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Camila Oliveira

Esta é uma obra de ficção. Nome, personagens, lugares e acontecimentos descritos, são
produtos da imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.

É proibido o armazenamento e/ ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de


quaisquer meios – tangível ou intangível – sem o consentimento escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº. 9. 610/98 e punido pelo artigo
184 do Código Penal.
Edição Digital | Criado no Brasil.
Epígrafe

O tempo todo isso foi uma febre


Uma pessoa crédula, nervosa e impulsiva
Eu joguei minhas mãos para o alto e disse: Mostre-me alguma coisa
Ele disse: Se você se atreve, chegue mais perto.
Stay (Rihanna e Mikky Ekko)
Sinopse

Dizem que entre o amor e o ódio há uma linha tênue, há


também quem acredita que eles andam de mãos dadas. Mas, nunca
acreditei nesse ditado, porque só poderia existir o amor ou o ódio,
nunca os dois. Esse tipo de pensamento mudou quando conheci
Enzo Sartori. Ele era o exemplo completo de um homem perigoso.
Seus olhos eram uma confusão de sentimentos controversos, me
mostrando que nem tudo tinha beleza.
Fui criada para ser uma boa garota e um exemplo dentro da
famiglia, porque diziam que eu inspiraria outras como eu, a serem
comportadas e úteis dentro dos negócios. A única coisa que
importava era que eu tinha sangue de pessoas importantes correndo
pelas minhas veias, meus antepassados eram lendas dentro do
submundo e isso bastava para que eu fosse uma peça valiosa dentro
do jogo.
Aprendi na convivência com meu marido que nada era fácil,
que a beleza que diziam ter dentro do submundo não passava de
uma mera fachada e que a podridão emanava de cada poro dos
nossos corpos, que quando necessário mostramos o nosso pior lado.
Viver em um mundo onde só os grandes sobrevivem tem o
seu valor e eu estava aprendendo na pele que a história que nos
contam quando somos crianças não tem um décimo da verdade.
Prólogo

Horas mais tarde já estava dentro do quarto terminando de ajeitar


meus cabelos, eles ficariam soltos e minha maquiagem seria bem leve. O
vestido escolhido para hoje fora perfeito, era tomara que caia da cor marsala,
era de um tecido fino e que se ajustava perfeitamente ao meu corpo,
marcando somente os lugares certos.
Estava terminando de colocar meus brincos quando a porta do quarto
foi aberta e pelo espelho encontro Enzo parado me olhando. Lanço um
sorriso na sua direção e volvo para ele.
— Como estou?
Enzo desceu seu olhar pelo meu corpo, se demorando por alguns
segundos, até que voltou a me fitar.
— Bonita — deu alguns passos na minha direção e nesse momento
percebo uma caixa média de veludo azul em sua mão. — Vire-se de costas.
Faço o que ele manda. Pelo espelho o vejo abrir a caixa e de dentro
retirar um colar.
— Levante seus cabelos — mais uma vez o faço, o vejo colocar o
colar no meu pescoço, com o contato da joia fria na minha pele arrepio-me
completamente.
Quando ele fecha o colar, solto meus cabelos e fico admirando a linda
joia no meu colo. Ela era cravejada de esmeraldas com alguns diamantes. As
esmeraldas reluziam lindamente e combinava com o tom dos meus olhos.
Respiro fundo ao sentir o toque das suas mãos na minha cintura e
sinto seu corpo colado ao meu. Parecia tão vulnerável a ele, com a sua altura
e dominação.
— O colar combinou com você — disse olhando para o colar e depois
para os meus olhos.
Viro para ele e sem pensar muito estico meu pescoço na sua direção e
colo minha boca na sua, lhe dando um beijo suave. Eu não era uma pessoa
que fazia coisas sem pensar, nunca tinha sido a primeira a tomar a atitude de
beijá-lo, na verdade nunca tínhamos nos beijado sem estar nos agarrando ou
transando.
Isso parecia tê-lo pego de surpresa e confesso que a mim também,
mas o contato da sua boca na minha era maravilhoso, era quente e suave, era
como se experimentasse o melhor doce do mundo. As mãos de Enzo foram
para as minhas costas, trazendo-me mais para perto do seu corpo, fazendo-me
soltar um gemido contra sua boca e querer que ele me tomasse naquele
momento. Enzo tomou controle do beijo e sua língua dominou a minha,
deixando meu corpo mole sobre sua boca e seus braços fortes.
Aquele beijo era intenso, era como se não quiséssemos nos afastar,
era como se essa intensidade pudesse durar para sempre, mas uma vibração
no bolso da sua calça o fez se afastar e pegar o aparelho. Sua respiração
estava descompassada, se igualando a minha. Seu rosto ficou duro pelo que
leu no celular e logo me olhou.
— Temos que ir.
Peguei minha bolsa que estava em cima da cama e o acompanhei para
fora do quarto, percebendo que mais uma vez tinha algo nos impedindo de
ficarmos próximos.

Capítulo 1

AYLA

Eu só precisava respirar calmamente, nervosismo não iria me ajudar


em nada nesse momento. Fecho os olhos, inspiro fortemente e solto o ar aos
poucos, dando algum alívio ao meu corpo cansado. Precisava me concentrar
nas palavras de minha mãe nesse momento e tentar compreender todas as
dicas que tentava me dar.
Hoje era o dia do meu noivado, o dia que eu deveria estar me sentindo
a pessoa mais feliz do mundo e não como estivesse indo para o meu próprio
velório. Eu vinha contando há meses a chegada desse dia. Todas as noites
durante esses três meses eu pedia aos céus que atrasasse o máximo que
conseguisse esse noivado, porque eu sentia que no momento em que o Capo
colocasse sua aliança em minha mão eu estaria sentenciada á ele para
sempre.
Eu não queria isso para mim, mas eu não tinha escolha alguma além
de ir até na casa do chefe da máfia e vê-lo me marcar como sua.
—Você me escutou Ayla? — mamãe chama minha atenção.
Viro o rosto na sua direção. Mamãe parecia mais jovem do que a sua
idade revelava, seu rosto branco tinha poucas linhas de expressão e se
mantinha sempre bem maquiado, seus cabelos loiros sempre bem penteados.
Meu pai tinha sorte por tê-la ao seu lado, no entanto ele não dava muito valor
para a mulher que tinha em casa e isso me deixava ainda avessa ao
casamento, tinha medo de passar pelos mesmos percalços que minha mãe.
Vivia a me indagar se meu futuro marido seria igual ao meu pai.
Será que ele iria preferir a companhia de outra mulher a minha?
Acho que não irei suportar isso, não sei se vou ser forte como minha
mãe é.
— Ayla, não estarei para sempre ao seu lado, dizendo o que você
deve ou não fazer — suspirou enquanto ajeitava meus cabelos loiros, tão
idênticos ao seu. — Então querida, tente prestar atenção no que digo.
— Sim mamãe.
Ela terminara de ajeitar meus cabelos, os deixando soltos e em leves
ondas. Seu olhar se encontra com o meu através do espelho e nos seus olhos
castanhos, encontro preocupação estampada. — Preciso que você seja a
menina doce — sussurrou. — Não quero que você perca essa dádiva.
— Não vou.
— Perfeito — suspirou beijando meu cabelo. — Eu queria poder lhe
dar mais conselhos, mas o nosso tempo é pouco.
Com isso me levanto da cadeira e vou até a roupa em cima da cama.
Era um vestido roxo de tamanho médio, mangas longas, sem decote. Era uma
roupa comportada, nada reveladora e agradeci mentalmente por minha mãe o
ter escolhido, eu não iria me sentir à vontade usando algo que mostrasse
muito do meu corpo.
Ao terminar de me vestir e calçar os saltos pretos virei na sua direção
e sorri.
— Você ama meu pai? — pergunto, tentando sanar aquela dúvida que
pairava minha cabeça porque para muitos eles não se amavam e eu há muito
tempo também comecei a acreditar nisso, mas eu precisava ouvir dela, se
ainda existia amor na parte de ambos.
Mamãe me olhou surpresa por alguns segundos, mas logo sorriu de
lado mordendo o lábio. Ela parecia pensativa, talvez estivesse fazendo essa
mesma pergunta nesse exato momento.
Será que ela nunca pensou que amava meu pai?
— É complicado — murmurou se sentando na cama. — Eu me casei
com seu pai quando tinha dezoito anos e mal sabia o que era paixão, imagina
amor — soltou uma risada. — Mas com seu pai eu aprendi muitas coisas e
nenhuma delas foi amor, porque ele sempre dizia que... — Na vida de um
homem não tem canto para besteira de romance.
Sento-me ao lado dela e fixo minha atenção a nossa frente, mas
continuei a escutá-la.
— Antonny sempre foi um homem sério, de poucas palavras — disse
ela franzindo as sobrancelhas. — Mas sempre severo com quem desacata
suas ordens. — Virou-se para mim. — Na minha vida, Ayla, não tive chance
de saber o que era amor de um homem e uma mulher, seu pai nunca fez
questão de mostrar como é.
— Mamãe…
— Mas isso não quer dizer que seu futuro noivo não vá lhe mostrar
como é o amor.
Entrelaço meus dedos e mordo meus lábios. Não sabia se isso seria
possível, já tinha escutado muitas histórias sobre meu noivo e nenhuma delas
era boa. Talvez mamãe só quisesse tranquilizar a inquietude do meu coração.
— Mas eu sei uma forma de amor — tocou meu rosto. — O amor
materno, quando eu tive você descobrir algo que não sabia que poderia
existir, a beleza do nosso mundo, porque se eu não tivesse me casado com
seu pai, talvez eu nunca tivesse você, não tivesse a chance de ser sua mãe.
— Mas a sua única filha é uma mulher.
— Sim, por você ter nascido menina, eu tive que escutar muitas
coisas e o seu pai também, mas eu não me importei na época e não me
importo agora, porque você é minha filha, que amo, e isso me basta.
— Mas não para o papai.
— Seu pai é um homem de cabeça dura, não aceita muitas coisas, mas
atura porque é o dever dele aceitar as coisas do jeito que são — balançou as
sobrancelhas. — Mas claro, se eu tivesse tido um filho homem as coisas
teriam sido bastante diferentes, talvez Antonny tivesse assumido a cadeira do
Capo, talvez ele me respeitasse mais.
No exato momento que mamãe parou de falar a porta do quarto foi
aberta e ali estava o meu pai. Seus olhos verdes, que herdei dele, examinaram
nós duas, desconfiado como sempre. Meu pai era um homem grande e forte,
tinha cabelos castanhos meio grisalho, mostrando estar perto da casa dos
sessenta, enquanto minha mãe estava nos quarenta. Seu rosto meio quadrado
tinha uma leve barba cobrindo seu queixo e aquilo lhe dava ar de mais
seriedade.
— Vocês já estão prontas?
— Sim, querido — mamãe se levantou ajeitando seu vestido preto de
corte reto e nada revelador. — Só estava dando algumas dicas para nossa
filha.
Ele olhou na minha direção e examinou minha roupa que era quase
idêntica a da minha mãe. Papai voltou sua atenção para ela.
— Preciso falar com você antes de sairmos — ele me olha. — Nos
encontre no hall em dez minutos.
— Sim, papai.
Ao vê-los saindo do meu quarto, volto a olhar para a parede. Sentia
meu coração pesar, talvez fosse pela culpa de não ter nascido como meu pai
desejava que eu fosse, por não ter dado uma vida mais fácil para minha mãe,
que teve que escutar os comentários maldosos por não ter conseguido dar um
filho homem ao meu pai, por ter dado à luz uma única criança e a mesma ser
uma menina, o que era quase uma desonra para uma família.
Mas agora eu era valiosa aos olhos de todos, eu era a aliança entre
duas famílias, o que tornaria meu pai mais poderoso que antes, o deixaria
mais perto de ser o conselheiro do chefe. E isso deveria bastar para deixá-lo
feliz, pelo menos é assim que penso. Talvez ele conseguindo o que tanto
quer, consiga perdoar minha mãe por não ter lhe dado mais um filho.
Com esses pensamentos saio do quarto e fui até a sala de estar,
encontrei-a vazia, meus pais ainda não tinham descido. Olho para a pequena
mesa que continha algumas bebidas e penso em beber algo para me acalmar.
Eu não era muito de beber, só tinha vinte anos e não sabia o que era beber de
verdade, talvez eu descubra em breve.
Pego um copo e encho-o com um líquido âmbar, o cheiro era forte e
ao descer pela minha garganta me fez tossir um pouco. Balanço a cabeça e
lambo meus lábios, sentindo mais daquele gosto que de início não era bom.
Ao terminar o conteúdo do copo, decidi me sentar em uma das
poltronas que dava visão da escada. Papai parecia estar tendo uma conversa
bastante séria com minha mãe, porque estão demorando muito e pelo que
conheço do meu pai, ele odeia atrasos. Posso dizer que estamos quase
atrasados para o jantar na casa dos Sartori.
Não sei quantos minutos se passaram quando meus pais desceram e
pela expressão do rosto da minha mãe, a conversa deles não tinha sido nada
boa. Mamãe parecia meio abatida e fico tensa ao ver que ela tinha mudado de
roupa. Agora ela vestia um vestido médio cinza de mangas longas e gola
alta.
Ele havia a agredido mais uma vez.
Eu sabia que sim, porque todas às vezes que isso acontecia, mamãe
ficava mais pálida do que o habitual e ela parecia mais retraída do que o
normal na presença do meu pai.
— Vamos, já estou atrasado para o jantar.
Levantei-me da poltrona e aproximo-me da minha mãe que deu um
leve sorriso ao notar-me junto dela.
— Está tudo bem?
— Sim querida, só estou um pouco cansada — tocou meu rosto.
— Ele fez algo com você?
Ela me olhou de relance enquanto descíamos os degraus da frente da
casa.
— Não pense ou fale sobre isso — me repreendeu. — Não quero que
seu pai escute e faça algo com você.
Assenti, sabia que papai poderia ser agressivo às vezes, mesmo ele
nunca tendo levantado a mão para mim, sabia como ele era duro com minha
mãe e sempre me perguntava como ela ainda aguentava tudo aquilo. Mas eu
sabia a resposta para aquela pergunta.
Não existia divórcio para nós na máfia, o casamento era algo sagrado
para todos dentro da famiglia, se houvesse divórcio era desonra para todos e
o nome da família iria para lama. E o que nós mulheres podíamos fazer era
tentar compreender nossos maridos e aguentar tudo que eles faziam.
— Eu sinto muito, o que ele fez com você, mamãe — sussurro antes
de entrar no carro.
Não consegui olhar para o meu pai o caminho todo até a casa da
família Sartori. Olhá-lo era imaginar o que ele poderia ter feito com minha
mãe. Quais marcas que ela carregava debaixo daquele vestido.
Por que ele fazia aquilo?
Será que ele se sentia mais homem batendo em uma mulher indefesa?
Que mal sabe se proteger?
Mas quando chegamos à casa dos Sartori, tive que aceitar o braço do
meu pai e sorrir como se fossemos a família perfeita, que nada nos atingia.
— Senhor e Senhora De Luca — um homem de estatura média os
cumprimentou e virou na minha direção. — Senhorita. Todos estão os
esperando na sala de jantar.
Dei um leve sorriso na direção do rapaz, mas por trás daquele sorriso
estava me tremendo completamente. Eu não sabia o que me esperava naquela
sala de jantar, onde os lobos me esperavam para devorar-me viva. Todos que
estivessem ali dentro teriam a sua chance de tentar alguma aproximação a
mim, pois eu Ayla De Luca não era uma das melhores pessoas para ser
receptivas. Mamãe ou até mesmo meu pai reclamava por minha falta de
socialização com as pessoas ao nosso redor. E aquilo talvez fosse um
problema que teria que ser resolvido de agora em diante.
— Querida — olho para minha mãe que estava esperando-me
acompanhá-la.
Forço meus pés a acompanhá-la até a sala de jantar, onde meu pai nos
esperava na porta.
— Vai dar tudo certo.
Eu queria acreditar nas suas palavras. Quando entramos na sala de
jantar, as atenções de todos vieram para nós. O cômodo antes era cheio de
murmúrios e risadas, agora era um lugar silencioso, que por sinal me causara
incômodo.
— A noiva chegou! — alguém naquela multidão celebrou.
Não tive tempo de respirar direito, fui tomada dos braços da minha
mãe para outros braços nos minutos seguintes. Tive que sorrir para as pessoas
e agradecer pelas felicitações do noivado. Em alguns momentos eu olhava ao
redor a procura de alguém conhecido, mas parei de procurar quando minha
atenção parou em alguém.
Naquele exato momento não prestei atenção no que a mulher ao meu
lado falava sobre casamento, algo em minha cabeça entorpeceu
completamente. Ali, á alguns metros, estava meu futuro marido, parado
olhando exatamente para mim.
Será que ele estava me observando há muito tempo?
A pergunta foi silenciada quando o vi se aproximar de mim, a cada
passo que ele dava na minha direção via como ele era alto e eu parecia tão
pequena na sua presença. Ele tinha ombros largos, que estavam cobertos por
um paletó, era bastante musculoso e tudo nele parecia perigoso, o seu jeito de
andar ou até mesmo de olhar. Ainda paralisada continuei a examiná-lo, seus
cabelos escuros estavam arrumados para trás e seu rosto tinha uma leve barba
cobrindo seu queixo, mas o que me deixava inquieta era seus olhos cinza, que
me perscrutava a cada respiração. Ele parecia estar me estudando ou
esperando que eu desse alguma respiração errônea. Enzo Sartori tinha uma
aura sombria e aquilo parecia me sufocar com sua aproximação.
— Boa noite senhoritas — ele nos cumprimenta, sem nunca desviar
seus olhos dos meus.
A mulher que estava falando há alguns segundos, agora se encontrava
calada, olhando petrificada para o homem à nossa frente.
— Sr. Sartori — ela o cumprimentou. — Vou deixa-los a sós.
Viro a cabeça rapidamente para ela, querendo puxá-la e fazê-la ficar
ao meu lado. Eu não queria ficar sozinha com ele. Esse pensamento era um
disparate visto que em breve iria me casar com ele e passaria a maior parte do
tempo ao lado dele. Então eu tinha que começar a me acostumar com sua
presença constante.
Quando estávamos a sós, engoli o nervosismo, tentei transparecer o
máximo possível de calma e tento sorrir, mas tenho certeza que foi falho, já
que ele franziu as sobrancelhas rapidamente, e assumiu um olhar sério.
— É um prazer conhecê-la De Luca — ele segurou minha mão,
abaixou os lábios até as costas da minha mão e plantou um beijo ali.
Em todos os meus vinte anos nunca ficara tão perto de homem algum
como estou dele e nunca tinha sido cortejada como estou sendo agora. E meu
tolo coração perdeu uma batida, fazendo-me perguntar se ele era tão
cavalheiro desse jeito ou só estava tentando ser gentil com a sua futura
esposa.
Sartori e eu nunca tínhamos nos falados antes. Claro que eu já o tinha
visto de longe, mas nunca tínhamos trocado alguma palavra antes. Quando eu
soube que meu pai tinha oferecido minha mão para Sartori, surtei por alguns
segundos até que minha mãe mandou eu me recompor e ser sensata. Eu não
poderia recusar a ordem do meu pai, já que o homem à minha frente não
tinha recusado a proposta do meu pai e aceitara se casar comigo, sem pensar
duas vezes. Talvez ele e meu pai estivessem desesperados por um casamento.
Mas é uma tolice minha pensar isso do Don a minha frente, ele tinha qualquer
mulher aos seus pés. Ele certamente aceitara casar-se comigo para não deixar
a jovem, que sou eu, desapontada por não ter um ótimo casamento.
Mas meu caro telespectador se você estiver pensando que eu almejava
esse casamento, está redondamente enganado. Eu não queria nada disso, por
mim eu poderia ter me tornado tia Nana, que Deus a proteja, que não
conseguiu um ótimo casamento e terminou seus últimos dias de vida sozinha.
Mas penso que ela tenha ficado feliz em nunca ter se casado, já que ela pode
aproveitar a vida do jeito que quis, sem se preocupar com os olhos atentos da
famiglia.
Esses não eram os planos do meu pai para mim, ele com certeza
estava desesperado para me casar e parecia ter conseguido, já que em pouco
tempo eu seria a esposa do Don, um dos homens mais poderosos da máfia
siciliana dos Estados Unidos. E com meu casamento com Enzo Sartori, meu
pai se tornaria um homem ainda mais poderoso, podendo se tornar o Capo da
família De Luca, tomando o lugar do meu avô materno.
— Você está belíssima — diz me tirando de meus devaneios.
Fixo meus olhos nos seus e ali neles eu penso que poderia cair em um
penhasco sem fim, era tudo tão vazio e sem vida.
— Obrigada Sr. Sartori — balanço a cabeça agradecida.
Ele segurou meu braço, trazendo-o para o seu. O contato das nossas
peles era estranho, mas não incômodo e sim suportável.
— Não precisamos de tanta formalidade, não é? — disse em um tom
neutro e posso dizer que quase vi um sorriso se formar nos seus lábios
vermelhos e cheios.
— Claro que não — murmuro baixo.
Enzo nos guiou pelas pessoas, fazendo-me cumprimentar várias
pessoas que até então não tinham falado comigo, mas agora que estou na
companhia de Enzo, todos tinham que falar comigo também. Eu não poderia
continuar invisível como na maioria das vezes era. Agora eu parecia alguém
importante. Eu era a futura senhora Sartori, isso não era grandioso para mim.
Porque logo cairiam obrigações sobre mim e teria que cumpri-las como meu
dever de esposa do Don.
Quando estávamos parados perto de um casal de idosos, meus olhos
pararam nos meus pais. Mamãe parecia perdida em seus pensamentos, como
sempre, e papai conversava com um homem e parecia estar alegre, o que era
raro de acontecer, já que ele sempre estava de mal humor. Talvez esse
noivado o faça mudar um pouco e melhorar a sua convivência com a minha
mãe.
Não crie expectativas tolas.
Volto a prestar atenção na conversa a nossa frente e tento acompanhar
o que a senhora dizia para Enzo, que parecia surpreso pelo que a mulher lhe
falava. Um pouco mais tarde naquela mesma noite descobri que aquele casal
de idosos eram seus avós maternos e por isso Enzo estava sendo tão cordial
com eles.
Eu estava sentada em minha mesa e agradecida por dar algum
descanso aos meus pés dilacerados pelos saltos altos. Seguro a taça de vinho
e observo as pessoas conversando e gargalhando entre si. Todos pareciam
alegres com essa noite. Eles não pareciam preocupados com as suas
obrigações fora dali. E eu estava feliz por ter um tempo só para mim, para
colocar alguns pensamentos em ordem.
Eu tinha conhecido muitas pessoas em poucas horas. Muitos chefes
das máfias aliadas (Camorra, Ndrangheta e Outfit), consiglieres, subchefes,
associados e entre outros. Cada um me recebeu de uma forma, alguns mais
reservados, outros falantes e alegres e outros meio grosseiros com algumas
palavras. Mas todos receptivos ao seu modo.
Esse era o meu mundo não poderia me importar como eles tratavam
as mulheres, porque para todos os homens ali nós éramos apenas uma bolsa
para os futuros filhos da famiglia. Portanto, nós não merecíamos ficar por
dentro de tudo que acontecia na máfia, porque éramos ingênuas demais para
ficar a par de tudo que acontecia ali.
—Posso me sentar? — viro na direção de onde vem à voz e encontro
Laura parada ao meu lado.
— Claro — murmuro indicando a cadeira ao meu lado.
Laura era uma prima distante, que mal nos víamos e falávamos já que
meu pai não queria que eu tivesse a companhia dela, onde ele dizia que meus
tios tinham criado ela para o mundo e não para um marido. Mas eu sabia que
meu pai temia que eu tivesse a companhia dela, porque ele tinha medo que eu
me tornasse uma Laura, uma pessoa de espírito livre e que sonhasse mais alto
do que poderia sonhar. Mas nela eu via tudo que um dia eu sonhei ter, uma
dose de aventura. Eu sabia que ela já tinha viajado mais do que eu em toda
minha vida. Laura já tinha conhecido lugares que eu jamais conheci. E eu a
invejava por isso.
Mas nem ela escapou do seu dever com o submundo. Aos seus
dezenove anos ela tinha se casado com um homem trinta anos mais velho.
Ela aparentava ter aceitado bem o seu casamento, onde seu marido era o
Capo da família Gambino e um dos cinco que se sentava nas cadeiras da
comissão, a qual meu pai em breve estaria junto. Agora olhando para minha
prima eu via como seu casamento não a tinha feito bem.
Mesmo não sendo próxima dela, eu a tinha visto por algumas vezes
antes do seu casamento há dois anos. Ela parecia saudável e feliz, e depois
que ela se casou, vejo que ela não parecia nada como antes, seu sorriso
parecia sincero nesse momento, mas sua aparência não era uma das melhores.
Seus olhos verdes pareciam sem vida e sua pele pálida. Seus longos cabelos
vermelhos estavam bem arrumados, mas também parecia ter perdido o brilho
de antes. Eu conseguia ver que ela estava definhando aos poucos.
Será que ninguém via isso?
Ou não se importavam?
—Eu quero lhe desejar um ótimo casamento — Laura sorriu e pegou
a taça da minha mão. — Espero que você seja muito feliz com o Don.
— Também espero o mesmo — murmuro sem jeito. — Não sei se irei
aguentar um casamento… — Paro de murmurar e olho para frente, sem
conseguir olhá-la por muito tempo.
— De conveniência? — Completou com bom-humor. — Ayla, muitos
aqui se casaram sem amor e não estão nem aí para isso. Poucos homens dessa
sala têm decência de ser respeitoso com sua esposa e tentar ser feliz em seus
casamentos, pelo menos tentar. Mas muitos acham que nós mulheres só
servimos para procriar e esquentar as suas camas todas as noites.
Aquilo me fez olhá-la e ver um brilho de compaixão. Mesmo que não
tivéssemos proximidade Laura estava tentando me ajudar a entender como
funcionava o nosso mundo. Conseguia ver como ela tinha amadurecido em
tão pouco tempo em seu casamento.
— Eu só não quero ser como meus pais — minha voz sai quase
inaudível e ao mesmo tempo encaro minha mãe que tinha um sorriso forçado
para o meu pai, tentando não mostrar seu desânimo na frente dele.
— E eu queria ser como os meus — Laura completou. — Mas olha
pra mim, tive tudo que quis, viajei, conheci lugares maravilhosos, dancei o
que pude e tentei ser o máximo possível normal, mas aqui estou em meus
vinte e um anos, casada com um homem que não diz uma palavra carinhosa
para mim, que só me olha para dizer coisas desprezíveis e que me obriga a
deitar em sua cama todas as noites e força-me para dizer que o amo.
Quando ela termina de falar vejo uma lágrima solitária descer pelo
seu rosto bem maquiado.
— Nós nem sempre temos tudo que queremos, mas sempre podemos
tentar ser melhores do que os nossos maridos.
Aquelas palavras cravaram em minha cabeça e olhando para Laura eu
via que ela tentava sobreviver em seu próprio casamento. Se ela conseguia
viver naquele mundo, tinha certeza que poderia viver também.
Capítulo 2

AYLA

Dentro do submundo há regras, como em qualquer lugar, em qualquer


família tradicional. Aos vinte e um anos estamos prontas para arrumamos um
marido e depois do casamento esperam que logo tenha filhos e que sejam
homens, porque para muitas mulheres sendo uma primogênita em um
casamento é uma desonra para o homem, lhe dá uma imagem de fraqueza
dentro da famiglia. Como se nós mulheres tivéssemos o poder de escolher se
teríamos filhos homens ou mulheres.
Fora essas duas regras também temos que demonstrar respeito aos
nossos maridos independente da ocasião ou lugar. Essas são as três regras
mais importantes que aprendi em minha vida, porque eu sabia qual era o
preço da desobediência e não era nada bonito.
Refletindo sobre tudo isso eu conseguia até imaginar o meu futuro ao
lado de Enzo Sartori. Todos os dias teria que estar o esperando com um belo
sorriso no rosto, mostrando-me satisfeita com minha vida de casada e
agradecida por ter um teto e comida na mesa. Teria que aquecer sua cama
todas as noites, mostrando que adorava tudo aquilo e no futuro próximo lhe
dar um herdeiro, de preferência homem.
Era uma bela imagem para se pensar na noite do meu noivado, onde
muitos me olhavam e sussurravam, falando sobre minhas vestes, a forma que
falo, de como seguro minha taça ou como pego o garfo e como. Ali eu
parecia estar em um programa de TV nada passava despercebido aos olhos
dos curiosos de plantão.
Laura tinha voltado para a companhia do seu marido Piero, e
demonstrava felicidade ao lado dele, mas eu sabia que tudo era uma fachada,
para mostrar o casal perfeito na frente da famiglia, mas nem tudo são flores
como as jovens da máfia imaginam, em algum momento caímos na real e
começamos a olhar a vida que levamos de outra forma.
Eu estava jantando ao lado dos meus pais e na mesa a minha frente
estava à família Sartori, que era somente Enzo Sartori e Milena Sartori, já que
seus pais Diogo e Vanessa haviam morrido em um confronto da máfia
americana e Irlandesa, quando eles eram jovens e os dois ficaram sob a
guarda de um tio distante deles, que também tinha morrido de velhice há
alguns anos e desde então Enzo Sartori assumiu a cadeira da família e
comanda a máfia Cosa Nostra.
Eu já tinha escutado algumas histórias sobre Sartori, onde nenhuma
delas era bonita de se ouvir. Eu quis acreditar que elas eram somente coisas
que nossos familiares contavam para nos dar medo para que respeitássemos o
nosso Don, mas esse pensamento estava prestes a mudar quando escutei um
estrondo alto vir de algum lugar do salão de festa.
Gritos foram ouvidos e tiros disparados, tudo foi muito rápido para eu
compreender o que estava acontecendo. Logo fui puxada pelo meu pai que
estava apontando uma arma para frente e pronto para atirar se algo saísse do
seu controle.
Mulheres corriam para todos os lados e eu senti meus pés vacilarem
quando vi Sartori atirando em um homem que caiu de repente no meio do
salão e logo depois uma poça de sangue cobri-lo. Pela expressão que Sartori
tinha no rosto eu via escuridão nele, nada mais do que isso, parecia que lá não
existia um homem bom e sim um homem da máfia. Logo sou arrancada do
meu devaneio quando sinto alguém me puxar para trás e algo gelado bater
contra minha face.
— Quietinha — escutei uma voz rouca e sotaque estranho
murmurando atrás de mim.
Sinto o pavor se instalar no meu corpo e olho fixamente para cinco
homens parados à nossa frente e apontando seus revólveres na nossa direção.
Um deles era Enzo que não me olhava, concentrado no homem atrás de mim.
O que iria acontecer?
— Caro Sartori como é bom revê-lo — o homem atrás de mim
murmura sarcástico. — Acho que essa lindinha aqui é sua não é?
Enzo não murmurou nada continuava a olhá-lo como se tivesse
pensando mil e uma coisas nesse exato momento. Faça alguma coisa! Eu
queria poder gritar, mas me mantive paralisada sentindo o metal frio em
contato com minha pele, aquela era uma sensação horrível.
— Ela tem um ótimo cheiro — ele provocou cheirando meus cabelos.
Fecho os olhos com força e prendo minha respiração. Eu queria poder
dizer que isso era um pesadelo e que logo iria acordar, que não tinha um
homem estranho segurando-me com uma arma apontada contra meu rosto,
que a qualquer momento, com um simples descuido dos homens a nossa
frente, ele poderia atirar e assim seria meu fim.
— Fico surpreso que você tem coragem de fazer isso — Enzo falou
naturalmente, como se nada estivesse acontecendo. — Você come da minha
comida, bebe do meu melhor vinho e tem coragem de ameaçar minha noiva?
— Quem não arrisca não petisca não é meu caro? — Zombou dando
uma risada. — Talvez matando essa lindinha aqui eu consiga algo em troca,
com tudo que você já fez a mim e minha família.
— Doni, pensei que isso estivesse no passado. — outro homem falou,
ele era jovem acho que a mesma idade de Enzo, mas também parecia mal
encarado com todas as tatuagens que eu conseguia ver em suas mãos e
pescoço.
— Claro que não está no passado, porque não foi você que perdeu
tudo! — O tal Doni gritou logo atrás de mim e balançou a arma no meu rosto.
— Abaixa a arma e vamos conversar — o homem continuou a falar.
— Assim Sartori pensará em deixá-lo vivo.
— Sei que não sairei ileso daqui — ele disse. — Então acho melhor
acabar com essa daqui e deixar esse filho da puta me matar.
Por favor, não!
Sinto-o segurar com mais força o revolver contra meu rosto e fecho os
olhos com força tentando imaginar como era a morte, qual sensação ela
deveria ter. Só esperava que não doesse.
Eu não vi, mas logo escutei um disparo e meu corpo cair no chão.
Será que eu estava morrendo? Minha respiração está acelerada e meu coração
batendo a todo vapor. Essa era a sensação da morte?
— Tire-a daqui — ouço alguém falar.
Abro meus olhos e vejo um homem me puxar para cima e meus olhos
se voltam para o chão onde o corpo de um homem alto magro estava caído no
chão se contorcendo e vejo que ele tinha levado um tiro na lateral do corpo.
— Senhorita vai — o homem que tinha me levantado disse.
Aturdida e em choque acompanho o homem para fora do salão, mas
antes olho para trás a tempo de ver meu noivo puxar o homem ferido e
começar a desferir socos e o escuto.
— Você vai ter preferido à morte seu filho da puta.
O homem ao meu lado me levou para fora da casa e me enfiou dentro
de um carro que logo ganhou velocidade, deixando todo o desastre do meu
noivado para trás.
— A senhorita está bem? — O soldado que dirigia o veículo me olha
pelo retrovisor.
— Acho que sim — sussurro ainda em choque.
— Está machucada?
Balanço a cabeça em negativo. Ele me olhou por mais alguns
segundos, mas logo voltou a prestar atenção no caminho. O que tinha
acabado de acontecer? Um homem tinha tentado me matar no dia do meu
noivado. Fecho os olhos e tento controlar o choro que queria se romper.
Será que minha vida seria desse jeito?
Sempre no perigo?
Sem saber se estarei protegida ao lado do meu futuro marido ou
minha família.
Parecia que nenhum lugar era seguro para mim. E sabendo que logo
estaria casada com um homem poderoso significava que viveria
constantemente em perigo. E isso não é nada belo para se pensar.
Toco no lado do rosto onde alguns minutos atrás tinha uma arma
apontada. Será que o homem iria mesmo atirar? Ele teria coragem de me
matar?
Claro que sim, porque ele era impiedoso e parecia determinado a
causar alguma coisa a Sartori, mas senti uma porcentagem de pena porque
Enzo Sartori não iria se importar com minha morte, ele logo arranjaria outra
noiva para substituir meu lugar.
Ainda com os olhos fechados senti o carro parar e a voz do soldado a
minha frente.
— Chegamos senhorita De Luca.
Olho para a casa a nossa frente e solto um suspiro. Nem naquela casa
eu estaria segura completamente. Sentindo-me ainda assustada abro a porta
do carro e antes de fechá-la agradeço ao soldado por ter-me trazido até aqui.
O vi dar um aceno e esperar que eu subisse os degraus até a porta para entrar
na casa. Ao fechar a porta, encostei-me a ela e deixo meus ombros caírem
para frente. Eu precisava da minha cama para poder esquecer essa terrível
noite.
— Querida — olho para cima e vejo minha mãe parada há alguns
metros.
Ela estava à salva e bem. Meu pai a tinha trazido para casa e me
deixado lá, na mão de um assassino. E foi naquele momento que eu percebi
que ele não me amava, que ele não sentia nada por mim. Ele não se fazia
como pai e nem tentava. Tenho certeza que para ele eu não faria falta se o
homem desconhecido tivesse atirado em mim, para ele seria ninguém.
Com esse pensamento solto as lágrimas que seguro. Porque meu pai
não me amava ou se importava comigo? Ele não ficou lá para tentar me tirar
das mãos do assassino, ele tinha ido embora com minha mãe.
— Filha — mamãe veio ao meu encontro e me abraçou com força.
Abraço-a de volta e soluço contra seu ombro. Eu só servia como uma
peça de jogo para ele, que lhe abriria portas dentro da máfia, nada mais que
isso. E se eu tivesse morrido não faria diferença para ele, porque o homem
que chamo de pai não deve ter um sentimento sequer por mim.
— Está tudo bem, você está sã e salva — mamãe sussurrou contra
meu cabelo. — Você está viva, isso que importa.
— Eu quase morri mamãe — digo em um soluço. — Senti a morte
quase me levar por um instante.
— Mas ela não lhe levou — beijou meu cabelo.
Afasto-me dela e enxugo meu rosto com as costas da mão.
— Se não fosse por alguns dos homens de Sartori eu teria morrido —
digo com a voz rouca. — Eu não estaria aqui porque meu próprio pai me
deixou para morrer.
— Ele não tinha como lhe salvar querida — ela sussurrou.
— A senhora está no lado dele? — olho-a horrorizada. — Concorda
com o que ele fez? Deixando-me lá para morrer?
— Claro que não filha, mas seu pai não podia fazer nada, todos
estavam correndo e atirando, ele só saiu de lá como todos.
Fito seus olhos castanhos vejo que ela está sob alguma substância.
Mais uma vez ela estava se submetendo aos remédios e vendo ela desse jeito
me fazia sentir ainda mais fraca, porque eu não era capaz de fazer alguma
coisa por ela, de tentá-la fazer entender o que tinha acabado de acontecer
comigo, porque na sua linda cabeça meu pai tinha feito à coisa certa e que eu
não poderia fazer nada contra isso ou tentá-la ver o meu lado.
Junto o resto de força que ainda há dentro de mim e sorrio para ela
segurando seus ombros estreitos e digo;
— Eu entendo. Tudo aconteceu como deveria acontecer e nada de
ruim aconteceu — sussurro a mentira para ela, fazendo seus lindos olhos de
chocolate tilintar de alegria. — Eu estou bem e papai fez a coisa certa, e
agora nós vamos para o quarto descansar.
— Vamos fazer isso — balançou a cabeça meio grogue.
Os remédios estavam fazendo efeito e ela logo estaria falando coisas
desconexas e cairia no sono. Levei-a até o quarto e a fiz deitar na cama, antes
que ela fechasse os olhos beijo sua testa e peço para qualquer pessoa lá de
cima que a fizesse dormir bem.
Ao sair do seu quarto me deparo com meu pai, estático a me ver. Eu
queria poder ter coragem e dizer tudo que estava entalado na minha garganta,
mas eu não poderia, porque eu não era desse jeito, não era a filha malcriada e
rebelde. Eu era o exemplo de filha educada e obediente, que fazia tudo que
seu pai mandava. E eu teria que continuar sendo desse jeito, não seria um
quase assassinato que me faria mudar.
Balancei a cabeça na sua direção e segui para o meu quarto, onde
automaticamente tirei minha roupa e sapato, segui para a cama me joguei e
puxei o travesseiro contra o meu rosto.
Eu não queria viver uma vida de insegurança como eu vivenciava
minha mãe ter. Eu via ela se dopar noite após noite para espantar seus
demônios, evitando encarar sua realidade que era viver diariamente com os
maus tratos do meu pai e ver sua própria filha ser dada para um homem que
era visto como um monstro dentro da máfia.

ENZO

Ao vê-la sendo levada para longe, com seus olhos verdes assustados e
rosto pálido, fervi gradativamente por dentro. Viro na direção de Doni e dou
um pequeno sorriso me aproximando.
— O coloque de pé — comando enquanto tiro meu paletó e abro os
primeiros botões da minha camisa. — O que você tem na cabeça para tentar
matar minha noiva?
— Se ela morresse você arranjaria outra — responde com a voz
contida. — Não é assim que você faz?
— Você quase colocou meu acordo na lama — seguro sua garganta.
— Não sabe quanto aquela De Luca é importante?
— Talvez para o seu pau sim — riu e logo depois tentou se soltar,
mas isso fez minha mão se fechar ainda mais ao redor de sua garganta.
— Pensei que tínhamos nos resolvido.
— Pensou errado — me olha com raiva. — Matar minha família não
é algo que damos por resolvido.
— Mas deixei seu irmão vivo! — Dou de ombro. — Até que fui
piedoso.
— Você matou minha mulher, minha filha que tinha acabado de
nascer!
— Porque você roubou minha carga — revido. — Você me traiu,
fugiu com o que era meu.
— Elas não tinham culpa.
— Não me importo — tiro minha arma do cós da calça. — Se você
não tivesse fugido com algo que me pertencia, sua mulher e filha poderiam
estar aqui, até mesmo o restante da sua família.
— Isso não irá ficar assim — disse olhando para a arma que aponto
para sua cabeça. — moy brat otomstit.
— Quero vê-lo tentar — sem esperar mais nenhum um segundo atiro
no meio da sua testa.
Dou alguns passos para trás e não olho uma segunda vez para o corpo
caído no meio do salão. Fecho os olhos controlando a raiva que dominava
meu corpo.
— Temos que reforçar a guarda — Domênico para ao meu lado. —
Não podemos deixar passar a ameaças de Doni.
— Não precisamos. Nada irá acontecer.
— Sartori...
— Não vamos falar mais disso — o corto. — Irei embora.
Pego meu paletó pelo caminho e quando coloco minha mão dentro do
bolso encontro a pequena caixa com o anel de noivado que daria á Ayla.
— Domênico — viro na direção dele. — Preciso que você faça algo
para mim.
— O que seria?
— Entregue isso na casa dos De Luca.
Jogo a caixinha na sua direção. Ele a pega no ar e abre.
— Você é o noivo.
— E essa é uma ordem do seu chefe.
Domênico revirou os olhos me dando as costas. E seguindo o
caminho ordena que se livrem dos corpos no meio do salão. Essa noite
poderia ter terminando diferente, mas ela ainda pode melhorar um pouco.
Pego meu celular do bolso da calça e encontro o número de Perla ali.
Capítulo 3

AYLA

Não tinha conseguido dormir muito na noite passada, meus


pensamentos não me deixaram descansar por muito tempo. Se fechasse os
olhos conseguia sentir a sensação do revólver contra meu rosto e escutar o
homem estranho dizer que iria se livrar de mim.
Eu sei que não deveria me sentir tão apavorada como estou. Deveria
saber que essas situações poderiam acontecer comigo a qualquer momento,
mas sentir na pele o que aconteceu foi diferente, era assustador imaginar que
com um simples disparo ou descuido eu não poderia estar mais aqui, entre os
vivos.
Meu rosto estava uma bagunça e meu corpo estava dolorido pelo
impacto de cair no chão e cansado pela noite mal dormida. A maquiagem que
ainda estava no meu rosto estava toda borrada e tinha manchas de lágrimas
que eu não consegui controlar ao deitar na cama na noite passada.
Lavei o rosto e tirei todo o resquício de maquiagem e logo depois fiz
minha higiene. Quando estava sentada de frente a minha penteadeira
arrumando meus cabelos, vejo dona Lídia entrar no quarto. Aquela senhora
tinha tido um papel importante na minha criação. Ela por muitas vezes foi
uma mãe quando não tive a minha, que estava muito ocupada com seus
próprios pesadelos.
Sorri para ela e virei na cadeira vendo-a se aproximar. Ao parar na
minha frente tocou no meu rosto e me lançou um sorriso amistoso, vi amor e
carinho de alguém por quem eu também tinha sentimento.
— Soube o que aconteceu na noite passada — disse me olhando com
preocupação. — Espero que esteja bem.
— Vou ficar — toco na sua mão. — Só que ainda estou meio
assustada com tudo que aconteceu.
— Sinto muito — suspirou dando um leve sorriso. — Vim te trazer
algo.
Levanto as sobrancelhas e vejo-a tirar uma caixinha dentro do avental
e estendê-la na minha direção. Fico surpresa e ao mesmo tempo curiosa para
saber o que tinha ali dentro.
Ao abrir a caixinha fico paralisada com o que encontro e naquele
momento lembro-me que na noite passada Enzo não fizera o pedido oficial
no jantar, pois este iria acontecer depois que todos tivessem feito à refeição,
mas isso não aconteceu.
E vendo aquele anel com um belíssimo diamante no topo senti meu
coração perder uma batida e meu estômago embrulhar no mesmo instante.
— Foi ele que trouxe? — forço minha voz a sair.
— Um dos soldados dele.
Assenti sentindo uma pontada de decepção, esperançosa que ele
tivesse trazido o anel de noivado e que tivesse preocupado comigo. Mas
aquilo foi como um choque de realidade, ninguém se importava se eu estava
bem ou não, se teria trauma da noite anterior ou algum ferimento. O que
importava para todos era que eu estava viva e que ainda aconteceria um
casamento, fora isso eu não era nada para eles.
— Obrigada dona Lídia — sussurro tirando o anel da caixinha e
pondo-o no meu dedo anelar.
Ele tinha servido com delicadeza, era uma peça bonita e sofisticada.
Qualquer pessoa á quilômetros de distância iria ver o anel no meu dedo e
saberia que eu pertencia a Enzo Sartori. Ali era sua marca em mim.
Ao ficar sozinha no quarto mais uma vez, fiquei me encarando no
espelho da penteadeira, examinando cada centímetro do meu rosto jovem.
Meus olhos verdes estavam tristes e meu rosto mais pálido do que o normal,
mas eu teria que melhorar minha aparência. Não poderia descer e mostrar
minha decepção por tudo que estava acontecendo, eu não tinha a escolha de
mostrar meu real sentimento. Teria que sair desse quarto e mostrar a garota
De Luca, que é perfeita em tudo, até o último fio de cabelo.

(...)
Nenhuma ligação. Não teve nenhuma ligação do meu noivo. Ele
definitivamente não se importava comigo. E me pergunto por que ainda tento
me importar com isso. Eu deveria estar conformada com esses tipos de
atitude. Nunca tive essas reações com meu pai, ele não se preocupava, nem
quando eu era criança e ralava o joelho ao cair, ele não perguntava se
estavam doendo ou não os ferimentos, na verdade ele não dirigia um único
olhar na minha direção. Mas sem conseguir controlar minha ansiedade olhei
para o celular descansando na mesa ao lado do sofá. Eu só queria uma mísera
mensagem de preocupação. A preocupação não veio, mas a mensagem sim. E
ela parecia tão seca que poderia me rasgar por dentro.

“Nosso casamento acontecerá dentro de três semanas, acho


melhor conseguir arrumar tudo que for necessário nesse tempo”.

Três semanas, eu só tinha três semanas para planejar e fazer um


casamento acontecer. O tempo era bastante curto, mas não poderia reclamar.
Sabia que aquilo não era uma pergunta se o nosso casamento poderia
acontecer em três semanas e sim um aviso que ele aconteceria nesse tempo.
Joguei o celular ao meu lado e soltando um suspiro de cansaço. Eu
queria poder fechar os olhos e pedir para os céus que tudo aquilo não
estivesse acontecendo, que logo eu estaria nas mãos de um homem temido
dentro da famiglia, que eu seria a esposa de um homem que não se importava
comigo. Eu não poderia ficar aqui sentada e lamentando algo que não teria
volta, tinha que tirar minha bunda daqui e começar a planejar meu casamento,
algo que um dia pensei que aconteceria por amor. Esse não era o meu
caso. Peguei meu celular de volta e procurei um número na minha lista de
contato e ao encontrá-lo torci para que ela ainda tivesse o mesmo número de
dois anos atrás. Ao discar começou a chamar e fechei os olhos com força
querendo que fosse ela a atender no outro lado da linha.
— Alô? — a voz era baixa e levemente rouca.
— Laura?
— Sim sou eu, quem é?
— Sou eu Ayla, sua prima — me sinto uma boba falando assim.
— Ah, Ayla que bom falar com você — sua voz ganhou um tom de
entusiasmo — em que posso ajudá-la?
— Bom, eu queria saber se você poderia me ajudar em algumas coisas
do meu casamento.
Ela ficou alguns segundos calada e aquilo foi apreensível, fiquei
temendo que ela me dissesse um não. Eu queria me aproximar dela e ter
algum vínculo com alguém da minha família, saber que poderia contar com
ela quando precisasse.
— Ah isso será uma honra — murmurou um tempo depois. — Mas
sua mãe não irá ajudá-la?
— Ela não terá tempo nesses dias para ajudar — viro meu rosto para
o jardim onde encontro minha mãe sentada em uma cadeira e olhando para o
nada. — E eu tenho pouco tempo para organizar meu casamento.
— De quanto tempo estamos falando?
— Três semanas.
— Uau isso é muito pouco tempo para organizar tudo, mas daremos
um jeito — ela parecia determinada. — Você pode sair hoje?
— Sim posso.
— Então me encontre na Woops Bakeshop, do Brooklyn, lá
poderemos tomar um café e começar a planejar todos os preparativos do
casamento.
— OK. Encontre-me em meia hora lá?
— Perfeito.
Abri a porta que dava para o jardim e me aproximei da minha mãe,
que parecia estar bem distraída. Desde a nossa conversa na noite passada ela
parecia ainda mais distante e reservada. Eu já estava acostumada com aquilo,
mas também ficava preocupada com sua saúde mental que às vezes não era
umas das melhores.
— Mãe.
Ela virou levemente o rosto na minha direção e seus olhos cintilavam
a me ver. Abaixei-me um pouco e toco na sua mão. Eu a amava tanto que
tinha até medo de perdê-la por causa do meu pai. Eu conseguia imaginar as
coisas que papai poderia dizer para ela.
— Eu vou sair para encontrar Laura, quer me acompanhar?
Mamãe levantou as sobrancelhas, mas logo balançou a cabeça.
— Só tome cuidado Ayla, seu pai não gosta que você fique na
companhia de Gambino.
— Vou ficar bem — beijo sua bochecha. — Trarei um bolo para
você.
Mamãe me olhou mais uma vez e deu um pequeno sorriso. Ao ver
seus olhos brilhantes vi que nesse momento ela não estava sob o efeito de
remédios e isso era bom.
— Eu te amo, mamãe.
— Te amo, Ayla.
Voltei para dentro da casa e coloquei minhas botas. A roupa que
estava usando teria que servir, o dia parecia meio incerto e aparentava que a
qualquer momento iria chover então as calças escuras de cintura alta e
camiseta serviram para hoje, também usaria casaco para garantir.
Procurei algum soldado disponível naquele momento e quando o acho
falo para onde queria ir. Ao chegar ao local marcado para encontrar Laura,
procuro-a por alguns segundos até ver seus cabelos ruivos ao longe.
Aproximei-me dela que se levantou quando me viu.
— É tão bom te ver Ayla — me abraçou fortemente, pegando-me de
surpresa, mas logo retribui seu abraço. — Sei que você deve ter ouvido muito
isso, mas sinto muito pelo que aconteceu ontem.
— Acidentes acontecem — digo me sentando e ela faz o mesmo.
— Não como esse — deu um sorriso tenso. — Não é todo dia que
tentam matar a noiva do chefe e isso faz todos da famiglia se perguntar se
estamos seguros no comando do Sartori.
Fico calada com o que ela diz. Laura parecia ser tão direta com essas
coisas que até poderia me assustar, mas não queria ligar para o que ela dizia
sobre proteção ou qualquer outra coisa que a famiglia tivesse haver.
— Mas claro, não estamos aqui para falar sobre o comando do seu
futuro marido — deu de ombro e levantou a mão chamando um garçom. — E
sim sobre seu casamento e os planejamentos.
— O tempo é muito curto — suspiro e seguro meu rosto entre as
mãos. — Não sei se darei conta.
— Claro que dará — ela me conforta. — Tenho alguns contatos e
tenho certeza que em duas semanas você terá local para se casar. Sua festa e o
principal de tudo, seu vestido.
— Vai me ajudar nisso tudo? — olho surpresa para ela.
— Sim, você é a pessoa mais perto que posso ter uma amizade e que
meu marido deixa me aproximar.
Seus olhos verdes brilharam e vi que ela estava mais feliz do que no
dia anterior.
— Vou ligar para alguns conhecidos e ver o que eles podem fazer
nessa situação, mas tenho certeza que teremos tudo antes do prazo terminar.
— Eu espero que sim.
Quando disse isso o garçom parou na nossa frente e perguntou o que
queríamos, peço um café puro e uma torta de limão e Laura pede uma torta de
chocolate com morango, um cappuccino e croissant. Ela ri ao ver meu
espanto pelo seu pedido.
— Não me olha assim, faz alguns dias que não como direito —
balançou a mão. — Às vezes Piero não é tão agradável em algumas refeições.
— E você não come em outro lugar?
— Se eu não fizer a refeição no mesmo horário que ele, ninguém mais
come depois.
Fico assustada com a sua revelação, mas Laura parecia à vontade ao
dizer isso. Parecia que ela já estava acostumada a toda essa situação.
— Não me olhe assim — me olha com repreensão. — Não gosto do
olhar de pena que as pessoas me lançam quando veem como meu marido me
trata.
— Eu só… não sei o que faria.
— Não há o que fazer, é melhor ficar sem comer do que receber a
fúria de um Gambino.
— Eu sinto muito.
— Não sinta — me olha seriamente. — Já passei por situações piores
do que essa.
— Ok.
— Vamos mudar de assunto — ela volta a sorrir. — E esse belo anel
no seu dedo?
— Sartori mandou entregar hoje mais cedo — respondo olhando para
o anel em meu dedo.
— Ele não foi lhe entregar?
— Não. — Balanço a cabeça em negativa. — Só recebi dentro de uma
caixinha e depois uma mensagem por celular dizendo que em três semanas
haverá um casamento.
— Homens e sua falta de romantismo — bufou. — Não se preocupe,
vou fazê-la ser a noiva mais bela que Nova York toda já viu. E seu noivo vai
cair de quatro por você.
— Duvido muito que isso aconteça — zombo. — Meu noivo tem
assuntos mais importantes do que se importar comigo.
— Que baixa estima — ela suspirou. — Um conselho que irei lhe dar,
nunca desista de algo tão facilmente, assim não tem graça. Lute por aquilo
que quer e no final você terá sua recompensa.
— E essa recompensa seria meu marido? — Levanto as sobrancelhas.
— Sim — sorriu. — Se dizem para você que é impossível, faça ser
possível.
Capítulo 4
AYLA

Alguns dias depois do café que tive com Laura, nós combinamos de ir
numa butique, onde iríamos comprar algumas coisas que precisávamos. Ela
disse que precisava sair de casa e que queria conversar com alguém. Eu a
entendia completamente, também precisava daquilo, mesmo que não tivesse
muita coisa para dizer. Eu só precisava de alguém mais presente, do que ver
minha mãe parada na minha frente, mas não compreender nada do que falo.
Cada dia que se passava eu a via se perder dentro de si mesma e às vezes
jurava que ela não estava mais ali.
Senti falta do dia do meu noivado, porque ali fora a primeira vez que
ela estava sem o efeito dos remédios e totalmente presente. Estava sendo
minha mãe, que sorria para mim e que demonstrava seu carinho.
Mas a convivência dentro de casa não estava sendo uma das
melhores, papai chegava cada vez mais tarde e todas as noites escutava os
gritos dele com minha mãe e logo depois silêncio, o que me deixava
apreensiva, porque o silêncio era pior que os gritos, ele dizia que algo tinha
acontecido e nada disso era bom.
Se me perguntassem se um dia já vi meu pai ser carinhoso com minha
mãe diria que não lembro, porque desde pequena via como ele a tratava e as
marcas pelo seu corpo sempre foram evidentes, como se ele tivesse prazer de
mostrá-las para todos. Minha vida no requisito financeiro sempre foi boa, na
verdade maravilhosa, se eu pedisse algo eu tinha, mas quanto á harmonia
dentro de casa, onde meus pais se amavam e demonstrava isso, eu posso dizer
que não tive.
Mas tem momentos que agradeço isso, assim eu consegui ver desde
nova como realmente era o meu mundo, onde nem todos os homens eram
honrados e respeitosos com suas esposas. Porque aprendi que amor não era
tudo, não era a estabilidade dentro de uma casa ou o que traria comida para a
mesa. Tinha outras prioridades na frente do amor e eu sabia muito bem disso.
— O que acha Ayla? — Laura apareceu na minha frente vestindo um
vestido roxo de caimento médio e justo.
— Bonito.
— Você falou isso nas outras dez vezes — ela virou de frente para o
espelho. — Isso está sendo tedioso.
Faço uma careta e não sei o que dizer. Eu não estava prestando muita
atenção no que ela estava experimentando. Estava pensando mais sobre meu
futuro próximo. Preocupada se seria mais uma esposa troféu dentro da máfia.
— Todos os vestidos estão ótimos — dou de ombro. — E você disse
sim para todos eles.
— Porque você disse que está bonito — revida ajeitando a saia do
vestido. — Nesse não me sinto bem.
— Então não leve — me levanto da poltrona que estou sentada e vou
até um dos cabides e pego um vestido creme sem mangas, liso e um pequeno
decote V. — Esse aqui é bonito.
— Sem graça — ela examinou. — Não.
Solto um suspiro e digo — Vou deixá-la provar as outras peças de
roupas, enquanto procuro algo para mim.
— Mas eu preciso da sua ajuda — me olha desesperada.
— Você não precisa — aponto para a atendente ao seu lado. — Ela
lhe ajuda.
— Ayla!
— Viajou — saio da ala de provadores e volto para a parte de
vestidos. — Qual levar?
Passei meus próximos minutos procurando algo que me agradasse,
mas ao mesmo tempo que não fosse tão sexy e revelador. Falando assim
pareço algo sem graça e sem atrativo, mas me sinto assim às vezes.
— Ayla De Luca?
Viro na direção da voz e fico surpresa ao encontrar Milena Sartori na
minha frente. Ela tinha um sorriso no rosto, seus olhos azuis acinzentados me
olharam em expectativa. Ela parecia uma modelo que tinha acabado de sair
de uma capa de revista. Seus cabelos castanhos soltos em leves ondas e seu
corpo esguio estava bem vestido com uma calça de cintura alta, um cropped
preto e jaqueta de couro.
Logo me xingo por não ter colocado um salto nesta manhã. Tinha
saído de casa com um vestido longo e tênis, nada comparado em como
Milena estava. Mas o que importava era que eu estava bem com minha roupa.
Quem você quer enganar Ayla. Eu daria tudo para estar com algo mais curto
e maquiada.
— Sou eu — finalmente digo.
— É sim — ela se aproximou mais. — É um prazer finalmente
conhecê-la, não tivemos a chance no dia do noivado, mas finalmente pude
cumprimentá-la.
— O prazer é meu, Milena — sorrio.
— Senhorita Sartori, prefiro assim — ela disse em um sorriso.
Uau, que gentileza.
— Claro.
— Estou com algumas amigas fazendo compras, quer se juntar a nós?
— Levantou suas sobrancelhas bem delineadas na minha direção.
— Não obrigada, estou com uma amiga — murmuro com gentileza.
— Mas foi um prazer em conhecê-la, Sartori.
— Logo seremos família, Ayla — pronunciou vagarosamente meu
nome. — Ah, antes que eu esqueça, meu irmão pediu para avisar que quer se
encontrar com você hoje à noite, em nossa casa.
Antes que eu falasse algo ela se virou e saiu andando. Até o andar
dela era perfeito. Balanço a cabeça e volto para onde Laura estava. E quando
a encontro ela já estava vestida com sua roupa e a atendente ao seu lado cheia
de roupas nos braços.
— Não me decidi qual levar — suspirou me olhando. — Vou levar
todos.
— E você vai usar tudo isso?
— Não, mas a maioria doo para caridade — a atendente arregalou os
olhos. — Tem pessoas que precisão do que vestir e faço isso com a maior
satisfação.
Laura estava olhando para a mulher e franziu as sobrancelhas.
— Vamos para o caixa?
Concordei com a cabeça e enquanto ela tirava seu cartão de crédito da
carteira me olha.
— Não vai levar nada?
— Não encontrei nada que me agrada aqui — forço um sorriso.
— Você não parece bem — me examina. — O que aconteceu?
— Nada exatamente — digo quando saímos da loja. — Só encontrei a
irmã do meu noivo e ela não foi tão agradável.
— Milena Sartori? — levantou as sobrancelhas e soltou uma
gargalhada. — Aquela dali não é agradável nem com os defuntos, imagina
com os vivos.
— Ela é tão chata assim?
— Chatice é nome do meio dela — ela parou na minha frente. —
Uma vez tentei aproximação com ela, mas a mesma não quis ser legal, então
desisti.
— Mas na minha posição eu tenho que ser legal, porque em poucos
dias serei a esposa do irmão dela — suspiro. — Não vai ser nada legal ter
atritos com Milena.
— Mas não suporte os desaforos dela — segurou meus ombros. — É
só me dizer que dou um sumiço nela.
— Laura! — Digo espantada e ao mesmo tempo rindo.
— Que foi? — Perguntou rindo também. — Ninguém mexe com
minha prima.
Continuamos rindo até que paro e olho para os soldados me
perguntando se eles tinham escutado o que ela tinha dito.
— Vamos comer estou com um dragão dentro de mim — entrelaçou
nossos braços e nos levou até uma lanchonete a dois quarteirões dali.
— Quando estamos juntas tudo se resume em comida — digo
enquanto fazíamos nossos pedidos. — E tenho que lembrá-la que não posso
engordar uma grama.
— Querida você tem um corpo esbelto, qualquer mulher morreria
para ter seu corpo — me elogia. — Então não venha com essa paranoia de
não engordar.
Sorrio para ela e concordo com o que ela diz. Eu não me importava
com estética, mas me preocupava em manter uma boa aparência na frente de
todos. Meu corpo não era cheio de curvas, era magro até demais, a única
coisa que chamava atenção nele era meus seios cheios.
— Ah, amanhã você tem prova do vestido e também a escolha de
flores do casamento.
Tinha esquecido sobre a prova do vestido. Estava tão atarefada sobre
o casamento que nem lembrava sobre o vestido. Laura estava sendo uma
grande ajuda, em apenas cinco dias ela tinha conseguido o local do
casamento, local da festa e um vestido de noiva, que por escolha dela estava
sendo feito exclusivamente para mim.
— Tinha me esquecido.
— Agende no seu celular para lembrar-se de amanhã. A estilista lhe
encaixou com sacrifício, por favor, não perca a hora.
— Pode deixar.
Dois hambúrgueres foram colocados na nossa frente.
— Ótimo, agora vamos comer essas delícias.

(...)

