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Meu Conselheiro
De Luz
MILA WANDER
Edição Digital
2016
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS
Índice
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Agradecimentos
Biografia
PERIGOSAS ACHERON
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PERIGOSAS NACIONAIS
Para Lívia,
Minha querida irmã e primeira leitora.
Obrigada por não me deixar desistir.
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Prólogo
A mentira
mau humor.
O orgulho que me cegava fazia com que eu
me considerasse muito especial. Quer saber de uma
coisa? Eu gostava de ser referência. Algumas
pessoas ao meu redor tinham consciência disso,
outras nem tanto, porém todas elas compactuavam
para que aquele sentimento continuasse inabalável
dentro de minhas concepções. Sendo assim,
utilizava todo o poder que me era fornecido de
acordo com minhas vontades. Devo confessar que
nem sempre elas eram nobres. A maioria provinha
de atos egoístas e mesquinhos.
A morte, para mim, era inalcançável. Não
que eu não pudesse alcançá-la, já que a vida me
mostrava que nada estava fora do meu alcance,
muito pelo contrário, acreditava que ela não teria a
coragem, ou a insensatez, de me encontrar.
Principalmente tão cedo. Eu estava enganada,
muito enganada.
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Capítulo 1
O aviso
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Capítulo 2
O susto
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Capítulo 3
O despertar
para você.
— O... O que aconteceu com ele?
— Você terá que voltar para a Terra como
desencarnada. — Leonardo ignorou a minha
pergunta. Parou diante de mim, e mal contive um
suspiro. Poucas vezes tinha visto um homem tão
gato, alguém como ele só existia em revistas e
filmes.
Olhei para todos os presentes. Os três
pareciam bem sérios. Apenas Magnólia mantinha
uma seriedade aflita, como que preocupada de
verdade comigo.
— Voltar para a Terra? Mas... Como? Vocês
dizem que morri, e agora que devo voltar? Que tipo
de pegadinha é essa? Não tem graça! — Procurei
por alguma câmera escondida nas extremidades da
sala. Sem dúvida aquilo era alguma pegadinha que
colocariam no Youtube depois.
— É a mais pura verdade, Rafaela, e você
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minha responsabilidade.
Leonardo se afastou, infelizmente, erguendo-
se para observar Magnólia.
— Eu também não, você sabe como as coisas
andam um tanto complicadas... — Ele parou de
sorrir, dando lugar a um olhar vazio. — Mas
Severino me informou que este caso devia ser meu.
— Não creio que seja muito apropriado... —
A mulher permaneceu bem desconfiada, e eu ainda
tentava entender do que aquela gente estava
falando.
— Confie, Magnólia. Este caso é de
Leonardo — Severino interrompeu o debate.
Aquele bando de gente doida só fazia me
confundir. Cheguei à conclusão de que eu estava
sonhando ou tendo um pesadelo muito ruim.
Magnólia olhou para Severino
demoradamente, e ele apenas devolveu o olhar sem
nada a declarar. Vinda de lugar algum, uma forte
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Capítulo 4
O regresso
consolo.
— Meu Deus... Me ajuda — murmurei entre
prantos, olhando para o céu que estava
extremamente azul. Era um dia particularmente
bonito, mas eu não fazia mais parte dele. A beleza
daquele dia não servia para mim. Serviria para os
vivos, somente.
Acredito que passei um tempão naquele
banco, sem saber para onde ir, o que fazer ou que
pensar. Minhas lágrimas estavam prestes a secar.
Dava para sentir pelo modo como meus olhos
doíam e a cabeça latejava. Mesmo que as árvores
estivessem exalando um cheiro agradável e a brisa
da manhã estivesse batendo suave e morna em
minha pele, não conseguia me sentir bem.
Como poderia me sentir bem? Eu estava
morta.
— Rafaela? — Escutei uma voz suave muito
próxima a mim.
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mãos.
— Me solta, garoto! — Eu me desvencilhei,
assustada e bastante irritada com aquelas sensações
boas. Não queria aquele Conselheiro maravilhoso
pegando em mim à toa. Já era difícil ter raiva dele
com aquele sorriso, e ele ainda queria ficar me
pegando?
Nem pensar.
— Tudo bem, Rafaela. Eu te deixarei à
vontade. — Leonardo soltou um pesaroso suspiro.
— Só peço que siga seus instintos e encontre a
pessoa que você deve guiar. Seu papel é muito
importante aqui. Se falhar, as consequências serão
devastadoras tanto para você quando para ela.
— Quem é essa pessoa? — Fiz uma careta
enorme. Eu não estava nem um pouco a fim de
procurar por ninguém, muito menos para ajudá-la a
fazer sei lá o quê.
— Terá que descobrir sozinha. — Leonardo
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Capítulo 5
O resgate
sentido.
— Como assim? — Observei cada objeto que
estava numa prateleira muito organizada, e que
parecia ter sido limpa recentemente, pela ausência
de poeira.
Tinha um porta-retrato prateado em cima de
um móvel onde descansava o computador. Conferi
a fotografia de um rapaz lindo trajando roupas de
formatura. Leonardo. Ele sorria amplamente,
porém aquele sorriso não tinha nem um por cento
do encanto que emanava do atual Conselheiro de
Luz. Que estranho!
— Este quarto era meu, mas hoje não
pertence a ninguém. Minha mãe o mantém assim
desde que morri. — Seu olhar agora parecia muito
distante. — Ninguém vem aqui, ela está tentando
evitar. Limpa uma vez a cada quinze dias e só.
Você ficará segura por enquanto.
Andei um pouco mais pelo cômodo, e vi a
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uma vez!
— Dormir? Você não vai dormir, apenas
descansar. A gente não dorme.
— Não dorme? Mas estou com sono... — Eu
me espreguicei só para confirmar aquela
informação. — E com muita fome. Nossa, estou
faminta! — Meu estômago revirou.
Leonardo continuou sorrindo.
— Você não está com fome, apenas pensa
que está. Não precisamos comer. — Ele se inclinou
e falou bem perto do meu rosto: — Agora,
descanse.
Eu tinha prendido a minha respiração, mas
soltei de uma só vez.
— Não quero que você vá. — Pisquei os
meus olhos umas trezentas vezes. Confesso que lhe
ofereci o meu olhar fulminante paquerador.
Nenhum cara resistia a ele. Toda vez que eu olhava
para alguém daquela forma, conseguia exatamente
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o que queria.
Leonardo apenas me olhou demoradamente.
Seu sorriso apagou por tanto tempo que tive medo
de tê-lo magoado de alguma forma. Ele parecia ler
cada palavrinha que estava escrita no livro da
minha mente. Não tive coragem de desviar o olhar,
embora estivesse tão constrangida que quase não
consegui permanecer encarando-o.
