntos…”

“Não é sua culpa, Justin.” ela tinha certeza de que ele estava se
sentindo estúpido e culpado por isso. “Acho que foi uma série de
circunstâncias horríveis. Testemunhei a traição dele e…”

“Ainda assim…”

“Nada de 'mas'. É como culpar a si mesmo pelo que seu pai fez
ou faz. Não está em suas mãos. Por favor. Não se culpe.” Zoe se
virou nos braços de Justin, para encará-lo, tocando seu rosto com
ambas as mãos. Isso surpreendeu até a ela mesma. “Nós estamos
vivos, apesar de tudo.”

Aquilo trouxe um sorriso aos lábios dele.

“Você tem um coração generoso, Vênus.”


Ela não soube o que responder ao elogio inesperado, e Justin
continuou.

“Quero saber mais sobre você. E eu tenho medo de te perder.


De verdade.”

Ele prendeu o olhar no de Zoe, e ela sentiu vontade de chorar.

“Que bagunça! Como isso pode estar acontecendo conosco?!”


ela perguntou em voz alta, esperando que ele tivesse alguma
palavra de consolo.

“Eu acredito que isso só pode ser o destino, como eu já disse. O


destino te trouxe até mim.”

Aquilo era o que Zoe queria acreditar também, apesar das


palavras tristes de Justin a seguir.

“Eu não posso acreditar que ele vai te levar de mim…”

“Mas, tem o Wolf…” Ela tinha medo aonde isso poderia chegar.

Justin deu um passo para trás, escaneando seu rosto em busca


de pistas.

“Está tudo bem, Zoe. Se você acredita que o que aconteceu foi
um erro, apenas saiba: nem eu, nem Wolf vamos te forçar.”

“Como você pode falar por ele?”

“Nesse ponto, eu posso. Primeiro, porque sei que Wolf nunca


faria. Você pode pensar que ele forçou o casamento, mas as coisas
não aconteceram bem assim, na verdade.”

“Comecei a suspeitar isso, agora.” Ela admitiu.

“Segundo, mesmo que ele tentasse, eu não deixaria acontecer.


Eu nunca permitirei que uma mulher seja forçada a algo.”
‘Sei o porquê… Ele viu sua mãe sendo abusada por Walter. E
não quero nem pensar no que Wolf vivenciou e testemunhou…
Acredito que nenhum deles me forçaria a nada.’ Zoe racionalizou.

“Bom, Wolf precisa de mim no telhado. Falamos mais disso mais


tarde.”

“Ok. Por favor… Sejam cuidadosos. Os dois.”

Justin abriu o sorriso mais lindo que ela já tinha visto. “Que bom
que você não o odeia.”

“Não. Eu estava enganada sobre Wolf. Na verdade…”

“O quê?”

“Gosto da pessoa que ele é.”

Justin ergueu uma sobrancelha em uma pergunta muda, e


depois gargalhou abruptamente. “Que zona! Fodeu tudo!”

“É, acredito que sim…”

“Nós ainda temos que descobrir como as coisas vão ficar. E


enquanto você me quiser, eu não vou desistir de você.”

Justin se inclinou para Zoe, os lábios dele roçando os dela


suavemente.

Zoe não resistiu e pressionou seus lábios contra a boca de


Justin, tentando apaziguar a sede que sentia por ele.

Justin a puxou ao encontro do peito. Suas línguas duelaram e


dançaram como se fosse o último beijo de ambos. E talvez fosse.

“Justin!” ela sussurrou. Seu peito parecia que iria explodir de


agonia. Zoe não estava pronta para desistir de Justin.
Mas para ser honesta, ela também não estava pronta para abrir
mão de Wolf.

Quando o beijo acabou, suas testas se tocaram, seus narizes se


roçaram. “Teremos que resolver isso, e logo.” Zoe sussurrou.

Justin concordou com a cabeça e acariciou seu rosto com as


costas da mão.

“Nós vamos. Por favor, não se preocupe.”

De algum modo, as palavras dele deixaram Zoe mais calma. Ela


sentiu que poderia voltar a respirar de novo.

“Então você acredita que isso pode acabar bem?”

“Sim. Eu acredito. O melhor para você. Eu prometo.”

Justin a deixou após aquelas palavras, e Zoe ouviu os irmãos se


provocando amigavelmente sobre algo trivial logo após.

O comportamento jovial entre eles a fez acreditar que tudo


poderia realmente terminar bem.

∞∞∞
Antes que ficasse muito tarde e muito escuro, Zoe tomou um
banho rápido e trocou as roupas.

A tempestade caia sobre Naviedo como se Netuno tivesse


decidido punir a ilha.

Estava escuro como noite, mas eram apenas 4 da tarde. Zoe se


encolhia a cada vez que ouvia o estrondo dos trovões, e o vento que
uivava açoitando e sacudindo a casa. Felizmente, eles tiveram
notícias pelo rádio de que o helicóptero tinha chegado ao continente
e todos estavam sãos e salvos.

Os três fizeram a refeição e se abrigaram no quarto de Justin em


nervosa expectativa.

Ensanduichada entre os irmãos, Zoe agarrava os braços deles


toda vez que um relâmpago brilhava no céu ou um trovão rugia.

“Me desculpa…” ela pedia a cada vez.

“Ei, Vênus, não fica assim. Você passou por algo pior, lembra-
se? Você ficou literalmente em mar aberto! E sobreviveu!”

“Tsk. Luvinhas, pare de arrancar sangue do meu braço com suas


unhas!” A falsa repreensão de Wolfgang era feita em tom irônico e
indiferente. “Se você não foi atingida por um raio a céu aberto, não
será agora que isso acontecerá.”

Zoe arregalou os olhos. Wolfgang manteve o olhar brilhante e


risonho enquanto seu tom sarcástico amaciava apenas um
centésimo. “Os raios tiveram chances no mar e no penhasco.
Nenhum raio entrará nessa casa para te atingir nessa cama. Te
prometo.”

‘Eles têm argumentos incontestáveis…’ ela pensou, mas


justificou para os irmãos Düssel com voz manhosa.

“Eu ainda estou com medo… É irracional e mesmo que eu já


tenha passado por coisas muito piores e mortais do que um ciclone
e uma tempestade, eu não consigo deixar de me assustar com
trovões.”

Justin segurou sua mão e Wolf deu tapinhas em sua cabeça


para confortá-la. Zoe ocultou seu sorriso sapeca na luminosidade
fraca do quarto. Eles não precisavam saber que já conseguiram
acalmá-la. ‘Eles podem me mimar mais um pouquinho…’
Para distrair a todos e a si mesma, Zoe puxou o assunto para
outras coisas que não fossem a tempestade.

“Então, vamos usar esse tempo para nos conhecermos melhor.


O que acham?”

Depois de um momento de silêncio, Wolf comentou levemente


sarcástico,

“Entãooo, quem de nós parece que não está cansada?”

Justin riu.

“Essa é uma coisa que gosto em Zoe. Olhando para ela, não dá
para imaginar que esse corpinho tem tanta energia,” ele falou para o
irmão mais velho. “Ela resistiu e sobreviveu em mar aberto… isso foi
incrível!”

Wolf olhou para Zoe de um jeito que fez cada pelo do seu corpo
se arrepiar. Os olhos dele estavam cheios de admiração, compaixão
e mais.

“Estou orgulhoso de você, Luvinhas. E feliz que você não tenha


desistido.”

“Não me façam chorar. Nem me façam lembrar,” ela respondeu.


“Estou tão atônita sobre minha reserva de energia quanto vocês. Eu
não era assim. Foi como se eu tivesse descoberto minha força
depois que eu caí daquele iate. Eu mudei.”

“Ninguém muda.” Wolf disse, sério. “Você só começou a viver


sua própria verdade.”

Casualmente, Zoe escorregou as mãos no braço de cada um


deles, repousando nos bíceps definidos.

“Ei, garotos, o que vocês mais gostam?”

“De onde veio essa pergunta, do nada?” seu marido perguntou.


“Sim. O que está passando em sua mente. Zoe? Eu nem sei por
onde começar…” Justin concordou com o irmão.

“Ah, eu só não quero falar sobre tragédia, mortes e problemas.


Tem uma tempestade lá fora. Me distraiam.” Ela pediu.

“Conheço o seu tipo. Você nunca me enganou. Você era a garota


‘chefinha’ que ficava mandando nos garotos no colégio…” Wolfgang
riu.

Zoe não conseguiu manter a seriedade depois disso.

“Tenho que levar o meu título de deusa à sério…”

Justin ficou boquiaberto a princípio, depois gargalhou. “Meu.


Senhor! O que foi que eu fiz?!”

“Ok, eu começo.” Wolf tomou a iniciativa em tom malicioso.


“Gosto do meu whiskey ao estilo cowboy… E minhas garotas
também.”

Zoe pegou a referência de duplo sentido na hora. ‘Estilo cowboy


é sem gelo ou… quando a mulher fica por cima.’

Por instinto, Zoe beliscou o abdômen rígido dele o mais forte que
conseguiu. Ela não conseguiu evitar ficar ofendida. ‘Como ele pode
falar essas coisas?! Ele é meu marido, afinal!’

Para sua surpresa, Wolf também a beliscou, porém, mais leve.

“Ai!” ela protestou.

Com um olhar significativo e um sorriso, ele explicou. “Eu


também gosto de devolver todo o prazer que recebo.”

“Oh! Eu não estava falando sobre sexo!”

“Desculpa. Pensei que fosse tema livre.”


“Seu harém de garotas não era o tema.” Mesmo se sentindo uma
hipócrita, Zoe estava surpresa por descobrir o quão possessiva era
a respeito do homem com quem tinha casado. ‘Meu Deus, eu
preciso de terapia urgentemente…’

Wolf respondeu imediatamente. “Ah, não é como se eu tivesse


tempo para, ou quisesse, ter um harém. E eu não curto sexo casual,
de qualquer maneira.”

A resposta pensada dele a fez engolir em seco e refletir. ‘Ele,


que pode ter um harém ou qualquer mulher que queira… Como ele
pode falar isso? Wolf deve odiar o estilo de vida promíscuo e
pervertido de seu pai, e escolheu ser diferente.’ Mas ela não ia tocar
neste assunto agora.

“Seja como for… E você, Justin?” Virando-se para o mais novo


dos Düssel, ela perguntou.

Justin respondeu candidamente.

“Não vou bancar o espertinho. Eu sou bem simples de adivinhar.


Gosto do mar, de beijar, e experimentar sabores…”

A mente de Zoe vagou imediatamente para isso, e ela corou


violentamente.

Wolf se esticou e deu um cascudo na testa do irmão.

“Corta essa, Don Juan. Eu também gosto de beijar e


experimentar as partes quentes, suculentas, da mulher que eu
gosto…”

“Então, vocês dois se comportam como dois adolescentes


quando estão perto um do outro?” Ela provocou os dois.

“Haha. Não nos julgue. Isso significa que estamos à vontade


perto um do outro. E perto de você também, Vênus.” Justin
justificou.
Seu irmão concordou. “Uhumm. Isso significa que podemos
relaxar, certo?”

“Na verdade, se isso significa que está tudo bem entre nós…
Estou de boas com isso.” Em sua mente, porém, ela sabia. ‘Sei que
ambos são homens perigosos. Mas eles também têm um lado doce.
E eles me escolheram para que eu visse isso.’

“Acredito que sim. Mas chega de falar de mim. Me digam, vocês


dois: qual a coisa que vocês mais odeiam?”

“Walter,” Justin falou sem pestanejar.

“Digo o mesmo,” Wolf concordou.

Ambos os irmãos falaram aquilo com segundos de diferença.


Zoe engoliu em seco, encarando um e depois o outro.

Os olhos de Justin até reluziam de ódio contra o homem que os


trouxe ao mundo. Ela não duvidava que aquilo fosse terminar em
tragédia, e levou as mãos aos peitos de ambos, esfregando sobre
seus corações.

“Eu nunca tive a experiência de viver com um pai tóxico, mas


acredito que este homem é um monstro. A fama dele o precede.”

Os irmãos se olharam por cima da cabeça de Zoe, e ela ficou


com a impressão de que eles sabiam mais sobre ela do que ela
mesma.

“O quê?”

Zoe notou um sinal sutil que Wolf fez para o irmão não contar
nada.

“Para dizer a verdade, estou querendo um tempo desses


assuntos pesados essa noite,” ele disse, desviando o assunto
completamente.
“Então vocês dois têm um pacto, não é?” ela perguntou.

“Um pacto?” Wolf deu um sorrisinho ao perceber a sagacidade


de Zoe.

“Sim. Vocês dois decidiram se unir para me proteger.”

“E isso é ruim?” Justin quis saber.

“Eu não sei se gosto disso. Se vocês estão escondendo as


coisas de mim…” ela respondeu, olhando para um e outro.

“Te prometemos que você saberá toda a verdade em breve. Mas,


Zoe, você mesma disse, você passou por muita coisa,” dessa vez o
olhar de Wolf era sério e preocupado.

“Ok. Confiarei em vocês dessa vez…” ela sorriu. Para ser


sincera, ela confiava neles o tempo todo, agora. Zoe não sabia o
que eles viram em nela, mas ela se sentia bem ao lado deles.

“Você não está mais estremecendo, então deve ser verdade.”


Wolfgang notou.

“O que posso dizer? Vocês apareceram nos momentos mais


difíceis da minha vida, e estenderam a mão para mim. Os dois.” ela
falou o que sentia. “Figurativamente e literalmente.”

Ela percebeu que eles ficaram tensos, cada um com seus


próprios pensamentos. Se sentindo um pouco idiota por expor seus
sentimentos em voz alta, ela falou, um pouco nervosa e rindo.

“Ok. Isso é muito meloso para vocês dois. Vamos mudar o clima!
Me digam: o que vocês gostariam de estar fazendo nesse exato
momento?”

Depois de um momento de silêncio, Justin suspira e diz,

“Eu adoraria te beijar nesse exato momento.”


Capítulo 13
“Quero te beijar, Zoe. Para começar.”
Como se para efeito dramático, relampejou e um trovão
ribombou segundos depois. Zoe quase teve um ataque cardíaco.

O olhar dela desviou para Wolf ao seu lado. Ele se mexeu


desconfortavelmente, prendendo o fôlego. Justin zombou,

“Eu não estou falando nenhuma novidade para vocês. Caramba!


Eu não minto para Wolf, e não quero começar agora.”

“Eu só posso decidir por mim, Justin. Só Zoe pode dizer o que
ela deseja,” disse o mais velho.

“Espera. Vocês dois conversaram sobre isso?” ela quis saber.

“Claro. Mas não chegamos a lugar nenhum, como se pode


imaginar.”

Zoe encarou Justin, que acabara de falar, em choque. Ele


abaixou os olhos abalado pelo seu olhar intenso.

“Luvinhas. Me ouça.” A voz grave de Wolf a deixou tensa. Zoe se


virou para ele enquanto ele se aprumou contra a cabeceira.

“Se sua preocupação sou eu, o que eu acho que não é… Vá em


frente. Eu ainda não sei como vou me sentir a respeito disso,” ele
falou, “Mas estou intrigado sobre quão bem estou levando isso tudo,
para falar a verdade.”

Zoe arregalou os olhou, com o coração saindo pela boca. O que


ela estava ouvindo era real?
Wolf tirou suas dúvidas. “Contanto que você queira, é claro. Você
deve saber a essa altura que é você que tem a última palavra.”

“Então, tudo o que tenho que fazer é… escolher uma opção?


Nenhum de vocês vai ficar…” ela não sabia como colocar em
palavras suas preocupações.

“Não seja tão inocente, Luvinhas. Eu ainda não sei como vou me
sentir sobre isso. Estou te dizendo que,” ele deu uma pausa,
olhando para os outros dois. “É sua escolha, e que eu vou… dançar
conforme toca a banda.”

“Você não consegue escolher entre nós?” Justin perguntou a ela


diretamente.

O coração de Zoe batia tão rápido no peito que ela se sentia até
tonta.

Wolf observou seu rosto, acariciando seus cabelos levemente.


Justin se aproximou, tão agitado quanto Zoe.

“Não tenha medo. Apenas escolha um de nós.”

Por um breve momento, Zoe pensou que aquilo tudo era uma
piada, e que eles estavam apenas a usando. Mas ela percebeu que
era real.

Aquele não era o Modus Operandi deles. Era real para eles
também. O amor fraterno deles não tinha limites, ela descobriu. ‘E
eles não querem me magoar também. Eles já viram mulheres
destruídas antes. As mães deles, provavelmente. E se eu fosse
pensar só na atração… Eu também não conseguiria escolher entre
eles.’

Ela os olhou por um momento com um sorriso paralisado no


rosto.
‘Se for pensar no homem com quem quero passar o resto da
vida… Vixe.’

“O que quer que você está pensando todo esse tempo olhando
para nós, Luvinhas, isso está me deixando louco!” Wolf confessou,
deixando sua impaciência transparecer. “Você vai saber assim que
nos beijar. Isso dirá a verdade que seus lábios não conseguem
dizer.”

Zoe perguntou, “Você é sempre assim?”

“Inteligente e assertivo? Sim, sempre.”

“Não. Mandão.”

“Não na cama, não se preocupe. Sou bem democrático nos


lençóis. Você pode mandar, se quiser.” Ele deu de ombros. “Eu não
preciso afirmar minha dominância na cama. Isso já é assumido.”

Isso fez Justin gargalhar alto.

“Quanta balela. Bom, da minha parte já não vou prometer nada


sobre isso,” ele falou virando-se para Zoe, “mas vou sempre te
escutar.”

“O que vocês estão fazendo? Campanha eleitoral?” Ela mal


acreditava no que ouvia.

“Não, eu me recuso a isso.” Wolfgang olhou para o irmão dessa


vez. E Justin insistiu com Zoe.

“Vamos. Não pensa muito. Só beija um, e depois o outro.”

“Eu nunca na vida imaginei que me dariam uma oportunidade tão


louca dessas.” Zoe confessou.

“Você tinha uma visão muito limitada da vida antes, Luvinhas.”


Com um suspiro, Zoe admitiu que sim, deliciada com a
constatação de que ambos estavam completamente de acordo com
isso.

"É verdade. As últimas semanas abriram minha mente para


muitas coisas. Incluindo, isso:"

Se virando para Wolf, Zoe olhou dentro dos olhos dele, enquanto
enfiava os dedos em seus cabelos luxuriantes.

Ele não perdeu a deixa.

Wolf tinha as pupilas dilatadas, assim como as narinas, enquanto


ele se inclinou para Zoe e os lábios dele tomaram os dela.

Ela não sabia explicar o porquê, mas havia algo dúbio e


excitante no beijo dele, e como ele a seduzia para mais. Zoe não
podia se contentar em apenas ser beijada_ ela era levada a beijá-lo
de volta, e ter mais dele. A seduzi-lo.

As mãos de Zoe vagaram pelo peito dele, apertaram os bíceps,


enquanto ele agarrou seu bumbum de um jeito que a fez querer
mais.

Zoe o tinha escolhido primeiro porque ela não podia ficar


indiferente a ele. Ele provocava suas emoções. Agora ela se
perguntava se os seus sonhos apenas mostravam que ela desejava
que ele viesse atrás dela.

Que ele não desistisse dela.

Antes que Zoe montasse Wolf, Justin a tirou dos braços dele,
engolindo em seco enquanto os olhos estavam fixos nos seus lábios
rosados e inchados.

Os lábios dele se curvaram num sorriso e Zoe passou a língua


sobre eles sensualmente, esperando a ação dele. Justin a beijou.
Isso refrescou a memória de Zoe de quão deliciosos os beijos de
Justin eram.

Suas coxas derretiam enquanto os lábios e língua de Justin a


levavam ao paraíso.

Quando o beijo terminou, Justin e Zoe estavam sem fôlego e


definitivamente excitados. Ela deu uma olhada em Wolf.

