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Copyright© Priscilla Lima

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Diagramação/@autoraericaqueiros
Revisão/@marianarocha57
Capa/@almeidaadesigner
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra de qualquer forma ou quaisquer meios
eletrônicos, mecânicos e processo xerográfico, sem a permissão da autora (Lei9.610/98)
Essa é uma obra de ficção. Os nomes, lugares, e acontecimentos descritos na obra são produto da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes acontecimentos reais é mera
coincidências.
Sumário
Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Epilogo
Um casamento falso com o Ceo — O filho rejeitado.
Uma história de amor pode começar no meio de uma vingança? Theodoro Philips, um
grande CEO, dono de uma das maiores empresas de investimentos em Londres, teve que
reerguer o império da sua família do zero, com muita garra e determinação, impulsionado pelo
pior sentimento que o ser humano pode sentir. Ele decidiu seguir os conselhos do seu tio e ir
atrás dela, da filha do homem que destruiu a vida dos seus pais.
Pobre Olívia Carter, uma menina doce e ingênua, que leva a vida com simplicidade ao
lado da sua família. Com o sonho de ser advogada, ela estuda bastante em uma das maiores
faculdades de Londres. Vivendo a melhor fase de sua vida, ela nunca poderia imaginar que
aquele homem entraria em sua vida com um único propósito de se vingar de sua família.
— Você é um maldito, eu te odeio — gritei, dando um tapa em seu rosto.
— Pode até me odiar, baby, mas terá que viver sob o mesmo teto que o meu.
— Este contrato vai acabar, e eu e o bebê vamos viver livres de você.
— Este bebê foi um grande erro, não somos um casal e nunca vamos ser.
Meu corpo se debatia sobre a cama, o suor escorria pelo meu rosto, meu coração
acelerado e minhas pernas fraquejando, eu caí de joelhos sobre o chão do quarto dos meus
pais, as paredes em tons rosa-bebê foram escolha dela, sua cor favorita e, quando a vi jogada
sobre o corpo do dele ensanguentado, eu quis gritar, ele tinha acabado de se matar, e ela
chorava em seu corpo sem vida. Um pesadelo vivido por um adolescente que sempre amou os
pais e que teve sua vida destruída por um único homem, um ser desprezível que merecia
sofrer.
Ao abrir os olhos, tentei me acalmar, os pesadelos eram constantes desde pequeno e,
mesmo que eu tivesse passado em vários psicólogos, nenhum tinha conseguido resolver a minha
mente fodida, e a única coisa que me mantinha em pé era a sede de vingança.
Passei as mãos no cabelo antes de me levantar da cama, olhei para o lado, me dando conta
que ainda era apenas 6h da manhã, fechei os olhos, respirando fundo, jogando todas as
lembranças do passado para trás e colocando um belo sorriso no rosto, era o grande dia e eu
estava finalmente pronto para cumprir a minha promessa, vingar a morte da minha família.
— Alexa, tocar playlist número um. — O rock pesado começou a ecoar pelo quarto,
caminhei até o closet para vestir um short para malhar, já que estava apenas de cueca. — Abrir as
cortinas — disse antes de me trocar e ir até o banheiro, fiz minha higiene, pegando uma toalha de
rosto antes de sair do quarto.
Desci as escadas, indo para minha academia particular, subi em uma esteira, apertando
alguns botões e começando a correr. Naquele momento, eu conseguia me desconectar do mundo
a minha volta, ficava ali por horas e horas, ouvindo apenas os meus pensamentos, colocando
todos em ordem e idealizando o que estava prestes a fazer.
— Bom dia, está pronto? — Sorrindo, eu olhei para meu tio, o homem que tinha me criado
depois da morte trágica dos meus pais, que me ajudou a reerguer a empresa da família e a
construir um grande império.
Parei a esteira, descendo dela e sequei meu rosto antes de abraçá-lo, a hora que tanto
sonhamos tinha chegado e, com ela, um turbilhão de sentimentos.
— Esperei muito tempo por esse momento, estou mais que pronto.
— Ótimo, o advogado está, neste momento, fazendo a proposta, ele ficará sem nada.
— Assim como meu pai ficou, eu vou acabar com tudo que ele ama, deixá-lo no fundo do
poço e assistir, de camarote, ao seu sofrimento.
Encarei meu tio, a vingança era minha única motivação por anos e me fez batalhar dia
após dia para chegar nesse momento e tudo que eu mais queria era ver a dor nos olhos do homem
que me arrancou tudo, a mesma dor que fez meu pai se matar e, em seguida, minha mãe sofrer
um trágico acidente de carro, tudo culpa dele.
— É o seu momento, sobrinho, honre nossa família e a morte dos seus pais.
— Farei isso com prazer, mas agora me mostre ela. — Meu tio deu alguns passos em
direção a uma mesinha, pegou um tablet sobre ela, apertando na tela e me entregou, mostrando a
bela e inocente garota, a única coisa que podia feri-lo mais que perder a empresa era perder sua
família, e isso incluía sua única filha.
— Ela tem apenas 23 anos, está terminando a faculdade de direito.
Olhei para tela, vendo seus cabelos castanhos, seus olhos esverdeados, sua pele clara e sua
boca avermelhada, uma beleza estonteante que deixaria qualquer homem louco por ela, todavia,
eu sabia que, em suas veias, corria o sangue daquela família maldita, a mesma que me tirou tudo
e que não merecia minha compaixão.
— Você acredita que ela vai aceitar o acordo? — Encarei meu tio meio receoso, nosso
plano estava apenas começando e seria executado com perfeição.
— Para tirar o pai da lama, é óbvio que sim. — Entreguei o tablet para meu tio. — Sua
única filha sendo obrigada a viver com o filho do homem que ele roubou, sendo humilhada por
ele.
— A dor ainda será pouco perto do que eles me causaram, aquela família merece sofrer.
Ele colocou a mão sobre os meus ombros.
— É o seu momento, meu filho.
Nós dois sorrimos, foram anos sonhando com aquele momento, imaginando a cara do
homem que me tirou tudo sendo jogada na lama, vendo em seus olhos dor.
— Se arrume, a palestra na faculdade dela será daqui a três horas, faça o primeiro contato,
seja gentil e atencioso.
— Serei um perfeito cavalheiro, até ela descobrir toda verdade e assinar o contrato de
casamento.
— Dois anos de tortura, dois anos que aquele homem verá sua filha ser humilhada por
você e não poderá fazer nada, apenas sofrer.
Caminhei para longe do meu tio, indo até a mesa de canto onde estava o tablet, nela tinha
um porta-retrato dos meus pais, olhei para ele com os olhos cheios de lágrimas.
— Eu vou vingar a sua dor, pai, eu juro.
Depois de três horas, eu finalmente estava na faculdade dela, com o terno cinza elegante
feito sob medida, gravata preta, meus sapatos de marca italiana e um lindo Rolex no pulso. O
dono da maior empresa de investimentos de Londres vivia igual a um rei e todos me aplaudiram
de pé ao me receber no enorme salão onde eu daria uma palestra sobre investimentos e
empreendedorismo e selecionaria alguns dos alunos para trabalhar comigo.
— É uma honra recebê-lo aqui — o reitor da faculdade apertou minha mão sorrindo —,
tenho certeza que vai encontrar alunos para trabalhar com o senhor.
— Não tenho a menor dúvida quanto a isto. — Olhei ao nosso redor antes de caminhar
para frente do palco. Com o papel em minhas mãos, eu comecei o meu discurso, tentando
encontrá-la no meio dos alunos, até que meus olhos pararam na garota que viveria comigo como
minha esposa por dois anos.
Foram 20 minutos até que finalmente toda a palestra tivesse acabado, eu ainda olhava para
ela de longe, enquanto a garota sorria para seus amigos ao seu lado, tão linda e inocente, não
parecia ser filha daquele desgraçado.
— Senhor Philips …, o senhor está me ouvindo? — o reitor falou, chamando minha
atenção.
— Sim, eu preciso de um favor — disse, não dando importância a seu falatório
desnecessário, eu era um homem reservado e odiava dar palestra sobre como peguei uma
empresa falida e transformei em um grande império, mas, como eu precisava ir atrás da peça-
chave do meu plano, eu tinha aceitado sua proposta.
— Diga, se estiver ao meu alcance.
— Preciso de bons advogados, e sei que alguns dos seus alunos se formam esse ano, tem
algum para me indicar? — Sorri gentilmente, meu tio tinha feito uma bela pesquisa sobre ela, e
eu sabia que ela era a melhor da turma, sempre com as melhores notas e um destaque entre todos.
— Ah … Bom, eu tenho alguém ideal para o senhor, ela é a nossa melhor aluna da turma.
— Quem é ela? Pode me apresentar? — Eu sabia que ela estava ao nosso lado e que logo
eu ficaria frente a frente com a peça fundamental do meu xadrez.
— O nome dela é Olívia Carter — o senhor disse, sorrindo, apontando para o lado — Veja
só, ela está bem ali. — Olívia, venha aqui querida.
Ele chamou a garota, a fazendo se virar e caminhar até nós dois, eu a olhava de cima para
baixo, me perguntando como passaria dois anos ao seu lado sem tocar em seu corpo.
— Olá, tudo bem? — gentilmente ela falou para o reitor.
— Querida, esse é …
— Theodoro Philips — interrompi o senhor, estendendo minha mão para a garota —, é um
prazer conhecê-la, senhorita Oliva.
— O prazer é todo meu. — Segurou em minha mão, fazendo um calafrio percorrer pelo
meu corpo. — Sou uma grande fã sua, já li a sua biografia e fiquei impressionada com o fato de
um simples garoto de 19 anos conseguir reerguer uma empresa falida.
— Um homem é capaz de tudo quando é necessário.

