Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Camila Oliveira
Esta é uma obra de ficção. Nome, personagens, lugares e acontecimentos descritos, são
produtos da imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº. 9. 610/98 e punido pelo artigo
184 do Código Penal.
Edição Digital | Criado no Brasil.
Epígrafe
Capítulo 1
AYLA
AYLA
ENZO
Ao vê-la sendo levada para longe, com seus olhos verdes assustados e
rosto pálido, fervi gradativamente por dentro. Viro na direção de Doni e dou
um pequeno sorriso me aproximando.
— O coloque de pé — comando enquanto tiro meu paletó e abro os
primeiros botões da minha camisa. — O que você tem na cabeça para tentar
matar minha noiva?
— Se ela morresse você arranjaria outra — responde com a voz
contida. — Não é assim que você faz?
— Você quase colocou meu acordo na lama — seguro sua garganta.
— Não sabe quanto aquela De Luca é importante?
— Talvez para o seu pau sim — riu e logo depois tentou se soltar,
mas isso fez minha mão se fechar ainda mais ao redor de sua garganta.
— Pensei que tínhamos nos resolvido.
— Pensou errado — me olha com raiva. — Matar minha família não
é algo que damos por resolvido.
— Mas deixei seu irmão vivo! — Dou de ombro. — Até que fui
piedoso.
— Você matou minha mulher, minha filha que tinha acabado de
nascer!
— Porque você roubou minha carga — revido. — Você me traiu,
fugiu com o que era meu.
— Elas não tinham culpa.
— Não me importo — tiro minha arma do cós da calça. — Se você
não tivesse fugido com algo que me pertencia, sua mulher e filha poderiam
estar aqui, até mesmo o restante da sua família.
— Isso não irá ficar assim — disse olhando para a arma que aponto
para sua cabeça. — moy brat otomstit.
— Quero vê-lo tentar — sem esperar mais nenhum um segundo atiro
no meio da sua testa.
Dou alguns passos para trás e não olho uma segunda vez para o corpo
caído no meio do salão. Fecho os olhos controlando a raiva que dominava
meu corpo.
— Temos que reforçar a guarda — Domênico para ao meu lado. —
Não podemos deixar passar a ameaças de Doni.
— Não precisamos. Nada irá acontecer.
— Sartori...
— Não vamos falar mais disso — o corto. — Irei embora.
Pego meu paletó pelo caminho e quando coloco minha mão dentro do
bolso encontro a pequena caixa com o anel de noivado que daria á Ayla.
— Domênico — viro na direção dele. — Preciso que você faça algo
para mim.
— O que seria?
— Entregue isso na casa dos De Luca.
Jogo a caixinha na sua direção. Ele a pega no ar e abre.
— Você é o noivo.
— E essa é uma ordem do seu chefe.
Domênico revirou os olhos me dando as costas. E seguindo o
caminho ordena que se livrem dos corpos no meio do salão. Essa noite
poderia ter terminando diferente, mas ela ainda pode melhorar um pouco.
Pego meu celular do bolso da calça e encontro o número de Perla ali.
Capítulo 3
AYLA
(...)
Nenhuma ligação. Não teve nenhuma ligação do meu noivo. Ele
definitivamente não se importava comigo. E me pergunto por que ainda tento
me importar com isso. Eu deveria estar conformada com esses tipos de
atitude. Nunca tive essas reações com meu pai, ele não se preocupava, nem
quando eu era criança e ralava o joelho ao cair, ele não perguntava se
estavam doendo ou não os ferimentos, na verdade ele não dirigia um único
olhar na minha direção. Mas sem conseguir controlar minha ansiedade olhei
para o celular descansando na mesa ao lado do sofá. Eu só queria uma mísera
mensagem de preocupação. A preocupação não veio, mas a mensagem sim. E
ela parecia tão seca que poderia me rasgar por dentro.
Alguns dias depois do café que tive com Laura, nós combinamos de ir
numa butique, onde iríamos comprar algumas coisas que precisávamos. Ela
disse que precisava sair de casa e que queria conversar com alguém. Eu a
entendia completamente, também precisava daquilo, mesmo que não tivesse
muita coisa para dizer. Eu só precisava de alguém mais presente, do que ver
minha mãe parada na minha frente, mas não compreender nada do que falo.
Cada dia que se passava eu a via se perder dentro de si mesma e às vezes
jurava que ela não estava mais ali.
Senti falta do dia do meu noivado, porque ali fora a primeira vez que
ela estava sem o efeito dos remédios e totalmente presente. Estava sendo
minha mãe, que sorria para mim e que demonstrava seu carinho.
Mas a convivência dentro de casa não estava sendo uma das
melhores, papai chegava cada vez mais tarde e todas as noites escutava os
gritos dele com minha mãe e logo depois silêncio, o que me deixava
apreensiva, porque o silêncio era pior que os gritos, ele dizia que algo tinha
acontecido e nada disso era bom.
Se me perguntassem se um dia já vi meu pai ser carinhoso com minha
mãe diria que não lembro, porque desde pequena via como ele a tratava e as
marcas pelo seu corpo sempre foram evidentes, como se ele tivesse prazer de
mostrá-las para todos. Minha vida no requisito financeiro sempre foi boa, na
verdade maravilhosa, se eu pedisse algo eu tinha, mas quanto á harmonia
dentro de casa, onde meus pais se amavam e demonstrava isso, eu posso dizer
que não tive.
Mas tem momentos que agradeço isso, assim eu consegui ver desde
nova como realmente era o meu mundo, onde nem todos os homens eram
honrados e respeitosos com suas esposas. Porque aprendi que amor não era
tudo, não era a estabilidade dentro de uma casa ou o que traria comida para a
mesa. Tinha outras prioridades na frente do amor e eu sabia muito bem disso.
— O que acha Ayla? — Laura apareceu na minha frente vestindo um
vestido roxo de caimento médio e justo.
— Bonito.
— Você falou isso nas outras dez vezes — ela virou de frente para o
espelho. — Isso está sendo tedioso.
Faço uma careta e não sei o que dizer. Eu não estava prestando muita
atenção no que ela estava experimentando. Estava pensando mais sobre meu
futuro próximo. Preocupada se seria mais uma esposa troféu dentro da máfia.
— Todos os vestidos estão ótimos — dou de ombro. — E você disse
sim para todos eles.
— Porque você disse que está bonito — revida ajeitando a saia do
vestido. — Nesse não me sinto bem.
— Então não leve — me levanto da poltrona que estou sentada e vou
até um dos cabides e pego um vestido creme sem mangas, liso e um pequeno
decote V. — Esse aqui é bonito.
— Sem graça — ela examinou. — Não.
Solto um suspiro e digo — Vou deixá-la provar as outras peças de
roupas, enquanto procuro algo para mim.
— Mas eu preciso da sua ajuda — me olha desesperada.
— Você não precisa — aponto para a atendente ao seu lado. — Ela
lhe ajuda.
— Ayla!
— Viajou — saio da ala de provadores e volto para a parte de
vestidos. — Qual levar?
Passei meus próximos minutos procurando algo que me agradasse,
mas ao mesmo tempo que não fosse tão sexy e revelador. Falando assim
pareço algo sem graça e sem atrativo, mas me sinto assim às vezes.
— Ayla De Luca?
Viro na direção da voz e fico surpresa ao encontrar Milena Sartori na
minha frente. Ela tinha um sorriso no rosto, seus olhos azuis acinzentados me
olharam em expectativa. Ela parecia uma modelo que tinha acabado de sair
de uma capa de revista. Seus cabelos castanhos soltos em leves ondas e seu
corpo esguio estava bem vestido com uma calça de cintura alta, um cropped
preto e jaqueta de couro.
Logo me xingo por não ter colocado um salto nesta manhã. Tinha
saído de casa com um vestido longo e tênis, nada comparado em como
Milena estava. Mas o que importava era que eu estava bem com minha roupa.
Quem você quer enganar Ayla. Eu daria tudo para estar com algo mais curto
e maquiada.
— Sou eu — finalmente digo.
— É sim — ela se aproximou mais. — É um prazer finalmente
conhecê-la, não tivemos a chance no dia do noivado, mas finalmente pude
cumprimentá-la.
— O prazer é meu, Milena — sorrio.
— Senhorita Sartori, prefiro assim — ela disse em um sorriso.
Uau, que gentileza.
— Claro.
— Estou com algumas amigas fazendo compras, quer se juntar a nós?
— Levantou suas sobrancelhas bem delineadas na minha direção.
— Não obrigada, estou com uma amiga — murmuro com gentileza.
— Mas foi um prazer em conhecê-la, Sartori.
— Logo seremos família, Ayla — pronunciou vagarosamente meu
nome. — Ah, antes que eu esqueça, meu irmão pediu para avisar que quer se
encontrar com você hoje à noite, em nossa casa.
Antes que eu falasse algo ela se virou e saiu andando. Até o andar
dela era perfeito. Balanço a cabeça e volto para onde Laura estava. E quando
a encontro ela já estava vestida com sua roupa e a atendente ao seu lado cheia
de roupas nos braços.
— Não me decidi qual levar — suspirou me olhando. — Vou levar
todos.
— E você vai usar tudo isso?
— Não, mas a maioria doo para caridade — a atendente arregalou os
olhos. — Tem pessoas que precisão do que vestir e faço isso com a maior
satisfação.
Laura estava olhando para a mulher e franziu as sobrancelhas.
— Vamos para o caixa?
Concordei com a cabeça e enquanto ela tirava seu cartão de crédito da
carteira me olha.
— Não vai levar nada?
— Não encontrei nada que me agrada aqui — forço um sorriso.
— Você não parece bem — me examina. — O que aconteceu?
— Nada exatamente — digo quando saímos da loja. — Só encontrei a
irmã do meu noivo e ela não foi tão agradável.
— Milena Sartori? — levantou as sobrancelhas e soltou uma
gargalhada. — Aquela dali não é agradável nem com os defuntos, imagina
com os vivos.
— Ela é tão chata assim?
— Chatice é nome do meio dela — ela parou na minha frente. —
Uma vez tentei aproximação com ela, mas a mesma não quis ser legal, então
desisti.
— Mas na minha posição eu tenho que ser legal, porque em poucos
dias serei a esposa do irmão dela — suspiro. — Não vai ser nada legal ter
atritos com Milena.
— Mas não suporte os desaforos dela — segurou meus ombros. — É
só me dizer que dou um sumiço nela.
— Laura! — Digo espantada e ao mesmo tempo rindo.
— Que foi? — Perguntou rindo também. — Ninguém mexe com
minha prima.
Continuamos rindo até que paro e olho para os soldados me
perguntando se eles tinham escutado o que ela tinha dito.
— Vamos comer estou com um dragão dentro de mim — entrelaçou
nossos braços e nos levou até uma lanchonete a dois quarteirões dali.
— Quando estamos juntas tudo se resume em comida — digo
enquanto fazíamos nossos pedidos. — E tenho que lembrá-la que não posso
engordar uma grama.
— Querida você tem um corpo esbelto, qualquer mulher morreria
para ter seu corpo — me elogia. — Então não venha com essa paranoia de
não engordar.
Sorrio para ela e concordo com o que ela diz. Eu não me importava
com estética, mas me preocupava em manter uma boa aparência na frente de
todos. Meu corpo não era cheio de curvas, era magro até demais, a única
coisa que chamava atenção nele era meus seios cheios.
— Ah, amanhã você tem prova do vestido e também a escolha de
flores do casamento.
Tinha esquecido sobre a prova do vestido. Estava tão atarefada sobre
o casamento que nem lembrava sobre o vestido. Laura estava sendo uma
grande ajuda, em apenas cinco dias ela tinha conseguido o local do
casamento, local da festa e um vestido de noiva, que por escolha dela estava
sendo feito exclusivamente para mim.
— Tinha me esquecido.
— Agende no seu celular para lembrar-se de amanhã. A estilista lhe
encaixou com sacrifício, por favor, não perca a hora.
— Pode deixar.
Dois hambúrgueres foram colocados na nossa frente.
— Ótimo, agora vamos comer essas delícias.
(...)
AYLA
(...)
Precisei de exatamente cinco horas para conseguir me arrumar. Tinha
conseguido uma hora no salão e arrumei meu cabelo, dando os cuidados que
ele tanto precisava, tinha aparado as pontas, hidratado e escovado. E depois
de quase três horas sentada eu fiquei satisfeita, pois meu cabelo tinha
ganhado um brilho extra e parecia mais volumoso. Aproveitei e fiz uma
maquiagem com a maquiadora, que conseguiu esconder todas as minhas
olheiras, dando uma cor ao meu rosto.
Às seis da tarde já estava com cabelo pronto e maquiagem feita, só
precisava encontrar uma roupa para ocasião. Não comprei nada, sabia que iria
conseguir achar algo no guarda roupa e alguns minutos olhando todos os
meus vestidos consegui encontrar o que precisava para essa noite. Era um
longo verde claro de alças que tinha um decote chamativo no busto e outro
nas costas, deixando-as nua. Se meu pai queria que eu chamasse atenção do
meu noivo ele teria isso. Faria Enzo Sartori me admirar, mas no fundo eu só
queria mantê-lo á distancia, ainda conseguia vê-lo com a loira da noite
passada e aquilo estava me deixando perturbada. Não queria pensar neles e
no que deveriam ter feito no restante da noite. Queria ocupar minha cabeça
com outras coisas mais importantes do que aquilo.
Já vestida ajeitei meus cabelos sobre os ombros e coloquei os
pequenos brincos de pérolas e o colar que fazia conjunto com os brincos.
Sentia-me diferente usando aquela roupa tão sofisticada. Eu era acostumada a
usar coisas que não chamasse atenção sobre mim e gostava disso, gostava de
ser invisível dentro da famiglia. Mas parecia que meu pai queria mudar sobre
isso.
Quando me senti pronta desci as escadas, me sinto travar quando
encontro somente meu pai sentado na sala. Ao perceber minha presença ele
levantou as sobrancelhas e deu um leve acento. Parecia ter gostado da minha
escolha de roupa desta noite.
— Ótimo — voltou sua atenção para o celular. — Seu noivo chegará
a qualquer momento.
Assim que ele disse isso à campainha tocou. Engulo em seco e fecho
os olhos pedindo para os céus que me ajudasse esta noite. Virei para a entrada
e lá encontrei meu noivo e sua irmã entrando, Milena foi a primeira a me ver.
Ela estava séria e desse jeito ela parecia bastante com seu irmão, só tinha
algumas coisas que eles não tinham em comum. Os olhos eram a primeira
coisa, enquanto os de Enzo eram cinza os de Milena eram de um azul
levemente acinzentado. Ele tinha cabelos negros e o dela era de um castanho
claro. E também tinha o tom de pele, enquanto a pele dele era levemente
morena, de Milena era branquíssima que destacava seus olhos e sua boca
idêntica a do seu irmão, volumosa e vermelha.
— Ayla — ela soltou o braço do irmão e se aproximou de mim, dando
passos elegantes sobre seus saltos finos. Como no dia anterior ela estava bem
vestida, agora ela usava um vestido longo negro de caimento reto que
continha uma grande fenda na perna esquerda e um generoso decote no busto.
— É tão bom vê-la novamente.
Ela me abraçou fortemente e sem jeito abraço-a de volta. Era estranho
abraçar alguém que tinha armado para que eu encontrasse seu irmão com
outra mulher.
— É bom vê-la — me afasto.
Milena deu alguns passos para trás e deu um sorriso que não chegava
aos seus olhos.
— Esse vestido realça seus olhos, deveria usar mais essa cor — ela
disse olhando para meu vestido. — E também usar algo que lhe valoriza.
O que ela estava querendo dizer com aquilo?
Eu não me preocupava em usar roupas com decotes chamativos ou
que escondia muito pouco meu corpo, gostava de usar algo com que me
sentia confortável e que fosse bonito. Dava para ver pelo olhar dela que
estava tentando me provocar, mas ela só não sabia que precisava de mais para
conseguir me tirar do sério.
— Obrigada pela dica, Srta. Sartori.
— Querida não precisa de tanta formalidade, logo seremos família,
me chame pelo nome.
Levanto as sobrancelhas e lembro-me do dia anterior. Via que Milena
e eu teríamos uma convivência nada agradável, mas não irei me preocupar
com isso agora. Desvio minha atenção dela e volto para meu pai e o homem
ao seu lado.
— Sr. Sartori, é bom vê-lo — forço-me a ficar calma e não lembrar a
noite passada.
— Srta. De Luca — se aproximou, pegou minha mão e beijou as
costas dela.
Aquela boca que estava colada com de outra mulher menos de vinte
quatro horas. Aquela boca que… dou um leve sorriso na direção dele. Eu não
podia fazer nada contra o que vi na noite passada, só tinha que forçar minha
mente a esquecer dos acontecimentos que vi e fazer o que era aguardado por
mim.
Sou tirada rapidamente dos meus pensamentos quando escutei um
pigarreio e viro na direção de dona Lídia que estava parada na entrada do
corredor que levava para a sala de jantar, cozinha e os fundos da casa.
— O jantar será servido Senhor De Luca — ela informou olhando-me
por alguns segundos.
Meu pai acenou e balançou a mão dispensando-a. Dou alguns passos
para trás para ir até a sala de jantar, senti uma mão segurando meu braço.
— Preciso ter uma palavra com minha noiva — a voz de Enzo era
baixa, mas conseguia ouvir o tom de ordem vindo dela.
Meu pai olhou para mim por alguns segundos e por um instante penso
que ele não iria deixar isso acontecer e torcia por isso, mas logo ele virou
para Milena Sartori e estendeu a mão na sua direção.
— Me acompanha?
Milena olhou na nossa direção e logo sorriu para meu pai e pegou a
mão dele, o acompanhando até o corredor, onde os vi sumir do meu campo
de visão.
— Queria falar sobre a noite passada — sua mão ainda estava sobre
meu braço e seu toque era tão firme que se ele apertasse mais um pouco iria
deixar marcas sobre minha pele.
— O que há sobre a noite passada? — Fixo meu olhar sobre o tapete
da sala.
— Sobre o que você viu na noite passada… Não sei porque estou me
explicando — soltou uma lufada de ar. — Só quero dizer nada vai mudar
quando nos casarmos.
Virei lentamente meu rosto na sua direção e franzo meus olhos. Ele
queria dizer que…
— Irá continuar transando com outras mulheres quando tivermos
casados?
— Se eu tiver querendo, sim — seus olhos eram tão frios que me
deixavam aflita por dentro.
Aquilo deveria me magoar e machucar, mas algo dentro de mim já
estava me preparando, não consegui transparecer insatisfação alguma sobre
isso. Senti-me inerte sobre o que ele disse e entre outras coisas que vêm
acontecendo comigo.
— Sua irmã e meu pai estão nos esperando para o jantar — digo
baixo. — É melhor irmos.
Antes que eu me distanciasse ele levantou a mão e fechei os olhos
com força, por um segundo esperei um tapa ou algo do tipo. Mas nada veio,
só senti seu toque no meu cabelo, colocando-o para trás e logo seus dedos no
meu pescoço.
— Alguém a agrediu, quem foi? — Abri meus olhos e vi os seus fixos
no meu pescoço.
— Ninguém — minha voz saiu baixinha.
— Seu pai a agrediu?
Franzo minhas sobrancelhas e balanço a cabeça. Se meu pai tivesse
feito isso, acho que seria mais fácil de suportar, do que saber que foi minha
própria mãe quem tinha feito àquilo comigo.
— Se não quer contar tudo bem — ajeitou meu cabelo sobre meu
ombro e me olhou. — Só irei avisar que se vir outra marca em você até o
nosso casamento, alguém irá perder a mão.
— Claro, Sr. Sartori.
(...)
Quando o jantar acabou, me despedi do meu noivo e da sua irmã, subi
as escadas e no meu quarto, me pergunto se deveria ou não trancar a porta e
por fim tranco-a.
Eu não me sentia mais segura na minha própria casa, tinha medo de
dormir e ser atacada novamente. Peguei um calmante no banheiro e tomei.
Era a única forma de conseguir dormir a noite toda, sem precisar todo o caos
que minha vida estava sendo.
Capítulo 6
AYLA
— Minha nossa — dona Lídia disse a me ver.