Já era noite e o nervosismo não me deixava por um segundo. Minhas


mãos suavam e minhas pernas pareciam duas gelatinas de tão moles. Sai de
casa avisando para dona Lídia que sairia e não sabia de que horas voltaria.
Não tinha encontrado meu pai e minha mãe estava dormindo quando fui vê-
la.
Eu não sabia de que horas deveria estar na casa dos Sartori, não tinha
recebido nenhuma mensagem avisando e Milena não tinha falado nada sobre
isso.
Ás sete da noite eu estava descendo do carro e subindo os degraus da
entrada da casa. Antes que eu batesse na porta, vejo-a entreaberta. Pergunto-
me se deveria tocar a campainha ou entrar. Logo meus pensamentos foram
interrompidos ao ouvir um barulho vindo de dentro da casa.
Sem perceber abri a porta e adentrei. Meus passos eram pequenos e
minha respiração estava suspensa. Não sabia o que iria encontrar ali e fiquei
tentada a bater minha cabeça na parede por ter entrado na casa sem bater
antes.
Mas tudo sumiu da minha mente, quando eu encontrei a causa do
barulho. Minha garganta se fechou e meus olhos se esticaram mais do que
poderia ser possível. Enzo Sartori estava na minha frente beijando outra
mulher. E, para piorar tudo, eles estavam nus e transando loucamente contra
uma parede. A mulher loira gemia alto e se agarrava como podia nele.
O que eu estava fazendo aqui?
Um estalo passou por minha cabeça. Tudo isso era uma armação.
Milena queria que eu visse isso, queria que eu soubesse que seu irmão estava
transando com outra mulher, enquanto estava prestes a se casar comigo. Ela
queria me humilhar e tinha conseguido. E tudo que Laura falou para mim,
sobre conquistar meu noivo, fazê-lo ficar de quatro por mim parecia uma
grande besteira. Ele não faria isso, Enzo Sartori tinha quem ele quisesse e
nesse momento ele tinha uma mulher perfeita nos seus braços, lhe dando o
que queria.
Eu não era nada. Nem para o meu próprio noivo.
Ele não se importava com o que os outros iriam pensar sobre isso, ele
não ligava que se alguém descobrisse, eu seria motivo de piada para todos.
Eu só era algo que ele teria em breve, para ser exposta quando ele achasse
conveniente.
Dou alguns passos para trás e sem perceber bato em um pequeno jarro
que se espatifou no chão, chamando atenção das duas pessoas a minha frente.
Enzo virou na minha direção e seus olhos cinza sombrios me olharam com
surpresa, no entanto logo voltou á seriedade de sempre. E com crueldade as
lembranças da noite do noivado vieram a minha cabeça. Os seus elogios
sobre mim, como ele tinha sido gentil e cordial. Tudo aquilo não passava de
uma farsa para fazer a tola aqui acreditar que meu casamento seria
completamente diferente dos outros dentro da famigila. E eu por um segundo
cheguei a acreditar. Como eu era burra.
Sem querer ver mais daquela cena, virei e sai correndo, escutando
Enzo chamar pelo meu nome. Não parei de correr e com isso bati em um dos
soldados dele. Era o mesmo que tinha me levado para casa na noite do
noivado, que me viu em prantos.
— Senhorita tudo bem?
— Sai da minha frente — passei por ele e por sorte encontrei o
soldado do meu pai. — Leve-me para casa, já!
— Aconteceu algo? — Me olha com suspeita.
— Não, só me leva para casa.
Entrei no carro e bati a porta, quando o soldado ligou o carro eu o vi
se aproximar do carro.
— Anda agora! — Bati no banco.
— Mas o Sr. Sartori está vindo à nossa direção.
— Eu mandei ir agora!
— Senhorita…
Antes que ele terminasse de dizer algo à porta traseira foi aberta e fui
arrancada de dentro com força. Enzo bateu a porta com força e me arrastou
de volta para a casa. Ele vestia somente uma calça social e não se importou
com os olhares confusos de todos.
— Me solte agora! — Bati nele, tentando sair do seu aperto.
— Calada! — Rugiu me levando até um escritório onde me jogou e
fechou a porta.
— Eu quero ir embora — tento passar por ele, mas o mesmo
bloqueou minha passagem. — Sai da frente.
— É melhor você se acalmar — falou baixo enquanto me olhava. —
O que você está fazendo aqui?
Afasto-me dele por alguns metros, respiro fundo e tento controlar
minha raiva. Eu não era uma pessoa raivosa, me considero alguém calma e
centrada em tudo a minha volta. Mas neste momento eu não conseguia ser
isso. Eu queria explodir como nunca e mandar tudo à merda. Porque era isso
que todos mereciam.
Fechei os olhos passando a mão pelo meu cabelo. Ah! Meu cabelo,
que passei horas cuidando e tentando deixá-lo bonito. Agora tudo que fiz por
horas cabelo, maquiagem e escolhendo roupa não servia de nada, porque eu
me sentia uma idiota no meio disso tudo.
E no meio da raiva veio à mágoa e da mágoa veio o querer sumir do
mundo e viver algo inexistente. Sem perceber algumas lágrimas caíram pelo
meu rosto e tentei enxugar da melhor forma possível. Tudo aquilo estava
sendo um desastre.
— Você não me respondeu.
— Sua irmã.
— O que tem ela?
Meus olhos se prendem nos seus e aos poucos consegui voltar ao meu
normal. Fiquei me perguntando se deveria revelar que sua própria irmã tinha
me feito vir aqui e vê-lo transar com outra mulher. E pensando agora a
mulher ainda deveria estar aqui, o aguardando para continuar o que os
interrompi e pensar nisso me deixou magoada. Por que eu ainda me importo
que os outros sintam algo por mim?
Porque sou completamente ingênua.
— O que tem minha irmã? — repetiu a pergunta.
— Nada — balanço a cabeça. — Ela não tem nada. Foi erro meu vir
aqui sem avisar e peço desculpa por tê-lo atrapalhado.
Enzo não disse nada, não fez nenhum movimento de aproximação ou
de que iria me deixar. Ele estava me estudando, e eu sabia que ele estava
procurando algum deslize meu.
Cruzo meus braços sobre os seios e tento me proteger de qualquer
forma dele e do seu olhar ameaçador.
— Irei acreditar em você — disse finalmente e sua voz soou
indolente. — Mas se eu souber que você mentiu sobre minha irmã, haverá
consequências.
— Claro Sr. Sartori — ajo da mesma forma com ele. — Posso ir
embora?
Ele me examina dos pés a cabeça e franziu as sobrancelhas, mas ao
ver que não respondeu balançou sua cabeça e deu um passo para o lado.
— Tenha uma boa noite Sr. Sartori — murmuro antes de sair da sua
sala.
— Você também.
Sai mais uma vez da sua casa e lá encontro o soldado do meu pai e
parei a frente dele.
— Quando eu disser que é para ir embora, faça isso.
Com isso entro no carro e não olho para a casa quando ele deu
partida. Eu me sentia um lixo e insuficiente. Nada era fácil para mim e não
seria dessa vez que seria.
Capítulo 5

AYLA

Sentia-me sufocar, como se algo estivesse segurando meu pescoço e


apertando cada vez mais. Sinto meu corpo pesar e rapidamente abri os olhos
e os arregalei deparando-me com minha mãe em cima de mim, apertando
cada vez mais meu pescoço. Começo a me debater e tento tirá-la em cima de
mim.
— Mamãe — ela me olhava vidrada e seus olhos castanhos estavam
desfocados.
— Sua vadia — rosnou ainda me sufocando. — Você está querendo
tirá-lo de mim!
Não conseguia entender o que ela queria falar com aquilo, mas via
que ela não estava sóbria. Mamãe parecia ter tomado mais do que o
necessário dos seus remédios e toda vez que isso acontecia ela tinha esses
surtos repentinos, mas ela nunca tinha feito algo assim.
— Mamãe sou eu — seguro sua mão, tentando fazê-la soltar minha
garganta.
— Ele é meu, somente meu! — Gritou e desferiu um tapa no meu
rosto.
— Mamãe para!
Ela não parou e sem ver saída começo a gritar pedindo por ajuda. Eu
não tinha forças para sair do seu aperto e cada vez ela apertava mais minha
garganta, me sentia mais fraca e quase inconsciente. Eu só queria tentar
entendê-la. Mas era algo quase impossível de se entender. Eu não sabia quais
eram os seus traumas e o que ela já tinha passado.
A porta do meu quarto foi aberta e logo minha mãe foi tirada de cima
de mim e finalmente pude respirar, o que foi difícil no início, parecia que
algo estava queimando dentro de mim quando a primeira lufada de ar
adentrou meus pulmões.
Entreabri os olhos e encontrei meu pai segurando minha mãe, que se
debatia nos seus braços, tentando avançar em cima de mim novamente.
— Me solta! — Bateu nele. — Vou acabar com ela!
— Para Ângela — papai a balançou. — Ela não é Vanessa, é a sua
filha!
Vanessa?
Quem seria? Eu nunca tinha ouvido esse nome antes, mas também
não era estranho para mim.
Mamãe parou de se debater nos braços dele e franziu as sobrancelhas
na minha direção e logo vi seu semblante ficar em choque. Ela segurou forte
a camisa dele e soltou um soluço.
— Filha… — disse baixinho, tentando se aproximar, mas ainda com
medo me encolhi na cama e ela parou. — O que foi que eu fiz?
— Agrediu sua própria filha — papai rosnou para ela. — Foi isso que
você fez.
— Querida — ela já estava chorando. — Meu Deus…
— Você vem comigo — papai a puxou. — Depois você conversa com
ela, agora temos algo para resolver.
Mamãe continuou me olhando, vi súplicas de perdão nos seus olhos,
não consegui me controlar e deixei lágrimas quentes caírem pelo meu corpo e
soluços altos romperem pela minha boca, quase me rasgando ao meio. Seguro
o lençol contra meu corpo e tento me proteger da melhor forma possível.
Nunca tinha visto ela daquela forma tão agressiva. Aquilo me
machucava muito, vê-la tão dependente dos remédios e sabia que não poderia
fazer nada por ela, porque mamãe já não sabia mais viver sem eles.
Toco meu pescoço e forço-me a parar de chorar. Eu era tão fraca para
tudo isso, pelos sentimentos que tenho, por sentir tudo que acontece à minha
volta. E questiono-me se iria suportar minha vida ao lado de Enzo Sartori e
viver com a sua frieza e ordens.
Tinha que saber controlar meus sentimentos e conseguir me manter
firme quando fosse preciso, porque não poderia cair em lágrimas toda vez
que algo de ruim acontecesse. Eu teria que saber ser mais firme.
Sem conseguir me manter na cama, caminhei até o banheiro, acendi a
luz e segurei o bolo que se formou em minha garganta quando vi a marca
avermelhada em meu pescoço, aquilo demoraria a sumir. Vi os pequenos
furos que as unhas da minha mãe fez contra minha pele. Fecho os olhos com
força e lavo meu rosto vermelho e inchado. Também encontrei uma
vermelhidão no lado esquerdo do rosto e decido que uma boa maquiagem
esconderia tudo aquilo.
Tomei um banho rápido e escondi tudo com base e pó. Coloquei uma
roupa e olhei para o relógio que não marcava mais que seis da manhã. Aquela
era uma bela forma de ser acordada de manhã.
Na noite passada não tinha conseguido dormir cedo, tinha ficado
horas revirando na cama e pensando em tudo que tinha acontecido na casa do
Sartori, mas com custo tinha conseguido dormir, mas ainda me sentia
cansada, mas não queria voltar para cama e ficar com medo que minha mãe
tivesse outro surto e me atacasse enquanto estivesse dormindo.
Encontrei meu pai sentado à mesa do café da manhã e minha mãe não
estava. Solto um suspiro de alívio e me sento ao lado dele, peguei uma
torrada e geleia de framboesa.
— Sua mãe está dormindo — comunicou ainda concentrado em seu
jornal. — Não comente com ninguém sobre o que aconteceu no seu quarto.
— Sim senhor — digo mordendo minha torrada.
Não estava a fim de falar sobre o ocorrido. Aquilo era algo que queria
esquecer no mais profundo da minha cabeça, para não lembrar nunca mais.
— Ângela está passando por um período difícil, com o seu casamento
e a sua saída de casa.
Seguro minha xícara e forço o líquido quente do café a descer pela
minha garganta. Ele não pararia até que achasse necessário.
— Tudo isso está pesando sobre ela — ele dobrou o jornal no meio,
me fitando. — Então não questione, brigue ou faça qualquer coisa do tipo
com sua mãe. Quando ela melhorar veremos o que podemos fazer por ela.
O que podemos fazer por ela?
A única coisa ele iria fazer por minha mãe era entupi-la de
medicamentos antidepressivos, sedativo e entre outros. Eu só sabia que
alguns remédios que ela toma causam algumas alucinações e hoje foi a
primeira vez que ela tinha mostrado descontrole.
— Você entendeu Ayla?
— Sim.
— Ótimo — ele se levantou e abotoou um botão do seu paletó. —
Hoje à noite teremos um jantar com os Sartori.
Viro na direção do meu pai e fico surpresa com o que ele diz. O que
eles queriam? Será que Enzo Sartori iria pedir o cancelamento do casamento?
Sinto uma pontada de esperança nascer dentro de mim, mesmo sabendo que
se ele cancelasse o casamento o nome da minha família seria motivo de piada
dentro da famiglia, mas não estou me importando com isso. Só queria saber o
que eles fariam aqui.
— Então, por favor, esteja o máximo apresentável. — Me examinou
dos pés a cabeça. — Use algo mais… você sabe.
Ele passou por mim e saiu da sala. Ponho a xícara na mesa e sinto a
comida querer voltar, forço-me a mantê-la no estômago. Ele queria que eu
estivesse exposta, mais do que na noite do noivado, queria que Enzo Sartori
visse a mulher sensual por trás das minhas roupas modestas e discretas.
— Vamos ver o que posso fazer — digo para mim mesma levantando
da cadeira.

(...)
Precisei de exatamente cinco horas para conseguir me arrumar. Tinha
conseguido uma hora no salão e arrumei meu cabelo, dando os cuidados que
ele tanto precisava, tinha aparado as pontas, hidratado e escovado. E depois
de quase três horas sentada eu fiquei satisfeita, pois meu cabelo tinha
ganhado um brilho extra e parecia mais volumoso. Aproveitei e fiz uma
maquiagem com a maquiadora, que conseguiu esconder todas as minhas
olheiras, dando uma cor ao meu rosto.
Às seis da tarde já estava com cabelo pronto e maquiagem feita, só
precisava encontrar uma roupa para ocasião. Não comprei nada, sabia que iria
conseguir achar algo no guarda roupa e alguns minutos olhando todos os
meus vestidos consegui encontrar o que precisava para essa noite. Era um
longo verde claro de alças que tinha um decote chamativo no busto e outro
nas costas, deixando-as nua. Se meu pai queria que eu chamasse atenção do
meu noivo ele teria isso. Faria Enzo Sartori me admirar, mas no fundo eu só
queria mantê-lo á distancia, ainda conseguia vê-lo com a loira da noite
passada e aquilo estava me deixando perturbada. Não queria pensar neles e
no que deveriam ter feito no restante da noite. Queria ocupar minha cabeça
com outras coisas mais importantes do que aquilo.
Já vestida ajeitei meus cabelos sobre os ombros e coloquei os
pequenos brincos de pérolas e o colar que fazia conjunto com os brincos.
Sentia-me diferente usando aquela roupa tão sofisticada. Eu era acostumada a
usar coisas que não chamasse atenção sobre mim e gostava disso, gostava de
ser invisível dentro da famiglia. Mas parecia que meu pai queria mudar sobre
isso.
Quando me senti pronta desci as escadas, me sinto travar quando
encontro somente meu pai sentado na sala. Ao perceber minha presença ele
levantou as sobrancelhas e deu um leve acento. Parecia ter gostado da minha
escolha de roupa desta noite.
— Ótimo — voltou sua atenção para o celular. — Seu noivo chegará
a qualquer momento.
Assim que ele disse isso à campainha tocou. Engulo em seco e fecho
os olhos pedindo para os céus que me ajudasse esta noite. Virei para a entrada
e lá encontrei meu noivo e sua irmã entrando, Milena foi a primeira a me ver.
Ela estava séria e desse jeito ela parecia bastante com seu irmão, só tinha
algumas coisas que eles não tinham em comum. Os olhos eram a primeira
coisa, enquanto os de Enzo eram cinza os de Milena eram de um azul
levemente acinzentado. Ele tinha cabelos negros e o dela era de um castanho
claro. E também tinha o tom de pele, enquanto a pele dele era levemente
morena, de Milena era branquíssima que destacava seus olhos e sua boca
idêntica a do seu irmão, volumosa e vermelha.
— Ayla — ela soltou o braço do irmão e se aproximou de mim, dando
passos elegantes sobre seus saltos finos. Como no dia anterior ela estava bem
vestida, agora ela usava um vestido longo negro de caimento reto que
continha uma grande fenda na perna esquerda e um generoso decote no busto.
— É tão bom vê-la novamente.
Ela me abraçou fortemente e sem jeito abraço-a de volta. Era estranho
abraçar alguém que tinha armado para que eu encontrasse seu irmão com
outra mulher.
— É bom vê-la — me afasto.
Milena deu alguns passos para trás e deu um sorriso que não chegava
aos seus olhos.
— Esse vestido realça seus olhos, deveria usar mais essa cor — ela
disse olhando para meu vestido. — E também usar algo que lhe valoriza.
O que ela estava querendo dizer com aquilo?
Eu não me preocupava em usar roupas com decotes chamativos ou
que escondia muito pouco meu corpo, gostava de usar algo com que me
sentia confortável e que fosse bonito. Dava para ver pelo olhar dela que
estava tentando me provocar, mas ela só não sabia que precisava de mais para
conseguir me tirar do sério.
— Obrigada pela dica, Srta. Sartori.
— Querida não precisa de tanta formalidade, logo seremos família,
me chame pelo nome.
Levanto as sobrancelhas e lembro-me do dia anterior. Via que Milena
e eu teríamos uma convivência nada agradável, mas não irei me preocupar
com isso agora. Desvio minha atenção dela e volto para meu pai e o homem
ao seu lado.
— Sr. Sartori, é bom vê-lo — forço-me a ficar calma e não lembrar a
noite passada.
— Srta. De Luca — se aproximou, pegou minha mão e beijou as
costas dela.
Aquela boca que estava colada com de outra mulher menos de vinte
quatro horas. Aquela boca que… dou um leve sorriso na direção dele. Eu não
podia fazer nada contra o que vi na noite passada, só tinha que forçar minha
mente a esquecer dos acontecimentos que vi e fazer o que era aguardado por
mim.
Sou tirada rapidamente dos meus pensamentos quando escutei um
pigarreio e viro na direção de dona Lídia que estava parada na entrada do
corredor que levava para a sala de jantar, cozinha e os fundos da casa.
— O jantar será servido Senhor De Luca — ela informou olhando-me
por alguns segundos.
Meu pai acenou e balançou a mão dispensando-a. Dou alguns passos
para trás para ir até a sala de jantar, senti uma mão segurando meu braço.
— Preciso ter uma palavra com minha noiva — a voz de Enzo era
baixa, mas conseguia ouvir o tom de ordem vindo dela.
Meu pai olhou para mim por alguns segundos e por um instante penso
que ele não iria deixar isso acontecer e torcia por isso, mas logo ele virou
para Milena Sartori e estendeu a mão na sua direção.
— Me acompanha?
Milena olhou na nossa direção e logo sorriu para meu pai e pegou a
mão dele, o acompanhando até o corredor, onde os vi sumir do meu campo
de visão.
— Queria falar sobre a noite passada — sua mão ainda estava sobre
meu braço e seu toque era tão firme que se ele apertasse mais um pouco iria
deixar marcas sobre minha pele.
— O que há sobre a noite passada? — Fixo meu olhar sobre o tapete
da sala.
— Sobre o que você viu na noite passada… Não sei porque estou me
explicando — soltou uma lufada de ar. — Só quero dizer nada vai mudar
quando nos casarmos.
Virei lentamente meu rosto na sua direção e franzo meus olhos. Ele
queria dizer que…
— Irá continuar transando com outras mulheres quando tivermos
casados?
— Se eu tiver querendo, sim — seus olhos eram tão frios que me
deixavam aflita por dentro.
Aquilo deveria me magoar e machucar, mas algo dentro de mim já
estava me preparando, não consegui transparecer insatisfação alguma sobre
isso. Senti-me inerte sobre o que ele disse e entre outras coisas que vêm
acontecendo comigo.
— Sua irmã e meu pai estão nos esperando para o jantar — digo
baixo. — É melhor irmos.
Antes que eu me distanciasse ele levantou a mão e fechei os olhos
com força, por um segundo esperei um tapa ou algo do tipo. Mas nada veio,
só senti seu toque no meu cabelo, colocando-o para trás e logo seus dedos no
meu pescoço.
— Alguém a agrediu, quem foi? — Abri meus olhos e vi os seus fixos
no meu pescoço.
— Ninguém — minha voz saiu baixinha.
— Seu pai a agrediu?
Franzo minhas sobrancelhas e balanço a cabeça. Se meu pai tivesse
feito isso, acho que seria mais fácil de suportar, do que saber que foi minha
própria mãe quem tinha feito àquilo comigo.
— Se não quer contar tudo bem — ajeitou meu cabelo sobre meu
ombro e me olhou. — Só irei avisar que se vir outra marca em você até o
nosso casamento, alguém irá perder a mão.
— Claro, Sr. Sartori.

(...)
Quando o jantar acabou, me despedi do meu noivo e da sua irmã, subi
as escadas e no meu quarto, me pergunto se deveria ou não trancar a porta e
por fim tranco-a.
Eu não me sentia mais segura na minha própria casa, tinha medo de
dormir e ser atacada novamente. Peguei um calmante no banheiro e tomei.
Era a única forma de conseguir dormir a noite toda, sem precisar todo o caos
que minha vida estava sendo.

Capítulo 6

AYLA
— Minha nossa — dona Lídia disse a me ver.
Eu não conseguia me reconhecer dentro daquele vestido de noiva que
parecia algo surreal de tão perfeito. A estilista tinha conseguido fazê-lo em
tempo recorde e conseguindo capturar tudo que eu queria nele. O vestido era
de um tom perolado, com mangas longas de renda desenhadas com bordados
de flores delicadas, que desciam pelo meu busto que tinha um decote em V
que realçava meus seios e o bordado ia até o fim da saia evasê, que por baixo
detinha uma saia de seda que dava um pouco de volume a saia. E na renda do
vestido tinha alguns brilhantes em pontos estratégicos. Minhas costas tinha
um decote em U que deixava até a metade delas nua. Sentia-me uma princesa
nesse vestido. E os saltos brancos me deixavam um pouco mais alta e por
sorte não iria tropeçar no tecido do vestido.
Meus cabelos estavam soltos da metade para baixo com cachos
modelados nas pontas e a outra metade presa em um coque justo e com uma
presilha de esmeralda, que tinha ganhado de Laura hoje mais cedo e o véu
estava preso na presilha. Minha maquiagem não estava carregada, uma
sombra leve e batom discreto.
— Você está linda — vejo-a limpar os cantos dos seus olhos e sorrir.
— É a noiva mais bonita que já vi.
— Obrigada dona Lídia — sorrio para ela.
Só estávamos nós duas ali no meu quarto, que em breve não seria
mais meu. Pergunto-me como o tempo passou tão rápido. Um dia tinha sido o
jantar de noivado e de repente estava aqui eu, prestes a me casar. Os
preparativos do casamento tinham sido feitos rapidamente. Laura tinha me
ajudado bastante, quase não fiz nada, ela tinha se encarregado de tudo. A
única coisa que precisei me preocupar foi com o vestido.
A cerimônia do casamento iria acontecer na Catedral de São Patrício,
não sei como Laura conseguiu agendar o casamento nessa catedral tão em
cima da hora, mas também não perguntei. Só estava preocupada em me
manter calma e sã até a hora do casamento, mas cada segundo que se passava
era mais difícil de esconder o nervosismo que estava constante no meu dia.
— Seu pai pediu para avisar que a está esperando no andar de baixo
— ela murmurou ajeitando meu véu.
Assenti soltando uma lufada de ar. Estava na hora de me tornar a Sra.
Sartori. Com ajuda da dona Lídia desci as escadas e antes de sair da casa, em
que passei todos os meus vinte anos, onde tive momentos felizes e aprendi
que o submundo era para todos. Virei para a mulher que por muitas vezes
ficou comigo até dormir, me protegendo dos trovões quando tinha medo e
dizendo que nenhum mal iria me pegar.
— Sentirei sua falta — digo em tom baixo.
— Também sentirei querida — ela fungou.
Abraço a mulher e controlo as lágrimas.
— Cuide da minha mãe, por favor.
— Farei isso.
Seguro a mão dela pela última vez antes de sair da casa. Ao descer os
poucos degraus eu encontro meu pai me esperando de frente ao carro que nos
aguardava. Olho para a casa e levanto meu olhar para uma das janelas do
segundo andar e lá encontro minha mãe parada olhando para mim. Seus
ataques estavam ficando cada vez mais frequentes. Toda a noite durante essa
semana que passara, consegui escutar seus gritos de raiva, de dor, seus
pedidos de socorro e sua fúria. E toda vez que ela tinha seus ataques meu pai
entrava no quarto e logo depois o silêncio aparecia. Não sabia o que ele fazia
lá dentro, e tinha medo de saber, então só agradeci por dentro por ela ficar
calma mais uma vez. E era cada vez mais raro vê-la fora do quarto e sã.
Papai dizia que seus ataques de nervosismo e de ansiedade estavam
mais frequentes e que os remédios que ela tomava não estavam fazendo o
mesmo efeito de antes. Isso me preocupava, nunca a tinha visto dessa forma e
ver seu descontrole me machucava mais do que queria admitir. Não tinha
conseguido me despedir dela da forma que queria fazer, não consegui dizer
que a amava e que esperava que ela se mantivesse firme, mas aquilo seria
hipocrisia minha pedir, já que ela não conseguia mais se manter sem os
medicamentos. E por isso ela não poderia ir ao casamento, meu pai não
queria que ela tivesse um ataque no meio da cerimônia e causasse um vexame
no dia do meu casamento.
— Ayla, precisamos ir — ele disse atrás de mim.
Levantei a mão e dei um leve aceno na sua direção antes de entrar no
carro e ajeitar meu vestido cuidadosamente. A porta foi fechada e meu pai se
sentou ao meu lado. Eu só precisava respirar com calma e me convencer que
tudo daria certo, que nada de ruim iria acontecer hoje, que ninguém iria tentar
contra mim ou meu futuro marido.
O caminho foi feito com calma e quando o carro parou na frente da
catedral meu pai virou para mim.
— Não me decepcione, seja a mulher que Sartori espera que você seja
— murmurou antes de sair do carro.
A mulher que ele iria trair.
A porta do meu lado foi aberta e os flashes me cegaram por alguns
segundos. Hoje eu não iria me casar só com o Boss da Cosa Nostra e sim com
o dono do Império de Diamantes Sartori. E toda mídia de Nova York estava
ali para conhecer a futura esposa de um homem renomado e desejado por
todas as mulheres.
Lancei alguns sorrisos para os fotógrafos e ignorei as perguntas sem
sentido. Não queria me concentrar nas perguntas que se resumiam do porquê
de um casamento repentino, se eu estaria grávida. Ninguém ali sabia o real
motivo, só achavam que uma moça da classe alta estava se casando com um
poderoso empresário. Mas na verdade era uma aliança de famílias dentro do
submundo, onde a podridão acontecia debaixo dos panos de bons moços que
mostravam na mídia.
Paro na entrada da catedral e concentro-me em somente andar até o
altar e dizer sim para o homem que estava me esperando ali dentro. Nada
mais importava somente o que me esperava.
— Está na hora — meu pai diz antes que as grandes portas de madeira
se abram e ali vi todos se levantando, virando na minha direção.
Não tinha mais como fugir.

(...)

“Eu entro vivo e só saio morto”.


Só conseguia escutar aquilo, que se repetia por várias vezes na minha
cabeça. Abaixei a cabeça olhando para minha mão, encarei minha aliança de
casamento, ouro branco com pedrinhas de diamante, esta me marcava para o
resto da minha vida, como propriedade de Enzo. Pensar assim era
perturbador.
Nada do que eu poderia pensar sobre esse casamento importava.
Porque na minha vida nunca tive opção e não seria agora que teria.
Agora eu era a Sra. Sartori, esposa de um Don dentro da Máfia e de
um empresário fora do submundo.
Todos a minha volta estavam conversando alegremente e bebendo.
Alguns riam alto e batiam as suas taças. Eu examinava todos a minha volta e
parei em uma pessoa sentada em uma mesa. Era a mulher que estava com
Enzo naquela noite, a que os encontrei se beijando fervorosamente.
— O que ela faz aqui? — não consegui controlar minha curiosidade e
virei para meu marido.
Ele franziu rapidamente sua testa, mas logo voltou a ficar sério. Enzo
me olha e levanta uma sobrancelha.
— Quem?
— A mulher que estava com você alguns dias atrás — indico
levemente na direção da loira.
Enzo não olhou na direção que indiquei, continuou me olhando e sem
conseguir manter seu olhar intenso, abaixo a cabeça e contorço minhas mãos
no tecido da minha saia.
— O pai dela é alguém importante, então é necessário ela estar aqui
— foi o que ele disse.
Acenei com a cabeça e escutei um barulho e logo me tremi e olhei
assustada na direção do barulho.
— Só foi uma taça quebrando — ele sussurrou com a voz calma. —
Não tenha medo.
— Não estou com medo — murmuro pegando minha taça de
champanhe e dei um longo gole, precisava urgentemente de álcool no
organismo.
Vi um vislumbre de um sorriso no seu rosto, mas um cara a sua frente
em nossa mesa chamou a sua atenção e ele se concentrou completamente
nele. O que eu tinha escutado ele era o seu conselheiro, que o ajudava em
alguns negócios dentro da famiglia e que algumas vezes cuidava dos assuntos
quando o chefe não estava presente. Ele aparentava ter uns trinta e três anos,
que deveria ser quase a mesma idade de Enzo. Ele tinha cabelos pretos e
tinha um corte moderno, que era raspado nas laterais e um pouco no final da
cabeça. E vi uma tatuagem no lado esquerdo da sua cabeça, mas eu não
conseguia ver o que significava o desenho. Na verdade o homem à minha
frente era completamente tatuado. Conseguia ver alguns desenhos das suas
mãos e pescoço.
Ele parecia estar observando e volveu para mim, seus olhos verdes
claros me olharam com curiosidade e percebi que ele era o mesmo homem da
noite do meu noivado, o que tinha falado com o homem que me segurava
com uma arma. Ele deu um pequeno sorriso predador e voltou a olhar para o
meu marido. Ainda o observando fito seu piercing no nariz. Ele era bem
diferente dos outros homens que estava acostumada dentro da máfia, nunca
tinha visto alguém de piercing e com tantas tatuagens. Mas posso confessar
que era bonita, na verdade bastante.
— Se continuar me olhando vou achar que está se apaixonando por
mim — ele zombou bebendo algo e rindo.
Abaixo minha cabeça rapidamente e sinto a atenção do meu marido
sobre mim.
— Desculpe — falo com o tom baixo.
— Não precisava ficar assim, gosto de ser observado — murmurou
ainda rindo. — Sartori sabe como gosto disso.
Percebo seu tom de malícia e também escutei uma bufada.
— Respeite minha esposa, Vitale — ele vociferou.
— Tenho certeza que ela não se importa.
— Mas é melhor respeitar, antes que eu decida tirar suas bolas —
Enzo soltou e o olhei de relance, vendo-o sorrir na direção do outro homem.
— Você está de bom humor Sartori? — Murmurou sarcástico. —
Talvez porque vá trepar com uma virgem.
— Vitale — o tom do meu marido era de aviso.
Não tive tempo de digerir o que o outro homem tinha dito, logo vi
Laura parar na nossa mesa e sorrir para mim.
— Desculpem interrompê-los, mas será que posso roubar a noiva por
alguns minutos? — Ela olhou na direção de Enzo pedindo permissão.
— Se Ayla quiser — ele bufou pegando sua bebida.
— Com licença — digo me levantando e andando na direção da
minha prima.
— Não vai falar com os outros da mesa, Gambino? — O homem
tatuado provocou minha prima.
Laura olhou para ele e levantou suas sobrancelhas ruivas e forçou um
sorriso.
— Talvez não mereça minha atenção, Vitale — ela segurou minha
mão e nos arrastou para longe. — Babaca.
Seguro meu sorriso e escuto minha prima soltar alguns resmungos
baixos.
— Para onde está me levando? — Pergunto curiosa e sorrindo.
— Você precisa trocar de roupa — ela disse nos arrastando para um
cômodo vazio e lá encontrei algumas roupas. — Você não pode continuar
com seu vestido de noiva, não vou deixar que seu marido destruir a obra de
arte que esse vestido é.
Laura me ajudou a tirar o vestido e pegou outro que era mais leve que
o de noiva. Ele era de seda e justo ao corpo, de alças finas, aberto nas costas,
as alças eram cruzadas. Ela deixou meu cabelo no penteado e só retocou
minha maquiagem.
— Seu casamento foi perfeito — ela disse enquanto passava o pó pelo
meu rosto. — Você parecia uma deusa no vestido e juro que vi seu marido
babando.
Solto uma risada e pego o batom estendido na minha direção e
retoco.
— Acho que você viu coisas — digo balançando a cabeça.
— Não vi não — estreitou os olhos. — Tenha esperança Ayla.
Olho-me no pequeno espelho em minha mão e suspiro.
— Tenho medo de ter esperança e me machucar no final.
— É melhor se machucar no final do que viver em um mundo onde
você não tem expectativa em nada.
— Laura…
— Tente pelo menos, mesmo que no final não sirva de nada.
Eu não poderia prometer aquilo para ela, porque eu não saberia se
queria tentar. Mas também não neguei, queria fazer minha prima ter um
pouco de esperança por mim, pelo casamento que não tinha nenhuma chance
de dar certo.
Capítulo 7

AYLA

Nervosismo é isso que me define neste exato momento. Minhas mãos


estavam suando mais do que na hora do casamento, mas do que quando disse
sim para o homem que me segurava pela cintura e nos guiava no ritmo da
música. Era estranho estar tão perto dele e ao mesmo tempo tão longe, era
como estar nos braços de um desconhecido. Não trocamos nenhuma palavra e
nos mantemos quietos na presença um do outro.
Mas vocês são desconhecidos.
Mas tenho certeza que com o tempo poderemos mudar isso entre nós,
ou pelo menos quero pensar assim.
Fixei minha atenção em minha prima que sorriu para mim a me ver
olhando-a. Ela deu uma piscadela e balançou as sobrancelhas. Dou um
pequeno sorriso. Laura achava que Enzo iria cair de amores por mim, só que
ela não sabia o que ele tinha me dito alguns dias atrás, como tinha me avisado
que a qualquer momento pode me trair. Se ela também soubesse que eu já
tinha o pegado com a mulher, que estava conversando com seu marido, quase
transando. Laura mudaria de ideia completamente sobre mim e Enzo, ela
veria que o meu casamento era mais um para a lista de casamentos de status.
— Seria legal se você ficasse menos dura — ele murmurou perto da
minha orelha. — É como dançar com um boneco.
Pisco por algumas vezes e respiro fundo, tentando me soltar mais nos
seus braços. Mas olhar para a mulher exuberante que estava sorrindo e vez ou
outra olhava na direção do meu marido não facilitava para me acalmar. Sentia
a insegurança crescer e a vontade de sair daqui correndo era grande.
Eu estava tentando ao meu máximo ser a noiva perfeita, mantendo o
sorriso no rosto e conversando com todos que paravam para falar comigo.
Mas nada era como eu realmente queria. Esse casamento não é pela razão
certa que deveria estar acontecendo, não há amor de ambas as partes. Nada
disso é como um dia desejei que fosse.
Quando a música parou de tocar finalmente pude relaxar. Afastei-me
alguns centímetros de Enzo e digo baixo.
— Acho que alguém está querendo a sua atenção — murmuro me
afastando e indiquei para a loira que nesse momento olhava sem pudor para
Enzo.
Ele olhou na direção dela, mas logo voltou sua atenção para mim,
antes que ele pudesse me segurar saio andando pela pista de dança e agradeço
mentalmente por Laura ter me feito trocar de roupa. O vestido que estou
usando nesse exato momento era mais leve e fácil de caminhar. Peguei uma
taça de champanhe pelo caminho e caminhei para o mais longe possível
daquela festa. Estava me sentindo sufocada ao extremo. Sei que não era nada
elegante sair da minha festa desse jeito e que era contra tudo que foi me
ensinado a vida toda. Mas eu necessitava ter um tempo só para mim. Para
poder colocar tudo em ordem na minha cabeça.
Caminhei pelo caminho de pedras que me levava até um jardim
distante do local da festa. Tinha me surpreendido em como Laura conseguiu
reservar um salão de festa em um dos melhores hotéis de Nova York, tudo ali
esbanjava riqueza, desde a decoração da festa em branco e dourado, até os
lustres de cristais no teto. Abraço meu corpo e fecho os olhos ao sentir a brisa
gelada bater levemente no meu rosto, conseguindo acalmar os nervos do meu
corpo.
— Finalmente posso me apresentar — viro na direção da voz e
encontro a loira parada alguns metros de distância.
O que ela queria?
Fico parada onde estou e vejo-a dar alguns passos à frente, mantendo
um sorriso no seu rosto extremamente branco.
— É um prazer em conhecê-la — estendeu sua mão. — Sou Perla
D’Angelo.
— Um prazer em conhecê-la, Perla — forço um sorriso, mas não
seguro sua mão e percebendo que eu não a cumprimentaria dessa forma
recolheu a mão.
Ela ajeitou seus cabelos sobre os ombros nus e olhou para a vista atrás
de mim.
— Só queria dizer que sinto muito pelo acontecimento da semana
passada.
Levanto minhas sobrancelhas e por alguns segundos fico surpresa por
ela tocar nesse assunto, mas ao olhá-la melhor percebo que tudo aquilo não
era verdade. Seus olhos esverdeados me fitavam com falsa doçura.
— Não sinta — murmuro asperamente. — Isso é passado e não me
importo com o deslize do meu marido.
Como eu queria acreditar naquelas palavras, como queria que fosse
verdade. Perla deu um sorriso cínico e mexeu em uma mexa do seu cabelo.
— Então se eu disser que seu marido cometeu o mesmo deslize na
noite passada você não irá se importar? — Me olha malvadamente.
A taça que estava em minha mão era como um apoio para me manter
em pé nesse momento. Ele esteve com ela um dia antes do nosso casamento?
Sentia como se o ar não quisesse entrar pelo meu corpo, era como se algo me
impedisse de respirar. Mas porque eu deveria ficar surpresa? Ele tinha me
informado que isso iria acontecer novamente. Só não esperava que fosse um
dia antes do casamento, no qual a noite ele roubaria minha virtude.
— O que você quer? — Minha voz sai estridente. — Quer me
humilhar no dia do meu casamento? Mostrar que meu marido não vai ser fiel
a mim? É isso?
— Eu não quero nada — ela disse balançando a cabeça. — Só estou a
informando com quem seu marido passou a noite passada e talvez as
próximas noites.
— Saia daqui — começo a me descontrolar. — Antes que eu faça
algo que me arrependa depois.
Ela levantou as sobrancelhas e jogou a cabeça para trás soltando uma
risada alta.
— Uau, até cheguei a me arrepiar — ela volta a me olhar. — Enzo
sempre irá me escolher querida, sempre.
Antes que eu fizesse uma tragédia ela se virou e saiu andando de volta
para a festa. Sozinha mais uma vez, jogo minha taça no chão e controlo
minha vontade de gritar de frustração e raiva. Não estava conseguindo ser
racional, não conseguia pensar direito, só conseguia escutar o que aquela
mulher tinha dito. Eles tinham passado a noite anterior junto, ele tinha ficado
com ela mais uma vez. Ela tinha esfregado isso na minha cara e tinha
garantido que ela o teria mais uma vez. Como eu iria suportar tudo isso?
Como iria aguentar esse casamento sem surtar? Sem me ferir completamente?

(...)

Um tempo depois mais calma, volto para a festa e coloco um sorriso


no meu rosto. Queria poder ir embora desse lugar e dar minha noite por
encerrada, mas sabia que estaria longe de acabar. No momento em que
coloquei meus pés perto da minha mesa fui puxada para a pista de dança, fico
assustada ao olhar para o homem à minha frente.
— O que você está fazendo? — Questiono olhando-o assustada.
— Quero uma dança Sra. Sartori — me lançou um sorriso. — E tenho
certeza que seu marido não irá se incomodar.
Seus olhos verdes estavam brilhantes e sabia que ele estava tentando
me provocar. Não iria me importar com o que ele iria dizer, tinha prometido
para mim mesma antes de voltar para festa que não iria ligar para as
provocações de algumas pessoas, especificamente as mulheres mais novas ali
da festa.
— Não me importo o que ele pensa sobre isso — murmuro séria. — E
sim o que eu penso.
— E o que você pensa? — Ele me gira pela pista de dança e quando
volto ele sorri.
— Não quero dançar com você — falo honestamente. — Só quero ir
embora daqui.
— Uau aqui temos uma noiva que não gosta da sua própria festa —
falou zombeteiramente.
Solto uma respiração dura e me obrigo a ficar calada e aguentar o
restante daquela dança que parecia uma tortura para mim.
— Qual é o seu nome? — não controlo minha curiosidade.
Ele solta uma risada e nos balança com leveza pelo salão.
— Você não sabe meu nome? — Olha com divertimento. — Isso me
magoou.
— Não sou boa com nomes — balanço a cabeça.
— Domênico Vitale — murmurou. — Sou conselheiro do seu marido
e amigo nas horas vagas.
— Prazer em conhecê-lo Domênico — dou um leve sorriso.
— O prazer é meu Sra. Sartori — me devolveu o sorriso. — Você
aparenta ser diferente dessas mimadas dentro da famiglia.
— Não gosto de ser exibicionista — dou de ombro. — Sou mais
discreta.
— E por isso Enzo lhe escolheu como esposa.
Balanço a cabeça e não digo nada sobre o que ele falou, preferia ficar
quieta sobre isso. Era algo que não sabia o que falar. Quando a música
acabou me afasto dele.
— Obrigada pela dança Sr. Vitale.
— Eu que agradeço.
Volto para minha mesa e ao me sentar pego outra taça de bebida e
tomo aos poucos. Não tinha comido muito esta noite, mas também não
conseguia sentir fome, era como se tivesse algo me impedindo de comer e
beber era a única coisa que conseguia descer pela minha garganta.
— Onde você estava?
Sinto meu corpo ficar tenso rapidamente, mas logo voltou a relaxar,
decidindo ficar calada.
— Fiz uma pergunta — seu tom foi mais rude.
— Só fui tomar um pouco de ar — murmuro em tom baixo.
Ele abaixou a cabeça na minha direção, prendo a respiração ao sentir
sua respiração calma na lateral do meu rosto.
— Da próxima vez que você sair sem minha permissão, você irá se
arrepender — disse com tom baixo.
Abaixei minha cabeça e acenei vagarosamente.
— Isso não irá se repetir — digo baixinho.
— Perfeito — tocou meu ombro. — Coma alguma coisa, não vi você
comendo muito essa noite.
Ele tinha ficado me observando essa noite e isso me deixa surpresa,
tinha pensado que ele tinha ficado mais interessado nas conversas entre os
convidados do que em me observar.
— Irei comer algo.
Com isso ele se sentou ao meu lado e peguei um pedaço de pão de
alho e comi pequenos pedaços, forçando a comida descer pela garganta.
Quando tinha terminado o pão vejo Enzo empurrar um prato com carne de
cordeiro na minha direção. Não sabia se iria conseguir comer aquilo, mas
também não iria desobedecer a ordem indireta dele. Como alguns pedaços da
carne, mas logo paro e empurro o prato para longe.
— Não vai comer mais?
— Já estou satisfeita.
Ele olhou para o prato e viu que eu tinha comido menos da metade.
Vejo seu rosto franzir, mas logo ele volta a sua habitual seriedade.
— Devemos nos retirar em poucos minutos — me comunicou. —
Então se quiser se despedir de alguém faça isso.

Capítulo 8

AYLA

Escutei o click da porta se fechando atrás de mim e sinto-me tremer


por inteiro. Não sabia o que fazer e minha mente estava em curto circuito,
não conseguia movimentar meu corpo e encarava a cama grande no meio do
quarto. A suíte era bem espaçosa e bem decorada com tons azul claro e
móveis de madeira branca.
Estávamos em um dos quartos do hotel, Enzo tinha dito que
ficaríamos aqui por essa noite, visto que nas primeiras horas do dia seguinte
viajaríamos. Parecia que ele não iria ignorar essa parte da lua de mel.
Tinha conseguido me despedir de Laura. Ela abraçou-me fortemente e
disse para eu relaxar o máximo possível, que se eu fizesse isso seria mais
fácil encarar o que aconteceria nesse quarto e o que meu marido faria comigo.
— Vai continuar parada aí? — sua voz grossa soou atrás de mim.
Entrelaço meus dedos na frente do meu corpo e dou alguns passos
para frente, olhando ainda mais para o quarto. Aproximei-me das grandes
janelas que dava para uma bela vista da cidade abaixo de nós. Sinto meu
corpo se arrepiar completamente ao sentir sua presença atrás de mim e não
foi de uma forma ruim como imaginei que seria.
— Posso dizer que seu pai estava certo quando propôs o casamento
— sua mão segura meus cabelos e os jogou sobre meu ombro esquerdo, sinto
seu nariz sobre minha pele. — Sua beleza é esplêndida.
Fico surpresa pelo seu elogio e como sua voz tinha um tom
adocicado, diferente das últimas vezes em que nos vimos e nos falamos. Ele
só quer levá-la para a cama. Uma voz sussurrava no meu consciente.
E com isso me lembro de Perla e no que ela tinha dito, eles tinham
passado a noite juntos. Meu marido esteve com ela mais uma vez e isso me
incomodava, mesmo sabendo que não deveria me importar.
— Eu… — arqueio as sobrancelhas e viro o rosto na sua direção. —
Não posso fazer isso.
Enzo me olha surpreso com minhas palavras e sua mão vem para os
meus ombros, me virando para si.
— Por que não pode?
Olho para seus olhos cinza e tento identificar alguma coisa ali, mas
tudo parecia sombrio, sem vida, confuso. Era como se estivesse com alguém
que não sentia nada, como se não existisse.
— Porque você esteve com outra mulher na noite passada — minha
voz sai em um fio.
Suas sobrancelhas escuras se levantam e logo vejo um lampejo de um
sorriso em seus lábios.
— E o que isso tem haver sobre essa noite?
— Tudo — balbucio. — Não posso me entregar para um homem que
esteve nos braços de outra mulher na noite passada.
— Ayla — seu tom ganhou um tom grave. — Já falamos sobre isso,
então não vamos dificultar as coisas.
Encurralada entre ele e a janela sinto minha cabeça começar a latejar
com tudo que acontecia, porque eu vinha evitando o máximo não pensar, não
imaginar como seria minha vida a partir de agora. E me sinto pior ao ver que
ele nem fez questão de desmentir sobre o que falei e o que Perla tinha falado
ganhava mais forças. Ele iria continuar transando com outras mulheres, sem
se importar com meus sentimentos.
— Você irá me forçar?
Seus olhos cinza ficam nublados por alguns instantes, mas logo ele
me olha com diferença.
— Não sou esse tipo de homem Ayla, alguns acham que sim, mas não
sou — deu mais um passo e seu corpo estava colado ao meu. — Não sei
quais as histórias que você ouviu sobre mim, mas tenha certeza que algumas
podem ser falsas e outras nem tanto. Mas saiba algo sobre mim, nunca forço
uma mulher a trepar comigo, elas vão para minha cama por pura vontade.
Perco o fôlego por alguns segundos e tento não demonstrar o alvoroço
dentro de mim. Ele abaixou a cabeça na minha direção e seus dedos quentes
passaram vagarosamente pelo meu maxilar, tocando meu queixo e parou
alguns centímetros antes dos meus lábios entreabertos.
— Não sei o que Perla falou para você esta noite — fico surpresa por
ele saber sobre Perla e nossa “conversa”, percebendo minha surpresa ele diz
— Um soldado a viu falando com você.
— Pois é, ela foi bem explícita ao dizer que vocês estiveram juntos na
noite anterior — murmuro amargamente.
— Ela só foi uma foda — sua boca estava quase colada na minha isso
estava me deixando tensa, sem saber o que fazer. Queria afastá-lo e dizer não,
mas tinha algo novo dentro de mim dizendo que queria aquilo, mesmo com
todas as incertezas pairando na minha cabeça, eu precisava sentir algo, pelo
menos esta noite. Queria criar uma ilusão sobre como seria tê-lo somente
para mim. — E estou aqui com você, é isso que importa.
— E eu deveria ficar feliz com isso?
Ele sorriu para mim e posso jurar que faltou ar nos meus pulmões.
Enzo Sartori ficava ainda mais charmoso sorrindo e percebo que tinha duas
belas covinhas nas suas bochechas. E anestesiada pela sua aproximação sem
perceber levanto minha mão e toco em uma das covinhas, o fazendo ficar
surpreso pelo meu toque.
— Você é ainda mais bonito sorrindo.
— Me acha bonito?
Sinto meu rosto enrubescer e logo percebo o que tinha falado. Meu
Deus, o que estava acontecendo comigo? Tiro minha mão do seu rosto e viro
meu rosto para o lado, tentando não olhá-lo, assim seria melhor disfarçar meu
constrangimento.
— Está tarde, acho melhor deitarmos — forço minha voz sair calma.
Enzo deu alguns passos para trás e solto uma lufada de ar,
vagarosamente passo ao seu lado, no entanto senti sua mão no meu braço.
Enzo puxou meu corpo contra o seu e arregalei meus olhos quando sua boca
chocou com a minha. Meu corpo ficou completamente tenso e minha mente
parecia ter estagnado.
Aquele beijo era completamente diferente do que tínhamos trocado na
igreja quando dizemos sim perante o padre. Tinha sido rápido, um simples
toque de lábios, nada prolongado. Mas agora ele aparentava querer arrancar
tudo de mim com esse beijo. Seus lábios pressionaram os meus e senti sua
língua pedir passagem entre meus lábios. Seus braços fortes me seguravam
com firmeza contra seu corpo, me moldando ao seu corpo musculoso, perante
o seu o meu parecia tão frágil e pequeno.
Algo dizia para afastar-me dele e fugir para o banheiro, mas eu não
tinha forças para sair dos seus braços, estava gostando da sensação da sua
boca na minha, do seu corpo colado ao meu. Era uma sensação
completamente diferente. Aos poucos fechei os olhos e me entreguei ao seu
beijo. Seguro seus braços e sinto sua língua tomando a minha boca,
arrancando suspiros meus. Nunca tinha beijado antes dele, nunca tive
oportunidade de saber como era beijar antes dessa noite, mas esse
pensamento era tolo, porque beijar Enzo fora a melhor coisa da vida.
Sem saber o que fazer acompanhava os movimentos dos seus lábios e
da sua língua. Não era algo complicado. Suas mãos grandes passaram pelas
minhas costas nuas devido ao decote do vestido e o contato das suas mãos na
minha pele era diferente, não era incômodo como pensei que seria. Era como
se tivesse uma fogueira dentro de mim, aquecendo-me completamente, me
segregando do mundo lá fora.
Enzo nos fez andar pelo cômodo toco com as panturrilhas a cama
atrás de mim. Fico tensa rapidamente e tento pensar algo distinto nesse
momento que não seja em beijá-lo. Ao perceber a tensão, Enzo mudou sua
boca de percurso e vai para meu pescoço, dando beijos molhados e leves
sugadas na minha pele. Continuo com os olhos fechados e tento não pensar
sobre a cama atrás de mim e no que viria a seguir.
Enzo beijou cada centímetro do meu pescoço enquanto suas mãos
encontra o zíper do meu vestido, deslizando-o para baixo. Logo o vestido
caiu sobre meus pés, deixando-me só de calcinha e saltos na sua frente. Meu
primeiro instinto foi cobrir meus seios, mas ele segurou meus pulsos e fixou
seu olhar neles. Meus seios não eram tão grandes, mas chamava atenção
quando usava roupas que os valorizavam. E parecia que Enzo tinha gostado.
Ele soltou um dos meus pulsos e passou a mão pelo meu seio, engoli em seco
com a sensação do seu toque na minha pele na sua. Enzo não se fez de rogado
quando apertou meu seio em sua mão e sua boca veio para o meu colo.
Sua boca parecia mais exigente contra minha pele e franzi a testa ao
sentir um formigamento na minha barriga. Nunca tinha sentido isso e
também nunca tinha procurado saber como seria minha primeira noite e como
aconteceria. Queria sentir tudo com intensidade e aprender cada coisa com
meu marido. Então sentir sua boca em meu seio foi algo novo e estranho
inicialmente, mas logo meu corpo estava quente e me vi ansiando por mais. A
minha mão livre passeei pelo seu pescoço e fechei os olhos, fazendo-me
sentir cada sensação com satisfação.
Logo Enzo soltou minha outra mão, estava concentrado sugando meu
seio e mordiscando levemente meu mamilo. Suas mãos passaram por trás das
minhas coxas e em um movimento ele me pegou no colo, me fazendo soltar
um gemido alto ao sentir uma pontada de dor no meu mamilo o qual ele tinha
mordido com força e lambia para aliviar aquela pressão. Enzo me deitou no
meio da cama e se afastou de mim, o vi tirar sua camisa junto do paletó e
logo tive a visão do seu peitoral nu. Ele era completamente bronzeado. Desci
minha atenção para seu abdome que era bem delineado com músculos e seus
braços também eram fortes. O vi abrir o botão da calça e engoli em seco ao
perceber o que iríamos fazer.
Será que eu estava mesmo pronta para isso?
Não tinha como voltar atrás. Eu iria me entregar a Enzo Sartori e não
poderia fugir disso, a partir de hoje seria marcada como sua verdadeiramente.
O vi se livrar das suas roupas rapidamente e seu corpo alto e
imponente cobrir o meu. O contato da sua pele com a minha desencadeou
uma sensação gostosa que me fez soltar um gemido baixo satisfeito. Enzo
segurou meu pescoço com uma mão e me beijou com força, arrancando todo
ar de mim e deixando-me lânguida pelo seu beijo, querendo mais. Ele me
beijava com luxúria e desejo, seus toques eram leves, mas ao mesmo tempo
intensos. Enzo não perdeu tempo e tirou a última peça que restava em meu
corpo e gemo alto ao sentir sua mão invadir minha intimidade, tocando em
um ponto desconhecido do meu corpo, fazendo-me arfar contra sua boca e
seu toque. Sentia que poderia explodir a qualquer momento e percebendo
meu corpo cheio de luxúria Enzo continuou acariciando esse lugar até então
desconhecido e logo me vi desfazendo contra a cama. Minha respiração está
ofegante e meus pensamentos turvos. Nunca senti algo assim e fico assustada
por ter gostado. Mas antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa, sinto
uma pressão na minha intimidade e perco o fôlego mais uma vez ao sentir
uma pontada de dor invadindo meu corpo.
— Respire — ele disse roucamente contra minha boca. — Só respire.
Fecho os olhos com força e tento fazer o que ele o mandou, no
entanto era impossível, sentia ardência, dor e medo. Era estranho ser invadida
desse jeito, parecia que estava me rasgando ao extremo. Seu pênis era grande
e avantajado, não era nada legal para uma virgem.
Enzo se manteve alguns minutos parado dentro de mim, deixando-me
acostumar com seu tamanho. Seu corpo estava começando a suar e posso
imaginar que o meu esteja na mesma situação.
— Acho que já pode se movimentar — sussurro roucamente e faço
uma careta ao senti-lo se retirar de mim e logo voltar. Ardia um pouco, mas
não sentia mais dor como senti durante sua invasão.
Inicialmente seus movimentos foram vagarosos e contidos, mas nos
minutos seguintes me sentindo mais à vontade coloco minhas mãos em suas
costas e gemidos involuntários saíram dos meus lábios com suas investidas
contra meu corpo. E aquela estranha sensação de me romper estava presente
novamente. Joguei a cabeça para trás e sem controle solto um grito quando
meu corpo tremeu completamente. Enzo estocou com mais força e meu corpo
vibrou.
— Merda — o escutei rosnar quando tremia contra meu corpo.
Enzo caiu sobre mim e sua respiração estava descompassada como a
minha. Respiro em lufadas e tento compreender o que tínhamos acabado de
fazer. Eu tinha transado com meu marido, tinha acabado de perder minha
virgindade e não tinha sido tão ruim como imaginei. Claro que senti dor no
início, mas depois… era impossível descrever o que tinha sentido e o que
estava sentindo.
Enzo se retirou de dentro de mim e faço uma careta ao sentir o
abandono, no seu lugar sinto uma leve ardência e dolorido no meio das
minhas pernas. Entreabri meus olhos e vi seu corpo nu caminhar à vontade
até o banheiro. Tinha pensado que ele deitaria ao meu lado e, por um segundo
pensei que iria me puxar para seus braços. E, percebo que criara uma bela
ilusão sobre esse momento, eu era uma tola por pensar que ele seria
carinhoso depois de termos… ele tinha conseguido o que queria.
Como pude cair no seu charme?
Ele só tinha sido cuidadoso comigo porque queria me levar para a
cama e tinha conseguido. Enzo era um ótimo manipulador, tinha me feito
desejá-lo, querer tê-lo como nunca, porque ele sabia que se não me
manipulasse não iria conseguir isso. Fecho os olhos com força e me xingo
mentalmente, mas não tinha como voltar atrás. Enzo Sartori tinha arrancado
minha virgindade e uma parte de mim com ele.

Capítulo 9
AYLA

Acordo na manhã seguinte e me vejo sozinha na imensa cama. Não


sabia em qual momento Enzo tinha deitado ao meu lado, mas o lado direito
da cama estava desarrumado e evidenciava que em algum momento da noite
ele dormira ali. Eu apaguei um tempo depois dele ter entrado no banheiro.
Não esperei ele vir se deitar na cama, na verdade não sabia como olhá-lo
nessa manhã, algo dentro de mim pedia para evitá-lo, mas sabia que iria ser
impossível de fazer.
Solto um suspiro e saio da cama, faço uma careta ao sentir o meio das
minhas pernas ainda dolorido, mas aquele incômodo era suportável. No
caminho até o banheiro peguei minhas roupas jogadas no chão, as dobrei e
coloquei em cima de uma cadeira ali no quarto. Entrei no banheiro e fiquei
algum tempo olhando para a minha imagem que não estava uma das
melhores, mesmo com uma boa noite de sono ainda me sentia cansada.
Primeiro lavei meu rosto, tirando toda maquiagem da noite passada,
depois desfiz o penteado e fiquei alguns minutos penteando os fios do cabelo
tirando os nós que tinham se formado. Quando meu rosto e cabelos estavam
de acordo fui para o chuveiro e liguei na água morna. Toda a tensão que
estava sentindo aliviou um pouco, me fazendo acordar para aquele dia. Levei
meu tempo no banho e quando me sinto pronta saio do banho, enxugo-me e
volto para o quarto. Dou um pequeno sorriso ao ver minha mala perto da
cama, não a tinha percebido antes, estava mais focada em fazer minha higiene
do que olhar para qualquer coisa do quarto.
Tiro da mala um conjunto de lingerie, pego uma calça cintura alta de
lavagem clara, camiseta branca e um casaco.
Não passo nada de maquiagem no rosto. Não sou muito fã dessas
coisas. Prendo meus cabelos em um coque e quando estou pronta olho para o
relógio na parede em cima da cama. Ainda era cedo e tinha que procurar meu
marido que ainda não dera sinal de vida.
Estava evitando pensar sobre a noite passada, seria mais fácil assim,
fingir que nada tinha acontecido e que ele não tinha feito nada… Mas se eu
fechar meus olhos ainda vejo a cena da noite anterior, como estive entregue
nos seus braços, como seus beijos eram bons e como gostei do que ele fizera
comigo. Balanço a cabeça expulsando esses pensamentos e decido sair do
quarto.
— Bom dia Senhora Sartori — me assusto ao ver um segurança
apostos ao lado da porta do quarto.
— Meu Deus! — Ponho a mão no peito. — Desculpe, não te vi ai.
— Sem problema senhora — ele acenou.
Fito o homem à minha frente e o reconheço, era o mesmo das últimas
vezes. Talvez ele seja o soldado que vai me vigiar o dia inteiro.
— Desculpe a indelicadeza, mas eu não sei o seu nome — murmuro
baixinho quando estávamos esperando o elevador. — E você sabe o meu.
Vejo um rápido sorriso passar pelo seu rosto, mas logo ele volta a
ficar sério, o que era normal entre todos os soldados, mantendo uma
expressão neutra e profissional.
— Aronne, senhora.
— Sobrenome?
— Pellegrino.
Acenei ao adentramos o elevador. Já tinha escutado esse sobrenome:
Pellegrino. Diziam que era uma ótima família e que também eram ótimos
soldados para a Famiglia, que não fazia questão de morrer pelo chefe. Então
sabendo que estava sendo protegida por um Pellegrino senti-me em
segurança.
— Vou levá-la até senhor Sartori, que está nesse momento tomando o
café da manhã.
Saímos do elevador e Aronne me levou até o salão onde estava sendo
servido o café da manhã. Logo encontrei o meu marido e agradeci por
Aronne ter me acompanhado. Sem dizer uma palavra me sentei de frente a
Enzo que estava concentrado em seu jornal e não me olhou nem por um
segundo sequer. Pego o cardápio e escolho o que poderia comer essa manhã.
Decidi pedir uma salada de frutas, café puro e panquecas.
Quando o garçom anotou o pedido e saiu, me recostei na cadeira e
fitei o homem à minha frente. Vi que ele já tinha feito sua refeição. Ele vestia
um terno de três peças da cor azul escuro, cabelos bem arrumados. Eu não
sabia qual era o seu humor. Será que todos os dias serão assim?
Distraí-me dos meus pensamentos quando minha comida chegou. Não
quero pensar sobre isso. Mas em algum momento você terá que rever tudo
que estava acontecendo em sua vida. Pego meu café e tomo um longo gole,
dando-me um pouco de alegria nessa manhã. Posso dizer que sou a viciada
do café, quando tenho oportunidade tomo várias xícaras durante o dia.
Saboreio meu café da manhã e fico olhando para os outros hóspedes que
também faziam sua primeira refeição do dia.
— Como foi sua noite? — a voz rouca e baixa me tira da minha
bolha.
Volto minha atenção para o homem alto e imponente a minha frente.
— Foi boa — dou de ombro tentando não pensar muito sobre aquela
pergunta. — Dormi melhor do que a semana toda.
Enzo levantou suas sobrancelhas escuras e dobrou o jornal.
— Fico feliz que tenha dormido bem — sua voz era tão reservada que
me deixava em dúvida sobre o que realmente ele queria saber. — Mas quero
saber como você está?
Paro a xícara no meio do caminho e olho surpresa para ele. Não sabia
responder aquela pergunta. Nem eu mesma sabia como eu estava, era algo
que eu precisava parar e perguntar para mim mesma. Meus sentimentos estão
uma bagunça, sem saber ao certo o que era bom para mim ou não, qual
caminho era adequado a seguir. Estava me sentindo cansada fisicamente e
mentalmente. E ainda não tinha absorvido todos os acontecimentos das
últimas três semanas que foram mais movimentadas e reveladoras do que a
minha vida toda, então eu não sabia como respondê-lo.
— Bem — foi a primeira coisa que veio a minha cabeça, porque a
melhor resposta para todos os problemas era dizer que estava bem para a
outra pessoa.
Olhos cinza me estudaram por minutos, fazendo um bolo na garganta
se formar e todo meu apetite sumiu. Enzo parecia saber que eu não estava
dizendo a verdade, mas o que ele queria que eu dissesse? Que eu desabafasse
todas as merdas que estavam acontecendo na minha vida nas últimas
semanas. Claro que não, ele não iria se importar, só iria continuar me olhando
desse jeito frio e imbatível.
Então a melhor solução é abaixar meu olhar e forçar a salada de frutas
passar pela garganta, sem mastigar direito.
— Um casamento só funciona com sinceridade.
Volto a olhar para ele e solto uma risada nada divertida.
— Um casamento sincero? — Continuo rindo sem graça. — Só falta
dizer que sejamos fiéis um com o outro.
Sua expressão fica dura e percebo a burrada que tinha acabado de
falar. O que tinha dado em mim? Quis bater minha cabeça fortemente na
mesa e poder apagar esse momento, porque seria bem melhor do que receber
a resposta dele.
— No nosso casamento só serve um para ser fiel e isso quer dizer que
é você — ele se inclinou para frente. — E se um dia eu sonhar que você está
trepando com outro homem que não seja eu, pode considerar o seu parceiro
morto, e farei com que veja matá-lo na sua frente como castigo.
Ele se levantou vagarosamente, colocando seu guardanapo na mesa.
Enzo se aproximou e parou ao meu lado.
— E se acha que me respondendo dessa forma vai conseguir algo,
está enganada — seu tom era afiado como uma faca e tinha poder de me ferir
mais do que eu esperava. — Termine seu café em dez minutos, partiremos.

(...)

