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Um engano de Natal

O PAPAI NOEL É O CEO

ADRIANA BRASIL
Copyright © 2022 Adriana Brasil

Copyright © 2022 por Adriana Brasil


Todos os direitos reservados.

Capa: Adriana Brasil


Revisão: Sheila Mendonça
Diagramação: Independente
Imagem capa: Adobe Stock

É proibida a reprodução de parte ou totalidade da obra


sem a autorização prévia da autora.

Todos os personagens desta obra são fictícios.


Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera
coincidência.
Contents

Title Page
Copyright
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Epílogo
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Capítulo 1
— Ah, o Natal, tempo de magia, de alegria, encantamento e
de perdão. Adoro tudo que se diz relacionado a essa data. E quando
chega o dia, amo os aromas, a gama de sentimentos que nos
abraça, a troca de presentes, as músicas...
— Pelo amor de Deus, Luíza, músicas não — Heloísa brada
com seu jeito ranzinza de ser. — E, por favor, tire aquelas luzes da
sacada. É brilho demais para um espaço tão pequeno.
— Não tem problema nenhum deixar um pouco de luz entrar
na sua vida, Lola.
— Concordo plenamente, mas um pouco é uma palavra que
não se encaixa para a quantidade de luzes que temos naquela
sacada. Dá para iluminar o quarteirão, Luíza. Não sabe do ditado
que menos é mais?
— Claro que sei e concordo totalmente, sendo assim se você
fosse menos chata a sua vida seria mais feliz.
— É sério?
Lola e eu nos tornamos amigas quando fui para a faculdade e
começamos a dividir um apartamento. Eu estava morando com uma
amiga de uma prima que dava festas quase todos os dias e isso me
irritava completamente. Heloísa me pegou falando sozinha pelos
corredores do campus quando me saí mal em uma disciplina a qual
não tinha conseguido estudar para a prova por conta da noitada. Ela
me achou meio doida, mas ficou com pena de mim depois que contei
como estava sendo a experiência de morar com pessoas que
pensavam que ir para a faculdade longe da família era sinônimo de
liberdade para se fazer o que não deve. Depois disso veio o convite
para dividirmos o apartamento. No entanto, desde que começamos a
morar juntas ela implica com a minha alegria para as festas de fim de
ano. Heloísa gosta mais do Ano Novo, era a esperança de que tudo
seria melhor. Apesar de nada ser diferente, na minha opinião. Lola
detesta o fato de ter uma amiga e colega de apartamento que fica
ouvindo músicas natalinas o tempo todo.
Dois meses antes do Natal eu dou início ao ritual. Fazer o que
se eu adoro? Além do mais isso serve de inspiração de alguma
forma. Assisto a filmes com o tema, leio livros e contos, faço comidas
da época. “Nosso apartamento mais parece uma loja de produtos
natalinos.”, ela dizia. Acho que por conta de meu trabalho em
organizar festas isso se tornava ainda mais empolgante para mim.
Eu entrava totalmente no espírito e virava a própria Elfo do Papai
Noel.
— Deixa de ser chata, e você vai passar o Natal comigo na
casa dos meus pais — anuncio já esperando uma resposta
atravessada.
— Como se eu tivesse algum outro lugar para ir, ou a opção
de ficar em casa sozinha, você jamais permitiria.
— Eu sei que você me ama.
— Talvez tenha razão, mas isso não se estende aos seus
gostos.
Ela entra no banheiro e eu fecho os olhos esperando por sua
reação, que é ainda pior do que eu imaginei, ouço seu grito
desesperado, como se estivesse sendo atacada por um exército de
vampiros.
— Lola, o que foi? — questiono batendo forte na porta que se
abre de uma vez assustando-me.
— O que significa isso? — Aponta para o boneco de Papai
Noel pendurado na parede, depois para a tampa do vaso sanitário
que tinha um ornamento com a cara do bom velhinho, assim como o
tapete e as toalhas de banho.
— Ficou lindo, não foi?
— Eu odeio você — grita batendo a porta em minha cara.
Olho mais uma vez o relógio para ter certeza de que não
estou atrasada. Eu odeio atrasos, embora isso não faça de mim uma
pessoa pontual, não mesmo. Por mais que eu faça de tudo para
chegar na hora marcada, sempre acabo de alguma forma me
atrasando. Mas hoje foi diferente, acordei mais cedo para me
arrumar, tomei café da manhã com a minha amiga e colega de
apartamento, Heloísa Ranzinza Cordeiro, e, mesmo com a discussão
que tivemos por conta do meu excesso de espírito natalino, cheguei
com tempo de sobra. Ainda tenho trinta minutos até o horário
marcado com a diretora de Marketing do Shopping Center Sul, meu
mais novo cliente.
Eu e Lola temos uma empresa que organiza festas,
casamentos, e coisas desse tipo. Temos bons clientes, mas nada
muito grande. Organizar a festa de final de ano de um dos maiores
shoppings do país é sem dúvidas a chance das nossas vidas.
Suspiro de contentamento passando pelo pátio principal ouvindo as
músicas natalinas e admirando a decoração. Pego o celular e tiro
algumas fotos, poderá servir para ajudar na decoração da festa que
acontecerá daqui a algumas semanas. Sorrio ao ver o tamanho da
fila aguardando a chegada do Papai Noel. Dá para ver a ansiedade
nos rostinhos das crianças. Eu adoraria ficar para ver o momento de
encantamento, a euforia, a alegria nos olhos dos pequenos, se não
tivesse que comparecer à reunião.
Sigo a passos largos em direção ao elevador que me levará
até a administração no último andar cantando o trecho da canção
natalina: “(...) Vem, que está chegando o Natal Vem que está
chegando o Natal Pois nasceu Jesus o salvador”. A porta está se
fechando quando me aproximo, então apresso mais os passos e
quase levo um tombo para alcançar o botão para segurar. Suspiro de
alívio quando ela se abre. Aperto o andar e começo a olhar as fotos
que acabara de tirar, muitas ideias surgindo em minha mente. A
porta se abre e um homem vestido de Papai Noel entra todo
apressado.
— Descendo? — pergunta.
— Subindo — respondo.
— Desculpe, mas ele acabou de sair do último andar —
informa me fazendo erguer a cabeça e encarar o display.
— O quê? — Minha voz sai esganiçada.
O elevador parece se assustar com meu grito e dá um tranco,
as luzes se apagam. Fico imóvel.
— Que porra é essa? — brada o homem apertando o botão
da emergência. — Era só o que me faltava.
— Não acredito! Vou me atrasar para a minha reunião —
lamento esperando que algo aconteça.
O homem me encara de forma estranha estreitando os olhos
por trás dos óculos redondos como se só naquele momento tivesse
realmente me visto.
— Então deveria ter saído do elevador quando ele parou no
seu andar, mas ficou tão envolvida no celular que não percebeu que
já havia chegado. Queria entender essa fascinação das mulheres por
celulares.
Suas últimas palavras saem recheadas de sarcasmo. Inspiro
fundo e evito dar uma má resposta. Nada tiraria o meu bom humor,
nem ficar presa dentro de um elevador com um Papai Noel irritante e
machista, mas isso não dura nada e acabo falando.
— Para o seu governo, querido, nós, mulheres, trabalhamos e
precisamos usar o aparelho para resolver problemas de trabalho —
respondo o mais irônica possível.
— Ou arrumar problemas no trabalho. Lembro da primeira vez
que te vi por aqui, você estava digitando uma mensagem — faz
movimentos com as mãos enquanto fala como se tivesse com um
aparelho nelas —, e não viu as placas com o aviso de que o piso
estava molhado, levou o maior tombo. Fiquei me perguntando de que
cor estaria a sua bunda depois daquela queda.
Abro e fecho a boca chocada. Então encaro seus olhos na
penumbra do elevador e reconheço o azul intenso por trás das
sobrancelhas brancas. Distingo o homem que me estendeu a mão
para me ajudar a levantar. Naquela ocasião ele vestia uma roupa
esportiva, parecia ter acabado de sair da academia. Ele perguntou se
eu estava bem, eu disse que sim, um pouco impressionada com o
choque que percorreu por meu corpo com o toque. Depois de se
certificar se eu estava mesmo bem, falou que estava atrasado para
uma reunião e ainda tinha que se trocar. De forma grosseira mandou
que eu prestasse atenção por onde andava e parasse de ficar com a
cara no celular.
Idiota.
O pior foi que fiquei semanas pensando naqueles olhos, nos
braços fortes, no cheiro delicioso de homem, suor e colônia cara, em
sua boca tentadora que agora está coberta por uma barba branca de
Papai Noel.
Então quer dizer que ficou pensando na minha bunda? Bom
saber, assim ficamos empatados nesse quesito, pois não vou negar
que a visão de seu traseiro redondo naquela bermuda fina permeou
meus pensamentos por dias.
— Não acredito que presenciou aquilo. Pelo visto chegou a
tempo da sua reunião. Já que conseguiu o emprego de Papai Noel.
Cruzo os braços diante do peito. Ele aperta mais uma vez o
botão, em seguida arranca o gorro e a barba de forma impaciente.
Caramba, ele é mesmo bonito.
— Como é? — pergunta franzindo o cenho.
— Você não está vestido assim à toa. Sabia que tem um
monte de criança lá embaixo aguardando a sua chegada? Vai partir o
coraçãozinho delas.
Vejo um sorriso despontar no canto dos seus lábios e imagino
que ele seja bem acostumado a partir corações, lindo como é.
— Eles vão me tirar daqui a tempo. A propósito, Luíza, meu
nome é... Dalton. — Tira a luva e estende a mão para mim.
Franzo o cenho um tanto intrigada.
— Como sabe o meu nome? Eu não te disse.
— Se não quer que todo mundo saiba como se chama,
deveria trocar a capinha do celular, Luíza Sá.
Comprimo os lábios e reviro os olhos. Heloísa já tinha me dito
isso várias vezes, mas não se pode levar muito em consideração o
que a minha sócia amargurada dizia.
— O prazer é meu. — Aperto a sua mão de forma educada.
Minha nossa! Mais uma vez sinto o choque percorrendo da
palma por toda a direção do meu corpo.
— A propósito, sempre nos encontramos em situações
estranhas, não é? — fala de forma doce.
— Acho sempre uma palavra muito forte para se aplicar a dois
míseros encontros — retruco só para me vingar. — E você foi um
grosso no primeiro e não está sendo muito diferente no segundo, a
propósito.
Ele sorri parecendo ter gostado do que eu disse.
— Você poderia usar o seu celular para pedir socorro, o que
acha?
— Seria uma ótima ideia se aqui dentro pegasse sinal.
Ele fecha os olhos e respira fundo apertando as pálpebras.
O ar parece começar a faltar dentro da caixa metálica. Meus
pés começam a doer tanto que me arrependo da escolha dos
scarpins vermelhos de salto XV. Tiro os sapatos e me sento no chão
abraçando os joelhos.
— Então, Luíza, você disse que estava atrasada para uma
reunião. Espero que não seja nada muito importante... — fala
puxando assunto e sentando-se de frente a mim.
— Na verdade é sim muito importante, algo que batalhamos
muito para conseguir. Ainda bem que os momentos mais
determinantes aconteceram antes de hoje.
A partir daí começamos uma conversa animada sobre as
festas de final de ano. Sobre o quanto é importante estarmos com a
família e amigos. Como a data movimenta o comércio e muita gente
deixa de viver momentos mágicos que ela nos traz por causa do
trabalho e da falta de fé. Nem vemos o tempo passar. Dalton é
engraçado, sarcástico e muito inteligente, mistura perigosa se
adicionada a sua beleza extraordinária. Duas horas depois as luzes
se acendem e o elevador dá um tranco forte indicando que havia
voltado a funcionar. Algo dentro de mim se aperta e se agita ao
imaginar que teria que voltar para a realidade.
Eu estou encantada pelo homem vestido de Papai Noel.
Capítulo 2
— Então foi isso, acho que nunca mais nos veremos —
finalizo a história sobre o incidente no elevador com um longo
suspiro lamentoso.
Depois que as portas se abriram não tivemos muito tempo
para conversar, trocar telefones nem nada. Ele parecia meio
desesperado para voltar ao trabalho, coitado, até correndo perigo de
perder o emprego. Meu celular começou a tocar e tive que correr
para a reunião, assim como ele saiu bem apressado em direção
oposta à minha. Eu achei que o encontraria na praça principal em
seu posto de Papai Noel, mas infelizmente ele já havia sido
substituído por um senhor mais velho e que certamente não
precisava de enchimento no lugar da barriga. Fiquei meio triste por
ele ter perdido o emprego.
— Sério que não passou pela sua cabeça pegar o número
dele? — Heloísa questiona levando um pedaço de queijo na boca.
Minha reunião havia demorado mais do que imaginei. Talvez
pelo fato de ter tido um atraso de duas horas e muita coisa para
acrescentar a pedido da direção. Cheguei em casa já passavam das
21h.
— Eu realmente estava mais preocupada com a minha
reunião do que flertar, senhorita — falo antes que ela dissesse mais
alguma coisa.
Sigo para o escritório, pois preciso começar as contratações
para duas grandes festas. Contamos com uma grande equipe que
sempre trabalha com a gente, mas teríamos que dobrar a quantidade
de contratação. Confesso que passou pela minha cabeça ir até o
shopping e tentar descobrir o telefone do Dalton, usaria a desculpa
de que não estava tendo muita gente querendo se vestir de bom
velhinho, o que seria uma tremenda mentira.
— O que acha de um Quarteto de Cordas para a
apresentação? — sugiro colocando um post-it sobre a pasta que eu
chamo de portfólio de festa.
— A gente já não tinha decidido que levaria o coral da ONG?
— Lola pergunta irritada.
— Relaxe, o coral vai fazer a abertura, como já tinha sido
acordado, mas pensei em uma apresentação extra, um clássico de
Natal.
— Certo, mas quanto vai ficar isso? Precisamos ver se não vai
sair do orçamento.
Heloísa sempre preocupada com os gastos, ainda bem que
ela existe, porque sempre quis fazer o melhor.
Já é noite quando meu celular começa a tocar sobre a mesa,
hoje ele tocou mais do que o normal, muita coisa para ajustar, mas a
essa hora já deveria ter diminuído. Lola me entrega o aparelho que
está mais perto dela do que de mim.
— Alô.
— Luíza, como vai?
Sinto um frio se formar dentro da minha barriga com o
reconhecimento da voz do outro lado da linha.
— Dalton? Como... como descobriu o meu número?
— Desse jeito vou pensar que não gostou que eu tenha
ligado.
— Não é isso, só fiquei curiosa.
— Um homem não conta de cara os seus segredos, se quiser
realmente conquistar uma garota.
Abro um imenso sorriso. Então ele está tentando me
conquistar? Bom saber.
— Eu estava mesmo pensando que queria falar com você.
Passei na casa do Papai Noel, mas já tinham colocado outro no seu
lugar. Presumi que perdeu a vaga já que chegou duas horas
atrasado, enfim. Estou precisando de alguém para fazer algumas
festas, se você tiver disponível, seria ótimo.
Ele sorri de forma misteriosa.
— Infelizmente não costumo misturar trabalho com prazer.
Quero muito convidar você para sair, te conhecer melhor, e trabalhar
para você não me ajudaria em nada.
Direto, gostei.
— Está me convidando para sair?
— Exatamente.
— Está fazendo isso da maneira errada, então — brinco
quase dando pulinhos de empolgação.
— Tem razão. O fato é que não parei de pensar nos
momentos que ficamos presos naquele elevador, você é... linda,
inteligente, engraçada e eu adoraria descobrir mais coisas sobre
você, Luíza. O que me diz? Quer sair comigo?
— Eu não seria nem doida de negar um pedido do Papai Noel,
seria?
— É sério isso?
A voz da Lola me faz voltar para a realidade de que ela está
bem de frente ouvindo a minha conversa. Fecho a cara para ela e a
mando sair com um gesto exagerado da mão. Ela cruza os braços e
balança a cabeça que não.
— Então fica marcado para sábado à noite. Eu te pego às
20h?
— Não, nos encontraremos lá. E eu escolho o local.
— Ok, você quem manda, senhorita. Um beijo.
— Outro, e até sábado.
Desligo a chamada e encaro a Lola que balança a cabeça em
negação.
— Vai sair com o Papai Noel? Você tem sérios problemas,
deve procurar ajuda — acusa apontando a caneta em minha direção.
— Esse é especial. Não tem nada de bom velhinho, juro.
— Sábado não é o dia mais movimentado para o tipo de
trabalho dele?
— Acho que ele desistiu desse lance de Papai Noel, deve ter
arrumado outra coisa.
— Não acredito que vai sair com um pé rapado que trabalha
como Papai Noel.
— E eu não acredito que está sendo tão preconceituosa, é só
um encontro, não vou me casar, mesmo se fosse, não ligo para
dinheiro, sabe disso.
Capítulo 3
Dalton