Uma paquera tinha regras muito simples. Eu
apenas encarava e pronto, o cara já ficava caidinho.
Era natural para mim encarar um rapaz sem outras
intenções e fazê-lo se apaixonar. Poucos eram os
que eu correspondia de verdade. Sempre fui a
garota que encarava firmemente e não a que era
encarada e virava o rosto. Foi exatamente aquilo
que Leonardo fez. Ele ficou me observando,
esperando para ver se eu me mantinha firme ou
não.
Quando eu já não sabia mais o que fazer com
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Salão de Viagens.
— Você viverá em um mundo que é o oposto
daquilo. — Leonardo fez uma pausa dramática
antes de prosseguir: — Terá que entender cada um
dos erros que cometeu de uma forma ainda mais
difícil. Neste outro mundo, nem eu, nem Magnólia
e nenhum outro Conselheiro tem permissão para te
ajudar.
Meu queixo deve ter caído, pois não consegui
reagir àquelas novas informações.
— Não quero que nada te desconcentre de
seu objetivo — continuou Leonardo, ainda muito
sério. — Irei te ajudar com o maior prazer do
mundo, desde que você se concentre na missão e
nos ensinamentos que te passarei. Você promete?
Soltei um longo suspiro. Tive medo de tudo,
inclusive de mim mesma.
— Eu prometo. — Abracei meu próprio
corpo.
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cima de mim?
— Ótimo. Agora, descanse. Ficarei sentado
naquela poltrona — apontou para o canto do
quarto. — Se precisar, me chame.
De fato, as horas de descanso me fizeram
muito bem. Senti-me sonolenta o tempo todo, mas
realmente não consegui dormir. A fome tinha
passado, e eu já me sentia bem mais disposta.
Fiquei impressionada, pois descansei apenas umas
três horas e já me sentia revigorada, como se
tivesse dormido durante dez horas.
— Acho que já estou melhor.
Leonardo ainda estava sentado na poltrona
que parecia superconfortável. No princípio achei
que ele tivesse dormido, pois seus olhos estavam
fechados, mas assim que falei, ele os abriu de
prontidão. Não pude deixar de admirar toda a sua
beleza. A luz que o envolvia estava mais brilhante
do que de costume. Seus cachinhos de anjo estavam
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vez, mas...
— Não sei exatamente o que você fez,
Rafaela, mas alguém lá em cima não está nada
satisfeito contigo.
Eu o observei por algum tempo, até que
balancei a cabeça, revoltadíssima.
— Não mereço isso. Eu devia estar no céu ou
naquele lugar onde acordei. Ali é o céu?
Leonardo sorriu. Como conseguia? Minha
revolta aumentou consideravelmente.
— É e não é. Existem vários mundos, uns são
bons de viver e outros são ruins. O que importa é
que as pessoas só estão em um mundo, seja ele qual
for, quando realmente merecem estar.
— Ah, é? E quem decide isso? — Cruzei os
braços na frente do meu corpo.
— Tem coisas que as pessoas não conseguem
escolher com justiça. Mas de uma maneira ou de
outra, sempre existe uma forma para que ela seja
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feita.
Fiz uma careta. Não entendi aquela resposta.
— Tá, não importa, o que eu devo fazer? —
Joguei as mãos pelos ares, já impaciente. — Você e
Magnólia mencionaram uma pessoa a quem devo
ajudar. É algum doente ou idoso, ou algo do tipo?
— Eu estava com pressa e aquela ladainha
demorava muito. Se eu tinha que cumprir com
dever social, que fosse logo de uma vez.
— Você deve descobrir sozinha. Como eu
disse mais cedo, seus instintos te guiarão até a sua
tarefa. E quando descobrir, deve abraçá-la com
responsabilidade.
Leonardo se levantou da cama e passou a
andar pelo quarto.
— Senti umas coisas esquisitas quando me
aproximei de uma casa. Como se fosse algo me
mandando entrar, mas ignorei o instinto por pura
teimosia. Desculpa. — Olhei para baixo, sentindo
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naquilo?
Leonardo deu de ombros.
— Acho que podem, se houver amor
verdadeiro entre as duas partes.
Percebi que ele ficou meio envergonhado.
Resolvi mudar de assunto. Pena que ele não tinha
respondido à minha primeira pergunta.
— Vou começar de uma vez.
Atravessei a parede do quarto onde havia a
janela. Dei de cara com uma rua bonita,
provavelmente de um bairro de classe média.
— Rafaela, terei de te deixar sozinha nessa
busca. — Leonardo me seguiu e segurou minha
mão para que eu o esperasse. — Mas não se
preocupe, se precisar, estarei à disposição.
Não pude retrucar, pois Leonardo
simplesmente sumiu. Em um momento ele estava
ali, pegando em minha mão, e no outro já tinha
evaporado como fumaça. Eu tinha que aprender
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Era ela.
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Capítulo 6
O pesadelo
pareceu admirado.
— Sim, mas não posso ajudá-la. Ela não
quer, e muito menos eu.
Leonardo fez uma expressão confusa.
— Ela não quer?
— O nome dela é Carla, a garota mais
esquisita da escola. Eu a detesto!
— Rafaela... Como ela pode não querer a sua
ajuda se não sabe que será ajudada? — Ele se
sentou ao meu lado na cama.
— Ah, esqueci de dizer! Ela consegue me
ver, Leonardo! Foi horripilante!
Achei que ele ficaria absolutamente surpreso
com aquela informação, mas apenas aquiesceu,
compreensivo. Logo em seguida, fez uma careta tão
grande que sua testa ganhou algumas dobrinhas.
— Ela pode te ver? — Sua voz mal saiu, foi
como se ele tivesse perguntando a si mesmo, não a
mim.
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Capítulo 7
A comprovação
Rafaela Satto
14/12/1993 – 07/12/2011
Que Deus tenha sua Juventude e Alegria
Eu estava morta.
Repeti aquelas palavras várias vezes, em voz
alta e mentalmente. Precisava absorver aquilo.
Meus olhos ficaram cada vez mais marejados. De
certa forma, chegar até a minha lápide já não
significava muito depois que vi tanta gente morta
em um único recinto. Então, tive certeza de que eu
só podia estar mortinha da Silva. A lápide foi só
uma comprovação oficial.
As lágrimas tardaram, mas vieram. Por mais
que eu pensasse que elas tinham secado na noite
anterior, caíram fartas sobre minhas bochechas e
escorreram até a gola do meu vestido rosa. Eu
estava morta.
Às vezes eu gritava dentro da minha própria
cabeça, a ponto de me sentir quase explodindo de
angústia, às vezes apenas soluçava, cansada de
tanta dor, entregando-me totalmente a ela.
