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Benevides
CAPA A. E. Gabriel
DIAGRAMAÇÃO A. E. Gabriel
REVISÃO Patrícia Suellen
LEITURA FINAL Jenyffer
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da versão grátis e premium, agora é só curtir as músicas tema do nosso casal.
Há muitos anos…
Alex
Estávamos na casa da minha avó paterna, no interior do estado, no seu grande
pátio de terra vermelha, que era uma área aberta atrás do sobrado que mais para
frente virava um pequeno milharal.
Eu e os meus cinco primos brincávamos de arremessar bolas feitas com resto
de tecido em latinhas de refrigerante. Ganhava quem conseguisse acertar o maior
número.
A maioria deles tinha dez anos, tirando Bob, com quatorze, e eu já com treze.
Estava bem na frente na escola, tinha um videogame em casa e não via a menor graça
nas pegadinhas de mau gosto que pregavam em mim e nem nas brincadeiras de
criança do interior, mesmo que tecnicamente eu fosse uma. Nasci em Vila Velha e me
mudei pra cidade grande depois de um tempo.
Porém, não existia nada melhor para fazer no meio do mato, no calor infernal,
então tomei à frente e ajudei a sacudir os papéis no chapéu novo de cowboy do
Jimmy para descobrir quem seria o primeiro a arremessar, depois distribui para cada
um deles. No entanto, os garotos não pareceram felizes com isso.
— Espera, Alexandra! — berrou um pirralho, e me segurou pelo braço. —
Coloca mais um papel para o Harvey, a dona Joana disse que iria deixá-lo vir hoje.
— Aquele quatro olhos não consegue acertar nada. Não vê um palmo à sua
frente, quanto mais uma latinha!
— Harvey tem problema na vista! — retrucou, e fez um bico emburrado.
Jimmy era muito gritalhão, ainda mais depois de perder os dois dentes da
frente em uma queda de cavalo, parecia fazer questão de falar com a boca bem aberta
para todo mundo ver a sua banguela. Nojento!
— Se Harvey competir, vocês estão todos fodidos e essa brincadeira vai
virar uma grande merda!
Os meninos fizeram uma cara de espanto com a minha declaração, muito
ofensiva para todos, ou quase todos, Bob só achou graça e continuou com a sua
ferramenta no pedaço de madeira. Ele fazia bonitas esculturas de cavalo.
— Você falou palavrão, Alexandra. — Logan arregalou os olhos, assustado, e
apontou seu indicador para mim. — Vou contar pra vó! — Assim que terminou de
falar, tentou sair correndo para dentro, contudo, segurei-o pela gola da sua camiseta
esgarçada e o arrastei de volta para o lugar, sujando-o de terra.
Ele era leve como uma pena e eu não havia me esquecido do pó de mico
colocado no meu colchão alguns dias atrás.
— Se você falar pra vó, conto que foi você quem fez xixi na cama semana
passada e não o cachorro! — ameacei, e Bob gargalhou por eu revelar o segredo do
outro.
Logan empalideceu na hora e é óbvio que não deu mais um piu.
Depois de um tempo, nós escutamos uns sons vindos da lateral da casa e
Harvey entrou pela porta batida. Seus cabelos castanho-claros eram longos e macios
como os de uma menina, ele era pálido feito um fantasma, usava uma armação de
óculos fundo de garrafa preta no rosto, provavelmente herdada de algum parente
velho, e seu corpo conseguia ser ainda mais mirrado que o dos meus primos.
— Cheguei, Jimmy! — O menino gritou, no entanto, sua animação passou
rápido ao escanear o ambiente e ver que eu já estava aqui.
Nós não nos dávamos bem de jeito nenhum, principalmente porque era um
esquisitão e também porque a mãe dele, Joana, já chegou a xingar a minha mãe
algumas vezes. Disse que ela não cuidava bem de mim e que não era presente o
bastante. Bom… pra falar a verdade, isso não era exatamente uma mentira.
Joana não deixava que Harvey saísse de casa de jeito algum, só para ir à
igreja e à casa da minha avó nas férias, confiava somente nela. O menino até recebia
aulas particulares, assim “não testemunhava os pecados do mundo afora” na escola.
— Você vai brincar? Mesmo sendo um cegueta? — provoquei, corri e dei um
tapa bem dado na testa do garoto.
Ele fez um som que lembrava muito um rosnado em resposta e logo um
vermelhão começou a se formar em sua pele sensível.
— Sou míope, não cego! — argumentou e tentou devolver o tapa, mas desviei
e ele quase acertou Logan, que começou a chiar.
— Claro que é um cegueta! Aposto um dólar que vai ser pego rapidinho!
Os garotos em volta exclamaram alto pelo valor que ofereci enquanto corri de
novo e dei outro tapa em sua testa, que avermelhou de vez.
— Aposto dois dólares que ganho de você! — berrou, e meus primos ficaram
ainda mais eufóricos.
Harvey tentou de novo me acertar, porém, fui mais rápida e consegui me
afastar com velocidade de suas investidas. Obviamente o fracote perdeu essa aposta,
e a que veio depois dessa e muitas outras mais.
Aliás, foi assim que comecei o meu pequeno banco patrocinado por ele e o
dinheiro da sua mesada. Apostávamos velocidade de corrida, quem comia mais
rápido, quem dormia mais rápido, quem tinha mais elasticidade e até quem gritava
mais alto.
Continuamos até os seus pais se separarem. O pai dele fugiu com a amante
peituda e trambiqueira, mas ninguém tocava nesse assunto quando o menino estava
por perto, só fofocavam por trás. Sabe como é o interior…
O garoto e sua mãe foram morar na cidade grande onde eu também morava a
maior parte do tempo, para se distanciarem das fofocas de Vila Velha, e Harvey
também começou a estudar na mesma escola que eu.
O meu pai era ex-fuzileiro e precisava de cuidados médicos especiais em sua
perna, e Vila Velha não tinha um bom hospital, por isso não ficava lá.
No entanto, Harvey se tornou… diferente. Cortou os cabelos para um tamanho
razoável, seus músculos se desenvolveram, começou a usar lentes ao invés dos
óculos, ganhou um bronze e foi crescendo bem mais que a maioria. Então assim que
pisou no colégio virou praticamente um astro entre os calouros do ensino médio,
todos queriam conhecê-lo.
Já eu, fingia que o garoto não existia como uma regra para o nosso “bom”
convívio, e ele tentava retribuir o tratamento. Harvey no canto dele e eu no meu, sem
muitas brigas. Porém, secretamente às vezes fazia aquele metido a galã se ferrar, e
tinha sucesso principalmente porque Joana não conseguiu lhe ensinar literatura ou
biologia na época das lições em casa, só conhecia a bíblia.
Péssimo em interpretação e sem entender muito do currículo básico, o
adolescente era comido vivo nas provas. Portanto, era a mim que recorria quando já
não tinha mais saída.
— Alexandra, me ajuda, por favor! Faço qualquer coisa se você me der o seu
trabalho! Qualquer coisa! — Ele apareceu no meu esconderijo na escola onde eu
escutava música o dia todo.
Encarei os olhos escuros de Harvey e arqueei uma sobrancelha,
maliciosamente.
— O trabalho vale metade da nota final, por que lhe daria isto? — Cruzei as
pernas com meia-calça arrastão e fiz a melhor pose que consegui.
Era o meu estilo na época, totalmente baseado em bandas de rock que quase
ninguém ao meu redor conhecia. Sempre vestida de preto, usando saia de couro,
coturno e pintando o cabelo com a tinta mais escura que encontrava na farmácia.
Claro que as férias no interior iam ficando cada vez mais difíceis, todos me olhavam
torto.
— Porque você já tem toda a nota do período e não precisa dessa merda
desse trabalho para passar!
— Opa, opa! — Dei um sorriso debochado e sacudi a cabeça negativamente.
— Se você quiser o trabalho, vai ter que ser mais colaborativo e quem sabe até…
beijar os meus pés.
Assistia muitos filmes de realeza e sempre adorei princesas e histórias de
amor, tudo isso escondida.
— Me fala o que você quer de verdade e pare de brincadeira! — Bateu os
pés e exigiu a minha atenção. — Não posso repetir, Joana vai me matar.
— Eu… quero que você seja humilhado. — Eu também tinha muitas emoções
reprimidas e complicadas quando mais nova. — Quero que você pague por ficar com
Ashley, aquela idiota que jogou água de privada no meu armário!
— O que você quer, de verdade, Alexandra? Espalhar minhas mensagens de
texto com a Ashley? Que eu largue o time de basquete? Me diga o que você quer e
pare com seus jogos! — Aproximou-se de mim com o rosto avermelhado de raiva.
Ashley era a namorada loira perfeitinha que Harvey gostava de desfilar por
aí. A garota tinha uma grande síndrome de Regina George e se achava uma abelha-
rainha toda poderosa. Fazia bullying dia e noite com os “desajustados”, e eu me
encaixava bem nessa categoria, já que não implicava com mais ninguém além de
Harvey.
As brigas entre mim e Ashley frequentemente iam além das provocações, uma
vez ela quase quebrou o meu nariz com um soco e eu me levantei do chão com um
grande tufo de seu cabelo em minha mão nessa mesma ocasião.
— Nada disso me basta. Quero mais! Mais do que suas mensagens sujas com
aquela patricinha! — Levantei-me num solavanco e deixei que percebesse o quão
“perigoso” era o meu pedido.
— Fale então, Alexandra. O que você quer de mim?!
…
Alex
Merda! Por que eu fui tão burra e desatenta?! Como me enfiei nessa
enrascada e só percebi agora? Mas também, quem é que manda correspondência em
papel hoje em dia? Ninguém! Só esses caipiras que não sabem o que é a porra de um
e-mail!
A minha avó, que Deus a tenha, faleceu há quase dois anos, porém, só agora
me avisaram que fiquei com a sua casa em Vila Velha, o lar onde passei uma boa
parcela da minha infância, no entanto, que olhando agora é só um amontoado de
madeira velha e podre. A casa está ruindo e ninguém se importa em arrumá-la.
Contudo, esse amontoado de madeira velha e podre é o único lugar viável
depois que a minha colega de quarto na cidade decidiu juntar os trapos com o seu
namorado, um jogador de futebol ricaço.
Ela só foi lá e cancelou o contrato com a imobiliária, sem mais e nem menos.
Quando cheguei da editora, todas as minhas coisas, que já não eram muitas, estavam
jogadas na calçada do lado de uma lixeira muito malcheirosa.
Catei as roupas, enfiei em Berty, meu carrinho velho e verde feito um limão, e
comecei a minha viagem árdua até aqui, o meio do nada que eu evitava há quase oito
anos. Porém, só pude ficar na casa da minha avó por mais ou menos umas três horas,
tentando dar um jeito nas goteiras e nos insetos estranhos, quando um exército de
brutamontes grosseiros e pervertidos, que não desgrudaram os olhos dos meus seios
e da minha bunda, me colocaram para fora.
“Essa casa foi leiloada, faz quatro anos que os impostos não são pagos”.
Acho bem estranho os impostos estarem atrasados há tanto tempo, já que
mesmo não sendo presente, sempre trabalhei igual uma maluca em vários bicos
diferentes para enviar dinheiro à minha avó quando ela era viva. Era a sua neta que
mais ajudava, mesmo que de longe.
Explico para os homens que nunca recebi nenhuma informação sobre ser dona
do lugar, que só era meu há dois anos, levando em conta a data de falecimento da
minha avó, e que agora ficarei e colocarei tudo em ordem.
Mas sabe qual é a resposta do armário que não para de lamber os lábios,
cuspir no chão e coçar o saco? “Se era importante deveria ter vindo para a leitura do
testamento, foram enviadas dezenas de cartas para a senhora comunicando, o
processo é padrão.”
Uma porra que foram! Nunca recebi informação alguma além de cartinhas
entregues no endereço errado e que só descobri esses dias! Entretanto, não adianta
esbravejar e tentar uma discussão, mais uma vez sou expulsa.
Então entro em Berty, encho-o com as minhas tralhas e me coloco em
movimento com vontade de chorar de ódio.
Conforme passo pela porteira, um dos grosseirões tem a coragem de gritar
pra mim: “Ei, princesa! Não quer ficar por aqui por um tempo? A gente te leva para
cidade e você se hospeda no hotelzinho da Sophie. Se quiser também pode dormir na
minha casa. Eu não reclamaria”
Não respondo a sua provocação ou sairia de Berty, pegaria um pedaço de pau
e bateria na sua cabeça até que minha frustração passasse. Estou estressada e nervosa
com toda a situação, por isso continuo em frente.
“Já tá escurecendo e vai cair chuva grossa hoje, hein. Teve acidente há alguns
meses.” Tenta me convencer e eu ainda não o respondo. “Cuidado com os atoleiros
então, moça. Caso precise de ajuda, não diga que não avisei! Te levaria até no meu
colo para o centro!” É a última coisa que ouço junto às risadas zombeteiras daquele
bando de jumentos, que eu respondo com o meu dedo do meio para fora da janela.
E é desse jeito que chego bem aqui, no inferno.
Junk of the heart, do The Kooks, toca baixinho e picotado no meu rádio de
pilha enquanto tento mais uma vez dar a partida em Berty.
— Vamos lá, meu amor! — suplico ao carro, faço carinho em seu painel e
continuo sem conseguir sair do lugar.
Minhas unhas estão todas roídas de tanto nervoso que passei hoje e a minha
maquiagem e o meu cabelo devem estar super escorridos. Provavelmente estou igual
a uma palhaça, que é exatamente como me sinto.
— Preciso que você funcione, Berty — choramingo. — Por favor!
A chuva parece ouvir o meu desespero e debocha de mim, pois fica ainda
mais forte lá fora. Respiro de forma barulhenta e começo a estapear e beliscar com
força as minhas coxas. Sempre faço isso quando perco o controle.
E a situação só piora, porque uma janela traseira de Berty está quebrada,
portanto, também estou numa semi-inundação. Água se mistura com a sujeira do
assoalho do meu carrinho verde e molha os meus pés, então eu tremo muito de frio.
Grande dia para escolher espairecer de short, blusa fina de botões e chinelos
recém-ganhados, o único presente da safada da minha ex-colega de quarto.
A música acaba e o locutor faz uma pausa para dar recados. “As estradas
estão uma bagunça. Não saiam de casa! Não queremos que o acidente de alguns
meses atrás se repita.”
— Como se eu tivesse escolha! Não tenho casa! Não tenho porra nenhuma! —
berro sozinha.
Também não tenho um jogador de futebol bonitão pronto para me levar para o
seu palácio de luxo. Só uma conta no banco zerada e uma demissão sendo processada
pelo RH, depois de ter enviado o texto errado para ser publicado na revista.
O que tenho mesmo e em abundância, é medo.
Ao meu lado direito se estendem várias árvores altas do bosque, do lado
esquerdo tem um pasto interminável e acima de mim o céu está extremamente escuro
e inundando aqui embaixo. Se algum estranho aparecer e quiser fazer algo comigo,
não terei escolha alguma.
Péssimo momento para me lembrar de todos os filmes de psicopatas que já
assisti na vida. Ele pode estar escondido nas matas, pode ter me seguido da cidade
até aqui ou ter me visto na casa da minha avó e agora se esgueira entre a natureza,
pronto para me dar o bote.
Existe também a possibilidade de ser um desses doidos que prendem as
pessoas por anos em casa a base de ração animal!
Se tivesse que escolher entre ser morta agora ou passar cinco anos presa e
maltratada, com cert…
— Ei! Você! — Uma voz grossa exclama do outro lado do vidro e eu pulo de
susto do banco. Luto para manter os olhos abertos por conta da forte luz que o homem
aponta para o meu rosto. — O que está fazendo aqui essa hora?!
— Quem é você? — questiono, confusa.
Aparentemente o meu tom não é alto o bastante para me fazer ser ouvida e o
estranho começa a dar várias batidinhas no meu vidro, até que eu o retraia. Não
desiste de jeito nenhum, e o que posso fazer? Talvez essa seja a minha única salvação
para a chuva forte.
— O que está fazendo aqui, senhorita? Quem é você?! — Soa rude e
profundo.
Não consigo ver nada além da grande sombra que seu corpo faz por conta da
lanterna apontada bem para a minha cara. É como se ele fosse um policial num
interrogatório.
— E quem é você?! — pergunto, me recusando a dar brechas conforme tento
puxar o pano grosso da minha jaqueta jeans para cima, escondendo dele os meus
seios e meus mamilos que estão duros de tanto frio. Também desisti de usar sutiã
alguns quilômetros atrás.
— Sou o dono da propriedade que você está invadindo, senhorita!
— Eu não estou invadin… — Tento explicar que nem sei onde estou, quando
sou interrompida com um berro ameaçador e áspero.
— Está sim! — Sua respiração é alta como a de um boi bravo. — Está
invadindo uma propriedade privada e dando uma de espertinha. Mas irei colocá-la
para fora daqui se pensa que vai conseguir algo fácil assim! Já me roubaram um
porco mês passado!
O meu sangue borbulha com facilidade nas minhas veias e a minha ira me
aquece do frio, já que ele passa a dizer diversas coisas que não estou fazendo e
ameaça até me levar até a delegacia.
Dane-se se o homem poderia me matar bem ali, não escutarei esse tanto de
merda calada! Se ele pode ser um idiota, eu posso também! Ou pelo menos é assim
que o meu cérebro funciona quando não está em sua plenitude. Bater boca com um
desconhecido grande daquele jeito é uma péssima ideia, porém, não consigo me
conter.
— Não estou invadindo porra nenhuma, seu merdinha desgraçado! — Sacudo
minha cabeça e meus cabelos molhados me estapeiam. — Sabe o frio que estou
passando aqui, para você vir com essa merda para cima de mim?! Estou congelando,
seu filho da puta! Viajei por horas! E se vo…
Estou pronta para xingá-lo mais um pouco, quando o estranho interrompe a
minha frase com uma risada alta e espontânea que me paralisa. Está achando
engraçado? Sente prazer em ser xingado? Serei sequestrada por aquele mesmo tipo
de idiota que me botou para fora da casa da minha vó? Por um sádico da roça?!
— Alexandra?! É você, né?! — Soa muito divertido e me tira ainda mais do
sério. — Com essa boca suja e toda essa revolta, só pode ser você mesmo, mulher!
— O homem dá uma batida forte e animada no capô de Berty, que geme em resposta.
Se esse cara estivesse mais próximo de mim, poderia mordê-lo feito um
cachorro raivoso e arrancar um grande pedaço para largar de ser idiota!
A fome deve estar revirando a minha cabeça…
— Não sei do que v-você está falando. — Meus dentes batem de raiva e eu
gaguejo. — Não te conheço!
— Tá presa no atoleiro, Alex? — O estranho enfia a mão pela janela,
tentando abrir o trinco da porta na maior cara de pau. — Mas vou te ajudar, não se
preocupe não.
— Pare com isso, seu maluco! — Seguro firme no gancho de Berty e não
deixo que abra de jeito algum.
— Vem, mulher! O meu cavalo tá logo ali e é bem rapidinho até a minha casa.
Ficar aqui sozinha é perigoso — declara alto por cima do barulho da chuva.
Paraliso ao ouvir a palavra “cavalo” e “casa” e meus pelos todos se
arrepiam. Puxo com mais força ainda a alavanca e é em vão, infelizmente ele é muito
forte e consegue levantar o pino, apesar dos meus protestos, e escancarar a porta.
— Nem te conheço e não vou a lugar algum com você, me deixe em paz!
No entanto, o homem me pega firme pelo braço com suas grandes mãos
ásperas, e consegue me colocar do lado de fora em pleno temporal. Quase explodo
de tanto ódio.
— Claro que me conhece, sou eu, Harvey! — A chuva corta as suas palavras
no meio.
— Harvey?! — grito, e sinto os pingos grossos e frios baterem em mim.
— Não sabia que você ia crescer pra ficar tão besta, Alexandra! Sou eu,
Harvey! — explica daquela forma espontânea, como se fizesse alguma diferença, e
me dá um puxão.
Os meus chinelos ficam para trás na lama funda e eu piso em cima das botas
de couro do estranho para me manter de pé, já o meu rosto vai ao encontro do
plástico da sua capa de chuva preta e o que está embaixo disso tem a consistência de
uma tora de madeira.
— Mas não conheço você! — Olho para cima, assim consigo encarar aquelas
írises escuras com um brilho malicioso visível até mesmo nessa noite bagunçada.
— Mas eu te conheço. — O estranho Harvey é muito rápido. Empurra a porta
de Berty, que não se fecha completamente, depois flexiona os joelhos e me iça para
os seus ombros, como se eu não pesasse nada. — E vou te levar até o meu cavalo. Se
a gente for assim é mais fácil!
Fico pendurada igual um saco de batatas nele, o meu sangue desce para o meu
rosto e a chuva forte quase me afoga.
— Seu filho da puta! — Desespero-me e começo a xingar o estranho que me
carrega, mesmo que seja difícil falar. — Você não tem o direito de agarrar uma
pessoa assim! Seu doido!
Ele poderia fazer o que quisesse, poderia me jogar em qualquer lugar e
ninguém nunca mais me acharia! Então me sacudo para um lado e para o outro, cheia
de medo, e dou socos fortes em suas costas, que são gigantes assim como o seu
peitoral.
— Pare com isso, mulher!
— Me larga! Vou chamar a polícia! — Minha voz começa a falhar, pois o meu
estado atual é deplorável.
Prendo a respiração quando coloca um braço pesado por cima de mim, para
me manter no lugar, e anda por um tempo, mesmo que eu grite. Como o homem não
cai no meio desse mato molhado e enlameado enquanto tem mais que noventa quilos
pendurados sobre si?!
Eu sou uma mulher grandinha, com muito peito, bunda, quadril, coxa e barriga
para que o tal do Harvey me segure assim com facilidade. Começo a me apegar
demais nesses detalhes sobre sua resistência física, contudo, logo grito comigo
mesma mentalmente. Não quero saber de nada sobre ele! Se é um fortão barbudo ou
qualquer merda. Só quero que me solte e que eu finalmente pare de estar encharcada.
Quero acordar na minha cama de solteira que é muito descontável, porém,
que é minha e não representa nenhum perigo.
Os meus pedidos são parcialmente atendidos ao ser largada de repente, o
problema é que sou colocada no lombo de um cavalo branco gigante e muito quente.
Definitivamente, prefiro ser morta agora do que passar anos e anos presa comendo
ração animal! Deus, me ajude, Por favor!
Alex
— Me largue! Me leve de volta para o meu carro! — Já estou ficando rouca e
minha garganta arde como se fogo passasse por ela.
— Calma, boneca. Vai ficar tudo bem, só fique quietinha, meu amor — diz o
estranho, todo manso.
— Não vou ficar calma, seu desgraçado doido! — Dou um soco bem-dado
em suas costas, porém, o meu punho dói bastante e o outro nem se abala. — Me deixe
em paz!
— Tô falando com a minha égua, Alexandra! — Sacode-me e me faz tossir
com a água entrando de qualquer jeito em meu nariz. — Agora você cale a boca que
a bichinha tá assustada com a sua gritaria e vai empacar com nós dois aqui se
continuar assim!
— Mas isso não é certo, você me arrancou do meu carro e… — Minhas
palavras se perdem no barulhão da chuva e de um trovão que me faz tremer.
— Só não te largo aqui, porque a sua avó foi muito boa pessoa — avisa,
como se estivesse fazendo um favor em me sequestrar. — Agora pare com essa
gritaria!
Harvey vai me puxando e me ajeita melhor no lombo de seu cavalo, mesmo
que eu ainda brigue contra seu toque. Depois num movimento fluido, senta-se atrás de
mim e gruda seu corpo no meu.
— E-eu não posso fazer isso! — choramingo, passando de braveza para
desespero fácil, fácil. — Por favor, me solte. Por favor, não faça isso! — Estou
tremendo copiosamente de terror e minhas lágrimas se misturam com a chuva.
De repente ele decide rodear minha cintura com o seu braço grosso coberto
pela capa escura, não sei se para me acalmar ou para que eu não escorregue e caia
para o chão, assim não tenho a oportunidade de fugir.
— Não vou fazer nada com você, Alex, juro. Só estou te tirando do meio de
um atoleiro! — Abaixa um pouco a sua crista ao falar e busca as rédeas de seu
irritado animal.
— Mas está me levando para não sei onde e a força! — argumento. — Se
conhece a minha vó, conhece a minha família, então não faça isso comigo. Por favor,
Harvey! Por favor! — Minha voz embarga muito e o medo me devora por dentro.
— Já disse que não vou fazer nada com você, mulher! Fique calma — insiste,
e juntos permanecemos em cima da égua gigante enquanto ela sapateia um pouco na
lama. Acredito que nunca vi um cavalo tão grande, provavelmente é uma raça
estrangeira e muito bem tratada.
— Eu tenho medo de cavalo! — revelo, mesmo que já esteja bem claro. —
Pavor!
— Não tem outro jeito de chegar em casa além desse. — A voz do
desconhecido está muito perto.
— Não consigo! Posso desmaiar de medo, sabia? — Pânico cada vez mais
forte me agarra e eu afundo minhas unhas na minha coxa.
— Consegue sim, confie em mim! — grita, e perde o tiquinho de paciência
que havia surgido.
Ele não me escuta mais, acha que a minha fobia é frescura, e faz a égua sair
do lugar. Então sou jogada para cima e para baixo conforme o bicho acelera no meio
do pasto, pegando um atalho e não usando a estrada.
O meu peito está pesado e tenho certeza de que vou morrer.
— Harvey! — berro seu nome, e tento me manter firme. — Pelo amor de
Deus! — O meu choro é real agora, sem pequenos soluços ou choramingos, só uma
gritaria.
— Feche os olhos então, Alexandra, e escute o que eu tenho a dizer para
você! — O desconhecido me aperta contra si, enquanto a sua égua rasga a escuridão.
— Não vou fechar os olhos!
— Se fechar vai ficar com menos medo! — adverte, num comando bruto que
acabo obedecendo, não tenho escolha, e começa a fazer algo que me surpreende
totalmente. — I’m gonna take my horse to the old town road, I’m gonna ride, ‘till I
can’t no more! — canta bem alto para que possa ouvi-lo.
É uma versão estranha de Old Town Road?
— Sério isso?! — Remexo-me indignada.
— Sim, vai te deixar mais calma. Agora pare de atrapalhar o meu show e
cante comigo!
— Não vou cantar com você, vai assustar ainda mais o cavalo com essa sua
voz horrível!
— I got the horses in the back, horse tack is attached! — Mas o estranho me
ignora e continua.
Ele me irrita tanto, que a minha ansiedade diminui e só consigo xingá-lo. Ao
chegar no refrão, a parte que sei a letra, acabo gritando junto pela penumbra que nos
encontramos e isso me faz sentir até que livre e corajosa. Harvey sabe bem como
fazer os meus medos sumirem com aquela palhaçada toda que dura incontáveis
minutos.
Os meus dedos do pé e da mão já estão dormentes de frio quando finalmente
chegamos perto de uma casinha de um andar, com as luzes acesas. O gigante
desconhecido me ajuda a descer do cavalo segurando com a maior intimidade na
minha cintura e depois me puxa pelo braço para que eu entre pela porta de madeira.
Aqui dentro a chuva é apenas uma melodia de fundo e não interfere nos outros
sons. Ele tira a capa de chuva negra e encharcada, joga num canto do piso
despreocupadamente e eu foco no homem, com meu coração disparado. Mesmo
querendo muito olhar o que tem em volta de mim, é bom observá-lo para no caso do
maluco tentar algo.
— Você ainda não se lembra de mim, lembra? — questiona, e não consigo
escolher qual a resposta menos perigosa. — É, com essa cara de perdida que você tá
fazendo não lembra mesmo.
Ele está vestindo uma camiseta branca e fina agora, que gruda um pouco em
seu corpo revelando muito mais do que deveria. Eu me abraço então, ao lembrar que
as minhas roupas são ainda mais reveladoras e o homem pode ver tudo em mim se
quiser.
O tal Harvey tem alguns músculos começando a aparecer em sua barriga,
provavelmente fruto do trabalho cuidando de bichos e de plantações, como as
pessoas dessa região no geral fazem.
— Não acredito que te conheça…
O cowboy é largo, forte e bronzeado, que aliado ao seus no mínimo dois
metros de altura, formam uma poderosa equipe capaz de me deixar sem palavras e de
boca aberta.
— Não sou o mesmo besta da escola não, Alex, eu cresci! — diz, orgulhoso,
e coloca as mãos na cintura.
— Escola? — questiono, perdida, e continuo o meu estudo daquele exemplar
único de homem.
Ele tem cabelos escuros cortados bem curtinhos, e barba escura, densa e
bem-feita cobre seu queixo.
— É, nós estudamos juntos, mulher.
Ok… o tom astuto e as sobrancelhas grossas eu conheço bem até demais.
— Harvey?! — exclamo, e o meu cérebro me bombardeia com imagens dele
na infância. — Você? O magricela? — Engasgo com o susto e depois relaxo
substancialmente.
Harvey nunca me faria mal algum se continuasse como antes.
— E conhece mais algum? — responde, com um sorriso sacana e branquinho,
que gera alguns calafrios pelo meu corpo. — Não tão magricela assim hoje em dia —
diz, malicioso, enquanto dá a volta em mim e se joga no sofá coberto por uma pele de
animal escura, liga a TV e começa a tirar as botas. — O que você veio fazer aqui, tão
longe da sua amada cidade grande?
Pelo que vejo de sua casa, ela parece ser coberta de móveis de madeira
maciça, bem aquecida e até aconchegante. Nada ali parece caro, tudo é muito
simples, rural e um pouco empoeirado. Mas é grande, firme e dele, ninguém poderia
tirar.
Abraço o meu corpo molhado com mais força, sentindo uma pontada de
inveja e um soluço escapa da minha boca.
— Vim tratar de uns negócios…
— Não sabia que você tinha negócios por aqui — murmura, e eu decido
mudar o assunto.
— Não vai me oferecer um banho quente, já que nos conhecemos e você me
resgatou? Algo pra comer? — Soo mais irônica do que deveria, dada as minhas
circunstâncias.
Ele estica as grossas e fortes coxas sobre o sofá, preguiçosamente, e me olha
de cima a baixo, me avaliando. Minhas pernas estão de fora com esses shorts e não
consigo esconder tanto assim do meu colo, então enrubesço com a sua análise.
— Claro que você pode ter tudo isso, princesinha. — Sacode a cabeça
jogando alguns pingos de chuva no chão de tábuas feito um cachorro vadio. — Mas
só se cumprir com o trato.
Do que esse doido está falando?
— Que trato? Não te prometi nada para me trazer aqui, trouxe porque quis! —
Faço questão de pular fora daquela panela de água quente o mais rápido possível.
— Prometeu sim. — Coloca-se de pé em um pulo e caminha arisco até mim,
me rondando como se eu fosse sua presa. — Você me deu o seu trabalho de literatura
em troca de que eu fizesse algo.
— O quê?! Do que está falando? Não prometi nada!
— Há mais ou menos nove anos, Alex, você me prometeu algo que não
aconteceu.
Arregalo meus olhos e gradualmente consigo me situar. Ele cavou fundo
demais nas lembranças, coisa de gente maluca mesmo.
— Quem prometeu foi você. Você prometeu cumprir o desafio e eu lhe daria o
trabalho em troca. — Vou andando para trás, tremendo de medo do que possa fazer
com aquelas grandes mãos, e me aperto contra sua porta fechada.
— O seu desafio me fez ser expulso, então agora quem me deve é você. Você
tem que fazer o mesmo que fiz para estarmos quites. — A voz grossa entra em mim
como um raio.
— Isso já faz quase nove anos, como você mesmo disse. Como ainda se
lembra desse tipo de coisa? Que tipo de doido você é?! — questiono, indignada.
Ele aproveita que estou grudada em sua porta e me subjuga com um olhar
cansado, depois sua mão vai para o meu queixo e me acaricia com dedos calosos e
atrevidos demais para alguém que acabou de me encontrar depois de tantos anos.
Mas o que me deixa bem assustada é a resposta idiota que meu corpo tem a
esse homem. Sinto-me um pouco vidrada e… necessitada.
— Só vim morar no interior, Alexandra, porque não passei em literatura. —
Sua voz tem uma falsa mansidão. — Só estou aqui por culpa sua.
— Você podia ter voltado depois! — Preparo-me para passar por baixo do
braço que ergue ao lado da minha cabeça, mas o novo Harvey é muito autoritário e
não deixa que eu me mova, diferente da sua atitude quando mais jovem.
— A minha mãe faleceu. — Seus olhos castanhos fogem dos meus ao dizer
isso, depois voltam contendo mais obstinação. — Portanto, fiquei e cuidei dos
negócios da família, dos animais e das terras. — Perto desse jeito, consigo enxergar
melhor seu rosto queimado de sol.
As sardas avermelhadas de sua pele são distribuídas por um rosto duro, de
quem toma sol todos os dias, com lábios rosados e finos.
— Sinto muito — digo baixo, e isso parece ser um convite para que se
aproxime.
Estamos a no máximo dez centímetros um do outro, nos encarando. Dois
estranhos e conhecidos ao mesmo tempo. O seu cheiro invade meu nariz, é um aroma
de couro, provavelmente vindo de seu cinto e sua bota, e perfume fraco masculino
que me abraça e me embriaga.
Tem algo realmente muito errado comigo, deve ser o estresse de ser expulsa
da minha própria casa e de ter passado horas na estrada, falando sozinha para me
convencer de que tudo ficaria bem.
— Quero que você pague, Alexandra, pela maldita coisa que você me fez
fazer e que me assombra até hoje — diz, roucamente, e muda o clima ao ignorar
minha frase de condolências.
Meus seios sobem e descem em respirações curtas e estressadas.
— Ou o quê? — desafio, com um sorriso enviesado e falsamente corajoso. —
Vai me chutar para fora? — Estou tentando ser a voz da razão que não existe naquela
sua cabeça oca.
Uma cabeça muito bonita e grande, grudada num corpo másculo e peludo, que
será fruto dos meus sonhos quando eu puder descansar, mas que por ora é só uma
cabeça muito petulante mesmo.
— Sim, vou chutar você na chuva. — Molha o lábio inferior com a sua língua
e eu seguro um suspiro alto, percebendo que o homem está ainda mais perto. — Não
seja um bebê chorão, Alex — debocha, e suas írises castanhas deixam de me encarar.
Harvey desiste de me encurralar num solavanco e se senta no braço do sofá.
Ele usou “bebê chorão", termo que sempre usei quando queria fazer apostas na
infância. Isso é uma provocação baixa e eficaz.
— Harvey… — sussurro seu nome e aceno em negativa. — Não posso fazer
aquilo, é ridículo
— E mesmo assim você propôs isso para mim… — murmura. — É só um
trato, querida. Totalmente indolor. — A forma que diz querida é ácida. — O que vai
ser?
Respiro algumas vezes e tento encontrar o meu cérebro, para dizer para mim
mesma que é errado pensar tanto em o quão gostoso ele está e que eu não farei aquilo
de jeito nenhum. Não vou fazer! Não vou! Formularei um plano e me livrarei do
maluco.
— Tudo bem — digo, só para despistar. — Me deixe tomar um banho
primeiro, ok? E eu vou fazer.
Harvey passa a mão pelo queixo barbado e depois sorri. Aquele sorriso
também conheço, é a cara que faz quando pensa que me venceu.
— Feito. — Assente em concordância. — Primeiro banho e depois você
cumpre o nosso trato.
Ele parece muito orgulhoso de si mesmo, por ter se tornado um cowboy todo
másculo e bonitão, mas isso não quer dizer que estou animada para cumprir essa
aposta, ou melhor, não quer dizer que eu realmente irei cumpri-la.
Alex
— Não vai me mostrar onde é o banheiro?
Só ele, um completo idiota, para acreditar na minha mansidão. Nós nos
conhecemos há anos e Harvey sempre cai nos meus truques. O banho é o tempo que
preciso para maquinar a minha operação militar e colocar aquele boi para dormir.
— Claro, madame, por aqui — diz, irônico, segura o meu antebraço sem o
menor problema e tenta me arrastar feito gado.
— Não precisa me puxar assim, não vou sair correndo. — Sacudo o meu
braço.
— Melhor prevenir do que remediar, você tem fama de fujona.
Se cogitei bater bem forte com um abajur na cabeça dele agora? Sim. Porém,
não estou tentando ser presa, só me livrar dele por uma noite.
— Não estou fugindo!
— Você não esteve aqui em nenhuma data importante. Todas as férias sempre
saiu correndo e acabou obrigando a sua avó, dona Agnes, a ir à cidade. Não
compareceu nem no velório dela. — Está tentando arranjar uma briga comigo ou só
me provocar? — Deve ter fugido da cidade grande também para estar aqui.
— Tive os meus motivos, e você não deveria se meter, não é da minha
família. — Faço uma careta de desgosto. — Além disso, não estou fugindo, fui
chutada! Se faz alguma diferença para você…
Só conto essa última parte porque voltou a citar a minha avó, que é um
assunto sensível pra mim. Não quis sumir de Vila Velha, precisei. Porém, essa parte é
um segredo que nem Harvey e nem mais ninguém precisa saber.
— Duvido — diz com seu novo vozeirão sexy, e me lança um olhar esperto.
Que merda! Na época da escola o grandalhão parecia um ganso falando.
Quem autorizou esse cara a ficar todo bonitão? Um bonitão rústico, grande e bem
idiota, com a personalidade de uma mula.
— Isso já é problema seu, não meu. — Dou de ombros e vou em frente,
chegando ao cômodo que deseja me mostrar.
É um lugar revestido de azulejos brancos do chão até o teto, grande o bastante
para caber dois cavalos dentro. Tem muitos botões de frequências diferentes para o
chuveiro que, na verdade, são vários jatos na parede e um principal no teto, com uma
pequena mangueira removível.
Sinto um arrepio de satisfação percorrer meu corpo só de imaginar o banho e
a pressão da água, mesmo que ainda precise descobrir melhor como funciona.
— Não faça muita bagunça. — Encosta-se no batente conforme analiso
melhor o lugar. — Patrícia toma banhos semanais aqui — adverte como se eu fosse
uma criança.
Harvey tem uma namorada? Uma esposa? Encaro a sua grande mão e seus
dedos grossos em busca de uma aliança e não encontro nada.
— Você é casado com alguém que toma um banho por semana?! — Arregalo
meus olhos e imagino a nojeira.
— Não, sua anta! — Solta uma risadinha, zombando da minha cara. —
Patrícia é a minha égua branca, aquela que você montou.
— Você dá banho de chuveiro no seu cavalo? — A minha pergunta ecoa alto
pelo ambiente.
Cruzo os braços na frente do corpo para esconder os meus mamilos à mostra,
já que reparo no caminho que os olhos do pervertido fazem. Não tem decência
alguma e acabamos de nos rever! Até molha seu lábio inferior com a língua
vermelha.
— Oh, sim… Só as éguas tomam banho aqui, amor — provoca, e meu queixo
quase cai no chão com seu atrevimento.
— Seu safado! Sem vergonha! — A minha indignação parece diverti-lo.
O homem possui um sorriso fácil que me deixa desconcertada.
— Mas agora falando sério, Alex, saiba que você vai receber o pior
tratamento da casa — murmura, e me deixa perdida. — Normalmente não sou assim,
mas acho que você merece ser punida, para honrar os nossos velhos tempos. — Faz
questão de dar uma piscadela que esquenta meu corpo.
— Seu idio… — Começo a dizer, nervosa por conta da conotação sexual em
“punir” que usou, no entanto, ele sai do banheiro pisando firme antes que eu possa
terminar minha frase e espalha lama com as suas botas de couro por todo o piso
branco.
— E ninguém vai reclamar se você não fechar a porta! — grita,
provavelmente do final do corredor.
Só por isso, faço questão de bater a madeira bem forte antes de trancá-la com
todos os trincos disponíveis, garantindo que aquele brutamontes não invadirá.
— Filho da puta — digo, irada, e começo a me despir com a força do meu
ódio. Faz isso de propósito, só porque sabe que estou fodida, para me deixar nervosa
e desconcertada, nem está falando sério.
Cada peça de roupa no meu corpo está grudada e encharcada, parece que
entrei vestida numa piscina gelada.
Ligo o chuveiro e me surpreendo cada vez mais com Harvey, porque é melhor
que qualquer hotel que já frequentei. Jatos fortes de água saem por todos os lados do
boxe e fazem uma boa pressão na minha pele, que fica avermelhada com o líquido
quente. Imagino que para banhar a égua, deve conseguir remover os jatos e esticá-los
até o animal.
Suspiro alto de satisfação e vislumbro na minha imaginação uma cena linda,
eu com um sanduíche de frango com bastante salada de repolho de acompanhamento,
um copão de suco de laranja e aquele desgraçado desmaiado em sua cama com a
boca fechada, me deixando em paz. Que sonho maravilhoso seria, pena que a
realidade não é essa.
Tenho medo de usar os sabonetes líquidos sem rótulo que estão dentro do
armário, pois podem muito bem ser coisa para cavalo, por isso abro uma barra
simples de sabão e começo a me lavar. Depois que o meu corpo todo está relaxado e
ensaboado, penso no que vou fazer com o meu cabelo já que não tem nem sinal de
shampoo ou condicionador por aqui.
Se eu usar esse mesmo sabão, acordaria com um furacão bem seco na minha
cabeça no dia seguinte, mas se não lavar o efeito provavelmente será o mesmo sem
os meus produtos especiais, então eu lavo.
Assim que desligo os chuveiros, percebo o erro de principiante que cometi e
sinto vontade de me bater. Não tenho a merda de uma toalha e nem nada seco para
usar.
— Harvey, seu desgraçado! — xingo o sem noção, que com certeza fez de
propósito. Aquele esquisito! — Me dá uma toalha! — Fico gritando por uns cinco
minutos com a porta entreaberta e ninguém me responde.
Tento me enfiar de volta na roupa molhada e a tarefa se mostra impossível,
mal consigo manejá-las para que se abram e eu entre, estão pesadas e geladas. Solto
outros xingamentos irritados, vendo tudo vermelho de tanta raiva, e desisto de fazer
desse jeito.
Então termino de abrir a porta e espio o corredor segurando o meu bolo de
roupa molhada na frente das minhas partes íntimas, e descubro que não tem ninguém à
vista. Portanto, decido dar uma corridinha ridícula até outro cômodo aberto no
corredor a poucos passos de mim, um que não notei antes.
Tateio as paredes, desesperada, encontro o botão para acender a luz, e para a
minha surpresa completa, encontro um quarto amarelo todo mobiliado com coisas
infantis.
— Aquele desgraçado tem filho? — resmungo, e começo a revirar tudo atrás
de algo útil.
A criança só tem macacões em seu armário e mesmo que sejam um pouquinho
maiores, a minha bunda gorda nunca caberia em nada infantil.
— Merda, Harvey! Merda, Harvey! Merda, Harvey! — canto o meu mantra e
vou pingando todo o caminho para fora, batendo os meus dentes de frio.