Era ela, a garota que eu teria por dois anos em minhas mãos, a filha do homem que
destruiu minha família e que agora sentiria na pele a dor que eu tinha passado. Ficamos por
alguns segundos nos encarando, o momento que tanto esperei estava acontecendo, e eu não sabia
o que dizer.
— Ele está precisando de novos advogados na sua empresa, eu indiquei você — disse o
diretor , me fazendo sair dos meus pensamentos.
— Fiquei sabendo que é uma das melhores da turma. — Sorri, colocando as mãos dentro
do bolso — E eu preciso dos melhores na minha empresa.
— Vai ser uma honra trabalhar para o senhor, mas ainda faltam dois meses para a
faculdade acabar, eu já estou estagiando na empresa do meu pai e …
— Eu espero — cortei, mostrando meu interesse, de um jeito ou de outro, ela não me
escaparia. — Quero a senhorita em minha equipe.
Ela sorriu sem jeito, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha enquanto suas
bochechas ficaram levemente avermelhadas, tão bonita, pena que seu DNA era o mesmo dele.
— Obrigada. — Mais uma vez ficamos por alguns segundos nos encarando até que uma
das suas amigas chamou Olívia, ela se despediu e, antes que se afastasse de mim, eu segurei sua
mão.
— Tome, este é o meu cartão, entre em contato para que eu possa garantir a sua vaga.
— Pode deixar. — Segurou o cartão em suas mãos antes de se afastar de nós.
Olhei para o diretor antes de me despedir dela, o primeiro contato já tinha sido feito e era
hora de esperar as coisas acontecerem, a empresa da família Carter estava endividada, em ruínas,
e a única luz no final do túnel era vendê-la, e era nessa hora que eu entraria para comprar e fazer
um belo acordo com sua filha ingênua.
— Como foi? — Ao entrar no carro que estava à minha espera no estacionamento da
faculdade, eu encarei meu tio, ele estava ansioso por notícias.
— Como esperado, ela acha que estou procurando uma advogada para a empresa. — Sorri.
— Mal sabe ela que acabei de comprar uma parte das ações da empresa do seu pai e que o
contrato já está sendo redigido para que ela se torne a minha esposa e viva com o inimigo do seu
pai.
Meu tio passou para minhas mãos uma taça de champanhe e brindamos o começo do fim
do meu inimigo.
A vida é muito boa, eu não tinha muito do que me queixar, uma família bem estruturada
com pais amorosos, onde nos reunimos todas as noites para falar como foi nosso dia e rir das
palhaçadas da minha mãe que ama discutir por bobagem com meu pai, os dois se amavam mais
que tudo e todas as vezes que presenciava a cena de carinho deles, sonhava com um dia
encontrar o grande amor da minha vida, construir uma linda família e viver feliz assim como
eles. Com meus 23 anos, eu já estava terminando a faculdade de direito, sempre tive sede de
justiça e talvez seja por isso que tenha escolhido essa profissão, mesmo que meu pai tivesse o
sonho que eu me formasse em administração e me tornasse a CEO da nossa empresa. Ele sempre
me apoiava em minhas escolhas, tudo que queria era me ver feliz e realizada profissionalmente.
Ao entrar em casa, dei um beijo na bochecha da nossa governanta, Ana, que vivia com nossa
família desde o meu nascimento e era praticamente uma mãe para mim. Sorrindo, eu caminhei
até a enorme sala de jantar, onde meus pais estavam sentados, que me olharam e, diferente dos
outros dias, não havia um sorriso em seus rostos, minha mãe secou as lágrimas que escorriam
sobre seu rosto e isso fez meu coração doer, ela nunca chorava.
— Querida, que bom que chegou — meu pai falou, se levantando da cadeira, veio até mim
e me abraçou antes de acariciar os meus cabelos. — Sente-se, preciso conversar com você.
— Mamãe, você está bem? — perguntei, me sentando ao seu lado na mesa, ela sorriu
amargamente, segurando minha mão.
— Estou, não se preocupe.
— Olívia, eu vou precisar cancelar nossa viagem para o Brasil, temos que economizar. —
Olhei para ele com uma das sobrancelhas arqueadas, aquela viagem era algo que fazíamos todos
os anos em família.
— Por quê? O que está acontecendo? — Não me importava com a viagem, todavia, era
óbvio que tinha algo de errado acontecendo.
— Filha, as coisas …
— Por favor, Mary , ela não precisa saber — meu pai interrompeu minha mãe antes que
ela revelasse o motivo de toda aquela tristeza.
— Não, ela precisa saber, William — gritou, se levantando da cadeira — Nossa filha não é
mais uma criança, ela também é dona daquela empresa.
Meu pai passou as mãos no cabelo, ele fazia isso todas as vezes que estava nervoso, minha
mãe voltou a se sentar na cadeira, tomando um copo de água que estava ao lado do seu prato.
— Me digam de uma vez por todas o que está acontecendo — falei, encarando meus pais.
— Olívia, querida, eu tentei ao máximo te manter longe de todos os problemas da
empresa, mas você precisa saber que estamos passando por um momento muito difícil. —
Respirou fundo. — E hoje eu vendi uma parte das ações para tentar não perder tudo.
Pisquei algumas vezes, me sentindo fora de mim, meu pai sempre me falava o quanto a
empresa era importante para ele e o quanto batalhou para construir o nosso império.
— Como? Por que não me contaram isso antes? — Meu pai sorriu amargamente antes de
segurar minha mão por cima da mesa, dando um beijo entre os meus dedos antes de encarar os
meus olhos.
— Filha, eu não queria te preocupar, as coisas começaram a desandar alguns meses atrás
e eu tentei, de todas as formas, não chegar a esse momento, mas, se eu não fizesse isso,
perderíamos tudo.
— A situação é tão complicada assim?
— Estamos com a corda no pescoço, com uma dívida altíssima e com pouco lucro na
empresa — se levantou da cadeira, andando de um lado para o outro — até achei que ninguém
iria querer comprar as ações, mas, por um milagre, um grande empresário se interessou e me
garantiu que vai tirar a gente da lama.
— Quem é ele? É um homem de confiança?
Me levantei da mesa, ficando de frente para meu pai.
— Isso não importa, minha querida. — Acariciou o meu rosto. — O que importa é que
achamos uma luz no final do túnel e vamos conseguir nos manter até a empresa voltar aos seus
dias de glória.
Sentir seus braços me apertarem em um abraço forte, minha mãe se levantou e fez o
mesmo, nossa família passaria por aquela provação unida e de cabeça erguida.
Depois do jantar, eu subi até o meu quarto, estava preocupada e aflita com o futuro, a
empresa era uma das coisas mais importantes para meu pai e, mesmo ele não admitindo, dava
para ver a sua dor, ele estava um caco, e eu precisava ajudá-los de algum jeito, nem que fosse
arrumando um serviço por meio período, eu não me importava de trabalhar, não era uma
patricinha e sempre me esforçava ao máximo para ajudá-lo na empresa, porém, não imaginava
que as coisas ficassem tão feias a ponto de eu ter que ir atrás de um serviço em outro lugar.
Com o cartão em minhas mãos, eu me lembrava do homem que tinha conhecido na
faculdade, ele era um grande empresário que conseguiu reerguer a empresa de sua família,
famoso por seus investimentos, então, ele seria de grande ajuda, eu poderia aprender muito
trabalhando para ele. Me sentei sobre a cama com o notebook em minhas mãos, digitei o nome
dele no campo de pesquisa, vendo suas fotos e sua biografia, e passei as imagens, observando os
seus traços, um homem imponente, de olhos escuros, uma barba bem-feita e cabelos castanhos,
assim como os meus, elegante e de um sorriso encantador, tão bonito, alguém que me deixava
completamente desequilibrada. Olhei para o lado, vendo o meu celular vibrar, fechei o notebook,
me levantando enquanto atendia a ligação do meu melhor amigo. Luke é o meu confidente,
sempre disposto a me ouvir e me levar para as farras de Londres, alguém que eu considerava
como um irmão.
— Que demora — disse ele assim que atendi a ligação. — Já estava quase ligando para
polícia.
— Tão dramático, faz jus a seu signo, canceriano raiz — brinquei, sorrindo, depois da
conversa com meus pais, eu não conseguia me distrair.
— O que você está fazendo? Vamos aproveitar a noite, eu passo aí em dez minutos.
— Hoje não estou me sentindo bem, tenho alguns problemas familiares e …
— Coloca um vestido justo com belo decote, você é muito bonita para ficar em plena
sexta à noite em casa. — Suspirei, eu sabia que Luke não me deixaria em paz caso eu não fosse.
— Minha cabeça está cheia, não vou conseguir me divertir.
— Você pode esvaziar ela comigo, vamos, eu preciso de você para chamar atenção dos
gatos da balada. — Sorri, caminhando até o espelho do meu quarto, eu estava cansada, porém,
precisava distrair a cabeça, infelizmente, as coisas não se resolveriam se eu me jogasse na cama,
depressiva com a situação.
— Tudo bem, Barbie, mas me deve uma e eu vou cobrar.
— Eba — gritou do outro lado da linha. — Estou louca para arrumar um gatinho.
Ao encerrar a ligação, eu corri para o banheiro, tomei um banho quente, tentando mandar
os pensamentos negativos para longe, tudo ficaria bem. Fui até o meu closet enrolada em uma
toalha, vasculhei os meus vestidos, pegando em minhas mãos um deles, na cor preta, com alças
finas, com o caimento slim fit e com tecido leve de cetim, olhei para os meus saltos altos
pegando um na cor vermelha, combinaria com o batom que usaria naquela noite e soltei o cabelo
e passei o perfume, me sentindo pronta para uma boa balada ao lado do meu melhor amigo. Em
pouco tempo, ele apareceu em minha porta, e juntos fomos em seu carro até uma das baladas
mais frequentadas de Londres, onde muitos playboys iam para esbanjar as fortunas dos seus pais.
— É sério, Olívia, se você precisar de ajuda, eu posso … — No caminho, eu tinha contado
a real situação financeira da minha família e, como sempre, ele estava disposto a me ajudar.
— Eu agradeço de coração, mas eu sinto que é hora de eu colocar a mão na massa,
arrumar um emprego e ajudar os meus pais.
— Tenho tanto orgulho de você. — Segurou minha mão. — Sempre disposta a fazer tudo
pela sua família, queria ter isso na minha casa. — Abaixou a cabeça.
— Sem tristeza essa noite, vamos nos divertir.
Caminhamos juntos, de mãos dadas, até a frente do local. Luke sofria com seus pais, eram
pessoas que só se importavam com o dinheiro e diferente dos meus, eles nunca estavam
dispostos a ouvir o filho e muito menos aceitar a sua opção sexual.
A fila estava enorme para entrar, mas, como nós dois conhecíamos os seguranças, eles
sempre nos davam passe livre, logo, entramos ouvindo o som alto. Na pista, tinha muitas pessoas
dançando e, no andar de cima, ficava um lugar reservado para homens e mulheres importantes
que pagavam mais caro para terem privacidade.
— Vou buscar umas bebidas, você quer algo? — gritou meu amigo em meu ouvido.
— Martini. — Sorri.
— Ótima escolha, Barbie.
Sentindo a batida da música, eu comecei a mexer o meu corpo no ritmo, dançando e
olhando ao meu redor. Joguei o cabelo, olhando para cima, tendo a leve impressão de ter visto
alguém conhecido. Voltei a olhar e, por um breve momento, fiquei parada no meio da pista, era
Theodoro Philips, o homem que me fazia perder o equilíbrio.
— Toma, é para beber de uma vez só. — Fui tirada dos meus devaneios com o grito de
Luke ao meu lado, peguei o copo de Martini, tomando o líquido de uma vez só.
— Sabe o homem que falei para você? O que me ofereceu um estágio em sua empresa? —
sussurrei em seu ouvido.
— Aquele gostoso? Como eu poderia me esquecer.
— Ele está aqui. — Apontei para o lugar, meu amigo disfarçou antes de olhar em direção
ao moreno de olhos castanhos.
— Deus, ele é mais bonito pessoalmente. — Sorriu. — É uma pena que esteja
acompanhado.
Olhei para o lugar, vendo uma ruiva ao seu lado, ela descansava sua mão sobre a perna
dele, enquanto senhor Philips levava um copo com um líquido amarelo para sua boca,
provavelmente era um uísque, meu coração disparou e eu senti um gosto amargo. Aquela mulher
é sua namorada? No Google, dizia que ele é solteiro.
— Pare de olhar, vai dar na cara. — Pisquei algumas vezes, puxando meu amigo para
dançar. Namorando ou não, Theodoro não era homem para mim, na verdade, ele nunca se
interessaria por uma garota como eu, que estava apenas começando a vida, enquanto ele já era
dono de um grande império.
Desde os meus 19 anos, eu vivia inteiramente para a empresa da minha família, jogado em
um escritório. Eu trabalhei dia após dia para reerguer algo que meu pai tinha me deixado, fiz de
tudo e consegui reconstruir o grande império da família Philips , foram dias e meses estudando e
analisando gráficos, vivendo inteiramente para acumular dinheiro para chegar finalmente no
momento certo, o momento que destruiria o homem que me fez perder tudo, não só a minha
família, como também a minha vida. Arrumei a minha postura, levando o copo de uísque até a
minha boca. Depois do primeiro contato com Olívia, eu decidi comemorar, estava conseguindo o
que eu tanto sonhei.
Tirei a mão de Valéria da minha coxa, a ruiva que trabalhava para mim como secretária
era uma boa foda, mas nada muito importante ou relevante para mim. Levantei-me do sofá em
que estava sentado no lugar mais reservado de uma das baladas que era sócio, eu não costumava
investir em boates, mas aquele lugar me rendia uma boa quantia por mês e era um bom ambiente
para distrair minha cabeça.
Olhei para pista, vendo as pessoas dançarem distraídas enquanto eu levava mais uma vez o
copo em minha mão até a boca, o líquido quente escorreu pela minha garganta e, quando eu notei
a presença dela, quase me engasguei, Olívia dançava com um homem no meio da balada,
sorridente e linda. A garota de cabelos castanhos estava com um belo vestido curto e todos os
homens ao seu redor olhavam para ela, segurei com força o copo, me sentindo um pouco
incomodado com aquela cena. Em algumas semanas, ela seria minha esposa, mesmo que fosse
por contrato.
— Querido, vamos para um dos quartos. — Olhei para o lado, sentindo as mãos da ruiva
sobre o meu corpo.
— Não precisamos de quarto — falei, segurando sua mão, levando até a minha parte
intimidade por dentro da calça.
Enquanto a ruiva tocava meu membro, eu voltei a olhar para Olívia, a linda garota
continuava dançando com o cara ao seu lado e, quando percebi que ele tinha suas mãos em sua
bunda, meu sangue ferveu, tirando com rapidez a mão da minha secretária de dentro da minha
calça, um pouco incomodado com aquela cena.
— O que aconteceu? Não estava bom para você? — perguntou, irritada.
— Vai embora, me deixe sozinho. — Caminhei até o sofá, pegando em minhas mãos a
garrafa de uísque, despejando no copo, tomando o líquido de uma única vez. Eu não tinha
gostado nada daquele homem tocar em Olívia, ela seria minha esposa.
— O que deu em você? — Pegou sua bolsa sobre o sofá e saiu furiosa, fechei os olhos,
jogando a cabeça para trás.
Tentei continuar a noite sem me importar com a garota que ainda dançava com o homem
de cabelos castanhos, estava bebendo um Martini e eu me perguntava se ela não percebia que já
tinha chegado a hora de parar.
— Senhor, eu avisei no bar que não é para vender mais bebidas alcoólicas para a garota —
Um dos meus seguranças me avisou, eu já tinha mandado perguntar o que Olívia estava bebendo
e decidindo que era hora dela parar.
— Ótimo. — Olhei para a pista, vendo que ela já não estava mais dançando. — Onde ela
está?
— Pelo que vi, a garota foi até o banheiro, enquanto o seu amigo foi embora
acompanhado.
Olhei para o meu segurança, entregando o copo de uísque, caminhei até as escadas,
descendo até a parte de baixo da boate. Em passos largos, eu desviei das pessoas até chegar no
banheiro feminino, e procurei por ela até que a vi encostada em uma parede com o celular em
suas mãos.
— Senhorita Olívia, venha comigo — com autoridade, eu falei, ela era uma peça-chave
para a vingança e era só por isso que eu estava preocupado com sua segurança, nosso acordo
tinha que ser feito.
— Senhor Philips, eu … — Antes que ela pudesse falar algo, se curvou para frente,
vomitando no chão. — Merda… — resmungou, enquanto eu segurava seus cabelos, era patético
eu ter negado uma foda para cuidar daquela garota.
— Vamos, eu vou levá-la até sua casa. — Passei meu braço pela sua cintura.
— Não, eu vou com o Luke … — falou com a voz meio enrolada.
— Luke, quem é ele? — pensei alto.
— Ele é um grande amigo. — Ela se interrompe, soltando um bocejo. — Estou com sono
— falou, toda manhosa.
Peguei ela em meus braços, caminhando para fora da boate, mandaria um dos meus
seguranças levá-la para casa.
— Você é tão bonito e cheiroso.
Ouvi ela falar baixinho, colocando o rosto na curva do meu pescoço e aspirando
profundamente. Dei um leve sorriso, porque sei que ela está bêbada e provavelmente nem se
lembrará disso e, se caso lembrar, irá morrer de vergonha.
Coloquei ela cuidadosamente no banco traseiro do carro e falei para o meu segurança.
— Leve ela para casa e se certifique que ela esteja bem — dei a ordem, voltando para
dentro da boate.
Fiquei algum tempo por lá até que meu segurança voltou com notícia de Olívia, ela estava
em casa e provavelmente acordaria no dia seguinte com uma bela ressaca, tomei mais um gole do
uísque antes de me levantar do sofá e arrumar meu terno, e voltei a descer as escadas, indo até o
meu carro. O segurança abriu a porta para que eu entrasse, logo me sentei, pegando meu celular
no bolso, desbloqueando e indo para o álbum, que tinha algumas fotos da garota. Passei o
polegar no seu rosto sorrindo.
— Bonequinha, você não sabe o que te espera.
No dia seguinte, eu acordei cedo para malhar, estava na academia quando a Alexa me
avisou sobre uma ligação. Desci da esteira, passando a toalha de rosto em meu pescoço, e andei
até a mesinha de canto, pegando meu celular em minhas mãos, era um número desconhecido,
apertei no botão para atender e, quando ouvi sua voz, senti um frio no estômago.
— Senhor Philips, é a Olívia — falou sem jeito. Sorrindo, eu caminhei até a enorme
janela da minha academia, olhando para fora da minha casa.
— Senhorita Olívia, tudo bem? — perguntei, mostrando o perfeito cavalheiro que sou.
—Tudo, tirando a péssima ressaca que acordei. — Ouvi sua risada sem graça do outro
lado da linha. — É por isso que estou ligando, quero agradecer ao senhor por ter mandado o
seu segurança me trazer a salvo para casa
— Não fiz nada de mais. — Encarei o meu segurança no jardim, ele tinha deixado bem
claro para os pais dela quem era o seu salvador.
— Claro que fez, obrigada e, bom, se ainda estiver com a vaga de estagiária aberta, eu
aceito.
— Excelente, senhorita Carter, será um prazer tê-la em minha empresa.
— Obrigada, quando eu começo?
— Pode ser amanhã? Às 7h, estarei à sua espera.
— Claro, estarei lá.
Encerrei a ligação com as mãos suadas, ela estava caindo no meu jogo, e eu sabia que, no
final, eu teria minha vingança concluída, ficaria em paz comigo mesmo ao cumprir minha
promessa. Larguei o celular sobre a mesinha de canto, indo para fora da academia, desci as
escadas da minha enorme mansão, caminhando até a sala de jantar, a casa estava cheia de
empregados por todos os lados, onde todos me obedeciam fielmente.
— Senhor Philips, seu tio mandou avisar que ele tinha que sair mais cedo — falou uma
das minhas empregadas.
— Certo, ele avisou para onde foi? — Me sentei na cadeira antes de pegar um copo de
suco de laranja, a mesa estava farta com bolos, bolachas, torradas e várias outras coisas.
— Não, senhor — disse, ficando em pé ao meu lado, me observando igual a uma estátua,
olhei para ela, cruzando os braços.
— Vai ficar aí me olhando? Não tem nada para fazer? — inquiri, fazendo a mulher sair
correndo para cozinha. — Bando de imprestáveis.
Revirei os olhos, pegando o tablet sobre a mesa, e abri no gráfico de ganhos da empresa da
família Carter. Os números eram vergonhosos, uma empresa no fundo do poço, que eu nunca
pensaria em comprar caso não fosse para destruí-los ainda mais. Fazia meses que eu vinha
trabalhando para afundar tudo. Com a ajuda de alguns parceiros comprados por mim, William
Carter foi se afundando em dívidas, nadando contra a maré, sem saber que o passado estava
prestes a bater em sua porta, sem saber que o garotinho que ficou sem pais por sua culpa havia
voltado para se vingar e pior, para fazê-lo sofrer, vendo sua filha sendo humilhada. Tomei um
gole do suco sorrindo, o dia estava lindo, e eu não consegui parar de pensar no quanto tinha
sonhado com aquela vingança. Apertei na tela do tablet, vendo a foto da garota, ela tinha algo em
seu sorriso que chamava minha atenção, mesmo sabendo que aquele casamento era uma farsa, eu
me sentia atraído pela sua beleza.
— Sobrinho. — Ouvi a voz do meu tio atrás de mim, coloquei o tablet na mesa, me
levantando da cadeira, e me virei para encará-lo — Preciso de um favor.
— Tio, onde o senhor estava? — perguntei, cruzando os braços.
— Isso não importa agora, eu preciso de certa quantia.
Encarei seus olhos, meu tio é com um pai para mim, me criou e sempre me ajudou com a
minha vingança, alimentando sempre as minhas esperanças de destruir os Carter, todavia, ele
tinha problemas com bebidas e apostas, vivia se metendo em confusões.
— Quanto desta vez? — Caminhei para longe dele, indo até o meu escritório. Fui até a
mesa, tirando uma das gavetas, e apertei alguns botões do pequeno cofre, retirando de dentro um
talão de cheques. Não gostava de ter dinheiro vivo em casa e os cheques eram úteis naquelas
ocasiões.
— Duzentos mil dólares.
Respirei fundo, colocando o valor no papel, ele não tinha limites, e eu acabava sempre
cedendo aos seus vícios.
— Eu prometo que é a última vez — comentou, vindo até mim.
— Claro. — Sorri amargamente, passando o papel para suas mãos. Todas as vezes ele me
falava isso e, no final, sempre voltava a pedir mais dinheiro.
— Obrigado, sobrinho, você é um grande homem, assim como seu pai foi um dia.
Meu tio saiu, me deixando sozinho em meu escritório, olhei para a parede, onde tinha um
lindo quadro dos meus pais abraçados, eu sentia todos os dias a falta deles e, mesmo sabendo que
era errado dar corda para o vício do meu tio, eu sempre acabava cedendo, ele era a única família
que havia me restado. Depois disso, eu fui para o meu quarto e me arrumei para ir até a empresa,
não era um homem muito sorridente, nem gostava de ter intimidade com meus empregados. Ao
chegar na empresa, fui direto para minha sala, onde o contrato de casamento já estava sobre a
minha mesa, Olívia não sabia ainda, mas logo se tornaria uma Philips e teria que viver debaixo
do mesmo teto que o inimigo da sua família.
O clima em minha casa estava estranho, meus pais não queriam que eu fosse trabalhar em
outra empresa, muito menos que largasse a nossa para me dedicar a minha carreira de advocacia.
Todavia, eu precisava me aproximar do senhor Philips, ele entendia sobre negócios e poderia me
ajudar a reerguer a nossa empresa e só assim tirar minha família da lama. Me olhei no espelho
com o blazer preto sobre a regata branca, uma calça de alfaiataria e um salto alto para compor o
look para meu primeiro dia na empresa, estava nervosa e ansiosa ao mesmo tempo, o senhor
Philips me deixava assim, sem rumo e com um frio na barriga. Peguei minha bolsa sobre a cama
e as chaves do meu carro antes de me dirigir até as escadas, indo direto para a cozinha. Uma das
empregadas sorriu para mim, me entregando o meu suco de morango, era o meu favorito e, como
eu não queria me atrasar, não me sentaria com meus pais à mesa para o café.
— Você já está indo? — falou meu pai atrás de mim. — Podemos ir juntos no meu carro,
eu te deixo lá.
— Não precisa, eu vou no meu carro.
Ele já tinha me feito várias perguntas a respeito da empresa que eu iria trabalhar,
provavelmente já tinha pesquisado tudo a respeito de Theodoro Philips.
— Tem certeza? Eu posso … — Caminhei até ele, beijando sua bochecha, meu pai estava
abatido por conta daquela situação, sempre fez de tudo pela nossa família para sempre nos
proporcionar conforto.
— Tenho, eu vou no meu carro.
Sorrindo, eu lhe dei um abraço apertado.
— Boa sorte e tome cuidado.
— Pode deixar, eu te amo. — Beijei mais uma vez sua bochecha, caminhando para longe
dele. Meus pais eram tudo para mim e, por eles, eu faria qualquer coisa, até mesmo trabalhar
para outra empresa.
O trânsito estava infernal, mas pude chegar a tempo na enorme empresa da família Philips,
entrei no local encantada com a grandiosidade do lugar, era o triplo da empresa da minha família
e eu precisaria de um mapa para não me perder. Ao apertar o botão do elevador, eu dei de cara
com Theodoro, ele estava com os óculos de sol e, em suas mãos, um tablet e seu celular, respirei
fundo, contendo meu nervosinho, entrando no pequeno quadrado ao seu lado, ele sorriu ao olhar
para mim.
— Pontual. — Olhou para o seu Rolex no pulso direito. — Bem-vinda a Becrux Philips.
— Obrigada, senhor Philips. — Sorrindo, ele apertou o botão para que o elevador subisse,
arrumei as minhas roupas, olhando para o chão, estava sem jeito, mas queria puxar assunto, saber
tudo sobre a empresa e tentar descobrir se ele poderia ajudar com a empresa do papai. — De
onde se originou o nome Becrux?
O sorriso dele se desfez e tirou os óculos dos olhos antes de encarar.
— Becrux é o nome da segunda estrela mais brilhante da constelação Crux, minha mãe…
— Parou por um segundo, sorrindo amargamente. — Ela amava ficar olhando para essa estrela.
— Eu sinto muito, eu li que ela e seu pai já morreram, mas saiba que, de onde ela estiver,
deve estar orgulhosa pelo grande homem que se tornou. — Theodoro sorriu por alguns instantes,
me encarando, então, o elevador parou nos fazendo sair dos nossos devaneios.
— Obrigado, senhorita Carter.
— Me chame de Olívia. — Saímos juntos do elevador. — Agora eu trabalho para o
senhor, sem formalidades.
— Sendo assim, me chame de Théo, é menos formal e não parece um velho de cinquenta
anos. — Soltei uma gargalhada com sua brincadeira um pouco descontraída. — Vou te levar até
a sala dos advogados, eles vão te orientar sobre tudo e te mostrar a empresa.
— Obrigada, senhor. — Seu olhar repressivo me fez parar de falar. — Théo.
— Isso, Olívia.
Nós dois seguimos até a sala onde os advogados da empresa se encontravam, todos
formalmente falaram com Théo antes de ele me apresentar, pedindo para que cuidassem bem de
mim, e caminhou para fora do lugar. Fiquei com uma mulher e dois homens que trabalhavam há
anos para a família deles. Atenciosos, todos me ajudaram, não foi difícil pegar tudo, já que eu
trabalhava na empresa do meu pai. As horas passaram voando, eu mexia no computador
enquanto os outros já tinham ido embora, estava tão empolgada com tudo que estava
acontecendo que queria aprender cada vez mais. Os processos de compras e vendas de outras
empresas eram sempre investimentos milionários e agora eu estava cada vez mais esperançosa
com a ideia de Théo me ajudar com a empresa da minha família.
— Olívia, ainda está aqui? — Sua voz rouca atrás de mim chamou minha atenção, me
virei, ainda sentada na cadeira.
— Acho que me empolguei um pouco. — Sorrindo, me levantei da cadeira, ele estava com
as chaves do seu carro em suas mãos.
— Percebi, eu estou indo embora agora, precisa de carona?
— Eu estou no meu carro, mas obrigada mesmo assim. — Théo sorriu antes de dar uns
passos para longe.
— Desligue o computador e vá embora, Olívia, é uma ordem — brincou, se virando para
me encarar mais uma vez.
— Estou indo, mas antes — caminhei para perto dele, me sentindo nervosa, queria lhe
fazer aquela pergunta desde o primeiro momento que o conheci —, quero te perguntar uma
coisa.
— Pode perguntar. — Cruzou os braços, me encarando.
— Eu percebi que o senhor investiu em várias empresas e que todas elas saíram do
vermelho, triplicaram suas vendas e se tornaram líderes no mundo inteiro.
— Não gosto de me gabar, mas sou bom no que faço, todas as vezes que apostei em uma
empresa, ela se tornou mundialmente famosa.
— Isso significa que o senhor pode pegar uma no fundo do poço e fazê-la lucrar
novamente?
— Claro, é para isso que a Becrux funciona.
— Eu … é… eu … — gaguejei, me sentindo nervosa, minhas mãos suavam e meu
coração estava disparado. — Eu preciso da sua ajuda.
— Precisa?
— Sim, na verdade, estou aqui para isso, eu vim com o intuito de conseguir reerguer a
empresa da minha família, eu sei que hoje é o meu primeiro dia, mas estou tão preocupada e
sinto que, o quanto antes falar com você, as coisas vão melhorar.
— Hum. — Ele caminhou até uma cadeira, se sentando nela. — Estou ouvindo, Olívia,
pode dizer do que precisa.
Me sentei em outra cadeira em sua frente e comecei a dizer a real situação da empresa da
minha família, pedindo que ele me ajudasse a reerguê-la. Atentamente, Théo ouviu cada palavra
minha e, no final, apenas se levantou, dando a entender que pensaria no assunto.
— Amanhã a gente continua essa conversa.
Foi tudo que disse antes de ir embora e me deixar sozinha na sala. Deitei minha cabeça
sobre a mesa gelada, me sentindo uma completa idiota. Eu tinha acabado de começar na empresa
e já havia o pressionado, provavelmente, no dia seguinte ele me demitiria antes mesmo de pegar
os meus documentos e me oficializar como sua colaboradora nova da empresa. Eu estava
arruinada, não conseguia fazer nada certo. Juntei minhas coisas antes de me levantar da cadeira e
me arrastei para fora da empresa, indo para estacionamento, estava exausta e só queria chegar o
mais rápido em casa, entrei no carro, me lembrando do sorriso de Théo, um homem misterioso e,
ao mesmo tempo, encantador, torcia para que ele me ajudasse com a empresa do meu pai, que
nos tirasse do fundo do poço, mas, pela sua resposta, eu tinha acabado de perder o novo
emprego.
— Idiota. — Soquei o volante do carro. — Olívia, você deveria ter esperado, merda.
Depois da minha crise de fúria, eu liguei o carro e fui direto para casa. O jantar já estava
sobre a mesa, meus pais me perguntaram sobre o novo serviço, e eu não quis lhe contar a
respeito da ajuda que eu tinha pedido a Théo, se ele aceitasse, eu faria uma bela surpresa para
meu pai, ele ficaria feliz por eu ter conseguido reerguer a empresa e recuperado as ações.
No final da noite, eu me arrumei para dormir, estava ansiosa e, ao mesmo tempo,
preocupada com a resposta de Théo, eu sabia que ele é um homem reservado e de negócios.
Dependendo da situação da nossa empresa, ele não terá coragem de investir seu dinheiro nela,
todavia, eu precisava ter esperanças e acreditar no coração bom daquele homem. Peguei meu
celular em minhas mãos, lendo a mensagem do meu amigo. Luke tinha feito, em sua cabeça, uma
bela fanfic, onde eu ficaria com Theodoro Philips, e ele me pediria em casamento. Sorrindo, eu
balancei a cabeça, aquele homem tem várias aos seus pés, e eu não chegava nem perto das
mulheres com quem ele era visto. Digitei uma resposta qualquer antes de jogar o aparelho sobre
a mesinha de canto, tentaria dormir e pedir para os céus que a noite passasse voando.
Pela manhã, eu me arrumei o mais rápido que pude, não tomei café, apenas peguei uma
maçã em minhas mãos. Precisava encontrá-lo o quanto antes e saber se estava demitida ou ele
aceitaria me ajudar com a empresa da minha família. Caminhei pelos corredores da empresa até
chegar de frente a sua sala, a sua secretária já tinha me informado que ele já estava a minha
espera. Ao entrar, eu respirei fundo, ouvindo as batidas aceleradas do meu coração, Théo estava
em pé, encostado em sua mesa com um sorriso no rosto e uma caneta em suas mãos.
— Entre, eu estava te esperando — comentou e olhei para trás, vendo sua secretária fechar
a porta e nos deixar a sós. Seu escritório era enorme, as cores escuras e cortinas cinza, um lugar
sem vida e com um quadro de sua família na parede. Caminhei meio sem jeito até chegar na
frente dele. — Você está linda esta manhã — Seu comentário fez minhas bochechas queimarem,
estava envergonhada.
— Obrigada, senhor Philips.
— Théo, já disse que, entre nós, não precisa ter formalidade, ainda mais agora que você se
tornará a minha esposa.
Quando eu era bem pequeno, meu pai me levava para a fazenda da família. Lá, ele gostava
de pescar, era algo que o deixava calmo e, em um belo dia, ele me ensinou o jeitinho certo de
fazer os peixes virem até nós, era simples, apenas coloque o petisco para o animal e o deixe cair
na armadilha, eles vinham um por um, famintos, sem ter noção do que estava à sua espera.
Sorrindo, eu entrei no meu carro vitorioso, a isca tinha dado certo e a pobre Olívia estava em
meu anzol, pronta para ser pescada e vir parar direto em minhas mãos.
— Pai, finalmente teremos nossa vingança — falei dentro do carro enquanto me lembrava
das cenas de dor que eu tinha vivido, de como foi difícil perder o meu pai e logo em seguida a
minha mãe, os Carter pagariam por tudo, eu acabaria com todos eles e nem a pobre garota sairia
ilesa daquela vingança.
No dia seguinte, eu acordei cedo, como de costume, coloquei um belo terno azul-escuro e
um dos meus sapatos feitos por encomenda. Elegante, eu caminhei para fora do closet, e meu tio
já estava à minha espera com o contrato em suas mãos. Era o tão sonhado dia, o dia que William
me pagaria por todo mal que fez ao meu pai.
— Como se sente? — Meu tio veio até mim para me entregar o contrato.
— Melhor impossível, ela viverá um inferno ao meu lado, e seu pai pagará por todo mal
que nos fez passar.
— Você me deixa muito orgulhoso, sobrinho, faça tudo como planejado e acabe com
William, ele merece sofrer por ter…
Ele se calou, abaixando a cabeça, a dor ainda era nítida, perder o irmão fez meu tio ficar
depressivo e talvez fosse por isso que ele tinha se entregado a tantos vícios, como as apostas e ao
cigarro. Coloquei meu braço sobre seus ombros sorrindo, foi um dia feliz, o plano estava dando
certo e logo Olívia assinaria o acordo.
— Não pense nisso, pense que logo veremos dor nos olhos de William Carter a mesma dor
que passamos ao longo dos anos.
— Ele merece sofrer.
Sorrindo, eu abracei antes de arrumar minha postura e seguir para fora da mansão. Minha
Ferrari já estava a minha espera, geralmente, eu saía para trabalhar em outro carro com um dos
motoristas, todavia, aquele dia era especial, o dia que finalmente tudo que planejei em minha
cabeça se tornaria real. Ao chegar na empresa, fui direto para minha sala e mandei minha
secretária informar para senhorita Olívia que eu a esperava em meu escritório. Coloquei o
contrato sobre a mesa antes de pegar a caneta, nele tinha todas as regras impostas por mim e o
principal, ele acabaria em dois anos, era tempo suficiente para fazer o pai dela sofrer.
Ao vê-la entrar pela porta, eu a examinei, as curvas do seu corpo, seus seios fartos, sua
bunda avantajada e seus cabelos longos mostravam que aquele casamento não seria de todo mal,
ela era gostosa, e isso despertava pensamentos perversos dentro de mim.
— Entre, eu estava te esperando — disse, chamando sua atenção e dando sinal para minha
secretária nos deixar a sós. — Você está linda esta manhã. — Na verdade, Olívia tem uma beleza
natural, diferente das mulheres que conheci, ela não precisa de maquiagem para ficar bonita.
— Obrigada, senhor Philips — agradeceu sem jeito.
— Théo, já disse que, entre nós, não precisa ter formalidade, ainda mais agora que você se
tornará a minha esposa.
Ela piscou algumas vezes, olhando para mim e, em seguida, para trás, como se estivesse
tentando entender o que eu tinha acabado de lhe dizer e talvez estivesse pensando em fugir.
— Como? Eu acho que não entendi direito.
Sorrindo, eu caminhei em passos lentos até ela, levantei o papel em minhas mãos e apontei
para o sofá a nossa frente.
— Sente-se, eu vou te explicar tudo.
Ela fez o que eu pedi, me sentei ao seu lado, tentando medir as palavras para começar a
explicação, eu poderia esperar um pouco mais, enrolar com aquele acordo, conquistar seu
coração, mas minha ansiedade estava me matando, foram anos sonhando com aquela vingança,
com o dia que a família Carter sucumbiria a dor.
— Na verdade, eu não estou entendendo nada, entrei por aquela porta hoje achando que o
senhor me ajudaria com a empresa do meu pai e agora …
Coloquei minha mão sobre a sua, dando um sorriso gentil, e encarei seus olhos passando
confiança, ela precisava assinar aquele papel.
— Vou ajudá-la e, dentro de dois anos, a empresa do seu pai voltará a lucrar.
Ela sorriu animada, dava para ver em seu rosto seu desespero e, por tudo que eu já tinha
visto sobre a real situação da empresa deles, Olívia não teria outra opção a não ser assinar aquele
acordo.
— Mas, para isso, eu vou precisar de um favor seu. — Passei o contrato para suas mãos,
ela começa a analisar o que está escrito nele. — Como você sabe, Olívia, sou um homem de
negócios e que viaja muito para eventos sociais. Todos me perguntam o motivo de eu não ter me
casado e isso sempre leva a um enorme questionamento. Então, preciso de uma esposa, e você se
encaixa perfeitamente nesse papel.
— O quê? — gritou, se levantando do sofá. — Você quer que eu assine este contrato e se
torne a sua esposa de mentira?
— Isso, tenho negócios importantes para fechar, pessoas que prezam muito pela família, e
eu preciso ser bem visto por ele, acompanhado da minha bela esposa.
Olívia me encarava com o papel em suas mãos, ela estava em choque, e eu não tirava sua
razão, não era um acordo fácil.
— Dois anos, é apenas nesse tempo que vamos ficar juntos, é o tempo que preciso para
reerguer a empresa da sua família.
— Mas, vamos … — Arregalou os olhos, apontando para mim e depois para ela, soltei
uma gargalhada, sabendo do que se tratava. — Teremos relações?
— Não, nosso acordo será apenas profissional, você dormirá em outro quarto, sua vida
continuará igual, apenas levará meu sobrenome e me acompanhará em todos os eventos.
Continuei encarando seus olhos, por mais que meu pau ficasse rígido só de pensar em
Olívia nua em minha cama, eu não poderia transar com o inimigo, não sabendo de quem ela é
filha.
— Leve o contrato, leia todas as regras e pense bem, te darei o tempo que precisar, mas
lembre-se, Olívia, a empresa do seu pai está afundando cada vez mais e, nesse mundo, tempo é
dinheiro, algo que, pelo que vejo, vocês não têm mais.
— Eu … estou confusa, eu …
— Pode ir para casa, pense e, quando tiver a resposta, ligue para mim.
— Tem certeza de que consegue reerguer a empresa do meu pai? Ele vendeu algumas
ações e, pelo que fiquei sabendo, tudo está indo de mal a pior.
— Se, em dois anos, eu não conseguir reerguer a empresa do seu pai, eu pago uma multa
para vocês, o dobro do que a empresa vale.
— E se eu quiser quebrar o contrato antes do tempo?
Uma de suas sobrancelhas estava arqueada, ela estava pensativa, como se estivesse
analisando tudo que poderia acontecer em dois anos e, para falar a verdade, eu gostava daquele
lado dela, tão esperta e calculista, uma mulher que fará qualquer coisa por amor a sua família,
mas que sofrerá muito ao meu lado.
— Vocês perdem tudo.
Olívia deu dois passos para trás como se aquelas palavras tivessem a atingido como um
soco no estômago.
— Tudo? — Empalideceu.
— Calma, serão apenas dois anos. — Sorrindo, fui até ela e segurei sua mão. — Seremos
bons amigos, não será uma convivência desagradável, farei de tudo para que esses dois anos
sejam maravilhosos.
Dois anos de caos, quando seu pai sofrerá tudo que um dia eu sofri quando acabaram com
a vida da minha família, era isso que eu queria dizer, jogar em sua cara o quanto William Carter
é um monstro.
— Eu vou pensar, não é só a minha vida que está em jogo. — Sorriu amargamente. —
Meu pai ama aquela empresa, eu não posso assinar um contrato onde ele está sujeito a perder
tudo.
— Ele irá perder tudo de qualquer jeito — pensei alto, chamando sua atenção. —
Desculpa, é que eu tomei a liberdade de analisar alguns gráficos da real situação e, bom, logo ele
perderá tudo, acho válido ter a possibilidade de reerguer o seu império, isso só vai depender de
você.
— Vou para casa, ler o contrato e pensar a respeito.
— Sinto que fará a melhor escolha possível.
Ela se despede, levando consigo o papel em suas mãos. Está feito, agora é aguardar a sua
decisão e desfrutar de toda a vingança que planejei por anos.
— Senhor — a secretária chamou minha atenção —, o champanhe.
Sorrindo, eu caminhei até a ruiva e puxei seu rosto para um beijo rápido, eu estava em
êxtase e, antes de pegar a taça de champanhe de suas mãos, eu pedi para que ela fechasse a porta,
era hora de comemorar a minha vitória e fazer a minha despedida de solteiro.
Com o papel em minhas mãos, eu caminhei em passos largos até a minha sala e me sentei
na cadeira, respirando fundo enquanto as palavras de Théo pairavam sobre os meus
pensamentos, um acordo de casamento para reerguer a empresa da minha família. Era essa uma
troca justa? Dois anos vivendo uma mentira com um homem desconhecido e que não tem
nenhum sentimento por mim, mas que talvez… balancei a cabeça em negação, aquilo não era um
conto de fadas, era a vida real e o que estava em jogo é a felicidade dos meus pais, o futuro dos
Carter. Me levantei da cadeira, pegando minhas coisas e saindo do escritório, precisava pensar,
conversar com meus pais e finalmente ter a resposta para o Theodoro Philips.
Ao chegar em casa, eu fui direto para o escritório do meu pai, ele não estava em casa e,
para minha total surpresa, ao chegar perto da porta, eu pude ver minha mãe sentada em sua
cadeira, segurando uma foto da nossa família em suas mãos, seu rosto estava vermelho e as
lágrimas caiam sobre suas bochechas.
— O que vamos fazer? A que ponto chegamos? — sussurrou, deitando sua cabeça sobre a
mesa. Senti um aperto no peito enquanto meu coração doía, meus pais são tudo para mim e, ao
ver aquela cena, eu pude entender que a única saída era aquele acordo.
— Mamãe, você está bem? — perguntei ao entrar no escritório. Ela levantou rapidamente
o rosto, secando suas lágrimas, e sorriu amargamente.
— Chegou cedo, querida.
— O senhor Philips, ele é tão bondoso e gentil — Caminhei, me sentando de frente para
ela. — Acho que é a luz no fim do túnel para os nossos problemas.
— Do que está falando, querida? — Arregalou os olhos curiosos. — Vocês estão ….
— É uma loucura, mãe, mas me sinto encantada por ele.
— Está apaixonada? — Eu não poderia falar sobre a proposta. Em uma das cláusulas do
contrato, era obrigatório que ninguém soubesse e que todos pensassem que estamos
completamente apaixonados.
— Sim, ele faz meu coração disparar. — Não era uma mentira, Théo me deixava nervosa,
com as pernas bambas e com o coração acelerado.
Minha mãe pegou em minhas mãos sorrindo e limpou suas lágrimas.
— Querida, você o ama? Mas, como? Vocês acabaram de se conhecer. — Levantei-me da
cadeira sorrindo, eu precisava enganá-los para poder salvar nossa família, não era certo, porém,
necessário.
— Não sei, mamãe, ele é um bom homem e me disse que nos ajudará com a empresa, eu o
conheci meses atrás, por isso fui trabalhar em sua empresa e, quanto mais fico ao seu lado, mais
tenho a certeza de que ele será nossa salvação e …
— Então está pretendendo ficar com ele para ajudar o seu pai? — Ela me cortou. — Acha
mesmo que ele pode tirar nossa família da lama?
— Mãe, se tem alguém que pode nos ajudar, é ele.
— Mas a que custo? Você está enganado aquele homem?
— Claro que não, eu me aproximei dele porque sabia da sua fama, sabia que ele nos
ajudaria, mas, no meio disso, algo aconteceu e os sentimentos se intensificaram. Eu estou
apaixonada.
Olhei para o chão sem conseguir encarar seus olhos, odiava mentir para minha mãe, mas,
se eu estivesse mesmo disposta a assinar aquele contrato, todos precisavam acreditar no meu
amor por Téo e nosso casamento.
— Então isso é maravilhoso, finalmente encontrou um amor e, melhor, ele nos ajudará
com a empresa. — Sorrindo, ela pulou. — Tudo que desejo é que seja feliz.
— Tem esse pequeno detalhe, eu não sei se o papai concorda com o meu romance, ele
ainda não conhece Théo, pode ficar com ciúmes, você o conhece. — Nós duas nós nos
encaramos sorrindo. — Ele sempre foi muito ciumento comigo.
— Seu pai te ama, tudo que ele quer é que seja feliz e ainda mais com alguém que nos
ajudará a reerguer nossa fortuna, ele entenderá.
Ela se levantou da cadeira, vindo até mim para me abraçar, senti um aperto no peito, eu
estava enganando minha família, disposta a assinar um contrato para salvar todos nós com um
homem que eu mal conhecia, mas que precisava demonstrar meu amor na frente das outras
pessoas.
— É isso, eu estou apaixonada. — Seu conforto me deixava confiante e segura com a
minha decisão. — E ele já está falando sobre casamento, rápido demais, eu sei, mas Théo é
ansioso demais.
— Filha, um homem apaixonado não quer ficar longe da sua mulher, eu ainda me lembro
quando encontrei seu pai, ele quase me sequestrou. — Soltou uma gargalhada, eles sempre se
amaram muito.
— Théo está muito apaixonado por mim.
Tantas mentiras, ele não estava apaixonado, tampouco ficaria, era tudo um belo acordo,
negócios que mudariam minha vida, mas que eu não poderia contar, a empresa estava em jogo.
No final do dia, eu contei ao meu pai sobre o meu romance com Théo, mas ele foi contra,
disse que não o conhecia e que precisava olhar bem no fundo dos olhos dele antes de entregar
sua única filha.
— Já pensou se ele acaba se apaixonando por você? — Meu amigo estava ao meu lado em
minha cama, nós dois estávamos conversando enquanto ele pintava as unhas com um esmalte
rosa. Eu confiava em Luke e por isso tinha lhe contado sobre o acordo.
— Você tem uma imaginação tão fértil, isso não é um conto de fadas, são apenas negócios
e, no final do acordo, tudo voltará ao normal.
— Por que acha um absurdo ele se apaixonar por você? É tão bonita e gentil.
— Ele tem a mulher que quer aos seus pés, mais bonita do que eu.
Revirou os olhos, sorrindo, ele apertou minhas bochechas, encarando meus olhos.
— Olívia, você é perfeita e o tal Philips terá sorte de viver dois anos ao seu lado.
Sorrindo, eu abri a boca para respondê-lo, mas o meu celular começou a tocar, me levantei
da cama, indo até a minha penteadeira e, ao olhar para tela, pude perceber que era Théo. Levantei
a mão, pedindo para que Luke ficasse em silêncio e apertei no botão verde, sentindo o meu
coração disparar.
— Alô, Théo — disse assim que atendi.
— Olá, Olívia, eu só liguei para saber se já tem sua resposta.
Olhei para meu amigo, que sorria animado, era uma verdadeira loucura o que eu estava
prestes a fazer, mas quem está na chuva é para se molhar, e não tinha alternativa a não ser viver
ao lado dele e recuperar a nossa empresa.
— Sim, eu já pensei e tenho a resposta, mas só falarei pessoalmente.
— Ótimo, eu te espero amanhã.
— Tudo bem, mas eu tenho uma dúvida, caso eu aceite, poderei continuar trabalhando em
sua empresa? — Eu não ficaria dentro de uma mansão o dia inteiro, sendo a esposa perfeita,
sustentada por ele. — E terminar a minha faculdade?
— Sabe que carregará o meu sobrenome, não precisa trabalhar e …
— Théo, eu quero ter o meu próprio dinheiro.
— Pois bem, se é isso que deseja, está feito, amanhã mandarei um dos advogados redigir o
contrato e colocar isso em observação.
— Obrigada e, antes que eu me esqueça, meus pais te chamaram para um jantar amanhã à
noite em nossa casa.
— Jantar? — Ele ficou em silêncio por alguns instantes. — Claro, eu irei sem falta.
— Avisarei a eles, os dois pensam que estamos apaixonados e que vamos nos casar por
amor.
— É o que todos têm que pensar, fique tranquila, se aceitar o acordo, viveremos como um
belo casal.
— Certo, tenha uma boa noite.
Encerrei a ligação com as mãos trêmulas e olhei para meu amigo antes de me sentar ao seu
lado na cama.
— Conta tudo — disse ele.
— Eu vou me casar com Theodoro Philips — falei, o fazendo gritar de alegria.
— Você será a noiva mais linda desse país, na verdade, desse planeta, esse homem ficará
completamente apaixonado por Olívia Carter.
— Menos, Luke, não coloque baboseiras em minha cabeça, como eu já te disse, são
apenas negócios.
— Claro, negócios.
Meu estômago estava embrulhado com toda aquela situação, não era fácil pensar que
ficarei dois anos ao lado de um homem que mal conheço para poder reerguer a empresa da
minha família. Não parecia, mas estava apavorada e com medo do que o destino estava
reservando para mim, mas, mesmo insegura, eu tinha aceitado aquela loucura. Depois de algum
tempo, Luke foi embora, me deixando sozinha com meus pensamentos, estava prestes a ir dormir
quando meu pai apareceu na porta e sorriu gentilmente ao entrar no meu quarto.
— Eu posso entrar? — sussurrou atrás da porta. — Preciso falar com você.
— Papai… é claro — Ele caminhou até minha cama, se sentando sobre ela, sorrindo ao
acariciar minhas bochechas.
— Quando você nasceu, eu renasci, me senti o homem mais poderoso do mundo. Nenhum
dinheiro me faz mais feliz do que vê-la sorrir, Olívia, você é tudo para mim e talvez seja por isso
que eu estava com ciúmes desse tal Théo. — Sorri. — É a minha princesinha e saber que está
apaixonada foi como levar um soco no estômago.
— Ele é um bom homem, papai, e vai nos ajudar a reerguer a empresa. — Beijei seu rosto.
— Confio em sua intuição, se o ama e ele também te ama, vai fundo, eu estarei aqui para
dar a minha benção.
Ele me abraçou, fechei os olhos, sorrindo, eu faria por eles, pela nossa família e
principalmente, pelo meu pai, mesmo sabendo que ele estava com o pé atrás, achando que tudo
estava sendo rápido demais.
Depois da perda dos meus pais, eu nunca mais estive frente a frente com William Carter.
Nas sombras, eu fui paciente, esperando o dia certo para acabar com sua família e agora que tudo
estava entrando nos eixos, Olívia estava em minhas mãos, eu precisava de calma, sangue-frio
para encarar o homem que arruinou a minha vida. Peguei em minhas mãos a garrafa de uísque,
me jogando sobre o sofá da minha casa, abrindo a tampa tomando o líquido quente no gargalo.
Em pouco tempo, tudo mudaria, eu seria o marido da filha do meu inimigo e farei todos eles
sofrerem. Fiquei ali por algumas horas, pensando em tudo que estava por vir e me lembrando dos
dias que sonhei com aquilo, tudo que passei sem meus pais, tudo que tive que abdicar para
chegar naquele momento, eu tinha me enfiado em uma bolha e trabalhei arduamente, me
tomando o grande CEO frio e calculista, pronto para arruinar a vida do homem que tirou os
sonhos do meu pai.
— Ainda está acordado? — quis saber meu tio ao entrar na mansão.
— Estou sem sono e amanhã Olívia me dará a sua resposta.
Sorrindo, ele se sentou ao meu lado e pegou a garrafa de minhas mãos, tomando o gole do
uísque.
— Finalmente, vamos destruir todos eles, você terá que fazer tudo que planejei. — Me
encarou. — Humilhe ela, faça essa garota desistir desse acordo, faça ela sofrer.
Me levantei do sofá, passando a mão em meus cabelos. Olívia era uma peça-chave para
aquele jogo, mas algo dentro de mim me incomodava, ela não tem culpa dos pais que tem, muito
menos das maldades que eles fizeram anos atrás, todavia, eu a faria sofrer até desistir do acordo e
eu tomar a empresa do seu pai.
— Acabarei com eles, a família Carter ficará no fundo do poço.
Sorrindo, eu o encarei, mesmo que eu tivesse pena de Olívia, não poderia parar, ela me
ajudaria a derrubar o seu pai.
No dia seguinte, eu estava nervoso, meu tio arrumava minha gravata enquanto falava a
respeito de como eu iria me comportar no jantar naquela noite. Antes de eu ir para empresa,
passei em uma joalheria e comprei o mais caro dos anéis, entregaria a Olívia depois do jantar, na
frente de seus pais, para demonstrar meu afeto para eles, algo que acabaria assim que ela
estivesse sobre o mesmo teto que o meu.
Ao chegar na empresa, eu fui direto para meu escritório e mandei que a chamasse
enquanto andava de um lado para outro, nervoso e ansioso por aquele momento, tudo tinha que
sair como planejado.
— Théo. — Sua voz me fez parar no meio da sala para encará-la, Olívia usava um vestido
preto com um decote na frente, suas belas curvas me excitavam mesmo a contragosto, ela era
linda e gostosa.
— Que bom que chegou, está pronta para me dar a sua resposta final? — Peguei em
minhas mãos o novo acordo, onde tinha uma observação sobre o seu trabalho na minha empresa.
— Nervosa, mas, sim, eu sinto que é a coisa certa a se fazer. — Caminhou até a frente da
minha mesa, então, puxei a cadeira para que ela se senta e entreguei minha caneta ansioso. Olívia
sorriu. — Eu estou confiando em você, Théo, sei que fará o melhor para nós.
— Claro, não tenha dúvidas quanto a isto, no final dos dois anos, você terá a empresa dos
seus pais, e eu terei fechado todos os meus negócios importantes.
Olívia estava com a caneta em suas mãos, sorrindo para mim, tão doce e ingênua.
— Meus pais precisam achar que estamos apaixonados, vamos viver um tempo juntos
como namorados até você me pedir em casamento.
Encarei seus olhos antes de sorrir amargamente, eu não queria esperar, já tinha feito isso
tempo demais, e agora precisava conviver com o maldito homem que acabou com a vida dos
meus pais.
— Um mês, é isso que vou esperar até pedi-la em casamento.
Este não era o plano, eu queria pedi-la em casamento naquela noite, mas teria que seguir
as regras de Oliva até que tê-la em minha casa, à mercê das minhas vontades.
— Tudo bem, um mês — disse antes de escrever letra por letra no papel, ela tinha acabado
de assinar o contrato e eu sentia vontade de explodir de alegria, a vingança estava apenas
começando.
— Bom, acho que é isso — Ela me entregou a caneta, estendendo sua mão, que segurei.
— Eu te espero no jantar esta noite, meu pai está louco para te conhecer.
Não respondi nada, deixando que Olívia saísse da minha sala. Respirei fundo, pegando em
minhas mãos o papel sobre a mesa, o contrato estava assinado, ela seria minha esposa, e eu faria
Willian Carter sofrer muito com a tristeza de sua filha.
Passei o dia inteiro em reunião com alguns sócios da minha empresa, mas minha mente
estava longe, pensando sobre o jantar na casa do responsável pela minha dor, eu não estava
pronto, não conseguiria encará-lo e ainda mais em sua própria casa, não era o momento certo.
— Théo, o que está fazendo aqui? — perguntou meu tio, eu tinha saído mais cedo da
empresa, evitado ao máximo Olívia, e ido para minha casa.
— É a minha casa, tio, para onde mais eu iria? — Caminhei até o sofá antes de afrouxar a
minha gravata, estava suando, nervoso demais, nunca achei que, ao chegar o momento, eu me
sentiria um adolescente indefeso.
— E o jantar? O contrato? A garota assinou?
— Ela assinou — falei baixo, esfregando minha testa, estava nervoso demais e com raiva
de mim mesmo. — Não vou para o jantar.
— O quê? — gritou. — Que merda está acontecendo, Théo? Você tem que ir para esse
jantar, entregar o anel a garota e fingir ser um bom homem.
— Acha que não sei? Mas ainda não consigo encarar a porra do Willian, ele acabou com a
vida da minha família, se eu o ver, vou perder a cabeça e …
Meu tio se sentou ao meu lado do sofá e colocou sua mão sobre os meus ombros.
— Seja paciente, estamos tão perto, ele sucumbirá à tristeza, mas, para isso, você precisa
ser convincente até ter a garota em suas mãos.
— Temos tempo, um mês. — Me levantei do sofá. — Ela pediu um mês até que eu possa
pedi-la em casamento. — Tirei a caixinha de veludo do bolso, abrindo-a. — Eles precisam achar
que estamos apaixonados e que essa aliança significa algo.
— Quem se importa com o que eles pensam, a garota já assinou o contrato, está na hora.
— Eu preciso que eles aceitem o casamento e que pensem que a filha está feliz e
apaixonada, só assim William irá sofrer quando sua filha estiver infeliz e finalmente resolveu
quebrar o contrato, me entregando a empresa.
— Você precisa focar, chegou o momento que tanto esperamos.
Passei as mãos nos meus cabelos, eu precisava encarar os Carter, mas não em sua
residência, não sabendo que tudo que eles construíram foi graças ao meu pai e que, no final, ele
morreu por culpa deles. Terminei minha conversa com meu tio, ele não entendia meu ponto de
vista, e eu respeitava, mas não iria naquele jantar, daria uma bela desculpa a Olívia. Segurei meu
celular em minhas mãos, estava ligando para avisar que eu não iria poder ir.
— Théo, eu já estava prestes a ligar para você, meus pais estão ansiosos pelo nosso jantar.
— Olívia, eu … — Suspirei — Não poderei ir, acabei não me sentindo muito bem hoje à
tarde e agora estou com um pouco de dor no peito.
— Céus! Você está bem? — quase gritou do outro lado da linha. — Precisa ir ao médico?
Se quiser posso te acompanhar, dor no peito é sinal de infarto.
— Calma, estou bem — No seu tom de voz, dava para sentir a preocupação. — Sinto
muito por não poder ir.
— Imagina, podemos remarcar. — Tão gentil. — É uma pena, minha mãe fez a famosa
macarronada italiana que aprendeu em uma das nossas viagens.
— Coma por mim e peça desculpas a eles em meu nome, prometo que recompensarei os
dois.
— Apenas fique bem.
Me despedi dela, jogando o celular para longe e caminhei até umas das prateleiras do meu
closet, jogando os objetos no chão, estava furioso, eu deveria ter ido e ter encarado aquele
maldito.
Era errado mentir para os meus pais, mas, naquele momento de desespero, tudo era válido,
até mesmo um contrato de casamento com o propósito de reerguer a empresa. Eu faria qualquer
coisa pela minha família. E, para eles não sofrerem, levaria aquela mentira adiante, mostrando
que eu e Théo estamos apaixonados e que o casamento é por amor, não por negócios.
Encerrei a ligação encarando minha mãe, ela estava animada para conhecê-lo. Sorrindo, eu
caminhei até a mesa, me sentando em minha cadeira, meu pai estava sentado na sua e minha mãe
tratou de caminhar até a dela, ele não poderia vir, e eu tinha ficado frustrada, era o primeiro
contato com minha família, e ele não compareceu.
— Onde ele está? — perguntou minha mãe. — Não podemos começar o jantar sem nosso
convidado de honra.
— Ele não vem — sussurrei, sorrindo amargamente. — Acabou passando mal e pediu
para remarcar.
— Hum. — Meu pai levou a taça de vinho até sua boca com uma sobrancelha arqueada, e
me encarava. — Passando mal? Parece uma desculpa esfarrapada.
— Pare com isso, Willian, se ele disse que passou mal, é porque passou. — Minha mãe
segurou minha mão sobre a mesa. — Fique tranquila, querida, podemos marcar outro dia.
Eu sabia que meu pai estava com o pé atrás com toda aquela história e eu não tirava sua
razão, nunca fui uma garota que apresentava namorados para os pais, para falar a verdade, eu
sempre foquei na minha carreira de advocacia, não tinha tempo para essas coisas e agora estava
prestes a me casar do nada, com um homem desconhecido, que me deixa nervosa só de estar em
tua presença.
— Bom, vamos comer. — Olhei para meu pai sorrindo, ele não queria ir contra as minhas
escolhas, mas dava para ver em sua cara o seu incômodo. — Diga a seu namorado que podemos
marcar outro dia e que ele não me escapará desta vez — brincou, sorrindo.
— Teremos tempo para isso, querido.
Uma das empregadas nos serviu, ficamos ali conversando enquanto meu pai falava sobre o
novo sócio misterioso, as coisas continuavam ruins para nossa empresa e, mesmo que meu pai
estivesse cortando gastos, ainda assim estávamos com uma enorme dívida, e eu me questionava
se realmente Théo conseguiria reerguer tudo e nos tirar do fundo do poço. No final da noite, eu
me joguei sobre a minha cama pensativa demais e com apenas uma única certeza, eu seria a
esposa de Théo Philips por dois anos, sem sentimentos ou qualquer tipo de aproximação, nós
dois seríamos como dois amigos dividindo uma casa.
Já era manhã quando eu me levantei, fui até o banheiro fazer minha higiene antes de me
arrumar para ir trabalhar, olhei para a mesinha de canto, ouvindo o meu celular tocar, caminhei
até ela pegando o aparelho em minhas mãos e apertei no botão verde, vendo o nome de Théo.
— Bom dia, Olívia, você já está pronta? — perguntou, assim que atendi.
— Sim, por quê? — questionei.
— Estarei na frente da sua casa em dez minutos, vamos juntos para o trabalho.
— Eu… é… — As suas palavras me pegaram de surpresa, mas eu sabia que aquela
encenação era necessária. — Tudo bem.
Foi tudo que disse antes de encerrar a ligação, meu pai já tinha ido para sua empresa, e
minha mãe estava na cozinha com umas das empregadas, conversando sobre o quanto está
animada com o meu relacionamento. Fazia anos que eu tinha a visto tão animada e eu me sentia
mal por saber que era uma grande mentira. Caminhei em passos largos para fora da nossa casa,
vendo Théo dentro de uma bela Ferrari cinza, ele usava uns óculos escuros e sorriu ao me ver.
Meu coração estava disparado, me sentia nervosa e ansiosa para revelar a todos que nós dois …
Bom, que nós dois estávamos juntos, dei a volta no carro, abrindo a porta, entrei sorrindo.
— Olá, Théo. — Ele me olhou de baixo para cima antes de tirar os óculos. — Você está
melhor?
— Ah, sim, estou bem. — Girou a chave. — Está pronta? Hora de te apresentar para o
mundo como minha namorada.
— Estou com frio no estômago, mas sim. — Senti sua mão sobre a minha.
— Fique tranquila, tudo dará certo e, no final, você terá sua empresa de volta, lucrando
mais do que nunca.
Segurei sua mão com força, eu confiava em Théo, ele era um bom homem e tinha feito um
verdadeiro milagre com a empresa dos seus pais, a tirando do fundo do poço e se tornando
mundialmente famoso por sua proeza. Théo colocou os óculos escuros antes de seguir caminho
para sua empresa, o dia estava lindo, o sol iluminava as ruas de Londres, e eu podia sentir
algumas borboletas em meu estômago, nunca me imaginei dentro do carro do senhor Philips.
Quando pesquisei ao seu respeito, fiquei surpresa com sua inteligência e beleza, ele era um
homem incrível e estar ao seu lado, mesmo que fosse de mentira, era inacreditável.
Ao chegar na empresa, um dos funcionários veio abrir a porta para que eu saísse do carro.
Antes que pudesse perceber, Théo segurou em minha mão sorrindo, e caminhamos em passos
lentos enquanto eu sentia os olhares de todos ali presentes sobre nós, baixei a cabeça um pouco
constrangida, provavelmente minhas bochechas estavam coradas e, envergonhada, eu tentei me
afastar, mas ele não permitiu, seguimos até o elevador e, ao chegar no andar do meu setor, ele
desceu comigo. Gelada e com o coração disparado, eu prendi a respiração quando Théo me deu
um selinho na frente dos outros advogados.
— Almoça comigo, baby? — Arregalei os olhos, me sentindo nervosa.
— Ah, eu … Claro, podemos almoçar juntos. — Me curvei para falar em seu ouvido,
sussurrei — O que está fazendo?
Théo sorriu, me dando outro selinho antes de sussurrar em meu ouvido:
— Seguindo o nosso plano. — Deu um beijo na minha testa. — Até mais tarde, baby.
Sem jeito, eu caminhei até minha mesa, ouvindo os bochichos dos funcionários. O dono da
empresa tinha acabado de chegar com a novata e lhe dado um selinho em sua boca, era a maior
novidade para todos, e eu ficaria falada por todos os setores da empresa. Tentei me concentrar no
serviço enquanto pensava em Théo, em tudo que estávamos vivendo e, sem perceber, eu já
estava rindo feito boba.
As horas se passaram e o almoço chegou, para minha total surpresa, ele tinha vindo atrás
de mim, e, de mãos dadas, fomos até o refeitório da empresa. Eu sabia que ele não tinha costume
de almoçar ali, mas Théo estava disposto a dar o seu melhor para cumprir o acordo.
— Até que a comida daqui não é tão ruim — falou, sorrindo, já estávamos sentados em
uma mesa no meio do local. Ele sorriu antes de tomar um gole do suco de laranja em suas mãos.
— Na verdade, eu gosto, você é muito bom para os seus funcionários. — Encarei seus
olhos. — Disponibilizar uma refeição boa para todos eles é…
— O mínimo que um CEO pode fazer, eu preciso de todos vocês para manter a minha
empresa em pé, Olívia, esta é a primeira lição para se tornar grandioso.
Sorrindo, eu também tomei um gole do suco que estava em minhas mãos. Quanto mais eu
o conhecia, mais o admirava.
— Você é admirável. — Olhei para o lado, abrindo minha bolsa, e peguei minha agenda
com uma caneta. — Me fale mais sobre você, pois vamos passar dois anos juntos como marido e
mulher e preciso saber seus gostos.
Théo arqueou as sobrancelhas, me encarando.
— O que você quer saber?
— Hum, podemos começar com sua cor favorita.
Ele soltou uma gargalhada, arrumando sua postura na cadeira.
— Pode perguntar o que quiser para um dos CEO mais importantes do mundo e me
pergunta a minha cor favorita?
— Sei lá, foi a primeira pergunta que me veio à cabeça.
— Preto — descontraído, ele falou, era a primeira vez que eu o via tão disperso, sem sua
postura de grande magnata.
Anotei na agenda, sorrindo. Continuamos as perguntas enquanto nos encaramos,
estávamos dispersos até que eu pude ver meu amigo de longe, Luke caminhou até nós,
levantando a mão, me levantei da cadeira, dando um abraço apertado nele.
— Por onde você estava? — perguntei, fazia um dia que ele não tinha me dado notícias.
— Resolvendo alguns assuntos particulares.
Luke beijou minha bochecha, estava tão empolgada com ele que acabei esquecendo
totalmente de Théo, que, por sua vez, se levantou da mesa com uma cara não muito agradável e
abotoou os botões do seu blazer.
— Não vai me apresentar, Olívia?
— Esse é Luke, um grande amigo — disse enquanto meu amigo estendia a mão para
cumprimentar Théo. — E esse é Théo Philips, o meu …
— Namorado —Théo me cortou, o clima não estava muito bom e talvez ele estivesse
bravo por Luke ter atrapalhado nosso momento, a encenação para os funcionários.
Segurar em sua mão era como sentir um soco em meu estômago, mas, ao mesmo tempo,
era um misto de sensações, desfilar de mãos dadas com Olívia fazia meu coração disparar, era a
primeira vez que eu tinha alguém comigo e, mesmo ela sendo a filha do homem que destruiu
minha vida, era uma nova sensação, mas que não tiraria o meu foco, aquilo era necessário para
concluir o plano e fazer William sofrer. Dei um selinho em seus lábios, sentindo uma carga
elétrica passar pelo corpo. Fechei os olhos e caminhei para longe de Olívia, aquela encenação
estava se tornando cada vez mais ridícula. Um homem como eu me expor daquela maneira para
meus funcionários era um verdadeiro absurdo. Entrei no escritório, indo direto à minha mesa,
puxei minha cadeira, me sentando sobre ela, e respirei fundo, jogando minha cabeça sobre a
mesa gelada.
Tudo pelo plano…
Repetia isso em minha cabeça, nada era mais importante que a minha vingança, que a dor
dos Carter, de poder vê-los sofrer assim como eu sofri anos atrás.
Não demorou muito tempo para que a minha secretária aparecesse, a ruiva me olhou
furiosa com alguns documentos em sua mão, eu sabia o que ela queria.
— Bom dia. — Seu tom de voz era alto, eu já tinha levantado a cabeça e encarava seus
olhos. — De mãos dadas?
Sorri, me levantando da minha cadeira, eu sempre tinha sido muito sincero com Valéria.
Ela sabia que tudo que nós dois tínhamos era uma boa foda e nada mais. Dei a volta na minha
mesa, ficando de frente dela.
— Que bom que viu, de hoje em diante, não teremos mais nada, tudo que aconteceu entre
nós está acabado.
A ruiva arregalou os olhos, seu rosto estava vermelho e pude perceber quando ela apertou
com força os papéis em sua mão.
— Como? — gritou. — Você está me dispensando por causa daquela garota?
Cruzei os braços. Ela estava gritando comigo?
— Olívia é a minha namorada, e você se ponha em seu lugar, não aceito que grite comigo
ou que ouse falar mal dela.
— Eu … sinto muito. — Sem jeito, ela baixou a cabeça. — Pensei que tinha algo.
— Pensou errado, agora faça o seu trabalho e repasse minha agenda. — Caminhei até o
sofá, me sentando nele. — Hoje almoçarei no refeitório.
— No refeitório? Você nunca almoça lá e sequer colocou os pés naquele lugar.
— Pare de fazer perguntas, apenas anote na minha agenda.
Valeria engoliu o orgulho e fez o seu serviço, repassando minha agenda, eu realmente não
gostava de me misturar com os empregados da empresa, mas precisava mostrar para todos que
Olívia e eu estávamos juntos, que éramos um belo casal e só assim poderia pedi-la em
casamento.
Na hora do almoço, fiz questão de ir até ela, indo direto para a cantina. As pessoas à nossa
volta estavam olhando e cochichando, para elas, era algo estranho eu estar por ali e
acompanhado. O jeito extrovertido de Olívia chamava minha atenção, ela não parecia ser filha de
um homem tão ruim, seu sorriso meigo me encantava e suas perguntas novas me faziam sorrir.
Enquanto ela anotava as minhas respostas ao seu questionamento, eu sentia um aperto no peito,
Olívia estava se esforçando para que aquela mentira fosse o mais realista possível, tentando ser
uma boa companhia para mim, enquanto eu só pensava em ferrar com sua vida e de toda sua
família. Soltei uma gargalhada quando ela me perguntou que animal eu queria ser antes de vê-la
se levantar e abraçar o mesmo homem que estava com ela na boate. Fechei a mão em punhos,
engolindo minha saliva, eu não gostava daquele cara e me sentia ameaçado por ele, talvez por ter
receio de ele estragar meu plano.
— Não vai me apresentar, Olívia? — disse, me levantando da cadeira.
— Este é Luke, um grande amigo — falou ela enquanto o homem estendia a mão para me
cumprimentar. — E este é Théo Philips, o meu …
— Namorado — cortei, deixando bem claro que eu estava com Olívia e que ela é minha.
Pisquei algumas vezes, colocando as mãos dentro do bolso da calça, aquele pensamento
era contraditório, ela era minha por tempo determinado, apenas dois anos e, no contrato, não
tinha nenhuma cláusula contra traição, ela não precisava ser fiel a mim, nem eu a ela, contanto
que ninguém ficasse sabendo.
— É um homem de sorte, senhor Philips, minha amiga é a garota mais bela que conheço e
de um coração enorme.
— Tenho total consciência sobre isso. — Levei umas das mãos até a cintura dela. —
Tenho muita sorte, mas me diga o que está fazendo aqui?
— Eu estava com saudades — falou, olhando para Olívia, que sorriu. — Não ficamos um
dia sem nos ver.
— Claro… Bom, vou deixá-los a sós. — Sorri amargamente antes de beijar a testa de
Olívia. — Lembre-se do horário, os advogados precisam de você.
— Pode deixar.
Caminho para longe deles sem ao menos me despedir do homem e vou para o mais longe
possível, tentando manter a calma, queria colocar aquele homem para fora da minha empresa e
exigir distância de Olívia.
— É apenas uma encenação, ela é a porra da filha do homem que destruiu sua vida — falei
alto, bagunçando meus cabelos enquanto andava de um lado para o outro no primeiro banheiro
que achei.
Caminhei até a pia, jogando uma água em meu rosto, aquela merda estava mexendo com
a minha cabeça e eu não poderia perder o foco. Depois de alguns minutos, eu saí do banheiro,
indo direto para o meu escritório. Ao chegar lá, peguei uma garrafa de uísque, despejando em um
dos copos a minha frente. Eu tinha esperado tanto tempo, precisava colocar a cabeça em ordem e
seguir com todo plano.
— Théo. — Ouvi atrás de mim a voz de Olívia e me virei para encará-la sorrindo. — Eu
vim avisar que o chefe do departamento de advocacia me dispensou mais cedo, pois já terminei o
meu trabalho.
— Mais cedo? — Tomei um gole do líquido quente em minhas mãos. — Posso saber para
onde está indo?
— Luke me chamou para sair. — Sorriu. — Vim apenas te avisar que não voltarei com
você para casa.
— Claro, mas não acho prudente minha futura noiva sair com um homem qualquer, as
pessoas podem falar e acharem estranho.
— Não se preocupe, Luke é um grande amigo e todos sabem que nós dois somos como
dois irmãos.
— Hum.
— Agora preciso ir. — Deu as costas para mim, saindo do meu escritório.
Peguei a garrafa de uísque, despejando mais um pouco do líquido no copo, tomando todo
de uma só vez. Ela sairia com aquele homem e, mesmo sem entender, eu sentia um
desconfortável e insuportável aperto no peito. Coloquei o copo sobre a mesa antes de caminhar
em passos largos até o elevador, não estava com cabeça para trabalhar e precisava distrair a
cabeça, iria atrás de Elijah, um dos poucos amigos que eu tinha e responsável pelo setor de
advocacia, seria uma boa companhia e ainda poderia descobrir mais a respeito sobre Olívia.
— Elijah. — Ao entrar na sala dele, eu o encarei. — Tudo bem?
— Théo, há quanto tempo não fala comigo. — Sorrindo, ele se levantou da cadeira, vindo
até mim, e me cumprimentou. — O que está fazendo aqui?
— Eu vim te chamar para ir até o barzinho que costumávamos ir.
— O grande Philips vindo atrás de mim para ir até um barzinho em pleno horário de
expediente — brincou.
— Você vai ou não?
— É claro. — Meu amigo pegou sua carteira sobre a mesa. — Vamos no seu carro.
Elijah é um velho amigo que trabalha para mim há muito anos, saímos algumas vezes até
ele se casar e ter filhos, agora mal nos vemos, mesmo trabalhando na mesma empresa. Juntos
fomos direto para um barzinho para tentar relaxar e, ao entrar, o dono os reconheceu e nos
conduziu até a mesa onde eu me sentei de frente para Elijah, para então pedirmos algumas
cervejas.
— Como anda a vida? — perguntei, puxando assunto.
— Boa. — Sorri, levando a garrafa a sua boca. — Às vezes, quero surtar com a minha
esposa e filhos, porém, estou feliz.
— Que bom. — Olhei para a garrafa em minhas mãos. — E o serviço? A Olívia, como ela
está indo?
Meu amigo soltou uma gargalhada, me encarando.
— É para isso que me trouxe aqui? Para investigar se sua namorada está indo bem? —
Cruzei as pernas, tomando um gole da bebida.
— Me fale sobre ela? — questionei enquanto Elijah continuava com um sorriso no rosto.
— Ela é sua namorada, você deve saber mais sobre ela do que eu.
— Apenas fale o que sabe sobre ela, você passa mais tempo ao seu lado do que eu.
— Hum… O que eu posso falar sobre Olívia? Bom, ela é incrível, cara, superinteligente e
esforçada, além de ser muito bonita, você fez a escolha certa.
— Então acha ela bonita? — Arqueei a sobrancelha, me sentindo incomodado.
— Sim, com todo respeito, é claro. — Tomou outro gole da cerveja. — Nem acreditei
quando o vi de mãos dadas com ela, você nunca assumiu ninguém antes.
— Olívia… — suspirei — ela é especial.
Elijah me encarou por alguns segundos, nenhum dos meus advogados sabia sobre o
contrato e por isso ela pensava que Olívia era a minha namorada.
— Está com cara de apaixonado — comentou, me fazendo me engasgar com a bebida,
tossi um pouco, tomando outro gole da cerveja, ele só poderia estar brincando com minha cara.
— Eu tenho que estar, ela é minha namorada. — Eu precisava mostrar que estávamos
juntos e que logo ela seria minha mulher.
— Sim, vocês se conhecem há muito tempo?
— Há alguns meses, Olívia é diferente e uma mulher extraordinária. — Sorrio.
— Fico feliz por vocês dois, quem sabe agora você finalmente constrói uma família.
— Quem sabe.
Ficamos por mais algum tempo falando sobre Olívia, parecia que meu amigo conhecia
mais ela do que eu e, com aquela conversa, eu descobri que ela amava rosas-vermelhas, que
sempre passava na floricultura ao lado da empresa e comprava algumas para colocar em sua
mesa, era bom saber sobres esses pequenos detalhes, eu poderia usar a meu favor e conquistar
ainda mais Olívia. As horas se passaram, já era noite quando cheguei em casa, me sentei sobre o
sofá, pegando meu celular em minhas mãos, apertei no botão verde para começar a chamada e,
no terceiro toque, ela atendeu com sua voz gentil de sempre.
— Boa noite, Théo — falou.
— Boa noite, Olívia, eu só liguei para saber se está tudo bem. — Andei de um lado para o
outro, passando a mão em meus cabelos.
— Sim, está tudo ótimo, meu dia foi incrível.
Incrível? O que eles fizeram juntos? Por que ele estava no meu caminho? Respirei fundo,
tentando manter a calma.
— Que bom, eu fico feliz e quero te fazer um convite.
— Que convite?
— Passe o dia amanhã comigo, quero te levar a um lugar que tenho certeza de que irá
amar e podemos nos conhecer melhor, já que você será minha esposa.
— Mas, o serviço …?
— O seu chefe te dará uma folga, apenas aceite o convite.
Por alguns instantes, ela ficou calada, talvez fosse negar o meu convite e, se isso
acontecesse, eu ficaria furioso, ela tinha assinado a porra do contrato, já deveria ser minha
esposa.
— Tudo bem.
— Passo na sua casa para te pegar, esteja pronta e use algo menos formal.
— Estou ficando curiosa, onde vai me levar?
— Segredo, durma bem, Olívia.
Encerrei a ligação, me sentando no sofá. Sorrindo, eu encarei o meu tio, era uma ótima
ideia levá-la para um parque e conquistar ainda mais a sua confiança.
Encerrei a ligação com um sorriso bobo no rosto, Théo estava cada vez mais próximo, e eu
sabia que tudo era uma encenação para o nosso casamento, pois todos precisavam achar que
estamos apaixonados, mas meu coração estava disparado e as borboletas enlouquecidas no meu
estômago mostravam que estava encantada por aquele homem. Meu amigo me olhava de baixo
para cima, Luke e eu passamos o dia inteiro no shopping, comprando algumas roupas e lingeries,
ele dizia que eu precisava estar preparada para tudo e que, mesmo o casamento sendo de mentira,
eu precisava fazer meu enxoval de lingerie.
— Fala logo, o que ele queria? — perguntou, ansioso.
— Ele me chamou para um passeio — falei, segurando o celular em minhas mãos.
— Para onde?
— Eu não sei, mas ele disse que quer me conhecer melhor, já que seremos marido e
mulher.
— Esse homem está caidinho por você — brincou, abrindo uma das sacolas —, ainda bem
que você está preparada. — Levantou uma fantasia sexual de empregada, ela era preta com
algumas rendinhas e tinha até um chicote.
— O que é isso? Eu não lembro de ter comprado?
Luke soltou uma gargalhada, vindo até mim, e colocou a fantasia na frente do meu corpo.
— Vai ser uma empregada sexy e gostosa. — Faz uma jogada de cabelo. — Pode dizer…
vamos, me agradeça.
— Te agradecer pelo quê? Você comprou uma fantasia sexy para mim, sendo que nem
namorado eu tenho.
Revirou os olhos, tirando mais algumas peças de dentro da sacola, me assustei quando ele
tirou uma algema e um vibrador.
— Dois anos com aquele homem maravilhoso, eu duvido que ele resista, só se ele for gay
e, para falar a verdade, estou torcendo para que seja. — Sorri com suas loucuras. — Eu estou na
fila para pegar aquele homem.
— Você não existe. — Tirei de suas mãos as algemas. — Sério isso?
— O que é? Eu gosto de ser algemado. — Sorrindo, se jogou sobre a cama. — Preso,
amordaçado… Que delícia, imagina transando com aquele homem.
— Luke, você está muito assanhadinha, respeite o meu futuro marido.
— Bobagem, agora vamos ver o que a senhorita vestirá amanhã.
Juntos, fomos até o meu closet, meu amigo começou a olhar peça por peça das minhas
roupas e, enquanto desfilava, soltei uma gargalhada, ele me fazia esquecer todos os problemas
que me cercavam e, também, de todas as mentiras que eu estava contando para meus pais, tudo
para nos salvar. No dia seguinte, eu estava pronta para sair com Théo, usava um simples short
jeans e uma camiseta regata preta e, nos pés, um tênis e, no rosto, uns óculos escuros, não era a
roupa que Luke tinha escolhido na noite passada, mas estava ótima, confortável. Ao sair de casa,
pude vê-lo em seu carro, imponente como sempre, com seu sorriso cafajeste e seu olhar
misterioso, Théo saiu do carro, dando a volta, e abriu a porta para que eu entrasse, um perfeito
cavalheiro.
— Aonde vamos? — quis saber assim que passei o cinto de segurança em meu corpo.
— Segredo, mas você irá gostar. — Encarei seus olhos, me sentindo ansiosa e animada ao
mesmo tempo.
— Está me sequestrado, futuro marido? — brinquei.
— Está tão óbvio assim? — Sorrindo, seguimos o caminho e, pela primeira vez, eu não me
sentia nervosa.
Sem saber o que fazer, estava descontraída e conversava naturalmente, nossa intimidade
estava cada vez maior e isso tranquiliza meu coração, era um bom sinal, pois iríamos passar dois
anos juntos. Demorou mais ou menos meia hora até ele estacionar o veículo e, ao descer, eu olhei
ao nosso redor, descobrindo o lugar secreto que ele tinha acabado de me levar. Coloquei a mão
na boca, um tanto surpresa, era um dos meus lugares favoritos de Londres.
— Queen Mary 's Gardens. — Um parque cheio de rosas, o lugar incrível que me trazia
paz. Olhei para trás perplexa. — Como soube?
— Eu sei tudo sobre a minha futura esposa. — Deu de ombros, caminhando até mim, e
segurou em minha mão, me fazendo encarar seus olhos escuros. — Vamos, quero te conhecer
ainda mais, logo estaremos casados.
— Obrigada, você é incrível. — Théo não só estava sendo a salvação da minha família,
como estava me mostrando ser um verdadeiro príncipe encantado, um homem bom que fazia
meu coração disparar.
De mãos dadas, caminhamos pelo parque, nele havia um enorme caminho de rosas, eu
conseguia ouvir o canto dos pássaros e a brisa de verão. Puxei Théo até um dos meus lugares
favoritos dali, uma ponte. Subi nela animada, pulando e sorrindo, fazia tempo que eu não me
permitia fugir dos problemas da minha família, estava tão imersa em tudo que acabava me
esquecendo de como era bom fugir e passar um dia longe de tudo e todos.
— Escute — sussurrei perto de Théo —, escute o som dos pássaros.
Ele me olhava enquanto prestava atenção, o som era alto e encantador, parecia que o
mundo tinha parado naquele mesmo instante e tudo que restava era aquele momento.
— Consigo ouvir — disse, balançando a cabeça. — É uma verdadeira melodia.
— Eu sempre amei rosas e, quando descobrir esse lugar — olhei ao redor —, costumava
vir para cá todos os dias apenas para ouvir o som dos pássaros e olhar para flores.
— É um belo lugar, eu nunca tinha vindo aqui antes.
— Não consigo ficar surpresa com isso, você é tão misterioso e vive trancado em seu
escritório, ocupado demais para passar uma tarde em um simples parque. — Ele desviou o olhar
e colocou suas mãos dentro do bolso, sorrindo amargamente. — Desculpa, falei demais.
— Eu sempre tive muitas responsabilidades e fardos a carregar, não podia sequer pensar
tirar um dia de folga.
Théo segurava na lateral da ponte, olhando para o lago, como se sua mente viajasse em
algo do passado.
— Sinto muito. — Coloquei minha mão em cima da sua, o fazendo desviar o olhar para
mim.
— Foi por uma boa causa, não me arrependo de ter abdicado de algumas coisas para estar
onde estou hoje.
Ele tirou a mão, caminhando para longe, e sorriu, me chamando.
— Venha, vamos dar uma volta.
Seguindo Théo, eu caminhei em passos lentos, ele voltou a segurar minha mão, todos que
olhavam para nós tinham a certeza de que éramos um casal apaixonado, no auge do nosso amor,
e que era apenas uma tarde romântica. Paramos na frente de uma floricultura, ele examinou todas
as rosas antes de apontar para vendedora um lindo buquê de tulipas brancas, a senhora entregou
para ele antes de Théo tirar algumas notas da sua carteira.
— São para você. — Estendeu as flores, fazendo meu coração ficar ainda mais acelerado,
minhas mãos suavam e eu sentia minha boca seca, eu precisava repetir várias vezes em minha
cabeça que tudo aquilo era apenas um acordo e que, no final, seríamos apenas amigos.
— Théo, não precisava — falei baixinho, pegando as flores em minhas mãos, sentindo o
cheiro adocicado delas e fechando os olhos. — São tão lindas.
— Só não são mais lindas do que você.
Suas palavras invadiram o meu peito, me deixando ainda mais encantada, e isso me fazia
questionar se aguentaria viver dois anos ao seu lado sem me apaixonar, sem conseguir distinguir
a verdade da mentira, sem perceber a encenação que era tudo aquilo.
— Obrigada. — Senti minhas bochechas queimarem de vergonha, ele voltou a segurar
minha mão, caminhando pelo parque, ficamos ali a tarde inteira, rindo e conversando sobre
coisas aleatórias.
No final do dia, ele me levou até um dos restaurantes que eu escolhi, um lugar que eu
amava ir com meus pais, com vários tipos de massas italianas.
— Nossa, essa pizza está deliciosa — Théo comentou, comendo mais um pedaço da sua
pizza de pepperoni. Sorrindo, eu olhei para o canto de sua boca suja de molho, peguei um dos
guardanapos antes de limpar a sua pele, e ele me encarava, e eu sentia as borboletas dançarem
em meu estômago, minha boca estava seca e minhas mãos, suadas.
— Estava sujo bem aqui — comentei.
— Obrigado, estou tão empolgado com essa delícia que esqueci até os bons modos.
— Nunca tinha comido uma pizza de pepperoni? — Surpresa, arquei uma sobrancelha.
— Não uma tão gostosa.
Ele voltou a comer, ficamos por mais um tempo até que fomos para minha casa. Na
despedida, Théo me deu um beijo na boca, mesmo não tendo ninguém por perto.
— Seus pais podem estar bisbilhotando — sussurrou em meu ouvido. — Uma ótima noite,
durma bem.
— Para você também e, mais uma vez, obrigada pelas flores.
Nos despedimos com mais um beijo antes de Théo entrar no seu carro e ir embora.
Sorrindo, eu olhei para as flores em minhas mãos suspirando, tinha sido um dia mágico e eu
sabia que ele seria um bom marido para mim durante os dois anos do acordo.
Ao entrar no carro eu girei a chave correndo o mais rápido dali, sentia meu coração
apertado, como se eu estivesse sendo sufocado. Sem ar, era assim que eu me sentia. Com umas
das mãos, eu puxei a gola da minha blusa, estava me sentindo sufocado e confuso, foram tantos
anos planejando aquele momento e agora eu estava comprando flores para a filha do meu
inimigo, andando de mãos dadas e encarando o seu sorriso encantador. Porra! Soquei o volante,
ela é tão linda, seus cabelos castanhos e seus olhos claros remetem a uma bela flor, tão delicada e
inocente, tão viciante. Ao chegar em casa, fui direto para meu escritório e, nervoso, peguei o
uísque em minhas mãos antes de girar a tampa da garrafa e tomar o líquido quente.
— Foco, Théo. Que porra você está pensando? Ela é filha do seu inimigo, do homem que
acabou com a vida dos seus pais.
Passei a mão em meu rosto, andando de um lado para o outro, até ver meu tio com um
cigarro em sua boca. Ele soltou a fumaça no ar me encarando, era óbvio que ele tinha ouvido o
que eu tinha acabado de falar.
— Onde você estava? — perguntou, vindo até mim.
— Com Olívia, a levei até um parque e comprei algumas flores para ela.
Meu tio colocou uma de suas mãos sobre os meus ombros antes de sorrir amargamente.
— Quando vai trazê-la para esta casa? Marque a porra do casamento, ela já assinou o
contrato e não tem mais para onde correr.
— Ela pediu um mês, estou tentando …
— Desde quando você obedece ao inimigo? Apenas faça acontecer, é hora de honrar a
memória dos seus pais.
Confirmei com a cabeça, ele estava certo, mesmo que eu sentisse que Olívia era inocente
em toda aquela história, eu precisava seguir o plano, era hora de acabar com tudo aquilo de uma
vez por todas. Naquela mesma noite, eu não consegui dormir, virando de um lado para o outro na
cama. As lembranças do dia do acidente da minha mãe vinham à tona em minha cabeça,
ninguém nunca soube como o freio do carro foi cortado e era óbvio que eu sabia que tinha sido
William Carter o mandante daquele atentado, era tudo culpa dele, e ele não teve nem um minuto
sequer de pena. Levantei-me da cama, indo para a academia e subi na esteira com o fone de
ouvido, precisava distrair a cabeça, resolver todos os problemas internos e voltar para o plano.
— Vejo que já acordou. — Ouvi a voz do meu tio, ele estava com o celular em suas mãos.
— Se prepare, essa noite você levará a família de Olívia para jantar.
— O quê? — gritei, apertando os botões da esteira para desligá-la. — O que você fez?
— Acabei de falar com sua secretária, ela fez uma reserva para você no melhor e mais
caro restaurante de Londres, mostre para eles o quanto se tornou poderoso, não seja fraco, meu
sobrinho.
— Fraco? Meu pai cometeu suicídio por culpa dele, e minha mãe … — Estava fora de
mim, furioso demais, sentido toda dor do passado.
— Eu sei de tudo, foi eu que estive lá do seu lado por anos. — Me abraçou. — Ele era
meu irmão, você acha que isso não me dói? É por isso que você tem que seguir o plano, nossa
vingança é mais importante que tudo nesse mundo.
Respirei fundo, segurando o rosto do meu tio em minhas mãos, e encarei seus olhos
vermelhos de ódio, o mesmo que sentia.
— Você está certo, é hora de encarar aquele maldito e fazer sua família derramar lágrimas
de sangue.
— Aí está o homem que criei, forte e poderoso, assim como seu pai era, traga paz para
nossa família.
Depois da conversa com meu tio, eu fui direto para o banheiro e liguei o chuveiro,
sentindo a água morna escorrer pelo meu corpo, aliviando toda aquela tensão, eu precisava me
preparar para estar frente a frente com meu inimigo. Ao sair com uma toalha ao redor da minha
cintura, eu caminhei até a mesinha de canto, peguei em minhas mãos o celular e apertei no botão
verde assim que encontrei o número de Olívia.
— Bom dia, Théo. — Sua voz aveludada fazia meu coração disparar.
— Bom dia, Olívia, estou ligando para informar que fiz uma reserva para jantar com seus
pais essa noite.
— Essa noite? Eu … preciso falar com eles.
— Eu sei que foi algo precipitado, mas está na hora de conhecê-los, minha secretária vai
passar o endereço para você.
— Tudo bem, falarei com eles.
— Ótimo, até a noite.
— Espere, você não vai para empresa?
— Não, tenho outros assuntos para resolver, mas, à noite, te encontrarei no restaurante.
— Certo.
Encerrei a ligação, jogando o celular sobre a cama, eu precisava me preparar para aquela
noite, para manter a cabeça no lugar e não matar William Carter. Fechei os olhos, me jogando
também sobre a cama, precisava me acalmar antes do jantar. As horas se passaram, e eu só
percebi que peguei no sono quando acordei atordoado, já era noite e eu precisava começar a me
arrumar. Arranquei a toalha, voltando para o banheiro, joguei uma água no corpo antes de ir até o
meu closet e procurei um pelo blazer e um sapato antes de me olhar no espelho, era a primeira
vez que eu veria os Carter depois de tudo e meu peito estava pressionado, como se tivesse algo
em cima dele. Desci as escadas da minha casa contando degrau por degrau, pensando em tudo
que estava prestes a acontecer e me lembrando do sorriso de Olívia, ela seria minha esposa em
menos de um mês, e eu a humilharia, faria da sua vida um inferno até a mesma quebrar o acordo
e eu tirar tudo deles, jogando-os nas ruas sujas de Londres.
— Seu pai está orgulhoso de você esta noite, meu filho.
— De nós dois, tio, sem você, eu não conseguiria colocar a cabeça no lugar e seguir o
plano, estamos chegando perto da nossa vingança.
Nos despedimos, eu fui direto para fora da mansão onde um dos meus motoristas já estava
a minha espera, a BMW preta foi aberta para que eu entrasse no banco do passageiro, olhei para
o meu Rolex no pulso direito, vendo que já estava quase na hora de encontrá-los. Seguimos entre
as ruas de Londres até chegar no The Ledbury, um restaurante com duas estrelas Michelin que
tem um cardápio refinado e uma cartela de vinhos maravilhosa, um bom lugar para levar a
família da minha futura esposa.
Ao descer do carro, eu abotoei o meu blazer antes de caminhar até a entrada do local. O
gerente do lugar veio até mim sorrindo, dando as boas-vindas, e me conduziu até a melhor mesa
do ambiente para que eu esperasse pelos meus convidados. Pedi o melhor vinho da casa antes de
ver Olívia aparecer em minha frente, meu coração disparou ao olhar para ela, mas parou assim
que vi o seu pai ao seu lado. O homem que destruiu tudo estava bem na minha frente, mas me
levantei sorrindo.
— Boa noite — disse, estendendo a mão para William, que sorriu. — É um prazer
conhecê-lo finalmente.
— Então, você é o homem que minha filha tanto fala — afirmou, segurando minha mão;
Olívia falava sobre mim para eles, aquilo era bom, sinal de que a garota estava caindo em meus
encantos.
— Culpado, sou Theodoro Philips.
Ao pronunciar meu nome, ele me olhou de baixo para cima, arregalando seus olhos,
parecia surpreso.
— Deus, você é o … — Balançou a cabeça, me puxando para um abraço. — É o filho de
Henry.
Levantei a cabeça, tentando não explodir, ouvi-lo falar o nome do meu pai fez o sangue do
meu corpo queimar, ele não tinha moral para falar sobre eles, não merecia.
— Pelas fotos, eu sabia que já tinha te visto em algum lugar, mas agora, te vendo
pessoalmente. — Me largou, passando a mão em seus cabelos. — Você é a cópia do seu pai.
— Nem tanto, só na aparência somos parecidos, sou mais inteligente do que ele era, caso
contrário, já teria perdido tudo assim como aconteceu com ele.
—Eu sinto muito, seu pai era meu amigo e sócio, foi uma perda muito grande pra todos
nós, ainda tentei me aproximar de você depois do acontecido, mas seu tio não permitiu...
Sorrindo amargamente, eu o interrompi, não queria ouvir suas mentiras.
— Vamos nos sentar, acredito que vocês devem estar morrendo de fome.
Olívia e sua mãe sorriram, se sentando ao redor da mesa, Willian continuou a me olhar e
provavelmente o peso da culpa da morte recaiu sobre os ombros, meu pai perdeu tudo por culpa
dele e agora eu acabaria com sua família.
Um mês depois