Ele estava muito sério, mas seu olhar estava escuro e seus
lábios, levemente entreabertos, o peito se movendo rapidamente.

‘Ele está tão excitado quanto nós…’ Zoe concluiu. ‘Será que…
Sou fascinada por Wolf, mas… estou apaixonada por Justin? Ou
será que é o contrário?’

Zoe afofou o travesseiro, e deitou sua cabeça nele, com uma


expressão sonhadora.

“Garotos! Isso foi incrível! Mal acredito que acabei de beijar dois
caras gatos. Foi um sonho realizado!”

Wolf gargalhou ao ouvir sua confissão dramática e adolescente.

“Então, é isso o que patricinhas como você sonham? Para ser


honesto, eu encontrei seu celular e…”

“Não fale sobre meu celular.” Zoe não queria pensar no histórico
do seu navegador agora.

“Zoe pode ter sido uma patricinha toda princesinha no passado,”


Justin botou fogo na lenha, a expondo, “Mas ela tentou ser uma
garçonete estilo Hooters e gostou!”

“Vocês se juntaram para pegar no meu pé, é isso?” ela reclamou.

“Ei, Wolf, o que você acha disso?” o mais novo perguntou.

“Acho que quero ouvir a opinião dela primeiro.”


Dois pares de olhos marotos se voltaram para Zoe. Por um
momento, a tempestade lá fora foi esquecida.

Eles queriam que ela decidisse.

“Hm…” Zoe ponderou por um breve momento se ela estaria


arriscando muito com o que queria dizer a seguir. Mas seu bom
senso perdeu a aposta para a excitação que ela sentia ao ser
desejada por ambos tão abertamente.

“Eu preciso refazer o teste…” Zoe ousou dizer em voz alta seu
desejo mais secreto. Ela aguardou a reação deles com o coração na
boca.

Wolf ergueu uma sobrancelha. Justin não escondeu um


sorrisinho safado.

“Bem, bem… Parece que sua deusa quer meus beijos, mano,”
falou Wolf, capturando ma mecha dos seus cabelos para trazer Zoe
para ele.

“Nah… Parece mais que sua gatinha safada adora meu corpo,” o
mais novo retrucou, e entrelaçou os dedos de Zoe com os dele, e o
corpo dela se virou naquela direção.

“Eu não sei para onde ir primeiro. Meu Deus, vocês são mais
malucos do que eu!”

“Ei! Espere sua vez.” O irmão mais velho usou a mão livre para
zombeteiramente empurrar o rosto de Justin para longe.

Mas Justin capturou o queixo de Zoe e roubou um beijo.

Enquanto eles atacavam e defendiam-se um do outro, de


brincadeira, Zoe era assaltada por beijos de ambos em seu rosto,
pescoço, lábios.

“Hmmm…” Wolf gemeu em sua boca quando ele a trazia para si


em um longo e sensual beijo.
Zoe correspondeu à altura enquanto Justin beijava seu ombro,
nuca, pescoço. A excitação daquele momento a envolvia em uma
névoa de luxúria.

Dois pares de mãos percorreram por cima e por baixo de seus


pijamas, apertando o corpo de Zoe exatamente como ela mais
gostava.

As mãos dela também vagavam pelos corpos deles, sentindo os


músculos rijos sob as peles, e os volumes duros e pulsantes sob
suas boxers.

“Você gosta disso?” Justin perguntou, erguendo sua camiseta e


mordiscando a parte de baixo dos seus seios. Ele capturou seu
mamilo entre os dentes, e enroscou a língua, sugando habilmente
enquanto a outra mão massageava o outro seio e beliscava o
mamilo.

“Aw… Tão bom!”

Zoe se contorceu e concordou, enquanto Wolf a beijava e


esgueirava os dedos para dentro de suas calcinhas.

“Eu acho que você não precisa mais disso.” Ele deixou seus
lábios e sussurrou no ouvido de Zoe. Tudo o que ela fez foi arquear
o torso dando mais acesso a Justin.

Enquanto alguém removia suas calcinhas, os dedos de Wolf


tocavam seu botão inchado, e seus quadris dela se moviam para
frente por vontade própria.

“Oh, meu D…!” As sensações e emoções a subjugaram por um


momento, e Zoe temeu perder o controle.

“Preciso diminuir o ritmo. Quero vocês, rapazes, mas… Eu acho


que não consigo lidar com os dois ao mesmo tempo.”
O combo dos dedos de Wolf circulando seu clitóris enquanto a
boca de Justin estava em seu mamilo era distração o bastante, mas
Zoe confessou isso desculpando-se, e a voz falhando.

“Tudo bem. Não fique com medo,” Justin falou, parando o que
estava fazendo para apertar os braços de Zoe e beijar acima do seu
coração.

Wolfgang também parou de provocá-la e apenas apertou seu


monte-de-vênus carinhosamente. Ele beijou seu ombro com ternura.

“Não se preocupe. Confie em nós. Vamos aproveitar esse


momento. Você pode nos mostrar o que é bom para você…”

“Você comanda,” disse Justin, reafirmando o que o irmão


dissera.

‘A ideia soa boa. Porque eu tenho que admitir para mim mesma
que eu também não quero parar…’ ela pensou.

Os olhares cheios de luxúria deles tentavam passar confiança a


ela, mas Zoe via como eles devoravam seu corpo com os olhos.

“Então, você e você, tirem as mãos!”

“Sim, Senhora!” Justin deu um risinho, e seu irmão concordou


com os olhos brilhando de malícia, mas a voz grave e rosto sério.

“Como desejar.”

Ambos obedeceram, claramente achando fofinho que Zoe


estivesse mandando neles.

Wolf já tinha deixado claro que ser o dom não era o fetiche dele.
E Justin já tinha mostrado que estava aberto a novas experiências.

Eles se recostaram em seus travesseiros, esperando qual seria o


próximo passo de Zoe.
Os olhos de Zoe foram atraídos para aquelas boxers bem
recheadas e quase estourando. Ela lambeu os lábios, perdida
naquela visão e nas suas loucas fantasias.

“Muito bem, maridinhos. Eu acho que posso tentar dar prazer a


ambos. Mas…”

Os irmãos ergueram as sobrancelhas inquisitivamente,


mostrando assim alguns traços de semelhança física mais
evidentes.

“MARIDINHOS?!” Wolf protestou.

“MARIDINHOS?!” Justin balançou a cabeça em descrença diante


do termo tão brega. Zoe deu um sorriso sapeca.

Ficando de pé no colchão, ela deixou um dedo percorrer do vão


entre os seios até sua fenda. Os olhos deles acompanham o
movimento como dois gatos famintos.

“Sim. Maridinhos. Por uma noite. Vocês querem?” O sorriso dela


intensificou-se.

Os sorrisos de lobos famintos se intensificam conforme seu dedo


percorre o caminho na direção sul.

“OH. yes.” Wolf concordou enfaticamente.

“Completamente,” disse o outro irmão.

Zoe estava adorando ser a rainha e centro das atenções.

“Wolf, me faça gozar. Justin, goze pra mim.”

“Você vai ter que pagar na mesma moeda, Vênus. Só dizendo…”


Justin alertou, concordando.

“Vamos nos certificar que ela fique ansiosa por retribuir o favor.”
Seu irmão sugeriu.
Wolf chegou mais perto de Zoe, que estava em pé, e agarrou
suas pernas com firmeza, erguendo o olhar para ela.

A parte interna das coxas de Zoe se contraíram quando ele


respirou perto do seu delta e mordiscou de leve seu monte-de-
vênus.

“Os trovões não serão a única coisa a te fazer tremer agora…”


ele murmurou.

“Por que eu acho que eu não consegui me fazer entender…?”


Zoe questionou. Mas quem respondeu foi Justin.

“Oh, você conseguiu sim. Nós vamos fazer exatamente o que


você pediu. Nada mais.”

Justin esfregou a parte da frente de suas boxers


provocativamente, atraindo o olhar dela. Zoe engoliu em seco.

“Por favor, aproveite o show. Sou eu idolatrando você com meu


corpo, Vênus.”

Devagar, ele revelou seu belo, inchado e duro mastro, deixando


Zoe de boca seca. Ao mesmo tempo em que a língua de Wolf, firme
e pontuda, provocava seu botão, fazendo latejar e enviando
pequenos e prazerosos choques por todo o corpo de Zoe.

A experiência de ter sua xana devorada enquanto um homem


lindo e gostoso estava se masturbando para e por ela era excitante.

Justin não tirava os olhos de Zoe e do que o irmão dele fazia


com ela. Zoe brincou com seus seios para ele, se exibindo.

Wolf não tinha pressa em explorar cada parte de Zoe, os dedos


alcançando lugares sensíveis, fazendo os joelhos dela dobrarem

“Ohh, Wolf! Isso é tão bom! Nãooo, sim… Mais, faz mais!” ela
praticamente miou.
Curvando seu indicador para Justin, Zoe o chamou
sedutoramente. Quando ele se aproximou, ela curvou seu corpo e
pegou aquele pau lindo, deu algumas bombeadas e o colocou na
boca com ruídos deliciosos.

“OH, caramba, sim, Vênus! Sua boca é tão gostosa! Tão


quente!” Justin gemeu alto.

Zoe nunca havia imaginado que estaria com tanto tesão assim
em sua vida. Tudo o que ela queria era dar e receber prazer.

O prazer acumulado estava chegando ao limite, seu interior


inchado e pulsante querendo mais.

O primeiro orgasmo chegou de repente, e Zoe teve um apagão,


sentindo suas pernas amolecerem e ser sustentada pelo perto firme
do homem entre elas. Wolf continuou estimulando, esfregando os
pontos certos dentro e fora de você.

Zoe entrou em um transe hedonístico. Wolf então a deitou na


cama e se posicionou entre suas pernas, esfregando aquele pau
gostoso em sua entrada. Justin se movia em sua boca devagar,
sensualmente, aproveitando enquanto Zoe o engolia pouco a pouco,
cada vez mais fundo, enquanto massageava as bolas dele.

“Mhnnn, Vênus…!”

“Mgnn…!” ela queria gemer, mas era impossível.

Wolf se encaixou dentro de sua xana inchada e apertada, a


preenchendo completamente. Ele enfiou os dedos em seus cabelos.

“Cacete, Zoe. Você é quente como lava!”

Ela rebolou provocativamente, ouvindo Wolf se engasgar


deliciado e entrar mais fundo dentro dela, se isso fosse possível.

Wolf encontrou o ângulo certo dentro de Zoe e ela acabou


gemendo com Justin em sua boca.
“Cuidado, baby.”

Os três ajustaram o ritmo de seus corpos, e logo Zoe sentiu


Justin inchar consideravelmente, as bolas dele vibrando em suas
mãos.

“Eu vou gozar pra você, Vênus…”

Ele segurou o rosto de Zoe ternamente com as duas mãos,


saindo da sua boca. Ela arqueou seu torso para ele, oferecendo os
seios, e logo ele os cobriu com jatos de sêmen quente.

Zoe e Wolf não duraram muito mais que isso. Ela se retorcia e
enfiava as unhas nos braços dele, enquanto gozava de novo.

Algumas estocadas mais tarde, foi a vez dele. Sua boca estava
sendo assaltada pela de Justin, enquanto Wolf abraçava o corpo de
Zoe, tremendo.

“Uau! Você é maravilhosa. Maravilhosa!”

Quando seu próprio corpo parou de tremer por conta do intenso


prazer, Zoe reabriu os olhos.

Em cada lado de Zoe, dois homens com rostos extasiados,


bochechas rosadas, e peitos ofegantes.

O braço de Justin enlaçava sua cintura, enquanto Wolf brincava


com seus cabelos distraidamente, as pernas dele ainda enroscadas
com as suas.

“Isso foi quente pra caramba!” Justin constatou em voz alta,


eufórico.

“Sim. Eu gostei. E você?” Zoe concordou, e virou-se para Wolf


ansiosa pela resposta dele.

“Sim. Foi quente como uma sauna no inferno!”


Zoe e Justin riram do comentário inesperado de Wolf, e ele
beliscou o nariz de ambos.

“Gosto de vocês, e é por isso que foi gostoso.”

"É verdade. Essa noite estava em nosso destino. Que bom que
pude dividir isso com vocês. Foi incrível," Justin declarou.

Ela beijou as bochechas deles para expressar sua opinião sobre


a experiência compartilhada.

“Obrigada, rapazes.”

E você se sente como a coisa mais preciosa do mundo quando


vocês três tomam uma ducha e se aninham em lençóis limpos. A
endorfina do sexo e o cansado de um dia cheio de emoções logo
dominou os corpos de vocês, e o trio dormiu, emaranhado.

∞∞∞

Zoe abriu seus olhos, se sentindo suada.

‘Talvez porque eu esteja ensanduichada entre dois caras


gostosos e sexies?’

Eles estavam dormindo pesadamente, suas faces másculas e


sensuais em repouso. Wolf estava de conchinha com ela. Justin
havia jogado uma perna e um braço sobre Zoe.

Ainda extasiada pela situação inusitada que vivia, Zoe sorriu. A


tempestade lá fora parecia fazer parecer com que aquela
experiência não fizesse totalmente parte da realidade.
‘Hm, talvez eu devesse… provocar os dois. Eu não vou perder
essa oportunidade…’

Ela sabia, lá, no fundo, que isso acabaria em breve.

Devagar, Zoe pressionou seu traseiro contra o volume de Wolf,


rebolando e esfregando. Ao mesmo tempo, ela acariciou a virilha de
Justin.

Ambos acordaram praticamente ao mesmo tempo, ou pelo


menos é o que pareceu a Zoe.

A princípio surpresos, os irmãos reagiram de modos similares à


falta de inibição da mulher entre eles.

Wolf foi trazendo seu traseiro para uma posição mais acessível,
para se esfregar diretamente contra sua xana. E Justin abaixou as
boxers e guiou sua mão para o pau dele, agora livre, para que ela o
continuasse masturbando.

O coração de Zoe estava acelerado por conta de sua própria


ousadia, e, ao mesmo tempo ela estava adorando ser a garota
safada.

“Então, essa é a sua resposta para nós?”

Wolf mordiscou seu lóbulo, e expôs um dos seios de Zoe,


pinçando seu mamilo com os dedos em V.

Ela engasgou e concordou com a cabeça, arqueando o corpo.


Ele se sentia tão safada, tão desejada!

Justin se inclinou em sua direção e a beija longamente, um beijo


sensual e molhado enquanto ela movia sua mão.

“Vocês não estão bravos comigo? Você está, Wolf? E você,


Justin?”

“Eu acho… Que você é mais que o bastante para dois.”


Wolf estava ocupado afastando sua calcinha para o lado. Zoe
sentiu seus dedos hábeis contra sua entrada já encharcada.

“Não. Acho que gostei de ter as pessoas que eu gosto comigo na


cama… Mas isso significa que você vai ter muito trabalho,
Luvinhas…”

Os dedos de Justin vão para o seu clitóris, e Zoe gemeu alto


quando Wolf entrava nela devagar com dois dedos, enquanto Justin
continuava massageando seu botão.

“Eu não sei se eu vou conseguir lidar com isso…” ela exclamou,
assaltada por todas aquelas sensações novamente.

“Ah, isso é um fato.” Justin provocou. “Suponho que você sabe


que está em apuros agora. Dois de nós?”

“Apuros…?”

“É. Eu não vou conseguir ficar só olhando…”

Ela assentiu. “Eu quero vocês. Por favor, eu estou ardendo.”

“Nós vamos cuidar disso.”

Justin sugava seus mamilos, Wolf mordiscava teu pescoço,


enquanto os dedos deles brincavam com sua xana.

Zoe não se importava em registrar mais quem estava


provocando seu clitóris e quem estava tocando o seu ponto
sensível, por dentro.

Tudo o que ela sabia era que estava ficando ainda mais
encharcada enquanto eles a provocavam com o que faziam.

Novamente ela gozou rápido, enfiando suas unhas nos ombros


deles e chamando seus nomes.
A tempestade lá fora abafou o som do seu escândalo, mas antes
que ela se recuperasse, Justin se esgueirou entre suas pernas,
saboreando seu néctar. A língua dele acalmou seu ponto
supersensível por alguns segundos, então voltou a estimular.
Delicioso como sempre.

Zoe estendeu a mão para acariciar o magnífico mastro de Wolf e


o acariciou em seu comprimento, também massageando suas bolas.

“Isso é muito bom, Luvinhas. Mas eu quero que você o coloque


na sua boquinha linda.”

Zoe lambeu os lábios, e ele mordeu os dele, aprovando. Logo,


ela estava tratando o pau de Wolf como um delicioso pirulito e o
recebendo centímetro a centímetro em sua boca.

A liberdade de estar com dois homens ao mesmo tempo deixava


a mente de Zoe enevoada e leve. Ela se sentia como uma super
fêmea, uma verdadeira deusa do amor. Ela podia atraí-los, tomá-los,
ser dona deles. Zoe se sentia totalmente empoderada e desejada.

Ela sentiu o mastro de Wolf inchar ainda mais em sua boca, e


ele avisou, com a respiração pesada, “Eu estou muito perto, Zoe.”

Zoe prendeu seu olhar no dele, fazendo seu melhor para fazê-lo
gozar para você enquanto sentia Justin erguer seus quadris,
entrando dentro dela.

O sentimento foi maravilhoso, e Zoe rebolou para acomodar tudo


aquilo, faminta por ele também.

Seu íntimo o envolveu, e Justin gemeu e enfiou dos dedos nas


carnes do seu traseiro.

Zoe sentiu a primeira estocada ao mesmo tempo que Wolf


jorrava o primeiro jato de sêmen em sua boca.
Ela sentiu o sal dele e o saboreou. A reação dele, de pupilas
dilatadas, a deixou muito excitada. Ele mal resistiu de tombar sobre
ela e deitou-se ao seu lado, arfando em êxtase.

‘Que ruim pra mim que acho o pau dele gostoso e quero mais,
muito mais dele.’

“Sua gostosa! Perfeita!” Wolf exclamou mais agitado que seu


normal, beliscando sua bochecha. “Sua resistência é fantástica,
Zoe. Você tem certeza de que é humana?”

Justin a trouxe para o colo dele agora que Zoe não estava mais
ocupada com o irmão dele. Ambos se moveram em uníssono,
ondulando seus quadris sensualmente, sem pressa. Wolf observava
o show.

“Não… Eu sou uma deusa. E tenho nove vidas.” Ela conseguiu


enfim falar e controlar o ritmo agora, adorando ser observada por
Wolf enquanto Justin estava enterrado nela.

Zoe chamou seu marido com o dedo, o trazendo para um beijo


longo e de tirar o fôlego. Sua mente estava tomada pela luxúria. Seu
ritmo intensificou, e Wolf se juntou a eles colando o torso em suas
costas e traseiro, brincando com seus seios.

Ela estava tão perto de outro orgasmo, e sabia que Justin


também estava. Mas ela não queria que isso termine tão cedo.

Então Zoe o deixou escorregar de si, mas foi imediatamente


preenchida por outro mastro, por trás.

“Ahh! Gostoso!”

Depois disso, tudo foi um borrão de prazer em sua mente. Seu


corpo ficou um pouco dolorido e algumas partes, inchadas, mas ela
estava em êxtase total.
Wolf bombeava dentro dela, e o mastro de Justin deslizava entre
suas dobras pela frente, tocando seu clitóris a cada vai e vem.

Ela estava ensanduichada entre eles, sua xana latejando até que
Zoe mais uma vez se contorceu em seu clímax, gemendo alto.

“Ahhh, meu Deus! Isso é tão bom!”

Tudo o que ela registrou depois disso era que os três gozaram
até não poder mais. Mas Zoe não saberia se lembrar de todos os
detalhes.

“Isso é o êxtase total?” Justin perguntou, arfando.

“Acho que sim,” Zoe respondeu, no mesmo estado.

“Se não é, o que poderia ser?” o mais velho deles


complementou.