A semana passou corrida, estou ficando sobrecarregado com


tanta coisa para fazer, decisões importantes a serem tomadas, mais
compromissos do que um ser humano pode cumprir e eu só penso
na garota linda do elevador que me confundiu com o servidor que foi
contratado para ser o Papai Noel no térreo do shopping.
O motivo pelo qual eu estava vestido daquela forma não era
nada extraordinário. Mandei fazer um traje novo para o evento de
caridade que faço todo ano, mas ninguém sabe que sou eu. Meu
traje antigo estava um pouco velho e apertado, pois ganhei um
pouco de peso no último ano, por isso tive que mandar fazer outro
que foi entregue naquele mesmo dia. Em um espaço no terraço do
shopping eu tenho um cantinho só meu. Uma academia privativa, um
espaço de descanso, porque algumas vezes fico por aqui até muito
tarde. Vesti o traje e procurei o celular para tirar uma foto e mandar
para a minha avó, a única que sabe do meu segredo, além do
Juliano. Lembrei que havia deixado o aparelho no escritório e desci
para pegar, foi quando fiquei preso no elevador com a Luíza.
Imediatamente senti que ela era diferente e tivemos uma ligação
forte. Quem sabe não era o presente especial que a vida estava me
dando?
Quando era criança fiquei perdido em uma rua em Paris, um
senhor vestido de Papai Noel me ajudou até que minha mãe me
encontrou. Enquanto estava sob os seus cuidados, recebi algumas
lições sobre a importância de ajudar o próximo e do espírito de Natal.
Durante muito tempo da minha vida eu acreditei que aquele homem
era mesmo o Papai Noel e que eu tinha uma missão no mundo,
ajudar o próximo.
— Vai mesmo fazer isso, chefe? — Juliano pergunta me
entregando a chave do seu carro. — Por que não conta logo para a
moça quem você é?
— É automático? — inquiro ignorando a sua pergunta.
— Não, é manual. Não ganho o suficiente como seu
segurança e motorista para comprar um automático.
Fuzilo-o com o olhar, pois sei que é mentira, ele ganha muito
mais do que qualquer um na sua posição ganharia. Não só por ser
filho da mulher que praticamente me criou quando minha mãe tinha
trabalho demais para ficar com os filhos pequenos, mas por ter feito
papel de amigo quando eu quase não tinha, e claro, por ser de minha
total confiança. Ele estaria em um cargo melhor dentro da empresa
se tivesse levado adiante os estudos. Apesar de ser o dono eu não
podia passar por cima de um concelho administrativo, embora a
decisão final sempre fosse minha. A verdade é que ele gosta do que
faz e não há nada melhor do que ter alguém feliz com o seu trabalho,
trabalhando para você.
— Está demitido, passe no RH e acerte as suas contas, quem
sabe assim compra um carro melhor.
— Ok, estou indo. — Puxa a chave da minha mão.
— Isso é o que a gente leva quando dá muita intimidade para
o funcionário. Me dê essa chave aqui, Juliano.
Ele me devolve com um sorrisinho vitorioso e volta a sentar.
— Dalton, tem certeza que essa mulher não sabe quem você
é? Talvez ela esteja fingindo, sei lá.
— Tenho certeza. Ficamos duas horas dentro do elevador
conversando. Depois eu a vi pelas câmeras no térreo procurando por
mim. Quando liguei no celular dela, me ofereceu um bico em
algumas festas porque achava que eu tinha perdido o emprego, quer
pegar para você?
— Quero pegar sim, só se for a mulher, porque o emprego,
Deus me livre. Vou ficar bem, fingindo que sou seu patrão.
Reviro os olhos e me levanto pegando meu terno e meu
celular.
— Não vai sair vestido assim, vai?
— O que tem a minha roupa?
— Um terno Emporio Armani é conhecido por ser acessível a
homens que fazem bicos para ganhar a vida, não é mesmo? —
ironiza me fazendo bufar. — E esse Rolex? Precisa tirar isso do
braço agora mesmo.
Ele tem razão, mas não vou admitir assim de cara. Então algo
me vem à mente, se quero mesmo entrar nesse papel teria que ser
mais realista.
— Tenho uma proposta para te fazer.
— E eu adoro suas propostas, chefe.

Estou sentado em uma mesa um pouco escondido


aguardando a chegada da Luíza. A mulher não quis de forma
nenhuma que fosse buscá-la, mas acabou deixando o restaurante à
minha escolha, então aceitei a indicação do Juliano, nada muito
requintado, embora seja um lugar agradável. Olho na tela do meu
celular novo que Juliano tinha me feito comprar, é um modelo mais
simples, ele alegou que seria suspeito eu ter um aparelho que custa
uma pequena fortuna. Ainda bem que o sistema operacional é o
mesmo que já uso, ou teria um problema.
Meu olhar se enche pela imagem da mulher linda entrando no
restaurante. Seus cabelos que antes lisos estão ondulados moldando
seu rosto delicado com pouca maquiagem, mas com um batom
vermelho que me deixa doido. O vestido verde na altura dos joelhos
abraça seu corpo sem ser ousado demais. Um jogo interessante de
esconde e mostra, do tipo que aguça a imaginação de um homem.
Ela está ainda mais linda do que nas vezes que a vi no shopping.
Vai dar merda. Mentira tem perna curta.
Calo a voz dentro da minha cabeça e abro um sorriso me
levantando para que ela me veja.
Puta merda, que mulher linda!
Se fosse em um dos restaurantes caros que costumo
frequentar alguém a estaria auxiliando. Ela sorri lindamente enquanto
caminha em minha direção.
— Dalton, tudo bem?
— Oi, linda, estou melhor agora que você chegou.
Ela continua sorrindo enquanto eu puxo a cadeira para que se
sente. Sou atingindo por seu perfume suave. Uma fragrância
deliciosa, sedutora sem esforço enquanto ostenta uma
despretensiosa sensualidade. Atraente demais.
— Que cavalheiro, obrigada.
— Não há de quê. Espero que tenhamos uma noite agradável.
Que merda é essa que acabei de falar?
Uma coisa é certa, preciso tomar muito cuidado, pois essa
garota me deixa com a mente meio atrapalhada.
Capítulo 4
Luíza

O olhar intenso de Dalton percorrendo por meu corpo envia


uma mensagem clara para mim, ele quer sexo. Apesar de me sentir
muito atraída por ele, algo me diz que devo ter cuidado.
Já tínhamos pedido nossos pratos e estamos conversando
coisas aleatórias e desfrutando um drink. Eu pedi uma bebida que
não lembro mais do nome, mas sei que tem suco de abacaxi e limão
e Shochu. Seu olhar fixa em meus lábios quando pego um pedaço
de abacaxi e levo à boca, passo a língua pelos lábios e ele engole
em seco.
— Eu não vou transar com você — disparo.
Ele ergue os olhos para os meus um pouco surpreso.
— O que disse?
— Eu disse que não iremos transar.
Vejo o lado direito de sua boca subir em um meio sorriso.
— E o que levou você a pensar que...
Não o deixo terminar a frase.
— A forma como você está me comendo com os olhos
transmite exatamente o que está pensando, Dalton. Quero deixar
claro que se é isso que quer nada vai acontecer, então não perca
seu tempo comigo. Ok?
Ele cruza os braços e me encara.
— Desculpe se te acho incrivelmente linda, se não consigo
esconder o meu interesse por você, mas a convidei para sair porque
passamos duas horas muito agradáveis dentro do elevador e eu quis
realmente repetir nosso encontro. Meu interesse por você vai muito
além disso. Não vou mentir, você me desperta um tesão enorme sim,
se você quiser transar será ótimo, mas se não rolar nada por mim
tudo bem. Só de estar ao seu lado já será bem satisfatório.
A moça vestida com um traje oriental surge ao nosso lado
com as nossas entradas. Voltamos a falar assim que ela se retira.
— Desculpe se fui muito direta, mas eu detesto rodeios e
joguinhos. Aceitei sair com você, mas geralmente não faço isso.
— Isso o quê?
Rolo os olhos, e ele sorri.
— Tudo bem, vamos aproveitar o nosso jantar, a companhia
um do outro sem pensar no que vai acontecer depois.
— Ah, mas eu sei o que vai acontecer depois. Eu vou para a
minha casa e você para sua. Simples assim.
— Para mim está tudo bem. E, por favor, se eu estiver com
cara de tarado me avise. Não quero passar a impressão errada outra
vez.
— Pode deixar comigo.
— Só quero que saiba que se eu realmente estivesse interessado
em sexo teria te convidado para ir a minha casa com a desculpa de
que faço um risoto de outro mundo e que havia comprado um vinho
de primeira que combina perfeitamente com o prato.
— Assim ficaria bem claro que eu seria a sobremesa. — Ele pisca
um olho de forma divertida. — Mas é sério? Você sabe cozinhar?
— Sei fazer um risoto de Funghi como ninguém.
— Hum, está me deixando tentada.
A noite foi mais agradável do que imaginei que seria. Dalton é
inteligente e engraçado. Não falamos de trabalho, evitei esse
assunto com receio de deixá-lo constrangido, mas ele me disse que
a semana seria cheia e que só poderia me encontrar na sexta. Ele
cumpriu a palavra de não tentar nada, nem um beijo rolou.

***
No dia seguinte, saio com a Heloísa para uma corrida no
parque, assim aproveito para levar a Elsa, minha cadela de
estimação para passear. Depois almoçamos em casa, pois ela ama
cozinhar e eu amo comer tudo que ela faz. Durante a tarde vamos
até a ONG onde ela é voluntária e aceito fazer parte da equipe de
organização da cantada de Natal que vai arrecadar fundos para a
instituição, mesmo sabendo que isso vai me tomar boa parte do meu
tempo.
Falo com o Dalton poucas vezes, ele está trabalhando de
segurança e combinamos de sair mais uma vez, mas eu fiquei de
escolher o nosso programa. Ainda não sei bem o que faremos, mas
não quero que seja um jantar em um restaurante caro como foi da
última vez. Deu o maior trabalho para que ele aceitasse dividir a
conta.
Na segunda-feira tive reunião o dia todo. Quase tive que
cancelar a minha aula de dança. Estou saindo do estúdio quando
vejo as chamadas do Dalton. Retorno na mesma hora.
— Luíza, tudo bem com você? Liguei mais cedo, mas você
estava em reunião.
— Oi, tudo bem, e você? Vi suas ligações, desculpe não ter
retornado antes, eu estava na academia.
— Não tem problema, só queria jogar conversa fora, esqueci
que é uma mulher muito ocupada.
A chamada passa a ser de vídeo. Vejo seu sorriso lindo na
tela e meu coração dá um baque.
Como pode ser tão lindo?
— Que nada, geralmente meus dias são tranquilos, mas final
de ano isso sempre muda. — Coloco o celular no suporte e dou
partida no carro.
— Qualquer dia desse podemos combinar de malharmos
juntos, o que acha?
Abro um sorriso quando ele começa a correr na esteira
exibindo os músculos tonificados e aquela barriga que quase me faz
babar.
Que homem é esse, senhor?
Sei bem o que ele está querendo fazer, mostrando o que
estou perdendo, e, cara, estou mesmo achando que sou uma
perdedora fracassada.
— Não sei se será uma boa ideia. Não gosto muito de
malhação, correr sem sair do lugar é um saco, e a academia que
frequento é de dança e só tem mulheres. Você não pode ir.
— Que interessante, que tipo de dança você faz? — pergunta
parando de correr e levando uma garrafinha de água à boca.
— Pole Dance.
Vejo a água espirrar na frente do celular e ele começa a tossir.
Paro o carro no acostamento, preocupada.
— Cara... lho.
— Você está bem?
— Depende. — Tosse mais um pouco. — Pole Dance? Tipo...
aquela dança do ferro?
Coloco mais uma vez o carro em movimento.
— Sim, Dalton. Essa mesma. Se soubesse o que isso
provocaria nem teria falado nada. Não quero deixar essa sua mente
cheia de coisas.
— Não? Acho que essa foi exatamente a sua intenção, melhor
desligar, não quero causar um acidente, você está dirigindo, a gente
se fala depois, um beijo.
— Outro.
Chego em casa e tomo um banho, quando saio do banheiro o
celular apita com mensagem.
Dalton: “O que acha de jantar comigo no sábado?”
Respondo:
“Você vai fazer o jantar? Não esqueci aquela história do risoto
de Funghi de outro mundo.”
Dalton: “Estava pensando em um restaurante italiano, na
verdade, não quero que pense que quero você como sobremesa.”
“E não quer? Estou desapontada agora.”
“É o que eu mais quero, mas se acontecer será quando você
decidir, entretanto será o prato principal, nada de sobremesa.”
Abro um sorriso.
“Combinado então, sábado, restaurante italiano, mas deixo
claro que se quiser cozinhar para mim, quem sabe eu não leve a
sobremesa.”
Ele demora a responder.
“Tudo bem, você quem manda. Vou cozinhar para você.
Ansioso para saber o que vai me oferecer depois do jantar.”
“Não crie muitas expectativas, não quero te decepcionar.”
“Sério? Não me decepcionaria se usasse um pole dance.
Quer que mande instalar um aqui em casa?”
“Engraçadinho, esqueça que te falei isso, ok?”
“Jamais, estou criando muitas fantasias na minha cabeça, e
moça nem queira saber quais. Até sábado.”
“Não vejo a hora de provar o seu risoto.”
“Não irei decepcionar.”
“Tenho certeza que não. As expectativas estão altas.”
Capítulo 5
Dalton