O jantar com meus pais tinha sido um verdadeiro sucesso. Por incrível que parecesse, meu
pai estava encantado com Théo e feliz por saber que sua filha estava namorando o filho do seu
melhor amigo, minha mãe vivia mimando-o com suas sobremesas favoritas e o nosso plano
estava indo às mil maravilhas, todos tinha certeza de que nós dois estávamos apaixonados.
Sorrindo, eu segurava sua mão enquanto andávamos até o estacionamento da empresa, era a
nossa rotina de todos os dias, ele me buscava e levava para o serviço, todas as vezes a gente
parava em algum lugar para comer e conversar, e ele era um cavalheiro que estava conquistando
pouco a pouco o meu coração.
— Você realmente gostou da aliança? — perguntou ele, fazia três dias que Théo tinha ido
até a minha casa e pedido minha mão em casamento para meus pais. O diamante em meu dedo
mostrava o quão poderoso era aquele homem e o quanto nosso contrato estava se tornando cada
vez mais real.
— Eu amei. — Olhei para o anel em meu dedo. — Não precisava ter comprado algo tão
caro, você sabe que é tudo uma bela mentira — sussurrei a última parte, ele sorriu, abrindo a
porta do carro.
— Olívia, você merece o melhor. — Entrei no carro, passando o cinto ao redor do meu
corpo. — Daqui a uma semana você será oficialmente minha esposa.
Encarei seus olhos, estava sendo tudo rápido demais, mas o contrato já estava assinado,
meus pais acreditavam no nosso amor e todos ao nosso redor ficaram felizes com o anúncio do
noivado.
— Eu ouvi uma fofoca nos corredores dizendo que estou grávida e é por isso que vamos
nos casar às pressas.
Théo soltou uma gargalhada antes de dar a volta no carro e se sentar no banco do
motorista, e ligou o motor do carro, colocando a mão sobre minha coxa.
— Deixe que todos falem, o que importa é que você terá a empresa do seu pai de volta, e
eu vou conseguir uma boa companhia para os grandes eventos que terei que comparecer.
— Obrigada, Théo, sem você, minha família estaria perdida.
— Não precisa me agradecer, gosto de um bom desafio e, pelo que observei, a empresa do
seu pai está nas últimas, eu terei muito trabalho para reerguê-la e isso me deixa mais animado.
— Competitivo, gosto disso em você.
Rindo, seguimos caminho até a minha casa. Meus pais, como sempre, receberam Théo de
braços abertos, animados e felizes, nossa vida estava indo a mil maravilhas e eu me sentia mal
por mentir para eles, por saber que aquele romance estava fadado a acabar, que depois de dois
anos tudo seria apenas meras lembranças boas.
— Fique, filho, já está tarde para você ir embora — minha mãe falou, dando um abraço
em Théo. Em pouco tempo, meus pais já o consideravam como um filho.
— Infelizmente não posso, amanhã acordarei cedo para rever tudo sobre o casamento.
— Ainda me sinto mal por não poder ajudar com a festa. — Olhei para meu pai, me
sentindo triste por ele, mesmo a festa sendo algo simples e fechado para poucas pessoas, Théo
não deixou que ele pagasse nada.
— Fique tranquilo, já está tudo pago. Olívia, você me acompanha até a porta?
— Claro — falei, caminhando com ele até a saída da nossa casa.
Théo me deu um beijo antes de abrir a porta do seu carro e entrar nele, senti minhas
pernas bambas enquanto sorria. Em poucos dias, ele se tornaria o meu esposo, e eu me mudaria
para sua casa, algo novo para mim que eu teria que me adaptar. Voltei para dentro de casa
sorrindo, meus pais estavam abraçados, me encarando, os dois também tinham um sorriso no
rosto, era a melhor sensação saber que eles estavam felizes e esqueceram de todos os problemas
que nos rodeavam.
— Ela está fazendo aquela cara — disse meu pai.
— Aquela cara? — Minha mãe sorriu, o encarando. — A mesma que eu fazia quando te
olhava?
— Sim, a mesma que eu faço todos os dias.
— Do que você está falando? — perguntei para eles.
— Você está com cara de apaixonada, querida. — Meu pai veio até mim e colocou uma
das duas mãos em minha bochecha acariciando. — Eu fico feliz que esteja prestes a se casar com
o filho de Henry, ele era um ótimo homem. Quando aconteceu toda desgraça, eu fiquei
devastado, tentei várias vezes encontrar com Théo, mas o tio dele sempre me impedia e agora o
destino o trouxe direto para você.
— Ele nunca me falou sobre os pais, mas eu também não gosto de perguntar a respeito
dessa triste tragédia.
— Théo era muito novo na época, sofreu muito e, mesmo assim, conseguiu reconstruir a
empresa dos Philips, ele é um homem muito forte.
As palavras da minha mãe me fizeram sentir o peito apertado, eu sabia da tragédia da
família de Théo, todavia, não poderia sequer imaginar a sua dor.
— Mas tudo passou, agora ele está feliz ao seu lado, filha.
Meu pai sorriu, eu beijei seu rosto antes de me despedir dos dois e subir as escadas até o
meu quarto, aquela mentira estava mexendo comigo, me deixando confusa com meus
sentimentos e, todas as vezes que me lembrava dos olhos de Théo, do seu sorriso e seu perfume
inesquecível, meu coração parecia que ia saltar para fora do peito.
— Lembre-se, Olívia, é apenas um contrato, tudo isso é uma grande mentira que tem data
marcada para terminar.
Com esse pensamento, eu fechei meus olhos e me entreguei ao sono profundo, mas,
mesmo assim, Théo ainda ali presente em meus sonhos, me fazendo imaginar algo que não
existia. A semana passou voando e o dia do nosso casamento chegou, o quintal de nossa casa
estava coberto por rosas em todos os lugares, dava contar nos dedos a quantidade convidados,
eram apenas pessoas importantes para nós. Arrumei o véu do meu vestido rendado antes de
passar a minha mão sobre a do meu pai, e senti um arrepio no corpo quando caminhei em passos
lentos até o altar onde Théo já estava. Não tinha aparecido ninguém de sua família, nem mesmo
o seu tio, e eu me sentia triste por ele, por saber que sua vida era solitária demais.
— Théo Philips, eu estou te entregando o meu bem mais valioso, ela é tudo para mim e
espero que cuide bem dela.
Os olhos do meu pai já estavam cheios de lágrimas, nós dois nunca tínhamos nos separado
e agora eu estava indo morar em outro lugar, ficando longe da minha família por causa de um
acordo.
— Darei a minha vida se for preciso para deixá-la feliz.
Théo sorriu ao pegar em minha mão. O padre já estava pronto para dar início à celebração,
ele começou falando o quanto o amor é o sentimento mais profundo da alma, que enfrenta tudo e
todos por ele e que abençoava os nossos sentimentos, e que nós seríamos felizes para sempre.
— Olívia Carter, você aceita este homem na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na
riqueza e na pobreza, amando e respeitando até o fim de sua vida?
Fechei os olhos, revendo tudo que estava escrito naquele contrato, todas as cláusulas, as
regras para que ele não fosse quebrado e, por fim, o prêmio no final dos dois anos, a empresa do
meu pai.
— Sim, eu aceito.
Fez a mesma pergunta a Théo, ele disse sim, sorrindo, nossas mãos estavam geladas, meu
coração disparado e as borboletas do meu estômago dançavam sem parar.
— Eu os declaro marido e mulher, pode beijar a noiva.
Fui pega de surpresa quando ele me puxou com rapidez, dando um beijo intenso, diferente
de todos os outros que ele já tinha me dado, nossas línguas se entrelaçaram, me deixando sem ar
e completamente em êxtase por aquela sensação.
Estar frente a frente com Willian só me deixava com mais sede de vingança, o odiava com
todas as minhas forças e, mesmo que ele tentasse me enganar com seu jeito bondoso, eu sabia
que ele era uma verdadeira cobra peçonhenta, só esperando o momento certo para dar o bote,
mas, dessa vez, ele sucumbiria ao seu veneno. Olhei ao nosso redor sorrindo, Olívia dançava
comigo enquanto os poucos convidados nos encaravam, ela estava uma verdadeira princesa,
linda com o seu vestido branco, tão pura, uma obra de arte que acabaria descobrindo que os
contos de fadas não existem e que eu estou longe de ser um cavaleiro. Minha vingança
começaria naquela mesma noite, nada de lua de mel, na verdade, depois que aquele circo
acabasse, eu a levaria para minha mansão, a deixaria em um quarto escuro e vazio, enquanto eu
aproveitaria uma noitada, ela estava prestes a viver o seu pior pesadelo.
— Vamos embora. — Larguei seus braços.
— Mas já? O povo vai estranhar sairmos assim — protestou.
— Eu não ligo, estamos casados e é isso que importa. — Coloquei minhas mãos dentro do
bolso da calça. — Vai se despedir dos seus pais, eu vou te esperar no carro.
— Você não vai comigo? — Tão ingênua.
— Não, estou com pressa, apenas faça o que estou mandando.
— Ah … é… tudo bem — sussurrou, caminhando para longe de mim.
Em passos largos, fui direto para o meu carro, meu motorista abriu a porta do passageiro
para que eu entrasse e, em poucos minutos, Olívia apareceu, se sentando ao meu lado, suas malas
já estavam no porta-malas e eu me sentia ansioso para finalmente revelar minha face, mostrar
para ela que seus pesadelos se tornaram reais.
— Meus pais perguntaram por você, acharam estranho a nossa saída repentina. — Ela me
encarou, colocando uma das suas mãos sobre a minha.
— Estou cansado, só isso. — Sorrindo, ela olhou para fora da janela.
— Você poderá descansar na viagem — disse, mas tirei sua mão de cima da minha.
— Não tem nenhuma viagem, Olívia, vamos ficar na minha mansão.
— Mas e a viagem que você propôs, as praias? — Arqueou uma das sobrancelhas. —
Você disse que precisamos agir como um casal apaixonado e acabamos de nos casar, precisamos
ir para nossa lua de mel.
— Na verdade, não precisamos, ninguém saberá que estamos trancados em minha mansão.
— Dei de ombro. — Apenas seja uma boa esposa e siga o que estou mandando. — Segurei em
seu queixo, sorrindo.
Olívia ficou calada todo o resto do caminho até chegarmos a minha casa. Os empregados
já estavam apostos para recebê-la.
— Leve as malas dela para o quarto de hóspedes — dei a ordem para um dos motoristas.
— Eu preciso tirar esse vestido branco e tomar um banho — falou, chamando minha
atenção.
— Uma das empregadas mostrará o quarto a você, eu vou precisar sair.
— O quê? Mas você disse que estava cansado e …
Caminhei até ela e fiquei de frente ao seu rosto, acariciando suas bochechas.
— Lembre-se, baby, isso é apenas um contrato, e não um conto de fadas.
— Por que está fazendo isso? Théo … — Segurou minha mão com os olhos cheios de
lágrimas.
— Fazendo o quê? Você não leu as cláusulas? Dois anos vivendo comigo apenas para ser
a minha esposa troféu, e é isso que você é, Olívia, apenas isso.
Tirei sua mão antes de caminhar para longe dela, eu passaria a noite fora, aproveitando a
minha lua de mel sozinho, enquanto Olívia ficaria trancada dentro da mansão, se perguntando o
motivo da minha mudança repentina, sem entender o que tinha acabado de acontecer. Ao sair da
mansão, o motorista passou a chave do carro para mim, entrei nele, ligando o motor, correndo
entre as ruas de Londres enquanto as imagens dela vinham em minha cabeça, Olívia atormentava
meus pensamentos, até em meus sonhos ela aparecia como uma droga viciante, e eu não
conseguia entender o que estava sentindo, a única coisa que podia fazer é ficar longe e seguir o
plano.
— Como foi? — Ao entrar no apartamento que dei ao meu tio, ele me entregou uma taça
de champanhe.
— Ela está na mansão, sozinha, no quarto de hóspedes. — Andei até o sofá, me sentando
nele, eu deveria estar feliz com todo nosso sucesso, mas me sentia estranho, algo dentro de mim
gritava e eu não conseguia ouvir. — Em plena Lua de mel, ela está sozinha.
— Ótimo, vamos deixar que ela pense que você está aproveitando em alguma farra
enquanto ela sofre sozinha.
— Então é isso, agora é fazer com que ela sofra para atingir o pai dela.
— Sim, hora de William Carter sofrer assim como nós dois sofremos depois da morte dos
seus pais.
Meu tio levantou a taça sorrindo, brindei com ele antes de tomar o gole do champanhe, eu
precisava tirá-la de minha cabeça, continuar com o plano e não sentir remorso. Ficamos
conversando por mais algum tempo até eu ir para um dos quartos do apartamento. \entrei no
quarto, afrouxando a gravata e, em seguida, desabotoando o meu blazer, me sentei sobre a cama,
fechando os olhos e mais uma vez ela estava em meus pensamentos, me joguei para trás,
deixando meu corpo relaxado. Em meu peito, tinha algo que me destruía e que não me deixava
comemorar aquela vitória.
As lembranças de dois dias atrás apareceram em meus pensamentos, em um momento que
eu e Olívia estávamos planejando a viagem de lua de mel para Maldivas. Ela sorria, mostrando
os lugares que nós dois iríamos visitar e de como ela estava animada para aqueles momentos, tão
inocente e ingênua, ela nunca imaginou que estaria agora mesmo em uma mansão escura,
sozinha e desamparada.
— Merda … Merda. — Me levantei, socando a parede, eu não entendia o motivo de ter
um buraco em meu peito, a vingança estava sendo feita, os Carter pagariam por tudo e, mesmo
assim, eu não conseguia ficar em paz. — Que porra está acontecendo?
Deslizei pela parede, me sentando no chão frio. Coloquei minha cabeça entre as mãos,
respirando fundo, eu não poderia ser piedoso, não com a filha do homem destruiu tudo ao meu
redor. No dia seguinte, eu abri os olhos, percebendo que tinha pegado no sono no mesmo lugar,
então, me levantei, indo até o banheiro, e fiz minha higiene antes de sair. Estava pronto para
encará-la e ver sua tristeza em seu olhar, todavia, ao chegar na mansão, eu tive a surpresa, Olívia
tinha saído com seu amigo e não tinha hora para voltar. Meu sangue ferveu e eu joguei no chão o
primeiro objeto que vi ao meu lado.
— Para onde ela foi? — gritei para uma das empregadas.
— Senhor, eu não sei, ela simplesmente disse que sairia com um amigo e que não
precisava esperar por ela.
Tirei do meu bolso o celular e apertei no botão verde para ligar, mas nada, ela não atendia
o celular e isso me deixava ainda mais furioso, Olívia tinha que seguir a porra das minhas regras
e não sair com aquele filho da puta do seu amigo.
Trancada em meu quarto, eu me via sozinha. Em plena lua de mel, eu tinha sido
abandonada pelo meu marido, um que era de mentira, mas que não teve um pingo de compaixão
por mim. Théo mudou completamente depois do nosso sim no altar e agora eu já não conseguia
entender mais o que se passava em sua cabeça e o motivo de ele não ter me levado para a viagem
que tanto planejamos. Levantei-me da cama, indo até o banheiro, meus olhos estavam
vermelhos, meu cabelo, bagunçado e minha maquiagem, borrada. Me encarei por alguns
instantes, levantando a cabeça, eu tinha assinado o contrato com o intuito de recuperar a empresa
do meu pai e nada no mundo me faria desistir daquilo, mesmo que Théo não fosse o homem que
eu pensava, mesmo que eu tivesse que viver dois anos trancada e sozinha naquela maldita
mansão.
Arrumei meus cabelos em um rabo-de-cavalo e limpei meu rosto, tirando toda a
maquiagem antes de ir para debaixo do chuveiro. A água morna caía sobre o meu corpo, levando
as minhas lágrimas, eu seria forte pelos meus pais, mesmo que aquilo estivesse me doendo.
Depois de terminar meu banho, eu coloquei um pijama confortável antes de me deitar sobre a
cama, fechei os olhos e tentei dormir, mas, mesmo depois de alguns minutos, eu não consegui,
para todos os lados que eu olhava, eu conseguia ver Théo em minha frente, seu sorriso e seu jeito
cavaleiro.
— Por que, Théo? Por que fez isso comigo?
Soquei o travesseiro, tentando dormir, estava furiosa com ele, mesmo sabendo que tudo
não passava de uma mentira, mas eu merecia respeito e que, pelo menos, ele me desse notícias de
onde passaria a noite. Já era madrugada quando finalmente eu dormi de cansaço, estava tão
exausta e me sentia tão sozinha naquele lugar que a única alternativa que achei foi chamar Luke
para sair, não ficaria esperando pelo meu marido.
Desci as escadas jogando o cabelo, estava com uma calça jeans clara, uma regata rosa e
um blazer verde, um tênis no pé e óculos escuros no rosto, nada de ficar sofrendo por algo que é
apenas uma mentira.
— Fiquei surpreso quando me ligou — Luke me abraçou —, pensei que estivesse em
Maldivas.
— Longa história, mas não quero falar sobre isso. — Sorrindo, eu passei a mão sobre o
seu braço. — Vamos nos divertir.
— Diversão é meu sobrenome, o que acha de irmos ao pub e enchermos a cara?
— Você sabe que ainda é muito cedo.
— Quem liga para isso? — Deu de ombros, caminhando até a porta de saída da mansão.
— E outra, o seu marido pode até ser gato, mas tem um péssimo gosto para decoração, os móveis
desse lugar são bregas.
Soltei uma gargalhada, só o meu melhor amigo para me fazer sorrir em meio ao caos que
estava dentro de mim, me virei, olhando para umas das empregadas, ela estava nos observando,
parada no meio da sala.
— Diga ao seu patrão que eu fui passear com meu amigo e que não sei a hora que estarei
de volta.
— Sim, senhora, mas se me permite, não acha melhor esperar o senhor Philips chegar?
— Não, apenas faça o que eu estou pedindo, por favor.
Meu amigo abriu a porta do seu carro para que eu entrasse nele antes de dar a volta e se
sentar no banco do motorista, e girou a chave, me tirando daquele lugar, olhei pela janela ainda
me sentindo triste e magoada pelo que Théo havia me feito.
— Agora você já pode me contar o motivo da sua tristeza. — Mudei minha atenção para
encarar o meu melhor amigo. — Todos acham que você está de lua de mel bem longe daqui.
— Ele me deixou sozinha na mansão. — Sorri amargamente. — Me jogou naquele lugar
como se eu fosse apenas um objeto e saiu, passando a noite hora.
— Filho da puta — xingou.
— Eu sei que tudo é apenas uma grande mentira e que não somos um casal, mas está
doendo, Luke. — Ele tirou uma das mãos do volante, levando até a minha, e segurou com força
sorrindo.
— Estou aqui agora, aquele filho da puta não pode fazer isso com você.
— Mas ele fez, eu não entendo o motivo, ele sempre foi tão gentil comigo, nós dois até
planejamos a viagem juntos, estava tudo certo.
— Vamos esquecer isso e apenas aproveitar o nosso dia.
Voltei a olhar para a estrada sorrindo, eu não sabia o que fazer sem Luke, ele era meu
melhor amigo e confidente, sabia sobre todo o acordo e estava ali para me amparar e apoiar. O
nosso dia começou em um pub, onde nós dois tomamos algumas cervejas e eu pude ver meu
amigo dar em cima do garçom do lugar. Por mais que estivesse sorridente ao lado dele, meus
pensamentos estavam em Théo.
Será que ele já chegou na mansão?
Onde ele passou a noite?
Ele não pensou em mim?
— Ei, que carinha é essa? — meu amigo quis saber, me tirando dos meus devaneios.
— Será que ele já chegou? — Nesse momento, meu celular começou a tocar, abri a minha
bolsa, tirando o aparelho de dentro dele e, ao ver o nome na tela, meu coração disparou, era
Théo. — É ele, o que eu faço?
— Não atende, deixa tocar. — Luke deu de ombro, mostrando o copo de cerveja sobre a
mesa. — Tome, vai acabar esquentando.
— Você está certo, ele não me deu notícias ontem à noite, quando me largou sozinha na
mansão, se é tudo uma grande mentira, então não preciso dar satisfação da minha vida para ele.
— É assim que se fala.
Brindamos juntos com os copos de cerveja e, sorrindo, eu olhei ao nosso redor, o pub era
um dos poucos lugares que eu me sentia à vontade, me permitindo ser apenas mais uma garota
cheia de problemas que fugiu para encher a cara. Mais uma vez meu celular começou a tocar, era
a décima quinta chamada dele. Théo realmente estava nervoso e preocupado, talvez estivesse
com receio que as pessoas descobrissem que nós dois não estávamos viajando ou algo do tipo, já
que, para ele, a sua imagem é importante.
— Estou ficando com raiva desse seu marido. — Cruzou os braços sobre a mesa. —
Atenda de uma vez.
Olhei para o aparelho em minhas mãos suadas, meu coração estava quase saindo pela boca
quando apertei no botão verde.
— Olívia, onde você está? — Sua tonalidade de voz mostrava o quanto estava furioso,
mas não me importava, dei de ombro, tomando outro gole da cerveja.
— Olá, marido, tudo bem? Como passou sua noite? — falei em um tom de ironia.
— Responda, Olívia.
— Estou em um pub com meu amigo.
— Um pub? — gritou. — A gente se casou ontem, estamos de lua de mel e você sai com
um amigo?
Soltei uma gargalhada, ele estava me exigindo algo que não cumpriu.
— Foi você que me deixou sozinha naquela mansão, não venha me cobrar algo que você
não fez.
— Olívia, por favor, me passe o endereço que eu vou te buscar. — Baixou o tom de voz.
— Não precisa vir, Luke está comigo e vai me levar para casa.
— Olívia.
— Até mais, marido.
Encerrei a ligação, guardando o celular dentro da minha bolsa, Théo tinha me prometido
uma boa convivência durante os dois anos de casamento falso, mas, no primeiro dia, ele largou
sozinha em uma casa nova, com pessoas desconhecidas e ainda queria me exigir algo, eu não
baixaria a cabeça, mesmo precisando daquele contrato, mesmo sabendo que a empresa do meu
pai estava em perigo.
Ficamos mais algum tempo conversando até que decidi voltar para mansão, Luke me
levou até a entrada e, quando paramos o carro, encontramos Théo de braços cruzados na porta,
ele não estava com uma cara muito boa.
— Se precisar de mim, é só ligar. — Meu amigo me abraçou assim que descemos do
carro, e sorriu, dando um beijo em minha bochecha. — Se cuida.
— Obrigada.
Assim que Luke foi embora, eu caminhei em passos lentos, passando pelo meu marido,
entrei na mansão sem ao menos falar uma só palavra, e andei até chegar nas escadas, mas antes
de levantar o pé para subir no primeiro degrau, senti sua mão em meu braço, me fazendo virar
para encarar seus olhos furiosos.
— O que pensa que está fazendo? — perguntou.
— Subindo as escadas para ir até o meu quarto de hóspedes.
Olhei para sua mão em meu braço, fazendo Théo soltar.
— Olívia, você se esqueceu do contrato? O que está em jogo aqui? — Passou a mão em
seus cabelos bagunçados.
— Eu sei de cada cláusula daquele acordo, mas também sei que você me prometeu uma
boa convivência, me disse que seríamos amigos e me fez planejar uma viagem que não fui.
Ele sorriu amargamente, dando dois passos para trás.
— Eu tive coisas mais importantes para fazer ontem à noite. — Deu de ombro.
— Que ótimo, do mesmo jeito que eu tive coisas mais importantes para fazer essa manhã
do que esperar o meu digníssimo marido.
— Com o seu amigo — afirmou.
— Luke me fez companhia.
— Eu não gosto dele e não quero que outras pessoas te vejam ao seu lado, você é minha
esposa, então haja como tal.
— E você é o meu marido, mesmo que de mentira — gritei —, exijo o mínimo de respeito.
Furioso, ele respirou fundo antes de sorrir amargamente, e me encarou por alguns
segundos antes pegar o seu celular em seu bolso direito.
— Vá para o seu quarto, agora. — Ele saiu andando com o celular na mão enquanto eu
subia as escadas correndo. Por que Théo tinha mudado completamente? Eu já não o reconhecia.
Com lágrimas nos olhos, eu fui para o banheiro e tirei toda minha roupa, indo para
debaixo do chuveiro, só água morna poderia me acalmar naquele momento. Mais lágrimas
grossas caíam sobre as minhas bochechas, fechei os olhos por alguns segundos, tentando
entender o motivo de todo o acordo ter virado um terrível pesadelo. Depois do sim no altar as
coisas se transformaram e eu já não reconhecia mais o Théo, o homem cavalheiro que ele me
mostrava já não existia mais e tudo que eu conseguia enxergar em seus olhos era raiva e
desprezo.
Naquele dia se iniciou um verdadeiro inferno, nós dois nos encontrávamos apenas nas
horas das refeições, eu não podia sair e me sentia uma verdadeira prisioneira naquela enorme
mansão. Um mês se passou e tudo que eu mais queria era voltar para minha casa, esquecer
aquele contrato e nunca mais olhar para cara de Théo.
No banho, ficava algum tempo ouvindo o barulho da água caindo no chão enquanto
flutuava em meus pensamentos, era um jeito que tinha encontrado de me manter lúcida naquela
prisão. E, ao sair do banheiro, eu olhei para a cama, vendo uma enorme caixa na cor vermelha,
andei até ela com o roupão em meu corpo, parei de frente, puxando o enorme laço, eu não tinha
visto quem tinha deixado aquele objeto ali e, para falar a verdade, não me importava com aquele
fato. Ao retirar o laço, eu pude ver um lindo vestido preto, com decote V e uma fenda ao lado,
algo luxuoso e refinado.
— Vista-o. — Olhei para trás, vendo Théo me encarar.
— E seu eu não quiser? — protestei, cruzando os braços.
— A cláusula cinco dizia que você tem que me acompanhar em todos os eventos, e hoje
temos uma festa para ir.
— Ma, todos pensam que ainda estamos viajando.
Sorrindo, ele se aproximou de mim, e levou sua mão direita até minhas bochechas, as
acariciando.
— Seus pais pensam isso, mas as pessoas importantes para mim sabem muito bem que
estou em Londres e que hoje vou participar de um grande evento ao lado da minha linda esposa.
— Como pode falar assim? Meus pais te tratam como um filho e …
— Eu não sou filho deles — gritou. — Agora faça o que estou mandando, fique pronta e
sorria, minha esposa troféu precisa parecer feliz.
Eu queria gritar e esmurrar o seu peito de raiva, ele era tão gentil antes do maldito
casamento, e agora tudo estava mudado. Théo saiu do quarto, me deixando sozinha novamente,
me sentei sobre a cama frustrada, eu tinha sido enganada, assinado um contrato de casamento
iludida por um homem bondoso e agora tudo que me restava era ser sua esposa troféu obediente.
Me levantei da cama, segurando o vestido, eu precisava ser forte e seguir com o plano, meus pais
precisavam de mim, e eu não iria decepcionar os dois. Fui até a penteadeira, pegando todas as
minhas maquiagens e comecei a me arrumar, ficando belíssima para ele, mesmo que meu
coração estivesse doendo, mas, na minha face, teria um belo sorriso.
Arrumei minha gravata enquanto um dos empregados me entregou um copo de uísque, eu
precisava beber depois daquele longo mês maltratando e humilhando Olívia. Vê-la chorar me
doía por dentro e, quando eu a vi com aquele homem, meu sangue ferveu e, mesmo sabendo que
aquele casamento era de mentira, eu exigi que ela não se encontrasse mais com ele, não queria
que todos falassem que minha mulher foi vista com outro. Olhei para a escada, a vendo descer os
degraus, encantado com sua beleza, eu sentia meu coração disparado e minha boca seca enquanto
ela se aproximava, e eu não saía do lugar, tão linda que parecia uma verdadeira obra de arte.
— Théo, o que está olhando? — Saí dos meus devaneios, piscando algumas vezes,
petrificado era como eu estava com tamanha perfeição. Olívia estava com os cabelos soltos, seu
decote mostrava bem seus seios fartos e as curvas do seu corpo eram marcadas pelo tecido do
vestido. Naquele momento, eu me amaldiçoei por ter deixado a vendedora escolher a peça.
— Você está deslumbrante — comentei, sem jeito. Ela colocou uma mecha do seu cabelo
para trás da orelha antes de sorrir, tomei um gole de uísque antes de colocar o copo sobre a
mesinha de canto ao nosso lado. — Vamos, hoje vou te apresentar aos maiores magnatas de toda
Londres, todos ficaram encantados com sua beleza.
Olívia passou sua mão pelo meu braço, caminhando comigo até a saída da mansão. Eu
sabia que ela não estava feliz com a situação que nos encontrávamos, deixá-la sozinha em nossa
lua de mel não foi certo, trancá-la na mansão e proibi-la de ver seu amigo tinha deixado a pobre
garota arrasada, mas era o plano, ela precisava sofrer para só assim eu consegui destruir os
Carter.
Ao entrar no carro, eu pude sentir ainda mais o seu cheiro, um toque levemente adocicado
e elegante, um perfume inesquecível que tinha ficado impregnado em minha cabeça.
— Eu preciso que você faça amizades com as mulheres dos homens que querem fechar
negócios estarão lá — disse, chamando sua atenção. — Elas vão perguntar sobre nosso
casamento e sobre o nosso futuro.
— Eles não vão achar estranho não estarmos de lua de mel?
— Não, todos sabem que sou um homem de negócios, ocupado demais para passar mais
de um mês me divertindo com minha esposa e que a empresa é mais importante do que tudo isso.
— Ah, claro, a empresa é mais importante que sua esposa. — Ela desviou o olhar.
— Uma esposa falsa, sim. — Dei de ombro. — Se fosse minha verdadeira mulher, por
quem eu tivesse sentimentos, eu largaria tudo para viajar por meses se ela me pedisse.
— Por que ama passar em minha cara que tudo é uma grande mentira? Você disse que
seríamos amigos, que poderíamos viver em paz, mas, assim me trouxe para mansão, começou a
me humilhar.
Mudei minha atenção para a estrada, ela não sabia das maldades que seu pai fez com a
minha família e muito menos que tudo não passou de um plano para acabar com eles.
— Vamos, me diga, Théo, por que mudou completamente?
Voltei a encarar seus olhos que estavam cheios de lágrimas.
— Eu não te devo nenhum tipo de satisfação, nosso acordo é claro, e você deve segui-lo
durante dois anos, caso contrário, perderá a sua preciosa empresa.
Oliva deixou uma lágrima cair sobre sua bochecha, sorrindo amargamente.
— Eu não entendo, não consigo entender, você me fez planejar nossa viagem, idealizar
uma vida a dois como bons amigos para, no final, me tratar como um negócio.
— Pare de me exigir algo que não existe, Olívia, é tudo uma grande mentira e, desde o
início, você sabia disso.
— Mas, um mês atrás, você me tratava bem, me levou até em um parque, me deu rosas. —
Levantou o anel de diamante. — Até escolheu um lindo anel para mim.
— Eu deveria ter colocado uma cláusula no contrato com as horas que você deve falar,
nunca vi uma pessoa tão irritante.
Ela sorriu amargamente, balançando a cabeça de um lado para o outro antes de voltar a
olhar para a estrada, eu sentia sua dor e aquilo não me deixava feliz, na verdade, me corroía por
dentro.
Ao chegarmos à enorme mansão de um grande magnata do ramo de bebidas alcoólicas, eu
abri a porta para que ela descesse do carro e estendi minha mão, mas Olívia não segurou, então,
com fúria, eu me curvei perto do seu ouvido.
— Lembre-se, você é minha esposa troféu e precisa seguir à risca o contrato. — Sorrindo,
ela segurou minha mão, eu sabia que, por dentro, Olívia estava me odiando, e eu mesmo me
sentia incomodado com tudo aquilo.
— Sim, senhor. — Fez continência, ela conseguia me tirar do sério.
Nós dois caminhamos até o local e, sorrindo, eu estendi a mão para os homens ao nosso
redor, pessoas importantes, assim como eu, que colocavam os negócios na frente de tudo e todos.
— Olha só, finalmente vamos conhecer a famosa Olívia — um dos velhos falou, ele era
casado com uma garota vinte anos mais nova do que ele, um verdadeiro escroto que sorria com
desejo para minha mulher. — É uma honra. — Deu um beijo em sua mão.
— O prazer é todo meu. — Olívia sorriu para ele, mas puxei seu braço, a fazendo dar
alguns passos para trás.
— Vamos, preciso te apresentar a outras pessoas — disse, puxando minha mulher para
longe daquele velho.
Andamos pelo salão cumprimentando mais algumas pessoas, por todos os lados que
passávamos os homens tinham seus olhares em Olívia com desejo e isso estava fazendo o meu
sangue fervilhar. Deixei-a por alguns minutos conversando com as mulheres deles enquanto eu
falava sobre alguns contratos com um dos meus sócios. De olho nela, eu pude notar mais uma
vez o velho sorrindo para Olívia, rapidamente fui até eles, puxando seu braço para longe de
todos, indo para um canto da sala. Eu estava furioso e, se mais um daqueles caras sorrisse para
ela, eu explodiria ali mesmo.
— O que você está fazendo? — quis saber. — Eu estava fazendo amizades como você
mandou.
— Aquele maldito velho não tira o olho de você — quase gritei, tentando afrouxar a
minha gravata, estava sufocado, andei de um lado para o outro, furioso. Depois que Olívia entrou
em minha vida, eu vivia de cabeça quente.
— Que velho? Do que está falando? — Passei minha mão ao redor da sua cintura,
fechando os olhos enquanto sentia o seu cheiro. — Me solte, Théo.
— Por que você tem que ser tão linda? Esse seu cheiro…
— Me largue. — Ela me empurrou para longe. — Você é louco, mudou da água para
vinho, me deixou trancada por um mês naquela maldita mansão e agora está aqui, dizendo que
um velho com idade para ser meu pai está de olho em mim.
— Se fosse apenas aquele filho da puta — dei alguns passos para trás —, mas não, todos
os homens desse lugar têm olhos em você. — Tirei meu blazer, o entregando para Olívia —
Coloque, esse decote está muito chamativo.
— Não, eu não vou colocar o seu blazer, e o vestido foi escolha sua.
— Teimosa, você tem que me obedecer, Olívia.
— Ou o quê?
Soquei a parede atrás de mim, tentando manter a calma, ela era um furacão que me
deixava completamente sem equilíbrio.
— Vamos embora — falei, puxando sua não.
— Eu quero ficar, faz um mês que não saio daquela mansão, por favor, Théo. — Seus
olhos eram de súplica. — No contrato, não dizia que eu me tornaria uma prisioneira.
— Se você for embora agora comigo, amanhã poderá sair para onde quiser.
— Jura? Não está tentando me enrolar?
— Juro, agora coloque o meu blazer e vamos embora.
Quase arrastada por mim, Olívia me seguiu até a saída da mansão e, a contragosto, ela
entrou no carro, cruzou os braços e virou a cara para a janela do carro. O caminho até a minha
casa foi em silêncio, minha mulher estava irritada pela minha atitude e mais ainda por ficar mais
uma vez trancada na mansão.
— Não precisava de tudo aquilo, eu estava começando a me divertir e as mulheres dos
seus amigos são legais.
— Eles não são meus amigos, são apenas homens de negócios.
Deu de ombro, passando em minha frente, ela era petulante, uma fera indomável que me
daria muito trabalho durante os dois anos de contrato.
— Amanhã eu chamarei meu amigo para curtir a piscina comigo, e você nem ouse proibir,
não depois do vexame que me fez passar.
— Vexame? — protestei. — Estou apenas zelando pelo meu nome, acha que as mulheres
dos homens que estavam lá não perceberam? Elas vão falar que você estava com um vestido
muito chamativo e que isso atraía os olhares dos maridos delas.
Ela parou de andar furiosa e voltou, ficando de frente para mim, seu narizinho empinado e
suas bochechas levemente avermelhadas mostravam o quanto Olívia estava furiosa e, para falar a
verdade, eu gostava de vê-la assim.
— Foi você que escolheu essa merda de vestido — gritou — e, se está tão incomodado
com ele, pois bem... — Com fúria, ela começou a se despir na minha frente.
— Que merda está fazendo? — Me virei para não a ver nua, ela era louca.
— Tirando a porra do seu vestido. — Olívia jogou sobre mim, me fazendo encará-la. Ela
correu para longe, subindo as escadas, mesmo que eu quisesse resistir, não consegui, olhei para
seu corpo, me fazendo ficar completamente duro por ela.
— Inferno — gritei, correndo atrás da minha esposa, e subi as escadas, indo direto para
seu quarto. Antes que ela pudesse bater a porta, eu segurei seu braço. — Você vai me
enlouquecer, esse vestido foi um presente e é seu. — Entreguei para ela, mas Olívia jogou sobre
o chão.
— Eu não quero, você disse que ele é vulgar demais e que todos vão falar, de agora em
diante, usarei burca.
Olhei em seus olhos, sentindo todo meu corpo queimar, ela era atrevida, petulante, teimosa
… ah, eu queria gritar, ela deveria me obedecer, e não me afrontar assim.
— Pare de me olhar — pediu, respirei fundo, olhando para o chão e, antes mesmo de
raciocinar, voltei a olhar para ela, puxando seu corpo para perto do meu.
— Eu não consigo — disse, antes de beijar sua boca, o beijo era intenso, diferente de
todos os outros, não era apenas encenação, eu queria beijá-la.
Ao nos separar, eu encarei seus olhos, me lembrando da verdade sobre todo aquele
contrato, ela é a filha do homem que quero destruir. Voltando à realidade, eu larguei seu corpo,
correndo o mais rápido possível, estava fora de mim e precisava ficar longe de Olívia. Baguncei
os meus cabelos, indo direto para o meu escritório.
Que merda eu fiz?
Fechei a porta do quarto, deslizando sobre a madeira gelada até cair no chão, e passei os
dedos em meus lábios, ainda sentindo o gosto dele. Théo tinha me beijado, mas, dessa vez, era
real, não era apenas uma mera ilusão, ele me beijou por vontade própria. Fechei os olhos,
tentando entender o pesadelo que minha vida tinha se tornado. Ao assinar o contrato, eu comecei
a viver uma enorme mentira apenas para ajudar a minha família, mas sentia que algo dentro de
mim estava diferente. Levantei-me do chão, me arrastando até a cama, e fechei os olhos tentando
entender a confusão que eu tinha me metido e o motivo de eu não conseguir tirar Théo Philips
dos meus pensamentos.
Ao amanhecer, eu despertei mais uma vez no enorme quarto, sozinha e, com a cabeça a
mil, eu me sentia perdida, passei as mãos em meu cabelo antes de perceber que eu tinha dormido
apenas com a lingerie da noite passada e isso me fez lembrar do beijo de Théo, dele vendo meu
corpo seminu enquanto eu corria para me esconder, aquilo era uma verdadeira bagunça.
— Senhora, Olívia — a empregada bateu na porta, chamando minha atenção —, o seu
amigo Luke está aqui para vê-la.
Pulei da cama, correndo para dentro do meu closet, e vesti um roupão antes de abrir a
porta, fazia um mês que eu tinha visto meu amigo e estava morrendo de saudades.
— Diga a ele que já estou descendo — falei assim que abri a porta, eu não tinha mandado
mensagem para ele, mas sabia que Théo estava por trás daquela visita, pois ele tinha me feito a
promessa que eu poderia encontrá-lo.
Rapidamente entrei no banheiro para tomar um banho e escovar os dentes, prendi meu
cabelo em um rabo-de-cavalo, colocando um short jeans e um biquíni, eu aproveitaria uma tarde
na enorme piscina daquela mansão. Ao descer as escadas, eu corri para os braços de Luke, meu
amigo me apertou, sorrindo.
— Que saudade — falei, me afastando — e que bom que está aqui.
— Seu marido mandou me buscar, pensei que fosse um sequestro — brincou.
— O que ele te disse? — Puxei meu amigo até o sofá da sala para nos sentarmos.
— Só disse que você estava à minha espera.
Abracei mais uma vez o meu amigo, um mês sozinha naquela mansão me deixou
desolada, tão sozinha e desamparada.
— Oh, Luke, eu nem acredito que está aqui.
— Olívia, o que está acontecendo? Você não me parece feliz.
Sorrindo amargamente, eu me levantei do sofá, andando de um lado para o outro, minha
cabeça estava confusa demais com toda aquela situação.
— Théo mudou completamente, ele se transformou em outra pessoa e ontem ele …
Meu amigo quase pulou do sofá, vindo até mim, e segurou meu braço.
— O que ele te fez? Eu vou acabar com a raça daquele filho da puta.
— Ele me beijou, Luke, mas dessa vez foi um beijo verdade, estávamos sozinhos.
Luke soltou uma gargalhada, voltando a se sentar no sofá.
— Você está reclamando por causa de um beijo daquele homem? Olívia, se eu ganhasse
um beijo de Théo, eu acabaria implorando por uma foda.
— Não podemos nos envolver, é apenas uma grande mentira, e isso tudo está me deixando
confusa, sem contar que ele me deixou presa durante todo esse tempo.
— Esse contrato foi uma grande loucura, mas agora você tem que aguentar até fim o dele
e, para isso, vocês precisam ter uma boa convivência e agradá-lo. — Sorrindo, ele me encarou.
— Por que não tenta fazer um jantar essa noite? Cozinhe para ele, coloque uma bela roupa e dê
um voto para os dois.
Coloquei minhas mãos na cintura pensativa, Luke estava certo, seria dois anos ao lado de
Théo e, se eu quisesse suportar todo aquele tempo, precisaria ter uma convivência agradável e
talvez a sua ideia não fosse tão ruim.
— É uma boa ideia, não que seja a melhor cozinheira do mundo, mas, pelo menos, uma
boa macarronada eu sei fazer. — Sorrindo, eu puxei sua mão para que ele se levantasse do sofá.
— Agora vamos curtir a piscina, estou há um mês nessa mansão e não aproveitei nada dela.
— Eu não trouxe roupas de banho — comentou.
— Vou mandar providenciar uma para você.
— Poderosa a senhora Philips, cheia de empregados aos seus pés.
Meu amigo se curvou, me fazendo soltar uma gargalhada, só ele para me fazer sorrir e
esquecer todos os problemas que eu tinha me metido.
Era de tarde quando nós dois curtimos juntos a piscina, até Théo aparecer, ele não estava
com uma cara muito boa e, quando percebi sua presença, saí dos braços de Luke, que tentava me
colocar sentada na borda da piscina.
— Acho que já está na hora do seu amigo ir embora — comentou, colocando suas mãos
dentro do bolso de sua calça.
Olhei para meu amigo, que sorriu, ele me dizia que tudo aquilo era ciúmes, não acreditava,
até mesmo porque Théo e eu não temos nada além de um contrato.
— Eu já estava de saída, preciso chegar em casa cedo para organizar umas coisas para
minha mãe — Luke falou, saindo da piscina, e caminhou até as poltronas ao nosso lado, pegando
uma toalha em suas mãos.
— Vou te esperar lá na sala — disse, me deixando a sós com Théo.
Caminhei em passos lentos, subindo os degraus da piscina enquanto jogava o cabelo, meu
marido já estava com a toalha em suas mãos para me embrulhar.
— Precisa usar um biquíni tão pequeno?
— Ultimamente você só sabe implicar com tudo que visto — protestei. — Mesmo que eu
usasse uma burca para entrar na piscina, você ainda ficaria incomodando.
— Não quero dar motivos para os empregados falarem, você é minha esposa.
Revirei os olhos, arrumando a toalha, e passei sobre o meu corpo, caminhando para longe
dele. Théo veio atrás de mim protestando, ele era realmente irritante.
— Chega — falei, me virando para encará-lo. — Vamos parar com essa briga boba e
voltar a ser amigos. — Coloquei a mão direita sobre seu peito, encarando seus olhos. — Como
um voto de paz, farei um belo jantar essa noite para nós dois.
— O que pretende com isso? — perguntou, olhando para minha mão em seu peito.
— Paz, eu quero ter uma boa convivência com você, Théo, vamos ficar juntos um longo
tempo e será melhor se formos amigos.
— Vou pensar — falou, tirando minha mão do seu peito e caminhando para longe de mim.
Respirei fundo, tentando manter a calma para não gritar com ele, aquele homem tinha o
poder de me tirar do sério e provavelmente sua missão na terra era infernizar a minha vida.
Depois que meu amigo foi embora, eu tomei um banho e corri para a cozinha. Com a
ajuda de uma das empregadas, eu comecei a preparar o nosso jantar, eu não era uma Masterchef,
mas minha mãe tinha me ensinado alguns dotes culinários.
Passei horas arrumando tudo, depois que a mesa estava posta, eu me arrumei, esperando
por Théo, olhei para tela do celular, vendo a hora, já passavam das sete da noite e ele ainda não
tinha chegado, nem ao menos mandado uma mensagem. Arrumei o jarro de flores no meio da
mesa pela décima vez, os talheres estavam perfeitamente postos ao lado dos pratos, então, passei
a mão em meu vestido tubinho azul antes de sentir o hálito fresco da minha boca, tudo perfeito.
— Senhora, que horas podemos começar a servir a comida?
Olhei para a empregada com a taça de vinho em minhas mãos, já passavam das dez da
noite, e eu sabia que o expediente de todos tinha acabado.
— Estou esperando meu marido. — Sorri amargamente. — Podem ir embora, eu mesmo
servirei o jantar.
— Certo, senhora. — Sorriu. — Tenha uma ótima noite.
Enquanto a mulher se distanciava, eu olhava para a sala vazia. No fundo do coração, eu
ainda tinha esperado que Théo aparecesse com uma desculpa esfarrapada, que tivesse a decência
de me dar uma explicação, mas já era tarde demais e eu não ficaria mais ali, a sua espera.
Me levantei da cadeira que estava sentada, tirando os brincos da orelha, assim como os
saltos, estava toda arrumada, idealizando uma noite totalmente diferente daquela. Com o coração
em pedaços, eu me arrastei até o meu quarto, me joguei sobre a cama e deixei as lágrimas
caírem, talvez aquela sensação fosse a pior que eu sentia em toda minha vida, um vazio se
infiltrou em meu peito e tudo que eu queria era acordar daquele maldito pesadelo.
Respirei fundo, segurando o celular em minhas mãos, eu queria ligar para os meus pais e
pedir que eles fossem atrás de mim, contar a verdade e relatar todo meu sofrimento, mas eu teria
que ser forte, por nossa família, eu aguentaria toda maldade que Théo estava fazendo comigo.
— Eu posso entrar? — Ouvi as batidas na porta, era ele.
— Vai embora — gritei.
— Só vim te dizer que amanhã você poderá retornar à empresa.
Sua voz era grossa, ele tinha esquecido do jantar, era por isso que me deixou esperando
por todo esse tempo.
— Você se esqueceu do jantar? — Théo ficou em silêncio por alguns segundos, enquanto
eu me levantei da cama, estava prestes a abrir a porta quando o ouvir falar.
— Não, eu só prefiro jantar em outro lugar, com outras companhias.
Mais lágrimas caíram sobre o meu rosto.
— Vai embora — gritei mais uma vez, ele tinha acabado de deixar bem claro que não
queria ter uma boa convivência.
— Boa noite, Olívia.
— Vá para o inferno — sussurrei enquanto me jogava mais uma vez sobre a cama.
Quando Théo Philips entrou em minha vida, eu encontrei nele um verdadeiro milagre,
alguém que nos ajudaria a sair do fundo do poço, mas agora eu estava percebendo que tudo foi
uma bela ilusão.
Aquele maldito beijo estava impregnado em meus pensamentos, tudo que eu conseguia
sentir era seu cheiro e pensar em sua pele suave e no seu corpo seminu com aquela lingerie
rendada, talvez fosse um castigo do destino meus sentimentos estarem tão confusos, ela é a porra
da filha do homem que destruiu a vida dos meus pais, e eu prometi, em seu túmulo, que
destruiria sua família, e isso incluiria Olívia. Entrei em meu carro furioso, vê-la apenas de
biquíni com seu amigo fez meu sangue ferver, ele sorria para ela e segurava em seu corpo.
Soquei o volante do carro antes de bagunçar os meus cabelos, estava fora de mim com aquela
situação. Depois de tudo que fiz com Olívia, ela ainda estava tentando ter uma boa convivência
comigo e não era esse o plano, a garota deveria estar chorando pelos cantos, cabisbaixa e
cogitando a possibilidade de desistir do acordo, mas não, tão teimosa.
Girei a chave, dirigindo direto para um pub longe da mansão, fugindo mais uma vez de
algo que eu não conseguia explicar, tudo era uma grande mentira, e eu não podia envolver
nenhum tipo de sentimento naquela vingança, além de ódio e rancor.
— Uma dose de uísque — pedi assim que me sentei de frente ao barman.
— Aqui está — disse, despejando o líquido quente dentro do copo.
— Ela vai me enlouquecer — pensei alto, tomando de uma única vez o líquido, ele descia
queimando a minha garganta. — Ainda decidiu fazer um jantar para mim.
— O que disse, senhor?
— Nada, apenas encha o meu copo.
Fechei os olhos, voltando a beber, aquele álcool deveria me fazer esquecê-la, mas não,
Olívia continuava em minha cabeça, como uma doença me deixando cada vez mais doente. Olhei
para o Rolex em meu pulso, me dando conta que já tinha se passado da hora do jantar, ela
provavelmente estaria a minha espera, mas eu não poderia ir, não se eu quisesse continuar com o
plano, magoá-la não era uma opção, e, sim, um dever, ela precisava sofrer para que Willian
perdesse sua empresa. Fiquei mais duas horas tomando algumas doses de uísque enquanto ouvia
as histórias de alguém qualquer que se sentava ao meu lado, uma loira de pele clara, com
aparência de seus vinte e cinco, bonita e elegante.
— Por que um homem tão bonito como você está sozinho a essa hora da noite? — Olhei
para o copo em minhas mãos, tentando manter a calma, eu não queria conversar, nem dar
atenção a outra mulher que não fosse Olívia. Por mais que fosse um casamento de mentira, com
o único intuito de eu ter a minha vingança, era contra minha índole traí-la, não seria capaz de tal
coisa.
— Eu tenho certeza de que isso não é da sua conta — rude, eu falei para que ela se tocasse
que eu não estava apreciando sua presença.
— Grosso, deve ser por isso que está sozinho. — Ela colocou a mão em meus ombros. —
Talvez você precise relaxar, minha casa é a duas quadras daqui.
Tirei sua mão de cima dos meus ombros e encarei seus olhos, pensando que ela só poderia
ter um QI baixo para não me entender.
— Pelo que vejo, você é burra demais para entender. — Me levantei da cadeira que estava