O corredor do andar de baixo não possui mais nenhum cômodo. Terei que
voltar para sala ou passar a noite no banheiro, porque sei que não vai voltar para me
socorrer, está fazendo isso de propósito.
Um cara velho daquele me enchendo a porra do saco feito uma criança
mimada! Por que nunca pensei que Harvey se tornaria tão infantil? Quando anos atrás
éramos feito gato e rato? Faz total sentido que o homem seja um idiota!
Vou na ponta dos pés pelo corredor de tábuas, assim não me escutará
chegando nua caso esteja em algum lugar perto e graças a Deus a sala não tem
ninguém. Respiro aliviada e rezo para que o cowboy tenha ido cuidar da sua égua,
Patrícia, que obviamente está sendo muito melhor tratada do que eu.
Continuo segurando a blusa e o short na frente da minha intimidade, dou outra
corridinha pela sala e decido subir as escadas, quando escuto um gemido.
— M-moça? — Uma voz infantil me chama e eu paro no lugar, com os olhos
arregalados e quase perdendo o equilíbrio e deixando tudo cair. Ai sim traumatizaria
a criança!
Tem um menino de uns dez anos na cozinha encarando a minha bunda de
forma assustada.
— Olhe para baixo! — É o que consigo gritar para o garoto, que obedece na
hora.
Está todo embasbacado, coitado, e fica sem saber o que fazer enquanto pulo
os degraus com velocidade e consigo chegar ao primeiro andar da casa. Mas antes de
prosseguir na minha empreitada, engulo a vergonha, que não tive nem tempo de sentir,
e berro.
— Onde está Harvey?!
— Lá fora com a Patrícia! — responde de volta, meio tremido.
— Ok!
Menos mal, é o que eu esperava.
Entro no primeiro cômodo aberto que encontro e esse parece ser o quarto
principal, devido ao tamanho da cama, e mais uma vez é tudo arrumadinho e chique.
Esse sem noção, que me deixou correndo nua por sua casa, é casado mesmo
ou tem alguém para arrumar? Porque julgando pelo seu sofá surrado e a forma que
anda por aí, jogando a capa de chuva e a lama de suas botas, ele não se importa com
a organização.
Continuo resmungando reclamações, começo a revirar a sua cômoda e
encontro uma camisa de botões branca gigante. Irei mesmo me vestir como se tivesse
acabado de sair da cama dele?
Talvez, pois o bonitão não possui nada em seu armário além de camisetas e
regatas, algumas poucas camisas, cuecas de boa qualidade, o que é mais suspeito
ainda, e calças jeans.
Obviamente que nesse mar de roupas masculinas não encontro um short para
me ajudar, e uma calça agora iria me fazer ter que dobrá-la pela metade, visto que
Harvey é pelo menos quarenta centímetros mais alto.
Acabo vestindo uma regata e coloco uma camisa por cima para ser menos
reveladora, já que não tenho um sutiã, e entro numa samba-canção listrada,
agradecendo a Deus silenciosamente pela dádiva de só uma criança ter me visto.
— Você se arranjou então? — A voz levemente rouca de Harvey me assusta e
eu dou um pulinho do chão.
O homem mais uma vez exibe um sorriso malicioso, muito contente que tenha
me causado algum tipo de estresse. Termina de acender as luzes amareladas de seu
quarto de luxo, segue em minha direção e eu fico perdida com a sua aproximação
fortuita, sem saber para aonde ir caso me encurrale, porém, ele só estica o braço para
o armário atrás do meu corpo e alcança algo.
— Vou pegar uma toalha para você secar o seu cabelo, vai ficar gripada
desse jeito.
— Agora você se preocupa? — Faço uma cara feia com os braços cruzados
na frente do peito.
Essa coisa que o meu corpo vem fazendo está começando a me assustar. Os
meus mamilos ficam duros em sua presença e o meu pescoço esquenta. Maldito corpo
que se entrega fácil para uma carinha bonitinha e rústica depois de tanto tempo sem
sexo!
— Aqui. — Estica a toalha grossa e branca em minha direção, no entanto,
quando tento puxá-la, o homem não a solta.
— Larga isso logo — peço, irritada, e Harvey abaixa sua cabeça, dá algumas
fungadas antes e me faz ficar ainda mais constrangida.
— Você cheira como a Patrícia — diz o idiota e sorri largo. Prefiro não
responder sua provocação e continuo tentando pegar o pano de suas mãos. — E você
assustou o filho do seu primo lá embaixo, Derick nunca mais vai se esquecer da cena.
— Ele é filho de quem? — Puxo a toalha de novo e Harvey acaba desistindo
daquele cabo de guerra.
— Que péssima parente você é, Alexandra, não reconhece nem a sua família
— murmura sua provocação e se recosta contra a parede oposta a mim, enquanto
enrolo a toalha em minha cabeça.
— Não consigo acompanhar quando vocês do interior parecem coelhos se
reproduzindo! — rebato.
— Sim, nós fodemos igual coelhos por aqui.
Arregalo os meus olhos e a minha indignação o diverte. Mais uma vez o cara
conseguiu me deixar de boca aberta com a sua falta de vergonha, ninguém no trabalho
acreditaria nisso se contasse.
Mas aí eu lembro… Não tenho mais trabalho. Consegui acabar com o meu
cargo dos sonhos num erro de principiante.
— C-coelhos fodem rápido demais e logo acabam. Não é uma boa
comparação, besta! — Consigo responder tarde demais e ainda gaguejo.
— Desça quando quiser jantar — Ignora a minha fala e dá de ombros, depois
sai pisando firme e sujando o chão de terra.
Com certeza Harvey tem uma empregada para limpar aquele piso, senão já
estaria vivendo em um chiqueiro completo.
Alex
Seco um pouco mais meus cabelos e puxo a toalha macia para baixo ao me
sentir satisfeita. Contudo, encontro algo muito interessante, é um bordado em azul no
cantinho do pano branco “S&H”.
Essa insígnia… é do tipo que a minha avó fazia para enxovais de recém-
casados e dava como presente. H devia ser para Harvey e S só pode ser para… a sua
esposa! O que aquele cowboy safado está tramando? Fazendo todas essas
brincadeiras comigo cheias de conotação sexual como se não fosse comprometido? E
onde está essa mulher?
Com certeza me sentiria muito mal se fosse casada com alguém que ficasse
dando toda essa liberdade para outras pessoas.
Desço batendo os pés até o térreo, pronta para enfrentá-lo e entender a
situação, no entanto, sou contida pela vergonha de olhar para o meu primo de
segundo grau sentado no sofá junto ao grandalhão assistindo TV. A forma retraída e
calada que o garoto toma ao reparar na minha presença, deixa tudo pior.
— Tem ensopado de carne na panela e pão de milho no forno, é só se servir
— diz Harvey, sem desviar a atenção do jogo de basquete.
Engulo em seco as minhas reclamações e sigo rapidamente para a cozinha
pequena, que é praticamente o mesmo cômodo que a sala, apenas separada por uma
bancada. Localizo um prato fundo que preencho com o ensopado estranho, pego
também dois pãezinhos e não sei mais o que fazer agora que tenho meu prato
montado.
Não tem nem sinal de uma mesa por aqui e eu poderia me apertar em seu sofá
de três lugares do lado daquele brutamontes, ou comer de pé bem aqui.
— Ô, Harvey. — Chamo o seu nome baixo, na esperança de que me ouça sem
eu ter que gritar.
O homem para de fitar o jogo na televisão e me dá atenção depois de algumas
tentativas, e ao perceber qual é o meu problema, fornece uma péssima solução.
— Senta aqui, morena! — Dá dois tapinhas no assento vago. — A gente mora
no mato, mas não morde não! — berra da sala, e eu acabo tendo que aceitar.
— Ok.
Se me sentar no lugar vago, ficarei do lado do cowboy, as nossas coxas se
encostarão e muito provavelmente o macho dará um jeito de fazer uma interação
estranha e constrangedora comigo, portanto, me acomodo no braço do sofá de
malgrado.
— Essa comida vem lá do hotelzinho na cidade, não precisa ficar com medo
que não vou te envenenar não — provoca, e eu ignoro, só pra dar logo a primeira
colherada, já que estou morrendo de fome.
Surpreendentemente a comida é muito gostosa e bem temperada, com um
caldo que desce tão leve e quente pela minha garganta, que quase choro de emoção.
Estou faminta e devoro tudo em pouquíssimos minutos, passando o pão em cada lugar
do prato.
Agora a minha barriga está cheia, então relaxo e me recosto um pouco, o sono
até bate em mim, porém, logo me sinto observada e reparo nos dois pares de olhos
horrorizados com a velocidade com que consegui jantar.
— Você não fale nada, Harvey — digo de mau humor só para o homem, já
que o menino não tem nada a ver com o nosso problema. — Não tô a fim de ouvir
nenhum piu seu agora! — Ainda estou brava com a pegadinha do banheiro.
O cowboy responde com um movimento imitando um zíper que fecha a sua
boca, mas percebo que está segurando um sorriso. Imbecil.
Todos ficamos em silêncio depois disso, por vários minutos que são
preenchidos pelo som da televisão barulhenta, até que começam os comerciais.
— Meu tio Harvey disse que você é minha parente. — O menino finalmente
toma coragem de falar, ainda parecendo muito desconfortável.
— É, acho que sim. Quem são seus pais?
Fica pálido no mesmo instante e morde o lábio inferior nervosamente. E
Harvey, por sua vez, me fuzila com os olhos e faz que não com a cabeça. Entendo o
recado e mantenho meu bico fechado por agora.
O jogo de futebol retorna do intervalo e os dois voltam a se distrair enquanto
torcem, já eu prefiro ir para a cozinha lavar a louça suja. É o mínimo que posso fazer
depois de tudo, mesmo que o grandalhão não seja um exemplo de hospitalidade.
— Derick é filho do Jimmy, que morreu, Alexandra — diz num tom baixo
atrás de mim, e me assusta novamente com seus passos leves. — Foi um acidente de
jipe há seis meses, estava chovendo muito, como agora.
Torço meu pescoço e olho para ele sem saber o que fazer. Sua postura é de
derrota, os ombros fortes baixos e lábios pressionados um no outro numa linha reta
de tristeza.
— Ninguém me avisou disso. — Sinto uma dor horrível no peito.
Jimmy era um homem incrível, engenhoso, compreensivo. Desde pequeno
nunca se deixou abater pelos problemas da vida, e depois de crescidos sempre me
apoiou sem me julgar. Era o meu primo preferido, mesmo que nos víssemos
raramente.
— Todo mundo ficou cansado de tentar falar com você, até eu tentei contato,
na leitura do testamento da sua avó, e nada — sussurra, e sinto o golpe de suas
palavras. — Não aparece aqui há anos, não pode esperar que as pessoas façam tudo
por você.
Ele está magoado comigo por conta da minha avó?
— Não quero falar sobre isso. — Desvio logo dessa conversa e volto a lavar
a louça.
As minhas mãos tremem. Um mundo sem Jimmy parece errado demais.
— Derick ainda tem a mãe dele, Katherine, que está muito deprimida e não
consegue lhe dar atenção o bastante. Acredito que sou o mais próximo que o garoto
tem de pai agora.
— Entendi… — sussurro, sem saber como continuar a conversa.
Aos seus olhos, eu sou uma ingrata que abandonou a avó doente, e para falar
a verdade… É melhor que fique assim. Na minha concepção, é melhor parecer uma
ingrata, que uma coitada.
Harvey espirra alto de repente.
— Posso fazer um chá para gripe, se quiser — mudo de assunto. Não quero
falar sobre morte.
— Se você achar algum ingrediente para isso na minha geladeira. — Dá de
ombros e tenta voltar pra sala.
Mas me lembro de algo importante que queria perguntar e o seguro pelo
antebraço, cheio de veias e pelos escuros. Harvey olha para mim com suas írises
castanhas compenetrantes sem entender nada e consegue fazer com que me sinta
pequena, ainda mais, então largo o homem.
— A toalha que você me deu agora a pouco, é do mesmo tipo dos enxovais de
casamento da minha avó. Você é casado? — É importante que eu saiba disso, afinal o
cara está sendo um baita de um safado comigo.
— Não — responde, numa velocidade que não sei bem dizer se é porque é
verdade ou está só negando o mais rápido que consegue.
— Tem certeza?
Harvey sorri sarcástico, e eu molho os meus lábios secos.
— Tenho certeza de que não sou casado, Alexandra.
— E o quarto de bebê que vi, é de quem? — Essa pergunta parece atingi-lo
de verdade, pois contrai o rosto de forma dolorida.
— Eu também não quero falar sobre isso. — Joga a mesma carta que usei
agora há pouco. — E não pense que vai se safar do nosso trato, você vai me dar o
que é meu assim que Derick dormir, e não adianta espernear.
Diz isso como se quisesse desesperadamente tirar a minha atenção do quarto
de bebê e do seu suposto casamento, e vou te falar que conseguiu!
Assim que se retira, reviro a cozinha atrás de qualquer coisa que possa me
ajudar, nem que seja comida estragada para lhe dar diarreia. Localizo gengibre, mel e
uísque, componentes do chá para gripe que minha avó fazia e que esconderia o
primeiro veneno que encontrasse naquele lugar para colocar misturado à bebida.
Jogo tudo dentro da panela com um pouco de água e começo a remexer, sem
ter ideia do que estou fazendo, e depois que tudo fica pronto, vou guardar os
ingredientes rezando para encontrar algo decente para a minha “poção” funcionar.
Sorte a minha é que ao abrir o armário de bebidas, encontro uma garrafa
antiga, que me leva direto para a minha infância e soluciona os meus problemas.
Sempre que dona Agnes queria todo mundo na cama, porque ela já não aguentava
mais um bando de crianças gritalhonas na sua orelha, fazia chá com aquela bebida
doce e a gente dormia e babava por horas e horas seguidas.
O cowboy nem abriu o recipiente de vidro, ainda com um laço vermelho de
presente enrolado na sua tampa, que giro bem devagarinho para não fazer barulho ao
romper o lacre, despejo um monte na minha mistura estranha e depois adiciono mais
mel para disfarçar o gosto.
Levo para sala um copo cheio para Harvey do meu “xarope” e só uns 50ml
para a criança. O único que eu quero matar ali é o taradão.
— Aqui, para você não ficar gripado.
Entrego para cada um deles as suas respectivas partes.
— Esse negócio tá com cheiro estranho, Alexandra. — Logo o homem acusa
que tem algo de errado e eu fico gelada por dentro. — O que você botou aí dentro?
— pergunta, desconfiado, ainda olhando para a TV.
— Um pouco de uísque, é bom para a garganta — minto, ele torce o nariz,
mas aceita o copo e vira tudo com uma facilidade assombrosa.
Espero mais ou menos meia hora, pacientemente. Tiro o pó de cada superfície
no lugar e fuço a sua geladeira, porque é a única coisa que tenho para fazer, até
escutar um ronco alto vindo dos dois.
— Alexandra um, Harvey bonitão zero!
Faço uma pequena dancinha da vitória cheia de piruetas, e dou uma espiada
nos meus pacientes. Os dois estão dormindo bem grudadinhos e com as bocas
abertas, o que me faz suspirar cansada, lembrando de Jimmy ao constatar como
Derick é parecido com o pai, porém, não me deixo abater pela tristeza.
Quando a guerra estiver ganha, aí sim poderei sentar e reclamar dos
acontecimentos ruins das batalhas, como o meu pai mesmo dizia. Agora só quero
dormir em paz, sem pensar no meu amontoado de problemas.
Subo as escadas correndo e pulo na cama macia de Harvey. Tudo em volta de
mim, cheira ao homem, exceto que aqui o aroma de seu perfume masculino é mais
presente. É como se o cowboy estivesse bem aqui me abraçando, como ninguém me
abraça há tanto tempo…
Acordo sem ter a menor noção de que horas são e sinto muita dor nas costas.
Devo ter desmaiado de cansaço. Preguiçosamente começo a me esticar, estendendo o
meu corpo, e abro os olhos, enquanto algumas coisas fazem cócegas na minha pele. O
que é isso? Essas coisas verdes e que pinicam. Isso é… Grama?! É muita grama, não
é? Muita mesmo!
O filho da puta, desgraçado, me jogou no meio do pasto!
À minha frente se estende um grande aberto de quilômetros e quilômetros de
puro mato verde vivo. Dessa forma é construída uma paisagem bonita, como naqueles
quadros que as pessoas penduram nas suas salas de estar, exemplificando o campo
em seu auge, que parece agradável e quente, mas só parecem mesmo. Na realidade
estou congelando!
Meus dentes batem e o meu corpo treme, seja pelo estresse ou pelo frio.
— Porra, ele está de brincadeira, não está? — A roupa que roubei de Harvey
grudou gelada e sujou de terra em algumas partes.
Cerro as minhas pálpebras e tento controlar meus nervos enquanto estapeio as
minhas coxas arrepiadas e vermelhas, para ver se me ajudava em algo, depois fecho
os meus punhos firmemente ao lado do meu corpo e xingo muito.
— Aquele cowboy tarado teve a pachorra de fazer isso comigo?! Teve a
coragem de me largar debaixo de uma árvore qualquer, completamente sozinha?! Sem
nenhuma ajuda!
E como conseguiu me colocar ali e eu nem sentir nada? Como?! Devia estar
realmente muito cansada para não notar uma mula daquela me carregando para tão
longe, já que não vejo nem sinal de sua casinha.
De onde tirou tanta força também? Nenhum namorado meu teve sucesso em
levantar muito mais do que uma perna minha. Que tipo de anabolizante doido está
tomando? De cavalo?!
Resmungo mais reclamações e me levanto lentamente do chão, porém, perco
o equilíbrio, deslizo de volta e consigo me sujar mais. Fui jogada numa parte difícil
de ficar de pé.
— Inferno! — grito, e me preparo para tentar de novo, quando as minhas
mãos tateiam algo estranho.
É um par de botas rústico, de couro castanho-claro e cano curto, que o homem
deve ter colocado ali. Compaixão após ter me ferrado? Não sei. Analiso de perto o
objeto e tento enfiar nos meus pés depois. No entanto, a delicadeza e feminilidade do
sapato me fazem perceber que o objeto só pode ser de uma mulher.
Talvez seja da esposa que negou existir, traidor filho da mãe! Provavelmente
o grandalhão só os deu para mim, pois assim terei sola no pé para caminhar até sua
casa e chorar por ajuda. Mas isso não vai ficar assim!
Começo logo a minha marcha pelos campos para localizar Berty e sair dessa
roça o mais rápido possível
— Eu vou sair desse lugar e nunca mais volto! — Ando apressada, com medo
de topar com alguma vaca que possa surgir pastando por aqui.
Tenho pavor de cavalo e de qualquer animal gigante desses, porém, incluo os
pequenos como galinhas, galos, ovelhas e bodes na lista negra também. Se tem um
bico afiado, ou muitos dentes na boca que poderiam facilmente arrancar um pedaço
de mim, então tenho medo.
No entanto, animais normais não me apavoram, gatos e cachorros, por
exemplo, não são uma ameaça. Não me lembro desde quando tenho medo desse tipo
de bicho, mas só de imaginar já me vem um calafrio descendo a espinha.
Conforme caminho, cada vez mais suada, cansada e tonta de fome, percebo
que já visitei essa área antes e que a estrada principal, onde Berty está, fica para o
lado do celeiro maior no horizonte que finalmente surge.
A minha barriga ronca, o meu cabelo parece se levantar em todas as posições
possíveis, e a lama secou no meu rosto e nas minhas pernas. Se em alguma vida
passada fiz algo de errado, estou pagando agora.
— Vou matar, Harvey, aquele safado! — esbravejo para o nada. — Vou cortar
os dedos dele fora e fazer um chaveiro!
Pelo calor que começa a fazer agora, já deve ser a hora do almoço e ainda
não tem nenhuma construção realmente perto ao meu redor, mesmo que tenha andado
bastante. A vegetação só fica mais densa conforme chego perto do celeiro maior.
Mas o meu humor também não melhora nem um pouco ao ver o mato acabar e
um paredão de árvores surgir. É a floresta que a minha avó falava para nunca
entrarmos sozinha, e que nenhuma criança obedecia.
Alex
Não chega a ser muito grande, está mais para bosque que para floresta, pelo
que me lembro, contudo, parece um labirinto às vezes para os que não conhecem.
Pelo que sei existe a opção de contornar até a estrada, no entanto, isso leva muitas
horas e até lá já estarei desidratada e morta.
Que porra o homem estava pensando? Se queria mesmo me matar, era só ter
feito enquanto eu dormia, não precisava me largar sozinha por aqui!
Porém, pensar sobre isso faz um sininho de memórias infantis tocar na minha
cabeça, que pode ser o motivo pelo qual ele está se vingando assim. Não me lembro
ao certo quando foi, pois Harvey parecia ter povoado toda a parte da infância que
passei no interior, mas num dia qualquer, há muitos anos, meus primos e eu
inventamos de fazer uma noite de fogueira e histórias de terror no pátio da casa da
nossa avó.
Sentamos eu e aquela penca de garotos ao redor do fogo e começamos.
Jimmy, como sempre, quis ser o primeiro e contou uma história qualquer boba de
fantasma que não assustou ninguém.
Já a história que escolhi era mais pesada, sobre uma senhora que conseguia
trocar de corpos com as crianças, fazendo então com que ela entrasse no corpo jovem
e eles no corpo velho.
Todos os meninos ficaram aterrorizados, inclusive o projeto de cowboy
safado, que na época começou a tremer e fez até xixi nas calças. Jimmy tentou ajudar
seu melhor amigo, mas não teve jeito, Harvey não podia ver uma pessoa mais velha
que saía correndo. A minha avó era uma dessas.
Teve tanto medo que quando todos nós viemos brincar nesse mesmo pasto que
acabei de andar, me recordo agora, Harvey viu a dentadura da minha avó cair no
chão e eu disse ao garoto que era porque ela estava apodrecendo e que em pouco
tempo tomaria o corpo dele.
Ele fugiu e correu para dentro dessa floresta que ando neste momento, e
tivemos que procurá-lo por um dia inteiro. Quando o encontramos, o coitado estava
em um estado deplorável. Harvey deve ter guardado mágoa disso até hoje e por isso
fez essa brincadeira idiota, porque é um bobo infantil.
Todo mundo sempre pregou peças uns nos outros, é assim que as crianças do
interior sobrevivem quando não se tem muito o que fazer. Nós éramos livres até
demais no meio dessas paisagens.
Topo o pé fortemente numa pedra, que não notei por estar distraída, e
choramingo de dor. As minhas coxas são grossas demais e assaram para um
vermelhão com feridas, a sola do meu pé arde e as minhas costas estão moídas.
— Merda! Não aguento mais! — berro para mim mesma por um tempo.
Mas não posso fazer corpo mole agora, portanto, apresso o meu passo,
mesmo que doa, antes que apareça algum bicho estranho por aqui, e a minha decisão
de ser mais rápida logo gera frutos, pois consigo localizar a estrada principal depois
de mais alguns passos afobados.
— Ok, Alexandra — continuo falando sozinha. — Agora nós só temos que
decidir para que lado ir. Berty está para a direita ou para a esquerda?
De forma subjetiva escolho a esquerda.
Ando na estrada larga de terra mancando e com as pernas meio abertas, para
não fazer fricção nas minhas assaduras, enquanto penso nas formas conhecidas de se
matar um homem. Harvey morrerá, nem que eu tenha que passar um pouco mais de
tempo nesse lugar!
Sento-me numa cerca meio caída no canto da estrada quando a tontura bate
com mais força, e vejo nuvens de chuva se aproximarem no céu que acinzentou. Que
tipo de praga o cowboy jogou em mim?
Esfrego as mãos no rosto em desespero por um longo tempo, desejando que
isso faça o meu cérebro trabalhar mais rápido.
— Ei! — Escuto alguém gritar do nada e me assusto. Estou tão avoada, que
não ouvi o carro vermelho, dirigido por um homem barbudo, se aproximar.
— Você viu um carro verde-limão em algum lugar por aí?! — É a primeira
coisa que consigo pensar em gritar para o homem de chapéu de cowboy preto e rosto
descontraído.
— Não vi não, dona! Deve estar para a direção contrária — diz, enquanto me
olha de cima a baixo. Como odeio isso! Ainda mais que estou cansada demais para
avaliar com profundidade as suas intenções. — Cê tá perdida é?!
— Não! — Nego sem pensar duas vezes.
Estou com medo da situação e não darei o braço a torcer com tanta
facilidade, mesmo que seja óbvio pelo meu estado atual que essa não é a minha
praia.
— Tem certeza? — Suas duas sobrancelhas grossas arqueiam. — Posso te
dar uma carona e procuramos seu carro juntos, se quiser — oferece, talvez
compadecido de mim.
Mordo os meus lábios secos e penso no que responder ao desconhecido. Ele
pode ser um doido malvado que me levará para qualquer lugar, ou só um louco
bonzinho que não considera duas vezes antes de pegar uma estranha no meio do mato
e oferecer ajuda.
— Aceito… — Acabo cedendo, com meu coração batendo forte e sem
esperanças de durar mais que uma hora sozinha assim. — Mas qual o seu nome? —
questiono, e me aproximo do veículo do homem.
— Logan — responde, e eu arregalo meus olhos, surpreendida. Eu conheço
esse cowboy! É o mijão do meu primo! — E o seu?
— Sou eu, Alexandra! — Dou ênfase no meu nome. Contudo, ele ainda não
parece lembrar — Sua prima da cidade, Alexandra!
— Alex? — pergunta, completamente surpreso — Meu Deus! Você está
mudada, mulher! — Abre um sorriso simpático para mim e eu retribuo. — Entre logo
aí pra gente procurar seu carro.
Vou o mais rápido que minhas pernas e pés machucados permitem para dentro
do carro, bem mais calma que ele é um parente, mesmo que isso não seja garantia de
nada.
— Não acho que mudei. — Faço uma careta e me arrumo no assento
acolchoado. Finalmente um pouco de conforto. — Mas você com certeza cresceu —
digo a frase tentando ser simpática.
Logan é bem diferente de Harvey em alguns pontos e em outros não. Seu
sorriso é menos malicioso, seus olhos são mais de peixe morto e esse cowboy aqui é
menos astucioso que o bonitão que morrerá quando eu o encontrar. Contudo, a pele
do meu primo é também bronzeada e avermelhada pelo sol e o estilo de se vestir é o
mesmo do outro.
— E o que você veio fazer aqui? Não tava trabalhando numa empresa
grande?
— Estava… — Abraço o meu corpo por alguns segundos e depois desisto,
tenho que puxar o vidro da caminhonete para cima, pois algumas gotas de chuva
começam a cair lá fora. — Mas recebi a informação sobre a casa da vó, aí vim ver o
que aconteceu… — Encubro a parte complicada da narrativa. — Mas parece que foi
leiloada.
— É… — Concorda com a cabeça. — Ninguém conseguia te encontrar para
dar a notícia — explica, e continua dirigindo conforme a chuva aperta. Se Logan não
tivesse aparecido, teria tomado todo esse banho e talvez não sobrasse Alexandra
para contar história no dia seguinte.
— Entendo.
— Mas é que você saía fugida daqui todo fim de férias também. Parecia que
tinha alergia dos caipiras! — Ri expansivamente, e prefiro não comentar.
— Sabe por que ela deixou a casa para mim? Se todo mundo sabe que não
sou fã do campo. — Aperto os meus dedos nervosamente aguardando a resposta.
Falar sobre família me deixa assim, principalmente sobre a grande briga que
sempre foi, eu preferir ficar na cidade. Mesmo que não admitisse em voz alta, fugi
sim do campo, e tudo porque queria ser grande, muito grande. Queria brilhar e fazer
tudo diferente.
Ficar em Vila Velha me lembra como sou pequena e fraca, então foi melhor
manter distância.
— Não sei direito o motivo pelo qual ela te deixou a casa. — Aperta os
olhos, como se tentasse se lembrar. — Acho que uma vez ouvi ela dizer que era
porque toda mulher tem que ter a casa própria, para não depender de homem. —
Logan dá um pequeno sorriso ao perceber que me surpreendeu.
— Isso foi muito gentil da parte dela…
Mais uma vez sou atingida pelo entendimento do quão maravilhosa a minha
avó era, e me faz ter ainda mais certeza de que entenderia o meu não retorno para o
interior desde que iniciei a faculdade, instintivamente ela sabia que isso me
machucaria muito.
— Mas se eu fosse você, perguntaria pro Harvey. Eles dois eram bem
grudados, pareciam até parentes — murmura. A minha avó adorava aquele sem noção
mesmo. — E como anda a vida, Alex? Alguma novidade?
— Não… nenhuma. — Dou um sorriso educado e esqueço de retribuir a
pergunta.
— Nem na vida amorosa? — pergunta, sorrateiro.
Antes que eu responda, Logan acha que é o momento apropriado para
começar o seu flerte. Claro que não está me dando uma carona por seu grande e bom
coração! A maioria dos homens é sempre assim. Então coloca sua mão não desejada
na minha coxa e aperta com intimidade
— Nada de novo, não que isso seja da sua conta. — Ao invés de mentir que
tenho um relacionamento e tentar me proteger de um macho com outro macho, prefiro
não deixar barato. — É melhor ficar sozinha do que ter um traste como você. —
Belisco forte as costas de sua palma e ele dá um pulo do seu assento com a dor
repentina.
— Ai, Alexandra! — Praticamente tento arrancar sua pele fora. — Desculpa!
Desculpa! Agora me solta!
Seu corpo se afasta do meu conforme murmura “mulher braba”.
— E se tentar de novo vai ser pior! — aviso, sem receio algum do que possa
pensar de mim. Pouco me importa que o idiota me ache um “dragão” ou uma
“cavala”, como já fui chamada.
O problema é que às vezes você tem que escolher entre responder a altura ou
ficar calada e segura, é uma pena que sempre fiz tudo no impulso e geralmente ficava
com a opção mais perigosa.
Para tentar me distrair do pequeno ódio que comecei a cultivar por ele, Logan
liga o rádio numa estação local que toca música country. “Vocês gostaram dessa
música nova de Caius Ryan? O homem está seguindo direitinho os caminhos do pai!
Aproveitem que já, já tem mais! E agora uma mensagem importante: “Harvey Miller
procura por Alexandra Stewart! Repito, Harvey Miller procura por Alexandra
Stewart!”
Arregalo meus olhos, surpresa demais com isso.
“A moça está perdida entre os campos do sul e o lago menor, muito
provavelmente deve ter chegado até a estrada principal. Se alguém tiver visto uma
mulher branca, de longos cabelos negros, estatura baixa e olhos castanhos vagando
sozinha, por favor, avisem a rádio!”
— Por que Harvey está procurando por você? — O cowboy sem-vergonha é
o primeiro que consegue ter alguma reação, já que ainda estou desacreditada.
— Não sei, ele me ajudou ontem porque fiquei presa em um atoleiro. —
Prefiro continuar omitindo a razão do idiota ter me deixado no meio do pasto,
sozinha, depois de eu tê-lo dopado com “chá”. — Acho que esqueci algo em sua
casa, provavelmente… — Dou de ombros.
Pelo menos Logan não contesta a história toda esburacada e mentirosa
contada por mim depois e dirige até mais rápido em direção a Berty, que logo
aparece. Mas o meu coração fica destruído ao reparar no seu estado, mais deplorável
do que nunca. A janela da frente ficou aberta após o meu resgate e a janela de trás
que já estava quebrada, ajudou a molhar literalmente tudo lá dentro.
Logan me auxilia com as minhas roupas e meus pertences, e com um rosto
emburrado joga tudo dentro de uma sacola plástica forte. Obviamente não tenho mais
o meu celular ou notebook de segunda mão depois de toda essa molhaceira, estou no
meio do nada e sem contato com o mundo exterior.
O estrago foi grande, no entanto, poderia ter sido pior. Sempre fui prevenida
e enviava tudo de importante para o e-mail, então com isso não preciso me
preocupar. Contudo, o carro está ainda mais atolado que no outro dia. Como
consertarei isso, meu Deus?!
— Alexandra, deixa isso aí. — Logan chama enquanto pula para dentro do
seu veículo. — A gente fechou isso o melhor que deu, amanhã você chama o Mike
para buscar com o guincho. Se bem que olhando o estado disso… Não sei não, hein...
— Nem pense nisso! Berty é minha e não vai ser tratada como um monte de
lixo só porque não está novinha — digo, mais sentimental do que deveria.
O meu primo parece notar que não adiantará discutir.
— Tudo bem, tudo bem. — Levanta as mãos para o ar como quem se rende e
acaba me dando mais alguns minutos, até que eu me despeça, prometendo voltar para
pegá-la, e depois retorno para o meu assento na caminhonete dele. — Bom, agora nós
vamos passar no Harvey.
Sinto um calafrio conforme o carro entra em movimento.
— Você não consegue mandar uma mensagem avisando que me achou e
depois me levar para algum hotelzinho na cidade? Tenho dinheiro no banco para
pagar a minha estadia. — Não tenho um centavo no banco! E já até desisti da minha
vingança. Só quero paz.
— Na verdade, eu já estava indo lá pegar Derick, o filho de Jimmy. Preciso
passar na casa de Harvey de qualquer jeito — explica, e me faz engolir em seco. —
A mãe do menino, Katherine, está com saudade dele, então vim buscá-lo — alega, e
fico sem argumentos.
E lá vamos nós, em direção ao carrasco que me jogou no meio do mato! Que
por acaso, está me esperando na porta de sua casa com os braços cruzados na frente
do corpo e o peito inflado assim que Logan termina de dirigir pelo caminho rural.
Harvey com certeza faz isso só para mostrar os músculos! Se bem que até sem
flexionar já aparecem bem grandes…
— Achei que estava morta! — diz, com um meio-sorriso na boca que não
alcança os olhos frios. — Não deu notícias e agora se juntou com esse?! — Aponta
incrédulo para Logan.
Está bravo comigo? Sério? Logo o filho da puta que me largou no meio do
mato? E como raios eu daria notícias? Com sinal de fumaça?!
— Se não estou morta, não é graças a você! — esbravejo, e continuo sentada
em segurança na caminhonete. O meu cansaço é maior que meu ódio agora. — Vamos
ver a sua mãe, Derick. Entre aqui! — Chamo o menino pálido com uma mochila nas
costas, que foi todo arrumado por seu tio.
— Você pensa que vai para onde, Alexandra?! — Harvey grita comigo como
se eu fosse um animal para obedecê-lo, caminha bravo batendo suas botas de couro
até mim, puxa o pino e abre a porta do veículo.
— O que você está fazendo? Pare agora! — ordeno, desesperada.
Reparo nas suas roupas, calça jeans folgada nas coxas grossas e uma regata
branca, deixando os pelos de seu peito largo à mostra. Merda! Para conseguir brigar,
tenho que parar de babar em cima dele!
— O que você pensa que está fazendo, Alex? — pergunta, e eu me atrapalho
toda com a quentura que sobe no meu corpo ao ser tocada pelo homem que me puxa
para fora.
— Logan, me ajuda! — suplico — Você não pode fazer isso, Harvey! Não
pode agarrar uma pessoa assim! — grito, e o primo do meu lado olha para mim e
sacode a cabeça em negativa. O idiota de chapéu preto não faz nada enquanto o outro
me arrasta casa adentro, novamente como um saco de batatas
— Pare de se mexer! — ordena, e sua respiração fica pesada, já que está
tentando me imobilizar com aquelas mãos grandes e eu não dou sossego nem a pau.
Não aceitarei ser tratada assim. — Parece um bicho do mato, mulher! — O
grandalhão bate à porta fechada com uma força inigualável e me larga brutalmente no
sofá de peles.
Alex
— Quero ir embora! — exclamo, e ele me segura de maneira possessiva pela
minha cintura para que eu não saia correndo. Vejo pela janela da sala o carro
vermelho lá fora, dirigindo para longe o mais rápido que consegue. — Merda,
Harvey! O que você está fazendo?
— Você está ficando maluca, Alexandra? Por que não falou comigo pelo
radinho? Tentei contato o dia todo! — Deixa transparecer o seu nervosismo agora
que estamos sozinhos.
— Que porra de radinho?! — Consigo me colocar de pé, pronta para a ação
caso continue tentando me arrastar por aí.
— Deixei a merda de um rádio do seu lado com um bilhete e as botas, mesmo
que você tenha feito a safadeza de me colocar pra dormir! — Avermelha cada vez
mais e as veias de seu pescoço saltam, ao perceber que não vi nada disso. — Era
para você me contactar, só te joguei lá para te dar um susto! Eu e Derick te
procuramos o dia todo, por todos os lugares perto da onde te deixei!
— O quê?!
— Mandei mensagem para todo mundo que conheço atrás de você! — Ele
parece invocar a chuva forte de tanto que berra.
— Mas não vi porra de rádio nenhum e nem de bilhete! Se você deixou algo
assim do meu lado, já tomou chuva pra cacete.
— Você deixou o meu melhor rádio no mato, Alexandra?! Paguei caro
naquilo! — Continua querendo me intimidar e eu não deixo.
— Quem deixou a merda do rádio no meio do mato foi você! — Cruzo os
braços na frente do peito. — E você vai me levar pra cidade quando? Não entendi
até agora porque me agarrou para ficar!
— Uma porra que você vai para cidade! — Aponta um dedo grosso na minha
cara. — Não deve ter um centavo no bolso se voltou para cá. Ainda mais pegando
carona com o sem-vergonha do Logan.
— E o que você tá falando? — O fato de ele saber que meu primo é um sem
noção me dá calafrios. Logan poderia ter feito mais que só tocado minha coxa, agora
que paro para pensar. — O que é que você quer, Harvey? Pra que me agarrou? Para
que fique na sua casa?
— Talvez… Você não parece ter muitas opções agora. — Dá de ombros.
— Quer que eu seja a sua inquilina ou alguma bosta pervertida? Ou por acaso
vai me oferecer um empréstimo? — Meu coração dispara com o olhar malicioso
dele.
— Sim, exatamente esse tipo de merda pervertida que quero com você, Alex
— ironiza minha fala. — Você pode trabalhar para mim e ficar aqui em casa até
arranjar dinheiro para voltar para cidade grande, é pegar ou largar. — O cowboy
parece muito sério de uma hora para outra.
— E por que eu faria isso? — Arqueio uma sobrancelha.
— A Alexandra que conheço nunca viria para o meio do mato assim do nada,
se não estivesse realmente quebrada, então vou te ajudar em troca do que a sua avó já
fez por mim.
A intimidade é uma merda! Parece que sou uma sem-teto quando fala assim.
— E que tipo de trabalho vou fazer? Já aviso que me recuso a mexer com
bicho! — Balanço a cabeça negativamente e finjo desinteresse, mesmo que nesse
momento Harvey seja a minha corda da salvação.
Ficar numa casa cheia de quartos e com um banheiro maravilhoso parece
ótimo, se pudesse remover o dono da equação, claro.
— Seja babá do Derick para ele conseguir passar mais tempo aqui, tenho
meus próprios problemas para tratar e não dá para ficar de olho no garoto durante o
dia, e acredite, o pestinha pode ser muito atentado quando quer.
Harvey parece até um fazendeiro de negócios quando se porta assim, e não
um cara grosseiro e idiota que quase me matou!
— Você acha mesmo que vou aceitar ficar aqui, com você fungando o meu
cangote? E ainda por cima cuidando de uma peste? — Semicerro meus olhos e acabo
me lembrando de outro detalhe importante. — E essas botas que você me deu são
femininas! De quem são, hein? Da sua esposa?
— Já disse que não sou casado! Essas são botas que dei para Honey, a minha
vizinha mais próxima, só que nunca usou porque é do tamanho errado e ela não foi
trocar. — Tenta se explicar, mas não sei se caio nessa.
— Sei…
— Tenho várias coisas para fazer e não passo tanto tempo em casa,
Alexandra. As aulas já estão para começar, e preciso arranjar isso logo. Em troca
você recebe uma casa para ficar e todas as refeições que puder preparar. Não vou
cozinhar para você, madame. — Os olhos castanhos brilham com astúcia.
— E como ele vai para escola morando no meio do mato?
O outro mostra os dentes para mim numa careta fingida de sorriso.
— Vou arrumar a sua lata velha e você o levará todos os dias. Construíram
uma escola boa que fica perto daqui de casa. Negócio fechado? — Estica sua grande
mão, esperando por um aperto
Não tenho escolha de verdade, tenho?
— Ok — concordo e aceito sua palma, que cobre a minha num toque quente e
áspero.
— Mas… — Ele molha o lábio inferior numa lambida rápida, cheia de fome.
— Só aceito mesmo você como minha inquilina e babá do menino, se cumprir o
nosso trato — revela o espertalhão.
Claro que estava bom demais para ser verdade!
— Você não se sente nenhum pouco envergonhado em ser um puta pervertido
de merda?! — Tiro a minha palma da sua e me afasto.
— Vou mudar os termos para você, adaptaremos à promessa para o nosso
momento atual. — Passa a mão no queixo barbado. Desse jeito parece ainda mais
arrebatador em sua beleza, quente e sério.
Deve ter sido o dia todo caminhando no sol, sem comida e sem água, pois sou
hipnotizada pela boca avermelhada e acabo tendo que apertar as minhas coxas juntas
num pulsar estranho que vem. Isso dói um pouco devido às assaduras criadas no
excesso de fricção.
— Não vai ser para outra pessoa, vai ser para mim, Alex — murmura, e
minha respiração acelera. — Você pode comer primeiro e se lavar, mas depois quero
o meu pagamento.
Após um banho demorado, feito pra enrolar o máximo possível, recebo uma
nova e limpa samba-canção de Harvey, regata e camisa de botões, exatamente o que
eu usava antes, já que não tem um guarda-roupa muito variado por aqui. Só faltou um
chapéu de cowboy dos que vi pendurados na parede pra completar o look e quem
sabe uma fivela para isso ficar mais country.
As minhas roupas acabaram esquecidas na caminhonete de Logan, e sim,
infelizmente verei aquele sem noção novamente se não quiser viver usando esses
modelitos alternativos.
O grandalhão preparou panquecas rápidas e chá para tomarmos, dizendo que
estou pálida e parecendo que vou desmaiar, respondo-lhe que talvez se não estivesse
me cobrando algo tão idiota, ficaria melhor. Ele ignora e eu mastigo cada pedaço da
refeição como se fosse areia em minha boca, só imaginando a humilhação que virá
adiante.
— Você nem sequer lembra o que aconteceu, lembra? — pergunta, indignado,
e eu fecho o rosto. — E não faz essa sua cara feia pra mim não, que não funciona
mais!
— Que cara feia? — Estreito mais os meus olhos.
— Quando tá brava, faz uma careta que a gente chamava de “Cara de
Alexandra”. Quer dizer que você está pronta pra dar coice! — exclama, e me faz
largar a última panqueca no prato, cheia de raiva. — Já acabou de comer, então? —
questiona, e vai puxando o prato do meu colo sem a menor cerimônia, leva para a
cozinha e despeja a louça na pia.