Não trocamos nenhuma palavra durante o percurso de carro e quando


chegamos ao aeroporto olhei para Enzo que estava concentrado em seu
celular.
— Para onde vamos?
— Para qualquer lugar — disse evasivo.
Sem me esperar saiu do carro e caminhou para dentro do aeroporto.
Aronne abriu minha porta e ofereceu sua mão. Dei um pequeno sorriso
aceitando. Forcei-me a acompanhar meu marido e não fiquei nada surpresa
quando fomos guiados até uma pista privada e lá encontrei um jato particular.
Dentro da aeronave me acomodei em uma poltrona e foquei minha atenção na
janela.
Na minha vida toda nunca tinha viajado para muitos lugares, mas
saber que sairia de Nova York e iria para outro lugar me deixava animada por
dentro.
Fechei os olhos com força quando o avião decolou e relaxei quando já
estávamos no ar. As nuvens eram tão bonitas daqui de cima e Nova York
parecia tão pequena.
— Deseja alguma coisa senhora? — Uma comissária de bordo
apareceu na minha frente.
— Não, obrigada.
Ela sorriu para mim e parou logo atrás de mim, fazendo a mesma
pergunta para meu marido. Não escuto a sua resposta, mas logo me concentro
em ler uma revista posta na mesinha a minha frente.
Fiquei alguns minutos lendo sobre alguma coisa de moda até que
sinto um toque no meu braço. Levanto minha cabeça e olho para a pessoa a
minha frente.
— Me acompanhe.
O vi passar a minha frente, logo me vi o seguindo. Andamos até o
final da aeronave, o vi entrando por uma porta, que logo descobri ser um
quarto de descanso.
— Feche a porta.
Faço o que ele manda e me vejo parada encostada na porta, olhando
fixamente para o homem grande a minha frente.
— O que estamos fazendo aqui?
Enzo se sentou na beirada da cama de casal e me olha.
— Essa viagem é de negócios, tanto da famiglia quanto da minha
empresa, então não espere coisas de mim, porque não terá.
Negócios.
Então era para isso que a viagem servia, e o pensamento sobre uma
lua de mel morre nesse exato momento. Porque ainda consigo me
surpreender com Enzo? Ainda tenho muitas coisas para aprender com ele, sua
personalidade e atitudes.
Balancei a cabeça em concordância.
— Venha aqui — me chamou em tom autoritário.
Não ando de imediato, me sinto paralisada, sem conseguir
movimentar qualquer milímetro do meu corpo. Pela forma que ele me olhava
sabia o que ele queria e me pergunto se teria forças para resistir. Mesmo com
sua frieza e a forma que me tratava não conseguia mudar nada do que sinto
quando ele me toca, mesmo só tendo uma amostra na noite passada do que
ele poderia fazer comigo. E mais uma vez minha consciência entra em
batalha, se perguntando se deveria me render a ele ou sair correndo desse
quarto.
Essa é a única forma que eu iria tê-lo.
Já tinha percebido que eu não teria um romance perfeito em minha
vida, que meu marido não iria me amar incondicionalmente. Minha vida não
era como de outras pessoas, eu sabia o que tinha que fazer e o que era
esperado por mim.
Em pequenos passos me aproximo dele e paro a sua frente, sentindo
minha respiração entrecortada. Não sabia se estava pronta, ainda me sentia
meio dolorida da noite anterior.
Enzo tirou meu casaco e logo depois a camiseta, deixando-me apenas
de sutiã e calça. Fecho os olhos ao sentir seus dedos na minha barriga. O
toque era leve e vagaroso, fazendo meus pelos eriçarem completamente.
— Sua pele é linda — seu tom era baixo. — E tem um cheiro bom.
Seu nariz tocou minha pele nua e contive a vontade de suspirar. Por
que eu o desejo dessa forma? Porque não consigo resisti-lo?
— Não espere que eu a ame no final do dia, como nos romances que
você assiste — disse se levantando a minha frente. — Só posso dizer que
iremos nos aproveitar nesse tempo.
Evito pensar no que ele falou. Não quero saber se ele irá me amar ou
não, sabia desde o início que não seria nada fácil, que esse casamento não
seria como eu queria. Mas só que eu não conseguia imaginar que poderia
querê-lo como queria.
— Irei fazê-la experimentar todos os tipos de prazeres dessa vida —
sussurrou mordendo o lóbulo da minha orelha, me fazendo soltar um gemido.
— Isso eu posso prometer.
— Enzo — gemo ao sentir suas mãos passearem pelas minhas costas
e abrindo o fecho do meu sutiã.
— Deite-se na cama.
Faço o que ele pede e sinto meu peito subir e descer
descontroladamente. Inclino minha cabeça para o lado o vendo tirar minhas
botas sem salto e logo depois abrir minha calça, puxando-a para baixo junto
com minha calcinha.
Enzo retirou toda sua roupa e quando estava completamente nu veio
para cima de mim e sua boca se apossou da minha, tirando completamente
meu raciocínio. Solto um suspiro misturado a um gemido ao sentir uma de
suas mãos apertarem meu seio e logo depois um mamilo. Seus lábios se
movimentavam fervorosamente contra os meus e sua língua era impiedosa
contra a minha. Ele não estava sendo calmo como outrora, parecia com
pressa.
Sem controlar minha curiosidade passo minhas mãos pelos seus
braços e subo até seu pescoço, indo de encontro aos seus cabelos que eram
tão macios ao meu toque. Acaricio seus cabelos e rosto, isso faz Enzo soltar
um grunhido contra minha boca. Continuei a fazer meu percurso pelo seu
pescoço, desço pelas costas e paro na sua bunda que era dura. Acompanhei o
movimento da sua boca na minha e sinto cada vez mais o prazer se alojar no
meu corpo, deixando-me descontrolada e tocando-o mais que na noite
passada.
Se ele queria aproveitar desse casamento baseado em sexo, eu
também poderia fazer isso. Não seria eu a me iludir sobre algo que não tinha
chances de existir. As ilusões da noite passada não iriam se repetir, não o
deixaria levar mais uma parte de mim, sem antes fazê-lo ver que esse
casamento não seria apenas minha ilusão de um amor perfeito, porque para
nós isso não existia.
Inclinei-me na sua direção enquanto sua mão direita descia pela
minha barriga e se alojava no meio das minhas pernas. Gemo ao sentir seus
dedos me acariciando ali em baixo e me sentia em combustão. Era tão fácil
ele conseguir me fazer desejá-lo dessa forma.
— Está tão molhada — grunhiu contra minha boca. — Ainda está
dolorida?
Pergunto-me por um segundo se deveria dizer a verdade ou não. Mas
decido dizer que sim, não queria que ele me machucasse na nossa segunda
vez.
— Vou entrar devagar.
Com isso o senti me penetrar aos poucos. Foi estranho tê-lo dentro de
mim, mas quando começou a se movimentar aos poucos esqueci qualquer
coisa que poderia causar tal sentimento e me perdi completamente no desejo
que me consumia.
— Você é tão apertada — beijou meu pescoço e o senti estocar com
força dentro de mim, arrancando um grito meu. — Que me deixa louco.
Segurei nos seus ombros e abracei-o pela cintura com as pernas e
começo a acompanhá-lo nos movimentos, fazendo gemidos saírem
involuntariamente pela minha boca. Aquilo estava sendo melhor do que a
noite passada.
— Enzo — mordo seu ombro quando sinto aquela explosão me
dominar mais uma vez.
— Isso — segurou minha cintura com as mãos e se movimentou com
mais força.
O senti se despejando dentro de mim e logo caindo sobre mim. Abro
os olhos e foco minha atenção no teto. Será que todas as mulheres sentiam o
que sinto quando Enzo faz essas coisas comigo?
Enzo saiu de cima de mim e deitou ao meu lado, seu peito subia e
descia com força, vejo sua pele brilhar pelo suor. Sento-me na cama e forço
minhas pernas bambas a saírem dela. Ainda meio tonta pelo que tínhamos
acabado de fazer peguei minha roupa, vesti rapidamente e sentindo sua
atenção em mim.
Dessa vez não seria ele a me deixar na cama. Não iria me deixar ser
descartada. Precisava me manter sã nesse casamento ou iria enlouquecer
como minha mãe.

Capítulo 10

AYLA

Ao desembarcar do avião fiquei estática por alguns segundos, não


conseguia acreditar onde estava. Viro para o meu marido que estava ao meu
lado olhando para frente.
— Calábria? — Pergunto ainda sem conseguir acreditar.
Enzo tira seus óculos de sol e me olha por alguns segundos, seus
olhos cinza me sondam intensamente, me fazendo desviar nosso olhar.
— Negócios.
Sua voz era gélida e o vi se afastar, ele estava ainda mais distante
desde o momento que saí do quarto onde tínhamos dado uma “rapidinha” e
me sentei em uma das cadeiras da aeronave como se nada tivesse acontecido.
A distância era a melhor coisa que poderia acontecer entre nós, mesmo que
tivéssemos nossos momentos de prazer na cama.
Ajeito meus cabelos por causa do vento e o sigo até o carro que nos
aguardava na pista particular. Entrei no automóvel e não demorou muito para
que o carro entrasse em movimento. Fico admirando a vista no caminho
inteiro, sem saber para onde iríamos naquele lugar. Admiro as montanhas
escarpadas e o sol do final de tarde que transmitia pela janela.
— Para onde vamos? — Pergunto temendo que ele não me responda e
fale alguma grosseria.
— Litoral.
Ele mantinha sua atenção no celular e continuou assim pelo restante
do caminho. Quando o carro parou na frente de um Resort. Um soldado que
estava no banco da frente saiu do carro e abriu a porta traseira para mim,
agradeci e fico olhando maravilhada para a construção a minha frente.
— Fique ao meu lado — Enzo parou ao meu lado e enlaçou seu braço
na minha cintura, me fazendo encostar contra seu corpo.
Tento não ligar para o roçar dos nossos corpos e o borbulhar que se
formava no meu estômago, aquilo era inapropriado. Ele parecia ter percebido
que tinha ficado meio tensa em seu braço que o senti apertar mais minha
cintura. Enzo parecia querer alguma reação minha e estava quase
conseguindo.
Distância.
Precisava me manter distante, não poderia cair mais uma vez nos seus
braços e me render a aquele desejo descomunal que havia entre nós. Estranho
não irmos à recepção e fazer o check-in da reserva, seguimos direto para os
elevadores e quando as portas foram abertas somente nós dois entramos e os
soldados ficaram no outro lado.
A grande caixa de metal parecia tão pequena para nós e fico surpresa
por ele ainda não ter livrado minha cintura do seu aperto. Enzo apertou um
botão e ficamos calados olhando os números mudarem.
— O que aconteceu no quarto do jato — murmurou calmamente. —
Que aquilo não se repita.
Fico momentaneamente confusa com o que ele queria falar, mas logo
entendo. A minha saída. Não contesto o que ele diz, mas também não
confirmo que iria obedecer a sua ordem. O que ele queria? Que eu ficasse
deitada na cama enquanto ele me deixava lá? Que fosse ele a sair primeiro?
Isso não iria acontecer, porque sabia que se ele me deixasse mais uma
vez na cama logo depois de ter feito… o que fizemos sabia que não
conseguiria me manter firme, sei que sou mais fraca do que penso, que
apenas mais um deslize cairei e não sei como me levantar.
O elevador parou no quarto e último andar, caminhamos pelo longo e
grande corredor iluminado. Paramos na frente de uma porta que ele logo
abriu.
— Não deveríamos esperar que os seguranças verificassem se está
tudo certo?
— Alguns soldados da minha confiança já fizeram isso antes de
chegarmos.
— Já tinha soldados aqui?
— Sim, desde a noite passada — ele me levou para dentro do quarto,
que parecia mais um pequeno apartamento com sala de estar, uma pequena
cozinha e quarto. — Se quiser tomar um banho pode ir, às nossas bagagens
chegam a qualquer momento.
Acenei olhando cada milímetro do quarto que era bastante espaçoso e
bem decorado com poltrona, uma cômoda com uma TV em cima e uma
grande cama com dossel. Caminhei até uma porta entreaberta e vejo que ali
era o banheiro, viro para trás, mas Enzo já não estava mais. Decido tomar um
banho rápido e descansar um pouco, não tinha conseguido dormir durante o
voo, porque sabia que estava sendo observada e sabia muito bem que era por
Enzo.
Tomo um banho, aproveito para lavar os cabelos e uso alguns
produtos disponíveis ali. Logo os lavaria novamente com todos os meus
produtos adequados. Termino o banho um tempo depois. Enrolo-me na
toalha, saio do banheiro e já encontro minha mala no quarto. Seco meu corpo
e enrolo a toalha nos meus cabelos. Pego a mala, a coloco em cima da cama e
fico olhando para as opções do que poderia usar para esse início de noite.
Será que iríamos jantar no quarto ou no restaurante lá de baixo?
Não sabia qual seria das duas opções, mas logo fico indecisa em qual
vestido usar, um médio preto de corte assimétrico ou um curto rosa chá de
alças finas. Faço uma careta e decidi arrumar meu cabelo antes de decidir
qual dos dois vestidos usar. Mas ao virar dou um pulo e solto um grito.
— Merda — praguejei soltando um suspiro.
Enzo estava parado na porta do quarto e me olhava veemente e seus
olhos cinza desceram pelo meu corpo e logo percebo que estava
completamente nua. Cubro meus seios e o meio das minhas pernas.
— Não o ouvi se aproximar — falo com a voz baixa.
— Deveria prestar mais atenção, poderia ser algum soldado — seu
tom é duro.
— Prestarei mais atenção — tiro a toalha dos meus cabelos e me
cubro. — Vai tomar banho?
— Sim — balançou a cabeça. — Use o vestido rosa.
Engulo em seco. Ele tinha prestado atenção nas minhas roupas. Enzo
entrou no banheiro e fechou a porta, aproveito e visto uma calcinha de renda
rosa bebê. Coloco o vestido e arrumo meus cabelos que estavam quase secos.
Passo um pouco de pó no rosto e um gloss nos lábios. Quando estava
colocando minhas sandálias de salto de tiras, Enzo saiu do banheiro somente
coberto por uma toalha. O vi pegar uma roupa dentro da sua mala e quando a
toalha caiu no chão logo desviei meu olhar. Ele tinha feito isso de propósito,
sabia que sim. Fecho meus olhos controlando a tentação de não olhá-lo
trocando de roupa. Isso era uma tortura.

(...)

Descemos para o restaurante do resort e rapidamente fomos


encaminhados para uma mesa que era reservada das outras mesas do salão.
Fico surpresa quando Enzo puxa minha cadeira para sentar. Dou um pequeno
sorriso de agradecimento e o vejo sentar à minha frente. Ajeito meus cabelos
atrás dos ombros e olho ao nosso redor.
— Essa cor combina com você — sua voz rouca soou tão baixo que
quase não consigo ouvir.
Levanto as sobrancelhas pela sua revelação e olho para a minha
roupa. Já tinha usado essa peça algumas vezes, mas nunca ninguém tinha
falado aquilo para mim e algo dentro de mim gostou ao ver que meu marido
conseguia ser um pouco gentil quando queria.
— Obrigada — digo tímida.
Enzo recostou-se à sua cadeira e continuou a me olhar, deixando-me
um pouco constrangida pela atenção que estava me dando. Ele tinha se
mantido tão reservado no dia anterior do nosso casamento e também nas
semanas anteriores, quase não nos falávamos. Ele sempre agia friamente, era
impossível ter alguma aproximação e também teve o acontecimento da noite
passada, como me senti ao estar nos seus braços e saber que ele tinha me
manipulado para tal objetivo e como foi tão fácil me entregar hoje no jato,
como deixei que ele me tivesse como quisesse.
Sentia que a cada momento que ele me tivesse, que me tocasse ou
falasse algo bonito para mim seria como se uma parte de mim fosse entregue
a ele e impossível pegar de volta.
Giro minha aliança de noivado e casamento no meu dedo. Franzo o
cenho. Era muita coisa para pensar e saber administrar. Primeiro de tudo
tinha que saber se poderia confiar em Enzo, já que sua fidelidade sabia que
não teria por muito tempo. Depois teria que saber controlar os sentimentos
nebulosos que sempre estão presentes quando ele está por perto, não sabia o
que era o certo ou errado quando suas mãos fortes e quentes me tocavam de
forma hábil. O problema era que Enzo Sartori me tinha em suas mãos e
duvidava que ele já não soubesse disso.
Sabia que ele não queria um romance de cinema, para ele isso não
existia e eu também sabia que não. Mas sempre quis acreditar que sim, mas
com ele ficava cada vez mais difícil acreditar. Enzo só queria uma coisa de
mim, o meu corpo e o que poderia proporcionar a ele, mas uma parcela de
mim fica tentada em dar somente isso a ele e me privar de sentir qualquer
outra coisa por ele. Mas, logo vinha em minha cabeça o que Laura tinha
falado, para tentar ser feliz nesse casamento, mas estava com medo de que
desse errado e eu acabasse machucada no final de tudo.
E tinha falado para mim mesma que iria manter distância e manter
meu coração protegido, mas era impossível, porque o desejo que sinto por
Enzo poderia evoluir para outra coisa ou somente sumir como num passe de
mágica.
Percebo que tudo que lutei esta manhã, nas coisas que pensei estava
completamente perdido. Porque a ilusão de um casamento real ainda estava
viva dentro de mim e era incapaz de desaparecer tão facilmente, mesmo Enzo
sendo difícil e duro, ele tinha conseguido mexer com algo dentro de mim.
Mas pergunto-me novamente se seria capaz de tentar ser feliz nesse
casamento que tem tudo para dar errado e se conseguiria me manter sã.

Capítulo 11
AYLA

O jantar fora servido algum tempo depois e agradeci por conseguir


segurar os talheres firmemente e não demonstrar o nervosismo que me
dominava a cada segundo que passava na frente do meu marido. Os
pensamentos rondando minha cabeça e tantas possibilidades que vinham á
ela.
Seguro minha taça de vinho e dou um longo gole, sentindo um alívio
na minha garganta. Quando terminamos o jantar vi uma pequena
movimentação pelo restaurante e Enzo também percebeu.
— O que está acontecendo? — Pergunto curiosa.
— Não…
— Senhor Sartori?
Olho para o homem que parou ao lado da nossa mesa e sorria para o
meu marido. Levanto as sobrancelhas ao perceber que era Jordan Dawson,
um deputado muito importante nos Estados Unidos. Viro minha atenção para
Enzo e pela expressão que ele fitava o homem à nossa frente vi que não era
nada bom, parecia que ele não tinha gostado da interrupção do nosso jantar.
— Deputado — ele se levantou e o cumprimentou. — Em que posso
ajudá-lo?
O homem que parecia ser um pouco mais velho que meu marido se
virou para mim, mantendo o sorriso radiante. Repito o gesto do meu marido e
cumprimento o homem.
— Sinto muito em interrompê-los, mas achei que poderíamos ter uma
palavrinha — disse para Enzo ao mesmo tempo em que estendeu sua mão na
minha direção. — É um prazer em conhecê-la senhorita…
— Senhora Sartori — Enzo o interrompe.
Jordan levantou as sobrancelhas e olhou surpreso para nós dois.
— Não sabia que tinha casado meu amigo.
Amigo?
Pela forma que Enzo franziu as sobrancelhas deve ter se perguntado a
mesma coisa. Seguro meu sorriso e aproveito aquele momento para sair um
pouco.
— Irei deixá-los conversando — me aproximo de Enzo e beijo sua
bochecha o deixando surpreso pelo meu ato. — Foi um prazer em conhecê-lo
deputado.
— O prazer foi o meu, Senhora Sartori.
Retiro-me do restaurante e logo vejo um soldado atrás de mim. Subi
para o quarto, sozinha no cômodo aproveito e me sento na cama, suspiro. O
jantar não tinha sido tão ruim, não falamos muito um com o outro, tínhamos
ficado mais concentrados em nossos pratos. Enzo só tinha me elogiado e
durante a refeição o vi me olhando algumas vezes, mas ele não se intimidava
por ter percebido sua atenção, Enzo simplesmente continuava me encarando
com seus olhos acinzentados.
E, cada vez mais eu me conformava em saber que nosso casamento
por muitas vezes seria a base do silêncio, não iremos nos comunicar como os
casais normais na maioria das vezes fazem. Enzo era uma caixa de segredos,
o qual não se sabe o que esperar, e eu também não era uma das melhores
pessoas para interagir. Éramos um casal perfeito.
Parecia que a única forma que conseguimos nos comunicar era na
cama e posso dizer que na minha inexperiência era uma ótima comunicação.
Mas será que meu casamento será apenas isso? Sexo?
Com o tempo você irá conseguir arrancar alguma emoção dele.
Sim, é o que mais desejava. Fecho os olhos e deito na cama, olhando
para o teto escuro do quarto. Não conseguia ser fria nesse casamento. Fingir
que também não me importava, não conseguia dizer para mim mesma que
não teria ilusões com esse casamento, que não iria imaginar uma vida perfeita
ao lado de Enzo, que não cairia de amores no final. Eu sou humana e era
comum ter tudo isso e saber que no final não teria o décimo que queria do
meu marido. Mas estava disposta a ser feliz ou tentar.

(...)

Meus olhos estavam pesados e sentia o sono tomando meu corpo, mas
tinha algo me impedindo de dormir completamente. Franzo a testa e tento
virar para o lado, mas sinto mãos quentes e firmes me segurando no lugar e
em seguida beijos na minha barriga que subiam vagarosamente.
Aos poucos abro os olhos e demoro um pouco para focar minha visão
no corpo grande sobre o meu. Logo encontro os olhos acinzentado me fitando
com fervor e sua cabeleira escura, seguro em seus ombros soltando um
suspiro ao sentir sua boca no vão dos meus seios que se arrepiaram com seu
toque.
Viro a cabeça de lado tentando imaginar que horas eram, talvez fosse
cedo ou tarde, não tinha noção. Meus pensamentos ficam turvos quando sinto
sua boca engolir um dos meus seios e chupar com força meu mamilo. Solto
um gemido alto e sinto o meio das minhas pernas pulsar fortemente. Enzo
conseguia me ter em seus braços com um simples toque e ele aproveitava
disso.
— Enzo — gemo segurando seus cabelos e fazendo-o me olhar.
— Não consegui resistir — falou roucamente, sua boca se
aproximando da minha. — Seu corpo estava chamando o meu.
Solto um sorriso e inclino minha cabeça na sua direção, colocando
nossas bocas. Mordo seu lábio e o sugo, fazendo a mesma coisa que ele já
tinha feito comigo. Acho que fiz direito, já que o vi gemendo contra minha
boca e segurando meu corpo contra o seu, fazendo-me sentir sua quentura
mais do que nunca.
Nesses momentos eu não me importava muito se tínhamos algum
vínculo fora da cama, se nos falávamos direito ou não. Só adorava quando
estávamos aqui, porque era assim que sentia que poderíamos ter um futuro,
era assim que eu me sentia completa e que meu casamento não era somente
uma fachada. Existia desejo entre nós, atração e química.
Mas do que isso serve se seu marido não lhe ama?
Isso não era para se pensar agora. Só queria aproveitar esse momento
com ele, depois pensaria sobre isso com a cabeça em ordem.
Enzo massacrava minha boca com seus dentes puxando meus lábios e
as sugadas que vinham em seguida. Passo meus dedos por cada polegada do
seu corpo, sentindo cada canto de sua pele e via como ele gostava daquilo.
Em um rápido movimento Enzo nos sentou na cama e tirou a peça amassada
do meu corpo e percebo que ele já estava completamente nu. Sem controlar
minha curiosidade fixo minha atenção no seu pênis que estava bem acordado
no meio das suas pernas. Ele era avantajado e grosso, e começo a me
perguntar como aquilo entrava em mim.
— Se continuar me olhando dessa forma, não me responsabilizo pelos
meus atos — segurou meu queixo, fixando nossos olhos. — Em algum
momento, não agora, você irá tomar meu pau em sua boquinha avermelhada.
Ofego com suas palavras chulas e me assusto ao ver como meu corpo
reagiu. O meio das minhas pernas latejava mais do que antes e sentia-me
queimar em desejo.
Levanto minha mão e passo pelo seu pescoço e o puxo para baixo,
encostando nossas bocas, sem conseguir esconder a vontade de beijá-lo
novamente. Enzo passou as mãos pelas minhas costas me levantando contra
seu corpo, encostando nossas peles o máximo que podia. Ele deixou minha
boca e desceu os lábios pelo meu pescoço, deixando mordidas e sugadas.
Cada beijo era um gemido de deleite que saia da minha boca e não me
importava se aquilo era impróprio, queria só sentir os seus beijos e carícias.
Logo me vi no colo de Enzo andando pelo quarto e solto um grito de
surpresa ao sentir o contato com o vidro gelado nas minhas costas. Não sabia
o que ele estava fazendo, mas solto um gemido alto quando o sinto me
penetrar aos poucos. Enrosco minhas pernas na sua cintura e me seguro em
seus ombros. Encosto minha cabeça na parede de vidro e solto um sorriso
quando ele mordeu a pele em cima do meu seio.
— Você é tão apertada — rosnou contra minha pele. — Que não
consigo pensar direito quando estou dentro de você.
Puxo seus cabelos da nuca, me forço a olhá-lo, o beijo com desejo,
nossas línguas brincam uma com a outra, seus movimentos de entra e sai
ficaram cada vez mais firmes, me fazendo subir cada vez mais em seu colo e
meu corpo gritar por mais.
Não consegui controlar a pressão que tinha dentro de mim. Explodi ao
redor de Enzo gritando o seu nome diversas vezes enquanto espasmos me
dominavam completamente. Logo senti Enzo me apertando contra o seu
corpo, me deixando sem fôlego e o vi balbuciar algo baixo, mas não consegui
compreender o que tinha dito.
Ficamos um tempo ali encostados a parede de vidro ainda em seu
colo. Em seguida ele me deposita na cama e fico surpresa quando ele se deita
ao meu lado. Os seus olhos cinza analisam-me curiosamente e satisfeitos.
Tento manter nosso olhar, mas sinto o cansaço se apossar do meu corpo
novamente e me vejo caindo no sono sob o olhar de Enzo.
Capítulo 12

AYLA

Quando os primeiros raios de sol penetraram as janelas do quarto e


banhando a cama onde eu estava, pude sentir que estava mais uma vez
sozinha. Seguro o travesseiro contra o meu rosto e solto um suspiro profundo.
Parecia que meu marido não conseguia dormir por muitas horas.
Despertei aos poucos, fiquei um tempo ali aproveitando a paisagem
que tinha pelas janelas do quarto. Conseguia ver o mar azul límpido e o céu
sem nuvens. Era um belo dia, seria um pecado passar o dia todo na cama,
tendo aquele mar maravilhoso bem ali na minha frente.
Levantei da cama, me alonguei sentindo meu corpo completamente
desperto e descansado. Mesmo tendo acordado no meio da noite com as
carícias de Enzo, consegui ter uma boa noite de sono e por incrível que
pareça estava muito bem comigo mesma esta manhã, o que não é normal de
se ver.
Faço minha higiene e visto um biquíni verde escuro, que não era um
dos mais comportados que já tinha vestido. Era o que dava deixar Laura
arrumar minha mala. Nós duas não sabíamos para onde eu iria de viagem de
lua de mel, mas ela tinha preparado tudo para qualquer ocasião, sendo frio ou
calor. Na verdade nem sabíamos se eu teria uma lua de mel, mas ela persistiu
em fazer uma mala por precaução e agradeço por isso. Pego uma saída de
praia, meus óculos de sol e protetor solar.
Ao sair do quarto, como esperado Aronne estava apostos ao lado da
minha porta e me acompanhou até a área da piscina. Acomodo-me em uma
espreguiçadeira, olho para o homem que não estava de terno como no dia
anterior e sim de bermuda e camiseta. Aronne se sentou duas
espreguiçadeiras depois da minha, sempre mantendo atenção ao nosso redor.
— Sabe dizer onde meu marido está? — Pergunto enquanto ajeito os
óculos no meu rosto.
— Foi resolver alguns assuntos, mas disse que no final do dia estaria
de volta.
Acenei e me acomodo mais na cadeira tentando aproveitar o máximo
do sol. Fico nas próximas horas revezando entre a espreguiçadeira e piscina.
Fiquei também olhando algumas mulheres com seus filhos e maridos,
parecendo uma família perfeita. Se forçasse minha mente não iria conseguir
lembrar-me se um dia tive isso, de passar um tempo com os meus pais em
uma piscina ou uma viagem.
Minha infância não teve espaço para isso, meus pais não fizeram isso
comigo. Meu pai sempre ocupado com os negócios da família e minha mãe
não tinha muito tempo para me acompanhar em um passeio no parque ou me
levar a uma praia. Sempre esteve ocupada com seus remédios e eram raras as
vezes que eu vi-lhe sóbria e podendo conviver direito comigo. Mesmo com
seus problemas ela pode estar presente algumas vezes na minha vida e não
reclamo disso, porque quando fui crescendo comecei a entender e saber por
que a importância dos medicamentos na sua vida, porque ela ficava dopada o
dia todo. A dor era insuportável de se aguentar sóbria, ver seu marido lhe
traindo e maltratando não era fácil, saber que tudo aquilo era por causa de
uma criança, que deveria ter sido um menino, era a maior parcela da dor que
ela carregava, minha mãe nunca confirmou aquilo, mas eu sabia que sim, era
minha culpa ela se dopar e por meu pai ser tão duro com ela.
Eu amava minha mãe com todos os seus defeitos e suas ausências na
minha infância, quando minha adolescência chegou às coisas mudaram
gradativamente, ela ficou mais próxima e poucas vezes a via dopada, talvez
porque a adolescência era a fase da perdição de um ser humano, onde
cometemos nossas burradas que para a máfia poderia trazer grandes
consequências. Talvez meu pai tenha a obrigado a ficar mais perto de mim e
ver com seus próprios olhos que eu não seria uma adolescente malcriada e
poderia perder minha virgindade por rebeldia. Mas eu não fui nada disso, fui
apenas uma garota quieta, sem graça e sem atrativo algum. Fui aquela que
terminou o ensino básico sem ter amigos, que sempre preferia fazer os
trabalhos sozinha, à aproximar de alguém. Fui uma adolescente considerada
estranha por muitos, mas para mim, eu fui uma adolescente que se preveniu
para não se machucar com amizades não duradouras, de não ter um amor
correspondido ou ser uma patricinha que esbanjava o dinheiro da minha
família.
Quando me formei na escola básica, meu mundo ficou ainda mais
recluso do que antes e ver minha mãe com mais frequência também tinha
ficado cada vez menos possível. Ela voltou a se dopar e se trancar no quarto.
E só consigo lembrar a noite do meu noivado, onde tinha visto ela totalmente
lúcida e pude ter a conversa esclarecedora sobre ela e meu pai e sobre o
casamento deles. Não havia amor e ela deixou bem explícito isso, vi nos seus
olhos castanhos que ela não sentia nada por meu pai e a dor transmitida por
cada palavra que ela dizia e ver um pingo de felicidade quando ela dizia que
me amava.
Vendo as pessoas e suas famílias, finalmente me perguntei se teria
algo assim ao lado de Enzo. Talvez um dia eu tenha um filho com ele, mas
será por outros motivos e não por amor ou por querermos uma linda família.
Tinha que saber que Enzo não queria algo desse tipo, ele não era homem que
montava uma família por amor e sim por poder, ambição e claro, negócios.
Mas não custa sonhar.
Isso era o que estava fazendo direto, sonhar. Estava sonhando com
uma vida bonita ao lado do meu marido, fazendo minhas ilusões ficar cada
vez maior e me afundando em meus sonhos e vontades. Fazendo-me viver
cada vez mais esse casamento. Mostrando-me que estava mais dentro do que
nunca dele.
Estava disposta a tentar nesse casamento.
Algum tempo mais tarde pego minhas coisas e volto para o quarto,
tomo um banho e troco de roupa, quando sento na cama meu celular começa
a tocar. Era uma chamada de vídeo e fico surpresa ao ver que era Laura.
Acomodo-me na cabeceira da cama e atendo a chamada.
— Oi!
Laura apareceu e sorriu alegremente a me ver.
— Graças a Deus você atendeu — soltou um suspiro exagerado. —
Fiquei com medo de ligar e interromper algo entre você e seu marido.
Solto uma risada com o que ela diz.
— Não se preocupe Laura, meu marido está bem longe nesse exato
momento.
— Ele não está com você?
— Não, foi resolver alguns negócios — mordo meu lábio e dou de
ombro. — Não me importo com isso.
— É claro que se importa — bufou. — Vejo isso nos seus olhos.
Você queria que seu marido estivesse aí ao seu lado e aproveitando o dia com
você.
— Mas ele não está. Então aproveito o meu dia na Calábria sozinha.
— Você está na Calábria? — Me olha chocada. — Sempre quis estar
aí, mas nunca tive oportunidade de visitar.
Fico surpresa ao ver que ela nunca tenha vindo a Calábria. Laura já
tinha viajado por tantos países, que até cheguei a pensar que ela já tinha
vindo para cá, mas parece que não.
— Aqui é perfeito, a vista da praia é maravilhosa e o clima também.
— Aproveite por mim então — murmura rindo. — Mas agora quero
saber como foi a sua noite de núpcias.
Sinto meu rosto enrubescer só de lembrar a minha primeira noite com
Enzo.
— Laura eu não sei…
— Ayla! Não seja tímida, me fala como foi — pergunta
entusiasmada. — Por favor.
Ela me olha com um olhar pidão e balançou seus cílios algumas
vezes, me vejo soltando um suspiro alto de derrota.
— Foi maravilhoso — confesso derrotada. — Pensei que iria odiar o
toque do Enzo, dos seus beijos, do que ele iria fazer comigo, mas…
— Você adorou — completou rindo. — Safada, não acredito!
Solto meu celular na cama e ponho as mãos no rosto e balanço a
cabeça, sem conseguir acreditar que estava dizendo aquilo para minha prima.
— Ei, cadê você? — Ouço sua voz.
Pego de volta o celular e vejo-a rindo e ficando vermelha, quase do
tom do seu cabelo.
— Não fique com vergonha — tentou controlar o riso. — Te entendo,
sei que não quer falar sobre isso, mas eu precisava saber que sua primeira
transa foi legal, mas saber que foi maravilhosa me deixou chocada.
— Laura, por favor, vamos falar sobre outra coisa.
— Pera aí, me deixa perguntar uma coisinha — aproximou a boca e
falou baixinho. — Ele faz direito?
— Laura!
— Ayla, somos amigas e primas! Você pode abrir o jogo comigo.
Reviro os olhos e bufo.
— Eu não sei se ele faz direito! Porque nunca estive com outro
homem além dele! — Solto em voz alta.
— Saberemos agora se ele faz direito — me olha e inclina a cabeça
para o lado. — Ele te fez gozar?
Vejo-me engasgar com a minha própria saliva e meu rosto esquentar.
Aquilo era o cúmulo e me senti constrangida por ela ter perguntado isso logo
de cara.
Laura esperou eu parar de tossir e seus olhos verdes me estudavam
com divertimento. Ela estava achando graça dessa situação toda.
— Se essa sua reação foi porque sim, minha querida você tem uma
baita sorte, seu homem faz direito o babado.
— Primeiro, Enzo não é meu homem — levanto um dedo e logo em
seguida outro. — Segundo eu não sei qual é a sensação de um orgasmo.
Laura arregalou os olhos e a vi se movimentar no outro lado da
imagem.
— Espera aí — me olha chocada. — Você não sabe o que é orgasmo?
Balanço a cabeça em negativo.
— Ayla De Luca, quer dizer, Sartori — balançou a cabeça. — Em
que mundo você vive?
— No mesmo que o seu — revido.
— Não, não pode ser — balançou a cabeça diversas vezes. — Você é
muito inocente.
— Não saber dessas coisas não quer dizer que eu seja inocente.
— Claro que você é — seu tom era alto. — Eu com a sua idade já
sabia tudo sobre sexo.
— Falou a velha.
— Querida, com dezesseis eu sabia o que significava tudo sobre sexo
e o que acontecia nele — me olha com os olhos esticados. — Mas ver que
você não sabe o que é a sensação de um orgasmo, me deixou chocada.
—Vamos mudar de conversa, por favor — peço já me arrependendo
por ter dito sobre a minha noite de núpcia.
— Nada disso — balançou um dedo. — Vamos conversar sobre isso e
saber o que você sabe e o que não sabe.
— Vamos ter mesmo essa conversa?
— Claro que sim — revirou os olhos. — Tenho que lhe preparar para
as próximas vezes que você transar com seu marido.
Não tive como dizer não para ela, quando menos esperei já estava
escutando tudo sobre sexo e tudo relacionado a ele. Aquela seria a conversa
mais longa que teria com alguém.

Capítulo 13

AYLA

Horas mais tarde tinha feito várias anotações sobre o que Laura falara
e fiquei espantada com tudo que ela disse e me explicado. Nunca teria
imaginado o que ela me revelara, mas ao mesmo tempo estava feliz por saber
de tudo que ela achou necessário me dizer. E ela disse que as outras coisas eu
iria descobrir sozinha.
Ela tinha me feito decorar os nomes mais impropriáveis que existia
nessa face da terra. Quando disse que eu chamava minha vagina de
intimidade, ela soltou uma gargalhada alta e falo o nome bo… mas preferi
dizer vagina, melhor a o outro nome. Eu não era tão experiente como ela era
e mesmo ela tendo me feito dizer nomes nada legais sobre sexo, eu prefiro ser
mais culta nesse assunto. Talvez com o tempo eu me solte e consiga ser mais
liberal como ela é.
Balanço a cabeça e me olho na frente do espelho, ela tinha dito para
eu vestir algo mais ousado essa noite e esperar Enzo. E esse algo ousado era
apenas uma calcinha de tiras nos meus quadris e um fino tecido que cobria o
necessário da minha vagina. Laura disse para não colocar nada por cima, mas
decidi pegar um robe de seda vermelha, tentando me esconder com alguma
coisa.
Eu não deveria seguir á risca o que Laura tinha dito, mas algo dentro
de mim dizia que seria legal fazer algo que antes eu não teria coragem. Então
aqui estava eu esperando Enzo de robe. Sinto-me nervosa e apreensiva, não
consigo ficar parada, caminho pelo quarto, sentindo o suor pingar pelas
minhas mãos.
Cada segundo que se passou sentia que não deveria fazer aquilo.
Olho pela décima vez ou mais para o relógio vendo o quanto já era tarde e
Enzo ainda não tinha chegado.
Solto um suspiro segurando a frustração que começava a aparecer,
decido não esperá-lo mais. Entro no banheiro, pego a escova e escovo quase
agressivamente meus cabelos, desfazendo os ondulados do cabelo, o
deixando liso mais uma vez. Por sorte não tinha passado maquiagem no rosto
e ao voltar para o quarto pego a primeira roupa de dormir que vejo na frente e
visto, sem ter coragem de trocar minha calcinha. Deito na cama e seguro o
bolo que se formava em minha garganta.
Como sou tola.
Porque ainda penso em ter algo bom? Provavelmente meu marido
deve estar com alguma mulher e se satisfazendo, algo que parece que eu não
sei fazer. Sufoco a vontade de chorar e com custo consigo dormir, mas com
os pensamentos voltados para Enzo e no que ele estaria fazendo tarde da
noite.

(...)

Não sei quanto tempo dormi, mas sou despertada com carícias e
lábios passando pelo meu pescoço. Seu cheiro era inconfundível e seu toque
era único. Mesmo que meu corpo reagisse ao seu, sobre seu toque e beijos,
não consigo me sentir totalmente à vontade, não agora.
Sei que deveria estar conformada sabendo que ele teria outras
companhias na cama. Mas como alguém ficaria feliz ou conformada sabendo
que seu marido estava com outra mulher. Algumas mulheres dentro do
submundo gostavam disso, até se sentiam aliviadas por saber que seus
maridos preferiam a companhia de algumas prostitutas a sua, mas eu não era
assim. Eu não conseguia me sentir bem sabendo que meu marido estava com
outra.
Esse sentimento maldito de contos de fadas que não me deixa em paz.
Minha vida nunca foi um mar de rosas, mas eu queria ter um pouco de
felicidade e por isso estava me agarrando da melhor forma nessa bendita
esperança de fazê-lo me querer, apenas a mim. Mas isso será difícil. Suas
mãos quentes e grandes me despertaram do devaneio que estava tendo e logo
sinto meu estômago embrulhar ao sentir seus dedos habilidosos tocarem nas
tiras da calcinha, a qual estava usando para provocá-lo hoje mais cedo. Esse
poderia ser um balde de água fria para toda a excitação que estou sentindo
nesse exato momento, mas tinha outras coisas para pensar, como o que ele
estava fazendo até agora, o que tinha o prendido até tarde.
Mas eu temia a sua resposta e a melhor coisa que fiz foi segurar sua
mão que estava entre minhas pernas e levá-la para longe.
— O que foi? — sua voz rouca soou no meu ouvido.
— Nada — murmuro secamente e me afasto do seu toque. — Só não
estou disposta.
Em um movimento Enzo me deitou de costas e o vi apoiado em um
cotovelo, me olhando profundamente como de costume.
— Aconteceu alguma coisa no tempo que passei fora?
— Não — desvio o nosso olhar. — Só quero dormir, estou cansada.
Sem querer mais olhá-lo virei de costas para ele e me afastei o
máximo que conseguia e agradeci que a cama era grande.
— Ayla…
— Me deixe dormir Enzo — peço em tom baixo sentindo-me
completamente arruinada por dentro.
A cama mudou de peso e logo me sinto mais uma vez sozinha. A
porta do banheiro foi fechada e o quarto entrou mais uma vez na escuridão,
que para mim nesse instante era bem vinda. Não me importei de esperá-lo
para saber se ele iria deitar na cama ou não, só me concentrei em dormir e
acalmar meus pensamentos.
Pelo restante da noite não fui mais incomodada e quando o sol se
mostrou no horizonte eu levantei da cama que já estava vazia. Arrumo-me,
vestindo um short jeans claro desfiado, uma blusa de alças e sapatilhas. Hoje
não ficaria dentro do hotel até a noite, enquanto meu marido saía para Deus
sabe onde. Pego minha bolsa e algumas coisas que precisaria durante o dia.
Hoje eu iria explorar Calábria e não iria voltar para o hotel até visitar
todos os pontos turísticos que conseguisse.
Igual ao dia anterior encontrei Aronne me esperando no lado de fora.
— Bom dia — sorrio na sua direção. — Hoje iremos sair do hotel.
Aronne levantou as sobrancelhas escuras e vejo seu olhar de dúvida.
— O senhor Sartori sabe sobre isso?
— Não — balanço a cabeça. — Mas tenho certeza que ele não irá se
importar com a minha saída de... Três horas no máximo.
— Senhora…
— Aronne — o corto. — Não vou passar mais um dia enfurnada
dentro desse hotel, enquanto há tanta coisa bonita lá fora para se ver.
— Senhor Sartori irá arrancar minhas bolas por isso — o escuto
resmungar enquanto entramos no elevador.
Seguro meu sorriso e pela primeira vez me senti livre, sentindo o
vento fresco batendo no meu rosto e poder andar pelas calçadas da rua
movimentada por turistas. No caminho comprei um guia turístico e com
Aronne logo atrás consegui visitar alguns museus, praias próximas e fiz
questão de tirar algumas fotos. Durante o dia escutei o celular tocar dentro da
minha bolsa, mas não atendi nenhuma chamada, mas no fundo eu sabia que
era ele. Entretanto, hoje tinha decidido ser tudo que não era uma garota de
vinte anos normal, livre e sem preocupação. E não uma pessoa submissa e
obediente, que acata tudo que me mandam fazer, que aceita qualquer migalha
que me dão.
Na hora do almoço escolhi uma pequena lanchonete e fiz Aronne se
sentar comigo e comer algo, com certeza ele deveria estar com fome como
eu.
— Há quanto tempo você trabalha para Enzo? — Pergunto enquanto
mordo meu sanduíche de peru defumado, ele comia uma porção de batata
frita e um hambúrguer enorme. Também queria poder estar comendo assim,
mas já tinha passado da cota de comer guloseimas.
— Comecei a trabalhar para o senhor Sartori quando tinha 17 anos e
meu pai ainda era vivo — ele deu de ombro enquanto comia seu hambúrguer.
— Acho que faz mais de vinte anos.
— Uau, isso é muito tempo — constato surpresa. — Mas você é feliz
com seu trabalho?
Aronne me olha por alguns segundos, mas logo vejo um pequeno
sorriso surgir nos cantos da sua boca.
— Por uma parte sim — ele deu de ombro. — Mas não tive escolha,
era ser soldado ou coisa pior.
Assenti e o compreendo perfeitamente, também não tive escolha, mas
também não era ingrata por minha vida, talvez se os meus pais não fossem de
dentro dos negócios da máfia, se não tivessem nascido dentro do submundo,
eu provavelmente não teria tudo que tenho hoje.
Vejo Aronne deixar sua comida de lado e pegar seu celular, seu
semblante antes descontraído ficou tenso rapidamente e, logo soube com
quem ele estava conversando.
— Don, aconteceu alguma coisa? — Ele fica calado por alguns
segundos. — Sim senhor, irei fazer isso.
Aronne desliga seu celular e volta a fitar-me, forço um sorriso, que
pode ter sido uma careta, mas tento não parecer tensa.
— Aconteceu algo?
— Temos que voltar para o hotel — ele se levantou e o vi tirar sua
carteira do bolso.
— Aronne — interrompo seu movimento. — Eu pago, fui eu que fiz
você comer então...
— Não senhora Sartori — percebo que ele tinha voltado a usar seu
tom profissional, o que será que Enzo tinha dito para ele no telefone? — Faço
questão de pagar.
Sem contestar mais uma vez eu o deixo pagar pela comida. Voltamos
para o hotel, num percurso completamente silencioso, mas antes que entrasse
no hotel eu o paro.
— Meu marido falou algo sobre a nossa saída?
O vi olhar para dentro do hotel e voltar a me olhar.
— Não... Só entre no hotel senhora.
Aronne parecia desconfortável e eu não iria importuná-lo. Mas no
momento que entrei no quarto do hotel eu fui atacada por mãos grandes e
firmes. Enzo estava parado na minha frente e pelo seu olhar matador, percebo
que não estava segura com ele ali.
— O que você tem na cabeça? — Rosnou furiosamente.
— O quê? — Olho-o sem entender.
— Não me venha ser cínica nesse momento — suas mãos
machucavam meus braços, mas não faço nenhum movimento para me afastar.
— Não estou entendendo nada.
— Então vamos clarear seus pensamentos — ele disse sarcástico. —
Você e meu soldado em uma lanchonete comendo juntos e parecendo
íntimos.
Levanto as sobrancelhas com o que ele diz e tenho vontade de rir
sobre aquilo, mas mantenho-me séria ao vê-lo tão furioso. Por que ele ficaria
assim?
— Se eu descobrir que você está dando para ele Ayla — soltou meu
braço e segura meu queixo com brutalidade. — Tenha certeza que vocês não
irão amanhecer vivos para contar a história.
Em um gesto espontâneo o empurro para longe, mas foi algo em vão,
ele não tinha se distanciado um centímetro. O que ele acha que sou? Enzo
Sartori não tem o direito de falar assim comigo, mesmo eu sendo a sua
esposa, ele não tem.
— Se você me trai, não quer dizer que irei traí-lo — vocifero sentindo
meu rosto aquecer em fúria. — Não sou como você que sai por ai e vai
transar com qualquer uma! Se estou casada com você, então só irei me
dedicar completamente a você! Então não venha fazer juras de morte ou
ameaças, porque o único que trai nesse casamento é você, unicamente você!
Não sei se tinha sido o certo esbravejar desse jeito, porque não sabia
qual seria a reação dele, não sabia se iria ficar calado ou quieto. Na verdade
eu não sabia nada sobre ele.
— Só tentei ser sociável com meu segurança — continuei, mas agora
com o tom mais leve. — E lanchar com ele não quer dizer que estou “dando”
e sim sendo amigável.
— Eu não quero que você seja amigável — sua boca estava quase
colada com a minha. — Não quero você próxima dele ou de qualquer outro
homem que não seja eu.
— Você não pode decidir isso — murmuro corajosa.
— Sim, eu posso — me lança um sorriso arrogante. — E quando eu
digo algo quero que seja obedecido.
Com isso ele me solta e dá alguns passos para trás. Sinto meu braço
dolorido e minha mandíbula doer um pouco pela força que ele tinha
segurado. Até então ele nunca tinha sido bruto como agora e percebo como
ele poderia ser quando algo ou alguém o deixava furioso e dessa vez tinha
sido eu a deixá-lo assim.
Sem dizer mais nada eu abraço meu próprio corpo e caminho até o
banheiro, fechando a porta com a chave, tentando me proteger da melhor
forma. E começo a me perguntar até que ponto ele poderia ser brutal.

Capítulo 14
AYLA

Dois dias depois da “conversa” que Enzo tivera comigo, ele me


comunicou para fazer as malas. Inicialmente fiquei surpresa por voltarmos
tão cedo para os Estados Unidos, mas quando pegamos um carro e ficamos
por algumas horas em viagem percebi que só iríamos mudar a nossa
hospedagem.

Enzo estava como sempre, distante e enigmático e eu estou na minha


própria bolha, de onde ele era excluído completamente. Não tínhamos mais
nos tocados e por um lado achei bom isso, não queria misturar todos os
sentimentos que estou sentindo e depois ficar perdida sem saber o que
realmente queria ou estava sentindo. Ultimamente estou sendo uma completa
bagunça de sentimentos.

Quando chegamos a uma casa, se assim posso dizer, na verdade era


uma mansão enorme que ficava em cima de um penhasco que dava para o
mar. Descemos e caminhamos até a casa que era perfeita das paredes até o
teto. Tudo ali era rústico e tinha um cheiro de lar.

— Ficaremos aqui por uns dias — Enzo falou ao meu lado. — Não
teremos seguranças na casa, eles ficaram em uma cabana alguns quilômetros
de distância.
— E se algo acontecer?

— Saberei nos proteger — me surpreendo quando ele pega nossas


malas e leva para outro andar.

Pergunto-me se iríamos ficar no mesmo quarto ou separados, mas


tento não me surpreender quando vi que iríamos dividir o quarto. Algo dentro
de mim se agradou com isso.
Cada um se acomodou na casa no seu tempo, quando o vi entrar no
banheiro aproveitei e fui explorar a casa. Eram muitos cômodos, nas minhas
contagens eram seis quartos, sete banheiros, uma cozinha enorme, sala de
jantar, sala de TV e de visita, piscina externa e interna, academia e uma bela
varanda que dava para o mar.

Prendo meu cabelo em um coque e decido fazer algo para jantar,


constatando que era somente eu e Enzo nessa casa enorme. Abro a geladeira
que estava bem abastecida e me pergunto quem era o dono dessa casa, talvez
seja Enzo?
Decido fazer frango grelhado com batatas assadas e legumes, era algo
rápido e fácil. Eu não sou uma das melhores pessoas na cozinha, mas como
estava no papel da esposa perfeita fui ensinada a cozinhar e fazer qualquer
outra atividade de casa.

Concentrei-me em descascar as batatas e os outros legumes que não


percebo a presença de Enzo na cozinha, só o percebi quando sua sombra
apareceu ao meu lado, me fazendo levar um susto.

— Você vai cozinhar? — Me olha meio surpreso.


— Sim — sorrio na sua direção. — Não gosta da ideia de comer a
comida da sua esposa?

De repente seus olhos cinza cintilavam com um brilho malicioso e o


vi descer seu olhar para o meu corpo. Ainda não tinha tomado um banho e
vestido algo mais confortável do que um vestido curto, a meu ver, da cor
cinza de alças.

Ele cheirava a algo limpo e seus cabelos escuros estavam molhados


pelo banho recentemente tomado. Enzo parecia tão próximo como não estava
há dois dias e sua proximidade me deixa um pouco desconcertada e sem
saber como raciocinar direito.

Enzo levantou sua mão e tocou levemente meu rosto, fazendo-me


fechar os olhos por instinto. O seu toque era quente e bom, me vejo sentindo
falta dele, como não tinha percebido que estava sentindo. Na verdade eu não
me deixei sentir, fiz-me concentrar sobre as possibilidades dele ser um
marido agressivo do que pensar sobre seu carinho.
Nesse momento ele não é nada disso, não era a brutalidade que me
mostrou quando disse que me queria longe de Aronne, Enzo estava me
tocando de uma forma que poderia até considerar como terna.

Solto um suspiro involuntário e sinto seu corpo colar no meu. Minhas


mãos que estavam encostadas na bancada atrás de mim vão para sua cintura
estreita e levanto meu rosto na sua direção. Quando o assunto é Enzo Sartori
me sinto completamente fraca e derrotada, porque eu não conseguia me
manter longe dele, mesmo que eu quisesse, tinha algo que me puxava para
ele, que me fazia querer agarrá-lo e nunca mais soltá-lo. Sentia aquela
esperança de agarrar a ele mais uma vez e desejei que pudesse se tornar real.

E todo o assunto sobre onde ele esteve três dias atrás, sobre sua forma
de agir dois dias atrás sumiu quando sinto seus lábios tocarem nos meus, suas
mãos me agarrarem como se precisasse daquilo para sobreviver, mesmo isso
parecendo uma tolice. Logo me vi ficando nas pontas dos pés e retribuindo
seu beijo que me deixava completamente eufórica.
Suas mãos grandes e ágeis passearam pelas minhas costas e seguiram
até minha bunda onde me puxou, elevando-me e me vi o rodeando com
minhas pernas. Seus lábios me beijavam com força e certa brutalidade, me
deixando completamente atordoada.

Nós não precisávamos falar algo um para o outro, era só nos olhar e
sabíamos o que queríamos. Enzo me sentou à bancada e sua boca desgrudou
da minha.

— Não consigo ficar mais um segundo longe do seu corpo —


confessou passeando sua boca pelo meu pescoço e descendo até o meu ombro
e puxou a alça do vestido para baixo. — Seu corpo chama o meu, deixando-
me completamente louco por você.
Prendo um gemido ao sentir sua boca pela pele do meu seio exposto,
quando ele sugou meu mamilo com força ofego alto e jogo a cabeça para trás.
Sentindo uma pontada de prazer no meio das pernas. Como se percebesse
isso, Enzo traçou sua mão pela minha perna esquerda e a direcionou até onde
estava o desejando loucamente. Seus dedos tocaram o fino tecido da calcinha
e solto um gemido nada contido quando seus dedos tocaram minha vagina
por dentro do tecido. Seu toque era lento e provocador, deixando-me
completamente louca pelo desejo.

Minhas mãos não ficaram quietas e logo me vi tirando sua camisa e a


jogando para qualquer lugar. Queria tocá-lo, queria sentir o contato da sua
pele na minha. Abaixo a cabeça e beijo seu ombro, mordendo e lambendo,
conseguindo lembrar algumas coisas que Laura tinha me instruído a fazer
neste momento. Ela tinha dito para eu não ficar parada como uma estátua
tinha que interagir igual a ele, tinha que provocá-lo e fazê-lo querer mais do
que eu esse momento.

Ainda meio insegura se deveria continuar movimentar minhas mãos


pelo seu corpo, desço elas pela sua barriga dura e delineadas pelos músculos
chego ao botão da sua calça, fico meio incerta se deveria abrir ou não, mas ao
escutar seu gemido contra meu seio eu faço o que meus instintos me pediam
para fazer.
Ao abrir sua calça logo senti sua ereção pulsar ali dentro e vi como
ela estava dura. Ouço-o respirar duramente e vi como ele tinha ficado meio
tenso, fico me perguntando se deveria tirar minha mão dali ou não. Enzo
deveria ter percebido como eu tinha ficado em dúvida que ele pôs a mão em
cima da mim, incentivando a continuar.

— Isso — sua voz soou no meu ouvido, deixando-me completamente


arrepiada.
Enzo morde e suga o lóbulo da minha orelha, fazendo gemidos saírem
cada vez mais da minha boca. Sinto-me tão entregue nesse momento a ele,
que me pergunto se terá algum dia em que irei conseguir resistir a ele, acho
que não. Não iria conseguir ficar longe dele, do seu toque e boca. Mesmo que
durante o nosso dia a dia sejamos quase estranhos um com o outro, mas eu
estava começando a me importar mais com esses momentos pequenos entre
nós do que ficar me torturando sobre o nosso futuro, era melhor viver um dia
de cada vez do que me preocupar com meu futuro incerto. E somente
aproveitar quando ele estava tão entregue somente a mim. E nada lá fora
importava nossas vidas na máfia ou se não éramos um casal de verdade que
dividia seu dia a dia um com o outro, se conseguimos expressar nossos
sentimentos. Mas não somos assim, não conseguimos nos comunicar
devidamente com palavras ou gestos e talvez por isso estivéssemos dando tão
certo em pouco tempo de nossa convivência.

Enzo me inclinou para trás enquanto tirava o vestido do meu corpo e


deixou-me deitada no mármore frio, fazendo-me respirar com força. Suas
mãos mornas e atrevidas passeiam pelo meu corpo, deixando-me
completamente acesa para ele. Consegui ver seus olhos caminham pelo meu
corpo, seguindo suas mãos que passaram pela minha barriga, pelo vão dos
meus seios e parou no meu pescoço, onde passou a mão e segurou ali com
um pouco de pressão, me deixando ofegante.
Sua boca veio de encontro a minha e sua outra mão infiltrou dentro da
minha calcinha, tocando-me sem pudor, fazendo-me gemer e suplicar por
mais. Passo as mãos pelos seus braços fortes e seguindo para suas costas,
onde explorava cada centímetro de seus músculos.

O desejo que me consumia deixava-me ainda mais ansiosa pelo que


viria a seguir, quando Enzo tirou a última peça que sobrara no meu corpo, me
fez sentir uma pontada de vergonha, fazendo-me querer cobrir e esconder
meu corpo dele, mesmo isso sendo besteira já que ele já tinha me visto nua.
Sua boca foi descendo pelos meus seios, barriga e sua língua rodeou meu
umbigo, me fazendo contrair completamente pelas cócegas que senti.
Sinto minha respiração ficar completamente suspensa quando seus
lábios tocaram na pele da minha coxa, perto da minha vagina. Tento segurar
em algo que pudesse me apoiar. Sua língua passeia pela minha virilha e solto
um gemido alto quando sua boca lambe minha fenda, deixando-me
atordoada. Ele não tinha sido ousado assim das outras vezes e isso me deixou
completamente atordoada, não esperava que ele fizesse isso.

Enzo fez magia com sua língua naquele ponto tão sensível, o qual
Laura tinha me dito que era o clitóris. Seguro seus cabelos em minhas mãos e
por instinto abro mais minhas pernas, Enzo as segurou e me puxou mais para
o encontro da sua boca, fazendo ver estrelas e querer mais disso. Gemidos
saíram da minha boca sem pudor e não liguei por estar fazendo barulho, só
conseguia pensar na sua boca e no que ela estava fazendo na minha vagina.

Sinto aquele tão conhecido fogo se alojar ainda mais no meu ventre e
percorrer pelo meu corpo e no momento que a língua de Enzo tocou no meu
clitóris me senti explodir e sair de órbita. Ainda ofegante e desorientada pelo
que tinha acabado de acontecer foi um pouco complicado de abrir meus olhos
e ver Enzo tirar o restante das suas roupas e parar em cima do meu corpo.
O cinza dos seus lindos olhos estavam escuros, tempestuosos e não
controlei a vontade de tocar seu rosto, passando os dedos pelas suas
bochecha, pela barba rala, parando nos seus cabelos tão macios. Enzo me
abraçou, fazendo-me sentir seu corpo completamente, ofego contra sua orelha
quando o senti me preencher completamente, como aquilo poderia ser tão
bom?

Fecho os olhos com deleite e beijo sua orelha, sentindo sua pele se
arrepiar com isso. Enzo começou a se movimentar, saindo e entrando cada
vez mais forte, tomando impulso a cada estocada. Segurei-me ainda mais nele
enquanto delirava com a forma que ele me tomava para si, como se aquilo
fosse a coisa mais certa do mundo, como se vivêssemos para isso. Seu nariz
contornou meu ombro e pescoço, sinto sua boca sugar cada canto da minha
pele, ele cheirou meus cabelos, puxando-o na nuca e fixando nossos olhos.
Sinto-me perdida na imensidão dos seus olhos, tentando compreender
o que ele estava sentindo nesse momento, no que eu estava sentindo. Sua
boca se cola na minha no momento que me sinto chegar mais uma vez ao
clímax e logo em seguida o sinto esporrando dentro de mim. Sua respiração
estava pesada e suas mãos me apertavam contra seu corpo suado e deixando-
me feliz por tê-lo ali em meus braços.

Passo os dedos pelos cabelos da sua nuca e subo mais, toco cada
mecha dos seus cabelos escuros e sinto seu aroma misturado com suor e
cheiro de pós-sexo.

Ainda estávamos nos braços um do outro quando um toque de celular


soou pela cozinha, tirando-nos do nosso transe, da pequena bolha que tinha se
formado entre nós.
Enzo se afastou e pegou seu celular dentro do bolso da calça, ao ver o
nome no visor á áurea leve que ele aparentava sumiu completamente e vi seu
rosto contrair. Ele me olha por alguns segundos e suspira.

— Preciso atender, não me espere para o jantar — seu tom era duro e
senti-me afundar por dentro.
O vi recolher suas roupas e se retirar da cozinha. Apoio-me na beirada
do balcão e desço pegando minhas roupas e seguindo para o quarto, decidida
a tomar um banho para depois terminar o jantar.

Não deveria me importar com essa atitude de Enzo, mas era


impossível fingir que não me machucava toda vez que o fazia, dentro de mim
abria fissuras quando ele se afastava e erguia um muro entre nós e colocava
aquela máscara de homem imbatível, inalcançável.
Capítulo 15

ENZO

Estou sentado, girando o uísque dentro do copo, enquanto observo o


corpo feminino jogado na cama. Ayla parecia tão pequena deitada na grande
cama, seu corpo estava coberto por um fino lençol, delineando seu corpo nu,
sua pele pálida me fazia desejar cada segundo tê-la em minhas mãos, de
marcá-la como podia.

Ainda era cedo e não a acordaria, na noite passada ficamos horas


acordados, realizando todos os desejos que tinha em mente e Ayla mostrou
que conseguia aguentar além do seu limite. Seus olhos verdes sempre me
recebendo com desejo e adoração, o que me assustava na maioria das vezes
quando nos olhávamos durante o sexo.

Não gostava de manter contato visual durante o ato sexual, preferia


comer as mulheres de quatro, onde conseguia manter qualquer tipo de
sentimento longe. Mas com Ayla era diferente, gostava de sentir suas mãos
me tocando com liberdade, sabendo que comigo ela estava experimentando
todas as suas primeiras vezes e desfrutando das suas curiosidades. Achava
bonito o rosado do seu rosto quando ela me via chupando sua boceta e
quando gozava loucamente gritando meu nome.
Não podia negar, tínhamos química, nada, além disso. Não encheria a
garota de esperanças de algo que não aconteceria entre nós, não iria fazê-la
acreditar que me teria para sempre em seus braços, que seria única, porque
sabíamos que não. Eu não me permitiria entregar a ela, de fazê-la ter poder
sobre mim, porque homem feito como eu, não era para romances idiotas,
onde o homem no final se apaixona loucamente pela esposa. Isso não irá
acontecer e Ayla sabe disso, ela sabe que o tempo que me teria
exclusivamente em seus braços era limitado, porque logo outras me teriam.

Mas no final você está ao lado dela novamente.


Sim eu poderia estar ao lado dela, mas não por algo que deveria ser o
certo... Que era o amor de duas pessoas, esse sentimento era cobiçado por
pessoas sonhadoras, eu não tenho sonhos e sim vontades as quais cumpria
com completa dedicação.

Meu casamento era por aliança e poder, nada mais que isso. Precisava
ter uma esposa para conseguir expandir meus negócios para outras terras e
estava quase conseguindo, só precisava do apoio e trégua de Santiago
Stefano. Aquele desgraçado estava dificultado ás coisas para o meu lado, mas
eu não desisto facilmente de algo que quero e essa mulher que dorme
serenamente na cama me daria algo que precisava para fechar completamente
o acordo que me daria algum poder dentro Ndrangheta.

(...)

— Sua pele está boa meu amigo — escuto o tom zombeteiro de


Domênico soar do outro lado da tela do computador. — Vejo que sua esposa
está fazendo um bom trabalho.
Estreito meus olhos na sua direção e controlo a vontade de mandá-lo
se foder. Às vezes me pergunto como ainda éramos amigos e por que ele é
meu consigliere. Mas logo lembro, Domênico por trás das suas gracinhas e
zombarias é ótimo negociador e também perfeito com suas facas, por esses
motivos ele ainda mantem a língua colada ao corpo.

— Não liguei para falar sobre minha pele — rosno ainda sério.
— Acho que me enganei, sua esposa não está fazendo o serviço
direito — bufou. — Você ainda está de TPM.

— Vá se ferrar Vitale — esbravejo perdendo o controle. — Se


continuar a tirar sarro com a minha cara farei algum dos soldados darem um
corretivo em você.

— Adoraria vê-los tentar — zomba dando um sorriso maroto. —


Você ficaria sem soldados Sartori.
— Idiota.

— Sei que você me ama — zomba. — Mas não estou para amores
agora, então vamos começar a falar sobre Stefano e a demora dele para
assinar o acordo.