Nunca, em toda a minha vida, fiquei tão ansioso com um


encontro. Fico tentando entender o que está acontecendo comigo. É
uma espécie de obsessão. Fico o tempo todo pensando nela, no
cheiro dela, no sorriso lindo. Durante o sono tenho sonhos com ela,
alguns nada cristãos, confesso. O engraçado é que não quero
apressar as coisas. Quero transar com ela? Muito,
desesperadamente, mas quero mais do que isso. É assustador.
— Você tem tudo que precisa? — Juliano pergunta colocando
o vinho sobre a bancada.
Eu praticamente me mudei para o apartamento dele, e ele foi
ficar em minha casa, lugar que ele de certa forma já morava também.
— Tenho sim, tudo na mais perfeita ordem.
— Só vamos torcer para ela não entender de vinhos, porque
esse aqui eu não daria conta de bancar. De jeito nenhum.
Olho para a garrafa e faço uma careta. Não tinha pensado
nisso.
— Ela trabalha com organização de festas, você tem razão.
— Acho melhor eu levar essa garrafa comigo, além do mais,
usar um vinho tão caro para colocar na comida é um pecado.
Tomo a garrafa da sua mão.
— Pode deixar, espertinho, qualquer coisa, se ela questionar
sobre isso, eu direi que foi presente do meu chefe generoso. Agora
dê o fora daqui.
Ele rola os olhos e vai em direção à porta para sair, mas antes
destila um pouco do veneno em cima de mim.
— Claro, faça isso, conte ainda mais mentiras para a moça,
assim vai ficar impossível que ela te perdoe um dia. Se tem uma
coisa que mulher odeia é ser enganada, Dalton.
— Não te pago para me dar conselhos, Juliano, fora.
Pego o vinho e coloco na panela, depois bebo um pouco
apreciando o sabor encorpado e fino, tentando não ficar pensando
nas palavras do Juliano. Eu vou contar a verdade para ela, mas não
hoje. Estou apreciando demais o fato de poder ser eu mesmo, o que
é bem estranho, dado ao fato de que estou fingindo ser outra
pessoa.
— Não, não é bem assim, estou sendo eu mesmo, todo tempo
sou eu, só que sem carro de luxo, roupas caras e presentes caros.
Dessa vez se ela se apaixonar será pelo Dalton, e não por meu
dinheiro e status — falo para o nada. — É por mim, o homem em sua
essência.
Balanço a cabeça para espantar os devaneios e volto para a
preparação do prato.
Já tive dois relacionamentos, cheguei a ser noivo três anos
atrás, mas fui trocado por um cara mais rico. Mariana estava muito
bem ao meu lado enquanto achava que meu dinheiro nunca
acabaria. Um ano depois da morte dos meus pais que sofreram uma
queda de avião junto com meu irmão mais velho, veio a notícia de
que nada estava tão bem como parecia. Eu estava à beira da
falência porque eles fizeram investimentos errados há dez anos e
tudo foi se acumulando. Então comecei a trabalhar duro e com a
ajuda da minha avó paterna consegui salvar os negócios da família e
multiplicar o que pensávamos que tínhamos. Mariana não acreditou
que eu pudesse mudar o rumo dos negócios e terminou comigo.
Uma semana depois ela estava viajando pelo mundo com um
milionário irlandês.
Foi assim que descobri que apesar de ser um cara bonito e
atraente, elas sempre se interessam mais por meu status, pelo que o
meu dinheiro pode dar. Luíza é diferente, mas mesmo assim ainda
fica certa desconfiança. Não quero ferrar tudo, vou contar antes que
isso vá longe demais, mas por enquanto vou curtir cada segundo
sem a carga que carrego.
Estou finalizando o risoto quando a campainha toca. Juliano
tem duas vagas na garagem e apenas um carro, então pedi que ele
deixasse autorizada a entrada dela. Corro para abrir a porta e
paraliso quando a vejo tão linda carregando alguns embrulhos.
Ela abre um sorriso lindo deixando-me ainda mais
hipnotizado.
— Dalton? Não vai me convidar para entrar?
Pisco algumas vezes feito um bobo e dou espaço para ela
passar. Juro que não queria olhar a sua bunda, mas ela está usando
um vestido vinho que desenha muito bem essa parte da sua
anatomia e uau, é uma coisa linda. Desço os olhos por suas pernas
e ela está usando scarpins nude. Ainda bem, porque aqueles
vermelhos de quando ficamos presos no elevador teriam me matado
de vez. Tenho sonhado com ela dançando no pole dance usando
apenas eles. Muito audacioso, eu sei.
— Claro, entre, desculpe. Deixe-me ajudá-la com isso. —
Pego um dos pacotes e ela entra observando tudo.
Juliano havia deixado alguns porta-retratos espalhados com
fotos minhas e dos meus pais, e da minha avó. Mulher é mesmo
fogo, ela, mesmo com os braços cheios de sacolas, pega um porta-
retratos com uma foto minha com o meu cachorro Bono, um husky
siberiano.
— Que coisa linda! É seu? Onde ele está?
— Esse é o Bono, ele está com a minha avó — minto, pois ele
está em minha casa. — Bono é temperamental e como ia receber
visitas, achei melhor deixá-lo com ela.
— Eu tenho uma também, mas ela é um doce, supersociável.
Ela se chama Elsa.
Ela coloca de volta e eu desperto mais uma vez.
Cara, pare de ser um bobão, pelo amor de Deus.
— O que é isso tudo? — pergunto colocando a sacola que
estava segurando sobre a bancada que divide a sala da cozinha.
— A sobremesa, e trouxe um presente para enfeitar a sua
casa.
Coloca uma das sacolas sobre a bancada e me entrega uma
caixa vermelha com um laço brilhante.
— Obrigado, mas sério, não precisava. — Abro a caixa e tiro
uma luminária de mesa de mais ou menos trinta centímetros, uma
redoma de vidro com uma árvore de Natal dentro, enfeitada com
pequenas bolinhas vermelhas, um Papai Noel, e muitas luzinhas de
led.
— Espero que goste. — Aproxima-se e aperta o botão na
base e as luzes começam a piscar.
— É linda, obrigado. — Viro ficando de frente e levo a mão ao
seu rosto fazendo uma carícia, ela sorri um pouco acanhada.
Nunca em toda a minha vida fiquei tão comovido com um
presente. Não me lembro da nada me encantar tanto do que esse
gesto, e esse sorriso.
Estou fodido.
— O cheiro está uma delícia.
— O quê?
— O cheiro da comida, você está bem?
— Minha nossa! Meu risoto.
Dou a volta na ilha e entro na cozinha ouvindo sua risada.
— Precisa de ajuda?
— Não, obrigado, está tudo sob controle.
É melhor ficar onde está para que eu não me descontrole de
vez.
Honestamente não estou me reconhecendo. Ela coloca uma
tigela sobre a pia.
— Fiz tiramisù, uma das minhas sobremesas favoritas.
— Maravilha. Quer beber alguma coisa? Tem vinho, suco,
refrigerante.
— Eu aceito sim, obrigada. Vinho seria ótimo.
— Se não se importar de se servir, estou no ponto final aqui,
não posso parar agora.
Ela vai até a mesa e pega a garrafa olhando o rótulo
atentamente.
Merda, não é que o Juliano tinha razão?
Ela não fala nada e serve duas taças, dá mais uma olhada na
garrafa e coloca de volta no balde, mas para a minha surpresa não
diz nada.
— Adorei o seu apartamento. Tem bom gosto.
— Obrigado. Não é grande coisa, mas é sim bem
aconchegante.
— Está brincando? É mais do que suficiente para uma pessoa
só. Eu não gosto de lugares muito grandes, sabe? Parece tão
impessoal, sem vida. Minha colega de apartamento queria mudar
para um lugar maior, mas eu gosto de onde moramos, é só um
pouco maior do que esse, mas para mim é o paraíso.
Ela fala com certo orgulho do que conseguiu e eu fico
envergonhado, pois todo o lugar é do tamanho do meu quarto em
minha casa.
— Prontinho, só alguns detalhes e já podemos comer.
— Posso provar?
Pego uma porção na colher e estendo para ela. Sua boca se
abre e ela fecha os olhos soltando um gemido.
Essa mulher quer me matar.
— Está uma delícia, úmido e cremoso.
— Ainda falta a finalização. Os italianos costumam dizer que o
risoto deve se espalhar no prato como uma onda de cremosidade.
Por isso tem que provar o tempo todo. Quando o arroz estiver
cozido, mas ainda firme ao morder, eu tiro do fogo. Se estivesse
seco teria que colocar mais um pouco de caldo, mas como está no
ponto que eu quero é só desligar o fogo, acrescentar o queijo
parmesão ralado fresco, um pouco mais de manteiga gelada e mexer
bem a mistura para dar brilho — explico enquanto vou colocando os
ingredientes finais. — E está pronto, vamos comer?
Ela concorda com um aceno de cabeça e segue para a mesa
já posta para dois.
— Então o ponto certo é úmido e cremoso, é assim que você
gosta? — pergunta com voz rouca enquanto coloca o arroz no prato.
— Sim, é o ponto ideal.
É impressão minha ou suas palavras vieram carregadas de
duplo sentido?
— E como você faz para deixar assim, molhadinho? — Leva
uma garfada à boca e solta um gemido.
Caralho, não quero comer risoto nenhum, quero comer você,
sua diaba.
— Então Luíza, estou mesmo tentando ser um cavalheiro,
mas você está dificultando muito para mim, sabia?
Ela sorri e morde o lábio inferior.
— Desculpe, não era a minha intenção. Não quero que perca
o controle, ou... talvez sim, eu queira que se descontrole, só um
pouquinho.
Capítulo 6
Luíza

— Um pouquinho quer dizer o que mesmo? — Dalton


pergunta servindo-me mais um pouco do vinho exageradamente
caro.
Seguro a vontade de perguntar como ele teve coragem de
pagar tão caro em uma garrafa de vinho. Não quero ser indelicada
nem nada. Tudo bem que é uma safra maravilhosa, e com o risoto
ficou divino.
— Quer dizer... até o final da noite você vai descobrir —
respondo sem saber bem o que esse tal pouquinho significa de fato.
Eu saí de casa com uma coisa na cabeça, essa noite eu
voltaria para a casa depois do jantar e nada aconteceria, mas então
cheguei aqui esperando aquele mesmo olhar de desejo que ele me
dirigiu no restaurante e encontrei o oposto. Seu olhar tinha sim
desejo, mas também admiração. Quando ele viu o presente que eu
trouxe, seus olhos brilharam como os de uma criança e ele ficou
visivelmente mexido. E depois descobrir que ele tem um a husky
siberiano com o nome do meu cantor favorito parece um sinal dos
céus. A minha doce Elsa precisa de um amiguinho para alegrar a sua
vida. Assim como eu preciso.
— Até o final da noite, entendi... então o que acha de partimos
para a sobremesa e já dar essa noite por encerrada? — brinca se
levantando e pegando a tigela com o risoto.
— Eu pretendo comer um pouco mais dessa maravilha, a
propósito, você cozinha muito bem, o sabor é realmente de outro
mundo. Onde aprendeu a cozinhar assim?
Percebo que ele pensa um pouco antes de falar.
— Fiz um curso de culinária. Sempre gostei muito de ficar na
cozinha bisbilhotando as... enfim, acho que tenho um certo talento
também.
— Certamente, eu te contrataria para fazer esse risoto.
Ele abre um sorriso.
— E você, gosta de cozinhar também? Disse que fez a
sobremesa.
— Não, sou péssima na cozinha, consigo queimar macarrão
instantâneo e não sei fritar um ovo direito, mas sei fazer algumas
sobremesas, gosto de doce, então acabo fazendo uma coisa ou
outra.
— Isso me lembra de uma coisa que me disse que faz...
— Lá vem, estava demorando — reclamo revirando os olhos e
impedindo sua fala. — Nem sei por que falei aquilo para você, estava
saindo da academia então deixei escapar, geralmente não conto
para ninguém.
— Você me deixou bem curioso, pole dance não é uma dança
comum, como começou nessa?
— Foi quando começamos no ramo de festas, foi um dos
primeiros casamentos que organizei. A noiva pediu para organizar
também as despedidas de solteiro dela e do noivo que aconteceram
no mesmo dia. Fui a uma boate para tentar descobrir como
contactava os dançarinos e acabei vendo um show, fiquei fascinada,
fiz algumas pesquisas e descobri vários benefícios, entre eles o
melhoramento da coordenação motora, diminuí a ansiedade, na
época eu era bem ansiosa e a dança me ajudou muito a mudar isso.
Enfim, encontrei uma escola e comecei a praticar, mas nunca deixei
ninguém além da turma me ver dançando. Morro de vergonha.
Ele me encara com um sorriso torto.
— Mas um homem pode sonhar, não é?
Jogo uma migalha de pão em cima dele.
— Sonhar todo mundo pode, realizar é que são elas.
— Eu gosto de pensar que todos os sonhos são possíveis.
Vou pegar mais um pouco de vinho.
— Para mim não precisa, estou bem satisfeita. Podemos partir
para a sobremesa.
— Tudo bem, senhorita.
Levanto-me para ajudar a levar os pratos para a cozinha. Ele
abre a geladeira e pega o tiramisù. Vejo sobre a bancada mais uma
garrafa do vinho caro, o que me intriga muito.
— Posso te confessar uma coisa? — pergunto observando-o
servir o doce.
— Claro, sempre pode falar o que quiser comigo.
— Vi que tem mais uma garrafa de Château Durfort-Vivens
Margaux safra 2015. Então quero deixar uma coisa bem clara. Eu
não gosto de coisas caras, adorei o jantar e o vinho, quem não
gostaria? Mas me agradaria muito mais um filme com uma pipoca e
refrigerante do que ir a restaurantes caros e jantares onde meu
orçamento não cabe.
Ele paralisa piscando surpreso.
— Entendido, moça, mas o vinho foi um presente do meu
chefe, então não gastei mais do que o meu orçamento permite para
impressionar você.
— Muito generoso o seu chefe, esse vinho está custando em
média R$ 2,700. Duas garrafas já é generosidade em dobro. O seu
chefe faz o que mesmo?
Ele começa a rir e leva um pouco do doce à boca fechando os
olhos.
— Isso aqui está muito bom.
Entendo na hora que eu estou sendo um pé no saco.
— Obrigada, e quanto ao que o seu chefe faz, não precisa me
responder. Não quero ser intrometida. Desculpe se fiquei aqui
fazendo perguntas.
— Você é uma intrometida muito linda e que faz uma
sobremesa deliciosa, então está tudo bem. Posso te confessar uma
coisa?
Abro um sorriso.
— Claro, sempre pode falar o que quiser comigo — respondo
a mesma coisa que ele.
Dalton estende a mão e afaga a minha bochecha, em seguida
passa o dedo de leve sobre os meus lábios.
— Estou louco para beijar você, mas estou com um medo
danado de ferrar tudo. Isso é bem estranho porque geralmente eu
teria ligado o foda-se sem me importar se veria você novamente ou
não no outro dia.
— Está me pedindo permissão para me beijar?
— Não, estou confessando que vou beijar você, apesar do
medo de você me dar um pé na bunda.
Levanto com ele ainda segurando o meu rosto e me inclino
ficando bem perto do seu rosto.
— Só tem uma coisa que vai me fazer sair por aquela porta e
nunca mais querer olhar na sua cara.
— Estou ansioso para saber. — Ele afasta um pouco a
cadeira me dando mais acesso.
Eu seguro seu rosto entre minhas mãos e encosto meus
lábios nos seus.
— Se o beijo for uma porcaria.
— Ah, mas esse não será o caso, eu posso provar.
Então sua mão entra em meus cabelos e me puxa para o
melhor beijo da minha vida.
Capítulo 7
Dalton