— Idiota! — esbravejo por ter sido comparada com um bicho e pulo fora de
seu sofá.
Sinto-me mais protegida ao saber que não estaremos grudados coxa com coxa
quando voltar.
Eu ainda acredito que o grandalhão não fará mal a mim fisicamente, não é por
isso que estou me afastando, e sim porque meu psicológico só pode estar muito
abalado para que me sinta tão inclinada àquele homem. Fantasiando com seus dedos,
que tenho certeza de que têm calos após tanto trabalho na roça, tocando meu corpo e
me fazendo esquecer até o meu nome.
O cowboy não comenta nada ao retornar para sala e me observar de pé.
Alheio aos meus pensamentos, apenas se senta no sofá de peles e sua calça jeans
forma um bolo alto no seu colo. Fico encarando e tentando entender se é só tecido ou
tem algo a mais por baixo, contudo, Harvey me chuta fora da minha mente pervertida
e que Deus me perdoe! Porque acho que aquilo ali tudo é volume!
— Vou perguntar de novo… Você lembra qual foi a minha parte do trato, para
que você fizesse o meu trabalho de literatura? — É autoritário e pronuncia cada
palavra pausadamente, o que faz descer um calafrio pela minha nuca.
— Sim.
Se eu parecer inocente, será que terá pena de mim? Tento até me encolher e
pisco algumas vezes, feito uma bonequinha, balançando os quadris levemente,
testando a sua simpatia por mim.
— Você me desafiou a abaixar as calças e mostrar o meu pau no meio do
pátio, na frente do diretor, Alexandra. Todo mundo me viu pelado! — Seu pescoço
engrossa de raiva. — Eu fui expulso!
Mordo meu lábio inferior com força. Merda!
— M-ma... — Começo a tentar replicar e ele não deixa.
É… Inocente não vai rolar não.
— A minha mãe foi chamada na diretoria. Saiu de casa para chegar à escola e
um cara falar que o filho dela era um pervertido. Joana era da igreja! — O cowboy
continua sentado, no entanto, sinto que se pudesse pularia e me esganaria bem ali.
— Mas não fiz p… — Tento falar de novo e mais uma vez não consigo.
— Ela me fez tomar banho de água benta. Foi tudo uma porra!
Seguro uma risada histérica que tenta sair pela minha boca e quase engasgo
ao imaginar a cena dele de roupinha branca e transparente tomando banho gelado.
Porém, acabo usando a sua imagem de agora na roupinha e o resultado não é o
esperado…
Porcaria de imaginação pervertida!
— Agora já passou, não tem motivo para ficar bravo.
— O líder da igreja fez um inferno da minha vida, falou que eu estava com a
“praga do homossexualismo”. E você pare de rir, sua desgraçada! — Percebe que
estou engasgada com uma risada, que não consigo mais segurar e solto logo.
Coloco as mãos nos joelhos e rio alto, tanto porque acho graça, mas também
por nervoso.
— B-bom… — gaguejo ao me esforçar para parar e puxo uma respiração
longa. — Nós não temos nenhum diretor por aqui e eu não tenho um pau para te
mostrar, Harvey! — Dou de ombros aliviada.
Contudo, a minha fala que deveria desafiá-lo, na verdade, o faz ficar mais
calmo e relaxado no sofá. Isso é sinal de perigo. É um grande e luminoso sinal
vermelho!
— Não, amor, você não tem um pau. — Sorri irônico e alonga um pouco os
ombros. Os meus olhos grudam nessa sua parte e agora volto a ser um cachorro
babão. — E nem quero que você mostre nada para ninguém, só para mim. — Passa a
mão no queixo para arrumar a barba grossa, me avaliando como se eu fosse uma égua
e ele algum juiz de merda.
Ter os seus olhos escuros me investigando me faz apertar as coxas
machucadas uma na outra sem querer, mais uma vez, ainda mais que Harvey parece
gostar muito do que está vendo, concluo isso ao ouvir um som baixo de aprovação
em sua garganta.
— Nem fodendo! — Consigo responder depois de rodar a manivela do meu
cérebro para funcionar propriamente.
— Nem disse o que quero ver ainda, Alex. — Agora é o homem quem está
tentando a mansidão.
— Não vou mostrar minha vagina para você, seu pervertido! Nem nos seus
sonhos vou me expor assim, para você tirar sarro de mim! — É a vez de Harvey rir
da minha cara, me dando um flash de dentes retos e brancos e todo o seu charme
descontraído, mesmo que seja um brutamontes.
— Você fala como se já soubesse o meu pedido… — Suas írises deslizam
por mim.
— O que você quer então? Diga logo e pare de rodeios!
Ele limpa a garganta e lambe os lábios para umedecê-los, antes de responder.
— Quero dez minutos para tocar você. — Sua voz sai baixa e resoluta.
— Nem ferrando! — Arregalo meus olhos. O tamanho da sua cara de pau é
inacreditável! — Isso é muito tempo para você fazer todo tipo de merda que quiser
comigo. Vai tirar fotos minhas e espalhar por Vila Velha. Acha que não te conheço,
não? Nós crescemos juntos, você é uma peste tanto quanto eu!
— Não mostraria nada seu para ninguém, meu amor. — Suspira pesado, e
mais uma vez viaja pela imagem do meu corpo com um desejo, que até agora
interpretei só como uma piada de mau gosto e não como real. — Quero oito minutos,
então. — É como se estivesse em um leilão de gado — Sete? — Continua tentando.
— Nenhum minuto, idiota! — Nego com a cabeça e me afasto ainda mais do
grandalhão, grudando minhas costas contra a porta da sala.
— Você não acha justo, princesa? Para mim, parece muito justo.
Abraço o meu corpo mais forte. Sinto-me meio embriagada sem beber
nenhuma gota, respirando com dificuldade ao perceber toda a luxúria contida no
homem. Harvey me deseja mesmo?
— Mas… Isso não é certo! Não faz nem sentido. — Fico boba de como
minha mente se torna limpa de informações e não sai nenhuma argumentação
coerente.
— Eu aceitei as suas condições na época, mesmo sendo expulso da escola.
Você vai ser desonesta se não aceitar as minhas agora… — Dá de ombros — Que tal
cinco minutos? Vou tocar você com carinho. — Carinho? Com aquelas mãos gigantes
e calosas… e aquela boca… e a barba cheia… e…
Meu Deus, o que é que estou pensando?!
— Me fala exatamente a razão de você precisar desses minutos? N-não
entendo por que você pediria isso.
— Você me deixou vulnerável e eu vou pagar na mesma moeda. Essa é a
minha vingança e… quero testar algo — diz o cowboy rouco, o que me embriaga
ainda mais.
— O quê?
— Te conto depois. Trato feito ou não? — Estreita os olhos. — Sempre
cumpro a minha palavra, agora você…
A sua frase sem um final certo, causa uma queimação estranha dentro de mim.
O idiota sabe direitinho como me provocar.
— Só da sua cintura para cima! — balbucio, pois o calor entre as minhas
pernas está entendendo esse trato como “cinco minutos nos braços do gostosão”, e
não cinco minutos de vingança.
Merda, Alex! Por que você tem que ser tão safada e carente?
— Feito! — diz, animado.
— E quando você quer fazer isso? — Procuro manchas imaginárias no chão
para não ter que encará-lo — Pode ser no fim de semana? Agora estou tão cansada…
— Agora, Alexandra, não vou deixar você fazer gracinhas. Sente-se aqui ao
meu lado. — Dá duas batidinhas no assento livre.
Parece até que estou me preparando para ir ao dentista e ter todos os meus
dentes extraídos, ao mesmo tempo que uma grande parte de mim quer muito isso.
— Já?! — Meu coração galopa alto no meu peito e a lógica não funciona
nada bem agora. Não faz sentido e não sei se quero que faça.
— Não quero correr o risco de ser drogado por você de novo — explica,
ironicamente, e me obrigo a sair do lugar e me sentar bem vagarosamente ao seu
lado. — Pode confiar, amor.
— Falar isso não faz de você uma pessoa confiável… — resmungo.
— Olhe para mim — ordena, ignorando a minha reclamação, e eu giro meu
corpo em sua direção, para ser observada de cima.
Reparei que Harvey tem um tom de voz especial usado só para mandar, tanto
em animais, Patrícia, por exemplo, como em pessoas. Funcionou em Derick quando o
garoto estava aqui, e não quero admitir isso em voz alta… Mas funciona bem em mim
também.
— Sabia que a sua avó sempre disse que a gente era um par perfeito?
— É? — pergunto, com uma respiração pesada e atordoada.
— É… — Chega mais perto e o seu peso faz a minha almofada se mover. —
Então quero saber se ela estava certa.
É isso que quer descobrir?! Arregalo os meus olhos que deslizam para o seu
colo sem querer. Não, o volume em sua calça jeans não é só tecido e eu preciso sair
correndo dessa sala antes que as coisas deem errado!
— Vamos contar os cinco minutos, assim você não fala que roubei — avisa,
sem me dar tempo de resposta, depois se levanta bruscamente e pega um cronômetro
usado para cozinhar no cômodo ao lado. Digita cinco minutos e coloca na mesinha de
centro. — Quando você ouvir um bip. — Harvey toca a minha mão de leve e eu me
arrepio mais. — Quer dizer que acabou o tempo.
— O-ok.
A minha consciência continua gritando para que eu corra, mas a minha
curiosidade está me matando para entender o que realmente deseja com tudo isso. Se
quer me comer, era só ter me falado, não precisava de tanto rodeio. Par perfeito deve
ser só mais uma ladainha que homens inventam para fingir romantismo.
— Não fale durante o processo, quero você calada, Alex — diz, o que me
deixa irritada. — Colocarei uma música e você ficará mais calma. — Tira o seu
celular do bolso, escolhe uma música lenta e desconhecida pra mim, depois inicia a
contagem do cronômetro. Deus, estou hiperventilando! — Só confie em mim… —
repete, cauteloso, conforme afasta os meus cabelos ondulados para longe do meu
rosto.
Depois faz algo muito estranho.
Harvey sorri para mim. Um pequeno e carinhoso sorriso.
Alex
— O que você está fazendo? — Borboletas voam soltas e desesperadas na
minha barriga.
Acho que estou quase tremendo de nervoso.
— Te admirando. — Aproxima-se mais, e pouco a pouco afunda o seu rosto
no meu pescoço, onde inala o meu cheiro com uma respiração profunda. Como estou
arrepiada! — Sua fisionomia está praticamente a mesma de anos atrás, não mudou
nada. Descargas elétricas descem pela minha coluna conforme seu toque acontece.
— Não posso dizer o mesmo de você. — Minha frase acaba saindo como um
gemido involuntário. É quase como se Harvey estivesse com saudade de mim e
declarasse isso da sua própria maneira estranha. — Mudou muito mesmo, mal o
reconheci.
— Sim, e você gostou de como eu mudei. Vejo nos seus olhos — provoca, e
mordo meu lábio inferior, sem negar. — É tão difícil chegar até você, Alexandra. —
Seu peitoral largo sobe e desce conforme suga as lufadas de ar em cima da minha
pele sensível. — Sempre tem uma barreira. — A sua voz, que parece um grunhido,
faz mágica no meu corpo superaquecido. — Uma forma de me empurrar.
— Não faça assim — peço, ao senti-lo subir seus lábios e morder a ponta da
minha orelha.
A dor desce por mim numa pontada do tipo que tensiona tudo, então me
agarro em seus dois braços espessos e me aperto contra o homem.
— Você voltou depois de anos e veio parar bem aqui, comigo. — Seus lábios
estão grudados contra o meu ouvido. — Não acho que seja só uma simples
coincidência. Acho que é um sinal para que as coisas entre nós… possam acontecer,
finalmente.
Não quero e não consigo acreditar que é Harvey que está me fazendo querer
subir pelas paredes, além de que, ele não deveria ser romântico nesse momento.
Deveria ser um idiota para me dar força de vontade e empurrá-lo.
— Não faça isso, você está confundindo tudo.
Solto um gritinho fino ao ser puxada firmemente e colocada ainda mais perto
dele. As suas mãos estão por toda parte apertando e me deixando atordoada. Estão na
minha cintura, no meu quadril, esfregando a minha pele febril.
— Não pode me pedir algo assim agora que consegui você, não depois de
tanto tempo. — Tem uma pontada de indignação no seu argumento. — Praticamente
veio parar na minha porta, mesmo sem saber o caminho, e está do mesmo jeitinho da
nossa adolescência.
Nossas respirações estão pesadas e emaranhadas quando a sua boca beija o
caminho abaixo da minha orelha até a minha garganta. Está me acalmando, me
acostumando com o seu toque quente.
— Harvey…
E eu me ofereço, como quem não quer se entregar, mas não consegue evitar
nem os pequenos gemidinhos desesperados. Faz tanto tempo que alguém não me toca
assim, se é que alguma vez alguém já foi tão carinhoso comigo, e por isso que mal
consigo respirar ao reparar na sua boca vindo para a minha, estou atordoada, é muito
pra mim.
Primeiro não me abro e são só seus lábios sobre os meus, contudo, o homem
é paciente e espera até que eu o faça, mas quando lhe dou essa permissão tácita, me
invade com sua língua em segundos e se aprofunda de forma apaixonada como se
esperasse longamente por esse momento.
Harvey solta um gemido grosso de apreciação e me derrete junto. Explora-me
com languidez, me segurando no lugar, deixando que nossas bocas façam sons
obscenos e altos demais para aquela pequena casa no meio dos campos.
Não penso em mais nada, no que é certo ou no que é errado, só me esfrego
debilmente nele enquanto o melhor beijo da minha vida acontece. Sua barba raspa o
meu rosto, sua língua é atrevida, autoritária, assim como ele, mas não quero e nem
consigo resistir.
E quando já estou suando, os seus dedos viajam para baixo e começam a
abrir sua camisa no meu corpo. Meus mamilos se encontram tão tensos que chegam a
doer ao serem levemente tocados.
— Nós nos encaixamos bem até demais e eu vou te dar o que nós dois
precisamos agora, Alex. — O cowboy percebe que é melhor se as nossas diferenças
de altura não o atrapalhe, então sem que eu espere, se ajoelha no chão à minha frente,
entre as minhas pernas. — A verdade é que não consigo parar de pensar no que quero
fazer com você há muito, muito tempo mesmo. — A crueza com que diz isso, me
arranca uma respiração um pouco mais pesada.
— É que é tão confuso pra mim — murmuro, e não nego realmente que
deveríamos continuar, mas parece ser o que ele entendeu.
— Nós nos conhecemos a vida toda, praticamente. Estudamos juntos e nós
brigamos bastante, mas… podemos nos dar bem também, Alex — argumenta,
temendo que eu me levante e vá embora. — Então, se você não quiser, quero que
negue com todas as letras agora. — A sua voz engrossa ainda mais e se aprofunda
num quase rosnado. — Diga que nunca pensou como seria entre nós dois durante o
ensino médio, com você em meus braços, porque eu pensei, e ainda quero isso, agora
mais do que nunca.
Molho o meu lábio inferior nervosamente com a declaração. No ensino
médio, Harvey pensou sobre isso? Mesmo quando eu era uma gótica estranha,
andando de preto num sol de quase quarenta graus?
O grandalhão está parado nos meus pés e me olha como se me adorasse. Suas
pupilas escuras estão dilatadas, sua pele avermelhando, o pescoço com veias
saltadas e pulsando o deixa ainda mais bruto. Como posso dizer não? Como posso
simplesmente decidir largá-lo ali, quando sim, penso muito nas coisas que
poderíamos fazer.
— Então vamos logo!
Ele, graças a Deus, não me dá tempo para repensar a afirmação maluca
enquanto puxa fora a camisa de botões do meu corpo, depois enfia seu rosto no meio
dos meus grandes seios ainda cobertos pela regata que sobra. Seus dedos encontram
e traçam um mamilo eriçado por cima do pano. A sensação é enlouquecedora.
— Isto é meu agora, finalmente — diz, e coloca a língua para fora para
lamber por cima do tecido. Não me dá nem tempo de ficar chocada com o quão
saidinho está sendo. Só me contraio e resfôlego em resposta. — Maravilhosa —
elogia, e pega meus dois peitos, quase transbordando em suas mãos, e os aperta
juntos.
Depois o idiota acredita que é uma boa ideia mordiscar um dos mamilos
excitados, o que me faz resmungar.
— Isso dói, seu besta!
— E você gosta, não gosta? — Engulo em seco e o meu rosto esquenta de
vergonha. — Não minta para mim, os seus gemidos estão gostosos demais para fingir,
Alex. — Então repete o movimento com os dentes, me encarando conforme a dor e o
prazer se misturam. — Você gosta ou não?
— Sim — respondo, com a minha voz afinando, e arqueio minhas costas,
oferecendo mais dos meus seios para o cowboy. Estou mole de desejo. — Porra,
Harvey…
O grandalhão faz questão de colocar bastante saliva no pano fino, assim
consegue ver e abocanhar o máximo possível, fazendo uma outra parte minha também
umedecer bem mais do que deveria.
— Quer que eu te foda agora? — sussurra no meu ouvido ao perceber meus
quadris rebolando sozinhos no sofá. Faço que sim com a cabeça. — Diga em voz
alta, Alexandra. Já que tem a boca suja para me xingar, agora vai usar ela pra me
agradar.
— Sim.
Ele me tira totalmente do sério, seja por tesão ou por raiva.
O seu dedão pressiona por cima do meu clítoris coberto pela cueca samba-
canção e gira vagarosamente, criando pressão o bastante para que eu me remexa para
cima e para baixo.
— Boa, garota, continue assim e logo estarei dentro de você — sussurra,
conforme choramingo por conta das pontadas de prazer que surgem.
Ele parece se divertir muito em me possuir em suas mãos, tão encharcada que
o tecido contra minha vagina faz barulhos. Esfrega-me num ritmo lento, hipnotizador,
que dura o bastante para que eu não note suas intenções ao puxar a minha regata para
cima, me deixando exposta e tensa no mesmo segundo.
— Harvey… — Engulo em seco, com um pouco de medo de sua reação.
Gosto bastante do que tenho, porém, o medo de ouvir alguma merda que entre no meu
subconsciente e seja difícil de arrancar depois ainda existe. — Apenas não diga nada
sobre serem meio… caídos, ok?
Mas ele continua a encarar os meus seios por um tempo e molha seu lábio
inferior, mais faminto do que antes. Meus mamilos são escuros e meus peitos são
grandes, naturais e consideravelmente flácidos.
Não são pequenos como os das modelos que via nas festas das quais
participei para conseguir contatos na empresa, mas quem estava todo animado para
me ver nua foi Harvey, então que se vire se não gostou, o que logo percebo que não é
o caso.
— Acho que vou ter muito o que explorar hoje à noite. — Seu sorriso é
predatório, o homem toca um mamilo com os dedos em pinça e aperta bem mais forte
do que antes, quando os mordisca.
Sem pensar direito, só me estico e dou um tapa rápido em sua orelha. O
grandalhão me assiste atordoado e eu sei que isso quer dizer; “qual o seu problema?”
— Para de apertar essa porra! Você vai ficar brincando ou va… — Começo a
dizer brava, contudo, sou interrompida e ganho um tapa firme na parte interna da
minha coxa.
Isso arde, mas a quase dor desce feito um líquido pro meu ventre e só
intensifica a sensação de vazio.
— Você não vai me dar ordens agora, porque está nas minhas mãos e
encharcada só para mim. Vai ser do meu jeito — diz, antes de voltar a esfregar meu
clítoris e me chupar, provando o seu ponto.
Ter meu mamilo sugado daquele jeito, com os seus lábios rosados em volta
da aréola e a língua quente girando no ponto endurecido, é um tipo de afrodisíaco
quase enlouquecedor. Fez dos meus seios algo dele, e amanhã com certeza terei
marcas por toda parte.
Impulsiono meus quadris contra seus dedos lentos, e ele me observa com
olhos pesados de desejo, prometendo todo tipo de coisa obscena.
Para falar a verdade, nem sei quanto tempo se passou até agora,
provavelmente bem mais que cinco minutos, e eu já teria gozado se não fosse a
velocidade baixa com que está fazendo as coisas, mesmo que choramingue e me
agarre nele, querendo-o de qualquer jeito.
— Diga por favor, Alex — murmura, e eu respiro fundo. Mais um pouco
disso e virarei uma poça de umidade e excitação. — Quero ouvir você implorar. —
Sua mão sobe para acariciar minha bochecha e de repente parece que estou presa
naquele momento, controlada por dois olhos castanhos autoritários.
— P-por favor, Harvey. — Meu rosto enrubesce ainda mais, como se fosse
possível. — Por favor, me coma.
— Você fica linda quando pede assim.
Ele vira o meu corpo no mesmo momento e me modela da forma que deseja.
Eu não ofereço nenhuma barreira, nenhum resmungão conforme o cowboy se senta no
sofá e me coloca sobre si. Logo estou debruçada no colo dele, com a parte da frente
do meu tronco, grudada no braço do sofá e a bunda para cima e empinada, suas
pernas embaixo de mim.
— Que bom que você não tem nenhuma calcinha — fala, atrevidamente, e
fico sem coragem de responder, enquanto abaixa o sua samba-canção no meu corpo,
bem devagar. — Um rabo gostoso e gordo desse tem que ser apreciado todos os dias.
— Cowboy pervertido — balbucio e sou ignorada. Nessa posição, consegue
ver tudo, até mesmo a minha vagina por trás, encharcada e dolorida de desejo.
— Antes de eu comer essa sua buceta, acho que você precisa apanhar para
largar de ser ruim, Alexandra. Precisa ficar bem vermelha aqui, como sempre quis
deixar. — Sua mão envolve um lado da minha bunda e aperta. Sinto-me pulsar mais
forte.
— Apanhar? — pergunto, a respiração desnivelada, já desejando muito
aquilo.
— Sim… Mas preciso que diga para mim que você quer primeiro, amor.
Balanço a cabeça freneticamente que sim.
— Eu quero — murmuro, sabendo que estava me esperando falar. O homem
desfere então o primeiro tapa barulhento e ardido, que reverbera dentro de mim por
alguns segundos. Minha pele arrepia tanto que parecem beliscões. — Oh, Deus! —
choramingo de forma afetada.
Isso só faz Harvey pegar os meus dois braços pelo cotovelo e prender atrás
das minhas costas, usando sua mão grande e áspera.
— Gosto desse som. — Desfere outro tapa, um pouco mais forte que o
anterior e o meu gemido em resposta é assustado pelo tamanho do prazer que estou
sentindo. — Comer você vai ser uma delícia se continuar gemendo assim.
Ganho um terceiro tapa e não consigo me segurar.
— Sim! — Uma pequena cachoeira de excitação parece escorrer entre as
minhas pernas conforme sinto ele esfregar o seu volume na minha coxa, de maneira
provocante. É um grande e grosso volume. — Harvey… quero você dentro, por
favor. — Tento convencê-lo a ser mais rápido já que gosta de me ouvir implorar, e
parece que consigo algo, pois me ajeita até que eu esteja sentada direito no seu colo,
e não mais sobre seus joelhos.
— Nós vamos subir, você vai apanhar mais um pouco e depois vou foder
você de quatro na minha cama — segreda em meu ouvido, e me arrepia toda. — Você
vai ser uma boa cadela hoje, não vai? A minha boa cadela. — A sua frase me faz
resfolegar. Realmente não devia gostar disso, mas eu gosto. — Responda, Alexandra.
— Sim.
— Só minha. — Recebo alguns beijos no pé da minha orelha e fico perdida.
Consegue ser bruto e carinhoso ao mesmo tempo. — Vou levar você para o quarto —
avisa, e me coloca de pé, o que me faz perceber que minhas pernas estão bambas.
Porém, antes mesmo que eu dê o primeiro passo, escuto um grito do lado de
fora da casa.
— Harvey?! É a Sophie! Vim trazer o seu jantar! — A pessoa tem a voz tão
potente que quase engasgo de susto. — Harvey?! — A mulher faz um escândalo na
porta.
40 minutos mais tarde…
Alex
— Não acredito que você é casado com ela, Harvey!
— Alexandra, calma! Não é do jeito que você tá pensando! — Tenta chegar
perto de mim e eu não deixo.
— Como não é? E logo com ela? — Meus olhos ardem para derramar
algumas lágrimas.
— E qual o problema de ter sido ela?!
Está indignado comigo?
— E-eu… — gaguejo, tão brava com tudo aquilo que nem sei me expressar.
— Não quero ser uma amante e machucar alguém assim. Não quero trair ninguém!
— É errado eu ter me casado com alguém que gostava de mim? Que sempre
me amou? Porque você sempre me odiou!
— Babaca! — xingo. — O que isso tem a ver com você traindo a sua esposa
e mentindo pra mim?!
— Sabe o que parece? — Sua voz treme de raiva. — Que você está mais
irada por eu ter escolhido ela, do que pelo meu casamento em si!
Quer saber como chegamos até aqui? Eu te mostro.
Sophie dá um jeito de enfiar nós dois tomando café junto com ela e a minha
tia-avó, uma velha insuportável, em sua casa, mais exatamente na sua sala de visitas
cheia de frufrus e rendas.
A mulher negra me olha com medo, lembrando do que fiz da última vez que
nos vimos, então fica um pouco mais calada do que antes. Harvey não sabe de nada e
eu não pretendo contar tão cedo.
— Aquela mocinha, Sabrina, era tão boazinha. Tão asseada. E a coitadinha
estava grávida, Harvey! — Mary choraminga.
Juro que quero morrer com esse monte de “inhas”.
— A senhora sabe que ela perdeu o bebê, tia Mary — responde,
provavelmente sem ter noção de como a velha é uma cobra.
— Você não deveria tê-la mandado embora. — Dá pequenas batidas no
joelho do cowboy, depois ajeita os óculos grandes demais em seu rosto magro e
cheio de rugas, e se dirige a mim. — E me desculpe te confundir com ela, filha. Você
não se parece nada com aquela menina doce. — Sorri e se vira para a outra, que está
prestes a se levantar e aplaudir o show.
— Não. Alexandra não se parece em nada com a linda Sabrina. — Sophie
arrisca falar, e eu fecho a minha mão direita em um punho apertado.
— Como acabei de dizer, Sabrina não estava grávida quando foi embora. Ela
fez questão de me trair e perder o bebê do outro primeiro. Aliás, o pai desse bebê
deve aparecer daqui a pouco. — Harvey quase rosna.
É corajoso da sua parte falar isso na frente da corna mansa que parece nem se
abalar.
— Ainda assim… Você tem que insistir em Sabrina. — A velha faz um estalo
decidido com a língua e acho que vi a sua dentadura sair do lugar. — Fiquei com o
meu Bernardo por mais de quarenta anos. Nós também passamos por momentos
difíceis e soubemos recuperar o que tínhamos, todo casamento tem conserto.
Fecho a minha outra mão em um punho e tenho ânsia de vômito por conta
desse discurso.
— Agradeço o conselho, tia Mary, e prefiro não seguir. — Pega a xícara de
chá à sua frente e seca com um gole. Suponho que sua paciência acabou primeiro que
a minha, que milagre! — Você disse que Logan já estava a caminho com as roupas
que Alexandra esqueceu na caminhonete. Onde ele está? — pergunta, irritado, para
Sophie.
— Já está chegando, só mais uns minutinhos!
— Quantos minutos mais, exatamente?! — Sobe o tom de voz.
— Mais uns quinze! — Ela sorri timidamente. — Se quiser, podemos passar
o tempo ouvindo os dizeres do pastor. Hoje o programa é especial sobre os deveres
da mulher!
Cruzo os braços na frente do corpo e bufo.
— Vamos fazer assim… — Levanta-se bruscamente e quase derruba a mesa
de centro com todo o seu tamanho. Mary solta o ar pelo nariz de forma barulhenta,
pasma com a altura do homem. — Venho buscar essas roupas no fim de semana e o
nosso papo acaba por hoje!
A xícara na mão de Sophie treme levemente. Harvey parece um touro bravo
quando é tão direto.
— M-mas Harvey… — A mulher começa e não termina.
— E não venha mais até a minha casa, não quero que ninguém entregue nada
nas minhas terras. Se precisar dos seus serviços para mais alguma coisa, pode deixar
que aviso!
Coloco-me de pé também e acompanho os seus passos bravos até a saída,
sem olhar para trás. Fizemos uma cena e tanto!
— Harvey, eu preciso daquelas roupas — sussurro para ele, conforme
atravessamos a entrada florida e cheia de enfeites como gnomos e pequenos vasos.
— Não posso largar tudo para trás.
— Te compro coisa nova com a minha tia! — rebate com fúria — Não vou
ficar ouvindo a minha mulher ser destratada não! Não aguento mais o povo dessa
cidade. Eles acham que podem mandar até no jeito que você caga! — Parece um
furacão descontrolado enquanto saímos da casa de bonecas.
Dou preferência a morder os meus lábios juntos para não questionar o
possessivo em sua frase. Isso é um problema que cuidarei outra hora.
Dou uma corridinha, já que as minhas pernas são curtas demais para manter o
ritmo dele, e vamos até uma praça arborizada a duas quadras, onde a garota nos
espera dentro da caminhonete azul ligada.
— Vocês demoraram! Achei que não fossem chegar nunca! — Começa a
tagarelar enquanto pula para o meio do banco. Harvey entra de um lado do veículo e
eu entro do outro — E como foi lá?
— Logan não estava, vamos buscar as minhas roupas outro dia — respondo.
— E qual o prazo do Mike?! Aposto que ele deu em cima da Alex!
Sinto pena, já que ela não nota nada do mau humor do cowboy, então tento
ajudá-la.
— Fez exatamente isso. Assim que chegamos, já prometeu ir logo.
Honey olha para mim e arqueia as sobrancelhas de forma surpresa, assustada
com a minha abertura. Contudo, não perde a chance de continuar falando.
— Uma vez demorou mais de seis meses para atender um pedido! E agora faz
isso? Com certeza pensa que vai conseguir ganhar algo em troca!
Dou uma risadinha e continuamos a fofoca, indo em direção a vários causos
antigos que a menina conhece. Aparentemente esse era seu maior passatempo: falar
sobre as pessoas à sua volta.
— Estamos indo ver tia Grace. — Harvey anuncia finalmente, depois que sua
raiva se refreia conforme dirige. — Ela deve arranjar umas peças para Alex e Derick
vai direto para lá, mandei mensagem para a mãe dele agora a pouco. Te levo para a
sua casa antes de ir para a fazenda do John, Honey.
— John?
— Sim, ele pediu para o Encantador fazer uma visita urgente — digo o título
com um leve tom de deboche.
A adolescente assente e ficamos num silêncio estranho, decido falar mais
então.
— E esse Hankings? — Cutuco seu braço fino com o meu cotovelo,
maliciosamente.
— É um amigo… — É a primeira vez até agora que vejo essa garota sem
palavras!
Faço questão de fazer várias perguntas constrangedoras sobre o menino, só
para retribuir um pouquinho da vergonha que me fez passar hoje de manhã quando
acordei e disse que andava como um pato. Até Harvey acaba entrando na brincadeira
também, e cita fatos que não conhecia sobre o casalzinho, me dando munição para
mais brincadeiras.
Alex
Tia Grace é uma mulher corpulenta que deve ter entre cinquenta e cinco e
sessenta anos. Seus cabelos são loiros, quase brancos em algumas partes. Ela é alta,
usa bastante maquiagem e tem um grande decote na blusa vermelha e apertada no seu
corpo. Também notei que seu perfume é muito doce e até meio enjoativo.
— Ah! — exclama assim que coloca seus olhos em mim e quase me faz pular
para trás de susto. — Essa é a Alexandra que todos estão falando na cidade! Meu
Deus… — Arregala os olhos, assombrada.
— O quê? — Encolho os ombros, esperando que a mulher me critique de
alguma forma horrível baseada em sua expressão de susto, entretanto, a senhora me
surpreende.
— Você é a namorada mais bonita que o idiota do meu sobrinho já teve! —
Grace sorri largo e vem me abraçar forte.
— Obrigada, mas eu não sou na… — Sou cortada no meio da frase por mais
elogios da parte da mulher, e fico sem saber o que fazer além de soltar o ar que
estava prendendo e ficar aliviada com a sua reação positiva.
Guiada por ela, sigo para o seu “quarto especial” escada acima na maior
intimidade. Harvey, Derick e Honey ficam na sala assistindo desenho enquanto isso,
e principalmente o cowboy que tentou nos acompanhar é proibido de vir espiar, com
a ameaça de levar uma sapatada no meio da cara.
O cômodo que entro é um santuário bagunçado, roupas, bolsas e sapatos de
todos os tipos se espalham por aqui. Maquiagens e joias estão desordenados pelo
cômodo em pilhas sem sentido e tudo é muito cheio de cor, renda e estampa.
— Olhando o seu corpo assim… — Grace me observa de cima a baixo com
suas írises verdes, como se fosse o seu trabalho me ajudar. — Acho que tenho
algumas coisas da minha juventude. Talvez você seja um pouco mais recatada do que
eu era, querida, mas não custa nada dar uma chance. — Sorri de novo e tento
retribuir, sem deixar transparecer meu nervosismo.
— O que me servir está bom. — Sento-me em um sofá vermelho de couro e
fico olhando enquanto ela fala e revira seu guarda-roupa gigantesco embutido na
parede.
Moda realmente é a sua praia.
— Todas as mulheres dessa cidade me odiavam quando eu era mais nova.
Andava sempre com as minhas saias mais apertadas e com a abertura bem aqui. —
Faz uma linha imaginária que começa muito alto em sua perna. — Até mesmo a minha
irmã, Joana, não gostava de mim. Mas não é problema meu se elas não entendiam
nada de roupas! — A loira faz um estalo desgostoso com a boca e reclama de dor nas
costas logo em seguida, quando tem que se abaixar um pouco, porém, não deixa que
eu a ajude.
— Você parece ter roupas para todas as ocasiões. — Vejo até um chapéu
negro surgir, daquele tipo que vemos viúvas ricas usarem nos velórios de seus
maridos nos filmes.
— Temos que estar sempre prontas! — explica e continua procurando. — Se
você vai ficar no meio do mato com aquele garanhão, é melhor procurar por coisas
práticas.
Grace tira três calças jeans escuras de seu armário que vestem bem na minha
bunda, pois os nossos corpos são parecidos mesmo. Normalmente as calças não
passam nas minhas coxas, quem dirá no meu traseiro.
— Isso é fantástico! — elogio a forma como a calça me serve.
— Vou te dar algumas camisetinhas feias para você sujar naquele lugar
também. — Vai jogando mais de vinte peças de roupas no sofá e me deixa pasma.
Algumas até tinham etiqueta! — Agora vamos para as coisas importantes! — Puxa
um vestido muito chique vermelho-sangue do armário, com um tecido que reflete a
luz, lembrando cetim.
As alças são finas e tem um decote fundo que segue desenhando uma espécie
de V bem aberto na parte do peito. Ele não é curto, provavelmente chega no joelho,
mas ficará muito colado em meu corpo e tem uma fenda bem alta na saia.
— Não sei onde poderia usar isso, Grace. — Fico sem graça e entrego a peça
de volta para ela, que não aceita.
— É tia Grace, querida — enfatiza. — E tenho certeza de que você vai achar
um lugar para usar isto. — Dá de ombros com um sorriso malicioso e me entrega o
vestido de volta, com uma sacola branca e grande junto.
Olho dentro e me perco nas cores e nos laços.
— Meu Deus! Que lindo! — Continuo elogiando, ainda me sentindo
maravilhada, e vou mexendo nas peças de sutiã e calcinha.
— Gosto muito de fazer lingeries, é o meu passatempo. Esses são os
conjuntos grandes que mais adoro. Como Harvey disse que estão com pressa, pode
levar essas e provar em casa, depois me diga como vestiu. O que não couber, é só
devolver! Mas se quiser usar os menores também não acho que terá problemas, eles
gostam de ver, te garanto! — diz, animada, e o meu rosto todo esquenta de vergonha.
— Claro. — Meu queixo quase cai no chão com aquela atitude tão aberta.
Ela é prática e acolhedora ao extremo, quase me dá vontade de chorar, mas
óbvio que não o faço.
— E aqui estão os sapatos, que provavelmente vão servir bem já que temos o
mesmo tamanho de pés.
Me dá duas botas de couro, um par de chinelos e um scarpin preto.
Meu rosto cora ainda mais com a piscadela que recebo, pois eu sei e ela sabe
também, que a pessoa a me olhar com aquelas peças será Harvey e só no que consigo
pensar agora é na sua reação.
Agradeço um milhão de vezes a minha mais nova fada-madrinha e desço as
escadas segurando os meus pacotes. O homem nos meus pensamentos é o primeiro no
pé da escada a nos assistir.
— Quanto ficou, tia? — Saca a sua carteira do bolso e começa a contar um
monte de notas. Ser um Encantador de cavalos realmente está lhe dando grana. Meus
olhos brilham, com todo esse dinheiro conseguiria me reerguer, alugar uma casa e
caçar um novo emprego.
— Não precisa não, querido. Sou a madrinha agora, não? — murmura, e eu
engulo a seco com o seu atrevimento. — Aguardo o convite até o fim do ano, não
esperem muito! — Grace pisca, vai em frente e arranca da boca de Derick um
pirulito que chupava. — Você tem que parar de dar doce para esse menino! — Então
ela sorri amarelado e nos expulsa de sua casa.
— Harvey — sussurro várias vezes enquanto me sinto rodeada por seu cheiro
e seu calor.
— Alexandra — fala o meu nome de volta.
— Harvey! — grito, enquanto uma onda de prazer passa pelo meu corpo e me
faz encolher os dedos do pé dolorosamente.
— Alexandra! Alexandra! — O cowboy berra cada vez mais alto.
— Acorda, MULHER! — Uma voz feminina invade os meus sonhos, me
assustando, e eu acabo por abrir os olhos num solavanco.
— Inferno — murmuro, muito mal-humorada. Meu coração está disparado e
minha respiração desregulada por ser acordada tão bruscamente.
Honey está na frente da casa chamando o meu nome para que eu abra a porta
logo. Bufo irritada, me levanto da cama com as pernas bambas e olho pela janela
ampla do quarto de casal para assisti-la lá embaixo.
— Harvey disse que você tem medo de bicho. Aí vim olhar a Patrícia e os
porcos já que ele não vai estar aqui por algum tempo! — Hoje a menina usa uma bata
num tom de azul-celeste lindo e seus cabelos continuam presos na trança grossa e
escura.
— Porcos? — questiono, ainda perdida na realidade.
— Sim, estamos criando porcos para concurso da feira! Não sabia?
Suspiro alto, claro que criam porcos para o concurso!
Desço as escadas e abro a porta da frente.
Derick dorme profundamente no sofá, pois não aceitou ficar na mesma cama
que eu. Suas madeixas castanhas, muito parecidas com a textura das minhas, estão
jogadas de forma desordenada em sua cabeça e a testa do garoto sua com o calor
desse verão arrebatador.
Hoje é o primeiro dia desde que Harvey saiu para a sua viagem relâmpago
para a fazenda do tal John. Ontem, após chegarmos da casa de tia Grace e de já ter
deixado Amita com seus pais e em segurança, ele começou uma corrida louca para
sair o mais cedo possível.
Não me explicou nada do que deveria ser feito e foi carregando sua
caminhonete com coisas de seu pequeno armazém, que eu só vi de longe até agora.
Entrou pisando terra pela casa, deu um beijo na minha testa e na de Derick, colocou
seu chapéu de cowboy bege na cabeça e foi embora, sem mais e nem menos.
— E de que tamanhos são esses porcos?
— Os maiores que já vi, com certeza vão ganhar o prêmio! — Honey fala
muito alto, e eu faço sinal de silêncio apontando para o garoto babando nas
almofadas.
— Claro que sim, ele só pensa em dinheiro — digo, irritada com a forma que
as coisas aconteceram e tiro uma caixa de waffles do congelador para que Derick
acorde feliz no café da manhã.
— Não acho que seja isso… É que John é o único da região que cria um
percheron[1] também.
— O que é isso? — questiono, e coloco os waffles no aparelho especial para
assá-los.
— É uma raça, Patrícia é parte percheron, então é muito cara e diferente do
que temos por aqui — explica, e arqueio as sobrancelhas. Realmente, aquela é a
maior égua que já vi. — Há alguns anos eles decidiram inseminá-la e o potro ficou
com John, então sempre que pode, Harvey vai lá olhar e ver se está tudo bem.
— Entendi. — Torço o nariz para essa desculpa.
— E, na verdade… John ajudou Harvey a roubar Patrícia, então ele meio que
tem uma dívida, não pode se negar a ir — cochicha.
— Roubar?! — Aumento o meu tom sem querer.
— O Encantador não teria dinheiro para comprar um cavalo daqueles. Ele a
resgatou no meio da noite de um fazendeiro malvado e John ajudou no transporte e no
esconderijo.
O homem não deixa de me surpreender. Quem diria que seria capaz de algo
assim…
— Isso é loucura.
— Harvey também sempre vai quando o chamam, não sei para que está
juntando dinheiro, mas deve ser muito importante. Provavelmente ajudará a ONG de
animais de fazenda abandonados.
Percebo que talvez a garota esteja tentando limpar a barra do grandalhão.
— Não sei, talvez só goste de sair por aí para farrear — acuso. — Para ver
outras… mulheres, essas fãs que você falou ontem.
— Você tem que acreditar nele, é um dos meus únicos amigos e não faria nada
errado se prometeu fidelidade a você. — Seu rosto fica deprimido, mesmo que sua
frase fosse positiva.
Como Harvey não prometeu sua fidelidade a mim, não tem nada o que eu
possa fazer.
— Você não tem amigos na escola além de Harvey? — Bocejo cansadamente
e mudo de assunto.
— Ninguém fala comigo porque sou indiana — diz simplesmente. Que tipo de
absurdo é esse? — O professor passou um documentário de como a Índia é super
povoada e muito pobre em vários pontos, então começaram a dizer que indianos são
sujos e todo mundo acreditou, depois disso nunca mais tive paz. — O tom de sua voz
abaixa com tristeza conforme explica como foi chutada de todos os grupos sociais.
— Isso é cruel. — Lembro-me dos meus tempos de escola e me sinto em sua
pele.
Contudo, a garota não parece interessada em falar sobre o bullying.
— As aulas vão começar logo e o diretor quer fazer um baile de boas-vindas!
— revela. Na minha época o diretor não fazia nada além de esperar que todas as
tarefas das férias estivessem prontas. — Hankings não está mais na escola, mas
pensei em chamá-lo para ir do mesmo jeito… porque ele é muito legal comigo e tudo
mais. Você acha que aceitaria? — Sua vergonha é palpável.
Seguro o meu sorriso e sacudo a cabeça afirmativamente.
— Claro que sim. — Ela é uma menina de atitude, gosto disso!
— Mesmo?! — questiona, e eu quase dou um pulo assustado com o seu berro.