Depois do que me pareceu uma eternidade
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Capítulo 8
O plano
ou se retornaria.
Seria um plano maravilhoso se o ponto de
partida não fosse ajudar aquele traste anormal. Mas
tudo tinha suas vantagens e desvantagens, pelo
menos encontrei algo com que sempre soube lidar:
desafios. Seria um desafio e tanto me aproximar
daquela louca, mas estava disposta a encarar a
parada de frente. Afinal de contas, eu mataria dois
coelhos com um só golpe, visto que tanto salvaria a
minha alma e finalmente iria para o céu, como
também teria Leonardo para mim.
Perfeito!
Não consegui disfarçar o sorriso ao traçar
meus novos objetivos. Ninguém podia me ver,
então aproveitei para gargalhar sem nenhum pudor.
Meu plano era tão genial! Eu finalmente sabia para
onde ir, e, o que era mais importante, por onde
começaria. Quanto mais rápido ajudasse aquela
idiota, mais rápido teria a chance de viver no
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ensinamentos.
— Como posso ir aos lugares sem caminhar?
— Eu estava supercuriosa para saber aquilo, já que
eu havia deduzido sozinha como se pegava em
objetos. Quero dizer, consegui pegar aquela revista
na noite passada.
— Se chama desmaterialização e
materialização. Tudo é questão de concentração e
pensamento. Se você se concentrar no local que
deseja ir... — Victor parou abruptamente.
Ele olhou para um ponto logo atrás de mim,
com ar de superioridade e, ao mesmo tempo, de
surpresa. Seus olhos faiscaram desprezo por alguns
segundos. Eu me virei para saber o que Victor
estava olhando e quase não acreditei que Leonardo
estava presente naquela praça. O Conselheiro
permaneceu muito sério, e parecia bastante
aborrecido, mas a visão daqueles olhos escuros
simplesmente me deixou louca.
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Capítulo 9
O ferimento
cor preta.
Alguém, por favor, me lembra de passar no
shopping para comprar roupas claras para aquela
criatura?
— Estou falando contigo!
Não aceitava ser ignorada daquele jeito, já
bastava Leonardo me deixar sem respostas, agora
teria que aguentar aquela infeliz?
— Sim, eu sabia. — Sua voz saiu baixinha e
meio rouca. Ela parou bruscamente de arrumar o
material, logo em seguida prosseguiu com a tarefa.
— Como sabia? Como você sabia disso? —
Eu mal podia acreditar. Se Carla sabia da minha
morte, significava que poderia ter impedido. Mas
ela não impediu. Tanto não impediu quanto
também me ameaçou.
O ódio subiu ao meu cérebro, fazendo com
que minha cabeça ficasse bem quente, quase
entrando em ebulição. Dava até para sentir fumaças
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Capítulo 10
A escola
seu auge.
Caminhei pelo corredor principal, que estava
completamente vazio naquele horário. Os ruídos
característicos de professores mediando suas aulas
se faziam ouvir toda vez que eu passava em frente a
uma porta. Senti saudade de assistir aula em minha
carteira, e também de trocar bilhetinhos com
Daniele. Claro que aquele sentimento não durou
muito, principalmente depois que me lembrei de
como eram as aulas do professor de Matemática.
De fato, as aulas dele não dariam saudades em
ninguém.
Entre uma sala de aula e outra, existiam
vários metros de parede com azulejos brancos, e foi
em uma delas que vi um cartaz perturbador. Ele era
grande, feito de cartolina colorida, mas o que me
chamou mais atenção foi o retrato estampado nele.
A fotografia era de uma garota loira e muito bem
maquiada, trajando fardas escolares e sorrindo
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“Rafaela Satto”
chão timidamente.
— Você está certa. — Suspirei de um jeito
cansado, carregado de ressentimento e culpa. —
Está absolutamente certa, não se preocupe.
Fui invadida por uma vontade absurda de
sumir daquele lugar. Eu queria ir embora, estar em
qualquer outro canto, menos ali. No meu quarto,
talvez. Precisava parar para refletir. Não dava para
continuar vivendo (se é que podia chamar a pós-
morte de vida) daquela forma esquisita. Era
informação demais para minha mente.
Como se meu desejo fosse ordem e mágicas
fossem possíveis, senti todo meu corpo formigar e
desaparecer aos poucos. A última coisa que vi foi a
expressão curiosa de Carla ao me observar. Logo
em seguida, eu estava exatamente onde queria: no
conforto e segurança do meu quarto.
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Capítulo 11
O intruso
certa força.
Sua atitude me deixou irritada, mas eu meio
que gostei, por menos sentido que faça. Uma onda
de calor invadiu meus sentidos por causa da
presença muito próxima daqueles olhos
maravilhosos. Não pude deixar de perceber o
contorno perfeito de sua boca, nem de desejar um
beijo e muito menos de morrer de vontade de sentir
a textura daquela pele. Seu hálito quente acabou
com o restante de minhas defesas quando ele
sussurrou em meu ouvido com o que achei que
fosse seu jeito mais sexy:
— Não finja que nada sentiu quando nos
vimos mais cedo. — A voz ganhou certa
rouquidão, o que pude identificar como... paixão?
— Sei que sentiu.
— Do que... Do que você está falando? —
Como eu podia pensar em alguma coisa? Era
impossível pensar!
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direto:
— Victor era uma alma perdida, assim como
você. Ele não sabia de muita coisa sobre estar
morto. — Leonardo colocou as mãos para trás a
fim de apoiar o corpo no colchão. — Fui designado
para ajudá-lo, só que não deu muito certo.
— Não deu certo? Por quê? — Eu o encarei,
meio confusa.
— Más companhias, pensamentos ruins, falta
de fé... Victor passou a caminhar ao lado de almas
perdidas que tinham outras opiniões, distantes do
caminho da Luz, até que eu não pude mais alcançá-
lo. Ele se tornou o que chamamos de desgarrado.
— Leonardo manteve um olhar vago ao dizer
aquilo. Dava para notar que a história de Victor o
entristecia. — Não posso fazer mais nada até que
ele mude de ideia. Infelizmente, terá que aprender
sozinho.
— Humm...
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Capítulo 12
A lua
birrenta.
Leonardo ignorou a minha irritação.
— É aqui que as pessoas passam por
inúmeras provas e sofrimentos necessários para a
evolução. — Ele umedeceu os lábios com cuidado,
e acredito que nunca senti tanta vontade de beijar
alguém quanto naquele instante. — Sair daqui só
depende de você.
Balancei a cabeça para espantar meus
pensamentos malucos, que sempre vinham fora de
hora. Estávamos no meio de uma conversa
importante. Eu não podia pensar em beijos. De jeito
nenhum.
— Já comecei a fazer o que deve ser feito
— falei secamente.