Encosto-me mais na cadeira e solto um suspiro longo ao lembrar-me


daquele filho da puta, Santiago estava me enrolando da melhor forma
possível, mas ele não sabia que minha paciência tinha limites, a qual estava
prestes a acabar e quando acabasse teria suas consequências. Eu não me
importava por estar em seu território ou não, se poderia morrer no final, mas
ele me pagaria por estar me fazendo de palhaço, esperando seu retorno.
— Dei a ele mais dois dias, se aquele idiota não aceitar, posso fazer
algumas chantagens — digo dando de ombro.
— Lembre-se que você está no território dele e que sua esposa está
com você.

Quando Domênico toca mais uma vez no nome de Ayla sinto algo
ferver dentro de mim, querendo que ele parasse de falar sobre ela ou que
ficasse lembrando-a. Não quero que ele pense nela.
— Está com medo que algo aconteça com minha esposa Vitale? —
Minha voz sai ameaçadora e ele percebeu porque sua expressão ficou ainda
mais séria.

— Estou querendo protegê-la da idiotice que você pode fazer.

— Não se preocupe com minha esposa, sei cuidar muito bem dela —
vocifero. — E lhe aconselho a parar de falar dela.
— Está com ciúme? — Me olha provocativo.

— Não, só estou lhe avisando para não parecer tão interessado nela.

— Só estou tentando...
— Não me interessa o que você está tentando, lhe aconselho a parar
de falar nela — o corto. — Sei o que estou fazendo Domênico, não sou um
moleque que está brincando em ser Don, sei dos perigos de tê-la aqui
enquanto estou fazendo um acordo com Santiago Stefano.

Domênico fica calado por alguns instantes, mas logo o ouço soltar um
suspiro alto e balançar a cabeça.

— Tudo bem. Examinei o contrato que você me mandou pelo e-mail,


está favorável para nós, mas aconselho que faça algumas mudanças. Não
queremos que Stefano tenha poder nos Estados Unidos.
— Irei olhar o contrato, em breve nos falamos.
— Até mais Boss.

Ao desligar a vídeo chamada, ouço um barulho vindo de fora seguido


de um grito, rapidamente pego minha arma que estava guardada dentro da
gaveta da mesa no escritório e saio em disparada rumo ao grito. Com a arma
apontada para frente encontro Ayla parada com o rosto pálido e a respiração
ofegante.
— O que houve? — A questiono me aproximando.

Ayla virou para mim e ficou ainda mais pálida ao ver a arma em
minha mão. Ela não falou nada e minha atenção foi para a caixa aberta no
balcão da cozinha. Ao chegar perto para ver o que tinha ali dentro encontro a
cabeça de um dos meus soldados que fazia a ronda da casa.

— Quem fez isso? — Sua voz soou fraca e trêmula.


Vejo um bilhete em cima da cabeça e leio o que tinha ali.

“Apenas uma amostra do que virá a acontecer”

— Arrume suas coisas Ayla — murmuro ainda concentrado no


bilhete de ameaça.

— Por quê?
— Faça o que estou mandando — olho para ela e vejo-a tremer
levemente e logo sumir.

Pego meu celular do bolso e disco o número que já estava decorado


em minha cabeça.

— Sartori — seu sotaque italiano me recebeu.


— Você matou um dos meus soldados? — Pergunto sentindo a raiva
cada vez mais iminente.

— Do que você está falando?


— Não se faça de idiota Stefano — rosno. — A cabeça de um dos
meus soldados está aqui na minha frente com um bilhete de ameaça.

— Não sei do que está falando, mas posso ajudá-lo a encontrar quem
decapitou um dos seus.

Fecho os olhos com força tentando pensar direito. Não tinha tempo
para duvidar da sua palavra, tinha alguém por perto, que a qualquer momento
poderia me atacar de surpresa e fazer algo pior do que decepar a cabeça de
um soldado meu.
— É bom que não seja você o mandante dessa mensagem Stefano —
vocifero. — Porque se eu descobrir que sim, eu juro que faço coisa pior.

— Não é hora de ameaças Sartori — o escutei bufar. — Tem alguém


querendo se vingar de você, e esse alguém não sou eu, já que estava próximo
de unir nossas forças.

— O que você está querendo dizer?

— Que em breve teremos laços de sangue caro amico.

Aquilo me pegou de surpresa, logo me concentro em outra coisa, além


de imaginar que tinha conseguido o que tanto desejava. Mas agora tinha que
focar em encontrar o dono daquele bilhete e acabar com o mal pela raiz, antes
que as consequências sejam piores.
Capítulo 16

AYLA

Chegamos à Nova York algumas horas depois, me sentia cansada e


desejando mais do que tudo uma cama para descansar. Não tinha conseguido
dormir durante o voo, minha mente estava a mil e a imagem da cabeça de um
dos soldados de Enzo não saia da minha, deixando-me nervosa e agitada.

Enzo tinha passado o voo inteiro concentrado em seu celular e


notebook, ele não descansou um segundo sequer, parecia concentrado em
descobrir quem estava por trás daquela ameaça.
Fico por alguns segundos, parada olhando para a casa a minha frente,
era a mesma onde acontecera o noivado e o encontrei com outra mulher. Por
um segundo cogitei que moraríamos em outro lugar, mas me enganei
completamente. Disfarço meu incômodo por estar aqui e forço minhas pernas
a seguir Enzo que já tinha entrado na casa.

Olhei cada canto da casa, que era bem mobiliada com móveis
rústicos, paredes de tons claros e bem iluminada. Não tive muito tempo para
admirar os outros cômodos da casa. Enzo virou na minha direção e disse:

— Irei resolver alguns assuntos — comunicou e indicou a escada ao


meu lado. — Você pode se acomodar no quarto do final do corredor, lá você
encontrará suas coisas.

Antes que eu perguntasse se ficaríamos no mesmo quarto ou onde


ficava a cozinha, já tinha sumido da minha frente, andando pelo corredor que
deveria dar para o seu escritório. Mordo meu lábio e olho o meu redor, tudo
estava silencioso mostrando que não deveria ter ninguém além de nós e os
seguranças no lado de fora.

Precisava dormir, estava me sentindo cansada ao extremo e as últimas


horas tinham sido as mais tensas das últimas duas semanas longe de Nova
York. Ficar com Enzo fora daqui tinha sido agradável e revelador, mesmo ele
não dando abertura nos momentos que passamos juntos, tínhamos conseguido
ficar mais próximos, mesmo que essa proximidade se resumia à cama, onde
ele conseguiu me mostrar várias formas de prazer, dizia coisas obscenas as
quais, estava me acostumando enquanto transávamos. Sua pegada era forte e
dominadora, o que me fazia delirar e querer mais, Enzo aparentemente
percebia isso, porque toda vez que estávamos nos agarrando fazia algo novo
que resultava em minhas pernas doloridas e minhas partes íntimas sensíveis
no outro dia.
Seguro minha bolsa, subo para o segundo andar em direção ao quarto
que Enzo disse que eu poderia ficar. Ao adentrar no cômodo encontro um
espaço enorme com uma cama grande e dossel, coberta por lençóis cinza,
aparadores em cada lado e uma parede de vidro, que dava para o lago da
propriedade. Caminho até as portas duplas e ao abri-las encontro minhas
coisas junto com as de Enzo e minha dúvida quanto a ficarmos juntos foi
sanada satisfatoriamente, visto que tinha me acostumado a dormir ao seu lado
e não sei se conseguiria dormir sem sua presença.

Pego uma roupa confortável, sigo para outra porta que julgo ser
banheiro, que por sinal é enorme, tinha uma bancada de mármore branco com
duas pias e espelho, box e banheira. Sorri ao encontrar cosméticos femininos
postos em um canto da pia, vejo que eram alguns que eu já usava. Será que
Enzo tinha prestado atenção nisso? Meu sorriso se abre ainda mais com esse
pensamento e começo a tirar minha roupa.
Quando o jato d’água quente bate no meu corpo cansado sinto-me
relaxar gradualmente, precisava disso para conseguir dormir algumas horas.
Termino meu banho, seco meu corpo já vestindo uma calça do pijama e uma
blusinha de alças. Penteio meus cabelos e os deixo soltos.

Ao deitar na cama solto um suspiro de contentamento, sentindo a


maciez dos lençóis e o colchão me acolhendo. E como esperado o sono logo
veio, me fazendo esvaziar a mente por algumas horas, deixando-me dormir
completamente sem imaginar o que poderia acontecer a seguir e no que Enzo
faria para devolver aquele tipo de ameaça que tinham lhe mandado.

(...)

ENZO
— Não conseguimos encontrar nenhum rastro de quem pode ter
mandado a ameaça — Domênico comunicou no outro lado da linha.
Fico calado por um tempo, tentando encontrar alguma pista de quem
poderia ter feito isso. Minha lista de inimigos não era pequena, tinha várias
pessoas que desejavam minha cabeça, mas nenhuma dessas pessoas tinha
coragem de fazer o que fizeram, era alguém que eu conhecia, mas não era
próximo, sentia isso.

— Mas o que está me deixando confuso é como os seguranças não


viram quem deixou a caixa — falo franzindo a testa.

— A pessoa é como um fantasma.


— Ou ele só quer me mostrar que estou muito vulnerável e fácil de
ser pego.

— Ou sua esposa.

Ayla fora quem encontrou a caixa e abriu, encontrando a cabeça de


um dos meus soldados. Consigo ver o olhar perturbado dela, assustado e
temeroso. Domênico pode estar certo, talvez quem tenha feito isso não queira
me pegar e sim Ayla, mostrando que ela estava mais exposta que eu.
— Irei reforçar a segurança dela.

— OK — ele suspirou. — E como foi o seu acordo com Stefano?

— Ele aceitou.
— E você não acha estranho ele aceitar no mesmo dia que essa
ameaça foi feita?

— O que você está querendo insinuar?


— Não estou insinuando, só acho estranho ele aceitar assim de
repente, quando estava tentando colocar você para trás.

— Stefano não é burro, Domênico — estreito os olhos e sinto minha


cabeça doer com tantas possibilidades que começam a aparecer nos meus
pensamentos. — Sabemos que sou a melhor possibilidade para ele se manter
como chefe da Ndrangheta.
— Mesmo assim ficarei de olho nele.

Não digo mais nada e encerro a chamada. Minha cabeça estava


explodindo e mal tinha conseguido colocar as coisas em ordem. Ainda tinha
uma reunião com um dos chefes do carregamento novo e ver as novas
mercadorias, e também checar uma das boates para ver as garotas novas.

Saio dos meus pensamentos quando ouço uma batida na porta e, vejo
Milena entrar.
— Uma das empregadas me avisou que você e sua esposa tinham
chegado — seu tom era baixo e acenou na minha direção.

Sabia que ela não gostava muito de Ayla, da escolha que eu tinha
feito de me casar. Para Milena seria somente nós dois para sempre, mas
sabíamos que nossa realidade não era assim e meu casamento foi estratégia
de negócios, mas isso não a impede de não gostar da minha esposa. E eu
sabia muito bem como ela demonstrou seu desagrado, fazendo Ayla me
encontrar com Perla. Sabia que aquele encontro tinha dedo da minha
irmãzinha e ela teve o seu castigo por ter feito isso.

— Tive um imprevisto — digo pegando um dos documentos em cima


da mesa. — Mas o que você deseja?
Milena se sentou na cadeira de frente a minha mesa e levantou suas
sobrancelhas escuras e delineadas na minha direção.

— Não posso ver meu irmão que ficou semanas longe de casa? — Me
olha sarcástica.
— Sabemos que você não é sentimentalista — a encaro. — Então
poupe meu tempo e diga o que quer.

— Uau, sempre tão gentil — zombou. — Mas tudo bem, só vim ver
se sua linda esposa cuidou direito de você.

— Isso não é da sua conta.


— Mas sim de Perla — se levantou e ajeitou a saia. — Ela irá adorar
saber que você voltou para casa.

Fico parado alguns segundos tentando compreender o que ela queria


dizer com isso, mas eu sabia que ela só estava tentando me provocar,
tentando chamar atenção como das outras vezes.

— Não arranje confusão, Milena.


— Não irei fazer isso — me lançou um sorriso. — Até mais tarde
irmãozinho.

Quando a porta é fechada, senti que não teria paz, porque Milena não
iria deixar que isso acontecesse. Teria que dar um jeito nisso, fazê-la entender
que não é mais uma criança que pode fazer tudo o que quiser e não arcar com
as consequências. Talvez ela só esteja ainda com raiva do castigo que dei a
ela.

Ficar alguns dias sem cartão de crédito não era um dos piores castigos
dado a alguém. Milena era minha irmã e não podia fazer nada muito brutal
com ela.
(...)

Ao entrar no quarto que se encontrava na penumbra algumas horas


depois, não foi necessário acender a luz para saber que Ayla estava ali deitada
na cama. Ela não tinha acordado desde que entrou aqui e isso fazia quase seis
horas.

Caminho pelo quarto no escuro e a observo por um tempo, seu corpo


estava descoberto, vi-a vestida com uma calça de pijama e uma blusa fina.
Nunca tinha visto ela vestida dessa forma, poderia ser nada atraente, mas meu
corpo reage ao vê-la daquela forma.
Antes que eu mova um passo na sua direção sinto o celular vibrar na
calça. Pego o aparelho e vejo uma mensagem de Domênico.

Domênico: Tenho informações.

Não conseguiria descansar por agora, só me permitiria fechar os olhos


quando tiver uma pista sobre quem era a pessoa por trás da ameaça.

Capítulo 17

AYLA

Abri lentamente meus olhos e encontro à luz do lado de fora


invadindo o ambiente do quarto. Franzo o rosto e solto um resmungo, meu
corpo estava descansado e me sinto meio tonta por ter dormido demais.
Sento-me na cama e fico confusa por alguns segundos, mas logo meus
pensamentos entram em ordem e lembro-me de ter deitado para descansar por
alguns minutos, mas pelo visto tinha dormido mais do que o necessário.

Levanto da cama e caminho na direção do banheiro, lá faço minha


higiene do dia e quando termino de vestir uma roupa a porta do quarto é
aberta e Enzo entra, vestindo um calção de corrida, tênis e nada mais. Minha
atenção fica por alguns segundos no seu abdome, nos músculos delineados
dali. Sua pele morena estava levemente suada, me deixando ainda mais
focada no seu corpo.
— Bom dia — sua voz rouca me tirou do transe, fazendo meu rosto
aquecer rapidamente e voltar minha atenção para o seu rosto. — Apreciando
a vista?

Vejo um leve curvar de seus lábios e seus olhos cinza me fitarem com
certo divertimento, parecia que alguém tinha acordado de bom humor, o que
era raro para mim, sempre o via fechado e não demonstrando nenhum tipo de
humor.

— É... Bom dia — forço minha voz a sair com naturalidade, enquanto
meu corpo se aquecia.
Enzo se aproximou, ficando á alguns passos de distância. Levanto um
pouco o rosto para olhá-lo direito e nesse momento ele levanta a mão e toca
meu rosto, seu toque foi tão simples, mas surtiu um efeito no meu corpo
instantaneamente, pois entraria em erupção a qualquer momento.

O que estava acontecendo comigo?

Seu rosto se inclinou para o meu e fecho os olhos ansiando pelo que
viria, mas franzi a testa quando o toque da sua boca não veio. Abro os olhos e
os seus me fitaram com tanta intensidade, poderia jurar que não seria capaz
de respirar, que o ar estava impedido de penetrar meu corpo e fazer sua fusão.

— Preciso que arrume uma roupa de gala para esta noite —


comunicou com a boca próxima a minha.
— Para quê? — Pergunto confusa.

— Teremos um evento esta noite, então arranje a roupa — se


distanciou. — Me encontre as sete.

Ele me deu as costas e sumiu dentro do banheiro. Por um segundo me


sinto sem chão, achei que ele me beijaria que faria... Balanço a cabeça e
respiro fundo. Estou criando muita expectativa em cima dele. Sabia que com
Enzo era como pisar em ovos, tendo cuidado de não pisar em falso e acabar
cometendo uma besteira.
Ao escutar o barulho da água dentro do banheiro decido tomar o café
da manhã, meu estômago estava pedindo por comida. Desço as escadas,
demorei alguns minutos até encontrar a cozinha, fico surpresa ao encontrar
uma mulher de meia idade fazendo algo no fogão.

— Bom dia.

A mulher virou na minha direção e vejo surpresa estampada no seu


rosto, que continha algumas linhas de expressão. Ela era alta, cabelos
castanhos salpicados de branco que estavam presos em um rabo de cavalo,
vestia uma legging preta e uma camiseta cinza.
— Senhora Sartori — me cumprimentou. — O café da manhã logo
estará sendo servido na sala de jantar.

Levanto as sobrancelhas e meio constrangida por não saber onde era a


sala de jantar pergunto.

— Não sei onde fica a sala de jantar.

— Primeira porta a esquerda — me lançou um sorriso.

— Obrigada...

— Tália.
Agradeço-a mais uma vez e sigo para onde indicou e lá encontro a
sala de jantar. Alguns minutos depois o café foi servido e no momento que
estou tomando um gole do meu café ouço a voz atrás de mim.

— Olá cunhadinha.

Milena aparece no meu campo de visão, ela tinha um sorriso no rosto


que não chegava aos seus olhos.
— Milena.

Ela se sentou à minha frente, se serviu com suco e um pedaço de pão.

— No seu casamento com meu irmão não tive tempo de parabenizá-la


e dizer que estou muito feliz por tê-la na família.

— Obrigada.

— Não agradeça — ela disse mordendo seu pão. — Só não ache que
será fácil sua vida aqui nessa casa.

Sou tomada por espanto pelas suas palavras. Já tinha escutado Laura
dizer que Milena não era uma pessoa fácil de conviver e se socializar, porque
dentro da famiglia todos diziam que ela era Enzo em forma feminina e nada
agradável, mas por um segundo pensei que poderia ser só boatos e fofocas.
Porém ver a forma que ela disse aquilo com raiva transbordando nos seus
olhos e determinação.
— Posso aprender a conviver com isso — murmuro tentando não
transparecer o quanto estava intimidada nesse momento.

— Será legal vê-la tentar — me lançou um sorriso frio.


A porta da sala de jantar foi aberta, solto um suspiro ao ver Enzo
entrar, parou por alguns segundos olhando para nós duas, se concentrou na
sua irmã que logo tomou seu suco e levantou da mesa.

— Bem vinda à família Ayla.

Aquilo era uma intimação, mostrando que ela não cederia fácil e que
faria o que tinha dito; não me deixaria em paz. Deveria me preocupar com
isso, mas o faria depois, tinha coisas mais importantes para fazer.

(...)

— Não posso acreditar — Laura bufou enquanto eu experimentava


mais um vestido longo. — Aquela vadia falou isso?

Tinha acabado de contar o que Milena falou no café da manhã e Laura


não parecia estar nada contente. Ela parecia mais minha protetora do que
qualquer outra coisa.

— Fala baixo esses nomes — olho ao nosso redor tentando ver se


outros clientes tinham escutado a boca suja de Laura.
— Foda-se — revirou os olhos. — Aquele projeto de vacaranha tem
que começar a respeitar os outros, o que ela acha que é? Porque veio de uma
família importante não quer dizer que pode falar essas coisas.

— Ela é irmã do chefe — lembro-a.


— Isso não significa nada — parou ao meu lado. — Se ela fizer algo
com você tenha certeza que irei arrancar alguns fios daquela cabeça.

Solto uma risada com o que ela diz e volto a prestar atenção na
escolha de vestidos. Eu não sou uma das melhores pessoas para escolher
alguma roupa, por isso tinha ligado para Laura e pedido a sua ajuda, a qual
ela aceitou sem pestanejar.
Ela parecia menos pálida desde a última vez que tínhamos nos visto,
ainda continuava magra demais, mas o sorriso que irradiava o seu rosto
parecia querer esconder todo o mal que acontecia em sua vida.

— Não vamos nos importar com isso por enquanto — digo olhando
para ela. — Milena só tem dezenove anos, talvez só queira atenção.

— Você com vinte, parece mais madura do que aquela vaca —


revirou os olhos. — A se ela aparecer na minha frente...
— Ayla que surpresa encontrá-la aqui — nós duas viramos na direção
da voz e encontramos Milena a nossa frente.

Olho para Laura que estava com os olhos estreitos e vi minha prima
dar um passo para frente. Seguro o braço dela.

— Não posso dizer o mesmo — Laura murmura ainda olhando para


Milena.
Milena olhou para Laura e a examinou por alguns segundos, logo
depois deu um sorriso de lado.

— Laura, você está diferente — falou com sarcasmo. — Lembro-me


de você mais cuidada.

— E me lembro de que não perguntei a você — revidou.


— Calma, só fiz um comentário — disse rindo. — Você continua
com seu humor doce.

— E você continua...
— O que você veio fazer aqui Milena? — corto rapidamente Laura e
a puxo para trás.

— Vim comprar um vestido para o evento de hoje à noite — voltou a


me olhar. — Vejo que você também.

— Claro. Querida ela é a esposa do Don — Laura diz com ironia.


Milena finge que não a escuta e sorri.

— Então nos vemos mais tarde cunhadinha.

Com isso se virou e sumiu da nossa frente.


— Cunhadinha? — Laura me olha.

— Deve ser um apelido fofo.

— Bonequinha, fofinha ou gatinha é um apelido fofo — levantou as


mãos para cima. — Cunhadinha é muita falsidade.

— Laura você está muito estressada hoje.

— Não estou não, só não suporto essa garota.

— Já aconteceu algo com vocês no passado?


— Além de ela jogar vinho em mim uma vez? — Levantou as
sobrancelhas. — Claro que não.

Balanço a cabeça rindo e decido provar outra roupa, aquele dia seria
longo.
(...)

Horas mais tarde já estava dentro do quarto terminando de arrumar


meus cabelos que ficariam soltos e minha maquiagem seria bem leve. O
vestido que escolhi para hoje fora perfeito, era tomara que caia da cor
marsala, de um tecido fino e que se ajustava ao meu corpo, marcando os
lugares certos.

Estava terminando de colocar meus brincos quando a porta do quarto


foi aberta e pelo espelho encontro Enzo parado me olhando. Lanço um
sorriso na sua direção e viro para ele.

— Como estou?
Enzo desceu seu olhar pelo meu corpo e ficou me olhando por alguns
segundos, até que voltou a me fitar.

— Bonita — deu alguns passos na minha direção e nesse momento


percebo uma caixa média de veludo azul em sua mão. — Vire-se de costa.

Faço o que ele manda. Pelo espelho o vejo abrir a caixa e de dentro
tirar um colar.

— Levante seus cabelos — faço mais uma vez e o vejo colocar o


colar no meu pescoço o contato da joia fria na minha pele fez-me arrepiar
completamente.

Quando ele fecha o colar, solto meus cabelos e fico admirando a linda
joia no meu colo. Ela era cravejada de esmeraldas com alguns diamantes. As
esmeraldas reluziam lindamente e combinava com o tom dos meus olhos.

Respiro fundo ao sentir o toque das suas mãos na minha cintura e


sinto seu corpo colado ao meu. Parecia tão vulnerável a ele, com a sua altura
e dominação.

— O colar combinou com você — disse olhando para o colar e depois


para os meus olhos.
Viro para ele e sem pensar muito estico meu pescoço na sua direção e
colo minha boca na sua, lhe dando um beijo suave. Eu não era uma pessoa
que fazia coisas sem pensar, nunca tinha sido a primeira a tomar a atitude de
beijá-lo, na verdade nunca tínhamos nos beijados sem estar nos agarrando ou
transando.

Isso parecia tê-lo pego de surpresa e confesso que a mim também,


mas o contato da sua boca na minha era maravilhoso, era quente e suave, era
como se experimentasse o melhor doce do mundo. As mãos de Enzo foram
para as minhas costas, trazendo-me mais para perto do seu, fazendo-me soltar
um gemido contra sua boca e desejar que ele me tomasse naquele momento.
Enzo tomou controle do beijo e sua língua dominou a minha, deixando meu
corpo mole sobre sua boca e seus braços fortes.

Aquele beijo era intenso, como se não quiséssemos nos afastar, como
se aquilo quisesse durar para sempre, mas uma vibração no bolso da sua calça
o fez se afastar e pegar o aparelho. Sua respiração estava descompassada, se
igualando a minha. Seu rosto ficou duro pelo que leu no celular e logo me
olhou.
— Temos que ir.

Peguei minha bolsa que estava em cima da cama e o acompanhei para


fora do quarto, percebendo que mais uma vez tinha algo nos impedindo de
ficarmos próximos.
Capítulo 18

AYLA

O caminho até onde aconteceria o evento que eu não sabia do que se


tratava ate colocar meus pés para fora do carro e ver o prédio a minha frente.
Era uma joalheria que tinha um grande letreiro com o nome Sartori. Virei
para o meu marido parado ao meu lado e rodeado minha cintura com seu
braço.

Vários fotógrafos tiraram fotos nossas e sorri o máximo que


conseguia, Enzo se manteve sério em todas elas, me segurando contra seu
corpo e depois das fotos nos guiou para dentro do prédio, onde tinha várias
pessoas conversando e rindo. Alguns pararam de fazer o que faziam e
prestaram atenção em nós. Ao longe vi Milena que estava rodeada por
algumas mulheres e vi ela nos olhar por alguns instantes antes de voltar a
falar com as mulheres.

— Hoje é o lançamento da nova coleção Sartori — Enzo pegou duas


taças de champanhe e me entregou uma. — O lançamento deveria ter
acontecido há algumas semanas, mas ouve o nosso casamento e a viagem.
Fiquei o olhando enquanto fala sobre a coleção, quais eram os seus
planos para expandir novas lojas pelos Estados Unidos e até mesmo para
outros países. Fiquei o observando fascinada de como falava com tanta
maestria sobre seus negócios, os diamantes e outras joias. Enzo nunca se
abriu como agora, esse era a primeira vez que o via falar com tanta facilidade
e á vontade. Não ousei interrompê-lo por um segundo sequer, gostava de vê-
lo daquela forma e minha atenção vez ou outra ia para os gestos que ele fazia.

Enzo me mostrou cada joia em exposição e me apresentou para cada


empresário naquela noite, mas um tempo depois ele se distanciou dizendo ter
que tratar algumas coisas com alguns homens.
Fico andando pelo local olhando cada joia, nos minutos seguintes
tomei duas taças de champanhe e logo decidi ficar somente na água, não iria
querer ficar bêbada logo de cara.

— Sra. Sartori, que prazer reencontrá-la.

Viro na direção da voz e fico paralisada por alguns segundos ao olhar


para o homem à minha frente. Jordan tinha um sorriso genuíno no rosto e me
olhava com alegria. Sorrio para ele verificando se Enzo estava por perto, não
era correto alguém me ver perto de um homem que não fosse meu marido,
mas também não poderia dispensar o deputado Dawson, seria um gesto mal
educado.
— Deputado, que prazer vê-lo — seguro sua mão estendida.

— Não consegui me despedir de você naquele dia e logo depois soube


que você e Enzo partiram — ele disse ainda mantendo o sorriso no rosto.

— É, fomos para um lugar mais calmo para passar o restante da nossa


lua de mel — comento olhando a nossa volta, tentando achar Enzo.
— Seu marido está nesse momento conversando com uma bela
mulher — Jordan indicou com a cabeça para um lugar um pouco distante de
nós.

Sigo o seu olhar e paro nas duas pessoas, Enzo estava conversando
com uma loira que logo percebi quem era. A taça que estava em minha mão
escorrega pelo meu choque. Perla ria de algo que meu marido tinha dito e
tocava nele deliberadamente por várias vezes em frações de segundos. Aquilo
me incomodou mais do que deveria incomodar, me fez sentir coisas que
desejava não sentir. O ciúme parecia querer me consumir completamente,
mas a razão falou mais alto.

Não poderia demonstrar que aquilo me incomodava, o que o homem a


minha frente acharia disso? Com certeza ele veria que meu casamento não era
tão estável como deveria ser, que meu marido pulava a cerca com frequência
e que nesse exato momento estava perto da sua amante não se importando
com a minha presença, se eu iria ver aquilo.
— Deve ser alguma compradora — volto a prestar atenção em Jordan.

— É uma bela compradora — murmurou ainda olhando para eles,


mas ao ver a careta que fiz ele balançou a cabeça. — Mas com certeza seu
marido só tem olhos para você, porque se fosse eu não iria conseguir olhar
para qualquer outra mulher nesse salão e sim somente para você, sua beleza é
estonteante e única.

— Obrigada pelo elogio deputado — forço um sorriso transparecer no


meu rosto e tento não olhar para trás.
— Me chame de Jordan.

— Então também terei que pedir que me chame de Ayla.

— Ayla — disse lentamente e sorriu. — Um belo nome.


Sorrio com o que ele diz e bebo minha água.

— Não está bebendo nada alcoólico?

— Meu organismo é fraco para bebida — justifico dando de ombro.


— Entendo — sorri e logo chama um garçom. — Mas terei que fazê-
la beber pelo menos uma taça de champanhe comigo, esses eventos tornam-
se ser chatos na maioria das vezes.

Jordan me entregou uma taça de champanhe e logo me vi rindo á


vontade na sua presença, achando graça das suas piadas sem sentido e sem
graça. A primeira taça que ele me entregou se tornou a sétima e logo estava
me sentindo alegre e solta. Meus risos se tornavam altos e barulhentos,
chamando atenção de algumas pessoas e isso nos fazia rir ainda mais.

— Será que estou interrompendo? — A voz que veio atrás de mim,


fez meu corpo congelar completamente.

— Claro que não, só estava conversando com Ayla — Jordan disse


rindo enquanto olhava para o meu marido que não estava com uma das
melhores caras.

— A conversa parece bastante interessante — Enzo olhou de mim


para Jordan e logo voltou a prestar atenção em mim.
— É voc...

— Se você não se importa preciso ter uma palavra com minha mulher
— Enzo passou a mão pela minha cintura e puxou meu corpo contra o seu.

Antes que eu consiga me despedir de Jordan, Enzo já estava me


puxando para longe. A bebida que tinha ingerido um tempo antes estava
querendo voltar pela minha garganta. Engulo em seco e tento controlar a
ânsia de vomitar.
Enzo me levou até uma porta e caminhamos por um corredor escuro e
só paramos quando entramos em um escritório pequeno, mas bem
aconchegante. Não tive muito tempo de observar mais a sala, porque assim
que a porta fechou atrás de Enzo fui empurrada até a mesa no meio do
cômodo.

— O que passa pela sua cabeça por estar daquele jeito com aquele
homem? — Rosnou perto do meu rosto. — Vocês dois pareciam íntimos.
Levanto as sobrancelhas pela forma que ele estava agindo e surpresa
pelas suas palavras.

— Não está passando nada pela minha cabeça — minha voz sai em
um fio.

— Não? — Olha com ironia. — E o jeito que estava tocando-o? O


jeito que estava rindo com ele e bebendo? Você parecia uma vagabunda!
Sem pensar levanto minha mão e dou um tapa no seu rosto, o impacto
fez seu rosto virar para o lado. Arregalo os olhos ao perceber o que tinha
feito. Nunca fui impulsiva e agi sem pensar, mas eu não iria deixar que ele
me tratasse daquela forma, como se eu fosse à única culpada naquilo tudo.

— Não lhe dou direito de falar assim comigo — mesmo trêmula


consigo dizer. — Você também estava com outra pessoa, que por acaso era a
Perla, que lhe tocava mais do que falava, ria histericamente e eu não fiz nada,
fiquei na minha.

Enzo virou o rosto para mim e vi raiva transparecer nas suas íris
cinza. Vi suas mãos em punhos nas laterais do seu corpo e percebo como ele
estava tenso.
— Irei avisar só uma vez — seu rosto ficou centímetros do meu. —
Se eu lhe ver perto do Jordan mais uma vez, eu juro que arranco cada dedo
das suas mãos.

Aquilo me deixou assustada, ele nunca tinha me ameaçado dessa


forma e o medo começa a dominar meu corpo, temer o que ele poderia fazer
comigo.

— Nunca mais me bata — rosnou. — Se Perla se aproximar de mim


não é da sua conta, se ela tocar em mim não é da sua conta, porque você não
é nada minha.
— Sou sua esposa.

— No papel — retrucou. — Não tente chamar atenção, não seja


patética.

Meus olhos lacrimejam e sinto a vontade de chorar mais do que


nunca, porque aquilo era insuportável, parecia que as suas palavras estavam
me sufocando e me sentia tão pequena pela forma que Enzo estava me
tratando.
— Melhore esse rosto — me orientou. — Não é necessário ser minha
esposa e sim da máfia, porque é por ela que você está aqui, vestindo tudo do
melhor e comendo coisas boas, pela famiglia que você é o que é.

Ele virou as costas e saiu da sala, me deixando arruinada. Sento na


primeira cadeira que vejo a minha frente e o primeiro soluço rompeu pela
minha boca, não consigo controlar os outros. Seguro meu rosto entre as mãos
e as lágrimas caíram livremente pela minha face. Não sei quanto tempo
permaneci nesse escritório me debulhando em lágrimas, só escuto em um
momento a porta ser aberta.

— Que cena bonita de se ver — Milena estava parada na porta me


olhando. — Meu irmão já está mostrando as garras.
— O que você quer Milena? — Minha voz sai rouca.

— Nada — balançou a cabeça e continua me olhando. — Só vim ver


como você está.

— Não é necessário você fingir que se importa comigo — murmuro


rude e tento enxugar meu rosto da melhor forma.
— Eu não me importo — deu de ombro. — Só quero dizer que Enzo
é desse jeito e não vai ser você que irá fazê-lo mudar.

Viro de costas para ela e tento não mostrar as novas lágrimas que
caíram pelo meu rosto.

— Se quiser tem um carro esperando lá fora — sua voz sumiu no


momento que a porta foi fechada mais uma vez.
No breu do cômodo sufoco a vontade de gritar e tirar aquele peso que
estava no peito. Eu era mais tola do que poderia supor. Como pude pensar
que Enzo por algum segundo poderia se importar comigo? Que ele ligava
para mim?

Seco meu rosto e vou à procura de algum banheiro lá refaço minha


maquiagem, escondendo minha face avermelhada pelo choro e fico um tempo
ali dentro esperando meus olhos pararem de lacrimejar. Não daria esse
gostinho de vitória para Perla ou fazer Enzo pensar que era fraca, me
deixando abater, mesmo por dentro eu querendo fugir dali e me trancafiar em
qualquer outro lugar que fosse longe.

Quando meu rosto estava mais apresentável sai do escritório e


caminhei na direção em que acontecia a festa de lançamento da sua joalheria.
Ao voltar à festa botei um sorriso no rosto e me aproximei do meu marido
que estava conversando com alguns homens.
— Desculpe a demora querido — forço minha voz sair carinhosa.

Enzo olhou para mim e vi uma ruga aparecer no meio das suas
sobrancelhas. Ele deveria estar pensando que eu bati a cabeça, talvez sim
porque depois tudo que ele disse eu deveria manter distância dele, mas eu não
iria fazer isso. Algo que ele disse fazia sentido e abriram meus olhos. Eu
estava casada com a máfia e não somente com ele. Iria começar a fazer meu
papel ali dentro e não ser a esposa frágil que ele via que eu era.

Vendo que ele não iria dizer nada, viro na direção dos outros homens
e sorrio.

— É um prazer em conhecê-los — murmuro sorrindo.

— O prazer é nosso, Senhora Sartori — um homem que aparentava


estar na casa dos quarenta me cumprimentou com um sorriso galanteador.

Aproximei-me mais de Enzo que continuava me fitando por longos


segundos até que sorri na sua direção e comecei uma conversa com os
homens a nossa frente.
Nas horas seguintes fiquei ao lado de Enzo que se manteve tenso a
todo o momento. Olhando ao nosso redor, reparei que Perla olhava na nossa
direção e fazia uma careta toda vez que nossos olhares se chocavam.
Também vi Milena nos olhando por algumas vezes, mas toda vez que seu
olhar se encontrava com o meu ela levantava uma sobrancelha e balançava a
cabeça. Todos poderiam achar que eu era uma típica garota da máfia,
submissa e modelada para ser a esposa do Don e eu sou, mas algo que poucos
sabiam era que eu sou persistente, não sei desistir facilmente e me deixar cair
facilmente. Sabia muito bem o que Perla queria e não a faria ter seu desejo
sanado, Enzo poderia ser o que fosse, poderia me dizer as piores barbaridades
e fazer meu coração se despedaçar aos poucos e me destruir com um estalar
de dedos, mas eu iria mostrar a ele que não era tão fraca como aparentava,
que poderia ser mais forte do que demonstrava.
Capítulo 19

AYLA

Voltamos para a mansão algumas horas depois, sem dar boa noite
para Enzo e Milena, subi as escadas e entrei no quarto. Fico parada na frente
do espelho e olho para a minha imagem, qualquer pessoa que me olhasse
acharia meu casamento um dos melhores e que eu era paparicada pelo meu
marido, mas mal sabiam que tudo aquilo era para pensarem que éramos
perfeitos, até eu mesma cheguei a pensar que poderíamos ser perfeitos.
A vontade de chorar era grande, mas não iria me permitir fazer isso.
Minha atenção vai para o colar no meu pescoço, lembro como Enzo me
segurou contra seu corpo e me devorou com seus lábios, uma bela ilusão.
Suspiro e antes que eu tirasse aquele colar vejo outra pessoa no reflexo do
espelho. Enzo estava parado ali, me olhando seriamente com as mãos nos
bolsos.

Não tínhamos nos falados desde o escritório e sua bela ameaça, não
me importei com suas verdadeiras palavras ditasse e nem se nos falávamos
ou não, o silêncio era melhor do que gestos que poderia machucar ainda mais
meus sentimentos.
Prendo meus cabelos com rapidez e tiro o colar colocando em
qualquer canto. Passo por ele e entro no banheiro, tirei toda maquiagem e fiz
minha higiene. Troco de roupa e coloco o pijama mais confortável naquele
momento. Ao voltar para o quarto encontro Enzo sentado em uma poltrona e
dessa vez ele tinha uma bebida em mãos.

Guardo minhas coisas no seu devido lugar e me preparo para deitar na


cama, mas Enzo me para.

— O que aconteceu no escritório...

— Não precisamos falar sobre isso — o interrompo. — Entendo o seu


ponto de vista. Sou a esposa da máfia e não a sua, e você já tinha deixado
bem claro que não iria se prender apenas a uma mulher, então o erro foi meu
em achar que você iria me respeitar na frente daquelas pessoas, mas não se
preocupe esse erro não irá se repetir, Sartori.

Deito-me na cama e fico de costas para ele, mas sentia sua atenção em
mim. Nunca tinha sido tão direta, mas era necessário porque cada vez que ele
usava uma palavra dura comigo, levava uma parte de mim, aos poucos estava
sendo despedaçada e em breve não iria restar nada de mim.

Esperei o sono vir, mas não veio, não sei quanto tempo passei deitada
na cama ou quanto tempo ele ficou ali sentado me olhando. Mas em um
momento a cama afundou um pouco e senti sua presença atrás de mim. Fecho
com força meus olhos e minha respiração fica suspensa quando sua mão
passeia pela curva da minha cintura.
Seu rosto se encaixa na curva do meu pescoço e sinto sua respiração
fazer cócegas na minha pele. Meu corpo rapidamente reagiu ao seu contato,
mas a minha consciência estava ali presente, me mostrando que ele só queria
usar meu corpo como nas outras vezes, que os seus gestos eram somente
carnal e nada sentimental, se tivesse algum sentimento naquilo tudo ele não
demonstrava e conseguia esconder muito bem.

— Enzo — minha voz sai entrecortada.

— Odiei ver outro homem tocando você — sua voz era rouca e
reverberou contra meu corpo inteiro. — Senti raiva me consumindo
completamente.
Sua boca toca meu pescoço e deslizou para cima e para baixo.
Odiava-me por não conseguir afastá-lo, de deixar meu corpo cair nas suas
investidas.

— Você estava com outra mulher — lembro-o e tento tirar sua mão
da minha cintura, mas foi em vão, Enzo me fez deitar de barriga para cima e
encará-lo.

— Perla não é nada para mim.


— Como também não sou para você — rebato o olhando fixamente.
— Você deixou bem claro isso, não sou nada sua, então isso também me dá o
direito de dizer que você não é nada meu.

— O que você...

— Esqueceu que me chamou de patética? — Levanto as sobrancelhas.


— Você quer trepar com uma patética?

Surpresa fica estampada em seus olhos e ele fica alguns instantes sem
reação e aquilo foi gratificante.

— Vá atrás de alguém que não seja patética — tiro seu braço do meu
corpo. — E me deixe dormir.
Viro mais uma vez de costas para ele e com todas as minhas forças
faço meu corpo dormir e não me importar com as consequências dos meus
atos imprudentes. Enzo não iria me usar como das outras vezes, eu não iria
me deixar cair em tentação, seria mais dura comigo mesma e mostrar que era
muito mais do que alguém que esquentava a cama dele.

Mesmo que isso o faça procurar a Perla?

Essa era a escolha dele, Enzo escolheria qual caminho seguir, ele não
era uma criança e sim um adulto chefe de uma facção criminosa.

(...)

Os dias seguintes não foram os melhores, minha convivência com os


Sartori era quase impossível, de um lado tinha Milena que a qualquer custo
tentava tirar minha paciência e me provocava a cada oportunidade, dizendo
coisas que mulher como eu não gostava de escutar. Ela falava de Perla a todo
o momento e mostrava seu desprezo por eu estar ali e casada com seu irmão.
E do outro, Enzo que era quase um fantasma, o vi em poucas ocasiões na
hora do jantar e para dormir. Ele não tentou se aproximar novamente quando
estávamos na cama e às vezes me perguntava se tinha feito à coisa certa ao
afastá-lo daquela maneira, mas logo tirava esse pensamento da cama e dizia
para mim mesma que sim, tinha sido o certo, eu tinha que me valorizar e não
querer migalhas dele.

Nos dias que se passaram consegui ver algumas vezes minha mãe e
ver como estava sua saúde mental que não era uma das melhores, conseguia
ver como ela estava debilitada e às vezes não conseguia me reconhecer de tão
dopada que ficava. Sinto-me uma inútil por não conseguir ajudá-la, não
conseguia fazê-la procurar um tratamento. Sinto-me um fracasso de filha por
isso e cada vez que voltava da casa onde vivi minha infância e adolescência
me sentia deprimida e me trancava dentro do quarto tentando diminuir aquela
angústia. E hoje era um desses dias, fui visitá-la e ela estava dormindo, dona
Lídia que estava cuidando dela cada vez mais, disse que fazia quase dois dias
que ela dormia e mal acordava. Perguntei pelo meu pai e ela disse que ele não
dava sinal de vida há quase uma semana, minha mãe sentia falta dele e se
dopava ainda mais. Não consegui controlar meu choro e chorei na frente da
mulher que me viu crescer, dona Lídia me abraçou forte e disse que tudo iria
ficar bem que minha mãe iria melhorar, mas eu sabia que isso era promessas
inválidas, porque quando eu era mais jovem ela dizia isso para mim e minha
mãe nunca ficou melhor, foi ao contrário ela só fez piorar durante esses anos.
Sento-me na poltrona do quarto e a imagem da minha mãe jogada na
cama, pálida quase sem vida vem a minha cabeça. Será que era assim ficar
dependente de alguém que não nos amava?

Solto um suspiro passando as mãos pelo rosto e tentando não pensar


nisso. Era estranho pensar que poderia me tornar minha mãe, que iria preferir
as migalhas de Enzo a desejar ser amada de verdade.

Estava prestes a procurar alguma coisa que me ocupasse a cabeça


quando a porta foi aberta e Enzo entrou. Franzo as sobrancelhas ao vê-lo no
meio do dia, era coisa rara de acontecer, já que ele sempre estava fora
resolvendo alguma coisa da máfia ou da empresa.
— Aconteceu alguma coisa? — Levanto as sobrancelhas.

— Não — me olha. — Só vim pegar uma pasta que deixei no closet.

Acenei e o vi seguir para o closet e voltar alguns minutos depois com


uma pasta de couro na mão.
— Soube que visitou sua mãe.

— Fui ver como ela estava — olho para as janelas. — Cada dia ela
está pior.

— Sinto muito — volto a prestar atenção quando ele diz isso.


— Também sinto — forço um sorriso. — É uma merda depender de
alguém que não se importa com você.

Enzo levantou as sobrancelhas escuras e logo percebo o que acabo de


dizer.

— Desculpe — digo sem jeito.


Enzo continua me olhando e sinto meu rosto enrubescer e quase solto
um suspiro quando ouço meu celular tocar, pego o aparelho, vejo o nome de
Laura e começo a estranhar.

— Laura? — Atendo sua ligação e continuo olhando para Enzo.

— Sinto muito por ligar essa hora, mas eu preciso da sua ajuda —
ouço seu soluço do outro lado da linha.
— O que aconteceu?

— Piero, ele... — soluçou ainda mais.

— Calma, estou chegando.

— Obrigada.

Desligo e me levanto rápido.


— O que houve? — Enzo franze a testa.

— Laura precisa da minha ajuda.

— Ayla...
— Ela é minha prima Enzo, e a única pessoa que confio, então preciso
ajudá-la.

Fico aliviada por ele não tentar me impedir e saio da casa já entrando
em um carro com um segurança, seguindo para a casa de Laura que não era
muito longe dali.

Capítulo 20
AYLA

No momento que cheguei à casa de Laura fui recebida por uma das
empregadas que sorriu na minha direção.
— Deseja tomar alguma coisa senhora? — Me olha com admiração.

— Não, obrigada — sorrio. — Onde Laura está?


— No quarto dela, quer que eu a chame?

— Não é preciso — balanço a cabeça. — Só me diga onde é o quarto.

A mulher me informa onde fica o quarto, sigo para as escadas e pelo


corredor grande bem iluminado. Paro na terceira porta do corredor e dou uma
leve batida na porta.
— Entre — escuto sua voz suave vir do outro lado da porta.

Abro a porta do quarto e coloco a cabeça dentro do cômodo e


encontro Laura sentada na cama. Entro no seu quarto, quando Laura me vê
ela não espera um só segundo e corre para os meus braços, me abraçando
fortemente quase nos derrubando no chão.

— Calma — abraço ela e passo minhas mãos nas suas costas. — O


que aconteceu?
— Eu... — ela parou e soltou um soluço.

— Vamos nos sentar.

A levo até a cama e nos sento lá, Laura levou um tempo até conseguir
respirar normalmente e conseguir dizer o que tinha acontecido.
— Piero ficou furioso por eu não ter engravidado — fungou tirando o
cabelo da frente do seu rosto e vejo um grande hematoma no lado esquerdo
do seu rosto.

— Ele fez isso com você? — Aponto o machucado no seu rosto.


Laura balança a cabeça e joga seu cabelo no machucado. Olho para
seu corpo e percebo que ela estava somente coberta por um robe de cetim e
nada.

— Piero lhe machucou além do rosto? — Questiono-a.

Laura não me responde e seu corpo volta a tremer, naquele simples


gesto eu soube que sim. Novas lágrimas voltaram a molhar seu rosto e ela
soluçava mais uma vez.
— Eu deveria estar grávida — sua voz sai rouca e ela abraça o
próprio corpo. — Mas eu não consegui.

— Porque não é o momento Laura — seguro seu braço.

— Desde que me casei com ele eu tento engravidar Ayla — ela me


olha com vergonha. — Já fui a minha ginecologista e ela disse que eu não
tenho problema para ter filhos, mas eu não consigo ter um filho de Piero.

— Talvez o problema não seja com você e sim com Piero.

— Não tem como ser com ele — ela se levantou e suspirou. —


Esqueceu que ele tem um filho do primeiro casamento?

Não tinha como esquecer, o filho de Piero, Kurt Gambino era o seu
sucessor quando se aposentar e tomaria o poder do pai.
— Isso não quer dizer nada — levanto e me aproximo dela. — Talvez
ele não tenha tanto... Vigor como antes.
Laura balança a cabeça, solta uma risada e logo rio com ela, mas
paramos quando seu rosto contorceu com uma careta.

— O que foi?
— Minha costela — sua voz sai embargada e ela toca na lateral do
corpo.

Fico tensa e me aproximo mais, e sem pedir autorização abro seu


robe, olho para seu corpo nu. Logo vejo a lateral do seu corpo com um
grande hematoma roxo e inchado.

— O que...
— Ayla, por favor — ela tenta se afastar.

— Aquele idiota fez isso com você? — Olho-a furiosa. — Como ele
teve coragem?

— Piero estava com raiva pelo teste de gravidez não ter dado positivo
— tenta justificar. — Ele só me bateu com mais força.
— Não fale como se fosse normal — digo raivosa.

Laura consegue se afastar e cobrir seu corpo impondo uma grande


distância entre nós.

— Para mim é Ayla — disse olhando para qualquer lugar que não
fosse para mim. — Sou agredida quase todos os dias e isso se tornou natural,
algo que não posso fingir não acontecer.
— Isso é errado.

— Claro que é — falou chorosa. — Mas no momento que você casa


com um homem poderoso dentro da máfia, ninguém pode fazer nada, nem os
meus pais podem me ajudar.
— Não posso deixar que ele lhe bata mais uma vez.

— Você não pode fazer nada.

— Sim eu posso — falo convicta. — Ser mulher do Don deve ter


alguma serventia.

Laura sorriu ao mesmo tempo em que cruzou os braços em cima dos


seios.

— Lembre-se que não temos voz dentro da famiglia, somos somente


moeda de troca, valemos poder e riqueza.
— Mas...

— Ayla — ela me corta e olha seriamente. — Lhe chamei aqui


porque não quero ficar sozinha, porque tenho medo que... Eu mesma me
machuque.

— O que você quer dizer com isso?


— Nada — sorriu fracamente.

Solto um suspiro e aceito sua decisão de não querer me contar sobre o


que se passa.

— Onde fica o banheiro?


Ela indica com a cabeça e sigo, quando entro me espanto com a
quantidade de teste de gravidez jogados no chão e seguro a vontade de
vomitar quando vejo algumas manchas de sangue no chão. O que aquele
homem tinha feito a Laura?

Focada a encontrar algo que pudesse ajudar no machucado do rosto de


Laura e costela abro algumas gavetas debaixo da pia, mas não encontro
nenhuma maleta de primeiros socorros. Volto para o quarto e encontro-a
ainda parada ao mesmo lugar.

— Não encontrei nenhum kit de primeiro socorros.

— Acho que Patrícia tem no andar inferior — sussurrou.

— Podemos ir para minha casa e lá um médico a examina


adequadamente.

— Não é necessário Ayla.

— Faço questão.

— Os machucados irão sarar rapidamente — fez uma careta. —


Então...

— Vamos para minha casa Laura — afirmo com o tom sério. — Vista
algo ou então vai somente com esse robe.
Laura soltou uma lufada de ar, andou até o closet, voltou alguns
minutos depois com uma calça jeans clara folgada e camiseta preta também
folgada. Era a primeira vez que a via tão básica, sempre Laura surgia com
saltos, vestidos colados e bem maquiada, nesse momento ela não parecia
nada com a minha prima que conhecia há anos, às vezes era necessário
mostrar aos outros, o que queriam ver, ao invés de mostrar o que realmente
somos. Laura parecia uma mulher frágil e que estava prestes a ruir, mas eu
estaria ali para dar-lhe força, porque família era para isso, cuidar daqueles do
nosso próprio sangue.

— Estou pronta.

Ajudei-a descer as escadas e quando estávamos próximas à porta de


entrada fomos paradas pela mesma mulher que me recebeu, Laura tinha dito
que se chamava Patrícia.
— Senhora Gambino, o seu marido deu ordens para a senhora não sair
— nos olha assustada.

— Ela sairá comigo — olho para a mulher.


— Mas não posso deixar.

— Ligue para o seu chefe e diga que Ayla Sartori convidou a esposa
dele para um passeio, tenho certeza que ele não irá se importar com isso.

— Eu...

Sem esperar que ela dissesse mais alguma coisa, puxo Laura para fora
da casa e a levo até o carro, um segurança abriu a porta para nós. Assim que
nos acomodamos nos bancos, Laura me olha com as sobrancelhas levantadas.

— O que foi?

— Nunca lhe vi desse jeito.


— Conviver com os Sartori está me deixando desse jeito.

Laura segura minha mão e aperta levemente.

— Obrigada.

— Não agradeça — sorrio. — Somos família.

Uma lágrima solitária deslizou pelo seu rosto e ela sorriu ainda mais.

(...)

Entramos em minha casa, levo-a até a sala de estar onde disse que
pegaria algum kit de primeiros socorros e daria um jeito naqueles
machucados. Sem Laura perceber vou até o escritório de Enzo rezando para
que ele estivesse ali. Bato de leve na porta e segundos depois veio à resposta.

— Entre.

Adentro no escritório e olho para os dois homens a minha frente.

— O que deseja Ayla? — Meu marido me olha.

— Preciso da sua ajuda — murmuro olhando de relance para a outra


pessoa ali.

— Para o que exatamente?

Contorço meus dedos, olho de Enzo para Domênico e volto para o


meu marido.

— Preciso que chame o médico da família.


— Você se machucou? — Se levantou me examinando dos pés a
cabeça.

— Não... — Balanço a cabeça e suspiro.

— Então para que precisa do médico?


— Enzo — sinto meu corpo completamente tenso. — Por favor.

— Para quem é o médico Ayla, me diga agora.

Viro para Domênico que permanecia calado e nos olhava com certo
divertimento.
— Domênico você poderia me dar o número do médico? — Ignoro o
olhar repreensivo do meu marido e sorrio docemente para o outro homem.

— Eu não sei se...

— Por favor.
— OK — ele anotou rapidamente o número em um papel e me
entregou.

— Obrigada.
Saio do escritório sem olhar para Enzo e sabia que mais tarde eu
arcaria com as consequências de minha insolência, mas não iria pensar sobre
isso nesse momento. Laura precisava de mim.

Voltando para a sala ligo para o médico da família, peço que venha
urgentemente para a casa dos Sartori e desligo. No caminho entro na cozinha,
pego gelo para o rosto de Laura e um copo d’água.

— O médico chegará daqui a poucos minutos — aviso-a assim que


me sento ao seu lado, estendo o copo na sua direção e o saco com gelo.
— Não era necessário.

— Claro que é, precisa examinar suas costelas e seu rosto também.

— Essa não é a primeira vez que acontece Ayla — ela me olha triste.
— E não vai ser a última.
— Me sinto impotente por não conseguir fazer nada para mudar isso
— sou sincera e olho para frente. — Primeiro é minha mãe, agora você, quem
será o próximo que verei se machucar e não poderei fazer nada?

— Você já está fazendo algo Ayla — ela segura minha mão. —


Ninguém teve coragem de me tirar daquela casa e cuidar de mim desse jeito,
então se sinta bem fazendo isso.

— Só me sentirei bem ao saber que Piero não irá encostar as mãos em


você.
— Sabe que não pode evitar isso.
— E isso me deixa mal.

Minutos depois o médico chegou e examinou Laura, disse que ela não
tinha fraturado nenhuma costela, aquele hematoma sairia em alguns dias e o
inchaço do seu rosto também. Ele passou alguns remédios para dores e um
calmante para que ela pudesse descansar. Medicada levei Laura para um dos
quartos de hóspedes e acompanhei o médico até a porta.
— Ela ficará bem?

— Sim — ele me lança um sorriso acolhedor. — A pancada que ela


levou foi forte, mas nada que a fizesse fraturar alguma coisa, mas diga para
ela tomar cuidado nos próximos dias. Se sentir dor na cabeça ou no corpo é
só me ligar que retorno.

— Certo, obrigada doutor.


Fecho a porta da frente e ao voltar para a sala encontro Enzo, me
aguardando.

— O que está acontecendo?

— Nada.

— Não minta para mim — me olha friamente.

— Laura está machucada e decidi trazê-la para cá, o médico a


examinou e passou alguns remédios, ela ficará bem.

— Ayla, você não pode trazer qualquer pessoa para dentro de casa.
— Ela não é qualquer pessoa, é minha prima.

— Tanto faz — suspirou. — Recebi uma ligação de Piero Gambino,


ele disse que você entrou na casa dele e tirou sua esposa de lá contra a
vontade dela.
Solto uma risada e sinto meu sangue ferver de raiva.

— Se você olhar para Laura verá se ela saiu contra a vontade —


murmuro corajosamente. — Verá nos olhos dela que ela também não queria
ficar naquela casa.
— Você não pode se meter em assunto que não é da sua conta.

— Laura é minha prima, minha família — sinto minhas mãos


tremerem. — Não iria deixá-la naquela casa.

Enzo passa as mãos pelos cabelos e solta uma lufada de ar.


— Não sei o que faço com você — vociferou. — Parece que a cada
instante você testa minha paciência, me levando ao ponto de enlouquecer!

— Não faço isso porque quero — revido com o tom baixo.

— Mas parece que sim.


Cruzo meus braços sobre o meu corpo e tento acalmar meus ânimos
que estavam a mil. Eu não era desse jeito, parecia que estava sendo dominada
por algo que me fazia agir impulsivamente.

— O que você fará sobre Laura? — Mudo de assunto e respiro fundo.

— Ela poderá ficar essa noite aqui — ele suspira. — Mas amanhã ela
voltará para casa.
Um pequeno sorriso cresce em meu rosto, contenho a vontade de
abraçá-lo e beijar sua boca. Ainda não estávamos bem, na verdade nem sei
quando estivemos.
Capítulo 21

AYLA

Laura acordou algumas horas depois e a sua aparência estava um


pouco melhor. Ofereci comida e perguntei se ela queria tomar banho. Calada
ela aceitou, caminhou meio tensa até o banheiro, tomou seu banho e voltou
para o quarto enrolada num roupão.

— Eu deveria voltar para casa — murmurou roucamente. — Piero


deve estar a minha procura.
— Enzo conversou com ele — digo ajeitando a bandeja de comida. —
Você ficará essa noite aqui.

— Eu não deveria — balançou a cabeça. — Mas obrigada.

— Não agradeça — indico a comida. — Coma e descanse, amanhã


será um longo dia.
— Nem que eu pudesse irei conseguir retribuir o que você está
fazendo por mim.
— Eu não faço isso por querer algo em troca Laura — sorrio. — Faço
isso porque quero e isso basta.

Ela suspirou e se sentou na cama, pegando um pedaço de mamão e


mastigando.
— Coma, daqui a pouco alguém vem buscar a bandeja — me
aproximo da porta. — Tenha uma boa noite Laura.

— Você também Ayla.

Saio do quarto e entro no meu, tiro minha roupa, caminho até o


banheiro entro embaixo do chuveiro e deixo a água morna cair sobre meu
corpo cansado. Lavo meus cabelos com cuidado e logo depois faço o mesmo
com o meu corpo. Sinto-me cansada e precisava de uma boa noite de sono,
isso iria me ajudar para enfrentar o dia seguinte que seria longo.
Mas a ideia de dormir some completamente quando sinto um corpo
atrás de mim. Viro a cabeça de lado e encontro Enzo completamente nu. Ele
se aproximou vagarosamente e seus braços rodearam minha cintura,
puxando-me de encontro ao seu corpo completamente duro. Ofego baixo ao
sentir seu membro duro na base das minhas costas.

Seu nariz inalou meu cabelo recém-lavado e foi baixando até chegar a
meu ombro, sinto sua boca beijar e lamber as gotículas de água ali.

— Enzo — minha voz sai roucamente.


— Não consigo manter mais essa distância entre nós — murmurou
beijando meu ombro e pescoço. — Necessito de você.

Fico dividida entre me render aos seus braços ou me afastar como da


última vez. Algo me pedia para sair dali e manter a distância, mas meu corpo
pedia para eu ficar, para matar a saudade que sentia dele, do seu toque, dos
seus beijos.

— Não posso...

— Claro que pode.

Viro dentro dos seus braços e seguro seu rosto entre minhas mãos,
fixo nossos olhos, o seu estava tão escuros que pareciam querer me levar para
o precipício.

— Não consigo — balanço a cabeça e sinto a vontade de chorar me


dominar. — As palavras que você me disse ainda estão vivas na minha
cabeça.
— Ayla...

— Saber que você não sente nada por mim, machuca e muito —
confesso e sinto um alívio por isso. — Sei que nosso casamento não é por
amor, mas pelo menos queria que você tivesse um pingo de respeito por mim,
que se importasse com o que as outras pessoas iriam pensar, mas você não se
importa com nada.

— Desde o começo você sabia como seria.

— Sim eu sabia — balanço a cabeça e passo a língua pelos meus


lábios. — Para uma mulher como eu, que viveu vendo os seus pais se
odiando, onde seu pai agride sua mãe e ela se dopa todos os dias para
esquecer a dor. É horrível, passei por isso desde criança, Enzo.

Ele continua parado me deixando falar e isso era bom, porque não
conseguia guardar aquilo dentro de mim.

— Quando soube que iríamos nos casar, desejei por um segundo que
minha vida fosse diferente ao seu lado, que você se importasse comigo, que
ligasse para os meus sentimentos.
— No mundo em que vivemos sentimentos é para os fracos — ele me
corta.

— Então eu me permito ser fraca — sinto a primeira lágrima deslizar


pelo meu rosto. — Porque é melhor ser fraca do que viver uma vida sem
sentimentos, sem cor.
— Eu não posso ser o que deseja que eu seja — percebo seu corpo
completamente tenso e temia que ele saísse e se distanciasse para sempre.

— Eu não quero que você seja nada — passo meus dedos pela sua
bochecha. — Só quero que você me respeite, que aja como meu marido, que
seja você.

— E você acha que eu não sou eu?


— Ninguém é vazio cem por cento todas as horas Enzo — franzo a
testa. — Ninguém é solitário.

— Fui criado para ser desse jeito.

— Você é algo que as pessoas querem que você seja — toco seus
lábios. — Mas me mostre o seu lado que ninguém sabe.

— Não sei se posso.

— A decisão é sua, Enzo — me afasto. — Só peço que não seja


aquele homem da festa que me disse palavras horríveis, que me magoou, me
trate como sou, seja legal.

Sai do chuveiro, me enrolei na toalha, sigo para o quarto, troco de


roupa e deito na cama. Enzo demorou mais alguns minutos ou talvez horas
dentro do banheiro, mas quando estava quase me rendendo ao sono sinto a
cama se afundar e sua presença atrás de mim.
— Não posso prometer nada — sua voz era um sussurro. — Mas
tentarei.

Seguro a vontade de virar para ele e abraçá-lo, continuando na mesma


posição, fingindo que estava dormindo. Talvez eu tenha conseguido alcançar
algum lugar dentro de Enzo, talvez tenha o feito ver como estava sendo rude
comigo. E nesse momento me sinto consumida pela felicidade.

(...)

ENZO

— Acho que estou vendo alguém suspirar — a voz de Domênico


reverbera pelo escritório.
Olho na direção dele e vejo um sorriso prepotente.

— O que você quer Domênico? — Falo voltando minha atenção para


o notebook e para o e-mail que estava a horas escrevendo.

— Humm tem um garotinho sensível hoje — continua zombando e


pela visão periférica o vejo se servir de uma bebida.
— Não está cedo para beber?

— Ah, meu amigo precisamos de uma bebida para o que vim dizer —
ele parou na minha frente e estendeu um copo na minha direção.

Pela forma que me lançou um olhar nada agradável soube que nada
estava indo realmente bem. Pego o copo que ele me dá e bebo um pouco do
uísque.
— Vamos logo ao ponto.

Domênico se sentou à minha frente e deu atenção para sua bebida que
rodava dentro do copo. Pelo que o conhecia ele não era de enrolar em
assuntos do meu interesse e vê-lo retardar o assunto era algo estranho.
— Domênico...

— Roubaram a nossa carga — murmurou bebendo todo conteúdo do


copo.

— O quê? — Sinto meus olhos se destacar rapidamente, mas logo


recobro o controle e começo a pensar qual o tipo de carga. — Não me diga
que é...
— Sim, as armas.

— Filhos da puta!

— Posso concordar.
— Como você pode deixar isso acontecer?

— Epa — ele levantou as mãos. — Quem estava comandando essa


carga era o Gambino.

— Gambino?
— Sim — ele ajeitou seu paletó. — Parece que ele estava bastante
ocupado comendo alguma puta num puteiro, mais do que vigiar a carga
direito.

