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O que sobrou do nosso


amor
Série: O que sobrou – Livro 1.5

Aline Pádua

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Copyright 2017 © Aline Pádua


2° edição – abril 2017

Todo o enredo é de total domínio da autora, sendo


todos os direitos reservados. Proibida qualquer forma de
reprodução total ou parcial da obra, sem autorização prévia e
expressa da autora.

Qualquer semelhança com a realidade é mera


coincidência.

Ilustradora: Queen Designer


Revisão: Aline Pádua
Diagramação: Aline Pádua

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Sumário
Sumário
Nota da autora
Agradecimento
Sinopse
Playlist
Prólogo
Parte I
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Bônus
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
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Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Parte II
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Epílogo
Outros livros da série
Anexo I
Outras obras
Contatos da autora

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Nota da autora

Esse livro é a continuação do primeiro livro da série O


que sobrou, chamado O que sobrou do meu amor. É
necessário ler o livro anterior para entender esse!

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Agradecimentos

Muitas vezes ouvi meu pai dizer que o difícil nessa vida não é
sonhar, e sim lutar por um sonho. Hoje, já crescida, vejo o quão ele
sempre esteve certo sobre isso. Além de estar certo de que nada nessa
vida se consegue sozinho, e que sempre iremos precisar de algum apoio,
seja ele qual for.
Portanto, como sempre farei, agradeço a Deus, por estar junto a
mim em todos os momentos de indecisão e até mesmo de certeza, os
quais me mostraram o quanto à fé pode nos levar longe. Agradeço a meu
namorado, por novamente, ser meu pilar, estar ao meu lado e
principalmente, lembrar que sou apenas uma sonhadora, e que faço meu
melhor. Agradeço a minha família por todo apoio, sem hesitar em
nenhum momento em me ajudar a cada necessidade, em sua maioria,
emocional. A Manuele Cruz, a qual dedico este livro, pois ela é uma peça
chave em todo desenvolvimento deste, pois sua sinceridade, sempre tira a
sombra que me persegue, e me permite enxergar os erros, dos mais
simples aos mais complexos. A Aline Lima, por sempre estar presente e
nunca negar sua ajuda, ser amiga (sogra), e principalmente, companheira.
A Beka Assis por ter me mostrado que sempre posso ir mais além.
E, portanto, como sempre faço, aos meus leitores, os quais me dão
forças para continuar a fazer o que amo, do jeitinho que gosto. Por mais
polêmico que sejam os enredos, entenderem como é a essência de cada

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personagem, e assim, amá-los como eu tanto amo.


Obrigada!
Aline Pádua

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Dedicado a Manuele Cruz

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Sinopse

Melissa Lourenzinni passou por várias turbulências em sua vida, e


percebeu que o amor que sentia pelo marido, se esvaiu após dez anos de
um casamento infeliz e uma traição. O perdão não é impossível, mas a
confiança quebrada se tornou. Agora, ela só quer entender o que sente,
redescobrir-se e cuidar de sua filha, a qual se tornou seu mundo.
Levi Gutterman perdeu sua esposa por conta da própria
imaturidade e negação, além de seus erros no passado. Ele consegue
manter apenas o mínimo de contato com ela, no caso, através de sua filha.
Porém, ele não consegue desistir do que sente, muito menos agora, que
tem a certeza que jamais amará outra mulher.
Um casamento destruído
Uma mulher confusa após uma traição
Um homem apaixonado em busca de redenção
Será que algo sobrará desse amor?

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Playlist

Apenas mais uma de amor – Lulu Santos


Cartas pra você – Nx Zero
Let it go – James Bay
Medo bobo – Maiara e Maraisa
Mercy – Shawn Mendes
Paradise – Coldplay
Part of me – Katy Perry
Say something – A Great Big World feat Christina Aguilera
Scars – James Bay
Someone like you – Adele
Still loving you – Scorpions
Stitches – Shaw Mendes
Treat you better- Shawn Mendes

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“But now we're slipping at the edge


Holding something we don't need
All this delusion in our heads
Is gonna bring us to our knees”

Let it go –James Bay

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Prólogo

Melissa

No futuro

- Um ano após os acontecimentos do primeiro livro

Passo as mãos de leve por meu vestido em frente ao


grande espelho de meu quarto. Não sei se a cor e o corte são
exagerados, mas algo dentro de mim diz que acertei. O
vestido vai até meu pescoço, como uma espécie de
gargantilha, porém minhas costas estão completamente
expostas. O tom branco destaca minha pele negra, fazendo-
me sentir ousada, mas pela primeira vez em minha vida,
sinto-me totalmente confortável.
Não sou mais uma garota e finalmente vejo isso. Não
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tenho mais medo de usar aquilo que gosto, independente da


moda do momento e muito menos penso sobre o que outros
acharão. Sinto-me linda, livre, independente, de uma forma
que antes nunca estive.
Meu cabelo curto faz com que me sinta ainda mais
altiva, um corte de cabelo pode não parecer nada, mas para
mim modificou muita coisa, muito além de meu exterior.
Sorrio para o espelho, finalmente me reconhecendo como
Melissa.
— Pois é. — falo sozinha, enquanto passo novamente
o rímel.
Nunca me senti tão nervosa antes na vida, e fico
repassando em minha mente como agir ou o que fazer. Parece
de fato meu primeiro encontro, e na realidade, realmente é.
Nunca fiz isso, e ao me lembrar dos vários bilhetes deixados
em meu correio, sinto-me um pouco incerta. Esse cara secreto
dos bilhetes, ou melhor, admirador secreto, apareceu algum
tempo depois de minha separação definitiva de Levi.
Desde o primeiro mês em meu apartamento novo,
comecei a receber bilhetes, os quais já chegam há meses, para
ser mais exata, praticamente um ano. E hoje, finalmente
teremos nosso primeiro encontro.

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Encaro-me novamente no espelho e respiro fundo,


repassando em minha mente se realmente estou pronta para
isso. Porém, logo sorrio aliviada, eu sei que estou.
Encontro Laura com Sophie na sala, a qual é minha
mais nova cunhada, mesmo ainda não entendendo ao certo
sua relação com meu irmão, ela se tornou uma grande amiga.
Laura está sentada no sofá e Sophie praticamente
jogada no tapete.
— Tem certeza que pode ficar com ela? — pergunto e
Sophie revira os olhos, sentando-se. — Sério, se tiver algo pra
fazer e...
— Está tudo bem, Mel. — ela sorri, olhando pra Laura
que está concentrada em seu celular. — Viu só? — ri e eu a
encaro, estupefata.
— Ei, mocinha. — chamo Laura, a qual demora um
pouco pra me olhar. — Não fique muito nesse celular, sabe
que tem lições para fazer, não é?
— Mas mãe, meu pai nem me deixou chegar perto do
celular ontem e...
— Ele está certo nisso. — digo, cortando sua fala e já
beijando sua testa. — Se comporte, e pode pedir a pizza que
tanto adora.
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— Sério, mãe? — pergunta animada e me abraça. —


Você é a melhor!
Viro-me pra Sophie e meneio a cabeça.
— Pergunte a ela se sou a melhor quando não deixo
comer chocolate demais. — brinco e Sophie sorri. — Um dia
vai me entender, quando tiver um filho... E se ele puxar o
gênio de Daniel... — Sophie me encara sem jeito, mesmo
assim continuo. — Será difícil uma criança com o gênio de
meu irmão.
— É. — diz sem graça e dá de ombros.
— Ok então! — digo e coloco minha bolsa no ombro.
— Estou indo!
— Vai arrasar, sei que vai. — Sophie diz e eu sorrio
para ela.
— É o que espero.
Saio do apartamento e meu coração parece querer
saltar do peito quando entro no elevador. Sei que só verei esse
homem misterioso no local marcado, mesmo assim, algo
dentro de mim já se remexe.
Abro minha bolsa e pego seu último bilhete, sentindo
meu coração disparar ainda mais, se é que isso é possível.
Ele mandou várias coisas, entre elas, muitas frases de
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meu autor favorito, o que deixa mais claro para mim quem é
esse homem. E ele com toda certeza, é o meu recomeço.

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Parte I

"Um relacionamento deve ser construído com


verdade. A verdade, nua e sem retoques, nem sempre é
bonita. Tem o lado ruim, tem a briga, tem a discussão, tem
aqueles dias em que parece que vocês estão completamente
fora de sintonia. Tem vezes, inclusive, que a gente se
pergunta o-que-tô-fazendo-com-essa-anta? Tem tudo isso.
Tem a raiva, tem a irritação, tem tudo. A verdade é que existe
um lado feio do amor."
Clarisse Correa

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Capítulo 1

Melissa

No presente

- Um mês após os acontecimentos do primeiro livro.

Dobro as últimas peças de roupa de minha filha e as


coloco na primeira gaveta do guarda roupa. Finalmente, após
horas tentando organizar tudo, consegui ao menos deixar o
novo quarto de Laura em seu devido modo.
— Precisa de ajuda, mãe? — sorrio ao ouvir sua voz e
já me viro.
Laura coloca a mochila em cima de sua cadeira rosa e
vem até mim, dando-me um beijo no rosto.
— Ao menos o seu quarto eu consegui organizar. —

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ela sorri, olhando ao redor. — Mas quero sua ajuda para me


ajudar a desembalar algumas caixas ainda, só que dos meus
livros.
— Isso! — diz animada e corre pra fora do quarto,
com certeza indo em direção à sala, onde deixei as últimas
caixas.
— A professora disse que as notas de Laura estão
boas, não tanto quanto antes, mas ela continua sendo uma boa
aluna. — olho em direção a porta e meu irmão sorri pra mim,
mas noto o pesar em seu semblante.
— Algo me diz que não é sobre isso que quer falar.
Mas antes, obrigado por ter ido buscá-la hoje, sei que é muito
ocupado. — digo e viro-me para a cama de Laura, ajeitando a
colcha.
— Sabe que para mim é mais do que bom poder estar
com ela, já que fiquei tanto tempo fora... Mas enfim, não é
com Laura que estou preocupado, ou melhor, não só com ela.
— diz, fazendo-me virar pra ele. — Eu só queria saber como
está com toda mudança e tudo mais. — indaga apreensivo.
— Dani. — encaro-o com carinho, indo até ele e o
abraçando. — Eu estou bem, juro.
— Tem certeza, gatinha? — pergunta e toca

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levemente meus cabelos. — Não vou me perdoar caso deixe


que algo a faça sofrer novamente.
Afasto-me um pouco dele e levanto meu olhar, já que
ele é mais alto que eu.
— Levi um dia foi o meu mundo, Dani, mas hoje não
é mais. — sou sincera e abro um simples sorriso. — Meu
mundo se tornou de Laura desde que ela nasceu, e serei feliz
por mim e por ela agora. Meu casamento sempre foi de
fachada, sabemos disso. O que Levi fez ainda dói, mas não
por algo que sinto, mas porque todo relacionamento por mais
destruidor que seja, deixa marcas.
Meu irmão me olha parecendo surpreso e eu me
seguro para não sorrir de sua falta de jeito.
— Você amadureceu tanto e eu nem vi. Pra mim,
sempre será a menininha de tranças que imitava o miado dos
gatos. — brinca e me puxa para seus braços novamente. —
Eu te amo, gatinha. Qualquer coisa que precisar me diga,
estou aqui para vocês.
— Eu sei, gatinho, sempre soube. — abraço-o de
volta, sentindo-me completamente segura.
Escuto os barulhos da sala, de algo sendo depositado
no chão. Sei que deve ser Laura ainda tirando os livros das

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várias caixas.
Daniel se afasta e beija minha testa.
— Tenho que ir, mas sabe que se...
— Dani, eu estou bem. Juro! — corto-o e ele sorri sem
graça.
Minutos depois, fecho a porta para Daniel, o qual
antes de sair, perguntou novamente se preciso de algo. Essa
mudança radical em minha vida tem sido complicada. Minha
família e amigos sempre pensam que estou quebrada, e até
mesmo sofrendo. Não é como se estivesse tudo a mil
maravilhas, mas depois de anos, de uma vida completamente
sufocada, consigo respirar.
Olho para a ampla sala do apartamento, e vejo Laura
encostada no sofá, lendo algum dos livros que deveria
guardar. Analiso-a e mesmo após tudo, noto que ela está
sofrendo um pouco, mesmo assim, não nos julgou. De algum
jeito, ela entendeu a situação entre eu e seu pai, mesmo não
sabendo de toda verdade.
Levi e eu assinamos o divórcio há cerca de uma
semana, e só assim, falamos com ela. Tudo entre eu e Levi
acabou assim que assinamos aqueles papéis, mas esse “tudo”
tem uma única exceção – Laura. Ela é uma parte de nós dois,

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a melhor parte, arrisco dizer. E de certa forma, a única coisa


que me dói, é ver a saudade que ela sente de estar com o pai
todos os dias.
Mas para mim, ela agora sim poderá ser feliz, assim
como nós dois. Sem mentiras, traições, brigas, discussões... E
no fim, todos nós parecemos mais leves. Principalmente eu,
que agora sim, consigo me sentir bem de estar em casa, e
finalmente consigo chamar um lugar de lar.

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Capítulo 2

Melissa

Uma semana depois

Caminho pelo shopping, despreocupada, enquanto Lili


conta mais uma de suas histórias sobre os pais solteiros de
seus alunos. Finjo que caio nesse seu papo sobre o interesse
nesses homens, mas no fundo sei que ela sequer os olha.
— Você não está prestando atenção no que estou
dizendo. — diz e eu reviro os olhos, parando em frente a uma
vitrine, olhando para os lindos sapatos de salto vermelhos a
mostra. — Hello![1] — ela passa a mão a minha frente e eu
sorrio de sua insistência.
— Você está tagarelando de novo sobre os pais
solteiros de seus alunos, e sabemos muito bem que não vai
sair com nenhum deles. — digo e ela bufa, ao mesmo tempo

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em que dá de ombros. — Aliás, Leonardo me mandou uma


mensagem e...
— Mel. — ela diz, com o tom de voz já rude.
— O que? — pergunto, fingindo-me de desentendida.
— Ele apenas ligou para confirmar o dia em que terei de levar
alguns outros papéis que faltaram para ele.
— Mas o divórcio já não está resolvido? — pergunta,
e uso minha melhor máscara de boa moça.
— Ele me disse que precisa da cópia de uns
documentos, só para arquivar. — minto e ela me encara
desconfiada, mas logo sua carranca se desfaz.
— Ok. — diz por fim, e eu resolvo não prolongar o
assunto, já que isso a incomoda tanto.
— Acho que vou experimentar esses sapatos. — digo
e ela concorda, praticamente me empurrando para dentro de
loja.
É bom estar assim com Lili, ter minha liberdade.
Antes viver isso era algo impossível, e só agora, que me
permitir viver, vejo o que perdi. Poder sair com minhas
amigas, ir e vir quando quiser sem ter uma amarra judicial a
alguém, como era nos contratos que Levi me fez assinar, faz-
me ver o quanto a vida em si é leve e plena.
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Enquanto aguardo sentada, em frente a um dos


provadores, um vendedor trazer a numeração que uso, Lili
pega um vestido azul claro e corre para o provador. Por mais
que minha amiga negue, o amor que sente pelo ex-marido,
está à mostra em tudo nela.
Quando fui à primeira vez em meu advogado –
Leonardo Amorim – por coincidência ou destino, descobri
que ele é o ex-marido de Lili. Como ela nunca me contou
abertamente sobre ele, sequer disse o nome ou mostrou uma
foto, descobri por mim mesma, ao ver em cima da mesa dele
um porta-retratos com a foto dos dois e um grande cachorro.
Conversei um pouco com ele sobre o assunto
profissional, claro, mas não consegui segurar minha
curiosidade.
— Você tem uma bela família. — digo e ele me encara
estupefato. — Como se chama sua esposa? — pergunto,
instigando-o, porém Leonardo apenas engole em seco.
— Não sou casado. — esclarece e toca levemente a
mesa. — É minha ex-esposa e nosso cachorro, Luke.
— Ah, deve ainda amá-la muito, acredito. — digo e
ele se encosta na cadeira, parecendo completamente
desconfortável. — Me desculpe, não quis ser intransigente.

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— Não, é que nunca falo a respeito de Lilian com


ninguém. — diz e arregala os olhos, pois acho que disse o
nome dela sem querer.
— Pois é, nem Lilian fala sobre você. — digo e ele me
encara sem entender. — Sou a melhor amiga dela.
Leonardo pareceu espantado, mas ao contrário do que
imaginei logo ele começou a fazer perguntas sobre ela. E
assim, ele acabou querendo saber muito sobre minha amiga,
porém não quis dizer. Mas de certa forma, ele conseguiu me
convencer a tentar ajudá-lo.
— No mundo da lua, Melissa. — pisco várias vezes e
então encaro Lili a minha frente.
O vestido está com caimento perfeito em seu corpo, e
a cor azul claro, deixa seus olhos também claros, ainda mais
destacados.
— Está linda. — digo e ela sorri, dando uma voltinha.
— Isso tudo para um encontro com Jonas, o pai
solteiro de um aluno. — diz e me espanto.
— Você vai mesmo sair com ele? Quer dizer, vai sair
com alguém? — pergunto animada e ela me olha com
deboche.
— Estava tentando te contar isso minutos atrás, mas
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você não quis saber. — dá de ombros e volta correndo para o


provador.
O vendedor finalmente aparece e me entrega os
sapatos, calço-os e simplesmente me encanto. Assim que os
tiro, sento-me novamente e aguardo Lili. Penso então no que
conversei com Leonardo, e como estou tentando ajudá-lo sem
que ela saiba. Mas vejo agora que isso não é justo, colocando-
me no lugar dela, imaginando caso ela inventasse algo para
que eu me encontre com Levi... Eu não gostaria disso.
Assim que ela sai sorridente do provador, encaro-a
sem jeito. Sou uma péssima amiga.
— Não há documentos para levar para ele. — sou
sincera e Lili apenas me encara. — Ele pediu para que te
levasse até o escritório dele, ele quer ter uma conversa com
você. Eu ia fazer isso, mas vi que não é certo. Não sei ao certo
o que esse cara te fez, e tentar bancar o cupido, não vai
funcionar.
— Eu sabia que estava mentindo assim que abriu a
boca para falar. Você não sabe mentir, Mel! — diz e sorri,
assustando-me. Pensei que ela ficaria brava ou até mesmo
magoada, mas Lili apenas meneia a cabeça.
— Vamos? — pergunta e eu assinto, seguindo-a até o

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caixa.
Pagamos pelos produtos e logo saímos. Lili fica em
silêncio e sinto-me um pouco desconfortável, sem saber como
agir.
— Vem! — diz de repente e segue para a praça de
alimentação.
Ela logo escolhe uma mesa, e se senta, faço o mesmo,
sem saber ainda o que dizer.
— O que mais me dói em Leonardo, não é o que
motivou nosso divórcio, ou ter sofrido tanto quando o perdi,
mas sim, a indecisão dele sobre nós dois. Eu ainda não
consigo contar o que passamos, porque dói demais, Mel.
— Lili, não precisa...
— Você disse, ele tem minha foto na mesa dele... Por
que? — ela coloca os cotovelos na mesa e passa as mãos
pelos cabelos. — Por que ele simplesmente não some da
minha vida como sempre promete?
Ela então esconde o próprio rosto e sinto a culpa me
invadir. Lili não está mal por conta do que fiz, ou melhor, o
que ia fazer. Mas sim, pelas atitudes de Leonardo.
— Eu não te culpo por ter escutado ele, de verdade.
Você é romântica, Mel, e acredita em finais felizes. Mas vá
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por mim, Leonardo não é o meu. — diz e força um sorriso.


— Me desculpe, eu não queria te deixar assim e...
— Não foi você que me deixou assim, Mel. Foi ele. —
ela toca minha mão e com a outra, limpa uma lágrima que
desce por sua face.
Nesse momento, por mais egoísta que possa parecer,
imagino a mim mesma nesse estado, só que por Levi. Mas
logo, esse pensamento desaparece, pois o que sinto por ele,
está longe de ser o mesmo sentimento que Lili tem por
Leonardo, o que a faz sofrer arduamente. Isso me faz sentir
incapaz, pois tudo que quero, é poder ajudar minha amiga.

***

— Da próxima vez, quero nossa princesa de olhos


verdes conosco. — Lili diz, assim que desce do carro.
— Pode deixar, combinamos algo. — ela assente e se
despede com um aceno, fechando a porta.
Volto minha atenção para o trânsito e olho
rapidamente as horas em meu relógio. Hoje é um dos dias que
tenho praticamente livre, já que Laura está com o pai e só

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chega por volta das oito da noite. Como ainda são cinco da
tarde, resolvo ir até o apartamento de Marta, a qual me
mandou uma mensagem cedo dizendo que estaria na
faculdade, mas que de tarde poderia vê-la.
Marta acabou decidindo parar de trabalhar pra Levi,
mas eu vi que minha amiga precisava do dinheiro todo o mês,
o qual era destinado a sua faculdade, e ela não teria condições
de pagar o aluguel. Portanto, como ela se negou a ir morar
comigo e Laura, dizendo que era “minha vida nova” e ela não
queria se meter, fiz meu irmão convence-la de ficar em um
dos vários apartamentos que ele tem, e conseguir pra ela um
estágio remunerado. Marta se negou prontamente a isso
quando chegamos com a proposta, mas meu irmão, com seu
jeitinho, disse a ela que era um investimento, já que ela está
estudando Marketing, e ele precisa de pessoal capacitado em
sua empresa. Fiquei feliz por ela ter aceitado, pois assim pode
conhecer ainda mais a respeito da profissão que escolheu.
Agora, vejo que não só minha vida parece diferente,
mas de todos ao meu redor. No fim, mudar significa muito
mais que a si mesma, a meu ver. Aquela velha frase “o mundo
muda quando você muda” nunca fez tanto sentido quanto
agora.

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Em poucos minutos, estaciono em frente ao prédio de


Marta e mando uma mensagem, já que sequer avisei que
vinha e ela pode não estar. Como se tivesse pressentido, logo
uma mensagem dela chega e ela diz que ficou presa na
biblioteca. Marta sendo Marta.
Mesmo assim, vejo que não perdi minha viagem,
quando avisto uma barraquinha de cachorro quente na
esquina. Mesmo tendo comido no shopping, não consigo me
negar a comer um desses, sendo que é uma das minhas
comidas favoritas.
Deixo o carro estacionado em um local mais próximo
e vou até a barraquinha. Saio dali feliz, com o cachorro
quente em mãos e muita maionese, mostarda e catchup no
meio. Andando até meu carro, distraio-me por um instante,
com o despertador de meu celular berrando no meio da rua, e
acabo esbarrando em alguém.
Quando percebo que meu cachorro quente delicioso
está agora esparramado contra a camisa de alguém, não
consigo nem me achar egoísta por estar me importando
apenas com minha comida. Parecia tão bom!
— Mãe! — assusto-me com a voz de minha filha e só
assim encaro o homem a minha frente.

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Laura gargalha soltando a mão do pai e eu fico ainda


mais sem jeito ao encarar os olhos verdes divertidos a minha
frente.
— Como vai, Melissa? — Levi pergunta e eu apenas
me sinto perdida.
Não ouso olhar ao redor, pois sinto a vergonha
praticamente queimar em meu rosto. Eu sujei toda a camisa
dele.
— Desculpe? — pergunto, afastando o cachorro
quente de sua camisa com cuidado, e ele pega um pano que
estava na mão e passa algumas vezes sobre a enorme mancha
de molho e batata palha.
— Está tudo bem. — diz e eu apenas assinto.
— Acho que perdeu sua comida, mãe. — Laura diz e
gargalha, fazendo com que eu a encare brava.
Pego meu cachorro quente ou o que sobrou dele e
embrulho com o próprio plástico que estava.
— Mãe, quer ir comer com a gente? — Laura
pergunta de repente e eu a encaro sem saber o que fazer.
Volto minha atenção para Levi, o qual dá de ombros e
ainda limpa alguns resquícios de sujeira na camisa.
— Estamos indo comer em uma lanchonete que Laura
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gosta, fica dobrando a esquina. — ele diz e sorri levemente.


— Se não estiver ocupada e...
— Tudo bem. — respondo, cortando a fala dele,
tentando ainda me recuperar da vergonha que passei.
Enquanto andamos até a tal lanchonete, Laura tagarela
com o pai sobre o jogo de futebol do domingo. Eu sequer faço
ideia do que estão falando e não ouso intrometer. Apenas
carrego meu cachorro quente embalado, que vou descartar em
um lixo correto, e tento pensar em como foi estranho esbarrar
dessa forma neles.
Os últimos tempos, após o divórcio, praticamente não
vi Levi. A não ser nos momentos em que busca Laura e a traz.
Não que sinta falta, por mais estranho que pareça, realmente
não sinto, e por isso, é estranho estar próxima dele.
A mágoa que pensei que sentiria, foi praticamente
dizimada em poucos segundos, como se dentro de mim, nada
mais estivesse abalado pelo que aconteceu. Olho-o de soslaio
e foco em seu olhar, o qual sempre me encantou, e nesse
instante, tenho que admitir que Levi continua um homem
lindo, de tirar o fôlego, porém não mexe mais da mesma
forma comigo. É como se de certa, esteja imune a ele.
— Mãe? — pisco duas vezes e só assim, encontro o

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olhar de Laura, a qual me encara inquisitiva.


— O que foi? — pergunto sem entender.
— Nada não. — diz e dá de ombros.
Volto minha atenção pra Levi e ele faz o mesmo, o
que me deixa ainda mais perdida. Será que eles perceberam
que estou alheia a toda conversa?
Mesmo assim, continuo da mesma forma até
entrarmos na lanchonete. Levi nos leva até uma mesa no
fundo e assim que eu e Laura nos sentamos, vai direto para o
banheiro, com certeza limpar mais um pouco a camisa.
— Papai me levou para conhecer o tio Caleb. — Laura
conta animada. — Ele tem uma filha e ela foi super legal
comigo.
— Verdade? — indago curiosa. — Mas mal conhece
Caleb e já o chama de tio? — provoco e ela sorri debochada.
— Ele é muito legal. — diz sorridente e eu resolvo
apenas escutar suas histórias.
Nunca fui próxima dos amigos de Levi, a não ser claro
meu irmão e Gustavo Di Lucca, um empresário que vivia indo
em nossa casa nos fins de semana para resolverem negócios.
Gustavo nunca foi muito comunicativo, sempre se mostrou
um homem fechado, mas na poucas vezes que nos falamos,
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foi impecavelmente educado. Já Caleb, só sei de fato o que a


mídia conta ou até mesmo o Google, e as poucas vezes que o
encontrei pessoalmente, foi em eventos que acompanhei Levi.
— Demorei? — Levi pergunta e se senta ao lado de
Laura.
— Me desculpe mesmo. — peço, olhando para sua
camisa ainda um pouco manchada.
— Tudo bem, só lavar que fica nova. — brinca e sorri.
Apenas assinto para ele e me distraio, encarando o
simples cardápio posto na mesa. Enquanto escolhemos nossos
pedidos, Laura continua contando sobre como a casa de Caleb
é grande e como a filha dele – Luna – é legal. Ela com certeza
fez uma amiga.
Assim que fazemos os pedidos, resolvo levantar e ir
ao banheiro. Quando adentro o ambiente, solto o ar que
sequer senti que segurava. Por mais que Levi não mexa
comigo, há algo que ainda me incomoda, algo que ainda não
sei discernir.
Jogo um pouco de água no rosto e ajeito meus cabelos
em um rabo de cavalo alto. Encaro meu reflexo por alguns
instantes e indago a mim mesma sobre o que está havendo
comigo. Essa leveza que sinto perto dele chega a ser estranha,

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e eu não consigo entender o que está havendo.


Saio do banheiro e de longe, vejo uma mulher ruiva
parada ao lado de Levi, dando a ele um pequeno cartão. Não é
difícil imaginar o que esteja acontecendo, já que ela sorri da
melhor forma pra ele. Levi parece constrangido e Laura não
desvia o olhar deles. Porém, quando estou próxima a eles, ela
me encara com certo alívio.
— Mãe! — Laura praticamente grita.
— Ei. — digo e sento-me no mesmo lugar de antes.
— Não precisa gritar, princesa.
Laura me encara emburrada e assim que volto meu
olhar para Levi e a mulher, ele parece completamente
constrangido e a ruiva me encara de forma estranha.
— Sua esposa? — ela pergunta e Levi parece em
choque, sequer desvia seu olhar do meu.
Por mais que a situação seja estranha, finalmente
entendo o porquê de ter me separado dele de vez. Não foi
apenas o fato da traição, ou todos os anos de um
relacionamento que sequer existiu, mas que algum jeito foi da
mesma forma infeliz, e também não porque estava confusa
por meu acidente e lembranças... A verdade é que a mistura
de tudo isso, fez com que aquele amor adolescente, a paixão

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que sentia por ele, se esvaísse... Deixasse de existir aos


poucos e eu não notei. Posso um dia ter amado Levi, mas
hoje, olhando-o aqui, a minha frente, ao lado de outra mulher,
isso não me incomoda. E só assim constato – eu não o amo
mais.
— Não, sou a ex-esposa. — digo e Levi arregala os
olhos.
Toco a mão de Laura pela mesa e pisco em sua
direção, puxando uma conversa com ela sobre qualquer coisa
que a interesse. Em poucos segundos a ruiva desparece e o
semblante de minha filha melhora, mesmo assim, entristeço-
me ao ver o quão isso a incomodou. Não quero que ela se
iluda sobre uma reconciliação entre eu e seu pai, esse no
momento, tende a nunca existir. E por mais que doa, terei de
falar sobre isso com ela.

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Capítulo 3

Melissa

Como Laura pareceu um pouco cansada, Levi achou


melhor já deixa-la ir comigo, para que pudesse dormir em
casa. Assim que chegamos perto do carro, Laura dá um forte
abraço no pai, e diz algo em seu ouvido. Levi pode ter errado
comigo de várias maneiras, mas a cumplicidade que tem com
nossa filha, é incrível.
— Tchau, pai. — ela diz e já entra no banco de trás do
carro.
Bato a porta e dou um simples sorriso pra Levi, o qual
me encara de maneira estranha.
— Posso falar com você um segundo? — pergunta e
eu assinto.

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Olho pela janela do carro e Laura apenas nos observa.