Eu não conseguia me reconhecer dentro daquele vestido de noiva que
parecia algo surreal de tão perfeito. A estilista tinha conseguido fazê-lo em
tempo recorde e conseguindo capturar tudo que eu queria nele. O vestido era
de um tom perolado, com mangas longas de renda desenhadas com bordados
de flores delicadas, que desciam pelo meu busto que tinha um decote em V
que realçava meus seios e o bordado ia até o fim da saia evasê, que por baixo
detinha uma saia de seda que dava um pouco de volume a saia. E na renda do
vestido tinha alguns brilhantes em pontos estratégicos. Minhas costas tinha
um decote em U que deixava até a metade delas nua. Sentia-me uma princesa
nesse vestido. E os saltos brancos me deixavam um pouco mais alta e por
sorte não iria tropeçar no tecido do vestido.
Meus cabelos estavam soltos da metade para baixo com cachos
modelados nas pontas e a outra metade presa em um coque justo e com uma
presilha de esmeralda, que tinha ganhado de Laura hoje mais cedo e o véu
estava preso na presilha. Minha maquiagem não estava carregada, uma
sombra leve e batom discreto.
— Você está linda — vejo-a limpar os cantos dos seus olhos e sorrir.
— É a noiva mais bonita que já vi.
— Obrigada dona Lídia — sorrio para ela.
Só estávamos nós duas ali no meu quarto, que em breve não seria
mais meu. Pergunto-me como o tempo passou tão rápido. Um dia tinha sido o
jantar de noivado e de repente estava aqui eu, prestes a me casar. Os
preparativos do casamento tinham sido feitos rapidamente. Laura tinha me
ajudado bastante, quase não fiz nada, ela tinha se encarregado de tudo. A
única coisa que precisei me preocupar foi com o vestido.
A cerimônia do casamento iria acontecer na Catedral de São Patrício,
não sei como Laura conseguiu agendar o casamento nessa catedral tão em
cima da hora, mas também não perguntei. Só estava preocupada em me
manter calma e sã até a hora do casamento, mas cada segundo que se passava
era mais difícil de esconder o nervosismo que estava constante no meu dia.
— Seu pai pediu para avisar que a está esperando no andar de baixo
— ela murmurou ajeitando meu véu.
Assenti soltando uma lufada de ar. Estava na hora de me tornar a Sra.
Sartori. Com ajuda da dona Lídia desci as escadas e antes de sair da casa, em
que passei todos os meus vinte anos, onde tive momentos felizes e aprendi
que o submundo era para todos. Virei para a mulher que por muitas vezes
ficou comigo até dormir, me protegendo dos trovões quando tinha medo e
dizendo que nenhum mal iria me pegar.
— Sentirei sua falta — digo em tom baixo.
— Também sentirei querida — ela fungou.
Abraço a mulher e controlo as lágrimas.
— Cuide da minha mãe, por favor.
— Farei isso.
Seguro a mão dela pela última vez antes de sair da casa. Ao descer os
poucos degraus eu encontro meu pai me esperando de frente ao carro que nos
aguardava. Olho para a casa e levanto meu olhar para uma das janelas do
segundo andar e lá encontro minha mãe parada olhando para mim. Seus
ataques estavam ficando cada vez mais frequentes. Toda a noite durante essa
semana que passara, consegui escutar seus gritos de raiva, de dor, seus
pedidos de socorro e sua fúria. E toda vez que ela tinha seus ataques meu pai
entrava no quarto e logo depois o silêncio aparecia. Não sabia o que ele fazia
lá dentro, e tinha medo de saber, então só agradeci por dentro por ela ficar
calma mais uma vez. E era cada vez mais raro vê-la fora do quarto e sã.
Papai dizia que seus ataques de nervosismo e de ansiedade estavam
mais frequentes e que os remédios que ela tomava não estavam fazendo o
mesmo efeito de antes. Isso me preocupava, nunca a tinha visto dessa forma e
ver seu descontrole me machucava mais do que queria admitir. Não tinha
conseguido me despedir dela da forma que queria fazer, não consegui dizer
que a amava e que esperava que ela se mantivesse firme, mas aquilo seria
hipocrisia minha pedir, já que ela não conseguia mais se manter sem os
medicamentos. E por isso ela não poderia ir ao casamento, meu pai não
queria que ela tivesse um ataque no meio da cerimônia e causasse um vexame
no dia do meu casamento.
— Ayla, precisamos ir — ele disse atrás de mim.
Levantei a mão e dei um leve aceno na sua direção antes de entrar no
carro e ajeitar meu vestido cuidadosamente. A porta foi fechada e meu pai se
sentou ao meu lado. Eu só precisava respirar com calma e me convencer que
tudo daria certo, que nada de ruim iria acontecer hoje, que ninguém iria tentar
contra mim ou meu futuro marido.
O caminho foi feito com calma e quando o carro parou na frente da
catedral meu pai virou para mim.
— Não me decepcione, seja a mulher que Sartori espera que você seja
— murmurou antes de sair do carro.
A mulher que ele iria trair.
A porta do meu lado foi aberta e os flashes me cegaram por alguns
segundos. Hoje eu não iria me casar só com o Boss da Cosa Nostra e sim com
o dono do Império de Diamantes Sartori. E toda mídia de Nova York estava
ali para conhecer a futura esposa de um homem renomado e desejado por
todas as mulheres.
Lancei alguns sorrisos para os fotógrafos e ignorei as perguntas sem
sentido. Não queria me concentrar nas perguntas que se resumiam do porquê
de um casamento repentino, se eu estaria grávida. Ninguém ali sabia o real
motivo, só achavam que uma moça da classe alta estava se casando com um
poderoso empresário. Mas na verdade era uma aliança de famílias dentro do
submundo, onde a podridão acontecia debaixo dos panos de bons moços que
mostravam na mídia.
Paro na entrada da catedral e concentro-me em somente andar até o
altar e dizer sim para o homem que estava me esperando ali dentro. Nada
mais importava somente o que me esperava.
— Está na hora — meu pai diz antes que as grandes portas de madeira
se abram e ali vi todos se levantando, virando na minha direção.
Não tinha mais como fugir.
(...)
AYLA
(...)
Capítulo 8
AYLA
Capítulo 9
AYLA
(...)
Capítulo 10
AYLA
(...)
Capítulo 11
AYLA
(...)
Meus olhos estavam pesados e sentia o sono tomando meu corpo, mas
tinha algo me impedindo de dormir completamente. Franzo a testa e tento
virar para o lado, mas sinto mãos quentes e firmes me segurando no lugar e
em seguida beijos na minha barriga que subiam vagarosamente.
Aos poucos abro os olhos e demoro um pouco para focar minha visão
no corpo grande sobre o meu. Logo encontro os olhos acinzentado me fitando
com fervor e sua cabeleira escura, seguro em seus ombros soltando um
suspiro ao sentir sua boca no vão dos meus seios que se arrepiaram com seu
toque.
Viro a cabeça de lado tentando imaginar que horas eram, talvez fosse
cedo ou tarde, não tinha noção. Meus pensamentos ficam turvos quando sinto
sua boca engolir um dos meus seios e chupar com força meu mamilo. Solto
um gemido alto e sinto o meio das minhas pernas pulsar fortemente. Enzo
conseguia me ter em seus braços com um simples toque e ele aproveitava
disso.
— Enzo — gemo segurando seus cabelos e fazendo-o me olhar.
— Não consegui resistir — falou roucamente, sua boca se
aproximando da minha. — Seu corpo estava chamando o meu.
Solto um sorriso e inclino minha cabeça na sua direção, colocando
nossas bocas. Mordo seu lábio e o sugo, fazendo a mesma coisa que ele já
tinha feito comigo. Acho que fiz direito, já que o vi gemendo contra minha
boca e segurando meu corpo contra o seu, fazendo-me sentir sua quentura
mais do que nunca.
Nesses momentos eu não me importava muito se tínhamos algum
vínculo fora da cama, se nos falávamos direito ou não. Só adorava quando
estávamos aqui, porque era assim que sentia que poderíamos ter um futuro,
era assim que eu me sentia completa e que meu casamento não era somente
uma fachada. Existia desejo entre nós, atração e química.
Mas do que isso serve se seu marido não lhe ama?
Isso não era para se pensar agora. Só queria aproveitar esse momento
com ele, depois pensaria sobre isso com a cabeça em ordem.
Enzo massacrava minha boca com seus dentes puxando meus lábios e
as sugadas que vinham em seguida. Passo meus dedos por cada polegada do
seu corpo, sentindo cada canto de sua pele e via como ele gostava daquilo.
Em um rápido movimento Enzo nos sentou na cama e tirou a peça amassada
do meu corpo e percebo que ele já estava completamente nu. Sem controlar
minha curiosidade fixo minha atenção no seu pênis que estava bem acordado
no meio das suas pernas. Ele era avantajado e grosso, e começo a me
perguntar como aquilo entrava em mim.
— Se continuar me olhando dessa forma, não me responsabilizo pelos
meus atos — segurou meu queixo, fixando nossos olhos. — Em algum
momento, não agora, você irá tomar meu pau em sua boquinha avermelhada.
Ofego com suas palavras chulas e me assusto ao ver como meu corpo
reagiu. O meio das minhas pernas latejava mais do que antes e sentia-me
queimar em desejo.
Levanto minha mão e passo pelo seu pescoço e o puxo para baixo,
encostando nossas bocas, sem conseguir esconder a vontade de beijá-lo
novamente. Enzo passou as mãos pelas minhas costas me levantando contra
seu corpo, encostando nossas peles o máximo que podia. Ele deixou minha
boca e desceu os lábios pelo meu pescoço, deixando mordidas e sugadas.
Cada beijo era um gemido de deleite que saia da minha boca e não me
importava se aquilo era impróprio, queria só sentir os seus beijos e carícias.
Logo me vi no colo de Enzo andando pelo quarto e solto um grito de
surpresa ao sentir o contato com o vidro gelado nas minhas costas. Não sabia
o que ele estava fazendo, mas solto um gemido alto quando o sinto me
penetrar aos poucos. Enrosco minhas pernas na sua cintura e me seguro em
seus ombros. Encosto minha cabeça na parede de vidro e solto um sorriso
quando ele mordeu a pele em cima do meu seio.
— Você é tão apertada — rosnou contra minha pele. — Que não
consigo pensar direito quando estou dentro de você.
Puxo seus cabelos da nuca, me forço a olhá-lo, o beijo com desejo,
nossas línguas brincam uma com a outra, seus movimentos de entra e sai
ficaram cada vez mais firmes, me fazendo subir cada vez mais em seu colo e
meu corpo gritar por mais.
Não consegui controlar a pressão que tinha dentro de mim. Explodi ao
redor de Enzo gritando o seu nome diversas vezes enquanto espasmos me
dominavam completamente. Logo senti Enzo me apertando contra o seu
corpo, me deixando sem fôlego e o vi balbuciar algo baixo, mas não consegui
compreender o que tinha dito.
Ficamos um tempo ali encostados a parede de vidro ainda em seu
colo. Em seguida ele me deposita na cama e fico surpresa quando ele se deita
ao meu lado. Os seus olhos cinza analisam-me curiosamente e satisfeitos.
Tento manter nosso olhar, mas sinto o cansaço se apossar do meu corpo
novamente e me vejo caindo no sono sob o olhar de Enzo.
Capítulo 12
AYLA
Capítulo 13
AYLA
Horas mais tarde tinha feito várias anotações sobre o que Laura falara
e fiquei espantada com tudo que ela disse e me explicado. Nunca teria
imaginado o que ela me revelara, mas ao mesmo tempo estava feliz por saber
de tudo que ela achou necessário me dizer. E ela disse que as outras coisas eu
iria descobrir sozinha.
Ela tinha me feito decorar os nomes mais impropriáveis que existia
nessa face da terra. Quando disse que eu chamava minha vagina de
intimidade, ela soltou uma gargalhada alta e falo o nome bo… mas preferi
dizer vagina, melhor a o outro nome. Eu não era tão experiente como ela era
e mesmo ela tendo me feito dizer nomes nada legais sobre sexo, eu prefiro ser
mais culta nesse assunto. Talvez com o tempo eu me solte e consiga ser mais
liberal como ela é.
Balanço a cabeça e me olho na frente do espelho, ela tinha dito para
eu vestir algo mais ousado essa noite e esperar Enzo. E esse algo ousado era
apenas uma calcinha de tiras nos meus quadris e um fino tecido que cobria o
necessário da minha vagina. Laura disse para não colocar nada por cima, mas
decidi pegar um robe de seda vermelha, tentando me esconder com alguma
coisa.
Eu não deveria seguir á risca o que Laura tinha dito, mas algo dentro
de mim dizia que seria legal fazer algo que antes eu não teria coragem. Então
aqui estava eu esperando Enzo de robe. Sinto-me nervosa e apreensiva, não
consigo ficar parada, caminho pelo quarto, sentindo o suor pingar pelas
minhas mãos.
Cada segundo que se passou sentia que não deveria fazer aquilo.
Olho pela décima vez ou mais para o relógio vendo o quanto já era tarde e
Enzo ainda não tinha chegado.
Solto um suspiro segurando a frustração que começava a aparecer,
decido não esperá-lo mais. Entro no banheiro, pego a escova e escovo quase
agressivamente meus cabelos, desfazendo os ondulados do cabelo, o
deixando liso mais uma vez. Por sorte não tinha passado maquiagem no rosto
e ao voltar para o quarto pego a primeira roupa de dormir que vejo na frente e
visto, sem ter coragem de trocar minha calcinha. Deito na cama e seguro o
bolo que se formava em minha garganta.
Como sou tola.
Porque ainda penso em ter algo bom? Provavelmente meu marido
deve estar com alguma mulher e se satisfazendo, algo que parece que eu não
sei fazer. Sufoco a vontade de chorar e com custo consigo dormir, mas com
os pensamentos voltados para Enzo e no que ele estaria fazendo tarde da
noite.
(...)
Não sei quanto tempo dormi, mas sou despertada com carícias e
lábios passando pelo meu pescoço. Seu cheiro era inconfundível e seu toque
era único. Mesmo que meu corpo reagisse ao seu, sobre seu toque e beijos,
não consigo me sentir totalmente à vontade, não agora.
Sei que deveria estar conformada sabendo que ele teria outras
companhias na cama. Mas como alguém ficaria feliz ou conformada sabendo
que seu marido estava com outra mulher. Algumas mulheres dentro do
submundo gostavam disso, até se sentiam aliviadas por saber que seus
maridos preferiam a companhia de algumas prostitutas a sua, mas eu não era
assim. Eu não conseguia me sentir bem sabendo que meu marido estava com
outra.
Esse sentimento maldito de contos de fadas que não me deixa em paz.
Minha vida nunca foi um mar de rosas, mas eu queria ter um pouco de
felicidade e por isso estava me agarrando da melhor forma nessa bendita
esperança de fazê-lo me querer, apenas a mim. Mas isso será difícil. Suas
mãos quentes e grandes me despertaram do devaneio que estava tendo e logo
sinto meu estômago embrulhar ao sentir seus dedos habilidosos tocarem nas
tiras da calcinha, a qual estava usando para provocá-lo hoje mais cedo. Esse
poderia ser um balde de água fria para toda a excitação que estou sentindo
nesse exato momento, mas tinha outras coisas para pensar, como o que ele
estava fazendo até agora, o que tinha o prendido até tarde.
Mas eu temia a sua resposta e a melhor coisa que fiz foi segurar sua
mão que estava entre minhas pernas e levá-la para longe.
— O que foi? — sua voz rouca soou no meu ouvido.
— Nada — murmuro secamente e me afasto do seu toque. — Só não
estou disposta.
Em um movimento Enzo me deitou de costas e o vi apoiado em um
cotovelo, me olhando profundamente como de costume.
— Aconteceu alguma coisa no tempo que passei fora?
— Não — desvio o nosso olhar. — Só quero dormir, estou cansada.
Sem querer mais olhá-lo virei de costas para ele e me afastei o
máximo que conseguia e agradeci que a cama era grande.
— Ayla…
— Me deixe dormir Enzo — peço em tom baixo sentindo-me
completamente arruinada por dentro.
A cama mudou de peso e logo me sinto mais uma vez sozinha. A
porta do banheiro foi fechada e o quarto entrou mais uma vez na escuridão,
que para mim nesse instante era bem vinda. Não me importei de esperá-lo
para saber se ele iria deitar na cama ou não, só me concentrei em dormir e
acalmar meus pensamentos.
Pelo restante da noite não fui mais incomodada e quando o sol se
mostrou no horizonte eu levantei da cama que já estava vazia. Arrumo-me,
vestindo um short jeans claro desfiado, uma blusa de alças e sapatilhas. Hoje
não ficaria dentro do hotel até a noite, enquanto meu marido saía para Deus
sabe onde. Pego minha bolsa e algumas coisas que precisaria durante o dia.
Hoje eu iria explorar Calábria e não iria voltar para o hotel até visitar
todos os pontos turísticos que conseguisse.
Igual ao dia anterior encontrei Aronne me esperando no lado de fora.
— Bom dia — sorrio na sua direção. — Hoje iremos sair do hotel.
Aronne levantou as sobrancelhas escuras e vejo seu olhar de dúvida.
— O senhor Sartori sabe sobre isso?
— Não — balanço a cabeça. — Mas tenho certeza que ele não irá se
importar com a minha saída de... Três horas no máximo.
— Senhora…
— Aronne — o corto. — Não vou passar mais um dia enfurnada
dentro desse hotel, enquanto há tanta coisa bonita lá fora para se ver.
— Senhor Sartori irá arrancar minhas bolas por isso — o escuto
resmungar enquanto entramos no elevador.
Seguro meu sorriso e pela primeira vez me senti livre, sentindo o
vento fresco batendo no meu rosto e poder andar pelas calçadas da rua
movimentada por turistas. No caminho comprei um guia turístico e com
Aronne logo atrás consegui visitar alguns museus, praias próximas e fiz
questão de tirar algumas fotos. Durante o dia escutei o celular tocar dentro da
minha bolsa, mas não atendi nenhuma chamada, mas no fundo eu sabia que
era ele. Entretanto, hoje tinha decidido ser tudo que não era uma garota de
vinte anos normal, livre e sem preocupação. E não uma pessoa submissa e
obediente, que acata tudo que me mandam fazer, que aceita qualquer migalha
que me dão.
Na hora do almoço escolhi uma pequena lanchonete e fiz Aronne se
sentar comigo e comer algo, com certeza ele deveria estar com fome como
eu.
— Há quanto tempo você trabalha para Enzo? — Pergunto enquanto
mordo meu sanduíche de peru defumado, ele comia uma porção de batata
frita e um hambúrguer enorme. Também queria poder estar comendo assim,
mas já tinha passado da cota de comer guloseimas.
— Comecei a trabalhar para o senhor Sartori quando tinha 17 anos e
meu pai ainda era vivo — ele deu de ombro enquanto comia seu hambúrguer.
— Acho que faz mais de vinte anos.
— Uau, isso é muito tempo — constato surpresa. — Mas você é feliz
com seu trabalho?
Aronne me olha por alguns segundos, mas logo vejo um pequeno
sorriso surgir nos cantos da sua boca.
— Por uma parte sim — ele deu de ombro. — Mas não tive escolha,
era ser soldado ou coisa pior.
Assenti e o compreendo perfeitamente, também não tive escolha, mas
também não era ingrata por minha vida, talvez se os meus pais não fossem de
dentro dos negócios da máfia, se não tivessem nascido dentro do submundo,
eu provavelmente não teria tudo que tenho hoje.
Vejo Aronne deixar sua comida de lado e pegar seu celular, seu
semblante antes descontraído ficou tenso rapidamente e, logo soube com
quem ele estava conversando.
— Don, aconteceu alguma coisa? — Ele fica calado por alguns
segundos. — Sim senhor, irei fazer isso.
Aronne desliga seu celular e volta a fitar-me, forço um sorriso, que
pode ter sido uma careta, mas tento não parecer tensa.
— Aconteceu algo?
— Temos que voltar para o hotel — ele se levantou e o vi tirar sua
carteira do bolso.
— Aronne — interrompo seu movimento. — Eu pago, fui eu que fiz
você comer então...
— Não senhora Sartori — percebo que ele tinha voltado a usar seu
tom profissional, o que será que Enzo tinha dito para ele no telefone? — Faço
questão de pagar.