De repente escuto um arquejo e nós viramos a cabeça para a porta


onde estavam Ayla e Laura nos olhando. Merda. Ayla está com os olhos
arregalados e a sua prima tinha uma expressão neutra, parecia não estar se
importando com nada, mas não consigo evitar olhar para a marca no seu rosto
que era bem visível.

— Desculpe por não bater na porta, pensei que não tivesse visita —
Ayla murmurou em um tom baixo.
— Sem problema — murmuro sem me importar se elas tinham
escutado o que Domênico tinha falado. — O que vocês querem?

— Vim só dizer que levarei Laura para casa.

— Certo.

Pego meu copo em cima da minha mesa e viro para Domênico que
ainda estava olhando a porta, especificamente para a mulher ao lado da
minha. Estreito os olhos na direção dele e como se percebesse que estava o
observando ele virou e levantou uma sobrancelha.

— Não demore Ayla — digo olhando para Domênico.

— Certo.
Ao escutar a porta ser fechada Domênico se jogou na cadeira a minha
frente.

— Você viu o estrago que está o rosto dela?

— Vi, Gambino não poupou dessa vez — respondo sem me importar.


— Você tem coragem de bater em uma mulher?

Levanto as sobrancelhas pela sua pergunta e até acho engraçado a


forma que ele me olha.

— Já matamos mulheres, crianças e fizemos coisas piores do que


bater em mulheres, porque essa pergunta?
— Não sei — deu de ombro. — Só acho muito escroto um homem
bater na própria esposa.

Era coerente o que ele estava falando, mas não iria ficar pensando
sobre isso nesse momento, tinha algo mais importante no que pensar.
— Hummm — balanço a cabeça —, voltando à conversa de quanto
estamos falando em relação ao estrago da carga?

— Muito, muito, muito, caro.

— Aquele filho da puta me paga.

— Se for bater estou dentro.

Capítulo 22

AYLA

O caminho até a casa de Laura foi feito em silêncio. Laura parecia


distante em seus pensamentos. Sua aparência estava um pouco melhor, pelo o
que ela tinha me dito, tinha conseguido dormir direito e tinha sido a melhor
noite em muito tempo. Laura também conseguiu se alimentar direito, mas
isso ainda não me deixava menos tensa, com medo pelo que poderia
acontecer com ela no momento que ficasse sozinha naquela casa e com seu
marido.

No momento que o carro parou Laura desafivelou o cinto e virou para


mim.
— Obrigada Ayla por cuidar de mim — me dá um pequeno sorriso.
— Não vou esquecer isso.

— Estou aqui para o que precisar — toco seu braço. — Qualquer


coisa é só me ligar que virei o mais rápido possível.

— Você também pode me ligar quando precisar.


— Pode deixar.

Fico no carro olhando-a entrar na casa e logo depois volto para a


minha, no momento que entro na sala sinto meu corpo paralisar
completamente. Minha atenção vai de Milena para Perla que estavam
sentadas no sofá e riam de alguma coisa, mas pararam assim que me viram.

— Cunhadinha — Milena se levanta e sorri. — Quer participar da


nossa tarde de garotas?
— Não obrigada — murmuro indo na direção das escadas. — Você
viu meu marido?

— Ele saiu com Domênico faz alguns minutos.

Acenei e subi para o quarto onde me mantive até a noite, jantei


sozinha na sala de jantar e logo depois retornei para o quarto. Já passava da
meia-noite quando a porta do quarto se abriu e vi Enzo entrando. Não fiquei
assustada com a hora que ele chegou, mas sim com o que vi em sua camisa.
Ela estava completamente manchada de sangue.
Largo o livro que estava tentando ler nas últimas horas e praticamente
corri na sua direção.

— O que aconteceu? — Olho-o assustada.

— Nada — ele passa por mim e em direção ao banheiro, o sigo, paro


na porta olhando-o tirar a camisa manchada de sangue e prendo a respiração
quando vejo um corte em seu peito.

— Você está machucado.

— Mas quem me atacou está pior — rosnou tirando o restante da


roupa.
Engulo em seco com o que ele diz e tento não imaginá-lo matando
qualquer outra pessoa, mesmo sabendo que essa era a nossa realidade.

— O que aconteceu? — Repito minha pergunta, mas dessa vez paro a


sua frente, toco no seu ferimento e o vejo prender a respiração. — Está
doendo?

— Já tive coisa pior do que um arranhão de faca — ele me olha com o


semblante sério. — E isso aqui não é nada grave.
— Mas está sangrando.

— Ayla...

— Posso cuidar disso — o interrompo já procurando o kit de


primeiros socorros em baixo da pia.
— Não precisa.

— Faço questão — volto para ele e indico o sanitário. Suspirando ele


se sentou e fico no meio das suas pernas abertas. — Não é grave, foi um corte
superficial.

— Sei disso — falou indiferente.


— Mas poderia ter acontecido coisa pior.

— E você se importaria com isso — sua atenção estava


completamente em mim.
— Por que não me importaria? — Levanto uma sobrancelha enquanto
passava álcool no ferimento, o qual Enzo não fez qualquer movimento como
não sentisse nada.

— Esse casamento não é o que você queria, não sou o marido que
você quer, nada disso é o que deseja — escuto cada palavra sua com atenção
e quando ele termina de falar acenei e ele continua — Você deveria desejar a
cada segundo do seu dia que eu morresse e recebesse a notícia que será viúva.

— E assim eu ficaria livre de você e desse casamento — concluo


quando termino o curativo. — Mas não podemos esquecer que sou jovem e
estou na faixa dos vinte e isso não iria impedir que meu pai me casasse com
outra pessoa, a não ser que eu tivesse um filho seu, pois eu não poderia me
casar novamente, já que teria um filho do meu falecido marido, e se fosse um
filho homem ai ele poderia ocupar a cadeira do pai.
— Bem pensado Sra. Sartori — me olha profundamente.

— Mas você está vivo, e desejo que continue assim — revelo me


afastando e guardo o kit.

— Por que não quer que eu morra?


— Estar casada com você não é tão ruim assim — encosto-me a pia.
— Poderia ser pior.

Enzo se levantou e parou alguns centímetros, me fazendo levantar um


pouco a cabeça para fitá-lo direito.

— E na noite passada — paro por um segundo e abro um pequeno


sorriso. — Escutei quando você disse que não poderia prometer, mas que
tentaria.

Ele se manteve neutro e sua aproximação estava fazendo rebuliços no


meu corpo, desejando que ele me tocasse e aproximasse nossos corpos de
uma vez por todas, que desse fim naquela tortura que fazia comigo.
— Então tente — toco seu rosto e passo meus dedos pela sua
bochecha e logo depois na sua barba onde fico entretida por alguns segundos.
— Me mostre alguma evidência de humanidade Enzo, me mostre alguma
coisa boa disso tudo. E não me importo se no final você desejar outra mulher
mais do que a mim.

Finalmente sinto o contato da sua pele na minha e aquilo parecia o


paraíso, era como se meu corpo estivesse enlouquecendo sem ele, como se
estivesse morrendo. Por um segundo quis fechar os olhos e saborear aquele
simples toque.

— Deveria evitá-la — seu tom era baixo e controlado. — Deveria


desejar estar com qualquer outra mulher, mas você não sai uma porra de um
segundo da minha cabeça.
— Isso deve ser bom — minha respiração já se encontra ofegante.

— Para mim não é.

Antes que eu consiga formular qualquer palavra a sua boca já está na


minha, arrancando toda e qualquer linha de raciocino da minha cabeça. Suas
mãos me prenderam contra seu corpo e logo sinto seu membro contra minha
barriga. Seguro seus cabelos entre os meus dedos e sinto meu corpo amolecer
enquanto sua boca devora a minha. Sua língua é impiedosa e deixa qualquer
parte minha em chamas.
Seus braços foram para as minhas pernas, logo me vejo suspensa e em
segundos sentar no mármore da pia. Enzo se enfiou entre minhas pernas, suas
mãos grandes e ásperas passeiam pelas minhas coxas, com esse movimento
ele sobe minha camisola.

Em instante estou sem a camisola e fico entre seus braços somente de


calcinha. Tomo cuidado de não tocar no seu curativo, desço minhas mãos
pelo seu abdome delineando, paro no cinto da sua calça que abro rapidamente
juntamente com sua calça. Com as mãos trêmulas as desço e escuto seu
resmungo quando toco seu pênis por cima do tecido da sua boxer.
Sua mão vai para cima da minha e me incentiva a continuar,
vagarosamente coloco minha mão dentro da sua boxer e seguro seu pênis que
estava duro. Enzo solta uma respiração dura enquanto movimentava minha
mão para cima e para baixo mantendo sua boca na minha, deixando-me
completamente desejosa.

Enzo se afastou por alguns segundos tirando sua calça e boxer, mordo
meu lábio inferior ao ver seu membro pulsante completamente ereto.

— Tira a calcinha — ordena enquanto segurava seu membro e fazia


movimentos para cima e para baixo.

Aquilo me deixou ainda mais acesa e desajeitadamente retiro minha


calcinha, jogo a peça para o lado.

— Se toque para mim — disse movimentando seu olhar pelo meu


corpo.

Arregalo meus olhos pelo o que ele diz e antes que eu diga qualquer
coisa, fica perto, e segura meu queixo com o indicador.
— Imagine que sou eu lhe tocando — beija a ponta do meu nariz e
desce seus lábios pela minha têmpora. — Se toque.

Com os olhos fechados desço minha mão pela minha barriga e toco
minha intimidade que se encontra encharcada, encontro aquele pontinho
pulsante entre minhas pernas. Meus dedos circulam naquela região, me vejo
encostada no espelho soltando alguns gemidos baixos e balbuciando coisas
incoerentes.
— Coloque mais pressão.

Faço o que ele manda e me vejo perto de um belo orgasmo. Arqueio


minhas costas e antes que eu gozasse Enzo tirou minha mão e numa única
estocada penetrou meu canal pulsante. Solto um grito e abro meus olhos o
fitando com desejo, luxúria.

— Apertada — rosnou segurando meus quadris e se mantém parado


por alguns instantes.
Seguro seu ombro soltando alguns gemidos quando ele começa a se
movimentar para dentro e fora do meu canal e cada vez que ele escorregava
para dentro colocava mais impulso, me levando a loucura.

— Enzo — seguro seus cabelos da nuca e me sinto cada vez mais


próxima do meu clímax.

— Goze para mim — beija meu queixo e sinto seu membro me


penetrar com vigor.
Como se tivesse apertado um botão em mim, senti-me explodindo em
milhões de pedaços e logo depois foi à vez dele que apertou ainda mais meu
quadril e soltava alguns resmungos.

Recostei-me no espelho mais uma vez e abro meus olhos lentamente,


sentindo-me sonolenta prestes a cair em um belo sono.
— Isso — solto uma risada e balanço a cabeça. — Uau.

Enzo saiu de dentro de mim com delicadeza e me pegou em seus


braços.
— Vamos tomar banho e deitar.

Agarro-me em seu colo e deixo-o me levar para o chuveiro e lavar


meu corpo. Não sei se seria capaz de fazer isso, mas suas mãos
movimentando em meu corpo foram perfeitas.
Capítulo 23

AYLA

— Tem alguém suspirando pelos cantos — Laura disse rindo


enquanto bebia seu café.

— Estou feliz — falo sem conseguir controlar o sorriso que


estampava meu rosto durante essa semana.

— Isso é bom — me olha animada. — Enzo está sendo um príncipe


encantado?
Franzo o cenho quando ela diz isso. Não posso dizer que ele está
sendo exatamente assim, ele era... Não tenho palavras para descrever como
Enzo é. Talvez intensa seja a palavra certa ou complicada. Complicado
combina mais com ele.

Fazia três semanas que estávamos dando um jeito em nossa situação.


Não vou dizer que estava sendo o mar de rosas que sempre sonhei, mas sim
uma lição para cada dia que passávamos juntos. Enzo não era fácil de si lidar,
era fechado na maioria das vezes e intenso quando estávamos sozinhos. Em
pequenos gestos eu conseguia ver como ele poderia ser cuidadoso e, com
certeza, possessivo. Nessas semanas tínhamos jantado fora duas vezes, claro
nunca é um encontro só nosso, são para os seus negócios com alguns
empresários e também associados. Quando o acompanhava sempre me
mantive calada e escutando tudo ao meu redor.

Assuntos da famiglia não eram do meu interesse, mas aprendi


convivendo com Enzo que é sempre melhor nos mantermos calados, pois
assim prestamos mais atenção do que aqueles que falam demasiadamente.
E também posso dizer que nesses eventos Enzo se tornava mais
possessivo quando estávamos a sós, sinto meu rosto esquentar ao lembrar
como ele me imprensou na porta no último jantar, como me fez gemer e
gritar pelo seu nome. Tinha percebido que ele gosta quando chamo o seu
nome, via seus olhos acinzentados brilharem quando balbucio seu nome.

— Enzo não é um príncipe — murmuro bebendo meu café. — Ele


está mais para...

— Um ogro? — Levantou as sobrancelhas.


— Que sabe ser gentil quando quer? — Faço uma careta engraçada e
Laura gargalha com isso.

— Ogro gentil, nunca pensara nisso — meneou a cabeça. — Mas o


que importa é que você esteja feliz.

— Nesse quesito eu estou.


— E o que está lhe incomodando?

— Milena — suspiro só em pensar nela, aquela dali está sendo um


belo teste de paciência. — Você acredita que ela arrumou uma confusão
porque tentei mudar as cortinas da casa?

— Posso até imaginar ela cacarejando — revirou os olhos.


— Ela foi falar com Enzo que eu não poderia mudar a decoração da
casa blábláblá.

— E o que ele disse?

— Apenas olhou para ela e disse que eu poderia mudar a cor das
paredes que não se importava.

— Uau, ela deve ter ficado com a cara no chão.

— Quase isso — mordo meu lábio e sinto meu corpo se arrepiar


completamente só de lembrar o que aquela cobra fez. — Milena sumiu com
todas as minhas coisas.
— Não acredito — me olha embasbacada. — E o que aconteceu?

— Tive que renovar meu guarda roupa inteiro — olho para meu
vestido preto básico, mas que custava mais do que gostava de gastar.

— Vamos olhar para um lado bom — ela também me examina. —


Milena fez um favor se desfazendo das suas roupas cafonas, de adolescente.
— Pensei que iria sentir pena de mim — retruco. — E minhas roupas
não eram tão ruins assim.

— Claro que não — revirou os olhos balançando a mão. — Só era...


Fora de moda.

— Eu gostava das minhas roupas — lamento. — Mas Enzo me deu


essas roupas tentando redimir o que a irmã fez.
— E pelo que vejo ele tem bom gosto — sorriu. — Mas ele deu
algum castigo para Milena?

— Nada muito grande.

— Aquela megera...
— Ayla!?

Olho de lado e me surpreendo ao ver Jordan parado na frente da


minha mesa
— Jordan — me levanto. — Que surpresa vê-lo aqui.

— A surpresa é minha — disse sorrindo. — Não conseguimos mais


nos falar durante o evento há três semanas.

— Verdade — viro para Laura que olhava para o homem. — Jordan


essa é minha prima Laura.
— É um prazer conhecê-la — a cumprimenta dando um sorriso
charmoso.

— Igualmente — ela sorri. — Sente-se conosco.

Arregalo os olhos e se tivesse sentada teria chutado a perna de Laura


nesse instante. Era arriscado algum soldado de Enzo ver Jordan em minha
mesa e contar para o chefe. Viro na direção que possivelmente os soldados
disfarçados estariam, mas não encontro nenhum sinal dos homens. Onde eles
estariam?

Antes que eu pudesse impedi-lo de se juntar a mesa, Jordan se sentou


em uma cadeira e eu apenas pude forçar um sorriso no meu rosto tenso e
sentar também, sabendo que estava sentenciando minha morte naquele
momento.

— O que lhe traz aqui á essa hora Jordan? — Laura apoiou seu
cotovelo na mesa e olha interessada para ele.

— Tenho uma reunião marcada com o meu conselho — vejo-o


arquear a sobrancelha para ela e logo depois olhar para mim. — E o que duas
damas fazem aqui sozinhas?
— Maridos trabalhando, viemos consolar as nossas solidões — piscou
para ele.

— É casada?
Laura levantou a mão, mostrando o anel de casamento e noivado.

— E muito bem casada — o sorriso que ela deu para Jordan sabia que
não era verdadeiro, conhecia muito bem minha prima para saber que ela
estava demonstrando algo que não era. Mostrar uma felicidade que não
existia. — E você é casado?

— Não, ainda estou à procura da minha outra metade.


— Tenho certeza que você logo encontrará — mordeu o lábio.

— Mas acho que acabei de encontrá-la — ele deu uma piscadela para
Laura.

Isso estava começando a ficar estranho e perigoso. Tento chamar


atenção de Laura para ela parar aquela provocação, mas ela não me olhou e
vi-a mudar um pouco a postura e rir.
— É mesmo? — Olhou provocante para ele. — Posso saber como ela
é?

— Claro — ele se inclinou mais para frente. — Seus olhos são os


verdes mais lindos que já vi, sua pele a mais clara que poderia ser vista e seus
cabelos, ah esses são lindos e estonteantes...

— Quem é estonteante meu caro amigo? — Sinto meu corpo e


espinha se arrepiar completamente e meus olhos saltarem.
— Enzo, só estava dizendo...

— Não é legal galantear mulheres casadas Jordan — Enzo o corta. —


Não é honroso.

— Claro meu amigo — Jordan se levanta meio sem jeito. — Desculpe


se fiz algo errado.
— Que isso não se repita. — sinto a mão de Enzo no meu ombro. —
Ayla, querida temos um assunto para resolver, lembra?

Laura olha de mim para Enzo e Jordan, vejo-a completamente tensa,


posso até dizer que estava mais do que eu.

— Sim querido — me levanto pegando minha bolsa. — Você vem


Laura?
— Claro.

— Foi um prazer vê-lo novamente Jordan.

— O prazer foi meu.


Ao me virar para Enzo encontro Domênico um pouco atrás do meu
marido, ele não olhava para mim e sim para Laura.

— Vamos.

Acompanhei Enzo para fora do restaurante e paramos na calçada.

— Laura, Domênico irá levá-la para casa.

Minha prima rapidamente me deu um abraço e seguiu para um dos


carros estacionado na calçada. Enzo que ainda segurava minha mão me
arrastou até um carro, me fez entrar na porta traseira e fechou-a após se
acomodar ao meu lado. Logo ele apertou um botão e fez a divisória subir,
dando privacidade a nós.

— Ayla...
— Antes que você me acuse de algo que não fiz — o interrompo e
viro para ele. — Eu não tive culpa por ele ter sentado a mesa, Laura foi
imprudente por convidá-lo a se juntar a nós.

Enzo levantou as sobrancelhas pelo meu depoimento de defesa.


— E eu estava prestes a arrumar uma desculpa para ir embora

— Estava mesmo? — Me olha estreitando os olhos. — Porque aquele


filho da puta estava jogando charme para cima de você.

— Era para Laura — me defendo.


— Ele até poderia está olhando para ela, mas aquelas malditas
palavras eram para você.

Dou um pequeno sorriso vendo como Enzo parecia incomodado com


a demonstração de interesse de outro homem sobre mim. Desafivelo o cinto
de segurança e subo em seu colo, o pegando de surpresa.

— Mesmo que ele tenha feito isso — seguro seu rosto. — Eu não me
importo.
— Por que não?

— Só quero isso — beijo sua boca suavemente. — E nada mais


importa para mim.

— Nem um homem que mostra que sente algo por você?


— Não.

Enzo balançou a cabeça vagarosamente e fechou os olhos por alguns


segundos. Mordo meu lábio ao sentir suas mãos em minha cintura, logo
passearem pelas minhas costas e descansarem em minha bunda.

— Eu não mereço isso — me olhou intensamente. — Não mereço


essa devoção.

Balanço a cabeça sorrindo e encosto nossas testas.

— O importante é que estamos aqui — sussurro. — Nada, além disso,


importa.

Enzo captura minha boca na sua e solto um suspiro quando sinto


qualquer resquício de dúvida evaporar. Sabia que Enzo sentia algo por mim,
mesmo que na mais profundeza do seu coração duro, mas ele sentia e isso me
motivava a continuar querê-lo mais do que poderia imaginar.

O beijo começou a esquentar e seguir para outro rumo. Nossas mãos


iam para todos os lados dos nossos corpos e cada toque era uma fagulha que
fazia meu corpo desejá-lo ainda mais.
Quando estava prestes a tirar meu vestido escuto um barulho de
celular.

— Não atenda — murmuro contra sua boca.

— Não é meu celular — disse mordendo meu lábio.


Rapidamente abro meus olhos e afasto meu rosto do seu.

— Volta aqui — segurou meu rosto e beija meu queixo.

— E se for importante? — Gemo ao sentir beijos pelo pescoço.


— Isso aqui é importante.

— Enzo...

Ele suga a pele em cima dos meus seios e lambe cada centímetro de
pele que vê a sua frente. O toque parou, mas logo voltou a tocar e isso me
deixou ainda mais alarmada.
— Preciso atender.

— Vou matar quem estiver ligando agora — rosnou se afastando. —


Um minuto.
Balanço a cabeça procurando minha bolsa e tiro o celular. Franzo o
cenho ao ver o número estranho.

— Alô?

— Ayla De Luca?

— Sim sou eu.

— Aqui é do hospital Sant’s e ligamos para avisar que a Senhora De


Luca foi internada por overdose de remédios e o Senhor De Luca
infelizmente morreu.

Sinto meu mundo estagnar e um zumbido preencher meus ouvidos e


meus sentidos ficarem dormentes.
— Ayla?

A voz de Enzo parecia distante, só conseguia pensar em minha mãe e


meu... Deus ele estava morto. Não me importei quando Enzo tirou o celular
da minha mão e começou a conversar com a pessoa do outro lado da ligação.

Minha mente estava girando somente em torno de minha mãe e meu


pai. Como isso foi acontecer?
Como ele morreu?

Fecho meus olhos e tento respirar, o que parecia completamente


difícil de fazer.

Ele está morto.


Completamente morto.

Meu Deus.

Capítulo 24

AYLA

Seguro sua mão que estava fria, quase sem vida ou talvez fosse eu que
me sentia sem vida. Apoio minha cabeça em seu braço e respiro fundo. Fazia
horas que estava esperando ela acordar, para que me olhasse e dissesse que
tudo estava bem. Mas ela não abriu seus olhos e aquilo estava me deixando
cada vez mais desesperada.

— Ayla — a voz dele era baixa, respeitando meu momento. — Você


precisa comer.
— Estou sem fome — continuo com os olhos fechados e tentando
ordenar tudo em minha cabeça.

— Mas precisa comer.


— Enzo — viro para ele. — Preciso ficar aqui, não posso deixá-la.

— OK — passou a mão pelo cabelo. — Irei mandar um dos soldados


trazer algo para você, sem discussão.

— Obrigada.

Enzo caminha até a porta e antes de sair diz.

— O enterro do seu pai será amanhã.

— Tão cedo?
— A forma que ele foi encontrado não é possível retardar o enterro.

Aceno e volto a olhar para minha mãe que tinha seu rosto pálido com
leves marcas roxas abaixo dos olhos. Seu corpo parecia mais magro e aquilo
era tão melancólico de se ver.

A porta foi fechada e mais uma vez estou sozinha com minha mãe.
Aperto sua mão ossuda e começo a rezar para que ela melhorasse, acordasse e
dissesse o que tinha acontecido.

(...)

Abraço ainda mais o meu corpo envolto pelo, sobretudo pesado e


engulo o nó que se formara em minha garganta. Estava sendo complicado
respirar e manter a compostura na frente daquelas pessoas.
Antonny De Luca não foi um dos melhores exemplos de ser humano
ou de pai, mas ele era o meu pai, era o homem que de certa forma aprendi a
amar, a respeitar e ter um sentimento de carinho, mesmo que ele em vida não
demonstrasse qualquer tipo de amor por mim, porém sempre nutri um fio de
esperança para que ele me considerasse como filha dele.

Sinto a primeira lágrima descer pelo meu rosto e sem impedir as


outras vieram em seguida, banhando meu rosto. Meu corpo treme quando
sinto a mão de Enzo em minhas costas.

Não consigo olhar para as pessoas ao nosso redor e eu era a única que
demonstrava alguma reação, algum sentimento. Ver o caixão ser coberto pela
terra foi sufocante, coloco minha mão na boca e contenho o soluço que queria
romper minha garganta.

Levantei um pouco meu olhar e encontrei Laura ao lado do marido,


ela me lançou um pequeno sorriso e tento retribuir, mas acabado soluçando.

— Temos que ir — Enzo murmura quando todos que estavam


presentes se retiravam.
— Quero ficar mais um tempo — minha voz sai rouca.

— Não estamos seguros tão expostos — ele suspira.

— Por favor, Enzo.


— Aronne irá vigiá-la.

Acenei e o vi se distanciar alguns metros. Volto a olhar para a terra


recém-colocada e mais lágrimas vieram.

— Você não foi um pai presente ou exemplo — sussurro. — Nunca


apareceu nas apresentações da escola, na homenagem do dia dos pais ou
qualquer outra. Mas mesmo com todos os seus defeitos, que eram muitos,
você foi meu pai, que temi minha vida toda e respeitei. Um pai de... Merda,
mas um pai.

Enxugo as lágrimas e respiro fundo.


— Sinto muito pelo seu fim terrível — cubro meu corpo ainda mais e
tento não lembrar, da sua imagem morta a minha frente, com seu corpo todo
cortado com as facadas no peito e abdome.

Jogo a única rosa que tinha na minha mão em sua lápide e sigo para o
carro que estava á alguns metros. Aronne que estava me esperando acenou
levemente. Dou um pequeno sorriso para ele, fazia algumas semanas que o
não via, Enzo tinha-lhe feito ficar em outro turno, para que não ficasse perto
de mim. Enzo e sua possessividade.

O caminho de volta para o hospital foi feito em silêncio, mas quando


o carro parou na frente do prédio Enzo disse:
— Lhe espero para jantar.

— Certo — abro um pequeno sorriso. — Até a noite.

— Cuidado.

— Pode deixar.

Entro no hospital e sigo para o andar onde minha mãe estava


internada. Entrei no quarto e vi seu corpo sereno em cima da cama. Sento-me
na cadeira ao lado da sua cama, ato que tinha virado hábito desde o momento
que ela se internou.

— Papai foi enterrado — sussurro com o tom embargado. —


Ninguém demonstrou sentimento de pena ou choro.
Sua respiração continua leve e seu peito sobe e desce vagarosamente,
mostrando que seu sono estava calmo.

— Agora somos somente nós duas — seguro sua mão. — Finalmente


a senhora poderá ser livre.
Fecho os olhos e encosto minha cabeça perto da sua mão. O dia tinha
sido bastante intenso, o enterro do meu pai tinha esgotado todas as minhas
energias e eu daria tudo para poder dormir por algumas horas, e me sentir um
pouco revigorada.

(...)

Algumas horas depois adentro na mansão e paro assim que vejo a


cena que se desenrola a minha frente na sala de estar.

— O que faz aqui? — Não consigo controlar a pergunta que sai da


minha boca.
— Milena me convidou para jantar — Perla murmurou olhando para
uma Milena desconfortável.

— Seu irmão sabe? — Olho para ela.

— Ele não precisa saber — revirou os olhos. — Convido quem eu


quiser para jantar na minha casa.
— Que também é minha — revido. — Se você não lembra, enterrei
meu pai hoje e eu queria ter um jantar em família e não com pessoas
estranhas.

Milena ficou calada me olhando com raiva e vi seus punhos cerrarem


gradativamente. Perla se levantou virando para ela.
— É melhor eu ir, depois nos falamos.

Milena acenou e quando estávamos sozinhas ela vociferou:

— Quem você pensa que é?

— Dona dessa casa, esposa do seu irmão — murmuro mantendo


minha calma. — Suportei a presença de Perla por semanas, mas não irei
suportar mais, essa casa também é minha então não tente fazer nossa
convivência mais insuportável do que já é.

— Eu odeio você, odeio que meu irmão tenha casado com você —
parou alguns metros de mim. — Você deveria...
— O que está acontecendo aqui? — Milena foi interrompida por Enzo
que apareceu no meu campo de visão.

— Milena só está demonstrando o seu amor por mim — murmuro


com ironia.

— Milena — Enzo a chama. — Já conversamos sobre isso.


— Mas não quer dizer que eu tenha que suportar essa idiota — virou
para o irmão e o olha com desprezo. — Odeio essa família.

Milena passou por mim, batendo seu ombro no meu e escuto seus
passos pelas escadas.

— Acho que no fundo ela me ama — suspiro me sentando no sofá. —


Ou me odeia ainda mais do que antes.
— Milena é complicada — ele se senta ao meu lado. — Desde a
morte dos nossos pais ela tomou essa personalidade nada agradável.

— Talvez ela melhore com o tempo.

— Ou não — deu um sorriso de lado. — Milena tem o pior lado do


meu pai, e pelo que me lembro dele e isso não é nada bom.

— E você tem algum lado dos seus pais? — Levanto as sobrancelhas,


mudando de assunto.
— Sou aquilo que me moldaram para ser — deu de ombro. — Nada
mais.

— Um homem malvado, ogro, temido por todos — balanço os meus


dedos no ar. — E eu me pergunto onde está o seu lado bom?

— Não existe esse lado.


— Talvez na cama — consigo arrancar um pequeno sorriso dele.

— Na cama sou ótimo.

— Convencido — reviro os olhos. — Isso é um defeito.


— Acreditar no meu potencial na cama é um defeito?

— Ter um ego grande sim — me levanto. — Mas posso concordar,


você é bom na cama.

— Tem alguma lista para comparar? — Me olha provocante.

— Se sinta honrado senhor Sartori — mordo meu lábio, segurando


um sorriso. — Você é o único que entrou no meio das minhas pernas, então
não tenho com o que comparar sua experiência na cama.

— Isso é ótimo — se levantou e encostou seu corpo no meu. — Todas


as suas primeiras vezes são minhas.

— Todas elas — concordo concentrada na sua boca perto da minha.


— E isso me deixa ainda mais louco.

— E um ogro quando necessário — toco em seu rosto. — Irei tomar


um banho e então poderemos jantar.

— No quarto?

— Pode ser.

(...)

Os dias seguintes se seguiram normais no máximo do possível. Minha


mãe tinha acordado, mas ainda não tinha dito uma palavra, o que complicou
ainda mais para Enzo descobrir quem tinha matado meu pai.

Entendia, mamãe estava em choque, ficava com ela o máximo que


podia, tentando lhe passar conforto e carinho. Seus olhos castanhos me
olhavam com certo estranhamento, como se não conseguisse me reconhecer,
mas o médico que cuidava dela disse que era normal por causa dos
medicamentos que ela estava tomando para se manter estável.
Tinha decidido mantê-la por mais um tempo no hospital, temendo que
ela tivesse alguma recaída ou coisa pior. Mas sabia que não poderia mantê-la
por muito mais tempo, logo teria que levá-la para casa.

Suspiro enquanto leio mais um parágrafo do livro para ela, com isso
deixava-a ocupada e me sentia bem lendo para ela.

— Irei em casa buscar algumas coisas para você — comento fechando


o livro.
— Casa? — Virou para mim e me olhou com os olhos brilhantes.

Prendo a respiração, surpresa por vê-la falar pela primeira vez em


dias.
— Sim — sorrio para ela. — Logo você irá para casa.

— Meu marido?

Abaixo meu olhar e seguro as lágrimas que queriam transbordar. Nos


últimos dias meus sentimentos estavam a mil, com qualquer coisa estava
chorando e falar do meu pai me fazia chorar ainda mais.

— Ele virá logo.

O médico tinha me avisado que ela poderia delirar um pouco e


retroceder em alguns momentos dos dias ou de fatos que já aconteceram.
Tinha dito que isso poderia ocorrer devido ao uso dos remédios que tomava
antes ou que seu próprio cérebro estava lhe protegendo de algum trauma
sofrido.
— Você é linda.

— Você também — beijo sua testa e deixo o livro no móvel ao seu


lado. — Irei deixar um segurança para lhe fazer companhia e qualquer coisa
pode mandar me chamar.

— Por que não pode ficar?

— Tenho que resolver algumas coisas.

— Você volta?

— Prometo que sim.


— Obrigada Ayla.

Despeço-me dela com lágrimas nos olhos e saio do hospital entrando


no carro e olho para Aronne pelo retrovisor. Ele tinha voltado a fazer minha
segurança nos últimos dias, mas sempre se mantendo distante.

— Podemos passar na casa dos meus pais? — Pergunto em tom


baixo.

— Claro, senhora Sartori.

— Obrigada.

Olho para a janela e fico olhando para a paisagem.

Capítulo 25

AYLA
Meu coração bate descompassado enquanto minhas pernas se
movimentam pela casa que vivi durante minha infância e adolescência. Tudo
estava do mesmo modo que lembro nada fora do lugar. Não tem ninguém na
casa e isso me alivia, não sei se iria suportar ver dona Lídia sem me debulhar
em lágrimas.
Respiro fundo olhando ao meu redor e caminho até o andar superior.
Ao entrar no quarto dos meus pais, logo meus olhos caminham até o lado da
cama, onde disseram ter encontrado meu pai caído, já sem vida. Também
disseram que minha mãe estava na cama, inconsciente quase sem vida. Tento
não pensar na cena que originou aquela tragédia.

Entro no closet, pego algumas roupas da minha mãe, reparando que as


do meu pai já tinham sido retiradas e provavelmente doadas. Tinha ordenado
á alguns soldados que serviam ao meu pai fizessem isso, não queria as coisas
dele nessa casa. Mamãe logo teria alta do hospital e eu ainda estou pensando
na possibilidade de trazê-la para cá ou levá-la para outro lugar que não tenha
tantas lembranças dele, assim seria mais fácil conseguir se recuperar e seguir
a vida sem estar presa as suas lembranças.

Entretida nos meus pensamentos deixo uma pequena caixa de madeira


cair no chão. Me abaixo e pego-a, deixando o conteúdo de dentro se espalhar
pelo carpete.
— Droga — resmungo pegando os papéis que pareciam ser cartas
bem antigas. Franzo as sobrancelhas ao ler sem querer um nome no papel.

Deixo a caixa de lado, abro o papel e começo a ler o que tinha ali.
Sinto um nó se formar em minha garganta e o espanto me dominar. Que
merda é essa?
“Querida Vanessa, hoje lhe observei à distância, você estava
estonteante como sempre e o seu sorriso me fez querer aproximar e tê-la em
meus braços, mas não posso e isso me mata por dentro cada vez mais, não
poder tê-la em meus braços para poder amá-la, beijá-la como quero e dizer
como a amo profunda e perdidamente.
Mas tenho certeza que logo conseguiremos ficar juntos e finalmente
ser felizes como desejamos. ”

Essa era a caligrafia do meu pai, essas eram suas palavras. Sento no
chão e pego a próxima carta que era da tal... Vanessa.
O mesmo nome que minha mãe disse quando me atacou quando ainda
morava aqui. Será que... Não pode ser.

“Antonny, está cada vez mais arriscado nos comunicar. E, isso está
me deixando arrasada, porque não suporto a ideia de ficar longe de você,
sem ter notícias suas, sem saber se você continua me amando.
Sartori está cada vez mais insuportável e juro que às vezes fico
tentada a tirar minha própria vida, mas logo lembro que se fizer isso não
poderei mais vê-lo e somente por isso ainda estou vivendo. ”

Sartori... Isso não pode ser verdade, meu pai não pode ter se
relacionado com uma Sartori. Vanessa, agora consigo me lembrar porque
esse nome não era estranho para mim. Mas será que tudo que estou pensando
pode ser verdade?
No meio de outras cartas encontro uma fotografia antiga e meio gasta,
era de uma mulher jovem que aparentava ter nada mais do que seus vinte e
cinco anos. Ela estava sorrindo e seus olhos cinza pareciam tão iguais do...
Balanço a cabeça e observo mais a foto, seus cabelos eram negros e longos,
estavam soltos sob seus ombros pequenos. Atrás vejo seu nome: Vanessa.

Recolho todas as cartas do chão e as coloco dentro da minha bolsa.


Tinha que procurar se esse nome era mesmo o que eu achava que era, não
posso me precipitar antes de saber se ela era mesmo uma Sartori.
Pego as roupas da minha mãe, coloco dentro de uma pequena mala e
verifico se não tinha esquecido mais alguma coisa. Saio da casa meio
desorientada, ao entrar no carro evito olhar para frente e com o tom baixo
peço que Aronne me leve para casa.

O caminho foi feito em poucos minutos e quando entro em casa ando


apressadamente até a sala de estar, sabendo o que estava procurando. Em
cima da lareira tinha alguns porta-retratos da família Sartori, só precisava ver
uma foto para confirmar o que estava rondando minha cabeça. Examino cada
foto, cada casal em seus casamentos ou momento em família, mas no
momento que encontro o que tanto almejava encontrar, sinto minha
respiração ficar suspensa e o desejo de que aquilo não fosse verdade
apareceu.

Seguro o porta-retratos em minhas mãos trêmulas, olho para a mulher


que estava séria na foto ao lado de um homem alguns anos mais velhos e com
duas crianças ao seu lado, o menino estava sério e a menina que era pequena
estava no colo dela. Aqueles olhos, cabelos, feições eram as mesmas que
tinha encontrado na foto que estava guardada em uma caixa dentro da minha
casa, com cartas onde meu pai declarava amor por ela.
Mas ela não era do meu pai e sim esposa de Diogo Sartori, pais de
Enzo e Milena Sartori.
— Pensava que você só iria voltar à noite — viro na direção da voz e
encontro um Enzo todo suado, vestindo somente um calção de corrida e nada
mais.

Por um segundo esqueço o que estava pensando e babo um pouco no


meu marido que estava coberto por uma camada de suor, que o deixava ainda
mais apetitoso. Mordo meu lábio segurando um suspiro e volto a encarar seus
olhos cinza.

— Decidi vir um pouco mais cedo para casa — sorrio para ele. —
Estava correndo?

Enzo deu alguns passos na minha direção, segurou uma mecha do


meu cabelo e o enrolou em seu dedo.

— Correr me ajuda a pensar.


— Pensa no quê?

— Em muitas coisas — ele tirou sua atenção do meu rosto e fixa no


retrato em minhas mãos. — O que você faz com isso?

Olho para a foto e lembro o que estava fazendo. Seguro a vontade de


dizer o que estava fazendo e decido seguir por outro caminho. Coloco de
volta o porta-retratos no seu devido lugar.
— Só estava vendo como você e Milena são tão parecidos com seus
pais — omito, colocando minhas mãos em seu peito musculoso.

— Milena parece mais com eles — murmurou olhando para a foto.

— Você também — passo meus dedos pela sua barba rala. — Como
eles morreram?
— Você não sabe? — Levanta as sobrancelhas.
— Só por alto que eles morreram em um confronto com a máfia
Irlandesa.

— Não é algo que gosto falar — suspirou enquanto enlaçou seus


braços pela minha cintura. — Meu pai foi encontrado decapitado por um dos
seus soldados dentro de uma mala e minha mãe foi dada por desaparecida por
semanas até que encontraram-na desfigurada perto da fronteira com o
México, dizem que ela foi estuprada durante todo o tempo que foi dada como
desaparecida.

— Nossa — sinto meu estômago embrulhar só de imaginar essa cena.


— Imagino como deve ser horrível para uma criança saber que seus pais
estavam mortos.

— Meus pais não foram um dos melhores exemplos Ayla — seu olhar
é distante. — Meu pai nunca estava em casa e quando estava não dava
atenção para mim e Milena, ficava trancado no escritório, comandado a Cosa
Nostra que era mais importante que seus filhos. Minha mãe não era a mais
presente em nossas vidas, se importava mais em cuidar da sua aparência do
que dos seus filhos, então não posso dizer que senti muito pela morte deles,
para mim foi somente mais uma pessoa morta.

— Sei como é isso — viro o rosto e olho para as fotos. — Meu pai
também não foi um dos melhores pais e minha mãe, posso dizer que ela é
viciada em remédios, com isso meus pais não ligaram muito para sua única
filha, cada um tinha suas vidas e eu era somente uma dentro de uma casa.
— Mas você é alguém aqui dentro dessa casa — segurou meu rosto
entre suas mãos grandes.

— Se não o conhecesse diria que isso foi algo sentimental — brinco


sorrindo.
— Não diga besteiras — fez uma careta e no segundo seguinte sua
boca estava sobre a minha, tirando qualquer linha de pensamento da minha
cabeça e fazendo-me esquecer de qualquer confusão em que me encontrava.

Passo minhas mãos pelo seu pescoço e as deixo em sua nuca, deixo-o
reivindicar minha boca, deixando que ele me domine e mostre qualquer
vestígio de sentimento que sente por mim nesse momento. Enzo me segura
firmemente contra seu corpo e logo percebo ser suspensa no ar.

Enrolo minhas pernas em sua cintura e percebo-o andar pela casa,


subindo as escadas. Mas, antes que entrássemos em nosso quarto Enzo me
encostou à parede e sua pélvis se movimentou contra o meio das minhas
pernas, onde estava começando a sentir os efeitos do seu beijo e o desejo que
percorria pelo meu corpo.

— Cada vez que lhe tenho em minha cama parece o certo —


sussurrou contra minha boca. — Não consigo pensar em outra coisa a não ser
em te ter.

Sorrio contra sua boca e seguro seus cabelos molhados de suor e


mordo seu lábio inferior.
— Sinto a mesma coisa — confesso movendo meu quadril contra seu
pênis que já estava duro dentro do seu calção. — Eu quero você.

— Seu desejo é uma ordem — ouço a porta do quarto ser aberta e


logo estamos dentro do cômodo.

Enzo me coloca no chão e se distancia alguns centímetros. Seus olhos


cinza estão escuros, sombrios, ele me encara com desejo e um pequeno
sorriso malicioso está estampado em seu lindo rosto.
— Tire a roupa para mim — comanda com a voz rouca.
Mesmo com nossa convivência constante ainda não me sinto
totalmente á vontade em fazer esses tipos de coisa para Enzo, mas sempre
que ele pede, coloco minha timidez de lado e tento ser sedutora ao máximo
para ele, mostrando que poderia ser o que ele quer e que ele não precisava de
outra mulher além de mim.

Mordo meu lábio, vagarosamente tiro minha blusa e a jogo em


qualquer lugar do quarto, em seguida abro o botão da calça e desço o zíper.
Viro de costas para Enzo e desço a calça, levantando minha bunda o máximo
que consigo com graça e sensualidade. Ouço atrás de mim um rugido que
talvez viesse da garganta de Enzo. Um pequeno sorriso brota em meu rosto e
volto a ficar ereta.
Olho sobre o ombro para Enzo que observa meu corpo com fome e
isso me deixa contente. Levo minhas mãos até o fecho do sutiã e retiro a
peça, provocativamente jogo-a na sua direção que pega-a no ar e estreita os
olhos.

— Está tentando me provocar?

— Estou conseguindo? — Levanto as sobrancelhas ficando de frente


para ele, somente de calcinha de renda.

— Não me provoque se não irá aguentar no final — diz irônico.

— Talvez eu aguente — mordo meu lábio.

— Ayla... — Ele inspira com força enquanto movimenta sua mão por
cima do calção. — Estou tão duro.
— Posso ajudar com isso — dou dois passos na sua direção.

Já tinha feito algumas vezes sexo oral nele e cada vez me sentia mais
confiante, porque toda vez que o sentia se derramar em minha boca via que
era capaz de dar prazer para ele.

— Você é uma pequena provocadora — vocifera me olhando com


fome.
Fico perto dele e espalmo minhas mãos em seu abdome, sinto seus
músculos se contraírem com meu contato e ele inspirar fortemente.

— Quer ou não quer ajuda com seu problema? — Minha atenção vai
para o meio das suas pernas onde seu membro estava bem evidente dentro do
tecido que lhe cobria.

— Se ajoelhe — ordena com tom duro, fazendo minha vagina se


contrair um pouco.
Faço o que ele manda e olho para cima onde nossos olhos se fixam
intensamente.

— Vamos ver se você consegue dar um jeito nisso aqui.

Enzo abaixou o calção e rapidamente seu membro pulou para fora.


Controlo a vontade de soltar um suspiro ao ver sua rigidez perto do meu
rosto. Enzo era grande e grosso. Confesso que no início isso me assustava,
mas agora toda vez que vejo sua masculinidade na minha frente me sentia
desejosa por ele, querendo-o dentro de mim, fazendo-me gritar por ele e
gemer toda vez que ele me penetrava sem cerimônia.
— Vai ficar só olhando? — Perguntou levantando uma sobrancelha.

Estreito os olhos, pego seu pênis entre minhas mãos, as movimento


para cima e para baixo enquanto passo minha língua em sua glande
avermelhada, sinto o gosto do seu liquido pré-gozo. Enzo segura meus
cabelos e incentiva a movimentar minha boca sobre sua espessura.

Cada vez que seu membro entra mais em minha boca Enzo solta um
resmungo baixo, seus olhos estavam fechados e seu rosto se contorcia em
uma careta que me fazia prosseguir o que estava fazendo. O que não consigo
colocar na boca movimento com minha mão e Enzo parece gostar disso.

— Sua boca é uma perdição — ele rosna segurando meus cabelos


com força. — Parece um inferno de tão bom.
Solto uma risada, lambo sua extensão até chegar a sua base e sugo
seus testículos com cuidado, fazendo Enzo contrair suas pernas e puxar meus
cabelos.

— Merda — murmura baixinho. — Faça de novo.

Repito e ele solta alguns palavrões baixo, no segundo seguinte me


levanta e cobre minha boca com a sua.
— Minha vez de retribuir — murmura me levando para a cama e me
deitando. — Tire a calcinha.

Sorrindo tiro a última peça que restava no meu corpo, o olho


terminando de tirar seu calção e seus tênis com as meias. Enzo subiu na cama
e veio para cima de mim.

— Você conseguiu me mostrar que cada vez está ficando melhor em


me dar prazer com a boca — segura meu rosto com uma mão e seus olhos
ficam concentrados em minha boca. — Você foi feita para levar qualquer
homem à perdição, mas somente a mim que você fará isso.
— Sim — balanço a cabeça enquanto esfrego meu corpo no seu,
tentando abaixar o fogo que sinto no meu corpo.

— Sua boca é somente minha, seu corpo, seus gemidos, seus gritos,
tudo meu — murmura beijando meu pescoço e descendo até meus seios que
estavam intumescidos. — Seus seios são meus.
— Enzo...

Sua boca cobre um dos meus seios e sua língua gira contra o meu
mamilo o deixando dolorido, fazendo meu corpo se contorcer contra o seu
querendo mais dele.
— Seu corpo pede pelo meu — disse enquanto sugava meu outro seio
dando a mesma atenção.

— Quero você.

Sinto-o sorrir contra minha pele e uma das suas mãos desliza pela
minha barriga e gemo ao sentir seus dedos na minha vagina que já estava
molhada e sedenta por ele.
— Você está completamente encharcada — diz beijando o vão dos
meus seios. — Você me quer dentro de você?

— Sim — minha voz está irreconhecível, estou puro desejo, querendo


que ele me tome do jeito que tanto amo.

Enzo mergulha dois dedos dentro do meu canal estreito, fazendo um


gemido alto romper minha garganta e deixando-me completamente a mercê
desse homem.

— E você terá.

Enzo logo retira seus dedos dentro de mim e no segundo seguinte seu
membro me penetra.

— Oh meus Deus, Enzo — jogo minha cabeça para trás e seguro seu
corpo no máximo que consigo.
Enzo inicia uma sequência de estocadas, cada uma me levando ao
delírio e deixando-me no precipício do prazer. Ele sabia muito bem o que
fazia. Sua respiração está acelerada se igualando a minha e ele segura meu
corpo fortemente, me preenchendo cada vez mais forte com suas estocadas.

— Merda, você é perfeita — rosna me puxando contra seu peito.


Abro meus olhos e encontro os seus me olhando com intensidade.
Mordo meu lábio, abraço seus ombros e deixo-o fazer comigo o que quiser.
Enzo me invade com sucessivas investidas do quadril. Estou zonza e a
familiar pressão no meu baixo ventre me faz soltar um gemido alto, ele leva
sua mão até o meu seio e o acaricia sem delicadeza, no mesmo compasso dos
movimentos dos seus quadris.

— Gosta disso Ayla? — Pergunta movimentando cada vez mais


rápido dentro de mim.

— Simmm — grito quando sinto meu clímax chegar.


— Você é minha?

— Somente sua — meu corpo treme e o sinto abaixar seu corpo sobre
o meu colando sua pele na minha. — Sua.

Enzo solta um gemido alto e sinto seu sêmen me preencher


completamente. Seus movimentos continuam vagarosamente até que ele para
e relaxa o corpo em cima do meu. Espalmo minhas mãos em suas costas
suadas e tento controlar minha respiração descompassada.
O que tinha sido isso?

Em nenhuma das nossas transas Enzo tinha exigido que eu falasse que
era dele, seu pedido de hoje me deixou embasbacada e sem reação. Mas as
minhas palavras ditas foram verdadeiras, eu era dele, mas será que ele é meu?

Continuo com os olhos fechados e espanto esses pensamentos, não


quero estragar esse momento. Enzo é meu, de alguma forma ele é.
Capítulo 26

AYLA

Era madrugada e não consigo dormir, viro o rosto para o lado e


encontro Enzo dormindo pacificamente. Eram raras as vezes que o
encontrava dormindo e aproveito esse momento para examinar cada cantinho
do seu rosto. Seus cabelos escuros estavam bagunçados, seu rosto estava
calmo, mas ainda assim transmite perigo. Suas sobrancelhas grossas estão
franzidas levemente, seus lábios vermelhos e cheios eram uma bela tentação.

Seguro a vontade de tocar sua barba e sentir a textura contra a palma


da mão. Enzo não tinha uma imperfeição à vista, tudo dele parecia perfeito e
exuberante, mas somente quem o conhecia sabia como tinha defeitos. Mesmo
com pouco tempo de convivência com ele sabia como era fechado e
observador, não era fácil conseguir alguma demonstração de afeto dele. Enzo
também pode ser irritante quando quer e possessivo em alguns momentos, na
verdade em vários.

Mas tudo que ele fazia me fazia querê-lo, menos quando era grosso
comigo, nesses momentos desejo ficar longe dele e fingir que não vivíamos
juntos. Quando ele está irritado é melhor sempre manter distância senão
acaba se machucando, não fisicamente, Enzo nunca levantou a mão para me
bater, mas em palavras às vezes ele tem o poder de machucar e ferir os meus
sentimentos, como ele já fez diversas ocasiões nos primeiros dias de casado.
Não sei se ele fazia de propósito ou se não percebia, mas cada palavra que
dizia me machucava, mas agora consigo fingir que não ligo e não me importo
com o que ele diz.
Olho para o teto e solto uma respiração dura ao ver que não
conseguiria dormir naquele momento. Tiro o cobertor de cima do corpo e
saio vagarosamente da cama, sem fazer barulho para não acorda-lo. Visto um
robe antes de sair do quarto, pego as cartas que estavam dentro da minha
bolsa e desço até a cozinha.

Ligo as luzes e me sento em um dos bancos da ilha e pego a primeira


carta das pilhas.

“Cada vez, está ficando mais insuportável ficar ao lado de Diogo,


sentir o cheiro dele é como veneno para mim, toda vez que ele me toca sinto
ânsia de vômito, o que mais queria era que o cheiro que sinto fosse o seu,
que os toques sobre o meu corpo fosse os seus e não os dele.
Mas o que me mantém viva é o amor que sinto por você, somente isso
importa.”

“Vê-la no altar com Sartori foi quase meu sepultamento, o ver beijá-
la e tocar no seu corpo foi insuportável, mas não poderia fazer nada, sou
somente filho do consigliere e você hoje se casou com o Capo da Cosa
Nostra.”

“Você se casou e parece feliz com sua esposa e isso me corrói por
dentro, sua felicidade deveria ser ao meu lado e não de outra mulher, vê-lo
beijar outra me mata por dentro, sinto-me triste por ver que você não se
importa mais comigo, aparentemente seu amor já não é mais como antes.”

“Nunca duvide do meu amor por você, o que tenho por você é a única
coisa pura que existe em minha vida de merda. Viver ao lado de Ângela é
como definhar sem você, mas foi necessário casar com a De Luca, precisava
subir dentro da famiglia, assim poderei tê-la de volta, assim poderemos viver
como desejamos meu amor.
Jamais duvide do meu amor Vanessa.”

“Estou grávida e o filho não é seu e sim de Sartori, tem uma criança
dentro de mim, uma criança do sangue do homem que odeio. Sinto-me
horrível por ter que suportar essa criatura dentro de mim, desejava poder
tirá-la e viver nossa vida, mas Sartori sabe sobre a gravidez e está feliz, pois
é um menino e isso é bom para os status dele dentro da famiglia.”

Paro de ler por alguns segundos e tento encontrar fôlego, como uma
mulher poderia demonstrar tanto desprezo por um filho? Cada vez vejo como
essa mulher é horrível e vejo também como meu pai e Vanessa pareciam tão
obcecados um pelo outro.
Espalho as cartas pela ilha e vejo todas as datas descritas no papel a
última tinha sido 9 de maio de 2002, meses antes da morte de Diogo e
Vanessa. Minhas mãos tremem quando abro o papel.

“Você, prometeu! Levar-me para longe deste inferno que chamo de


vida. Mas cada dia que se passa essa promessa parece meras palavras ditas
enquanto você me tinha em seus braços.
Não suporto mais ouvir os choros de Milena e viver na presença de
um adolescente. Não aguento essa vida de dona de casa e cuidar de crianças
insuportáveis. Você disse que me tiraria dessa vida, mas você não fez isso
Antonny De Luca.
Você vive ao lado dessa mulher que me odeia, porque sabe sobre nós,
vive ao lado da mulher que lhe deu uma filha, a qual eu deveria ter lhe dado,
mas não pude fazer isso por nós e não posso mais, já que a pequena fedelha
quase me matou.
Sabe de uma coisa esquece que eu existo, finge que não me conhece.
Você é um covarde que não consegue deixar sua vida de merda para fugir
comigo, seu babaca idiota. EU TE ODEIO!
Espero que sua vida seja uma merda ao lado de Ângela e dessa
garotinha que deveria ser minha.”

Não há mais cartas, não têm resposta do meu pai. Releio o último
trecho escrito e sinto o nó crescendo em minha garganta. Reprimo a vontade
de chorar, eles não deveriam ter feito isso. Vanessa não deveria ter traído seu
próprio marido e meu pai não deveria ter traído minha mãe.

Eles dois eram uns porcos, podres e vejo nesse momento que eles
mereceram o fim que tiveram. Nenhum deles merecia viver. Junto ás cartas e
as levo para o quarto. Ao entrar encontro Enzo ainda dormindo na mesma
posição e entro no closet, abro a gaveta de calcinha e guardo as cartas no
fundo da gaveta.

Minha mãe não merecia aquilo, não merecia tal traição. Ela viveu um
inferno durante anos se dopando de remédios e aguentando as agressões do
meu pai que amava secretamente outra mulher.
Olhando para Enzo na porta do closet me pergunto se ele amava outra
mulher e vivia comigo somente por causa da obrigação que tinha com a
famiglia. A vontade de vomitar volta e dessa vez não consigo controlar, corro
até o banheiro e coloco para fora todo meu jantar no vaso sanitário. Fecho
meus olhos e sinto minha garganta arder cada vez mais.

Ao sentir meu estômago completamente vazio, apoio meus braços na


lateral do vaso e encosto minha cabeça. Tento controlar minha respiração
descompassada e o rebuliço que ainda se faz presente no estômago. E pela
primeira vez me pergunto se deveria falar sobre isso para o Enzo, se deveria
mostrar as cartas ou deixar tudo isso para trás, deixar no passado.

É algo difícil de decidir, difícil de pensar. Também bate aquela dúvida


do que realmente Enzo sente por mim, a dúvida de saber se ele criou algum
sentimento por mim nesse tempo em que estamos juntos ou se era somente o
desejo da carne falando mais alto.

Só de imaginar que ele só queria meu corpo esquentando sua cama,


que ele não queria algo a mais era torturante para mim e fazia meu estômago
querer colocar o que ainda tinha ali dentro para fora.

Não sei quanto tempo fiquei ali sentada no chão frio, esperando que
todo mal estar passasse e conseguisse ir para cama para poder descansar e
pensar no que faria dali por diante.

Sinto meu corpo tremer ao sentir mãos quentes e grandes nas minhas
costas, acariciando de cima para baixo.
— O que aconteceu? — Seu tom é baixo e posso jurar escutar uma
nota de preocupação.

— Não é nada — minha voz sai rouca e fraca.


— Tem certeza? — Tirou meus cabelos da frente do meu rosto. —
Você está suando e está trêmula.

— Só estou um pouco enjoada, nada mais — pego um pouco de papel


higiênico e limpo minha boca. — Já estou melhor.

Enzo me ajuda a levantar e caminhamos até a pia onde escovo meus


dentes e vamos para cama. Deitamos na cama, deitados de lado, olhando um
para o outro.
— Será que foi a comida que você comeu? — Me olha estranho.

— Talvez sim — dou um sorriso forçado. — Desculpe ter te


acordado.

— Já estava acordado há um tempo — toca minha bochecha. —


Amanhã irei levá-la ao médico.
— Não é necessário — suspiro com seu carinho. — Estou me
sentindo melhor, só foi um refluxo.

— Ayla...

— Estou bem — olho-o através da penumbra do quarto. — Se não me


sentir bem amanhã ao acordar irei ao médico.
— Tudo bem — toca minha mão que estava entre nós.

Ficamos alguns minutos em silêncio, espero sua respiração acalmar,


mas isso não acontece. Encosto mais meu corpo no seu, sinto meus olhos
encherem de lágrimas quando ele me abraça e suspira contra meus cabelos.
— Enzo?

— Sim!?

— Você sente algo por mim? — Não consigo controlar a curiosidade


que estava me corroendo por dentro.

Sinto seu peito expandir e ele fica calado por alguns segundos que
mais parecem uma eternidade devido o meu nervosismo.

— Ayla... Está tarde, é melhor dormimos.

Aquilo não deveria ter me machucado tanto como me machucou, mas


já deveria esperar por isso. Mas ver Enzo não responder aquela pergunta
quebrou um pequeno pedaço de esperança dentro de mim.

Capítulo 27
ENZO

Sentimentos.
O que isso significa para um homem como eu?

Fraqueza?

Luxo?

Amor?

Essas são perguntas que até mesmo eu não sei responder. Sentir é algo
que está fora dos meus padrões de sobrevivência nesse mundo onde fui
criado. Não fui criado para sentir afeto por aqueles ao meu redor, a mulher
que me criou, que aprendi a chamar de mãe, não foi um dos melhores
exemplos de afeto materno ou que mostrou como poderia ser um carinho de
mãe ou até mesmo amor.
Vanessa Sartori foi uma mulher fria, que evitava contato com seus
próprios filhos, como se eles tivessem uma doença contagiosa e tivesse medo
de contrair essa doença.

Talvez essa falta de carinho por parte da minha mãe tenha contribuído
para o que me tornei hoje, um homem perigoso, temido por muitos e
respeitado por outros. Desde muito novo sabia o que me esperava quando
atingisse a idade adulta, uma cadeira entre as cinco dentro da comissão, o
Chefe dos chefes dentro da famiglia e a responsabilidade de comandar a
maior organização contrabandista de Nova York.

Falando assim até parece ser fácil e legal de se fazer, mas não é, por
trás de todo luxo e regalia que o dinheiro nos traz tem a responsabilidade e
dever para com aqueles que acreditam no meu potencial e esperam que eu
honre o meu juramento.

Cada vez está ficando mais difícil comandar a Cosa Nostra e para isso
é importante ter aqueles em que confio ao meu lado, mesmo que eu desconfie
até mesmo da minha própria sombra, mas era necessário dar um voto de
confiança àqueles que também fizeram o voto de honra e prometeram dar sua
vida pela máfia.

Olho para o último relatório que Domênico me entregou, mas não


consigo me concentrar nas letras pequenas digitadas a minha frente, só
consigo pensar no que Ayla tinha me perguntado há três noites.

É complicado colocar tudo sobre a mesa, pensar sobre o nosso


casamento, como tudo anda. Não tinha tempo para pensar sobre isso, mas ao
ver que ela precisava saber se eu sentia algo, estava me levando para outra
dimensão onde meus pensamentos giram somente em torno dela e se em
algum momento dei algum indício de que sinto algo.

Mas, será que sinto?


Respiro fundo e esfrego meus olhos com força. Não posso me dar ao
luxo de pensar nisso agora, tenho que resolver o problema grotesco que se
encontra a minha frente.

Forço minha cabeça a se concentrar no aqui e agora, leio calmamente


o que tinha ali na folha.

Como isso foi acontecer.


Aperto rudemente o telefone na minha mesa e ouço a voz baixa da
minha secretária.

— Sim Sr. Sartori?


— Onde está Leonel?

— Acabou de sair com o senhor Barone.

— Quando ele voltar avisa que quero falar com ele.

— Sim senhor mais alguma coisa?

— Domênico?
— Está ocupado nesse momento em sua sala.

— Certo — bato o telefone e levanto da minha cadeira levando o


documento em minha mão.

Caminho pelo corredor e não olho para a secretária de Domênico que


me olha espantada a me ver passar sem pedir permissão. Não preciso de
permissão para transitar no meu prédio. Abro a porta da sua sala e levanto as
sobrancelhas ao ver a cena a minha frente.
Filho da puta.

— Merda — a mulher de cabelos ruivos me olha assustada e cobre


rapidamente seus seios que são agradáveis aos olhos.

— Não sabe bater na porta? — Me olha rudemente.

— Esse prédio é meu.

— Mas a sala é minha.

— Não me importo — caminho pela sala e sento em uma cadeira de


frente a sua mesa. — Dispense a garota.
— Não quer aproveitar? — Me olha com dúvida.

— Faça o que estou mandando — rosno olhando-o seriamente.

Domênico vira para a moça que já estava completamente vestida e


nos olhava com receio.

— Docinho depois nos falamos.

— Você não tem meu número.

— Mas sei onde lhe encontrar — ele lança uma piscadela para ela. —
Foi um prazer.

Ela pega sua bolsa e sai rapidamente da sala, nos deixando finalmente
a sós.

— O que se deve a honra do Capo? — Me olha zombeteiro.

— Nos últimos tempos para cá venho percebendo muitos erros dos


Capos das famílias aliadas e isso não é nada bom para os nossos negócios.

— Alguns ainda estão no luto pela morte de De Luca.


— Não me importo — suspiro. — Quero que junte todos os Capos
das famílias e diga esse simples recado: Da próxima vez que errarem nas
mercadorias haverá consequências e não serão nada boas.

— Sim chefe.

— Agora quero saber como anda a procura do filho da puta que me


ameaçou um tempo atrás.
— Nada legal — Domênico se ajeita em sua cadeira. — O cara parece
que virou pó, a última informação que temos é que ele estava na Calábria e
depois disso sumiu completamente.

— Será que ele faz parte do Clã de Stefano?

— Também tenho minhas dúvidas sobre isso, mas não podemos


arriscar nada por enquanto, tentando saber se é alguém do Stefano.
— É melhor que não seja.

Domênico acena e me olha interessado.

— E aquele outro assunto como anda o progresso?

— Na hora certa saberá.

(...)

AYLA

— Como ela está? — Pergunto a enfermeira que está responsável


pelos cuidados da minha mãe.

Há alguns dias tinha decidido que era melhor colocar minha mãe um
lugar mais adequado para o seu estado e uma clínica de reabilitação pareceu a
melhor escolha no momento. Ultimamente não estava tendo muito tempo
para cuidar dela e dar a atenção que ela precisava e na clínica tem pessoas
que lhe observa 24 horas por dia e seria mais fácil de ajudá-la se algo
acontecesse.
— Está reagindo bem aos novos medicamentos — ela disse olhando
para minha mãe que estava sentada em uma cadeira de balanço no meio do
grande jardim.

Com várias baterias de exames que ela vinha fazendo o médico


responsável pela sua saúde tinha descoberto Alzheimer em algum dos
exames, ele tinha dito que a doença estava no estágio inicial e que os
remédios antigos talvez tenham ajudado a esconder a doença na vista de
outras pessoas. Tinha dito para o médico que ele poderia fazer qualquer tipo
de tratamento que ajudasse a retardar o progresso da doença.