sentado. — Nem se você fosse a última mulher do planeta, eu iria com você para sua casa, vou
relaxar em minha casa, com minha esposa.
Rapidamente, eu joguei algumas notas sobre a mesa para pagar a bebida que tinha
consumido antes de caminhar para longe da loira, eu iria para minha casa, encarar a mulher que
não sai dos meus pensamentos, mas que é algo impossível para mim.
Ao chegar na mansão, eu pude ver a mesa de jantar posta, ela tinha feito tudo para mim,
para tentar ter uma relação amigável comigo, mesmo eu tendo a trancado durante um mês
naquele lugar. Oliva era diferente do que eu pensei, uma mulher forte e determinada, ela não
cederia tão fácil assim a quebra do contrato. Andei até as escadas, subindo nelas com as mãos
dentro do bolso, e respirei fundo, levantando uma das mãos e dando algumas batidas na porta do
seu quarto.
— Eu posso entrar? — perguntei, sabendo a resposta óbvia que ela me daria.
— Vai embora — gritou e, pela voz, ela estava chorando.
— Só vim te dizer que amanhã você poderá retornar à empresa — falei algo sem
importância para aquele momento, mas a verdade era que eu queria vê-la e saber como ela, de
fato, estava.
— Você se esqueceu do jantar? — Fiquei em silêncio por alguns instantes, pensando na
resposta que eu lhe daria, meu coração gritava para me desculpar, mas meu cérebro me lembrava
sempre do plano, da minha vingança e de como eu tinha que machucá-la.
— Não, eu só prefiro jantar em outro lugar, com outras companhias. — Fechei os olhos
com a testa sobre a madeira fria da porta, eu queria sentir seu cheiro.
— Vai embora — gritou mais uma vez.
— Boa noite, Olívia.
— Vá para o inferno.
Coloquei a palma da minha mão na madeira enquanto me segurava para não tentar entrar
naquele quarto, e me rastejei para longe dali, o meu coração estava doendo e eu me sentia
péssimo com o que estava fazendo com Olívia. Ao entrar no meu quarto, eu me sentei na
poltrona com o meu celular em minhas mãos. Ao abrir as mensagens, eu pude ver uma do meu
tio, ele me perguntava como estava indo o plano e se eu já tinha colocado a garota no seu devido
lugar.
— Merda. Por que esse aperto no peito? — pensei alto, afrouxando a gravata. — Por que
Olívia não sai dos meus pensamentos?
Queria ter as respostas, mas tudo que eu sentia era uma guerra em meu coração, como se
nada daquilo fosse passar, como se o plano que fiz por anos já não fosse tão simples assim de ser
executado.
Fiquei por algum tempo na poltrona, tentando entender tudo à minha volta até pegar no
sono, estava cansado e só queria me perder em meus sonhos, onde Olívia sempre aparecia com
seu sorriso encantador.
— Théo. — Ouvir a sua voz me fez despertar. — Você já está pronto?
Olhei para a porta do meu quarto, a vendo toda arrumada, finalmente voltaríamos para a
empresa, e ela poderia encontrar seus pais depois de um mês em que eles achavam que
estávamos nas Maldivas, todavia, a verdade é que não tínhamos saído de lua de mel, nem
aproveitado um mês longe de Londres, estávamos bem ali naquela mansão.
— Eu vou tomar um banho — Me levantei da poltrona.
— Você dormiu sentado? — questionou, arqueando uma das sobrancelhas.
— Isso não importa. — Passei sobre ela, indo até o banheiro.
— Vou te esperar lá embaixo.
Tomei um banho rapidinho, troquei de roupa e depois desci as escadas até chegar na sala
principal, Olívia estava sentada na mesa, tomando café quando puxei uma cadeira, me sentando
ao seu lado, ela não dirigiu seu olhar para mim, mas eu sabia que ainda estava magoado pelo
jantar da noite passada.
— Mais tarde irei para casa dos meus pais — disse, levando uma xícara de café a sua
boca.
— Certo, eu passarei para te pegar assim que terminar a última reunião do dia.
— Não precisa, eu vou dormir essa noite na casa deles, faz um mês que não os vejo e …
— Você voltará para casa. — Ela me encarou furiosa, eu não ficaria sem Olívia.
— O quê? Eu não sou sua prisioneira, assinei aquele maldito contrato, mas nele não dizia
em nenhum momento que viveria em cárcere privado, muito menos que não poderei dormir fora
um dia.
— Não estou te mantendo como prisioneira, você sabe muito bem que o mês que passou
distante dela foi para que os seus pais acreditassem na nossa viagem.
— Que jogo doentio é esse, Théo? Me diga, o que quer de mim?
Olívia se levantou da mesa furiosa e deu alguns passos para trás, como se quisesse ficar o
mais longe de mim.
— O contrato era simples, nós dois seríamos amigos, teríamos uma boa convivência, você
teria uma esposa para desfilar por aí e eu teria a empresa do meu pai de volta com seus dias de
glória, mas o que está acontecendo aqui é um verdadeiro pesadelo.
Me levantei da cadeira, limpando o canto da minha boca com o guardanapo, olhei para ela
vendo seus lábios trêmulos e seus olhos cheios de lágrimas e senti um aperto no peito e uma
louca vontade de abraçá-la.
— Não precisa ficar tão nervosa assim — preocupado, eu falei, me aproximando dela,
aquela guerra que estava travando em meu peito me deixava confuso. — Está tremendo.
— Você me deixa assim, eu não consigo entender como você pode mudar da água para o
vinho, nós dois tivemos dias incríveis antes do casamento, sempre foi um cavalheiro e agora isso.
Dei dois passos para frente, pegando sua mão, ela estava gelada e, quando a vi deixar
algumas lágrimas cair, não conseguir resistir, puxei o corpo de Olívia para os meus braços,
sentindo o seu perfume, eu estava indo contra tudo que meu tio me orientou, contra os nossos
planos e deveres.
— Calma, não fique assim.
— Como não, Théo? Eu assinei um acordo com você com a ilusão de que seríamos
amigos.
Encarei seus olhos, acariciando suas bochechas, tão linda.
— Olívia, eu …
Não consegui completar a frase, estava louco para sentir o sabor seu beijo novamente,
nossas línguas se encontraram enquanto eu segurava seu rosto, insanas e quentes, meu corpo
inteiro estava implorando por ela, nunca tinha me sentido assim antes e, mesmo que eu tentasse
lutar contra tudo que se passava em meu coração, Olívia estava cada vez mais me
enlouquecendo.
— Théo, me solte — gritou ela, me empurrando. — Isso está errado. — Apontou para ela
e depois para mim. — Nós dois, é tudo uma grande mentira e não podemos nos envolver.
— Acha que não sei disso? — Baguncei os meus cabelos, andando de um lado para o
outro, fora de mim. — Porra, essa merda está mexendo com minha cabeça.
— Eu vou dormir na casa dos meus pais essa noite — afirmou, pegando a bolsa sobre a
cadeira, segurei sua mão, fazendo Olívia me encarar.
— Não, você vai dormir na nossa casa.
Sorrindo, ela puxou seu braço.
— “Nossa”? Sua casa, Théo, você está sempre deixando bem claro para mim que tudo não
passa de uma grande mentira e agora está me deixando confusa.
— Por favor, me deixe te buscar mais tarde e levá-la para um jantar, devo me redimir pelo
jantar da noite passada.
— Eu …eu … — Ela me encarava.
— Apenas aceite, Olívia.
— Tudo bem, mas é a última vez que te darei um voto de confiança.
Sorrio, eu não sabia o que estava fazendo, mas queria passar a noite ao seu lado,
conversando e esquecendo um pouco daquela vingança, vendo Olívia como apenas a minha
mulher, e não a pessoa que eu precisava destruir. Segurei em sua mão, a puxando para os meus
braços novamente, sentir o seu perfume era como estar no paraíso e isso me fazia esquecer de
quem ela era filha, meu coração estava acelerado, minhas mãos suadas e uma sensação estranha
em meu peito. Olívia era uma doença que se infiltrou dentro de mim e que agora eu lutava para
não me entregar aqueles sintomas que apareciam com frequência todas as vezes que ela se
aproximava.
— Seu cheiro — fechei os olhos, sentindo seu perfume —, como eu faço para esquecê-lo?
— Não podemos, Théo.
— Você não quer? — Encarei seus olhos, mandando um belo foda-se para tudo aquilo.
— Se eu disser que não, mentirei.
Dessa vez Olívia que se atreveu a me beijar, segurei seus cabelos enquanto nossas línguas
se encontravam mais uma vez, era diferente de todas as outras, e eu me condenava por naquele
momento eu ter derrubado as barreiras por alguns instantes.
Ele estava tão perto, senti meus pelos do corpo se arrepiados e uma eletricidade passar por
nós, era intenso, algo que não deveria estar acontecendo, mas que não conseguia resistir. Théo
me deixava completamente perdida, sem conseguir entender os seus sentimentos por mim. Uma
hora ele era um cretino e, em outras, um perfeito cavalheiro, me deixando entregue em seus
braços, muito antes daquele beijo, talvez até antes de eu assinar o contrato. Depois do nosso
beijo, fomos direto para empresa, tudo estava diferente, as advogadas me abraçaram dizendo que
sou sortuda por tê-lo como marido, e isso me constrangia, eram tantas mentiras que eu estava
suportando. No final do expediente, eu peguei um Uber para ir até os meus pais, estava com
tantas saudades que, ao ver minha mãe na sala, eu corri para os seus braços, os dois pensaram
que eu tinha acabado de chegar da nossa viagem, mas a verdade é que tudo era uma mera ilusão,
algo que eu teria que manter durante dois anos e que agora estava ficando cada vez mais confuso.
— Que saudade, filha. — Depois de um longo abraço, minha mãe me puxou para me
sentar no sofá da sala, meu pai ainda não tinha chegado da empresa. — Como foi? Me conte
tudo?
— Foi bom. — Dei de ombro, sorrindo amargamente. — Nem acredito que estou aqui
com você.
Minha mãe acariciou as minhas bochechas, encarando os meus olhos, eu queria contar a
verdade, dizer que tinha me metido em uma confusão, mas que logo poderia ajudar a nossa
empresa a sair do buraco.
— Filha, eu sei que deve ter sido difícil passar um mês longe de nós, mas você está casada
agora e feliz com o homem que ama.
Coloquei minha mão sobre a sua.
— Você está certa, mamãe, estou casada com o homem que amo. O que mais poderia
querer? — Manter aquela mentira era doloroso para mim, ainda mais sabendo que não existia
amor entre mim e Théo, talvez uma química, mas amor, não.
— Um filho, quem sabe? — Sorriu, me levantei do sofá, negando com a cabeça, o sonho
da sua vida era ser avó, mas eu não me imaginava sendo mãe, muito menos em um acordo
fadado ao término.
— Mãe, eu acabei de me casar. — Antes que ela pudesse responder, meu pai apareceu na
porta, olhei para ele, sentindo meu coração disparar, e corri para os seus braços, deixando
algumas lágrimas caírem. Era por ele que eu tinha assinado aquele contrato, por ele que eu estava
suportando tudo.
— Eu também estava com saudades — brincou ele ao se afastar de mim e olhou para o
meu rosto cheio de lágrimas, arqueando uma sobrancelha — Por que está chorando?
— Só saudades, apenas isso.
Se ele soubesse de tudo, de como passei um mês distante, sozinha naquela mansão, triste e
desamparada.
— Tem certeza? — Meu pai não era bobo, ele me conhecia bem para saber que algo não
estava certo.
— Sim, está tudo bem. — Sorrio.
Nós três ficamos sentados na sala conversando, eles perguntaram sobre Théo, e eu menti,
dizendo que ainda estava trabalhando, mas, na verdade, não sabia onde meu marido estava.
— Fique para o jantar, querida — minha mãe falou antes de eu pegar minha bolsa sobre o
sofá.
— Não posso, mamãe, prometi ao Théo que jantaria em casa.
— Chame ele, quero mesmo bater um papo com meu genro a respeito de alguns negócios
— disse meu pai.
— Prometo que outro dia marcarei algo, mas agora eu preciso ir.
Me despedi dos dois, pegando meu celular dentro da bolsa, nele tinha algumas mensagens
de Théo e, para minha total surpresa, ele tinha mandado o seu motorista me buscar. Ao chegar na
mansão, eu desci do carro, indo direto para dentro e, ao entrar, eu o vi arrumado com uma taça
de champanhe em suas mãos, ele sorriu, fazendo meu coração disparar.
— Boa noite, esposa, eu estava à sua espera.
— Théo. — Ele caminhou para perto de mim e colocou a taça sobre uma mesinha de canto
antes de me encarar.
— Essa noite, eu quero que você se esqueça de tudo, apenas seremos só nós dois, duas
pessoas normais conversando e rindo de coisas aleatórias.
— O que quer com tudo isso? — questionei enquanto Théo acariciava os meus cabelos.
— Para falar a verdade, eu não sei, estou confuso.
Foi tudo que ele disse antes de me beijar, eu não sabia o que estávamos fazendo, era uma
loucura, mas meu coração implorava por mais, eu queria me entregar e deixar acontecer.
— Eu preciso tomar um banho e me arrumar. — Me afastei, sorrindo.
— Fique à vontade, mas não demore, não queremos que a comida esfrie.
Caminhei para longe dele, subindo as escadas, e olhei para trás, vendo-o voltar a tomar o
seu champanhe tranquilamente. Eu queria saber o que se passava em sua cabeça, descobrir o que
estamos fazendo juntos, mesmo sabendo que, no final, tudo terá um fim. Me arrumei
rapidamente, colocando uma roupa simples, porém, elegante, e sorrir antes de descer até a sala
principal, andei até a mesa onde Théo puxou uma cadeira para que eu me sentasse, agradeci,
sentindo minhas bochechas corarem, seus olhos nos meus fazia minhas pernas tremerem.
— Eu mandei preparar um prato que sou apaixonado — disse, pedindo para que as
empregadas nos servissem. — O nome dele é sunday roast, é um prato assado com cordeiro,
com batatas assadas e o melhor de tudo, um molho garvy.
— Parece delicioso — falei, olhando para o prato à minha frente —, mas não precisava de
tudo isso.
— Claro que precisava, eu te deixei esperando na noite passada.
Segurei um dos talheres, levando um pedaço do cordeiro até a boca e apreciei o delicioso
prato e, realmente , o molho dava um toque especial para aquela carne.
— Está maravilhoso — comentei, sorrindo. — Você contratou um chef?
— Não, fui eu mesmo que preparei tudo, por isso não fui te buscar na casa dos seus pais.
Deixei o talher sobre o prato, olhando para Théo, estava surpresa, ele sabia cozinhar e
tinha preparado tudo aquilo para mim.
— Parece surpresa.
— E estou, você sabe cozinhar. — Sorrindo, ele colocou sua mão sobre a minha.
— Eu sei de muitas coisas, Olívia.
Nosso jantar estava sendo agradável, parecia que realmente éramos um casal apaixonado,
marido e mulher em uma noite qualquer, apreciando a companhia um do outro.
— E você, o que fez? — perguntou Théo enquanto eu contava uma história da minha
infância.
— Parti para cima da garota, ela beijou o meu namoradinho.
Théo soltou uma gargalhada, me entregando uma taça de champanhe, já estávamos
sentados no sofá da sala com a lareira acesa, o inverno estava chegando e, com isso, o frio de
Londres.
— Não vejo você sendo boa de briga.
— Só porque sou pequena? — Dei de ombro, tomando um hoje da bebida. — Posso fazer
um belo estrago se estiver furiosa.
— Verdade? Me lembre de nunca te deixar nesse estado.
Ele estendeu sua mão pedindo, para que eu me levantasse do sofá, fiz o que ele pediu.
— Vamos dançar — comentou —, Alexa, tocar Sing of The, de Harry Styles.
— Você se lembra? — surpresa, eu perguntei, sentindo seus braços em minha cintura.
— Sim, você me disse isso na cantina da empresa, é uma das suas músicas favoritas. —
Encantada, segui seu corpo em uma dança lenta. — Tudo sobre você está guardado em meus
pensamentos e, mesmo que tente, eu não consigo parar de pensar em cada pequeno detalhe do
seu corpo.
— Isso, não vai dar certo. — Tentei me afastar do seu corpo, mas ele me impediu, me
puxando para um beijo calmo, enquanto a música tocava e a lareira nos aquecia. Eu sentia meu
coração disparar, eu estava tão entregue a ele e conseguia até esquecer da merda do papel que
assinamos.
— O que você fez comigo, Olívia? Parece que, quando estou longe de você, me falta o ar
e, quando estou perto, sinto que meu coração vai explodir.
— Não sei te dizer, porque eu sinto a mesma coisa.
Continuamos no meio da sala, dançando, sentindo os nossos corpos juntos em total
sintonia enquanto a melodia daquela música tocava, nos deixando cada vez mais próximos,
esquecendo do mundo fora daquela mansão.
— Eu vou dormir. — Me afastei dele, sorrindo.
— Eu te levo até o seu quarto. — Sorrindo, Théo me acompanhou até as escadas. Subimos
juntos até chegar à porta do meu quarto. — Boa noite, Olívia.
— Boa noite, Théo.
Ele me beijou mais uma vez, nos deixando completamente sem ar, meu corpo estava em
brasas e estava com medo de cair em tentação, não era como se eu fosse virgem, mas tudo estava
estranho dentro de mim, e talvez o sexo deixasse as coisas mais complicadas. Senti sua mão
descer até a minha bunda, ele apertou, se afastando da minha boca, nossas respirações estavam
aceleradas.
— Théo, isso pode deixar as coisas ainda mais confusas.
— Eu sei. — Se afastou, bagunçando seus cabelos castanhos. — Estou perdendo a cabeça.
— É normal, a gente se meteu em uma bela confusão. — Ele sorriu amargamente. —
Quem já se viu assinar um acordo de casamento?
— Bom, eu … preciso ir dormir. — Seu semblante mudou, ele caminhou para seu quarto.
— Obrigada pelo jantar — gritei antes de entrar em meu quarto e, ao fechar a porta, eu
deslizei sobre ela, sorrindo, estava nas nuvens com o que tinha acabado de acontecer e,
provavelmente, eu não resistiria por muito tempo, tudo se complicaria ainda mais.
Na manhã seguinte, nos sentamos juntos para tomar café, era engraçado pensar que
finalmente estavam bem, como dois amigos ou até mesmo como um casal.
— Comecei a analisar as finanças da sua família, com sorte, vou conseguir erguê-la.
— Isso é incrível, Théo, meu pai ficará feliz com essa notícia.
— Você sabe que ele não pode saber de nada, está no nosso contrato.
— Claro. — Segurei em sua, estava empolgada. — Mas isso me deixa muito feliz, aquela
empresa é tudo para minha família.
— Eu imagino. — Ele se levantou da mesa, indo até uma estante, e pegou uma caixinha
quadrada de veludo, sorrindo. — Comprei isso para você, quero que use essa noite, vamos até
um cassino com alguns sócios da minha empresa.
Me levantei assim que ele me entregou a caixa e, ao abrir, eu pude notar um lindo colar de
esmeraldas, era perfeito e provavelmente muito caro.
— É linda, mas, não posso aceitar. — Encarei seus olhos. — Deve ter sido muito caro e …
— É seu, você é minha esposa. — Beijou minha boca. — Minha esposa troféu — brincou.
— Eu prometo que estarei linda para você essa noite.
— Olívia, você é perfeita em todos os momentos. — Beijou mais uma vez minha boca
antes cheirar meu pescoço. — Seu perfume é viciante.
— Obrigada, Théo.
O que eu estava fazendo? Não, eu não podia ficar com ela, Olívia é a filha do homem que
destruiu os meus pais, eu prometi no túmulo deles que iria acabar com os Carter, e ela tem o
sangue deles, mas eu a quero, talvez seja apenas um desejo que passará quando eu a tiver em
minha cama, é apenas isso, uma química que terá fim logo que eu provar do seu gosto.
Caminhei até o meu escritório, me sentei em minha cadeira, vendo a papelada sobre a
minha mesa, eram tantos contratos para assinar e, mesmo que eu tentasse focar em todas aquelas
letras postas na minha frente, eu não conseguia, tudo que vinha em minha cabeça era a nossa
noite passada, o calor do corpo dela em meus braços e de como eu tive que me aliviar no
banheiro do meu quarto depois de deixá-la no dela.
Eu lutava contra o meu coração, contra os meus desejos e sabia que aquilo só teria fim
quando eu a provasse. As horas se passaram, fechei o meu notebook, vendo minha esposa na
porta do meu escritório, ela é perfeita demais, uma porra de uma doença que eu estava sendo
consumido.
— O que devo usar? — perguntou Olívia, chamando minha atenção, nós dois tínhamos
um evento para ir e só de pensar que aqueles velhos iriam babar em minha mulher, meu sangue
fervia.
— Uma burca? — Ela soltou uma gargalhada, estávamos chegando na mansão. —
Qualquer coisa que você usar ficará perfeito em seu corpo.
Ao encostar o carro, eu pude ver meu tio na entrada, nós dois tínhamos concordado que
ele ficaria distante, para todos, ele estava viajando e os Carter não poderia encontrá-lo, não
agora.
— Quem é? — perguntou Olívia.
— Ninguém importante, pode ir entrando na mansão, eu já te acompanho.
Descemos do carro, minha mulher foi para dentro, enquanto eu encarava meu tio. Que
porra ele estava fazendo ali?
— Ficou louco? Você me disse que, por enquanto, os Carter precisam pensar que está
viajando.
— Louco? — Colocou a mão dentro do bolso de sua calça, tirando um cigarro, e o
acendeu logo em seguida. — Ontem você não apareceu no meu apartamento e não respondeu às
minhas mensagens. — Apontou para mansão. — Essa garota me parece muito feliz para quem
está sendo desprezada pelo marido.
— Tio, eu estou seguindo o plano.
— Está mesmo? — Sorriu amargamente. — Lembre-se de tudo que aquele homem fez,
nossa família foi destruída pelo pai dela. — Me abraçou, sussurrando em meu ouvido.
— Eu sei de tudo isso, foram os meus pais que morreram.
— Ainda bem que se lembra, acabe com essa garota de uma vez por todas.
Ele saiu em passos largos, andando até o seu carro, baixei a cabeça respirando fundo
enquanto bagunçava meus cabelos, eu sabia o que fazer, todavia, meu coração pedia por ela, e eu
tinha a certeza de que tudo passaria depois de tê-la em minha cama, era apenas desejo… Desejo,
nada mais que isso.
Entrei na mansão, indo direto para o meu quarto, Olívia já está se arrumando para nosso
evento, enquanto eu pegava uma garrafa de uísque, bebendo um pouco da bebida quente, estava
confuso e perdido.
Depois de um tempo, eu me arrumei com um dos meus ternos caros e saí do quarto dando
de cara com minha mulher, ela estava com vestido vermelho e um decote V deixava evidente o
colar que eu tinha escolhido para ela, as alças eram finas, fáceis de tirar, esse pensamento fez
meu pau latejar dentro da minha calça, tive que me controlar para não a levar para o quarto e
mandar um foda-se para tudo.
— Théo, por que está me olhando assim? — questionou Olívia, pisquei algumas vezes,
voltando à realidade e mandando meus pensamentos sórdidos para longe.
— Estou encantado com sua beleza.
Suas bochechas ficaram coradas, mostrando que ela tinha ficado envergonhada, aquele seu
jeito me deixava ainda mais encantado.
— Podemos ir? — perguntei, estendendo a mão para que ela pegasse.
— Só me prometa que, dessa vez, não irá implicar com a minha roupa.
— A culpa não é da sua roupa, e, sim, dos homens que ficaram de olho nela. — Descemos
as escadas até chegar à entrada da mansão, um dos motoristas já estava à nossa espera, ele abriu
a porta do carro para que nós dois entrássemos.
— Bobagem, eles têm as próprias mulheres para olharem.
— Tem, mas nenhuma delas é tão bela quanto a minha mulher.
Coloquei uma mecha do seu cabelo atrás da orelha, eu estava entregue aos encantos de
Olívia e sabia que tudo passaria depois que a levasse para cama, o desejo me consumia e eu teria
que resolver esse problema para continuar com a vingança.
Não demorou muito para que chegássemos no evento, ajudei Olívia a descer, segurando
em sua mão, e caminhamos juntos até a entrada. Henry, um dos meus advogados e chefe do
departamento da minha mulher, já estava lá com sua esposa, uma bela loira que faria uma boa
companhia a Olívia enquanto eu conversava com alguns dos homens presentes.
— As ações subiram e tudo indica que o faturamento do ano que vem irá dobrar — um
dos meus sócios em uma das empresas falava enquanto eu olhava de longe a minha mulher,
Olívia conversava com a esposa de Henry.
— E quanto aquela empresa que o senhor investiu? — Olhei para Henry, sabendo de qual
empresa se tratava, da empresa da família Carter.
— O que tem ela?
— Pelo que eu analisei, foi um péssimo negócio, aquele lugar está falido.
— Nada que eu não consiga dar um jeito.
Todos sorriram, eles sabiam que eu era bom em fazer as empresas crescerem e gerarem
lucro, mesmo sendo uma empresa falida igual à dos pais de Olívia.
— Me deem licença — falei, caminhando para longe deles, não queria falar sobre
negócios, e, sim, ficar ao lado da minha mulher. Antes que eu chegasse perto dela, uma mulher
de olhos claros e cabelos escuros apareceu em minha frente, era a filha de um dos donos daquele
evento.
— Você é o Théo Philips — disse, apontando para mim, ela estava com uma taça de
champanhe em suas mãos e sorriu quando afirmei com a cabeça. — Meu pai fala muito sobre
você, disse que é um grande empresário, só não disse que é tão bonito. — Colocou uma das
mãos em meu peito, olhei para ela sorrindo.
— E casado — comentei, mas ela não se afastou, na verdade, se aproximou ainda mais.
— Eu não sou ciumenta. — Arqueei as sobrancelhas com a petulância daquela garota,
estava prestes a afastá-la quando senti o toque em minha cintura, olhei para trás, vendo minha
mulher marcando território.
— Meu amor, eu estava te procurando.
A garota tirou as mãos de mim, encarando Olívia.
— Não vai me apresentar a sua amiga? — O tom de voz dela não estava agradável, talvez
fosse ciúmes.
— Ela não é minha amiga e estava agora mesmo dizendo que sou casado, na verdade —
passei meu braço, puxando Olívia para mais perto de mim, e dei um beijo em sua boca —, muito
bem casado.
— Você o ouviu ou eu preciso esfregar em sua cara a nossa aliança? — Surpreso, eu olhei
para minha mulher, que tinha suas mãos na cintura, ela estava brava como eu nunca tinha visto
antes.
A garota nos olhou pela última vez de cima para baixo antes de dar meia-volta e sair.
Aquela atitude de Olívia fez meu pau endurecer, eu não aguentaria nem mais uma noite sem estar
dentro dela, sem sentir o calor do seu corpo.
— Vem, que se foda tudo. — Puxei-a para um corredor que dava acesso a alguns quartos
privados.
— O que está fazendo?
— Algo que eu sei que você também quer.
Tirei o cartão para abrir o lugar antes de beijá-la e entramos no quarto ainda nos beijando,
batendo nos móveis e perdendo o ar, loucos de desejo.
— Só uma vez — disse ela, se afastando de mim.
— Apenas uma única vez —concordei antes de jogar seu corpo sobre a cama com lençóis
pretos, tirei com delicadeza seus saltos, subindo até suas coxas, e passei as mãos por baixo do
seu vestido, tocando no fio de sua calcinha. Puxei para baixo a pequena peça de cetim vermelha,
tão pequena que não dava para cobrir quase nada, e levei até o meu nariz, sentindo o cheiro de
sua boceta. Porra! O melhor aroma de toda minha vida. — Como poderei esquecer esse cheiro?
— perguntei, fazendo Olívia me encarar com um sorriso safado em seu rosto. — Eu vou socar
em você tão fundo que você gritará por mais.
Encarei seus olhos enquanto minha mulher abria ainda mais as suas pernas.
— O que está esperando? Eu estou louca por isso.
Sorrindo, eu levei dois dedos da minha mão até a minha boca, chupei antes de levar até
sua boceta e massageei o seu clitóris, fazendo Olívia jogar a cabeça para e gemer, ela já estava
molhada apenas com o meu toque e, quando deslizei os dedos em sua boceta apertada, pude
sentir o calor do seu canal, tão quente e apertadinho, pronta para receber o meu pau.
— Ah … ah … — gemia enquanto eu movimentava meus dedos dentro dela, entrando e
saindo.
Parei, os tirando de dentro dela, puxei seu vestido, a deixando apenas de sutiã sobre a
cama e, com uma das mãos, desabotoei a peça, fazendo seus seios fartos ficarem visíveis, os
biquinhos estavam durinhos e, quando eu passei minha língua em um deles, ela gemeu alto mais
uma vez. Abocanhei, chupando enquanto massageava o seu clitóris, ela estava entregue a mim e
agora não tinha mais volta, eu estava prestes a transar com a filha do meu inimigo. Olívia se
curvou para frente, levando sua mão para minha calça. Desabotoei e puxei a cueca para baixo,
meu pau pulou para fora, latejando e implorando para estar dentro de sua boceta.
— Você trouxe camisinha? — Sua pergunta me fez voltar à realidade e ter um pingo de
juízo naquele momento, me levantei da cama, tirando todas as peças de roupa do meu corpo e,
antes de voltar para os braços da minha mulher, eu peguei um pacote de camisinha na carteira
dentro do bolso da calça e rasguei deslizando na cabeça do meu pau.
— Tem certeza? — Eu tinha que perguntar, mesmo que não conseguisse mais parar.
— Não, mas te quero mesmo assim.
Sem mais delongas, eu me posicionei na entrada da sua parte íntima e deslizei dentro dela,
fazendo os movimentos de vaivém, entrando e saindo em um ritmo constante, rápido e com
força.
— Oh … Porra … você é tão apertadinha — sussurrei em seu ouvido, sentindo nossos
corpos queimarem de tanto prazer.
— Ah … Théo, isso … ah …
Seus gemidos me deixavam ainda com mais tesão, acelerei os movimentos, sentindo as
paredes da sua boceta me apertarem ainda mais, as veias do meu pau latejavam dentro da
camisinha, e eu só queria não ter aquela merda de látex entre nós e poder foder a minha mulher
sem nenhum tipo de barreira. Continuei cada vez mais rápido e, quando Olívia chegou ao seu
clímax explodido em um orgasmo, eu a segui, deixando a minha porra encher a camisinha. Sem
dúvida, aquele tinha sido o melhor sexo de toda minha vida e o que era para ser a minha cura
tinha acabado de se tornar o meu mais novo vício.
O sexo com Théo tinha sido algo inesquecível, mas que não poderia se repetir, não se
aquele contrato fosse adiante, era tudo uma grande ilusão e não poderia envolver sentimentos
naquele negócio, todavia, meu coração já estava entregue à paixão e tudo que eu conseguia
pensar era em como o meu marido tinha me dado o melhor orgasmo de toda minha vida.
Se passou uma semana depois da nossa transa no evento, ele estava me evitando desde
então e eu não ficaria no seu pé, tínhamos concordado que era apenas uma única vez e nada
mais.
Arrumei meu biquíni enquanto tomava mais uma cerveja na beira da piscina, já passava
das nove horas da noite e eu me perguntava onde o meu marido estava. Irritada, era como eu me
sentia, com raiva de Théo por não me dar nenhum tipo de satisfação, por simplesmente chegar
tarde em casa e me deixar sozinha.
— Boa noite, Olívia. — Ao ouvir a sua voz atrás de mim, eu me virei para encará-lo. —
Aproveitando a noite? — Em suas mãos, tinha uma garrafa de uísque.
— Sim, onde você estava?
Ele sorriu, tomando um gole da bebida.
— Em algum pub qualquer, enchendo a cara.
— Com alguma mulher? — Não contive os ciúmes. — Não precisa responder, não é da
minha conta.
Théo caminhou até uma das cadeiras na borda da piscina e colocou o uísque sobre a mesa
antes de começar a tirar a sua roupa.
— O que está fazendo? — perguntei, curiosa.
— Tirando a roupa para aproveitar a piscina com minha esposa.
Fiquei parada, observando tudo que ele estava prestes a fazer e, para minha total surpresa,
Théo tirou até mesmo sua cueca, ficando completamente nu antes de pular na piscina. Ele veio
para trás de mim, beijando o meu pescoço, fechei meus olhos, sentindo o seu toque.
— Só mais uma vez? — Sua pergunta em meu ouvido fez corpo meu tremer.
— Você estava com outra? — Meu marido soltou uma gargalhada, me virando, fiquei de
frente para ele, passando meus braços em seu pescoço.
— Estava enchendo a cara para tentar tirar a minha esposa da cabeça.
Sorri, sentindo as mãos dele por debaixo da água, ele se curvou, puxando a calcinha do
meu biquíni, enquanto isso, eu puxei o laço da parte de cima, ficando completamente nua.
— Me fode apenas mais uma vez — sussurrei em seu ouvido, colocando a mão em seu
pau, que já estava duro feito pedra.
— Seu pedido é uma ordem, esposa.
Com rapidez, ele puxou meu corpo para cima, passei minhas pernas em sua cintura,
enquanto Théo se encaixa em mim, deslizando para dentro da minha parte íntima. Ao sentir seu
membro latejar dentro de mim, eu joguei a cabeça trás, e ele começou a se movimentar cada vez
mais rápido e intenso.
— Ah…, Théo …
— O que você fez comigo? — quis saber, beijando meu pescoço. — Tudo que faço é
pensar em você e em estar dentro de você e te ouvir gemer.
— Isso, mais rápido. — Entre o gemido, ele se perdia dentro de mim, a água da piscina
aquecida molhava nossos corpos enquanto meu coração estava acelerado, eu me perdia em seus
braços, sentindo algo que eu nunca tinha sentido antes e que não sabia explicar, a única coisa que
tinha certeza é que eu estava perdidamente apaixonada por Théo, o meu falso marido. Senti sua
mão puxar meus cabelos enquanto ele beijava meu pescoço e, intenso, continuava com os
movimentos até nós dois nos entregássemos ao prazer, cansados e suados.
— Está tudo errado — sussurrou em meu ouvido antes de me encarar. — Não podemos
ficar juntos.
— Acha que não sei? Está tudo tão complicado — disse com as mãos em seu peito. —
Quando assinei aquele acordo, não pensei que me apaixonaria por você.
— Olívia. — Ele me abraçou, beijando minha cabeça. — Maldito destino.
Théo se afastou de mim, saindo da piscina, caminhei atrás dele, já era tarde e só estávamos
nós dois na mansão, ele não sairia assim, eu não era um objeto para ele simplesmente não se
importa com meus sentimentos, com tudo que estávamos vivendo.
— Eu sei que você sente algo por mim — gritei —, não negue, Théo.
Ele parou no meio da sala, se virando para me encarar, caminhou em passos lentos,
ficando de frente, e levou sua mão até o meu pescoço, apertando um pouco.
— Não podemos ficar juntos.
Seu grito me assustou, ele tirou a mão do meu pescoço antes de sorrir amargamente.
— Preciso que saia dos meus pensamentos.
— Como? Se você também está nos meus, eu penso em você vinte quatro horas por dia.
— Porra — bagunçou a cabeça —, eu também penso em você.
Seu beijo me pegou desprevenida, ele segurou meu corpo em seus braços, me carregando
até a mesa da sala e, com uma de suas mãos, jogou todos os objetos no chão, sem se importar
com os barulhos que fizeram assim que se quebraram com o impacto.
— Eu te quero, Olívia, e esse sentimento está queimando dentro de mim.
— Théo…
Antes que eu pudesse voltar a raciocinar, ele se abaixou na frente das minhas pernas, uma
de cada lado, enquanto ele se encaixa de frente para minha parte íntima. Théo não pediu
autorização, simplesmente passou sua língua em minha boceta, me fazendo gemer, os
movimentos começaram devagar e, conforme ele continuava, eu me perdia de novo em tesão,
suor escorria pelo rosto, fechei os olhos, tentando fechar as pernas, mas ele não permitiu, me
fazendo gozar outra vez, derramando o líquido em sua boca enquanto ele sorria satisfeito.
— Seu gosto é delicioso, o paraíso na terra.
Tentei me levantar, mas ele me impediu, mostrando o quanto seu pau já estava duro
novamente, pulsando por mais de mim.
— Ainda não terminei, vou te comer em cima dessa mesa até você não aguentar mais.
Se aproximou novamente, encaixando seu membro na entrada da minha parte íntima e,
com força, ele deslizou dentro de mim, gemi alto, descontrolada, estava no paraíso, entregue aos
seus encantos e cada uma das suas estocadas me fazia delirar, implorar por mais.
— Mais rápido — pedi, sentindo seu corpo quente assim como o meu, ele soltou um
gemido em meu ouvido, fazendo o meu corpo inteiro ficar arrepiado, passei minhas unhas em
suas costas, deixando algumas marcas.
Prestes a me entregar mais uma vez em um orgasmo, eu encarei seus olhos, Théo gemeu
baixinho antes de se entregar ao prazer assim como eu, e, mais uma vez, gozamos juntos.
— Porra, eu estou fodido, como vou conseguir ficar sem me enterrar em você? — Foi tudo
que ele disse antes de me pegar no colo e me levar até o seu quarto, ele me colocou em sua cama
e se deitou logo em seguida. — Hoje você irá dormir comigo, quero passar a noite inteira
sentindo o seu cheiro.
— Tem certeza? E o nosso contrato, não podemos dormir no mesmo quarto e … — Théo
colocou um dedo em meus lábios, me interrompendo.
— Esqueça o contrato por essa noite, apenas fique aqui nos meus braços e durma comigo.
Sorrindo, eu me aconcheguei em seus braços, sonhando com uma nova história para nós
dois, quem sabe aquele acordo poderia ser quebrado e nós dois poderíamos ser um casal de
verdade. Fechei os olhos, idealizando aquele romance, mas, no dia seguinte, ao abrir os olhos,
me vi sozinha no quarto, ele tinha saído antes de mim e nem ao menos um bilhete tinha me
deixado.
— Senhora, Olívia — uma das empregadas entrou no quarto —, o senhor Philips pediu
para que a senhora retorne para o seu quarto.
Eu mal tinha despertado, estava ainda tentando entender o que se passava na cabeça de
Théo, porém, ver a empregada me expulsando do quarto do meu marido fez meu coração se
quebrar, ele estava me tratando como uma qualquer depois da noite passada e nem ao menos teve
coragem de me encarar. Me levantei com as cobertas envolvidas em meu corpo e olhei para a
empregada antes de caminhar para fora, meus olhos estavam cheios de lágrimas e meu peito
doía, o jogo doentio de Théo estava acabando comigo.
Ao entrar em meu quarto, eu tranquei a porta antes de me jogar sobre a cama, deixei as
lágrimas grossas caírem sobre o meu rosto, me sentindo completamente perdida, nós dois
tínhamos transado, ele tinha me pedido para dormir em seu quarto e agora isso, me humilhando
para sua empregada, mostrando para todos que sou uma qualquer aos seus olhos, apenas sua
esposa troféu.
— Você é um maldito, Théo Philips.
O destino, às vezes, é a porra de um maldito que ri da cara das pessoas, nesse caso, ele está
zombando de mim, dos meus planos e de tudo que passei para chegar até aqui. Joguei o copo de
uísque contra a parede, ouvindo os cacos de vidros caírem sobre o chão, estava descontrolado
depois da noite passada e, quando a vi dormir ao meu lado, senti meu coração disparar, ela tinha
se infiltrado em meus pensamentos, em meu peito e em minha alma, tudo em Olívia fazia meu
corpo implorar por mais, para mantê-la por perto, envolvida em meus braços.
— O que está acontecendo aqui? — Olhei para trás, vendo meu tio, eu tinha acordado
cedo para admirar a beleza de minha mulher e, quando caí na real, fiquei perdido, precisava fugir
da mansão e o único canto que ficaria em paz era no apartamento do meu tio.
— Nada, eu só quero que toda essa merda de acordo termine logo, não aguento mais
esperar — menti, bagunçando os meus cabelos, a verdade é que não queria que o acordo
acabasse, muito menos que Olívia fosse para longe de mim.
— Théo, eu te conheço muito bem, desde que aquela menina foi para mansão, você tem
agido diferente. — Colocou a mão sobre os meus ombros. — Está perdendo o foco, se esqueceu
do que aconteceu com seus pais?
— Você está enganado, tio. — Encarei seus olhos. — Eu não estou perdendo o foco, na
verdade, agora mesmo deixei ela sozinha em casa depois de usá-la a noite inteira.
— Dormiu com o inimigo? — gritou, se distanciando. — O que combinamos?
— Estou fazendo tudo certo, você pediu para que eu a fizesse sofrer, não tem nada que doa
mais que um coração partido.
Ele sorriu amargamente, caminhou até a garrafa de uísque em cima da mesinha de canto,
tirou a tampa e bebeu no gargalo.
— Você está apaixonado, Théo? — Furioso, ele caminhou até mim com a garrafa em suas
mãos. — Não envergonhe os seus pais, eles merecem vingança, merecem que Willian Carter
sinta a mesma dor que eu e você sentimos.
— Está louco, eu a desprezo, aquela garota não passa de uma peça-chave para minha
vingança.
— Espero que seja isso mesmo, que você se lembre que o sangue que corre em suas veias
é o mesmo daquele maldito que destruiu a vida do meu irmão, seu pai.
Puxei a garrafa de uísque de suas mãos, tomando um pouco do líquido, precisava encher a
cara e esquecer Olívia, aquele sentimento teria que sair de mim, o ódio que antes vivia presente
em meu coração estava dando lugar à paixão, algo que eu não poderia lidar. Me sentei no sofá,
jogando minha cabeça para trás, eu precisava seguir a razão e não olhar para trás.
— Passe a noite fora, deixe que ela pense que está com outra, faça aquela garota sofrer ao
ponto de quebrar o contrato.
— É tudo sobre esse maldito contrato — gritei, levantando a cabeça. — Estou cansado
dessa merda, quando vamos ver os Carter em ruínas?
— Quando você destruir aquela garota. — Se sentou ao meu lado. — Não tenha pena,
apenas lembre-se sempre da imagem do seu pai sem vida.
Eu precisava cumprir minha promessa, mesmo sabendo que Olívia não tinha culpa de
nada, precisava destruir seu coração.
Depois da conversa com meu tio, eu fui para a empresa, minha secretária havia me
informado que Olívia já tinha chegado e que estava trabalhando normalmente, eu não queria vê-
la, não queria sentir seu perfume, pois sabia que iria acabar cedendo aos seus encantos. As horas
se passaram, eu tentava a todo custo focar nos vários documentos à minha frente, porém, nada
me tirava as imagens da minha mulher. Peguei o telefone, discando o ramal do número do meu
amigo, Henry logo atendeu, queria saber sobre ela, se ela estava bem, se estava triste ou qualquer
outra coisa.
— Eu já disse a você, não sou babá da sua esposa — Henry comentou assim que perguntei
por Olívia.
— Apenas me diga se ela está bem.
— Ela acabou de sair.
— Com quem? — Me levantei da cadeira em um pulo.
— Um tal de Luke, parece que são amigos.
Não agradeci a informação, muito menos me despedi, apenas coloquei o telefone no lugar
antes de pegar meu blazer e o meu celular, iria atrás de Olívia e não a deixaria chegar perto
daquele homem.
— Senhor Philips, tem uma reunião agora mesmo com um dos sócios e … — minha
secretária gritou, vindo atrás de mim.
— Desmarque tudo.
Sem me importar com os compromissos que eu tinha naquele dia, saí às pressas, eu
colocaria Londres de cabeça para baixo se preciso fosse para achar Olívia, não queria minha
mulher ao lado daquele homem e não permitiria que os dois ficassem muito tempo a sós. Dirigi
até o pub que ela costuma ir e, para minha surpresa, ao olhar para o lado da rua, ela estava
abraçada aquele maldito, estacionei o veículo furioso, desci dele, indo até os dois e, com raiva,
puxei Luke pelo braço, dando um soco de direita em seu rosto, que, cambaleando para trás, ele
caiu sobre o chão.
— Que porra você está fazendo? — O grito de Olívia chamou minha atenção, me fazendo
sair dos meus devaneios e notar o que tinha acabado de fazer, as pessoas ao nosso redor estavam
nos observando enquanto cochichavam algo. — Luke, você está bem? — Ela se abaixou na
frente dele, limpando seu nariz que sangrava com o impacto do soco.
— Vamos embora, Olívia — ordenei, estava fora de controle, algo que quase nunca
acontecia.
— Você enlouqueceu? — Se levantou, vindo até mim, e deu alguns tapas em meu peito
furiosa. — O que está acontecendo com você, Théo?
Segurei seus braços, encarando seus olhos, o destino realmente me odeia a ponto de fazer
eu me apaixonar pela filha do meu inimigo.
— Em casa, a gente conversa, vamos.
Puxei Olívia pelo braço, mas ela me impediu, estava furiosa demais para me obedecer,
mas, mesmo assim, não cederia, ela iria comigo.
— Luke, sinto muito. — Voltou a olhar para o amigo, que já tinha se levantado, eu queria
quebrar a cara dele e mandá-lo ficar o mais longe possível da minha mulher.
— Vamos, Olívia, você tem muito a perder caso não me acompanhe —ameacei, a fazendo
ficar ainda mais furiosa, seu rosto estava vermelho e seu olhar perdido.
— Acompanhe-o, eu ficarei bem.
— Mas, Luke — protestou, segurando a mão dele.
— Vou ficar bem.
A contragosto, minha esposa me acompanhou até o carro, ela entrou batendo a porta do
veículo e, ao entrar, eu virei a chave, saindo correndo dali, meu sangue estava fervendo e,
mesmo que eu quisesse me manter longe, não conseguia.
— Eu não te quero perto daquele homem — comentei, apertando o volante com força.
— Você não manda em mim — retrucou, me encarando.
— Mando, você é minha esposa — gritei, mudando minha atenção da estrada para encará-
la.
— De mentira, maldita hora que assinei aquele acordo, me arrependo amargamente.
Suas palavras entraram como uma faca afiada em meu peito, perfurando meu coração e me
deixando ainda mais desequilibrado. Em silêncio, dirigi o carro até a mansão, parei no nosso
estacionamento, travando as portas do carro para que ela não saísse, e tirei o cinto para me curvar
e encarar mais de perto os seus olhos.
— Arrependida ou não, você é minha e deve obedecer.
Olívia levantou o braço, dando um tapa em meu rosto e, antes que ela pudesse tentar sair
do carro, eu tirei seu cinto, puxando seu corpo para o meu colo.
— Me larga, seu maldito — gritava enquanto distribuía tapas em meu peito, Olívia estava
usando uma saia preta e, quando coloquei minha mão embaixo dela, pude sentir sua pequena
calcinha fio dental.
— Você me enlouquece, seu cheiro é a porra de uma droga que estou viciado. — Beijei o
seu pescoço, levando uma mão por baixo da sua blusa atrás dos seus seios, e segurei um deles,
acariciando o biquinho.
— Ah … me solte — gemeu, fechando os olhos.
— Eu vou te foder, esposa — sussurrei —, me diga se deseja meu pau dentro da sua
boceta.
— Não quero, eu … — Puxei sua calcinha para o lado para acariciar o seu clitóris —
Ah..., Théo…
— Diga, fala que quer se sentar no meu pau e rebolar até gozar.
— Para quê? Para me abandonar sozinha de novo? Não, isso tem que acabar. — Tentou se
afastar, mas eu aumentei ainda mais os movimentos. — Ah … — jogou a cabeça para trás —, só
uma última vez — disse, me fazendo sorrir, ela era meu vício, e eu estava disposto a tê-la todos
os dias que eu pudesse em minha cama.
— Não, todas as vezes que os dois sentirem vontade.
Olívia não respondeu, apenas levou uma das suas mãos para dentro da minha calça,
arrancando o meu pau para fora, ele já estava duro e latejando, louco para deslizar dentro da
minha esposa. Ela se encaixou, me fazendo jogar a cabeça para trás, era o paraíso sentir sua
boceta tão quente e úmida me apertando.
— Oh… isso… cavalgue em mim — falei em seu ouvido, ela estava com pressa, como se
seu corpo implorasse pelo meu, delirando de desejo e prazer.
— Ah … ah …
Os gemidos que saíam de sua boca faziam meu corpo inteiro se arrepiar, era insano como
uma simples mulher podia me deixar tão louco. Longe da realidade e entregue ao prazer, segurei
sua cintura, a ajudando a ir cada vez mais rápido, nossos corpos quentes e suados, a respiração
ofegante e os arrepios mostravam que o orgasmo estava próximo.
— Oh… oh… Olívia, você é minha, só minha.
Foi tudo que disse antes de me entregar ao prazer, gozando em sua boceta, a preenchendo
completamente com minha porra, logo em seguida ela se deitou em meu peito, chegando ao seu
ápice, nós dois estávamos perdidos no jogo do prazer.
— Você toma algum anticoncepcional? — perguntei, me dando conta da burrada que
estava cometendo, naquele momento, um bebê seria mais um problema para eu lidar.
— Tomo e estou limpa. — Olívia saiu de cima de mim, arrumando sua roupa.
— Eu também estou limpo, estamos seguros.
— Agora eu posso ir? — perguntou, me encarando, ela ainda estava brava comigo.
— Se arrume, vamos jantar fora — comentei, não seguindo as ordens do meu tio, se ele
souber, ficará furioso, porém, não quero vê-la triste, nem muito mesmo com raiva de mim.
— Está me obrigando? — Se virou, me encarando.
— Não, estou fazendo um pedido, gosto da sua companhia e a quero ao meu lado.
Olívia me olhou por alguns segundos, talvez ela estivesse tentando entender as minhas
mudanças repetidas, todavia, nem eu mesmo conseguia compreender tudo que estava
acontecendo dentro de mim, uma guerra dentro do meu peito tinha se instalado, entre o amor e o
ódio.
— Tudo bem, eu vou com você. — Sorriu. — Agora pode destravar a porta do carro?
Faço o que ela pede, destravando a porta, ela desce, me deixando sozinho, eu não sabia o
que estava fazendo, na verdade, não tinha mais controle dos meus atos, estava perdido. Depois
de descer do carro, fui direto para o meu quarto e andei de um lado para outro, tentando entender
tudo que estava em meu coração, e a única certeza que tinha é que queria Olívia ao meu lado,
mas que também queria destruir seu pai, arrancar dele a alegria que um dia ele tirou de mim, o
destino realmente estava zombando da minha cara e a decisão era difícil de se tomar. Ao
anoitecer, eu me arrumei para nosso jantar e, como sempre, minha mulher estava linda e
elegante, a mais bonita de todas, que fazia meu coração disparar e minhas mãos suarem, algo que
nunca tinha acontecido comigo e que agora era constante, eu a amava e não poderia negar, não
mais.
Três meses depois