Sem contestar mais uma vez eu o deixo pagar pela comida. Voltamos
para o hotel, num percurso completamente silencioso, mas antes que entrasse
no hotel eu o paro.
— Meu marido falou algo sobre a nossa saída?
O vi olhar para dentro do hotel e voltar a me olhar.
— Não... Só entre no hotel senhora.
Aronne parecia desconfortável e eu não iria importuná-lo. Mas no
momento que entrei no quarto do hotel eu fui atacada por mãos grandes e
firmes. Enzo estava parado na minha frente e pelo seu olhar matador, percebo
que não estava segura com ele ali.
— O que você tem na cabeça? — Rosnou furiosamente.
— O quê? — Olho-o sem entender.
— Não me venha ser cínica nesse momento — suas mãos
machucavam meus braços, mas não faço nenhum movimento para me afastar.
— Não estou entendendo nada.
— Então vamos clarear seus pensamentos — ele disse sarcástico. —
Você e meu soldado em uma lanchonete comendo juntos e parecendo
íntimos.
Levanto as sobrancelhas com o que ele diz e tenho vontade de rir
sobre aquilo, mas mantenho-me séria ao vê-lo tão furioso. Por que ele ficaria
assim?
— Se eu descobrir que você está dando para ele Ayla — soltou meu
braço e segura meu queixo com brutalidade. — Tenha certeza que vocês não
irão amanhecer vivos para contar a história.
Em um gesto espontâneo o empurro para longe, mas foi algo em vão,
ele não tinha se distanciado um centímetro. O que ele acha que sou? Enzo
Sartori não tem o direito de falar assim comigo, mesmo eu sendo a sua
esposa, ele não tem.
— Se você me trai, não quer dizer que irei traí-lo — vocifero sentindo
meu rosto aquecer em fúria. — Não sou como você que sai por ai e vai
transar com qualquer uma! Se estou casada com você, então só irei me
dedicar completamente a você! Então não venha fazer juras de morte ou
ameaças, porque o único que trai nesse casamento é você, unicamente você!
Não sei se tinha sido o certo esbravejar desse jeito, porque não sabia
qual seria a reação dele, não sabia se iria ficar calado ou quieto. Na verdade
eu não sabia nada sobre ele.
— Só tentei ser sociável com meu segurança — continuei, mas agora
com o tom mais leve. — E lanchar com ele não quer dizer que estou “dando”
e sim sendo amigável.
— Eu não quero que você seja amigável — sua boca estava quase
colada com a minha. — Não quero você próxima dele ou de qualquer outro
homem que não seja eu.
— Você não pode decidir isso — murmuro corajosa.
— Sim, eu posso — me lança um sorriso arrogante. — E quando eu
digo algo quero que seja obedecido.
Com isso ele me solta e dá alguns passos para trás. Sinto meu braço
dolorido e minha mandíbula doer um pouco pela força que ele tinha
segurado. Até então ele nunca tinha sido bruto como agora e percebo como
ele poderia ser quando algo ou alguém o deixava furioso e dessa vez tinha
sido eu a deixá-lo assim.
Sem dizer mais nada eu abraço meu próprio corpo e caminho até o
banheiro, fechando a porta com a chave, tentando me proteger da melhor
forma. E começo a me perguntar até que ponto ele poderia ser brutal.
Capítulo 14
AYLA
— Ficaremos aqui por uns dias — Enzo falou ao meu lado. — Não
teremos seguranças na casa, eles ficaram em uma cabana alguns quilômetros
de distância.
— E se algo acontecer?
E todo o assunto sobre onde ele esteve três dias atrás, sobre sua forma
de agir dois dias atrás sumiu quando sinto seus lábios tocarem nos meus, suas
mãos me agarrarem como se precisasse daquilo para sobreviver, mesmo isso
parecendo uma tolice. Logo me vi ficando nas pontas dos pés e retribuindo
seu beijo que me deixava completamente eufórica.
Suas mãos grandes e ágeis passearam pelas minhas costas e seguiram
até minha bunda onde me puxou, elevando-me e me vi o rodeando com
minhas pernas. Seus lábios me beijavam com força e certa brutalidade, me
deixando completamente atordoada.
Nós não precisávamos falar algo um para o outro, era só nos olhar e
sabíamos o que queríamos. Enzo me sentou à bancada e sua boca desgrudou
da minha.
Enzo fez magia com sua língua naquele ponto tão sensível, o qual
Laura tinha me dito que era o clitóris. Seguro seus cabelos em minhas mãos e
por instinto abro mais minhas pernas, Enzo as segurou e me puxou mais para
o encontro da sua boca, fazendo ver estrelas e querer mais disso. Gemidos
saíram da minha boca sem pudor e não liguei por estar fazendo barulho, só
conseguia pensar na sua boca e no que ela estava fazendo na minha vagina.
Sinto aquele tão conhecido fogo se alojar ainda mais no meu ventre e
percorrer pelo meu corpo e no momento que a língua de Enzo tocou no meu
clitóris me senti explodir e sair de órbita. Ainda ofegante e desorientada pelo
que tinha acabado de acontecer foi um pouco complicado de abrir meus olhos
e ver Enzo tirar o restante das suas roupas e parar em cima do meu corpo.
O cinza dos seus lindos olhos estavam escuros, tempestuosos e não
controlei a vontade de tocar seu rosto, passando os dedos pelas suas
bochecha, pela barba rala, parando nos seus cabelos tão macios. Enzo me
abraçou, fazendo-me sentir seu corpo completamente, ofego contra sua orelha
quando o senti me preencher completamente, como aquilo poderia ser tão
bom?
Fecho os olhos com deleite e beijo sua orelha, sentindo sua pele se
arrepiar com isso. Enzo começou a se movimentar, saindo e entrando cada
vez mais forte, tomando impulso a cada estocada. Segurei-me ainda mais nele
enquanto delirava com a forma que ele me tomava para si, como se aquilo
fosse a coisa mais certa do mundo, como se vivêssemos para isso. Seu nariz
contornou meu ombro e pescoço, sinto sua boca sugar cada canto da minha
pele, ele cheirou meus cabelos, puxando-o na nuca e fixando nossos olhos.
Sinto-me perdida na imensidão dos seus olhos, tentando compreender
o que ele estava sentindo nesse momento, no que eu estava sentindo. Sua
boca se cola na minha no momento que me sinto chegar mais uma vez ao
clímax e logo em seguida o sinto esporrando dentro de mim. Sua respiração
estava pesada e suas mãos me apertavam contra seu corpo suado e deixando-
me feliz por tê-lo ali em meus braços.
Passo os dedos pelos cabelos da sua nuca e subo mais, toco cada
mecha dos seus cabelos escuros e sinto seu aroma misturado com suor e
cheiro de pós-sexo.
— Preciso atender, não me espere para o jantar — seu tom era duro e
senti-me afundar por dentro.
O vi recolher suas roupas e se retirar da cozinha. Apoio-me na beirada
do balcão e desço pegando minhas roupas e seguindo para o quarto, decidida
a tomar um banho para depois terminar o jantar.
ENZO
Meu casamento era por aliança e poder, nada mais que isso. Precisava
ter uma esposa para conseguir expandir meus negócios para outras terras e
estava quase conseguindo, só precisava do apoio e trégua de Santiago
Stefano. Aquele desgraçado estava dificultado ás coisas para o meu lado, mas
eu não desisto facilmente de algo que quero e essa mulher que dorme
serenamente na cama me daria algo que precisava para fechar completamente
o acordo que me daria algum poder dentro Ndrangheta.
(...)
— Não liguei para falar sobre minha pele — rosno ainda sério.
— Acho que me enganei, sua esposa não está fazendo o serviço
direito — bufou. — Você ainda está de TPM.
— Sei que você me ama — zomba. — Mas não estou para amores
agora, então vamos começar a falar sobre Stefano e a demora dele para
assinar o acordo.
Quando Domênico toca mais uma vez no nome de Ayla sinto algo
ferver dentro de mim, querendo que ele parasse de falar sobre ela ou que
ficasse lembrando-a. Não quero que ele pense nela.
— Está com medo que algo aconteça com minha esposa Vitale? —
Minha voz sai ameaçadora e ele percebeu porque sua expressão ficou ainda
mais séria.
— Não se preocupe com minha esposa, sei cuidar muito bem dela —
vocifero. — E lhe aconselho a parar de falar dela.
— Está com ciúme? — Me olha provocativo.
— Não, só estou lhe avisando para não parecer tão interessado nela.
— Só estou tentando...
— Não me interessa o que você está tentando, lhe aconselho a parar
de falar nela — o corto. — Sei o que estou fazendo Domênico, não sou um
moleque que está brincando em ser Don, sei dos perigos de tê-la aqui
enquanto estou fazendo um acordo com Santiago Stefano.
Domênico fica calado por alguns instantes, mas logo o ouço soltar um
suspiro alto e balançar a cabeça.
Ayla virou para mim e ficou ainda mais pálida ao ver a arma em
minha mão. Ela não falou nada e minha atenção foi para a caixa aberta no
balcão da cozinha. Ao chegar perto para ver o que tinha ali dentro encontro a
cabeça de um dos meus soldados que fazia a ronda da casa.
— Por quê?
— Faça o que estou mandando — olho para ela e vejo-a tremer
levemente e logo sumir.
— Não sei do que está falando, mas posso ajudá-lo a encontrar quem
decapitou um dos seus.
Fecho os olhos com força tentando pensar direito. Não tinha tempo
para duvidar da sua palavra, tinha alguém por perto, que a qualquer momento
poderia me atacar de surpresa e fazer algo pior do que decepar a cabeça de
um soldado meu.
— É bom que não seja você o mandante dessa mensagem Stefano —
vocifero. — Porque se eu descobrir que sim, eu juro que faço coisa pior.
AYLA
Olhei cada canto da casa, que era bem mobiliada com móveis
rústicos, paredes de tons claros e bem iluminada. Não tive muito tempo para
admirar os outros cômodos da casa. Enzo virou na minha direção e disse:
Pego uma roupa confortável, sigo para outra porta que julgo ser
banheiro, que por sinal é enorme, tinha uma bancada de mármore branco com
duas pias e espelho, box e banheira. Sorri ao encontrar cosméticos femininos
postos em um canto da pia, vejo que eram alguns que eu já usava. Será que
Enzo tinha prestado atenção nisso? Meu sorriso se abre ainda mais com esse
pensamento e começo a tirar minha roupa.
Quando o jato d’água quente bate no meu corpo cansado sinto-me
relaxar gradualmente, precisava disso para conseguir dormir algumas horas.
Termino meu banho, seco meu corpo já vestindo uma calça do pijama e uma
blusinha de alças. Penteio meus cabelos e os deixo soltos.
(...)
ENZO
— Não conseguimos encontrar nenhum rastro de quem pode ter
mandado a ameaça — Domênico comunicou no outro lado da linha.
Fico calado por um tempo, tentando encontrar alguma pista de quem
poderia ter feito isso. Minha lista de inimigos não era pequena, tinha várias
pessoas que desejavam minha cabeça, mas nenhuma dessas pessoas tinha
coragem de fazer o que fizeram, era alguém que eu conhecia, mas não era
próximo, sentia isso.
— Ou sua esposa.
— Ele aceitou.
— E você não acha estranho ele aceitar no mesmo dia que essa
ameaça foi feita?
Saio dos meus pensamentos quando ouço uma batida na porta e, vejo
Milena entrar.
— Uma das empregadas me avisou que você e sua esposa tinham
chegado — seu tom era baixo e acenou na minha direção.
Sabia que ela não gostava muito de Ayla, da escolha que eu tinha
feito de me casar. Para Milena seria somente nós dois para sempre, mas
sabíamos que nossa realidade não era assim e meu casamento foi estratégia
de negócios, mas isso não a impede de não gostar da minha esposa. E eu
sabia muito bem como ela demonstrou seu desagrado, fazendo Ayla me
encontrar com Perla. Sabia que aquele encontro tinha dedo da minha
irmãzinha e ela teve o seu castigo por ter feito isso.
— Não posso ver meu irmão que ficou semanas longe de casa? — Me
olha sarcástica.
— Sabemos que você não é sentimentalista — a encaro. — Então
poupe meu tempo e diga o que quer.
— Uau, sempre tão gentil — zombou. — Mas tudo bem, só vim ver
se sua linda esposa cuidou direito de você.
Quando a porta é fechada, senti que não teria paz, porque Milena não
iria deixar que isso acontecesse. Teria que dar um jeito nisso, fazê-la entender
que não é mais uma criança que pode fazer tudo o que quiser e não arcar com
as consequências. Talvez ela só esteja ainda com raiva do castigo que dei a
ela.
Ficar alguns dias sem cartão de crédito não era um dos piores castigos
dado a alguém. Milena era minha irmã e não podia fazer nada muito brutal
com ela.
(...)
Capítulo 17
AYLA
Vejo um leve curvar de seus lábios e seus olhos cinza me fitarem com
certo divertimento, parecia que alguém tinha acordado de bom humor, o que
era raro para mim, sempre o via fechado e não demonstrando nenhum tipo de
humor.
— É... Bom dia — forço minha voz a sair com naturalidade, enquanto
meu corpo se aquecia.
Enzo se aproximou, ficando á alguns passos de distância. Levanto um
pouco o rosto para olhá-lo direito e nesse momento ele levanta a mão e toca
meu rosto, seu toque foi tão simples, mas surtiu um efeito no meu corpo
instantaneamente, pois entraria em erupção a qualquer momento.
Seu rosto se inclinou para o meu e fecho os olhos ansiando pelo que
viria, mas franzi a testa quando o toque da sua boca não veio. Abro os olhos e
os seus me fitaram com tanta intensidade, poderia jurar que não seria capaz
de respirar, que o ar estava impedido de penetrar meu corpo e fazer sua fusão.
— Bom dia.
— Obrigada...
— Tália.
Agradeço-a mais uma vez e sigo para onde indicou e lá encontro a
sala de jantar. Alguns minutos depois o café foi servido e no momento que
estou tomando um gole do meu café ouço a voz atrás de mim.
— Olá cunhadinha.
— Obrigada.
— Não agradeça — ela disse mordendo seu pão. — Só não ache que
será fácil sua vida aqui nessa casa.
Sou tomada por espanto pelas suas palavras. Já tinha escutado Laura
dizer que Milena não era uma pessoa fácil de conviver e se socializar, porque
dentro da famiglia todos diziam que ela era Enzo em forma feminina e nada
agradável, mas por um segundo pensei que poderia ser só boatos e fofocas.
Porém ver a forma que ela disse aquilo com raiva transbordando nos seus
olhos e determinação.
— Posso aprender a conviver com isso — murmuro tentando não
transparecer o quanto estava intimidada nesse momento.
Aquilo era uma intimação, mostrando que ela não cederia fácil e que
faria o que tinha dito; não me deixaria em paz. Deveria me preocupar com
isso, mas o faria depois, tinha coisas mais importantes para fazer.
(...)
Solto uma risada com o que ela diz e volto a prestar atenção na
escolha de vestidos. Eu não sou uma das melhores pessoas para escolher
alguma roupa, por isso tinha ligado para Laura e pedido a sua ajuda, a qual
ela aceitou sem pestanejar.
Ela parecia menos pálida desde a última vez que tínhamos nos visto,
ainda continuava magra demais, mas o sorriso que irradiava o seu rosto
parecia querer esconder todo o mal que acontecia em sua vida.
— Não vamos nos importar com isso por enquanto — digo olhando
para ela. — Milena só tem dezenove anos, talvez só queira atenção.
Olho para Laura que estava com os olhos estreitos e vi minha prima
dar um passo para frente. Seguro o braço dela.
— E você continua...
— O que você veio fazer aqui Milena? — corto rapidamente Laura e
a puxo para trás.
Balanço a cabeça rindo e decido provar outra roupa, aquele dia seria
longo.
(...)
— Como estou?
Enzo desceu seu olhar pelo meu corpo e ficou me olhando por alguns
segundos, até que voltou a me fitar.
Faço o que ele manda. Pelo espelho o vejo abrir a caixa e de dentro
tirar um colar.
Quando ele fecha o colar, solto meus cabelos e fico admirando a linda
joia no meu colo. Ela era cravejada de esmeraldas com alguns diamantes. As
esmeraldas reluziam lindamente e combinava com o tom dos meus olhos.
Aquele beijo era intenso, como se não quiséssemos nos afastar, como
se aquilo quisesse durar para sempre, mas uma vibração no bolso da sua calça
o fez se afastar e pegar o aparelho. Sua respiração estava descompassada, se
igualando a minha. Seu rosto ficou duro pelo que leu no celular e logo me
olhou.
— Temos que ir.
AYLA
Sigo o seu olhar e paro nas duas pessoas, Enzo estava conversando
com uma loira que logo percebi quem era. A taça que estava em minha mão
escorrega pelo meu choque. Perla ria de algo que meu marido tinha dito e
tocava nele deliberadamente por várias vezes em frações de segundos. Aquilo
me incomodou mais do que deveria incomodar, me fez sentir coisas que
desejava não sentir. O ciúme parecia querer me consumir completamente,
mas a razão falou mais alto.
— Se você não se importa preciso ter uma palavra com minha mulher
— Enzo passou a mão pela minha cintura e puxou meu corpo contra o seu.
— O que passa pela sua cabeça por estar daquele jeito com aquele
homem? — Rosnou perto do meu rosto. — Vocês dois pareciam íntimos.
Levanto as sobrancelhas pela forma que ele estava agindo e surpresa
pelas suas palavras.
— Não está passando nada pela minha cabeça — minha voz sai em
um fio.
Enzo virou o rosto para mim e vi raiva transparecer nas suas íris
cinza. Vi suas mãos em punhos nas laterais do seu corpo e percebo como ele
estava tenso.
— Irei avisar só uma vez — seu rosto ficou centímetros do meu. —
Se eu lhe ver perto do Jordan mais uma vez, eu juro que arranco cada dedo
das suas mãos.
Viro de costas para ela e tento não mostrar as novas lágrimas que
caíram pelo meu rosto.
Enzo olhou para mim e vi uma ruga aparecer no meio das suas
sobrancelhas. Ele deveria estar pensando que eu bati a cabeça, talvez sim
porque depois tudo que ele disse eu deveria manter distância dele, mas eu não
iria fazer isso. Algo que ele disse fazia sentido e abriram meus olhos. Eu
estava casada com a máfia e não somente com ele. Iria começar a fazer meu
papel ali dentro e não ser a esposa frágil que ele via que eu era.
Vendo que ele não iria dizer nada, viro na direção dos outros homens
e sorrio.
AYLA
Voltamos para a mansão algumas horas depois, sem dar boa noite
para Enzo e Milena, subi as escadas e entrei no quarto. Fico parada na frente
do espelho e olho para a minha imagem, qualquer pessoa que me olhasse
acharia meu casamento um dos melhores e que eu era paparicada pelo meu
marido, mas mal sabiam que tudo aquilo era para pensarem que éramos
perfeitos, até eu mesma cheguei a pensar que poderíamos ser perfeitos.
A vontade de chorar era grande, mas não iria me permitir fazer isso.
Minha atenção vai para o colar no meu pescoço, lembro como Enzo me
segurou contra seu corpo e me devorou com seus lábios, uma bela ilusão.
Suspiro e antes que eu tirasse aquele colar vejo outra pessoa no reflexo do
espelho. Enzo estava parado ali, me olhando seriamente com as mãos nos
bolsos.
Não tínhamos nos falados desde o escritório e sua bela ameaça, não
me importei com suas verdadeiras palavras ditasse e nem se nos falávamos
ou não, o silêncio era melhor do que gestos que poderia machucar ainda mais
meus sentimentos.
Prendo meus cabelos com rapidez e tiro o colar colocando em
qualquer canto. Passo por ele e entro no banheiro, tirei toda maquiagem e fiz
minha higiene. Troco de roupa e coloco o pijama mais confortável naquele
momento. Ao voltar para o quarto encontro Enzo sentado em uma poltrona e
dessa vez ele tinha uma bebida em mãos.
Deito-me na cama e fico de costas para ele, mas sentia sua atenção em
mim. Nunca tinha sido tão direta, mas era necessário porque cada vez que ele
usava uma palavra dura comigo, levava uma parte de mim, aos poucos estava
sendo despedaçada e em breve não iria restar nada de mim.