— Eu sei. Um grande passo foi dado. —
Leonardo virou o rosto e finalmente me encarou.
Havia duas luzes brilhantes em seus olhos
castanhos. Ele nunca me pareceu tão bonito. —
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valer.
— Calma, Rafa. — Ele me chamou de
Rafa? Meu Deus do céu! — Vem cá... — Leonardo
se sentou também e me abraçou, fazendo-me
encostar a cabeça em seus braços largos. Claro que
adorei aquele gesto, nunca estive tão próxima dele.
Dava para sentir a sua aura luminosa se encostando
à minha e fornecendo um calor agradável, uma paz
profunda. — Isso vai passar, acredite em mim. É
uma necessidade de seu corpo que já se foi, sua
alma não precisa de comida. Você, seu espírito, se
alimenta de outras coisas.
— Do que eu me alimento, afinal?
Não me culpe, eu estava desesperada. Qual
é, se Leonardo sabia do que eu me alimentava, por
que não me dava logo ou pelo menos me dizia o
que era? Aquilo era a mesma coisa de ter um
bichinho de estimação e não saber o que ele comia.
No caso, o bichinho era o meu estômago.
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morri:
— Eu não sou uma pessoa boa.
Senti Leonardo enrijecendo. Ele ficou em
silêncio por algum tempo, até que resolveu abrir a
boca.
— Claro que é.
— É sério, não sou. — Eu me afastei para
encará-lo. — Tratei muita gente mal. Humilhei as
pessoas, só pensei em mim o tempo todo. Eu ainda
penso só em mim. Não mudei muita coisa.
Ele devia ter percebido que eu não estava
brincando e nem fazendo birra com aquele
comentário, pois de repente segurou o meu queixo,
obrigando-me a observá-lo.
— Eu sou um Conselheiro de Luz, certo? —
Aquiesci. — Também tenho alguns “poderes”,
como você chama. Um deles é sentir o que as
pessoas têm por dentro. Você não é má, muito pelo
contrário. Só ainda não descobriu o quanto pode ser
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Capítulo 13
O beijo
sanidade.
Foi aí que entrou a língua.
Tudo bem, eu sabia que a língua não era uma
boa ideia, mas fazê-lo reagir se tornou uma
necessidade fisiológica. Em um ato de pura
coragem, abri seus lábios utilizando os meus e
finalmente deixei minha língua entrar na história.
Leonardo reagiu tão depressa que não deu tempo
para raciocinar. Ao se dar conta de que eu estava
praticamente em cima dele, ouvi um arquejo alto e
senti, pela primeira vez desde que comecei a beijá-
lo, suas mãos na minha pele.
Leonardo apertou a minha cintura com muita
força. Pensei que me empurraria para bem longe,
mas fez exatamente o contrário, puxou-me contra si
e abriu a boca de vez, dando-me acesso à sua língua
macia e quente. Foi impressionante, mas consegui
sentir a sua aura luminosa me alcançando. Abri os
olhos de soslaio e consegui visualizar aquela luz
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falei.
No entanto, eu não queria lhe dizer mais
nada, muito menos ouvi-lo. Não estava nem um
pouco a fim de receber um sermão ou de perceber o
seu arrependimento. Não queria que Leonardo
dissesse que aquele beijo tinha sido um erro. Nada
nunca me pareceu tão certo. Eu também não queria
me despedir. Quanto mais aquilo demorasse, mais
eu sabia que sofreria.
— Adeus... — Observei-o pela última vez
para logo em seguida fechar os olhos e imaginar o
meu quarto.
Bastou abri-los novamente para que eu
estivesse lá. Deitei na minha cama, praticamente
me jogando. Esperava que Leonardo entendesse
meu recado e tornasse as coisas mais fáceis para o
meu coração. Eu tinha estragado tudo.
Não havia mais ninguém por perto, estava
tudo muito silencioso. Meus pais já tinham ido
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assombrando.
Carla olhou para trás de soslaio, sem
responder ao meu cumprimento. Pude perceber que
seus olhos ainda mantinham uma coloração
estranha ao redor, mas estavam com um aspecto
mais saudável do que no dia anterior. Bom, ainda
era um machucado feio.
— Por que não passa uma maquiagem nisso?
— Eu me aproximei cautelosamente.
— Não tenho maquiagens, nunca gostei
muito.
Foi o que eu tinha imaginado. Um ponto para
mim. Aquela informação me deixou subitamente
feliz, tanto que não pude evitar um sorriso. Eu
estava caminhando na direção certa.
— Suponho que você também só tenha
roupas pretas...
Carla estava usando uma saia preta rendada,
que ia até o chão. Muito bizarra! A camiseta preta
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Cruel e ameaçador.
— Lembro muito bem, como se fosse hoje,
que um dia antes de Rafaela ser subitamente
atropelada e praticamente partida ao meio, você a
ameaçou de morte. — Suas palavras saíram com
uma rispidez que causou nojo.
Contudo, acredito que senti muito mais
horror do que nojo naquele momento,
principalmente depois de ter uma descrição
horrenda de como eu havia morrido. Não sabia que
tipo de ferimentos meu corpo tinha sofrido no
acidente, mas depois do que Daniele disse, decidi
nunca querer saber. De certo modo, meu corpo
físico não era mais útil mesmo. Ele pouco
significava.
Carla permaneceu calada, apenas encarando
Daniele por trás de seus óculos e mantendo seus
livros bem seguros, apertados contra o peito. O
coração dela disparou novamente, eu podia senti-lo
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Capítulo 14
A biblioteca
funeral.
Quero dizer, o que eu diria a Victor depois de
tudo o que aconteceu? Não fazia muito sentido
conversar com ele ou ter qualquer coisa a ver com
ele.
E se tentasse me beijar? Ou pior, se eu o
deixasse tentar me beijar?
Prometi a Leonardo que eu não daria ouvidos
a Victor. Significava que, provavelmente, também
não poderia dar a boca ou qualquer outra parte do
corpo. O meu Conselheiro queria que eu ficasse
bem longe daquele desconhecido, no entanto ele
estava ali na minha frente, mais gostoso do que
nunca, vestindo trajes pretos — como sempre — de
um bom gosto impressionante e deixando um
pouco de sua franja loira cair lindamente em seus
olhos verdes muito profundos.
— Fiquei espantado com sua alegria ao me
ver aqui — Victor falou rispidamente, sentando-se
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ninguém.
— Então, Rafa, estive pensando... Que tal se
eu te levasse para um lugar que sei que vai adorar?
— Abriu um sorriso extremamente tentador. Era
incrível como Victor mexia comigo. Parecia que
me hipnotizava, arrancava minhas vontades e
colocava outras no lugar delas.