Quase cinco meses de contrato, vivendo ao lado de Théo Philips, um homem que me faz
amá-lo e ao mesmo tempo odiá-lo, uma mistura explosiva que me faz perder completamente a
cabeça, onde um simples toque dele me deixa de pernas bambas e coração disparado, foram
meses complicados, onde tinha dias que eu ficava sozinha sem ele, chorando e pensando em
desistir daquele maldito contrato, outros dias eram incríveis, onde eu tinha um lindo homem
cavalheiro ao meu lado, ele me mandava rosas, me levava para jantares incríveis e no final
acabávamos na cama, pegando fogo e nos amando, era tudo muito intenso.
Acariciei o seu rosto, era uma manhã de quinta-feira, transamos a noite inteira e eu peguei
no sono em seus braços, me sentia protegida e conseguia sonhar com um casamento verdadeiro,
vivendo um amor quase impossível.
— Isso está virando um vício — comentou, sorrindo. — Todas as manhãs você fica me
admirando.
— Você é lindo, e eu fico encantada ao te olhar.
Ele se sentou na cama antes de dar um beijo em minha testa, nesses momentos Théo era
super carinhoso, me tratava bem e me amava de verdade, mas tinha dias que ele mudava
completamente, se transformava em um homem totalmente diferente.
— Linda mesmo é você, eu sou completamente louco pelo seu cheiro. — Beijou meu
pescoço. — O seu sabor, eu …
Encarou meus olhos, me fazendo sentir um frio na barriga, queria tanto que Théo
assumisse para mim que também está apaixonado, que era recíproco os nossos sentimentos.
Antes que ele pudesse terminar a frase, fomos interrompidos por algumas batidas na porta, ele
cobriu nossos corpos antes de pedir para que a empregada entrasse.
— Senhor, me perdoe a interrupção, mas o seu tio está aqui. — A feição de Théo mudou,
ele deixou que a empregada saísse para pular da cama e correu, pegando as minhas roupas
jogadas no chão.
— Se vista, Olívia, e vá para o seu quarto — gritou, me assustando.
— Seu tio, finalmente vou poder conhecê-lo — disse, animada me levantando.
— Você já o viu uma vez, mas não sabia que era ele. — Meu marido rapidamente se
vestiu. — Fique no seu quarto até eu te chamar.
— Mas eu quero conhecê-lo.
— Faça o que estou pedindo, vamos.
Seu tom de voz me fez entender que aquele não era mais o Théo cavalheiro, e, sim, o
homem que me humilhava e me destratava, coloquei minha roupa, indo para o meu quarto e me
joguei sobre a cama antes de pegar meu celular, nele tinha várias chamadas perdidas da
secretaria da minha ginecologista, olhei para tela, tentando entender o motivo de todo aquele
desespero e, ao abrir o Whatsapp, pude ver uma mensagem dela que me deixou completamente
sem rumo.