Esperei o sono vir, mas não veio, não sei quanto tempo passei deitada
na cama ou quanto tempo ele ficou ali sentado me olhando. Mas em um
momento a cama afundou um pouco e senti sua presença atrás de mim. Fecho
com força meus olhos e minha respiração fica suspensa quando sua mão
passeia pela curva da minha cintura.
Seu rosto se encaixa na curva do meu pescoço e sinto sua respiração
fazer cócegas na minha pele. Meu corpo rapidamente reagiu ao seu contato,
mas a minha consciência estava ali presente, me mostrando que ele só queria
usar meu corpo como nas outras vezes, que os seus gestos eram somente
carnal e nada sentimental, se tivesse algum sentimento naquilo tudo ele não
demonstrava e conseguia esconder muito bem.
— Odiei ver outro homem tocando você — sua voz era rouca e
reverberou contra meu corpo inteiro. — Senti raiva me consumindo
completamente.
Sua boca toca meu pescoço e deslizou para cima e para baixo.
Odiava-me por não conseguir afastá-lo, de deixar meu corpo cair nas suas
investidas.
— Você estava com outra mulher — lembro-o e tento tirar sua mão
da minha cintura, mas foi em vão, Enzo me fez deitar de barriga para cima e
encará-lo.
— O que você...
Surpresa fica estampada em seus olhos e ele fica alguns instantes sem
reação e aquilo foi gratificante.
— Vá atrás de alguém que não seja patética — tiro seu braço do meu
corpo. — E me deixe dormir.
Viro mais uma vez de costas para ele e com todas as minhas forças
faço meu corpo dormir e não me importar com as consequências dos meus
atos imprudentes. Enzo não iria me usar como das outras vezes, eu não iria
me deixar cair em tentação, seria mais dura comigo mesma e mostrar que era
muito mais do que alguém que esquentava a cama dele.
Essa era a escolha dele, Enzo escolheria qual caminho seguir, ele não
era uma criança e sim um adulto chefe de uma facção criminosa.
(...)
Nos dias que se passaram consegui ver algumas vezes minha mãe e
ver como estava sua saúde mental que não era uma das melhores, conseguia
ver como ela estava debilitada e às vezes não conseguia me reconhecer de tão
dopada que ficava. Sinto-me uma inútil por não conseguir ajudá-la, não
conseguia fazê-la procurar um tratamento. Sinto-me um fracasso de filha por
isso e cada vez que voltava da casa onde vivi minha infância e adolescência
me sentia deprimida e me trancava dentro do quarto tentando diminuir aquela
angústia. E hoje era um desses dias, fui visitá-la e ela estava dormindo, dona
Lídia que estava cuidando dela cada vez mais, disse que fazia quase dois dias
que ela dormia e mal acordava. Perguntei pelo meu pai e ela disse que ele não
dava sinal de vida há quase uma semana, minha mãe sentia falta dele e se
dopava ainda mais. Não consegui controlar meu choro e chorei na frente da
mulher que me viu crescer, dona Lídia me abraçou forte e disse que tudo iria
ficar bem que minha mãe iria melhorar, mas eu sabia que isso era promessas
inválidas, porque quando eu era mais jovem ela dizia isso para mim e minha
mãe nunca ficou melhor, foi ao contrário ela só fez piorar durante esses anos.
Sento-me na poltrona do quarto e a imagem da minha mãe jogada na
cama, pálida quase sem vida vem a minha cabeça. Será que era assim ficar
dependente de alguém que não nos amava?
— Fui ver como ela estava — olho para as janelas. — Cada dia ela
está pior.
— Sinto muito por ligar essa hora, mas eu preciso da sua ajuda —
ouço seu soluço do outro lado da linha.
— O que aconteceu?
— Obrigada.
— Ayla...
— Ela é minha prima Enzo, e a única pessoa que confio, então preciso
ajudá-la.
Fico aliviada por ele não tentar me impedir e saio da casa já entrando
em um carro com um segurança, seguindo para a casa de Laura que não era
muito longe dali.
Capítulo 20
AYLA
No momento que cheguei à casa de Laura fui recebida por uma das
empregadas que sorriu na minha direção.
— Deseja tomar alguma coisa senhora? — Me olha com admiração.
A levo até a cama e nos sento lá, Laura levou um tempo até conseguir
respirar normalmente e conseguir dizer o que tinha acontecido.
— Piero ficou furioso por eu não ter engravidado — fungou tirando o
cabelo da frente do seu rosto e vejo um grande hematoma no lado esquerdo
do seu rosto.
Não tinha como esquecer, o filho de Piero, Kurt Gambino era o seu
sucessor quando se aposentar e tomaria o poder do pai.
— Isso não quer dizer nada — levanto e me aproximo dela. — Talvez
ele não tenha tanto... Vigor como antes.
Laura balança a cabeça, solta uma risada e logo rio com ela, mas
paramos quando seu rosto contorceu com uma careta.
— O que foi?
— Minha costela — sua voz sai embargada e ela toca na lateral do
corpo.
— O que...
— Ayla, por favor — ela tenta se afastar.
— Aquele idiota fez isso com você? — Olho-a furiosa. — Como ele
teve coragem?
— Piero estava com raiva pelo teste de gravidez não ter dado positivo
— tenta justificar. — Ele só me bateu com mais força.
— Não fale como se fosse normal — digo raivosa.
— Para mim é Ayla — disse olhando para qualquer lugar que não
fosse para mim. — Sou agredida quase todos os dias e isso se tornou natural,
algo que não posso fingir não acontecer.
— Isso é errado.
— Faço questão.
— Vamos para minha casa Laura — afirmo com o tom sério. — Vista
algo ou então vai somente com esse robe.
Laura soltou uma lufada de ar, andou até o closet, voltou alguns
minutos depois com uma calça jeans clara folgada e camiseta preta também
folgada. Era a primeira vez que a via tão básica, sempre Laura surgia com
saltos, vestidos colados e bem maquiada, nesse momento ela não parecia
nada com a minha prima que conhecia há anos, às vezes era necessário
mostrar aos outros, o que queriam ver, ao invés de mostrar o que realmente
somos. Laura parecia uma mulher frágil e que estava prestes a ruir, mas eu
estaria ali para dar-lhe força, porque família era para isso, cuidar daqueles do
nosso próprio sangue.
— Estou pronta.
— Ligue para o seu chefe e diga que Ayla Sartori convidou a esposa
dele para um passeio, tenho certeza que ele não irá se importar com isso.
— Eu...
Sem esperar que ela dissesse mais alguma coisa, puxo Laura para fora
da casa e a levo até o carro, um segurança abriu a porta para nós. Assim que
nos acomodamos nos bancos, Laura me olha com as sobrancelhas levantadas.
— O que foi?
— Obrigada.
Uma lágrima solitária deslizou pelo seu rosto e ela sorriu ainda mais.
(...)
Entramos em minha casa, levo-a até a sala de estar onde disse que
pegaria algum kit de primeiros socorros e daria um jeito naqueles
machucados. Sem Laura perceber vou até o escritório de Enzo rezando para
que ele estivesse ali. Bato de leve na porta e segundos depois veio à resposta.
— Entre.
Viro para Domênico que permanecia calado e nos olhava com certo
divertimento.
— Domênico você poderia me dar o número do médico? — Ignoro o
olhar repreensivo do meu marido e sorrio docemente para o outro homem.
— Por favor.
— OK — ele anotou rapidamente o número em um papel e me
entregou.
— Obrigada.
Saio do escritório sem olhar para Enzo e sabia que mais tarde eu
arcaria com as consequências de minha insolência, mas não iria pensar sobre
isso nesse momento. Laura precisava de mim.
Voltando para a sala ligo para o médico da família, peço que venha
urgentemente para a casa dos Sartori e desligo. No caminho entro na cozinha,
pego gelo para o rosto de Laura e um copo d’água.
— Essa não é a primeira vez que acontece Ayla — ela me olha triste.
— E não vai ser a última.
— Me sinto impotente por não conseguir fazer nada para mudar isso
— sou sincera e olho para frente. — Primeiro é minha mãe, agora você, quem
será o próximo que verei se machucar e não poderei fazer nada?
Minutos depois o médico chegou e examinou Laura, disse que ela não
tinha fraturado nenhuma costela, aquele hematoma sairia em alguns dias e o
inchaço do seu rosto também. Ele passou alguns remédios para dores e um
calmante para que ela pudesse descansar. Medicada levei Laura para um dos
quartos de hóspedes e acompanhei o médico até a porta.
— Ela ficará bem?
— Nada.
— Ayla, você não pode trazer qualquer pessoa para dentro de casa.
— Ela não é qualquer pessoa, é minha prima.
— Ela poderá ficar essa noite aqui — ele suspira. — Mas amanhã ela
voltará para casa.
Um pequeno sorriso cresce em meu rosto, contenho a vontade de
abraçá-lo e beijar sua boca. Ainda não estávamos bem, na verdade nem sei
quando estivemos.
Capítulo 21
AYLA
Seu nariz inalou meu cabelo recém-lavado e foi baixando até chegar a
meu ombro, sinto sua boca beijar e lamber as gotículas de água ali.
— Não posso...
Viro dentro dos seus braços e seguro seu rosto entre minhas mãos,
fixo nossos olhos, o seu estava tão escuros que pareciam querer me levar para
o precipício.
— Saber que você não sente nada por mim, machuca e muito —
confesso e sinto um alívio por isso. — Sei que nosso casamento não é por
amor, mas pelo menos queria que você tivesse um pingo de respeito por mim,
que se importasse com o que as outras pessoas iriam pensar, mas você não se
importa com nada.
Ele continua parado me deixando falar e isso era bom, porque não
conseguia guardar aquilo dentro de mim.
— Quando soube que iríamos nos casar, desejei por um segundo que
minha vida fosse diferente ao seu lado, que você se importasse comigo, que
ligasse para os meus sentimentos.
— No mundo em que vivemos sentimentos é para os fracos — ele me
corta.
— Eu não quero que você seja nada — passo meus dedos pela sua
bochecha. — Só quero que você me respeite, que aja como meu marido, que
seja você.
— Você é algo que as pessoas querem que você seja — toco seus
lábios. — Mas me mostre o seu lado que ninguém sabe.
(...)
ENZO
— Ah, meu amigo precisamos de uma bebida para o que vim dizer —
ele parou na minha frente e estendeu um copo na minha direção.
Pela forma que me lançou um olhar nada agradável soube que nada
estava indo realmente bem. Pego o copo que ele me dá e bebo um pouco do
uísque.
— Vamos logo ao ponto.
Domênico se sentou à minha frente e deu atenção para sua bebida que
rodava dentro do copo. Pelo que o conhecia ele não era de enrolar em
assuntos do meu interesse e vê-lo retardar o assunto era algo estranho.
— Domênico...
— Filhos da puta!
— Posso concordar.
— Como você pode deixar isso acontecer?
— Gambino?
— Sim — ele ajeitou seu paletó. — Parece que ele estava bastante
ocupado comendo alguma puta num puteiro, mais do que vigiar a carga
direito.
— Desculpe por não bater na porta, pensei que não tivesse visita —
Ayla murmurou em um tom baixo.
— Sem problema — murmuro sem me importar se elas tinham
escutado o que Domênico tinha falado. — O que vocês querem?
— Certo.
Pego meu copo em cima da minha mesa e viro para Domênico que
ainda estava olhando a porta, especificamente para a mulher ao lado da
minha. Estreito os olhos na direção dele e como se percebesse que estava o
observando ele virou e levantou uma sobrancelha.
— Certo.
Ao escutar a porta ser fechada Domênico se jogou na cadeira a minha
frente.
Era coerente o que ele estava falando, mas não iria ficar pensando
sobre isso nesse momento, tinha algo mais importante no que pensar.
— Hummm — balanço a cabeça —, voltando à conversa de quanto
estamos falando em relação ao estrago da carga?
Capítulo 22
AYLA
— Ayla...
— Esse casamento não é o que você queria, não sou o marido que
você quer, nada disso é o que deseja — escuto cada palavra sua com atenção
e quando ele termina de falar acenei e ele continua — Você deveria desejar a
cada segundo do seu dia que eu morresse e recebesse a notícia que será viúva.
Enzo se afastou por alguns segundos tirando sua calça e boxer, mordo
meu lábio inferior ao ver seu membro pulsante completamente ereto.
Arregalo meus olhos pelo o que ele diz e antes que eu diga qualquer
coisa, fica perto, e segura meu queixo com o indicador.
— Imagine que sou eu lhe tocando — beija a ponta do meu nariz e
desce seus lábios pela minha têmpora. — Se toque.
Com os olhos fechados desço minha mão pela minha barriga e toco
minha intimidade que se encontra encharcada, encontro aquele pontinho
pulsante entre minhas pernas. Meus dedos circulam naquela região, me vejo
encostada no espelho soltando alguns gemidos baixos e balbuciando coisas
incoerentes.
— Coloque mais pressão.
AYLA
— Apenas olhou para ela e disse que eu poderia mudar a cor das
paredes que não se importava.
— Tive que renovar meu guarda roupa inteiro — olho para meu
vestido preto básico, mas que custava mais do que gostava de gastar.
— Aquela megera...
— Ayla!?
— O que lhe traz aqui á essa hora Jordan? — Laura apoiou seu
cotovelo na mesa e olha interessada para ele.
— É casada?
Laura levantou a mão, mostrando o anel de casamento e noivado.
— E muito bem casada — o sorriso que ela deu para Jordan sabia que
não era verdadeiro, conhecia muito bem minha prima para saber que ela
estava demonstrando algo que não era. Mostrar uma felicidade que não
existia. — E você é casado?
— Mas acho que acabei de encontrá-la — ele deu uma piscadela para
Laura.
— Vamos.
— Ayla...
— Antes que você me acuse de algo que não fiz — o interrompo e
viro para ele. — Eu não tive culpa por ele ter sentado a mesa, Laura foi
imprudente por convidá-lo a se juntar a nós.
— Mesmo que ele tenha feito isso — seguro seu rosto. — Eu não me
importo.
— Por que não?
— Enzo...
Ele suga a pele em cima dos meus seios e lambe cada centímetro de
pele que vê a sua frente. O toque parou, mas logo voltou a tocar e isso me
deixou ainda mais alarmada.
— Preciso atender.
— Alô?
— Ayla De Luca?
Meu Deus.
Capítulo 24
AYLA
Seguro sua mão que estava fria, quase sem vida ou talvez fosse eu que
me sentia sem vida. Apoio minha cabeça em seu braço e respiro fundo. Fazia
horas que estava esperando ela acordar, para que me olhasse e dissesse que
tudo estava bem. Mas ela não abriu seus olhos e aquilo estava me deixando
cada vez mais desesperada.
— Obrigada.
— Tão cedo?
— A forma que ele foi encontrado não é possível retardar o enterro.
Aceno e volto a olhar para minha mãe que tinha seu rosto pálido com
leves marcas roxas abaixo dos olhos. Seu corpo parecia mais magro e aquilo
era tão melancólico de se ver.
A porta foi fechada e mais uma vez estou sozinha com minha mãe.
Aperto sua mão ossuda e começo a rezar para que ela melhorasse, acordasse e
dissesse o que tinha acontecido.
(...)
Não consigo olhar para as pessoas ao nosso redor e eu era a única que
demonstrava alguma reação, algum sentimento. Ver o caixão ser coberto pela
terra foi sufocante, coloco minha mão na boca e contenho o soluço que queria
romper minha garganta.
Jogo a única rosa que tinha na minha mão em sua lápide e sigo para o
carro que estava á alguns metros. Aronne que estava me esperando acenou
levemente. Dou um pequeno sorriso para ele, fazia algumas semanas que o
não via, Enzo tinha-lhe feito ficar em outro turno, para que não ficasse perto
de mim. Enzo e sua possessividade.
— Cuidado.
— Pode deixar.
(...)
— Eu odeio você, odeio que meu irmão tenha casado com você —
parou alguns metros de mim. — Você deveria...
— O que está acontecendo aqui? — Milena foi interrompida por Enzo
que apareceu no meu campo de visão.
Milena passou por mim, batendo seu ombro no meu e escuto seus
passos pelas escadas.
— No quarto?
— Pode ser.
(...)
Suspiro enquanto leio mais um parágrafo do livro para ela, com isso
deixava-a ocupada e me sentia bem lendo para ela.
— Meu marido?
— Você volta?
— Obrigada.
Capítulo 25
AYLA
Meu coração bate descompassado enquanto minhas pernas se
movimentam pela casa que vivi durante minha infância e adolescência. Tudo
estava do mesmo modo que lembro nada fora do lugar. Não tem ninguém na
casa e isso me alivia, não sei se iria suportar ver dona Lídia sem me debulhar
em lágrimas.
Respiro fundo olhando ao meu redor e caminho até o andar superior.
Ao entrar no quarto dos meus pais, logo meus olhos caminham até o lado da
cama, onde disseram ter encontrado meu pai caído, já sem vida. Também
disseram que minha mãe estava na cama, inconsciente quase sem vida. Tento
não pensar na cena que originou aquela tragédia.
Deixo a caixa de lado, abro o papel e começo a ler o que tinha ali.
Sinto um nó se formar em minha garganta e o espanto me dominar. Que
merda é essa?
“Querida Vanessa, hoje lhe observei à distância, você estava
estonteante como sempre e o seu sorriso me fez querer aproximar e tê-la em
meus braços, mas não posso e isso me mata por dentro cada vez mais, não
poder tê-la em meus braços para poder amá-la, beijá-la como quero e dizer
como a amo profunda e perdidamente.
Mas tenho certeza que logo conseguiremos ficar juntos e finalmente
ser felizes como desejamos. ”
Essa era a caligrafia do meu pai, essas eram suas palavras. Sento no
chão e pego a próxima carta que era da tal... Vanessa.
O mesmo nome que minha mãe disse quando me atacou quando ainda
morava aqui. Será que... Não pode ser.
“Antonny, está cada vez mais arriscado nos comunicar. E, isso está
me deixando arrasada, porque não suporto a ideia de ficar longe de você,
sem ter notícias suas, sem saber se você continua me amando.
Sartori está cada vez mais insuportável e juro que às vezes fico
tentada a tirar minha própria vida, mas logo lembro que se fizer isso não
poderei mais vê-lo e somente por isso ainda estou vivendo. ”
Sartori... Isso não pode ser verdade, meu pai não pode ter se
relacionado com uma Sartori. Vanessa, agora consigo me lembrar porque
esse nome não era estranho para mim. Mas será que tudo que estou pensando
pode ser verdade?
No meio de outras cartas encontro uma fotografia antiga e meio gasta,
era de uma mulher jovem que aparentava ter nada mais do que seus vinte e
cinco anos. Ela estava sorrindo e seus olhos cinza pareciam tão iguais do...
Balanço a cabeça e observo mais a foto, seus cabelos eram negros e longos,
estavam soltos sob seus ombros pequenos. Atrás vejo seu nome: Vanessa.
— Decidi vir um pouco mais cedo para casa — sorrio para ele. —
Estava correndo?
— Você também — passo meus dedos pela sua barba rala. — Como
eles morreram?
— Você não sabe? — Levanta as sobrancelhas.
— Só por alto que eles morreram em um confronto com a máfia
Irlandesa.
— Meus pais não foram um dos melhores exemplos Ayla — seu olhar
é distante. — Meu pai nunca estava em casa e quando estava não dava
atenção para mim e Milena, ficava trancado no escritório, comandado a Cosa
Nostra que era mais importante que seus filhos. Minha mãe não era a mais
presente em nossas vidas, se importava mais em cuidar da sua aparência do
que dos seus filhos, então não posso dizer que senti muito pela morte deles,
para mim foi somente mais uma pessoa morta.
— Sei como é isso — viro o rosto e olho para as fotos. — Meu pai
também não foi um dos melhores pais e minha mãe, posso dizer que ela é
viciada em remédios, com isso meus pais não ligaram muito para sua única
filha, cada um tinha suas vidas e eu era somente uma dentro de uma casa.
— Mas você é alguém aqui dentro dessa casa — segurou meu rosto
entre suas mãos grandes.