‘Olha o Justin com esse sorriso enorme e cansado, e olhos


inchados. Mas eu sei que não estou melhor.’ ela olhou para sua
esquerda, e depois para a direita. ‘E Wolf, com esses cabelos
desgrenhados e essa boca vermelha e inchada, o fazendo parecer
mais jovem!’ Suas coxas tremiam devido à maratona de prazer, e
ela sentia que não poderia se desgrudar da cama por um tempo.
‘Poxa, eu queria ficar com eles para mim para sempre!’

∞∞∞
Porém, como Wolfgang tinha se impressionado, para seu
tamanho Zoe tinha uma resistência invejável, e mais uma vez
acordou antes deles.

Desta vez, ela deixou a cama o mais silenciosamente que


conseguiu. Ela precisava de um banho e gostaria que pudesse ser
longo e relaxante. Porém, devido à emergência ela sabia que não
podia gastar água desnecessariamente, por isso o banho foi breve.
Logo após, ela observou pelos tapumes protegendo as janelas o
que acontecia no lado de fora.

Uma chuva fina caía sobre a ilha, e o vento parecia


consideravelmente menor, porém ainda estava escuro para o
horário. Ela se perguntava se a tempestade estava se deslocando
para o norte como a previsão dizia.

Zoe estava com fome e começou a preparar o desjejum, e sua


mente rememorou os eventos recentes.

Ela pensava que, apesar do que eles disseram, escolher um


deles iria, sim, afetar o relacionamento entre os três. Algum dia no
futuro, isso poderia mudar, e talvez eles apagassem isso de suas
mentes como algo enterrado no passado.

Mas por um longo tempo, ela sabia que os três teriam a memória
embaraçosa de que ela já tinha sido a esposa de Wolf … ou amante
de Justin. Ou será que não? Não era nada que a razão possa
definir. E não era somente química.

Ela ouviu passos de pés descalços nas escadas.

“Bom dia… O você está fazendo?” Wolfgang se fez ouvir. Seu


sorriso torto, olhos inchados, e cabelo bagunçado fazem seu
coração bater mais forte contra o peito.

“Precisamos comer!” ela deu de ombros, mostrando a frigideira


em suas mãos.

“Uma doce provedora, minha Luvinhas!”

Ela corou.

“Como estão suas mãos? Você não pára quieta e não está
sendo cuidadosa como deveria…” Ele chegou mais perto e
examinou suas mãos. Mas ele ficou favoravelmente impressionado.

“Hm. Está curando rápido.”


Zoe não resistiu à proximidade e enlaçou a cintura dele, enfiando
seu rosto no peito dele. Wolfgang a abraçou forte, em silêncio,
esfregando suas costas e acariciando seus cabelos. O coração dele
batia forte como um trovão, no entanto. Depois de um momento, ele
disse,

“Não se preocupe. Tudo vai ficar bem. Nós vamos consertar isso.
Podemos começar de novo.”

“Que bom que você nunca desistiu de mim. Me perdoa por ser
tão volúvel.”

“Você não é volúvel. Você é uma sobrevivente. O que preciso


que você seja.”

Ele ergueu o queixo de Zoe e prendeu seu olhar no dele. Ela


achou que Wolf iria beijá-la, mas ele não fez isso.

“Podemos ser uma família, não podemos?” ele perguntou.

Antes que Zoe pudesse responder, Wolf ergueu o olhar para as


escadas atrás dela.

Zoe sabia que Justin estava olhando e se encolheu no abraço de


Wolf, mas Wolfgang beijou o topo de sua cabeça e a deixou ir.

“Teremos tempo para isso mais tarde. Agora vou checar os


estragos antes do desjejum.”

Ela suspirou quando ele deixou a cozinha, sem saber ao certo


como as coisas seriam dali em diante.

Não demorou muito para que o dono da casa aparecesse,


entretanto. Os olhos inchados e barba por fazer deixavam Justin
ainda mais sexy.

“Ei. Bom dia.”

“Como você está, Vênus?”


“Feliz, confusa, esperançosa, com medo de me arrepender mais
tarde… porém orgulhosa de ter tido coragem. Coragem de ter vocês
dois um dia.”

Justin a olhou como se analisasse a veracidade disso em sua


face. Zoe sentiu seu rosto ficar vermelho.

“Não acredita em mim?”

“Claro que acredito. E acredito em sua coragem, acima de tudo.”


Ele coçou a cabeça charmosamente. “Embora mal acredite que isso
tenha acontecido conosco. Nós três.”

“Vocês não estavam combinados?” Uma suspeita surgiu na


mente de Zoe.

“A única coisa que combinamos é que esperaríamos para ver o


que você queria. Wolf não queria te prender, Zoe. Embora ele tenha
me dito que você não pensasse assim.”

Ironicamente, Zoe lembrou-se de seu sonho estranho assim que


chegou na ilha.

“É intrigante, pois eu me sinto presa a vocês… Algemada aos


dois.”

“E isso é ruim?”

“Nem um pouco,” ela confessou, erguendo sua mão para ajeitar


os cabelos revoltos de Justin." Como você diz, acho que é o destino
que nos uniu."

Justin pegou as mãos dela para olhar, mas nada comentou sobre
isso ao perceber estarem mais cicatrizadas.

“É o que eu mais acredito,” ele disse por fim. “Você é mais que
especial para mim, Zoe.”
∞∞∞
Depois do desjejum, os dois decidiram verificar os danos ao
redor da casa. Zoe secou algumas poças dentro da casa e limpou o
que conseguiu enquanto eles estavam ocupados.

No meio da tarde, o clima começou a mudar. Zoe sentiu uma


esperança renovada quando ouviu um pássaro chilrear. ‘Eu não
estou ansiosa para ver o estrago que essa tempestade provocou,
mas estou feliz que tenha acabado.’

Um pensamento sombrio sobre Marlo cruzou a mente de Zoe,


mas ela decidiu enterrá-lo, endurecendo seu coração. ‘Ele escolheu
o destino dele. Ele traiu Justin e iria me matar de qualquer jeito… Eu
não lamento que ele tenha morrido.’

Ela estava encontrando dentro de si uma resiliência que jamais


teria imaginado possuir. Mal podia se reconhecer como a garota
alienada que fora até algumas semanas atrás, pensando ser o
centro de um mundinho pequeno e tépido.

Os irmãos estavam removendo uma árvore caída da entrada da


casa, e Zoe preparou um chá gelado para refrescá-los. O barulho da
motosserra parou por um momento e Zoe achou que era um bom
momento para uma pausa.

Ela colocou a jarra e copos em uma bandeja e foi para a


varanda.

Mas antes que ela chegasse, Zoe percebeu que as vozes deles
estavam muito mais baixas do que antes.

‘Eles estão falando… sobre mim?’


Capítulo 14
“Estou pensando no que é melhor para ela, Justin. Ela ainda é Zoe
Düssel, minha esposa.”

“Isso pode ser facilmente alterado. Eu tenho os novos


documentos aqui comigo,” a voz de Justin também podia ser ouvida.

“Ela achou que tinha razões para esconder a identidade. Mas ela
não tem. Por que ela abriria mão de sua identidade agora?”

“Talvez Zoe não queira mais ser uma Düssel. Ou sua esposa.”

Wolf suspirou, exasperado, mas Zoe julgava que já tinha ouvido


demais.

Zoe se aproximou com a bandeja e eles pararam de falar.

“Estou cansada de que as pessoas decidam as coisas por mim.


Por que vocês não me incluem na conversa?”

“Nós não planejamos essa conversa, Zoe.” Justin reagiu. “O


assunto surgiu minutos antes.”

“Também não entramos em consenso. Eu estava falando sobre


nossos próximos passos.”

“Que são…?” Zoe inquiriu.

“Eu não posso ficar aqui mais que o absolutamente necessário.


E minha única desculpa para isso é você, Zoe,” disse Wolfgang.

Ela sabia disso. Não demoraria muito para os Düssel


aparecerem ali em busca do ‘Príncipe da Máfia’.
Já era um milagre que ele tivesse conseguido vir. Ela tinha
certeza de que ele tinha a cumplicidade de algumas pessoas ao seu
redor, mas até quando eles conseguiriam segurar Walter Düssel?
Então Zoe assentiu, demonstrando sua compreensão do fato. Wolf
continuou.

“Essa é uma das razões. Mas o fato é que você precisa voltar
comigo, Zoe.”

Justin interrompeu, tomando a bandeja das mãos de Zoe e a


fazendo olhar em seus olhos por um momento.

“Posso pensar em uma boa desculpa se você não quiser ir, Zoe.”

Wolfgang cortou o momento com tom firme.

“Mas é fato: depois que estipulei uma recompensa para quem


trouxesse você viva ou morta, e você está em perigo.”

O casal mais jovem olhou para ele.

“A única maneira de parar isso é mostrar que eu te encontrei.”


ele continuou. “Mas eu também penso que você precisa voltar. Você
está viva e não há razões para fingir estar morta. Na verdade, você
não deveria.”

‘Bom, eu tenho uma família. E não só isso. Eu precisaria viver


escondida, sempre temendo ser reconhecida.’ foi o primeiro
pensamento em sua mente.

No começo, ela já estava decidida que este seria o caminho,


mas o breve momento que viveu longe de Justin no continente tinha
mostrado a ela que isso não era tão simples nem tão fácil. Justin
fazia isso há muito tempo, mas e ela? Mesmo seus pequenos
sonhos, como abrir uma marca de biquínis, poderia ir por água
abaixo se seu rosto vazasse. E o motivo que tinha para pensar em
se ocultar já não existia mais.
Ela sentia o olhar de Justin queimando seu rosto, tentando
adivinhar seus pensamentos.

“Se Zoe é a pessoa decidindo o destino dela, eu estou de


acordo.” Justin disse ao irmão, após percebê-la aflita. O tom de
Justin demonstrava irritação, entretanto, e Wolf bufou, primeiro
olhando para o irmão, e depois para ela.

“Vocês dois precisam colocar as emoções de lado por um


momento. É um bom plano. Nós não estamos selando o destino. Eu
só estou garantindo que nossa Rainha continue com os movimentos
desimpedidos.”

Zoe perguntou, “O que você quer dizer exatamente, Wolf? Se eu


quisesse ficar em Naviedo, você não se oporia?”

“Eu lamentaria sua decisão. Mas você já deveria saber que casar
comigo foi a última coisa que eu te forcei a fazer.”

Ela o olhou, surpresa.

“Posso lidar com o fato que viverei constantemente preocupado,


mas você estaria abrindo mão de muitas coisas… Como recuperar o
que quer que tenha sobrado da sua fortuna, ter sua carreira dos
sonhos, e…” Wolf deu de ombros como se o próximo item fosse
algo de menor importância. “… até mesmo pedir o divórcio daqui a
um par de anos, se quiser. Apenas seja estratégica. É tudo o que
peço.”

Dessa vez, Justin franziu o cenho, nitidamente refletindo sobre


tudo o que Wolf ofereceu a Zoe agora.

Ele respirou fundo antes de dizer.

“Para dizer a verdade, isso só te beneficia, Zoe. Minha principal


preocupação é a sua segurança. Se Walter está me caçando, você
estará segura em qualquer lugar longe de mim. Pelo menos por
enquanto.”
Wolf assegurou. “Se Zoe vier comigo, como eu disse, isso
funcionará como uma cortina de fumaça e garantirá para nós tempo
o bastante para finalizarmos nossos planos. Logo você não
precisará mais se esconder, Justin.”

“Rapazes, eu quero ajudar com o plano. Já que eu estou


envolvida com isso, eu não posso ignorar a realidade. É a máfia. É
perigoso.”

Por dentro, um lado muito pragmático de Zoe se revelava a ela


com pensamentos assustadores. Ela sentia que precisava ajudá-los
se quisesse estar do lado que sobreviveria. O lado vencedor, se
tudo desse certo. Ela falou,

“Vocês dois arriscaram muito por mim. Nossas vidas amorosas


têm que ser deixada de lado por um momento, enquanto
trabalhamos em um futuro para nós três. Concordo com o plano.”

Cada um dele sorriu discretamente do seu jeito.

“Do que estão rindo?”

“Você é muito corajosa,” disse Justin.

“Luvinhas é esperta,” complementou Wolfgang, tomando o


primeiro gole de chá gelado e fazendo uma careta. “Mas isso está
muito doce, querida.”

“Gosto da ideia de que Zoe não perderá contato com as pessoas


que gosta… Nem com seus sonhos.” Justin opinou.

“A ideia de colocar minha vida de novo nos trilhos é


reconfortante. Eu não preciso perder nada. Na verdade, todos
ganham.” Depois de um longo suspiro, Zoe continuou. “Preciso
voltar. Encontrei forças para lutar pelo que quero, e pelo que é meu.
E eu também preciso de respostas.”

Os dois irmãos a encararam, intrigados. Zoe foi à forra.


“E já que você trouxe isso à baila, Wolfgang Düssel, eu me
lembro que você me proibiu de ter uma carreira.” Ela estreitou os
olhos na direção de Wolf. Ele franziu o cenho e evitou seu olhar, e
Justin gargalhou.

“Ha. Ela te chamou por nome e sobrenome. Você está ferrado,


cara.”

“Podia ser você, espertinho. E sim, na época eu fiz mesmo. Nos


casamos muito rápido e eu não tinha tudo planejado. Eu estava
pensando em como te proteger. Inclusive do meu próprio mundo.”

“Mas agora Zoe tem nosso apoio total,” Justin cruzou os braços,
satisfeito com o rumo da conversa.

Mesmo assim, Zoe se sentia ansiosa e triste depois da conversa


difícil.

Wolf tentou consolar aos dois e mostrou a ele como iria


funcionar, mas Zoe intuía que ele também estava apreensivo.

Wolf não era totalmente imune ao medo quando se tratava de


pessoas que ele amava.

“Vou me comunicar com nosso piloto. Se ele achar que é seguro,


partiremos essa tarde ainda.”

Justin nada disse, apenas pareceu de repente sentir um peso e


um cansaço maiores sobre seu ombro.

“Esta tarde?!” Zoe exclamou. Não esperava que fosse tão cedo.

“A menos que a gente queira os Düssel descendo do céu como a


SWAT, e uma situação tipo Bonnie e Clyde, e o outro Clyde,”
Wolfgang ainda tinha algum senso de humor negro guardado para
ela e seu próprio irmão, aparentemente.

Zoe olhou um e outro, apreensiva.


Wolf esfregou suas costas, e Justin apertou sua mão na dele
num gesto de conforto.

“Nós vamos estar juntos de novo, quando for a hora. Lamento


que você esteja envolvida nisso. Eu gostaria de te devolver sua vida
inocente de meses atrás.”

“Mas eu não lamento.” ela respondeu a Wolfgang. “Minha vida


mudou para melhor. É a minha vida, agora.”

Zoe deu uma apertadinha nos bíceps gostosos de ambos, para


confirmar que estava feliz. “Gosto da mulher que estou me tornando.
E eu espero que vocês gostem dela também…”

“Eu acho que já gosto, Luvinhas.”

“Estou orgulhoso de você.” disse Justin.

∞∞∞

Ela estava acabando de sair do banho e estava secando seu


cabelo quando Justin entrou.

“O piloto está chegando.”

‘A dor de saudade antecipada é quase insuportável. Sei o que eu


disse antes, mas isso está cortando meu coração!’ Zoe sentiu seu
coração doer como se tivessem enfiado um espeto através de seu
peito. Ela não se importava de não estar usando roupas, e abraçou
Justin apertado, enfiando sua cabeça no peito dele.

Ele a envolveu em seus braços.

“Eu sei que sentirei muito sua falta, Vênus!” Envolvendo seu
rosto com as mãos, Justin beijou sua testa, pálpebras, bochechas,
queixo, lábios, cada beijo mais urgente que o anterior. Zoe retribuiu
quase em frenesi, enfiando seus dedos na carne dele, e beijando
sua face e lábios.

“Por favor, tome cuidado.” Ambos disseram um ao outro, quase


ao mesmo tempo, e arregalaram os olhos diante da coincidência.
Justin disse,

“Tenho certeza de que Wolf vai te manter segura na maior parte


do tempo, mas isso não é o bastante. Desconfie de tudo. De todos.”

Zoe concordou. Suas mãos envolveram o maxilar dele, e seus


polegares traçaram o contorno do rosto de Justin, o memorizando.

“Farei isso. Prometa que você também vai ter muito cuidado. Me
prometa que vou te ver de novo.”

“Eu prometo. Se você quiser, eu irei atrás de você, Zoe. Nem o


mar entre nós vai impedir isso de acontecer.”

“Estamos ligados, não é isso?” ela perguntou, com a certeza de


que era verdade, não somente uma crença espiritual de Justin.

Ele assentiu e eles se beijaram de novo, e ficaram um nos


braços do outro por um tempo, em silêncio. O calor e o amor dele já
bastavam.

Mas o tempo voou e eles ouviram o inconfundível som de


helicóptero à distância. Era hora de se vestir e dizer adeus ao lugar
onde ela havia renascido como pessoa.

Zoe guardou na mente a última imagem de Justin abraçando o


irmão e ambos dizendo um ao outro para tomar cuidado.

Então, Wolf pegou sua mão na dele, e eles entraram no


helicóptero juntos.

Ele a ajudou a prender o cinto e a aeronave levantou voo


enquanto Zoe tentava manter seus olhos secos.
Ela tentou não ver Naviedo debaixo da inundação e descansou a
cabeça no peito de Wolf a maior parte da turbulenta viagem.

Seus pensamentos oscilavam entre as experiências que tinha


vivido e o que possivelmente viria a seguir. A sensação é a de que
nada voltaria ao que era. Ela não conseguiria se encaixar no molde
em que havia sido criada. Ela tinha liberado seu lado ambicioso,
audacioso, e tinha descoberto em si uma pessoa adaptável, sensual
e disposta a explorar isso. E principalmente, ela não tinha mais
medo da verdade.

Como as pessoas que a conheciam lidariam com isso?

Zoe refletiu e pensou que, no fundo, isso importava muito pouco.

Após uma parte da viagem o piloto perguntou. “Você está pronto


para se comunicar com a base, Sr. Düssel?”

“Sim. Vamos fazer uma parada nas coordenadas que eu te dei.


Diga a eles que estou chegando com minha esposa.”

“Certo. Aqui vamos nós.”

As palavras de Wolf deram um aperto em sua barriga.

‘Preciso me preparar para isso também. Encarar Walter Düssel e


a máfia. Encarar minha família… Mas Wolf está segurando minha
mão o tempo todo. Sei que ele não vai me desapontar. Nunca. Eu
só sei disso agora. Ele nunca falta com suas promessas.’

∞∞∞

O helicóptero pousou no terraço de um hotel que se destacava


no cenário impressionante da cidade, à noite. Havia alguns homens
esperando pelo casal ao lado do heliporto. E Zoe identificou
imediatamente rostos que viu em seu casamento. Eram os homens
mais leais de seu marido. Wolf apertou a mão de Zoe na dele.

“Suas aventuras tropicais acabaram, Luvinhas. Preste atenção


no que faço e siga minhas instruções, ok?”

Ela concordou, juntando toda a coragem que sabia existir dentro


de si. Os rotores pararam e ela conseguiu ouvir de novo.

Wolf desceu primeiro, com um grande sorriso, e abriu os braços


como um vencedor.

“Boa noite, cavalheiros. Eu consegui, não foi mesmo?! Que tal


arranjarmos tudo de bom para meu amigo Max? Esse cara é mesmo
ótimo no que ele faz,” ele deu um pequeno aplauso para o piloto.

Zoe testemunhava o carisma contagiante dele em


funcionamento. Ele simplesmente tinha aquilo. O tom dele era altivo,
porém sutilmente gentil. Ele estava sugerindo, mas esperava ser
obedecido.

O piloto tentou declinar. “Obrigado, mas não é necessário!”

