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Janeiro de 2017

Manaus – Amazonas
Copyright © 2017 Tatiana Pinheiro

Todos os direitos reservados à TATIANA PINHEIRO. Nenhuma parte deste livro pode ser
utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização da mesma. A violação
dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n° 9.610/98, punido pelo artigo 184 do Código
Penal.

Equipe Editorial:

Revisão: Carolina Durães


Capa & Diagramação Digital: Magic Design Editorial

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes,
datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Essa obra foi escrita e revisada de acordo com a Nova Ortografia da Língua Portuguesa. O
autor e o revisor entendem que a obra deve estar na norma culta, mas o estilo de escrita coloquial
foi mantido para aproximar o leitor dos tempos atuais
Sinopse
Samuel Hamilton sempre amou a mesma menina desde sua adolescência, mas seu amor não foi
correspondido. A menina que tem seu coração é, e sempre será, o amor de seu irmão mais velho,
tornando a situação ainda mais dolorosa. Ter o seu amor não correspondido tão próximo e ao
mesmo tempo inalcançável, deixou-o fechado para todo tipo de relacionamento.
Victória Albuquerque quer apenas uma coisa em sua vida: conseguir encontrar alguém que lhe
ame perdidamente. Sendo uma romântica incurável, Victória sempre vê o lado bom de tudo, mesmo
que a sua vida não seja um mar de rosas. Ela luta diariamente para ajudar sua irmã e sobrinha.
Mas a vida decide cruzar os caminhos de Samuel e Victória. Deixando-o encantado pela
inocência da jovem e ela louca com as exigências dele.
Samuel se vê hipnotizado pela nova fisioterapeuta, que o faz sentir coisas que há muito tempo
ele deixou de sentir, o que deixa Samuel confuso e tentado ao mesmo tempo.
Samuel terá encontrado alguém que o faça esquecê-la?
Será que Vick pode finalmente ter encontrado o seu príncipe encantado?
“Dizem por aí, mas não tenho certeza, que meu sorriso fica mais feliz quando te vejo, dizem
também, que meus olhos brilham, dizem também que é amor, mas isso sim é certeza.”

Dom Casmurro – Machado de Assis.


Nota da Autora
Primeiro, eu quero começar pedindo desculpas pela a demora que tive para lançar o livro do
Sam. Não foi fácil gente, teve muita coisa que atrapalhou. Quando digo que foram muitas, não
estou exagerando.
Primeiro de tudo, meu notebook de quase quatro anos, me deixou assim de repente, sem
nenhuma explicação. Mesmo depois de dois meses de ele ter ido para uma manutenção. Então no
mês de fevereiro, eu comprei um novo.
Até ai tudo na boa, acontece, meu note antigo estava bem velhinho e muito usado, não dava
nenhuma descanso para ele. Então, continuei certo?
Muito errado. Eu entrei em uma crise de bloqueio criativo, da qual eu não conseguia sair.
Certo, isso acontece, mas isso durou por mais de um mês. Eu me obriguei a escrever, mas não
gostava de nada do que escrevia.
Mas isso também passou, estava pronta para terminar o bloqueio, quando começaram as
dores nas minhas costas. Resultado: Escoliose Acentuada.
Juro, tudo o que acontecia me fazia chorar. Quatro sessões de Quiropraxia. Quinze sessões
de fisioterapia solicitada pelo médico (das quais fiz apenas sete). Ainda não melhorei
completamente, mas amenizou a dor.
Terminaria o livro? Bem, estava tudo certo para terminar o que tinha. Ao menos uma parte do
livro estava na revisão. Mas lembra do notebook novo? Então, ele deu pau. Assim, do nada.
Teclado ficou possuído por algum empregado do diabo, era a única explicação.
Para piorar a situação, não tinha assistência técnica na cidade. Tive que enviar o bebê novo
para Recife. E minha preocupação me deixando louca. Pensando que poderia acontecer.
Então em um domingo que parecia que iria adiar mais uma vez o lançamento, eu pensei. Sério
mesmo? Eu vou desistir por isso? Eu sou cabeça dura, não sou? Então a cabeça dura aqui vai
endurecer mais, porque de jeito nenhum tudo isso vai me fazer desistir.
Peguei o PC da minha tia, instalei no quarto e terminei o livro.
Porque eu quero que o Sam e a Vick conquistem o mundo, quero mais uma vez os meninos
Hamiltons conquistando os corações de todos. E eu sei que é isso que vai acontecer.
E mais do que nunca, queria terminar esse livro. Foi o maior acontecimento do ano para mim.
Obrigada por entenderem e por não me abandonarem.
Obrigada, obrigada. Milhões de obrigada!
Agora, apaixonem-se por Grandão e a Docinho!
Beijos
Tatiana Pinheiro
Importante
Sobre o termo doutor:
Segundo o Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional - CREFITO, o
fisioterapeuta deve usar e apresentar-se como Doutor na sua atuação profissional com respaldo
legal para tal, considerando o princípio da isonomia, da tradição cultural de nosso país e da sua
fundamentação científica profissional. Alguns fisioterapeutas brasileiros usam a abreviação Ft.
(fisioterapeuta) transcrita dos fisioterapeutas portugueses e originada do molde PT
(physiotherapeutic) dos norte-americanos ao invés de usar o título Dr. A abreviatura FT. não é
oficial no Brasil, e, portanto, não é reconhecida pelos CREFITO's e COFFITO.
Com os anos de curso de Fisioterapia são maior do que cinco anos, o termo doutor se adapta
na profissão.
Prólogo

Samuel
Passado

— O nde você está querido?


Mamãe está rindo enquanto me procura. Quero sair e pular para assustá-la, mas
eu não posso. Papai me disse que ela não pode ter nenhum susto quando está grávida.
— Samuel, eu vou te achar!
Sua voz está distante, provavelmente deve ter ido até o meu quarto me procurar. Rindo, eu
corro para debaixo do berço do meu novo irmãozinho. Eu sei que ela vai me encontrar aqui. Esse
é o meu novo lugar favorito da casa. E mamãe sabe disso.
— Achei você! — Eu me assusto ao encontrá-la agachada na minha frente.
Seus olhos azuis são a coisa mais linda do mundo. Os olhos mais incríveis que já vi.
— Não vale! A senhora viu os meus pés! — resmungo saindo debaixo do berço e arrumando
minha roupa amarrotada.
Mamãe sorri. Ela segura a minha mão e me leva para a cadeira de balanço que está aqui no
quarto. Comigo em seu colo ela começa a acariciar os meus cabelos. Isso é bom e é uma das coisas
que eu mais gosto dos nossos dias.
— Sua cabeça ainda dói, querido?
Faço que não e eu me agarro mais a ela. Ela canta baixinho até que eu esteja com sono.
— Você vai me prometer que vai cuidar do seu irmão, filho?
— Claro, mamãe, eu pedi por ele. Claro que eu vou cuidar.
Eu não evito o bocejo de sono. Mamãe beija os meus cabelos.
— Eu quero que você cuide dele. Você entende isso, querido? Você pode cuidar de seu irmão?
— Eu não entendo, mas eu concordo. — Ele vai precisar de você. Seu pai e os seus irmãos vão
precisar muito de você também.
Eu me levanto, olhando em seus lindos olhos.
— Você vai ajudar o seu pai a ser o homem que ele é quando ele mais precisar. Vai ter
paciência com o Simon quando ele estiver sofrendo — diz cada palavra enquanto sorri e arruma
meus cabelos. — Vai fazer tudo dar certo. Porque você é o meu Sam. Você é o meu menino lindo e
inteligente que sabe consertar tudo.
— E se eu não conseguir?
Mamãe afaga meu rosto e esfrega seu nariz no meu.
— Você consegue querido, você é o homem da casa. E eu vou estar com você, sempre.
— Promete, mamãe?
Ela beija minha testa, chorando de felicidade eu acho.
— Claro, meu amor.
Eu me deito novamente em seu colo brincando com seus cabelos que caem em mim enquanto
ela me beija uma e outra vez.

Presente

É exaustivo tentar esconder de todas as pessoas amadas, de todos que estão ao seu redor, os
seus verdadeiros sentimentos. Além de enganá-los, você começa a acreditar na própria
mentira, achando que tudo está bem e que tem o controle de tudo ao seu redor. Que nada pode
abalar o seu mundo.
Foi um grande erro pensar que poderia enganar a todos.
E a mim.
Não era esse o meu objetivo, enganar ou passar a perna em alguém, mas eu era o único forte
o bastante para tomar o controle da situação. Com um irmão mais velho se perdendo na bebida,
um pai realizando vários plantões para não ter que ver a dor dos filhos e uma criança inocente no
meio de tudo isso, quem mais lidaria com todo o resto? Meu irmão caçula não tinha noção de que
estava em um mundo caótico, muito menos fazia ideia da grande bagunça que a sua família se
tornou. Eu sabia que ele precisava de alguém e sabia que nada do que estava acontecendo era
sua culpa. Afinal, ele é o mais inocente de todos. E eu dou a minha vida para que meu irmão
continue assim.
Arthur foi a minha âncora para firmar a minha vida. Eu cuidei dele, o eduquei e passei noites
acordado com ele. Fiz o meu pai voltar a ser o homem presente em nossas vidas. Até o meu irmão
voltou para a casa, mesmo que ainda seja o irresponsável de sempre, é muito bom que ele esteja
de volta.
Eu consertei tudo. Arrumei a minha família que para todos, estava perdida. Tirei aquele ar de
luto que pairava por anos sob as nossas cabeças, mas não era a mesma coisa comigo. A culpa e a
responsabilidade caíram sobre os meus ombros e aqui elas ficaram. Junto com tantas outras coisas
que com o tempo, apenas foram aumentando.
Basta saber se eu vou aguentar.
Se todo o sacrifício que eu fiz e os que eu ainda farei terão o resultado esperado, então
valeu a pena. Tenho tudo pronto e organizado, tudo bem catalogado para que nada mais saia do
controle. Fazendo de tudo para nenhuma tragédia volte a acontecer.
Imprevistos...
É como o inverno: você sabe que vai chegar, mas não sabe quando exatamente e sabe que
deve estar pronto. E mesmo tomando todas as precauções, nunca está pronto para ele. É traiçoeiro,
devastador, cruel.
Porém, sempre há os imprevistos.
E ela?!
Foi o melhor imprevisto que aconteceu.
Capítulo 1
Incrível como uma vírgula no lugar errado, muda todo o sentido da frase.
Incrível quando um parafuso solto, pode destruir uma construção. E um
simples sorriso pode mudar a aura do espírito.
Samuel

E stamos três minutos adiantados e Arthur não percebeu isso. Se ele tivesse notado, com certeza
faria alguma piada sobre termos conseguido essa proeza em uma segunda-feira. Eu ainda
estou comemorando o fato do meu irmão conseguir estar pronto no tempo exato. Preciso que ele
tome mais remédios de alergia no domingo à noite para que vá dormir antes das onze horas da
noite. Assim ele terá oito horas de sono de que precisa. Arthur joga bolsa no banco de trás e vem
para o meu lado. Agora ele é permitido no banco da frente da minha nova Picape Ford F 150. O
único carro que não me deixa com dor no pescoço por dirigi-lo. Arthur coloca o cinto de segurança
enquanto termina de tomar o seu suco.
— Graças a Deus a semana de prova passou — diz ele enquanto mexe em seu celular. —
Agora o desespero é saber se me dei mal ou não.
— Acha que se deu mal?
Ele nega com a cabeça. — Acho que estou na média. Se eu conseguir notas muito boas nesses
dois primeiros bimestres, eu posso passar o quarto bem relaxado e garanto a minha vaga no time
da escola. Como foi o congresso?
— Do mesmo jeito. Não gostei do convite de última hora — disse a ele entregando minha
carteira para que ele pegue dinheiro para semana. — Perdi a entrevista do novo estagiário e não
estou feliz por Simon ter conduzido a entrevista. Ele foi ineficiente, escolhendo alguma filha do
papai para o cargo.
— E se não foi? — Ele pergunta se virando para mim. — Ele pode ter encontrado alguém
que você possa gostar de trabalhar. Você precisa dar mais chance aos estudantes, Sam. Eles com
certeza se assustam com essa sua cara fechada. Só o seu tamanho já põe medo.
— Eles estão lá para trabalhar, Arthur, não para ficar distribuindo sorrisos.
— Tudo bem, Sam. Não está mais aqui quem falou — diz Arthur se rendendo. — Só espero
que você seja mais paciente com os estagiários. Acho que você não percebeu que perde muito
tempo os contratando para dispensá-los logo em seguida.
Às vezes parece que é ele quem toma conta de mim. Ele não gosta de clima pesados, de
coisas mal resolvidas, coisas que podem fazer com que alguém que é importante para ele seja
machucado. Arthur prefere sacrificar a sua paz ao invés daqueles que ele ama.
— Eu farei isso, Arthur. Farei isso por que me pede, certo?
— Certo! — Ele sorri.
Seus olhos azuis estão cintilando em minha direção. Ele herdou essa característica da mamãe e
não me canso de encará-los. Cada vez que observo o seu olhar, posso senti-la mais perto.
— Não esqueça que hoje vamos à missa — digo quando estaciono em frente à sua escola. —
Vou sair mais cedo para buscar você.
— Certo, até depois, Sam! — diz pegando sua mochila e saindo do carro. Por um instante ele
fica parado e volta. — Quando eu vou ter meu cartão de crédito? Sei que você vai colocar um
limite baixo, mas sério, quando vai me dar um?
— Quando eu conversar com o pai.
Ele abre um enorme sorriso. Se existe uma coisa que é nosso ponto fraco, é esse moleque.
— Certo, eu vou pedir um cartão adicional ao Simon. E não entregue isso. Quero que ele
tenha o momento de irmão mais velho quando perceber o quanto eu gastei em besteira. Eu te amo
Sam, até depois! Seja um chefe legal e não assuste seu novo estagiário. Lembre-se: sorrisos são
importantes e faz bem pra alma.
Após esse breve discurso, Arthur corre até a entrada da escola e vira-se para acenar como
sempre fez. Eu aceno de volta e espero ele entrar para poder ir embora.
As segundas-feiras não são os meus dias favoritos da semana. Sei que cada semana é o início
de oportunidades e de coisas para fazer. Nunca deixo trabalho de uma semana para outra, pois
atrapalha o cronograma e também me impede de realizar as minhas tarefas pessoais. As pessoas
geralmente pensam que é fácil trabalhar apenas oito horas por dia no seu próprio hospital, mas eu
sempre acabo fazendo hora extra, pois sou o primeiro a chegar e o último a sair.
Eu sempre chego antes do meu pai e aproveito para ligar a cafeteira. Mesmo aqui, onde ele
impera, eu não deixo de tomar conta dele. Assim que estaciono meu carro e registro minha entrada
no hospital, pego as correspondências da ala de fisioterapia. Felipa, a minha secretária, sorri me
desejando bom dia e me entrega os documentos que precisam da minha atenção.
— Bom dia, Dr. Samuel. Eu tive a ousadia de pagar a sua anuidade do CRF junto com as dos
outros fisioterapeutas. E já atualizei a nova estagiária sobre o funcionamento do hospital.
Isso me pega desprevenido. Ou eles sempre se atrasam ou esquecem a integração do
hospital.
— Eu sei — diz em simpatia diante da minha surpresa. — Isso é novo, doutor. Pelo visto, Simon
participou de tudo e está sendo bem cuidadoso com ela. — Felipa parece tão confusa quanto eu
enquanto fala. Bem, se o Simon é protetor com a nova estagiária, alguma coisa deve ter. Ele não se
aproximou de nenhuma garota desde que Sophie foi embora levando com ela o seu coração. E
isso não me importa em nada. Sophie longe dele é mais segura do que pensa.
— Bem, eu não vou perder o meu tempo explicando as atividades para a estagiária. Aliás, o
que achou dela? Ao menos é diferente dos demais? — pergunto já abrindo a minha sala.
— Bem, doutor, o senhor terá que ver e tirar suas próprias conclusões. — Ela brinca e se senta
para continuar o seu trabalho. E eu faço o mesmo.
A sala está arrumada e o único item ausente é o meu jaleco que ainda não chegou da
lavanderia. Do que adianta pagar um contrato absurdo se o serviço não me serve de nada?
Começo a divagar em pensamento sobre o assunto quando o meu mais “agradável” paciente
chega. Nem tudo são flores, e esse pequeno menino diz isso para mim três vezes na semana.
— Bom dia, Daniel! — Ele olha para mim, mas finge que não ouviu. — Levante-se e vá até as
barras.
E assim eu inicio a semana: com um garoto tão mal-humorado quanto eu. Eu fico com ele pelas
próximas duas horas. Se eu pudesse ficar com esse garoto até que ele pudesse estar mais firme
sob o seu pé direito, eu ficaria. Mas eu sei que cada passo que o Daniel dá é uma vitória. Arthur
vive me dizendo que o meu anjo da guarda colocou no meu caminho alguém tão carrancudo
quanto eu para me mostrar como eu sou na maioria das vezes. Mas eu sei o que é importante para
mim, diferente desse garoto. E com certeza não saio xingando muito por aí. E não sou tão irritante
assim.
Exijo muito do Daniel e por isso ele se ressente tanto de mim e dificulta a minha vida como
ninguém. Mas isso faz parte do trabalho. Insistir nas pessoas que já desistiram. O período da
manhã passa rapidamente e me dou conta que terei uma árdua tarde de trabalho pela frente.
Encontro Simon para almoçar, e percebo que ele parece bem cansado e pronto para ir para
casa. Pergunto como ele está, mas como sempre, a resposta é a mesma: “Estou bem”.
Um coração partido pode tanto te fazer uma pessoa melhor, quanto te destruir e te tornar
mais estúpido. Pelo o bem da humanidade, foi o efeito certo sobre meu irmão.
— Essa semana o papai vai assistir uma palestra em Brasília — lembro. — Por conta disso, vai
ficar o fim semana toda fora. Eu tenho minha última semana do mestrado e a minha defesa é na
quinta. O Arthur vai ter que ficar com você na sua casa ou você vem para casa.
Coloco meus óculos na mesa enquanto ele termina de comer o seu pudim.
— Eu vou para casa, não peguei nenhum plantão. — Ele sorri. — O Arthur quer nós nós
presos em casa para fazer sabe-se lá o que!
— Certo! Eu tenho que ir. A nova estagiária já deve ter chegado e eu preciso falar com ela
antes de começar.
Simon deixa o pote do doce em cima da mesa e me encara.
— A Vick vai ser sair bem, Samuel. Você só tem que deixar de ser tão estúpido. — Ele se
levanta, ainda me encarando. — É bem provável que você encontrou alguém que vai te ajudar
como ninguém. Vejo você depois.
Eu já não tento ter uma conversa tranquila com ele, pois sei que é perda de tempo.
Deixando Simon de lado, volto para sala. Felipa me avisa que eu tenho uma reunião com os
ortopedistas agora. Eu havia me esquecido disso completamente. Precisamos falar sobre o
congresso nacional desse ano e eles sabem que eu prefiro acertar tudo com antecedência.
Assim que entro na sala, vejo meus seis ortopedistas me esperando. Quatro homens e duas
mulheres. Todos escolhidos a dedo para fazer parte da equipe ortopédica. Cada um deles é um
especialista em sua área, fazendo com o que quadro médico seja diversificado.
— Boa tarde, doutor. — Lara é a primeira a saudar. Nós nos formamos juntos e eu a chamei
para trabalhar comigo logo em seguida. Fizemos estágio aqui mesmo no nosso hospital.
— Boa tarde. — Tiro o meu jaleco e coloco na cadeira. — Podemos organizar nossa agenda
de congressos?
Um dos ortopedistas sorri.
— Como se você não comparecesse em todos — diz brincando com a sua caneta. — Seus
convites de palestra já chegaram. — Ele me passa a pasta com as datas de todos eles. — Apenas
faça a sua mágica organizada e diga quem vai em qual.
Eu até tento não me irritar com seu comentário inocente, mas é impossível. Não gosto quando
insinuam, mesmo que seja sem querer, que eu estou sempre indo e vindo de congressos, por que
não gosto de estar aqui trabalhando.
Como sou o fisioterapeuta referência em fisioterapia pediátrica, sou constantemente chamado
pelo presidente do conselho estadual para ministrar palestras. Eu não pedi para ter todo esse
nome no meio, mas a atenção veio junto com o nome. Eu não posso fazer nada, além de querer
manter isso até quando puder.
— Então, eu pensei em algo diferente esse ano. Recebi um telefonema do presidente do
CREFITO semana passada. Eles estarão mandando uma equipe para todos os congressos esse ano.
— Olho ao redor esperando prender a atenção de todos. — E no próximo ano, estará mandando
outro corpo médico. Vocês sabem, o hospital paga pelas passagens e hospedagem. Fiquei
analisando a ideia e achei fácil. Dessa forma, ninguém será prejudicado nas férias.
Conversamos por quase duas horas sobre a agenda. Decidimos que eles estarão indo em
quatro pessoas: dois ortopedistas e dois fisioterapeutas, para não desfalcar a equipe do hospital.
Volto para a minha sala e pego o currículo da nova estagiária, junto com seu histórico de
graduação.
— Vamos ver — digo já folheando o arquivo.
Victória Moreira Albuquerque. Vinte dois anos, bolsista integral na Universidade São Camilo.
Melhor aluna em todo o curso, indicada pelo doutor Carlos Arantes para o estágio.
Na verdade, ele foi bem especifico dizendo que tenho uma grande profissional em minhas
mãos caso aceite-a. Eu não a aceitei, o Simon sim. E pelo o que eu entendi, ele já a conhece e acha
que ela merece uma chance. Eu não vou contra as decisões que meu irmão toma, mesmo que sejam
inesperadas e sem a minha opinião. Mas não se trata disso. E sim do que eu iria ver na garota
caso eu tenha feito a entrevista com ela. Ao menos uma conversa de meia hora me tiraria do
escuro.
Vou confiar nele mais uma vez.
— Você parece concentrado. — Arthur entra na minha sala e senta-se próximo a mesa,
mexendo na minha agenda.
Tomo-a de sua mão e coloco de volta no lugar, perfeitamente reta. Meu irmão caçula revira os
olhos e termina de tomar o seu refrigerante.
— Então, conheceu a sua nova empregada?
— Não, a Felipa está com ela mostrando o hospital e fazendo os exames para o arquivo. E o
que está fazendo aqui? Não iria ter treino hoje?
Ele dá de ombro.
— O professor tinha alguma coisa marcada e não podia faltar. Então vim visitar vocês. — Ele
pega o crachá e coloca em sua blusa. — Vou falar com o velho e depois volto para irmos para
casa. Aproveito e já falo com ele sobre o meu cartão. Sei que ele vai dizer sim.
— O que te garante isso?
— Não sei, talvez se eu explicar por que eu queira me virar sozinho agora. Pra não ter que
ficar sempre dependendo de vocês. Que assim eu posso ir voltar de metrô da escola. Que eu sou o
único na escola que está sempre com um de vocês como babá. Acho que isso é um bom argumento,
não é?
Eu fico encarando-o, querendo saber se ele está falando sério ou não. A função irmão que eu
tenho em mim, diz que ele está certo. Porém, à parte pai que é a mais presente e forte, me fala
que estou perdendo-o.
Mas mais uma vez, eu não sou o seu pai. Mesmo que eu esteja sempre com esse papel em
minhas costas. Porém não quer dizer que eu vá concordar com isso.
— Eu já expliquei o porquê de ser assim com você.
Seus olhos azuis brilham um pouco por culpa e decepção.
— Eu sei. Que tal eu falar com papai e vemos como fica? Boa sorte com seu novo filho e
lembre-se: nada de colocá-lo para correr, Sam. Vai perder mais tempo trazendo outro pobre
coitado para ficar com você, irmão.
Arthur sai e tenho outro pequeno mal-humorado agora. Luigi é um menino de dez anos que
quebrou o braço que não faz nada além de resmungar.
Já não se fazem crianças como antigamente. Essa geração é a mais mal-educada que já
existiu. Mas eu aceito a desculpa de que isso em seu braço é irritante e não o ajuda a manter o
bom humor.
— Você é um idiota. Odeio você, odeio esse hospital, odeio tudo aqui — diz ele jogando os
pequenos pesos pela sala.
Eu me sento na cadeira, cansado demais. Derrotado por um ser humano que eu simplesmente
quero jogar no rio mais próximo e deixar ser afogado.
Eu tenho um lado sádico dentro de mim.
— Luigi, você tem que fazer isso ou vai ficar com o seu braço ruim para sempre. É isso que
quer?
— Cala a boca, médico idiota.
Eu me levanto e sei que o meu tamanho lhe causa medo. Até Simon tem medo quando estou ao
lado dele.
— Você vai pegar os pesos e vai levantar quinze vezes, agora. — Os olhos do garoto estão
arregalados, mas não perde tempo e vai até o material e começa o seu trabalho.
Observo-o de longe. Mesmo com raiva e medo, ele faz o exercício de forma perfeitamente
correta.
— Agora eu sei por que nenhum estagiário dura aqui. — Uma voz feminina me faz virar
para trás. — Rabugento não chega nem perto de te classificar. Ah, eu sou o seu novo encosto. —
diz rindo ironicamente — E aviso que isso não vai funcionar muito bem. Eu sou a Vick e você deve
ser o Samuel. — Ela me olha de cima a baixo. — É, com certeza é você.
Seu tom é de graça, mas não esconde um pouco de arrogância que tem em cada sílaba.
Como se estivesse decepcionada em descobrir que eu sou seu novo chefe.
Bem, querida, estamos os dois na mesma linha.
— Pensei que vocês duas haviam se perdido pelo hospital — digo quando estendo minha mão
para cumprimenta-la. Ela aceita e vejo como minha grande mão cobre a sua, que é minúscula. Mas
não perco a firmeza que ela mostra através de nosso cumprimento.
Olhando para baixo, percebo que ela é totalmente minúscula. Não deve ter mais do que 1,58
de altura. Mas ela não parece se intimidar com minha altura.
— É bom conhecer você, Victória — digo ainda apertando a sua mão. A garota faz uma
careta quando ouve seu nome. Não sei se ouve o desprezo em minha voz, mas isso é natural e ela
deve se acostumar com isso.
— O mesmo, doutor Samuel. — Ela dá um passo para trás e me encara mais uma vez.
Quando percebe que estou observando-a, ela desvia o olhar, mas mantém a sua pose firme.
Victória olha para o garoto atrás de mim.
— Eu provavelmente vou me arrepender de dizer isso.
— Então não diga.
Seus olhos verdes encontram o meu. Há um fogo pronto para incinerar o que quer que seja. E
ela continua a me encarar. Por um momento, vacilo e dou um passo para trás.
Mas que porcaria é essa? Estou assustado?
— Mas eu costumo dizer o que acho, independente se vou ser ouvida ou não — diz parando
ao meu lado. — Se esse é o método que você usa para convencê-los a fazer os exercícios
corretamente, sinto muito dizer, mas não vai funcionar. — Ela pondera e se vira para me encarar.
— Funcionava na época da ditadura, mas não é eficaz. — Ela cruza os braços. — Se continuar
desse jeito, vai acabar perdendo os seus pacientes.
O que?
— Meu Deus, eu vivi para ver isso. — Arthur aparece e beija a garota. — Eu sabia que a
pessoa certa um dia iria aparecer e fazer o meu irmão ficar calado. — Arthur abraça a
estagiária. — É disso que estava falando, Sam. Você precisa de alguém que seja mais durona que
você. Por isso a Vick é perfeita para ficar ao seu lado.
Respiro fundo e penso nos motivos pelos quais eu amo meu irmão.
Observando os dois juntos é como se tivesse recebido um soco. Está mais do que óbvio que ele
tem um carinho especial por ela.
“Ele pode ter encontrado alguém com quem você possa gostar de trabalhar.”
Eu me recuso a ter que aguentar uma pessoa incompetente por um pedido de meu irmão. Mas
aí eu me lembro do seu histórico e da indicação do reitor da Universidade.
Olho para o Arthur, que parece feliz com a menina ao seu lado. Percebo o sorriso impertinente
que ela me dá quando volta a me encarar.
— Se o senhor me permitir, eu posso tentar acalmar a pequena fera que está sentada nos
encarando.
Luigi olha para Victória, curioso com a sua presença. Infelizmente, devo agradecer por ele não
estar mais fazendo o seu pequeno show. Aparentemente, ele quer a atenção da pequena criatura
que está a minha frente.
— Se acha que pode lidar com ele, não vejo porque não tentar.
Dou um passo para o lado e deixo que ela passe. A pequena garota caminha
despreocupada. Ela mexe em seu cabelo e vejo que ela tem a sua total atenção.
— Parece que você está tendo muito trabalho com esses pesos. — Ela aponta o equipamento
que está perto do menino. — Pode me dizer por que tem que fazer isso?
Ele olha para ela encantado.
— O médico disse que é para deixar os meus braços mais fortes. — Ele levanta o braço e
mostra o lugar que estava engessado. — Eu o quebrei e ele ficou um tempão com aquela coisa
branca que só fica coçando.
— Deve ter sido bem irritante — ela diz se ajoelhando a sua frente. — Eu também usei
aquilo, só que na minha perna.
Os olhos do menino se arregalam.
— E como você andou?
Victória dá de ombros.
— Eu fiquei muito tempo pulando de um pé só, mas acho que você precisa muito desse braço,
não é?
Ele concorda.
— Então, acho que é melhor você fazer o que o médico está pedindo. — Ela segura o braço
do garoto e massageia levemente. — Eu sei que dói, mas isso vai ajudar a você.
Luigi parece confuso com o que ela está dizendo. Estou vendo que é agora que ele vai gritar
com ela também.
— Como isso vai me ajudar se dói? — ele pergunta.
Se levantando, Victória estende a mão para o garoto.
— Se você me deixar, eu posso te mostrar. — Arrumando os cabelos dele, ela continua. — E
se me prometer não gritar e nem xingar mais as pessoas, eu te dou um pirulito depois.
Luigi dá a ela um sorriso de fazer doer os músculos da face.
— É um acordo?
Victória leva a mão até a boca e o que ela faz, gera um tremor por todo meu corpo e de
alguma maneira, traumatiza o meu psicológico. Ela lambe a sua mão e estende para ele. E para
melhorar a troca de germes, ele faz o mesmo e aperta a mão na dela.
— Temos um acordo.
A pequena menina se vira para mim e desfere o seu mais largo e radiante sorriso. E então vai
com Luigi para fazer o isométrico. Arthur se apoia no meu ombro sorrindo como um louco com a
cena que acabamos de presenciar.
Eu nunca vi Luigi sorrir ou até mesmo falar baixo. Nunca ouvi nada sair de sua boca que não
fossem xingamentos e gritos.
Eu odeio ter que pensar que ele foi trocado enquanto conhecia essa pequena e irritante
menina, que possui modos um tanto peculiares. Fica claro como cristal que a minha nova estagiária
conseguiu domar um dos pacientes mais impossíveis.
— Mais durona do que você, Sam! — Arthur sussurra ao meu lado. — Eu sabia que vocês se
dariam bem.
Não, nós não nos demos bem. Ela mesma disse que isso não daria certo.
Arthur tenta ficar quieto, mas ele não consegue. Com certeza a minha falta de reação está
dando a ele um grande momento para apreciar.
— Você não tem que estudar? — pergunto querendo que ele esqueça isso. Mas meu
irmãozinho não é alguém que se dobre assim, facilmente.
— Olho só isso. Eu não acredito que você ainda está sem fala sobre o que aconteceu.
Balanço a cabeça e vou para a minha sala com Arthur logo atrás de mim. Mas volto no mesmo
passo, para inspecionar a menina. Que por sinal, está fazendo muito bem os exercícios.
— Ela é boa, Sam. Eu tenho certeza que você já percebeu isso. — Meu irmãozinho diz baixo
ao meu lado. De canto de olho vejo que ele está sorrindo enquanto observa a mesma cena que eu.
É como se o garoto que faz as minhas tardes infernais, fosse trocado por outra criança. Uma
criança que sorri, responde baixo e faz o que é lhe pedido sem nenhuma briga.
— Para trabalhar aqui, Arthur, precisa ter mais do que um encantamento com os pacientes —
digo voltando para a sala para rever o histórico dela. — Preciso de alguém que ame fazer isso,
que se dê a profissão sem nenhuma reserva.
— Como você? Qual é Sam! Larga essa mania de ser certinho por alguns minutos.
Ignorando-o, pego os documentos que preciso encaminhar para o meu pai. Arthur não perde
mais nem um segundo com o assunto. Ele pega a sua mochila e sai.
— Vai aonde?
— Para sala do pai. Tô torcendo para que ele esteja de bom humor hoje. — E sai fechando a
porta com força.
Muito bem, o meu caçula está com raiva de mim. Respiro fundo, tiro os meus óculos e esfrego
os olhos. Sinto minha cabeça começar a latejar e não são nem mesmo quatro horas da tarde. Mas
a maldita enxaqueca não tem hora para aparecer.
— O senhor está bem?
Olho para cima e vejo Victória me encarando com um sorriso preocupado.
— Estou. Terminou com o Luigi ou o seu encanto acabou?
Ela sorri amplamente e arruma os seus longos cabelos. Percebo agora que ela é... Interessante.
Com os cabelos castanhos avermelhados, pele pálida, bochechas cheias e rosadas. Nariz
arrebitado.
Tão pequena.
— Apenas dei uma pausa de cinco minutos e vim beber um pouco d’água. — Ela vai até o
bebedouro.
Mordo o meu polegar para não rir de sua pequena aventura para conseguir alcançar o copo.
Ela é tão minúscula que precisa ficar nas pontas dos pés para alcançá-los.
— Quer ajuda?
O cavalheiro fala mais alto.
— Eu me viro.
E ela consegue sua façanha. Depois de beber sua água, Victória traz um pouco para mim.
— Tome um pouco. Água ajuda. O senhor deveria saber.
Fico olhando para o copo com água. Ela parece inocente e até ansiosa para que eu beba.
Tomo toda a água e agradeço a ela.
— Faça massagem em suas têmporas. Vai ajudar a aliviar.
Ela me dá mais um sorriso e volta para a sala de exercícios.

O Arthur voltou com meu pai para casa enquanto fiquei arrumando a papelada do mês. Não
tive como ir à missa hoje. Quando eu me levanto da minha mesa, percebo que o latejar da minha
cabeça se foi. Olho para o copo e percebo que isso realmente ajudou.
— Estou indo, doutor. Vejo o senhor amanhã.
— E a estagiária? — pergunto. E por algum motivo eu não gosto de como isso soa.
— A Vick foi embora há alguns minutos. Ela estava esperando a sua irmã passar o caixa da
lanchonete para o gerente da noite.
Isso me para.
— Como?
Felipa me encara e então sorri.
— Pensei que o senhor sabia. Pela a sua cara, acho que não. — Felipa arruma a sua bolsa
no ombro e pega a chave da sala. — Ela é a irmã caçula de Vanessa.
— Bem, agora faz sentido a atitude protetora dos meus irmãos.
Minha secretária ri.
— Acho que isso é bom. Comprova que ela é boa no que faz e que tem o carinho de pessoas
importantes. — Ela joga a chave em sua bolsa. — Isso faz dela uma candidata especial. Boa noite,
doutor.
Dou um aceno para ela e me apronto para ir.
Recebo uma mensagem de Sophie, dizendo que estará livre em duas horas. É todo o tempo
que eu preciso para chegar em casa e comer alguma coisa.
E por algum milagre, consegui chegar em casa em menos de meia hora numa segunda-feira.
Arthur está estudando em seu quarto e meu pai está no escritório. Depois de um banho quente, que
ajudou mais com a dor em minha cabeça. Pego um lanche e levo ao meu quarto. Ligo meu
notebook e abro a vídeo-chamada com a Sophie.
Minha melhor amiga está lixando as unhas quando aparece na tela.
— Você faz milhões por anos e não paga ninguém para fazer as suas unhas?
Sophie quase cai da cadeira quando digo isso. Ela estava realmente concentrada em sua
pequena tarefa.
— Que susto, Sam! — Ela leva a sua mão ao peito. — Odeio quando você faz esse tipo de
coisa. E sim, eu pago uma moça para fazer as unhas, mas essa semana ela ficou doente e não
pode vir. Então só me resta tentar arrumar elas de algum jeito.
Sophie larga a lixa e se aproxima mais da câmera.
— Não me diga que esse é o seu jantar?! Que vergonha, Samuel. Que vergonha.
— Claro que não, isso é apenas para enganar a barriga. Não queria deixar você esperando,
sabendo que já está tarde aí.
Minha amiga faz uma careta quando digo isso.
— Você sabe que eu não me importo, e de qualquer maneira, ainda demoro muito pra dormir.
Esse seu sanduíche me deu fome. Vou pedir ao Vini para fazer um pra mim.
Ela chama seu filho, que é rápido em atender ao pedido da mãe. Quando ele sai, ela tem um
enorme sorriso em seu rosto. Quando Sophie foi embora, eu sabia que ela iria conquistar o mundo,
mas não pensei que seria tão rápido. E tudo só melhorou quando ela adotou os seus sobrinhos.
— Você parece bem para uma segunda feira — ela comenta.
— Assim como você. Nenhum diretor incomodou você hoje para uma possível compra de uma
terra rica em petróleo?
— Não, apenas um bom dia. E você? Nada de dor de cabeça hoje? Que milagre é esse que
você não está apertando seus olhos? Finalmente tomou os remédios que o médico passou? Deixou
de ser cabeça dura?
Termino o meu suco e sorrio para a câmera.
— Não, apenas tomei um copo d’água.
— E ajudou?
Sophie me olha confusa.
— Você sabia que água é solúvel natural? Que quando ingerido, ela afina o sangue denso e
que dilata os vasos sanguíneos e diminuindo a dor de cabeça?
Sophie me olha por segundos.
— Certo... Isso é um papo para a Gabi.
Não deixo de sorrir com a menção da pequena criatura gênio que Sophie chama de filha.
— Você fala como se não soubesse disso — ela comenta confusa.
Eu me encosto mais na cadeira e cruzo as mãos.
— E eu não sabia.
Sophie parece mais confusa ainda.
— Eu sou fisioterapeuta, não neurocirurgião, Sophie, lembre-se disso.
Ela ri e cruza as pernas.
Ficamos conversando por horas até que ela começa a bocejar.
— Está na hora de ir, preciosa.
Ela arruma os seus cabelos e me dá um sorriso sem jeito.
— Eu tenho sono, mas ele vai embora assim que me deito na cama. — Ela olha para o lado.
— Eu não sei o que há de errado.
— Talvez devesse ir ao médico. Ou tem alguma coisa que está te incomodando e você não
quer me dizer?
Ela aperta os lábios e eu já sei do que se trata.
— David não pode manter essa mulher longe de você, Sophie? Ela deveria se manter
afastada pelo que você paga a ela. E eu não gosto que faça isso.
Nos nossos dez anos de amizade, sendo que sete deles são a distância, eu ainda me preocupo
com ela. Eu ainda não sei o que a megera de sua mãe fez. Mas saber que isso a abala é o
suficiente para querer matar a mulher.
— Não quero que fique chateado com isso. Você já tem motivos demais treinando o novo
estagiário. Vá dormir, Sam. Eu ligo para você amanhã.
Nós nos despedimos e eu vou para cama dormir, mas acabei tendo um sonho estranho e não
consegui mais pregar o olho.
Alguém vai ter que aguentar o meu mau humor amanhã.
Vou tentar o meu melhor para não assustar a menina.
Capítulo 2
Os motivos para desistir são árduos, trapaceiros e incansáveis. Mas com uma
certa façanha, você começa a enganá-los.
Victória

E u tenho milhões de motivos para ficar sorrindo, mas o principal deles hoje é ter conseguido o
estágio onde desejava. No hospital onde é referência em saúde, especialmente em
fisioterapia. Onde os maiores fisioterapeutas conseguem seus estágios e se forem bons o bastante
conseguem ser incluídos no grande quadro de profissionais que eles possuem.
É por saber disso que não me importo em acordar às cinco e trinta da manhã para não
perder o ônibus e o metrô para ir à faculdade. Estou no último semestre e eu nem consigo
acreditar que já estou me formando.
— O café está pronto — Vanessa, minha irmã mais velha, diz baixo quando coloca a cabeça
para dentro do meu quarto. Ela ainda está de camisola, pois eu sou a única que tem que levantar
cedo.
— Obrigada, mas já disse que eu posso fazer o café antes de ir. — Mostro língua para ela
quando termino de vestir a calça.
Ela apenas faz um bico de zombaria e vai para a cozinha. Depois que eu saio, ela não dorme
mais. Pegando o meu jaleco e a mochila, vou tomar o café que ela fez. E como eu imaginava, ela
está preparando a mochila de minha sobrinha Diana para ir à escola.
— Você deveria estar na cama ainda.
Vanessa finge que não ouviu o que eu disse.
— Estava tão cansada ontem que nem tive a chance de perguntar como foi o primeiro dia no
hospital.
Foi bom, eu acho. Mas não tanto quanto eu pensei que seria. Porque eu sei que o meu mais
novo chefe não foi nem um pouco com a minha cara. E eu tinha que estragar as coisas batendo de
frente com ele.
Mas eu não gostei da forma como ele falou com o pobre garoto. Concordo que o menininho
fez birra, mas ele deveria ter um pouco mais de paciência. Não ficar dando bronca em um menino
de dez anos.
E a minha língua não ficou presa. Quando mais precisei mordê-la, ela acabou se soltando e
dizendo que não daria certo. E certeza que não vai funcionar, só a cara de mau humor do meu
chefe fez a coisa toda piorar. Tá na cara que ele vai me infernizar.
Quando o Simon me disse para ter paciência com o meu novo chefe, pensei que ele estava
exagerando. Mas foi apenas receber um olhar de ódio do enorme e homem que eu sabia que
estava em águas bem agitadas.
Ele foi educado quando o conheci, mas não escondeu o desgosto quando falei algo que ele
não gostou.
Ótimo, eu conquistei o ódio do cara sem nem mesmo tentar.
— Foi bom. Conheci o andar em que vou trabalhar e já tenho meu próprio crachá. — Deixo a
caneca em cima da mesa. — Eu vou indo, não quero chegar atrasada.
Dou a volta na mesa e dou um beijo na Vanessa. Ela estala os lábios e continua o seu trabalho.
— Vick?! — ela me chama e eu apenas coloco a cabeça para dentro da cozinha. — Tenha
paciência com o Samuel — ela pede com carinho.
É a terceira pessoa que me pede isso. Acho que é a maneira deles de proteger o enorme
cara. Entendo que seus irmãos tenham me pedido isso, mas a Vanessa... Samuel deve ser uma
pessoa bem especial para ela me pedir isso.
— Você sabe que não sei dizer não para você.
— Victória — ela me pede mais uma vez.
— Eu vou fazer isso, Nessa. Eu consegui o estágio dos meus sonhos e estou feliz. O mal-
humorado não vai conseguir estragar isso, confie em mim. Eu sei me cuidar e fazer as coisas darem
certo. E não se preocupe, eu vou ensinar a ele o significado de explosão e alvoroço.
Ela ri e eu a deixo com seu serviço, andando depressa para a parada de ônibus. Meu irmão
deve estar chegando essa semana e mais uma vez um sorriso fica estampado no meu rosto. Assim
que chego à parada, o ônibus para fazendo que o dia comece bem. Dou bom dia ao motorista e
ao cobrador, que retribuem.
A viagem até a estação do metrô dura quinze minutos. Assim que desço na primeira estação
encontro o meu homem favorito no mundo. Lucas é o meu melhor amigo desde que eu me lembre. É
a mulher que eu quero ser quando crescer.
— Bom dia, flor do dia! — Ele pega a minha mochila e engata o seu braço ao meu.
Lucas é aquele gay escandaloso que é essencial em nossas vidas. Como ele gosta de dizer, é
o açúcar do meu chiclete. Somos unha e carne desde o primeiro esbarrão na faculdade e assim
ficamos.
— Bom dia, minha purpurina. — Pego o meu chiclete e dou a ele.
— Vai acabar tendo diabetes por tanto doce, menininha.
Ele me chama assim porque não cresço desde os treze anos de idade.
— Sem açúcar. — Nosso segundo metrô chega e entramos. Lucas me puxa para o final do
vagão, onde tem dois lugares vazios.
— São doze minutos daqui para próxima estação. As minhas pernas vão agradecer.
Solto uma risada.
Meu melhor amigo assim como eu, conseguiu seu estágio, mas ele estuda bioquímica e trabalha
na parte de laboratório do hospital.
— Como foi o seu primeiro dia? — pergunto puxando o livro que peguei na biblioteca ontem.
— Existe alguém que não gostou logo de cara?
— Não, até agora todos são legais, mas ainda não confio em nenhum sorriso. Você sabe disso,
menininha.
Oh se sei! Eu aprendi da forma mais dolorida que devo confiar no radar de gente que não
presta que o meu amigo possui.
— Com certeza.
— Mas tudo normal. As meninas são bem-humoradas e os dois rapazes que estão lá são uns
gatos, mas comprometidos. Sou uma moça bem-comportada e não gosto de magoar as amiguinhas.
Aperto os lábios evitando uma escandalosa gargalhada que eu quero soltar.
— Mas e você? O irmão do meio é tão gostoso quanto o mais velho? Vamos, amor, encha-me
com os detalhes do gato.
Eu pensei que nunca veria um homem tão alto quanto o meu irmão. Eu conheci Simon Hamilton
em uma das vezes que ele deu carona para minha irmã e sobrinha. Eu pensei que ele seria o único
gigante que veria pelo resto da minha vida, mas eu ainda não tinha visto o seu irmão do meio.
Samuel Hamilton leva a outro nível a elegância da sua família. Eu consegui algumas
informações sobre ele, todas me assustando de muitas formas.
O homem é a descrição de controle, estatísticas e sucesso. Tudo o que ele montou nesses anos
deu mais do que certo. Isso me deixa um pouco medrosa em estragar as coisas. Mas não o
bastante para ficar sempre com medo. Ainda me lembro das palavras do meu orientador e a
forma como ele tem elogiado o meu ensaio do TCC.
Saber que a opinião dele contou muito para conseguir a vaga do estágio foi uma deliciosa
cereja do bolo. E eu nem gosto disso. Porém, a minha animação não conta como carga horária que
a faculdade exige. Mas ao menos é o que eu preciso. Não tenho necessidade de estar em dois
estágios no mesmo dia e a remuneração é ótima.
Meu supervisor, não é mão fechada em referência a renumeração. Sei que ao menos oitenta
por cento da minha turma se candidatou para o hospital. Mas de acordo com nosso reitor, eles
aceitam apenas indicações dos professores, juntamente com os históricos dos alunos.
Achei que não conseguiria, mesmo dando até a minha última gota de suor, virando as noites
estudando, não imaginei que conseguiria a vaga. Porém, devo isso a minha irmã também. Já que
ela em sua inocência comentou com o Simon sobre a minha procura de estágio.
E foi na inocência mesmo, pois ela ficou tão surpresa quanto eu quando me chamaram para a
entrevista. Eu não queria acreditar que consegui a vaga porque conheço o Simon e por ele achar
que seria melhor ter alguém conhecido ao lado do irmão mais novo. Esse pensamento foi deixado
de lado no momento em que Simon me garantiu que confia em mim e que meu histórico e
recomendações são impecáveis. Foi naquele momento que ouvi suas palavras que percebi que
estou mais do que pronta para o desafio.
E não vai ser o irritadiço do meu chefe que vai estragar o meu momento.
— Você ficou calada — Lucas comenta. — É tão ruim assim?
O que eu posso falar a ele?
— Bem, ainda não sei — digo levantando e dando lugar a uma senhora com uma menina em
seus braços. Ela me agradece e dou apenas um sorriso as duas e volto para o meu amigo. —
Quem eu conheci até agora foi legal comigo. Aprendi sobre as regras do hospital, já assinei o
contrato e conheci o meu supervisor.
Lucas faz um bico e já sei qual será a sua pergunta.
— Ele é tudo aquilo que vemos nas revistas?
Ele é tudo aquilo e muito mais.
Samuel Hamilton não pode ser ignorado. Mas eu sei que não posso acreditar em tudo o leio
nessas colunas de fofocas. O que mais me interessa no homem, é o que eu vou aprender com ele.
Não o que ele estava vestindo no último jantar que ele participou.
Isso é claro, se eu sobreviver aos seus olhares de ódio. Que eu percebi que é algo natural
para ele. Dirigido para as demais pessoas da face da terra. O único que parece ser imune a esses
olhares é o Arthur.
Fiquei apenas alguns momentos com os dois em sua sala, porém, o suficiente para ver que
Samuel tem um amor incondicional pelo garoto.
— Menininha?
— Ele é mais, com certeza. Mas ainda não conversei com ele o suficiente para saber o seu
espírito. E acho difícil conseguir. — Pego a minha mochila e vou para a porta do metro. — Ele é
bem fechado.
— Suspeitava. Mas com você, pode ser que ele converse.
— Duvido. — Saímos do vagão e nos misturamos ao povo que não para nessa cidade. —
Mas eu não estou ali para ser melhor amiga dele e sim para conseguir o meu diploma e deixar a
minha irmã orgulhosa.
Lucas revira os olhos.
— Como se ela já não tivesse orgulho de você.
Nós dois paramos e procuramos as meninas que sempre estão aqui.
— Ali.
Lucas assovia e as cadelas correm para perto de nós dois. As duas cadelas aprenderam a
não pular quando as chamássemos. Foi difícil, mas conseguimos. Agora elas apenas viram a
barriga para cima e recebem carinho que damos.
Eu não posso evitar, esse é um dos melhores momentos do meu dia. Ter esses dois anjos dando
amor e carinho logo no início da manhã, faz cada segundo valer a pena.
A mãe da menina está mais saudável a cada dia. O senhor da padaria na esquina está
cuidando bem dela. Já a menina, é a mais danada e seus pelos estão mais brilhantes.
Tiro da minha mochila o pote de ração e vou até o grande muro onde tem as suas vasilhas.
Lucas e eu cuidamos dela desde o terceiro período, quando ajudamos a mãe a cuidar do único
filhote que sobreviveu. Ela estava muito magra e com a pata machucada. Tivemos sorte do dono
da padaria nos ajudar quando estávamos na faculdade. Nosso trio conseguiu cuidar das duas. E
para que não aconteça de novo, resolvemos castrar as duas.
— Acho que temos que comprar remédio de novo — Lucas diz quando mostra um parasita na
orelha da mãe.
Adeus mochila nova.
— Na sexta-feira eu passo aqui.
Não adianta minha irmã esgotar a sua saliva. Eu não vou abandonar esses dois anjos. Nessa
sexta é a minha vez de cuidar das duas e ter os meus momentos com elas.
— A gente vai dar um jeito, Vick.
Depois de dar e receber amor as duas, andamos mais do que depressa para a faculdade.
Cada um para um lado diferente.
Assim que chego à minha sala, o professor de Administração em Fisioterapia me dá um joinha.
É o seu jeito de me dar os parabéns por ter conseguido a única vaga do tão concorrido estágio.
Sei que tem olhares de ódio direcionado em mim, por conta disso. “Não basta ser bolsista
integral, ainda tem que conseguir o melhor estágio.” Eu consigo ler esses pensamentos em cada
cara de desgosto deles. E não posso fazer nada além de feliz por mim. E dar o meu melhor para
que continuem me odiando, enquanto eu alcanço os meus objetivos sem pisar em ninguém.
Pego o meu caderno e começo a fazer as minhas anotações da aula. Percebo que eu preciso
ir até a biblioteca ver meus emails e saber se tenho algo para entregar.
Será que eu consigo dar entrada em um notebook pra mim? Sei que posso usar o do meu
amigo, mas estou ficando sem jeito de ter que usá-lo quando eu sei que ele precisa.
O Victor está chegando e vou pedir para ele ser o meu avalista. Com essa grana boa que vai
entrar, vou poder comprar um e terminar o meu TCC.
Não vou usar o do hospital, pois não quero dar nenhum motivo para me dispensarem. Depois
de três longas aulas, vou para a biblioteca, mas antes paro na sala do meu orientador.
— Tem alguma coisa para mim? — Pergunto quando meu professor aparece.
— Sim, entre. Eu quero falar com você.
Assim que estou acomodada na cadeira, José me entrega dois papeis e diz algo que doloroso
de se ouvir.
— Seu supervisor queria outro estagiário para ele.
Isso é como queimadura por todos os meus músculos.
— Mas eu pensei...
— Deixe que eu termine, Vick. — Ele pede levantando o dedo. — Ele me ligou cedo. Eu nem
tinha tomado meu café quando o telefone tocou. Ele acha que você ainda não está pronta para o
cargo que ele está oferecendo. Disse que as suas notas são boas, mas ainda não sabe se você é a
pessoa certa para estar ao lado dele.
Eu acho que estou chorando.
— Mas eu disse a ele quem você é, Victória. — José diz com a voz firme.
— Eu não entendo.
— O Samuel foi o meu melhor aluno, mas também o mais problemático em algumas questões.
Ele tem um gênio difícil e é um pouco antissocial, mas é uma boa pessoa. Apenas não é bom com as
pessoas.
Então porque ele trabalha com pessoas?
— Ele seguiu a carreira da mãe, para ter algo que o ligasse a ela. Não é uma profissão que
eu acho que combina com a personalidade dele, mas eu sei que ele ama o que faz. Apenas
precisa de um pouco mais de desenvoltura. E é aí que você entra, Vick.
Ainda não entendi.
— O Samuel precisa de alguém que mostre a ele o quanto é bom o trabalho que ele faz...
— Quer que eu idolatre o cara?
— Não, claro que não. Quero apenas que você mostre a ele como fazer as coisas do modo
mais fácil. — Ele sorri para mim. — Quero que você mostre a ele as coisas boas que ele faz, mas
não consegue enxergar e nem aceitar. Você não vai precisar sentar e ensiná-lo. O seu jeito vai
fazer isso e nem vai perceber.

Eu fiz o que sempre faço de melhor: coloquei nas mãos de Deus e decidi dar o melhor de mim.
Se der errado, ficarei com a consciência tranquila porque dei o meu melhor. Mas eu sei que vai dar
certo, porque se tem uma coisa pela qual eu luto todo dia, é que tudo no meu mundo esteja bem.
— Eu gosto desse seu sorriso, Vick — digo a mim mesma enquanto arrumo o meu cabelo.
Faltam apenas alguns minutos para começar a trabalhar.
Precisava trocar de roupa então corri para o banheiro dos funcionários. Mas não posso fazer
muita coisa, além de uma leve maquiagem que minha irmã me deu depois do almoço. Eu não sei
muito sobre essas coisas, mas eu preciso estar mais apresentável por conta do trabalho.
Respirando fundo e pedindo sabedoria, deixo a bolsa no meu armário e vou para a ala de
fisioterapia. Eu sei o que tenho que fazer, apenas não sei se vou conseguir. É mais fácil falar do
que fazer.
— Boa tarde, Vick — Felipa diz assim que passo pela porta. — Você já almoçou?
— Boa tarde, dona Felipa. Sim, eu acabei de voltar da lanchonete. Queria alguma coisa?
Ela me dá um grande sorriso.
— Primeiro, vamos tirar essa “dona” da frase. Segundo, queria ter almoçado com você para
nos conhecermos mais. Mas podemos fazer um lanche mais tarde. O que me diz?
— Eu adoraria. Tem alguma coisa para mim agora?
Ela mexe em alguns papéis e me entrega uma pequena pasta rosa.
— Eu não posso deixar que você fique com os pacientes sozinha, mas posso te usar para me
ajudar com todos esses procedimentos médicos que precisam ser autorizados.
Ela se levanta e pega o notebook que está guardado em um armário.
— Eu costumava usar esse quando levava trabalho para casa, mas o doutor Samuel me
proibiu de fazer isso. Porém, eu posso pegar você para me ajudar. Você se importaria?
— Claro que não. Qualquer coisa a se fazer é melhor do que ficar olhando para o nada.
Que é exatamente o que o meu supervisor quer. Ou ele acha que é a única coisa que eu sei
fazer.
Felipa me ajuda com o programa de faturamento. Eu sei que nem deveria estar vendo esses
números, mas se é para ajudá-la e aprender, eu farei. Ela se entende com os cálculos e eu com os
códigos que ela desconhece.
— Você sabe? Eu fiquei muito feliz pelo o que você fez com o Luigi ontem — ela comenta
baixo enquanto pega um dos meus doces para mascar. — Eu não o culpo por ser assim. Isso é tudo
culpa dos pais deles que nem mesmo se importam em saber se ele está se recuperando ou não.
— O Doutor Samuel também não parece se importar.
Deixo escapar antes de pensar.
— Eu sei que você pensa que ele é assim. Eu também tive essa impressão dele no início, mas
garanto a você que o Samuel é a pessoa mais especial que você vai conhecer nesse hospital, Vick.
Ele é turrão apenas quando não conhece a pessoa, mas assim que ele percebe que você vai dar o
melhor de si, você vai ver quem ele é de verdade.
— Por que todos me dizem isso? Alguma coisa ruim aconteceu?
Ela dá de ombros, mas para de teclar.
— Não, estou com o Samuel desde que me formei e ele sempre foi muito reservado. — Ela se
vira para mim. — Dê a ele uma chance de mostrar o grande coração que ele tem. E eu sei que ele
também vai se encantar com o seu.
Dou a ela um aceno e volto a trabalhar com os códigos que ela me pediu, mas não demorou
muito para os pacientes da tarde chegarem. Felipa me apresenta aos demais fisioterapeutas e diz
que logo estará me apresentando aos ortopedistas que fazem parte da equipe que meu
supervisor comanda. Eles parecem bem profissionais quando passam rapidamente por mim, mas
são educados o bastante para me dar um sorriso quando passo por eles.
— Dr. Franklin. — Felipa o saúda quando ele se senta à nossa frente. — Me deixe
apresentar, Victória, a nossa nova estagiária.
O homem moreno com os olhos castanhos mais amigáveis que eu já vi me encara com um
grande sorriso, um sorriso que é impossível não retribuir. Ele estende a mão para mim e eu a
aperto com firmeza.
— Gostei de você — diz. — Tem um sorriso encantador, mas não esconde o seu espírito forte
com esse aperto de mão.
— Obrigada.
Ele olha para Felipa.
— Agora eu sei por que foi Simon fez a entrevista com ela.
Não entendi.
— Eu não acho que ele iria castigar o irmão dele dessa forma, doutor. Você sabe tanto
quanto eu, que os irmãos são protetores um com o outro.
— Eu sei disso, mas isso não quer dizer que eles não vão arrumar um jeito de passar algumas
lições uns para os outros. — Ele se vira para mim. — Estou indo agora para uma sessão de com
um paciente que está se recuperando de um acidente. Posso levar você comigo? Por favor, diga
que sim. Eu gosto de ensinar a pessoas que gostam de aprender. E eu sei que você gosta de
aprender.
— Como sabe disso?
— Eu li o seu histórico da faculdade — diz baixinho como se isso fosse um segredo. E eu acho
que é, já que Felipa resmunga algo como “Você não aprende”.
— Já que você quer me ensinar, não serei estúpida em recusar. — Olho para Felipa, que está
sorrindo. — Se o doutor Samuel perguntar por mim, pode informá-lo que estou com o doutor
Franklin?
— Claro, querida. Mas não demore, quero aquele lanche com você.
Sigo o médico até a última sala da ala. Ela é grande, com vários equipamentos escuros.
— Você é especializado em fisioterapia cerebral!
Não posso esconder a admiração na minha voz. E nem quero. Cada célula do meu corpo está
feliz e encantada com cada parte que eu conheço desse hospital. E essa em especial, é uma das
salas que eu amo.
O amor que as pessoas possuem em querer cuidar de outras é o que me fez ter certeza de
que é isso que eu quero para minha vida. Ajudar as pessoas é o que me faz bem.
— Parece que você vai explodir com tanta felicidade.
O homem moreno comenta sorrindo.
— Eu acho que é isso que vai acontecer — digo alisando os lençóis da cama. — Você é uma
das minhas pessoas mais favoritas do mundo agora. Sério, eu posso me casar com você agora
mesmo.
— Minha mulher não vai gostar muito disso, mas tudo bem. Eu entendo que sou irresistível. —
Ele brinca. — Agora vem aqui, deixa eu te explicar o que aconteceu com ele.

