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Tess Roberts

Quando Eu Te Esqueci

CALDAS NOVAS – GO,


AGOSTO de 2015.
Copyright © 2019 Tess Roberts.
1ª Edição.
Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. Esta obra segue as regras da
Nova Ortografia da Língua Portuguesa. É proibido o armazenamento e/ ou a reprodução de
qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o
consentimento escrito da autora.
Roberts, Tess.
Quando Eu Te Esqueci.
Arte da Capa: T.R. Capas e Banners.
Diagramação: Marli D.H.F.
Revisão: Tess Roberts.
Imagens: Banco de imagens Unsplash.
Edição do Kindle.
Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n °. 9.610/ 98
e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Todos os direitos reservados.
“Duvide do brilho das estrelas. Duvide do perfume de uma
flor. Duvide de todas as verdades..., mas nunca duvide do
meu amor.”
— WILLIAM SHAKESPEARE.
HAMLET.
PRÓLOGO

Não poder recordar do passado me faz sentir um misto de desespero e


impotência dentro do peito. Sentimentos que fazem com que eu me perca do
fio da realidade... Ainda não consigo entender como posso ter esquecido de
tudo. Como isso foi acontecer? Pergunta e perguntas que giravam na minha
cabeça, obscurecida por uma nuvem de deslembranças, e que quase nunca
eram respondidas de maneira direta. Somente palavras vagas e sem sentido.
Não sei o motivo e muito menos a razão de nada. Sinto como se eu fosse
alguém que estivesse exclusivamente no modo telespectador, alguém que não
faria diferença se permanecesse ou não por ali... Caminhando pela vida.
Vazio, quem sabe seja isso. É o vazio que se insinua no meu ser e absorve
boa parte de mim agora. Eu era ninguém. Eu era uma estranha entre tantos
outros que me cercaram até então.
Me esforço para observar um pouco mais esse homem lindo diante de
mim.... Falaram, ele falou, que é meu marido. Meu polegar voa
instintivamente em busca do meu anel... e ele estava ali, pelo que parecia há
um bom tempo. Como posso ter esquecido de que sou casada, esquecido do
meu próprio marido? Ele é tão lindo... não parece ser alguém que se esqueça
com facilidade. Eu jamais me esqueceria dele.... Você já esqueceu, não vê?

— Olha... – Comecei meio incerta de como avançar. —... eu não sei


como te dizer isso.... – Respirei fundo na tentativa de afastar tanto o
nervosismo quanto a ansiedade e continuei. — Eu não consigo me lembrar de
você. – Ele sorriu de maneira calorosa, porém o seu olhar estava frio. O calor
do seu sorriso não tinha sido capaz de aquecer o seu olhar e isso me
incomodou. Incomodou mais do que deveria. Será que esse homem era
mesmo o meu marido?

— Fique calma, minha pequena. – A última parte dita soou tão traidora.
— Tudo vai ficar bem! – Tive a sensação de que as palavras eram ditas mais
para consolo próprio do que direcionadas a mim. Ele não se aproximou em
momento algum, não pude deixar de notar. — A sua família irá chegar em
breve e você se sentirá mais segura. – Essa não era a sua função como meu
marido? Quis gritar alto, mas me limitei a olhar as minhas mãos. Um nó se
fixou no meu estomago e as lágrimas teimavam em querer deixar os meus
olhos. Eu não queria chorar. Não agora, não perto dele.
— Eu quero ir para casa... – Falei soando infantil e não sabendo ao
certo se eu tinha um lar. E mesmo com todo esforço que me obriguei a ter... a
minha voz saiu junto a um soluço e ali estava eu, chorando.

Meus olhos deviam estar inchados e vermelhos de tanto que chorei


durante essa última semana. Como a minha família podia ignorar o meu
estado de saúde? Eu estava em um hospital, sem memória... Talvez eles
tenham se esquecido de mim também.

— Vamos para casa, você recebeu alta medica hoje. Veja como está
com sorte. – Ele sorriu para uma enfermeira que acabava de entrar no quarto.
Um sorriso falso e cretino. Sim, eu sabia o que aquele sorriso significava e
mesmo não lembrando de maneira alguma daquele homem... Eu não gostei.
— Precisa de ajuda, senhora McMahon? – Senhora McMahon...
— Eu consigo sozinha... – Uma irritação repentina e sem sentido se
agitou dentro de mim, me deixando longe das boas maneiras. Eu não desejei
ter bons modos naquele momento. Eu ansiei poder derramar toda a minha
frustração e todos os meus medos ali. Almejei também, acima de tudo,
entornar a minha raiva sobre eles.

— Tudo bem então. – Fazendo pouco caso da minha expressão de raiva


e dor, ela me deu as costas, caminhando para a porta, parando ao lado do
homem que dizem ser o meu marido e colocando uma mão no peito dele. —
Qualquer coisa... – Ela enfatizou o que dizia deslizando a mão até a gravata
elegante dele. —... É só me chamar. – Ela, de maneira descarada, ronronou
sedutoramente. O que aquela mulher pensava que estava fazendo? Melhor, o
que ele pensava estar fazendo ao retribuir o sorriso daquela descarada?
— Eu perdi a minha memória, não a visão ou audição. – Falei
acidamente e, sem pensar, segui com dificuldade até a porta e indiquei o
caminho para fora com um gesto grosseiro que fez com que uma dor
lancinante cortasse diante dos meus olhos. A minha mão voou imediatamente
para um local próximo a minha nuca. Haviam pontos cirúrgicos ali e doeu
diante do meu toque desajeitado. Respirei fundo e fiz de tudo para mascarar a
minha dor. Ela não me olhou, apenas sorriu e saiu. Vadia.

— Quanta agressividade. – Ele sorriu polidamente para mim, como se


quisesse esconder algo. O sangue se agitou nas minhas veias assim que as
palavras sarcásticas deixaram aquela boca de lábios bonitos demais para
pertencerem a um homem frio como ele.

— Você é meu marido e ela não pensou duas vezes quando flertou com
você, que retribuiu descaradamente. O que pensa que está fazendo? – Ele me
lançou outro sorriso que sempre vinha acompanhado por um olhar gélido e se
aproximou lentamente. Ele era tão mais alto... eu me sentia minúscula perto
dele. Precisei olhar para cima para encara-lo.

— E desde quando isso foi motivo para exclusividade?


CAPÍTULO UM

Acordo alarmada e o meu olhar se prende a um lindo par de olhos


verdes, que me observam severamente. O dono do lindo par de olhos verdes
estava sentado ao meu lado me observando como se buscasse algo dentro da
minha alma. Precisei piscar algumas vezes enquanto esfregava os olhos na
tentativa de me manter alerta.
— Desculpe, acabei adormecendo aqui... – Articulo me sentando na
espreguiçadeira, mas ele não fala nada, só levanta e vai embora como se as
minhas palavras fossem berros. Como se eu tivesse despejado obscenidades
ou talvez cuspido na cara dele. Uma porta é fortemente batida e não me dou
conta de que estou chorando até que as lágrimas caem nas minhas mãos sobre
o colo. Estou chorando tão sentida que cada lágrima é acompanhada por um
soluço baixo e triste. Os soluços encontram-se tão intensos que respirar
corretamente se torna difícil. Cubro o meu rosto com as mãos e me deito
curvada em uma bola. Não consigo entender de onde vem tanta dor. Sei
apenas que o meu coração está doendo. Dói tanto... e eu não sei o motivo.

— Rose? – Ouço uma voz suave e adoravelmente reconfortante se


aproximando, admito que reconheço aquela voz, porém não me rememoro.
— O que aconteceu? Por que está chorando assim? – Não me dou ao trabalho
de ver quem é, ouço passos rápidos vindos até mim e logo em seguida sinto o
calor de um abraço a me envolver. E eu desejei que... que o meu marido me
confortasse assim. A consolação não veio, pois, o dono daquele abraço não
era ele. — Você está sentindo alguma dor? – Balanço a cabeça concordado e
me agarro ao colo dessa desconhecida tão familiar. — Vou chamar o meu
irmão. – Noto que adorava aquela mulher. Foi como se um pedaço de mim
tivesse voltado a se encaixar novamente. — CONRAD, CONRAD É A
ROSE! – Ela gritou e acabei me dando conta de quem ela verdadeiramente
era. A minha cunhada.

— Não, não ele. – Ela acariciou os meus cabelos me fazendo suspirar


em consideração, como se ela já tivesse feito isso incontáveis vezes antes.
— Por quê? Ele vai chamar o doutor Sinclair...

— O seu irmão é o motivo da minha dor... – Não termino a frase,


porque Conrad aparece correndo até onde estávamos e me pega nos braços
como se eu não pesasse mais que uma pena.

— O que aconteceu, meu amor? Está com dor? – Seu desespero era
real. Parecia puramente atormentado, no entanto isso serviu somente para que
eu contorcesse por liberdade. Não pude evitar que as lágrimas caíssem ainda
mais fortes que antes. Como ele podia dizer as palavras que eu tanto
desejava e ainda fosse um maldito filho da mãe?
— Eu... Eu... – Ele ficou rígido, me colocando no chão em seguida.
Como se a ficha enfim caísse e ele estivesse encarando a realidade nos olhos.
A sua expressão, antes preocupada, assume uma aparência amarga e
rancorosa.

— O que você fez com ela dessa vez, Conrad? – Dessa vez?

— Não é da sua conta o que acontece entre mim e... E ela. – Foi
desprezo que ele usou ao se referir a mim e isso me feriu, tanto quanto
enfureceu. Eu sequer sabia ou entendia os motivos para ser tratada daquele
modo.
— “Ela” é a minha melhor amiga. – Minha cunhada/amiga interveio.
— Somos amigas muito antes de você decidir namorar e se casar com ela; de
fazer da garota mais incrível e feliz do mundo, um zumbi de tristeza e
infelicidade. – Ele nem piscou com a declaração, mas eu sim. Fiquei chocada.

— Não briguem por mim... – Pedi olhando para a desconhecida que


estava com o rosto completamente vermelho de raiva. Parecia ensandecida.
— Chloe está brigando por você, não eu. Já parei de perder o meu
tempo há semanas. – A severidade nas suas palavras me deixou atônita,
parecia haver tanta raiva mal contida. Como pude me casar com um homem
como ele? Louca, devia ser loucura o que me impulsionou a casar com aquele
poço de arrogância e frieza.

— Estou cansada por hoje. – Falo dando as costas e saindo o mais


rápido possível dali. Caminho até o que parece ser uma cozinha e encontro
uma mulher de meia idade trabalhando no fogão. Seus cabelos estão presos
em um elegante, e bem feito, coque alto. Sua postura é de quem escutou a
conversa alterada no outro ambiente da casa. Meu peito se enche de alegria.
Eu sei que ela é alguém da minha confiança, mesmo que eu não me lembre
de nada.

— Será que você poderia me mostrar o quarto? – Indago através dos


soluços que brotam junto com as lágrimas.
— Oh, criança. – Ela seca as mãos no avental preso na sua cintura e
chega até mim. Seu rosto está vincado de preocupação e me seguro ao seu
corpo em um abraço. Estou tão carente. — O que aquele monstro te fez
criança? – Será que ser maltratada por Conrad era um hábito?

— Por que eu não consigo fazer a dor ir? – Perguntei em meio aos
soluços que teimavam em acompanhar as minhas palavras. Eu me esforçava
para não parecer tão fraca e vulnerável, só não conseguia.
— Eu não sei, meu bem. Talvez seja porque você, apesar de tudo, ama
aquele homem. – Eu não soube o que contrapor. — Venha, vou te levar para
o seu quarto nessa prisão. – Sigo ela pelo enorme apartamento de dois
andares e chego a um quarto. O mais simples se tratando da luxuosidade
daquele lugar. As cores do quarto eram neutras em tons frios e escuros, a
mobília também não incitava luxo algum. Fico olhando o lugar, que apesar de
nada impressionante, me serena. — É. Eu sei. Esse lugar é mais simples até
mesmo que o meu quarto. Seu marido... – ela disse "marido" com aversão.
–... Foi quem decidiu a decoração...

— Eu... Eu não consigo me lembrar de nada... – Falei me sentindo


estúpida. Patética, para ser honesta.
— Oh, eu sinto muito, criança. – Ela terminou de falar puxando um
edredom de cor apavorante e me convidando com uma palmada sobre o
colchão. — Quando aconteceu... eu não estava. Era o meu dia de folga. Eu
sinto muito, querida. – É, eu também sentia muito. Sentia mais do que
qualquer um.

— Como eu pude me casar... Com ele? – Perguntei enquanto me


aconchegava sob o edredom.

— Você o ama, criança. – Isso era algo, que até o momento, eu não
conseguia entender. Conrad era alguém que eu precisaria odiar com todas as
minhas forças, não amar. Você se casou por amor. – Eu me casei por amor,
ele aparentemente não. Não era preciso ser um sabe-tudo para entender as
palavras ocultas.
— Não entendo como posso ter amado alguém que... Ele me abomina!
Como pude me apaixonar por alguém que me detesta?

— Disso eu não sei, criança. – Ela afagou os meus cabelos


delicadamente enquanto falava. — Eu cheguei para trabalhar aqui um mês
depois do seu matrimônio. Tudo o que eu sei é que você já estava infeliz
naquela época...

— Há quanto tempo você trabalha aqui? – Não dominei a minha


curiosidade. Há quanto tempo eu estaria sofrendo assim?
— Há três meses... – Então eu estava casada há quatro meses? Tão
pouco tempo.... Como pude esquecer?

A pequena mulher havia se ausentado do quarto há vários minutos,


contudo, eu ainda estava encolhida sobre a cama sem conseguir dormir.
Amanda era o seu nome. E Chloe não apareceu para me ver, mas suspeito
que o irmão a tenha proibido e expulsado. Não seria menos vindo da parte
dele. Ele também não veio me ver. Isso eu agradeci. Mentirosa. Eu não
queria que ele viesse me causar mais sofrimento, angústia... ..., mas
internamente eu aspirava que tudo tivesse sido um sonho ruim e que ele me
amava.

Precisava urgentemente de algo para comer e o meu estomago


reclamou em alto e bom som. Olho para o relógio sobre a cômoda, marcava
duas da manhã. O meu estomago reclamou novamente. Vagarosamente,
hesitante, me sento na cama e depois fico de pé. Não seria um crime sair em
busca de comida na cozinha da própria casa, seria? O meu estomago
responde por mim. Não, não seria. Me esgueiro para fora do quarto me
sentindo como uma criminosa prestes a cometer um delito e encontro um
corredor escuro. Vou na direção das escadas e paro pouco antes, quando vejo,
sob a porta, a luz de um quarto acesa. Era Conrad e ele estava conversando
com alguém....
— Não, essa não será a ocasião perfeita para pedir o divórcio. –
Divórcio? Ele planejava pedir o divórcio? Mesmo que eu não me lembrasse,
não pude evitar o desconforto de tristeza no meu peito. — Eu vou dormir,
Samuel... ...Emily!? Não, a minha mulher já veio para casa... ...a Emily não
pode vir aqui... ...é eu não estou com ânimo para fodê-la hoje e em nenhum
outro... – O meu marido estava me traindo enquanto eu estava no hospital? A
raiva pulsou forte dentro de mim. Como ele pôde? Me senti
insignificantemente pequena, humilhada e com uma dor que rasgava e
dilacerava todo o meu peito. Deus, eu me senti tão humilhada após ouvir
aquela conversa. A minha vontade era sair daquele apartamento, do edifício e
começar a caminhar. Andar e vagar como se o mundo não tivesse fim; e que
o simples gesto de andar pela vida fosse capaz de absorver a minha vergonha
e toda dor... Eu queria apenas que nada de ruim tivesse acontecido. Que o
aperto de dor sem fim que circundava o meu coração se afrouxasse e me
trouxesse paz. Dei meia volta e retornei para o quarto com o coração
sangrando dentro do peito. Seja o que fosse que eu possuísse deveria estar
por lá. Eu não ficaria sob o mesmo teto que Conrad. Revirei o quarto em
busca das minhas coisas e encontrei uma bolsa com todos os meus
documentos, algum dinheiro e cartões. Eu iria embora e seria agora. Não me
preocupei em arrumar a bagunça que havia feito. Apenas escrevi um breve
bilhete e colei com fita adesiva na porta do meu quarto. "Eu quero o divórcio,
Conrad". Isso o pouparia. A única coisa que eu não queria era fazer barulho.
Me vesti com uma calça jeans clara, uma camiseta meio folgada e calcei um
par de tênis não muito novos que encontrei no fundo do closet. Eu já estava
do lado de fora do edifício quando avistei e chamei por um taxi.

— Para onde? – Eu não sabia para onde ir.


— Só me tira daqui por enquanto. – O motorista concordou meio sem
querer e ligou o carro. — Tenho como te pagar, não se preocupe. – Falei e ele
pareceu se animar mais. Aproveitando que o taxi entrou em movimento,
vasculhei a bolsa em busca de algo que me levasse para longe da casa de
Conrad. Para longe de Conrad. Para onde não doesse tanto. Encontrei uma
correspondência antiga destinada a mim, então ditei o endereço ao motorista.
Levou alguns minutos, mas chegamos ao local. Peguei o dinheiro pagando o
motorista que foi embora sem dizer nada. Parecia aliviado em me largar ali
no meio do nada. Não era bem o meio do nada. A verdade é que era só um
bairro modesto e sem movimento nas ruas a àquela hora da manhã. Segui até
a entrada da casa ao qual o endereço se destinava e, sem pensar muito, me
curvei e levantei um pequeno pote de areia no jardim, talvez algum dia
tivesse crescido flores nele.... As chaves estavam ali. O meu coração deu um
salto de alegria quando me dei conta de que já tinha estado ali antes. Sabia
onde as chaves estavam. Avancei até a porta e coloquei a chave na fechadura.
Se encaixou com perfeição. Uma girada, duas e o clique feito pela porta
indicava que ela estava aberta. Respirei fundo e entrei.

Tudo ali era familiar para mim. Desde as cores alegres e claras
de tudo no ambiente, até o cheiro de poeira do lugar. Essa era a minha casa e
eu fui feliz ali. Tive certeza disso desde o exato momento que coloquei os
meus pés na soleira. Tranquei a porta e segui direto por um breve corredor e
entrei num quarto de paredes na cor lilás. A cama era de casal e tudo era
cheio de vida, alegre. Era eu ali. Eu estava no lugar que me deixava feliz. No
lugar que algum dia eu fui feliz. No lugar que Conrad não havia corrompido
com a sua frieza. Balancei a cabeça para afastar a imagem daquele homem
alto, lindo e ruim da minha mente. Deitando sobre a cama ainda feita eu
adormeci com a fome já esquecida. Tudo que eu queria era deslembrar ainda
mais tudo de maldoso que me aconteceu. Nunca me senti tão grata por não
lembrar das coisas. Por não me lembrar dele... O sono, uma mistura
tumultuada de escuridão, foi algo que me confortou. Eu estava em casa agora.
Eu estava segura ali.
CAPÍTULO DOIS

— Ela está acordando... Talvez precise ficar por mais algumas horas...
Em observação... – Sussurros. Sussurros. Penso que a minha cabeça irá
explodir. Por que não podem simplesmente ficar em silêncio? Tenho medo de
abrir os meus olhos. Da última vez em que tentei, tudo doeu dentro da minha
cabeça. Mas algo mais desesperador toma conta de mim... Onde estou? Eu
não sei onde estou.

Acordo sobressaltada de susto. Foi só um pesadelo. Olho ao meu redor


e me localizo. Estou na "minha" casa. Volto a encostar a minha cabeça no
travesseiro úmido de suor e fecho os olhos, respirando fundo para me
acalmar. Foi só um pesadelo. Depois de alguns segundos me levando quase
com um pulo da cama e vou para o banheiro tomar um banho. A minha roupa
está empapada e grudada de tanto suor. Estou um nojo. Tomo um banho
rápido e termino de fazer a minha higiene matinal. Tento improvisar uma
maquiagem para disfarçar a palidez do meu rosto com o que encontro na
minha bolsa e depois realmente me olho no espelho. Vejo uma mulher de
pele translucida e abatida, cabelo meio castanho e completamente sem vida,
olhos grandes e azuis sem um único traço de alegria. "Somos amigas muito
antes de você decidir se casar com ela e fazer a garota mais incrível e feliz
do mundo um zumbi de tristeza e infelicidade". Foi o que a Chloe disse. Eu
era alegre e cheia de vida? O que esse homem fez comigo, no que me
transformei? Sem pensar, e completamente dominada pela raiva e angústia,
acerto um soco no espelho na esperança de que aquela imagem seja
destruída... O meu reflexo. Uma onda de raiva por quem sou me domina e
tenho medo de sair daquele banheiro. De ter que encarar a realidade que eu
não faço ideia de qual seja. Algo quente cai sobre os meus pés. Sangue. Há
sangue escorrendo do meu pulso como se uma torneira tivesse sido aberta.
Devo ter me cortado ao acertar o espelho, que ficou em milhares de pequenos
pedaços. Como eu. Coloco o braço sob a água corrente do lavabo e o meu
pulso incendeia, merda. Um grito de dor brota da minha garganta no mesmo
momento. O corte foi profundo e não iria ficar nada bonito se eu não cuidasse
dele. Como se já não estivesse apavorada o bastante com o corte, ouço passos
pela casa, me viro assustada com o suposto invasor e acabo escorregando no
meu próprio sangue espalhado pelo chão. Patético. Caio em meio aos cacos
do espelho e me machuco ainda mais. A minha respiração está rápida e
entrecortada. Agora não só o meu pulso sangra como também as palmas das
minhas mãos e joelhos. Tudo parece queimar como brasas. Incrível, Rosalie.
A porta do banheiro se abre e não sei o que me apavorou mais: eu cair ao
escorregando no meu próprio sangue ou ver o choque no rosto de Conrad.
Conrad. Como diabos ele conseguiu me encontrar ali?

— Que porra você fez, Rosalie? – A voz dele estava fraca, quase um
fio. E eu parecia perder mais sangue a cada instante. A minha visão foi
escurecendo e tudo ficou em câmera lenta. Conrad se aproximando.... Eu
tentando me arrastar para longe dele.... Eu senti medo e raiva. Senti medo
dele por um instante e a raiva me engoliu por inteiro. Tentei me arrastar para
longe do seu alcance e acabei me machucando mais. A cada batida
descompassadamente rápida do meu frenético coração, mais sangue era
bombeado; e mais rápido ele deixava o meu corpo.
— Não se aproxime de mim. – Consegui dizer com a voz já frouxa. —
Eu não quero você perto de mim... Eu te odeio. Eu te odeio, Conrad. – A
última frase foi discorrida quase em um sussurro.

— Eu o amo.

— Mas aparentemente ele não. Será que é tão difícil para você
perceber, que ele está fodendo com metade daquelas mulheres nas festas do
escritório? Ele não presta.... Ele é o meu irmão, e que Deus me perdoe, mas
eu sei disso. Não me olhe assim... ...espera aí. Você dormiu com ele, não
dormiu?

— O que você está dizendo não é verdade...


— Oh, Rose. Eu sinto muito. Não chore. Venha aqui...

— Nós fizemos amor há três dias... Estamos casados, Chloe. Isso não é
o que acontece com recém-casados? Como ele pôde fazer isso comigo?

Sinto algo repuxar nas minhas mãos. Dói quando movimento o meu
braço. Não quero abrir os meus olhos. A verdade é que eu não tenho forças
para isso. Sinto cheiro de hospital. Odeio hospitais. Contudo.... Conrad!
Abro os meus olhos e o vejo de braços cruzados sobre o peito e de pé na
minha frente. Ele me trouxe para o hospital. A camisa branca dele está
coberta de sangue.... O que indicava que ele havia me carregado. Deve ter
pensado que eu estava tentando me matar. Fiquei com vontade de deixar que
todos pensassem assim. Seria melhor do que dizer a verdade? Que eu soquei
o meu reflexo no espelho? Que me cortei e que acabei escorregando no meu
próprio sangue?

— O que você faz aqui? – Não imaginei que a minha voz fosse sair tão
fraca e um tanto embolada. Olho para o lado e vejo uma bolsa de sangue
pendurada me alimentando através de uma intravenosa.

— Que porra você pensa que estava fazendo? – A sua voz era fria,
cortante e um tanto sofrida. Ele descruzou os braços e veio na minha direção.
— Você tem ideia do que a mídia vai fazer comigo agora? – Eu queria que
ele fosse se ferrar. Conrad parecia meio inclinado a bipolaridade — "Mulher
de um dos filhos de Bart McMahon tenta suicídio".
— Eu não tentei me matar! – Falei irritada. — Foi só um acidente. Eu
quebrei o espelho e me machuquei. – Ele me olhou como se eu fosse uma
garotinha mimada inventando pretextos. — Depois eu ouvi alguém invadindo
a minha casa e ao me virar, assustada, escorreguei e caí sobre os cacos do
espelho.

— Ótimo. Agora além de invadir algo é meu, sou o culpado também. –


Algo que é dele?

— Aquela casa é sua? – Ele sorriu com escarnio e eu não contive a


náusea que se formava no meu estomago.
— Não até o dia em que nos casamos.

— Então deixará de ser sua para voltar a ser minha. – Ele meneou a
cabeça e puxou do bolso um pedaço de papel. O bilhete que eu havia deixado
na porta do quarto.

— Isso não vai acontecer. – Falou ao amassar o papel e retorná-lo ao


bolso.
— Eu quero o divórcio, Conrad. – Discorri com convicção. Eu não
quero continuar casada com um homem que não me ama e que tem uma
amante.

— Eu não vou te dar o divórcio, Rosalie. – Ele não desmentiu a parte


da amante e os meus olhos se encheram de lágrimas, que eu deixei que
caíssem livres. — Agora você vai chorar... – Meu Deus, que monstro.... Eu
amei esse monstro?

— Então vou obtê-lo através de um Juiz. – Falei apertando o botão para


chamar uma enfermeira.
— Não me faça rir. – A enfermeira chegou e antes que eu pudesse falar,
Conrad interveio. — Não foi nada. A minha adorada esposa apertou, sem
querer, o botão. Obrigado, meu amor. – Eu queria gritar de raiva. As lágrimas
ainda caiam e ele sorriu para o meu sofrimento. Maldito Conrad.

— A senhorita não pode entrar aí! – Ouço uma agitação do lado de fora
do quarto e em seguida a porta é aberta.

— Oh, meu Deus. – É a Chloe. Os meus olhos se enchem ainda mais de


lágrimas quando ela empurra o irmão da sua frente e vem me abraçar.
— Chloe... – Fechei os meus olhos e abracei ela de volta, não me
importando com a dor no pulso e nas mãos.

— Eu não acredito que você.... Como você pôde fazer isso comigo?

— Eu não tentei me matar, Chloe. – Falei calmamente — Foi só um


acidente. Eu acabei me cortando nos cacos do espelho que eu quebrei...
— Sua desastrada.... Nem mesmo uma amnesia é capaz de tirar isso de
você? – Ela sorria enquanto secava as próprias lágrimas.

— Estupidez não se apaga, Chloe. – Conrad falou me olhando nos


olhos.

— Saia daqui. Eu já disse que não quero você perto de mim. – Discorri
com os dentes cerrados.
— O que é isso, meu amor? Como pode dizer uma coisa dessas?

— Eu vou repetir mais uma vez: eu quero o divórcio e quero que saia
de perto de mim... da minha vida.... – Ele gargalhou alto, me emudecendo.
— Pare com isso, Con! – Pediu Chloe. — Você não é assim...

— Talvez o divórcio facilite as suas trepadas em casa com a Emily.... –


E ele avançou sobre mim como se eu o tivesse o estapeado.

— Isso nunca foi um problema para mim antes e nem agora. A


propósito. – Ele olhou o relógio na parede. — Eu tenho um compromisso
para daqui a pouco. – Conrad sorriu de maneira lasciva e, patética como sou,
acabei chorando. Ele era um monstro.
— Acho que ela precisa de morfina. – Chloe falou rapidamente quando
uma enfermeira entrou no quarto.

— Frágil como ela está... – A enfermeira olhou a bolsa de sangue e a


prancheta aos pés da cama. — ...não acho que vá fazer bem para o bebê. – O
quê?

— Do que você está falando? – Conrad perguntou antes de mim com a


voz falhando e cheia de preocupação. O que esse homem tinha que oscilava
tanto de humor?
— Ora, o doutor ainda não tinha lhes colocado a par? Sinto se estraguei
a surpresa.... De acordo com os enxames, a senhora McMahon está gravida
de quase dois meses.

— Eu vou ser tia! – O entusiasmo na voz de Chloe foi o suficiente para


a enfermeira sair e nos deixar.

— Você não vai ser tia coisa nenhuma, Chloe. – Conrad falou
friamente.
— Pare com essas bobagens, Con! Claro que vou, a Rose está gravida e
vocês vão ter um bebê...

— ESSE FILHO NÃO PODE SER MEU! – Falou praticamente


cuspindo as palavras em meio ao berro e saiu batendo a porta.
— Como ele pode dizer isso, Chloe? É verdade o que ele disse, ele não
é o pai? – O meu corpo inteiro tremia a àquela altura. Que tipo de pessoa eu
era?

— Rosalie... – Ela segurou a minha mão e acariciou minha bochecha


molhada por lágrimas que não paravam de cair. —... Somos amigas desde
que tínhamos dez anos. Contamos tudo uma para outra... Conrad foi seu
primeiro e único homem.

— Chloe...
— A lua de mel de vocês dois nunca foi consumada... Até pouco mais
de um mês atrás. Vocês fizeram amor...

— Ele não faz amor, Chloe...

— Vocês fizeram. Foi só uma vez, eu acho... Parece que vocês tinham
bebido demais e você... Você ama o meu irmão, Rosalie. Aconteceu... Porém
quando ele acordou e viu o que tinha acontecido... – Ela secou várias
lágrimas que começavam a cair de seus olhos. –... Ele ficou furioso consigo
mesmo. Pelo menos foi essa a explicação que você e ele nos deu, após a
nossa mãe os encontrar nos braços um do outro...
— Não fale mais. – Pedi entre um soluço e outro. — Eu não me lembro
de nada... Não quero me lembrar do que ele fez comigo. Ele está dormindo
com uma tal de Emily agora... E eu não...

— A Emily foi noiva do seu irmão, Rose... – O quê? Eu nem sabia que
tinha um irmão.

— Foi noiva? – Ela concordou com um movimento. — Onde está a


minha família?
— Você e eles não se dão bem... – Ela ajeitou um travesseiro atrás das
minhas costas enquanto falava. —... O seu pai te expulsou de casa aos
dezoito anos, quando você o pegou com uma amante e ameaçou contar para a
imprensa se ele não a deixasse e fosse ficar com a sua mãe; que estava
doente.

— A minha mãe? – Senti um misto de alegria e dor se rebelarem


selvagens dentro do meu peito.

— Ela faleceu naquele mesmo ano, Rose. – A minha mãe... Agora eu


entendia o aperto sufocado e doloroso no meu coração. — Eu sinto muito...
CAPÍTULO TRÊS

Recebi alta médica um dia antes do previsto, o que foi ótimo. Conrad
não iria aparecer até a manhã seguinte...
— Vamos Rose. – Chloe me chamou ansiosa com a porta do taxi já
aberta. — Tenho a sensação de que o meu irmão irá aparecer a qualquer
momento.

— Vamos. – Falei ao fechar a porta do taxi. — Não quero ter esse azar.
– Eu realmente não queria outro confronto direto com Conrad.

— Tem certeza de que precisamos disso? – Perguntei indicando as


minhas roupas. — Acho que ele vai ficar sabendo de todo jeito, nossos
passaportes... – Balancei eles na frente do meu rosto.
— Tem razão...

— Não quero que você se meta em confusão por minha causa, Chloe...

— Exatamente. – Soltei uma exclamação ao ouvir a voz de Conrad


atrás de mim. Todos que passavam ou estavam por perto se viraram para
olhar. — O que você pensa que está fazendo, Rosalie? – Cochichou no meu
ouvido enquanto me abraçava por trás e sorria para as pessoas. — Parece que
você tem se tornado muito mais estúpida do que antes... – As pessoas ainda
olhavam assustadas e Conrad beijou o meu rosto e pescoço me fazendo
arrepiar. — Acho melhor você conter esses seus arrepios todos. – A seriedade
da voz dele foi acompanhada por um aperto quase doloroso na minha cintura.
Chloe estava aturdida e sem palavras.
— Vai embora. – Falei baixo.

— Claro. – Concordou me arrastando junto a ele. — Nem pense em


fazer um alvoroço, Rosalie. – Ele sorria e beijava meu pescoço enquanto me
levava em direção a saída. — Nem pense em vir atrás de nós, Chloe. Você
não vai entrar no meu apartamento sem que eu autorize pessoalmente,
entendeu? – Não pude ver o rosto de Chloe. — Ótimo, boa garota. –
Lágrimas começaram a deixar os meus olhos e eu me contorci para que ele
me soltasse. Ele me soltou, mas isso foi dentro de um carro de vidros
completamente escuros. — Você pensou mesmo que podia me fazer de
idiota, Rosalie? – Ele inquiriu quando fechou a porta e ficamos sozinhos. A
minha respiração estava acelerada e entrecortada.
— Já disse que quero você longe de mim...

— Não é bem isso que o seu corpo diz... – Falou me empurrando


bruscamente de costas no banco do carro e pairando sobre mim. Ele estava
com o corpo praticamente colado ao meu. Um arrepio atravessou o meu
corpo e Conrad se aproximou mais. — Não é isso que seu corpo está dizendo
agora, é? – Falou passando o nariz pela minha garganta e orelha. O meu
coração acelerou no peito e pude sentir o corpo dele estremecer também. —
Você ainda me ama, não é mesmo? Me ama como aquela garota ingênua que
se casou com o homem mais pervertido de toda a Nova Iorque. Acho que
você não se lembra do porque eu me casei com você, não é? Bom, deixe-me
te dizer. – Ele aproximou a boca da minha e resvalou de leve ali. — Eu só
queria ter acesso as suas ações na empresa do seu papai amado. – Ele sorriu
com ironia. — Seu amado papai que adora trepar com as estagiarias e de
foder com a vida da família dos outros. Você não tem ideia do quão feliz eu
me senti quando descobri que a amiguinha moradora de rua da Chloe era a
filha do magnata Albert Muller. Melhor ainda foi descobrir que a pobre
infeliz tinha uma paixonite adolescente por mim. Não que eu nunca tenha
notando isso antes durante as suas visitas a nossa casa no passado, claro. A
partir daí foi questão de tempo... Esperar. – Ele acariciou o meu rosto quase
com violência. — Você pensou mesmo que eu fosse me interessar por uma
garota como você? – Eu me senti tão envergonhada naquele momento que
pouco me importei que ele estivesse com o rosto tão próximo ao meu. Deixei
as lágrimas caírem e os soluços de tristeza e dor deixarem o meu peito.
Conrad sorriu e beijou os meus lábios com um beijo áspero. Depois se
afastou e me deixou ali, chorando, de costas contra o banco do carro. — As
suas lágrimas não me comovem. – Quantos anos eu tinha? Reuni toda minha
decência e me sentei encolhida num canto. Depois abri a minha bolsa simples
e puxei a carteira de identidade. Vinte e um anos. Eu tinha, apenas, vinte e
um anos. Eu parecia feliz na foto. A verdade é que eu estava radiante.

— O que eu fiz para que você me odiasse assim? – Perguntei quando


entramos na cobertura. A pergunta pareceu pegá-lo desprevenido e ele deixou
aquela mascara cruel escorrer minimamente da sua face, revelando angústia
por debaixo. — E-Eu não entendo.... – Me calei assim que vi uma loira
curvilínea usando apenas uma minúscula lingerie vermelha e saltos agulha se
levantar assustada do sofá. A mulher parecia uma modelo saída de uma
revista masculina. Não precisava que ninguém me dissesse quem era. Eu
sabia. Era a tal Emily... — Eu tenho nojo de você, McMahon. – Acertei um
tapa que fez o rosto dele virar e a pele estalar sob os meus dedos. Depois saí
da sala, sem olhar a loira, e me embrenhei para o quarto horrível que eu
dormia. Meu pulso estava ardendo e quando olhei percebi sangue
umedecendo a atadura. O sangue umedecia tão rápido a atadura que logo
começava a molhar a cama. A palma da minha mão esbraseava e tinha uma
fraca mancha de sangue também.
O quarto ficou escuro depois que desliguei a luz do abajur. Pouco me
importava com o latejar do meu braço. Tudo que importava era a minha
vergonha ao ver aquela mulher quase nua esperando por Conrad. Fecho os
meus olhos com força para não chorar mais, porém não posso fazer o mesmo
com os soluços que escapam do meu peito e deixam os meus lábios. Mamãe!
Eu preciso tanto de você agora... O pensamento aparece do nada e é o
suficiente para libertar um grito de dor do meu peito. Não me lembro de
nada. Me senti furiosa comigo mesma e em um acesso de fúria jogo as
roupas de cama todas no chão. Por que fui tão estúpida me casando com o
homem que me odeia? Passo o braço que sangra pela penteadeira e derrubo
tudo pelo caminho; perfumes, espelho, vaso de flores, maquiagem, porta-
retratos... Tudo vai para o chão com um estrondo. Em seguida é a vez do
guarda-roupas, puxo fora cabide por cabide. Eu não lembro de nada ali. Eu
não preciso de nada dessa casa. Eu não consigo me lembrar de nada, meu
Deus. Alguma coisa cai junto com as roupas no chão e faz barulho de algo se
quebrando. A dor no meu pulso é, agora, um arder incessante que torna a
minha visão nebulosa. Ainda estou jogando as roupas fora do guarda roupa
quando sinto alguém me agarrar por trás e me arrastar para fora do quarto. Eu
grito alto, o mais alto que a minha garganta aguenta. Estou com tanta raiva
que tento morder o braço de quem me carrega, mas sou jogada sobre uma
cama macia e grande.

— Você enlouqueceu, Rosalie. – Conrad... ...eu o odeio.


— Eu te odeio, McMahon. Eu te odeio. Te odeio. Te odeio. Eu te
odeio, seu desgraçado... – Grito com força e sou silenciada por uma mão na
minha boca e um peso sobre meus quadris.

— Cale a boca. – Mordo a sua mão com força e ele me solta.

— EU TE ODEIO!!! – Grito mais alto e cuspo nele. Vejo a mão dele


vindo rápido na minha direção e cubro meu rosto com as duas mãos para me
defender. Estou chorando, mas o tapa não vem.

— Eu jamais bateria em você, Rosalie. Eu jamais bateria em uma


mulher. – A voz dele é de completa indignação. — Me conte se eu já encostei
a mão para te bater antes, Rosalie... Vamos, me responda?
— Eu não sei... ...eu não me lembro de nada! – As minhas mãos agora
estão sobre as coxas dele, que as colocou ali para poder me olhar nos olhos;
mas eu não encontro de volta o seu olhar.

— Eu não sei por que, mas não acredito nisso. – Ele pensava que eu
estava fingindo a perda da minha memória?

— Eu te odeio. – Uma onda, revigorada, de fúria me domina. — Eu te


odeio... te odeio tanto. – Acerto vários socos frouxos no peito dele. Estava
sem forças para lutar. Estava cansada de sofrer, de brigar. Eu só queria
dormir. Dormir e acordar para descobrir que tudo aquilo não havia passado
de um sonho ruim. Que eu tinha um marido lindo e que me amava.
— Mas que porra! – Conrad agarrou as minhas mãos e passou a própria
pela camisa. — Os seus pontos se abriram, Rosalie... Eu... – Ele puxou o
celular do bolso e colocou pressionado contra o ombro e o ouvido. — Preciso
que venha agora para minha casa, doutor Sinclair. Acho que os pontos no
pulso da minha esposa se abriram. – Desligando o celular ele o deixou sair do
ombro. O celular foi direto para o chão com um baque surdo. Caiu sobre o
tapete. Ele saiu de cima de mim e arrancou a camisa que estava vestido e me
puxou para o encontro do seu peito nu. — O médico vai chegar logo. – Falou
envolvendo o meu pulso com a camisa. — Você não devia ter ficado tão
agitada, Rosalie. – Eu sorri com escarnecimento; ele me apertou forte contra
o peito e deitou o rosto no vão do meu pescoço.

— Como você sentiria se ao chegar em casa se deparasse com um


homem pelado me esperando? – O corpo dele enrijeceu. — Eu não sei como
pude um dia ter pensado que você sentia algo por mim... Eu te odeio tanto,
Conrad. – Ele me segurou apertado contra o peito pelo que pareceu uma
eternidade e, então, me contorci para sair de perto, mas foi em vão. Ele era
muito mais forte do que eu.

— Não, você não me odeia e isso é o que me deixa ainda mais insano. –
Ele engoliu em seco e beijou o meu pescoço, depois me soltou abruptamente
e ficou de pé. É nesse instante que um homem com o rosto vermelho e
aparentando ter meia idade entrou no quarto.
— Cheguei o mais rápido que pude, senhor McMahon. – O médico
pronunciou já se precipitando na minha direção. — Fiquei sabendo que se
machucou... – Foi como se ele tivesse dito: "Fiquei sabendo que tentou se
matar"...

— Eu não tentei cometer suicídio. – Falei sem inflexão, não deixando


margem para discussão.

— Entendo... – Estendi o braço com a palma da mão voltada para cima


e ele deu um pequeno sorriso ao ver a camisa de Conrad envolta no meu
pulso. Que esse médico tirasse essas ideias românticas da cabeça. Não era
nada do que ele estava a pensar. — O que fez para que todos os pontos se
rompessem assim? – Acertei a cara do vagabundo com que eu me casei.
Claro que eu não diria isso.
— Eu... Eu caí. – Gaguejei e a mentira soou péssima e descarada até
mesmo para mim. No final das contas eu acabara de descobrir algo
importante sobre mim: eu era péssima com mentiras.

— Sei...

— O senhor é um médico ou policial? Pelo que eu estou te pagando


hoje acho que a sua boca poderia muito bem ficar fechada, hein?! – Mas foi a
minha boca que se escancarou diante do choque que as palavras de Conrad
causaram. O médico não pareceu ofendido, até sorriu; de modo debochado,
apesar disso...

— Desculpe a grosseria de Conrad... – Sussurrei para o médico, mas


gritei quando ele derrubou um liquido sobre o corte do meu pulso. Meus
olhos arderam com lágrimas não derramadas.

— Desculpe. – Aquele velho não parecia arrependido. Conrad me


lançou um sorriso petulante e sem mais nem menos saiu do quarto, me
deixando sozinha com o médico que parecia querer arrancar a minha pele
juntamente com a sutura que refazia. — Então... – Ele começou —... A sua
consulta está marcada para amanhã...

— Consulta? – De que consulta ele estava falando?

— Conrad marcou uma consulta para que cuidassem desse problema. –


Eu ainda não estava entendendo... Até que ele apontou para a minha barriga.
Problema?
— Não estou entendendo onde o senhor está querendo chegar...

— Não quer fazer o teste de paternidade, senhora? – Eu não acreditava


naquilo. Puxei minha mão de volta assim que ele cortou a linha da sutura e
me levantei furiosa. Conrad... Desgraçado.

— CONRAD! – Gritei por ele enquanto abria porta ante porta. Ele
estava em um dos quartos, no banho. Escancarei a porta do boxe e entrei sem
nem piscar. Eu estava dominada pelo ódio. Será que ele pensava que eu iria
tirar o meu bebê se ele não fosse o pai? Pior, como ele duvidava de mim e
dizia que não podia ser o pai? — Que tipo de monstro você é? – Pergunto
com o estomago revirando. — Você pensou mesmo que eu fosse matar o
"meu" bebê? – Ele pareceu chocado com a minha aparição no banheiro e se
limitou a me observar a princípio.

— Vamos conversar sobre "isso" depois, Rosalie. Agora eu preciso


terminar o meu banho... – Ah, mas se ele pensava que poderia me tratar como
uma qualquer.... Acerto outra bofetada no rosto dele, contudo dessa vez tomo
o cuidado em usar o pulso que está bom. Coloco toda a minha ira nessa
bofetada. Não esperei pela reação de Conrad. Saí do quarto dele e fui direto
para o elevador. Eu não ficaria sob o mesmo teto que ele depois disso. Eu o
odiava tanto...
— Eu disse que iriamos conversar, Rosalie. – Conrad segurou o meu
braço pouco antes de eu entrar no elevador.

— Me solta!

— Lembre-se que eu tenho grande parte das ações da empresa do seu


precioso papai e irmão... Que te amam tanto. – Ele estava usando de
sarcasmo... Eu sabia, por Chloe, que o meu pai foi o responsável por me
colocar para fora de casa com apenas dezoito anos.
— Pare de ser hipócrita, McMahon. – Falei agitando o meu braço para
que ele me soltasse. Não preciso dizer que foi em vão...

— Você não vai sair...

— Eu não vou tirar o nosso filho...


— SEU! Esse filho não é meu... E eu jamais pediria que retirasse a
criança! Jamais.

— Chloe me contou. Você estava bêbado e... E eu... Eu te amava.

— Não, você se aproveitou da situação... E no final das contas acabou


me atraiçoando.
— Não foi o meu pênis que ficou rígido dentro...

— Pau! Será que é tão difícil para a menininha perfeita, ingênua e


apaixonada dizer isso? – Tentei acertá-lo outra vez, no entanto ele foi mais
rápido e segurou o meu braço. — Sim, foi o meu pau que ficou duro, tão duro
– Ele fechou os olhos e sorriu parecendo saborear a lembrança. —... Que
acabou me enlouquecendo ao ponto de perder a cabeça. Isso acontece quando
qualquer mulher abre as pernas para mim. Naquele dia eu estava tão bêbado
que acabei te confundindo com outra. – A náusea subiu do meu estomago e
eu tive que me segurar para não vomitar ali mesmo. — Oh, acho que acabei
de manchar as suas lembrancinhas apaixonadas. Sim, eu estava tão bêbado
que acabei te confundindo com uma gostosa que eu havia fodido alguns dias
antes.
— Você é um maldito desgraçado, Conrad! – Se a minha vida já era
esse pesadelo sem eu lembrar das coisas... Eu não queria me lembrar nunca
mais. De coisa nenhuma.

— Não, eu não sou. Sou coisa pior.

— Eu quero o divórcio e você pode ficar com tudo. As ações. Tudo. Eu


não quero nada além do divórcio e poder ir para longe ter o meu filho. – A
gargalhada dele foi infernal. O que me assustou.
— Você pensa que é simples assim? – Ele estalou os dedos diante dos
meus olhos. — Pensa que é só pedir algo que eu vou atender e te dar? – Ele
continuou a sorrir. — A parte mais prazerosa desse casamento é fazer a filha
de Albert Muller sofrer. É fazer você sentir o quão insignificante é para mim.
– Eram palavras que ele me direcionava, entretanto foram piores do que se
ele me atirasse facas. — Você é apenas parte do jogo, Rosalie. O que eu sinto
por você é o mesmo que eu sinto por um estranho. Eu não sinto nada. Você
não significa nada para mim. – Eu queria ser forte e não derramar mais
nenhuma lágrima na frente desse homem. Não me humilhar mais... eu sempre
faço tudo errado, o pensamento desapareceu tão rápido quanto apareceu e eu
estava desabando. Tudo ficou escuro e insignificante. Nada mais existia além
da escuridão.
CAPÍTULO QUATRO

Acordei me sentindo estranha. Como se eu já não me sentisse assim


antes.... Arrisco me espreguiçar, porém a dor no meu braço me impede. Soltei
um gemido baixo e me virei em busca de uma posição melhor. A minha
cabeça não doía, mas estava meio anuviada e isso me incomodou. Não queria
abrir os meus olhos ainda...
— Se eu soubesse... – Para a minha completa surpresa, era Conrad e,
ele acarinhava os meus cabelos. Senti o coração disparar no meu peito com o
seu toque; por que as coisas não eram diferentes? — Quanto tempo eu ainda
preciso te fazer sofrer? Eu não aguento mais tudo isso, meu amor. – Ele falou
e se levantou lentamente para não me acordar. Depois saiu, me abandonando
sozinha. Meu Deus. Encolhi contra o travesseiro e acabei sentindo o cheiro
de Conrad no macio objeto. Me sentei assustada e observando a minha volta.
Estava em um quarto que, sem sombra de dúvida, era dele. Me levantei para
observar melhor o ambiente. As cores eram escuras, fortes e masculinas.
Combinavam com ele. Frio. Não existiam fotos ou coisas do gênero. O lugar
era apenas frio e vazio. Como Conrad. Não tinha nada para ser observado ali.

Aquele quarto me deixava triste, infeliz... como se algo ruim tivesse


ocorrido ali, no entanto havia uma mistura ambígua que me fazia extremante
a vontade naquele lugar. Com dificuldade abri a porta e saí para o corredor e
acabei colidindo contra o peito nu de Conrad. Ele era tão mais alto do que
eu... Os meus olhos ficavam quase na altura do peito dele. Olhei lentamente
para cima e encarei aquele rosto. E eu realmente olhei para o rosto dele.
Traços marcantes e fortes, quase rústicos. Ele era lindo. Seus olhos verdes
ficaram surpresos e assustados momentaneamente antes de recuperarem a
frieza habitual. Por um pequeno instante pude entender porque me apaixonei
por ele....

— O que faz fora da cama? – Ele segurou os meus ombros firmemente


ao perguntar — Você não deveria sair andando por aí quando está se sentindo
mau, e o bebê...?
— O meu mal é você. – Falei entredentes. — Você é a fonte de tudo
que de ruim me acontece... eu não sei como pude ser tão burra ao ponto de
me casar. De me apaixonar por você! – Dou um passo para trás e me afasto
dele. — Você é como Sarin, basta estar por perto para me matar. – A postura
dele era relaxada, mas os seus olhos eram glaciais. — Você me mata apenas
por respirarmos o mesmo ar, Conrad. – Ele deu um passo mais próximo e me
olhou de cima.