Senhora Olívia, estou tentando entrar em contato, pois a senhora perdeu as duas
últimas consultas e a sua injeção contraceptiva está atrasada, peço que venha hoje mesmo
até o consultório.

Empalideci, me levantando da cama, minhas pernas estavam bambas, meu coração


disparou, minhas mãos suaram e uma tontura me fez segurar na parede atrás de mim. Com tantas
mudanças em minha vida, eu tinha esquecido das consultas com a ginecologista e da injeção e
estava transando com Théo sem proteção… não, isso não pode estar acontecendo, eu não posso

Céus, isso seria um enorme problema, ele provavelmente me culparia, o contrato iria
acabar, e eu não poderia estar esperando um filho dele. Pisquei algumas vezes, tentando manter a
calma, nada era concreto ainda, não me sentia diferente e nem ao menos estava tendo sinais de
uma possível gestação, exceto em um jantar, que acabei colocando toda comida para fora depois
de comer um simples pedaço de peixe, mas não dei importância, até porque poderia ser uma
simples virose e agora pensando por esse lado… Merda…
— Olívia. — A voz de Théo atrás de mim me fez encará-lo, corri para os seus braços, me
sentindo completamente fragilizada, com medo e preocupada, tudo que vivemos é uma grande
mentira e agora esse bebê complicaria tudo ainda mais. — O que está acontecendo? Você está
pálida.
— Por favor, me diga o que sente por mim, Théo, você me ama? — Meus olhos estavam
embaçados com as lágrimas grossas que caíam sobre meu rosto, perdida, era como eu estava.
— Você sabe que tudo não passa de um contrato. — Ele acariciou o meu rosto, me
encarando, meu coração doía. — Tem data para acabar.
Sorrindo amargamente, eu me afastei dele e limpei as lágrimas, tentando manter a calma,
eu não tinha certeza se realmente estava grávida, mas agora tinha a certeza de que ele não me
amava, que tudo não passou de sexo, apenas isso.
— Eu preciso ficar um pouco sozinha, você pode me dar licença?
— Ei, me diga o que está acontecendo? — Tentou se aproximar de mim, mas dei alguns
passos para trás.
— Nada de mais, só preciso pensar um pouco — menti, desviando o olhar para o chão, eu
precisava ir até o consultório e tirar a prova, confirmar que não estava grávida.
— Eu vim avisá-la que meu tio irá almoçar hoje conosco e ele quer te conhecer.
— Claro, eu vou para uma consulta agora e, assim que chegar, podemos almoçar todos
juntos.
— Consulta? Você está bem? O que você tem, Olívia? — Ele parecia desesperado.
— Nada de mais, não se preocupe.
Théo me olhou mais uma vez antes de colocar as mãos no bolso da sua calça de moletom e
passou a mão em seus cabelos, os deixando bagunçados, era uma das várias manias que ele tinha
quando estava nervoso.
— Posso te acompanhar? — comentou, talvez ele realmente estivesse preocupado comigo,
mas eu sabia que logo ficaria furioso quando soubesse que eu tinha esquecido de tomar a injeção,
que, por falha minha, ele poderia ser pai.
— Não precisa. — Sorrindo, eu segurei sua mão. — Fique com seu tio, ele estava longe e
deve estar morrendo de saudades do sobrinho.
— Tudo bem, mas, se acontecer algo, ligue para mim.
Beijou minha testa antes de sair do quarto, desabei, me sentando no chão com a mão em
minha barriga plana, o medo de ter um filho no meio daquela mentira era enorme, mas sabia que,
se realmente tivesse um bebê dentro do meu ventre, eu o amaria com todas as minhas forças, um
serzinho meu e de Théo, de um amor improvável.
Tomei um banho rápido antes de sair da mansão para o consultório da doutora Laura, ela
já estava me aguardando e, quando me disse que fazia dois meses que minha injeção tinha
vencido, eu senti meu corpo inteiro gelar. Dois meses? Como eu consegui ser tão irresponsável?
Théo tinha me perguntado a respeito, e eu garanti que estava me prevenindo.
— O que é isso? — nervosa, eu perguntei para doutora quando ela me entregou uma
caixinha.
— Um teste de gravidez, pode ir até o banheiro ao lado, urine onde está indicando e espere
três minutos.
Me levantei da cadeira que estava sentada respirando fundo e, tremendo, eu olhei para o
teste em minhas mãos.
— Um palitinho rosa: negativo — continuou falando: —, dois palitinhos rosas: positivo.
Caminhei em passos lentos para o toalhete, minha mente estava distante e eu contava até
cem tentando não surtar. Ao entrar, eu rasguei a caixinha, pegando o pequeno objeto em minhas
mãos, e fiz o que a doutora pediu, urinando no palitinho. Posso garantir que foram os três
minutos mais longos de toda minha vida, batia os pés, sentada no vaso, esperando aparecer o
resultado e, quando as duas listrinhas rosas apareceram, meu coração quase saiu pela boca.
Grávida… grávida…
Com os olhos fechados, eu me belisquei, aquilo só poderia ser um pesadelo e eu precisava
acordar o quanto antes, todavia, ao abrir os olhos, o palitinho continuava em minhas mãos,
mostrando que o bebê de Théo Philips estava em meu ventre e que aquele falso casamento tinha
gerado um fruto. Ao retornar à sala da doutora, eu lhe entreguei o teste, ela sorriu, me encarando.
— Parabéns, mamãe.
— Tem certeza de que esse teste é seguro, o resultado pode estar errado? — Era quase
uma súplica, aquele resultado tinha que ser um falso positivo, eu não poderia estar grávida.
— Bom, os testes de farmácia não são os mais confiáveis, mas é raro acontecer um falso
positivo.
— Mas pode acontecer? — Ela afirmou com a cabeça. — Então é isso, um falso positivo,
eu não estou grávida.
— Vou pedir um exame de sangue e, se você quiser, podemos agora mesmo fazer um
transvaginal. — Encarei a doutora, me sentando na cadeira de frente para ela. No fundo, eu sabia
que aquele teste estava certo, mas não estava preparada para ver o bebê, não sem antes contar
para Théo.
— Prefiro esperar o resultado do exame de sangue sair.
Ela anotou alguma coisa em minha ficha antes de me encarar.
— Negar que o bebê está em seu ventre não fará ele sumir, vou pedir para que coletem o
seu sangue e, assim que o resultado chegar, mandarei para você. — Sorriu, segurando minha
mão por cima da mesa. — Um bebê é uma benção, Olívia, não tenha medo, dará tudo certo, seu
marido ficará muito feliz.
Sorri para ela, tentando disfarçar o meu desespero, meu marido falso ficará furioso, um
bebê no meio de uma grande mentira que tem data para acabar, um negócio que resultou em uma
nova vida.
Ao chegar na mansão, eu ainda estava fora do ar, mas, quando Théo me chamou para
conhecer o seu tio, eu tive que sorrir e mostrar minha simpatia para ele.
— Esse é Martins Philips, mais que um tio, um pai. — Estendi minha mão para
cumprimentá-lo, me lembrando de tê-lo visto em um dia qualquer de frente à mansão, ele apertou
minha mão sorridente.
— É um grande prazer conhecer a esposa do meu sobrinho. — Ele me encarou com um
olhar perturbador, aquilo fez meu corpo inteiro se arrepiar, puxei minha mão, me afastando um
pouco. — Realmente, ela é mesmo muito bonita —disse, enquanto Théo me abraçava por trás e
depositou sua mão em minha barriga, me fazendo lembrar que o nosso bebê estava sendo gerado
bem ali e que eu estava morrendo de medo de contar para ele.
— Muito obrigada, senhor.
— Martins, você é da família, não precisa de formalidades. — Caminhamos juntos até a
mesa onde o almoço já estava sendo servido.
— Estava morrendo de saudades de Londres — comentou, me fazendo ficar um pouco
confusa, eu tinha certeza de que já o tinha visto conversando com Théo.
— Fazia tempo que estava longe? — perguntei.
— Um ano, mas agora vim para ficar e cuidar do meu sobrinho. — Tomou um gole do
vinho que a empregada tinha acabado de colocar. — Ele precisa de mim para fazer boas escolhas
em sua vida.
— Tio, eu já sou bem grandinho. — Théo sorriu. — Consigo fazer minhas próprias
escolhas.
— Não parece, se soubesse mesmo, sua esposa não tinha nos deixado esperando para
almoçar.
Recusei o vinho quando a empregada quis encher minha taça, eu não poderia mais tomar
álcool por causa do bebê, o bebê…
— Onde você estava? — Olhei para o tio de Théo sem ao menos ter ouvido sua última
frase, minha cabeça estava longe demais. — Ela é surda?
— Eu-eu — gaguejei — fui para uma consulta de rotina.
— Isso é mais importante que a visita do tio do seu marido? Já não se fazem esposas como
antigamente.
Respirei fundo com vontade de sair daquela mesa, aquele homem era arrogante e machista
demais. Senti a mão de Théo segurar a minha, ele me olhou sorrindo.
— Como foi a consulta? — Eu queria tanto contar sobre o bebê, mas não era o momento
certo.
— Normal, eu estou bem. — Sorri para ele, encarando seus olhos.
Continuamos sentados almoçando, Martins não perdia a oportunidade de me alfinetar, e eu
não entendia o motivo de ele não ter gostado de mim, talvez fosse ciúmes pelo sobrinho.
— Meu sobrinho me disse que está trabalhando em nossa empresa. — Encarei ele,
afirmando com a cabeça. — Boa escolha, pelo que fiquei sabendo, sua família está falida, e você
conseguiu uma mina de ouro.
— Como? — perguntei, arqueando a sobrancelha. — O que o senhor está insinuando? —
O tio de Théo não sabia do nosso acordo e provavelmente estava insinuando que dei o golpe em
seu sobrinho.
— Esperta, escolheu um dos maiores milionários de Londres para conseguir reerguer sua
empresa.
— Com licença. — Me levantei da cadeira, mas Théo me impediu, segurando meu braço.
— Sente-se e termine o seu almoço. — Fiz o que ele pediu, voltando a me sentar na
cadeira. — Tio, quero que, enquanto estiver em minha casa, respeite a minha esposa, ela não me
deu um golpe, pelo contrário, eu que roubei o seu coração para mim.
Martins se levantou furioso e jogou o guardanapo sobre a mesa antes de encarar o
sobrinho e sorrir.
— Minha fome passou.
Caminhou em passos largos para longe da mesa, sorri para Théo, ele tinha me defendido, e
deixei algumas lágrimas caírem enquanto ele beijou minha mão.
— Por que está chorando? — Hormônios da gravidez.
— Não sei, apenas achei fofo da sua parte me defender.
— Você é minha esposa, Olívia, não deixarei que ninguém a trate mal perto de mim.
Me curvei para frente, dando um beijo em sua boca, eu queria contar, queria dizer que
aquela mentira tinha dado fruto.
— Obrigada.
No final do dia, ficamos em seu quarto assistindo a um filme, eu estava deitada sobre o seu
peito sentindo o seu coração bater, me perguntando se era o momento certo para contar sobre o
bebê, mas ainda não me sentia pronta e nem confiante o suficiente.
— Olívia, eu — encarei seus olhos enquanto ele acariciava meus cabelos — acho que me
apaixonei por você, sei que demorei demais para te dizer isso, mas não consigo ficar longe, não
consigo ficar um minuto sem sentir o seu perfume.
— Você está dizendo que me ama? — Me sentei na cama, sorrindo, era tudo que eu
precisava ouvir.
— Eu te amo, Olívia.
Pulei em cima do seu corpo, beijando sua boca, ele sorriu, nosso amor começou de uma
forma estranha, mas estava crescendo cada dia mais e mais, agora com um bebê a caminho.
— Eu também te amo, Théo, a nossa mentira acabou se tornando uma verdade.
— Sim, você é minha esposa e que se foda a porra desse acordo.
Com rapidez, ele arrancou minhas roupas, me fazendo cair sobre a cama e olhou para os
meus seios nus, arqueando uma das sobrancelhas, eles estavam bem maiores e agora, depois de
descobrir a gravidez, eu conseguia notar isso.
— Estão maiores ou é minha impressão?
— Eles cresceram.
— Hum, gosto disso.
Sugou um deles, me fazendo gemer alto, naquela noite, não transamos, e, sim, nos
amamos, ele tinha sido gentil, carinhoso e, no final, sussurrou em meu ouvido, dizendo que me
amava e me prometeu que eu não sairia de sua vida.
A única certeza que eu tinha em minha mente é que não deixaria que Olívia saísse da
minha vida, mesmo que a porra do contrato acabasse, mesmo que eu tivesse que destruir seu pai
por baixo dos panos, ela ficaria ao meu lado. Segurei sua mão enquanto caminhamos na areia
quente da praia de Whitstable Beach, um lugar fora de Londres, distante de todas as mentiras,
apenas eu e minha amada esposa.
Nunca imaginei que acabaria completamente rendido ao amor por Olívia, mas o destino
brincou com meu coração e agora tudo que quero é estar ao seu lado, esquecendo completamente
do ódio que sinto por sua família, até porque ela já não é mais uma Carter, e, sim, uma Philips, a
minha esposa. Beijei sua testa antes de vê-la tirar sua roupa, seu pequeno biquíni fez meu sangue
ferver, não estávamos sozinhos naquele lugar, e eu detestava outros olhos que não fossem os
meus sobre o corpo perfeito da minha mulher.
— O que está fazendo? — perguntou sorrindo enquanto eu enrolava seu corpo em uma
toalha.
— Cobrindo o que é meu — disse, encarando seus olhos, ela colocou a mão na cintura
com seu narizinho arrebitado, aquilo me deixava de pau duro, louco para levá-la até o hotel no
qual estávamos hospedados e fodê-la até seu corpo não aguenta mais.
— Eu quero me bronzear e, com a toalha, fica difícil.
— Posso pagar uma câmara de bronzeamento para você, onde não terá nenhum filho da
puta olhando para seu corpo.
— Ciúmes, então é isso. — Sorriu, beijando minha boca. — Théo Philips, você é um
homem muito ciumento.
— Só com o que é meu, e você, Olívia Philips, é minha.
Peguei-a em meu colo, rodando no meio da praia sem me importar com os olhos das
outras pessoas sobre nós dois, mas fui interrompido por algumas batidinhas em minhas costas,
coloquei minha mulher no chão enquanto ela levava a mão até sua boca.
— Amor, o que houve? — nervoso, eu perguntei. Oliva correu até a lixeira mais próxima,
se curvando. Corri até ela, segurando seus cabelos enquanto despejava todo o café da manhã para
fora.
— Merda — disse ela, limpando sua boca. — Os enjoos começaram.
— O quê? Você está doente? — Ela balançou a cabeça.
— Não, esqueça, só pensei alto demais — Abraçou meu corpo. — Podemos voltar para o
hotel, não estou muito bem.
— Vou te levar ao médico, você está pálida e acabou de vomitar, isso não é normal.
— Apenas me leve para o hotel, preciso de um banho morno.
Seu biquíni conseguia derrubar todas as minhas barreiras, olhei para trás, indo até as
nossas coisas, peguei todas elas antes de segurar sua mão e caminhar até o carro, eu tinha
planejado uma tarde linda ao lado dela, mas seu bem-estar é mais importante. Ao chegar no
hotel, fomos direto para o quarto, Olívia correu até o banheiro, se curvando de frente ao vaso, já
não tinha mais nada em seu estômago e isso me deixava preocupado demais, não queria vê-la
doente.
— Chega, vou ligar agora mesmo para o médico da minha família, voltaremos para
Londres e ele te examinará.
— Théo, calma, não precisa de tudo isso. — Minha mulher escovou os dentes antes de ir
até mim, estava nervoso demais, andando de um lado para o outro.
— Eu não posso te perder. — Segurei em seu rosto, encarando seus olhos. — Você não
entende, Olívia, você é o ar que eu respiro, se algo te acontecer, eu não sobrevivo.
— Não me faça chorar. — Sorri, ela segurou minha mão, me puxando até a cama. —
Acho que está na hora de te contar o que descobri.
— O que está me escondendo? — Meu coração já estava acelerado.
— Alguns dias atrás , a secretária da minha ginecologista ligou várias vezes, de início,
pensei que não fosse nada, mas, assim que li sua mensagem, eu me dei conta que minhas
injeções contraceptivas estavam atrasadas.
Me levantei da cama, passando a mão em meus cabelos, nervoso demais para permanecer
sentado.
— Eu não queria que isso estivesse acontecendo. — Seu rosto já estava banhado de
lágrimas. — Tudo é grande mentira e agora …
Olívia colocou sua mão sobre a barriga ainda plana, me deixando totalmente fora do ar, ela
estava carregando um filho meu em seu ventre, um bebê no meio de uma grande vingança, de
um ódio que alimentei por anos e que agora tinha se tornado em algo maior, um sentimento
inexplicável.
— Você está grávida, Olívia?
— Estou, mesmo com tantas mentiras, o nosso bebê está sendo gerado em meu ventre.
— Porra — gritei, desalinhando os meus cabelos, meu corpo inteiro tremia. — Isso não
poderia acontecer, temos um contrato, você me prometeu que estava se cuidando e agora um
bebê?
— Eu sei, eu não queria, juro. — Ela se levantou, vindo até mim. — Não planejei um filho
agora, assim como não planejei te amar, mas aconteceu, Théo, e agora não sei o que vamos fazer
com essa bagunça.
Encarei-a mais uma vez antes de caminhar para longe, precisava fugir dali e tentar
entender tudo que estava acontecendo. Eu fui atrás de Olívia para me vingar da sua família,
estava tudo certo, meu plano era perfeito até o destino brincar com meu coração e me fazer ficar
completamente apaixonado pela minha esposa por contrato. Agora eu a amo e teremos um filho
juntos, um bebezinho que não tem culpa de todas as merdas que envolve o relacionamento dos
seus pais, um serzinho que precisa de cuidados e muito amor.
— O que vou fazer? — pensei alto dentro do elevador.
Ao chegar no andar debaixo, eu fui até o bar do hotel, me sentei em uma cadeira pedindo
um copo de uísque, eu precisava compreender o que estava acontecendo e depois voltar para
minha mulher. Olívia e eu temos data para nós separar, todavia, um bebê fará com que ela fique
comigo, nós dois podemos ser uma bela família feliz e ela nunca saberá sobre meu plano, nunca
saberá que eu estou por trás da falência da empresa dos Carter e que me aproximei dela com o
intuito de ferir seus pais. Depois de quase meia hora, eu voltei para nosso quarto, o barulho do
chuveiro chamou minha atenção, eu fui até ela, tirando minha roupa e ficando ao seu lado.
— Um bebê — abracei sua cintura por trás — é um erro.
— Por favor, não diga isso. — Beijei seu pescoço.
— Me deixe terminar. — Coloquei minha mão sobre sua barriga. — É o erro mais lindo
que poderia acontecer, eu te amo, Olívia, sei que minha reação não foi das melhores, mas eu
quero vocês em minha vida, nossa família.
Ela se virou para mim sorrindo, beijei sua boca enquanto acariciava sua barriga, um
casamento falso tinha resultado em um grande amor, algo que eu não estava à procura e que nem
ao menos poderia imaginar que a filha do meu inimigo se tornaria a mãe do meu bebê.
— Eu tive tanto medo, nosso casamento é uma grande mentira e um bebê … — Interrompi
a sua fala, abraçando seu corpo.
— É mais um motivo para nós dois ficarmos juntos, somos uma família agora, meu amor,
e eu juro que vou tentar ser o melhor para vocês dois.
— Te amo, Théo.
— Eu amo vocês dois.
Nós dois terminamos de tomar banho e peguei Olívia em meu colo, levando até a cama,
ela sorriu enquanto se acomodava sobre os travesseiros.
— Precisamos voltar para Londres, você precisa ser examinada — comentei, me dando
conta que ela precisava de cuidados. — Merda, eu pulei com você nos meus braços lá na praia,
isso pode ter feito mal ao bebê.
— Não precisa surtar. — Sorriu, levantando a mão para que eu segurasse. — Ainda não
saiu o exame de sangue, e eu também não fiz o ultrassom.
— Posso mandar marcar hoje mesmo, saímos agora e vamos direto para o hospital.
— Calma, podemos curtir mais um pouco e depois ir embora.
Me deitei ao seu lado na cama, puxando seu corpo sobre o meu peito, o cheiro dela era
meu paraíso e, mesmo que o ódio ainda estivesse em meu coração, o amor por Olívia e meu bebê
era maior que tudo que guardei por anos.
— Meus pais vão ficar tão felizes. — Fechei os olhos, sentindo meu sangue ferver, eu a
queria só para mim e fazer com que seus pais pagassem por tudo e sumissem das nossas vidas,
faria de tudo para meu bebê ficar bem longe deles. — E o seu tio? Ele parece que não gostou
muito de mim.
Meu tio, de fato, era um grande problema, eu tinha prometido que não deixaria meus
sentimentos me confundirem, que acabaria com aquela família e isso incluía Olívia, mas tudo
mudou, ela transformou meu ódio em amor e agora, com nosso bebê, eu não deixaria que
Martins se intrometer.
— Esqueça ele, tudo que importa é vocês dois.
Olívia fechou os olhos, sorrindo, acariciei os seus cabelos, imaginando o fruto do nosso
amor correndo pela mansão, com cabelos castanhos e olhos claros, com o sorriso igual ao da sua
mãe e bagunceiro igual a mim, era um sonho lindo que eu faria de tudo para que se
concretizasse. Nós dois pegamos no sono, abraçados, um sentindo o calor do outro e, para minha
total surpresa, eu estava com a mão sobre sua barriga, mal tinha descoberto a gravidez e já me
sentia superprotetor.
— Amor, acorde, você precisa se alimentar — sussurrei em seu ouvido, ela gemeu,
abrindo os olhos.
— Que horas são? — Se sentou sobre a cama, se esticando.
— Hora de te alimentar — brinquei, eu já tinha pedido o almoço, cheio de frutas e
legumes, ela precisava começar a se alimentar melhor para que nosso bebê nascesse forte e
saudável.
— Brócolis? — Fez cara de nojo assim que viu seu prato. — Lentilha? Acho que erraram
o número do quarto.
Ela ainda estava com um roupão e, ao se aproximar de mim, eu arranquei o laço da peça,
deixando seu corpo inteiro nu, e me curvei beijando sua barriga. Olívia acariciou os meus
cabelos sorrindo.
— Você precisa se alimentar bem, a partir de amanhã, você terá uma nutricionista para
acanhar a gestação.
— Pra que tudo isso? Eu estou bem, estamos bem.
— Me deixe cuidar da minha família. — Encarei seus olhos. — Eu cresci sem uma,
sempre fomos só eu e meu tio, vocês agora são tudo para mim, Olívia.
— Tudo bem, mas sem lentilhas.
Sorrindo, eu beijei sua testa, eu tinha ido atrás de Olívia para me vingar, com ódio e
rancor, mas agora tudo que tenho é amor, um sentimento profundo que consegue mudar até um
coração amargurado.
Em toda a minha vida, eu nunca pensei que poderia encontrar o amor ou construir uma
família com ele, que viveria algo tão intenso como meus pais, que seria feliz como eles são, é
algo tão precioso e raro de se encontrar. Quando Théo afirmou que me ama, meu coração
disparou, por um breve momento, me peguei sorrindo ao imaginar nossa história de amor, o
quanto seremos felizes.
Segurei sua mão gelada, ele não parava de bater os pés enquanto a médica chamava pelo
meu nome para a consulta. Sorrindo, eu beijei sua boca, tentando acalmá-lo, nunca tinha visto
naquele estado e sabia que nossa família era importante para ele, até porque Théo perdeu seus
pais cedo demais e viveu solitário por anos.
— Você vai acabar desmaiando — comentei, ele se levantou da cadeira, a sala de espera
estava gelada e a ansiedade me deixava um pouco nervosa.
— Eu detesto esperar, deveria ter ido para o hospital do qual sou sócio, já teríamos sido
atendidos.
As mulheres grávidas ao nosso lado sorriram sem jeito, todos os pais estavam tranquilos,
esperando sua vez, mas o meu marido não, ele estava quase abrindo um buraco no chão e prestes
a comprar o hospital inteiro só para não esperar a minha vez.
— Laura me acompanha há muito tempo e é uma excelente médica e amiga, não aceito
outra pessoa para cuidar do meu bebê. — Théo voltou a sentar ao meu lado.
— Nosso bebê, não se esqueça disso. — Colocou a mão em minha barriga. — Não precisa
ficar nervosa, o que você escolher, eu seguirei, mas saiba que ficarei no pé dessa tal Laura, quero
acompanhar toda gestação e está por dentro de tudo.
— Senhorita Olívia. — Fomos interrompidos quando finalmente chegou minha vez.
Nós dois entramos na sala ao lado, a doutora Laura nos cumprimentou com um enorme
sorriso no rosto, ela pediu para que nos sentássemos na cadeira de frente enquanto ela me
entregava um papel.
— Parabéns, mamãe. — Encarou Théo. — Creio que você é o pai.
— Sim, pai e marido de Olívia. — Os olhos dele brilharam, assim como os meus, o nosso
bebê estava crescendo em meu ventre e, mesmo que aquele casamento fosse falso, nosso amor
era verdadeiro a ponto de gerar uma nova vida.
A doutora começou a falar sobre a gestação, os exames que eu precisaria fazer, as
vitaminas e todos os cuidados de agora em diante que vou ter que tomar.
— Ela está ficando muito enjoada, nada para em seu estômago, tem algum remédio que
você pode receitar que não afetará o bebê? — Era a décima quinta pergunta que meu marido
fazia a Laura, eu já estava ficando constrangida.
— Eu já coloquei na receita dela alguns remédios para amenizar os sintomas, mas tudo
isso passará depois das treze semanas de gestação.
— E quanto a pressão dela? Diabete gestacional? Infecção urinária.
Olhei feio para meu marido, eu sabia que ele tinha feito uma pesquisa a respeito de coisas
que poderiam dar errado em uma gestação, mas não tinha consciência de como ele estava
neurótico.
— Pelo que vejo, sua esposa está bem, senhor Philips. — Ela sorriu. — Vamos
acompanhar tudo de pertinho para que ela não tenha nenhum tipo de problema na gravidez, fique
calmo.
— Suponhamos que ela passe mal de madrugada, você poderá atender minhas ligações?
Vai largar tudo que está fazendo para examiná-la?
— Deus, é sério isso? — Apertei sua mão furiosa, ele estava deixando minha médica
constrangida.
— Amor, fique tranquila, eu só estou cuidando de tudo, me certificando que ela será a
melhor para vocês.
Revirei os olhos, sentindo minhas bochechas corarem. Théo se levantou, indo até uma
pasta que ele trouxe, e tirou alguns papéis de dentro dela antes de colocar o seu óculos de grau e
arrumar sua postura. Que merda ele estava prestes a fazer? Caminhou até a mesa de Laura,
colocando as folhas em sua mesa.
— É um contrato, onde diz que você ficará vinte e quatro horas por dia à disposição da
minha mulher. — Laura estava sem jeito, me sentia envergonhada com aquela situação. —
Deixei o valor em branco, me diga quanto você quer para largar esse hospital e ser a médica da
minha mulher.
— Senhor Philips, eu entendo que esteja nervoso, é pai de primeira viagem, é normal, mas
não posso aceitar esse acordo, minhas pacientes precisam de mim, eu faço isso por amor, não por
dinheiro.
Vejo meu marido olhar para Laura furioso, ele deixou os papéis em sua mesa, tirando seus
óculos, e passou a mão em seus cabelos, sorrindo amargamente.
— Deixarei o contrato com você, pense direito, senhorita Laura, minha esposa quer tê-la
como sua médica particular, e eu não aceito menos que isso.
— Que horas vamos ver o bebê? — falei, mudando de assunto, meu marido é um homem
prepotente demais que acaba esquecendo que nem tudo se compra com dinheiro.
— Agora mesmo — a doutora disse, se levantando da cadeira e indicando a pequena sala
ao lado. — Pelo exame que fizemos, o feto ainda é muito pequeno, entre cinco e seis semanas,
nesse momento, só poderemos vê-lo através de um transvaginal, um exame que não afeta a mãe e
muito menos o bebê.
Segurei em minha mão a roupa que ela me indicou para vestir antes de ir até o pequeno
banheiro da sala, me troquei e voltei para sala, Théo estava sentado em uma cadeira observando
tudo, me deitei sobre a cama, abrindo as pernas como Laura pediu.
Meu marido ergueu uma das sobrancelhas, segurando minha mão, naquele momento eu
também estava nervosa, minhas mãos, geladas, e meu coração, disparado, era a primeira vez que
iria ver o pequeno serzinho.
— Estão preparados? — Afirmei com a cabeça, sentindo um desconforto assim que ela
desligou o aparelho que parecia um membro masculino dentro do meu útero.
— Está tudo bem? — perguntou meu marido, eu sabia que ele já tinha lido a respeito
sobre aqueles exames, fazia uns três dias que tudo que Théo lia eram livros relacionados à
gestação e, quando finalmente minha consulta foi agendada, ele já estava por dentro de quase
tudo.
— Sim, só é um pouco desconfortável.
— Tem certeza de que não faz mal? — A doutora sorriu com tamanha preocupação do
meu marido.
— Sim, tenho certeza e olha lá — apontou para a pequena telinha ao nosso lado, as
imagens borradas me fizeram chorar igual a uma boba, um bebê estava em meu ventre, o meu
bebê, criado por mim e por Théo —, este pontinho aqui é o bebê de vocês.
— Você está vendo, amor? O nosso bebê.
Meu marido estava completamente apaixonado, eu nunca o tinha visto tão encantado,
saber que Théo estava se rendendo ao amor me dava a certeza de que nós dois construiríamos
uma linda história de amor.
— Estou. — Sorri sentindo seu beijo em minha testa.
— E esse aqui é o som mais lindo que vocês vão escutar em toda sua vida.
O barulho alto ecoou pelo local, tão intenso, era a batida do coração da nova vida que
geramos juntos, um sentimento surgiu em meu peito, maior que tudo que já senti antes. Por
aquele bebê, eu daria minha vida.
— É rápido. — Os olhos de Théo estavam vermelhos, mostrando que nossos sentimentos
eram recíprocos, nosso elo para vida inteira. — Tem certeza de que está tudo bem?
Olhei para a doutora sorrindo, ela já deveria estar cansada das paranoias do meu marido.
Eu sabia que Théo não a deixaria em paz.
— Está, sim, os batimentos cardíacos dos fetos geralmente são mais rápidos do que os
nossos, fique tranquilo, papai, o bebê está bem.
Sua mão estava gelada, nervoso demais enquanto olhava a pequena tela onde nosso bebê
de encontrava, era surreal pensar que eu entrei naquele acordo com o propósito de reerguer a
empresa da minha família e agora estava feliz com o mesmo homem, esperando o fruto do nosso
amor.
— Está tudo normal, mamãe e bebê estão bem.
— De quanto em quanto tempo, Olívia fará esses exames? — Lá vai ele de novo encher o
saco de Laura.
— Geralmente, eu peço de mês em mês ou até mesmo de quinze em quinze dias.
— O quê? — gritou, eu já estava sentada na cama depois que a doutora acabou de me
examinar. — Eu pensei que fosse toda semana ou até mesmo todo dia. Como vamos ficar
tranquilos sabendo que vai demorar quinze dias para ter a certeza de que nosso bebê está bem?
— Olívia — sorrindo, ela me encarou —, da próxima vez, deixe seu marido em casa —
brincou, dando uns passos até a porta. — Vou deixá-los a sós e depois voltarei quando estiver
mais calmo.
Com educação, ela saiu do ambiente, me deixando sozinha com Théo, ele bagunçava os
cabelos, andando de um lado para o outro, e apontou para a porta, me encarando.
— Ela não é uma boa doutora.
Soltei uma gargalhada.
— Um contrato? Você quis comprá-la com um acordo. — Coloquei a mão sobre a barriga
plana. — Seu papai é louco.
— Não fale isso de mim para o nosso bebê. — Se aproximou, sorrindo. — O papai é
cuidadoso, só quer que os dois fiquem bem.
Se curvou, beijando minha barriga, Théo estava radiante com a ideia de ser pai e eu
conseguia entender sua preocupação, todavia, sabia que ele me deixaria louca no decorrer da
gestação.
As coisas não estavam sendo fáceis para mim. De um lado, meu tio, o homem que me
ajudou em tudo depois da morte dos meus pais e me fez o homem forte que sou para destruir os
Carter e, do outro lado, Olívia, a garota que tem o sangue dos meus inimigos, porém, não tem
culpa das atrocidades que eles fizeram no passado para a minha família. Uma verdadeira roda-
gigante, em um momento, eu estava feliz com a família que construí e, no outro, estava em uma
sala de escritório, ouvindo as broncas do meu tio.
— Grávida? Você não consegue ver? Isso é tudo um plano para arruinar a sua vida, ela é
igualzinha aos pais.
Os gritos do meu tio ecoavam em seu apartamento, suas veias do pescoço saltavam, seu
rosto vermelho e seus olhos escuros mostravam a raiva que estava sentindo, não era fácil para ele
entender que minha mulher não era a culpada de nada, apenas uma falha do destino ao deixá-la
nascer em uma família tão perversa quanto aquela. Enchi o copo de uísque da garrafa da mesinha
de canto, estava calmo, mesmo com tanta confusão, eu me sentia feliz, eu tinha ouvido os
batimentos do coração do nosso filho e os dois estavam bem, isso era o que realmente importava
para mim, a felicidade da minha família.
— Não fale assim de Olívia, ela é minha esposa e mãe do meu filho ou filha. — Sorri com
a possibilidade de ter uma menininha. — Não sabemos o sexo ainda, mas não me importo.
— A verdade? — Ele caminhou até mim, tomando o copo de minhas mãos. — Seu pai e
sua mãe devem estar se revirando no túmulo, eles morreram por culpa de William Carter.
— Exato! Culpa dele, e não da minha mulher. Ela não é igual a eles, tio. — Encarava seus
olhos com a mesma intensidade que ele fazia. — Ela é bondosa, gentil e me ama.
— Tolo. — Soltou uma gargalhada. — Ela te ama porque não sabe o que você está
fazendo com a empresa do pai dela, não sabe que eles só estão à beira da falência por culpa sua e
que o contrato foi apenas um jeito de se vingar ainda mais deles.
Ouvir aquelas palavras me fez me sentar no sofá da sala, foi como um soco no estômago,
infelizmente, ele estava certo, minha mulher me ama, mas também ama os pais e, por eles, ela
teve coragem de se meter em um casamento falso. Eu estava com medo e tudo que pensava é que
não poderia viver sem Olívia e o nosso bebê.
— Ela não ficará sabendo — sussurrei.
— Ah, claro que não — zombou, se sentando ao meu lado. — Você está destruindo pouco
a pouco o que ainda resta da empresa da família dela, hoje mesmo fiquei sabendo que William se
desfez do seu barco. — Tomou um gole do uísque. — Me lembro bem de como ele se vangloriou
ao comprar, e agora ele é meu.
— Você o comprou? Com qual dinheiro?
— Abri o cofre da sua mansão e tirei alguns dólares, nada de mais. — Deu de ombro. —
Estou seguindo o nosso plano, diferente de você.
Encarei seus olhos furiosos. Como ele sabia a senha do cofre? E que ousadia era aquela de
entrar na minha mansão e mexer no meu dinheiro?
— Como você soube da senha do cofre?
— Acha que sou bobo, sobrinho, eu sei que todas as suas senhas são a data de aniversário
da sua mãe.
— Tio, eu não te dei permissão para usar o meu dinheiro — gritei.
— Estou fazendo isso pela memória dos seus pais. — Se levantou do sofá, — Já se
esqueceu de quem cuidou de você? Dediquei minha vida a te ajudar, a planejar tudo para
chegarmos até aqui e você se apaixonar por uma …
— Não termine essa frase, caso contrário, eu esquecerei de tudo que fez por mim — disse
furioso, eu não deixaria que meu tio desrespeitasse a minha mulher.
— É pior do que eu pensei, você está enfeitiçado, não consegue ver que vai acabar igual
ao seu pai.
Dei alguns passos para trás, me distanciando dele, não ficaria ali para discutir.
— Vai realmente preferir ela a seu tio? — perguntou antes que eu pudesse abrir a porta
para sair, não escolheria nenhum dos dois, até porque a vingança é contra os pais de Olívia, e não
contra ela, minha mulher é tão inocente quanto eu nessa história.
— Deixe Olívia fora disso, ela não tem culpa de ser uma Carter.
Não esperei que ele me respondesse, saí do seu apartamento, indo direto para meu carro, já
passavam das oito horas da noite e eu me sentia frustrado por não ter ido para casa mais cedo,
para jantar com minha mulher e ter certeza de que ela está seguindo a dieta que a nutricionista
passou, o medo de perdê-la fazia meu coração disparar. Depois da morte dos meus pais, eu nunca
tinha me sentido assim antes, feliz e completo. Dirigi por alguns minutos até chegar na mansão e,
ao entrar em casa, eu perguntei a uma das empregadas sobre Olívia, ela me disse que minha
mulher não tinha jantado e estava em seu quarto trancada, um calafrio percorreu o meu corpo. O
que tinha acontecido? Corri o mais rápido que pude, subindo as escadas e, ao abrir a porta do seu
quarto, pude notar seu corpo jogado sobre a cama, seus cabelos castanhos estavam soltos e sua
mão sobre a barriga, mostrando sua preocupação com nosso bebê.
— Ei, amor. — Caminhei até a cama, acariciando os seus cabelos. — Por que está nesse
quarto? — Eu não a queria mais ocupando o quarto de hóspedes, queria minha família ao meu
lado, em nossa cama.
— Você demorou para chegar. — Ela levou o rosto, mostrando seus olhos vermelhos,
estava chorando, aquilo partia meu coração.
— Por que está chorando? Eu sinto muito, fui até a casa do meu tio e acabei perdendo o
horário.
— O meu pai ligou. — Se sentou sobre a cama. — Estou triste por ele, nossa família tinha
um barco e gostávamos de velejar, mas hoje …
Sua voz estava calma e serena, suas lágrimas voltaram a cair sobre seu rosto e se antes eu
já estava furioso com meu tio, agora eu queria bater em sua cara por ferir minha mulher assim.
— Ele teve que se desfazer dele, são tantas lembranças jogadas fora, entregues a um
desconhecido.
— Vem aqui, amor. — Me aconcheguei na cama, puxando seu corpo para cima do meu
peito. — Posso, amanhã mesmo, comprar um barco para você.
— Você não entende. — Levantou a cabeça, me encarando. — Não é o barco, e, sim, as
lembranças que tenho ao lado da minha família nele, meu pai está devastado e isso me corta o
coração.
Coloquei minha mão sobre a sua em cima da barriga, aquelas emoções passavam para o
nosso bebê e eu não queria que ele ou ela sentisse a tristeza de sua mãe.
— Por favor, não fique assim, se você estiver triste, o nosso bebê também estará. — Beijei
sua testa. — Suas emoções passam para ele, fique calma e imagine que tudo irá passar, logo seu
pai terá dinheiro para comprar de volta o barco.
— Obrigada. — Voltou a se deitar em meu peito. — Nunca imaginei que um casamento
falso iria me trazer o homem da minha vida.
Sorriu amarga, arrumando seus cabelos, eu tinha medo do que ela poderia fazer depois que
descobrisse toda verdade, que descobrisse o verdadeiro vilão de toda desgraça que estava
acontecendo a sua família, de descobrir que eu sou a pessoa que acabou com a empresa dos seus
pais e que meu tio acabou de tirar mais uma das coisas valiosas para ele, e que queremos ver
William Carter no fundo do poço.
— É culpa do destino. — Me curvei, encarando seus olhos. — Mudando de assunto, por
que a senhora Philips não jantou essa noite?
— Eu estava sem ânimo e muito enjoada. — Fechou os olhos. — E, também, não gosto de
comer sozinha.
— Você já não está mais sozinha, meu amor. — Alisei sua barriga. — Tem uma parte
minha com você e é por ela que você terá que comer. Vou até lá embaixo buscar sua comida.
— Não precisa. — Me levantei assim que ela também saiu dos meus braços. — Estou
enjoada e sem fome.
— Só um pouco, amor, a doutora me disse que você precisa ter uma alimentação saudável,
depois que saímos do consultório, eu liguei para ela — falei, me arrependendo logo em seguida,
Olívia me olhou com uma cara feia.
— Ligou para a doutora Laura de novo?
— Eu precisava saber se peixe faz mal para gestantes.
— Deus, você me enlouquece e enlouquece ela.
Ela caminhou para longe de mim, entrando no banheiro.
— Ainda bem que liguei, eu descobri que alguns peixes precisam ser evitados na gestação,
principalmente comer peixe cru, não é recomendado.
— Théo — olhei para ela —, pare de falar em peixe cru, estou ficando enjoada.
— Tudo bem, mas amanhã eu te mostro a matéria que li a respeito de algumas comidas
que precisam ser evitadas.
Ela revirou o olho antes de puxar seu corpo para o meu, acariciei suas bochechas, beijando
sua boca.
— Eu te amo, Olívia.
Três meses depois