— Hoje ela está mais lúcida do que ontem.


— Irei aproveitar esse momento — sorrio para ela.

Aproximo-me de minha mãe e sento a sua frente, seus olhos


castanhos a me ver sorri alegremente. Sinto um alívio dentro de mim e
retribuo seu lindo sorriso.

— Como á senhora está?


— Bem querida — ela segura minha mão. — E você?

— Estou melhor agora falando com você.

Com a outra mão mamãe toca meu rosto levemente e vai até meus
cabelos que estava soltos.
— Você cresceu tanto Ayla — me olha melancólica. — Virou uma
mulher linda e gentil.

— Você me fez assim.

— Nem o décimo da sua criação fui eu que lhe dei — balançou a


cabeça. — Só posso agradecer Lídia poder ter lhe ensinado o que não pude,
não fui um exemplo de mãe.
— Não diga isso — ralho. — Você é uma ótima mãe, mesmo com
os...

— Meus vícios? — Completa a frase. — Passei minha vida inteira


tentando aplacar minha dor, meu desprezo com remédios e com isso não pude
cuidar da minha própria filha, estava mais focada em meu sofrimento que não
me importei com alguém que precisava de mim.
— Mas agora a senhora está aqui — aperto levemente sua mão.

— Querida, sei que tenho Alzheimer — me olha triste. — Posso


lembrar-me de você agora, mas daqui alguns minutos nem saberei quem você
é.
— O médico está confiante no seu tratamento — murmuro tentando
controlar a vertigem que me ataca de repente, isso ultimamente está se
tornando frequente.

— Não podemos colocar muita esperança nisso, Ayla.

— Mas eu prefiro me agarrar nessa esperança a pensar que logo você


não se lembrará de mim e que é minha mãe.
— Mas o amor que sinto por você nunca será esquecido.

Abaixo minha cabeça por alguns segundos e respiro fundo, colocando


todos os meus sentimentos em ordem. Não posso chorar nesse momento, na
verdade tenho que aproveitar que ela está consciente e perguntar sobre algo
que está me deixando louca nesses últimos dias.

— Quem é Vanessa?

Mamãe me olha espantada por alguns segundos e vejo-a ficar mais


pálida do que já estava.

— Onde você ouviu esse nome?

— Encontrei algumas cartas escondidas em suas coisas e nelas tinha


esse nome e o nome de Sartori.
Seu dedo começa a batucar minha mão e aquilo era algum tipo de
nervosismo dela.

— Deveria ter queimado essas cartas alguns anos — suspirou olhando


para o céu.

— Mas não queimou — murmuro séria. — Li todas elas e vi que


Vanessa e meu pai tiveram um romance ou algo do tipo, mas não entendo
como...
— Vanessa era uma vadia, uma das maiores vadias dentro da máfia
— ela me corta. — Seu pai foi apaixonado por ela durante anos da vida deles,
mas ele nunca conseguiu a permissão de casar com ela, mas isso não os
impediu de se relacionar às escondidas, o que foi um ato de coragem dos
dois, já que se fossem descobertos eles seriam punidos devidamente.

— Há última carta foi escrita alguns meses antes da morte de Vanessa


e Diogo, mas o estranho que meu pai não fez a carta de resposta.

— Porque ele iria nos deixar — ela me lança um olhar evasivo. —


Antonny estava pronto para nos deixar e fugir com aquela biscate, sem se
importar como ficaríamos sem ele.
Tampo minha boca com a mão e fico paralisada por alguns instantes,
absorvendo o que ela tinha acabado de revelar.

— Seu pai não se importa com a gente — balançou a cabeça. — E eu


precisava fazer algo contra isso.

— O que quer dizer com isso?


— O dia que capturaram Vanessa e Diogo, fui eu que dei a
localização deles para os irlandeses, fui eu que dei a sentença de morte á eles
dois.

— Por quê?

— Não iria deixar Antonny viver o amor dele enquanto nós duas
viveríamos na miséria e seríamos motivo de chacota dentro da máfia.
— A senhora matou eles — digo em um sussurro.

— Os irlandeses mataram, não eu.

Afasto-me dela e tento procurar uma luz dentro daquela loucura toda
que estava sendo esse momento. Se ela tinha sido capaz de mandar matar os
Sartori, o que ela...

— A senhora matou meu pai?

Ela estava com as mãos entrelaçadas e me olha friamente, não parecia


minha mãe ou a mulher que estava diagnosticada com uma doença
degenerativa.
— Ele estava me agredindo mais uma vez — suspirou. — Não
suportei a agressão dele e reagi.

— Matando ele com facadas.

— Era isso ou minha própria morte — deu de ombro. — Agora ele


está fazendo companhia à amada dele no inferno.
— Mamãe.

— Suportei muitas coisas dele Ayla, cheguei a um momento que não


suportava mais aquilo — me olha franzindo o rosto. — Se eu morrer por
causa disso morrerei feliz, pois ele não irá mais me agredir, nunca mais.

Passo as mãos pelo rosto e procuro algum raciocínio certo para se


seguir.
— Não sei o que dizer — mordo meu lábio. — É muita coisa para
processar.

— Vá para casa.

— Você é uma assassina mãe.


— Não me acho uma.

— Mas é.

— Fiz tudo isso para lhe proteger.

— Do quê?

— Da vergonha — me olha irritada. — Não seria bom para você ser


olhada como filha de um homem que tinha deixado sua família para fugir
com outra mulher.

— Ela também tinha uma família! — Não me controlo e acabo


gritando. — Enzo era filho da mulher que você matou!

Mamãe me examinou e logo solta uma risada.

— Você está apaixonada pelo Sartori.


— Isso não é da sua conta.

— Sua boba — balança a cabeça. — Não fomos feitas para ser


amadas.

Aquilo me abalou mais do que deveria, me desestabilizou e deixou-


me sem saber o que dizer.

— Ele não irá amá-la e sim fazê-la definhar nesse casamento, fazê-la
ficar dependente dele e depois humilhá-la — cospe as palavras. — Todos os
homens dessa maldita máfia são assim!

— Se você foi dependente do meu pai não posso fazer nada, mas isso
não irá acontecer comigo.

— Já está acontecendo.
— Cala a boca — vocifero sentindo a raiva pulsar em minhas veias.
— Não sou como você e não serei.

— E não desejo que seja, porque se não a loucura irá lhe consumir.

Fecho os olhos e procuro ficar calma.

— Estamos alteradas — murmuro respirando fundo. — Isso não irá


fazer bem para você.

— Estou super calma — endireitou a postura. — Só estou lhe dizendo


o que deveria ter dito para você.

— Deixarei você descansar.

Viro de costas para ela e expulso da minha cabeça o que ela tinha
acabado de falar. Ela não estava bem mentalmente, então deveria relevar o
que ela tinha dito.

Loucura.
Será que tudo isso que está passando em minha vida irá me levar à
loucura. Não, isso não iria acontecer.

(...)

Ao sair do carro corro para dentro da casa e subo rapidamente as


escadas e me tranco no quarto. Só tenho tempo de entrar no banheiro e
despejar o que tinha no estomago para fora. Com o vômito veio o choro e o
desespero, o que estava acontecendo? Mantenho-me firme contra o vaso e
deixo todo o meu café da manhã sair pela minha garganta. Ao terminar fico
de pé e caminho até a cama onde me deito e seguro o travesseiro contra meu
rosto.
Não posso guardar tudo isso somente para mim, tinha que dizer para
alguém, mas quem? Com esse pensamento deixo a exaustão me levar para
um lugar mais sereno e tranquilo, longe de toda essa confusão.

Capítulo 28

AYLA

Sinto uma mão fria tocar meu rosto e logo descer para o pescoço.
Gemo ao virar de lado e meu corpo reclama todo dolorido.

— Ayla — ouço sua voz ao longe, mas o sono não me deixa abrir os
olhos e encontrar seus lindos olhos. — Está me ouvindo?
Solto mais um gemido e tento encontrar uma posição que conseguisse
relaxar o corpo para poder voltar a dormir.

— Ela está queimando em febre — ouço outra voz, mas aquela eu não
conhecia tão bem. — É melhor chamar o médico.

— Mas... O que ela pode ter?


— Não sei senhor.

Depois disso o ambiente fica silencioso e não sei o que eles estão
falando, logo em seguida sou lançada para a escuridão mais uma vez, onde
tudo era calmo e tranquilo, onde nada de mal acontecia.
Uma picada me desperta e estremeço. Meu corpo ainda dói e a
vontade de manter os olhos fechados ainda era grande, mas dessa vez sentia
que conseguia abri-los.

Aos pouco abro os olhos e encontro o cômodo em que me encontro


escuro e silencioso. Viro a cabeça de lado e não encontro ninguém. Minha
atenção vai para meu braço onde tem uma agulha enfiada e um suporte para o
soro ao meu lado da cama. Ainda estou em casa, na minha cama.

Mas o que estava acontecendo comigo?

Porque precisava daquele soro?

Recordo de uma pequena conversa que tinha escutado ou será


devaneio? Balanço a cabeça e lembro que alguém tinha dito que eu estava
com febre ou algo do tipo, forçar a mente estava doendo muito e desgastando
as poucas energias que tenho.
Decidida a voltar a dormir, vejo a porta do quarto se abrir, a luz do
corredor iluminando um pouco o breu do cômodo. Franzo a testa e forço a
minha visão na pessoa a minha frente.

— A senhora acordou — Tália para a minha frente e me recebe com


um simples sorriso. — Irei chamar senhor Sartori.

— Onde ele está?


— No escritório.

Antes que ela virasse e saísse do quarto seguro seu braço.

— Antes de ir, por favor, me ajude a ir ao banheiro — peço com a


voz arrastada.
— Está se sentindo mal?
— Só preciso ir ao banheiro — balanço a cabeça.

Devagar Tália me ajuda a levantar, paro por um segundo sentindo


minha visão meio turva e um enjoo. Respiro fundo e chegamos ao banheiro,
arrastando o suporte de soro. Tália me esperou no lado de fora enquanto
sento no sanitário e consigo esvaziar minha bexiga. Fecho meus olhos por
alguns segundos e faço uma avaliação mental pelo meu corpo. Meus braços
parecem pesados e sem forças, minhas pernas duas gelatinas de tão moles que
estavam, minha cabeça estava pesada e, além disso, sinto vontade de colocar
o nada que tenho no estômago para fora.
Esfrego minha testa e apoio-me na parede levantando. Percebo agora
que ainda estou vestindo a mesma roupa da noite anterior. Fico de frente ao
espelho e vejo minha imagem, não estou nada legal, meus cabelos
desgrenhados, rosto pálido, lábios sem cor.

— Senhora? — Tália bate na porta.

— Já estou saindo — lavo minhas mãos e abro a porta. — Consigo ir


sozinha até a cama.
— Mas é melhor ajudá-la — segura meu braço e vamos para cama,
onde ajeitou alguns travesseiros e me deixou sentada com as costas apoiada
na cabeceira.

— Obrigada.

Tália saiu do quarto e não demorou muito para Enzo entrar na


companhia de outro homem.
— Senhora Sartori é um prazer em conhecê-la — o homem que
aparentava ter uns sessenta anos me cumprimenta. — Como se sente?

— Corpo dolorido, cabeça doendo e vontade de vomitar.


— Certo — acenou. — Tudo indica que a senhora teve febre
emocional, algo a perturba atualmente?

Fico olhando para o homem por alguns instantes. Poderia fazer uma
lista bem extensa sobre o que estava me perturbando, mas controlo a vontade
de dizer aquilo e balanço a cabeça negando.
— Febre emocional é mais comum do que imaginamos — ele
continua. — Mas não é só isso que descobri.

Franzo as sobrancelhas e viro para Enzo que também olha sem


entender para o homem.

— O que a minha esposa tem?


— Quando foi seu último período menstrual? — O homem continua
me olhando.

Meu rosto esquenta rapidamente, mas logo a vergonha dá lugar para


confusão. A última vez que eu... Isso não poderia ser verdade, mal estava
casada, então não tinha como.

— Senhora Sartori?

— Há um mês, antes do meu casamento — murmuro em um fio de


voz.

— E a senhora está atrasada?

Controlo a vontade de coçar meu pescoço.


— Ayla — Enzo chama minha atenção.

— Cinco ou mais dias — suspiro.

— De atraso?
— Sim — se meu corpo não tivesse tão dolorido eu levantaria da
cama e sairia correndo para fora daqui. — Aonde o senhor quer chegar com
isso?

— Provavelmente a senhora pode estar grávida.


— Provavelmente? — Eu e Enzo falamos juntos.

— Sim.

— Talvez não doutor — me sinto inquieta.

— A senhora toma algum contraceptivo?

— Não.

O médico olhou para o meu marido e logo depois para mim.


— Irei providenciar um teste de gravidez.

— Não é melhor um exame de sangue? — Enzo pergunta.

— Vou pedir um teste de gravidez, se der positivo a senhora procura


um obstetra para confirmar a gravidez.
Acenei e vi os dois homens saindo do quarto, deixando-me só com
meus pensamentos confusos. Grávida? Não tinha ainda parado para imaginar
como seria ter um filho com Enzo, como construiremos uma família. Ainda
era cedo demais, mas parece que Deus não acha isso.

Minutos depois Enzo entrou no quarto e estranho a ausência do


médico.

— Vamos tirar esse soro — ele se sentou ao meu lado e segurou meu
braço. Lentamente ele tirou a agulha da minha pele e pressionou um pouco o
local onde a agulha estava antes. — Irei ajudá-la ir ao banheiro.
Enzo me pega no colo e nos leva para o banheiro, me sentou no vaso
e estendeu a sacola, ali dentro encontro três testes.

— Um já serviria — sussurro pegando.


— Eles têm as porcentagens de falha, melhor fazer três — deu de
ombro abrindo as caixas, me espanto mais vendo dois palitinhos saindo de
cada caixa.

— Seis? — Olho para ele.

— Para não ter erro.


— Não sei se tenho tanto xixi para todos eles.

— Posso pegar água para ajudar.

— Não precisa — pego os testes da sua mão. — Só preciso de um


pouco de privacidade.
— Prefiro ficar.

— Enzo — olho exasperada para ele. — Não vou conseguir com você
aqui.

— Posso ligar a água do chuveiro para você imaginar uma cachoeira.

Fecho os olhos e controlo minha vontade de gritar neste momento,


não estou com cabeça para brigar, tenho algo mais importante para me
preocupar do que imaginar fazer xixi na frente dele.

Os minutos seguintes foram os mais torturantes que já vivi na minha


vida inteira. A parte do xixi não foi nem constrangedor, mesmo que Enzo
tenha ficado me olhando enquanto me concentrava a acertar o xixi no palito.
Esperar os cinco minutos foram horríveis, sinto meu estômago gelar e a
vontade de correr para a cama e me esconder era grande, mas o momento que
vi as letrinhas nos testes senti meu mundo completamente parar.

Positivo.

Não tem como dizer que tinha alguma falha nos testes, porque todos
os seis deram o mesmo resultado. Eu estou completamente grávida e a ideia
começou a me deixar desesperada.

Mãe? Eu?

Não sei se sou capaz disso. Minha respiração se altera e tenho a


sensação que as paredes estavam se movendo. Precisava sair dali.
— Ayla — a voz de Enzo parecia distante nesse momento.

Não controlo minhas pernas e saio do banheiro, mesmo ainda me


sentindo fraca e indisposta vou até o closet, tento procurar alguma coisa para
vestir e sair daqui rapidamente para pensar, e para fazer isso tinha que ser
longe daqui.

— O que você está fazendo? — Enzo está parado na entrada do closet


e observando cada movimento meu.
— Preciso sair daqui.

— Ayla você não está bem, precisa descansar.

— Preciso sair — repito para mim enquanto visto uma calça e uma
camiseta.
— Ayla — ele me chama, mas não dou atenção calço a primeira
sandália que vejo a minha frente. — PARA!

Enzo está parado a minha frente segurando meus ombros e me


balança. Olhos intensos e confusos me examinam nesse momento e a
primeira reação que tenho ao olhá-lo é de me distanciar, mas Enzo continua
me segurando.

— Me solta — peço baixinho.

— Você não está bem — seu tom era baixo, mas ameaçador. — Vai
descansar.

— Eu não consigo respirar — sinto meus olhos queimarem pelo


choro. — Preciso sair.

— Tudo isso é por causa dos testes? — Franze as sobrancelhas.

A primeira lágrima desce pelo meu rosto e outras vieram em seguida,


fazendo meu corpo balançar e os soluços romperem minha garganta. Enzo
me abraça fortemente. Seguro sua camisa e deixo todo aquele sentimento
estranho se instalar no meu corpo.

— Não sei se irei conseguir — confesso derrotada.

— Claro que irá — continua abraçado a mim. — Iremos conseguir.


Afasto alguns centímetros meu rosto do seu peito e fito seus olhos.

— Você vai estar ao meu lado?

— Claro que sim — me dá um pequeno sorriso. — É o nosso filho.

Mordo meu lábio e o abraço fortemente, deixando toda a incerteza de


lado por alguns segundos. Não imaginaria que ele ficaria assim tão feliz por
um filho, achava que ele iria se afastar e começar a me evitar. Mas não! Ele
está aqui me abraçando e dizendo que estará ao meu lado.
Capítulo 29

AYLA

Estávamos deitados, Enzo com a cabeça encostada na minha barriga e


meus dedos enroscados em seus cabelos. Enzo tinha me levado de volta para
a cama e retirado toda minha roupa e a sua, deixando-nos pele contra pele.

Continuo acariciando seus cabelos enquanto sinto as pontas dos seus


dedos tocando delicadamente minha barriga que ainda não denunciava uma
criança ali dentro, nossa criança.
— Você está muito pensativa — ele movimenta a cabeça até que
nossos olhares se encontram. — No que está pensando?

— Tudo e nada ao mesmo tempo — lanço um sorriso na sua direção.


— Só estou absorvendo a novidade ainda.

— É um filho — se sentou. — Era do que precisávamos.


Será que precisava mesmo de um bebê nesse exato momento da
minha vida? Talvez ela fosse algo que iria nos unir, mas era tão cedo.

— Sim era, mas talvez não fosse agora — me sento e entrelaço meus
dedos. — Estamos casados apenas um mês e agora teremos um filho.
Deveríamos ter nos prevenido e futuramente poderíamos ter pensado em ter
filhos.

— Mas ele está aqui entre nós — ele toca minha barriga.

Olho para sua mão e balanço a cabeça. Isso é muito para pensar e
minha cabeça estava uma confusão nos últimos dias e agora... Teria que
pensar em uma criança que crescia dentro de mim.

— Preciso de um banho — digo fazendo o movimento de levantar.

— Quer ajuda?
— Não é necessário — sorrio forçado.

— Ayla...
— Em dez minutos saio.

Vou para o banheiro e fecho a porta trancando-a. Recosto-me na


madeira e deixo meus ombros caírem. Preciso de alguns minutos somente
para mim e poder refletir.

ENZO

Encaro a porta fechada e o silêncio vindo do outro lado. Estou á


alguns minutos me perguntando se deveria abrir a porta para ver como ela
está, mas decidi dar-lhe alguns minutos de paz.

Volto até a cama e pego meu celular, vendo algumas chamadas


perdidas e mensagens.

— Onde você está? — Sua voz era estridente acima do barulho do


outro lado.
— O que aconteceu?

— Uma grande merda — escuto mais barulhos. — Preciso que você


venha pra cá.

— Barone é bom que...


— Ferrara nos traiu — gritou. — Aquele filho da puta.

— Me mande sua localização e controle a situação.

— Irei matá-lo.
— Se controle.

Desligo o celular e volto a olhar para a porta do banheiro. Não tinha


tempo, visto minhas roupas e saio do quarto batendo a porta. As coisas não
poderiam estar indo tão ruim assim, o que estava acontecendo com esses
bastardos? Por que todos tinham que começar a virar as costas e armarem
para cima de mim? Mas isso não ficará assim, não ficará.

— Para onde vai irmãozinho? — Milena aparece no meu campo de


visão.
— Não estou com tempo Milena.

— Só perguntei para onde vai — encostou-se à parede. — Parece


nervoso.

— Não me teste.
Ela olha para suas unhas e logo depois para mim.

— Soube que o médico esteve aqui, o que aconteceu?

— Nada que seja da sua conta.


— Bruto — revirou os olhos. — Sua esposa está doente?

— Milena adoraria discutir sobre a visita do médico com você, mas


estou sem tempo e paciência, então saia da minha frente.

— OK — levantou as mãos. — Só tome cuidado.


Aceno para um dos soldados, este anda apressadamente na direção do
carro. Tinha que resolver logo esse assunto.

(...)

Observo cada homem sentado ao redor da grande mesa. Todos


pareciam nervosos com a reunião repentina.

— Não entendo Sartori, se Ferrara fez isso o que irá acontecer agora?
— Lucio Marini pergunta.
— Não sabemos ao certo até que ponto ele nos delatou para a polícia
— Barone diz. — Mas temos que ficar atentos com as pessoas ao nosso
redor.

— Sabia que aquele desgraçado não era de confiança — Costa Gallo


vocifera. — Temos que caçá-lo e matá-lo.

— O desgraçado está sob a guarda da polícia, não podemos fazer nada


— murmuro calmamente. — Mas essa reunião não serve apenas para
falarmos de Ferrara e sim da lealdade de vocês.
— Está duvidando de nossa lealdade? — Lucio me olha.

— Se Ferrara foi capaz de nos delatar a polícia o que vocês são


capazes quando a polícia vir atrás de nós?

— Olha aqui Sartori estou á mais tempo nesse mundo do que você e
sei a lealdade que sirvo dentro da famiglia, não será você a duvidar dela.

— Se você tem certeza disso não terá problema se eu lhe pedir para ir
á polícia e se entregar, ou será que há?

— O quê? — Costa fica espantado. — Iremos nos entregar?

— Se isso for necessário para provarem sua lealdade vocês o fariam


ou não?
— Você só pode estar ficando louco Sartori.

— Não estou — sorrio friamente. — Só estou tentando ver até onde


vocês iriam pela famiglia. — Eu morreria por ela! — Costa se exalta. — Mas
me entregar à polícia...

— Não se preocupe meu amigo — o corto. — Só estava vendo se


vocês fariam isso.
— Sartori...

— A reunião está encerrada — olho para os homens. — Fiquem


atentos a qualquer coisa fora do normal.

Domênico que se manteve calado durante toda a reunião permaneceu


no mesmo lugar enquanto os outros homens saíam da sala e por fim ficamos
a sós.
— Precisamos calar a boca dele — ele fala pela primeira vez.

— Sei que sim — bufo me recostando, na cadeira.

— Me pergunto por que ele fez isso — estreitou os olhos para o nada.
— Medo — digo pegando meu copo em cima da mesa.

— Do quê?

— Ferrara tem mais a perder do que imaginamos — olho para


Domênico. — Há alguns anos ele foi pego portando drogas para fora do país,
mas as drogas não chegaram ao seu destino.
— O que aconteceu?

— Ferrara foi pego pela polícia e detido — bebo o meu conhaque. —


Eu o livrei da cadeia, mas agora ele está me traindo.

— Precisamos pensar em algo para pegá-lo.


— Darei um jeito — me levanto. — Estou indo para casa.

— Não vai ao clube?


— Passarei um tempo sem ir — ele me olha estranho. — Ayla está
grávida.

A tensão em seu rosto diminui, ele logo ele abre um sorriso.


— Devo lhe dar parabéns?

— Não é necessário.

— Stefano sabe?

— Não, logo entrarei em contato com ele.

— Mesmo no meio dessa merda toda algo está dando certo não é?

Aceno saindo da sala e seguindo para casa. Tudo estava silencioso e


quando sigo para o andar superior paro numa porta que não era a minha. Dou
uma batida e entro.
Milena estava sentada no chão olhando para algumas fotos espalhadas
no carpete a sua frente.

— O que foi? — Me olha.

— Preciso que faça algo para mim — murmuro sem rodeio.

— Algum serviço?

— Sim.

(...)

AYLA
Enzo estava calado durante o jantar, parecia pensativo. Viro na
direção da cadeira vazia a minha frente, Milena não estava entre nós nesta
noite e aparentemente vai ficar fora alguns dias, segundo Enzo tinha dito.
Não perguntei o motivo, pois vi que ele não estava interessado a dar
continuidade naquele assunto e não seria eu a insistir. Movimento meu talher
sobre o prato e pego um pouco do macarrão. Mastigo vagarosamente, fecho
os olhos e saboreio sentindo meu paladar se aguçar com tamanha maravilha.
Desde a manhã não tinha conseguido comer bem, não estava mantendo nada
no meu estômago e o jantar era a primeira refeição que estava conseguindo
fazer direito.

— Como está se sentindo? — Enzo captura cada movimento meu.

— Ótima.
— Ainda está se sentindo fraca?

— Não, estou mais disposta.

Enzo acenou e voltou a se concentrar na sua comida.

— Precisamos procurar algum médico para cuidar da sua gravidez.

— Irei amanhã procurar — pego meu copo d’água.

— Marque a consulta que irei com você.


— Certo.

Enzo se levanta e deixa o guardanapo na mesa.

— Preciso resolver alguns assuntos no escritório.


Fico mais um tempo sentada e termino minha refeição. Tália logo
aparece e começa a retirar a mesa. Levanto-me e decido ajudá-la. Recolho as
travessas e vou para a cozinha.

— Senhora não é necessário — Tália me olha espantada.


— Quero ajudá-la — sorrio. — Pode tirar o resto da noite de folga.

— Senhora...

— Sei me virar Tália.

— Mas o senhor Sartori não irá gostar.

— Ele não precisa saber.

Meio incerta ela aceitou, foi para os fundos da casa onde ficava o seu
quarto e de alguns soldados. Termino de tirar as coisas da mesa, coloco os
pratos na lava louças. Arrumo a pia e olho ao meu redor. Aquilo ajudava a
ocupar minha cabeça.
Vou até a geladeira e lá encontro uma travessa com mousse de
chocolate. Mesmo me sentindo cheia sinto vontade de comer aquela delicia a
minha frente. Pego um pedaço e me sento em uma banqueta da ilha.

— O que faz aqui? — Enzo está parado no arco da cozinha.

— Comendo essa maravilha aqui — indico o doce a minha frente.


— Você pode comer isso?

— Claro que sim — ponho mais um pouco do mousse na boca. — E


está muito bom.

— Só não exagere.
— Pode deixar — ele caminha até a geladeira e pega uma garrafa
d’água. — Conseguiu resolver o que tinha que resolver?
— Não, só vim pegar água.

Balanço a cabeça e volto minha atenção para o prato.

— Se quiser vir para o escritório pode vir — murmurou chamando


minha atenção.

— Sério?

— Se não fosse sério não estava falando.

Reviro os olhos com seu tom rude, algumas coisas não mudavam,
mesmo que Enzo continuasse a ser o mesmo homem de sempre. Deixo a
banqueta me aproximando dele, fico nas pontas dos pés e aproximo nossas
bocas. Enzo segura minha nuca e me beija profundamente, solto um suspiro e
seguro seus ombros.

— Você tem gosto de chocolate — murmura contra minha boca,


sugando meu lábio inferior.

Seguro seus cabelos e o puxo para ainda mais perto, sua boca volta
para a minha e o movimento dela me leva ao delírio. Seus braços me rodeiam
e sem perder tempo me vejo sentada na ilha da cozinha com Enzo no meio
das minhas pernas. Suas mãos passaram pelas minhas coxas, subindo a saia
do meu vestido.
— Você precisa descansar um pouco — disse enquanto beija meu
pescoço. — Ainda não está cem por cento.

— Não precisamos parar — seguro seus cabelos. — Só continua.

— Ayla o be...
—Shhhhh — seguro seu rosto e ponho um dedo sobre seus lábios. —
Preciso de você.
Enzo continua parado enquanto olha minhas mãos movimentando
rapidamente sobre seu cinto e botões da calça. Desço a peça da sua roupa
junto com a cueca boxer cinza e mordo meu lábio quando vejo seu membro
pulsante.

— Seu amiguinho concorda comigo.


— Nunca te vi desse jeito — segura minha cintura.

Sinto meu rosto enrubescer um pouco, mas logo volto a beijá-lo,


esquecendo a minha ousadia. Entrelaço minhas pernas na sua cintura, Enzo
tira rapidamente meu vestido e o joga em qualquer lugar.

— Deite — ordenou se afastando e saindo das suas calças. — Poderia


ficar a noite inteira olhando para o seu corpo.
Seguro a borda do balcão e inclino meu corpo na sua direção o
chamando silenciosamente. Vejo um pequeno sorriso nascer no seu rosto, ele
toca minha barriga e vai subindo até os meus seios cobertos pela renda do
sutiã. Seus dedos tocaram os meus mamilos, fazendo-me fechar os olhos e
soltar um pequeno gemido. Meus seios estavam tão sensíveis que qualquer
toque estava me deixando à beira do abismo do clímax.

— Enzo — o chamo enquanto seus dedos trabalham nos meus seios.


— Eu...

— Calma — suspirou contra minha pele dos seios, afastou um dos


bojos e sugou um mamilo enquanto o outro continuou massageando. — Só
começamos.
Toco seus cabelos e puxo as mechas escuras, o fazendo rosnar e
chupar, lamber cada vez mais meus seios. Suas mãos caminharam pela lateral
do meu corpo e parou nos meus quadris os segurando com pressão.
— Não vou aguentar por muito tempo — minha voz sai em um fio.

Seu olhar encontra o meu e os cinza estavam tão escuros como uma
tempestade no meio de uma maré revolta. Agilmente Enzo tira minha
calcinha e em um único movimento me penetra. Solto um grito e contorço
meu corpo sobre o mármore que não estava tão frio como antes.
— Não precisa mais se controlar — comandou com a boca sobre a
minha.

Ofego e seguro seu rosto enquanto seus quadris batem nos meus,
fazendo meu corpo subir a cada estocada sua que me leva às nuvens. O aperto
contra mim cada vez que o sinto entrando na boceta, fazendo um estrago não
só no meu corpo, mas sim no meu coração, na minha alma.

Mordo seu ombro quando alcanço meu orgasmo e Enzo se movimenta


ainda mais rápido, em busca do seu. Enzo solta um grunhido enquanto o sinto
se despejando dentro de mim os seus movimentos diminuíram aos poucos e o
seu corpo deitou sobre o meu, cobrindo-me.
Abraço-o pelos ombros e toco os seus cabelos da nuca. Enzo poderia
ser um estranho, distante e frio, mas é meu marido e pai do meu filho. Nós
estávamos montando nossa família e pela primeira vez sentia uma pequena
pontada de felicidade.

Só precisava me convencer de que conseguiria ser uma boa mãe, que


seria melhor que nossas mães. Seria uma boa mãe para aquela criança, visto
que iria mudar as nossas vidas.

(...)
Escondo minhas mãos trêmulas dentro do casaco de moletom e tento
transparecer calma, enquanto que por dentro estou morrendo de medo. De
relance vejo Enzo sentado lendo uma revista.

Algumas mulheres ao nosso redor o encaravam descaradamente, até


eu olharia se encontrasse um homem como ele sentado num consultório no
meio de muitas mulheres de barrigas grandes, ou seja, completamente
grávidas.

— Tudo certo? — Ele me olha.

— Sim — sorrio. — Só um pouco nervosa.

Enzo tinha conseguido encontrar uma ótima médica, mediante


indicação do médico da família. Pelo relatório que Enzo tinha me dado ela
era jovem, mas sabe o que faz e tinha um ótimo currículo, o que já ajudava
bastante.
— Respire fundo — me instrui segurando minha mão.

Nos últimos dias ele estava mais presente e parecia querer se certificar
que nada de mal iria acontecer comigo. Isso poderia ser uma demonstração de
afeto, mas não iria me iludir tanto assim.

— Senhora Sartori? — Uma mulher apareceu no meu campo de


visão.
Logo me levanto e vou em direção á mulher.

— Sou eu.

— Me acompanhe, por favor.


Enzo logo aparece ao meu lado e seguimos até o consultório médico.
Lá dentro encontramos a doutora Noah que se levantou e nos cumprimentou
com um aperto de mão.

— Se acomodem — ela indica as cadeiras de frente a sua mesa.

— Obrigada por se disponibilizar tão em cima da hora doutora —


sorrio.

— Estou aqui para isso — nos olhou. — Primeiro filho?

— Sim.

— Certo — ela olha para uma folha. — Preciso saber qual foi seu
último período menstrual e a partir daí podemos contar de quantas semanas a
senhora pode estar.

Ela continuou falando, não conseguia prestar muita atenção no que


falava, mas Enzo se mantinha muito interessado e concentrado em tudo que
ela dizia. Depois de anotar algumas coisas em uma folha ela me pediu para
pesar e aferir a pressão. Logo depois fomos até uma pequena salinha me deito
numa maca, ela pede para levantar a blusa. O gel em contato com minha
barriga é gelado, mas logo esqueço o frio e presto atenção na tela ligada ao
meu lado e uma imagem em branco e preto ganha vida.

— Esse aqui é seu bebê — ela aponta para um pequeno ponto para a
imensidão preta. Era um pequeno ponto quase imperceptível. — Podemos
dizer que a senhora está com quatro semanas e cinco dias.
Aquele pequeno ponto na tela tinha sido concebido na mesma noite
do meu casamento. Mordo meu lábio e prendo a vontade de chorar, só nesse
momento percebi que realmente seria mãe, e que um pequeno ser precisava
de mim. Enzo que está calado ao meu lado olhando para a imagem na tela
parecia submerso em seus próprios pensamentos. Seguro sua mão e ele
abaixa a cabeça para mim, dou um sorriso emocionado e vejo um pequeno
brilho na imensidão cinza dos seus olhos.

Aquele era o nosso futuro, nosso pequeno broto de felicidade.

Capítulo 30

AYLA

Sento na cama e faço uma careta ao mesmo tempo. Todas as manhãs


durante os primeiros meses foram despertar, correr para o banheiro e colocar
o pouco que tinha no estômago para fora. Doutora Noah tinha dito que isso
poderia ser normal no primeiro trimestre da gestação e os meus enjoos mal
tinham começado, eu já desejava que essa fase acabasse logo. Com a
descoberta da gravidez algumas mulheres, na verdade várias mulheres da
família me convidaram para chá da tarde, convites para salões de beleza e
outras coisas. Parecia que com a gravidez eu finalmente fazia parte do ciclo
delas e não era mais uma estranha no meio daquilo tudo. Nos primeiros dois
meses alguns sinais já apareciam no meu corpo, como meus seios que
pareciam maiores e doloridos. O sono também parecia ascendente e a vontade
de ficar na cama era sempre maior, isso sempre causava algumas discussões
entre mim e Enzo, pois ele queria me levar para fazer caminhadas e eu só
queria ficar deitada, dormindo. Mas todas às vezes, acabei cedendo e
colocando os tênis para acompanha-lo.
Saio da cama cambaleando e vou até o banheiro, molho meu rosto na
pia e respiro fundo controlando o mal-estar que ainda se mantinha mesmo
com meus quase seis meses. Minha barriga já era bem evidente e sempre
ficava marcada com qualquer roupa que usava, mesmo que algumas fossem
mais largas do que o necessário.

Laura tinha ficado eufórica com a gravidez e já tinha começado a


planejar o enxoval do bebê que teria mais roupas do que o príncipe da
Inglaterra. Ela parecia bastante entretida pela organização do quarto do bebê
e eu adorava a sua companhia.

Todo o medo do inicio tinha desaparecido e a certeza de que aquilo


daria certo era maior do que qualquer outro coisa. Também já tinha
começado a sentir alguns movimentos leves do bebê e a maioria deles vinha à
noite quando Enzo estava deitado ao meu lado tocando minha barriga. Enzo
também está mais presente em minha vida, trabalhava e resolvia alguns
assuntos da famiglia no escritório da casa, com isso o movimento da casa fica
ainda maior que antes, me fazendo encontrar homens pela casa tomando
alguma bebida.

Nas últimas consultas não tinha conseguido ver o sexo do bebê a


doutora disse que meu pequeno broto era tímido, aquilo me fez rir, mas Enzo
que sempre ia às consultas se mantinha sério e fechado para qualquer
divertimento. E em uma noite deitados na cama virei para ele e disse:

— Você tem preferência?


— Como assim?

— Menina ou menino.

— Não penso nessa besteira — virou para mim. — Só quero que


venha com saúde.
— Mas não parece — suspiro. — Todas as consultas que vamos você
parece mais fechado quando a médica diz que não consegue identificar se é
menina ou menino.

— Ayla sabemos como as coisas funcionam no nosso mundo — ele


toca minha bochecha. — Claro que às vezes fico me perguntando se o bebê
for menino será mais fácil.
— E se for menina, irá sujar seu nome — seguro sua mão. — Não
vamos pensar sobre isso, vamos aproveitar esse momento que deve ser
mágico e não preocupante.

— Vamos aproveitar — põe a mão sobre minha barriga. — Esse bebê


tímido é o nosso começo.

— Sim é.
Sua boca encosta na minha, logo sou puxada para cima do seu corpo e
o tão conhecido frio na barriga aparece e a frustração de outrora é esquecida.

Abro um pequeno sorriso e olho minha imagem no espelho, meus


cabelos loiros escuros estavam uma bagunça ondulada e o famoso brilho nos
olhos estava presente. Escovo meus dentes, arrumo meus cabelos, termino
vestindo um moletom grande e um par de meias. O dia estava meio frio, nos
últimos dias estava escolhendo roupas mais confortáveis já que quase mais
nada do meu guarda roupa servia, em breve teria que comprar algumas
roupas.

Desço até a sala de jantar e encontro Milena sentada à mesa. Desde


que ela tinha viajado por alguns dias, vinha agindo diferente, estava menos
falante e parecia ter aceitado perfeitamente o novo integrante da família
Sartori.
— Bom dia — a cumprimento me sentando e pegando o bule cheio de
chá, tinha descoberto que chá de camomila acalmava meu bebê e diminuía o
rebuliço do meu estômago.

— Bom dia — falou sobre sua xícara. — Como está nessa manhã?
Todos os dias eram assim, nos cumprimentávamos e ela perguntava
como eu estava. Será que isso era o começo de uma trégua? Dou um sorriso
com esse pensamento e respondo para ela que estou bem.

— Onde Enzo está?

— No escritório com alguém da máfia — deu de ombro. — Irá fazer


alguma coisa hoje?
— Não, irei ficar na sala assistindo alguma coisa ou lendo — pego
uma torrada.

— Podemos sair, será bom — me olha séria, mas vejo em seus olhos
azuis uma pequena pontada de ansiedade.

— Claro será legal andar um pouco — concordo tomando meu chá.


— Ótimo, podemos ir depois do café?

Assinto e volto minha concentração para o café. Ao terminar meu chá


e torrada pego um pedaço de mamão e como. Olho para o prato vazio de
Enzo e pergunto o que seria tão sério para ele ainda não ter vindo tomar o
café comigo e sua irmã.

(...)

ENZO
O cheiro era forte e quase insuportável, se não tivesse acostumado
com tudo isso, se fosse um iniciante com certeza colocaria as tripas para fora.
O cheiro de carne queimada, gritos pedindo por socorro e clemência eram os
sons nos meus ouvidos.
Vejo o homem acorrentado a minha frente, com a camisa aberta e
braços suspensos no ar. Aquela era uma bela visão para o meu dia. Arrasto a
cadeira pelo chão imundo e paro a sua frente. Seus olhos azuis desfocados me
fitam com dúvida e medo.

— Como é bom vê-lo meu caro amigo — me sento e abro o botão do


paletó — Imaginei que nunca mais iria vê-lo novamente.

— Se-seu filho... da puta — rosnou fracamente.


— Mesmo na morte ainda consegue xingar — zombo. — Como é
estar acorrentado e prestes a morrer.

— Sua hora vai chegar Sartori — cuspiu sangue.

Sua pele estava toda cortada e queimada mostrando quais tipos de


tortura Domênico tinha seguido. Meu consigliere poderia ser impiedoso
quando o assunto era traição.
— Antes de conceder sua passagem para o inferno preciso saber de
algo — apoio os cotovelos nas coxas. — Por que você fez isso?

— Cansei dessa vida de ladrão.

— Essa vida de ladrão que lhe trouxe toda riqueza que você tem —
seguro suas bochechas. — Essa vida de ladrão que lhe fez conhecido em todo
mundo, que fez mulheres correrem atrás de você, lhe desejando seu merda, e
o que você nos dá em troca?
— Era necessário — falou com a voz quebrada. — Precisava fazer
isso.

— Claro que precisava — solto seu rosto com brutalidade. — Mas


você esqueceu-se de uma coisa, quando fazemos nossos votos, prometemos
honrar com nossos deveres e somente sair morto dessa vida.
— Enzo...

— Ferrara, você mais do que ninguém sabe que odeio traidores —


levanto e caminho calmamente até uma mesa onde tinha vários instrumentos
de tortura. — Você já viu com seus próprios olhos o que faço com traidores
que quebram o juramento de lealdade a mim.

— A polícia saberá que foi você que me matou — ele olha assustado
para a marreta, em minhas mãos.
— Que eles provem que lhe matei...

— Sartori...

— Diga um olá para o diabo em meu nome — com um único golpe


arremesso sua cabeça para fora do corpo que treme por alguns segundos
esguichando sangue para todos os lados e logo cai sem vida.

Viro na direção de um dos meus soldados, entrego a marreta e digo.

— Livre-se do corpo.

(...)

AYLA
Milena conseguiu me arrastar pelas ruas de Nova York, conheci um
lado dela que jurava não existir. Ela parecia mais leve e até mesmo divertida,
mesmo que em alguns momentos do nosso dia ela se fechava e ficava calada,
algo que Milena parecia em muito com o irmão.
— Esse aqui combina com você — ela vira me mostrando um vestido
cinza sem mangas de gola alta. — Irá marcar bastante sua barriga.

— É bonito.

— Então vamos levar — Milena entrega para a vendedora que estava


com os braços cheios de roupas. — Esquecemo-nos de alguma coisa?
— Os sapatos? — A vendedora nos olha esperançosa, com certeza ela
ganhara uma ótima comissão por conseguir vender quase a loja inteira.

— Isso — Milena sorri. — Irei procurar alguns sapatos logo volto.

Acenei olhando para algumas calças e casacos. Passo algumas araras


para o lado e pego um vestido vermelho e costas nua, era bastante ousado
com o tamanho consideravelmente curto. Era bonito.

— Ayla?

Olho para o lado e encontro Perla parada á alguns metros, ela estava
bonita como sempre, com seus cabelos loiros claros amarrados em um rabo
de cavalo, uma calça pantalona vermelha, com um body branco.

— Perla — forço minha voz a sair amistosa.


— Faz tempo que não nos vemos — se aproxima e olha para minha
barriga. — E você está grávida.

— É — viro na direção onde Milena tinha seguido. — Milena lhe


chamou?

— Milena está aqui? — Olha-me surpresa. — Faz um tempo que não


falo com ela ou com Enzo.
— Ele não lhe procura mais?! — Meu tom sai surpresa.

— Desde que vocês voltaram da lua de mel, não — fez uma careta. —
Talvez ele tenha cansado de mim, mas acho que isso foi certo, encontrei
alguém melhor e que quer estar ao meu lado.

Aquilo me deixa sem saber o que dizer. A última vez que tinha visto-a
quase expulsei de dentro da minha casa e depois daquilo nunca mais tinha a
visto.
— Estou feliz por você — falo sincera.

— Obrigada — sorri. — Espero que Enzo esteja sendo o marido que


você espera que ele seja.

— Sabemos que Enzo não é algo que podemos moldar.


— Verdade — suspirou. — Tenho que ir, espero que vocês sejam
felizes.

Ela se virou sem esperar uma resposta minha e seguiu seu caminho
para fora da loja. Alguns minutos depois Milena voltou com várias caixas de
sapatos dizendo que ali tinha para nós duas.

— Encontrei Perla — comento enquanto seguíamos para o carro.


— O que ela queria? — Me olha duvidosa. — Ela falou alguma coisa
desagradável?

— Não, pelo contrário, ela disse que tinha encontrado alguém, parece
ter esquecido Enzo.
— Finalmente ela conseguiu — suspirou. — Desde a morte do seu pai
percebi que não estava sendo nada legal com você, então decidi me afastar de
Perla, não é certo levar outra mulher para dentro de casa, onde a mulher do
meu irmão mora.

Fico olhando para Milena, um sorriso cresce em meu rosto e sem


pensar muito a abraço, e ela ficou parada por alguns instantes, surpresa com o
meu ato.

— Sabe que não precisa fazer isso — ela disse com o rosto vermelho.
— Sabe... eu... vamos esquecer isso.

— Não gosta de abraço? — Levanto as sobrancelhas.

Milena abaixa a cabeça e vejo sua testa franzir um pouco.


— Não quero falar sobre isso.

— Tudo bem.

— Podemos ir para casa Gustam — ela ordena para o soldado.


O caminho para casa estava sendo feito em silêncio e quando
chegamos a casa, dois soldados ficaram responsáveis de tirar todas as sacolas
do carro. Milena me acompanhou até o primeiro andar e cada uma entrou no
seu quarto. No entanto, meus pés pararam no momento que vejo Enzo
sentado na beirada da cama. Minha respiração fica suspensa ao ver os papéis
em suas mãos.
Capítulo 31

AYLA

— Enzo — minha voz sai em um sussurro e tremo ao ouvir a porta


atrás de mim se fechar.

Seu rosto que estava abaixado, concentrado na folha em suas mãos, se


levanta vagarosamente. Os cinza dos seus olhos estavam sombrios, nebulosos
e temidos.

— O que é isso Ayla? — Levantou as mãos com as cartas.

— Eu posso explicar...

— Como explicar? — Pergunta com o tom calmo, mas sabia que ele
poderia estar qualquer coisa, mas calmo ele não estava.

— Isso é algo que precisamos conversar com calma.

— Calma!? — Me olha zombeteiramente. — Como posso ficar calmo


quando encontro essas merdas na sua gaveta?

— Enzo...

— Só preciso saber de uma coisa — me corta. — Isso tudo é verdade,


minha mãe e seu pai?
— Sim — abaixo a cabeça. — Minha mãe confessou que eles tinham
um caso.

— Um caso — repetiu. — Nessas cartas consigo ver todos os


sentimentos de raiva e repulsa que ela tinha por mim e Milena...

— Eu sinto muito.

— Ela nos odiava — continuou. — Éramos como se fosse uma


doença contagiosa para ela.

Continuo parada no mesmo lugar o vendo amassar as laterais das


folhas e seu peito subir e descer.

— E imaginar que por um segundo da minha vida quando criança


amei essa mulher — rosnou. — Consigo ver Milena chorando ao descobrir
que nossos pais tinham morrido, ela gritando pela mulher que nos fez parecer
como vermes nessas cartas.
— Isso não importa mais — dou um passo na sua direção. — Ela está
morta.

— Sim está — o olhar que ele me deu fez meu coração perder uma
batida. — E se não estivesse faria questão de matá-la nesse exato momento.
Levanto a mão para tocar o seu rosto, mas Enzo segura meu pulso,
fazendo-me tremer pela dor da sua mão na minha pele.

— Mas sabe o que está me deixando furioso? — Rosnou


aproximando o rosto do meu. — Você sabia disso, sabia das cartas e não me
disse nada.

— Eu iria contar.
— Quando? — Seus olhos eram gélidos. — Quando eu estivesse
fodendo você?

— Não fale assim...

— Você é como as outras mulheres — continuou. — E eu pensei que


poderia confiar em você.
— Enzo, você está me machucando — tento tirar meu pulso da sua
mão. — Enzo.

— Há quanto tempo você está com essas cartas?

— Por favor.
— Diga!

— Há seis meses — sussurro. — Descobri um pouco antes de saber


da gravidez.

— Esse tempo todo você me escondeu isso — ele me trouxe para


mais perto do seu corpo, ao sentir seu hálito no rosto foi pânico que senti e
não o tão conhecido desejo que sempre sentia. — O que você ainda esconde?

— Nada.

— Não minta para mim Ayla — aperta mais meu pulso.

Faço uma careta ao sentir a dor irradiar pelo meu corpo.

— Minha mãe.
— O que tem ela?

— Foi ela que entregou seus pais para os irlandeses — sinto a


primeira lágrima descer pelo rosto.

— Não me venha com choro agora Ayla — me balança. — Você está


querendo dizer que a sua mãe...
— Sim.

— Ela mandou matar meu pai que não tinha nada haver com a
podridão do seu pai com a minha mãe — segurou minhas bochechas. — Sua
mãe sentenciou a morte deles.

— Foi por um bem maior.

— Qual seria esse bem maior do que a minha família?

— A minha — forço minha voz a sair firme, mesmo que o meu corpo
esteja tremendo completamente. — Meu pai largaria a mim e minha mãe para
fugir com a sua mãe.

— E com isso ela decidiu se aliar com os irlandeses?


— Foi por mim que ela fez isso.

— Nenhum filho vale todo esse sacrifício.

— Minha mãe achou que sim — revido tentando sair dos seus braços.
— Se sua mãe não lhe amava, a minha mãe sim, porque ela se preocupava
com o meu futuro!

— Cala a boca! — Rugiu me jogando na cama. — Sua família acabou


com a minha.
— Sua mãe que acabou com a sua — me sento.

— Você é uma vadia — aquelas palavras me machucaram


profundamente. — E eu achando que você era a pessoa mais inocente no
meio disso tudo.

Enzo pegou seu coldre com sua arma e seu paletó.


— O que você vai fazer?

— Não é da sua conta — murmurou saindo do quarto.

Cambaleando saio da cama e corro atrás dele que já estava descendo


as escadas.
— Se você for atrás da minha mãe, se a machucar — falo alto atrás
dele. — Nunca irei perdoá-lo.

— Quem disse que me importo com isso? — Virou para mim. —


Não me importo com a porra dos seus sentimentos, não me importo com o
que você acha, Ayla.

— Ela é a minha mãe — paro no meio das escadas tentando não ligar
para suas palavras de segundos atrás.
— Ele era o meu pai — vejo-o ajeitar sua roupa. — Não me peça
piedade quando sua mãe não teve pela minha família.

— Enzo...

A porta da frente é fechada com força, estrondando as paredes.


Seguro fortemente o corrimão e solto um grito. Toda a dor que guardei nos
últimos minutos estava sendo liberada de uma única vez. Sento-me em um
dos degraus e deixo as lágrimas fluírem livremente pelo meu rosto, deixo
meu corpo tremer e os soluços rasgarem meu peito.

— Ayla — ouço a voz vinda do alto da escada.


Viro o rosto e encontro Milena me olhando sem entender nada.

— O que aconteceu? — Desceu os degraus. — Escutei os gritos.

— Ele irá matá-la — digo em meio ao meu choro.


— Enzo vai matar quem?

— Minha mãe.

— Por que ele faria isso? — Se sentou ao meu lado.


Mais soluços saem pela minha boca, me impedindo de falar. Abraço
meu corpo e começo a me balançar para frente e para trás, fazendo meu corpo
tentar encontrar um meio de se acalmar.

— Ei — ela passa o braço pelo meu ombro. — Vai ficar tudo bem.

— Não, não irá — balanço a cabeça.

— Tenha fé.

Fé.

Isso era algo que não bastaria agora. A fúria de Enzo era implacável e
ter fé não salvaria minha mãe. Levanto e tento descer o restante dos degraus.
— Aonde você vai? — Milena perguntou atrás de mim.

— Tenho que impedi-lo.

— Você não está com condições de sair por aí para procurá-lo — ela
me segura.

— Não posso deixar Enzo fazer uma besteira — olho desesperada


para ela. — Não posso.
— Irei ligar para ele OK? — segura meus ombros. — Tente se
acalmar, isso não irá fazer bem para o bebê.

O bebê. Olho para baixo e toco minha barriga, nessa discussão toda
não pensei em meu bebê. Fecho os olhos e respiro fundo.

— Vai ligar para ele?


— Sim e só irei parar quando ele atender.

Balanço a cabeça e ela me faz caminhar até a cozinha, onde me faz


sentar em uma cadeira. Observo cada movimento dela, mas não ouço
qualquer coisa que ela diz enquanto procurava alguma coisa nas prateleiras.

O que Enzo iria fazer?


Na verdade o que ele era capaz?

(...)

Franzo a testa e olho para o escuro do quarto. Não sei bem como
consegui dormir no meio dessa confusão inteira. Milena me fez tomar um chá
e logo depois vir para o quarto e deitar.

Viro na direção da porta e nesse momento escuto um barulho alto


vindo do lado de fora. Meio incerta se deveria continuar na cama ou ver o
que estava acontecendo. Saio da cama e sigo na direção da porta. O corredor
está completamente escuro, isso poderia ser assustador nessa circunstância.
Caminho da direção de onde vinha o barulho e paro na frente do
escritório de Enzo que estava entreaberto. Algo me dizia para não abri-lo,
mas precisava saber se alguma coisa de grave estava acontecendo. Empurro a
porta. Poderia esperar tudo, mas aquilo...

Sinto como se uma mão estivesse apertando minha garganta e me


impedisse de respirar. Meus olhos lacrimejaram, desejei não ver aquilo.
Enzo estava agarrado com outra mulher bem ali à minha frente. O
corpo dela estava esparramado em sua mesa e ele beijava o corpo dela.

Dou alguns passos para trás, mas tropeço batendo na parede atrás de
mim, o barulho chama atenção dele. Enzo me olha, mas não encontro nada
em seus olhos. Não tinha surpresa ou arrependimento neles. Enzo estava
fazendo isso para me punir.

Olho para a mulher de cabelos escuros se sentar e sair da mesa


rapidamente.
— Devo ir embora? — Ela olha para mim e Enzo.

— Saia daqui — consigo encontrar minha voz. — Saia!

Vejo-a pegar suas roupas e sair atrapalhada do escritório. Desejava


sair também correndo pelo corredor e esquecer o que tinha visto a minha
frente. Mas não poderia ser mais a garotinha indefesa, que fugia de tudo para
tentar sobreviver em seu mundo imaculado, cor de rosa.
— Preferiria a morte a ver isso — murmuro segurando meu choro.

— Não seja dramática — revidou.

— Dramática? — Levanto as sobrancelhas. — Sei que fiz algo errado,


algo muito errado, mas isso... Trazer uma mulher para dentro de casa, me
trair...
— Era isso ou matar sua mãe — rugiu jogando o copo na parede. —
Preferia que eu matasse sua mãe ou trepasse com outra mulher?

Aquele homem a minha frente era o que todos falavam o homem


impiedoso sem coração, que não tinha pena de nada a sua frente e não tinha
misericórdia das suas vítimas. Mas a vítima dessa vez era meu pobre coração
tão indefeso no meio disso tudo.
— Não preferia nenhuma das opções.

— Problema seu — ele disse pegando outro copo. — Agora saia


daqui e me deixe só, já que atrapalhou minha foda.

— Eu achei que você estava se tornando alguém melhor.


— Achou errado — me fita. — Não irei ser algo que você quer que eu
seja, eu sou assim e continuarei sendo.

Viro meu rosto para outra direção, olhando para o copo espatifado no
chão. Com seus cacos de vidros espalhados, meu coração poderia se
identificar completamente com aquele objeto, destruído.

— Esse foi meu erro em acreditar que sim — volto a olhá-lo. — E


finalmente conseguiu o que tanto queria.

— E o que seria?

— Eu te odeio.

Saio andando pelo corredor e subo para o quarto. Abro a porta do


closet e pego a primeira mala que vejo na minha frente. Tiro todas as minhas
roupas nas araras e jogo dentro da mala. Não iria conseguir ficar por mais
algum segundo dentro dessa casa olhando para ele e lembrando sua traição.
Ouço a porta do quarto ser aberta, não é necessário olhar e saber que é ele.
— Onde pensa que vai?

— Não irei ficar aqui — fecho a mala e a arrasto para o quarto.

— Você não irá sair.

— Quem vai me impedir? — Pego meus produtos dentro do banheiro.


— Você?

— Não seja mimada Ayla — passa as mãos pelo cabelo. — Pense na


criança que carrega dentro de si.

— É nela que estou pensando — passo do seu lado. — Não irei ficar
com um homem que me trai na primeira oportunidade.

— Não exagere.

— Exagero? — Vocifero. — Você não me viu exagerando!


Enzo anda de um lado para o outro, passando as mãos pelos cabelos e
os puxa.

— Estamos exaltados, é melhor deitarmos e conversamos amanhã.

— Eu propus conversar hoje mais cedo e o que você fez? — Pergunto


com minhas mãos tremendo. — Vociferou palavras de ódio e disse que iria
atrás da minha mãe.
— Ela matou os meus pais!

— Ela também matou meu pai.

Enzo me olha surpreso e acabo percebendo o que tinha dito. Isso era
uma grande merda.
— Repete o que disse.

— Ela é doente Enzo — sigo outro caminho. — Tem Alzheimer, não


lembra o que faz ou o que diz.

— Ela matou seu pai?

— Em um ato da loucura — respiro fundo. — Todos nós fazemos


besteiras.

— Sua mãe é uma assassina.

— Que em breve irá morrer pela doença — ajeito minhas coisas. —


Cada um de nós tem fardos para carregar, você vítimas que matou, eu uma
mãe assassina. Só não quero meu filho no meio disso tudo, um pai que trai e
uma mãe... — balanço a cabeça. — Preciso ir embora daqui.
— Saindo daqui o que pensa que vai fazer?

— Não sei ainda.

— Não há divórcio para nós.


— Infelizmente não.

— E esse filho é meu.

— Não trate o bebê como se fosse algo de posse — revido. — Ele é


tanto meu quanto seu.

— Ayla... — ele olha para baixo.

— Saia da minha frente.

— Você está sangrando.


Sigo o caminho do seu olhar e vejo uma mancha no meio das minhas
pernas. Largo minha mala e toco aonde vinha o sangue, no mesmo momento
sinto uma pontada na minha barriga.

— Vou levá-la para o hospital.


— Não toque em mim — afastei sua mão.

— Não é hora para ser valente — me pega no colo contra minha


vontade.
No colo de Enzo sinto outra pontada que arranca meu fôlego.

— O que está acontecendo? — Milena aparece ao nosso lado.

— Agora não Milena.

— Por que Ayla está sangrando?

— EU FALEI AGORA NÃO — Enzo grita saindo comigo da casa.


— ARONNE.

Não olho nem se o pobre homem escutou o rugido de Enzo, estava


mais concentrada nas cólicas do que qualquer outra coisa. Eu não poderia
perder meu bebê. Tudo isso era culpa minha, tudo minha culpa. Seguro a
camisa de Enzo e respiro com dificuldade.
— Respire — ordenou.

Fecho os olhos com força e começo a rezar para que nada acontecesse
com o meu bebê que tudo estivesse bem.

Capítulo 32

AYLA
O silêncio era torturante. Meu corpo parecia geleia em cima da cama,
isso não me preocupava, mas sim o bebê. Fazia exatamente trinta minutos
que estava dentro desse quarto sem nenhuma resposta. Enzo estava
impaciente, prestes a abrir um buraco embaixo dos seus pés de tanto andar de
um lado para o outro.
A porta do quarto abre, revelando à doutora Noah que está com o
semblante sério.

— O que aconteceu? — Pergunta me olhando.

— Tive um sangramento e algumas cólicas.


— Sei disso — olha para a prancheta. — Mas o que houve? Sua
gestação estava indo tão bem.

— Ela já disse o que aconteceu — Enzo fala rudemente. — Dá para


saber se a criança está bem?

Olho para ele e controlo a vontade de mandá-lo sair daqui. O que


importa nesse momento é o meu filho e não ele.

— Claro — ela suspira, senta ao lado da cama, pega o gel e passa na


minha barriga. Alguns segundos depois o quarto é preenchido pelo som do
coração do bebê.

— O bebê está bem? — Pergunto preocupada.

— Sim está — ela continua olhando para a tela. — Você só teve um


pequeno deslocamento da placenta.
— O que isso quer dizer?

— Quer dizer que no próximo sangramento você não poderá ter tanta
sorte e isso pode significar a perda do seu filho — ela explica pacientemente.

— Filho? — Enzo pergunta.

— Ele finalmente decidiu abrir as pernas — ela me olha. — Ayla


você terá que ter repouso absoluto nas duas primeiras semanas e nada de
estresse, sua pressão estava alta e isso não é bom para uma gestante nos seus
meses de gravidez.

— Irei tomar cuidado — digo olhando para a tela.

— Certo — ela me entrega alguns lenços. — Irei preparar sua alta e


alguns remédios para qualquer dor, mas se sangrar novamente venha
correndo para o hospital.
— Pode deixar.

— Daqui a pouco volto para dar a sua alta.

Com isso ela sai do quarto. Com um pouco de dificuldade me sento


na cama e começo a limpar minha barriga.
— Teremos um menino — ele comenta. — Ayla...

— Não fale comigo — olho para ele. — Por um segundo pensei que
poderia ter perdido meu filho. Nada que aconteceu hoje mais cedo importa
para mim agora e sim a saúde do meu filho, não me importo com você e as
suas merdas. Só peço que me evite.

— Será meio difícil evitá-la já que moramos na mesma casa.


— Isso não é um problema, posso me mudar.

— Uma merda que irá.

— Então me evite o máximo que puder — olho para frente e fecho


meus olhos tentando fazer o sono vir. Dormir seria algo melhor do que brigar
com ele.

Como prometido doutora Noah voltou alguns minutos depois


trazendo minha alta. Ela tirou o soro e disse para eu ter o máximo de repouso.
Evitei falar com Enzo o caminho inteiro para casa, ao entrarmos encontramos
Milena sentada na sala e a me ver caminhou apressadamente na nossa
direção.
— O que foi que você fez seu idiota? — Perguntou para o irmão.

— Olha com que você está falando — ele diz.

— Foda-se — ela se vira para mim. — Está tudo bem?


— Vou melhorar — forço um sorriso. — Pode me ajudar a subir.

— Eu posso fazer isso — Enzo faz menção de me pegar no colo.

— Fica longe.
— Vem.

Milena me ajuda a subir as escadas quando ela abre a porta do quarto


eu me afasto.

— Não quero ficar ai.

— Para onde quer ir então?

— Para o quarto mais distante desse.

Ela não pergunta o porquê e seguimos para o quarto mais distante.


Deitei-me na cama e fico surpresa quando Milena se deita ao meu lado.
— Não sei o que o idiota do meu irmão fez, mas sinto muito.

— Está tudo bem.

— Não está — suspirou. — Mas ficará.


(...)

O sol da manhã seguinte bate fortemente contra o meu rosto,


despertando-me do sono agitado. Minha noite não fora uma das melhores.
Milena foi para o seu quarto quando falei que iria dormir e disse que poderia
chamá-la se precisasse.

Viro de costas na cama e olho para o teto do quarto que não era o
meu, mas que a partir de hoje seria. Não vou ficar no mesmo quarto que
Enzo, não conseguirei olhá-lo e lembrar o que fez comigo. Sento-me na cama
sentindo meu corpo inteiro reclamar, mas esse incômodo é bem vindo,
abafando a dor que sinto dentro de mim.
Sabendo que ainda não tinha nada meu nesse quarto sigo para o que
dividia com Enzo. Ao entrar encontro tudo silencioso. Talvez ele já tenha
saído. Entro no banheiro e fico um tempo na frente do espelho. Imaginar que
minha vida estava sendo perfeita, que finalmente poderia dizer que estava
sendo feliz, foi somente um sonho passageiro que agora vivo a minha
realidade.

Sem momentos depressivos Ayla.

Com isso na cabeça tomo um banho e lavo os cabelos que estavam


uma bagunça completa. Precisava cortá-los, estão muito grandes. Fico um
tempo hidratando e tirando todos os nós dos fios, ao terminar me enxugo e
saio para o quarto, mas estaco ao ver Enzo parado ali no meio do cômodo.
— O que faz aqui? — Pergunto apertando a toalha contra o meu
corpo.
— Essa é a minha casa.

— Sei que é — caminho cautelosamente e encontro minhas coisas em


perfeita ordem nas araras. — Mas eu pensei que já teria saído.
— Decidi ficar hoje em casa — murmura enquanto segue com o olhar
todos os meus passos. — Como você está?

Pego a primeira roupa que vejo a minha frente e visto rapidamente.


Como eu estou? Tenho até vontade de rir dessa pergunta. Além de o meu
bebê estar perfeitamente bem, o que era ótimo, minhas emoções estavam uma
bagunça. Sinto raiva e ódio de Enzo, aquele sentimento que tentei esconder
estava ali presente, mas ferido, machucado gravemente.