— Nossa, então eu sou a sintetização de um veneno nazista? – Ele


acariciou o meu rosto usando a palma da mão. — Você pensa tão mal do seu
amado marido...?

— Você não é amado por mim...


— Adoro quando o seu lábio inferior treme assim... – Tocou o meu
lábio e segurou entre os dedos, sem empregar força —... Isso quer dizer que
você está mentindo, sabia disso?

— Eu te odeio. Te odeio com todo... – Eu não esperava que a boca dele


selasse os nossos lábios em arremetida e roubasse as minhas palavras com
um beijo quase grosseiro. Segurando o meu rosto com as duas mãos ele me
beija. Seu beijo é hostil e incontroverso... punitivo. Sua língua derruba as
minhas defesas e empreende toda minha boca em meio a uma dança.
Institivamente me aproximo do calor convidativo do seu corpo. Quero tocar o
seu rosto... o corpo. Ele não permite. Seu beijo não é apaixonado ou
amoroso, nem mesmo sedutor. Conrad me beija como se quisesse nos
castigar. Ele me beija para me machucar... machucar o meu coração. Ou o
seu... Preciso de mais. Eu mereço mais do que aquilo, merda. Paro de
corresponder o beijo e deixo as minhas mãos caírem de cada lado do meu
corpo. As lágrimas também desabam e rolam pela minha face, molhando a
dele no processo. Nem assim ele cessa o beijo, o que faz um lamento baixo
escapar do meu peito e se perder na boca dele.

— Pensei que gostasse dos meus beijos, pequena... – Ele afagou a


minha bochecha e lábios enquanto falava. Não desse...
— Pelo amor em qualquer coisa que você ame na sua vida, Conrad...
me deixe ir. – Tento acariciar o seu rosto apenas para saber a textura da sua
pele, no entanto ele intercepta a minha mão no caminho. — Será que ter
matado toda e qualquer autoconfiança que eu algum dia tive... Que ter
aniquilado o meu coração e me chacinado por dentro... não é satisfatório para
você? Será que você quer que eu morra? Se você está comigo apenas para
conseguir aquelas malditas ações... Eu te dou todas elas. Passo elas
oficialmente para você. – Conrad não me objetou, apenas me beijou com
sofreguidão e saiu. Tentei ir atrás dele, entretanto o alcancei tarde demais. As
portas do elevado tinham acabado de se fechar, com ele dentro. Eu estava
outra vez sozinha naquela casa. Mas não por muito tempo. Se Conrad estava
acostumado a ter como esposa uma pobre coitada que não sabia se proteger
ele teria uma surpresa enorme.
CAPÍTULO CINCO

Bônus - Conrad
Em que porra de lugar eu estava com a minha maldita cabeça? Eu não
devia ter beijado ela. Ter beijado Rosalie. Merda. E a pior parte foi ela
retribuir aquele beijo desesperado e repleto de ira. Eu não queria beijá-la
daquela maneira. Eu ansiava... O que você quer não tem a menor importância
aqui! Gritou a voz daquela maldita gravação. Não obstante disso, odeio
acima de qualquer coisa o que sou obrigado a fazer com a garota mais doce e
delicada que já conheci. Em que ponto as coisas vieram parar? A raiva era o
veneno e o álcool que se misturava ao meu sangue naquele momento. Eu era
um maldito cretino que não conseguia se libertar de um chantagista
manipulador.

É meio da madrugada quando volto para casa. Ao contrário do que


todos pensam, não me encontrei com alguma vagabunda para aliviar as
minhas frustrações. Para dizer a verdade, eu estava sem me aliviar há muito
mais tempo do que jamais estive e a culpa era toda de Rosalie.... Não consigo
estar com outra mulher depois daquela tarde que a vi na casa de Chloe e a
quis para a minha vida toda. O dia que derrubei as minhas convicções, as
persuasões do meu pai, mas aí depois vieram as exigências imbatíveis de um
chantagista... E o que mais me deixava puto, é que embora tudo isso fosse
uma verdadeira tragédia e desgraça... Apesar do mal que eu precisava causar
a ela... Ela ainda me amava.

O apartamento estava inteiramente no escuro, não me atento em


acender luz alguma. Vou arrancando a minha roupa pelo corredor antes
mesmo de chegar ao meu quarto. Estou esgotado, precisando me afastar de
tudo. De todos. Eu só queria que as coisas tivessem sido diferentes... Que
aquelas malditas mensagens jamais tivessem aparecido... Passo pela porta do
quarto de Rosalie e ouço um choro baixo. O meu coração dispara. Teria ela
se machucado novamente? Os cortes do pulso teriam voltado a se abrir?
Sem mais pressupor as probabilidades entro no quarto. Uma luz mortiça
proporcionada pelo abajur fulgura parte da cama. Rosalie está sobre o
edredom e usa apenas uma camiseta verde... Sinto o meu coração nos ouvidos
ao me dar conta de que aquela camiseta é minha. Era minha. Usei ela quando
fui visitar Chloe e vi Rosalie, pela primeira vez, longe da sua família. E foi
naquele mesmo dia/noite que eu a encurralei e lhe roubei um longo e lento
beijo...

— Conrad... – Me assusto quando escuto o meu nome abandonar os


lábios dela de maneira quase dolorosa. Mas ela não sabe que eu estou ali, já
que ainda está dormindo.
Me acerco mais e afago os seus cabelos castanho-claros que cascateiam
sobre o travesseiro, me fazendo recordar do dia em que os vi espalhados pelo
meu lençol enquanto pela primeira vez eu a fazia minha. Ela era o que de
mais lindo tive nos meus braços... Ela era quem eu queria novamente nos
meus braços. Eu queria isso com tanta força que o simples fato de saber que
era impraticável me deixava completamente louco. Por que ela? Por que
justo ela? Rosalie se mexe e solta um lamento baixinho de aflição. Aquilo
também me deixava com raiva. Eu era o porra que causa isso a ela. Eu era o
porra que destruiu a vida dela.

— Conrad... – Que se foda o que estou sendo obrigado a fazer... Que se


dane a sede louca de desforra que carrego dentro do meu peito. Peito esse que
parece querer estourar a cada duelo entre o almejar e o precisar. Não me
importo com o amanhã. Eu poderia pensar nele quando chegasse. Me deito
naquela cama repleta do perfume da Rosalie e me embebedo na sua
fragrância quando puxo o seu delicado corpo contra o meu. Por que abraçar
não era o suficiente? Envolvo o seu suave e macio corpo nos meus braços e
pernas; eu adormeço com a boca na deleitosa pele do seu esguio pescoço. Eu
amava aquele gosto. Eu amava o seu perfume. Eu amava aquela mulher!
CAPÍTULO SEIS

ROSALIE
Se alguém me dissesse, que Conrad estaria envolvendo intimamente o
meu corpo pela manhã, eu não acreditaria. Entretanto, foi precisamente isso
que aconteceu. A fragrância que emanava da pele dele foi o que veio
primeiro, depois a sensação do calor da sua pele contra a minha...

— Pensei que você dormiria a tarde toda.

— Tarde toda? – Me assusto. Como assim a tarde toda?


— Ei, eu estou caçoando. Ainda não são nem oito da manhã. – Conrad
brincando? Desde quando? — Pare de se mexer tanto, Rose.

— Você está bem, Conrad? – Eu tinha que saber. Como é que ele
transforma tanto de um dia para o outro?

— Por que eu não estaria? – Sorrindo ele afunda o nariz no meu


pescoço. A minha respiração acelera e sinto toda pele no meu pescoço e
ombro se arrepiarem com o contato da sua barba por fazer. — O seu cheiro é
uma delícia, sabia disso? – Oh, meu Deus. Trocaram o Satã glacial que era o
meu marido e o substituíram por outra pessoa.
— Você não parece... Você. – Falei ainda sem entender ou encarar os
seus olhos.

— Agora eu pareço comigo mesmo, Rosalie. – Falou colando a boca no


meu pescoço.
— E, por acaso, você pensa que vou ignorar o que você tem me feito
passar essa semana? – Falei me afastando dele. — Você me humilhou,
Conrad. Esteve dormindo com aquela cadela...

— Eu não tenho dormido com ninguém desde você. – Conrad coçou a


cabeça e se aproximou de mim, me obrigando a olha-lo nos olhos. —... Eu
não consigo estar com mais ninguém desde que ficamos juntos. – Eu não
acreditava no que ele estava me dizendo. Algo em mim, bem lá no fundo, me
dizia que eram verdades que abandonavam os seus lábios..., mas era difícil de
acreditar em alguém que só me dava motivos para desconfianças.
— Eu não acredito, Conrad. – O olhar dele se tornou abatido, porém
meio que conformado.

— E-eu te amo Rose. – Eu não queria ouvir mentiras. Me ergui e ele


veio junto. — Você não ouviu o que eu acabei de falar?

— Sim, eu ouvi e me recuso a acreditar. – O que diabos deu nele? Seria


outro plano para acabar com o resto da sanidade que ainda me restou?
— Eu sinto muito se fiz você sofrer, Rosalie.

— Oh, tarde demais você não acha? – Conrad tornou a cair as mãos
pelo meu rosto e cabelos, se acercando ainda mais de mim, me deixando
invadida de todos os lados por seu perfume. — E agora você resolveu que me
quer? Decidiu que não sou mais o inseto que você usa como brinquedo, pisa e
que odeia?

— Eu nunca disse que te odiava... eu já disse que te amo antes, lembra?


– A voz dele estava estranha, parecia ter tomado uma grande batalha interior
enquanto pronunciava aquelas palavras.
— Não, eu não me lembro. Eu não me lembro de nada, Conrad. Eu não
me lembro como, ou quando, cometi a maldita loucura de ter aceito me casar
com você. – Ele segurou meus ombros e escorregou as mãos para cima até
alcançar o meu rosto. — Eu não me lembro de toda angústia que você deve
ter me infringido. Não me lembro das noites que eu, provavelmente, passei
chorando por você; que estaria com alguma vagabunda trepando como coelho
por aí. E não... Eu não me lembro de você em momento algum ser o que você
está sendo, ou fingindo ser, agora.

— Eu não estou fingindo ser nada. Te ferir e magoar foi a mentira...

— Para mim pareceu muito real. Sair fodendo com metade da cidade
enquanto estávamos casados também foi um mal-entendido? – Eu não
consegui segurar o sorriso carregado de consterna. — E transar com uma das
madrinhas do nosso casamento no dia da nossa, não consumada, noite de
núpcias também foi um fingimento, um engano? – Ele fechou os olhos e
abaixou a cabeça, como se recusasse a aceitar o que eu falava. – É, me
contaram isso. A cachorra chamada Emily, que por acaso era a madrinha, me
contou; disso eu me recordo.

— Deixe-me te contar um segredinho. – Emily se aproximou e me senti


tentada a esbofetear o rosto totalmente maquilado dela. — Sabe o dia do seu
casamento cheio de esplendor? – Engoli o bolo que subiu na minha garganta.
— Fui a sua adorada madrinha, lembra? Pois bem, eu também fui a mulher,
que no seu lugar, compartilhou o leito nupcial com o seu marido, delicioso e
bom de foda. – O meu corpo inteirinho estremecia e eu já estava chorando.
— Foi um deleite aquela noite. Uma pena você ter se casado com ele....

— Isso não aconteceu. Não foi assim... – Ele tentou me abraçar, mas
me apartei.

— É assim que as coisas são, Conrad. Por que não cessa de fingir e diz
logo o que você está planejando, ou executa logo tudo? Poupe-me do
sofrimento. – Os meus olhos e a minha cabeça estavam doendo.
— Eu estava bêbado naquela noite e tenho certeza de que as coisas não
foram assim, apesar de não me lembrar de quase nada...

— Ora se todos não estão perdendo a memória... Não quero saber. Eu


não quero me lembrar. Já é sofrimento o suficiente conviver com esse
resquício do que foi o meu passado. Já é o suficiente ter que carregar essas
lembranças de toda dor e humilhação pós acidente.

— Senhor? – Somos interrompidos por uma voz do lado de fora do


quarto.
— Desaparece da porra desse corredor, Henry. – Conrad falou com a
voz fria e furiosa para a desprovida alma penada do outro lado.

— Mas senhor... É o senhor McMahon, o seu pai. – Ele fez uma pausa
e continuou. — É sobre a Lucy.

— Porra. – Foi o que ele falou antes de sair golpeando a porta. Eu


deslizei até o chão e chorei. O que eu havia feito da minha vida? Como pude
deixar as coisas chegarem a esse ponto? E a minha família? Nunca nenhum
deles apareceu para me ver. O meu peito apertou forte, me fazendo soluçar
alto. Nem o meu irmão apareceu por mim. Que tipo de monstros eu tinha
como família? Como puderam me abandonar no meio disso tudo? Eu queria
desaparecer. Eu não queria me lembrar de nada...
Eu não conseguia fechar os meus olhos. Faziam horas que Conrad
havia se ausentado.... Permaneceu fora o dia todo. Como se aquele momento
apaixonado e arrependido dele não tivesse existido. Por que eu estava
desperta e aguardando por ele? Eu não deveria ser tão idiota a esse ponto.
Eu estava encolhida no sofá, diante da porta, esperando... Por que eu me casei
com ele? Queria me lembrar de tudo na mesma magnitude que desejava
esquecer... Eu não entendia... Esse anseio.

— Olha quem temos aqui. – Olho para frente, assustada, ao acordar do


que parecia ser um breve cochilo e me deparo com um homem alto, tão alto
quanto Conrad, me observando. — A linda Rose. – O meu estômago se
comprimiu em um nó ao ouvir aquele homem. — O que? Não se lembra de
mim? – Ele se aproximou mais um pouco e eu me encolhi incapacitada de
falar. Ele era alto e de musculatura magra. — Perdeu a fala também? – Ele
sorriu diabolicamente, me deixando em pânico. Conrad... Cadê você? — Ele
não vai chegar... – Respondeu como se pudesse decifrar a minha mente.
Reuni toda a minha coragem e saí em disparada para o andar superior. Eu
podia ouvir a gargalhada extasiada dele ecoar logo atrás de mim. Eu não me
lembrava dele, mas algo me dizia que ele era ruim. Muito ruim. Conrad... Por
que eu só conseguia pensar nele naquele momento? Entrei em um quarto e
me tranquei. Fiquei em silêncio. Fica calma. Não se apavore mais do que já
está! — Eu vou te encontrar... – Ele estava zombando ao dizer. —... Não vai
adiantar ficar se escondendo, o bicho papão sempre vai te encontrar. – Seus
passos se aproximaram da porta do quarto e, então, ele girou a maçaneta
fazendo o meu coração açoitar insano com o medo. — Achei! – Gargalhou e
eu fiquei aterrorizada ainda mais. — Eu falei que iria te encontrar... Não
levou muito tempo, hein? – Disse enquanto um estrondo ecoou no quarto. Ele
havia arrombado a porta e agora estava me olhando fixamente. — Vamos, vai
ser divertido... – Ele veio na minha direção como um felino acuando a sua
presa. —... Vou te dar o que o seu marido se recusa. – Eu quase não ouvia
nada do que o tal homem dizia de tão alto e frenético que o meu coração
batia, parecia bater nos meus ouvidos.

— Conrad vai matar você... – Consegui dizer baixo e apesar de pouco


inteligível falei com convicção aquilo. Lá no fundo do meu ser eu sabia que
essas eram palavras certas.
— Conrad? O mesmo Conrad que eu vi agora a pouco numa casa
noturna rodeado de mulheres? – Maldito, Conrad! — Fico feliz que ainda
possa falar. Prefiro ouvir sons saindo dessa sua boquinha linda e desejável.
Como da outra vez, lembra?

— Saia da minha casa...

— Da sua casa? – Ele então ficou sério. — Não antes de provar o seu
gosto, minha linda. – Falou vindo na minha direção e agarrando o meu braço.
Apertando forte, justamente, o meu braço machucado.
— Você está me machucando! – Falei já com lágrimas nos olhos. —
Me solta.

— Pensa mesmo que eu vou embora sem conseguir o que vim buscar?
Vamos terminar o que começamos há alguns anos. – Assim que ele levou
uma mão no botão da calça eu o chutei com força. Eu não conseguiria fazer
ele se machucar, no entanto o susto que dei nele foi o suficiente para eu
conseguir fugir. Corri pela porta e comecei a gritar por ajuda. — Sua cadela.
Ninguém surgirá ao seu auxilio. Vou ter o que seu maldito Conrad evitou
anos atrás.

— Alguém... ALGUÉM ME AJUDA! – Eu só conseguia pensar


naquele idiota. — CONRAD! – O homem gargalhou alto, já aparecendo atrás
de mim na escada.
— Não seja tão burra, garota. – Eu podia sentir ele me alcançando.
Pouco a pouco ainda mais próximo. — Como pode ser tão infantil e pensar
que ele te protegeria?
CAPÍTULO SETE

— Porque ela é minha esposa! – Escutei a voz no mesmo tempo em que


colidia contra o seu dono. — E eu vou acabar com você, Dylan! – Dylan?
Conrad acertou um murro no rosto do meu perseguidor, que logo revidou,
entretanto errou e isso foi a sua perdição. Conrad acertou ele duas vezes com
força e quando Dylan caiu, Conrad, o montou e desferiu golpes com tamanha
brutalidade contra o rosto do desgraçado que foi preciso que Henry, que
acabava de chegar, o arrancasse de cima do infeliz. Eu estava em estado de
choque. Todo o meu corpo tremia naquele instante. Tudo que eu conseguia
pensar era que se Conrad não tivesse chegado...
— Conrad... – Cochichei e corri na direção dele, já me agarrando ao
seu corpo — Conrad...

— Venham tirar o lixo, que vocês permitiram que entrasse na minha


casa sem a minha permissão! – Ele rosnou ao celular e depois o jogou num
canto. — Você está bem? Ele machucou você? – Indagou apanhando o meu
rosto. Eu neguei e me segurei mais forte a ele, que desequilibrou e desabou
sobre o sofá me levando junto. As mãos dele estavam sujas de sangue e
feridas.

— Oh, Conrad...
— Ele te...

— Não! – E ele fez algo que eu não esperava em um momento como


aquele. Conrad me agarrou forte e começou a me beijar com avidez. Meu
corpo inteiro se aqueceu com aquele beijo, um beijo diferente dos outros.
— Minha, pequena...

— Conrad... – As palavras saíram em um suspiro baixo e quase mudo


sem que eu percebesse ou soubesse que as diria. Se eu tivesse acertado um
tapa no rosto dele a reação teria sido melhor.
— Desça de cima de mim, Rosalie. – Meu peito pareceu se transformar
em um bloco de gelo com aquelas palavras. Como ele pôde dizer que me
amava ontem... Eu estava chorando. Ele disse que me amava ontem! Eu
encontrava-me com o corpo todo a estremecer. — É que acabei de sair de
uma foda numa festa... – O meu estomago se revirou e eu saí de perto dele.
Como ele pôde dizer essas coisas? Eu... ...Eu era uma estúpida mesmo.

— Viemos buscar o “lixo”, senhor. – Disseram após rasparem a


garganta, aproveitei que os seguranças chegaram e me retirei para o quarto.
Eu precisava de um banho. Eu necessitava retirar toda aquela imundice da
minha pele. "E acabei de sair de uma foda numa festa". Desgraçado. Eu
sabia que ele estava mentindo. Eu sabia.

Chloe. Eu precisava dela agora. Seja forte, sua estúpida! Você é uma
idiota que se casou com um canalha, no entanto não é uma prisioneira dele. O
que está fazendo trancada todos esses dias? Saía como ele faz. Abandone ele
sozinho durante toda a noite como ele te deixa. Puxei a minha bolsa da
cômoda e saí de volta para o salão de entrada.
— Henry. – Todos os cinco seguranças, inúteis que ali estavam, me
olharam.

— Sim, senhora.

— Preciso que você me leve até a casa da Chloe.


— Mas o senhor McMahon... – Começou a se negar a fazer o que eu
havia pedido e me desesperei.

— O que eu faço com a porra da minha vida, não é da conta desse


desgraçado. Me leve até a Chloe, ou te coloco no olho da rua. – Falei dando
as costas e entrando no elevador. Os rostos em choque que me encaravam
receberam uma adição... Conrad. Para esse, dediquei uma bela última visão
do meu dedo do meio. Eu não sabia se Henry viria ao meu encontro, mas não
vacilei em instante algum. Me mantive séria e ignorei os olhares atentos e
chocados que me encaravam enquanto eu passava pela recepção do edifício.
Que se danem.
— Senhora? – Era Henry. Suspirei internamente em sinal de alivio. —
Por aqui.

— Obrigada, Henry. – Essa constituiu a última e a única coisa que eu


falei, e foi quando ele abria a porta do carro para mim já na casa da Chloe.

Eu estava esgotada de tudo aquilo. E Conrad? Será que ele era bipolar?
Ou será que era louco mesmo? Onde foi parar aquele homem que, ontem, me
encheu de carinho pela manhã? O homem que disse que me amava foi
transformado no monstro frio e vagabundo que, apesar de tudo, salvara a
minha integridade. Eu era grata a ele. E aquele tal Dylan? Como alguém
admitiu que ele entrasse no apartamento?
— Rose? – Mal esperei que Chloe tivesse aberto a porta direito e corri
para os braços dela. — O aconteceu?

— Oh, Chloe. – Eu era uma estúpida. Ver Chloe e abraça-la havia


aberto as comportas nos meus olhos e agora eu chorava como nunca. — Por
que dói tanto? – Pedi me referindo ao que Conrad me fazia sentir. Ela não
precisava que eu explicasse coisa alguma.

— Olha, você pode não se lembrar – Ela falou quando eu estava deitada
sobre a cama com a cabeça no seu colo. —..., mas nem sempre o meu irmão
foi um canalha com você.... Eu não sei o que aconteceu com ele, mas de uma
coisa eu tenho certeza, Conrad te ama.

— E demostra isso transando com a madrinha do nosso casamento na


nossa noite de núpcias? Ele faz isso trepando com cada mulher que cruza o
caminho dele enquanto estamos casados? Me maltratando? Matando tudo que
um dia eu tive de bom? Se ele me ama assim eu não quero o amor dele. Eu...
Eu só quero ser feliz, Chloe...

— Conrad é um babaca, Rosalie. – Ela falou enquanto afagava os meus


cabelos. Era tão reconfortante receber um carinho. — Por que não procura a
sua família? O seu irmão? Ele parece se preocupar com você, Rose...

— Não. Depois que eu saí do hospital, ninguém veio me procurar. –


Falei limpando os meus olhos. — Eu não vou atrás de ninguém. – Eu estava
tão magoada. Será que sou tão ruim ao ponto de ninguém me querer por
perto?

— O que aconteceu hoje para você vir me procurar nesse estado?


— Alguém... Alguém invadiu o apartamento. Dylan, Dylan invadiu o
apartamento. – Senti Chloe enrijecer.

— Me diga que ele não te fez nada, meu Deus.

— Conrad chegou – O meu coração disparou ao me lembrar da fúria


que Conrad atingiu Dylan. —... E não deixou nada de mal me acontecer. Ele
bateu em Dylan tanto que precisou que Henry os separasse... Mas quem é
esse Dylan? – Chloe saberia responder.
— Ai, meu Deus. Ai, meu Deus. – Chloe repetia sem parar, enquanto se
levantava e andava de um lado para o outro. — Dylan, esse desgraçado
tentou abusar de você há alguns anos atrás. Ele ia te violentar se Conrad não
tivesse chegado naquela festa. – A sua expressão era abatida e atemorizada.
— Ele me atacou fisicamente, Rose. Eu perdi a consciência e foi quando ele
partiu para você...

— O que houve depois, Chloe?


— Dylan estava preso, Rose. Ele era amigo do Jeremy. – Ela andava de
um lado para o outro e de repente o celular dela começou a tocar alto.

— Está na cama – Digo vendo o desespero dela para encontrar o


aparelho. —... Aqui.

— Tá, eu sei! – Ela falou com alguém do outro lado da linha. — Por
que eu não fui informada, porra? – Acho que a boca suja deve ser herança
dessa família. — EU SEI, CARAMBA! – Ela ainda gritava com o telefone
quando a porta do quarto foi aberta subitamente, nos assustando.
— SAIA, CHLOE! – Eu não podia acreditar no que os meus olhos
viam. Conrad.

— Não, ela não vai sair. Não saia, Chloe. – Me empertiguei. — Você
não é a merda do rei do mundo, Conrad. Você não pode sair gritando com as
pessoas em suas próprias casas.

— SAIA, CHLOE! – Ele gritou ignorando o que eu dizia. Chloe olhou


para o irmão com seus olhos marejados e me disse um "eu sinto muito"
apenas com uma oscilação de boca.
— Eu não quero falar com você.... – Conrad fechou a porta a chave
assim que Chloe saiu. — Eu não quero ficar aqui com você, Conrad. Como
você tem a cara de pau de me beijar depois de ter transado com uma
vagabunda qualquer...?
— Porque era tudo mentira. Eu menti, porra! – Ele falou já avançando
na minha direção e me envolvendo em um abraço. — Eu não estava em
nenhuma casa noturna. Eu estava com o meu pai... – Senti quando ele engoliu
em seco. — Daí ele comentou sobre o Dylan. Em como ele estava com raiva
por aquele maldito ter saído da prisão. – Eu não podia ouvir direito tamanha
era a altura dos meus batimentos cardíacos. — Eu sabia que aquele
desgraçado iria te procurar... Só não sabia se eu chegaria a tempo de evitar.

— Eu não entendo...

— Ele descobriu que você está esperando um filho meu, porra. – Eu


estremeci com a raiva na voz dele. Tentei me soltar daquele abraço, mas ele
não permitiu. — Eu sinto muito, Rose... eu não quis te assustar. – Ele estava
me abraçando tão forte que era difícil de respirar. Aquilo seria verdade?

— Você está me deixando sem ar, Conrad. – Falei e ele me embalou até
a cama, se deitando junto comigo. Esse homem era definitivamente bipolar...
Eu não sabia como acompanhar aqueles altos e baixos constantes dele. Era
demais para mim tudo aquilo.

— Você precisa acreditar em mim quando digo que te amo – “ah, tá”,
pensei. — Mesmo que as minhas atitudes demostrem o contrário.

— Claro. Quando você estiver fodendo por aí... Se lembre que me ama,
ok? Lembra que me disse essas palavras. Faça-me o favor, Conrad. Por acaso
pensa que eu sou tão idiota assim? Claro que pensa, não é?

— Você não sabe de nada, Rosalie! – Falou tomando posse dos meus
lábios. Eu lutei contra... o máximo que consegui. No entanto não o suficiente
para ele desistir. O beijo dele foi lento, cuidadoso e eu não resisti. Eu não
queria resistir. Eu não pensava direito quando ele me tocava daquele jeito.
Meu Deus! De onde veio esse pensamento? Uma lembrança ou o simples fato
do que sempre aconteceu após eu acordar naquele hospital?
CAPÍTULO OITO

BÔNUS - CONRAD
UM ANO E MEIO ANTES
Se a Chloe não aparecesse na casa do velho apenas uma vez na vida e
outra na morte, eu não precisaria estar abandonando os meus planos para
checa-la. Será que ela pensava que só porque havia ganhado aquela casa,
em um condomínio, podia desaparecer e ignorar a família? Eu tinha planos
para à noite e isso não incluía servir de babá pelo resto da minha tarde livre.
Merda. Tive que dispensar uma gostosa que eu vinha trazendo na minha mão
há dias. Porra, Chloe. Irmãs mais novas sabem como acabar com a alegria...

Parei o carro na garagem da Chloe e, a contragosto, desci do meu


Porsche preto. Eu não entendia como o meu pai podia deixar que a Chloe,
desde os dezoito anos, morasse sozinha e longe de casa. A casa se parecia
com ela, era alegre e cheia de energia... até demais. Bem, mas essa era uma
das características dos McMahon: somos cheios de energia... Só espero que
ela não ande gastando as suas energias com algum babaca por aí!
— Fiquei sabendo que você daria as caras por aqui. – Chloe me
interceptou antes mesmo que eu tocasse a campainha. Ela parecia a típica
adolescente de mal com a vida... com o irmão mais velho. Tecnicamente eu
não era o mais velho, antes de mim ainda vinha Jeremy e Lucy...

— Fico feliz em vê-la também, pirralha. – Sorrio e abraço aquela


atormentadora de irmãos. — Pensei que a terra tivesse te engolido.
— Há, há. Muito engraçado da sua parte, Conrad. – Ela socou o meu
braço e me puxou para dentro da casa. — Estou com hóspedes não posso
dedicar toda minha atenção e beleza para um único ser. – Hóspede? Eu
esperava que não fosse algum filho da puta que estivesse transando com a
minha irmã... Eu o mataria e jogaria o corpo para fora da casa.

— Nossa, quanta modéstia da sua parte. – Me virei automaticamente na


direção da linda voz. — Não existem hóspedes. Sou apenas eu e fui obrigada
por você a permanecer por aqui. Oi, Conrad. – Eu parecia um idiota olhando
a garota. Ela era baixinha, de longos cabelos castanho-claros e imensos olhos
azuis. E porra, ela era linda. Era perfeita. Era a Rosalie Muller. E eu a queria
para mim.
— Esse imbecil não consegue fechar a boca e parar de babar, Rose. –
Chloe piscou para a amiga. — Esse é aquele safado mulherengo e gostosão
de quem eu te falei para fica a quilômetros de distância. Não se esqueça. Ah,
sempre me esqueço que já se conhecem. Ele não age sempre como um
imbecil e eu não sei o que deu nele. – Rosalie deu um meio sorriso tímido,
mas logo o escondeu. Ela era linda demais. Tão pequena e delicada, mas bem
gostosa pelo que eu podia ver pela fraca transparência do vestido branco que
ela usava. Ela estava contra a luz que entrava pela vidraça e me
proporcionava a visão mais espetacular do mundo. É, eu sou um safado
irremediável. Ambicionando, não de hoje, a bela senhorita Muller. Dou meu
mais belo sorriso para ela e a minha irmã me acerta outro soco no braço. —
Seu sem vergonha. – Ela também viu o que eu vi, mas não falou nada para a
amiga. Chloe sabia da minha paixão de anos por Rosalie.

— Oi. – Falei chegando perto dela. Tão perto que apenas alguns poucos
centímetros nos separavam. Eu podia sentir o perfume delicioso que vinha da
sua pele. A sua respiração ficou acelerada quando eu toquei o seu rosto.
Nota: a pele dela era macia e me fazia querer tocar cada extensão do seu
corpo... Com a minha boca. Eu sorri para o rubor que subiu para a face dela.
Rosalie ficava adorável assim. E aquela boca volumosa e beijável? Eu sentia
que iria assaltar aqueles lábios a qualquer momento. Era apenas questão de
tempo. Bem, era o que eu ficava repetindo há dois anos. — Por que está
ficando corada? – Falei quando Chloe correu atrás do celular que tocava
ensurdecedor em algum lugar do segundo andar.

— E-Eu não estou... – Ela deu um passo para trás e se virou


caminhando para uma sala reservada. — Preciso ir... – Eu não acreditava que
ela estava fugindo de mim. Era sério isso?
— Por que veio me visitar, Conrad? – Chloe me arrancou dos
pensamentos safados e de cobiça. — Foi ele, não foi?

— Foi. – Ela xingou baixinho. — Ei olha a sua boca suja garota.

— Estou na minha casa e falo a porra que eu quiser. – Juro que me


controlei para não ralhar com ela.

Eu não conseguia tirar Rosalie dos meus pensamentos. Três dias


haviam se passado e eu estava de volta à casa de Chloe. Sim, eu, Conrad
McMahon estava agindo como um adolescente. E a culpa era toda daquela
garota.

— O que faz aqui? – A Chloe apareceu sorrindo para mim.


— Vim ver como a minha amada e adorada irmã está. – Sorri
desavergonhado para ela.

— Até parece. – Ela falou fechando a porta atrás de nós.

— Não acredita em mim?


— Não, eu não acredito nem um pouquinho sequer em você. Por acaso
pensa que eu sou cega ou idiota? – Ela sorria enquanto falava, entretanto,
aquele tom de advertência estava lá.

— Ah, vai. – Resmunguei me acomodando no sofá.


— Vou arrancar as suas pernas se não tirar os seus pés dessa mesa. –
Ralhou dando um tapa na minha perna. — Você não está na sua casa, seu
folgado.

— Cheguei, Chloe... – E lá estava ela! Rosalie acabava de entrar na


casa e parou de falar assim que me viu. Será que o meu sorriso estava grande
demais agora? Eu não conseguia segurar.

— Olá, Rosalie! – Me levantei e caminhei até ela. E... meu Deus, como
ela estava linda naquele curto shorts branco e blusa azul. Ela corou quando eu
cheguei bem perto dela.
— Oi, Conrad! – Acho que fechei os meus olhos para apreciar o meu
nome saindo daquela boca linda. Nunca alguém falou o meu de maneira tão...
perfeita. Era prazeroso ouvir ela falar... e eu queria ouvir o meu nome
deixando a boca dela enquanto eu a levava à estase de um clímax.

— Dá para você fechar essa sua boca? Você está babando idiota. –
Chloe apareceu e estragou as preliminares que eu já me dispunha a pensar.

— Por que você não me oferece algo para beber, Chloe? – Falei
sorrindo. — Que coisa mais feia, você não oferece nada para as suas visitas
beberem não?
— Para as visitas sim. Já a besta do meu irmão é outra coisa.

— Ai, quanta desconsideração. – Segurei forte o meu peito como se as


palavras, a pouco proferidas por ela, tivessem me causado dor física. — É
assim que você trata o seu estimado e amoroso irmão mais velho?

— Você não é amoroso e muito menos o mais velho, Conrad. – Eu


sorri, quase gargalhei com o atrevimento dela. Ela sabia que eu a amava mais
do que tudo nesse mundo.
— Seu Jeremy veio primeiro, eu em seguida e você por último... – Ela
abriu aquele mesmo sorriso lindo que me deixava como um bobo desde que
ela nasceu. Me lembro, ainda hoje, daquele sorriso lindo de bebê. — Você é a
fedelha caçula.

— Idiota. – Ela falou saindo e finalmente me deixando sozinho... com a


minha verdadeira razão para vir visita-la. Rosalie.

— Você deveria vir mais vezes. –Rosalie falou e corou. — Digo, para
visita-la. Ela sente muito a sua falta. – Eu sorria de orelha a orelha.
— E você?

— Eu? Eu, o quê? – Ela apertava uma mão na outra, um sinal de


ansiedade.

— Não quer que eu venha mais vezes? – Sentei indicando o lugar ao


meu lado para que ela me acompanhasse.

— Você é o irmão dela. – Rosalie se sentou ao meu lado me deixando


mais do que satisfeito. — Eu nem te conheço muito bem, Conrad. Nossos
pais eram amigos, apenas isso. – Era uma delícia ouvir o meu nome deixar
aquela boca maravilhosa.

— Podemos conhecer muito bem um ao outro. – Me aproximei dela —


Basta você deixar. – Falei tocando seu rosto e o rubor subiu para as
bochechas dela, a deixando ainda mais linda.

— Eu não acho uma boa ideia. – Argumentou comigo, mas eu não dei
muita atenção. O perfume dela não me deixava pensar direito. Tudo que eu
queria era inalar cada centímetro daquela pele aromal e macia.

— Já eu, acho perfeita. – Falei roubando um beijo seu. Rosalie pareceu


alarmada e desviou a boca da minha.
— O que você pensa que está fazendo?

— Descobrindo se você é tão doce quanto parece ser. – Aproximei a


minha boca da dela novamente e dessa vez ela não me evitou. — E quer
saber? É ainda mais deliciosamente doce do que eu podia imaginar. – Então a
beijei com dedicação. Eu queria aproveitar a sensação daqueles lábios macios
e quentes junto aos meus. Ela era perfeita... ...para mim. A puxei contra o
meu corpo e senti o calor do seu mesmo através da minha roupa. Sem muita
dificuldade fui aprofundando o beijo. Porra, e que beijo. Ela não parecia
muito confiante de início, mas depois... bem, eu estava sendo devorado por
uma boca faminta e deliciosa. — E agora? – Perguntei me afastando
minimamente dos lábios dela. — O que acha da ideia de nos conhecermos
mais? – Ela sorriu mordendo o lábio inferior. E eu sorri. Os olhos dela
brilharam com diversão e eu roubei outro beijo. Nunca havia me sentido tão
leve, ou mais feliz, beijando uma mulher. Rosalie.

— O que a Chloe vai pensar? – Assim que essas palavras deixaram a


boca dela eu já estava dando saltos e socos no ar, lógico que tudo isso não
saiu dos meus pensamentos. O que ela pensaria se eu agisse como um
adolescente de quinze anos?
— Que vocês dois são muito fofos juntos, mas que precisam de um
quarto, merda! – Eu quase engasguei ao ouvir a Chloe. Rosalie ficou
entorpecida no lugar. — Será que vocês dois poderiam ficar assim mais um
pouco? – Ela nem bem terminou de falar e um som de obturador de câmera
foi acionado. — Pronto. A cara de você dois é impagável. Depois vocês me
procurem para eu dar uma cópia das fotos...

— "Das fotos"? – Rosalie se levantou para agarrar o celular das mãos


da Chloe.
— Pensa que eu não iria registrar o momento em que o meu irmão
ficou de quatro pela primeira vez na vida? – Rosalie ainda tentava agarrar o
celular, o que tornava tudo ainda mais divertido. Ela era bem mais baixinha
que a minha irmã e isso fazia com que ela apenas saltasse de um lado para o
outro. — A outra é de depois que ele pediu para te namorar e vocês se
engoliram aí. – Tirei o celular da mão dela e Rosalie veio ver junto comigo.
Eu sorri. Uma das fotos era de mim e Rosalie engalfinhados nos beijando. Na
outra era o susto que prevalecia para ambos.

— Acho que eu vou querer uma dessa aqui! – Falei mostrando para a
Chloe a foto de Rosalie e eu nos beijando.

— Ei! – Rosalie resmungou e eu sorri puxando-a para um abraço


apertado. Eu adorava sentir aquele corpo pequeno contra o meu. — Nós não
estamos.... Ele não pediu para namorar comigo coisa nenhuma!
— E o que foi então? – Retruquei.

— Você disse para nos conhecermos melhor...

— Para Conrad, isso é namorar. – O meu coração disparou no peito


quando Rosalie me olhou de canto de olho. Ela não confiava naquilo.
— Deixa-me fazer da maneira certa então. – Me ajoelhei aos pés dela e
puxei sua mão dando um beijo. — Namora comigo...

— Isso não está parecendo um pedido, Conrad. Parece mais uma


ordem! – Falou Chloe. — E é para casamento que você se ajoelha para fazer
o pedido. – Eu ignorei a Chloe e prossegui na minha desajeitada versão de
conquistar a garota, que eu era apaixonando... como um louco.

— Você aceita ser a minha namorada, Rosalie? – Perguntei sem desviar


o olhar do dela.
— Sim, eu aceito ser a sua namorada. – Não me dei conta de que estava
prendendo a respiração até que soltei o ar. Eu sorri e tirei o anel de formatura
da faculdade e coloquei no dedo dela, ficou largo e começou a cair, mas ela o
colocou no polegar e o mesmo serviu perfeitamente.

— Esse é o seu anel de formatura? – Chloe faltou gritar. Bem, ela


gritou. — Você deve ser especial mesmo para ele Rosalie. Ele nunca tinha
retirado esse anel do dedo antes... Ai, meu Deus! – Eu não conseguia desviar
o meu olhar dos olhos de Rose. A sensação era tão nova e diferente para
mim..., no entanto eu sabia que queria ela ao meu lado. Eu sabia... que era
ela. Ignorei os pulinhos infantis de Chloe, segurei delicadamente o rosto de
Rose e desci a minha boca até a dela. Assim que nossos lábios se
encontraram o resto do mundo deixou de ter som, cor... Nada mais existia ali,
a não ser ela e eu. Apenas nós dois e nada mais.

— Acho que vou passar a noite aqui, posso? – Perguntei a Chloe. Já


fazia um mês que eu e Rosalie estávamos namorando. Ela foi o que de
melhor poderia ter acontecido na minha vida. Chloe colocou as mãos na
cintura e me encarou com olhar descrente.

— O que foi?

— Eu te conheço, Conrad.
— Eu posso?

— Sinta-se em casa, já que não sai mesmo daqui... – Eu sorri e saí para
encontrar um quarto. A minha entrada abrupta em um dos quartos me fez
trombar com Rosalie que me olhou horrorizada pela situação. Meu pau saltou
duro com a imagem daquela deusa vestindo apenas lingerie.

— Não vou te morder. – Sorrio chegando mais perto dela e a deixando


contra a parede. — A não ser que você deixe. – Falei tocando novamente a
pele macia do seu rosto. Aproveitei e toquei também o pescoço, esguio e
lindo. — Está com medo de mim, Rosalie? – Nossa, eu adorava como o nome
dela rolava na minha língua.

— Eu não tenho medo de você, seu bobo. – Ela empinou o queixo e


arqueou para trás me encarando. Eu a olhava de cima. Ela adorava me
desafiar.

— Então por que fugiu? – Perguntei me referindo ao fato dela ter


corrido escada acima quando eu cheguei.

— E-Eu não fugi! Eu estava horrível, não queria que você me visse
daquele jeito. – Rosalie balbuciou.
— Não foi o que me pareceu. – Me curvei mais sobre ela, que fechou e
abriu os olhos rapidamente. Ela entreabriu os lábios e o meu pau pulsou forte
dentro da minha calça. Porra, ela havia me deixado com tesão... e eu não me
controlava muito bem quando via aquela boca gostosa me convidando assim.
Em uma arremetida tomei posse daqueles lábios e já não encontrei nenhuma
resistência.... Sendo sincero... ela desenvolveu a habilidade de me
enlouquecer com beijos. E porra, como o gosto dela era bom. Também não
encontrei resistência quando, com a minha língua, aprofundei o beijo. Sorvi
seu gosto, agarrei o traseiro redondinho dela com as duas mãos e a levei de
encontro ao meu pau. Ela gemeu na minha boca e agarrou os meus cabelos.
Sim, ela aprendia bem rapidinho. Logo ela retribuía com a mesma
intensidade as investidas da minha língua e eu já não estava mais satisfeito
em apenas beijar. — Vem para o meu apartamento comigo.... – Falei
enquanto devorava o pescoço e ombro dela, que gemia baixinho, uma delícia.

— Eu não acho uma boa ideia... eu.... – Voltei a beijar aquela boca
gostosa e ela se afastou um pouco. — Eu não posso, Conrad....
— Por que? Você não está gostando? – Caprichei na chupada que dei
no mamilo dela através do tecido fino do sutiã para afirmar tudo que os meus
olhos prometiam: prazer! – Rosalie ofegou e gemeu contra o meu pescoço.
Porra eu queria me enterrar dentro dela.

— Ai, meu Deus. – Eu sorri ainda com a boca contra o seu mamilo. Ela
era muito excitável.

— Você é muito deliciosa, Rosalie. – falei já a beijando no pescoço. —


Venha comigo para o meu apartamento....
— Você me levaria se eu dissesse que tenho pouco mais de dezenove
anos? – Eu já sabia a idade dela.

— Levaria. – Falei com o rosto colado no pescoço dela. O cheiro dela


ali era tão bom. — Eu já sabia a sua idade antes mesmo de vir pedir para
você namorar comigo. Você já não é mais uma criança. Você tem idade
suficiente para decidir o que quer. Ou pensa que eu iria te namorar se ainda
fosse menor de idade? – Falei segurando aquele traseiro.... Porra eu estava
tão excitado! — Eu tenho vinte e quatro anos, Rosalie. Não tenho trinta.

— Eu não estou preparada para isso ainda... – Os olhos dela brilharam e


eu soube a resposta ates mesmo que ela dissesse. — Eu ainda sou virgem,
Conrad. – Por você eu esperaria o tempo que fosse necessário! Gritou uma
voz dentro de mim.
— Rosalie... – Ela se afastou e não me olhou. Parecia envergonhada.
Eu não entendia como ela podia se envergonhar de algo tão belo. Uma garota
na idade dela ainda ser virgem era uma coisa muito linda, se tratando dos dias
de hoje. — Ei! – coloquei ela no chão e a obriguei a me olhar nos olhos. —
Eu não estou te pressionando a fazer nada. Por você eu espero o tempo que
for preciso. Não sou tão cretino ao ponto de te induzir a fazer algo do qual
você ainda não está certa... Eu não estou com você interessado em te levar
para cama. E-Eu te amo. – Eu realmente queria um relacionamento sério. Ela
passou a língua pelos lábios, não de maneira provocativa, e eu cobri a boca
dela com a minha de novo.

— CONRAD! – Nos sobressaltamos com o chamado de Chloe. — O


que pensa que está fazendo, seu imbecil? – Ela avançou sobre mim e me
encarou nos olhos enquanto eu mantinha Rosalie atrás de mim
instintivamente.
— Chloe...

— É, eu sei. Você é um vagabundo que não consegue ver uma mulher e


não querer colocar o seu pau em ação. – Ela tinha entendido tudo errado.
Será que pensou que eu queria apenas levar Rosalie para cama
forçadamente?

— Não aconteceu nada... – Rosalie começou.


— Não aconteceu ainda. – Cortou Chloe.

— Você pensa que sou idiota ao ponto de obriga-la a fazer algo de que
não está preparada para fazer? – Os olhos de Chloe brilharam. — E-Eu não
vou magoar ela.... – Lutei com as palavras, mas não conseguia me expressar
como eu queria.

— Só não faça ela sofrer, Conrad. Ela merece mais e você sabe disso.
— Eu a amo, Chloe...
CAPÍTULO NOVE

ROSALIE
DIAS ATUAIS
Eu precisava raciocinar direito..., mas era difícil com Conrad
devorando os meus lábios. O seu beijo era suave, diferente e ao mesmo
tempo familiar. Eu não conseguia parar de corresponder a maneira como ele
me beijava, tocava.... Mesmo que retribuir a ele fosse tudo que eu menos
quisesse naquele momento. Agradeci quando, no desespero para tocá-lo,
acabei acertando o meu pulso ainda machucado no ombro dele. Eu gemi de
dor na boca dele e os meus olhos lacrimejaram mais por ele se afastar de mim
do que pela dor. Eu não queria que ele parasse de me beijar. Está se
transformando no mesmo poço de bipolaridade que ele, Rosalie!

— Eu sinto muito. – Falou examinando a atadura presa ao meu pulso,


penso que em busca de sinais de sangue. — Ainda dói?

— Não tanto quanto o que você me faz. – Retruquei tentando me


levantar... Em vão.

— Eu não queria que você tivesse saído de casa daquela maneira.


Alguém poderia tê-la seguido e feito algo ruim...

— Ninguém pode me fazer mais mal do que o que você já fez, Conrad.
– Dessa vez ele saiu de cima de mim e se deitou de costas na cama, cobrindo
os olhos com o braço. A sua boca estava vermelha e inchada... Entre aberta,
meu Deus. Me sentei e fiquei de costas para aquela imagem, ou acabaria
esquecendo tudo que ele me fez essa semana.

— Existem coisas – Ele começou com o braço ainda sobre os olhos. –...
Que você não sabe, Rosalie. – Ótimo. Grande ajuda, hein Conrad? — Que eu
não posso te contar... Não outra vez.
— Então por que toca no assunto, seu imbecil? – Me levantei e, através
do espelho vi o seu reflexo, um leve sorriso nos lábios dele.

"— Adoro esse seu jeito... Me deixa com tesão"!

— Eu não sei. – Estupido — Talvez por eu ser um idiota? – Dessa vez


eu sorri, mas parei no instante seguinte. Ele não merecia nada além de
desprezo vindos da minha parte.
— Cheque Matte, Sherlock Holmes. – Falei e a náusea subiu tão forte
que sem pensar eu disparei para o banheiro e não me incomodei em fechar a
porta. A verdade é que eu não tive tempo para fazer, porque estava colocando
os meus órgãos internos para fora enquanto agarrava a privada com as duas
mãos. Senti os meus cabelos serem içados e levados para longe do meu rosto.
— Sai daqui! – Falei entre um vômito e outro. Ele ficou em silêncio e isso me
irritou. Que humilhação, Conrad me vendo com a cara na privada e
vomitando a alma fora. Mas que merda. Tentei acertar a perna dele, mas
Conrad desviou e continuou a segurar os meus cabelos a uma distância
segura das minhas mãos. — Não é para você me ver assim. – Falei quando a
falsa sensação de alivio veio, mas não demorou muito, logo eu já estava
tentando vomitar o que não tinha dentro do estômago.

— Não vou deixar você sozinha assim, Rosalie. – Ele falou se


abaixando com uma toalha úmida na mão. Que raiva!

— Você faz isso sempre? – Tentei gritar e acertei o peito dele com a
minha mão boa. — Saia daqui e me deixa sozinha. – Conrad ficou sério e
segurou o meu braço bom.

— Venha, deixa eu te ajudar. – Ajudar? Mas é nunca que ele limparia o


vomito da minha cara... Perdedora! Cedo demais ele passou a toalha úmida
pelo meu rosto e me alçou do chão pela cintura. — Sente-se melhor?
— Vou ficar quando você desaparecer desse quarto e me deixar em
paz, Conrad. – E ele teve a ousadia de sorrir aquele meio sorriso para mim.

— Se é o que você quer... Preciso falar com a Chloe. – A sua voz ficou
séria, assim como a expressão. — Não vou demorar...