Os meses estavam passando rápido demais, minha barriga tinha crescido e estava
redondinha, os vestidos já não estavam cabendo como antes, as costas doíam, mas os enjoos
passaram, porém, vieram os desejos, um mais estranho que o outro, todavia, estávamos mais
felizes do que nunca e até os meus pais, que antes estavam tristes com os problemas da empresa,
ficaram radiantes com a notícia de serem avós. Théo continuava enchendo o saco da doutora
Laura, ele tinha comprado um aparelho para ouvir os batimentos cardíacos do nosso bebê e,
todas as noites, ele colocava antes de dormir, fofo e preocupado, um belo papai babão.
Caminhei rapidamente, subindo as escadas, nós dois tínhamos acabado de chegar de um
evento beneficente, e eu estava furiosa com meu marido por ele ter armado uma bela cena na
frente de todos só pelo simples fato de um dos homens que estavam lá ter colocado a mão sobre
a minha barriga, um homem que tinha idade para ser meu pai e que estava acompanhado de sua
esposa.
— Suba as escadas devagar, você pode escorregar e cair.
— Vá à merda, Théo Philips — gritei, subindo os degraus, ele vinha atrás de mim,
nervoso.
— Ele mereceu o soco — disse enquanto eu caminhava até a porta do nosso quarto. —
Onde já se viu colocar a mão na barriga da minha mulher?
Entrei no nosso quarto, indo até a cama, estava ofegante e com dor nas costas, subir a
escada com uma barriga de quase dezenove semanas já não era tão fácil assim, peguei em minhas
mãos o travesseiro de Théo, entregando para ele.
— Hoje você vai dormir no quarto de hóspedes para aprender a não ter ciúmes de todos os
homens que se aproximam de mim.
— Está brincando? — Soltou uma gargalhada. — Você está brigando comigo porque eu
quis te proteger?
— Proteger de quem? Ele estava me contando que sua filha também está grávida, que sua
barriga está maior que a minha e que estão achando que são gêmeos. — Cruzei os braços. — A
esposa dele estava do nosso lado.
— Não quero saber, o único homem que pode tocar em sua barriga sou eu.
Estava prestes a xingá-lo quando senti uma leve pontada do lado direito da barriga,
coloquei a mão sorrindo, era um chute, o primeiro do nosso bebê.
— O que foi? Está passando mal? — Théo segurou meu rosto preocupado, mas eu estava
tão encantada com a sensação que não conseguia falar absolutamente nada, puxei sua mão
levando até o lugar, outro chute fez e o pai sorriu ao me encarar. — Isso foi um chute?
Confirmei com a cabeça, sentindo meus olhos lacrimejarem, Théo jogou o travesseiro
longe antes de ajoelhar na minha frente, e colocou sua cabeça encostada em minha barriga
enquanto nosso bebê chutava.
— É tão incrível — disse, sorrindo —, saber que tem alguém aqui dentro que criamos
juntos.
— É, sim, mas ainda está de castigo, quarto de hóspedes, Théo Philips.
Ele me encarou antes de voltar sua atenção para minha barriga redonda.
— Sua mãe é malvada, lembre-se disso quando nascer. — Outro chute. — Eu sei, você
não quer ficar longe do papai, mas a mamãe não me quer por perto.
Respirei fundo, aquilo era um complô contra mim.
— Vamos, Théo, para o quarto de hóspedes.
— Tem certeza? — Se levantou, dando um beijo em meu pescoço. — Eu posso te fazer
uma bela massagem.
— Nos meus pés? — perguntei, me sentindo tentada. — Eles estão começando a ficar
inchados.
— Sim e depois posso massagear seus seios. — Seu sorriso cafajeste mostrava o que
realmente ele queria.
— Théo Philips, para o quarto de hóspedes.
Respirou fundo, indo até o travesseiro no chão, o pegando.
— Última chance.
— Boa noite.
Depois que ele saiu, fui direto para o banheiro, tomei um banho, coloquei um pijama e me
deitei sobre a cama, nosso bebê chutava sem parar, talvez com saudades do pai. Tentei dormir,
mas não consegui, estava com fome e com um desejo estranho de tomar um sorvete de pistache.
Só de pensar que minha boca salivou, me levantei da cama, caminhando em passos lentos até o
quarto ao lado, meu marido teria que arrumar o bendito sorvete para saciar o meu desejo.
Empurrei a porta, indo nas pontinhas dos pés, Théo estava apenas de cueca, dormindo
descoberto, umas das manias que ele tinha, fui até a cabeceira da cama, me curvando próxima ao
seu ouvido.
— Está acordado? — falei, o fazendo abrir o olho direito.
— Não.
Cruzei os braços brava, ele conseguia me tirar do sério, era óbvio que estava acordado.
— Pois trate de acordar, nosso bebê quer sorvete de pistache.
Théo abriu os dois olhos, puxando meu corpo, me fazendo cair ao seu lado da cama e,
sorrindo, ele beijou minha boca.
— Você me perdoa? — Encarei seus olhos, sentindo o bebê chutar outra vez, nem ao
menos tinha nascido e já era do time do papai.
— Só se você encontrar o sorvete de pistache para mim.
— Acho justo ir atrás dos seus desejos, logo que você é minha, o bebê é meu e … —
beijou meu pescoço outra vez, fazendo uma corrente elétrica passar pelo meu corpo — sou dono
dos seus arrepios.
— Eu te amo — disse, beijando sua boca.
— Eu também te amo, minha esposa troféu.
Juntos fomos atrás do bendito sorvete de pistache, não foi uma missão fácil, na verdade,
quase impossível, até que uma loja de conveniência estava aberta e tinha um pote grande de
sorvete. Feliz da vida, eu segurava meu precioso e, ao chegar na mansão, corri para cozinha e
abri a geladeira, retirando de dentro um pedaço de melancia, me sentei na cadeira da mesa
enquanto Theo estava parado me observando, abri o pote de sorvete, tirando um pouco de dentro
e colocando em cima da melancia. Enquanto mordia conseguia delirar com o sabor, era a melhor
coisa que eu já tinha comido em toda minha vida.
— Nem olhe, não vou dividir — falei, mordendo mais um pedaço da melancia lambuzada
com o sorvete de pistache.
— Pode ficar tranquila, é tudo seu.
Meu marido se aproximou de mim acariciando meus cabelos, eu continuei comendo até
me sentir completamente cheia. Arrumei tudo junto dele antes de subirmos para o quarto, como
eu o tinha perdoado, Theo voltaria comigo para nosso quarto. Ao entrar, senti um enorme enjoo,
me fazendo correr para o banheiro, eu não deveria ter comido tanto assim. Ao me curvar na
frente do vaso, coloquei tudo para fora. Trêmula e fraca, me sentei no chão frio do banheiro
enquanto meu marido acariciava minhas costas.
— Eu odeio vê-la assim, dói mais em mim do que em você.
— Dizem que, quando coloca para fora, é de fato um desejo de grávida — brinquei,
olhando para ele. — Não me aproveitei de você.
— Com aquela mistura louca que você fez, eu tive certeza de que era mesmo um desejo de
grávida.
Soltei uma gargalhada, ele me ajudou a escovar os dentes antes de me pegar no colo e
caminhou até a cama, me colocando sobre ela. Nosso bebê ainda estava chutando, não podia
sequer ouvir a voz do pai que começava uma verdadeira bagunça em meu ventre.
— Nem acredito que amanhã vamos descobrir se é uma menininha ou um menininho —
comentou meu marido, acariciando minha barriga redonda.
— Você tem preferência?
— Não, independente do que seja, eu vou amar incondicionalmente. — Ele me encarou
sorrindo. — Eu dei uma pesquisada sobre a doutora Laura e só tem dois anos de carreira com a
especialização na obstetrícia, você tem certeza de que ela é a pessoa ideal para trazer nosso bebê
ao mundo?
Fechei os olhos, tentando não explodir com ele, minha doutora tinha anos, ginecologia e se
especializou em obstetrícia, uma ótima médica, mas Théo ainda não confiava nela e talvez em
nenhum médico que a gente encontrasse, nenhum seria perfeito para ele.
— Acho que o papai quer voltar para o quarto de hóspedes — falei, alisando minha
barriga, o bebê chutou outra vez como um protesto.
— Retiro o que eu disse. — Sorrindo, ele me puxou para o seu peito. — Eu só quero ficar
aqui para sempre, sentindo o seu cheiro.
Fechei os olhos, sentindo seu carinho. Enquanto nós três estávamos dentro daquele quarto,
todos os problemas desapareciam, mesmo que eu ainda estivesse preocupada com a situação
financeira dos meus pais, com o contrato que tenho com Théo e com o nosso bebê, parecia que,
naquele momento, tudo sumia e a única coisa que restava era nossa família feliz.
Por anos, a única coisa que importava era a vingança contra os Carter, o ódio que
alimentei por anos em meu peito não era maior que o amor que eu sentia pela Olívia e o nosso
bebê. Por mais que meu tio estivesse furioso comigo, eu não deixaria que nada de ruim
acontecesse a minha mulher, ela era tão inocente e ingênua, não tinha culpa de ser filha daquele
maldito homem. Segurei sua mão, olhando para pequena tela ao lado da cama, já estávamos no
consultório da doutora Laura, ela passava o gel na barriga redondo da minha mulher antes de
começar o ultrassom, nosso bebê já estava todo formado, pezinhos, mãozinhas e eu tinha quase
certeza de que seu narizinho é igual ao meu.
— Estão prontos? — perguntou a doutora, eu estava tão hipnotizado, olhando o pequeno
bebê na tela, que nem ao menos consegui responder.
— Théo. — Ouvi a voz da minha mulher mudando minha atenção para ela. — Ela pode
revelar?
— Claro, estou ansioso para isso.
A doutora apontou para um canto pequeno da tela, mostrando o nosso bebê. Sorrindo, eu
encarei minha mulher sentindo meu coração disparar, minhas mãos estavam suadas e trêmulas.
— É um belo garotinho sapeca. — Foi como se o tempo tivesse parado bem naquele
momento, os ponteiros do relógio na parede mantiveram a hora e, em minha cabeça, eu guardava
aquela imagem do meu filho, nunca me esqueceria daquele momento, da nossa família e do
pequeno garotinho travesso no ventre de minha esposa. — Vejam como se mexe, estava louco
para sair e jogar bola com o papai.
Olívia apertou a minha mão, encarei seus olhos cheios de lágrimas assim como os meus,
eu tinha uma família, mesmo com tanto ódio que existia em meu coração pelos Carter, o amor
por minha mulher e pelo garotinho ultrapassou todas as barreiras. Sequei as lágrimas no rosto
dela sorrindo. Quando propus o contrato, não imaginei que viveria a melhor experiência de toda
minha vida.
— Está tudo bem com mãe e filho. — A doutora limpou com um papel a barriga redonda
de Oliva antes de caminhar até a porta. — Espero vocês na sala ao lado.
Assim que a porta se fechou, os ponteiros do relógio voltaram a se mover, respirei fundo,
secando uma lágrima solitária que caiu em minha bochecha, sorrindo.
— Um garotinho — sussurrei no ouvido da minha esposa.
— Travesso e inquieto — brincou enquanto eu a ajudava a se levantar. — Precisamos
pensar em um nome para ele.
Ela ainda não sabia, mas eu tinha pesquisado dias a fundo nomes de bebês e seus
significados, era praticamente um novo hobby.
— Eu tenho um nome perfeito para ele.
— Tem? Qual? — Ansiosa, ela me encarou.
— Antony, que significa valioso, tudo de mais precioso que tenho em minha vida.
Sorrindo, ela acariciou meu rosto. Depois da morte dos meus pais, eu sempre sonhei em
sentir um amor tão genuíno como aquele. Eu amo Olívia, minha mulher é importante para mim,
mas o amor de um filho é precioso demais e sei que ela também sente isso, nosso Antony é
valioso demais para nós dois.
— Acho que ele gostou. — Ela segurou minha mão, levando até a minha barriga, nosso
filho chutava alegremente, talvez ele já entendesse o real significado do seu nome. — É perfeito
para ele.
Depois de mais algumas instruções da doutora, fomos direto para uma loja infantil.
Ansiosa demais, minha mulher correu até a vitrine com sapatinho pequeno, que mal cabia em
nossas mãos. Olhei para um deles, um mini all star na cor vermelha, ele ficaria tão lindo no
pequeno pezinho do nosso Antony.
— É cedo demais para levar um mordedor? — Soltei uma gargalhada, vendo minha
mulher segurar um mordedor em formato de carrinho. Levantei minha mão, mostrando outro
pequeno mordedor em formato de mamadeira, ela também soltou uma gargalhada, nós dois
estávamos ansiosos demais para a chegada dele.
Antes, eu estava com medo de toda mentira que envolve nosso amor, com receio do que
Olívia faria quando descobrisse toda verdade, mas eu sentia que nada nem ninguém poderá
destruir o nosso sentimento, mesmo que ele estivesse sendo construído em cima de ódio e rancor.
— Acha que em quanto tempo ele poderá usar essa blusa polo? — Levantei uma miniatura
na cor azul-bebê, parecida com uma que eu tinha comprado há pouco tempo.
— É tamanho um, senhor — disse a vendedora. — Se ele for gordinho, com sete ou oito
meses, já servirá.
— Já pensou? Cheio de dobrinhas engatinhando pela mansão. — Minha mulher estava
radiante, assim como eu e, a cada dia que se passava, eu ficava ainda mais apaixonado por ela.
— Não vejo a hora — comentei, segurando algumas outras peças de roupas.
Compramos metade da loja e ainda sentia que faltava muita coisa. O quarto dele seria
montado por mim, fazia questão de pintar e montar os móveis, assim como meu pai fez comigo,
e eu faria com Antony, meu filho será o bebê mais amado do mundo. No final da tarde, voltamos
para a mansão e, para minha total surpresa, meu tio estava a minha espera na sala de estar. O que
era para ser um dia feliz e longe de toda merda que envolve minha vingança, se tornou uma bela
discussão.
— Vejo que fizeram muitas compras — falou assim que viu as sacolas em minhas mãos.
— Para quem é tudo isso?
— Para Anthony. — Olívia passou a mão em sua barriga redonda, chamando a atenção do
meu tio. — É um menino.
Eu conseguia ver o ódio nos olhos do meu tio, o seu rancor e repulsa pelos Carter o faziam
esquecer que aquele bebê também tem o nosso sangue e que ele faz parte da nossa família.
— Um menino. — Sorriu amargamente. — Parabéns, vejo que estão muito felizes com a
notícia.
— Sim, nosso filho é muito amado — minha mulher falava animada, segurei sua mão,
encarando seus olhos, queria afastá-la de perto do meu tio, do seu olhar e da sua raiva.
— Suba, amor, descanse um pouco, e daqui a pouco subo para fazer uma bela massagem
em você.
— Tudo bem, estou precisando mesmo. — Olhou para meu tio. — Desculpe não ficar com
vocês, mas sabe como é a vida de uma grávida — brincou.
— Não se preocupe, descanse para que Anthony venha ao mundo com saúde.
Ela se retirou, me deixando a sós com ele. Coloquei as sacolas sobre o sofá antes de
encará-lo.
— O que está fazendo aqui? — perguntei furioso, já me sentia desconfortável com sua
presença. — Depois do que fez, achei que teria vergonha de vir até a minha casa.
— Vergonha? De estar seguindo com o plano? — Caminhou até as sacolas, abrindo uma
delas, e tirou umas das pequenas roupinhas. — Um bebê? Está vivendo um conto de fadas com o
inimigo? Esse menino tem sangue dos Carter, o mesmo sangue que matou os seus pais — falou
alto, me fazendo segurar em seu braço.
— Fale baixo, minha mulher pode ouvir.
Soltou uma gargalhada.
— Seu pai deve estar se revirando no túmulo, você é uma vergonha para nossa família.
— É isso que veio fazer aqui? Pois se for, pode ir embora.
— Não, eu vim avisar que, mesmo que você tenha deitado com o inimigo e … — se calou,
olhando para a roupinha —, bom, eu continuarei com o plano, vou destruir todos eles, e isso
inclui a sua amada mulher.
Encarei o meu tio com fúria, ele estava indo longe demais ameaçando Olívia.
— Tio, sou grato por tudo, mas se tocar em um fio de cabelo que seja da minha esposa, eu
não responderei por mim. — Ele sorriu.
— Você fez sua escolha, não se arrependa disso. — Jogou a roupinha sobre as coisas. — E
parabéns pelo menino. — Caminhou para longe de mim, indo até a porta de saída. — Saúde para
Antony — disse antes de ir embora.
Me sentei no sofá, olhando para as roupinhas ao lado, algo dentro de mim estava me
dizendo que eu teria que ir além para ficar com Olívia e meu filho, teria que perdoar os Carter
para mostrar o meu verdadeiro amor. Passei as mãos no cabelo, me levantando, peguei todas as
coisas do nosso filho, indo para o nosso quarto. Ouvi o barulho do chuveiro, minha mulher
estava tomando banho. Sorrindo, eu entrei no cômodo, tirando minha roupa, eu amava tomar
banho com ela e beijar seu corpo enquanto a água morna escorria pelo seu pescoço.
— Hum — gemeu assim que agarrei a sua cintura. — Seu tio já foi embora?
— Sim. — Beijei seu pescoço. — Mas não quero falar sobre ele, venha aqui. — Virei seu
corpo para que ela encarasse meus olhos. — Eu quero te fazer gozar — sussurrei em seu ouvido.
— O que está esperando, senhor Philips?
Sorrindo, eu levei minha mão até sua parte íntima e acariciei o seu clitóris, fazendo Olívia
gemer alto. Ela segurou com força em meus ombros enquanto eu introduzia dois dedos dentro
dela, massageando em um ritmo constante, ouvindo seus gemidos e sentindo sua parte íntima
quente.
— Ah … Théo… isso … Céus. — Ela estava fora de si, perdida em seu próprio desejo e
prazer.
— Isso, sinta o quanto eu posso te dar prazer. — Continuei cada vez mais rápido e,
quando finalmente se entregou ao prazer, segurei seu corpo mole em meus braços.
— Eu te amo, nunca se esqueça disso — falei, sentindo um calafrio percorrer meu corpo,
eu estava com medo do que meu tio poderia fazer contra nós e de como minha mulher reagiria
com a notícia de que tudo foi uma grande mentira.
Os meses estavam passando rápido demais, eu amava sentir Antony se mexendo em meu
ventre, mas, a cada dia que se passava, ficava mais apertado para ele. Todas as vezes que seus
chutes atingiam a minha costela, eu gemia de dor e Théo prontamente conversava com nosso
filho, tentando acalmá-lo, pedindo para que tivesse paciência que logo ele sairia da minha barriga
e teria um campo inteiro de futebol só para ele jogar bola. Entrei na casa dos meus pais ouvindo
os gritos de felicidade da minha mãe, eles estavam animados com a chegada do neto e isso os
fazia se esquecer da atual situação da nossa empresa, mesmo que Théo me garantisse que, no
final dos dois anos, iria cumprir com o prometido e fazer com que a empresa do meu pai saísse
do buraco, mas eu ainda me sentia insegura com o acordo e tudo que o envolvia.
— Está tão grande. — Minha mãe acariciava minha barriga de quase sete meses. — Esse
garotão vai puxar ao pai, Theo é alto, diferente da nossa família.
— Falando nele, acredita que meu marido teve a brilhante ideia de construir um campo de
futebol para Antony?
Ela soltou uma garotada.
— Deixe, querida, depois de tudo que passou com os pais, merece essa felicidade que está
sentindo.
Caminhamos juntas até o sofá da sala.
— Mamãe, como tudo aconteceu? Eu li algumas coisas, mas não tem muita coisa.
— Henry era um homem muito bom, ele ajudou a seu pai a construir a nossa empresa e,
quando o irmão dele levou a empresa dos Philips à falência, o pobre homem enlouqueceu e
cometeu suicídio.
— Meu Deus! — Coloquei minha mão sobre a boca. — E a mãe de Theo, o que aconteceu
com ela?
— Algumas pessoas falam que ela morreu de tristeza, e outras falam que foi um acidente
de carro.
— É triste saber que meu marido cresceu sem os pais. — Alisei a minha barriga. — O
amor de dois pais não se compara a nada.
— Não, e aquele tio dele é um homem muito estranho, seu pai e Henry cansaram de ir
buscá-lo em cassinos, mas tudo mudou quando ele começou a mostrar seu interesse em mim, seu
pai ficou furioso e se afastou completamente.
— Eu sinto algo ruim nele, no jeito que ele olha para mim, às vezes tenho até medo.
— Calma, querida. — Acariciou os meus cabelos. — São outros tempos, você é mulher do
sobrinho dele e está esperando o seu herdeiro.
— Você está certa. — Sorri, eu não queria preocupá-la, mas sentia um aperto no peito.
Eu tinha passado a tarde inteira ao lado da minha mãe e, no final da tarde, corri para casa,
estava morrendo de saudades do meu marido e da sua massagem. Ao entrar na mansão, uma das
empregadas me disse que ele estava com seu tio no escritório, caminhei em passos lentos até a
porta, ouvindo alguns gritos de dentro dela.
— Acredita mesmo que ela vai ficar com você quando descobrir sobre tudo que fez para o
pai dela?
— Ela não precisa saber.
O tio de Theo estava ao seu lado com um copo de uísque na mão. Arqueei a sobrancelha,
tentando entender o que eles estavam conversando. O que ele tinha feito com meu pai? O que eu
não precisava saber?
— Não se engane, sobrinho, ela tem o mesmo sangue pobre, vai acabar com sua vida,
assim como foi com sua família.
— Olívia não tem culpa de nada, ela é tão inocente quanto eu nessa história.
— Você não pensou nisso quando a fez assinar aquele acordo e quando fez o pai dela se
encher de dívidas e chegar à falência.
Senti um aperto no peito, minhas mãos estavam trêmulas e minha respiração, acelerada e,
assim que entrei com rapidez no escritório, Théo me encarou apavorado, enquanto seu tio sorria.
— Do que ele está falando, Theo? — gritei, encarando o meu marido.
— Amor, suba para o quarto. — Tentou se aproximar de mim, mas dei um passo para trás.
— Me diga, você está por trás das dívidas do meu pai? — Silêncio foi tudo que recebi do
meu marido.
— Não só das dívidas, como também foi ele que comprou uma parte da empresa.
— Cale a boca, tio. — O grito de Theo me fez tremer, ele tinha arruinado a vida dos meus
pais e depois me enganou, dizendo que me ajudaria.
— Deixe que ele fale, preciso saber o quão burra fui.
— Foi tudo um grande plano por vingança, Théo conseguiu fazer com que seu pai
precisasse de dinheiro, fez com que nenhuma empresa quisesse comprar os seus produtos e as
vendas começaram a cair gradualmente. Ele estava com tudo planejado, até mesmo o dia que
vocês se conheceram.
Encarando os olhos do meu marido, eu me sentia um pouco tonta, fechei os olhos,
respirando fundo enquanto Antony não parava de mexer em meu ventre, era um castelo de areia
que tinha acabado de desabar em meus pés.
— Théo, me diga que é tudo mentira, que você não fez isso? — As lágrimas já caiam
sobre o meu rosto, ele continuou em silêncio. — Em algum momento, você me amou?
Era tudo mentira, as juras de amor, os dias que ele sorria para mim e até mesmo as suas
carícias, tudo enganação.
— Eu te amo, Olívia.
— Ele pode até te amar, mas o ódio que sente por sua família é muito maior, seu pai está
prestes a perder tudo, até mesmo sua casa, e ficará no olho da rua. — Com um piscar de olhos,
eu vi Théo partir para cima do seu tio, dando um soco de direita em seu rosto, o homem caiu no
chão com a mão segurando o rosto, soltando uma gargalhada.
— Já disse para calar a porra da boca.
— Você pode me socar, mas isso não vai mudar o passado e não vai fazer William Carter
sair do buraco que você o colocou.
— Théo… — sussurrei com a mão em meu ventre, eu estava fora do ar, me sentindo bem
longe dali, pedindo a Deus para que tudo aquilo não passasse de um pesadelo e que eu acordasse
em breve. — Por que foi atrás dos meus pais? Eles não te fizeram mal algum.
— Amor, seus pais não são os mocinhos dessa história, apenas se acalme. — Se
aproximou de mim. — Pense em nós e em Antony.
— É por isso que você disse que ele foi um erro, porque você sabia que, no final dessa
história, eu iria parar na sarjeta junto dos meus pais.
— Não, claro que não, de início, eu propus o casamento falso com intuito de ter a empresa
do seu pai para mim, eu sabia que ele não venderia todas as ações, e William precisava pagar por
tudo que ele fez, precisava tirar os seus bens mais preciosos, você e a empresa.
— O que ele te fez? — gritei, eu estava sentindo um incômodo no pé da barriga e sabia
que aquilo era por causa do nervosismo, mas precisava de respostas, de entender todas as
mentiras que envolviam aquele maldito acordo.
— Você está nervosa demais, me deixe te levar até o nosso quarto. — Tocou em meus
braços, mas eu o empurrei para longe de mim.
— Me diga, o que ele te fez?
— Seus pais acabaram com a vida dos meus, ele se suicidou quando William Carter deu
um golpe nele, o deixando sem nada, e minha mãe foi vítima de um atentado, cortaram os freios
do carro que ela se encontrava.
— Não pode ser. — Balancei a cabeça em negação, deixando mais algumas lágrimas
caírem. — Não, vocês são loucos, só pode ser isso.
A dor se intensificou antes de eu perder o equilíbrio e a escuridão me abater, eu estava
jogada em um abismo com a minha dor, longe de todo aquele conto de fadas que Theo tinha me
apresentado, era tudo uma grande mentira, um acordo para destruir a minha família. Não sabia
quanto tempo tinha ficado desacordada, mas, assim que abri os olhos, pude ver Théo andando de
um lado para o outro com o celular na mão.
— Doutora, eu preciso de você agora aqui — gritou. — Não me importo com os outros
pacientes, a minha mulher está desmaiada… — Desligou o celular assim que percebeu que tinha
acabado de acordar, correu, ficando ao lado da cama, e segurou minha mão, a beijando. — Por
Deus, Olívia, me diga que está bem?
— Fique longe de mim — falei, puxando minha mão, ainda estava atordoada.
— Não me peça isso, se eu ficar um dia longe de vocês, eu morrerei.
— Que morra, você acabou comigo, destruiu minha família e me fez assinar um contrato
falso, tudo por vingança.
— Eles mataram os meus pais.
— Como tem tanta certeza? Me diga, Theo, como sabe que seu pai se suicidou por causa
da família, e não por outro motivo?
Ele ficou em silêncio, me encarando por alguns segundos.
— Eu vou embora daqui. — Tentei me levantar da cama, mas ele me impediu.
— Não queria que fosse assim, mas eu não posso te deixar ir embora.
— Pretende me manter como prisioneira?
Theo sorriu amargamente, colocando sua mão sobre minha barriga. Antony,
automaticamente chutou para o pai, como se já soubesse diferenciar o toque.
— Você quer a empresa dos seus pais de volta? O contrato ainda é válido, se quebrá-lo
agora, perderá tudo.
— Está mesmo fazendo isso comigo? — Mais lágrimas caíram sobre o meu rosto. — Vai
me obrigar a ficar?
— Olívia, me entenda, quando eu te fiz assinar o contrato, só existia ódio em meu coração,
mas você me mudou, o amor que sinto por nossa família é muito além de todo rancor que estava
guardado por anos.
— Se me ama tanto assim, me deixe ir embora, entregue a empresa do meu pai e nos deixe
em paz.
Ele levantou a mão, acariciando os meus cabelos.
— Eu não posso, se você for embora, levará o meu coração junto e não existirá mais vida
para mim.
Por mais que eu quisesse confiar nele, sabia que não poderia, Théo tinha me colocado em
um casamento falso com o intuito de destruir minha família, por vingança, sem ao menos ter a
certeza de que os meus pais eram culpados de tudo. Sem coração, ele arruinou a minha vida e
criou uma história de amor no meio de mentiras.
Nunca acreditei na força do amor, muito menos que um dia eu amaria tanto alguém a
ponto de largar as minhas próprias vontades para ver a outra pessoa feliz. A vingança que
alimentei por anos já não fazia mais sentido, na verdade, nada em minha vida faria sentido sem
minha família, sem os sorrisos de Olívia e seu cheiro que incendeia o meu peito. Acariciei sua
barriga enquanto ela dormia, seus olhos estavam inchados de tanto chorar e o nosso pequeno
Anthony chutava em seu ventre. Eu sabia que ele sentia tudo que sua mãe estava passando e isso
fazia meu coração doer, era por culpa minha que Olívia estava naquele estado, triste e
amargurada, sem vontade até mesmo de comer. Precisava fazer algo, todavia, estava perdido
demais, entre o amor e o ódio. Largar ou não a minha vingança?
— Amor, você precisa comer algo. — Ela abriu os olhos, despertando do seu sono
profundo, e tirou minha mão do seu ventre, se sentando na cama.
— Não toque em mim — furiosa, ela falou, se afastando.
Meu coração se quebrou em mil pedaços, e eu podia ver sua raiva em seus olhos, os
mesmo que me olharam enquanto ela jurou seu amor por mim. O que eu fiz? Por que o destino
estava sendo tão cruel comigo?
— Por favor, apenas coma. — Me levantei, mostrando a bandeja sobre a mesinha de canto
com suas frutas favoritas e um pouco de mel.
— Eu não estou com fome e quero que você saia desse quarto agora.
— Olívia, eu sei que está magoada, sei que … — Fechei os olhos, respirando fundo,
tentando procurar as palavras certas para lhe dizer, mas era quase impossível conseguir me
explicar depois de tantas mentiras. — Eu só preciso que pense no nosso bebê, ele é mais
importante que tudo que está acontecendo.
Ela olhou para sua enorme barriga de sete meses por alguns segundos antes de caminhar
até a mesinha, pegou a bandeja em suas mãos voltando para cama e se sentou antes de tirar um
garfo com um pedaço de morango.
— Pronto, agora você pode sair.
Me aproximei da cama, ficando de joelhos, estava desesperado, só queria que ela me
perdoasse.
— O que eu preciso fazer para que você entenda que eu te amo? — Encarei seus olhos,
sentindo os meus lacrimejarem.
— Entregue a empresa dos meus pais e me libere deste contrato, é apenas isso que quero
de você.
— Eu te amo, não posso fazer isso.
— Não, você acha que ama, mas é tudo uma grande mentira, uma ilusão que você criou
para ferir e destruir minha família.
Me levantei, sorrindo amargamente, segurei uma de suas mãos e levei até o lado esquerdo
do meu peito, onde meu coração estava disparado, palpitando por ela, pelo nosso filho e por
nossa família.
— Veja, isso não é uma ilusão, nem uma mentira, ele está assim por você. — Deixei uma
lágrima cair. — Eu te amo, Olívia, mesmo que não acredite, eu nunca vou deixar de te amar.
— Théo, por quê? Estávamos tão felizes. Por que fez isso comigo?
Encostei nossas testas uma na outra, Olívia já estava com o rosto banhado em lágrimas,
ficar afastado era como partir nossos corações em vários pedaços.
— Eu cresci ouvindo que seus pais destruíram os meus, fiquei por anos vivendo um luto.
— Acredite em mim, eles não teriam coragem de tal coisa.
Balancei a cabeça em negação, mesmo que ela tentasse, nada conseguiria tirar de minha
cabeça que William Carter era o grande culpado do suicídio do meu pai e que ele cortou os freios
do carro que minha mãe estava.
— Seu tio envenenou seu coração. — Ela se afastou de mim. — Mas, por favor, por mim
e por Antony, investigue o passado, encontre a verdade e se, no final, descobrir que meus pais
realmente estão por trás disso, eu mesma te ajudarei a destruir a minha família.
Dei um passo para frente, beijando sua boca. Mesmo que ela tentasse resistir, eu sabia que
ela me amava e que, mesmo magoada, seu coração estava disparado por mim.
— Queria poder mudar o passado, me libertar dessa vingança e viver feliz ao seu lado.
— E você pode — disse, acariciando meu rosto — deixar para trás esse ódio.
O amor, ele era forte demais, todavia, eu tinha prometido, no túmulo dos meus pais, eles
sofreram com a maldade dos Carter e eu não poderia viver sabendo que o homem que acabou
com minha família não sofreu nenhum tipo de punição.
— Coma e cuide do nosso filho.
Beijei sua testa antes de caminhar para fora do quarto, desci as escadas um pouco
atordoado, eu precisava entender e criar respostas para todas as perguntas que estavam em minha
cabeça. Entrei no meu escritório e me sentei em minha cadeira, pesquisando por um dos
melhores investigadores de toda Londres. Eu tinha certeza de que os pais de Olívia destruíram
meus pais, mas precisava ir atrás de algo que justificasse aquela merda, para, pelo menos, me
sentir em paz com tudo que tinha feito a eles.
— Sobrinho — olhei para a entrada do meu escritório —, tenho uma excelente notícia.
O sorriso do meu tio fazia meu sangue ferver, eu nem ao menos sabia o motivo de ele estar
em minha casa depois de tudo que tinha feito. Por culpa dele, Olívia estava furiosa comigo e ela
soube de toda a verdade.
— O que está fazendo aqui? — gritei.
— Eu vim te dizer que conseguimos. — Um envelope estava em suas mãos. — Tiramos a
empresa dos Carter.
— Do que está falando? O que você fez?
— Seu advogado finalmente conseguiu convencê-lo a assinar o papel de compra e venda,
a empresa deles finalmente é nossa.
— Você não deveria ter feito isso. — Me levantei da cadeira, indo até a porta do
escritório, e fechei atrás de nós.
— A ordem foi sua, não se lembra que, antes de se apaixonar pela nossa inimiga, mandou
seu advogado ficar no pé de William e convencê-lo que era melhor vender todas as ações da
empresa.
Passei as mãos no cabelo, muitos meses atrás, eu tinha comprado algumas ações da
empresa dos pais de Olívia e continuado com o plano para destruí-los, mas o pai dele se
mostrava relutante em vender toda a empresa, até agora, ele tinha entregado tudo para mim e,
quando minha mulher descobrisse, me odiaria.
— Pensei que ficaria feliz. — Se sentou na cadeira de frente à mesa da minha sala. —
William Carter está na sarjeta, vendeu as ações por uma mixaria.
— Quando ele assinou? — quis saber, dando a volta na mesa. — Por que só fiquei
sabendo agora?
— Você está fora de si, pedi para que o advogado fizesse tudo o mais rápido possível. —
Tirou o contrato do envelope, o colocando sobre a mesa. — Willian estava sendo pressionado,
devendo muito e não teve outra saída a não ser entregar a empresa para nós.
— Olívia não pode saber disso. — Passei a mão em meu rosto nervoso. — Ela está
grávida, não pode ficar nervosa.
— Blá-blá-blá. — Revirou os olhos. — Acabou, sobrinho, pode quebrar o contrato, pode
mandá-la embora, está livre.
— Nunca, ela é minha mulher e mãe do meu filho, querendo ou não, você terá que
conviver com isso.
— Então vai fazer do menino o seu herdeiro? O mesmo que tem sangue dos nossos
inimigos.
— Pare de falar assim do meu filho — gritei. — Essa história foi longe demais, você já
tirou a porra da empresa dos Carter, é hora de seguir em frente.
— Te deixando viver um romance com aquela mulherzinha?
Encarei meu tio com fúria, eu já tinha perdido a cabeça com eles várias vezes e só tinha
lhe recebido por causa do respeito que ainda restava por ele, mas tudo estava indo longe demais e
ele precisava entender que Olívia nunca sairia da minha vida, que meu filho era meu herdeiro e
nem o sangue dos Carter mudaria isso.
— Acabou, sua vingança foi concluída, agora saia da minha mansão e viva sua vida bem
longe da minha família.
— Théo, você irá se arrepender das suas escolhas, eles vão te destruir e, no final, só restará
seu velho e bom tio para te apoiar.
— Vai embora, tio, por favor, e não volte mais.
Com raiva, ele se levantou da cadeira e caminhou até a porta de saída do escritório antes
de se virar para mim.
— Cuide muito bem deles, nunca se sabe o que pode acontecer a um bebê recém-nascido.
Um arrepio percorreu pelo meu corpo. Sorrindo, ele fechou a porta, eu sempre confiei nele
plenamente, mas agora a dúvida se passava em minha cabeça e eu precisava ir a fundo em todo
passado para entender tudo que tinha acontecido. Procurei o número do investigador, era hora de
saber toda verdade.
Dois meses depois

Foram os dois meses mais difíceis de toda minha vida, eu mal conseguia olhar na cara dos
meus pais. Mesmo que minha mãe viesse me visitar toda semana, eu não conseguia contar a
verdade e muito menos dizer sobre todo meu sofrimento naquela mansão. Os dias estavam se
passando voando, Théo tentava a todo custo se aproximar de mim, porém, eu não dava nenhum
tipo de brecha, parecíamos dois estranhos em um lugar sombrio e sem vida. A tempestade caía
do lado de fora da mansão, já passava da meia-noite e eu me sentia inquieta demais, como se
algo de muito ruim estivesse acontecendo do lado de fora daquelas paredes. Caminhei até a
janela com a mão sobre a minha barriga, Antony chutava sem parar, me fazendo sentir uma
dorzinha no pé da barriga, era a mesma que eu sentia desde cedo.
— Ainda não dormiu. — Me virei, olhando para o homem que eu tanto amei, mas que
agora sentia raiva, ele nem ao menos tinha contratado um investigador.
— Vá embora — gritei, me curvando para frente assim que senti outra pontada no pé da
barriga. — Ai …
Théo, com rapidez, se aproximou de mim e passou a mão em minha cintura com os olhos
arregalados, ele estava estranho, diferente do que costumava aparecer.
— Você está bem? — nervoso, ele perguntou assim que me sentei na cama.
— Não, nunca mais estive bem depois que descobri as suas mentiras.
Ele acariciou meu rosto e sorriu amargamente, me mostrando seus olhos vermelhos e
cheios de lágrimas.
— Hoje eu fui ver o seu pai — começou a falar —, você não ficou sabendo, mas, há dois
meses, ele vendeu toda empresa para mim.
— O quê? — Tentei me levantar, mas ele me impediu.
— Escute — segurou meu braço —, foi por causa disso que ele não veio mais te visitar,
estava com vergonha de te contar, de dizer que fracassou.
— Ele não fracassou, a culpa é toda sua, foi você que destruiu nossas vidas.
— Eu estava cego de vingança, o ódio em meu coração era maior que tudo, mas —
colocou sua mão em minha barriga de nove meses, nosso garotinho poderia nascer a qualquer
momento — o amor me mudou, vocês me mudaram. Fui até a casa dos seus pais com um
contrato, nossa história começou assim e vai terminar assim, eu entreguei um contrato para
William Carter, devolvendo a empresa para ele, tudo voltou para sua família, Olívia, e você está
livre do acordo e poderá ir embora assim que Anthony nascer.
— Você - você – está falando sério? — gaguejei, nervosa, minha respiração estava
ofegante.
— Sim, eu te amo e amo nosso filho, por isso, estou abrindo mão da vingança, quero
apenas que vocês dois sejam felizes e, se isso significa ficar longe dos dois, que seja.
Eu podia ver verdade em seus olhos, Théo estava abrindo mão do que acreditava por amor,
pela nossa família, e me libertando daquele casamento falso. Estava prestes a beijar sua boca,
mas o barulho de água caindo sobre o chão chamou nossa atenção. Olhei para baixo, me
perguntando se tinha urinado nas calças, mas me dei conta do que se tratava, minha bolsa tinha
acabado de estourar.
— Isso é… — Meu marido empalideceu.
— A minha bolsa estourou, Antony vai nascer, — Segurei com força seu braço, sentindo
uma contração, era a mesma dor que estava há horas sentindo, mas agora estava mais intensa. —
Ai… Porra! Isso dói — disse um palavrão, respirando fundo, a dor de antes não se comparava à
de agora, parecia que todos os meus ossos estavam se quebrando ao mesmo tempo.
— Calma, eu vou ligar para a doutora Laura. — Caminhou para longe, tirando o celular de
dentro do seu bolso. Mais uma contração me fez gritar, o fazendo passar as mãos no cabelo,
nervoso demais. — Merda, ela não está atendendo, eu disse para encontrar outra médica e agora
isso, eu … Meu Deus! O que vou fazer? Essa tempestade e …
Não pude deixar de sorrir, o vendo completamente desesperado, estava branco como uma
folha de papel e suas mãos trêmulas, parecia até mesmo que ele estava em trabalho de parto, e
não o contrário. Me levantei da cama, contando até três enquanto fazia a respiração que a médica
tinha me ensinado, eu precisava manter a calma.
— Ele está vindo. — Segurei seu braço. — Com essa tempestade, não chegaremos a
tempo, é perigoso demais e — fechei os olhos, sentindo outra contração, e apertei com toda
minha força o seu braço — eu sinto que ele está com pressa para nascer. — Sorri amargamente.
— Não podemos, você precisa de uma sala cheia de médico, de equipamentos e de
anestesia. — Segurou meu rosto em pânico. — Vou tentar ligar para ela de novo.
— Théo — falei calmante, mas ele não me ouviu, digitava mais uma vez o número da
doutora — Théo…
— Eu vou resolver, fique calma. — Seu tom de voz mostrava o seu desespero.
— Amor — gritei, o fazendo ele me encarar —, encha a banheira, vamos conseguir juntos
trazer nosso garotinho ao mundo.
— Você me chamou de quê? — Seu rosto já estava banhado em lágrimas quando ele
segurou em suas mãos o meu rosto, me encarando.
— De amor, agora, por favor, se acalme e faça o que estou pedindo.
— Estou com medo, se algo acontecer aos dois, eu morrerei.
Beijei sua boca sorrindo, eu o amava tanto e sabia que o ódio do passado ficaria para trás,
que o amor dos nossos corações superaria todas aquelas mentiras.
— Vai dar tudo certo.
Théo concordou com a cabeça, indo até o banheiro, e fez o que eu pedi, enchendo a
banheira com água morna enquanto eu tirava meu vestido. Nua, ele me ajudou a entrar na
banheira, em seguida, fez o mesmo, se sentando atrás de mim, e acomodou meu corpo em seu
peito. Segurei em sua mão, sentindo mais uma contração, estava em ritmo constante.
— Isso, força, você é forte — sussurrava em meu ouvido.
Theo tinha lido e assistido a vários partos. Ele não sabia, mas eu costumava olhar de longe
o meu marido pesquisar sobre todos os tipos de partos e tinha a certeza de que ele saberia agir
naquele momento.
— Aiii… aiii… tá doendo. — Chorei, sentindo mais uma contração, era algo inexplicável,
uma dor surreal que só uma mãe poderia suportar.
— Você consegue, vamos, Antony, quer conhecer os papais dele.
Empurrei com tudo de mim, sentindo uma grande pressão no meio das minhas pernas.
Levei uma mão até a minha parte íntima, sentindo os cabelinhos do cabelo do meu filho.
— A cabeça, ele está vindo — falei, nervosa.
— Empurre, amor, vamos. — Alisou os meus cabelos, sorrindo entre as lágrimas grossas
que caíam sobre o seu rosto, assim como as minhas.
Com toda força que existia dentro de mim, eu empurrei mais uma vez, sentindo o meu
bebê deslizar de dentro de mim. Segurei seu corpinho enquanto ele gritava. Gordinho e de
cabelos castanhos, ele nasceu para me mostrar o quanto o amor pode ser intenso. Coloquei-o em
meu peito, Théo segurou a sua pequena mãozinha, encarei meu marido sorrindo, o nosso
pacotinho estava ali em nossos braços, nossa família.
— Não chore, o papai e a mamãe estão aqui por você — meu marido disse baixinho, eu
não conseguia acreditar que nosso bebê estava ali em nossos braços.
— O narizinho é igual ao seu — comentei, no próprio ultrassom já dava para ver que
nosso garotinho é uma cópia perfeita do pai, exceto a cor dos cabelos.
— Ele é perfeito, obrigado, Olívia. — Beijou minha cabeça. — Desde o início, você me
deu amor e me mostrou que até o pior dos sentimentos pode ser transformar e gerar frutos.
— Você realmente largou a vingança por nós? — questionei, enquanto Théo olhava nosso
filho, que permanecia calmo em meu peito, eu o ajudava a mamar, guloso igual a mim.
— Larguei, eu faço qualquer coisa por vocês, o ódio já não existe mais, tudo que quero é
vê-lo felizes.
— Théo, eu quero recomeçar, quero viver tranquila, mas, para isso, preciso ter a certeza de
que não está mentindo, que finalmente largou tudo para trás.
— Prometo que te mostrarei todos os dias o quanto estou arrependido e o quanto amo
vocês, nada mais importa para mim.
Depois de conversar mais um pouco, meu marido pegou uma tesoura, esterilizando com
um pouco de álcool antes de cortar o cordão umbilical de Antony, enrolou nós dois, nos levando
até a cama, e ligou para ambulância enquanto eu descansava com o nosso garotinho em meus
braços.
— Tem certeza de que eles estão bem? — mais uma vez meu marido perguntou a Laura,
que tinha acabado de chegar em nossa mansão. — Você me prometeu que cuidaria deles, e veja
onde meu filho nasceu.
— Sinto muito, senhor Philips, minha mãe adoeceu, e eu tive que cuidar dela. — Ela
olhou para meu bebê com ternura. — Mas vocês formaram uma boa dupla, trouxeram o pequeno
Anthony ao mundo com muita saúde, está tudo bem com os dois, fique tranquilo.
— E os exames? Preciso ter certeza.
— O exame do pezinho já foi coletado, as primeiras vacinas, o pequeno já tomou, está
tudo bem, fique tranquilo.
— Não sei, eu li em vários livros que …
— Théo, estamos bem, nosso bebê está bem, agora deixe que a pobre Laura vá para casa
descansar.
— Ok, obrigado.
Ele apertou a mão da doutora, sorrindo, ela veio até mim, beijou minha testa e segurou a
mãozinha minúscula do nosso garotinho.
— Se cuidem e parabéns, você foi muito forte.
— Obrigada, Laura, por tudo e me perdoe pelo meu marido.
— Nunca vi um homem mais apaixonado do que esse, você tem muita sorte.
Olhei para Théo, sentindo meu peito se encher de amor, ele realmente é um cavalheiro
cheio de encantos que, desde o dia que o vi, fiquei completamente apaixonada por ele, mas a
mentira do nosso acordo, sua vingança, seu tio desprezível e todas as maldades que eles fizeram
a minha família me fazem desconfiar do seu amor, e eu precisava de um tempo, me afastar dele e
colocar a cabeça no lugar. Deixei que todos saíssem para finalmente conversar com ele, meu
marido segurou nosso bebê encantado, com todo cuidado, colocou no pequeno berço ao lado da
cama, e beijou sua cabecinha antes de se sentar ao meu lado.
— Você estava falando sério quando me disse que estou livre do contrato? — A pergunta
o fez se levantar da cama e caminhar até o nosso closet. Theo ficou por alguns segundos dentro
dele até que saiu mostrando um papel em suas mãos.
— Está tudo acabado. — Rasgou o papel na minha frente. — Agora você tem a escolha de
ir ou ficar, a empresa do seu pai já voltou para o nome dele e, como combinado, ajudarei a
reerguê-la.
— Eu posso ir embora com o Anthony?
Théo me encarou antes de olhar para o nosso garotinho.
— Pode.
Foi tudo que ele disse antes de caminhar para longe de mim, abriu a porta do quarto e saiu,
me deixando a sós com nosso filho. Meu coração estava sangrando, tudo em mim doía e só de
pensar na possibilidade de ficar longe do meu marido perdia completamente o ar.
Acredite, o amor é o sentimento mais confuso que o ser humano pode sentir, na mesma
proporção que ele te faz o homem mais feliz do mundo, ele também te faz chegar ao fundo do
poço, um lugar triste e sombrio, que faz o seu coração sangrar e a vida que existe dentro de você
se esvair conforme a pessoa amada se distancia. Uma semana que Olívia e meu filho foram
embora da mansão, dias que eu mal saí da cama, não tive ânimo nem ao menos para comer ou
beber, queria morrer sem eles e não me importava mais nada além de poder sentir o cheiro da
minha mulher e filho de novo.
Quando os Carter apareceram na porta da mansão atrás deles, minha vontade era de não
deixá-los ir, mas, como eu tinha prometido para ela que tudo estava acabado, simplesmente
observei e, quando William socou o meu rosto com fúria depois de descobrir tudo, eu não
revidei, minha conversa com ele não tinha sido fácil e, quando lhe devolvi a empresa, ouvi
algumas palavras que me deixaram pensativo.
— A culpa não é sua, e, sim, do homem que te criou, sinto pena do que se tornou por
causa daquele miserável do seu tio.
Tomei mais um gole do uísque em minhas mãos antes sentir o cheiro da pequena luvinha
em minhas mãos, eu estava com tantas saudades, minha família estava longe e minha vida tinha
acabado no dia que eles partiram. O barulho do meu celular me tirou dos meus devaneios, era
uma mensagem do investigador que eu tinha contratado meses atrás, peguei o notebook em
minhas mãos, abrindo nele o arquivo que chegou em meu e-mail.
Comecei a ler tudo que estava escrito nele e quando, em uma foto do dia do acidente da
minha mãe, eu pude notar o sapato azul de canto nas imagens das câmeras, quase caí para trás, os
polícias, na época, não se atentaram a esse fato, mas agora tudo fazia sentido, era ele que estava
por trás de tudo, meu tio tinha cortado os fios do freio do carro da minha mãe, era ele, eu tinha
certeza pelos sapatos, a marca que ele tanto ama, a Oxford Church ‘s Custom Grade, algo único
que ele faz questão de ter, mesmo modelo.
— Théo, o senhor William Carter está aqui — uma das empregadas me interrompeu —,
posso permitir a sua entrada?
— Pode.
Meu sogro estava em minha casa, o homem que eu odiava por anos, que achei que tivesse
destruído minha família e que, na verdade, foi uma vítima do meu tio e das suas maldades.
— Com licença — falou ele assim que entrou em meu escritório.
— Senhor Carter — Me levantei da cadeira, indo até ele, e segurei em sua mão —, veio
me dar outro soco? — brinquei, sorrindo amargamente, eu precisava contar tudo a ele, mas
estava envergonhado demais por tudo que aprontei com sua família.
— Não, eu vim pedir para que busque minha filha e meu neto. — Encarei seus olhos,
surpreso.
— O que disse?
— É isso que ouviu, Théo Philips, minha filha não é a mesma desde o dia que saiu daqui,
Olívia chora todos os dias sentindo sua falta, seu leite está secando e sinto que ela vai desabar a
qualquer momento.
— Eu estou igual a ela, não existe mais vida para mim sem sua filha.
— Você a ama? — A resposta é óbvia.
— Além do céu e da lua, Olívia e Anthony são o ar que eu respiro, sem eles parece que
estou apenas vegetando nesta casa.
Willian se sentou no enorme sofá do meu escritório e sorriu, olhando para o chão antes de
voltar sua atenção para mim.
— Quando você nasceu, seu pai fez uma enorme festa, disse que eu deveria tratar de ter
uma menininha logo para se casar com o seu herdeiro. — Uma lágrima caiu sobre o seu rosto. —
Quando ele cometeu o suicídio, eu me perguntei por meses o que tinha levado um homem tão
alegre como ele a fazer aquele ato.
— Meu tio me disse que foi culpa sua, que o senhor destruiu nossa empresa e roubou seu
dinheiro.
— Seu tio te contou, por muitos anos, a versão dele, mas agora está na hora de você
escutar a minha. — Caminhei até ele, me sentando ao seu lado. — Quando comecei minha
empresa, a da sua família já existia, porém, seu pai queria vender e entrar como sócio na minha,
mas seu tio foi contra, ele desviava dinheiro e roubava a empresa para jogar.
Respirou fundo, olhando para o chão, como se estivesse se lembrando de alguma cena.
— Uma vez eles brigaram feio, seu tio ameaçou seu pai, disse que se ele vendesse a
empresa de sua família, acabaria com sua vida.
— Mas a empresa estava falida, quando meus pais morreram, já estávamos sem nada.
— A culpa disso é de Martins, ele roubou seu pai até acabar com tudo, eu não pude falar
antes, pois ele te levou para longe, me impediu de me aproximar e depois, quando você apareceu
nas nossas vidas, já não importava mais.
— Eu – eu... — Minha mente estava confusa, por anos eu escutei que os Carter eram os
grandes vilões dessa história e agora a ficha começava a cair, meu tio sempre teve problema com
jogos e drogas, mas eu nunca pensei que ele tinha arruinado nossa empresa.
— Você não consegue acreditar? Bom, eu não vim aqui para dizer que sou um santo, nada
disso, eu vim aqui porque amo minha filha e quero que ela seja feliz. — Sorriu amargamente. —
Olívia te ama e sei que você a ama, não podemos mudar isso.
— Eu preciso te mostrar algo que o investigador encontrou. — Me levantei do sofá, indo
até a minha mesa, e segurei meu notebook em minhas mãos, levando até ele. — Veja, nessa foto,
bem no canto.
— Parece um sapato, o que tem ele?
— Essa pessoa mexeu no carro da minha mãe antes do acidente acontecer.
— Acha que esse sapato é meu? — Em um pulo, ele se levantou.
— Não, eu já vi esses sapatos antes, é algo único que só ele tem. — Fechei os olhos,
sentindo uma dor forte em meu coração, eu tinha fechado os olhos por anos. — Meu tio, ele tem
várias parecidos, do mesmo modelo e da mesma marca, é quase a sua assinatura.
— Acredita que ele possa ter matado sua mãe? — Caminhou de um lado para o outro. —
Martins sempre foi uma ovelha negra na vida dos seus pais, mas matar sua mãe, eu não sei.
— Alguém cortou os freios do carro dela, a polícia, na época, arquivou o caso, ele me
disse que foi você, mas agora eu vejo o seu sapato na foto e me pergunto o motivo dos polícias
não terem investigado e ido mais fundo.
— Seu tio estava na frente do caso, não deixou que ninguém se metesse, resolveu tudo e
afastou outras pessoas de você, ele sabia que, se alguém fosse ao fundo, encontraria o verdadeiro
culpado.
— Maldito — gritei, sentindo meu sangue ferver. — Ele me envenenou por anos, me fez
ferir a mulher que amo.
— Calma, precisamos manter a cabeça fria, agora que você sabe a verdade precisa
descobrir tudo.
— Como? Acha que ele não pode ter comprado o silêncio da polícia? Ele é esperto.
— Vamos ser mais espertos do que ele, escute, filho... — William colocou a mão em meus
ombros. — Posso enfrentá-lo, fazer com que ele confesse a verdade.
— Não sei, depois do que acabamos de descobrir, pode ser perigoso, não quero envolver
sua família nisso, não mais.
Sorrindo, ele me encarou.
— Você faz parte da minha família, é o homem que minha filha ama e pai do meu neto,
sem contar que é filho do meu melhor amigo.
— Sinto muito por tudo.
Abracei o senhor Carter, deixando algumas lágrimas caírem, por anos o ódio existiu em
meu peito, anos planejando uma vingança, enquanto o verdadeiro vilão estava ao meu lado.
— A culpa não é sua, eu deveria ter ido atrás de você, deveria ter passado por cima
daquele canalha, mas Olívia nasceu logo em seguida e eu me dediquei a ela.
— Eu entendo completamente, Antony é tudo para mim e eu teria feito o mesmo.
— Falando nisso, vamos, você precisa ir atrás da sua família.
— Obrigado, Willian Carter.
Saímos juntos da mansão, meu coração estava disparado, minhas mãos suavam e eu me
sentia feliz, era hora de largar todas as mentiras do passado e viver a minha história de amor com
minha família, deixar que o amor vencesse a maldade que me cercou por anos.
Ao entrar na casa dos meus antigos inimigos, me senti diferente, antes eu sentia repulsa
por estar ali, agora eu me sentia em paz, como se aquele fosse um bom lar para viver momentos
incríveis com minha família.
— Ela está lá em cima — minha sogra falou assim que me viu, William foi até ela,
abraçando seu corpo enquanto eu corri até as escadas. Parecia que aquele momento tinha sido
escrito minuciosamente, que cada segundo que eu corria ao encontro da Olívia tinha sido
pensado e repensado por alguém que escrevia o livro do meu destino. Mesmo que eu tentasse
fugir, eu sempre correria ao encontro dela, o amor da minha vida.
— Théo, o que está fazendo aqui? — perguntou assim que me viu na porta do seu quarto,
não deu tempo nem ao menos dela raciocinar, eu corri para os seus braços, segurando seu corpo
em meu peito enquanto beijava sua boca.
— Eu nunca mais ficarei longe de vocês.
Era uma promessa, mesmo que ela quisesse ficar longe, eu a obrigaria ficar ao meu lado,
nunca mais deixaria minha família ficar longe de mim.
— Quase morri de saudades — comentou, segurando meu rosto em suas mãos. — Eu sei
que tudo começou de um jeito errado, mas …
— Eu sei. — Não deixei que ela terminasse de falar, eu sentia a mesma coisa. — Nem
mesmo o ódio foi capaz de destruir o nosso amor, você e o nosso filho são tudo para mim, eu
morreria pelos dois.
Sorrindo, Olívia me beijou mais uma vez, os Carter agora eram minha família, a única que
realmente me amou e quis o meu bem, agora era hora de cuidar deles e acabar com o verdadeiro
culpado de todos os meus pesadelos.
Sentir o calor do seu corpo ao me abraçar me fazia ter a certeza de que ele é o meu lar, que
eu poderia tentar fugir e me convencer que viveria bem sem ele e que não conseguiria enganar o
meu coração, pois ele bate disparadamente pelo meu marido, pela história que construímos
juntos, mesmo que em cima de muitas mentiras.
Théo segurou nosso filho sorrindo, ele acariciava seu rostinho pequeno enquanto cantava
para ele dormir. No mesmo dia que ele foi até a casa dos meus pais, eu vim embora com ele, nós
dois não poderíamos ficar mais separados, e Antony precisava do pai, do carinho e amor que ele
estava pronto para dar ao nosso filho.
— Parece que ele está maior — comentou, eu estava dobrando algumas roupinhas e
arrumando as gavetas da sua cômoda, o quarto do nosso garotinho estava pronto, seu pai o fez
sozinho enquanto sofria pela nossa ausência, na esperança de voltarmos para nossa casa.
— Faz uma semana que fomos embora. — Sorri.
— Só? — disse, se aproximando. — Pareceu uma eternidade, todos os dias eu definhava
nesta casa sem vocês aqui.
— Eu sentia a mesma coisa. — Beijei sua boca, ouvindo os resmungos do nosso garotinho
em seu braço. — Acho que alguém está com fome.
Caminhei até a poltrona de amamentação, me sentando nela, tirei uma alça da minha blusa
junto do sutiã, Theo passou nosso pacotinho para os meus braços sorrindo, e o aconcheguei em
meu peito enquanto Antony procurava desesperadamente pelo bico dos meus seios. No começo,
era doloroso, mas depois se tornava algo incrível, a ligação de uma mãe com seu filho é
inexplicável.
— Guloso igual a sua mãe. — Meu marido segurou o pequeno pezinho dele. — Parece um
sonho tê-los aqui.
— Você realmente desistiu da vingança? No seu peito ainda existe ódio? — questionei,
encarando seus olhos.
— Eu descobri coisas terríveis a respeito do meu tio, Olívia, você estava certa. — Sorriu
amargamente. — Seus pais não têm nada a ver com a morte da minha família, eu sinto muito por
tudo que fiz a eles.
— O ódio que existia em seu coração fez você seguir os planos do seu tio, mas tudo tem
um propósito, se não fosse o nosso casamento falso, não teríamos o Antony.
Meu marido beijou a testa do nosso filho sorrindo, olhei para ele confusa quando vi tirar
de seu bolso uma pequena caixinha vermelha, Théo se ajoelhou aos meus pés.
— Eu sei que já somos casados, mas eu quero fazer de um jeito diferente, quero que seja
real desta vez.
— Théo… — Meus olhos já estavam cheios de lágrimas.
— Tire o antigo anel, aquele era falso, não significa nada para nós dois. — Ele puxou
minha mão esquerda com cuidado, ainda estava amamentando nosso filho, tirou o anel antigo
sorrindo e guardou — Olívia Carter, você aceita se casar comigo? Ser minha pelo resto da vida e
além dela, pois uma única vida será pouco para te amar.
— É claro — sussurrei para não assustar o nosso filho. — O casamento foi falso, mas o
nosso amor não, ele sempre existiu em nossos corações.
— Para sempre.
Depois de colocar nosso bebê para dormir, Théo me levou até a nossa cama, eu ainda
estava de resguardo, mas isso não o impediu de tirar minha roupa e beijar cada parte do meu
corpo. Com juras de amor, ele colocou o novo anel em meu dedo, prometendo cuidar da nossa
família e ser eternamente apaixonado por mim.