— Toc, Toc. — Franklin e eu olhamos para a porta. Ficamos mais de duas horas com um
paciente com sequelas cerebrais. Eu tentei segurar o choro, mas foi muito difícil. Mas tanto o doutor
Franklin quanto o paciente, me acalentaram.
— Ei, cara! — Franklin diz quando Simon entra na sala. — Eu quero te agradecer por ter
trazido a Vick para a gente esse semestre.
O grande homem parece feliz em dizer isso.
— Sou eu que tenho que agradecer por ela ter aparecido. — Simon anda na minha direção
e me abraça de lado. Eu me sinto uma formiga ao seu lado, pois fico na altura do seu peito.
Isso é tão constrangedor.
— Acho que fiz bem em ter conseguido você, hein? Mas estou te roubando agora.
— Como?
— Papai está nos esperando para um lanche — diz já me levando para fora da sala.
— Mas eu estou...
— Eu não recusaria um convite do chefe, Vick — Franklin diz animado. — Pode ir, querida. Eu
arrumo tudo por aqui.
Com isso, eu vou com o Simon para o térreo. Mas antes ele pega o meu jaleco e deixa na
minha mesa, junto com o dele.
— Avise o meu irmão que a Vick está comigo.
É a única coisa que ele pede para Felipa fazer.
Tenho certeza que irei levar uma bronca por estarem sempre me tirando do meu local de
trabalho.
Muito bem, Victória. Você está fazendo tudo certinho!
— Não se preocupe. O Sam não vai te encher por causa de um lanche — diz chamando o
elevador. — E se ele fizer, diga para ir falar com o meu pai.
— Eu não vou fazer isso.
Simon sorri como se duvidasse. Mas eu não faria isso. Eu não estou aqui para ter fama de
fofoqueira. E isso apenas iria diminuir os inexistentes pontos que eu tenho com o meu supervisor.
O elevador chega ao térreo e assim que saímos, eu olho diretamente para um senhor alto,
com o mesmo porte do homem que está ao meu lado. Não é à toa que os irmãos Hamiltons sejam
grandes em todos os aspectos. O patriarca da família não deixa a desejar quando quer mostrar a
sua grandeza e autoridade em seu império.
Engulo em seco quando ele me encara firmemente. Mas logo o seu olhar de avaliação muda
para um olhar de simpatia e alegria. Seus olhos negros de alguma forma conseguem transmitir isso
para mim.
— Olá, Victória!
O patriarca Hamilton estende a sua mão para mim. E por alguma razão desconhecida, estou
intimidada com a sua presença. Simon discretamente bate nos meus ombros, me fazendo dar um
passo para o seu pai. Sandoval Hamilton parece bem divertido com a situação.
— Boa tarde, doutor.
Minha voz sai baixa demais. Isso diverte os dois homens.
— Finalmente estou conhecendo você. — Ele aperta minha mão suavemente e então me
abraça. — Seja bem-vinda ao nosso hospital. Agora vamos, pois estou com fome. Me torturei no
caminho passando pela lanchonete e senti o cheiro de quindim. Espero que a Vanessa tenha
guardado uma fornada pra mim.
— Ah, ela com certeza guardou, pai. Se Didi estivesse aqui, já estaria atrás de mim com essas
torturas em forma de doce. Aquela menina quer de toda forma me deixar diabético. — Simon
comenta enquanto caminhamos para a lanchonete.
E como o grande homem disse, o cheiro é torturante demais. Minha irmã sabe muito bem como
tentar as pessoas.
Pegamos uma mesa próxima à vitrine e só de olhar para ela, eu já sei o que eu quero. Mas
não deixa de ser estranho ter essas delicias que fazem mal à saúde em um hospital.
— Como posso servir essas três pessoas muito importantes? — Minha irmã aparece com um
grande sorriso em seu lindo rosto. Ela pisca para mim enquanto entrega os cardápios e uma
garrafa d’água. — Tenho quindim bem quentinho esperando pelo senhor, doutor Sandoval.
— Traga cinco, por favor — ele pede sorrindo.
— Apenas um, Nessa — Simon diz sério, fazendo seu pai revirar os olhos. O seu filho mais
velho nem liga, já que me serve um pouco d’água sem cerimônia.
— Eu vou querer um sanduíche de atum com uma coca diet. — Simon diz e então olha para o
seu pai, que ainda está vendo o que vai querer.
— Eu quero o mesmo que o Simon.
Minha irmã ri e olha para Sandoval.
— Eu prefiro uma coca original bem gelada e um queijo quente com ovo... — Ele olha para o
seu filho. — Já que hoje eu tenho uma babá me controlando.
Não tem como evitar e todos nós rimos com o seu resmungo. Assim que minha irmã sai dizendo
que logo trará o nosso lanche, Sandoval que está a minha direita pergunta.
— Qual é a sua primeira impressão de tudo isso, Vick? — diz olhando diretamente para mim.
Cruzo as minhas mãos em cima da mesa e me remexo na cadeira, um pouco nervosa com a
sua pergunta direta.
— Ainda é cedo demais para ter alguma opinião, mas estou feliz com o que eu estou vendo e
fazendo até agora. E eu tenho muito que agradecer ao Simon por ter me dado a chance de estar
aqui.
Simon me abraça de lado mais uma vez e beija meu cabelo. Até sentado, ele consegue ser o
dobro de mim.
— Bem, estou feliz que temos você conosco, querida. — Sandoval diz muito gentilmente. —
Você não deve desmerecer o seu trabalho e esforço. Eu vi o seu histórico da universidade, vi as
suas notas e também soube pelo Simon quão elogiada você é pelos seus professores. Em todos os
meus anos na área, eu tive apenas um funcionário assim e ele é o seu supervisor.
Ele não me ajudou em nada com essa informação.
— Eu sei que dizer isso a você vai colocar algum peso em seus ombros. E de nenhuma forma é
a minha intenção — ele comenta calmo. — Digo isso apenas para que entenda o quanto ele é
exigente e difícil. — Sandoval suspira pesadamente. — E eu não sei como dizer isso a você, sem
que eu me sinta culpado. Mas meu filho é o que é eu e não posso mudá-lo. Ele é a pessoa mais
forte que eu conheço. Com um coração bom, apenas não demonstra muito.
— Eu não tenho dúvidas de que ele é um ótimo profissional.
Ele concorda com um aceno de cabeça.
— O que meu pai quer dizer é que você precisa ter paciência com ele, Vick. Sam tem um
grande coração, mas ele não é a pessoa mais fácil do mundo. Sei que é uma sacanagem estar te
pedindo isso, mas... — ele faz uma pausa olhando para o seu pai, que com um aceno de cabeça,
diz para continuar. — Mas não desista dele, tudo bem? É estranho te pedir isso. Mas é o que eu
consigo colocar em palavras. Apenas eu, Arthur e o papai o entendem completamente.
— A Sophie também — Sandoval diz hesitante. E a forma como o Simon aperta os punhos,
anuncia que ele não gostou de ser interrompido.
— Por que sabemos como ele se sente. Samuel é perfeccionista, controlador e cheio de
regras. Não sei te dizer o motivo, mas ele é assim. Ele precisa que tudo esteja correto ao seu redor.
Que tudo saia como ele planeja.
— Então por que me escolheu para trabalhar com ele?
Será que Simon não percebeu que isso seria uma enorme tragédia?
— Porque você é a melhor. Não preciso ser um gênio para saber que você é boa, Vick. Eu
não pensei no meu irmão quando resolvi trazer você, eu pensei na grande profissional que
estaríamos ganhando com você aqui.
Eu acho que vou chorar.
— Eu tenho certeza que você já viu um pouco do meu filho.
— Sim. Ele queria se livrar de mim hoje, mas o meu orientador disse que não tem mais nenhum
aluno disponível para ele.
O que é uma mentira. José disse que se eu saísse, ele não mandaria mais ninguém para cá.
— Eu suspeitava que isso fosse acontecer — Sandoval comenta. — O Arthur me contou o que
você fez ontem. Mas não se preocupe, eu vou falar com meu filho. Eu o amo, mas ele está se
tornando uma pessoa insuportável esses dias.
— Aqui está!
Minha irmã traz nossos lanches e logo em seguida nos deixa a sós para conversar. Meu
estômago resmunga quando dou a primeira mordida. E os dois homens parecem sentir o mesmo.
Estou comendo o meu quindim quando o tema da nossa conversa aparece na lanchonete.
— A garota nem mesmo começou e vocês já estão roubando-a de mim?
É a primeira vez que eu ouço um resquício de humor em sua voz.
— Sente-se filho. A Nessa tirou uma fornada de doce agora mesmo.
Samuel tira o doce de seu pai e coloca no prato de seu irmão. E então despeja a coca diet no
copo de seu pai, que como uma criança que perdeu o seu doce, faz uma cara de choro.
— Eu não tenho mais nenhuma moral com vocês dois.
— Quando se trata de sua saúde, não tem mesmo — Samuel diz. — Quando você terminar
aqui, me encontre na minha sala. Tenho coisas para mostrar a você.
Ele se vai e nós três nos encaramos.
— É a primeira vez que eu o vejo ser educado com um estagiário.
Dou um sorriso aos dois.
— Que bom que foi comigo!
Capítulo 3
Era suposto dar tudo certo. Assim como dois mais dois. Mas a equação que é
seu espirito, teve que bagunçar tudo.
Samuel

M inha cabeça está queimando. Meus olhos estão ardendo, como se tivessem jogado pimenta
neles. E para completar, a minha coxa está dolorida, pois pisei em falso ontem à noite.
— Eu sei que deixei aqui, doutor — Felipa diz nervosa ao mesmo tempo em que mexe nas
duas grandes pastas onde mantemos os relatórios mensais dos últimos seis meses.
Se eu não tivesse visto com meus próprios olhos que ela colocou ali, diria que ela havia
colocado em outro local.
— Não se preocupe. Eu tenho cópias com o financeiro. Teremos que esperar até o final do dia
para tê-los de volta.
Felipa continua nervosa mesmo após minha tentativa de tranquilizá-la. Às vezes eu sofro por
ser tão carrasco, mas é um preço que pago para que as coisas ocorram bem. Na verdade, eu não
sofro por isso. Ao contrário. Eu gosto que as pessoas tenham um pouco de medo de mim, pois só
assim fazem o trabalho que é pra ser feito.
— Vá tomar seu café, Felipa e traga um para mim, tudo bem? Eu resolvo esse problema com
o Simon ainda hoje.
Hesitante e com um sorriso de desculpa, ela corre para fora da minha sala, me deixando com
um pouco de paz. Tomo toda a água que está em minha caneca térmica e encaro a pílula que está
sendo minha fiel companheira essa semana.
— Precisa trocar esses óculos?
Mesmo ouvindo a voz do meu irmão mais velho, continuo com a cabeça apoiada na mesa e os
olhos fechados.
— Sam, eu já disse a você que essa sua enxaqueca não é normal. Temos um neurologista a
dois andares a cima. Não vai perder meia hora falando com ele, mano.
Eu deixo que ele fique falando.
— Sam.
Aceno com a mão, pedindo para ele diminuir o tom. Mas odeio ter que concordar com ele. Eu
preciso trocar esses óculos e ir novamente ao neurologista. Acho que esses remédios não estão
mais ajudando, mesmo tomando no horário certo, não sinto o alívio como no início do tratamento.
— Eu vou fazer isso essa semana. Prometo.
Ouço-o arrastar da cadeira e sei que ele está sentado à minha frente.
— Pensei que teria que recorrer ao Arthur para fazer você ir.
Gemo quando solto uma baixa risada. Simon e papai sabem como fazer com que eu ceda a
alguma coisa. Basta usar meu irmão caçula, que eles me têm onde querem.
Enquanto todos desmoronavam depois que minha mãe se foi, eu foquei na pessoa que mais
importava no mundo naquele momento. Na pequena bolinha que era meu irmão. Um ser tão
inocente envolvido em toda a confusão que estava ao redor da nossa família.
Eu sabia que mamãe iria me pedir para que tomasse conta de todos eles. Especialmente do
Arthur. Eu consigo até mesmo ouvir sua voz pedindo que cuidasse dele como se fosse meu.
Que olhasse tanto por ele, quanto por meu pai e Simon. E eu sabia que ela confiava em mim
para fazer isso. De alguma forma, ela sabia que eu seria o único a fazer o que ela esperava.
Mamãe me preparou para isso. Ela me ensinou a tomar conta de tudo enquanto estava conosco. Eu
apenas não sabia que iria precisar tomar conta de todos eles tão cedo, com apenas onze anos de
idade.
Mas eu fiz. Meu irmão mais velho está formado. Meu pai continua sendo um respeitado médico
na cidade e presidente de seu próprio hospital. Meu irmão caçula está com quinze anos e me
dando trabalho. Entre equilibrar o meu dia a dia e cuidar de todos, consegui de alguma forma me
formar e ter a minha carreira.
Jonas, um amigo que a minha família não conhece, diz que isso prejudicou o meu senso de
viver e aproveitar a vida. Evolui cedo demais, perdendo assim as coisas boas da vida. Mas como
eu sempre digo para ele, eu tenho tempo de sobra para fazer essas coisas. E não me arrependo
de nada.
Já que tudo isso é culpa minha.
Se não tivesse pedido, implorado a mamãe para me dar mais um irmão, ela estaria aqui.
Arthur provavelmente não, mas ela estaria aqui comigo. Se pudesse escolher, escolheria que Arthur
viesse antes de mim. Assim as duas pessoas mais especiais do universo poderiam viver lado a lado.
Mas eu, infelizmente, não posso. Porém, eu faço de tudo para fazer com que a minha mãe
esteja presente na vida de todos nós. E isso é uma coisa que eu não me canso.
Nunca.
— Então eu vou falar com ele para te atender ainda hoje — Simon me chama de volta
quando diz isso.
— Claro, por favor. Assim quem sabe eu consigo algo que possa aliviar esse latejar — digo
levantando a minha cabeça lentamente. — Eu preciso ir, tenho a reunião de Arthur hoje.
Simon concorda. Ele sabe que quando se trata do nosso irmão caçula, eu tenho a última
palavra. O papai mesmo sabe disso, ele apenas concede a benção ou não dependendo do caso.
Mas quando se trata de Arthur, papai é o tio que estraga o garoto e eu tenho que tenho que
arrumar as coisas.
— Lembre-se que ele é o capitão do time de futebol. As notas devem ser as melhores — ele
diz se levantando. — Ah, o Diones ligou, ele quer saber se rola alguma coisa na sexta. Eu não
estou de plantão, então estou dentro.
Aceno para ele. Simon sabe que isso significa que eu vou pensar. Ou seja, é muito provável
que a minha resposta seja não, já que na maioria dos meus fins de semana eu estou ocupado com
meu mestrado.
— Olá, senhores. Boa tarde ou bom dia, dependendo do caso.
Minha estagiária entra sorrindo na sala. E eu não consigo parar de encará-la, até que ela
esteja na minha frente.
— Olá, sumida! — Simon aperta o ombro dela quando para na porta. — Me faz um grande
favor? Leve o seu chefe até a sala do neurologista assim que ele voltar do seu compromisso.
Alguma coisa me diz que ele vai te ouvir sem nem pestanejar.
Eu continuo olhando para Victória que não entendeu nada do que meu irmão quis dizer. Ela se
vira para me encarar e seu semblante não esconde a sua preocupação comigo.
— Está com dor de cabeça novamente? — ela diz baixo, como se sua voz pudesse explodir
minha cabeça. E eu acho que pode. — Por favor, me diga que tomou alguma coisa?
Ela parece desesperada para que minha resposta seja sim. E apenas por causa disso, eu abro
a gaveta da minha mesa e pego o comprimido rosa. Victória vai mais do que depressa para o
bebedouro e pega um copo com água para mim.
— Obrigado.
Ela sorri aliviada e feliz.
— Não tem que agradecer. E não se machuque desse jeito. Quando sentir que suas crises
estão chegando, tome logo o remédio. Não é nada legal ficar sentindo dor.
Sua é voz é suave e cheia de carinho e afago. Só então percebo que ela está falando da
mesma forma como fala com as crianças. Mostrando a sua preocupação. Eu tenho que dar o braço
a torcer, pois graças a ajuda dela, conseguimos evoluir o com três crianças que estavam presas
comigo durante semanas.
Simon vai me perturbar, mas ele tinha razão. Victória é boa no que ela faz. Mas ainda não
está perto de me fazer acreditar nisso cem por cento.
— Eu vou à reunião do meu irmão, mas não demoro muito. Franklin vai supervisionar você com
os meus dois pacientes essa tarde. — Seus olhos verdes se arregalam quando digo isso. — Não se
preocupe. Ninguém vai te impedir de fazer o seu trabalho. Só precisamos ter certeza de que você
está preparada para ter a sua própria demanda de pacientes.
Seu sorriso não vacila nenhum pouco. Na verdade, parece bem maior do que antes. Ela não
aceita nenhum golpe.
— Como o senhor preferir — diz animada.
Ela sai da sala e eu arrumo as minhas coisas, fechando as gavetas da minha mesa.
Arthur não é o adolescente mais paciente que existe. Ele está bem inquieto com a minha
demora. Assim que me viu saindo do carro, caminhou na minha direção, pegou as chaves e se
trancou na picape.
Ele faz isso quando está nervoso e isso acontece quando surge uma reunião escolar. Arthur
está estudando na mesma escola que eu e o Simon estudamos. Foi um desejo do papai. É mais
fácil quando conhecemos a maioria dos professores. Eles sabem como é difícil a situação do Arthur
a cada ano que se passa.
Não que ele tenha dificuldades de aprendizado. A dificuldade é aceitar o fato de que ele é
um adolescente que não tem uma mãe ao seu lado. É uma coisa que eu, infelizmente não posso
mudar. Eu e Simon tivemos o maior dos privilégios da vida, ter a mais maravilhosa das mulheres
como mãe. E meu irmãozinho não. Por muito tempo, eu pensei que iríamos conseguir preencher a
vazio que ela nos deixou. Mas não foi tão glorioso quanto pensávamos.
E tudo piora quando mentimos cada vez mais para ele. Mas eu sei, que a minha consciência
pesada, assim como o meu coração, não é nada comparado com a reação do meu irmão quando
souber o que aconteceu.
Eu sei como ele vai se sentir, sei o que seu coração vai passar. E o pior de tudo, sei como ele
vai me culpar por tudo o que aconteceu.
— Samuel, que bom que chegou.
A diretora da escola me dá passagem para entrar em sua sala.
— Fico feliz de ter se juntado a nós. — Ela indica a cadeira para que eu me sente. — Sei
que é uma reunião inesperada com todos os alunos, mas eu precisava falar com os responsáveis
de cada aluno do primeiro ano.
— Estou aqui, pode me dizer.
Ela assente, sabendo muito bem que já deveria ter dito o que é que seja tudo isso.
— O Arthur não é um garoto que dá trabalho, embora ele tenha toda uma energia para
fazer essa coisa. Ficamos felizes que ele foque toda essa energia no time de futebol.
— Eu não estou entendendo o motivo dessa reunião.
— Eu sei que é um assunto de família, mas eu acho que está mais do que na hora de vocês
explicarem ao Arthur o que aconteceu com a mãe de vocês. E antes que você me interrompa, eu
não disse nada a ele. — Lawanda cruza as mãos em cima da mesa. — Estou aqui como diretora
da escola, Samuel, não como colega da sua falecida mãe. O Arthur já é bem crescido,
praticamente um homem formado. Ele vai absorver tudo isso no seu tempo, mas ele vai conseguir
ingerir tudo isso.
— Você quer que eu conte ao meu irmão que ele matou a nossa mãe?
— É isso que você acredita? Que ele matou a mãe de vocês?
Não, mas eu sei, com toda a certeza, que é o que Arthur vai acreditar. Será que ninguém
percebe que eu quero apenas protegê-lo? Evitar que ele sofra com isso?
— Eu sou forte o bastante para suportar tudo isso. Sei que você era uma grande amiga de
minha mãe e agradeço por tomar conta de Arthur aqui, mas espero que seja a última vez que
falamos sobre isso. Não me faça perder meu tempo vindo aqui falar sobre um assunto, que como
você mesma falou, não deve se meter. Tenho coisas importantes para fazer. Fique feliz que ele está
bem.
Não foi intencional, mas acabo ficando de mau humor, quando isso é o que eu menos preciso.
Mesmo com o Arthur ao meu lado, fazendo várias coisas para me alegrar, não adianta. Para mim,
o dia acabou.
Minha mãe é a ferida que nunca vai sarar.
— Você tem aula do mestrado esse fim de semana, Sam? — Ele se senta ao meu lado.
Arthur está vendo alguma coisa no meu computador, quando deveria estar estudando, mas eu
não ligo para isso, já que ele se saiu muito bem nas provas.
— Sim, por que a pergunta?
Ele meneia a cabeça, não se importando com a minha pergunta.
— Arthur?
— O Simon vem para casa. Então como estaremos apenas nós três, pensei em chamar os
meninos do time para uma festa na piscina.
Ele comenta de forma indiferente, sabendo muito bem que eu vou deixar isso acontecer. Só
porque eu não sou tão social como meus irmãos, não vou impedir que eles se divirtam.
— Eu vou avisar o Simon e peço para o Diones trazer a Layla junto.
— Meu Deus, ela vai acabar com aqueles idiotas no vídeo game.
Layla é a prima da minha melhor amiga, Sophie. Ela e o Arthur estudam na mesma escola e se
dão super bem. Mas quem não amaria aquela pequena rebelde? Diferente da prima, Layla é uma
máquina tagarela que não deixa nada escapar. E por ter o espírito tão elétrico quanto meu irmão,
eles são bons amigos.
Mas não sei se isso é uma boa ideia.
Provavelmente a Layla vai mencionar a Sophie e o Simon pode ouvi-la. Sei que meu irmão
mais velho nunca superou a sua partida, mesmo tendo se passado sete anos. Eu ainda não sei o
que aconteceu para Sophie partir tão de repente e porque Simon permitiu isso.
Mesmo que não aceitasse que os dois estivessem envolvidos, eu sabia que eu não poderia ir
contra. Sophie é importante para mim, de uma maneira que eu não posso e nem sei explicar. A
minha missão de vida é fazê-la feliz e mantê-la protegida. Mas Simon surgiu de repente e fez com
que ela se afastasse. Eu perdi um pouco da minha amiga quando se mudou.
Eu acusei meu irmão de ser o culpado, mas eu não fui estúpido em pisoteá-lo ainda mais. Eu
nunca vi Sophie sorrir tanto quanto na época em que ela estava com o Simon. Bastava ouvir o
nome dele, que seus lindos olhos castanhos brilhavam de felicidade. Agora Sophie não pode nem
ouvir o nome dele que muda de assunto. Nem ouso perguntar o que aconteceu entre os dois, mas é
impossível não pensar nas possibilidades.

Eu observo o Arthur escrevendo em seu novo notebook. Ele está bastante interessado em o
que quer que seja o que está vendo. Com seu professor resolvendo algumas coisas, ele está
passando a semana conosco no hospital. Ele não gosta de ficar sozinho em casa. Poderia
perguntar a ele ou ir de mansinho e ver o que tem a sua total atenção. Mas eu confio nele e sei
que não está fazendo nada de errado
Ele não é como o Simon. De jeito nenhum.
Eu confio na criação que dei a ele. Não que meus pais tenham dado ao meu irmão mais velho
uma educação sem sentido e sem supervisão. Mas meu irmão é um babaca quando quer. E isso se
aprimorou quando tinha quinze anos.
— O que é sexo missionário? — Meu irmão me pergunta como se isso fosse a coisa mais fácil
de responder.
— Eu acho que você ainda não tem idade para fazer esse tipo de pergunta, Arthur — digo
olhando intensivamente para ele. — Muito menos ter uma resposta para esse tipo de pergunta.
Ele revira os seus olhos azuis.
— E por que você quer saber sobre isso?
— Esse é o tipo de resposta que você não precisa saber, Samuel.
Ele tenta soar engraçado, mas sabe que não conseguiu. Arthur volta a sua atenção para o seu
notebook. Ele olha para o relógio acima da parede atrás dele.
— Estou com fome. Vou pegar alguma coisa para comer, você quer?
Eu meneio a cabeça em negativa e ele vai atrás de seu lanche. Mesmo tendo recusado a
oferta, sei que ele vai trazer alguma coisa, nem que seja um suco.
Sexo missionário.
É ruim até mesmo de se pronunciar. Não entra na minha cabeça como pessoas conseguiam
sentir prazer naquele tipo de prática. E como ainda existem pessoas que praticam isso em pleno
século vinte e um.
Quando tiver a conversa com Arthur sobre sexo, com certeza não vou ensinar meu irmão a ser
um completo babaca que come uma mulher com um lençol cobrindo-a.
— Alguém vai ter que ter essa conversa com ele. — Simon aparece de fininho na sala. — E
por mais que eu ame o assunto, eu me abstenho de falar isso com meu irmãozinho. Isso
definitivamente não é um assunto que eu quero ter com ele.
Não estou nenhum pouco surpreso com isso.
A melhor forma de descrever a relação de nós três, seria dizendo que eu sou a mãe que está
sempre tentando proteger o filho e Simon é o pai que passa apenas um fim de semana com o
menino.
— Eu sempre tenho as conversas sérias com ele. E eu não deixaria de maneira nenhuma, você
ter essa conversar com Arthur — digo bem sério a ele. — Já basta um imbecil na família.
Simon suspira, cruza os braços e se escora na parede.
— Diz isso por querer que ele seja tão puro quanto você? Ou porque não quer que ele faça
a mesma coisa que eu?
Largo a caneta bem reta junto com as outras. Isso faz com que ele revire os olhos sobre a
necessidade que eu tenho sobre ter tudo ao meu redor organizado.
— Quero que o Arthur aproveite a infância dele. Que aprenda a respeitar as pessoas,
principalmente as mulheres — digo essa parte bem firme atinge o ponto que eu quero. — Não
quero que ele as veja como um objeto.
Simon percebeu aonde quero chegar, mas ele é encrenqueiro e retruca.
— Até agora, não tive nenhuma reclamação — diz baixo. — Nem mesmo da sua preciosa.
Ele tinha que jogar a Sophie no meio. Não apenas para me irritar, mas para conseguir alguma
notícia dela. Mas ele sabe que por mais que tente, não vai conseguir.
— Dê uma olhada nessa coxa, antes que Arthur veja você sentindo dor.
Ele desistiu rápido demais, mas sua saída não deixou despercebido que ele observou que
estou machucado. Foi o maldito passo em falso que dei na noite passada.
Pensei que era algo bobo, mas é como se rasgasse a minha carne sempre subo algum degrau
ou piso com certa força. Como agora, ao me levantar. Não tem como eu mesmo fazer isso. Terei
que pedir a alguém para aplicar massagem em mim. Mas todos os meus colegas estão ocupados.
Eu vou mesmo pedir para a estagiária? Não há nada de errado nisso, mas ela pode muito
bem pensar que estou usando-a com segundas intenções.
Qual é a sua, Samuel? Ela é fisioterapeuta e terapias manuais estão na grade curricular dela.
Assim que me aproximo da mesa de Felipa vejo que as duas estão tão concentradas que nem me
notam.
— Victória.
Seus olhos verdes desgrudam da tela do computador e se voltam para mim. Ela me dá um
grande sorriso.
— Pois não, doutor?
— Pode me acompanhar até a sala de terapias manuais?
Ela olha para Felipa.
— Você já me ajudou muito hoje, querida. Deixe que eu me viro a partir daqui. Vá, não deixe
o chefe esperando.
Ouço mesmo estando no corredor. Não preciso olhar para trás e ver que Victória está atrás
de mim. Sinto a sua animação a cada passo que ela dá. A menina gosta de aprender e ela não
nega energia. Ela está sempre procurando alguma coisa para fazer, mesmo quando já terminamos
com os pacientes do dia.
Assim que entramos na sala, ela parece confusa.
— Estou com uma lesão quadríceps femoral — digo indo até o biombo para colocar a bata
azul. — Eu sei que é pedir muito para você, mas eu preciso de uma...
— Liberação miofacial — ela me interrompe. — O senhor sofreu uma queda há alguns dias?
E não estava sentindo tanto até agora?
Não deixo de ter um pouco de satisfação quando ela me pergunta isso. Ela faz bem em
querer saber disso. Faz com que o conhecimento da lesão seja diagnosticado e passado ao
ortopedista.
— Dois dias no máximo — minto. — Mas não estava incomodando até o momento.
Dizendo isso, saio de trás do biombo e fico à sua frente. Victória está atrás da grande maca.
— Eu pensei que você seria mais esperto e saberia a hora de pedir ajuda.
— Eu estou pedindo agora.
Ela dá um passo para trás, afastando-se da maca. Sei que meu tamanho a intimida, mas ela
esconde bem. Mas eu percebo o seu desconforto comigo apenas com uma bata me cobrindo da
cintura para baixo.
— Você tem que se acostumar com essas pequenas coisas, Victória — digo quando me deito
na maca de barriga para cima. — Haverá ocasiões em que o paciente estará apenas com uma
cueca ou terá apenas uma toalha o cobrindo.
Ouço o seu arquejo de surpresa, mas ela se recompõe rapidamente.
— Sim, senhor.
Ouço-a andar pela sala, arrumando o que é necessário.
— As coisas já deveriam estar ao seu alcance, Victória. — Não era minha intenção dizer isso
como repreensão, mas saiu. E não vou consertar.
— Sim, senhor.
Então, mais do que depressa, suas mãos estão em minha coxa esquerda. O óleo quente junto
com suas mãos pequenas é uma sensação que eu não estava esperando. Seu toque é firme, mas
suas mãos são delicadas. Mãos feitas para algo mais do que terapias manuais.
Que merda eu estou pensando?
— Mais para baixo.
Minha voz sai baixa, porém firme. Mas ela continua fazendo com mais leveza.
— Eu sei que o primeiro impulso é colocar mais pressão no músculo — ela diz baixo, como se
falasse com uma das crianças. — Mas eu não sei a gravidade do seu edema. Não sei se foi
apenas por um passo em falso ou se rompeu algum nervo. — Ela leva suas mãos para debaixo da
minha coxa. — Estou tentando encontrar o que você não quer me dizer e acho que encontrei.
Diz isso quando solto um resmungo quando ela encontra o ponto exato de dor.
— Estou tentando encontrar uma razão por não ter procurado ajuda nesse meio tempo em
que está machucado, mas só consigo em pensar que é orgulhoso demais para isso — diz me
encarando. — Seus irmãos me avisaram que seria cabeça dura, mas não ao ponto de esconder
uma dor.
— Meus irmãos são tagarelas demais.
Victória aperta a lateral da minha coxa me fazendo gemer de dor e um pouco de prazer
assim que ela solta o músculo.
— Encontrei!
Ela sentencia triunfante e vai até a outra mesa para pegar o gel de composição Canfora.
— Esse é um dos géis que Franklin me deu essa semana. — Ela levanta a bisnaga azul. — Eu
sei que o senhor costuma usar os de arnica ou composição manipulada, mas aposto que isso vai
ajudar em poucos minutos.
Assim que sinto o seu toque, percebo que queima, mas é um ardor suportável. De jeito
nenhum...
— Não, e não penso que vamos usar com as crianças. Sei que isso é demais para elas. Estou
apenas testando no senhor para que sinta a eficácia do produto e indique para os a pacientes.
Sim, eu sinto isso, mas não é assim que funciona.
— Eu entendo o seu pensamento de melhorar as coisas, Victória, mas vamos deixar uma coisa
bem clara: tudo o que você for testar ou pensar em fazer, você vem até mim. Nada de passar por
cima das minhas ordens. Essa ala está funcionando perfeitamente e quero que continue assim.
Estamos entendidos?
Ela arregala os olhos, mas assente e logo me dá um sorriso.
— Claro, doutor. Desculpe por isso. O senhor precisa de mais alguma coisa?
Sem responder, vou em direção ao biombo para me vestir. E me sinto horrível quando não
agradeço a ela o que fez.
Porcaria!
Capitulo 4
A vida é curta demais para ficar se lamentando por coisas e pessoas
insignificantes.
Victória

V ocê se saiu bem, Vick. Só pense assim, que tudo vai dar certo.
É o que eu repito desde que sai da sala, depois que terminei a primeira prova da
semana. Ainda nem acabou a semana e me sinto como se estivesse em plena sexta-feira,
completamente exausta. Devo prestar mais atenção quando a Nessa tenta me fazer dormir mais
cedo. Mas cada segundo é precioso demais para gastar dormindo.
— Estou morto! — Lucas anuncia quando me encontra perto da escada. — Essa prova com
certeza fritou o meu cérebro.
— Estou sentindo o cheiro daqui, amigo — digo antes de bocejar.
— Não tem noite na sua casa? — Lucas pergunta quando boceja logo em seguida. — Meu
Deus, isso é contagioso.
Dou a ele um sorriso de desculpa.
— A Diana está doente e a Nessa automaticamente também. Fiquei até o início da
madrugada com elas. — Arrumo a alça da mochila sobre minhas costas. — Assim que chegar em
casa, eu vou fazer a melhor canja de galinha do mundo para as duas.
— Estou me convidando então.
Só que o Lucas tem um trabalho para terminar e decide ficar na Universidade e eu tenho que
tomar de conta das minhas duas garotas. Passo no mercado e gasto meus últimos centavos para
comprar xarope e os ingredientes para fazer a canja para as duas.
Assim que desço do ônibus e viro na esquina de casa, vejo o ônibus do exército saindo do
bairro. É quando percebo o meu irmão indo para casa. Sem conseguir me conter, grito por ele, que
rapidamente se vira e me olha.
Ele me pega no meio do caminho, me apertando em seu abraço de saudade. Eu sei que não
faço muito com minha força limitada, mas transmito toda a minha saudade e amor.
— Irmãzinha! Minha linda, irmãzinha! — Ele me coloca no chão e retira as sacolas das minhas
mãos. — Você cresceu? Ou é apenas a saudade?
Ele tinha que me irritar!
— Você é quem continua um varapau! — Eu o abraço mais uma vez. — Senti tanto a sua
falta, seu chato!
— Ah, mas essa saudade morre daqui a três dias, você sabe!
Rindo, eu seguro a sua mão e vamos para casa. Peço que ele não faça barulho, pois a Didi
está com muita dor de cabeça. Mas não adiantou muito. Seus passos pesados contra o piso velho
da casa anunciaram a sua chegada. De alguma forma, minha sobrinha conseguiu gritar “Titio”
quando chegou na sala. Ele a pegou antes que ela caísse enrolada no edredom.
— Minha Didi! — Ele a beija e aperta a suas bochechas.
— Estou doente, titio. Não me beije! — ela ralha, mas o abraça mais uma vez. — Titio está em
casa, eu tenho que ficar melhor!
Ela sentencia isso como se fosse fácil cumprir. Nossa irmã mais velha se arrasta até nosso
irmão e o abraça apertado, matando a saudade dele.
Victor está há mais de oito meses fora de casa. Não é o maior tempo fora, mas a cada dia
que passa, temos a impressão de que a distância se estende. Sei que é o seu trabalho e o que ele
sempre quis, mas não muda o fato de que ele corre perigo.
— Queria estar melhor para te receber! — fala Nessa com a voz rouca. — Você deve estar
cansado. Vá descansar. Eu vou cuidar da sua roupa e mochila.
— Eu vou fazer isso. Vocês duas... — Ele aponta para mãe e filha. — voltem para cama, que
eu e a Vick vamos arrumar as coisas.
Didi vai reclamando, mas a minha irmã deve estar cansada mesmo, já que ela não retrucou a
ordem de Victor e foi para a cama com sua filha. Meu irmão vai trocar de roupa, enquanto eu
preparo o almoço atrasado. Mesmo não gostando, eu deixo a casa toda fechada, para que as
meninas não piorem. Olho para baixo da pequena mesa da sala e vejo alguns dos nossos doze
gatos em um bolo de pelos, se aquecendo do frio de hoje.
— Então, me diga o que eu perdi enquanto estive fora, irmãzinha. — Victor aparece na
cozinha e começa a me ajudar. Victor é melhor do que eu cortando frango, então eu deixo isso
para ele.
— Bem. Está tudo do mesmo jeito, a faculdade, meus bebês. A Diana continua curiosa e a
Nessa tomando conta de tudo. Ah, eu consegui um estágio no São Magno.
— Nessa ainda está prote... Repete a última parte!
Ele para de fazer o seu trabalho e me encara com a boca aberta, enquanto eu dou risada
da sua cara de bobo.
— Eu estou estagiando no São Magno. Como eu sempre quis.
Ele larga a faca e me abraça. Dá pra sentir o orgulho vindo dele. E nossa, isso é bom demais!
— Estou tão orgulhoso, Vick. Muito orgulhoso mesmo!
A vontade de chorar vem com tudo e eu não quero lutar contra isso. Um elogio desses vindo
dele é uma das melhores coisas que eu posso ter em toda a minha vida. A vida não é fácil para
nenhum de nós.
Nosso pai nos abandonou quando eu tinha seis anos. Ele foi embora com uma mulher e a
nossa mãe faleceu três anos depois. Não faço ideia se ele ainda está vivo, mas hoje em dia eu não
me importo com a resposta, pois acredito que estamos melhores sem ele.
Depois disso, fomos sempre nós três. Nessa fez um ótimo e árduo trabalho nos criando, mesmo
tendo Diana tão jovem, ela não nos deixou. Foi uma verdadeira mãe e não consigo imaginar o
caminho que seguiríamos sem a sua orientação.
Victor deu um pouco de trabalho, pois conforme foi crescendo, sua raiva e frustração foram
crescendo junto. Ele não conseguia conversar, se abrir com a gente. Começou a beber aos quinze
anos de idade. Eu odiava os fins de semanas. Eram os dias em que ele ficava até tarde na rua e
quando chegava em casa, ele gritava e quebrava tudo. Nessa me trancava no banheiro e ia
tentar acalmá-lo. Mas nem sempre acabava bem.
Os dois saiam no tapa com frequência. Às vezes o deixávamos dormir fora de casa até o
álcool sair de seu sistema. Mas não adiantava muita coisa, já que ele nunca falava.
E não melhorou quando Nessa engravidou de Diana.
Victor estava mais arisco. Tudo o que fazíamos ou dizíamos, ele entedia como se fossem
indiretas e acusações. Os vizinhos começaram a se intrometer mais e mais. Até que o pior
aconteceu. Em uma dessas brigas, ele acabou acertando tão fortemente nossa irmã, que ela
sangrou e quase perdeu nossa sobrinha.
Victor ficou desamparado por dias. Foi quando o intimamos: ou ele mudava as suas atitudes
ou estaria por conta própria.
Durante semanas Victor ficou quieto, até que uma noite ele acordou chorando, desesperado.
Ele nos acordou, querendo se certificar que estávamos bem. Naquela noite, ele nos pediu perdão e
disse que iria mudar. Eu confesso que não acreditei, mas fico feliz em dizer que me enganei.
O caminho foi longo, mas Victor agora é Cabo do Exército. Ele é um dos responsáveis pelo
comando na fronteira do Brasil com a Colômbia. E eu não poderia ter mais orgulho dele.
— Obrigada, eu também estou muito feliz por isso. E por você estar em casa.
E estou mesmo. Victor, Nessa e Didi são as três pessoas mais importantes do meu mundo e
tomam todo o espaço em meu coração. Não foi fácil conseguirmos a harmonia que temos hoje,
ainda mais por termos sido moldados por situações ruins, mas a verdade é que não existe família
perfeita e temos algo imprescindível: amor.
— Vamos fazer essa canja e então podemos dormir.
Assim que terminamos a canja, vamos todos comer no quarto da Nessa e Didi. Elas estão
encolhidas na cama, uma agarrada a outra. É tão bonitinho de ver. Percebo assim, que eu sou a
mais baixinha mesma por algum motivo que Deus quis, e esse motivo está bem guardado até
agora. Já que, Nessa e Victor são tão altos quanto possível.
— Eu quero tudo o que vocês têm ai. — Diana é a primeira a levantar e pegar o seu prato.
Não poderia ter pedido criança melhor do que ela. Ela sempre vai ser a minha boneca de
porcelana. Quando Nessa descobriu que estava grávida, foi a melhor notícia do mundo, com
exceção do filho da puta que ela namorava. O homem não vale nada.
Nessa conheceu o pai de Diana quando voltava do curso de confeitaria. Ele a convidou para
sair, mas ela não estava interessada. Porém ele era carismático e insistente, até que conseguiu ter a
oportunidade que queria. Ele veio aqui, nos conheceu, conquistou a família inteira. Até mesmo me
fez acreditar que ele era o melhor para minha irmã. E a coitadinha também acreditou nisso. Tudo
estava maravilhoso até Nessa descobrir que estava grávida. Assim que ele ouviu a palavra bebê,
ele se tornou um imbecil. Disse que não poderia assumir o filho, pois era casado e que já tinha dois
filhos para criar.
Minha irmã ficou aos pedaços por dias, chorando incessantemente e se culpando por ter se
relacionado com um homem casado mesmo que ela não fizesse a mínima ideia disso e pelo fato de
que seu filho não teria um pai. Ele sumiu por meses, nem mesmo se preocupou com a criança que
estava a caminho. Foi quando Victor disse que não precisávamos dele para cuidar do pequeno
bebê que estava vindo. E foi o que fizemos. Nessa cuidou de nós dois e era a nossa vez de cuidar
dela e do seu bebê. E hoje fazemos muito bem isso. Mas sabemos que ainda somos dependentes
dela.
Diana pela graça divina, nunca teve curiosidade de saber quem é seu pai. Ela chama Nessa
assim, quando minha irmã grita alto com ela.
Mas é o que ela é. Minha, do meu irmão e de sua filha.
Mãe e pai.
Eu sempre soube do coração enorme que ela tem. Ajudando mamãe quando ela ainda estava
viva. Arrumando tudo para quando nossa mãe chegasse em casa, apenas descansasse para outro
dia de trabalho.
E para ajudar na renda, Nessa pegava roupas de fora para lavar. Algumas vezes fazia uma
faxina na casa de amigas com quem ela estudou. Eu não poderia ter melhor exemplo do que ela.
Caso eu venha crescer um dia, quero ser como ela.
— Isso está muito bom! — Nessa comenta.
Ela ainda está com febre mesmo depois do antitérmico.
— Nessa, termine isso e vamos tomar um banho. Você ainda está muito quente.
Ela finge que não ouviu minha ordem e conversa com Victor sobre a viagem de volta. Era
para ele estar aqui apenas na semana que vem.
— Eu liguei para Levi e disse que não estava bem. Ele disse que toma conta de tudo hoje e
amanhã — digo e a minha irmã parece aliviada com a notícia.
Nessa não suporta deixar outras pessoas na mão, mas eu a proibi de sair de casa hoje e o
Simon me ajudou com isso. Suas palavras fizeram-na voltar para cama na mesma hora.
“Se você aparecer nesse hospital, eu te interno na mesma hora!”
Foi isso o que ele disse ontem à noite, quando veio deixá–la aqui. Ela já estava com febre,
porém medicada. Isso só me fez gostar mais desse homem.
— Você tem hoje e amanhã para descansar, Nessa. Não se preocupe com o resto, está bem?
Ela acena concordando e puxando a sua filha para se agarrar a ela. Eu e meu irmão sorrimos
quando a Diana abriu um enorme sorriso ao ser acalentada.
Deixamos as duas sozinhas e Victor arruma o sofá para dormir. Quando sugeri que me
mudasse para o quarto das meninas, ele recusou imediatamente, afirmando que o sofá era
perfeito. Mas eu sei que ele fica desconfortável, pois ele é muito maior do que o pobre sofá.
Enquanto os três dormem, eu vou estudar. Infelizmente eu tenho três trabalhos para entregar
essa semana e mais uma prova de ortopedia como exigência do estágio. Eu nem sabia que isso
era possível.
Pegando o meu caderno e os livros que consegui na biblioteca, torcendo para que isso seja
mais do que suficiente para conseguir uma boa nota.

A ortopedia é a técnica que procura corrigir ou evitar as deformações do corpo humano


através de exercícios corporais ou diversos aparelhos. Os aparelhos ortopédicos são chamados
ortoses e são diferentes das próteses (que procuram substituir de forma artificial alguma parte do
corpo que, por algum motivo, falta).
Dá-se o nome de técnico de ortopedia ao especialista que desenha, confecciona e toma as
medidas necessárias para o desenvolvimento de ortoses e próteses. A utilização destes aparelhos é
diagnosticada pelos médicos.
A imobilização com férulas (talas), por exemplo, é uma técnica da traumatologia que remonta
às origens da medicina. No século X, surgiu a implementação do gesso por impulso de médicos
persas. A especialização da ortopedia começou a desenvolver-se no século XVIII para corrigir e
prevenir as deformações.
Atribui-se ao Dr. Nicolas Andry de Boisregard a criação do emblema que, ainda hoje,
identifica a ortopedia: uma árvore torcida que tenta ser corrigida com a ajuda de um guia
externo.
O primeiro instituto ortopédico terá sido criado por Jean-André Venel na Suíça para o
tratamento das lesões esqueléticas (no nível dos ossos) nas crianças. Venel, por essa razão, é
considerado o pai da ortopedia moderna e o inspirador dos centros ortopédicos da atualidade.
As bandagens, a colocação de férulas e gessos e as trações, em conclusão, fazem parte das
atividades da ortopedia.
A traumatologia é outro conceito relacionado com a ortopedia. Este ramo da disciplina dedica-
se ao tratamento de pacientes com traumatismos, fraturas ou deformidades de algum tipo.

Mal cheguei à terceira folha e estou exausta. Acho que é o meu corpo exigindo o descanso
que não dei a ele essa semana. Preciso me adaptar rapidamente com a mudança da rotina. Mas
eu estava tão mal acostumada: chegava da faculdade e ficava na cama estudando e agora eu
tenho um emprego que me faz correr por toda a cidade em questão de uma hora.
Mas eu acho que vale muito a pena.
A cama está bem tentadora, nesse momento. Não vai fazer mal tirar uma soneca de duas
horas, não é? Posso ficar até tarde estudando e amanhã eu tenho mais algumas horas também.
É tentador, mas eu não posso perder nenhum segundo. Volte a estudar, Vick. Depois de
formada, você vai poder dormir por um fim de semana inteiro.
Isso é um grande incentivo!

Apesar de ter tomado todas as precauções possíveis, a gripe se apossou do meu corpo. E eu
odeio isso, com todas as minhas forças. Nessa está melhor, assim como Diana, que até voltou para
escola nessa terça feira. Meu irmão parece ser imune a doenças bestas, pois está se mantendo
saudável.
— Eu não posso perder essa prova! — repito mais uma vez enquanto o meu irmão me leva
até o ponto de ônibus. — Depois que eu terminá-la, eu prometo a você que posso descansar.
— Vou me certificar de cobrar isso de você.
Estou mais agasalhada do que de costume, mas a sorte é que não estou com febre, então
posso ir para a faculdade e para o trabalho.
O meu irmão espera pacientemente comigo até a chegada do ônibus. E pelo o jeito que ele
ficou ao meu lado quando estávamos caminhando, sei que será assim todos os dias. Estarei mais
segura com isso, pois saio muito cedo de casa. Ao menos ele vai me fazer companhia até o final do
semestre. Sempre é assim, ele fica seis meses aqui e depois de seis meses volta para o Amazonas.
— Quando eu vou com você? Sofrer com o calor que você tanto reclama?
Victor para de ler o jornal que pegamos na padaria e me encara.
— Quando você se formar, eu levo você pra trabalhar comigo.
Não obrigada! Mas eu não digo isso a ele. Até porque, só o magoaria. Eu sei que será uma
experiência única, mas não sei se conseguiria ficar tanto tempo longe das meninas e dos meus
gatinhos. Além do mais, Vanessa não deixaria.
— Lá vem a sua carona.
Meu irmão espera até que eu esteja sentada dentro do coletivo para ir embora. Isso só me
faz amá-lo mais ainda. Amo que ele tenha mudado tanto assim. Com a apostila aberta em meu
colo, eu vou estudando até chegar na estação do metrô.

— Você deveria ter avisado que está doente — Felipa me repreende quando me entrega um
chá quente. — Essa gripe está solta por aí e para piorar, você nem está aquecida o suficiente.
— A chuva me pegou no caminho. Mas eu juro, estou bem. Apenas a garganta que está
irritada.
Pareço uma menininha tentando convencer a mãe que já sou grande o bastante para ir
sozinha a algum lugar. Isso é bem estranho. E Felipa não parece ouvir, ela desliga o ar
condicionado e me entrega duas toalhas.
— Vá até o banheiro e se enxugue. Pelo amor de Deus, você está tremendo de frio, Victória!
Cuide-se, eu não quero ter que te obrigar.
E nem precisa, estou mesmo com frio. Depois de aquecida, volto para a sala de fisio. Sei que
não vou poder participar de nenhuma sessão para não correr o risco de transmitir essa gripe para
nenhum paciente. Então vou me limitar a apenas prestar atenção de longe. Vejo quando a doutora
tem a maior paciência com um senhor de idade que está com a perna quebrada. Ela é bem
atenciosa e cheia de charme.
Simpatia é uma das armas secretas quando o paciente não colabora. Sei que dói e que estar
com dor deixa qualquer um de mau humor, então temos que usar tudo ao nosso alcance para fazer
com que eles se sintam mais relaxados e motivados a fazer os tratamentos.
— Victória! — A voz grossa do meu chefe me faz virar e o encarar.
Samuel está imponente em sua pose de chefe. Ele cortou o seu cabelo e fez a barba, que
estava começando a aparecer. Seu tom de voz diz que não é um dos bons dias. Na verdade nunca
é um bom dia.
Eu não consigo associar a pessoa que eu vejo aqui nesse momento, com a pessoa que me
descreveram. Simon me diz que seu irmão é exigente, mas é benévolo quando precisa. Tenho
certeza de que ele é uma boa pessoa, pois eu consigo ver em seus olhos. Mesmo que a sua
impaciência sempre apareça, seu amor pelo o que faz não está longe.
— Sim, doutor?
— Tenho uma sessão com Luigi agora e quero que você esteja presente. — Ele olha para a
médica que acena para ele. — Mas se quiser continuar aqui...
— Não, está tudo bem. Eu vou gostar de estar com Luigi. — hesito um pouco e ele percebe.
Cruza os braços, fazendo com que ele fique maior do que já é.
— Algum problema?
— Não vou ser muito útil. Eu estou gripada e posso acabar contaminando-o.
Suas sobrancelhas sobem em confusão e o que sai de sua boca me surpreende.
— Você está bem para ficar? Eu não sabia que está doente. — Ele caminha na minha direção
lentamente e toca meu antebraço. — Sem febre?
— É apenas a garganta que está irritada.
Ele me olha como se fosse estúpida. E eu me sinto assim nesse momento.
— Esse é o primeiro sinal. Logo estará com febre. — Ele me olha com repreensão. — Você
tomou alguma coisa? Antitérmico ou algum xarope?
Aceno que sim, mas ele ainda continua descontente.
— É apenas uma gripe, doutor. Amanhã estarei melhor.
— Como a sua irmã? A Vanessa disse isso para mim hoje de manhã quando cheguei aqui e no
almoço ela ainda estava febril. O que há com vocês que não param quando estão doentes?
Não sei o que responder a ele.
— Venha, vamos fazer essa sessão e então eu vou levá-la para casa.
E também não sei o que responder sobre isso. Caminho ao seu lado para a outra sala, que é
específica para as crianças. Observando com mais calma agora, me dou conta de que não há
nada que agrade uma criança na sala. Talvez se mudassem as cores, deixassem mais alegres.
— Doutora Victória! — a voz aguda de Luigi preenche a grande sala, causando um
estrondoso eco. Ele se levanta e anda ao meu encontro. — Que bom que você está aqui! Veja, eu
tirei aquela coisa de pano.
Eu me agacho ficando do seu nível, o que não é muita coisa já que sou minúscula.
— Estou vendo. E você parece bem feliz por isso. E tem razão, logo vai ficar com o braço mais
forte, como o do homem de aço.
— Pode ser do homem de ferro? Ele tem um braço maneiro!
Sorrio.
— Claro, meu bem — digo logo que forço a minha garganta.
— A senhora está doente? — Ele inclina a cabeça, curioso.
— Sim, mas eu já estou fazendo tudo o que o médico me mandou e logo vou estar bem. E se
fizer todos os exercícios que o doutor Samuel pedir, você pode ter o braço que quiser.
Ouvindo o seu nome, Samuel para ao nosso lado. Ele nos encara um tanto curioso e até
acuado eu posso dizer. Olho para ele querendo saber se ele é sempre tão controlado e
inalcançável. Desse jeito ele nunca vai conseguir a simpatia desse garoto.
— Eu vou falar com o doutor rapidinho, está bem?
Eu me levanto e dou um passo para trás e Samuel me segue.
— O senhor precisa interagir mais com ele — digo baixo. — Sei que está aqui para ajudá-lo,
mas isso não quer dizer que vai agir como uma máquina.
Vou me arrepender de ter dito isso.
— Eu não estou agindo como máquina!
— Está sim! Você nem ao mesmo sorriu para ele. — Olho para Luigi, que está nos
observando. — Ele é uma criança, precisa saber que você está nessa com ele...
— Estar nessa com ele?
— Sim, que está aqui para ajudá-lo e não para apenas dar ordens e causar dor — digo com
as mãos na cintura. — Crianças são difíceis, eu sei. Eu fui uma pirralha insuportável, pode
perguntar para minha irmã. Mas eu ouvia quando conversavam comigo de igual para igual.
— Você está querendo que eu haja como uma...
— Não! Nada disso. Eu não quero nada, não tenho querer nenhum aqui. — Sou rápida em
dizer isso a ele. — Estou tentando lhe dizer que deve ser mais comunicativo com ele. Perguntar
como foi o dia, o que tem feito de interessante. Interagir mais, sabe? Não vai custar nada. — Ele
olha para Luigi assim como eu. — Eu sei que pode ser difícil, ainda mais que ele o vê como um
grande cara malvado que o tortura.
— Eu não torturo ninguém!
— O senhor me entendeu! — digo sem graça. — O ponto é: tente ser o médico amigo dele
até que ele melhore. Tente ser mais simpático. Criança é o espelho da sua educação com ela. Eu
sei, é muito estranho o que eu estou dizendo, mas é a única coisa que eu posso fazer para ajudar
os dois a se acertarem.
Ele olha para Luigi com os olhos semicerrados. Como se estudasse o inimigo.
Eu posso muito bem pensar nas consequências de minhas palavras. Se ele as ouvir, vai ser um
ótimo avanço. Caso contrário, eu apenas vou sentir muito por toda a gritaria que estarei ouvindo.
— Tudo bem.
O quê? Eu ouvi um tudo bem?
— Desculpe, não entendi.
— Vou fazer o que você disse.
Dizendo isso, ele se aproxima do Luigi.
Eu não vou perder isso de jeito nenhum!
E por mais incrível que pareça, eles conseguem se entender por hoje. Samuel não levanta a
voz para o garoto em momento algum e até mesmo pergunta se está tudo bem quando o Luigi faz
uma careta ao levantar um peso maior. É quando eu finalmente enxergo o que seus irmãos e pai
me disseram sobre ele.
Só não entendo por que a retração que ele possui. É uma curiosidade que eu vou levar até o
final do estágio.
— Pode me ajudar, aqui, Victória?
— Claro.
Eu me sento atrás de Luigi, ajudando-o a manter a coluna ereta, enquanto Samuel o ajuda a
mover o peso da forma correta. Quando o menino pega o jeito, Samuel larga o seu braço, mas
mesmo perdendo o seu apoio, Luigi continua a fazer corretamente.
— Eu tô conseguindo! — ele diz sorrindo, assim como meu supervisor.
Minha nossa!
Meu supervisor tem um sorriso lindo. Lindo mesmo. Seu rosto se desenha em plena perfeição
quando ele sorri assim. Samuel se vira e direciona a perfeição em forma de sorriso para mim.
Minha nossa, de novo.
Mesmo tremendo por dentro, eu sorrio para ele. O Samuel pisca para mim e volta a atenção
para o seu paciente.
Minha nossa, pela terceira vez hoje.
— Coloque um pouco mais força, Luigi — ele ordena de forma neutra e o menino atende.
Eu estou muito feliz pelo o avanço tão rápido que os dois estão fazendo, que não paro de
sorrir, mesmo que a garganta esteja me incomodando.
— Pronto, acho que chega por hoje, hein?! — Samuel se levanta e me ajuda a levantar. —
Pode pegar o gel para mim?
Assim que estendo o pote para ele, nossas mãos encostam e ele pega a minha mão, sentindo
minha temperatura. Sem dizer nada, ele passa o gel no braço do garoto e o leva até a sua mãe.
Dando de ombros, eu arrumo os equipamentos que usamos. Quando estou pegando os dois
pesos, Samuel retorna.
— Deixe aí — ele diz. — Você vai para casa, Victória.
Olho para ele sem entender.
— Você está febril. Precisa ir para casa tomar um banho quente e um antitérmico.
Olho para o relógio e vejo que ainda são quatro horas da tarde.
— Não se preocupe. Eu não sou esse monstro que a maioria das pessoas acredita que eu
seja.
Ainda estou sem palavras.
— O motorista do hospital vai levar você e sua irmã para casa. Só volte quando estiver
melhor.
— Eu não posso ir embora. Tenho que ajudar Felipa com...
Samuel balança a cabeça e sorri.
— Eu a ajudo, não se preocupe. Apenas me prometa que vai se aquecer essa noite. Não sei o
que deu nessa cidade, mas estamos com uma frente fria inesperada. Você nunca vai melhorar se
estiver exposta a esse frio.
Eu continuo olhando para ele.
Meu Deus! Acho que estou hipnotizada pelo cara que ele é quando não está de mau humor.
Ele é gentil, sorridente, atencioso e encantador.
Esse é o Samuel que tanto me falavam? Esse é o que está sendo ofuscado pelo cara
arrogante e estúpido que eu conheci no meu primeiro dia? Se for, espero que eu consiga vê-lo com
mais frequência. Por que ele é uma das coisas mais lindas que eu já vi.
— Victória?
— Por que você sempre diz meu nome?
— Porque é o seu nome.
Ai minha nossa, aquele sorriso de novo.
— O senhor entendeu o que eu quis dizer.
Ele torce o nariz e é um gesto tão estranho para ele.
— Por que eu gosto do seu nome. Agora, vá. Pegue a sua irmã e vão para casa.
Dizendo isso, ele começa a arrumar a sala.
— Agora, Victória!
Certo!
Estou com um sorriso bobo no rosto e eu não sei o motivo. Minha irmã está me esperando com
um embrulho de doces que com certeza será nossa sobremesa. Ela está mais ativa do que no fim
de semana, mas ainda não é a mesma.
— Quem te obrigou? Simon? — ela me pergunta quando pego a sua sacola.
— Não, foi meu chefe. Ele diz que estou com febre, mas ainda me sinto bem.
Ela concorda e vamos para frente do hospital, onde um grande carro nos espera.
— Ei, Falcão! — minha irmã diz para o grande cara negro que abre a porta do carro.
— Oi, Nessa! Está melhor?
Os dois ficam conversando por todo o caminho. O motorista desliga o ar condicionado do
carro quando percebe que estou tremendo. Agradeço a ele e me enrolo mais na jaqueta. Eu não
posso ficar doente!
— Aqui está bom. Se você entrar no bairro, vai ser difícil fazer o retorno.
— Se você diz.
Ele nos deixa e vamos andando devagar até a nossa rua. Mas as coisas têm que azedar
quando viramos a esquina. Duas cobras estão caminhando em nossa direção.
Eu não tenho nada contra em saber que meu ex Daniel seguiu em frente. Muitíssimo pelo
contrário, quero que ele seja feliz, desde que seja longe de mim. Porém, ele é um filho de uma mãe
comigo quando não há necessidade disso.
Ele se tornou outra pessoa quando ficou com essa megera.
— Olha. Se não é a virgem Maria em carne e osso e pobreza?!
— E se não é a retardada que adora o status de destruidora de lares. Sai dessa, eu não
estou a fim de vocês dois hoje.
Passo por eles, mas a cobra continua.
— Pode dizer o que quiser, ele me escolheu. Aceita, amada!
— Faça bom proveito! As duas cobras se merecem. Só toma cuidado quando entrar no carro.
O chifre pode bater no teto.
Grito enquanto ando para junto com minha irmã que ri.
— O que vem debaixo não me atinge, meu amor.
— Baixa a calça e coloca essa bunda falsa no formigueiro e depois me diz se te atinge ou
não, amada.
Deixo-a gritando várias coisas e eu continuo andando para casa.
O meu irmão nos espera no portão e ele também está rindo.
— Pensei que você já tinha superado isso, Vick.
— Superei, mas eu gosto de irritá-la.
Eu continuo sorrindo quando entro em casa.
Capítulo 5
Crescer custa, leva tempo, esfola, mas compensa. É uma vitória secreta, sem
testemunhas.
Samuel

T enho que dar o braço a torcer mais uma vez. A garota é boa e mostra isso diariamente. Seu
trabalho tem sido reconhecido por todos os outros colegas, que estão de acordo sobre seu
desempenho. Ela não tem medo de trabalho e não para um minuto. Sempre que a vejo, ela tem
algum papel na mão ou está verificando a calibração de algum equipamento.
E sempre está mascando chiclete ou está com um pirulito em sua boca. Eu não me incomodo
nenhum pouco com isso, apenas com o fato de que ela desenvolver diabetes tão nova.
— São sem açúcar. — Ela me garantiu quando comentei isso com ela.
Eu poderia dar a ela uma enorme palestra, mas acabo por não fazer. Isso é parte dela e
tenho que aceitar. Assim com ela aceitou que eu sou organizado demais e até mesmo está
trabalhando em sua própria organização.
E ela não recua sobre pressão. Ela é durona, cabeça dura e dona de um gênio que assustou
alguns dos colegas.
Mas não a mim.
Victória é graciosa quando se impõe. Não me leve a mal, ela sabe valer o seu ponto, mas por
ser tão pequena é um pouco difícil de levá-la a sério.
— Ela é boa! — Franklin, meu fisioterapeuta neurológico para ao meu lado e observa junto
comigo a Victória interagir com uma menina que está trabalhando sobre uma escoliose. — Ela
consegue trazer a atenção pra ela tão facilmente, que eu mesmo me perco quando ela está me
auxiliando. Sério! Isso é esplêndido.
Sim, é tudo isso mesmo.
— Soube que ela conseguiu acalmar as feras.
Resmungo quando ouço o que ele diz, mas eu não posso desmentir.
— Sim, Victória conseguiu. Ela é bem paciente e parece saber lidar muito bem com as
crianças, mesmo as irritadiças.
Ele concorda e continua observando-a.
Victória diz alguma coisa para a menina que ofega em surpresa, mas logo sorri, com
expectativa de ouvir mais.
— Outro dia eu conto para você. Já acabamos por hoje, mas me espere aqui. Eu volto em um
minuto.
Ela passa por nós dois e, no mesmo ritmo, Victória volta para o lado da garota.
— Esse é seu e esse é o meu — ela diz entregando um pirulito para a garota. A paciente vai
em direção à sua mãe, enquanto Victória caminha na minha direção.
— Mamãe, a senhora sabia que a doutora tem doze gatos em casa?!
— Doze? — Franklin pergunta tão chocado quanto eu.
Victória amarra seus cabelos no topo da cabeça e coloca as mãos dentro do bolso do jaleco,
em uma pose de indiferença.
— Eu gosto de gatos, mas gosto ainda mais de cachorros. Infelizmente, minha irmã não
permite cães em casa, pois diz que eles são furações em forma de animal. — Ela parece triste em
dizer isso. — Mas ela me deixou ter gatos. Então todos os filhotes que eu vejo machucado, eu levo
para casa e cuido, mas eu tenho apenas doze vagas para o meu pequeno albergue.
Eu não consigo acreditar.
— Doze gatos, Vick? Como você dá conta? — Meu colega pergunta atordoado.
Seus olhos verdes brilham quando ela explica.
— Eu os amo. Se me perguntar, lembro muito bem quando e onde eu os encontrei. Além disso,
eles são uns amorzinhos e nem me dão trabalho. Só quando estão naquela época que me dão dor
de cabeça.
— Que época? — pergunto a ela que cora.
Victória arruma seus cabelos mais uma vez, com certeza um pouco envergonhada e só então
percebo de que época ela fala.
— Certo, entendi! — Levanto as mãos, pedindo que ela não fale.
— Têm gente que tem doze casas, doze carros. — Ela dá de ombros. — Eu tenho doze
gatinhos lindos, que se enrolam em mim quando vou dormir.
— Se você diz! — digo cruzando os meus braços e rindo discretamente para ela.
Mais uma vez, ela cora.
— Ei, mano! — Arthur aparece com seu uniforme de futebol.
O menino não tem noção de nada. Ele entra e sai desse hospital como se fosse a sua casa.
— Chegou cedo — comento, mas ele não liga para mim.
Arthur deixa a sua bolsa jogada na porta e caminha alegremente em direção à Victória, que
está sorrindo para ele. Meu irmãozinho é bem maior do que ela. Na verdade, qualquer pessoa
consegue ser maior do que ela.
— Pirulito! — ele diz e então tenta abraçá-la, mas ela se esquiva. — Nenhum abraço? Por
quê?
Rindo ela se arruma ao meu lado.
— Desculpa cara, mas eu não vou correr o risco de Nessa ficar reclamando por ter sujado
meu jaleco em plena quinta-feira.
Arthur faz um bico exagerado, me fazendo revirar os olhos.
— Eu preciso de um abraço! Por favor!
E ela comprou essa. Victória tira o seu jaleco e pede para o meu colega segurar.
Porra! O enorme pano branco esconde o seu corpo inteiro. Eu não posso obrigar meus olhos a
irem a outra direção a não ser a sua bunda. Merda, Samuel!
O molde dela é perfeito. Pernas grossas, para conseguir segurar seu traseiro bem avantajado.
E quando ela fica nas pontas dos pés para beijar o meu irmão, as coisas apenas pioram.
Engulo em seco, mas eu não consigo evitar.
Seu corpo é cheio de curvas que fazem minhas mãos doerem para explorá-las. Aperto minhas
mãos e penso em fraturas antes que a minha mente comece a imaginar coisas que não deveria.
Devo proibi-la de tirar o seu jaleco? É o melhor a ser feito. Mas eu sei que não posso proibi-la
de algo que eu vou apreciar muito.
— Sam, eu estou com fome. — Meu irmão diz ainda abraçado com a Victória. — Vamos
lanchar? Por favor, estou definhando aqui.
Dou um aceno a ele, que sorri.
— Eu tenho dois pacientes agora. Vejo vocês depois.
Meu colega sai e eu vejo a Victória indo arrumar os equipamentos para ir para sala de
limpeza. Arthur me encara e eu sei o que ele quer.
— Victória?
Ela se levanta, rindo.
— Sim?
— Deixe isso e venha conosco.
Ela me encara por segundos e então olha para Arthur. Ela deve saber que isso é ideia dele.
— Vamos, lá. Você já deve ter notado que eu não sou uma pessoa paciente.
Ela acena que sim e coloca seu jaleco mais uma vez.
— Deixe-o.
Ela sinaliza que não e não evito e pergunto o porquê.
— Eu não gosto de chamar atenção pro meu corpo, principalmente no hospital. Eu evito ficar
sem ele — ela diz corando mais uma vez.
Isso me intriga, mas eu não posso me aprofundar mais sobre isso. Ela e o Arthur vão andando
na minha frente, conversando. Foco minha visão acima dos dois, mesmo que seja um enorme esforço
não olhar para a maravilha que é a sua bunda.
Eu preciso manter o foco. Mas não é fácil. Mesmo não conhecendo o ato carnal em si, não
quer dizer que eu não sinta a necessidade louca de ser consumido por ela.
A imagem dela sob...
— Sam, o que acha?
Meu irmão está parado na minha frente enquanto esperamos o elevador.
— Sobre o que?
— Sobre a Vick. Ela deveria se especializar em fisioterapia pediátrica, não é?
Olho para os dois que esperam ansiosamente minha resposta. Olho para a menina ao meu
lado direito que está mordendo seu lábio em plena angustia. Seus cabelos se soltam um pouco do
seu penteado, cobrindo o seu rosto. A forma como ela tenta colocar os fios de volta no lugar é
delicada e sem querer torna isso um convite para passar o dia admirando-a. Ela levanta seu olhar
para mim.
Esses olhos são os mais gentis que eu já vi em toda a minha vida. Tão verdes e brilhantes.
— Acho que a Victória pode fazer o que ela quiser, que vai se sair muito bem.
Se ela estava radiante antes, agora está totalmente brilhante. Mas tudo o que fiz foi dizer o
que eu realmente acredito. Victória tem força de vontade e muita garra para chegar aonde quiser.
Agora, eu consigo entender porque o meu irmão a escolheu. Tenho que agradecer ao Simon
por isso, mesmo que a ideia não me agrade.
— Isso significa muito, vindo do senhor — ela diz timidamente. — Eu acho que vou ficar
sorrindo o resta da semana apenas por ouvir isso.
Assim que chegamos ao térreo, vamos direto para a lanchonete. Victória cora mais um pouco
quando puxo a cadeira para que ela se sente. Sua pele pálida fica incrível em um tom vermelho.
— Obrigada.
Eu acho que nunca a vi tão quieta assim.
— Olha só quem veio me ver! E ainda trouxe o irmão bonito junto.
A irmã mais velha da minha estagiária aparece com o cardápio em mãos. Ela parece bem
melhor do que no início da semana. Assim como sua irmã. Elas realmente não são de cair
facilmente.
— Estou muito ocupado, Nessa, mas eu sempre tenho um tempo para você e para a minha Didi
— Arthur diz se apoiando na mesa, jogando o charme para a mulher.
Reviro os olhos e sorrio com essa travessura dele. O garoto tem o dom de ser o centro das
atenções onde quer que ele vá.
— Está melhor? — Ouço a irmã mais velha perguntar a Victória, que ainda está quieta.
Victória concorda com um aceno e sorri.
— Claro, não se preocupe.
Vanessa concorda e anota os nossos pedidos.
Arthur pede três sanduíches e uma jarra de suco, enquanto Victória me acompanha com uma
torta de frango. Estou ocupado demais saciando minha fome, então apenas escuto a conversa dos
dois.
— E quando você descobriu que queria ser fisioterapeuta, Pirulito?
Arthur não tem nenhuma vergonha em fazer a pergunta de boca cheia. Largando o copo em
cima da mesa me inclino para mais perto dela para ouvir a sua resposta.
Seus olhos verdes ganham um brilho diferente quando começa a dizer.
— Essa é uma das poucas lembranças que eu tenho de minha mãe. Antes de ela nos deixar,
ela machucou a perna. Eu me lembro de tudo: dos remédios, de quantos pinos tinha em sua perna.
— Ela termina o seu suco e seu olhar fica cada vez mais nostálgico.
Tanto eu quanto o meu irmão ouvimos atentamente.
— Como ela não tinha com quem me deixar, eu a acompanhava até o pequeno posto de
saúde que havia perto de nossa casa, onde ela ia fazer suas sessões de fisioterapia. E agora eu
fico feliz por ter ido, pois isso me ajudou muito na minha decisão. — Victória brinca com o garfo
enquanto continua. — Havia esse rapaz, ele era o fisioterapeuta que cuidava de minha mãe. Para
mim era um dos melhores dias da semana. Ele cuidava tão bem dela, fazendo graça, distraindo-a
de sua dor, que minha mãe saia de lá com a perna cada vez mais forte e nem mesmo percebia
isso. Um dia, meu irmão tinha que estar em um horário diferente na escola, então nós perguntamos
se poderíamos ficar lá até ele voltar e nos pegar. Eu era muito pequena e não conseguia empurrar
a cadeira de rodas — ela sorri tristemente. — Nesse dia eu ajudei o fisioterapeuta em pequenas
atividades, como pegando os instrumentos enquanto ele realizava as sessões e uma das pacientes
me agradeceu e disse que eu seria uma ótima fisioterapeuta. Aquilo ficou em mim. Certo, eu tinha
sete anos, mas eu guardei isso. E sempre que eu ajudava minha mãe em casa com os exercícios, o
amor e a necessidade de ajudar as pessoas foram aumentando. — Ela olha para Arthur. — Foi
quando decidi me tornar uma fisioterapeuta. — Victória sorri amplamente agora. — Acho que
esse amor já nasceu em mim, ele apenas saiu mais cedo do que para a maioria das pessoas.
— E eu achando que tinha a história mais linda para justificar a minha escolha de profissão
— meu irmão diz envergonhado.
Victória segura a sua mão delicadamente.
— Não tem motivo mais nobre ou mais lindo ou convincente — ela diz graciosamente. —
Querer ajudar as pessoas, sempre será o motivo mais nobre que o mundo já viu. O fato de você
querer ajudar, salvar, mudar vidas, já te faz uma pessoa especial, querido.
Arthur concorda com ela. Eu não conseguiria ter dado melhor explicação para o meu irmão.
— Eu tenho certeza de que você vai ser um ótimo médico.
— Pediatra! — ele diz orgulhoso. — Se tem pessoas que eu mais amo nesse mundo, são esses
bebezinhos lindos que dá vontade de comer no café da manhã.
Cubro meu rosto em negação com o que ele acabou de dizer.
— E o senhor, doutor? Por que fisioterapia? — ela pergunta com a cabeça inclinada em minha
direção.
Arthur olha apreensivo para mim. Como se a sua simples pergunta poderia fazer minha
cabeça explodir em questão de segundos. Bem, poderia se eu estivesse com um humor nada
agradável, mas eu estou bem. Não vai me custar nada responder.
— Isso não é de conhecimento de todos, mas o motivo principal de ter vindo para a área de
fisioterapia é a minha mãe. Ela e meu pai se conheceram quando ele estava fazendo a residência
no exército. Você deve saber que a residência mais respeitada é do exército — pergunto a ela
que responde com um aceno. Victória apoia seu cotovelo em cima da mesa e me encara admirada.
Dou um sorriso meio sem graça por ser o centro de sua atenção nesse momento.
— Ela fazia parte de um grupo humanitário que vivia na floresta amazônica para cuidar dos
ribeirinhos que não tinham acesso a nada. Em uma dessas missões ela acabou conhecendo meu pai
e o resto você deve imaginar.
Agora Arthur está prestando atenção em mim também. Ótimo.
— Assim como Arthur, eu e Simon estávamos quase sempre aqui no hospital depois da escola.
Até hoje, a sala que papai mandou fazer para que nós dois ficássemos ainda existe — digo me
referindo ao seu escritório enorme. — Eu sempre fui o mais apegado a ela. Estava sempre
agarrado em sua cintura quando podia, mesmo depois de garoto. Eu observava como ela sempre
era carinhosa, como sempre transmitiu o seu amor por todos. — Engulo em seco quando começo me
recordar disso. — Uma vez, ela chorou quando uma de suas pacientes não estava disposta a
terminar as sessões, desistindo de sua perna que poderia ficar boa. Eu, mesmo com dez anos,
também sabia que ela poderia andar novamente sem a sua bengala. E mamãe insistiu nesse caso,
fazia visitas diárias a ela para saber como estava o desenvolvimento.
— Sua mãe com certeza era um anjo!
Sorrio com o que ela diz.
— Sim, ela é na verdade. Depois disso, ela começou a me ensinar muitas coisas. O papai era
o meu paciente favorito quando tinha dor em suas costas. Depois, o Simon sofreu comigo quando
ele machucou o pé na escola. E assim como você, eu não me vi fazendo mais nada que não fosse
fisioterapia. Mamãe com certeza foi uma boa professora, e seria ela a cuidar de você aqui, e não
eu.
Eles ficam calados, ouvindo o que eu disse. Será que eu entreguei muito?
— Nunca ouvi tanta emoção em sua voz, Sam. Sério, eu não sabia que isso era tão importante
— Arthur para e pondera um pouco. — Sabia que era importante, mas não que fosse tão
significativo.
Bagunço o cabelo dele.
— Você já deveria saber que eu não faço as coisas pela metade garoto. — Ele sorri.
— Eu sabia e agora tenho certeza. — Victória comenta.
Olho para ela curioso.
— Sempre soube das suas façanhas. Não que eu tenha sido uma menina obcecada, mas não
tem um aluno de fisioterapia nessa cidade que não saiba quem você é, o que você está fazendo,
atualizando cada congresso nacional, viajando pelo país, mostrando as evoluções que está tendo.
Sempre soube que eu queria estagiar aqui, porque eu tenho uma vontade enorme de aprender
com os melhores. E ouvindo você dizer com isso com paixão... Nossa, nem sei o que dizer.
— Isso é o que queria ouvir. E já que você quer aprender, temos muito para ensinar a você,
Victória.
Ela sorri e começa uma conversa com o Arthur novamente. Eles s aceitam que eu peça uma
torta para sobremesa. Olho para o meu relógio de pulso e ainda tenho tempo antes da minha
próxima sessão.
— Eu te disse. Você só tem que ser paciente. — Ouço meu irmão comentar com Victória.
— Paciente com o que?
Os dois parecem assustados com a minha pergunta e é quando percebo que eles estão
falando de mim.
— Paciência é diferente de eficácia. Eu exijo eficácia e profissionalismo. — Olho para
Victória. — Você tem um jeito diferente de fazer isso, Victória. Um jeito estranho, mas ele é eficaz.
Ela parece surpresa com as minhas palavras.
— Só espero que continue assim. E prove que meu primeiro pensamento sobre você estava
errado.

Tudo depende da forma que enxergamos as coisas. Ter expectativas sobre algo pode nos
fazer mal ou nos fazer sentir ainda melhor. E de qualquer forma, não podemos fazer dela um item
essencial na vida.
Muitos passam à vida inteira se apegando as expectativas, torcendo para que elas sempre
superem o que estão esperando.
Eu, por outro lado, estou excluindo as expectativas da minha vida. A vida não é uma equação
que podemos resolver. Expectativa de vida, expectativa dos resultados... As pessoas não vivem até
oitenta e três anos porque uma pesquisa chegou a esse resultado.