Passo minhas mãos pelo seu pescoço e as deixo em sua nuca, deixo-o
reivindicar minha boca, deixando que ele me domine e mostre qualquer
vestígio de sentimento que sente por mim nesse momento. Enzo me segura
firmemente contra seu corpo e logo percebo ser suspensa no ar.
— Ayla... — Ele inspira com força enquanto movimenta sua mão por
cima do calção. — Estou tão duro.
— Posso ajudar com isso — dou dois passos na sua direção.
Já tinha feito algumas vezes sexo oral nele e cada vez me sentia mais
confiante, porque toda vez que o sentia se derramar em minha boca via que
era capaz de dar prazer para ele.
— Quer ou não quer ajuda com seu problema? — Minha atenção vai
para o meio das suas pernas onde seu membro estava bem evidente dentro do
tecido que lhe cobria.
Cada vez que seu membro entra mais em minha boca Enzo solta um
resmungo baixo, seus olhos estavam fechados e seu rosto se contorcia em
uma careta que me fazia prosseguir o que estava fazendo. O que não consigo
colocar na boca movimento com minha mão e Enzo parece gostar disso.
— Sua boca é somente minha, seu corpo, seus gemidos, seus gritos,
tudo meu — murmura beijando meu pescoço e descendo até meus seios que
estavam intumescidos. — Seus seios são meus.
— Enzo...
Sua boca cobre um dos meus seios e sua língua gira contra o meu
mamilo o deixando dolorido, fazendo meu corpo se contorcer contra o seu
querendo mais dele.
— Seu corpo pede pelo meu — disse enquanto sugava meu outro seio
dando a mesma atenção.
— Quero você.
Sinto-o sorrir contra minha pele e uma das suas mãos desliza pela
minha barriga e gemo ao sentir seus dedos na minha vagina que já estava
molhada e sedenta por ele.
— Você está completamente encharcada — diz beijando o vão dos
meus seios. — Você me quer dentro de você?
— E você terá.
Enzo logo retira seus dedos dentro de mim e no segundo seguinte seu
membro me penetra.
— Oh meus Deus, Enzo — jogo minha cabeça para trás e seguro seu
corpo no máximo que consigo.
Enzo inicia uma sequência de estocadas, cada uma me levando ao
delírio e deixando-me no precipício do prazer. Ele sabia muito bem o que
fazia. Sua respiração está acelerada se igualando a minha e ele segura meu
corpo fortemente, me preenchendo cada vez mais forte com suas estocadas.
— Somente sua — meu corpo treme e o sinto abaixar seu corpo sobre
o meu colando sua pele na minha. — Sua.
Em nenhuma das nossas transas Enzo tinha exigido que eu falasse que
era dele, seu pedido de hoje me deixou embasbacada e sem reação. Mas as
minhas palavras ditas foram verdadeiras, eu era dele, mas será que ele é meu?
AYLA
Mas tudo que ele fazia me fazia querê-lo, menos quando era grosso
comigo, nesses momentos desejo ficar longe dele e fingir que não vivíamos
juntos. Quando ele está irritado é melhor sempre manter distância senão
acaba se machucando, não fisicamente, Enzo nunca levantou a mão para me
bater, mas em palavras às vezes ele tem o poder de machucar e ferir os meus
sentimentos, como ele já fez diversas ocasiões nos primeiros dias de casado.
Não sei se ele fazia de propósito ou se não percebia, mas cada palavra que
dizia me machucava, mas agora consigo fingir que não ligo e não me importo
com o que ele diz.
Olho para o teto e solto uma respiração dura ao ver que não
conseguiria dormir naquele momento. Tiro o cobertor de cima do corpo e
saio vagarosamente da cama, sem fazer barulho para não acorda-lo. Visto um
robe antes de sair do quarto, pego as cartas que estavam dentro da minha
bolsa e desço até a cozinha.
“Vê-la no altar com Sartori foi quase meu sepultamento, o ver beijá-
la e tocar no seu corpo foi insuportável, mas não poderia fazer nada, sou
somente filho do consigliere e você hoje se casou com o Capo da Cosa
Nostra.”
“Você se casou e parece feliz com sua esposa e isso me corrói por
dentro, sua felicidade deveria ser ao meu lado e não de outra mulher, vê-lo
beijar outra me mata por dentro, sinto-me triste por ver que você não se
importa mais comigo, aparentemente seu amor já não é mais como antes.”
“Nunca duvide do meu amor por você, o que tenho por você é a única
coisa pura que existe em minha vida de merda. Viver ao lado de Ângela é
como definhar sem você, mas foi necessário casar com a De Luca, precisava
subir dentro da famiglia, assim poderei tê-la de volta, assim poderemos viver
como desejamos meu amor.
Jamais duvide do meu amor Vanessa.”
“Estou grávida e o filho não é seu e sim de Sartori, tem uma criança
dentro de mim, uma criança do sangue do homem que odeio. Sinto-me
horrível por ter que suportar essa criatura dentro de mim, desejava poder
tirá-la e viver nossa vida, mas Sartori sabe sobre a gravidez e está feliz, pois
é um menino e isso é bom para os status dele dentro da famiglia.”
Paro de ler por alguns segundos e tento encontrar fôlego, como uma
mulher poderia demonstrar tanto desprezo por um filho? Cada vez vejo como
essa mulher é horrível e vejo também como meu pai e Vanessa pareciam tão
obcecados um pelo outro.
Espalho as cartas pela ilha e vejo todas as datas descritas no papel a
última tinha sido 9 de maio de 2002, meses antes da morte de Diogo e
Vanessa. Minhas mãos tremem quando abro o papel.
Não há mais cartas, não têm resposta do meu pai. Releio o último
trecho escrito e sinto o nó crescendo em minha garganta. Reprimo a vontade
de chorar, eles não deveriam ter feito isso. Vanessa não deveria ter traído seu
próprio marido e meu pai não deveria ter traído minha mãe.
Eles dois eram uns porcos, podres e vejo nesse momento que eles
mereceram o fim que tiveram. Nenhum deles merecia viver. Junto ás cartas e
as levo para o quarto. Ao entrar encontro Enzo ainda dormindo na mesma
posição e entro no closet, abro a gaveta de calcinha e guardo as cartas no
fundo da gaveta.
Minha mãe não merecia aquilo, não merecia tal traição. Ela viveu um
inferno durante anos se dopando de remédios e aguentando as agressões do
meu pai que amava secretamente outra mulher.
Olhando para Enzo na porta do closet me pergunto se ele amava outra
mulher e vivia comigo somente por causa da obrigação que tinha com a
famiglia. A vontade de vomitar volta e dessa vez não consigo controlar, corro
até o banheiro e coloco para fora todo meu jantar no vaso sanitário. Fecho
meus olhos e sinto minha garganta arder cada vez mais.
Não sei quanto tempo fiquei ali sentada no chão frio, esperando que
todo mal estar passasse e conseguisse ir para cama para poder descansar e
pensar no que faria dali por diante.
Sinto meu corpo tremer ao sentir mãos quentes e grandes nas minhas
costas, acariciando de cima para baixo.
— O que aconteceu? — Seu tom é baixo e posso jurar escutar uma
nota de preocupação.
— Ayla...
— Sim!?
Sinto seu peito expandir e ele fica calado por alguns segundos que
mais parecem uma eternidade devido o meu nervosismo.
Capítulo 27
ENZO
Sentimentos.
O que isso significa para um homem como eu?
Fraqueza?
Luxo?
Amor?
Essas são perguntas que até mesmo eu não sei responder. Sentir é algo
que está fora dos meus padrões de sobrevivência nesse mundo onde fui
criado. Não fui criado para sentir afeto por aqueles ao meu redor, a mulher
que me criou, que aprendi a chamar de mãe, não foi um dos melhores
exemplos de afeto materno ou que mostrou como poderia ser um carinho de
mãe ou até mesmo amor.
Vanessa Sartori foi uma mulher fria, que evitava contato com seus
próprios filhos, como se eles tivessem uma doença contagiosa e tivesse medo
de contrair essa doença.
Talvez essa falta de carinho por parte da minha mãe tenha contribuído
para o que me tornei hoje, um homem perigoso, temido por muitos e
respeitado por outros. Desde muito novo sabia o que me esperava quando
atingisse a idade adulta, uma cadeira entre as cinco dentro da comissão, o
Chefe dos chefes dentro da famiglia e a responsabilidade de comandar a
maior organização contrabandista de Nova York.
Falando assim até parece ser fácil e legal de se fazer, mas não é, por
trás de todo luxo e regalia que o dinheiro nos traz tem a responsabilidade e
dever para com aqueles que acreditam no meu potencial e esperam que eu
honre o meu juramento.
Cada vez está ficando mais difícil comandar a Cosa Nostra e para isso
é importante ter aqueles em que confio ao meu lado, mesmo que eu desconfie
até mesmo da minha própria sombra, mas era necessário dar um voto de
confiança àqueles que também fizeram o voto de honra e prometeram dar sua
vida pela máfia.
— Domênico?
— Está ocupado nesse momento em sua sala.
— Mas sei onde lhe encontrar — ele lança uma piscadela para ela. —
Foi um prazer.
Ela pega sua bolsa e sai rapidamente da sala, nos deixando finalmente
a sós.
— Sim chefe.
(...)
AYLA
Há alguns dias tinha decidido que era melhor colocar minha mãe um
lugar mais adequado para o seu estado e uma clínica de reabilitação pareceu a
melhor escolha no momento. Ultimamente não estava tendo muito tempo
para cuidar dela e dar a atenção que ela precisava e na clínica tem pessoas
que lhe observa 24 horas por dia e seria mais fácil de ajudá-la se algo
acontecesse.
— Está reagindo bem aos novos medicamentos — ela disse olhando
para minha mãe que estava sentada em uma cadeira de balanço no meio do
grande jardim.
Com a outra mão mamãe toca meu rosto levemente e vai até meus
cabelos que estava soltos.
— Você cresceu tanto Ayla — me olha melancólica. — Virou uma
mulher linda e gentil.
— Quem é Vanessa?
— Por quê?
— Não iria deixar Antonny viver o amor dele enquanto nós duas
viveríamos na miséria e seríamos motivo de chacota dentro da máfia.
— A senhora matou eles — digo em um sussurro.
Afasto-me dela e tento procurar uma luz dentro daquela loucura toda
que estava sendo esse momento. Se ela tinha sido capaz de mandar matar os
Sartori, o que ela...
— Vá para casa.
— Mas é.
— Do quê?
— Ele não irá amá-la e sim fazê-la definhar nesse casamento, fazê-la
ficar dependente dele e depois humilhá-la — cospe as palavras. — Todos os
homens dessa maldita máfia são assim!
— Se você foi dependente do meu pai não posso fazer nada, mas isso
não irá acontecer comigo.
— Já está acontecendo.
— Cala a boca — vocifero sentindo a raiva pulsar em minhas veias.
— Não sou como você e não serei.
— E não desejo que seja, porque se não a loucura irá lhe consumir.
Viro de costas para ela e expulso da minha cabeça o que ela tinha
acabado de falar. Ela não estava bem mentalmente, então deveria relevar o
que ela tinha dito.
Loucura.
Será que tudo isso que está passando em minha vida irá me levar à
loucura. Não, isso não iria acontecer.
(...)
Capítulo 28
AYLA
Sinto uma mão fria tocar meu rosto e logo descer para o pescoço.
Gemo ao virar de lado e meu corpo reclama todo dolorido.
— Ayla — ouço sua voz ao longe, mas o sono não me deixa abrir os
olhos e encontrar seus lindos olhos. — Está me ouvindo?
Solto mais um gemido e tento encontrar uma posição que conseguisse
relaxar o corpo para poder voltar a dormir.
— Ela está queimando em febre — ouço outra voz, mas aquela eu não
conhecia tão bem. — É melhor chamar o médico.
Depois disso o ambiente fica silencioso e não sei o que eles estão
falando, logo em seguida sou lançada para a escuridão mais uma vez, onde
tudo era calmo e tranquilo, onde nada de mal acontecia.
Uma picada me desperta e estremeço. Meu corpo ainda dói e a
vontade de manter os olhos fechados ainda era grande, mas dessa vez sentia
que conseguia abri-los.
— Obrigada.
Fico olhando para o homem por alguns instantes. Poderia fazer uma
lista bem extensa sobre o que estava me perturbando, mas controlo a vontade
de dizer aquilo e balanço a cabeça negando.
— Febre emocional é mais comum do que imaginamos — ele
continua. — Mas não é só isso que descobri.
— Senhora Sartori?
— De atraso?
— Sim — se meu corpo não tivesse tão dolorido eu levantaria da
cama e sairia correndo para fora daqui. — Aonde o senhor quer chegar com
isso?
— Sim.
— Não.
— Vamos tirar esse soro — ele se sentou ao meu lado e segurou meu
braço. Lentamente ele tirou a agulha da minha pele e pressionou um pouco o
local onde a agulha estava antes. — Irei ajudá-la ir ao banheiro.
Enzo me pega no colo e nos leva para o banheiro, me sentou no vaso
e estendeu a sacola, ali dentro encontro três testes.
— Enzo — olho exasperada para ele. — Não vou conseguir com você
aqui.
Positivo.
Não tem como dizer que tinha alguma falha nos testes, porque todos
os seis deram o mesmo resultado. Eu estou completamente grávida e a ideia
começou a me deixar desesperada.
Mãe? Eu?
— Preciso sair — repito para mim enquanto visto uma calça e uma
camiseta.
— Ayla — ele me chama, mas não dou atenção calço a primeira
sandália que vejo a minha frente. — PARA!
— Você não está bem — seu tom era baixo, mas ameaçador. — Vai
descansar.
AYLA
— Sim era, mas talvez não fosse agora — me sento e entrelaço meus
dedos. — Estamos casados apenas um mês e agora teremos um filho.
Deveríamos ter nos prevenido e futuramente poderíamos ter pensado em ter
filhos.
— Mas ele está aqui entre nós — ele toca minha barriga.
Olho para sua mão e balanço a cabeça. Isso é muito para pensar e
minha cabeça estava uma confusão nos últimos dias e agora... Teria que
pensar em uma criança que crescia dentro de mim.
— Quer ajuda?
— Não é necessário — sorrio forçado.
— Ayla...
— Em dez minutos saio.
ENZO
— Irei matá-lo.
— Se controle.
— Não me teste.
Ela olha para suas unhas e logo depois para mim.
(...)
— Não entendo Sartori, se Ferrara fez isso o que irá acontecer agora?
— Lucio Marini pergunta.
— Não sabemos ao certo até que ponto ele nos delatou para a polícia
— Barone diz. — Mas temos que ficar atentos com as pessoas ao nosso
redor.
— Olha aqui Sartori estou á mais tempo nesse mundo do que você e
sei a lealdade que sirvo dentro da famiglia, não será você a duvidar dela.
— Se você tem certeza disso não terá problema se eu lhe pedir para ir
á polícia e se entregar, ou será que há?
— Me pergunto por que ele fez isso — estreitou os olhos para o nada.
— Medo — digo pegando meu copo em cima da mesa.
— Do quê?
— Não é necessário.
— Stefano sabe?
— Mesmo no meio dessa merda toda algo está dando certo não é?
— Algum serviço?
— Sim.
(...)
AYLA
Enzo estava calado durante o jantar, parecia pensativo. Viro na
direção da cadeira vazia a minha frente, Milena não estava entre nós nesta
noite e aparentemente vai ficar fora alguns dias, segundo Enzo tinha dito.
Não perguntei o motivo, pois vi que ele não estava interessado a dar
continuidade naquele assunto e não seria eu a insistir. Movimento meu talher
sobre o prato e pego um pouco do macarrão. Mastigo vagarosamente, fecho
os olhos e saboreio sentindo meu paladar se aguçar com tamanha maravilha.
Desde a manhã não tinha conseguido comer bem, não estava mantendo nada
no meu estômago e o jantar era a primeira refeição que estava conseguindo
fazer direito.
— Ótima.
— Ainda está se sentindo fraca?
— Senhora...
Meio incerta ela aceitou, foi para os fundos da casa onde ficava o seu
quarto e de alguns soldados. Termino de tirar as coisas da mesa, coloco os
pratos na lava louças. Arrumo a pia e olho ao meu redor. Aquilo ajudava a
ocupar minha cabeça.
Vou até a geladeira e lá encontro uma travessa com mousse de
chocolate. Mesmo me sentindo cheia sinto vontade de comer aquela delicia a
minha frente. Pego um pedaço e me sento em uma banqueta da ilha.
— Só não exagere.
— Pode deixar — ele caminha até a geladeira e pega uma garrafa
d’água. — Conseguiu resolver o que tinha que resolver?
— Não, só vim pegar água.
— Sério?
Reviro os olhos com seu tom rude, algumas coisas não mudavam,
mesmo que Enzo continuasse a ser o mesmo homem de sempre. Deixo a
banqueta me aproximando dele, fico nas pontas dos pés e aproximo nossas
bocas. Enzo segura minha nuca e me beija profundamente, solto um suspiro e
seguro seus ombros.
Seguro seus cabelos e o puxo para ainda mais perto, sua boca volta
para a minha e o movimento dela me leva ao delírio. Seus braços me rodeiam
e sem perder tempo me vejo sentada na ilha da cozinha com Enzo no meio
das minhas pernas. Suas mãos passaram pelas minhas coxas, subindo a saia
do meu vestido.
— Você precisa descansar um pouco — disse enquanto beija meu
pescoço. — Ainda não está cem por cento.
— Ayla o be...
—Shhhhh — seguro seu rosto e ponho um dedo sobre seus lábios. —
Preciso de você.
Enzo continua parado enquanto olha minhas mãos movimentando
rapidamente sobre seu cinto e botões da calça. Desço a peça da sua roupa
junto com a cueca boxer cinza e mordo meu lábio quando vejo seu membro
pulsante.
Seu olhar encontra o meu e os cinza estavam tão escuros como uma
tempestade no meio de uma maré revolta. Agilmente Enzo tira minha
calcinha e em um único movimento me penetra. Solto um grito e contorço
meu corpo sobre o mármore que não estava tão frio como antes.
— Não precisa mais se controlar — comandou com a boca sobre a
minha.
Ofego e seguro seu rosto enquanto seus quadris batem nos meus,
fazendo meu corpo subir a cada estocada sua que me leva às nuvens. O aperto
contra mim cada vez que o sinto entrando na boceta, fazendo um estrago não
só no meu corpo, mas sim no meu coração, na minha alma.
(...)
Escondo minhas mãos trêmulas dentro do casaco de moletom e tento
transparecer calma, enquanto que por dentro estou morrendo de medo. De
relance vejo Enzo sentado lendo uma revista.
Nos últimos dias ele estava mais presente e parecia querer se certificar
que nada de mal iria acontecer comigo. Isso poderia ser uma demonstração de
afeto, mas não iria me iludir tanto assim.
— Sou eu.
— Sim.
— Certo — ela olha para uma folha. — Preciso saber qual foi seu
último período menstrual e a partir daí podemos contar de quantas semanas a
senhora pode estar.
— Esse aqui é seu bebê — ela aponta para um pequeno ponto para a
imensidão preta. Era um pequeno ponto quase imperceptível. — Podemos
dizer que a senhora está com quatro semanas e cinco dias.
Aquele pequeno ponto na tela tinha sido concebido na mesma noite
do meu casamento. Mordo meu lábio e prendo a vontade de chorar, só nesse
momento percebi que realmente seria mãe, e que um pequeno ser precisava
de mim. Enzo que está calado ao meu lado olhando para a imagem na tela
parecia submerso em seus próprios pensamentos. Seguro sua mão e ele
abaixa a cabeça para mim, dou um sorriso emocionado e vejo um pequeno
brilho na imensidão cinza dos seus olhos.
Capítulo 30
AYLA
— Menina ou menino.
— Sim é.
Sua boca encosta na minha, logo sou puxada para cima do seu corpo e
o tão conhecido frio na barriga aparece e a frustração de outrora é esquecida.
— Bom dia — falou sobre sua xícara. — Como está nessa manhã?
Todos os dias eram assim, nos cumprimentávamos e ela perguntava
como eu estava. Será que isso era o começo de uma trégua? Dou um sorriso
com esse pensamento e respondo para ela que estou bem.
— Podemos sair, será bom — me olha séria, mas vejo em seus olhos
azuis uma pequena pontada de ansiedade.