Eu a seguro pela nuca, inclinando sua cabeça e devolvendo


cada centímetro do beijo. Sua boca tem gosto do chocolate que
acabamos de comer, e acabo de constatar que é o melhor doce que
já provei na vida.
Que beijo gostoso é esse? Tem o poder de me deixar duro só
com esses lábios macios e doces.
Desço as mãos pelo seu corpo sentindo as suas curvas e
puxando a cintura para que ela se sente no meu colo. Afasto a boca,
então volto a mergulhar, batendo sua língua com a minha.
— Jesus Cristo — ela geme, me comendo com beijos e
mordidinhas quando seguro seu cabelo e com a outra mão continuo
explorando suas costas, cintura, pernas. Inclino-me, os dentes
mordiscando a sua mandíbula, e um gemido escapa da sua
garganta.
— Dalton. — Joga a cabeça para trás, esticando o pescoço
dando acesso livre para os meus lábios. — Dalton, a gente precisa
parar. — Ela estremece quando roço a sua orelha.
— Agora sabemos que o nosso beijo é mais do que
compatível — sussurro em seu ouvido. — O melhor beijo que já
provei.
Volto a tomar os seus lábios. Seguro o cabelo da sua nuca
puxando levemente, voltando a expor o pescoço provando a sua
pele.
— Sim. Incrível. O melhor da minha vida também.
Aliso as suas pernas com as pontas dos dedos e ela chega
para frente se esfregando em meu pau que já estava desesperado
por atrito, por ela, mas ele ia ter que esperar. Ainda bem que estou
ciente disso, pois a diaba se levanta de repente arrumando a barra
do vestido.
— Vou levar a louça para a cozinha. Você cozinhou, nada
mais justo do que eu lavar.
Fecho os olhos e inspiro fundo sentindo falta do seu corpo no
meu.
— Não precisa, é minha convidada. — Levanto e vou atrás
dela ignorando o desconforto que é ficar com uma ereção sem ter
alívio.
— Então vamos fazer assim, eu lavo e você enxuga —
informa jogando um pano de prato em minha direção.
Eu pego o pano e passo por sua cintura segurando as duas
pontas puxando seu corpo para mim, ela enlaça o meu pescoço e
mais uma vez estamos nos beijando intensamente até que não
temos mais fôlego. Eu a solto, e ela vai meio cambaleando para a pia
para lavar a louça.
É, sei bem como é difícil desejo não saciado.
Trabalhamos juntos até que está tudo organizado. Pego sua
mão e vamos para a sala.
— Preciso ir embora.
— Fica mais um pouco, a gente pode ver um filme, prometo
que vou me comportar.
— Já eu não posso prometer isso.
Sentamos no sofá e pego o controle entregando para ela.
— Escolha um filme e se comporte, não posso me
responsabilizar por meus atos se ficar me provocando, mocinha.
Ela sorri e coloca um filme de Natal para rodar. Ela encosta a
cabeça em meu ombro e logo está dormindo. Não consigo deixar de
sorrir. Faço uma carícia em seu rosto admirando a sua beleza, ela é
doce e ao mesmo tempo sexy. Um clarão toma conta da sala e logo
o som do trovão anuncia a tempestade. Desisto então de acordá-la,
pois a chuva cai pesada lá fora e seria perigoso ir embora agora.
Deito sua cabeça na almofada e corro para o quarto do Juliano. Tiro
a colcha que cobre a cama, volto para a sala e a pego em meus
braços. Ela não dá sinal de acordar, coloco-a na cama, tiro seus
sapatos e cubro seu corpo deixando que descanse. Assim que ela
acordar a acompanharei até sua casa.

∞∞∞

Passo a noite no sofá e dou graças a Deus que Juliano tenha


escolhido um modelo retrátil e muito confortável. Poderia ter deitado
ao lado dela na cama, mas seria tentação demais, além do mais ela
poderia não gostar de acordar e me ver ao seu lado. Levanto cedo e
vou até uma padaria que tem na esquina, compro pão fresco e mais
algumas coisas para o café da manhã. Verifico o celular e praguejo
quando vejo o lembrete de duas reuniões. Volto para o apartamento
e coloco água na cafeteira.
— Bom dia!
Ouço sua voz e viro de frente encontrando a visão mais linda
do meu dia. Ela está com uma cara de sono muito fofa.
— Já de pé? Bom dia! — Deixo um beijo leve em seus lábios.
— Você deveria ter me acordado ontem, e não me colocado
para dormir na sua cama.
— Estava caindo a maior tempestade, você estava cansada
então achei melhor deixá-la dormir.
— E você, dormiu onde?
— No sofá, ele até que é bem confortável. Levantei cedo e fui
até a padaria, pensei que gostaria de um café da manhã.
— Eu adoraria, mas não posso demorar, tenho uma reunião
às 9h e preciso ir em casa trocar de roupa ainda.
— Que pena, achei que a gente poderia fazer alguma coisa.
Aponto para a cadeira para que se sente.
— Pois é, hoje tenho uma reunião no Shopping Center Sul,
não posso deixar de me lembrar de você toda vez que entro naquele
elevador.
Algo dentro de mim gela.
— Sério? Em pleno sábado?
— Sim, parece que o dono sempre faz questão de fiscalizar o
andamento da festa de fim de ano, então essa reunião está marcada
antes mesmo de ter fechado o contrato. Ele é bem criterioso com
isso, segundo a gerente de marketing, faz questão de ficar por dentro
de tudo.
Quase engasgo com um pedaço de bolo.
— O que vai fazer hoje à tarde?
— Preciso levar a Elsa para um passeio, esses dias ela tem
ficado muito sozinha, até contratei uma pessoa para passear com ela
por falta de tempo.
— Tadinha, será que ela se incomodaria de ter companhia?
— Ela adoraria.
Luíza fecha os olhos quando morde um bolinho doce e eu
aproveito para derramar café em minha calça para ter uma desculpa
de sair.
— Merda, espera um minuto que vou me trocar e já volto.
Deixo um beijo em sua testa e corro para o quarto, entro no
banheiro e ligo para a minha secretária.
— Bom dia, senhor... como vai?
— Bom dia, Carolina, preciso que cancele todos os meus
compromissos de hoje.
— Senhor, a moça responsável pela festa virá hoje, tem
aquelas recomendações que o senhor queria fazer e...
— Diga para Nayara que ela tem carta branca para resolver
tudo, se ela achar que está bom, para mim está decidido. Agora
preciso desligar. Tenha um bom dia, Carolina.
— Para o senhor também.
Troco a calça suja de café e volto para a sala, Luíza está
mexendo no celular.
— Desculpe, demorei?
— Não. Dalton, está tudo muito gostoso, mas eu preciso ir.
— Que pena, a gente se vê à tarde?
— Sim, mas não poderei ficar muito tempo, pois hoje tenho
um compromisso à noite.
Não consigo disfarçar que fiquei contrariado.
— Sério?
— Sim, hoje tenho que ajudar a Heloísa na ONG, ela me mata
se não for. Ela está ensaiando os meninos para o coral e pediu que
eu fosse dar uma mão, eu até te convidaria, mas preciso falar com
ela primeiro.
— Tudo bem, te vejo mais tarde então.
Caminhamos até o elevador e enquanto ele não chega ao
andar, eu a puxo para os meus braços beijando seus lábios e
lamentando a despedida.
O que está acontecendo comigo?
Capítulo 8
Luíza

— Então, vai sair com o seu namorado hoje? — Heloísa


implica.
Já falei para ela várias vezes que Dalton e eu não estamos
namorando, mas ela insiste em usar esse rótulo, já que nas últimas
semanas nos encontramos mais vezes do que um casal de
namorados, provavelmente. Levamos nossos dogs para passear, no
domingo, pois acabei me enrolando toda no sábado, mesmo com o
cancelamento da reunião no Center Sul. Heloísa tinha marcado um
almoço com uma cliente em potencial e eu tive que cancelar o
passeio com o Dalton, mas no domingo pela manhã nos
encontramos no parque. Bono abriu uma exceção e foi com a minha
cara, até deixou que eu afagasse sua cabeça e jogasse um graveto
para ele buscar. Ele é realmente mal-humorado, mas isso não
intimidou a Elsa, os dois acabaram “amigos”.
— Já disse que não somos namorados.
Estamos indo para casa depois de uma recepção que
organizamos e ela está dirigindo.
— Vocês podem não ter oficializado a relação, mas estão
agindo como um casal.
— Lola, estou muito cansada para aguentar você hoje, sério.
Meu celular escolhe esse exato momento para tocar com uma
chamada do Dalton.
— Olha ai, seu namoradinho ligando.
Reviro os olhos e atendo a ligação — Dalton?
— Oi, linda, tudo bem?
— Um pouco cansada, um pouco não, estou morta de
cansada.
— E eu de saudade de você, queria te ver, sei lá, assistir um
filme no sofá.
— Só se for para eu dormir na primeira cena. Meus pés estão
me matando hoje.
— Sou um ótimo massagista. Faço uma massagem nos pés
como ninguém.
— Tentador, mas...
— Sem mas, estou indo para a sua casa, acha que a Heloísa
vai achar ruim?
Os dois ainda não se conhecem e pode ser um ótimo
momento para isso, assim ela para de me encher o saco.
— Não, Lola é uma chata, mas ela não morde.
Ela bufa do meu lado enquanto estaciona na garagem.
— Chego em vinte minutos. — Desliga a chamada.
— Ele está vindo para cá.
— A essa hora? Depois diz que não é seu namorado.
— Não, ele não é meu namorado.
— Ainda...
Entramos em casa e eu corro para tomar banho. Estou
terminando de vestir a roupa quando a campainha toca. Chego à
sala com a Elsa do meu lado e Lola já tinha atendido a porta.
— Oi, Dalton, entre, seja bem-vindo ao parque encantado do
Papai Noel — ironiza me fazendo rir.
— Uau! — exclama apertando a mão da minha amiga. — É
um prazer te conhecer, Luíza fala muito de você.
— Muito quer dizer acaba com a minha raça?
— Não, de jeito nenhum.
Caminho até ele e beijo de leve seus lábios.
— Oi.
Ele se abaixa afagando a cabeça da Elsa, depois levanta me
puxando para um abraço.
— Fiz chocolate quente, Luíza, estou indo para o meu quarto,
fiquem à vontade.
— Boa noite, Lola, até diria para ficar mais um pouco, mas sei
o quanto está cansada.
— Estou, mas não quero mesmo é ficar de vela para o casal.
Vou deixar esse posto para a Elsa.
Ainda bem que ela não disse de namorados. Ela me entrega
uma caneca de chocolate antes de ir para o quarto.
— Obrigada.
— Boa noite, Heloísa. — Ele aponta para o sofá. — E você,
sente-se.
Faço o que ele diz e ligo a TV. Tomo um pouco do chocolate e
fecho os olhos apreciando as suas mãos em meus ombros, que,
propositalmente, deixei de fora quando escolhi um vestido leve
tomara que caia.
— Nossa, isso é bom.
— Está tensa.
— Cansada, mas o que está me matando mesmo são os
meus pés.
— Scarpins? — pergunta com um toque de malícia na voz.
Ele deixa meus ombros e senta na ponta do sofá, batendo na perna.
— Deixa cuidar disso.
— Não, hoje estava de sandália.
Ele começa a fazer a massagem e eu deixo um gemido
escapar. Ele continua apertando, massageando, até que me sinto
mais relaxada. Puxo os pés de suas mãos, coloco a caneca sobre a
mesa de centro e monto em seu colo atacando a sua boca. Suas
mãos vão para as minhas costas e sinto uma lambida da Elsa na
minha bochecha o que me faz rir.
— Desculpe, menina, foi ela que me atacou — Dalton brinca
passando a mão na cabeça dela.
— Elsa, deixa de ser estraga-prazeres.
Solto um bocejo longo e ele ri segurando em minha cintura
para que me levante.
— Melhor eu ir e deixar você descansar, estou prevendo que
se ficar aqui vou acabar tendo que te carregar para a cama.
— E isso não pode virar um hábito.
— Eu não reclamaria se virasse.
— Você é muito fofo, sabia? — pergunto fazendo uma carícia
em seu rosto. Ele faz uma careta.
— Fofo? Não vai dizer isso quando eu te pegar de jeito, moça.
Isso eu garanto.
Rindo, o acompanho até a porta.
— Não vai agora, fica mais um pouco.
— Melhor não, a gente pode fazer alguma coisa amanhã, o
que acha?
— Tenho que trabalhar amanhã. Vai ser uma festa muito boa,
quer ir comigo? Apesar de que não vou poder te dar muita atenção
no começo, mas depois serei toda sua.
— Claro que irei, me mande o endereço que estarei lá, só tem
um pequeno problema, tenho um compromisso, mas posso estar lá
pelas 22h, pode ser?
— Perfeito, a essa hora já estarei livre.
Passo os braços por seu pescoço e fico na ponta dos pés
para beijar sua boca. Mal toco meus lábios nos dele e ouço um latido
alto do lado e a cabeça da Elsa empurrando para entrar entre nós
dois. Sorrindo nos afastamos, ele se abaixa afagando a cabeça da
cachorra, depois me dá um último selinho antes de ir embora.