Os números mentem quando se é manipulado para dar a esperança para as pessoas. Foi o
que aconteceu com a minha mãe. Depois que ela ficou grávida de mim, os médicos diminuíram suas
expectativas, mas ainda assim, ela tinha esperança.
Sempre que penso nela, me sinto como o garoto que eu era há quinze anos. Cheio de culpa,
remorso e muita saudade. Diferente dos meus irmãos e do meu pai, todo mês eu visito o túmulo da
minha mãe. Vou tocar as flores, verificar se a grama está aparada, se a lápide precisa de algum
reparo... E conversar com ela.
O Simon me confessou uma vez que sonha com ela quando está com o seu coração pesado.
Mal sabe ele, o sortudo que ele é, pois raramente eu sonho com ela. Acho que isso se dá pelo fato
de estar com ela nos meus pensamentos constantemente ou por ser culpado pelo o que aconteceu.
Essa será uma resposta que só poderei ter quando morrer.
Eu não deveria ter falado sobre ela hoje à tarde. Eu voltei aos meus onze anos de idade,
quando todos aqueles sentimentos debilitantes tomavam conta de mim.

— Você está comendo o que? — Arthur aparece apenas de cueca na cozinha, com a cara
amassada de sono.
— Cochilo de duas horas? — Ele concorda enquanto olha para dentro da panela.
— Tô moído. Esse novo professor está arrancando o meu couro. É difícil ser o capitão do time,
e hoje tivemos problemas no treino. Acabamos acertando a cesta de basquete.
Bem, já sei que isso vai vir na próxima mensalidade.
— Só vai comer isso?
Ele acena, enchendo a sua boca de pão e tomando o leite. Eu não consigo entender de quem
ele tirou esses modos nada agradáveis. Deixo-o em paz para ele fazer o seu lanche, mas Arthur
pensa diferente.
— Sam! — Arthur me chama com a boca cheia. Espero que ele termine de mastigar. — Você
foi legal com a Vick hoje. Eu gostei disso.
Arrumo os meus óculos um pouco sem graça com o que ele me diz.
— Sobre a conversa da paciência, eu estava falando de você. — Arthur coça a sua cabeça,
porém continua. — Eu sei como você pode ser turrão, mas eu sei que a Vick é maravilhosa. Você é
desse jeito e nós nos acostumamos com isso, mas chega uma hora que as coisas têm que mudar.
Você precisa relaxar mais, sei lá... Ser mais acessível. E eu sei que você pode fazer isso, fez isso
hoje. E não quero soar idiota ou implicante, mas estou feliz por isso, Sam.
Então ele volta comer.
Vou para meu quarto tomar meu banho e me preparar para a minha conversa com a Sophie
essa noite. Minha amiga parece estar louca essa semana, já que ela me pediu para conversarmos
hoje. E como é mais fácil eu mudar a agenda do que ela, eu acabei concordando.
— Eu sinto muito, Sam. Mas estou desesperada. O Smith está com o filho doente e eu estou
sem o meu braço direito. Você se importa se eu desabafar com você?
Eu me ajeito mais na cama e digo:
— Faça de mim o seu diário.
— Estou quase jogando tudo para o alto. Sério, Sam! — Ela parece exausta para dizer a
verdade. — Eu amo ter o controle de tudo aqui. Você sabe como é a sensação, mas...
— Não era o que você queria — eu completo por ela. — Mas é o que você tem.
Ela suspira.
— Eu sei, mas estou tão cansada. — Ela se deita na cama.
— Por que você não tira férias? Uma semana com os meninos vai te ajudar.
Ela está trabalhando sem parar por mais de cinco anos. Sophie é tão difícil quanto eu, mas eu
sei como convencê-la.
Ainda me deixa surpreso a força que ela tem para guiar a sua vida tão caótica.
— Você tem razão — ela comenta bocejando. — Eu acho que posso explorar o David um
pouco mais.
— É disso que eu estou falando, querida!
— Mas me conte da sua nova estagiária. Ela é irritante como os outros?
Não, não é. E é incrível como isso se tornou claro pra mim, como um dia ensolarado.
— Não. Sim... — Sophie parece bem acordada agora. — Depende muito do meu humor ou
do dela. — Porque isso é tão difícil de explicar? Nunca me enrolei com uma pergunta. — Ela é
bem diferente dos outros, Soph. É a única coisa que eu posso te dizer.
Sophie leva as mãos até a boca.
— Isso é estranho, Sam.
— Estranho? O que há de estranho?
Ela dá de ombros e sorri.
— Você não conseguir explicar uma coisa é estranho. Nunca te vi acanhado desse jeito. É
bonitinho, mas também estranho.
Sim, coisas estranhas estão acontecendo e não sei como reagir a isso. O fato de ver coisas em
lugares que não deveria é o suficiente para me fazer entender que as coisas estão mudando
comigo. O fato é que eu não sei o que é, e essa é a pior parte. Não ter nenhum tipo de resposta.
Isso é uma coisa que eu não consigo aceitar.
Capítulo 6
Desconfio de felicidades instantâneas e constantes. Soa meio falso.
Victória

S abe quando tudo está dando certo, mas algo diz que logo as coisas podem ficar instáveis? Eu
estou tendo essa sensação. Eu consegui as melhores notas nas provas, o meu TCC está bem
até onde produzi e estou começando a minha agenda no hospital. Até o meu supervisor me elogiou
duas vezes essa semana.
Mas ainda sinto que algo pode vir acontecer.
— Isso é coisa da sua cabeça, Vick — meu irmão me diz pela segunda vez isso essa manhã.
Eu quero muito ouvi-lo, mas simplesmente não consigo. Balanço a cabeça e termino de arrumar
as compras que fizemos nesse fim de tarde. É uma sensação boa ver a dispensa cheia. E com as
coisas que todos aqui gostam. As bolachas da Didi, as torradas integrais do meu irmão, o
macarrão instantâneo da Nessa e o meu favorito, minha bomboniere cheia de bombons e balas
favoritos.
Ainda não contribuo para isso, mas ajudo no que posso. Agora as coisas estão mudando e
daqui alguns dias, eu vou receber meu primeiro salário. Não é exatamente uma enorme quantia,
mas vai me ajudar. Vou poder comprar uma bolsa nova e o remédio das meninas. Elas são minha
responsabilidade, não posso pedir sempre a ajuda da minha irmã.
— Victor, eu posso te pedir um enorme favor? Tipo, muito enorme mesmo?
Meu irmão para de dobrar as sacolas e me encara.
— Se eu puder ajudar — Ele sorri.
Lá vai!
— Eu preciso de um notebook e eu ainda não tenho uma renda boa para conseguir crédito.
Você é um cabo e eu acho que você consegue tirar um, já que você recebe mais que a Nessa. Eu
prometo, vou pagar direitinho. Não estaria pedindo se não fosse importante, mas é meu último
período, tenho meu TCC para terminar e, não posso estar sempre pedindo para Lucas me
emprestar o dele. Nem sempre posso estar na biblioteca da faculdade. Mas se não puder, eu dou
um jeito. — digo em um fôlego só.
Seus olhos estão arregalados, mas então ele sorri. Termina de dobrar as sacolas e as guarda.
Eu acho que ele vai pensar sobre isso, afinal é uma compra alta. E eu ainda nem completei um mês
de estágio.
— Você não precisa tirar se não puder, eu vou dar um jeito.
— Vick, deixe de ser tão ansiosa.
Aceno em concordância, mas não adianta. Não consigo controlar, sou ansiosa desde que nasci.
— Sente-se aí. — Victor me empurra pelo ombro e me faz sentar na cadeira em frente à
mesa. Ele vai para o quarto da minha irmã, eu acho.
Diana entra na cozinha e se senta ao meu lado enquanto come uma barra de cereal. Victor
traz uma enorme sacola enquanto Nessa tira as coisas de cima da mesa.
— Esse é um presente de nós dois. — Ele diz tirando uma caixa da sacola. — Eu paguei um
cara para instalar as coisas que sei que você vai precisar. — Ele beija minha cabeça. — Estou
orgulho de você, queria poder ter lhe dado antes...
— Mas escolhemos um que fosse moderno para você, querida — minha irmã completa.
Estou apenas chorando pelo enorme notebook que está na minha frente. Ele é preto como eu
queria. Didi me ajuda a abrir, tento espiar o valor, mas eles tiraram, sabendo que eu iria querer
ajuda de alguma forma.
Os dois me abraçam, enquanto Didi se senta em meu colo.
— Obrigada. Obrigada mesmo, eu nem sei o que dizer... Só que eu amo vocês.
Eles dizem que me amam e eu começo a mexer no meu brinquedo novo. E como Victor disse, já
tem todos os programas que eu preciso, até mesmo programa de anatomia muscular.
Coloco uma imagem de todos nós na área de trabalho. Quando estávamos na festa da escola
da Didi.
Minha irmã vai para o trabalho, no mesmo tempo em que Victor foi jogar bola com seus
amigos aqui do bairro. Ele sempre se vende por uma pelada de rua. Didi está lendo o seu livro da
Bela e a Fera enquanto eu estou focando no meu TCC.
Porém, a minha mente relembra os acontecimentos de dois dias atrás.

O meu supervisor me deixou sozinha com um de seus pacientes, alegando ter uma reunião,
quando na verdade, ele foi para uma consulta com neurologista do hospital. Quando descobri isso,
fiquei preocupada. Não pude deixar de reparar que ele sente dores de cabeça frequentes, o que
não é normal, ainda mais para alguém da sua idade.
Fiquei surpresa e até um pouco grata, que ele me deixou cuidar de tudo enquanto esperava o
remédio fazer o efeito. E me irritou um pouco saber que ele foi apenas pegar uma receita nova e
não ter uma consulta de verdade com o neurologista.
— Vou precisar ficar duas horas aqui, Victória. Qualquer coisa, você pode chamar o Franklin.
Ele é o responsável por você, quando eu não estiver por perto.
Eu não entendi bem o porquê dele ter me dito isso, nem mesmo o porquê isso é algo que não
o agrada. Mas depois percebi que ele gosta de ter tudo organizado por ele, que tudo passe por
ele. As decisões são responsabilidade dele em todos os sentidos.
No entanto, o que mais me intriga, é a maneira como o Samuel lida quando alguém cuida dele.
Ele parece desconfortável, como se não estivesse acostumado com isso.
E mesmo que eu tente não pressioná-lo, não posso. Odeio que ele sinta dor de cabeça e me
encarrego dele tomar suas pílulas no momento certo.
— É estranho!
— O que é estranho? — pergunto quando entrego o copo para ele.
Samuel parece pensar. Ele balança sua cabeça, com certeza afastando o pensamento. Ele não
responde minha pergunta, mas tenho quase certeza que é sobre eu estar tomando conta dele.
— Não sentir tanta dor a essa hora do dia. — Ao que me parece, ele tentou fazer uma
piada.
— Não deveria estar acostumado com isso.
Ele acenou me dispensando discretamente e fui fazer o meu trabalho.
Ele está mais sereno. Quero acreditar que ele me aceitou como sua nova funcionária. Porém,
também sei que preciso de muito mais para ganhar a sua confiança. E isso só vai acontecer,
quando ele pensar em mim como uma profissional que pode estar em seu quadro médico.
Não sei se isso está longe, ou perto, ou até mesmo se vou conseguir tal proeza. A única
certeza que possuo nisso tudo, é que estou me dando por inteira para aprender cada vez mais
com todos naquele andar. Da recepção até os últimos procedimentos com os pacientes.
De acordo com os comentários dos outros membros da equipe, estou no caminho certo. Eles são
ótimos e estão sempre me auxiliando e me convidando para estar com eles em suas sessões.
Sorrio quando penso nisso. Quando vejo que estou a poucos passos de conseguir o que
sempre sonhei. As coisas não poderiam estar melhores, mas ainda sinto que algo não está em seu
devido lugar.
— Faça uma pausa para se alimentar — O meu irmão afasta os livros e coloca um pedaço
de bolo na minha frente. — Saco vazio não fica em pé. E seu cérebro vai funcionar melhor.
Olho para o relógio e vejo que já se passaram quatro horas.
Sem cerimônia, como o bolo de trigo que com certeza foi minha irmã que fez. Ela é única que
sabe fazer um bolo delicioso assim. Seus dotes funcionam apenas para doces e salgados. Se for
para fazer uma refeição completa, não dá para contar com a ajuda de Nessa, pois ela é um
desastre.
— E como você sabe que meu cérebro vai funcionar melhor?
Ele ri e belisca o meu bolo.
— Porque ele não vai ficar dando atenção para o seu estômago vazio. Apenas por isso.
Espertinho.
— Então, me fale mais sobre o seu emprego. É tudo aquilo mesmo que você sempre imaginou?
— meu irmão me pergunta enquanto observa as imagens de músculos nas minhas apostilas. — Eu
não consigo entender como você tem estômago para isso, Vick.
Tiro o livro de sua mão.
— Sim, é tudo o que eu imaginei. Eu nem consigo acreditar que estou conseguindo, irmão, sério
mesmo. E eu sempre fui mais corajosa do que você, molenga.
Ele sorri para mim, com os olhos castanhos que eu amo. Ele foi o único que herdou os olhos do
nosso doador de esperma.
— Isso não tem nada a ver com coragem, Vick e sim com ... — ele faz uma careta de nojo. —
Com disposição e estômago.
— Eu tenho os dois. E você? Vai para base quando? Ou vou ter que te aturar por quinze dias
aqui?
— Quinze dias de folga e então eu vou para a base todos os dias, mas eu volto para casa.
Que bom. Sei que meu irmão adora o trabalho dele. E sei que ele vai ficar louco, caso fique
preso aqui sem fazer nada.
— Tranque a porta. Eu vou buscar Nessa na parada de ônibus.
Esse é o único dia que minha irmã volta para casa sozinha. Apenas aos domingos, a
lanchonete funciona até às três da tarde e então o gerente da madrugada fica até fechar. Minha
irmã diz que ele precisa de hora extra mais do que ela.
Esse emprego foi uma benção na vida de todos nós. Se não fosse por ele, eu não estaria com
meu estágio e minha irmã não estaria feliz com o seu bom emprego. Olhando para as minhas
anotações, vejo que já posso dormir. Como já fiz a maioria das provas, a maior parte da
ansiedade se foi.
— Mamãe está muito orgulhosa de você, Vick. — Meu irmão diz quando me ajuda a arrumar
meus livros. — De nós três, você sempre foi a mais forte.
Isso é uma bobeira. Ele sabe que eu sou a única protegida.
— Você pode não perceber, querida. Mas você é a mais forte, corajosa e que sempre soube
o que queria. Agora chega desse assunto e vá arrumar a Didi para dormi. A Nessa vai chegar
cansada e eu vou fazê-la ir para cama assim que chegar.
Eu faço isso, mas nem preciso me preocupar com a Didi, ela já está dormindo como uma
pedra. Deve estar cansada do seu dia para arrumar as suas coisas. Arrumo-a do seu lado da
cama, dando espaço para a minha irmã deitar.
Fecho a janela para não entrar nenhuma brisa. Agora que as duas melhoraram da gripe, não
precisamos dela novamente. Não quero perder mais nenhum dia de aula, muito menos deixar o
hospital, quando eu apenas comecei meu estágio.
Tomo um banho rápido para não deixar minha irmã esperando. Visto minha camisa de dormir
e me jogo na cama. Poderia ler mais alguma coisa, mas meu cérebro ainda precisa arquivar o que
eu dei a ele hoje.
Foi o que meu orientador disse: se você exigir muito de você, pode ter dois resultados, o
fracasso ou a desistência. Nada em exagero faz bem, nem mesmo aquilo que amamos.
Eu queria que muitos pensassem assim. O mundo seria um lugar mais fácil de viver. Ajeitando o
meu travesseiro, eu decido que amanhã eu não vou pegar em nenhum livro. Vou aproveitar meus
irmãos e sobrinha do jeito que gostamos. Com bagunça.

— Até cinco ou sete anos atrás, era quase improvável que a cirurgia em si, fosse necessária
para a volta total dos movimentos, mas assim como a idade avança, os conhecimentos também. —
Nosso professor de neurologia comenta fazendo todos rirem. — Mas voltando o assunto... — Ele
pega o pincel e começa de escrever. — É nesse momento em que a ortopedia, neurologia e
fisioterapia trabalham juntas. É muito comum os leigos confundirem com uma inflamação no tendão.
Se o ortopedista não conseguir o diagnóstico com exames de imagens, o paciente deve ser
encaminhado ao neurocirurgião — ele diz apontando para ele. — E então o trabalho em si será
comigo e com vocês. Vejam no capítulo oito na apostila de vocês. Façam um resumo sobre os
diagnósticos e anotem isso. Pode cair ou não na prova de vocês.
Eu tenho apenas duas aulas hoje, já que dois professores estão doentes. Dessa forma, eu
tenho tempo de ir para o hospital sem ter que correr. Lucas tem mais três aulas, então ele vai ter
que ir sozinho. Na verdade ele está clamando por isso. Sua mais nova paquera estará indo para o
mesmo lado da cidade e ele quer estar sozinho com ele.
Bem, ao menos alguém está se divertindo. Enquanto o Lucas sabe aproveitar a vida como se o
dia fosse o último de sua vida, eu sou antiquada.
Eu anseio por alguém que vai ficar comigo para sempre. Que vai me amar acima de tudo. Eu
preciso ter certeza de que seja a pessoa certa. Afinal, não tive bons exemplos quando se trata
amores eternos. Meus pais são o meu principal exemplo, e teve minha irmã. Eu sei que de todos, ela
foi a quem mais sofreu. Mas eu gosto de pensar que valeu a pena, já que temos a nossa Didi.
Mas eu sei que só me darei quando tiver certeza que a pessoa é especial para mim e que ela
se sente da mesma maneira. Será a pessoa que terá o meu coração sem nenhuma ressalva. Que eu
tenha plena certeza que ele será o meu felizes para sempre.
Eu pensei que Daniel, o sobrinho do padre da paróquia do bairro, fosse esse cara. Ele era
tão gentil comigo. Sempre foi o menino educado e exemplo para todos. Não havia nenhuma
menina que não fosse apaixonada por ele. Ele me cortejou por muito tempo, mas depois do que
Nessa passou, ela sempre me pediu para ser ainda mais cuidadosa. Minha irmã começou a ver
segundas intenções em todos os rapazes depois de tudo o que lhe aconteceu. Eu?
Eu estava perdidamente encantada com o garoto que parecia estar gostando de mim. Mas ele
fazia isso com todas as meninas do bairro. Querendo apenas uma coisa: corromper todas elas.
Para ser o primeiro de cada uma. Nunca me senti tão usada como quando eu descobri o que ele
fazia.
Eu pensei que ele gostava de mim. Mas isso foi bom, pois descobri que gostar é mais do que
palavras bonitas e um: eu gosto de você.
É te conhecer, aceitar, viver com você e saber de cada coisa que você gosta. É te apoiar.
Torcer por você. Querer estar com você a cada segundo do dia. Se preocupar, perguntar se está
bem, mesmo que saiba que tudo vai perfeitamente em paz.
Não fiquei tão chateada quanto achei que ficaria quando descobri a verdade sobre o Daniel.
Por alguma razão, eu não sentia as coisas que deveria sentir quando ele me abraçava e me
beijava. Meu corpo de alguma forma sabia que não era ele. Meu coração não o reconheceu como
o meu único.
Acho que ele vai me dizer quando a pessoa aparecer. Espero que eu não esteja tão distraída
quando ele aparecer. E que ele seja tão bom quanto eu imagino.
Não sei se daria certo com alguém que seja bruto e ranzinza. Espero que seja alguém que
adore sorrir e amar como ninguém. Assim será mais fácil.
Ou talvez não.
Gosto da citação de que os opostos se atraem, mas não sei se isso vale para todos.
Se pudéssemos escolher quem amar... Tudo estaria mais perfeito. O mundo não teria tantos
corações partidos. Se pudéssemos ver o caráter da pessoa apenas por uma palavra, não haveria
tanta decepção e nem traições.
Mas a vida é feita disso. Não se pode fazer nada, além de lutar a cada dia por um pouco
mais de felicidade e amor.
Chego ao hospital com mais de uma hora de antecedência. Troco de roupa e pego o meu
jaleco na lavanderia do hospital. Samuel me disse que posso deixá-lo aqui todo o fim de semana e
não me preocupar com ele. E acho que nem preciso. Está tão limpo que parece que acabou de sair
da loja. Mas a diferença é que tem o meu nome bordado na cor roxa. O coloco antes de sair do
banheiro.
Não gosto de ficar sem ele. É uma coisa muito chata, na verdade. Por ser pequena, foi muito
fácil ver as mudanças de meu corpo. Com treze anos, eu já estava toda formada e atraia atenção
indesejada. Enquanto muitas meninas queriam atenção dos meninos, eu fugia. Garotos de turmas
mais avançada do que a minha começaram a conversar comigo e sabia o que estava acontecendo.
Foi ai que decidi usar roupas que escondessem mais o meu pequeno corpo.
Nessa diz que eu já deveria ter parado com isso, mas um hábito de anos é difícil de ser
largado assim.
Sei que eu tenho uma bunda enorme e peitos que muitos pensam ser de borracha. E deveria
estará feliz com por isso, já que existem milhares de mulheres que pagam horrores para ter o
corpo perfeito. Enquanto eu tenho tudo isso aqui e nem mesmo faço nenhum tipo de exercício.
— Você chegou cedo!
— Não tive todas as aulas hoje. O que você tem pra mim, Felipa?
Ela pega alguns papéis e me entrega.
— Você poderia ir ao estoque ver se estamos precisando de gel e desses demais itens? Eu sei
que é pedir muito, mas eu tenho que fechar isso antes do almoço.
Pegando a lista do que devo ver, vou até o estoque. Só nesse momento é que me dou conta
que vou precisar ficar no topo da escada para ver os materiais que estão no topo de cada
prateleira. Como estou sozinha e aqui dentro está abafado, tiro o meu jaleco e coloco-o em cima
da pequena mesa e faço o meu trabalho.
Eu só vou sair daqui quando tiver tudo catalogado e pronto para dar a Felipa. Coitadinha,
ela está sempre correndo de um lado para o outro quando alguma coisa dá errado. Sei que
doutor Samuel não confia em mais ninguém para ajuda-lo, além dela. Mas será que ele não vê que
às vezes ela fica sobrecarregada?
Não se passou nem dez minutos e eu estou suando. Nossa, por que o estoque é tão quente?
Desço da escada com cuidado, mas a minha sapatilha escorrega e então estou caindo em direção
ao chão.
Eu me preparo para a sensação de dor, mas ela não vem. É quando me dou conta de que
estou segura nos braços de alguém.
— Isso iria trazer sérios problemas para mim, Victória! — Seu rosto está bem sério. Samuel me
prende contra o seu corpo. — Por que estava se pendurando desse jeito? Não sabe que é
pequena demais para isso?
Eu não consigo dar a ele uma resposta pelo fato de estarmos muito, muito próximos. Sua mão
direita está na minha cintura enquanto a outra está bem abaixo dos meus seios. Engulo em seco
assim que sinto a sua frustração quando não lhe dou a sua resposta.
— Você deve ter mais cuidado, Victória — diz me colocando no chão. — Poderia ter se
machucado feio. — Ele olha para as minhas sapatilhas. — Elas não são antiderrapantes. Você não
está segura com elas quando subir em escadas ou estiver em um piso molhado.
Dou um passo para trás, constrangida com a sua repreensão. Samuel percebe e suas feições
relaxam. Um pouco.
— Você está bem?
Aceno que sim.
— Sinto muito, mas estava fazendo o que Felipa me pediu. Não seria nada grave, só iria
bater com minha bunda no chão. E cheia como ela é, com certeza não iria doer tanto.
Droga! Eu acabei de falar da minha bunda para o meu chefe.
— Desculpe por levantar a voz, mas você é minha responsabilidade aqui dentro, Victória. E
não quero você machucada.
Samuel estende a mão e segura a minha.
— Sempre que for ter que subir na escada, me chame. Eu pego para você. — Seu sorriso
suave aparece e faz tudo dentro de mim se agitar. — Eu não preciso de escada para alcançar.
Samuel fazendo piadas é algo novo para mim.
— Eu dou um jeito. — Arrumo a minha blusa, mas eu ainda sinto o seu toque em minha cintura.
— Eu terminei aqui.
Ele franze o cenho e me deixa passar.
— Esse lugar, mesmo que organizado, pode ser desastroso. Sem mencionar o calor que faz
aqui. Pode deixar que eu faço o estoque.
— O calor também não vai fazer bem ao senhor, doutor. — Suspiro quando sinto o ar gelado
do corredor que leva para a ala. — A sua dor de cabeça irá piorar com esse calor.
É a vez dele suspirar.
— Por que nós dois não fazemos o estoque? Assim eu tomo conta do senhor e o senhor não
me deixa cair da escada — falo sorrindo quando paro em frente à porta.
Samuel parece não entender o que eu disse a ele, mas logo acena concordando.
— Tenho duas reuniões agora com os diretores. Você pode tomar conta do Luigi para mim? —
ele pede gentilmente.
Há um sorriso enorme em meu rosto. Não posso e nem quero evitar. Ele está confiando um de
seus pacientes a mim.
Eu quero abraçá-lo, mas acho que isso não vai me ajudar. Controlando minha animação, eu
aceno para ele.
— Obrigada!
— Você está aqui para aprender, Victória.
Dizendo isso, ele entra em sua sala me dando a deixa para ir cuidar do seu paciente.

— Quero um enorme bolo de chocolate e muita capa de morango! — Didi anuncia com os
braços abertos, mostrando o tamanho do bolo que ela quer.
— Se diz cobertura, Didi — a corrijo. — Não capa.
— É isso ai mesmo, titia. — Ela empurra o resto de sua esfirra para mim. — Estou com a minha
barriguinha cheia. Pode comer, tia. Eu deixo.
Com um bico eu pego sua esfirra e termino de comer enquanto ela pega seu caderno e vai
fazer o dever de casa. Minha sobrinha é tão inteligente, que é difícil de acreditar que ela estará
fazendo oito anos daqui a alguns dias. E é por isso que estou aqui no meu tempo de lanche, para
ver algumas coisas para o seu grande dia.
— E o que essa mocinha linda está escrevendo? — Meu supervisor aparece junto a nossa
mesa. Ele sorri para mim e se senta ao meu lado com uma garrafa d’água em sua mão.
— Doutor Samuel! Estou fazendo o convite para o meu aniversário. O senhor vai, não é?
Quero ver o senhor lá para comer o meu enorme bolo comigo.
Samuel ri e recebe o abraço da minha sobrinha.
— Se você me der esse lindo convite, eu vou com certeza. Onde vai ser?
Esse é uma das coisas que precisamos ver. Ainda não temos o local. Sabemos muito bem que
vai ser difícil de encontrar um local que o aluguel da noite seja barato.
— Ainda estamos vendo isso — comento baixo querendo que ele não estenda o assunto.
— Podem fazer lá em casa. A área da piscina é grande. Tenho certeza que papai não vai se
importar com isso. — diz tranquilamente. Estou quase dizendo que Vanessa tem que decidir quando
a minha irmã aparece com um sanduiche para ele.
— Eu agradeço muito a sua ideia, mas estou recusando. A maioria das coleguinhas de Didi
mora perto de casa. Será bem difícil se locomover e além do mais — ela diz sorrindo em ironia. —
Tenho certeza de que você não iria gostar de ter vinte crianças correndo por toda a sua casa.
Ele engole em seco, mas seu semblante não muda.
— A oferta vai continuar de pé.
Minha irmã recusa mais uma vez e se vira para mim.
— Vai me esperar para ir para casa?
Concordo e ela volta para o seu trabalho, assim como eu.
Franklin me chamou para acompanhar uma de suas sessões com seu paciente. O rapaz está
respondendo bem aos exercícios que ele está fazendo. O problema é a limitação em sua perna
esquerda, que ainda não responde cem por cento da maneira que deveria. Porém, com mais
persistência, ele vai conseguir. Estar andando depois de tanto dano, é uma verdadeira vitória.
— Vick, querida, você pode pegar mais toalhas para mim? Eu acabei não indo ao estoque
hoje — ele me pede.
— Claro.
Ainda bem que as toalhas ficam nas prateleiras do meio. Vou até a sala do chefe para pegar
a chave, mas paro quando o vejo trabalhando com uma menina de uns treze anos.
— Você me diz quando doer muito, tudo bem? — Samuel pede a ela que acena concordando.
Observo quando ele estica lentamente a sua perna esquerda e logo em seguida a dobra. A
menina geme de dor, mas ele continua. Sei que ela ainda está suportando. Mas no momento em
que ele leva a sua perna em direção ao seu peito, ela grita.
— Pare! Dói muito!
— Respire fundo e tente aguentar. Eu não posso parar sempre que você sentir dor.
Ela concorda.
— Tente pensar em outra coisa. Cante alguma coisa em sua cabeça, se quiser pode até cantar
alto. Eu não vou me importar. Mas eu preciso que você faça isso. É necessário.
Ela acena mais uma vez.
Sam faz o movimento mais uma vez e ela aguenta firmemente. Repete mais duas vezes e sua
expressão de dor suaviza.
— Percebe que cada vez que fazemos e dor diminui? É o músculo estendendo e se adaptando
ao movimento que tem que fazer.
Eu observo ele fazer mais e mais.
E fico muito feliz com a paciência que ele possui. Acho que sua dificuldade é apenas com
crianças que estão sempre com birra e não gostam de receber nenhum comando.
Porém, depois de nossa conversa, percebi que ele está menos arisco com o Luigi, que para
muitos, era um pequeno ser que estava possuído por algum demônio.
Saindo de fininho, eu deixo os dois e vou pegar as toalhas. Franklin deve estar ser
perguntando onde eu estou. Passo pela porta mais uma vez e vejo os dois no mesmo exercício.
Sorrindo, eu volto para o meu serviço.
Capítulo 7
Eu vivo na espera de poder viver.
Samuel

T ermino de prender a abotoadora da manga direita. Não é necessário toda essa formalidade.
Minha primeira parada da noite de fato precisa de tudo isso, mas a segunda não.
Jonas com certeza terá um prato cheio.
— Fiu Fiu! — Arthur entra no meu quarto sem nem bater na porta. Ele tem esse costume feio.
— Vai atrás de uma cunhada para mim? Inteligente, por favor. Você é irmão inteligente e
aristocrata da família, mantenha a linhagem.
Ignorando-o, termino de me arrumar colocando o terno. Puxo meu relógio mais para cima do
meu punho e estou pronto.
— Perfume! Use aquele que eu te dei.
— Não tem nenhum trabalho para fazer? Ou algum assunto para aprender? — questiono um
pouco impaciente.
Arthur se joga na minha cama, abraçando o travesseiro.
— Eu adoro essa cama, sério. Por que você se mudou para o quarto do papai e não eu?
Estou em fase de crescimento, meus ossos precisam de mais espaço para acomodação, minha
coluna vai agradecer.
Passo a mão pelo meu cabelo, sabendo que só com esse toque ele vai ficar do jeito que eu
quero.
— Você não tem dois metros e cinco de altura, não pesa mais de noventa quilos e não tem
que estar se abaixando sempre que passa por uma porta. Por isso eu estou aqui.
Ele revira os olhos, mas aceita a sua derrota.
Arthur apenas não sabe que foi um pedido de papai. Foi uma conversa estranha, mas ele me
fez entender o seu desejo. Depois de anos, é aceitável que ele queria se mudar de quarto. E
admitimos, foi uma mudança boa. Essa é a parte mais alta da casa. Tudo é mais espaçoso e
cômodo para mim. Posso usar o banheiro sem me preocupar se vou caber no box ou não. E minha
cama feita sob medida, não ocupa todo o quarto.
— O papai chegou? — pergunto pegando as chaves do meu carro.
O Arthur não faz nenhum movimento indicando que ele vai levantar.
— Está esquentando nosso jantar. A Noêmia deixou carne de carneiro pronta, mas você sabe
que ele gosta de temperar a própria carne.
Acenando, eu espero ele sair da minha cama. Deixo o meu quarto trancado, para não correr
o risco do meu irmão de quinze anos tomar a minha cama. Às vezes eu penso que Arthur não quer
crescer.
E eu não quero que ele faça. Não tenho ideia de como vai ser quando isso acontecer.
Desço com Arthur ao meu lado e vejo meu pai na cozinha. Ele está bem concentrado em sua
tarefa. É uma imagem rara.
Meu pai veste uma calça de moletom junto com uma camiseta cinza. Ele parece sereno
enquanto corta os legumes. Assim, parece que não há um passado cheio de dor e caos em seus
ombros.
— Você ainda sabe cortar um tomate. Estou surpreso — comento parando em frente ao
balcão de mármore. — Ainda sabe cozinhar.
Papai limpa as mãos no pano de prato e despeja os legumes na frigideira.
— Para quem teve que costurar um braço na primeira semana de residência no exército,
cortar legumes é a coisa mais fácil do mundo.
Arthur abre os olhos, horrorizado.
— Isso foi verdade, papai?
Sabendo que ele vai ter que explicar isso ao seu filho caçula, eu sei que é hora de ir para o
jantar com os diretores do CREFITO. Eles me convidaram para a mesa de palestrante do Congresso
esse ano. Ainda não temos a data exata do evento, mas logo o catálogo estará chegando e irei
precisar arrumar as coisas para os sete dias fora do hospital e de casa.
É uma conversa maçante, pois os diretores sempre enrolam sobre o congresso, preferindo
conversar sobre a vida alheia. Durante a reunião, pensei que eles iriam tirar os esmaltes dos bolsos
e fazer a unha um do outro, mas no final, transcorreu tudo bem. Temos uma data, catálogo
aprovado e um local inusitado.
Recife.
A briga para quem vai será grande.
— Fique mais um pouco, Samuel. Pedi o melhor vinho para o final. Um copo não vai tirar a sua
concentração no trabalho. — Um dos conselheiros me convida, mas nego.
— Fica para a próxima, tenho outro compromisso agora.
Saio do restaurante enquanto espero meu carro chegar. Dou uma gorjeta ao manobrista e
pego a saída da 116 para os limites de Osasco. Faço uma viagem tranquila até a pequena
cidade. Esse é o único lugar que não costumo chegar pontualmente. Por que aqui, sou apenas um
cara sem nenhum tipo de responsabilidade sobre os ombros.
Entro diretamente para o estacionamento VIP do grande casarão. Pego o cartão no porta
luvas e vou para dentro da casa. Não é muito alto, mas posso ouvir a música mesmo daqui de fora.
Desabotoando meu terno, minha paz de espírito muda um pouco.
Pego um copo de água com gás assim que me instalo no bar. A festa de verdade não é aqui,
e não começou ainda. Mas está prestes a iniciar. A música está agradável, mas já me sinto
impaciente sobre isso.
— Você chegou cedo? Os barrigudos do conselho não arcaram com o seu mau humor de vinte
e cinco anos?
Virando, encontro Jonas. Ele é a única pessoa com quem eu converso sem nenhum tipo de
reserva. E acho que acontece o mesmo com ele. Somos de um mundo distante, mas a diferença não
é importante quando as semelhanças são fortes.
— Acho que os últimos quinze é o que conta. Não me recordo de querer sexo assim que nasci.
— Dou um aperto em seu ombro. — Já você, pensa nisso desde quando descobriu o seu amigo aí,
ou estou enganado?
Ele ri e se senta ao meu lado.
— Bem, ainda era novo e não sabia como funcionava. Agora eu e ele somamos uma perfeita
dupla. Isso eu não posso negar. E você amigo? O que tem feito de bom? Algo deve ter acontecido,
pois não aparece aqui há semanas.
Dou de ombros como desculpas, mas ele não aceita isso. Jonas mesmo sem proferir uma só
palavra, consegue me fazer falar... Um pouco.
— Sabe, deveria ter ido para psicologia, ao invés da engenharia.
— Corte o papo furado e diga.
Termino a minha água com gás e dou a ele o que ele quer. Mas não o que eu quero falar.
— Foram duas semanas puxadas. Tive que treinar a estagiária nova durante essas semanas.
Papai com dois plantões imprevistos e Arthur com a sua fiel curiosidade. E minhas crises de
enxaqueca apareceram, deixando tudo pior. Nada mais do que o meu normal.
Jonas ri.
— Você deve ir ao neurologista, Samuel. Venho repetindo isso há semanas. A Larissa pode
dar uma olhada em você.
— Ela pode. Se vier trabalhar no hospital.
Sempre tentei trazer a sua esposa para o hospital, mas ela é teimosa. Diz que gosta de ser a
sua própria chefe.
— Quando os porcos voarem. Mas me diga: por que você não desdenhou da pobre
estagiária quando a mencionou na primeira vez? — Levanta o seu copo para mim. — Estou bem
curioso sobre ela.
Entra na fila!
É o que eu quero dizer, porém, sei que vai apenas atiçá-lo sobre o assunto. E Deus sabe como
eu estou instigado com isso. Com ela.
Victória é... Algo bem novo pra mim. Não sei como descrevê-la, como conseguir informações
sobre ela. Não sei entendê-la.
Primeiro, ela me assusta um pouco. Sua força é algo novo para mim. Na verdade, é bem
excitante essa audácia dela.
Eu me enganei feio quando vi apenas uma menina pequena com um olhar meigo que vê o
mundo como um lindo parque para um incrível piquenique.
Victória é daquelas pessoas que se você se deixar levar pela aparência, vai sofrer um
grande golpe quando descobrir a verdade por trás dela. Ela é forte, inteligente, audaciosa e o
mais impressionante é que ela não se intimida.
Em nenhum momento.
Mesmo que em seu rosto sempre esteja um incrível e radiante sorriso, a sua força é maior
assim como a sua determinação.
E isso me assusta. Veja a ironia nisso.
Estou tão acostumado a ser sempre o intimidador. Eu, que sempre assustei todos os meus
estagiários, me intimido com a que seria a menos temida por todos. Meus óculos ainda me ajudam
a enxergar as coisas. Ela não tem ideia da atenção que ela tem. De como consegue cativar todos
ao seu redor. Ela nem se dá conta de como já é importante para a equipe.
Percebo que nem mesmo eu notei isso até agora.
É impressionante como a pergunta certa e um momento apropriado faz você conseguir ter
várias respostas para outras perguntas adjacentes. É a coisa mais bizarra que já me aconteceu.
Não foi meu irmão namorando a minha amiga, nem mesmo Arthur com as suas perguntas
estranhas e indecorosas. Ou Jonas sempre me perguntando quando de fato vou me tornar um
homem.
Mas sim, aquela pequena menina gostosa...
— Então, finalmente aconteceu? Ou está tendo certeza que tem todos os adjetivos ativos para
descrever a sua nova criança para cuidar? — Jonas se faz presente mais uma vez nessa noite.
Ou fui eu que me ausentei sem nem perceber. Não posso mentir. Omitir talvez. Afinal, ele é a
única pessoa que conhece os meus medos e ambições. O único amigo que entende o meu
desespero por controle e que tudo dê certo.
— Ela, Victória é diferente. Obstinada... Dá pra entender o que eu quero dizer apenas com
essa pequena palavra, não dá?
Jonas sabe o que estou tentando fazer.
—Não. Seja mais especifico, por favor.
Bem, melhor acabar com isso de uma vez.
— Ela tem uma personalidade única. Inteligente, ativa, paciente, tem atitudes bem discutíveis —
não posso deixar de citar isso. — Não se intimida, mas me intimida de alguma maneira. Você não
sabe o que pode vir dela. Parece que nada a abala. E ela é o que? — Levanto as mãos querendo
um pouco de luz nesse momento transitório. — Metade de mim? Sério, ela consegue me assustar e
ela nem mesmo chega ao meu peito.
Sirvo um copo de vinho e tomo em um só gole. Não vai me fazer mal apenas uma taça. Que
irresponsável, Samuel. Claro que um copo pode fazer mal quando você está dirigindo.
— Bem, eu nem conheço a garota, e já sou o maior fã dela. Por favor, faça com que eu a
encontre. Gostaria muito de ser do círculo social dela.
Faço uma careta de desdém. Ela com certeza iria adorar tê-lo como amigo. E isso me irrita.
— Quando isso acontecer, eu não vou querer estar perto — comento um pouco desdenhoso.
— Não sei qual dos dois vai ficar mais feliz.
Jonas pede um copo com água para ele e fica em silêncio por segundos.
— Você não conseguiu esconder o fascínio, não é? Ele escorre a cada palavra que você
declama sobre ela. — Ele me encara sem nenhum tipo de expressão. — Bem meu amigo, algo está
certo ou errado. Vamos ter que descobrir qual dos dois.
Ele diz como se eu não soubesse disso.
O primeiro sinal de erro me bateu quando comecei a olhar mais para o seu pequeno corpo
do que eu deveria. E mais ainda quando fui o único a estar com ela toda essa semana.
Piorou quando a segurei em meus braços. Minha consciência grita dizendo que foi um ato de
salvamento. Victória iria cair e se machucar feio se não estivesse naquele preciso momento para
ajudá-la. Mas meu corpo, que está cansado de lutar contra a enorme batalha que temos tido há
anos, só quer saber de senti-la sob o meu toque.
Meus olhos só conseguem ver a beleza excitante dela. E meu corpo só viver a devassidão que
ela pode possuir. Ou não.
Mas estou aqui para isso. Para aprender com ela e ensiná-la como o nosso corpo pode gozar
de várias formas.
Gozar!
Péssima escolha de palavra, Samuel.
— Vou precisar reservar algum quarto para você?
É tentador, pegar uma das sócias e levar ao quarto apenas para ter um pouco mais de
experiência. Mas não é justo com meu corpo. Não mais. Dar prazer e não ter nada em troca.
— Não há nada de errado em receber um oral, Sam. Isso não tira a sua virtude.
Jonas como sempre, fazendo me sentir como um adolescente que tem que perder a virgindade
o mais rápido possível. Estou começando a pensar nisso também.
— Não, mas tenho certeza que meu corpo não aguenta mais esse tipo de acúmulo. Tentá-lo
vai apenas piorar as coisas.
Na verdade, meu controle é ótimo. Mas o pensamento de ter intimidade com outra pessoa
apenas por prazer, não me agrada nem um pouco. Intimidade, mesmo que por alguns minutos,
alguns instantes, tem que valer de algum modo. Tem que ser com alguém que seja especial.
O corpo é uma máquina, cheia de energia. Alguns escolhem destruir ou construir. Eu apenas
decidi construir e esperar para compartilhá-lo quando estivesse pronto e com a pessoa certa.
Nada de “Eu escolhi esperar” ou “Casar Virgem”.
Trata-se de ter alguém importante o bastante, para dar e receber. Com essa pessoa,
descobrir o prazer, carinho e paixão. Se eu esperei tanto tempo, posso esperar um pouco mais.
Ainda tenho tempo para ter sexo com alguém especial. Estou apenas esperando por ela.
Havia uma pessoa que pensei que seria a certa. Mas percebi que estava enganado e olhando
para ela de maneira inapropriada. E então tudo aquilo aconteceu.
— Então encontre alguém que a seu ver, seja a pessoa especial, Samuel. Ou faça seus votos e
vire padre. Prometo ir à missa todos os dias.
— Teria que reformar o teto toda a semana, meu caro amigo.
Não iria. Jonas é o cara mais legal que eu conheço. Mesmo na sua devassidão, ele não
consegue esconder a sua bondade. Acho que por isso ele é meu amigo. Deus sabe como ele me
aguenta.
Eu o conheci por acaso. Larissa veio me propor um ménage com seu noivo, agora marido. Para
um cara com dezenove anos, sem nenhuma experiência, seria o auge de sua vida. Recusei, mas
aceitei conhecer o casarão que eles frequentavam. E foi aí que nossa amizade começou. Eles
aceitaram que eu não estaria envolvido em nenhum ato sexual, mas poderia vir sempre que
quisesse.
Posso ser um virgem aos vinte e cinco anos, mas não vou deixar a mulher na mão na minha
primeira vez. Levou anos para minha timidez ir. E quando ela se foi, não me faltou oportunidade
para aprender coisas.
Larissa foi uma ótima professora e Jonas um ótimo conselheiro. Eles apenas precisam parar de
querer me fazer mudar de ideia.
Espero que seja como minha mãe disse uma vez: ela vai chegar e com um simples sorriso, vai
levar o seu coração e você nem vai sentir a dor.
Bem, mãe. Espero que a senhora esteja certa.
— Me conte mais sobre a estagiária. Você fascinado é uma coisa nova para mim. Ela é
bonita? As meninas baixas costumam ser bem mais volumosas e você gosta delas que eu sei.
Victória não é volumosa. Ela é gostosa, cheia de curvas e um corpo de fazer qualquer homem
decente salivar ao vê-la. E os indecentes pensarem nela nua. Encaixo-me na segunda opção.
Consigo sentir as curvas do seu seio em minha mão, apenas de lembrar.
— Ela é linda. Não posso negar. Mas também irritante a um nível que eu desconheço.
E tem manias estranhas. Como os seus chicletes.
— Você não é a pessoa mais agradável do mundo.
— Ela ama tudo. Todos os meus colegas são perdidamente encantados por ela. Ela não tem
medo de aprender. Tudo o que pedimos para fazer ela faz. Está sempre fazendo alguma coisa,
não para um minuto. Ela me lembra... eu quando estava começando a estagiar. Ela conseguiu a
façanha de acalmar um menino que sempre foi impossível.
Ela ama o seu trabalho. Ela ama o que faz.
— Victória conseguiu me acalmar. Ela cuida de tudo ao seu redor, percebe quando algo não
está bem. Ela sabe quando estou com crise de enxaqueca, quando meu humor está zerado. E me
faz tomar remédio.
E fica cada dia mais presente na minha vida...
Jonas aperta o meu ombro e diz baixo.
— Seria ela a sua nova Sophie?
Tão certo como é a sua pergunta. É errada a minha resposta. Não, ela não é e nunca será a
minha nova Sophie. Não posso substituir alguém que é imprescindível na minha vida.
— Já disse a você um milhão de vezes — digo contendo a minha raiva. — Sophie é única e
sempre vai ser. Não há espaço para uma nova Sophie. Nunca vai terá.
— Pensamos de maneira bem diferente então, amigo. Por que do jeito que você fala dela, é
da mesma maneira que você fala de Sophie. E nos dois já sabemos qual é a minha opinião a
respeito disso.
Assim como a minha, mas não adianta chutar o cachorro morto. Ele sempre vai ter a sua
opinião assim como eu tenho a decisão sobre isso. O que resta mesmo agora é apenas sentar e
esperar as coisas acontecerem.
— Eu sei que é bem difícil para você, Sam. Mas não descarte a oportunidade antes de tentar.

Eu acho que isso é uma péssima ideia, mas eu já fiz o convite. Se não pode com eles, junte-se
a eles, foi a primeira coisa que veio a minha mente quando vi que todos são felizes com algum tipo
de doce na boca. Até mesmo o meu pai.
É uma ideia absurda, mas é a que tenho nesse momento e pode ser que funcione. É mais para
eles do que pra mim. Para ter um pouco mais de motivação. Como foi que Victória disse: doçura
nunca é demais. E de fato, não é.
Foi por isso que pedi que Victória viesse comigo para uma curta viagem até uma bomboniere.
Na verdade estarei apenas conduzindo o carro, já que minha estagiária é a especialista em doces.
Quando vi que seu estojo é o seu arsenal de doces, onde todos estão sempre pegando um, percebi
que é a hora de termos o nosso próprio arsenal.
Foi aí que veio a ideia de um doce por sessão. Sei que vai ser uma enorme novidade para as
crianças e também sei que vai motivá-los. Eu mesmo quando pequeno me vendia por uma goma de
mascar de uva. As crianças hoje em dia continuam assim. Eu acho.
Enquanto Victória termina sua sessão com uma menina que está com ombro congelado, arrumo
os papéis sobre os pagamentos do hospital. Uma das coisas que eu faço questão, é que todos os
estagiários – mesmo os estúpidos que tivemos – receba uma boa renumeração. São seis horas de
trabalho árduo. E nada mais do que justo que seja assim.
E nada mais justo do que Victória ter isso também.
Ela é boa no que faz. Tenho certeza que já pensei nisso várias vezes, mas me surpreende o
quão nova ela é e o quanto ela dá de si para conseguir o seu lugar no mundo.
Arrumo todos os documentos e coloco em cima da mesa de Felipa. Ela levanta para me olhar e
balança a cabeça em negação.
— Eu poderia ter feito isso, doutor. O senhor sabe disso.
Deixando o meu jaleco de lado, eu o coloco em cima da minha mesa. Pego as chaves do meu
carro e dou a ela um aceno.
— Eu sei, mas estava sem nada para fazer, então eu fiz. Seja uma pessoa normal e
agradeça.
Ela fica confusa com meu comentário. Assim como eu.
— Obrigada. Mas eu ainda poderia ter feito isso. Acho que o senhor volta antes de eu sair,
não volta?
— Minha agenda está limpa, mas eu vou ver você mais tarde, Felipa. Vá almoçar antes que
você suma na minha frente.
Não dou a ela a chance de respostas. Uma coisa que não me agrada na minha secretária, é
as suas manias de dietas loucas.
Assim que saio da sala encontro Victória. Ela me dá um enorme sorriso quando para a minha
frente.
— Vou apenas pegar a minha bolsa, se estiver tudo bem.
— Claro, eu vou tirar o meu carro. Encontre-me no estacionamento da diretoria. Sabe onde é?
Ela faz que não. Pego o meu cartão de acesso reserva e dou a ela.
— Você pega o elevador e vai até o GS, é a garagem subterrânea, me espere em frente ao
elevador.
— Claro, doutor — ela pega as chaves da minha mão e se vai.
Sigo meu caminho até a garagem. Percebo que o Arthur deixou as coisas dele no banco de
trás. Ele vai ficar louco por pensar que perdeu. Arrumo e coloco-as na porta mala e vou para o
frente do elevador. Alguns carros passam e logo em seguida, Victória chega. Ela para ao lado do
carro e arregala os olhos. Espero ela dar a volta, mas ela ainda continua parada ao lado do
carro.
Baixo o vidro da janela e pergunto confuso.
— Não vai entrar?
Ela me encara e dá um passo para trás.
— Para irmos até lá, você tem que entrar no carro — brinco com ela, mas Victória continua
petrificada ao lado do carro.
— É enorme. — Ela olha para a porta e parece envergonhada. — Eu não vou conseguir
subir, eu acho.
Claro! Por que eu não pensei nisso? Se o Arthur tem dificuldade, para ela é uma missão
impossível de se fazer sozinha. Deixo o carro ligado e vou até ela. Timidamente ela me segue.
Abro a porta do carro e penso: Vou fazer isso mesmo?
Sim, eu vou.
Com delicadeza, seguro-a pela sua cintura e a ajudo subir no carro. Não passa despercebido
o seu sorrido tímido.
— Desculpe, mas esse é o único carro que eu consigo dirigir sem ter nenhum tipo de dor —
digo ao fechar a porta. Quando estou no banco do motorista ajusto o meu cinto e saio da
garagem.
— É grande demais ou eu que sou pequena demais? — Victória quebra o gelo fazendo essa
pergunta um pouco complexa.
Complexa porque não sei como responder isso a ela sem não dar muitos detalhes.
— As duas questões estão corretas. Você é bem pequena enquanto eu tenho uma altura
exagerada por assim dizer.
Ela se remexe no banco e se vira para me olhar.
— Posso perguntar a sua altura? — ela hesita.
— Você já perguntou e pode sim. Tenho dois e cinco de altura. Acho que roubei os centímetros
que seriam seus.
Ela morde o lábio, sorrindo. Essa pequena imagem mexe com algo dentro de mim.
— Consigo ser mais alto do que o Simon, mas duvido que isso fosse possível sem as aulas de
natação. — Pego uma saída sem muito trânsito. — Quando eu nasci, tinha problemas respiratórios,
então mamãe me levava com Simon para nadar. Eu faço até hoje, mas Simon prefere academia.
Papai mandou fazer uma enorme piscina em casa. Ela tem mais de três metros de profundidade e
de largura.
— Não faz muita diferença para o senhor, não é? — pergunta divertida.
Olho para frente e percebo que ela não largou o profissionalismo. Mais uma coisa que conta
para ela.
— Estamos na rua, Victória. Pode tirar o senhor. E não temos muitos anos de diferença.
— Estamos indo a um local a serviço do hospital se eu não me engano. Então eu vou ficar com
o senhor. Mesmo com pouca diferença de idade, ainda é o meu supervisor e está no ramo há mais
tempo que eu. É no mínimo respeito.
Olho para ela encantado com o respeito que ela transmite. Seus olhos verdes encontram os
meus e vejo sinceridade e admiração neles.
— Isso...
— É o mínimo que eu posso fazer. Eu sou nova nessa imensidão que é o mundo do qual eu
escolhi fazer. Agradeci a Simon e falta agradecer o senhor pela oportunidade em trabalhar nesse
lugar incrível.
Engulo em seco e aceno com a cabeça.
— Obrigado por ser tão boa, Vick.
De canto de olho percebo que ela está abismada, totalmente chocada por ter me referido a
ela por seu apelido.
A viagem não demora mais do que meia hora. É um horário em que o trânsito ajuda bastante.
Victória se atrapalhou um pouco em me dizer o caminho. Mas tive paciência com ela. Já que só
vem aqui de metrô.
— Aqui é o meu segundo lugar favorito do mundo! — ela diz assim que a ajudo a descer do
carro.
— Qual o primeiro?
— O hospital — responde simplesmente. — Venha, vamos descobrir o paraíso juntos.
Sem notar ela segura a minha mão e me arrasta para dentro da loja. Na verdade, eu me
deixo se arrastado por ela. O sino na porta anuncia a nossa chegada e um senhor de idade está
atrás do balcão. Ele sorri assim que vê Victória a sua frente.
— Senhor Antônio, como está? — Ela dá a volta ao balcão e o abraça. — Desculpe o meu
sumiço. Eu trouxe alguém hoje para conhecer o senhor. — Ela o puxa para frente do balcão. —
Esse é Samuel, um amigo meu. Ele veio provar os melhores bombons e doces, então vamos levar
alguns para o hospital onde trabalhamos.
Dou um passo à frente e estendo a mão para ele.
— Qualquer amigo da menininha é meu amigo também. Seja bem-vindo a minha humilde loja.
Vick pega um pouco de álcool em gel em minha mão e esfrega para pegar um pouco nas
suas. O liquido gelado junto com sua pele, me faz arrepiar completamente. Ela espalha por toda
minha mão. Entre os dedos até o meu pulso. Percebo que os pelos de seus braços estão eriçados.
Ela estremece e então me solta.
— Assim está melhor — ela diz sem nenhuma alteração em seu sorriso. — Vem, vamos pegar
alguns doces para você provar.
— Eu, hum... É melhor você escolher. Você é a especialista em doce.
Ela para ao meu lado e bate com seu pequeno corpo contra o meu.
— Posso fazer isso, mas quero que você escolha também. Afinal, eu não vou comer tudo isso
sozinha, não é?
Passamos por um corredor cheio de todos os tipos de doces. Isso aqui é um necrotério para
pessoas diabetes.
— Se eu der, você vai provar?
Sua pergunta me deixa sem resposta.
Por um milésimo de segundo é o meu corpo que lhe dá a sua resposta.
“Provo e peço por mais”.
— Claro. O chefe aqui é a senhora.
Ela olha por alguns lugares e pega uma jujuba em forma de palito.
— Essa aqui é uma massa sem muito corante, você vai sentir mais o gosto da fruta.
Victória não me entrega o doce, ela coloca em minha boca. Ela parece inocente com esse seu
olhar meigo. Mas eu não consigo focar nessa sua delicadeza. Meus pensamentos vão para a
devassidão.
— É bom não é? Sente como ele desfaz em sua boca? Como derrete?
Eu estou sentindo muitas coisas, mas não é sobre o doce em minha boca e sim sobre a garota
na minha frente.
— Esse é um dos meus favoritos. Eu sabia que você iria gostar.
Ela diz me entregando outro. Ela parece não perceber o que está fazendo. Ou sabe e
esconde bem. De qualquer forma, isso é um desafio tão doloroso quanto prazeroso.
Mas apenas não com a pessoa certa. Não deveria de maneira nenhuma pensar nela dessa
forma. De pensar que Victória deve ser mais saborosa do que esse doce. Imaginar que ela pode
se desfazer em minha boca em alguns segundos.
— Você deve ter o seu doce favorito de quando era pequeno. Pode ser que ele esteja aqui.
Eu apenas a sigo com o olhar. Incapaz de me mexer. Se fizer, será apenas para prová-la. E
escandalizar esse pobre senhor com o imenso e inesperado desejo que eu acabei de descobrir por
essa menina.
Victória está provando os mais coloridos possíveis. Eu me recuso a provar outro doce. O que
realmente estou recusando é mais algum contato íntimo que possamos ter. Ela pode ser inocente,
porém, não deixa de ter um pouco de culpa nisso.
Não, Samuel Você é o único que está pensando nessas coisas. Não jogue a culpa na garota
que não tem ideia do que está fazendo com você.
— Então, algum deles é o seu favorito? — Ela parece ter esperanças que a resposta seja sim.
— Não sei se fará diferença, Victória. Como eu disse, você é a especialista aqui. Vamos levar
para o nosso estoque o que você escolher.
Victória me encara com desaprovação. E isso é bem estranho.
— Eu escolho, se você escolher o seu favorito. Não acho justo só eu estar provando, quando
você é o chefe e deveria estar escolhendo.
Eu escolho. Escolho saber qual é o seu gosto.
— O senhor tem algum banheiro que eu possa usar, por favor? — ignoro a sua proposta e
fujo apressadamente para o banheiro que o dono da loja tem nos fundos.
Ao menos é limpo.
Apoiando as mãos na pia, tento manter o foco. Mas é impossível e exaustivo.
Isso é pensamento de adolescente? Ficar pensando em duplos sentidos, sexo a cada palavra?
Respirar tensão sexual a cada segundo?
Se for, devo arriscar em dizer que deveria ter sentido isso na idade certa, e não ter que
esperar todos esses anos.
Seria menos patético naquela época do que é agora.
Meu corpo não está acostumado com isso. Eu não estou pronto para isso.
Em todos esses anos em que me considero um adulto ciente de todos ao meu redor, nunca
estive tão acuado em uma situação. Não tive pensamento vulgares com nenhuma mulher. Nenhum
pensamento instantâneo sobre querer descobrir o gosto de uma mulher.
Lavo a minha mão e saio do banheiro. Não tenho tempo para essas coisas. Preciso descobrir
uma maneira de burlar esses pensamentos.
Se é que isso é possível.
Assim que eu volto para os dois, vejo que eles estão conversando.
—... Ele deveria se envergonhar disso. Não aprovo o que ele fez, principalmente por ter sido
com você, que sempre tentou colocar algum juízo nele. Mas quer saber, menininha? Você está
melhor sem ele e o idiota sabe disso e não gosta nem um pouco disso.
— Eu quero que ele seja feliz, mas não gosto do jeito que os dois gostam de puxar encrenca.
Eles são adultos, deveriam ter um pouco mais de respeito por si mesmo...
— Mas você gosta de jogar o seu veneno também.
— Eu não posso evitar. Mas não quero falar daquele traste que é apenas uma pedra chata
que tive na vida. Por que o senhor não me mostra as pastilhas novas? Nessa pode quer incluí-las
na lanchonete.
Caminho até eles. Sentindo a minha presença, Victória se vira com um grande sorriso no rosto.
— Eu tenho esses aqui que ainda não provei. Quer um pouco?

O retorno para o hospital foi tranquilo da parte dela, mas cheio de desespero do meu lado
até que ela começou a falar da faculdade. Agradeci mentalmente a ela por isso. E me convenci de
que tentaria ser o mais agradável possível com ela.
Estamos todas na minha sala, que parece um pequeno parque de diversão quando eles abrem
as sete sacolas que trouxemos. Nunca imaginei que eles poderiam ser comportar como crianças em
frente a uma abundância de doces.
— O Doutor Samuel escolheu essa bomboniere para o nosso estoque. — Victória coloca o
enorme baleiro que comprei. Foi ela quem o escolheu. Eu apenas percebi que ela ficou namorando
por muitos segundos o objeto. — Então, esse será o nosso. Acho que cada um pode colocar o seu
favorito.
Depois que todos se dispersam, ficamos apenas nós dois na minha sala.
— O senhor não escolheu o seu favorito — ela insiste, mas apenas balanço a cabeça pedindo
que ela esqueça. Ela concorda e pega um pirulito para chupar.
Faço uma saída para pegar o meu jaleco e quando volto, recebo um enorme golpe.
Isso é surreal. Mas tão real. Vick passa a língua delicadamente pelo doce me fazendo gemer
em puro desejo. Seus olhos estão nos papéis em suas mãos. Ela larga o pirulito de lado por alguns
segundos, mas volta a colocá-lo em sua boca. Sua maldita língua circula com tanta proeza o doce
que eu só consigo imaginar como seria tê-la de joelhos com essa língua provando meu pau.
O filho da puta pensa do mesmo jeito. Pode piorar? Pode. Sem aviso prévio, ela coloca todo
doce em sua boca, sugando com força, e solta com plop alto. Solto um gemido, mas é alto demais.
Olho para o lado, e encontro Simon aproveitando o espetáculo também. A vontade que tenho de
matá-lo agora. Solto um rosnado e ele percebe que foi pego.
Ele tem a decência de se sentir envergonhado.
— Sinto muito mano, mas foi automático.
— Sai daqui, seu filho da puta!
— Assim como o seu! — diz me acusando. — Ela nem percebe que isso é um show. Não posso
pensar nela desse jeito. Não posso...
Ele repete isso enquanto vai embora da sala. Victória me nota e sorri.
— Esse é o meu favorito agora.
É o meu também. E eu nem mesmo provei!
Capítulo 8
Seu sorriso é muito bom de ver.
Victória

— E u vou ajudar você — diz pegando luvas para nós dois. — Afinal, está aqui para
aprender e eu, para ajudar no que eu posso.
Meu supervisor me dá um sorriso tímido. Minha nossa, como é lindo todos os tipos de sorriso
desse homem.
— O senhor está falando sério?
Ele me dá um olhar estranho, mas continua sorrindo.
— Não há motivos para brincar com isso. Mas sim, vou ajudar você. Gostava de ajudar os
colegas da minha turma, apesar deles serem bem... preguiçosos em aprender. Venha, vamos para
a sala de exercícios, vou te ajudar.
Sigo-o até a sala, tremendo um pouco. Nervosa é a única descrição que posso dar. Estou sem
acreditar que Samuel Hamilton, o meu supervisor, o cara que sempre está de mau humor, se
ofereceu para me ajudar. Alguma coisa não está fazendo sentido nesse momento.
— Sabe qual membro vai querer usar? — pergunta ligando as luzes e arrumando a sua luva.
— Pensei em ombro, a luxação mais simples. Eu sei que é estúpido pegar algo simples, mas...
— Não é estúpido. — Ele anda até a maca e a puxa para o centro da sala. — Não é
porque você está se formando que sabe tudo, que sabe sobre todos os cuidados. Ninguém aqui
está em nenhum episódio dessas séries de médicos, onde todos são gênios e heróis. Isso aqui é vida
real, Victória. Ter um pouco de insegurança é normal.
Assim que assimilo suas palavras, respiro fundo, tirando um grande peso de cima dos meus
ombros.
— Suponhamos que tenha sido um acidente de carro. Fratura simples, mas fragmentada.
Depois da cirurgia, houve complicações, como...
— Danos nos vasos sanguíneos — completo e ele sorri.
— Como isso. Qual é o primeiro passo pós–operatório, Victória? — pergunta ele parando ao
meu lado e tocando em meu ombro.
Todos os pelos do meu corpo se arrepiam, mas estão escondidos pelo meu jaleco. Está difícil
de raciocinar com ele tão perto de mim. Não que ele esteja fazendo algo inapropriado. Seu toque
não é delicado e nem um pouco terno. Ao contrário, é áspero, intenso... Punitivo. Não deixando
nenhuma dúvida que ele não está de brincadeira.
Eu não deveria estar pesando dessa maneira.
— Primeiro temos que ver o grau da luxação e qual parte da fratura estamos lidando. Depois
do tempo de recuperação com o gesso, devermos avaliar a luxação e a consolidação do osso. Se
os fragmentos não estiverem consolidados, o paciente deve voltar para o gesso no período de
quinze dias e então começar os exercícios de fisioterapia. Mas isso depende de quando tempo foi
a fratura e se o osso estará pronto para o tratamento.
Consigo fazer com que minha voz saia firme.
— Dependendo do tempo de recuperação, o paciente deve voltar as suas atividades normais.
Suas mãos me abandonam ele dá um passo para o lado, sentando-se na maca. Tira o seu
jaleco revelando a sua camisa branca que está quase colada ao seu tronco.
Meu Deus do céu!
Em toda essa minha vida cheia de loucura, nunca fiquei tão perto de um homem tão lindo.
Devo estar pagando o maior King Kong de toda a história das estagiárias que tem os supervisores
gostosos.
— Qual é o primeiro exercício, Victória?
Seu tom é baixo, porém, poderoso e não hesito em responder.
— A... ... Alongamento. — digo gaguejando um pouco.
Respiro fundo. Mais controlada, eu olho em seus olhos e digo firme.
— Alongamento. Tanto para iniciar os exercícios, quanto para a rigidez e o bloqueio dos
ombros. Evitando ou trabalhando o ombro congelado, que é uma consequência de tanto tempo
imobilizado.
Ele sorri.
— Não há motivos para ficar nervosa. Você vai se sair bem. Tente apenas respirar quando
for fazer seu teste. O seu maior oponente é o nervosismo. Agora tente ter mais um pouco de
confiança em si. Você vai soar mais firme e vão te levar a sério.
Seu tom mudou para repreensão em milésimos de segundos. Ele é tão frustrante.
— Você tinha que começar! — digo levantando as mãos para o céu. Estava bom demais para
ser verdade.
— O que disse? — Ele cruza os braços, fazendo-os triplicar de tamanho. O homem é grande.
— Isso mesmo que o senhor ouviu. Você tinha que estragar o momento com seu jeito ranzinza.
Um homem lindo como o senhor, sempre com a cara fechada é um pecado. Já o vi sorrindo e fica
lindo quando faz. Essa cara fechada o faz parecer mais velho. Vamos lá? Dói tanto sorrir de vez
em quando?
Vou ser morta por minha irmã. Com toda certeza. Perdendo o emprego em menos de um mês.
Estou quase pedindo desculpas para ele, quando o milagre acontece.
Samuel simplesmente explode em uma gargalhada alta, gostosa e que me deixa assustada
por alguns segundos. Ele esconde seu rosto com uma de suas grandes mãos, enquanto a outra
aperta a beirada da maca. Sua risada é forte, muito masculina e me faz estremecer de uma
maneira única.
É sexy, linda e intensa.
Nunca uma risada foi tão encantadora e sedutora para mim.
— Eu acho que você fez o seu ponto, Victória. Demorou mais tempo para me dizer do que os
outros — ele faz uma pausa e franze o cenho. — Bem, também foi a única que elogiou o meu
sorriso.
— Bem, o senhor tem um belo sorriso mesmo — digo debilmente.
Ele desce da maca e veste o seu jaleco. Fico um pouco triste por ele estar se cobrindo
novamente.
— Bem, me diga quando sair a sua nota.
— Obrigada, de verdade!
Samuel sorri timidamente mais uma vez antes de sair da sala.
Eu me entristeci quando tivemos que sair do nosso pequeno momento. Não que eu devo pensar
nessas coisas. Mas estávamos bem, estava me divertindo. É tão raro Samuel ter um momento
divertido perto de mim. E hoje foi um grande passo. Sei que ele já me aceitou como sua
funcionária. Até mesmo responde com mais gentileza.
Isso me faz bem. Não gostava de pensar nele como um ogro, uma pessoa amarga. Ele é muito
lindo para ser alguém sem senso de humor. Mas vejo que isso é apenas com os desconhecidos.
Samuel ainda continua com sua firmeza com seus pacientes, porém, com mais cautela e
polidez. Acho que ele está praticando mais a sua paciência. E isso é maravilhoso.
E isso evita as suas crises de enxaqueca. Que tem uma semana que ele não as tem e espero
que elas sumam por um longo tempo. Sei que ele ainda não foi ao médico, mesmo que seu irmão
insista. Samuel diz que vai, apenas para fazer o seu irmão não ficar preocupado, mas sei que
Simon sabe desse plano.
E falando no segundo homem mais alto desse hospital.
— Por que vocês dois são tão altos? Eu tenho problemas para dormir sabia? Eu tenho tido
dores no pescoço e é culpa sua e de seu irmão.
Simon ri e me abraça de lado.
— Desculpe, mas você é a única que reclama disso. E vou fazer o mesmo. Sempre que vou te
abraçar minha coluna reclama. Vamos colocar um salto? Vai ajudar a nós dois.
Reviro os olhos para ele.
— Se eu fizer todo o trajeto que faço todos os dias de salto, não vai existir Victória em uma
semana.
Ele ri, senta-se na mesa do seu irmão e pega uma jujuba.
— Isso é desculpa. Você provavelmente não sabe andar de salto. Hum, esse é bom. Era o
favorito do Sam quando ele era pequeno. Eu nem sabia que ainda produziam.
Isso me assusta. Foi o que eu dei ao Samuel na loja. Eu não estava raciocinando direito
quando coloquei o doce em sua boca. A princípio foi um ato inocente, mas no momento em que a
ponta dos meus dedos tocaram levemente os seus lábios, deixou de ser algo simples para algo
explosivo. Meu corpo todo tremeu com esse deslize. E pensei que teria um ataque cardíaco.
E piorou quando ele fechou os olhos degustando o doce. É um dos momentos que nunca vou
esquecer.
— Ele me disse que não tinha nenhum doce favorito quando fomos comprar os doces —
comento.
Simon fica surpreso com isso.
— Sério? Isso é estranho, ele estava sempre com um pacote de jujubas nas mãos — ele
parece pensar. — Acho que ele enjoou ou apenas é o seu TOC falando mais alto.
— Não acho que a necessidade de controle dele pode ser caracterizada como TOC.
Ele me encara cético.
— Certo, às vezes ele passa dos limites, mas nem sempre. Ele é apenas um cara que gosta
das coisas organizadas. Isso não é nada demais, Simon.
— Por que não foi você que cresceu com ele. Mas mudando de assunto, como está indo na
faculdade? Está sendo puxado por lá? Se eu me lembro bem, o último período acaba com você
logo nas primeiras aulas.
Simon me fez companhia por alguns minutos. Enquanto ele me contava o estresse de sua
residência, eu arrumava as fichas dos pacientes que tivemos essa semana. Simon diz estar
orgulhoso de seu irmão, já que ele conseguiu mais três seguros de saúde para o hospital. E
conseguindo mais procedimentos que não fazíamos antes.
Samuel é um excelente médico e um bom administrador. Ele apenas não cuida da sua ala,
como ajuda seu irmão e pai com a diretoria. Ele mesmo tem a sua cadeira na diretoria.
E nem mencionei como ele cuida de seus companheiros de trabalho. Essa semana eu recebi o
meu crachá definitivo assim como o cartão do hospital. Nele dizia que eu tenho minha saúde
coberta, apenas por ser funcionária daqui. Fiquei mais surpresa ainda em saber que isso se
estende para todos os serviços do hospital. Eles também se preocupam com seus funcionários.
E isso é tão raro hoje em dia.
Encontrar empregadores que não pensam apenas no dinheiro, mas também se o empregado
está satisfeito ou não. Se a maioria pensasse em dar boas condições de trabalho, saberia que o
empregado não teria motivos para se preocupar e trabalharia com mais ânimo.
Eu tive a sorte de conseguir o estágio aqui.
Só não pensei nos bônus que teria. Como o bom salário, estar perto da minha irmã, o seguro
de saúde, o aprendizado. E sem contar que estou me sentindo muito mais útil.
Cada paciente que passa por mim e diz que está sentindo a melhora, é como uma explosão
no meu peito. Sabia que seria bom, só não tinha ideia de que seria assim.
Só não esperava começar a ter pensamentos impróprios sobre o meu novo chefe. Isso é um
grande erro. Ele é o meu supervisor e pode acabar comigo apenas com um telefonema. Eu não
posso fingir que isso é um romance e ter um conto de fadas com meu chefe.
E ele não é o príncipe encantado que eu sempre sonhei.
Isso daria errado desde o primeiro momento, mas não quer dizer que seja fácil deixar de
lado todas as coisas loucas que estou sentindo por ele. E se torna pior por estar ao lado dele
diariamente.
Se for para me apaixonar por alguém, que seja alguém que me queria e me trate bem. Que
saiba enxergar as alegrias da vida. Que sorria e não desista do dia só por que alguma coisa não
deu certo. Já tive muitos dias nublados para deixar meu espírito no escuro. Já chorei por coisas
demais. E está mais do que na hora de começar e encontrar mais motivos para sorrir.