— Não se incomode em voltar, não vou deixar que você entre! – Falei
fechando a porta do banheiro a centímetros do nariz dele. A minha vontade
era que tivesse acertado e quebrado. Daí ele teria que ir para o hospital e,
como ele tem dinheiro para pagar, passaria o resto da noite em uma cirurgia
plástica para reconstituir aquele nariz arrogante dele. Ouvi a porta do quarto
ser fechada e saí do banheiro para trancá-la a chave. Aqui você não vai
entrar, Conrad. Entrei de volta no banheiro e tomei um longo e demorado
banho. Escovei os meus dentes umas cinco vezes e aí então eu saí do lavabo,
enrolada naquela toalha fofinha da Chloe. A toalha não ficou muito tempo no
meu corpo, pois a deixei cair assim que dei de cara com o Conrad vestindo
apenas uma cueca boxer branca. A cena pareceu passar em pequenos quadros
diante dos meus olhos. Conrad me olhando, a toalha caindo, o brilho de
desejo surgir naqueles olhos lindos e verdes, e a ereção dele surgindo
descaradamente dentro daquela maldita cueca. O meu coração batia tão
rápido e descompassado ao ponto de me deixar plantada e sem reação no
mesmo lugar. Conrad veio se aproximando lentamente de mim e um sorriso
de me fazer arquejar surgiu na boca dele. Conrad, por que tem que sorrir
assim? A cada passo o meu coração ficava mais descontrolado. Era
vergonhosamente humilhante eu estar tão afetada por ele. Você não tem amor
próprio, Rosalie. Outro passo e ele estava a poucos centímetros a minha
frente agora. Ele entreabriu os lábios e eu fechei os olhos, esperando...
esperando.... Esperando um beijo que não veio. Abri os meus olhos e ele
estava me observando, com a toalha que eu deixei cair nas mãos.

— Está se sentindo melhor? – O quê? Então era isso? A raiva, depois


de outra humilhação, correu forte nas minhas veias. — A toalha caiu. – Quê?
— Seu imbecil! – Acertei um tapa no peito dele, tomando o devido
cuidado de usar a mão boa. Depois outro e outro... — Eu pensei que... Argh,
que raiva.

— O que você pensou? – A voz dele estava rouca quando me


perguntou, e eu me fiz essa mesma pergunta; me fiz essa mesma pergunta
umas mil vezes. O que você pensou, sua estúpida?

— Sai do quarto. Como você conseguiu entrar aqui?


— Peguei a cópia da chave na dispensa, mas isso não vêm ao caso. –
De repente ele estava ainda mais perto. Quando ele fez isso? — Você não
respondeu a minha pergunta, o que me deixa livre para interpretá-la da
maneira que eu bem desejar. E o que eu desejo agora, desesperadamente, é
provar o seu gosto novamente. – O meu corpo estupido, como a dona,
correspondeu instantaneamente as palavras dele. Meus seios ficaram pesados.
Os mamilos turgidos. Uma umidade crescente estava se acumulando entre as
minhas pernas e eu esfreguei uma coxa na outra sem querer e tudo isso não
passou despercebido a Conrad, que soltou a toalha no chão e me puxou de
encontro a ele e, minha nossa senhora, das estúpidas e perdidas, eu fui. A
boca dele desceu sobre a minha e, muito gentilmente, ele me beijou. Um
beijo zeloso e profundo, que eu reconheci e correspondi de prontidão. Ele já
te beijou assim antes e esse é o verdadeiro beijo do Conrad. As duas mãos
dele viajaram para a minha cintura e me puxaram contra os seus quadris.
Conrad gemeu na minha boca quando o meu corpo pressionou a ereção
escandalosa dele. Eu também, não vou negar que um arrepio de prazer
percorreu a minha pele ao sentir aquilo. Eu o deixei naquele estado. Era por
mim que Conrad estava... — Faz amor comigo, Rosalie. – A súplica veio
cheia de anseio, desespero e impetra. Eu não soube o que fazer, por um lado
o meu desejo era me entregar a ele, apesar disso... ...por outro, eu não
conseguia confiar em Conrad. Ele pareceu notar o meu dilema interior, já que
colou o rosto no vão do meu pescoço e inalou intensamente. Depois ele me
pegou nos braços e levou para cama. — Me perdoe... – A voz dele era baixa,
mas não demostrava nada além de embaraço. Eu engoli em seco. —... Por
favor... esqueça o que eu te falei... – Ponderou se virando e puxando algo do
chão. – Aqui. – Me passou a camiseta verde, a camiseta dele. — Você
esqueceu de trazer... E... – Ele estava envergonhado. Eu precisava registrar
aquilo de alguma maneira, para não me esquecer daquele momento. —... É
que você sempre dorme vestindo-a...

— E-Eu? – Conrad coçou a cabeça sem jeito, o que deixou os músculos


do braço dele híspidos e eu senti vontade de correr o meu dedo por eles.
Desci os olhos seguindo os músculos do tórax dele e não consegui evitar
escancarar a boca ao ver que a ereção dele estava não só de pé, mas que
parecia pulsar dentro da cueca. Ai, meu Deus.
— Eu não consigo ficar diferente perto de você... – Ele contestou com
um sorriso triste e se aproximou para me ajudar a vestir a camiseta. Estava
tudo certo até ele resvalar o meu mamilo com a mão e eu gemer de maneira
insolente no rosto dele, que estava muito próximo do meu. Foi o começo para
o fim. Num momento eu estava sentada vestindo a camiseta, no outro eu já
estava com as costas coladas ao colchão e com as pernas ao redor de Conrad;
e retribuindo como uma devassa aos beijos dele que, não contentes em apenas
beijar a minha boca, agora estavam nos meus mamilos. Segurei os cabelos
dele com entusiasmo e... Eu queria tudo... Eu precisava de alivio. Conrad
abandonou os meus mamilos e subiu espalhando beijos molhados pelo meu
pescoço até chegar a minha boca enquanto eu movia os meus quadris de
encontro aos dele em busca de mais... — Eu vou ficar doido, Rose. – Conrad
murmurou na minha boca e me fazendo arquejar.

— Você já é, não existe um jeito de ficar pior. – Conrad sorriu e eu


devolvi, sem titubear, o sorriso.

— Sou louco desde o momento em que coloquei os meus olhos em


você, meu amor. – Ele não me deixou responder e voltou a torturar os meus
mamilos, agora, com a boca e as mãos. Eu estava na margem... A caminho da
perdição e foi quando senti algo quente tocar as minhas coxas me fazendo
ofegante quando me dei conta do que se tratava. Como e quando ele havia se
livrado daquela cueca? Eu não conseguia manter a linha de pensamento
enquanto ele me tocava, com as pontas dos dedos, onde eu mais necessitava
ser tocada... e ele gemeu com metade do meu seio dentro da boca. Naquela
ocasião não fazia sentido, para mim, pensar na semana que se passou ou no
que aconteceu antes de eu esquecer da minha vida. Naquele momento, tudo
que eu mais desejava era ser amada por Conrad, era ser amada pelo meu
amor. — Eu não vou conseguir me segurar por muito tempo... – Ele falou
acariciando o meu clitóris, me fazendo ver dançantes luzes multicores. —...
Juro que depois vamos fazer amor sem pressa, minha pequena. – E Conrad
me beijou com desespero e eu correspondia com igual desesperança enquanto
rebolava sob a sua mão. — Eu prometo! – Falou, com a voz extremamente
rouca de desejo e posicionando sua ereção na minha entrada. Eu sentia o
calor e maciez da nossa pele prestes a ser unida. — Eu te amo, Rose.

— Eu te... – Os olhos dele brilharam ao me ouvir e eu senti a sua


ereção se insinuar dentro de mim. Gemi de tanto tesão e estava quase
atingindo o clímax apenas com aquele mínimo contato....

— MAS QUE PORRA É ESSA? – Conrad e eu ouvimos o berro ao


mesmo tempo e não sei como ele foi rápido o suficiente para me posicionar
atrás de si. — QUE PORRA VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO,
CONRAD? – Eu estava agarrada as costas de Conrad quando olhei sob o seu
braço, era um homem na casa dos seu cinquenta e poucos anos que gritava
descontrolado.

— O que faz aqui, pai? – “Pai”? Ai, meu Deus. Aquele era o pai dele?
O meu sogro? O que ele estava fazendo ali?

— O que eu faço aqui? – O homem sorriu com escarnio, me deixando


acovardada. — Eu vim visitar a Chloe, mas descubro que ela não está em
casa. – Ele deu um passo em nossa direção e eu senti os músculos de Conrad
se estirarem sob a ponta dos meus dedos. — Resolvo esperar por ela e
adivinha? – Outro passo e Conrad parece ficar ainda maior na minha frente.
— Escuto você trepando com essa mulher! – Foi como levar um soco no
estomago.

— Não fale assim da Rosalie, pai. Decidi que me cansei de ser


chantageado... Somos casados, se esqueceu? – Conrad interveio e o pai deu
outro passo. — Se chegar mais perto dela, eu esquecerei que você é o meu
pai. – O homem arregalou os seus olhos escuros em surpresa e depois a sua
expressão se transformou unicamente em aversão. — Entendeu?
— Então desistiu de protegê-la? – Eu não consegui contrapor, só
comecei a chorar em silêncio. Do que diabos estavam falando? Conrad
percebia o meu estado, pois eu estava com o rosto colado nas suas costas e as
minhas lágrimas molhavam a sua pele. — E quanto a sua família?

— Ela também faz parte da minha família, pai... Somos uma família
agora...

— POR ACASO SE ESQUECEU DO QUE ACONTECEU NO


CASAMENTO, CONRAD? ELA NÃO PODE FAZER PARTE DA NOSSA
FAMÍLIA!
— NEM O SEU NETO? – Conrad gritou de volta e eu pude escutar
toda cólera através do estrondo que preencheu o quarto.

— Ela está gravida? Você disse que nunca a colocaria em uma situação
semelhante, Conrad! – O quê? Conrad... Mentiu para o pai? — E todas as
vezes que você se vangloriava de ter comido alguma vadia...?

— Eu nunca... eu jamais traí o amor que sinto por Rosalie. – O pai de


Conrad parecia ter sido possuído por um demônio de tão raivoso que estava.
— Se você não fosse o meu filho – Ele disse friamente. —... Eu te
mataria, seu desgraçado. – Agora eu soluçava de ódio. Eu odiava aquele
homem. Eu odiava o pai de Conrad. — E quanto a essa criança... – Conrad
tentou partir para cima do pai, mas eu me agarrei a sua cintura impedindo-o.

— Por favor, não Conrad. Ele é o seu pai. – Pedi com um soluço. —
Querendo ou não – Conrad apontou um dedo para o pai. —... O MEU FILHO
levará o meu sobrenome. Estou cansado de toda essa porra de chantagem,
pai. – O homem se aproximou perigosamente de Conrad e o olhou nos olhos.
— Quero que você e Jeremy vão se foder com isso já que vocês dois são os
únicos culpados pelo que aconteceu com... – Conrad não terminou de falar,
pois foi atingido no rosto com um soco e caiu, me levando junto com ele para
o chão. Fiquei com o corpo parcialmente sob o peso de Conrad, o que me
deixou sem ar.

— Você irá se arrepender da pior maneira que poderá imaginar,


Conrad. Depois não diga que não avisei. – Ele ameaçou. Depois caminhou,
saindo do quarto.
CAPÍTULO DEZ

Bônus - Conrad
A minha preocupação era ter ferido Rosalie na queda. Ela ainda estava chorando
muito quando cobri a sua nudez com um lençol e a envolvi nos meus braços. Por Deus, eu
não queria que ela estivesse machucada.

— Eu te machuquei, minha pequena?! – O medo transparecia em cada palavra que


deixava a minha boca. Será que o meu pai não entendia que enquanto eu não enfrentasse as
chantagens eu não estaria livre? E que tudo que fui obrigado a fazer estava acabando com o
que de mais importante surgiu na minha vida? — Eu estou aqui... vai ficar tudo bem... – As
minhas palavras só fizeram com que ela chorasse ainda mais. Porra, eu fazia tudo errado.

— Eu preciso ficar sozinha, Conrad. – Rosalie falou com a voz esganiçada e entre
soluços.

— Rosalie... minha pequena...

— SAI DAQUI! – Ela se levantou e, com custo, se afastou de mim. O meu coração
ficou gelado com a dor que aquilo provocou, no entanto, eu merecia cada distanciamento,
ofensa e qualquer tratamento do tipo. Eu causara dor suficiente para que ela agisse de tal
maneira. Eu merecia cada segundo de desprezo.

— Volta para casa comigo... – Pedi baixinho, na esperança de que ela cedesse, e o
mais importante de tudo: que ela não permanecesse mais nenhum segundo fora do meu
campo de vista, que permanecesse bem longe do perigo.

— Não. – Ela respondeu com a voz chorosa. — Eu quero dormir, descansar.... Sem
você para me confundir, Conrad. – Rosalie soluçou quebrando um pouco mais o meu
coração já destroçado pela dor e culpa.

— O meu pai tem uma casa nesse condomínio... – Ela me olhou com lágrimas nos
olhos. — ...eu não quero que ele se aproxime novamente de vocês. – Falei me
aproximando, na tentativa de poder tocar a sua inexistente barriga, ela não permitiu e me
afastou com um tapa. Engoli o bolo que se formou na minha garganta e deixei a minha mão
cair do lado do meu corpo. Eu merecia. Merecia e merecia tudo.

— Então eu vou para a minha casa.... A casa da minha mãe. – Discorreu enquanto
deslizava a minha camiseta verde pelo corpo. — Será que você poderia me levar? – Ela
perguntou com a voz tremendo enquanto passava as costas da mão no rosto para secar as
lágrimas.

— Claro. – Ela nem bem esperou que eu terminasse e já foi saindo pela porta, mas
se Rosalie pensava que eu a deixaria ficar sozinha ela se enganava, e muito.

O trajeto até a antiga casa da infância da mãe de Rosalie foi feito em silêncio. Eu
não falei nada e nem Rosalie tentou.... E isso era pior do que se estivéssemos em plena
briga. O silêncio se arrastou até a entrada da casa. Até a entrada, porque depois que ela
entrou na casa e eu a acompanhei o silêncio foi abandonado.

— O que pensa que está fazendo? Você não vai ficar aqui...

— Tente me impedir. – Falei trancando a porta. — Vou ficar no sofá se isso irá
tornar as coisas melhores. – Enfatizei me deixando cair contra o sofá. Ela bufou uma
impropriedade e marchou para um dos quartos. Muito tempo depois de ela ter entrado no
quarto e fechado a porta, eu saí da casa e guardei o carro dentro da garagem; não queria que
ninguém soubesse que estávamos ali.

ROSALIE
Não sei por que Conrad insistiu em ficar... Por mim ele poderia ter me
entregado as chaves do carro e ter permanecido na casa da Chloe. E o pai
dele? Aquele... Aquele velho era um monstro! Ele nos ameaçou... Tenho
tanta raiva que queria gritar até não aguentar mais. No entanto me limitei a
deitar na cama e fechar os meus olhos. Eu não gostava de sentir tanta fúria e
rancor no meu coração. Eu sempre me arrependia depois de verter palavras
cruéis. Fazer o quê? Eu era assim...
Despertei no meio da madrugada com uma dor terrível que parecia
querer me rasgar ao meio. A dor era tanta que os meus dedos dos pés se
contorciam no mesmo ritmo. Liguei a luz do abajur e o que eu vi me deixou
em pânico. Sangue. O meu coração parecia estar batendo a um milhão de
batimentos por segundos. O meu bebê...

— CONRAD. – Não pensei duas vezes antes de gritar o nome dele. Eu


estava com tanto medo que nem mesmo conseguia me mover da cama. —
Conrad! – Grito uma segunda vez e não demora muito para ele entrar com a
porta do quarto no ombro. Ele havia forçado tanto a porta que a mesma havia
cedido as dobradiças.
— Rosalie o que aconteceu...? – Seus olhos ficaram enormes quando
ele viu o sangue nas minhas coxas e no lençol cor de alfazema. — O que
houve? E esse sangue todo.... O bebê... – Parecendo sair do estado inicial de
choque e não perguntando mais nada ele me envolveu nos braços, levantando
juntamente com lençol e tudo da cama. Eu só consegui afundar o meu rosto
no peito nu dele e chorar. Naquele momento eu só conseguia pensar: "Por
que eu"? A minha vida parecia ter se resumido a entrar e sair de hospitais.... E
se eu perdesse o meu bebê? Eu estava tão aterrorizada.

— Conrad...

— Estamos quase lá, minha pequena. – Ele falou acariciando a minha


bochecha enquanto dirigia, como um louco, devo dizer. — A doutora Astrid
está nos aguardando na clínica.... Vai ficar tudo bem com vocês dois. – Dessa
vez eu virei o meu rosto e olhei para Conrad. O olhar dele estava cheio de
emoção mal contida enquanto focava o trânsito. — Ela é sua amiga... Não se
preocupe, meu amor.
CAPÍTULO ONZE

As coisas aconteceram rápido a partir do momento que Conrad


estacionou o carro na porta da clínica. Lá a doutora Astrid já estava à espera
junto a uma maca e por mais que Conrad gritasse que iria entrar no
consultório e na ultrassonografia comigo, a doutora não permitiu. E eu
agradeci por isso.
— Rosalie, ele não está aqui... – Os olhos dela eram ternos e cheios de
preocupação. — Me diga o que aconteceu, menina. – Comecei a chorar. —
Você pode ainda não se lembrar de mim, meu amor, mas sou como uma tia
para você. Juntas, nós três, sua mãe, você e eu. – Falou enquanto com um
suspiro aliviado encarava o monitor e deslizava aquela meleca nojenta e fria
pela minha barriga. — Já passamos por tantas coisas dentro, e fora, dessa
clínica... Oh, graças a Deus. O seu bebê está bem, meu amor. – Deus,
obrigada. Deus, obrigada! — Me conta Rosalie... – Ela insistiu um pouco
mais.

— Aquele maldito. – Solucei baixo. — Aquele monstro do pai dele...

— O desgraçado do Bartolomeu te fez alguma coisa? – A expressão de


Astrid era tensa e cheia de rancor.
— Ameaçou... – Ao me lembrar daquilo as lágrimas cessaram dos meus
olhos. — Eu preciso que você me ajude... – Um plano já se formava dentro
da minha cabeça e era Astrid, a única, que poderia me ajudar...

— O que você deseja?


— Preciso que você diga que eu tive um aborto! – Dizer aquelas
palavras causaram horror a mim mesma. Eu já amava o meu bebê... — Que
vou precisar ficar internada por alguns dias e que não posso ter nenhum
acompanhante. – Ela me olhava com atenção e não me interrompeu em
momento algum. — Tenho que me afastar daquelas pessoas, Astrid.

— Não é certo isso que você está me pedindo, Rosalie. – O meu


coração começou a disparar frenético dentro do meu peito. Ela não iria me
ajudar? Eu estava perdida... — É antiético e eu posso perder o meu emprego
e o direito de exercer a medicina por isso..., mas se for para te manter longe
daquele demônio do Bartolomeu McMahon eu o farei. – Ela me olhou com
determinação e eu, cheia de alegria, sorri. — A minha irmã tem um chalé em
Provença, na França, você vai para lá. – Eu concordei com fervor e ela sorriu.
Enfim, eu e o meu bebê, nos veríamos longe daquela família.
CAPÍTULO DOZE

LEMBRANÇAS
— Você sabe que nós não deveríamos estar fazendo isso, não sabe? –
Perguntei mais uma vez só para confirmar.

— Não seja medrosa. – Ai, meu Deus... era a perdição, para mim,
quando Conrad sorria de modo tão descontraído. Parecia um menino pequeno
e levado, preste a aprontar alguma travessura. — Venha, não falta muito. –
Sorrio quando ele agarra a minha mão e me puxa para perto de si. Se ele
continuasse assim quem iria quebrar aquela regra besta e ridícula de sexo só
depois do casamento seria eu. Não sei de onde ele havia tirado aquela ideia...
Bem, eu estava mais do que disposta a não me casar virgem.... — Pare de
fazer essa carinha de quem só pensa em sacanagem... – Conrad sorriu e ao
falar mordeu o meu lábio inferior.

— Não seria mais seguro se nós tivéssemos pagado para entrar aqui? –
Perguntei o que seria o obvio.
— Daí não teria mais nenhuma emoção. – Conrad falou assim que
entramos no enorme campo de futebol. — Vamos, antes que apareça alguém
e nos atrapalhe. – Ele sorriu com malícia e eu corei até as raízes dos cabelos.

— Do que você está falando? A aventura não era somente invadir o


campo de futebol do time adversário? – Merda, aquele sorriso novamente; o
sorriso que fazia a minha calcinha ficar molhada instantaneamente.

— Tá certo que aqui não é justamente o lugar que eu queria para fazer
isso, no entanto... – E ele puxou da mochila um lençol vermelho escarlate.

— Como diabos, um treco grande assim, coube aí dentro?

— Hoje é o dia em que avançaremos mais uma "base"... – Eu não


aguentei, tive que rir daquela analogia.

— O seu plano era, originalmente, invadir no meio da madrugada um


campo de basebol?

— Será que a senhorita rabugenta poderia ficar caladinha e me deixar


terminar? – Ele sorria o tempo todo. — E sim, o plano original era esse.
Como eu ia dizendo... – O interrompi novamente só para fazê-lo recomeçar.
— Hoje avançaremos mais uma base... – Conrad mal me deu tempo para
pensar, já foi dominando a minha boca com a dele e Deus, como ela era
macia e gostosa. Logo eu já estava louca por ele. — Você não poderá fazer
"muito" barulho, entendeu?
— Mas por que diabos eu iria fazer barulho, Conrad? – Ao invés de
responder ele puxou a parte de cima do meu vestido para baixo e cobriu um
mamilo exposto com a boca. Eu gemi alto agarrada aos cabelos da cabeça
dele. Oh, agora eu entendia.... — Conrad...

— Rosalie? – O descarado sorriu ao começar a dar a sua minuciosa


atenção para o outro mamilo. Aos poucos ele foi me deitando sobre o lençol,
impecavelmente estirado no gramado do imenso campo. Eu parecia estar no
centro do mundo. Naquele momento o meu centro do mundo era só o Conrad.
— Tão linda, minha pequena Rose. – Ele gemeu ao me observar e, em
seguida, deslizou a saia do meu vestido para a minha cintura; o meu vestido
era um bolo só agora. Contudo, pouco me importava se eu tinha um vestido...
a partir do segundo que Conrad deslizou sua boca pelo meu corpo deixando
uma trila de beijos molhados até a minha, já úmida, calcinha... a única coisa
que me importava era que ele me desse mais daquilo. — Caladinha, meu
amor. – Pediu com um sorriso contra a parte interior da minha coxa e com
um movimento firme e rápido ele rasgou a minha delicada calcinha de renda
branca. Graças a Deus eu havia colocado aquela calcinha ao invés daquela
confortável e velha que eu amava tanto. Ofeguei alto assim que a língua dele
deslizou por minha úmida e abrasadora intimidade. Nunca ninguém havia me
tocado daquela, ou de qualquer outra maneira, Conrad estava me deixando a
beira da insanidade.

— Oh, Conrad...
— Sim, eu quero te ouvir abraçar o meu nome a cada instante que eu
manter a minha boca aqui! – Conrad enfatizou o que dizia sugando forte o
meu clitóris. O meu fim estava próximo, eu sabia que estava. — A minha
pequena e doce, muito doce, Rose. – A boca e língua dele pareciam me beijar
lá embaixo. Senti algo percorrer o meu corpo e me contorci para sair do
alcance de Conrad, mas ele me imobilizou do quadril para baixo. — Receba
tudo Rose, não tenha medo...

— Eu não...

— Você está gozando, meu amor. – E ele recomeçou aquela deliciosa


tortura quando mal as palavras deixaram a boca dele, e em seguida milhares
de luzes coloridas explodiram nos meus olhos. Eu os abri e me deparei com a
lua resplandecendo no céu, perfeita e cheia. Assim como o gemido que
deixou a minha boca. Eu estava em estase. Conrad refez o caminho até os
meus lábios, deixando trilhas molhadas de beijos por todo lugar e depois me
beijou profundamente com carinho, eu podia sentir o meu gosto na língua
dele e a sua ereção enorme no meu quadril.
— Conrad, você... – Falei com o coração disparado dentro do meu peito
ao tocar a ereção dele sobre o jeans, entretanto ele puxou a minha mão e
comprimiu aquela dura ereção contra o meu quadril, não deixando brechas
para que eu o tocasse novamente.

— Não, Rose. – Ele falou com a voz mais rouca que eu já ouvira deixar
a boca dele e tornou a beijar os meus lábios inchados novamente. — Eu jurei
que só faríamos amor depois do casamento...
— Não foi o que pareceu minutos atrás. – Eu sorri com os olhos
fechados, ainda sentindo aquela descarga de adrenalina e prazer correr pelo
meu corpo.

— Eu te amo, Rose. – Abri os meus olhos ao ouvir a importância na


voz dele. — Você é tudo pra mim, meu amor.

— Eu te amo, Conrad. – Falei acariciando a barba por fazer no rosto


dele. E eu o amava com todas as forças do meu coração.
— EI, VOCÊS AÍ! – Gritou alguém do alto das arquibancadas.

— Puta merda! – Conrad estava dando risada ao arrumar o meu vestido


no lugar. Eu estava em pânico. — Vêm Rose, corre! – Ele não parava de rir.
— Ele vai nos alcançar se você não correr. – Isso fez com que eu saísse do
estado de letargia, agarrando a mão dele e começando a correr.

— VOCÊS NÃO PODEM ENTRAR AQUI, SEUS LADROES!


— JÁ ESTÁVAMOS DE SAÍDA! – Retrucou Conrad gargalhando
tanto que tinham lágrimas nos olhos dele.

— Estamos enrascados, Con! – Eu não acreditava... eu estava rindo


tanto quanto o louco do meu namorado. Eu nunca havia me divertido tanto
quanto ao lado do meu insano namorado. Ao lado de Conrad eu me sentia
mais viva do que eu conseguia me lembrar na vida.

— Estamos quase do lado de fora, corre Rose! – Ele me puxava


enquanto enfiava um boné na minha cabeça e na dele.

— Seu louco. – Nesse instante ele me puxou para dentro de um carro


que já nos esperava com as portas abertas.
— No entanto você, pela primeira vez, disse que me amava. – O sorriso
dele era lindo, contagiante e eu sorria de volta.

— Eu te amo, Conrad McMahon...

Acordo com o suor cobrindo a minha pele. Eu me lembrava,


pelo menos daquele dia eu me lembrava!
CAPÍTULO TREZE

ESPECIAL - CHLOE
Talvez tudo o que falte é coragem... e muito pouca força de querer da
minha parte. Se eu continuasse com esses encontros as escondidas... acabaria
ficando sem a minha família e, talvez, a minha melhor amiga. Mas o que
posso fazer se estou apaixonada pelo Nicholas? Ignorar o meu coração, por
que o meu pai e o dele, vivem em pé de guerra por algo fora do alcance de
ambos? Lucy escolheu o próprio caminho e nenhuma das duas famílias teve
culpa pela culminância das escolhas da minha irmã. A única culpada nessa
história foi ela. Apenas ela. Ela era a minha irmã..., mas há dias que eu desejo
que ela jamais tivesse aparecido em nossas vidas.

— O que foi, Chloe? – Ah, como Nicholas ficava lindo quando estava
sonolento....

— Não é nada Nick. – Ele me lançou aquele meio sorriso arrasador de


corações... e calcinhas. — Só estou sem sono....
— Quer que eu te faça dormir? – O meu coração disparou. — Posso te
deixar bem cansada ao ponto de desmaiar...

— Pervertido, sabe que eu te adoro, não sabe? – O sorriso dele havia


ficado carinhoso agora.

— Será que teremos algum futuro juntos? – A voz dele estava grave ao
fazer a pergunta que nem eu sabia a resposta.
— Com a nossa família em pé de guerra assim? Duvido muito. –
Suspiramos os dois juntos diante da tragédia das nossas vidas.

— A Ro e o Conrad se casaram...

— Quer mesmo viver um inferno igual ao deles? – Ele jogou o braço


sobre os olhos e respirou profundamente. — O meu irmão ama com todas as
forças a sua irmã, mas acho que o meu pai encontrou uma maneira de
manipula-lo para fazer com que ela sofresse.... O que ele usou para manipular
o meu irmão... eu não tenho a menor ideia, mas foi grande e forte o suficiente
para obrigá-lo a magoar a única mulher que ele ama na vida. Se ele descobrir
que, nós dois, estamos juntos... – A minha voz falhou, o que fez com que ele
se virasse para olhá-lo nos olhos. — ...eu não sei do que ele seria capaz.

— Você se esqueceu de adicionar o meu pai a essa equação...

— Claro. E tem o velho e garanhão, Muller pai. – Dessa vez Nicholas


sorriu. Eu adorava quando ele sorria, pois ele quase não o fazia. Está sempre
sério e fechado.... O sorriso dele me aquece por dentro.
— “Garanhão” ... – Sorrio descaradamente para ele.

— O pai, não se esqueça disso. – Entrecerrando os olhos ele me encara.

— Está me chamando de safado mulherengo?

— Aquela vagabunda loira que se diz sua noiva...

— Emily não tem nada comigo há muito tempo. Erámos namoradinhos


na faculdade, todavia a faculdade acabou e o namorico também.

— Pouco me importo com isso. – Menti não conseguindo disfarçar a


satisfação que se estampou no meu rosto.
— Estou de olho em uma bela morena de olhos verdes, sabe? –
Bastardo! — Mas ouvi dizer que o pai dela é a própria reencarnação do
diabo...

— Oh, pelo que me disseram isso é bem a verdade.

Depois de uma noite incrível com Nicholas... Conrad apareceu e


estragou tudo. A verdade é que ele não estragou... o humor do cão dele é que
o fez.

— Ela me deixou, Chloe. – Essa parte eu entendia. Ele estava se


referindo a Rose.
— Eu não estou entendendo porque você está chorando, Conrad. – O
meu irmão, durão, estava se debulhando em lágrimas.

— Ela perdeu o nosso bebê. Por culpa minha, Rosalie perdeu o nosso
filho...

— E POR QUE DIABOS EU NÃO FUI AVISADA SOBRE ISSO? –


A minha melhor amiga havia perdido o seu bebê e não tinham se dado ao
trabalho de me avisar. Maravilha. Sentia uma vontade descomunal de chorar
pela traição.
— Foi há duas noites, idiota! – Bufei. Até quando o meu irmão
precisava de mim ele me tratava como uma pirralha mimada. — O nosso pai
apareceu aqui, na sua casa, e pegou eu e Rosalie fazendo amor, a verdade é
que nem tínhamos começado. – Havia desgosto e magoa na voz dele. — O
todo poderoso – Conrad debochou na última palavra — ...nos ofendeu. – O
meu irmão estava desesperado. — Depois eu o ameacei e ele revidou me
acertando, me derrubou sobre a Rosalie. – Ele despejou tudo em uma torrente
de palavras. — Depois ela começou a sangrar durante a madrugada e eu a
levei para a clínica da doutora Astrid....
— Eu sinto muito Conrad. – Nosso pai, era sim, o demônio de quem
todos falavam. — Ela ainda está na clínica, não está? – Eu iria ver com os
meus próprios olhos como estava a minha amiga.

— Eu não disse que ela me deixou? – Se ele continuasse a puxar os


cabelos acabaria careca. — Ela recebeu alta médica e desapareceu, deixando
apenas um bilhete para mim. No bilhete ela dizia estar cansada dessa vida de
sofrimento ao meu lado, que eu e o nosso maldito pai erámos os culpados por
tudo de ruim que aconteceu a ela e que todos nossos podíamos ir nos foder.

— O que, diga-se de passagem, é verdade...

— Você é minha irmã? – Ele me encarou de cara feia. — Ela foi


embora, desapareceu... evaporou. O que eu faço Chloe?

— Nada.
— Quê?

— Nada. Deixe-a pensar um pouco sozinha.... Ela te ama, Conrad.


Disso eu sei. Ela só precisa ficar longe de tudo e colocar as ideias no lugar.

— Que porra, Chloe. Eu pensei que vindo aqui você me ajudaria, pô! –
E, então, Conrad saiu batendo a porta e pouco depois eu ouvi o som dos
pneus do carro dele cantando no asfalto. Eu só esperava que ele não fosse
cometer alguma loucura. Agora mais essa. Solto um grito ao ouvir o meu
celular tocar. Era Nicholas.

Ligação On
— Alguma notícia da minha irmã? – A sua preocupação era tamanha
que ele sequer esperou a minha saudação.
— Nada além do que Conrad despejou sobre mim.
— É, o meu cunhadinho já passou por aqui... – Conrad e Nicholas? Ai,
meu Deus.

— O que o meu irmão queria?


— Ele veio procurar a Ro aqui. Eu falei para ele que ela nem mesmo
me ligava... só que ele não acreditou e resolveu descontar a sua raiva na
minha boca. O desgraçado tem uma boa enfiada de direita. – Precisei me
sentar. Se Conrad fez isso com Nicholas apenas por ele não saber onde a irmã
estava... ele acabaria matando Nicholas se soubesse que estávamos dormindo
juntos.

— Ele acabou de sair daqui... e... eu sinto muito pelo que aconteceu
com a sua irmã, Nick.

— É, eu sei que sim.... Você é mais irmã pra ela do que eu.
— Nós não temos culpa pelo que os nossos pais são Nick.

— Eu te amo, Chloe.

— Te adoro, Nicholas. – Tudo o que eu queria dizer era: te amo,


Nicholas. Mas eu não estava pronta para isso ainda...

Ligação Off 
CAPÍTULO QUATORZE

A Fonte de Tudo – Lembranças


Rosalie – Anos antes
Eu ainda estava chorando dentro do banheiro da empresa do meu pai,
com o mesmo ritmo de meia hora atrás. Estou em meio a um misto de fúria,
revolta e dor agora. Por que, mamãe? Por quê? Você prometeu que sempre
estaria comigo... para sempre. Você não pode... não pode.... Ai mamãe, eu
estou com tanta raiva de você agora, com ódio.... Na minha garganta parece
ter crescido uma bola, que torna difícil respirar. Você prometeu que sempre
seriamos nos duas.... Você não pode simplesmente me deixar, mamãe, não
pode. O meu coração estava sangrando e desesperado. O que eu ia fazer sem
a minha mãe? Como eu ia viver sem ela? Você prometeu que iria lutar contra
essa maldita doença.... Você prometeu que ia ser forte, por nós duas...
mamãe. Eu queria gritar a minha dor e inconformismo, no entanto nada saia
da minha boca além de soluços entrecortados. A voz da tia Astrid ainda
ecoava nos meus ouvidos: "A sua mãe foi forte, minha querida, mas o câncer
foi mais.... Peça para o seu pai vir vê-la, o seu irmão também, pois ela tem
menos que três dias. Eu sinto muito".
Após algum tempo, limpei meu rosto e nariz com água para me
acalmar. Eu precisava encontrar o meu pai e depois o Nick. Ai, Nick, onde
está quando eu mais preciso de você? Eu só esperava que não estivesse se
metendo em confusão.... Ele e Jeremy juntos... não era nada bom. Desde que
eles têm andado juntos, Nick, vinha se metendo em encrenca. O pior é que o
senhor McMahon encoberta as arruaças dos dois. Talvez porque ele e papai
sejam amigos de infância.... Eu nunca gostei muito dele... mamãe dizia que
ele é apenas alguém amargurado. Procurei papai na sala de reuniões, porém
nada, ele não estava lá. A porta do escritório estava semiaberta, o que não era
comum. Sons vinham de dentro do lugar.... Será que já haviam informado
sobre a mamãe? Tinha alguém pedindo a Deus.... Eu decido não esperar mais,
empurro a porta devagar e entro. A princípio não vejo nada, mas não sou tão
ingênua ao ponto de não saber, agora, do que se tratavam as súplicas. Eu não
conseguia acreditar.... Com mais dois passos eu me deparo com a cena que
me fez odiar o meu pai com cada molécula do meu ser. Odiá-lo pelo resto da
minha vida. Ele estava transando com Lucy, a namorada de John, um dos
melhores amigos de Nicholas. Lucy... a irmã de Jeremy, Conrad e Chloe, a
filha de Bartolomeu McMahon... o seu amigo de infância. Eu não queria
acreditar no que os meus olhos viam....

— EU TE ODEIO, PAI! – Nem meu pai ou Lucy pareciam acreditar


quando me notaram ali, chorando. – A MAMÃE ESTÁ MORRENDO... E
VOCÊ ESTÁ TRAÍNDO-A COM UMA GAROTA COM IDADE PARA
SER A MINHA IRMÃ MAIS VELHA. ELA TEM A PORRA DA IDADE
PARA SER A SUA FILHA! – Gritei e saí desesperada daquele maldito lugar.
Como o meu pai pôde fazer isso? Justo quando a mamãe mais precisava
dele.... Quando eu mais precisava do consolo dele....
Nesse momento, estou em um quarto de hospital, com a minha mãe.
Ela sorri o tempo e isso me deixa.... Eu não sei como ela pode ficar sorrindo
sabendo que talvez... que vai morrer. Ela vai abandonar a mim e ao Nick...
sozinhos. Quase salto de susto quando a porta do quarto se abre sem aviso
prévio. É o canalha, é o meu pai.

— Sai daqui. – Digo mal disfarçando o ódio na voz. Nesse momento eu


sinto raiva de tudo e de todos, principalmente desse homem.

— Acho melhor você ficar quieta no seu canto, garota. – Decreta com a
sua voz grave e aperta o meu braço em um falso abraço. Doeu. — Respeite os
momentos finais da sua amada mãe...
— E você? Respeitou o momento, ou pensou em respeitar antes de
transar com uma garota quase da minha idade? – Um tapa de estalar no meu
rosto veio como eu imaginei que viria. Os meus olhos lagrimejaram
instantaneamente, assim como a pele do rosto ficou a pinicar de dor. O meu
pai, pela primeira vez na vida, havia me batido e da maneira mais humilhante
que poderia.

— Albert! – Mamãe sibilou baixo, quase em um suspiro. — Saia


daqui... sai. – Todo traço de alegria, antes contido, no rosto de mamãe havia
desaparecido. Agora existia um misto de dor e raiva. — Como pode bater na
sua filha? Saia... – No meio da frase seus olhos foram amolecendo e ela
acabou entrando em um estado de sonolência, induzido pelos medicamentos
administrados anteriormente. O canalha saiu do quarto logo em seguida, mas
não antes de me dirigir um penetrante olhar de raiva e proferir as palavras
que, tenho certeza, jamais serei capaz de esquecer.

— Passe na minha casa e pegue as suas roupas, porque você não


entrará mais lá, sua bastarda. Me arrependo do momento em que deixei que a
sua mãe prosseguisse com a maldita gravidez.... Se eu não tivesse sido
obrigado a ficar preso em um casamento por conta de uma idiotice eu teria
sido feliz. – O meu corpo inteiro tremeu com lágrimas, eu não deixei que elas
caíssem e ele foi embora.
Eu ainda não tinha me virado para mamãe quando, outra vez, a porta se
abriu.
— Ei, Ro. – Era Nicholas e eu me atirei nos braços dele e chorei. —
Não chore, meu amorzinho. – Deus, eu amava o meu irmão. Ele era tudo para
mim... o meu cavaleiro da armadura de ferro e do cavalo branco. — O que
aquele... – Nicholas respirou fundo antes de prosseguir. — ...o que o nosso
pai fazia aqui?

— Você sabia. – Não foi uma pergunta. — Eu vi, Nick. Eu encontrei


ele e Lucy... transando no escritório....

— Desgraçado.... Eu tinha as minhas suspeitas, mas jamais imaginei


que ele fosse capaz... – O corpo do meu irmão tremia todo quanto ele falou.
Nicholas estava com muita raiva, talvez mais do que eu estivesse. Ele
idolatrava o nosso pai e amava a nossa mãe acima de tudo nesse mundo.

— Rosalie... Nicholas – Mamãe suspirou. Ambos seguimos para o lado


da cama e seguramos, cada um, uma mão dela. — Amo-os com toda a minha
alma, não se esqueçam jamais. – E então aconteceu. Lentamente o aperto
fraco em nossas mãos foi diminuindo, as suas pálpebras ficaram pesadas e
um pequeno sorriso se insinuou nos lábios dela. Os equipamentos no quarto
começaram a apitar como sirenes anunciando um desastre. Agora eles
anunciavam a partida da pessoa mais carinhosa, doce e bondosa do mundo...
a morte da nossa mãe. Aos poucos o quarto foi ficando claustrofóbico e o ar
começou a faltar nos meus pulmões. A última coisa da qual me lembro é do
rosto de Nick coberto por lágrimas se afundando no meu pescoço, depois
nada.

A cerimônia de despedida foi organizada alguns dias após a partida de


mamãe, não sei precisar quanto tempo, eu não estava contando e tampouco
atenta ao calendário. Eu não conseguia compreender porque era necessário
todo aquele evento, para mim, aquilo nada mais era do que um meio de
prolongar a dor dos que ficaram. Eu podia ver isso nos olhos do meu irmão,
nos meus quando, pela manhã, encarei o espelho sobre o lavabo. A única
parte a qual sou grata, foi que Nicholas não permitiu que o nosso pai
participasse da cerimônia. Ambos agradecemos, quando mesmo depois que o
caixão fora coberto de terra e grama ele não apareceu. Ele não se daria ao
trabalho de vir e isso me deixou reconfortada. Mamãe não iria querer. Nós
não queríamos ele por ali.

— Se eu tivesse para onde ir te levaria comigo, Ro. – Nicholas também


fora deserdado e se lamentava por mim.
— Tudo bem. – Falei acariciando o rosto dele. — A Chloe vai me
ajudar com isso. – Eu não entendo como o meu pai pode me colocar na rua...
ainda mais em um momento como aquele, droga.

— A Chloe é uma boa amiga, Ro. Por enquanto eu vou ficar com
Dylan...

— Eu não gosto dele, Nick. – Falei antes que ele terminasse.


— É, eu sei. – Ele falou me dando um peteleco no nariz com a ponta do
dedo. — E é por isso que eu agradeço a Chloe por te ajudar, Dylan não é
confiável a ninguém... nem para ele mesmo. – Falou beijando os meus
cabelos e me ajudando a arrastar as malas pelo condomínio que Chloe
morava. O meu coração estava apertado por ter que me separar do meu
irmão, mas era preciso e, também, a única opção. — Eu te amo, Ro. – Ele
falou me dando o nosso costumeiro selinho de despedida e vi quando os seus
olhos se umedeceram com lágrimas.

— Eu te amo, Nick. – Falei me agarrando a ele. Eu não queria me


separar dele... só me restava o Nicholas depois que a mamãe se foi. E ela nos
amava com tudo que se pode, uma mãe, amar os filhos... mesmo que
Nicholas não fosse filho biológico dela. Ela o amou como tal e jamais
admitiu que dissessem que ele não era o filho que ela deu à luz e colocou no
mundo. Ela honrou a memória e a promessa feita a primeira mulher do meu
pai e criou o filho dela como seu.
CAPÍTULO QUINZE

Dias - Atuais
Alguém sem as suas lembranças... é uma pessoa vazia, sem vida. Uma
casca. Ainda não consigo me lembrar, além de alguns lapsos esporádicos e
dolorosos de memória, nada mais voltou. Nada. O meu peito está
comprimido com a dor das lembranças que não domino. Lembranças que
perdi. O que a minha mente não conseguia se lembrar o meu coração não
esquecia. Se a dor que eu sinto sem ao menos saber todo o motivo é tão
grande ao ponto de eu perder o ar... não quero ter que lembrar o que a causou.
Já dói o suficiente, não preciso de lembranças para intensificar ainda mais a
dor. Não preciso saber o que fui estúpida.... Sei que fui. Sinto um nó na
garganta só de pensar em Conrad. Olho pela diminuta janela do avião e nada
vejo além do meu próprio reflexo. Olhos vazios. Mente vazia. Coração
rechaçado pela dor.

— Boa noite, senhora. – Me assusto com a voz baixa de uma


comissária de bordo. — Aceita um travesseiro para que possa descansar o
restante da viagem? – Ela me encara com um sorriso branco e cheio de
dentes. Falsa até os ossos. Ou talvez fosse o cansaço que ela tentava
mascarar. Sorrio tentando imitar o sorriso dela, digo que sim e agradeço.
Acho que a razão para que elas queiram que os passageiros durmam é
unicamente para reduzir o trabalho que alguns dão. Ela me entrega o pequeno
travesseiro e eu me ajeito fechando os olhos. Nada vem. Nenhuma
lembrança. Os meus olhos se tornam exaustos, é aí que me dou conta do
quanto cansada realmente estou. O sono vem, junto com nada. É o nada e
tudo ao mesmo tempo. A dor no meu peito é aliviada durante o sono... por
privação de consciência.

Sete horas depois de decolar do aeroporto de Nova Iorque, o meu avião


aterrissa em solo francês. Não conheço nada, por isso o mapa é a minha tabua
da salvação. De acordo com ele ainda iria gastar mais algumas horas para
chegar. Ok, quatro longas horas e meia para chegar a Provença, num chalé
afastado da pequena cidade. O que o meu pouco dinheiro deu para comprar
foi um antigo e desbotado Mini Cooper azul claro com uma faixa branca
encardida. Pelas fotos ele era velho, mas pessoalmente era ainda pior... bem
pior. O homem que havia me vendido o carro estava me esperando no
estacionamento, parecia ansioso e olhava de um lado para o outro. Ele era um
homem alto e magro, de cabelos castanho desgrenhado pelo vento. Acho que
ele tinha medo que eu quisesse o meu dinheiro de volta. Fiquei tentada a isso,
mas desisti. Eu não tinha dinheiro suficiente para um melhor. Agradeci e
peguei as chaves na mão suada do homem, que rapidamente desapareceu no
meio da multidão. E eu estava sozinha novamente.

Levaram muito mais que quatro horas e meia para que eu chegasse ao
velho chalé. Cinco horas e meia para ser precisa. Entre parar e checar o mapa
e fazer compras para eu passar algum tempo sem precisar sair de casa. Acho
que comprei coisas demais.... No entanto como vou saber do que estarei
precisando? Astrid havia me avisado do parcial esquecimento do lugar, que
não deveria me assustar se estivesse tudo empoeirado. O meu coração
disparou de felicidade quando um imenso mar de lavanda surgiu na minha
frente. Uma rajada mais forte de vento serpenteou pela plantação fazendo os
ramos dançarem de um lado para o outro em uma dança única e solitária. O
lugar era lindo. Fazia algum tempo que eu estava dirigindo e as minhas
pernas já estavam doendo quando finalmente avistei uma construção feita
basicamente de pedra. Era cinzenta e uma espécie de trepadeira parecia
querer engoli tudo. Tinha mato para tudo quanto é lado e quase não pude ver
a pequena passagem que dava para uma garagem. Assim que desci do carro
caminhei instintivamente até alguns vasinhos, de algo que penso algum dia
terem sido flores. A chave estava lá, como Astrid disse que estaria. Sorri com
a emoção. Abrindo a pesada porta de madeira ela rangeu alto. Nota mental:
lubrificar as dobradiças. A casa era de dois andares e quase toda feita de
pedra e madeira. O lugar estava frio, um tanto empoeirado e sem sinais de
visitantes há anos. Os meus dentes tilintaram quando percebi que a
temperatura no interior da casa era menor do que lá fora. Fazia mais frio
dentro do que fora. “Você precisa acender as duas lareiras para elas
distribuírem igualmente o calor dentro da casa”. Foi o que Astrid disse. Ao
checar a lareira noto que haviam algumas toras empilhadas com perfeição ao
lado. Sem pensar direito no que estava fazendo volto para o carro e começo a
descarregar as várias viagens de compra pelo chão de madeira de carvalho
escuro da sala. Depois de fechar o carro volto para dentro da casa e procuro
nas várias sacolas em busca dos fósforos que comprei. Quando o encontro, de
joelhos, começo a acender a lareira. Demorou um pouco para conseguir que
uma pequena fagulha de fogo se tornasse umas saudáveis labaredas que aos
poucos lambiam a madeira. A casa parecia ser maior do que deu para
imaginar olhando do lado de fora. Mas também com tanto mato.... Olhando
ao redor decido levar as compras para a cozinha. Meu queixo cai quando vejo
uma geladeira. Antiga. Não consigo acreditar, tinha energia na casa. Bem, se
eu descobrisse onde e como ligar ia ter sim. Estou tão entusiasmada com o
lugar que começo a explorar com voracidade e encontro uma caixa de força
perto da escada que dava acesso ao andar superior. Levanto a chave e voilá....
Nada acontece... por alguns segundos, porém depois ouço um ruído alto e
antes de sair correndo com o susto noto o que parece ser um gerador
funcionando. Espero apreensiva. Demorou um pouco, todavia a casa se
iluminou. Para a minha surpresa. O andar superior também possuía uma
lareira. Que, igualmente, acendi. A casa estava com toda mobília coberta por
plástico. Quase não havia poeira nos móveis e isso não queria dizer que eu
não teria trabalho para limpar. O lugar era muito grande. E estava fechado há
tanto tempo....

Decido pelo quarto que tem vista para a frente do chalé. A janela dele é
bem grande o que o deixa bastante arejado mesmo com toda umidade da
região. E tem o fato dele ter uma cama enorme e da lareira ficar dentro dele.
Após alguns minutos, longos, o lugar fica quentinho e acolhedor. Puxo o
plástico que cobria a cama e me enrosco entre as cobertas, que cheiram
levemente a coisa velha. Nota mental: levar todas as roupas de cama ao sol.
Estava tão quentinho... que acabei dormindo. Muitas horas mais tarde acordo
com um barulho. Me sento rápido com o susto e o meu estomago se
embrulhou todo, me fazendo ir em disparada para o banheiro.... Que barulho
foi aquele? Me pergunto depois de algum tempo tentando colocar o que eu
não tinha no estomago para fora. Liguei a torneira e após uma seção de
barulhos e cuspidelas de água suja com ferrugem, a água limpa aparece. A
minha testa está suada e eu jogo água no rosto e na boca. Preciso escovar os
dentes. Caminho fraca, de tanto fazer força para vomitar, até a janela. Estava
chovendo. O vento castigava as vidraças e o seu uivo ao passar pela casa era
como um choro. Um lamento do vento contra o lugar. Devia ter sido a chuva
que me acordou. A lareira estava quase sem fogo. Apenas brasas. Coloco
mais umas duas toras e desço em busca da minha bolsa de higiene pessoal.
Depois de escovar os dentes no banheiro, daquele mesmo andar, sigo
arrancando o plástico de cada móvel e dobrando em seguida. A mobília é
linda. Antiga, contudo bela e aconchegante. Familiar.