(...)
ENZO
O cheiro era forte e quase insuportável, se não tivesse acostumado
com tudo isso, se fosse um iniciante com certeza colocaria as tripas para fora.
O cheiro de carne queimada, gritos pedindo por socorro e clemência eram os
sons nos meus ouvidos.
Vejo o homem acorrentado a minha frente, com a camisa aberta e
braços suspensos no ar. Aquela era uma bela visão para o meu dia. Arrasto a
cadeira pelo chão imundo e paro a sua frente. Seus olhos azuis desfocados me
fitam com dúvida e medo.
— Essa vida de ladrão que lhe trouxe toda riqueza que você tem —
seguro suas bochechas. — Essa vida de ladrão que lhe fez conhecido em todo
mundo, que fez mulheres correrem atrás de você, lhe desejando seu merda, e
o que você nos dá em troca?
— Era necessário — falou com a voz quebrada. — Precisava fazer
isso.
— A polícia saberá que foi você que me matou — ele olha assustado
para a marreta, em minhas mãos.
— Que eles provem que lhe matei...
— Sartori...
— Livre-se do corpo.
(...)
AYLA
Milena conseguiu me arrastar pelas ruas de Nova York, conheci um
lado dela que jurava não existir. Ela parecia mais leve e até mesmo divertida,
mesmo que em alguns momentos do nosso dia ela se fechava e ficava calada,
algo que Milena parecia em muito com o irmão.
— Esse aqui combina com você — ela vira me mostrando um vestido
cinza sem mangas de gola alta. — Irá marcar bastante sua barriga.
— É bonito.
— Ayla?
Olho para o lado e encontro Perla parada á alguns metros, ela estava
bonita como sempre, com seus cabelos loiros claros amarrados em um rabo
de cavalo, uma calça pantalona vermelha, com um body branco.
— Desde que vocês voltaram da lua de mel, não — fez uma careta. —
Talvez ele tenha cansado de mim, mas acho que isso foi certo, encontrei
alguém melhor e que quer estar ao meu lado.
Aquilo me deixa sem saber o que dizer. A última vez que tinha visto-a
quase expulsei de dentro da minha casa e depois daquilo nunca mais tinha a
visto.
— Estou feliz por você — falo sincera.
Ela se virou sem esperar uma resposta minha e seguiu seu caminho
para fora da loja. Alguns minutos depois Milena voltou com várias caixas de
sapatos dizendo que ali tinha para nós duas.
— Não, pelo contrário, ela disse que tinha encontrado alguém, parece
ter esquecido Enzo.
— Finalmente ela conseguiu — suspirou. — Desde a morte do seu pai
percebi que não estava sendo nada legal com você, então decidi me afastar de
Perla, não é certo levar outra mulher para dentro de casa, onde a mulher do
meu irmão mora.
— Sabe que não precisa fazer isso — ela disse com o rosto vermelho.
— Sabe... eu... vamos esquecer isso.
— Tudo bem.
AYLA
— Eu posso explicar...
— Como explicar? — Pergunta com o tom calmo, mas sabia que ele
poderia estar qualquer coisa, mas calmo ele não estava.
— Enzo...
— Eu sinto muito.
— Sim está — o olhar que ele me deu fez meu coração perder uma
batida. — E se não estivesse faria questão de matá-la nesse exato momento.
Levanto a mão para tocar o seu rosto, mas Enzo segura meu pulso,
fazendo-me tremer pela dor da sua mão na minha pele.
— Eu iria contar.
— Quando? — Seus olhos eram gélidos. — Quando eu estivesse
fodendo você?
— Por favor.
— Diga!
— Nada.
— Minha mãe.
— O que tem ela?
— Ela mandou matar meu pai que não tinha nada haver com a
podridão do seu pai com a minha mãe — segurou minhas bochechas. — Sua
mãe sentenciou a morte deles.
— A minha — forço minha voz a sair firme, mesmo que o meu corpo
esteja tremendo completamente. — Meu pai largaria a mim e minha mãe para
fugir com a sua mãe.
— Minha mãe achou que sim — revido tentando sair dos seus braços.
— Se sua mãe não lhe amava, a minha mãe sim, porque ela se preocupava
com o meu futuro!
— Ela é a minha mãe — paro no meio das escadas tentando não ligar
para suas palavras de segundos atrás.
— Ele era o meu pai — vejo-o ajeitar sua roupa. — Não me peça
piedade quando sua mãe não teve pela minha família.
— Enzo...
— Minha mãe.
— Ei — ela passa o braço pelo meu ombro. — Vai ficar tudo bem.
— Tenha fé.
Fé.
Isso era algo que não bastaria agora. A fúria de Enzo era implacável e
ter fé não salvaria minha mãe. Levanto e tento descer o restante dos degraus.
— Aonde você vai? — Milena perguntou atrás de mim.
— Você não está com condições de sair por aí para procurá-lo — ela
me segura.
O bebê. Olho para baixo e toco minha barriga, nessa discussão toda
não pensei em meu bebê. Fecho os olhos e respiro fundo.
(...)
Franzo a testa e olho para o escuro do quarto. Não sei bem como
consegui dormir no meio dessa confusão inteira. Milena me fez tomar um chá
e logo depois vir para o quarto e deitar.
Dou alguns passos para trás, mas tropeço batendo na parede atrás de
mim, o barulho chama atenção dele. Enzo me olha, mas não encontro nada
em seus olhos. Não tinha surpresa ou arrependimento neles. Enzo estava
fazendo isso para me punir.
Viro meu rosto para outra direção, olhando para o copo espatifado no
chão. Com seus cacos de vidros espalhados, meu coração poderia se
identificar completamente com aquele objeto, destruído.
— E o que seria?
— Eu te odeio.
— É nela que estou pensando — passo do seu lado. — Não irei ficar
com um homem que me trai na primeira oportunidade.
— Não exagere.
Enzo me olha surpreso e acabo percebendo o que tinha dito. Isso era
uma grande merda.
— Repete o que disse.
Fecho os olhos com força e começo a rezar para que nada acontecesse
com o meu bebê que tudo estivesse bem.
Capítulo 32
AYLA
O silêncio era torturante. Meu corpo parecia geleia em cima da cama,
isso não me preocupava, mas sim o bebê. Fazia exatamente trinta minutos
que estava dentro desse quarto sem nenhuma resposta. Enzo estava
impaciente, prestes a abrir um buraco embaixo dos seus pés de tanto andar de
um lado para o outro.
A porta do quarto abre, revelando à doutora Noah que está com o
semblante sério.
— Quer dizer que no próximo sangramento você não poderá ter tanta
sorte e isso pode significar a perda do seu filho — ela explica pacientemente.
— Não fale comigo — olho para ele. — Por um segundo pensei que
poderia ter perdido meu filho. Nada que aconteceu hoje mais cedo importa
para mim agora e sim a saúde do meu filho, não me importo com você e as
suas merdas. Só peço que me evite.
— Fica longe.
— Vem.
Viro de costas na cama e olho para o teto do quarto que não era o
meu, mas que a partir de hoje seria. Não vou ficar no mesmo quarto que
Enzo, não conseguirei olhá-lo e lembrar o que fez comigo. Sento-me na cama
sentindo meu corpo inteiro reclamar, mas esse incômodo é bem vindo,
abafando a dor que sinto dentro de mim.
Sabendo que ainda não tinha nada meu nesse quarto sigo para o que
dividia com Enzo. Ao entrar encontro tudo silencioso. Talvez ele já tenha
saído. Entro no banheiro e fico um tempo na frente do espelho. Imaginar que
minha vida estava sendo perfeita, que finalmente poderia dizer que estava
sendo feliz, foi somente um sonho passageiro que agora vivo a minha
realidade.
— Não é necessário fazer isso — o tom de voz que veio logo atrás de
mim era indiscutível.
Olho na sua direção e ele me encarava seriamente. Deixo a xícara em
cima do balcão e viro para Tália.
— Mas não era necessário trazer outra mulher para dentro de casa —
mordo meu lábio para conter a queimação em minha garganta. — Isso me
machucou profundamente, sei que você disse que não seria fiel a mim, mas...
É insuportável ver meu marido beijando outra mulher na minha frente.
— Só estive com você esse tempo todo — confessa subindo um
degrau ficando na mesma altura que eu. — Ontem foi um erro...
Enzo não disse nada, continuou parado como se não tivesse nada a
dizer ou talvez ele simplesmente não conseguisse.
— Você não é completamente feito de pedra — continuo. — Há algo
de humano dentro de você. Se eu não estiver enganada, esse seu lado sabe
que sinto muito mesmo por ter mentido para você, ter traído a confiança que
você tinha me dado, mas... Eu também estou machucada e talvez demore um
tempo para curar os ferimentos.
(...)
As horas se transformaram em dias, os dias em semanas e tudo seguia
seu curso. Na maior parte do meu tempo estava ocupada com as preparações
do quarto do bebê, onde Laura e Milena, surpreendentemente estão se dando
bem, talvez, uma pequena parte delas, estejam fazendo isso por mim.
As duas não sabem a real causa de Enzo e eu não estarmos nos
falando, elas pensam que é alguma besteira, algo momentâneo. Talvez no
fundo eu esteja exagerando fazendo isso, mas ainda me sinto magoada pela
forma que ele agiu ao descobrir sobre as cartas, sei que traí sua confiança
quando não contei sobre a existência delas, mas me trair com uma mulher foi
algo que eu preferia não ter visto.
— Ótimo.
Apoio-me na porta do carro para entrar quando ouço uma voz vinda
atrás de nós.
— Sra. Sartori?
— Sim?
— Prazer sou detetive Dupin — estendeu a mão na minha direção.
Franzo a testa e olho para Aronne que não parecia nada contente com
a presença do detetive.
— Posso saber do quê?
— Na delegacia falamos sobre isso — sorriu olhando para Aronne e
voltando a me olhar. — Pode me acompanhar.
AYLA
Durante esses dois meses aconteceram tantas coisas que não consigo
pensar no que Enzo pode ter feito e porque estou aqui.
— Qual o dia exatamente detetive?
— 23 de setembro.
Nessa data ainda não estávamos brigados e não lembro muito bem o
que fazia nesse dia. Algo no meu inconsciente me dizia para ficar calada.
— Sei muito bem que o seu marido tem envolvimento nas podridões
do submundo de Nova York.
— A senhora sabe que pode ser presa caso esteja acobertando seu
marido não sabe? — Estreita os olhos. — Que a senhora pode ter seu filho na
prisão e o pobre bebê ir parar em algum orfanato.
Sinto meu queixo tremer e minhas emoções florescerem. Meu filho...
Levanto-me rapidamente da cadeira e isso chama sua atenção.
— Submundo.
Seus olhos cinza escureceram por alguns instantes, olhou para trás de
mim e seu peito começou a subir e descer rapidamente. Toco seu peito e
chamo sua atenção.
— Ele te ameaçou?
— Ele falou que se não confessasse que você tinha matado um, tal de
Ferrara poderia ser presa e perder o nosso filho para um orfanato.
ENZO
— Eu tomo detetive — passo meu dedo pela sua mesa. — Acha que
não sei que você e os ratos que trabalham com você não estão me vigiando?
Tentando encontrar algo que não existe.
(...)
AYLA
— Está tarde para você estar acordada — caminha até o bar particular
e se serve de um drink.
— Não consigo descansar sabendo que você estava em perigo — me
encosto na poltrona e o vejo beber vagarosamente sua bebida.
— Mas hoje — olho para baixo e respiro fundo. — Tive medo por...
Não faça aquilo, por favor.
Enzo deixa seu copo de lado, dá dois passos na minha direção e o vejo
excitado ao se aproximar mais. Ele estava assim nas últimas semanas, não
sabia se comportar na minha presença, eu o entendia muito bem, também não
sabia como reagir na sua presença. E isso é estranho para nós, visto que nos
encontrávamos tão próximos e de repente tudo retrocedeu, voltamos á estaca
zero, assim como no início do nosso casamento.
— Ayla...
— Tive medo que você não voltasse — não o deixo falar e dou um
passo para frente. — E esses pensamentos são perturbadores, porque uma
vida sem você é completamente vazia e sem sentido.
Minha visão fica turva pelas lágrimas e meus lábios tremem pela
emoção. Não sou fácil de expressar meus sentimentos, mas sentia a
necessidade de dizer como ele era importante na minha vida e passar essas
semanas longe dele foi como um aperitivo de como seria viver sem ele, sem
alegria, vazia e triste, eu não quero isso para nós, eu e o bebê que cresce
dentro de mim.
— E é bom que você saiba disso — fixo minha atenção nos botões da
sua camisa por debaixo do terno. — Porque se você ousar fazer isso de novo,
peça clemência a Deus, porque eu não terei — balanço a cabeça e cruzo
nossos olhos. — E não haverá nada no mundo que me fará perdoá-lo.
Enzo afasta meu rosto por alguns centímetros e me encara por uma
eternidade até que seus lábios vieram sobre os meus e com esse contato vi
como senti falta de um simples beijo seu, de um simples toque de carinho. E,
me pergunto como consegui sobreviver sem isso nessas últimas semanas.
Tempo.
Esse era o significado, precisei de tempo para entender o que ele tinha
feito e o que eu tinha feito. Cada um de nós reage de uma forma diferente,
Enzo usou da pior atitude que poderia ter usado, mas no fundo eu sabia que
fez aquilo para me magoar e eu simplesmente me distanciei e com a distância
compreendi o que fizemos um com o outro.
— Nunca mais.
Capítulo 34
AYLA
Solto uma risada com os olhos ainda fechados. Sua mão grande,
áspera e quente toca minha barriga nua. Aquela era a melhor forma de ser
acordada. Desde que voltei para o nosso quarto a duas semanas Enzo me
acordava com beijos pelo corpo ou carícias na minha barriga, fazendo o
nosso bebê chutar, o que às vezes resultava numa costela dolorida.
Seus dedos longos caminham até os meus seios e suspiro quando ele
brinca com o mamilo intumescido. Lentamente abro meus olhos e encontro
seu lindo rosto iluminado como de uma criança travessa. Ainda não tínhamos
voltado a fazer sexo, o que estava sendo uma tortura, já que sempre que
estávamos no quarto ou em qualquer canto da casa nos provocávamos o
máximo possível. Enzo estava mais sorridente nos últimos dias, mas claro
que quando estava somente nós dois em algum cômodo, quando tinha a
presença de qualquer outra pessoa ele vestia aquela máscara impenetrável,
intocável e superior.
— Que horas são? — Viro o rosto para o lado tentando enxergar o
relógio.
— Com certeza.
Seus lábios buscam os meus, dessa vez vem com fome e posse.
Seguro seus ombros tentando me sustentar em minhas pernas bambas. Enzo
causava essa reação em mim, conseguia me desestabilizar com um simples
beijo. Com cuidado Enzo me recosta nos azulejos frios, fazendo meu corpo
tremer pelo contato.
— Te desejo tanto — solto com a voz rouca de desejo.
— Tem certeza?
(...)
— Sinto muito senhora, mas achamos que sua mãe não irá sobreviver
mais um dia.
— Torça para ela não morrer — vocifero, não querendo acreditar que
minha mãe não poderia sobreviver. — Ou pode ter certeza que fecharei esse
lugar.
Com isso entro no quarto, encontro minha mãe deitada na cama. Ela
parecia tão frágil e sem vida. Aproximo-me e sento na cadeira ao lado da sua
cama.
Ela volta a me olhar, aperta com toda força que ainda lhe restava
minha mão.
— Não minta para mim Ayla — resmunga. — Sei que não estou
melhorando e o Alzheimer está avançando.
— Mas a senhora está consciente hoje.
— Mãe...
— Sinto muito por ter sido uma mãe desleixada, por não ter lhe dado
à atenção que você precisava. Sinto muito por ter escondido de você sobre
seu pai e Vanessa, por ter te tratado daquela forma da última vez que nos
vimos. Sinto tanto querida. Eu deveria ter sido alguém melhor para você.
— Mamãe.
— Mãe.
(...)
— Ayla — Enzo se deita atrás de mim e traz meu corpo para perto do
seu. — Você está bem?
— Sei que ela não foi uma das melhores pessoas nos últimos tempos,
que revelou coisas que jamais imaginei que seria capaz, mas ela é minha mãe
e teve uma pequena influência no que sou hoje. E saber que não verei mais
ela...
Enzo me abraça com mais força e beija o alto da minha cabeça.
AYLA
O sentimento de vazio pela falta era grande, mas no decorrer dos dias
a dor da perda foi amenizando, dando lugar à saudade e depois leveza ao
saber que minha mãe poderia estar em um lugar melhor, onde não estivesse
sofrendo tanto e que estivesse descansando, sendo feliz. Com esses
pensamentos eu conseguia colocar um sorriso no rosto e seguir minha vida,
pois sabia que ela não gostaria de me ver sofrendo e tentando compreender
porque tinha morrido.
Abraço meu corpo e giro, olhando para tudo e sorrindo feliz. Contava
as horas para ter meu bebê em meus braços e amá-lo como nunca. Saio dos
meus pensamentos com uma leve batida na porta. Encontro Enzo, parado na
porta me olhando, mas logo sua atenção vai para o quarto completamente
decorado.
— Uau! — Exclama ao entrar, olhando para tudo. — Você que fez?
Enzo fica na minha frente, olha para o urso e toca minha mão com
carinho. Seu toque era tão bom, leve e sutil, que me aquece de dentro para
fora, me faz suspirar e sorrir com amor.
Sua mão livre toca meu rosto e aproxima o seu, sinto seu hálito
mentolado tocar meu rosto e fecho os olhos.
— Você tem o dom de aplacar qualquer coração Ayla — contou com
o tom baixo, beijando a ponta do meu nariz.
Até o seu?
— Houve uma explosão em um dos cassinos, tenho que ver quais são
os danos.
Toca minha barriga e solta uma exclamação isso não era nada bom.
Nunca fui ligada em negócios da famiglia, mas sabia que os cassinos, a
maioria clandestinos, era uma das maiores rendas dentro do submundo e ter
uma explosão significava que algo de errado estava acontecendo.
— Tome cuidado OK? — Toco-o.
— Sempre tomo.
(...)
ENZO
No momento que o carro para, saio do mesmo e encontro Barone me
esperando ao lado de fora do prédio em ruínas, o que antes era uma das
maiores rendas dentro da famiglia.
— O que aconteceu realmente? — Pergunto olhando para os
destroços no meio do nada, pelo menos isso não chamaria atenção das
pessoas curiosas e dos federais.
— Não estou vendo Vitale por aqui, então o serviço é seu — espero
que ele fale alguma coisa, mas nada sai da sua boca.
(...)
Os gritos que ecoavam pelo lugar eram música para os meus ouvidos,
ouvir a dor que ele transmitia pela garganta era satisfatória. Seu corpo já
estava mole devido á tantas horas de tortura e algumas vezes ele já tinha
desmaiado, mas não permiti que ele morresse, não agora.
— Dupin você deveria ter aproveitado suas férias — puxo seus
cabelos, fazendo seu rosto ficar da mesma altura que o meu.
Olhando para o corpo sem vida a minha frente, limpo a lâmina com
meu lenço e a ponho de volta sobre a mesa cheia de utensílios de tortura. As
palavras de Dupin não deveriam pesar tanto como pesava na minha cabeça.
— O que aconteceu?
— A senhora Sartori...
— Senhor...
Algo me dizia que alguma merda tinha acontecido e era uma das
grandes. Pela primeira vez em tempos me senti apreensivo e com medo.
(...)
AYLA
Depois que Enzo saiu fui para cozinha e comecei a ajudar Tália no
preparo do almoço, mesmo que a cada dez minutos ela me dissesse que isso
era o seu trabalho. Não conseguia ficar parada tinha que ocupar minha mente
com algo. Desde que entrei nas últimas semanas da gestação Enzo tentava
evitar que eu saísse e queria que eu ficasse vinte e quatro horas deitada, algo
que não acontecia.
— Eu lhe ajudo, faço questão. — Com isso Tália sai da cozinha, nos
deixando a sós. — Porque tem que ser uma víbora com ela?
— O bebê está quase chegando e com isso ele está ainda mais protetor
— dou de ombro.