Porém, o sono do garoto na sala é bem pesado mesmo.
— Sim, tenho quase certeza de que vai aceitar. — Começo a construir minha
pilha de waffles o melhor que as minhas parcas habilidades permitem.
— Só não sei se o meu pai vai gostar. Minha família não é fechada como as
famílias tradicionais da Índia, porém, também não é totalmente aberta. — Dá de
ombros. — Acho que escapo de um casamento arranjado com certeza, mas ainda vão
querer me apresentar aos rapazes indianos da região daqui uns cinco ou seis anos.
Olho assustada para Honey.
— Eles vão tentar um casamento assim tão cedo? — pergunto, e não paro a
minha produção.
Nem comento a parte do arranjado, que só de ouvir me deu calafrios.
— Talvez. A minha mãe vem planejando o meu casamento como a maioria
das mães indianas, mesmo que não seja exatamente como elas. Sei que não vai me
obrigar a nada, só que também tem expectativas altas para o meu futuro e isso me
deixa nervosa.
Avalio os olhos cor de mel desanimados, depois vou procurar alguma calda
para jogar nos waffles.
— Acho melhor você falar com a sua mãe sobre ir ao baile com o Hankings,
para que não chegue em seus ouvidos pela boca de outras pessoas, que não a sua.
Essa sou eu tentando ser responsável.
— Tem razão. — Suspira baixo.
Os pais de Honey conheciam Harvey há muito tempo, aparentemente, e
confiam que ela dê voltas por aí, então decerto não são tão conservadores assim. No
entanto, como não conheço a cultura indiana, se der algum conselho mais saidinho
para Amita, quem sabe o que pode acontecer com a garota?
— Mas… — Realmente não sei lidar com adolescentes, então procuro seguir
o conselho do cowboy. Tratar crianças como se fossem adultos? Ok, consigo fazer
isso. — Se não quer fazer algo, não acho que deva aceitar e se quando chegar a hora
de conhecer essas tais famílias você não quiser ir, não precisa ir.
— Como assim?
— Pode vir falar comigo que ajudo você. Não importa onde eu esteja, posso
vir até você — murmuro, e ela sorri largo e me puxa para um abraço espontâneo.
Fico estática, sem saber como prosseguir com aqueles braços me apertando
contra si.
— Obrigada, Alex! Você é muito melhor que a Sabrina!
Agora sei ainda menos como reagir.
Alex
Sou salva do ataque de afeto por Derick, que aparece na cozinha esfregando
as mãos no rosto inchado de sono. Ele preferiu dormir sozinho e já perdeu um pouco
da vergonha de me encarar nos olhos, agora recebo a mesma apatia que todo mundo,
menos Harvey.
— Levo waffles para você na sala, pode ir se sentar lá que já vou — ofereço
e ele aceita a minha sugestão mudamente. — Como era antes do Jimmy? — sussurro
a questão para Amita assim que voltamos a ficar sozinhas.
— Sempre foi bem quieto, na verdade, passava o dia jogando videogame em
casa com o pai. Mas agora parou até de jogar e dorme o dia todo. Você vai ver, assim
que a gente acabar de comer, vai voltar a dormir.
Respondo à garota com um suspiro pesaroso.
Perder os pais quando se é adulto é difícil, quando meu pai faleceu fiquei
arrasada. Porém, quando se é criança, deve ser ainda pior. Pelo que me lembro de
Jimmy e do seu espírito brincalhão, provavelmente era um menino com o seu filho.
Deveriam ser melhores amigos e agora Derick se sente sozinho, mesmo que
tenha uma família gigante. Talvez seja o caso de se procurar um psicólogo infantil
para ajudar a tratar do assunto, contudo, duvido que alguém por aqui aceitaria essa
opção com bons olhos, ainda mais vindo de mim, a prima estranha da cidade grande.
Levo a pilha de waffles para a sala quando ficam prontos e Honey e eu
comemos e assistimos filme, já o menino fica calado só olhando para a tela dando
pequenas mordidas em sua refeição. Deixo a cozinha razoavelmente arrumada depois
da comilança e fico preparada para quando os olhinhos dele insinuam que vão fechar.
— Derick, coloque uma camiseta para irmos ver os porcos e a Patrícia. —
Retiro o avental do corpo e vou até à sala. Ele nega com a cabeça e vai se reclinando
no sofá. — Não me ignore, por favor — digo entredentes. — Vamos ver os bichos.
O garoto só se enrola num bolo e fecha os olhos.
— Alex, deixe pra lá. — Honey pega no meu ombro, tentando me afastar.
— Derick, não posso te deixar aqui sozinho, é perigoso. Preciso que você
coloque uma blusa e se levante.
— Você não manda em mim — responde, insolente. — Faço o que eu quiser.
— Derick! — Tento, mas ele nem se estressa com o meu tom e sussurra: foda-
se você, vadia, o que me surpreende. Aquela carinha de santo dele esconde o mesmo
gênio dos outros garotos insuportáveis da sua idade. — Se não levantar agora, vai
acordar no meio do lago amanhã ou vou encher o seu rabo de formigas! — As
pálpebras dele se movem levemente, como se considerasse o fato, e decide por
continuar fingindo dormir.
— Alex, deixe ele, podemos fazer isso sozinhas. — A menina tenta mais uma
vez tirar o meu foco do problema e o outro continua com seus sussurros malcriados,
dessa vez diz: garota retardada, o que me causa uma respiração funda para controlar
os nervos.
Sei que ele perdeu o pai há alguns meses e que deve estar sendo muito difícil,
contudo, infelizmente não tenho paciência para criança mal-educada e,
provavelmente, agora estou pagando todos os meus pecados por ter sido uma quando
mais nova.
— Você pode subir e dar uma volta na Patrícia — digo no tom mais amoroso
que consigo, mesmo que não mereça por conta dos xingamentos.
— A gente pode pescar depois. — A adolescente sugere e o garoto vira o
corpo para esconder seu rosto.
— Você não pode e não vai ficar aqui sozinho — repito. Ainda mais que
Harvey me disse que ele poderia ser um capeta arteiro dependendo do dia. — Vai
levantar daí, colocar uma camiseta e nos acompanhar! — Estou com pressa para ir
logo ver esses animais e muito ansiosa por conta da minha fobia, e o menino fazendo
gracinhas!
— Estou cansado! É tão burra assim que não consegue ver?! — Desiste de
fingir dormir, senta e grita olhando nos meus olhos, sem um traço de medo. Mas é
muito folgado! — Vocês vão e eu vou ficar em casa! Podem levar a chave, não vou
sair.
A sua fala é tão insolente que sou obrigada a morder meus dois lábios juntos
para não mostrar para esse besta o que é xingar de verdade. Sei que crianças de dez
anos têm a tendência a ficar repetindo palavrões para se sentirem adultas, mas agora
a minha razão saiu voando pela janela e não quero ser compreensiva. Quero
chacoalhá-lo por fazer a minha vida mais difícil do que já é.
— Olha aqui, se voc… — Aponto um dedo no seu rosto e sou impedida de
continuar.
— Voltamos na hora do almoço então! — Honey diz, num falso tom
simpático, dando para trás. Agarra-me pelo braço e me obriga a subir as escadas
para me trocar, antes que eu volte para o sofá e perca mesmo a paciência. — Derick
só está triste, mas acho que consegue ficar sozinho por alguns minutos.
— Não precisa ser um idiota porque está triste! — Semicerro os olhos e
começo a procurar alguma roupa para vestir na cômoda do quarto de casal, que às
vezes me lembra um hotel, de tão arrumadinho.
Sabrina, querendo ou não, realizou um bom trabalho.
— Tem feito o mesmo com a mãe — cochicha Honey. — Por isso Kate aceita
que ele venha para cá com tanta facilidade, acho que deve ser muito doloroso ter que
tentar lidar com um menino assim enquanto se sente tão triste. — Ela passa a mão por
sua longa trança, como já percebi ser uma mania sua. — Katherine está deprimida e
Derick fica cutucando.
— Pois se nem a mãe dele consegue dar um jeito, então Harvey que se vire
com isso quando voltar. Só estou aqui para garantir que essa peste não morra de fome
até lá. Ninguém merece criança birrenta! — Encontro uma das calças que a tia Grace
deu e uma camiseta dela também.
Não sei lidar com pessoas tristes, nem comigo mesma quando fico assim. A
minha reação para as adversidades é a raiva e o ataque, isso geralmente funciona
bem para me tirar dos buracos ou me colocar em buracos diferentes e ainda piores
que os anteriores.
— Acredito que é isso que algumas pessoas fazem quando estão
machucadas… — Amita dá de ombros e lhe ofereço um olhar atônito.
Acabo percebendo que talvez o problema seja que eu e Derick estamos
próximos demais nos sentimentos. Nós dois viramos pessoas nada simpáticas quando
o espinho entra, não tem conversa nesses momentos, só raiva.
Mas, o que exatamente eu farei? Por agora sou sua babá e terei que achar uma
forma de não ser atingida por sua malcriação sem querer matá-lo. Tenho que dar um
jeito por Jimmy, que foi o meu primo preferido.
Não. Por Jimmy que ainda é o meu primo preferido.
Após me enrolar numa toalha macia, que graças a Deus não tem as iniciais de
ninguém, abro a porta e dou de cara com o grandalhão sentado no chão, no meio do
corredor.
— Eu poderia ter estado com você nesse banho — diz rouco, e se coloca de
pé com um pulo. Ok, ele está com muito tesão segundo a ereção na sua cueca, mesmo
que faça menos de meia hora desde que fizemos sexo. — Teria fodido você contra a
parede e depois esfregado seu corpo com carinho.
— P-pare com isso — gaguejo, imaginando mais das suas palavras do que
deveria. — Não fique brincando com essas coisas quando algo perigoso pode ter
acontecido.
Ele suspira pesado em resposta.
— Se você diz… Use isto agora. — Muda um pouco de assunto, esticando
uma nova camiseta e uma cueca sua para mim. Essa é boxer, então ficará colada no
meu corpo.
Até tenho blusas da tia Grace para vestir, porém, o guarda-roupas do cowboy
é muito mais divertido.
— Você realmente gosta de ver a minha bunda — debocho, passo pelo
corredor até a sala rebolando bem mais que o comum e sou seguida.
— Tire a toalha, Alex — ordena, voltando a suas provocações, e me faz parar
com o traseiro colado nas costas do sofá de peles.
— Nada disso, meu amor — ironizo o apelido que ele tem usado comigo. —
Como acabei de te dizer, não vai rolar mais nada hoje, não sem a camisinha.
— Está admitindo que ainda vamos fazer isso muitas vezes, só não hoje? —
Arqueia as sobrancelhas sugestivamente, e eu escolho ignorá-lo.
— Pra você largar de ser assanhado, vou dormir na sua cama e você que
compre logo essas camas de solteiro! — Dou um sorrisinho para ver se consigo
afetá-lo e tento deslizar para fora daquela cilada. Mais uma transa sem camisinha é
abusar da sorte.
— Quantas camas Derick precisa? — Coloca as mãos na cintura, numa
postura indignada.
Ficar no mesmo ambiente que esse homem, usando só uma toalha em volta do
meu corpo, é uma grande armadilha.
— Uma para mim e outra pro menino, óbvio! — O meu sorriso se torna
genuíno ao ver sua raiva nascendo.
Irritar Harvey é um passatempo que nunca abdicarei.
— Você vai dormir comigo, mulher. Na minha cama, todos os dias. — Dá um
passo em minha direção e eu recuo. Porém, já não tenho mais para onde ir com o sofá
atrás de mim. — Vai subir comigo agora e vou te foder o resto da noite. — Suas
palavras me arrepiam, assim como seus dedos calosos que começam a acariciar meu
queixo. — Quero sentir você de novo. — Enquadra-me com seu quadril largo e
abaixa seu rosto para capturar meus lábios num beijo sorrateiro.
O calor aumenta para cacete e eu me sinto amolecer tanto em seus braços que
só Deus pra me ajudar a resistir a esse homem agora.
— Harvey — choramingo seu nome e consigo uma trégua momentânea, ele
está a pouquíssimos centímetros de mim. — Não temos camisinhas, por favor, pare
com isso.
— Não preciso estar dentro de você para te fazer gozar, se prefere assim. —
Passa a mão livre por cima de sua cueca e massageia sua nova e grossa ereção. —
Nós podemos… trocar favores — oferece, e aproveita toda a proximidade para
desfazer o nó da minha toalha com destreza.
Engulo a seco de forma apreensiva quando o pano desliza para o chão e eu
fico exposta para suas mãos ásperas, que não demoram em agarrar primeiramente os
meus dois seios fartos e os apalpar, maravilhado, sem tirar os olhos do local ao rolar
os mamilos eriçados entre os dedos.
Mal consigo pensar, banhada por seu cheiro masculino e sedutor.
— N-nada de troca de favores. Nós acabamos de transar! — Minha frase sai
como um gemido desesperado.
O ar fica denso e difícil de respirar conforme deixo que deslize suas digitais
por minha barriga macia, depois entre no meio das minhas pernas e separe meus
lábios, espalhando a minha umidade e tomando o seu tempo em apreciar.
— Deixe-me dar um beijo nessa sua buceta gostosa, pelo menos, mulher. —
Esfrega meu clitóris, enviando uma sensação aguda de prazer por mim, o que me
desespera, pois só a sua boca não será o bastante, vou querer de novo e logo
acabarei perdida na cama desse cowboy.
Antes de sucumbir às suas provocações, empurro sua palma para longe,
consigo abaixar rápido, recuperar a toalha no chão e me cobrir.
— Nós só vamos transar quando eu quiser. — Tento ser incisiva e
praticamente corro para o primeiro degrau da escada — É hora de dormir, Harvey!
Parece que estou falando com um cachorro: menino malvado! Senta!
— Obviamente, minha princesa. Vou te ajudar a me querer todo dia, do
mesmo jeito que eu quero você.
Controle-se, Alexandra! Pense mais com a cabeça e menos com outras partes!
— Pare com isso, eu vou dormir agora! — Nem tenho cem por cento de
certeza do que estou falando.
— Se você diz… — Pisca e essa é a minha deixa para subir rapidamente até
o primeiro andar. — Mas se bater vontade mais tarde, é só voltar aqui!
Acabo esquecendo as roupas que me ofereceu no térreo com o afobamento de
fugir dele e sonho com a bendita e impossível gravidez.
Harvey
— Harvey! Harvey! — Escuto alguém gritar o meu nome desesperadamente,
então paro no meio da quadra ensolarada e limpo o suor que pinga da minha testa. —
Você viu que a sua namorada está brigando lá no refeitório?!
— Ashley está brigando de novo?! — berro com Mike, o ruivo que é meu
parceiro de laboratório.
— Sim! — responde, e eu recolho a bola de basquete e coloco junto com as
outras. — E você não adivinha com quem! — O garoto sorri de orelha a orelha,
maliciosamente.
— Merda! — Não precisa nem me dizer mais nada, já sei o nome da peste:
Alexandra.
— Acho que se você não separar logo, Alex vai arrancar os preciosos
cabelos loiros de Ashley. — Está tão animado com a situação que parece até ser uma
coisa boa.
— Vou trocar de camisa primeiro e já vou — aviso, já que estou grudando de
suor, e corro para o vestiário.
Alex nunca foi flor que se cheire, principalmente na minha infância em Vila
Velha, mas depois dessas últimas férias ela está pior que boi brabo! Ninguém
consegue controlar a menina, nem dona Agnes, sua vó, e eu me pergunto o que pode
ter acontecido nesse meio tempo para torná-la ainda mais difícil…
Eu provavelmente nunca saberei, já que Alex e eu não temos uma amizade,
somos opostos em personalidade e com muitos conhecidos em comum.
Os primos dela são meus amigos, todos briguentos de carteirinha, e
Alexandra só devolve na mesma moeda, mas não posso dizer que não entendo o seu
lado, é devorar ou ser devorado, principalmente agora que enfim consegui sair da
aba da minha mãe. Parece que preciso provar pra todo mundo que mudei e que posso
ser popular.
Contudo, mesmo que ela já seja naturalmente bruta, o comportamento mais
selvagem do que o comum daquela garota não faz sentido algum. A menos que a
minha teoria esteja certa e exista realmente um mistério ali, porém, isso nem é
problema meu…
Numa correria maluca, acho uma camiseta no fundo do meu armário, visto-a
de qualquer jeito e quase saio voando para o refeitório. No segundo que entro no
lugar, já encontro as duas se engalfinhando com plateia e tudo, gritando, sem nenhum
professor à vista.
Também descubro que, na verdade, Ashley é quem quer arrancar os cabelos
de Alexandra, pois a gótica está mirando mesmo em dar um murro na boca da minha
namorada.
— Vocês duas, parem! — grito, para ver se consigo algo. — Parem, agora!
Alex me ignora e estica o braço para pegar uma garrafa de vidro que passou
despercebida. Isso sim, daria merda, então entro logo no meio dos dois corpos, com
o perigo de levar alguns golpes, agarro a morena pela cintura e a puxo para longe de
Ashley, antes que a baixinha briguenta arrebentasse com a loira.
— Me larga, seu filho da puta! — Alexandra se sacode tentando sair do meu
aperto de qualquer jeito. Eu abraço o seu tronco e tiro seus pés do chão. — O quê?!
— Resfólega, sem acreditar no que estou fazendo.
— Essa vadia começou a briga… — Ashley, que tem o lábio inferior
sangrando e um arranhão na cara, luta para falar entre suas respirações pesadas. — E
você está defendendo ela?! — A loira se joga em minha direção, eu desvio e me viro
de costas, dando um solavanco na garota que seguro.
— Não estou defendendo ela, Ashley! Alexandra que vai arrancar a sua cara
com uma garrafa de vidro! — berro, já notando uma movimentação estranha
acontecer entre a plateia, que começa a se dissipar.
É o diretor Collins vindo pelo corredor segundo o grito que escuto, e se ele
pegar a pessoa que causou tudo isso em flagrante a expulsará na hora, e como já sei
bem quem partiu para a agressão física, coloco Alex no chão e agarro o seu braço,
obrigando-a a correr junto comigo.
Não olho para trás conforme me movimento rápido e não dou atenção para as
suas reclamações altas.
— Seu nojento! Me larga! — reclama, enquanto arfa, já que o meu ritmo de
corrida é o de um atleta e o dela não.
— Você quer ser expulsa?! — pergunto, mesmo que ela não dê muita
importância para a minha fala.
Então continuamos brigando e correndo até conseguirmos entrar em um dos
vestuários vazios e malcheirosos. Alexandra sacode o braço com força e me faz
largar a sua mão.
— Por que você fez isso?! — questiona, dobra a coluna e coloca as mãos nos
joelhos, tentando recuperar o fôlego.
Vejo que seu corpo sobe e desce nas suas respirações pesadas,
principalmente os seus seios, que chamam tanto a minha atenção. São maiores que os
de todas as outras garotas da escola e sempre me deixam muito… curioso. Na
verdade, Alexandra toda sempre me deixou bem mais que curioso.
Tento desviar os olhos e é quase impossível.
— Já falei que é pra você não ser expulsa, sua trouxa! — grito, disfarçando
no meu tom a forma como faz com que me sinta.
A verdade é que mesmo que essa menina seja uma completa sem noção, ela
mexe comigo. Não só o seu corpo, diferente do da Ashley, já que o da Alex é
arredondado e tem suas coxas grossas que me deixam doido… Mas também a forma
como Alexandra parece não se importar com nada.
É corajosa com tudo na sua vida, como eu sempre quis ser para enfrentar a
minha mãe beata e todos os absurdos que já tive que engolir. Nem todo mundo na
igreja é como dona Joana e dá pra praticar a religião sem ter um pensamento tão
retrógrado, mas ela nunca quis me ouvir.
— E se eu for expulsa?! Isso não é da sua conta!
— Só queria saber qual o seu problema, porque estou te ajudando! — As
nossas brigas sempre ficam quentes muito rápido e me dão um frio estranho na
barriga. — Você age toda esquisita e depois não quer que ninguém implique com
você!
É assim que as coisas funcionam na escola, eu aprendi a esconder a minha
esquisitice. Mas ela não… Alexandra é autêntica.
— E que porra alguém tem a ver comigo? Qual o problema de vocês?! —
Seus olhos castanhos ficam marejados e Alex funga, numa explosão de sentimentos.
— Vocês só sabem julgar! Ninguém olha pro outro e pergunta se a pessoa está bem!
Às vezes, aconteceu algo muito… muito errado c-c-com a pessoa, mas nunca
descobrem! Pois ninguém se importa! — Uma lágrima desce por sua bochecha e a
garota limpa rapidamente.
— E aconteceu algo com você? — pergunto, ficando preocupado.
— Não! — responde rápido.
— Alexandra, o que aconteceu com você? — Tento de novo e dessa vez ela
demora um pouco mais pra falar.
— Eu fui… Harvey, eu…
Percebo que talvez ela esteja prestes a me contar algo muito importante
mesmo, mas não recebe tempo.
— Harvey! — Escuto um grito fino vindo da entrada do vestiário — Harvey,
sei que está aí! Saia agora! — É a Ashley.
— Não! — respondo, irritado, e vou em direção a morena que chora à minha
frente, contudo, a garota dá alguns passos para trás e se afasta de mim. — O que
aconteceu? Alguém machucou você? — sussurro, sentindo que a minha garganta se
fecha de medo.
— Nada — diz, obviamente mentindo. — Nada aconteceu.
Isso me deixa mais irado. Estou na sua frente perguntando o que tem de
errado e ela se nega a me contar, como se não estivesse bem claro que algo está fora
do lugar.
— O que aconteceu, Alex?!
Seu corpo treme.
— Nada! — Nunca pensei que o castanho de seus olhos pudesse parecer tão
inflamado — Agora saia daqui! Saia agora! — O momento de fragilidade acabou.
— Se você precisar de ajuda… — Respiro fundo, para não responder a suas
grosserias da forma que geralmente fazia. — Estou aqui.
— E o que você sabe sobre mim? — questiona, roucamente.
— Alexandra… — Tento falar e ela me interrompe.
— Um merda sem futuro como você pode fazer algo por mim? — As lágrimas
borram a sua maquiagem escura. — O que você pode fazer por mim, Harvey? Quem
é você para me ajudar em algo?
— E-eu… — Não sei o que dizer.
— Vá atrás dela… Vá atrás da sua popularidade. Já vou te dar a merda do
trabalho de literatura mesmo, é só pra isso que você lembra de mim.
— Harvey! Harvey, venha aqui agora ou está tudo acabado! — Ashley
continua a fazer seu escarcéu do lado de fora, sem conseguir entrar, pois fechei a
porta.
— Seja um cachorro bonzinho, Harvey, vá atrás dela e faça o que tem que ser
feito. — Dá um meio-sorriso sarcástico e tão doloroso.
— Já vou! — grito de volta para Ashley.
Se Alexandra não quer a minha ajuda, não tem nada que eu possa fazer, certo?
Certo?
Não, não parece certo…
Harvey nos busca com a sua caminhonete na casa de sua tia e seguimos para a
casa de Derick, onde o garoto levou uma bronca de Harvey e foi obrigado a pedir
desculpas por ter quase queimado a casa e insultado a mim e a Honey.
Derick permanecerá até o grande dia de gala com a sua mãe e não posso
mentir que fiquei bem ansiosa de passar algum tempo sozinha com o grandalhão,
fazendo aquilo que deixou as minhas pernas meio bambas até agora.
Depois vamos para a oficina de Mike e eu aguardo no carro enquanto o
cowboy traz a minha Berty para fora. Ela está mais verde e barulhenta do que nunca.
O ruivo consertou até a minha janela quebrada e a minha garota está rodando muito
bem!
Claro que não fez milagres e a deixou como um veículo novo, contudo,
considerando o seu estado depois do atoleiro, ele é um mago dos consertos, mesmo
que seja insuportável como pessoa.
A nossa próxima parada é a casa da detestável Sophie, e Harvey faz ela cair
do burro ao mandar Honey para recolher as minhas roupas. De longe vejo a coitada
sendo recebida com chá e deduzo que vai demorar um pouco, então o homem e eu
dirigimos até a pracinha, cada um em sua lata velha chamativa.
Permanecemos estacionados lado a lado. Finjo observar as árvores, porque
toda vez que o encaro, tenho certeza de que as minhas bochechas coram, e ele faz
questão de não fingir nada. Analisa-me quase explodindo a minha cabeça de tanto
que olha para mim.
— Ei, moça! — grita umas três vezes, até que lhe dou atenção. — Soube pela
minha tia que você tem um lindo vestido vermelho! E o diretor autorizou que eu
acompanhasse o baile como uma espécie de inspetor. Mas sabe como é, ainda
preciso levar uma parceira!
Mordo os lábios, tentando conter meu sorriso.
— Que bom! — grito de volta.
— Você aceita?! Depois nós podemos continuar fazendo muito “sexo sem
compromisso”! — Faz aspas com os dedos e eu coloco a mão na boca, ainda lutando
para não revelar aquele sorriso e desacreditada da sua cara de pau. — Vamos, Alex!
Aceite!
Ele continua me incentivando bem na hora que a garota chega de supetão e vai
em direção a minha Berty, deixando Harvey sozinho na sua banheira. Tomara a Deus
que ela não tenha escutado nada daquela palhaçada.
— O que está rolando aqui? — Ela enfia o meu saco de roupas no banco
traseiro, depois se senta ao meu lado na frente e não para de olhar para nós dois
querendo logo saber.
— Alexandra vai ser meu par no baile! — Tem um sorriso gigante em seu
rosto, conforme comemora cantando We are the Champions, e eu acabo gargalhando
feito uma boba.
Passo alguns dias sozinha com Harvey e a nossa rotina se estabelece assim:
se não está cuidando do pequeno pedaço de terra, está com as suas mãos em mim me
enlouquecendo até que não consiga pensar direito. Parece até que faz de propósito,
querendo me viciar nele. Brigamos por coisas bobas também, relembramos alguns
momentos bons e as coisas vão surpreendentemente bem entre nós dois.
Porém, quando chega o final de semana que o mentiroso disse que iríamos
mexer no quarto de bebê, ele recebe um telefonema pedindo a sua ajuda numa
fazenda, então embala a sua misteriosa roupa para o baile, já que a festa acontecerá
bem no dia que voltará e sai correndo após ter jurado que com certeza estará lá na
escola no baile.
Prefiro acreditar do que arranjar mais um motivo para ficar estressada.
Aparentemente a feira que pediu aquela foto gigante do cowboy no ônibus da
cidade, está muito próxima de acontecer e alguns fazendeiros endoidaram atrás de
dicas para conseguir os prêmios altos e o prestígio.
Mas não desisto fácil do plano, procuro pelas chaves da porta do quarto de
bebê na cozinha e acabo por tropeçar em sacolas de supermercado ao atravessar o
cômodo. Usando o cartão do bonitão hoje, comprei um monte de alimentos fáceis de
serem preparados, pois na nossa pequena rotina agitada ele nem pensou nisso.
Já que não tem mais Sophie para trazer o jantar ou limpar a casa, tive que me
virar, pois estávamos nos entupindo de congelados e comida indiana desde então.
Porém, agora eu e ele começaremos a cozinhar ou tentar pelo menos.
Portanto, cá estou novamente, tomando conta de quatro porcos gigantes que
fazem barulhos assustadores e uma égua que parece sentir o cheiro do meu medo.
Contudo, dessa vez não tem nenhum incendiário, só uma adolescente que tagarela
como se não houvesse amanhã.
— Falei assim: Hankings, você não pode usar um paletó de veludo roxo! Tem
que usar um terno todo preto com uma gravata azul exatamente no mesmo tom do meu
vestido! — Seus olhos claros ficam nervosos enquanto conta a história mais uma vez.
— Você está certíssima — murmuro, e encontro vários cacarecos inúteis nas
gavetas, porém, nenhum sinal da porcaria da chave do quarto de bebê.
— E sabe o que Hankings falou depois, Alexandra?
Ela usa uma sacola plástica branca na cabeça, para segurar o creme de
hidratação em seus longos cabelos negros que cortarei as pontas mais tarde, antes de
começarmos a fazer a maquiagem para o baile a noite.
— O quê? — Minha voz mal sai dos meus lábios.
— “Mas, Amita, o veludo roxo é tão lindo”. Sim, ele me chamou de Amita!
— A garota está se tornando cada vez mais parecida comigo em questão de níveis de
raiva. — Por que me chamaria de Amita? Quando deixo tão claro que quero ser
chamada de Honey!
Reprimo uma risada por conta da intensidade que emprega na sua fala e
procuro no armário debaixo da pia mais uma vez.
— Pelo menos sabe os dois nomes, né? — sussurro, e Honey vai rebatendo
do seu jeito, conforme converso sozinha. — Seria muito ruim se ao invés de abrir a
porta, eu usasse algum truque para destrancá-la? Será que aquele lance do grampo de
cabelo realmente funciona? — Mordisco a ponta do meu dedão, pensando sobre o
caso.
— Só os meus pais me chamam de Amita e quando estão muito bravos. Honey
sempre foi meu apelido por causa dos meus olhos! — explica. — Ele me chamar
assim me faz com que me sinta uma indiana velha. E, além disso, ainda não cedeu e
disse que vai mesmo com a porcaria do veludo roxo. Todo mundo vai rir das fotos!
Ela não está sendo um pouco desesperada? Prefiro não comentar isso alto e
continuo maquinando. Reparei que dar muitos conselhos para a adolescente não é
uma boa saída. O ideal é esperar ela terminar de falar, de surtar e depois garantir
para a menina que não importa o que aconteça, terá alguém para apoiá-la. Isso é uma
anotação do caderninho mental da Alexandra de como lidar com jovens.
— O armazém! — A ideia vem para mim rapidamente e parece a minha
melhor saída até agora. — Acho que ele escondeu essa chave lá!
Coloco-me em movimento para a porta no mesmo segundo e os meus passos
são quase inconscientes.
— Alex?! — Os seus gritos vêm das minhas costas conforme me encaminho
para o lugar.
É hora do almoço e o sol alto no céu queima a minha pele, que já ficou mais
bronzeada desde que comecei a morar aqui.
Assim que cubro o espaço em tempo recorde, numa pressa tremenda, encontro
o pequeno galpão de madeira trancado por um cadeado grande.
— Puta merda! — exclamo. — Sabe onde fica essa chave pelo menos?! —
pergunto para a garota esbaforida que vem correndo.
— Acho que está dentro daquela gaveta na cozinha que você estava mexendo
agora há pouco.
Então volto para a casa, pego o objeto pesado indicado por ela, e vou abrir o
armazém onde rezo para ter alguma solução para os meus problemas. Estou tão
concentrada na minha missão, que nem presto atenção no cansaço de ficar dando
essas voltas.
— Agora vou tentar cada uma dessas. — Saqueio uma gaveta inteira de
chaves, e de verdade, de onde saiu tudo aquilo? Refaço o caminho para a casinha e
vou em direção ao quarto de bebê. — Vou dar um jeito nessa bagunça!
— Harvey sabe que você vai fazer isso?
— Ele sabe, e inclusive o combinado era fazermos isso hoje! — Começo a
testar cada uma das chaves. — Só não esperava que eu teria a coragem de não me
deixar ser enrolada!
— Como assim?
— Dois dias atrás você me disse que, exatamente hoje, o seu pai iria enviar
vários objetos para a Índia como doação numa campanha que não cobra frete.
Contratou até um caminhão para levar tudo ao correio, certo? — pergunto, e ela faz
que sim com a cabeça, finalmente entendendo algo. — Bom, quando Harvey chegar,
tudo isto aqui vai estar a caminho de outro país.
— Mas sem a autorização dele? — Arqueia uma sobrancelha.
— Harvey me prometeu que realizaríamos a doação de tudo isso hoje, e
promessa é dívida! Dívida essa que ele fugiu pra não pagar!
Claro que estou com medo da sua reação, ele pode querer chutar a minha
bunda por tentar tirá-lo do buraco de recordações que se tornou esse quarto, porém,
não acredito que Harvey realmente me daria chance para tentar ajudá-lo em algum
momento, só enrolaria mais e mais.
— O Encantador vai matar nós duas quando chegarmos do baile, já tô vendo
tudo!
A frase de Honey me faz parar e pensar por alguns segundos, pensamentos
esses que digo em voz alta.
— Harvey perdeu dois bebês e guardou um monte de coisas por nove anos, e
de acordo com as etiquetas que vi quando entrei ali, tem objetos dos dois fetos.
Imagina acordar todo dia e olhar pra isso?
O grandalhão é um acumulador, obviamente, tem até uma parte de um enxoval
de um casamento que nunca nem aconteceu com as nossas iniciais.
Eu sei, ok? É um pouco bruto e talvez o tiro saia pela culatra e eu seja
julgada como um monstro insensível, porém, se tem uma coisa que entendo bem, é de
como memórias conseguem destruir uma pessoa de dentro pra fora. Como elas te
fazem apodrecer do pior jeito. E não quero que Harvey seja destruído.
— Não tenho certeza ainda disso, Alex… — Morde seu lábio inferior em
preocupação no segundo que uma das dezenas de chave encaixa na porta e eu sinto
uma tontura.
Estou me sentindo estranha o dia todo, mas o sexo sem camisinha rolou há
poucos dias, não dá para um bebê começar a crescer tão rápido assim, dá? Merda de
aulas de biologia que matei!
— Vai dar tudo certo, você vai ver. — Faço menção de entrar no cômodo,
quando sou interrompida.
— Só um dia! Espere um dia e veja se ele vai aceitar isso.
— Ele já aceitou, só não está aqui, e se a gente não fizer isso o Harvey vai
guardar tudo isso para sempre, mesmo quando eu for embora. — Porque sim, tenho
que ir embora logo, assim que Derick ficar de férias de novo. — Nunca vai conseguir
seguir em frente de verdade sem alguém firme. — Não sei se isso é verdade, se não
me odiará no final das contas, porém, tenho que tentar.
Amita me encara de repente com os olhos cheios de lágrimas, como se eu
fosse alguma salvadora da pátria.
— Você só quer o bem dele então? — Faz um biquinho — Isso é tão legal,
Alex! Acho que talvez no começo fique bravo, mas se ele já sabe disso e se a gente
explicar sobre o caminhão, Harvey vai entender.
— Também não é pra tanto! — Falando em voz alta assim é estranho.
O santuário amarelo de coisas para bebê está lotado, como esperado, e é
triste de se olhar.
Começo colocando numa sacola as roupas que podem ser aproveitadas. Uma
parte está embalada em plástico transparente, porém, quase cinquenta por cento ficou
sem proteção e acabou com traços de bolor. Essas eu jogo num cesto pra lavar, ferver
e quem sabe conseguir salvar com produtos especiais.
Depois que os armários estão vazios das dezenas de brinquedos ainda na
caixa e fraldas que serão super úteis para bebês recém-nascidos, começo a olhar
para os móveis e pensar no que fazer.
Não pretendo desperdiçar nada, então das coisas específicas para bebê que
não conseguirei reutilizar para ficar no quarto mesmo, só tem o berço, a peça mais
simbólica de todas e que provavelmente deve afetar mais Harvey. Procuro então
vídeos no celular de Amita de como desmontar a peça sem quebrar.
— E se viesse outro bebê para cá? Pelo menos o berço é melhor manter, não?
— diz, toda inocente, e me faz engasgar com a minha saliva.
Estou tentando ao máximo manter essa hipótese longe de mim.
— Não vai vir bebê nenhum aqui, Honey.
— Mas e se vier?! — insiste. — Imagina que legal seria? Criancinhas
correndo por essa fazenda? Brincando com a Patrícia e deixando vocês dois
malucos!
— Não vai vir bebê nenhum para essa casa enquanto eu estiver aqui! — Fico
nervosa e a pobre da menina se assusta.
— Desculpe. — Seus olhos grandes ficam sentidos.
A minha menstruação sempre foi irregular, não dá para confiar, logo fico
dependente de esperar um tempo até poder fazer o teste de sangue, como o
grandalhão mesmo sugeriu, entendendo disso muito melhor do que eu.
— Só não está nos planos de ninguém ter um bebê agora, isso é algo
inimaginável. — Tento falar mansamente para não deixá-la triste, contudo, soa mais
como uma ameaça. Uma ameaça para o meu próprio corpo.
— Tudo bem, então… — Dá de ombros, parecendo aceitar a minha quase
simpatia, e pega a exata chave de fenda indicada no vídeo para desmontar o berço.
Sorte a nossa que o cowboy tem muitas dessas coisas.
A menina consegue fazer quase tudo sozinha com as instruções remotas, o que
dá tempo para que me desligue da realidade e volte para as minhas preocupações um
pouco. Grávida… O que farei se estiver grávida de Harvey? Deus, estou muito
ferrada!
O grandalhão choraria por mais alguns bons anos se eu fosse para longe, até
porque se com Derick já existe todo esse apego, imagina com o seu próprio filho?
Minha vida se resumiria a cuidar da criança e ficar em casa em Vila Velha, enquanto
ele viajaria por aí, aproveitando a vida e voltando para cá por alguns dias na semana
para ser pai. A menos que eu conseguisse um bom serviço, coisa que por aqui, na
minha área, deve ser difícil.
Honey termina de desmontar o móvel e me chama, enquanto a minha cabeça
continua tentando fazer o meu futuro ter sentido caso eu esteja grávida. Depois nós
colocamos tudo que conseguimos dentro de Berty, que fará algumas boas viagens
hoje.
Na primeira vez que chego até o local em que Honey mora, tomo um susto.
Nunca imaginei que existia um quase palacete indiano tão lindo como esse escondido
no meio da roça. O arquiteto fez um bom trabalho mesmo em tentar replicar o design
estrangeiro. Por fora as cores são sóbrias, por dentro a casa é cheia de tapetes
coloridos e enfeites brilhantes.
O lugar cheira a incenso suave e agradável, com penduricalhos no teto em
algumas partes que fazem barulho quando o vento sopra. A sua mobília é uma fusão
entre tradicional e moderno.
— Papai e mamãe viajaram muito ao redor do mundo até decidirem ficar aqui
no campo, e trouxeram tudo o que conseguiram. Na verdade, nunca param de chegar e
sair coisas! — explica, com um sorriso largo no rosto e um pouco de suor na testa.
— Isso parece bem legal… E trabalhoso.
Ainda extasiada com a beleza diferenciada da casa, não percebo sinal de
mais ninguém por aqui, então finalizo o meu tour pelos cômodos largos no térreo e
continuo a encher o caminhão com as coisas de bebê a serem doadas para algumas
famílias pobres conhecidas pelo pai de Honey na Índia.
O veículo se encontra abarrotado e mesmo assim consigo descobrir espaço
para enfiar mais algumas caixas na última viagem. Com certeza muitas pessoas
ficarão agradecidas com esses objetos.
— Olha o que encontrei! — Honey exclama de repente, e eu me viro para ver
uma foto que segura, mas como ela não para de sacudir o papel, não dá para entender
nada de primeira. — Acabou de cair da caixa, devia estar no meio das roupas de
bebê.
Pego o objeto de suas mãos, confusa, e sou transportada para o passado assim
que reconheço o momento.
Estou com uns quinze anos na imagem, rosto super redondo e sorrindo
largamente, vestida toda de preto com o meu visual gótico e de mãos dadas com um
garoto de cabelos negros e olhos verdes. Consigo localizar Ashley de fundo, a ex-
namorada de Harvey e irmã de Hankings. Seus famosos cabelos loiros, quase
brancos, eram muito chamativos, lembro-me que ela praticamente ficou careca para
consegui-los inicialmente.
— Rasgue isso. — Está quente. — Rasgue isso agora, Honey! — Suor gelado
escorre pelas minhas costas e começo a hiperventilar, me afundando numa sensação
horrível que parei de sentir há algum tempo.
O meu coração dispara e meus pelos arrepiam quando caio no meio das
caixas do caminhão. Tentando não enfiar a cara no chão ao perder a firmeza nas
pernas, acabo sentada no chão.
Aquele foi o dia em que eu sumi, porém, ainda está claro na fotografia.
Alex
— Alexandra! — Escuto meu nome ser chamado no meio da escuridão que
entrei. — Alexandra?! Acorde! — Sinto dedos no meu rosto dando leves tapinhas,
tentando me trazer de volta para a realidade.
— N-não, não toque em mim — choramingo.
— O seu corpo está muito tenso, tente prestar atenção nas coisas ao seu redor.
— Tem barulhos de fundo, são animais.
Porcos, cavalos, cabras, não sei de onde eles vieram, mas são muitos. É
desesperador. Eles vão me morder, vão me machucar.
— O que eu faço?! — Reconheço a voz da menina questionando e não dá
para responder.
Sinto que meu corpo está sendo guiado para fora daquele caminhão e tento
ajudar. Consigo caminhar devagar e amolecida, contudo, não quero abrir meus olhos,
tenho medo do que possa ver além dos animais.
— Vamos colocá-la aqui, e você traga os meus óleos essenciais, por favor,
filha — responde a versão mais velha do tom de Honey.
Não sei dizer quanto tempo se passou até que o frenesi e o peso no meu peito
fossem embora, mas gradualmente consigo voltar do meu desmaio, ou seja lá o que
foi aquilo, e perceber melhor as coisas, como, por exemplo, Amita e a pessoa que
penso ser a sua mãe, esfregando algo nas solas dos meus pés. Como elas tiraram
meus sapatos e eu nem senti?
Uma fumaça morna está em volta de mim, vinda de um recipiente ao meu lado
que não faço a mínima ideia do que seja, porque tudo parece bagunçado na minha
cabeça. Tive uma pane geral.
— Tome o seu chai, querida, vai ajudar a te acalmar. — A mulher diz e eu
dou alguns goles na bebida com gosto estranho, mas agradável.
— Obrigada — sussurro, com o fôlego pesado.
— Acho que você não se acostumou ainda com o calor do interior, Honey
disse que você está há muito tempo longe daqui.
— É… Vila Velha é um forno. — Tento fazer gracinha, porém, não tenho
como sorrir agora.
— E você talvez não esteja comendo direito também. — Suspira baixo e
exasperada, daquele jeito quando você vai ao médico e diz quantas vezes por semana
come macarrão instantâneo. — Vou fazer mais pratos e te enviar por Honey para você
ficar melhor naquela casinha com Harvey. — Suas palavras são rápidas demais, o
seu sotaque é diferente e meu cérebro demora a trabalhar ao meu favor.
— É, com certeza deve ser isso. — Não comento sobre como waffles vem
sendo a minha comida base. — Acho que é esse o problema, a falta de comida
adequada, e agradeço muito mesmo a sua gentileza.
Ao me sentir menos tonta, consigo reparar nos meus arredores. Estou numa
sala do palacete, sentada em almofadas macias e sendo muito bem-cuidada. A
senhora ao meu lado me trata de forma terna e doce, mesmo que a gente não se
conheça ainda, e isso me dá algum tempo para voltar ao meu estado normal.
Foi um ataque de pânico, já tive desses antes e não adianta fazer um grande
fuzuê por eles. No meu caso é só aceitar que quando você é meio quebrada por
dentro, essas coisas acontecem.