Confesso que fiquei bastante confusa, mas,
ainda assim, não pude me deixar levar.
— Não vai dar. Desculpa. — Tentei fazer
cara de paisagem, pegando outro livro qualquer e
fingindo prestar atenção na leitura. Com muita
sorte, ele iria embora.
Uma sorte que eu, obviamente, não tinha.
— Por que não vai dar? — Victor franziu o
cenho, e seus olhos ficaram ainda mais
convidativos. Aquela boca parecia me chamar aos
berros para que eu pulasse em cima dele e o
beijasse.
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Kevin a interrompeu:
— Sra. Satto! Que surpresa em vê-la. — Ele
se aproximou para cumprimentar minha mãe com
um abraço sem jeito. — Como a senhora está? —
Era óbvia a alegria forçada de Kevin em ver
mamãe. Ninguém estava alegre, afinal.
Os olhos do meu ex-namorado piscavam com
força e constância, sinal que eu conhecia de longa
data; significava nervosismo absoluto.
— Tentando superar a perda, querido... —
Mamãe suspirou profundamente. — Não é fácil.
— Entendo. Não é fácil mesmo — respondeu
um Kevin inexpressivo. O clima ficou meio tenso
até que Carla abriu o bico:
— Bom, vou lá, Kevin. Sra. Satto vai me
levar em casa. A gente se vê.
Mamãe saiu do transe em que se encontrava
desde que ganhou o abraço de Kevin. As duas
andaram até as escadas, enquanto meu ex
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Capítulo 15
A revelação
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Capítulo 16
A transformação
muito envergonhada.
— Tudo bem, pai.
— Trouxe o seu jantar. É pizza, sei que você
gosta. — Ele seguiu até a porta. — Você ainda não
comeu, certo?
— Ainda não, vou daqui a pouco.
Ouvi mais um suspiro partindo dele.
— Tudo bem, não se esqueça de comer. —
Parecia realmente preocupado com a integridade
física dela. — Eu te amo, filha.
Carla não o respondeu. A porta finalmente se
fechou, e eu estava completamente de queixo caído
com o que tinha acabado de presenciar. O pai de
Carla não parecia, de forma alguma, uma pessoa
cruel que batia na filha e a humilhava. O que estava
acontecendo, afinal de contas?
— Você deve ter perguntas a fazer. — Carla
se virou na minha direção. Encarou-me de um jeito
decidido. — Mas prefiro não tocar neste assunto.
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cintura.
— Daniele. — Carla me olhou com
seriedade, no mesmo instante em que nossos
estômagos se reviraram de angústia e nojo,
simultaneamente.
Mesmo consciente de que Daniele poderia ser
um grande empecilho em nossas vidas, tentei
convencer Carla a aceitar a proposta irrecusável de
Kevin. Seria perfeito se os dois ficassem juntos.
Sentia que aquela união era algo que eu devia
incentivar, mesmo que me causasse certo ciúme
com relação ao meu ex-namorado. Tudo ainda
soava extremamente esquisito.
No entanto, meu orgulho deveria ser
engolido, afinal, eu já tinha morrido mesmo e fiz o
favor de terminar o relacionamento antes da
tragédia. Kevin não tinha porque se sentir mal por
minha causa. Além do mais, eu amava Leonardo.
Pelo menos aquele era o nome mais provável para o
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logo.
Carla, no entanto, me empurrou para longe.
Fiquei impressionada porque ela podia me tocar.
Eu achava, durante todo aquele tempo, que só eu
poderia fazê-lo, nunca o contrário.
— Saia daqui, Rafaela! Seus esforços não
adiantam. Nada vai adiantar, eu sou uma
amaldiçoada! Minha vida não vai mudar! Nasci
para ser exatamente o mesmo lixo que sou — Carla
berrou dolorosamente, deixando-me tonta com suas
palavras e com aquele sentimento horrível que
perfurava o meu peito. Aquilo vinha dela.
— O que aconteceu? Por que você nunca me
diz? — Eu estava completamente desesperada. Via
meu objetivo descer por água abaixo de um dia
para o outro, como se tudo fosse programado para
dar errado desde o princípio. — Foi Daniele? Foi
Kevin? Quem fez isso contigo?
— Não... Eu... — Carla entrou em estado de
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quem era?
Eu tinha que descobrir com urgência.
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Capítulo 17
O Flagra
em meu peito.
Eu não sabia se corresponderia a mais um
beijo de Victor, vindo do nada, principalmente no
mesmo palco em que estive com Leonardo e que,
de fato, eu não queria que fosse retirado de minhas
lembranças. Aquele lugar seria marcado
eternamente pelo momento em que estive com
Leonardo, e não com Victor.
Mesmo assim, eu me sentia cansada. O
Conselheiro sumiu e, segundo o homem que
insistia em me beijar, eu jamais conseguiria ir para
o céu, por mais que tentasse, por mais que quisesse.
Nada adiantaria. Minha fé estava indo embora aos
poucos, conforme o beijo se intensificava, e o
resquício de esperança que eu ainda possuía estava
se escondendo em algum lugar muito distante
dentro de mim.
Resolvi envolver meus braços em volta do
pescoço de Victor, sentindo seus cabelos escorridos
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vinha dele.
Como minha curiosidade sempre foi um
dos meus piores defeitos, olhei de soslaio em
direção à luminosidade esquisita, desvencilhando-
me de Victor, que me encarou sem entender o que
estava acontecendo. Quase não pude acreditar no
que vi em seguida. Lá estava ele. A visão mais
perfeita de todas, emitindo uma luz encantadora de
paz. O mesmo rosto, tal qual passei as últimas
horas desejando reencontrar, com todas as minhas
forças.
Leonardo viu tudo o que tinha acontecido.
— Leonardo... — sussurrei com
dificuldade, em um choramingo infantil. Meu
coração batia tão forte que tive a sensação de que
pararia. O nó em meu estômago cresceu e começou
a me sufocar.
Leonardo estava de pé no gramado, olhando
diretamente em meus olhos, com um olhar difícil
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fosse.
Depois de um minuto que pareceu eterno, o
Conselheiro começou a se desmaterializar, porém
não antes de esboçar um semblante altamente
desgostoso. Uma expressão que eu nunca tinha
visto estampada em sua face perfeita. Uma alma tão
boa e que oferecia tanta tranquilidade não podia
expressar tanta agonia daquele jeito. Não deu para
calcular o tamanho da minha dor ao compreender
que Leonardo estava triste. E que eu era a culpada.
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Capítulo 18
A amizade
maluca.