Um mês se passou e ainda não conseguia me lembrar de quase nada.


“— Tem certeza de que quer desistir de tudo por aquele idiota, Rose”?
CAPÍTULO DEZESSEIS

Eu devo estar um horror. Deus, estou toda coberta de terra. Sorrio.


Nunca imaginei que mexer em um pouquinho de terra, na esperança de
recuperar um pequeno jardim, pudesse causar tanta sujeira. Penso que só o
branco dos meus olhos está visível. Seja lá o que eu era boa em fazer, garanto
com toda certeza, não era mexer com jardinagem. Apesar de toda sujeira e
confusão, eu termino. Só para constar: gastei uma semana nele. Agora estou
admirando o meu pequeno grande trabalho. Ok. Estou admirando a plantação
de lavandas. Elas ainda não estão floridas, apenas em botões, mas não deixam
de ser belas. Pelo menos o aspecto de casa abandonada está deixando de
existir... aos poucos eu sei, mas está. Depois de uma boa limpeza, descobri
que existia um muro de pedra cercando toda frente da casa e aparentemente é
assim por toda propriedade. Não me aventurei tanto. Um mês depois eu
estava me recuperando bem, tudo na medida do possível. A minha forte dor
de cabeça havia passado juntamente com os enjoos ocasionados pela
gravidez. O meu bebê estava crescendo. Um ALÍVIO. Levo a mão até o corte
há muito cicatrizado na minha cabeça e um formigamento incomodo aparece.
Eu sabia que ele não iria me encontrar ali. O que ele iria querer nos
arredores de Provença na França? Conrad... por que teve que me fazer sofrer
assim? Fecho os meus olhos e inspiro profundamente o aroma limpo e puro.
Da varanda da casa eu estava a contemplar o mar de lavandas. E o perfume
delicado que o vento trazia era tão delicioso.... Astrid ter me cedido esse
chalé tinha sido a melhor coisa que poderia ter acontecido. Longe de Conrad.
Me levanto nervosa da cadeira de balanço. Como posso ainda sentir esse...
esse sentimento de saudade por quem me fez sofrer o inferno? Eu sou uma
estúpida por amar quem me odeia, trai, machuca.... Era estúpido. Eu só tinha
certeza de que não estavam me contando toda história e... eu não queria ficar
pensando naquilo. Eu não acreditei em nenhuma palavra dele. “Eu nunca te
traí”. Mentiroso.

O céu estava tão lindo hoje. Quem visse o que eu estava fazendo diria
que além de ter perdido a memória, também tinha perdido a razão. Será
mesmo tão estranho alguém se deitar no meio de uma vasta plantação de
lavanda e se pôr a contemplar o céu? Então eu sou uma louca desvairada,
pois amava fazer aquilo. Sinto que isso me ligava a algo que me fazia falta. O
sol estava tão gostoso, quentinho e eu fechei os meus olhos para sentir ele
contra o meu rosto. Uma rajada de vento bagunça todo meu cabelo e leva o
meu fino e leve vestido até a cintura. Eu não me importo. Tudo que me
importava era sentir aquele calor gostoso na minha pele, aquele aroma
delicioso de lavanda e o frescor daquela brisa do fim de tarde. Não sei se já
me senti assim alguma vez antes.... Uma pessoa sem as suas lembranças é
quase uma pessoa sem vida. Sei que preciso me levantar e entrar em casa,
mas estava tão gostoso... e não é tão longe assim do chalé.... Arranco um
pequeno galho coberto de flores quase roxas... a cor e o cheiro são
maravilhosos, sorrio quando ele faz cocegas no meu nariz. Nunca me senti
tão bem ou mais livre....

“— Ei sua dorminhoca~. – Abro os meus olhos e encontro os olhos mais


lindos do mundo me encarando como se sorrisse através deles. — Hora de
acordar, princesa! – Ele sabia que eu não gostava de ser chamada de
princesa, mesmo assim o fazia para me irritar. — Não fica brava comigo.... –
E a minha boca foi devorada por outra faminta. Eu amava quando ele me
beijava como se precisasse de mim.

— Eu te amo Conrad...”

Me sento assustada com a lembrança. Devo ter adormecido. Um tanto


quanto desorientada, começo a organizar a minha pequena cesta de
piquenique, o sol já está tocando a linha do horizonte e escureceria em breve.
Me levanto trazendo comigo a manta roxa que eu me deitei e começo a
andar/correr. Os meus olhos estão úmidos e eu ainda posso sentir a macies e
calor daquela boca na minha. Maldito Conrad. Me faz sofrer mesmo a um
oceano de distância.

Faminta, começo a procurar algo para comer assim que entro no chalé.
A dispensa está abastecida, até demais, com tudo que preciso e é essencial, e
com tudo que é desnecessário, mas vital para mim. Doces, chocolates e
salgadinhos. Eu tenho me alimentado bastante.... Certo, certo, certo! Eu
tenho comido como uma louca nesse último mês. Comido para dois. Sorrio
acariciando a minha diminuta barriga. Encontro uma barrinha de cereal e a
devoro, não queria estragar o jantar. Já está escuro quando deixo o frango no
forno e sigo para o banheiro para um banho. Quando você mora cercada por
uma imensa plantação de lavanda tudo ao seu redor cheira a elas, até o seu
cabelo. Termino o banho bem quando o clarão de um relâmpago rasga e
ilumina o céu, acompanhado de um estrondoso trovão. Chuva. Posso sentir o
cheiro de terra molhada misturada com lavanda não muito longe dali. Checo
todas as janelas para me certificar de que estão bem fechadas. Não quero ter
que ficar esfregando panos por todo lugar para secar depois da chuva.
Não consigo me lembra de tudo, no entanto já sei o que eu fazia da vida
antes de acontecer o acidente. Pelo menos alguns meses antes de tudo
acontecer. Eu gostava de tirar fotos. Lembro-me da minha infância. Lembro-
me também dos meus pais, a lembrança é fraca e é de vários anos antes de eu
ser expulsa de casa... Lembro da minha paixão por Conrad... e um nó se
forma na minha garganta. Quase que no mesmo momento começa a chover
fracamente. Uma garoa. Chove bastante por ali. O frango fica pronto e eu o
como com uma salada de acompanhamento. Acho que não deveria ter
comido tanto. Penso acariciando a minha barriga. Agora tudo de que eu
precisava era uma massagem.

"— Antes de qualquer outra coisa, você merece uma massagem. – Eu


amava quando Conrad falava daquele jeito, pertinho do meu ouvido.

— Não sei se é uma boa ideia. – Ponderei sorrindo. — Não vou te fazer
nada em troca. – Ele sorriu com a voz rouca. Acompanho o seu olhar e quase
me engasgo com o que vejo.

— Como posso não ficar duro tendo que tocar o seu corpo nu?”

Engoli em seco. O meu corpo reagiu imediatamente diante daquela


lembrança. A voz... Conrad. Eu queria me lembrar.... Mas aprendi, da pior
maneira, que forçar o meu cérebro a lembrar de algo que ele se negava a
revelar era inútil. A dor de cabeça viria implacável e isso não valia o pequeno
fio de memória que vinha e depois escapava pelos meus dedos antes que eu
pudesse assimilar, ou entender algo. Prefiro esquecer e deixar que tudo venha
naturalmente. Balanço a cabeça como se o gesto fosse afastar o incomodo
que a lembrança daquela voz me causou.

Durante a noite o meu sono não veio. Só um breve cochilo


acompanhado de um pesadelo. Como sempre. Não me restou muita escolha a
não ser me levantar, descer para a cozinha e preparar um chá. O meu coração
ainda estava disparado e a angustia do sonho corria pelo meu corpo quando
ouço a chaleira apitar. As minhas mãos tremiam enquanto eu preparava o chá.

"— Eu não vou cair nessa Rosalie".

Eu precisava dormir. Não estava mais aguentando ficar ouvindo...


larguei a xicara sobre a grande mesa de madeira rústica e fui em busca da
minha bolsa. Agora era o momento para eu tomar uma ou duas daquelas
pílulas que o médico me receitou para dormir. Encontro o frasco de
comprimidos e volto para buscar o meu chá. Eu não sabia a potência dos
comprimidos e o mais sensato era que eu estivesse no conforto da minha
cama quando ele fizer efeito. Já na cama olho fixamente para o pequeno
frasco laranja. Estava cheio. Eu não havia tomado sequer uma pílula dele.
Pego duas, coloco na boca e engulo com o chá. Bebo quase todo ele em um
único e longo gole. Demora um pouco, mas sinto uma nevoa começar a
dominar minha mente.

"— Você é minha."


"— Eu não acredito em você."
"— Pensou que eu cairia nessa?"

Jogo o frasco e a xicara no chão com raiva. Eu queria lembrar o que


aconteceu comigo. Queria saber o que provocou aquele maldito acidente...
Eu... Eu não conseguia mais ficar com os meus olhos abertos. Estavam
pesados e... e finalmente o remédio estava fazendo efeito. Para o meu alivio.·.
CAPÍTULO DEZESSETE

— Você tem certeza disso? – Droga. Eu mal havia pego no sono e


aquela maldita voz na minha cabeça voltara. — Pensei que ela havia tomado
vários... eu não conseguia acorda-la. – Hum. Pelo menos aquela voz não
estava dizendo que eu era uma mentirosa ou que me queria.... Preferia ele
quando dizia me querer, o meu corpo se aquecia quando ele falava... —
Como diabos eu ia saber que não era uma overdose? Tinha pílulas para tudo
quanto é lado... – Engraçado...
— Ela irá acordar a qualquer momento, Senhor McMahon. – Caio na
realidade imediatamente ao ouvir uma voz diferente dizer aquele nome.
Ouço, também, um bater frenético nos meus ouvidos. Estou aquecida. E o
perfume é tão bom....

— O que vocês estão fazendo na minha... – Paro de falar quando noto


que não estou no meu quarto. Hospital outra vez não.... Mas novamente eu
estava. — O-o quê? ME COLOQUE NO CHÃO! – Grito ao notar que estou
aninhada nos braços quentes daquele homem. Conrad. O que recebo em troca
dos meus protestos é um aperto ainda maior ao meu redor.

— Eu não disse? – Retrucou o médico com ar tediado para... para...


McMahon.
— Sou perfeitamente capaz de caminhar. – Digo me retorcendo em
seus braços. Assim que ele me liberta dou as costas para os dois homens e
caminho para fora do hospital... ignorando os olhares que perfuram a minha
pele. Quando chego na porta do hospital é que me dou conta de que estou
usando apenas uma fina camisola nenhum pouco grande. Tento me cobrir o
melhor que posso... e falho miseravelmente. Antes que eu possa ter esperado,
sinto algo quente e extremamente perfumado nos meus ombros. Uma jaqueta
de couro que me cobre até quase os joelhos. Olho para cima e me deparo
com olhos verdes me encarando.

— Nunca mais na sua vida faça isso, Rosalie. – Do que ele estava
falando? — Pensei que estivesse morta. – Conrad responde a minha pergunta
silenciosa.

— Talvez tenha sido melhor, não é? Se eu estivesse morta? – Falo


tentando arrancar a jaqueta pesada dos meus ombros. — Pelo que sei você
não gosta muito de mim. Posso me lembrar apenas de algumas coisas.... Em
alguns momentos você me trata como se eu não valesse o chão que piso. A
verdade é que aqueles malditos quinze dias vividos ao seu lado me
comprovaram isso. Eu te odeio. – Os seus olhos brilharam com algo
semelhante a raiva.

— Então você conseguiu se lembrar do que aconteceu? – Perguntou


sarcástico.

— Não. Eu não consegui me lembrar do que aconteceu. Quer saber a


droga da verdade? A verdade é que eu me lembro de tudo que aconteceu na
minha vida... exceto você. Não me lembro de você! – Falei meias verdades.
Eu me lembrava e muito dele, das suas mãos, boca.... — Tudo que eu consigo
é ouvir a sua voz algumas vezes.... O que eu sei sobre você é o que me
contaram e o que eu vi. – Ele recoloca a jaqueta sobre os meus ombros
quando a arranco fora. Bufo de raiva. — Não quero lembrar de você. Já é o
suficiente as lembranças de você me humilhando que estão impregnadas no
meu cérebro. – Digo com lágrimas nos olhos, mas as limpo. "As suas
lágrimas não me comovem Rosalie". Me lembro dele dizer isso. — Sempre
dói quando tento lembrar. – Falo com a voz fria. — E não digo isso
metaforicamente. Realmente dói. A minha cabeça dói tanto que provoca
náuseas. Aproveita que eu já te esqueci e faça o que você sempre faz.... Vai
foder com aquela vagabunda sobre a nossa cama. Só saia da minha vida,
porque o laço que nos unia já não existe mais. – Me virei para ir embora. A
minha voz estava tão fria que alguns transeuntes pararam para ouvir o que
eles pensavam ser uma briga. Merda. O que eu estava fazendo de volta a
Provença? — Você... – Apontei um dedo para o peito dele, era o máximo que
eu conseguia com a minha altura. Antes que eu pudesse terminar o que eu
dizia ele me pegou no colo. Eu não queria que ele sentisse a minha barriga....
Ele pensava que eu havia perdido o bebê. — Me solta! – Falei baixo. Não iria
armar um barraco na frente de um hospital. Muito menos na cidade. — Eu
pedi para você me soltar McMahon...

— O meu nome é Conrad. E não, eu não irei te soltar. O meu carro... ah


aqui está ele. – Disse me colocando no banco do passageiro e prendendo o
cinto de segurança. — Vou te levar de volta para casa. – Conrad me deu as
costas, mas não antes de trancar a porta do meu lado.
— Posso muito bem pedir um taxi...

— Não, eu vou te levar. – A voz dele era calma, mas não me enganou
em momento algum. Aquilo era uma ordem. Odiava receber ordens... ainda
mais vindas dele. Contudo ele me trouxe, ele que me levasse de volta. Mas o
principal, como ele me encontrou? Observei o seu rosto com fúria.

— Chloe me disse que... – Ele diz sem que eu pergunte. Odiava que ele
sempre soubesse o que eu questionava em silêncio. Fiz questão de virar a
cabeça para o lado, eu sabia que teria um torcicolo. Não me importei. Pensei
que a Chloe e eu fossemos amigas, mas o amor pelo irmão falou mais alto.
Maldita hora que eu deixei que Astrid contasse a verdade para ela. Chloe,
você me paga. Fechei os olhos e fingi dormir. Mas acho que acabei dormindo
de verdade, porque acordei com um cheiro delicioso no meu nariz.
Resmunguei uma apreciação e abri os olhos ao ouvir um som rouco, como
uma risada, escapar de dentro daquele... peito? É ele estava me carregando
novamente e antes que eu tenha aberto a boca em contrariedade, sou colocada
sobre a cama. Minha cama.

— Chegamos... – Ele diz baixinho próximo ao meu ouvido.

— Pronto. Obrigada. Tchau. Adeus e até nunca mais! – Me viro


levantando da cama e passo marchando por ele na direção do banheiro.

"— Você vai me deixar beijar essa sua boca deliciosa".

Droga. Se já não fosse o suficiente... eu ainda tenho que me lembrar


disso.... Espera aí... como...?

— Como você entrou na casa? – Digo quando saio do banheiro.


— Você como ninguém deveria saber que eu tenho os meus meios...

— Deveria? – Pergunto com sarcasmo derramando em cada palavra. —


Mas não sei. – Será que ele pensava que eu me lembraria? — E saia da minha
cama. – Conrad estava com os braços cruzados atrás da cabeça me olhando...
tão lindo. Não. Não. Não. Não. Eu não posso. Ele tem que ir embora.

— E eu não tenho planos de ir embora. – Ele me olhou sério. — Não


sem você.
— Eu não vou a lugar nenhum com você e saia da minha cama. – Com
um movimento rápido ele segurou os meus pulsos e me puxou para ele. Eu?
Eu fui de encontro a ele sem ter muito o que fazer para evitar.
— E se eu não quiser sair da sua cama? – Ele disse isso com o
roso tão próximo ao meu que não pude evitar acompanhar o movimento
sensual dos seus lábios. Seu rosto de traços marcantes... quase rústicos
demais. Um nariz longo e reto, olhos verdes e penetrantes. Seu cabelo era de
um castanho escuro... e todo bagunçado que caía um pouco sobre seus olhos.
Os lábios dele continuaram se movendo até muito depois de eu parar de ouvir
o que ele dizia. Pisquei várias vezes tentando me concentrar... — Se você
continuar a encarar a minha boca com cara de quem quer ser beijada eu vou
fazer exatamente isso. Vou beijar essa sua boca deliciosa! – Meu Deus!
Exatamente como eu me lembrei.

— Não ouse me tocar ou...


— Ou você vai fazer o quê? – Ele perguntou colando minhas costas
sobre a cama e ficando sob mim. O corpo dele cobria completamente o meu.
— Eu já estou tocando em você e não é do jeito que eu realmente quero, mas
estou e o que você vai fazer? – Exatamente. O que eu iria fazer?

— Eu te odeio! – Falei entre dentes.

— Não, você não me odeia. – Ele falou ao apoiar seus cotovelos, na


cama, de cada lado da minha cabeça e me olhar nos olhos. — E bem lá no seu
íntimo, você sabe que essa é a porra da verdade.
— Posso não ter te odiado antes... – Elevei a cabeça para ficar mais
próxima do rosto dele. A intensão era intimidar. — ...hoje eu te odeio. Te
odeio com todo o meu ser. Te odeio com todo...

— Não, você não está dizendo a verdade. – E ele tocou seus lábios nos
meus. Apenas um toque suave, o que não combinava com ele. No entanto ele
faz novamente, porém dessa vez ele me beija. Um beijo casto e molhado. O
meu coração disparou no peito. Não existe língua, não existe invasão. Só um
beijo moderado. Eu retribuo buscando por mais e ele se afasta da minha boca
com um sorriso presunçoso nos lábios — Match Point, minha bela. – Ponto
decisivo uma ova... eu tenho que odiá-lo. Ele está apenas brincando comigo.
Ele não sente nada além de atração por mim. Nada mais. Diz uma vozinha
dentro de mim. Ele nunca te amou. Ele nunca vai te amar...

— Eu... – Empurro ele para que eu possa respirar melhor sem o seu
cheiro me entorpecendo a mente. — Eu preciso arrumar algumas coisas. –
Consigo sair e me afastar até a janela. Começou a chover novamente. — A
porta da rua é a serventia da casa. – Digo sem olhar para ele. Ouço passos e a
porta é fechada com força, mas não o suficiente para fazer barulho. Apenas
em sinal de irritação. Ele sempre está irritado.
Olho para a cama que fora o meu refúgio durante esses últimos dois
meses... agora eu não conseguiria mais dormir nela sem me lembrar que ele
me beijou ali. Próximo a cama vejo uma mochila, não estava ali antes.... Mas
ela é familiar. Minha mochila. Não consigo conter a onda de satisfação
quando aos poucos vou me lembrando das coisas. Tudo culpa desse... desse
idiota que teve a ousadia de vir atrás de mim. Me sento no chão e começo a
abrir o zíper. Uma câmera. A minha câmera. Sem nenhuma dificuldade
começo a manusear. Há fotos nela. Uma garotinha de cabelos loiros e
imensos olhos azuis sorri para câmera. A sua boca está suja de sorvete e ela
não parecia se importar. Outra foto, agora de um casal se abraçando e a
sequência seguinte é de três fotos deles se beijando. Outra foto, e o meu
coração se aperta, é uma foto dele. Conrad! Ele está olhando atentamente
para câmera, mas não sorri. É uma foto em close. Quis pegar seu rosto
lindo... seus olhos verdes. Outra foto, ele novamente, a foto foi tirada de cima
para baixo como se... como se eu estivesse montada sobre ele. Nessa ele
sorri. É um sorriso sexy meio que mordendo o lábio inferior. A outra foto é
de mim... tirada de baixo para cima. Eu estou usando apenas uma camisa
branca desabotoada, o que deixa meus seios parcialmente a mostra; o meu
olhar parece perdido em emoções e me dou conta rapidamente do que
acontecia durante aquela foto.... As minhas mãos estão tremendo quando
passo para a próxima foto. Deixo a câmera cair de volta na mochila quando
vejo a mim e ele com nossas línguas entrelaçadas num beijo. Éramos felizes!
Empurro a mochila com os pés para debaixo da cama. Não quero olhar mais.

— O nosso beijo pareceu tão ruim assim? – Acabei levando um susto


ao ouvir a voz dele atrás de mim. Não notei quando ele entrou. Não respondi.
Me levantei do chão e o encarei.
— Vai embora. – Ele sorriu e depois ficou sério.

— Já disse que não vou a lugar algum sem você. – Conrad se


aproximou mais de mim e segurou o meu rosto com uma mão enquanto que
com a outra segurava a minha cintura. — Eu não vou embora sem você.

— Engraçado você dizer isso. – Me afastei para que o seu toque não me
deixe sem reação e para que ele não sentisse o meu bebê se desenvolvendo na
minha barriga — Você dizia isso antes do acidente? A propósito qual foi a
causa do meu acidente? Eu bati o carro ou alguém me acertou? – Ele não
respondeu. Me deu as costas e puxou seus cabelos com as duas mãos. —
Vamos me responda. Você me queria por perto quando eu carregava um
filho...? – Não quis dizer "o seu filho". Era melhor me poupar da humilhação.
— Olha eu realmente quero esquecer... esquecer o que de ruim
aconteceu. O importante é que você está viva. Não vou voltar para Nova
Iorque sem você e isso não é negociável. Quero você comigo. Você é
minha... minha mulher. É casada comigo.

— A merda que eu sou! – Contestei exasperada. "Você é minha" — Eu


não sou propriedade de ninguém. Não vou voltar para Nova Iorque. Quem
disse que eu quero esquecer o que me aconteceu? A única coisa que eu quero
é continuar não me lembrando que algum dia eu te conheci. O meu cérebro
pode se recusar a dar os detalhes do que eu passei quando te conheci, mas o
meu coração chora de dor e de tristeza sempre que ouço o seu nome ou
escuto a sua voz. Você é como uma ferida aberta no meu peito, toda vez que
eu respiro dói. E você ter vindo atrás de mim foi a pior coisa que pôde ter me
acontecido... – Limpo rapidamente as lágrimas que escaparam mesmo eu
tentando retê-las — ...porque a sua presença está me fazendo recordar te tudo
aos poucos. E a cada memória recuperada eu me odeio um pouco mais, pois
me repreendo por como pude ter algum dia sentindo algo por você. – Respiro
fundo e encaro ele nos olhos. — Você me matou, Conrad. – Virei me
abaixando e recolhendo os cacos da xicara que eu havia atirado junto com os
comprimidos no chão na noite passada. Pego pedaço por pedaço tomando
cuidado para não me cortar. Quando me levanto para sair do quarto vejo
Conrad na mesma posição de antes. O seu olhar está perdido, no entanto a
sua expressão é séria. Quase carrancuda. Ignoro a presença dele e saio do
quarto. Já na cozinha jogo os cacos da xicara no lixo. Um soluço alto escapa
do meu peito, as minhas mãos estão tremendo e eu não vou chorar dentro da
mesma casa que ele está. Com as duas mãos puxo a porta da frente e saio em
disparada.... Sem direção certa. Só quero estar longe dele para chorar. As
lágrimas lavam o meu rosto e a minha alma, o vento açoita a minha pele e
tudo queima, arde. Continuo correndo pelo vão entre a plantação de lavandas
e pouco me importo se vou cair. Tudo que eu quero é que esse ar que
incendeia os meus pulmões doa tanto que a dor do meu coração vá embora.
Acabo pisando em falso e caindo. Sei que minhas mãos se machucaram na
queda, mas não perco tempo olhando o estrago. Apenas me curvo numa bola
e deixo tudo que dói sair por meio de lágrimas. Choro por minha mãe, por ter
sido expulsa de casa por meu pai, pela traição de Chloe, pelo meu bebê e por
mim. Como fui tão estúpida. Queria tanto me lembrar do que aconteceu. Mas
não consigo. A chuva recomeça e eu sinto a sua caricia fria por todo o meu
corpo e rosto. Os meus cabelos se tornam ainda mais escuros que os seus fios
normalmente castanhos claros; agora parecem negros. A chuva começa a
castigar junto com o vento. O vento lamenta a sua dor e eu a minha. Minha
pele começa a eriçar com o frio, mas não me importo.

— Rose. – Me assusto ao ouvir a voz do meu sofrimento. — Não faz


isso.... – Sinto um toque quente no meu rosto e depois sou içada do chão por
braços fortes que me aninham contra seu peito. Conrad. É Conrad outra vez.
Não falo ou faço nada. Deixo que ele me leve. — Você vai acabar ficando
doente, minha pequena. – Que eu ficasse. Pouco me importava. Mas não digo
nada. — Eu não queria te fazer chorar... eu... eu sinto muito. – Ouvi o que
pareceu ter rasgado ele por dentro ao admitir e continuei alheia. A respiração
dele estava pesada quando chegamos de volta ao chalé. Ele não me colocou
no chão. Trancou a porta da frente a chave e seguiu comigo para o andar
superior. Eu estava sem forças até para protestar contra o que ele fazia. No
quarto ele passou direto para o banheiro comigo e já lá dentro ele ligou a
água da banheira. — Vou te ajudar com o banho... as suas roupas estão sujas
de lama... – Olho de relança para minha fina camisola que, agora, desliza pelo
meu corpo para o chão. Depois a calcinha. Estou com meus sentidos tão
entorpecidos que não há constrangimento. Passando um braço nas minhas
pernas ele torna a me pegar no colo como se eu não pesasse nada e
gentilmente me coloca dentro da banheira, desligando a água. Olhando ao
redor ele encontra o pano e o sabão, espreme uma boa quantidade sobre o
tecido e começa a passa-lo suavemente na minha pele. Eu continuo sem dizer
uma única palavra. Se eu abrir a boca vou acabar chorando. Ele lava até os
meus cabelos. Ao acabar ele me tira da banheira e cobre meu corpo com uma
toalha. Depois torna a me carregar para o quarto e me senta na cama. Com
outra toalha vai secando meus cabelos, devagar, sem muita pressa até que
tudo fique seco. Ao se virar ele puxa uma camiseta preta. Que não é minha e
após me secar toda com a toalha ele desliza a camiseta pelo meu corpo.
Cheira a Conrad. Tem o cheiro dele nela. Gentilmente ele me puxa para que
eu deite na cama e me cobre com o edredom. Alguns minutos depois ele
retorna do banheiro com uma toalha envolta no quadril. Ele tomou banho
também. Mexendo dentro de uma mala, a mesma que ele puxou a camiseta,
ele tira uma cueca boxer preta. Fecho os meus olhos no exato momento que
ele deixa a toalha cair. Ouço um barulho e quando torno a abrir os olhos ele
já está vestido com a cueca e colocando mais lenha na lareira. Respiro fundo
quando ele levanta e vem para cama, se deita atrás de mim e me puxa contra
seu corpo. — Durma bem, minha pequena. – Sinto os seus lábios contra os
meus cabelos e deixo que o sono me embale. Dessa vez consigo o que não
venho conseguindo há muito tempo: dormir assim que fecho os meus olhos.

Quando acordei, percebi três coisas:


1a – já passava do meio da tarde.

2a – um cheiro delicioso dominava o ar.

3a – eu estava faminta.

Sentei na cama me sentindo meio zonza de sono. Meus olhos estavam


pesados e eu sentia medo de me encarar no espelho. Deviam estar inchados e
um horror. Eu havia chorado muito antes de dormir. Olhei para a camiseta
que eu estava vestida e a realidade bateu com tudo. Conrad estava aqui na
minha casa, me despiu, deu banho e me colocou para dormir. Será que ele viu
a minha diminuta barriga?

— Vejo que a Bela adormecida despertou...

— Não sou nenhuma bela adormecida... – Falei ainda meio sem jeito e
com a voz grossa devido ao choro. — E há um furo na sua fabula, a Bela
adormecida da história desperta com o beijo de um príncipe encantado e você
não é um príncipe, não tem nada de encantado e não me beijou.

— Quem disse que eu não a beijei, minha Bela? – Olhei rapidamente na


sua direção, mas desviei o olhar para baixo me lembrando que eu devia estar
um horror. — Te trouxe algo para comer. – Ofereceu ele.
— Não estou com fome. – Menti. Eu estava faminta.

— Com fome ou sem fome, o que eu duvido muito, você irá comer. –
Ele se sentou ao meu lado com uma bandeja... tão perto que eu conseguia
sentir o seu calor. — Você não comeu nada desde ontem, Rosalie.

— A sua presença me tira qualquer apetite. – Retruquei mau humorada.


A bandeja que ele colocou na minha frente tinha uma omelete e um grande
copo de suco de laranja... e um ramo com flores de lavanda. Ignorei a bandeja
com aquela omelete apetitosa e olhei na direção oposta.
— Vai me ignorar? – Ele segurou o meu queixo me forçando a encarar
o seu olhar. Desviei o meu olhar mesmo assim. — Você é muito teimosa,
sabia disso? – Olhei para ele que acarinhou a minha bochecha com o polegar.
A minha barriga reclamou alto e ele sorriu. — Você precisa comer... –
Conrad se afastou de mim e colocou a bandeja sobre o meu colo. — Vou
deixar você sozinha para que eu não estrague o seu apetite. – E saiu do
quarto. Ele mal havia fechado a porta e eu estava atacando a comida, que por
sinal estava uma delícia.

Minutos mais tarde, já com o meu apetite saciado, eu estava de costas


para a porta do quarto enquanto tentava pegar um álbum do alto de uma
prateleira... e ele apareceu me abraçando por trás...

— Se você não usar algo para subir, jamais vai conseguir pegar aquilo.
– Ele estava zombando de mim. — E ficar se esticando assim deixa metade
do seu lindo traseiro a mostra. – Eu fiquei rígida e ele me abraçou mais forte
fazendo todo o meu corpo corresponder ao contato. Ele desceu a sua boca até
o meu pescoço e beijou a pele exposta. Eu precisava me afastar. Não podia
deixar ele... a minha resolução caiu por água quando seus beijos alcançaram
minha mandíbula. Ele era tão grande... e seu abraço envolvia o meu corpo
inteiro e... seus beijos agora estavam no canto da minha boca e eu estava
entregue ao momento. E naquela ocasião tudo que eu queria era que ele me
beijasse...

"— E você acha que o fato de estar casada comigo te dá o direito de exclusividade? "

Foi como levar um tapa na cara. Me afastei como se ele me queimasse.


Eu o encarei. Realmente olhei para ele. Esse homem lindo, que fora
carinhoso e prestativo comigo nas últimas horas era um maldito sem
escrúpulos. Será que ele já estava cansado e agora viera atrás de mim? E
como eu fui tão baixa ao ponto de me relacionar com esse cafajeste? Sou pior
que ele. Não tenho amor próprio.

"— E você acha que o fato de estar casada comigo te dá o direito de


exclusividade?"– Repeti o que me lembrei e Conrad ficou branco como uma
folha de papel.

— Isso.... – Ele começou. – Foi um engano...

— É, e eu sou a pobre idiota fácil que você se casou e usou para chegar
nos seus objetivos, não é mesmo? – Falei com a voz fria.
— Não.

— Olha, volta para a sua cidade. – Disse enquanto puxava a alça da


mochila de debaixo da cama. — Talvez ainda consiga consertar o erro de
alguma maneira...

— É por isso que eu estou aqui, Rosalie. Eu saí de Nova Iorque, deixei
o meu trabalho lá, para vir atrás de você aqui nesse fim de mundo. – Conrad
respirou entre dentes ao falar. — Estou tentando consertar o meu erro, minha
pequena...
— EU NÃO SOU A SUA PEQUENA! – Falei alto e depois repeti mais
brandamente. — Eu não sou a sua pequena. Nunca fui e não será agora que
isso mudará. Você não consegue entender quando digo para ir embora e me
deixar em paz? Preciso viver. Tentar ser feliz. Estou conhecendo alguém na
cidade.... – Menti. — Eu quero...

— Você não vai sair... – Ele respirou fundo e procurou se acalmar —


...eu não vou deixar que homem algum toque no que é meu.

— Não sou uma maldita propriedade para ser sua! – Esbravejei furiosa.
— Você é um filho da mãe que não consegue compreender que eu não te
quero. A única coisa que eu quero de você é a distância, entendeu?
— Não. A sua boca mente quando diz que não me quer, mas o seu
corpo te trai quando se entrega a mim. Sua boca diz não, enquanto o seu
corpo grita que sim. Você não me odeia. – Ele se aproximou e me prendeu
contra a estante. Eu deixei a mochila cair aos nossos pés. — Os seus olhos se
escurecem de desejo quando eu te toco e... – Ele colou a boca no meu
pescoço e arrastou beijos furiosos até o meu rosto. — ...e o seu coração bate
descompassado quando eu te beijo. Posso sentir isso aqui! – Seus lábios
estavam na pulsação da minha garganta que parecia descontrolada. — Seu
corpo reage a mim como Magnésio Metálico reage ao Pó Metálico de
Alumínio. – Tento empurrar ele, mas acabo com as minhas mãos
imobilizadas no alto da cabeça. — A sua respiração está cada vez mais
acelerada, mas fica ainda mais quando... – E Conrad colou a boca na minha.
Mantenho-a firmemente fechada enquanto ele força sua entrada com a língua.
Com a mão livre ele agarra o meu traseiro me levantando um pouco do chão.
Acabo abrindo a boca e ele me invade com sua língua exigente. Estou
ofegante e retribuindo o beijo quando ele libera minhas mãos e agarra minha
bunda com as suas duas mãos me levantando ainda mais alto. Agora nossas
cabeças estão no mesmo nível e eu seguro forte seus cabelos enquanto ele
geme contra a minha boca. Um som delicioso de se ouvir. Ficamos nos
beijando por tanto tempo que meus lábios estavam inchados quando ele se
afastou para respirar um pouco, e os dele não estavam diferentes dos meus.
— ...seu corpo implora pelo meu....

— Mas o meu coração não...


— Ele é o que mais me necessita. – Diz ele me cortando. — Se ele não
me quisesse você não teria sequer me permitido traze-la de volta para casa
ontem. — Vê como ele bate descontrolado quando eu estou tocando você? –
Me desencostou da prateleira e caminhou na direção da cama. — E sei que
esse ritmo descontrolado não acontece apenas quando eu estou te tocando. –
Com cuidado ele me colocou sobre a cama e eu fiquei sob o seu corpo
quente.

— E-Eu.... – Começo a balbuciar, mas as palavras fogem me deixando


muda. Conrad me olhou e o meu coração disparou com o que eu vi.... Seus
lindos olhos verdes estavam marejados com lágrimas prestes a caírem.

— Necessito tanto do seu perdão, minha pequena... – Ele diz as


palavras embargadas enquanto, para o meu desespero, desce seu rosto para o
meu ventre. — Eu não acreditei quando disse que esperava... – Ele apertou
tão forte meus quadris que tive medo que ficasse a marca de seus dedos sobre
a minha pele. — ...que o filho era meu. – Meu mundo parou. Eu sabia que ele
disse, uma vez, que o filho não era dele, mas eu não fazia a menor ideia do
que realmente aconteceu entre nós. — Eu fiquei com tanta raiva quando você
chegou...

— Por quê? O que eu tinha feito? – Não pude deixar de perguntar.


— Você não tinha feito nada.... – Ele agarrou ainda mais meu quadril e
enterrou seu rosto na minha barriga. Eu senti lágrimas se acumularem no meu
umbigo.

— Mas você disse...

— Você não havia feito nada, mas me fizeram acreditar que sim... –
Tudo estava fazendo ainda menos sentido agora. Eu estava confusa. Ele
estava me pedindo para perdoá-lo? Será que eu deveria? — Emily... ...e um
amigo... – Os meus olhos encheram de lágrimas quando ele falou aquele
nome. — ...eles me fizeram acreditar que você estava transando com
Jeremy...
— Eu não sei... – Jeremy...?

— O meu irmão, minha bela. – Disse ele com a voz cansada. Ai meu
Deus... — Você chegou em casa... e acabou se deparando comigo... – O meu
estomago ficou nauseado com o preludio daquela conversa. Ele se levantou e
acertou uma vez a parede com seu punho, depois escondeu o rosto na curva
do braço — ...você entrou e me encontrou beijando a Emily na sala. – O
desfecho foi pior do que eu poderia ter imaginado. Ele disse, antes, que nunca
havia traído o meu amor. Lágrimas quentes molhavam a camisa que eu estava
vestida. A respiração de Conrad estava rápida e irregular. — Eu estava com
raiva. – Ele disse se virando para mim. O seu rosto estava marcado por
lágrimas. Eu não me lembrava de nada, mas mesmo não me lembrando eu
não conseguia olhar para ele. — ...eu queria me vingar de você.... Eu
precisava te pagar com a mesma moeda, mas eu juro que nada além daquele
beijo aconteceu! – As suas palavras saíram duras como um rosnado e ele se
aproximou novamente de mim. Eu puxei as minhas pernas para longe dele.
— Naquela mesma noite eu recebi uma ligação da emergência. – Ele se
sentou de costas para mim aos pés da cama. — ...avisaram que você estava
sendo levada para emergência, porque havia sofrido um acidente. Alguém
havia invadido a calçada de uma loja... eles não souberam explicar ao certo. –
Ele não concluiu. — Me disseram que você ficava chamando o meu nome até
que perdeu a consciência... – Ele veio novamente na minha direção e ignorou
quando eu quis me afastar. Conrad segurou o meu rosto entre as suas mãos e
limpou as lágrimas que caiam pela minha face com o seu polegar. — Depois
disso você entrou em coma e ficou assim por duas semanas. – Eu engasguei
com a revelação. Como não me contaram nada no hospital?

— Não me disseram que... – Forcei a minha voz a sair um pouco menos


estrangulada. — ...eu não sabia que havia ficado em coma. Não me contaram
nada.... Só disseram que eu estava bem depois de fazerem alguns exames e
que... – A última palavra saiu engasgada da minha garganta. — ...e que o meu
marido me aguardava após a alta médica. – Ele me abraçou.
— Eu ainda pensava que você tinha transado com o Jeremy. Pensei que
você estava mentindo quando disse que não me conhecia.... Pensei que
estivesse mentindo.... – Minha mente estava a mil por hora, mas não me
lembrava de nada e muito menos me concentrava em uma única coisa. Tudo
estava em um turbilhão dentro de mim. — Me perdoa! – Ele estava pedindo
perdão por não ter acreditado em mim....

— Eu não posso perdoar algo do qual não me lembro.... – Ele afundou


o rosto na curva do meu pescoço e inalou profundamente. Depois agarrou o
meu quadril e me abraçou a cintura recostando o rosto na minha barriga.
— Então me dê uma chance para te provar que eu... – O meu coração
disparou — ...deixa eu provar que fui estúpido por não acreditar em você! – E
nesse momento algo se agitou na minha barriga. O meu bebê. Conrad
levantou a cabeça e olhou confuso para mim, depois para a minha barriga e
sorriu voltando a cabeça para o mesmo lugar — Você não perdeu o nosso
bebê, não é? Eu sabia que Astrid estava me escondendo algo. E sabia que
essa barriguinha não era somente você.... – Eu não conseguia dizer nada. Eu
estava em choque. Ele descobriu.... — Deixa-me te mostrar que te amo
Rosalie, vamos recomeçar... vamos nos conhecer outra vez. – Ele pediu
depois de beijar a minha barriga e, me olhando nos olhos, eu não sabia o que
responder.

— Eu não sei o que ...


— Podemos começar apenas como amigos se você quiser. Só me deixe
te mostrar que eu te amo, minha pequena... – Conrad me abraçou novamente
e parecia desesperado. — Você mentiu para mim... disse que tinha sofrido
um aborto.... – Sim eu menti e mentiria outra vez para proteger o meu bebê.
— Eu não estou bravo com essa descoberta.... – Ele acariciou a minha barriga
e sorriu. Esse não era o Conrad que eu conheci ao acordar naquele hospital.
Esse era outro homem. — Amigos? – Ele se levantou e me olhou de cima.
Ele era tão maior que eu....

— Amigos... – Quando disse essas palavras ele capturou os meus lábios


com os seus e me beijou com zelo. Sentia cada ponto de defesa meu ruir
enquanto ele me beijava. — Amigos não se beijam na boca! – Eu disse isso e
ele sorriu. Foi um sorriso de pleno alivio.

— Então vamos ser a exceção à regra. – Novamente ele me beijou, mas


dessa vez em um rápido selinho. — Você vai voltar para Nova Iorque
comigo?
— Nova Iorque? – Eu ainda não sabia o que fazer. Voltar? Eu não tinha
certeza se queria voltar. As coisas estavam indo rápidas demais.

— Eu.... Eu não sei, Conrad. – Falei sincera. — Tem tanta coisa


acontecendo e eu ainda não sei se quero que tudo vá rápido assim. – Puxei a
camiseta e cobri um pouco mais as minhas coxas. Ele acompanhou meus
movimentos com o olhar e sorriu com a minha tentativa quase que inútil de
me cobrir.

— Eu juro que vou tentar ir devagar... – Conrad sorriu safado e passou


uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.

— Por que será que eu tenho a impressão de que com você nada é
devagar? – Seus olhos brilharam com malícia e o seu meio sorriso foi ainda
mais safado que antes.

— Posso garantir que sei fazer as coisas serem quase como uma tortura
de tão lentas. – Terminou de falar mordendo sensualmente o lábio inferior.
— Amigos, lembra? – Falei ao me levantar de perto dele. Não confiava
muito na definição dele de amizade.

— Amigos... por enquanto. – Ele falou e se levantou caminhando na


minha direção. Quando chegou na minha frente ele me abraçou e com seu
rosto enterrado na curva do meu pescoço, pude sentir quando ele inalou
profundamente o meu cheiro. Eu estremeci e me soltei disfarçadamente com
a desculpa de recolher o conteúdo da mochila que havia se espalhado pelo
chão quando ela caiu. — Eu te ajudo. – Ofereceu já começando a recolher as
coisas. Eu não o impedi. Juntos, em silêncio, recolhemos quase tudo.... Mas
quando estava colocando o último papel dentro da mochila notei que Conrad
havia parado e olhava atentamente um papel. Me arrastei mais para o seu lado
e ele amassou o papel, guardando-o no bolso da sua calça.
— Ei, que papel era aquele? – Falei apontando para o seu bolso.

— Nada... – O olhei ceticamente e quando ele notou que eu não estava


brincando ou cederia, puxou o papel de dentro do bolso e me entregou.
— Obrigada. – Disse sarcasticamente enquanto desamassava o papel.
Era uma foto dele e Emily transando. Eu podia ter ficado sem ver aquilo. Não
teria sido tão constrangedor. Uma dor descomunal se instalou no meu
estomago e se arrastou até o meu coração. Sim, eu podia ter ficado sem ver
aquilo! Devolvi a foto para ele e me levantei guardando a mochila. Como
aquilo havia ido parar na minha mochila? Alguém devia ter colocado lá....
Mas quem? Emily? Só de pensar nesse nome sinto meu estomago se revirar.

— Isso foi muito antes de nos começarmos a namorar, Rosalie. –


Conrad falou e eu ignorei.

— Vou descer e preparar um chá, você aceita um pouco? – Perguntei


ignorando o que eu havia acabado de ver. Agindo como se nada tivesse
acontecido enquanto que por dentro tudo em mim tremia e chorava. Quando
tudo que eu desejava era... chorar.
— Não gosto de chá.... – A resposta dele foi direta. — ...a não ser que
ele venha acompanhado com noventa por cento de uísque, porque aí eu
ficaria tentado a aceitar. – Ele sorriu meio sem jeito e se levantou.

— Nesse caso, posso te garantir cem por cento de uísque. Desde que
você não se incomode que tenha somente um copo. – Falei tentando manter o
clima leve entre nós.

— Para mim está ótimo. – Ele segurou a porta para que eu passasse. —
Primeiro as damas. – Disse ainda com um sorriso sem graça. Sentia vontade
de estapear aquele rosto. Vontade de gritar com ele e.... Esse idiota havia me
feito sofrer....
— Há quanto tempo nos conhecemos, Conrad? – Parei de frente para
ele e ignorei a sua expressão de surpresa.

— Hum, acho que desde que você tinha uns dez anos. Passou muito
tempo até eu ver você outra vez. Eu te vi primeiro. – Ele começou e me
incentivou a continuar andando. — Eu estava em um jantar beneficente
promovido pela empresa e você estava tirando algumas fotos para um
trabalho da sua faculdade de Fotografia. Você e a Chloe eram amigas e
viviam juntas... como unha e carne. – Falou quando alcançamos o último
degrau da escada e eu segui em direção ao sofá ignorando, por hora, a
cozinha. — Passei a noite toda te observando como louco. E não era apenas
eu que a cobiçava. Acho que metade dos homens ali queriam chamar a sua
atenção, mas você estava tão focada no que fazia que não dava atenção
desnecessária a ninguém. Quando o jantar finalmente acabou fui te procurar.
– Ele sorriu com descrença. — Só que acabei sendo barrado por um grupo de
pessoas. Fiquei furioso. Você já tinha ido embora e precisei esperar até obter
maiores informações a seu respeito. Fui na fonte. Chloe. De início ela se
negou a liberar as informações e eu precisei mentir dizendo que precisava do
seu trabalho para uma campanha nova da empresa, mas isso não enganou ela.
Você precisava ter visto a minha cara de surpresa quando ela disse que você
era a pequena Rosalie Muller. A filhinha do melhor amigo do nosso pai. –
Ele sorriu convencido. — Cheguei na sua casa primeiro que você, dá para
acreditar? – Eu ofeguei com o que ele falou.
— Eu não acredito, você é um s...

— Stalker? É, você bateu a porta na minha cara depois de me chamar


assim. Terminou a frase por mim.

— Você estava com...


— É, eu já conhecia a Emily naquela época. E você também, porque ela
era a noiva do seu irmão. – Eu estava chocada! Tantas pontas se interligando.
Tudo levando a mim mesma. Ele passou as duas mãos pelos cabelos
enquanto olhava para o teto.

— Você dormia com ela naquela época? – Eu estava agindo


como uma interrogadora, mas não voltei atrás. Esperei que ele me
respondesse.
— O quê? Não, ela era a noiva do seu irmão. Erámos apenas amigos. –
Outro golpe, e forte. — Já tínhamos saído há muito tempo, mas só transamos
quando ela terminou com o seu irmão.... Uma única noite. Nada mais. Eu juro
que não estive com mais ninguém depois que começamos a namorar. – Dessa
vez não pude evitar olha-lo com descrença.

— Quando foi a última vez que você esteve com ela? – A minha voz
saiu engasgada e eu procurei ao máximo me recompor.

— Poucos minutos antes do seu acidente, mas eu juro – Ele olhou sério
na minha direção. — ...juro que não aconteceu nada além de um beijo,
Rosalie. Emily e eu não transamos. Eu juro. Depois, quando você recebeu
alta médica, acabei descobrindo a verdade sobre você e Jeremy... que tudo
não havia passado de uma brincadeira de muito mal gosto do meu irmão e do
seu amigo. Agora eu me sinto o cara mais baixo de todo o mundo. – Hum,
outro tapa na cara. Um gosto amargo subiu pela minha garganta e eu precisei
correr para o banheiro ou vomitaria na sala. Eu parecia estar com sérios
problemas por não conseguir conter o meu estomago.... Ele me seguiu
quando saí em disparada para o banheiro, mas bati fortemente a porta na cara
dele e tranquei. Eu não queria olhar para ele agora.... Só precisava ficar
sozinha.
Não sei dizer por quanto tempo fiquei trancada dentro daquele
banheiro, contudo quando saí, Conrad já não estava mais na sala. O carro
também havia sumido. E eu novamente estava sozinha... com a minha forte
dor de cabeça a todo vapor. Eu precisava parar de me sentir tão vulnerável.
Só que era difícil se sentir diferente quando você esqueceu, praticamente
tudo, da sua vida inteira. Decidi que precisava sair um pouco, respirar outros
ares. Esse aqui já estava impregnado de Conrad. Arrumei uma pequena
bagagem e joguei no carro. Eu ficaria alguns dias fora e pensaria melhor no
que fazer
CAPÍTULO DEZOITO

BÔNUS - CONRAD
ALGUNS MESES ANTES
— Pensa que eu mentiria sobre isso, Conrad? – John se aproximou
mais e eu estava praticamente cego de ódio. Como ela pôde? Como Rosalie
pôde fazer isso comigo, depois de tudo que compartilhamos durante todo
esse tempo? — Vou repetir para você entender direito, cara. – Cambaleei
para trás e me sentei no sofá. — Eu estava atrás do Tucker para resolvermos
alguns assuntos pendentes da empresa. – John me olhou e coçou a nuca. —
Eu tenho as chaves da casa do cara, entende?

— Que cara? – Ele não tinha me contado quem era ainda. E eu estava
cego de raiva... e ciúmes....
— Eu não sei se isso é uma boa ideia... – Me levantei subitamente e o
segurei pelo pescoço contra a parede. Eu já tinha bebido, estava de saco cheio
de tudo e ele vinha se fazer de coitadinho? A porra que iria.

— Eu juro, John, – Falei cuspindo saliva de raiva. — ...que se você não


falar eu te arrebento essa merda que você chama, de porra, de cara! – Ele
engoliu em seco e concordou. Mas eu não o soltei.