Como se quisesse ver algo além. Realmente, terei de ter uma
conversa delicada com ela.
Levi meneia a cabeça e dá passos até a frente do carro,
assim o sigo e percebo que ela não quer falar na frente de
nossa filha.
— Algum problema? — pergunto já preocupada.
Ele respira fundo e balança a cabeça em negação,
como se tomasse coragem para dizer algo.
— Eu sinto muito pelo que houve. — diz e passa as
mãos levemente pelos cabelos. — Olha, eu juro que não sabia
que aquela mulher ia vir até mim e... Eu não queria te
constranger... Ainda mais nossa filha estando junto, eu
jamais...
Ele continua se embolando nas palavras e sinto-me
desconfortável com sua situação. Claro que o momento foi
estranho, além de que, foram anos ao “lado” desse homem,
porém o mais estranho é não me sentir mal ao ver aquilo.
Encaro-o por alguns segundos, enquanto ele tagarela e
continua passando as mãos pelos cabelos, como sempre faz
quando está nervoso. E pela primeira vez, indago a mim
mesma, se conheço realmente o homem a minha frente. Será

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que tudo não passou de uma paixão adolescente pelo cara


mais velho, que no fim não é o príncipe encantado?
Mesclo em minha mente o momento em que vi a ruiva
próxima a ele, com o que vi em sua sala há meses atrás. Até
hoje, não consegui de certa forma me lembrar por completo
daquilo, mas os flashes que me vem em mente, ainda
machucam. Então por que o que vi hoje não me machucou?
Há algo diferente comigo, e só pode ser o tempo afastada
dele.
— Está tudo bem. — digo, interrompendo-o. — De
verdade, não se preocupe com o que houve.
— Está realmente falando sério? — pergunta, porém
não me dá tempo para resposta. — Realmente, não está nada
bem. — diz, encarando-me de maneira avaliativa.
— Como assim?. — pergunto e ele dá de ombros.
— Há coisas que perdemos, mas não conseguimos
realmente admitir, até que a vida nos faça engolir isso à força.
— diz e sorri sem vontade. — Eu perdi meus pais e demorei
anos para admitir a mim mesmo isso, mesmo com a vida me
mostrando a cada segundo... Mas com você, a vida conseguiu
me convencer em poucas horas.
Ele me encara com pesar e fico sem fala. Sem saber o

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que dizer ou até mesmo ter o que argumentar. De certa forma,


é como se Levi me conhecesse, ou uma pequena parte de
mim. Mas de todo modo, não sou a Melissa antes e ele
também não é o mesmo.
Apenas lhe dou um sorriso sem dentes, sem saber o
que dizer.
— Mãe? — volto meu olhar para o carro e Laura me
encara impaciente.
— Estou indo, pequena. — digo e viro-me pra Levi, o
qual apenas encara o chão.
— Eu entendo, Melissa. — diz simplesmente e passa
por mim.
Ele vai novamente até nossa filha e beija o rosto de
Laura, a qual o abraça pela janela do carro.
— Se cuide, princesa. — ele diz e ela assente. — Até
mais, Melissa.
Ele então sai, deixando-me ainda mais perdida do que
antes. Mas ao entrar no carro e ver um leve sorriso no rosto de
Laura, pergunto-me por que também não estou assim.

Levi
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Entro em meu carro e praticamente me jogo sobre o


banco. Encosto a cabeça no volante e seguro as lágrimas que
querem descer.
Andei um tempo confesso, para ser sincero, evitando
ficar próximo de Melissa. Mas ao estar próximo a ela, tê-la
assim tão perto, fez algo em mim se acender novamente.
Como se o sentimento de antes não estivesse morto, apenas
adormecido, de forma cautelosa dentro de mim.
As últimas palavras de Melissa comigo no hospital me
fizeram pensar. Sobre nós, nosso casamento, a gravidez de
Laura... Absolutamente tudo. Repensei e pensei sobre minhas
atitudes, e até mesmo sobre os momentos em que estive com
Nicole. Foram momentos esporádicos durante dez anos, mas
eles de fato existiram, e eu não conseguia seguir em frente,
tendo a culpa pela traição cravada em mim. E acho que nunca
me perdoarei pelo que fiz.
Além de que, o suicídio de Nicole, ainda me
atormenta. Pois além de magoar todos que amo, sinto-me um
causador de suas atitudes, mesmo sabendo que Nicole tinha
algum tipo de obsessão por meu irmão. Mas mesmo com
tudo, ela era apenas uma mulher, um ser humano como eu, e

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não merecia o que houve, por mais que tivesse errado. Eu


também errei e magoei as pessoas que amo, e nem por isso,
deixei de me arrepender. Só consigo pensar que o mesmo
poderia ter acontecido com ela.
O que mais passou por minha cabeça nesses dias, foi
se o “amor” que tanto proferi por Melissa realmente estava
dentro de mim. Ela me fez colocar na balança meu amor e
minha culpa. Por vários momentos, sei que estive confuso e
que acabei surtando, até mesmo pressionando Melissa a
respeito de meu desespero após ela saber da traição, e por
isso, assinei o divórcio, sem sequer questioná-la.
Ela tem o direito de viver, tudo aquilo que eu a
impedi, por puro egoísmo e insegurança. Por ter sido tão
imaturo e não percebido que o carinho que sempre senti
próximo a ela, era amor. Mesmo que esse amor não seja mais
o mesmo, esteja apenas em auge próximo a ela, eu não vou
desistir. Tentarei de alguma forma, conquistar novamente
minha menina. Nem que para isso, tenha que fazê-la se
apaixonar novamente por mim.

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Capítulo 4

Melissa

Chego em casa um pouco cansada, e assim que abro a


porta, Laura praticamente corre para dentro.
— Ei, mocinha. — grito, porém ela já virou o corredor
e duvido que me ouviu.
Sem querer, derrubo minhas chaves e respiro fundo
antes de agachar para pegá-las. Tem sido aqueles dias em que
mesmo não tendo feito praticamente nada, parecem os piores
e mais exaustivos.
Pego as chaves do chão e tranco a porta. Noto que há
várias cartas, com certeza boletos para pagar, espalhadas no
chão. Como a preguiça já está no auge e não quero me
agachar novamente, deixo-as ali, depois, com mais coragem,
olharei tudo.
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Vou até meu quarto e jogo minha bolsa na poltrona


em frente à minha mesa. Sento-me na cama e respiro fundo,
tentando entender o porquê de estar dessa forma, porém, nada
me vem em mente. Sinto meu celular vibrar em meu bolso, e
só me levanto o necessário para tirá-lo. Encaro a tela e noto
que o relatório mensal de minhas vendas chegaram.
Abro-a e me surpreendo com o bom valor que
consegui nesse mês. Por mais que esteja sempre na mesma
faixa de vendas, o que é muito bom, esse mês foi ainda
melhor. Entro então na plataforma online e vejo que meus
livros estão em bons lugares de venda, e não poderia ser mais
grata por isso. Além de que escrever é minha paixão desde
sempre, desde que me casei e não pude sequer chegar perto de
uma universidade e me aprimorar nisso, tenho estudado como
posso e me dedicado à escrita.
Escrevi meus livros com um pseudônimo e recebo o
dinheiro que ganho através de uma antiga conta corrente que
tenho, a qual Levi nunca sequer chegou a saber. Claro, que se
ele soubesse antes, me proibiria de escrever... Ou não, quer
dizer, não faço mais ideia sobre. Porém, sempre fui cautelosa
quanto a isso, e mesmo que ele não saiba, nunca usei seu
dinheiro para comprar algo para mim ou para algum gasto
pessoal.
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Assim como o dinheiro que ele manda todo mês para


Laura é usado exclusivamente com ela. Eu sei que ele quer o
melhor para a filha, e nem de longe, ganho o mesmo que ele.
Felizmente, ganho bem e posso garantir algumas regalias para
nós duas. Não quero ter de depender ainda mais de minha
família, pois eles praticamente mobiliaram o apartamento e
fizeram questão de pagar por tudo, isso já foi muito mais do
que suficiente. Tentei impedi-los, mas não consegui revelar
que tenho certeza independência com a escrita. Na realidade,
ninguém sabe sobre isso. Porém, estou tentando tomar
coragem para contar.
— Mãe! — viro-me para a porta e Laura adentra o
quarto, com seu tablet em mãos.
Por mais que ainda não fosse um celular e servisse
apenas para jogos, isso a distrai por várias vezes, porém sei
que terei de falar a respeito sobre um celular com Levi, já que
é o que Laura realmente quer.
— Oi, pequena. — digo e ela vem até mim, sentando-
se ao meu lado. — O que foi?
— Você e papai não se amam mais? — pergunta de
repente, fazendo com que um nó se forme em minha garganta.
Eu estava planejando conversar a respeito disso com

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ela, mas nunca pensei que em algum momento ela se


pronunciaria sobre. E agora, tudo parece ainda mais confuso.
Sento-me, de frente para ela, enquanto ela apenas me
encara em busca de uma resposta. Respiro fundo e coloco
uma mecha de seu cabelo que cai sobre seu rosto, atrás da
orelha.
— Os adultos são complicados, de uma maneira que
espero nunca tenha que viver. Um dia... — travo minha fala,
com várias lembranças de Levi vindo em minha mente. Mas
são coisas que não quero dizer a ela, então respiro fundo,
tentando conter as lágrimas. — Eu sinto muito por te incluir
no meio da minha confusão de sentimentos, ou até mesmo te
afastar de certa forma de seu pai. Pois sei que ele é o melhor
pai do mundo.
— Sim, mãe, ele é. — diz convicta, e continua a me
encarar.
— Lembra do que te disse sobre o amor? — pergunto
e ela assente. — Amor tem que ser cuidado, vivido e
explorado, senão ele se vai, nem que for aos poucos.
— É como uma rosa, não é? — pergunta e eu assinto.
— Mas e se meu pai te amar, mãe? Ele vai fazer o que?
Fico estática, sem saber o que responder. Como assim

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“se Levi me amar?” Ele não me ama, não há razões pra isso.
Por mais que ele tenha sofrido pelo que passamos, sei que a
culpa ainda ronda sua mente, e só isso pode explicar o modo
como agiu desde que descobri a traição.
Então fico sem palavras, tentando entender como Levi
pode me amar, apesar de tudo. Lembro-me bem de como ele
chegou a meu coração, em como nunca cogitei a possibilidade
de estar longe dele.
Eu amava o modo como os olhos verdes se destacam
na pele clara, o modo diferente que ele olha as coisas como se
as analisasse a cada segundo, até mesmo o modo fechado que
ele era comigo... Eu amava cada parte dele. Porém, pensando
agora, depois que nos separamos. Eu amava o que achei que
ele era, não por dentro, onde nunca cheguei a conhecer.
— Seu pai vai ser feliz, filha. Não se preocupe com
isso. — digo, tentando não assustá-la. — Eu sei que nos quer
juntos, imagino isso, mas sei também que não nos quer tristes,
e é assim que ficaríamos se voltássemos a ficar juntos.
Ela meneia a cabeça afirmativamente e não desvia
seus lindos olhinhos verdes de mim, como se conseguisse
realmente ler minha alma. Laura pode ser apenas uma criança,
mas em vários momentos, parece ser muito mais madura que

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isso. E eu realmente fico sem saber como agir perto dela por
diversas vezes.
— Eu entendo, mãe. — diz e sorri.
— Eu sinto muito, filha. Sinto muito mesmo. — digo,
e lágrimas descem por minha face.
Eu não queria magoar minha filha, muito menos fazê-
la sofrer. Mas sei que se continuasse a viver com Levi, ela
também seria prejudicada, pois viveria no meio de uma farsa.
— Eu te amo, mãe. — diz e passa as pequenas mãos
por meu rosto, limpando minhas lágrimas.
Puxo-a para um abraço e sinto-me em paz novamente.
Se tem algo que serei eternamente grata a Levi, é por termos
nossa filha, ela é a melhor coisa que me aconteceu.

***

Acordo um pouco incomodada com o calor. Levanto-


me meio perdida e caminho a passos incertos até o quarto de
Laura, e felizmente o ar condicionado dela eu me lembrei de
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ligar. Volto então para o corredor e sigo para a cozinha. Bebo


um grande copo d’água e toco minha nuca, a qual está
completamente suada. Isso que dá esquecer de ligar o ar.
Coloco o copo dentro da pia e me viro para ir até o
quarto, porém, algo brilhando no chão próximo a porta,
chama minha atenção. Vou até lá e vejo um envelope verde, o
qual aparentemente é fluorescente. Aproveito e pego todos os
envelopes espalhados pelo chão e os junto. Sento-me no sofá
e jogo uma porção de lado, encarando o envelope colorido e
estranho a minha frente. Mas logo vejo que é apenas um
convite de aniversário de um coleguinha de Laura. Bom, eles
realmente se empenharam no convite.
Analiso os outros envelopes e separo os que trazem
boletos, ao meu lado esquerdo. O que sobra, que são apenas
dois envelopes, abro por pura curiosidade. Com certeza são
mais convites para Laura. O primeiro que abro, fico
abismada, ao ver que é um convite para um evento de autores
independentes... Fico um pouco sem chão e não sei se pulo,
grito ou piro... Por fim, apenas respiro fundo e resolvo ir para
o próximo envelope.
O envelope é azul marinho e sequer tem um
remetente, o que é estranho. Abro-o e me surpreendo ao ler

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cada palavra escrita.


"Todo mundo quer acreditar no amor eterno. Ela
mesma havia acreditado, quando tinha 18 anos. Mas sabia
que o amor era difícil, assim como a vida. Sofria reviravoltas
impossíveis de ser previstas ou mesmo entendidas, e deixava
um longo rastro de arrependimento pelo caminho. E, quase
sempre, esse arrependimento levava a perguntas do tipo “E
se…” que nunca poderiam ser respondidas."- O melhor de
mim, Nicholas Sparks.
— O que é isso? — pergunto a sala vazia, e como
resposta tenho o silêncio.
Alguém com toda certeza deixou por engano em nossa
porta... Só pode ser.
Encaro o envelope novamente e busco algum erro no
destinatário, porém está aqui, meu endereço. Volto minha
atenção ao pequeno bilhete ou carta, e procuro algo escrito a
mais, e felizmente ou infelizmente, não encontro.
Fico ali sentada, sem saber o que pensar ou como agir.
A única pessoa que passa em minha mente nesse momento é...
É Levi. Mas como e por que ele faria isso? Posso não
conhecê-lo por completo, mas com toda certeza ele não é um
homem romântico... Ou é?

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Por mais que fosse me recriminar por isso depois,


levanto-me do sofá com o envelope em mãos, e vou até meu
quarto. Pego meu celular em meu criado mudo, e sem pensar
duas vezes, disco seu número.
— Alô. — diz sonolento e fico sem saber o que dizer.
Alguns segundos se passam e fico ainda mais em
graça. Não é ele, não pode ser.
— Melissa? Está tudo bem? Laura está bem? — ele
começa a fazer várias perguntas, o que me deixa ainda mais
confusa.
— Está tudo bem sim. — digo e seguro as lágrimas
que querem descer. — Eu liguei errado, era para Lili.
— Ah sim... Eu...
— Me desculpe, boa noite. — desligo rapidamente e
seguro com força o celular em mãos.
Eu não quero ouvir que é ele, e muito menos tentar
acreditar nisso. Nada muda o passado e eu ainda não estou
preparada para qualquer outra coisa. Sei que pode ser
qualquer pessoa ao enviar isso, inclusive Bruno, o qual
reencontrei essa semana, mas não quero sequer cogitar tal
coisa.
Por mais que não doa ter visto Levi próximo à outra
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mulher, ainda dói ter me iludido por tanto tempo com esse
homem. No final das contas, não sou mais a mesma mulher, e
infelizmente, seja quem for que me mandou esse bilhete, não
conseguiu me encantar, fez-me ficar ainda mais perdida do
que já estou.

Levi

Fico alguns segundos olhando para o meu celular,


buscando algo que não consegui entender na voz de Melissa.
Ela deve estar confusa com alguma coisa por ter me ligado
assim, talvez... Não seja um idiota ansioso! Repreendo-me.
Rolo em minha cama e encaro o teto novamente,
imaginando quantas oportunidades perdi em estar nessa
mesma cama com ela. Como sempre, já não aguentando mais
me sentir só nesse quarto, saio e vou dar uma volta no jardim
da casa.
Fico repensando em minha mente quantas vezes
Melissa também se sentiu só, mesmo estando casada comigo,
mesmo tendo Laura. A solidão que me abarca nesse momento

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é a qual só mostra meus erros, os quais me parecem límpidos


neste instante.
Fiz Melissa sofrer muito além da traição, mas por não
ter sido homem suficiente de enxergar o que ela realmente
merecia. Hoje sei, que nada do que faça vai mostrar a ela o
quanto é importante pra mim, muito além do nosso passado e
ainda mais por um futuro inexistente. Temos um elo eterno
chamado Laura, e me dói saber que é a única coisa que nos
interliga.
Sento-me no chão do jardim e encaro as estrelas,
refletindo comigo mesmo sobre tudo. Sobre minha infância,
meus pais, meu irmão, minha filha... Sobre as pequenas coisas
que me fazem bem, fazem-me feliz.

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Capítulo 5

Melissa

Dias depois

Tem sido complicado lidar com tudo que sinto, além


de que venho analisando as atitudes de Levi nos últimos dias,
tentando ter algum indício de que é ele que manda os bilhetes.
Pois é, são bilhetes, os quais chegam todos os dias. Porém,
ainda não consegui nada a respeito disso, e no fim, resolvi
deixar de lado.
Passo pela recepção da empresa e entro no elevador
privativo. Antes, em alguns momentos, sentia-me mal de vir
aqui, mas agora, é como se finalmente tivesse me livrado um
pouco do passado. Nada melhor que enfrentar os próprios
demônios para vencê-los. E alguns, eu já consegui.

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Chego até o andar de meu irmão e caminho até sua


sala, porém, antes que o faça, a porta da sala de Levi se abre e
Levi sai dela, com alguns papéis em mãos e um óculos no
rosto. Desde quando ele usa óculos?
— Sophie, lembra daqueles papéis que...
Ele continua tagarelando e vai em direção a mesa da
assistente de meu irmão, como está compenetrado nos papéis,
sequer me vê e muito menos percebe que Sophie não está.
— Ela não está. — digo, e mesmo sem ter intenção,
assusto-o.
Os papéis em suas mãos caem no chão e ele me encara
completamente surpreso.
— Desculpe. — digo e me aproximo dele, ajudando a
pegar a papelada no chão. — Parece um dia cheio.
— Com certeza. — diz e pega os papéis de minha
mão, nossos dedos se tocam e sinto aquele mesmo arrepio de
antes.
Algumas coisas nunca mudam.
Seus olhos verdes se focam nos meus e ele abre um
leve sorriso.
— Obrigado. — diz e eu assinto.

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Ele passa por mim e bate duas vezes na porta da sala


de meu irmão, porém não obtém resposta. Levi me encara
sem entender e eu também fico um pouco confusa, Daniel
havia dito que estaria em sua sala hoje e que poderia me
receber a qualquer horário.
— Acho que ele saiu, já que Sophie não está aqui e...
— Quieta, tem alguém na porta...
Assusto-me e Levi também me encara espantado. É a
voz de meu irmão e ele com toda certeza está acompanhado.
Não é preciso ligar um mais um para entender que a mulher
na sala com ele é Sophie. Levi dá de ombros e abre um leve
sorriso, algo que nunca havia reparado nele antes. Ou será que
só agora ele o faz?
— Posso te ajudar em algo? — pergunta e dá passos
pra longe da porta, faço o mesmo, pois não quero constranger
meu irmão e muito menos Sophie.
— Na realidade... Ia mesmo te mandar uma
mensagem. — digo, lembrando-me do aniversário de Laura.
— Pensei em fazer uma festa surpresa pra nossa pequena, e
darmos o celular que ela tanto quer.
Levi assente algumas vezes e parece pensar sobre.
— Podemos conversar na minha sala? — pergunta, e
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noto o tom de insegurança em sua voz.


— Claro. — digo e o sigo até lá.
Noto que a sala está completamente mudada, parece
até mesmo ter sido refeita. Porém, está ainda mais linda do
que antes, não parece tão impessoal.
— Laura me ajudou a decorar. — diz e dá de ombros,
sorrindo. — O quadro atrás de você, foi ela que escolheu, no
caso, a moldura.
Viro-me e encontro uma foto minha grávida e ele ao
meu lado. A mesma foto a qual Laura dorme abraçada todos
os dias. Sinto-me mal ao vê-lo assim, mas não sei sequer o
que dizer pra ele.
— Acho que é a nossa foto mais bonita. — digo, e
sorrio forçadamente.
Sento-me na cadeira a sua frente, e acho que ele
percebe meu incômodo e apenas foca seu olhar no meu.
— Acha que ela vai gostar do celular? — pergunta,
como se não soubesse o óbvio.
— Precisamos escolher um bom modelo.
— Que tal irmos ver isso hoje? — pergunta de
repente, deixando-me sem entender. — Daniel está ocupado
demais, e posso sair pra vermos o celular, além de planejar a
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festa pra ela.


— Tem certeza disso? — pergunto, completamente
surpresa.
— Claro. — diz e retira os óculos, colocando-os em
cima da grande mesa. — Vou só pegar minhas coisas e
podemos ir, ou você tem algo para fazer e...
— Não, tudo bem. — digo, levantando-me e
esperando ele pegar sua carteira.
Assim que adentramos o elevador, o clima parece um
pouco incômodo. Não consigo raciocinar direito e me seguro
para não perguntar a ele sobre os bilhetes. Talvez seja melhor
nem saber.
— É, então, como estão as coisas no apartamento...
Assim que ele começa a falar, a porta do elevador se
abre, e me espanto novamente nesse dia, Bruno abre um
sorriso enorme e vem até mim, dando beijos em meu rosto.
— Parece que o destino está a meu favor. — diz,
como sempre, galanteador.
Reviro os olhos e não consigo evitar sorrir do modo
como fala.
— Como vai, Bruno? — pergunto, e ele sorri.

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— Bom, muito bem, mas quero saber se gostou das


flores que enviei para você.
— Flores? — pergunto sem entender.
— Sim. Enviei hoje mais cedo, desculpe por ser tão
intrometido, mas foi seu irmão que me passou o endereço. —
diz e eu fico estática.
— Bom, ainda não vi, mas obrigada. — digo,
completamente sem graça, pois essa situação não parece
mesmo a melhor.
Só consigo pensar que Bruno tem meu endereço, ele
sabe onde moro... Então pode ser...
— Anda lendo muito Nicholas Sparks? — pergunto, e
ele abre um sorriso gigante.
— Tudo para conquistar minha donzela.
Gargalho de suas palavras, pois se tem uma coisa que
Bruno não tem é vergonha, e mais precisamente, na cara. Será
que ele realmente mandaria os bilhetes?
Viro meu olhar para Levi, o qual olha fixamente para
a porta a nossa frente.
— Espero que a donzela corresponda. — digo,
fingindo não entender sua direta.

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— Eu também.
— Mas me diga, o que faz aqui e como conseguiu
meu endereço com meu irmão. — digo, para ver se consigo
acabar com minha curiosidade.
— Bom, prometi que pararia de dar em cima da
assistente dele. — diz, fazendo-me arregalar os olhos. —
Brincadeira, mas que ele está afim dela, ele está.
Sorrio.
— Sim, é o que acho também. Mas você ainda não
respondeu minha pergunta.
— Oh, me desculpe, minha donzela. — reviro os
olhos novamente. — Conheço Daniel há alguns anos, mas
precisamente, no Canadá, somos amigos.
— Que mundo pequeno, não? — Levi diz de repente,
e sinto-me intimidada por seu tom de voz, porém Bruno
parece não se importar.
— Vim falar com ele a respeito de um investimento,
daí, acabei vendo uma foto sua na mesa dele e bem...
— Entendi. — digo, sem conseguir acreditar em como
esse mundo realmente é pequeno.
Finalmente o elevador para e saímos.

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— Vou buscar o carro. — Levi diz e sai praticamente


correndo de perto de nós.
Eu perdi alguma coisa aqui...
— Bom, tenho que ir. — digo e Bruno finge choro. —
Até mais.
— Porém, dessa vez, aguardarei sua ligação. — diz, e
fico sem entender. — Mandei junto com as flores o meu
número. E pode deixar que vou decorar muitas frases de
Sparks para te impressionar.
Sorrio e saio de perto dele, sem dizer mais nada.
Bruno é uma figura.
Quando chego até o carro de Levi, entro do lado do
passageiro, e ouço seu suspirar fundo. Ele pega algo no porta
luvas, e só quando abre a caixinha, vejo que é outro óculos.
— Não sabia que usava óculos. — digo, olhando-o
colocar.
— Sempre tive alguma dificuldade, mas dificilmente
usava. Hoje, com a idade chegando, não tenho mais como
impedir. — diz e sorri de leve. — Deixo um aqui no carro e
outro no escritório, já que sempre acabo esquecendo de
carregar.
Ele sai com o carro, e encosto minha cabeça no banco.
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O silêncio se instala entre nós e nunca me senti tão


constrangida quanto agora. Recrimino-me por querer saber
mais dele, sem entender por que. Queria perguntar como ele
está, como está passando... Mesmo negando, algo dentro de
mim ainda se importa com ele.
As ruas vão passando e só consigo pensar que mesmo
após dez anos juntos, e após a separação, pela primeira vez
estamos um pouco próximos. Não consigo entender, mas
parece que os últimos anos congelaram, e no fim, sobrou isso
de nós.
— Posso ligar o som? — pergunto, tentando amenizar
a tensão.
— Claro. — diz e foca sua atenção no trânsito.
Coloco então o som para funcionar, e me encosto na
janela do carro.
Assim que a primeira melodia preenche o carro,
encaro-o assustada.
— Como conhece essa música? — pergunto incrédula.
— Quer dizer, poucas pessoas que eu sei conhecem... Por
mais que não seja antiga e....
— Bom, sempre gostei de rock mais leve. — ele sorri
de minha surpresa. — E esses caras, realmente são bons.
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— Eu sei, eu adoro o som deles. — digo.


Não consigo resistir e começo a cantar. Essa música
com certeza é uma de minhas favoritas.
“That I love you
I have loved you all along
And I miss you
been far away for far too long
I keep dreaming you'll be with me
And you'll never go
Stop breathing if
I don't see you anymore”

— Espera um pouco aí. — Levi diz e aperta algo no


som, e noto que a música recomeça. — Para o seu show ser
completo. — brinca, e eu tento não sorrir, porém é inevitável.
Fico envergonhada e não consigo mais cantar, porém
logo escuto a voz de Levi, a qual eu nunca sequer soube que
era tão bela.
“This time, This place
Misused, Mistakes
Too long, Too late
Who was I to make you wait
Just one chance

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Just one breath


Just in case there's just one left
Cause you know,
you know, you know

That I love you


I have loved you all along
And I miss you
been far away for far too long
I keep dreaming you'll be with me
And you'll never go
Stop breathing if
I don't see you anymore”
Ele então me encara, como se esperasse algo, e mesmo
com vergonha, canto junto a ele.
“On my knees, I'll ask
Last chance for one last dance
Cause with you, I'd withstand
All of hell to hold your hand
I'd give it all
I'd give for us
Give anything but I won't give up
'Cause you know,
You know, you know
That I love you
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I have loved you all along


And I miss you
been far away for far too long
I keep dreaming you'll be with me
And you'll never go
Stop breathing if
I don't see you anymore
So far away...”

(Far away – Nickelback))

Sorrimos de leve ao terminar o refrão, porém algo em


seus olhos parece diferente.
E quando a música acaba, outra se inicia e eu acabo
por ficar em silêncio. Só consigo me perguntar: Quem é esse
homem ao meu lado?

Levi

Suspiro fundo, tentando controlar minhas emoções,

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após ouvir a doce voz de Melissa. Por dentro estou me


segurando para não gritar, tudo porque um simples idiota
tinha que aparecer. Por que eles sempre aparecem? Parece até
mesmo um dos livros que venho lendo.
Bufo sozinho e ao mesmo tempo disfarço, para que
Melissa não note meus ciúmes. Por mais que queira que ela
saiba o que sinto, ainda é cedo... Muito cedo pra nós. Sei
disso.
Tudo que quero é poder gritar que cada maldita letra
dessa música diz justamente o que sinto, de como me sinto ao
lado dela. Respiro fundo, e outra música começa, fazendo
com que ela desvie o olhar pra janela. Tudo o que queria
nesse momento é voltar no passado, reaver cada momento.
Ter a oportunidade de ser o homem certo, mas infelizmente,
não posso.
Nem todos nasceram para ser príncipe encantado.

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Capítulo 6

Melissa

Andamos lado a lado pelo shopping, mas nenhum de


nós diz nada. O silêncio que está entre nós não atrapalha
muito, já que há uma grande quantidade de pessoas passando,
assim, não fica tudo tão constrangedor.
Por canto de olho às vezes o analiso. Levi parece
perdido em seus próprios pensamentos, enquanto encara algo
em seu celular. O que me faz lembrar de uma coisa, a qual
sequer dei importância antes, mas hoje, tento entender porquê.
— Levi. — ele me encara. — Você sabe do meu
antigo celular? O que estava comigo no acidente? —
pergunto, e ele apenas nega com a cabeça.
— Acho que encontraram restos dele, que foram
descartados, já que não tinha mais como ser usado. — explica
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e eu assinto.
— Tinha algo lá que eu precisasse saber... Sabe, algo a
respeito de tudo que houve? — pergunto, e ele me encara
curioso. — É que tenho vagas lembranças sobre algo em meu
celular, mas não consigo me lembrar do quê.
Ele para de andar, o que me faz parar também.
— Eu deixei acho que dezenas de mensagens de voz
pra você após o que aconteceu. — diz e noto dor em sua voz.
— Não sei se isso é o que está procurando saber mas... Bom,
é o que sei.
— Tudo bem. — digo, um pouco aliviada por sua
sinceridade. — Obrigada.
— Estava pesquisando sobre os melhores celulares
atuais, e acabei encontrando o dessa loja. — ele indica com a
cabeça a loja atrás de mim, então me viro, encontrando uma
fachada completamente moderna. — Quer dar uma olhada?
— pergunta.
— Bom, você é bem mais capacitado que eu com isso,
então... O que achar melhor. Eu fico com a parte externa e
você com a parte interna, tudo bem? — pergunto, fazendo-o
rir.
— Ok, vamos.
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Entramos na loja e fico encantada com a infinidade de


modelos de celulares. Laura com certeza piraria aqui dentro,
mas nada melhor que uma surpresa.
Levi conversa com um vendedor enquanto eu ando
pela loja, desviando um pouco minha atenção dos celulares e
encarando a parte de notebooks. Fico maravilhada ao ver um
que sempre quis comprar, que tem uma tela enorme, o que me
ajudaria ainda mais a escrever. O preço é exorbitante, como já
imaginava, mas realmente, acho que vale a pena.
— Gostou de algo? — assusto-me com a voz de Levi
próxima a meu pescoço. — Oh, desculpe. — ele então sorri.
Sua aproximação mexe comigo, infelizmente não
posso negar isso.
— É... Posso fazer uma pergunta? — pergunto incerta,
com um pouco de vergonha. Nunca consegui falar
abertamente de minha profissão com ninguém, mas como sei
que Levi entende dessa área, talvez ele possa me ajudar.
— Claro, diga. — responde e eu respiro fundo,
encarando o notebook a minha frente.
— Acha esse notebook uma boa escolha... Quer dizer,
algo bom para quem usa isso para... — travo, não consigo
realmente falar sobre isso. — Esquece, eu...