Cada detalhe do que lembrava e conhecia
sobre Leonardo invadiu a minha mente, ressurgindo
por trás de meu castelo protetor. Eu me recordei da
primeira vez em que vi seus olhos, na Sala de
Viagens Especiais. Lembrei-me dos primeiros
conselhos, de como havia me salvado do maníaco
da praça. Desejei profundamente sentir a paz que
sua mera presença me inspirava. Seu sorriso
visualizado em diversos ângulos, o olhar gentil, a
pele, o cheiro... Todas as coisas sobre o
Conselheiro invadiram meus sentidos de uma só
vez, fazendo com que eu desabasse em lágrimas
angustiadas.
Como tinha sido capaz de esconder tanta
emoção dentro de mim mesma? Como pude me
negar daquela forma? Fui uma tola por ter tentado
evitar por tanto tempo a dor que era amar
Leonardo. Era aquela dor que mantinha minhas
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escuro.
— Você ainda não entendeu? Não está
óbvio? — Eu me aproximei ainda mais dele, de
modo que nossos rostos ficaram a centímetros um
do outro.
Leonardo não se afastou, mas percebi seu
olhar calmo se transformando em outra coisa. Um
algo mais indecifrável.
— Eu não sei de mais nada. Mal sei o que
estou falando. Como Conselheiro, tinha que... —
Leonardo parou. Eu conhecia aquele timbre de voz.
Ele estava prestes a voltar ao profissionalismo
costumeiro.
O Leonardo que conheci na Sala de Viagens
Especiais queria retornar, mas eu ainda queria saber
um pouco mais do Leonardo que acabara de
conhecer. Ele era diferente. Parecia se importar
comigo a ponto de perder a cabeça. Foi por isso que
ergui minhas mãos e o empurrei pelos ombros
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quente me envolver.
— Você pode me negar muitas coisas,
Leonardo. — Ergui o meu rosto para observá-lo de
perto. — Pode me negar amor, beijos e intimidades,
você tem todo o direito de fazer isso. Pode me
negar respostas sobre o que tenho que aprender
com a morte. Pode nunca corresponder ao que
sinto, prometo que não vou insistir. — Seus olhos
estavam muito próximos aos meus. — Mas não me
negue sua presença. Não me negue coisas bobas
que fazem muita diferença para mim. É tarde
demais, não vai dar para corrigir o que já foi feito.
Por isso, não me negue sua proteção. Você me
cativou.
Encostei meu rosto ao seu peito. Tentei
escutar seu coração batendo, mas não consegui.
Acho que ele percebeu o meu desejo de senti-lo
vivo ao meu lado, por isso repousou a mão no meu
rosto de novo e fez sua aura tranquila me envolver.
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Capítulo 19
O presente
separá-los.
Permanecemos abraçados, aninhados na
cama como bons namorados, mas na minha mente
eu sabia que aquilo era apenas uma ilusão. De
qualquer forma, sua presença me trouxe um bem
sem igual e uma sensação de paz tão fantástica que
o fato de sermos amigos ou namorados não fazia a
mínima diferença.
Eu estava tão feliz e radiante por tê-lo em
meus braços, apoiando-me nas coisas que eu
precisava fazer, que nada seria capaz de me abalar.
A ideia de viver com Victor enquanto eu estava
com Leonardo parecia uma piada, algo
completamente fora de cogitação. Não que Victor
não mexesse comigo, uma parte de mim era
encantada com tudo o que ele fazia, porém a
diferença entre os dois me espantava. Enquanto um
atiçava o meu lado mais obscuro, o outro parecia
aumentar a luz que me cercava.
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senti-lo.
— Mas eu sinto! — resmunguei, com os
olhos já cheios de lágrimas.
— Eu sei. — Leonardo me beijou a testa.
— Isso quer dizer que sou uma
inconsequente?
— Não. Quer dizer que você tem coração,
Rafaela.
Deixei uma lágrima sorrateira escorrer. Ela se
perdeu na camisa de Leonardo. Tive a impressão de
que se desintegrou e se transformou em um
pontinho de luz, antes de sumir completamente.
— E por que é um erro? — Eu me agitei
completamente, por isso quase gritei. Tentei me
levantar sem nenhum cuidado, mas Leonardo me
puxou de volta para si.
Fiquei tão agoniada que resolvi ser
inconsequente de vez. Fiz o que queria ter feito
durante toda a noite: deixei meus lábios caírem
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Capítulo 20
O almoço
começou a rir.
— Você fala como se fosse realmente
acontecer. Foi só um sonho. Não quero te
desanimar, mas também não gostaria que se
decepcionasse. — Minha intenção era prepará-la
para possíveis desapontamentos, e não a encher de
pessimismo.
— Acho que você notou que sou um tanto
diferente das outras pessoas. — Carla aplicou uma
bela quantidade de xampu no cabelo. — Meus
sonhos acontecem. Todos eles.
— Sério? — Fiquei muito surpresa com
aquela informação.
— Felizmente, e infelizmente, sim.
Permaneci calada por algum tempo, meio
pensativa. Eu não queria que Carla criasse uma
expectativa muito grande, pois podia ser que nada
do que sonhou chegasse a se concretizar. Mesmo
me garantindo que seus sonhos se tornavam
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Capítulo 21
A festa
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olhou demoradamente.
Seus olhos azuis estavam particularmente
encantadores naquela noite. Não havia mais sinal
de tristeza neles.
— Já mudou bastante, e parte disso devo a
você.
E a mim também! Não se esqueça de mim!
Ela olhou de volta para ele, provavelmente
admirando sua beleza.
— Eu estava pensando, Carla... — prosseguiu
Kevin, alisando o queixo dela de maneira bem
suave. Meu Deus, ele estava mesmo muito a fim.
— O que você acha de ir ao baile de conclusão
comigo? Não precisa responder agora, não quero te
pressionar.
— Eu adoraria! — Carla falou rápido demais,
com a voz transbordando de emoção. — Sério, eu...
gostaria muito.
Kevin sorriu abertamente. A beleza dele era
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impressionante.
— Fico muito feliz em ter sua companhia.
Imaginei como Carla devia estar se sentindo
naquele momento. Aliás, não somente imaginei,
pude sentir de verdade toda a alegria que ela sentia.
As coisas que tinha sonhado estavam começando a
acontecer. Kevin a olhava tão profundamente que,
se fosse eu no lugar dela, já teria pulado em cima
dele há muito tempo, sem dúvida alguma.
— Sabe, Kevin, eu queria muito que me
dissesse uma coisa. Não sei se pode me responder
isso, mas eu preciso saber.
Saber o quê, garota? Ele está a fim de você!
— Pode falar, lindinha. — Kevin brincou
com algumas mexas do cabelo de Carla.
— Por que eu? Digo, por que isso agora,
desse jeito? — perguntou, parecendo meio confusa.
— Eu não queria falar a respeito, mas... você era
namorado de Rafaela. Ela morreu há tão pouco
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Bando de cadelas!