— Eu fui atrás de Tucker na casa de Jeremy e encontrei ele comendo a


tua mulher, cara. – Acertei a cara de John, mesmo depois dele me contar o
que eu queria saber; depois soltei o pescoço dele e fui para o escritório. Eu
necessitava de um tempo sozinho para pensar... talvez um pouco de uísque
ajudasse, não que o que eu tivesse bebido há alguns minutos tenha resolvido.
Fecho a porta a chave e me ponho a pensar. Eu... eu contei tudo para ela.
Contei sobre toda aquela porra de chantagem que eu vinha sofrendo... eu fiz
tudo por ela. Eu abandonei a minha família por ela. Eu amava a Rosalie,
porra. Arremessei o copo vazio contra a porta. Porra, eu ainda amava
aquela.... Como ela ousou me trair com o meu próprio irmão? E aquele
desgraçado? Eu acabo com ele.... Mas as coisas não ficariam assim... as
coisas iriam mudar hoje, agora. Eu nunca tinha traído a Rosalie nesses
malditos meses de casados, tampouco enquanto namorávamos.... Eu mantive
o meu pau controlado, porque tudo que eu mais queria era ama-la. Eu não
queria mais ninguém. PORRA! Puxei os meus cabelos e me deixei escorregar
recostado na parede. Você é um idiota, Conrad. E ainda pensava que ela era a
mais pura das mulheres, hein? Bastou que experimentasse um pau e, não
contente com a sua recusa, foi atrás da porra do seu irmão. A fúria disputava
racha nas minhas veias. E agora ela deveria estar nos braços de Jeremy....
Meu celular tocou e ao ver a tela era Emily. Eu não atendi, enviei um e-mail.

De: Conrad McMahon


Para: Emily Jones
Assunto: Quer ser fodida?
Aparece aqui na minha casa para que eu possa te foder até que se esqueça
do seu próprio nome. Agora!

Pronto. Uma traição paga com outra. O meu coração parecia ter se
despedaçado e a cada batida ele endurecia e morria um pouco. Eu nunca te
traí antes, Rosalie. Todas as noites passadas fora para que você pensasse que
eu estava com outra... eu passei na sua cama, naquela velha casa do subúrbio.
As bebedeiras... todas por lá.... Sozinho!

Não demorou muito para que Emily aparecesse. Eu estava esperando-a


com uma garrafa de uísque nas mãos. Ela entrou sorrindo, eu permaneci
impassível. Isso não a desestimulou, ou evitou que ela viesse me agarrando e
querendo me beijar.
— Eu não vou te beijar, Emily. – Falei me desfazendo da saia dela. —
Eu perguntei se você queria ser fodida, não foi? – A minha voz era fria e dura
como aço. Eu não sentia nenhuma emoção em ver Emily.

— Eu sei..., no entanto eu pensei que quem sabe...

— Se o que você quer é um amasso e uma transa – Me afastei dela. —


...pode colocar a sua roupa e dar meia volta. – Ela sorriu descaradamente
indicando que não sairia dali. Ao notar que eu estava bêbado, Emily, decidiu
que me beijaria apesar do que eu falei. Ela não mediu esforços e acabou
sentada sobre o meu colo, me beijando com voracidade.... Foi naquele
momento que a porta do elevador se abriu e uma Rosalie sorridente entrou.
Não preciso dizer que o sorriso dela desapareceu no instante em que viu a
mim e Emily ali. Eu me senti sujo. Mas não mudava o fato de que ela recebeu
o que me deu.

— Eu não posso acreditar.... Eu confiei em você.... Te odeio, Conrad!


Pensei que você não fosse esse tipo, sujo e asqueroso, de homem. – Os olhos
dela faiscaram com ódio, puro e imparcial. Havia dor e magoa naquelas duas
piscinas azuis também. — EU TE ODEIO, DESGRAÇADO! – Foi como se
ela tivesse apertado o meu coração até que não permitisse a passagem do
sangue. No momento seguinte ela estava de volta no elevador, apertando
descontrolada todos os botões e aos prantos.

— Desapareça da minha casa, Emily! – Falei ríspido. Eu já tinha o que


precisava.

— Mas...

— VOCÊ NÃO ME OUVIU? AGORA DESAPARECE DA MINHA


VIDA! – Gritei atirando as roupas em sua direção. Que se dane. Ela estava
ciente do que aconteceria ali e mesmo assim aceitou. Emily se vestiu e
desapareceu sem nem mesmo me olhar. Melhor assim. Sim, eu era o maior
filho da puta. Um idiota, otário, um merda, cretino, desgraçado. Uma porra
de homem. Um canalha sem coração.... Sem coração eu fiquei ao descobrir
que a mulher que eu amava andava “dando” para o meu irmão, maldito.
Como ela ousou fazer isso comigo? É claro que eu não era nenhum santo e a
minha ficha era mais suja do que pau de galinheiro, mas eu nunca havia
traído Rosalie antes. Só agora... apenas beijando outra. Nada mais. Era só...
para dar o troco.

Depois de um longo e demorado banho eu me joguei na cama. Tentei


dormir, porém tudo me pareceu desconfortável. A cama, grande e fria
demais. O quarto escuro, frio e silencioso demais. Eu? Fodido como sempre.
Após o que pareceu uma eternidade eu adormeci, no entanto, o sono não
durou muito. Fui acordado pelo toque ensurdecedor e incessante do meu
celular. Delibero sobre atender ou não.

— Conrad McMahon. – Faço a minha menos bêbada e mal-humorada


saudação.
— Bellevue Hospital Center, senhor McMahon. – Emergência? De
repente todo álcool que ainda corria pelo meu sistema deixou de existir. — A
sua esposa sofreu um grave acidente e acaba de dar entrada em estado crítico
na emergência. – Nunca me senti tão sobreo na vida, mais sobreo do que se
nunca tivesse bebido. — É melhor vir logo... – Eu não esperei nem mais um
segundo. Me vesti o mais rápido que consegui, após desligar o celular, e parti
de encontro ao endereço 462 1 st Avenue, New Iorque, NY 10016. Aquele
era o local em que estavam todos os meus medos. O que foi que eu fiz?

Cheguei ao hospital rápido, mas não como eu gostaria. Com o coração


acelerado dentro do meu peito, ofegante, corri até a recepção lotada em busca
de informações. Pelo lugar passavam mais de dez mil pessoas todos os dias,
estava um caos. Gente por todos os lados solicitando o mesmo que eu,
enfermeiros e médicos correndo apressados até uma sala e gritos de dor,
outros de ordens, vinham através da porta. Rosalie! Não pensei, ou talvez eu
tenha mandado a prudência ir se ferrar junto com a merda da minha vida,
rumei em disparada até o lugar de onde vinha todo alvoroço. Na porta lia-se:
EMERGENCIA. Empurrei e entrei, a primeira coisa que vi foi o sangue pelo
chão. Muito sangue. Seis pessoas vestidas de branco e verde estavam ali, mas
nenhuma delas pareceu notar a minha presença. Quando entrei na sala eu já
não ouvia nada, além das batidas alucinadas dentro do meu peito. Estava
alheio aos sons, provavelmente, perturbadores dos equipamentos. E, de
repente, eu a vi. A minha cabeça ficou leve e zonza, o meu estomago parecia
ter sido substituído por toneladas de blocos de gelo, eu poderia muito bem ter
desabado ali mesmo. Rosalie estava sobre uma mesa cirúrgica, seus cabelos
empapados em sague, que parecia jamais parar de sair da ferida aberta em seu
couro cabeludo. Uma enfermeira bombeava oxigênio para dentro dos
pulmões de Rosalie, através de um respiradouro manual. Alguma coisa
parecia ter me fixado naquele piso, eu não conseguia me mover e tudo que eu
podia era manter os olhos fixos na minha mulher. As imagens pareciam
passar em pequenos quadros diante dos meus olhos. Não demora muito para
que eu seja arrancado da letargia. Tudo muda assim que alguém começa uma
massagem cardíaca em Rosalie. Naquele instante tudo vem à tona, as vozes o
barulho dos aparelhos na sala de emergência. Tudo!
— PCR*! (*parada cardiorrespiratória)
Meu corpo inteiro tremia diante daquela cena. O desfibrilador zuniu
alto na sala assim que foi feito o ajuste de intensidade da carga pelo médico.

— 300 JOULES! TODOS SE AFASTEM! – E o pequeno corpo de


Rosalie se arqueou sob as barras do desfibrilador.
— SEM REAÇÃO! – Gritou alguém ao examinar Rosalie.
Instantaneamente a massagem cardíaca foi reiniciada. Eu não percebi que
gritava em desespero e avançava em direção a ela até que estavam me
segurando, evitavam que eu chegasse ao flácido corpo de Rosalie sobre a
mesa. O zunido do desfibrilador encheu o lugar outra vez....

— ROSALIE!!! – Meu, Deus! Não a minha Rosalie.

— 350 JOULES!!! TODOS SE AFASTEM! – A última coisa que eu


vi, além do diminuto corpo de Rosalie arquear, pela segunda vez, sob as
placas do desfibrilador, foram as luzes brancas da sala de emergência. Fui
arrastado por três homens, para fora da sala.
— O senhor não pode ficar ali, entendeu? – Não, eu não entendia. Foi
necessário bem mais do que três caras para me acalmar. Era da minha mulher
que eles estavam falando. Senti uma picada aguda na lateral do meu braço e
aos poucos e muito devagar os meus músculos foram perdendo as forças, eu
não podia mais lutar contra ninguém. Era vã, a minha desesperada agitação
em busca de Rosalie. Ver Rosalie ali, toda ensanguentada, foi como se
tivessem me acertado com um bastão de basebol. A minha pequena garota...
entre a vida e a morte. De repente nada do que, antes, aconteceu importava
mais. Naquele momento tudo que eu queria era que ela ficasse bem.... Porque
eu a amava tanto e me sentia imundo pelo que eu fiz. Eu morreria se ela o
fizesse. Pouco me importava as lágrimas que desciam pela minha face. Era a
mulher que eu amava que estava morrendo em uma sala, no final do corredor.
CAPÍTULO DEZENOVE

ROSALIE
Alguns minutos depois e eu cheguei na cidade. Parei em um
cruzamento e encontrei quem eu menos queria ver naquele instante. Conrad
McMahon, saindo de uma pequena loja de utilidades. Ele me viu, na verdade
me encarou. A sua expressão era de confusão. Depois de descrença e por
último a ira, mas ele que se danasse. Não preciso dele para foder com a
minha vida ainda mais do que já fodeu. Ignorei a presença dele e segui para
fora da cidade. Iria para Paris. Talvez ele fosse embora e me esquecesse
como quando eu o esqueci. Quem sabe ele não vá reatar com a tal Emily? Eu
não vou cometer o mesmo erro. Pelo retrovisor vejo quando ele tenta correr
para o carro, mas acaba escorregando e caindo. Não sei se sinto preocupação
ou acho graça. Fico com nenhuma das alternativas anteriores. Acrescento
outra. Raiva. Piso fundo, se é que isso é possível com o carro que tenho hoje,
não olho mais para trás.

Dirigindo por Paris, paro na porta de um hotel muito acolhedor.


Entrego a chave do carro ao manobrista, que me olha com uma certa repulsa
e eu encaro de volta. Vou até a recepção e reservo um quarto. Uma suíte cara
e que poucos poderiam pagar. Boa parte do meu dinheiro iria embora por
isso, mas aquele manobrista de nariz empinado ia ver só. Eu podia pagar,
apesar do carro velho que eu dirigia. Era uma mentira de merda, mas ele não
precisava ficar sabendo. Ninguém precisava. Só eu e a minha conta bancaria
falida. Decidida ainda saio para dar uma volta e jantar num restaurante.
Porem vejo o meu reflexo numa vidraça e fico paralisada. Não era para
menos que o manobrista me olhasse daquele jeito, eu estava um caco.
Cabelos sem brilho e indisciplinados. Os meus olhos se encontravam sem
vida e meio avermelhados; a minha pele em um péssimo estado.... Se eu
gastasse mais algum dinheiro num salão não iria fazer muita diferença. E foi
o que eu fiz. Três horas mais tarde estou pronta. Uma nova mulher. Me sinto
mais confiante e bonita. Pronta para recomeçar.

O tempo estava ao meu lado e me fez pensar enquanto estava no salão:


decidi que iria retomar a minha vida. Ninguém iria tirá-la de mim,
novamente. Queria esquecer o que me fez esquecer. O que me magoou e
acima de tudo aquele idiota.... São nove da noite quando entro no restaurante.
Optei por um vestido azul turquesa de tamanho médio, um casaco e sandálias
de salto moderados. Para mim estava ótimo. E parecia que as pessoas
também aprovaram. Assim que entrei no restaurante já fui recepcionada e
guiada para uma mesa. O lugar era lindo e estava feliz por ter saído de casa
um pouco. Talvez a vida de isolamento não fosse para mim. Eu podia não
conseguir me lembrar de quase nada, mas de uma coisa eu tinha certeza: eu
adorava conviver no meio das pessoas. Eu não gostava da solidão. Estava
sentada há menos de três minutos quando um homem aparece ao lado da
minha mesa.

— Boa noite, senhorita. – Ele sorri e com toda a certeza digo que ele é
lindo. Alto, ombros largos, cabelos castanhos claros e olhos azuis, assim
como os meus. Ele estava vestindo jeans desbotados e camiseta branca. —
Está acompanhada? – Pergunta sorrindo e noto que seus dentes são
ligeiramente tortos, mas isso deixa ele ainda mais charmoso. Nada de
perfeição. Só lindo.

— A não ser que você se sente eu diria que não. - Deus, de onde veio
isso? Talvez eu não seja tão ruim flertando assim. Ele sorriu e eu retribui o
sorriso.

— Se me permite... – Disse ele se sentando. — Sou John. – Pegou a


minha mão sobre a mesa e levou aos lábios, a beijando.
— Rose. – Respondi quando puxei a minha mão. O Garçom se
aproximou e eu pedi apenas água e John vinho.

— O que uma mulher bonita como você faz sozinha em Paris? – Sorrio
com o elogio e minto em seguida.

— Estou de férias. – Ele sorriu com um brilho diferente no olhar.


— Hum, uma turista então? – Minto novamente, concordando com um
movimento de cabeça.

— Sou de Nova Iorque, cheguei há alguns dias e devo dizer que a


França é linda....

— Você, com toda certeza, é mais. – Fiz um gesto de agradecimento e


continuei com a minha água. Pedimos o jantar e comemos trocando
amenidades e ele, às vezes, flertes. A comida estava incrivelmente boa. Não
quis pedir sobremesa... na verdade eu queria, mas duvidava que conseguiria
comer mais alguma coisa. — O que você acha de sair para se divertir na noite
parisiense? Podemos ir a uma casa noturna que fica aqui pertinho... – Eu
queria, e muito, sair para dançar. Sabia que gostava de dançar. Aceitei o
pedido no mesmo instante. Além do mais, a companhia era ótima. Linda para
dizer pouco.
A casa noturna era mesmo pertinho do restaurante. Deu para ir
andando. O lugar estava lotado, mas não precisamos esperar para entrar. John
era amigo do dono do lugar, para a minha surpresa. Ele perguntou se eu
queria beber alguma coisa e eu pedi uma cerveja sem álcool e depois de beber
fomos para a pista. Minha nossa, como eu dancei. O ambiente devia ter tirado
toda a minha inibição, porque eu estava dançando muito.

— O seu cheiro é delicioso. – Ele gritou próximo ao meu ouvido. Eu


sorri e continuei dançando, mas quando ele agarrou a minha cintura e apertou
o meu corpo contra o dele eu não gostei e me senti desconcertada. — Quanto
tempo você vai ficar em Paris?
— Eu não sei. – Gritei para responder e ele me pressionou ainda mais
contra o corpo dele e eu pude sentir a sua ereção.

— O que você acha de irmos embora? – Perguntou depois de algum


tempo e me virando de frente para ele.

— Quero ficar só mais um pouco, isso aqui é uma loucura. – Falei me


virando e dançando, eu queria me distanciar dele e se possível fazer com que
ele me perdesse de vista.... O lugar estava lotado de gente e era uma terça-
feira. O DJ estava tocando, levando as pessoas a loucura. Eu adorei ver tantas
pessoas juntas, o calor.... Eu estava amando aquilo. Senti as mãos de alguém
na minha cintura, era John, e quando ele começou a se esfregar eu me senti
muito incomodada. Era errado.... Eu adorava dançar no meio de uma
multidão, mas ter um homem desconhecido - mesmo que lindo - se
esfregando no meu corpo não me agradava. Ele me segurou firme e beijou o
meu pescoço. Desviei dos seus lábios, mas ele não parecia perceber a minha
negativa evidente. John tentou me beijar novamente, no entanto desapareceu
bruscamente. Com o efeito das luzes eu quase não pude ver o que acontecia,
só que John foi puxado de perto de mim e jogado sobre outras pessoas na
pista. As luzes piscavam frenéticas no ritmo da música, que explodia pulsante
pelo lugar e foi entre esse piscar e acender que eu vi John ser atingido no
rosto e revidar... revidar contra... Conrad? O meu coração parecia querer sair
pela boca quando corri para tentar separar a briga. John acertou Conrad que
desferiu dois outros golpes em uma sequência, derrubando John no chão.
Cheguei ao lado dos dois enquanto alguns seguranças da casa noturna, que
para o meu completo horror, agarravam John pelos braços e levavam embora.
Mal tive tempo de entender a cena, quando Conrad veio a passos furiosos na
minha direção e sem uma única palavra me pegou nos braços e fez o mesmo
caminho que os seguranças. De início fiquei tão chocada que não tive reação,
mas conforme as pessoas paravam de dançar e nos encaravam a raiva fluiu
pelo meu sangue. Comecei a espernear e a bater as mãos no peito de Conrad.
Parecia até que eu estava desferindo golpes contra uma parede. Já que não
estava adiantando espernear e dar tapas eu comecei a gritar. Agora eu
esperneava, dava pancadas e gritava para que ele me soltasse. Como ele
ousava vir atrás de mim e fazer aquilo? Que ódio! Entramos por uma espécie
de corredor e aos poucos a música foi ficando ao fundo e mais baixa, mas não
os meus gritos. Virando à esquerda ele abriu uma porta e entrou, me
colocando sobre um sofá. Olhei furiosa para ele. E ele não olhou diferente de
mim. O seu olhar era homicida, em seguida Conrad segurou o meu rosto com
força e me deu um beijo molhado na boca. Depois saiu, me deixando ali
sozinha. Corri meio zonza até a porta e para a minha não total surpresa eu
estava trancada ali dentro. Esmurrei a porta várias vezes. Não preciso dizer
que foi inútil, não é? No mínimo eu teria uma concussão se continuasse. Me
virei e olhei para o lugar, que era a minha prisão. Parecia ser um escritório.
Caminhei e vi que o lugar se assemelhava a um apartamento de tão grande.
Procurei e encontrei o banheiro, onde entrei. Eu precisava esvazia a minha
bexiga com urgência depois de beber aquelas duas cervejas. Foi um alivio,
mas não ao ponto de eu terminar de lavar as mãos e parar de bater contra a
porta. Pois eu fiz exatamente isso. Bati e bati. E gritei. Nada. Apenas mãos
doloridas e garganta seca. Andei de um lado para o outro como um animal
enjaulado e parei de frente para a mesa organizada. Passei a mão em cima
dela e joguei tudo no chão. Passei para as gavetas, mas estavam trancadas a
chave. Então comecei a chutar o que tinha caído no chão e foi quando eu
estava fazendo isso que, em algum momento, a porta se abriu e Conrad agora
me segurava pela cintura. Ele me virou sem dizer nada e eu bati no seu peito
até as minhas mãos doerem e eu perder a força. Ele aguentou calado.

— Seu imbecil! – Falei com o rosto colado ao peito dele. — Está


sempre estragando tudo na minha vida. Eu estava me divertindo... – A minha
voz saiu num fio e chorosa.

— Acha que eu ia fica olhando o desgraçado do John te comer na pista


de dança? Foder a minha mulher na maldita pista? A mulher que eu amo e
que espera o meu filho? – Levantei a cabeça rapidamente encarando ele.

— Você conhece o John...?

— Aquele maldito se diz amigo meu. – Rosnou furioso. — E olha só, –


Falou com falsa alegria. — ...ele te conhece também, Rosalie. – Se Conrad
não estivesse me segurando eu teria cambaleado para trás. — Inclusive foi ele
que me contou sobre você e Jeremy! – Eu quase não acreditei no que ouvia.
— Você é o dono...?

— Não, você e eu somos os donos desse lugar! – Ele falou me puxando


para o seu colo e se sentando no sofá comigo. — Oh, mas aquele desgraçado
vai me pagar por fazer isso... – Não ouvi muito o que ele dizia, tudo que eu
pensava era que aquele... desgraçado... sabia o tempo todo que eu não era
uma turista coisa nenhuma e me enganou mesmo assim. Pior. Sei que ele
queria me levar era para cama...

— Cadê aquele filho da mãe? – Perguntei me levantando do colo dele e


me dirigindo para a porta. — Eu vou acabar com a raça dele, cadê?
— Acho que não sobrou muito da raça dele para você acabar... – Levei
alguns segundos para processar o que ele estava falando e quando entendi
cobri a minha boca com as mãos.

— Você-você.... – Vaguejei — Você o matou?


— Não! Claro que não. – Conrad sorriu levemente e ficou sério em
seguida. — Mas vontade não me faltou! – Conrad se aproximou de mim e me
abraçou. Eu fiquei sem reação. — Não quero ele num raio de mil metros de
você. Se chegar mais perto que isso ele já era. – Disse me olhando nos olhos
e depois depositando um beijo na minha testa. — Ele soube o que tinha
acontecido com você e se aproveitou, me traiu.

— Não sei como ele pode ter te traído se não temos nada um com o
outro! – Procurei me afastar, mas ele não deixou. Eu estava um pouquinho
alterada, mas não ao ponto de não saber me controlar.

— Você pode não se lembra das coisas com precisão, mas o que
compartilhamos...
— Você não compartilhou nada... – Apontei um dedo no peito dele -
era o máximo que eu alcançava - e afundei na sua camiseta preta. — Você me
enganou durante todo o nosso tempo juntos.... Me sinto como se tivesse sido
a sua amante.... – Cuspi as palavras para ele.

— Eu não te traí! – Conrad me encarou com a mandíbula cerrada e eu


encarei de volta sem me abalar com o seu olhar.

— Não foi o que você me disse hoje mais cedo. – Saí de perto dele,
porque eu não possuía o direito de bancar a enciumada. Safado mulherengo.
E outra, eu não queria ele na minha vida. Caminhei para porta e ele veio me
abraçando por trás.
— Quando eu disse...

— Não abra essa sua maldita boca para repetir aquilo que eu já ouvi
antes. – O calei antes de ter que ouvir ele dizer que esteve com aquela
mulher.
— Alguém me chantageou durante todo esse tempo Rosalie. Mentiu e
me colocou contra você...

— Oh e você deve ter achado bastante ruim, não é? Ela estava


mentindo e você o pobre coitadinho. – Ele continuou me segurando e isso me
enfureceu. — Eu quero ir embora, me solta! – Falei ríspida.

— É ciúmes o que eu estou sentindo aqui?


— Quem dera fosse, não é? – Sorri. — Mas por mim, você que vá se
foder.

— Eu adoraria. – Conrad me apertou contra a porta. — Desde que fosse


com você. – Será que ele estava pensando que eu iria dormir com ele depois
do que me falou? O desgraçado tinha beijado aquela mulher. Que raiva.

— Só nos seus sonhos, Conrad. Só nos seus sonhos...

— Sonhos se realizam...

— Te garanto que esse não vai... – Ele aproximou o seu rosto do meu e
quase encostou a sua boca na minha, mas apenas me olhou nos olhos.

— O que você sentiu quando John te beijou...?


— O quê? Ele não me beijou...

— Eu não sou cego, Rosalie. Vi quando ele te agarrou e beijou o seu


pescoço.

— Senti... – Pensei em dizer a verdade, que foi um incomodo. —


PRAZER. Eu tive o maior tesão! – Optei por mentir. Os olhos dele gelaram.

— Mentira! – Disse resvalando a sua boca na minha e um arrepio


percorreu a minha coluna.
— Não tem como você saber o que eu senti. Eu senti tesão...

— Oh, e o tesão foi parecido com esse? – Ele afundou, em seguida, o


seu rosto no vão dos meus seios e começou a beijar. Um beijo lento e sensual.
A sua boca estava quente e, enquanto depositava beijos suaves, ele deixava
os seus dentes rasparem de leve a minha pele; senti o meu corpo inteiro
corresponder a aquilo. Nada comparado com o desconforto que John causou.

— O seu toque é repugnante...


— E quando eu... – Ele rosnou algo inteligível e de assalto me tomou
os lábios entre os seus. Quis empurra-lo, mas tive as minhas mãos
imobilizadas no alto da cabeça. A sua boca investiu furiosa contra a minha e
eu me neguei a ceder. Então, ele mordeu forte o meu lábio inferior e invadiu
a minha resistência. As minhas pernas não conseguiam me sustentar. A
minha língua parecia conhecer cada movimento da dele e a cada segundo
tudo ficou mais quente e intenso. Sua mão, que antes segurava meu rosto, já
estava na minha cintura... por debaixo do vestido, que parecia facilitar ainda
mais o acesso. As minhas mãos, antes no alto, agora estavam nos seus
cabelos e ombros. A sua mão que me imobilizava estava apertando o meu
traseiro e me levantando contra o seu membro... que já estava rígido. Eu era
uma idiota. Uma batida na porta clareou a minha mente! — Ele te fez sentir
assim? – Outras batidas na porta me livraram da pergunta feita por ele, que
me soltou e ajeitou os meus cabelos e vestido; a sua boca estava toda
manchada de batom e antes que eu pudesse avisar ele abriu a porta. Uma loira
alta - grande ajuda na autoestima de uma baixinha - e bonita entrou já se
agarrando nele. A minha visão se tingiu meio de vermelho naquele momento.
— Conrad, como eu senti saudade de você. Já faz mais de dois anos... –
Ela parou e olhou o rosto dele. Provavelmente para a grande mancha de
batom que deixei na boca dele.

— Saia, Gina! – Conrad falou não disfarçando a irritação na voz.


— O que essa vadia está fazendo aqui? – Maravilha. Ela tinha acabado
de me ver ali e estava me comparando a si.

— A cada segundo que se passa entendo mais a razão por eu ter te


esquecido, Conrad. – Falei ignorando a presença da loira. — Adeus.
Aproveita a companhia da vadia loira, não será a sua esposa a te incomodar.
Passar bem! – Saí puxando a porta antes que ele reagisse. A chave estava lá.
Tranquei a porta rápido. A loira só não devia ter aberto a porta porque
Conrad me prendia contra ela. Andei rápido pelo corredor e dei de frente com
os dois armários disfarçados de segurança. — O senhor McMahon está com a
Gina e pediu para não ser incomodado em hipótese alguma! – Falei antes que
eles me barrassem. — Algo em torno de três horas. – Sorri e me aproximei
deles. — Conhecem o chefe de vocês, não é? – Eles menearam a cabeça
negando. Esses dois só tinham tamanho e força, cérebro parecia carência ali.
— Bem, eu conheço e posso garantir que quando ele diz que não quer ser
incomodado é realmente isso. Aquele homem meio que precisa de incentivo,
me entendem? – Olhei para o zíper da calça deles, que acompanharam o meu
olhar. Eu concordei com a cabeça. — Apesar de ser jovem, o coitadinho já
sofre de impotência sexual e precisa de paciência e estimulo para fazer
funcionar. – Falei sério como quem compartilha um segredo.

— Nossa. – Disse um deles.


— Jamais imaginaria isso. Dizem que ele tem fama de...

— Boatos que o coitadinho disseminou. – Cortei o outro. — Por isso


estou explicando a vocês. Não abram aquela porta, por hipótese alguma... na
verdade, se fosse vocês, eu nem passaria perto daquele corredor pelas
próximas três horas. – Completei com a minha melhor cara de pesar. — Oh,
por falar em horas.... Será que poderiam me acompanhar até a saída por
gentileza? – Sorri da maneira mais sexy que julguei ser capaz. — Estou meio
com os pés machucados pelas sandálias e não queria ter que passar por toda
aquela gente. – Sorri.

— Claro senhorita. Nos acompanhe. – Foi rápido e logo eu estava na


saída. — Ah e obrigado por nos avisar sobre o Big Boss. – Sorri e dei um
beijo demorado no rosto de cada um.
— Não tem que me agradecer. – Acenei e fui direto para o hotel. Eu
iria embora de Paris imediatamente.
CAPÍTULO VINTE

ESPECIAL - NICHOLAS
Se eu não soubesse, por fonte confiável, que a minha irmã estava
segura e bem.... Caralho, eu acabaria matando o porra do Conrad. Como a Ro
pôde esconder a infelicidade, que era a merda, daquele casamento por tanto
tempo? Eu realmente amava a minha irmã com todo o meu ser, todavia
existia momentos que desejava voar no pescoço dela. Chloe que me perdoe,
mas eu acabaria com a raça do irmão panaca dela se eu colocasse os meus
olhos nele novamente. Eu estava com uma puta dor de cabeça do caralho de
tanta preocupação.... Ro, sua ingrata! Como pôde se esquecer de mim? E
ficar vagando por um aeroporto lotado não estava me ajudando muito... putz,
como a minha cabeça estava doendo.

Caminhei de um lado para o outro, sem retirar os olhos dos horários de


pouso e decolagem dos voos. Agradeci silenciosamente assim que vi que o
avião, que Chloe disse que a Ro estaria, acabava de pousar. Eu finalmente iria
enfrentar a minha irmã.... Um nó se formou na minha garganta quando, após
alguns longos minutos, vejo a cabeça de longos fios castanhos esvoaçarem
pelo saguão de desembarque. Rosalie. Ela estava diferente, mas ainda era a
mesma pentelha que me provocava e chorava por mim na infância. A
primeira garota que eu mais amei na vida.... A minha garotinha.

— Então é assim? – Parei na frente dela sem mais nem menos, ela deu
um pulo de susto, me encarou e de repente os seus olhos brilharam e
marejaram com lágrimas — Você foge do país e não me convida?
— NICK! – Ela gritou, atraindo atenção de metade das pessoas por ali,
e se jogou nos meus braços. — Ai, meu Deus! É você. Eu sonhei com você...
– Ela disse com o rosto enterrado no meu pescoço. — ...o meu irmão – Sem
aviso ela se afastou de mim e me encarou com raiva. — Onde você estava
quando eu precisei, idiota? – Por fim já não havia mais raiva, só lágrimas.

— Eu sempre estive aqui, carinho. – Falei abraçando-a. — Só você que


não me queria mais por perto. Estivemos brigados por conta de um certo
casamento que eu fui contra e por encher de porrada a cara do seu marido,
lembra? – Ela se afastou com o rosto manchado por lágrimas e negou com
um movimento fraco de cabeça. — Claro que não se lembra, carinho. – Falei
enchendo o rosto dela de beijos. Meu Deus, como eu amava aquela pirralha.
Eu não iria mais desgrudar os meus olhos dela. Por conta de uma maldita
discórdia, eu quase a perdi e já estava mais do que na hora daqueles dois
velhos filhos de duas putas resolverem os seus problemas, deixando os filhos
fora.
— Oh, Nicholas. – Falou, ainda agarrada ao meu braço, quando eu
peguei a bagagem na esteira. — Por que tudo teve que ser assim? – Apertei
ela forte com um braço só e fomos em direção ao estacionamento.

— Por culpa de dois imbecis, carinho. – Ela sorriu com aquela boca
tremendo levemente, me fazendo lembrar de quando ela era apenas uma
pequena bebezinha, frágil e desprotegida que eu amava mais do que qualquer
coisa na vida. Sempre que ela chorava muito a boquinha dela parecia ter um
tique nervoso e tremia sem parar, eu tinha só oito anos, mas sentia como se
alguém estivesse esmagando o meu peito quando ela fazia aquilo. — Vamos,
a Chloe vai nos encontrar a noite...

— Chloe? Como você...? – Ela parou de andar e me encarou. — Então


é você! É por você que aquela maluca ficava suspirando pelos cantos desde
que eu a vi depois do acidente.... – Eu sorri. Essa era a minha garotinha!
Esperta...

— Eu a amo, Ro. – Falei com a voz rouca de emoção.


O caminho até o meu pacato apartamento foi feito quase em silêncio.
Cada um mergulhado em pensamentos com os seus próprios dramas. Eu não
perguntei o que aconteceu na França e ela não tocou no assunto também. A
conhecia bem para saber que ela não queria falar sobre aquilo.

— E o meu sobrinho? – Isso fez ela sorri. Soltei uma mão do volante do
carro e acariciei a barriga dela sobre o tecido da blusa, ela cobriu a minha
mão com a dela e fechou os olhos.

— Graças a Deus está bem. – A sua voz ficou grossa e eu soube que ela
estava se segurando para não chorar. — A mamãe ficaria feliz com ele, não
ficaria?
— Ela vivia me enchendo o saco, desde que descobriu que eu tinha
namoradas, para que eu lhe desse um neto. – Sorri com a lembrança. — Ela
seria a avó mais feliz do mundo. E vou avisando, ela estragaria
incorrigivelmente o pequeno. – Ela sorriu junto comigo. — Até quando você
conseguiu se lembrar, docinho?

— De tudo... – Ela respirou fundo, encarando o maldito trânsito


infernal de Nova Iorque — ...menos do Conrad e do acidente.... Eu não
consigo me lembrar dos detalhes, entende? – Concordei com um pequeno
movimento. — Eu me lembro de algumas coisas, esporádicas, mas não de
tudo e com pormenores. Por mais que eu tente eu não consigo.

— Com o tempo as coisas vão se encaixando no seu devido lugar, não


fique se martirizando, carinho. – Falei parando o carro e desligando. — Eu
moro aqui. – Apontei para o prédio de tijolos vermelhos e ela sorriu.
— E os Muller sobem no mais alto nível nova-iorquino. – Caímos os
dois na gargalhada. — Imagina a cara do nosso pai se ouvisse isso?

— Aquele maldito nos proibiu até de usar o tão poderoso e importante


nome Muller – ironizei e ela sorriu saindo do carro.
— Como ele está? – Só mesmo a Ro para se preocupar com aquele
velho sem vergonha.

— Está bem, com uma nova modelo a tira colo. – Ela bufou.

— Grande novidade, não é?


— Nenhuma. – Pensei que, depois do que aconteceu com Lucy, ele iria
parar de agir como um moleque de dezoito anos. Mas não, ele continuou o
mesmo. Eu tenho vergonha de dizer que sou filho dele. — E voilá! – Digo
assim que abro a porta.

— Uau. É lindo Nicholas. – Ela sorriu como se não acreditasse nos


próprios olhos.

— É, viu como as coisas mudam?


— Verdade! Pensei que quando você tivesse o seu apartamento, ele
seria um chiqueiro igual ao seu quarto lá em casa. – Dei um tapa forte no
traseiro dela e ela pulou de susto.

— Idiota, eu estou grávida!

— Pensei que as mulheres carregavam os bebês na barriga. – Ela sorriu,


depois gargalhou me fazendo acompanha-la.
— Eu senti tanto a sua falta, seu idiota. – Rosalie falou se sentando no
sofá.

— Eu também, pirralha. – Olhamos um para o outro e sorrimos. Me


arrependia de ter deixado a raiva tomar conta da minha razão. Eu nunca
deveria ter deixado Rosalie me afastar... agora ela estava triste, sofreu o diabo
e ainda por cima estava gravida.

— Pare de se martirizar por uma escolha que eu fiz. – Ela me assustou


ao falar. — Você não teve culpa... – Ela parou de falar assim que uma Chloe
toda corada entrou pela porta e não se dando ao trabalho nem de bater.
— Oi. – Chloe falou meio sem jeito.

— Oi? Como você pode estar dormindo com o meu irmão e não ter me
contado? – Ro se levantou e caminhou a passos largos até ela.

— Eu queria ter contado....


— Ah, cale a boca sua boba. – Rosalie abraçou a amiga com carinho,
isso me deixava aliviado... Rosalie, na infância, era muito possessiva com
relação a mim. — Você não sabe o quanto eu fico feliz.... Aquele idiota
estava precisando de alguém para endireita-lo.

— Ei, eu ainda estou aqui. – Falei sorrindo. As duas mulheres que eu


amava.

— E eu preciso me mandar daqui. – Rosalie falou ainda com um sorriso


nos lábios.
— Você está doida se pensa que eu vou desgrudar os meus lindos olhos
azuis de você. – Rosalie me olhou boquiaberta.

— Quanta modéstia. – Chloe olhou feio para mim.

— Eu também tenho os olhos no mesmo tom de azul que o seu! –


Protestou Ro me fazendo sorrir.
— Não tente levar a conversa por outros rumos, pentelha. – Sorri com a
tentativa de desconversar dela.

— Eu não vou ficar aqui com você... e nem com você Chloe. – Rosalie
falou antes mesmo que a amiga abrisse a boca.
— Eu já sabia disso, e é por isso que o apartamento ao lado está
alugado para você. Não tente arranjar mais argumentos, pois você sabe que
quando eu quero ser persuasivo eu consigo.

— Que saco! – Rosalie fez beicinho e sentou emburrada no sofá.

— Eu só preciso fazer alguns ajustes e já volto, ok? – Ela me mostrou a


língua e se deitou no sofá fechando fortemente os olhos. — Você vem,
Chloe?
— Se quiserem saio eu. – Ela sorriu de olhos fechados. — Não se
detenham por minha culpa, hein. – Eu sorri e arrastei Chloe porta a fora pela
mão. — Posso tapar os ouvidos!

— Você não tem jeito mesmo. – Chloe falou enquanto passávamos para
dentro do apartamento de Rosalie.

— Você acha? – Falei prendendo-a contra a porta e já devorando


aquela delicia de boca. — E você bem que adora, não é? – Ela gemeu contra
o meu pescoço deixando-me deliciar com o seu gosto.
— Por que você não cala a boca e usa ela para outra coisa? – Eu sorri,
adorava quando ela ficava toda soltinha comigo. Ela era uma Chloe
completamente diferente quando estávamos apenas nós dois juntos.
CAPÍTULO VINTE E UM

Rosalie
Três dias após sair de Paris, nas carreiras, eu me encontrava no meu
mais novo apartamento. Entretanto se o meu irmão pensava que eu iria
aceitar que ele bancasse os outros meses de aluguel, ele estava muito
enganado. O lugar era novo. Era "novo" para mim e quando digo isso eu
quero dizer o lugar em si. Não a estrutura ou a mobília. Ao consultar o meu
saldo bancário quando cheguei a Nova Iorque tive uma surpresa, pois me
parece que recebi dinheiro por algum serviço que eu havia feito antes do
acidente. Eu sorri aliviada. A primeira coisa que fiz foi abastecer o
apartamento com produtos de higiene, limpeza e a geladeira com comida. Por
último, alguns itens que eu poderia usar no trabalho. Algumas lentes extras
por exemplo. Eu precisava ganhar a vida. Não poderia ficar de pernas para o
ar enquanto o meu dinheiro ia embora, mesmo que fosse uma boa grana. Eu
finalmente havia descoberto o que eu amava fazer antes de me esquecer de
boa parte da vida. Nicholas e Chloe finalmente sentaram e me esclareceram
algumas coisas..., mas não tudo. Eles ficaram alheios a boa parte do que
aconteceu durante o meu casamento.

Sorrio quando tento imaginar a cara de Conrad ao sair daquele


escritório... três horas depois. Mesmo assim aquela parte estúpida dentro de
mim ficava imaginando o que aconteceu entre eles dois ali dentro. Rosalie,
idiota! A minha sorte foi conseguir pegar a minha mala no hotel e ter
encontrado um voo disponível para Nova Iorque no exato momento que
perguntei por um no aeroporto. Quando Conrad saiu daquele escritório eu já
estava dentro do avião. Ele deve ter ficado uma fera. Me sinto mal pelos dois
seguranças, no entanto isso ensinaria eles a não confiar assim em qualquer
um. Pelo menos a imagem de pegador daquele imbecil fora manchada por sua
impotência sexual precoce. Não aguentei e caí de costas na cama as
gargalhadas ao imagina-lo saindo três horas depois... Mach Point, Conrad.
Ainda tenho receio de cruzar com ele por aí. A sensação que tenho é de que
sou uma criminosa fugindo da lei. Ridículo, eu sei. Consegui um trabalho
para um casamento e no momento estava a caminho do local da sessão de
fotos. O casal optou pelo Central Park por ser o lugar em que se conheceram.
Ter um carro é um luxo que no momento não estou disposta a ter, por isso
acabei de sair às pressas do metrô com uma bagagem enorme e pesada. Eu
não iria ficar dependendo do meu irmão ou da minha amiga/cunhada/irmã
também. E enfim cheguei e comecei o trabalho. A noiva era linda, mas o
noivo nem tanto. As fotos duraram duas horas e tanto eu quanto o restante
das pessoas ali estavam exaustas. Devo ter tirado mil fotos - exagero eu sei -
para poder escolher cinquenta para o álbum. Me despedi deles e aviso que
assim que as fotos ficassem prontas eu lhes telefonaria. Estava exausta e nem
um pouco a fim de voltar para casa de metrô, decidi por um taxi.

Chegando na porta do meu edifício, depois de descer o meu material de


trabalho, encarei os degraus como se fossem milhas. Olhei para o lado e vi
uma rampa. Decidi por ela. Não era preguiça. Era desgastante ficar ouvindo
pessoas reclamando o tempo todo durante duas horas inteirinhas. Nem bem
dou dois passos e senti alguém segurar forte o meu braço. O susto foi grande
e acabei por deixar a minha mochila com a câmera cair. O barulho que ouvi
não me agradou em nada. Som de coisa se quebrando. Putz, a minha câmera.
— Tão desastrada como sempre. – Uma mulher loira de olhos avelã e
muito elegante diz apertando ainda mais o meu braço. Tento soltar e ela não
cede. — O que foi? O gato comeu a sua língua? – Ela sorriu e eu não
respondi, porque sabia quem era. Era Emily. — Ai, meu Deus. Você não se
lembra mesmo de mim, não é?

— Olha, eu preciso entrar. – Falei puxando o meu braço com a cicatriz


dos antigos ferimentos ardendo. Deus, como eu odiava aquela infeliz.
— Vou deixar bem claro para você, já que parece que não se lembra de
nada. – Ela puxou o meu braço novamente. — Acho melhor você se afastar
do Conrad. – Ele era o meu marido. Desgraçada, quem deveria ficar longe era
ela não eu. Contudo fiquei calada, afinal, como marido Conrad não valia nada
e eu estava mais do que disposta ao divórcio. Tudo era apenas questão de
tempo. — Não banque a idiota comigo Rosalie. Eu sei que ele foi atrás de
você em Paris e que estiveram juntos. Você sempre gostou de homens que já
tem dona, não é? – Ele era o meu marido, eu queria dizer. — Você é uma
oportunistazinha que não mede esforços, mesmo que isso signifique ficar
abrindo as pernas para qualquer um. Primeiro o Conrad e depois o irmão.
Nem mesmo o Jeremy você deixou de fora! – Um bolo se formou na minha
garganta. Essa era a maldita Emily. Mas como foi que ela soube onde me
encontrar? Ah, como eu pude me esquecer que essa vagabunda já foi
namorada do meu irmão? A cadela deve ficar monitorando o Nicholas
também, mas a história seria muito diferente se a Chloe a visse arrastando as
penas perto do meu irmão. — Conrad vai se divorciar de você. – Vagabunda!
— Você não é nada para ele. Apenas alguém que com pouco mais de duas
palavras ele consegue levar para um beco qualquer e foder. Você não vale
nada Rosalie. – Os seus olhos faiscavam. — Se você significasse pelo menos
um pouco para ele, ao invés de ser a fodinha ocasional – Ela me encarou com
um sorrisinho irônico curvando os seus lábios. — ...ele jamais teria lhe dado
um pé na bunda. Conrad é meu. Vamos ficar juntos... – Olhou dentro dos
meus olhos que já pinicavam as pálpebras com lágrimas ardendo para
derramar. — ...vou acabar com a sua vida. Você vai ficar tão falida que irá
precisar de um abrigo para dormir e pedir para não passar fome. – Concluiu
chutando a minha mochila no chão. Eu fiquei encarando sem palavras,
quando ela entrou dentro de uma BMW estacionada logo abaixo. Escorreguei
até o chão e recolhi as minhas coisas. Eu não iria chorar na frente de
ninguém. Sim, uma plateia de sete pessoas havia se formado enquanto aquela
mulher me dizia aqueles absurdos. Me levantei com toda dignidade que me
restou e caminhei em direção ao elevador. O mesmo subiu até o vigésimo
andar e eu saí caminhando até o meu apartamento, o 37 C. As minhas mãos
estavam tão tremulas que eu mal consegui fazer a simples tarefa de abrir a
porta. Deixei delicadamente a mochila no chão e fui para o quarto. Puxei o
edredom da cama, jogando-o no chão; e tirei o tênis AllStar dos pés,
deixando-os na companhia do edredom. Me arrastei para o centro da cama e
me deitei curvada em uma bola. Ali eu chorei alto até sentir a minha garganta
doer e os meus olhos ficarem pesados. Me sentia uma estúpida por não ter
retrucado uma única palavra daquela mulher.

Não quis mais sair de casa. A minha câmera ficara em pedaços e eu


ainda não tinha dinheiro para comprar outra. A minha sorte foi que o trabalho
daquela tarde no parque não ficou comprometido. Foquei toda a minha
atenção em terminar o álbum daquele casal e procurei não me lembrar da
visita daquela odiosa mulher. Como eu deixei a minha vida virar aquela
bagunça? Eu não entendia como pude me envolver com pessoas como
aquelas.... Conrad só me trouxe problemas. Agora que eu não tinha com o
que ocupar a mente... as palavras ditas a mim naquele final de tarde voltavam
com tudo para me afundar em dor. Muitas pessoas podiam ter me
considerado fraca por não revidar as palavras de Emily ou mesmo dizer que
sou culpada de tudo que ela acusou. Como eu poderia revidar algo de que
não me lembrava? Eu não me lembrava de quase nada do que aconteceu
durante o meu casamento com Conrad. Não havia maneira de me defender de
algo assim, por isso ouvi calada e engoli o choro até chegar no conforto do
meu atual lar. Odiava a Emily. Não me lembrava dela, a não ser naquele dia
no apartamento, quase nua; a odiava com todo o meu ser. Pedi a Deus que me
perdoasse por meu ódio e chorei um pouco mais.

Chegou o dia que não pude mais ficar sem sair de casa e ignorar as
chamadas insistentes de Nicholas. A comida havia acabado e, querendo ou
não, precisei sair para comprar mais e ir em busca de uma nova câmera. Eu
precisava trabalhar ou iria acabar como a ameaça de Emily: uma sem teto e
faminta. Eu devia ter perdido uns cinco quilos nessas duas semanas
trancafiada dentro do apartamento. Até a minha barriga aparentava um
pequeno montículo. O meu bebê.
Os meus pés, sem que eu dê conta, me levaram para diante de
uma loja. Uma loja de roupas para bebê....

— Veio buscar o enxoval do bebê, senhora McMahon? – Uma mulher


pergunta colocando a mão no meu ombro.

— Não... eu... – Me assusto ao ouvi-la.


— Oh, meu Deus! Eu sinto muito Rosalie... – Ela falou com verdadeira
tristeza — Eu não sabia que você tinha... – Os meus olhos se enchem de
lágrimas e transbordaram ali, no meio da calçada mesmo.

— Eu sofri um acidente... o meu bebê está bem. – Ela me convidou


para dentro da loja e me ofereceu um copo com água. Eu aceitei e com as
mãos tremulas bebi tudo rapidamente. — Obrigada... – Fiquei sem graça por
não me lembrar do nome dela. — ... no acidente eu perdi a minha memória. –
A mulher levou as duas mãos a boca, chocada.

— Pobrezinha. Sou Naomi, nos conhecemos quando você esteve aqui


certa vez... – Ela se sentou ao meu lado pegando a minha mão na sua. —
Você estava assustada, mas ao mesmo tempo feliz por descobri que estava
esperando o seu bebê. Isso foi há mais ou menos – Ela levou um dedo, de
unha pintado delicadamente de rosa pálido, aos lábios pensando. — ...há
cerca de três ou quatro meses. – Eu me levantei rápido com a surpresa.

— Eu tinha acabado de saber quando aconteceu... – Então eu já sabia


que estava gravida antes mesmo do acidente. Ai meu Deus. Eu já sabia. Eu
estava feliz e louca para dar a notícia a Conrad. Eu me lembrava daquela
emoção. Eu me lembrava!
— Oh, meu Deus! Você esteve aqui quando descobriu e estava tão
feliz. – Aquele nó na minha garganta se formou novamente. — Encomendou
e pagou o seu enxoval completo dizendo que buscaria em breve.... Nunca
mais te vi depois daquele dia....

Eu ainda estava aérea enquanto caminhava na calçada depois de sair da


loja de roupinhas. Se eu estava feliz naquele dia depois de desesperar....
Qual seria o motivo da minha tristeza? Ver Conrad com Emily na nossa
casa? Não, isso aconteceu depois.... Eu não fazia ideia do que era.... Procurei
me concentrar na calçada à minha frente. Compras. Precisava fazer compras
para reabastecer o apartamento.

Com os braços ocupados por sacos, ficava difícil chamar por um taxi....
Continuei caminhando com a intenção de encontrar um lugar que não
estivesse molhado para colocar as compras e chamar um taxi...
— Então eu sofro de impotência sexual precoce, hein? – Não precisei
ouvir depois do "então" para saber de quem se tratava. Conrad. Derrubei as
compras com o susto. — Preciso de algumas horas para animar o meu pau,
hein? – Ele continuou falando enquanto recolhia as minhas compras. Eu
fiquei paralisada como uma estátua, ali no meio da calçada, com várias
pessoas passando entre nós dois e desviando das minhas compras no chão.
Todas as gargalhadas que imaginei que daria ao ver a cara dele quando
descobrisse isso desapareceram. Parecia que nunca tinha existido tal
pensamento.