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— Para escrever, certo? — pergunta, surpreendendo-


me. Encaro-o e ele parece envergonhado, mas logo muda seu
semblante. — É que sempre a vi em frente ao computador,
presumi que fosse isso.
— Ah, claro. — digo, ainda confusa com sua
avaliação.
Ele prestava atenção em mim? Desde quando?
— Na minha opinião, para escrever, um computador
como aquele ali. — ele se vira e indica um computador
branco do outro lado da loja. — É o melhor ultimamente no
mercado.
— Sério? — pergunto, caminhando até onde está o
computador.
De fato, o computador é lindo, e também tem uma tela
enorme.
— Sim, acho que é um ótimo investimento e... — ele
para de falar de repente, como se escondesse algo. Levi está
estranho. — Quer colocar junto ao celular? — pergunta.
— Não. — nego veemente. — Eu mesma vou
comprar e... Espera um pouco, já escolheu o celular? —
pergunto surpresa.
— Vem aqui ver.
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Ele me leva até um balcão, onde um vendedor sorri


simpaticamente. O celular realmente é lindo, dourado, do
jeitinho que Laura sempre disse que queria.
— Internamente ele é ótimo, o que achou do físico? —
Levi indaga.
— Bom... É perfeito! — digo animada.
— Sua esposa tem bom gosto, senhor. — o vendedor
diz, e Levi arregala os olhos.
Seguro-me para não rir de sua situação, ele tenta dizer
algo, mas nada sai de sua boca meio aberta.
— Não somos casados. — esclareço e o vendedor
pede desculpas, praticamente vermelho. — Está tudo bem.
— Então, gostariam de mais alguma coisa? — o
vendedor pergunta e eu assinto, levando-o até o computador.
Acertamos o pagamento de tudo, e fico feliz por Levi
não insistir em querer pagar nada a mais do que metade do
celular de nossa filha. O computador e parte do celular
ficaram por minha conta, e ele sequer se opôs. O que
realmente me surpreendeu, ele não parece o mesmo de antes.
Saímos da loja com o celular embrulhado em uma
sacola, e o computador pedi para que entregassem amanhã, já
que não quero andar com uma caixa enorme pelo shopping.
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— Quer comer algo antes de vermos algo para festa


dela? — Levi pergunta.
Encaro meu relógio e vejo que ainda temos um bom
tempo.
— Tudo bem. — digo, enquanto o sigo.
Ele entra em um restaurante mais afastado da praça de
alimentação, mas não entendo por que.
— É o meu favorito, se quiser podemos ir a outro
lugar.
— Não, por mim está ótimo. Não gosto muito de fast-
food.
— Eu também não. — diz sorrindo. — Não sei a
quem Laura puxou essa fascinação por pizza e hambúrguer.
— Isso é verdade. Tenho que dobrá-la sempre, porque
senão...
— Ela está cada dia mais esperta e inteligente... Não
sei o que vou fazer mais pra frente. — diz, puxando uma
cadeira pra mim, e se sentando logo à frente.
— Como assim? — pergunto, pegando o cardápio na
mesa.
— Os namoradinhos... — diz e faz uma careta.

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Gargalho do olhar sofrido que ele dá. Levi está


realmente preocupado com isso.
— Imagina só, Laura é linda. — ele esconde o rosto
nas mãos. — Terei de ameaçar todos os membros do sexo
masculino.
Gargalho ainda mais, vendo-o sofrer por antecipação.
— Ela ainda é nova, Levi. — digo, após meu riso
cessar.
— Mesmo assim. — ele arregala os olhos verdes,
fazendo-me rir novamente. — Mas enfim... Sabe algo de
Daniel com Sophie? — pergunta.
— Por que o interesse? — indago curiosa.
— Bom, é que tive algumas brigas com Daniel
recentemente, pelo modo rude que a trata. Convidei Sophie
para trabalhar comigo, mas ela acabou negando. Acho que ela
gosta de seu irmão, já ele não sabe lidar com ninguém, e ela
ainda continua sendo uma ótima funcionária com ele.
— É complicado, eu acho. — sou sincera. — Daniel
parece ter sofrido no passado por alguém. — Levi assente e
parece nervoso. — Você sabe algo a respeito disso, não é? —
pergunto curiosa.
— Bom, vai ser estranho dizer isso. — ele respira
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fundo, deixando-me nervosa. — Daniel já chegou a pedir


Carla em casamento. — conta rapidamente.
— O que? — pergunto incrédula.
Meu irmão nunca fez tipo de casar...
— Pois é, nem eu acreditei quando soube. — diz e
sorri fraco. — Mas acho que toda história, só seu irmão para
te contar ou Carla.
— Deve ser algo bem pessoal deles. — complemento,
entendendo o modo cauteloso com que Levi fala.
Não é a história dele para ser contada, entendo isso.
— Sim.
Ele então chama o garçom e fazemos nossos pedidos.
Enquanto aguardamos, o silêncio recai sobre nós novamente.
É estranho estar próxima a ele, ainda mais, porque nunca
antes estivemos assim... Mesmo com tudo, não me arrependo
de estar à frente dele, pois de certa forma, isso aplaca a
curiosidade que meu coração e mente tem sobre tudo a
respeito dele, de mim, do que fomos. Concluo que nunca
fomos nós mesmos antes.

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Bônus

Sophie

Encaro a tela do computador, enquanto tento controlar


a frustração que sinto. Leio e releio o que está escrito na tela,
e tenho vontade de editar o significado de ditador no
dicionário. Falta um dos significados: Daniel Lourenzinni.
Eu nunca fui de me estressar ou até mesmo sofrer por
algo no trabalho, mas desde o dia em que fui convocada a ir a
sala do meu chefe, isso mudou. De imediato, pensei ser o
senhor Gutterman, porém, assim que me encaminharam a sala
ao lado da dele, e encarei os olhos cor de mel mais claros que
já vi, soube que não era.
Desde minha época de recepcionista, sempre ouvi
boatos sobre o chefe que ficava na filial do exterior.
Comentários como: "Ele é lindo", "Ele não presta, mas tem
músculos que valem a pena", "Ele é o peão mais moderno que
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já vi".
Houve um tempo no qual até cheguei a querer saber
de quem se tratava, mas como nunca tive alguma amiga nessa
empresa, nenhuma delas sequer fez questão de me mostrar.
Poderia ter pesquisado na internet sobre ele, mas no fundo,
sempre senti que seria demais. Fui criada em uma ideologia
de que não devemos procurar e nem falar sobre a vida alheia,
e assim, contra minha vontade, não procurei.
Na primeira vez que o vi, constatei que todas as coisas
que ouvi a respeito de seu físico são reais, porém, nada me
preparou para quando ele começasse a falar. Desde então, os
gritos, maldições e ironias são constantes. Daniel Lourenzinni
pode até ser lindo por fora, mas é um verdadeiro monstro por
dentro.
— Se eu descontasse de seu salário todos os
momentos que te encontro divagando sentada nessa mesa,
tenha certeza de que não ganharia nada. — ouço sua voz dura
e firme atrás de mim.
Suspiro fundo, fechando de imediato o navegador e
pegando as pastas que ele pediu para que eu separasse. Assim
que me levanto, ele simplesmente pega as pastas e joga de
volta na mesa, encarando-me como sempre, de modo

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autoritário.
— Vem. — diz firme e mesmo sem entender, passo
por ele, entrando em sua enorme sala.
Não sei quanto tempo passei divagando comigo
mesma sobre meu chefe, que sequer percebi que ele tinha
chegado.
Permaneço em pé, em frente a sua mesa. Encaro meus
pés por alguns instantes, notando que preciso urgentemente
comprar um novo par de saltos, já que estes já mostram seu
desgaste. Com certeza, se meu querido chefe perceber, irá
criticar.
— Sente-se.
Mesmo estranhando seu pedido, sento-me e aguardo
ele passar por sua mesa e se sentar a minha frente.
Geralmente, o tempo que passo junto a ele, é entregando os
papéis e organizando, nenhuma vez, nesses meses que se
passaram, sentei nessa cadeira. Bom, ela é confortável.
— Há quanto tempo está formada, senhorita Moraes?
— pergunta, e o encaro sem entender.
Ele já leu meu currículo, não?
— Há três anos, senhor. — digo e ele assente,
passando as mãos pelos cabelos ralos, os quais nunca sei dizer
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a cor correta, já que com a luz, ele parece ser um cobre.


Ele de repente se levanta e afrouxa a gravata, sem em
nenhum momento me encarar. Ele vai até um armário ao lado
esquerdo da sala e se apoia, como se tivesse pensando sobre
algo sério. Ok, acho que perdi meu emprego.
— Tenho uma oferta a mais de emprego. — diz,
surpreendendo-me.
Espera aí... A mais?
— Não vou te dizer o porquê, mas apenas saiba que
vai ganhar o mesmo que se fosse uma das economistas da
empresa.
O que?
Não, ele está debochando de mim... Só pode ser isso.
Encaro-o, analisando seu semblante que mais parece
de tortura. De repente seus olhos encontram os meus, e tento
ao menos ver se é alguma brincadeira de mau gosto... Mas ele
não parece estar brincado, está completamente sério.
— Senhor, do que se trata o trabalho? — pergunto, e
ele desvia o olhar, encarando o relógio.
— Fingir que é minha mulher. — diz, encarando-me
novamente.

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Fico estática, sem entender mais nada. Como assim


sua mulher? Ele endoideceu!
— Eu acho melhor... — levanto-me da cadeira e me
afasto da mesa, indo em direção a porta.
Nem tenho tempo para pensar e logo meu corpo é
virado e prensado contra a porta.
— Quieta, tem alguém na porta... — diz, praticamente
num grito.
Fico parada, sem saber como reagir.
Alguns segundos se passam, e escuto passos se
afastando... Como ele sabia que tinha alguém ali fora?
Levanto meu olhar e o encontro divagando, encarando
a porta branca atrás de mim. Não dei muita atenção, mas
agora, percebo que sua mão está em minha cintura,
prendendo-me de forma dura.
— Me solte. — peço, e ele me encara, saindo de perto
de mim no mesmo instante.
Nunca, em nenhum momento em que estivemos
próximos, ele me tocou. A não ser a vez em que teve de tirar
uma de "suas mulheres" de cima de mim.
— Preciso sair, senhor. — digo já aflita, e ele revira os
olhos.
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— Não, você não vai. — diz, encarando-me sério,


como sempre faz quando está nervoso.
— Mas...
— Vai conseguir trazer sua mãe do interior e conviver
com ela... Além de comprar uma boa casa para vocês duas.
— O que? — pergunto incrédula. — Como sabe que...
— Sei de tudo, Sophie. — diz convencido.
— Não pode fazer isso! — digo, sem conseguir mais
raciocinar direito.
— Olhe, está me respondendo pela primeira vez... —
sorri fraco, e assim, sinto-me pior. Ele sempre faz com que
me sinta um lixo. — Não tem mais como fugir, sua mãe já me
deu a benção dela...
Não! Ele não...
— Sim, eu falei com ela. — diz como se fosse a coisa
mais natural do mundo. — Para todos os efeitos você pertence
a mim, e deve agir assim daqui por diante.
— Até quando isso? — pergunto, analisando o sorriso
arrogante em seu rosto.
— Até quando for preciso. — diz, indo até sua mesa e
se sentando. — Agora sente aqui, precisamos conversar os

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detalhes.
Literalmente, Daniel Lourenzinni é a melhor definição
para ditador. E agora, ele simplesmente é meu homem. Como
vou lidar com isso?

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Capítulo 7

Levi

Coloco a última sacola de compras dentro de casa e


fecho a porta, já cansado. Viro-me e encontro a sala de estar
repleta de enfeites, além de coisas que não sei nem dizer o
nome, para a festa surpresa de Laura. Sorrio ao imaginar a
felicidade de minha pequena ao ver tudo isso, das cores que
gosta, e das personagens que tanto assiste.
Por um segundo, desvio meu olhar para a parede e
novamente a dor dessa solidão, dessa falta, me atormenta. Por
um bom tempo, acabei sucumbindo à culpa de tudo, tentando
sobreviver a cada dia, pois nada mais fez sentido. A culpa
pela dor que causei em Melissa, em minha filha, meu
sobrinho, meu irmão... Até mesmo, a dor que causei em
Nicole. De certa forma, por mais que nunca tenha a amado,
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sua morte é algo constante em minha mente. Eu não consigo


imaginar um dia, onde a dor que causei a todos ao meu redor
vá passar.
Quando os papéis do divórcio chegaram até mim, meu
amigo, Caleb, os trouxe pessoalmente, já que o advogado de
Melissa o contatou. Naquele momento, não soube discernir o
que estava acontecendo, pois a culpa era meu martírio, e tudo
ao meu redor, foi feito no automático. Caleb ficou ao meu
lado, me socorreu naquele momento, mesmo após anos
distantes pelo rumo que nossas vidas tomaram, eu ainda, de
certa forma, tinha meu amigo.
Depois que Melissa realmente saiu de casa, e essa
mansão perdeu o brilho dos olhinhos verdes de minha filha,
caí na realidade. De culpa, passei a sentir pena de mim
mesmo. Pois não fui capaz de trazer felicidade a ninguém, e
com toda certeza, meus pais apenas teriam desgosto do
homem que me tornei. Um homem afundado nos próprios
erros e mentiras.
Mas ao menos, longe de mim, minha família parece
conseguir respirar.
Ouço o toque de meu celular e o levo a orelha.
— Pronto.

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— Ocupado? — uma pergunta direta, como sempre.


— Não, florzinha. — zombo e encaro as várias sacolas
a minha frente. — Algumas coisas para guardar, mas diga, o
que foi?
— Apenas preciso beber um pouco. — diz e noto seu
nervosismo.
Caleb com toda certeza discutiu com a esposa. Esses
dois são o casal mais confuso e estranho que conheço, mesmo
assim, tenho a certeza que ele a ama.
— Ok, te encontro daqui uns quinze minutos no bar de
sempre? — pergunto.
— Não, vou te mandar o endereço por mensagem. —
diz rapidamente. — Até mais tarde.
Ele então desliga, deixando-me completamente
confuso. Ok, Caleb teve uma bela discussão com a esposa.
Começo a levar as sacolas para o antigo quarto de
Marta e os minutos passam rapidamente. Tenho que deixá-las
bem escondidas, para que Laura não desconfie. Melissa
queria levar para o seu apartamento, mas lá seria ainda mais
fácil para que nossa filha encontre, portanto, decidimos por
ficar aqui mesmo. Além do seu presente especial, o tão
esperado celular, esse temos que esconder muito bem, pois
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senão, a surpresa não será tanta.


Sinto meu celular vibrar em meu bolso e o pego,
vendo uma nova mensagem de Caleb. Estranho o endereço
que ele passa, pois não me lembro de nenhum barzinho perto
dessa região, mas ele deve conhecer algo. Além de que, para
poder esfriar a cabeça, nos últimos tempos, Caleb tem sido a
melhor companhia.

***

— Diz que está de palhaçada com a minha cara? —


pergunto assustado, enquanto Caleb apenas dá de ombros e
entrega dois cartões para uma mulher na porta da boate. —
Caleb! — grito, porém ele continua andando, e logo o som
ensurdece meus ouvidos.
Droga!
Ando pelo mar de pessoas dançando, seguindo meu
amigo que vai direto para o bar. Ele pede uma rodada de algo
e a bebe sozinha. Fico ali, parado, sem reação. Caleb
endoideceu, só pode.
— Por que me trouxe aqui? — pergunto já nervoso.

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— Se não percebeu, não estamos mais na época de faculdade.


— digo, e ele abre um sorriso debochado. Tiro o pequeno
copo de sua mão e ele finalmente me encara.
— Somos solteiros, Levi. — diz alto. — Posso ser
casado, mas sabe muito bem de minha situação.
— Caleb... — tento manter a calma. — Sabe que ama
Victória, por mais que o casamento esteja ruim, sabe muito
bem do porque disso.
— Ela tem nojo de mim. — diz, pedindo outra bebida,
a qual mal chega e ele já vira. — Estou cansado disso, desse
casamento de fachada. De uma mulher que ama outro homem.
Levo as mãos aos cabelos, tentando não quebrar a cara
de meu amigo. Caleb normalmente não é assim, ou melhor, é
o cara mais correto que conheço. Algo muito sério deve ter
acontecido, para que ele fique assim. Mas infelizmente, me
compadeço da situação dele. Não consigo imaginar como é
ser casado com uma mulher que ama outra pessoa.
Entediado e perdido, é assim que me sinto ao ver
Caleb de tal modo. Noto uma loira vindo em nossa direção, e
logo ela toca o braço de meu amigo e sorri pra mim, porém
ela se concentra apenas nele.
— Sozinho? — pergunta e Caleb vira mais uma dose,

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assentindo.
A loira tenta beijá-lo, porém ele vira o rosto.
— Não. — diz, fazendo-me soltar o ar que não sabia
que segurava. — Aqui não.
Encaro-o incrédulo, enquanto a loira abre um enorme
sorriso. Tento dizer algo, mas nada sai de minha boca. Encaro
o semblante perdido de Caleb, o modo como não para de
beber e fingi ouvir o que a loira fala.
Olhando-o assim, lembro-me de mim.
Quantas vezes não fiz o mesmo? Usei de bebida e
sexo por pura fraqueza? Por estar perdido?
Não que minha traição tenha justificativa, nem eu
mesmo sei como falar a respeito disso com Melissa e sei que
não a mereço. E vendo meu amigo nesse estado, é como se
me olhasse por um espelho, de tempos atrás, onde fazia o
mesmo, só que mais discreto ainda.
Qual é meu maldito problema?
Deixo o tempo passar, e enquanto mais Caleb bebe,
mais vejo a loira o olhar impaciente, como se quisesse alguma
atitude dele. Vejo que ele sequer focou nela, e continua
bebendo. Pois é, a bebida por muitas vezes foi minha melhor
amiga também.
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Imagino agora, Victória em casa, que sequer imagina


o que ele faz, ou se imagina, sequer se importa. Já Melissa, eu
sei que ela se importava comigo, sempre se importou. O que
me dói ao lembrar que o brilho em seu olhar era outro, e hoje,
já não restou nada.
Peço uma dose de uísque, observando de canto de
olho meu amigo. Bebo a dose rapidamente e chego perto da
loira, dando a ela um fraco sorriso.
— Vai participar também, gato? — pergunta, e eu
nego com a cabeça.
— Vou levar meu marido daqui, ele já brincou muito
hoje. — minto, e ela arregala os olhos, olhando para nós,
incrédula. — Pois é, somos um casal.
— Mas eu jurava que ele fosse o advogado...
— Sim, o tal Soares? — pergunto, enquanto tento tirar
as doses de Caleb, que apenas resmunga. — Todo mundo
confunde ele com o tal. — minto, e ela logo sai.
Só não gargalho da cena, porque terei que levar de
alguma forma um marmanjo de 31 anos pra casa, pois ele
parece nem conseguir mais falar corretamente.
— Vamos, Caleb. — digo e o puxo pelo braço.
No começo ele se irrita e tenta se soltar, mas logo se
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cansa e mesmo contrariado, me acompanha.


— É melhor conseguir andar, sua florzinha de merda.
— xingo, pagando nossas comandas. — Como você gastou
tudo isso, porra?
Caleb apenas continua falando algo que não entendo,
que mais parece uma música. Só consigo pensar se ele faz
isso sempre, pois se fizer... Logo alguém vai reconhecê-lo e
daí sim, nem casamento de fachada ele terá.
Com muito esforço consigo tirá-lo da boate e
praticamente o carrego até a rua. Peço um táxi pelo aplicativo
e espero ansioso. Tenho um homem capaz de derrubar
qualquer um, mas que sequer se aguenta em pé, e ainda terei
que deixar em casa. É pra acabar uma coisa dessa.
— Eu tenho carro. — ele diz de repente meio
embolado, fazendo-me rir.
— Do que adianta se não podemos dirigir? Para de ser
besta, Caleb. Continua quieto que tudo está bem.
— Meu carro, porra! — praticamente grita e eu apenas
ignoro seus xingamentos.
Quando finalmente o táxi chega, pego-o pelo braço e
peço pro motorista do táxi abrir a porta. Jogo-o no banco de
trás e sento ao seu lado.
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— Pronto, agora fica quieto.


— Meu carro. — insiste, deixando-me ainda mais
irritado.
— Me dá seu celular. — digo nervoso, e como ele não
faz nada, mexo em sua jaqueta e encontro o aparelho. — Por
que não veio de táxi como eu? Eu já sabia que iríamos beber
e... Não nesse lugar horrível que nos trouxe, mas caramba,
Caleb.
— Meu carro. — diz novamente e me controlo para
não socá-lo.
O motorista me encara pelo retrovisor e só assim me
lembro de lhe falar o endereço.
Quando finalmente estamos indo em direção à casa de
Caleb, ligo para Joaquim, o chefe da segurança dos Soares, e
peço para que pegue o carro da criança birrenta ao meu lado.
— Depois vai ter que me contar como se enfiou
naquela boate e ainda mais sem segurança, Caleb. — digo
nervoso e ele apenas ri de minha cara, como se eu fosse um
palhaço.
Os minutos vão passando e felizmente Caleb vai se
acalmando um pouco. Apenas torço para que ele não durma,
porque se não tudo ficará ainda mais difícil.
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Quando finalmente o táxi para a frente da mansão de


Caleb, peço para que o motorista aguarde e saio com Caleb
apoiado em meu ombro. Assusto-me ao ver Joaquim parado a
frente do portão, o qual sorri e faz sinal negativo com a
cabeça.
— Sabia que ele estaria nesse estado. — pega Caleb, o
qual o abraça, como se fosse criança e chora.
Agora me perdi completamente.
— Ele faz isso muitas vezes, geralmente quando
Victória o ignora realmente por completo. — Joaquim diz
com pesar e abraça Caleb. — Tudo bem, garoto.
— Tem certeza que não precisa de ajuda? — pergunto
e Joaquim nega, dando tapinhas nas costas de meu amigo.
— Vou dar um jeito dela não vê-lo nesse estado. —
diz e eu assinto.
— Aqui, o celular dele. — entrego a Joaquim.
Viro-me para sair, mas paro assim que ouço a voz
embolada de Caleb.
— Não... Desista. — diz e o encaro sem entender. —
Mel vale... — então sorri, assentindo várias vezes.
— Vamos, garoto. Boa noite, Levi. — Joaquim diz e o
leva.
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Fico meio surpreso com a fala de Caleb, mesmo que


incompleta. Ando até o táxi e assim que fecho a porta do
carro, consigo entender de certa forma o que ele quis dizer:
"Não desista, Melissa vale a pena."
— Sim. — digo baixinho e fecho os olhos, buscando
certeza em meu coração. — Ela vale.

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Capítulo 8

Melissa

Fecho com cuidado a porta do quarto de Laura e me


encaminho até o meu. Deito na cama e encaro o teto por
alguns segundos, refletindo sobre o dia que passou. Por mais
que não tenha planejado nada disso, é estranho imaginar que
um dia ao lado do homem que me magoou tanto, foi
tranquilo. E pior que isso, é saber que nunca tive um dia
assim com ele.
Levi não parece realmente a mesma pessoa de antes.
Nós conversamos, comemos, andamos juntos, como algo
natural, não algo mecânico como antes. Pela primeira vez
agimos como humanos perto um do outro, o que parece
inconcebível, já que passamos dez anos casados, morando na
mesma casa... E agora, separados, compartilhamos um
momento real juntos.
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Encaro o buquê de rosas vermelhas, que deixei jogado


no chão de meu quarto, sem querer entender o porquê de
Bruno tê-las enviada. Já mandei uma mensagem para meu
irmão, chamando sua atenção a respeito disso, já que não é
justo ele passar alguma informação pessoal minha para
alguém, mesmo que esse alguém seja seu amigo.
Levo a mão até o criado mudo e pego de lá mais um
envelope que chegou há poucas horas. Mais um dos
envelopes que chegam todos os dias a uma semana. Respiro
fundo e tomo coragem em abrir, tentando não pirar
novamente a respeito disso.
“Na noite passada, ele tinha certeza de que ela estava
sentindo a mesma coisa que ele. Mas, agora… Ele gostaria
que eles estivessem podido passar a tarde juntos. Ele queria
saber quais eram suas preocupações e tranquilizá-la; queria
abraçá-la e beijá-la, e convencê-la de que encontraria uma
maneira de fazer sua relação dar certo, não importava o
quanto isso pudesse ser difícil. Ele queria fazer com que ela
ouvisse suas palavras: que ele não conseguia imaginar uma
vida sem ela, que seus sentimentos eram verdadeiros. Mas, o
mais importante, queria voltar a ter certeza de que ela estava
sentindo a mesma coisa que ele." – O milagre, Nicholas
Sparks.
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— Levi. — sussurro pro nada, relendo mais uma vez o


bilhete sem assinatura.
Encaro novamente as rosas jogadas no chão e me
levanto. Pego o bilhete com o cartão de Bruno ali colocado, e
comparo com o bilhete que acabei de ler. Bruno escreveu a
mão um simples: Me ligue, donzela. Além de que está com
sua assinatura.
Não há como ele ser o mesmo cara dos bilhetes
anônimos. Releio novamente o mais novo bilhete e respiro
fundo, absorvendo as palavras. Por mais que quisesse lutar
contra e jurar que não pode ser Levi, no fundo, sinto que é
ele. Que de alguma forma ele está lutando por mim.
Mas por quê?
Por que ele faria isso?
A mulher que se insinuou para ele há dias atrás, não
me causou coisa alguma, o que me fez pensar a respeito de
meus sentimentos e ter a certeza de que não sinto nada pelo
homem que me divorciei. Mas o homem que me manda
bilhetes sem assinatura, que de alguma forma sabe de meu
autor favorito, e faz uso de seus textos, me surpreendeu. Não
por esse gesto delicado, mas por ser um gesto de Levi. O que

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deixa claro que, mesmo que não seja como antes, ele mexe
comigo.
Levi nunca fez o estilo de homem que tem que
conquistar algo, ou que luta por algo que não seja o trabalho.
Já hoje, a soma do que vem enviando mais ter largado tudo no
trabalho para escolher pessoalmente comigo algo para Laura,
mostra que algo mudou. O problema é entender, até que ponto
houve uma mudança e se isso, de alguma forma, modifica
minha vida.

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Capítulo 9

Levi

Seguro as flores em minhas mãos, um pouco sem


jeito, sem saber como enfrentar isso. Há quanto tempo não
venho aqui? Há quanto tempo simplesmente não enfrento essa
parte tão dolorosa de minha vida? E ao mesmo tempo, a parte
a qual nunca poderei esquecer.
Caminho em silêncio, vendo aos poucos os raios
solares do meio dia, chegarem em seu ápice. Do jeito que meu
pai disse que mamãe gostava, o céu azul, com o Sol em seu
auge. O completo contrário dele...
— Sua mãe é teimosa, filho. — diz e passa protetor

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solar em minhas costas. — Ela quer nos ver queimar nesse


sol de 40 graus.
— Pare com isso, Tuan! — mamãe aparece,
advertindo-o. — Você ama praia. Assim como você, né, meu
bebê? — ela pergunta e me joga pra cima, em seu colo.
— Eu gosto, mamãe.
— Eu sei, meu garoto. — diz e toca de leve em meu
nariz. — Pare de ser chato, Tuan. Levi e Ricardo amam
tomar sol, assim como a mãe.
— Não sei o que faço com você, mulher. — papai diz e
passa as mãos pelos cabelos. — Eu amo a noite e você o dia,
Lorena. Como acabamos casados?
— Porque você me ama, tolinho. — diz e beija
rapidamente meu pai.
Uma luz forte bate em meu rosto e volto a realidade,
divagando ainda entre os momentos de meus pais. Como eu
pude simplesmente não viver isso com Melissa?
Aliás, quem fui eu para Melissa?
Paro finalmente de andar, encarando de frente o
túmulo dos dois. Dói ver que após tanto tempo, tudo continua
o mesmo aqui.
Lorena Gutterman
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&
Tuan Gutterman
Pais, filhos e amigos amados.

Respiro fundo e tento controlar as lágrimas, mas


parece impossível. Coloco as flores sobre o túmulo sem vida e
fico divagando ainda mais. Com a música que mamãe cantava
todas as noites antes de eu e Ricardo dormirmos.
“May your dreams bring you peace in the darkness
May you always rise over the rain
May the light from above, always lead you to love
May you stay in the arms of the angels

May you always be brave in the shadows?


Till the sun shines upon you again
Hear this prayer in my heart, and we? ll ne? er be
apart
May you stay in the arms of the angels

May you hear every song in the forest


And if ever you lose your own way
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Hear my voice like a breeze, whisper soft through the


trees
May you stay in the arms of the angels

May you grow up to stand as a man (up)


With the pride of your family and name
When you lay down your head, or to rest in your bed
May you stay in the arms of the angel”

(Lullaby for a Soldier - Maggie Stiff)


— Sabe, mãe. — digo, enxugando uma lágrima que
insiste em descer. — Eu não sou nem de perto o homem que
você esperava, ou metade do homem que papai foi. Sou só
mais um desgarrado, porque quis ser assim. Eu machuquei
tantas pessoas, até mesmo sua neta... Você iria amá-la, sei
disso. Laura é razão pela qual continuo firme, além de...
Melissa. Melissa Lourenzinni é a mulher que ganhou meu
coração, mãe. Ela... É como você disse que seria, pai. Ela é
diferente de mim, ao menos hoje eu enxergo isso.
“Eu ainda não sei ao certo mas... Acho que temos
gostos musicais parecidos, até mesmo um gosto igual para

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filmes. Há tanto nela que eu não descobri durante 10 anos de


casados e agora, simplesmente, quero desvendar. Eu descobri
que a amo, amo além do que podia esperar. O amor que eu
tanto vi em vocês, mesmo sendo novo, o amor que eu nunca
mais imaginei poder vivenciar. Eu sinto isso agora, mãe, pai.
Eu sinto que posso ser feliz, mesmo após tantos erros. Eu só
queria... Eu só vim aqui pra dizer que os amo, imensamente.
Por mais que esse lugar não seja o melhor pra falar com
vocês, eu sei que em algum lugar, estão me ouvindo. Eu vou
esperar por ela, mãe. Eu vou ser novamente um cara bom...
Vou ser.”
Olho para os céus novamente e vejo as nuvens se
moverem, o que por um segundo me faz pensar ser uma
resposta. No fundo sei, que não passa de mais um dia de céu
lindo no Rio de Janeiro, mas hoje, em especial, marca algo
em mim. Decidi finalmente, enfrentar o que houve, entender
que meus pais realmente foram, mas que o amor deles não.
Como Melissa me disse uma vez: “Eles se amavam demais
para se separarem aquele instante”.
Hoje, eu finalmente entendo.

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Capítulo 10

Melissa

Algumas semanas depois

Beijo de leve o topo da cabeça de Laura, a qual sorri


feliz por ir viajar com os avós. Ela entra no carro e assim meu
pai me abraça, sussurrando em minha orelha:
— Ela não vai desconfiar de nada, prometo. — diz e
eu sorrio em seu pescoço.
Ele se afasta toca em meu rosto e beija de leve minha
testa.
— Tenho orgulho de você, minha princesa. — diz,
surpreendendo-me. — Sem perguntas. — resmunga, como se
lesse meus pensamentos.

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Antes que eu possa dizer algo, ele entra no carro.


