Você está na página 1de 11

1 - Administração:

conceitos e princípios
1.Administração: conceitos e princípios

Há uma discussão entre autores da área sobre a sua concepção da


Administração enquanto Ciência, profissão ou habilidade prática.
Frederick Taylor a abordou como ciência através da sua obra
“Princípios da administração científica”, que data de 1911. No ano
seguinte, Harrington Emerson também a tratou como ciência ao
lançar o livro “The twelve principles of efficiency” (Os doze princípios
da eficiência). Fayol seguiu a mesma linha ao criar os 14 princípios
para a administração. Ainda assim, é consenso que “o administrador
desempenha um trabalho intelectual, pautado por diversas regras
(jurídicas, mercadológicas, sociais, éticas etc.)” (MATTAR NETO,
2010).

Os tópicos seguintes se debruçam sobre aspectos conceituais


relevantes para a área, habilidades e competências de um bom
administrador, assim como os princípios gerais e funções
administrativas.

1.1. Conceito e contexto


A Administração existiu desde os primórdios, quando o ser humano
precisava sobreviver e, por meio da ação em grupo, conquistava
alimento, enfrentava condições climáticas adversas e superava
ameaças à sua segurança. Conforme destaca Guerrini (2016), já
ocorria a “condução das pessoas a um objetivo em comum”. Esse foi
um dos primeiros conceitos que a palavra Administração recebeu.
Vale ressaltar que a existência do administrador precede a criação da
própria teoria da administração.

Mas foi apenas no final do século XIX que a Administração passou a


ser estudada de forma sistemática. O motivo foi o desenvolvimento
de um esquema social cuja coesão era mantida por leis e normas, no
qual as coisas funcionam por conta própria, independentemente de
quem está no comando. Esse esquema consiste na Burocracia e,
embora essa palavra já tenha sido considerado um sinônimo de
organização, hoje fala-se em organização burocrática. Logo, a partir
desse momento da história, a Administração foi tida como moderna e
o seu crescimento foi resultado da expansão da organização
burocrática da sociedade (GUERRINI, 2016).

Antes da organização burocrática havia a organização tradicional, na


qual prevalecia os trabalhos artesanais, anteriores a Revolução
Industrial. A teoria administrativa surgiu ao longo dos estudos da
racionalização do trabalho e das relações humanas nas empresas
industriais. Reuniu contribuições de ilustres figuras, como Frederick
W. Taylor, Frank e Lilian Gilbreth, Henri Fayol e Elton Mayo
(GUERRINI, 2016).
Um fato curioso sobre os primeiros teóricos da administração é a sua
inspiração na relação dos exércitos e nas guerras.  Frank e Lilian
Gilbreth, por exemplo, auxiliaram o exército americano durante a
Primeira Guerra Mundial. Henri Fayol também difundiu as suas ideias
no exército da França. Desse modo, a organização militar foi o
primeiro modelo no qual se espelharam os administradores de
empresas (MATTAR NETO, 2010).

Gerald R. Griffin explica no livro intitulado “Maquiavel na


administração” que as ideias políticas de Maquiavel podiam ser
aplicadas às organizações empresariais do século XX. Ele comparou
a atividade administrativa com a guerra, em trechos como:

[...] As lutas e as guerras de vida e morte que


ocorriam nos campos de batalha agora são
travadas nas salas de reunião de diretoria.
Os capitães de cavalaria foram substituídos
por capitães da indústria. As decisões dos
generais não são a respeito de tomar colinas
e vales, mas sobre a conquista de novos
mercados; não são decisões sobre o
tratamento a ser dispensado aos prisioneiros
de guerra, mas sobre como tratar as
pessoas afetadas pela compra de uma
empresa (GRIFFIN, 1996, p.30).

 
O administrador é o responsável pela articulação, coordenação,
liderança e motivação do grupo de pessoas pelo qual é responsável,
a fim de atingir um determinado objetivo, assim como um
comandante. Ou seja, sua função é traçar a estratégia para atingir o
objetivo. As mesmas competências necessárias para conduzir tropas
até Roma eram vistas como requeridas para conduzir uma empresa
multinacional (GUERRINI, 2016; GRIFFIN, 1996).

1.2. Organização e Administração

As Organizações atendem a um propósito, em torno do qual se


estabelecem vários objetivos compartilhados entre seus membros.
As atividades laborais visam alcançar esses objetivos e o propósito
consiste na razão das Organizações existirem. Vale ressaltar que as
Organizações possuem uma estrutura, a partir da qual distribuem-
se os papéis e as responsabilidades de cada pessoa, ou seja, a
divisão do trabalho, incluindo as relações de autoridade (SOBRAL,
2013).