— Não tenho nada com os seus problemas sexuais. – Tentei me


recompor do susto e falhando miseravelmente.
— Venha. – Ele empurrou as minhas sacolas nas mãos de um homem
de meia idade e segurou a minha mão.

— O que pensa que está fazendo? Devolva as minhas compras. –


Finquei os meus pés no chão. — Eu não vou a lugar nenhum com você! –
Conrad me olhou com cara de "Não me diga, sério?".

— Você vai vir de uma maneira ou de outra. – Posicionei um pé na


frente e cruzei os braços. Vamos ver se eu saio daqui.... Ele balançou a
cabeça em sinal de descrença e me pegou no colo. Que mania era essa dele?
Sério? Antes que eu protestasse, estava no banco de trás de um carro de
vidros escuros que não deu nem para saber qual era o modelo.
— Não vou com você... – Avancei para a porta e as travas subiram,
assim como a divisória entre o motorista e nós dois. Bati os meus pés e...

— Você está fazendo pirraça? – Conrad perguntou todo zombeteiro


com um meio sorriso se curvando nos seus lábios. Tão lindo.... Que merda,
Rose! Ele é a causa, a razão da sua vida estar como está. — Fazendo esse
beicinho sinto vontade de morder e chupar forte ele. – Parei no mesmo
instante e corei até a raiz dos cabelos. — E quando fica toda corada assim, sei
que a sua pele está quente e tenho vontade de te incendiar o corpo inteiro com
minhas mãos, boca.... – Ele deixou o resto da frase no ar. Como se precisasse
completar alguma coisa...
— Você é um pervertido safado, Conrad! – Ele se aproximou mais de
mim, me fazendo ficar com as costas contra a porta do carro. — Se afasta de
mim. – Falei sem segurança.

— Eu não quero. Tem mais alguma coisa contra? – Queria chutar ele,
mas as minhas pernas estavam presas firmemente por suas mãos sob o tecido
fino do vestido. Era como se ele já premeditasse que eu iria chutar.
— Tudo contra....

— Uma pena que não sou do tipo que recebe ordens. – E as do seu pai?
Eu quis dizer, mas fiquei calada. Ele se aproximou até que resvalou a boca na
minha. Eu estremeci ao toque. Ele sorriu com a minha reação e investiu a
boca contra a minha que se abriu em prontidão. Corpo traidor, por que tem
que reagir assim? A sua língua deslizou entre os meus lábios, acariciou e
depois ele mordeu o meu lábio inferior, me pegando de surpresa. — Eu disse
que queria morder... – Ai, meu Deus. Em seguida, sugou meus lábios. Forte e
duro, no entanto depois suave e por último acariciou com a língua. Para a
minha completa e total vergonha... eu gemi de satisfação. O que fez ele ser
ainda mais ousado me puxando para o seu colo. Eu fui e me entreguei ao
beijo. Esse homem beijava tão bem que me deixava desnorteada. Agarrei os
seus cabelos com as duas mãos e puxei forte, era para machucar. Mas ele
gemeu de prazer contra a minha boca e deslizou as suas mãos até o meu
traseiro, apertando na medida certa; me deixando ainda mais delirante por sua
boca, seus beijos.... Conrad se encostou no banco do carro enquanto eu estava
montada nele. Já podia sentir a umidade formada entre minhas pernas
transpassar a barreira do tecido na calcinha. A situação dele não era diferente.
Senti o seu membro rígido sob a minha umidade. Uma de suas mãos deixou o
meu traseiro e viajou para debaixo do vestido e começou a avançar na direção
da minha barriga, costelas... a sua boca ficou selvagem e os beijos
desesperados e eu estava totalmente entregue ao homem que fez da minha
vida um inferno. Pelo menos era o que vinha acontecendo recentemente.
Conrad apertou o meu quadril contra a sua ereção e nos dois admitimos a
nossa excitação em um gemido mutuo de prazer e busca. E de um momento
para o outro, como se fossemos arrancados do torpor, ouvimos gritos vindos
do lado de fora do carro e algo se chocou contra o vidro do meu lado.

— Mas que porra é essa? – Conrad cobriu o meu corpo com o


seu no exato momento que o vidro se estilhaçou. — Você está bem, Rose? –
A voz dele estava estranha.
— Estou – sussurrei de volta.

— OH, MEU DEUS – era a Emily. O meu estomago pesou como se eu


tivesse engolido pedras. Toda conversa na frente do prédio em que eu morava
voltou com tudo.

— Emily? – Ele falou depois de se levantar de cima de mim, mas ainda


continuava me protegendo com o seu corpo. — O que faz aqui? – Ela não
respondeu e ele olhou a plateia formada na calçada e voltou o seu olhar para
o motorista. Ela parecia estranhamente desesperada e culpada. — Está
esperando o quê para sair daqui porra? – O motorista ligou o carro e saiu na
direção do trânsito. — Você está bem, Rose? – Com uma mão no meu rosto e
a outra na minha barriga ele me olhou intensamente. Acho que entendia
porque eu acabei me apaixonando por ele antes. Respondi com um concordar
de cabeça e ele me abraçou. — Desculpe. – Ele se recostou no banco, mas se
curvou rápido em uma careta de dor.
— O que houve? – Perguntei olhando sobre seus ombros. Do seu lado
direito, logo perto na sua costela, havia uma pequena mancha escura que
crescia abaixo de um rasgadinho. — AI, MEU DEUS! MOTORISTA, NOS
LEVE PARA UM HOSPITAL AGORA! – Entrei em desespero ao me dar
conta do que tinha acontecido a Conrad. Ele tinha levado um tiro. O meu
coração estava a mil por hora. Conrad havia levado um tiro para me
proteger....

Eu não me enganei quando pensei que Conrad havia sido alvejado por
um tiro. Aquela louca havia atirado nele? Ai meu Deus, Conrad....
CAPÍTULO VINTE E DOIS

— Sinto muito, mas se a senhorita não é da família, não pode entrar. –


Lágrimas já se formavam quando o médico disse que eu não poderia
acompanhar Conrad dentro do hospital.

— O diabo que ela não vai me acompanhar. – Conrad gemeu de dor. —


...ela é a minha mulher. Ela é casada comigo, porra. – Me assustei ao ouvir a
voz de Conrad que, para o meu horror, estava caminhando para fora da
emergência.

— O que o senhor pensa que está fazendo? Precisa ser atendido! –


Vociferou o médico.

— Não quando estão impedindo a entrada da minha mulher. – Os olhos


dos médicos se arregalaram com o tom de voz misturada a dor e raiva.
— Ela não nos informou nada...

— E pensa que em choque como ela está – Encarou o médico olho a


olho. — ...ela iria ser capaz de dizer qualquer coisa com coerência? Vamos
Rosalie. – Ele apoiou no meu ombro, como se a minha baixa estatura
trouxesse qualquer alivio ou eu aguentasse o seu peso, e me levou para a
emergência com ele. Alguns torceram o nariz para a situação, mas não
disseram nada. Eu fiquei calada, na minha. Para o meu alivio a bala pegou só
de raspão pelo que disseram. Que não havia sido nada demais. Um alivio
depois de três horas sentada esperando.
Sei que Conrad não dormiria um segundo sequer se não fosse por ação
da medicação. Por isso, era muito bom vê-lo adormecido como uma
criancinha. A sua expressão estava tão cansada, talvez até se assemelhando a
minha. Como não notei isso antes? A única coisa que tenho feito desde que
acordei foi julga-lo. Ok, ele mereceu. Contudo, existia momentos em que ele
agia como se estivesse cansado demais para continuar com as suas maldades.
Ele até mencionou uma chantagem... Da qual não perguntei nada, pois estava
ocupada demais lambendo as minhas feridas. Talvez Conrad seja tão vítima
quanto eu nessa história, no entanto isso não mudava o fato dele ser um
cretino filho da mãe. Precisava saber a verdade, e se as minhas lembranças
não ajudavam, eu escavaria tudo a fundo.

Se a noite foi desgastante, o dia foi pior. Conrad havia dormido,


forçadamente, por incríveis dezoito horas. Eu cochilei por míseros cinquenta
minutos. O cansaço estava me envolvendo, mas eu queria estar acordada
quando Conrad o fizesse. Estive tentada, diversas vezes, devo confessar, a
pegar o celular dele e ligar ao menos para a sua mãe. Não entendia o motivo
absurdo para ele proibir qualquer um de informar a sua família. Não que eu
quisesse um segundo confronto com Bartolomeu McMahon, entretanto a
família possuía o direito de saber que Conrad estava internado em um
hospital. Briguei comigo mesma por diversas vezes, apesar disso, desisti no
final. Conrad devia possuir os seus motivos para não querer que eles
soubessem.
— Rosalie...

— Oi. – Sorri ao ver que Conrad estava acordado, sonolento e com um


sorriso fraco nos lábios.

— Você realmente ficou comigo.


— Pensa que eu abandonaria, em um hospital, o homem que salvou a
vida do meu filho e a minha? – Sorri e acariciei os seus cabelos bagunçados.

— Obrigado. – Ele se sentou e fez uma careta ao mesmo tempo que


proferiu em voz baixa um palavrão. — Será que você poderia me dar um
pouco de água? Sinto como se tivesse dormido o dia todo...
— Bem, você dormiu por dezoito horas seguidas...

— O quê? Não acredito. Por isso odeio hospitais. Eles mentem para
você. “Vai ser só para tirar a dor, você não vai dormir mais do que umas
duas horinhas” – Sorri ao ouvir a imitação dele da voz de uma das
enfermeiras.

— Pare de agir como uma criança, Conrad. Aqui está a sua água.
— Só se você disser que será a minha enfermeira...

— Dói? – Perguntei quando saíamos do hospital, após a alta médica.


Ele estava com as costelas enfaixadas e já tinha sido medicado com
analgésicos. Acho que não estava nos planos dele passar outra noite internado
naquele hospital.
— Não, só está desconfortável com essa faixa enrolada no meu corpo. –
Eu sorri um pouco aliviada com a expressão de bobo dele. Pelo menos não
era dor. Aaron, o motorista, estava nos aguardando na entrada já com a porta
do carro aberta. Seu olhar era de pesar.

— Ele vai ficar bem. – Ele bateu no seu quepe e com o olhar de alívio
fechou a porta assim que eu entrei. — Obrigada por ter me protegido... –
Falei sem jeito para Conrad. — ...se não fosse por você eu estaria morta a
essa hora. – Ele me olhou com intensidade e me puxou para um abraço,
tomando cuidado com o ferimento. O perfume dele estava misturado aos
cheiros de antissépticos do hospital, mas não diminuiu o seu efeito atordoante
sobre mim. Fragrância de Conrad.

— Você vai ficar comigo hoje? – Não me afastei dele, mas o meu
coração disparou se fazendo audível nos meus ouvidos. Eu não podia ir para
casa com ele. No entanto ele estava ferido e se feriu ao me proteger.... Preferi
permanecer em silêncio. Ele respeitou, mas a sua postura ficou meio tensa ao
achar que eu havia recusado o convite. De repente veio algo que antes não
havia me ocorrido...

— Você não vai prestar queixa contra aquela louca? – Perguntei num
rompante e me arrependi em seguida.

— Os meus advogados já estão resolvendo. E, aparentemente, não foi


Emily quem atirou. Resolverei isso.

— Ela... – Eu estava indignada com a calma que ele informou que não
iria tomar as medidas cabíveis contra aquela maluca. — Você levou um tiro...
– A minha voz estava chorosa ao final e eu me afastei dele nesse momento.
Não queria que ele notasse as lágrimas que desciam pela minha bochecha por
sua causa. E se a bala tivesse pegado em outro lugar? E se não fosse apenas
de raspão? Talvez ele estivesse morto agora. O pensamento me fez arrepiar
de medo.
— Ei, não fique assim. – Conrad me puxou para que eu o olhasse. —
Está com frio? – Percorreu um dedo pelo meu braço, provocando mais
arrepios... só que de outro tipo. Ele não esperou a minha resposta e me fez
aconchegar do seu lado bom. A pele dele era quente e reconfortante.

— Obrigada. – Falei contra o seu peito. O coração dele batia rápido e o


seu ritmo aumentou quando eu agradeci. Seria por mim? — Sim, eu vou ficar
na sua casa por essa noite. – O peito dele disparou como em uma corrida de
cavalos num hipódromo. Os meus lábios se curvaram em um sorriso
silencioso. Sim sou eu quem fiz seu coração agir daquela maneira. O
monstro, por fim, tinha um coração.

— Você está rindo de mim? – Olhei para cima e dei de cara com os
seus olhos lindos, verdes e quentes. — Ou será que é do meu pobre coração
que você está achando graça? – Ele sorriu um pouquinho, mas fez uma careta
e gemeu de dor em seguida.

— Te machuquei? Foi eu quem encostou no seu ferimento.... Ai meu


Deus, me desculpe...

— Ei, ei.... Calma, minha pequena. Você não me machucou, eu apenas


me mexi e doeu. Não foi sua culpa...

— Foi sim. Se você não tivesse bancado o herói não teria se


machucado! – Falei meio engasgada. Eram os hormônios da gravidez. Isso
explicava a minha fragilidade emocional. Eu estava um caco
emocionalmente. Tanta coisa acontecendo...
— Não diga uma coisa dessas. Eu prefiro levar um tiro mil vezes a
permitir que alguém tirasse a sua vida e a do nosso filho. – E em seguida ele
me silenciou com um beijo meio tremulo pela dor. — Você não teve culpa de
nada, me entendeu? – Repetiu quando o carro parou. — Chegamos ao
apartamento... – O trajeto foi feito em silêncio. Passamos por algumas
pessoas e fizemos o possível para ignorar os olhares de espanto delas ao ver
Conrad sem a sua camisa e com uma faixa envolvendo o seu torso. Seu paletó
estava sobre os meus ombros para me proteger do frio e de olhares curiosos,
o meu vestido não fazia muito para evitar o choque no olhar dos que nos
observavam. Antes que o elevador fechasse completamente o hall explodiu
em burburinhos de incredulidade. Conrad segurou a minha mão forte na sua e
o silêncio preencheu o elevador por alguns instantes até as portas se abriram
novamente. Assim que a porta do apartamento foi aberta me lembrei dele me
dizendo que eu havia flagrado ele beijando – Nas palavras dele, não minhas.
– ...a Emily na sala. Senti uma sensação incomoda.

— Nenhuma outra mulher, além de você, colocou os pés aqui. – Fiquei


sem jeito e olhei em volta com uma sensação familiar.
— É muito bonito. – Falei para quebrar o gelo.

— Foi você quem decorou ele Rosalie. – O meu queixo caiu naquele
momento.

— O que você disse? – Eu não devia ter ouvido direito.


— Esse apartamento é seu. – Precisei me sentar. Meu? Impossível...

— Você tem um senso de humor estranho Conrad... – Sorri.

— Não estou brincando Rosalie. Esse apartamento é seu... até você ir


embora dizendo para enfia-lo no meu traseiro junto com tudo e todos. – Ele
sorriu sem humor.
— Você está enganado, eu jamais poderia pagar por uma cobertura.
Muito menos uma como essa. – Continuei sorrindo.

— Foi um... – Ele coçou a cabeça e caminhou até a parede


completamente de vidro, que dava acesso a uma sacada, ainda indeciso sobre
o que dizer. Eu caminhei para o mesmo lugar, mas longe dele. — ... eu te dei
essa cobertura de presente de aniversário Rosalie. – Dessa vez eu quase soltei
um grito de assombro. Isso não era possível. Como eu pude aceitar isso?

— E-eu aceitei? – Tinha que saber.


— Depois de muitos dias de eu insistir, sim, você aceitou. – Eu estava
sem reação.
— Eu jamais aceitaria algo assim....

— Não, você jamais aceitaria..., mas íamos nos casar e você aceitou... –
Ele se virou para mim e fez uma careta de dor.
— Você precisa descansar, Conrad. – falei pegando-o pela mão e
guiando até o sofá. – Não deveria estar de pé por tanto tempo....

— A bala só pegou de raspão e não atrapalha em nada eu me


locomover. – Ele falou com um tom divertido na voz, mas havia algo por
debaixo daquela frase. Algo que não me agradava. — Pensando bem... ai,
está doendo mesmo. – Conrad estava olhando minhas as mãos no seu braço e
eu corei.

— Você não tem jeito mesmo, hein?


— Por você eu faço qualquer coisa Rosalie. – Ele segurou o meu rosto
com uma mão e acariciou o meu lábio inferior com o polegar. — Eu faço
qualquer coisa... – Agora o seu rosto estava próximo, deixando o meu
coração louco no peito. — ...menos te deixar sair da minha vida novamente. –
E confirmou o que dizia com um beijo. Não aquele beijo que me deu há
tantas horas. Era um beijo suave, carinhoso e cheio de atenção. Senti a minha
garganta se fechando com a sensação de ter Conrad me beijando daquela
forma. Pareceu tão familiar aquilo. As minhas mãos estavam no seu peito,
tomando cuidado para não tocar o ferimento. Ele era quente ao toque e o seu
coração estava disparado sob o meu contato. A cada segundo que se passava
eu achava difícil resistir a ele. A cada segundo que passava eu entendia o
motivo para eu estar apaixonada por Conrad. Sua língua deslizou preguiçosa
contra a minha em uma caricia tão boa que me perdi no momento.

— CONRAD! – Uma doce e delicada voz feminina gritou por ele. —


Conrad, MEU AMOR... – Fiquei rígida contra a sua boca e corpo. Isso só
podia ser brincadeira. Outra mulher correndo atrás dele?

— Oh, desculpe. – A mulher que devia ter uns cinquenta anos


falou quando viu a mim e Conrad nos beijando. Ela era extremamente bonita.
Delicada com seus cabelos escuros e olhos verdes.
— O que te traz, a essa hora, por aqui mamãe? – O meu corpo saiu do
seu estado de rigidez de imediato, o que fez Conrad sorrir ao olhar para mim.

— COMO ASSIM O QUE ME TRAZ AQUI? – Ela gritou e veio em


nossa direção. Os seus olhos estavam vermelhos e haviam lágrimas descendo
por seu rosto delicado. — SEU INGRATO! – Me assustei com o peteleco
que ela deu na cabeça de Conrad.

— Ei, por que fez isso mãe? – E ele me puxou para frente me fazendo
de escudo contra a sua mãe.
— Oh, boa noite querida. Como tem passado? – Ela me olhou quando
não respondi e depois olhou para Conrad.

— Ela ainda não se lembra... – Ele coçou a cabeça e continuou depois


— ...ela não consegue se lembrar de nada do que aconteceu alguns meses
antes do acidente, mãe.

— Sinto muito pelo que aconteceu, Rosalie. – Os olhos dela se


encheram de lágrimas novamente. — Por vocês dois e pelo bebê, minha
querida. – Agora eu estava definitivamente sem entender nada. Ela sabia? Ela
me abraçou pegando-me de surpresa.
— Obrigada, senhora... – Ela se afastou e olhou de uma maneira
estranha para Conrad.

— Ela não perdeu o bebê, mãe. – Conrad falou brandamente e a sua


mãe levou a mão na minha barriga e sorriu.
— E você? No que andou se metendo para LEVAR UM TIRO? – Ela
gritou ao final quando, com horror, percebeu todo o sangue na roupa do filho.
A suas mãos tremulas foram até o curativo.

— Pegou só de raspão mãe. – Ela afundou o rosto no peito do filho e


chorou. Chorou o choro mais dolorido que eu já ouvi. — Calma mãe. Eu
estou bem....
— Por que será que eu não consigo acreditar que foi só de raspão? E
não me venha falar uma merda dessas. – Descobri de onde vinha o gênio de
Conrad. — Você levou um tiro! Como acha que eu devo me portar? Ficar
sorrindo? Eu sou a sua mãe, Conrad McMahon. Eu te pari. E se essa bala
tivesse desviado um pouco mais para a esquerda? Você estaria morto... o que
acha que seria da minha vida sem você?

— Eu sou a culpada senhora... McMahon. – Eu ainda não sabia o nome


dela.

— Louise, filha...
— Eu sou a culpada por ele ter levado um tiro, senhora... Louise.

— O que aconteceu? – Ela olhou para o filho que fingiu não ver o olhar
inquisitivo da mãe. Depois vendo que o filho a ignorava ela olhou para mim.
— Eu vou descobrir de qualquer maneira...

— Conrad queria conversar... comigo e me puxou... convidou para


conversarmos no carro. – Falei sem graça.
— Sei! – Ela não estava acreditando.

— Rosalie se recusou a entrar para conversar, então a peguei nos


braços e a tranquei comigo dentro do carro. – O meu rosto parecia queimar
diante da sinceridade de Conrad. — Ela continuou se recusando a falar
comigo e eu a ataquei, à beijando. As coisas começaram a esquentar muito e
tudo foi muito rápido depois... – Eu definitivamente queria enfiar a minha
cara num buraco e não sair mais. Que vergonha! — Ouvi gritos e uma
pancada vinda da porta. Ao ouvir outro barulho forte na porta do carro eu me
joguei sobre Rosalie....

— Quem? – Ela não precisava completar a frase para entendermos.


— Ainda não sei, mas a Emily estava lá...

— Aquela vadia... – Ela se calou e se desculpou em silêncio. — Você


está bem mesmo, meu filho? – Ele abriu os braços e deu uma volta para
mostrar que não havia nada de errado, além de quase ter morrido.

— Eu estou bem mãe, não se preocupe. – Ele sorriu e abraçou a mãe


depositando um beijo na cabeça dela. — Só preciso de um banho. – Ela olhou
alternando o olhar entre Conrad e eu. Eu corei envergonhada por ele ter
falado o que fizemos no carro.
— Eu vou cuidar dele por hoje, senhora McMahon. – Garanti para
aliviar a preocupação do seu rosto.

— Me chame de Louise, querida. – Eu sorri timidamente como um


pedido de desculpa. — Vou deixar você descansar... – Ela se dirigiu a
Conrad. — Mas vou logo avisando que o seu pai já ficou sabendo... –
Aquelas palavras pareciam conter mais significados do que realmente foi
dito. A expressão de Conrad se tornou dura de repente, o que só confirmou as
minhas suspeitas. — Fico feliz que estejam juntos novamente, minha querida.
– Ela disse enquanto me abraçava. Abri a boca para dizer que nós não
estávamos juntos, todavia a fechei em seguida. — Cuida bem dele para mim?
– Ela cochichou no meu ouvido e eu concordei com um movimento de
cabeça. — Ele é um verdadeiro idiota na maioria das vezes, no entanto quero
que saiba que ele te ama menina. – Neguei furiosamente com a cabeça e ela
sorriu. — Sei que você não se lembra das coisas e que quando se lembrar vai
querer mandar o meu filho para o inferno e longe de você, mas não se
esqueça que – Ela me olhou nos olhos enquanto se afastava. — ...ele te ama,
filha. Ele também sofreu o diabo com tudo isso. Não deixe que te enganem
novamente.

— Ainda estou aqui, se nenhuma das duas reparou. – Conrad


murmurou a alguns metros. — E esse pobre infeliz, com as costelas
queimando como fogo, está implorando por um banho. – Ele sorriu aquele
sorriso lindo para mim e eu fiquei feito boba retribuindo o seu gesto.
— Já vou indo. – Louise me deu um beijo na bochecha e depois foi em
direção ao filho. — Pensa que todo mundo tem que se curva para você ou
ficar na ponta dos pés? – Ela olhou indignada para ele. — Se abaixa para eu
poder me despedir. Se curvar para a mãe não é humilhação! – Eu escondi um
sorriso com as mãos para ninguém ver... tarde demais. Conrad sorriu para
mim ao me ver sorrindo.

— Bom te ver, mamãe. – Ele falou com a boca contra os cabelos dela.

— Cuida bem dessa menina, me entendeu? – Ela disse apontando um


dedo para mim.
— Sempre... – A porta se fechou e estávamos sozinhos novamente.
Fingi olhar algo muito interessante na minha cutícula enquanto ele caminhava
na minha direção. O meu coração acelerou. Estava nervosa com a
aproximação.

— Conseguiu se lembrar da minha mãe? – Perguntou curioso.

— Não, eu nem sabia que ela era a sua mãe até você dizer. – Ele tocou
de leve o meu rosto com as costas da mão. Fechei os meus olhos e senti
aquele toque quente contra a minha pele. Queria que aquela caricia durasse a
noite toda. O meu coração sempre se transformava em um louco
descontrolado quando estava junto a Conrad. O meu corpo precisava do seu
toque, como os meus pulmões imploram por ar quando ficava submersa.
Várias coisas explodiram em milhares de fragmentos na minha cabeça... ...a
boca de Conrad, a voz, o seu calor, o seu carinho, o seu olhar... ...o seu
sorriso. Tentei agarrar a qualquer um desses fragmentos, mas tudo
desapareceu como se jamais tivessem existido. Dei um passo vacilante para
trás enquanto ele me olhava com cautela.

— Aconteceu alguma coisa? – Ele perguntou com cuidado. Precisei de


alguns segundos para entender o que ele perguntava. Ainda estava tentando
agarrar qualquer coisa que me ajudasse a lembrar, mas não existia mais nada
a que me agarrar.
— Não... – Digo ainda sem me concentrar direito. — ...não sei.... Você
precisa de um banho, lembra? – Eu é quem queria me lembrar das coisas.
Agora.

— É que... – Ele me olhou sério, parecendo estudar a minha expressão


para ver se eu estava dizendo totalmente a verdade. — ...vou precisar de
ajuda com o banho e com a roupa... – Conrad olhou para o zíper da calça e eu
acompanhei o seu olhar. Quando encontrei o seu rosto, o seu sorriso era
zombeteiro. Ele era lindo quando sorria. O meu olhar deslizou para a pele
nua acima da faixa. Os seus ombros largos e braços fortes.... Fechei a minha
boca ao perceber, que muito provavelmente devia estar babando por ele. —
Será que você poderia me ajudar? – Falou sério e eu concordei, o
acompanhando para o quarto. O quarto era discreto, só a cama surpreendeu.
Fiquei olhando para aquela cama enorme, caberiam umas dez pessoas ali, e
Conrad sorriu. — Você achou absurdo uma cama desse tamanho, mas eu sou
bem espaçoso. – Disse sorrindo e indo na direção do banheiro que tinha uma
hidromassagem! Quase não acreditei nos meus olhos, o banheiro era quase do
tamanho do meu quarto. — As minhas costelas doem quando desço muito o
braço. – Falou parado na frente de uma enorme cuba dupla esculpida em
mármore Piguês. Uma sensação de reconhecimento me dominou e se esvaiu
em seguida, deixando apenas a imagem de nós dois nus em um espelho
embaçado.... E eu estava olhando para ele naquele instante.

— Claro... – Engoli em seco e cheguei mais perto, a sua respiração


acelerou um pouco. — Acho melhor você tomar um analgésico... – Falei sem
manter contato visual com ele. Me aproximei ignorando o seu rosto e com as
mãos trêmulas agarrei a sua calça; lutei por alguns segundos para abrir o
cinto e depois segui ainda mais tremula para o botão. Não olhei em nenhum
momento para o rosto dele. — ...só mais um pouco – Adverti abrindo o
botão, em seguida deslizei o zíper devagar, meus dedos resvalam sobre a
protuberância da sua ereção sob a cueca e ambos respiramos com dificuldade.
Senti a musculatura das suas coxas quando abaixei a sua calça.... Ele já havia
se livrado dos sapatos? Com um chute para o lado ele se livrou das calças.
Ele estava só de cueca boxer branca... ai, ai, ai a minha libido! Me afastei
para disfarçar o deslumbramento.

— Também preciso de ajuda com a cueca... – Não pude evitar olhar


para a maldita cueca, que estava apertada sobre o seu membro generosamente
rígido. Sem dizer nada me voltei novamente para ele e coloquei os meus
dedos na intenção de tirar-lhe a última peça de roupa. Quase não conseguia
ouvir nada de tanto que eu sentia o pulsar nos meus ouvidos. Era enervante.
A umidade entre as minhas pernas já tinha alcançado níveis críticos, me
deixando extremamente necessitada. Comecei a descer a boxer branca, que se
deteve no volume formado dentro dela. Meus seios ficaram pesados e os
meus mamilos austeros. — Que se foda... – Conrad mal falou aquelas
palavras e eu já estava sobre o mármore meio rosa pálido da cuba gigante. A
boca de Conrad devorava a minha e eu estava correspondendo com fervor,
para a minha vergonha. Sim! Eu queria a boca dele sobre a minha. Que se
danasse a prudência, porque naquele momento tudo o que eu precisava era
dele. Um som rouco escapou da boca dele e eu ecoei o seu desejo ao gemer
contra os seus lábios. Com a agilidade de um perito ele arrancou o meu
vestido me deixando somente em uma lingerie caidinha e feia. O que eu
estava fazendo? Eu estava imunda e ele precisava descansar... eu não podia....

— Preciso de um banho. – Falei me esgueirando para longe dele, mas


inutilmente. Ele me puxou novamente.
— Não, Rosalie. Pare de fugir...

— Você fingiu que não conseguiria se despir... – Falei com a voz


ofegante quando senti a mão dele deslizar até a minha calcinha e puxar a peça
com força. Ela se rasgou como se não tivesse resistência alguma. Antes que
eu protestasse, a sua boca cobriu o meu mamilo sobre o tecido fino de seda
do meu sutiã. Soltei involuntariamente um grito de prazer. Eles estavam tão
sensíveis.

— Sabia que eu amo quando você grita assim pra mim? – Ele se
afastou e arrastou o sutiã para um lado, expondo o meu seio. — Seu corpo
está sempre receptível a mim... eu posso sentir o cheiro delicioso da sua
excitação, meu amor. – Ele contornou o meu mamilo exposto com a língua,
mas não o colocou na boca. — Veja... – Demoradamente ele deslizou o seu
dedo do meu seio, passando pela barriga e chegando ao ápice entre as minhas
coxas. Sem nenhuma dificuldade ele deslizou um dedo pela minha umidade.
A sua boca estava entreaberta em total estase apreciativo, enquanto os seus
olhos jamais paravam de encarar os meus. — Você está tão molhada que até
o mármore está provando o que eu quero na minha língua! – Me puxando um
pouco para frente e para trás, provando o seu ponto e me fazendo deslizar na
minha própria umidade acumulada no mármore. — Você está sempre pronta
para me receber Rosalie.

— Eu não posso – As palavras saíram baixas, mas ele ouviu. Só que


decidiu ignora-las. — ... ainda não estou pronta, Conrad. – Ele sorriu aquele
sorriso safado e me beijou.
— Não é o que está parecendo. – Ele acariciou deliberadamente as
minhas dobras úmidas de necessidade.

— Eu... eu não quero dizer nesse sentido. Não estou preparada para... –
Ele pareceu ignorar o meu argumento e continuou a sua massagem
enlouquecedora, e torturante, enquanto com a outra mão acariciava os meus
mamilos simultaneamente, para completar a tortura a sua boca estava na
minha. Eu só conseguia sentir Conrad. Eu queria mais. Eu queria tudo.
Conrad estava por todo o meu corpo. Fagulhas multicoloridas se formavam
nos meus olhos me fazendo cair cada vez mais.... Quando ele deslizou dois
dedos dentro de mim, beliscando ao mesmo tempo o meu mamilo, eu não
aguentei. As luzes multicores explodiram com tudo quando eu alcancei a
plenitude, rogando o nome de Conrad e me contorcendo em sua direção. O
orgasmo foi tão intenso que lágrimas escorriam dos meus olhos naquele
momento. Os espasmos ainda percorriam o meu corpo quando Conrad colou
a sua testa na minha e permaneceu assim até que a minha respiração se
acalmasse. Ele não tentou nada, apesar da sua ereção estar intacta sob a
boxer.

— Eu senti a sua falta... – Ele falou enquanto acariciava o meu rosto.


— Vamos tentar de novo.... Me dá essa última chance... nos dê essa última
chance Rosalie? – Os olhos verdes dele brilhavam com emoção ao dizer
aquelas palavras, mas... — Eu te amo, Rosalie. – Ele não esperou a minha
resposta. Me deu um beijo casto e foi para o chuveiro. Não me pediu nada em
troca. As minhas pernas ainda estavam tremulas quando desci da bancada de
mármore, a sensação de estase ainda era latente entre as minhas pernas
enquanto caminhava até a porta do banheiro e saía, com meu vestido apertado
contra o peito. Precisava de um banho. Iria para o outro quarto. Eu sabia que
havia outro quarto naquela casa.

— Ora, ora, ora. – Me choquei com a voz que veio de um dos sofás.
Era a voz fria e controlada de um homem. — Vejo que os seus gritinhos
deliciosos resolveram cessar um pouco. Juro que não me excitei de propósito.
– Senti nojo e tentei me cobri. Ele se levantou e me assustei com a
semelhança entre esse homem e Conrad. Eles só podiam ser irmãos. Jeremy?
Não precisava de uma confirmação. Era obvio demais. Me virei e corri para o
quarto em que Conrad estava e entrei no banheiro com ele.
— Ei – Ele sorriu, mas o seu sorriso desapareceu ao ver o meu rosto. —
O que houve Rosalie?

— Tem um homem na sala. – Me agarrei ao corpo dele como se para


me proteger. — Acho que é seu irmão, se parece com você....

— Fique aqui. – Conrad não deixou que eu terminasse a frase. Puxou


uma toalha, enrolou no quadril e seguiu para fora do banheiro. O chuveiro
ainda estava ligado e eu deixei a água cair quente sobre a minha pele, até
ficar vermelha. Não gostei de como Jeremy falou comigo....
Não tinha se passado nem dez minutos, quando Conrad retornou ao
banheiro e me encontrou encolhida dentro da banheira. Nem eu me dei conta
de que estava ali dentro.

— Deixa-me te ajudar. – Falou já me ajudando a sair de onde eu estava.


— Ambos precisamos de descanso. – O ferimento dele estava sangrando um
pouco, mas o que me abismou mais foi ver o corte na sobrancelha e punhos
dele.

— O que houve? – Gaguejei já sabendo a resposta óbvia.


— Nada. Só acompanhei o Jeremy, enquanto colocava o lixo para fora.
– Colocar o lixo para fora?

— Por que vocês brigaram? – Ele sorriu sombriamente.

— A pergunta certa não é por que! – Ele me abraçou forte e gemeu de


dor. — Acho que vou aceitar aquele analgésico que você me ofereceu. –
Decidi não insistir naquele assunto, mas isso não significava que eu estava o
deixando de lado. Eu iria querer saber a verdade e logo.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS

Acordei assustada durante a noite, mas não sabia o motivo para tal
medo. Um pesadelo? Não me recordei. Senti o braço de Conrad envolver a
minha cintura e a mão dele cobrir protetoramente à minha barriga. Um
sorriso bobo se curvou nos meus lábios e ouvi Conrad sorrir também.
— Pensei que você estivesse ao ponto de me deixar estéril e
impotente...

— Como? Não entendo. – Perguntei em meio a um bocejo.

— Você ainda tem aquela mania de chutar as cobertas enquanto


dorme... – Ele falou depositando inúmeros beijos na minha nuca, o que fez o
meu corpo se arrepiar inteiro.
— Eu não faço isso. – Sorri.

— Ah, é? E como é que você sabe se está dormindo? Sim, você faz
sim. – Disse pressionando a sua ereção contra o meu traseiro, mas soltou um
xingamento abafado de dor depois.

— Está com dor? – Perguntei me sentando rápido para inspecionar.


— É só que eu me esqueci desse maldito ferimento e acabei... porra,
isso está doendo mesmo. – Ele xingou outra vez e eu já estava indo buscar
um copo com água e outro analgésico. Um ferimento de raspão de arma de
fogo traria tanta dor assim ou ele estava escondendo alguma coisa?

— Você está mentindo, Conrad! – Ele me olhou chocado, mas ao


mesmo tempo muito pálido de dor. — Quando eu vi o seu ferimento não me
pareceu que ele era apenas um raspão...

— Não foi raspão.... – Admitiu com relutância. — Não quis preocupar.


— QUE MERDA, CONRAD! – Gritei com lágrimas nos olhos. — E o
que você está fazendo em casa? – Ele ficou calado. — Me responda Conrad.
– Pedi.

— A bala entrou, mas não atingiu nenhum órgão importante. Eles a


retiraram e fecharam o buraco. – Entreguei o comprimido para ele, que
engoliu de uma só vez com a água. — Eu é que não iria ficar mais noites
internado naquele hospital enquanto você corre um riso maior aqui fora. E o
nosso bebê?

— E o que acontece com o pai dele se ele briga com o irmão e abre o
ferimento? E o que acontece se o pai dele morrer por conta de uma idiotice? –
Ele ficou sério e se deitou com os braços cobrindo os olhos. — Cadê o seu
celular? – Exigi e ele indicou o criado mudo. Passei por cima dele, peguei o
celular e comecei a buscar pelo contato do doutor Sinclair. Encontro, porém,
não antes de ver o nome de Emily na agenda. — Será que o senhor poderia
vir até o apartamento de Conrad com urgência... – Digo quando o médico
atende. — ...no meu apartamento... não, não posso esperar até amanhecer.
Levanta essa sua bunda enorme e gorda da cama e venha logo. Conrad te
paga uma fortuna por isso. – Me surpreendi quando desliguei o celular na
cara do homem. Conrad estava sorrindo. — O que foi agora? Posso te fazer
parar de rir com um único gesto...
— Você nunca deu ordens a ninguém assim...

— Não sou a mesma Rosalie de antes. – Respondi com urgência.

— Não, você não é...


— Como está a dor?

— Ah, aqui, no mesmo lugar. Lutando contra a ação do analgésico


derruba elefante. Passando... – Ele fez uma careta e sorriu. — Preciso de um
beijo para ajudar a passar...
— Não sei se você merece, depois do que andou fazendo hoje... – Me
calei quando o sorriso dele se ampliou e ficou meio safado. Não pensei, só
avancei sobre ele com cuidado e o beijei. Ele me puxou me fazendo cair ao
lado dele e devorou os meus lábios. Sentia como se tivesse sido presa em
uma armadilha.

Não demorou muito para anunciarem a chegada do médico.

— Me parece que ele acatou o seu pedido mais rápido do que faz por
mim. – Ele falou enquanto eu me dirigia para receber o velho torturador. Eu
ainda não tinha me esquecido de como ele derramou aquele líquido dos
infernos nos meus ferimentos.
— É o Conrad. – Falei sem demora e contei o ocorrido para ele.

— Olá doutor "recebo uma fortuna por consulta". – Quase ri da piada


de Conrad, quase....

— Muito engraçado. Cuido desse seu traseiro desde que você era um
moleque catarrento, Conrad. – Falou puxando o curativo que cobria a ferida.
— Ora, ora, ora... o que temos aqui? – Conrad fez uma breve careta de dor
enquanto era examinado.
— Anda logo com isso. – Conrad falou entredentes e de olhos cerrados.

— Jeremy esteve aqui e os dois acabaram brigando. – Falei olhando


para Conrad... ai meu Deus. Conrad estava inconsciente! — Ai meu Deus! –
O meu coração parecia querer sair do meu peito naquele instante.
— É melhor se aclamar senhora, não vai fazer bem para o seu filho... –
Ele falou discando um número na tela do celular. Eu não conseguia ouvir
direito o que ele estava falando, só voltei a realidade quando ele falou um
nome que me causou arrepios. — Sim, senhor McMahon, os seus filhos
andaram brigando.... – Eu corri para o lado de Conrad e peguei o celular da
mão do velho imbecil.

— A ambulância, é para você chamar o socorro. Não aquele maldito


desgraçado. – Falei furiosa e chocada com a minha súbita onda de coragem e
fúria. — Chame uma ambulância... – Não esperei ele ligar, puxei o celular de
Conrad e fiz isso eu mesma. — Pronto. É assim que se faz, agora saia daqui
antes que eu chame Henry para te mostrar o caminho. – Ele me olhou como
se um terceiro olho tivesse nascido na minha testa. — O seu cheque será
entregue amanhã, pode esperar. HENRY! – Gritei chamando pelo armário
enorme que era aquele homem, ele não demorou muito para aparecer e
escoltar o maldito médico vira casacas para fora. — Obrigada. – Falei assim
que Henry voltou para junto de mim.
— Os socorristas já estão aqui, senhora. – Ele olhou preocupado para
Conrad. — E tem mais... – Ele coçou a cabeça. — O seu irmão e a senhorita
Chloe também estão aguardando.

— Peça para os socorristas entrarem logo, esqueça a Chloe e o


Nicholas. – Falei furiosa. Eu não pensava em nada que não fosse Conrad ser
levado para o hospital em segurança. Ver ele ali, imóvel e completamente
vulnerável mexeu com algo em mim. Eu não deixaria ninguém chegar perto
dele naquele estado.

Muitas horas depois de Conrad dar entrada, novamente, na emergência


do hospital, ele foi transferido para o quarto. Eles ainda não permitiam a
entrada de ninguém e isso me deixava completamente arrasada. Eu
necessitava ver com os meus próprios olhos para comprovar que ele estava
realmente estável.

— Vai ficar tudo bem, Ro. – Nicholas apertou levemente o meu ombro
em sinal de consolo.
— Não, não vai! Não até eu vê-lo com os meus próprios olhos!

— Eu quero ver o meu irmão! – A voz fria de Jeremy me arrancou do


lugar.

— SEU DESGRAÇADO! – Falei indo na direção dele, sem que


Nicholas ou Chloe imaginassem o que eu faria, pois ficaram petrificados no
lugar. Em estado de choque, eles me observaram. — FOI POR SUA CULPA
QUE ELE ESTÁ AQUI, DESGRAÇADO! – Me aproximei tão rápido que
Jeremy não percebeu a minha intenção. — VOCÊ NÃO TEM O DIREITO
DE VIR PROCURAR POR ELE! – Arrematei a minha fala acertando um
soco na cara dele e, puta merda, aquilo doeu. — SAIA DAQUI! – Gritei me
curvando com a mão explodindo de dor. Com a visão periférica notei quando
a mão de Jeremy veio perigosamente na direção do meu rosto, foi rápido e eu
não poderia evitar o golpe.
— Se você colocar um dedo, da porra, da sua mão na minha irmã, eu te
mato! – Nicholas falou com a voz cortante como aço. Olhei para cima e o vi
segurando o braço de Jeremy no ar.

Jeremy proferiu ofensas contra mim, segurando o seu nariz que


sangrava sem parar. Eu esperava que ele tivesse quebrado. Depois ele deu as
costas e saiu.

— Rosalie. – Chloe correu na minha direção, eu estava me curvando de


dor. — Por favor, alguém me ajude. – Chloe pediu de maneira delicada e
cheia de urgência. — Eu acho que ela quebrou a mão. – O sangue ainda
latejava nos meus ouvidos quando um enfermeiro apareceu para me levar, a
contragosto, para um exame já que o raio x estava fora de questão. Eu não
queria ficar longe de Conrad. E se ele acordasse? As enfermeiras e médicos
me garantiram que isso não iria acontecer tão cedo, porque ele ainda estava
sedado. Mas e se acordasse?

— Caramba, me lembre de não procurar briga com você, Ro. –


Nicholas estava tirando sarro da minha cara nos últimos trinta minutos, desde
que eu apareci com a mão enfaixada e imobilizada. Sim, eu quebrei um osso
da mão ao socar a cara do desgraçado. Mas fiquei feliz em saber que,
inacreditavelmente, eu quebrei o nariz de Jeremy. Sim, eu de pouco mais de
um metro e meio, quebrei o nariz daquele gigante de quase um e noventa de
altura. Sorte, eu sei.
— Cale a boca, Nicholas. – Eu não estava com humor. Eu queria ver
Conrad. Eu queria chorar, mas não chorei, não ali na frente de todos.

— Senhora, McMahon? – Me levantei rápido e a enfermeira sorriu,


fracamente. — A senhora já pode ver o seu marido. – Ela levantou um dedo
na direção dos outros — Mas somente ela está autorizada a fazê-lo. – Houve
um lamento mutuo, todavia ignorei e segui rapidamente para o quarto de
Conrad. — Ele ainda não acordou, mas o fará muito em breve... e só entre
nós duas – Ela se aproximou mais de mim para falar. — ...o senhor
McMahon estava chamando pela senhora sem parar nessas últimas horas,
desde que foi transferido para o quarto. – Ela sorriu, se afastou e saiu
fechando a porta logo atrás de si.

Conrad estava deitado sobre a cama do hospital e usava apenas um


lençol o cobrindo da cintura para baixo. O seu peito estava nu, exceto por um
curativo que cobria o ferimento. Ele estava um pouco pálido e havia duas
intravenosas ligadas ao braço dele. O meu coração se apertou diante daquela
imagem.

— Você vai acordar, não vai? Eu não pude dizer ainda, depois de tudo,
mas eu me lembrei de uma coisa.... Conrad, eu te amo. – Uma lágrima
escapou e rolou pela minha bochecha. — Apesar de tudo o que aconteceu, eu
sei, lá no fundo do meu coração, que eu te amo... você precisa acordar. –
Acariciei a mão dele e naquele instante o nosso bebê se moveu dentro da
minha barriga. — Sinta só. – Me levantei da cadeira e aproximei a minha
barriga da mão dele. — É o nosso bebê... você precisa acordar logo, até ele
está impaciente para ouvir a sua voz.... – Agora não tinha mais ninguém,
além de Conrad, para me ouvir chorar. Então eu chorei. Deixei toda a dor que
eu estava sentindo naquele momento extravasar por meio do choro. Ele ainda
continuava pálido e inerte sobre aquela maldita cama de hospital. Algo ruim
se revirou dentro de mim. Lembranças... mamãe.... E eu me lembrei.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO

Lembranças – No Fio da Memória


— Eu não vou usar as suas roupas, Chloe! – Eu não usaria as roupas da
Chloe para me encontrar com o Conrad. O que ele iria pensar? Que eu não
tinha roupa?

— É só um vestido, Rose. – Ela sorriu para mim, que neguei


avidamente. — Sua chata. – Dei de língua para ela, que fez o mesmo em
resposta.
— Eu... eu tenho esse. – Mostrei o vestido azul e ela fez o sinal de
positivo com os dois polegares.

— Coloca isso logo, boba. – Os olhos dela ficaram úmidos de repente,


o que fez os meus também ficarem. — Viu só? O seu sonho está se tornando
realidade, Rose. – Eu sorri quando fiquei só de calcinha e vestia o vestido. —
Lembra aquela vez que você bebeu e me confessou que amava o Conrad? –
Neguei aquela humilhação, embora me recordasse do dia. — Aquele idiota
finalmente encontrou a felicidade ao seu lado... idiota sortudo.

— Deixa de ser boba, Chloe. – Falei já escovando os cabelos. — Nós


só estamos namorando...
— Há mais de sete meses. Você tem noção do que significa o Conrad
ficar todo esse tempo sem sexo? – Eu corei até a raiz do cabelo. Eu e a minha
maldita boca grande. Sim, era verdade que o Conrad não me forçava a fazer
nada, porém... não significava que eu não sentia vontade de pular em cima do
Conrad e lamber cada pedacinho da pele daquele tanquinho durinho e
maravilhoso dele. Era ele quem não queria sexo... Comigo isso era outra
história. O que você faria se fosse uma virgem e namorasse o cara mais
gostoso, lindo e cobiçado da cidade? Bom eu faria a loucura de entregar a
minha virgindade para ele a qualquer momento. Só que ele pensava diferente,
achava, o fato de eu ainda ser virgem, a coisa mais linda e preciosa. Eca. Eu
estava louca para deixar aquela cruz.

— Que ele tem o controle de um monge tibetano? – Brinquei e Chloe


deu língua.
— Não. Significa que ele te ama, sua boba. – Ele ainda não tinha me
dito essas palavras, tão pouco eu.

— Para de me atrapalhar. – Não terminei de falar e uma porta foi aberta


nos surpreendendo.

— Você não pode ir entrando assim, Conrad. – Chloe falou com


irritação e eu fiquei com o rosto queimando de vergonha... e se ele tiver
ouvido o que a Chloe falou?
— Eu vim buscar a garota mais linda do mundo, não se meta, reles
mortal. – Conrad sorriu enquanto eu revirava os olhos para aquilo. — Você é
a mais linda de todas, meu amor. Praticamente uma deusa. – O sorriso dele
estava daquele jeito, que me fazia ponderar se trocava de calcinha ou não.

— Mentiroso. – Falei me aproximando dele, que já me puxou pela


cintura.

— Oi. – Ele disse acariciando o meu rosto com uma mão.


— Oi. – Respondi encarando aquele par de olhos verdes lindos.

— Já te falaram que você está espetacular hoje? – Neguei com um


movimento de cabeça. — Ainda bem, ou eu teria que sair quebrando a cara
dos insolentes, um por um. Você está linda, meu amor! – Conrad falou com a
boca encostada na minha, provocando um delicioso arrepio por todo o meu
corpo, em seguida devorou os meus lábios, me deixando sem ar.

— Ah, me poupem! – Resmungou Chloe. — Deixem que eu saia do


quarto primeiro. – Ela estava sorrindo quando deixou o cômodo. — Ah, traga
essa mocinha cedo para casa, entendeu rapaz? – Ela brincou já no corredor,
longe de nossas vistas.

— Certo, papai. – Retruquei.

— Você está tão linda que eu não sei se quero sair hoje.... Sou tão
egoísta, que te desejo apenas para os meus olhos.

— Nossa, que coisa linda eu sou. Acho que quem não vai querer sair
sou eu. – Ergui as duas sobrancelhas simultaneamente para ele que sorriu.
— Senhorita – Ele enfatizou a palavra me fazendo sorrir. — ...as suas
intenções não são nada honradas nesse momento e, se tratando de mim, não
poderemos permanecer aqui – Ele mordeu o meu lábio inferior. — ...sozinhos
nesse quarto.