Mamãe acena para mim do lado passageiro e eu sorrio. Eles
são os melhores.
— Comporte-se. — digo e Laura assente, claramente
animada.
— Tchau, mãe.
O carro então sai e eu continuo dando tchau, até que
desaparecem de vista.
Meu celular toca e atendo no mesmo instante:
— E aí, a princesa de olhos verdes já foi?
— Sim, Lili. Vou pegar meu carro e já te encontro aí.
— Certo.
— E Lili... Obrigada por me apoiar.
— Sempre as ordens, madame. — diz e desliga em
seguida.
Entro no prédio e vou em direção a minha vaga, pego
o carro e já saio. Reflito sobre as ideias que tivemos a respeito
da festa surpresa de Laura.
Falei com Levi algumas vezes, e por mais que ainda
ache estranhe toda a coisa dos bilhetes, notei que ele em
momento algum, deixou algo escapar, portanto, não toquei no

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assunto.
Nas duas semanas que se passaram, acabamos falando
como sempre de nossa filha, nesse caso, de todos os arranjos
para a festa. Como já tínhamos comprado toda a parte de
decoração e o presente, faltou apenas fecharmos com alguém,
a comida da festa.
De imediato, nós dois queríamos organizar tudo, não
queríamos algum organizador ou equipe de festas, e sabíamos
que isso daria ainda mais trabalho, mas valeria a pena. Então,
Levi se encarregou de conseguir uma boa opção de buffett,
para que tenhamos comida de qualidade, e eu fiquei com a
parte de encontrar o bolo perfeito. Laura não é uma criança
enjoada em relação a alimentos, e sei bem o quanto ama
apenas chocolate preto ao leite, por isso, saí em busca de algo
que seja de seu gosto, só que bem feito.
Tive assim que manter mais contato com Levi do que
o habitual, e felizmente, não foi nada embaraçoso. Apenas
tivemos algumas divergências de onde seria o local da festa,
já que ele queria que fosse na sua casa e eu no apartamento. A
princípio neguei de imediato sua proposta, pois ainda não
tinha certeza se queria estar naquela casa novamente, mas
após algumas conversas, percebi que era nossa melhor opção.

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Não queremos uma festa grandiosa, porém com a quantidade


de colegas que Laura tem, o único jeito foi aceitar a festa ser
na casa de Levi, já que não caberia nem metade dos colegas
de Laura no apartamento.
Foi difícil contar isso para meus familiares e amigas,
mas felizmente, todos entenderam. Até mesmo meu irmão,
que ficou um pouco chateado no começo, acabou cedendo. E
hoje, enquanto meus pais passam o fim de semana com Laura
em um parque aquático, que é o presente deles para ela, nos
organizamos tudo. Eles voltam na segunda feira, e como
queremos que tudo esteja perfeito, hoje – sexta feira – já
começamos a arrumação de tudo. Como meus pais
prometeram fazê-la descansar para estar com ânimo na festa,
iremos fazer tudo para segunda, que é na realidade, a véspera
de seu aniversário, assim ela realmente vai se surpreender.
Todos estão com a ideia de fazer algo impecável para Laura e
esperamos que ela goste.
Estaciono o carro em frente a casa de Levi e não
consigo evitar de respirar fundo. Saio do carro ainda meio
relutante, mas continuo com meus passos até o portão. Logo
minha entrada é liberada e me encaminho pelo lugar que um
dia, pensei chamar de lar.

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Não, realmente, esse lugar não foi. Mas penso então,


sobre os dias em que minha memória se apagou
momentaneamente, sobre como finalmente tudo aqui ficou
belo e me senti bem. Em um momento, talvez destinado, Levi
me fez sorrir verdadeiramente.
Abro a porta da frente com cautela e entro devagar.
Levanto meu olhar e encontro já vários balões amarrados na
escada que dá no outro andar. De canto de olho vejo Marta, a
qual sorri animada pra mim.
— Ei, folgada. — assusto-me com o grito de Lili e
dou-lhe um tapa no braço. — Vamos! Precisamos de ajuda
para colocar alguns dos milhares de balões que compraram.
— Exagerada. — digo, seguindo-a pela ampla sala.
Assim que estamos perto do sofá, Lili praticamente
me puxa para um canto mais afastado, e logo Marta se
aproxima.
— Mas...
— Por que não nos disse que o olimpo estaria aqui
hoje? — Lili pergunta, deixando-me perdida.
— Ao menos um deus do olimpo veio, o outro...
— Ah, fique quieta, Di Lucca não tirou os olhos de
você e você dele... Apenas eu, Levi e o deuso mor, estamos
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fazendo algo. — Lili reclama, e Marta revira os olhos, saindo


de perto de nós.
— Espera aí... Di Lucca está aqui? — pergunto e Lili
apenas assente e se abana. — Mas quem é o “deuso mor”?
— Quem mais seria? Caleb Soares. — diz e arregala
os olhos no mesmo instante. — Pai amado, é nesse momento
que queria ter algum problema judicial e precisar desse
advogado.
— O que? Como assim? — pergunto, e ela apenas
indica com a cabeça, para o lado direito.
Viro meu olhar e é impossível não me assustar. Há
quantos anos não via Caleb de perto? Cinco? Seis? Bom, eu
nunca imaginei que ele estaria ainda mais...
— Lindo. — Lili diz, suspirando. — Devia ser
proibido alguém ficar tão bom assim em jeans, e ainda mais
com uma camisa social preta. Isso não é justo!
Gargalho alto, sem conseguir me controlar, o que
chama atenção de Caleb para nós, o qual estava concentrado
colocando alguns enfeites perto do hall principal.
— Melissa. — diz, e saio de perto de Lili, indo até ele.
— Quanto tempo, não é? — digo, e o cumprimento
com dois beijos no rosto. — Como estão as coisas? —
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pergunto e ele sorri de lado, passando as mãos pelos longos


cabelos negros.
Tenho que admitir, ele é um homem de fazer as
mulheres ficarem como Lili está.
— Bom, como sempre. — diz e noto seus olhos azuis
um pouco apagados.
— Soares! — ouço um grito e me assusto, olhando em
direção as escadas. — Ah! Oi, Melissa. — Levi diz,
claramente envergonhado.
— Essa florzinha, não vive sem mim. — Caleb diz,
indo em direção de Levi, que revira os olhos.
— Florzinha? — pergunto, já com um sorriso no
rosto.
— Vai dizer que ele não parece uma? — Caleb brinca
e vai até onde Levi está, o qual lhe dá um soco no ombro. —
Não força.
— Não use o apelido que dei a você, babaca. — Levi
insiste, fazendo-me rir.
Sem querer, acabo reparando nele. Os dois realmente
deveriam ser o terror as mulheres na faculdade. Um moreno
de olhos azuis, e um moreno de olhos verdes... Os quais até
hoje me deixam perplexa pela beleza.
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Os dois então sobem as escadas juntos e fico aqui,


divagando.
— Esse homem acabou com meu raciocínio e pior,
com meus sonhos. — Lili diz, vindo até mim, suspirando. —
Lindo, rico, educado, piadista... O que mais poderia querer?
— E casado. — complemento e ela bufa.
— Está aí o defeito. Aliás, a esposa dele é linda,
parece uma barbie morena de olhos azuis. Isso realmente não
é justo. — diz, saindo de perto de mim.
— Diz a barbie original. — zombo e ela ignora, indo
em direção a cozinha.
Já cansada de enrolar, vou atrás dela, para ver como
está tudo por lá, rever se nada está fora do lugar.
Porém, quando estou perto da sala de jantar, Lili invés
de continuar andando, vem dando passos para trás. Ela se vira
e faz sinal de silêncio com o dedo indicador.
— O que? — pergunto baixinho, e ela segura meu
braço, indo para fora da sala de jantar.
— Marta e o outro deus do olimpo. — diz, fazendo-
me arregalar os olhos também.
— Mas Di Lucca sempre ignorou Marta quando veio
aqui...
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— Mas o quase beijo na cozinha, diz o contrário. —


Lili diz, sorrindo. — Garota de sorte! — resmunga e é minha
vez de revirar os olhos.
Saio de perto dela e vou em direção as escadas, para
ver se há algo que precisa ser mexido nos quartos. Ao chegar
no outro andar, é que percebo que não me senti mal ainda
aqui, pelo contrário, é comum. Acho que a presença de Lili e
Marta é fundamental nisso.
Penso nas falas de Lili de minutos atrás, e é
impossível não rir. Sei que realmente, não há como achar os
homens dentro dessa casa lindos. Mas sei que Lili jamais se
envolveria, pois, mesmo tendo saído com um pai de um de
seus alunos uma semana atrás, ela não ficou cinco minutos no
encontro pelo que me disse. Lili é uma incógnita.
Ando pelo corredor e escuto alguns barulhos vindo do
quarto de Laura, sigo até lá e me encosto no batente da porta,
vendo Levi e Caleb empenhados em fazer um balão, já cheio
de ar e em formato de unicórnio, parar na cabeceira da cama.
— Precisam de ajuda? — pergunto, e Levi se vira pra
mim, passando a mão pela testa um pouco suada.
— Na verdade, preciso te mostrar uma coisa. — diz e
vem em minha direção.

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Dou passagem pra ele, o qual passa por mim e segue


em direção ao escritório. Ele entra e acende as luzes, abrindo
os braços e mostrando um quadro lindo, no qual, há uma
montagem de fotos.
— São as várias pessoas que Laura tem presentes em
sua vida e... Bom, as que sei que a amariam muito se
estivessem aqui. — ele força um sorriso, e assim localizo no
grande quadro uma foto de seus pais.
— Você tem os olhos de sua mãe. — digo, sem
querer. Levanto meu olhar pra ele, o qual felizmente, não
parece sentido.
— E a teimosia do meu pai, como ela dizia. — sorrio.
— Ficou lindo. — digo, observando todas as fotos,
que incluem os familiares, coleguinhas, professores. — Nem
quero imaginar o que faremos quando ela completar quinze
ou dezoito anos. — sorrio e ele passa as mãos pelos cabelos.
— Acho que pela primeira vez, Laura vai realmente
gostar de um aniversário e... Queria te agradecer por isso, por
ser tão verdadeira. — ele diz, e encosta-se contra a mesa. —
Se não tivesse me deixado, duvido que estaríamos tendo esse
momento, fazendo algo tão bom para ela... Mesmo não
querendo admitir, de algum jeito estranho, funcionamos

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separados. Acho que por ter finalmente aberto os olhos e visto


que você é uma mulher, forte e independente, e que não posso
proibir o mundo de ter isso também.
— Levi...
— Não estou dizendo isso para redimir meus pecados,
acredite, eu sei o quão ruim eles são. Só quero ao menos uma
vez, ser tão sincero quanto você. — diz, deixando-me
emocionada, porém me seguro para não demonstrar. — Você
é a melhor pessoa que conheço, Melissa. Mesmo após tudo o
que fiz, você continua aqui. Pode dizer que é por Laura, e
sim, boa parte é, mas uma parte sua é apenas você agindo
como sempre foi... Real e verdadeira.
Reflito sobre suas palavras e vejo que na realidade,
estou bem longe do que Levi diz. Ele talvez não tenha notado,
mas estou longe de ser perfeita, e talvez esse seja o erro dele
em enviar os bilhetes. Ele envia os bilhetes para uma mulher
que imagina que sou, algo talvez causado pela culpa ou até
mesmo uma confusão de sentimentos. Bom, nós dois somos
confusos.
— Eu não sou isso, Levi. — digo, respirando fundo.
— Não sou uma mulher perfeita. Eu sou como você, tenho
meus medos e demônios, e tento superá-los a cada dia. —

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digo, sob seu olhar avaliador.


Como ele sempre faz.
— Sei o que quer dizer, e talvez tenha razão, mas só
tenha a certeza de uma coisa, que não sou um homem
romântico, Melissa, nunca fui. Isso pode parecer óbvio, mas
eu não digo que é verdadeira e real por culpa ou remorso do
que passou, mas é o que vejo em você... Talvez você mesma
não saiba, e talvez eu esteja dizendo uma grande besteira. —
ele sorri, fazendo-me sorrir também. — Mas de uns tempos
pra cá, a única coisa que sei é que você sempre será parte de
mim.
Sorrio de sua fala, pensando sobre tudo que passamos.
Que apesar dos momentos ruins e de toda confusão que
sempre esteve ao nosso redor, e que ainda nos ronda. Ele
sempre será parte de mim também. É inevitável.
Abro a boca pra dizer, mas batidas na porta nos
chamam a atenção.
— Atrapalho? — Caleb pergunta e eu nego com a
cabeça, assim como Levi.
— Vou ajudar as meninas. — digo e saio do
escritório, deixando-os a sós.
Já no corredor, busco o ar que me falta. E pela
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primeira vez em meses, consigo sorrir, do modo leve que


sempre esperei fazer novamente. Só preciso entender o que
está acontecendo comigo acerca de Levi.

***

Chego finalmente ao meu apartamento, após todo


trabalho de deixar tudo decorado. Ainda temos que buscar a
comida um pouco antes da festa, mas isso ficará para
domingo.
Lili vem atrás de mim, assim como Marta, e as duas
discutem como sempre. Elas não tem jeito.
— O que você e Di Lucca fizeram na cozinha, Marta?
— Lili pergunta pela milésima vez, e eu gargalho.
— Vou tomar um banho, apenas não se matem, ok? —
digo e as duas me olham bravas.
Vou até meu quarto e não resisto em sentar a frente de
minha mesa, com o novo computador. Realmente, ele é
ótimo. Noto que deixei várias coisas abertas, até uma página
em branco do novo livro que tenho tentado escrever, mas que
simplesmente não flui.

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Encaro a tela em branco e apenas uma coisa vem em


minha mente – minha história. Os olhos verdes de Levi,
minha paixão por ele, a gravidez... Eu nunca escrevi a
respeito de mim antes, mas agora isso faz todo sentido. Penso
um pouco e escrevo um parágrafo, salvando-o, deixando para
pensar com mais calma a respeito.
Vou para o banheiro e finalmente tomo um bom
banho. Penso em como tudo tem se passado e como a
presença de Levi tem se tornado a cada dia mais agradável.
Não que sejamos algo a mais, mas parecesse até que agimos
como amigos, o que felizmente, não é estranho. Saio do
banho enrolada em um roupão e mesmo parecendo um pouco
estúpido, acabo mandando uma mensagem pra ele pelo
celular.
Oi.
Acho que foi horrível essa mensagem, mas como já
enviei, só posso esperar sua resposta.
Oi, Melissa. Algum problema?
Inconformada com sua mesma pergunta de sempre,
fico sem saber o que responder. Acho que enrolo tanto que ele
mesmo resolve ligar, o que me deixa um pouco sem graça,
pois fui eu que comecei a conversa sem saber por que.

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— Oi, Melissa. Algum problema? — pergunta assim


que atendo, fazendo-me rir.
— Por que sempre acha que estou com problemas? —
pergunto divertida, porém ele fica em silêncio. — Levi?
— É que não consigo imaginar outro motivo para que
fale comigo, se não for algum problema com Laura. — diz,
deixando-me surpresa.
Ele realmente acha isso?
— Pode ser apenas porque queira falar com você. —
digo, sem conseguir controlar as palavras em minha boca.
— Eu... Realmente não esperava isso.
— Você também sempre fará parte de mim, Levi. —
digo, sem entender de onde saiu tudo isso de dentro de mim.
— Eu apenas precisava dizer isso.
— Fico feliz em ouvir isso, Melissa. — diz e escuto
seu sorriso. — Podemos nos ver amanhã?
— Houve algum problema com as coisas da festa? —
pergunto alarmada.
— Viu, você também sempre acha que estou com
problemas. — sorrio. — Não, eu só quero te levar em um
lugar. — diz, deixando-me completamente sem graça. —
Como amigos, Melissa, eu juro.
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— É... — penso nos prós e contras disso, porém


minha curiosidade por ele, fala mais alto. — Tudo bem.
— Ok, te mando os detalhes por mensagem pode ser?
— pergunta e eu respondo um simples “Sim”. — Boa noite,
Melissa.
— Boa noite, Levi.
Desligo, mas continuo com o celular ainda em mãos.
Não sei de onde surgiu essa vontade repentina de falar com
ele, ou porque aceitei sair com ele, sem ao menos perguntar
para onde. Mas vou arriscar, quem sabe assim, entenda
finalmente o que sinto a respeito dele.

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Capítulo 11

Melissa

Coloco um simples jeans e uma bata branca, com


sapatilhas douradas nos pés. Deixo meu cabelo solto, e os
cachos, que felizmente estão hidratados, consegui deixar do
jeito que gosto.
Não consegui contar as minhas amigas pra onde vou,
ou até mesmo falei com alguém sobre. De certa forma, sinto-
me ainda incerta a respeito do que estou fazendo, e mesmo
sabendo que eles não me julgariam, resolvi agir por mim
mesma, sem dizer nada.
Uma mensagem chega no meu celular e a abro. Levi já
está com o carro parado em frente ao meu prédio. E mesmo
sem saber como encarar isso, sinto-me nervosa. Não por estar
saindo com ele, mas porque nunca antes saímos para fazer

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algo que não fosse a respeito de Laura.


Passo um batom nude e o retoco com os dedos, mando
uma mensagem rápida para Levi, contando que estou
descendo, e já vou em busca de minhas chaves. Pego minha
bolsa jogada em cima do sofá e confiro se minha carteira está
dentro. Assim que a vejo, suspiro fundo e vou em direção a
porta.
Coloco a chave na fechadura, e de relance, no chão,
vejo mais um envelope. Bom, esse chegou cedo. Coloco-o
dentro de minha bolsa e saio de casa, para que depois possa
ler com calma.
Na descida do elevador, vejo as várias fotos que
minha mãe mandou de Laura e eles no parque aquático.
Devem estar se divertindo muito por lá.
Quando finalmente passo pela portaria do prédio, sinto
uma leve brisa tocar meu rosto, assim que me encontro na
calçada. Busco Levi entre os carros parados a frente, mas não
o vejo.
Pego meu celular já para mandar uma mensagem pra
ele, mas sinto a presença de alguém atrás de mim. Viro-me e
Levi abre um belo sorriso, deixando-me, não sei porque
constrangida.

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— Oi. — digo, sem saber ao certo como


cumprimenta-lo.
— Eu acabei parando o carro mais a frente, por falta
de vaga. Aí resolvi vir te encontrar. — diz, e continua parado,
assim como eu, apenas me olhando. — Ah, desculpe, oi.
Isso é tão estranho.
— Podemos ir? — pergunto, tentando quebrar a
tensão.
Ele assim como eu, já começa a andar em direção ao
carro e diz algumas amenidades sobre o clima. Nesse
momento sinto que realmente o assunto entre nós se baseava
em Laura, e será um pouco constrangedor se continuarmos
assim.
Assim que me sento no banco passageiro, Levi entra e
coloca uma música para tocar. Ele sai com o carro, e me olha
de canto de olho, e eu apenas o encaro, como quem diz “O
que está aprontando?”.
— Tem uma interrogação na sua cara. — diz, fazendo-
me rir.
Com certeza tem.
— Só queria saber para onde estamos indo. — indago
curiosa, notando que não conheço a direção para onde ele está
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indo.
— É que está tendo um evento de um autor, numa
livraria e... Bom, Victória, a esposa de Caleb, me deu dois
convites. — diz, surpreendendo-me. — Pensei que iria gostar.
— Nossa, eu... — fico sem fala, pois nunca fui em
nenhuma sessão de autógrafos antes. — Eu realmente gostei
da ideia.
— Desconfiei disso. — diz, mexendo no som.
O carro para em um sinal vermelho, e Levi me olha,
sorrindo de leve. Um sorriso que só agora noto que ele abre
quando me vê, mas que antes não existia. Mesmo assim, vejo
que há algo em Levi que o machuca, e não é como antes, a
respeito da morte de seus pais, parece algo mais profundo.
— Essa música é baixa, então tenho que aumentar o
volume. — explica, e finalmente uma melodia se inicia.
“So, so you think you can tell
Heaven from Hell
Blue skies from pain
Can you tell a green field
From a cold steel rail?
A smile from a veil?
Do you think you can tell?

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Did they get you to trade


Your heroes for ghosts?
Hot ashes for trees?
Hot air for a cool breeze?
Cold comfort for change?
Did you exchange
A walk on part in the war
For a lead role in a cage?

How I wish
How I wish you were here
We're just two lost souls
Swimming in a fish bowl
Year after year
Running over the same old ground
What have we found?
The same old fears
Wish you were here”
(Wish you were here – Pink Floyd)

As palavras parecem tocar minha alma. Não sou uma


expert em inglês, mas conheço a música, conheço a letra...
Como Levi pode ter um gosto musical tão parecido como o
meu?

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Fico em silêncio, só escutando, e sabendo que de certa


forma, essa música define meu momento, ou melhor, nosso
momento.

***

Após rodar com o carro vejo que estamos na Barra da


Tijuca, fico um pouco desconfiada a respeito, mas apenas
permaneço em silêncio. Levi estaciona o carro em frente em
meio a vários outros e só agora começo a reconhecer esse
local. Saio do carro e logo estou ao lado dele, tentando
compreender porque estamos na Bienal do Livro. Ele me olha
em expectativa, e eu então abre um belo sorriso, como se
tivesse satisfeito por me ver sem fala.
— A Bienal? — pergunto incrédula, já que em meio a
tudo isso, ele está simplesmente realizando um de meus
sonhos. Ele então confirma com a cabeça, e vamos andando
até a entrada. — Meu Deus, Levi. Eu nem consigo acreditar.
— Sim, Victória me disse a respeito. — sorri de lado.
— Ela na realidade me ajudou a escolher nosso destino de
hoje.
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— Nossa, eu nem tenho o que dizer. — digo, olhando


várias pessoas que olham os livros.
Os estandes montados, algumas filas se formando...
Imagine só vir nesse lugar como autor?
— A sessão de uma autora famosa será daqui uma
meia hora, te trouxe antes pra ver se quer comprar algum livro
dela e...
— Quem? — pergunta entusiasmada, cortando sua
fala.
— Meg Cabot[2]. — diz simplesmente e eu arregalo os
olhos entorpecida pela notícia.
— Ah meu Deus! — exclamo animada. — Quero
muito, se soubesse tinha trazido o meu exemplar que tenho
em casa. Ou melhor, todos os livros que tenho dela.
— Mas daí não seria uma surpresa. — diz, e o encaro,
vendo que parece satisfeito. — Gosto de te ver sorrir.
— Obrigada. — digo. — Mas com certeza tem livros
dela pra vender aqui, só precisamos....
— Nos localizar. — diz, completando minha fala e
saímos em busca do estande onde Meg vai dar a autógrafos.
Assim que conseguimos nossos números para os

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autógrafos, compro dois exemplares e entrego um para que


Levi pegue o autógrafo também. É engraçada essa nossa atual
situação. Ele me trouxe para uma parte do meu mundo e
simplesmente fica bem fazendo parte dela.
Antes, ele nem de longe teria acertado em um destino
como esse.
Levi fica um pouco mais afastado, acho que na área de
ficção científica. Quem diria que ele lê algo assim?
— Ela deve ser muito boa. — Levi diz, após alguns
minutos que estamos ainda na fila.
— Sabe o filme O diário da princesa? — pergunto e
ele assente.
— Laura ama esse filme. — diz e dá de ombros.
— Pois é, é baseado na obra da Meg. — digo animada
e ele sorri de lado. — Você não gosta de romances, não é? —
pergunto.
— Bom, na verdade...
Uma pessoa então esbarra nele, o qual sem querer
tromba sem corpo no meu. Minha bolsa cai no chão, e minha
carteira, batom, chaves e o envelope, fazem uma bagunça.
— Droga. — digo, e começo a pegar as coisas.

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Levi me ajuda, mas parece travar quando pega o


envelope em mãos.
— Boleto? — pergunta sorrindo.
— Na verdade não sei. — minto, encarando-o,
buscando alguma confirmação.
— Certo. — diz e me entrega.
Guardo tudo novamente na bolsa e me concentro
então na fila. Levi não diz mais nada, parece ter ficado
incomodado com algo. E só consigo pensar que é o envelope
o causador disso. É, realmente foi bom ter trazido isso.
Logo me concentro na fila e mesmo com várias
pessoas a nossa frente, não demora muito para nossa vez. A
autora abre um singelo sorriso e eu lhe entrego livro. Ela
assina e mesmo sem graça, peço para Levi tirar uma foto
minha com ela.
— Vocês formam um belo casal. — diz, e tento não
demonstrar a vergonha que se apodera de mim.
— Obrigado. — Levi responde, e o encaro perplexa.
Ele apenas sorri e dá de ombros, entregando o outro
exemplar.
Ele então tenta fugir, mas o obrigo a tirar uma foto
com a autora, que parece encantada com os olhos dele.
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Mesmo assim, a foto dos dois fica perfeita.


— Obrigada. — digo. — E muito sucesso!
A autora sorri e nos entrega brindes, os quais nem
sabiam que teríamos.
Enquanto saímos da fila e caminhamos pelos outros
estandes, começo já a mexer no que ganhamos. Que
felizmente, ainda foram dois.
— Acho que não vou ficar com meu brinde. — Levi
diz divertido.
— Claro que não. — digo da sucinta. — Não conhece
a história... Ah meu Deus! — digo animada, vendo que é um
caderninho de bolso personalizado com a capa dos livros.
— Vejo que gostou. — ele diz, rindo de minha
animação.
Assim que saímos desse estande, não consigo parar de
mexer tanto em meu brinde quanto no dele, mesmo que sejam
iguais.
— Me lembre de dar um abraço em Victória. — digo,
e Levi sorri animadamente.
— E então? — ele pergunta e levanto meu olhar,
vendo-o um pouco sem jeito. — Quer conhecer algum outro
autor ou...
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— Ah sim, claro que sim. — digo e guardo os brindes


com cuidado. — Podemos andar por tudo e...
— O que quiser, Melissa.
— Ok então. — digo e olho ao redor. — Vamos lá!

***

O saldo desse dia não poderia ser outro que não –


felicidade e esgotamento.
Levi vem até mim e abre a porta do carro.
— Ah, obrigada. — digo, sem graça com seu gesto
cavalheiro.
Ele dá a volta e entra no carro, colocando seu pacote
com o livro que comprou no banco de trás.
— Com fome? — pergunta e eu assinto. — Quer ir a
algum lugar especial?
— Bom... Acho que o restaurante de Pedro é uma boa.
— digo, ainda mexendo no brinde.

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Minha vontade é começar a escrever alguma coisa,


aqui mesmo, nesses caderninhos. Mesmo que a maioria dos
que compre, deixe agora lado a lado em minha estante, de
enfeite.
— Ok então. — Levi diz e sai com o carro.
Noto, após tirar minha atenção do brinde e colocar a
sacola com os livros no banco de trás, que Levi parece tenso,
como não estava antes.
— Algum problema? — pergunto.
— Não, é que nunca mais voltei ao restaurante depois
do desentendimento que tive com Pedro e... Sinto vergonha
ao me lembrar do que disse a você, do que insinuei naquele
dia. — diz, claramente arrependido.
— Está tudo bem, já conversamos a respeito de tantas
coisas, Levi. Não tem que se culpar por isso.
— Acho que vou falar com Pedro de toda forma.
Mesmo assim, me desculpe por ter sido tão imaturo. — diz, e
eu sorrio, assentindo.
— Está tudo bem.
Ele apenas continua olhando para frente, dirigindo
concentrado. Mesmo tentando evitar, o analiso. E olhando
para nós, um sorriso involuntário surge em meu rosto.
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***

Encaro o cardápio, um pouco indecisa sobre o que


escolher. Em dúvida se como massa ou peixe.
— Mandou me chamar. — levanto meu olhar, e
encontro Pedro, o qual me encara divertido. — O cardápio
parece um bom entretenimento.
— Bobo. — digo, levantando e dando um abraço nele.
— Na realidade, não fui eu que te chamei.
— Então quem foi? Lola foi ao meu escritório e disse
que...
— Fui eu. — Levi aparece de repente e Pedro muda
completamente seu semblante. — Quero me desculpar pelo
que te disse e pelo soco. — Levi diz, estendendo a mão para
meu amigo, o qual me encara, como se pedisse ajuda.
Dou de ombros e volto a me sentar, encarando
novamente meu cardápio. Mas de canto de olho, vejo Pedro
apertar a mão de Levi e dizer que está tudo bem. Felizmente,

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não somos mais crianças.


Levi se senta a minha frente e pega também o
cardápio. Encaro Pedro, que está em pé, e me encara
inquisitivo.
— O que foi? — pergunto confusa.
— Só estou tentando entender o porque de Lola ter
dito que você me chamou e não Levi. — diz, parecendo ainda
mais confuso do que eu.
— Olha... Não faço a mínima ideia. — digo, tentando
imaginar algo que faça sentido.
— Lola é a moça loira que conversei, certo? — Levi
pergunta e nós assentimos. — Ela parece não gostar muito de
Melissa.
— Como assim? — perguntamos em uníssono, e
acabo sorrindo.
Levi coloca o cardápio da mesa e nos encara.
— Quando cheguei próximo a ela para perguntar
sobre Pedro, ela sorria, mas em poucos segundos seu
semblante mudou... E foi bem no momento que Melissa
apareceu atrás de mim. — esclarece, então encaro Pedro, o
qual passa a mão na nuca e parece nervoso.
— Vou falar com ela. — diz, forçando um sorriso. —
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Obrigado, Levi. E por favor, aproveitem a comida.


Sem que possamos dizer algo, Pedro sai de perto de
nós e o vejo desaparecer dentre um corredor.
— Os dois se gostam, e isso é tão óbvio. Porque me dá
raiva ver duas pessoas que se amam e que não ficam juntas de
uma vez. — reflito alto, e Levi me encara, como se agora, ele
me analisasse.
— Eu também, não consigo entender isso.
Sua voz é firme e ele parece querer dizer algo a mais,
mas no fim, acaba chamando o garçom e fazemos nossos
pedidos.
Algo fica então de repente, pesado entre nós e o
assunto a que recorremos é Laura, infelizmente, não
conseguimos lidar um com o outro.

***

— Obrigada. — digo, assim que Levi para o carro em


frente ao meu prédio. — Foi um dia incrível.
— Obrigado você, por aceitar ir, apesar de tudo. — ele
diz, e abre um fraco sorriso.

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— Bom, tenho que ir. — digo e abro a porta do carro.


Saio e dou um simples tchau, olhando-o pela janela do
carro.
— Ei, Melissa.
— Que foi?
— Pode ser você. — diz, sorrindo de lado.
— Como assim? — pergunto, sem entender.
— A autora em uma sessão de autógrafos. — diz, e
arregalo os olhos. Não, ele não...
— Mesmo que não faça diferença, sinto orgulho de
ver a mulher que é, e como tive a sorte de ser casado com
você. — continuo perplexa, sem saber o que fazer. — A
propósito, parabéns pelo sucesso!
— Levi, eu...
— Não precisa explicar, Melissa. — sorri de leve. —
Boa noite.
— É... Boa noite.
Ele então dá partida e sai com o carro. Deixando-me
perdida na calçada. Ando até a portaria e continuo sem saber
o que pensar ou como entender, como ele sabe a respeito dos
meus livros.