Um dos homens, que Zoe sabia chamar-se Johann, falou,


dirigindo-se ao ‘Príncipe da Máfia’.

“Claro, Wolf. Se Max se juntar a nós mais tarde, podemos ter um


jantar bacana no cassino.”

Um homem mais idoso e desconhecido que estava com roupas


elegantes e uma pequena placa dourada com seu nome e cargo no
peito, tomou a palavra, formalmente. “Bem-vindos, Sr. e Sra.
Wolfgang Düssel. O Atlantic Paragon Hotel também estende a
hospitalidade a um amigo dos Düssel.”

“Perfeito,” disse Wolf. “Talvez nos juntemos a vocês no cassino


mais tarde. Quero celebrar e agradecer o que Max fez por nós.”
Johann tomou as rédeas. “Providenciaremos tudo, então, Wolf.
Estamos felizes que a Sra. Düssel retornou, sã e salva!”

“Obrigado a todos pela recepção calorosa!” Wolfgang agradeceu


a seus homens. Um deles se aproximou e falou mais baixo.

“O Sr. Düssel está esperando por você, Wolf.”

“Como ele está?” Wolfgang quis saber.

Os homens trocaram olhares e um deles, de cabelos longos,


disse,

“Ele passou a tarde com Armando, mas algo não terminou como
esperado, então… Ele veio para o cassino, para se divertir.”

“Entendi. Obrigado, Sandro. Agora, deixe-me aproveitar dos


confortos da civilização. Zoe, você está cansada?”

“Eu queria esticar minhas pernas e fazer algumas ligações,” ela


confessou.

Por mais cansada que Zoe estivesse, ela sabia que era a esposa
de Wolf Düssel e tinha que fazer sua parte também. Ela
instintivamente sabia que precisa causar uma boa impressão em
todos os que cercavam Wolf. Principalmente depois de sua volta.
“Mas vou adorar me juntar aos rapazes mais tarde. Max, por favor,
jante conosco.”

“Ótimo.” Wolfgang concordou. “Após ficar preso num buraco


qualquer por causa daquela maldita tempestade, eu preciso de um
bom whiskey e uma refeição decente.”

Vendo-o junto de seus homens, mostrou a Zoe o quão rápido ele


podia vestir a persona de 'mafioso', como uma segunda pele. ‘Ou o
que eu vi na ilha era uma persona, e esse é o verdadeiro Wolf? Será
que ele mesmo sabe quando ele está fingindo?’
∞∞∞

Zoe acreditava ter uma vida privilegiada, mas a vida que o


‘Príncipe’ da Família Düssel levava estava alguns degraus acima de
tudo o que ela conhecia. Era uma vida de lendário e exorbitante luxo
que ela nunca imaginou que pudesse ser real.

Um concierge do hotel arranjou stylists das mais finas lojas para


ajudar o casal com um 'guarda-roupa emergencial' para sua estadia
ali.

Quando Zoe terminou de se arrumar, Wolf estava em outra sala


da suíte gigantesca, fazendo ligações e lidando com seu próprio
stylist.

‘Eu não acredito que terminei de me arrumar antes dele!’

O hotel também providenciou um celular novinho e Zoe discou o


número da sua tia favorita, ansiosamente esperando que ela
atendesse. Este foi o primeiro número que veio à cabeça, o número
de sua casa.

“Oi, tia Claire?! Sou eu, Zoe. Me desculpa te ligar assim do nada.
Você é a primeira pessoa que estou ligando.”

“Zoe! Ah, minha querida, é você! Rezei tanto por um milagre!” A


voz de sua tia trouxe lágrimas imediatas a seu rosto.

Sua parente mais querida era a irmã do seu pai. Ela vivia com o
irmão e Zoe, e nunca tinha se casado. Zoe não conhecia ninguém
mais doce. Tia Claire era sua figura materna desde a morte de sua
mãe. “Fui encontrada por pescadores, cuidada, mas eu estava bem
confusa no começo. Uma mulher me hospedou e me ajudou até
Wolf me encontrar.” Mentir para ela era a única coisa que Zoe
lamentava.
Zoe resumiu a história oficial que ela contaria a todos. Pelo
menos naquele momento, por telefone. Ela tinha certeza de que um
dia poderia contar toda a verdade para tia Claire.

“Zoe, eu sabia que você estava viva. No meu coração, eu sabia!


Eu nunca perdi as esperanças. Falei para Wolf continuar te
procurando!”

“Ele te ouviu, titia! Mal posso esperar para te abraçar de novo!


Faremos isso amanhã, sem falta, assim que eu chegar aí! Onde
está papai, aliás?”

“Hm, eu não sei. Sua madrasta também saiu, no momento. Eles


vão ficar tão felizes, e…”

“Não, por favor. Não conte a eles ainda. Quero fazer uma
surpresa para eles!”

Tia Claire ficou confusa. “Uh?! Tem certeza?”

Zoe a convenceu de que era uma boa ideia, reafirmou seu amor
por ela, e secou algumas lágrimas antes de dizer até logo. Aquela
breve conversa a fez se sentir um pouco reconectada com sua
antiga vida e perceber que nem tudo era uma mentira em sua
história. Tia Claire a amava de verdade, e Zoe a ela.

Wolf veio até Zoe, que estava sentada na cama, e apertou seu
ombro levemente. Ela enlaçou a cintura dele e deitou sua cabeça no
abdômen dele, suspirando.

“O que foi, Luvinhas?”

“O retorno é doce e amargo, parece. Mas tenho que ligar para o


meu pai agora.”

Wolf nada comentou, apenas ficou alisando seus cabelos em


silêncio enquanto Zoe discava.

“Pai?! Sou eu! Estou voltando para casa, papai!”


As palavras saíram de seus lábios com uma alegria falsa e Zoe
se surpreendeu, quando reconheceu o sentimento agridoce.

Seu único progenitor vivo, do outro lado da linha, engasgou e


ficou mudo por alguns momentos.

“Zoe! É mesmo você?! Meu Deus, é mesmo você, minha


garotinha!”

“Wolf me encontrou, papai! Estou com tanta saudade!”

As próximas falas foram confusas e cheias de emoção, mas ela


percebeu que ele estava incomodado com alguma coisa.

‘Às vezes meu pai é assim ao telefone, mas puta-que-pariu!, eu


sou a filha náufraga que está voltando para casa!’

Ela desligou abruptamente, e encarou o telefone em confusão. O


telefone não tocou logo a seguir como Zoe esperava.

“Não sofra por coisas que você não pode mudar, Luvinhas. Você
pode contar comigo, agora.” Wolfgang a consolou.

“Eu não sei o que pensar.”


“Apenas não pense em nada disso. Olhe para você. Sra.
Düssel! Você ofuscaria todas aquelas estrelas do tapete vermelho
em Hollywood!” Ele abriu um sorriso, a fazendo se levantar e dar
uma voltinha para ele. Zoe estava em um vestido branco fascinante
em estilo vintage, e parecia saída de um filme da Época de Ouro de
Hollywood. Combinava perfeitamente com seu penteado em largas
ondas apenas para um lado, ao estilo Veronica Lake, e a
maquiagem glamourosa.
Zoe riu. “Obrigada, mas… Você também está deslumbrante. Isso
é um Tom Ford?”
“É, é sim. Eu disse ao stylist que minha esposa tinha um olho
muito crítico em relação à moda, e ele sugeriu esse terno.”
“Parece que foi feito sob medida. Você tem o porte de um
modelo, Wolf!”
“O stylist concorda com você, Luvinhas! Ele estava arfando e
corando o tempo todo!”
Era uma provocação, mas Zoe tinha certeza de que tinha algum
fundo de verdade, e isso a deixava ciumenta. “Claro que estava.”
Wolf a provocou mais um pouco, ao notar a careta de Zoe. “Mas
eu disse a ele que uma vez você esfaqueou um cara, e ele parou de
tatear meu abdômen enquanto ajustava o terno.”
“Que mentira!” ela arregalou os olhos.
“Bem, minto. Mas só um pouco. Vamos? Ah, mas primeiro…”

Ele surgiu com uma caixa e abriu na sua frente.

Um par de brincos fabulosos de diamantes cintilou diante de


Zoe.

“Esse é meu. E esse…” Um colar delicado com uma pequena


estrela-do-mar cravejada de diamantes também foi colocado diante
de seus olhos. “Não é. Bem-vinda ao lar, Zoe.”

Zoe ficou sem fala. Wolf a ajudou com as joias e observou suas
reações. Ela ficou na ponta dos pés e beijou seus lábios.

“Eu não sei o que eu estou fazendo para merecer tanto de


vocês, mas… obrigada!”

“Mn, você pode refrescar minha memória mais tarde! Eu me


sinto culpado em ter você só para mim, mas podemos ajeitar isso no
futuro.”

Ela entendeu o que ele propunha, e ficou feliz por isso. Ela já
sentia falta de Justin. ‘O que é isso? Ele parece diferente. Os olhos
dele… perderam aquele brilho. É quase como se ele se sentisse…
triste.’

“O que você quer dizer com isso?” ela perguntou.

“Eu ainda não sei. Tudo isso é novo para mim. Pronta?”
“Sim.”

Ele abriu a porta para ela.

∞∞∞

O casal entrou no restaurante, e o maître os guiou até a mesa


onde seus amigos estavam.

Todos os olhos do hotel-cassino estavam em Zoe e Wolfgang


Düssel. Ela se sentiu desejada e invejada, ao mesmo tempo. Zoe
deu uma olhada no homem ao seu lado. Ela ainda não acreditava
que o odiou com todas as forças, um dia. Ele sussurrou,
perguntando, “O que foi?”

“Eu só estou pensando como fui uma tola em só ver o que


estava na superfície.”

Wolfgang abriu um sorriso fascinante.

“Primeiro: minha superfície é fantástica. Segundo: Já não sei


dizer o mesmo do que está dentro. Terceiro: Você é bem-vinda para
descobrir.”

“Obrigada!” ela riu.

Zoe e Wolf prenderam seus olhares por um momento, no meio


do restaurante.

Uma voz enervante e familiar como a de uma serpente chamou a


atenção de ambos.

“Devo me sentir ofendido que você escolheu vir jantar com


seus amigos ao invés de vir me ver?”
Ela se virou para ver seu sogro. Mas aquela não era a única
surpresa da noite.
Capítulo 15
Wolf se virou para cumprimentar o pai enquanto Zoe ficou
paralisada no lugar.

Com Walter estava um cara que ela não conhecia.

E o pai de Zoe.

‘Por que meu não parece estar nada feliz em me ver?’ Ela se
perguntou ao perceber uma ruga de apreensão no rosto do pai.

Richard Lovitt usava roupas elegantes que pareciam


amarfanhadas, assim como ele próprio. Zoe por um longo tempo
teve orgulho de ter um pai que um dia foi um belo homem, e de
quem ela tinha herdado muitos traços. Mas era inegável que o
tempo o estava corroendo mais rápido que o normal. Além disso,
perto de seus companheiros, ele parecia menor e ‘encolhido’. E Zoe
sabia que isso tinha muito mais a ver com a personalidade de cada
um.

“Eu ouvi que vocês estavam em um jogo de pôquer para


jogadores graúdos, pai. Sei que você não gosta de interrupções,”
Wolf justificou-se ao seu pai, em tom indiferente, e logo
cumprimentou os outros. “Richard. Armando…”

O homem da mesma faixa etária de Walter usava terno claro e


uma bengala. Em contraste com Walter Düssel, que era um homem
alto e magro de cabelos muito curtos e quase brancos, o homem
mais baixo de olhos estreitos e rosto macilento tinha um sorriso
sarcástico permanentemente grudado nos lábios finos. Zoe tinha a
impressão de tê-lo visto antes, mas não sabia seu nome até aquele
momento.
Mas Walter ergueu uma sobrancelha, não aceitando totalmente a
resposta. “Não quando meu filho traz de volta sua esposa, que ele
resgatou das profundezas do mar… O que foi isso? Magia negra?”

“Olhe Richard,” O tal Armando comentou com um sorriso de


tubarão. “É mesmo sua linda filha. Parece que sua alegria é também
sua grande dor…”

“Minha filha! O que você está fazendo aqui?! Eu pensei que você
estava… Ah, meu Deus, que saudade!” O pai de Zoe finalmente
escondeu o choque e veio abraçá-la, com lágrimas nos olhos.

Zoe abraçou seu pai, parcialmente feliz por fazer isso e um


pouco chocada porque ele estava com Walter Düssel.

‘Em um cassino… ’ De repente, as peças do quebra-cabeça se


conectaram na cabeça de Zoe. Ela olhou as faces ao seu redor:

Walter estava curioso e sarcástico.

O homem que Wolf chamou de Armando estava nitidamente


divertido com o reencontro de pai e filha.

E Wolf… parecia preocupado.

“Você não parecia feliz em me ver, papai.” Ela expressou seu


sentimento em voz alta. Seu sogro torceu o nariz
caracteristicamente, e suas expressões remetiam a Zoe um Pilatos
moderno, lavando suas mãos sobre um assunto desagradável.

“Bem, Sra. Düssel, ele está feliz em te ver, e, ao mesmo tempo


não,” o homem chamado Armando mantinha um leve sorriso
divertido demonstrando gostar da situação embaraçosa. “Odeio
interromper um momento tocante em família, mas Richard, você não
tem outra filha para cobrir suas apostas?”

O pai de Zoe virou-se como se atingido por um choque, mas


Armando não teve piedade.
“Essa ressuscitou _ você não pode usar as propriedades dela
para me pagar.”

Agora isso tinha sido jogado na cara de Zoe. O pai dela a olhou
miseravelmente, se encolhendo em sua frente. Ele parecia perceber
que não tinha como se esconder mais.

“Zoe… Eu sinto muito. Sinto tanto…”

Wolfgang rosnou para o amigo do pai.

“CALA ESSA BOCA, Armando.”

Mas Armando parecia impermeável à opinião dos Düssel. Zoe


perguntou quem ele seria, mas tinha certeza de que era alguém tão
perigoso quanto Walter e Wolfgang.

“Ah, poupe-me. Você sabe que é você que acabará pagando por
ele. Quer ganhar para você esse débito dele, de novo?”

“Você é amigo do meu pai, mas parece que você está arranjando
um jeito de se tornar MEU inimigo, Armando.” Wolfgang deixou claro
para o homem excêntrico ao lado deles. “Será que essa história de
débito não pode esperar nem um minuto?”

“Não, não, Wolfgang,” Armando balançou os braços para


demonstrar que não era esta sua intenção. “Eu não quero ser seu
inimigo. Mas Richard veio jogar e… Eu me opus, porém Walter disse
que eu ofenderia os Düssel, já que Richard é… sua família agora.”

Walter Düssel deu uma risadinha maliciosa, justificando-se.


“Gosto da personalidade hilariante de Richard. O que dizer… Eu
não consigo dizer não para ele.”

Zoe sentia as lágrimas correrem livremente; ela não conseguia


evitar. Era nítido que haviam decidido humilhar Richard de uma vez
por todas. Para Walter e Armando, a situação parecia muito
engraçada e Richard era o motivo de riso.
O coração e Zoe doía como se seu pai tivesse literalmente
enfiado uma faca no seu peito. E ela não podia fazer nada além de
ouvir essa troca de palavras horrível. Ódio e vergonha destilavam
em seu ser.

‘Então o meu pai é um viciado em jogos, capaz de qualquer


coisa, até mesmo perder a própria filha num jogo?!’

“O QUÊ?! Como você pode me chamar de filha depois do


que você fez? Seu monstro narcisista! Seu mentiroso!” Zoe não
pôde aguentar, e se livrou dos braços dele, com nojo.

Seu pai lançou um olhar suplicante e miserável, mas isso só a


irritava mais. Ela não se importava com as pessoas ao seu redor
chocadas por sua voz furiosa e alta.

“ Zoe, esse não é o lugar.” Wolf colocou uma mão no seu ombro,
mas ela se desvencilhou, ainda apontando o dedo para o pai.
“Como você ousa! Um homem que amei e respeitei toda a minha
vida, ser esse lixo escroto e egoísta! Eu vou te desprezar pelo resto
da minha vida! ODEIO VOCÊ!”

Ela gostaria de estapeá-lo, enfiar as unhas na cara dele, e todos


os impulsos violentos que o seu coração exigia. Mas Wolf a impediu
de se tornar violenta, a abraçando forte. Zoe começou a soluçar nos
braços dele.

“Não adianta fazer nada, Zoe,” Wolf murmurou enquanto a


abraçava. “Eu lamento, mas ele não mudará. Ele não consegue.”

Armando chamou atenção para si. “Oh, é muito triste ver uma
família se destruir assim… Mas Wolf, você precisa me pagar logo,
claro.”

Wolfgang puxou o ar. O pai de Zoe se desesperou, virando-se


para seu genro.
“Wolf… Eu te prometo que eu te compensarei num futuro
próximo. Eu prometo.”

O comportamento de verme de seu pai, ávido por agradar, quase


a fez vomitar de nojo. E para Walter a graça já estava se perdendo,
quando ele questionou Richard com uma careta de deboche.

“Você vai continuar se retorcendo como um verme ao redor de


nós? Quais são as outras opções, Armando? Para que Wolfgang
tome uma decisão informada.”

“Bom, o que posso dizer?” Armando deu de ombros. “Ele


transformou um apartamento e uma casa de praia na Costa Oeste
em fichas de pôquer. Mas os documentos dizem que as
propriedades pertencem à Zoe… Então estou confuso.”

Aquilo foi a gota d’água. Seu pai a estava roubando… Apostando


seus bens enquanto ela estava ausente. Ele era um viciado em
apostas que faliu a empresa da família, mas não era capaz de parar.

No fundo, ela agora podia ver tudo o que ignorou durante tantos
anos. Zoe sabia que fez vistas grossas, pois não queria ver,
conforme crescia, que seu mundo perfeito era apenas uma ilusão
criada por ele para fingir que tudo estava certo. Nesse momento
tudo o que ela tinha era raiva.

“Ele é apenas uma pessoa patética, não meu pai. Lamento


informar, Sr. Düssel: A personalidade hilariante dele carece de
fundos.” Zoe disse, se livrando do abraço grudento dele.

Aquele homem perdeu sua própria filha em uma mesa de jogo.

Zoe o viu como um patético bobo da corte que era um motivo de


diversão para tubarões como Walter e Armando. Eles tinham prazer
em vê-lo se retorcer e em torturá-lo tirando tudo dele, e vê-lo
voltando para pedir por mais.
“Então, ninguém vai pagar a dívida dele?” Armando questionou.
“Ele me fez perder tempo com falso lastro? Ele não tem como me
pagar!”

Richard tremia incontrolavelmente. Dessa vez ele percebia que


sem a boa vontade dos Düssel, talvez fosse o fim definitivo para ele.

“Dívida de jogo tem que ser paga, Richard.” Armando insistiu.


“Se não for com dinheiro, eu não deixarei você vivo para comprovar
que sou um frouxo que não cobro minhas dívidas. Você será feito de
exemplo.”

‘Este homem vai matá-lo!’ Zoe teve essa certeza. Apesar de


estar magoada, Zoe não suportava a ideia de que se virar as costas
para ele agora isso significava a morte dele. ‘Ele é o homem que me
deu a vida, afinal. Eu o odeio, mas não posso concordar com este
assassinato.’

Ela se virou para Wolf com olhos suplicantes.

“Wolf…”

“Eu não vou pagar por ele, Zoe. Não vou tornar isso um hábito.
Eu disse isso a ele quando eu e você nos casamos.”

“Wolf…!”

Ela sussurrou fracamente, sabendo que não podia exigir isso


dele.

“Mas Wolf, você não vai mesmo deixar seu sogro na mão, vai?”
Richard falou com voz trêmula. Walter zombou.