— Mas tem algo, além disso? — pergunta e a minha ânsia de vômito volta. —
Está com medo de algo? Às vezes o corpo demonstra quando a mente não vai bem.
Meu marido é médico e me contou sobre isso uma vez — diz, tão inocente quanto sua
filha falaria isso.
Os seus olhos são ainda mais claros que o de Amita, num âmbar vivo, ela
também tem uma trança longa e escura, enfeitada com uma linha dourada elegante. As
maçãs do rosto são altas e os lábios são bem desenhados.
— Não — nego no mesmo momento. — Foi só a comida mesmo e o calor.
— Bom… Se precisar de alguma ajuda, pode me pedir.
Por mais meia hora, Mahara, que descubro ser o seu nome, segue me
contando todos os tipos de coisa calmantes e meio avoadas. A mulher viajou muito
pelo mundo, para os lugares mais distantes, e por isso ela é muito interessante.
Consegue mesclar bem os seus conhecimentos com os de outras regiões.
Porém, por mais que eu queira me alongar em sua casa, aprender mais e
acabar desabafando sobre tudo que passo agora, eu e Honey temos que correr se
quisermos ir ao baile de boas-vindas da escola. Então me despeço, depois de me
sentir um tiquinho melhor, e volto pra Berty.
Porém, o meu bem-estar não dura muito. As minhas pernas tremem e
fraquejam conforme caminho pela casa e acho a tesoura para o corte de cabelo da
menina. Só consigo me convencer a ir nessa festa, pois Honey ficaria muito
desapontada. Do contrário eu deitaria e dormiria por um bom tempo de bom grado.
— Você não parece nada bem, Alex — comenta, conforme penteio seus
cabelos e os deixo alinhados. — Tem certeza de que consegue sair de casa? Se não
conseguir, tudo bem… — Seus olhos estão quase transbordando quando diz isso.
— Não precisa se preocupar, nós iremos para essa festa tirar muitas fotos
para mostrar a suas primas chatas. — Dou uma piscadela para Honey, que consegue
sorrir aliviada.
Tento me concentrar em não parecer tão ruim a partir de agora, para não
alertá-la. Graças a Deus, Sabrina largou algumas coisas por aqui, principalmente um
secador de cabelos, pois esquecemos de pegar vários acessórios no palacete e
improvisamos o melhor possível.
O vestido feito por tia Grace foi entregue no prazo estipulado, o azul ficou
mais escuro e a peça ganhou tule por baixo, que ergue a saia do vestido e a deixa
bufante e chamativa. Vários brilhos foram distribuídos pelo decote mínimo e ela
colocou também a faixa de cetim azul-claro prometida.
Parece muito com um céu estrelado, é bonito ver como Honey se sente bem-
vestida dessa forma, com seus cabelos sedosos, soltos e ondulados esvoaçando por
onde passa. Os olhos claros dela irradiam felicidade pura e Mahara também adorou,
já que veio dar uma espiadinha aqui, aproveitou para deixar alguns potes com
comida e tirar um milhão de fotos da sua filha. Ficou combinado que a mãe da
menina a buscará no final da festa.
E sorte a minha que Mahara foi embora antes de me ver colocar o vestido
vermelho escandaloso e super decotado, dado estrategicamente por tia Grace, porque
se não ela teria ficado assustada. Meu amor, isso sim é sexy! Admiro-me no espelho
por longos minutos e só fico mais encantada.
Os meus grandes seios ficam empinados numa lingerie também vermelha que
escolhi do saco que Grace deu e devo dizer, a mulher é a rainha da costura! A peça
gruda em todas as partes mais avantajadas do meu corpo, palavra que a minha mãe
adorava usar para não me chamar de gorda e que eu odiava bastante. Não tem nada
de errado em usar o adjetivo, o que difere são as intenções.
Viro-me de costas e me contorço para olhar minha bunda no espelho.
— Caída e murcha é a cara daquele garoto! — digo, satisfeita com o que vejo
e coloco as minhas coxas grossas para trabalhar.
O scarpin faz tudo ficar mais elegante, porém, não é nada prático para dirigir
um modelo de carro velho como o meu e isso já está começando a me dar nos nervos.
— Alexandra, a gente vai se atrasar! — Honey grita pela quinta vez quando
Berty morre. Estamos no meio da estrada, o céu escureceu bastante, Hankings liga o
tempo inteiro para a garota e o som dos toques está até me deixando maluca.
— Pare de gritar ou ela não vai obedecer! — Faço carinho no painel da
minha relíquia e suplico por sua ajuda mentalmente.
Honey desiste de me importunar e retoca o gloss de sua boca, extremamente
preocupada com a maquiagem de boneca que produzi.
— Por que você nunca trocou de carro? — questiona quando tudo parece
perdido.
— Esse aqui é uma raridade, vovó tinha um igual — explico. — E também
nunca sobrou dinheiro para trocar, ou você pensa que trabalho para aquele cowboy
por que quero? — Tento mais uma vez dar partida e graças a Deus, funciona! Dou um
beijo longo no volante.
— Achei que fosse porque você gosta do Harvey.
Arqueio uma sobrancelha desacreditada da sua frase.
— Claro que não! Nós nos odiamos!
Honey se despede de mim, corre meio desajeitada nos novos sapatos de salto
fino e se encontra com Hankings encostado numa marquise. Comemoro em silêncio
por ele estar sem a porcaria do veludo roxo e eles conversam um pouco, bem
animados e nervosos, depois decidem entrar logo na escola. Porém, são parados
antes de passar porta adentro e um fotógrafo tira algumas fotos em poses variadas
para montar um book.
A garota está reluzente e me faz ficar orgulhosa demais por ajudar, feito uma
tia babona.
O casal de pombinhos some para o corredor à sua frente ao terminarem as
fotos e eu permaneço a uns vinte metros de distância, na ponta da escadaria alta
esperando por um certo alguém que jurou não furar.
Contudo, não vejo nem sinal do carro do grandalhão no estacionamento
lotado da escola. Enviou uma mensagem dizendo que com certeza já estaria aqui
quando chegássemos, o que aconteceu cinquenta minutos depois do esperado com os
problemas em Berty. Isso é tempo o bastante para o idiota se aprontar e mesmo assim
não está aqui!
Será que Harvey está cheio de lama e todo furado como da última vez que
voltou de uma viagem? Ou atrasará uma semana? Não sei, só sei que o matarei e
jogarei seus pedaços no lixão da cidade se isso acontecer.
Aparecem cada vez mais adolescentes e pré-adolescentes na escola, eles se
vestem como se estivessem em uma festa de casamento, todos engomadinhos, só
alguns que destoam, pois inventaram de mesclar algo a mais, como Honey fez, por
exemplo, com cultura tradicional indiana e moda contemporânea. Só que esses
pestinhas escolheram misturar muita maquiagem preta, franjas e coturnos, com roupa
de baile. Nem eu tive coragem de fazer essa palhaçada na minha vez.
Ajeito os seios no sutiã e abaixo o vestido que já está subindo nas minhas
coxas. Deveria ser ousado só na parte de cima, não na de baixo. Passo as mãos nos
cabelos para que voltem a cair do lado esquerdo do meu rosto num penteado
ondulado, e começo a minha caminhada árdua até a entrada. Se Harvey não apareceu
até agora, que me encontre depois.
Um grande arco dourado feito de penas falsas e balões, brega como o resto da
decoração, dá boas-vindas a todos que entram, e pelo menos umas vinte pessoas
papeiam na porta, inclusive uma rodinha de garotos bebendo escondido. Esses não
fizeram questão nem de usar um terno ou camisa social.
— Oh, tia! Tá muito gostosa! — Um menino que aparenta ter a idade de
Honey grita para mim e os adolescentes à sua volta riem e batem palminhas para a
graça que o babaca teve a coragem de fazer.
— Não sou sua tia, seu merdinha! — esbravejo. — E obrigada pelo elogio,
desgraçado! — Ergo o dedo do meio para eles e sigo até a porta dupla.
O barulho de música aqui já é mais alto, então não escuto nada da algazarra
que os moleques fazem após o meu comentário e foco em não cair com os scarpins e
não fazer uma cena.
— Oi, Alexandra! — Um homem chama a minha atenção quando segura o meu
braço de forma intrusiva, e eu pulo para trás de seu toque frio, tremendo para não
tombar para os lados. — Sou eu, Marvin! — Aqueles olhos verdes eu reconheço, são
os mesmos de Hankings e Ashley. Eles são todos parentes.
— Desculpe? — Tento sair pela tangente, mas as pernas bambas não ajudam.
— Vai dizer que não se lembra de mim? Da escola! Nós até namoramos por
um tempo!
Grande mentira! Durou menos de uma semana e foi tudo uma aposta dele com
a prima idiota.
— E-eu me lembro. — O nervoso se apossa de mim e eu faço uma careta de
nojo involuntária para a simplicidade que usa para falar comigo, como se não se
lembrasse de nada.
— Vamos tirar umas fotos? Você está super bonita! — Analisa o meu corpo
todo como se eu fosse um pedaço de carne, e sinto o sangue subir para o meu rosto
em resposta. O calor aumenta, não do tipo bom. — A minha prima, Ashley, também
veio, mas posso te garantir que foi você quem saiu ganhando, está maravilhosa! —
Marvin ri secamente. — Talvez só um pouco maior do que eu esperava… —
murmura.
Uma pequena fila de pessoas se aglomera próximo ao arco para tirar fotos, e
agora percebo que Marvin é o fotógrafo.
— Ah! Sim… — É só o que consigo dizer, não estou funcionando como
deveria agora.
Merda! Merda! Merda!
— Ela está lá dentro ajudando o marido a ficar de olho nesses pestinhas,
Ashley se casou com o diretor e virou médica, você acredita? Mas não conte a ela
que falei que você ficou bem melhor. Sabe como são vocês mulheres…
Será que acredita mesmo que isso é um elogio?
— Acho que vou entrar agora, Marvin. — A minha voz se aprofunda, quase
sumindo.
Marvin perdeu a sua cabeleira castanha que todas as meninas eram loucas na
época do colégio, inclusive eu. Porém, tirando essa parte, continua com as mesmas
belas feições, que já não consigo apreciar hoje, porque agora o homem é só um
monstro do passado para mim, não importa o seu rosto.
— Vamos lá, querida! Faça uma pose e depois a gente pode conversar e
tomar algo. — Dá uma piscadela se insinuando e se afasta de mim para conseguir
enquadrar o meu corpo com sua câmera.
Os adolescentes atrás fazem cada vez mais barulho e eu começo a ficar mais
nervosa, com as luzes fortes do pequeno cenário quase me cegando. Até uma gota de
suor escorre lentamente pelas minhas costas e o meu coração parece que vai sair pela
boca de tão forte que bate.
— E-eu não quero fazer isso. — Balanço a cabeça em negativa. — Quero
entrar, Marvin.
Queria dizer que estou com muita raiva, esbravejar irritada e dar um tapa em
seu rosto. Contudo, a verdade é que estou com medo.
— Vamos, dê um belo sorriso, Alex!
Minhas mãos começam a tremer e a minha respiração está descontrolada.
Não sei se consigo me manter de pé mais tempo, fraca em minhas próprias
pernas, com o pânico voltando, quando sinto um alguém grande e quente tomar
minhas costas, que puxa o meu corpo para perto do seu com intimidade.
— Você continua o mesmo filho da puta de sempre, não é, Marvin?!
Harvey me arrepia toda quando diz isso alto, e Marvin responde com um riso
curto, agindo como se o cowboy estivesse brincando.
O seu cheiro me rodeia e me acalma instantaneamente, porque agora é tão
natural para mim e excitante ao mesmo tempo, já que o associo aos momentos de
prazer que tive essa semana. Suas mãos me seguram com firmeza e acariciam um
pouco a minha cintura.
O fotógrafo parece entender logo o recado e olha malicioso para nós dois.
Quase consigo ouvir sua mente trabalhar, pensando no tipo de envolvimento entre
mim e Harvey, feito um pervertido doido!
— Que isso, Miller?! Por que a grosseria, amigo? — Tem um sorriso que vai
crescendo no seu rosto conforme continua suas fotos, fingindo que não falou nenhuma
merda pra mim e que só estava fazendo o seu trabalho.
— Não sou seu amigo, Marvin! — As palavras do grandalhão reverberam
pelo meu corpo.
— Você está na defensiva demais, meu caro. — O outro esconde as suas
intenções com cliques nervosos que me cegam.
— Eu não falaria com a Alexandra nunca mais se fosse você, ela não está
disponível, é minha mulher! — Harvey nos tira logo do lugar e empurra o ombro do
fotógrafo com força ao passarmos por ele, e o homem perde o equilíbrio e quase cai
no chão.
Enquanto isso o casal atrás de nós se arruma no arco, alheios à discussão que
é travada um pouco mais na penumbra, atrás do grande arco iluminado.
— Que isso, cara?! — Não é a sua imagem que me apavora, Marvin é
inofensivo. Na verdade, é o trauma que ativa a ansiedade da Alexandra da
adolescência. — Só por que tá comendo a mulher, a gente não pode mais elogiar?! —
exclama sem a menor vergonha na cara.
Escuto o gigante ao meu lado grunhir num barulho animalesco e o braço dele
quase sobe para acertar o rosto do outro com seu punho fechado. Se não fosse eu, que
o seguro com toda a força, teria arrancado os dentes daquele idiota.
— Me larga, Alexandra! — fala entredentes. — Me larga que eu vou
arrebentar esse filho da puta! — Suas narinas se alargam numa respiração pesada.
Eu queria mesmo impedir? Mesmo? Não…, porém…
— Agora não! — Largo seu braço e pouso minhas mãos sobre o seu peitoral
forte, como se estivesse “encantando” aquele garanhão. — Ele precisa terminar, olha
o tamanho da fila de adolescentes ansiosos atrás da gente. — É realmente gigante.
— Mas, Ale… — Tenta falar, e eu o interrompo.
— As crianças vão ficar sem fotos se você bater nele, e você quer mesmo
deixar um monte de adolescentes sem fotos do baile? — Custa muito para mim ter
esse raciocínio agora.
O grandalhão me observa com um olhar que se torna mais predatório e menos
raivoso.
— Depois eu posso?
Consegue arrancar um sorriso enviesado meu, como se fosse uma besta, mas
na coleira.
— Depois você pode — respondo, Harvey arqueia uma sobrancelha grossa e
indignada, contudo, assente com a cabeça e desvia os seus olhos escuros para os
meus lábios molhados de gloss.
Ficamos assim por alguns segundos, completamente perdidos um no outro.
Esse é o efeito de Harvey em mim, me faz passar do medo e angústia para a excitação
em segundos.
Contudo, logo me toco de onde estou, com Marvin ainda perto demais, então
pego o cowboy por sua grande mão e o puxo para dentro da escola, e sem olhar para
trás nós andamos pelo corredor em silêncio, enquanto a música aumenta e os meus
saltos fazem barulho no chão.
Nós vamos além da entrada do ginásio, assim ninguém nos atrapalha, e
encostamos perto dos armários numa parte novamente mais encoberta por sombras,
feito dois adolescentes namorando escondidos.
Agora o meu nervosismo mudou mais para algo parecido com: não estou
entendendo que clima estranho é esse e o motivo de não estarmos falando livremente,
mas tudo isso está me deixando doida para pular em cima de você.
— Você está arrumado — elogio com uma pitada de ironia.
— Obrigado. — Assente cordial e passa a mão pelo queixo recém-barbeado
conforme avalia a minha aparência, e eu deslizo meu olhar por seu grande corpo,
numa troca.
Harvey usa smoking, colete e camisa preta, provavelmente tudo ajustado por
tia Grace para que fosse grande o bastante em seus braços e peitoral. Já sua gravata
borboleta é vermelha e fica no mesmo tom do meu vestido. Isso tudo é um embrulho
bem grande de presente, com um homem muito alto e quente dentro.
Eu deveria ter trazido outra calcinha na minha bolsinha, pois a atual já não
está seca.
— Não vai me elogiar também? — pergunto, e coloco as mãos na cintura,
provocativa.
Ele para de encarar os meus peitos na mesma hora e puxa o meu corpo ao
encontro do seu. Gosto de me sentir arrastada por aí feito gado? Não. Contudo, o
cowboy sem chapéu escolheu a hora certa e eu não reclamarei.
Harvey se inclina em minha direção, causando muita moleza em mim, e
cochicha em meu ouvido roucamente.
— Você está muito gostosa, amor. — Aperta a minha bunda, enviando uma
quentura pela minha pele, e eu coloco minha mão por cima da sua, desafiando-o a
continuar.
— Só isso? — Fico na ponta dos pés e beijo o seu queixo vagarosamente,
depois mordo como fiz na nossa primeira vez.
A aura muda, a energia entre nós dois é puramente sexual agora.
Provavelmente devido aos dias longe um do outro, que não consegui dormir direito e
me toquei feito uma louca, sempre sonhando com ele.
— Está linda, Alexandra, e você sabe disso. — Soa manhoso.
Grudo os meus seios em seu peito e puxo o seu pescoço para que se abaixe
ainda mais. Porém, o safado solta uma risada gostosa e baixa, e não me beija como
eu planejava.
— Larga de ser ruim, homem! — exclamo.
— Não vou jogar com você, Alex. Só preciso que fique na minha frente
quando entrarmos, não quero que pensem que sou um tarado só porque a minha
mulher veio mostrando tudo.
Fico meio perdida por um tempo, até compreender. Tem uma ereção que
cresce cada vez mais grossa em suas calças.
Quando ficou tão quente assim aqui? Estou derretendo!
— Então vamos entrar e depois cuidaremos disso… — Já imaginei dezenas
de formas de cuidar dele. — E não sou sua mulher. — Pisco de maneira maliciosa e
sigo de volta à porta do ginásio para entrarmos.
Alex
O espaço é grande, escuro, está lotado de gente e de mais decoração brega.
As penas brancas e os balões são o ponto alto aparentemente, e eu juro que não
entendo a cabeça de quem esperou que isso ficaria bonito, mas tudo bem.
Mesas com comidas e bebidas se espalham desordenadas pelo local também.
A vantagem é que com aquelas luzes piscando como numa balada, o volume
na calça do bonitão passaria despercebido. No entanto, mesmo sem ver o que ele
esconde, quase todos à nossa volta grudam os seus olhos em nós dois tentando
entender que tipo de relação era aquela. Quem me conhece deve estar achando que
enlouqueci, e quem não me conhece deve achar que ele enlouqueceu. Harvey me
contou que desde a última vez que Sabrina apareceu, que não tentava nada sério com
nenhuma outra mulher.
Ele vai com a mão firmemente na minha cintura todo o caminho que fazemos
entre crianças, adolescentes e uns poucos adultos.
— Vamos achar Honey e ver alguém para ficar de olho nela, depois
procuramos um lugar! — exclamo em seu ouvido por cima da música country de Cam
Ryan tocando.
— Ok, mas vamos rápido com isso, não aguento mais você roçando o rabo
em mim — sussurra, espetando-me um pouco com a sua barba, e eu gargalho do seu
tom mandão e brincalhão ao mesmo tempo.
Não é difícil avistar o lugar onde os adultos fofocam, a maioria odeia a
missão de ficar de olho em seus filhos de acordo com suas expressões, porém, alguns
fazem com prazer. Sophie, por exemplo, que nem filho tem, fica animada em apontar
os punks de lápis de olho borrado.
O cowboy faz um aceno com a cabeça para todos que tentam cumprimentá-lo
e segue reto até mulher que parece muito com um membro da família Addams, pois é
branca como um papel e tem cabelos negros. Ela sorri meio sem graça após algumas
frases gritadas com o grandalhão, que eu nem entendo, e depois se dirige a mim.
— Oi, Alex! — fala por cima da música alta.
O meu coração pula uma batida ao finalmente reconhecer aquele nariz fino e
arrebitado… É Ashley, a ex-namorada de Harvey e ex-bullying da minha
adolescência, que mudou radicalmente o tom do cabelo e as vestimentas.
— Consegue vigiar Honey e o seu irmão por um tempo para mim? — O outro
questiona sem esperar que eu responda o cumprimento de sua ex-namoradinha de
colégio.
— Não se preocupe, já estou fazendo isso! — Ashley responde e desvia o
olhar de mim.
— Obrigado! Sabe como são, você pisca e eles se meteram em encrenca! —
Harvey exclama.
Algo dentro de mim começa a fervilhar de raiva ao perceber que o cowboy
fala com a mulher como se ela não tivesse feito nada! Aparentemente, eles têm uma
boa convivência e isso não me agrada.
— Sei bem, mas não precisa se preocupar. Estamos de olhos em todos —
assegura Ashley, e sorri olhando para a boca de Harvey. — Pra garantir uma noite
sem sucos batizados!
Fico irritada com essa movimentação e me desvencilho do homem
bruscamente para sair logo daquele canto.
— Onde você vai, Alexandra?! — berra por cima do som e segura o meu
braço antes que eu vá muito longe.
— Não encosta em mim, vou dançar! — Semicerro os olhos, fazendo a minha
Cara de Alexandra. Ele solta o ar pelo nariz de forma irritada como resposta, mas
sabe que não vai conseguir me manter assim e me larga para que eu prossiga com a
minha caminhada, sempre olhando para trás para continuar vendo o que acontece.
Harvey tira o smoking, arranja com facilidade uma cadeira para se sentar num
canto e coloca o pano sobre o colo, porém, não consigo observar mais do que isso
por conta da distância. Balanço-me de um lado para o outro na pista, perdida e com
saltos altos demais para realmente me divertir.
Ashley se mistura no meio dos outros adultos, mas acredito que ainda me olha
de canto e isso faz a minha pele quase pinicar. Espero que as fofoqueiras de plantão
não tenham notado nada estranho.
Man! I feel like a woman! Da Shania Twain vem para me salvar do turbilhão
de pensamentos que poderia me invadir e eu tento me jogar na batida da música. A
ex-loira aguada, seu primo horrível, Marvin, e uma foto daquele dia, tudo numa
tacada só! Sem contar o bebê que pode estar se formando no meu ventre. Isso é
demais para mim.
Fico no meio da pista onde Honey dança com outra garota e começo o meu
pequeno show. Os adolescentes estão se animando aos poucos, então não pareço uma
doida sozinha na pista, pois agora sou uma doida em conjunto e um pouco mais
próxima do grandalhão para que me assista.
Talvez o diretor, que grudou ao lado de sua esposa mortícia, Ashley, esteja
um pouco assustado comigo levantando o vestido, mostrando um pouco mais das
coxas e rebolando? Talvez…, Mas ninguém pediu a opinião dele, como tenho certeza
de que tia Grace diria se estivesse aqui.
Mexo o quadril de um lado para o outro e me junto ao coro de algumas
pessoas que sabem a letra da música. Não é uma canção realmente da época da
maioria dos presentes, contudo, é uma melodia que tira qualquer um do chão.
Harvey está com os braços cruzados, posso jurar que vejo o seu pescoço
engrossar e o seu rosto avermelhar. Sei que cada movimento meu é registrado por
ele, mesmo com as luzes piscando, e isso faz com que eu queira me exibir mais. O
grandalhão me controla com suas írises escuras e vice-versa. Às vezes até dou as
costas para ele, para fingir não me importar, contudo, desse jeito o homem só
consegue ver mais do que gosta.
Assim que a música acaba e uma fina gota de suor escorre na minha pele,
percebo a pulsação no meio das minhas pernas chegar ao extremo e ele vem até mim,
batendo palmas. Palmas fortes e curtas, que me fazem imaginar outras coisas.
— Esse é um belo show, está se divertindo, amor? — sussurra no meu
ouvido.
Essa é a mesma voz que usou quando esteve dentro de mim tantas vezes
nesses dias, o mesmo tom baixo.
— Muito! E você?! — respondo na maior cara de pau, e tento voltar a dançar
com Honey, que parece assustada e faz sinal de que vai pegar uma bebida. A coitada
da garota se afasta correndo de nós dois.
— Mesmo que a sua performance esteja ótima, não estou me divertindo muito
— continua falando atrás de mim, no meu ouvido, enquanto massageia os meus
ombros firmemente e roça a frente da sua calça no meu quadril no ritmo da nova
música lenta tocando. — Você fugiu de mim, está fazendo birra, Alex. — Sua língua
lambe a pontinha da minha orelha.
— Não vou ficar ao seu lado para ser feita de palhaça. Se quer ficar com
Ashley, continue com ela, que claramente não te esqueceu. — Minha voz quase falha
por conta do excesso de tesão.
Nesse momento a minha sanidade já voou pela janela.
— Vamos procurar um lugar, quero te mostrar algo — sugere, com um beijo
molhado no meu pescoço, que me faz contrair. — Algo que é só pra você, mais
ninguém.
Engulo a seco e aceito ser levada para longe.
Nossos passos são desesperados, assim como nós dois, enquanto rodamos a
escola atrás de uma sala que possa ser trancada. Ficamos em silêncio durante a caça,
um silêncio preenchido por duas respirações pesadas e muitas promessas.
Quando finalmente chegamos num banheiro do lado da biblioteca, entramos
correndo. Harvey e eu observamos o ambiente atentamente, é um banheiro feminino
normal, com espelhos, azulejos brancos e várias cabines, só que com uma grande
placa de: entrada restrita a funcionários. Deve ser por isso que está tão limpo e
vazio.
Tranco a porta antes que o cowboy me enquadre contra a parede e comece o
seu ataque. Não conseguimos ser lentos em momento algum enquanto nos beijamos
ensandecidos. Ele me esfrega como se quisesse me marcar como sua, mostrando todo
o seu domínio ao segurar meus cabelos com firmeza, me manejando da sua própria
forma.
A sua língua explora a minha boca e sua mão sobe o meu vestido um pouco,
entra por baixo do tecido e alcança minha intimidade, fazendo uma concha sobre a
minha vagina ainda coberta pela calcinha.
— Harvey — choramingo, pois, a sensação de finalmente ser tocada é muito
satisfatória — Oh, sim! — Apoio-me levemente naquela sua palma e rebolo com meu
quadril, assim a pressão se distribui no meu clítoris.
Estamos gemendo um o nome do outro, sem controle. Aperto os seus braços e
me seguro como se ele fosse a minha salvação, até que Harvey dá uma pequena
trégua no nosso beijo e passa os dedos calosos no meu queixo, espalhando mais o
meu gloss borrado.
— Fala pra mim, Alexandra. — Sua rouquidão me faz ainda mais sensível. —
Do que você precisa? — Aquele tom de comando que tanto senti saudade voltou para
mim.
— Você. — Minha voz é deformada pelo desejo.
— Tem certeza? — Enfia o rosto no meu pescoço e puxa o lóbulo da minha
orelha para baixo com os dentes. — Vamos, eu quero ouvir.
— Preciso de você. — Fecho meus olhos bem apertados.
— Então admita direito, amor. O quanto você precisa de mim? — Puxa minha
calcinha vermelha de renda para o lado e enfia o primeiro dedo grosso, que desliza
com toda a facilidade que a minha umidade permite. Estou encharcada pra cacete.
O meu grito de prazer faz o homem dar um murmuro satisfeito.
— Todo dia, preciso de você todo dia, o tempo inteiro. — Consigo dizer,
quase perdendo o ar. — Por favor, não enrol…
Harvey interrompe as minhas súplicas com a sua língua exigente, num beijo
ainda mais barulhento e molhado que o anterior. Usando sua mão livre, puxa a alça
do vestido e o sutiã para baixo, deixando os meus dois seios à mostra.
Sinto-me tão sedutora pela forma que apalpa os meus peitos com suas palmas
meio ásperas, apreciando todo o tamanho. Seus dedos escaldam a minha pele cada
vez mais e o homem está pronto para me colocar em sua boca, quando um pacote cai.
Fico vazia sem a sua digital pressionando alguns pontos bem sensíveis dentro
de mim, já que se abaixa para pegar o preservativo que eu trouxe.
— Minha menina esperta — elogia, e sacode o pacote de camisinha na minha
frente. — Você é uma cadela esperta, amor.
Sinto-me avermelhar com calor. De forma racional é claro que odeio ser
chamada de cadela, mas sempre que Harvey o faz, fico encharcada.
— Eu coloco. — Estico a minha mão para pegar o objeto e sou negada,
mesmo que planejasse me pôr de joelhos para ele. O cowboy faz um estalo em
negativa com a língua.
— Queria muito que me chupasse com essa sua boca safada, Alexandra, como
fez da última vez que estivemos juntos na nossa cama — fala baixo, e seu dedo volta
a espalhar o gloss nos meus lábios, depois entra na minha boca. Subo e desço com a
minha língua no seu indicador e dou uma leve mordida para provocá-lo. — Seria a
realização do meu sonho desde que viajei, ver meu pau bem aqui… Pra você
engasgar com ele. — Porém, se retira da minha boca e não deixa que eu continue a
tortura. — Mas não agora.
O homem usa a minha própria saliva para descer, estimular o meu mamilo e
depois apertá-lo. Harvey definitivamente adora fazer essa merda desse beliscão e já
espera pelos meus xingamentos, por mais que eu goste, e por isso não me dá tempo
de reclamar e me puxa para a frente bancada, com o rabo grudado na sua ereção.
Encaro o nosso reflexo e vejo a forma como molha os lábios, levanta o meu
vestido pouco a pouco, me revelando, depois agarra um lado da minha bunda com
força.
— Por favor — peço, e ele dá um tapa forte como resposta.
A dor me causa um estremecimento que chega até a minha vagina, numa
pontada forte me deixando ainda mais excitada. Empino o meu traseiro ao máximo
dessa vez e me ofereço para ele.
— Você gosta de apanhar nesse rabo gordo, né? Sua cadela gostosa. —
Prende as minhas duas mãos nas minhas costas e faz com que me incline totalmente
sobre a bancada. — Responda, Alex.
Os meus mamilos latejam um pouco pelo frio do material.
— Sim.
O reflexo do grandalhão sorri de volta para mim, deliciosamente. Como está
sexy na merda desse smoking! E com todo esse meu tesão acumulado, se torna ainda
mais atraente!
Do jeito que as coisas caminham, é capaz que eu o obrigue a se vestir assim
uma vez por semana, no mínimo. Ver aquele homem bruto domado numa roupa
apertada, que marca o seu pau quando fica duro, me deixa fraca.
— Quero ouvir você dizer: gosto de apanhar no meu rabo gostoso enquanto
Harvey me fode.
— Gosto de apanhar no meu rabo gostoso enquanto Harvey me fode — digo
roucamente, e ele suspira, como se estivesse emocionado, e desfere outro tapa forte.
Dou um gritinho em resposta.
Isso vai deixar marcas com certeza.
— Você está toda molhada, meu amor. — Seu tom deixa de ser áspero e vira
adoração, quando começa abrir os meus lábios por trás. — Como se sente agora?
Minha vagina faz barulhos pequenos na sua exploração.
— Vazia, muito vazia — admito num sussurro.
— Vamos ser rápidos, então vou preencher bem você — responde para o meu
alívio. — Mas da próxima vez, quando tivermos tempo, vou comer a sua buceta e o
seu rabo para você se lembrar bem de mim e me sentir o resto do dia.
Acabo soltando um gemido baixo só de imaginar como seria.
O homem me larga um pouco, para encaixar a camisinha em sua ereção,
depois se enfia duro e grande em mim, bem devagar, arrancando toda a minha
sanidade. Preenche-me acariciando o meu interior com a sua grossura e só quero
mais.
O espelho à nossa frente reflete a imagem dos nossos rostos. Estou vermelha,
com os olhos brilhantes de excitação e os dois seios de fora, e o grandalhão parece
estar sendo torturado conforme começa a entrar e sair de mim, usando estocadas
fundas e lentas. Aperto-o cada vez mais, de propósito, e isso faz as veias do seu
pescoço pularem.
Até quero observar mais dessa obra de arte que é Harvey fodendo, porém,
não consigo, porque as sensações são muito agudas quando vai mais forte. Portanto,
me debruço ainda mais sobre o mármore empinando a bunda que continua a ser
estapeada e apertada, e deixo que continue do seu jeito. Do nosso jeito, cheio de
xingamentos sujos e alguns grunhidos.
Quando já estou pronta para explodir, o cowboy esfrega um pouco meu
clítoris e depois dá um leve beliscão, fazendo uma espécie de pinçada que entra em
mim e causa uma pressão quase impossível de aguentar.
— Harvey!
Estou ardendo e mesmo assim me sinto no paraíso.
— Porra, Alexandra — diz, esbaforido, e acaba comprimido pelo orgasmo
que me causa.
Ele me puxa para que eu fique ereta e mete mais algumas vezes quando goza
também, com o seu rosto fundo nos meus cabelos.
— Você é minha, Alex — geme o meu nome como se fosse algo precioso e
muito necessário para a sua vida, sugando respirações pesadas ao acabar. — E pode
ser cedo, mas… Eu t... a... — sussurra para mim, porém, não consigo raciocinar as
suas últimas palavras.
A minha visão turva levemente, me sinto tonta e cansada, por isso vou
tombando para o lado com ele ainda no meu interior.
— Alexandra?! Ei! — exclama, desesperado.
O cowboy me vira a força, nossos rostos ficam colados, e dá alguns tapinhas
na minha bochecha para que me concentre nele, o que é meio difícil, pois minha
cabeça está bagunçada e sem foco.
— Acho que a minha pressão caiu — respondo, com um sorriso lânguido e
busco os seus lábios para um beijo profundo.
Alex
O garanhão preocupado me ajuda a colocar as roupas de volta no lugar e
depois me põe sentada sobre a bancada antes dele mesmo arrumar sua cueca e
calças. Pega papel toalha e seca nossos rostos para tentar fingir compostura e o
tempo todo me encara com írises castanhas meio ansiosas, como se esperasse por
algo.
Garanto-lhe que estou bem para tentar passar sua ansiedade e o beijo mais
algumas vezes, com as minhas pernas ao redor do seu quadril largo e aproveito o seu
toque possessivo na minha pele toda arrepiada.
Saímos do banheiro e voltamos para o ginásio devagar, novamente em
silêncio, mas muito satisfeitos dessa vez. Acho que estamos nas nuvens, até
empurrarmos aquela porta dupla e encontrarmos tudo diferente.
— Harvey! — Ashley, com seus cabelos bagunçados e rosto todo borrado de
maquiagem, corre até nós e aperta firme a mão do cowboy. — Honey sumiu!
Eu paraliso no lugar. Parece que meu coração vai sair pela minha boca.
— Como assim?! — questiono, e Harvey pressiona os lábios juntos de
nervoso.
O baile acabou para todo mundo, a música não toca mais e as luzes foram
acessas, revelando um ambiente colorido e caótico.
— Agora há pouco Honey foi ao banheiro aberto para os convidados no
corredor, e-e-e Hankings ficou esperando que voltasse para o salão — revela de
maneira perturbada. — O meu irmão mais novo estava ansioso para dançar com a
menina e não conseguiu aguardar mais que alguns minutos. Só que ao pedir para uma
amiga buscá-la no banheiro, Honey não estava lá! — Ashley conta o resto do
acontecido com uma enxurrada de palavras.
Sinto tontura e fraqueza voltarem para o meu corpo com força conforme
recebemos mais informações e a culpa me deixa amarga, aérea e muito
desconfortável. Meu único desejo é que isso seja um sonho, um pesadelo horrível ou
uma piada de mau gosto.
Tudo porque não fiquei ao lado da garota. Eu deveria ter grudado nela! Não
ter ido aproveitar e deixá-la aos cuidados daquela mulher estranha. Deveria ter feito
por Honey, o que não fizeram por mim.
Coloco o meu próprio pijama, já que agora as minhas roupas estão todas
lavadas e secas, entro debaixo dos lençóis frios, ajeito meus cabelos no travesseiro e
começo a minha maratona de pensamentos. Ele me deixou ficar com a cama de casal
pra não machucar o possível bebê e Harvey vai dormir no sofá, sozinho.
Demos boa-noite um ao outro com um aceno de cabeça e nos separamos, mas
antes de subir as escadas houve aquele momento estranho, o qual nenhum dos dois
sabia quando era mesmo o momento de desviar o olhar e seguir. Será assim quando
eu for embora em dez dias? Será que voltarei a vê-lo algum dia depois disso? Não
sei.
Fecho os meus olhos na cama querendo não pensar nisso, porém, ainda me
sinto agitada demais para realmente adormecer e não tenho um celular para fuçar as
redes sociais de algum conhecido que está muito bem de vida.
Para falar a verdade… seria bom ter o tagarela do meu lado para me distrair.
Poderíamos brigar sobre coisas idiotas, como sua péssima mania de comprar marcas
ruins, por exemplo, tudo no seu armário da parte alimentícia é de qualidade mediana
para baixo.
Isso me faz lembrar do porquê Harvey disse juntar dinheiro e leva um sorriso
ao meu rosto. O besta poderia vender o que quisesse com o seu visual e conseguir
qualquer mulher daquele seu fã-clube, nunca ficaria sem dinheiro em seu bolso, mas
ao invés disso, junta grana para comprar uma casa na cidade grande, onde ele nem
gostaria de morar mais, tenho certeza disso.
Suspiro baixo e acabo chegando em Honey. Não quero lembrar do seu
desespero e me afundar nisso, quero ajudá-la de forma prática, então tento pensar no
que teria me auxiliado quando algo parecido aconteceu comigo.
Ter alguém que me ouvisse e acreditasse em mim teria sido o ideal,
provavelmente. Contudo, não tive coragem de abrir a boca para a minha avó, doente
na época. A minha mãe trabalhava demais para reparar o que acontecia em sua casa.
O meu pai ficava cada dia mais deprimido em cima da cama, recebendo
dinheiro do governo e da esposa, e talvez sua condição até piorasse se soubesse
sobre o meu sumiço, tornaria ele mais fraco e eu já tinha tanto medo de perdê-lo na
época. Tudo isso foi um grande inferno naqueles tempos, não tinha para onde correr
com os meus traumas e a minha ferida emocional aberta.
Com certeza ouvir mais histórias sobre mulheres fortes, que não se deixaram
definir por seus piores momentos, também teria sido algo fantástico para a Alexandra
adolescente. Só tive essa chance na faculdade, anos depois. Apaixonei-me pelas
grandes escritoras e me embrenhei em grupos de apoio à mulher. Era ouvinte, mas
ver como elas tinham fibra me deu muita força e coragem. Olhar para todas aquelas
mulheres ajudou a construir muita coisa dentro de mim.
Claro que nem tudo é perfeito, sou ciente das minhas cicatrizes, contudo, fiz o
que estava ao meu alcance e me criei do meu próprio jeito. Agora só não sei
exatamente como transportar Amita para um momento novo da sua vida, menos
quebrado, como eu consegui por algum tempo.
Durmo com a cabeça revirando as possibilidades.
3° DIA
Hoje acordei mais tarde e o bonitão já havia saído da cama, porque mais uma
noite ele entrou escondido para dormir comigo, contudo, pelo menos não tentou nada
de estranho, no máximo me pediu um beijo de boa noite molhado que me deixou
loucamente excitada. Talvez tenha me abraçado, mas só quando fiquei inconsciente,
porém, isso me ajudou a não ter pesadelos, então não reclamarei.
O grande problema é que agora Harvey parece ter perdido acesso às
camisetas, blusas, regatas e anda o dia todo com o abdômen à mostra. Não tenho
coragem de encará-lo e correr o perigo dele perceber que o aprecio… e muito,
aquelas costas largas são a minha perdição.
Além daqueles olhos… E aquela boca… E aquela voz… E aquele jeito
quando não está tentando me matar de irritação… Grande merda! O homem tinha que
ser assim tão gostoso!
— Você já mandou mensagem para Mahara? — questiono, ao encontrá-lo na
sala, literalmente coçando o saco.
Honey não respondeu nenhuma das mensagens que mandei através do celular
do cowboy, que prometeu me comprar um novo hoje à noite na cidade. Estou tão
animada para isso!
— Ela disse que a menina está trancada no quarto — diz, preocupado. —
Podemos tentar ir lá hoje antes de passar na loja de celulares, depois a gente volta
pra casa logo para eu garantir que se não tiver um bebê na sua barriga ainda, ponho
um agora.
— Você não tem limites, tem?! — Mordo outro pedaço do meu sanduíche. —
Foi você quem disse que não queria filho que não fosse planejado — digo de boca
cheia.
— Se tivesse limites, você nunca teria se apaixonado por mim. — Harvey
cantarola e consegue me fazer engolir a seco o pedaço de pão.
— Queria ter essa sua confiança toda! — Depois continuo comendo.
Ele assiste à reprise de um jogo qualquer, mas não acredito que esteja
prestando mesmo atenção, pois não consegue se concentrar em quase nada quando
estou ao seu lado. Já quebrou dois copos no jantar de ontem por falta de atenção.
— O resto dos meus pedidos on-line devem chegar hoje — informa durante o
comercial, só para puxar conversa e tentar passar o seu braço por trás de mim, que eu
dispenso.
— Vou parar de ter um tarado dormindo comigo toda noite então? — Finjo
alegria.
Amo dormir com Harvey e não posso jamais admitir em voz alta.
Concentração no plano de ir embora, Alexandra!
— A cama é do Derick, e se você ganhasse dinheiro toda vez que mente para
mim ou reclama de coisas que, na verdade, você gosta, já teria todo o dinheiro da
faculdade do nosso filho — provoca, e eu quase cuspo o novo pedaço de pão na
minha boca. — E você está comendo bem hoje, acha que conseguimos gêmeos? —
Pressiona os dois lábios para conter uma risada.
Hoje ele está especialmente afiado.
— Se eu engravidasse de gêmeos teria que me livrar de você, três crianças na
mesma casa é coisa demais. — Fuzilo o cowboy com os meus olhos, que dá de
ombros com um meio-sorriso safado nos lábios.
— Vamos pegar Derick na cidade também, amanhã tem aula.
Tomo um gole do meu chá e decido perguntar uma coisa difícil.
— O que acha que vai acontecer com o cara que tentou levar Amita? — Faço
o melhor para não pensar sobre o pervertido à solta ou ficarei doente.
— As buscas continuam, segundo Mahara. — Fica sério. — Honey não
conseguiu dar tantas informações sobre a aparência dele, acredito que por conta do
choque. Agora estão tentando rastrear a entrada do homem para o prédio, saber de
onde veio. Só não passam muitas informações, para não alertá-lo caso tenha contato
com a informação.
— Entendi…
Torço o meu nariz e encho a minha boca de pão com geleia de novo.
Após terminar a minha refeição, o gigante e eu, que finalmente colocou uma
camiseta, seguimos até o palacete de Mahara. Ela nos atende com uma expressão
desconhecida para mim no rosto. Uma mistura de falsa placidez, que fica, na
verdade, quase toda encoberta por medo.
— Ela está melhor agora, saiu do quarto e está conversando até que bem, mas
tem algo em seus olhos. — A mulher indiana mexe a cabeça duvidando do estado da
filha. — Tem algo naqueles olhinhos que não está normal.