— As notas estarão disponíveis no site ainda hoje à tarde. — Meu professor de ortopedia
encerra a aula com essas palavras assustadoras e oprimentes. — Vejo vocês na próxima aula.
Com isso ele pega seus pertences e sai da sala. Todos parecem fazer o mesmo, mas eu
apenas me jogo ainda mais na cadeira com os olhos fechados, tentando relaxar. Na verdade,
respirando bem fundo. Relaxar mesmo, só depois que ver a minha nota.
— Você vem, menininha? — Lucas se senta à mesa a minha frente. — Qual foi o caminhão
que passou por cima de você?
Solto um gemido, definitivamente exausta.
— Eu queria muito que fosse um caminhão, mas é uma maldita prova que está acabando
comigo. Estava, já que passou...
Lucas se levanta e fica atrás de mim. Ele ajusta meus cabelos e começa a esfregar a minha
nuca. Gemo mais uma vez, mas é de prazer dessa vez. Ele tem mãos mágicas. Apenas não desfruto
muito desse dom do meu amigo.
— Respira devagar, isso menininha. Sabe que não me custa nada tirar um pouco dessa tensão
do seu corpo.
Ele faz o seu pequeno milagre tirando um pouco do peso que está sobre meu corpo. Quando
solto o quinto ou sexto gemido, ele para.
— Ok, já chega ou eu estarei duvidando do meu apetite por homem. Vamos, levante, pois
temos que ir trabalhar, mocinha.
Ele faz o meu dia quando pega a minha mochila. No caminho para o hospital, Lucas me conta
sobre seu novo namorico. O jeito que seus olhos brilham sempre que fala algo do cara, deixam
claro que ele está apaixonado. E é lindo de se ver. Eu já estou apaixonada pelo cara e nem
mesmo o conheço.
— Não dê um passo maior que a perna, Lucas. Lembre-se do que aconteceu comigo. — Não
que eu queira estragar o momento dele, de jeito nenhum. Quero apenas lembrá-lo que às vezes as
pessoas não são tudo aquilo que imaginamos.
Ele suspira dramaticamente.
— Eu ainda não disse a palavra com A.
— E nem está na hora.
Seguimos para o hospital. Assim que chego à lanchonete, minha irmã me arrasta para almoçar.
Não é nem meio dia, mas ela quer me enfiar comida. A mulher não gosta que ninguém passe do
horário de comer.
Eu me sento ao lado da Didi, que está na mesa próximo ao balcão. Ela tem os convites da sua
festa arrumados e alguns para ser preenchidos com os destinatários. Ela me fez ficar a noite toda
escrevendo os nomes nos convites, de acordo com ela, minha letra é de artista.
As aulas de caligrafia foram úteis.
— Bom dia, tia Vick. — Ela puxa os convites, me dando espaço. — Como foi a sua prova? —
Seus olhos castanhos estão curiosos, mas sei que ela quer saber disso para contar para a sua mãe.
Ela consegue ser fofoqueira quando minha irmã quer. E é quase todo dia.
— Eu acho que fui bem, mas só vou saber mais tarde. Quando souber, eu aviso você — me
inclino e digo ao seu ouvido. — E então, pode contar para sua mãe.
Ela ri e volta a arrumar seus convites.
— Esse é do Kukas, por favor, entregue a ele. Mamãe vai fazer o bolo de cenoura que ele
gosta.
Ela me dá o cartão com o nome do meu amigo Lucas, mas devolvo.
— Por que você mesma não dá? Eu peço para ele vir aqui depois e você mesma entrega e
pede logo o seu conjunto de balé — mais uma vez digo em seu ouvido. — Ele vai te levar na vinte
e cinco e comprar todo o seu material.
Seus olhos brilham em felicidade.
— Ele vai. Eu sei que ele gosta de me ver dançar — rindo ela segura o convite do meu
amigo. — Depois eu darei o convite do doutor Simon e Samuel. A senhora pode dar o recado
para eles? Por favor.
— Como você quiser, Didi.
— Você e Victor estão sempre fazendo a vontade da menina e quem paga o pato sou eu. —
Minha irmã nos serve. — Foi tudo bem na prova?
Olho para Didi que dá de ombros, mais preocupada com a macarronada em sua frente do
que com sua mãe me dando algum tipo de bronca.
— Depois eu te conto o resultado, comandante. Mas até onde sei, a missão foi cumprida.
Só não sei se foi bem sucedida.
Ela acena e serve o suco para sua filha.
— Samuel comentou que ajudou você. Espero que tenha sido bom...
— Ele fez? Estranho. Ele parece nunca querer comentar nada com ninguém.
— Sim, e espero que você consiga aproveitar tudo isso, Vick. Os médicos daqui são todos
maravilhosos e parecem gostar muito de você. Só ouço elogios de você aqui querida e estou muito
orgulhosa. Sempre soube que você iria longe.
Ela nunca escondeu que abriu de mão de muitas coisas para fazer coisa por mim. Eu sei que
algum momento eu vou retribuir. E enquanto não posso, vou ajudando da minha maneira e dando
motivos para que ela se orgulhe de mim.
— Eu não teria conseguido isso sem você, obrigada!
Ela ri e para me irritar pega um pedaço da minha carne.
— Não teria conseguido mesmo.
— Sua sirigaita!
Didi ri quando digo o apelido que nos damos quando estamos brincando. Ela não fica por
fora, às vezes a chamo de mini sirigaita ou projeto de gente. A primeira vez que a chamei assim,
ela apenas olhou para mim e disse: como se a senhora fosse grande coisa!
Sim, a menina é esperta e sabe calar a boca das pessoas.
Depois de comer com a Didi, vou para o banheiro feminino e troco de roupa. Olho para meu
tênis e vejo que preciso de um novo urgentemente. Agora é o impasse entre a mochila ou o tênis.
Mais uma indecisão na minha vida.
Se bem que esse é o meu último período e não vai me adiantar de nada ter uma mochila
nova. Mas a prioridade são os meus bebês. Eles estão ficando sem a comidinha deles, e as meninas
precisam dos remédios. Não posso deixar que Lucas compre tudo.
Assim que entro na sala do meu supervisor a primeira coisa que ele faz me surpreende.
— Como foi na prova? — seu sorriso me deixa boba e com as pernas bambas.
Nunca me senti tão afetada desse jeito.
— Oi! — sorrio para ele e me sento a sua frente. — Eu acho que fui bem, não sei. Mas se a
ansiedade ajudasse com a nota, eu já estaria formada e tudo!
Samuel ri com o meu comentário.
— Ansiedade é normal, Victória. É um sentimento que faz parte da vida. — Ele larga os
papéis em cima da mesa e começa a ligar o seu computador. — Só não pode deixar isso ser
constante e que atrapalhe nos momentos mais importantes.
Absorvo o seu conselho rapidamente.
— Eu acho que posso fazer isso. O que temos para hoje?
Samuel me entrega uma pasta com exames.
— A última sessão com Luigi! — ele diz feliz. — Você conseguiu terminar o trabalho com ele.
Parabéns.
Algo explode dentro do meu peito. Não sei explicar o que é, mas me sinto muito bem.
— O senhor fez todo o trabalho. Eu apenas domei a fera.
Samuel para quando pego o seu jaleco. Ele me encara com curiosidade e logo em seguida
com indignação.
— Estou falando sério, Victória. Você fez isso, você terminou o trabalho com ele em três
semanas, quando provavelmente eu ficaria com ele pelo resto do ano se continuasse no passo de
tartaruga. Acredite em mim quando digo isso, Docinho.
Se não estivesse escorada na mesa, eu muito provavelmente estaria no chão em pleno choque.
Eu me seguro, porém, não consigo evitar o rubor que toma posse de meu rosto.
É a desvantagem de ser tão pálida quanto uma vela.
Fazemos nossa viagem até a sala onde nosso paciente está nos esperando. Faço a maior
parte do exercício. Luigi pediu para fazer algumas a mais para mostrar a sua mãe que ele está
muito bom e que pode ir acampar com os amigos.
Samuel me dá sua autorização e fico mais uma hora com ele. Eu não queria chorar, mas foi
impossível quando ele me abraçou e agradeceu por ajudá-lo.
— Eu me senti da mesma forma que você quando finalizei o meu primeiro paciente — meu
supervisor para ao meu lado. — Eu pensava que seria apenas daquela vez, por ser o primeiro,
por ter feito aquilo. Mas não. — Ele me encara. Samuel é tão alto que eu preciso dar um passo
para o lado e olhar diretamente em seus olhos. — Toda vez que encerro com um paciente, a
mesma emoção volta. E então eu soube de verdade que estava fazendo a coisa que eu mais amo.
Não por seguir os passos de minha mãe, nem por estar no mesmo ramo da família, mas por querer
ajudar as pessoas. Por querer ver a recuperação delas, saber que fiz parte de tudo isso. Mesmo
que não seja cem por cento, eu fiz o meu melhor por eles. Aliviando a dor, dando o meu amor e
alma para cada um deles. Isso me faz bem. — Ele sorri envergonhado. — Faz com que o sorriso
que, de acordo com você, é bonito, apareça sempre que fecho a ficha de um deles.
Sem pensar, seguro a sua mão e aperto junto a minha. Samuel ri e aperta seus dedos junto
aos meus. Seu polegar esfrega a palma da minha mão.
Mordo meu lábio, evitando o gemido que meu corpo exige soltar quando uma onda de calor
atravessa o meu corpo. Mais uma vez, todos os pelos do meu corpo se eriçam com o seu contato.
— Obrigada!
Ele parece não entender o porquê estou agradecendo a ele, mas Samuel apenas sorri.
— Doutor Samuel. Aqui está o seu convite. — Diana aparece junto com o Simon na sala.
Estou quase soltando nossas mãos, quando Samuel aperta firmemente sua mão na minha. Não
dói, mas me deixa pasma com isso.
E também não passa despercebido por Simon. E mais uma vez meu rosto fica corado.
— Eu pensei que você me deixaria de fora, Didi!
— Claro que não, doutor. Eu quero os meus médicos favoritos na minha festa. — Samuel solta
minha mão para pegar o convite. Ele poderia ter pego com a outra, mas é melhor assim.
Diana recebe a atenção de todos, mas Samuel está me encarando com um grande sorriso. Eu
acho que minhas pernas estão bambas novamente. Por que eu não consigo nem mesmo respirar
normalmente? Na verdade, alguma coisa está acontecendo com meu corpo.
É algum tipo de virose?
— A titia vai fazer o brigadeiro porque mamãe sempre deixa queimar.
Minha sobrinha parece confusa com essa observação.
— Ela deixa queimar porque gosta que eu faça para ela. O meu brigadeiro é o melhor.
Simon ri, juntamente com seu irmão.
— Não deixe o Arthur saber disso. Ele vai se convidar para sua casa, vai te dobrar e sem
perceber, você estará fazendo uma grande porção de brigadeiro para o garoto.
Eu não me importo.
— Onde vai ser? — Simon é quem pergunta.
Diana explica para ele enquanto eu começo a arrumar as coisas na sala.
— Eu posso ajudar. — Simon se prontifica. — É o meu final de semana sem plantão, então
posso fazer isso.
Eu não sei se ele está pedindo minha opinião ou se está falando que vai fazer e não podemos
fazer nada sobre isso.
— Hum, eu não sei...
— Claro que sabe. Você acha que eu vou perder a chance de ser o traficante de brigadeiros
da festa, Vick? Isso eu não abro mão. Além do mais, não é o doce que eu vou surrupiar. Eu vou
comer a torta de frango da Nessa. Acho muito justo.
— Se for assim, eu estarei lá também. — Samuel é enfático em sua declaração, de forma que
não existe apenas mais nada a se dizer, exceto:
— Então eu acho que estamos bem com isso?
Capítulo 9
Eu tenho um modo diferente de demonstrar aquilo que sinto.
Samuel

C omo se não bastasse usar óculos por mais de sete anos, agora, eu tenho essa... Coisa.
— Isso não é fim do mundo, Samuel. Mas temos que cuidar disso o mais cedo possível e
evitar suas crises de enxaqueca — o médico diz quando sai de trás da máquina. Ele este com
algumas placas em suas mãos. — Olhe para mim, por favor.
Eu faço. Ele está apenas um metro e meio de distância, mas ainda não consigo olhar para as
letras que estão nas placas.
— Não force. Isso vai fazer sua cabeça doer.
Então eu paro. Esperando ele colocar as lentes certas para me ajudar.
Depois de alguns minutos, ele tem a receita da nova lente pra mim.
— Podemos pensar na possibilidade da cirurgia. É um procedimento simples para o
astigmatismo. Você pode ir para casa no mesmo dia...
— Sem cirurgia, doutor. Eu prefiro os óculos, se não se importar.
Ele me encara e apenas dá de ombros.
— Depois de sete anos, você volta até a mim e ainda se recusa a fazer um simples
procedimento.
Eu tento não rir, mas é impossível. Aconteceu da mesma forma na primeira consulta quando
descobrimos minha sensibilidade à luz. Apesar de ter melhorado com o tempo, ainda persiste.
— Eu sei que você vai atrás dos seus óculos hoje, mas aviso que deve demorar uns dois dias
para ficar pronto. Aconselho a não forçar muito sua visão e muito menos dirigir.
Eu tenho um irmão de quinze anos que não sabe nem mesmo o que é marcha e que é muito
dependente de mim na maioria do tempo.
— Eu fico com essa armação até a nova chegar — digo por fim.
O médico apenas balança a cabeça. Não sei se concordando ou declarando que não está de
acordo. Bem, isso é uma coisa que não vai alterar em nada em minha vida.
— Essa é a sua nova receita da lente e um colírio para aliviar o ardor de seus olhos quando
estiver indo dormir. — Ele me entrega os papéis. — Ah, e o seu encaminhamento para o
neurologista, apenas para verificar essa sua enxaqueca.
Mais uma vez o neuro. Ele vai apenas me dar mais uma receita. Pegando os papéis, decido
que depois do almoço com os representantes estarei indo até ao shopping. Por sorte estarei
conseguindo uma armação igual a minha. Não sei se vou querer mudar. Eu gosto dela e está
comigo há anos. Claro, não está tão nova quanto antes, mas é tão boa quanto. Sempre peço para
fazer a manutenção.
Saindo do consultório, vou para minha sala pegar minha bolsa com os documentos que tenho
que dar aos caras e me despeço da Felipa.
— Antes que eu me esqueça, peça para Victória pegar o meu primeiro paciente? Eu tenho
quase certeza de que não vou chegar a tempo. E certifique-se que ela tenha almoçado, antes de
começar.
Minha secretária pisca duas vezes antes de acenar. Bem, eu mesmo faria se estivesse vendo a
cena de outro jeito. Sim, eu me importaria se ela atrasasse cinco ou dez minutos. Mas isso se fosse
todos os dias e sem nenhum motivo plausível. Porém, a minha estagiária vem da faculdade.
E bem, ontem fiquei chateado com ela. Tudo bem, muito irritado. Não por ela ter chegado
tarde, mas por não ter tirado um tempo para comer alguma coisa antes.
Depois de semanas sem ter algum tipo de irritação com ela, ontem foi uma exceção. Tive que
ir buscar algo para ela comer, pois Victória nem mesmo queria sair da sala. Alegando que
precisava ter as suas seis horas diárias.
Então fui até a sua irmã, pegar algo para ela comer. De acordo com a Victória, ela não é um
bebê, mas estava se comportando como uma. Mas depois de toda a birra – que foi fofa por sinal
– ela agradeceu e disse que essa seria a primeira e última vez que se atrasaria. Eu acredito nela,
mas fiz ela prometer, que atrasada ou não, iria comer alguma coisa antes de começar a trabalhar.
Ela corou quando pedi “por favor” a ela. Victória tem feito isso muito ultimamente. E se não é
a coisa mais linda que eu já vi, estão para criar algo que se aproxime do seu sorriso tímido.
Vê-la corada, se tornou umas das minhas coisas mais favoritas do dia. É tão natural, que ela
nem mesmo percebe que está acontecendo. A mesma coisa acontece com o seu sorriso. O mais
simples elogio traz um brilhante sorriso ao seu rosto.
E isso não muda quando está trabalhando. Ela tem seu jeito de fazer as coisas sérias
parecerem divertidas. Algo que é único e que temos a nosso favor. Depois que ela chegou,
conseguimos finalizar dois pacientes que davam muito trabalho. E ela não se limita a apenas aos
meus e aos seus pacientes. Ela está com todos. Ajudando todos ao seu redor.
Não há um ser nesse setor que não conheça a estagiária louca que está sempre com um
pirulito na boca.
Aquele pirulito. Fico eufórico apenas por me lembrar de sua proeza com aquela boca. Eu me
senti profano quando imaginei Victória ajoelhada na minha frente me levando em sua boca
pequena.
Que droga, Samuel. Se contenha.
— Darei o recado a ela, doutor. Pode deixar — ela sorri e volta para a sua tarefa. — Tenha
um bom almoço.

Na volta para hospital, pensei no que Victória me disse sobre o ambiente da sala em que
tratamos as crianças. E eu peguei a ideia. E foi o que aconteceu hoje. Parte da ideia está em
andamento. Consegui fechar um bom preço para os novos equipamentos e para a manutenção dos
antigos que ainda não preciso trocar.
— Não gosto de ser intrometida e meu nariz nunca aprende, mas acho que esse ambiente não
tem nada que chame a atenção de uma criança — diz quando fecha o armário, parando
encostada a ele.
Ajusto os meus óculos e vejo que ela está certa. Não por ela dizer isso agora, mas por ela ter
me dito o que eu já havia percebido e não dei muita atenção. Acho que precisava de outra
opinião sobre isso.
— Você tem alguma ideia a respeito disso?
Ela sorri largamente.
— Eu posso ter pensado em algumas. — diz indo para a parede a sua direita. — Uma cor
suave, mas cheia de desenhos de carros e naquela parede, pode ser a parede das meninas.
Alguns equipamentos coloridos em vez de cores neutras. Essas coisas ajudam, sabe? Ou você nunca
foi criança?
Foi uma pergunta simples, mas que me acertou em cheio. Eu consegui evitar me prolongar em
minha resposta e voltei ao assunto principal.
— Eu gosto de Art Attack. Ele me ensinou a fazer a lembrancinha para a festa da Didi.
— Não me fale desse cara. O Arthur inventava de fazer tudo o que ele ensinava. Houve uma
noite em que eu descobri cola por todo o meu corpo e nem sabia o motivo.
Victória riu como se soubesse o que estou falando.
— Ele fez um lençol personalizado para você?
— Como você sabe?
Ela dá de ombros.
— Eu fiz um para o meu irmão. Só que deu certo. Ele adora o lençol e o leva sempre que está
longe da gente.
Eu não sabia muito sobre a história de Victória e de sua família. Mas ela sempre está falando
alguma coisa sobre eles. E tenho a plena certeza que todos eles são unidos. Protetores um com os
outros. Sempre estarão juntos quando um precisar do outro. Uma coisa que a minha própria família
foi há muito tempo atrás.
Olho para a sala mais uma vez e vejo que estava mais do que na hora de arrumar isso.
Mas isso fica em segundo plano, quando encontro Natasha esperando o elevador que vai
para a diretoria. Ela sorri quando me vê, mas não retribuo. Ainda não sei o que pensar dela. Nem
sei se consigo ser civilizado em sua presença.
— Olá, Sam! Quanto tempo que eu não vejo você... — diz alegremente.
— Natasha — meu tom é neutro. — O que está fazendo aqui?
Ela arruma seus cabelos loiros falsos. Sua roupa apertada em outra hora me faria apreciar o
seu corpo, mas percebi que não há nada de interessante nessa mulher.
— Estou indo para uma reunião com seu irmão. — Ela continua sorrindo. — Vai se juntar a
nós?
Nem me dou o trabalho de responder. O elevador chega e Victória está saindo dele.
— Oi! — Ela é toda animada quando me vê. Não evito o sorriso e pelo canto do olho vejo a
loira nos observar como uma rapina. — Foi bom o seu almoço?
— Tão bom quanto possível. — Dou um passo para o lado dando espaço para ela sair do
elevador. — Vai ver sua irmã?
— Na verdade, eu preciso comprar uma coisa, mas não vou demorar muito. — ela olha para
Natasha e lhe dá um sorriso meigo. — Boa tarde, senhora.
Victória não queria ofender a mulher ao meu lado, mas foi o que ela acabou fazendo sem
querer. Mas nem percebeu isso, pois saiu às pressas para comprar o que deve ser importante já
que ela nem mesmo me disse nada sobre o paciente de hoje mais cedo.
Vejo-a sair do hospital. Sem conseguir tirar os olhos da sua bunda perfeita.
— Vejo que você superou a mosca morta! — O tom de desprezo não passa despercebido. —
Seu irmão poderia ser mais esperto também e fazer o mesmo.
Eu não estava pronto para essa verdade sendo jogada em mim.
O que eu tenho para superar? Nada. Ela não sabe de nada. Sophie nunca vai ser superada.
Por que ela não pode. Ninguém pode superá-la. Sophie sempre vai ser importante para mim.
Sempre haverá um lugar ocupado por ela. E nem eu mesmo posso tirá-la de lá.
Capítulo 10
Mãos dadas já é uma promessa.
Victória

E u sei que prometi que não chegaria tarde, mas não posso contar apenas com o meu querer.
Há vários contratempos no meio do caminho. Como os dois carros que se chocaram. Uma
tremenda chuva inesperada na cidade. Uma pessoa depressiva que queria se jogar na frente do
metrô e um gatinho que tive que socorrer.
Tudo isso quando estou indo para o meu estágio.
Eu sei que parece ser uma mentira idiota e que ninguém vai acreditar, mas não posso fazer
nada se tudo isso só acontece comigo. E estou faminta. E para piorar, hoje é a o dia da folga da
minha irmã. Em plena quarta-feira ela me inventa de ficar em casa dormindo até tarde.
Sirigaita sortuda.
Mas não é um atraso monstruoso e eu sei que Felipa vai me obrigar a comer assim que eu
chegar lá. Por sorte, não estou totalmente encharcada. Apenas preciso trocar de calça.
— Meia hora de atraso não faz mal a ninguém, Vick. — O doutor Franklin comenta enquanto
passa por mim no corredor. Ele está empurrando uma das macas novas que meu chefe comprou.
Meu chefe.
Não digo isso e penso em um ogro irritado sem amor à vida.
Nesse mês que estou aqui, eu pude lapidar mais meu pensamento e opinião sobre Samuel
Hamilton. Claro, ainda o vejo como um grande exemplo que quero seguir na área de fisioterapia.
Quero ter o mesmo conhecimento que ele. Mas também quero ser sua amiga. Eu sei que é uma
coisa idiota de ser querer, mas é o que eu quero e não posso mudar isso.
Se você tentar não querer alguma coisa, nunca dá certo.
Eu fiz o que me pediram, tive paciência com ele. E conheci o maravilhoso homem que Samuel é.
Certo, ele ainda é um cara impaciente e fechado na maior parte do tempo, mas isso mudou comigo.
Ele conversa, trabalha sua paciência, ouve a opinião dos demais, e está mais afável com seus
pacientes, que fizeram dele o médico favorito de todos.
E nem consigo evitar o sorriso quando eu recordo da sua ajuda no estudo para a prova
prática que fiz na semana passada. E o jeito que ele me abraçou quando disse a ele sobre o meu
maravilhoso 5,3 de 6. Foi muito bom.
Ele me abraçou mais do que deveria, me deu parabéns e disse que é uma nota maravilhosa e
disse que estava orgulhoso de mim.
Eu fiquei longos minutos assimilando o que me disse.
Primeiro pensei que ele estava doente ou tinha recebido uma pancada forte na cabeça. Mas
eu vi a sinceridade em seus olhos. Vi a alegria dele por mim. Que mesmo não tendo nada do que
se alegrar, além do fato de ter me ajudado, é claro. Porém, eu sei que ele quis dizer isso. Quis me
ajudar. Não sei se é uma dívida que ele está pagando pelo fato de tê-lo ajudado com os
pequenos.
Mesmo que ele mostre que me tolera mais a cada dia que se passa se preocupa comigo se
almocei e aceita meus doces sem reclamar.
Isso é a maneira errada de se pensar, Victória.
Mesmo que eu adore que ele nem perceba que me deu um apelido novo. Que eu gosto muito,
na verdade.
Docinho.
Um apelido bobo, mas a forma como ele o pronuncia, muda muita coisa para mim. Talvez seja
eu, vendo coisas onde não existem. Talvez seja isso mesmo. Conseguir o inalcançável esteja me
deixando muito sonhadora. Ou talvez seja verdade.
Talvez...
Talvez...
Talvez...
Voltei a ter doze anos de idade e minha palavra favorita é um advérbio de dúvida.
Arrumando meu cabelo em uma trança vou para a sala do meu chefe, onde eu tenho uma
mesa em frente a dele. Estava bem junto com Felipa, mas meu supervisor foi bem firme me
querendo na mesma sala que ele. E eu não poderia estar mais feliz com isso.
Sonhos altos! Sonhos imensamente altos.
— Você comeu alguma coisa? — Felipa pergunta assim que passo por ela.
— Um lanche serve?
Ela olha por cima da tela do seu computador e me olha com repreensão.
— Sério, estou bem. Isso vai me segurar até a hora de ir para casa.
Ela não gosta, mas aceita minha desculpa.
Depois de estar mais seca e apresentável, eu começo meus trabalhos fechando todos os
pacientes dessa primeira semana. Não é uma coisa que eu gosto, mas eu tenho que fazer. Prefiro
mesmo estar na ativa recebendo reclamações dos pacientes, do que olhar esses cálculos de
faturamento. Que eu nem deveria estar fazendo.
Mas é bom, me diz o quanto gastamos em cada sessão. Não é a medicina que nos paga muito,
mas mantém o quadro médico. E sei que meu chefe está sempre procurando mais opções para
aumentar o quadro de nossa ala.
Falando nele...
— Oi! — digo quando ele entra na sala arrumando seus novos óculos. — Visual novo, eu
gostei!
Ele me encara por segundos antes de me dar um lindo sorriso.
— Obrigado. Pelo que ele custou, tem que me deixar com uma visão de águia e como um
modelo italiano.
Eu não posso dizer sobre a visão dele, mas sobre ser modelo...
Ele não tem motivos para se preocupar com isso.
Ele consegue ser o centro das atenções onde quer que esteja. É imponente, misterioso e
magnífico. Sua altura causa temor e admiração. Seu olhar de arrogância, não faz com que seja
menos admirável. Com jaleco ou não, Samuel consegue ser muito atraente. E nada menos do que
atraente. Talvez exista outra palavra para ele quando Samuel é ele mesmo. Isso acontece apenas
quando está com seu irmão caçula. Presenciei isso duas vezes e tenho certeza que nunca vou
esquecer o quão normal ele é.
Existe um muro que separa o pessoal do profissional. Creio que Samuel usa essa barreira
quando passa pelo portão principal do hospital. É impressionante como ele consegue isso. Certo,
ele está correto em fazer isso, porém ele eleva o nível. Nunca falando sobre o trânsito que pegou
na noite anterior ou sobre o filme que assistiu no fim de semana como os outros médicos fazem.
Como pessoas normais fazem, mesmo estando no ambiente de trabalho.
É sinistro, mas admirável.
Mas como disse, vi o seu eu de verdade. Ou o mais próximo que ele pode ser. Foi quando o
Arthur estava aqui. Vi como ele se iluminou quando seu irmão caçula entrou e pediu a ele ajuda
com o dever de casa.
Não é estranho para ninguém aqui, o Arthur ficar em uma das salas estudando. Pelo contrário,
a equipe sente sua falta quando ele não aparece. Foi em uma dessas visitas que eu vi quanto
Samuel Hamilton é acessível para as pessoas que ele ama. Mesmo que com Simon não seja tão
aparente, é perceptível o seu amor pelo irmão mais velho.
Algo me diz que alguma coisa aconteceu para distanciar os dois irmãos mais velhos. E que a
única coisa que liga os dois, é o irmãozinho e o pai. Por quem ambos dão a vida se precisar.
E esse elo é o bastante para deixar ambos juntos quando é preciso.
— Se sua dor de cabeça sumiu. É o que mais importa, não é? — pergunto a ele com um
sorriso.
Samuel pega algumas pastas e se vira para me encarar.
— Bem, isso resolve quarenta por cento do problema, então sim. Ajuda, mas... — ele pisca. —
Ainda não evita que fique mal humorado.
Solto um gemido só de pensar.
— Por favor, não vamos voltar dez quilômetros que conseguimos percorrer. Eu já te adoro e
você gosta de mim. Eu juro, está muito mais atraente do que um modelo italiano.
Como sempre a sua risada joga uma carga de emoções sobre mim. Samuel segura a sua
barriga com força enquanto extravasa a sua alegria pelo meu comentário.
Mas não disse isso para não ter a sua fúria caindo sobre mim. Disse por que é a verdade. É o
que eu vejo
E é o que eu queria falar.
Samuel, meu supervisor, é incrivelmente lindo. Não apenas por fora.
— Você tem uma segunda opinião nesse assunto? — pergunta ele divertido.
— Não, mas eu não sou uma menina que gosta de mentiras, mesmo que seja para evitar a ira
de um chefe muito bonito. Então, vai ter que se contentar com a minha palavra de estagiária. Sinta-
se honrado por eu levantado o seu ego, doutor.
Ele pega o seu celular e sua caneta.
— Ah, estou maravilhosamente honrado, Docinho.
Então ele sai da sala para ir a uma reunião. Sei que ele vai ficar horas preso, por isso decido
terminar minhas pendências.
Levou uma hora para ter metade de tudo arrumado. Depois disso, não tenho muita coisa para
fazer. Samuel é bem organizado em tudo. Nada fica para o dia seguinte. Sempre terminamos as
coisas.
Tem dias que terminamos nossas atividades mais cedo e ficamos conversando em uma das
salas. É quando a fofoca rola solta. Nunca pensei que homens fossem tão fofoqueiros.
O telefone toca e vejo que é um número de fora. Eu acho que posso atender.
— Hospital São Magno. Ala de fisioterapia, Victória.
Que oração meu Deus!
— Ah, Victória? — Uma voz feminina fala do outro lado. — A nova estagiária? Desculpe,
querida. Aqui é a Sophie. Você provavelmente nunca ouviu sobre mim, mas pode me dizer se
Samuel está aí?
Eu não sei quem ela é, mas parece que ela sabe muito bem quem eu sou.
— Olá! Bem, ele não está, mas se quiser deixar recado, direi a ele.
Porque eu estou hesitante?
— Que droga, tudo bem. Eu precisava falar com o meu diário ambulante, mas eu posso
esperar. — Ela fala alguma coisa para alguém em um idioma desconhecido para mim. — Desculpe,
Vick. Eu sei você não me conhece, mas eu sei o seu apelido. Você pode dizer a ele que eu liguei? E
por favor, diga que não vou poder estar no nosso compromisso semanal. Tenho uma viagem de
última hora e estarei no condado americano no nosso horário.
— Claro, eu dou o recado. Mais alguma coisa?
— Sim, ele ainda é mal humorado como no início? Ou deu uma trégua para você?
Ela realmente conhece muito bem o meu chefe.
— Você vai dizer a ele que eu o dedurei?
— Claro que não! Eu aturei esse menino por três anos. Eu sei muito bem o quanto ele consegue
ser irritante.
Sorrio com seu comentário.
— No princípio foi bem estressante. Ele não me deixava nem mesmo respirar de forma
irregular, mas depois fomos melhorando. Ele agora respeita minha energia e eu respeito o seu
vilarejo de monge.
— Vilarejo de monge? Não entendi.
— A sua calmaria? É invejável para um vilarejo de monge. Se não fosse tão bonito, até diria
que estava no caminho certo para a vida de eremita. Mas acho que não vale para ele. É um
desperdício.
A mulher do outro lado da linha ri muito e eu faço o mesmo. Mas logo me bate uma vergonha
por estar dizendo isso para uma possível amiga do meu chefe.
— Meu Deus, não deixe o Samuel colocar você para escanteio, menina — diz entre os risos.
— Você é com certeza um castigo que a vida deu a ele por ser tão mesquinho e chato na maior
parte do tempo.
— Eu faço o meu melhor. — Dou de ombros como se ela pudesse me ver.
— Continue fazendo e tenha certeza que seu segredo está guardado comigo — ela para e
de ri um pouco. — Se ele continua tão perfeccionista como antes, sei que deve ter sito bem difícil
para ele quando mandaram você.
— Ah, foi uma surpresa mesmo quando o Simon me escolheu. Samuel ficou uma arara quando
descobriu... Alô?
— Você disse Simon? — pergunta soando nervosa.
— Sim.
— Certo. Obrigada por dar o recado ao Samuel, querida. Queria poder falar mais, mas
estou saindo agora. Espero falar com você mais uma vez.
Ela nem me deu a chance de dizer tchau antes de desligar.
Bem, isso eu posso fazer, mas que foi estranho isso foi. Até porque, a mulher do outro lado da
linha, ficou estranha apenas com a menção do nome de Simon.
Alguém que não esteja aos pés dele. Isso deve machucar o ego do cara.
O telefone toca mais uma vez, mas não é a amiga do meu chefe.
— Gostaria de falar com o responsável de Arthur Hamilton.
— Ah, desculpe, mas o irmão dele está em reunião. Como posso ajudar? — por alguma razão
eu não me sinto bem em falar com essa mulher
— Se você puder. Quem fala é a pedagoga da escola onde o Arthur estuda. Aconteceu um
acidente no treino dessa tarde e o Arthur está machucado. Mas não gravemente, pelo menos eu
acho.
— Como assim você acha? O que aconteceu? Ele está consciente?
Ela parece estar falando com alguém.
— Ele está acordado, mas com dor...
— Estou mandando uma ambulância para buscá-lo. E é melhor você vir, porque o irmão dele
vai querer saber o que aconteceu. Procure por Victória quando chegar, pois eu vou estar
esperando. Mas me deixe falar com ele.
Ouço-a xingando e então o Arthur está ao telefone.
— Vick?
— Ei querido. Por favor, me diga que você não está sangrando.
— Não, nada de sangue. Eu nem sei o que houve, Vick. Eu apenas caí e dói tanto. Cadê o meu
irmão? Eu quero que o Sam...
— Eu vou avisá-lo. Eu juro, Arthur. Ele vai estar com você. Você só precisa esperar mais um
pouco que você vai estar com seu pai e irmão tudo bem? Você confia em mim?
— Claro. — sua voz sai fraca. Ele está com dor.
— Respire, Arthur. Se mantenha calmo. Está bem, Eu te vejo logo.
— Obrigado, Vick. Eu te amo.
Então eu desligo. Felipa nem me para quando saio correndo até a emergência e pedi para
um dos rapazes ir até a escola buscar o mais novo dono do hospital. Tenho que avisar Samuel.
Mas ele está preso na sala da presidência. Quero fazer a coisa certa e avisá-lo, mas também não
sei se é o certo a ser feito. Vou para sétimo andar atrás de Simon, que está na recepção
conversando com outros dois médicos.
— Ainda bem que te encontrei.
— O que foi menina? — Ele está rindo.
— Eu não sei ao certo, mas Arthur sofreu um acidente na escola. — Eu já nem consigo ficar
calma. — Ele está consciente, mas alguma coisa aconteceu, ele está com dor e eu não consigo falar
com Samuel. Pedi para uma ambulância ir buscá-lo. Eu não sei se fiz certo...
Simon me abraça quando me vê chorando. Ele esfrega sua mão em minhas costas tentando me
acalmar.
— Está tudo bem, Vick. Não é a primeira vez que Arthur se machuca na escola.
— Mas a pedagoga ligou. Ela estava nervosa e Arthur parece estar assustado. — Eu nunca o
ouvi daquele jeito. Eu não gosto disso. — Ele quer Samuel. Ele está assustado, Simon.
Ele parece entender o que quero dizer.
— Você fez tudo certo. Eu vou avisar meu pai e então vamos esperar ele na emergência.
Agora se acalme. O Arthur não vai querer ver você assim.
Limpo as lágrimas e dou um passo para trás, saindo de seu abraço.
— Preciso avisar o Samuel...
Simon acena que não.
— Não podemos tirá-lo dessa reunião. Ele está planejando esse contrato há meses. Se o
tirarmos de lá, vai atrasar ainda mais o processo. Ele pode cuidar de Arthur depois. E eu não
preciso de um Samuel raivoso, quando tenho um Arthur machucado. Acredite em mim, eu sei bem o
que estou falando.
Eu fiz o que ele pediu. Eu me acalmei. Avisei a Felipa o que estava acontecendo. Ela diz que
vai avisar ao nosso chefe assim que ele sair da reunião. Ela repete a mesma frase de Simon.
Aparentemente, é um grande contrato que meu chefe está trabalhando.
— Peça para o Carlos vir atender o meu filho. Ele vai me dizer o que há de errado.
O pai de Arthur é calmo em me pedir isso. E entendo que ele queira o melhor ortopedista
atendendo o seu menino. Carlos é um médico beirando os cinquenta anos, mas muito competente. Eu
já conversei com ele duas vezes. Homem de poucas palavras, mas muito educado.
Ele conversa com o senhor Sandoval até que Arthur chega na emergência.
O menino ativo e brincalhão que eu conheço dá a vez para um garoto assustado e com a
expressão de dor.
— Eu vou levá-lo para a sala de raios-X, mas acho que não é osso. — O Doutor Carlos olha
para Simon e para Sandoval. — Qual dos dois vai acompanhá-lo?
— Eu quero a Vick! — Arthur é quem decide por eles. — Pai, deixe ela vir comigo, eu sei que
ela vai dizer tudo ao senhor, mas eu prefiro que Vick esteja comigo.
Eu penso que estou indo levar uma bronca quando o pai olha para mim.
— Você vai tomar conta dele?
Aceno que sim, já muito preocupada.
— Eu vou esperar aqui. — ele esfrega o seu rosto. — Com certeza vou estar mais nervoso lá
dentro do que aqui.
Segurando a mão de Arthur eu vou com ele até a sala de raios-X. Percebo que ele está com o
short do seu uniforme levantado. Ele tem a mão embaixo de sua perna esquerda. Vejo o olhar do
ortopedista e ele sabe que eu sei que se trata de uma lesão muscular.
— Você pode me dizer o que aconteceu, Arthur? — o médico diz quando ajuda o rapaz a
ligar a máquina.
— Eu me lembro de ir cabecear a bola e quando cai, minha perna esquerda doeu muito e
acabei no chão. — Ele aperta a perna. — É como se estivessem rasgando ela de dentro pra fora.
Sua voz ainda demonstra sua dor. E não podemos medicá-lo até soubermos o diagnóstico.
— Sua perna não aparenta estar quebrada, mas eu preciso ter certeza para poder ir para a
ressonância.
Levou quinze minutos para sabermos que não há nenhum fragmento quebrado. E levou mais
trinta minutos para termos o resultado da ressonância. Durante todo o procedimento, Arthur está
apertando a minha mão na sua.
— Eu sei que não deveria ficar assim, mas fiquei assustado, Vick. Muito assustado.
Eu não suporto ouvir o medo em sua voz. Esse não é o menino que estou começando a amar.
— Isso é normal, Arthur. Sentir dor não é nada bom. E estar assustado não te faz fraco. Isso te
faz humano.
Ele sorri de uma maneira estranha.
— Quando você disse que eu deveria ficar calmo, eu sabia que tinha que fazer isso. Você me
deu tanta confiança e apoio que nem precisei de muito.
Acaricio seu rosto tentando deixá-lo mais confortável.
— Eu já sei o que nosso menino aqui conseguiu aprontar apenas pisando de mau jeito. —
Carlos aparece com os exames em suas mãos. — Victória querida, pode chamar o pai e irmão
dele? Assim não vou ter que repetir a aula para os leigos.
O comentário do doutor Carlos arranca risadas de nós dois. Aperto a mão do garoto
levemente antes de sair. Ele está mais calmo. Mesmo com um remédio para dor, ele ainda está
fazendo algumas caretas.
— Eu volto já.
Ele acena se deitando na cama. Para um garoto de quinze anos, ele é muito grande. Assim
que saio da sala, vejo pai e filho conversando. Ambos estão calmos demais. Acho que fiquei
assustada por todos aqui.
— O médico já tem o diagnóstico — digo nervosa. — Ele quer falar com vocês.
Os dois estão indo em direção à sala, quando Simon olha para trás curioso.
— Você não vem?
Concordo e vou com eles, mas me mantenho fora de foco.
Sandoval vai para o lado esquerdo de seu filho e bagunça o cabelo do garoto.
— Você está sempre aprontando hein, garoto?
— Eu faço o meu melhor, pai. Cadê o Sam? — ele pergunta mais uma vez sobre o seu irmão
do meio.
— Ele estará logo aqui, Arthur. Não se preocupe, seu súdito estará a sua disposição assim que
passar pela porta. — Simon brinca com ele.
Arthur está mais relaxado e esperando o que o médico tem a dizer.
— Com um pouco mais de trabalho, teríamos que fazer cirurgia em sua perna, mas não será o
caso. — Carlos entrega o exame para o pai de Arthur. — Teremos que cuidar dessa lesão com
atenção.
Arthur não entende nada do que estão dizendo.
— O que isso quer dizer?
Simon suspira e olha para mim. Sei que ele não quer dizer isso ao seu irmão, mas ele sabe
que não posso ajudá-lo.
— Você conseguiu uma lesão muscular isquiostibais — diz mostrando o exame ao garoto. —
Assim que seu pé tocou ao chão, o impacto fez com que seus três músculos... — ele aponta para a
área especifica. — Sofresse uma carga de esforço maior do que é suportável, rompendo-os. E o
uso constante do músculo ajudou a lesão.
Olho para o menino que tem os olhos arregalados com tudo o que ouve.
— Pai, o que isso quer dizer?
Sandoval suspira.
— Você vai ter que ficar algum tempo sem jogar, filho — o senhor diz, tentando consolar o
garoto. — Você vai voltar a jogar, mas precisa de um tempo para se recuperar.
Mesmo com dois homens ao lado dele, Arthur parece que vai se acabar em lágrimas.
— Mas que droga! Eu não posso ficar sem jogar, tem o campeonato daqui a quatro meses,
pai. É o regional!
Sandoval parece mais desolado do que o filho.
— Nem tudo está perdido, Arthur — Carlos garante a ele. — Você tem o melhor
fisioterapeuta da cidade ao seu lado, não vejo porque perder o campeonato. Pode muito bem se
recuperar a tempo.
— Tem certeza? —Simon pergunta encarando os exames em suas mãos. — Não quero dá
falsas esperanças para o meu irmão! Vick?
— Hã?
— O que você acha? — Arthur é quem pergunta. — Por favor, diga a verdade. Eu posso me
recuperar a tempo?
Por que me colocaram na conversa?
— Eu? Hum... — Limpo a minha garganta e olho para o ortopedista que me dá um aceno
para continuar. — Eu não vejo porque não tentar, Arthur. Mas seria uma maratona para conseguir
a sua recuperação total. Você estará se dando uma programação rígida. Além disso, o seu irmão
não vai facilitar para você.
Ele acena concordando.
— Você acha que eu consigo Vick? — pergunta cheio de esperança.
— Claro que consegue. — dou a ele o um sorriso de apoio. — Seu irmão vai trabalhar junto
com você e logo você vai jogar novamente.
O médico diz como ele vai se sentir durante alguns dias. Arthur se prontificou a fazer tudo ao
pé da letra.
— Compressa com gelo todas as noites antes de dormir. Repouso por três dias.
— Não posso faltar três dias na escola.
O médico ri e me entrega os exames dele.
— Faça o Samuel vir falar comigo quando ele estiver pronto. Vamos ver o que podemos fazer
para ajudar esse rapaz.
E como se tivesse sido conjurado, Samuel aparece como um raio na sala em que estamos. Seu
rosto está branco, seus olhos assustados, focado apenas em seu irmão deitado na cama.
Ele agarra o seu irmão em um abraço apertado.
— Sam, afrouxa um pouco. Você está me deixando sem ar.
O grande homem parece não ouvir.
— Por que ninguém me chamou? — Ele pergunta para ninguém especifico.
Ninguém responde a ele enquanto o mesmo analisa o garoto na cama. Eu sei que o Samuel
está com medo e entendo isso. Apenas não sabia que ele estaria tão angustiado.
— Você estava em uma reunião importante, Sam. E a Vick estava comigo, eu estava bem.
Sua cabeça vira com força em minha direção. Ele está surpreso, mas logo seus olhos negros
expressam gratidão.
E surpreendendo a todos, Samuel me envolve em seus braços em um abraço apertado. Respiro
fundo sentindo o seu cheiro único. Ouço os batimentos do seu coração diminuindo conforme ele
relaxa junto a mim.
— Obrigado. De verdade, obrigado por estar aqui com ele.
Envolvo as minhas mãos em sua cintura querendo transmitir a ele um pouco de paz.
— Não me agradeça, eu adoro esse garoto. E fiquei muito assustada quando falei com ele ao
telefone.
Samuel acaricia minha nuca através dos meus cabelos. Seu contato inesperado me faz
estremecer contra ele, mas acho que não percebeu. Aos poucos ele vai me soltando e então
caminha até seu irmão mais uma vez.
— Qual é o tratamento?
Mais uma vez o doutor Carlos responde. Samuel ouve atentamente tudo o que é dito e o
Arthur não está mais tão assustado como antes. A presença do seu irmão mais protetor o faz ter
mais confiança.
É agradável de ver. Os quatro juntos. Mesmo que seja sobre uma situação estressante.
Terminando o meu trabalho aqui, saio de fininho e volto para a minha ala. Assim que me vê, Felipa
me pede informações. Dou a ela o que eu sei enquanto eu tomo um café. Espero conseguir terminar
esse trabalho, mas não consigo me concentrar. Felipa sai para comer alguma coisa. Eu até iria com
ela, mas já fiquei muito tempo longe.
— O Arthur queria se despedir de você. — O meu chefe aparece e se senta ao meu lado. Ele
joga a cabeça para trás e solta um longo suspiro.
— O senhor está bem?
Ele acena ainda com a cabeça apoiada. Seus cabelos estão caóticos. Percebo que sua nuca
está vermelha. Sua mania de arranhar a nuca quando está nervoso apareceu.
Levo minha mão para arrumar o seu cabelo, mas recolho-a.
— O Arthur me disse que você o acalmou. — Sua mão segura a minha. — Obrigado.
Coro mesmo sabendo que ele não vai ver.
— Não precisa corar, Victória.
— Como você sabe que estou corando?
Ele vira a cabeça para o lado e sorri quando abre seus olhos.
— Eu tenho observado muito você, Docinho.
Olho para o outro lado da sala.
— Não tem o que agradecer. Eu sei que você faria a mesma coisa se fosse com a Didi.
Ele sorri, mas seus olhos ainda refletem o medo e a angustia que ainda está dentro de seu
peito.
— Eu faria. Estou indo para casa com o papai e o Arthur. Vejo você amanhã, tudo bem?
— Claro, dê um beijo nele por mim, por favor. Ah e antes que eu me esqueça: a Sophie ligou
e disse que não vai poder ir ao compromisso de vocês.
Samuel para imediatamente e me encara por alguns segundos.
— Bem, ela não é pessoa mais importante no momento. Vá pra casa, Docinho. Acho que todos
nós precisamos de uma boa noite de sono.
Capítulo 11
Certas coisas não se planejam, só acontecem.
Samuel

C onsegui manter meus sentimentos enjaulados até chegarmos em casa. Não falei com Arthur e
meu pai assim que entramos. Fui para o meu quarto tomar um banho, na tentativa de esfriar a
cabeça antes que ela explodisse.
E estou aqui há quase uma hora e ainda não consigo me livrar do medo. Não me senti tão
impotente em anos. Inutilidade é a forma correta de me descrever.
Percebendo que acabei com uma boa quantidade de água da cidade, fecho a torneira.
Termino o banho e vou me arrumar. O Arthur não está usando cadeira de rodas, pois consegue
andar com tranquilidade.
Ele está sentado no sofá da sala e sei que o papai deve estar tomando banho já que ele não
está aqui.
— O Simon está trazendo pizza pra gente, pois o papai não quer cozinhar. — ele dá de
ombros e come um pouco do salgado que está ao seu lado.
Ele está com sua perna esquerda estica com o imobilizador que comprei para ele na volta
para casa.
— Está incomodando? — Arrumo sua perna e ele no sofá. — Eita, garoto. Você está pesado
demais.
Ele bufa um pouco irritado.
— Vou ficar mais pesado parado aqui. A porcaria dessa perna tinha que ficar com frescura
logo agora que os treinos de verdade iriam começar?!
Aperto o seu ombro tentando de alguma maneira confortá-lo. Sei que ele está mais chateado
por nos preocupar do que com o treinamento, apenas não sabe como se desculpar por isso.
— Você não tem que se preocupar com isso. Essas merdas acontecem com qualquer pessoa,
Arthur. Ficar chateado é compreensivo, você precisa apenas se concentrar em melhorar. Nada é
mais importante do que isso, irmãozinho.
Arthur olha para a TV, mas sei que ele não está concentrado nas notícias do dia. Seu olhar
está distante e cheio de tristeza. Suspiro e trago ele para mais perto de mim.
— Eu assustei vocês não foi? Sinto muito, Sam. Eu não queria.
Passo o braço por seus ombros, fazendo com que ele deite sobre os meus.
— Ninguém gosta de se machucar, Arthur. Sim, ficamos preocupados. — respiro fundo e o
abraço mais apertado. — Eu me apavorei quando Felipa me disse que você deu entrada e só
consegui respirar quando te vi acordado. Não sei como eu conseguiria ficar se você estivesse em
cirurgia ou algo do tipo. Só... Só não me assusta assim de novo, está bem?
— Está bem. Sinto muito mesmo. Fiquei assustado também, nunca senti tanta dor, Sam. — Ele se
afasta e encolhe a sua perna boa. — Mas sabe? A Vick falou comigo no telefone. — Ele volta a
olhar para a TV. — Eu percebi que ela estava nervosa também, mas ela me pediu para ficar
calmo. Pediu para respirar e eu nem percebi que estava tão nervoso até que ela me pediu.
Eu não sabia disso.
— Ela me prometeu que estava tudo bem, que daria tudo certo. Ainda bem que foi ela que
atendeu. — ele sorri com aquele jeito de quem está prestes a fazer uma piada. — Se fosse você,
seriam dois Hamiltons hospitalizados.
— Não é engraçado!
Ele dá de ombros.
— Eu sei que chamei só por você. Mas eu também sabia que essa reunião era importante
demais para você largar. Além do mais, eu tenho o papai e o Simon. E agora a Pirulito. Eu sabia
que não estaria sozinho.
—Você é muito mais importante.
Eu estaria ao lado dele assim que me avisassem, mas o contrato que fechei hoje era muito
importante. Estava trabalhando nisso há meses. Quatro meses tentando fechar esse seguro para a
fisioterapia e ortopedia. E para o hospital é claro.
Com esse seguro, vamos poder atender mais pacientes. Principalmente pacientes de baixa
renda. Essas pequenas empresas de construção civil estarão amparadas caso algo de grave
aconteça. Queria isso há bastante tempo e com o Franklin agora fazendo perícias, as coisas
ficaram muito mais fáceis de resolver.
— O seu trabalho também é. Mas estou bem, foi só um susto que eu não quero repetir.
Um barulho proveniente da garagem me informa que o Simon chegou com o nosso jantar.
Realmente, quero apenas dormir, mas sei que isso vai fazer com que meu irmãozinho pense que
estou chateado com ele. E isso é a última coisa que eu preciso que o Arthur pense.
— Calabresa com bacon picante para o papai. — Simon deixa uma das quatro caixas em
cima da mesa. — Metade peruana com portuguesa e lombo com cheddar para o Sam. — Mais
uma caixa. — Margherita com parmegiana para mim e italiana com quatro queijos e borda
canadense para meu irmãozinho.
Ajudo-o a arrumar todas as caixas na mesa.
— Nenhuma sobremesa? — Arthur puxa a sua caixa para junto dele. — Poderia trazer uma
pizza doce, eu iria gostar.
Simon sorri e pega o seu celular.
— Algum sabor em mente?
Deixo os dois escolhendo mais uma pizza doce e vou pegar os copos na cozinha, torcendo
para que não sujem tanto o sofá. Pensando bem, é melhor levar um pano para o Arthur.
Ao voltar para sala, vejo que papai está ao lado de Arthur e me sento ao chão, junto à mesa.
— O que você quer assistir, pirralho? — Simon começa a zapear pelos canais.
— Hoje tem jogo e quero ver se a nova contratação foi tão boa quanto estão dizendo.
Termino de comer a minha pizza e roubo um pedaço de cada um deles. Nem se importam, já
que isso é a coisa mais normal do mundo quando estamos juntos. Papai está relaxado no sofá e
xinga o árbitro algumas vezes.
Levo a minha bagunça para a cozinha e assim que pego meu notebook volto para sala ficar
na companhia deles, mas concentrado no email que recebi do novo seguro.
Leio cada parágrafo e envio todos os documentos necessários para que a papelada seja
levada ao cartório.
— Não tive a chance de perguntar a você: como foi à reunião? — Papai vai até a cozinha e
volta com uma cerveja. — Conseguiu um acordo com eles?
Largo a caneta em cima mesa e me encosto mais na cadeira quando ele se senta ao meu lado
na pequena mesa da sala.
— Foi bom, apenas demoramos mais com os valores. Eles queriam pagar muito menos do que
estávamos dispostos a receber. Isso foi um argumento que o presidente jogou para cima de mim,
mas não saiu como ele queria.
— Qual é o lucro? — pergunta pegando o meu notebook para olhar os dados.
— 25% a cada contrato assinado apenas para enfermaria. 40% para procedimentos de
nível alto. Fora o recebimento anual de participação deles. — Olho para o meu pai, que está
sorrindo. — Se conseguirmos aumentar a demanda em três meses, o nosso gasto será mínimo e
poderemos aumentar os repasses para os médicos por volta de 11%.
Papai me devolve o notebook.
— Enquanto um filho me apronta uma lesão me deixando com os cabelos mais brancos, o
outro me deixa mais orgulhoso.
Dou um aceno para ele.
— Só fiz o que é melhor para o hospital, pai. Apenas isso. E eu quero falar sobre o que
aconteceu com Arthur com o senhor. Pensei muito sobre o assunto. Desde que o Carlos deu o
diagnóstico e o tratamento e acredito que seja a coisa certa a ser feita. O óbvio seria que eu
fosse o responsável pelas sessões do Arthur. Porque ele é meu irmão, porque ele confia em mim e
não há mais ninguém em quem eu confie para cuidar dele. E não querendo ser presunçoso, mas
porque sei que vou conseguir ajudá-lo em um bom tempo. Mas por todos esses motivos, eu sou a
pessoa menos capacitada para isso. Estamos falando de mim. Do irmão mais velho superprotetor,
que no primeiro resmungo do Arthur, irá parar a sessão de fisioterapia e o levará para casa para
descansar.
É isso que vai acontecer se for eu o responsável pelo tratamento de Arthur.
— Para que isso aconteça, eu preciso da sua autorização, pai.
As sobrancelhas de papai sobem tão alto em sua testa que me dá uma súbita vontade de rir.
— E isso seria...?
— Quero que a Victória fique responsável pelo tratamento de Arthur. Sim, estou certo disso e
acredite em mim quando isso foi uma decisão muito analisada antes de falar com o senhor. Não
daria certo se fosse eu a fazer isso sabemos muito bem o motivo.
Papai pega a minha caneta e começa a pensar no que disse.
— Eu disse a vocês muitas vezes, meu filho. — Papai me encara sereno. — Tudo o que
envolve fisioterapia e ortopedia, está em suas mãos. Aquilo ali tudo foi montado para você e
melhorado por você. Eu não sei se conseguiria arrumar tudo como você fez. — Ele está sorrindo
enquanto fala. — Já é um profissional formado, renomeado e conquistou o respeito de todos.
Confio em você sobre qualquer decisão que tomar. Se você acha que Vick está pronta para isso,
eu não tenho o que duvidar. E sim... — papai está divertido. — Não daria certo. Você colocaria
Arthur de volta para casa no primeiro choro de dor que ele teria. E ele ficaria irritado com você
por isso.
Meu irmão pode me amar, mas ele ficaria desesperado por não o ajudar da maneira que
deveria. O Arthur precisa estar pronto para os treinos e sei que ele levará a sério tudo o que
Victória estará lhe impondo.
E o mais importante. Eu sei que ela vai dar conta. Sei que ela vai conseguir a melhora do meu
irmão mais rápido do que eu. Ela tem uma garra única e depois do que aconteceu hoje, eu sei que
ela está pronta para o desafio.
Não tive a chance de agradecê-la como deveria. De poder transmitir a minha gratidão pelo
jeito que ficou com Arthur.
Eu sei que ela faria isso por qualquer pessoa, mas também sei que por ter sido o meu irmão,
ela foi muito mais atenciosa com ele, mesmo Victória estando tão nervosa quanto ele.
— Precisava saber se você estava de acordo com isso.
Ele me estuda por alguns segundos.
— Você sempre vai pedir a minha opinião quase se trata de Arthur, mas nós dois sabemos
que você sempre vai fazer o que é melhor para ele. Sempre vai ser você que vai tomar as
decisões quando se tratar dele. Isso me incomodou por muito tempo, mas eu não posso fazer muito
sobre isso. E porque deveria? Eu não me incomodei com isso no início e não posso lutar agora.
— Pai...
— Não, Sam. Você sabe que é verdade. Não precisa me dizer que não para aliviar o meu
espírito. Que na verdade nem está pesado, ele está por muito tempo mais leve. Foi errado deixar
muita coisa sobre seus ombros, mas pensando apenas pelo lado bom, isso foi uma das grandes
coisas para nós dois. Eu não sei se conseguiria te ajudar a ser o homem que é hoje. Não sei se
todo o meu esforço moldaria o seu caráter.
Papai olha para longe.
— Deixar essa responsabilidade enorme em cima de você vai ser uma culpa para toda vida.
Mas... Ela te fez o homem que é. Não há ninguém em quem eu mais confie do que você. Sei que o
for que aconteça, você sempre vai puxar as responsabilidades e cuidar de tudo. Vai saber lidar
com tudo. Então, eu não me importo se sua estagiária maluca vai cuidar do seu irmão. Porque você
nunca vai colocar o Arthur em uma situação que pode prejudicá-lo.
Engulo em seco e aceno em concordância para ele.
— Vick é uma boa menina e uma ótima aluna. Nós conversamos sobre isso. Já te disse isso e
digo mais uma vez. Seu irmão fez bem em trazê-la para você. E você fez muito mais a aceitando.
O Arthur é apaixonado por ela e vai fazer de tudo para ter um mínimo de atenção que ela vai
dar. Será o auge da sua adolescência. Imagine como ele vai se gabar para a turma que tem a sua
própria fisioterapeuta particular.
Isso me faz rir mais um pouco. Vai ser uma coisa chata, porém divertida. Arthur vai ficar
insuportável com atenção que a Vick estará lhe dando.
E eu ficarei com um pouco de inveja dele.

— Victória, eu posso falar com você? — chamo-a assim que ela termina de arrumar os
documentos que solicitei a ela.
Victória me encara por alguns segundos antes de sorrir e vir até a minha mesa.
— Claro, no que posso ajudar?
Mordo a língua para não assustá-la com o pensamento infame que tenho sobre ela. Na
verdade, pensamentos que tenho durante todos os dias, que só pioraram quando eu tive a
brilhante ideia de dividir minha sala com ela.
— Primeiro de tudo, eu quero agradecer a você por tudo o que fez ontem com o Arthur.
Soube que ficou com ele todo o momento. Seria eu ao lado dele, mas eu penso que foi melhor
assim. Eu estaria mais nervoso que ele. — Pego a sua pequena mão. Ela aperta a minha e percebo
que estremece, mas finjo que não percebi. — Obrigado por isso, de verdade.
— Está tudo bem, doutor. Eu sei como isso é assustador. Ele está bem? Passou a noite bem?
Ainda com a minha mão na sua, involuntariamente começo a fazer círculos com o meu polegar
na palma de sua mão. Victória morde seu lábio, mas não faz nenhum movimento dizendo que se
sente incomodada.
A palavra ASSÉDIO está gritando em minha mente. Mas droga, eu simplesmente não consigo
parar. É errado... Mas eu preciso saber que isso não é unilateral.
Preciso saber se ela se sente assim. Tão louca de desejo quanto está junto a mim.
— Foi difícil encontrar uma posição que ele se sentisse confortável. Sua coxa ainda está
inchada, mas não sente tanta dor quanto ontem. Ele estará voltando para a escola amanhã. Não
quer perder a prova de inglês.
Ela se mexe na cadeira e engole em seco.
— Ele está certo. Eu sabia que ele não iria ficar na cama reclamando de seu estado. Hum...
Era apenas isso que queria falar comigo, doutor?
Solto suas mãos e pego a pasta que Carlos, o ortopedista responsável pelo caso de Arthur, me
deixou essa manhã.
— Sim e não. Tenho uma coisa para pedir a você.
Seus olhos verdes se arregalam enquanto me encara, esperando o que quero dela.
Deixo a pasta na sua frente e ela abre.
— Gostaria que você fosse a responsável pelo tratamento de Arthur.
Seus olhos que estavam na pasta estão em mim mais uma vez. Consigo ver descrença, fascínio,
euforia e choque. Tudo em seus belíssimos olhos verdes. Victória não é uma pessoa que consegue
esconder a suas emoções. Seus olhos entregam tudo que está sentindo. É uma coisa linda, mas a
deixa exposta na maior parte do tempo.
— Eu... O senhor... Quer dizer, o senhor tem certeza disso? — ela hesita, mas acaba falando.
— Ele é o seu irmão. Eu pensei que seria o senhor a cuidar dele pessoalmente, quer dizer... Não
estou desafiando a sua autoridade, mas... Eu estou me enrolando toda.
Sorrio quando ela diz isso.
— Estou de acordo com isso, assim como o Simon e o meu pai. Eles concordaram com isso.
Arthur pediu por você no momento em que ele chegou aqui. Você estava com ele desde o momento
em que tudo aconteceu, então nada mais justo do que você cuidar dele. Sim, eu faria isso. — Dou
de ombros e me encosto mais na cadeira. — Mas estaria sendo protetor demais sobre ele. O
Arthur seria meu irmão, não meu paciente. Entende?
Ela acena com a cabeça e começa a olhar a pasta com os exames do meu irmão.
— Eu nem sei o que dizer, apenas obrigada, pela chance. E pela confiança de cuidar do seu
irmão. Uau! Estou em choque.
Pego o meu celular e vejo uma mensagem de Sophie perguntando se Arthur está bem. Mandei
uma mensagem para a minha amiga ontem dizendo o que houve. Ela viu assim que chegou em sua
casa, ou seja, agora.

Sophie: Me desculpe, por favor. Dê um beijo nele por mim. Vou mandar algo para ele. Espero
que ele se recupere logo. Beijos. Aviso a você quando puder falar. Te amo, Sam.

— Vou esperar os músculos desinflamarem e então podemos pensar numa base de exercícios
diários. Três vezes na semana é um bom começo para ele. Conforme ele vá apresentando
melhoras, podemos ir colocando mais exercícios. Ele está querendo ficar pronto até o início dos
treinos para o campeonato. Acho que ele não vai me dar trabalho, não é?
Aceno que não.
— Acredite em mim quando digo que você cuidando dele vai fazer a sua adolescência valer
a pena — pego o meu telefone. — Você é responsável por ele, faça o que achar melhor. Eu tenho
que falar com meu pai agora.
— Claro. Obrigada mais uma vez.
Suspiro e sei que já deveria ter tido essa conversa com ela.
— Eu nunca tive a chance de me desculpar pela forma que me comportei logo que você
chegou aqui. Sei que nada justifica, mas eu estava com coisas acontecendo tudo de uma vez. Um
convite inesperado para um seminário. Simon recrutando você. Papai com uma viagem de última
hora. O início do meu mestrado. Estava estressado demais e acabei descontando em você.
Desculpe, mas meu histórico com estagiários não é nada bonito. Até hoje só me enviaram filhos de
papai que ficam mais no celular do que fazendo algo de útil. — Sorrio um pouco com os dementes
que a universidade me enviou. — Eles não sabiam nem mesmo como descrever uma tendinite.
Victória bufa.
— Acredite em mim, eu convivo diariamente com alguns desses dementes. Sério? Como eles
conseguem passar de período? Como conseguem se formar?
— Em faculdade particular a maioria dos alunos é aprovada, Docinho.
Ela sorri timidamente quando ouve o seu novo apelido.
— Por que você me chama assim? — Ela coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha.
Por que eu tenho certeza que você é tão deliciosa quanto aparenta. E que eu não tenho
dúvidas que você tem um gosto doce no meio de suas pernas.
— Por que você é a pessoa mais doce que eu já conheci. — Depois de minha mãe. — Você
está sempre de bom humor, nada parece tirar a sua energia. Seu sorriso é lindo e é claro — pego
uma bala. — Está sempre com algum doce em sua boca. Nada mais apropriado do que Docinho.
Victória cora ainda mais quando ouve isso.
— Espero que me desculpe por essa primeira visão que teve de mim.
Ela morde seu lábio e com o rosto ainda corado responde.
— O senhor é bonito demais para guardar rancor. Só sorria mais e tudo vai ficar bem. — Ela
pega a pasta e sai da sala.
Ela sai me deixando com a boca no chão.
Não é primeira vez que ela fala do meu sorriso. Ela deve gostar dele. Arrumando o meu
jaleco eu vou para a sala do meu pai, mas no meio do caminho eu a vejo arrumando alguns
equipamentos.
Victória tirou o jaleco, deixando o seu corpo a mostra. Eu não deveria estar espiando, mas eu
faço. Ficando na ponta dos pés ela tenta alcançar os pesos de pés. Sua pequena camisa levanta
mostrando a parte inferior da sua costa.
Sua pele é pálida demais. Com certeza com um pequeno aperto, ela deve ficar avermelhada.
Meu sangue começa a bombear para meu pau, deixando-o duro. Minha mente começa a trabalhar
na imagem de Victória nua de bruços na minha frente. Um lençol cobrindo da sua cintura para
baixo. Seus cabelos espalhados pela cama.
E sua pele avermelhada pelos chupões que deixo em seus ombros, pescoços e costas. Seu
corpo pronto para receber mais...
Esfrego o meu rosto e ajusto minhas calças.
Tenho apenas alguns minutos para me controlar até encontrar o meu pai.
Momento errado para ter pensamentos pervertidos com o meu docinho. Mas o que eu posso
fazer, se ela não está ajudando em nada?
Só está piorando as coisas.
Pego o meu celular disco o número de uma pessoa que pode me ajudar.
Jonas atende no primeiro toque.
— A emergência deve ser muito grave para me ligar em plena tarde. Não pode esperar até
hoje à noite?
— Não! — digo entredentes. — Estou fodido, completamente perdido. Acabei ter um
pensamento sujo com a minha nova estagiária apenas por ver uma pequena parte de sua pele.
Tem ideia de como isso é fodido?
— Tenho, mas ainda não sei por que me ligou, se vamos beber hoje. — Jonas parece sair de
um local barulhento. — Já disse a você que isso é seu corpo dizendo que está ficando difícil de
controlar. Em todos esses anos em que eu te conheço, nunca vi você desse jeito. Você encontrou
alguém que deseja e sente a necessidade de provar e ter envolvimento íntimo, Samuel. Meus
parabéns, querido, você está a fim de alguém. Pensei que esse momento nunca chegaria.
— Corta a palhaçada, Jonas.
— Não é palhaçada, Sam. É a verdade. Em todo esse tempo, você pode ter dado prazer a
algumas mulheres no casarão, pode ter ficado excitado, mas nunca foi tão afetado quanto está por
essa garota. Você nem mesmo teve nada intimo com ela e tem esse tipo de pensamento. Seu corpo
a quer, e não tente dizer que isso é mentira quando nós dois sabemos que não é.
— Não está ajudando.
— Nada vai te ajudar, amigo. Eu vejo você hoje à noite. Tenho um cliente agora.
Respirei fundo e consigo um pouco de controle do meu corpo. Ficar longe dela me ajudou um
pouco. Não tanto quanto imaginei, mas consegui organizar meus pensamentos. Até mesmo os
indecentes. Papai fingiu que não percebeu que estava um pouco distante na reunião de hoje.
Sinceramente, não sei muito bem o que conversamos.
E essa é a primeira vez que me acontece isso. Poderia usar a desculpa de estar preocupado
com meu irmão, mas não é uma justificativa justa, quando o motivo de minha ausência mental estava
no mesmo prédio que eu apenas a alguns andares abaixo de mim.
Estou pior que um adolescente passando pela puberdade.