“Eu te disse que era uma péssima ideia juntar as famílias, Wolf.
Olhe para ele, implorando. Sangue fraco. Odeio fracotes.” E
olhando para Zoe com seu costumeiro olhar avaliativo, ele
comentou. “Fico imaginando que tipo de herdeiros sua mulher
produzirá. Espero que não seja um homem fraco como o pai dela.”
Wolf fingiu que não ouviu, mas Walter foi claro. “Eu não vou
tolerar isso.”

“Wolfgang… Não deixe Zoe sofrer. Você prometeu.” O pai de


Zoe falou fracamente, mas era nítido que por instinto de
sobrevivência.

“Pai, não tem fraqueza nenhuma na minha esposa. E não, eu


não vou pagar sua dívida, Richard.” Porém, Wolfgang se virou para
Armand. “Mas Armand, minha esposa pediu pela vida dele. Vamos
nos divertir. Que tal um round ou dois, pela vida dele?”

Armand gargalhou. “Hm, você está me tentando, seu safado!


Você só joga quando quer ganhar algo! Por que você quer a vida
dele, afinal? Acho que você já conseguiu o melhor que ele tinha a
oferecer: sua bela esposa.”

Wolf deu de ombros. “Porque a vida dele será minha e eu o


tirarei da vida de Zoe para sempre. A menos que você ache que não
pode me bater… como usual.”

Walter Düssel abriu um sorriso. “Meu filho tem um talento


natural, Armando. Ele vai ganhar da mesma maneira como tirou de
nossas mãos a companhia e essa bela mulher.”

Armando capitulou. “Mas eu não vou resistir a oportunidade de te


bater pelo menos em uma rodada, Wolf. Que droga, estou dentro!”

‘Então foi assim que aconteceu. Wolf ganhou a mim e a


companhia no jogo, e meu pai mentiu sobre a dívida.’

Wolfgang alisou os cabelos de Zoe. “Zoe, Sandro vai escoltá-la


para o quarto. Não espere por mim, eu sei que está cansada.”

“Eu… Sim. Obrigada, Wolf.”

Ela beijou os lábios dele brevemente, virou suas costas para


Richard e todos os outros e voltou para seu quarto.
‘Ele rasgou meu coração em pedaços, aquele homem! Seu vício
e manipulação nunca vão terminar. Toda minha vida faz sentido
agora. Muitas coisas que eu não entendia antes! Porque ele recusou
que minha tia ajudasse na companhia! Suas ausências! Porque
alguns pais dos meus colegas não gostavam dele! Porque minha
mãe era tão nervosa e triste… E o seu… Suicídio.’ Isso encheu a
mente de Zoe com enorme desgosto, ao ponto que ela precisou
parar perto de um pote de planta e vomitar.

Sandro, o homem de cabelos compridos que Wolf pediu para


acompanhá-la, veio ficar ao seu lado.

“Por favor, Sra. Düssel. Wolf mandou que eu a escoltasse e


ajudasse no que precisar. Ele precisa ficar lá mais um pouco.”

‘Bem-vinda à máfia, Zoe. Essa é sua vida agora.’ Era o


pensamento em sua mente.

∞∞∞
O som de alguém no chuveiro a despertou.

“Wolf…?” ela chamou ao acordar no quarto de hotel. Era tarde, e


ela se sentia um lixo, com dor de cabeça e olhos inchados.

Ao entrar no banheiro espaçoso, Zoe viu Wolf se olhando no


espelho. Ele acabara de se cortar fazendo a barba.

‘Ele deve estar cansado pra caramba. Qual foi a última vez que
ele descansou? Eu não lembro.’

“Luvinhas,” Wolf falou. “Richard vai deixar o país. Ele não deve
voltar nem colocar os olhos em você enquanto viver. Você
entendeu?” Seu tom era assertivo. Ele estava de péssimo humor,
obviamente, e Zoe percebeu que teria uma péssima experiência se
pensasse em argumentar. Porém, ela não tinha vontade de defender
Richard.

Zoe alcançou uma toalha e secou o rosto dele.

“Sim. Entendi. Não seja mandão. Saberei valorizar o que você


fez.”

Ele se virou para Zoe, e a segurou pela cintura. Os olhos dele


estavam muito vermelhos e inchados e mesmo depois do banho, ele
ainda fedia à bebida e cigarro.

“Eu queria que tivéssemos pais melhores. Agora consigo ver


claramente. Você não consegue evitar ser parte disso.” Zoe contou
a Wolf. “Parte do submundo.”

“Que bom que você pode ver agora. Sim, eu não posso sair.
Nunca vou poder. Nasci no meio disso. E mesmo se tentasse, isso
só tornaria mais fácil para que me matassem. Eu gosto de viver,
Zoe.”

Ela suspirou. Afinal, ela podia entender Wolf quase totalmente,


agora. Faltava apenas uma coisa. E ela precisava perguntar.

“Me diga. Por que você fez isso? Apostar por alguém que você
nem conhecia?”

“Eu não te conhecia pessoalmente. Não quer dizer que eu não


soubesse quem você era.” ele completou depois de alguns
momentos.

“Aquela foi a segunda vez que ganhei você no jogo. Então


percebi que libertar você do débito dele não era o suficiente. Ele
faria de novo. Foi por isso que forcei o casamento. Se você fosse
minha, você estaria a salvo.

“Mas… por quê?”

“Você não sabe?”


Wolfgang desviou o olhar e escovou os dentes vigorosamente,
fingindo que Zoe não estava ali.

Então ele pegou a lâmina novamente, mas a mão dele tremia.

“Me deixa fazer isso. Te barbear.”

“Me barbear?”

“Você não confia em mim?”

“Eu só estou esperando você partir meu coração,


eventualmente.”

Zoe se chocou com as palavras dele, mas Wolfgang se sentou


no banco para que ela o barbeasse. Ela não soube o que dizer ou o
que ele quis dizer, mas percebeu que escavar fatos sobre Wolf era
uma tarefa e tanto.

∞∞∞
UM ANO DEPOIS

“Estou muito feliz como a Coleção Afrodite foi um sucesso e a


Azure está fazendo um nome. Ainda temos muito a crescer, mas
desejamos manter nossa identidade a cada passo. A Azure é sobre
isso.”

Zoe estava sentada em confortáveis poltronas de design


exclusivo, com Morena e Zach Young, o repórter de um canal de
moda e entretenimento. O repórter fashionista não estava ali por
acaso.

A Azure, marca que Zoe e Morena lançaram em tempo recorde,


estava chamando atenção de celebridades e causando burburinho
no mundo fashion. Obviamente um bom serviço de relações-
públicas e marketing estava por trás disso, mas Zoe sabia que sem
o esforço e o talento dela e de Morena, nada disso estaria
acontecendo.

Recentemente, uma atriz muito famosa havia visitado a loja e


sua temporada em praias exóticas estava sendo muito bem
documentada pela mídia. Os biquínis da Azure apareceram em
vários lugares e o nome da marca começava a chamar a atenção.

Era sobre isso que o repórter comentava neste exato momento.

“Angelica Zahra é como uma evangelista da marca. Como vocês


se sentem sobre isso, meninas?”

Morena, com seu gracioso sotaque e espontaneidade,


respondeu. “Eu gostaria de conhecê-la pessoalmente! Ela é tão
talentosa. Eu sou uma fã, na verdade. E que bom que ela gosta da
nossa moda praia, Zach.”

“Eu gostaria de agradecer os paparazzi que a perseguem e que


estão fazendo propaganda grátis para nós!” Zoe riu. “Nossos
biquínis ficam tão bem nela!”

A pequena fábrica já estava trabalhando na terceira coleção.


Morena e outra pessoa tomavam conta da parte comercial enquanto
Zoe e assistentes cuidavam da parte criativa.

Zoe cada dia se tornava mais confiante, e Wolfgang havia prometido


verificar as contas com atenção para ter certeza de que o sonho não
era apenas uma ilusão. Mas naquele momento, Zoe sentia que
todos os seus sonhos profissionais eram possíveis. Ela estava
alçando voo, e mesmo que alguma insegurança a assolasse
ocasionalmente, ela sentia-se confiante de que havia seguido o
caminho certo.

“Somos apenas uma marca indie. Nunca esperamos a


repercussão que tivemos. A coleção Afrodite esgotou, na verdade.”
Morena informou ao repórter, com um tom de orgulho na voz.
“Morena tem uma visão de mercado muito boa e consegue fazer
minha visão vendável! Ela é um gênio!”

“Ah, guria, nem começa!”

O repórter elogiou a sinergia das duas. "Estamos tão felizes por


essa lufada de novidade no segmento de moda praia! Vocês formam
uma parceria bombástica! Agora, como fazer parte da diretoria do
seu negócio de família impacta na sua carreira como design de
moda, Zoe?"

“Bom, é verdade. Mas embora eu tenha uma cadeira lá, é minha


tia Claire que comanda tudo agora. Ela está indo muito bem.” A
empresa de sua família estava mal das pernas, mas Wolfgang havia
prometido que isso ficaria no passado em breve.

Sua tia Claire tinha uma enorme ligação com o ramo e na parte
operacional era capaz de reerguê-la, se tivesse uma administração
contábil consciente. Wolfgang não gostava de perder dinheiro ou
oportunidades, e estabeleceu metas agressivas. Porém, sem a
administração corrupta e confusa de seu pai, as coisas estavam
começando a entrar nos eixos de novo, ela relembrou-se com um
sorriso.

Além disso, ver sua tia florescer à frente do que ela mais gostava
de fazer era fantástico! “Tudo o que eu tenho que fazer é dar meu
suporte a ela. Ainda estamos nos recuperando de algumas
dificuldades passadas. Mas o mais importante, é que somos muito
amigas. Ela me apoia e o amor dela me dá forças. E eu tento
devolver isso.”

“Que adorável! E o seu projeto paralelo? Nos conte mais.” o


repórter havia vindo muito preparado. Naturalmente, Zoe já
esperava por isso.

“Ah, Correndo com os Lobos… É a minha marca pessoal, você


sabe. Nossa coleção de outono será lançada em dois dias!”
Paralelamente a Azure, que era seu projeto de moda praia com
Morena, Zoe havia começado sua própria marca de roupas. Ela
havia inaugurado a loja há apenas um mês, mas o lançamento da
coleção seria durante um evento coletivo onde ela esperava ter
alguma visibilidade.

“Estamos todos aguardando ansiosamente por isso!”

Havia sido desta maneira que Zoe passou um ano da sua vida:
trabalhando duro por seus projetos.

E ela conseguiu ver Justin apenas uma vez durante esse tempo.

Aconteceu quando Zoe voou às Maldivas para fazer as fotos


para a coleção da Azure. Aqueles dias voltavam à sua mente com
frequência, assim como a pergunta sem resposta que se instalara
desde aquele fim de semana em sua mente.

∞∞∞
FLASHBACK

Justin e Zoe tinham se encontraram com identidades falsas em


um resort, a alguns meses atrás. Ela estava em uma ilha nas
Maldivas, com Morena, a equipe de publicidade e sua própria
equipe, as modelos e os usuais seguranças, quando recebeu um
telefonema.

“Eu quero te ver.”

Ouvir a voz de Justin novamente acelerou seu coração, e ela


ficou muda, com medo de chamar a atenção para seu
comportamento. Ela estava cercada de pessoas e imaginava que
era obvio que estava falando com um amante.
“Diga que sim e diga para sua equipe que cuide das coisas
enquanto você não está. Depois vá para o aeroporto e não se
preocupe. Tudo está sob controle.”

“Mas…”

“Diga sim.”

“Eu não posso…”

“Pode sim. É só dizer se quer.”

“Eu quero.”

“Então está feito. Tem um avião esperando você no aeroporto.”

“Você é maluco!”

“Uhum.”

Ele desligou, mas o coração de Zoe parecia querer saltar pela


boca. Como isso poderia dar certo? Ela só podia imaginar que os
irmãos tinham combinado isso. Pois só daria certo se de algum
modo, os seguranças que estavam com ela não fossem um
empecilho…

Porém, mais uma vez ela confiou plenamente neles.

A troca de seguranças no aeroporto, sob ordens expressas de


Wolfgang, foi a chave para que isso acontecesse. Ela embarcou no
pequeno jato privativo, ansiosa demais para relaxar com o
espumante e as flores que a esperavam.

O avião pousou em um resort que ocupava toda uma ilha no Sri


Lanka, com chalés-palafitas privativos cercados pelo mar. O local
era destino de casais em lua-de-mel, e ela foi recebida como Sra.
Nonnenbauer. Era difícil controlar a excitação quando vivia essa
estranha aventura para ver Justin.
Ele a esperava, bronzeado, mais magro, e lindo como sempre.
Se abraçaram e ficaram nos braços um do outro por um tempo, no
deck em frente ao chalé.

“É como um sonho estar com você de novo.” Justin comentou,


afundando o rosto em seus cabelos enquanto Zoe fazia o mesmo no
peito dele.

Não demoraram muito para estarem nos braços um do outro


novamente, mas dessa vez na cama, beijando e amando cada
pedaço de seus corpos. O jantar foi esquecido, enquanto não
puderam saciar a vontade que tinham de estarem juntos.

“Está tudo bem?” Justin perguntou mais tarde, enquanto


estavam na banheira no deck exterior, apreciando o amanhecer.

Zoe estava um pouco pensativa, ponderando sobre sua pequena


aventura para ver Justin e pensando se, afinal, algum dia seria
diferente.

Os irmãos eram como noite e dia. Justin era solar, relaxante,


divertido, romântico. Wolf era noturno, profundo, protetor, sensual.

Justin era teimoso; Wolf era arrogante.

“Estou pensando sobre o futuro, Justin.”

‘, Mas eu sinto… Sinto que estou me afastando de um deles. E


eu não estou certa se isso é bom ou ruim. Como podemos manter
as coisas como eram? E o mais importante: será que devemos?’

“Nosso futuro, eu espero.” Ele deu um de seus fascinantes


sorrisos que o deixavam com cara de menino. Mas Zoe tinha uma
pergunta séria para ele, neste momento.

“O que você planeja fazer quando finalmente acabar? Eu digo, o


plano.”

“Por que você pergunta?” Ele pareceu não entender.


“Você vai se unir a Wolf e ajudá-lo a gerir a família? Ou vai fazer
outra coisa?”

Justin respirou fundo, o sorriso morrendo levemente em seu


rosto.

“Ele quer que eu faça isso. Mas, será que eu devo? Devo é
deixá-lo reinar. Além disso, eu sou um nômade, você sabe.”

“Mas eu achei…” O que ela queria dizer era que ela esperava
que, de algum modo pudessem ficar juntos. Mas, pouco a pouco,
Zoe começava a desconfiar que a situação entre eles nunca voltaria
a ser como naquela noite em Naviedo.

Justin pareceu intuir o caminho de seus pensamentos, e riu.

“Então, minha Vênus está com medo de perder seu harém? Eu


não tenho planos de desistir de você.”

Ele segurou Zoe contra o peito, e ambos ficaram em silêncio por


um tempo, aproveitando o calor do sol. Pássaros cruzaram o céu
azul brilhante da cor chamada Azure.

“Você terá que fazer como os pássaros, Vênus. Viajar na minha


direção quando o verão chegar. De novo e de novo.”

“Mas…” Em sua mente, Zoe queria respostas diretas, mas


desconfiava que isso apenas criaria tensão. Algum deles tinha a
resposta que ela mesma não tinha? Algum deles estava pronto para
desistir? Seria ela a causa da discórdia entre Wolfgang e Justin? Ela
não queria nada disso.

Dessa vez foi Justin que a surpreendeu, com a pergunta


inesperada.

“Me diz, Zoe: você o ama? Ou sou eu que você quer de


verdade?”
Ela não tinha respondido à pergunta na ocasião, mas conforme o
tempo passava, Zoe sabia que estava mais perto da resposta.

∞∞∞
Naquela tarde, após a entrevista, Zoe voltou para casa com a
mente cheia de planos. No dia seguinte, ela embarcaria para Nova
Iorque. Correndo com os Lobos iria debutar numa Semana de Moda
em dois dias.

No quarto, Zoe se deparou com um presente fabuloso sobre a


cama.

‘Hm, o que Wolf está aprontando? Um presente deslumbrante é


sempre o jeito dele de dizer: Essa noite sou só seu. Hehe. ‘

Ambos andavam muito ocupados nos últimos meses, e Wolf


viajava muito. Zoe sentia-se um pouco culpada por ter estado tão
dedicada a seus projetos pessoais. Ela gostaria de dividir mais com
ele, mas Wolf não falava muito dos negócios quando estavam
juntos, e ela sabia o porquê, claro. Ele não a deixava saber das
partes mais escabrosas de ser um mafioso. Porém muitas vezes
Zoe pensava que ele não devia carregar sozinho todo esse peso em
seus ombros.

Ela pegou o bilhete com o presente.

'Que tal essa noite? Sinto falta dos seus olhos


brilhantes. Sinto falta do seu sorriso. Preciso de um refil de
você.'

Zoe abriu a caixa, excitadamente, aprovando o vestido dourado


e sensual escolhido por Wolf.

Talvez fosse uma boa oportunidade de voltar a dividir mais


tempo com ele, como quando ela voltou de Naviedo e passavam
muito tempo juntos?
∞∞∞
“Você dança bem melhor que eu! E eu não devia ter bebido tanto
champanhe, também.” Zoe confessou, sorrindo. Ela estava nos
braços de Wolf, no terraço de um hotel glamoroso, e a banda tocava
jazz para alguns poucos casais esta noite.

“Não é como se os seus saltos pudessem me matar. Quero te


ensinar a dançar algum dia. Sei que você aprende rápido.” ele
flertou, porém, Zoe sentia que ele estava um pouco distante esta
noite.

“Sim, eu te mostrei, certo? Quero treinar minha mira com mais


frequência, também.” Alguns meses antes, Zoe teve as aulas de tiro
que ela prometeu a si mesma. Wolf a ensinou a usar armas de fogo.

“Só depende de você, Luvinhas. Que bom que você pensa


assim, porque tenho outra coisa para você.” Wolf a conduziu de
volta à mesa quando a música terminou.

‘Ele nunca fez nada assim antes… Algo tão público. E ele está
usando ponto eletrônico o tempo todo…’

“Wolf, tem algo errado? Você não está realmente aqui, comigo.”

Ele sorriu e removeu o ponto, por um momento, discretamente.


Então, Wolf pegou sua mão na dele.

“Eu acho que eu nunca te disse ‘Eu te amo’, disse?”

Zoe engoliu em seco e ficou corada. Ainda assim, algo dentro


dela não estava confortável esta noite.

“E será esta noite?”


“Sim, esta é a noite. Eu te amo, Luvinhas. Eu te amo, Zoe.”

Ela se perguntava se ele estava sendo sincero. Wolfgang não


era esse tipo. A intensidade com a qual os olhos dele escaneavam o
seu rosto a deixavam insegura.

O polegar dele acariciou as costas da sua mão em padrões


agradáveis. Wolf suspirou.

“Me desculpa te usar assim. Preciso de um álibi esta noite.”

Isso foi um choque. As palavras doces apenas serviram ao


propósito maior.

“É isso. Tudo vem antes. Você só pensa em planos e estratégias.


Você não poupa nada, nadinha, disso.” Zoe se ouviu dizendo, mais
afetada do que gostaria.

“Eu gostaria poder fazer isso. Mas não vou pedir desculpas por
isso. Eu faço o que é melhor para todos nós.”

‘Ele nunca retrocede no que quer que tenha planejado…’ ela


constatou.

“Às vezes é difícil não te odiar.”

“Eu sei. Você não me ama. Você ama a ele.”

As palavras inesperadas dele a chocaram.

“Eu amo vocês dois.” Ela sussurrou.

“Isso é algo difícil de acreditar.”

Zoe o encarou, incrédula. Então ela entendeu.

“Eu acho que preciso provar isso para você, então.”


“Talvez. Mas nesse momento, eu vou desapontá-la um pouco
mais. Me desculpe por isso. Mas voltando às questões práticas, isso
não muda o que sinto por você.”