Aceno em concordância sem saber exatamente o que dizer.
Encontramos Honey na sala, ela veste uma bata simples e preta, não tem muita
cor ou detalhes especiais como as outras que usava. O seu cabelo está preso no alto
de sua cabeça num coque bagunçado, assim como o meu, e ela assiste vídeos que
ensinam a pintar o cabelo com henna.
— Teria ensinado, mas preferi deixá-la tentar sozinha — sussurra Mahara
para nós dois, antes de sair de cena para nos trazer um chá.
Ajoelho-me do lado da garota e Harvey fica andando pelo cômodo e
inspecionando as coisas. A sua figura bruta, com o chapéu de cowboy na cabeça,
destoa completamente da delicadeza das peças daquele lugar e a forma como seus
dedos vão mexendo nas decorações lembra muito a de uma criança que não sabe
ficar quieta.
— Oi — digo o mais próximo do meu tom normal possível.
Na realidade, tenho receio de não saber lidar com ela a partir de agora, de
não saber ajudar e de piorar a situação.
Além disso, ainda tem uma sombra nessa história que me deixa mal. Confio
na palavra da garota, não acho que mentiu quando garantiu que o homem nunca a
tocou, porém, ainda tenho medo do resultado dos exames quando ficarem prontos, do
que pode ter sido detectado em seu corpo.
— Oi, Alexandra. — Vira-se para mim e dá um pequeno sorriso.
Honey não está diferente em sua aparência, na minha opinião. Só nos modos,
agora menos expansivos. A confiança de falar de forma desenfreada e iluminar os
espaços com sua animação decaiu, pelo visto.
— Vai mudar a cor do cabelo? — Indico o seu celular com a cabeça e ela faz
que sim.
— Quer pintar o seu também? Acho que não deve pegar muito, mas quando
você for para o sol vai ficar avermelhado.
Dou uma risadinha em resposta e me sento com as pernas cruzadas.
— Vou deixar você ficar mais original com os seus cabelos avermelhados
sozinha. Vai fazer o maior sucesso na escola! — comento, e seus lábios se movem em
um sorriso desconfortável.
— Claro, na escola… — As írises cor de mel tentam fugir de mim.
— E você vai me ajudar amanhã, né? — pergunto, formando um plano
repentino na minha cabeça. — Vou levar Derick para a escola e eu não sei o que vai
ser de mim! E ainda passarei o resto do dia, até o horário de saída dele, vigiando a
porta do colégio pra ter certeza de que o garoto não vai matar aula!
Honey arqueia uma sobrancelha descrente.
— Sério? — Arregala os olhos e faço que sim com a cabeça. — O dia todo?
— O Harvey vai também. Não vai, Harvey?! — digo alto, e o grandalhão
pula e quase deixa cair um pote que observava próximo até demais. — Você vai
comigo amanhã passar o dia todo na porta da escola de olho para o Derick não matar
aula, certo?! — Dou a deixa para que ele possa concordar.
— Ah! Sim! — E graças a Deus o homem entende. — Derick quase repetiu
ano passado, lembra, Honey?
— Lembro… Mas vocês não acham um exagero? Não vai ser meio
desesperado passar o dia todo vigiando a escola para que ele não fuja? — Dá uma
pequena investigada.
— Acho necessário! — O cowboy afirma com toda aquela sua confiança de
sempre. — Jimmy ficaria muito bravo comigo se eu deixasse aquela peste reprovar.
Amita para de apertar as suas mãos juntas e dá um sorrisinho mais verdadeiro
do que qualquer expressão de animação que tenha feito até agora.
— Você irá conosco para escola amanhã, então? Fica de olho nele lá dentro e
nós ficaremos lá fora! — Sinto-me quase como uma líder de torcida, com o tom
animado e a atitude pra cima.
— Claro… Claro que vou ajudar!
— Obrigada! — agradeço e dou play de volta no vídeo do seu celular.
Faço Harvey pintar os pelos da sua perna com henna enquanto Honey pinta os
seus cabelos. A cor não mudou muito porque suas madeixas são muito escuras, mas o
efeito avermelhado aparece um pouco no sol e o mesmo acontece com a perna do
grandalhão.
Depois nós deixamos a garota com a sua mãe e seguimos para o centro de
Vila Velha de caminhonete. A minha Berty já está estacionada em casa, pois a
buscamos ontem.
Consigo comprar um sabonete só para mim, para não ter que cheirar mais
igual a uma égua ou como aquele macho. Compro também um celular barato e um
pente pro meu cabelo, pois fiquei sem nenhum desde que cheguei aqui e é uma guerra
para manejar aquelas coisinhas pequenas que Harvey usa para pentear o dele. Até
peguei um pacote de absorventes para ser otimista, com fé essa menstruação virá.
O cowboy me segue feito um cachorro pela cidade conforme compro mais
coisinhas e até parece prefeito do lugar. Todo mundo o conhece e todo mundo
pergunta: cadê aquela moça brava, parente de “insira aqui o nome de alguns dos
meus milhares de parentes”? E ele responde com um sorriso largo e aponta para mim.
Eu aceno com a cabeça tentando fugir da falação, e acabo incluída em alguma
conversa com duração mínima de vinte minutos.
Após cumprimentar umas quinze pessoas diferentes, conseguimos chegar à
casa de Derick para Harvey falar com a mãe do menino, que só vejo pela janela. Ela
parece pálida e é mais alta do que eu, com cabelos castanho-claros bem luminosos.
Fico na calçada dela, chutando pedrinhas sem saber exatamente como
socializar com o moleque de cara fechada. Não acho que me odeia de verdade,
provavelmente só odeia não ter um pai.
Em algum momento a nossa relação vai dar certo, tenho fé, e como prova
disso recebo um sinal.
— Achei um negócio. — Derick estica um papel para mim. — Parece com
você, então peguei.
Uma Alexandra muito estranha, com um Harvey de longos cabelos castanhos
e um Jimmy com sorriso banguela fazem pose para foto. Foi o dia em que nós
brincamos de arremessar bolas de lã em latinhas no quintal da minha vó. A
lembrança inunda os meus olhos de lágrimas.
Sem pensar duas vezes, puxo o garoto para um abraço repentino e o pestinha
fica se debatendo tentando sair de qualquer jeito. Essa provavelmente será a minha
única chance de fazer isso, de abraçar uma pequena versão de Jimmy deixada pra trás
por uma acaso tão triste do destino.
— Você pode espalhar para todo mundo na escola que a minha bunda é caída,
se me deixar ficar abraçada com você só mais um pouquinho — digo, num tom
choroso, ele suspira alto e retribui sem graça o meu abraço.
Deus, como irei embora desse lugar?
5° DIA
Alex
Estou entre um sonho e a realidade quando percebo um peso sobre o meu
corpo me prensando contra a cama de casal.
— Harvey, você está me amassando — aviso o grandalhão, que me abraça
com força usando suas pernas e seus braços, fazendo então o meu rosto ficar grudado
em seu peitoral largo e nu, que cheira maravilhosamente bem. — Harvey! — Chamo
mais uma vez e não funciona.
Será que ainda dorme?
A sua próxima ação me responde que não, já está bem acordado e cheio dos
seus planos, pois coloca o joelho no meio das minhas pernas com delicadeza e
pressão, começando a sua tortura.
Tenho quase subido pelas paredes esses dias perto dele sem fazer nada,
tentando resolver meus problemas com as minhas próprias mãos, então cada pontada
de prazer tem efeito dobrado do que normalmente teria.
Parece que o papo de pedir com carinho, ajoelhada e me humilhando era só
balela. Nem ele aguenta mais.
— Vamos, Alex — sussurra rouco para mim, e continua a pequena massagem
com o seu joelho no meu clitóris, tão sensível quanto os meus dois mamilos nus, que
provavelmente escaparam da camisola fina enquanto dormia.
— Não faça assim — peço.
Meus seios de fora estão sendo observados por ele, com suas írises castanhas
cheias de desejo e, juntando essa imagem com o estímulo entre as minhas coxas, fica
tão quente que eu mesma remexo meus quadris para receber mais.
— Alexandra — diz, com ternura, e causa arrepios em mim. — Tire a
camisola, amor, e toque-se para mim. Quero ver.
— Não, e você para de me torturar — suplico, mesmo eu sendo a rainha em
fazer joguinhos para deixá-lo duro e não tocá-lo no final das contas. — Faça o que
tem de ser feito.
— Primeiro quero que se toque para mim, quero ver como é que você faz
quando está sozinha — repete a sua condição, e eu me pressiono mais contra o seu
joelho e cravo os meus dentes em sua pele.
Harvey geme de dor, enterra o seu rosto nos meus cabelos e beija a minha
cabeça, com isso consigo fazer com que pare de me abraçar tão apertado e puxo essa
sua palma para o meio das minhas coxas, para me esfregar contra seus dedos.
— Quero que você me toque. — Meus quadris rebolam nos seus dedos,
desesperada pelo contato deles com o meu clitóris. — Por favor, se você começou,
então termine. Me fode agora. — Enfio minhas palmas em sua calça de pijama e
localizo com facilidade a sua ereção grossa e quente, e tão úmida de pré-gozo. —
Preciso de você dentro de mim.
Harvey grunhe em resposta e me puxa para um beijo barulhento, abafando as
nossas próximas falas. Nossas línguas nos tornam um só e os meus suspiros ficam
cada vez mais pesados com seus dedos ásperos me acariciando, até que dois de uma
vez começam a entrar e sair duramente, enquanto seu mindinho fica esticado
esfregando a entrada do meu ânus. Continuamos assim por longos minutos que me
deixam mole em seus braços.
Trabalho a sua extensão grossa sem pena para retribuir o favor.
— Vou pegar a camisinha — avisa, ao seu abaixar e começa a mordiscar o
meu pescoço, contudo, isso tira as minhas mãos de seu pênis que ficou mais longe e
ele geme como resposta, mas não sai do lugar para fazer o que disse que faria.
Não consigo pedir por mais velocidade em suas ações, pois o grandalhão
ameaça tentar enfiar um terceiro dedo em mim e me faz choramingar mais
enlouquecida. Volto a ser devorada por sua boca e beijo aquele homem com devoção,
chupo a sua língua e acaricio os seus braços largos.
Quando recobro a minha voz, quase na beirada de um orgasmo, me
desvencilho de sua boca e berro:
— A camisinha, pegue logo!
— Sim, senhora. — Finalmente concorda, debochado, e vai em busca do
pacote na gaveta.
Livra-se da calça de pijama num tempo recorde, ansioso, encaixa o
preservativo no pau ereto e vem se deitar atrás de mim, grudando seu peitoral na
minha pele. Faço espaço para que decida a posição, arqueio meu corpo e empino os
seios ao sentir minha coxa ser erguida por seu braço.
Ele me quer de lado e bem aberta.
— Sim. — Seus dedos guiam a ereção para ser esfregada na entrada da minha
vagina. — Coloque logo, pelo amor de Deus! — Enfio minhas unhas em seus dedos e
me contorço.
— Não seja mandona, querida — sussurra com os lábios colados na minha
orelha. Sinto seu quadril começar um vai e vem, ainda sem entrar, só me esfregando.
Sua palma sobe e agarra meu seio, massageando do jeito que tanto gosto, e castiga o
meu mamilo com pequenos apertões. — Você sabe bem que agora é minha.
— Então me coma agora, seu desgraçado. — Consigo dizer entre respirações
esbaforidas. — Agora, Harvey!
— Sem gritar! — Larga meu seio para dar um tapa barulhento na minha
bunda. Contenho-me para não pedir outro. — Antes da madame acordar, Honey
passou aqui e levou Derick para ver os animais, mas logo vão estar de volta e você
não pode gemer tão alto.
— Ok. — Fico irritada, não com suas palavras, mas sim porque não começa
logo. — Você quer ver eu me tocar, então? — Desço meus dedos para o meu clítoris
inchado e quase dolorido — Está vendo agora? Estou me tocando. — Faço círculos
na protuberância e deixo que o prazer se aposse de mim e me arrepie toda. — Para
você, estou me tocando só para você — murmuro, conforme subo e desço com os
meus dedos, sentindo pontadas no meu interior.
Fecho os meus olhos e por longos segundos o cowboy segura a minha coxa
separada, querendo ver como me masturbo. Meu quadril se move sozinho ao encontro
dos meus dois dedos.
— Gosto disso, assim é bem melhor. — Puxa a extremidade da minha orelha
com os dentes e volta a se esfregar, usando a minha lubrificação natural e a do
preservativo. — Vou comer a sua buceta todo dia pela manhã. Vai ser o nosso ritual,
querida, e… — Suas palavras seguintes são engolidas quando a cabeça do seu pau
finalmente entra em mim e ele solta um gemido estrangulado.
Harvey começa lento, faz meus seios e minha barriga sacudirem levemente
com suas estocadas profundas. Usa pressão para segurar minhas pernas separadas,
assim consegue me possuir para o seu bel-prazer. Grunhe o meu nome de uma forma
selvagem no meu ouvido e eu quero o homem dentro de mim para sempre.
— Isso. — Continuo me acariciando e começo a apertá-lo com os meus
músculos internos. — Você fode tão bem, querido. — Estico meu pescoço, em êxtase.
— Você gosta? — Seu ritmo vai ficando cada vez mais marcado, fazendo a
cama ranger e ir contra a parede, pois seu quadril empurra bem fundo contra mim.
Nunca poderemos transar com Derick no outro quarto, ele decerto ouviria
tudo, precisaremos de um bom isolamento acústico.
— Sim, sim! — Fecho os olhos e mordo meu lábio inferior. — Adoro o jeito
que você me come — sussurro, meus olhos reviram em suas órbitas com o prazer se
apertando no pé da minha barriga feito um redemoinho.
— É porque eu te amo, por isso você gosta — confessa num murmuro
obsceno, conforme fica mais rápido nas estocadas.
Meu corpo enrijece e eu gozo, com golpes mais fortes do seu quadril e a sua
declaração reverbera em meus ouvidos. Tento desesperadamente engolir meus gritos.
Mas não me viro para beijá-lo, caso fizesse ele enxergaria as lágrimas quentes que
rolam pelo meu rosto.
10° dia
Diariamente Harvey e eu acordamos cedo, o cowboy completa o seu tal
ritual dependendo se Derick está no quarto ao lado ou não, e depois vai cuidar dos
seus animais, enquanto tomo meu café da manhã, após ser muito bem comida por ele,
e preparo o almoço para levarmos na nossa vigia constante.
É uma parceria confortável e também meio muda, pois é como se o cowboy
me analisasse ansiosamente o tempo inteiro, aguardando por algo, querendo me
desvendar de qualquer forma com seus maliciosos olhos escuros.
Acho que faz isso, pois quer saber como me agradar, aprender a me laçar
para que eu fique. Não sei dizer se me sinto desconfortável exatamente, não é
horrível receber tanta atenção, só é diferente do que já experienciei.
Não ficarei em Vila Velha de jeito algum e ele não pode ir pra cidade grande
comigo, pois ama a vida no campo e isso é claro na minha cabeça, mas não na dele e
não adiantou explicar.
Então nesse meio tempo, enquanto o homem age feito uma mula teimosa,
descobri coisas sobre o grandalhão que nunca imaginei. Por exemplo, que Harvey
cantarola Shakira quando dirige distraidamente e que a sua cara estará sempre
concentrada e meio emburrada ao esquecer que tem alguém observando-o.
Contudo, se eu falasse sobre qualquer coisa banal, ele responderia com o
cuidado de um sorriso enviesado e atenção o bastante para deixar as minhas pernas
meio moles, por conta do jeito como a sua voz é baixa e rouca…
Ontem não consegui escapar dos calafrios que seu timbre me causa, enquanto
ele insistia que eu chegasse um pouco mais perto da sua égua Patrícia, e fui agarrada
nos estábulos por aquele cowboy safado. Adorou me deixar com vergonha e nem
lembrei dos meus traumas enquanto me tocava.
Porém, não tivemos muito tempo, pois Honey voltou a falar e, dessa vez,
parecia mais um pedido de socorro, acredito eu, quando apareceu gritando na frente
da pequena casa. A menina queria preencher a sua mente com outras coisas, entendo
bem o que é isso, então falava também sobre a minha vida, o que levou a uma
intimidade maior.
Na cidade grande em que vivi antes, não tive amigos próximos. Ia para festas
beber com conhecidos da revista só para fazer presença e voltava tarde da noite,
sempre sozinha. Mas isso foi bom, pois me deu mais tempo para escrever matérias,
revisar artigos de forma freelancer e às vezes até me enfiar em jornalismo
investigativo.
Viver pro trabalho suprimiu a parte mais ativa e raivosa da minha
personalidade e eu era só um fantasma, via de tudo quanto era coisa e nunca era
vista, não como agora. Agora sou alguém com um passado, um monte de parentes e
com um cara a tiracolo que diz que sou a mulher da sua vida numa frequência quase
absurda. Riria da cara de qualquer um que falasse há dois meses da minha situação
atual.
No entanto, fico pensando mesmo no que será que a minha avó falaria de tudo
isso, afinal foi ela quem deu o par de toalhas com as nossas iniciais. Acredito que
esse foi o sinal que conseguiu deixar quando já não era mais escutada. Contudo, não
sei se quero seguir essa sua dica sobre eu e Harvey sermos um bom par.
Fugi da morte dela, do seu velório, da casa que me deu, por anos. Desse jeito
era como se só estivesse longe, me aguardando com um pedaço de bolo no prato em
algum lugar. Toda vez que nos falamos por telefone, quando eu mandava o máximo de
dinheiro possível, mas não a visitava, sempre dizia: eu entendo você e está tudo bem,
mesmo que não entendesse. Dona Agnes tinha o conhecimento de que eu a amava e
espero que tenha sido o bastante. Também espero que a minha avó tenha tido a
compreensão de que não fui vê-la em seus últimos dias não só por conta de um
capricho.
Não poderia vir aqui quando ela faleceu, acho que desmontaria de vez ao
olhar Mary e todos os outros seguindo a sua vida.
Desde o que aconteceu no final daqueles dois dias, perdi as minhas
perspectivas, os meus sonhos mais infantis, planos de vida comuns e fiquei mais
ambiciosa. Queria ser tão grande que os problemas se tornassem pequenos quando os
olhasse lá de cima. Grande porra, os meus problemas me encontraram e me
derrubaram de qualquer jeito e agora ainda tem a grande questão, e se eu estiver
grávida mesmo?
O que farei? Ficarei grudada para sempre num homem que é… no mínimo
diferente de mim. Um homem que deveria estar com alguém melhor do que eu,
alguém que saiba retribuir afeto e não destruir, pisar em cima.
Katherine, a mulher alta e pálida, ainda está enlutada por Jimmy. Está
realmente triste, pois antes mesmo de engravidar no meio da adolescência já
namorava o meu primo, e antes de namorarem eram amigos. Pareciam ser o tipo de
pessoa que foram feitas um para o outro, um casal amoroso, e é isso que Harvey
deveria ter.
O Encantador merece um casamento como o do meu primo ou no mínimo
algo parecido, era o que eu achava. No entanto, Harvey me explicou que Katherine e
Jimmy brigavam bastante, principalmente por conta do vício do meu primo em jogos
de azar e da existência de uma amante. Eles perderam todas as suas economias e
agora a sua casa está à venda.
Parece que nenhum casamento é fácil por aqui em Vila Velha, que ninguém é o
que demonstra ser.
Mas as crianças são boas, Derick roubou um álbum inteiro, escondeu dentro
da sua bolsa e trouxe para mim, pois gostou de ouvir as histórias de infância do seu
pai e eu comecei a adorar contá-las, como se fazendo desse jeito conseguisse montar
uma trilha de memórias douradas que me guiasse e me afastasse dos momentos ruins.
Antes de entregar o menino nas mãos de sua mãe ontem, fiquei sentindo
aquele sentimento de incapacidade crescer cada vez mais. Diferentemente do que
pensei alguns dias atrás, não acho que irei aprender a lidar com crianças nunca. Ter
um exemplar desses em meus braços só causaria estrago e dor a ambos os lados,
porque não seria uma boa mãe ou boa tia e muito menos uma boa esposa para
ninguém.
E sei bem o motivo de estar tão deprimida assim, pensando todas essas
coisas e sendo tão nostálgica. Porque me apaixonar me deixa triste, sempre deixou.
— Você tá caladona hoje — diz Harvey, brincalhão, e me afasta dos meus
pensamentos.
Respondo com um pequeno sorriso forçado.
Estamos no final de uma vigia agora, dentro de sua caminhonete em frente à
escola, aguardando pela menina de olhos cor de mel para que se sinta segura de que
nenhum homem aparecerá para levá-la.
— Você também não falou e passou muito tempo fora quando saiu para ir ao
banheiro — provoco o gigante, na tentativa de desviar sua atenção para outra coisa e
ele arqueia uma sobrancelha em resposta.
— Achei que nem notasse mais a minha presença, não está nem olhando na
minha cara direito hoje — reclama, inclino a cabeça e contraio o rosto como uma
forma de pergunta.
— Você parece um robô, Alex, tem feito tudo no automático. Só com a Honey
e com o Derick que relaxa, comigo foi só patada até agora.
A sua expressão está tão brava.
— Não acha que está exagerando? — questiono o homem com chapéu de
cowboy na cabeça e uma camisa xadrez quase estourando em alguns botões no seu
corpo grande demais pra peça.
— Já entendi que não quer estar grávida de um filho meu. — Suspira,
incomodado.
— Agora não quero estar grávida do filho de ninguém, Harvey.
— É que achei que as coisas entre nós dois tivessem mudado… Você disse
que me amava.
Arregalo os olhos e quase sinto o meu coração parar de bater conforme o meu
rosto é inundado com uma quentura estranha, daquele tipo quando algo muito
precioso seu é exposto.
— Nunca disse isso! — exclamo, e Harvey sorri em resposta.
— Não disse, mas tá quase!
Estou pronta para retrucar a sua gracinha, porém, ele passa a mão em sua
barba cheia para ajustá-la e eu me perco.
— V-você não sabe nada sobre o que está falando… — Puxo uma respiração
aliviada.
— Muito pelo contrário, meu amor, sei exatamente do que estou falando —
rebate, ironicamente. — E você tá me olhando de um jeito estranho agora, decidiu
que quer trepar no carro, é?
— Estamos na frente da escola, homem!
Harvey ri roucamente e eu sinto calafrios percorrerem o meu corpo todo.
— Entendi, é um sinal para irmos mais para longe. Tudo bem… — Coloca a
mão no volante, começa a ligar o carro e eu dou um tapa em seu braço.
— Larga de ser idiota! Nós estamos de vigia!
O cowboy suspira e assente com a cabeça.
— Podemos fazer isso quando voltarmos então — sugere, aproxima-se
rapidamente e rouba um selinho meu.
Fico assustada com o movimento brusco e dou um pequeno pulo no banco de
couro quando nossos lábios se encaixam, depois se afasta um pouquinho.
— Babaca — reclamo entredentes, com o seu rosto pairando sobre o meu.
A aba de seu chapéu faz sombra e deixa os seus olhos em evidência.
— Vai me beijar de verdade agora? Ou vou precisar continuar roubando para
você continuar fingindo que não gosta? — diz, debochado.
Molho os meus lábios ansiosamente e seguro uma respiração enquanto coloca
seu braço ao meu redor e me puxa para o seu colo, até que esteja sentada em sua
perna. Desse jeito a nossa diferença de altura não é grande e consigo sentir melhor o
seu cheiro, couro misturado com o aroma do sabonete masculino que sempre usa.
— Alguém vai nos ver!
— Então você tem que parar de me provocar, mulher. — O seu hálito é fresco
e acaricia o meu pescoço. Depois vem aqueles seus malditos beijos molhados na
minha pele que me deixam maluca. — Tem que ser mais receptiva, como nos
estábulos.
— Você que abriu a minha blusa e colocou meus seios para fora — protesto,
brava.
— Tudo culpa sua por ser tão gostosa — sussurra, e coloca a sua mão livre
no meu rosto, no mesmo momento que escutamos o sinal escolar tocar. Em no máximo
dez minutos estaremos rodeados de crianças. — Merda — pragueja o cowboy, e eu
volto a me sentar no meu banco, com um sorriso largo nos lábios.
Alex
Harvey chega pisando suas botas de couro duramente, traz lama para dentro
de casa sem nenhum problema e sacode feito um cachorro o seu corpo, molhando o
sofá e o piso com a água da chuva que nos encharcou. Os meus dentes batem de frio,
e é tudo culpa dele e daquela porra daquela caminhonete velha!
— Por que você tem que ser assim, Alexandra?! — esbraveja para mim. —
Por que não pode aceitar nada que os outros te dão?!
Solto uma respiração barulhenta e irritada em resposta, ele joga o seu chapéu
também encharcado de qualquer jeito no chão, depois coloca as mãos na cintura e me
fuzila com os olhos enquanto seus lábios se juntam numa linha fina e irada.
— Não sou obrigada a fazer o que você quer, só porque acha que é meu dono!
Após entregarmos Honey em casa, as coisas pararam de ir bem entre nós
dois.
— Não sou dono de uma égua brava igual você! — exclama, começa a
desfazer os botões da camisa xadrez vermelha grudada em seu corpo com raiva e
joga por cima do chapéu.
É uma boa rotina discutir até que me agarre de um jeito que me deixa louca,
cavando seus dedos ásperos no meu quadril, me fodendo enquanto me dá tapas e
mordidas, então não dou o meu braço a torcer, já que no final das contas o homem
adora a minha língua afiada.
— Não quero você me compre a porra da casa da minha avó de volta! Seu
filho da puta sem noção! Dinheiro não dá em árvore pra você gastar assim comigo!
— esbravejo, e o assisto direcionar as suas grandes mãos para a sua área mais baixa
e abrir o zíper da sua calça jeans.
Depois se livra também do cinto com uma fivela bonita e deixa o seu
abdômen cheio de pelos castanhos à mostra.
— Isso já entendi, só não entendi o porquê! — O seu rosto indignado é bruto
e tão quente!
O grandalhão dá uma dançadinha e arranca os seus calçados com ódio.
— Não preciso que você me dê o seu dinheiro, não quero nada do que é seu!
— Estou mentindo duplamente, pois quero ele e toda aquela sua prepotência do meu
lado.
— Sua filha da puta mal-agradecida! — Harvey aponta o seu dedo grosso em
minha direção.
— Agora eu sou a filha da puta?! Só por que não quero o dinheiro que você
vem juntando por anos ao se matar de trabalhar?! — Fico até sem ar por ter que
gritar tão alto após caminhar meia hora com a chuva batendo forte na minha cabeça.
— Você correu de um lado para o outro feito um condenado e agora vai simplesmente
gastar tudo isso de uma vez? Isso é justo pra quem?!
O homem parece um boi furioso enquanto pensa no que acabei de falar. Mas
depois o seu rosto passa de irado para só emburrado, refreando bem os seus ânimos.
— Tire a sua roupa — manda Harvey enquanto arranca a calça jeans do seu
corpo. — Tire a roupa pra mim, Alex.
— Não vou tomar banho com você, seu babaca! — A minha frase não serve
de nada, pois ele caminha em minha direção, sem me dar espaço para fugir, e me
aperta contra a parede.
— Não quero que fique doente — diz rouco. — Vamos tomar banho agora,
então tire a roupa, porque estou mandando. — Indica o meu corpo com o seu queixo.
— Você só está sendo espertinho e querendo me fazer esquecer das coisas
idiotas que me falou. — Nesse momento, eu o quero tanto para mim que chega a doer.
— E o que eu disse de errado? — pergunta, inocentemente.
Não foram as suas declarações bobas e sonhadoras, recheadas de um clichê
que sempre desejei de longe e odiei de perto, ou as suas frases de efeito prontas para
me irritar e me envergonhar, foi a sua crueza e a sua verdade que me fizeram cair,
mesmo que fingisse para mim que estava resistindo.
— Acabou de me chamar de filha da puta, seu desgraçado! — reclamo, e o
cowboy chega ainda mais próximo.
— Se serve de consolo, você é a filha da puta mais gostosa que conheço, e eu
te amo assim — confessa baixo.
— Babaca, pare de brincar com isso! — Tento empurrá-lo para longe,
obviamente sem sucesso.
Os olhos negros de Harvey se concentram no meu corpo e descem até os meus
seios parcialmente expostos pela camiseta branca, mas protegidos pelo sutiã de bojo.
— Sabe que não estou brincando, e agora vou foder você no banheiro para
ajudar a esquentar, então tire a roupa, amor, cuidarei de você. — Soa decadente e
cheio de desejo.
Respondo com um aceno negativo e birrento de cabeça.
Ele suspira contrariado, porém, não desiste. Abaixa-se, segura a barra da
minha blusa entre seus dedos e levanta lentamente o tecido acima dos meus seios
para deixar a minha barriga macia exposta. Com os seus dedos, o cowboy puxa o
bojo do meu sutiã para baixo e faz os meus peitos ficarem de fora pouco a pouco,
para que observe do jeito que quiser.
O meu rosto esquenta de vergonha da forma animalesca que demonstra o seu
desejo e Harvey me encara o tempo inteiro enquanto enche suas mãos com os meus
peitos, depois, ao mesmo tempo, enfia os meus dois mamilos duros e gelados da
chuva em sua boca úmida e quente, e suga. Roda a língua em volta da protuberância e
suga cada vez mais
— Harvey… — A sensação é inebriante e me faz apertar as coxas juntas de
tanto tesão. — Oh, meu Deus! Não morda! — O que sinto fica ainda mais forte
quando ameaça me contrariar, e fecha um pouco os seus dentes em minha pele. Essa
pequena dor viaja até a minha vagina e eu estou pulsando. — Não me morda com
força — suplico e começo a me oferecer. — Chupe mais e me coma assim.
— Peça com carinho, Alexandra. — O grandalhão suspira enquanto larga os
meus seios e abre o botão da minha calça
— Já pedi — choramingo, e deixo que me ajude a me despir.
Harvey ainda mantém sua cueca clara e a cada peça minha que cai no chão, o
grandalhão me presenteia com uma ereção mais acentuada e mais carícias na minha
pele.
— Se você não pedir direito, nada vai acontecer — declara, prepotente, e me
faz ainda mais ansiosa ao se afastar e sentar-se no sofá. — Agora você vai me pedir,
de joelhos e com a língua de fora, como eu disse que seria. — Puxa o seu pênis para
fora da cueca molhada e começa a se tocar para mim.
— De joelhos?
Tem muitas veias em seu pau avermelhado, que masturba cada vez mais
rápido, me deixando hipnotizada.
— De joelhos, Alex — responde, e eu caminho lentamente e faço como pede.
O tapete embaixo é macio e amortece o meu peso conforme me sento em meus
calcanhares. Sinto-me vulnerável dessa forma, sendo encarada de cima por um
homem grande e mandão, mas também muito excitada.
— Quer que eu chupe você? — Tomo o seu membro em minha mão, raspando
nossos dedos juntos, antes que o largue, e começo a estudá-lo de perto. Sei que sente
a minha respiração naquela glande inchada e tão vermelha, então provoco ao
máximo. — Quer que eu o coloque em minha boca? — pergunto, languidamente, ao
passar a minha língua por sua extremidade e engulo um pouco do seu líquido. —
Você quer me ver engasgar com o seu pau na minha boca?
— Alexandra… — sussurra Harvey num leve tom de ameaça.
Dou um leve apertão em seu pau.
— Olhe para mim, amor — peço, docemente, tentando esquecer do vazio
entre as minhas pernas. Estou tão encharcada de desejo. — Quero que você veja
tudo.
Acaricio o seu membro com certa pressão e faço movimentos de acordo com
as suas caretas de prazer. O seu pescoço está tenso e a mão dele segura os meus
cabelos bem apertados na base da minha cabeça, quando enfio mais do seu pau na
minha boca.
— Filha da puta — choraminga, rendido para mim. Faço questão de tomar
ainda mais dele, chupá-lo com mais intensidade, e faço barulhos altos. — Porra de
mulher gostosa. Vou foder você, Alexandra, você vai ver — balbucia e puxa uma
lufada de ar com dificuldade.
Retiro seu pau da minha boca só para respondê-lo, desaforadamente.
— Eu vou foder você, Harvey — murmuro, encarando os seus olhos. —
Agora diga para mim... — Coloco seu membro apoiado entre os meus grandes seios e
o cowboy até empalidece. — Faço qualquer coisa pela minha filha da puta preferida.
Seguro os meus peitos em volta de seu pau e começo a minha tortura
flexionando e enrijecendo os meus joelhos para masturbar todo o seu comprimento
melhor. A imagem é hipnotizadora para ele, que não consegue fechar a boca.
— Mulher ruim — geme, e aperta mais os meus cabelos.
— Diga e eu deixo você gozar na minha boca. — Abaixo os meus lábios para
a cabeça vermelha, giro a minha língua e a empurro em sua glande.
— Faço qualquer coisa por você! Qualquer coisa! — Aperta bem as
pálpebras juntas, suando no meu domínio, e ondula seu quadril.
Como prometido, largo os meus seios e volto a afundar seu pênis na minha
boca, enchendo-o de saliva enquanto ainda uso as minhas mãos nas suas bolas.
Chupo Harvey encarando os seus olhos, gemendo de prazer, dando-lhe um grande
show, e deixo que goze um pouco na minha boca e o resto nos meus seios.
— Muito melhor agora, não? — murmuro, pego um pouco do que escorreu
pelo meu queixo e passo na minha língua. O homem não consegue nem me responder
e eu me coloco sentada em seu colo, descansando minha cabeça em seu peito nu. Os
batimentos cardíacos de Harvey estão rápidos com a sua respiração que tenta se
acalmar. — Vamos tomar banho agora?
Faz que não com a cabeça para a minha sugestão e coloca uma grande palma
na minha coxa.
— Deixe-me só fazer algo primeiro… — A sua outra mão me prende pela
cintura e ele enfia um dedo seu dentro de mim, que estou escorrendo.
É brutal como Harvey me puxa para um beijo, chupa a minha língua e me
apoia gemendo o seu nome enquanto me balanço para frente e para trás, assim
alcança mais fundo dentro de mim. Dou o meu grito final quando adiciona mais um
dedo e esfrega meu clítoris.
Suspiro com prazer o seu aroma, que já virou sinônimo de casa para mim, e
beijo seu peitoral com ternura algumas vezes. Depois o grandalhão se levanta comigo
ainda em seus braços e me carrega até o banheiro, onde liga o seu chuveiro e começa
a me ensaboar, massageando meu corpo.
Falta pouco para amanhecer quando deslizo para fora da cama, vou até a
cozinha sorrateiramente, abro a caixinha do exame de farmácia e faço como pedem as
instruções. Demora um pouquinho até que apareça no bastão o resultado, que engulo
a seco ao receber.
Meus dentes batem de nervoso um no outro e entro em desespero por vários
minutos antes de entender o que tenho que fazer, ainda dá tempo de me afastar e dele
achar alguém melhor, mesmo que fantasie muito em ficar com Harvey. Essa é a minha
chance de não ficar nesse lugar que me afeta de forma tão negativa.
É melhor ir embora agora, antes que Harvey fique emocional demais, não? O
quão decepcionante seria aquilo para ele...
Encho o meu carro com as minhas coisas, carregando com todo cuidado para
não fazer barulho, e só preciso conseguir coragem para dar a partida… Coragem
para ter o mesmo pensamento da Alexandra que não passou vários dias nessa casa e
acabou completamente apaixonada.
Ligo Berty pedindo por favor para ela ser menos barulhenta, e pego a estrada
principal.
Alex
Saio de Berty me sentindo trêmula, as minhas pernas estão bambas e o ar que
respiro parece denso para os meus pulmões.
Talvez seja a ansiedade turvando os meus olhos, tornando tudo muito difícil e
questionável, porque agora quero tanto voltar! Mas só percebi isso no meio do
caminho e acredito que já não dê mais tempo de retornar.
Se aparecesse lá agora, ele saberia que quis fugir e me odiaria do mesmo
jeito, não faria diferença, então é bom que eu siga com a minha decisão e não
choramingue. Não muito pelo menos.
Uma grande parte de mim sabe que Harvey está levando muito a sério essa
relação e que se for preciso largará os seus animais, a sua pequena fazenda e toda a
sua vida para me seguir, e eu continuo sabendo que isso é errado. Nunca daríamos
certo, não sou o que precisa.
Então paro logo de reconsiderar e entro na única padaria da cidade, que fica
em frente a única floricultura também. Ambos os estabelecimentos estão vazios.
Através da vidraça observo de longe a loja de flores, uns três corações gigantes de
pelúcia flutuam na vitrine e ao lado tem um cartaz escrito: surpreenda o seu amor.
Solto ar pelo nariz forte com a ironia daquela frase. Realmente o meu amor
ficará muito surpreso.
Obrigo-me a voltar os meus pensamentos para a padaria e me concentro aqui,
tenho que me apegar no que é certo. Olho os diversos tipos de pães e doces,
caminhando lentamente, e penso o que é mais viável para o meu bolso vazio.
Peguei quinhentos dólares da carteira do bonitão, já que não tenho mais
nenhum centavo, mas deixei um bilhete explicando que devolverei assim que
conseguir um teto e um emprego. Tenho o número da conta bancária dele e farei o
melhor para não deixá-lo no prejuízo, mesmo que isso seja impossível levando em
conta o bilhete explicando a minha partida. Não escrevi nada sobre como realmente
me sinto. Medo, mágoa, amargor e uma necessidade louca de fingir que não existe
mais nenhuma Alexandra nesse mundo.
É muito difícil estar num relacionamento com alguém, quando você odeia uma
grande parte de si mesma.
O trajeto até o centro de Vila Velha demorou o triplo do esperado, depois que
a minha menina decidiu que empacaria várias e várias vezes, testando profundamente
a minha paciência, porém, não desisti. Usei toda a minha vontade de desaparecer, o
meu orgulho, teimosia e fui em frente mesmo que não esteja cem por cento certa da
minha decisão.
Será que ele viria atrás de mim? Não… acho que não. A sua caminhonete está
quebrada e Harvey provavelmente se sentirá muito traído quando descobrir. O meu
plano de ir embora não falhará.
Que tipo de relacionamento o nosso se transformaria se eu não fugisse? Do
tipo tedioso? Do tipo infiel? Faço algumas respirações profundas e consigo parar o
trem descarrilhado que são os meus pensamentos.
Escolher mantimentos, entrar de volta no carro e viajar até a próxima cidade.
Não é culpa de Harvey, só precisa respirar também e encontrará alguém
muito melhor.
— Filha, vem atender a cliente, estou ocupada! — Uma moça de cabelos
castanhos atrás do balcão da padaria grita, dá um sorriso e some porta adentro.
Após alguns segundos uma garota adolescente aparece no seu lugar e eu a
reconheço, é amiga de Amita que vi no baile. Meu coração dói ao pensar na menina,
mas ainda posso voltar para vê-la. Vamos nos corresponder de alguma forma e
manterei a minha promessa de voltar caso ela precise muito.
Estico o que escolhi comprar e a menina no balcão vai fazendo as contas de
quanto deu. Seu rosto está sonolento.
— Você não quer levar aqueles docinhos ali? Estão na promoção e meu pai
pediu para oferecer, então… — Dá de ombros.
— Acho melhor eu não comer docinhos pela manhã — respondo, com um
meio-sorriso triste, ajeitando a blusa de frio grande e escura sobre o meu corpo.
Outro item do Harvey que trouxe junto comigo.
A menina me observa com curiosidade quando escuta minhas palavras. Os
seus olhos descem curiosos até a minha barriga e depois sobem para analisar o meu
rosto redondo.
— Não vai fazer bem para o seu bebê? — questiona, de maneira inocente.
Quase consigo rir da sua frase, se não me sentisse tão deprimida. Ela e Honey
são do mesmo clubinho das faladoras impulsivas.
— Estou gorda e não grávida, não posso comer os docinhos porque está
muito cedo pra isso — explico.
No mesmo segundo a adolescente sacode a cabeça envergonhadamente e vai
avermelhando.
É muito difícil não me martirizar nesses momentos, só preciso de um bom
motivo para ficar tão brava que toda a minha tristeza suma, no entanto, infelizmente
ter alguém reparando no meu peso não faz nem cócegas no meu humor.
— D-desculpe. — Vai em frente e embala os meus pedidos, depois acaba
enfiando alguns docinhos na sacola também. — É por conta da casa e você come
quando quiser. — Dá de ombros mais uma vez.
Só suspiro em resposta e contraio os lábios no que deveria ser um pequeno
sorriso.
Acho que Harvey adoraria comer isso, poderia levá-los para ele agora e
fingir que nunca tentei fugir, que só fui à padaria pegar algo. Poderia correr para a
sua casinha e ficar lá para sempre…
— Você tem um banheiro que eu possa usar? — A minha voz sai esganiçada,
e a menina aponta a porta. — Vou deixar meu pedido aqui e já volto, ok? — Vai
demorar até poder usar um banheiro novamente, tenho que aproveitar as minhas
chances.
Ela concorda com a cabeça e eu vou fazer meu xixi rápido.
Lavo e seco as minhas mãos na pequena pia, sem querer me olhar no espelho.
Volto, pego meu embrulho e agradeço. Fim de papo. Fim da minha aventura em Vila
Velha.
— E-e você está indo para onde?! — A jovem atendente pergunta,
esbaforida, quando estou prestes a passar pela porta.
— Para longe. — Coloco a mão na maçaneta, já pronta para sumir no mundo,
porém, alguém de fora empurra a porta antes e entra.
Ashley veste uma calça jeans folgada, camiseta simples e blusa de frio de
tricô. Ela realmente não parece nada com a garota monstro da escola, e sim com o
que disse que eu me tornaria.
— Bom dia, Iris! — Cumprimenta animada e parece estar de ótimo humor, até
perceber a minha presença. — Bom dia, Alexandra — murmura. Respondo com um
aceno curto de cabeça. — Você está bem? Como andam as coisas? — questiona, e
continua mexendo em seu celular.
— Bem. — Tento finalizar essa interação estranha o mais rápido possível, no
entanto, a outra está a fim de jogar conversa fora usando um nível de intimidade que
nunca tivemos, e faz isso sem olhar nos meus olhos, ainda digitando.
— Como está a sua estadia por aqui? — A mulher de cabelos negros acaba
bloqueando o meu caminho inconscientemente e guarda o celular de volta no bolso,
que faz barulho de umas três notificações seguidas.
— Na verdade, acho que já estou de saída. Se você não se importar em…
Sair da porra da minha frente! Guardo essa parte da minha frase e ao invés
de xingar, indico a porta com o queixo.
— Mas já? Achei que fosse ficar para as nossas festas do mês que vem, são
tão bonitas. A festa da abóbora é muito divertida, e tem o labirinto numa das
plantações de milho dos Blackwater, que é bem legal também. Só nessa festa eles
finalmente abrem a mão e dão várias coisas para as crianças.
Analiso o seu sorriso falso e respondo, secamente:
— Não foi você mesmo que falou odiar toda essa “merda caipira”. — Faço
aspas com as mãos.