∞∞∞

Estou muito empolgada com o resultado da festa de


confraternização que preparamos. Foi muita sorte pegar esse cliente,
pois o mais importante serão os contatos que faremos nessa festa. É
um jantar beneficente para arrecadar fundos. Toda a alta sociedade
estará presente. Passo uma mensagem com a localização do evento
para o Dalton antes que me esqueça.
— Está tudo perfeito, Laura, parabéns — Rebecca elogia
afagando meu braço.
— Obrigada, Rebecca, fico muito feliz que tenha dado tudo
certo.
Rebecca é uma mulher de aproximadamente setenta anos,
muito bonita e educada. Um pouco diferente das outras mulheres da
associação que tive que lidar ao longo dos meses que estava
preparando tudo.
— Meu neto está chegando daqui a pouco, quero muito que o
conheça.
— Fico muito lisonjeada por querer me apresentar o seu neto,
sério, mas estou saindo com uma pessoa.
Ela faz uma cara engraçada. Desde que conversamos pela
primeira vez ela fala que precisa me apresentar o neto que é um
homem incrível, eu concordei por educação, mas a verdade é que
homens como o neto dela não me atraem, só vivem para o trabalho,
têm uma mulher a cada dia e não olham nada além do próprio
umbigo.
— Saindo não quer dizer estar em um compromisso sério. Ou
está namorando?
— Rebecca?
Ela sorri piscando para mim.
— Tenho certeza que quando olhar para o meu neto lindo vai
se apaixonar. Nenhuma mulher resiste.
— Não sei, acho que já estou meio apaixonada.
— Luíza, pode vir aqui rapidinho? — Heloísa chama.
— Vai lá, filha. Daqui a pouco meu neto chega — brinca
esfregando uma mão na outra.
Balanço a cabeça em negação. Ainda bem que Dalton vai vir,
assim ela para de vez com essa ideia de me juntar ao neto dela.
Estou ajudando a organizar as crianças para o coral quando
recebo uma mensagem do Dalton.
“Linda, sinto muito por furar com você, mas aconteceu um
imprevisto e não vou poder ir à festa. Mais tarde te ligo para
combinarmos alguma coisa, ou passar na sua casa. Desculpe.”
Suspiro fundo, resignada, e guardo o celular voltando para o
trabalho.
Capítulo 9
Dalton

Merda, não acredito que me meti nessa enrascada. Estou


parado a alguns metros de onde combinei de encontrar a minha avó.
Todos os anos a acompanho nesses jantares de fim de ano e hoje
não seria diferente. Meu plano era ficar um pouco com ela e depois ir
encontrar a Luíza na festa que ela está organizando, imagine o
tamanho do meu susto quando percebi que se trata do mesmo
evento.
— E agora, o que vai fazer? — Juliano pergunta.
Ele veio comigo e me levaria até a festa da Luíza, depois eu
iria embora com ela.
— Já passei uma mensagem para a Luíza cancelando, agora
preciso resolver com a minha avó. O pior é que ela tem uma mulher
para me apresentar, estava toda empolgada. Não que eu também
estivesse, ia conhecer a moça só para a minha vó largar do meu pé.
— Isso vai dar merda, Dalton. Pra que enganar a moça desse
jeito? Conta logo a verdade? Agora seria um bom momento para
isso.
— Tem razão, vou contar tudo para ela, mas não acredito que
agora seria o momento oportuno, pois vai ficar parecendo que fui
encurralado e contei porque não tive outra opção.
— Fala como se não fosse isso que está acontecendo.
— Vou ligar para a minha avó e avisar que não poderei ir —
ignoro a indireta do Juliano.
— Dado? Está demorando, filho, já está tudo pronto aqui para
começar a recepção.
— Oi, vó, infelizmente não poderei ir...
— É o quê? Nem venha com isso, quero você aqui e agora.
— Estou parado dentro do carro aqui na esquina, mas
acontece que não posso entrar nessa festa, tem uma pessoa que
não quero que me veja. Se a senhora puder vir até aqui no carro eu
posso explicar melhor. Fiz uma merda muito grande e preciso de um
conselho.
— Vou até aí só para olhar para a sua cara, menino. Estou
muito chateada e precisa ter uma boa desculpa para uma desfeita
dessas.
Desliga na minha cara.
— Vovó está brava?
— Ficou uma fera.
Esfrego o rosto com as mãos ouvindo a risadinha do Juliano.
— Quer falar alguma coisa, Juliano?
— Não chefe.
— Que bom, pensei que ia precisar te demitir.
Minha avó abre a porta do carro e entra muito brava.
— Desembucha. Oi, Juliano, tudo bem?
— Estou bem, vovó. E a senhora linda como sempre.
— Obrigada, meu querido.
Conto toda a história para ela que me encara de cenho
franzido. Sei que vai me dar um sermão, mas a sua atitude me deixa
surpreso. Ela cai na gargalhada.
— Então é você o rapaz que a Luíza falou? Que mundo
pequeno.
Franzo o cenho.
— Ela falou de mim para a senhora?
— Estou há algumas semanas falando de você para ela, Luíza
é uma moça incrível, batalhadora e meu santo bateu com o dela.
Então eu disse que queria apresentar vocês dois. Antes ela até
concordou, mas hoje ela disse que... está saindo com alguém e que
não poderia conhecer o meu neto.
Abro um sorriso vitorioso.
— Ela é mesmo incrível.
— E você está fazendo a moça de idiota. Francamente,
Dalton, não esperava algo assim de você.
Recebo alguns tapas no ombro como ela costumava fazer
comigo quando era adolescente.
— Eu sei, vó, mas eu gosto de estar com ela sem ser o ricaço
que toda mulher quer casar. Sério, ela está comigo mesmo eu sendo
um pé rapado, e acabou de dispensar um cara rico para ficar comigo,
entende?
Minha avó sacode a cabeça em negação.
— Isso sendo que o cara rico é você mesmo. Você deveria
entrar lá comigo e acabar com essa mentirada toda, mas não vou me
meter na sua vida. Nunca fiz isso, não vai ser agora.
Abro um sorriso e dou um beijo em seu rosto.
— Obrigado, vozinha, eu prometo que amanhã mesmo irei
contar tudo para a Luíza.
— Se não fizer isso, eu mesma farei, Luíza merece muito mais
do que um sem-vergonha mentiroso — ameaça saindo do carro e
batendo a porta com força.
— Para onde agora, chefe? — Juliano pergunta ligando o
carro.
— Para casa. Quer dizer, para a sua casa.
— Por mim, se quiser fazer essa troca para o resto da vida
não vou importar, gosto muito da sua piscina, e dos seus carros,
claro.
Reviro os olhos ignorando a gracinha do Juliano. Olho no
celular e Luíza não respondeu a mensagem ainda. Ela deve ter
ficado chateada.

***

Já passa das 22h e nada da Luíza responder a minha


mensagem. Isso me deixa preocupado pra caralho. Passo outra
mensagem.
“Sinto muito mesmo, não queria te deixar chateada”.
Logo chega uma resposta.
“Não tem problema, não estou chateada. De verdade. Só
fiquei muito ocupada a noite toda e não consegui responder antes.
Foi até bom você não ter vindo, não poderia te dar atenção.”
Suspiro aliviado.
“E como foi tudo aí? Ainda está na festa?”
“Correu tudo maravilhosamente bem. Já estou indo para a
casa, não precisam mais de mim por aqui.”
“Também estou indo para casa, o que acha de fazermos
alguma coisa? Se não estiver muito cansada.”
“Não estou cansada. Na sua casa?”
Abro um sorriso.
“Você vir aqui sozinha vai ser terreno perigoso. Seria uma boa
ideia?”
“Acho que hoje eu quero correr perigo. Chego lá em trinta
minutos.”
“Estarei te esperando, linda.”
Fico todo animado e corro para verificar se está tudo em
ordem. Abro uma garrafa de vinho e coloco uma playlist para tocar.
Acabo achando que não é boa ideia todo esse clima de sedução.
Não quando preciso contar quem realmente sou para ela, mas por
outro lado penso que um vinho e uma música de fundo deixam o
clima mais ameno para conversar. Meu coração começa a bater
apressado quando a campainha toca. Bebo um pouco do vinho e vou
abrir a porta.
— Caralho...
Fico paralisado com a visão de Luíza parada na porta.
Capítulo 10
Luíza