— Oh, pelo amor de Deus! – Gritou Chloe ao colocar a cabeça dentro


do quarto — Transa logo com ela ou saiam agora! – Conrad abaixou a cabeça
e sorriu, depois segurou a minha mão me puxando para fora do quarto.

— Onde vamos?
— Em um lugar especial. – Ele sorriu me fazendo sorrir junto. – Vamos
cometer um pequeno delito para podermos avançar mais uma base...

Os meus olhos se encheram de lágrimas com a lembrança nítida


daquele dia. Eu estava me lembrando. Eu estava me lembrando de Conrad...
do meu Conrad, não do Conrad que me recepcionou quando eu acordei
naquele hospital. Eu estava me lembrando do verdadeiro Conrad, o que me
amava.

— Você precisa acordar... – A minha voz estava embargada com o


choro e não me importei. — Você precisa ficar bem, meu amor.... Eu me
lembrei de você.

— Não chore! – Olhei rapidamente para cima ao ouvir a voz fraca de


Conrad. — Eu... estou bem. – Eu não pensei, apenas abracei ele que sorriu
fragilmente em retribuição.

— Eu fiquei tão preocupada, Conrad. – Sussurrei no pescoço dele.

— Eu estou bem, desculpa. – Ele acariciou minimamente a minha mão,


mas se deteve na faixa que imobilizava a mesma. – O que aconteceu com a
sua mão?
— Precisei recolocar o lixo para fora... – Falei vagamente e quando ele
abriu a boca para falar a porta se abriu e uma Louise cheia de lágrimas entrou
no quarto... acompanhada daquele demônio a quem Conrad, Jeremy e Chloe
chamavam de pai.

— O que ela faz aqui? – Perguntou o Satã olhando diretamente para


mim.

— O mesmo que você, ou talvez melhor. – Falei sem titubear.


CAPÍTULO VINTE E CINCO

Lucy – Alguns Anos Antes


Aquela maldita mulher não perdia por esperar. Como ela ousou me
denunciar para o meu pai? Justo para “ele"? – “Lucy e Emily estão envolvidas
com drogas, Bart". Vadia, ela iria me pagar muito caro por aquilo. Pensando
melhor, até que eu poderia me divertir bastante com tudo isso. Sempre gostei
de um desafio e de me divertir, principalmente. E eu iria me divertir bastante
nesse processo todo de vingança.... Albert Muller é um coroa muito gostoso.
Fantasio com ele desde a adolescência... aquele corpo. Ai, ai, ai. Não seria
tortura nenhuma levar ele pra cama, muito pelo contrário, seria um prazer
sem precedentes realizar esse sonho. Mas primeiro eu teria que fazê-lo
acreditar que todos estavam contra ele. Inicialmente a própria mulher, depois
o melhor amigo e por último os filhos. Albert Muller, o que tinha de gostoso
possuía em igual de burro. Eu já podia sentir o gostinho da vingança.... A
mãe de Nicholas pagaria muito caro por me denunciar. Graças a ela, o meu
pai cortou todo o meu dinheiro e regalias. Inventou algo que jamais fez: me
ameaçou. Maldita mulher!

— Você tem certeza do que vai fazer, Lucy? – Às vezes, a Emily era
meio asna. Ela podia até pensar que eu não entendia o que ela queria comigo.
A tola pensava que eu não sabia que ela me usava para se aproximar do
babaca do meu irmão. Ela ainda não se tocou de que tudo o que Jeremy
queria era foder. Foder, foder e foder até se foder todo com essa merda toda.
Ele não queria romance. Não queria se prender. Só tinha uma mulher pela
qual ele era perdidamente apaixonado, desde criança devo dizer: Rosalie
Muller. No entanto a vida tratou de arrancar a chance de Jeremy ser feliz. A
sonsa era apaixonada por Conrad, o meu outro irmão, que por sua vez era
completamente apaixonado pela sem sal. Dava até nojo de ver. O todo
poderoso e mulherengo, Conrad McMahon, caindo de amores por uma sem
graça. Isso mesmo, os dois se amavam. E nem sabiam que esse amor era
mútuo. Essa maldita sem sal o roubou de mim. Depois dessa, Jeremy se
amargou e Emily se tornou o estepe.... Emily, Emily, Emily... como eu
poderia te usar naquele plano? A sua burrice era bastante útil. Pensando
nisso, algo me ocorre. E se eu fizesse Albert crer que a sua linda, fiel e amada
esposa vinha tendo um caso com o seu melhor amigo? Dois coelhos em uma
cajadada só! Perfeito.

— Tenho. Eu preciso contar para o pai do Nicholas o que eu vi. – Falo


com a voz tremula.
— Mas é o seu pai... – Essa garota era muito burra mesmo.

— E que está tendo um caso com a mulher do melhor amigo dele. E


como fica a minha mãe? – Os meus olhos se enchem com lágrimas, fazendo
Emily deixar escapar um soluço baixo. Patética. Como ela podia ser tão asna
assim? Essa idiota iria me ajudar em tudo sem ao menos se dar conta do que
estava fazendo. Sorrio internamente com isso. Ah, Emily, Emily, Emily...
CAPÍTULO VINTE E SEIS

Jeremy
Conrad estava furioso comigo. Eu, apesar de amar Rosalie, jamais me
coloquei no caminho deles. Não. Estou mentindo. Ontem no apartamento
dele.... Eu precisava saber como estava o meu irmão.... Cheguei no
apartamento e entrei. Eu estava preocupado, o meu irmão estava ferido,
porra. Foi aí que eu comecei a ouvir os gemidos abafados de Rosalie,
enquanto o meu irmão a fazia gozar. Era eu quem deveria ter esse direito,
porra. Eu a tinha visto primeiro. Ele sequer sabia da existência dela até que a
viu com o corpo de mulher.... Eu a amava muito antes. Por fim, acabei
falando o que não devia. Conrad apareceu furioso já me enchendo de porrada,
eu revidei com toda a minha raiva. Depositei cada frustração nos punhos....
No entanto, me dei conta do tamanho da burrice que eu estava cometendo
muito tarde. Ele estava ferido e era inútil brigar por algo que jamais foi meu...
...que jamais esteve ao meu alcance. Rosalie não me amava, ela era
apaixonada pelo meu irmão.... Agora eu estava sentado dentro do meu carro
e com o nariz possivelmente quebrado. Rosalie tinha me acertado a cara e
com razão. Se algo acontecesse ao meu irmão por conta da minha
imprudência eu jamais me perdoaria....

— Jeremy, você precisa me ajudar! – Me assustei com as mãos


espalmadas de uma pálida, Emily no vidro da porta do motorista.
— Você é maluca? – Perguntei sem paciência. Eu não estava com
ânimo para mais uma das inúmeras tentativas de Emily em ir para cama
comigo. Eu sabia que ela gostava de mim, mas eu não podia retribuir o
sentimento, eu não queria machuca-la....

— É Lucy! – A simples menção ao nome da minha irmã já era o


suficiente para me deixar alerta e aflito. Lucy.... — Acabaram de me ligar
informando que ela fugiu... – Não era preciso que ela me dissesse de onde
Lucy havia fugido. Ela estava internada há três meses em uma clínica
psiquiátrica.... Puta merda, como foi que ela conseguiu fugir?

— Entra. – Falei abrindo a porta do passageiro. — Vai desembuchando


tudo o que você sabe, porque eu sei que você sabe. – Ela sentou no banco do
carro e se curvou para a frente, Emily estava chorando e eu não sabia como
reagir diante daquela situação. Eu não sabia o que fazer quando uma mulher
começava a chorar na minha frente. Então deixei que ela chorasse até se
sentir melhor, e devo dizer, demorou. Demorou uma eternidade.

— As coisas começaram a ficar estranhas há mais ou menos dois anos.


– Ela fungou e depois me olhou nos olhos, nos dela eu via tormenta e
arrependimento. — A mãe da Rosalie e do Nicholas... viu nos duas usando
erva... e contou para o seu pai. – Eu estava de braços cruzados sobre o peito e
não perdia nenhuma palavra que deixava a boca de Emily. — Se lembra
quando ele cortou a mesada, cartões e viagens da Lucy? – Eu não respondi,
ela me olhou sem graça e prosseguiu. Eu não estava para bate e rebate ali. Eu
queria respostas e isso seria tudo. — A Lucy surtou. – Eu me lembro daquele
dia como se fosse ontem. O meu pai cortando, com a tesoura, todos os cartões
de crédito da Lucy e jogando aos pés dela.... — Passados alguns meses ela
veio ao meu encontro chorando. Falou que tinha flagrado... – Ela parou e
olhou para longe do meu olhar. Isso me irritava. As pessoas tinham que
conversar me olhando nos olhos.

— O que ela te falou, Emily? – A minha paciência ao lado dela ia para


o inferno. Não tinha essa única vez que eu não me irritasse com ela. Talvez
fosse a beleza exagerada ou a ingenuidade dela. As pessoas faziam ela de
gato e sapato. Eu mesmo me aproveitei muito disso. Só de lembrar o meu pau
ganhava vida instantaneamente, independente da seriedade do momento. O
sexo com ela era incrível. Inesquecível.... – Falou que viu o seu pai e a mãe
de Rosalie transando no escritório....

— Mas que porra é essa? – A minha irmã era louca? Eu acreditei nas
palavras de Emily. Ela não conseguia mentir sem que as pessoas notassem,
ela era um desastre ambulante ao mentir.
— Eu pensei a mesma coisa, mas daí ela falou que tinha que se vingar
pela mãe de vocês e que contaria para o senhor Muller. – O que a minha irmã
tinha feito? Ela destruiu as duas famílias.... Meu Deus, a Lucy era um
monstro! — Depois ela conseguiu colocar o seu pai e o de Rose contra ela e o
irmão. Não me pergunte como, porque eu não sei. Eu nem entendo como ela
conseguiu fazer Conrad acreditar que Rose o traiu com você! – Dessa vez eu
a olhei, olhei de verdade. Do que essa maluca estava falando? — Ah, você
não sabia? Pois acredite, a sua irmãzinha transformou a vida daqueles dois
num inferno na terra. Fez Conrad humilhar e fazer a mulher que ele ama
sofrer. Fez Rose acreditar que o marido a traía comigo....

— E não traiu? – Não pude deixar passar.

— Não. Transamos uma única vez e foi bem antes deles namorarem...
na outra vez eu fiz Conrad beber até apagar na noite de núpcias, depois eu
tirei as nossas roupas e o fiz acreditar que tínhamos transado. – Olhei para ela
com ceticismo. — Quando você me chamou de Rosalie enquanto dávamos
uns amasso.... Eu me senti usada e acabei me rebaixando. – As lágrimas
novamente. Merda. — E quer saber qual foi a pior parte? A pior parte é que
eu fui a amiga burra que ajudou a Lucy com tudo... – E lá estava a Emily
chorando novamente. — Ela conseguiu me enganar também. – A cada
palavra que deixava a boca de Emily, eu me sentia um pouco mais culpado.
Como eu não notei os sinais de que tudo estava errado? Fui tão egoísta ao
ponto de pensar apenas nos meus sentimentos e deixar tudo e todos de fora?
Sim, eu fui. E essa é a consequência de tudo.

— Eu juro que não fiz mais nada de ruim....


— Como você pôde deixar a minha irmã te manipular assim, Emily? –
Ela limpou as lágrimas e não me encarou.

— Porque eu fui burra o suficiente em acreditar na minha melhor


amiga. – Ela falou as palavras de forma rude, mas não eram palavras
grosseiras para me repreender. — Você precisa detê-la... ela está louca,
Jeremy. Lucy está completamente fora de si.

Após deixar Emily em segurança no meu apartamento, segui direto


para a casa dos meus pais. Eles precisavam saber sobre Lucy e toda história
por traz.
— Nós precisamos conversar, pai. – Falei já entrando e sem esperar
pelo consentimento para a conversa.

— Acho que o que nós precisamos é que eu arranque os seus dentes


fora, já que o nariz a Rosalie quebrou! – O olhar do meu pai poderia fazer
qualquer um encolher, menos eu.

— Então isso vai ter que ficar para depois. – Falei abrindo uma garrafa
de licor e despejando um pouco no copo. — A Lucy fugiu do hospital. – O
meu pai soltou um som estranho de questionamento e logo passou as mãos
pelos cabelos.
— Quando? E por que diabos eu não fui informado?
— O senhor, melhor do que ninguém, conhece a Lucy. Ela deve ter
comprado algum funcionário....

— E como você ficou sabendo?


— Lucy foi atrás da Emily... para puni-la pela traição, mas não a
encontrou. – Para a sua sorte. — Emily estava na casa de uma vizinha e a viu
saindo do prédio... acompanhada.

— Quem estava com ela? – O meu pai estava muito vermelho e tive
medo pela sua saúde, que apesar de ser ótima, não era de ferro.

— Essa resposta até mesmo eu queria saber, mas a Emily não


identificou o homem. E tem mais. – Então eu repeti toda história de Emily.
Contei tudo. Naquele momento eu estava certo de que o meu pai cairia morto
de um ataque. Ele ficou tão furioso, no entanto não disse uma única palavra
enquanto eu fazia o relato.
— Precisamos contar para a Chloe e o Conrad, que a Lucinda fugiu. –
Olhei o meu pai com certa descrença. Será que ele pensava que eu iria
colocar os meus pés dentro daquele quarto de hospital? Na certa Rosalie me
arrancaria a cabeça fora dessa vez. — EU conto para Conrad, você vai atrás
da Chloe e a faça, obrigue, a vir ficar junto da mãe de vocês. Não quero
nenhum de vocês perambulando por aí sem uma escolta armada. Deus me
perdoe, mas Lucinda é completamente louca e pode fazer algo de ruim com
vocês. – Eu queria dizer que ela já havia nos destruído, mas não achei uma
boa ideia. — E... avise o Albert e o Nicholas também! – Tenho certeza de que
o meu queixo caiu quando ouvi o meu pai dizer aquilo, mas não tive tempo
para descobrir o significado de tudo, pois o mesmo saiu como um ciclone do
escritório. Eu balancei a cabeça e retirar em disparada para procurar por
Chloe, embora já tivesse uma ligeira certeza de onde ela estava e de que eu
encontraria Nicholas também. Aqueles dois idiotas pensavam que eram
espertos, mas não enganavam a ninguém. O nosso pai foi o primeiro a
descobrir o romance dos dois.... Mas não fez ou falou nada.

Aproximadamente quarenta minutos depois encontrei a Chloe no


apartamento do Nicholas e este último não me recebeu nada bem. Ignorei a
raiva dele e me aproximei de uma Chloe boquiaberta.
— Não seja tola! – Falei de braços cruzados encarando o olhar de
“estou muito ferrada” dela. — Todos sabem do namoro de vocês, Chloe.
Inclusive o nosso pai, ele foi o primeiro a descobrir. E devo dizer, faz tempo!
Se vocês dois não vivessem as escondidas poderiam até ser mais felizes. – O
choque e o arrependimento eram visíveis nos enormes olhos verdes da minha
irmã.

— E por que o seu pai não...

— Não fez nada? – Cortei Nicholas. — Eu também queria saber a


resposta, mas eu não vim aqui para discutir isso, uma outra hora talvez. –
Falei me aproximando de Chloe e segurando o seu rosto entre as mãos. —
Chloe, escuta com atenção o que eu vou dizer e, pelo amor de Deus, não seja
imprudente e teimosa. – Ela anuiu sem muita vontade. — A Lucy fugiu. – Foi
como se eu tivesse acertado um soco no estomago da minha irmã.

— Não pode ser.... A segurança que o nosso pai colocou....

— Ela conseguiu burlar tudo, ou comprou alguém, e fugiu. Ela veio


atrás da Emily... para se vingar por traí-la.

— Ela vai acabar conosco....


— O nosso pai pediu para você ficar com a nossa mãe, e Nicholas –
Falei me virando para olhar o rosto completamente sem cor do coitado. A
simples menção ao nome de Lucy provocava isso. A garota era louca, desde
pequena. O que mais dizer da garota que torturava até a morte os gatos da
vizinhança, que tentou envenenar a própria irmã no ensino médio por causa
de um garoto e que destruiu duas famílias inteira com intrigas? Ela não era
normal e ficou ainda pior depois que, ao acaso, descobriu que era adotada. –
...o meu pai pediu para que você avisasse o seu pai também.

— Você vai ficar bem, amor? – Nicholas passou por mim e beijou a
minha irmã, que concordou ainda em choque. — Eu vou avisar para o meu
pai, você sabe como ele é. Depois vou até você. – Falou a beijando
novamente e colocando a mão dela sobre a minha.
— Precisamos ir, Chloe. – Falei já a puxando comigo. — Só para você
ficar mais esperta: ela está com um comparsa, homem....

— É Dylan. – Parei diante da sua afirmação.

— Como é?
— Dylan e ela tinham um caso, eles estavam transando, antes dela ser
internada contra a vontade naquele hospital. – Fazia sentido. Dylan, filho da
puta. O meu amigo tinha infringido a regra número um da amizade: não dar
em cima sob hipótese alguma das minhas irmãs. E o desgraçado havia feito
mais do que simplesmente dar em cima.

— Precisamos avisar o nosso pai....

— E Conrad e Rose? Precisamos avisar....


— Já estão sendo avisados nesse exato momento, vamos. – Se eu
colocasse as minhas mãos naquele filho da puta... eu iria acabar com ele.

Não sei o que me deixou mais nervoso, a minha mãe aos prantos na
frente da tv, ou o horror estampado no rosto do meu pai. Acho que essa se
tornou a expressão geral no rosto de todos dentro da casa. Medo, pavor,
confusão.... A notícia era transmitida ao vivo e antes que eu pudesse entender
melhor o que estava sendo dito ali, o meu pai e minha mãe se precipitaram
em direção a porta. Eu não pensei muito, fui junto... nós não podíamos deixar
acontecer de novo...
CAPÍTULO VINTE E SETE

Rosalie
Eu não sabia o que pensar sobre o que o pai de Conrad tinha falado.
Lucy? Ela estava em um hospital psiquiátrico? LEMBRA, Rose. Eu queria me
lembrar da Lucy, mas mesmo com algumas memórias já de volta no lugar...
da Lucy eu não lembrava.
— Rose. – Conrad me chamou com a voz um pouco mais forte agora.
Eu estava tão feliz e aliviada com a sua melhora que sorri, me aproximando
da cama.

— Precisando de alguma coisa? – Perguntei segurando a mão dele na


minha.

— Não sei, talvez de alguns beijos aqui. – Ele apontou para o pescoço.
— Outros aqui. – Falou indicando a própria boca e sorriu depois.

— Talvez, apenas talvez – Falei me inclinando sobre ele. — ...eu possa


cuidar disso, satisfazendo o desejo de um pobre moribundo. – O sorriso dele
ficou enorme e alguma coisa se agitou dentro de mim. Um reconhecimento.
Uma alegria. A certeza do meu amor por ele. Cheguei pertinho e toquei o
pescoço dele com os meus lábios, segui arrastando pequenos beijos e alcancei
a boca dele. Não pude deixar de notar como a pele dele ficou arrepiada sob o
meu toque. Eu adorei ver o que eu provocava nele. O gosto dele estava
diferente, gosto de analgésico, mas ainda assim era o gosto de Conrad. O
gosto que me fascinava e que me deixava louca para experimentar mais.
Gemi em sua boca quando ele, com uma mão, segurou o meu cabelo
aprofundando o beijo. O monitor cardíaco dele começou a apitar como um
louco, o que fez ele e eu sorrirmos na boca um do outro.

— Não creio que isso seja permitido, senhor McMahon. – A voz áspera
de uma enfermeira nos fez encerrar o beijo, mas não os loucos bips do
monitor. Ela fez uma carranca que logo se transformou em um sorriso
condescendente e se aproximou para checar as intravenosas de Conrad.

— Obrigada. – Falei assim que ela deixou o quarto. Conrad ainda tinha
aquele sorriso bobo no rosto, e eu não estava diferente.

— Está muito corada, senhora McMahon. – Acho que corei ainda mais
naquele momento.

— É que eu me lembrei de algo. – Ele arqueou uma sobrancelha e se


ajeitou melhor na cama, sentando. Olhei de cara feia e ele deu só de ombros,
continuando na mesma posição.
— E o que a senhora, corada demais, McMahon se lembrou?

— De quando você decidiu que era o momento de avançarmos mais


uma base no nosso namoro.... – Os olhos dele brilharam emocionados e eu fui
mais do que rápida para me aninhar no seu abraço.

— Você se lembrou.... – A voz dele estava um pouco tremula, mas não


pela dor.
— De poucas coisas, mas desse dia eu me lembro em detalhes...
sensações. – Sim, eu me lembrava da sensação de ter a boca de Conrad
acariciando todo o meu corpo. A simples lembrança deixou os meus seios
pesados com os dois mamilos turgidos e uma umidade se formou na minha
calcinha. Chega com isso, Rose. Me repreendi mentalmente pela direção dos
meus pensamentos libidinosos. Estamos em um hospital e Conrad está ferido,
sua safada! Mas não podia evitar o pensamento de que eu desejava a boca de
Conrad novamente por todo o meu corpo.

— Eu me lembro principalmente do gosto e dos seus gemidos


deliciosos preenchendo todo o estádio! – Levantei a minha cabeça e com a
pele completamente vermelha o encarei. Seus olhos estavam cheios de fome e
desejo, uma nevoa de lembrança também estava presente. — Eu te amo,
Rosalie....

— Eu te amo.... – Eu o amava e foi como se tivessem tirado o mundo


das minhas costas ter dito aquelas palavras. O sorriso que ele estampou foi
genuíno e eu me peguei sorrindo em retribuição.

— Eu sei... – Falou acariciando a minha bochecha. Será que depois de


tudo eu poderia ser feliz...? — Não vamos deixar nada e nem ninguém nos
separar mais, meu amor. – E foi como se ele tivesse ouvido os meus
pensamentos. Que Deus abençoasse aquelas palavras e que de agora em
diante as coisas fossem diferentes. Pelo bem de ambos e pelo nosso bebê que
estava a caminho. Pelo bem das nossas famílias.

— Não, não vamos. Eu quero poder começar tudo do início, Conrad. –


Falei com a voz embargada. — Eu não me lembro de tudo, mas o que eu me
lembro já me diz que merecemos nos dar essa oportunidade, nos dar a chance
para sermos felizes.
— Como planejamos antes daquele maldito dia que antecedeu o nosso
casamento. – Do que ele estava falando? Eu perdi essa parte?

— O que aconteceu nesse dia, Conrad? – Perguntei olhando nos olhos


dele.

— Na véspera do nosso casamento eu recebi uma mensagem de ameaça


contra a sua vida. – Ele respondeu sem titubear. — Eu te confessei isso
algumas semanas antes do seu acidente. A pessoa era reticente, ou eu me
tornava um vagabundo cretino com você, ou ele iria te matar e me enviar os
seus pedaços em sacos plásticos. – Senti uma nevoa escura cruzar os meus
olhos junto com o revirar no meu estomago. Mas eu não iria vomitar, eu não
me deixaria abalar por isso. — Coloquei um dos melhores investigadores
atrás de quem me enviava as mensagens, porem ele não encontrou nada. Nem
rastro, nem cheiro. Era como se a pessoa não existisse, fosse um fantasma. Eu
fui um filho da puta com você, Rosalie. – A voz dele se encheu de amargura
e arrependimento. — Mas eu nunca traí o seu amor...

— Por favor, não. – Eu não precisava que ele me dissesse isso


novamente.
— Mas eu juro – Ele segurou o meu rosto com as duas mãos e me
olhou nos olhos. – ...todas as bebedeiras e ligações informando que eu estava
com alguma outra mulher... eram mentira, pois eu passava as noites me
embebedando na sua casa do subúrbio.... – Eu não entendia como, mas
acreditava nas palavras dele. Pela primeira vez, desde o dia em que eu
acordei naquele hospital... eu acreditava nele cem por cento.

— Eu acredito. – Falei acariciando o rosto dele com a barba por fazer,


ele ficava ainda mais sexy assim. — Não sei como, mas acredito em você,
Conrad. – O alivio impresso no rosto dele era evidente a uma milha dali.

— Obrigado, meu amor. – E os meus lábios foram tomados em um


assalto pelos dele, em um beijo lento e profundo. O meu corpo inteiro
correspondeu aquela caricia. O que nos separou dessa vez não foram os bips
loucos no monitor, foi o ronco alto do meu estomago. Eu estava faminta e
isso estava cobrando um preço alto. — Uau, acho que tem um monstro dentro
do seu estomago. – O olhei de cara feia e ele deu de língua — Vá comer
alguma coisa. – Ele olhou na direção da porta e piscou. — E traga um
contrabando de comida da cantina para mim, odeio comida de hospital. – Eu
não podia acreditar no que ele estava me pedindo.

— Eles não vão me descobrir, prometo! – Falei sorrindo depois de


receber outro beijo deliciosamente lento dele.
— Ficarei aguardando com o meu estomago faminto e com extrema
ansiedade.

— Não demoro. – Falei enquanto pegava a minha bolsa da poltrona e


saía do quarto. A última coisa que eu vi foi uma piscadela sexy dele. Isso
tudo só podia ser um sonho, Conrad e eu finalmente acertando as coisas, a
minha memória voltando....

— Se você abrir a boca eu te estouro a cabeça! – Senti o cano da arma


na minha cabeça quando virei no corredor e todo o sangue do meu corpo
congelou nas veias. Eu conhecia aquela voz. Me virei lentamente para
encarar quem proferia aquelas palavras. Quem eu vi me deixou chocada.
Chocada não pela pessoa, mas por conseguir saber de quem se tratava. Lucy.
E foi como se o botão de "ligar" da minha memória tivesse sido acionado e
tudo voltasse para o seu devido lugar. Me senti nauseada com o súbito
bombardear de lembranças. A minha cabeça girava rápido e rápido quando,
com a arma, Lucy empurrou forte as minhas costas para eu seguir em frente.
— Calada e não pense em nenhuma gracinha, vagabunda. – O sangue
martelava nos meus ouvidos e me deixava quase que impossibilitada de ouvir
os sons externos. Tudo o que eu ouvia era o martelar incessante nos meus
ouvidos. Tudo que eu sentia, enquanto caminhava rumo a escadaria
secundaria daquele hospital, era medo e raiva. Raiva acima de tudo e medo
além dos limites. O meu bebê. Ela iria me matar. 
CAPÍTULO VINTE E OITO

MEMÓRIAS SEM BLOQUEIOS


— Onde você está, Conrad? – Perguntei quando ele me ligou. Ele
sorriu e eu ouvi gemidos femininos ao fundo. Os meus olhos se enchem com
lágrimas de alegria. Sim, alegria e podem me chamar de estúpida, louca....
Eu não consigo acreditar na onda de felicidade que varreu o meu corpo
inteiro.

— Eu estou fodendo uma gostosa agora. – Ele falou com a voz sob o
efeito do álcool. Conrad nunca foi de beber tanto, ele nunca se mostrou um
homem apto ao habito diário de se embriagar. Entretanto ali estava ele,
bêbado. — Não consegue ouvir?

— Consigo sim! – Falei depois de desligar o celular atrás dele na sala


de estar da minha antiga casa no subúrbio. Conrad estava sentado de maneira
estranha no sofá... com a tv ligada em um canal de filmes pornô. Ele se virou
tão rápido mediante o som da minha voz que quase caiu do sofá.
— O que você faz aqui? – A voz dele era furiosa e ao mesmo tempo
triste.

— O que você faz aqui, Conrad? – Eu já não conseguia conter o choro


na minha voz.

— Eu... eu. – Ele se levantou com rapidez e veio na minha direção,


tomando-me nos braços e devorando a minha boca com a dele. — Eu te amo.
Te amo. Te amo tanto. – Falou enchendo o meu rosto e pescoço com beijos
desesperados.

— O que você faz aqui, Conrad? – Apesar de extasiada de tanta alegria


por ele não estar fodendo com alguma mulher por aí, eu queria respostas.
— Eu não posso dizer... – Acariciei o rosto dele, algo que não me era
permitido há vários meses. Lágrimas escaparam dos meus olhos ao sentir a
aspereza da barba por fazer dele. Eu adorava a sensação que ela provocava na
minha pele.

— Por favor. – Pedi com a voz chorosa enquanto me afastava dele. Se


eu ficasse acariciando o rosto dele e ele o meu... eu iria me quebrar ainda
mais por dentro.

— O que eu faço todas as noites...


— Como?

— Você perguntou o que eu estou fazendo aqui.... Eu estou fazendo o


que eu faço todas as noites desde o nosso casamento. – O meu coração deu
um salto no peito ao ouvir ele dizer aquilo.

— E o que, exatamente, você faz aqui?

— Me embebedo.... – Ele apontou para a tela da tv, que ainda exibia o


filme pornô. Eu corei até a raiz dos cabelos, quando de relance vi a cena de
sexo. — ...e usando a porra da minha mão para aliviar a vontade que eu tenho
de ter você sob mim todas as noites. – Os olhos dele eram sinceros e cheios
de fome.... Eu corei ainda mais, se é que isso seria possível. — Adoro a
forma que o seu rosto se ruboriza quando você fica envergonhada. – Ele se
aproximou de mim e eu dei um passo para o lado. Eu não deixaria o meu
coração, acelerado e estupido nublar a minha mente. Eu precisava saber das
respostas.
— Por que você mentiu para mim? Por que fez isso com a gente,
Conrad? Eu te amava tanto...

— Não me ama mais? – O medo na voz dele encheu o meu coração


estupido de alegria. — Deixou de me amar? Eu fui capaz de matar todo amor
que você nutria por mim? – Foi? Talvez. Ele chegou bem perto disso, mas
não conseguiu destruir tudo o que eu sentia por ele.
— Não, Conrad. – O alívio era quase palpável. — Eu... não deixei de te
amar. – Ele se aproximou novamente e dessa vez eu deixei que ele me
tocasse. O abraço dele era esmagador, quase como se quisesse me absorver
através dele. — Então me conta o que está acontecendo – Implorei. — ...o
que te fez destruir o nosso casamento?

— Um dia, antes da cerimônia – Ele começou assim que nos sentamos


no sofá e de me aninhar sobre o seu peito. — ...comecei a receber uma
mensagem atrás da outra, dizendo que iriam te matar se eu não cumprisse as
ordens. Eu ignorei a princípio, mas aí ele disse que talvez o seu carro
perdesse os freios naquele dia. – Ai meu Deus, Nicholas tinha dirigido o meu
carro e acabado se envolvendo em um acidente por conta de freios cortados.
Era para ser eu! — Daí o seu irmão quase morreu no seu lugar. – Ele me
abraçou forte enquanto beijava os meus cabelos. — Eu não podia ignorar.
Coloquei um dos melhores detetives para descobrir a fonte das mensagens,
mas a única resposta foi a de que fosse quem fosse... era muito esperto e pior:
invisível. Um fantasma que não deixava rastros. As ameaças começaram a
crescer de nível e o meu medo era cada vez maior. A regra era unicamente te
fazer sofrer.

— Você podia ter denunciado para polícia...


— Ele saberia. – Falou com rapidez e me puxando para que eu o
olhasse nos olhos. — Precisamos manter as coisas como antes, ok? Vamos
continuar fingindo que eu sou um filho da puta que te faz sofrer... você
precisa fingir.

— Faço qualquer coisa para que eu possa ter o Conrad de antes do


casamento. – Eu fingiria sim se preciso fosse.
— Eu vou descobrir quem está fazendo essas ameaças, eu juro que vou.
– E então ele reivindicou os meus lábios, eu o deixei tomar posse com toda
necessidade que aquele momento permitia. Eu agora sabia o motivo para que
o amor da minha vida me tratasse daquela maneira. Enfrentaríamos juntos
quem quer que estivesse o chantageando. Juntos conseguiríamos colocar um
fim em tudo.

Adormeci com Conrad me observando. Ele dizia fazer há tanto tempo


que havia se tornado um hábito. Eu não tinha o que reclamar. Eu nem
acreditava que pudéssemos ter resolvido todo esse obstáculo e eu estava mais
do que feliz. Acordei com a boca sendo assaltada pela de Conrad.... Hum,
Conrad no café da manhã. Nada mal Rosalie. Devolvi o beijo com a mesma
fome e logo estávamos sem folego e sorrindo feito dois bobos. Como algo tão
simples era capaz de trazer tanta felicidade? Eu não sabia, só que era assim
que eu me sentia apenas com o toque leve e despretensioso do meu marido.
Sim, agora eu poderia dizer isso. Conrad... eu o amava tanto e não tinha
dúvidas de que ele me amava também.

— Não sei você – Ele começou acariciando a minha barriga, o que


provocou arrepios por toda a minha pele. — ..., mas eu estou faminto e
preciso com urgência de um café. – Eu sorri para o olhar safado dele, não é
que ele fizesse de propósito, e concordei em meio a um bocejar enorme que
fez ele sorrir também. — Está cansada, com sono ainda?
— Não. – Eu queria aproveitar cada segundo ao lado dele nessa casa.
Ele não parecia pensar diferente. Não tínhamos pressa alguma para sair
daquela cama. Por mim ficaríamos ali, agarradinhos um no outro. — Quero
ficar o dia inteiro aqui com você....

— Eu também... – Ele acariciou o meu rosto e depois beijou a minha


testa — ..., mas você sabe que não podemos, não é? – Falou com a voz cheia
de raiva e amargura. Eu sabia sim, no entanto....
— Eu sei... – A minha voz saiu em um sussurro quase inaudível e
Conrad logo se sentou me puxando para o seu largo peito.

— Não fica assim, nós estaremos em casa. – Deixei um soluço escapar


e me senti tão vulnerável ali. Eu queria poder desfrutar daquele momento
junto a Conrad. — Hoje é sábado.... – O sorriso dele era radiante diante
daquelas palavras. — ...eu não vou a empresa nos sábados, Jeremy vai.
Amanhã é domingo... – E agora ele já estava beijando o meu pescoço e eu
ficando toda arrepiada.

— Vamos embora, agora. – Falei o puxando pela mão, ele veio todo
sorridente pegando a camisa e o sapato pelo caminho. — Não vamos ficar
perdendo tempo aqui.
— Uau, adoro essa sua pressa para ficar a sós comigo, por dois dias
inteiros, completamente a minha mercê! – Só de imaginar o meu coração
começou a acelerar como louco dentro do peito.

— Acho que você se arrependerá desse seu convencimento todo,


senhor McMahon. Vou abusar tanto da sua atenção que você desejará me
despachar para o outro lado do país...

— Só se eu puder ir junto. – Ele sorria safado agora, quando me puxava


pelo cós da calça. — Aqui dentro! – Ele falou olhando nos meus olhos com
aquele sorriso safado enquanto, lentamente, deslizava uma mão dentro da
minha calça e sob a calcinha. As minhas pernas fraquejaram assim que ele
alcançou a umidade absurdamente acumulada no meu centro. — Provando
cada pedacinho seu.... – Eu já estava ofegante e ele deslizou, sinuosamente,
um dedo dentro de mim, depois retirou completamente a mão de onde ela
estava. Cedo demais para o meu gosto, eu estava tão próxima... com apenas
aquele breve toque....

— VAMOS EMBORA, CONRAD! – Falei alto, dessa vez, eu mesma o


puxando para fora de casa. Ele estava demorando demais, sendo que
precisávamos recuperar três meses de casamente negligenciado e... uma noite
de núpcias. Ele não faz ideia das noites que eu passei em claro imaginando
como seria fazer amor com ele. Conrad só podia estar de brincadeira se
pensava que poderia ficar enrolando tanto só para sair dessa casa. Eu tinha
planos de passar esses dois dias inteiros fechada com ele dentro de algum
quarto do apartamento. Fazendo amor....
Cada molécula do meu corpo estava ciente da presença do moreno
enorme e gostoso ao meu lado. Eu e metade das mulheres no saguão do
prédio em que morávamos, a outra metade era constituída de homens e devo
dizer que um ou outro também observava o gostoso do meu marido. Calma,
Rosalie. Você precisa continuar fingido que está magoada com Conrad. Que
ele te faz sofrer.... Uma ruiva de perder o folego começou a encarar o meu
marido e teve o descaramento de cruzar as pernas na frente dele... será que eu
estava invisível ali? Precisei de todo o meu autocontrole para não encher a
cara maquilada dela de tabefes. Vagabunda. Conrad apertou a minha mão em
sinal de confiança.... Eu acabava de ter uma ideia.

— Vai falar com ela! – Conrad me olhou como se eu estivesse


enlouquecendo. — Isso vai desviar a atenção das nossas mãos que entraram
dadas aqui.

— Eu não vou fazer isso, Rosalie...


— Você precisa, ou se esqueceu das mensagens? – Vi o pomo de Adão
dele subir e descer várias vezes. — Eu vou estar te esperando lá em cima. –
Falei com a voz meio chorosa, apenas por imaginar ele com aquela vadia
ruiva. — Eu confio em você! – Falei já com lágrimas nos olhos quando ele
sorriu para a ruiva, flertando com ela.

— Eu te amo, Rosalie. – Ele sussurrou. — Me perdoa. – E me deixou


sozinha enquanto ia observar melhor as pernas nuas da mulher. Eu corri em
disparada para o elevador. Eu não iria presenciar aquilo. Entrei apertando
todos os botões ao mesmo tempo. Como se isso fosse resolver algo. Cheguei
esbaforida dentro do apartamento, corri para o quarto de Conrad e me joguei
na cama. Chorei até sentir o travesseiro molhado com as minhas lágrimas.
Era para estarmos dividindo carinho agora, não fingindo que ele me traía.... E
recomeço a chorar. Algum tempo depois sinto um toque quente na minha
bochecha, era Conrad.
— Você está chorando. – Não foi uma pergunta. — Não aconteceu
nada. Depois que você saiu eu falei pra ela que se o edifício estivesse
abrigando um puteiro, eu estaria me mudando daqui. – Eu consegui sorrir um
pouquinho, eu sabia que ele era capaz de dizer aquilo. — Eu não tenho desejo
por mais ninguém, minha pequena. Eu te amo... mesmo que não tenha
demostrado isso desde o dia do nosso casamento...

— O que você vem fazendo, apesar de machucar o meu coração, é a


maior prova de amor que você poderia me dar, Conrad. – Fui sincera
enquanto falava e segurava o rosto dele entre as mãos. — Eu te amo, meu
amor. – Falei com a voz quebrando ao final.

— Eu te amo, minha pequena Rose.... Quero provar cada pedacinho do


seu corpo, meu amor. – Ele sussurrou no meu ouvido causando arrepios por
toda a minha pele. — Vou fazer o que eu venho desejando desde que
começamos a namorar... – Acho que enlouqueceria agorinha mesmo.

— Conrad.... – Eu só conseguia pensar e dizer o nome dele quando o


mesmo começou a, muito lentamente, tirar a minha roupa. Primeiro a calça,
depois a blusa e o sutiã e, por último, rasgou a calcinha.
— Isso, geme, saboreie. – Eu estava sim gemendo de tesão, e alto. Não
estava nem aí se os funcionários escutassem alguma coisa. Tudo que me
importava naquele momento eram as mãos, a boca, a língua, dentes.... Conrad
era tudo e estava em todos os lugares. E eu queria tudo. — Não sei como
pude ficar longe de você esse tempo todo.... Como pude me esquecer de
como era bom o seu gosto. – E eu quase enlouqueci quando a boca dele
alcançou o ápice das minhas pernas. Agarrei os lençóis com as duas mãos
para evitar... eu não sabia o que eu queria evitar. — Calma, minha linda. –
Ele falou com um sorriso contra o meu sexo, seu hálito na minha intimidade
exposta me deixava ainda mais louca de desejo.

— Conrad.... – Eu não sabia o que dizer e ficava repetindo o nome dele


sempre que queria dizer outra coisa.... Era tão boa a sensação da boca dele
contra mim....

— Eu sei, amor. – E mais uma vez deslizou a boca pelo meu sexo, o
que fez com que eu arqueasse o corpo para fora da cama, na sua direção, que
sorriu e, para o meu completo horror e desespero, abandonou o que estava
fazendo para dar atenção a minha barriga. Eu queria dizer que a minha
barriga não tinha tantas terminações nervosas quanto o meu sexo, no entanto
mudei de ideia assim que ele começou a, com a língua, fazer amor com o
meu umbigo. — Você tem o gosto deliciosamente bom, carinho. – Acho que
perdi o ar quando ele tomou um mamilo meu entre os lábios, depois ficou
passando a língua, estimulando, me excitando. Eu já podia sentir a umidade
abandonar o meu sexo sobre o lençol sob o meu traseiro. Eu me sentia
envergonhada com aquilo, mas Conrad parecia completamente maravilhado e
a vontade. Observei ele se afastar de mim com a respiração arfante e começar
a retirar, lentamente, o seu terno caro. Ele estava me torturando, só podia ser
isso. A cada botão que ele abria mais excitada eu ficava. A cada sorriso
safado que ele me direcionava... mais devassa eu me sentia. Esse homem, que
a cada minuto se aproximava de ficar gloriosamente nu na minha frente, ...era
meu. Meu marido. Só meu.... Eu já não poderia esperar mais, me levantando
e ficando de joelhos na cama, comecei a arrancar o cinto, a desabotoar e
deslizar o zíper da calça dele. — Assim, meu amor. – Ele gemeu quando a
calça caiu aos seus pés, que a chutou para longe. Agora ele estava com a
camisa branca aberta, revelando o seu abdome definido, e usando apenas uma
cueca boxer branca e, meu bom pai, ele estava completamente rígido. Fiquei
encarando de boca aberta a ereção que pulsava sob a sua cueca. Eu o queria
dentro de mim. Eu nunca quis tanto isso na vida. Eu nunca estive com
ninguém antes, mas isso não era apenas a curiosidade natural.... Eu quero que
o homem que eu amava me fizesse sua.

— Eu quero você, Conrad. – Ele deslizou a camisa para o chão e veio


na minha direção. — Me faz sua. – Pedi enquanto ele se ajoelhava entre as
minhas pernas, me obrigando a cair de costas na cama.

— Você já é minha, coração.

— Faz amor comigo, me faz sua mulher de todas as maneiras possíveis,


Conrad. – Ele me lançou aquele sorriso desencadeador de umidade extra e
lambeu os lábios. Será que ele tinha noção do quanto ele ficava sexy quando
fazia isso? Soltei um gemido sem querer, apenas com a visão daquele rosto.
Muito devagar ele se colocou sobre mim e começamos a nos beijar, um beijo
que começou lento, sem invasão, mas que a cada segundo ia se intensificando
ao ponto de acontecer um assalto mutuo e as nossas línguas se encontraram
em uma dança sensual de prazeres. Eu sempre, desde que começamos a
namorar, imaginei como seria esse dia. Mas a realidade superou de longe as
fantasias. A pele nua e quente em contato com a minha, fazia com que cada
centímetro do meu corpo tivesse consciência do corpo dele, desde a boca,
suas mãos imobilizando as minhas, sua ereção firme contra o meu quadril até
os seus pés enroscados nos meus. Nesse momento erámos apenas nós dois
nos entregando ao amor. Não existia mais mentiras. Falsidade. Dor ou
tristeza. Erámos eu e ele em um enlace delicioso de almas.

— Eu te amo tanto, meu amor. – Falou levando, outra vez, o meu


mamilo a boca, fazendo eu arquear em busca de mais contra o seu corpo. Era
sempre mais o que Conrad me fazia desejar. Desde um beijo até a
consumação do nosso amor. Toda minha capacidade de raciocínio estava
comprometida quando me dei conta de que estava arrancando a boxer branca
dele, que logo deu um sumiço na mesma. — Você tem certeza do que quer,
amor? – Ele ainda pensava que eu tinha dúvidas?
— Desde a primeira vez em que nos beijamos! – Ele então reivindicou
os meus lábios, me beijando com fome e desejo. O seu desespero refletindo o
meu. Conrad havia me deixado tão excitada que o simples atrito da sua coxa
no meu sexo já me deixava na borda do abismo do prazer, e isso não passou
despercebido por ele, que logo deslizou a sua mão para fonte do meu prazer,
começando a massagear cuidadosamente o meu clitóris turgido. Não
demorou muito e eu já estava gozando e gemendo contra a boca de Conrad,
que engolia cada som de prazer tomando-os como seus. Nessa nevoa de
prazer, não notei que Conrad já havia me penetrado, penetrado profundo e só
quando uma dor breve de susto rasgou o meu íntimo e eu gritei em resposta é
que percebi — Eu te machuquei? Quer que eu pare, carinho? – Afundei o
meu rosto na curva do pescoço dele e respirei fundo. Não era uma dor que se
podia dizer forte, era leve. — Fala comigo, amor. Você quer que eu pare?
— Não, eu não quero que você pare Conrad. – A minha voz saiu meio
esganada, o que não pareceu convencer ele, que estava imóvel dentro de
mim. A dor já estava desaparecendo, como uma intromissão desconhecida
que logo cedeu lugar para o prazer. Eu podia sentir todo o comprimento e o
pulsar dele dentro de mim. A cada pulsar erótico eu me sentia mais e mais
disposta a sentir aonde aquela sensação deliciosa estava me levando — EU
NÃO QUERO QUE PARE CONRAD, POR FAVOR. – Fiquei chocada ao
ouvir a mim mesma implorando.

— Você é uma delícia, meu amor. – Ele falou beijando o meu mamilo e
sugando forte. — Tão apertada e quente! – Ouvir ele dizer aquilo me deixava
ainda mais molhada e necessitada por ele. — Uma delícia e é toda minha. – A
voz dele estava rouca de desejo e isso me excitava. Pensei que fosse
enlouquecer quando ele começou a se mover para fora e para dentro de mim
enquanto ainda sorvia forte o meu mamilo.
— CONRAD...

— Isso, meu amor. – Ele falou sugando os meus dois mamilos ao


mesmo tempo e eu fincava as minhas unhas na pele nua das suas costas. —
Grita o meu nome enquanto me recebe dentro de você e eu te chupo gostoso!
– Meu Deus, aquelas palavras unidas a suas entocadas ritmadas e profundas
foi o meu fim. Como um salto do céu com milhões de estrelas explodindo
diante dos meus olhos. O orgasmo varreu todo o meu corpo como uma onda
beijando a praia. Levando tudo de mim e deixando apenas o prazer em seu
lugar. O meu corpo estava em brasas de deleite, no ápice do orgasmo, quando
ouvi Conrad gritar o meu nome com a sua voz rouca como se a sua própria
existência só fizesse sentido ao pronuncia-lo. Estávamos consumando o
nosso amor. O nosso amor que mesmo depois de tantos desafios, ainda vivia
forte dentro de nós, que agora, unidos, erámos um só. Uma só vida. Um só
coração. Uma só alma. E esse momento ficaria gravado dentro da minha
memória e nada, nem ninguém iria arranca-la de mim... de nós. — Eu te amo,
Amor. – A voz dele estava tão rouca que era pouco reconhecível agora.

— Eu te amo, Amor. – A minha voz não estava muito diferente da dele.


Eu sorria como uma boba e ele retribuía com um mesmo sorriso. O sorriso
dele era lindo e refletia nas profundezas dos seus bonitos olhos verdes. Sim,
eu jamais seria capaz de me esquecer daquele momento.
CAPÍTULO VINTE E NOVE

— Você tem ideia do quanto fica gostosa vestindo só a minha camisa?


– Perguntou com aquele sorriso safado estendido nos lábios. Me inclinei e
provei deles. Conrad. Eu o amava tanto.... Havíamos acabado de fazer amor,
e isso vinha acontecendo em todos os segundos permitidos nesses últimos
quinze dias. Acho que até perdi a conta de quantas foram as vezes que nos
amamos nessas últimas duas semanas. — E esse sorriso de garota má... me
deixa de pau duro novamente...
— Tive uma ideia, senhor, tarado, McMahon. – Falei me sentando
sobre a ereção dele... vestindo somente a camisa branca que ele usava
anteriormente, antes de eu arrancar com botões e tudo fora do seu corpo. Vi
quando os olhos dele ficaram escuros de desejo e a sua generosa ereção
pulsou sob o meu sexo. — Vamos tirar uma foto dessa sua cara de safado,
para eternizar esse momento. – E ele lançou o pior, mais aterrador e sexy dos
seus sorrisos, um que fez eu gemer baixinho e ficar molhada
instantaneamente sobre ele.

— Adoro o som do seu gemido de prazer. – Ele puxou a câmera das


minhas mãos e apontou a lente para mim. — Agora é a sua vez, gostosa.
Quero que olhe diretamente para mim e não feche os olhos, em hipótese
alguma. – Eu olhei para ele, que segurava a câmera com uma mão e com a
outra ele traçou um caminho lento até o meu sexo. Ele emitiu um gemido
rouco de apreciação ao sentir a minha umidade já o molhando. — Eu vou te
fazer gozar, Rosalie! – O meu coração ficou acelerado quando as palavras
deixaram a boca dele. — E você vai me olhar nos olhos quando estiver
gozando. – Acho que não precisei de muito mais que aquelas palavras, das
caricias deliciosas e do olhar dele para me fazer gozar. Eu tinha alcançado o
ápice e como em um passe de mágica Conrad estava dentro de mim, fazendo
com que eu o cavalgasse rápido. A liberação dele também não tardou a
chegar e acabou me levando junto uma segunda vez. A foto fora tirada ali,
naquele instante íntimo e cheio de prazer. Eu já estava mais do que satisfeita
com essa nossa rotina espetacular de sexo quase que o dia inteiro. — Eu te
amo. – Ele falou quando me puxou para o seu peito, quente, grande e macio.

— Eu te amo. – Me aninhei ali e desejei nunca mais ter que sair do seu
conforto e segurança. Com ele eu me sentia a mulher mais amada da face
dessa terra. E eu o amava igualmente, senão mais. Não tenho como saber,
mas tenho a certeza de que ele me amava. Conrad me amava, e não era da
boca para fora.