O celular dela continua apitando, então decide atender de repente e faz sinal
com a mão para que eu espere. Mas que porra?!
— Agora adoro as festas, Alexandra! — Dá ênfase no meu nome, ainda com o
celular grudado na orelha. Os meus olhos arregalam e o meu coração dispara ao
perceber o que a cadela está fazendo. — Sim, na padaria! — Sorri nervosamente e se
debruça contra a porta.
Não tem nada de inconsciente nisso, está fazendo de propósito!
— Ashley, sai do meu caminho! — Vou igual um trator em sua direção,
contudo, a mortiça larga prontamente o aparelho no chão, estende os seus braços e
me segura pelo ombro.
Não demora nem dois segundos para o meu sangue começar a ferver.
— Alexandra, calma! — Ela faz jogo duro com o seu corpo e não me deixa
sair nem a pau, só não esperava que eu fosse agarrar os seus cabelos com força e
puxá-la da porta, fazendo-a cair no chão.
Porém, a filha da puta continua bloqueando a saída.
— Me deixe ir embora desse inferno! Saia logo da minha frente!
Terei que arrastá-la dali ou chutar a sua cara, pelo que parece, porém, isso
não é nada que já não tenha acontecido no ensino médio.
— Não! Para de fugir igual uma maluca e o espere chegar! — A sua voz é
estridente.
— Quem é você para me dizer alguma merda? Sua vadia desgraçada!
Nesse momento, a família toda dona do estabelecimento correu dos fundos e
alguém começa a me segurar pela cintura para que eu não avance contra a outra. Tudo
acontece tão rápido, que fico até zonza.
— Por que você é tão cega?! Ele sempre te amou!
Tento me desprender de quem quer que seja o idiota me mantendo no lugar,
porém, não consigo.
— Sua filha da puta! — Aponto para Ashley, que consegue se levantar do
chão e respira com dificuldade. — Você sempre fez da porra da minha vida um
inferno. Por sua causa eu quase morri! Por sua causa eu fui resgatada por um homem
que abusou de mim!
A parte racional do meu cérebro sabe que eu não deveria falar isso em voz
alta, que Ashley era uma adolescente burra, que não fez de propósito, porém, não
consigo me controlar agora.
— E-e-eu… — Ela nem tem o que responder.
— Você acabou comigo em tudo que pode e me falou como eu era pequena!
Como era nojenta e detestável! E agora vocês querem me manter nesse inferno como
uma vaca prenha?! Mas eu não estou prenha! — Debato-me com mais raiva.
— Eu tinha inveja, Alexandra — sussurra, envergonhada, e seu rosto fica
mais tenso. — Queria que alguém olhasse para mim do jeito que ele olhava para
você, juro que não sabia que você foi…
— Uma porra que não sabia, só não se importou o bastante para olhar
realmente para mim. — Sinto meus olhos se encherem de lágrimas e eu soluço. — O
que você acha que acontece com uma adolescente que fica dois dias perdida no meio
do nada?!
— Harvey sempre teve um carinho enorme por você, mesmo que tentasse
esconder. — Tenta desviar do assunto, porque mesmo agora ainda não se importa de
verdade. Só quer poder dar suas desculpas. — E-eu não conseguia entender por qual
razão não podia ser eu e… — Sacode a cabeça e fica sem palavras conforme
escutamos o mesmo som…
São cascos batendo no chão e em alta velocidade.
Através da vitrine, Patrícia e seu dono surgem, e agora sim estou bem fodida,
sem ar e com o corpo todo tremendo. Harvey chega feito um furacão com a sua égua
branca gigante, desce rapidamente de seu lombo e vai direto para a porta bloqueada
por Ashley. Ele bate várias vezes com força e ela desencosta da saída com
movimentos cautelosos.
Todo mundo parece dar um passo para trás, esperando pelo resto do barraco.
Harvey usa uma calça jeans de lavagem clara larga, camiseta solta e fina,
chapéu e botas de couro. A sua barba está cheia e esse ainda é o homem mais lindo
que já vi em toda a minha vida. É a sua expressão que está diferente de tudo que já
observei. Olhos vermelhos, o rosto molhado do que pode ser suor ou choro, uma
expressão de dor e indignação que se funde em uma careta de cansaço.
Aperto as minhas duas mãos em um punho para conter os calafrios pelo meu
corpo.
— Por quê? — Caminha em minha direção e me encurrala. — Por que você
foi embora?!
Afasto-me cegamente dele e sou amparada por uma prateleira às minhas
costas.
— E-e-eu precisava ir, Harvey, você sabe disso. Foi o combinado, dez dias.
— Tento falar, mas nada sai como o esperado e só estou balbuciando.
— Por quê?! — grita de novo e o meu corpo todo tem um solavanco. — Por
que você tinha que ir embora?!
Meus joelhos parecem que vão ceder a qualquer momento conforme chega
mais perto, não sei se estou me sentindo muito pequena hoje ou ele que sempre foi
tão grande e nunca lhe dei todo o crédito.
— Por favor, deixe as coisas como estão — suplico.
O seu braço vem para o meu cotovelo num toque áspero, quente e tenho medo
instantâneo de que me prenda de alguma forma.
— Vocês podem nos dar um momento? — O cowboy questiona entredentes
para os nossos espectadores, sem tirar os seus olhos escuros e irados de mim.
— Vamos estar lá fora — avisa Ashley, como um encorajamento para o resto
dos fofoqueiros segui-la também.
Esperamos alguns segundos tensos até que terminem sua partida.
— Pode me dizer o motivo agora? — Tira algo do bolso e mostra um teste
positivo para gravidez.
Seguro a minha respiração e sinto o sangue drenar do meu rosto.
— M-m-mas quando fiz, tinha-tinha dado negativo. — Desespero me corrói e
as minhas palavras vão travando uma atrás da outra
— Você esperou tempo o bastante? — Sua voz tenta ser frigida, porém, os
seus olhos dizem tudo.
— Sim. — Até alguns minutos a mais para ter certeza.
— Vamos refazer isto então.
— Ok. — Concordo com a cabeça e um Harvey muito bravo se coloca em
movimento para sair do estabelecimento, e eu o sigo para ver Patrícia sendo
paparicada por Ashley e Íris.
Encarar as costas largas do homem é melhor do que realmente encarar o
bicho de frente agora que me sinto envergonhada, idiota e mais um monte de coisas
ligadas ao mau-caratismo.
— Nós vamos refazer o teste, ela falou que deu negativo quando fez — diz
para a mortiça.
— Vocês deveriam fazer o exame de sangue então, posso levá-los até o meu
consultório. Fica no final da avenida — sugere.
A adolescente, Íris, concorda em cuidar de Patrícia por um tempo, o resto das
pessoas vão se juntando gradualmente na frente da padaria para saber da fofoca, e a
minha parte nessa história é seguir aqueles dois, como se estivesse indo para o meu
próprio enforcamento.
Alex
Explico para Ashley que tenho me sentido fraca ultimamente e comento sobre
as minhas tonturas, a mulher escuta e colhe meu sangue num silêncio, quase tumular, e
só abre a boca para dizer que o resultado não é instantâneo.
Depois que o procedimento está feito, Harvey e eu vamos nos sentar na sala
de espera de paredes brancas, poltronas acolchoadas, revistas e algumas plantas
falsas. Ashley tem um consultório padrão de médica, coisa que nunca achei que ela
viraria.
Para não ter que encarar o grandalhão, estou quase num transe, escondida em
algum canto da minha cabeça, abraçando os meus joelhos e rezando para que esse
teste dê negativo.
Não sei exatamente quanto tempo se passa nisso, até que o homem põe um
pedaço de papel no meu colo para me despertar. É o bilhete que foi deixado por mim
antes de ir embora.
— Boa escolha de palavras — diz, ironicamente. O papel amassado está
molhado e borrado. O borrão são as minhas lágrimas assim que escrevi, e talvez o
molhado sejam as dele. — Tenho algumas coisas importantes para resolver, agradeço
a estadia. Peguei quinhentos dólares emprestados, devolvo até o fim do mês. Me
desculpe por tudo, por favor. — Lê em voz alta. — Assim que descobriu que não
estava grávida, saiu correndo?
Eu só encaro o carpete cinza.
— Sinto muito — murmuro.
— Sabe qual é a pior parte disso tudo? — questiona, e faço uma negativa
com a cabeça de má vontade. — Ir embora assim é exatamente o tipo de coisa que se
encaixa com a sua personalidade, não tinha nenhum indício que apontasse ao
contrário, e mesmo assim… esperei por algo diferente, mesmo que você nunca tenha
prometido ficar mais que os dez dias.
— Não é culpa sua — sussurro, ainda sem encará-lo e nós voltamos a um
pequeno silêncio.
— Mas você tem razão, fantasiei demais sobre você. — Suas palavras
chamam a minha atenção para encará-lo. Ainda está com a careta de tristeza e
cansaço, só que mais ácida. — Idealizei alguém que não existe.
— Não é culpa sua. — É só o que tenho para dizer.
Existe uma parte minha que está sorrindo, feliz que finalmente tenha tudo
dado errado entre nós e ele enfim me odeia, assim terminarei sozinha como sempre
mereci. Talvez dessa forma toda essa culpa me abandone, culpa essa que nem sei de
onde vem.
— Mas por quê? Me diga, Alexandra. — O grandalhão vira todo o seu corpo
em minha direção. Estamos a menos de um metro de distância. — Me fala só o
motivo, pra eu ter essas palavras guardadas para lembrar de como tudo isso virou
uma grande palhaçada. De como fui idiota! — Cada palavra sua chicoteia mais as
minhas costas.
Abro a minha boca e não consigo fazer nenhum som, as sentenças ficam todas
entaladas na minha garganta e os meus olhos se enchem de água, e isso faz Harvey
relaxar um pouco aquela ruga entre as suas sobrancelhas. Mesmo sem querer, ainda
não aguenta me ver chorar.
— E-eu nunca beijei ninguém que gostasse — explico, e ele fica confuso, mas
não me interrompe. — Os meus namorados nunca foram aqueles homens pelos quais
eu era apaixonada, esses nunca souberam da minha existência. Sempre fiquei com
aqueles caras que tinha certeza de que nunca… gostariam de mim. Porque o afeto
sempre pareceu errado. Afeto era nojento e esquisito. — Soluço enquanto lágrimas
quentes descem pelo meu rosto.
— Você não deveria ter fugido. — Tira o chapéu da cabeça para arrumar os
cabelos e limpar o suor da testa no que se parece um pouco com vergonha. — Nunca
vou te machucar, não importa o que aconteça.
— E fiquei tão... — Sou interrompida por outro soluço que surge na minha
garganta. — Tão assustada, quando você começou a falar todas essas coisas de amor
e a ser tão carinhoso. Achei… que fosse mentira e… — Não consigo terminar essa
frase, então prefiro pausar por algum tempo e respirar.
— O que foi que você achou que fosse acontecer caso descobrisse que você
não estava grávida? Que te jogaria na rua?
Mordo o meu lábio inferior. Meus medos soam patéticos quando falados em
voz alta.
— É que parecia que não era pra ser meu e-e-e…
Harvey solta o ar com força pelo nariz de forma impaciente e a minha visão
está embaçada, o meu rosto esquenta de embaraço e começo a sacudir meu pé direito
em estresse.
— Converse comigo. Só fique e converse comigo, por favor, fale o que você
está pensando. — Tem muita perseverança no seu tom. O homem é um cabeça-dura
de nascença, assim como eu.
— Eu não posso. — Nego com a cabeça, o choro fica mais forte.
— Você pode — insiste, e tenta pegar a minha mão, mas não deixo.
— Não posso, Harvey! — Bato involuntariamente no braço da poltrona.
— Você pode, Alex. Você é forte e capaz de tudo o que você quiser — fala
mais alto. — Não pode deixar que algo te apague assim, que leve um pedaço seu
embora. Agora não fuja e diga a verdade, por favor — pede. — Fale a verdade pra
mim de como você se sente.
Sugo uma longa lufada de ar e tomo coragem.
— Eu te amo. — Dói tanto falar isso — Como nunca… amei ninguém.
Sempre te amei, desde a escola, mesmo que não aguentasse ser tocada — digo,
pausadamente. — E estou quebrada, Harvey, tem algo de errado comigo que nunca
consegui arrumar, então, por favor, me deixe ir embora quando isso acabar. Você
pode fazer muito melhor do que eu.
Lá se vai o meu orgulho de ser uma pessoa que faz acontecer, que não
depende de nada e nem ninguém, pois aquele cowboy segura o meu coração em suas
mãos o tempo inteiro.
O grandalhão me encara mudamente por vários e vários segundos.
— Vocês não querem sair para comer algo e voltam depois? — Ashley
aparece na porta de repente, alheia ao que acabou de acontecer ou pelo menos finge
isso. — Mando uma mensagem com o resultado.
— Claro. — Pulo da poltrona, passando a mão no rosto para me livrar das
lágrimas e quase corro para fora daquele lugar para chegar logo à rua.
A minha barriga ronca de fome e eu só quero ir embora.
— Vamos comer ali. — O homem atrás de mim, que me segue calado até
aqui, soa diferente enquanto aponta para um pequeno lugar a um quarteirão de nós
dois.
— Tenho os pães da padaria, vou ficar aqui. — Se me aventurar a olhar para
ele agora, talvez a minha armadura rache.
O homem respira fundo em resposta a minha negativa.
— Vou te falar que realmente não estou entendendo todo esse problema. Eu te
amo, você me ama, tudo resolvido — diz, colocando as mãos na cintura. Arregalo os
meus olhos. — Mas não serei o seu cachorrinho e não vou te perdoar fácil assim! Vou
precisar de um pouco de incentivo da sua parte, um pouco mais de… acesso a você.
Mais beijos de boa noite, principalmente. — Soa bem ardiloso.
— Você tá brincando comigo? — A minha voz mal sai dos meus lábios.
— Estou dizendo que você vai ter que ralar para continuar sendo a minha
mulher! Mas dessa vez você está perdoada, porque admitiu que me ama. — A ruga de
estresse entre as suas sobrancelhas já sumiu totalmente e Harvey está com um sorriso
malicioso nos lábios.
— Me-me desculpe. — O choro volta e não consigo controlá-lo. Sinto como
se pudesse ficar em posição fetal pelo resto do dia.
O cowboy estica sua grande mão e cobre metade da minha face, e eu fecho os
olhos enquanto limpa as minhas lágrimas. Seus dedos estão quentes e calosos,
trazendo para fora o meu vício no seu afago. Basta um pouco disto e já me sinto
aconchegada.
O que mais quero agora é o seu carinho, percebo, que é o suficiente para
acalmar os meus medos.
— Não chora não. — Puxa-me mais para si e me abraça. — A gente não
precisa brigar mais, só aceite ficar comigo e vamos dar um jeito em tudo, com calma,
ok? A gente já brigou tanto nessa vida, que nem sei se vai sobrar pra depois do
casamento.
Suas palavras me assustam de uma maneira boa. Não quer me chutar por
fugir, quer se casar. Meus olhos ainda estão fechados e respiro o seu cheiro
confortável entre fungadas e soluços.
— Achei que fosse ter que ralar e agora você está falando em casamento? —
Escondo meu rosto em seu peitoral o máximo que consigo.
— Sim, mas só depois. Agora você vai ter o privilégio de se casar comigo.
— Suas palavras pressionam o meu coração numa área que está vazia há tanto tempo,
que acabo abrindo ainda mais o berreiro. — Sempre achei que casar comigo fosse te
fazer sorrir, não triste assim, menina boba. — Beija o topo da minha cabeça.
— V-você que fica fa-falando essas coisas! — As palavras voltam a se
enrolar em minha língua.
— Você me ama mesmo? — questiona de repente, e eu faço que sim com a
cabeça — Vai me abandonar de novo?
Faço que não.
— A-acho que consigo aguentar um pouco do seu grude — debocho no meio
daquelas lágrimas.
— Bom saber, não quero nunca mais sentir o desespero que você me fez
passar hoje.
Levanto a sua blusa de seu corpo, assoou o meu nariz, limpo a cara e tento me
recompor. Harvey ri com uma careta de nojo.
— Achou que eu saí correndo com um filho seu na barriga, é?
— Não pensei nessa parte. — Defende-se rápido da minha ironia. — Só vi o
teste quando já estava saindo de casa berrando o seu nome. Liguei para todo mundo
na cidade atrás de você.
— Entendi. — Perco um pouco da coragem em segurar o seu olhar e a partir
desse momento a tensão volta a se instalar, pois nos tocamos o que estamos
esperando agora.
Decidimos nos sentar num banquinho de madeira a quatro quarteirões do
consultório e comemos os pães e os docinhos da padaria. Chega uma hora que já não
tem mais o que mastigarmos e as coisas ficam desconfortáveis. Pode até fazer
gracinhas, mas os problemas são bem sérios e ele sabe disso.
Harvey se levanta então e volta com uma sacola com mais doces, frutas e
refrigerante, e no final dessa comilança toda que a mensagem de Ashley chega. O
cowboy me impede no mesmo segundo de puxar o celular, levanta o objeto acima da
sua cabeça e faz uma negativa com a cabeça.
— Antes de você ver, quero ter certeza de que estou sendo claro.
Independentemente do resultado do teste, você é minha noiva agora. Certo?!
Aperto minhas mãos juntas e olho para baixo embaraçada. Geralmente não
deixo a minha vergonha tão à mostra, porém, com ele é impossível.
— Por que não pode ser um namoro normal?
— Porque já te conheço há um trilhão de anos e quero te laçar comigo para
você não ir embora! Não quero ser abandonado, Alexandra. Quero ter uma…
segurança maior. E acredito muito no casamento — confessa. — Sei que é pedir
demais e… — Tenta argumentar mais e coloco minha palma em seus lábios para
impedi-lo.
— Eu aceito, tudo bem. — Dou um meio-sorriso. — Se você não quer
arranjar alguém melhor. E nem acho que consiga deixar que isso aconteça de
verdade, completo mentalmente.
— Então eu aceito.
Ele passa por três humores diferentes em questão de segundos com a minha
resposta abrupta, medo, susto e felicidade. Seus olhos faíscam tanto de animação que
parece até uma criança.
— Você não pode mais fugir, está prometendo! E a cerimônia tem que
acontecer em menos de um ano!
— Sim, prometo! — Suspiro, sem nem querer pensar sobre o compromisso
gigante que estou assumindo. — Agora me dê isso aqui! — Arranco o celular de sua
mão.
Uma batida de coração.
Duas batidas de coração.
Três batidas.
Negativo. A Alexandra não está grávida.
Enquanto estou nas nuvens, caminhando na avenida livre e leve, o cowboy faz
um esforço gigantesco para esconder a sua expressão de óbvia decepção. Lábios
comprimidos num silêncio constante, quebrado apenas por alguns sim e claro.
Será que o desejo dele de ser pai é tão grande assim que conseguiu mudar o
resultado do teste? Mas Ashley tem uma explicação melhor. Disse que o falso
positivo pode acontecer caso o teste esteja fora do prazo de validade.
Harvey apenas assentiu para a informação com sobrancelhas arqueadas
fingindo entendimento.
Inclusive a mulher disse que o motivo das minhas fraquezas e do meu mal-
estar nesses últimos dias, podem ser sinais de anemia e que eu deveria voltar para
um check-up completo. Mas não sei se quero me consultar com a doutora Ashley,
provavelmente procurarei outra pessoa.
O dia está esquentando, então tiro a sua blusa de frio do meu corpo e ele se
oferece para carregar em seu ombro. Nós até damos as mãos, feito dois
namoradinhos na adolescência, porém, na verdade, somos noivos. Sou uma noiva!
Eu, Alexandra, uma noiva! Morando com o homem e tudo! As palavras nem parecem
certas na minha cabeça.
A minha vida agora me lembra mais um sonho muito bom para ser verdade,
onde posso ter tudo e mais um pouco. Contudo, a outra parte da relação não está nada
feliz agora.
— Você quer tanto um bebê assim? — questiono baixinho, e recebo um
suspiro como resposta. — Nós podemos fazer um, depois. — Encara-me rápido após
ouvir a minha frase, visivelmente descrente. — Só não quero ter um filho agora.
Preciso transar muito antes de não conseguir me abaixar para colocar um sapato.
Isso lhe arranca um sorriso, como esperei que fosse fazer.
A cidade fica mais movimentada com as horas passando e aquelas pessoas
conhecidas papeiam de um lado para o outro, tentando nos parar para conversar, só
que, dessa vez, o homem apenas acena com a cabeça e continua em frente.
— Pode ter certeza de que vou dar um jeito de comer você com regularidade,
grávida ou não. Meu rosto esquenta e eu prefiro mudar de assunto, já que estamos
sendo encarados por gente que nem tem ideia das barbaridades que Harvey fala.
— Quantos filhos exatamente você quer ter?
— Uns cinco? — diz num tom sério.
Engasgo com a minha saliva.
— Tenho cara de cadela para você?! — Dou um tapa forte em seu braço e
consigo uma risada rouca dele.
— Você gosta de foder de quatro que eu sei.
— Aceitei me casar com um garoto da quinta série! — Arregalo os meus
olhos e dou outro tapa forte em seu braço. Os meus cinco dedos ficam marcados em
sua pele e Harvey acaricia a mancha com uma expressão pensativa, sem se importar.
— Fico feliz com um filho só, não sou um maluco querendo um time de
basquete nem nada. Sei que nós já temos uma pequena creche lá em casa, com Honey
e Derick, porém, jurei que o resultado seria outro — comenta, sem me dar tempo de
resposta. — De qualquer forma, podemos treinar fazer esse bebê daqui pra frente,
com ainda mais frequência. — Molha os lábios e eu sinto logo aquele vazio entre as
coxas, que tento ignorar.
— Besta.
— Você não está brincando comigo, né? — pergunta, de repente muito
receoso. — Não brincaria assim comigo, brincaria?
— Não. — Limpo a minha garganta e decido falar em voz alta o que estou
pensando, já que percebo que isso o fará feliz. — Ainda acho muito irreal essa
história de casamento, provavelmente bem precipitada, e a minha ficha nem caiu.
Mas amo você. — Olho para o asfalto como se a minha vida dependesse disso. —
Quero estar... com você no que quiser. — Ele para de caminhar e eu copio o
movimento. — Você está perdendo a chance de procurar alguém melhor, então só não
diga que a culpa é minha depois.
— Se você apagar os seus desejos por mim, isso tudo vai acabar antes de
começar — declara, seriamente. — E juro que odeio essa história de procurar
alguém melhor. Não acho que exista alguém melhor para mim que você.
Dou um sorriso azedo em resposta e prefiro não comentar a última parte.
— Gosto de casamento, sempre gostei. — Fui do tipo que sonhava com o
príncipe encantado num cavalo branco que me salvaria de todos os meus problemas
quando mais nova. — Só não achei que fosse acontecer comigo depois de tanta
merda.
— Hm… — Toma a minha palma e aperta, gostando do que estou falando, o
que me encoraja a continuar.
— E também não odeio crianças, só não sei cuidar delas direito, porém... —
Limpo uma sujeira imaginária em sua camiseta com a mão livre, só para tocá-lo. —
Sei que não vou estar sozinha. Se fosse para ter um filho, o único homem que eu
confiaria para isso seria você.
— Que bom. — Suspira aliviado e chega a ser fofo.
Durante esse mês que passei com Harvey, percebi sua personalidade em
vários níveis diferentes. Oscilei bastante entre confiar cem por cento no cowboy ou
achar que tudo era mentira, porém, sei bem que boa parte disso deve ser só a minha
mania de desconfiar de tudo.
Nós temos uma química estranha, que está sempre nos atraindo um para o
outro, e além da química até que nos entendemos feito gente. Contudo, estou tentando
não pensar a longo prazo se isso durará mesmo. Só quero muito estar ao lado dele e
não me sentir tão deprimida como hoje mais cedo. Parecia que uma parte minha foi
levada.
— Acho que não tenho tanta confiança em mim mesma.
Fugi porque me apeguei tanto a ele, que se não durasse eu desceria direto
para o fundo do poço e talvez não saísse mais. Quando se tem uma mente como a
minha, é importante tomar cuidado com alguns gatilhos.
— Acho que podemos fazer isso durar do nosso próprio jeito, confio em você
também. É a única mulher com quem quero estar.
Concordo envergonhadamente com a cabeça e sinto sua mão segurar a minha
com mais força agora. Ele é direto nas suas decisões e isso é ótimo.
Alex
Nunca pensei que Harvey entraria na equação como prejudicado caso se
livrasse de mim, mas não posso negar o sofrimento que vi em seus olhos quando me
encontrou naquela padaria, então… não posso negar que realmente me ama, mesmo
que não faça muito sentido. Além do que, também tem aquela obra de arte à minha
frente que prova o seu esforço gigantesco para não me deixar ir.
— O que você fez com Berty?! — Rodo em volta do veículo. — Você roubou
as minhas rodas?! — berro, e ele se encosta contra uma parede, segurando uma
risada, com o chapéu já na cabeça e os braços cruzados. — Seu filho da puta! Vou
matar você!
As pessoas passam por nós cochichando.
— Tinha que ter certeza de que você não iria longe, ué! — Dá de ombros
despreocupado e se aproxima. — E não me xingue tanto assim, me deixa muito
excitado. — Pega-me pelo braço, me puxa de volta para a parede onde estava e
acaricia o meu queixo.
— Onde você colocou os meus pneus? — questiono, deixando que me
encurrale, já sabendo bem qual é o seu plano.
O calor vai aumentando na minha pele.
— Guardei com Mike na oficina.
— Juro que não acredito que você fez isso! — Solto o ar rápido pelo nariz
com raiva e o seu sorriso só cresce.
— Quer ir lá pedir para ele? Aproveito e procuro um lugar para... — Seus
olhos passam pelos meus seios, depois pelo meu pescoço e seguem para a minha
boca. — Começar a cuidar bem da minha noiva. Você vai ficar calminha, calminha
depois d… — Pego Harvey pela nuca e grudo nossos lábios.
O homem me deixa louca! Tanto de tesão como de raiva, e eu já não aguento
mais ficar longe.
Minha língua explora sua boca e suas mãos agarram a minha cintura, me
erguendo levemente do chão. É disso que preciso, do cowboy safado tocando o meu
corpo de forma possessiva, apalpando a minha bunda e murmurando palavras doces e
também brutas entre um beijo e outro.
Porém, o nosso momento não vai tão longe ao sermos abordados por Íris, a
garota da padaria, com Patrícia ao seu lado. Automaticamente grudo mais o meu
corpo em Harvey e começo bater meus dentes de medo daquele bicho gigante.
O grandalhão agradece a Íris por cuidar do animal e dispensa a menina, que
vai embora reclamando baixo sobre ter chamado várias vezes até que ouvíssemos.
— Bom… — Faz carinho na crina da égua enquanto mantenho uma distância
segura. — Acho que você vai ter que aprender a montar hoje.
— O quê?! — Minha boca seca.
— Vamos lá, Alexandra! Eu te ensino. — Deixa o animal com as rédeas
soltas, no meio da calçada, e vem em minha direção.
— Não vou subir nisso!
— Vai ser rapidinho, juro que ela é boazinha — diz, relaxado.
— Vamos até o Mike pegar minhas rodas! Não subo em cavalo e você sabe
bem o motivo!
A égua parece concordar comigo e faz um barulho estranho.
— Ok, pode ir lá e eu fico aqui esperando.
— Não vou sozinha falar com aquele tarado! Você não disse que sou sua
mulher? Então vem junto! — Patrícia mexe as orelhas conforme grito, então abaixo
meu tom de voz numa ameaça para não machucar seus tímpanos. — Se você não
pegar as minhas rodas de volta, nunca mais te chupo.
Mike saiu para a cidade vizinha e ninguém possui a chave de sua oficina.
Moral da história? Sou obrigada a andar pelo centro de Vila Velha todo e subir na
égua quando chegamos à estrada de terra. O tronco de Harvey gruda nas minhas
costas enquanto comanda o cavalo e isso é bem ruim, pois dessa forma ele vai sentir
como estou tremendo.
O ar fica preso nos meus pulmões conforme Patrícia trota.
— E-e-eu juro que odeio você por acabar com Berty! — Os meus olhos
quase transbordam em lágrimas de medo e meu nariz já está entupido.
— Só peguei os pneus porque não queria você longe de mim. Eu te amo,
mulher, não quero que me odeie! — Aquele maldito sabe como me amolecer! — E a
gente chegaria amanhã se fôssemos andando.
— Mesmo assim! — reclamo e depois fungo.
— A gente não pode ficar horas andando nessa estrada com o sol na cabeça.
Você acabaria desmaiando de cansaço. Vai ser só hoje, ok? Só hoje.
— É bom mesmo. — A minha ameaça sai baixa, pois juro que estou quase
desmaiando de tanto pânico no lombo desse cavalo gigante.
É a altura, os barulhos que Patrícia faz, o sacolejo. Tudo me assusta.
— Quando chegarmos em casa vou colocar você no meu colo e cuidar de
você.
— Cuidar como? — questiono, desconfiada. — Só o que fez até agora foi me
obrigar a subir nesse bicho!
— Vou comer você, Alex, bem fundo e bem rápido — diz, rente ao meu
ouvido, por cima do som do galope, e me assusta. — Podemos fazer isso na cama, no
sofá, onde você quiser. Mas só se prestar atenção em mim agora e se não chorar,
amor. — Seu tom fica muito terno.
— Se eu não chorar v-você vai... — Harvey tem um braço ao redor da minha
cintura, me apertando no lugar. O homem não tem problema nenhum em montar o
animal, confia totalmente nele.
— Só se você não chorar… Tem que ficar quietinha. — Aconchega-se ainda
mais próximo de mim. — Bem quietinha, amor, é só prestar atenção em mim —
murmura, e sem perceber consigo quase voltar a respirar normalmente. — Viu,
estamos aqui e nada aconteceu, ela é uma égua muito boazinha mesmo. — Nesse
momento Patrícia começa a acelerar com o comando de Harvey.
Sou jogada para cima e para baixo naquele galope, contudo, o meu pânico
diminui ao fazer como pediu. O meu coração ainda bate desesperadamente, porém,
sinto que pouco a pouco os meus batimentos aumentam mais pela presença de Harvey
do que pelo meu pavor de cavalo, porque ele me esfrega e se empurra contra mim,
pressionando meu traseiro com a sua ereção.
Por incrível que pareça a adrenalina invade o meu corpo e quase consigo
apreciar a viagem com as provocações e o cenário de tirar o fôlego, o pasto se
estende de um lado e a floresta do outro. O vento batendo no meu rosto e levando
meus cabelos diretamente para a boca do bonitão foi outra coisa que gostei.
Ao chegarmos em casa, desço do lombo da égua gigante que Harvey me
garantiu não ter sofrido por levar tanto peso e entro correndo. A raça de Patrícia
aguenta o dobro do nosso peso segundo o Encantador de cavalos.
Como o cowboy demora muito no estábulo, provavelmente mimando aquele
bicho que é mais bem cuidado do que eu, aproveito para tomar um banho, me acalmar
de verdade, em seguida vou provar mais algumas lingeries bonitas da tia Grace
pensando na promessa que Harvey vai cumprir.
Decido por um sutiã sem bojo feito de renda transparente e uma calcinha fio
dental que deixa quase toda a minha bunda de fora. Normalmente não usaria coisas
assim tão escandalosas, nem tenho dinheiro para isso, mas se Harvey gosta… E me
sinto tão bem quando vejo que ele gosta…
Enrolo-me numa toalha e me sento no sofá, secando o meu cabelo com outra
toalha. Com certeza Harvey babará ao me ver vestida assim e isso me deixa tão
animada que começo a fantasiar, feito uma besta apaixonada. Isso até alguém bater à
porta da frente.
Está sem chave? Que estranho….
Abro vagarosamente a entrada para espiar o grandalhão, só uma brecha, e
graças a Deus que não escancarei tudo! Quem está aqui é nada menos que Sophie,
com um sorriso largo e falso na cara, carregada de bolsas e sacolas.
Fecho a porta com força e tranco no mesmo segundo.
— Alexandra! — A intrometida cantarola o meu nome. — Já te vi, querida!
Abra a porta, tenho algumas coisas para conversar com vocês dois, seus danadinhos!
— A maçaneta da porta se move para cima e para baixo.
Está tentando abrir a minha porta?! Qual é o desvio na cabeça dessa mulher
para pensar que pode aparecer assim?
— Estou ocupada agora, Sophie! — Quase rosno.
A pedra que joguei no vidro do seu carro parece não ter dado resultado,
talvez seja necessário repetir a dose!
— Não tem problema, meu bem. — Agora sou meu bem? — Espero aí dentro
até você terminar.
— Saia daqui, sua maluca! — Estou pronta para xingar mais a vadia, quando
sinto uma presença atrás de mim. Dou um pulinho de susto e minha toalha cai no
chão.
— Alexandra? Abra a porta! — Sophie berra.
Harvey também tomou banho sem que eu tenha notado enquanto assistia TV, e
agora veste só uma das cuecas quase transparentes que tanto amo. O grandalhão
observa meu corpo mudamente, cada centímetro, enquanto Sophie continua sua
gritaria lá fora, que nem escuto direito mais, pois estou presa aqui.
O peitoral nu e cheio de pelos dele sobe e desce com as respirações
profundas que toma. Arregalo os meus olhos com a sua ousadia ao me pegar pela
cintura, me virar de costas para ele e me apoiar na porta.
— Gostosa. — Gruda a sua frente no meu rabo e esfrega a sua ereção em
mim. Sinto-me pulsar e umedecer no mesmo momento. — Se vestiu assim só para
mim? Você é uma delícia, Alex, uma delícia — fala bem baixo e grosso.
— Sim, só pra você — sussurro, com prazer, rebolando e nos aproximando
mais.
Sou obrigada a levantar os braços sobre a minha cabeça e Harvey os prende
ali, para me deixar à sua mercê. Depois vai direto para o meio das minhas pernas
acariciar a minha vagina por trás, usando o seu dedo médio, o que me estremece e me
faz gemer o seu nome, mesmo com o perigo de ser escutada pela mulher do outro
lado.
— Quieta — adverte num murmuro, e dá um tapa forte de mão aberta na
minha bunda.
— O que foi isso, querida? Caiu algo?! — Sophie tenta virar a maçaneta mais
algumas vezes.
— Responda ela, Alexandra — cochicha.
— Não! E-está tudo bem… — digo, desesperada, e o grandalhão dá uma
puxão no meu cabelo que me faz estremecer.
Sinto a sua respiração descer pelo meu pescoço conforme beija a minha nuca
e continuo sendo pressionada e apalpada contra a porta.
— Então abra a porta, Alexandra. Precisamos conversar sobre o que
aconteceu hoje na cidade. Me falaram que vocês fizeram obscenidades em público!
Isso é muito grave e desrespeitoso, aqui em Vila Velha nós temos regras.
Harvey morde o meu ombro levemente, belisca o meu seio com a mão livre e
faz um calor quente e líquido se espalhar entre as minhas coxas. Recebo também
outro tapa forte, antes de ter minha calcinha de renda puxada para o lado e ser
penetrada abruptamente com dois dedos grossos.
O meu interior abraça as suas digitais no mesmo segundo.
— Por favor — choramingo, ainda tentando não ser descoberta por nossa
visita. — Não me torture.
O seu polegar faz círculos no meu ânus e eu empino o meu corpo para que
tenha acesso.
— Você vai abrir essa porta — fala entredentes. — Vai colocar a cabeça para
fora e vai dispensar essa mulher, e vai fazer isso educadamente, está me ouvindo? —
Harvey faz pressão com seus dedos na minha nunca. — Como uma boa cadela
obediente.
— Sim — respondo, languidamente, quando o homem dá um puxão que rasga
minha calcinha e a peça cai nos meus pés.
Sophie continua gritando, porém, só escuto Harvey agora.
— Sim, o que, Alexandra? Quero que seja doce com suas palavras. — É
áspero ao retirar suas digitais da minha intimidade, só para dar a volta no meu
quadril e enfiá-las pela frente, com um dedo adicional na minha vagina. Estou
encharcada e me abrindo tanto quanto consigo. — Quero ouvir o quão doce você
pode ser, querida.
Ele esfrega o seu pau na entrada do meu ânus, agora que tem espaço o
bastante, e me contraio com a pequena massagem. Quero-o desesperadamente dentro
de mim.
— Sim, meu amor — respondo, submissa.
— Ótimo — sussurra, começando a mover seus dedos para frente e para trás
no meu interior, o que gera sons bem diferentes e me faz balançar o quadril para
receber sua tortura.
— Olá, Sophie. — Estou com as minhas mãos tremendo quando consigo abrir
a porta e tomo cuidado para que meus seios não apareçam, afinal visto agora apenas
um sutiã quase transparente. — Como posso ajudar vo-você?
— Finalmente, apareceu. Preciso conversar com você e alertá-la sobre algo
muito importante. — Seu olhar é compenetrado e ela está suada do calor.
— Sobre o quê? Não entendi.
O grandalhão beija as minhas costas apaixonadamente, vai descendo e eu me
contraio forte.
— Você está em pecado, querida, e não adianta tentar se esconder! Deus tem
olhos para todos. — Aquele seu tom de boa moça vai a todo vapor.
— D-desculpe?! — O homem para de me beijar de repente e escuto o chão
ranger. Péssimo sinal!
Demora só alguns segundos para que sinta a sua cabeça no meio das minhas
pernas, com a sua boca indo direto chupar o meu clitóris. Porra! Eu quero gritar.
— A verdade é que vim ser uma boa vizinha e trouxe algumas coisas para
você. Inclusive uma bíblia!
Mordo os meus lábios e fecho os meus olhos com a quase dor que consegue
me causar. Sorte a minha é que Sophie está cheia de sacolas e nesse momento ela
revira uma delas.
— Para que uma bíblia, Sophie? — Acho que com certeza esse momento da
minha vida vai ser uns do que vão me mandar direto para o inferno.
Harvey lambe a entrada da minha vagina e eu tenho solavancos desesperados.
O som que gera é alto e obsceno para os meus ouvidos, contudo, decerto é inaudível
onde a minha convidada se encontra.
— Trouxe também algumas roupas antigas minhas, saias mais longas, por
exemplo. Aquele seu vestido no baile não foi de bom-tom. — Ela sacode a cabeça,
concordando com si mesma e sem prestar atenção em mim.
O cowboy volta a enfiar um dedo dentro de mim numa área extremamente
sensível e eu sinto o gosto de sangue na minha boca, pois mordi minha língua para
não gritar. Um joguinho é bom, mas isso que Harvey faz está me deixando suada e a
beira de um abismo de tanto tesão.
— Bom-tom?
Ele beija o interior da minha coxa com devoção e bem devagar, passando sua
língua por mim, me adorando.
— Na verdade, tem outra coisa que quero conversar sobre. — Sophie
endurece as suas feições e o cowboy acaricia a entrada do meu ânus novamente e usa
a lubrificação da minha vagina para entrar com a pontinha do seu dedo.
— Harvey! — grito o seu nome sem querer e me derreto mais em sua direção.
A minha respiração está descompassada e não sei se aguento mais. Cada vez
que chego perto do orgasmo, o homem diminui a velocidade ou muda a posição.
— Sim, exatamente sobre ele! — exclama, conforme faço pequenos
movimentos com o quadril para indicar que o quero mais fundo. — Não é razoável
que vocês morem juntos, se estão em um relacionamento não oficial.
— Compreendo. — O cowboy queria que eu tivesse educação, né? Juro que
estou fazendo o meu melhor aqui.
— O que duvido muito, pois Harvey não entraria em um relacionamento
com... — Sophie volta a me encarar, mas deixa todas as suas sacolas caírem ao ver a
careta estranha que estou lutando para segurar sem sucesso. — O seu rosto está…
Tento muito não revirar os olhos de tanto prazer, mas é quase impossível. O
cowboy faz cada vez mais barulhos por conta da minha lubrificação, enquanto
literalmente me come. Estou quase sentando em seu rosto e dependendo totalmente
dele para ficar de pé, que está ajoelhado. As minhas pernas bambas já não
conseguem fazer o trabalho.
— Sophie... — Começo a dizer, porém, o homem coloca mais velocidade em
seus movimentos. Quase não consigo pensar no fim da frase. — Vá se foder, sua
vadia oportunista! — Fecho a porta no seu rosto e puxo com força os cabelos
castanhos de Harvey. — Seu filho da puta! — Meu gemido parece mais um grito
conforme sou laçada para o chão.
Provavelmente a mulher escuta tudo lá de fora, e eu estou pouco me fodendo.
— Do que você está reclamando? — Coloca-me de quatro, com a bunda bem
empinada. Consigo até sentir a sua respiração quando me dá uma lambida rápida. —
Tratei a minha cadela exatamente da forma que merece. — Harvey dá dois tapas na
minha bunda, que já arde. — Não é isso que você merece?!
— Sim. — Aquiesço freneticamente com a cabeça.
— Então fique parada assim pra mim — pede, e estou tão fora de mim que
não percebo que foi correndo pegar uma camisinha. Harvey volta com o pacote já
aberto e tirando o pau da cueca para encaixar. — Você é uma ótima garota quando
quer.
O meu coração parece que vai explodir em antecipação.
— Então me come logo — suplico, e tenho meu pedido atendido quase que
prontamente. Vejo estrelas quando ajoelha atrás de mim no chão e me preenche. O
seu pênis desliza sem problema algum para dentro e não me dá nem tempo de me
acostumar. — Oh, sim!
Sei que faz isso de propósito, tem consciência que essa dor áspera que sinto
me deixa a ponto de gozar.
— Quero ouvir você implorar. — Sua voz está rouca e deformada de prazer.
Harvey é quem abraça a minha cintura e coloca o meu rabo ainda mais para cima,
pois não tenho mais forças e só consigo gemer seu nome. — Preciso ouvir você
implorar. — O seu grunhido me faz pulsar ainda mais e o ritmo de suas estocadas
começa a ficar marcado.
— Por favor, me come rápido. Eu quero mais — imploro, esbaforida, e o
cowboy aumenta sua velocidade, desesperado como eu. — Por favor, não me torture
mais.
Os barulhos que os nossos corpos fazem só não é tão alto quanto a sequência
de xingamentos que ele solta.
— Alex! — Chama o meu nome. Os meus dedos do pé ficam bem apertados e
o meu corpo colapsa conforme Harvey acaricia o meu ânus, entrando com seu dedo, e
isso causa o meu orgasmo. — Você está me apertando tanto, Alexandra! Cacete!
Sei que goza também pelo som engasgado que faz e o meu quadril treme entre
seus dedos, depois fico mais e mais quente até um segundo orgasmo chegar, pois o
homem não para de me acariciar.
Harvey me carrega no colo para a cama, minutos depois, distribuindo muitos
beijos carinhosos no meu rosto.
— O que você está fazendo? — pergunto, com respirações difíceis, e seus
lábios descem para o meu pescoço.