A noite não foi nada como eu tinha planejado. Dalton não ter
ido me encontrar na festa tinha sido até bom, porque não poderia dar
atenção a ele, já que foi uma correria só. Quando tudo estava na
mais perfeita ordem eu e Heloísa, que quase nunca vai às festas
comigo, decidimos ir embora. Foi quando recebi a mensagem do
Dalton e naquele momento, Heloísa me fez uma pergunta que
mudou o rumo de todo. Por que eu ainda não tinha ido para a cama
com ele? Estava esperando o quê? Tinha medo do quê?
Nada, eu tinha encontrado o cara perfeito, então não havia
nada que me impedisse de fazer o que estava morrendo de vontade
desde o dia que o conheci.
Fui para casa e tomei um banho, vesti um conjunto de lingerie
de renda vermelha e coloquei o scarpin na mesma cor. O mesmo
que estava usando no dia do elevador.
Quando Dalton abre a porta ele paralisa. Seus olhos descem
por meu corpo e param nos meus sapatos. Eu me aproximo me
sentindo muito ousada e deixo um selinho em seus lábios.
— Não vai me convidar para entrar? — sussurro com os
lábios grudados nos seus.
— Caralho — exclama mais uma vez e dá espaço para
passar. — Você estava vestida assim na festa?
Abro um sorriso enquanto coloco a minha bolsa sobre o
aparador e me aproximo dele ainda embobado. Pego a taça de vinho
em sua mão e provo o líquido saboroso.
— Está com ciúmes?
— Na verdade, morrendo. Esse vestido é...
Ele se cala quando levo a mão até a tira da lateral e puxo.
— Tudo bem, já que não gosta dele, melhor tirar.
O vestido é preso apenas por essa tira e quando o laço e
desfeito ele abre todo revelando o espartilho vermelho. Deixo o
vestido cair aos meus pés e fico olhando-o me comer com os olhos.
— Você é gostosa pra caralho. Porra, Luíza, estou duro só de
olhar.
— Então por que ainda está parado aí só olhando quando
pode fazer o que quiser comigo?
Ele solta uma longa respiração e se aproxima fazendo uma
carícia na minha bochecha. Bebo o resto do vinho e coloco a taça
sobre o aparador ao lado da minha bolsa.
— Quero fazer tudo e muito mais do que você possa imaginar.
— Então faça.
— A gente precisava conversar primeiro, temos um assunto
importante para tratar, definir a nossa relação antes de qualquer
coisa e...
Ele se cala quando estendo a mão para acariciar seu pau, que
posso sentir explodindo sob a calça de moletom. Sua respiração se
torna irregular e ele fecha os olhos quando me aproximo. Sua mão
desce por meus braços e param em minha cintura. Ele encosta a
testa na minha deleitando-se com o meu toque.
— Poooorra… não faz isso. — Dalton coloca a mão sobre a
minha.
— Quero fazer tudo e muito mais do que você possa imaginar
— repito a sua frase. — Temos a noite toda para conversar, agora
estou pegando fogo por você.
Ele abre os olhos e dá um passo para trás. Parece travar uma
batalha consigo mesmo.
— Vire-se e apoie as mãos na parede — ordena. Sinto o fogo
se espalhar com o seu comando e faço o que ele mandou. — Puta
merda.
Olho para trás e o vejo olhando a minha bunda. Suas mãos
macias deslizam lentamente pela minha pele, acariciando minha
bunda, subindo pelas costas, descendo novamente até que param
em meus quadris, puxando-me contra ele. Sua boca começa a
explorar o meu pescoço com beijos quentes e lentos.
— Eu queria fazer a coisa certa, mas ver você desse jeito, não
dá para resistir.
— A coisa certa agora e fazer o que desejamos há dias.
Suas mãos tomam meus seios apertando-os por cima da
renda fina. Inclino-me para trás contra seu peito nu musculoso,
sentindo sua ereção na minha bunda e sinto o desejo crescer ainda
mais dentro de mim.
— A vontade de te comer desse jeito aqui é grande, mas
preciso provar seu corpo primeiro. Pela primeira vez na vida não sei
o que devo fazer.
Viro-me de frente e ele percorre meu corpo com os olhos. Em
seguida sua mão se apossa de minha cintura, ele me puxa para um
beijo lascivo que me deixa sem ar. Depois sua boca desce
mordiscando meu pescoço até alcançar a taça do meu espartilho.
Ele tira meu seio para fora e chupa deliciosamente. Minhas mãos
vão para os seus cabelos e arrepios percorrem meu corpo. Ele deixa
meu seio vai descendo por minha barriga, ao mesmo tempo que
suas mãos levam junto a minha calcinha. Ele se ajoelha tomando a
minha boceta em sua boca, beijando, passando a língua em meu
clitóris, em seguida sinto sua língua ir mais fundo. Minha cabeça cai
para trás e meu corpo se inclina dando mais acesso a sua boca
deliciosa. O prazer crescendo quente, pulsando pelo centro do meu
corpo.
— Ah, isso...
— Você é tão gostosa, ainda mais do que imaginei.
Estou perdida no mundo do prazer quando ele se levanta e
gruda a boca na minha me fazendo sentir meu próprio gosto
misturado ao vinho que ele tinha provado antes. Ele passa as mãos
por meus joelhos e me levanta. Abraço seus quadris com as pernas
e ele anda para o quarto sem parar de me beijar. Ele me deita na
cama e se afasta para tirar a roupa. Fico olhando-o puxar a cueca
boxer para baixo e seu pau saltar para fora.
— Uau! — exclamo, maravilhada com o quão longo e grosso
ele é. Dalton sorri de lado sabendo que é perfeito. Sinto uma vontade
louca de tê-lo em minha boca, e lamber o líquido pré-gozo que
escorre da cabeça gorda.
Não me faço de rogada, sento-me na cama e tomo em minha
boca, surpreso ele geme quando eu chupo forte o seu membro e
deslizo a mão para cima e para baixo enquanto olho nos seus olhos.
Sentir seu gosto e ver o quanto está duro por mim é tão erótico que
me deixa com um tesão ainda maior.
— Acho melhor parar, minha linda. Estou tentando não gozar
em você agora mesmo.
Volto a deitar, ele se afasta e pega uma camisinha na gaveta
ao lado da cama, abre com os dentes. Meu coração acelera e sinto o
desejo escorrer por minhas pernas em expectativa. Fico vidrada
olhando-o rolar o látex por seu pau inchado. Ele sobe na cama e vem
sobre mim. Enquanto ele me beija, sinto seu pau provocando minha
entrada. Fazendo tudo pulsar desesperadamente em mim.
— Puta que pariu, você está tão molhada.
Sem aviso, ele me penetra lentamente até estar todo dentro
de mim. Ele começa a entrar e sair algumas vezes, a já posso sentir
o êxtase aumentando, ganhando espaço, se espalhando. Ele vai
mudando de ritmo, de delicado passa a me foder sem dó eu vou ao
delírio com as sensações loucas que crescem exponencialmente.
Enterro as unhas em suas costas conforme ele mete mais
fundo. A cada movimento de vai e vem eu me aproximo do orgasmo.
— Luíza… ah… caralho… você é tão gostosa. Tão gostosa,
porra, eu... ah.
Seguro sua bunda dura e impulsiono meus quadris
acompanhando os movimentos de suas estocadas e sua boca se
apossa da minha em um beijo intenso enquanto nossos corpos se
movimentam em uma sincronia perfeita.
Isso que é ser muito bem fodida.
Ele se afasta e encara meus olhos. A intensidade que
encontro neles é tudo que eu não esperava para uma primeira transa
e isso me faz perder o controle. As minhas pernas começam a
estremecer, e faço força apertando-o dentro de mim. Um grito alto sai
da minha garganta quando meu orgasmo explode por cada parte do
meu corpo. Ele acelera em busca do próprio prazer e seu corpo
treme segundos depois. Estamos nos encarando. Sua boca está
aberta enquanto ele goza com força, estocando ainda mais fundo ao
esvaziar-se na camisinha. Ele continua a se mover dentro de mim,
agora mais devagar, apenas prologando nosso prazer.
— Porra, gostoso demais — Dalton geme com a cabeça em
meu pescoço. — Perfeita demais.
Ele volta e me olhar nos olhos. Estou sem palavras, tenho
medo de dizer como estou me sentindo e assustar o homem com a
intensidade das emoções que me tomam.
O que é isso?
Capítulo 11
A noite tinha sido perfeita, mas o dia seguinte sempre causava
certa indisposição. O que eu deveria fazer? Ir embora sem me
despedir? Deixar um bilhete? Cenas de tudo que fizemos rodavam
em minha mente me fazendo ofegar. Foi tão bom. Bom não. Foi
perfeito. Dalton me fez gozar mais vezes do que já tive com todos os
meus namorados. Porque ele é o tipo de homem que se preocupa
com o prazer da parceira antes do seu próprio. Porque ele olha
dentro dos meus olhos transmitindo tudo que sente. Porque ele
parece ter sido feito para me completar. Eu me apaixonaria fácil por
esse homem.
Depois da nossa primeira vez, fizemos mais uma vez no
banheiro, ele me encostou à parede e nunca pensei que sentiria
tanto prazer durante um banho. Depois bebemos do vinho caro,
comemos queijo e chocolates enquanto transávamos mais uma vez
no sofá. Depois ele me carregou no colo de volta para a cama e nos
amamos lentamente até que adormeci exausta.
— Bom dia!
Sua voz sussurrando em meu ouvido faz um arrepio correr por
cada célula. Estou deitada de costas e sua mão que estava em
minha barriga me puxa para ele. Sinto seu peito firme em minhas
costas e seu pau duro roçar minha bunda.
— Bom dia! — sussurro timidamente.
— Queria poder ficar o dia todo aqui com você.
— Eu também, mas infelizmente tenho uma reunião às 8h.
— Que pena, não vai dar tempo de tomarmos café — lamenta
descendo a mão para a minha perna e puxando para trás de modo
que ficasse em cima do seu quadril. Então ele aperta meu seio
enquanto esfrega o pau na minha entrada. Solto um gemido.
— Não, não vai.
— Nem de conversarmos como eu pretendia. — Entra em
mim eu gemo de prazer.
— Também não...
— Então vou precisar ser rápido aqui, não é? Vou fazer você
gozar gostoso antes de ir.
— Sim, isso...
— A gente pode sair hoje à noite, ou depois do trabalho você
vem direto para cá, o que prefere?
— O... quê? — pergunto sem conseguir assimilar nada com
ele estocando lentamente enquanto dedilhava meu clitóris de forma
habilidosa. — Ah... nossa... isso.
Ouço sua risadinha enquanto ele ergue mais a minha perna e
acelera os movimentos quase me levando à loucura.
— Sair para jantar, ou ficar de bobeira aqui?
— Eu venho para cá de... pois do trabalho.
— Caralho, esqueci da camisinha — exclama se afastando de
uma vez. Lamento o vazio que ficou.
Ele pega um pacote ao lado da cama e veste
apressadamente. Em seguida me empurra delicadamente de barriga
para baixo entrando novamente enquanto eu aperto os lençóis
sentindo o prazer me tomar de uma vez. Ele aperta as bochechas da
minha bunda enquanto estoca firme. Grito enfiando a cabeça no
travesseiro enquanto ele cai por cima de mim ofegante.
Meu celular começa a tocar ao lado da cama. Ele se levanta e
pega o aparelho para mim.
— Heloísa? — atendo ofegante.
— Espero que esteja correndo uma maratona para que não
me sinta culpada por atrapalhar a sua foda matinal — provoca.
— Opção dois — afirmo, ela bufa contrariada.
— Estou ligando para lembrar que você tem uma reunião
importante. Não sei se levou roupa ou coisa parecida, então achei
que seria bom se ligasse para te acordar caso tivesse dormindo e
não transando com o Papai Noel.
— Obrigada pela preocupação, eu já estava acordada e não
atrapalhou nada, já tinha terminado. Eu trouxe roupa para ir para o
trabalho, já estou saindo.
— Ok, não se atrase. — Ela desliga a chamada e viro para me
levantar.
Dalton está parado no batente do banheiro olhando para mim
com os olhos cheios de admiração. Dou um sorriso preguiçoso e
olho para as horas no celular entendendo porque a Heloísa ligou.
— Caramba, estou muito atrasada.
Levanto apressadamente e deixo um beijo em sua bochecha
antes de entrar no banheiro.
— Vou usar o outro banheiro para não te atrapalhar, não sei
se serei capaz de manter as mãos longe de você se ficar te olhando
tomar banho — avisa saindo do quarto.
Tomo banho rapidamente, depois visto uma saia lápis com
uma regata. Tinha deixado um terninho que completaria o look no
carro. Estou tentando arrumar a bagunça que está meu cabelo
quando Dalton entra no quarto vestindo uma calça social e camisa
rosa. Lindo demais.
— Desculpe não ter acordado mais cedo e feito um café para
você. — Ele me abraça pela cintura.
— Não se desculpe por isso. Eu também poderia ter acordado
mais cedo e feito alguma coisa — viro ficando de frente e beijando
seus lábios —, mas você me deixou exausta. A propósito, ontem foi
perfeito.
— Foi demais.
Meu celular apita e faço uma careta me afastando.
— Sinto muito, mas preciso mesmo ir. — Deixo um beijo em
seus lábios antes de correr para o trabalho.
Sempre gostei do que eu faço, não me lembro de algum dia
não ter um sorriso no rosto, mas hoje devo estar parecendo o Gato
de Cheshire. Não consigo parar de sorrir, esse é o resultado de ser
bem comida. Que noite, meu Deus! Que homem!
Quando termino a reunião estou morrendo de fome. Almoço
em um restaurante perto do salão de beleza onde tinha combinado
de encontrar a Heloísa para arrumarmos o cabelo e fazermos as
unhas. Chego primeiro do que ela. Sento-me no sofá e pego uma
revista para foliar. Não encontro nada de interessante, então passo
para outra. Arregalo os olhos quando vejo o homem vestido em um
terno caro na capa de uma das revistas de negócios mais
prestigiadas que existe. A matéria diz: As mentes mais inovadoras do
mundo dos negócios. Dalton Braga dono da Rede DB Market.
Abro na página e começo a ler a reportagem.
Dalton é o dono da prestigiada rede de shopping centers que
mais cresce no país. Ele fez a fortuna da família triplicar...
— Filho da puta, mentiroso do caralho — xingo sentindo meus
olhos arderem de raiva. — Cachorro, safado. Que ódio!
Olho a foto dentro da revista que diferente da capa está em
um momento descontraído com o Bono e usando roupas esportivas
e um relógio caro no pulso.
— Luíza? Está tudo bem, está gritando por quê? — Heloísa
senta ao meu lado.
— O filho de uma puta mentiu para mim. Olha só — falo
mostrando a reportagem para ela. — Dalton é um mentiroso.
— Caramba...
Agora tudo começa a fazer sentido em minha cabeça. A forma
como ele evitava falar do trabalho. O vinho caro, o tênis que uma
pessoa comum não pode comprar, o relógio que eu achei que fosse
uma réplica.
— Isso não vai ficar assim — bravejo pegando a minha bolsa
e saindo do salão de beleza com a Heloísa no meu encalço.
Capítulo 12
— Luíza, pensa bem no que vai fazer. Você está de cabeça
quente, deveria esperar para conversar com ele à noite quando...
— Quando ele estivesse fingindo que é um pobre coitado que
trabalhava de segurança e fazia bico? Fala sério, Heloísa.
Ela se cala sabendo que não vai me convencer a desistir de ir
até o shopping. Ela dirige enquanto eu vou passando de site em site
de fofoca desbravando a vida do mulherengo e excêntrico Dalton
Braga. Arregalo os olhos quando vejo que ele estava saindo
recentemente com uma linda atriz famosa conhecida
internacionalmente.
O homem tem a mulher que quiser, por que mentiu assim para
mim?
Sinto-me tão idiota por ter caído na conversa dele. Ele nem
deve morar de verdade naquele apartamento. Ou será que usa para
comer as idiotas como eu sem ser perseguido? Desgraçado.
As portas do elevador se abrem no andar da diretoria.
Caminho até a secretária que conheço bem. Ela sorri.
— Boa tarde, Luíza, em que posso ajudar?
— Preciso falar com o... Dalton Braga.
Só de falar o nome dele me dá um reboliço no estômago. Uma
mistura de raiva e desejo, mágoa e receio.
— O Senhor Braga está em uma reunião com os...
— Obrigada, eu sei o caminho — interrompo a sua explicação
e vou em direção à sala de reunião que fica no final do corredor perto
da sala da Nayara, onde já estive algumas vezes.
— Ei, não pode entrar aí — Carolina avisa, mas eu ignoro
levando a mão à maçaneta e empurrando a porta.
Eu só queria olhar para a cara dele. Vê-lo naquela mesa cheia
de homens e mulheres poderosos fez algo dentro de mim gelar e um
peso se alojar no meu estômago. Tento esconder o tremor e a
mágoa que meu coração expressa. O tremor em minhas pernas me
impede de avançar até ele e fazer o que desejo, socar bem no meio
da sua cara.
— Eu não acredito. — Minha voz sai tremida.
— Senhores, me desculpem, eu avisei para ela que não
poderia entrar — Carolina fala logo atrás de mim.
— Está tudo bem, Carolina. — Dalton tranquiliza a mulher se
levantando da cadeira de diretor e arrumando seu terno caro. —
Luíza... — fala meu nome, mas está nitidamente sem ter o que dizer.
Seu rosto perdeu toda a cor.
— Eu só queria ver com os meus próprios olhos, porque nem
vou perder o meu tempo em questionar o motivo de você ter me
enganado todo esse tempo como fez — falo entre dentes.
— Senhores, podem me dar alguns minutos, por favor? —
pede sem tirar os olhos de mim.
Os homens obedecem prontamente como cachorrinhos
adestrados e começam a se levantarem e eu ergo a mão.
— Não, senhores, não precisam sair. Eu não tenho nada para
falar com esse... homem. Aliás, eu nunca mais quero ver essa
pessoa na minha frente.
Giro sobre os pés para sair da sala e ele vem em minha
direção.
— Luíza, espere, eu posso explicar.
Acelero o passo e ouço a voz da Heloísa atrás de mim.
— Não ouse se aproximar dela novamente, seu canalha
mentiroso.
Corro o mais rápido possível sentindo as lágrimas rolarem por
meu rosto. Nunca me senti tão usada em toda a minha vida. Tão
humilhada.
As portas do elevador se fecham antes que ele consiga nos
alcançar. Deixo as lágrimas rolarem, fecho os meus olhos e suspiro
fundo. Heloísa afaga meu ombro de forma carinhosa e saímos do
elevador.
— Você está bem? — Heloísa pergunta assim que entramos
no carro.
— Não, estou tentando processar que trepei com um
mentiroso. Só queria entender por que ele fez isso.
— Acho que não queria não, ou teria deixado o homem se
explicar.
Abro a boca e olho para ela chocada.
— Vai defender aquele ordinário?
— De jeito nenhum, sou de total acordo que nunca mais olhe
na cara dele. Só sou da opinião de que todo mundo tem direito a se
defender, mesmo que a condenação seja certa. E você não pode
dizer que queria saber o motivo quando não deixou ele falar.
— Fala sério. Surreal isso que estou vivendo. Inacreditável.
— Vamos cancelar todos os compromissos, hoje ficaremos em
casa — anuncia enquanto coloca o carro em movimento.
— Ele usa um Montblanc Geosphere, um relógio que o
original custa R$53 mil. Eu também vi sobre a mesa de cabeceira um
Cartier, sabe quanto vale um Cartier como o dele? — pergunto
retoricamente, pois ela não dá a mínima para relógios, já eu conheço
muito bem. — Custa mais de R$200 mil.
— Para quem é fã de relógios caros você deixou passar essa,
amiga.
— Eu pensei que fossem réplicas... Como pude ser tão idiota?
— Também estou querendo saber, como?
Reviro os olhos, indignada.
— Poderia ser réplicas perfeitas — tento me defender.
— Ou a sua mente apaixonada não querendo enxergar o
óbvio.
— Não estou apaixonada.
— Sei...
— Estou falando sério. Não quero nunca mais ver o Dalton na
minha frente. E fique calada, não preciso de você enchendo minha
cabeça com essas coisas de paixão. Não estou apaixonada e ponto
final.
Falo descendo do carro e batendo a porta com toda força
antes que ela diga mais alguma coisa. O problema é que agora
quem está mentindo sou eu, e o pior, para mim mesma.
Capítulo 13
Estou colocando a coleira na Elsa para o nosso passeio
costumeiro de domingo quando Heloísa para diante de mim.
— O que aconteceu aqui? Você está bem? — inquire
realmente preocupada.
— Estou ótima — respondo indo pegar os saquinhos
higiênicos.
— O que vai fazer com tudo isso? — Aponta para as caixas
no canto da sala.
Na noite passada eu chorei muito. Contei a mesma história
diversas vezes para a minha amiga, ela me ouviu pacientemente.
Fomos dormir, tentar, na verdade, porque realmente não se
consegue ter um sono tranquilo quando descobre que o cara que
você se apaixonou, o melhor beijo, o melhor sexo da sua vida,
mentiu para você.
Eu ainda estou oscilando entre querer saber o motivo de
Dalton ter feito o que fez e não querer nunca mais ver a cara dele.
Estou preocupada em como gerenciar a festa da rede DB Market.
Dessa vez Lola terá que tomar a frente no grande dia. Não vou
conseguir aparecer por lá.
— Jogar no lixo, doar. Ainda não sei. Quando voltar do
passeio com a Elsa eu vejo.
Levantei hoje cedo depois de algumas poucas horas de sono
e tirei toda a decoração que tinha o Papai Noel, pois não quero ficar
lembrando do mentiroso. Só assim para perceber que Lola tinha
certa razão, eu realmente exagero com o tema, dada à quantidade
de objetos espalhados pelo apartamento pequeno.
— Lu, não faz isso. Olha, eu detesto viver no reino do Papai
Noel, mas você ama. Não deixe que esse amor pelo Natal acabe por
causa de um homem mentiroso. Você não pode mudar o que você é,
ou o que você ama por conta de uma situação. Eu soltaria fogos de
ver você retirar tudo isso daqui de casa se o motivo fosse outro. —
Faz uma pausa e vem até mim estendendo os braços. Meus olhos
estão banhados de lágrimas que jurei não derramar mais. — Não
posso deixar que sua luz se apague por causa de uma desilusão.
Todo mundo precisa de um pouco de luz na vida, você sempre me
contagia com a sua.
Recebo seu abraço acenando com a cabeça concordando
com o que ela disse. Não posso deixar que um mentiroso tire de mim
o que mais amo.
— Eu... vou pensar — afirmo pegando a coleira da Elsa e
caminhando para o elevador.
Meu telefone está o tempo todo dando sinal de mensagem.
Desde ontem Dalton liga e eu não atendo e nem leio as suas
mensagens, embora a curiosidade seja grande. Ele veio aqui ontem,
mas não autorizei a entrada e deixei avisado que nem precisava
interfonar informando a presença dele, e que estava expressamente
proibida a entrada desse homem aqui.
— Bom dia, Geraldo, como vai? — cumprimento o porteiro.
— Estou bem, Dona Luíza. Escuta, aquele rapaz ainda está
por aí. Desde ontem ele não foi embora. A senhora quer que chame
a polícia?
Puxo a coleira da Elsa que está agoniada para sair.
— Como é? Ele não foi embora?
— Não senhora. Fiquei até com pena do coitado. O carro dele
está do outro lado da rua, mas ele não saiu da calçada, tadinho.
— Obrigada por avisar. Diga para ele que vai chamar a polícia
se ele não for embora.
— Está bem, Dona Luíza, vou fazer isso.
Ignoro o olhar de reprovação do porteiro que deve estar me
achando uma bruxa má. Puxo a Elsa de volta para o elevador contra
a sua vontade.
— Calma menina. Vamos ter que adiar o nosso passeio —
converso com a Elsa enquanto faço um carinho em sua cabeça.
Ela late e choraminga contrariada.