— Você está precisando de uma distração — Jonas comenta quando se senta ao meu lado.
— Na verdade isso é uma péssima ideia, está mais do que distraído. Você precisa de algo para
manter o foco.
— Poderíamos mudar de assunto, em vez de falarmos sobre isso.
Jonas se serve de mais um pouco de uísque.
— Ainda são nove da noite, poderia esperar mais alguns minutos.
Ele toma o liquido de uma só vez.
— Não posso dizer não a essa delícia de bebida. E como você quer mudar de assunto, diga-
me o que deu em você para deixar a mulher que você está tendo um caso mental tomar conta do
seu irmão? Ele que cai e você que sofre os danos mentais?
Reviro os olhos para ele.
— É o melhor a ser feito. Ela vai conseguir ter mais êxito do que eu. É muito simples e
qualquer um consegue ver isso.
— Que você está louco por ela? Sim, qualquer pessoa que te conheça bem, sabe que isso é
bem notável, mas as maiorias das pessoas não te conhecem Samuel. É por isso que estou aqui. —
Ele aperta o meu ombro. — Ponha para fora, amigo.
Ele tem um bom argumento. Se eu estou aqui com Jonas, é porque ele é o único com quem eu
possa desabafar. Que vai me entender e me ouvir sem julgar.
É muito fácil ser o cara centrado e controlado na maior parte do tempo, mas há momentos em
que preciso de um descanso, de um pouco de paz. E isso eu só encontro aqui.
— Isso não é fácil, cara.
— Eu não disse que era, mas se te ajudar, posso fazer algumas perguntas e você pode ter as
suas respostas.
O filho da mãe é presunçoso até mesmo quando ele não quer.
— Como se sente quando está com ela?
— Você está me irritando com essas porcarias.
— Não precisa dizer em voz alta, apenas diga para si mesmo. Vai lá, pense nisso.
O que eu sinto? Como se pudesse ser eu mesmo. Sem máscara, sem a necessidade de ter tudo
sobre o meu controle. Sem tentar esconder o eu sou de verdade. Sou eu mesmo, quando estamos
conversando. Quando lhe ajudo com alguma dúvida da matéria que ela está estudando.
Victória, ao mesmo tempo em que me assusta, me faz me sentir confortável ao seu lado. Seu
jeito meigo é um acalento para minha alma. Demorei muito para notar isso. Daí o medo quando ela
estava tão perto.
O medo de ela enxergar minha alma me deixou em pânico. Não que eu me sinta um cara
obscuro. Apenas não estou pronto para que vejam a confusão que eu sou. Eu me acostumei em
ficar em segundo plano. Qualquer tipo de atenção voltada para mim me faz querer correr.
Foi o que a sua atenção me causou.
Meu humor sombrio não a assustou. Nenhum pouco. Victória parece querer extrair isso de mim
a todo custo. Eu adoraria a ideia, se já não soubesse que é impossível isso de acontecer. A
máscara é bem difícil de tirar, quando ela é parte de você.
Mas com Victória, o eu, aquele que pensei que havia perdido, aparece em um piscar de olhos.
É como se eu tivesse Transtorno Dissociativo de Identidade, mas o único alter ego sou eu mesmo, mas
em décadas de distância.
— Como se sente quando não está perto dela?
Como se eu não pudesse sorrir de novo. Quanto perturbador isso pode ser?
— Acha que ela se sente da mesma forma com você?
Tenho certeza disso.
Ela não consegue esconder suas emoções e, todas as vezes que fazemos algum tipo de
contato físico, seu corpo todo se arrepia com o mais simples toque. Sua pele fica vermelha, ela se
contorce e desvia o olhar. Ou quando morde ou molha seus lábios com a sua língua rosa que eu
tenho muita vontade de sugar.
— Acho que você tem as suas respostas, mas não sabe o que fazer. Se você quer algo com
ela, vá em frente. Os dois são adultos e o máximo que ela pode dizer é não. Mas eu duvido muito
que isso aconteça.
Eu não acredito que ele disse isso.
— Eu posso te citar uma lista de motivos explicando porque essa sua ideia é estúpida.
Ele acena dizendo que posso falar.
— Ela é minha estagiária.
— Você não é o primeiro chefe que sente tesão pela funcionária gostosa.
— Ela é mais nova do que eu e muito inocente. Muito provavelmente vai se assustar com minha
vontade de ter algo com ela. Depois de tudo, eu não posso dar a ela o que precisa. Vai ser
apenas físico e Victória precisa e merece mais do que isso.
Jonas deixa o copo em cima do balcão da mesa.
— Você pode ter citado uma lista de motivos para não se deixar levar, mas eu ouvi apenas
desculpas. Desculpas de um cara que está com medo demais de se envolver. De se entregar a algo
que pode ser uma coisa boa na sua vida depois de tantas merdas nos últimos anos. — Jonas
suspira e esfrega a sua nuca. — Odeio te mostrar o óbvio, ainda mais porque você é mais
inteligente do que eu, e odeio tirar esse status de você. Mas Sam, se você aproveitar isso e tentar
descobrir o que é isso, não vai atrapalhar nada em sua vida. Bem, possa ser que você fique com
tesão cada vez mais, mas é compreensivo. Seu pai não precisa mais de você, Sophie sabe cuidar
de si mesma, Simon nunca se importou com a sua preocupação e o Arthur está crescendo. Sei que
isso é o que você conhece, mas vai chegar uma hora que você vai estar sozinho, amigo. E isso não
é nada legal. Não a use como um escape, apenas dê uma chance a isso. Dê a si um pouco mais
vontade de viver. Algo me diz que essa menina vai te ajudar.
Capítulo 12
Quer saber? Eu não quero pensar no que virá: quero no que é. Agora. No
que está sendo
Victória

Q uero apenas que tudo se resolva em um passe de mágica. Sabendo que vou poder dormir até
mais tarde amanhã, é o que me ajuda um pouco nesse momento. Mas quem disse que a
preguiça vai embora?
Como foi que Diana conseguiu me convencer de fazer trezentos brigadeiros para a sua festa
de hoje? Minha sobrinha nem precisou de muito, apenas pediu e eu concordei.
Não poderia dizer não a ela quando minha pequena está tão eufórica com a sua festa. Ela
nem mesmo conseguiu dormir essa madrugada pensando nas coisas que tínhamos que fazer.
Victor a trancou no quarto com dois DVDs para ela assistir. Depois da meia noite, a hora em
que eu e meus irmãos terminamos de fazer as lembrancinhas e arrumar os bolos, ela ainda estava
acordada assistindo Stuart Little pela segunda vez.
E às sete da manhã ela já estava acordada novamente. A única coisa que realmente
desandou, foram meus brigadeiros. A massa não endureceu como eu queria e estou quase
chorando por isso.
Estou quase comendo todo esse chocolate.
— Nem pense nisso, Vick. — Meu irmão me repreende enquanto sai com a uma bomba de ar
que conseguiu para encher os balões da festa. — Não quero que minha irmã mais nova tenha
diabetes. Comece a enrolar esses doces, mulher.
Meu irmão não percebe que estou um desastre emocional. Estou com meu corpo todo dolorido,
minha menstruação veio cedo demais esse mês e não tem nem duas semanas que ela havia
terminado.
É tão exaustivo.
Quero apenas me jogar na cama e dormir, mas eu prometi que iria fazer os doces para a
minha sobrinha, então, irei fazer.
Coloco um vídeo aula enquanto eu começo a enrolar os doces. Quem sabe assim o tempo
passa mais rápido. Nessa e Victor estão com a Diana na pequena quadra da creche local onde
conseguimos uma data para a festa. A diretora foi muito gentil conseguindo a autorização para a
festa.
A separação de dois ossos, que costumam estar íntimo e contínuo contato por meio de uma
área lisa e deslizante, chama de cartilagem...
Apenas por ouvir isso, lembro-me da primeira sessão que tive com o Arthur essa semana.
Decidimos deixar os nervos de suas coxas relaxarem para podermos começar os exercícios.
E antes de tudo, conversei muito com ele. Eu sabia o que deveria fazer com que ele. Afinal,
estava indo de uma conhecida para a profissional que é responsável pela a sua recuperação. Eu
sei que ele é um adolescente adorável que está mais do que disposto a se recuperar e facilitar o
seu tratamento.
E foi bem divertido a nossa conversa. Descobri que Arthur não é apenas um menino de quinze
anos que adora futebol e ser mimado pelos seus irmãos e seu pai. Ele é um garoto muito inteligente
para a idade dele. Um garoto gentil e cheio de alegria
E sei, mais do que nunca, porque Samuel é tão protetor com ele.
O menino tem um coração de ouro.
E aprendo muito com ele, sempre que estamos juntos. E não é apenas sobre ele que consigo
informação. Mas do seu irmão do meio também.
É um segredo meu.
— Eu sabia que você iria conseguir dobrar o meu irmão. — Arthur diz da maca em que ele
está deitado esperando que eu faça os procedimentos manuais nele. — Sam precisava apenas de
alguém que jogasse a verdade para ele, e sabia que seria você, Pirulito.
Rindo, eu coloco o gel na maca e dobro a sua perna esquerda.
— Então eu sou seu plano B. Diga-me se for demais, nós não podemos passar dos limites. —
Pego sua perna e começo a passar o gel.
— Eu nem tinha um plano, Vick. Mas eu te conhecia antes mesmo de saber que iria trabalhar
aqui. Sabia que você o faria ter um pouco de noção da realidade em que ele vive. Sério, eu amo
meu irmão, mas ele é um pé no saco na maior parte do tempo.
Arthur estremece quando aperto com um pouco mais de força a parte interna de sua coxa.
— Não tencione! — o repreendo.
— Se você não me machucasse, eu não precisaria fazer isso. — ele reclama, deitando mais
uma vez na maca. — Eu nem sei por que pensei que isso seria divertido.
Estico e dobro sua perna, repetidas vezes.
— Porque vai passar mais tempo comigo? Vamos planejar meios de você conseguir comer mais
doces e ainda posso te ajudar a ter seus irmãos a sua disposição sempre que você quiser.
Seus lindos olhos azuis brilham e percebo quando sua mente começa a trabalhar, mas logo
uma careta aparece em seu lindo rosto.
— Eu preciso que você relaxe, querido. Lembre-se de respirar. Ficando nervoso não vai nos
ajudar.
Ele respira fundo algumas vezes.
— Conte-me sobre alguma coisa que você gosta ou me fale sobre alguma lembrança, isso vai
ajudar a tirar o foco da dor na sua coxa. — Começo a massagear com mais força.
— Pensei que deveríamos focar nela!
Rio de seu comentário esperto.
— Isso quando o paciente ajuda. — Dou a ele um olhar de repreensão mais uma vez. —
Quando ele não reclama a cada esticada de perna e quando faz as compressas quando lhe é
mandado.
Arthur cora e olha para o outro lado. Sua cara de culpa me diz que estou certa.
— Como descobriu?
Dou a ele um olhar de sério mesmo?
— Seus músculos não estariam ainda avermelhados e nem tão sensíveis como agora — passo
mais um pouco de gel. — E, além disso, o Samuel me disse que você se trancou no quarto antes
que ele pudesse te obrigar a colocar a bolsa de compressa sobre você.
Ele revira os olhos.
— Não sabia que o meu irmão era um fofoqueiro. — Ele suspira e me encara com cara de
cachorro abandonado. — Desculpe, mas estava cansado demais e acabei me esquecendo. Além
do mais, Samuel estava me enchendo a paciência sobre os remédios. Como eu disse, ele é um pé
no saco e ontem estava praticamente insuportável. Não consegui nem dar boa noite para ele de
tão irritado que eu estava.
Olho para ele querendo entender o que seu irmão fez para deixá-lo tão irritado assim.
— Ele me trata como se ainda tivesse cinco anos. — Arthur responde a minha pergunta como
se estivesse ouvido a minha mente. — Eu gosto que ele cuide de mim, Vick, não sou um ingrato, mas
cansa sabe? Estou crescendo e deveria ser um pouco mais independente do que isso. Acho que ele
sempre vai ser o meu irmão mais velho que pensa que deve me proteger de tudo.
— É isso que os irmãos mais velhos fazem, Arthur. — Tento trazer um pouco de calma para
ele. — Olhe para mim. Eu sou bem mais velha que você. E Victor e Nessa ainda me tratam como se
tivesse dez anos. Victor ainda me deixa no ponto de ônibus como se estivesse me levando para a
escola.
Ele me dá um aceno de cabeça e fica calado. Aceito o seu pedido silencioso e começo a
trabalhar em sua coxa.
Depois de dois dias trabalhando com ele, percebi a melhora que tivemos. Arthur não faz
nenhuma careta quando se levanta e isso me deixa bastante orgulhosa.
Uma batida no portão de casa me assusta. Não sei quem pode ser a essa hora. E seja quem
for, estarei mandando embora. Mas meus planos vão por água abaixo quando me deparo com os
três homens que fazem parte da minha vida agora.
— Ei! — O que eles estão fazendo aqui?
O Arthur está sorrindo assim como o Simon. Já meu supervisor está com o rosto vermelho, a
ponto de explodir. Ele está me encarando como se estivesse nua ou algo do tipo.
— Sexy Machine? — é Simon quem pergunta. — Nunca imaginei que você usaria baby doll
dessa marca, Vick.
Porcaria!
Não adianta mais correr. Eles já viram o que tinham que ver. Mas isso não me impede de corar
da cabeça aos pés.
— É confortável. Entrem, eu vou colocar alguma coisa por cima disso. — Dou passagem para
eles enquanto pego a primeira blusa que vejo, que é a do meu irmão e visto.
Arthur já está com os olhos grudados na massa de brigadeiro.
Dia de sábado é o dia da preguiça. Tomei meu banho e coloquei uma roupa confortável, que
sempre é meu baby doll.
— Desculpe por isso. Vocês me pegaram totalmente desprevenida.
Simon apenas sorri junto com seus irmãos.
— Porque estão aqui?
— Prometemos ajudar com a decoração, lembra? — Arthur responde olhando para os
brigadeiros. — Eles podem ir para lá, eu acho que vou ficar aqui. Não posso fazer muito esforço.
Minha coxa ainda dói.
Os dois irmãos mais velhos reviram os olhos. Samuel empurra o Arthur para a cadeira e
caminha na minha direção. Ele beija minha bochecha.
Sinto o seu cheio forte. Agora eu sei que é o seu hidratante pós-barba. É muito delicioso e
marcante. Seus lábios são quentes, comparado a minha pele. Samuel se afasta e me dá um sorriso.
Minhas pernas ficam bambas quando ele está próximo. É uma reação idiota. Mas fazer o que? Eu
gosto muito dela.
— Você está bem? — pergunto baixo, querendo que apenas ele ouça.
Após tantas semanas sem uma única crise, ontem Samuel teve uma crise chata de enxaqueca.
Depois de tanto insistir, eu consegui que ele ficasse sozinho em uma das salas. Peguei todos os seus
pacientes e cuidei deles, enquanto ele descansava. Depois disso, não o vi mais, já que ele foi
embora cedo.
— Melhor — ele está um pouco desconfortável. — Obrigado.
— Não por isso. — Dou a ele um aperto de mão suave.
Mais uma vez me sinto estremecer com o seu mais simples toque.
— Eu acho que daríamos conta nós mesmos. Mas obrigada por vir, a Didi vai ficar louca
quando souber que vocês estão aqui. — Arrumo o meu cabelo mais uma vez e volto para os
brigadeiros. — Já eram para estar prontos, mas a o chocolate não me ajudou.
— Estamos indo para a escola. Você vai ficar bem sozinha? — Samuel me pergunta quando
fica atrás de mim. Sinto o seu corpo quase junto a mim e estamos um pouco distante um do outro. É
estranho tudo isso. Como se os nossos corpos fossem imãs e fossem puxados um para o outro.
Não consigo me controlar mesmo.
— Eu quero ficar! — Arthur reclama, mas já está seguindo Simon, mantendo os olhos no
chocolate.
— Eu encontro vocês depois. — Samuel diz ainda atrás de mim.
Depois que os dois saem, eu me sinto... Pronta para fazer uma loucura. Eu não posso pensar
nessas coisas com o meu chefe. Mas é só no que eu consigo pensar.
— Você não parece ser um cara que sabe enrolar brigadeiro — digo tentando descontrair o
ambiente, mas falhando completamente. — Quer provar?
Viro-me para dar a ele um pouco que está na colher. Minha mão para no lugar, quando vejo
que ele está me encarando de uma forma muito diferente do que o habitual.
Há uma intensidade em seu olhar quem me faz dar um passo para trás. Seus olhos negros
estão em chamas. E desde quando eu consigo ver essas coisas?
Desde quando esse homem enorme entrou na minha vida. Sinto coisas que não deveria, mas
que são tão boas que quero sentir cada vez mais. Apenas não acho justo que seja com uma
pessoa que é inalcançável para mim.
— Está sujo bem aqui.
Meu supervisor limpa o canto direito da minha boca, mas seus olhos nunca deixam os meus.
Sua mão se abre sobre o meu rosto, sem hesitar e raciocinar direito, me permite sentir o seu toque.
A manhã que pensei que seria angustiante toma agora, um caminho diferente do que eu poderia
imaginar.
Samuel respira fundo e me beija.
Suas duas mãos seguram minha cabeça no lugar. Por mais que seus lábios sejam suaves, seu
beijo é áspero e cheio de fome. Sem querer, eu arranho meus dentes em seus lábios e ele rosna
forte, o som vibrando por todo o seu corpo. Samuel agarra mais minha cabeça fazendo com que o
meu cabelo se solte.
Minhas pernas começam a perder a força e então, me agarro a ele. Tão próximo quanto
possível. Suas grandes mãos descem até a minha cintura. Ele está tão inclinado para me beijar.
Sua língua invade a minha boca sem nenhum pudor. É tão excitante e obsceno que só posso
me deixar levar pelas sensações loucas que meu corpo está sentindo. Sua boca desce para o meu
pescoço. Sua respiração quente e forte me deixa mais insana. Meu corpo está tremendo. A boca
da minha barriga está começando a ficar cada vez mais pesada.
Seu aperto fica mais forte. Seu beijo mais exigente. Samuel está me comendo apenas em um
beijo. Ele está me provando.
Ele está bagunçando tudo dentro de mim. Tudo em mim se derrete.
— Sam... — O meu gemido parece quebrar todo o clima.
Samuel pisca duas vezes antes de se afastar. Seus olhos agora estão envergonhados e cheios
de arrependimento.
Por favor, não estrague isso.
— Vick... — ele se afasta mais. — Me desculpe, eu... Não deveria ter feito isso.
Ele esfrega o seu rosto.
Isso dói. Eu pensei que ele queria isso. Que estávamos bem sobre isso. Mas mais uma vez ele
tem que estragar tudo.
— Vick...
— Está tudo bem — digo engolindo o choro. — Eu, hum... — O que eu devo dizer? — Não
devia... Eu tenho que terminar os doces.
Eu me viro para que ele não veja chorar. Arrumo os meus cabelos. Mas ainda sinto a sensação
de suas mãos sobre mim.
— Docinho...
— Está tudo bem — Não está não. — Acho melhor você ir encontrar os seus irmãos. Eles
podem precisar de você.
Samuel tenta se aproximar de mim, mas me encolho quando o sinto próximo.
— Me desculpe, eu não deveria ter feito isso — diz antes de ir embora. — Não podemos...
Eu me sento na cadeira e choro. E nem consigo identificar o verdadeiro motivo por trás do
choro.
Primeiro, eu choro pelos doces que já deveriam estar prontos. Segundo, choro por estar
cansada demais por uma longa semana. Terceiro, por não ter conseguido uma boa nota na prova
de biologia celular. E o mais importante, por ter sido um erro do cara por quem estou começando a
criar um carinho enorme.
Nem deveria, mas quem disse que isso é controlável?
E depois desse beijo, eu sei que vou sair machucada do que quer que isso seja. Já estou, e ele
não fez mais do que me pedir desculpas. Eu queria esse beijo. Estive desejando isso há um bom
tempo. Mas se eu soubesse do seu arrependimento, eu teria evitado.
O que machuca é a sua vergonha. Porém, o mais doloroso mesmo, é a posição na qual eu fui
colocada. O que vai ser depois disso? Não quero nem pensar nele me vendo de outra maneira.
Mas eu sei que Samuel não é assim. Ele é uma boa pessoa. Provavelmente deve estar
pensando que tirou proveito de mim. Mas sei que ele não fez, e devo falar isso para ele.
Estou sonhando além do meu limite. Mas essa é a vantagem do sonho, não é? Não ter limites.
O problema é quando uma parte desse sonho se torna real, você quer que tudo seja como em
suas divagações, mas nada sai igual. Quantas vezes eu sonhei sendo beijada desse jeito? Quantas
vezes eu queria que meu chefe, meu supervisor me beijasse assim, a ponto de perder o raciocínio?
Apenas uma fantasia, Vick. Ele tem problemas demais para lidar com você. Não é à toa que
ele pediu desculpas. Ele não pode ter nada comigo.
Mas isso foi bom, já que nesse momento de choro, terminei de fazer os doces. Arrumando as
coisas na cozinha vejo que está tudo certo aqui.
Não serei de muita serventia na quadra da escola, então decido fazer um almoço para eles,
que estão trabalhando.
É o melhor a fazer.

Só para constar, foi a cebola que me fez ficar chorosa, mas todos gostaram do macarrão com
carne moída que fiz rapidinho. Não fui para cozinha. Fingi estar com cólica e meu irmão, como
sempre, fugiu com o rabo entre as pernas para não ter que lidar com meu humor louco. Eu não
estou de TPM, mas queria. É melhor a desculpa no momento.
— Você está linda, irmã — Victor diz quando chega à cozinha.
Ficamos para trás para fechar a casa.
Estou terminando de preencher a vasilha de comida dos gatos quando ele aparece. Meu
irmão está com uma calça jeans e blusa branca com uma jaqueta de couro.
— Você só está dizendo isso porque estou de TPM — resmungo enquanto bebo um pouco de
água. — Está pronto?
— Estou. Mas estou dizendo isso porque é a verdade. Você está linda.
Acho que o meu vestido salmão é apropriado para uma festa de criança.
Não demorou muito para chegarmos na festa. E pelo sorriso que vejo de minha sobrinha, sei
que está amando tudo isso. Assim que nos vê, ela corre em nossa direção e nos abraça.
— Está tudo lindo, titio. Os balões estão tãaaaao coloridos — ela fala para o meu irmão, que
ganha um beijo. — Os brigadeiros estão uma delícia, titia. Deveria ter deixando alguns em casa
pra gente comer amanhã — diz abraçando a minha perna.
Depois que ela nos deu atenção, todo o resto foi esquecido. Nessa estava sempre servindo as
crianças e os pais e eu não fiquei parada. Principalmente quando os três irmãos chegaram. Sei
que meu irmão percebeu que algo está errado. Ele estava sempre ao meu lado, perguntando se
estou bem e tirando de minhas mãos algo que era pesado demais para mim.
Cantamos parabéns e distribuímos as lembranças, mas isso não diminuiu o ritmo da festa. A
música volta com tudo e eu posso respirar um pouco. Deixo meus irmãos na mesa que eles estão
dividindo com os três meninos Hamilton. Tenho evitado essa mesa.
Mas eu posso sentir o olhar de Samuel em mim. Em nenhum momento eu o olhei. Uma luta
insuportavelmente dolorosa.
Faço xixi e depois de ter as mãos limpas, vou em direção onde as crianças estão. Mas assim
que saio do banheiro me deparo com a pessoa que tenho evitado a noite toda.
— Vai ser assim? — Ele pergunta com os braços cruzados.
Tento responder a sua pergunta, mas consigo apenas admirá-lo.
Ele está com uma blusa preta de mangas cumpridas e dois primeiros botões de sua blusa
estão abertos. Seu cabelo está bagunçado e seus olhos cheios de emoções.
— Não sei do que você está falando.
Samuel se aproxima, mas não me toca. Sinto a intensidade emanando do seu corpo.
— Faça isso, por nós dois — diz.
Eu não entendo nada do que ele quer dizer. E só piora quando ele sussurra.
— Não podemos, por enquanto.
Capítulo 13
Quando mais você tenta esquecer alguma coisa, mais você pensa sobre ela.
Samuel

I nsano.
Proibido
Inevitável.
São três palavras que não saem dos meus pensamentos desde o momento em que eu a beijei.
E só de pensar, sinto seus lábios nos meus. A verdade é que eu não deixei de sentir. E só piorou
quando a vi naquele vestido simples, mas que a deixava tão linda, que fez meu peito doer apenas
por observá-la.
Victória poderia ter me ignorado naquela noite, mas sei que ela sentia meu olhar. E como
poderia não ter meus olhos nela? Quando a minha maior obsessão – primeira para ser exato –
estava tão perto de mim e ao mesmo tempo, tão longe? Não é nada fácil.
Não é certo, nem mesmo possível o que eu quero fazer com ela. Chega a ser... Totalmente sujo.
Cada pensamento, cada vontade, cada plano que desenvolvo na minha cabeça, está me
deixando obsceno. Victória é jovem e inocente demais para o que imagino em fazer com ela. Ela
precisa mais do que...
Se com um beijo, ela libertou um desejo louco e irrefreável. Não sei como será quando estiver
fazendo tudo o que quero com aquela menina linda.
É perturbador. Não posso e nem preciso pensar nessas coisas.
Sem contar o seu olhar cheio de dor quando disse a ela que não podíamos. Para começar,
não deveria ter sido tão fraco e ter me deixado ir pelos instintos primitivos que estavam sobre meu
raciocínio. Ela é minha estagiária pelo amor de Deus!
É errado.
Da parte dela também!
— Nossa, Samuel! Colocando a culpa na garota. Meus parabéns. Você está caindo com toda
a velocidade!
Penso alto. Porém, é a verdade. Por mais tímida que tenha sido a Victória não escondeu o seu
interesse em mim. O jeito como as suas pequenas mãos agarraram os meus braços. A forma como o
seu pequeno corpo se inclinou junto ao meu.
Foi o momento mais doloroso em tempos que tive. Ter que me afastar dela, doeu muito mais em
mim do que nela. Tenho certeza.
Seu gosto doce, seu cheiro delicioso... A forma como sua respiração ficou superficial quando a
tomei pra mim. E o que foi um ponto de partida e iluminação.
Quando ela disse meu nome.
Aquele momento foi minha ruína.
Sabia que não poderia fazer isso com ela. Conosco. É errado.
Não é errado querê-la. Mas deixar que isso aconteça. Sei que é isso que ela pensa. Que me
arrependo de ter beijando-a. Que esse foi o meu erro.
Não, jamais pensaria dessa forma.
Não sou tão babaca quanto meu irmão.
Passei tempo demais evitando coisas em minha vida. E agora, que existe alguém em minha
vida e não posso deixar isso passar.
Por mais assustador que tudo isso seja.
E agora, mais do que tudo, estou terrivelmente assustado com tudo o que sinto em relação à
Victória. Nunca me senti tão sem chão como nesse momento.
E tudo piora quando não a tenho do meu lado, como agora.
Sei que ela está com vergonha do que aconteceu. Eu estou por nós dois. Não queria afetá-la
como fiz, mas foi um efeito não calculado. É tudo novo para mim. Essa coisa de atração e desejo.
Nenhuma mulher me fez sentir isso.
E logo ela, a menina que é mais louca do que qualquer pessoa que eu já conheci. Talvez seja
por isso, por esse jeito que ela tem de chamar a minha atenção. E a Docinho nem mesmo tenta.
Talvez nem perceba esse seu jeito único de ser fascinante onde quer que ela chegue.
O seu jeito elétrico de animar o ambiente. Suas falas rápidas e cheias de manias que tenho
que prestar muita atenção para não deixar passar nada. A forma que ela se entrega para o
paciente da vez.
E é claro, a forma que ela luta diariamente para conquistar o seu lugar no mundo. Não sei
como é isso, já que a maioria das coisas foi entregue de bandeja para mim. Meu único trabalho foi
fazer meu nome, bem distante de meu pai e irmão. Mesmo trabalhando em áreas bastante
diferentes.
Já a Vick sabe o que é trabalhar para ter um pouco de reconhecimento. Agora eu sei mais da
história dela. E se tem alguém que merece todo o reconhecimento do mundo, é ela. Depois de tudo
o que ela, junto com seus irmãos passou, já era hora de todos eles conseguirem um pouco de vitória
nesse mundo injusto.
Não sei o que há de tão bom nela que me faz querer sorrir sempre que ela está ao meu lado.
Que faz eu me sentir tão vivo e bem. Estive tanto tempo oco, que eu não me lembrava mais de
todas essas emoções.
Talvez seja apenas o meu eu retraído que está se libertando depois de tanto tempo. Talvez
seja ela que tire isso de mim. O meu adolescente confinado tenha encontrado nela, uma professora
que sabe aproveitar as coisas boas da vida.
Mas ainda não podemos.
E essa frase está começando a me irritar. Não quero nem pensar nas coisas que poderíamos
está fazendo.
Mas algo dentro de mim, que descobri no sábado passado, me diz que ela não vai se
importar de ver o meu lado... Descontrolado.
Não posso pensar no pior, já que eu não pretendo fazê-lo.
— Isso já está me deixando mais louco a cada segundo. Foco, Samuel. Foco.
— O senhor está falando comigo? — pergunta minha obsessão. — É segunda vez que ouço o
senhor dizer algo, mas não entendo.
Droga!
Viro-me e encaro a garota responsável pelo meu calvário. Victória está segurando duas
pastas enquanto me encara. Seu cabelo está amarrado lateralmente, com alguns fios emoldurando
seu pequeno rosto. Ela está sem o seu jaleco e isso me deixa ver que mais uma vez ela está com
apenas um top segurando seus seios fartos.
Uma das coisas que me deixa louco é saber que Docinho não gosta de usar sutiãs. Seus seios
são fartos e firmes. Mesmo sabendo que é errado observá-la no trabalho, eu faço isso sem
nenhuma culpa.
Mais uma vez a palavra ASSÉDIO explode em minha mente. E é por isso que eu preciso
esperar um pouco mais antes de fazer as coisas que nós dois queremos.
— Não, apenas pensei alto.
Victória me encara por mais alguns segundos antes me dar um hesitante sorriso e sair.
Frustrado e merecendo a sua frieza me sento na cadeira e ponho em prática o primeiro passo
do meu plano. Assim que Felipa atende o seu telefone, eu peço para ela pedir que Franklin venha
até a minha sala.

Foi uma semana infernal na qual, eu não consegui fazer nada de produtivo. Tudo bem, eu
estou sendo muito exagerado, porém, não foi do jeito que queria. Ao menos finalizei o grande
contrato que estava trabalhando há meses. Com o contrato assinado e as papeladas prontas,
iniciaremos os atendimentos na próxima semana.
E para isso, preciso estar cem por cento. Mas simplesmente não consigo.
Ainda não recebi a resposta que eu queria e isso está me comendo vivo. E preciso disso para
resolver o mal entendido que tenho com a Victória.
Quando chego onde ela está, ela foge silenciosamente. Não a culpo por isso. Deveria ter
dado a ela, muito mais do que: não podemos, ainda.
Não me admiro que ela esteja me evitando. Eu mesmo não estou nada feliz com meu
comportamento diante dela. É vergonhoso.
E é tudo o que eu prometi que não faria com nenhuma menina.
Mesmo podendo explicar mais do que essas palavras imbecis, não me acho forte o bastante.
Se sem nos falarmos está sendo doloroso para mim, assim que olhar em seus olhos a primeira coisa
que irei fazer é provar mais uma vez aquela boca gostosa que ela tem.
Não, não está sendo fácil. Mas é necessário. Sei que ela pode muito bem me mandar à merda.
E é compreensivo. Mas isso não vai me fazer desistir de tentar.
Quero fazer as coisas certas. Pela primeira vez, quero ser honesto com alguém sobre como eu
me sinto. E vou começar pela Vick.
Ela é a única pessoa que enxerga mais de mim do que as pessoas que me conhecem há anos.
E eu sei que o que der a ela, Victória vai cuidar com todo o amor que seu coração enorme possui.
Atualizo mais uma vez o meu email, e nada do que quero aparece. Faltam três horas para ir
para casa e nada da minha liberdade chegar. Uma mensagem aparece no meu celular e vejo que
é o Arthur.

Arthur: Chegamos bem. Antes da chuva. Aqui está um gelo, e é mais lindo do que antes, Sam.
Deveria ter vindo conosco. Beijos.

É, eu deveria mesmo. Mas tenho coisas mais importantes do que ir para a fazenda com meu
pai e meus dois irmãos. E ela acaba de entrar na minha sala.
— Acabei de terminar com o meu último paciente — Victória diz sem nenhuma emoção. Ela
ainda está hesitante. — Tem algo que precise de minha ajuda?
Tem, mas ainda não podemos.
Mas não posso dizer isso a ela!
— Não, está tudo certo, por agora, Vick. Se quiser ir ver com a Felipa se os demais precisam
da sua ajuda, não vou me importar — digo a encarando descaradamente.
Desculpe, eu sou um idiota por agir assim.
— Tudo bem...
Ela sai sem nem me dar à chance de falar com ela mais uma vez.
Fuja enquanto pode, Docinho. Logo nem eu e nem você vamos ter para onde correr.
Apoio meus cotovelos na mesa e cubro o meu rosto tentando me acalmar um pouco, mas nada
do que eu tente, está ajudando.
Rindo de minha própria desgraça, tento me concentrar um pouco no trabalho. E dá certo por
uma hora e meia, até que o céu desaba em água aqui na cidade.
Não sabia que a previsão do tempo seria de tempestade. Olhando para o relógio, vejo que
logo estarei indo para casa e pegando um trânsito de horas. Com essa chuva, será um milagre
chegar em casa antes das nove da noite. Arrumando todos os documentos, eu os pego e os
entrego para Felipa.
— Peça para um dos rapazes da segurança levar você para casa. Essa cidade vai estar uma
zona em poucas horas. Já terminamos tudo por aqui. Podemos enfrentar essa chuva e irmos para
casa.
— Certo doutor. Vejo o senhor na segunda! — diz ela já arrumando as coisas.
Fico mais um pouco vendo se tudo está desligado. O engenheiro elétrico disse que o gerador
está preparado para caso haja um apagão. Não quero perder nenhum aparelho.
Do estacionamento, consigo ouvir a força com que a chuva cai. Vai ser uma luta chegar em
casa. Ainda bem que papai e os meninos estão na fazenda. Seria perigoso demais estar na
estrada debaixo dessa chuva.
Assim que saio da garagem, já não consigo enxergar muita coisa. Ligo o ar condicionado do
carro e prossigo conforme o trânsito permite. Assim que passo por um ponto de ônibus, vejo que
estou de fato muito perdido e sem chance de volta.
Vick está encolhida no ponto de ônibus. Tremendo de frio e toda molhada. Porque ela está
aqui? Ela não sai até a sua irmã estar fechando a lanchonete.
— Já estou perdido mesmo!
Baixo o vidro do carro, não me importando em molhar o banco.
Consigo chegar mais perto da calçada.
— Victória! — Com o primeiro grito, ela se vira para mim. Se não fosse ruim, iria rir do seu
choque em me ver. — Entre. Agora.
Ela olha para os dois lados como se alguém fosse ajudá-la.
— Docinho, vamos lá, entre logo. Eu levo você para casa.
Sei que ela está em um impasse, mas seu bom senso sabe que será mais rápido e seguro se
vier comigo.
Não sei se seguro é apropriado. Ela corre em direção ao meu carro e consegue subir com um
pouco de dificuldade.
— Desculpe, estou molhando todo o seu carro — diz baixinho. Ela está tremendo de frio e
está encolhida no banco, enquanto tenta colocar o cinto de segurança.
— Esse é o menor dos meus problemas, Victória. — Pego a saída para a principal, indo rumo
ao centro.
Ela não para de tremer e isso está me deixando desconfortável.
— Tire a blusa — falo firme. Sei que ela vai retrucar, mas não estou com paciência.
— O quê? ― Victória me olha pasma ― Eu não vou...
— Tire. A. Blusa. Agora. — Paro o carro rapidamente e isso faz com que ela se choque
contra o banco.
Seus olhos verdes brilham em desespero, mas faz o que mando. Assim que ela fica somente
com a peça íntima, desprendo o cinto de segurança e tiro a minha blusa.
— Mas o que pensa que está fazendo?
Entrego-lhe minha blusa.
— Vista, eu não quero que fique doente. — olho para seu sutiã. Seus mamilos endurecidos faz
minha boca salivar. Engulo em seco e digo: — Aliás, bonito sutiã!
Ela abre e fecha a boca umas quatro vezes e veste a blusa. Em nenhum momento Vick olha
diretamente para mim. Ela parece tão minúscula e não passa despercebido que ela inala o meu
cheiro da blusa.
Ela vai ceder assim como eu. Não existem dúvidas sobre isso.
Progredindo a passo de tartaruga, percebo que não vamos chegar em casa logo e a Victória
ainda não parou de tremer.
— Você poderia, por favor, desligar o ar? — Quase não ouço sua pergunta. Seus dentes
estão batendo um no outro de tanto frio.
Faço isso rapidamente e pego as suas mãos nas minhas para aquecê-las de alguma forma.
Ela está com muito frio. Olho para trás e pela primeira vez fico feliz que tenha alguma jaqueta de
Arthur jogada na no banco de trás do meu carro.
— Aqui, vista. Vai ajudar a se aquecer.
Docinho murmura um obrigado quando se encolhe dentro da jaqueta do meu irmão.
— Porque está indo para casa agora? Pensei que só sairia mais tarde. — Puxo a marcha
quando consigo sair do engarrafamento. — Se eu soubesse estaria indo agora, te chamaria para
te levar em casa, Docinho.
Ela arruma seus cabelos para não molhar mais o carro.
— Não se preocupe com o carro, Docinho. — Tento tranquilizá-la quando ela respira cada
vez mais rápido. — Fique quieta para se aquecer. Preocupe-se apenas com isso.
Ela fica quieta olhando para fora do carro. Não há o que olhar muito, já que a chuva está
muito forte.
— Nessa teve que sair cedo para a reunião na escola de Didi. — Victória comenta depois de
alguns instantes. — Eu pensei que poderia enfrentar a chuva, mas como pode ver, falhei...
Aceno, concordando com ela.
— Se soubesse, teria lhe oferecido carona, mas eu não saberia se iria aceitar ou não...
— Queria que não tivesse feito...
Talvez ela tenha dito isso para me fazer entender que está magoada. Ou nem se deu conta
que disse isso em voz alta. Entendo tudo isso. De verdade, mas é uma porcaria. Ainda não tenho a
resposta que eu queria, e enquanto isso, essa linda menina acha que o que dei a ela há seis noites
foi um erro.
— Nós precisamos conversar, Vick — digo em um tom baixo. Querendo que ela entenda que
nós dois temos muito que falar.
Vick encosta a cabeça no vidro do carro e suspira baixo. Ela não diz nada e não sei o que
devo fazer. Isso tudo é muito novo para mim. Quero pensar e agir como um cara da minha idade.
Fazer tudo certo.
— Primeiro vou levar você para minha casa. — Ela começa a retrucar. — Calma, Docinho.
Estamos indo para lá porque é mais perto do que sua casa. Você está encharcada e acabou de se
recuperar de uma gripe. Não quero vê-la doente novamente. E eu sei que a câmera do prédio
capturou que você entrou em meu carro, se é isso que lhe preocupa.
Ela sacode a cabeça.
— Não é isso, eu sei que não faria nada, é só que...
Entendo o que ela quer dizer.
Durante o resto da viagem, ficamos calados até a hora que chegamos em casa. A chuva não
cessou nem por um momento. Pelo contrário, a cada segundo ganha mais força. Vick consegue
descer do carro e pega a sua mochila. Ela está quieta demais e não gosto nem um pouco disso.
— Vamos para dentro. Vou conseguir roupas secas para você.
Vick me segue para dentro. Sinto o seu desespero, mesmo sem encará-la. Respiro fundo e
paro, fazendo com que ela bata nas minhas costas.
— Desculpe. — Eu me viro para encara-la, mas ela ainda não me olha nos olhos. — Estou
deixando tudo molhado.
Pego a sua mochila e deixo em cima da pequena mesa.
— Não se preocupe com isso.
Dizendo isso eu começo a encará-la, esperando, desejando que seus olhos verdes se
concentrem em mim. Mas isso não acontece. Cansado de esperar dou um passo para frente e
seguro seu rosto em minhas mãos. Vick suspira e estremece ao meu toque, assim como acontece
comigo quando sinto sua pele em contato com a minha.
Levanto sua cabeça e vejo seus olhos fechados. Seus lábios estão apertados. Ela não quer ter
nenhum tipo de contato.
— Docinho.
— Não, Sam. Estou confusa demais para isso. Não quero conversar agora, não sei se consigo.
— Sua voz começa a falhar.
Sem perceber, eu estou bem perto dela. Victória é tão minúscula. Suas mãos caem ao lado do
seu corpo quando seguro seus ombros e a trago para perto de mim. Ela suspira pesadamente,
assim como eu.
Por uma razão inexplicável, meu corpo relaxa, minha cabeça para de ferver e nesse momento
eu sei que estou perdido.
Eu a abraço apertado contra meu corpo e sinto que ela relaxa junto a mim. Foi uma semana
estranha para nós dois. Em pouco tempo nós nos acostumamos um com outro. Ficamos mais próximos
e por um descuido meu, ficamos com um clima estranho entre nós.
Senti falta dela. Senti muito a falta dela. Senti falta demais. Dos seus sorrisos sem motivos, de
suas brincadeiras, e de sua presença.
— Venha. Vou pegar alguma coisa do Arthur para você vestir. — Eu me afasto e meu coração
pula em meu peito quando Victória olha diretamente nos meus olhos. É como uma tapa no rosto a
sensação de ver seus olhos novamente.
Victória me encara por alguns segundos e então se afasta de mim.
— Vou deixar você molhado.
Aceito essa sua desculpa, sabendo que ela precisa de um pouco de espaço.
— O único quarto do lado esquerdo é do Arthur. Vamos subir e procurar algo para mudar de
roupa. — Dou um passo para o lado, deixando-a passar. — Vá, Docinho. Precisamos conversar
sobre muitas coisas nesse momento, mas primeiro você tem que colocar roupas secas.
Ela me segue até o segundo andar. E para completar a desgraça, meu irmão trancou sua
porta.
— Eu vou matar aquele garoto! — Minha voz sai frustrada. Eu me viro para ela com a maior
cara de culpado. — O Arthur e o papai foram para fazenda. Papai sempre tranca seu quarto e
aparentemente, meu irmão começou a fazer isso também.
Esfrego o meu rosto já exausto com tudo isso e ainda nem conversei com ela. Por que tudo isso
é tão exaustivo?
— Tinha o quarto de Simon, mas fizemos uma sala de estudo para o Arthur. O único que resta
é o meu.
De repente, Victória ri. Baixinho, mas é um sorriso verdadeiro.
— Desculpe a comparação, mas isso está parecendo um capítulo de novela mexicana.
Eu não aguento e acabo rindo também. Eu a levo para o meu quarto, onde ela parece se
sentir intimidada pelo tamanho.
— O banheiro é naquela porta, vou separar algo para você vestir. — abro a porta do
banheiro para ela. — Vou deixar a roupa em cima da cama, fique à vontade.
Ela me encara confusa e sei que escolhi palavras erradas para isso.
— Vou estar lá embaixo.
Ela entra lentamente no banheiro. Rapidamente pego uma blusa de moletom para ela. Minha
calça não vai servir nela de jeito nenhum. Pego um short da época em que jogava basquete e
deixo junto com a camisa.
Espero que sirva nela. Seria mais fácil se tivesse algo de Arthur para ela vestir. Caberia
melhor.
Assim que ouço o barulho do chuveiro sei que ela está nua no meu banheiro. A vontade insana
de ir até lá é tremenda. O desejo faz meu corpo tremer todo. Meu sangue está praticamente
fervendo em minha veia.
— Ainda, não! Falta pouco.
Pego a primeira bermuda que vejo e vou para o banheiro do corredor.
Fico por alguns minutos apenas debaixo da água quente.
Mas sempre que fecho os olhos, imagino o seu pequeno corpo no box do meu banheiro. Sua
pele pálida aquecida pela água quente. Seus cabelos grudados em seu corpo. Suas pequenas
mãos esfregando o seu corpo...
Fecho o chuveiro e me visto. Assim que saio do banheiro noto que ela ainda está no meu
quarto. Deixo que ela se arrume sem pressa. Chego à sala e pela enorme janela vejo que a chuva
ainda cai fortemente lá fora. A memória não deixa de vir quando vejo a chuva. Mamãe costumava
deixar tanto eu quanto Simon brincarmos na chuva. Sempre havia roupas estragadas depois disso,
mas ela nunca se importou. Ao contrário, gostava quando fazíamos a festa. Sempre gritava para
brincarmos de guerra de lama. Simon sempre me deixava ganhar.
Eu sinto falta desses momentos.
— Sinto sua falta, mamãe.
Um relâmpago cai bem na rua de trás do condomínio. Espero que não falte energia. Pego o
telefone e ligo para Vanessa. Com certeza ela deve estar preocupada com sua irmã.
Ela não demora muito para atender, mas vai ser difícil de ouvir já que a chuva está bem forte.
— Sim?
— Vanessa, é o Samuel. A Victória está comigo aqui em casa. A chuva está forte demais para
se aventurar a levá-la para o outro lado da cidade — digo e espero que ela tenha conseguido
me ouvir.
— Graças a Deus, estava com tanto medo. Obrigada, Sam. Pensei que minha irmã estava
sozinha nesse fim de mundo.
— Não se preocupe. Assim que essa tempestade diminuir, eu a levo para casa — a
tranquilizo.
— Ah, Sam, eu não acho que vai diminuir agora. Mas se ela não puder...
— Assim você me irrita, Vanessa. Eu não vou jogar sua irmã pra fora no meio dessa
tempestade.
Ela suspira.
— Desculpe, é que a Vick nunca dormiu fora de casa e vocês estão longe. Desculpe, estou
sendo apenas uma irmã preocupada.
— Eu entendo bem isso. Assim que ela descer eu peço a ela ligar para você. Cuidado, certo?
Essa chuva está um pouco assustadora.
Nós nos despedimos e assim que desligo a chamada, a luz acaba. Bem, as coisas podem
piorar. Pego meu celular na bolsa e subo para o meu quarto.
— Sam? — Vick pergunta do outro lado da porta.
— Sou eu, Docinho. Ainda somos apenas nós dois em casa e acho que ninguém mais vai
chegar.
Ela solta uma risadinha e parece que ela está voltando ao seu humor normal.
— Posso entrar? Está vestida?
— Sim.
Acho que a resposta vale para as duas perguntas.
Ilumino o quarto com o meu celular, vou até a minha cômoda e pego uma pequena lanterna
que tenho por precaução.
— Aqui, fique com ela. Eu fico com meu celular. — Ela foca para baixo e isso funciona.
— Sei que luz lhe causa dor de cabeça. — Vick olha para o lado. — Será que vai demorar
muito para voltar?
Estendo a mão para que ela pegue e Vick faz sem hesitar. Levo-a para a janela do meu
quarto. Ficamos os dois parados olhando para chuva. Vick ainda segura a minha mão. É um toque
simples, mas que me diz muita coisa.
— Eu... — meu celular toca e vejo o nome de Franklin. — Oi.
Ouço o barulho da chuva do outro lado da linha.
— Você viu o seu email? Acabei de receber o email da faculdade. Sou oficialmente o
supervisor de Vick. Acho que você já pode se entregar ao amor, Romeu.
Olho para Vick, conseguindo ver um pouco de curiosidade em seu rosto.
Isso era tudo o que precisava ouvir.
— Obrigado, cara!
Desligo o celular sem esperar a sua resposta. Vick continua olhando para mim. Adrenalina
corre por todo o meu corpo.
— Aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu. — Olho para ela. — Não precisamos mais esperar.
Ela olha para mim e me dá um sorriso tímido.
— Ótimo. Mas eu quero que me explique tudo isso direitinho.
Legal, ela quer conversar!
Capítulo 14
Eu sei que é você! Meu coração não para de dizer isso. E ele grita cada vez
que você sorri para mim.
Victória

E stá escuro, mas a pequena luz que sai do celular, assim como a da lanterna em minha mão, é
claridade o suficiente para que possa ver seu rosto. É uma mistura de descrença, alívio,
necessidade e algo que eu não consigo descobrir.
— Você quer mesmo conversar?
— Bem, você disse que tínhamos muito que falar, então, eu estou esperando.
Não deveria estar falando isso com um homem usando toda a sua força para fazer as coisas
certas. Mas é a parte forte dentro de mim, falando que eu devo sim, torturá-lo como ele fez
comigo.
Se não fosse pelo Franklin, ainda estaria chorando. Depois que o meu novo amigo que
confidenciou o que eles estavam aprontando, entendi o que ele estava tentando fazer, mas quero
ouvir a explicação da boca dele.
— Primeiro, eu quero pedir desculpas a você pela forma que me comportei na festa da sua
sobrinha. Prometo que vou fazer de tudo para nunca mais te deixar desconfortável com as minhas
atitudes. — Ele se aproxima de mim e segura minha mão na sua. — Fui um babaca indo embora
daquele jeito, mas se ficasse com você, estaria perdendo tudo. — Suas mãos vão para o meu rosto,
onde ele me afaga suavemente. — Nunca me perdoaria se meus atos prejudicassem você, Docinho.
Eu entendo isso agora.
— Doeu, Sam. Muito. E quando você foi embora, pensei tanta coisa que nem consigo tirar da
minha cabeça.
Ele respira fundo e se aproxima cada vez mais de mim.
— E quando você me disse que não podíamos, fiquei muito confusa e machucada, mas depois,
eu entendi o que você queria fazer.
E isso me deixou mais louca por ti.
— Eu não sei o que você pensa. Eu sei que você me odiava logo que me conheceu. Bem, eu
sentia o mesmo, mas não na mesma proporção. Então você abriu uma brecha e eu entrei. Você fez
com que eu me encantasse por você, me deixou te ver do jeito que ninguém mais consegue e
quando penso que não é unilateral, você age como se eu tivesse algum tipo de doença contagiosa.
Consigo ver que ele sorri levemente. Ele guarda seu celular antes de me puxar para os seus
braços. Samuel se inclina para encostar a sua testa na minha. Suas mãos seguram as minhas junto
ao meu peito. Sem querer, eu deixo a sua lanterna cair junto aos meus pés. Esse é o contato mais
íntimo que tivemos nessa semana. Não que tivemos tido antes daquele beijo.
— Precisava ter feito às coisas de maneira correta, Victória. Você é minha estagiária, ou
melhor, você era. Tem ideia de como as coisas seriam se alguém descobrisse? Eu perderia você
antes mesmo de ter conseguido alguma coisa. — Samuel suspira cada vez mais pesado. — Nunca
senti isso, Victória. Em toda minha vida, é a primeira vez que me sinto sem nenhum senso de
direção. Eu sei cada passo do dia e o que vou fazer, mas no momento em que você chegou na
minha vida, me dizendo o que acha de mim e com a facilidade única de mostrar o que sente, me
assustou. Sei que é errado pensar em você dessa maneira, mas fica mais forte a cada dia, Vick.
Por isso eu fiquei longe esses dias.
É a primeira vez que ele usa o meu nome curto.
— Você é a primeira mulher que me fez ficar insano. Tudo isso é novo para mim...
— Para mim também.
Samuel lentamente me empurra para janela. Ele se abaixa mais um pouco e então me beija.
Carinhosamente, mas um beijo cheio de paixão. A chuva lá fora em pleno esquecimento. Tudo
o que sei, é que está acontecendo o que desejei. Alguns dias mais tarde, mas o que importa é que
está acontecendo.
E de repente, ele me suspende em seus braços e me empurra mais contra o vidro frio. Sua
boca firme esmaga a minha, em um beijo desesperado. Como se ele pudesse fazer isso.
Ele pode fazer isso. Agora nós podemos.
Enfrentando o seu desespero, eu retribuo da forma mais ousada que posso. Mas não há nada
comparado a fome que ele está mostrando por mim. Seus dentes beliscam os meus lábios,
causando uma dor diferente para o meu corpo. Samuel está com as mãos por toda parte. Não
consigo ver seu rosto, mas sinto o seu coração batendo forte e sua respiração acelerada.
Sua mão está na minha cintura e à outra segurando minha cabeça no lugar. Em um momento
de ousadia, chupo seu lábio fazendo um gemido retumbar por seu peito. Sua mão que estava em
minha cintura, acaba indo para meu seio apenas coberto por sua blusa.
Samuel se afasta e com uma mão levanta um pouco o pano da camisa e coloca sua mão em
minha barriga. Sua mão quente me faz estremecer contra ele e faz com que ele me pressione mais
e mais contra o seu corpo.
— Docinho — Sua cabeça está ao lado da minha e então ele sussurra. — Eu quero fazer
muito mais do que isso, Docinho. Tenho imaginado fazer tantas maldades com esse seu pequeno
corpo, que nem sei por onde começar. — Samuel pega minhas duas pernas e me faz rodear sua
cintura. Sinto seu corpo quente contra o meu. — Sabe quantas vezes desejei isso? Você assim, toda
entregue e tão desesperada quanto eu? Aposto que você está molhada. Não está, Docinho?
Samuel beija a pele debaixo da minha orelha e então morde forte o suficiente para levar
toda a dor para parte debaixo do meu corpo. Sem poder conter, começo a me mover contra ele.
— Docinho. — Sua boca desce para o meu pescoço deixando beijos e lambidas. — Porra,
você está com o meu cheiro.
Isso deve ter sido algo bom, já que ele volta a me beijar com mais fome.
Suas duas mãos vão para os meus seios onde ele aperta e brinca com os mamilos já eriçados.
Com seu contato e beliscões, posso apenas gemer contra a sua boca.
— Sam...
Ele se afasta, xingando. Eu nunca o ouvi xingar desse jeito. E nem sabia que ele poderia dizer
essas coisas. Respirando fundo ele me coloca para baixo. Ele alcança a lanterna e coloca para
longe do seu rosto.
Samuel me beija castamente e arruma meus cabelos e a sua blusa sobre o meu corpo.
— Eu te quero, muito. Mas vamos esperar mais. Não quero que pense que não te respeito. E é
por ter respeitar que não vou dar um passo tão grande.
Eu não consigo nem respirar quanto mais raciocinar sobre o que ele está falando. Só sei que
há partes do meu corpo que estão em chamas e que precisam de atenção. Mordo o meu lábio e
isso faz com que Sam suspire mais pesadamente.
— Não faça isso. Não me tente, Victória. — Ele arruma a sua calça.
Olho para o lado, um pouco envergonhada, quando tenho um vislumbre do seu volume que o
pano não consegue esconder.
— Na cozinha tem três luzes de emergência. Podemos usá-las até a energia voltar. Vou
preparar alguma coisa para comermos.
Samuel beija minha cabeça antes de me entregar a lanterna e ir embora de seu quarto.
Quando ele está longe, escorrego contra a janela até o chão.
Diversos pensamentos passam pela minha mente. Mas a dor e o calor que estão por toda
parte não me deixam me concentrar. Não sei o que ele fez comigo, mas ainda não passou. Eu nem
sei o que aconteceu aqui direito.
O que sei, é que meu corpo está em chamas e apenas o homem lá embaixo pode me ajudar,
já que ele foi o único que causou tudo isso. Não sabia que ele poderia ser mais intenso. Que
Samuel poderia perder o controle por mim. Ainda tenho a sensação das suas mãos em meus seios,
dos seus lábios em minha boca. Do jeito que gemeu próximo a minha orelha dizendo tudo aquilo.
Ele me perguntou se estava molhada. Quero que ele mesmo descubra isso. A dor ainda é bem
latente em mim. Não sei se vai passar.
Deus, eu nem quero que passe.
Preciso de mais do que isso. Quero que ele me dê tudo. Quero as maldades que ele me
prometeu. Tudo o que ele imaginou.
— Será que ele pensou nas mesmas coisas que eu?
Pergunto para ninguém em questão.
Respira Victória. Respira.
Você está sentindo isso pela primeira vez, vai passar. Vai passar. Eu sei que vai. Mas não
passa. Não sei o que ele fez, mas eu sinto cada toque e beijo que ele me deu há alguns minutos
atrás. Não passa! Isso apenas piora. E respirar não está ajudando em nada.
Quero isso. Não me importo se ele quer esperar. Só quero que essa dor passe.
Mas também sei que ele é cabeça dura. Não vai fazer nada que possa me magoar. Eu sei. Vi
a verdade em seus olhos quando disse aquilo.
Tento me controlar da melhor forma que consigo e desço ao seu encontro. Espero que não me
comporte como uma louca. Pois é assim que me sinto.
Encontro com ele assim que chego ao final da escada.
— Já estava indo buscá-la. — Samuel estende a mão para mim e me leva para a sua
cozinha.
Mesmo escuro, consigo perceber que é enorme. Apenas duas luzes de emergência estão ao
redor, dando mais chance de andar sem esbarrar em qualquer coisa.
— Gosta de espaguete? — Samuel me ajuda a sentar na grande cadeira de frente ao
balcão. — Era a única coisa que tinha que é rápido para esquentar.
Aceno em concordância para ele enquanto ele arruma as coisas no balcão.
— Você se vira muito bem na cozinha — comento baixo.
Ele para de arrumar os copos e me encara. Engulo em seco, pois consigo olhar apenas para
os seus enormes braços. Samuel ainda não colocou uma blusa. É para me torturar, só pode.
— Quando se é o único tomando conta da casa, você aprende muito mais do que pedir
comida pelo telefone. E mesmo depois de velho, não gosto de pedir o jantar. — Samuel empurra a
tigela com a comida para perto de mim. — Gosto de fazer minha comida. Espero que goste.
— Obrigada.
O silêncio predomina enquanto estamos comendo. Mesmo com uma quantidade pequena, me
sinto satisfeita com o que comi, mas o homem ao meu lado? Ele parece não se satisfazer com
pouco. Mas é compreensivo, tem muito espaço para armazenar comida.
No meu caso, tudo vai para minha bunda e coxas. Não é nada justo.
— Não vai comer mais?
Faço que não e termino de tomar a água que ele deixou na minha frente.
Olhando agora, vejo como Samuel é diferente por estar em casa. Não por ele estar sem
blusa, por mais que a visão seja maravilhosa... Seu espírito muda. Eu o sinto mais relaxado e
normal aqui. Como se ele deixasse a capa de pura responsabilidade quando passa pela porta de
sua casa.
Ou talvez eu esteja observando-o demais. Mas sei que ele me deixa enxergar muito mais
dele. Não sei se isso vai mudar, nem sei o que fazer agora.
— Você está calada demais. Não gosto disso.
É que eu não sei o que dizer. Na verdade eu sei. O problema que é que não tenho ideia de
por onde devo começar.
— Estava uma delícia, obrigada — respiro fundo. — Obrigada por me salvar dessa
tempestade. Com certeza eu ainda estaria na metade do caminho para casa ou ainda na parada.
— Eu me viro para encara-lo.
Samuel traz sua mão até o contorno do meu rosto e acaricia levemente.
— Eu nunca deixaria você sair nessa chuva para início de conversa. — Ele se aproxima
lentamente. Seus olhos fixados em minha boca assim como os meus estão em seus olhos. — Mas
agradeço por essa chuva agora.
Samuel passa seu polegar pelo meu lábio inferior.
— Agradece? Mesmo com essa falta de energia?
Ele acena concordando.
— Por isso, e por principalmente me prender aqui com você, Docinho. — Ele se afasta e pega
os pratos para deixar na pia.
Solto a respiração que nem sabia que estava presa no meu peito. Esse homem está acabando
comigo e não fez nada demais.
A não ser ter me pressionado contra a parede.
— Vanessa deve estar preocupada.
— Eu liguei para ela. Vanessa sabe que você está comigo. — Samuel começa a lavar a louça,
mas sei que ele está se controlando para não fazer nada comigo. Não que ele precise, já que
quero tudo o que ele quer fazer. — Pela força da chuva, sei que ela não vai cessar agora,
Docinho.
— Hum...
Vejo-o se movimentar na sua cozinha e logo termina a sua tarefa.
Estou deslocada nesse momento. Não sei o que fazer. Sei o que quero, mas não como fazer
isso acontecer.
— Victória?
Sua voz está rouca e exala tensão, causando calafrios por todo o meu corpo. Não o encaro,
não posso.
— Onde isso nos deixa, Sam? Estou tão confusa.
Ouço os seus passos vindo em direção a mim e em segundos ele está ao meu lado. Samuel me
vira para ficar de frente para ele. A primeira coisa que consigo olhar é seu peito firme e duro.
Deixando as coisas dentro de mim, muito mais agitadas.
— Onde você quiser, Docinho. — Samuel esfrega o seu nariz junto ao meu — Aonde você
quiser.
Sem pensar e não querendo esperar mais, levo minhas mãos para o seu rosto, e o beijo.
Samuel ri contra os meus lábios e me beija com mais força e paixão. Suas mãos vão para minha
cintura segurando levemente. Seu gosto é de molho, e a mistura única que ele possui.
Então, o ritmo muda e ele está me prendendo contra o balcão da cozinha. Suas mãos subindo
por dentro da blusa encontrando meus seios pesados e doloridos. Samuel abre as minhas pernas e
se enfia dentro delas. Sua língua acaricia a minha antes de se afastar.
— Docinho, eu não sei se vou aguentar isso.
Mordo o meu lábio pensando que está rápido demais. Mas já estou cansada de tanto esperar.
Se vou me arrepender depois, penso nisso amanhã. Olho em seus olhos e encontro-os queimando
tão intensamente que me deixa sem fôlego.
Luxúria pura é o que vejo em seus olhos negros.
E antes que minha resposta possa sair, Samuel agarra meus cabelos com uma mão e me beija
com mais desespero e fome. Seus dedos apertam a minha cintura com mais força, conforme ele me
beija com mais ardor.
Toda a dor que meu corpo estava deixando de lado retorna com força.
Sua língua desliza para dentro da minha boca, me provando e marcando como se isso nunca
mais fosse acontecer.
A brutalidade de seu beijo me marca com tudo. Samuel se aperta mais contra mim, fazendo
sentir o volume dentro de sua calça.
— Ahh. — Um gemido me escapa quando Samuel empurra contra mim. Deus, ele está tão
duro e quente. — Sam.
Sua mão que está em minha cintura desce para minha bunda onde ele aperta com força,
irradiando choques pelo meu corpo que está queimando e estou prestes a chorar por tanta
necessidade que sinto.
— O que você quer, Docinho? — pergunta com sua boca ao pé do meu ouvido. — Me diga,
Victória, do que você precisa? — Suas mãos vão para minhas pernas descobertas parcialmente.
Só preciso que ele continue com isso.
— Está doendo... Aii. — resmungo quando ele aperta minha bunda com mais força. — Faça
parar.
Antes que eu perceba, estou em seu colo. Meus braços ao redor de seu pescoço, minhas
pernas em volta de sua cintura. Isso é o tesão descontrolado que todos dizem?
Como é que pessoas conseguem se controlar com isso?
Ainda me beijando, Samuel me leva pra cima. Mas ele me ajuda um pouco com a dor. Sua
boca beijando o meu pescoço enquanto eu só posso agarrar os seus cabelos e tentar me conter um
pouco sobre ele.
Chegando em seu quarto, Samuel me coloca na cama. A luz fraca da luz de emergência do
seu banheiro ilumina um pouco o quarto. Seu grande corpo cobre o meu. Ele paira sobre mim. Seus
olhos em chamas e cheios de promessas. Uma de suas mãos acaricia meu rosto. Um toque cheio de
ternura, em contraste de seus olhos que transmitem selvageria.
Quero tudo. Cada sentimento que ele tem.
— Você tem certeza?
Sua voz escorrendo desejo e luxúria. Ele não está escondendo que me quer. Mas sei que se
pedir para que ele pare, vai fazer.
Mas esse é o nosso grande problema.
Eu não quero que ele pare.
— Certeza absoluta.
Samuel geme e volta a me beijar. Samuel pressiona sua ereção contra a parte mais acesa do
meu corpo, me fazendo ofegar de puro prazer e dor. Tudo está misturado. Não consigo distinguir
qual é o mais presente no momento.
— Levante-se!
Apoio em meus cotovelos, porém, me ergo para ele que tire a sua blusa que uso. Assim que
estou nua, o vento frio bate no meu corpo, me fazendo estremecer. Meus mamilos estão duros e
precisando de atenção. Minha respiração está forte.
A próxima coisa que acontece e nem vi acontecendo, é a boca do Sam contra o meu seio
direito. Sua língua rodeia meu mamilo e então seus dentes. Eu me contorço na cama. Sinto o seu
sorriso em minha pele enquanto gemo.
— Uma delícia. — Volta a morder e sugar meus seios. Gemo e agarro os seus cabelos com
força. Samuel parece gosta da minha reação, já que ele vai para o outro. Mas não deixa nenhum
sem atenção. Enquanto a sua boca quente tortura um, sua mão ampara o outro. Ele faz algo
incrível. Seus dentes mordem meu mamilo esquerdo, enquanto seus dedos apertam o direito levando
uma onda de prazer para o meio de minhas pernas. Meu gemido sai abafado, mas por poucos
segundo, já que Samuel coloca muito mais força em seus toques.
— Meu Deus!
Então ele se afasta e puxa meus shorts, me deixando completamente nua para ele. Graças a
Deus a luz é fraca, não sei como reagiria se ele pudesse me enxergar por inteira.
Pegando minha perna direita, Samuel morde meu tornozelo. Seu pequeno contato faz minhas
entranhas se enrolarem dentro de minha barriga. Seus dedos vagueiam por minhas pernas e então,
Samuel me vira de barriga para baixo.
Ele rasteja para cima de mim. Seu hálito quente em minha costa nua me faz gemer cada vez
mais alto. Sam tira meus cabelos do caminho e deixa um beijo molhado em meu ombro.
— Eu sabia que você era gostosa, Docinho. — Samuel agarra meus cabelos com força e me
força a inclinar a cabeça para o lado para dar mais acesso a ele. Seus dentes beliscam minha
pele e logo depois sua língua acaricia, fazendo tudo ficar em chamas. — Só não sabia que
poderia ser mais linda do que imaginava.
Seus dedos passam por toda a extensão de minhas costas. Samuel não sai de cima de mim.
Seus toques com as pontas dos dedos são incríveis. Eles me deixam no limite da sanidade.
— Você é linda, Docinho. Tão linda, que tenho medo de te tocar! — sua voz está um sussurro,
como se ele dissesse apenas para si.
Ele me vira de volta e se instala no meio das minhas pernas. Samuel deixa um beijo em minha
boca e logo desce por todo o meu tórax. Ele beija cada parte de minha barriga e quando chega
aos meus quadris, Samuel respira com mais devagar.
— Seu cheiro é muito bom, Victória. Ainda nem te provei e já sei que é uma delícia.
Mordo meu lábio quando sinto seus dedos brincarem com uma parte que nenhum homem
chegou. Choques de prazer passam pelo meu corpo, quando seus dedos passam de cima a baixo
por minha vagina.
— Você está pronta, Docinho.
Um de seus dedos grossos se infiltra na minha intimidade. Não dói, mas é uma sensação nova.
Samuel assovia quando começa a mexer seus dedos. A fricção é uma sensação diferente.
— Me diga, Victória. Você é virgem?
Como é que ele sabe?
— Você é apertada, querida, muito mesmo. — Ele parece estar orgulhoso disso. — Me diz
que nunca ninguém te tocou como estou fazendo.
Samuel coloca mais um dedo causando uma dor mais prazerosa.
O entra e sai de seus dedos começam a me deixar mais quente. Eu me contorço na cama e
piora quando seu polegar começa a mexer no nervo que eu nem sabia que poderia me dar tanto
prazer.
— Me responda. — ele se inclina para me beijar e morde meu lábio.
— Nunca! Sam, assim. Por favor...
Ele continua seu trabalho com os dedos. Sua boca encontra meu mamilo onde ele morde com
força levando toda a dor embora.
Não sei se grito, ou se me contorço, ou apenas deixo a sensação louca e nova possuir o meu
corpo. Quero fechar as minhas pernas, mas ele não me permite. Continua mais rápido e mais
frenético. Não consigo conter os meus gemidos, quero apenas que essa sensação continue.
— Isso, Docinho. Aproveite, porque eu quero te dar muito mais.
Um grito deixa minha garganta quando o prazer me consome. Logo sua cabeça está entre as
minhas pernas. Sua língua se esgueira para dentro de mim, chupando, beijando, tudo em questões
de segundos. Sua boca suga um nervo que me faz revirar os olhos e aperta mais sua cabeça
contra minha parte necessitada.
Samuel rosna e isso vibra através do meu corpo. Um gemido fica entalado em minha garganta
quando ele chupa uma parte tão sensível que faz meu corpo ficar em frenesi.
Todo o sangue do meu corpo está queimando e não tenho nenhum controle sobre minha boca.
Cada vez mais meus suspiros saem mais altos. Seus dedos mais uma vez estão dentro de mim e sua
boca continua a chupar e lamber, intensificando todas as sensações.
E novamente, aquela sensação volta com um pouco mais de força. Não sei se é possível, mas
meu corpo o absorve com todo gosto.
— Porra, você fica muito mais linda enquanto goza. — Samuel paira sobre mim e me beija
com suavidade. Meu corpo ainda treme da incrível sensação que ele me deu. Uma mão segura a
minha e com a outra, Samuel tira os cabelos que estão em meu rosto. Mesmo com esse frio, suor
está por todo o meu corpo e não fiz nada, além de ficar parada enquanto Samuel me
presenteava com uma das melhores coisas que eu já experimentei.
Sam sopra em minha testa tentando aliviar o calor, mas não tem jeito, não passa. E com ele em
cima de mim, pressionando essa parte de seu corpo em minha coxa, apenas aumenta toda a
chama dentro do meu corpo.
Sua mão desce pelo meu corpo, e a necessidade enorme de tocá-lo é difícil de segurar.
Hesitante, levo a minhas mãos para o seu abdome, o grande homem em cima de mim estremece
com o mais simples toque. Passo meu dedo levemente pelo cós de sua bermuda, tendo um vislumbre
do seu tamanho mesmo com o pano o cobrindo.
Deus me ajude, porque isso vai doer.
Samuel puxa o ar profundamente quando começo a tirar seus shorts. Samuel me ajuda a tirá-
lo e então ele está nu. Seu corpo é todo bronzeado e duro, pelo menos essas partes que eu
consigo enxergar com a luz do banheiro. Sinto todo enrijecido em cima de mim. Delicadamente o
seguro. Duro, quente e grosso são as únicas coisas que veem a mente quando o sinto em minhas
mãos. Samuel geme cada vez mais quando o acaricio levemente.
— Docinho... — sua testa encosta a minha e então ele me beija.
Seu corpo todo treme quando continuo o meu trabalho nessa parte de seu corpo. Sinto um
pouco de sêmen saindo dele. Espalho pelo comprimento e então seus olhos se fecham e sua boca
se abre conforme continuo. Samuel se mexe em cima de mim, até que delicadamente, se afasta
para mexer no seu criado mudo.
A sua ausência me deixa um pouco machucada, mas logo ele está em cima de mim de novo.
Sam se ajoelha na cama e abre um pouco mais as minhas pernas. Um trovão cai bem próximo da
casa, trazendo a luz de volta. A luz de seu abajur é iluminação o suficiente para observar a
maravilha que ele é.
— Tem certeza? — ele pergunta mais uma vez.
Mesmo nesse momento desejo desenfreado, meu peito aperta por ter o seu respeito, deixando
toda a decisão em minhas mãos.
— Sim.
Samuel se cobre com o preservativo. Engulo em seco sabendo que está prestes a acontecer.
Assim que ele está coberto, ele se deita em cima de mim mais uma vez. Sem conseguir me conter,
levo minhas mãos para os seus ombros, sentindo toda a dureza. Arranho a sua nuca quando ele se
esfrega em mim. Mesmo com o látex sinto o quão quente ele está.
Samuel geme meu nome quando mordo seu queixo e ele não para de tremer em cima de mim.
Seus olhos encontram os meus e minha nossa, ele parece querer me comer inteira nesse momento.
Suas mãos descem até minha parte em chamas e então a palma de sua mão me esfrega
espalhando toda a minha excitação. Mexo contra ele. Então suas mãos estão ao lado de minha
cabeça.
Samuel esfrega seu nariz no meu antes de enterrar o rosto em meu pescoço. Sinto-o duro em
minha barriga, ele remexe os quadris se posicionando em minha entrada muito molhada e
precisando ser preenchida.
— Eu quero entrar em você. Eu preciso disso, mais do que minha próxima respiração, Victória.
Isso é tudo o que eu necessito nesse momento. Quero sentir você gozar, me apertando e tirando de
mim tudo o que puder. Eu tenho sentindo isso por dias. — Samuel morde meu pescoço me fazendo
gemer alto o seu nome. — Quero que te dar tudo o que eu tenho e sei, Docinho, que não vou me
saciar.
Segurando a sua cabeça, faço que ele me olhe nos olhos. Há uma chama tão intensa neles,
que me desmancho apenas por observa-la.
— Eu preciso disso tanto quanto você. — Mordo o seu queixo e ele fecha os olhos, enquanto
estremece mais uma vez em cima de mim. — Por favor.
Segurando minhas duas pernas, Samuel começa a entrar em mim.
Arfo de dor e prazer quando sinto cada milímetro de seu pau entrando em mim, me esticando
e me preenchendo maravilhosamente. Mas nem tudo é prazer. Choramingo quando algo dentro de
mim o impede de ir mais fundo. Samuel para e me distrai da dor da forma que só ele consegue.
Sua boca desce para os meus seios, onde ele chupa morde os mamilos como se fosse seu prato
favorito em todo o mundo. Quando a sensação de prazer começa e voltar, ele impulsiona com tudo.
— Droga!
Eu não consigo evitar o xingamento, quando sinto uma dor chata quando ele rompe a película
dentro de mim que não possuiu função nenhuma no meu corpo. Depois da dor, o ardor aparece,
fazendo as lágrimas caírem pelo meu rosto.
— Desculpe, querida. Dói em mim ter que machucar você.
Samuel beija todo o meu rosto. Seu corpo está imóvel em cima do meu. Mesmo em minha dor,
sinto seu corpo exalando tensão. Assim como eu, ele está se adaptando. Como se ele...
Não
É impossível.
— Isso é... Meu Deus, Docinho. — ele começa a se mover dentro de mim.
Seu pau adaptando cada investida que ele dá dentro do meu corpo. É uma sensação única,
maravilhosa. Samuel balança a cabeça querendo recuperar o controle. Eu não quero que ele se
segure.
Quero tudo.
Envolvo minhas pernas ao redor de sua cintura, o incentivando a entrar com mais força. Mas
ele para.
— Devagar Docinho — diz entredentes.
Sua mandíbula está travada e suor escorre por seu rosto. Seus olhos estão fechados. Sinto-o
pulsar dentro de mim. Quero que ele se mova como estava fazendo há minutos atrás.
— Sam, está doendo. — Seus olhos encontram os meus e eu sei que ele vai parar. — Dói
porque você não se mexe, por favor...
Choramingo quando meu corpo exige ter mais do que ele me deu.
Samuel me beija, machucando um pouco meus lábios, mas não me preocupo com isso agora,
pois suas investidas lentas e agonizantes estão acertando um ponto magnífico dentro de mim. Ele
alcança minha mão e a entrelaça com a sua.
— Victória...
A forma que ele diz meu nome me faz encará-lo.
Seus olhos negros de alguma forma conseguem brilhar para mim. Ele está lindo em cima de
mim. Então, agarrando minhas coxas, ele começa a se mexer, levemente. Seus apertos ficam mais
suaves. Sua mão vem até minha nuca segurando minha cabeça enquanto ele se move.
Indo e vindo. Ajudando a construir algo novo.
Bem diferente dos primeiros que ele me deu.
Acho que pela lentidão, pelo carinho e devoção que ele me dá.
— Com você, Docinho. — Samuel entra e sai.
Logo sua boca encontra a pele sensível do meu pescoço. Seus beijos, lambidas e sussurros ao
meu ouvido é o suficiente para me levar naquele lugar novamente.
A dor já esquecida se torna prazerosa, alucinante e toma conta do meu corpo por completo.
Beijo-o como se minha vida dependesse disso, e depende. Samuel abre mais as minhas pernas e
aumenta um pouco mais o ritmo.
Seus dedos beliscam meus mamilos e é o bastante para me fazer chegar ao limite do meu
corpo mais uma vez.
Prazer se estabelece em minhas veias.
Mordo os meus lábios para evitar o grito, mas é falho. Samuel aperta com mais força os meus
seios, fazendo com que o seu nome saia mais alto que o som da chuva lá fora. Meu corpo treme
na cama. Fecho os olhos querendo nunca sair desse mundo de sensações que ele me apresentou.
Samuel continua indo e vindo. Dizendo tanta coisa linda, que eu quero apenas beijá-lo e dizer
que isso é a coisa mais linda que eu terei na minha vida.
— Docinho... Obrigado! — diz ele antes de me beijar e se entregar ao prazer me levando
com ele mais uma vez.
Se essa não é a melhor noite da minha vida, eu não sei o quando ela vai chegar.
Capítulo 15
Quer saber? Não quero pensar no que virá. Quero pensar no agora. E no
que está sendo.
Samuel