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Foi por isso que ele me levou a sessão de autógrafos


então?
Mas como ele sabe sobre isso?
Entro no elevador e reflito comigo mesma sobre tudo,
mas não consigo entender. Assim que chego a meu andar,
tento me acalmar e descobrir algo que deixei passar, se acabei
falando demais ou algo que ele possa ter visto, mas nada me
vem em mente.
Procuro as chaves na bolsa e ao encontra-las, encaro o
envelope ainda lacrado.
Abro-o e me deparo novamente, com mais um bilhete
sem assinatura.
"Eu queria poder te dar aquilo que você está
procurando, mas não sei o que é. Há uma parte de você que
se mantém fechada para todo mundo , inclusive para mim. É
como se você não estivesse de verdade comigo. Tem outra
pessoa no seu pensamento."- Diário de uma Paixão.

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Capítulo 12

Melissa

- Aniversário da Laura

Encaro todos os coleguinhas de Laura, os quais estão


cercando a grande mesa de jantar. Levi colocou o painel com
as fotos pendurado na parede, e a frente dele, está à mesa com
os doces e o bolo. Olho em expectativa toda a arrumação que
fizemos, enquanto a ansiedade de ver Laura atravessar a porta
principal me corrói.
— Pronta? — Lili pergunta animada, com a câmera
em mãos. Ela pisca pra mim e se posiciona perto da porta,
para poder gravar a reação de Laura.
— Acho que vou ter um infarto. — Levi diz,
assustando-me. Levo a mão ao peito, e respiro irregularmente.
— Vejo que não sou só eu. — ri e passa por mim, ficando de
frente a escada, onde combinamos de estar.
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— Vou ficar perto das luzes, pode deixar que eu


acendo. — Marta diz animada, e se posiciona perto dos
interruptores.
— Ok. — digo a mim mesma, encarando o celular em
expectativa.
Os segundos nunca passaram tão devagar quanto
agora.
Olho novamente ao redor e suspiro fundo. Está tudo
perfeito!
Vou até Levi e me posiciono ao seu lado. Ele passa a
mão diversas vezes pelo queixo, parecendo até mais nervoso
do que eu.
— Ela vai amar. — digo, tentando tranquiliza-lo. Mas
no fim, acho que digo isso para me tranquilizar também.
Meu celular finalmente vibra e abro a mensagem de
minha mãe.
Ela passou pelo portão.
— Ela está chegando! — aviso a todos, os quais fazem
sinal de silêncio com os dedos para a pessoa ao lado.
Não somos em muitos, não exageradamente, no caso
dos adultos, mas realmente, Laura tem muitos colegas.

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Ouvimos o barulho na fechadura, e respiro fundo.


Olho para o lado e Levi sorri pra mim, com certeza, quase
pirando como eu.
Ok, é agora!

Laura Gutterman

Cansada.
Exatamente assim que me sinto.
As boas horas que dormi no hotel com meus avós e no
carro, parecem não ter sido suficientes para tirar o cansaço de
toda diversão que tive. Mas, estou animada para ver meu pai,
e contar a ele tudo que fiz.
Pego minha mochila e coloco nas costas, onde levei
alguns livros para ler de noite. Mas com todo agito na piscina
com meus avós, não consegui ler uma página.
— Vai indo, Lau. — minha avó diz, tirando minha
pequena mala de rodinhas do porta-malas. — Vou pegar um
documento aqui para mostrar a seu pai.
— Ok, vó. — digo e já passo pelo portão.
Os últimos tempos tem sido difíceis. Várias coisas que
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aconteceram, na realidade, foram mais inusitadas do que


difíceis. Não é fácil lembrar de como aquela mulher levou eu,
Rafa e tia Carla para um lugar longe e nos manteve presos por
um tempo. Não é fácil lembrar que tio Ric levou um tiro, e
tudo que eu conseguia pensar era que nunca mais o veria, e
muito menos minha família.
Mas com o suporte que meus pais me dão, tudo está
encaminhando. Aliás, não tem um momento que me lembro,
onde eles não estiveram. Não sou cega, eu via o modo
distante que eles eram um do outro, mas sempre quis
acreditar, que eles na realidade, viviam um amor proibido,
como o de algumas princesas. Mas no fim, quando me
contaram que iriam se separar definitivamente, soube que
apenas criei expectativas em minha cabeça.
Eu não entendo como os adultos pensam, ainda mais
porque toda semana vou ao médico, falar como me sinto e
como lido com tudo que houve, e com tudo que está
acontecendo. No começo foi difícil me abrir, contar tudo o
que penso, mas com o tempo, consegui confiar e dizer.
Acho que meu maior sonho é ver meus pais juntos
novamente, mas, sei também, que maior que isso, é poder um
dia os ver sorrir com a mesma intensidade, o que nunca

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presenciei. Meu pai, por mais que disfarce, sei que está triste,
pois em todas vezes que comemos juntos, ele sempre fica
encarando a cadeira ao meu lado, a qual minha mãe se
sentava. Já minha mãe, não parece completamente feliz, mas
de certa maneira, está contente, e isso me faz sorrir também.
O difícil é não conseguir ver felicidade na vida dos dois.
Coloco minha chave na fechadura e giro, abrindo a
grande porta de casa. Empurro devagar, levantando meus
ombros, que estão doídos pelo esforço dentro da piscina.
Levanto meu olhar e me assusto com o que vejo.
Surpresa! – é a única coisa que escuto.
Tento então, assimilar as coisas a minha frente. Há
balões de festa enfeitando toda a casa, meus colegas do
colégio gritam e cantam parabéns, junto a meus tios e primo.
Vejo as amigas de minha mãe e os amigos de meu pai, os
quais fazem o mesmo. Olho para frente, vendo as pessoas que
mais amo no mundo, lado a lado. Emociono-me, levando as
mãos aos olhos, chorando por ver tudo isso. Que tudo isso é
pra mim.
Sinto logo meu pai me pegar no colo, o qual beija meu
rosto e afaga meus cabelos. Minha mãe toca minha bochecha
de leve, dizendo diversas vezes o quanto me ama.

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Limpo as lágrimas em meu rosto, e meu pai me coloca


no chão novamente. Encaro-os confusa, assustada e
principalmente, surpresa. Eu jamais esperava por isso. Nunca
nem imaginei.
O “parabéns”acaba e uma música começa a tocar.
— Pessoal! — minha avó diz, chamando atenção de
todos. — Acho que a aniversariante, merece um “parabéns”
de frente para o bolo lindo que escolhemos e com direito a
pedido.
Sorrio para ela, agradecida imensamente pelo carinho
e dedicação comigo.
Ainda abismada, vou em direção onde um bolo
enorme está colocado. Rafa pisca pra mim, batendo palmas
exageradas. Bobo.
Meu pai e minha mãe ficam cada um ao meu lado. E
assim, minha avó puxa novamente o coro de parabéns.
Rio e abraço meus pais a todo o momento. Feliz por
esse momento. Por ver no rosto deles, pela primeira vez, o
sorriso que tanto esperei.
Eu não consigo acreditar, mas eles me deram muito
mais que uma festa surpresa, eles realizaram meu maior
sonho.
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Capítulo 13

Melissa

Vejo as crianças brincando no jardim, lugar que


tivemos que arrumar de última hora. Meu irmão, felizmente,
teve a ideia de alugar escorredor de ar e pula-pula, o que
mesmo com os celulares, as crianças adoram.
Não tinha sequer pensado nisso, muito menos Levi e
nossos amigos. Mas Daniel, hoje mais cedo, apareceu com
Sophie, e nos deu a ideia. Ele já tinha alugado tudo, na
realidade, mas acho que seu orgulho por ter de vir na casa de
Levi, o fez ponderar se viria ou não, porém, como sempre,
meu irmão mostrar ter um grande coração. E assim, deixa
Laura ainda mais feliz.
— Daniel parece apaixonado. — Lili diz, ficando ao
meu lado na varanda, enquanto olhamos as crianças
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brincando.
Procuro meu irmão, e o encontro encostado em uma
árvore, abraçado com Sophie. Algo que eu nunca esperei ver.
Meus pais estão próximos a eles, e mamãe parece
conversar animada com Sophie, a qual sorri de algo.
— Isso é até estranho. — digo, olhando para Lili, o
qual dá de ombros. — Nunca imaginei Daniel apaixonado.
— Muito menos eu. — Lili diz e dá um
empurrãozinho em mim.
— O que foi? — pergunto sem entender.
— Ali, parados na frente do pula-pula. — diz.
Olho para onde ela diz e vejo Caleb, com a filha
agarrada a suas pernas. Além de Pedro, o qual conversa
animado com o primo.
— Não basta ser tudo de bom, ainda é um ótimo pai.
— diz, suspirando. — Fora a genética maravilhosa da família.
— Se controla. — digo, brincando e ela finge se
abanar.
Sinto um toque em meu ombro no mesmo instante,
assim me viro.
— Victória. — cumprimento a bela morena de olhos

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azuis, que sorri, dando dois beijos em meu rosto.


Lili quase cospe o refrigerante que bebia. Seguro a
risada, pois se Victória chegasse um segundo antes...
— A casa está linda. — diz, olhando ao redor e
cumprimentando Lili. — Desculpe pelo atraso, mas tive um
imprevisto.
— Tudo bem. — sorrio. — Laura vai adorar de te ver,
ela contou por horas sobre o dia que foi em sua casa.
— Opa, já vou lá agora então.
Ela então passa por mim, indo até onde está o
escorregador. Laura estava para subir novamente a escadinha
do escorregador, mas ao ver Victória, a abraça no mesmo
instante.
É, ela ganhou minha filha.
— Esse casal não deve ter problema algum, são lindos
demais pra isso. — Lili diz, fazendo-me gargalhar.
— Para de ser boba.
Fico assistindo tudo o que acontece a minha volta.
Vendo Ricardo e Carla numa mesa, onde Levi também está
sentado. Além de alguns pais das crianças que vieram. Todos
comem algo do buffet ou o bolo.

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A ideia de meu irmão de trazer as pessoas para fora,


foi ótima, pois assim as crianças podem se divertir e os
adultos aproveitar. Além dos garçons do buffet que servem
todos.
— Espera aí. — digo, procurando Marta entre as
pessoas, a qual não vejo a bom tempo.
— Marta? — Lili pergunta, como se lesse meus
pensamentos. — Tenho certeza que se procurarmos pela casa,
vamos encontrar ela e Di Lucca se agarrando.
— Não me tente!. — digo, indicando com a cabeça a
casa.
— Vamos lá! — Lili diz animada e vai na frente.
Por mais que possamos atrapalhar o momento deles,
melhor que sejamos nós, do que alguma das crianças.
Chegamos a sala e ainda não vemos nada.
— Tem certeza que eles entraram? — pergunto e Lili
assente.
— Marta disse que ia ao banheiro. Cinco segundos
depois, Di Lucca também entrou. — explica, então lembro
dos banheiros do primeiro andar.
— Lá em cima. — digo, e Lili segue na frente.

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Subimos sorrindo uma pra outra e tentando não fazer


barulho. Mas quando estamos próximas de pisar no primeiro
andar, ouvimos o barulho de algo batendo com força.
Arregalo os olhos e Lili olha pra trás, do mesmo jeito.
Assim que chegamos ao corredor, a cena que nos
aguarda é cômica.
Marta e Gustavo estão se agarrando, na realidade, ela
está praticamente presa entre ele a parede.
Seguro o riso, assim como Lili, a qual está prestes a
atrapalhar. Porém, a puxo para as escadas.
— Mas...
— Vamos assustá-la. — digo, pegando o celular e
discando o número de Marta.
O toque do celular dela logo é ouvido e escuto o
barulho de um tapa contra algo.
Arregalo os olhos novamente e seguro a boca de Lili
com a mão, a qual gargalha.
Descemos as escadas rapidamente e vamos para o lado
de fora, antes que um dos dois nos veja.
Marta está lascada.
Ao menos Caleb, dentre os amigos de Levi, conversa,

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interage e parece ser um homem completamente sentimental.


Já Gustavo... Ele é conhecido por ser inexpressivo e frio. De
todas as vezes que o vi, ele apenas disse o básico. Mas pelo
jeito, entre ele e Marta, há algo diferente.
Desço para o jardim e vou ate minha filha, a qual está
suando e vermelha, de tanto brincar.
— Gostando? — pergunto, arrumando sua trança
bagunçada.
— Eu estou amando, mãe. — responde animada. — É
o melhor aniversário de todos!
Ela logo volta para seus colegas e eu fico a assistindo
se divertir. Realmente, ela é meu mundo.
Vou em direção a meus pais, e me sento à mesa com
eles. Vejo de longe, Marta sair de dentro da casa. Lili, que
ainda está no mesmo lugar, não perdoa e começa a gargalhar
da cara de nossa amiga.
Marta a olha sem entender, mas Lili diz algo, que faz
ela arregalar os olhos. Marta me olha no mesmo instante e eu
apenas pisco, como quem diz "vimos tudo".
Volto minha atenção para meus pais e vejo que falam
sobre sua viagem para o nordeste. De que minha avó queria
muito ter vindo ao aniversário, mas por conta e sua saúde, não
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pode. Escuto também sobre as coisas lindas que eles viram, o


que Sophie parece encantada em saber.
— Daniel poderia te levar para ver nossa avó. — digo,
e Sophie arregala os olhos, porém meu irmão assente,
sorrindo pra mim.
Quem é esse homem apaixonado e o que fez com
Daniel?
— Dona Dora vai amar conhece-la. — meu pai diz,
sorrindo para Sophie, a qual apenas assente.
— Agora preciso perguntar algo. — digo, lembrando
do combinado que fiz com meu pai quando mais nova. —
Lembra do nosso combinado, pai? — indago e ele gargalha.
— A vontade, filha.
— Do que estão falando? — Daniel pergunta,
encarando-nos curioso.
— Lembra que você sempre espantou todos os
meninos de perto de mim? — pergunto e ele confirma. —
Papai prometeu pra mim que quando você apresentasse uma
namorada, eu poderia fazer o mesmo se não gostasse dela.
Sophie fica vermelha no mesmo instante e eu sorrio,
óbvio que não vou fazer isso. Bom, não com ela.
— Melissa...
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— Mas eu gosto da Sophie. — declaro, e ela suspira


fundo, parecendo realmente abalada com isso. — Mas me
diga, quais suas intenções com meu irmão? — pergunto e
meus pais gargalham.
— Melissa! — Daniel diz bravo e eu gargalho. — Está
constrangendo a minha mulher.
Sorrio largamente ao ver que ele a protege.
Realmente, não esperava isso dele. Mas é algo lindo.
Vejo a cumplicidade entre todos aqui, estamos por um
bom motivo juntos, pois todos nós nos importamos com
Laura. É só por isso, por vê-la sorrir, ao mesmo tempo em que
nos reunimos, como família, sinto-me satisfeita.
Olho ao redor, enquanto minha mãe engata em outra
conversa sobre viagens. Meu olhar então estaca, de frente a
olhos verdes intensos, e ele abre um simples sorriso. O seu
olhar pode até ser o mesmo, mas a intensidade é
completamente diferente, talvez porque por mais que eu
queira negar, o homem que carrega essa nova intensidade, não
é o mesmo de antes.

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Capítulo 14

Melissa

A noite chega e as pessoas, em sua maioria, já foram


embora. Laura já está acabada, assim como Rafa, os quais
conversam perto da escada, com meu irmão e Sophie.
Os amigos de Levi já foram embora, assim como
meus pais, que ainda tinham que voltar para fazenda.
— Ei. — Marta se aproxima e eu a encaro. — Vou
pegar uma carona com Lili pra ir.
— Tudo bem. — digo e a abraço. — Obrigada por
tudo.
— Olhe só, que traição. — ouvimos a voz de Lili e a
puxo pelo braço, juntando-a a nós.
— Vocês são as melhores, obrigada. — digo, sorrindo.

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— Amo vocês. — Lili diz e se afasta, indo até Laura,


a qual a abraça com carinho também.
— Não quer ir com a gente? — Marta pergunta e eu
nego.
— Vou ficar mais um tempinho com Laura.
— Tudo bem. Beijos.
As duas logo se vão e eu vou até onde Laura está. Meu
irmão finalmente se afasta de Sophie, o que não fez em
nenhum momento. Ele então vem até mim e me abraça.
— Eu te amo, gatinha. — sussurra em meu ouvido. —
Não entendo como pode ser tão compreensiva e doce, mas eu
prometo que estarei ao seu lado, para o que der e vier.
— Dani. — encaro seu olhar magoado, e sei que não é
comigo, e sim com Levi. — Deveriam conversar, sei que
sentem falta um do outro.
— Não, Melissa. — Daniel diz um pouco ríspido, e eu
apenas dou de ombros.
Vejo Carla e Ricardo se aproximarem, e eles
cumprimentam Sophie.
— Merda! — meu irmão diz e sinto seu corpo tenso.
— Carla não vai dizer nada a ela, relaxa. — digo e ele

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arregala os olhos, encarando-me incrédula. — Que foi? Levi


só me disse por cima o que aconteceu. Confie em mim.
— Ok. — diz por fim, mas seu corpo continua tenso.
Logo Carla e Ricardo, juntamente a Rafael vem até
mim, se despedindo. Meu irmão não me solta, e apenas
assente para os dois.
De canto de olho, vejo Sophie assistir a cena de meu
irmão, e ela não parece nem um pouco contente com isso. O
que me faz me perguntar se ela sabe sobre o passado de meu
irmão.
— Tenho que ir também, gatinha. — diz e me abraça
novamente. — Espero que minha ajuda tenha sido boa.
— Você nos salvou! — digo e ele sorri. — Obrigada
por tudo, gatinho. Eu te amo. E fico feliz em vê-lo
apaixonado.
Diferente do que imaginei, Daniel apenas respira
fundo e não diz nada. Pois é, ele foi fisgado.
Ele e Sophie logo se vão, deixando assim, eu e Laura
sozinhas na sala. Vou até minha filha, a qual já boceja
cansada.
— Ei, princesa. — toco de leve seu rostinho. — Quer
ir pra cama?
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— Sim, mas mãe... — ela suspira fundo, parecendo


tomar coragem pra dizer algo. — Você vai embora? —
pergunta.
— Pensei que iria querer passar a noite com seu pai,
então...
— Não pode ficar comigo? — pede, com os olhinhos
verdes esperançosos.
— Filha, eu... — digo, mas repenso sobre tudo.
Não há problema nisso, só vou dormir aqui com Laura
e ir embora pela manhã. Simples assim.
— Vou falar com seu pai, tudo bem? — pergunto e ela
assente, abraçando-me.
— Obrigada por tudo, mãe. Você é a melhor!
— E você é tudo pra mim.
— Pronta pra ver seu presente? — escutamos a
pergunta de Levi e Laura se afasta, olhando-nos sem entender.
— Mais? — pergunta surpresa.
— Claro que sim, princesa. — Levi diz e vai subindo
as escadas.
Vou atrás com Laura, a qual me olha a cada segundo.
— Entra aí. — Levi diz, indicando a porta do quarto

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dela.
Laura abre a porta e já vejo um grande sorriso em seu
rosto.
Ela vai até a cama, onde está o balão de unicórnio e a
caixa com seu presente.
— Eu já dispensei o buffet. — Levi diz baixinho, e eu
assinto. — Ela parece encantada só com o embrulho.
Sorrio, concordando com ele.
Vou até Laura e me sento na cama. Enquanto ela de
pé, praticamente destrói o embrulho. Assim que ela vê a caixa
do celular, nos encara parecendo perplexa.
— Meu Deus! — praticamente grita e gargalhamos.
Ela finalmente abre e pega o aparelho em mãos.
— Eu não consigo acreditar. — diz e me abraça no
mesmo instante, e faz o mesmo com o pai. — É lindo...
Perfeito!
— É bom tomar cuidado e saber a hora de usar,
mocinha. — Levi diz e afaga os cabelos dela.
— Eu prometo, pai. Vou usar da melhor maneira. —
diz animada, e mexe um pouco no aparelho.
— Bom, acho melhor descansar da festa e depois usar

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seu presente, o que acha? — sugiro e felizmente, Laura


assente, sem hesitar.
Ela boceja novamente e entrega o celular para o pai, o
qual o guarda novamente na caixa e deixa em cima da
poltrona, do outro lado do quarto.
— Estou com muito sono. — ela diz e já praticamente
se joga na cama.
— Levi, posso falar com você? — pergunto e ele
assente, saindo do quarto.
Pisco para Laura, que me aguarda em expectativa,
como se a resposta do pai fosse tudo pra ela.
Acho que não tenho mais problemas com essa casa,
nem das lembranças ruins que tenho desse lugar, pois tenho
algumas boas lembranças, as quais me ajudam a esquecer.
Encontro Levi parado a frente de seu quarto.
— Laura pediu para que eu dormisse aqui com ela. —
digo e ele arregala os olhos. — Sei que pode parecer estranho,
mas...
— Melissa, você pode ficar aqui quando quiser. —
diz, cortando minha fala. — Por mim, está mais do que bem
você ficar aqui, porque novamente me sinto bem nessa casa.
Ele diz com pesar e noto que há dor em seus olhos.
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Levi parece quebrado, algo que nunca imaginei ver.


— Se precisar de qualquer coisa, pode me chamar. —
diz e eu assinto.
Ele passa por mim e entra no quarto de Laura
novamente. Ouço-o dar boa noite a ela e logo sai novamente.
Ele sorri e vai para o nosso antigo quarto.
Eu queria poder dizer algo, ajudá-lo seja lá com o que
for que o atormenta. Porém, ainda não sei lidar com o que
sinto próxima a ele.

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Capítulo 15

Melissa

Encaro Laura que dorme tranquilamente ao meu lado,


sem ter o mínimo de noção, da confusão que se apoderou por
dentro de mim. Saio da cama com cuidado, com medo de
acordá-la.
Ainda estou com a mesma roupa da festa, e o lado
bom de estar de vestido, é que ele não me atrapalhou nada em
ficar na cama. O problema mesmo é o sono que não vem. Já
são três da manhã e nada de conseguir dormir. Fiquei
divagando sobre as personagens do novo livro que estou
escrevendo, sobre a felicidade de Laura, sobre o namoro de
meu irmão e como sempre, sobre Levi.
É fácil negar, dizer que não tenho pensado nele.
Porém, ultimamente, é o que mais tenho feito.
Sentindo minha boca seca, a passos cautelosos saio do
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quarto de Laura e vou em direção ao térreo. Desço as escadas,


olhando ao redor pela casa que um dia foi minha também.
Lembro-me bem da primeira vez que estive aqui e como me
assustei com tamanha beleza. Tuan, o pai de Levi, realmente
fez cada detalhe para surpreender sua amada.
Vou até a cozinha e abro a geladeira. Como os
refrigerantes não acabaram, tem vários ainda espalhados por
ela, escolho um pequeno e abro para tomar. Um vício que
cedo ou tarde quero cortar.
Como sinto o clima mais ameno, resolvo sair um
pouco para o jardim. Caminhar e tentar assim, fazer com que
meu sono venha.
Abro a porta que dá direto pra varanda e fico ali,
novamente, encostada na pilastra branca, que parece mais
uma entrada do jardim para a cozinha.
Tudo está silencioso e estaria completamente escuro,
se não fosse pela luz do sensor que se acendeu.
Sento-me em uma das cadeiras acolchoadas que tem
aqui e fico divagando sobre tudo.
Lembro-me de quando me entreguei a Levi
novamente, num momento de incerteza e confusão. Foi
diferente de todas as vezes que estivemos juntos, mesmo

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assim, não foi o suficiente para seguir em frente. A única


coisa que passou por minha mente, foi que aquilo era nossa
despedida.
Mas doía ver que a cada minuto eu me perguntava: E
se eu não tivesse ido até a empresa justo naquele dia? E se eu
nunca tivesse sofrido o acidente?
É difícil imaginar que o amor que Levi dizia sentir por
mim, quando tentou me reconquistar, é real. Não dava pra
entender sua profundidade ou de onde veio. Em minha mente,
era mais algo como sua culpa por tudo que passou e me fez
passar. Vi que o divórcio, seria nossa melhor saída – e
realmente foi.
Encosto a cabeça na cadeira e fecho os olhos.
Repassando tudo que vem acontecendo. Pelos olhares que
Levi me dá, sei que ele não desistiu, e parece que muito
menos irá. Porém, até quando?
Eu sei definir um pouco o que sinto por ele, não
parece com o mesmo amor de antes, muito menos com a
obsessão que tinha. Sinto-me encantada em alguns momentos,
mesmo querendo retrair isso para dentro de mim.
— Melissa. — ouço sua voz me chamar, e abro os
olhos, coloco a latinha de refrigerante vazia, em cima da

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mesa.
Levi está com uma simples regata e uma calça branca
de moletom. Ele me encara um pouco espantado. Acho que
não esperava me encontrar aqui nesse horário.
— Sem sono. — explico sua pergunta silenciosa. — E
você?
— Bom. — ele limpa a garganta e desvia o olhar,
como se escondesse algo. — Eu sempre fico aqui fora um
tempo, durante a madrugada.
— Por quê? — pergunto, sem entender.
— É complicado. — diz e passa a mão pela nuca, indo
até a pequena escada que dá para o jardim, e se sentando. —
Às vezes, nossos erros não nos deixam dormir.
— Houve um tempo, em que também fiquei aqui fora.
— conto, fechando os olhos e me lembrando do como foi
difícil. — Eu não conseguia mais entender o que fazíamos
juntos, pois eram raros os momentos que realmente ficamos
próximos. E aqui, era pra onde eu fugia.
— Passei noites e mais noites em meu antigo
apartamento. — ele diz, o que faz meu corpo retesar, e lembro
de Nicole. — Não estava com ela, nem com nenhuma outra
mulher, eu só... Não conseguia segurar a barra e fugia. Eu me
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culpava por ter te traído, mas também não sabia como ser um
homem bom. Eu realmente achava que não tinha motivos para
ser o príncipe que você tanto queria.
— Por que os documentos? Por que toda a
superproteção? — pergunto, abrindo os olhos e vendo que ele
esconde o rosto entre suas mãos. Como se não suportasse
falar nisso, mas é necessário, precisamos.
— Eu não sei... Antes de nos separarmos, eu sempre
pensei que foi porque te amava, mas hoje, sei que amor não é
isso. — confessa, limpando abaixo de seus olhos. — Eu tinha
medo de te perder, mas não por um motivo romântico ou
bonito, era o medo da perda em si. Eu não saberia lidar. Ainda
mais que perder você, faria com que perdesse nossa filha
também.
Fico espantada, sem saber o que dizer ou o que pensar.
— Sei que deve se perguntar sobre o meu amor por
você, se foi ou é real. — diz, encarando-me. Seus olhos
verdes estão vermelhos e ele limpa mais uma lágrima que
desce. — Eu não fui maduro em momento algum, nunca
discerni o que sentia por você, até... Até você me ver com ela.
Ver o seu olhar naquele instante, a sua decepção e o nojo
exposto em sua face, me fez ver que... Eu nunca deveria ter

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chegado até ali. — confessa e eu quebro com ele, sentindo um


aperto no peito.
— Era um garoto perdido, que tinha tudo e achava que
não tinha nada. — diz, e encara o jardim novamente. — Eu
sempre questionei o porquê de ter perdido meus pais tão
jovem, mas nunca parei para questionar, o porquê de não ter
aprendido com o que aconteceu. Hoje, eu me questiono, a
cada segundo. Pois, ser imaturo e cruel, me custou você. E
como já te disse antes, você sempre será uma parte de mim. A
mais bela, pra ser completamente franco. Eu sei que não te
mereço, sequer mereço que fale comigo e todas as vezes que
fui até vocês, e você trocava meia dúzia de palavras comigo,
após a separação, eu ficava encantado. Palavras que eu
poderia ter tido antes, e não dei valor. Quando foi comigo ao
shopping, conversamos, almoçamos e... Você estava ali, firme
e forte, superando tudo como se eu não fosse o pior homem
do mundo. Eu juro que tentei me manter afastado, tentei
reprimir meus sentimentos... Mas foi impossível. Eu sempre
quero estar mais próximo, te ter por perto, nem que seja ao
menos pra te olhar.
Ele então fica em silêncio, e eu quebro novamente,
sentindo as lágrimas descerem por meu rosto.

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Nós dois somos quebrados. Por completo.


— Eu não tenho direito de pedir uma chance, Melissa.
— diz e se levanta, descendo os degraus e ficando apenas a
penumbra da luz da varanda. — Mas se um dia, em qualquer
momento, precisar de alguém. Saiba que eu vou estar aqui. Eu
vou te esperar o tempo que for, nem que pra isso, tenha que
vê-la se casar, ser feliz com outro cara... Eu espero outras
vidas, Melissa. Não me importo. Pois por você, eu sei que
vale a pena.
Ele então sai, em meio a um fraco sorriso em seu
rosto. Andando em direção a parte da frente do jardim.
Fico aqui, perplexa com suas palavras, enquanto as
lágrimas não param de descer.
Levanto-me, ainda sem saber como agir, e me encosto
novamente na mesma pilastra, a qual foi minha companheira
por tantas noites. Encaro o belo céu, e a lua cheia me
presenteia com sua presença.
E isso, me faz sorrir sem querer.
“Então, sinto como se estivesse presenciando um
milagre, como, bem devagar, ela ergue o rosto para a lua. Eu
a vejo sorver a imagem da lua cheia, inundada pelas
memórias libertas, não desejando nada além de fazê-la saber

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que estou aqui. No entanto, fico onde estou e também olho


para a lua. Por um breve instante, é como se estivéssemos
juntos de novo.”[3]
Essa passagem de Querido John[4]vem em minha
mente, fazendo-me lembrar do quanto o amor deles, mesmo
após separados, era possível ser sentido, e guardado.
Acho que o amor tem seu tempo, assim como
qualquer sentimento. Pensei que nunca iria ter de dar ouvidos
ao que minha mãe sempre diz, que é preciso aprender a amar,
mesmo que o sentimento já exploda em seu peito. E aos
poucos, eu espero conseguir.
Desço para o jardim e vou até onde vi Levi
desaparecer. Encontro-o sentado na grama, encarando o céu,
com o olhar fixo na lua. Dessa vez, eu o observo.
Não é o mesmo sentimento de antes, nem de longe.
Mas mesmo que pudesse mentir, não há como esquecer nosso
primeiro amor, só se a vida nos der um novo e mais forte. E
só agora, percebo que tenho outro.
Eu me apaixonei por esse homem sentado, perdido
tanto em pensamentos, que sequer percebe minha presença. O
qual me fez sorrir em alguns dias juntos, que cantou comigo
no carro, que sorri levemente e que não tem medo de expor

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seus sentimentos e passado, por mais que isso o doa. Mas


dessa vez, não vou agir com pressa ou mergulhar de cabeça,
vou com cautela, com cuidado e principalmente, com
vontade.
Vontade de ser melhor em dois.
Respiro fundo e tomo coragem. Indo até ele e me
sentando ao seu lado. Ele então percebe minha presença e eu
apenas sorrio, tentando ainda camuflar meus sentimentos,
pois querendo ou não, amor não é o suficiente pra tudo.
Como se pudesse me ler, ele passa seu braço sobre
meu ombro e me puxa de encontro ao seu peito. Respiro
fundo, absorvendo seu cheiro, o calor que seu corpo emana. E
pela primeira vez, em meus vinte e seis anos, sinto-me
completa.
A lua como nossa cúmplice, segurando esse frágil
amor com cuidado, assim como nós dois.
Levi passa as mãos por meu cabelo, parecendo querer
constatar que estou mesmo aqui. E sim, eu estou.
Apesar de tudo, por mais que possamos esperar tantas
outras vidas para estarmos juntos... Eu não quero viver com o
velho “e se” em minha mente. Tentarei, e só assim, vou ver se
vale a pena.