Olho para minha barriga e suspiro, tinha que aproveitar, pois como
Enzo estava a todo custo evitando que eu saísse poderia até imaginar quando
o bebê nascesse, era capaz de eu só sair quando o nosso filho fizesse dezoito
anos.
— Podemos ir, mas teremos que voltar assim que o filme acabar.
(...)
Merda.
Me abaixo como posso e pego as folhas, mas algo escrito me chama
atenção.
N° 2. Conhecimento da aliança:
Sem rumo saio da casa e sigo pela calçada. Ando o mais rápido que
consigo, antes que eu perceba um carro freou bruscamente a minha frente e
dois homens saíram de dentro. Sem chance de gritar por ajuda, minha boca
foi tampada e algo atinge minha cabeça.
Capítulo 36
AYLA
No momento que consigo abrir meus olhos, fico confusa por alguns
segundos, ao olhar ao meu redor vejo que me encontro num lugar estranho.
As paredes com pinturas descascadas e mofadas, o que me impedia de
respirar direito. Não tem muitos móveis, se resumia em uma mesa distante de
onde estou e uma cadeira a qual estou presa.
Tento mexer meus braços, mas estão presos a minhas costas, portanto
o movimento é em vão.
— Parece que seu marido não falou sobre mim — examina meu rosto.
Tento desviar nossos olhares, mas ele continua segurando meu rosto e
encaro seus olhos escuros.
Engulo em seco e mais uma vez tento me soltar, isso o faz sorrir
ainda mais ao ver o desespero tomando conta de mim.
— Sinto muito em lhe dizer, mas meu marido não se importa comigo
— balanço a cabeça. — Se eu aparecer morta na frente dele não significará
nada a ele, serei somente mais alguém que morreu.
— Por favor, não faz nada com meu bebê — sussurro. — Pode me
matar, mas não meu bebê.
Tento empurrar a cadeira para trás no momento que Nikolai toca
minha barriga, o que me fez querer vomitar ao sentir repulsa.
Forço minha respiração a ficar calma, para minha mente não entrar
em pânico.
— Sinto muito.
Com isso ele levantou, caminhou até a mesa, o vi pegando uma faca e
girar o cabo entre seus dedos.
— Por favor, não — me balanço na cadeira. — Não!
(...)
ENZO
Sem esperar que ele termine, disparo a arma e vejo a bala atravessar o
crânio de um dos idiotas que deixou Ayla ser levada.
Antes que ele abrisse à boca a porta do meu escritório foi aberta e
Milena entrou. Primeiro ela olhou para o carpete onde um corpo estava e
cheio de sangue. Ela faz uma careta e logo me olha, sem dar atenção para os
demais.
Milena revirou os olhos e passou por cima do cadáver até parar alguns
centímetros a minha frente.
— Agora você vai me dizer para onde Dmitriev levou minha cunhada
— ela ordena com o tom mortal.
— Eu não sei de nada — o homem a encara com indiferença. — E
também não lhe devo satisfação, minha lealdade está ao Don e não a você.
Tonny tem seus olhos inchados pelos socos que Milena desferiu e os
cantos da sua boca estavam manchados de sangue. Nunca tinha visto minha
irmã desse jeito, talvez eu não a conhecesse tão bem assim.
— Sinto muito chefe, ele ameaçou matar todos que eu amo — fala
com tom fraco.
— Enzo!
— Sinto muito.
Encaro o homem jogado nos meus pés e lhe lanço um sorriso que
tenho certeza que não chega aos meus olhos.
Capítulo 37
AYLA
Era difícil dizer qual parte do meu corpo doía menos, me manter
acordada, mas o medo de apagar e não acordar mais era maior. Mesmo
sentindo-me esgotada, forço meus olhos a se manterem abertos e encaro
meus braços que tem alguns cortes e cheios de sangue.
A dor é dilacerante, mas Nikolai disse que isso era só o começo. Sua
voz ainda rodeia minha cabeça enquanto dizia que iria me fazer desejar a
morte antes mesmo dela vir a mim. Pela primeira vez em toda minha vida eu
não temia minha morte e sim a vida do meu bebê que estava dentro de mim,
temia que ele não conhecesse a vida e conhecesse todo amor que tinha para
dar a ele.
Escuto a porta ranger e a figura de Nikolai parar alguns metros de
onde estou.
Não tenho forças nem para gritar mais e mesmo que tivesse minha
garganta seca e inchada não permitiria. Já tinha perdido a noção de quanto
tempo gritei pedindo para ele parar ou pela sua misericórdia. Mas ele não
parou, cortou cada pedaço dos meus braços e coxas, deixando minha barriga
ilesa, por pouco tempo, como ele mesmo disse.
Pisco diversas vezes e tento focar no seu rosto, mas antes que eu
feche os olhos sinto algo rasgar a pele do meu colo, e o grito rouco e de dor
emanou de minha garganta.
— Isso é bom — sorriu. — Muito bom.
Fecho os olhos com força ao sentir sua língua rastejar pelo fio de
sangue que descia do meu colo até o vão dos meus seios. Controlo a vontade
de vomitar e não consigo afastar a escuridão quando mais uma onde de dor
me atinge.
(...)
Não sei ao certo o que me fez despertar. Mas ao abrir um pouco meus
olhos, sinto algo quente escorrer pelas minhas pernas. Franzo minha testa e
tento focar no que estava acontecendo. Minhas pernas estavam molhadas e o
líquido era quente. Será que eu tinha feito xixi?
Solto uma pequena risada, mas logo ela é substituída por uma careta
de dor, não sei se foi por causa da dor dos cortes ou pela fisgada que sinto no
meu baixo ventre.
— Por favor, não — olho para cima. — Meu Deus que isso não esteja
acontecendo.
Tento me lembrar de tudo que tinha aprendido com algum livro de
gestação, onde dizia para me manter calma e tentar transmitir confiança. Mas
na situação em que me encontro não consigo ter nada disso, o desespero me
aplaca e me pergunto se meu filho viria ao mundo mesmo e se terei a chance
de olhá-lo e dizer eu te amo.
Jogo minha cabeça para frente e não consigo mais segurar o grito que
rompe meu peito. Assim consigo aliviar a tensão do meu corpo e a dor parece
diminuir.
— Não me diga que você está em trabalho de parto — me olha
divertido.
— Se afaste.
Respiro fundo e olho para Aronne que me olha sem entender, e podia
até imaginar qual seria a cara de Domênico logo atrás de mim.
— Preciso que você me diga o que está vendo.
— Vendo o quê?
(...)
ENZO
Seguro o corpo desacordado de Ayla contra meu corpo e tento
encontrar sua pulsação, que estava fraca. Não sei quanto sangue ela tinha
perdido, mas sabia que se não a tirasse logo daqui a perderia.
Levo-a para fora daquela casa, entro no carro e arranco para fora
daquele maldito lugar. Não consigo pensar direito, só conseguia ver a estrada
a minha frente e concentrava-me em levá-la para o hospital mais próximo
possível. Ultrapassei todos os sinais vermelhos e cortei todas as faixas
proibidas. Pelo retrovisor vejo o carro de Domênico me seguindo.
— Ela vai ficar bem — Domênico diz sentando ao meu lado. — Ayla
é forte.
— Sr. Sartori?
— Sou eu.
— E o bebê?
— Está bem, a criança é saudável, mesmo tendo nascido algumas
semanas antes do previsto, por isso decidimos deixá-lo alguns dias na
incubadora, mas nada que precise se preocupar.
(...)
AYLA
Bebê.
Os flashes dos acontecimentos vêm a minha cabeça, lembro-me de
Nikolai e suas torturas, o nascimento do meu filho e o desmaio. Tento me
sentar, mas Milena me impede de fazer isso.
— Milena?
Ela olhou na minha direção.
— Oi?
Fixo meu olhar no dela e nos seus olhos azuis encontro confusão.
— Enzo fez um acordo com Santiago Stefano, dando meu filho como
moeda de troca e com isso ele tem poder sobre a Calábria.
Milena segura minha mão e a aperta levemente.
— Não posso acreditar que ele fez isso — murmura em um tom
baixo. — Meu irmão não teria coragem de fazer isso.
— Ele teve — balanço a cabeça. — Esse acordo foi feito antes que eu
descobrisse a gravidez. Ele só me usou.
— Não fale assim — me adverte. — Não pense desse jeito.
— Milena nos dê licença — olho para a porta e ela está aberta mais
uma vez.
Olho para Milena que olha para o seu irmão e vi seus olhos estreitos
na direção dele. Mas ela logo solta minha mão e pega sua bolsa.
— Necessário? — Olho para ele. — Como você ousa dizer isso para
mim? Como tem coragem?
— Não exagera.
— Não estou — limpo meu rosto. — Agora saia daqui e me deixe
sozinha. E por favor, não quero vê-lo durante o tempo que eu ficar nesse
hospital, ouvir sua voz ou ver seu rosto.
Enzo fica surpreso com o que digo e o vi dar um passo para trás. Era
bom vê-lo magoado, pelo menos ele poderia sentir um pouco do que eu
estava sentindo nesse momento. Eu me sinto traída e destruída, porque o
homem em que aprendi a confiar e a amar tinha quebrado meu coração.
Capítulo 38
AYLA
A primeira vez que tinha visto as cicatrizes pelo meu corpo, as marcas
das facas, os pontos que tinha levado tanto nos braços, coxas e colo, não me
assustaram como pensei que faria. O médico tinha dito que algumas nem
deixariam marcas, muitas nos meus braços sumiram e das coxas também,
mas na do colo permaneceria a cicatriz. O corte era desforme e grande. Toco
o curativo e respiro fundo lembrando como foi à sensação de sentir a lâmina
cortando minha pele por diversas vezes sem parar.
— Você está melhor do que ontem — Laura diz parando ao meu lado.
Sorrio para minha prima e volto para a cama hospitalar, em breve iria
embora daqui e voltaria para casa. Casa, um lugar onde acreditei um dia
poder chamar assim, mas agora não conseguia pensar em voltar para lá.
— Sério?
Solto uma risada com a besteira que ela diz e meu bebê sorrir de
volta. Sentei-me na cama, me preparo para amamentar meu filho, quando ele
agarra meu peito e suga o leite vejo Domênico entrar.
— Esse carinha já é esperto, desde cedo no peito — pisca para mim.
— Acho melhor ligar para o seu marido e saber se esse daqui está
dizendo a verdade.
— Ruiva, ruiva, está me chamando de mentiroso? — Levanta as
sobrancelhas.
— Não sei — deu de ombro. — Talvez ela tenha ciúmes de nós dois.
Estranho ele fugir da conversa, mas logo esqueço quando Laura volta
na companhia do médico e o mesmo traz minha alta. Abraço o homem por
alguns instantes e ele toca na cabeleira do meu bebê que já tinha adormecido
no meu peito.
— Obrigada pelo que você fez Aronne — digo sentindo meu rosto
esquentar.
— Não fiz nada demais senhora.
— Claro que fez — digo. — Se não fosse você não teria conseguido
ter dado á luz ao Henrico.
Ela olha para o homem que estava ao seu lado e o mesmo sorri na sua
direção. Ela bufa e caminha na direção do carro dele.
(...)
— Você não deveria me perdoar, mas eu prometo que não farei mais
nada igual a isso — ele disse beijando minha testa. — Mas era necessário
Ayla.
— Não entendo.
— Se Stefano tiver uma filha mulher, ela que virá para nós e não o
nosso filho para eles.
— Eu te amo — sussurro.
Enzo arregala um pouco os olhos, mas logo abaixa a cabeça e me
beija docemente.
Capítulo 39
ENZO
— O que você quer de mim? — Sua voz era rouca e baixa. — Já não
teve o bastante?
Não conseguia imaginar Ayla sofrendo nas mãos deste filho da puta,
as ameaças que ela deve ter sofrido com ele. Só consegui parar de descontar
minha raiva no momento que o vi quase sem vida em minhas mãos e seu
peito subir e descer com dificuldade.
Afasto-me dele e olho para os nós dos meus dedos feridos e cheios de
sangue, mas não me preocupo com isso, ainda consigo sentir a adrenalina
pulsar pelo meu corpo e a vontade de acabar com ele de uma vez. Mas aquilo
seria fácil demais, rápido demais. Queria que ele sofresse cada segundo de
sua miserável vida e implorasse pela morte todos os dias, mas ele não teria.
Porque o inferno seria a sua vida e a sua morte o seu paraíso.
(...)
— E se não vier?
Ponho uma mexa do seu cabelo atrás da orelha e vejo seu rosto
vermelho e suas íris verdes brilhantes como nunca. Conseguia imaginar uma
bela menininha de cabelos loiros, olhos verdes e aparência angelical.
— No futuro podemos tentar não é?
AYLA
O vestido preto tomara que caia curto que vejo cobrir meu corpo era
algo estranho e começo a me perguntar como é que fui aceitar o convite de
Laura para ir á uma boate. Mas logo me lembro, Piero tinha viajado para
algum lugar do mundo, assim ela aproveitou para sair de casa e deleitar de
seus momentos livres. Com o seu pedido entusiasmado não consegui recusar,
queria ver minha prima feliz e se tivesse que vestir algo que mostrasse minha
bunda, assim o faria.
Passo as mãos pelo tecido justo, olho para os meus cabelos soltos e
cheio de cachos. Minha maquiagem é carregada e bem marcada, olhos
esfumados de preto e batom vermelho sangue. Parecia-me uma jovem
completamente solteira e que só queria se divertir por uma noite, e me
divertir está em primeiro lugar na minha lista dessa noite.
Deveria me sentir culpada pelo alívio por poder sair hoje de casa, mas
não me sentia. Queria poder beber algo forte e por uma noite ser apenas uma
jovem de vinte anos que não carregava nas costas uma facção criminosa.
— Desse jeito?
— Não gostou? — Dou uma voltinha para ele.
Passo meus dedos pela sua barba que tanto amo e colo ainda mais
nossos corpos.
— Mas o que importa é que sou toda sua — sugo seu lábio inferior.
— E que quando eu voltar irei fazê-lo delirar.
— Safada — ele disse desferindo um tapa na minha bunda, fazendo-
me gritar pelo susto. — Mal posso esperar para vê-la tentar me levar ao
delírio.
— Estava gripado.
— Vou fingir que acredito — pisco para ele e pego minha bolsa de
mão. — Toma conta do Henrico, se precisar de mim é só ligar que venho no
mesmo instante.
— Dança para mim linda — sua voz rouca reverbera pelo meu corpo,
deixando-me completamente excitada.
Mexo meu corpo contra o seu, suas mãos seguraram meus quadris e
logo minha bunda em imprensada contra sua virilha, onde sinto seu membro
duro.
— Isso gostosa — morde a curva do meu pescoço e me segura ainda
mais firme contra seu corpo duro.
— Tália.
Aceito sua resposta e a música volta a nos envolver. Não sei quantas
músicas dançamos, até que Laura apareceu ao nosso lado, esbaforida, e só
assim me separei do meu marido.
— Casal lindo da minha vida, eu preciso ir embora — ela disse
ajeitando os cabelos bagunçados.
— Já?
— Estou me sentindo um pouco bêbada e é melhor eu ir antes que
faça outra merda.
Era a primeira vez que aproveitava uma festa desse tipo com meu
marido e estava gostando disso. A provocação que emanava entre nós era
perfeita e via que Enzo também estava gostando. Aquela noite estava sendo
melhor do que esperava.
(...)
— Ayla — estreitou os olhos, mas logo sua atenção vai para o meu
corpo que tinha ganhado mais formas depois da gravidez.
(...)
— O que aconteceu?
Enzo olha para nosso filho e o vejo engolir em seco. Rodeio a mesa e
ele vira para mim. Com o nosso filho no colo ele me puxa para o seu e me
abraça fortemente. Fico paralisada por alguns segundos até que o abraço com
um braço.
— Milena desapareceu.
Seu corpo estava rígido como pedra, o suor era visível no seu rosto e
quando sentiu mais uma fisgada da agulha no seu corpo, soltou um suspiro. A
dor já não a incomodava mais, era suportável, até poderia dizer prazerosa.
A queimação que sentia pelo líquido entrando em suas veias era forte,
mas não emitiu nenhum som, tinha se acostumado. Sua visão estava turva e
se sentia grogue, mas conseguiu ouvir muito bem quando a voz masculina
disse.
— Quem é você?
O homem bem vestido com um terno negro bem cortado se abaixou
até ela e tocou sua pele, fazendo ela se contorcer completamente.
Eu batia cada vez mais forte no saco pancada, sentindo meus músculos
dos braços arderem pelo esforço e queimarem por eu estar a tantas horas
batendo sem parar.
Não me lembrava quando tinha começado a treinar tão intensamente
dessa mesma forma, talvez fosse porque o desejo de recuperar meu corpo
depois da gravidez. Eu tinha emagrecido tudo que ganhara durante a gestação
de Henrico, mas algo não me fazia bem quando me olhava no espelho.
Sempre fui considerada magra, mas na amamentação do bebê eu tinha ficado
um pouco acima do peso, já que comia quando e o quanto tinha vontade.
Henrico tinha quase dois anos e ainda estava grudado nos meus seios
quando decidi começar a me exercitar. Inicialmente Enzo achava que eu
duraria somente uma semana e me sentindo desafiada pelo meu marido,
mostrei que duraria mais tempo do que ele poderia imaginar. Claro que não
comecei no boxe, o qual Enzo adorava praticar. Optei pela esteira e vez ou
outra levantava algum peso, mas aos poucos comecei no boxe, onde meu
próprio marido me treinava, o que resumia estarmos levantando ás cinco da
manhã e indo para o galpão de treino.
Enzo era muito possessivo, odiava quando alguns dos seus soldados nos
observavam, ele vivia dizendo que eles estavam me comendo com os olhos.
Isso resultou em Enzo quebrando a cara de dois deles, mas isso aconteceu
dentro do ringue, onde meu “pobre” marido descontava sua fúria nos pobres
homens.
— Onde está sua cabecinha? — Enzo indaga enquanto segurava o saco
de pancada e me guiava dizendo quais movimentos fazer.
Dou um pequeno sorriso para meu marido e paro de bater no saco.
— Só estou pensando um pouco — confesso abraçando o saco, tentando
recuperar o fôlego.
— Isso é um perigo — brincou se inclinando na minha direção. — Posso
saber o que estava pensando?
— Sim — encosto nossos narizes. — Estava somente pensando o quanto
você é possessivo.
— E como você chegou a essa conclusão?
— Foi bem simples — me afasto. — É somente ver seu rosto zangado
toda vez que algum soldado ousa olhar na nossa direção.
— Tenho motivos para isso mulher — revirou os olhos. — Você inventa
de usar essas roupas minúsculas e os homens não resistem.
— Não me importo com os outros e sim com você.
Enzo me presenteou com um sorriso charmoso, o qual sempre me dava.
Devolvi seu sorriso enquanto pegava minha garrafinha d’água e dei longos
goles. E com isso eu tentava controlar minha respiração. Hoje eu tinha
acordado bem e sem nenhum mal-estar, o qual vinha sentindo há alguns dias.
Eu sabia muito bem o que isso significava e pretendia confirmar ainda
hoje.
— Vamos tomar um banho?
Acenei quanto pegava nossas coisas que estavam perto de nós. Enzo
segura minha cintura como sempre, marcando o território. O galpão estava
praticamente vazio hoje, tinha somente eu, Enzo e mais dois soldados que
estavam se aquecendo nas esteiras.
Nem era sempre que eu vinha com Enzo para cá, ele preferia que
ficássemos na academia de casa, mas vez ou outra eu o fazia me trazer para
cá. Eu gostava de sair um pouco da mansão e sentir o ar fresco do amanhecer.
Eram raras as vezes que eu e meu marido tínhamos momentos unicamente
para nós. Ele sempre estava ocupado com a famiglia e eu com nosso filho, ou
com algum chá da tarde ou participando de algumas conversar com mulheres
da famiglia.
Confesso que não gostava dessas coisas de passar o dia jogando conversa
fora com mulheres que não ligavam realmente para você, mas isso era o que
as pessoas esperavam de mim, o que as mulheres da máfia queriam ver de
mim e por isso eu me forçava a largar meu filho por algumas horas e ia de
encontro à essas mulheres.
Eu e Enzo estávamos quase entrando no banheiro quando ele parou e
olhou seu celular.