∞∞∞

A semana segue uma completa loucura. Muito trabalho e eu


fugindo do Dalton que praticamente virou um maldito perseguidor.
Bloqueei o seu número, mas ele parecia que havia comprado uma
campainha telefônica, pois ligava de outro. No nono número
bloqueado eu desisti e deixei que ligasse. Parece que funcionou,
pois as ligações pararam.
Hoje é o dia da grande festa da DB. Apesar de Heloísa ter
insistido muito para que eu fosse, eu fiquei firme na minha decisão.
Estava acompanhando tudo de longe com o coração nas mãos, pois
esse é o principal evento que organizamos.
— Ah, que se dane — grito me levantando e indo para o
quarto me arrumar.
Sou uma profissional, não posso deixar que um idiota
estrague tudo que construí até aqui. Pego o vestido vermelho que
havia separado para usar e suspiro fundo devolvendo para o guarda-
roupa. Visto um vestido preto mostrando o meu estado de luto e sigo
para o espaço onde a festa acontecerá. Heloísa liga para resolver
algumas coisas e nem imagina que estou a caminho.
Fico dentro do carro olhando o quanto está tudo bonito e bem
decorado na entrada. Desço do carro com as pernas trêmulas e
entro de cabeça erguida.
— Luíza? Amiga, que bom que você veio. Estava morrendo de
medo de tudo dar errado. — Heloísa me abraça já me puxando para
uma mesa onde está o portfólio que ela deveria seguir. — Pronto, é
todo seu. E não se preocupe, ele ainda não chegou.
— Os convidados devem começar a chegar. — Observo a
lista da Heloísa suspirando aliviada por não ter nada errado.
Mal tenho tempo de me preocupar com Dalton, pois como
sempre sou engolida pelo trabalho. Corro de um lado para o outro
enquanto o local vai enchendo de gente. Fico nos bastidores
enquanto a magia está acontecendo. Depois do Quarteto de Cordas
se apresentar será a hora do discurso do diretor. Reviro os olhos,
indignada. Um silêncio se instala antes da voz grave dele tomar
conta do ambiente fazendo meu coração disparar.
— Boa noite! Sejam todos muito bem-vindos. Obrigado pela
presença de todos aqui nesta noite tão especial. Essa festa é para
vocês, lojistas, amigos, sócios e funcionários. O trabalho de vocês é
o que faz esta empresa ser o que é hoje. Eu não cheguei até aqui
sozinho, ninguém constrói nada sozinho, estamos juntos nessa
jornada, crescendo profissional e pessoalmente. Agradeço pelo seu
esforço, pela sua dedicação, pelo trabalho que todos sempre
desempenham com tanta energia. Isso é que faz os nossos
shoppings serem os melhores. — Ele faz uma pausa e olha pelo
salão. — Quero agradecer a equipe que organizou tão
primorosamente essa festa, está tudo melhor do que imaginamos,
parabéns a todos os envolvidos. — Uma salva de palmas explode
pelo local. Ele sorri e seus olhos encontram os meus. Mesmo em
uma distância tão longe sinto a conexão me puxar, tudo girar e
respiro fundo. — Todo mundo sabe a importância que o Natal tem
para mim. E esse ano não é diferente, está ainda mais especial, pois
foi por causa dessa noite que conheci a mulher que tenho certeza
que será a única em minha vida.
Dou alguns passos para trás assustada. Ouço o burburinho
das pessoas comentando. Ele continua.
— Ela me mostrou o verdadeiro significado do Natal. Enfim,
essa noite está magnifica e por trás dessa organização espetacular
existem pessoas que trabalharam muito para que a mágica
acontecesse. Luíza Sá, nos daria a honra de vir até aqui para que
possamos agradecer por seu excelente trabalho?
Sinto a mão da Heloísa no meu braço. Sem dizer nada eu viro
de costas e saio do salão deixando tudo para trás. E me odiando por
não conseguir separar o profissional do pessoal. No fim das contas
acabo estragando tudo.
Capítulo 14
Coloco a última peça de roupa dentro da mala e fecho o zíper
rapidamente. Ontem quando saí da festa tomei a decisão de ir mais
cedo para a casa da minha mãe. Só teria que ir daqui a quatro dias,
mas preciso urgente do colo da minha mãe e da algazarra dos meus
sobrinhos para alegrar a minha tristeza. Tenho duas irmãs e um
irmão, Laís tem uma menina de quatro anos, Renato, meu irmão
mais velho tem dois filhos, uma menina de oito e um menino de dois
anos. E Priscila tem uma menina de um ano. Sou a caçula da família.
— Te encontro lá em três dias, amiga. Pode deixar que
cuidarei de tudo por aqui.
O interfone toca e ela sai do quarto para atender. Eu vou em
seguida carregando a mala. A cidade onde nasci e minha família
mora fica a 300 km daqui.
— Vamos Elsa? — chamo estalando os dedos.
— Luíza, tem uma mulher querendo falar com você, o nome
dela é Rebecca.
Sinto um gelo em minha barriga e logo faço as ligações.
Lembro de Rebecca falando do seu neto que é um herdeiro muito
rico, inteligente, lindo de morrer e dono de uma rede de shopping
centers entre outras coisas. Fecho os olhos e suspiro fundo.
— Pode autorizar a entrada.
Heloísa autoriza e se volta para mim.
— Essa Rebecca é aquela cliente? O que ela quer com você?
— Presumo que seja a avó do Dalton.
Ela faz uma cara de surpresa e pega a coleira da Elsa.
— Quer que a leve para passar?
— Não precisa, não vou demorar.
A campainha toca e vou para abrir.
— Rebecca? Que surpresa a senhora por aqui.
— Oi, Luíza, posso falar com você?
Ela sorri e beija meu rosto levemente. Elsa late atrás de nós.
— Claro, entre, por favor.
Dou espaço para ela passar.
— Que coisa linda, oi princesa, como ela se chama?
A traidora da minha cadela balança o rabo animada aceitando
o afago em sua cabeça.
— Elsa.
— Vem comigo, Elsa — Heloísa chama e ela se deita ao lado
do sofá ignorando o chamado.
— Pode deixar, não vou me demorar.
— Certo, então fiquem à vontade. Com licença.
Heloísa se retira.
— A que devo a honra da visita?
— Você já deve saber que Dalton é o meu neto.
— Pra falar a verdade não tinha feito essa ligação até cinco
minutos atrás, mas se ele te mandou aqui...
Ela ergue a mão me interrompendo.
— Não, ele não pediu que eu viesse, nem sabe que estou
aqui. Quero deixar claro que eu não fazia ideia do que ele estava
fazendo até aquela noite da festa. Estava esperando meu neto que
sempre me acompanhava aos eventos até que ele disse que não
poderia ir e me contou o motivo. Ele não poderia entrar porque era o
mesmo lugar que tinha combinado de encontrar você. Não aprovo de
forma nenhuma o que ele fez.
— Que bom, porque já está ruim o suficiente só ele tendo
mentido para mim como fez.
— Eu imagino. Como já disse, não aprovo o que ele fez, mas
mesmo assim vim até aqui para... Dalton sempre foi um rapaz
sozinho, foi criado pelos empregados. O irmão era muito mais velho
do que ele e não tinham muita convivência. O único amigo que tem é
o filho de uma das suas babás que hoje é o seu motorista. Há alguns
anos ele teve uma namorada, estavam noivos, na verdade. Foi
quando os pais e o irmão morreram no acidente de avião deixando
um monte de dívidas para ele pagar. Dalton se entregou ao trabalho
e esperava que a sua futura esposa o ajudasse a reerguer tudo, se
não fosse com trabalho poderia ser com ajuda financeira. Ela tinha
esse poder, mas preferiu trocá-lo por um homem mais rico. Desde
então ele se tornou uma pessoa que não confia nas mulheres. Claro
que isso é uma idiotice da parte dele, é um homem lindo que tem
muito mais dentro de si do que vale a sua fortuna.
Engulo em seco tentando não deixar as lágrimas caírem.
— E então ele achou uma idiota no elevador e resolveu que
iria fazer o teste se toda mulher queria somente o dinheiro dele
mesmo? Acha que isso exime a culpa?
— Não, não acho. Só queria poder explicar os motivos de meu
neto ter feito o que fez. Ele está sofrendo muito, ele gosta de
verdade de você. E eu... eu também te admiro muito, tanto que sem
saber quis juntar vocês dois. Não suporto ver o Dalton sofrendo.
— E a senhora quer que eu esqueça que fui um brinquedo na
mão do seu neto inseguro e mimado?
— Não, quero só que você olhe para dentro de si mesma e
analise os sentimentos que tem por ele. Eu entendo que esteja
magoada, mas não deixe a felicidade escapar assim, filha. Quando
bati os olhos em você eu sabia de alguma forma que o espírito de
Natal juntaria vocês dois. Só peço que deixe meu neto se explicar.
Balanço a cabeça em negação.
— Estou indo para a casa dos meus pais. Sinto muito, mas
não quero mais saber dele. Se quer saber o que sinto posso deixar
claro agora. Mágoa, raiva, pena. Agora se me der licença, preciso ir.
Ela se levanta e estende os braços para mim, vou ao seu
encontro relutante. Recebo seu abraço e um sentimento de afeto e
carinho me toma.
— Feliz Natal, minha criança.
— Feliz Natal, Rebecca.
Fecho a porta e me encosto nela. Encontro o olhar da Heloísa
que certamente estava ouvindo a nossa conversa. Dou de ombros
indo em sua direção. Eu estava carente precisando de mais um
abraço.
∞∞∞