— Não acredite nela, isso tudo é mentira! —
Kevin se virou para Carla, que ainda não havia
esboçado reação alguma. Ele estava desesperado.
— Você... — Carla sussurrou, os olhos se
enchendo de lágrimas. — Você me enganou! —
Levantou-se do banco também. — Você me
enganou o tempo todo!
— Carla, me escute, isso é uma armação! —
Kevin tentou se aproximar dela, com as mãos
levantadas, mas a garota deu vários passos para
trás, impedindo-o de se aproximar.
— Claro que é! Você armou para cima de
mim! Não acredito que caí nessa! — Carla
começou a chorar. — Como fui idiota!
Fiquei totalmente chocada com a situação, de
modo que apenas observei o desenrolar da cena,
sem acreditar no que via. Aquilo não podia ser
verdade. Não podia estar acontecendo. O pior de
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Que... ridícula!
Kevin mal acreditou no que Daniele propôs.
Muito menos eu.
— Prefiro morrer a ficar contigo.
— Eu espero você se acalmar, meu amor. —
Daniele tentava soar doce, mas a frieza em seus
olhos era notável. — Sempre te esperarei.
— Espere deitada, então! Você é doente
Daniele. Doente! — Kevin arrancou a câmera das
mãos dela e atirou no chão com uma força
estupenda.
— O que você fez? — Daniele tentou
recolher a máquina do chão, saindo do sério pela
primeira vez naquela noite. — Essa máquina é dos
meus pais!
— Dane-se! — berrou Kevin, logo em
seguida correu na direção em que Carla tinha
seguido minutos antes.
As garotas só faziam rir sem parar, como se
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— Socorro!
— Vamos sair daqui!
Seus gritos pareciam distantes da minha
realidade. Elas saíram correndo com dificuldade
por causa do vento forte. Os galhos das árvores e
arbustos maiores caíram para todos os lados, e as
plantas menores foram arrancadas pela raiz. Meu
ódio era tão imenso e real que não pude me conter.
Caminhei atrás das garotas, com um pensamento
vingativo único:
Aquilo não podia ficar assim.
Quando chegamos até a área da piscina, as
pessoas já estavam correndo para todos os lados,
gritando desesperadas, enquanto todas as cadeiras e
mesas eram derrubadas e levadas junto com o
vento. Todas as lâmpadas e as vidraças que
circundavam a mansão foram quebradas, uma a
uma, cada vez que eu me aproximava, lançando
cacos de vidro para todos os cantos.
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Capítulo 22
A traição
sentidos.
Mas o que ele estava fazendo com aquela
mulher? Quem era ela?
Os dois seguiram para debaixo da sombra de
uma árvore. Mesmo assim, de onde eu estava
conseguia observá-los enquanto se abraçavam e
riam de alguma coisa que provavelmente eu não
sentiria a menor graça. Não confiei no que vi, foi
por isso que me aproximei devagar, fazendo o
possível para não ser vista pelos dois. Eles
começaram a cochichar coisas ininteligíveis. Fiquei
ainda mais perto, dando passos lentos e trêmulos.
Eu precisava ouvir. Precisava ver.
— Ah, Léo, eu te amo tanto! — a mulher
falou mais alto, de repente. Sua voz soou doce,
apaixonada.
Apesar da doçura, senti um gosto amargo na
minha boca.
— Eu também te amo muito, Larissa. —
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mim.
— Rafaela, por favor...
— Saia daqui, Leonardo — rosnei baixo, mal
reconhecendo minha voz rouca, carregada de
tristeza e incredulidade. Novas lágrimas desceram
pelo meu rosto. Leonardo tentou limpá-las
nervosamente, mas sempre surgiam outras e mais
outras.
— Por favor, não me bloqueie novamente —
murmurou com sofreguidão, como se me
implorasse. — Você está me bloqueando de novo.
Notei algumas luzes estranhas saírem das
mãos de Leonardo, estava sumindo aos poucos.
Continuei sem conseguir encará-lo. Ele tinha que ir
embora, seria melhor para nós dois. Ele tinha que
parar com a mania de tentar me proteger. Leonardo
não podia me proteger de si mesmo.
O que ele ainda estava fazendo ali?
— Rafaela! — Puxou meu queixo
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favor, não.
Mantive meu olhar firme sobre ele, mas me
arrependi assim que uma lágrima escorreu pelo seu
rosto perfeito, já quase desaparecido. Acompanhei
a trajetória que a lágrima percorreu até se perder no
chão da praça. Uma dor impressionante encheu
meu coração de pura tristeza. Leonardo estava
triste. O meu amor, a única pessoa capaz de atribuir
vida à minha morte estava chorando.
Devo confessar que não desisti por muito
pouco. Quase pulei em cima dele, pedindo perdão
por tê-lo machucado, pedindo mil desculpas por ser
uma garota tão estúpida. Quase não resisti à
vontade de enxugar suas lágrimas, de contar tudo o
que tinha acontecido e a tamanha dor que só fazia
crescer em meu peito. Foi quase.
A Rafaela de alguns minutos atrás teria feito
aquilo com muita facilidade. Entretanto, a Rafaela
que surgiu depois das injustiças de Daniele, e
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Capítulo 23
A escuridão
recuperar do susto.
— Você consegue me ver?
— Vejo todos vocês... — murmurou entre
lágrimas. Algo em seus olhos escuros me fez
lembrar alguém. Só não consegui pensar em quem.
— Deve ser horrível.
— Por que fazem isso? — A menina parecia
desesperada.
Assim que a encarei de novo, mil
informações preencheram a minha mente. Eu me
lembrei. Seus olhos eram parecidos com os de
Carla. Meu coração acelerou no mesmo instante em
que me dei conta de que havia abandonado Carla
no momento em que mais precisou de mim.
Tudo bem, o pior havia acontecido comigo.
No fundo do meu coração eu sabia que merecia
cada coisa ruim. Mas Carla não merecia. Ela era
inocente.
Aproximei-me da garota, sentindo o meu
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corpo formigar.
— Porque somos estúpidos. Todos nós —
murmurei amargamente.
Ergui uma mão e toquei a testa da garota.
Fechei os olhos. Sorri ao me recordar de Carla, a
pessoa mais sensível e linda, a que mais merecia
ser feliz. Senti o instante exato em que uma energia
calmante atravessou o meu espírito e preencheu a
garota. Quando abri meus olhos de novo, ela estava
sorrindo, tomada por uma aura luminosa tão
brilhante que me cegava. — Vá para casa, menina.
Saia daqui.
Ela segurou minhas mãos.
— Obrigada. Muito obrigada.
A desconhecida se levantou e caminhou
vagarosamente, deixando aquela rua imunda e sem
sentido. Minha alma estava mais leve. A tontura
cessou.