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Se nós dois, fomos feitos para durar.

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Capítulo 16

Levi

Ela está em meus braços.


Do modo como nunca mais pensei que a teria.
Toco em seus cabelos, sem conseguir acreditar que ela está
mesmo aqui. Que isso é real.
Penso no que me fez sair de dentro de casa novamente, sentar-me
no jardim e olhar para as estrelas. É o mesmo que faço há meses, quando
os pesadelos sobre tudo me atormentam.
Lembro-me de todo mal que causei as pessoas, de como destruí
vidas ao meu redor, acabando com a minha própria. E assim, as imagens
do corpo de Melissa, caído no chão, ensanguentado, vem em minha
mente. O pior não são essas lembranças e saber que foram reais, que eu as
causei, mas sim a continuação do pesadelo... Onde recebo a notícia de que
ela faleceu.
Respiro fundo novamente, segurando as lágrimas com força. Não
quero demonstrar o quão quebrado estou. Não quero que Melissa fique ao
meu lado por pena. Mesmo que saiba que ela não me ama, não na mesma

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intensidade que transbordo por ela agora, eu quero conquista-la. Tê-la


aqui, ao meu lado, só deixa claro que estou de algum modo, conseguindo
ao menos sua amizade.
— Não finja que não sente. — ela diz baixinho, tocando meu
rosto.
Abro meus olhos e absorvo sua imagem, percorrendo cada
pedacinho seu com os olhos, cada pequeno detalhe de sua expressão.
Lembro-me da frase que li ontem, em um dos vários livros que
comprei, os quais ela tanto gostava de ler, de seu autor favorito.
"Enquanto observava seu rosto expressivo, fiquei maravilhado
com o fato de, em algum momento, já ter beijado cada pedacinho dele.
Nunca amei ninguém a não ser você, era o que eu queria dizer."[5]
Realmente, é o que quero dizer.
Sua pele negra, os olhos castanhos, o cabelo encaracolado, o qual
cai sobre seu rosto. Sua expressão de confusão, com o cenho franzido,
como se estivesse fazendo o mesmo. Um pouco daquele mesmo brilho, o
que aquela menina de dezesseis anos tinha, quando se entregou a mim
pela primeira vez.
Melissa me deu tudo. Doou-se por inteira, desde sempre. E eu
sempre me mantive a esquiva, escondendo-me.
— Nossos demônios são maiores quando guardamos apenas pra
nós. — diz, e sorri, tocando de leve em meu cabelo. — Um dia, quero que
me conte, tudo o que está passando. Sei que está quebrado, Levi. É nítido.
Esses olhos verdes não os mesmos de antes. Mesmo que nós dois, como
homem e mulher não exista, fale comigo. Quando estiver pronto.
— Obrigado. — digo baixinho e não consigo mais segurar o
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choro.
Tento tirar meu braço de suas costas, para poder limpar minhas
lágrimas, porém ela as limpa com seus dedos. Olhando-me não com pena,
mas com compaixão.
Porém tento novamente me soltar, pois o choro não cessa. Não
consigo parar, tudo dentro de mim parece querer sair. Dói demais vê-la
assim, com esse olhar em minha direção, como se eu não fosse o homem
que tanto a magoou.
— Não fuja. — diz, e meus olhos continuam conectados nos seus.
Não sei quem se aproximou primeiro, mas logo seus braços me
envolvem e eu a seguro nos meus. Abraçamo-nos e choro tudo que
guardei por tanto tempo. Sinto meus ombros molharem, pois Melissa faz
o mesmo.
Não sei quanto tempo passa, mas apenas fico aqui, com ela junto a
mim. Aproveitando esse momento, como se fossemos parte de um só.

***

Não sei ao certo em que momento cheguei ao meu quarto e muito


menos como deitei em minha cama. Apenas tenho flashes de Melissa se
levantando e me puxando junto a ela. Lembro-me de sua voz baixinha,
dizendo boa noite e as luzes se apagando.
Tudo parece apenas mais uma brincadeira de minha imaginação.
Mas pelo seu cheiro em meu corpo, sei que foi real.
Encaro o relógio ao meu lado, e noto que ainda são seis da manhã.

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Forço-me a levantar e vou ao banheiro, lavando meu rosto. Penso em


tomar um banho e trocar de roupa, mas o cheiro de Melissa em minha
pele faz com que deixe isso pra depois. Nesse momento, só quero ter um
pouco dela.
Faço minha higiene pessoal e sigo para o quarto de minha
princesa. Hoje é o dia dela! Nem consigo acreditar que ela está
completando dez anos.
Vou até o quarto de Laura e abro a porta com cuidado. Encontro-a
acordada, tocando de leve os cabelos da mãe, que dorme serenamente.
Laura então foca seus olhinhos verdes, iguais os meus, em mim,
abrindo um grande sorriso.
— Eu te amo. — sussurro pra ela.
Com cuidado ela se afasta da mãe, sai da cama e vem até mim,
pulando.
— Eu te amo, pai.
— Feliz aniversário, minha princesa. Meu tesouro. — digo,
abraçado a ela, com ela em meu colo.
Olho para a mulher adormecida na cama e não consigo parar de
pensar, que tudo que me falta agora, é um dia poder, nem que seja apenas
mais uma vez, chamá-la de minha menina.

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Capítulo 17

Melissa

Alguns meses depois

Lili me encara animada, batendo palmas de meu


visual. Não sei por que ela sempre o faz, toda vez que saímos,
mas ela sempre dá um jeito de querer me deixar pra cima.
Ela está belíssima, vestida com um short curto preto e
uma blusa de cetim da mesma cor, mas que tem uma grande
fenda nas costas. Por ainda não saber ao certo como será essa
tal “balada” que ela escolheu para irmos, optei por uma calça
jeans de lavagem escura e um cropped branco de mangas
cumpridas. Ambas estamos de salto, no caso, estou usando os
vermelhos, que comprei há meses atrás, no dia em que fomos
ao shopping.

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— Marta está atrasada. — Lili diz e bufa sozinha. —


Aliás, desde a festa de Laura, ela vive se atrasando para tudo.
— constata e eu assinto.
— Sabemos que ela está envolvida com Di Lucca, por
mais que negue. — digo e Lili se senta em minha cama,
mexendo no celular.
— Mandei outra mensagem pra ela. — diz e sorri,
levantando o celular em minha direção, claramente, para que
eu veja o que mandou.
Porém uma nova mensagem chega e acaba tampando
a que ela enviou para Marta. Noto o nome de quem mandou e
apenas olho com pesar para Lili, a qual me encara sem
entender.
— Que foi? — pergunta e traz o celular pra si. —
Acha que peguei pesado dem...
Ela então parece ler a mensagem e respira fundo,
fechando os olhos.
— Lili. — a chamo, porém ela permanece em silêncio.
— Por que não tenta falar com ele? — pergunto, com medo
de que isso a machuque, mas não aguento mais vê-la sofrer
por um amor que parece não ter fim.
— Acredite, já conversamos tantas vezes e sempre
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chego a mesma conclusão. — diz, abrindo os olhos, e eu vou


até ela, sentando-me ao seu lado. — Leonardo não sabe como
superar o passado, e muito menos eu sei. Não estamos prontos
para isso.
— E vale a pena sofrer assim? Com essa mistura de
dor com amor e...
— Nós não somos você e Levi, Mel. — diz, e eu fico
calada, sem saber o que dizer. — Não estou dizendo por mal,
acredite em mim. Quando me contou que decidiu ir aos
poucos com ele, se tornar amiga e ao mesmo tempo, poder
descobrir se essa paixão que sente é o suficiente para
recomeçar, eu nunca a julguei. Pois eu vi, acho que todos nós
vimos como ele mudou. Além do mais, como você mudou. —
ela respira fundo e segura minha mão. — Vocês tem uma
coisa que eu e Leonardo nunca vamos ter.
— Como assim? — pergunto, já praticamente perdida.
— Esperança. — diz e uma lágrima desce por seu
rosto. — Apesar dos pesares, você e Levi continuam firmes,
seja quando saem juntos, ou quando estão separados.
Mostraram a si mesmos que conseguem viver um sem o
outro, mas pelos olhares que trocam, sei que no fim, vão optar
por ficar juntos, porque querem isso. — ela então sorri fraco,

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jogando-se contra o colchão.


Fico em silêncio por alguns instantes, pensando a
respeito do que ela diz. Os últimos meses realmente têm sido
assim. Após nossa conversa franca e a escolha que fiz de me
aproximar de Levi, as coisas tem caminhado bem.
Nós saímos algumas vezes, em alguns lugares
diferentes, até mesmo fomos passear na praia. Não são os
típicos programas de casais, sabemos disso, mas pelo o que
nosso silêncio diz, somos amigos, nada além. Eu sinto que
meu coração, a cada dia, se rende um pouco mais a Levi, mas
ainda não sei como lidar com isso, até onde posso confiar.
Eu acredito em sua mudança, em seu novo eu, ou
melhor, quem ele sempre foi, mas resolveu retrair pra si
mesmo. Eu gosto dele assim, desse jeitinho. Sinto-me bem, à
vontade, animada... Toda vez que o interfone toca e sei que é
ele lá embaixo me esperando, meu coração acelera e sinto que
é a primeira vez que fazemos isso, mesmo após tantos
“encontros”.
Fazemos aos poucos, como pudemos, de forma que
Laura não saiba o que está acontecendo. Combinamos que por
enquanto, o melhor é não deixa-la criar esperança a respeito
de nada, e apenas deixar as coisas acontecerem. Então, saímos

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nas vezes em que Laura passa um tempo com meus pais, meu
irmão ou Ricardo. Não queremos de jeito algum, com nossa
aproximação, causar algum dano futuro a nossa filha.
— Divagando. — pisco e encaro Lili, a qual sorri de
leve, sequer parecendo a mesma mulher de segundos atrás.
— Eu queria ser uma amiga melhor, Lili. — digo e
toco sua perna. — Mas eu quero que saiba, que por mais que
você e Leonardo não tenham a “esperança” de algo, como eu
e Levi, vocês tem algum sentimento, seja qual for. Talvez seja
bom descobrir o que os dois sentem a respeito de tudo. — ela
assente e se senta novamente, dando-me um abraço.
Logo ela se afasta e praticamente pula da cama.
— Mas hoje é a noite das garotas! — praticamente
grita, fazendo-me gargalhar. — Nossa princesinha está com o
tio, e temos a noite toda para dançar as músicas que amamos.
E finalmente, você vai para uma balda comigo. — diz,
animada.
— Eu não consigo te imaginar na época de faculdade.
— digo e rio, Lili apenas dá de ombros e dá alguns passinhos
ridículos com os pés. — Ok, pé de valsa. — brinco e ela
revira os olhos. — Liga pra Marta, eu já estou pronta!
Mexo em meus cabelos encaracolados, o qual acabei

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por cortar ontem. Estava cansada de me olhar e sempre ver o


mesmo, e num ato inesperado fui ao salão e cortei chanel. A
princípio me arrependi, mas minutos depois, bagunçando
meus cachos para cima e vendo o ar mais jovem que consegui
assim, acabei amando.
Eu não apenas me sinto uma nova mulher, é
engraçado, pois me sinto eu mesma pela primeira vez em
minha vida.

***

— Eu não estava com Gustavo, Lili. — Marta diz,


pela milésima vez e Lili provoca com um simples “ahan”.
— Acho que está na hora de Di Lucca vir pedir
permissão pra mim. — digo, entrando na brincadeira.
— Até você? — Marta pergunta incrédula e Lili
gargalha.
— Marta, nós não somos cegas. — digo sorrindo e
pisco pra ela.
O táxi finalmente chega ao nosso destino. Pagamos e
já descemos, já vejo uma enorme fila em frente a tal boate.
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— Eu não acredito que saí de casa pra ficar em uma


fila dessas. — Marta provoca, e Lili a ignora, indo em direção
a uma segurança.
Não sei o que Lili diz, mas logo três pulseiras são
dadas a nós. Entramos rapidamente, sem sequer ter que ir ao
fim da fila. Ok, então!
O local está escuro, mas as várias luzes coloridas
dispersas, dão uma certa visibilidade. Seguimos Lili até o que
acredito ser o bar, e ela já se senta de frente ao barman,
pedindo uma dose de vodca.
— Como entramos tão rápido? — pergunto curiosa.
— Meu ex marido tinha muitos amigos ricos, um
deles, Gabriel, se tornou meu amigo também e é o dono disso
aqui e muitas outras boates. — a dose de Lili chega e ela
começa a beber. — Gabriel é um cara legal, é uma das poucas
pessoas do mundinho de Leonardo, que ainda tenho contato.
— Esse lugar é lindo. — Marta elogia. — Agradeça a
ele quando puder.
— Pode deixar. — Lili diz e se concentra em sua
bebida.
— Parece um pouco lotado. — constato, encarando as
várias pessoas na pista de dança, as quais estão em grupinhos
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grandes, mas que em sua maioria, dançam em casal.


— Podemos ficar na área vip, que fica lá em cima. —
Lili indica o outro andar. — Temos a visão completa do que
acontece aqui embaixo.
— Eu quero dançar. — Marta diz, parecendo mais
animada que o normal. — Moço, três doses de tequila! — ela
pede, e logo somos servidas.
Encaro-as um pouco sem jeito, pois faz muito tempo
que não tomo isso. A última vez foi em meu aniversário de
dezesseis anos.
— Vai animar, Mel! — Lili diz e pega sua dose, faço
o mesmo, com o limão já em mãos.
Elas me encaram, e penso que irão fazer o mesmo
processo que Pedro me ensinou há anos atrás, mas no fim,
elas apenas ficam me olhando em expectativa.
— Ok. — digo por fim e viro a dose.
A bebida queima em minha garganta, mas como
sempre o gosto do sal e do limão misturado a ela dá um sabor
especial.
— Minha garota! — Lili diz e faz o mesmo que eu,
assim como Marta.
Uma música começa a tocar e eu as encaro no mesmo
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instante.
— Eu disse que essa balada era a melhor. — Lili diz e
bate palmas. — Toca músicas antigas, as quais eu ainda amo
demais.
Lili então me puxa pelo braço e faz o mesmo com
Marta. Vamos até o meio da pista e nos jogamos. Mesmo sem
saber ao certo o que fazer, deixo-me levar pela música e a
letra parece ter sido feita pra esse momento.
“Where's all my sould sisters,
Lemme heare ya flow sisters

Hey sister, go sister, soul sister, flow sister


Hey sister, go sister, soul sister, go sister

He met marmelade down in old moulin rouge


Strutting her stuff on the street
She said, hello, hey joe
You wanna give it a go, oh

Itchy gitchi ya ya da da (hey hey hey)


Itchy gitchi ya ya here (hee oh)
Mocca choco la ta ya ya (ooh yeah)
Creole lady marmalade (ohh)

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Voulez-vous coucher avec moi, ce soir (oh oh)


Voulez-vous coucher avec moi (yeah yeah yeah yeah)

He sat in her boudoir while she freshened up


Boy drank all that magnolia wine
On her black satin sheets
It's where he started to freak, yeah

Itchy gitchi ya ya da da (da da da)


Itchy gitchi ya ya here (ooh yeah yeah)
Mocca chocolata ya ya (ya ya) (yeah yeah yeah)
Creole lady marmalade, uh”
(Lady Marmalade – Christina Aguilera eat. Lil' Kim,
Mýa, Pink)

Marta canta próxima a mim a música e logo sinto suas


mãos em minha cintura. Deixo-me levar, cantando junto a ela.
— Droga! — Marta diz de repente, e eu abro os olhos,
espantada.
Olho para a mesma direção que ela e encontro
Gustavo, parado entre as pessoas dançando, olhando-a sem
sequer piscar. Rio da situação de minha amiga que logo volta
seu olhar pra mim e bufa baixinho.

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— Seja sincera comigo, você gosta dele, não é? —


pergunto, e ela dá de ombros.
— É apenas desejo, Mel. Não sou o tipo de mulher
que sonha com vestido branco, declarações de amor e um anel
no dedo. — confessa, e eu apenas escuto. — Gustavo seria o
par perfeito para isso, senão fosse quem é.
— Como assim? — pergunto sem entender, dançando
do mesmo modo, assim como ela.
— Eu não sei explicar, eu só... Não quero nada sério,
mas esse “nada sério” não será com ele. — diz por fim e eu
apenas me calo, sem querer me intrometer ainda mais em sua
vida.
— Onde Lili está? — pergunto.
— Ela disse que iria ao banheiro. — diz e eu busco
Lili em algum canto da pista de dança, mas sei que é
impossível encontra-la, já que são muitas pessoas.
Olho por cima do ombro de Marta, que parece ter
esquecido um pouco que Gustavo está aqui, e me assusto ao
vê-lo vindo até nós.
— Marta. — chamo e ela parece perdida na nova
música que começou a tocar. — Marta! — digo mais alto e
ela arregala os olhos, encarando-me.
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Abro a boca pra dizer algo, porém Gustavo já está


atrás dela. Ele assente para mim, como forma de cumprimento
e eu continuo sem saber o que fazer, e sem sequer dançar
mais.
— Oi, bella mia.[6]
Fico ainda mais surpresa, por vê-lo falar com ela desse
jeito.
Quem é esse cara e o que fez com Gustavo Di Lucca -
o homem impenetrável?
— Di Lucca. — Marta diz com desdém e vejo um
simples sorriso passar pelo rosto dele.
Ok, melhor sair daqui.
— Eu vou atrás da Lili. — digo rapidamente, e antes
que Marta possa dizer algo, saio praticamente correndo de
perto dos dois.
Os dois podem até parecer que não são compatíveis,
mas esse momento, de Gustavo falando assim com ela, eu não
vou fingir que não significa nada. Tem algo sério ali, muito
além do desejo que Marta falou.
Passo pelas pessoas e procuro Lili entre elas. O
banheiro parece estar do outro lado da pista, e agora sei que
vou ter uma grande dificuldade de chegar até lá.
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Assim que finalmente consigo chegar, ouço alguns


cochichos, como se fossem duas pessoas conversando. Entro
no corredor que dá para os banheiros e dou de cara com Lili,
porém, acompanhada de Leonardo.
Todo mundo resolveu aparecer?
— Olá. — digo, ignorando a tensão que está entre os
dois.
Leonardo se aproxima de mim e me cumprimenta,
abrindo um sorriso sem dentes.
Lili está de braços cruzados, encarando os próprios
pés. Isso parece ainda mais difícil do que eu imaginei.
— Lili. — a chamo e ela me encara, apenas negando
com a cabeça. — Vem comigo.
Ela então assente e Leonardo muda completamente
seu semblante, parecendo cabisbaixo.
Lili entra comigo no banheiro feminino e se escora na
pia, encarando o grande espelho.
— Ele disse que Gabriel sem querer acabou deixando
escapar que eu falei sobre as entradas esses dias, ele tem
vindo aqui sempre que abre, em busca de mim. — diz com
pesar. — Eu não sei o que fazer, Mel. Eu só queria uma noite
com as minhas amigas e não o passado para me atormentar.
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— Tem coisas que acontecem em momentos que nem


esperamos. — digo, tocando seus ombros. — Leonardo está
ali fora e confessou que veio por você. Se está tão confusa,
deveria falar com ele em um local mais calmo. Lembra
quando me disse que ele iria se casar? — pergunto e ela
assente. — Pelo jeito ele não se casou e tem algum motivo pra
isso.
— Mel, eu não...
— Não se preocupe comigo. — digo, sorrindo. —
Marta já está com Gustavo pelo jeito, que também resolveu
aparecer por aqui e eu, bom, vou pra casa daqui a pouco.
— Mas Mel, era pra ser nossa noite e...
— Lili. — chamo sua atenção. — Olha bem pra mim,
você me conhece. Eu não sou a fã número 1 de boates,
baladas e etc. Eu vou sobreviver a isso, acredite. — brinco, e
Lili finalmente abre um sorriso.
Ela se vira pra mim e me abraça com força.
— Obrigada por tudo, Mel. — diz e eu reviro os
olhos. — Não seja besta!
— Eu te amo, só quero sua felicidade. — digo e toco
seus cabelos.
Lili finalmente dará um passo em frente de algo que
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sempre a deixou mal. Espero apenas, que dessa vez, ela


consiga de alguma forma, se libertar dessa dor.

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Capítulo 18

Melissa

Passo novamente pela pista de dança, e vou em


direção ao bar. Peço uma água sem gás e sento-me em um dos
bancos, escorando-me sobre uma parte livre da grande
bancada. Há várias pessoas conversando, casais se
conhecendo, e a música, a qual não conheço, até que é boa. É
um lugar divertido, pena não me sentir muito a vontade.
— Eu pensei em te encontrar em vários lugares, mas
nunca pensei que seria aqui. — assusto-me com sua voz, mas
ao mesmo tempo sorrio.
— Eu acho que hoje é o dia das coincidências. —
digo, sem olhá-lo, ainda de costas para a pista de dança, de
frente para o bar, bebendo minha água.
— Não acredito em coincidências. — diz, e eu me
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viro pra ele, seus olhos verdes estão serenos, como nos
últimos tempos.
Ele guarda seu sorriso, mas pela sua expressão sei que
está feliz em me ver. Bom, eu também.
— E acredita no que? — pergunto, e ele toca de leve
em minha mão.
Aqueles mesmo arrepio de anos atrás, o que sempre
esteve entre nós, passa por mim. Coisas que parecem que
nunca vão mudar.
— Em nós. — diz e finalmente abre um sorriso. —
Uma dança? — pergunta e eu assinto.
Jogo a garrafa vazia no lixo e sigo com ele até uma
parte da pista de dança.
Levi me puxa para perto de seu corpo e eu encaro seus
olhos verdes, os quais parecem ler minha alma. Ele não foi
direto em nenhum momento sobre o que espera de mim, ou
sobre o que temos, deixando assim, mas que evidente, nossa
simples amizade. Mas o modo como falou comigo há
segundos atrás, deixa algo claro que ele não vai mais esconder
seus sentimentos.
— Essa música não faz meu estilo. — diz, colocando
as mãos em minha cintura e me puxando pra mais perto. — É
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horrível.
Rio do modo como ele fala e concordo com a cabeça.
— Prefiro mil vezes uma música mais calma. — digo,
já com uma playlist em mente.
— Eu também. — diz e mesmo com a batida forte da
música, dançamos do nosso jeito calmo, juntos.
Isso é tão certo como respirar.
— Podemos ir dançar em outro lugar. — sugere, e eu
penso nos prós e contras disso. — Tem um barzinho aqui
perto, é bem mais calmo e confesso que preferia estar lá.
— Eu também. — digo e indico com a cabeça a
direção da saída da boate.
Vou ao seu lado até sair da pista de dança e peço um
segundo. Pego meu celular para mandar uma mensagem para
as meninas, mas logo vejo que as duas já me mandaram.
Marta diz que está com Gustavo e Lili, que foi realmente
conversar com Leonardo. Bom, ao menos não preciso me
preocupar com elas.
Pagamos nossas comandas e saímos de dentro da
boate. Levi me indica com a mão por onde devo ir e a poucos
passos, próximo a uma esquina, há um barzinho.
Entramos e o clima é completamente diferente.
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Mesmo com o horário já tarde, há várias pessoas sentadas,


conversando. Algumas bebem outras claramente paqueram, e
algumas estão numa pequena pista de dança mais ao canto.
— Eu não vou dançar ali. — digo, já com vergonha de
me imaginar dançando a frente de todas essas pessoas. — Não
é uma boate onde ninguém me vê, não tenho coragem.
— Eu te vi o tempo todo lá dentro. — Levi diz,
puxando uma cadeira pra mim e se sentando a minha frente.
— Eu tinha saído com Gustavo, estávamos aqui bebendo,
conversando, enfim, à toa. Até que ele teve a ideia de irmos
até lá, pois queria conhecer alguém... Nem eu entendi direito
a ansiedade dele de ir nessa boate.
— Mas pelo jeito, ele acabou preferindo ficar com
Marta. — digo sorrindo.
— Sim, ele praticamente correu até ela quando a viu.
— diz e passa as mãos pelos cabelos. Um garçom se
aproxima e Levi pede uma garrafa de vinho. — Bom, eu tinha
te visto, mas preferi apenas observar tudo.
— E por que foi até mim no bar? — pergunto, e ele
abaixa a cabeça, sorrindo de leve.
— Eu não consegui me segurar. — confessa e me
encara. — Me sinto um adolescente de novo. — diz e sorri de

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si mesmo.
— Não parece um adolescente. — digo, analisando
acho que pela milésima vez o homem sentado a minha frente.
O garçom chega com a garrafa de vinho e enche duas
taças para nós. Começo a beber e conversamos a respeito de
tudo. E de uma coisa eu tenho absoluta certeza, não somos
mais adolescentes.

***

Acordo e sinto meu corpo pesado. Espreguiço-me na


cama e me assusto assim que minhas mãos tocam em algo.
Abro os olhos e encontro Levi deitado ao meu lado, e minhas
mãos estão em contato com seu corpo.
Ele dorme serenamente, ainda vestido da roupa de
ontem. Olho para mim mesma e vejo que estou com outra
roupa, no caso um vestido branco. Fecho os olhos e tento
lembrar o que houve, mas a ressaca desse dia, só me diz o
quanto exagerei na bebida ontem. Pelo jeito, Levi também o
fez, porque ele sequer se mexe.
Fico então olhando cada detalhe dele, cada som que

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seu corpo faz a cada inspiração e expiração, o calor que seu


corpo emana, mesmo estando em pouca proximidade. Eu
consigo senti-lo, e eu realmente gosto disso.
Flashes da noite que se passou vem em minha mente,
lembrando de como não conseguia sequer abrir a porta do
apartamento e Levi gargalhava de tudo. Lembro da dor em
meu estômago e do momento em que caí de joelhos ao lado
da privada, colocando tudo pra fora. Realmente, aquele vinho
acabou comigo.
Lembro agora de como Levi cuidou de mim. Segurou
meus cabelos, e depois pediu para que eu tomasse um banho
para melhorar. Ele ligou a ducha e logo voltou com o vestido
branco e uma lingerie, deixando-os em cima da bancada da
pia.
— Toma um banho, e assim que terminar de se vestir,
me chama. — diz e eu assinto, sendo completamente
obediente.
Não sei como, mas consigo tomar um banho rápido,
pois a ducha fria me desperta um pouco. Levi também parece
um pouco alterado, mas acho que nada comparado comigo.
Sou fraca demais para bebida.
Assim que me enxugo e me visto, abro a porta e o

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encontro parado encostado na parede ao lado. Ele sorri e


entra novamente no banheiro, pegando minha escova de
dente e colocando o creme dental.
— Vai fazer o sabor ruim sair da sua boca. — diz e eu
escovo os dentes, sob sua supervisão.
— Você não parece bêbado. — digo, já um pouco
melhor.
— Eu me animo um pouco após beber, mas depois de
um tempo a bebida não faz muito efeito. — confessa, dando
de ombros.
Logo termino e me deito na cama, apenas sinto algo
fino sendo colocado sobre mim e o colchão ao lado
afundando. Respiro fundo e durmo tranquilamente.
— Está pensando muito. — escuto sua voz e pisco
duas vezes, antes de voltar minha atenção para ele. — Bom
dia. — diz e sorri, olhando-me divertido.
— Bom dia, e obrigada. — digo sem jeito, sentindo
sua inspeção sobre mim.
Essas mesmas sensações de antes, só que tão vívidas,
tão mais preciosas e encorajadoras. Eu gosto que ele me olhe,
gosto de olhar pra ele.
Não sei como, mas por um instante é como se
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fôssemos unidos, por um milésimo de segundo. Sinto sua mão


quente sobre minha face, e ele a acaricia de leve.
Penso no como nunca imaginei que ele me olharia
assim, não é apenas amor, é paixão, carinho, delicadeza,
cuidado... É a fusão de belos sentimentos, os quais parecem
querer explodir de nós.
Deixo-o me tocar, fechando os olhos. Sinto seu rosto
ainda mais próximo que o meu, e tudo que consigo pensar é
que preciso dele. Abro os olhos novamente e ele se levanta
um pouco da cama, colocando o cotovelo contra o colchão,
como um apoio. Ele então me encara com devoção.
— Minha menina. — diz, e sorri levemente, do jeito
que me encanta.
Sem me deixar dizer mais nada, apenas sinto seus
lábios sobre os meus. Seu gosto junto a mim faz com que me
sinta única novamente, algo que não consigo explicar, como
se uma tsunami de sentimentos me inundasse. Eu não apenas
sinto, eu não apenas o beijo... Eu o tenho. Ele se entrega a
mim pela primeira vez, como se sua vida dependesse disso, e
de certa forma, estamos juntos novamente.

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Capítulo 19

Melissa

Faço um simples macarrão, enquanto Levi fala sobre


tudo o que ele e Laura fizeram quando estive ausente. Os dois
parecem ter se divertido muito, e de certa forma, é impossível
não me imaginar junto a eles.
— Está quase pronto. — digo, mexendo no molho e
colocando a tampa na panela.
Abaixo o fogo e resolvo deixar por alguns minutos,
para engrossar um pouco o molho.
— Disse que não precisava cozinhar. — diz, e reviro
os olhos.
Ele sorri divertido, sentado no sofá, apenas me
olhando. Ele se ofereceu para me ajudar na cozinha, mas
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como macarrão é algo tão simples, acabei recusando.


Escoro-me na bancada, olhando-o de longe. Noto que
mesmo estando mais leve e sorrindo, Levi não parece
totalmente à vontade, e algo ainda o incomoda, é nítido, e
minhas suspeitas sobre o que causa isso são muitas.
— Ei, coloca uma música pra gente. — peço e ele
pega o celular, procurando algo.
Em poucos segundos uma melodia começa e eu
gargalho, sem acreditar na música que ele escolheu.
— Que foi? — pergunta divertido. — Esqueceu que
sou, quer dizer, era amigo do seu irmão?
Rio um pouco, mas noto como dói para ele falar de
meu irmão no passado. Os dois realmente eram muito unidos,
e vejo o como sofrem longe um do outro.
“Quando eu digo que deixei de te amar
É porque eu te amo
Quando eu digo que não quero mais você
É porque eu te quero
Eu tenho medo de te dar meu coração
E confessar que eu estou em tuas mãos
Mas não posso imaginar
O que vai ser de mim
Se eu te perder um dia
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Eu me afasto e me defendo de você


Mas depois me entrego
Faço tipo, falo coisas que eu não sou
Mas depois eu nego
Mas a verdade
É que eu sou louco por você
E tenho medo de pensar em te perder
Eu preciso aceitar que não dá mais
Pra separar as nossas vidas

E nessa loucura de dizer que não te quero


Vou negando as aparências
Disfarçando as evidências
Mas pra que viver fingindo
Se eu não posso enganar meu coração?
Eu sei que te amo!