— Melhor — passo por ele e sigo para fora do quarto.


Era difícil estar no mesmo ambiente que Enzo, mas moramos juntos e
não posso fazer nada contra isso. Ao chegar à cozinha encontro Tália
preparando o café.

— Bom dia — sorrio para ela. — Precisa de ajuda?

— Não senhora — ela disse colocando a xícara a minha frente com o


chá. — Soube que a senhora passou mal na noite passada, tome esse chá que
irá ajudá-la a se recuperar.
Agradeço silenciosamente e tomo um pouco do chá que estava
maravilhoso.

— Tália se não for muito incomodo você poderia transferir minhas


coisas para o segundo quarto do corredor?

— Não é necessário fazer isso — o tom de voz que veio logo atrás de
mim era indiscutível.
Olho na sua direção e ele me encarava seriamente. Deixo a xícara em
cima do balcão e viro para Tália.

— Obrigada pelo chá.


— De nada senhora — ela intercala sua atenção entre mim e Enzo.

Saio da cozinha e ouço seus passos logo atrás de mim.

— Da para parar de me seguir? — Resmungo.

— Só pararei quando você parar e finalmente podermos conversar.

Paro no meio das escadas e suspiro.

— Não tenho nada para conversar.


— Agora você está sendo irracional.

— Vadia, exagerada, mimada e irracional — pontuo cada frase. —


Do que você vai me chamar até o final do dia Enzo?

Seu olhar é de surpresa com o que digo.


— Ontem brigamos, gritamos e quase perdi meu filho — me seguro
no corrimão. — Não quero mais falar sobre isso, porque sei que você ficou
magoado por eu ter escondido algo de você, mas não mereci o que você fez
comigo, não mereci.

— Eu estava com a cabeça quente e não pensei direito.

— Mas não era necessário trazer outra mulher para dentro de casa —
mordo meu lábio para conter a queimação em minha garganta. — Isso me
machucou profundamente, sei que você disse que não seria fiel a mim, mas...
É insuportável ver meu marido beijando outra mulher na minha frente.
— Só estive com você esse tempo todo — confessa subindo um
degrau ficando na mesma altura que eu. — Ontem foi um erro...

— Que quase custou a vida do nosso filho — o interrompo, sentindo


meu peito queimar pela sua revelação.
Ele só esteve comigo esse tempo todo, Enzo tinha sido meu durante
esses seis meses e aquilo poderia me preencher de felicidade se a
circunstância foi completamente diferente.

— Ontem você disse que não se importava com os meus sentimentos


— sussurro. — Isso também me machucou, porque a cada segundo juntos eu
rezei que você sentisse algo por mim, que a escuridão que habita em você
pudesse dar espaço para algo diferente, algo que fosse nosso.

Enzo não disse nada, continuou parado como se não tivesse nada a
dizer ou talvez ele simplesmente não conseguisse.
— Você não é completamente feito de pedra — continuo. — Há algo
de humano dentro de você. Se eu não estiver enganada, esse seu lado sabe
que sinto muito mesmo por ter mentido para você, ter traído a confiança que
você tinha me dado, mas... Eu também estou machucada e talvez demore um
tempo para curar os ferimentos.

— E o que você quer que eu faça?

— Nada — lanço um pequeno sorriso para ele. — Agora vou


descansar um pouco, não dormi direito na noite passada.
Dessa vez ele não veio atrás ou tentou me impedir de transferir
minhas coisas para outro quarto, Enzo simplesmente me deixou fazer o que
queria e isso foi bom, porque ele estava me dando espaço.

(...)
As horas se transformaram em dias, os dias em semanas e tudo seguia
seu curso. Na maior parte do meu tempo estava ocupada com as preparações
do quarto do bebê, onde Laura e Milena, surpreendentemente estão se dando
bem, talvez, uma pequena parte delas, estejam fazendo isso por mim.
As duas não sabem a real causa de Enzo e eu não estarmos nos
falando, elas pensam que é alguma besteira, algo momentâneo. Talvez no
fundo eu esteja exagerando fazendo isso, mas ainda me sinto magoada pela
forma que ele agiu ao descobrir sobre as cartas, sei que traí sua confiança
quando não contei sobre a existência delas, mas me trair com uma mulher foi
algo que eu preferia não ter visto.

Pensar em Enzo e sua atitude arrancavam muitas lágrimas minhas,


além de questionamentos se ele algum dia poderia me amar. Arrancar
sentimentos de Enzo é uma tarefa difícil e confesso que tentar estava em
segundo plano para mim nesse momento.

Balanço a cabeça e concentro-me em terminar de me vestir, o que


estava se tornando algo complicado. As únicas coisas que me serviam nesse
momento era alguns vestidos e calças super folgadas. Pego um dos meus
vestidos preferidos nessa etapa de gravidez, era um longo florido leve de
alças e pego uma sandália sem salto. Deixo meus cabelos soltos e decido
deixar minha pele livre de maquiagem. A gravidez estava trazendo alguns
benefícios, meus cabelos estavam mais brilhantes e pesados, minha pele
estava perfeita e meu corpo estava bom para uma mulher com seus quase oito
meses. A única coisa que revelava que eu realmente estava gerando uma
criança era minha enorme barriga e os seios que estão acompanhando seu
crescimento, fora isso nada tinha mudado.
Pego minha bolsa antes de sair e desço para o andar inferior. No lado
de fora encontro Aronne que me lança um sorriso ao abrir a porta traseira do
carro. Estávamos recuperando aquele fio de amizade que tínhamos construído
na minha lua de mel. Descobri por alto que Enzo tinha quebrado alguns ossos
de Aronne, ciúmes? Não sei.

— Como vai essa manhã? — Pergunto animada.


— Tudo normal senhora.

— Ótimo.

Apoio-me na porta do carro para entrar quando ouço uma voz vinda
atrás de nós.
— Sra. Sartori?

A voz era desconhecida com curiosidade viro e encontro um homem


de calça jeans, camiseta estampada e jaqueta de couro marrom. Ele era alto e
fora de forma, cabelos desajeitados precisando de um corte.

— Sim?
— Prazer sou detetive Dupin — estendeu a mão na minha direção.

— O prazer é meu detetive — aperto sua mão. — Em que posso


ajudá-lo?

— Preciso que a senhora venha comigo.


— Por quê?

— Preciso do seu depoimento.

Franzo a testa e olho para Aronne que não parecia nada contente com
a presença do detetive.
— Posso saber do quê?
— Na delegacia falamos sobre isso — sorriu olhando para Aronne e
voltando a me olhar. — Pode me acompanhar.

Engulo o nó que estava se formando na minha garganta pelo


nervosismo. Mas mesmo nervosa aceno e acompanho o homem até o carro
preto dele.
— Senhora — a voz de Aronne veio logo atrás.

— Informe meu marido que estou indo a delegacia.

Aronne parecia agitado, mas assentiu enquanto me via entrar no carro


e seguir para a delegacia. O que estava acontecendo?
Capítulo 33

AYLA

Examino cuidadosamente a mesa a minha frente, cheia de papéis,


caixas de comida e canecas de café. Aquilo estava me deixando aflita. Uma
coisa de que não gostava, certamente eram lugares desorganizados e isso aqui
parece um caos.

Forço minha concentração no detetive e tento não olhar para o lixo a


nossa frente.

— No que posso ajudá-lo detetive? — Sorrio.

— Só preciso de algumas informações.

— Se puder ajudá-lo — seguro minha bolsa contra meu colo.


— Seu marido, Sr. Sartori sabe me dizer onde ele esteve dois meses
atrás? — Pergunta balançando a caneta.

Durante esses dois meses aconteceram tantas coisas que não consigo
pensar no que Enzo pode ter feito e porque estou aqui.
— Qual o dia exatamente detetive?

— 23 de setembro.

Nessa data ainda não estávamos brigados e não lembro muito bem o
que fazia nesse dia. Algo no meu inconsciente me dizia para ficar calada.

— Estávamos no shopping — toco minha barriga chamando atenção


do detetive. — Tínhamos acabado de descobrir o sexo do bebê e passamos a
maior parte do nosso dia fazendo compras.

— Ficaram até que horário no shopping?


— Até umas seis da tarde — dou de ombro. — Por quê?

Detetive Dupin largou sua caneta e se recostou na cadeira. Seus olhos


negros me examinavam, procurando algum deslize meu. Mal ele sabia que eu
Ayla Sartori convivia com um homem que era expert em disfarçar qualquer
sentimento ou vestígio de que estava mentindo, então sabia mentir quando
necessário.

— Seu marido está sendo suspeito de um assassinato.


— Assassinato?

— Sim do empresário Archie Ferrara.

— Detetive Dupin, sabemos muito bem que o meu marido é um dos


homens mais poderosos de Nova York na atualidade, um dos maiores
empresários de diamantes, porque ele mataria alguém?
— Senhora Sartori — sorriu de lado. — Não precisamos fingir que
seu marido não tem negócios ilícitos.

— O que o senhor está insinuando?

— Sei muito bem que o seu marido tem envolvimento nas podridões
do submundo de Nova York.

Sinto as palmas das minhas mãos suarem e o nervosismo borbulhar no


meu âmago. Não sei o que fazer nesse momento, como reagir.
Mantenha a calma, respire fundo.

— Essas são acusações graves, detetive — mantenho meu tom neutro.

— A senhora sabe que pode ser presa caso esteja acobertando seu
marido não sabe? — Estreita os olhos. — Que a senhora pode ter seu filho na
prisão e o pobre bebê ir parar em algum orfanato.
Sinto meu queixo tremer e minhas emoções florescerem. Meu filho...
Levanto-me rapidamente da cadeira e isso chama sua atenção.

— Acho que meu depoimento acabou.

— Então prefere proteger as podridões do seu marido e perder o seu


filho para um orfanato?
Antes de sair da sala viro na direção do homem.

— Não irei perder nada detetive — sorrio. — Até mais.

— Terei provas concretas sobre seu marido e aí sim colocarei todos


vocês na prisão.
— Adorarei vê-lo tentar.

— Então está confessando?

— Não confessei nada.


Ando pelo corredor da delegacia mal iluminada. Evito olhar para os
policiais e alguns homens usando algemas. Antes que eu alcançasse a porta
da delegacia Enzo entra e para a me ver.
— O que aconteceu? — Pergunta parando a minha frente e segurando
meu rosto entre as mãos.

— Ele sabe — sussurro sentindo todo meu autocontrole sumir.


— Sabe do quê?

— Submundo.

Seus olhos cinza escureceram por alguns instantes, olhou para trás de
mim e seu peito começou a subir e descer rapidamente. Toco seu peito e
chamo sua atenção.
— Ele te ameaçou?

— Ele falou que se não confessasse que você tinha matado um, tal de
Ferrara poderia ser presa e perder o nosso filho para um orfanato.

— Aronne leve Ayla para casa — seu tom era assustador.


— O que você vai fazer? — Seguro seu braço e somente nesse
momento percebo que várias pessoas da delegacia tinham atenção em nós e
isso não era bom.

— Vá para casa — ele tira minha mão do seu braço.

— Não vá fazer uma besteira — vejo o detetive Dupin parado a certa


distância de nós. — É isso que ele quer.
— Aronne — ele olha para o soldado. — Leve Ayla.

— Por favor, vem comigo — peço com o tom de voz embargado.

Aronne me pega pelo braço, sou arrastada para fora da delegacia e


sinto meu coração bater cada vez mais forte, sabendo que Enzo ali dentro não
terminaria nada bem.
(...)

ENZO

— Sabe detetive que não é correto ameaçar uma mulher grávida —


digo calmamente enquanto desabotoo meu paletó.

— Só deixei avisado o que poderia acontecer se não dissesse a


verdade — ele estava de pé atrás da sua mesa e me fitava com desconfiança.

Dou um sorriso de lado e olho cuidadosamente para sua sala que é


minúscula e cheia de entulho. Aqui fede a cigarro e comida estragada.
— Se algo acontecesse com a minha esposa e filho você se veria
comigo detetive — viro para ele.

— Me ameaçando senhor Sartori? E, na minha delegacia?

— Pense como quiser detetive — dou de ombro. — Só tome cuidado


com quem você ameaça.

— E você também tome cuidado.

— Eu tomo detetive — passo meu dedo pela sua mesa. — Acha que
não sei que você e os ratos que trabalham com você não estão me vigiando?
Tentando encontrar algo que não existe.

— Tenho provas contra você e sua gangue... — rosnou perdendo o


controle — colocarei todos vocês na cadeia e sua mulher verá com que tipo
de homem se casou.
— Se você realmente tivesse algo contra mim, eu não estaria andando
entre vocês, trabalhando como qualquer outra pessoa. — Pego um dos seus
cigarros. — E não coloque minha mulher no meio disso Dupin, não é bom.

— O seu tempo como cidadão livre está acabando Sartori — vocifera.


— Adorarei vê-lo provar que tenho alguma coisa a ver com a morte
de Ferrara ou que tenho uma gangue — me levanto e caminho até a porta. —
Ah, Dupin diga a sua mulher que o que vivemos foi maravilhoso.

— Seu filho da puta...

Caminho, calmamente para fora da delegacia. E, ao entrar no carro


olho para o soldado sentado na frente do volante.
— Vamos fazer uma visita ao Smith.

(...)

AYLA

Tinha acabado de fazer chocolate quente com marshmallow. Não


tinha conseguido comer muito durante o dia e uma bebida quente poderia
ajudar nesse momento. Não tive notícia alguma de Enzo durante as horas que
se passaram e isso me deixou apreensiva.
Tinha perguntado a Aronne se tinha alguma notícia de Enzo, mas ele
simplesmente sorriu e disse que estava tudo bem. Bem uma ova! Sinto que a
qualquer momento irei enlouquecer. Ninguém parecia se importar com isso.
Solto um suspiro enquanto tomo um gole do meu chocolate quente.

Sento-me em uma poltrona na sala de estar e pego meu livro. Nas


últimas semanas estava me dedicando cada vez mais a leitura, isso consegue
me relaxar e fazer meus pensamentos flutuarem para outros lugares,
abandonando mesmo que por breves momentos o caos que minha vida estava
se tornando.

Estava terminando de ler mais uma página, não conseguindo


compreender o que aquele trecho do livro queria transmitir, meus
pensamentos não estão focados no livro e sim noutro lugar, mas como se
sentisse minha angústia a porta da frente se abre mostrando um Enzo sério e
com a fisionomia cansada.
— Estava preocupada — digo me levantando.

Como se tivesse acabado de perceber minha presença, ele olha na


minha direção e no meio da escuridão emanada por seus olhos vejo surgir um
pequeno brilho.

— Está tarde para você estar acordada — caminha até o bar particular
e se serve de um drink.
— Não consigo descansar sabendo que você estava em perigo — me
encosto na poltrona e o vejo beber vagarosamente sua bebida.

— Vivo no perigo diariamente Ayla — levantou as sobrancelhas.

— Mas hoje — olho para baixo e respiro fundo. — Tive medo por...
Não faça aquilo, por favor.
Enzo deixa seu copo de lado, dá dois passos na minha direção e o vejo
excitado ao se aproximar mais. Ele estava assim nas últimas semanas, não
sabia se comportar na minha presença, eu o entendia muito bem, também não
sabia como reagir na sua presença. E isso é estranho para nós, visto que nos
encontrávamos tão próximos e de repente tudo retrocedeu, voltamos á estaca
zero, assim como no início do nosso casamento.

— Ayla...

— Tive medo que você não voltasse — não o deixo falar e dou um
passo para frente. — E esses pensamentos são perturbadores, porque uma
vida sem você é completamente vazia e sem sentido.

Minha visão fica turva pelas lágrimas e meus lábios tremem pela
emoção. Não sou fácil de expressar meus sentimentos, mas sentia a
necessidade de dizer como ele era importante na minha vida e passar essas
semanas longe dele foi como um aperitivo de como seria viver sem ele, sem
alegria, vazia e triste, eu não quero isso para nós, eu e o bebê que cresce
dentro de mim.

— O que você fez ao me trair — suspiro lembrando o episódio do


escritório. — Foi errado, mas o que é uma vida sem erros, porque também
errei em esconder sobre as cartas, mas isso não quer dizer que você deveria
ter me traído.
— Foi um erro, o que eu fiz.

— E é bom que você saiba disso — fixo minha atenção nos botões da
sua camisa por debaixo do terno. — Porque se você ousar fazer isso de novo,
peça clemência a Deus, porque eu não terei — balanço a cabeça e cruzo
nossos olhos. — E não haverá nada no mundo que me fará perdoá-lo.

— Isso quer dizer que...


— Sim, vou voltar para o nosso quarto e tentar retomar a nossa vida
— suspiro e dou um pequeno sorriso. — E isso não é só por mim, é também
pelo bebê.

Um pequeno sorriso estampou seu lindo rosto, sem que eu esperasse


Enzo me abraça e tira meus pés do chão. Solto um gritinho de surpresa e o
envolvo no pescoço.

— Não mereço um décimo do que você faz por mim Ayla.


— Amar é tentar compreender o outro e dar mais um voto de
confiança — sussurro contra seu ouvido. — Mas só peço que não me
machuque mais uma vez, não vou suportar.

Enzo afasta meu rosto por alguns centímetros e me encara por uma
eternidade até que seus lábios vieram sobre os meus e com esse contato vi
como senti falta de um simples beijo seu, de um simples toque de carinho. E,
me pergunto como consegui sobreviver sem isso nessas últimas semanas.

Tempo.
Esse era o significado, precisei de tempo para entender o que ele tinha
feito e o que eu tinha feito. Cada um de nós reage de uma forma diferente,
Enzo usou da pior atitude que poderia ter usado, mas no fundo eu sabia que
fez aquilo para me magoar e eu simplesmente me distanciei e com a distância
compreendi o que fizemos um com o outro.

— Não me machuque mais, por favor — peço contra seus lábios.

— Nunca mais.
Capítulo 34

AYLA

Solto uma risada com os olhos ainda fechados. Sua mão grande,
áspera e quente toca minha barriga nua. Aquela era a melhor forma de ser
acordada. Desde que voltei para o nosso quarto a duas semanas Enzo me
acordava com beijos pelo corpo ou carícias na minha barriga, fazendo o
nosso bebê chutar, o que às vezes resultava numa costela dolorida.

Seus dedos longos caminham até os meus seios e suspiro quando ele
brinca com o mamilo intumescido. Lentamente abro meus olhos e encontro
seu lindo rosto iluminado como de uma criança travessa. Ainda não tínhamos
voltado a fazer sexo, o que estava sendo uma tortura, já que sempre que
estávamos no quarto ou em qualquer canto da casa nos provocávamos o
máximo possível. Enzo estava mais sorridente nos últimos dias, mas claro
que quando estava somente nós dois em algum cômodo, quando tinha a
presença de qualquer outra pessoa ele vestia aquela máscara impenetrável,
intocável e superior.
— Que horas são? — Viro o rosto para o lado tentando enxergar o
relógio.

— Cedo — diz evasivo concentrado no meu corpo.

Reviro os olhos, com certa dificuldade me sento na cama e toco na


barriga onde sinto meu bebê.

— Ei — ele segura meu braço. — Para onde vai?

— Ao banheiro, estou apertada.

Um brilho malicioso ilumina os cinza das suas íris e ele me puxa


contra seu corpo.
— Que tipo de apertada?

— Seu pervertido — dou um tapa na sua coxa. — Se eu não sair da


cama agora vou fazer xixi na cama.
Soltando uma risada rouca e beijando um ponto sensível no meu
pescoço ele me liberta dos seus braços, caminho até o banheiro onde esvazio
minha bexiga, aproveito lavo o rosto e escovo os dentes. Como não tinha
dormido de roupa, exigência de Enzo que dizia querer sentir o bebê sem
empecilhos. Entro debaixo do chuveiro e deixo a água quente escorrer contra
o meu corpo.

Lavo os meus cabelos que estavam alguns centímetros abaixo da


minha cintura. Ainda não tive tempo de cortá-los e em breve teria que fazer
isso. O bebê estava prestes a nascer e os meus longos cabelos serão um
problema quando for o momento de cuidá-lo.
Mordo meu lábio ao sentir braços fortes e aconchegantes me
rodearem. Encosto meu corpo contra o seu e ficamos ali por alguns minutos
debaixo do chuveiro deixando a água cair sobre nós. As mãos de Enzo estão
descansando sobre minha barriga e o bebê parecia amar o contato do pai, já
que dá várias cambalhotas no meu ventre.

— Ele está agitado hoje — comenta tocando nos pontos estratégicos


onde ele chutava. — Falta pouco tempo para ele nascer.

— E ainda não escolhemos o nome dele — ponho minha mão em


cima da sua. — Tem alguma preferência?
— Não. — Encosta seu rosto ao lado do meu. — Vi que está lendo
algo sobre nomes e significados, talvez você ache algum que combine com
esse garotão.

— Eu não queria sair das origens da Itália — viro em seus braços e


passo meus braços em seu pescoço. — O seu nome significa senhor do lar,
príncipe ou governante da casa.

— Bem apropriado para mim — se gaba sorrindo, o que estava sendo


habitual entre nós.

— Então estava pensando em Henrico — acaricio os cabelos da sua


nuca.
— Qual o significado?

— Senhor do lar ou governante da casa.

— Então esse garotão será igual o pai? — Levanta as sobrancelhas e


olha para minha barriga avantajada.

— Ele será a melhor parte de nós.

— Com certeza.

Seus lábios buscam os meus, dessa vez vem com fome e posse.
Seguro seus ombros tentando me sustentar em minhas pernas bambas. Enzo
causava essa reação em mim, conseguia me desestabilizar com um simples
beijo. Com cuidado Enzo me recosta nos azulejos frios, fazendo meu corpo
tremer pelo contato.
— Te desejo tanto — solto com a voz rouca de desejo.

Seus beijos intercalam entre meu pescoço e o meu colo.

— Não sei se podemos — diz contra minha pele. — O bebê...


— Ele está bem protegido — seguro seus cabelos e trago sua boca
para mais perto. — Nada vai acontecer.

— Tem certeza?

Solto um suspiro resignado e vejo incerteza estampada no seu rosto.


Seguro seu rosto e sorrio.
— Sim, eu e o bebê estamos bem e o sexo... — sinto meu rosto corar.
— Podemos praticar até antes que ele nasça.

— Sua médica disse isso?

Meneio a cabeça e como se tivesse dado sinal verde, Enzo me pegou


nos braços, fazendo-me entrelaçar minhas pernas na sua cintura. Mesmo que
não conseguíssemos muito contato por causa da barriga me beijou com
indecência e desespero.

Gemidos saíram dos nossos lábios, éramos corpos colados e bocas se


consumindo uma na outra. Não percebo quando Enzo desliga o chuveiro e
nos leva para fora do banheiro, não se importando de nos enxugar. Ele me
deita com delicadeza na cama e seus olhos passeiam pelo meu corpo nu,
deixando-me tímida, seguro a vontade de cobrir-me.

— Você é uma delícia — rosnou me encarando. — Estava com


saudade.
— Também estava.

Um sorriso cretino se espalha pelos seus lábios e eu sabia que não


sairíamos tão cedo do quarto. E eu não queria isso.

(...)

Meus passos são cautelosos e curtos. Olho para todos os lados e só


enxergo branco, não sei como as outras pessoas não ficam irritadas com tanto
branco e cheiro de produto de limpeza ao extremo.
— Como ela está? — Pergunto assim que encontro a enfermeira
responsável pela minha mãe.
Nas últimas vezes em que viera visitar minha mãe, a situação dela não
estava sendo nada boa. Sua doença estava avançando rapidamente e o médico
responsável por ela dizia que isso não era comum, aparentemente o corpo
dela se acostumava muito rápido com o tratamento, com isso não surtia o
efeito almejado, piorando ainda mais sua situação. Saber que minha mãe
estava piorando era aterrorizante, pois sabia que logo não teria nada o que
fazer por ela. Em algumas vezes ela não conseguia falar ou nem olhar para
mim, era como se eu não estivesse ali e isso era angustiante. Sabia que só
podia ficar ali ao seu lado e demonstrar como lhe amava.

— Nada bem — diz direta. — Há alguns dias ela pegou um resfriado


e nos exames constatou pneumonia.
Viro para ela e sorrio para um dos pacientes que passa por nós.

— Estou pagando o dobro para que ela tenha um conforto adequado e


em troca quero que ela receba um ótimo tratamento.

— E estamos dando senhora Sartori, mas a pneumonia a fragilizou


ainda mais.
— Então dê o máximo de si para ela melhorar — murmuro com o tom
feroz. — Sei muito bem que pessoas com a doença que ela tem ficam mais
vulneráveis a pegar qualquer outro tipo de doença.

— Sinto muito senhora, mas achamos que sua mãe não irá sobreviver
mais um dia.

— Torça para ela não morrer — vocifero, não querendo acreditar que
minha mãe não poderia sobreviver. — Ou pode ter certeza que fecharei esse
lugar.
Com isso entro no quarto, encontro minha mãe deitada na cama. Ela
parecia tão frágil e sem vida. Aproximo-me e sento na cadeira ao lado da sua
cama.

— Querida — deu um pequeno sorriso a me ver.


— Oi mamãe — seguro sua mão que estava com o acesso do soro. —
Como está?

— Cansada — suspirou e olhou para frente. — Sinto que tenho pouco


tempo aqui.

Sinto o nó na minha garganta se formar ao ver que ela me reconhece


algo que estava se tornando raro.
— Não fale besteira — reclamo tentando me manter firme. — A
enfermeira disse que a senhora está melhorando.

Ela volta a me olhar, aperta com toda força que ainda lhe restava
minha mão.

— Não minta para mim Ayla — resmunga. — Sei que não estou
melhorando e o Alzheimer está avançando.
— Mas a senhora está consciente hoje.

— Porque preciso me despedir — sussurra.

— Mãe...
— Sinto muito por ter sido uma mãe desleixada, por não ter lhe dado
à atenção que você precisava. Sinto muito por ter escondido de você sobre
seu pai e Vanessa, por ter te tratado daquela forma da última vez que nos
vimos. Sinto tanto querida. Eu deveria ter sido alguém melhor para você.

— A senhora é tudo para mim.

— Não, não sou — engoliu com dificuldade. — E eu espero que você


seja uma mãe melhor do que eu fui para você.

— A senhora vai me ajudar a criar o bebê.

— Querida — fechou os olhos. — Sinto muito por tudo.

— Mamãe.

— Só desejo que Deus tenha piedade de mim e me perdoe por tudo


que fiz nessa terra.

— Mãe.

— Encontrarei minha paz na morte.

Sinto as lágrimas descendo pelo meu rosto.


— Não diz isso.

— Você é o melhor de mim — tocou meu rosto e sua mão caiu na


cama.

Um soluço rompeu minha garganta e as lágrimas desceram como


cachoeira pelo meu rosto. Pego sua mão entre as minhas e encosto minha
testa.

— Eu te amo mamãe — sussurro sabendo que ela não me escutava


mais, que ela não estava mais ali.

(...)

No dia seguinte, estava eu enterrando mais um membro da família De


Luca. Tinha feito questão que mamãe fosse enterrada ao lado do meu pai,
quem sabia da traição do meu pai era somente eu, Enzo e minha mãe. Não
tive mais lágrimas para derramar quando vi o caixão sendo coberto pela terra.
Enzo se manteve ao meu lado, nos levaria para casa quando acabasse o
enterro.

Agradeci a todos que estavam ali presentes, que foram somente


Laura, Milena e alguns parentes distantes da família. De volta para casa fui
direto para o quarto, tirei toda minha roupa e deitei na cama, me encolhendo
o máximo que conseguia, quase em posição fetal.

— Ayla — Enzo se deita atrás de mim e traz meu corpo para perto do
seu. — Você está bem?

Continuo olhando para as janelas cobertas pelas grandes e pesadas


cortinas. Não sabia dizer se estava bem, na verdade não sei como estou. Em
menos de um ano tinha perdido minha mãe e meu pai, em situações
diferentes.

— Não sei — sussurro. — É como se algo dentro de mim estivesse


faltando.
— Não fique assim — ele me vira com cuidado. — Não fará bem
para vocês.

Toco na sua barba bem aparada e dou um simples sorriso, tentando


demonstrar que estamos bem ou ao menos que iremos ficar.

— Sei que ela não foi uma das melhores pessoas nos últimos tempos,
que revelou coisas que jamais imaginei que seria capaz, mas ela é minha mãe
e teve uma pequena influência no que sou hoje. E saber que não verei mais
ela...
Enzo me abraça com mais força e beija o alto da minha cabeça.

— Não sou bom nessas coisas — confessou sorrindo. — Mas estou


aqui se precisar.

Encosto minha cabeça contra seu peito e concentro-me na sua


respiração, que detém o poder de me acalmar. Só preciso dele e da sua
companhia, nada mais importava.
Capítulo 35

AYLA

O sentimento de vazio pela falta era grande, mas no decorrer dos dias
a dor da perda foi amenizando, dando lugar à saudade e depois leveza ao
saber que minha mãe poderia estar em um lugar melhor, onde não estivesse
sofrendo tanto e que estivesse descansando, sendo feliz. Com esses
pensamentos eu conseguia colocar um sorriso no rosto e seguir minha vida,
pois sabia que ela não gostaria de me ver sofrendo e tentando compreender
porque tinha morrido.

Minhas mãos soam e tremem ao mesmo tempo, não consigo controlar


a ansiedade que dominava cada poro do meu corpo e a vontade de abrir a
porta a minha frente. Milena e Laura me fizeram prometer que não abriria a
porta enquanto eu não me sentisse bem, só faria aquilo quando me sentisse
em paz e pudesse aproveitar o meu momento. E, nesse instante eu sentia que
estava mais que preparada para ter meu momento, pois me encontro em
harmonia e tranquila.
A porta branca com alguns traços em azul, cheio de desenhos de
nuvens me recebeu e fazia-me sorrir alegremente. Abro a porta
vagarosamente e sinto o ar sumir de meus pulmões, a respiração fica
embargada quando vejo o cômodo completamente decorado com coisas de
criança. As paredes tinham ganhado um tom de creme e branco, com alguns
desenhos de nuvens em azul. O berço de madeira azul ficava no centro do
quarto e um pequeno lustre de ursinhos em cima do berço. Há prateleiras
creme com ursinhos e bonecos. Uma cômoda com as roupinhas que tinha
comprado com ajuda de Milena e Laura. No canto ao lado das janelas que
dava vista para o muro da propriedade tinha uma poltrona de amamentação e
uma almofada.

Abraço meu corpo e giro, olhando para tudo e sorrindo feliz. Contava
as horas para ter meu bebê em meus braços e amá-lo como nunca. Saio dos
meus pensamentos com uma leve batida na porta. Encontro Enzo, parado na
porta me olhando, mas logo sua atenção vai para o quarto completamente
decorado.
— Uau! — Exclama ao entrar, olhando para tudo. — Você que fez?

— Não, não tenho capacidade de fazer algo assim — rio pegando um


urso dentro do berço. — Milena e Laura fizeram.

Enzo fica na minha frente, olha para o urso e toca minha mão com
carinho. Seu toque era tão bom, leve e sutil, que me aquece de dentro para
fora, me faz suspirar e sorrir com amor.

— Quem diria que Milena iria fazer amizades — murmura


balançando a cabeça. — Às vezes eu achava que ela seria solitária para
sempre.

— Ninguém merece a solidão — entrelaço nossos dedos. — E Milena


pode ser legal quando quer, mas ainda mantém aquela casca de durona.

Um pequeno vislumbre de sorriso aparece no seu rosto e ele me fita.


— Como você conseguiu amolecer o coração dela?
— Não sei — e isso era verdade, até agora me pergunto como
consegui adquirir a amizade de Milena, acho que ela percebeu que sendo
bruta e desagradável não nos levaria para lugar algum e então abaixou a
guarda. — Isso é um mistério.

Sua mão livre toca meu rosto e aproxima o seu, sinto seu hálito
mentolado tocar meu rosto e fecho os olhos.
— Você tem o dom de aplacar qualquer coração Ayla — contou com
o tom baixo, beijando a ponta do meu nariz.

Até o seu?

Segurei minha língua e só pude sorrir, pois mesmo juntos e felizes


ainda não tinha a certeza de que ele me amava, mas mantinha aquela
esperança que carregava comigo todos os dias e que crescia a cada segundo
quando me olhava com seus olhos cinza brilhantes e me presenteava com
seus lindos sorrisos raros, eram nesses momentos que eu sentia que tinha uma
parte do seu coração.
Seguro sua nuca e encosto nossas testas, aproximo mais nossos rostos
e beijo delicadamente sua boca quente. Entretanto algo que deveria ser
delicado se tornou exigente e carnal. Enzo segurou minha cintura e nos
aproximou o máximo que minha barriga permitia. Meus braços rodearam seu
pescoço e minhas mãos seguraram os cabelos da sua nuca.

No momento que suas mãos passaram pelas minhas costas,


desfazendo cada botão do meu vestido sinto uma vibração vinda do bolso
frontal da sua calça social. Enzo suspira se afastando e me dá um selinho.

— Tenho que atender — pegou seu celular e atendeu. — Fala.


Olhando para o meu marido abotoei novamente o meu vestido e sei
que algo não ia bem ao ver seu a mudança brusca em seu semblante, e ele
solta um xingamento baixo.

— Estou indo para ai — desligou no segundo seguinte.


— Tudo bem? — Me aproximo dele.

— Houve uma explosão em um dos cassinos, tenho que ver quais são
os danos.

Toca minha barriga e solta uma exclamação isso não era nada bom.
Nunca fui ligada em negócios da famiglia, mas sabia que os cassinos, a
maioria clandestinos, era uma das maiores rendas dentro do submundo e ter
uma explosão significava que algo de errado estava acontecendo.
— Tome cuidado OK? — Toco-o.

— Sempre tomo.

Dou um pequeno sorriso e o acompanho até o andar inferior.


— O espero para o almoço?

— Não sei se conseguirei aparecer, mas prometo que no jantar estarei


de volta — beija minha testa e sai pela porta da frente, neste momento nosso
filho chuta minha barriga.

Olho para baixo e toco no local onde ele acabara de chutar.


— Ele voltará — sussurro para o bebê.

(...)

ENZO
No momento que o carro para, saio do mesmo e encontro Barone me
esperando ao lado de fora do prédio em ruínas, o que antes era uma das
maiores rendas dentro da famiglia.
— O que aconteceu realmente? — Pergunto olhando para os
destroços no meio do nada, pelo menos isso não chamaria atenção das
pessoas curiosas e dos federais.

— O que sabemos é que o filho da puta do Dupin apareceu e jogou


uma granada, a sorte é que não tinha ninguém importante no local na hora
que tudo voou pelos ares.

— Mas conseguiram pegar o Dupin? — Chuto uma pedra a nossa


frente.
— Um dos seguranças o colocou para dormir.

— Ótimo, leve-o para o galpão, tenho assuntos a tratar com ele —


caminho de volta para o carro. — Não esqueça me mandar limpar essa
bagunça.

— Esse serviço é de Vitale.

Viro para o homem de meia idade me encarando seriamente, me


pergunto se ele não tinha medo de que eu cortasse sua garganta ali mesmo, só
pela ousadia de falar assim comigo.

— Não estou vendo Vitale por aqui, então o serviço é seu — espero
que ele fale alguma coisa, mas nada sai da sua boca.

(...)
Os gritos que ecoavam pelo lugar eram música para os meus ouvidos,
ouvir a dor que ele transmitia pela garganta era satisfatória. Seu corpo já
estava mole devido á tantas horas de tortura e algumas vezes ele já tinha
desmaiado, mas não permiti que ele morresse, não agora.
— Dupin você deveria ter aproveitado suas férias — puxo seus
cabelos, fazendo seu rosto ficar da mesma altura que o meu.

Ofegante mais do que o normal ele fechou e abriu abruptamente os


olhos, sabia que ele não iria durar muito.

— Você destruiu minha vida — seu tom é fraco.


— Quem destruiu foi você mesmo — com a outra mão que seguro a
faca, perfuro vagarosamente a pele do seu peito. — Falei com o seu superior
para lhe dar férias e lembrá-lo de quem manda naquele departamento...

— Que é cheio de corruptos.

— Que você também fazia parte.


— Eu deixei essa vida — solta um rugido ao sentir sua pele rasgar
ainda mais.

— E com isso estava tentando me colocar atrás das grades — o largo,


com a faca ainda cravada na sua pele. — Isso foi estupidez da sua parte.

— Mas pelo menos tentei.


— E olha no que deu — abro meus braços indicando o local onde nos
encontramos. — Você me deu um prejuízo danado, destruindo meu cassino.

— Queria que você estivesse lá dentro, tivesse morrido — cuspiu


sangue nos meus sapatos. — Assim sua mulher poderia viver uma vida sem
suas merdas e o filho que ela carrega não iria conhecer a merda de homem
que você é.

Dou um sorriso de lado e sem delicadeza retiro a faca do seu peito.


— E sua família não sentirá sua falta — sem esperar uma das suas
respostas sarcásticas e ousadas corto sua garganta, que esguichou o restante
do seu sangue.

Olhando para o corpo sem vida a minha frente, limpo a lâmina com
meu lenço e a ponho de volta sobre a mesa cheia de utensílios de tortura. As
palavras de Dupin não deveriam pesar tanto como pesava na minha cabeça.

Ao sair do galpão que cheirava a podridão e morte encontro um dos


meus soldados.
— Me leve para casa — ordeno entrando no carro.

No meio do caminho vejo o homem na frente do volante olhar para o


seu celular e sua postura mudar.

— O que aconteceu?
— A senhora Sartori...

— O que aconteceu com ela?

— Senhor...
Algo me dizia que alguma merda tinha acontecido e era uma das
grandes. Pela primeira vez em tempos me senti apreensivo e com medo.

(...)
AYLA

Depois que Enzo saiu fui para cozinha e comecei a ajudar Tália no
preparo do almoço, mesmo que a cada dez minutos ela me dissesse que isso
era o seu trabalho. Não conseguia ficar parada tinha que ocupar minha mente
com algo. Desde que entrei nas últimas semanas da gestação Enzo tentava
evitar que eu saísse e queria que eu ficasse vinte e quatro horas deitada, algo
que não acontecia.

Não contei a ele, mas já sentia aquelas famosas contrações de Braxton


Hicks, ou seja, contrações de preparo e quando isso acontecia sentia como se
algo se enfiasse no meio das minhas costas e minha barriga ficava
completamente dura. Se Enzo soubesse aí sim eu não poderia nem respirar
direito com toda a sua proteção e preocupação. Achava bonito o jeito dele de
cuidar de mim, mas às vezes sufocante.

Estou terminando de cortar os tomates para a salada quando vejo


Milena adentrar na cozinha, seu rosto estava avermelhado como se tivesse
corrido até aqui e franzo a testa ao vê-la arrumar sua roupa amarrotada.
Estranho, pois ela era a elegância em pessoa e nunca vestia algo amassado.

— O que houve? — Pergunto curiosa colocando os tomates no prato.

— Nada — respirou fundo e se sentou na banqueta a minha frente. —


Só estava lhe procurando.

— E correu atrás de mim? — Não consigo controlar a provocação.


Milena estreita os olhos e se volta para Tália.

— Preciso que arrume meu quarto — murmura em seu tom frio, às


vezes me pergunto por que ela ainda agia desse jeito com outras pessoas.
Tália olhou para ela e logo depois para mim.

— Pode deixar que eu olho as panelas — sorrio.

— Esse é o serviço dela — Milena contesta.

— Eu consigo me virar Senhora Sartori — a pobre mulher me lança


um sorriso.

— Eu lhe ajudo, faço questão. — Com isso Tália sai da cozinha, nos
deixando a sós. — Porque tem que ser uma víbora com ela?

— Tenho que manter minha fama de vadia mal amada — deu de


ombro. — E eu ser boazinha com você não quer dizer que eu queira ser com
outras pessoas.

Reviro os olhos e me aproximo das panelas.

— Às vezes esqueço como você pode ser desagradável.


— Mas você me ama cunhadinha — ela disse sarcástica. — Depois
do almoço podemos ir ao cinema né?

Experimento o molho do macarrão, olho para a garota que poderia ser


um doce de pessoa e ao mesmo tempo uma “vadia” como ela mesma se
autodeclara.

— Não sei, Enzo está me proibindo de sair de casa — suspiro


voltando para perto da ilha.
— Por quê?

— O bebê está quase chegando e com isso ele está ainda mais protetor
— dou de ombro.

— Enzo e sua possessão — revira os olhos. — Mas temos que


aproveitar enquanto esse lindo bebê não nasce, pois daqui a pouco seremos
três.

Olho para minha barriga e suspiro, tinha que aproveitar, pois como
Enzo estava a todo custo evitando que eu saísse poderia até imaginar quando
o bebê nascesse, era capaz de eu só sair quando o nosso filho fizesse dezoito
anos.
— Podemos ir, mas teremos que voltar assim que o filme acabar.

— Sim senhora — bateu continência.

(...)

Depois do almoço ajudei Tália com a louça, mesmo ouvindo os


protestos de Milena que dizia que aquele era o serviço de Tália, minha
cunhada se calou quando a fuzilei com um olhar. Milena tinha que aprender a
ser gentil com outras pessoas e não somente comigo.
Troquei de roupa e estava descendo as escadas quando senti falta do
meu celular. Reviro minha bolsa e não acho o aparelho. Devia ter deixado-o
em algum lugar da casa. Decido procurar. Reviro a sala inteira e a cozinha
quando decido procurar no escritório de Enzo, talvez tivesse deixado lá
ontem quando fazia companhia á ele depois do jantar.

O escritório estava silencioso, era estranho entrar ali e não encontrar


Enzo. Dou a volta pela mesa e encontro meu celular em cima dela. Mas antes
de pegar o aparelho, sem querer esbarro em alguns papéis que caíram no
chão.

Merda.
Me abaixo como posso e pego as folhas, mas algo escrito me chama
atenção.

Sartori & Stefano: O ACORDO

Por meio dos senhores Enzo Sartori e Santiago Stefano, no dia 23 de


março de 2019 ás 09 horas da manhã é declarada aliança formada entre as
máfias americana e calabresa, por meio das famílias fundadoras — Sartori e
Stefano.
Regras:

N° 1. Concretização do contrato familiar:

A. Os primogênitos herdeiros diretos de ambas as famílias ao


completarem a terceira fase da maioridade — ou seja, regido pelas leis
americanas de maioridade legal, aos vinte e um anos —, serão apresentados
formalmente, para a concretização oficial do acordo entre suas famílias por
meio do matrimônio imediato.

B. Se ambos os primogênitos herdeiros forem do sexo masculino, as


famílias terão de esperar o nascimento de uma menina para assim
oficializarem o processo matrimonial após sua maioridade regida pelas leis
americanas de maioridade legal.

N° 2. Conhecimento da aliança:

Ambos os herdeiros são livres do contrato até os 21 anos, contudo, é


viável para adaptação de ambos, que conheçam os seus destinos na primeira
fase da maioridade, aos 16 anos.
N° 3. Quebra do contrato familiar e aliança entre as máfias:

Qualquer justificativa que seja apresentada como motivo para quebra


de contrato entre as famílias responsáveis não serão aceitas. Ao menos que o
caso seja o óbito — comprovado legalmente — de um dos primogênitos
herdeiros antes da maioridade e assim, oficialização do matrimônio.
N°4. Se durante o processo da aliança, uma das famílias
descumprirem os artigos presentes neste acordo, será de justa causa à quebra
da aliança e será aberta a possibilidade de guerra de poderes entre as máfias:
americana e calabresa.

Procuro por apoio e acabo sentando na cadeira de couro e sinto o ar


faltando em meus pulmões. Acordo? Calabresa? Passo minhas mãos pela
testa e tiro meu cabelo da frente do rosto, isso não poderia estar acontecendo.
Enzo não teria coragem de fazer isso... Eu não conheço meu marido, não sei
até que ponto ele poderia ir pelo poder e ganância, e esse papel era a prova
disso.
O nó na minha garganta se expande, me impedindo de respirar e
pensar. Meu filho estava praticamente vendido como mercadoria, era uma
moeda de troca. Meu pequeno bebê.

Pego meu celular e saio do escritório me sentindo atordoada. Eu era


completamente tola, uma burra por achar que Enzo... Meus olhos queimam
pelo choro controlado. Não era hora de chorar. Tudo parecia começar a fazer
sentido, a viagem para Calábria, suas saídas para resolver alguns assuntos e a
conversa de cuidar do bebê quando descobrimos a descoberta dele.

Tudo fazia parte de um plano e eu era apenas um peão dentro do jogo


de poder, eu era apenas um útero que carregava “a moeda de troca”. Meu
filho não é um objeto que pode ser vendido e trocado, não é algo que
decidimos querer ou não. Ele é um bebê que nem nasceu e já tem sua vida
completamente traçada.

Sem rumo saio da casa e sigo pela calçada. Ando o mais rápido que
consigo, antes que eu perceba um carro freou bruscamente a minha frente e
dois homens saíram de dentro. Sem chance de gritar por ajuda, minha boca
foi tampada e algo atinge minha cabeça.

Capítulo 36

AYLA

No momento que consigo abrir meus olhos, fico confusa por alguns
segundos, ao olhar ao meu redor vejo que me encontro num lugar estranho.
As paredes com pinturas descascadas e mofadas, o que me impedia de
respirar direito. Não tem muitos móveis, se resumia em uma mesa distante de
onde estou e uma cadeira a qual estou presa.

A iluminação era quase nula, mas ainda consigo enxergar algumas


coisas. Sobressalto quando a porta de madeira é aberta e ali encontro um
homem alto, vestindo uma calça surrada e camiseta.
— Ora, ora, olha quem acordou — o homem diz sarcástico e se
aproxima.

Tento mexer meus braços, mas estão presos a minhas costas, portanto
o movimento é em vão.

— Cuidado para não se machucar — parou a minha frente. — Ainda


não é a hora para isso.
Abaixo meu olhar e tento evitar qualquer tipo de contato. O que
estava acontecendo? Por que estou aqui?

— Quem é você? — Consigo manter meu tom baixo e controlado,


camuflando qualquer rastro de medo que esvaia em cada poro do meu corpo.

O homem se agachou a minha frente, segurou meu queixo com força,


fazendo-me soltar uma exclamação de dor.

— Parece que seu marido não falou sobre mim — examina meu rosto.

Por que eu deveria saber sobre ele?

— Mas vamos para apresentações formais — me lançou um sorriso


nada agradável. — Meu nome é Nikolai Dmitriev, seu marido matou meu
irmão no dia do seu noivado.
Primeiro franzi as sobrancelhas e tento me lembrar do dia do noivado,
logo as lembranças me invadem com força e lembro-me do homem
segurando a arma contra minha cabeça e sua ameaça de atirar. Então o
homem à minha frente era irmão do cara que quase me matou meses atrás.
Nunca soube qual fim o sujeito da arma tinha tido, mas ao que parece tinha
morrido e agora o irmão dele queria vingança. E aqui estou eu, presa numa
cadeira e de frente para um homem que se diverte com essa situação.

Tento desviar nossos olhares, mas ele continua segurando meu rosto e
encaro seus olhos escuros.

— Não consegue me encarar docinho? — Pergunta sarcástico. — Está


com medo?

— Por favor, me solta — peço com a voz baixa.

O homem me solta e o vejo caminhar para fora do cômodo, mas logo


volta segurando uma cadeira a qual, coloca a minha frente e se senta.
— Durante esses meses planejei minuciosamente cada passo que daria
para destruir Sartori — comenta cruzando as pernas. — Como o faria sentir
cada perda de alguém que ele protegia.

Engulo em seco e mais uma vez tento me soltar, isso o faz sorrir
ainda mais ao ver o desespero tomando conta de mim.

— Mas ao vê-la tão desprotegida na rua, me fez jogar para o ar o que


tinha planejado que era pegar primeiro seu marido e depois você e a irmã dele
— ele passa o indicador pelo lábio e o bate ali. — Talvez tê-la pego primeiro
seja bom, assim verei Sartori desesperado para tentar resgatar sua linda
mulher e filho.
Em meio ao meu desespero consigo dar um sorriso de lado, ao ouvi-lo
dizer que Enzo se importava comigo.

— Sinto muito em lhe dizer, mas meu marido não se importa comigo
— balanço a cabeça. — Se eu aparecer morta na frente dele não significará
nada a ele, serei somente mais alguém que morreu.

Nikolai levantou suas sobrancelhas, surpreso pelo o que acabo de


dizer, mas seu olhar vai para minha barriga.
— Mas talvez ele se importe com essa criança não?

Se minhas mãos tivessem soltas, abraçaria minha barriga e tentaria


proteger o meu bebê, que era o ser mais inocente no meio disso tudo. Ele não
merecia morrer por causa das escolhas do seu próprio pai.

— Por favor, não faz nada com meu bebê — sussurro. — Pode me
matar, mas não meu bebê.
Tento empurrar a cadeira para trás no momento que Nikolai toca
minha barriga, o que me fez querer vomitar ao sentir repulsa.

— Eu seria pai, se minha mulher estivesse viva, minha linda filha


teria um ano — disse ele ainda com a mão sobre meu ventre. — E talvez eu
já tivesse outro filho.

Forço minha respiração a ficar calma, para minha mente não entrar
em pânico.

— Sinto muito.

— Seu marido não se importou de abrir a barriga da minha mulher e


tirar minha princesinha — continuou sem se importar com minhas palavras.
— Vi as duas mulheres da minha vida morrerem na minha frente e eu não
pude fazer nada. Por que eu teria misericórdia de você e dessa maldita
criança?

Com isso ele levantou, caminhou até a mesa, o vi pegando uma faca e
girar o cabo entre seus dedos.
— Por favor, não — me balanço na cadeira. — Não!

— Não se preocupe Ayla, mandarei o corpo do seu filho para o seu


marido.

(...)

ENZO

Encaro todos os homens a minha frente, vendo-os todos sem respostas


para as minhas perguntas. Inúteis. Nenhum deles sabia como Ayla tinha sido
sequestrada, como o filho da puta do Dmitriev conseguiu levá-la. Alguém ali
tinha ajudado, mas a questão era quem.
Segurando meu copo com alguma bebida que não sabia qual era andei
na frente dos meus homens, que me prometeram lealdade e juraram morrer
por mim se fosse necessário.

— Irei perguntar somente mais uma vez — murmuro com frieza. —


Como vocês deixaram que a levassem?

Nenhum respondeu, se mantiveram calados e olhando para frente.


Inclino minha cabeça para o lado e paro na frente de um soldado.
— Onde você estava na hora do acontecido?

— Tinha ido ao banheiro, chefe.

Bebo um pouco da bebida e nem consigo sentir o gosto por causa do


ódio que fervia em minhas veias.
— Ir cagar foi mais importante do que proteger minha mulher? —
Vocifero.

— Não senhor — vejo o homem tremer.


Viro para minha mesa, seguro o revólver e aponto para o homem.

— Senhor, por favor...

Sem esperar que ele termine, disparo a arma e vejo a bala atravessar o
crânio de um dos idiotas que deixou Ayla ser levada.

— Próximo — viro para o outro soldado. — Você onde estava?

Antes que ele abrisse à boca a porta do meu escritório foi aberta e
Milena entrou. Primeiro ela olhou para o carpete onde um corpo estava e
cheio de sangue. Ela faz uma careta e logo me olha, sem dar atenção para os
demais.

— Preciso falar com você.


— Se você não viu, estou ocupado — balanço minha arma.

Milena revirou os olhos e passou por cima do cadáver até parar alguns
centímetros a minha frente.

— Tenho algo que você vai gostar — me fita. — Depois você


continua sua matança.
Sobre o ombro dela olho para os outros doze soldados e para
Domênico que estava sentado em um canto do escritório, assistindo todo meu
espetáculo.

— Saiam todos — ordeno indo para minha cadeira.

— Tonny, você fica — Milena virou para o soldado. — Tenho uma


pergunta para você.
Estranho a atitude dela e no momento que estamos somente eu,
Milena e Tonny, minha irmã chuta o joelho do homem que solta um rugido
de dor e ela segura os cabelos dele, puxando sua cabeça para trás.

— Agora você vai me dizer para onde Dmitriev levou minha cunhada
— ela ordena com o tom mortal.
— Eu não sei de nada — o homem a encara com indiferença. — E
também não lhe devo satisfação, minha lealdade está ao Don e não a você.

Milena deu um sorriso diabólico e um soco na cara dele.

— Resposta errada — disse ela. — Vamos começar mais uma vez?


Não sei quantas horas se passaram enquanto vi minha irmã tentando
arrancar alguma informação do homem à minha frente. Ela quebrou alguns
dedos, o nariz e até mesmo o braço de Tonny, mas ele parecia mais disposto a
morrer do que dizer alguma coisa.

— Se você me prometeu lealdade então me diga onde está minha


mulher — decido intervir antes que Milena colocasse uma bala na cabeça do
homem.

Tonny tem seus olhos inchados pelos socos que Milena desferiu e os
cantos da sua boca estavam manchados de sangue. Nunca tinha visto minha
irmã desse jeito, talvez eu não a conhecesse tão bem assim.
— Sinto muito chefe, ele ameaçou matar todos que eu amo — fala
com tom fraco.

— Amor é um sentimento tolo — Milena cospe e segura o rosto do


homem. — Olha o que esse sentimento lhe trouxe, será que ele vale a pena?

— Milena — ponho minha mão sobre seu ombro. — Agora é minha


vez.
— Deixe-me terminar com ele, Enzo.

— Não — a puxo para trás. — Saia daqui.

— Enzo!

— Isso é uma ordem.

Pisando duro, Milena sai do escritório batendo a porta com força.


Fecho os olhos por alguns segundos, mas logo volto minha atenção para o
traidor a minha frente.

— Confiei a vida da minha esposa a você, a vida do meu filho.

— Sinto muito.

— Os seus pedidos de desculpa não significam nada para mim —


seguro seu rosto. — Mas você tem a chance de mostrar pela última vez sua
lealdade a mim. Diga-me onde Dmitriev levou Ayla.
— Para uma casa longe da cidade, fica perto de um dos antigos
galpões da famiglia, ele está lá, é a única casa daquela redondeza.

Solto o homem e ajeito meu paletó contra meu corpo.

— O senhor irá poupar minha vida?

Encaro o homem jogado nos meus pés e lhe lanço um sorriso que
tenho certeza que não chega aos meus olhos.

— Traidores não tem misericórdia.

Capítulo 37
AYLA

Era difícil dizer qual parte do meu corpo doía menos, me manter
acordada, mas o medo de apagar e não acordar mais era maior. Mesmo
sentindo-me esgotada, forço meus olhos a se manterem abertos e encaro
meus braços que tem alguns cortes e cheios de sangue.

A dor é dilacerante, mas Nikolai disse que isso era só o começo. Sua
voz ainda rodeia minha cabeça enquanto dizia que iria me fazer desejar a
morte antes mesmo dela vir a mim. Pela primeira vez em toda minha vida eu
não temia minha morte e sim a vida do meu bebê que estava dentro de mim,
temia que ele não conhecesse a vida e conhecesse todo amor que tinha para
dar a ele.
Escuto a porta ranger e a figura de Nikolai parar alguns metros de
onde estou.

— Está acordada? — Pergunta com o tom zombeteiro. — Você é


mais forte do que imaginei.

Continuo com minha cabeça caída para frente e só consigo ver o


vislumbre dos seus sapatos negros bem polidos a minha frente.
— Perdeu a língua? — Puxa meus cabelos para trás, forçando-me a
encará-lo.

Não tenho forças nem para gritar mais e mesmo que tivesse minha
garganta seca e inchada não permitiria. Já tinha perdido a noção de quanto
tempo gritei pedindo para ele parar ou pela sua misericórdia. Mas ele não
parou, cortou cada pedaço dos meus braços e coxas, deixando minha barriga
ilesa, por pouco tempo, como ele mesmo disse.

Pisco diversas vezes e tento focar no seu rosto, mas antes que eu
feche os olhos sinto algo rasgar a pele do meu colo, e o grito rouco e de dor
emanou de minha garganta.
— Isso é bom — sorriu. — Muito bom.

— P-por favor — choro já não aguento mais aquilo. — Para.

Fecho os olhos com força ao sentir sua língua rastejar pelo fio de
sangue que descia do meu colo até o vão dos meus seios. Controlo a vontade
de vomitar e não consigo afastar a escuridão quando mais uma onde de dor
me atinge.

(...)

Não sei ao certo o que me fez despertar. Mas ao abrir um pouco meus
olhos, sinto algo quente escorrer pelas minhas pernas. Franzo minha testa e
tento focar no que estava acontecendo. Minhas pernas estavam molhadas e o
líquido era quente. Será que eu tinha feito xixi?

Solto uma pequena risada, mas logo ela é substituída por uma careta
de dor, não sei se foi por causa da dor dos cortes ou pela fisgada que sinto no
meu baixo ventre.

— Merda — solto sentindo a fisgada mais uma vez.


Fecho os olhos e respiro fundo por algumas vezes até sentir o
incômodo passar. Volto a olhar para a lambança que era meu corpo e tento ter
certeza que isso estava mesmo acontecendo, mas o meu momento de
raciocínio foi interrompido quando sinto mais uma vez a mesma dor e solto
um gemido acompanhando a contração.

— Por favor, não — olho para cima. — Meu Deus que isso não esteja
acontecendo.
Tento me lembrar de tudo que tinha aprendido com algum livro de
gestação, onde dizia para me manter calma e tentar transmitir confiança. Mas
na situação em que me encontro não consigo ter nada disso, o desespero me
aplaca e me pergunto se meu filho viria ao mundo mesmo e se terei a chance
de olhá-lo e dizer eu te amo.

As dores foram intercaladas e intensificadas a cada dez ou vinte


minutos, não consigo saber o certo. A cada vez que elas vêm, parecem me
rasgar ao meio e a vontade de gritar é enorme, mas prefiro morder meu lábio
inferior a Nikolai descobrir que estou em trabalho de parto e fazer alguma
coisa.

Sinto o suor descer pelo meu rosto e minha respiração entrecortada.


Inclino minha cabeça para trás e solto um suspiro ao sentir a contração
diminuir. Isso parecia pior do que pensava. E juntando a dor das contrações
com do meu corpo não consigo imaginar qual nota daria para tudo isso.

Ao escutar a porta ranger tento me manter imparcial, como se nada


tivesse acontecendo. Vejo Nikolai caminhar na minha direção e franzir o
rosto ao ver água aos meus pés.

— Você fez xixi? — Pergunta me olhando com nojo. — Que feio


Ayla.

Encaro o homem e mordo minhas bochechas ao sentir mais uma onda


de dor. Com isso, contorço meus dedos e faço uma careta.
— O que você está fazendo? — Se aproxima e toca minha mão. —
Por que está tremendo?

Jogo minha cabeça para frente e não consigo mais segurar o grito que
rompe meu peito. Assim consigo aliviar a tensão do meu corpo e a dor parece
diminuir.
— Não me diga que você está em trabalho de parto — me olha
divertido.

— Me ajude, por favor — passo a ponta da língua pelos meus lábios


secos. — Está doendo muito.

Antes que ele possa dizer algo escutamos algum estrondo e no


segundo seguinte barulho de tiros. Nikolai se afasta e grita alguma coisa, que
não consigo compreender, no corredor.
— Temos companhia — ele disse enquanto me desamarra. — Se
levanta.

Puxando-me com brutalidade Nikolai me mantém de pé, mas não por


muito tempo, logo caio de joelhos e sinto a contração mais forte. Solto mais
um grito e rezo para que Deus me ajude, porque não tenho certeza se teria
forças para aquilo.

— Se afaste dela — ouço alguém dizer, mas estou tão concentrada em


minha dor que não consigo identificar de quem era a voz.
— Somos amigos — ouço Nikolai dizer atrás de mim.

— Se afaste.

Levanto a cabeça um pouco e encontro Domênico e Aronne


apontando o revólver na direção de Nikolai. Domênico caminha até nós e
derruba Nikolai dando uma coronhada na nuca dele.
— Ayla, você está bem? — Domênico se abaixa. — Consegue se
levantar?

Solto um rugido em resposta e sinto mais uma pontada de dor. Seguro


fortemente na mão de Domênico e faço força para baixo, como meu corpo
pedia.
— Não aguento mais — sussurro chorando. — Dói muito.

— O que dói? — Os dois homens me perguntam.

Aronne se abaixa a minha frente e tento me sentar no chão.


— Você precisa levantar e não deitar — Domênico reclama.

— Cala a boca — rosno enquanto respiro fundo. — Preciso que tire


minha calcinha.

— O quê? — Perguntaram juntos.


— Tirem minha calcinha! — Grito sentindo mais uma contração.

Aronne rapidamente faz o que peço e no momento seguinte encosto


meu corpo no de Domênico, sem me importar se estávamos em um lugar
imundo e um corpo desmaiado ao nosso lado, só queria que aquela dor
parasse.

Respiro fundo e olho para Aronne que me olha sem entender, e podia
até imaginar qual seria a cara de Domênico logo atrás de mim.
— Preciso que você me diga o que está vendo.

— Vendo o quê?

— Está vendo alguma coisa na minha vagina? — Tento manter meu


raciocínio.
— Sim.

Acenei e seguro os braços de Domênico enquanto mais uma onda de


dor me atinge e faço o que meu corpo pede que é empurrar para fora e repito
isso cada vez mais forte. Não sabia se iria aguentar por mais tempo, a dor se
intensificava cada vez mais e o corpo pede por descanso, mas eu precisava
fazer aquilo.
— Estou vendo a criança — ouço Aronne dizer.

— O que está acontecendo aqui? — Viro para o lado e nesse


momento encontro Enzo parado na porta junto com mais cinco homens.

— Seu filho está nascendo — Domênico diz atrás de mim, parecendo


meio desesperado.
Quando empurrei mais uma vez solto um grito que com certeza iria
deixar Domêncio com problemas de audição, mas não liguei, só relaxei ao
sentir o alívio dominar meu corpo completamente. Mas logo chorei ao ouvir
um choro agudo e forte. Encosto minha cabeça no meio do peito de
Domênico e engulo o nó em minha garganta.

— É um belo menino senhora — a imagem turva de Aronne


segurando um pequeno corpo veio a minha frente.

Só lembro-me de dar um pequeno sorriso enquanto sentia tudo


escurecer e ao longe escuto alguém chamar meu nome.

(...)

ENZO
Seguro o corpo desacordado de Ayla contra meu corpo e tento
encontrar sua pulsação, que estava fraca. Não sei quanto sangue ela tinha
perdido, mas sabia que se não a tirasse logo daqui a perderia.
Levo-a para fora daquela casa, entro no carro e arranco para fora
daquele maldito lugar. Não consigo pensar direito, só conseguia ver a estrada
a minha frente e concentrava-me em levá-la para o hospital mais próximo
possível. Ultrapassei todos os sinais vermelhos e cortei todas as faixas
proibidas. Pelo retrovisor vejo o carro de Domênico me seguindo.

Quando chego ao hospital vejo uma equipe médica já esperando,


Aronne ou Domênico deveriam ter ligado, eles sabiam que eu a traria para cá,
esse era o único lugar seguro, para o qual traria Ayla. A famiglia era uma das
maiores acionista dentro do conselho hospitalar e somente aqui eu poderia ter
confiança para trazê-la. Um homem pegou Ayla e a pôs na maca.

— Senhor me acompanhe — uma mulher me chama. — Preciso que o


senhor preencha a ficha médica da sua esposa.
Sentindo-me confuso faço o que me é pedido e logo depois me
encontro na sala de espera. Domênico estava ao meu lado, ele tinha trouxera
o bebê, que nem tive a chance de olhar direito, de tão desesperado que fiquei
com a situação de Ayla.

— Ela vai ficar bem — Domênico diz sentando ao meu lado. — Ayla
é forte.

— Você viu o estado dela? — Pergunto contendo minha voz. — Viu


o que o desgraçado de Dmitriev fez?
— Sim, vi — ele me encara. — E mesmo esfolada ela conseguiu
colocar seu filho no mundo.

Volto a concentrar minha atenção na parede branca e pela primeira


vez em muito tempo sinto vontade de chorar, sinto uma queimação no peito e
isso estava me assustando. Nunca me permiti sentir isso e a sensação era
horrível.
— Onde está Nikolai? — Foco minha atenção em outra coisa, que não
naquele medo estranho.