U m suspiro baixo me tira do meu perfeito mundo dos sonhos. Não preciso abrir meus olhos
para descobrir que ela ainda está aqui. Que tudo ainda não acabou. Não que eu queria que
eu acabe, mas eu sei que nem tudo pode ser tão perfeito como ontem à noite.
Um suspiro de satisfação deixa meu corpo quando me recordo de tudo o que fizemos essa
noite, ou madrugada. Não me lembro das horas, mas me recordo de tudo.
Victória é definitivamente a mulher mais linda em que eu já coloquei meus olhos. E tenho uma
grande certeza de que isso nunca vai mudar.
Ouço sua respiração leve ao meu lado. Não tive força para colocar nenhuma roupa. E o lado
maldoso, que até ontem à noite era suprimido, não se importou com isso. Na verdade, essa parte
de mim ficou acordado por alguns minutos quando Docinho se jogou em cima de mim, totalmente
saciada.
Levemente me mexo na cama e percebo que ela está de costas para mim. Abro os meus olhos
para ser presenteado com uma maravilhosa imagem da Victória na minha cama. O lençol cobrindo
apenas seus quadris, seus cabelos espalhados pela cama, alguns fios em suas costas. Sua perna
direita em cima do travesseiro que ela abraça contra seu peito.
Não conseguindo resistir, tiro o amontoado que é os seus cabelos de sua nuca. Deixo um beijo
em seus ombros. Victória se remexe, mas não acorda. Ao contrário, ela suspira cansada e se
agarra mais ao travesseiro.
Do qual eu tenho inveja nesse momento. Queria que ela estivesse me agarrando, saber que
sua pequena e deliciosa boceta está pressionando contra minha perna ou...
— Me deixa, Nessa. Hoje é sábado! — Docinho resmunga e volta a dormir.
Mesmo que a vontade de acordá-la e aproveitar muito do seu pequeno corpo seja imensa, eu
sei que ela precisa descansar. Foram muito as coisas que fizemos nessa noite. Coisas que quero
repetir em uma dose diária.
Cobrindo-a um pouco mais saio lentamente da cama pronto para fazer alguma coisa para
comermos.
Vestindo meu short que está jogado no chão do quarto, coloco um preservativo no bolso, no
caso de conseguir algo daqui a pouco, escovo meus dentes e desço até a cozinha. Paro no meio do
caminho para pegar a bolsa de Vick e deixá-la no quarto. Docinho ainda está do mesmo jeito em
que a deixei quando sai. Em seu mais delicioso sonho. A forma que ela respira, tranquilamente, diz
que muito provavelmente, não vai despertar agora.
Volto para a cozinha e observo pela imensa janela, o mais caloroso do sol durante todas
essas semanas.
Depois da grande tempestade de ontem à noite que chegou até a metade da madrugada, o
sol é muito bem-vindo. Abro as janelas para que aqueça a casa.
Mesmo com os aquecedores, nossa casa ainda é bastante fria na maior parte do tempo. Eu
me acostumei com isso, mas Victória parece sofrer quando o assunto é frio. Mesmo que ela tenha
tomado um banho quente ontem assim que chegou aqui, não quer dizer que ela não pode ficar
gripada novamente. E não faz nem muito tempo que ela ficou doente. Ainda quero repreendê-la
por ter saído debaixo de toda aquela tempestade, tentando ir para casa.
Pensando em conversar com ela sobre isso depois, começo a fazer o nosso café. Olho para o
relógio e me assusto quando vejo que são mais de dez da manhã. Não consigo me lembrar da
última vez que acordei tão tarde. Acho que isso não acontece desde os meus onze anos.
Rindo pego o telefone e ligo para a fazenda, mas ninguém atende. O Arthur deve ter
arrastado papai para andar a cavalo. Espero que o exercício ajude Arthur com sua coxa. Se bem
que não estou tão preocupado com ele. Pela primeira vez em muito tem, o Arthur não é o primeiro
em minha mente. E a quem devo isso? Victória, é claro.
E tudo me atinge como uma bomba nuclear.
Estava tudo como ontem. Uma tremenda tempestade, sem previsão de fim, fria e vazia. Sem
chance de escapar. Sem chance de acabar.
Então, essa menina linda, cheia de graça e energia aparece do nada. Como esse esplêndido
Sol. Trazendo calor, luz e mais alegria do que um dia eu já senti na minha vida.
E ontem à noite... Eu não tenho palavras para descrever o que foi essa noite. Tudo se resume
a sua existência na minha vida. O jeito que ela se entregou pra mim, sem nenhum medo. Mesmo
quando levei as coisas com um pouco mais de selvageria, não a assustou. O pensamento de ela
estar tão envolvida quanto eu, é muito interessante. E depois de tudo o que fizemos ontem à noite,
eu tenho certeza que não vou me saciar tão cedo dela.
E nem quero.
Não é um momento de cara que teve a sua primeira vez com uma menina que também
experimentou pela primeira vez uma grande noite. Mas ali, naquela cama, enquanto entrava e saia
de dentro daquele corpo que adorei com o meu, enquanto suspirava de prazer contra sua boca,
enquanto ela gemia cada vez que nos levava para o alto de todo o prazer que conhecemos juntos,
eu sabia que fiz a escolha certa em esperar por alguém que fosse especial e que nos daria a
sensação de prazer absoluto. Não essas noites de alívio sem nenhum tipo de prazer.
E essa noite, eu consegui ambos. Sim, ambos. Depois de todos esses anos, meu corpo estava
exigindo total alivio. Mas o prazer que Vick me deu foi muito mais do que eu poderia aguentar. E
cada vez que ela gemia e me incitava e ir mais, era como se ela soubesse que precisa demais
daquilo.
E como eu ainda preciso de tudo isso e muito mais. Bastou apenas uma vez para me viciar
muito mais do que imaginei ser possível. Mas mais uma vez, Victória me deu uma aula de como
nada sai como o planejado.
Que bela forma dela acabar comigo. E não precisou de muita coisa.
Sorrindo como há muito tempo não fazia, coloco meus óculos que deixei aqui na noite passada
e começo a preparar o café da manhã. Não sei exatamente o que Victória gosta, mas das vezes
que a observei se alimentando, percebi que ela é uma boa amante de comida.
Fazendo o que sempre faço para o café da manhã, preencho a mesa com frutas e pães que
fiz questão de torrar no meu forno. Não me lembro da última vez que fiz isso, acho que nunca fiz
na verdade. Sei que Vick não é uma amante de café. Olho na geladeira e vejo que Arthur deixou
a maioria dos os sucos pela metade. Típico dele.
Arrumo tudo e quando estou prestes a ir acordar a minha convidada de honra, sou
surpreendido quando ela entra em cena. Eu não posso evitar ficar com a boca aberta e a baba
escorrendo quando a vejo em minha blusa.
Seus cabelos estão uma linda bagunça. Todo embaraçado e volumoso, caindo sobre seus
ombros, entregando que ela acabou de levantar. Seus olhos ainda vermelhos e sonolentos, mas que
não ofuscam o brilho de esmeralda que eles possuem. A minha blusa cobre até suas coxas. E sem
ter que perguntar, eu sei que ela não está vestindo nada por baixo.
O fato de ela vir até mim do jeito que acordou, só tem a me dizer que ela não liga nenhum
pouco sobre aparências.
Ela sorri timidamente enquanto eu a admiro em minha camisa. Docinho arruma seus cabelos em
uma trança. Seus movimentos fazem com que a o pano levante um pouco, fazendo ver mais de sua
pele pálida que possuem algumas marcas vermelhas. Lembranças do que fizemos essa noite e
madrugada.
— Espero que não se importe ― diz com a voz baixa e ainda grogue de sono. Caminho até
ela e enrolo meus dedos em seus cabelos vermelhos e macios.
― Eu amo essa blusa ― desprendo o primeiro botão, fazendo sua pele ficar arrepiada. Seu
corpo já conhece meu toque. E isso me faz muito, muito feliz. ― Mas ela fica melhor em você.
Victória olha para o lado e um leve rubor aparece em seu rosto. Segurando o seu queixo,
faço com que ela me encare. Não quero que ela se sinta envergonhada. Não depois de tudo o
que fizemos ontem.
Calma, Samuel. Isso não é novo apenas para você, para ela também.
— Dormiu bem? — Ela sorri e concorda com a cabeça. — Está com fome?
Seus olhos se arregalam e um enorme sorriso aparece em seu lindo rosto.
— Morrendo de fome. O cheiro de ovo com queijo me acordou. — Ela se afasta e olha para
a mesa que arrumei. — Mas só acordei mesmo porque você não estava lá.
Sem me conter, eu seguro seu rosto firmemente e a beijo devotamente. Suas pequenas mãos
agarram meus antebraços e se aproxima mais de mim. Mas preciso que ela coma.
Gemendo, eu me afasto dela.
— Vem. Os pães estão quentes e tem suco se você quiser.
Mais uma vez ela olha para mesa e dessa vez, Victória geme quando caminha até a cadeira.
Não passa despercebido que ela está dolorida. Assim que se senta, ela faz uma careta e se ajeita
de uma maneira que não a machuque.
A parte idiota dentro de mim, a qual não me orgulha nenhum pouco de tê-la ferido, se exalta
por ter feito isso a ela. Victória cora quando percebe que estou a encarando por muito mais tempo
do que deveria.
— Parece que você teve muito trabalho. Nossa, o meu estômago está chorando por tudo isso.
— Ela se serve com torradas e ovo com queijo.
Sem saber o que fazer, eu a observo comer de tudo que há na mesa.
Eu sabia que ela estava com fome, mas como sempre, penso errado sobre o que ela pode ou
não fazer. Estava esperando sua timidez, mas sou presenteado com sua aura de energia
inacabável.
— Como é que você cozinha tão bem? — ela pergunta enquanto come um pouco mais de
torrada. Meu prato ainda está vazio, pois apenas consigo admirá-la enquanto se alimenta. — Você
está sem fome?
Não respondo a sua última pergunta, para não ter que lidar com essa vontade crescente em
mim de devorá-la nessa mesa.
— Eu era o único que ajudava mamãe na cozinha. O Simon estava sempre na rua, o papai no
hospital a maior parte do dia, assim como a mamãe. — Coloco um pouco de suco para ela. — Mas
mamãe sempre fazia questão de fazer o jantar. E como sempre sentia falta dela, ajudava em tudo
o que podia. O primeiro prato que aprendi a fazer foi panqueca de carne moída. Até hoje é o
meu prato favorito.
Victória me encara por alguns segundos e então aproxima a sua cadeira da minha. Ela cruza
suas pequenas pernas na cadeira e então, me deixando totalmente sem ação, encosta sua cabeça
em meu peito. Seu braço passa por minhas costas e com a outra mão, ela entrelaça nossos dedos.
Assim que está bem próxima de mim, ela suspira audivelmente. Seu corpo todo relaxado
contra o meu. Assim como o meu fica leve junto a ela. Passando o meu braço por debaixo de suas
pernas, trago Victória para meu colo. Ela ofega surpresa quando percebe que está em cima de
mim. Docinho inclina a cabeça e me encara sorridente.
Com toda a certeza que eu possuo nesse mundo, ela é e sempre será a coisa mais linda para
mim nesse mundo. Seus olhos verdes inocentes e ao mesmo tempo sedutores conseguem enxergar
até mesmo o que eu não sei de mim. Sua alma pura e liberta. E seu corpo cheio de curvas e pronto
para ser explorado por mim. Meu coração infla dentro do meu peito, deixando tudo apertado e
difícil de respirar. Mas quando ela afaga meu rosto, tudo simplesmente é esquecido. Levemente, ela
puxa meu rosto até o seu. Beija minha boca suavemente. Seus olhos estão fechados quando ela
sussurra.
— Ontem à noite... — Victória suspira e se agarra mais em mim. — Foi muito mais do que eu
poderia imaginar, Sam. Você faz parecer tudo tão perfeito, que quando acordei, pensei que
estivesse sonhando e por alguns segundos, quis chorar por ter sido apenas um sonho meu idiota,
quando você não estava do meu lado.
Sua voz sai abafada mais cheia de sentimentos. Meu peito mais uma vez, dói, porém, por um
motivo diferente.
Não foi apenas especial para mim. Não é unilateral.
A vontade de ficar com ela mais uma vez é enorme, mas sei que ela pode sofrer por conta de
minha fome incontrolável dela.
Apoiando minha testa na sua, suspiro suavemente e a beijo também.
— Docinho, eu não tenho nenhuma palavra que chegue perto de como ontem foi especial
para mim. — Abro os meus olhos e encontro lindas esmeraldas me encarando de volta. — Em
todos esses anos, eu pensava que nunca encontraria a pessoa certa para dividir esse momento
comigo, então você aparece de surpresa. Você me assustou para caramba quando chegou assim e
eu não tenho vergonha nenhuma em dizer isso, Docinho. — Vick segura meu rosto, colocando-o em
seu pescoço. — Bem, eu tenho vergonha em dizer que meus pensamentos não foram puros quando
se tratava de você. E mais vergonhoso ainda, foi minha atitude com você. Mas Docinho, eu odeio
ter que dizer, você também não ajudou muito.
Ela ri alto e o som retumba por todo o seu corpo, fazendo-a tremer em cima de mim. É o
bastante para que ela desperte todo o desejo em meu corpo.
— Você também não. Mas tinha esse seu sorriso. — Ela inclina mais a cabeça para me olhar.
— Esse sorriso lindo que me fez perder toda a concentração que tinha no trabalho. E então, eu
queria te fazer sorrir cada vez mais para que o meu mundo tivesse mais brilho. Você não tem só o
sorriso lindo, Sam, como seu coração também. E o que você fez ontem comigo, como fez com que
me sentisse a mulher mais sortuda do mundo.
Eu não consigo evitar, e nem quero.
Ainda com ela em meu colo, coloco-a em cima do balcão. Mesmo em cima da bancada,
Victória ainda é pequena. Mas isso não poderia ser melhor, já que todo o seu corpo é abençoado
com curvas maravilhosas, que minhas mãos sofrem para apertar.
Logo minha boca está na sua. Docinho geme quando abro suas pernas com certa força,
ficando entre elas. Suas mãos destemidas veem diretamente para meu short querendo ele fora de
mim.
— Ainda está doendo?
Vick me ajuda com a camisa e fico surpreso por ela estar usando calcinha. Do cós da mesma
ela tira um preservativo. Um sorriso esperançoso aparece em seu rosto e sei que ela iria com esse
plano até o fim.
— Só quando você não está dentro de mim, Sam. — Ela o entrega para mim, e mais do que
depressa, coloco em meu pau já duro e inchado, mais do que necessitado de estar dentro dela.
— Me deixe ter um pouco de café da manhã.
Tiro a sua calcinha e assim que vejo sua pele nua, inspiro fortemente e sinto o seu cheiro único.
Eu beijo a parte interna da sua coxa, e a Vick suspira quando vou subindo até chegar no prato
principal.
Que ridículo, nunca pensei que pensaria algo assim. Docinho se apoia em seus cotovelos, me
observando.
Sopro levemente em sua carne sensível, e então ela grita quando dou a primeira lambida. Sua
carne está inchada e vermelha, muito sensível, mas não quer dizer que isso vai atrapalhar de fazê-
la gozar. Entre chupar e lamber, é o necessário para fazer com que ela se despedace em um
orgasmo.
Apenas observo-a se desmanchando a minha frente. Seu rosto vermelho, respiração rápida.
— Nada seria mais perfeito se eu entrasse em você agora, Docinho. Sentir sua pequena e
deliciosa carne me apertar como só ela consegue, mas você está dolorida demais para te comer
do jeito que eu quero. E eu tenho uma reunião mais tarde, mesmo que eu queira ficar com você
aqui, preso na cama pelo resto do fim de semana.
— Então entre, Sam. Não seja um certinho agora.
Sem demora, alcanço o preservativo no bolso da meu short e lentamente, me afundo dentro
dela. Victória se agarra mais em mim, quando entro nela parcialmente. Diferente do que eu
imaginei, ela me acolhe por completo. Como se nossos corpos fossem projetados para ser o
encaixe perfeito.
— Envolva seus braços no meu pescoço. — Minha voz sai grave por conta do tesão que meu
corpo sente nesse momento. Docinho faz o que lhe digo e com isso, sua pequena boceta se encaixa
mais em mim. Apertando cada vez que deslizo nela. — Segure-se.
Vick se aperta mais seus braços em volta de mim quando começo a me mover. Agarro sua
bunda, quando a pressiono contra o balcão.
— Essa bunda tem me tentado por dias, me tirando o sono. — Agarro-a com força. — Vou te
comer de todas as formas Docinho, e eu sei que essa bunda vai ser o meu prato favorito.
Vick apoia a cabeça no meu ombro, gemendo meu nome e então beijando todo o meu
pescoço. Ela me morde com força, desencadeando todo o desejo louco que pensei que havia
extravasado do meu corpo. Vick começa a vir contra meus impulsos, rebolando em cima de mim.
Então, eu me movo com mais intensidade, mais duro e com muito mais fome. Cada vez que
entro, ela me aperta com mais força. Essa menina está simplesmente acabando com minha cabeça.
Nós dois gememos quando entro novamente dentro dela. Sua apertada boceta me sugando e não
querendo que eu saia de dentro dela.
— Sam!
Ela me morde com mais força enquanto dou a ela o que sei que vai deixá-la zonza.
Não fico de fora. Com seu último, doloroso e delicioso aperto em mim.

Muito mais difícil de me controlar no banheiro do que na cozinha. Sim, eu estou me
comparando a um adolescente de dezesseis anos que acabou de descobrir o que é sexo.
Sim, um adolescente de vinte e cinco anos de idade, que mesmo que tenha aprendido muitas
coisas em um clube de sexo, não consegue se conter apenas com uma vez.
Foi uma luta árdua deixar que Victória se arrumasse, quando tudo o que eu queria era tê-la
me esperando aqui, quando voltasse dessa reunião. Cheguei a ligar para Felipa, pedindo que ela
cancelasse, mas Docinho disse que não e que deveria honrar com meus compromissos.
E ela ainda meu deu a desculpa de que possuiu muitos trabalhos para fazer, mas que esses
trabalhos não me incluem ensinando a ela anatomia. Nunca pensei que brincar de médico fosse
bom.
Pacientemente a coloco no banco do meu carro. Victória me observa dar a volta e continua
sorrindo quando me sento ao seu lado.
— O senhor pode me deixar na estação... — Ela para de falar e me encara com os olhos
arregalados e então se desata a rir.
Não consigo entender o porquê da sua súbita crise de risos. Fico a encarando até que ela se
acalma e percebo o porquê de sua crise. Inclino-me e beijo sua boca antes de sussurra.
— Pensei que já tínhamos deixado o senhor de lado, na minha cama, Docinho.
Ela cora e me empurra levemente.
— Não diga essas coisas, me deixa...
— Molhada? Eu gosto quando você fica assim. — Victória fica mais vermelha quando digo
isso. Tenho a necessidade enorme de esclarecer isso. — Olhe para mim.
Assim ela faz, seus olhos se conectam ao meu e então ela morde seu lábio. Acaricio seu rosto,
querendo que ela relaxe ao meu contato.
— Eu nunca vou dizer algo que a envergonhe na frente de alguém, Victória. Podemos ter
passado a um nível novo, querida, mas não vou fazer você se sentir desconfortável com alguma
atitude minha. Mesmo que eu queria fazer coisas que são desrespeitosas, não significa que não
tenho respeito e orgulho de você. Você me entende?
Ela acena concordando. Então sigo para a sua casa. Conseguimos um trânsito leve. Victória se
acomoda no banco e parece curiosa.
— Tem uma coisa que eu não gosto nisso tudo — Docinho comenta baixo.
Pego a saída para a zona leste da cidade e então a avenida para o seu bairro.
— Eu adoro ser sua estagiária, mesmo quando você é ranzinza. Não vou poder mais
trabalhar com você?
— Você ainda vai me aturar todos os dias, Docinho. Consegue viver com isso?
Ela suspira aliviada.
— O que foi isso?
Olhando de relance para ela, vejo que cruza as mãos e suspira mais uma vez.
— Pensava em coisas que não me deixavam muito feliz. Sempre soube o que queria fazer.
Quando consegui o estágio foi a coisa mais legal do mundo, e pensei que estava estragando tudo.
Eu sei. — Ela segura minha mão. — Sei que você não é daquele jeito, Sam. Eu sei agora, mais do
que todos, o quanto você é lindo — ela olha para o lado. — Mas eu pensei que estava perdendo
tudo por querer apenas uma coisa.
Agarro firmemente sua mão e podendo nesse momento, garanto isso a ela:
— Você não vai precisar perder nada, Docinho — digo querendo tanto quanto ela acreditar
nisso.
Paramos em um sinal. Um carro branco para ao nosso lado. Um garoto pede para baixar o
vidro do carro.
— Tenha cuidado, mas tem um gato embaixo do seu carro — O menino loiro diz.
— Você tem certeza? — Victória pergunta, já soltando o seu cinto de segurança.
— Sim, moça. — O rapaz diz apontando para baixo. — Se tirar o carro, ele vai se assustar e
o carro de trás pode machucá-lo.
Ela não está fazendo isso! Ela já está fora do carro, se agachando para ver debaixo do
mesmo.
— Victória. Entre no carro, agora!
Ela não ouve, apenas sai no meio da grande avenida. Vick se esgueira para debaixo do meu
carro. O sinal abre então o show de buzinas começa. O garoto também desce e a ajuda. Não
consigo fazer nada além de sair do carro e tentar fazer com que ela entre.
— Sam, acelere um pouco para que ele saia — ela pede.
Se isso fará com que ela entre na porcaria do carro, então eu faço. Então dois rapazes estão
com ela na missão. Um deles entra embaixo do carro e consegue pegar o gato sujo e fedorento.
As buzinas continuam, mas ela recebe palmas quando ela tem o gato em seus braços. Victória sorri
feliz enquanto entra rapidamente no carro. Sem nenhuma dificuldade.
— Não deixe esse bicho imundo sujar o meu carro! — digo em um tom furioso. Ela me encara
de boca aberta e então coloca o gato em suas pernas. O próximo sinal fecha e sem nem dizer
nada, Victória pega a bolsa, o animal resgatado e sai do carro.
— Eu e o animal imundo não precisamos de sua carona. — diz batendo a porta do meu
carro enquanto atravessa a faixa rebolando a sua bunda deliciosa. Ah, e muito furiosa comigo.
Eu juro que tento ficar chateado, mas não consigo. Rindo e muito frustrado, viro a esquina.
Baixo o vidro do carro e grito para que ela entre. Ela me ignora. Levo o carro para o final da
rua, então saio do carro a tempo de impedi-la de ir para o outro lado da rua. Torcendo para não
conseguir uma multa.
— Vick!
— Não, você não pode ofender esse pequeno e pensar que eu vou deixar. Agora, se me der
licença.
Esfrego o meu rosto e pego sua mão livre. Eu sei que não vou ganhar essa.
— Desculpe, tudo bem? Mas você saiu do carro no meio de uma avenida movimentada e eu
fiquei com medo de que você pudesse se machucar.
— Mas nada aconteceu...
— Ele está sujo, Victória. Só Deus sabe o que ele tem e o que pode passar para você. —
Suspiro. — Vem, entre no carro, vou levar vocês para casa.
Ela abre um enorme sorriso.
Ajudo-a subir no carro pedindo que ela mantenha o gato em suas mãos.
— Você sabe que eu não poderia deixar um gatinho indefeso na rua. Nunca me perdoaria
por tê-lo deixado para trás. Não sei o que poderia acontecer com ele. Nem quero imaginar.
Evito comentar sobre isso. Já basta ela ter me desculpado pelo pequeno ataque de limpeza
que dei.
Não demorou muito para chegarmos na sua casa. Consegui entrar na pequena rua e ainda
deixar espaço para alguns carros pequenos passarem. Victória suspira quando percebe que nos
separamos por hoje.
— Eu...
Não dou a ela chance de terminar. Cubro sua boca com um beijo possessivo e cheio de
desejo. Vick se derrete a minha frente quando me separo dela.
— Eu vou ligar para você mais tarde. Tente se concentrar nos seus trabalhos, querida. Eu
penso na noite de ontem por nós dois, tudo bem?
Vick segura meu rosto e esfrega seu nariz ao meu.
— Eu não sei qual foi o melhor, ontem ou hoje. — Ela morde seu lábio e então sorri. — Eles
estão empatados.
— Saia Vick, antes que eu leve você de volta para minha casa e não deixe você sair de lá
até que eu tenha acabado com todos os preservativos que tenho em casa.
Ele ofega e então corre os dedos por minha bochecha.
— Eu vou ficar pensando em você, Grandão.

Horas depois, com todas as coisas que tive que resolver, sinto falta dela. Mesmo depois de ter
falado com ela ao telefone, não ajudou em nada. Sozinho na cama em que compartilhamos há
algumas horas, eu só consigo pensar em buscá-la para ficar comigo pelo resto da noite, da
semana...
Nunca me senti tão sozinho como agora. Não tenho ideia do que isso significa, mas eu sei
quem causou isso tudo.
Capítulo 16
Não consigo esconder o que sinto por você. E nem quero. Por favor, não me
peça para parar.
Victória

— O i sumida! — Nessa me chama quando entro em casa. Ela está limpando o chão da sala
enquanto Diana está arrumando o sofá. — Como foi a sua aventura?
Largo minha bolsa na cadeira e ajudo a minha sobrinha, na tentativa de enrolar a Nessa.
Olho para minha irmã, querendo que ela entenda que não podemos conversar agora. Não na
frente de Didi, pelo menos.
— Foi uma aventura mesmo! Molhou tudo por aqui?
Odeio que tenha pensando nisso só agora. Enquanto estava fazendo tudo e mais um pouco
com o Sam, a nossa casa poderia ter sido alagada pela tremenda tempestade de ontem à noite.
Isso sempre acontece quando chove e já perdemos muita coisa por conta das chuvas.
— Não, tudo estava bem. Didi, porque não vai arrumar sua mochila para que eu lave? Pegue
tudo o que acha que precisa ser lavado e traga para mim.
Diana faz o que ela manda, mas antes, ela me dá um beijo de bom dia, que deveria ser mais
para um beijo de boa tarde.
— Onde está o Victor?
Eu a ajudo a arrastar o sofá para poder passar pano no chão.
— Foi jogar bola com os meninos da rua. Está com fome? Tem bolo que eu trouxe da
lanchonete.
Meneio a cabeça em negação e me sento no sofá não querendo atrapalhá-la. Nessa percebe
que tem algo de errado. Bem, não tem nada de errado, apenas a forma que me sinto.
— Desembucha! O que aconteceu?
Eu a encaro, e como sempre, vejo preocupação em seus olhos.
— Vick, você está me assustando.
— Está tudo bem, eu... Eu apenas não sei como te dizer isso.
Vanessa fica mais confusa e então seus olhos se arregalam e ela se senta ao meu lado.
Segurando minhas mãos, ela tenta me passar alguma força, mas mal sabe ela que não existe nada
de errado comigo.
Pensando assim, começo a sorrir, fazendo minha irmã ficar mais confusa ainda. Deito minha
cabeça em seu colo e suspiro dramaticamente.
— Certo, garota. Você está começando a me assustar de verdade. Diga o que há de errado.
— O que há para ter de errado? Você sabia onde estava e com quem estava. Nada poderia
ter sido melhor.
Ela sai do sofá e volta a passar pano na sala.
— Sei que o Samuel não faria nada para te machucar, mas você está estranha e só quero
saber o motivo. Mas, se não quer me contar, tudo bem, eu vou aceitar isso.
— Ele não fez nada que eu não quisesse — digo baixo, mas sei que ela ouviu. Minha irmã
tem ouvido de morcego, ouve tudo em qualquer nota.
O rodo que estava em sua mão caí com tudo em seu pé, fazendo com que ela xingue muito
alto. Espero que a Didi esteja concentrada em sua tarefa atrás de casa. Não será nada legal ter a
minha sobrinha repetindo o que acabou de sair da boca da sua mãe.
— Droga! — Ela começa a pular em um pé só, segurando o outro. Então para e se joga em
cima de mim, fingindo querer me machucar. — Sua sirigaita, bandida, como você diz essas coisas
assim? Meu Deus. Conte tudo.
Eu sabia que teria essa reação dela. Mas não assim, primeiro pensei que viria a bronca e só
depois a loucura que a minha irmã possui. Ela se senta ao meu lado e me abraça apertado. Só
posso rir da sua súbita loucura. E como previ, seu lado protetor apareceu primeiro.
— Me diz que vocês se protegeram!
— Eu poderia estar morrendo de tesão, Nessa, mas não estava estúpida.
Bem, foi ele quem lembrou, mas eu não digo isso para ela. Mas depois do que fizemos hoje na
cozinha, eu sei que devo ficar mais atenta.
— Desculpe Vick, estava apenas preocupada com isso, você sabe... Mas tirando o meu drama
adolescente de lado... — Ela fica de frente para mim e me viro para ela também.
Seus olhos estão curiosos, mas também cheio de carinho. Quantas vezes essa mulher se
transformou mais em minha mãe do que irmã? Sempre com os melhores conselhos e o melhor colo.
Minha fiel confidente.
— Se não quiser me contar, tudo bem, querida.
Coro só de pensar em falar nessas coisas, mas eu preciso dizer a alguém, e Nessa vai saber
lidar com os meus ataques. E nem sei por que eu estou tendo um ataque para dizer a verdade.
— Está tudo bem mesmo, é que parece tudo tão estranho, de um jeito bom. — eu afirmo
rapidamente. — Preciso te contar desde o início.
Falo para ela sobre o dia da festa de Didi. De como ele foi de perfeito, para um ogro chato
e insuportável. Nessa me ouvia atentamente, e não escondeu sua reação quando descrevi o beijo
que ganhei naquele dia. Então chegamos à conversa que tive com meu mais novo supervisor. Ela
diz que sempre gostou de Franklin e que agora gosta mais ainda.
— Bem, entendo isso agora. Ele estava querendo evitar que seus desejos te prejudicassem —
ela diz franzindo o cenho. — Mas não entendo. Porque não te contou logo? Evitaria toda essa
confusão.
Dou de ombros.
— Talvez ele tenha pensado que não acreditaria nele. Ou que fosse qualquer desculpa para
não me machucar, eu não sei. Ele não me explicou muito sobre isso, apenas disse que não queria
fazer as coisas da maneira errada.
— É faz sentido, mas me conte sua sirigaita. Como foi?
Ainda não sei descrever. Samuel foi além de lindo e delicado, ele foi especial. Sempre pensei
que isso fosse apenas um conto de fadas. Que só existia em filmes de comedia romântica, mas
então, Samuel me fez ver e sentir que poderia ter uma primeira vez especial.
— Pela sua cara de boba, foi muito bom! — ela me empurra de leve, me fazendo sair das
lembranças de ontem à noite. — Só me diga que ele te respeitou. É a única coisa que importa,
querida.
— Ele fez, ele foi mais do que isso, ele... Eu não consigo descrever, Nessa. Só posso dizer que
não poderia ser mais perfeito. Eu não tinha ideia que poderia me sentir tão especial como ontem à
noite. E ele também, você sabe...
— Não, eu não sei — ela implica.
— Ele sabe fazer as coisas, tudo aquilo. Mesmo parecendo estar dominado por algum tipo de
alter ego. Ele foi carinhoso, Nessa. Sempre preocupado, perguntando se estava tudo bem, até
mesmo me irritou perguntando várias vezes se eu queria mesmo aquilo — digo sorrindo. — Eu não
acho que conseguiria uma pessoa mais especial do que ele, mana. Na verdade, eu tenho certeza
disso.
Solto um suspiro satisfeito.
— Ah, minha irmã, estou tão feliz por vocês. — Ela segura a minha mão apertando
suavemente. — Eu sei que ele é um cara especial, eu não te deixaria com ele lá, se não confiasse
em vocês dois. Mas me diz: — ela me dá um sorriso bobo. — Ele fez você chegar lá? Ele é
grande?
Ah, ela está pedindo demais agora.
Coro com a sua pergunta, mas sou salva ou condenada por meu irmão que aparece todo sujo
na porta de casa.
— Olha o que eu encontrei na porta de casa — ele suspende o gato que salvamos. Eu tento
falar alguma coisa, mas não adianta muito.
Vanessa vai descobrir o que fiz e não vai deixar ficar com ele. Olho para meu irmão que está
sorrindo, já sabendo o que eu fiz. Ele sempre é o mais rápido em descobrir as coisas. Peço
silenciosamente que ele me ajude.
“Por favor”
— Eu o salvei quando ele quase foi morto por um motociclista idiota — Ele afaga a cabeça
do gato preto. — Você pode me ajudar a cuidar dele, Vick?
Suspiro aliviada. E isso faz Nessa olhar para mim.
— O que foi? Estou apenas tranquila que você deixou esse pequeno aqui — digo correndo
para pegar o pequeno das mãos do meu irmão. — Ele é muito lindo. — Olho em seus olhos negros
e isso me acerta rapidamente.
Acho que vai cair muito bem.
— Vou chamá-lo de Grandão!
Victor apenas sorri e beija minha testa.
— Vou tomar um banho e fazer o almoço.
Eu sei que ele não vai me dedurar. E depois eu irei agradecê-lo por isso.
— E eu vou cuidar dessa lindeza aqui — murmuro já indo para o meu quarto, fugindo da
inquisição da Nessa.
— Ainda não terminamos essa conversa, Victória!
Eu me jogo na cama, rindo como uma menina que deu o seu primeiro beijo. Bem, muito mais do
que um primeiro beijo. Não consigo parar de pensar em tudo o que nós fizemos, no que senti e no
que ele me deu. Foi tão incrível, que parece ser um sonho. Cravo minhas unhas nas palmas das
mãos e sei que é verdade, porque dói muito.
Apenas não sei aonde tudo isso vai nos levar. Sei que o Samuel é uma pessoa que requer
muita paciência e cuidados. Ele é especial, só não descobri o motivo dele ainda estar tão fechado.
Demos um enorme passo essa noite, mas sinto uma grande barreira nos separando ainda. Ou
talvez seja eu pensando demais, já que não tenho nada para comparar ao que fizemos. E o meu
namoro com aquele idiota nem mesmo pode ser chamado de algo especial.
O pequeno gatinho se contorce em cima de mim. Ele está sujo, e deixa a minha blusa do
mesmo jeito. Ele deve estar com fome.
— Você quase me arruma uma briga com a minha irmã, Grandão — brinco com o seu focinho.
— Não posso chamar o Sam de Grandão muitas vezes, mas por ter a mesma cor dos olhos dele,
vou usá-lo em você. Vai ser nosso segredo.

Depois de semanas apenas nos falando no metrô, posso colocar o papo em dia com Lucas.
Não tinha ideia de como estava sentindo a falta dele. A vida não é apenas faculdade e trabalho.
Tenho que me lembrar disso.
— Então nós podemos ir assistir a aquela peça nesse final de semana. Só basta dizer sim,
delicinha!
Jogo o pedaço de papel nele.
— Amigo, tem certeza de que você não é hétero? Por que está dando muita pinta.
— Não me chama de homem, sua vaca!
Ele tenta soar raivoso, mas não conseguiu. Lucas pega a minha bolsa e vamos para o metrô.
Ele segura a minha mão e me abraça de lado.
— O que aconteceu com você, querida? Está tão radiante que o próprio Sol tem inveja de
você nesse momento.
Não consigo evitar, coro quando ele diz isso. O que posso fazer? Sinto-me da forma que ele
me descreveu.
— O sol já brilhou muito não acha? — brinco com ele. — Me sinto muito bem, acho que
poderia conquistar o mundo hoje.
Lucas beija minha bochecha e me abraça mais uma vez.
— Bem, você pode. E tenha a mim como seu conselheiro. Você pode tudo e muito mais.
É o que minha mãe dizia. Infelizmente, dói pensar que ela não está aqui para me aconselhar.
Tenho Nessa, mas queria que minha mãe fosse a primeira a saber das coisas que acontecem
comigo. Sei que ela está orgulhosa de nós três, sei que ela seria uma avó coruja com a Didi e sei
que ela iria amar Samuel. Mesmo que ele fosse um caso perdido no primeiro encontro com ela.
Tenho certeza de que ela diria a mesma coisa que disse a ele na primeira vez que o conheci.
Nossa! Como as coisas mudaram em apenas algumas semanas. A pessoa que me deu uma
tremenda dor de cabeça acabou se tornando a mais importante para mim nesse momento.
Chego ao hospital e vejo todos em uma tremenda correria. Bem, hoje parece ser um dia
daqueles. Desejo bom dia para todos e quando vou dar oi para quem eu mais quero ver nesse
momento, percebo que ele está chateado.
Seu rosto está vermelho e tudo parece conspirar para aumentar a sua irritação.
— Evite-o hoje! — Felipa diz quando passa por mim.
Como vou fazer isso, quando a coisa que mais quero hoje é vê-lo? Posso fazer papel de
trouxa, mas eu preciso ter um pouco dele agora. Espero que a porta se feche atrás de mim.
Samuel olha para cima e seus olhos se arregalam quando percebe que sou eu. Ele dá um suspiro e
me chama para ir até ele.
Ando devagar até onde ele está. Puxando-me para seu lado, Samuel consegue encostar sua
cabeça no meu peito.
— Eu sei disso, e como você bem sabe, vai fazer o que estou mandando. Eu te dou até hoje
para resolver isso.
Ele desliga o telefone e me puxa para um abraço. Não passa despercebido que ele relaxa
quando me agarra contra o seu corpo. Seus braços circulam minha cintura, suas duas mãos
espalmadas em minhas costas. Ele suspira contra meu peito e logo se afasta.
Observo seus cabelos bagunçados. Seus olhos estão vermelhos e então percebo que sua
cabeça já está começando a doer. Devagar, massageio sua testa com os polegares e suas
têmporas que pulsa contra os meus dedos. Samuel fecha os olhos relaxando ainda mais contra mim.
Continuo com o meu trabalho, sentindo sua pulsação diminuir gradativamente. Ele respira mais
suavemente e seu corpo parece mais relaxado.
Ele ainda me mantém em seus braços. Alcanço a sua garrafa de água e pego o seu remédio.
Fico esperando que ele abra os olhos, mas ele não faz.
— Grandão.
Ele abre os olhos e me encara. Mostro para ele a pílula e ele fecha a cara, mas continuo com
ela estendida para ele. Ele sabe que eu não vou ceder. Relutante, ele pega o remédio e o toma
sem precisar da água. Mas continuo com a garrafa a mão.
— Já ingeri o remédio, Victória — diz em um tom baixo, deixando-me totalmente derretida
por ele. Seus olhos estão semicerrados, mas com uma imensa necessidade consumindo o seu olhar.
Ele me puxa para mais perto dele, fazendo minha testa descansar na sua.
— Você precisa de água, Grandão.
Um pequeno sorriso aparece em seus lábios e então ele me beija.
Seus lábios se conectam ao meu. Chupo sua língua, dizendo a ele que estou querendo muito
mais do que isso. Samuel geme contra a minha boca enquanto as suas mãos vão descendo para
minha bunda, apertando-a com força. A dor se transforma em calor, que se espalha por todo meu
corpo.
Ele se afasta e sinto como se algo estivesse faltando.
— Não podemos começar uma coisa aqui, porque vou querer mais do que isso, Docinho. —
Ele me beija de leve e me solta devagar. — Estou feliz que você chegou. Senti a sua falta. — Ele
me olha diretamente nos olhos. — Parece que essa é a minha primeira respiração desde sábado.
Eu acho que virei uma poça nesse momento. Esse é o homem que eu gosto de ver. Sei que nem
sempre ele pode ser assim, mas é a coisa mais linda nesse mundo. Esse sorriso descontraído, como
se não tivesse um mundo em suas costas.
— Também senti a sua falta — digo afagando seu rosto. — Você pode fazer uma coisa para
mim? — pergunto docemente.
— Claro, Docinho — ele me presenteia com um sorriso genuíno.
Ofereço a garrafa para ele mais uma vez. Bato meus cílios em pura fofura. Bom, se funciona
com o Victor, pode funcionar com ele também.
Bingo!
Samuel pega a garrafa de minha mão e bebe metade do líquido.
— Não gosto que fique sem beber água, sabe que isso ajuda com a sua dor. — Arrumo seus
óculos.
Ele franze o cenho e isso me intriga.
— O que foi?
Um sorriso tímido aparece nesse momento.
— É estranho quando tomam conta de mim.
Tenho uma enorme necessidade de abraçá-lo. E é o que eu faço nesse momento. Agarro
Samuel com todas as forças. Ele parece sem jeito por alguns instantes e então me abraça com a
mesma força.
— Está tudo bem?
Aceno que sim, mas ainda estou como uma preguiça agarrada a ele.
Pouco a pouco estou entendendo a sua proteção. A necessidade de sempre ter tudo no devido
lugar, sobre ter um pouco de controle em suas mãos. Mas isso não é legal para ele, sei que o
impede de viver como alguém de sua idade. De ser o garoto que ele é de verdade. Eu sei que ele
está preso em algum lugar dentro desse homem duro e cheio de responsabilidades.
Ele precisa apenas se lembrar disso. E eu preciso ter um pouco mais de paciência com ele.
— Posso te pedir uma coisa? — Agora é ele quem pergunta.
Aceno que sim, e me afasto para olhar em seus lindos olhos.
— Quero levar você para sair hoje. Claro que se estiver tudo bem para você... Se não,
também...
Coloco um dedo em seus lábios, silenciando-o.
— Eu adoraria, mas me diga aonde vamos para ver se tenho alguma roupa adequada para
ir.
Samuel parece aliviado. Agora tenho certeza de que ele nunca convidou ninguém para sair.
Não sou a única que não tem experiência nessa coisa de relacionamento.
Ele suspira.
— Você pode estar apenas com uma das minhas camisas, Docinho, que ainda será a mulher
mais linda do mundo para mim.
Como ele pode simplesmente me fazer tão especial com essa simples frase?
Como eu posso resistir a ele desse jeito? Samuel está se tornando minha kriptonita.
Não tem mais chance de retorno. Só espero que ele não use isso para me machucar.
Capítulo 17
Só quero dizer que você é a minha coisa mais favorita do mundo
Samuel
Três semanas depois

Q ueria muito poder ter participado da sessão de Arthur hoje, mas os papéis na minha mesa não
permitiram. Bem, é uma coisa louca de se pensar, já que passo muito tempo com ele em casa,
mas preciso saber se ele está dando o máximo de si. Eu sei como ele gosta de fazer corpo mole
em alguns momentos.
Quem eu quero enganar? Quero ter a chance de vê-la. De observar o seu carinho com o meu
irmão e poder me fascinar cada vez mais pelo o seu sorriso. Sorriso pelo qual estou enfeitiçado.
— Posso entrar? — Meu irmão mais velho aparece na minha sala. Tem tempo que não o vejo,
pois os seus plantões estão cada vez mais frequentes.
— Claro. — Aponto para a cadeira e tiro alguns dos papéis que terminei de mexer e coloco
na pasta. Ele olha para alguns deles, mas não comenta nada. Sabe que dessa parte do hospital,
eu tenho a palavra final. — Você anda sumido. Está tudo bem?
Simon para o que estava fazendo e me encara. O jeito que ele me encara, faz como que me
sinta um merda por não dar muita importância para ele. Tudo bem que ele tenha seus trinta e cinco
anos, mas isso não quer dizer que ele não precise de alguma supervisão. E eu sei que ele precisa
de atenção em alguns momentos.
Mesmo que Simon seja o mais velho, ele nunca levou a sério essa condição que a vida lhe deu.
Bom, não é para qualquer um de qualquer maneira. E nunca me importei de ter tomado essa sua
posição.
— Está sim, mas esse mês o outro cirurgião retorna das férias e as coisas vão melhorar para
mim. — Ele me entrega um convite. — Esse mês tem a festa de aniversário da Layla. O Arthur está
doido para ir, e ela quer você lá também.
Essa é uma das muitas coisas que eu não entendo no meu irmão. Mesmo depois de sete anos,
Simon em alguns momentos, age como se nada tivesse mudado. Não sei se isso é uma forma dele
superar a dor ou apenas tentar ameniza-la. Não consigo entender. Até hoje, não sei o que
aconteceu entre ele e a Sophie. Ela evita o seu nome enquanto ele busca desesperadamente o
dela. Geralmente, eu diria que tudo é culpa dele, mas eu vi como ele ficou durante meses depois
que ela foi embora. Ele nem mesmo se defendeu de mim quando disse para ele ficar longe dela.
Nem mesmo sei por que disse aquilo, apenas fiz o que a mulher mais importante para mim pediu
para fazer.
E eu fiz. Querendo mais do que tudo que ela se sentisse bem novamente, mas isso nunca mais
voltou a acontecer. Eu não puxava o assunto com Simon, pois sempre acontece uma briga por isso,
ele pensa que sabe das coisas. Mas na verdade, ele nunca soube de nada. E, para o bem de
todos deixei que ele continuasse a pensar assim.
— Bem, você parece um zumbi nesse instante. Deveria ter um dia de sono, é necessário às
vezes — tento brincar e pego o convite. — Droga, é no dia da reunião sobre o congresso desse
ano.
Ele sorri compreendendo que não vou poder ir.
— Compre algum sapato que chame a atenção que ela vai te perdoar — diz me dando uma
ideia. — Mas me diz: como está a recuperação de Arthur? Eu quase não tenho visto o pirralho por
aqui.
É porque ele passa a maior parte do tempo fazendo os exercícios e mergulhado na banheira
de gelo. É o seu lugar favorito agora, e é preciso ameaçá-lo para poder sair. Isso é bom, mas
também pode prejudicá-lo, mas ele não parece ouvir sempre que digo isso.
Mas ele ouve sua pessoa favorita no mundo agora. Victória parece ter uma influência em
Arthur que nem mesmo eu consegui. Meu irmão continua sendo um pentelho quando quer, mas posso
ver as mudanças nítidas que ele tem feito questão de mostrar.
Como se preocupar com o papai. Ele fazia isso, mas agora, segue de perto o que o velho
come, se toma os remédios no horário certo. E agora está me enchendo a paciência para fazer a
cirurgia de correção de córnea. O que é obvio que não irei fazer.
— Ele está bem, sua fratura está quase suturada, mas ainda precisamos trabalhar o
fortalecimento dos músculos. A Docinho está fazendo um ótimo trabalho com ele — dou de ombros,
mas não contenho o orgulho dentro de mim. Olhando para Simon, percebo que nunca tive a chance
de agradecê-lo por tê-la contratada.
— Eu quero te agradecer por tê-la recrutado. Nunca pensei que poderia conseguir alguém
tão eficiente e que amasse o que faz. Seu histórico de estagiários não é dos melhores... — dou de
ombros. — Mas me enganei. Ela é inteligente, esperta e sabe o que faz. Tem muito tempo que não
encontro ninguém assim, que ama o que faz e está sempre desejando mais conhecimento.
Nem mesmo eu consigo me lembrar de ter sido assim. Faz tanto tempo desde a minha
formação que não sei se me encaixo nessa ultima descrição. Talvez não, já que nunca fui uma
pessoa tão comunicativa. O que está mudando é claro e sei que devo isso a ela. E por isso,
agradeço ao meu irmão.
— Você está bem?
Sua pergunta me pega de surpresa, mas não posso fazer nada além de sorrir para ele. Isso
foi muito mais rápido do que eu esperava.
— Sim, estou muito mais do que bem. Olha, eu preciso te contar uma coisa antes que você
saiba pelos outros.
Meu irmão se inclina para mais perto da mesa. Seu semblante muito mais preocupado do que
eu esperava. Estou me acostumando com o fato pessoas tomarem conta de mim. De ficarem
preocupadas comigo.
Ainda é mais fácil quando você é o único que tem que se preocupar com quem se ama. Não o
oposto. Sinto-me como um fardo desnecessário na vida deles.
— Que você está namorando a Vick? Não precisa me contar, eu já sei disso.
Como ele sabe disso?
— Calma cara, ninguém mais sabe disso além de mim — ele ri divertido com a minha cara de
assustado. — Ninguém nem mesmo desconfia que tenha alguma coisa acontecendo com vocês dois.
Eu apenas observei como você fica ao redor dela. E depois daquele dia em que você me expulsou
pelo meu embaraçoso momento, apenas confirmei que você estava mais do que apenas furioso.
Menos mal isso. Não quero que nada aconteça para prejudicar Victória. Já foi um grande
sofrimento ter que deixá-la sob a supervisão do Franklin. E se alguém, por qualquer motivo, a fizer
se sentir desconfortável, vai ter que lidar comigo, e juro, não vai ser nada fácil.
— Nunca pensei que veria isso, mesmo por... Bem, estou feliz que você tenha se tocado que
ela é uma menina linda e especial. Mas vou te avisar: se você fizer alguma coisa que a machuque,
vai ter que se ver comigo.
Ele me dá o mesmo aviso que dei há ele anos atrás. Só que estamos em situações muito
diferentes nesse momento. Eu não tenho a intenção de machucá-la.
— Bom saber que você gosta dela a ponto de me ameaçar, mas acho que você não tem
nenhuma autoridade para fazer isso.
Golpe baixo, eu sei. Mas é inevitável para mim. Não escondi de Simon que sempre o culpei
pela partida de Sophie. Ele mesmo se culpa por isso, mas não quer dizer que eu o perdoe por já
ter muita culpa em sua vida.
— Não tem com o que se preocupar. Se você já sabe disso, sabe também o que fiz para
poder estar com ela. Não preciso da sua benção, muito menos da sua ameaça sobre como me
comportar com a Vick.
Simon nem mesmo se altera com minha súbita vontade de culpá-lo. Não faço isso porque eu
gosto de machucá-lo, muito pelo contrário. Quero que ele mude, e essa minha insistência está
começando a me cansar.
— Eu sei, o único que leva a fama de cafajeste na família sou eu, não precisamos de outro —
diz com um tom suave de brincadeira. — Bem... — diz ele já se levantando para ir embora.
Droga!
— Espera! — Respiro fundo e ajeito meus óculos. — Desculpa, isso tudo é muito novo para
mim. Só não queira recuperar o tempo perdido e dar um de irmão mais velho que está querendo
saber do meu namoro. É estranho demais.
Simon joga a cabeça para trás e ri. Essa é uma daquelas vezes em que ele não se deixar
levar pelo meu humor.
— Acho já passamos por isso antes. Você sabe que nunca faria isso para constranger a Vick.
Deus sabe como ela é uma santa por aturar você. Apenas, seja bom para ela. Seja aquilo que a
mamãe sempre nos ensinou.
Dizendo isso, ele vai embora, deixando-me sozinho com os meus pensamentos.
Talvez... Sim, é difícil de aceitar que o Simon mudou. Gostaria de poder ter alguma
participação nisso, mas essa foi a minha pior falha: não ter ajudado Simon como sei que deveria
ter feito.
Não sei se há tempo para me redimir com ele, mas não custa tentar. Já passou da hora de
deixarmos tudo para trás. Afinal, eu não tenho nada a ver com o que aconteceu entre ele e a
Sophie. Eu era apenas o elo entre eles. E sempre soube que nunca poderia conseguir o que queria,
então assisti a tudo como um mero expectador.
Mas agora, eu que tenho o meu próprio show para comandar. E falando em show, um dos
astros acaba de entrar em cena.
— É seguro entrar? — Arthur pergunta.
Reviro os olhos e deixo que ele entre na sala. Como se um não fosse impedi-lo de qualquer
maneira.
— Como foi a sessão?
Ele se joga na cadeira e apoia sua perna machucada em cima da outra.
— Posso cruzar as pernas e não sentir nenhuma dor, então eu estou melhorando, mas a Pirulito
estava muito exigente essa semana.
Esse apelido idiota que ele deu para ela ficou. Seu vicio por doces, especialmente por pirulitos
tornou-se a sua marca registrada. Todos aqui fazem questão de deixar nossa bomboniere cheia
para que ela esteja feliz.
— Estava? Ela te deu uma folga hoje?
Fecho a planilha de gastos desse mês e envio para o financeiro.
— Ela está cansada. Eu acho que está gripada.
— O que disse? — Isso chama a minha atenção.
— Sim, o Franklin disse para ela descansar um pouco, mas ela é tão cabeça dura quanto
você.
Eu sabia que ela estava estranha hoje, mas ela me garantiu que estava tudo bem. Victória tem
que aprender que vou descobrir as coisas que ela tenta esconder de mim.
— Onde ela está agora?
— Na sala de massagem.
Nem me dou ao trabalho de proibi-lo de mexer no meu computador. Sei que o Arthur vai
fuçar tudo mesmo. E nem me importo. Passo pela Felipa que está ao telefone e peço que ela ligue
para o meu pai, pedindo que ele venha para cá.
Se existe alguém que pode fazer a Vick ceder é meu pai. Ele simplesmente a adora, e ela o
obedece sem questionar.
Encontro o Franklin saindo da sala. Ao me avistar, ele não parece surpreso com a minha
presença.
— Ela está reclamando de dor de cabeça e está começando a ficar febril.
Outra gripe? Ela nem mesmo se curou da última. Essa sua loucura de sair de casa para a
faculdade debaixo de chuva ainda vai deixá-la seriamente doente.
— Sam, se o seu objetivo for brigar com a Victória agora, não vou deixar você entrar nessa
sala.
Olho para ele curioso com sua observação.
— Sua cara de limão azedo me diz que está chateado com ela por não ter te contado que
não estava se sentindo bem. No momento, ela não precisa se sentir ainda pior por causa disso.
Respiro fundo, me sentido um pouco mais calmo.
— Meu pai está vindo, peça para ele entrar quando chegar.
Entro na sala sem esperar a sua resposta. A central de ar condicionado está desligada, e no
canto da sala, vejo a Vick deitada na enorme maca coberta por seu jaleco. Ela está com os olhos
fechados.
Vick parece minúscula daqui.
Sorrio apenas em observá-la, algo que tenho feito muito isso nos últimos dias.
Foi muito mais difícil para ela. Sempre que estamos conversando e alguém se aproxima, Vick
dá uma desculpa e se retira. É uma situação complicada e esse é um dos motivos pelos quais
estamos levando as coisas lentamente.
Talvez seja esse o motivo de seu cansaço.
Não conseguindo mais me conter, caminho em sua direção. Seus lindos olhos verdes se abrem e
ela me encara. Fiquei encantado por eles logo no início. Eles enxergam a minha alma. Se no início
eu ficava assustado com isso, agora me sinto confortado.
— Oi!
— Oi — sussurro enquanto acaricio seu rosto. — Por que não me disse que estava se sentindo
mal, Docinho? — me inclino, descansando minha cabeça em seu peito. Sinto o calor emanado de
seu corpo. Levo minha mão até a sua testa sentindo a sua temperatura. — Está quente. O que você
está sentindo?
Ela agarra meu braço e o abraça.
— É apenas uma gripe, Sam. Ela vai passar, eu só preciso descansar um pouco.
Eu sabia que ela seria esquiva e me daria essa resposta. Relutante, Vick solta o meu braço e
eu me afasto um pouco, para tirar o meu jaleco e cobri-la com ele. Victória sorri e pede minha
mão.
— Papai está vindo ver você. Se não quer me dizer o que está sentindo, diga a ele, tudo
bem?
— Eu sei o que eu tenho — diz meiga. Seus lábios formam um bico lindo. A vontade que tenho
de mordê-los é enorme.
— E o que é?
Ela alcança a gola da minha blusa e me puxa para perto dela.
— Saudades sua!
Rindo, dou um beijo rápido em sua boca, mas Vick quer mais. Ela continua me segurando e
prende seus dentes ao meu lábio inferior.
— Parece que eu tenho alguns assuntos inacabados com você, senhorita.
Ela meneia a cabeça em concordância, mas logo fecha os olhos. E isso me preocupa demais.
— Docinho, se comporte.
Victória resmunga, mas volta a se deitar na maca no mesmo instante que meu pai entra na
sala com sua pequena maleta. Ele sorri para ela e logo começa a examiná-la. Começa a
questioná-la sobre os sintomas e ela responde tudo sem nenhuma birra.
Sim, sua implicância é apenas comigo.
Papai diz algo para ela que faz com que Victória dê uma gargalhada alta e então me
encara. É estúpido sentir ciúmes do próprio pai?
Claro que é. Mas até alguns dias atrás, ela nunca iria rir assim para mim ou por mim. Isso só
me diz como fui mais estúpido do que eu me lembrava.
— Com uma boa noite de sono, você vai estar nova em folha, Vick. Tome os remédios que logo
a sua garganta vai estar melhor.
Meu pai deixa duas caixas com ela e então a beija na testa.
— Acho melhor você ir para casa. Estar aqui não vai ajudar a aliviar sua dor de cabeça —
papai diz olhando para mim, sabendo que a terei longe daqui assim que puder. — Se não se
sentir bem amanhã, aconselho ficar em casa — Ele sorri para ela e então volta para mim. — Meu
filho vai sobreviver um dia longe de você.
Isso tira outra risadinha de Vick e um bufo de mim. Papai passa por mim e aperta meus
ombros. Sei que ele está brincando.
— Vou levar o Arthur para casa.
Caminho até Vick, que está com os olhos fechados novamente. Sei que sua cabeça deve estar
prestes a explodir, pois o mesmo acontece comigo quando tenho as crises. Puxo o pequeno banco
para perto da maca, me sentando. Seguro sua mão e ela tenta abrir os olhos.
— Shh, fique assim, não precisa se preocupar.
Docinho resmunga, mas faz o que eu peço a ela.
— Vou pedir para o Franklin pegar meu último paciente e estamos indo para casa. Você tem
que descansar.
Vick deve estar com muita dor, pois concorda sem pestanejar. Eu a ajudo a se levantar, recolho
nossas coisas e vamos andando até a garagem.
— Vanessa vai ficar preocupada! — diz ela do banco de trás do meu carro.
— Sua irmã já sabe que está indo embora cedo. Agora feche os olhos e fique quieta,
Docinho.
Não demorou muito para chegarmos na sua casa. Victória me deu a sua chave e ao abrir a
porta, uma multidão de gatos nos recebe com muito miados. Assim a sua dor de cabeça, não vai
passar. Devagar a levo para o seu quarto onde ela já começa a tirar a sua roupa, mas para
quando percebe que não saí do quarto.
— O que foi?
Ela não me responde, mas continua a me encarar.
— Preciso tomar um banho.
Caminho em sua direção e começo a ajudá-la a tirar a sua roupa, mas ela me para.
— O que foi? — pergunto mais uma vez.
— O Victor pode chegar daqui a pouco. Ele pode...
Continuo a tirar a sua roupa.
— Não dou a mínima para o seu irmão nesse momento. O que me importa é que você esteja
aquecida, e na cama o mais rápido possível.
Ela pondera por um segundo e concorda. Respeitando ao seu pedido, deixo que ela se banhe
sozinha, mas isso não quer dizer que não salivei apenas por ter visto seu corpo nu mais uma vez.
Minha necessidade por ela voltou com força, mas sei que não posso desrespeitar sua casa.
Mas isso não muda o fato de que quero entrar no banheiro para me saciar do seu corpo. E
Docinho também não ajuda. Ela sai do banheiro com a toalha parcialmente enrolada em seu corpo.
Como tenho inveja das gotas d’águas que escorregam por sua pela pálida. Quero correr
minha língua por seu pescoço, secando-a para depois me perder dentro dela.
Vontade não me falta de jogá-la nessa cama e fazer tudo o que tenho ansiado nessas últimas
semanas. O que fizemos até agora não foi o suficiente. Mesmo depois do nosso jantar, não
consegui me acalmar. Todo o meu corpo anseia por ela.
— Eu gostaria de ficar, mas tenho uma reunião agora à noite.
Não é exatamente uma reunião importante, mas eu preciso muito falar com essa pessoa hoje.
Docinho como sempre, me dá um lindo sorriso.
— Eu vou ficar bem, estou apenas indo me deitar nessa cama.
Depois que ela se vestiu e a coloquei na cama com o aquecedor bem próximo dela, me
despedi e disse que mais tarde ligaria para ela.
É uma das coisas que preciso resolver com ela. Mesmo que passe toda semana ao seu lado, eu
quero poder ligar para ela a hora que eu quiser. Nem que seja mesmo para ouvir a sua risadinha
boba quando a chamo de Docinho. Mesmo que seja para saber que ela também quer falar
comigo. É loucura. Estou completamente louco por ela. Meu celular toca e vejo o nome do meu
amigo. Não atendo, mas envio uma rápida mensagem dizendo que falo com ele depois.
Assim que chego em casa, já são sete da noite. O Arthur está trancado em seu quarto, assim
como meu pai. Não sei se jantaram, mas acho que eles se viram sozinhos por hoje.
Depois de um banho rápido ligo meu notebook e faço a vídeo chamada com minha amiga.
Nós dois temos estado muito ocupados esses dias.
— Eii! — Sophie é a primeira a falar. Como sempre, ela já está de roupão, apenas me
esperando. — Nossa, eu estava morrendo de saudades de falar com você. Como você está?
Parece bem. São óculos novos? Sam, você cortou o cabelo? Tem alguma coisa estranha em você. O
que é?
Como sempre, minha amiga é muito observadora para o seu próprio bem.
— Senti a sua falta também. Como você está?
Ela sempre está com um humor diferente quando que nos falamos. Dessa vez parece estar
feliz, pois não para de sorrir e dizer como sua sobrinha é inteligente e que recebeu inúmeras
cartas de universidades que a querem como aluna.
Gostaria de poder falar o mesmo sobre o Arthur, mas ele é um menino de quinze anos que
ainda só toma os iogurtes de morango e dorme no meu quarto depois de assistir algum filme de
terror.
Olho para o relógio do notebook e vejo que são oito e sete da noite. A Docinho deveria ter
tomado o remédio as oito horas. Tenho certeza de que a Vanessa a obrigou. Ou o seu irmão. Isso
se eles já chegaram em casa. Eu sabia que não deveria ter deixado-a sozinha. Por que tinha
mesmo que vir para casa?
— Sam? Você está bem mesmo?
— Claro. Desculpe, apenas...
— Você está viajando enquanto eu despejo toda a minha loucura em você! — Sophie ri. — E
eu pensando que tudo isso fosse interessante para você. Quer me contar alguma coisa?
Respiro fundo e relaxo mais na minha cadeira.
— Quero te contar sobre a Victória, mais chamada por mim de Docinho. Lembra-se do
estagiário que estava me dando dor de cabeça? — Sophie concorda com a cabeça. — Então, é
ela. Mas não é tão ruim que não possa piorar.
— O que você fez?
— Por que você acha que é minha culpa?
Sophie dá de ombros e diz baixinho como se fosse um segredo.
— Por que você é chato e quer tudo do jeito certo? Ou talvez seja porque você gosta tudo do
seu jeito e o resto não presta. Ou sei lá, essa sua cara de zangado que deixa todo mundo com
medo.
— Então... — finjo que ela não disse nada e continuo a falar. — Ela me assustou. Muito. Ela
não tem medo de mim. Parece não ter medo de nada. Fala o que pensa e parece saber de tudo
— brinco com o fio do fone de ouvido. — Então ela sorri e tudo se ilumina. Seu espirito é livre,
cheio de energia e tudo o que ela faz tem muito amor e carinho... Ela é linda, inteligente, inocente
e... Tão irritante que às vezes quero apenas amarra-la na cama...
— Ohhh, vamos devagar com as informações amigo.... — ela grita enquanto eu apenas sorrio
por sua explosão.
Passo os próximos vinte minutos dizendo a Sophie o que aconteceu. Minha amiga me ouve
atentamente, até mesmo quando disse sobre a ameaça que Simon me deu.
— Estou tão feliz que você a conheceu. Estava passando da hora, Sam. Quero conhecê-la.
— Ela vai adorar você. Ela é louca por qualquer pessoa que goste de doce.
— Agora entendo o porquê de Docinho.
Queria poder falar mais, mas estou preocupado com Victória. Eu me despeço da minha amiga
e ela entende que preciso saber se minha menina está bem.
Nem me dei o trabalho de avisar que estou saindo. A essa hora da noite o trânsito está
tranquilo e a viagem não será demorada. A cena que me aguarda ao chegar em sua casa,
apenas confirma que a minha presença era necessária. Victória está na rua, colocando o que
parece ser ração para um cachorro encardido que está na frente da sua casa. Ela não percebe
meu carro e então continua sua missão, coberta apenas com uma blusa comprida em meio a uma
noite fria.
Caminho em sua direção e ela ainda não sente minha presença
— Pois é, eu também pensei que fosse coisa da minha cabeça, mas não é. Ele é lindo e tão
fofo. Menino, eu acho que estou ficando louca por ele. Ele veio aqui hoje — diz acariciando a
cabeça do animal. — Pena que você não o viu. Bom, mas é melhor, pois ele não pode saber que
estou na rua.
O animal sente a minha presença e começa a rosnar, fazendo com que Victória me encare.
Sua expressão vai de assustada para descrente e então para alegre. Ela não hesita e se joga nos
meus braços, me abraçando e então me beijando com vontade.
Suas mãos vão diretamente para minha blusa que ela usa para nos aproximar. Retribuo o
beijo, levando minhas mãos diretamente para sua bunda. Docinho geme em minha boca.
— Por que você está na rua? — digo já levando ela para dentro. — Oi, Vanessa.
— Ei, Sam! — A irmã mais velha parece tão assustada quanto a sua irmã há alguns minutos
atrás.
— Vim checar se ela estava melhor, mas a encontrei na rua.
Vanessa apenas balança a cabeça e então vai para a sala. Vick me leva para cozinha, onde
há um prato fumegante com algum tipo de macarrão com caldo.
— Esse é o seu jantar?
Ela concorda, senta-se à mesa e me puxa para sentar ao seu lado.
— Você nunca comeu miojo? — ela pergunta e então faço que não com a cabeça. — Em que
mundo você vive? Meu Deus do céu!
Victória pega o “miojo” com o garfo e o coloca em sua boca. Depois faz o mesmo e oferece
para mim. Ela parece ansiosa para saber se vou gostar ou não.
— Vamos lá, prove. Não vai te fazer mal — diz enrolando no garfo um pouco daquela coisa.
— Não sei, não, Docinho.
— Vamos lá, Grandão. Por mim?! — pede com aquele sorriso divertido que faz coisas
estranhas comigo. Faço o que ela me pede e então como. Não é ruim, mas seria minha primeira
nem a segunda opção.
Victória come tudo e então lava o seu prato. Percebo que ela está melhor da sua dor de
cabeça. Com a autorização de Vanessa e do Victor, vou com ela até o seu quarto.
Deito com ela em sua cama. Docinho encolhida em cima de mim. Ela começa a cantar uma
música que minha mãe costumava cantar para mim quando era pequeno. Suas pequenas mãos
acariciam meus cabelos e então sem perceber, acabei dormindo com ela.
— Durmo melhor quando estou com você.
Não sei quem disse, mas acho que o sentimento é mútuo.
Capítulo 18
Tudo vale a pena quando recebo o seu sorriso. Aquele que me deixa cada
vez mais apaixonada.
Victória