Chega de mentiras
De negar o meu desejo
Eu te quero mais que tudo
Eu preciso do seu beijo
Eu entrego a minha vida
Pra você fazer o que quiser de mim
Só quero ouvir você dizer que sim!

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(Evidências – Chitãozinho e Xororó)

Ouço a música e volto minha atenção à comida,


pensando em como abordar esse assunto com Levi. Resolvo
então me concentrar em algo bom para comermos, antes que
acabe errando no ponto.
Misturo o molho ao macarrão e sirvo dois pratos, do
melhor jeito que consigo. Ele vem até mim, acho que ao
perceber que estou organizando tudo. Coloco os pratos a
mesa, que fica ao lado da cozinha, no espaço da sala, já que é
uma cozinha americana. Assim organizo como posso.
— Onde ficam os copos? — ele pergunta e eu indico o
armário.
Ele pega dois e traz até a mesa, colocando-os ao lado
dos pratos.
— Bom, não é nenhuma grande arrumação. — digo,
um pouco sem jeito. — Mas espero que a comida esteja boa.
Ele sorri e puxa a cadeira pra mim.
— Mas o suco...
— Eu pego. — diz e vai até a geladeira, pegando uma
caixinha de suco de maracujá. Ele o deposita em cima da

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mesa, sentando-se a minha frente. — Prontinho.


— Obrigada. — sorrio agradecida. — Bom apetite.
Comemos a princípio em silêncio, mas logo Levi
mostra que realmente gostou da comida, elogiando-me a cada
garfada.
— Então... Como Ricardo e Carla estão? — pergunto
curiosa, enquanto ele bebe um pouco do suco.
— Com certeza melhor do que antes. — diz, dando de
ombros. — Mas acho que depois de tudo o que houve com...
— ele então se cala, sem conseguir disfarçar seu mal estar.
Realmente, era disso que desconfiava.
— Não consegue falar abertamente sobre Nicole, não
é? — pergunto com cautela e ele se afasta um pouco da mesa,
encostando-se completamente na cadeira.
— Melissa, eu não... — ele respira fundo, como se
tentasse se acalmar. — Podemos falar disso depois de
comermos? — pergunta e eu assinto, notando certo alívio em
seu semblante.
Então comemos em silêncio, mas a cada respiração
profunda que Levi dá, sinto que logo ele vai querer correr pra
longe desse assunto. Mas também sei, que não dá pra seguir
em frente, se continuarmos presos ao passado, agindo como
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se tudo tivesse simplesmente desaparecido ou que não tenha


acontecido.

***

— Eu coloco a louça suja na pia, pode deixar. — ele


diz, assim que terminamos de comer.
Em silêncio vou até o sofá e me sento, colocando as
pernas para cima do estofado, esperando Levi vir até mim.
Rapidamente ele coloca tudo na pia e sai da cozinha,
vindo se sentar ao meu lado, apoiando os cotovelos nas coxas
e passando as mãos pelos cabelos.
— Eu não sei como falar com você sobre isso. — diz,
levantando a cabeça e encarando o teto. — Não sei como falar
de um jeito que não te...
— Me magoe? — pergunto, e ele assente, sem ainda
me olhar. — Se eu decidi deixar você entrar em minha vida
novamente, Levi, eu estava disposta a isso, a correr riscos. Eu
sei que tudo o que houve não foi superado, você é a prova de

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que isso não aconteceu.


— Eu não quero te magoar de novo, Melissa. Não
quero estragar tudo outra vez e... — ele se cala e toca seu
rosto novamente, escondendo sua face, como se quisesse
camuflar sua dor.
— Se quisermos continuar com isso, temos que ser
sinceros um com o outro, Levi. — digo enfática, e ele então
me olha. — Não quero ter de adivinhar a dor que sente, ou ter
de vê-lo sofrer assim.
Ele então respira fundo e se levanta, e como se não
soubesse o que fazer, encosta-se na bancada, sem ainda me
olhar.
— O que me leva a sair no jardim todas as noites são
os pesadelos constantes que tenho, na realidade, não dormia
tão bem quanto hoje, há muito tempo. — confessa. — Eu
sonho com o seu acidente, com sua... — ele respira fundo e
noto que segura com força na bancada. — Sua morte. — diz
pesadamente e leva uma mão ao rosto, passando várias vezes
por seu queixo.
— Levi, eu estou aqui. — digo, levantando-me. —
Estou bem.
— Até quando, Melissa? — pergunta, já parecendo

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nervoso. — Até quando nossa filha vai ficar bem tendo a mim
como pai? Ninguém que se aproximou de mim saiu ileso.
Ele então se afasta, antes que eu possa tocá-lo.
— Meus pais morreram, meu irmão teve que cuidar de
mim e no fim o que fiz foi decepcioná-lo por ser um fraco.
Você e Ricardo quase morreram por minha culpa. Além de
Rafael, Laura e Carla que foram sequestrados. — diz
rapidamente, andando até uma parede e de repente, despenca
sentado. — Eu a matei, Melissa. Eu matei, Nicole. — diz e
lágrimas descem por seu rosto. — Eu nunca a amei, mas isso
não significa que eu poderia ter destruído a vida dela daquela
maneira, feito-a se destruir e...
Ele então cai no choro e vou até ele, ajoelhando-me e
o puxando para mim.
Não digo nada, apenas deixo que ele sinta que isso
não vai me afastar dele. Aliás, isso só mostra o quão humano
ele é. Estranho seria se ele não se importasse com tudo que
aconteceu, mas a questão é que ele tem se culpado por tudo,
sem conseguir entender que, na realidade, foi uma escolha
dela.
Por mais que eles tivessem se envolvido, não foi ele
quem apertou o gatilho daquela arma. Não foi ele que fez com

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que eu perdesse o controle do carro e muito menos que fez


Nicole atirar em seu irmão... Nicole era uma mulher doente,
isso nós sabemos, por tudo o que fez apenas para atingir
Ricardo, mas Levi parece não conseguir ver isso, ou se vê, a
culpa não o deixa enxergar com clareza isso.
— Sabe que precisa de ajuda, não é? — pergunto
baixinho, trazendo seu rosto para mim, fazendo-o me olhar.
— Precisa entender que nada disso foi sua culpa, que o
passado não pode te atormentar mais.
— Eu não mereço a chance que está me dando, eu não
mereço nada disso e... Eu sei que vou falhar, eu vou te perder.
— diz, e sequer reconheço o homem a minha frente.
Ele não está seguro, muito menos sabe o que diz. Ele
parece um menino assustado, que não sabe o que fazer.
— Nossa filha só superou tudo o que houve, ou
melhor, está superando, porque tem nosso apoio e vai as
consultas regularmente. Sabe o que precisa fazer, e se quiser,
eu estarei lá com você.
— Por que faz isso? — pergunta, limpando as
lágrimas em seu rosto. — Por que não me julga ou me deixa
pra trás?
— Faço a mesma a pergunta a você. — digo, e ele

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toca meu rosto, puxando-me para um abraço.


— Eu vou melhorar, eu vou ser o homem que você
merece. — diz, abraçando-me como se fosse sua tábua de
salvação.

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Capítulo 20

Levi

Um mês depois

Com o envelope em mãos, sinto meu corpo tremer e o


nervosismo se apodera de mim. Tantas coisas aconteceram e
mudaram ao decorrer desses meses, para ser realista,
praticamente um ano se passou após tudo entre nós ter
acabado, e agora, estou aqui, com a esperança de que Melissa
aceite esse meu lado também.
Melissa tem sido muito mais que a mulher que amo,
ela tem se tornado a cada dia mais, o meu tudo, o que só
mostra o quanto não me arrependo de lutar por ela. Posso não
ser o melhor homem, e sei disso, mas a cada sorriso que
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aparece em seu rosto, sei bem que não conseguiria ficar sem
isso.
— Se acalma. — digo a mim mesmo, encarando o
espelho do banheiro do apartamento dela.
Desde que nos beijamos e assumimos praticamente
nossos sentimentos, temos nos encontrado aqui quando Laura
não está, falado a respeito de nós, da vida, do mundo... E
principalmente, estado juntos. Mas ainda sim, sei que faltam
algumas lacunas para preencher. Algumas coisas que preciso
fazer, sem assustá-la, a respeito de meus sentimentos que já
não consigo conter.
Eu tinha uma ideia diferente quando comecei com
isso, mas agora, como felizmente tudo está caminhando, eu
posso fazer disso um ato romântico, como Melissa merece.
Se tem uma coisa que aprendi com os romances que
ela tanto adora, é que não importa o tempo, lugar, ocorrido,
ou a própria vida, o amor sempre estará em nosso peito, caso
ele seja real. E o meu amor por Melissa, é assim.
Por ela eu aprendi que as coisas não são fáceis,
consegui perceber que tenho sim problemas, e que não
conseguiria ir em frente sem uma ajuda profissional. Ela está
aqui, comigo, me dando forças para fazer isso, ser o homem

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que ela realmente merece. Não um homem quebrado, mas


sim, um homem que possa se doar por inteiro.
— Ei. — ouço sua voz através da porta. — Daniel
acabou de me mandar mensagem de que está trazendo Laura.
Sorrio de sua preocupação, pois sei o quanto ela teme
que Laura me veja aqui e interprete algo errado. Mas a partir
de hoje, quero poder mostrar a ela que podemos seguir juntos,
aos poucos, mas que vou conquista-la todos os dias.
Abro a porta, tomando uma coragem que nem sabia
que existia. Melissa não está mais aqui, então a procuro pelo
apartamento. Encontro-a sentada em sua cama, mexendo no
celular, com uma expressão feliz no rosto.
— Boas notícias? — pergunto, colocando o bilhete em
meu bolso traseiro da calça.
— Bom, eu... Desde aquele dia que você me levou até
a sessão de autógrafos e deixou claro que sabia sobre minha
profissão, não falamos a respeito disso. Aliás, eu fugi um
pouco do assunto. — diz parecendo envergonhada, e eu
assinto.
Realmente, Melissa não me deu brecha alguma para
falar sobre, por mais que conversamos muito nos últimos
meses.

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— Eu escrevo há muito tempo, mas nunca tive


coragem de falar abertamente sobre isso por “n” motivos. —
ela dá de ombros e vira pra mim, a tela de seu celular. — Esse
meu livro está em primeiro lugar novamente, e não consigo
não compartilhar isso com você. — diz animada, e eu a
abraço.
— Parabéns. — digo orgulhoso. — Vi que tem muitos
leitores e faz muito sucesso, você merece isso, Melissa.
— Obrigada. — diz, e parece um pouco curiosa. —
Mas eu queria saber como... Como descobriu sobre isso?
— Eu pedi a um amigo, para que visse se o dinheiro
que eu depositava para você todo mês estava sendo utilizado.
Estava com medo de que não quisesse o usar por conta de
tudo, e também não queria que nada faltasse a vocês. Como
não conversávamos quase nada naquela época, Issac me
ajudou. E foi assim que descobri outra conta em seu nome,
além de que uma grande quantia era depositada todo mês...
Bom, no fim, Isaac chegou até os livros. — confesso sem
jeito, sei que deve parece ser um pouco invasivo ter feito isso.
— Entendi. — diz, encarando-me. — Você me
espionou! — exclama, arregalando os olhos e abrindo a boca
em formato de um “O”.

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— Eu não...
— Claro que sim, Levi. — diz, sorrindo de mim. —
Mas agora acho que tenho coragem de contar a todos e
principalmente, colocar meu nome nos livros.
— Acho que está mais do que na hora, pra ser sincero.
— digo e ela assente, encarando o celular novamente.
— Bom, Laura está vindo mesmo, então...
— Eu já estou indo, mulher. — digo divertido. — Mas
antes quero te entregar algo.
— Sim, o que? — pergunta e me encara.
Ok, tenha coragem!

Melissa

É tão natural ter Levi dentro de meu apartamento, aqui


comigo, que sequer estranho o silêncio que às vezes se faz
entre nós. Mas foi bom saber como ele descobriu sobre os
livros, e poder falar abertamente sobre isso, pois aos poucos,
quero que todos saibam.
— Então, o que vai me entregar? — pergunto curiosa
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e Levi parece que vai ter um colapso nervoso a qualquer


momento.
O que ele está aprontando?
— Eu sempre deixei claro que não sou um homem
romântico, Melissa. Também queria deixar claro agora que
não sou um homem bom com palavras, não mesmo. — ele
diz, e suspira fundo, tirando algo do bolso de sua calça.
Ele então me faz levantar e o encarar de pé. Levi
parece incerto sobre algo, e isso começa a me deixar
preocupada.
— Eu não sabia como expressar o que sentia por você.
Eu não fazia ideia de como mostrar que cada parte de mim,
ainda queria estar próxima a você, mesmo que fossem poucos
metros. Mas aí, eu encontrei uma lista jogada no chão do
escritório, onde consta o nome de vários livros que você
desejava. A maioria já estava riscada, o que entendi que
queria dizer que já tinha comprado. Mas então, mesmo sem
entender, fui a uma livraria e comprei todos. E tive
momentos, que tudo que queria fazer era falar com você
sobre, pois teríamos algum assunto. Mas no fim, decidi que
parte deles, eu poderia contar a você. — ele então me mostra
o bilhete que escondia atrás de si, e me entrega cauteloso. —

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Foram mais de trezentos bilhetes que deixei debaixo de sua


porta, com medo, indeciso, de que você não entendesse que
era eu. — diz e abaixa a cabeça, encarando seus pés. — Mas
eu poderia enviar milhares, e essas frases nunca serão o
suficiente para demonstrar o quanto te amo, Melissa. — ele
então me encara e lágrimas vêm aos meus olhos. — Esse
bilhete, eu não quero que seja o último, mas que seja o
primeiro no qual tenha certeza, que sou eu o homem que está
enviando. Que as palavras aí citadas, são as mais belas que
gostaria de ter capacidade de ter escrito realmente. E que os
bilhetes, desde o inicio, eram para deixar claro que o tempo
poderia passar, mas eu não iria desistir de você. Por isso os
deixava aqui todos os dias.
Abro o envelope sob seu olhar, já com as mãos
trêmulas e lágrimas descendo por minha face.
"Eu me apaixonei por você, mas, acima de tudo, te
conhecer me fez perceber o que realmente significa amor."
Querido John, Nicholas Sparks.
— É uma frase simples, eu sei. Mas eu não teria outra
para exemplificar o que aconteceu comigo nos últimos
tempos, ou melhor, nesse último ano. Eu te perdi milhares de
vezes, e cada parte egoísta minha daquela época, foi

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destruída. Pois depois que nos separamos, eu pude realmente


te conhecer, como deveria ter sido. Eu descobri tantas coisas a
respeito de você, a respeito de mim... Descobri que por mais
que nada faça sentido em minha vida, estar próximo a você
me traz sanidade, me traz paz. Eu posso ter te amado antes,
Melissa, mesmo com todos os meus erros, mas como já tinha
dito, era um sentimento egoísta, sem valor. Mas hoje, após te
conhecer, eu sei o que é amor, sei o que é viver isso. E eu
quero poder viver esse sentimento com você. — ele diz, e eu
fico perplexa, sem saber o que dizer ou como agir.
Como ele tem a capacidade de achar que não é
romântico?
— Eu quero te fazer um convite, a data e o horário
estão no bilhete, na realidade, é hoje à noite. — diz e eu sorrio
em meio às lágrimas, por conta de sua ansiedade.
Ele toca meu rosto de leve e as limpa, sorrindo de
volta pra mim.
— Quero que hoje, tenhamos oficialmente nosso
primeiro encontro, mesmo que eu já te ame, eu quero te dar
boas lembranças de nós... De mim. — ele diz e respira fundo.
— Eu sei que posso estar sendo apressado, mas...
— Não. — digo, tocando seu rosto. — É o momento

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certo, a pessoa certa.


Ele então sorri e me beija, fazendo meu corpo tremer
pelo seu toque, sua proximidade.
— Eu vou fazer por merecer, Melissa. — diz,
claramente emocionado. — O que eu queria realmente, era
poder te pedir em casamento. — arregalo os olhos com sua
confissão e ele sorri gostosamente. — Mas eu sei que ainda é
cedo pra isso, por mais que seja o que mais desejo. Portanto,
eu só quero que aceite ser a minha menina.
Sorrio de sua declaração e sinto vontade de esmurra-
lo, gritar que esse é um dos momentos que nunca vou
esquecer.
— Eu acho que sempre fui. — confesso, encarando
seus olhos lindos olhos verdes. — Mas nada me faria mais
feliz do que poder ouvir você me chamar assim novamente,
saber que se importa e que me ama. — digo emocionada. —
Se tem algo que aprendi nesses tempos, é que amor não se
explica, apenas se vive. E você é o meu grande amor.
Levi arregala os olhos, completamente surpreso.
Como ele pode não ter visto o amor que também existe em
mim?
— Você é o príncipe que tanto esperei, o homem que

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sempre quis para amar, e o homem que amo. Nada faz sentido
novamente longe de você. E eu sei, que aos poucos, a cada
dia, cada segundo, eu vou estar ainda mais feliz por ter você.
— digo, colocando meu coração em viva voz, deixando tudo
para trás, no seu devido lugar: no passado.
— Eu te amo tanto, minha menina. — ele diz,
segurando meu rosto, com lágrimas, acredito que de
felicidade, em seu rosto.
— Eu também te amo, mais do que um dia imaginei
poder amar alguém. — confesso. — Pois por você eu me
apaixonei novamente, sem saber como, mas entendendo o
porquê a cada dia que passamos juntos. Porque de todas as
coisas que você me mostrou, uma delas me conquistou
profundamente.
— O que? — ele pergunta num sussurro.
— Você se mostrou pra mim, foi honesto. E assim,
ganhou meu coração novamente.
Ele então sela nossos lábios, como uma promessa
precisa ser selada. Mesmo que não exista certeza alguma
nesse mundo, há algo que posso afirmar – eu fiz a escolha
certa.

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Parte II

“Foi a maior força possível — me recuperei


completamente do complexo de inferioridade e de abandono,
senti outra vez aquelas coisas, lembrei de todas as letras do
Roberto Carlos — fiquei, enfim, meio cafona como sempre
fico nessas situações, mas agora já voltei a pisar na terra —
tudo fica mais concreto, e eu compreendo melhor.”
Caio Fernando Abreu

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Capítulo 21

Melissa

Semanas depois

— Você é realmente péssimo nisso. — digo e ele me


encara claramente ofendido. — Não seja bobo, Levi.
—Ah, diz a senhora que sabe perder. — zomba e joga
os dados, avançando sete casas.
Droga!
Nunca tive muita sorte em bancos imobiliários, e
agora que sempre ganho de Levi, ele conseguiu me
ultrapassar.
— Espera um minuto aí. — falo e leio onde ele parou,
rindo alto.
— O que foi agora, Melissa? — pergunta já nervoso.
Esse jogo pode causar sérios problemas.
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— Você vai ter que voltar dez casas. — digo levando


o máximo que posso meu queixo, demonstrando minha clara
superioridade no jogo e ele bufa, o fazendo.
— Eu já disse que simplesmente odeio esse jogo. —
diz e revira os olhos.
— Você sempre perde, Levi. — constato o óbvio.
— Na realidade... Te deixo ganhar. — diz e pisca pra
mim.
Encaro-o incrédula. Não, ele não...
— Levi Gutterman! — praticamente grito e ele apenas
continua com um sorriso cafajeste no rosto.
— Você não ousaria...
— Ah, minha menina. — diz e se aproxima de mim,
passando por cima do tabuleiro e encurralando-me contra o
sofá que estou encostada.
Não consigo então pensar em jogo, ou tabuleiro, e
muito menos em casas... Sua respiração próxima a minha faz
meu coração acelerar e todos aqueles sentimentos retornam
com força.
Eu amo esse homem, e não sei como estamos
conseguindo mas... Simplesmente decidimos nos conhecer
dessa vez aos poucos, com calma, sem ultrapassar nada.
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— Nada a dizer, senhorita Lourenzinni? — provoca e


eu tento empurrá-lo, mas é em vão.
Sem mais raciocinar, uno nosso lábios e Levi me beija
com fome, saudade... Não que estejamos longe por muito
tempo, mas nossos encontros escondidos de Laura têm que ter
certos cuidados.
Ele me puxa pela cintura e logo estou embaixo dele, e
seu toque meigo logo se torna selvagem. Retiro sua camisa e
assim que toco sua pele, todo meu corpo parece tomar uma
descarga de adrenalina. Sinto-me perdida, ofegante, e
querendo ainda mais dele. Aliás, tudo dele.
— Mel. — diz e afasta nossos lábios.
Seu olhar recai sobre o meu e eu entendo o porque
dele ter parado, de estar assim.
— Eu sei, mas...
— “Mas” nada, Melissa. — diz e praticamente pula de
cima de mim. — Eu te quero mais que tudo, mas dessa vez,
quero da maneira certa. Quero que quando estivermos juntos
novamente, que seja pra sempre.
Vou até ele, tocando de leve em seus cabelos e ele se
vira, abrindo um fraco sorriso.
De certa forma eu o entendo, é como se estivéssemos
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realmente recomeçando. Somos pessoas diferentes agora,


conhecendo um pouco do outro a cada dia, a cada momento.
O engraçado é que nunca imaginei ouvir isso de Levi, que ele
negaria sexo por ser simplesmente sexo. Ele quer mais, assim
como eu, mas ambos sabemos que não é hora, mesmo que
tudo que queira, é estar em seus braços
— Mas me conte, como vai o novo livro? — ele
pergunta e se senta no sofá.
— Bom, ainda estou no começo, não sei ao certo o
que esperar desse novo casal. — digo, dando de ombros, sem
esperar que ele aprofunde o assunto.
— Por um acaso tem algum personagem com olhos
verdes nesse livro? — indaga e sorri de lado.
Convencido!
— Não seja tão pretensioso. — digo, revirando os
olhos. — Só porque temos nos encontrado escondidos de
nossa filha, não quer dizer que vai fazer parte de algum dos
meus romances.
Ele me encara, fingindo-se de ofendido e eu dou de
ombros, ainda deitada no tapete, apenas levantando minha
cabeça o mínimo para vê-lo.
— Bom, talvez possa convencê-la em fazer alguma
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personagem inspirada em mim. — diz e se levanta, vindo até


mim.
— Ah, é mesmo? — digo e finjo-me de desentendida.
— Digamos, que talvez possa recitar as frases do seu
autor favorito, e fazer você suspirar. — levanta as
sobrancelhas, completamente convencido e eu lhe acerto um
tapa.
— Babaca.
— Hum, ela usa palavras feias. — zomba e me encara
pretensioso. — Vou usar algumas palavras bonitas então, para
poder corrigir isso.
— Vá em frente, senhor ego.
— “Não sei o que mais posso lhe dizer, a não ser que
eu consigo me imaginar passando o resto da minha vida ao
seu lado. Sei que isso parece uma coisa louca, mas nunca tive
tanta certeza a respeito de alguma coisa em minha vida. E, se
você me der uma chance - se você nos der uma chance -, vou
viver o resto da minha vida provando a você que tomei a
decisão certa. Eu amo você. Não somente por ser quem você
é, mas pela maneira que você me faz pensar no que nós
podemos ser.”[7]
Suspiro completamente sem jeito, sentindo lágrimas já
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se formarem em meus olhos. Como é possível alguém


conseguir me desarmar de tal forma?
— Boa escolha? — pergunta e eu assinto, tocando de
leve em seu rosto.
— Vai decorar mesmo todas as frases bonitas dos
livros? — pergunto e ele meneia com a cabeça.
— Se isso te faz bem, querida, eu sou capaz de tudo.
— diz e me dá um leve selinho. — Aliás, acho que
precisamos já marcar nosso próximo encontro.
— Ah, mas quem disse que vou aceitar sair com você?
— pergunto e ele dá de ombros.
— Digamos que tenho uma leve impressão de que sua
resposta será sim. — diz e pisca.
— Ok, diga lá.
— Pensei em irmos a praia. — diz animado.
— E eu pensando que iria me arrastar para uma
balada. — provoco e ele sorri desdenhoso.
— Ainda iremos em uma, mas quando realmente
quisermos não parar de dançar a noite toda. — diz e toca de
leve em meu rosto. — Mas como não faz muito nosso estilo,
pensei em um bom domingo de sol, ao lado da minha garota.

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— Garota? — indago sorrindo e é a vez dele revirar os


olhos.
— Minha menina. — corrige e sorrio satisfeita.
— Ok, então. Só temos que combinar em um dos dias
em que Laura esteja com meus pais ou com seu irmão. —
digo e ele assente.
— É difícil esconder algo dela, não é? — pergunta de
repente e fico sem entender. — Esses dias, ela me perguntou
porque ando sorrindo tanto e cantando pela casa. Fiz minha
melhor cara de paisagem e falei sobre qualquer outra coisa.
— Ela é uma garota esperta. — digo sorrindo. — Mas
sabe que estamos fazendo o certo não a envolvendo nisso, não
é?
— Eu sei, Mel. — diz e pega uma de minhas mãos,
beijando de leve o dorso. — Sei que ainda é um pouco cedo
pra isso, e que não temos certeza de nada. Na realidade, eu me
casaria com você agora.
— Vegas, baby? — brinco e ele gargalha.
— Sim, princesa. Mas o problema é que ainda temos
muito pra saber um do outro.
— O amor nem sempre é tudo. — constato e ele abre
um singelo sorriso.
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— Hoje eu sei que não.


Fico apenas encarando seu belo rosto, pensando em
como tudo entre nós vem acontecendo, em como tudo se
transformou. Em poucos encontros, a proximidade que tenho
de Levi se tornou maior do que em nossos dez anos de
casados. As vezes paro e penso, sem conseguir olhar pra trás e
ver o mesmo homem. Eu me apaixonei por esse homem a
minha frente, que está satisfeito, apenas olhando para o teto
do meu apartamento, enquanto falamos sobre coisas simples
do dia a dia. Isso me faz ver, que tudo entre nós finalmente
está do jeito certo.

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Capítulo 22

Levi

Mais papéis!
Bufo sozinho encarando mais uma pilha de contratos
para rever. Preciso urgentemente de uma assistente! Se não
fosse Sophie – a assistente e namorada de Daniel – eu já teria
me perdido faz muito tempo. Fico apenas adiando a
contratação de uma nova, pois sempre me esqueço ou
simplesmente deixo de lado.
Qual o meu maldito problema?
Ouço batidas em minha porta e já levanto as mãos aos
céus, com certeza é Sophie com os papéis que lhe mandei
mais cedo para revisar, eles são de extrema importância no
contrato que estou perdido.
— Entre.

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Ajeito meus óculos e assusto-me ao ver um pequeno


furacão vir correndo da porta até mim.
— Ora, vejam só! — digo, enquanto Laura se joga pra
cima de mim e a coloco sentado em meu colo. — Animada
para a nossa noite de cinema? — pergunto e ela praticamente
grita um “sim”.
— Ela estava impossível. — Melissa diz, vindo com a
bolsa de Laura consigo. — O certo era você ir busca-la, mas
hoje ela quis porque quis ver o pai e o tio trabalhando.
Sorrio para Melissa, e observo seu lindo rosto,
sentindo cada parte de meu eu reagir ao leve sorriso que ela
esboça. Sorrio de volta, usando todo meu autocontrole para
não me levantar e a beijar como tenho vontade.
— E então? — viro-me para Laura. — Por que quis
tanto vir aqui?
— A professora pediu uma redação a respeito de
trabalho. — diz, me encarando com os olhos verdes iguais aos
meus. — Já escrevi sobre como o trabalho da mamãe é
diferente, agora quero escrever sobre o seu, do tio Dani e da
tia Sophie.
— Interessante, em? — digo e ela assente. — Então
vamos lá falar com os seus tios.

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Laura nem me dá tempo para dizer nada e já sai de


cima de mim, indo pra fora do meu escritório.
— Ela está crescendo. — Melissa constata o óbvio.
Levanto-me da cadeira e resolvo esquecer um pouco o
trabalho. Vou devagar até Melissa e a puxo rapidamente pela
cintura.
— Teve um bom dia? — pergunto e ela assente,
olhando rapidamente para fora. — Levi, Laura está...
Escutamos grito de Laura e apenas arqueio a
sobrancelha para Melissa, a qual revira os olhos.
— Apenas um beijo, minha menina. — digo e ela
nega veemente. —Não nos vemos desde domingo.
— Mas vamos nos ver na sexta. — diz provocativa.
Antes que ela possa pensar, coloco-a atrás da porta e
lhe dou um beijo rápido.
Ao menos pensei que fosse rápido...
— Psiu. — escuto uma voz feminina e Melissa
praticamente pula dos meus braços.
Olho para o lado e Sophie nos encara sorrindo e dá
uma leve piscadela.
— A mocinha está vindo aí. — diz e então eu volto

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para minha mesa. — Trouxe os papéis que pediu.


— Obrigado, Sophie. — digo e ela continua com um
sorriso.
— Oi cunhada linda. — Melissa diz e noto seu rosto
um pouco avermelhado.
— Melhor arrumar esse rosto antes de Daniel entrar.
— diz e Melissa arregala os olhos. — Ele não percebeu nada
ainda, mas... Tenho certeza que não querem que ele saiba
ainda, não é?
— Sim. — digo sem jeito e ela assente.
— Ele não vai saber por mim, tenham certeza. — diz,
e respiro fundo.
— Obrigado.
— Onde está a minha gatinha?
Daniel logo entra em minha sala e Melissa
praticamente se joga em seus braços, abraçando-o.
Realmente, ela não é boa em disfarçar nada. Seguro o
riso e Sophie me encara, pelo jeito, fazendo o mesmo.
— Tudo isso é saudade? — Daniel indaga, e logo
Laura entra também em minha sala.
— Mini reunião? — pergunto, e todos me encaram.

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— Então pequena, o que quer de nós? — Daniel


pergunta, me ignorando.
Laura começa a contar animada sobre a redação que
tem que fazer e logo Daniel começa a falar para ela a respeito
de tudo na empresa. Acrescento algumas coisas, enquanto
eles estão sentados em meu sofá, e Sophie sentada na cadeira
a minha frente. Mas apenas deixo acontecer, sei que para
Daniel, me ter por perto não é algo bom, e por mais que sinta
falta de meu melhor amigo, nada nunca mais será como antes.

***

— Boa noite, minha princesa. — beijo de leve a testa


de Laura e logo ela se vira, já caindo em sono profundo.
Saio de seu quarto com cuidado e já rumo para o meu.
Engraçado é ver Laura assim tão grande, já uma mocinha.
Sempre me pego pensando em quando ela era apenas um
bebê, e como sinto falta disso. Sinto falta acho que por não ter
curtido tanto com Melissa esse momento, por naquela época
não ter dado meu máximo.