Eu ainda dormia sobre o seu peito quando acordei com o celular


dele, vibrando sobre o criado mudo. Ignorei e ele também. Estávamos
exaustos e o descanso era muito mais que bem vido ali. Voltamos a dormi e
só acordamos muitas horas depois com uma Nana desesperada batendo na
porta do nosso quarto.

— Senhor, senhora McMahon. – Eu estava sonolenta e Conrad sorriu


ao me dar um beijo nos lábios. Ele ainda sorria enquanto colocava um roupão
e seguia para atender a aflita Nana.
— O que aconteceu para que viesse nos acordar, Nana? – Ele bocejou e
eu ri quando vi a cara de choque e vergonha da pobre senhora ao constatar o
que havíamos feito durante a tarde inteira.

— Oi, Nana. – Falei em meio a um bocejo e ela piscou várias vezes


balançando a cabeça.

— Senhor, é o seu pai e aquela sua irmã estranha....

— O que a Lucy faz aqui?

— Ela queria vir por tudo atrás de você aqui, mas o seu pai a está
segurando depois da cena escandalosa. Não a deixa chegar perto da sua
esposa! – Nana me observou e eu, nem Conrad entendemos a preocupação da
mulher.

— Não sei de onde tirou isso mulher, mas não quero que diga a
ninguém que me viu com a minha esposa aqui. Quero que diga a todos que eu
piorei ainda mais, entendeu? –Ela anuiu em concordância — Obrigado, Nana.
Agora diga que eu estava dormindo e que eu já desço.
— E quanto a senhora? – Ela me olhou.

— Diga que cheguei tarde em casa e que brigamos, ela está se sentindo
mal, que não poderá recebe-los. – Ela olhou com cara de choque para Conrad
e eu também. — Pode ficar tranquila que o meu pai vai entender. – E ela saiu
rápido dali.

— O seu pai sabe? – Se o pai de Conrad sabia agora eu entendia o


motivo para o distanciamento dele comigo. Na infância eu adorava o tio
Bartolomeu e me deixou arrasada ser mau querida por ele.
— Ele foi o primeiro e o único para quem eu contei. – Conrad falou
puxando uma calça amassada de moletom do chão e vestindo. — Foi o meu
pai quem me recomendou seguir o plano e não dizer a mais ninguém, pois
ninguém mais era confiável. Foi ele que me pediu para te confessar tudo e
tirasse esse peso do nosso relacionamento para que fossemos feliz as
escondidas, pelo menos até descobrir quem era o filho da puta por trás disso.
– Os meus olhos se encheram de lágrimas naquele momento e eu deixei que
caíssem.

— Então ele não me odeia mesmo? – A minha voz estava chorosa, o


que fez Conrad largar no chão a camisa que estava em suas mãos para vir até
mim.
— Não, meu amor. Ele nunca te odiou. – Ele me deu beijos rápidos na
boca. — Eu te amo. – Falou e se afastou indo em direção da porta.

— Vou para o outro quarto. – Falei juntando as minhas roupas no chão


e Conrad assentiu, saindo do quarto logo em seguida. Outro alívio dentro do
meu peito. O único aperto agora era em descobrir quem estava fazendo aquilo
conosco. E a Lucy? O que aquela sem noção estava fazendo ali? Não gostava
dela, ainda mais depois do que ela fez a Chloe no colégio. Aquela garota era
completamente pirada. Quem em sã consciência envenenaria a irmã? Elas
podiam até não ter sido criadas desde pequenas juntas, mas ainda assim eram
irmãs. Mesmo que não fosse de sangue e que só com onze anos tivessem se
conhecido. Essa garota era o meu pesadelo na adolescência. Sempre tive um
baita tombo por Conrad e ela sabia disso, por isso fazia questão de desfilar
seminua pela casa à noite e de sempre esbarrar com ele por aí enquanto eu
estava a passeio. Ela sorria e se esfregava nele até que ele, irritado, colocava
ela de lado e saía furioso batendo portas ou cantando os pneus do seu
Porsche. Conrad nem me dava muita atenção naquela época, mas Chloe me
confessou certa vez que ele não se aproximava por causa da minha estúpida
idade de dezessete anos. E disso Lucy sabia. A cretina sabia muito bem.

Me enfiei furiosa em uma camisa de Conrad e fui a passos duros para o


meu quarto. Eu queria aquela mulher fora da minha casa, agora.
CAPÍTULO TRINTA

A VERDADE IMBATÍVEL
Eu não conseguia acreditar que aquela maldita mulher havia feito tudo
aquilo. Como Lucy teve coragem? Mandar mensagens ameaçando o Conrad?
Chantageando.... Mas isso não iria ficar daquele jeito. Eu sabia que ela tinha
um dedo nisso, eu sabia. E agora eu tinha a prova de tudo bem nas minhas
mãos. Quem diria que um simples esbarrão fosse de tanta utilidade? Mesmo
que no ato ela tenha descoberto o meu teste de gravidez e ficado rindo da
minha cara. "Acha mesmo que o Conrad vai querer alguma coisa com você
depois que estiver enorme e gorda? É, acho que não". Droga, aquilo fez os
meus olhos marejarem com lágrimas. A vantagem foi ela ter deixado o seu
celular misturado com as minhas coisas, que eu simplesmente joguei dentro
da bolsa e corri. Desgraçada. Eu estava com tanta raiva. Por culpa dela e dos
seus jogos de manipulação a nossa família estava completamente separada.
Destruída.

Permaneci perambulando pelas ruas até tarde, eu precisava pensar e a


melhor maneira de fazer isso era caminhando sem rumo. Funcionava para
mim. Caminhei até me lembrar do motivo que eu estava tão apressada para ir
para casa: precisava dar a notícia da gravidez para Conrad. Eu estava tão
feliz, ia ser mãe. Conrad e eu poderíamos ter uma vida normal depois que eu
entregasse aquele maldito celular, que pesava toneladas dentro da minha
bolsa. Lucy receberia o que merecia por tudo que nos tinha feito passar. Com
esse pensamento eu apertei o botão do nosso apartamento e o elevador entrou
em movimento. Vi o meu reflexo nas paredes polidas do elevador e a pessoa
que eu vi parecia uma versão muito mais jovem de mim, não que eu fosse
velha. Vinte e um anos não era ser velha, mas a Rosalie que eu vi sorrindo
como boba, era a Rosalie de dezessete anos. A garota boba e apaixonada que
amava brincar e pregar peças nos amigos. Levei as duas mãos na minha
barriga e me senti diferente, eu ia ser mãe. Como Conrad iria reagir a notícia?
Certa vez ele disse que queria ser pai... será que ele ainda pensava assim? Ele
ia ser pai agora.... As portas se abriram e eu ainda sorria, mas o sorriso
escorregou do meu rosto e morreu diante da cena que estava na minha frente.
Os meus olhos se encheram de lágrimas e um soluço de dor escapou, a cena
diante de mim acabava de me matar. Conrad acabava de matar qualquer traço
de felicidade que eu algum dia tive, matou o amor que eu sentia por ele....

— Eu te odeio, Conrad. EU TE ODEIO. – O homem que eu amava


estava parcialmente nu, beijando outra mulher no hall de entrada do nosso
próprio apartamento. Ele tinha acabado de me trair com a Emily.... Mas a
Emily era apaixonada por Jeremy, como ela pôde fazer isso comigo? E
Conrad...? — Eu te odeio, Conrad! – Falei em meio a um soluço enquanto
apertava todos os botões do painel do elevador ao mesmo tempo. Eu
precisava ir embora. Eu precisava sair.... Eu precisava esquecer que algum
dia ele existiu na minha vida.

O elevador nem bem tinha aberto as suas portas e eu já saí correndo


dali. Longe, distante de tudo. Assim que saí de dentro do edifício o vento frio
da noite varreu o meu rosto, como um açoite. Para onde eu iria? O meu
irmão... nós não estávamos nos falando. Ele foi completamente contra o meu
casamento. "Você é jovem demais, Ro". Chloe, jamais. Ela era a minha
melhor amiga, mas também era a irmã de Conrad... Jeremy, fora de questão.
Ele era quase um sósia do irmão mais novo.

— Vejo que você já viu o meu presentinho para você. – Lucy!


— Não sei do que você está falando, Lucy...

— Ora, não seja burra garota! Conrad é tão idiota quanto o seu pai. –
Do que ela estava falando? O que o meu pai tinha a ver com aquilo? —
Bastou que o tolo apaixonado do John aparecesse com a história de que te viu
fodendo com o meu, amado e estimado, irmão Jeremy para que o Conrad
mandasse um e-mail para Emily, dizendo que queria come-la. – O sorriso
daquele monstro me encheu de raiva e... medo? — Olha. – Ergueu uma cópia
do e-mail de Conrad no ar, eu tentei pegar. Só tentei, porque ela foi mais
rápida e o tirou do meu alcance, deixando apenas um pedaço de papel na
minha mão.
— Você é louca Lucy! – Falei e vi a expressão dela mudar de
divertimento para raiva. — VOCÊ É COMPLETAMENTE MALUCA!!!

— E você, uma mulher atropelada e morta. – Eu nem havia assimilado


as palavras de Lucy muito bem quando senti ela me empurrar em direção do
trânsito. A última coisa que eu vi foram os faróis de um carro e buzinas,
ambos me deixando cega e surda. Nada mais que isso.

PRESENTE
— Saia do mundo da lua, vagabunda. – Tenho certeza que a
pele nas minhas costas ficou marcada no lugar que Lucy acertou o cano da
arma.

— Calma, Lucy. – Pedi quando ela me empurrou por uma porta e eu caí
de joelhos no chão.
— NÃO ME PEÇA PARA TER CALMA, SUA VAGABUNDA. –
Meu Deus, todo sangue do meu corpo gelou quando vi o dedo dela puxar o
gatilho prateado do revólver. O som veio ensurdecedor, depois combinou
com a dor dilacerante no meu ombro. Lucy havia atirado em mim, ela iria me
matar e disso eu não tinha nenhuma dúvida. A questão era: quando?
CAPÍTULO TRINTA E UM

JEREMY
Paramos o carro no escuro e vazio estacionamento do hospital, a
primeira coisa que eu vi foi o carro de Dylan. Nem esperei pelo meu pai, já
segui em direção ao carro daquele infeliz. O esportivo escuro dele estava com
a porta do passageiro semiaberta e eu me aproximei devagar, não sabia se
ainda estavam lá dentro e por isso a cautela. Me beirei mais um pouco e o que
encontrei me fez cair para trás, contra o cascalho solto do lugar.

— PAI! – Gritei para chamar a atenção do mesmo que se encontrava


olhando para cima. — VENHA VER A MERDA QUE AQUELA MALUCA
FEZ! – No instante seguinte ele estava ao meu lado, completamente
horrorizado, encarando o olhar vítreo de Dylan.

— Não acredito que a Lucy chegou a isso.... – Dizia o meu pai


paralisado, tanto quanto eu, ao ver o buraco limpo na testa do infeliz que, um
dia, foi o meu melhor amigo. Logo atrás da sua cabeça o vidro da janela do
motorista estava estilhaçado e os poucos pedaços de vidro que ficaram no
lugar estavam banhados com massa encefálica e sangue. O seu olhar vítreo e
a forma que a sua boca estava, como se sorrisse, era o que assustava.
— Ela já tentou matar a minha irmã, ou já se esqueceu desse detalhe? –
Falei amargamente e me virei na direção do hospital. — Não deixe a nossa
mãe ver isso. – Ela não precisava ver o que o monstro que ela cuidou com
tanto amor foi capaz de fazer. Ela não tinha culpa se a filha da sua irmã era
um monstro sem escrúpulos. — Vou atrás do Conrad... ele não deve saber de
nada ainda.... Pelo menos eu torço para que não saiba.

A movimentação de repórteres era intensa na frente do hospital e eu


entrei o mais rápido que pude, a polícia estava estacionando logo na entrada e
não me deixariam passar se eu não fosse agora. Passei pela recepção do lugar,
ignorando a ordem de restrição de uma enfermeira, nada me impediria de
chegar até o meu irmão. Nada e nem ninguém. Nunca um elevador demorou
tanto quanto naquele momento. As portas se abriram no corredor que o
quarto de Conrad estava e eu corri até lá, escancarando a porta, ele me olhou
horrorizado, e eu nunca me senti tão grato na vida por ver a cara de raiva do
meu irmão.
— O que você faz aqui, Jeremy? – O tom ácido da sua voz só me
confirmava que ele não estava sabendo de nada, mas o meu alivio durou
apenas o segundo entre ele pegar o controle da tv e ligar.

"A INFORMAÇÃO QUE NOS CHEGOU É DE QUE A VÍTIMA


QUE ACABA DE SER BALEADA É A ESPOSA DE UM DOS FILHOS
DO EMPRESÁRIO BART MCMAHON....”

Não foi preciso que dissessem mais nada, vi o rosto do meu irmão
passar de pálido translucido a vermelho.

— Ela pegou a Rosalie.... Você não pode sair daqui, Conrad. – Falei
quando o meu irmão começou a arrancar as intravenosas e os fios ligados a
ele. — Você não pode fazer esforço, Con....

— TENTA ME IMPEDIR! – Gritou já de pé na minha frente, usando


apenas uma calça do hospital. — TENTA COLOCAR A PORRA DO PÉ NA
MINHA FRENTE E ME IMPEÇA, JEREMY. SOU CAPAZ DE ACERTAR
A SUA CARA. NÃO É A SUA MULHER, GRÁVIDA, QUE LEVOU UM
TIRO E ESTÁ SOB A MIRA DE UMA ARMA, LOGO ACIMA DA SUA
CABEÇA! – Ele falou e me empurrou para dar passagem. Tentei segurar o
seu braço, mas tudo o que eu consegui foi um soco dele, que por sorte não me
acertou.

CONRAD
O sangue latejava forte nos meus ouvidos quando entrei no elevador de
acesso ao heliporto do hospital, eu não aguentaria subir pelas escadas. As
peças do enorme quebra-cabeças estavam se juntando dentro da minha mente
naquele instante e tudo que aconteceu de ruim, tanto para mim quanto para
Rosalie, começou a fazer um único sentindo: Lucy. As mensagens de ameaça,
as chantagens e extorsões contra o meu pai e eu, o tiro que eu levei e que
Emily jurou ter sido obrigada ou matariam o seu irmãozinho de apenas dez
anos, a briga entre o meu pai e o pai da Rosalie.... Tudo por culpa de uma
única pessoa/monstro: Lucy.

— Se der mais um único passo.... – Ouvi a voz fria de Lucy assim que
as portas do elevador se abriram e eu tropecei em algo no chão....
— Conrad.... – Era em uma Rosalie toda ensanguentada que eu havia
tropeçado.

— Eu mato essa vagabunda de merda, gostosão! – Lucy falou quando


eu caí de joelhos junto a Rosalie. Ela estava pálida e gelada. E do ferimento
no ombro dela não parava de sair sangue, o meu desespero foi tão grande que
eu não pensava em mais nada, nem em Lucy apontando uma arma para mim,
tudo que eu queria era que Rosalie parasse de sangrar. Rasguei um pedaço da
blusa dela e comprimi contra o ferimento, ela gemeu fracamente em sinal de
dor, mas eu não reduzi a pressão empregada ali. Precisava estancar o sangue
ou morreria ela e o nosso filho.
— O que você pensa que está fazendo, Lucy? Você não consegue
entender a gravidade de tudo o que você tem feito? Você atirou na Rosalie,
ela está grávida....

— Era para acertar no bastardo mesmo, mas eu errei e pegou o ombro


da vagabunda. – Todo o sangue fugiu do meu rosto diante daquela afirmação.
Que Lucy era completamente louca eu sabia, mas a esse ponto... jamais.
— LUCINDA. – Ouvi a voz do meu pai atrás de mim e tive medo por
ele. Ela estava completamente fora de si. O que só confirmou tudo foi a
gargalhada debochada e sonora que ela deu.

— Vejam só.... Que lindo! Uma reunião de família. – Olhei para trás e
vi o meu irmão e minha mãe também. — Só faltou a caçula. Uma pena ela
não ter sucumbido ao veneno, não é?

— Ora sua...
— ACHO MELHOR FICAR CALADO, SENHOR MCMAHON. As
coisas podem não ficar muito boas para o lado da sua nora, ou para o
gostosão do seu filho.

— Filha...

— Não fala nada, mãe. Eu não quero ouvir sermão. – A única pessoa
com a qual ela se importava era com a minha mãe. Lucy amava a tia... acho
que por ela ser a gêmea da sua mãe. — Agora que estamos aqui podemos
colocar os pontos nas frases. – Lucy falou com a voz divertida. — Você sabe
que eu sempre gostei de você, não é gostoso? – Não entendia o porquê dessa
obsessão de Lucy por mim. Eu jamais imaginei ela além de uma irmã. Ela era
a minha prima, caralho! Como eu poderia pensar diferente? E eu já tinha uma
garota nos meus pensamentos desde que a vi na festa da empresa. Lógico que
eu conhecia Rosalie desde pequeno, mas nunca tinha prestado atenção na
garota de nariz enfiado na lente da câmera antes, até aquele dia. Era a garota
mais linda que eu já tinha tido o prazer de colocar os meus olhos. E para
foder com a porra do meu coração, ela só tinha dezessete anos. Foram longos
dois anos, afastando secretamente os pretendentes dela, até eu ter a cara de
pau de chegar perto. — Vai ficar calado, Conrad?

— O que eu teria para falar com você Lucy?


— Que sente desejo por mim! – Eu tive que rir apesar da situação.
Então era disso que se tratava?

— Não seja estúpida! Você é como uma irmã para mim, jamais pensei
diferente.

— Eu sei e a culpa é toda dessa vadia aí. – Falou apontando a arma na


direção de Rosalie. — Se não fosse por ela nos estaríamos juntos...
— Isso jamais aconteceria....

— Se o idiota que dirigia aquele carro não tivesse desviado quando eu a


empurrei na frente dele... talvez sim! – Lucy... foi a Lucy... que provocou o
acidente que deixou a Rosalie em coma? Ouvi a minha família ficar em
choque atrás de mim e Rosalie estava perdendo muito de sangue. Eu estava
desesperado e precisava levar Rosalie para o socorro o mais rápido possível.

— Foi... era ela que ficava mandando as mensagens, Conrad. – A voz


de Rosalie saiu fraca, mas audível para todos ali. E onde diabos a polícia
estava que não tinha aparecido ainda? — Eu estava indo para te mostrar
quando te vi com a Emily.... – E Rosalie não foi capaz de dizer mais nada,
pois acabava de perder a consciência, para o meu total desespero. Fiquei tão
desesperado, que mesmo com o meu ferimento, eu não pensei duas vezes
quando icei o corpo frio e mole da minha esposa do chão.
— O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? SE NÃO
COLOCAR ESSA VAGABUNDA NO CHAO, EU MATO ELA E O
BASTARDO QUE ELA CARREGA NA MERDA DE BARRIGA....

— VOCÊ É LOUCA LUCY! – Gritei de volta. Mas a única coisa que


eu ouvi foi o grito dos meus pais e irmão, depois o som do disparo da arma
de Lucy. Tudo aconteceu em câmera lenta; a minha mãe se colocando entre
Rosalie e a linha de tiro, o meu pai e Jeremy indo na direção de Lucy e por
fim o grito mudo de dor da minha mãe.

— MÃE? – Jeremy e eu gritamos em uníssono, mas já era tarde


demais. A minha mãe olhou para Lucy e depois para o próprio peito, no qual
levou uma das mãos e retirou olhando o sangue. Ela não falou nada além
daquele som mudo de dor que se repetiu e então ela foi caindo aos poucos
diante de todos.

— Louise.... – O meu pai chorou indo até a minha mãe.

— Mãe? – Lucy falou com a voz tremula e tentou dar um passo, mas
Jeremy entrou na frente.
— Vai matar alguém mais além da nossa mãe, Lucy?

— Mamãe... eu não queria.... – Lucy falou dando três passos para trás e
as lágrimas desceram copiosas pelo rosto dela. — ...eu sinto muito... ...eu
não.... – Ela deu mais um passo para trás ficando na borda do prédio. — Eu
não queria atirar em você. – Falou encostando o cano do revólver sob o
queixo e antes que qualquer um pudesse fazer alguma coisa ela puxou o
gatilho. O corpo dela despencou do prédio quase que no mesmo momento
que o som do tiro foi ouvido. Lucy acabava de tirar a vida da mulher que me
deu a minha.... Deus eu queria poder matar Lucy novamente. Ela matou a
minha mãe. Ela matou a minha mãe, meu Deus.
— MÃE? – Eu estava com Rosalie no meu colo no chão e queria puxar
a minha mãe para ele também.... — MÃE? – Eu não conseguia parar de
chorar, todos os momentos felizes vividos ao lado dela foram passando diante
dos meus olhos como em um filme. Eu queria gritar a minha dor, mas nada
além da palavra “mãe” deixava a minha boca. O queimar e arder na minha
garganta dificultava a passagem do ar e logo estava difícil poder respirar.

— VOCÊ PRECISA LEVAR A ROSALIE, CONRAD! – Meu pai


gritou me trazendo de volta. — ELA PRECISA SER SOCORRIDA OU
VOCÊ PERDERÁ, ALÉM DA SUA MÃE, A SUA MULHER E O SEU
FILHO. VAI LOGO, FILHO. A SUA MÃE não volta mais.... – A voz do
meu pai se quebrou ao final quando ele se jogou contra o peito da minha mãe
e chorou. Com a ajuda de Jeremy me levantei e, com Rosalie nos braços,
entrei no elevador. Rosalie estava pálida e eu em estado de choque, com o
ferimento aberto pela segunda vez o meu corpo inteiro tremia. A minha mãe,
a mulher que me deu a vida.... Lucy matou a minha mãe. A porta do elevador
se abriu e quase fui arrancado do elevado por uma dezena de policiais
armados e meia dúzia de enfermeiros e médicos que logo estavam colocando
Rosalie em uma maca e me obrigando a deitar em outra. Olhei o porquê do
alarde deles na minha atadura que estava úmida de sangue.

— A minha mulher está gravida. – Consegui dizer enquanto alguns


homens me seguravam a força contra a maca. Eu não queria deixar Rosalie
sozinha. — Eu preciso acompanhar ela....

— Estão levando-a para o centro cirúrgico e o senhor não vai poder


fazer nada. Não será permitido a sua entrada ali. – Tentei lutar mais uma vez
contra a força deles, mas logo desisti. A dor agora estava queimando a lateral
do meu corpo e a do coração estava dilacerando a minha alma. Eu só queria
que a minha mãe voltasse para mim. MÃE!
— A senhorita não pode entrar aqui.... Como conseguiu entrar...?

— CONRAD! – Chloe gritou, correndo na minha direção. — Cadê os


nossos pais e o Jeremy? Ouvimos dois tiros e a Lucy caiu....
— Ela matou a mamãe, Chloe! – Falei em meio as lágrimas e assim que
as palavras deixaram a minha boca, Chloe teve que ser amparada em estado
de choque. Agradeci silenciosamente a presença de Nicholas ali.

— Eu sinto muito, Conrad.... – A voz dele estava tremula, com medo.


— E a minha irmã...? – Rosalie era a única irmã de Nicholas, a sua
confidente, o seu amor e ele amava demais a irmã que tinha, ao ponto de ir
contra tudo pela felicidade da mesma.

— Está no centro cirúrgico. – Falei ao longe enquanto ia sendo levado.


Eu queria ter notícias do que estava acontecendo do lado de fora
daquele maldito quarto de hospital, mas nem se eu quisesse poderia sair dessa
vez. Por questão de segurança o médico decidiu, com o consentimento do
meu pai, que o melhor era que me sedassem. Não adiantou muito eu
protestar, a minha agitação só acelerou a ação da medicação e logo eu estava
ficando com os sentidos entorpecidos, sem conseguir focar muito em nenhum
pensamento. Mesmo sem querer fui, aos poucos, apagando para o mundo
real.
CAPÍTULO TRINTA E DOIS

ROSALIE
Doze horas, vinte dois minutos... e os segundos passavam sem que eu
tivesse animo para acompanhar a sua contagem. Esse era o tempo que se
passou sem que eu pudesse ver como Conrad estava. Sem saber notícias de
nada. Será que aconteceu algo com Conrad? Não sabia o que tinha acontecido
depois que eu perdi a consciência nos braços dele. Se ao menos alguém
viesse me dizer alguma coisa....

— A senhora poderá receber visitas agora. – Olhei para o lado sem


mover a minha cabeça. Ela me observou sem muita emoção ou vontade e
logo me deixou no quarto. Eu estava com um curativo no ombro, que por
sorte não doía. Mais alguns minutos se passaram e eu fechei os meus olhos.
Eles deviam ter me sedado ou algo do tipo. Tornei a abrir os olhos e dei de
frente com um par de olhos verdes, vermelhos e um pouco inchados. Conrad.

— Você acordou. – A voz dele estava grossa e desprovida de qualquer


entusiasmo. Ele havia chorado e não tentava esconder.
— Eu te amo.... – Falei com a voz fraca e com certa dificuldade para
articular as palavras.

— Eu te amo... – Mas ao invés dele me beijar ele afundou o rosto na


lateral da minha barriga e chorou. Chorou tão sentido e cheio de dor que
aquele som me partiu o coração.

— O que está acontecendo, por que ninguém me diz nada? – Com custo
articulei as palavras para perguntar. — Conrad?

— Lucy matou a minha mãe, Rosalie.... – A voz dele se quebrou ao


final da frase e os meus olhos ficaram cheios de lágrimas. Eu queria poder me
levantar e consola-lo, mas não conseguia nem falar direito... quem dirá ficar
de pé. As minhas pálpebras ficaram pesadas e logo eu não via mais nada.

UMA SEMANA DEPOIS...


Apalpei de leve o meu ombro, ainda doía.... A manhã estava chuvosa e
fria, parecendo refletir a dor e as lágrimas de tristeza pela perda de uma
pessoa tão importante em nossas vidas. Por que tem sempre que estar
chovendo nesses momentos? O céu chorava a nossa agonia, a nossa falta de
conformismo... ele apenas chorava conosco. Conrad estava ao meu lado
segurando firmemente a minha cintura, a perda da mãe deixou ele
completamente em ruínas. Eu não sabia mais o que fazer para afasta-lo desse
abismo de tristeza. Dizem que o tempo cura... não, sinto informar, mas o
tempo não cura nada. Ele te ajuda apenas a ser mais forte e a ocultar melhor a
cicatriz no seu coração, que hora ou outra, teima em reabrir, a sangrar. Às
vezes, basta um cheiro, um gosto, uma cena... e lá está o Déjà Vu para reabrir
aquele arquivo de lembranças que você guardou com tanto esmero. Aquela
pequena partícula da imensidão estará sempre presente.
— Precisamos ir, meu amor. – Conrad falou no meu ouvido assim que
desceram o caixão com o corpo de Louise. Um nó se formou na minha
garganta e precisei afundar o rosto contra o peito de Conrad para não chorar
na frente dele. Não podia deixar que ele me visse daquele jeito, tinha que ser
forte por ele, por nós! — Vamos até a casa do meu pai... ele deve estar
precisando de ajuda, apesar de ter Jeremy e Chloe ao seu lado...
— Claro. – Digo com um sorriso fraco e pouco convincente nos lábios.
Ele tenta retribuir o sorriso, mas falha. A chuva fina parecia querer se
transformar em uma tempestade e fustigava o nosso rosto sem dó ou piedade,
nos lembrando e tornando impossível esquecer a vida que se foi. Como um
lembrete estapeando-nos a todo instante.

Conrad dirigia sempre encarando a estrada e em nenhum momento


olhou na minha direção. O meu coração ficou apertado e a minha mente
buscava implacavelmente uma maneira de fazer com que ele se sentisse
melhor, a solução não veio. Ele estava tão calado.... Algo não muito comum
para dele.
— Eu sei exatamente como você está se sentindo, Conrad. – Falei
enquanto caminhávamos lado a lado pelo jardim dos McMahon. — Quando a
minha mãe... morreu – Ele olhou para mim quando parei de acompanha-lo,
mas continuei a falar. — ...eu a odiei tanto! – Dizer aquelas palavras para
mais alguém deixava a minha garganta apertada, em brasas, e as lágrimas
dançavam insinuantes atrás das minhas pálpebras. Era difícil confessar algo
tão íntimo para outra pessoa, mesmo essa pessoa sendo o homem que eu
amava. — Eu tinha tanta raiva e ódio no coração.... Como ela pôde me
abandonar depois de prometer nunca o fazer? Tanto ódio me consumia por
dentro, cada pedaço de alegria e felicidade vividos ao lado dela foram sendo
esmigalhados por aquela dor. Eu não conseguia perdoa-la por se entregar ao
câncer.... Ela era a mulher mais forte que eu conhecia e não admitia que ela
pudesse ter se rendido tão facilmente. – Conrad abriu a boca para dizer algo,
contudo levantei a mão para silencia-lo. — Ela era a pessoa mais importante
na minha vida. Foi ela quem viu o meu primeiro sorriso e foi ela que secou e
acalmou as minhas primeiras lágrimas. Ela viu o meu primeiro dente nascer e
estava lá quando eu dei o meu primeiro e vacilante primeiro passo. Ela vibrou
e aplaudiu as primeiras palavras que deixaram a minha boca.... Ela correu ao
meu socorro quando eu caí da bicicleta e ralei o meu joelho, rosto e braços
enquanto aprendia a dar as pedaladas iniciais na minha bicicletinha lilás. Foi
ela que me abraçou e me disse que nem sempre as pessoas gostavam da
gente... quando um garoto da minha sala me empurrou no parquinho, fazendo
com que eu machucasse o nariz. Foi ela quem me socorreu do
constrangimento de ter a primeira menstruação durante um passeio no
shopping, ela me acalmou e me lembrou das coisas que havíamos
conversado, dois anos antes. Ela também estava lá para consolar o meu
coração quando ele foi partido pela primeira vez. – Eu sorri e desviei o olhar
do rosto dele, não era preciso ser um gênio para saber quem quebrou o meu
coração pela primeira vez. Conrad. Foi ele o primeiro garoto a me dizer que
eu era criança demais com os meus dezesseis anos, aquilo me deixou
arrasada.

— Você era muito jovem....


— As outras garotas com quem você saia eram da minha idade,
Conrad! – Sorri com o sorriso dele. — A minha mãe estava lá para me
abraçar e dizer o quão idiota você era por não enxergar a garota especial em
mim. Eu não admitia que ela tivesse se entregado.... Quem iria me abraçar,
me dizer aquelas palavras tão reconfortantes? A amargura do meu coração
me transformou em uma pessoa fria e sem amigos.... Certa noite enquanto eu
dormia sonhei com a minha mãe... no sonho ela me abraçava, dizia que
mesmo que os meus olhos não pudessem vê-la ou o meu corpo sentir o seu
calor, ela estaria ali sempre comigo. A sua presença jamais abandonaria o
meu coração e quando eu mais necessitasse dela, ela estaria comigo.... Que
jamais me abandonaria... e que a dor estava consumindo a minha felicidade.
“Você não é assim, Ro”. Foram as palavras dela antes que eu acordasse,
chorando. Não estou dizendo que você não tenha o seu luto. Chorar faz bem,
limpa o coração e lava a alma. Só não deixe a dor da perda te consumir ao
ponto de te afastar das pessoas que te amam, Conrad. O seu pai, irmãos... eu e
o nosso filho precisamos de você. – As palavras ficaram no ar enquanto o
meu corpo era envolvido pelo abraço quente de Conrad. Ele me abraçou tão
apertado e parecia querer tocar o meu coração daquela maneira.

— Obrigada, Rosalie.
EPÍLOGO

O choro do pequeno Matt pôde ser ouvido por todo corredor do


hospital, provando que havia chegado; querendo mostrar a todos que
pudessem ouvi-lo. Os meus olhos estavam cheios de lágrimas e as minhas
forças pareciam ter acabado, enquanto Conrad todo sorridente e com lágrimas
alternava entre me confortar da dor e olhar o nosso pequeno homenzinho nas
mãos de uma enfermeira. Com um sorriso débil e frouxo eu olhei para o
homem que, apesar de tudo que me fez passar por causa de Lucy, me fazia a
mulher mais feliz desse mundo. O choro sôfrego do nosso garotinho foi
ficando mais fraco a medida que ele ia se acostumando com o mundo frio e
estranho ao seu redor. Eu o queria junto ao meu peito para nina-lo e aplacar o
seu medo. Acho que era essa a sensação do que “é ser mãe” que um dia a
minha me falou. “Algum dia você entenderá o que eu considero ser algo
difícil de explicar em palavras, minha filha”. É mãe, agora eu compreendia.
— Eu te amo, Rosalie! – Conrad beijou os meus lábios, ignorando a
cara feia de uma enfermeira. — Você foi incrível, acho que ficarei inteiro
depois de duas ou três cirurgias para reconstituição dos ossos da minha mão.
– Juro que desejava ter forças para aumentar o número de cirurgias
acrescentando uma quarta, facial.
— Engraçadinho, muito engraçadinho. – Respondi com um fio de voz.
Depois de um parto natural as forças desapareciam do seu corpo e até mesmo
falar era difícil. Tudo que se deseja fazer é fechar os olhos e descansar. Mal
havia fechado os olhos e senti mãozinhas quentes no meu seio, abri os olhos
já com lágrimas, pois sabia que era o meu bebê. Cabelos escuros como o pai
e tão lindo quanto, mas isso era tudo a se dizer.

— Precisamos leva-lo para fazer alguns exames e ser limpo, senhor e


senhora McMahon. – Não queria que o tirassem de mim, no entanto sabia que
era preciso, que ele passasse por exames e a enfermeira nos tranquilizou. Não
ouvi o que ela dizia, pois fechei os olhos me entregando ao cansaço.
Precisava descansar para poder me recuperar.
— Vejo que a mamãe mais linda desse mundo acabou de acordar. – O
hálito de Conrad fez cocegas na minha orelha, então abri os olhos, me
deparando com dois lindos pares de olhos, um verde e o outro ainda
indefinido entre o azul e o verde. — Diga oi para a mamãe, Matt.

— Oi, Matt! – A voz que deixou a minha boca era rouca e estranha pela
emoção, não havia mais ninguém no quarto e eu fiquei grata por isso. Tudo
que uma mulher menos desejava ao acordar depois de passar treze horas em
trabalho de parto era encontrar o quarto repleto de pessoas. Tinha a dor que
vinha depois, o desconforto e a descomunal agonia ao amamentar pela
primeira vez. Então ter uma plateia para assistir tudo isso não era bem-vindo.
Conrad parecia ler isso tudo nos meus olhos e sorriu.

— Pedi para o médico para manter todos longe, pelo menos até
amanhã. – Matt se mexeu e capturou a nossa atenção. Ele era tão pequenino,
frágil e lindo. Acho que todos os pais pensam assim ao ver os seus bebês
após o nascimento.
— Obrigada. E você fica muito lindo segurando o nosso garotinho. –
Digo sorrindo para Conrad que estava, desajeitadamente, com Matt nos
braços. Pai de primeira viagem.... Sorrio e ele retribuiu com ferver o meu
sorriso, depois depositou um beijo nos meus lábios e outro na pequena cabeça
do nosso filho.

— Eu te amo, Rosalie...
— Eu te amo, Conrad. – Digo me ajeitando melhor na cama, de modo
que eu ficasse sentada para poder acolher Matt nos braços. — Pode deixar
que eu o seguro. – Falo depois de me sentar e não demora para que o meu
pequenino venha para os meus braços. Ele era tão quentinho e tinha o cheiro
mais delicioso do mundo, eu o reconheceria em meio a vários outros. Ele
também tinha muito cabelo para um bebezinho que acabou de nascer...

— Essa é a cena mais linda que eu poderia desejar ver. – Conrad falou
se sentando ao meu lado e me abraçando. Só percebi a intenção dele quando
o clique de som do obturador da câmera em seu celular foi acionado, mas aí
já era muito tarde.

— Conrad! – Repreendo-o. — Eu devo estar um horror!


— Você é a mulher mais linda que os meus olhos tiveram o prazer de
ver. – Sorrio para o que ele diz. É muito bom ver que Conrad está
conseguindo lidar melhor com a morte de Louise, já faz cinco meses desde
que tudo aconteceu e ver que ele estava sorrindo como sempre fazia era
muito bom.

— Mentiroso. Sinto que engordei uma tonelada, os meus olhos estão


inchados e o nariz vermelho. Sem contar as olheiras e o horror dos meus
desgrenhados cabelos.

— Você é a mulher mais linda que eu já vi após um parto...


— E quantas você já viu? – Eu quis saber.

— Que eu me lembre nenhuma além de você. – Não pude me segurar e


acertei um tapa fraco na perna dele. — Mas tenho certeza de que nenhuma
delas é mais linda do que você. – A cabeça dele estava apoiada na curva do
meu pescoço e ele acariciava a cabeça de Matt com delicadeza. Era muito
lindo ver a interação dele com o filho. Jamais imaginei Conrad como pai, até
o momento que o vi agarrar a minha barriga e acariciar lá em Provença.
Aquilo foi lindo e me tocou de uma maneira tão profunda que eu jamais
havia pensado que o tinha feito, isto era, até agora. — Ele é tão pequeno...
será que eu vou ser um bom pai? – Aquilo me pegou desprevenida. Conrad
tinha os seus medos com relação a ser ou não um bom pai.
— Eu tenho certeza de que será o pai que Matt precisa! – Conrad sorriu
sem se mover e acariciou a lateral do meu corpo com a mão livre. — Você já
era um pai incrível antes mesmo dele nascer, Conrad. – Beijei a testa de Matt
e a de Conrad. — Não precisa ficar pensando nisso, apenas faça o que sempre
faz.

— Eu já te falei o quanto eu te amo?

— Acho que umas vinte vezes desde que acordei, mas é sempre bom
ouvir uma vez mais. – Falei sorrindo levemente.
— Eu te amo, Rosalie McMahon. Matt dormiu!

— É, parece que ele também está cansado das horas e horas de trabalho
de parto.

— E você? Está com alguma dor, quer água, está com fome...?
— Ei, calma. Sim, eu estou cansada e não, eu estou com nenhuma dor.
Sede e fome, talvez depois eu queira algo. – Disparei uma torrente de
palavras cochichadas.

— Não sei por quanto tempo Nicholas e Jeremy conseguirão manter a


Chloe longe desse quarto, acho que ela está puta de raiva comigo. – Faço
uma careta ao me lembrar do entusiasmo dela. — Exatamente! – Conrad
parecia sempre ler os meus pensamentos. Estávamos tão ou mais unidos do
que antes de tudo de ruim acontecer conosco. Isso era maravilhoso e fazia
toda diferença do mundo essa nossa união e cumplicidade. Compartilhamos
segredos, desejos.... Fechei com força os meus olhos ao me lembrar dos
momentos que passamos há um mês... isso, um mês. Conrad não quis que
tivéssemos relações durante esse último mês de gestação... porque teve medo
de que acontecesse algo a mim ou a Matt. Ninguém que visse Conrad
imaginaria as manias loucas e arcaicas dele. Sem sexo antes do casamento foi
uma dessas loucuras irritantes e que eu fui totalmente contra. — Vou precisar
colocar a Chloe na parede antes que ela entre nesse quarto. Primeiro: nada de
falar ou gritarias nesse quarto. Segundo: nada de pegar Matt. Terceiro...
— Ela vai acabar te expulsando daqui.

— Ou ela aceita, ou não entra. – Meu Deus, ela vai comê-lo vivo.
Chloe não acatava as ordens nem do próprio pai, quem dirá as do irmão.

— Nossa, que mandão. – Conrad levantou e se dispõe a colocar Matt


no bercinho ao lado da minha cama. Ele parecia estar com tanto sono que
sequer resmungou muito quando foi posto no berço macio.
— Eu te amo, Matt. – Os meus olhos se enchem de lágrimas e então eu
sorrio para a expressão de euforia do papai de primeira viagem. — O quê?

— Nada, é que você fica muito fofo quando fala com ele.

— Acho que a palavra que você queria usar é babão e talvez eu esteja
fazendo exatamente isso agora, mas o fato de eu não estar nenhum pouco
incomodado é libertador.

— Uau, cadê o Conrad durão de antes?

— Descobriu o que é o significado verdadeiro da palavra pai, no


momento em que segurou nos braços o filho pela primeira vez! – O sorriso
dele era gigante quando, ao meu lado, ele se sentou me guiando para o calor
do seu abraço.

QUATRO ANOS DEPOIS...


Era difícil acreditar que quatro anos haviam se passado. Tantas coisas
aconteceram nesses últimos tempos, o casamento de Chloe e Nicholas, a
viagem inesperada de Jeremy para a Europa....

— Eu não sei o que se passa nessa sua cabecinha linda, mas daria
qualquer coisa para que você dedicasse um momento de atenção para o seu
lindo, gostoso e adorado marido. – Sorrio com as palavras de Conrad, sempre
tão... — O que acha de perde-la por algumas horas? – ...Conrad.

— Uma proposta tentadora, senhor McMahon. – Olho de soslaio em


sua direção e já posso ver a sua ereção completamente no auge, o que me
deixava mais do que animada com a proposta. — O que acha de... – Conrad,
como sempre, me silenciou com um beijo devorador. Adorava a fome
implícita em cada investida dos seus beijos, jamais me cansaria disso. Ele
tentadoramente foi traçando com as mãos o caminho até as alças da minha
camisola, não tinha medo de sermos interrompidos, ou algo do tipo. Matt já
tinha passado dessa fase há mais de um ano, o que nos deu maior liberdade....
— Deliciosa como sempre. – Vi o brilho de desejo nos seus lindos e
sexys olhos verdes. Em posse dos meus mamilos, após libertar os meus seios
da camisola rosa pálida, ele mordeu e sugou com extrema delicadeza e
lentidão. Fiquei louca e acabei logo empurrando-o contra a cama para que
pudesse pôr um fim a deliciosa tortura. — Apressada, senhora McMahon? –
Sorrindo Conrad remexe o quadril encaixando a sua generosa ereção contra
as minhas dobras, fazendo o meu sexo pulsar de desejo. Fechei os olhos e
apreciei a sensação por algum tempo até ouvi-lo gemer alto em sinal de
protesto. Adorava ver quando ele implorava daquela maneira, o tesão
percorreu o meu corpo em velocidade alucinante e fez com que eu gemesse,
reverberando o seu rogo. Dois desejos implorando por um único e depravado
desfecho. Ali fizemos amor lentamente, de forma a prolongar o prazer
daquele ato. Eu amava as noites que passávamos entregues nos braços um do
outro.

— Eu te amo, Conrad. – Digo pouco antes que os lábios dele


alcançassem os meus. Algum tempo se passou sem que qualquer um de nós
dissesse uma única palavra, contemplamos apenas a companhia um do outro.
Sem exigências, apenas a presença. A nossa pele úmida pelo banho,
acompanhado por mais uma roda de estase, fez com que a roupa ficasse
grudada nos nossos corpos. Tanta coisa a se pensar, porém uma única linha
de pensamento. A mesma dúvida de como usar as palavras.... A mesma
certeza do resultado....
— Lembra quando eu te esqueci? – Perguntei e vi Conrad ficar um
tanto incomodado como ele sempre ficava quando o tema era abordado.

— Como eu poderei esquecer tamanha desgraça a me assolar, minha


pequena? – Ele disse acariciando o meu rosto e fazendo com que eu fechasse
os olhos para apreciar o seu calor. Amava sentir o seu calor contra o meu
corpo.

— Eu estava na dúvida e feliz ao mesmo tempo. – Prossegui sem


desviar o olhar daqueles olhos verdes que ainda continham aquele traço
delicioso do orgasmo.

— A notícia de que estava grávida.... – Sorrio para ele e o vejo


desvendar a charada — Você está? – Ele não precisou completar a pergunta
para que eu confirmasse com um movimento de cabeça. Ele sorriu
largamente e depositou inúmeros beijos na minha face. — Você tem certeza
de que espera um bebê? – A voz rouca de emoção dele me fez emocionar
também.

— Não tenho dúvida alguma de que o nosso amigão aí tem o tiro certo!
– Falei pouco depois de Conrad me puxar para o seu peito em um abraço
forte e de me encarar nos olhos.

— Tenho certeza de que Matt irá adorar a notícia de que receberá um


irmãozinho....

— Uma irmã! – Disse de supetão. – Tenho certeza de que será uma


menina! – Falei com convicção o fazendo sorrir.
— Eu não vou discordar da minha linda e deliciosa esposa grávida ....

— Acho que combinamos com Chloe e o Nicholas então....

— Então quer dizer que aquele idiota não brincou em serviço, hein? –
Fiz cara feia para a maneira a que ele se referiu a Nicholas, entretanto não
fiquei realmente chateada. Essa era a maneira amorosa e delicada deles dois
se tratarem desde que a Chloe e o Nicholas se casaram há mais ou menos um
ano e meio.
— É, ele não dormiu no ponto. – Gentilmente Conrad me colocou de
costas na cama e posicionou a cabeça contra o meu ventre. — O que você
pensa que está fazendo?
— Ouvindo a nossa garotinha.

— Ela ainda não pode te ouvir, seu bobo. – Falei caindo na gargalhada.
— Estou apenas com seis semanas, é pouco tempo....
— Eu sei que ela pode me sentir. – Disse agarrado a minha barriga.

— Papai, o que faz? – A vozinha angelical de Matt invadiu o ambiente,


me deixando ainda mais emocionada.

— Estou conversando com a sua irmãzinha. – Falou com uma piscadela


acompanhada de sorriso. — O que acha de vir conversar com ela também?
Dizer quem é o irmão mais velho...?
— Mas não tem ninguém aí, papai....

— É que a mamãe a guarda dentro da barriga até que ela esteja pronta
para nascer. – Sorri diante da explicação de Conrad.

— Uau, a mamãe é mágica! – Conrad e eu caímos na gargalhada diante


da inocência de Matt.
A minha felicidade estava completa, mesmo que para isso eu tenha
passado pelo pior. Para alguns o que importa é a viagem e não o destino, para
mim a viagem é um passado do qual eu jamais desejo retomar. E ao final das
contas o destino valeu mais a pena, mesmo que tenha sido preciso traçar uma
nova jornada a partir daquele desfecho trágico. Uma nova e inédita viagem
cheia de felicidade e alegria. E essa viagem valerá os percalços em seu
caminho.

Fim...
O fim é sempre o começo de algo incrível e
inédito em nossas vidas!

Tess Roberts.
Novembro de 2015.
Agradecimentos

É com carinho e emoção que venho agradecer a todos


que leram, que me apoiaram e, principalmente, acreditaram
neste sonho. Agradeço em especial ao meu marido,
Eliomar, e a minha mãe, Neide, que não permitiram que eu
desistisse quando tudo ficou ruim demais. Aos meus dois
filhos, Pedro Henrique e Matheus, por enlouquecer bastante
a mamãe enquanto ela escrevia este livro e, inclusive, tê-la
feito escrever algumas frases erradas durante o processo....
(Risos). Ao meu pai, Izone. E a minha irmã, Maria Luíza,
por me ajudar e apoiar.
Pode parecer fácil vir e escrever os agradecimentos
após ter escrito todo o livro, mas não é. Foram tantas
pessoas importantes que precisariam ser mencionadas....
Mas vamos a uma pequena história antes:
QUANDO EU TE ESQUECI é um dos livros que mais
me marcou, pois foi escrito em um momento muito
complicado da minha vida. Através da escrita deste livro,
consegui me manter de pé e não me afundar na depressão
que ameaçou me engolir até o fim. Por essa razão tenho um
carinho muito grande por ele.
Agora voltemos aos agradecimentos!
Não poderia me esquecer jamais de agradecer as
minhas leitoras lá do Wattpad. Sem elas eu jamais teria tido
algum reconhecimento.
Não conseguiria citar todas, no entanto não posso
deixar de mencionar alguns nomes: Cinthia Basso (A
doidinha mais incrível para se ter como amiga no mundo
inteiro), Leticia Iacillo (A amiga mais gentil e sincera que
se pode desejar), Bianca de Oliveira (Uma amiga para vida
toda), Ana Ribeiro, Suellen Pessoa, Keliane Limack,
Juliana Spiegel, Rayane Cardoso, Cynthia Lopes, Danieli
Folli, Jéssica Hass, Priscila Sathilio, Desireé Nascimento,
Rosa Messias, Thaynara Peres, Leonete Rocha, Nayara
Rodrigues, Malu Pinheiro, Vânia Anjos, Odelli Castello,
Alline S16, Claudete Souza, Amanda “do Fuxico”, Heloisa
Cestini, May Cumbita, Elimara Costa, Dell Barbosa,
Elidiane Rodrigues, Jhennifer Salgado, Lu Cosme, Rosana
Chinquete, Fabiane Ramos, Cristiane Allegri, Vera Canuto,
Osana Jesus, Juliane Nepomuceno, Monica Santana e
Midian Lima. Essas foram as minhas primeiras leitoras.
Não posso deixar de agradecer também:
© A Tânia Giovanelli, por suas dicas preciosas. Uma das
melhores amizades que fiz no último ano. (Ainda
vamos chorar as pitangas muito juntas).
© A Diane Bergher é uma honra ter você como amiga há
tanto tempo.
© A Marli Dias Hernandez Fernandes, o seu coração é de
ouro! Obrigada por sua amizade.
© A Drica Kelys, você nem é gente... é um anjo!
© A Kaliane Soares de parceria literária a amizade!
© A Christine King! Lindona, obrigada por sua
sinceridade!
© A Jussara Piantieri, conseguimos amiga!
© A Maria Agostini, sempre que vejo belas flores lembro
de você!

© A Ana Flávia Candeo dos Santos, amiga e assistente


persistente nas horas vagas. A verdadeira ameaça em
pessoa!
Obrigada a todos que leram o meu livro.
Não sou nada sem vocês!

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