— Eu preciso atender.
— Claro — beijo a bochecha dele.
Não éramos de demonstrar intimidade em público, mas sempre que
podia beijava a bochecha dele, mas nunca seus lábios. Isso era um combinado
nosso, o qual respeitava bastante.
Entrei no banheiro pegando minha bolsa de academia, onde sempre
deixava alguma roupa reserva. Verifiquei se estava realmente sozinha e tirei
minha roupa toda suada. Toquei levemente em minha barriga torcendo
silenciosamente que realmente tivesse um pequeno ser ali dentro.
Sabia que não poderia estar praticando coisas muito pesadas, por isso
hoje assim como nos dias anteriores eu tinha optado por somente bater em
um saco de pancada. Enzo tinha estranhado minha escolha dos últimos dias,
sabia que ele adorava quando lutávamos juntos e ele tinha a chance de bater
minha bunda no chão o quanto desejasse.
Mas eu precisava prezar pela segurança do bebê que acreditava estar
gerando novamente. Já fazia quatro anos que eu e Enzo tínhamos Henrico e
aquele pequeno garoto era a nossa alegria constante. Eu sentia que talvez
aquele fosse o momento para termos outro bebê.
Enzo não tinha entrado nessa conversa há algum tempo, mas sabia que
ele queria outro filho. Porém ele respeitava meu momento e minhas escolhas.
Ao terminar meu banho Enzo ainda não tinha voltado da sua conversa ao
telefone, talvez fosse algo grave. Vesti-me rapidamente e penteei meus
cabelos molhados.
— Acho que cheguei atrasado — Enzo apareceu no meu campo de visão.
Dou um pequeno sorriso ajeitando minhas coisas dentro da bolsa.
— Sem problema, conseguiu resolver o que tinha que ser resolvido?
— Sim, só vou precisar sair para fora da cidade por algumas horas.
Não consigo controlar minha decepção. Hoje é dia dos namorados e
Enzo não tinha falado nada. Será que ele tinha esquecido que dia era hoje?
Ele se aproximou e plantou um beijo na minha testa.
— Prometo chegar a tempo para jantar com você e Henrico.
Acenei um pouco cabisbaixa.
— Certo, eu preciso ir, tenho que resolver algumas coisas.
Enzo franziu um pouco o rosto e quando fiz um movimento para virar e
sair do banheiro segurou meu braço.
— Aconteceu algo, Ayla? — me olha duvidoso.
— Claro que não, só tenho que encontrar Laura.
Ele me puxou em sua direção, fazendo nossos corpos se colidirem.
Respirei fundo ao sentir seu aroma misturado ao suor. Não me importo que
ele esteja todo suado e eu tenha acabado de sair do banho. Não trocaria este
momento por nada do mundo que me não permitisse estar em seus braços.
— Você parece meio triste.
— Não, estou não — sorrio beijando seu queixo coberto pela barba rala.
Ele me segurou mais firme em seus braços, fazendo-me soltar um
gritinho e rir ao mesmo tempo.
— Melhor assim — beija meu nariz. — Não quero lhe ver triste.
— Sim, chefe.
Despeço-me de Enzo e sigo para fora do galpão onde já encontro um dos
soldados. Enzo não iria para casa, então eu teria que sair com o soldado e não
com ele. Disse para onde desejava ir e verifiquei meu relógio de pulso, estava
quase no meu horário na médica e se o trânsito estivesse normal eu chegaria a
tempo.
Sentia-me nervosa, era como se tivesse um nó em meu estômago e isso me
faz suar frio cada vez mais. Chegando à clínica estava no meu horário, nem
precisei esperar e pude entrar na sala da doutora Noah.
— Senhora Sartori — me cumprimenta com um aperto de mão.
— Me desculpe fazê-la me atender tão em cima da hora — sorrio. — Mas eu
preciso confirmar minhas suspeitas.
— Sente-se por favor — ela indica a cadeira. — Há quanto tempo não
menstrua?
— Cinco a seis semanas — digo. — Desde o nascimento de Henrico meu
ciclo ficou certinho, então quando não menstruei e comecei a sentir enjoos,
passou-me a hipótese de estar grávida.
Ela acenou e começou a digitar.
— Fez algum teste de gravidez.
— Não, eu quis vir aqui e confirmar, não queria ficar frustrada se o teste
fosse negativo.
Doutora Noah acenou mais uma vez.
— Podemos fazer um exame de sangue ou uma ultrassonografia transvaginal.
Arregalo os olhos, eu não tinha feito esse tipo de ultrassom na primeira
gravidez e talvez meu espanto estivesse bastante evidente porque a médica
logo diz:
— Fique calma, é seguro esse tipo de procedimento.
Balanço a cabeça ainda espantada.
— Você decide qual dos dois procedimentos quer seguir.
Mesmo ainda sentindo um pouco de medo digo:
— Vou ficar com o segundo — se eu estivesse mesmo grávida já poderia ter
um vislumbre de como o bebê estava dentro de mim, somente por isso decidi
fazer a ultrassom.
— OK, então me acompanhe até a sala de exames.
Ela nos guia até a sala indicando o lavabo para trocar de roupa, vesti uma
camisola hospitalar, ela pediu para que eu ficasse sem calcinha. Não lembro
qual foi a última vez que fiquei tão nervosa como estou nesse momento.
Sentia-me suando por todos os poros quando deitei na maca e quando ela
pediu para colocar minhas pernas nos apoiadores, fiquei tensa e prendi a
respiração.
— Relaxe — diz enquanto sinto algo frio cutucar minha entrada.
Respiro fundo e tento relaxar o máximo que consigo. Foi estranho sentir
aquele aparelho dentro de mim e prendi a vontade de rir quando ela mexeu
um pouco.
Tento me concentrar na tela que estava totalmente preta, mas logo ganha um
tom acinzentado. Meus olhos ficam vidrados tentando encontrar alguma pista
de algum bebê ali, mas era tudo um borrão.
— Está vendo isso aqui? — ela aponta para uma pequena mancha.
Balanço a cabeça freneticamente, sem conseguir falar nada.
— Isso é seu bebê — diz alegre. — Digo que você está entre a sexta e sétima
semana de gestação.
Sinto meus olhos lacrimejarem e seguro a vontade de chorar. Eu tinha um
pequeno ser crescendo em mim. Já sentia que o amava tanto.
— Quer ouvir o coração dele?
— Você pode gravar? — olho, ansiosa para ela. — Quero fazer uma surpresa
para meu marido e ouvir junto com ele.
— Claro — sorriu. — Será um ótimo presente para o dia dos namorados.
Balancei a cabeça e enxugando meus olhos.
— Vou imprimir uma foto também, OK?
— Sim, obrigada.
Ela fala mais algumas coisas sobre o bebê e o que devo evitar fazer, comer e
passou algumas vitaminas para eu começar a tomar. Despeço-me dela já
garantindo minha próxima visita. Estava caminhando para fora da clínica
quando ouço meu celular tocar. Vejo que é Enzo.
— Oi querido — digo sorrindo.
— Está tudo bem, Ayla? — ele não me cumprimenta e vai logo me
questionando.
Franzo a testa e me pergunto do motivo dele estar me ligando para perguntar
isso, mas logo lembro que o soldado deve tê-lo informado que eu estava na
clínica, por isso ele deva ter ficado preocupado.
— Sim, estou.
— Kitz, falou que você está em uma clínica, você passou mal?
— Não, só vim fazer um exame de rotina — me sinto horrível por mentir,
mas no final valeria a pena. — Estou bem, Enzo.
— Certo — suspirou. — Nos falamos mais tarde?
— Sim.
— Eu te amo, Ayla.
— Te amo, Enzo.
(...)
(...)
Eu poderia dizer que não estava nervosa ou frustrada, mas isso seria mentira.
A cada segundo que se passava eu via que Enzo não chegaria a tempo para o
jantar. Verifiquei mais uma vez o celular e não tinha nenhuma mensagem
dele ou ligação.
— Mamãe — Henrico chama minha atenção. — Olha o que fiz hoje na
escola.
Ele estica uma folha em minha direção e vejo um desenho colorido. Dou um
sorriso para meu filho.
— Quem são essas pessoas?
Henrico desceu da sua cadeira e veio andando calmamente na minha direção.
Dou espaço para ele sentar em meu colo. Abaixo a cabeça e planto um beijo
em seus cabelos escuros.
— Esse aqui é o papai e você — ele aponta para os dois bonecos maiores. —
Esse aqui sou eu e meu irmãozinho.
Olho espantada para o meu filho que virou o rosto para mim e sorriu.
— Irmãozinho?
— Sim — acenou enquanto se mexia em meu colo e virava de frente para
mim. — Eu quero um irmãozinho para brincar.
— Você já tem seus primos, Rico — toco em seu rosto. — Você não gosta de
brincar com David?
Ele parou por alguns segundos me fitando com seus lindos olhos cinza, logo
depois franziu o rostinho e assentindo.
— Gosto, mas eu quero irmãozinho pra cuidar — ele passa as mãozinhas
pelo meu rosto. — Por favor, mamãe.
Sorrio com seu jeitinho manhoso e beijo suas bochechas.
— Talvez a mamãe já esteja esperando um irmãozinho para você — cochicho
e ao mesmo tempo meu filho soltou uma risada.
— Onde ele está então?
— Aqui — toco em minha barriga
Henrico olha para minha mão e parece confuso. Meu filho com apenas quatro
anos era muito esperto para sua pouca idade e mesmo assim era apenas uma
criança cheia de curiosidade e perguntas.
— E como ele foi parar aí dentro?
— Bom — penso como responder. — Eu pedi ao papai do céu por um bebê,
aí Ele o colocou aqui dentro.
Meu filho me olhou sem entender muito e sabia que o mesmo iria me
bombardear de perguntas.
— E quando ele vai sair daí de dentro? — fixou sua atenção em minha
barriga.
— Daqui a oito meses.
— Isso é muito tempo mamãe — fez um bico. — Eu quero agora.
— Não é assim meu amor — tento o consolar. — O bebê tem que crescer e
ficar forte para poder nascer.
— Ele vai ser do meu tamanho?
— Sim, mas primeiro será bem pequenininho, depois disso vai começar a
crescer e poderá brincar com você.
Ele cruzou os bracinhos e aparentava não ter gostado muito dessa ideia.
— Você será o irmão mais velho e terá que cuidar do bebê, você me promete
que vai cuidar dele ou dela?
— Sim, mamãe.
— Então me abrace bem forte — abri os braços e ele não pensou muito antes
de se jogar e me abraçar com toda sua força. — Não conte para o seu pai,
vamos fazer uma surpresa, OK?
Ele afastou um pouco o rosto e abriu um grande sorriso.
— Surpresa, eu amo surpresa — disse animado.
Beijo seu nariz e depois sua testa.
— Vamos comer agora?
Henrico sai do meu colo e corre para sua cadeira, onde sobe com um pouco
de dificuldade e nesse momento Tália aparece e serve o jantar.
— Deixo o prato do senhor Sartori? — ela olha para o lugar do meu marido.
— Não é necessário, quando ele chegar, ele mesmo irá se servir — dou um
sorriso triste. — E pode ir aproveitar a noite dos namorados, Tália.
— Não quer que eu fique com Henrico? — ela vira para meu filho que já
atacava suas batatas no prato.
— Eu irei ficar com ele — toco a mão dela. — Vai aproveitar Tália.
— Sim senhora, tenha uma boa noite.
— Você também.
Ela se retira da sala e volto a prestar atenção em meu filho. Sorrindo pela
forma que ele comia.
— Coma com calma — digo tirando a faca do alcance dele. — Fique
somente com a colher.
— Mas eu preciso cortar as batatas — ele aponta para as mesmas.
— Você consegue fazer isso com a colher.
— Mamãe...
— Sem faca, Henrico — digo com tom firme e ele apenas acena.
Jantamos em silêncio, vez ou outra ele tentava pegar a faca, mas sempre
brigava a tempo dele não fazer nada que poderia se ferir. Henrico às vezes
poderia ser teimoso e mostrar um temperamento complicado quando queria
fazer algo e eu não deixava.
Depois de jantarmos, retirei a mesa levando a louça até a cozinha e coloquei
no lava-louça. Voltei para a sala de jantar peguei Henrico no colo e fomos
para a sala de cinema, onde ficamos deitados no grande sofá e assistimos um
filme da sua escolha. O que resultava em assistir Carros pela milésima vez
naquela semana.
Meu filho deitou a cabeça em meu colo e assistiu ao filme concentrado, vez
ou outra repetia as falas e isso acabava me fazendo rir. Não consegui resistir à
vontade de olhar para o celular, vi que já passava das dez e nada de Enzo
chegar, isso me deixava preocupada.
Desde que Henrico nascera ele sempre chegava cedo em casa e somente
algumas vezes nesses anos que ele voltava para casa pela madrugada. Mas
simplesmente hoje ele decidira fazer isso e não consegui segurar a frustração.
Todos os anos lembrávamos do dia dos namorados e comemorávamos da
nossa forma. Deitados em algum lugar da casa e ficávamos abraçados por
várias horas. Não precisávamos de presente ou declarações de amor, porque
sabíamos muito bem que nos amávamos, mas eu ansiava por essa noite e tudo
estava saindo ao contrário do que imaginei que poderia ser.
Quando estávamos quase no final do filme percebi que Henrico tinha acabado
de pegar no sono, decidi levá-lo para a cama. Desliguei a TV, o pegando com
cuidado para não acordá-lo. Estávamos passando pela entrada da casa quando
a porta foi aberta e vi Enzo entrar.
Ele parou e ficou nos olhando. Dei um pequeno sorriso subindo as escadas.
— O papai está na porta mamãe — meu filho diz sonolento, com os olhos
entreabertos.
— Sim, está — beijo seu rosto. — Durma.
Coloquei-o em sua cama aproveitando para trocar sua roupa pelo pijama.
Faço tudo com calma para não despertá-lo, senão teria que passar algum
tempo com ele lendo algum livro. Ao terminar o cubro e dou mais um beijo.
Deixo o abajur dos carros ligado e a porta do quarto entreaberta. Ao virar
para o corredor encontro Enzo parado.
— Tália deixou seu jantar, é preciso esquentar — digo seguindo para o
quarto.
Eu não iria esconder minha frustração dele. Ainda não me conformava que o
mesmo tinha esquecido que dia era hoje. Entro no quarto e vou tirando
minha roupa seguindo para o banheiro onde entro de baixo do chuveiro e
deixo a água morna cair pelo corpo.
Lavo meus cabelos com calma e estava passando o sabonete pelo corpo
quando sinto a presença dele atrás de mim. Suas mãos mornas e ásperas
passeiam pelas minhas costas e não consigo ser tão indiferente como desejei
ficar com ele.
— Querida — disse baixinho. — Está com raiva?
— Você esqueceu Enzo! — suspirei enquanto suas mãos corriam pela minha
pele.
Seus lábios entreabertos passearam pelo meu ombro, até a junção com o
pescoço. Fecho os olhos e solto uma lufada de ar. Suas mãos vão para meu
ventre e me puxa para trás, colando nossos corpos.
— Você acha mesmo que esqueci? — perguntou divertido.
— E não esqueceu? — levanto as sobrancelhas enquanto mantenho os olhos
fechados.
— Claro que não, sua bobinha — beija minha bochecha. — Tenho uma
surpresa para você.
Viro de frente para ele e o fito com amor.
— Sabe que acho desnecessário isso — mordo meu lábio inferior. — Eu só
queria sua presença, sua companhia.
— Ainda dá tempo para ficarmos juntos essa noite — inclinou a cabeça em
minha direção.
Encosto meu rosto em seu peito e inspiro seu cheiro que tanto amo.
— Também tenho uma surpresa — olho ele de relance.
Enzo estreita um pouquinho os olhos e isso me faz rir.
— O que você tem para mim? — segura minha cintura e abaixa a cabeça,
esfregando a barba bem aparada em meu rosto, me fazendo rir ainda mais.
— Só irei dizer depois que você me mostrar o que fez para mim.
Ele estica a mão e desliga o chuveiro, abre a porta do box pega uma toalha e
começa a me enxugar. Passa o tecido pelo meu corpo e depois por meus
cabelos. Nos vestimos com roupões e ao abrir a porta do banheiro, fico sem
ar ao ver a cama cheia de pétalas vermelhas.
— Enzo...
— Isso é romântico, não é? — me olha sorrindo.
Apenas balanço a cabeça e adentro no quarto, sem conseguir acreditar
naquilo. Me aproximo da cama e em cima dela encontro um envelope. O
pego com as mãos trêmulas e viro para meu marido.
— O que é isso?
— Você só saberá quando abrir.
Lambo meus lábios secos e faço o que ele disse. Dentro encontro um cartão
postal e sinto meus olhos lacrimejarem ao ver de onde era: Calábria.
Nunca mais tínhamos voltado lá, não tivemos tempo para voltar para onde
tudo começou.
— Isso quer dizer que...
— Vamos tirar férias e passar algumas semanas na Calábria.
Não me seguro e pulo no colo do meu marido, beijando sua boca e rindo ao
mesmo tempo.
— Eu te amo tanto — digo contra seus lábios. — Esse é o melhor presente
que poderia ter.
— Mesmo? — me olha divertido. — Talvez eu possa lhe dar outro presente.
— E qual seria esse outro presente?
— Uma bela trepada em cima dessas pétalas.
Solto uma risada inclinando a cabeça para trás, Enzo aproveita e lambe meu
pescoço, fazendo-me arrepiar completamente.
— Eu tenho que te mostrar algo — falo descendo do seu colo e fugindo antes
que eu esquecesse minha surpresa e acabássemos na cama fazendo o que ele
queria.
Vou até o closet e pego a ultrassom e volto ao banheiro para pegar o celular.
Enzo estava parado vendo meu percurso e parar na sua frente. Mexo no
celular e coloco o áudio das batidas do coração do bebê.
Respiro fundo e solto, o som preenche o espaço entre nós e no mesmo tempo
entrego a foto para Enzo, que parece confuso. Ele olha para a imagem cinza e
em segundos tudo pareceu claro para ele.
— Você está grávida?
— Sim, vamos ter mais um bebê — digo com a voz embargada de emoção.
Enzo me abraça, tirando meus pés do chão e nos girando. Solto um gritinho
de felicidade e rio ao mesmo tempo.
— Esse é o melhor presente, Ayla — beija com fervor e amor.
— Feliz dia dos namorados — digo abraçada a ele.
— Feliz dia dos namorados.
Segurou meu rosto e continuamos a nos beijar com paixão e amor.
Esse com certeza seria um do dia dos namorados mais especiais que
poderíamos ter. A nossa família estava aumentando.
Nota da Autora
Escrever esse livro não foi fácil, foi um grande desafio, mas que
consegui superar. Intensa paixão foi um livro completamente diferente do que
estou acostumada a escrever. Foi algo complicado, porque não consegui
penetrar completamente na mente dos personagens. Eles foram difíceis de
desvendar e que somente no final consegui compreendê-los, onde a tão
famosa frase foi dita. Enzo é um personagem artificial, que só mostra uma
fina camada de tudo que ele é, não consegui extrair tudo dele, porque ele
mesmo não deixou, mas Ayla, minha doce menina, foi bom viver os
sentimentos dela e entendê-la por um curto período.
Sei que o livro não tem muito sobre paixão mútua e outras coisas, mas
conseguimos ver a intensidade deles, a paixão que surgiu e se intensificou
quando foi necessário. Mas prometo que nos próximos livros da série iremos
conseguir saber mais sobre eles, os vendo como personagens secundários,
mas saberemos como está sendo a vida deles. Prometo.
Espero que tenha gostado do livro como gostei de escrevê-lo, porque
Ayla e Enzo foram perfeitos na medida do possível. O próximo livro da série
promete, só não posso dizer de quem é, mas juro que vai valer a pena.
Espero que Ayla e Enzo tenham uma pequena parte dos corações de
vocês, como eles têm o meu. Beijos e até breve.
Sobre a autora
Camila Oliveira é uma nordestina que mora com a mãe, irmã e seus
três cachorros, que encontrou nas palavras a liberdade de expressar cada
sentimento que há guardado dentro de si e que espera conquistar as pessoas
com o seu jeito de demonstrar o amor dentro dos livros.