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Hoje, um dos meus maiores sonhos é me tornar pai


novamente, mas isso ficará para o futuro, e que eu consiga
que a mãe continue a ser Melissa.
Entro em meu quarto e já vou para o banheiro.
Cansado de mais um dia exaustivo de trabalho, mas como tem
sido nos últimos tempos, feliz por ter mais um dia com a
certeza de que tenho Melissa. Nada ainda é definido entre
nós, mas em cada momento em que meu olhar para no seu, ou
nas mensagens que trocamos, meu coração se faz calmo,
tranquilo. Melissa apenas traz o melhor de mim, mesmo que
pareçamos nada mais que dois adolescentes “namorando”
escondidos.
Tomo um banho caprichado e logo volto para meu
quarto, enrolado com uma toalha na cintura. Ouço o toque do
meu celular e o pego na beira da cama, vendo ser mais uma
mensagem de Melissa.
Estou ouvindo uma música.
Sorrio feito um bobo, e sento-me na cama, encarando
o celular feito um idiota. Então isso é amar e ser amado?
Sentir-se flutuar a cada momento?
Algumas de nossas músicas?
Penso que ela vai me mandar outra mensagem, mas de

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repente ela liga.


— Pensei que estivesse ouvindo música? — pergunto.
— Bom, apenas queria saber se ela dormiu bem.
— Como um anjo. — digo e ouço seu suspiro. — O
que foi, Mel? — pergunto sem entender seu jeito.
— É que eu nunca me senti tão ligada a você quanto
agora, Levi. Isso é tão estranho, não acha?
— Acho que finalmente encontramos o caminho certo
nesse amor. — sou sincero. — De nós dois, sabemos que eu
fui quem mais errou, mas nunca pensei em amar alguém,
como eu te amo hoje.
Ela fica em silêncio e até penso que desligou, mas
logo escuto algo tocando no fundo.
— O que é isso? — pergunto.
— A música que me fez lembrar de você.

“Quando a gente gosta


É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora

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Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?

Quando a gente gosta


É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora

Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?”
(Sozinho – Caetano Veloso)

— Queria você aqui, agora. — digo, com a melodia


ainda abarcando meu ser.
— Eu também. — diz e ouço seu suspiro. — Estou
ansiosa para sexta.
— Eu também, minha menina.
Pouco tempo depois Melissa desligou, e eu fiquei

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perdido olhando para o teto de meu quarto. Divaguei sobre


várias coisas, dentre elas, o momento certo para dar o
próximo passo.
Será muito precipitado pedi-la para ser minha
novamente?
Eu só sei que de alguma forma ou de outra, aquela
lenda chinesa, a qual Melissa me contou a respeito:
“Quando a pessoa é destinada a outra, ambas têm um
laço vermelho que as ligam, no dedo mindinho. O laço pode
embaraçar, emaranhar, mas ele nunca quebra. O laço não é
visível a olho nu, mas está lá desde o momento do
nascimento. Quanto mais longo estiver o fio, mas longe as
pessoas estão e mais tristes estarão. Sequer a morte o rompe,
apenas o alarga para se encontrarem em outra vida”.

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Capítulo 23

Melissa

— Mãe, não esqueça que...


— Eu sei, Mel. Laura está gripada, e eu vou cuidar
muito bem dela. — diz e ouço sua risada. — Ela ia passar o
fim de semana comigo de todo jeito, não sei por que está se
culpando.
Respiro fundo e mudo meu olhar de direção. Vejo
então Levi parado, conversando algo com a moça do
quiosque.
— É que as vezes sinto que estou agindo pelas costas
de Laura. — sou sincera.
— Vocês estão protegendo ela de certa forma, fique
tranquila quanto a isso.
— Mas...

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— “Mas” nada, Melissa. Vá se divertir e depois


conversamos. Laura já está dormindo após tomar uma sopa.
Me mande mensagem qualquer coisa.
— Ok, mãe. Eu te amo.
— Também te amo, filha. Beijos.
Desfaço nossa ligação e encaro novamente Levi, o
qual parece indeciso olhando algo sobre o balcão. Desvio o
olhar para frente e encontro o mar, em um belo dia quente do
Rio.
Coloco meus pés contra a areia e a sensação da areia
quente me faz suspirar. Faz muito tempo em que não venho a
praia, e estar aqui com Levi, tem sido uma experiência bem
diferente.
Ajeito minha saída de praia e volto meu olhar para
onde Levi está parado. Estranho ao ver uma mulher parar ao
seu lado, mas continuo apenas assistindo a cena, sentindo algo
dentro de mim se contorcer.
Por que ele não está usando uma camisa? Merda!
Pisco algumas vezes incrédula, vendo-o se afastar da
mulher e abrindo um fraco sorriso. Ele então olha para frente
e finalmente pega dois cocos que alguém deixou sobre o
balcão do quiosque.
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Ele vem a passos largos até mim e tento controlar o


fôlego ao assisti-lo. Eu entendo por completo o porquê
daquela mulher ir até ele, aliás, ela era linda. Um homem alto,
de corpo definido, olhos verdes, cabelos negros... Levi é a
personificação de muitos sonhos femininos.
Sei bem disso porque leio muito sobre homens como
ele nos livros de romance. Não culpo a mulher por tentar, mas
algo dentro de mim realmente se remexeu ao ver a cena.
Lembro bem que isso aconteceu antes. Há o que? Um
ano atrás? Eu sequer liguei, eu simplesmente vi e apaguei a
cena da memória. Mas hoje? Hoje foi completamente
diferente.
— Demorei? — ele pergunta e me entrega o coco,
olhando-me com um leve sorriso no rosto.
— Uhum. — respondo, sem saber expressar ao certo
como me sinto.
— Tudo bem, Mel? — pergunta e me encara um
pouco perdido.
Minha vontade é de fazê-lo colocar uma camisa e dar
uns bons tapas nesse rostinho bonito, mas simplesmente fico
em silêncio, deixando o ciúmes me corroer.
— Você viu aquela mulher chegar em mim, não foi?
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— ele pergunta, como se lesse meus pensamentos.


— Eu não, quer dizer...
— Olha, me desculpe por isso. — diz e se senta na
cadeira ao meu lado. — Eu apenas a dispensei, Mel. Eu juro
que...
— Mas por que você não está usando uma camisa? —
pergunto, já perdendo o foco de tudo olhando para o seu
peitoral exposto.
Será que conhecer alguém é assim?
Uma montanha russa de sentimentos doidos que te faz
querer atacar a pessoa alheia a qualquer instante e em outro
momento querer esganá-la?
— O que? Mas eu pensei que...
— Não estou desconfiando de você. — digo, já
cortando qualquer pensamento que ele tenha. — Se estamos
tentando algo é porque eu resolvi te dar uma chance, não que
a confiança tenha se tornado nova de repente, mas... É um
voto que você tem. Eu só...
— Está com ciúmes? — pergunta e vejo um sorriso
cafajeste despontar em seus lábios.
— Nem pense. — digo nervosa, já vendo que ele está
maquinando algo em sua mente.
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Quem diria? Levi Gutterman, um belo palhaço.


— Há dois guarda-sóis daqui, tem um grupo de caras
que simplesmente não param de olhar pra cá. — diz e o
encaro sem entender. — Tudo que eles estão esperando é que
você levante e tire sua saída de praia. — arregalo os olhos. —
Pois é, e eu estou me segurando para não ir até eles e quebrar
a cara de cada um.
— Você não ousaria. — digo e ele fica sério.
— Que eles não me testem.
Fico então pensando sobre o que ele diz, e resolvo eu
mesma coloca-lo em teste. Nunca imaginei Levi sentindo
ciúmes de mim e muito menos eu sentindo algo assim por ele,
não depois de tudo. Mas agora, só quero deixar as coisas mais
leves... Ou quem sabe, algo mais interessante.
Não sei o que está acontecendo comigo, se é o sol do
Rio ou o modo como Levi me olha, sério, mas pela primeira
vez, vou pagar pra ver.
— Talvez eu te teste. — digo, e me levanto.
— Melissa. — diz sério. — Você não...
Nem escuto o resto de sua fala, apenas tiro minha
saída de praia, ficando apenas com um maiô branco com duas
fendas nas laterais do quadril e que se entrelaça em meus
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seios.
Vou em direção ao mar, sem olhá-lo, mas assim que
meus pés sentem a água fria, sinto mãos fortes rodearem
minha cintura.
— Estou pagando meus pecados hoje. — diz e noto
seu semblante sério. — Quem é você e o que fez com
Melissa?
Arqueio a sobrancelha e solto-me de suas mãos.
— Talvez essa seja uma parte minha que você ainda
não conhece. — digo e pisco pra ele.
— E que parte seria? — pergunta e se aproxima, mas
noto seu olhar mudar.
Ele me olha completamente diferente agora. Desejo
puro estampado em sua íris verde.
— A parte que te desestabiliza. — digo provocativa,
mas logo me calo, vendo-o vir até mim e me puxar pra perto
de seu corpo.
— Você me desestabiliza só por respirar, Melissa. —
diz e noto sua voz mais rouca.
O que aconteceu com o dia tranquilo na praia?
Seus lábios se aproximam dos meus e sinto minha

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respiração mudar, estou ofegante e sequer me preocupando


com as pessoas ao nosso redor. Aliás, nada mais importa.
— Mas que merda está acontecendo aqui?
Praticamente dou um pulo de susto e Levi pisca
algumas vezes, olhando em direção à voz. Daniel nos olha de
cima embaixo, parecendo incrédulo e vejo raiva estampada
em sua face.
— Mas o que estão fazendo? — pergunta e olha de
mim para Levi, o qual permanece com um braço em volta de
minha cintura.
— Dani, calma. — peço e meu irmão sequer me olha.
— Droga! — Sophie diz assim que se aproxima e olha
de nós para Daniel. — Dani, é melhor...
— Não se meta, Sophie. — a corta e é minha vez de
ficar transtornada.
— Por que está tratando ela assim? — pergunto sem
conseguir me conter.
— Por que? — ele praticamente grita.
— Chega! — Levi diz de repente e noto sua voz tensa,
mas ao mesmo tempo firme. — Elas não têm nada a ver, o seu
problema é comigo, Daniel.

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— Vamos conversar. — Daniel diz e olha para Levi


com raiva pura. — Agora!
— Agora nada! — digo nervosa. — Primeiro de tudo,
eu não devo satisfações a você, Daniel, muito menos Levi.
Mas nós dois vamos falar com você a respeito do que
aconteceu, porque nós te amamos e queremos resolver essa
situação. — meu irmão me encara incrédulo. — Mas hoje não
é um dia pra isso. Você vai agora atrás de Sophie e pedir
desculpas por ter sido um babaca, além de curtir o seu dia na
praia com a sua morena. E eu vou curtir o meu dia, ok?
Daniel então parece finalmente despertar de sua raiva
e olha para os lados, e como não encontra Sophie, apenas me
olha por um instante e logo pega o celular, se afastando de
nós.
— Sabe que preciso falar com ele sozinho, não é? —
Levi pergunta de repente e eu o encaro.
— Sei, mas aqui não é local certo e muito menos o
momento. — digo e ele assente.
— Sophie deve estar magoada com ele. — Levi diz
inocente e eu me seguro para não rir. — O que foi?
— Sophie não é do tipo que se magoa, ela é do tipo
que faz o diabo em cima daqueles que a deixam com raiva.

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— Então ela vai acabar com Daniel. — ele constata e


eu sorrio.
— Sim, definitivamente. Ela vai.
— Mas onde nós estávamos, senhorita Lourenzinni?
— ele provoca e abre um sorriso convencido.
— Na melhor parte de todas.
— E qual seria? — pergunta e nos leva mais para o
fundo da água.
— O beijo do casal.
— Isso vai virar a cena de um livro seu? — pergunta e
eu nego veemente, mesmo sabendo que não passa de uma
grande mentira. — Ainda vou convencê-la de me colocar em
um livro seu.
— Promessas, senhor Gutterman. — zombo, usando
uma das frases que sempre acabo lendo.
— Realidade, minha menina. — diz e toca meus
cabelos, unindo ainda mais nossos corpos.
Sem aguentar mais o beijo, com toda vontade que
venho tendo desde o último domingo que passamos juntos.
Nossos encontros esporádicos já não são o suficiente para
aplacar a saudade que sinto desse homem. De certa forma, a
cada encontro, cada ligação, cada dia mais nós nos tornamos
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mais próximos... E eu sei, que ele é o cara certo dessa vez.

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Capítulo 24

Melissa

Levi dirige em silêncio, acho que pelo cansaço que


ambos sentimos, nenhuma palavra foi trocada durante a nossa
volta da praia. Ele entra na garagem de nossa antiga casa, e eu
não consigo evitar soltar um suspiro.
Meus melhores dias nesse lugar foram quando perdi
minha memória, mas desde que começamos as nos encontrar,
tem sido um dos locais que gostamos de ver filmes, já que de
certa forma, é uma parte de Levi. E eu quero conhecer tudo
nele.
— Vamos? — ele pergunta e só assim percebo que
fiquei parada ao lado do carro.
Vou atrás dele e logo o ambiente que acostumei tanto
a chamar de meu aparece, do mesmo modo de antes.

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— Não sente nem um pouco de falta de morar aqui,


não é? — ele pergunta de repente e noto um leve sorriso em
sua face.
— Bom, é difícil dizer. — digo e olho ao redor. —
Acho que vou tomar um banho antes, tudo bem?
— Claro, tem toalhas limpas no banheiro do corredor.
Ele vai em direção a cozinha e eu subo as escadas.
Logo entro no banheiro e deposito minha bolsa de praia na
bancada. Pego a lingerie limpa e um vestido branco que
separei, pois sabia que nosso dia não terminaria na praia.
Sorrio sozinha, olhando meu reflexo e vendo o quanto
nosso dia foi perfeito.
— Ah, Levi. — solto um suspiro.
Tiro minha roupa e abro a ducha, deixando uma água
morna cair. Entro debaixo dela e começo a repassar vários
momentos nossos. Não que Levi seja perfeito, tenho certeza
de que não, e isso muda tudo, mas de todos nossos momentos,
eu não consigo parar de suspirar, imaginar nossa vida juntos...
Poderia mentir e dizer que não, mas ter esse momento como
um “namoro” com ele é simplesmente fantástico.
Mesmo que nada entre nós esteja rotulado, eu
simplesmente gosto de como soa tudo que estamos fazendo.
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Gosto do modo como o pego me olhando quando acha que


não estou vendo. Gosto do modo como nossas mãos
entrelaçadas combinam tanto. Gosto do contraste de nossas
peles. Gosto das várias vezes em que ele cita uma de minhas
frases favoritas só para me ver sorrir. Gosto do carinho com
que me toca, do sabor dos seus beijos. Gosto de seus braços
em mim, de como o amor que ele diz sentir é tão real agora.
Gosto de como ele fala abertamente de seus pais, e do fato de
enfrentar tudo fazendo a terapia. Gosto de como dizer que
amá-lo é tão fácil e tão certo.
Termino meu banho e rapidamente me arrumo,
estranhando um pouco o cheiro de meus cabelos já que os
shampoo e condicionador nesse banheiro são masculinos.
Levi realmente não pensa nas visitas. Sorrio desse
pensamento.
Arrumo-me rapidamente, deixando meus cachos
curtos um pouco bagunçados, mas gosto de como parecem
selvagens dessa forma. Passa uma loção hidratante, já que
passamos a manhã e boa parte da tarde na praia, e minha pele
com certeza precisa de cuidados.
Assim que termino, saio do banheiro e um cheiro bom
já me atinge. Desço as escadas quase de olhos fechados,

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tentando identificar o cheiro, e tenho certeza que é algum tipo


de massa.
Meus pés tocam o primeiro piso e então arregalo os
olhos, vendo uma trilha de pétalas que segue em direção à
sala de jantar. Sigo-as e estaco assim que encontro a mesa
posta de um jeito magnifico, como se estivesse em um
restaurante fino.
— Melissa. — ouço a voz de Levi e me viro, vendo-o
parado contra uma das colunas, vestido com uma simples
calça de moletom e uma camisa branca fina.
— O que é isso? — pergunto surpresa.
Ele está completamente despojado enquanto a nossa
frente tem uma mesa fina.
— Uma surpresa. — diz e abre um singelo sorriso. —
Queria fazer uma noite especial.
Vou até ele, e então logo ele me puxa pra perto,
deixando minha cabeça encostada em seu peito.
— Obrigada. — digo, sentindo seu cheiro
característico e sinto sua mão em meu queixo, tocando-o de
leve, fazendo-me olhá-lo.
— Mas antes de comermos, preciso te pedir algo. —
diz e segura minha mão, levando-nos até a sala.
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Vejo um violão encostado ao lado do sofá e Levi me


deixa sentada na poltrona, enquanto se ajeita no sofá maior,
pegando o violão. Encaro-o sem entender e ele abre um
sorriso, mas noto um leve rubor em seu rosto.
Ele começa a dedilhar algo no violão e apenas o
encaro, já com os olhos cheios de lágrimas. O que ele está
fazendo?
“Às vezes no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado
Juntando o antes, o agora e o depois

Por que você me deixa tão solto?


Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinho

Seu olhar verde encontra o meu e apenas consigo


sorrir, vendo-o cantar perfeitamente a música que me
persegue há dias.

Não sou nem quero ser o seu dono


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É que um carinho às vezes cai bem


Eu tenho os meus desejos e planos secretos
Só abro pra você mais ninguém

Por que você me esquece e some?


E se eu me interessar por alguém?
E se ela, de repente, me ganha?

Quando a gente gosta


É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora

Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?

Quando a gente gosta


É claro que a gente cuida
Fala que me ama

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Só que é da boca pra fora

Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?”

(Sozinho – Caetano Veloso)


Ele então para e apenas consigo colocar as mãos sobre
meus olhos, limpando rapidamente algumas lágrimas. Como
chegamos nisso?
— Daniel me ensinou um pouco de violão quando
éramos mais novos. — esclarece. — Mas... Mel, eu sei que
talvez seja cedo, e como sabemos amor não é tudo em um
relacionamento. Há muito mais em fidelidade, respeito,
confiança... — diz e deixa o violão de lado, vindo até mim. —
Eu nunca fiz um pedido como esse, e quando te pedi em
casamento, fiz totalmente errado. Eu não pensei,
simplesmente agi pensando no que era certo. Hoje, além de
ser o certo em minha mente, é o certo em meu coração.
Ele então se ajoelha a minha frente, tirando uma
caixinha do seu bolso.

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— Melissa Lourenzinni, aceita namorar comigo? —


pergunta e fico completamente estática.
Ele abre a caixinha e vejo uma delicada aliança prata.
— Deus, Levi. — exclamo incrédula, e ele continua
apenas me olhando, com lágrimas nos olhos verdes. — Claro
que sim.
— Graças a Deus! — diz e se levanta no mesmo
instante, pegando-me no colo.
Ele gira comigo na sala e nos beijamos, selando esse
nosso momento.
— E então? — pergunto, assim que ele me coloca no
chão novamente. — Deixe-me ver essa aliança direito.
Ele então me entrega, e a coloco em meu dedo anelar
direito.
— É tão...
— Linda. — diz e noto seus olhos sobre mim.
Encaro então suas mãos e encontro uma aliança grossa
em seu dedo anelar direito.
— E agora? — pergunto e ele sorri. — Digo, sobre
nossa filha.
— Bom, senhorita Lourenzinni. — diz e enlaça minha

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cintura, levando-me até a sala. — Talvez nossas alianças de


namoro tenham que ficar escondidas por um tempo ou...
Ele então vai até a bancada da cozinha e volta com um
fino colar de prata.
— Ou podemos usá-las de um modo um pouco
diferente. — diz e retira minha aliança, passando ela no colar
e assim, colocando-a em meu pescoço.
Toco de leve a bela aliança e sorrio pra ele.
— Acha que ela não vai desconfiar? — pergunto e ele
suspira.
— Laura é esperta, e por isso, teremos que ter cuidado
em usar. — diz e eu assinto.
— Temos que falar com ela, Levi. — digo, e ele me
olha surpreso. — Não agora, mas em breve.
— Eu sei, minha menina. — diz e toca de leve em
meu rosto. — Apenas estamos dando um passo de cada vez,
após tudo, não é?
— Sim, senhor. Um passo de cada vez.

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Epílogo

Anos depois...

"Histórias são únicas, assim como as pessoas que as


contam, e as melhores histórias são aquelas cujo final é uma
surpresa." - A escolha, Nicholas Sparks.

O sol adentrava as janelas, queimando de leve a pele


negra da mulher que permanecia em seu sono. Diante dessa
cena, dessa mulher, com o corpo brilhando pelos raios
solares, um homem, mantinha um sorriso simples no rosto,
com os olhos verdes brilhando, enquanto admirava mais um
dia... Mais um dia ao lado dela.
Depois de muito tempo e após seus erros, Levi
percebeu que a vida está nas pequenas coisas, nos simples
momentos. Assim, ele sempre fazia isso, acordava antes dela,
e ficava ali, sentado em uma poltrona, observando a mulher
que transformou sua vida, contemplando seu corpo relaxado

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enquanto suspirava em algum sonho.


Após alguns minutos parado ali, ele se levantou e foi
até ela, beijando de leve sua testa. Afastou-se indo até o
banheiro, onde tomou um banho rápido e colocou apenas uma
calça de moletom, para passar o domingo em casa com os
filhos.
Assim que saiu do quarto, escutou barulhos vindos do
andar debaixo da casa, e já desceu mais rápido, imaginado os
gêmeos destruindo algo na cozinha. Levi sorriu, ao encontrar
Lorena jogada no sofá, enquanto Tuan mexia em algo nas
panelas. Era engraçado ver o quanto companheiro os dois
eram, nos momentos em que não faziam da casa um ringue de
luta.
— Bom dia, filho. — disse ao se aproximar do filho e
pegar uma garrafa d’água na geladeira.
— E aí, pai? Mamãe ainda está dormindo?
— Sim. — Levi respondeu, e se sentou em frente ao
grande balcão no meio da cozinha. — Por que você e Lorena
estão tranquilos hoje? — indagou divertido.
— Ela está de tpm, e não ouso sequer dizer nada pra
contrariá-la.
Levi gargalhou, pois sentia sempre aquilo na pele. Os
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dois até pouco tempo repartiam o mesmo teto com mais três
mulheres, e sim, elas comandavam tudo nesses dias. E tudo o
que eles podiam fazer era tentar amenizar a dor delas.
— Laura ligou, disse que está chegando. — Tuan
disse, voltando os olhos verdes para as panelas, onde pelo
jeito ele fazia panquecas e algo mais.
Levi apenas observou tudo ao seu redor, sorrindo,
vendo como o tempo passou. Voltou ao momento em que
descobriram sobre a gravidez de Melissa, há 16 anos, onde
apenas tinham a certeza que se amavam e enfrentariam o
mundo juntos. A notícia veio pra somar mais felicidade á
aquele momento, no qual contaram a Laura que voltariam a
ser uma família e ademais, a família cresceria.
A surpresa com o tempo, de que seriam gêmeos, e dos
sexos deles, deixou tanto Levi quanto Melissa desnorteados.
A princípio, eles gritaram de felicidade, depois choraram pelo
mesmo motivo, e após isso, fizeram amor até suas forças se
esgotarem. Se um dia foram infelizes, eles nunca mais
souberam, pois o passado ficou pra trás, bem pra trás.
— Vovô!
Levi despertou de seus pensamentos, ao ouvir o
gritinho de mais uma das mulheres de sua vida, que o deixava

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completamente bobo.
— Eu nem vi você chegar, pequena. — disse, ao pegar
a pequena Luz no colo, a qual tinha os olhos da mãe, ou seja,
os seus olhos também.
— Ela praticamente me obrigou a trazê-la. — Laura
disse, vindo até eles, sorrindo para o pai, e vendo o brilho de
felicidade em seu olhar.
Se tem algo que ela sempre seria grata, era pelo
caminho que seus pais a ensinaram a trilhar, mesmo nos
piores momentos, e o quanto o amor pode ser maior, maior
que tudo.
— Então quer dizer que Caleb vai querer socar minha
cara no próximo treinamento? — Levi perguntou e Tuan
gargalhou, sabendo que isso aconteceria.
— Bom, essa pequena passou o sábado na casa dele,
talvez não seja tão ruim assim. — Laura disse da boca pra
fora, ela sabia o quanto os dois avós de sua filha eram
ciumentos e possessivos. E ao mesmo tempo, sabia do grande
amor que Luz recebia das duas famílias.
— Onde mamãe está? — Lorena entrou na cozinha,
com os cabelos pra lá de revoltados e Laura foi a primeira a
gargalhar. — Nem vem, mana. Eu tô de tpm, me deixa.

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— Você sempre é insuportável, tampinha. — Tuan se


intrometeu e a gêmea bufou, já dando meia volta.
— Tia Lore! — a pequena Luz chamou e ela parou no
caminho.
— Só essa pequena pra me fazer enfrentar vocês. —
Lorena foi até ela, pegando Luz do colo de Levi, e indo com
ela pra sala.
Levi assistiu a cena divertido, enquanto Tuan colocava
panquecas nos pratos.
— Lorena é a pior de todas vocês na tpm. — Levi
disse e logo uma risadinha baixa tomou conta da cozinha.
— Querido, pior que nós três juntas são vocês dois
com resfriado. — Melissa disse, encarando as pessoas mais
importantes de sua vida, e abraçando Laura, enquanto os
homens bufaram. — Onde está Felipe? — perguntou e a filha
deu de ombros, revirando os olhos.
— Foi se matar de correr por algum lugar. — disse
divertida. — Não sei como ele aguenta isso.
— Ele é um Soares, mana. — Tuan interveio. — Eles
são estranhos.
— Como se você não gostasse de nenhuma Soares em
particular.... — Laura provocou e Tuan jogou a toalha nela, a
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qual pegou algumas balas que estavam no armário atrás dela e


acertou nele.
Em meio a essa bagunça, Melissa deu passos certos
até o homem que amava, o qual tinha fios grisalhos já nos
cabelos e infelizmente, lhe davam um ar ainda mais sexy. Ele
afastou um pouco a banqueta de perto do balcão, num convite
claro pra ela, a qual não negou, sentando-se em seu colo.
— Bom dia, amor. — ela disse baixinho, e ele lhe deu
um leve selinho.
— Bom dia, minha menina.
Melissa ficava encantada todos os dias, sem sentir
arrependimento algum, ao ver onde a vida os levou. Ao redor,
ela podia ouvir e ver os filhos brincando, as risadas de sua
neta na sala e tudo fazia ainda mais sentido. Sem
arrependimentos por sua escolha, por ter dado uma
oportunidade ao amor que abarcava seu ser, e que felizmente,
quando sentiu novamente, foi verdadeiro e o mais importante,
ainda é.
O amor nunca foi um sentimento fácil de entender, e
muito menos de se viver. Houve um tempo em que ela
questionou a si mesma, se realmente valia a pena alguém doar
tudo de si em nome desse sentimento, sem saber o que vem

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em troca ou muito menos se há algum retorno. O que ela,


muito menos Levi sabia nessa época, é que o verdadeiro amor
é baseado em cumplicidade, confiança e principalmente,
paciência. O amor não tem pressa e muito menos é usado
contra nós, ele apenas surge, existe, está ao nosso lado a cada
dia.
E é assim, com essa ideologia, que seguiram em
frente. Pois esse amor, o que conheceram e sentiram, depois
de tantas dificuldades, mostrou que amar é muito além de
estar por perto e dizer palavras bonitas, amar é mostrar-se
presente em todos os momentos e assim, ser parte de um só
coração.

FIM

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Outros livros da série

O que sobrou da sua paixão - a história de Daniel


Lourenzinni e Sophie Moraes;
O que sobrou do nosso passado – a história de Ricardo
Gutterman e Carla Gutterman;
O que sobrou da sua atração – a história de Pedro Soares e
Paloma “Lola” Venny;
O que sobrou do nosso desejo – a história de Gustavo Di
Lucca e Marta Sousa;
O que sobrou de nós dois - a história de Leonardo Amorim e
Lilian Oliveiro;
O que sobrou daquela noite (bônus) – a história de Matheus
Lourenzinni e Clara Moreira.

Em breve!

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Anexo I

[1] Tradução do inglês para o português brasileiro: Olá;


[2] Meg Cabot é uma escritora mundialmente famosa por ser
autora de mais de 70 livros, dentre os quais seu maior bestseller é a série
de onze volumes O Diário da Princesa.
[3] Passagem do livro Querido John, escrito por Nicholas Sparks;
[4] Querido John é um livro que foi publicado em 30 de outubro
de 2006 pelo escritor Nicholas Sparks;
[5] Passagem do livro O casamento, escrito por Nicholas Sparks.
[6] Tradução do italiano para o português brasileiro: Minha bela.
[7] Passagem do livro A escolha, escrito por Nicholas Sparks.

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Outras obras

O homem que não amei – Trilogia Soares – Livro 1


Sinopse
Um casamento baseado em um acordo e um passado não revelado.
Victória Fontana passou por cima de tudo por um único e
exclusivo amor, sua filha Luna. Chegando a ponto de conviver sob o
mesmo teto que o homem que mais repudia, o qual a traiu inúmeras vezes
e trocou míseras palavras com ela durante os vinte anos de casados.
Porém, o tempo passa e agora sua filha irá se casar. Essa seria finalmente
a liberdade que Victória sempre sonhou, no auge dos seus quarenta anos,
tudo o que deseja é encontrar um verdadeiro amor e se afastar de vez do
atual marido.
Caleb Soares é um homem reservado e completamente fechado.
Ele guarda segredos que envolvem não só seu passado, mas de toda sua
família. Sua prioridade sempre se baseou em cuidar de sua filha, e em
hipótese alguma revelar algo a Victória. Vinte anos vivendo ao lado da
mulher que ama, não foram o suficiente para ele se declarar... Um erro do
passado fez com que Caleb trancafiasse seu amor e deixasse com que ela
o odiasse. Quando Victória pede o divórcio, ele finalmente se dá conta de
que seu amor por ela, não passou com o tempo.

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Será ele capaz de abrir seu coração?


Será ela capaz de acreditar em seus sentimentos?
Caleb tem uma chance de conquistar sua esposa, e caso não
consiga, a perderá para sempre.
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A mulher que amei – Trilogia Soares – Livro 2

Sinopse
Castiel Soares ao contrário do que muitos pensam sempre foi o
mais centrado e obediente dos irmãos. Cometeu erros como qualquer ser
humano e alguns deles atormentavam seu sono... Até conhecê-la.
Danielle Campos sofreu uma grande perda no passado que
transformou sua vida completamente. E mesmo com a dor que sentia
nunca deixou nenhum sentimento ruim a corroer... Até conhecê-lo.
Ele pensou que ela seria sua salvação.
Ela quer de todas as formas sua destruição.
Um sentimento arrebatador entre a linha tênue do amor e do ódio.
Qual falará mais alto?

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Até a próxima!

Beijos e unicórnios

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