— Você está bem? — Victor se aproximou.
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Capítulo 24
A verdade
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Capítulo 25
A luz
meus erros.
— Promete?
Aquiesci. Tive uma vontade louca de abraçá-
lo, e assim fiz.
— Obrigado, Rafaela — sussurrou em meu
ouvido. — Eu me sinto em paz. Pela primeira vez
em toda minha existência. Ninguém nunca havia
me perdoado de absolutamente nada.
— Que esse seja apenas o começo de sua
nova caminhada. — Apertei sua nuca com força.
Victor soltou muitos soluços, até que seu
corpo começou a sumir, levado por partículas finas
de uma luz dourada. Ele parecia não se dar conta do
que estava acontecendo. Continuou chorando,
abraçado a mim. Ele não estava se
desmaterializando, era completamente diferente.
Um segundo mais tarde, sumiu em meus braços
sem nada mais dizer. A luz foi embora, seguindo
para o mesmo lugar de onde veio.
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Capítulo 26
A retratação
pouquinho.
— Como se safou dessa? Você podia estar
morta!
— Leonardo. — Meu coração disparou
apenas em ouvir aquele nome. — Se ele não tivesse
chegado a tempo, eu não teria resistido aos cortes.
Ele... descobriu tudo sobre Victor. A essa altura
você já deve estar sabendo. — Carla não olhou para
mim enquanto falou aquilo, parecia envergonhada.
Eu também ficaria se tivesse escondido algo tão
importante.
— Pois é, ele descobriu e não foi graças a
você — desdenhei. — Devia ter me contado há
muito tempo, teria evitado vários problemas. —
Carla permaneceu tão cabisbaixa que senti
compaixão. Ela não merecia mais intrigas, só um
pouco de paz para variar. Foi por isso que desisti do
sermão e suspirei fundo. — Mas agora já era.
Victor não vai te importunar nunca mais.
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Capítulo 27
O baile
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Capítulo 28
O julgamento
Rafaela Satto.”
Um silêncio absoluto tomou conta do recinto.
Eu não pude acreditar no que estava escrito naquele
papel. Quem foi o maluco que escreveu tamanha
barbaridade?
Crime de sedução? Dá licença!
Levantei meu dedo indicador, pedindo
permissão para falar como se eu estivesse diante de
um professor e não de um Juiz importante. Ele
olhou para mim, gesticulando para que eu
prosseguisse.
— Desculpe, senhor — eu me levantei da
cadeira —, mas essa história de crime de sedução
foi a coisa mais absurda que já ouvi na minha vida.
— Alguns cochichos tomaram conta do recinto.
Fiquei morrendo de medo que minha aura mudasse
de cor ou algo assim, mas, como nada aconteceu,
apenas prossegui: — Esta acusação deixa claro que
Leonardo me seduziu porque quis com algum
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ela.
Era impossível não sorrir ao observar o jeito
gracioso como a Conselheira se movia. Ela parecia
flutuar constantemente, como que guiada por asas
angelicais.
— Todas as justificativas de Rafaela foram
verdades, e todos os seus bons atos na Terra, bem
como sua compreensão do que é o perdão, a
amizade e o amor tornam-na claramente inocente
de todas as acusações, em minha opinião. — Ela
passou por mim, chegando até Leonardo. —
Quanto a Leonardo, assim que se envolveu nessa
confusão, ele procurou o Conselho diversas vezes.
O Conselho negou seu pedido desesperado de
intervenção e o deixou atormentado. Sendo assim,
ele foi atrás de todas as verdades por trás do
ocorrido, até conseguir obtê-las. Esse ato de
inquietude foi fundamental nos acontecimentos,
pois essa verdade trouxe justiça para todos os
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envolvidos.
Leonardo olhou para Magnólia com extrema
preocupação. Eu apenas conseguia sentir alívio,
pois ela estava fazendo algo que ele não foi capaz
de fazer.
— Depois que descobriu as séries de
injustiças que estavam sendo cometidas, Leonardo
se viu de mãos atadas para repará-las. Seu coração
se encheu de amargura. Ele procurou o Conselho
novamente, mas sua intervenção foi negada de
novo. Isso prova que ele tentou, até o fim, seguir as
nossas regras. — Magnólia desfilou até o Juiz. —
Tomado por um desespero absoluto, Leonardo me
procurou pessoalmente...
— Magnólia, não... — sussurrou o
Conselheiro.
Ela levantou uma de suas mãos, pedindo para
Leonardo ficar quieto. Eu quase a aplaudi naquele
momento.
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terminava ali.
Ele se aproximou ainda mais, pronto para me
abraçar, mas me afastei a tempo, dando alguns
passos para trás. Leonardo fez uma careta diante de
minha reação brusca, parecendo bastante confuso.
— Obrigada por tudo, Leonardo — falei,
sabendo que ninguém nos escutaria, visto que o
Salão estava um pouco barulhento por causa da
quantidade de Conselheiros que iam embora. —
Você foi ótimo, foi... perfeito.
— Rafaela, eu... — ele tentou se aproximar
novamente, porém dei mais passos para trás.
Se Leonardo tocasse em mim, não
conseguiria dizer adeus. Se eu sentisse o poder que
sua pele exercia quando se encostava à minha, seria
mais difícil resistir. Seria impossível, na realidade.
— Agradeço de coração, mas agora preciso
seguir meu rumo, sozinha. Seu trabalho terminou,
você não tem mais o dever de... — Tentei manter a
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Venha comigo!
A Conselheira segurou minha mão, levando-
me em direção a algum lugar desconhecido. Virei
para trás, a fim de dar uma última expiada em
Leonardo. Ele estava parado no centro do Salão.
Seu sorriso havia se apagado completamente.
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Capítulo 29
O reencontro
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Capítulo 30
A felicidade
assustando.
Coloquei meus braços ao redor do pescoço de
Leonardo, diminuindo ainda mais a distância entre
nós. Nossos corpos se colaram, e eu pude ter uma
visão maravilhosa de seu rosto: os olhos marcantes,
a boca convidativa, o desenho das sobrancelhas. O
cheiro que emanava dele era absurdamente
enlouquecedor. Eu me sentia molenga em seus
braços, mas aquilo era bom. Era ótimo!
— Rafaela... — murmurou, olhando em meus
olhos. — Eu te amo. Amei você o tempo todo.
Meu coração se espremeu até quase sair suco.
— M-Mais do que amar o próximo? —
perguntei aos murmúrios, com nossas bocas quase
se encostando.
Leonardo sorriu.
— Muito mais do que amar o próximo.
O mundo pareceu ter ganhado e perdido o
sentido naquele exato momento. Tudo ficou em
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FIM
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Agradecimentos
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Biografia
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