E u os amo. Ambos. O Arthur tem que ser incluído, pois foi ele que me deu essa informação tão
importante. E Samuel vai me pagar por isso. Ele simplesmente deixou ocultou isso de mim. Não
se pode esconder a data de seu aniversário.
— Por favor, diga que vai torturá-lo, talvez arrancar os pelos da perna dele com uma pinça.
Eu juro que ele vai aprender a lição.
Irmão. A pior raça que existe nesse mundo.
— Ou com sua autorização, eu posso levar o grandão para casa e colocá-lo em cima da
cama dele.
Diferente dos seus irmãos, Arthur caiu de amores pelo pequeno gato que resgatei há algumas
semanas. Ele fez seu irmão sair em uma quarta à noite apenas para ver o gatinho. Arthur não se
abalou com os NÃOS que recebeu de seu irmão, quando pediu para levá-lo para casa. Mesmo
com a negação de Samuel, ele ainda continua insistindo em ter o gatinho sempre que pode.
Diferente do seu xará, o Grandão de quatro patas é nanico, enquanto que o seu xará, a
cada dia que passa, parece ficar maior. Mas muito mais lindo para mim. Não tem um dia que não
esteja mais fascinada por Samuel Hamilton. Ele não assume, mas sei que o Samuel gosta do apelido
carinhoso que lhe dei. Mesmo quando implico com ele sobre ser tão fofinho quanto o gatinho.
Mas ele é um fofo. O meu coração se enche de tanto carinho que Samuel me faz sentir. Muito
diferente da primeira impressão que tinha dele. Depois de tudo o que estamos vivendo, ele se
mostra cada vez mais. Aos poucos, Samuel se abre e eu consigo entendê-lo cada vez mais.
E eu sei o motivo dele ser tão duro com tudo e consigo mesmo. Samuel não precisou me dizer
as palavras, mas sei que ele toma conta de sua família porque sua mãe lhe pediu. Eu sei, que sim.
Foi da mesma forma que minha mãe pediu para que tanto eu quanto meus irmãos cuidássemos uns
dos outros. Mas Samuel pegou toda a responsabilidade para si. Sem pedir ajuda, sem descanso,
sem nenhum pouco de diversão.
Ele passou os últimos quinze anos tomando conta das pessoas que deveria tomar conta dele.
Não vou mentir, eu senti uma grande decepção com o pai dele, mas depois percebi que ele estava
tão perdido quanto o seu filho, se não pior. Mas sei que Sam não faria diferente. Ele fez o que
achou ser certo, mesmo que isso prejudicasse um pouco da sua vida. Entendo agora o seu lado
introvertido e rabugento.
Por qual eu me encantei. Sim, é estranho dizer isso, mas a minha maior missão sempre foi
colocar nem que fosse um minúsculo sorriso em seus lábios lindos que agora são meus.
Coro apenas por pensar nisso. Mas foi o que ele me disse na noite passada enquanto
estávamos conversando em frente de casa. E depois quando ele me beijou antes de ir embora. A
parte mais dolorosa do dia. É estranho e ao mesmo tempo revigorante como tudo mudou com uma
simples palavra.
Por um simples consentimento.
Nunca imaginei que ele poderia me ver como o enxergava, dada a minha enorme
capacidade de irritá-lo. Pensei que as únicas emoções que lhe causava fossem raiva e decepção.
Samuel é o maior enigma da minha vida. Ele não é uma pessoa fácil de lidar na maior parte
do tempo. Como Franklin gosta de dizer, ele é apenas fofo comigo e Arthur. Mas isso está
mudando. Não é apenas comigo. Ele é muito mais solícito em tudo. E a forma que ele lida com as
crianças agora é de encantar qualquer um. Depois de nossa conversa sobre a mudança de
ambiente, meu Grandão investiu muito na mudança de cores das salas.
Apenas uma semana depois da nossa conversa, temos uma sala especialmente para as
crianças. E ajudou muito com a atenção delas. Adoro os meus pacientes, mas às vezes chego em
casa tão cansada que nem sei qual deles me cansou mais. Porém, eu não me incomodo nenhum
pouco com isso. Depois que terminamos as sessões e vejo que eles estão se recuperando, os
resultados positivos me fazem conseguir dormir feliz à noite.
Se bem que dormir está se tornando impossível. Samuel quase que diariamente me dá carona
para casa e é uma das minhas partes favorita do dia. Apesar de estarmos no mesmo lugar por
seis horas, é difícil estarmos sozinhos por muito tempo. E depois, ao chegarmos em casa, meus
irmãos e sobrinha estão sempre presente.
Mas nada acontece. Além disso, não posso ajudar a mim mesma. A vontade que eu tenho
sempre que o vejo, é implorar para que ele faça alguma coisa, mas ele sempre se esquiva.
Eu sei que ele não é esse príncipe de armadura reluzente. Na verdade ele é, mas sei que não
é sempre assim. A força que ele usa para se controlar deveria estar sendo para nos desfazer
sempre que quiséssemos, mas ele leva a sério sobre não querer me assustar. O que me assusta na
verdade, é a minha vontade louca de estar com ele.
Bastou uma única vez para que ele me deixasse louca. O homem saber fazer as coisas. Se
nossa primeira vez foi linda, nosso primeiro jantar juntos foi simplesmente inesquecível.

— Gosto que use essa cor suave. — Sam diz no meu ouvido.
Sua respiração quente contra a minha pele fria, me deixa louca e cheia de desejo dele.
Samuel tem me tentado toda a noite, alisando minhas pernas, acariciando minha nuca,
beijando meu pescoço. Pequenos toques, mas todos carregados de malícia e desejo. Sempre que
ele me toca, eu me arrepio, e ele geme cada vez que suspiro baixo.
Ele não me trouxe apenas para jantar, mas para me torturar também.
— Mas eu acho que com a sua pele pálida... — Com seu dedo indicador ele acaricia a parte
de trás de minha orelha. — O preto combina mais. — Seu toque desce pelo meu pescoço, indo até
meu ombro descoberto. — Estou apenas imaginando isso e estou pronto para te comer em cima
dessa mesa.
Sua voz é rouca e escorre desejo.
— Sam.
Ele se inclina devagar e beija a parte debaixo da minha orelha e logo em seguida morde
levemente. Cruzo as minhas pernas querendo controlar a necessidade que tenho de ser preenchida
por ele, aqui mesmo. Sem me importar com ninguém.
— Dá próxima vez que sairmos, eu quero que você use um conjunto preto. — Sua mão desce
pela minha cintura a chega a minha coxa. Seu lado cruel retorna e então ele coloca sua grande
mão por dentro do vestido. — Que vou fazer questão de tirar de você antes de te...

— Porque você está vermelha? — Arthur pergunta quando termina de arrumar os balões no
barbante.
Como é que se responde isso?
Eu estava pensando na noite em que seu irmão me levou para sair. E nessa mesma noite ele
me deixou louca e quase me masturba em um restaurante lotado.
Isso o assustaria? Sim, e Samuel piraria quando soubesse o que falei para seu irmão mais
novo.
— Estava pensando no meu irmão, não é?
Acho que meu rosto está igualando a um pimentão.
— Arthur!
Simon repreende seu irmão caçula e fico agradecida por isso. Sei que ele faz isso apenas
para implicar, mas tudo isso continua é muito novo para mim. Mesmo que Sam tenha deixado claro
que estamos juntos.
Começou depois que o Samuel cuidou de mim quando mais uma vez a gripe me pegou. Bem,
acho que todos suspeitavam de alguma coisa, mas depois daquele dia, todos tiveram certeza.
Samuel estava sempre ao meu lado perguntando se eu estava bem, me abraçando e bem... Me
beijando no meio do hospital – o que é nada do feitio dele – então todos já sabiam. O que eles
sabem exatamente eu não sei, mas sabem que tem alguma coisa acontecendo.
Não é um compromisso sério. Na verdade, é sim, já que ele gosta e faz questão de estar
sempre ao meu lado e dizendo o quanto sente a minha falta. Desde a minha conversa com Simon,
eu sei que é tão novo para mim quanto para ele.
É uma coisa única que nós dois temos. Não sou tão descolada e dizer que é apenas sexo, é
muito mais do que isso. Assim como ele é a pessoa mais importante da minha vida no momento, eu
sei que tenho o mesmo status em sua vida. Ele não esconde o que sente. Mesmo que me irrite às
vezes quando surta sem motivo, o que ocorre principalmente quando estou conversando com Simon.
Tem uma barreira entre os dois que impede que eles se deem bem, mesmo que tentem. Mas
depois de uma conversa baixinha com ele, Samuel percebeu que não tem motivos para ciúme.
Infelizmente, eu não fiquei com a mesma sensação. Eu pensei que o Samuel vivesse apenas
para sua família e para o hospital, mas estava enganada. Bem, sou humana, claro que fico com um
pouco de ciúmes, mesmo que não tenha motivos. Sophie, a sua melhor amiga, está a milhares de
quilômetros de distância daqui e pelo o que Simon me garantiu que ela é apenas como uma irmã
para o Samuel.
Mas eu não senti firmeza da sua parte.
E Sam me contou sobre ela alguns dias depois. Algo sobre ela voltar para casa. Percebi o
orgulho em sua voz quando me disse o quanto ela é especial. Certo, meu nível de ciúmes foi lá em
cima e estourou rapidamente. Mas fui uma boa menina e escondi isso. Infelizmente, não foi todo
mundo que consegui enganar. Simon vendo de longe percebeu que algo me incomodava, e me
garantiu que não deveria ficar preocupada com isso.
Ela é intocável!
Foi o que ele me disse.
E me ajudou um pouco. Até mesmo Vanessa me disse que se ela fosse tão importante, Samuel
teria ido para cama com ela assim que tivesse chance.
Bem, minha irmã sabe me animar. E depois percebi que estava perdendo meu tempo com isso.
Já que ele disse de mim para ela. Isso é bom, não é? Se a melhor amiga sabe sobre você, é
porque estamos em um relacionamento sério. Só espero que ela não seja daquelas amigas que
querem os caras só para si.
Não está ajudando pensar sobre isso, Victória.
Concentre-se na festa surpresa de hoje.
E é isso que faço. Com a ajuda de Simon e Arthur, e a autorização de Sandoval, eu e Felipa
arrumamos a sala de exercícios para uma pequena festa de aniversário para o Sam.
Bem, não exatamente pequena. O Arthur é exagerado, comprou balões, e mandou fazer uma
faixa enorme de “FELIZ ANIVERSÁRIO, SAM” para colocar na parede e vários doces para colocar
na mesa. Bem, a ideia foi minha, mas ele tem o mérito por arrumar tudo isso em tão pouco tempo.
A única coisa que ficou em minhas mãos foi o bolo. Sem dar pinta, consegui descobrir o sabor de
seu bolo favorito. E quase tive uma crise de euforia quando descobri que é o mesmo que o meu:
Floresta Negra.
E como esse o único que sei fazer e modéstia a parte fica muito bom, foi minha única missão. E
o Simon me emprestou a sua enorme cozinha – muito desnecessária para um solteiro que come
comida congelada – para fazer o enorme bolo. Três camadas de massa e muito Ovomaltine
depois, o bolo ficou pronto.
Espero que isso seja o bastante para Sam esquecer que eu o deixei ontem à noite sem sua
sessão diária de amasso no carro. Eu senti falta dele ontem. Não foi uma das minhas melhores
ideias, mas foi por uma boa causa. Afinal, estava fazendo o seu bolo favorito no mundo inteiro.
— Acho que está tudo certo!
Arthur sentencia quando dá um passo para trás. Dando-nos a vista da mesa cheia de
guloseimas. Ele não brincou mesmo quando disse que iria arrumar tudo. O Hamilton mais novo
cruza os braços, orgulhoso de se trabalho.
— Agora temos que dar uma desculpar para que Sam venha até aqui.
Arthur começa ir até a porta.
— Mas antes precisamos reunir todos aqui, seu tapado! — Simon chama a sua atenção,
fazendo seu irmão parar no meio do caminho.
— Vocês têm dez minutos.
Arthur sai em disparada logo depois e Simon e eu tentamos chamar os outros o mais rápido
possível. Didi é a primeira a chegar e já quer devorar o bolo. A menina consegue ser uma formiga,
adora um doce.
Sandoval para ao meu lado e beija minha bochecha.
— Obrigado por fazer isso em tão pouco tempo. — Ele olha para longe pensativo. — Faz
anos que Sam não comemora seu aniversário.
Nossa!
— Eles saíram do elevador. — Simon proclama e então desliga a luz da sala.
Colocando-me no canto da sala, espero que ele goste da surpresa. Espero mesmo. Mas
pensado agora, acho que não foi uma boa ideia.
A porta se abre e já ouço o seu resmungo.
— Mas o que...?
A canção de Parabéns pra Você não me permite ouvir o que ele tentou dizer. Simon liga a luz
revelando um Samuel com a cara em completo choque. Ele olha ao redor da sala procurando por
alguém. Arthur o empurra para trás da mesa o deixando muito sem jeito. Quando estamos no fim
da canção seus lindos olhos me encontram. Samuel me dá aquele sorriso tímido e então diz, apenas
mexendo a boca.
“Isso é ideia sua”
Apenas sorrio. Tanto aliviada por ele gostar quanto por ele descobrir. Mas depois do que ouvi
de seu pai, sei que querendo ou não a “culpa” iria cair no meu colo.
— Viva o Sam!
Todos repetem e então ele sopra a vela de numeral vinte e seis que tem em cima do bolo.
— Faça um pedido! — digo alto e ele me encara rindo antes de soprar as velas que voltaram
a acender. E faz mais duas vezes, já que elas não querem apagar.
— Assim não vale. Ele teve uns dez pedidos por isso! — Arthur reclama, indo até seu para
dar os parabéns. E cada uma das pessoas presentes faz o mesmo enquanto eu fico no canto,
esperando. Depois que o Samuel receber o abraço e presentes de todos, ele me encara.
Seus olhos estão em chamas. Samuel molha os lábios daquela forma que me deixa louca para
beijá-lo. Ele passa as mãos por seus cabelos, ainda incrédulo. Meu meninão ainda é tão
adolescente em alguns momentos como agora.
— Não acredito que você fez tudo isso! — diz quando para a minha frente com os braços
cruzados. — Como descobriu?
Faço que não com a cabeça, não dedurando seus irmãos.
— Parabéns, Grandão.
Do bolso do meu jaleco, tiro o seu presente.
— Não é muita coisa, mas fui eu quem fiz. — Entrego o embrulho amarelo para ele. —
Espero que goste.
Ele toma da minha mão delicadamente e beija meus lábios delicadamente.
— Tudo sobre você é especial para mim, Docinho.
Coro um pouco quando percebo que todos estão com a atenção em mim. Ele não abriu
nenhum presente, mas quer abrir o que lhe dei.
De dentro do embrulho, ele tira uma pulseira. Eu sabia que ele iria gostar. Samuel é muito
religioso e nunca escondeu isso. Então resolvi fazer uma coisa para ele. Comprei miçangas de
madeira de carvalho e um crucifixo e montei uma pulseira para ele. Arthur me ajudou a conseguir
a medida de seu punho.
— É... É linda, Docinho — diz olhando para a pulseira em suas mãos.
Ele arruma a manga do seu jaleco e coloca em seu punho direito. Então ele segura meu rosto
e me beija. Seus lábios esmagando os meus com certa força. Sua língua intimidando a minha. Sinto
gosto de café e de Sam, meu gosto favorito em todo mundo.
Assim como o beijo começou ele termina. Sam se afasta me deixando com as pernas bambas.
— Obrigado, Docinho — diz olhando para seu punho. — É o presente mais atencioso que eu
já recebi.
Mordo meu lábio, tímida demais para falar alguma coisa que não seja...
— Hora de cortar o bolo, Sam!
Samuel continua me olhando e então ele se volta para meu irmão.
— Claro.
Arthur ficou chateado quando ele não recebeu o primeiro pedaço.
— Vou guardar para comer mais tarde.
Isso me machucou um pouco, eu queria saber se ele gostou do bolo que fiz apenas para ele.
Mas se ele disse que iria provar, então eu sei que ele vai.
Então seu telefone toca e Sam sorri para a tela. Ele fica no canto conversando por alguns
minutos. Ele está sorrindo o tempo todo. Consigo ler a palavra preciosa em seus lábios e sei que se
trata da sua amiga.
Mesmo que minha vontade seja ficar aqui, eu tenho obrigações. Dou um beijo rápido na minha
irmã antes de ir para a sala arrumar alguns documentos que Felipa me pediu. Depois eu me
preocupo em limpar a sala.
Prendo-me por horas na sala. De vez em quando fico olhando para o computador vendo se
nenhum paciente meu chegou para uma rápida sessão. Acho que meu humor azedou e sem nenhum
motivo.
Na verdade, eu sei, mas eu não quero analisar isso. Mesmo que seja bem difícil. Termino uma
pilha e então vou para a outra.
Simon aparece na sala e sorri quando me vê tentando colocar as pastas na parte de cima do
armário.
— Você sabe que não pode com isso, Vick.
Dou de ombros.
— Tentar não faz mal.
Simon pega as pastas das minhas mãos e as guarda para mim.
— O que vai te fazer mal, é cair e quebrar a perna ou o braço ou, Deus que nos livre, os
dois juntos. Vamos perder nossa melhor fisioterapeuta.
Dou a ele um sorriso, mas não falo nada. Acho que ele percebeu que não quero falar com ele,
pois ele sai logo em seguida.
Deixando-me com meus pensamentos nada agradáveis.
Depois que ajudei à senhora da limpeza a arrumar a bagunça que ficou a sala, pego minha
bolsa pronta para ir encontrar minha irmã e ir para casa.
—Victória. — Eu me viro ao som da voz que passou a ser uma dos sons mais lindos para mim.
— Preciso que você fique um pouco mais.
Sua voz não demonstra nenhum tipo de emoção. Minha mente começa a percorrer
pensamentos sombrios. Será que eu não deveria ter feito a festa? Será que ele acha que eu
passei dos limites? São tantas as coisas que passam pela minha mente que nem mesmo consigo
catalogar.
Vamos para a sala de massagem, um local praticamente vazio. Samuel dá espaço para que
eu passe, e assim que entro ele fecha a porta e então a tranca.
É quando eu vejo o pedaço de bolo que ele disse que iria provar.
Sinto o seu corpo atrás de mim. Não está encostando ao meu, mas próximo o bastante para
sentir toda a sua tensão. Sua respiração está pesada, quente. Sinto-a mesmo com que a central
esteja ligada.
— Pensei que você gostaria de provar comigo esse bolo que fez. — Suas mãos vão
diretamente para os meus ombros. Samuel tira a mochila de meus ombros e então a deixa no chão,
deixando a pele dos meus ombros expostas para ele. Seus dedos quentes em minha pele fria é o
suficiente para me fazer gemer.
Sua boca chupa meu pescoço tão deliciosamente que quase me faz cair.
— Que tal eu provar vocês dois, juntos? — pergunta ele antes de me virar com tudo.
Seu beijo é exigente, dominante e punitivo. Samuel brinca com a minha língua, provando cada
canto de minha boca. Seus dentes mordendo, às vezes levemente e outras, com força. Então ele
suga meus lábios fazendo toda a dor irradiar por meu corpo.
Samuel se afasta de mim. Seus olhos estão em chamas, mas um fogo diferente do qual eu
estou acostumada. Um fogo punitivo, selvagem, cheio de luxúria perversa.
— Fique nua — ele pede acariciando meu rosto.
Mas o carinho não esconde o tom de urgência.
Faço o que ele me pede. Felizmente, ao menos a minha sunga feminina – as quais eu amo –
valoriza o meu quadril.
Mesmo que eu não esperasse fazer amor com ele na sala de massagem, mesmo que tenha
fantasiado muito sobre isso. Samuel inspira fortemente quando me vê nua.
Samuel me pega no colo e me leva para a mesa. Ele não desvia o olhar nem por um segundo.
Com força, ele abre as minhas pernas me deixando exposta em cima da maca. Ele lambe seus
lábios, claramente louco para começar a fazer as coisas.
Meu sangue ferve, nos mais de noventa quilômetros de veias que meu corpo possui. Estou
pronta para pedir que ele me ajude com a dor. Mas algo em seu olhar me diz que ele não vai
fazer isso agora.
— Acho que posso ter o jantar e sobremesa de uma só vez. Feche os olhos.
O que?
Samuel arqueia uma sobrancelha. Com dor demais, faço o que ele me pede, implorando aos
céus que ele me ajude logo.
— Eu sabia que valeria a pena esperar.
Sinto-o espalhar algo lá embaixo e então sua boca está em mim. Sua língua subindo e
descendo por toda minha intimidade muito molhada. Samuel está me chupando, me lambendo. Sua
língua entrando e saindo de dentro de mim. Estou cada vez mais molhada, gemendo cada vez mais
alto. Samuel balança a cabeça, alternando movimentos horizontais e verticais, me levando em uma
montanha russa carregada de prazer. Ele escancara mais minhas pernas ao ponto de doer. Com
uma última chupada em meu nervo dolorido, eu grito enquanto uma avalanche de prazer me
atinge com toda violência.
Ainda estou perdida quando Samuel se instala no meio de minhas pernas, ele já está sem a
sua calça. Está duro, molhado e mais do que pronto para entrar em mim. Minha boca saliva para
prová-lo, mas ele não me deixa pensar por muito tempo, coloca o preservativo e entra em mim em
um só golpe.
Espero que seja sempre assim.
— Você é uma gostosura, Docinho. — Ele se inclina e me beija. — Você é simplesmente
deslumbrante.
Samuel pega minha mão e entrelaça meus dedos aos seus. Estremeço quando ele começa a
sair lentamente de dentro de mim. Mal consigo respirar, mal consigo pensar. Samuel se inclina e
morde o meu lábio com força, me fazendo gemer mais e mais alto.
Meu Deus! Espero que não tenha mais ninguém aqui.
— Você é minha, Victória — diz antes de morder meu ombro. — É minha e eu nunca vou te
deixar ir.
Ele começa em um ritmo implacável. Mordo meu lábio, pois ainda é difícil ter ele por completo
em mim. Lágrimas começam se formar em meus olhos assim que ele começa, continuando indo e
vindo. Seus quadris se chocando com os meus. Meu corpo tremendo, sentindo o prazer volta com
mais força dessa vez. Agarro seus braços. Conseguindo ir ao encontro seus golpes, querendo que
ele seja mais áspero. Mas ele começa a se controlar.
— Não! Continue, por favor, continue.
— Merda!
Ele grita me tirando de cima da maca e me levando ao chão. Samuel me coloca de barriga
para baixo e levanta meus quadris. Ele usa seu pau para espalhar líquidos por todo o lado. Sem
querer ou não, a ponta de seu pênis para na parte em que não descobrimos ainda. A sensação é
diferente, mas pelo enorme tesão que tenho em mim, empurro para ele.
— Docinho? — Sua mão está no meio da minha costa.
— Sam, por favor, eu preciso de mais — choramingo querendo que ele me ajude de qualquer
forma.
Samuel fica parado por alguns segundos então se levanta e parece buscar algo. Ele está de
volta. E então coloca óleo por toda minha bunda. Ele me deita no chão, mas coloca um travesseiro
em minha barriga. Deixando apenas meus quadris elevados.
Samuel se inclina e começa a beijar meu pescoço, ombros, costas. Suas mãos vão até minha
barriga e desce para meus clitóris me fazendo arquear de prazer.
— Shhh, vamos devagar.
Ele não pode me pedir isso quando estou em plena chamas aqui. Mas ele vai levar do jeito
dele. Ele espalha cada vez mais o óleo pelas minhas partes então seu dedo entra em meu ânus.
Lentamente.
— Relaxa, se você fizer o que eu digo, vai ser bom para nós dois, Docinho. Respire devagar e
não empurre. Isso, boa menina.
Enquanto uma mão está explorando um lugar novo, a outra está me ajudando a relaxar. Seus
dedos não perdem o ritmo. Mas logo ele tira o seu dedo e seu pau começa a entrar em mim
lentamente. Ele não força e faço o que ele me pede. Respiro fundo.
Finalmente, passou a resistência inicial do meu corpo. Samuel relaxou. E se deitou um pouco em
cima de mim.
— Você é uma menina suja, não é Docinho? — diz ele contra meu ouvido. Sua língua lambe e
depois chupa minha orelha aumentando o calor em mim.
Samuel acaricia meus clitóris e então para, me torturando. Aumentando a dor, iludindo o meu
corpo que acredita que vai receber o prazer sempre que ele belisca meu nervo inchado e
pulsante. Começando a me ajustar, empurro para trás quando ele começa a se mover. Seus dedos
não param. Enquanto ele me come, seus dedos entram em mim. Seu polegar circulando e
apertando meus clitóris.
— Essa sua bunda é uma delicia. Ela aperta meu pau como se estivesse com fome.
Ele começa a sua sessão de palavras sujas me levando ao limite. Ele agarra meus quadris.
Começando um ritmo novo implacável. Cheio de loucura. Seus dedos entrando e saindo. Caio
contra o chão chorando quando o prazer se torna insuportável. Meu corpo é apenas sensações de
puro prazer. E cada vez que Sam entra e sai de mim, é uma carga nova que vem ao meu corpo.
Ele vem dentro de mim. Caindo sobre o meu corpo. Beijando minha nuca e ombros. Respirando
irregularmente. Dizendo algo que sempre vai ser verdade. E nada vai mudar isso.
Que sou sua.
Capítulo 19
Só quero deixar tudo para trás e viver meu futuro com você. Por favor, me
ajude.
Samuel

M ais uma vez tenho que agradecer imensamente meu irmão. Simon não fez nada, além de
conseguir que eu ficasse com a Docinho nesse fim de semana. Mesmo estando juntos em
quase três meses, um em que eu fui um completo babaca, é muito difícil conseguir tempo em que
podemos aproveitar um ao outro.
Mesmo estando a maior parte do tempo se esbarrando pelo hospital, é quase inexistente os
minutos em que podemos conversar.
Ainda que isso me irrite de muitas maneiras, o orgulho fala mais alto. Victória está se saindo
muito bem. Suas notas estão boas, e sua aprimoração na prática é perfeita. Com a recuperação
do Arthur, ela conseguiu noventa e sete por cento de recuperação do músculo lesionado. E com um
pouco mais de três semanas de tratamento, meu irmão voltou a fazer pequenos treinos com seu
time de futebol. Nunca se esquecendo de agradecer a Docinho por isso. Foi difícil deixar que ela
cuidasse do Arthur, mas acabei conseguindo. Victória tem uma áurea que consegue fazer com que
todos se encantem por ela. E isso é uma arma secreta no nosso meio de trabalho.
E por mais que eu tenha orgulho dela estar fazendo o seu nome e construindo uma reputação
muito respeitável ainda como estagiária, eu odeio que ela se esqueça de mim.
Idiotice de minha parte, nem precisa me dizer. Mas eu sinto falta dela na maior parte do dia.
Ela conseguiu se impregnar na minha vida. Deixar cada coisa com o seu toque de doçura e
alegria. Até mesmo na mais simples reunião, ela consegue fazer uma observação. E por mais que a
minha vontade seja estar ensinando-a e vendo de perto seu desenvolvimento, eu não posso. Seria
um grande problema para ela depois. Mas Franklin está me atualizando em tudo. Queria eu saber
que ele é muito mais paciente com os estagiários antes, pois isso teria evitado algumas das minhas
crises de enxaqueca. Mas, se isso acontecesse, não teria tido a felicidade de conhecer Victória
Albuquerque.
A menina que está embaixo de mim, dormindo tranquilamente como se não tivesse mais de
noventa quilos em cima dela. Suspirando baixinho, às vezes ronronando como uma gatinha
dorminhoca que ela é.
Ela simplesmente apagou assim que deitou na minha cama. Se eu fiquei frustrado? Claro que
fiquei. Observando o seu cansaço, me recordo de como é exaustivo a maratona do último período
da faculdade. A minha sorte, é que comecei meu estágio muito antes do período final e consegui
minhas horas, deixando tudo mais calmo. Mas nem todos possuem esse privilégio. Docinho acorda
às cinco da manhã e dorme às onze da noite. É compreensível que ela apague em seu tempo livre.
Olho para o relógio e vejo são meia noite e três. Deixo que ela durma. Quando estou me
arrumando para o seu lado, seus pequenos braços seguram meus ombros, dizendo que ela quer
que eu fique onde estou. Victória se remexe e agarra minha nuca, prendendo a minha cabeça em
direção aos seus seios. Se ela não estivesse dormindo, diria que é um convite para entrar nela sem
nenhuma cerimônia.
Mas deixo que ela durma. Pois amanhã, vou poder matar a fome que eu tenho dela.
Eu viro nós dois na cama, colocando-a em cima de mim.
— Durma, Samuel Henrique!
Reviro os olhos e sorrio. Odeio que ela tenha descoberto meu segundo nome. Papai tem
alguma coisa com esse nome Henrique. Simon, Arthur e eu não gostamos desse nome. Mas para o
meu desespero, o Arthur acabou soltando isso para Vick, que é claro, achou o nome lindo. Mas
aceitou o fato de que não gosto e fala apenas quando estamos sozinhos.
Victória se agarra mais em mim. Suas mãos em meus cabelos acariciando suavemente, um
cafuné maravilhoso. Suas unhas fazendo cócegas em meu couro cabeludo, fazendo com que o sono
venha mais cedo.
A última coisa que ouço antes de dormir é: Durma, meu Grandão!

Docinho ainda dorme na minha cama. São oito da manhã e estou fazendo o nosso café. Papai
não vai voltar até essa madrugada, já que o seu plantão de trinta horas acaba as duas da
madrugada e isso me dá um pouco mais de tempo a sós com Vick. O Arthur foi para o
apartamento do Simon, permitindo-me um pouco de sossego. Não é por nada não, mas às vezes
Arthur consegue me levar ao limite, ainda mais quando está doente.
Meu celular toca e vejo o nome de Sophie. Ela nunca me liga pela manhã. Atendo antes que
ela desista.
— A ponte de Londres está caindo?
— Estou voltando para casa por alguns dias. Culpe seu amigo por isso.
Diones. Eu já deveria saber que ele iria tentar trazer sua irmã para sua formatura. Afinal, é
ela que banca o seu laboratório. Bom, não exatamente. Ela apenas deu o capital e Diones o
administra.
— Não sei se posso culpá-lo por querer a irmã em um grande dia. Não é sempre que ele
recebe a condecoração do Estado por seus serviços prestados.
Sophie resmunga algo.
— Não vou ficar muito tempo. Não posso deixar os meninos e a Gabi provavelmente vai
querer ir e ela não pode se ausentar na época de provas. Enfim, só pensei que você queria saber.
Sim e não. É o que vem em minha mente. Não, pois isso me diz que ela vai querer de alguma
forma afetar o Simon. Ainda não sei o que houve entre os dois, mas sei que assim como Simon quer
uma conversa simples, Sophie quer apenas a destruição do meu irmão. Ficar no meio, tentando
evitar uma briga entre duas pessoas que eu amo, não é coisa que eu quero nesse momento. E o
sim?
Sei que já passou da hora de deixar que o Simon assuma as responsabilidades da sua vida.
Assim como tenho que deixar de querer cuidar da Sophie. Ela se foi há sete anos e preciso deixar
que os dois se resolvam sozinhos. Mas sei que se deixar os dois lidarem com isso, nada de bom vai
sair. E não é querer defender o meu irmão, mas Deus sabe o que tive que fazer e o que guardar
para que ele pudesse estar bem como agora. Foi um peso que eu resolvi carregar por ele. E não
me arrepende de jeito nenhum. Se o resultado é meu irmão feliz, faço tudo de novo sem nem
pensar duas vezes.
Mas a mulher do outro lado da linha pensa diferente.
— Espero que guarde um tempo para jantar comigo e com a Vick.
— Isso eu posso fazer. Falo com você depois Sam, é a vez de Sirius ser atendido.
Nós nos despedimos, mas antes desejo melhoras para o grande filhote de lobo que ela tem.
Deixo o celular no balcão e termino de fazer o café para a Vick. Arrumo tudo em uma bandeja e
levo até o meu quarto. A cena que vejo me faz rir. A luz do sol está na cama, e a Docinho
querendo mais tempo nela, cobriu seu rosto com o travesseiro.
Mesmo que esteja desengonçada em minha cama, ela continua linda. Seus cabelos castanhos
ganham um tom de vermelho quando o sol os atinge. Os lençóis estão abraçando as suas curvas,
deixando apenas sua barriga descoberta, me permitindo ver o quão calma está a sua respiração.
Mas tenho coisas para fazer com ela hoje que não posso esperar. Deixo a bandeja em cima do
criado mudo e me deito ao seu lado. Nada muda, nem mesmo os lençóis. Ela esta acabada, mas
está na hora de acordar.
Quero apenas esquecer os próximos problemas que terei e aproveitar com ela o tempo de
paz e paixão que nos resta. A verdade é que eu não quero mais nada, além disso.
Corro o risco de perdê-la, se Vick descobrir coisas que tenho evitado ultimamente, mas não se
pode fugir da própria natureza. Não posso fugir das consequências que proferi para meu futuro.
E sinto que ela sabe. Victória consegue ver mais do que ela diz e demonstra.
E é por isso que sou louco por ela.
Docinho me permite dizer apenas o que eu quero. Ela aceita tudo o que lhe dou e ela não
reclama, por mais que não seja justo com ela. Talvez esteja na hora de dizer a ela o que tenho
mantido em mim por anos.
Ou quem sabe é uma carga que devo levar sozinho pelo resto da minha vida.
Victória se mexe, ficando de lado na cama, tirando o travesseiro de cima de sua cabeça. Os
seus cabelos estão em seu rosto. Amo quando ela os deixa soltos. São como um véu de seda
vermelho cobrindo seus ombros, e enquanto ela está em cima de mim, é a mais bela perfeição.
— Bom dia, Grandão!
Ela se arrasta até a cabeceira da cama e se encosta nela, cobrindo seu corpo com o lençol.
Ela tem se acostumado com o clima de casa, mesmo que às vezes passe mais frio aqui do que na
rua.
— Bom dia, amor! — Eu me inclino, beijo sua bochecha e coloco algumas mexas de seus
cabelos atrás de sua pequena orelha. Seus olhos param na pulseira que ela me deu de aniversário
há algumas semanas. Como disse a ela, eu não a tiro nunca.
Foi o melhor presente que já recebi.
— Me desculpe por dormir assim que caí na cama — diz timidamente.
Ah, esse sorriso! Como sempre me deixa tonto. Sento-me mais próximo dela, descansando
minha cabeça em seus ombros. Ela sorri e começa a acariciar os meus cabelos. Não precisamos
dizer muito coisa, não há necessidade de nenhuma palavra quando estamos assim.
É o nosso pedaço do céu particular. Que criamos do nosso jeito. Ela me traz para um mundo
de paz e contemplação que nem sabia que poderia existir. Mas não é apenas o carinho, amizade
e paz que faz parte do nosso paraíso. O melhor de tudo é a necessidade que temos um do outro.
A forma que nos comunicamos apenas com o olhar.
Puta que pariu! O sexo começa quando nossos olhos se encontram. Não existe nada que me
deixe louco quando percebo que Vick quer a mesma coisa que eu.
Meu Deus, ela é linda demais. Começo a beijar seu pescoço, mesmo tendo levado uma bronca
de sua irmã, por ter deixado um chupão enorme em sua nuca. Bem, foi uma bronca que me fez
muito orgulhoso. E pouco me importa se isso vai me fazer levar outra. Vale a pena apenas por
sentir o meu gosto favorito no mundo.
Docinho não se faz de tímida. Ela sempre quer mais, ela sempre precisa de mais. É como se
fôssemos feito um para o outro. Nossos corpos se encaixam, nossas peles se reconhecem, nossos
beijos são cada vez mais intensos. E sua boceta. Céus, ela foi desenhada pelo pecado para mim.
Suas mãos vão para as minhas costas nuas, arranhando e apertando enquanto eu chupo e
lambo a pele de seu pescoço. Victória se remexe abrindo as pernas. Desço minha boca até a o seu
colo, nunca parando os meus beijos. Esquecendo o café, eu me deito em cima de seu corpo. Docinho
agarra o meu pescoço e desce na cama ficando com o rosto em frente ao meu.
Seu polegar afaga meu rosto. Seus olhos estão brilhando. Posso mais uma vez me encantar
com ela. Nunca me canso de admirá-la. Talvez, a cada dia que se passa, estarei descobrindo mais
dela, que me fará seu servo para sempre.
— Você é incrivelmente linda, Victória Albuquerque — digo olhando bem dentro de seus
olhos. — Nunca encontrei uma pessoa tão linda quanto você. E se um dia, eu estiver insano e louco,
olhar para você será a única coisa que vai me acalmar. — Beijo sua boca. — Tudo que acontece
em minha vida é por você. Tudo está em sua mãos, Docinho. E nada vai me fazer desistir de você.
Nada.
— Sam! — ela geme meu nome quando tiro o lençol de cima dela.
Foi rápido, com força, mas da forma que apenas nós dois sabemos fazer. Tenho tempo para
aproveitá-la e vou fazer isso por todo o fim de semana, antes que as suas semanas de provas
comecem.

Após deixar a Docinho em casa, fico relembrando a conversa que tive com o seu irmão Victor.
Sabia que essa conversa iria acontecer, apenas não esperava que Victor me pedisse paciência e
me desejasse sorte. Acho que ele fez isso com a pessoa errada. Talvez ele estivesse apenas
irritando a sua irmã.

— De nós três, Vick é a que mais ama. Ela nunca vai desistir até que veja que não tem
nenhuma chance de conseguir. Eu não te conheço muito, mas sei que é um cara legal e parece
adorar minha irmã. Para mim isso seria o suficiente, mas não é. Todo o amor do mundo é o
suficiente para ela. Vick não tem limites, ela vai te levar a um nível inalcançável, tenho certeza que
você já reparou nisso. Ela vai te dar tudo dela e vai aceitar o que você der, porque minha irmã é
assim, simples, mas intensa. Pense bem antes de fazer ou dizer algo que possa se arrepender
depois, porque se eu souber que fez algo, subo no primeiro avião de volta para cá e não vai ser
para termos uma conversa amigável.

Esse foi o jeito que seu irmão disse que confia em mim com a Victória. É legal que ele tenha
dito que vai estar sempre ao lado dela, mas não é ele que tem que confiar em mim, e sim o meu
Docinho. Depois de ontem e hoje, eu sei que ela confia em mim, e então posso mostrar a ela o um
pouco mais do que eu sou.
Largo a chaves do meu carro em cima da mesa da sala. A casa está em silêncio. Papai com
certeza está dormindo e o Arthur e o Simon ainda não chegaram, ainda são oito da noite. Acho
que falei cedo demais. Ouço o carro chegando e os dois estão aqui alguns segundos depois.
Arthur parece exausto, mas ele está corado. Eles com certeza tiveram um dia agitado.
— Ei, cara! — Arthur passa por mim se arrastando.
Ele está com seu short de treino. E sem camisa. O moleque só tem quinze anos, mas é alto. É
uma coisa da família.
— Já jantou?
— Já, só quero a minha cama. Amanhã eu te conto como foi a minha aventura com o irmão
mais velho.
Diz já sumindo no segundo andar. Olho para o Simon que parece tão cansado quanto o
Arthur. Com certeza eles tiveram muita atividade hoje. Vendo meu irmão sorrindo, dói em minha
alma ter que puxar um assunto delicado.
Não sei se devo contar a ele que Sophie está voltando para casa. Não sei se posso deixar
seu espírito ferido novamente. Digo que ele mereceu cada dor que sentiu, mas tudo foi da boca
para fora. Nunca que quero que o Simon fique preso em tanta dor. Por que se isso persistir, tudo o
que fiz terá sido em vão.
Sei que ele acha que tudo o que digo é para afetá-lo, mas é o contrario. Cada palavra de
desaforo que saí de minha boca é um empurrão que dou a ele para levá-lo para longe da
verdade.
Mas me leva para longe dele também.
É uma consequência que carrego sem nenhuma culpa. Prefiro que ele me odeie a vê-lo
destruído pela mulher que ele ama.
Sei que ele ouviu uma conversa minha com a Sophie. E por segurança, deixei que ele
acreditasse em tudo. Bem, tudo o que dissemos naquela conversa é verdade, mas Simon ouviu
apenas metade. Se ele tivesse chegado antes, saberia o que estávamos falando.
Mas foi o melhor para nós dois.
— Tem falado com o Diones?
Eu começo por um assunto que sei que não vai nos deixar estressado.
— Não, mas fomos convidados para a festa da pós dele. Você vai, né?
— Sim, eu vou sim. Ele é nosso amigo, e não tem ninguém por perto. Vai ser bom estarmos lá.
Simon acena concordando, mas logo vai embora.
Não consigo. Simplesmente não sei como puxar esse assunto. E não quero. Péssima ideia de a
Sophie voltar para casa. Seria muito mais fácil o idiota do seu irmão ir visitá-la como ele sempre
faz.
Subo para o meu quarto e me agasalho para dormir. Não é minha melhor noite de sono, ainda
mais porque sonho como minha mãe. Foi uma das vezes em que eu tentei ajudar Simon e acabei
estragando tudo.

— Ele não queria dizer aquilo, Sam. Estava apenas chateado com as coisas.
Mamãe diz isso pela quarta vez, mas eu não acredito nisso. Simon não diz as coisas por dizer.
— Sei que você queria ajudar, mas filho, nem sempre é bom tentarmos. Às vezes, nós temos
que deixar as coisas acontecerem, mesmo se elas nos machucarem.
— Eu só queria...
Mamãe deita a minha cabeça em seu colo, acariciando meus cabelos.
— Eu sei meu amor. Por isso que eu tenho certeza que você sempre vai tomar contas deles.
Você, Samuel, não mede esforços para cuidar de quem você ama, até mesmo esquece-se de você
para ajudar os outros. Mas nem sempre tem que ser assim, querido. Uma hora você vai ter que
deixá-los trilhas seus caminhos sozinhos.

Esse sonho ficou na minha mente até a hora do almoço de segunda feira. Tudo faz sentido
agora. Sei que o Simon e a Sophie tem que lidar com essa história dos dois, mas desejo que eles
não se machuquem mais.
— Cara, eu tenho uma péssima notícia para você — Franklin entra na minha sala segurando o
roteiro do congresso desse ano. Falta apenas um mês e já tenho as coisas arrumadas para nós três
irmos. Eu, o Franklin e a sua esposa.
— Diga.
— Olivia está grávida, e tem que ficar em descanso nos primeiros três meses. Eu não queria te
dar essa resposta assim, mas eu não vou deixar minha mulher sozinha depois de termos conseguido
esse milagre.
— Parabéns, cara!
É o que eu posso dizer, dado a circunstância. Mas entendo meu colega. Ele está em um grande
impasse. Sei o que Olivia passou dois anos atrás, quando perdeu dois bebês. E agora mesmo com
esse risco, eles estão lutando com todas as forças para conseguir manter esse presente.
— Desculpe estar me intrometendo mais do que deveria, mas eu acho que você deve levar a
Victória. Vai ser bom para ela e muito bom para gente também, já que teremos mais uma boa
profissional nos representando. Mas isso é com você, cara. Você tem meus relatórios sobre ela,
sabe muito bem do que estou falando.
Claro que eu sei o que ele está falando, apenas não sei se isso é o certo a ser feito. Tenho
outros profissionais que podem substituir os dois. Passo as próximas duas horas falando com o
restante do meu corpo fisioterapêutico, mas não tenho muito escolha. Três estão em fase final de
mestrado e a outra está entrando de férias no mesmo período.
Pergunto ao meu pai se ele acha que é uma boa ideia.
Doeu ele ter pensando que não acho que Victória esteja pronta para participar de um
congresso. Sei que ela está, mas essa não era a minha preocupação. A minha preocupação é que
sua participação no congresso não seja vista com bons olhos por conta do nosso relacionamento.
Peço para a Felipa chamá-la assim que terminasse sua primeira sessão.
Seus cabelos estão soltos. Ela está de top mais uma vez. Descobri que ela odeia sutiã, pois não
fazem o trabalho direito de acordo com ela.
— Oi!
— Você vai comigo para o congresso esse ano.
Seus olhos verdes quase saem de sua linda cabecinha quando digo isso a ela. Ela pega o
roteiro e olha alternadamente para ele e para mim, tentando acreditar no que estou falando.
— Tudo está pronto, vou apenas trocar as passagens para o seu nome e preparar algumas
coisas. — Agarro a sua mão. — Você quer ir comigo, Docinho?
Ela abre a boca umas quatro vezes mais nada sai. Então depois de um gritinho agudo que me
faz rir diz:
— Eu acho que posso te amar mais ainda!
Ela sai da cadeira e corre para cima de mim.
Não queria reparar, mas a música que estava tocando no meu computador era mais do que
perfeita no momento.
O que há dentro do meu coração
Eu tenho guardado pra te dar
E todas as horas que o tempo
Tem pra me conceder
São tuas até morrer

E a tua história, eu não sei


Mas me diga só o que for bom
Um amor tão puro que ainda nem sabe
A força que tem
É teu e de mais ninguém

Te adoro em tudo, tudo, tudo


Quero mais que tudo, tudo, tudo
Te amar sem limites
Viver uma grande estória

Aqui ou noutro lugar


Que pode ser feio ou bonito
Se nós estivermos juntos
Haverá um céu azul

Um amor puro
Não sabe a força que tem
Meu amor eu juro
Ser teu e de mais ninguém
Um amor puro...
Capítulo 20
Não apresente esse seu lado que você tanto tenta me esconder.
Victória

S abia que essa seria uma daquelas semanas que começamos com o pé esquerdo desde
quando acordamos na segunda de manhã. Com a gravidez inesperada da esposa do meu
supervisor, na qual ela precisa de repouso nos primeiros três meses, as coisas irão ficar um pouco
pesadas aqui pra mim. Mesmo que o Franklin venha pela parte da manhã, a parte mais
movimentada é da tarde e eu sou a única que sei como ele trabalha com os seus pacientes,
portanto, sou a única que pode continuar de onde ele parou. Espero ao menos terminar esses
procedimentos a tempo do Congresso.
Só de pensar que estou indo para o meu primeiro congresso, meu coração se alegra no meu
peito, fazendo com que eu tenha que respirar algumas vezes para não conseguir um ataque
cardíaco. Meus irmãos ficaram felizes e a Nessa até mesmo chorou e me fez chorar junto com ela.
Preciso me atualizar das coisas que terei que estudar e o que levar. Sei que serão apenas três
dias, mas espero ter tempo de ver ao menos uma praia.
— Vick, o seu paciente chegou. — Felipa me avisa quando deixa um pouco de água na minha
frente.
Essa mulher é uma benção. Se não fosse por ela, estaria perdida em muitas ocasiões. Como a
minha falta de habilidade em manejar os tempos das sessões. Ou fico muito tempo com um
paciente, ou acabo deixando outro com pouca atenção. Eu tentei me organizar, mas nós duas vimos
que não dava certo, então ela me ajuda com isso. Na verdade, me ajuda em tudo.
A pequena agenda humana!
— Estou indo.
Faço todo o preparativo para o pequeno que está com um gesso na perna. É muito mais fácil
cuidar de crianças do que de adultos. Acho que o meu lado moleca está sempre presente, fazendo
com que me conecte com essas coisas minúsculas que tem mais energia do que um reator nuclear.
Nesses quase quatro meses em que estou aqui, consegui mais de quinze pacientes que terminaram
o tratamento com sucesso.
Mas o paciente mais importante para mim foi o Artur. Conseguimos a sua recuperação em
tempo recorde. E com a sua ajuda é claro, já que o Arthur estava empenhado para se recuperar. E
graças ao seu empenho, ele está de volta ao time pronto para o campeonato estadual.
E tanto quanto amei ajudá-lo, aproveitei sua companhia como ainda faço quando ele está
aqui estudando. É uma coisa boa tudo isso. Com tanto ao meu redor, posso saber um pouco mais de
Samuel de todas as formas que consigo. Claro, agora conheço muito mais dele, mas não quer dizer
que não posso descobrir outras coisas.
Termino os quatro pacientes de hoje e estou pronta para terminar essa sexta-feira. Pronta
para chegar em casa e apenas me jogar na cama com o Grandão ao meu lado. Refiro-me ao
gatinho, não ao Sam. Ele tem aula de mestrado esse fim de semana e eu preciso estudar para a
semana que prova que teremos.
Vou até a lanchonete comer alguma coisa e pegar algo para Felipa que com certeza está
com fome, mas me deparo com ela na lanchonete.
— Senta aí, vamos comer essa esfirra que sua irmã faz que é uma delícia.
Faço uma careta e corto o seu barato.
— Você sabe que ela encomenda, não sabe? A única coisa que Nessa faz são as tortas e
doces. Os salgados ela encomenda.
Isso parece não afetá-la porque ela devora sem nenhuma vergonha.
— Eu me esqueci de te avisar, tenho tudo pronto para o Congresso, o localizador da viagem e
o endereço do hotel. Sei que o chefe vai ter tudo sob controle, então não ter muito que se
preocupar com isso. — Ela sorri. — Que tudo você, hein? Congresso latino logo no seu primeiro
ano de trabalho. Temos sorte de ter conseguido você, Vick.
Dou a ela um sorriso tímido, mas me sinto da mesma forma. Conversamos mais sobre o que
temos planejado para a viagem quando o que parece ser uma discussão chama a nossa atenção.
Um dos ortopedistas está gritando com uma pessoa, mais especificamente, com minha irmã.
Algo sobre o café estar frio e o queijo gelado.
— Mas doutor, foi isso que o senhor pediu. Eu posso trocar...
Nessa tenta acalmá-lo, mas ele não para de gritar. Eu já odiava esse cara, mas após essa
cena que está envergonhando a Nessa, o sentimento apenas aumentou.
— Ei, baixe a bola, ela já disse que vai trazer outro lanche para você.
Não queria, mas minha voz sai alta quando chamo a sua atenção.
— E quem você pensa que é? — O idiota pergunta. — Para falar comigo desse jeito? Não se
engane querida, você é tão incompetente quanto a sua irmã.
Ah, não vai prestar. Não vai prestar mesmo.
— Acho que você está muito exaltado e descontando nas pessoas erradas. Por que não se
acalma e...
Ele ri em completo deboche.
— Não é porque você está dando para o chefe que eu vou fazer tudo o que você manda,
Docinho... — Ele me olha de cima abaixo. — Ou talvez eu faça quando estiver te comendo
também.
O copo de refrigerante que está em cima da minha mesa vai para o seu rosto e logo em
seguida minha mão acerta em cheio a cara de idiota que ele tem.
— Eu tentei ser educada com você, mas você não sabe o que é isso. Peça desculpa a minha
irmã pela sua grosseria e vou fingir que você não me ofendeu.
Ele está fervendo de raiva, mas isso não me faz recuar. Já aguentei babaquice demais desse
idiota. E ele ter desrespeitado minha irmã foi o cúmulo. Eu já estava preparada para ouvir
comentários maldosos sobre o meu relacionamento com o Samuel, então seu comentário não me
abalou tanto quanto ele esperava.
— Não me importo se você quer ficar fofocando por aí sobre o meu relacionamento com
Samuel. Todos aqui já sabem dele. Mas o que disse agora, é assédio moral, tenho certeza que foi
ensinado na faculdade, você que não teve a decência de aprender.
Ele dá um passo para perto de mim e automaticamente me lembro como era quando Victor
ficava agressivo. Mas eu cansei de ter medo, cansei disso. E se recuar agora, estarei confirmando
que posso me submeter a essas coisas. Quando vou falar alguma coisa, Simon se coloca na minha
frente e empurra o idiota para longe.
— Na minha sala, agora, César. Mas antes, peça desculpa a Vanessa e a Victória.
O homem não faz o que lhe dito e continua me encarando como se quisesse me matar. Quem
esse imbecil pensa que é?
— Agora, César!
A voz de Simon é firme, mas ele não parece ligar para isso.
— Você está acabada, sua vadia. Escute o que estou dizendo — ele diz apontando para mim.
Estou prestes a retrucar, quando o punho de Simon acertando em cheio o rosto do idiota, do
mesmo lado que eu acertei o copo. Ele cai na mesa, chocado e com raiva, mas não revida. A raiva
que vem de seu corpo é nítida. Simon usou bastante força para acertar o homem, mas não perdeu
nenhum pouco a sua postura.
— Minha sala, agora.
O homem continua a nos encarar e então vai embora. Simon se vira para mim e segura as
minhas mãos.
— Você está bem? — Sua raiva esquecida quando ele olha para mim e depois para minha
irmã, que logo aparece ao meu lado. — Vick?
Aceno, tirando as minhas mãos das suas. Sentindo uma enorme necessidade de um abraço.
Nessa como sempre, sabe como me sinto nesses embates, me agarra e beija meus cabelos.
— Menina doida, você deveria ter ficado de fora disso — minha irmã diz me abraçando
forte. — Ele poderia ficar falando sozinho, eu não me importaria.
Mas eu sim. Penso, mas não digo. Já cansei de ver esse imbecil humilhando as pessoas. Cansei
de muitas vezes ele gritar com minha irmã e ela não fazer nada. Ele é médico, não o rei do mundo.
Minha irmã já passou por poucas e boas e sei que ela não leva desaforo para casa.
Mas também sei que ela aguenta muita coisa para manter o emprego e não é justo ela
aguentar tanto assim. Sei que eu também estou errada e não deveria ter feito nada daquilo. Não
deveria ter entrado no jogo dele, mas ele insinuou coisas... Me senti horrível por ele apenas ter dito
aquilo. E ainda fiz o Simon se envolver em uma briga que não era dele.
— Sinto muito, eu não queria ter feito nada daquilo, mas... Ele é um imbecil.
Simon sorri nenhum pouco preocupado com o que eu disse e muito menos do que acabou de
acontecer.
— Não se preocupe, querida. Já faz muito tempo que quero dar uma lição nele. Infelizmente
foi apenas um soco... — Ele olha para os nós de seus dedos que estão um pouco vermelhos. —
Mas lavou minha alma.
— Isso era a última coisa que eu precisava nesse momento! — resmungo sabendo muito bem
que terei algum problema coisa isso. Era só o que me faltava para terminar essa semana horrível.
Simon aperta meus ombros tentando me acalmar, mas não funciona muito bem. Sei que ele
pode se meter em encrenca e minha caixa de culpa está apenas enchendo a cada segundo.
— Você, vai falar com Samuel, enquanto eu vou lidar com aquele imbecil. Apenas peça para
meu irmão me encontrar na minha sala. Com ele eu me entendo.
Não! Não deixo.
— Simon...
— Está tudo bem, Vick. Eu estou acostumado em ser o babaca e já nem mesmo ligo para as
broncas do meu irmão. Não importa que eu tenha feito algo bom, as consequências sempre são a
respeito dos meus atos impensáveis.
— Mas não dessa vez, Simon, não!
Mas ele já está indo embora. Felipa segura meu braço e me leva para a sala.
— Calma querida. Ele vai cuidar de tudo.
Eu sei que ele vai, mas para isso vai ter uma briga enorme com seu irmão. Espero que Samuel
tenha bom senso em ouvir seu irmão. Não quero ser um dos motivos para eles brigarem. Já não
suporto essa distância que os dois colocaram entre eles e se essa distância aumentar por minha
causa, eu não vou aceitar isso.
Nem que para isso eu assuma toda a culpa.
Felipa deu o recado por mim, sabendo que eu iria interceder por Simon assim que entrasse na
sala.
— Você ficar pensando nisso vai ajudar em nada, Vick. Faça o seu trabalho e depois você
pode conversar com o chefe sobre isso.
Por alguns instantes eu fiquei bem e calma, mas isso mudou quando Samuel volta para a sala
com a cara de pouco amigos. Meu estômago despenca dentro de mim. Mesmo que queira ir até lá
saber o que deu de errado, eu sei que só vai piorar a situação. Aprendi isso quando o Victor
estava passando por uma péssima fase.
Mas isso não me impediu de bater de frente com alguém muito maior do que eu.
Fiz todo o meu trabalho, mas a minha mente queria conversar com o Sam sobre o que
aconteceu.
— Vick? — Felipa aparece na sala de exercícios. — O chefe está chamando você.
Aceno, fazendo-a saber que estou indo. Ainda bem que terminei de arrumar aqui e posso
enfrentar a fera sem me preocupar com nada. Pego minha mochila e vou para nossa sala. O
Grandão fez questão de colocar um lugar para minha em sua sala. Posso estar sobre os cuidados
de Franklin, mas ainda respondo para o Samuel na maioria das vezes. Bem, todos aqui respondem.
Inclusive o imbecil.
Assim que entro na sala, suspiro um pouco aliviada pelo fato dele estar calmo, não quero de
jeito nenhum brigar com ele hoje. Isso só vai me atrapalhar quando estiver estudando esse fim de
semana.
— O senhor queria falar comigo?
Ele tira a atenção do computador e em encara. Provavelmente curioso pelo fato de tê-lo
chamado de senhor. Depois de tudo quase não o chamo mais assim.
— Sim, apenas para dizer sobre o que resolvemos sobre o ocorrido de hoje à tarde. Simon
foi impulsivo e ele não deveria...
Isso é tudo o que eu ouço. Sabia que ele iria colocar a culpa em seu irmão.
— Não, o Simon não fez nada além de me defender, Samuel. Ele poderia muito bem não ter
se envolvido na briga, mas fez. Sabia que poderia ter sido pior? O imbecil do César poderia ter
feito algo pior do que gritado comigo. Vai por mim, eu sei quando um homem está prestes a
cometer um ato violento, mas isso é o de menos. Se alguém tem culpa aqui, sou eu. Então me culpe,
me repreenda e faça o que tem de fazer. Não culpe a pessoa que apenas me defendeu quando
nem mesmo deveria. O único erro que cometi, foi pedir para aquele idiota, que você diz ser um
ótimo médico, para se acalmar. Mas já deu, aguentei muito dele, Samuel. Deu pra mim — digo já
perdendo a paciência.
Ele me encara sem demonstrar nenhum tipo de emoção e isso só piora a situação. Não é o
momento para ele ser frio.
— Você não pode fingir que não vê o que ele faz ou como trata as pessoas. Eu não me
importo com ele gritando comigo, já ouvi coisas que você nem pode imaginar, mas não vou deixá-lo
gritar com as pessoas que eu amo, Sam. Não sem fazer nada.
Ele me encara por longos segundos. Isso não vai dar em nada. De repente me sinto exausta.
— Se você for ficar quieto, calado, bem, fique. Ainda acho que foi idiotice sua culpar seu
irmão por ter me defendido. Na verdade... — Olho para ele bem decepcionada. — Pensei que
você ficaria do lado de seu irmão, mas parece que ele foi o único que me defendeu mesmo.
Seus olhos negros se arregalam quando pego minha mochila para ir embora.
— Você já vai? — pergunta arrumando as suas coisas.
— Sim, mas não vou com você. Na verdade, nem apareça em casa, eu tenho que estudar. E
estou decepcionada demais com você.
Pego minhas coisas e vou embora. Cansada demais, mas segurando o choro.