“Você está me assustando. Você é mesmo humano?!”

“Claro que sou. Sinto da mesma maneira que você é capaz.


Provavelmente precisaremos de um replanejamento em breve.” Ele
desviou o olhar brevemente, falando mais baixo. “Nós três, quero
dizer.”

“Sinto muito.”

“Não lamente. Apenas preste atenção agora.”

Zoe ainda estava confusa demais para nem sequer concordar, e


Wolfgang anunciou.

“Eu não vou com você para Nova Iorque amanhã, Zoe.”

Ela o encarou em choque. Wolf garantiu a ela várias vezes que


estaria lá, na primeira fila, torcendo por ela.

“Por quê?! Você pode ao menos explicar por quê?”

Os olhos dele estavam vermelhos, mas ele não os desviou nem


por um momento. Então, ele empurrou uma caixa em sua direção.

“O que é isso?”

A pesada caixa de madeira era bonita por si só. Zoe a abriu com
cuidado, notando que suas mãos estavam trêmulas.

“Documentos?!”

Debaixo dos papéis, ela viu uma pistola. Mas esse não era o
ponto. Zoe escaneou os documentos, brevemente.

“Divórcio?!”
Capítulo 16
“Divórcio?!”
“Você está mais surpresa do que pensei que estaria.” Wolf
comentou.

‘Eu… O que eu perdi?! Wolf é tão cruel assim? Me chama para


sair e…’

Seus lábios tremiam enquanto seus dedos amassavam os


papeis. ‘Não consigo entender! Ele está me punindo?’

Sua mente não conseguia assimilar. Ela se sentia como se


alguém tivesse puxado o tapete debaixo dos seus pés. Zoe se
sentia nauseada e seu corpo tremia contra sua vontade.

“Você pode… por favor explicar?”

“Você realmente não sabe os motivos?”

Uma compreensão súbita a atingiu e Zoe se esforçou para não


mudar a expressão chocada do seu rosto.

‘É uma farsa! Tem que ser! Faz parte do plano! Meu Senhor,
meu coração está falhando por causa disso. Maldição.’ ela tentou
controlar a respiração. ‘Tenho que seguir com isso. O plano.
Wolfgang está fazendo isso porque é necessário. Ele me pegou de
surpresa com isso porque é importante. Ou será que estou em
processo de negação?’

“Por favor, me dê um sinal.” Zoe implorou baixinho enquanto as


lágrimas enchiam seus olhos.
Ele mordeu o lábio inferior. Ela entendeu como um sinal de que
tinha que confiar nele.

“Por quê?!”

“Aceite isso como meu último presente a você. Você está livre,
Zoe.”

“Você está mentindo.”

“Sua reação me surpreende. Lembro de suas palavras antes de


você ir para o altar. Você me despreza.”

“Isso não era um problema para você antes.”

“Mas agora é.”

‘Droga. O quanto disso tudo é uma farsa?’ ela se perguntou,


nervosa. “Ok. Então acabou. As coisas sempre são do seu jeito ou
de jeito nenhum.”

“Você me conhece bem.”

Zoe hesitou, mas atirou a meia taça de Vosne-Romanee, que


custava $6.000 dólares a garrafa, na cara dele.

Wolf apertou os lábios, pego de surpresa. O corpo inteiro de Zoe


tremia. Ela sabia que Wolf poderia facilmente tê-la impedido. Mas
ele não fez nada.

Os olhos verdes de Wolf se tornaram tão claros e ela viu as


gotas escorrendo no rosto perfeito dele. Mas ele não se moveu nem
um centímetro. ‘Jesus, o que eu fiz?!’

“Ah, Luvinhas mostrou as garras de novo.”

“Você gosta mesmo de um drama. Me trouxe nesse lugar só


para me humilhar.”
“Provavelmente eu goste. Mas sua reação é diferente do que eu
esperava.”

“E a sua é exatamente o que eu esperava. Digna de um porco!”

“Eu não entendo o seu tom magoado, Zoe. Fui justo com você.
Até te salvei da sua situação de mercadoria.”

Ela respirou fundo, chocada em ouvir essas palavras vindas


dele. Zoe oscilava entre pensar que era uma encenação necessária
e as pequenas doses de veneno que parecia perceber em cada
palavra dele.

“Mas acabou. Vá. Eu não quero você. Eu nunca quis, na


verdade. Tentei conduzir isso de forma civilizada, mas você é muito
imatura para isso.”

“Ei, isso magoa.”

“Eu não me importo. Por nossa breve experiência juntos, vamos


nos divorciar como pessoas normais.”

“O quê?! Então esse é o final bom?!”

“Espero que você seja esperta o bastante para não tentar saber
como é o final ruim.”

Zoe olhou ao redor, boquiaberta. Todo mundo ao seu redor se


tornava suspeito agora: o garçom, o bartender _ e até as pessoas
nas mesas.

‘Ele é bom em ferir. É quase como se ele estivesse ferido,


também.’

“Alguns minutos atrás estávamos rindo e agora…”

“Você deve ir agora, Zoe. Eu nunca quis que você sofresse. Fiz
isso para te ajudar. Você mexeu com o meu lado bom moço. Mas
você não pertence a este mundo. Então, é isso. Você está livre para
ir.”

“OH, Wolfgang! Eu nunca pensei que isso fosse doer tanto!”

Zoe balbuciou confusamente, não sabendo o que fazer a seguir.


Isso tirou suas forças. Seus membros pareciam feitos de geleia.

“Tenha uma vida bonita e bem-sucedida longe do submundo. É


sua última chance, Luvinhas. Agarre enquanto pode.”

Ele franziu o cenho, analisando suas reações, mas as lágrimas


nos olhos de Zoe borravam sua visão.

Wolf chamou um nome em voz baixa e momentos depois, ela


estava sendo removida do restaurante por dois dos homens dele.

O desenrolar do drama chamou a atenção de todo o restaurante.

∞∞∞

‘Removida de sua presença, como algo de que ele quer se


desfazer.’

No carro, Sandro ofereceu a ela algumas opções.

“Sra. Düssel, nós recebemos ordens para não a levarmos para


casa, mas para sua antiga casa, ou um hotel se preferir.”

Zoe se surpreendeu ao perceber que ela estivera tão absorta


com seus negócios que não viu isto acontecendo debaixo de seu
nariz.

Os homens ao seu redor, parte da máfia da família Düssel, a


tratavam com respeito, mas não estavam dispostos a concessões.
Mas Zoe não faria nada inesperado.

“Então…?”

“Leve-me para minha casa, Sandro.”

Mas Sandro ligou para alguém e mandou enviarem a bagagem


da Sra. Düssel para seu endereço de solteira.

‘Isso foi planejado. Não importa como, isso é tão cruel!’

Zoe nunca pensou que retornaria para a casa onde cresceu


desse jeito.

“Sra. Düssel, também temos ordens de montar guarda ao redor


da casa durante a noite, e ir com você para Nova Iorque como
planejado. A diferença é que você não irá no jato privado de Wolf.
Mas temos bilhetes de primeira classe para amanhã de manhã.”

“Entendo. Eu me pergunto porquê ele está fazendo isso.”

“As pessoas precisam se acostumar com a ideia de que você


não é mais a Sra. Düssel antes que ele retire a proteção, ...Sra.
Düssel.”

“E você deveria continuar me chamando assim, Sandro?” Ela


encarou um dos homens mais próximos de Wolfgang, e se
perguntou porque ele era o escolhido para estar com ela neste
momento.

“E se for apenas temporário? Sou um homem que espera para


ver. Ou talvez eu seja apenas um romântico tolo.”

O outro guarda-costas ergueu a sobrancelha em dúvida. Zoe deu


boa noite a eles e entrou na casa.

Sua Tia Claire a esperava, apreensiva.


“Querida, o que aconteceu? Você está fantástica, mas… Seu
rosto me mostra que você não se sente assim…”

“Oh, titia… Wolf quer o divórcio!”

Ao menos Zoe tinha sua tia que a apoiava e ofereceu palavras


de consolo e uma xícara de chá quente. Mas ela também estava
confusa.

“Não consigo entender, Zoe. Aquele homem... ele te ama! Sei


disso! Ele te ama e tem algo por trás disso tudo.”

Zoe desconfiava que havia um motivo muito importante por trás


de todo o drama público. Wolfgang havia insinuado que aquilo
poderia ser um álibi, mas o jeito feito… Ela tinha medo de que o
estivesse perdendo de verdade. “Tenho certeza disso. Não chore,
querida. Vi isso nos olhos dele. A verdade prevalecerá, no fim. Seja
paciente…” Sua tia era uma defensora de Wolfgang, com certeza.

Zoe sempre ficava pasma com a percepção da sua tia, mas as


palavras dela só a deixaram mais confusa.

“Ore por ele. Ele pode estar fazendo isso para sua proteção. É a
única explicação plausível.”

“Obrigada, titia. Vou para meu antigo quarto. Preciso ir para


Nova Iorque amanhã cedo. A Semana da Moda… Eu não estou
mais animada para isso, mas tem um monte de pessoas envolvidas.
Eu não posso deixá-los na mão.”

“Sim, Zoe. É o que você precisa fazer. Isso vai te manter com a
mente ocupada, também.”

Zoe foi para o seu antigo quarto, após abraçá-la e se despedir.


‘Tenho muitas pessoas me esperando em Nova Iorque para
cancelar a passarela. Eles dependem de mim. Eu preferia não ir.
Tenho que manter a agenda. Wolf está me usando como álibi, isso é
fato. A notícia do nosso rompimento vai se espalhar. Isso distrairá
seus inimigos… Seu pai. Será que Justin está com Wolf, nesse
exato momento? Ela se lembrou dos filmes de máfia com violentos
massacres pela cidade. Qualquer barulho a fazia pular de susto,
agora. As palavras da minha tia não me acalmaram, na verdade. Se
eu ao menos soubesse como é o plano…, mas eles não me deram
os detalhes. Mas eu sei… que vai ter muito sangue derramado. Vou
rezar pela segurança deles.’

Zoe passou a noite insone. Sua mente vagou com questões,


dúvidas e teorias. E para suas lembranças de como foi voltar de
Naviedo e ser a esposa de Wolfgang Düssel, afinal.

∞∞∞
FLASHBACK

“O que acha?”

Wolf tirou os óculos de sol assim que pisaram no gramado de


uma mansão em reformas. Ali seria a casa deles em alguns meses.
No momento, os arquitetos mantinham dezenas de pessoas
trabalhando incansavelmente para entregar tudo dentro do prazo
apertado que Wolf tinha dado a eles.

Zoe olhou as plantas em suas mãos mais uma vez, chocada.

“Parece que você pretende transformar isso em um castelo da


era contemporânea. Onde estão o fosso e os dragões?”

“Ah, sua engraçadinha. Olhe com meus olhos por um momento.


Eu estou garantindo que teremos toda a segurança que
precisamos.”
Zoe sabia que tinha que se acostumar com isso. Com gente
dentro de sua casa na maior parte do tempo, guarda-costas e
reuniões à portas fechadas, e sabe-se lá o que mais. Ela suspirou.

“Tudo é melhor do que morar com Walter. Teremos nosso


pequeno forte e ele será lindo.”

“Tenha um pouquinho de paciência, Luvinhas.”

No momento, eles estavam no prédio onde Wolfgang morava _ e


que era o QG e residência de Walter Düssel. Embora Wolf tivesse
um andar só para si, isso não era o suficiente. E Zoe não via a hora
de sair da vigilância do sogro.

Sempre que estavam juntos, Zoe tinha a impressão de que


Walter preferia que ela não estivesse. E por mais que Zoe tentasse
ser agradável com o sogro, ela sentia o olhar dele rastejando sobre
ela como uma serpente, cheio de desprezo e… ciúmes?

Ela evitava ficar sozinha com ele, pois sabia que assim que Wolf
se afastasse, ele poderia fazer algo. E Wolfgang sabia disso
também.

“Eu não tenho paciência… Você sabe. Eu estou com saudade de


você.”

Walter tinha ocupado Wolfgang tantas vezes durante dias e


noites, que ele mal tinha tempo para a esposa. Ele estava realmente
cansado e Zoe sabia que ele estava tendo problemas para dormir,
também. Ao mesmo tempo, Walter sempre comentava na frente de
Zoe que queria que ela engravidasse logo…, mas ela duvidava que
fosse verdade. Aquilo era bizarro, para dizer o mínimo.

“Não se preocupe, Luvinhas. Nós vamos batizar essa casa


desde o jardim, a garagem até o sótão e cada closet.”

“Bom, podemos começar agora.” Ela ficou na ponta dos pés e


sussurrou no ouvido dele, mordendo o lóbulo logo a seguir. “O andar
de cima está quase pronto, não está?”

Ele respirou fundo, descendo a mão pelas costas de Zoe e


pousando em sua nádega. “Eu adoro suas ideias, meu amor.”

Em menos de dez minutos eles estavam em um closet no andar


de cima, Wolf arrancando suas calcinhas e a colocando de costas
para ele contra um dos armários. Era tudo o que Zoe queria.

Eles fizeram isso com cada um dos cômodos durante a reforma


até poderem se mudar definitivamente para sua casa e inaugurarem
oficialmente a cama de casal, sem a sombra de Walter para
assombrá-los.

Ela não conseguia acreditar que havia um papel de divórcio


entre eles agora.

∞∞∞
Pela manhã, Zoe estava pronta para viajar para Nova Iorque, e o
seu telefone estava cheio de mensagens sobre trabalho e
compromissos. Suas assistentes já estavam lá para preparar tudo.
Havia uma pequena equipe, modelos, e a produção envolvida neste
projeto. Embora sua mente estivesse atordoada, essa era a
diferença entre encarar aquilo como profissão ou como o
passatempo de uma garota rica. Ela poderia desistir e esconder a
cabeça como um avestruz até tudo passar, mas isso era o certo?

Zoe tinha os exemplos de Wolfgang e de Justin. Eles não


deixavam os problemas pessoais interferirem no que eles tinham
que fazer. Além disso, Zoe sabia ser importante que ela estivesse
em Nova Iorque.

Em todas as televisões por onde passava, notícias terríveis


sobre a noite anterior pipocavam. Uma delas chamou mais atenção
que as outras:
À
ARMANDO RIZZUTO, LIGADO À MAFIA, FOI
ENCONTRADO MORTO COM FICHAS DE PÔQUER NA
GARGANTA, DIZ POLÍCIA

A foto que ligava o nome à pessoa não deixava dúvidas sobre a


identidade. Zoe estremeceu, não por pena de Armando ou pela
brutalidade do crime, mas por pensar que Wolf estava por trás
daquilo.

Depois da sala de raio-X, onde a pistola que Wolf deu a Zoe foi
separada dela, Sandro discretamente a devolveu.

Ele piscou, e Zoe a escondeu como foi ensinada. Isso apenas a


deixou mais ansiosa, no entanto.

“Duvido que Wolf teria lhe dado isso se não fosse para estar o
tempo todo com a Sra. Düssel.”

“Obrigada, Sandro. Mas espero que você me dê cobertura se for


necessário. Confio na sua experiência lidando com isso.”

“Não se preocupe, Sra. Düssel. Só câmeras estarão disparando


onde estamos indo. Passarelas têm um monte delas, certo?”

“Espero que continue assim, Sandro. Mas… Você não pode me


dizer nada?”

“Do que está falando, Sra. Düssel?”

“Você sabe. Vi os noticiários da noite anterior enquanto


estávamos no carro. Os jornais reportaram muitas prisões, incêndios
e assassinatos. Então, pelo menos me diga… Como está Wolf?”

“Sra. Düssel… Wolf está bem. Isso vai acabar logo. Só


mantenha a sua agenda e ele saberá que você está bem.”

“Por que isso foi necessário, Sandro?”


Ele hesitou, mas por fim falou em tom baixo. “Para seu próprio
bem. Legalmente, as coisas serão mais fáceis para a você se algo
der errado e a polícia chegar até você. O divórcio é sua saída limpa
se Wolfgang for pego pela polícia depois de tudo o que ele tem que
fazer. E o resto… São álibis irrefutáveis que a impedirão de ser
interrogada sobre o que você não sabe. Fique tranquila. Nada disso
será necessário. E quanto menos você souber, melhor.”

Ela engoliu em seco, tendo certeza de que aquele era o Dia D.


Seu coração ficou apertado, mas tudo o que ela podia fazer era
seguir o script e não causar problemas.

“Obrigada, Sandro. Espero que isso termine logo.”

∞∞∞

A viagem foi rápida e tensa, pelo menos para Zoe, mas eles
tiveram uma surpresa quando chegaram ao aeroporto.

“Onde estão nossos homens? Os que deviam estar esperando


por nós?” Sandro comentou logo que pisaram os pés na área de
desembarque. Eles estavam no portão com os outros passageiros,
indo em direção às esteiras.

“Não estou vendo nenhum deles…” o outro guarda-costas


comentou.

Ao mesmo tempo que seus guarda-costas, Zoe percebeu


suspeitos no meio da multidão. E eram muitos deles!

“… Algo deu errado!” Ela alertou quase junto com os experientes


homens de confiança de Wolfgang.

“Atiradores!” Sandro gritou.


Ele empurrou Zoe para o chão, usando seu corpo para protegê-
la. Zoe fechou seus olhos por instinto.

BANG! Um tiro ecoou no saguão.

Depois disso, o caos se instaurou.

Foi quando Zoe o avistou, caminhando a passos largos em sua


direção, ignorando os civis que corriam e gritavam.

“Justin!” ela murmurou, surpresa. Ele estava com uma jaqueta


pesada, camisa xadrez e óculos escuros que Zoe nunca associaria
a ele, mas ela o reconheceria em qualquer lugar.

Outro tiro à queima-roupa quase a deixou surda.

"UGH!" Sandro caiu sobre Zoe, e ela viu sangue no terno dele.
Ele ainda estava usando o corpo dele para protegê-la, e continuava
atirando contra os inimigos.

“ZOE! VEM COMIGO! Sandro! Você pode nos seguir?!”


Justin estendeu a mão para ela.

“KURT?!” Sandro exclamou, surpreso ao reconhecê-lo.

“Sim. Vamos sair daqui! O aeroporto está cheio deles!” Justin


confirmou.

“Vocês vão mais rápido sem mim. VÃO! VÃO!” Sandro os urgiu
a partir sem ele.

Mais tiros.

Justin agarrou a mão de Zoe para ajudá-la a se levantar e a


puxou para si. Ele atirou em um homem próximo que mirava neles.

E então, os dois correram!


Eles estavam sendo perseguidos por mais de dez caras
armados, e Zoe tentava encontrar rotas alternativas para escapar.

Depois de cerca de cinco minutos de perseguição em dentro de


um dos maiores aeroportos do mundo, Zoe estava sem fôlego.

Ela não tinha tempo de se perguntar que parte do plano deu


errado, apenas rezava para que Wolf estivesse vivo e bem.

"Para o estacionamento!"

Justin concordou e mudou a direção, felizmente evitando um


grupo de seguranças que vinham diretamente para eles.

Zoe avistou o portão de saída, finalmente. Nunca uns poucos


metros pareceram longos quilômetros para ela.

Um homem surgiu da multidão, com a arma apontada para


vocês. Justin apontou a arma dele para o cara.

De repente, uma criancinha escapou de sua mãe aterrorizada e


correu pelo espaço vazio entre eles e o portão de saída.

Se eles atirassem, a criança correria risco de vida!

Zoe soltou a mão de Justin e correu para a criancinha, o


pegando no colo e o entregando para a mãe assustada.

A mulher simplesmente agarrou o seu bebê que chorava e girou


nos calcanhares, correndo como se não houvesse amanhã.

“ZOE!”

Quando ela se virou novamente, o homem estava apontando a


arma para sua cabeça.

‘Uh-Oh!’

“LARGUE A ARMA, SANDERSON, OU ELA MORRE!”