Um mês depois

Soltei uma gargalhada quando meu marido me jogou sobre a cama, arrancando meu
vestido decotado, ele continuava com seus ciúmes exagerados e, quando viu meu melhor amigo
Luke olhando para meus seios fartos, perdeu a cabeça, me pegou em seu colo, caminhando em
passos largos até o nosso quarto. Gritei para que meu amigo me esperasse na piscina enquanto
dava alguns tapinhas nos ombros do meu marido. Ele me encarou antes de caminhar até a porta
do nosso quarto, fechou, tirando a gravata da sua roupa social, e veio até mim, beijando o meu
pescoço.
— Diga, Olívia, quem é o seu dono?
— Você, Théo Philips, sou toda sua.
Senti um leve arrepio quando ele puxou minha calcinha para o lado, deslizando os dois
dedos em minha parte íntima, e massageou o meu clitóris, me fazendo jogar a cabeça para trás,
gemendo e sentindo o calor do meu corpo subir.
— Esses seios são meus e nenhum outro homem pode olhar para eles.
— Seu filho olha.
Soltei uma gargalhada assim que percebi sua careta, ele voltou a massagear ainda mais
minha parte íntima, me deixando completamente ensopada, pronta para receber seu membro duro
e grosso.
— Não seja estraga-prazeres. — Sorriu.
— Eu posso te contar um segredo? — falei em seu ouvido. — Luke é gay, ele estava
olhando para meus seios com ciúmes, pois queria ter uns iguais aos meus.
Théo soltou uma gargalhada, saindo de cima de mim, e colocou a mão em sua cintura,
passando as mãos no cabelo, os deixando completamente desalinhados.
— Gay? Ele é gay? — surpreso, ele gritou.
— Sim, ele é e, na verdade, eu que deveria ter ciúmes porque ele te acha um gato.
— Por que não me disse antes? Eu quase quebrei o nariz dele uma vez.
Me levantei da cama, indo até ele, e passei a mão em seu peito sorrindo.
— Eu achei que soubesse, você é tão bobinho, senhor Philips.
— Vou te mostrar o quanto sou bobinho.
Com rapidez, ele me jogou sobre a cama mais uma vez, tirou a minha calcinha ensopada
antes de voltar a deslizar seus dedos em meu clitóris, mais gemidos, meu sangue já estava
fervendo e, quando ele aumentou o ritmo dos movimentos, me entreguei ao orgasmo gritando
pelo seu nome.
— Já acabou, bobinho? — Seu sorriso cafajeste apareceu, me deixando ainda mais louca
por ele, Theo se levantou, tirando toda sua roupa e me mostrando seu pau duro, retirou de dentro
do bolso da sua calça sua carteira e, ao abrir, puxou o pequeno pacote, e rasgou a camisinha
antes de deslizar em seu membro.
Meu anticoncepcional era fraco por conta da amamentação e a doutora Laura pediu para
que usássemos a camisinha. Meu marido se acomodou em cima de mim, dando um beijo em
minha boca, e posicionou a cabeça do seu pau no meio das minhas pernas, deslizando de uma só
vez, eu gemi fechando os olhos, tê-lo dentro de mim era como tocar o céu.
— Oh… você é tão gostosa, esposa — falava enquanto metia mais fundo, levei minhas
mãos até suas costas, as arranhando.
— Ah … isso, com força — pedia para o meu marido aumentar ainda mais os
movimentos, nossos corpos queimavam como brasa e cada vez mais eu sentia o orgasmo chegar.
Não demorou muito para que eu me entregasse ao prazer e logo em seguida Théo fez o mesmo,
gozando na camisinha, ele saiu de dentro de mim ainda com a respiração acelerada, se limpou no
banheiro, retornando para cama, e se deitou, me puxando para o seu peito enquanto beijava
minha cabeça.
— Amanhã será o grande dia, seu pai vai confrontar meu tio e tentar arrancar dele uma
confissão.
— Acha que é seguro? — Eu estava preocupada com aquele plano que os dois tinham
bolado, Martins não era um bom homem e já sabíamos que ele era perigoso demais, estava com
medo de algo ruim acontecer ao meu pai e ao meu marido.
— Ele não sabe que descobrimos toda verdade, sem contar que eu estarei do lado de fora
do apartamento, caso aconteça algo, eu entrarei para ajudar o seu pai.
— Estou com medo, seu tio teve coragem de cortar os freios do carro da sua mãe, sabe lá
Deus o que ele pode tentar fazer com vocês.
— Fique calma, confie em mim, nada de ruim vai nos acontecer.
Ele sorriu, puxando ainda mais o meu corpo ao encontro do seu. Nos braços de Theo, eu
me sentia segura, não queria sair daquela cama, todavia, meu amigo estava me esperando e logo
Antony acordaria da sua soneca da tarde.
— Tem certeza de que precisa sair dessa cama? — perguntou Théo, curvando os braços.
— Você me prometeu que será só uma rapidinha — brinquei, procurando o meu vestido
jogado no chão, rapidamente ele se levantou, me agarrando por trás, me fazendo dar um gritinho.
— Eu já disse que te amo hoje? — sussurrou em meu ouvido.
— Disse, senhor Philips, mas amo ouvir de sua boca juras de amor.
Me virei para encarar seus olhos, beijando sua boca.
— Eu amo você, para sempre.
Meu sogro tinha bolado um plano para conseguir uma condição do meu tio, ele iria até o
seu apartamento, puxaria assunto a respeito do passado e da morte dos meus pais, eu queria ouvir
de sua boca que ele era o verdadeiro culpado de toda desgraça que aconteceu a minha família.
Caminhei com ele até o apartamento que eu costumava ir para ficar longe de Olívia e planejar
minha vingança contra os Carter, sem saber que eles não tinham culpa de nada e que o veneno
que meu tio implantou em meu coração só estava me destruindo e me afastando cada vez mais da
verdade.
— Você tem certeza de que quer fazer isso? — Eu tinha alugado um apartamento ao lado
do apartamento de Martins e comprei algumas escutas para colocar na roupa do meu sogro, tudo
minúsculo para que ele não notasse.
— Claro, não só por tudo que ele me fez passar, mas em memória de sua mãe, se ele
realmente a matou, precisa pagar por isso.
— Não deixe que ele se aproxime muito para não ver o pequeno microfone em seu blazer,
infelizmente ele é esperto demais, trocou as fechaduras do seu apartamento para que eu não
entrasse, provavelmente deve suspeitar de algo.
— Fique tranquilo, serei cauteloso.
Abracei meu sogro antes de ele sair pela porta do apartamento ao lado, ele caminhou até o
apartamento do meu tio dando algumas batidas, ele já tinha sido informado que Willian estava na
recepção para encontrá-lo, meu tio não perderia a chance de humilhar o meu sogro e falar da sua
vitória. Sentei-me na frente do monitor, testando o áudio do microfone implantado na roupa dele
e da pequena câmera, dava para ouvir e ver tudo perfeitamente, eu agradecia às aulas de
tecnologia que tinha feito depois da faculdade com um amigo ex-militar, sempre soube que um
dia elas me seriam úteis.
— William Carter, a que devo a hora da sua visita?
— Posso entrar?
— Claro, fique à vontade.
Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes, eu estava com o coração acelerado,
ansioso demais para ouvir todas as verdades que sairiam da boca do meu tio, de ver a sua
verdadeira face.
— Eu fiquei sabendo que você perdeu tudo, sinto muito por isso. — Meu tio sorriu
satisfeito.
— As notícias correm rápido. — Meu sogro se sentou no sofá da sala. — Serei direto
ao assunto. Foi você que envenenou Theo contra minha família? — A gargalhada do meu tio
ecoou.
— Você não soube administrar sua empresa e quer jogar a culpa em mim? William,
todos sabem que você sempre foi um grande perdedor, não sei o motivo que Mary lhe
escolheu, ela deveria ter se casado comigo.
— Ah, então é isso? Nunca aceitou que minha mulher não te quis, que preferiu a
mim a se casar com um viciado em jogos como você.
— Na época, ela tinha tudo comigo, herdeiro de uma grande fortuna e, mesmo assim,
me trocou por alguém como você.
— Alguém como eu? — Meu sogro se levantou do sofá. — Eu não precisei de herança
para conquistar o coração dela, ela me quis porque me amava e, quando seu irmão ficou do
meu lado, você destruiu a empresa da sua família, roubava dinheiro para perder nos
cassinos.
— Henry era igual a você, mente pequena demais, meu irmão sempre foi o certinho,
o preferido de todos, ninguém nunca chegava aos seus pés.
— E você o invejava, fale a verdade, sempre quis ser ele, mas nunca conseguiu, na
verdade, você sempre foi um lixo de pessoa, um viciado.
Meu tio soltou outra gargalhada, passando a mão em seus cabelos, ele estava perdendo o
controle e era isso que meu sogro queria, deixá-lo fora de si o suficiente para que ele falasse toda
verdade.
— Ele era tão tolo que acabou se suicidando, enforcado com seus próprios problemas
e deixando aquele pirralho arrogante em minhas costas, o viciado aqui teve que dedicar sua
vida ao filho dele.
— Acha mesmo que não sei que você só criou Théo por ganância? De olho na parte
do pai dele na empresa, a mesma que você não quis que Henry vendesse.
— O garoto se saiu melhor do que planejei, pegou uma empresa falida e a
transformou em uma das mais lucrativas mundialmente.
— Dinheiro, era tudo que você queria, mas eu não entendo o real motivo de ter vindo
atrás da minha família. Martins, me diga o porquê de querer me destruir?
— Simples, você ficou com tudo que era meu, a mulher que amo e até mesmo o amor
do meu irmão. — Eles estavam gritando, descontrolados. — Ele queria me abandonar para
ser sócio da sua empresa, queria abandonar sua família por uma amizade, eu não poderia
permitir.
— Era a escolha dele.
— E foi por culpa dessa escolha que ele morreu.
— O que você está querendo dizer com isso?
Meu tio balançou a cabeça, caminhando até a porta de saída do seu apartamento, e abriu,
olhando para meu sogro.
— Hora de ir embora — disse, segurando a maçaneta da porta.
William caminhou até ele, parando ao seu lado.
— Essa conversa ainda não acabou.
Naquele mesmo dia, eu decidi que era hora de procurar a polícia, reabrir o caso do
acidente da minha mãe e mostrar o que eu tinha descoberto, era hora de ir a fundo e fazer o meu
tio pagar por todos os seus pecados. Estava em meu escritório na empresa, tentando a todo custo
trabalhar, mas minha cabeça estava cheia demais e eu sabia que meu tio logo receberia uma
intimação para depor e ficaria furioso. Olhei para a porta assim que ouvi um barulho alto,
Martins entrou no meu escritório com um papel em suas mãos, seu rosto estava vermelho e eu
pude notar que suas mãos estavam trêmulas de raiva.
— Senhor Philips, eu tentei segurá-lo, mas não consegui — minha secretária disse,
nervosa.
— Nós deixe a sós — falei, me levantando da cadeira, e dei a volta na mesa, ficando de
frente para o meu tio.
— O que significa isso? — gritou ele, coloquei minhas mãos dentro do bolso, mostrando
minha serenidade.
— Eles foram rápidos, achei que demoraria pelo menos uns dois dias para receber a
intimação. — Sorrindo, caminhei até a mesinha de canto, segurando a garrafa de uísque. —
Aceita um pouco?
— Que merda deu em você, Théo? Uma intimação? Está me acusando de matar a sua
mãe? Logo eu que te criei e te ajudei em sua vingança.
— Os sapatos. — Enchi o copo de uísque, tomando um gole. — Únicos, é isso que você
fala dos modelos dos seus sapatos.
Meu tio piscou algumas vezes, erguendo a sobrancelha, provavelmente, não estava
conseguindo entender o meu raciocínio, andei até a gaveta da minha mesa e a abri, tirando de
dentro as fotos que o investigador tinha coletado das câmeras de segurança da noite que os freios
do carro da minha mãe foram cortados.
— Veja, acho que os policiais da época não se atentaram a esse pequeno fato ou
receberam propina para ficarem calados.
— É uma acusação muito séria essa que está fazendo. — Sorriu amargamente. — É
apenas um sapato, não tem como comprovar que é meu.
— A mesma marca, o mesmo modelo, único como todos os seus sapatos, nenhuma outra
pessoa tem um igual. — Tomei outro gole da bebida quente em minhas mãos. — São desenhados
exclusivamente para você.
— Isso não quer dizer nada, não pode acreditar que eu cortei os freios do carro da sua
mãe. — Balançou a cabeça em negação. — Eu te criei, te ajudei em tudo, ajudei em sua vingança
e agora está desconfiando de mim?
— Você me envenenou contra os Carter, eles são inocentes nessa história e o verdadeiro
culpado de tudo isso é você — gritei, perdendo a cabeça.
— É culpa dela, não é? É ela que está envenenando sua cabeça, eu te disse que eles vão
destruir nossa família.
— Não ouse falar da minha mulher, Olívia não tem nada a ver com isso, apenas o véu que
estava em meus olhos caiu e eu pude ver o verdadeiro vilão à minha frente.
— Depois de tudo que fiz, eu não mereço isso.
— Se é mesmo inocente, fique e enfrente a justiça. — Dei de ombros. — Quem não deve
não teme, tio.
Martins soltou uma gargalhada, passando a mão em seus cabelos, e olhou para trás por
alguns segundos, antes de voltar a me encarar.
— Escute, você irá se arrepender do que está fazendo comigo e terá o mesmo fim do seu
pai.
— Está me ameaçando? — Dei alguns passos para frente. — Saia antes que eu perca o
mínimo de respeito que ainda resta em meu peito.
Sorrindo, ele caminhou até a saída, me deixando sozinho em meu escritório, respirei fundo
sentindo um aperto em meu peito, como se algo de muito ruim fosse acontecer.
Alguns meses depois

O tempo estava voando, os preparativos do nosso casamento estavam a todo vapor, Théo
não queria esperar nem mais um minuto para me levar de novo para o altar, mas, dessa vez, sem
contrato de casamento, apenas duas pessoas que se amam e que querem construir uma vida, eu
me sentia nervosa e, ao mesmo tempo, feliz com tudo que tinha acontecido, nossa família estava
unida, sem mentiras ou ódio, apenas o mais puro dos amores. Olhei para meu marido sorrindo,
nós dois tínhamos transado a noite inteira e eu me sentia extremamente exausta, nossa lua de mel
tinha começado antes mesmo do casamento.
— Você gozou dentro de mim de propósito — falei, me levantando e indo até a
penteadeira, era o dia do nosso casamento e eu já deveria estar no salão.
— Espero que dessa vez seja uma garotinha com o nariz empinado igual à mãe.
Colocou as mãos atrás da cabeça, apreciando o meu corpo nu na sua frente, seu sorriso
cafajeste me deixava de pernas bambas.
— Está tentando me dar o golpe da barriga, senhor Philips? — Coloquei as mãos na
cintura. — Só para eu não sair mais da sua vida.
— Mesmo que você quisesse, meu amor, eu nunca vou deixar que saia da minha vida. —
Sorriu. — Na verdade, hoje mesmo te levarei de novo ao altar só para confirmar para Deus e o
mundo que você é minha e só minha.
Caminhei em passos lentos até ele sorrindo, a primeira vez que Théo me levou ao altar, eu
estava me sentindo confusa, com medo do futuro, de como aquele casamento falso terminaria,
todavia, agora eu me sinto plena, com a certeza de que ele é o amor da minha vida, o homem
com quem viverei a eternidade e construirei uma enorme família.
— Acho que ainda dá tempo de uma rapidinha, precisamos trabalhar bastante para ter a
certeza de que a nossa família vai aumentar — brinquei, beijando sua boca, meu marido me
agarrou, me puxando para a cama, nossos dias são os mais felizes de todos, entre algumas
discussões e gargalhadas, um casamento de verdade, cheio de dias bons, e alguns não tão bons
assim.
— Espero que dessa vez minha mira seja certeira e venha dois de uma só vez — falou, me
assustando.
— Dois? Meu Deus.
— Ou melhor, três.
— Já pensou? Todos eles chorando ao mesmo tempo enquanto nosso Antony tenta
acalmá-los. — Era um sonho.
— Acho que ele vai chorar junto.
Nós dois sorrimos, depois que tudo foi descoberto, Théo deixou o passado para trás e as
coisas estavam tranquilas, seu tio tinha sumido, como no piscar de olhos, ele simplesmente foi
embora, deixando bem claro para a polícia que é o verdadeiro culpado da morte do meu marido,
que, por sua vez, não quis ir atrás, preferiu continuar nossa vida, viver o nosso amor e deixar que
a justiça resolver tudo.
Ficamos por mais meia hora da cama até que minha mãe bateu na porta para me lembrar
do horário, eu precisava arrumar o cabelo e me maquiar, nosso casamento iria ser no jardim de
nossa casa, cheio de rosas, um lindo tapete vermelho e todos os nossos amigos, diferente da outra
vez, as pessoas que amamos estariam conosco naquele momento.
— Você está tão linda — minha mãe disse assim que me viu vestida de noiva, seus olhos
já estavam cheios de lágrimas. — Olívia, eu tenho tanto orgulho de você, querida, enfrentou um
casamento falso apenas para nos ajudar, para nos ver felizes.
— Mãe, eu faria qualquer coisa pela nossa família e, no final, eu encontrei o amor, Théo
largou sua vingança e descobrimos o verdadeiro culpado de tudo. — Beijei sua bochecha. — O
amor sempre vence e a verdade sempre aparece, era o meu destino estar aqui, viver toda essa
história com meu marido e construir nossa família.
— Seja feliz, minha garotinha, e lembre-se sempre que a vida só é bela quando temos com
quem compartilhá-la.
Abracei minha mãe antes de segurar minhas lágrimas para não borrar a maquiagem, olhei
para a porta do quarto, vendo meu pai com seu rosto banhado em lágrimas, ele caminhou até nós,
duas puxando nossos corpos para o seu peito, um abraço em família.
— Eu amo vocês — disse antes do meu pai beijar minha testa.
— Está pronta? — perguntou ele, secando suas lágrimas. — Agora é oficial, você será a
esposa do filho do meu melhor amigo e sinto que ele está feliz de onde estiver.
— Estou, é hora de dizer mais uma vez sim para Théo Philips, mas, dessa vez, será de
verdade.
O lugar estava lindo, meu pai e minha mãe me levariam até o altar, juntos como sempre,
caminhamos em passos lentos e, por um breve momento, eu conseguia ver toda a nossa história
até aqui, pude me lembrar do olhar de Théo ao me ver pela primeira vez, de como meu coração
estava disparado e de como meu corpo inteiro implorava por ele, sempre foi ele. Encarei meu
marido, vendo seu sorriso, ele arrumou sua postura enquanto puxava um pouco sua gravata,
nervoso e ansioso por aquele momento.
— Não me convidaram, mas eu vim. — O grito atrás de nós me fez parar no meio do
caminho, meu coração disparou quando olhei para trás, vendo Martins segurar uma arma
apontada para mim.
— Tio, abaixe essa arma — meu marido gritou, saindo do altar, meu pai tentou me puxar
para trás, mas Martins negou com a cabeça.
— Fique quietinho aí se não quiser que eu meta uma bala na cabeça da sua amada filhinha.
Olhei para o lado, vendo meu garotinho nos braços de Luke, um frio percorreu pelo meu
corpo, era para ser um dia feliz, com nosso casamento e nossas juras de amor, não um pesadelo,
onde mais uma vez Martins despeja seu por cima da gente.
— O que você quer, tio? — Théo caminhou, ficando de frente para ele. — Dinheiro?
Posso te dar a quantia que quiser.
— Dinheiro não resolve tudo — falou ele olhando para minha mãe e sorriu. — Mary, você
está linda, na verdade, os anos te fizeram bem.
— Obrigada, Martins, o que está fazendo? — perguntou, se aproximando dele.
— Mãe… — gritei.
— Por que está tentando matar a minha filha? O homem que conheci anos atrás não faria
algo tão cruel.
Havia dor no olhar dele, estava tremendo enquanto segurava a arma.
— Não sou o mesmo de antes, nunca fui depois que você me abandonou.
— Você sabe que não era para ser, meu coração sempre foi de William.
Deu mais alguns passos, ficando ainda mais perto dele.
— Por quê? O que ele tem que eu não tenho? Me diga. — Virou a arma, apontando para a
cabeça do meu pai.
— Théo. — Olhei para meu marido, me sentindo desesperada, eu não poderia perder meu
pai. — Por favor …
— Calma, amor — falou ele com um sorriso amargo no rosto —, meu tio não vai matar
ninguém.
A gargalhada de Martins chamou nossa atenção, todos estavam apavorados, enquanto
Martins estava fora de si, um verdadeiro psicopata.
— Tão tolo quanto o seu pai. — Apontou a arma para Théo, meu coração estava
disparado, eu me sentia sem ar. — É por isso que eu o matei.
— Você - você — meu marido gaguejou. — Não, você não pode ter feito isso.
— Vou contar a verdade história por trás da morte dos seus pais. — Deu de ombro. —
Não tenho mais nada a perder. — Sorrindo, ele apontou para as cadeiras. — Quero todos
sentados, prestando atenção em mim.
— Eu não vou me sentar — enfurecido, Theo gritou. — Seu filho da puta, você destruiu a
minha vida por anos.
— Corajoso, igual a Henry, ele lutou bravamente naquele dia. — Meus pais e eu nos
sentamos, enquanto meu marido ficou ao lado do tio; — Ele queria vender a nossa empresa,
queria se juntar aos Carter e me deixar sozinho, meu próprio irmão me deu as costas.
— E só por isso você o matou? — Théo estava muito próximo, seu tio ainda tinha a arma
apontada para sua cabeça.
— Foi um acidente, eu não queria, mas ele mereceu. — Ele olhou para o chão como se
estivesse se recordando. — Eu o sufoquei com minhas próprias mãos e depois montei um cenário
para que todos pensassem que ele tinha cometido suicídio, é claro que a polícia iria querer
investigar, mas, na época, eu consegui um laudo falso, onde mostrava que ele tinha se enforcado,
que a corda em seu pescoço foi a causa da sua morte.
— Maldito.
— Calma, ainda não terminei. — Martins desviou o olhar para minha mãe. — Eu amava
Mary, mas ela não me escolheu, eu amava seu pai, mas ele também não me escolheu, todos
preferiam a porra do Willian Carter e, depois da morte de Henry, as coisas começaram a
melhorar para mim, a empresa era minha e sua mãe estava do meu lado, até que ela descobriu
que eu estava prestes a sequestrar Mary, eu iria viver minha história de amor bem longe daqui.
— Você é um louco — meu pai falou. — Deveria estar em uma camisa de forças, minha
mulher nunca será sua.
— Cale a porra da boca, eu ainda não terminei. — Ele desviou o olhar, voltando sua
atenção para meu marido. — Enxerida, ela se intrometeu, falou que, se eu não desistisse daquela
loucura, me entregaria para polícia e contaria tudo para Willian, e eu tive que matá-la.
Meu marido estava com o rosto banhado pelas lágrimas, todos esses anos alimentando
ódio pela minha família sem saber que todos nós somos inocentes, que o grande culpado era o
homem que o criou.
— Entenda, sobrinho, eu precisei fazer isso. — Balançou a cabeça sorrindo e puxou os
cabelos com umas das mãos livres. — Mas eu cuidei de você, te ajudei a destruir William Carter,
o grande culpado de tudo.
Foi como num piscar de olhos, tudo muito rápido, Théo partiu para cima do tio, segurando
a arma, os dois rolaram pelo chão e tudo que pudemos ouvir foi o disparo da arma, me levantei
correndo até os dois.
— Théo… não …
Juntos começamos aquela história, uma cheia de ódio e rancor, onde eu ouvia todos os
dias o quanto os Carter tinham destruído minha família, por dias eu sonhava em vê-los na lama,
derramando as mesmas lágrimas que caíram no dia que enterrei meus pais, todavia, tudo não
passava de uma grande mentira feita pelo homem que estava ao meu lado, o mesmo que secou as
lágrimas e me abraçou, um monstro que eu destruiria. Rolei com Martins sobre o gramado da
mansão, os gritos da minha mulher ecoavam, ela estava com medo e nervosa, assim como eu,
não queria morrer, queria poder viver intensamente aquele amor, poder ter vários filhos com
Olívia e vê-los crescer. O barulho do tiro acabou com nossa disputa, meu corpo estava tenso, eu
senti um calafrio na espinha quando olhei para baixo, vendo o sangue sujar nossas roupas,
larguei a arma, encarando o rosto pálido do meu tio.
— Obrigado, você me libertou — sussurrou em meu ouvido. — Finalmente terei paz.
— Theo… não … — Me levantei, agarrando o corpo da minha mulher, ela estava com o
rosto banhado em lágrimas.
— Acabou.
Olhei para o lado, vendo Mary ir até o meu tio, ela colocou a mão sobre o ferimento de
bala, o tiro tinha acertado o seu peito.
— Meu amor. — Ele colocou a mão no rosto da minha sogra. — Sinto muito, eu só queria
ser amado por você.
— Não feche os olhos, fique acordado — falava ela, desesperada, enquanto meu sogro
ligava para a ambulância, eu estava perdido em meus pensamentos, sem entender o que estava
acontecendo, apenas feliz por descobrir toda verdade. Caminhei até meu tio, ajudando minha
sogra a estancar o sangue, ele merecia viver para se arrepender todos os dias dos seus pecados.
— A ambulância já está vindo, você vai viver.
Ele sorriu antes de olhar para mim pela última vez, eu sentia seu arrependimento, talvez
ele só precisasse ser amado.
— Me perdoe por tudo, meu sobrinho.
Foram suas últimas palavras antes de fechar os olhos, ele era da minha família, a pessoa
que me criou e, mesmo implantando ódio em meu coração, eu o amei. Depois de todo pesadelo,
eu segurei a mão da minha mulher e, enquanto a encarava, beijava minha mão, era para ser um
dia feliz, mas o desfecho foi doloroso, abracei Olívia, deixando as lágrimas caírem, finalmente, a
dor iria passar e eu poderia viver feliz com minha família.
— Acabou, amor. — Ouvi sua voz enquanto acariciava meus cabelos. — Sinto muito, mas
agora ele está em paz.
— Eu te amo. — Beijei sua boca. — Obrigado por ter assinado aquele acordo.

Uma semana depois.

Coloquei o anel em seu dedo enquanto o padre abençoou nossa união, finalmente nosso
casamento estava acontecendo, algo real e verdadeiro, um amor que destruiu até mesmo o ódio
que cercava nossa família. Ela sorriu, acariciando o meu rosto, meu coração estava calmo e eu
conseguia ouvir minha respiração tranquila. Era uma tarde de primavera, com os pássaros no
céu, o vento em nossos rostos e o toque das nossas mãos, ela era a mulher mais linda de todas,
quem o destino reservou para mim e que derrubou todas as barreiras do meu coração.
— Eu os declaro marido e mulher — o padre disse, fazendo todos os nossos amigos
aplaudirem de pé, ela é minha, a minha mulher, a minha melhor amiga, a mãe dos meus filhos e
a dona dos meus pensamentos.
— Se eu tivesse apenas um único dia para viver, eu passaria as vinte quatro horas
admirando a sua beleza e sendo grato por ter a sorte de tê-la ao meu lado.
— Eu te amo, Théo Philips, obrigada por me fazer assinar aquele contrato de casamento
falso e por me tornar a sua esposa.
Beijei minha mulher antes de pegar seu corpo em meus braços e caminhar para longe dos
convidados, Olívia me curou de tudo de ruim que meu tio implantou em meu coração, me
mostrou que a vingança não é o caminho certo e que o amor consegue destruir até o pior dos
sentimentos, até porque o amor sempre vence.
Minha mulher ainda não sabia, mas estava tudo planejado para nossa viagem para
Maldivas, a mesma que tempos atrás eu cancelei e deixei Olívia chorando em nossa mansão, era
tudo novo, tudo verdade e eu não poderia deixar de levá-la para um lindo lugar e aproveitar sua
companhia.
— Ele acorda às três da manhã para tomar mamadeira. — Enquanto eu ajudava um dos
empregados a colocar as malas no carro, minha mulher conversava com sua mãe, minha sogra
ficaria com nosso garotinho e, pela primeira vez, Olívia ficaria longe dele, eu sabia que não seria
fácil, mas precisávamos de um tempo a sós, de curtir como um casal apaixonado que somos e
quem sabe, no final da lua de mel, minha mulher aparecesse grávida, estava louco para ter mais
filhos com ela.
— Filha, pode ficar tranquila, eu vou cuidar bem desse garotinho. — Caminhei até elas,
pegando Antony em meus braços, e beijei sua cabecinha enquanto fechava os olhos, eu morreria
de saudades.
— Temos que ir — disse, olhando para Olívia, que já estava com os olhos cheios de
lágrimas, ela pegou nosso filho em suas mãos antes de enchê-lo de beijo.
— A mamãe te ama e vai morrer de saudade.
Ela entregou nosso filho para minha sogra antes da gente entrar no carro, olhei para Olívia,
colocando minha sobre sua coxa.
— Eu te amo — sussurrei, ela sorriu antes de me dizer que também me amava, seriam
apenas dez dias, porém, eu faria com que aqueles dias fossem inesquecíveis, algo que
contaríamos para nossos filhos no futuro.
Saimos de Londres para as Maldivas, horas dentro do nosso jatinho, fizemos amor várias
vezes e só paramos quando minha mulher começou a passar mal, Olívia correu para o banheiro,
se ajoelhando na frente do vaso, colocando o almoço todo para fora, segurei seus cabelos, tendo
um belo déjà-vu, ela tinha ficado assim na gravidez de Antony e eu torcia internamente para que
nosso novo bebê já estivesse sendo gerado em seu ventre.
— Você está grávida?
— Merda, não era para você descobrir assim — falou ela, se levantando, escovou os
dentes antes de sair do pequeno banheiro e ir até uma das nossas bolsas, tirou de dentro uma
caixinha e me entregou.
— O que é isso? — curioso, eu perguntei, abrindo a caixinha, nela tinha um pequeno body
branco com uma frase escrita: “estou chegando, papai”.
— Parabéns, sua mira aceitou mais uma vez.
Feliz, eu joguei a caixinha com o body sobre a cama, puxando o corpo da minha mulher
para os meus braços, nossa felicidade estava completa, teríamos mais um pequeno bebê em
nossas vidas, para cuidar e amar.
— Mais um bebê, eu sou o homem mais feliz desse mundo.
— Antony é tão pequeno, quando descobri, quase tive um surto. — Beijei sua cabeça,
secando as lágrimas que já caiam sobre o seu rosto.
— Eu estou aqui para te ajudar, prometo que serei o melhor pai do mundo para nossos
filhos, vamos montar um belo time de futebol juntos.
Oliva soltou uma gargalhada, nossa vida tinha começado em uma bela mentira, mas tudo
se transformou em uma história de amor verdadeira que nem o tempo poderia apagar ou
esquecer.
— Que sejam gêmeos — sussurrei.
— Você é completamente louco, senhor Philips.
— Louco e apaixonado por você, pela nossa família.
— Gêmeos, céus!
Me abaixei em sua frente, beijando sua barriga ainda plana. Na primeira gravidez, eu ainda
estava com o coração amargurado, amava Olívia e nosso filho, porém, o ódio pelos Carter me fez
se afastar, todavia, agora teria uma nova oportunidade de ser um pai ainda mais babão, eu
passaria vinte e quatro horas ao seu lado, cuidando e amando minha mulher.
— Ah, eu tenho uma péssima notícia — Olívia falou, chamando minha atenção. — A
doutora Laura disse que dessa vez não poderá me acompanhar, pois, da última vez, você quase a
enlouqueceu.
— Você a quer como sua médica?
Balançou a cabeça, afirmando, deixando mais algumas lágrimas caírem, talvez aquele
choro fosse parte dos sintomas da gravidez.
— Então ela será sua médica, nem que eu tenha que implorar.
— Está me mimando demais, senhor Philips.
Encarei seus olhos, sorrindo.
— É a minha devoção, mimar minha mulher até o fim de minha vida.
Beijei mais uma vez sua barriga enquanto fechava meus olhos, alguém como eu, que tinha
crescido sem os pais, sem uma família de verdade, agora estava construindo algo precioso ao
lado da minha esposa, nossa família é o maior dos meus tesouros e eu passaria a vida cuidando
deles.
— O papai te ama, você é tão querido e amado, nunca se esqueça que sua família sempre
estará ao seu lado.
— Eu sinto que será uma menininha. — Olhei para minha mulher antes de voltar minha
atenção para sua barriga.
— Se realmente for uma menina, saiba que só poderá namorar depois dos cem anos e com
o meu consentimento.
— Sabe que isso é algo impossível, até lá já vamos estar mortos. — Soltou uma
gargalhada.
— Shiu, nossa filha não precisa saber desse pequeno detalhe.
Olívia soltou mais uma gargalhada, eu sou o homem mais sortudo do mundo.
Oito meses depois

Sorrindo, eu olhava para meu marido completamente desesperado, ele andava de um lado
para o outro no quarto branco de hospital, bagunçando seu cabelo e com a respiração acelerada,
parecia até mesmo que era ele que estava prestes a dar à luz a duas garotinhas idênticas. Quando
veio a notícia que seriam gêmeas, Theo saiu gritando pelo hospital, eufórico demais com a
notícia que ele realmente tinha acertado e que teríamos gêmeas, Ava e Emma estavam chegando
para completar nossa alegria. Depois da nossa lua de mel, meu marido ficou extremamente
cuidadoso, eu praticamente passei minha gestação inteira em uma cama, se com um filho ele era
cuidadoso, na segunda gravidez, ele virou um ditador.
Nada de doces, Olívia…
Coma frutas, Olívia…
Você tem que fazer exercícios, Olívia …
Blá-blá-blá-blá
Ainda me lembro do dia que as garotas começaram a chutar, meu marido ficou agarrado
em minha barriga por horas, chorando enquanto nosso garotinho Anthony ria de sua cara, eu
sempre soube que Théo seria um papai babão, mas ele era muito mais que isso, vivia largando o
serviço apenas para ficar brincando de trenzinho com nosso filho ou contando historinhas para
nossas gêmea em minha barriga, um homem incrível, que eu agradecia todos os dias por tê-lo em
minha vida.
— Finalmente, Laura — gritou ele assim que minha médica entrou no quarto.
— Como estão as contrações? — perguntou ela, me encarando.
— Nada bem, estão vindo de cinco em cinco minutos — falou meu marido antes que eu
pudesse responder. — Ela precisa de anestesia.
— Não, eu não preciso. — Fiz uma careta, sentindo uma nova contração. — Quero sentir
tudo, eu consigo.
— Ela consegue. — Laura deu um tapa nos ombros de Théo, meu marido veio para o lado
da cama, dando um beijo em minha testa. — Vamos colocar essas garotinhas no mundo.
— Nossas princesinhas. — Os olhos do meu marido já estavam cheios de lágrimas, ele
não era de chorar antes, mas, depois dos nossos filhos, Theo virou uma verdadeira manteiga
derretida.
— Ah… vou fechar a fábrica depois delas.
— Nem pense nisso. — Apertei sua mão, fazendo força para que a primeira bebê
deslizasse pela minha parte íntima. — Vamos ter pelo menos mais uns três.
— Fique longe de mim com esse seu pau fazedor de bebês — gritei, fazendo mais força.
— Você sabe que isso é impossível, ele é seduzido por sua boceta.
Laura estava posicionada para segurar a primeira menininha, mas, assim que ouviu nossa
conversa, soltou uma gargalhada, ela dizia que nunca tinha visto um casal tão apaixonado como
nós dois e que, se um dia se apaixonasse, teria que ser um amor intenso assim, onde um vive pelo
outro.
Foram mais ou menos quatro horas até que as duas estivessem em meus braços, Ava, com
sua roupinha lilás e Emma, com sua roupinha rosa bebê, as duas são a cópia fiel do papai e ele
não parava de observá-las.
— Você não vai enfiar essa agulha desse tamanho nas minhas gatinhas — protestou,
vendo a enfermeira segurar a seringa com a vacina das gêmeas.
— Senhora Olívia, diga a seu marido que não temos agulhas menores, que não faz mal e
que elas precisam das primeiras vacinas.
— Querido — olhei para ele, que balançava a cabeça em negação —, elas precisam das
vacinas para se protegerem de doenças perigosas.
— Se o senhor quiser, pode sair e voltar só depois.
— Não, eu vou ficar e cuidar das minhas garotas.
Théo ficou em pé enquanto a enfermeira aplicava a primeira vacina em Ava, nossa
menininha estava no bercinho ao lado da minha cama. Ao deslizar a agulha em seu bracinho
pequeno, a nossa filha começou a chorar e, para nossa total surpresa, meu marido desabou sobre
o chão.
— Ele desmaiou? — questionou a enfermeira, eu sorri, olhando para ele no chão.
— Sim, e tudo isso por causa de uma vacina, imagina quando elas começarem a namorar.
A enfermeira soltou uma gargalhada, seguindo com o procedimento, continuei olhando
para meu marido, me sentindo completamente apaixonada por ele. Em todo o tempo que
vivemos juntos, Theo tinha me mostrado o seu lado mais intenso, me amando de várias formas e
sido um pai incrível.
— Se você contar para alguém, eu juro que te colocarei para dormir no quarto de hóspedes
— falou ele assim que despertou do seu desmaio, eu já estava sentada, dando de mamar para
Emma, que era a mais esfomeada, enquanto meu marido segurava Ava.
— Até parece que consegue dormir uma noite longe de mim.
— Sua sorte é que você é gostosa pra caralho e meu pau é louco por você.
— Quero só vê quando elas começarem a namorar, você vai ter um ataque cardíaco.
— Elas não vão namorar, na verdade, eu vou fazer aulas de tiro, e Antony, quando tiver
idade, vai praticar judô, vamos ser os seguranças delas.
— Falando em nosso garotinho, onde ele está?
— Seus pais já estão vindo trazer.
Meu marido se sentou ao meu lado da cama, dando um beijo em minha testa sorrindo, eu
fui tão sortuda por tê-lo em minha vida, por ter aceitado aquele acordo e vivido nossa história de
amor, que, mesmo que tenha começado com uma grande mentira, tinha terminado em um lindo
final feliz.
— Você sabe, né, garotos são do mal, só o papai e o seu irmão que presta — Theo falava
para Ava, que dormia tranquilamente em meus braços. — Vou redigir um contrato, vocês
colocam as suas digitais, prometendo nunca namorar. — Beijou um dos dedinhos dela.
— Céus, você vai me enlouquecer com os ciúmes, homem.
— Quero te enlouquecer de outro jeito. Quando vamos ter mais um bebê?
Soltei uma gargalhada, me acomodando em seus braços, a vida com Theo é como sentir o
vento fresco em meu rosto, a tranquilidade e o sorriso fácil que só ele pode me proporcionar.

Théo

Dezoito anos depois

Respirei fundo com a camisinha em minhas mãos, era chegada a hora de conversar com o
meu garotinho, Antony estava pronto para sua primeira vez com sua namoradinha, uma das
nossas vizinhas, com cabelos loiros e sardas no rosto. Sorrindo, eu entrei em seu quarto, meu
menino estava sentado na frente do seu computador, estudando para as provas da sua faculdade,
me sentei em sua cama, batendo os pés no chão, eu não tinha tido essa conversa com meu pai,
nem vivenciado algo assim com ele, todavia, com meus filhos, seria diferente, eu estaria presente
em todas as fases de suas vidas, até mesmo as mais constrangedoras.
— Pai, chegou mais cedo em casa — afirmou, virando a cadeira para me encarar, e tirou
seus óculos sorrindo.
— Sua mãe está preocupada e me obrigou a vir aqui. — A verdade é que minha mulher
estava me infernizando com a possibilidade de ser avó, não estávamos prontos para essa etapa da
nossa vida. — Eu trouxe isso. — Mostrei as camisinhas em minhas mãos, meu filho soltou uma
gargalhada.
— Camisinha, você veio até aqui para me entregar caminha? — Eu sentia meu rosto
queimar, era uma conversa constrangedora.
— Sabemos que está saindo com aquela menina da casa ao lado e …
— Não sou mais virgem, pai, nossa primeira vez aconteceu um mês atrás.
Pisquei algumas vezes, passando a mão em meus cabelos, um belo costume que não
mudava, mesmo com o passar dos anos.
— Vocês… é… Bom, se preveniu?
— Sim, pai, eu sou responsável. — Cruzou os braços, isso era verdade, de todos os cinco
filhos que tivemos, Antony é o mais centrado. — Deveria se preocupar com Ava, ela, sim, é
cabecinha de vento.
Coloquei a mão no peito esquerdo, sentindo meu coração disparar, minha respiração
estava acelerada e eu tinha quase certeza de que estava tendo um ataque cardíaco.
— Mãe… mãe… O pai está fingindo um ataque cardíaco de novo — gritou meu filho, me
fazendo jogar a camisinha nele e me levantar da cama.
— Eu fiquei de olho em suas irmãs e você trate de encapar esse pinto.
Furioso, eu saí do seu quarto, descendo as escadas, nossos filhos estavam na mesa para
jantar, Ava e Emma estavam lado a lado, Henry, nosso quarto filho, estava ao lado da mãe, seu
nome é uma homenagem ao meu pai e, quando segurei ele em meus braços, meu coração
disparou com semelhança dos dois e, por último, nosso pequeno Ethan, o caçula e mais terrível
dos cinco.
— Onde está Antony? Você conversou com ele? — Olívia falou, se sentando ao meu lado
na mesa, eu encarei minhas filhas enquanto as duas comiam, o medo delas estarem paquerando
me fazia perder o ar.
— Conversei. — Continuava a encarar Ava, a mais terrível das gêmeas, a que me deixaria
de cabelos brancos.
— A gente já vai indo. — Ela se levantou. — A festa da Júlia começa às sete, não
queremos nos atrasar.
— O que vão fazer nessa festa? Terão garotos lá? — perguntei, nervoso.
— Não, papai, só terá meninas. — As duas andaram até mim e beijaram meu rosto, se
despedindo.
Deixei que elas saíssem antes de olhar para meus dois filhos na mesa, hoje eles iriam ser
os seguranças das nossas princesas.
— Henry e Ethan, sigam as irmãs de vocês — falei, enquanto minha mulher se virou para
me encarar. — Pago bem — terminei a frase fazendo os dois correrem para longe da gente.
— Posso saber o que significa isso? — Olívia perguntou, furiosa.
— Significa que logo o Antony sairá de casa e ficaremos sozinhos para fazer mais bebês.
— Tentei enganá-la.
— Acha que não te conheço, senhor Philips?
Beijei seu pescoço, fazendo seu corpo se arrepiar.
— Eu te amo, amo com tudo dentro de mim.
— Théo Philips, você foi a melhor coisa que me aconteceu, eu te amo para sempre.
Em vários contos de fadas, o príncipe salva a princesa, todavia, na minha história, foi ela
que me salvou, me tirou da escuridão e me levou para luz, mostrando que o amor vence até o
pior dos sentimentos e que só ele é capaz de te trazer a verdadeira felicidade, por isso, acredite
sempre que, de alguma maneira, alguém chegará para te salvar, para te mostrar que em todo livro
o amor prevalece.

Fim

Por enquanto…
Olá, tudo bem? Se você chegou até aqui, eu quero te pedir encarecidamente que deixe sua
avaliação, isso vai me ajudar muito não só a crescer, como também vai me motivar a continuar
escrevendo e me dedicando totalmente à carreira de escritora, desde já, eu agradeço.
E, antes que eu me esqueça, me siga no meu Instagram @autorapriscillalima ou
@autorapriscillalimaautora, pode mandar mensagem, eu vou amar te responder e te ter como
uma amiga, prometo que sou simpática, rsrsrs.
Eu quero dedicar este livro ao amor, o sentimento tão forte que nos prende e nos faz
flutuar, mas não só entre um homem e uma mulher, e, sim, o mais importante de todos, o amor
de uma mãe para seu filho, que, sem dúvida, é maior e mais genuíno dos sentimentos. Como mãe
solo, eu não poderia deixar de citar ele. Dedico também a todos os meus leitores, a quem eu amo
de coração e a quem sou grata por tudo, por sempre estarem ao meu lado, me apoiando e me
incentivando a continuar.
Agradeço, primeiramente, a Deus, por ter me dado um dom tão lindo de transformar
palavras em amor, é tão gratificante. Segundo, agradeço a você, que está aqui acompanhando
meus livros, que me segue e que manda vibrações positivas, criando um vínculo comigo, posso
não conhecer todos os meus leitores pessoalmente, mas sinto que vocês são uma parte importante
da minha história. Por último, mas não menos importante, agradeço ao meu pequeno Bernardo,
ele é tudo que tenho e é por ele que luto todos os dias pelos nossos sonhos, enfim, obrigada por
tudo.
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