— Beijando a minha noiva — sussurra. — Só minha.
Harvey
Acordo ouvindo um som estranho. Tem alguém fungando bem baixinho e
sentido do meu lado. Seu rosto está enfiado no meu peito enquanto chora, então rolo a
mulher um pouco e percebo que nem acordada Alexandra está.
Desde que me contou sobre o abuso que sofreu, chora com um pouco de
frequência. Acredito que ela nem tem noção de que isso acontece às vezes. Quando
acorda essas horas da manhã seu rosto já está seco, então finjo que não sei de nada,
como a mulher parece preferir fazer. Mas hoje Alex ainda choraminga, mesmo que já
tenha amanhecido.
Saber que seu sofrimento mental é tão grande me deixa amargurado e ansioso,
pois tenho ciência que preciso agir. Conversei com a tia Grace sobre esses
problemas, já que ela é mais esperta do que eu, e provavelmente entenderia melhor
essas coisas. A loira disse que eu preciso levar Alexandra ao médico, logo.
O problema é que a morena não quer. Procurar psicólogos para Honey e para
Derick? Sem problemas. Pediu até para que eu pagasse as consultas do menino, já
que Katherine não tem como agora. Fiquei feliz em ajudar. Alexandra está bem
empenhada nisso e é bom que tenha algo para se concentrar enquanto não se acostuma
com Vila Velha. Ainda não decidimos como vai ser, onde iremos morar.
Mas para si mesma ela faz algo? Nem a pau. Diz estar bem, que não precisa.
Contudo, tenho certeza de que se pudesse entrar na sua cabeça veria todos os indícios
de que algo vai bem mal. Só dela ter ido embora dizendo que eu merecia alguém
melhor, já não é normal. Isso além dessas lágrimas que continua derramando.
Suspiro alto, ainda pensando em como arrumar a situação, e decido começar
com um passo por vez.
— Bom dia, meu amor… — Beijo a sua testa, pego um pedaço do lençol
branco e passo pelo seu rosto de leve. Aos poucos Alex desperta, atordoada. —
Feliz três semanas de noivado. — Então ela sorri ao focar em mim e suas bochechas
redondas coram levemente.
Isso sim, me deixa satisfeito.
— Feliz três semanas de noivado… — murmura. Suas írises castanhas
crescem ao me observar e acho que isso significa que gosta muito de mim. Li algo
assim na internet. — Não chegue tão perto, ainda não escovei os dentes — reclama, e
tenta me afastar, sem nem notar a umidade em seus cílios.
— Você sabe que não me importo. — Junto nossos lábios, e Alexandra geme
de um jeito que me enlouquece conforme começo o nosso ritual matinal.
— Não entendo o motivo disso! — Quase solta fogo pelas ventas. — Você
pode cuidar dos animais e eu faço o serviço de casa! Limpo, passo, lavo tudo o que
quiser, mas não preciso e não quero tocar nos animais! — Agora estou tentando
arrastá-la para o lado de fora de casa, próximo de onde Patrícia pasta calmamente.
— Me largue, seu idiota! Que mania chata de ficar me arrastando!
— Mas você não acha que os porcos e a Patrícia vão ficar tristes? — Essa
foi uma das últimas desculpas que consegui pensar.
— Tristes? — Arregala seus olhos e percebo que consegui chamar sua
atenção, já que parou de lutar contra os meus braços — Porcos ficam tristes? — E já
que me deu trela, eu continuo.
— Sim! — Acho que estou escondendo bem o meu sorriso. — Porcos ficam
tristes, Alex. Animais entendem mais do que você pensa. — A baixinha não acredita
cem por cento, então uso o meu nome para dar crédito a minha palavra. — E sou um
encantador de animais, sei do que estou falando.
— Você está brincando comigo, não está? Se estiver brincando, você vai ver!
— ameaça, mesmo que na maioria das vezes ela fique mais fofa do que assustadora
quando está brava. Porém, acredito que me chutaria na canela se eu falasse isso em
voz alta.
— Não estou brincando.
— Está falando sério? Porcos ficam tristes? — pergunta mais uma vez.
— Estou falando sério, muito sério mesmo, juro. — Consigo manter o meu
rosto com uma expressão facial endurecida.
— O que vai acontecer se eles ficarem tristes? — Investiga a minha desculpa
enquanto não para de encarar a minha boca e o meu peitoral nu.
Com aquela ali eu aprendi que nem sempre adianta acreditar exatamente no
que fala, às vezes tem que simplesmente observar o seu corpo. Observar como ela
gagueja, como respira mais pesado.
— Eles podem parar de comer por pura tristeza e você será a culpada. —
Consigo fazê-la morder o lábio inferior em dúvida. Deus, quero agarrar essa mulher!
Mas não sem antes começar a fazê-la se acostumar com os animais que a assustam.
— A Patrícia seria ainda pior, ficaria muito deprimida se constantemente sentisse o
seu cheiro em mim, mas você nunca chegasse perto.
— O que vai acontecer com Patrícia se… eu não fizer carinho nela? — Quase
sai fumaça pelos seus ouvidos de tanto que pensa agora.
— Ela pode… — Agora não posso retroceder na minha mentira ou Alex me
matará ao saber que eu estou fazendo ela de boba. Qualquer criança do interior
saberia que isso é uma pegadinha. — Começar a querer dormir demais e correr o
risco de não acordar.
Seus lábios carnudos formam um "O" surpreso.
— Tem certeza?
— Absoluta! — garanto, e a faço pensar por mais alguns segundos enquanto
rezo para que o meu plano besta dê certo, pois acredito que enfrentar essa parte seja
muito importante.
— Vamos ver a sua égua então, mas só um pouco!
Agarro a sua pequena mão na mesma hora, caminhamos até onde Patrícia está
e a mulher vai reclamando sobre coisas aleatórias que surgem na sua cabeça, para
fingir que não está morrendo de medo, e eu respondo de maneira debochada para
irritá-la.
Hoje está ainda mais quente que o normal, por isso refresquei Patrícia, dei
uma boa escovada em seu pelo grosso e olhei seus cascos para ter certeza de que está
tudo bem.
— Vamos começar com alguns carinhos e depois você pode subir um pouco
nela — aviso, conforme a égua para de pastar. — Só ficar em seu lombo mesmo.
— Subir?! — diz, nervosa, já se escondendo atrás de mim do animal quase
todo branco. Patrícia é bem treinada e muito mansa mesmo. — Só vou fazer carinho,
foi o combinado! Depois vamos ver os seus porcos e vou entrar! — Alex abraça o
meu quadril com força e enfia o seu rosto nas minhas costas.
— É só um pouco! — Acaricio a pele de seu braço. — Nós contamos trinta
segundos e você desce!
— Vai me morder! Ela vai me puxar pelos cabelos e depois passar por cima
de mim! — grita num tom choroso.
Alex imagina todo tipo de coisa estranha vinda dos animais da fazenda.
— A Patrícia é boazinha, Alex, nunca faria isso.
— Como você pode dizer isso? Não está na cabeça da Patrícia! Ela pode me
odiar secretamente! Ter ciúmes porque passo muito tempo com você! — A mulher
vira a pessoa mais infantil do mundo quando se trata de seus medos.
— Te garanto que não te odeia. — Nego com a cabeça, mesmo que não possa
vê-la, pois continua grudada nas minhas costas. Devo admitir que não odeio ser
abraçado assim.
— Sou muito pesada. Vai machucar a sua égua que você ama assim?!
Alexandra jura mesmo que vai conseguir me convencer.
— Nós dois montamos nela duas vezes já, a raça que ela tem cruzamento
aguenta bem mais do que isso. Agora venha. — Como sou bem mais forte que Alex,
consigo puxá-la para a minha frente. — Hora do carinho para não deixar a Patrícia
triste!
Os olhos da mulher já estão cheios de lágrimas quando me encara, é de partir
o coração.
— P-por favor, não. Esse bicho vai me morder, Harvey! — Agora decide me
agarrar pela frente, espremendo seus seios contra a minha barriga. Tento muito não
me distrair com o seu decote e a sua maciez.
— Ela não vai te morder — garanto, e começo uma caminhada forçada,
arrastando-a junto comigo. Alex me xinga e se debate, mas não lhe dou outra escolha
a não ser se aproximar.
— Se-se essa égua me morder, você pode cancelar esse noivado! — berra, e
eu ignoro a sua frase, pego a sua mão e estico no ar para a égua se familiarizar
primeiro. — Harvey, olha a cara dela. Esse bicho vai me matar!
Mas só o que o animal faz é soltar o ar pelo nariz e se aproximar para um
afago, que eu mesmo guio com os dedos trêmulos de Alexandra.
— Está vendo? — Nós vamos e voltamos no pelo. — Não está fazendo nada.
— Mas poderia. — Tem uma lágrima escorrendo por sua bochecha. — Por
que você faz isso? Sabe como tenho medo. — Sua voz fica embargada, parece que
está sendo torturada. — Por que não pode deixar tudo do jeito que está?
— Alexandra… As coisas não podem ficar do jeito que estão. — Essa é uma
conversa difícil, que talvez não devêssemos ter enquanto fazemos carinho a força
numa égua. — Marquei médico para você, amanhã à tarde.
— Que tipo de médico? — Não tem coragem de me olhar, então continuamos
o afago duplo. Seguro as costas de sua mão e faço com que suba e desça na parte
mais próxima do animal.
— Um psiquiatra, para avaliar o seu caso e receitar terapia. — A mulher não
fala nada, o que me preocupa muito. — Pesquisei na internet e falei com Ashley, e
ela mesma indicou um amigo. Sei que você não gosta dela, mas… — Não consigo
continuar a minha frase, fico nervoso com o silêncio.
Era melhor quando estava gritando.
— Você contou para Ashley? — Sua voz fica fria, mas firme. — Contou para
ela que choro enquanto durmo? Que tenho pânico de animais? — Engulo a seco,
percebendo o meu erro. — Se toda vez que eu te contar um segredo, você repassar,
então acho que não deveria te contar mais nada.
Tenta se desvencilhar de mim com raiva e dessa vez eu deixo, depois vai
correndo para dentro de casa, sem olhar para trás.
Dou dois toques na porta do quarto antes de entrar e encontro a minha mulher
folheando um livro que pegou da Honey ontem. O criminoso que atacou a menina foi
preso, fichado, e aguarda em custódia da polícia enquanto o processo corre.
Alex achou bom fazer uma visita para saber como ela estava, mas não quis
saber nada sobre o homem pervertido. Preferi não lhe falar nada também e ela
acabou voltando do palacete indiano com um monte de coisas doadas por Mahara,
muito mais aliviada com a notícia da prisão.
— Fiz biscoitos com a receita que você achou na internet — aviso, e recebo
um grande silêncio. — Também fiz pão, mas acho que queimou.
Nós dois somos um desastre na cozinha. Ela é mais do que eu.
— Senti o cheiro — comenta, desinteressada.
— Não quer descer um pouco para comer? — Tento amolecer a fera.
— Não tô com fome. — Já sabia que falaria isso, então vou até à cama de
casal e me sento no pé. — Ashley sabe sobre o abuso. Eu mesma disse quando estava
na padaria no dia do teste. Mas eu… confiei em você, Harvey. — Seu tom é muito
sério. — Foi a primeira pessoa para quem contei de verdade sobre o meu problema.
— Me desculpe. — Sinto-me horrível por quebrar a sua confiança.
— Você foi o primeiro homem que passei tantas noites ao lado e não tive
vontade de esconder que às vezes, sim, eu choro. — Sua face avermelha de vergonha
e ela engole a seco, sem contato visual comigo.
— Só não sabia o que fazer. — Agarro o seu pé direito, coloco no meu colo e
começo a massagear. — Você sabe que não sou muito esperto para certas coisas.
— Claro que você é esperto, seu idiota! — exclama de repente, e joga o livro
longe. — É o homem mais inteligente que conheço! Não precisa da ajuda daquela
mulher! Era só ter conversado comigo e-e-e me dado um tempo! — Acho que ao
invés de amansar, eu acordei a fera.
— Eu tentei, Alex, e você não me ouviu!
— Tentou uma vez! Preciso de tempo para processar as coisas, sabe disso!
— reclama, e puxa a sua perna, tentando se livrar de mim, porém, não deixo.
— Você vai então à consulta? — pergunto logo de uma vez.
— Vou, né! Você já marcou, não vou deixar ninguém esperando! — Faz um
bico emburrado e eu aproveito para contar a novidade, já que a sua reação não foi
tão ruim quanto esperava.
— Recebi um e-mail hoje, uma revista me convidou para ser modelo. Mas
vamos ter que viajar até lá. Vai ter até hospedagem num hotel bonito. — Aposto que
Alexandra gostaria de um hotel cheio de coisas chiques no quarto. — Com o valor
que ofereceram, mais o que já temos, dá para nos mudarmos logo para a cidade
grande!
— E qual o nome da revista? — questiona, bem menos animada do que eu
achei que ficaria.
— Extra extra hot.
Assim que lhe conto o título, ela muda da água para o vinho e abre um sorriso
grande e maldoso, do jeito que só essa peste sabe fazer.
— Essa não é uma revista erótica gay, Harvey?
Alex
Algumas boas semanas após o e-mail, descemos do táxi em frente a um
grande e imponente prédio espelhado. As nossas malas ficaram no hotel que a revista
pagou e fui obrigada a quase bater em Harvey para que não andasse por aí feito um
fazendeiro em festa. Com bota de couro, chapéu e cinto com fivela brilhante e grande.
Já eu escolhi uma blusa branca com um pequeno decote, para valorizar o
bronzeado que consegui em Vila Velha, calça jeans e salto, tudo muito simples, mas
mesmo assim o grandalhão não conseguiu parar de me encarar maliciosamente.
Tentou me jogar na cama e tirar minha roupa umas três vezes antes de finalmente
conseguirmos sair.
A cidade grande ainda é a mesma, barulhenta, desordenada e cinza, em
contrapartida, com o campo, que é verde, úmido e silencioso, só com os ocasionais
sons dos animais. Então talvez seja eu quem tenha mudado demais, pois já não me
sinto parte deste organismo caótico.
Preferiria mil vezes estar em casa, na cama com aquele peão que tem fogo de
sobra ou na cozinha com ele me ensinando a fazer os únicos pratos que sabia, ou
dando voltas com Honey na pequena cidade, depois indo fazer algo na sala de casa
enquanto Derick grita a abertura de seu desenho barulhento.
Até aprender a montar em Patrícia, com Harvey pensando que eu não sabia
que adorava quando o abraçava, parece uma boa coisa agora, mesmo que ainda
tenhamos altos rompantes de brigas, principalmente porque insiste em querer
comprar qualquer coisa que acha que pode me fazer feliz, mesmo que eu jure de pé
junto não precisar de mais nada.
Não sou boa verbalizando direito o que desejo dizer. Para o homem falar eu
te amo ou gosto muito disso em você é fácil. Porém, mesmo sendo razoável em editar
as palavras escritas, sou péssima na questão de dar voz a elas, sempre sai ácido,
torto e isso é bem ruim, porque ele é do tipo que precisa ouvir mais sobre como eu
me sinto para não ficar tão inseguro.
Porém, a forma mais fácil para demonstrar o que penso, é sempre nas nossas
gritarias. A última foi sobre as fotos da revista que viemos tirar.
— Você vai mostrar o seu pinto pro país todo assim na maior cara de pau?!
— Coloco as duas mãos na cintura e os meus olhos viram pequenas fendas irritadas.
Já estou ficando sem voz de tanto discutir.
— Mas, Alex! Se a gente conseguir essa grana, dá para nos mudarmos pra
cidade grande facinho! Depois é só vender tudo por aqui e ir para lá. Você vai
conseguir voltar a trabalhar na revista ou com qualquer coisa que desejar.
— Não jogue isso pra cima de mim. Você vai odiar morar na cidade grande,
vai ficar deprimido porque não tem seus bichos perto e vai querer me largar!
— Acha mesmo que eu quero me mostrar assim para todo mundo?! Não tenho
a menor vontade, ok? — O grandalhão anda de um lado para o outro da sala.
— Tem ideia do que vai acontecer? — Desisto de tentar soar pacífica e o
enfrento mais uma vez. — Todas essas mulheres vão correr para a nossa porta, como
elas já fazem, só que pior! — Aponto o dedo no seu rosto. — Ou acha que não sei
que esse tanto de cueca nova que você tem, vem das malucas que te mandam?!
— Alexandra… — Harvey me fuzila com os seus olhos escuros e bravos.
— Essas filhas da puta mandam até calcinha usada delas! — Ele avança
sobre mim e eu desvio de sua investida. — Se vai para cidade mostrar o seu pau para
todo mundo, ainda mais alegando ser por mim, não conte comigo! — Solto o ar com
força pelo nariz e subo as escadas batendo os pés.
Durante toda a nossa viagem de retorno, não consigo agir normalmente e fico
monossilábica. É um sentimento pegajoso esse ciúme, misturado com raiva e uma boa
pitada de falta de autoconfiança, que contaminou meus pensamentos.
Nos dois dias após a volta para casa, não consegui dar um jeito nos meus
sentimentos. Tive pesadelos com os dois rolando na cama de casal lá em cima, com
Harvey correndo atrás daquela doida e me largando aqui sozinha, mesmo que isso
não seja nada possível de acontecer.
Merda de estima horrível! Merda de pensamentos repetitivos!
Essa é a parte ruim de estar tão apaixonada por alguém, me torno uma
paranoica deprimida. Tão concentrada em pequenos fatos da interação dos dois, que
até dar comida aos porcos presos em seu cercado se tornou quase fácil. Quase.
Os animais dão voltinhas pelo pasto, mas só quando Honey aparece no final
do dia e os trata feito cachorrinhos.
Inclusive, estou alimentando esses gigantes quando o grandalhão chega até a
porta do estábulo, com Patrícia ao seu lado. Mas aí já é demais para que eu não me
assuste, então me afasto, com os batimentos ficando altos em meus ouvidos. Porém,
numa reação de ansiedade muito menor que há um mês, por exemplo.
— Quer montar? — Mexe as sobrancelhas de forma maliciosa. Ele não cansa
de tentar me provocar.
— Não. — Termino com a lavagem jogando o resto de uma vez e vou até à
pia lavar minhas mãos.
Harvey está sem camisa, usando só a sua calça jeans folgada, botas de couro
e um chapéu de cowboy preto.
— Não seja malvada, sei que já aprendeu bastante com as nossas aulas —
reclama, e eu assisto algumas gotas de suor deslizarem entre os pelos da sua barriga.
Esse homem sempre me distrai. — Se você conseguir ficar uns três minutos em cima
dela em movimento, tem algo que quero te mostrar.
Olho desconfiada para ele, que está todo entusiasmado.
— Você já me disse isso uma vez e não deu muito certo.
— Vamos, Alex! Você mesma me contou que o seu psicólogo acha legal a
minha ideia de chegar perto dos animais.
— Sim, aos poucos, Harvey! — acrescento, dando ênfase na frequência. —
Agora mova Patrícia para o lado que eu quero ir almoçar. — Eles bloqueiam bem a
saída.
— Desde que viemos da cidade grande você não chegou perto dela nenhuma
vez, por favor, meu amor? Juro que vai ser legal! — Ver aquelas suas írises
brilhando de ansiedade derrete meu coração. — Depois nós podemos entrar e comer
a comida especial que acabaram de entregar… — Ele deixa Patrícia sozinha, que
fica paradinha, e vem em minha direção para colocar as mãos na minha cintura.
— Pediu comida da Sophie? — Semicerro os meus olhos.
— Não, restaurante novo que abriu numa fazenda aqui do lado. — Dá uma
piscadela para mim e faz com que eu encoste contra a parede de madeira, usando o
seu tronco largo no meu. — Aí levo você para tomar um banho… — Seus lábios se
aproximam do meu ouvido. — Lavo o seu corpo direitinho e nós subimos para eu te
fazer uma massagem especial, por dentro.
— Idiota — sussurro, e seguro um sorriso com a sua sugestão.
— E isso só vai te custar três minutos em cima da Patrícia. — Deixa beijos
quentes no meu pescoço e me arranca um suspiro. — Só três minutos para descobrir
uma surpresa que acho que vai gostar.
— Três minutos?
Vale a pena começar a tentar pelo menos voltar ao normal com ele, sei disso,
mesmo que aqueles pensamentos ruins ainda estejam um pouco na minha cabeça.
— Três minutos, só isso e nada mais!
O safado sorri, me puxa pela mão e faz a égua se mover com um assobio.
Caminho para fora do estábulo tremendo de medo, porém, aceito a ajuda para
subir no animal, pois não alcanço sozinha. Harvey toca quase que o meu corpo todo e
nem consigo xingá-lo por isso, nem pelo tapa que dá no meu rabo, pois meus dentes
batem de nervoso e mal consigo pensar.
No entanto, essa é a saída para enfrentar os meus fantasmas, confrontá-los de
verdade, então farei isso. Ainda mais que preciso de uma distração desse círculo
vicioso na minha mente.
Assim que me acomodo direito aqui em cima, o sol forte bate na minha
cabeça e me cega momentaneamente, sem me deixar ver o gramado verdejante em
que estamos. Pisco algumas vezes, respiro fundo e dou o sinal.
— Pode guiá-la — autorizo, e como já fizemos algumas vezes Harvey pega as
rédeas de Patrícia para que comece a andar. Acho que é assim que as crianças
aprendem.
A velocidade do animal é mínima e o grandalhão está lá embaixo fazendo
carinho na minha perna, tentando me encantar também, e mesmo assim ainda parece
que vou desmaiar, montada sozinha em um dos meus maiores medos.
— Tudo bem aí?!
— Sim — respondo com o corpo e a voz tensos.
A cada passo da égua, espero incansavelmente por algo. Uma imagem ruim
do meu passado, algum som assustador, ou até mesmo que eu despenque de seu
lombo, mas nada disso acontece.
Em nenhum dos três minutos no relógio à prova d'água no pulso de Harvey,
algo muito ruim acontece. Só o vento bate no meu rosto e esvoaça meus cabelos,
Patrícia respira e às vezes suas narinas fazem um leve assobio. Sinto seu calor
debaixo de mim, vivo e quente, e os porcos no estábulo roncam e guincham. Só isso,
nada mais.
— Você conseguiu, Alex! Você está montando! — Harvey comemora, tão
entusiasmado quanto eu. Seu rosto está radiante e ele parece muito orgulhoso de mim,
o que me deixa ainda mais contente.
— Consegui! — Deixo que a agitação tome conta de mim enquanto me ajuda
a descer. Poderia chorar de felicidade com essa vitória. — Eu consegui!
— Você montou por três minutos inteiros!
O cowboy sabe o quão importante é me sentir forte, capaz, então me abraça
com força, com a sua mão espalmada na minha bunda e as minhas pernas em volta do
seu quadril.
— Eu consegui — continuo repetindo desacreditada.
Suas írises animadas não desgrudam do meu rosto, enquanto ainda penso no
quão surreal é esse momento, o homem já está bem adiantado em suas ações quando
me coloca de pé no chão e alcança o seu bolso.
— Agora vou te dar a sua surpresa — avisa, mesmo que eu tenha achado
inicialmente que iria apenas me levar para a cama. — Aqui, para você enfeitar essas
suas mãos bonitas enquanto monta. — Coloca um pequeno objeto em minha palma e
prendo a respiração.
Encaro assustada o anel de aro fino e dourado, com uma pedrinha única verde
muito bonita, provavelmente porque confessei para a tia Grace que gostava das joias
dessa cor.
— Mas eu tenho mãos feias. — É o que consigo dizer quando Harvey pega a
joia de volta e se ajoelha no chão. — Não acredito que você vai fazer isso! —
Arregalo meus olhos e a minha boca seca ao vê-lo daquele jeito.
— Aqui o serviço é completo, meu amor. Só não faço pedido para não ter a
chance de levar um não — fala, desaforado, e lhe dou permissão para encaixar o anel
no meu dedo curto e gordinho. — E não fale mal da minha mulher, senão vou bater
em você. — Usa um tom brincalhão e rouco que me dá arrepios.
— Se a surra for na bunda, eu aceito, amor. — Consigo manejar uma
piscadela em meio ao meu nervoso e ele se levanta do chão.
— Isso eu posso providenciar. — Nós dois estamos suados, mas não me
importo.
Abraço-o e enfio o meu rosto no seu peitoral quente, escutando os seus
batimentos cardíacos tão rápidos quanto os meus. Harvey não está com a Sabrina
agora, está comigo, e é nisso que me fixarei mesmo que seja difícil.
— Vou aguardar ansiosa — digo baixinho, enquanto puxa o meu queixo e se
curva para grudar seus lábios nos meus.
O nosso beijo é muito quente, profundo e, principalmente… apaixonado.
FIM
4° Mês
Alex
Sinto um calor estranho tomar o meu corpo e arrepiar minha pele conforme os
barulhos embaixo de mim aumentam, mais exatamente no meio das minhas pernas.
Meus olhos continuam fechados e o meu sono ainda tenta prevalecer, contudo, parece
que o homem não me deixará continuar dormindo nem a pau.
Olho para baixo e só o que vejo são meus grandes e inchados seios, a minha
barriga redonda, e os ombros largos e bronzeados que abrem as minhas pernas
doloridas. Aperto os lençóis revoltos conforme Harvey vai mais fundo com sua
língua e gemo languidamente.
— Por favor. — Os seus dedos parecem ter ficado ainda mais ásperos depois
da quantidade de trabalho extra que tem feito para construir os dois berços novos. —
Por favor. — Só a fricção já é o bastante para me colocar em ponto de ebulição e
Harvey sabe bem disso, então raspa novamente aquela minha parte interior, que agora
é uma velha conhecida dele para quando quer realmente me matar.
— Não se você não disser as palavras.
Perco o meu fôlego conforme o grandalhão enfia mais um dedo grosso seu e
depois chupa o meu clítoris.
— Pelo amor de Deus! — Minhas pernas tentam se fechar com a sua invasão,
porém, são impedidas. — Pare de brincar, seu imbecil! Eu preciso de você!
O cowboy levanta a minha camisola rosa-claro de babados e amontoa o pano
embaixo dos meus seios.
— Ainda não. — Continua me lambendo e tento agarrar sua cabeça, porém,
sou impedida pelo tamanho e falta de mobilidade do meu próprio corpo.
Harvey já está em seu quarto dia fazendo isso. Acorda-me com a sua boca,
me lambe, me chupa, brinca com os meus mamilos, com o meu rabo, mas não me
deixa gozar e depois sai andando como se nada tivesse acontecido.
O filho da puta faz isso, pois não quero chamar um dos gêmeos que está na
minha barriga de Frederick. A criança já nasceria parecendo um velho de oitenta
anos!
Claro que depois sou eu quem o torturo, contudo, dessa vez não deixarei que
faça isso. Dessa vez vou obrigá-lo a me foder, nem que tenha que mentir.
— T-tudo bem! — Contorço o meu corpo em direção aos seus lábios úmidos
e quentes, tento não revirar os olhos pelo prazer que me inunda. — Aceito a sua
merda de nome feio! — Resfôlego e o homem pausa seus esforços para me encarar.
Está recém-barbeado, sem camisa, usando apenas uma cueca boxer quase
transparente. Acabou de tomar banho, o seu cheiro fresco chega até mim com muito
mais força, ativando todos aqueles pensamentos e fantasias que estive guardando
nesses dias.
— Não está tentando me enganar com os seus truques, está? — Seus cabelos
curtos e molhados o deixam ainda mais sexy, que juntando com a visão da sua trilha
de pelos castanhos descendo até a sua ereção marcada, me tornam uma mulher fraca.
— Pode nomear o menino de Frederick, mas só se me comer agora. — Finjo
concordar e ele passa sua língua rosada nos lábios molhados com o meu líquido.
— Fechado — responde, e sai da cama de repente.
Deus, como esse homem é grande! Não consigo me acostumar com a sua
altura, nem com o tamanho do seu quadril, peitoral ou o quão grande é esse pau. Não
sei se são só os hormônios da gravidez, mas eu o quero o tempo inteiro.
— Onde você pensa que vai?! — pergunto, desesperada, porque não parece
estar indo fazer o que me prometeu, porém, Harvey caminha até o meu lado, pega os
seus dois travesseiros e faz uma pilha no meio da cama.
— Deite-se aqui — ordena rouco, e eu obedeço.
O cowboy assiste cada movimento meu de forma faminta.
Coloco as minhas costas no monte acolchoado para que a minha grande
barriga, que tem se enchido de estrias escuras quase que de cima a baixo, fique mais
alta que o resto do meu corpo, deixando minha vagina mais baixa para que se ajoelhe
à minha frente e tenha melhor acesso a mim.
— Você está torturando a sua mulher grávida, Harvey, isso é pecado —
reclamo.
— Tire a sua camisola para mim, quero ver os seus seios — continua
ordenando, agarra um dos meus inchados pés e mordisca, sem nunca afastar seu olhar
do meu.
Realmente sabe como me deixar completamente encharcada.
— Puta merda! — xingo, e aperto o tecido embaixo de mim com as unhas,
sentindo cada movimento seu no meu pé, quase como se fosse dentro de mim.
— A camisola, Alexandra, tire-a. — A sua língua viaja na minha sola e
continua enviando eletricidade para o meu corpo todo.
— Tudo bem! Tudo bem!
Começo a retirar a roupa com certa dificuldade e escuto o homem abaixar a
sua cueca assim que passo a camisola pela minha cabeça e os meus olhos estão livres
novamente.
Encaro o seu avermelhado pênis, úmido daquele jeito que enche a minha boca
d'água e Harvey se toca enquanto observa o meu corpo com um tesão quase palpável,
olhando para os meus seios fartos e para a minha vagina. Apoio-me em meus
cotovelos para assisti-lo também, e quase perco o ar com a intensidade do momento.
— Tenho me masturbado mais de cinco vezes ao dia por sua causa. — Seu
tom é tremido e irritado. — Pareço um adolescente idiota, não consigo dormir,
Alexandra! Só consigo pensar no seu rabo o dia todo. — Sua pegada fica ainda mais
firme em seu membro.
— Então me fode, meu amor — suplico e de nada adianta.
— Fico imaginando você naquele sofá, chupando o meu pau com a sua buceta
bem molhada na minha cara. — As nossas respirações aumentam juntas e eu mordo o
meu lábio para não gritar de ansiedade — Vou acabar me esfolando.
Tento me acariciar também, porém, não é muito fácil.
O seu pescoço engrossa e a sua mão continua seu trabalho ágil para cima e
para baixo no seu próprio eixo, enquanto sinto a minha vagina se contrair várias e
várias vezes em resposta. Só queria poder pular em cima dele, amarrar suas mãos na
cabeceira e dar para ele o dia todo, só isso.
Ou ao contrário, Harvey me amarraria e me comeria durante longas horas, na
verdade, isso já não importa mais desde que esteja dentro de mim
— Por favor — sussurro. — Pare de me torturar.
— Você não merece ser fodida agora. — Seus dedos voltam a explorar minha
intimidade acompanhando o seu ritmo, reverberando seus movimentos em si mesmo.
— Harvey, preciso de você. — Consigo agarrar a mão que está usando para
me masturbar e faço uma pequena pressão desesperada. — Me sinto tão vazia. —
Meus olhos se enchem de lágrimas e seu rosto fica preocupado ao perceber o meu
estado.
— Oh, meu amor! Não chore não, Alex. — Sua voz perde a dureza com
facilidade.
Infelizmente, estou um pouco emocional demais esses dias. É divertido esse
jogo, porém, ter o homem ajoelhado à minha frente se tocando e olhando só para mim
desse jeito, sem ser penetrada, é demais para mim e me deixa muito frustrada.
— Você é quem está fazendo isso comigo! — choramingo.
— Já vou começar, tá bom? — cochicha, e se coloca mais para frente.
Tenta beijar meus lábios para me consolar, no entanto, tem uma super bola
entre nós dois que nos impede, então volta a se ajoelhar e esfregar a extremidade do
seu pênis na minha entrada.
Jogo a minha cabeça para trás e mordo alguns gemidos mais altos.
— Por favor — peço, mexendo o meu quadril em sua direção, e ele grunhe
enquanto entra delicadamente dentro de mim.
— Merda, Alex — xinga com a voz embargada.
Sei que não quer admitir, mas o cowboy está morrendo de medo. Nenhuma
das duas gestações que participou chegaram a se concluir e agora Harvey quer ter
certeza de que tudo dará certo. Talvez pense que o sexo me machuque de alguma
forma, não sei.
— Isso é tudo culpa sua — digo conforme termina de deslizar para dentro.
Estar preenchida assim é exatamente o que venho precisando há dias, sentir a
sua pele contra a minha.
— O que foi que fiz dessa vez?
— Quis casar às pressas e ainda me engravidou de gêmeos! — reclamo, e ele
se retira pela metade e depois volta lentamente. — Seu cowboy desgraçado!
— Continua me xingando, amor, vou acabar gozando antes de você. Sabe
como adoro quando está brava — diz, arrogante, e finalmente começa a ir e vir mais
rápido com o seu quadril.
Harvey levanta o meu pé até a sua boca e passa a mordê-lo. Cada vez que
seus dentes se fecham sobre um dedo ou a sua língua me acaricia, a minha vagina
pulsa e aperta o seu pau em resposta.
O barulho de ser comida desse jeito é tão obsceno e o prazer que sinto é tão
grande que eu mesma passo a acariciar meus seios e massagear os pontos de tensão
que são meus mamilos. O grandalhão assiste tudo de forma faminta.
— Mais rápido, mais rápido.
Suas estocadas ainda não estão no seu ritmo comum e elas perdem ainda mais
velocidade ao me escutar pedir por mais.
— Calma, amor. Vou foder você muitas vezes hoje.
Engulo a seco, apenas sentindo suas bolas indo contra mim e sua palma
esfregando meu clítoris.
— Não minta para mim — gemo, e Harvey alcança um seio e o tira da minha
mão.
— Não estou mentindo — Seu sorriso é largo e sedutor, como sempre. —
Hoje você será fodida quantas vezes merecer.
— Então não pare — peço, e gosto do jeito que me toca.
A tensão começa a crescer ainda mais dentro de mim e só quero estar mais
com ele, tê-lo dentro de mim para sempre e sentir o seu gozo escorrer entre as minhas
coxas. Então o homem acaricia o meu ânus e me penetra vagarosamente com o seu
dedo.
— É isso que a minha cadela quer? Ser fodida com o cu e a buceta cheias? —
Harvey me provoca.
— Sim, por favor. — Mal consigo pensar.
— É assim que gosto! — Apoia minha perna em seu ombro e abre espaço
para o seu quadril ir mais fundo, num novo ângulo que me deixa à sua mercê. — Você
é minha, Alexandra, e vou te encher com a minha porra o resto do dia. — Seus dedos
apertam o meu seio e eu só sei gemer.
7° mês
Ok, eu já não faço a mínima ideia de como são os meus pés mais. Aliás, mal
vejo minha barriga. Só o que vejo são meus peitos e o cowboy adora como eles
sempre pulam pra fora de qualquer blusa antiga de botão que tento colocar.
Harvey penteia meu cabelo, corta minhas unhas e até escova os meus dentes
às vezes. Acho que não nasci para ser grávida de jeito algum.
A única coisa que dei sorte, é que depois do terceiro mês não tive mais
nenhum enjoo, mas antes disso quase vomitei no rosto de muita gente que apareceu
aqui em casa usando uns perfumes fortes. Porém, uma dessas pessoas eu não segurei.
Sophie saiu toda suja com o meu vômito e graças a Deus não voltou mais.
E além de tudo isso, para eu me sentir morta de vez e sem energias, a minha
libido vai ao céu diariamente. Só de olhar para as mãos dele, de sentir o seu cheiro,
de ver qualquer coisa relacionada ao grandalhão, meus mamilos endurecem e eu sinto
um vazio no meio das pernas que cresce tanto que me deixa bamba.
Agora mesmo, com ele sentado no sofá ocupando dois assentos, as pernas
bem abertas folgadamente, coçando o saco, sem camisa e assistindo futebol, sinto
uma quentura sem tamanho no meu corpo. Então largo o pote de plástico que seguro
em cima da bancada de forma decidida e me acomodo no único lugar vago que
sobrou. Harvey estica inocentemente a mão procurando pela comida e não encontra.
— Amor, cadê as batatinhas e a cerveja? — pergunta, sem desgrudar os olhos
da TV, já que passa o jogo mais importante da temporada. Pego a sua grande mão e
coloco na minha coxa nua e só isso já é motivo para que fique toda arrepiada. —
Alexandra, agora não é hora de brincar, se você não queria pegar era só ter avisado.
Uso um vestido florido leve sem nada por baixo de propósito.
— Quero que você preste atenção em mim. — Solto o ar com força pelo
nariz, pego o controle da TV na mesa de centro e desligo o aparelho.
— Alexandra! Para de brinc… — Trava no meio da sua frase ao perceber
que subi o vestido até a minha cintura e deixei a minha vagina exposta para ele.
— É pra você me comer. — Abro bem as pernas, que já tem o seu meio
encharcado, e indico com a cabeça o chão para que se ajoelhe à minha frente.
Harvey morde o lábio inferior maliciosamente e se move lento, feito um
predador. Muito provavelmente assistirá à gravação daquele jogo mais tarde e eu
preciso do homem agora, não depois.
— Será que vamos precisar de um novo vibrador? — O seu tom é baixo e
apelativo, e eu sorrio em resposta.
— Nenhum vibrador tem essa sua carinha bonita, nem um pau tão grosso e
quente — digo, e ele separa os meus lábios vaginais usando o polegar e o indicador.
— E sempre pensei que maridos fossem pra essas coisas — desdenho.
Harvey me ajeita na beirada do sofá e coloca seu rosto na minha buceta.
— Cadela safada — sussurra, e começa o seu banquete barulhento, passando
a língua pelo meu clítoris, provando a minha umidade.
— Toda sua — gemo, e ondulo em sua direção.
— Amor, volte pra cama, ficarei com eles agora. Te disse pra me acordar
caso chorassem, você tem que descansar — diz a grande silhueta que entra no quarto
infantil.
— Ok. — Concordo com velocidade e gratidão e coloco a minha pequena
menina de volta no berço.
No mesmo segundo ela começa a chorar e acorda o irmão, que grita ainda
mais alto. Os meus ouvidos parecem que vão explodir e acabo pegando Pen de volta
para ninar, e Fred vai pro colo de seu pai até que os dois voltem a dormir.
— Acha que eles são muito novos pra gente dar aquele chá da sua vó? —
Harvey sugere, e respondo com um sorriso fraco. — Tia Grace falou que vem passar
um tempinho aqui ajudando.
— Ela é um anjo — cochicho e ele faz que sim com a cabeça.
— Quer tentar colocá-los de volta no berço e ver o que acontece?
Nós subimos o quarto dos bebês e descemos o quarto de Derick, que quase
não passa mais tempo aqui. Agora que Katherine se sente bem melhor, ambos com
acompanhamento psicológico e sem a chance de perder a casa, gastam a maior parte
do tempo juntos. A mãe do menino não quer perdê-lo como perdeu Jimmy, e eu
entendo o seu apego.
— Se começarem a chorar de novo, você vai ficar sozinho com os dois —
sussurro, e o homem aceita o desafio.
Colocamos Penélope e Frederick de volta no berço e eles continuam
dormindo. Daria pulinhos de felicidade, contudo, não posso correr o risco de acordá-
los, então ligamos a babá eletrônica e vamos para o nosso quarto da pontinha dos
pés.
Harvey deita primeiro e eu coloco minha cabeça em seu peito quente e largo.
— Acha que iremos estar sempre mortos assim? — Acaricia meus cabelos, e
eu fecho os meus olhos com o prazer que corre meu corpo.
— Acho que em dezoito anos vai estar tudo bem — respondo, Harvey se
aproveita e me faz sair de seu peito, ficando por cima e começa a beijar meu pescoço
lentamente. — É só você não inventar de querer fazer mais nenhum também —
reclamo.
— Sem um terceiro para o time, nós prometemos — responde, e eu suspiro
conforme sua mão entra por baixo da sua camiseta que uso como pijama e acaricia
meu clitóris. Sorrio sonolenta para a sua cara de pau. — Vamos só treinar mesmo a
partir de agora.
— Sei bem o quanto você quer treinar, mas agora parece bem impossível.
— Vamos dar um jeito — diz, determinado. — Vamos sempre dar um jeito em
tudo.
— Sei disso. — Enrolo minhas pernas em volta do seu quadril conforme
beijo seus lábios e continuamos a nos tocar até que eu esteja molhada e gemendo
baixinho.
Harvey se anima com a minha excitação, se afasta para pegar uma camisinha,
mas dois bebês começam a chorar e nós voltamos para a nossa pequena maratona.
Em
caso de violência, denuncie!
Durante o livro, Alexandra mostra algumas das sequelas que uma mulher
pode ter após assédio/abuso sexual. Infelizmente ela era muito jovem e não tinha
conhecimento de como lidar com essa situação.
Não fique calada (o) caso algo assim aconteça com você ou com alguma
mulher que você conheça, procure ajuda de pessoas confiáveis e disque 180 (em
território nacional) para denunciar violência contra a mulher.
Olá, leitor (a) que chegou até o final dessa obra. Se puder, por favor, deixe uma avaliação para me ajudar.
Uma Inquilina Para Harvey foi o meu primeiro livro com protagonista gorda, o meu primeiro erótico a ser
escrito e o meu segundo livro que chegou a ter um capítulo final, todos os outros, coitados, foram largados
prematuramente.
Nesta obra acabei despejando muito do que guardei de uma forma crua. Ele teve drama, comédia,
momentos quentes e brutos. Tudo foi mais intenso.
Devo dizer que “Uma Inquilina Para Harvey” passou por muitas lapidações. Na sua escrita inicial, lá no
Wattpad, o romance foi praticamente escrito pela Alexandra. Era redigido da maneira que ela se via e queria ser
vista pelos outros, arrogante, invencível, grosseira, dura. Citando uma das passagens da personagem “É melhor
parecer uma ingrata, que uma coitada”.
Porém, depois percebi que não deveria deixar que essa moça mostrasse só o pior de si, que mandasse de
forma tão descarada nos acontecimentos, e coloquei mais do Harvey, mais dos seus problemas e da sua visão, e
suavizei um pouquinho a nossa moça nas suas explosões.
Pelo amor de Deus, não acredite em tudo que sai da boca dessa mulher braba, o que ela fala e faz, é
também uma exposição do que já ouvi e vi acontecer no mundo real onde nós vivemos. Às vezes é certo e às vezes
não.
De qualquer forma, espero que você tenha gostado e saiba que Villa Velha ainda tem muita história para
contar.
[1]Percheron é uma raça de cavalo francesa originária da atual comuna de Perche, de onde herdou o nome.
Trata-se de uma típica raça de cavalo de tração, e a mais conhecida das raças equinas francesas. É um animal
bem proporcionado, com ossos duros e de pé firme e forte, utilizado para carruagens e trabalho.