Quatro dias depois já é noite de Natal. Passamos o dia


organizando tudo, eu apenas ajudando na cozinha, já que não sou lá
uma cozinheira muito boa. Contei toda a história para a minha mãe
quando cheguei, pois ela percebeu que eu estava triste e não deu
sossego até saber o motivo.
— Filha, quando conheci seu pai eu tinha 21 anos. Namorava
ele e mais outro rapaz.
— Mamãe?
— O quê? Vai me julgar agora? Só estou contando que as
pessoas podem mudar. Eu mentia para os dois e seu pai descobriu e
terminou comigo. Eu fiquei muito mal, pois descobri que estava
apaixonada por ele. Luíz me fez comer o pão que o diabo amassou,
mas depois acabou me perdoando.
— É diferente. E depois a senhora ficou só com ele.
— Pior que não, eu dei mais uma mancada ficando com um
rapaz durante uma viagem da faculdade. Enfim, contei para o seu pai
e ele percebeu que o único jeito de me manter fiel ao seu lado era se
casando. E aqui estamos nós, juro que depois que aquela aliança de
noivado entrou no meu dedo eu nunca mais olhei para outro homem.
Depois do sim foi só seu pai. Estou te contando isso porque entendo
que ele mentiu, mas como disse a avó dele, não foi com a intenção
de brincar com você, se fosse ele não estaria tão desesperado em
busca do seu perdão.
Depois dessa conversa fiquei refletindo sobre o assunto. Ao
mesmo tempo que achava que estava sendo radical demais,
pensava que não seria capaz de perdoar uma coisa como a que
Dalton fez comigo. Ele fingiu ser outra pessoa, fui para a cama com
um completo estranho.
— Prontinho — falo colocando o último prato na mesa. — Vou
tomar um banho e me arrumar.
Deixo um beijo no rosto do meu pai que estava me ajudando
com a tarefa e corro para a edícula. Nossa casa é bem grande, mas
a família cresceu muito e deixei o meu antigo quarto para minha irmã
e o marido. Por conta dos meus sobrinhos e irmãos estou ficando na
casa anexa com a Heloísa. Há cerca de dois anos meu pai mandou
reformar o lugar deixando com uma sala moderna e aconchegante
que divide espaço com o quarto e um pequeno estúdio de dança
onde tem uma barra de pole dance. Tem uma cozinha pequena que
quase nunca é usada por motivos óbvios.
Heloísa acaba de sair do banho toda apressada e sai sem
nem falar nada. Eu corro para o banheiro para me arrumar. Visto um
vestido vermelho vibrante e os scarpins da mesma cor que eu adoro.
Tenho que usar bastante, já que havia gastado uma pequena fortuna
no par de Christian Louboutin. Faço um rabo de cavalo, passo uma
maquiagem leve e depois desço para me juntar aos meus familiares.
Eu sempre amei o cheiro que a noite de Natal deixa nos lares.
Em especial na minha casa. A mistura de aromas, as luzes, os
sabores que já posso sentir na ponta da língua antes mesmo de
provar cada comida. É mágico.
— Filha, Caio está me ajudando na cozinha, você pode ir lá
dar uma mãozinha para a sua irmã? — Meu cunhado é um ótimo
cozinheiro e sempre muito prestativo com mamãe.
— Claro — concordo indo em direção às escadas e desviando
do meu sobrinho mais velho que passa por mim correndo.
— A propósito, você está linda — grita entrando na cozinha
fazendo um sorriso despontar nos meus lábios.
Minha irmã está vestida em um roupão segurando o bebê nos
braços enquanto tenta pentear os cabelos.
— Deixe que cuido dessa pequena para você.
— Ah, irmã, obrigada.
Minha sobrinha abre um sorriso e tenta pegar o meu brinco
exageradamente grande. Estou para sair do quarto quando ouço o
som de uma música conhecida ao longe e vem se aproximando cada
vez mais. “O Natal vem vindo”, a música icônica da caravana da
Coca-Cola vai chegando cada vez mais perto. Corro para a sacada
do quarto e vejo vários caminhões com duendes e um Papai Noel, as
luzes iluminam a noite. É lindo e mágico.
— Ué, não sabia que hoje teria isso. Esse povo não descansa
nem no Natal? — minha irmã pergunta colocando o vestido.
Desço as escadas quase correndo e vou para o lado de fora
da casa. As luzes piscam e a música contagiante acelera os meus
batimentos cardíacos. Os carros param de frente à nossa casa e eu
fico paralisada quando vejo o Papai Noel descer de um dos carros e
só tenho certeza de quem está dentro daquela roupa quando um
husky siberiano com um gorro vermelho sobre a cabeça aparece ao
seu lado. Alguém pega a minha sobrinha dos meus braços e eu
continuo encarando o homem que se aproxima. Ouço o latido da
Elsa e logo ela está correndo pelo gramado com o Bono. O volume
da música vai diminuindo gradativamente até se tornar ambiente.
— Dalton? O que você está fazendo aqui?
Capítulo 15
Estou feito uma boba piscando mais vezes do que o
necessário.
— Oi, Luíza. Eu vim até aqui em uma tentativa desesperada
de fazer você me ouvir. Por favor, me deixa ao menos explicar que
não tive a intenção de magoar você. Faço qualquer coisa para você
me perdoar.
— E para isso armou todo esse... espetáculo?
— Eu faria qualquer coisa para ter a sua atenção, então achei
que apelando para o seu espírito natalino poderia ter uma chance.
Ele se aproxima ainda mais. Estou tão tomada pela emoção
que fica difícil respirar. Ele pegou pesado quando escolheu as armas,
sabe que sou completamente encantada com essa caravana desde
criança.
— Bem, você conseguiu. Estou ouvindo.
Ele sorri tirando a barba branca do rosto e o gorro da cabeça.
Como pode ser tão lindo?
— Nem sei por onde começar. Ensaiei tantas vezes o que
deveria dizer, mas agora, com você assim tão linda diante de mim,
só penso no quanto estou apaixonado por você e que nunca mais irei
mentir ou esconder nada...
Não deixo que ele termine de falar e puxo a gola da sua roupa
encostando a minha boca na sua. Estou um degrau mais alta que
ele, Dalton me abraça pela cintura me beijando intensamente.
— Aham! Aham! — alguém pigarreia chamando a nossa
atenção.
Interrompemos o beijo e olho em direção à entrada da casa
onde está toda minha família nos observando. Só então percebo que
pequenos flocos de neve artificial caem sobre nós deixando o
momento ainda mais mágico.
— Olá! — Dalton cumprimenta erguendo a mão na direção
deles.
— A tia Lu está beijando o Papai Noel! — Ouço a voz do meu
sobrinho gritar. — E está nevando!
— Vem, Papai Noel, vamos jantar com a minha família.
Ele sorri e leva a minha mão aos lábios deixando um beijo.
— Ei, Papai Noel, posso dar uma volta no seu trenó? — Eric
pergunta puxando a ponta da camisa.
Dalton se abaixa afagando a cabeça do meu sobrinho.
— Eles precisam voltar para o Polo Norte, amigão, mas acho
que ainda dá tempo de uma voltinha.
— Ebaaaa, venham, venham todos passear de trenó — ele
grita agitando os braços para os pais que seguem em direção à
caravana, animados.
Dalton assovia para o Bono e ele vem correndo com a Elsa
logo atrás. Entrelaço nossos dedos e puxo Dalton até os meus pais.
— Pai, mamãe, esse é o safado mentiroso que falei para
vocês. Dalton Braga.
Meu pai balança a cabeça sorrindo enquanto cumprimenta
com um aperto de mão.
— Oi, Dalton, seja bem-vindo à nossa casa.
— Obrigado, estou muito feliz de estar aqui.
— Eu imagino.
— Me concede a honra de dar um passeio no mundo mágico?
— Dalton faz uma mesura ficando com um joelho no chão.
Balanço a cabeça sorrindo aceitando a sua mão estendida
para mim.
— Olá Dalton, espero de verdade que não desperdice essa
chance. Se der mancada com a minha amiga mais uma vez eu
arranco as suas bolas — Heloísa diz apertando a sua mão e indo em
direção às crianças que estavam sendo organizadas nos caminhões.
— Caralho, fiquei com medo agora.
— É bom mesmo ter, porque se pisar na bola comigo
novamente eu não vou esperar que ela faça isso, eu mesma farei.

∞∞∞

Depois de darmos uma volta pelo quarteirão com as crianças


e mais algumas da vizinhança que apareceram fazendo festa,
voltamos para casa, cheios de presentes que Dalton havia trazido
para os meus sobrinhos e todos os demais. O jantar ocorre
maravilhosamente bem. Deixo para conversarmos mais tarde, agora
é hora de comemorar com a família e deixar assuntos desagradáveis
para depois. O importante é que ele se desculpou, eu vi em seus
olhos que seu arrependimento era verdadeiro e perdoei. Meu irmão e
minhas irmãs se deram muito bem com ele. Quem não se encanta
com o poder de sedução desse homem? Até a minha sobrinha que é
sempre arisca adormece em seus braços.
Na hora da troca dos presentes, Dalton tira de dentro do saco
vermelho uma caixa da mesma cor com um laço dourado e me
entrega.
— Feliz Natal!
— Obrigada. Sinto muito, mas não comprei nada para você.
— O maior presente que você poderia me dar é ter aceitado
as minhas desculpas e permitido que ficasse aqui na sua casa.
Obrigado.
Beijo seus lábios enquanto puxo o laço da embalagem.
— E a sua avó? Achei que sempre passasse essas datas com
ela.
— Isso foi antes de você. Minha avó sempre disse que eu
deveria estar onde meu coração estivesse. Ela está na casa da irmã
dela, onde teoricamente eu deveria estar.
Reprimo um suspiro. Tiro de dentro da caixa um globo de
neve personalizado com dois bonecos e dois cachorros. Olho mais
de perto e o Papai Noel se parece com o Dalton e a moça de
scarpins vermelhos sou eu ao lado de uma árvore com pequenas
luzinhas.
— Dalton? Como conseguiu isso?
— Mandei uma empresa especializada fazer, acho que os
bonecos devem ter sido feitos em impressora 3D.
— Ficou perfeito, eu amei. — Dou um abraço apertado.
Ficamos mais um pouco com meus familiares, logo meus
irmãos sobem para ficar com as crianças que já tinham dormido há
algum tempo. Minha mãe convida Dalton para ficar aqui. Heloísa vai
dormir na sala de TV que tem um sofá-cama muito confortável.
Quando entramos na edícula e ligo a luz vejo os olhos de Dalton se
iluminarem ao ver a barra de pole dance entre a sala e a cama.
— Minha nossa!
Deixo o espaço em meia-luz e caminho até o som colocando uma
música para tocar. A canção de Led Zeppelin, I’m Gonna Crawl,
preenche o ambiente.
Por causa da minha mania de dançar durante a noite meu pai
colocou isolamento acústico no lugar.
Obrigada pai.
— Estou te devendo um presente de Natal, Papai Noel. Você
acha que uma dança é suficiente? — pergunto empurrando-o para
que se sente no sofá.
Dalton cai para trás com os olhos vidrados em mim.
— Será o melhor presente de Natal do mundo.
Inclino-me sobre ele e seguro seu queixo com as pontas dos
dedos.
— Mais cedo você disse que estava apaixonado por mim. Tem
certeza que está pronto para perder de vez seu coração?
— Completamente pronto, ele já é seu, minha linda. Every
little bit of my love, etc., I give to you girl — canta o trecho da música
que diz: “Cada pequena batida do meu amor... Eu darei a você
garota”.
Deixo um beijo de leve mordendo o lábio inferior em seguida.
— Eu também estou apaixonada por você, Dalton. Muito
apaixonada.
Volto a ficar de pé e tiro o vestido deixando o tecido cair em
meus pés.
Ele engole em seco ao ver o conjunto vermelho que estou
usando. Caminho até a barra e seguro girando várias vezes antes de
começar os passos que o salto alto me permite fazer. Para fazer uma
melhor apresentação deveria tirar os saltos, mas sei que Dalton tem
certo fetiche por eles.
Essa vai ser a melhor noite de Natal de todas.
Epílogo
Um Ano Depois

Ah, o Natal, tempo de magia, de alegria, encantamento e de


perdão. Adoro tudo que se diz relacionado a essa data. E quando
chega o dia, amo os aromas, a gama de sentimentos que nos
abraça, a troca de presentes, as músicas, e, claro, o meu namorado
vestido de Papai Noel. Será o nosso segundo Natal juntos e também
o segundo ano que organizarei a festa de confraternização da DB
Market. Dessa vez eu sei quem é o dono do lugar e por ser a
namorada dele acho que a cobrança comigo mesma ficou um pouco
maior. Estou me dedicando ainda mais do que antes.
Ser namorada de um dos homens mais ricos do país não é
tão fácil quanto parece. Agora preciso andar sempre fugindo dos
paparazzi. Praticamente todo final de semana tem um evento
importante o qual ele precisa comparecer e preciso lidar também
com o excesso de trabalho. Apesar de se dedicar muito a isso,
Dalton sempre se dedica a nós. É um namorado romântico e
atencioso e eu estou cada dia mais apaixonada. Ele ama me ver
dançar no pole dance, então mandou fazer um estúdio de dança em
sua casa. Também tem os momentos que ele faz boas ações, como
se fantasiar de duende ou do próprio Papai Noel em orfanatos e
ONGs que ele ajuda desde sempre. É um homem de bom coração.
O trabalho está indo de vento em popa, graças a Deus.
Tivemos um aumento significativo na carteira de clientes importantes
e tivemos que expandir os negócios, mudar nosso escritório e
contratar mais pessoas. Ainda divido o apartamento com a Heloísa,
embora fique mais na casa do Dalton do que nele. Este ano ela
pensou que ficaria livre do mundo natalino no apartamento, mas
estava muito enganada. Eu precisava colocar um pouco de brilho na
vida dela, embora tenha feito com menos entusiasmo respeitando
dessa vez o seu espaço. Apesar de que desconfio que lá no fundo
ela goste, só não admite.
Observo a praça principal do shopping onde tem uma fila
aguardando a chegada da estrela principal, rindo da lembrança de
um ano atrás quando pensei que Dalton era o contratado para ser o
Papai Noel. Entro no elevador cantando uma música natalina que
toca suavemente. “Vem, que está chegando o Natal Vem que está
chegando o Natal Pois nasceu Jesus o salvador.”. Estou indo a uma
reunião com a Catarina para finalizarmos o portfólio para a festa. A
porta se abre e arregalo os olhos ao ver meu namorado entrando
vestido de bom velhinho.
— Descendo? — pergunta.
— Subindo — respondo segurando uma risada.
A cena acontece como se fosse um déjà-vu me fazendo
franzir o cenho.
— Desculpe, mas ele acabou de sair do último andar — fala
encarando-me com um sorriso no rosto.
— O que você está fazendo vestido assim? — pergunto
apontando para a sua roupa. — Teve que mandar fazer outra?
— Não, essa é a antiga, não mandei fazer outra.
O elevador para de repente, as luzes se apagam da mesma
forma que aconteceu um ano antes.
— Dalton?
— Você não imagina? — sussurra se aproximando de mim. —
Nem desconfia o que está acontecendo aqui?
— Amor, vou me atrasar para uma reunião. O quê?...
Ele segura meu rosto entre as mãos e toma meus lábios com
doçura. Em seguida se afasta ficando de joelhos então a ficha cai.
Hoje faz um ano que ficamos presos neste elevador, e agora ele vai
me pedir em casamento no mesmo lugar e vestido de Papai Noel.
— Ah, meu Deus! — exclamo levando a mão ao peito quando
ele estende uma caixa com um anel enorme em minha direção. —
Sim, eu aceito.
Ele começa a rir e balança a cabeça em negação. Que
vergonha, devo estar parecendo uma desesperada!
— Amor, espera... eu ensaiei tanto para esse momento e você
não vai me deixar falar?
— Desculpa. — Respiro com dificuldade. — Ai, estraguei tudo,
não foi?
Sinto como se estivesse hiperventilando. Um leve início de
desmaio.
— Não, você só deu um toque cômico ao momento, meu
amor. — Ele pigarreia e volta a estender a caixa em minha direção.
— Luíza, há um ano neste mesmo elevador eu senti que entre nós
dois tinha alguma coisa diferente. Eu não fazia ideia do que era, mas
hoje eu sei que era a minha alma se conectando com a sua. Elas se
reconheceram naquele instante e eu não podia deixar passar a
oportunidade de ter a mulher da minha vida em meus braços para
sempre. Eu te amo mais do que tudo e quero passar o resto dos
meus dias até a eternidade ao seu lado. Casa comigo?
— Sim, mil vezes sim.
Ele coloca o anel em meu dedo e me beija com desejo
ardente. Quando já estamos quase sem fôlego ele se afasta
estendendo um envelope em minha direção.
— O que é isso?
— Abra.
Retiro de dentro dele um bilhete de viagem com a imagem de
um lugar todo iluminado por luzes e cheio de neve.
— Esse é seu passaporte para o Natal na... Lapônia? — Leio
o que está escrito.
O elevador volta a funcionar.
— Sim, esse é um dos seus presentes de Natal, já adianto
que virão vários deles.
— Dalton, mas e a minha família? Nunca passei o Natal longe
deles.
— E quem disse que você vai ficar longe deles? Iremos todos
passar o Natal na terra do Papai Noel, meu amor. Toda a sua família
e a minha.
Pulo em seu colo beijando seu rosto, sua boca e abraçando
seu quadril com as pernas.
— Te amo, te amo, te amo...
As portas do elevador se abrem e então vejo praticamente
todo mundo da minha família e do escritório olhando a cena.
— Ela disse sim, pessoal — Dalton avisa.
O som de gritos e palmas toma conta do lugar. Rindo, eu
desço do seu colo e saio do elevador que está parado no andar que
o Dalton usa para lazer. É como um loft muito elegante e o lugar está
decorado com luzes e flores pronto para um brunch. Recebo o
cumprimento de todos muito emocionada.
Amo esta época do ano. Foi nela que conheci o amor da
minha vida, eu ganhei uma avó incrível e agora um noivo. Não seria
surpresa nenhuma se me casasse na época do Natal.
Fim

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