Para explicar o conceito de Organização, Guerrini (2016) faz um


paralelo com o funcionamento com uma orquestra sinfônica,
conforme esquema abaixo.

Esquema 1 – Entendendo a estrutura de uma Organização pela


análise de uma orquestra sinfônica.
As empresas correspondem a um tipo específico de Organização,
com foco voltado para os lucros, que remuneram os seus acionistas
e são aplicados para a sua autossustentação. Elas são direcionadas
pelas lógica das leis de mercado e sofrem influência das variáveis
ambientais. Para além do aspecto econômico que distingue o
“produto” do “cliente”, as empresas tem um papel jurídico. Logo, não
se preocupam apenas com os seus investidores, mas com uma rede
formada pelos clientes, funcionários, administradores, fornecedores e
o próprio Estado (SOBRAL, 2013).

Conforme previamente comentado ao estabelecer o contexto


histórico de desenvolvimento da administração, existe um tipo de
Organização específico que é a burocrática. Sua principal
característica é o fato de ser uma empresa de cunho industrial
(GUERRINI, 2016).
Podemos considerar que vivemos numa “sociedade de
organizações”, pois a produção de bens e o fornecimento de serviços
dos vários setores são planejados, criados, dirigidos, executados e
regulados por organizações. Ou seja, os cidadãos dependem das
organizações e estas, por sua vez, dependem dos seus
trabalhadores, que empenham-se para a concretização das
atividades, e dos seus recursos, sejam eles materiais, físicos,
financeiros, tecnológicos (CHIAVENATO, 2020). 

1.3. Habilidades e competências do administrador

Diante de uma gama de novas possibilidades proporcionadas pelos


avanços em tecnologia, na velocidade do fluxo de informações e no
conhecimento da atualidade; a modernização da Administração
intensificou-se, visando atender às demandas de um mundo mais
dinâmico. As organizações crescem em ritmo exponencial e não
linear, como antigamente. Com isso, as mudanças tem ocorrido de
forma rápida, exigindo do administrador novas competências e
habilidades (CHIAVENATO, 2020). 

Nesse sentido, Chiavenato (2020) estabelece que o sucesso do


administrador é definido pela combinação de habilidades em três
vertentes: técnicas, humanas e conceituais. As habilidades técnicas
estão associadas com o “fazer” durante a execução do método de
trabalho, com auxílio de ferramentas materiais ou tecnológicas. As
habilidades humanas, por sua vez, contemplam as relações de
trabalho e as capacidades de comunicação, motivação, liderança,
assim como a resolução de conflitos durante o relacionamento
interpessoal. As habilidades conceituais englobam as habilidades
cognitivas que conduzem à análise, ao raciocínio e ao diagnóstico
das situações, a partir dos conceitos e modelos administrativos. Além
disso, conduzem ao desenvolvimento de solução para os problemas
e ao uso de estratégias para atingir objetivos e usufruir de
oportunidades.

Essas habilidades, por si só, não são suficientes para que a ação do
administrador seja assertiva. São requeridas também competências,
as quais advém do fato de deter as habilidades e utilizá-las para
resolver problemas e encontrar soluções inovadoras. Adicionalmente,
essas competências devem ser duráveis, permanecendo mesmo em
tempos de mudanças rápidas, como os atuais (CHIAVENATO,
2020).    

A primeira competência importante é o conhecimento, que


corresponde ao saber adquirido e compartilhado. O conhecimento
nunca cessa, visto que precisa ser continuamente renovado e
aperfeiçoado, agregando experiência ao administrador. A segunda é
a habilidade, no sentido de pôr o conhecimento em prática,
traduzindo teorias e ideias abstratas em ações e decisões. A terceira
é o julgamento, que consiste em avaliar as situações com olhar
crítico, ponderando e julgando os fatos com base nas prioridades. A
quarta competência é a atitude, o “saber fazer acontecer”, ou seja, é
ter uma postura empreendedora e que não se conforma com pouco,
assumindo riscos, lidando com os desafios e levando os liderados a
alcançar resultados (CHIAVENATO, 2020).
Como cada administrador precisa atender aos aspectos únicos da
sua Organização, realiza diagnósticos continuamente, que o
permitirão definir estratégias para alcançar os objetivos, planejar a
execução das mesmas, e controlar os resultados. O intuito do
administrador é elevar a competitividade da Organização e agregar
valor ao negócio (CHIAVENATO, 2020).