“OK. NÃO ATIRE. ESTOU JOGANDO A ARMA.”

Em segundos, ambos estavam cercados por gângsteres, e Justin


disse,

“Eu me rendo. Deixem-na ir. NÃO TOQUEM NELA. Não


esqueçam que Walter é caprichoso. Ela é família.”

“Ok. Ela deve ser levada, também. Mas nós não precisamos feri-
la se você não tentar bancar o engraçadinho.”

Justin trocou um olhar com Zoe e concordou. Ele provavelmente


tinha um plano, e ela sentiu que devia seguir a deixa.

Um deles veio colocar a mão em Zoe e ela o afastou


bruscamente.

“Você é surdo?! Não coloca a porra da mão em mim!”

“Então cala a boca e anda, piranha.”

∞∞∞
Zoe se preocupou porque eles algemaram Justin. Mas, alertados
ou não pelas palavras de Justin, eles mal a tocaram, apenas
pegaram sua bolsa. O casal foi separado e levados em dois carros
diferentes.

Justin lutou quando viu que iam fazer isso, mas eles a
ameaçaram para fazê-lo se comportar.

‘Isso está saindo do controle…’

“Não se esqueça: Walter não gostava de gente burra


trabalhando para ele. Se você tocar o que ele acha que é dele, esse
pode ser o seu fim.”
Os carros pegaram a autoestrada. O carro onde Zoe estava ia
atrás do que levava Justin, e ela estava no banco do passageiro ao
lado do motorista.

Um capanga estava atrás de Zoe. Mas Justin estava em uma


van com mais cinco homens. Ele era o prisioneiro perigoso, afinal.

“Onde você está nos levando?” ela inquiriu.

“Calada, madame. No momento não sabemos o que é para fazer


com você, mas não significa que você tem outros privilégios.”

Ele continuou trocando mensagem por celular com alguém.


Depois de um tempo, Zoe percebeu que o motorista estava apenas
seguindo a van.

“Qual é a daquele motoqueiro?” Os olhos do motorista estavam


colados no retrovisor, agora. O capanga nº2 e Zoe olharam para
trás.

Um motoqueiro vinha à toda velocidade, mas com a direção


cambaleante, para alcançá-los.

“Eu acho que é um dos homens de Wolf!” o capanga falou para o


motorista.

Zoe reconheceu Sandro e exultou em silêncio. O capanga n.º 2


falou ao telefone.

“Tem um filho-da-puta bancando o herói de ação na nossa cola.


O que fazer?”

“Que pergunta estúpida! Se livre dele! Nosso prisioneiro é a


prioridade.” A voz se fez ouvir.

Enquanto isso, Sandro estava chegando mais perto do carro, e


atirou. O homem no banco de trás puxou sua arma e atirou também.
‘É minha oportunidade!’ Zoe pensou. ‘O motorista não pode fazer
muito com as mãos ocupadas. Mas posso tentar ajudar Sandro!’

“AI, MEU DEUS, ELE ESTÁ ATIRANDO!”

Zoe gritou o óbvio e se abaixou no banco, fingindo querer


apenas se proteger. Mas era uma manobra para pegar a arma no
coldre em sua coxa.

O capanga ainda não tinha conseguido atirar na moto em


movimento, e Sandro se alinhou ao carro, pelo lado do motorista.

Zoe viu que ele estava sangrando, mas tinha os olhos brilhantes
de um possuído. Ele puxou sua arma de novo e Zoe soube que
tinha uma única chance de fazer a coisa certa.

“LARGA A ARMA! LARGA A ARMA AGORA!” Zoe apontou


sua arma contra o cara no banco de trás.

“QUE PORRA É ESSA?!” o capanga gritou.

Enquanto isso, o motorista tentava manobrar para forçar Sandro


fora da pista, e Zoe perdeu o equilíbrio.

Um tiro ensurdecedor ressoou dentro do carro, e Zoe gritou.


Tudo estava vermelho ao seu redor.

O carro ziguezagueou na estrada.

Por um momento, Zoe pensou que tivesse sido sua arma. Mas
não. Ela agarrou o volante quando o motorista tombou para o lado.

“Droga!”

Zoe conseguiu controlar e parar o carro e exalou pesadamente,


de olhos arregalados. O outro homem do banco de trás saiu do
carro rapidamente quando Sandro chegou.
‘Eu ainda estou tremendo! Senhor! O parceiro dele atirou dentro
do carro e o matou por acidente! E eu escapei de morrer!’

Ela desceu do carro de novo, evitando olhar o homem morto ao


seu lado. Tinha sangue para todo lado.

Lá fora, os dois homens se enfrentam, mas Zoe não perdeu a


van de vista.

Sandro estava ferido e sangrando, e estava perdendo a luta.


Depois de outro soco bem colocado de seu adversário, ele caiu no
chão pesadamente. O capanga sacou a arma.

“Corre, Zoe. Sai daqui…” Sandro gritou para ela.

Zoe não pensou duas vezes, e atirou no capanga, antes que ele
matasse Sandro.

Naquele exato momento Zoe não se sentiu mal por isso. Ela
ouviu o corpo tombar no cascalho do acostamento.

Em vez de perder tempo pensando no que fez, Zoe correu para


Sandro, deitado numa poça de sangue, com os olhos tremendo.

“Oh, Sandro! Eu sinto muito! Por favor, aguente firme!”

“Ele te ama, Luvinhas… Vai!”

“Shhh! Está tudo bem, Sandro! Obrigada…”

Sandro estava em seus últimos momentos, ela sabia. Ele era um


amigo chegado de Wolf, e ele fez o que pôde para ajudá-la e
protegê-la. Zoe tentou o consolar em seus momentos finais, mas ele
morreu logo após.

Zoe olhou ao redor incerta sobre o que fazer. Carros passavam


pela estrada e Zoe sabia que não podia apenas ficar por ali. O
tempo urgia.
Ela encontrou o telefone do capanga no banco de trás do carro.

‘Certo, garota. Você tem que ser dura. Ignore todo o sangue. É a
sua vida, e a vida de Justin e Wolf, o que importa agora.’ Ela repetia
para si mesma em voz alta, enquanto checava as mensagens.

“Hmmm…”

Alguém identificado como Chuck era o contato da equipe, mas


todas as mensagens eram deletadas após lidas.

Para sua sorte, o capanga printou algumas telas por algum


motivo.

“EQUIPE C deve levá-los vivos para este endereço. O


Chefe está esperando. Reportem para mim. Delete todas as
mensagens.”

‘Ótimo, devo agradecer a falta de memória ou planos escusos,


não importa. Eu posso enviar isso para Wolf…’

Uma mensagem apareceu na tela, assustando Zoe.

"Pegaram ele?"

Zoe hesitou, mas sabia que Chuck viu alguém online. Ela não
podia se entregar. Zoe digitou devagar de propósito.

“Feridos. Ela está ferida também. Indo.”

A resposta chegou quase imediatamente.

“Merda. Ok. Estamos esperando. Você consegue


chegar?”

Zoe enviou um sinal de 'positivo', pegou sua bolsa e seu


telefone, e ligou para Wolf. Ele atendeu na terceira chamada.
“Wolf. Só escuta. Estou enviando um endereço. Eu não sei o que
deu errado, mas Justin foi capturado por minha causa.” Ela mal
parou para respirar. “Eles estão o levando para um lugar em Nova
Iorque onde seu pai está. Estou enviando o endereço.”

Ele ouviu em silêncio. Então respondeu, assertivo como sempre.

“Já tive notícias. Estou indo. Onde você está? Como você está?”

“Na estrada. Estou bem. Devo estar perto do esconderijo dele.


Eu tenho um carro e minha arma.”

O silêncio breve de Wolf denotou sua surpresa e confusão, mas


o tom assertivo retornou.

“Você vai dirigir até o próximo posto de polícia e se entregar.


Diga quem é e que precisa da proteção do FBI. Entendeu,
Luvinhas? Faça isso agora mesmo. Eles vão começar a procurar
por você. E você precisa estar segura. A gente dá um jeito nisso
depois.”

“Quanto tempo até você chegar?”

Ele hesitou.

“Confie em mim dessa vez, Luvinhas. Sei que falhei com você,
mas por favor confie em mim mais uma vez. Estou indo por você e
por Justin.”

“Eu confio em você, Wolf. E você devia saber, seu tolo. Eu te


amo. Mas não posso deixá-lo morrer. Estou indo, também.”

“Não Luvinhas. Não faça isso.”

“Sim, eu farei. Nós somos Bonnie, e Clyde, e Clyde 2, certo?


Então é melhor você voar pra cá, Wolf. Eu não vou desistir de
nenhum de vocês.”

Zoe desligou a chamada e deu partida.


Capítulo 17
“Ok, eu consegui chegar até aqui. E agora? Se eu ao menos
tivesse um plano…”

Zoe avistou a propriedade de uma certa distância. Ela precisava


entrar de um jeito ou de outro. ‘Eu deveria saber o que estou
fazendo?’

Tudo o que Zoe sabia era que Wolf tinha treinamento igual ao
das forças especiais duas vezes por semana. E Zoe tinha feito um
treinamento de iniciante também, por insistência dele. Assim como
as aulas de tiro. ‘Embora seja duro demais para mim, eu consegui
aprender manobras básicas.’

Zoe parou o carro longe da estrada principal e se esgueirou pela


floresta de árvores esparsas ao redor da propriedade. Ela tentou ser
supercuidadosa de não ser pega pelas câmeras nos muros. ‘Agora,
o toque de mestre…'

Zoe enviou uma mensagem de áudio para Chuck, forçando uma


respiração pesada e difícil.

“Ajuda. Sangrando. Aqui… Ele desmaiou…”

Ela sabia que seria difícil manter uma comunicação por texto. Ela
esperava que acreditassem que o capanga tinha conseguido dirigir
até ali, mas não resistiu. Tudo o que eles tinham que fazer era ir
buscá-los.

A voz respondeu.

“Estamos indo.”
Ela se escondeu atrás de uns arbustos perto do portão e
esperou. Vários minutos mais tarde, o portão se abriu. Um grupo de
homens bastante armados correu em direção à estrada,
provavelmente indo resgatar o capanga n.º 2 que eles acreditavam
estar sangrando no carro, ali perto.

Porém, pelo tanto de armas, Zoe tinha certeza de que estavam


preparados para um confronto, afinal, a última comunicação havia
relatado a perseguição de Sandro.

Ela só podia contar com a sorte quando encheu os pulmões de


ar e correu em direção à propriedade.

O portão estava fechando.

Antes de fazer sua corrida para a entrada da mansão, Zoe olhou


ao redor e avistou a van toda salpicada de sangue.

"Meu Deus!!!"

Ela também viu corpos estirados perto dela. Nenhum deles era
de Justin, e isso era uma esperança na qual ela resolveu se apegar.
Porém logo ela foi avistada por um capanga, que alertou os outros.

Ela se deparou com um rastro de munição descartada conforme


adentrou a mansão, com três caras em seu rastro.

"NÃO ATIREM! PEGUEM ELA VIVA!"

Zoe reconheceu a voz de Chuck atrás de si, gritando com os


outros homens, mas ela não se virou para ver.

A mansão se dividia em duas alas, e ela precisava pensar


rápido.

Zoe disparou para a sala de jantar, encontrando um rastro de


caos e destruição em seu caminho.

‘Merda, o que aconteceu aqui?!’


Ela mal teve tempo para reparar nos corpos que ficaram onde
caíram, aparentemente.

‘Justin escapou e está tocando o terror?! Ele fez tudo isso


sozinho?!’ Era a única explicação possível.

Zoe ziguezagueou pelas salas e jogou coisas atrás de si para


retardar seus perseguidores. Então entrou na biblioteca e trancou as
portas duplas, ganhando algum tempo. Ela subiu as escadas
internas e recuperou o fôlego. Os capangas continuavam tentando
aforçar as pesadas portas da biblioteca.

‘Onde está Justin? Sei que ele escapou! Preciso encontrá-lo.’

Ela ouviu um som peculiar do lado externo. Indo até à janela,


Zoe viu um helicóptero vindo naquela direção.

‘Espero que seja Wolf!’

Mas os caras do outro lado da porta não desistiram dela, e Zoe


não podia ficar na biblioteca para sempre!

Agora eles estavam usando um objeto pesado para estavam


arrombar as portas maciças, e Zoe escapou por outra menor,
chegando a um corredor mal iluminado.

A maioria das portas estava trancada, mas uma porta se abriu, e


um cara magro vestido com um jaleco branco ensanguentado veio
na direção de Zoe.

Zoe apontou a arma para ele. Antes que ela fizesse qualquer
outra coisa, o homem ergueu as mãos, e implorou com voz
esganiçada.

“Por favor, não atire. Eu não represento perigo para você. Só me


deixe sair daqui!”

“Quem é você?”
“Sou um enfermeiro. Eu juro! Eu não sou perigoso. Só me deixa
em paz! Quero sobreviver e aquele homem…”

“Que homem?”

“O outro prisioneiro. Ele escapou e está enfrentando os caras.


Você está com ele, eu sei. E se eu te ajudar?”

“E como você faria isso?”

“Eles me disseram para vir para a sala de segurança e trancar as


portas da ala norte, mas eu não sei o que fazer. Desliguei o sistema
das travas eletrônicas! O Sr. Düssel vai me matar quando ele sair.
Eu não sei libertá-lo.”

Zoe abaixou a arma lentamente, decidindo confiar no enfermeiro


desesperado.

“Aqui, pegue a chave do sistema de segurança. Se você


descobrir como destravar as portas, pode libertar seu amigo.” Ele
jogou um cartão magnético para Zoe.

“Obrigada.” ela agradeceu. “Se esconda em algum lugar até que


isso acabe.”

Zoe entrou na sala que ele acabou de sair enquanto ele foi para
o lado oposto.

Ele não estava mentindo. Ela entrou na sala e se deparou com


diversos monitores transmitindo várias partes da propriedade.

Através de alguns deles, que captavam imagens externas, Zoe


viu o helicóptero pousando no heliporto e os capangas leais a
Walter correndo para combater Wolf e seus homens. Era um horror
e ela fechou os olhos por um momento.

“Eu não posso fazer nada sobre isso. Preciso encontrar Justin!”
A câmera desligou abruptamente, atingida por um tiro, tirando
Zoe da mórbida fascinação de ver o confronto lá fora.

Olhando ao redor, Zoe viu muitos monitores desligados, e


percebeu que era sobre isso que o enfermeiro falava.

‘Eu não posso estragar mais do que já está. Eu vou tentar


resetar o sistema.’

Rezando para que não estivesse ferrando com tudo ao invés de


consertar, ela desplugou as telas do servidor, e plugou de novo. o
sistema reiniciou e os vários monitores que estavam desligados
antes também voltaram a transmitir.

“Eba! Funcionou!”

"MICHAEL! Eu vou arrancar o seu couro! Abre essa


porta! Agora!"

Zoe se assustou quando a voz de Walter Düssel reverberou nos


alto-falantes.

Ela olhou as telas. Walter estava em um escritório, e usava o


telefone em sua mesa para falar com a sala de segurança.

‘Ele não pode me ver?! Ótimo! Ele não precisa saber sobre mim
ainda.’

Ela escaneou outras telas, e localizou Justin em um corredor,


arrombando uma porta com trava eletrônica.

"Então, de volta à nossa conversa, Kurt. Seu sangue é


fraco e você e fraco. EU me arrependo de ter deixado você
viver depois que você se virou contra mim. Você sabia que
ela era uma piranha. Você sabia que ela queria nos
abandonar! Te abandonar. Você é como ela, cheio de rancor
e indisciplina…”

Walter falava com o filho mais novo pelo comunicador.


Zoe viu Justin chutar a porta enquanto tentava se concentrar em
desmontar a trava eletrônica. As palavras de Walter saíam pelo
sistema de som da casa inteira e ecoavam num efeito
inesperadamente assustador. Era enervante.

“Justin Sanderson, a sombra que sempre me intrigou.


De onde você tirou esse nome ridículo? Aí está você, como
um verme parasitando meu Wolf. Sempre foi assim, não foi,
Kurt? Você sempre o invejou, sempre viveu à sombra dele.
Sempre abusou da boa vontade dele. Mas você está
corrompendo meu Wolfgang. Você e aquela vaca estúpida.
Mas dessa vez eu te peguei. E dessa vez… você não
escapa. Como sempre, vou ter que colocar as coisas em
ordem. Vou ter até mesmo que punir Wolfgang pelo que fez,
fazê-lo voltar à razão. E a culpa é sua. SUA.”

Zoe rolou seus olhos, tentando se focar, e não dar atenção ao


jogo psicológico sem sentido.

‘Ele está tentando magoar e desestabilizar Justin… Kurt, como


ele o chama. Este deve ser o nome original dele.’

Ela examinou novamente o painel e tentou entender como


funcionava. Depois de algum tempo tentando ignorar o monólogo
derrogatório contra Justin, Zoe encontrou duas opções. Por fim, ela
conseguiu acessar um menu de ajuda no sistema e começou a ler
freneticamente para saber como operar as trancas da casa de uma
maneira inteligente.

‘Parece que não posso ter o melhor dos dois mundos…’

Ela ainda não sabia o melhor modo de fazer isso, mas tudo
indicava que resetar o sistema através de um determinado comando
de segurança iria abrir as portas. Mas devido a um sistema de
retardo que não podia ser alterado, algumas portas iriam abrir antes
das outras. Walter iria sair antes de Justin.
Mas Zoe descobriu que poderia fazer uma transmissão para
todos os comunicadores da casa, porém tinha noção de que isso a
revelaria. Ela achou que era importante que Justin soubesse o que
estava acontecendo em outras partes antes de abrir a porta dele.

‘Desse jeito, ele saberá onde Walter está, onde eu estou e onde
Wolf está, também. Infelizmente, Walter ouvirá as mesmas coisas!’

Zoe apertou o botão e se inclinou para o microfone.

“Justin, eu estou abrindo todas as portas da ala Norte


em minutos. Wolf está na área do heliporto neste momento.
Walter está no escritório da Ala Leste. A porta dele vai abrir
antes da sua, eu não sei como impedir isso.”

Justin olhou para a câmera e deu um sorriso torto.

“Pode fazer. Você mandou bem, Zoe!”

“A putinha acha que pode brincar com os adultos, é?”

Walter interferiu.

“Mais uma vez, você subestima as mulheres, Walter. A


essa altura você já devia saber que está errado.”

Mas o pai dele teve a última palavra.

“Veremos.”

As palavras de Walter podiam ser simplesmente um blefe, mas


ela não duvidava de nada vindo daquele homem. ‘O que Walter
fará? Eu não tenho ideia do que esperar daquela mente insana…’

Zoe puxou o ar e apertou o botão de reset das trancas.

Luzes começaram a piscar no painel, seguidas de beeps


irritantes. Ela olhou as trancas sendo liberadas, uma a uma.
O sistema levou alguns minutos para resetar. Agora todas as
câmeras estavam offline.

‘Isso! Feito. Agora Justin está livre. Devo me juntar a ele.’

Zoe saiu para o corredor. Assim que Zoe deixou a sala de


segurança, Walter Düssel apareceu no corredor vindo de uma das
outras portas.

“Tão, tão estúpida.” Ele falou com um sorriso sarcástico e uma


arma apontada para o peito dela.

Zoe levou a mão ao bolso do casaco onde estava a arma,


instantaneamente. ‘Droga, não consigo sacar antes que ele atire!’

“Agora, largue essa sua arma ridícula e levante as mãos onde eu


possa ver.”

Zoe hesitou.

“Eu não vou repetir, piranha estúpida.”

Sem opções, Zoe fez como ele ordenava quando ouvia Walter
engatilhar a arma. Ele veio para detrás dela e a fez andar com um
empurrão em direção à frente da casa.

Walter a guiou até o salão principal, a arma dele encostada na


sua cabeça o tempo todo.