— Sendo torturado por algum dos nossos homens.

— Não o deixe morrer, porque somente eu terei esse prazer.


— Pode deixar.

Algumas horas depois o médico que estava tomando conta do caso de


Ayla surge a minha frente.

— Sr. Sartori?
— Sou eu.

— Sou o médico que está cuidando do caso da sua esposa — me


cumprimenta. — Sua esposa perdeu muito sangue por causa de alguns cortes
profundos e superficiais, e também por causa do parto. Tivemos que fazer
algumas transfusões de bolsas de sangue. Posso dizer que a senhora Sartori
não está em estado de risco, mesmo diante do estado em que ela chegou.

— E o bebê?
— Está bem, a criança é saudável, mesmo tendo nascido algumas
semanas antes do previsto, por isso decidimos deixá-lo alguns dias na
incubadora, mas nada que precise se preocupar.

— Quando posso vê-la?


— Sua esposa está sendo instalada no quarto, mas logo alguém virá
aqui para levá-lo.

(...)

AYLA

A pior parte foi abrir os olhos e sentir meu corpo completamente


dormente pela dor. Faço uma careta e viro o rosto para o lado, encontrando
paredes brancas, uma janela fechada e uma luz que me deixou cega por
alguns instantes antes de me acostumar com a claridade.

— Olha quem acordou — viro na direção da voz e encontro Milena


encostada em uma parede. — Bem vinda à terra dos vivos.
— Onde estou? — Minha voz sai rouca, sinto a garganta seca e
dolorida.

— Hospital — deu alguns passos na minha direção. — Você e o bebê.

Bebê.
Os flashes dos acontecimentos vêm a minha cabeça, lembro-me de
Nikolai e suas torturas, o nascimento do meu filho e o desmaio. Tento me
sentar, mas Milena me impede de fazer isso.

— Fique deitada — ordena. — Irei chamar o médico.

Á contragosto acato sua ordem e espero o médico vir me examinar,


digamos que foi algo rápido, ele disse que estava me recuperando rápido, que
eu tinha dormido por dois dias, algo normal devido o meu cansaço e também
por causa dos efeitos dos remédios. Ele me libera para sentar e disse que logo
uma enfermeira traria alguma coisa para eu beber e comer. Agradeço e no
momento que ele sai do quarto encontro Enzo parado na porta.

— Milena?
Ela olhou na minha direção.

— Oi?

— Fecha a porta, por favor — olho para outra direção, querendo


evitar olhá-lo a todo custo.
— Por quê?

— Por favor... — Sinto minha garganta se fechar.

Milena faz o que peço e quando estamos a sós, sinto a primeira


lágrima escorrer pelo meu rosto e ela se senta ao meu lado.
— O que houve? — Me olha estranha. — Por que não quer vê-lo?

Olho para as minhas mãos sobre meu colo e respiro fundo.

— No dia que fui sequestrada... — Paro por um segundo e as imagens


do dia vêm em minha cabeça. — Encontrei um documento no escritório de
Enzo. Nesse documento mencionava um acordo que ele tinha feito na época
da nossa lua de mel na Calábria.
— Como assim? Que acordo?

Fixo meu olhar no dela e nos seus olhos azuis encontro confusão.

— Enzo fez um acordo com Santiago Stefano, dando meu filho como
moeda de troca e com isso ele tem poder sobre a Calábria.
Milena segura minha mão e a aperta levemente.
— Não posso acreditar que ele fez isso — murmura em um tom
baixo. — Meu irmão não teria coragem de fazer isso.

— Ele teve — balanço a cabeça. — Esse acordo foi feito antes que eu
descobrisse a gravidez. Ele só me usou.
— Não fale assim — me adverte. — Não pense desse jeito.

— Não tem outro jeito de pensar.

— Milena nos dê licença — olho para a porta e ela está aberta mais
uma vez.
Olho para Milena que olha para o seu irmão e vi seus olhos estreitos
na direção dele. Mas ela logo solta minha mão e pega sua bolsa.

— Você tem cinco minutos — avisa saindo do quarto.

Enzo entra no quarto e fecha a porta atrás de si. Sem conseguir


encará-lo viro na direção da janela fechada e seguro minha língua, onde ela
queria mandá-lo para o inferno e dizer para ir embora.
— Eu deveria ter contado sobre isso antes — murmura a certa
distância. — Você não deveria ter descoberto assim.

Seguro o lençol entre os dedos e a vontade de chorar parece enorme,


meus sentimentos estão uma merda, não sei se deveria mandá-lo ir embora,
se choro ou digo a ele como realmente me sinto. Uma pequena parte de mim
acreditava que Enzo gostava de mim, mas esse sentimento não fazia sentido
algum nesse momento, descobrir que fui apenas um útero que carregou o
futuro dos seus negócios. O meu filho não tinha sido feito por amor dos seus
pais e sim por interesse do seu próprio pai, como eu diria um dia para o meu
filho que ele foi gerado para concluir um acordo? Como meu filho iria reagir
a isso?
— Ayla...

— Cheguei a pensar que você tinha um coração — o interrompo, com


a voz entrecortada. — E não uma pedra que bate no lugar dele. Como você
pode ter feito isso comigo? Como pode me usar desse jeito?
— Era necessário.

— Necessário? — Olho para ele. — Como você ousa dizer isso para
mim? Como tem coragem?

Enzo respira fundo e se mantem parado no meio do quarto. Vi que ele


não sabia como agir nesse momento e era a primeira vez que o via
desconcertado com a situação.
— Meu filho não é algo que pode ser vendido ou trocado quando você
desejar fazer! — Vocifero sentindo meu corpo tremer. — Ele é um bebê que
teve sua vida traçada antes mesmo de nascer.

— Todos nós temos.

— Mas ele deveria poder escolher com quem se casar!


— Escolhas não existem no nosso mundo Ayla.

— Sim existem — sinto a primeira lágrima descer. — Mesmo que


sejam poucas existem e você fez a pior escolha possível.

— Não exagera.
— Não estou — limpo meu rosto. — Agora saia daqui e me deixe
sozinha. E por favor, não quero vê-lo durante o tempo que eu ficar nesse
hospital, ouvir sua voz ou ver seu rosto.

Enzo fica surpreso com o que digo e o vi dar um passo para trás. Era
bom vê-lo magoado, pelo menos ele poderia sentir um pouco do que eu
estava sentindo nesse momento. Eu me sinto traída e destruída, porque o
homem em que aprendi a confiar e a amar tinha quebrado meu coração.

Capítulo 38

AYLA

A primeira vez que tinha visto as cicatrizes pelo meu corpo, as marcas
das facas, os pontos que tinha levado tanto nos braços, coxas e colo, não me
assustaram como pensei que faria. O médico tinha dito que algumas nem
deixariam marcas, muitas nos meus braços sumiram e das coxas também,
mas na do colo permaneceria a cicatriz. O corte era desforme e grande. Toco
o curativo e respiro fundo lembrando como foi à sensação de sentir a lâmina
cortando minha pele por diversas vezes sem parar.
— Você está melhor do que ontem — Laura diz parando ao meu lado.

Sorrio para minha prima e volto para a cama hospitalar, em breve iria
embora daqui e voltaria para casa. Casa, um lugar onde acreditei um dia
poder chamar assim, mas agora não conseguia pensar em voltar para lá.

— Me sinto melhor — fazia cinco dias desde que acordei e cada


minuto que passava ali me sentia melhor, o tratamento das enfermeiras era
maravilhoso e o médico também. — Cadê Henrico?

— A enfermeira logo o trará para você — ela disse dobrando algumas


peças de roupas. — O médico veio aqui quando você estava no banho.
— O que ele queria?

— Disse que você terá alta hoje.

— Sério?

— Sim — guardou minhas roupas na mala. — O Henrico também irá


para casa.

Sorrio ao imaginar-me saindo do hospital com meu filho nos braços.


Meu bebê era a coisa mais perfeita do mundo, era gordinho e bochechudo,
seus olhos eram os cinza mais intensos que vi, ele tinha herdado do pai, e
seus cabelos ainda não tem uma cor definida era de um castanho escuro, mas
apostava que iria escurecer ainda mais. Via que meu pequeno bebê não teria
nada meu na aparência. Enzo não apareceu nesses dias, respeitou meu pedido
e agradeci por isso, ainda não queria vê-lo e não sei como seria quando
voltasse para casa.

Quando a enfermeira entrou no quarto com meu pequeno pacote nos


braços, sorri ainda mais e peguei meu pequeno bebê no colo, beijei sua testa,
sentindo seu cheirinho único e especial. Como se sentisse que era eu ele abriu
seus olhos redondos e logo depois sorriu.
— Oi meu amor — sussurro para ele. — Está reconhecendo a
mamãe?

— Uma mãe gata dessas quem não reconheceria? — Laura brinca


parando ao meu lado. — Mas não se preocupe Henrico, a tia Laura irá
esperar por você.

Solto uma risada com a besteira que ela diz e meu bebê sorrir de
volta. Sentei-me na cama, me preparo para amamentar meu filho, quando ele
agarra meu peito e suga o leite vejo Domênico entrar.
— Esse carinha já é esperto, desde cedo no peito — pisca para mim.

— O que faz aqui? — Laura o fuzila.

— Calma ruiva, vim levar a mamãe do momento para casa.

— Você que vai me levar?

— Ao seu dispor — fez uma reverência. — Posso levar suas coisas e


desse garotão para o carro?

— Acho melhor ligar para o seu marido e saber se esse daqui está
dizendo a verdade.
— Ruiva, ruiva, está me chamando de mentiroso? — Levanta as
sobrancelhas.

— Não seria capaz de fazer isso — fala sarcástica.

Olho para os dois e dou um pequeno sorriso. Ainda não consigo


entender porque Laura não suporta Domênico e sempre solta algumas falas
desagradáveis na presença dele.
— Não é necessário ligar para Enzo, Dom vai me levar.

— Dom? — Laura me olha com as sobrancelhas levantadas.

— Apelido carinhoso que Aylazinha me deu — Domênico dá um


tapinha no ombro de Laura. — Sinto muito se você não tem.
— Cala a boca seu idiota.
— Adoraria vê-la fazer isso — ele fica com o rosto próximo do dela e
vejo minha prima ficar vermelha.

— Ei pessoal — chamo a atenção deles. — É melhor procurar o


médico e saber sobre minha alta.
— Verdade — Laura dá alguns passos para trás. — Irei fazer isso
agora.

Quando estava somente Domênico, eu e o bebê não conseguimos


evitar o sorriso.

— O que foi loira?


— Por que Laura sempre é arisca com você?

— Não sei — deu de ombro. — Talvez ela tenha ciúmes de nós dois.

— Não fala besteira — reviro os olhos. — Laura não é assim.


— Então pergunte a ela porque agi desse jeito — ele murmura
pegando as malas. — Irei levar isso para o carro.

Estranho ele fugir da conversa, mas logo esqueço quando Laura volta
na companhia do médico e o mesmo traz minha alta. Abraço o homem por
alguns instantes e ele toca na cabeleira do meu bebê que já tinha adormecido
no meu peito.

— Se cuide Ayla — ele toca meu ombro.


— Pode deixar que irei cuidar dela doutor — meu corpo fica
completamente tenso ao ouvir a voz atrás de nós.

O médico dá alguns passos para trás e abre um sorriso para o homem


atrás de mim.

— Tenho certeza que sim senhor Sartori.


Meu corpo, não relaxa quando saio do quarto na companhia de Laura
e Enzo em direção à garagem, lá encontro Domênico e mais dois soldados
entre eles Aronne que acenou levemente na minha direção. Brindei-o com um
sorriso.

— Obrigada pelo que você fez Aronne — digo sentindo meu rosto
esquentar.
— Não fiz nada demais senhora.

— Claro que fez — digo. — Se não fosse você não teria conseguido
ter dado á luz ao Henrico.

Aronne olha para o bebê coberto com uma manta branca e dá um


sorriso, mas logo volta para o seu posto sério.
— Laura, Domênico irá levá-la.

Ela olha para o homem que estava ao seu lado e o mesmo sorri na sua
direção. Ela bufa e caminha na direção do carro dele.

(...)

Com cuidado coloco Henrico no berço e logo depois saio do quarto.


Ao entrar no meu, encontro Enzo sentado na beira da cama. Decidida a trocar
de roupa e procurar outro cômodo para me alojar sigo para o closet, mas
antes que eu consiga entrar ouço sua voz.
— Sinto muito por você ter passado por tudo isso — seu tom era
baixo e rouco. — Não consigo imaginar o que você deve ter passado nas
mãos de Nikolai.
Continuo parada no mesmo lugar e sem saber se continuava ali ou
saía correndo, como era o meu desejo.

— Pela primeira vez em muito tempo eu tive medo — confessa. —


Tive medo de não vê-la novamente, que você morresse.
Olho-o sobre o ombro e vejo-o me olhar com os cinzas brilhantes e
aquilo me fez sufocar.

— Estou muito machucada, Enzo — suspiro. — Tanto física como


emocionalmente. Achei que seria forte, que faria você sentir algo por mim,
algo além do que desejo, mas... Eu não consegui você me usou.

— Não diga isso.


— Mas é a verdade — cruzo meus braços. — Tudo que tivemos foi
parte de um jogo seu, que era me engravidar e garantir seu lugar na
Ndrangheta.

Enzo levanta e caminha na minha direção, não tenho chance de dar


um passo para trás ou tentar distancia-lo.

— No início sim, tudo fazia parte de um plano — aquilo doeu mais do


que um tapa. — Mas você com esses olhos verdes, sorriso inocente,
conseguiu despertar algo que eu não sabia existir.
— O que você está querendo dizer com isso?

— Você conseguiu penetrar aqui Ayla — ele põe a mão no peito,


onde batia seu coração. — Onde muitos dizem que existe uma pedra de gelo
no lugar de um coração.

Mordo meu lábio inferior e respiro com dificuldade. Como esperei


tanto ouvir isso, mas... Como poderia amá-lo depois do que ele fez?
— Você é tudo que um dia temi ter — chega mais perto e segura meu
rosto entre suas mãos. — É algo quente, desejado e amado. Você é o fogo
que corre pelas minhas veias e me faz querer respirar todos os dias, querer ser
alguém melhor.

As lágrimas descem pelo meu rosto sem controle e quando Enzo me


abraça não consigo ficar parada por um segundo. Abraço seu corpo e meu
choro fica maior.

— Você não deveria me perdoar, mas eu prometo que não farei mais
nada igual a isso — ele disse beijando minha testa. — Mas era necessário
Ayla.

— Ele é só um bebê — sussurro chorosa. — Apenas um bebê que já


tem seu futuro traçado.

— Mas ele é nosso.


— Não por muito tempo — afasto meu rosto do seu peito. — Até
quando ele será nosso?

— Até quando ele cansar de nós — Enzo me presenteia com um


sorriso.

— Não entendo.
— Se Stefano tiver uma filha mulher, ela que virá para nós e não o
nosso filho para eles.

— Então quer dizer que...

— Henrico ficará com a gente até ficarmos velhinhos.


Volto a encostar minha cabeça no seu peito, mesmo sabendo que meu
filho continuaria conosco não diminuía a culpa.
— Mas isso quer dizer que a mulher de Stefano irá perder a filha,
quando a mesma vier ao mundo.

— Somente quando ela estiver na época de se casar.


— Isso não é certo — resmungo. — Estamos decidindo a vida de
duas crianças.

— Nada na vida da gente é certo — ele segura meu queixo e me fita.


— Mas não vamos pensar sobre isso agora. Você precisa descansar e cuidar
dos seus ferimentos.

Dou um pequeno sorriso.


— E eu pensando que seria mais severa com você — beijo seu peito
coberto pela camisa.

— Para que complicar algo que podemos resolver civilizadamente e


aproveitar o que temos para viver?

— Eu te amo — sussurro.
Enzo arregala um pouco os olhos, mas logo abaixa a cabeça e me
beija docemente.

— Posso dizer que também sinto o mesmo por você.

Capítulo 39

ENZO

Demorei um pouco para conseguir reconhecer o corpo a minha frente.


Seu corpo estava magro e seu rosto completamente desfigurado. Ele parecia
desorientado no momento que joguei a luz do refletor no seu rosto. Nikolai
piscou por diversas vezes e soltou um grunhido no momento que a água
gelada atingiu seu corpo ferido e completamente desfigurado.

Fazia semanas que deixei meus homens tomando conta dele e


fizessem o que queriam com ele, sabia que as surras, choque, tiros, facadas,
não seria o décimo das coisas que ele fez minha mulher sofrer. Ayla não
falava, mas dava para ver no seu rosto horrorizado quando acordava de um
pesadelo, gritando para parar ou quando corria do quarto e ia até o do nosso
filho para ver se ele estava bem. Ayla era mais forte do que pensava,
conseguia aguentar as merdas que já tinha passado e ainda colocava um
sorriso no rosto e dizia que tudo estava bem. Mas o olhar de confusão e medo
era visível quando acordava ou olhava para as cicatrizes no seu corpo, as
quais nãos eram muitas, mas conseguia deixá-la desnorteada em alguns
momentos do seu dia.
Encarar o homem à minha frente e saber que ele era o motivo dos
gritos da minha esposa, dos seus pedidos de socorro ou clemência, fazia a
raiva e ódio pulsar em minhas veias.

— O que você quer de mim? — Sua voz era rouca e baixa. — Já não
teve o bastante?

Giro o canivete entre os meus dedos e pergunto-me por onde


começar. Já tinha criado em minha cabeça diversas cenas em como iria
acabar com Dmitriev, mas nenhuma delas parecia o bastante, nada parecia o
bastante se comparado ao que ele fez com Ayla.
— Não sei — murmuro calmamente. — Você acha que já teve o
bastante?

Com os olhos entreabertos de tão inchados que estavam, engoliu em


seco e soltou um suspiro.

— Como está sua esposa?

— É melhor não seguir por esse caminho — senti meu sangue


bombear cada vez mais rápido pelo meu corpo.

Mesmo todo fodido Nikolai deu um sorriso de lado, controlo a


vontade de acertar um soco na sua cara e fazê-lo desejar sua morte, mas o que
sai da sua boca consegue tirar qualquer linha de raciocínio que eu jurava ter.

— Como ela reage quando olha as marcas no corpo? Como ela se


olha ao ver que me tem marcado em cada canto daquele corpo?
— Cala sua boca.

— Que pena que não consegui experimentar aquela pele, o gosto da


bocetinha dela e fazê-la gritar cada vez que eu me enfiasse nela — continua e
ri.

No segundo seguinte vou para cima do desgraçado e desfiro vários


socos, um atrás do outro, enxergo vermelho a minha frente e não penso em
mais nada além de acabar com a vida desse desgraçado. A cada soco que dou
em seu rosto ele solta uma risada e cospe sangue.

— Deveria ter matado aquela criança que ela carregava e ter


entregado os pedaços dele para os cachorros — continua a dizer e mais socos
foram desferidos em seu rosto.

Não conseguia imaginar Ayla sofrendo nas mãos deste filho da puta,
as ameaças que ela deve ter sofrido com ele. Só consegui parar de descontar
minha raiva no momento que o vi quase sem vida em minhas mãos e seu
peito subir e descer com dificuldade.

Afasto-me dele e olho para os nós dos meus dedos feridos e cheios de
sangue, mas não me preocupo com isso, ainda consigo sentir a adrenalina
pulsar pelo meu corpo e a vontade de acabar com ele de uma vez. Mas aquilo
seria fácil demais, rápido demais. Queria que ele sofresse cada segundo de
sua miserável vida e implorasse pela morte todos os dias, mas ele não teria.
Porque o inferno seria a sua vida e a sua morte o seu paraíso.

(...)

Já era tarde quando o carro para na frente da minha casa, saio do


automóvel. Tinha tido algumas reuniões, as quais vinham sendo adiadas nos
últimos dias, mas quando Domênico me ligou e disse que eu estava muito
ausente dentro da máfia, essas palavras foram uma brecha para me mostrar
que não poderia permanecer muito tempo longe dos negócios. Passei horas
conversando e convocando vários Capos, por fim conseguimos entrar em
consenso em muitas coisas. Mas outras que ainda precisavam bastante da
minha atenção.
Estava tentando expandir meu território dentro e fora dos Estados
Unidos, tinha certeza de que isso levava tempo, mas força de vontade não me
faltava. Tinha apoio de pessoas importantes e isso bastava.

O estresse do dia sumiu completamente ao entrar em casa e escutar a


voz de Ayla vindo da cozinha. Sigo a sua voz, a encontro balançando um
pacotinho branco e um gritinho infantil de felicidade. Ultimamente esse som
preenchia a casa diariamente e os sorrisos que Ayla tem são os mais
perfeitos.

Às vezes me pergunto como esse sentimento surgiu, estava convicto


de que ele já se encontrava ali desde quando a vi pela primeira vez. Seus
olhos verdes brilhantes e seu jeito ás vezes tímido, outrora ousado. Mesmo
não querendo admitir, Ayla já tinha a mim desde muito tempo atrás, me
pergunto como ela ainda consegue me amar, mesmo que eu tenha sido um
cretino na maior parte do nosso casamento. E quando perguntava isso a ela,
seu sorriso preenchia seu rosto e ela me beijava com amor, dizia que esperou
pacientemente por isso.

Como se percebesse que estava sendo observada Ayla vira na minha


direção e sorri ainda mais ao me encontrar ali na porta da cozinha. O bebê em
seus braços estava agitado e puxava seus cabelos soltos enquanto tinha sua
boca no seio dela. Garoto de sorte.
— Oi — ela sussurra ajeitando o bebê no colo.

Aproximo-me deles e encontro nosso filho encarando a mãe, o brilho


dos olhos tão idênticos ao meu era grande. Consigo ver como aquele garoto
já ama a mãe e ela sente o mesmo por ele.

Nesses últimos dois meses muitas coisas mudaram, a nossa rotina


tinha mudado. Nossas vidas estavam girando em torno da criança em seus
braços e a revelação dos meus sentimentos por Ayla tinha conseguido deixar
nossa relação mais leve, fazendo-nos felizes. Não me lembrava da última vez
que tinha sentido tal felicidade, mas estar perto dela e do meu filho era algo
bom e inexplicável.
— Esse garotão se comportou? — Toco na cabecinha dele.

— Ele é um príncipe — sorri ainda mais.

Abraço-a pelo ombro, beijo seus cabelos e a ouço suspirar.


— Vou fazê-lo dormir e logo depois podemos jantar o que acha? —
Levanta as sobrancelhas se afastando um pouco.
— Não jantou?

— Estava esperando você — confessa fazendo uma careta. — Desde


que Milena viajou, não gosto de jantar sozinha.
Aceno compreendendo. Milena tinha viajado para Itália no intuito de
acompanhar alguns desfiles de moda que estava acontecendo nesse período
do ano, mas eu sabia muito bem porque ela tinha viajado.

Ela era a única pessoa em quem confiava para executar aquele


serviço, e minha irmã sabia muito bem disso.

Beijando a testa de Ayla, pego Henrico que já estava sonolento em


seu colo e me afasto dela.
— O que...

— Irei colocá-lo no berço, volto logo.

Subi as escadas para o segundo andar e coloco Henrico no berço, pois


este já dormia e tinha um pequeno bico. Uma vez Ayla tinha dito que “ele era
a melhor parte de nós, mesmo com os meus erros eu tinha conseguido fazer
algo certo nessa vida e minha família era prova disso”. Aquele pequeno bebê
tinha uma parte de mim, portanto iria protegê-lo.

Fico um tempo olhando-o dormir quando sinto a presença dela do


meu lado. Ayla deita a cabeça em meu ombro.

— Ele é lindo não é?

— Parece muito com você.


Ela dá um tapa em meu ombro e bufa.

— Eu só fiz carregar e parir, porque ele não parece nada comigo.

— Claro que sim — abraço-a. — Ele puxou sua doçura.


— Vou fingir que acredito.

Viro-a nos meus braços e colo nossas bocas.

— Podemos ter outro para vermos se vem igual a você.

— E se não vier?

— Aí teremos vários filhos até que um seja sua cópia.


Ayla jogou a cabeça para trás e riu como nunca, mas logo colocou a
mão na boca se controlando.

— Vou ter que recusar sua oferta — diz voltando a me olhar. —


Henrico é suficiente.

Ponho uma mexa do seu cabelo atrás da orelha e vejo seu rosto
vermelho e suas íris verdes brilhantes como nunca. Conseguia imaginar uma
bela menininha de cabelos loiros, olhos verdes e aparência angelical.
— No futuro podemos tentar não é?

— Quem sabe — deu de ombro me abraçando pelo pescoço. — Mas


no momento vamos somente nos contentar com nosso pequeno menino.

Por enquanto aceito e dou o assunto por encerrado, trago a boca da


minha mulher para a minha, ela suspira de contentamento e aceita o que
tenho para dar-lhe. Não éramos perfeitos e não sabia se seria completamente
o que Ayla merecia ter. Mas nos meus erros tentarei fazê-la feliz e mostrar
que sim, poderíamos ser felizes e viver nossas vidas como merecíamos.
Aquela doce menina era tudo para mim.
Epílogo I

Três meses depois...

AYLA

Olho para minha imagem na frente do espelho. Estava me sentindo


esquisita. Não conseguia me lembrar da última vez que vesti algo tão curto,
minhas roupas diárias eram shorts folgado e camisetas, claro que vestia algo
mais glamoroso quando acompanhava Enzo á alguns jantares ou eventos da
empresa, esses eram os eventos mais constantes em nossas vidas.

O vestido preto tomara que caia curto que vejo cobrir meu corpo era
algo estranho e começo a me perguntar como é que fui aceitar o convite de
Laura para ir á uma boate. Mas logo me lembro, Piero tinha viajado para
algum lugar do mundo, assim ela aproveitou para sair de casa e deleitar de
seus momentos livres. Com o seu pedido entusiasmado não consegui recusar,
queria ver minha prima feliz e se tivesse que vestir algo que mostrasse minha
bunda, assim o faria.

Passo as mãos pelo tecido justo, olho para os meus cabelos soltos e
cheio de cachos. Minha maquiagem é carregada e bem marcada, olhos
esfumados de preto e batom vermelho sangue. Parecia-me uma jovem
completamente solteira e que só queria se divertir por uma noite, e me
divertir está em primeiro lugar na minha lista dessa noite.
Deveria me sentir culpada pelo alívio por poder sair hoje de casa, mas
não me sentia. Queria poder beber algo forte e por uma noite ser apenas uma
jovem de vinte anos que não carregava nas costas uma facção criminosa.

Essa noite era para me divertir ao lado da minha prima e esquecer


qualquer coisa. Jogo meus cabelos sobre os meus seios que estão ainda
maiores por causa da amamentação e com os cabelos consigo esconder a
cicatriz que Nikolai fez no meu colo, já não me incomodo mais como antes, é
suportável olhar para todas as cicatrizes, não me sinto mais horrível como no
início. Enzo me ajudou bastante na fase de aceitação do meu corpo, ele dizia
que eu era linda e que me achava ainda mais sexy com aquelas marcas,
inicialmente escondia o máximo que podia para ele não ver, mas no final
acabei aceitando as cicatrizes.
— Para onde pensa que vai desse jeito? — Pelo espelho encontro
Enzo parado na porta do closet com seu semblante sério.

— Esqueceu? — Levanto as sobrancelhas. — Vou sair com Laura.

— Desse jeito?
— Não gostou? — Dou uma voltinha para ele.

Enzo dá alguns passos para frente, até parar á alguns centímetros.


Seus olhos cinza examinaram cada parte do meu copo. Ele levanta a mão,
afasta meu cabelo e seus lindos olhos cintilam ao ver meus seios espremidos
no vestido. Ele tinha confessado numa de nossas transas selvagens que era
fissurado em meus seios, o que me fez corar brutalmente.

— O que acha de cancelar e dizer a Laura que ficou gripada? —


Sugere abaixando a cabeça e beijando o meio dos meus seios. — Aí podemos
tirar esse vestido e suar bastante.
Fecho os olhos e seguro sua nuca, querendo que ele beijasse ainda
mais a minha pele, sabia que ele estava fazendo isso para me submeter aos
seus desejos. Seguro seu rosto entre minhas mãos e faço ele me encarar.

— Prometi a Laura que iria — beijo seus lábios tentadores. — Mas


prometo que quando voltar faço valer a pena.
— Irei cobrar — resmunga me beijando de volta. — Mesmo que não
suporte a ideia de ter um bando de marmanjo cobiçando você.

Passo meus dedos pela sua barba que tanto amo e colo ainda mais
nossos corpos.

— Mas o que importa é que sou toda sua — sugo seu lábio inferior.
— E que quando eu voltar irei fazê-lo delirar.
— Safada — ele disse desferindo um tapa na minha bunda, fazendo-
me gritar pelo susto. — Mal posso esperar para vê-la tentar me levar ao
delírio.

— Olha que da última vez você ficou rouco de tanto gritar — me


afasto e limpo meus lábios.

— Estava gripado.
— Vou fingir que acredito — pisco para ele e pego minha bolsa de
mão. — Toma conta do Henrico, se precisar de mim é só ligar que venho no
mesmo instante.

— Estou precisando de você agora — ele apalpa sua ereção evidente.

— Estou falando sério, Enzo — reviro os olhos. — Qualquer coisa


me ligue.
— Sim senhora.

— Te amo — digo me afastando.

— Te amo muito mais.


(...)

A boate que combinei de ir com Laura é uma das franquias da


famiglia, era a mais nova queridinha dos nova-iorquinos, inaugurada há
algumas semanas e para conseguir entrar tinha que enfrentar uma grande fila
que já virava o quarteirão. Ser mulher do chefe tinha seus benefícios. Ao
chegar ao lado de Laura conseguimos entrar logo e um dos seguranças nos
deu pulseiras da ala VIP.

No primeiro momento que adentramos no prédio charmoso e


glamoroso, Laura levantou os braços e começou a dançar na batida
eletrônica. Acompanho minha prima em sua dança sem sentido e em meio á
multidão conseguimos chegar até o bar onde fizemos nossos pedidos e
bebemos num único gole. O líquido desceu queimando minha garganta e me
senti tonta, mas nas doses seguintes me senti mais leve e acompanhei Laura
na pista de dança.
A batida era envolvente e sensual. Meu corpo se mexia por si só e a
sensação de leveza que a bebida me proporciona era uma combinação
perfeita. Nas músicas seguintes estava me sentindo maravilhosa, suada e em
êxtase. Laura parecia em combustão. Ela balançava o corpo de uma forma
sensual, chamando a atenção de alguns homens e ela parecia não se importar.

Estava na minha quarta música quando senti mãos na minha cintura,


logo fico tensa e tento sair do contato do estranho. Mas no momento que
sinto a respiração em meu pescoço, o aroma do perfume me atinge e solto um
sorriso.

— Dança para mim linda — sua voz rouca reverbera pelo meu corpo,
deixando-me completamente excitada.

Mexo meu corpo contra o seu, suas mãos seguraram meus quadris e
logo minha bunda em imprensada contra sua virilha, onde sinto seu membro
duro.
— Isso gostosa — morde a curva do meu pescoço e me segura ainda
mais firme contra seu corpo duro.

Olho para frente onde há alguns instantes se encontrava Laura, mas


ela não estava mais lá. Talvez ela tenha ido pegar alguma bebida. As mãos
fortes em meus quadris me viram e encontro olhos cinzentos me olhando com
luxúria e paixão.

Abraço-o pelos ombros e movimento nossos corpos juntos. Enzo


passa as mãos pelas minhas costas e sua cabeça abaixa até a minha. Mesmo
de salto ainda era pequena ao lado dele e isso não me incomodava, adorava a
forma como Enzo ficava curvado para me beijar, quando me pegava no colo
e eu me agarrava a ele.
— Henrico ficou com quem? — Pergunto me sentindo meio
preocupada.

— Tália.

— Você deveria aumentar o salário dela — sugiro beijando seu


queixo coberto pela barba. — Ou ela irá nos deixar.
— Ela gosta do nosso filho, vejo como o garoto também gosta dela —
responde mordendo meu lábio inferior.

Aceito sua resposta e a música volta a nos envolver. Não sei quantas
músicas dançamos, até que Laura apareceu ao nosso lado, esbaforida, e só
assim me separei do meu marido.
— Casal lindo da minha vida, eu preciso ir embora — ela disse
ajeitando os cabelos bagunçados.

— Já?
— Estou me sentindo um pouco bêbada e é melhor eu ir antes que
faça outra merda.

— O que foi que você fez?

— Nada demais — balança as mãos. — Irei com um dos soldados de


Piero, depois nos falamos.
Antes que eu conseguisse parar Laura, ela já tinha sumido no meio da
multidão. A pulga que persistia atrás da minha orelha ficou ainda mais
evidente quando vi Domênico de longe, ele também parecia meio aéreo,
deixando-me duvidosa sobre algo. Mas logo ele também some da minha
vista.

— Ei — ele seguro minha nuca, fazendo-me concentrar nele. — Se


quiser podemos ir para casa também.

— Vamos aproveitar mais um pouco.

Era a primeira vez que aproveitava uma festa desse tipo com meu
marido e estava gostando disso. A provocação que emanava entre nós era
perfeita e via que Enzo também estava gostando. Aquela noite estava sendo
melhor do que esperava.

(...)

Quando chegamos em casa já eram mais de duas horas da manhã,


assim que fechamos a porta do hall não consegui me controlar, joguei-me em
seus braços e ataquei sua boca. Enzo segurou meu corpo firmemente. Meu
corpo foi pressionado contra a parede, logo minhas pernas foram suspensas e
enroladas em sua cintura.

— Ayla, meu Deus — murmura contra minha boca quando arranco


sua camisa e beijo seu peito.
Os drinks coloridos que tomei, deixou-me com um fogo descomunal,
mesmo que eu já fosse fogosa perto dele. Ultimamente num só piscar de
olhos me sentia excitada e jogava-me em cima de Enzo, ele parecia não se
importar, me deixava aproveitar do seu corpo como eu quisesse.

— Preciso de você — digo mordendo o lóbulo da sua orelha e o vi se


arrepiar completamente. — Me coma.

— Ultimamente você está com a boca suja — sorriu malicioso


beijando minha boca. — Vamos para o quarto.
— Não! — Digo descendo dos seus braços e tirando o vestido que
estava me apertando demasiadamente. — Quero trepar aqui.

— Ayla — estreitou os olhos, mas logo sua atenção vai para o meu
corpo que tinha ganhado mais formas depois da gravidez.

O empurro até sala e o faço sentar no sofá. Sento-me em seu colo e


volto a beijá-lo. Sinto seu membro contra minha vagina pulsante e sem
controlar meu corpo começo a esfregar-me sem pudor. Suas mãos varrem as
minhas costas e me apertam ao máximo.
Nos minutos seguintes as roupas de Enzo sumiram e minha calcinha
foi arrancada do meu corpo. Só lembro, de gemer alto quando o senti invadir
completamente meu canal estreito e molhado. Meu corpo convulsionou de
deleite por tê-lo daquele jeito.

— Amo tê-la assim, tão entregue — grunhe lambendo meus seios e


entrando cada vez mais rápido dentro de mim.
Abraço o seu corpo como posso e sussurro seu nome enquanto sinto
meu desejo consumir cada vez mais nós dois. Quando chegamos ao nosso tão
desejado clímax Enzo beija minha boca com paixão, estoca com mais força e
agarra meu corpo ainda mais.

Ficamos abraçados por um longo tempo, sinto meu corpo


completamente satisfeito e sonolento, sinto sua boca contra minha têmpora
beijando-me com carinho.

(...)

Estava com Henrico no colo na manhã seguinte quando percebi a casa


completamente silenciosa, mesmo que todas as manhãs fossem assim, mas
hoje parecia diferente, sentia isso.

Caminho até o escritório de Enzo, o encontro sentado atrás da sua


mesa, parecia tão imerso em seus pensamentos que não percebeu quando
entrei e fechei a porta. Ele só olhou para mim quando parei a sua frente.
Percebo que algo não ia bem, seus olhos cinza estavam tão sombrios,
raivosos que aquilo me fez arrepiar de pavor.

— O que aconteceu?

Enzo olha para nosso filho e o vejo engolir em seco. Rodeio a mesa e
ele vira para mim. Com o nosso filho no colo ele me puxa para o seu e me
abraça fortemente. Fico paralisada por alguns segundos até que o abraço com
um braço.

— Sabe que pode me contar qualquer coisa não é?

Ouço seu suspiro quando ele se afasta e diz.

— Milena desapareceu.

Aquilo me deixa confusa e tento compreender suas palavras.


— Como assim?

— Ela estava voltando de uma festa quando abordaram o carro dela e


queimaram o veículo.

Sinto a queimação em minha garganta e Enzo olha para Henrico.


— Não encontraram o corpo dela no carro, o que nos dá uma
porcentagem de acreditar que ela está viva.

— Temos que procurá-la.

— É o que estou fazendo — suspira. — Quero acreditar que ela está


viva e que irá voltar para casa.
— Ela está viva — digo com a voz embargada.

Enzo balança a cabeça, fecha os olhos e vejo uma lágrima solitária


deslizar pelo seu rosto. Abraço meu marido com mais força e tento aplacar a
dor que ele deveria estar sentindo. E abraçada a ele rezo para que Milena
esteja bem e volte logo para nós.
Epílogo II

Alguns anos depois...

Em algum lugar do mundo...

Seu corpo estava rígido como pedra, o suor era visível no seu rosto e
quando sentiu mais uma fisgada da agulha no seu corpo, soltou um suspiro. A
dor já não a incomodava mais, era suportável, até poderia dizer prazerosa.

A queimação que sentia pelo líquido entrando em suas veias era forte,
mas não emitiu nenhum som, tinha se acostumado. Sua visão estava turva e
se sentia grogue, mas conseguiu ouvir muito bem quando a voz masculina
disse.

— Você está preparada — disse a voz. — Está na hora de viver


Natalie.
Ela olhou para o homem e sentiu a visão se ajustar. Tentou forçar a
memória, tentando se lembrar do homem, mas nada veio em sua cabeça,
estava tudo branco, era como se nada existisse em sua mente até esse
momento.

— Quem é você?
O homem bem vestido com um terno negro bem cortado se abaixou
até ela e tocou sua pele, fazendo ela se contorcer completamente.

— Alguém que a salvou.

Bônus: Conto do dia dos namorados

AYLA & ENZO

Eu batia cada vez mais forte no saco pancada, sentindo meus músculos
dos braços arderem pelo esforço e queimarem por eu estar a tantas horas
batendo sem parar.
Não me lembrava quando tinha começado a treinar tão intensamente
dessa mesma forma, talvez fosse porque o desejo de recuperar meu corpo
depois da gravidez. Eu tinha emagrecido tudo que ganhara durante a gestação
de Henrico, mas algo não me fazia bem quando me olhava no espelho.
Sempre fui considerada magra, mas na amamentação do bebê eu tinha ficado
um pouco acima do peso, já que comia quando e o quanto tinha vontade.
Henrico tinha quase dois anos e ainda estava grudado nos meus seios
quando decidi começar a me exercitar. Inicialmente Enzo achava que eu
duraria somente uma semana e me sentindo desafiada pelo meu marido,
mostrei que duraria mais tempo do que ele poderia imaginar. Claro que não
comecei no boxe, o qual Enzo adorava praticar. Optei pela esteira e vez ou
outra levantava algum peso, mas aos poucos comecei no boxe, onde meu
próprio marido me treinava, o que resumia estarmos levantando ás cinco da
manhã e indo para o galpão de treino.
Enzo era muito possessivo, odiava quando alguns dos seus soldados nos
observavam, ele vivia dizendo que eles estavam me comendo com os olhos.
Isso resultou em Enzo quebrando a cara de dois deles, mas isso aconteceu
dentro do ringue, onde meu “pobre” marido descontava sua fúria nos pobres
homens.
— Onde está sua cabecinha? — Enzo indaga enquanto segurava o saco
de pancada e me guiava dizendo quais movimentos fazer.
Dou um pequeno sorriso para meu marido e paro de bater no saco.
— Só estou pensando um pouco — confesso abraçando o saco, tentando
recuperar o fôlego.
— Isso é um perigo — brincou se inclinando na minha direção. — Posso
saber o que estava pensando?
— Sim — encosto nossos narizes. — Estava somente pensando o quanto
você é possessivo.
— E como você chegou a essa conclusão?
— Foi bem simples — me afasto. — É somente ver seu rosto zangado
toda vez que algum soldado ousa olhar na nossa direção.
— Tenho motivos para isso mulher — revirou os olhos. — Você inventa
de usar essas roupas minúsculas e os homens não resistem.
— Não me importo com os outros e sim com você.
Enzo me presenteou com um sorriso charmoso, o qual sempre me dava.
Devolvi seu sorriso enquanto pegava minha garrafinha d’água e dei longos
goles. E com isso eu tentava controlar minha respiração. Hoje eu tinha
acordado bem e sem nenhum mal-estar, o qual vinha sentindo há alguns dias.
Eu sabia muito bem o que isso significava e pretendia confirmar ainda
hoje.
— Vamos tomar um banho?
Acenei quanto pegava nossas coisas que estavam perto de nós. Enzo
segura minha cintura como sempre, marcando o território. O galpão estava
praticamente vazio hoje, tinha somente eu, Enzo e mais dois soldados que
estavam se aquecendo nas esteiras.
Nem era sempre que eu vinha com Enzo para cá, ele preferia que
ficássemos na academia de casa, mas vez ou outra eu o fazia me trazer para
cá. Eu gostava de sair um pouco da mansão e sentir o ar fresco do amanhecer.
Eram raras as vezes que eu e meu marido tínhamos momentos unicamente
para nós. Ele sempre estava ocupado com a famiglia e eu com nosso filho, ou
com algum chá da tarde ou participando de algumas conversar com mulheres
da famiglia.
Confesso que não gostava dessas coisas de passar o dia jogando conversa
fora com mulheres que não ligavam realmente para você, mas isso era o que
as pessoas esperavam de mim, o que as mulheres da máfia queriam ver de
mim e por isso eu me forçava a largar meu filho por algumas horas e ia de
encontro à essas mulheres.
Eu e Enzo estávamos quase entrando no banheiro quando ele parou e
olhou seu celular.
— Eu preciso atender.
— Claro — beijo a bochecha dele.
Não éramos de demonstrar intimidade em público, mas sempre que
podia beijava a bochecha dele, mas nunca seus lábios. Isso era um combinado
nosso, o qual respeitava bastante.
Entrei no banheiro pegando minha bolsa de academia, onde sempre
deixava alguma roupa reserva. Verifiquei se estava realmente sozinha e tirei
minha roupa toda suada. Toquei levemente em minha barriga torcendo
silenciosamente que realmente tivesse um pequeno ser ali dentro.
Sabia que não poderia estar praticando coisas muito pesadas, por isso
hoje assim como nos dias anteriores eu tinha optado por somente bater em
um saco de pancada. Enzo tinha estranhado minha escolha dos últimos dias,
sabia que ele adorava quando lutávamos juntos e ele tinha a chance de bater
minha bunda no chão o quanto desejasse.
Mas eu precisava prezar pela segurança do bebê que acreditava estar
gerando novamente. Já fazia quatro anos que eu e Enzo tínhamos Henrico e
aquele pequeno garoto era a nossa alegria constante. Eu sentia que talvez
aquele fosse o momento para termos outro bebê.
Enzo não tinha entrado nessa conversa há algum tempo, mas sabia que
ele queria outro filho. Porém ele respeitava meu momento e minhas escolhas.
Ao terminar meu banho Enzo ainda não tinha voltado da sua conversa ao
telefone, talvez fosse algo grave. Vesti-me rapidamente e penteei meus
cabelos molhados.
— Acho que cheguei atrasado — Enzo apareceu no meu campo de visão.
Dou um pequeno sorriso ajeitando minhas coisas dentro da bolsa.
— Sem problema, conseguiu resolver o que tinha que ser resolvido?
— Sim, só vou precisar sair para fora da cidade por algumas horas.
Não consigo controlar minha decepção. Hoje é dia dos namorados e
Enzo não tinha falado nada. Será que ele tinha esquecido que dia era hoje?
Ele se aproximou e plantou um beijo na minha testa.
— Prometo chegar a tempo para jantar com você e Henrico.
Acenei um pouco cabisbaixa.
— Certo, eu preciso ir, tenho que resolver algumas coisas.
Enzo franziu um pouco o rosto e quando fiz um movimento para virar e
sair do banheiro segurou meu braço.
— Aconteceu algo, Ayla? — me olha duvidoso.
— Claro que não, só tenho que encontrar Laura.
Ele me puxou em sua direção, fazendo nossos corpos se colidirem.
Respirei fundo ao sentir seu aroma misturado ao suor. Não me importo que
ele esteja todo suado e eu tenha acabado de sair do banho. Não trocaria este
momento por nada do mundo que me não permitisse estar em seus braços.
— Você parece meio triste.
— Não, estou não — sorrio beijando seu queixo coberto pela barba rala.
Ele me segurou mais firme em seus braços, fazendo-me soltar um
gritinho e rir ao mesmo tempo.
— Melhor assim — beija meu nariz. — Não quero lhe ver triste.
— Sim, chefe.
Despeço-me de Enzo e sigo para fora do galpão onde já encontro um dos
soldados. Enzo não iria para casa, então eu teria que sair com o soldado e não
com ele. Disse para onde desejava ir e verifiquei meu relógio de pulso, estava
quase no meu horário na médica e se o trânsito estivesse normal eu chegaria a
tempo.
Sentia-me nervosa, era como se tivesse um nó em meu estômago e isso me
faz suar frio cada vez mais. Chegando à clínica estava no meu horário, nem
precisei esperar e pude entrar na sala da doutora Noah.
— Senhora Sartori — me cumprimenta com um aperto de mão.
— Me desculpe fazê-la me atender tão em cima da hora — sorrio. — Mas eu
preciso confirmar minhas suspeitas.
— Sente-se por favor — ela indica a cadeira. — Há quanto tempo não
menstrua?
— Cinco a seis semanas — digo. — Desde o nascimento de Henrico meu
ciclo ficou certinho, então quando não menstruei e comecei a sentir enjoos,
passou-me a hipótese de estar grávida.
Ela acenou e começou a digitar.
— Fez algum teste de gravidez.
— Não, eu quis vir aqui e confirmar, não queria ficar frustrada se o teste
fosse negativo.
Doutora Noah acenou mais uma vez.
— Podemos fazer um exame de sangue ou uma ultrassonografia transvaginal.
Arregalo os olhos, eu não tinha feito esse tipo de ultrassom na primeira
gravidez e talvez meu espanto estivesse bastante evidente porque a médica
logo diz:
— Fique calma, é seguro esse tipo de procedimento.
Balanço a cabeça ainda espantada.
— Você decide qual dos dois procedimentos quer seguir.
Mesmo ainda sentindo um pouco de medo digo:
— Vou ficar com o segundo — se eu estivesse mesmo grávida já poderia ter
um vislumbre de como o bebê estava dentro de mim, somente por isso decidi
fazer a ultrassom.
— OK, então me acompanhe até a sala de exames.
Ela nos guia até a sala indicando o lavabo para trocar de roupa, vesti uma
camisola hospitalar, ela pediu para que eu ficasse sem calcinha. Não lembro
qual foi a última vez que fiquei tão nervosa como estou nesse momento.
Sentia-me suando por todos os poros quando deitei na maca e quando ela
pediu para colocar minhas pernas nos apoiadores, fiquei tensa e prendi a
respiração.
— Relaxe — diz enquanto sinto algo frio cutucar minha entrada.
Respiro fundo e tento relaxar o máximo que consigo. Foi estranho sentir
aquele aparelho dentro de mim e prendi a vontade de rir quando ela mexeu
um pouco.
Tento me concentrar na tela que estava totalmente preta, mas logo ganha um
tom acinzentado. Meus olhos ficam vidrados tentando encontrar alguma pista
de algum bebê ali, mas era tudo um borrão.
— Está vendo isso aqui? — ela aponta para uma pequena mancha.
Balanço a cabeça freneticamente, sem conseguir falar nada.
— Isso é seu bebê — diz alegre. — Digo que você está entre a sexta e sétima
semana de gestação.
Sinto meus olhos lacrimejarem e seguro a vontade de chorar. Eu tinha um
pequeno ser crescendo em mim. Já sentia que o amava tanto.
— Quer ouvir o coração dele?
— Você pode gravar? — olho, ansiosa para ela. — Quero fazer uma surpresa
para meu marido e ouvir junto com ele.
— Claro — sorriu. — Será um ótimo presente para o dia dos namorados.
Balancei a cabeça e enxugando meus olhos.
— Vou imprimir uma foto também, OK?
— Sim, obrigada.
Ela fala mais algumas coisas sobre o bebê e o que devo evitar fazer, comer e
passou algumas vitaminas para eu começar a tomar. Despeço-me dela já
garantindo minha próxima visita. Estava caminhando para fora da clínica
quando ouço meu celular tocar. Vejo que é Enzo.
— Oi querido — digo sorrindo.
— Está tudo bem, Ayla? — ele não me cumprimenta e vai logo me
questionando.
Franzo a testa e me pergunto do motivo dele estar me ligando para perguntar
isso, mas logo lembro que o soldado deve tê-lo informado que eu estava na
clínica, por isso ele deva ter ficado preocupado.
— Sim, estou.
— Kitz, falou que você está em uma clínica, você passou mal?
— Não, só vim fazer um exame de rotina — me sinto horrível por mentir,
mas no final valeria a pena. — Estou bem, Enzo.
— Certo — suspirou. — Nos falamos mais tarde?
— Sim.
— Eu te amo, Ayla.
— Te amo, Enzo.

(...)

Tinha decidido me encontrar com Laura no Shopping e a mesma parecia


cansada, não era pra menos, cuidar de quatro crianças não era fácil, mesmo
ela tendo ajuda de babás em tempo integral, eu sabia que era minha prima
quem tomava conta direto dos filhos, ela não queria perder nenhuma parte do
crescimento deles.
Eu tinha Tália para me ajudar com Henrico e sabia que em breve teria
que pensar em contratar uma babá para me ajudar com duas crianças. Me
sentia ansiosa para essa nova etapa da minha vida e queria comemorar, mas
não iria dizer nada para Laura no momento, queria comemorar com Enzo,
aproveitar essa novidade com ele.
— Você está bem? — perguntei enquanto andávamos pelas araras e
olhávamos algumas roupas.
— Estou só um pouco cansada — suspirou e sorriu. — A noite passada a
Nina teve febre e fiquei a noite acordada com ela.
— E Domênico lhe ajudou?
— Sim, ele quis ficar com ela para eu poder dormir um pouco, mas eu
não quis deixar minha filha — deu de ombro. — Sabe como é, mãe não
descansa até ver o filho bem.
Acenei e peguei um vestido rosa bebê vendo o caimento dele.
— E as outras crianças?
— Florença, Julie e David estão ótimos — sorriu ao falar dos filhos. —
Só que vez ou outra decidem “tocar” o terror, nem eu e Dom conseguimos
dar jeito naquelas criaturas.
Sabia como os filhos de Laura e Domênico poderiam ser agitados e
deixavam os dois de cabelos em pé, mas Laura sabia manobrar cada um
deles.
— Vamos marcar um dia para nos reunir com as crianças.
— Claro, tenho certeza que David vai gostar de brincar com Rico.
Entretemo-nos com as atendentes que vieram nos atender e passamos as
próximas horas comprando algumas coisas. Eu não iria comprar muita coisa,
mas fui influenciada pela atendente e acabei levando mais coisas que
precisava e Laura se divertiu com meu desespero ao sair das lojas cheias de
bolsas.
— Quem diria que Ayla Sartori um dia poderia saber gastar dinheiro —
riu ainda mais.
Reviro os olhos e acompanho-a para o estacionamento do shopping,
onde nos despedimos e prometemos fazer algo junto com as crianças. A cada
instante que se aproximava de voltar para casa me sentia nervosa e ansiosa ao
mesmo tempo.

(...)

Eu poderia dizer que não estava nervosa ou frustrada, mas isso seria mentira.
A cada segundo que se passava eu via que Enzo não chegaria a tempo para o
jantar. Verifiquei mais uma vez o celular e não tinha nenhuma mensagem
dele ou ligação.
— Mamãe — Henrico chama minha atenção. — Olha o que fiz hoje na
escola.
Ele estica uma folha em minha direção e vejo um desenho colorido. Dou um
sorriso para meu filho.
— Quem são essas pessoas?
Henrico desceu da sua cadeira e veio andando calmamente na minha direção.
Dou espaço para ele sentar em meu colo. Abaixo a cabeça e planto um beijo
em seus cabelos escuros.
— Esse aqui é o papai e você — ele aponta para os dois bonecos maiores. —
Esse aqui sou eu e meu irmãozinho.
Olho espantada para o meu filho que virou o rosto para mim e sorriu.
— Irmãozinho?
— Sim — acenou enquanto se mexia em meu colo e virava de frente para
mim. — Eu quero um irmãozinho para brincar.
— Você já tem seus primos, Rico — toco em seu rosto. — Você não gosta de
brincar com David?
Ele parou por alguns segundos me fitando com seus lindos olhos cinza, logo
depois franziu o rostinho e assentindo.
— Gosto, mas eu quero irmãozinho pra cuidar — ele passa as mãozinhas
pelo meu rosto. — Por favor, mamãe.
Sorrio com seu jeitinho manhoso e beijo suas bochechas.
— Talvez a mamãe já esteja esperando um irmãozinho para você — cochicho
e ao mesmo tempo meu filho soltou uma risada.
— Onde ele está então?
— Aqui — toco em minha barriga
Henrico olha para minha mão e parece confuso. Meu filho com apenas quatro
anos era muito esperto para sua pouca idade e mesmo assim era apenas uma
criança cheia de curiosidade e perguntas.
— E como ele foi parar aí dentro?
— Bom — penso como responder. — Eu pedi ao papai do céu por um bebê,
aí Ele o colocou aqui dentro.
Meu filho me olhou sem entender muito e sabia que o mesmo iria me
bombardear de perguntas.
— E quando ele vai sair daí de dentro? — fixou sua atenção em minha
barriga.
— Daqui a oito meses.
— Isso é muito tempo mamãe — fez um bico. — Eu quero agora.
— Não é assim meu amor — tento o consolar. — O bebê tem que crescer e
ficar forte para poder nascer.
— Ele vai ser do meu tamanho?
— Sim, mas primeiro será bem pequenininho, depois disso vai começar a
crescer e poderá brincar com você.
Ele cruzou os bracinhos e aparentava não ter gostado muito dessa ideia.
— Você será o irmão mais velho e terá que cuidar do bebê, você me promete
que vai cuidar dele ou dela?
— Sim, mamãe.
— Então me abrace bem forte — abri os braços e ele não pensou muito antes
de se jogar e me abraçar com toda sua força. — Não conte para o seu pai,
vamos fazer uma surpresa, OK?
Ele afastou um pouco o rosto e abriu um grande sorriso.
— Surpresa, eu amo surpresa — disse animado.
Beijo seu nariz e depois sua testa.
— Vamos comer agora?
Henrico sai do meu colo e corre para sua cadeira, onde sobe com um pouco
de dificuldade e nesse momento Tália aparece e serve o jantar.
— Deixo o prato do senhor Sartori? — ela olha para o lugar do meu marido.
— Não é necessário, quando ele chegar, ele mesmo irá se servir — dou um
sorriso triste. — E pode ir aproveitar a noite dos namorados, Tália.
— Não quer que eu fique com Henrico? — ela vira para meu filho que já
atacava suas batatas no prato.
— Eu irei ficar com ele — toco a mão dela. — Vai aproveitar Tália.
— Sim senhora, tenha uma boa noite.
— Você também.
Ela se retira da sala e volto a prestar atenção em meu filho. Sorrindo pela
forma que ele comia.
— Coma com calma — digo tirando a faca do alcance dele. — Fique
somente com a colher.
— Mas eu preciso cortar as batatas — ele aponta para as mesmas.
— Você consegue fazer isso com a colher.
— Mamãe...
— Sem faca, Henrico — digo com tom firme e ele apenas acena.
Jantamos em silêncio, vez ou outra ele tentava pegar a faca, mas sempre
brigava a tempo dele não fazer nada que poderia se ferir. Henrico às vezes
poderia ser teimoso e mostrar um temperamento complicado quando queria
fazer algo e eu não deixava.
Depois de jantarmos, retirei a mesa levando a louça até a cozinha e coloquei
no lava-louça. Voltei para a sala de jantar peguei Henrico no colo e fomos
para a sala de cinema, onde ficamos deitados no grande sofá e assistimos um
filme da sua escolha. O que resultava em assistir Carros pela milésima vez
naquela semana.
Meu filho deitou a cabeça em meu colo e assistiu ao filme concentrado, vez
ou outra repetia as falas e isso acabava me fazendo rir. Não consegui resistir à
vontade de olhar para o celular, vi que já passava das dez e nada de Enzo
chegar, isso me deixava preocupada.
Desde que Henrico nascera ele sempre chegava cedo em casa e somente
algumas vezes nesses anos que ele voltava para casa pela madrugada. Mas
simplesmente hoje ele decidira fazer isso e não consegui segurar a frustração.
Todos os anos lembrávamos do dia dos namorados e comemorávamos da
nossa forma. Deitados em algum lugar da casa e ficávamos abraçados por
várias horas. Não precisávamos de presente ou declarações de amor, porque
sabíamos muito bem que nos amávamos, mas eu ansiava por essa noite e tudo
estava saindo ao contrário do que imaginei que poderia ser.
Quando estávamos quase no final do filme percebi que Henrico tinha acabado
de pegar no sono, decidi levá-lo para a cama. Desliguei a TV, o pegando com
cuidado para não acordá-lo. Estávamos passando pela entrada da casa quando
a porta foi aberta e vi Enzo entrar.
Ele parou e ficou nos olhando. Dei um pequeno sorriso subindo as escadas.
— O papai está na porta mamãe — meu filho diz sonolento, com os olhos
entreabertos.
— Sim, está — beijo seu rosto. — Durma.
Coloquei-o em sua cama aproveitando para trocar sua roupa pelo pijama.
Faço tudo com calma para não despertá-lo, senão teria que passar algum
tempo com ele lendo algum livro. Ao terminar o cubro e dou mais um beijo.
Deixo o abajur dos carros ligado e a porta do quarto entreaberta. Ao virar
para o corredor encontro Enzo parado.
— Tália deixou seu jantar, é preciso esquentar — digo seguindo para o
quarto.
Eu não iria esconder minha frustração dele. Ainda não me conformava que o
mesmo tinha esquecido que dia era hoje. Entro no quarto e vou tirando
minha roupa seguindo para o banheiro onde entro de baixo do chuveiro e
deixo a água morna cair pelo corpo.
Lavo meus cabelos com calma e estava passando o sabonete pelo corpo
quando sinto a presença dele atrás de mim. Suas mãos mornas e ásperas
passeiam pelas minhas costas e não consigo ser tão indiferente como desejei
ficar com ele.
— Querida — disse baixinho. — Está com raiva?
— Você esqueceu Enzo! — suspirei enquanto suas mãos corriam pela minha
pele.
Seus lábios entreabertos passearam pelo meu ombro, até a junção com o
pescoço. Fecho os olhos e solto uma lufada de ar. Suas mãos vão para meu
ventre e me puxa para trás, colando nossos corpos.
— Você acha mesmo que esqueci? — perguntou divertido.
— E não esqueceu? — levanto as sobrancelhas enquanto mantenho os olhos
fechados.
— Claro que não, sua bobinha — beija minha bochecha. — Tenho uma
surpresa para você.
Viro de frente para ele e o fito com amor.
— Sabe que acho desnecessário isso — mordo meu lábio inferior. — Eu só
queria sua presença, sua companhia.
— Ainda dá tempo para ficarmos juntos essa noite — inclinou a cabeça em
minha direção.
Encosto meu rosto em seu peito e inspiro seu cheiro que tanto amo.
— Também tenho uma surpresa — olho ele de relance.
Enzo estreita um pouquinho os olhos e isso me faz rir.
— O que você tem para mim? — segura minha cintura e abaixa a cabeça,
esfregando a barba bem aparada em meu rosto, me fazendo rir ainda mais.
— Só irei dizer depois que você me mostrar o que fez para mim.
Ele estica a mão e desliga o chuveiro, abre a porta do box pega uma toalha e
começa a me enxugar. Passa o tecido pelo meu corpo e depois por meus
cabelos. Nos vestimos com roupões e ao abrir a porta do banheiro, fico sem
ar ao ver a cama cheia de pétalas vermelhas.
— Enzo...
— Isso é romântico, não é? — me olha sorrindo.
Apenas balanço a cabeça e adentro no quarto, sem conseguir acreditar
naquilo. Me aproximo da cama e em cima dela encontro um envelope. O
pego com as mãos trêmulas e viro para meu marido.
— O que é isso?
— Você só saberá quando abrir.
Lambo meus lábios secos e faço o que ele disse. Dentro encontro um cartão
postal e sinto meus olhos lacrimejarem ao ver de onde era: Calábria.
Nunca mais tínhamos voltado lá, não tivemos tempo para voltar para onde
tudo começou.
— Isso quer dizer que...
— Vamos tirar férias e passar algumas semanas na Calábria.
Não me seguro e pulo no colo do meu marido, beijando sua boca e rindo ao
mesmo tempo.
— Eu te amo tanto — digo contra seus lábios. — Esse é o melhor presente
que poderia ter.
— Mesmo? — me olha divertido. — Talvez eu possa lhe dar outro presente.
— E qual seria esse outro presente?
— Uma bela trepada em cima dessas pétalas.
Solto uma risada inclinando a cabeça para trás, Enzo aproveita e lambe meu
pescoço, fazendo-me arrepiar completamente.
— Eu tenho que te mostrar algo — falo descendo do seu colo e fugindo antes
que eu esquecesse minha surpresa e acabássemos na cama fazendo o que ele
queria.
Vou até o closet e pego a ultrassom e volto ao banheiro para pegar o celular.
Enzo estava parado vendo meu percurso e parar na sua frente. Mexo no
celular e coloco o áudio das batidas do coração do bebê.
Respiro fundo e solto, o som preenche o espaço entre nós e no mesmo tempo
entrego a foto para Enzo, que parece confuso. Ele olha para a imagem cinza e
em segundos tudo pareceu claro para ele.
— Você está grávida?
— Sim, vamos ter mais um bebê — digo com a voz embargada de emoção.
Enzo me abraça, tirando meus pés do chão e nos girando. Solto um gritinho
de felicidade e rio ao mesmo tempo.
— Esse é o melhor presente, Ayla — beija com fervor e amor.
— Feliz dia dos namorados — digo abraçada a ele.
— Feliz dia dos namorados.
Segurou meu rosto e continuamos a nos beijar com paixão e amor.
Esse com certeza seria um do dia dos namorados mais especiais que
poderíamos ter. A nossa família estava aumentando.
Nota da Autora

Escrever esse livro não foi fácil, foi um grande desafio, mas que
consegui superar. Intensa paixão foi um livro completamente diferente do que
estou acostumada a escrever. Foi algo complicado, porque não consegui
penetrar completamente na mente dos personagens. Eles foram difíceis de
desvendar e que somente no final consegui compreendê-los, onde a tão
famosa frase foi dita. Enzo é um personagem artificial, que só mostra uma
fina camada de tudo que ele é, não consegui extrair tudo dele, porque ele
mesmo não deixou, mas Ayla, minha doce menina, foi bom viver os
sentimentos dela e entendê-la por um curto período.

Sei que o livro não tem muito sobre paixão mútua e outras coisas, mas
conseguimos ver a intensidade deles, a paixão que surgiu e se intensificou
quando foi necessário. Mas prometo que nos próximos livros da série iremos
conseguir saber mais sobre eles, os vendo como personagens secundários,
mas saberemos como está sendo a vida deles. Prometo.
Espero que tenha gostado do livro como gostei de escrevê-lo, porque
Ayla e Enzo foram perfeitos na medida do possível. O próximo livro da série
promete, só não posso dizer de quem é, mas juro que vai valer a pena.

Espero que Ayla e Enzo tenham uma pequena parte dos corações de
vocês, como eles têm o meu. Beijos e até breve.
Sobre a autora

Camila Oliveira é uma nordestina que mora com a mãe, irmã e seus
três cachorros, que encontrou nas palavras a liberdade de expressar cada
sentimento que há guardado dentro de si e que espera conquistar as pessoas
com o seu jeito de demonstrar o amor dentro dos livros.

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