1.4. Princípios gerais da Administração

Fayol definiu um conjunto de princípios nos quais a Administração se


alicerça, fazendo um compilado sistematizado dos princípios
discutidos por diferentes autores da área. Assim, surgiram os 14
princípios gerais da Administração, que são universais e flexíveis,
visto que na Administração dinamicidade e adaptabilidade temporal
são aspectos importantes. A seguir são listados tais princípios, em
conformidade com Chiavenato (2020).

 Divisão do trabalho: Especialização das tarefas através da


diferenciação entre os papéis das pessoas. Na Teoria Clássica essa
divisão abarca os departamentos, as divisões e as seções que
formam a Organização. Ocorre de forma vertical, com a delimitação
dos níveis hierárquicos de autoridade e responsabilidade; e
horizontal, através da distribuição de funções e atividades específicas
dentro de um mesmo nível hierárquico.

 Autoridade e responsabilidade: Na prática a autoridade é o poder


de tomar decisões e repassar ordens esperando ser atendido. Há
dois tipos de autoridade, a de linha, exercida pelos gerentes sobre os
seus subordinados diretos; e a staff, atribuída a especialistas ao
atuarem dando conselhos, orientações e recomendações aos
gerentes na sua área de expertise. A responsabilidade é uma
consequência da autoridade, visto que o que é decidido tem um
efeito futuro, gerando uma necessidade de prestação de contas.

 Disciplina: Esforços direcionados, energia aplicada, comportamento


dedicado ao cumprimento das ordens e dos acordos estabelecidos.

 Unidade de comando: Cada funcionário recebe ordens e


solicitações de um único superior.

 Unidade de direção: Todas as atividades de uma empresa tem o


mesmo objetivo, de modo que os colaboradores atuam alinhados,
em busca do mesmo.

 Subordinação dos interesses individuais aos gerais: os


interesses gerais da empresa são mais importantes e precisam
prevalecer sob os interesses individuais, tendo em vista um objetivo
maior.

 Remuneração do pessoal: os funcionários devem receber uma


retribuição financeira justa, que satisfaça ao mesmo tempo a sua
necessidade e a condição da empresa.

 Centralização: o líder concentra a autoridade no topo da hierarquia


da Organização, embora possa delegar e dividir com grupos, a fim de
que possam executar papéis de forma adequada.
 Cadeia escalar: Linha de autoridade que parte de um escalão mais
alto e vai sendo distribuída pelos que estão abaixo, tendo em vista a
o princípio da unidade de comando.

 Ordem: implica em ter “um lugar para cada coisa, e cada coisa em
seu lugar” (CHIAVENATO, 2020, p. 52). Ou seja, as pessoas têm o
seu espaço dentro da Organização, a fim de garantir que as
atividades tenham o andamento desejado.

 Equidade: Inspiração gerada pela devoção dos líderes a empresa,


incentivando a lealdade dos demais funcionários.

 Estabilidade do pessoal: manutenção dos colaboradores, evitando


ao máximo a rotatividade de pessoal.

 Iniciativa: Estabelecimento e execução de planos por cada


colaborador, visando o sucesso da empresa.

 Espírito de equipe: “a harmonia e a união entre as pessoas são


grandes forças para a organização” (CHIAVENATO, 2020, p. 52).
 

Atividade extra

Assista ao filme “O Discurso do Rei”, que conta a história de um


príncipe George VI que deve ascender ao trono e tornar-se rei da
Inglaterra, mas que sofre de um problema de gagueira que o impede
de realizar seus discursos corretamente. Esse filme demonstra que
um líder pode enfrentar desafios que o tirem da sua zona de conforto,
daí a importância de empenhar habilidades e competências para
buscar a solução.

Referências Bibliográficas

CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração: uma


visão abrangente da moderna administração das organizações. 10.
ed. São Paulo: Atlas, 2020.

GUERRINI, F. M.; ESCRIVÃO FILHO, E.; ROSSIM,


D. Administração para engenheiros. 1. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2016.

GRIFFIN, Gerald R. Maquiavel na administração: como jogar e


ganhar o jogo do poder na empresa. São Paulo: Atlas, 1996.

MATTAR NETO, J. A. Filosofia e ética na administração. 2 ed. São


Paulo: Saraiva, 2010.

SOBRAL, F.; PECI, A. Administração: teoria e prática no contexto


brasileiro. 2 ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013.

Você também pode gostar