‘Eu não vou provocá-lo,’ ela pensou. ‘Ele não tem o menor
escrúpulos em matar ninguém, muito menos mulheres. Eu sei que o
único propósito em me manter viva é me usar para escapar de
algum modo.’

Assim que chegam lá, Justin entrou por uma porta.

“ZOE!”
“Hahaha! Começamos tudo de novo, Kurt! Isso não te traz um
déjà vu? Eu me lembro de uma situação similar…” o risinho
debochado de Walter era enervante.

“...!” Justin não conseguiu falar de tanta raiva.

O rosto de Justin se tornou uma carranca de dor enquanto ele


aponta a arma para seu próprio progenitor. “Seu bastardo
maldito!”

‘Meu Deus. Justin atirou nele quanto Walter matou a mãe de


Justin na frente dele…, mas Walter sobreviveu…’

“HAHAHAHA! Você está chorando, Kurt?! Essa putinha é sua


amante, não é?!”

Walter Düssel olhou para um e outro com um brilho insano no


olhar.

“Pessoas patéticas se merecem. Vocês dois arruinaram meu


Wolfgang. Vocês merecem morrer, vermes.”

“Seu filho-da-puta obcecado. Pare de colocar pessoas entre eu e


você. Aja como homem e pare de se esconder atrás de reféns!”

“Ele está certo, Walter.” Wolf entra pela outra porta, apontando
sua arma para Walter também. “Eu salvei sua vida quando ele
tentou te matar. A decisão de que eu mais me arrependo.”

‘Se eles apenas soubessem como isso é intimidador! Apontar


para Walter é apontar para mim também!’ ela pensava.

“Seu traidor…” Walter falou para o filho mais velho. “Eu sei que
você me vê como o alfa que você tem que derrotar para estar no
topo, mas você mentiu pra mim… Achou que eu não iria te punir por
isso?”

“Eu não me importo em ser o alfa, estar no topo ou qualquer


bobagem do tipo. Isso é sobre você. Não sobre mim.” Ele fez um
sinal em direção a Zoe. ““Deixe-a ir embora. Ela não faz parte
disso.”

“Não, não, Wolf. Você quer. Eu sei.” Walter insistiu.

‘Wolf é o único com que Walter se importa. Como Justin disse,


Walter é doentiamente obcecado por Wolf. Ele vê seu primogênito
como sua criatura; uma versão melhorada de si mesmo. Ele é doido
varrido e viver como nora dele esse tempo foi uma experiência
perturbadora.’

“Como eu suspeitava, você transferiu sua lealdade familiar para


Kurt, você escolheu a ele no fim. E não a mim.”

Wolf não respondeu, mas Justin sim.

“Você sequer sabe o que é família!”

“Ah, então vocês três formam uma família?! Essa piranha é boa
pra vocês?! Observe enquanto faço o mesmo de antes.” Walter
zombou. Ele engatilhou a arma de novo, e Zoe sentiu um frio na
espinha.

“NÃO! Vamos negociar.” Wolf exclamou.

“Não faça nada com ela! É a mim que você quer punir!” Justin
chamou a atenção de seu pai.

Zoe estava angustiada, percebendo que Walter não teria


piedade dela como não teve com a mãe de Justin. Ela nada
significava para ele e ele gostava de jogar.

‘É assim que eu vou morrer?!’

“Você sabe que também merece uma punição, Wolfgang meu


filho. Eu fui muito leniente com você. Um dia você me superará, mas
este dia ainda está longe.”

“Você está perdendo sua capacidade de cálculos, Walter.”


“Ah, é? Pois eu acho que é você que desaprendeu a contar. Três
nunca funciona. Sempre tive a curiosidade de saber como um trisal
acaba,” Walter provocou. “Então eu vou contar até cinco. Vocês
podem escolher: quem vive?”

Ele não demonstrava nenhum medo com as duas armas


apontadas para si.

“A piranha? Seu irmão querido? Vocês dois só precisam escolher


um deles. E atirar. Mate seu irmão, e ela vive. UM.”

O primeiro segundo foi gasto em incredulidade.

“DOIS.”

Lágrimas corriam pelo rosto de Zoe agora; ela não conseguia se


controlar. A voz de Walter hesitou quanto ele viu Justin apontando a
arma para a cabeça de Wolf.

“…!” Walter não esperava por isso.

“O quê?! Não, você não pode…”

“Eu preciso, Zoe. Ele vai te matar de qualquer maneira quando


eu matar Wolf. Desse jeito, os dois perdem.”

“Vê, Wolfgang? Esse é o monstro que você poupou.” Walter


chamou a atenção do filho mais velho. “Ele não hesitará em te matar
para vingar a mãe dele.”

“Ele ama a mulher que você vai matar só pra me ferir,” Justin
falou para Walter. “Ele morreria por ela.”

“Meu filho não é esse tipo de fraco. Diga pra ele, Wolf.”

Wolf manteve-se apontando a arma para Walter e Zoe, e ignorou


Justin.

Walter bufou de ódio atrás dela.


“TRÊS.”

‘Justin seria capaz de matar Wolf por minha vida?! E Wolf


pretende morrer por minha vida?!’

“QUATRO.”

‘Estou sufocando. Eu não quero viver Justin matar Wolf…’

BANG!

Ela gritou.

∞∞∞
Zoe abriu os olhos, inquieta. Alguém estava pressionando um
pano molhado e gelado contra sua testa.

Ela estava enrolada em um cobertor, nos braços de Wolf. Justin


estava cuidando dela. O helicóptero sobrevoava Nova Iorque.

“Eu morri?” ela perguntou.

“Claro que não. Luvinhas tem nove vidas.”

“E você não morrerá se um de nós estiver por perto. Relaxe.


Acabou.” Justin a consolou. Ele tinha vários hematomas e cortes e o
rosto estava inchado de um lado.

“Realmente acabou?” Parecia estranho ouvir isso depois das


horas de pânico e horror que ela viveu.

“Justin está sendo otimista. É só o começo.” Wolfgang sorriu,


suas olheiras bem pronunciadas e rosto ferido com pequenos
cortes.
Ela não tinha notado nada disso antes. Enquanto isso, ela tinha
no máximo alguns hematomas no braço e suas roupas e cabelo
estavam salpicadas de sangue. Ela tinha atirado em um homem, e o
tinha matado. Essa cicatriz era dentro de sua alma, mas ela não se
arrependia.

“O começo de uma nova era, você quer dizer.” Falou Justin para
o irmão, demonstrando otimismo. Com isso, Zoe intuiu, o mais
jovem queria dizer que o reinado de terror de Walter Düssel tinha
acabado. Finalmente.

“Como vocês estão, rapazes?” ela perguntou.

Zoe tocou delicadamente o rosto de Justin e então o de Wolf.


Eles podiam ser homens durões no exterior, mas ela conhecia seus
corações.

E ela sabia o que tinha dito momentos atrás.

Zoe olhou para eles. Eles pareciam serenos e cansados, muito


cansados.

“Nós não parecemos mesmo um trio de heróis de ação?” ela


brincou, tentando animá-los. Por mais que Walter merecesse, Zoe
sabia que não podia ter nada mais pesado do que os irmãos foram
forçados a fazer lá atrás.

“Nem começa, Vênus. Podemos partir pra outro tipo de ação


para conseguir nossa serotonina.” Justin apertou a ponta do nariz
dela, de brincadeira.

“Tenho outras atividades em mente envolvendo sua energia e


resiliência, Luvinhas.” Wolf concordou. “Uma lista enorme, na
verdade.”

Zoe riu baixinho.


“Você poderia começar confortando os seus Clydes e dizendo o
quanto você os ama,” Wolf sugeriu.

“Ai, eu não sei… Estou tão cansada…! Minhas pernas doem!


Meus cabelos doem!” Zoe fez biquinho, entrelaçando suas mãos
nas deles. Ela poderia aproveitar um pouco de mimo.

“Seu cabelo dói?! Ai meu Deus, ela está no modo deusa


exigente! Me ajude!” Wolfgang zombou.

“Aw, pobrezinha da nossa Vênus! O cabelinho dela está doendo!


Shhh… Não reclama, mano. Ela não está no modo gata-brava!”
Justin gargalhou.

Zoe descansou a cabeça nos ombros deles, contente. O trio


estava de volta.

“Mas vocês precisam me contar. Que diabos aconteceu lá?” ela


quis saber.

Os irmãos trocaram um olhar profundo e cansado, e Justin


respondeu, “Eu sei que te assustamos. Mas conhecíamos nosso
pai. Aquilo o faria hesitar.”

“Eu disse que não falharia mais com você, Zoe.” Wolf assentiu.
“Eu só precisava que ele hesitasse por um segundo e tirasse a arma
da sua cabeça.”

“O quê?! Vocês tinham isso planejado?! Como?!” Zoe


demonstrou seu choque. Ela sabia que Wolf era um atirador
excepcional, mas ainda se surpreendia com o sangue-frio dele.

“Sabíamos que ele era esse tipo de bastardo que curte um


joguinho de tortura psicológica”, Justin contou.

“Tentamos pensar nos piores cenários possíveis e nos


preparamos para cada um deles.” Wolf disse.
“Nos preparamos para esse dia por um longo tempo. De algum
modo, ele descobriu parte do plano. E sabemos o que aconteceu.”

“Mas ele não contava com nossa arma secreta! Uma gatinha
manhosa chamada Luvinhas!” Wolfgang completou com uma
gargalhada, enquanto o helicóptero preparava-se para pousar.

∞∞∞
DOIS MESES DEPOIS

“Aqui. Segura isso por um segundo.” Justin pediu.

Zoe segurou a taça de espumante que Justin estava lhe


oferecendo. Wolf estava programando a câmera para uma selfie.
Ela não poderia estar mais feliz.

Esta noite, eles estavam no Nayad, onde tudo começou,


observando a baía iluminada à distância. Era o momento especial
deles.

Os três tiveram muito a fazer durante as semanas subsequentes.

O submundo rapidamente reconheceu Wolfgang como o novo


líder da família Düssel. Mas assuntos desagradáveis ainda
precisavam ser revistos. Justin, ou melhor, a misteriosa figura
conhecida como Kurt, o ajudou nos bastidores.

E naquela tarde, Zoe tinha debutado a primeira coleção de sua


marca em um evento com muitos convidados, e logo depois houve a
festa de gala. Mas ela foi ‘raptada’ de seu próprio evento por dois
lindos homens, em um carro. E o que mais ela podia fazer, a não ser
consentir?

“Ei, minha mão vai aqui, também.”


Wolf empurrou a mão do irmão da curva das costas de Zoe
enquanto os três posaram para a foto.

“Droga. Vamos precisar tirar outra. Você arruinou a foto, Wolf!”

“Justin que arruinou. Ele não podia ao menos se barbear? Mano,


pára que tá feio.”

“Não. Minha barba macia será muito melhor do que seus tocos
de barba irritando a pele dela. Ela vai adorar, principalmente quando
Vênus estiver com uma venda e eu entre as coixas dela...”

“Mano… Não viaja." Wolf balançou a cabeça em descrença.


"Não está se garantindo ser reconhecido apenas pelo seu método?”

“O quê?! Eu nunca usei venda!” Zoe percebeu o comentário e


suspeitou de algo.

Ambos os irmãos riram maliciosamente.

“Apenas diga que quer, e seu desejo será atendido.”

“Sei, sei. Acho que vocês estão planejando isso pelas minhas
costas!”

“Só queremos te dar prazer, Luvinhas. Depois que você nos


contou sobre aquele seu sonho engraçado... A gente percebeu que
você tem fantasias que deveríamos experimentar.”

“Não, não, não… Foi só um sonho. Não quer dizer que… eu


queira.” Mas por dentro Zoe pensava, ‘Eles não precisam realmente
saber que eu só estou bancando a difícil um pouquinho. Quero
experimentar tudo com eles!’

“Bom, vamos brindar! Sua vez, Zoe.”

“Ok. Vamos brindar… À nossa matilha!”


Quando o trio ergueu suas taças, um espetáculo de fogos de
artifício pipocou no céu noturno.

A princípio, Zoe pensou que tinha sido uma mágica coincidência,


então ela entendeu que eles fizeram isso para ela.

Zoe aproveitou o show no céu com cada irmão ao seu lado.

Então ela agarrou o rosto de Wolf primeiro, e depois o de Justin,


para beijar as covinhas de cada um em gratidão!

“Eu amo vocês, rapazes!”

“É porque você tem bom gosto.” Justin riu.

“E é gananciosa pra cacete!” Wolfgang provocou.

“Ambas as coisas, na verdade. E orgulhosamente admito isso.”

A mão de Wolf deslizou para seu bumbum, o apertando com


vontade, enquanto Justin se inclinou para beijar seu ombro,
mordicando sua pele nua.

‘Eu normalmente durmo com um ou com o outro, e é sempre


incrível, mas essa é uma noite especial. Isso sempre faz meu
coração bater tão alto, e eu já estou encharcada só porque eles
estão me tocando ao mesmo tempo…’

“Hm… O que você está fazendo?” ela perguntou, acariciando o


rosto de Justin, observando enquanto ele rolava a alça do seu
vestido para baixo, liberando seu seio.

Mas não por muito tempo, pois Wolf capturou seu queixo e virou
seu rosto para ele para um longo e exigente beijo.

O calor espalhou-se das suas bochechas para o resto do seu


corpo, concentrando-se no mamilo que Justin sugava tão
intensamente, e também se espalhava até o seu delta.
Honestamente, sua xana estava pulsando enquanto os dois a
despiam. A brisa tocava seu corpo, intensificando os arrepios.

“Hmm…” ela gemeu.

Zoe amava suas diferenças e similaridades. Ela amava quando


Wolf mordia sua nuca, enquanto seus dedos afastavam sua
calcinha, entrando nela. Ela amava como Justin brincava com a
língua em seus lábios, enquanto seus dedos excitavam seus seios a
fazendo arquear-se toda na direção dele.

“Quero tocar vocês, também!” Ela choramingou enquanto eles


escapavam de suas mãos gananciosas sorrateiramente.

“Ei, o que você acha, mano?”

“Ela pode nos tocar primeiro essa noite… se ela concordar em


ser vendada.”

“Ah, seus malandros… Eu não quero ser vendada. Adoro vê-los.”

“Você sabe, nós nunca faríamos nada que você não queira.”
Justin murmurou, sedutor.

“Eu sei.”

“Então, o que você quer?”

“Na verdade, eu tenho uma ideia…”

“Agora sou eu que não confio nela…” Wolf riu.

Zoe deu um sorriso diabólico.

“Prometo que vocês não vão se arrepender nem um


pouquinho…”

“Ah, você sabe que sou facilmente manipulável na cama…” O


mais velho relembrou. “Descobriremos no futuro, tenho certeza. Sei
que você tem fantasias loucas nessa sua cabecinha.”

“Sim, Justin?” Zoe perguntou.

“Sim.”

O sim mútuo era a chave para o próximo passo. Os irmãos


Düssel a levaram para a suíte do iate.

Eles estavam babando por Zoe e sua lingerie minúscula, que ela
mesma desenhou especialmente para esta noite! Não era como se
ela não desconfiasse que algo especial aconteceria.

Olhar para aqueles rostos másculos, lindos e safados deixava a


boca de Zoe seca como o deserto, diferente da sua tanguinha!

Ela caminhou lentamente entre eles, aproveitando para livrá-los


de seus smokings e camisas.

Zoe encarou Wolf. Aquele era um jogo que ela sempre ganhava.
Acariciar o próprio mamilo enquanto o admirava descaradamente

“…”

Aquilo o fazia corar como um menino, revelando alguma timidez


que ele normalmente disfarçava muito bem, e Zoe adorava como ele
mordia o lábio em expectativa, muito excitado.

Justin deu um sorriso sarcástico à sua inspeção, mas Zoe sabia


bastar acariciar a barriga dele para vê-lo se retorcer. E ela fez isso,
claro.

“Ngh!”

“Dispam as calças, cavalheiros.”

Zoe se ajoelhou, os olhos brilhantes de excitação, pronta para


fazê-los se retorcer mais um pouco em suas mãos e boca.
Ela admirou a visão dos dois paus, pulsando, duros e com veias
aparentes, à sua total disposição.

E logo, ela os estava sugando, lambendo, mamando um e


depois o outro, os masturbando e massageando suas bolas.
Saboreando seu sal, e a textura sedosa, pulsante, em sua boca.

Zoe os fez gozar para você antes que eles a levassem para a
cama.

Mal seu corpo encosta nos lençóis e Justin exigiu,

“Abra suas pernas para mim, Vênus.”

“Como desejar…”

Segundos depois, ele estava surrando seu clitóris inchado com a


língua, enquanto Wolf a fodia com os dedos e assaltava sua boca
com beijos ardentes.

Zoe gozou em minutos, se retorcendo nos braços deles.

Justin e Wolf trocaram posições e Zoe usou esse tempo para


respirar propriamente.

“Quantas vezes você aguenta gozar antes de nos expulsar do


meio de suas pernas?” Wolf perguntou antes de prender o seu
clitóris entre os lábios.

“OH! Caramba... Hm…!”

A pélvis de Zoe se movia sozinha enquanto ele a chupava, e Zoe


implorou,

“Dentro de mim! Agora!”

“Tão mandona!” Wolfgang provocou.

“Não, eu estou implorando!”


Wolf entrou em Zoe de uma só vez, e ela o prendeu com suas
pernas, querendo que ele se enterrasse nela.

Zoe se sentia consumida por uma luxúria cega, e trocava beijos


com Justin enquanto Wolf bombeava dentro dela, satisfazendo seu
íntimo latejante e exigente. Então Zoe foi para o colo de Justin, o
cavalgando intensamente.

“Quem liga para vendas?” Wolf sussurrou no seu ouvido, o pau


rijo e quente dele cutucando suas coxas por trás. “Eu não me canso
dos seus olhos brilhantes nessas horas. Então, qual é a sua
surpresa para nós?”

“Quero vocês dois ao mesmo tempo!”

Wolf sugou o ar à sua proposta, e Justin lambeu os lábios em


aprovação.

Wolf a preparou enquanto Justin mantinha Zoe em ponto de bala


com sua língua e dedos. Depois de muitas carícias. Zoe se sentiu
sendo invadida em ambos os lados, e um novo nível de prazer foi
liberado.

“Oh! Mais! Mais!”

“Ah, você é tão apertada, Luv..! Ah!”

“Porra, Vênus! Ah, Porra! Isso é tão… hm!”

Enquanto os três se emaranhavam e ela os sentia ao mesmo


tempo dentro de si, se movendo em sincronia, ela se sentia
impossivelmente preenchida por eles, consumida pelo desejo e
amor deles.

Eles a dividiram e a preencheram até que seus músculos não


aguentassem. Zoe explodiu em êxtase, chamando o nome deles. E
eles chamavam por Zoe, de novo e de novo. Era puro êxtase.
Os três eram destinados a ser um só. Estava escrito desde o
início.

Suados e ofegantes, eles trocaram olhares amorosos com ela,


saciados por enquanto.

“Você é a mulher que eu amo, Zoe.” Wolfgang confessou.

“E a minha garota, também.” Justin se incluiu.

Zoe nem tinha forças para falar, ou diria o mesmo. Mas eles
sabiam disso e salpicaram seu corpo de beijos.

'Eu posso ver o amor nos olhos deles. Eu não sei o que eu fiz
para merecer esse amor, mas eu os amo também. Loucamente.'

E dormir nos braços deles, se aconchegando com seus amados,


a fazia se sentir a mulher mais feliz do mundo.

Zoe sabia que teriam apenas um fim de semana juntos.

Mas os três queriam encontrar meios de fazer isso acontecer.


Ela era deles. E eles eram dela.

FIM.
[1] *'Luvinhas' (Mittens, em inglês) é um nome comum que se dão a gatos que têm
patas de cor diferente do resto da pelagem.

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