Parte dos meus planos para o fim de semana deu certo. Mas é tão difícil seguir o planejado,
quando falta algo. Ou alguém. Passei a noite de ontem com a Nessa conversando sobre o que
ocorreu. Ela disse que o Simon foi atrás dela, perguntar se o idiota fazia esse tipo com frequência.
Sei que o Simon nunca gostou dele, e acho que ele faz bem em perguntar isso aos outros
funcionários do hospital. Ela não me contou muito, mas disse que os dois irmãos vão levar o assunto
para o pai deles.
— Está com fome, titia? — Didi aparece escovando os dentes. Não posso nem mesmo brigar
com ela, já que faço isso. É um costume feio de família.
— Não querida, pode ir deitar. Eu vejo se como outra coisa depois.
— Está bem!
Jogo o beijo para ela que vai embora para o seu quarto. Deixo tudo de lado na minha cama.
Não consegui me concentrar em nada. Nem mesmo nas anotações que peguei com o Franklin que
podem me ajudar nessa semana.
Sinto falta dele. Eu me contentaria apenas com um oi dele. Visto uma blusa e vou atrás do
outro Grandão da minha vida. Minha irmã e a Didi já estão em seu quarto e Victor está na base
esse fim de semana. Não quero pensar muito, mas ele tem apenas três meses aqui conosco. E logo
ele vai embora de novo.
Hoje não está tão frio quanto os últimos dias. Então esse pequeno travesso deve ter ido para
rua. Assim que abro o portão de casa, vejo os dois Grandões da minha vida vindo do final da
rua. Samuel tem o pequeno animal em suas mãos. Ele está lindo. Uma calça social preta junto com
uma blusa polo listrada.
— Esse deve ser o Grandão que você tanto fala. — Ele acaricia a cabeça o gato como se
nunca tivesse tido nojo do animal. — Ele gosta de ficar embaixo de carro.
Em nenhum momento ele faz menção de me dar o gatinho.
— O que você está fazendo aqui?
Ele coloca o gato para dentro e se volta para mim. Coloca as mãos nos bolsos de sua calça.
— Senti a sua falta.
— Eu também — digo sem pensar. Isso traz um lindo sorriso em seus lábios. — Mas ainda
estou chateada com você.
Ele suspira pesadamente.
— Eu sei, mas você não me deixou falar. — Ele se aproxima e coloca meus cabelos atrás da
minha orelha. — Você foi logo defendendo Simon, mas não esperou eu terminar de falar. Só para
você saber, eu não fui contra meu irmão, eu fiquei ao lado dele. Mas o que Simon fez ainda foi
errado. Depois que você saiu, eu fui atrás dele para descobrir o que ele não me contou e cheguei
à conclusão de que eu faria o que ele fez ou até mesmo pior.
— Você não sabia o que ele tinha dito?
Samuel meneia a cabeça e segura a minha mão. Seu polegar circulando a costa de minha
mão. Imediatamente a sensação de vazio vai embora.
— Não. O meu irmão pensou que não valia a pena outra agressão. Se bem que, a vontade
que tive, não foi nada boa. — Ele parece envergonhado de dizer isso. — E prometo a você que
nunca vai ter que passar por isso novamente, Docinho. Agora... Eu posso te abraçar?
Nem precisava perguntar. Pulo em seu colo. Minhas pernas rodeiam a sua cintura. Suas mãos
em minha bunda me segurando contra ele. Seu rosto no meu pescoço, onde ele inspira o meu
cheiro. Faço o memo. Ele tem cheiro de banho. Seu shampoo passou a ser o meu cheiro favorito.
— Eu não gosto quando você dá uma de cabeça dura e se recusa a me ver — Samuel
reclama quando me agarra apertado. — Brigue, grite comigo, mas não me afaste, Docinho. Eu não
consigo respirar se você ficar longe de mim.
Meneio em concordância.
— Você ficou do lado de Simon? — pergunto querendo mudar de assunto.
— Claro, ele é o meu irmão. E por mais que ele seja um pouco impulsivo, sei que o César deve
ter ultrapassado algum limite. Simon é encrenqueiro, mas não um completo idiota. — Ele se afasta
para olhar em meus olhos. — Ele não queria me contar por pensar que mataria o cara. Vontade
não me faltou, mas quero deixar isso de lado. Mas também quero que me diga quando alguém
disser algo assim para você... Eu sei. — Ele me cala delicadamente. — Sei que você sabe se
defender, mas quero que nosso ambiente seja saudável. E que o respeito nunca falte e ele faltou
hoje com você. Mas você também não é fácil que eu sei...
— Desculpe por isso.
— Agora, eu quero levar você em um lugar. Já está na hora de mostrar essa parte minha a
você.
Capítulo 21
Só quero que saiba, que depois de hoje, eu não sei mais viver sem você.
Samuel

V ictória entra no meu carro sem demonstrar nada, mas também não pensou duas vezes antes de
aceitar o meu convite. Ela me pediu apenas alguns minutos para se arrumar. Mas mal sabia ela,
que estava perfeita para mim apenas com aquela camisa cobrindo o seu pequeno corpo. Ao
pensar nisso, a ideia de ficarmos em sua casa ficou mais tentadora, mas também sei que ela não
iria voltar atrás.
— Você avisou sua irmã que está saindo?
Pergunto enquanto ela coloca o cinto de segurança.
— Sim, mas disse que não sabia que iríamos voltar ou não. Não quero que ela me espere
acordada.
Nem eu.
— Vou mandar uma mensagem para ela dizendo que de lá, vamos para minha casa. Sei que
ela gosta de dormir até tarde no domingo.
— Ah, isso ela gosta, mas você ainda não me respondeu. Onde estamos indo?
— Você vai ver quando chegarmos lá.
Não é muito tarde, mas a cidade continua movimentada como no horário de pico. Levou um
pouco mais do que o de costume para chegar ao casarão. Assim que estaciono meu carro, eu olho
para a Vick, que está muito curiosa para saber onde estamos e o que estamos fazendo aqui. Não
dá para esconder o meu nervosismo.
Ela pega a minha mão e aperta levemente.
— Está tudo bem, Sam. Não há nada que você possa fazer que vá me assustar.
Deus, eu quero que isso seja verdade. Não sei se conseguiria ser eu mesmo se ela me
deixasse. Se isso acontecer, Victória vai levar todo o meu coração com ela.
— Se tudo for difícil para você, pelo menos me deixe explicar antes de você ir embora.
Ela solta o cinto e se ajoelha no banco. Docinho segura meu rosto e me faz olhar dentro dos
seus olhos. Seus olhos verdes estão brilhando com lágrimas quando percebe o que eu quero dizer
com isso. Não escondo o medo de afastá-la de mim. De assustá-la. Ela me dá um medo absurdo,
mas não é maior do que vê-la indo embora da minha vida.
— Eu não sei o que há lá dentro, mas se o que está lá é parte de você, então eu vou aceitar.
Deus, como ela é linda!
Beijo sua testa e depois seus lábios.
Saio do carro e dou a volta para ajudá-la a descer. Às vezes me esqueço do quanto ela é
pequena, mas tão gigante de alma, que sua altura não importa. Ela estremece assim que sai do
carro e me olha torto, impedindo-me de dizer que estava certo ao pedir que ela colocasse um
casaco.
O segurança me reconhece e nos permite passar. Não passou despercebido que Victória o
olha duas vezes.
— E eu achando que você seria o maior cara que iria conhecer. De onde esse cara saiu?
Ela resmunga para si, mesma. Mas isso não me importa. Gosto quando ela tem seus devaneios.
Seguro a sua mão na minha e beijo-a suavemente. Victória estremece por outro motivo nesse
momento.
Ela se vira para enxergar o enorme salão. Esse ambiente é inocente. Apenas algumas pessoas
bebendo, e conversando. Mas se subirmos...
— Olha quem nos honra com sua ilustre presença. — Viro para a esquerda e vejo Jonas se
aproximando de mim. O jeito que ele está vestido me diz que ele veio direto do trabalho para cá.
Diferente de mim, Jonas está aqui todos aos sábados. Um completo pervertido.
— Estava na hora de voltar — Eu o cumprimento. — Victória, deixe-me te apresentar meu
amigo Jonas. Jonas, essa é Victória, mas conhecida por você como Docinho.
Victória como sempre é bem receptiva a todos, lhe oferece a mão. Enquanto o meu amigo olha
para ela encantado, surpreso e completamente embasbacado. Quero puxá-la para os meus braços
e dizer a ele que tire o olho, mas sou esperto o bastante para não irritá-la sem necessidade.
— Prazer em conhecê-lo. — Docinho olha curiosa para mim. — Acho que você deve se sentir
honrado em ser chamado de amigo por Sam. É o primeiro que ele me apresenta com esse titulo.
Jonas apenas ri, sabendo muito bem o que ela quer dizer com isso.
— Não é exatamente a melhor coisa do mundo ser amigo dele, mas aguento. Eu já ouvi de
você, mas acho que nunca ouviu sobre mim. Por que não me surpreendo?
Jonas está me alfinetando para que eu responda na frente da Docinho, mas não vou dar essa
oportunidade a ele. Não hoje.
— Por que ela ainda não estava pronta, mas isso acaba de mudar. Vou levá-la para comer
alguma coisa e depois volto para falar com você.
Despeço-me dele e não dou a ele uma chance de fazer alguma piada. Victória está ao meu
lado, rindo baixinho. Ótimo, ela gostou dele também. Mais um para se juntar a ela para me irritar.
Consigo uma mesa próxima à escada e a Docinho ainda continua olhando ao redor. Seus olhos não
perdendo nada.
— O que é esse lugar? — ela me pergunta depois que nos sentamos.
— Um clube — é a única coisa que lhe digo.
Seus olhos verdes me encaram, mas ela aceita minha resposta. Faço nosso pedido, que logo
chega. Por mais que me obrigue a comer, não tenho estômago para toda a ansiedade que me
domina.
Nada passa pela minha cabeça a não ser como ela irá reagir quando disser a ela o que
tenho feito aqui há anos.
— Sam, o que há de errado?
Victória larga o garfo e segura minha mão. Eu sei que não conseguiria esconder meu
nervosismo.
— Está tudo bem, não se preocupe.
Ela me encara, mas decide mais uma vez aceitar minhas desculpas.
— Você parece vir muito aqui — ela observa. Bem, minha menina sabe das coisas. — Você é
sócio?
— Já tem um tempo. Isso aqui não é um clube tradicional, Victória. E não são todos que veem
aqui.
— Como assim?
Largo o único copo de vinho que me permiti tomar.
— Promete que não vai se desesperar?
Ela me dá um sorrisinho travesso.
— Claro!
Inclino-me mais na mesa e seguro as suas mãos nas minhas.
— Eu conheço esse lugar há um pouco mais de quatro anos. Foi por curiosidade, mas que
acabou se tornando algo meio que necessário pra mim. Mas para ser eu mesmo, do que qualquer
outra coisa, Docinho. — Ela me ouve atentamente e então continuo. — Jonas é um grande amigo e
é o único que sabe que venho aqui, esse lugar não é de conhecimento público. Mas voltando ao
assunto, foi estranho a primeira vez que vim aqui, mas depois de conhecer, não me pareceu tão
errado depois que percebi o que poderia aprender aqui.
— Acho que estou entendendo...
Por favor, entenda mesmo.
— Sei que você percebeu que me seguro muito com você, mesmo quando estamos apenas nós
dois. Eu não queria e nem quero lhe assustar, mas eu preciso ser honesto com você Docinho —
respiro fundo e digo em um só fôlego. — Do segundo andar até o quarto, existem salas
adaptadas para todo o tipo de perversão que você possa imaginar. Eu já fui a todos, e não, não
quero te convidar para fazer isso. Estou aqui para te dizer o que eu fiz antes de te conhecer. Mas
por favor, lembre-se que não houve ninguém antes de você, Victória. Fiz e aprendi coisas, mas não
fui longe demais porque eu sabia que estava esperando o momento certo.
Seus olhos verdes estão arregalados. Ela olha para os dois lados e percebe que ninguém está
prestando atenção em nós dois. Victória amassa o guardanapo em sua mão, contendo algum tipo
de emoção que eu desconheço.
— Se você quiser ir embora...
Ela volta a olhar em meus olhos. Suas bochechas coradas e olhos brilhantes no momento. Não
sei o que há com ela agora. Talvez ela me ache uma piada ou apenas um maluco.
— Como descobriu esse lugar?
São as primeiras palavras que saem de sua boca depois de me torturar por longos segundos.
Sinceramente? É bem melhor do que eu pensei. Curiosidade é muito bom nesse momento.
— A esposa do Jonas não é uma pessoa muito sutil. Ela estava fazendo sua pós na mesma
faculdade que eu. Sem enrolação, ela acabou me convidando para um ménage com seu marido.
Depois disso, foram apenas apresentações.
— Você fez... Aquilo... Você sabe...?
— Não, eles são apenas meus amigos e não aceitei o convite dela. Não sou muito bom nessa
coisa de parceria. E nunca vou fazer isso com você.
— Nem se eu quisesse?
Isso me deixa curioso.
— Seria muito excitante, mas não conseguiria ver outro homem tocando em você, Docinho.
Você quer ver lá em cima?
Sou surpreendido com sua reação diante da minha pergunta. Victória se levanta e pega minha
mão na sua. Ela respira fundo e percebe que a minha mão está suada. Assim que chegamos à
metade da escada paro e me viro para ela.
— Eu não me importo se isso não é algo que te excite ou que você nunca queira fazer. Estou
bem com isso. — Seguro seu queixo levantando seu olhar para o meu. — Quero apenas te mostrar
essa parte minha que ninguém conhece.
Vick fica nas pontas dos pés e envolve meu pescoço, é um trabalho difícil para ela, por isso
me inclino para beijá-la. Um beijo calmo e cheio de carinho, que me faz relaxar em questão de
segundos.
— Obrigada por confiar em mim e me mostrar tudo de você.
Se eu não estivesse tão louco por ela, com certeza ficaria nesse exato momento.
Segurando a sua mão vamos até o segundo andar onde há várias salas enormes. Algumas
com a porta abertas e outras não. Victória se agarra mais em mim, quando paramos em frente a
uma porta branca.
— Esse andar é apenas para os menos excêntricos, Docinho. Se você quer perversão mesmo,
podemos ir lá para cima, onde há muitos shows para serem apreciado.
— Vamos começar por aqui.
Menina esperta.
Abro a porta, revelando um grande quarto escuro. A cama está feita e há vários tipos de
bebidas no pequeno bar à direita. Victória entra e vai para o centro do quarto. Ela está confusa
demais. Sem perguntar se ela está preparada ou não, abro a cortina vermelha da parede
esquerda, revelando o enorme vidro que nos separa do outro quarto.
Victória caminha até a parede e percebo que ela já notou o que estava falando. Vejo o seu
pequeno corpo tencionar. Fico parado na porta esperando o seu próximo passo. Docinho se
abraça e então estremece quando vê alguma coisa. Não sei o que há no outro quarto, pois prefiro
me concentrar em sua reação.
Ela estremece e solta um baixo gemido. E me deixando mais louco por ela, Victória dá um
passo para mais perto do vidro.
— Eles sabem que estão sendo observados?
— Sim.
— Mas podem nos ver?
— Não. A não ser que você queira.
Ela faz que não com a cabeça. Ando até ela e seguro seus ombros. Ela se arrepia no
momento em que meus dedos tocam a sua pele nua. Victória continua a observar a cena a sua
frente.
Há um casal. Ambos estão bem relaxados em seu momento. Eles sabem muito bem dar um
enorme show. Ela está hipnotizada e cheia de vontade que eu a toque. Sei disso porque ela se
pressiona contra mim.
— Não vou fazer nada que você não queira, Docinho.
Ela não diz nada apenas fica contra o meu corpo.
Seu cheiro está me deixando louco. Sem poder evitar, coloco seu cabelo para o lado expondo
sua pele pálida. Minha língua é a primeira coisa a fazer contato com sua pele suave. Minhas mãos
descem por seus braços, causando pequenos tremores por seu corpo. Docinho se inclina mais para
perto e isso me deixa duro. Muito duro e pronto para entrar nela.
— Me diga o que sente sobre isso, Docinho...
Peço antes de morder a pele de seu pescoço. Minhas mãos vão para o sua barriga. Coloco
minha mão por dentro de sua blusa fina sentindo a sua pele quente e arrepiada. Logo chego aos
seus seios fartos que são meu ponto fraco. Eles foram feitos para mim e ninguém mais.
— Eu sei que é errado, mas eu... Não me importo. — Docinho perde a linha de raciocínio
quando minhas grandes mãos amassam seus seios. — É excitante... Sam... Eu sempre quis explorar
mais do que meu corpo... — Suas mãos agarram as minhas, me ajudando a fazer do jeito que ela
quer. Minha boca não para de beijar seu pescoço. — E quero fazer isso com você.
É apenas isso que eu preciso. Pressiono o seu pequeno corpo contra a parede de vidro.
Afasto as suas pernas e empurro minha ereção coberta pelo pano contra o seu corpo. Docinho
leva suas mãos para meus braços e então para os botões de minha calça.
— Olhe para eles, quero que olhe para eles enquanto eu cuido de você.
Ela faz o que eu mando. Sem esperar, tiro minha blusa e então cuido da sua. Ela se arrepia
quando fica nua na minha frente, mas continua a olhar. Não me importo o que eles estão fazendo,
quero apenas desfrutar do corpo dessa pequena deusa que me deu sua permissão.
Fico de joelhos e começo a beijar sua coluna. Ela estremece e se apoia mais no vidro. Alcanço
os botões da sua calça e a tiro devagar. Roçando os meus dedos em sua pele. Sua calcinha é
delicada e de um tom suave, mas meu maior desejo é ver sua pele coberta por renda preta. Sei
que será a coisa mais sexy que me fará ficar de joelhos a sua frente. Tiro a sua calcinha deixando
em seus calcanhares.
— Isso te faz bem, Docinho?
Minha pergunta é ouvida, mas não respondida como quero, porém, aceito o seu gemido de
prazer que ela me dá quando sinto o quão molhada ela está. Tenho vontade de me despir e
entrar nela com força e rápido. Seu corpo vai me receber com prazer, sua pequena boceta vai me
apertar com força me fazendo gozar dentro dela em segundos.
Viro-a de frente para mim. Coloco sua perna em meu ombro a deixando aberta na minha
frente. Sua respiração está rápida, seus olhos estão brilhantes de tanto desejo. Beijo logo abaixo
de seu umbigo antes de colocar minha boca em sua boceta deliciosa.
Meu nome sai com um grito estrangulado quando dou a primeira lambida em sua carne
molhada.
— Continue olhando para eles.
Ela faz, e continuo meu trabalho.
Chupando e lambendo até saber que ela está bem molhada para mim. Passo meus dentes por
seus clitóris, fazendo com que ela quase caia. Sei que ela adora isso. Coloco dois dedos dentro
dela. Os músculos da sua vagina estão apertando e puxando meus dedos cada vez mais para
dentro. Minha outra mão baixa a taça de seu sutiã e massageia seu seio apertando e brincando
com seu mamilo. Chupo seu nervo com mais força. Ela treme com mais força e se entrega ao
prazer que lhe dou.
Seguro o seu pequeno corpo em meus braços. Ela ainda treme e respira com dificuldade, mas
me pega de surpresa. Vick me agarra e me beija como se estivesse com saudade e morrendo de
vontade de mim. Victória puxa meu cabelo com força e então me olha nos olhos. Ela está possessa
de tanto desejo que tem em seu corpo.
Ela começa a tirar minha calça. Sem nenhum pingo de vergonha ela segura meu pau duro e
dolorido em suas minúsculas mãos.
— Me beije!
E assim eu faço, chupo seus lábios, sua língua, mordo sua boca enquanto ela me masturba com
vontade. Apertando-me, seus punhos indo e vindo mais rápido. Uma tarefa incrível. Afasto-me dela
e pego em meus braços. Ela envolve suas pernas ao redor da minha cintura, enquanto a pressiono
contra a parede de vidro.
— Continue olhando para eles enquanto eu fodo você.
Ela arqueja. Como sempre faz quando falo grosseiramente com ela.
Docinho vira seu rosto e observa o casal no outro quarto, e sem aviso prévio, entro nela de
uma só vez. Sua boceta molhada e apertada me recebendo com um aperto perfeitamente
delicioso. É... Incrível. Pura perfeição. Pele com pele. Nunca mais serei o mesmo depois dessa noite.
Um rosnado alto sai da minha garganta quando Victória crava suas unhas em meu pescoço. Ela
geme alto quando inclino meus quadris indo muito mais fundo dentro dela. Porra! Fica melhor a
cada vez.
— Sam, eu... — Ela choraminga quando alcanço seu clitóris dando muito mais prazer a ela.
Incapaz de aguentar, eu nos levo para a cama. Quero-a só para mim, quero sua atenção no
que estamos fazendo.
— Aqui, comigo!
Digo quando junto suas pernas e coloco-as em meu peito. Victória encontra meu olhar e então
acena concordando que posso fazer o que tenho em mente.
Entro nela mais uma vez. Só que devagar agora. O movimento é tão intenso que faz nós dois
gemermos. Eu me movo devagar, entrando e saindo bem lentamente de seu corpo. Com suas
pernas juntas seus músculos ficam mais apertados, deixando tudo mais intenso, causando um aperto
em mim muito incrível. Victória esconde seu rosto em suas mãos abafando os seus gritos, mas eu
preciso vê-la.
Preciso ver seus lindos olhos perderem o foco quando gozar comigo dentro dela.
— Docinho...
Ela abre os olhos e se levanta. Suas mãos vão para o meu rosto e então ela consegue soltar
as suas pernas e envolver meus quadris com ela. Ela me beija. Deus, que beijo mais quente. Sua
pequena boca sugando meus lábios. E para me finalizar, ela morde. Esse é o seu jeito de pedir que
eu a tome com força. Inclino-me sobre ela, indo e vindo. Minha boca pega seu mamilo. Mordo,
chupo com força. Sempre dando a ela tudo o que quer. Sua pequena buceta começa a me
apertar, seu corpo me avisando que ela está próxima de gozar.
— Sam!
Continuo mantendo a velocidade, formando uma libertação para nós dois. Vick agarra os
meus cabelos quando seu corpo arqueia na cama. Ela goza e me leva junto com ela. Seus olhos
travados nos meus dizendo o mesmo que os meus dizem a ela.

Cinco dias depois nós dois estamos embarcando no avião para Recife. Ela não parou de falar
da viagem por um minuto, incapaz de esconder sua ansiedade. E diferente do que eu imaginei isso
não me irritou. Ao contrário, estava sempre disposto a ouvir cada coisa que ela poderia me dizer.
Mas nesse momento, ela está quieta.
— Vem, vamos despachar nossas bagagens.
Ela me segue enquanto empurro o carrinho com as nossas duas malas e minha mochila com o
notebook. Puxo-a contra meu corpo e sinto que ela está tremendo.
— Está com frio?
Ela nega e só então percebo que ela está nervosa com a viagem. Sei que é sua primeira
viagem para fora do estado e de avião também.
— Não tem o que se preocupar, querida. Vai ficar tudo bem, são poucas horas de viagem.
Seus lindos olhos verdes encontram os meus e vejo que ela precisava ouvir isso. Faço o check-
in e despacho nossas malas. Nosso voo sai em meia hora e então vamos para o a sala de
embarque. Docinho vai ao banheiro mais uma vez e a espero pacientemente.
Assim que ela volta, dou a ela um calmante que uso quando o Arthur viaja. Isso vai deixá-la
um pouco sonolenta. Ela olha fixamente para a poltrona na sua frente e começa a balançar as
pernas.
— Ei, não tem porque ter medo. Estou aqui.
Ela se vira para mim e deita a cabeça em meus ombros.
— Estou sendo uma pirralha né? Desculpe, é que...
— É sua primeira viagem, eu sei. Deveria ter te ajudado desde cedo. Desculpe por isso.
Beijo os seus cabelos e começo a afagar suas mãos. Docinho respira fundo, se acalmando um
pouco mais. Porém, é por pouco tempo. O comandante começa a dizer que estamos prestes a
decolar e Victória fica tensa. Largo o meu celular no bolso e a faço se virar para mim.
— Victória.
Ela abre os olhos e me dá um sorriso fraco. Quando sinto o avião taxiar pela pista, seguro a
sua cabeça e a beijo com carinho, fazendo-a se desfazer. Sugo sua língua, matando a fome que
tenho dela e que nunca é saciada. Ela retribuiu, emaranhando suas mãos em minha blusa. Levo
minhas mãos para sua barriga, mas percebo onde estamos e como isso seria ruim.
Quando me afasto dela, Docinho está mais calma e com um sorriso bobo em seu rosto, porém,
sonolenta como era de se esperar.
— Tem suas vantagens viajar com você, Grandão! — diz se agarrando em mim. — Estou com
sono.
— O remédio deve estar fazendo efeito. Pode dormir, Docinho. Eu aviso quando estivermos
chegando.
Observo-a se agarrar em mim, quando ela diz de repente:
— Você é o melhor namorado do mundo, Grandão.
Por alguma razão, isso me deixa muito satisfeito comigo mesmo. Enquanto ela dorme, revejo
mais uma vez o roteiro do congresso. Dessa vez estaremos em um ambiente que não seja Rio/São
Paulo. Adorei que eles escolheram Recife para ser a sede esse ano.
E como tudo o que tem acontecido nesses últimos meses, eu fiz algo inesperado. Decidi ficar
mais alguns dias na cidade depois que o congresso terminar. Mais três dias para aproveitar esse
pequeno paraíso com a Victória e dar a ela uma boa experiência em seu primeiro congresso.
Consegui alguns passeios muito agradáveis, mesmo que em cima da hora. Quero aproveitar tudo
aqui antes de ter que voltar para a vida real em São Paulo.
Três horas e meia depois Docinho acorda louca para ir ao banheiro. Ela faz isso em cinco
minutos e então volta com o semblante assustada.
— O que houve? Alguém te perturbou?
Ela nega rapidamente.
— O que foi, Docinho?
— É estranho andar no avião quando ele está no ar.
Rapidamente relaxo na cadeira. Pego o meu celular e vejo que temos apenas alguns minutos
de voo.
— É melhor tirar o casaco. Você vai perceber a mudança de clima assim que sairmos do
avião.
Ela acena concordando e faz o que digo. Foi um desembarque rápido e prático. A van do
resort em que estaremos está nos esperando assim que saímos do aeroporto.
— Gente, eu tô derretendo. — Docinho proclama.
São oito da manhã e a primeira palestra será as dez.
— Temos tempo para tomarmos café e tomar banho.
— Claro, eu estou morrendo de fome.
Mando uma mensagem para meus irmãos e meu pai dizendo que chegamos e em seguida, ligo
para a Felipa. Ela confirma que deixou tudo preparado para estadia e me diz que só preciso me
preocupar com o congresso e evitar que a Victória se envolva em qualquer confusão.
Bem, ela faz logo de cara. Pedindo um quarto onde tenha água gelada para lhe ajudar com
o calor.
— Prometo arrumar isso, mas temos que ir querida.
Ela acena antes de se trocar.
Meu telefone toca e vejo que é o meu irmão. Ele deve ter alguma noticia sobre o caso do
imbecil que ofendeu a Docinho.
— Fez boa viagem? — ele pergunta.
— Sim, a Victória ficou nervosa, mas dei um dos remédios de Arthur e ela dormiu a viagem
toda. Tem alguma coisa para mim?
— Sim, o papai decidiu afastar César até ele terminar o tratamento dele. Mas eu sei que ele
vai dispensá-lo assim que perceber que o problema dele é o caráter mesmo. Espero que seja logo.
Falo com ele por alguns minutos e digo que quando voltarmos eu irei resolver isso. De jeito
nenhum que vou deixar aquele cara perto de Docinho mais uma vez.
Depois de falar com Simon, vou até o armário e vejo que Felipa estava certa. Há quatro
vestidos para noite, dois de praia e talvez dez biquínis de todas as cores que eu poderia imaginar.
A Docinho pensa que iremos embora no domingo à noite e quero que ela continue a pensar
assim. Mal sabe ela que o domingo será a primeira noite de nossa pequena festa de três dias.
Capítulo 22
Sei que minha paixão é recíproca quando ela transa comigo apenas com um
olhar.
Samuel

P ela primeira vez eu estou feliz que esse é o último dia de palestra e que logo mais estaremos
indo para o jantar de encerramento de mais um congresso. Então estaremos aproveitando os
três dias que reservei para nós dois. Bem, a Victória ainda pensa que estamos indo para casa essa
madrugada.
O diretor do conselho de Recife faz as considerações finais e então finaliza mais um evento.
Foi tão bom quanto imaginei que seria. Encontrei alguns colegas e antigos professores que por
muito tempo não tinha contato. Observar a dedicação de Victória em cada assunto debatido foi a
coisa mais incrível de assistir. Ela não hesitou em tirar dúvidas e anotar tudo em seu pequeno
caderno.
Sua energia parece não acabar, mesmo quando voltamos para o nosso quarto ela está
falando sobre como tudo isso é incrível.
Sim, é. Mas tudo se resume em ela ser tão incrível.
— Obrigada por me convidar. — Ela se vira para mim. Os outros estão saindo do enorme
salão e estamos aguardando a nossa vez para sair. — Sei que foi em cima da hora, mas
obrigada!
Inclino-me para perto dela. Ela esta perfeitamente linda. Seus cabelos estão em um rabo de
cavalo de lado, seus lábios com uma cor fraca de batom. Alguns fios de seus cabelos dançando em
frente ao seu rosto.
— Eu que agradeço por aceitar vir comigo e também ao Franklin, que desistiu de viajar. —
Acaricio seu rosto suavemente, sentindo a incrível maciez de sua pele. — Tenho certeza de que não
seria tão incrível quanto está sendo com você.
Docinho inclina a cabeça para o lado e sorri. Lindamente sedutora para mim. Certo, não é um
sorriso que ela me dá quando está sendo impertinente para que eu faça as coisas de sei jeito. Mas
para mim, todos os seus sorrisos me deixam aos seus pés. Para fazer tudo o que ela quer. E eu
faço, sem nenhum peso na consciência.
Victória não é mesquinha nem mesmo interesseira. Sua alma nobre e humilde é o que me faz
querer passar mais tempo com ela. Aprender as coisas mais simples do mundo, mas apenas com
ela. Somente com ela ao meu lado.
— Grandão?
— O que foi?
Ela solta uma risadinha de menina boba e se levanta.
— Temos que ir, senão, perderemos o jantar. Temos um voo para casa.
Ah, isso.
— Sobre isso, espero que você não se importe, mas vamos ficar mais três dias aqui.
Ela me encara como se tivesse aparecido mais três cabeças em meu corpo. Sabia que ela
ficaria surpresa, mas não a esse ponto.
— Mas eu não tenho roupa o suficiente!
Mais uma vez, suas respostas me surpreendem.
— Eu tomei conta de tudo. A sua irmã já sabe que vamos voltar apenas na quarta.
Infelizmente não vamos pegar a final do campeonato do Arthur, mas ele já nos perdoou por isso.
Ela não responde nada por segundo, mas então, me dá um grandioso sorriso.
— Você vai me levar para ver a praia?
Como eu disse, ela é simplesmente maravilhosa.
— Tudo o que você quiser, Docinho. — Pego minha pasta e a sua bolsa. — Mas primeiro,
temos que participar desse jantar.
Ela acena e saímos do salão. Um dos meus antigos professores caminha em nossa direção e
conversamos por alguns momentos. Ele inclui Victória na conversa e mais uma vez, ela lança seu
encanto.
— Foi bom ver você, Samuel. — Ele aperta minha mão e então segura a mão de Victória e a
beija. Mesmo que eu queria, é impossível segurar o ciúme crescendo em mim. — Foi de extremo
prazer conhecê-la, Victória. Espero que aproveite um pouco a cidade.
— Eu também. Ah, eu vou aproveitar com certeza — Ela responde olhando para mim. Seus
olhos brilhando em excitação.
Nós nos despedimos de algumas pessoas e voltamos para hotel. Temos três horas antes de
começar o jantar. Mesmo que a vontade de ficarmos no quarto seja maior do que minha fome,
quero que a Docinho esteja bem disposta para a nossa primeira noite oficial na cidade.
— Você está quase atrasada para sua hora no salão — digo a ela assim que chegamos ao
quarto.
É um quarto enorme, com a vista para Do Paiva, no litoral sul de Recife. Não conseguiria levá-
la em todas as praias, mas ao menos temos essa maravilha e nossa frente. Mesmo que Victória
esteja feliz com essa paisagem, sei que ela quer ir até lá e sentir a água salgada em seus pés.
E serei condenado se não der isso a ela.
— Que salão? Aqui tem salão?
Ela estava tão concentrada no congresso que não percebeu que estamos em um dos hotéis
mais disputados da região.
— Sim, no terceiro andar tem um SPA, reservei um horário para você. E antes que você se
preocupe com as roupas que você não tem, a Felipa me ajudou com isso.
Ela me olha mais uma vez embasbacada. Docinho caminha na minha direção, fica nas pontas
dos pés e tenta me beijar. Mas quero brincar com ela, então não me inclino como sempre faço
quando ela fica nas pontas dos pés para me beijar.
Docinho começa a pular tentando me alcançar, mas sempre consigo me esquivar. Até que ela
perde a paciência e consegue pular em cima de mim. Rapidamente envolvo minhas mãos em sua
bunda firmando seu corpo contra o meu. Ela envolve suas pernas em minha cintura e então beija
meu nariz.
— Todo esse trabalho só por esse beijo?
Sim, estou decepcionado por não ter o que queria.
— Não apenas por esse beijo. — Ela me abraça. Sua cabeça contra o meu peito. Ela se
aninha contra mim, relaxando e aproveitando minha proteção. — Ficar assim com você é a coisa
que eu mais amo no mundo, Sam.
Retribuo o abraço sem conseguir dizer nada, apenas apreciando esse nosso momento
espontâneo. Sempre acontece de ela vir até mim, seja para me abraçar ou me dar um rápido
beijo, mas nada se compara ao sentir seu corpo contra o meu. Nossos peitos unidos, nossos
corações batendo no mesmo ritmo. Nossa simples e intensa conexão inquebrável.
— Você vai se atrasar.
— Não me importo.
Nem eu, mas quero que ela seja mimada hoje. Droga, eu mesmo quero fazer isso com ela. Da
massagem ao banho de espuma, dar a ela tudo o que ela merece e muito mais. Mas por hoje,
outras pessoas vão mimá-la.
— Mas eu sim. Quero que você desfrute do que fiz para você hoje. Sei que provavelmente eu
estarei no salão de festas quando você descer para o jantar, então não se preocupe em se
atrasar. — Beijo seu rosto. — Estarei esperando você o tempo que for preciso.
Coloco-a no chão e então a levo para o SPA. Não querendo correr o risco dela se perder.
Victória pode ser bem estranha em alguns momentos dos dias.
Arrumei algumas coisas que faltavam para poder aproveitar mais esse dia. Simon está
ficando com o Arthur e o papai não vai pegar nenhum plantão essa semana. Na verdade, eu
quero que ele pare com esses plantões seguidos. Isso está acabando com ele e nos afastando.
Preciso mudar isso. Preciso que meu pai não se sinta tão só. Sei que tenho estado um pouco
distante com a chegada de Victória em minha vida. Pedi para o Simon fazer uma reserva no
restaurante favorito do Arthur depois de seu jogo. Mesmo que eu não esteja presente na final do
campeonato como queria, sei que podemos comemorar a vitória do seu time dando a ele esse
mimo. Assim que desembarcar em São Paulo, vamos direto para o restaurante. Quero Victória junto
comigo. Se ele está bem agora e em jogo, é tudo graças a ela.
Ela merece isso tanto quanto ele.
Desligo meu notebook e percebo que já é hora de me arrumar. Docinho ainda está no SPA e
deixo um bilhete para ela dizendo que estarei esperando ela no bar do salão onde acontecerá o
jantar.
Tomo meu banho sem nenhuma demora, faço a barba e espero o serviço de quarto trazer
meu terno grafite que pedi que eles engomassem. Não demorou muito e sei que eles vão levar a
roupa de Victória para ela.
Desço até o hall e então vou para o salão esperar por Victória. Estou apenas um pouco mais
de três horas longe dela e já sinto a sua falta. Estou um pouco mimado.
Acho que isso é bom certo? Afinal, não quero que ela me deixe e espero que ela tenha
sentido a minha falta também. Pego um copo de uísque querendo relaxar um pouco. Uma das
muitas coisas que aprendi com meu pai foi como beber.
Mesmo que eu acabe com essa garrafa de uísque pelos próximos dez minutos, ainda estarei
lúcido o bastante para ficar bem hoje à noite. Recebo uma mensagem de Simon mostrando as
besteiras que ele e Arthur estarão comendo essa noite. Nem me preocupo com isso, o Arthur vai
correr o dobro de tempo amanhã para tirar todas essa gordura do sistema. Deixo cair o meu
celular ao chão e o pego, quando volto para cima, vejo a mais perfeita imagem de minha vida.
Victória aparece na grande porta de entrada da sala. Não consigo tirar os olhos dela. Está
maravilhosa, uma perfeita deusa. O vestido preto é a combinação perfeita para a sua pele
pálida. Sabia que ficaria magnífico, mas superou toda a minha imaginação. A roupa por mais
simples que seja, dá a ela um ar tão... Pervertido.
Certo, ela está linda. Mas porra, ela está de um jeito que só posso pensar em irmos ao quarto
e esquecer a porcaria desse jantar insignificante. Mesmo com seus saltos, Docinho ainda continua
pequena. Seus cabelos estão soltos e lisos, caindo sobre os ombros.
Ela está linda, perfeita. Nossa! Ela é toda minha! Sei que não deveria estar dizendo isso, mas
desejo gritar para o mundo. Sem me conter vou até ela, que está me procurando até que me vê
indo ao seu encontro. Seus olhos me avaliam e vejo quando ela engole em seco.
Esse seus lábios. Estão em um tom suave, mas deixando-os tão carnudos e implorando para ser
beijados.
Isso é uma das coisas que me deixa louco por ela. Victória se solta comigo e está sempre
disposta a ir a qualquer lugar. É tudo muito novo para nós dois. Mas quem disse que me importo
quando começamos a transar apenas com o olhar? Só de vê-la, já sei que quero empurrá-la contra
o bar e comê-la aqui mesmo.
— Você está incrível!
Linda, brilhante, pronta para ser adorada como deve.
— Obrigada! Você está impecável, do jeito que eu queria!
Arqueio uma sobrancelha para ela querendo saber o que ela quer dizer com isso. Mas deixo
isso de lado e vamos jantar. Não me importo de sentarmos sozinhos. Na verdade, eu anseio por
isso. Ficamos em uma mesa isolada e trago Victória para o meu lado, querendo estar o mais perto
dela possível.
— O que é isso? — pergunta apontando para o meu copo.
— Uísque.
— Posso?
Rindo eu digo que sim e observo ela tomar um pequeno gole do líquido. Assim que sente o
gosto seu lindo rosto de transforma em uma careta e Docinho larga o copo.
— Deixo isso para você. Acho que vou de vinho mesmo, é muito mais agradável para mim.
Deixo que ela faça os pedidos e conversamos sobre qualquer assunto que apareça e Victória
fala por nós dois. Isso é bom, pois posso apenas admirá-la. Sei que deveria estar prestando
atenção no que ela diz, mas não posso, estou perdidamente fascinado por ela. Tudo que sai de sua
boca são observações inteligentes. Sei disso e respondo de acordo com suas perguntas. Porém, sou
um idiota nesse momento, querendo apenas ela aqui, comigo.
— Eu vou ler com certeza, Docinho!
Isso faz ela abrir um largo sorriso. E sim, irei ler seu trabalho final, e vou ajudá-la com
certeza. Mas tudo é mérito dela, sei que não vou precisar falar nada.
— Por que está me olhando assim? — ela pergunta de repente. Ela se inclina para mais perto
de mim. Sua pequena mão segurando a lapela do meu terno.
— Assim como?
Ela mostra um sorrisinho perfeito.
— Como se quisesse me levar para o nosso quarto e fazer coisas indecentes comigo. Desse
jeito que me olha.
— Estou te olhando assim ou é uma ideia que está me dando?
Ela dá de ombros e toma mais um pouco do seu vinho. É a segunda taça e quero que ela
pare. Victória nunca bebeu e não quero que fique bêbada na nossa primeira noite. Ela parece
perceber que está no seu limite quando recusa a oferta do garçom para encher a sua taça.
— O que temos planejado para esses três dias? Vai me contar ou terei que tirar isso a força?
O álcool a deixou bem solta, vou ter que admitir. E como se fosse possível, ela está mais
sensual. Seus gestos estão mais suaves, mas ao mesmo tempo, cheio de malícia, tocando em mim
sem nenhum constrangimento. Victória molha seus lábios algumas vezes e finge inocência.
Deus, como ela é linda!
Eu me inclino para perto dela e beijo a parte de baixo de sua orelha.
— Estou caindo no seu jogo, Docinho. — Esfrego meu nariz por seu pescoço e então volto
para sua orelha. Ela respira com mais dificuldade e aperta suas unhas em minhas coxas. Ela geme
baixinho quando mordo sua pele suave.
— Espero que esteja mesmo. Porque eu apenas comecei e o nosso jantar chegou.
Não estou nem aí para o cara que deixou nossa comida na mesa. Por mim, que ele sinta inveja
e veja o sortudo filho da mãe que eu sou. Continuo a beijar sua pele até que ela desiste. Isso me
faz rir baixo e faz com que ela fique um pouco frustrada.
— Temos à noite toda, por favor, aprecie a sua comida.
Resmungando ela faz o que pedi. Ela cruza as pernas tentando controlar a dor que sei que
ela sente, pois estou do mesmo jeito. Espero que ninguém venha até a nossa mesa para conversar,
pois serei expulso se alguém notar o quão duro eu estou. Sei que ela sabe como estou, e está a
todo custo evitando olhar para baixo e ver o que espera por ela.
Comemos tudo na perfeita calmaria. Ela insiste em me alimentar com a sobremesa, se negando
a comer um pedaço de pudim, alegando que se quisesse pudim, ela mesmo o faria. Vick decide
pedir um Cartola, mas em vez de canela, ela pediu que colocasse cocada.
A música começa a tocar e vejo que ela quer dançar. Ela me encara com os olhos suplicantes e
nem se quisesse diria não para ela. Estendo minha mão e ela pega.
— Podemos ficar aqui mesmo? No canto? — pergunta tímida.
— Claro.
A banda começa uma canção mais suave. Seguro a sua cintura e trago o seu corpo junto ao
meu. Victória envolve seus braços em meus ombros o quanto pode. Os sapatos ajudaram um pouco.
Ela descansa sua cabeça em meu peito. Mais uma vez, a música consegue descrever o momento.
— Você sabe inglês?
Ela nega com a cabeça. Movo-me para ficar com a boca próximo ao seu ouvido e sem pensar
em mais nada, traduzo a música.
Ela fala por mim.

Close your eyes


Feche os olhos
Let me tell you all the reasons why
Deixe-me te dizer todas as razões pelas quais
I think you're one of a kind
Eu acho que você é única

Here's to you
Um brinde a você
The one that always pulls us through
A única que nos salva
Always do what you got to do
A única que nos salva
You're one of a kind
Você é única
Thank God you're mine
Graças a Deus, você é minha.

You're an angel dressed in armor


Você é um anjo vestido de armadura
You're the fair in every fight
Você é justa em cada luta
You're my life and my safe harbor
Você é minha vida e meu porto seguro
Where the sun sets every night
Quando o sol se põe toda noite
And if my love is blind I don't want to see the light
E se meu amor é cego, eu não quero ver a luz
It's your beauty that betrays you
É a tua beleza que te denuncia
Your smile gives you away
Teu sorriso te trai
Cause you're made of strength and mercy
Porque você é feita de força e misericórdia
And my soul is yours to save
E minha alma é tua para salvar
I know this much it's true
Eu sei o quanto isto é verdade
When my world was dark and blue
Quando o meu mundo era obscuro e triste
I know the only one who'll rescue me is you
Eu sei que a única pessoa que vai me salvar é você

Close your eyes


Feche os olhos
Let me tell you all the reasons why
Deixe-me te dizer todas as razões pelas quais
You'll never gonna have to cry
Você nunca vai ter que chorar
Because you're one of a kind
Porque você é única

Yeah, here's to you


Sim, isto é para você
The one that always pulls us through
A única que nos salva
You always do what you got to do, baby
Você sempre faz o que tem de fazer baby
Because you're one of a kind
Porque você é única
When your love pours down on me
Quando seu amor se derrama em mim
I know I'm finally free
Eu sei que estou finalmente livre
So I tell you gratefully
Então eu te digo com gratidão
Every single beat in my heart
Cada batida do meu coração
Is yours to keep
É sua para guardar

Close your eyes


Feche os olhos
Let me tell you all the reasons why
Deixe-me te dizer todas as razões pelas quais
You'll never gonna have to cry
Deixe-me te dizer todas as razões
Because you're one of a kind
Porque você é única

Yeah, here's to you


Sim, isto é para você
The one that always pulls us through
A única que nos salva
You always do what you got to do, baby
Você sempre faz o que tem de fazer baby
Because you're one of a kind
Porque você é única

You're the reason why I'm breathing


Você é a razão pela qual eu estou respirando
With a little look my way
Com um pequeno olhar do meu jeito
You're the reason that I'm feeling
Com um pequeno olhar do meu jeito
It's finally safe to stay
Com um pequeno olhar do meu jeito

Docinho fica agarrada em mim como se eu pudesse desaparecer a qualquer momento. Mas
não isso que vai acontecer. Paramos de dançar, mas ainda a tenho em meus braços. Seu pequeno
corpo encaixado ao meu. Nunca pensei que um dia isso iria acontecer e aqui está. Alguém que
movimenta as rotas da felicidade gosta de mim.
— Você quer subir?
Vamos para o quarto. E eu juro que eu nunca vou esquecer essa noite até o dia da minha
morte.
Capítulo 23
Minha definição do paraíso? Não sei. Mas sei que tem você incluso nesse
lugar.
Victória

S e fosse escolher um lugar para morar, Recife com certeza seria o primeiro da lista. Esse lugar
é incrível e sei que levaria semanas para conhecer cada canto dessa magnífica cidade. Certo,
eu levei dois dias apenas para me acostumar com seu clima bem louco, mas o Grandão disse que
levei de letra. Sei que é a sua primeira vez aqui também, mas nem parece. Ele parece conhecer
cada lugar e ponto turístico da cidade.
Ele também cumpriu com a sua promessa. No nosso primeiro dia livre, ele me levou para ver o
imenso mar. Não tem nada mais lindo do que essa imensidão. É um lugar encantador e assustador
ao mesmo tempo, que fez com que eu refletisse a minha insignificância como um indivíduo diante
desse complexo universo que é o oceano.
Com os frequentes ataques de tubarões, Sam não me deixou entrar no mar, por isso ficamos
apenas na areia. Mas isso não afetou nenhum pouco a minha alegria de estar aqui. Bastou meia
hora de praia para estar tão vermelha quanto uma pimenta malagueta. E não é exagero algum.
Minha pele ficou irritada por várias horas até que resolvemos ir comer. Foi um alívio. Nunca pensei
que amaria tanto um ar condicionado na minha vida. Mas foi apenas pela parte do dia. À noite, a
temperatura cai drasticamente me deixando com a sensação de estar em casa.
Sam me levou para comer todos os tipos de comida regional. Adorei cada uma delas e sei
que a Nessa também iria amar. Senti-me horrível quando me lembrava dela. Enquanto eu estou
aqui me divertindo, minha irmã está trabalhando e cuidando de Didi sozinha.
Mas eu sei que ela me daria uma bronca por pensar nisso. Sam percebeu que havia algo de
errado e eu contei a ele o que estava pensando. Grandão não pensou duas vezes e ligou para
minha irmã no mesmo instante. Falei com ela por vinte minutos e só então consegui relaxar. Nunca
fiquei tanto tempo longe dela, por isso estava angustiada.
Mas a angústia passou para o desconforto assim que o Samuel mencionou que eu precisava
ter um celular próprio. Como se eu não soubesse. Todo o dinheiro que eu recebo, estou colocando
na poupança para a minha formatura, pagando as comidas dos gatinhos e para ajudar em casa.
O que me sobra, mal dá para pagar os lanches da faculdade e para o transporte diário.
Isso vai ter que esperar mais um pouco.
Mas sei que ele vai insistir nisso. Já me sinto desconfortável por ele estar bancando essa
viagem. Bom, bancando esses três dias. Sei que foi ideia dele e eu amo que esteja tudo tão
perfeito, mas não deixo de me sentir deslocada em alguns momentos. Samuel com certeza não é um
mão de vaca. Esteve comprando lembranças para todos assim que chegamos à Embaixada dos
Bonecos Gigantes. Pegou uma linda boneca de pano para Diana e algum tipo de rede para o
Arthur. Tivemos que voltar para o resort e deixar as coisas em nosso quarto.
Depois disso fomos passear de Buggy. De acordo com Samuel, não é tão emocionante como
seria se estivéssemos em outra cidade do interior do Estado. Mas ele não quer perder algumas
horas para ir e voltar. Prefere que estejamos conhecendo mais a cidade.
Concordo com ele e aproveito o itinerário que ele criou. Tenho certeza que estarei uns cinco
quilos mais gorda quando chegar e casa, pois sempre que nós paramos em algum lugar, eu estou
provando alguma coisa. E Sam adora isso.
E eu o adoro.
Não achei que poderia me apaixonar ainda mais por ele. Só de pensar nisso, meu coração
começa a pular como uma líder de torcida dentro do meu peito. Não tem muito tempo que descobri
o que sinto por ele. Foi na noite do jantar. Tudo o que estava sendo contido em meu peito, explodiu
no nosso quarto naquela noite. Mesmo bebendo pouco, foi o suficiente para limpar a minha mente
e me fazer perceber o quanto sou louca por esse homem incrível.
Ele não precisou de muita coisa para me conquistar. Seu jeito simples e cheio de honra me
conquistou. E por sermos o primeiro um do outro, só fez a ligação ser maior, mais intensa, mais
doce.
Mas na noite do jantar, tudo mudou. Sam sempre mostrou a necessidade que ele tem de mim,
mas naquela noite, foi muito mais do que necessidade, foi pura razão de existência. A forma com
que ele me tomou, como se fosse a última vez que me veria, me deixou zonza e finalmente
compreendi o que estava sentindo.
Ele foi perfeito. No momento em que ele entrou em mim, ainda todo poderoso em seu terno e
óculos, percebi que estava mais do que disposta a tudo por ele. Tudo o que ele fez, me deixou em
lágrimas. Suas palavras de carinho, sussurros de prazer ultrapassaram tudo que eu já havia
experimentado com ele.
E quando ele me fez ir ao céu em seus braços, a forma que seus olhos me olharam... Chorei
por longos, minutos, com ele ainda dentro de mim. O prazer ainda presente em minhas veias. Mas
isso não importou, eu achei o amor com a pessoa menos provável. E isso só tornou o que temos
mais um pouco especial.
Samuel não entendeu, mas eu não estou pronta para confessar meus sentimentos. Espero que
ela perceba pelas minhas ações o quanto é importante para mim. Estou fazendo isso desde aquela
noite. Beijando-o, admirando-o como se fosse a primeira maravilha do mundo.
E ele é. Do meu mundo.
Depois que parei de chorar, dormi com ele em cima de mim. Foi desconfortável por um
instante, mas não queria me afastar dele. Sei que ele sente algo por mim, mas também sei que ele
ainda está segurando muita coisa. E por mais que eu não queira pensar nisso, é difícil.
Ainda mais depois da ligação que ele recebeu hoje à tarde. Sei que ele ficou tenso e
frustrado. O que quer Sophie tenha dito a ele nesse telefonema, o deixou angustiado. Mas o que
poderia ser? Ele me diz que Sophie é um anjo na sua vida, uma preciosidade que ele mantém
protegida sempre que pode. Não consigo imaginar algo que ela possa ter feito para Samuel se
desligar do mundo.
E mais uma vez, volto a pensar na conversa que tive com Simon.

— Eu não sabia dela até que voltei para casa e Sam foi logo dizendo que não era para
mexer com ela. Até pensei que... Que ela tivesse algum tipo de problema, mas não o caso.
Acontece que ela sempre vai ser importante para Samuel e ninguém vai poder mudar isso. — Ele
segura a minha mão. — Não digo isso para você desistir de Sam. Digo isso para que você não
desista dele. Ele está... Feliz e não quero que isso mude, mas eu estou te falando dela, porque, em
algum momento, ela vai aparecer e quero que você esteja preparada.

— Você está pronta? — Samuel me pergunta quando ele entra no quarto. Estou terminando
de colocar meus sapatos. Olho em seus olhos e percebo que ele ainda não está totalmente comigo.
Está mais relaxado, mas ainda vejo a angústia em seus olhos.
— Estou. — Pego minha pequena bolsa e coloco minha identidade dentro.
Estamos indo comer no restaurante do resort e depois vamos para a praia onde terá um show
de uma cantora que até então eu desconhecia. Sam gostou da ideia. Segundo ele, faz tempo que
não vai a um show. Bem ele ao menos tem experiência. Eu estou participando de um pela primeira
vez.
Samuel caminha até mim e para a minha frente. Diferente do nosso primeiro jantar, ele está
vestido de forma casual. Uma calça jeans preta, blusa de gola V cinza e sua jaqueta jeans
combinando com a calça.
— Você está linda, Victória.
Nunca me canso de ouvir meu nome saindo de sua boca. Há algo na forma como diz o meu
nome que me deixa de pernas bambas. Sua voz está rouca, entregando o seu desejo por mim. Ele
coloca meus cabelos atrás da minha orelha, deixando meus ombros expostos. O vestido verde que
decidi colocar essa noite é de alças, mas pretendo colocar algo por cima, pois parece que o tempo
vai fechar. Desde cedo vejo nuvens vindo para a cidade e espero apenas que não estrague o
show. Mas se ela decidir cair, não tem problema. Dá para aproveitar daqui do nosso quarto.
— Obrigada! — digo arrumando meus cabelos e então olho para o chão me sentindo um
pouco tímida no momento. — Podemos ir?
Ele estende a mão para mim e descemos para o restaurante.
Comemos bem e então decidimos ir para onde será o show. Sam coloca a pulseira em meu
pulso e então passamos direto para uma área mais reservada. Eu quero estar mais perto do palco,
mas Sam diz que logo vai estar lotado e que prefere ficar, mas vou mesmo assim. Logo estou
conversando com duas mulheres e então o show começa.
Nunca ouvi essa cantora, mas sei que já gosto das suas músicas. Fiquei as três primeiras
músicas perto do palco e quando estou indo encontrar o Sam, percebo que ele já está ao meu
lado. Ele beija meu pescoço e me abraça por trás, me protegendo.
Algumas músicas são covers, outras são dela. Mas tem uma que me deixa muito feliz de estar
tocando nesse momento.

Minha boca não consegue mais, desgrudar da tua pele


Da sua saliência, dos seus sais
De tudo que emana aqui
Quando o amor a gente faz e nunca é demais
Ah se eu pudesse descobrir de onde vem o seu poder
Onde mora o seu mistério, o seu remédio
Prescrito pra me absorver do mundo que ficou
Pra trás

Samuel começa a beijar a pele do meu pescoço. Estamos no escuro então ninguém pode nos
ver. Ele não faz nada obsceno, mas isso não quer dizer que eu não quero. Ele não para de me
beijar, nem mesmo por um segundo.
— Nunca é demais, Docinho — diz ele ao meu ouvido, repetindo um dos trechos da música.
Viro-me em seus braços, ficando de frente para ele. Consigo ver seus olhos. Eles estão
fogosos, cheios de luxúria, mas ao mesmo tempo, cheio de carinho. Seguro o seu rosto e trago
para junto ao meu. Ficamos com nossas testas encostadas uma na outra.
Sentindo a sua respiração leve contra o meu rosto, levo minha mão até o seu coração, sentindo
o quão rápido ele está batendo. E juro por Deus, está no mesmo ritmo que o meu. Não preciso de
muito para saber que logo vamos estar em nosso quarto, nos despedindo dessa cidade incrível, e
desses dias lindos que vão ficar para sempre em minha memória.
— Quer ir para o quarto comigo? — ele me pergunta baixinho.
Toda a expectativa de estar no show se dissipa com essa pergunta. Quero estar apenas com
ele. Estou viciada, e isso me dói tanto.
Dou ele um aceno concordando com ele. Ele consegue nos tirar da multidão. Assim que
chegamos ao nosso quarto, ele me leva para a varanda. É o único quarto do andar, então temos
muito espaço e uma piscina que não foi utilizada. Sam se senta na espreguiçadeira e me coloca na
sua frente. Ele me olha por longos minutos e então suas mãos vão para minhas coxas.
Minhas pernas ficam bambas imediatamente. Seguro os seus ombros quando ele começa a
levantar a saia do meu vestido. Seu rosto está na minha barriga. Ele beija e morde a pele do meu
estômago por cima da roupa. Mas isso não impede de irradiar a dor por todo o meu corpo.
Ele tira meu vestido e seus olhos ficam mais escuros. Eu nem sabia que isso poderia ser
possível. Quando ele percebe que estou sem sutiã, ele leva as mãos até meus seios, apertando com
força meus mamilos, levando todo o choque para baixo do meu estômago.
— Adoro que você quase não usa sutiã. Eles são perfeitos.
Sua boca quente começa a torturar um enquanto sua mão começa a esfregar o outro. Todo o
sangue do meu corpo começa a ferver. Gotas de chuvas começam a cair, e nem me preocupo com
isso. Meu corpo começa a ir mais para perto do dele, como se não estivéssemos juntos o bastante.
Sua boca começa a descer pelo meu estômago, e para na renda da minha calcinha. Com os
dentes, ele começa a tirar a única peça que me cobre. Assim que estou nua, ele me coloca sentada
em seu colo. Sinto seu membro duro embaixo de mim, mas ele não para. Sua boca vai para o meu
pescoço, colo, queixo, seios. Sua língua brinca com meus mamilos me deixando louca. Sem poder
conter começo a me mover em cima de seu corpo, tentando aliviar a dor pulsante do meu sexo. Isso
tira dele um gemido alto. Parece que ele gosta disso também.
— Continue.
Ah, claro. Eu nunca vou parar.
Aqui tem a fricção perfeita para o que eu preciso. O volume da sua calça bem embaixo do
meu clitóris. Não paro esse delicioso movimento de vai e vem em cima dele. E sua boca continua me
dando o prazer necessário para gozar em cima dele.
Aquela sensação de explosão começa a aparecer no meu estômago. Minha respiração
começa a ficar irregular e estou ao ponto de explodir. Sam morde com força meu seio causando a
sensação que eu precisava.
Uma onda de calor e prazer me atinge, mas continuo me movendo.
— Caralho, Docinho.
Sam segura meus quadris, me ajudando a continuar.
A chuva que ameaçava, cai com todas as forças nos deixando muito molhados. Penso que ele
vai nos levar para dentro, mas Samuel se levanta comigo em seu colo e me coloca deitada na
espreguiçadeira. Ele me cobre com seu grande corpo. Ajoelha-se na minha frente e começa a tirar
a sua roupa molhada. Primeiro a sua jaqueta, deixando-me ver sua camisa grudada contra o seu
tronco.
Ele termina de se despir e se ajoelha mais uma vez. Segurando minha cintura ele me puxa
para a beirada da grande cadeira, deixando-me da cintura para baixo fora dela.
Ele não perde tempo e coloca a sua boca nas minhas partes molhadas e pulsantes. Agarro
seus cabelos com força, querendo que não se acanhe e parece dar certo. Sua língua começa a
entrar e sair de mim dura e rapidamente, deixando-me ainda mais molhada, me levando mais uma
vez a aquele paraíso. Começo a mover meus quadris acompanhando o ritmo de sua boca. Samuel
suga meu nervo e me fazer quase cair contra ele. Um choque intenso percorrer todo meu sistema
nervoso, me fazendo gritar como louca.
— Sam!
Com o último golpe de sua língua em meus clitóris, grito o seu nome pressionando seu rosto em
minha buceta, não querendo que ele saia de lá nunca mais.
Mesmo com a chuva, consigo ouvir uma música muito apropriada para o momento.

Dobro os joelhos
Quando você me pega, me amassa, me quebra,
Me usa demais
Perco as rédeas
Quando você demora, devora, implora sempre por mais

Samuel me puxa para baixo com ele, e entra em mim sem nenhum aviso. Nunca vou me
acostumar com a sensação de ser preenchida por ele. E depois da primeira vez que ele não usou
camisinha, ficou tudo melhor. Depois disso, ele perdeu muito mais o controle comigo.
Eu sou navalha cortando na carne
Eu sou a boca que a língua invade
Sou o desejo maldito e bendito, profano e covarde
Desfaça assim de mim
Que eu gosto e desgosto, me dobro,
Nem lhe cobro rapaz
Ordene e não peça
Muito me interessa a sua potência, seu calibre e seu gás

Ele começa a empurrar dentro de mim. Sua boca em meu pescoço onde ele geme cada vez
que entra um pouco mais em meu corpo. Centímetro por centímetro. Preenchendo-me tão
perfeitamente que não acho que exista outra pessoa nesse mundo que possa fazer isso. E nem
quero que exista.
Samuel geme alto quando mordo seus ombros. Vai ficar uma marca e não me importo nenhum
pouco com isso. Quero que ele se lembre desses dias tanto quanto eu.
Suas mãos agarram minha cintura me movendo para cima a para baixo. Fico de joelho no
chão querendo tanto movimento quanto ele. A chuva é a testemunha de toda a nossa paixão nessa
noite.

Sou o encaixe, o lacre violado


E tantas pernas por todos os lados
Eu sou o preço cobrado e bem pago
Eu sou um pecado capital
Eu quero é derrapar nas curvas do seu corpo
Surpreender seus movimentos
Virar o jogo
Quero beber o que dele escorre pela pele
E nunca mais esfriar minha febre.

Começo a me mover com mais força, levando ele por completo dentro de mim. Rebolo meus
quadris fazendo que seu pau acerte aquele ponto exato que me faz ficar cada vez mais
necessitada dele. A chuva começa a cair mais forte e uma bagunça começa a acontecer em meu
peito. Sam resmunga algo quando meus músculos começam a apertá-lo. Estou começando a chegar
lá.
— Ainda não!
Sam me deixa no chão da varanda e não me preocupo. Ele escancara as minhas pernas e
entra em mim mais uma vez. Seus olhos estão fechados e seu corpo tremendo. Meu corpo começa a
sentir dor, pois quer mandar essa tensão ir para longe. Ele começa a se mexer.
Com muita força.
Chegando a me fazer querer gritar de dor. Grito que ele pare, para que ele não pare, não
sei mais o que acontece a não ser essa dor que está me possuindo com força total. Ele se deita em
cima de mim, pressionando seu peito musculoso no meu. Ele fecha os olhos, e continua.
Algo na forma com que ele me toca me faz querer chorar. Puxo a sua boca e o beijo tão
carinhosamente. É o que nós dois precisávamos.
Eu gozo junto com ele. Deitados no chão da varanda, com o mar e a chuva testemunhando o
momento em que eu dei o meu coração a ele.

Eu só consigo chorar por tamanha alegria que sinto no momento. Acabamos dormindo depois
de termos feito amor mais duas vezes. Uma vez no chuveiro e outra na cama. Sam como sempre,
não parava de dizer como tudo é bom e gostoso comigo. Como ele adora estar dentro de mim,
como eu o aperto, que está louco para me levar ao clube de novo apenas para me amarrar na
cama e me comer por horas. Como ele me quer na sua cama assim que chegarmos de viagem, pois
não vai me deixar ir embora. Sou um caso perdido quando ele está com seu grande corpo sobre o
meu e ele sabe disso, por isso faz essas propostas sempre que sua boca está em alguma parte do
meu corpo.
Sinto um aperto novamente em mim. Nem parece que acabei de ter três sessões boas com esse
grande homem que está esparramado na cama. Sam dormiu no momento em que deitou. Isso só
acontece quando faço cafuné em seus cabelos. Ele se torna um meninão quando estou fazendo isso
e eu gosto disso. Isso se tornou uma das nossas coisas.
Sam se remexe na cama e estende a mão para o lado. Ele sente a minha barriga e parece
relaxar. Eu não tinha reparado que ele sente minha falta na cama até a nossa primeira noite aqui.
Estava no banheiro quando ele ficou desesperado ao não me encontrar do seu lado. Depois disso,
Sam faz questão de dormir em cima de mim para evitar que eu saia do seu lado.
Palavras dele.
Samuel se vira para o lado e procura pela minha mão. Ele segura meus dedos firmemente e
se aquieta. Sorrindo, eu olho para o relógio e vejo que são três horas da manhã e temos que estar
no aeroporto às sete e meia. Tudo está pronto.
Menos eu.
Não quero voltar para casa. Bem, eu quero, mas não quero deixar esse paraíso. Esses dias
aqui serão os mais especiais da minha vida. Por descobrir que eu acabei ganhando algo da vida
que eu nem mesmo esperava. Ela me deu esse homem incrível.
Uma sensação ruim está me dizendo que não será tão fácil quando chegarmos em casa.
Talvez seja meu coração querendo me enganar e me fazendo ficar aqui mais um pouco. Ou tolice
mesmo.
A única certeza que eu tenho, é que tudo mudou para mim. E preciso que Samuel saiba disso.
Preciso dizer a ele como eu me sinto antes de qualquer coisa. Por que meu coração, por mais
abobalhado que seja, diz que algo vai acontecer e vai machucar alguém, e é sempre o mais fraco
que se machuca.
E não é novidade para ninguém que a fraca sou eu.
Capítulo 24
Eu sei que não deveria. Mas sinto as coisas com uma intensidade enorme, e
acabo me machucando enormemente.
Victória

N osso embarque foi calmo. Sam está com tudo organizado. Eu não sabia que excesso de
bagagem poderia sair tão caro, mas ele não se importou com isso. Dessa vez, o nervosismo
não apareceu, pois o meu cansaço o impediu. Samuel me cobriu com uma manta que ele pediu a
aeromoça. Diferente do primeiro voo que a aeronave estava um inferno, esse está frio demais.
— Estou arrumando esses documentos. Durma, eu aviso você quando chegar.
E assim eu faço, mas quando acordo, percebo que algo está errado. Não tenho ideia do que
está acontecendo, mas Sam está muito tenso.
— Me dê um minuto, por favor.
Ele fica apenas quatro passos de distância de mim, então eu consigo ouvir partes de sua
conversa.
— Acabei de chegar. Vou almoçar com eles agora... O quê? Porra. Você prometeu não fazer
nada até falar comigo... Então espere... Claro que sim... Não me faça perder a paciência, Sophie...
Claro, você é mais importante do que qualquer coisa, sabe disso... Eu tenho que ir, eu vejo você
depois.
É como uma tapa na minha cara. Não deveria me machucar, mas é o que acontece quando as
palavras saem de sua boca.
— Vou ao banheiro.
Saio antes que ele possa perceber que algo está errado. Assim que chego à cabine, respiro
fundo e seguro todas as lágrimas que querem cair.
“Você é mais importante do que qualquer coisa.”
Eu sei que ela é especial para ele, mas ouvir isso fez o meu coração parar de bater. Não
quero pensar nisso, não quero sentir isso, mas dói. Não tenho motivos para me sentir assim. Samuel
nunca me disse o quanto era importante para ele, e também nunca me desrespeitou.
Mas pensei que ele estava começando a se sentir da mesma forma que eu.
Mais uma vez, eu estou esperando demais das pessoas.
Coloco um sorriso no rosto, mas não é nada convincente.
Quando volto, percebo a sua impaciência então não dou chance para ele se estressar comigo.
Não estou pronta para uma briga. Vamos direto para o restaurante onde o seu pai já está nos
esperando. Sandoval veio direto do hospital para cá e o Simon vai trazer Arthur.
Conto em detalhes para o pai de Sam como foi nossa estadia. Ele me ouve atentamente,
enquanto Sam não para de mexer em seu celular. Sei que ele está falando com sua preciosa, e
não ligo para isso.
Que mentira. Ligo sim. Quero que preste atenção a nossa conversa, me fazendo acreditar que
foi tão bom para ele quanto para mim.
— Ei pessoal!
Os dois outros filhos aparecem. Arthur se senta ao meu lado e me dá um grande beijo na
bochecha. Fazemos nossos pedidos e continuamos a conversar. Tento o máximo ficar focada e
relaxada, mas não consigo. É difícil fingir que estou bem para as pessoas que se preocupam
comigo. Comemos e falamos mais e mais, até que Samuel pede para atender outro telefonema.
— Eu fiz o gol da vitória para você, pirulito! — Arthur declara — Agora diga que aceita o
meu pedido de casamento?
Isso me faz sorrir. Um sorriso genuíno. Daqueles que sempre dou para esse garoto que é
importante para mim. Arthur é com certeza a pessoa que mais me deixa relaxada em qualquer
lugar. Dou a ele um olhar de gratidão e espero que ele perceba e o aceite.
— Quem vai se casar com quem? — Samuel volta. Ele não parece nem um pouco feliz.
—Eu vou me casar com a Vick. Ela é a mulher da minha vida.
Samuel olha para o seu irmão caçula e então bufa, desdenhando das suas palavras.
— O homem que casar com ela deve ter uma paciência de um santo — diz jogando o celular
na mesa. — Às vezes eu quero apenas estrangulá-la. É quase impossível aturá-la.
Olho para ele, mas não consigo ver o homem por qual estou apaixonada. Ele voltou a ser o
cara que diz coisas para me machucar e me fazer desistir. Por mais que me doa, começo a pensar
nisso. Vai me machucar muito, mas sei que vou superar.
— Bem, o senhor também não é um lorde em questão de convivência. Devo dizer que logo vai
estar livre de mim, doutor? — pergunto querendo que ele diga alguma coisa, mas não vejo
emoção em seus olhos. — Mais algumas semanas e terá outro estagiário. Tenho dó do ser humano.
Segurando toda a raiva e frustração dentro de mim, pego a minha bolsa e deixo uma das
duas notas que tenho na mesa.
— Vick, querida, não se preocupe com isso. — Sandoval pede segurando meu pulso com
delicadeza.
— Não, senhor. Eu faço questão. — Eu me viro para Arthur — Querido, eu sinto muito por não
poder ficar mais. Agradeço pelo gol, mas a viagem me esgotou e tenho um relatório para entregar
amanhã cedo. Não quero que o Dr. Samuel implique ainda mais comigo.
— Eu levo você. — Simon se levanta.
— Não precisa Simon. — Olho diretamente em seus olhos, implorando para que ele me deixe
sozinha— Tenho que ir a faculdade ainda. Vejo os senhores amanhã. Obrigada pelo almoço, meus
rapazes.
Olho para a mesa mais uma vez e saio daqui o mais rápido que eu posso. Pego minha mala
na recepção e vou para a casa. Assim que o primeiro vento frio me acerta, as lágrimas começam a
cair. Sinto-me horrível e não sei nem mesmo como isso aconteceu.
Nem mesmo quando nos conhecemos ele falou desse jeito comigo. Cada palavra sua estava
carregada de desprezo e me acertou por completa.
Por que ele tinha que fazer isso comigo? E na frente de sua família? Ainda senti o olhar de
compaixão de cada um deles.
Sei que Simon queria vir comigo para ter certeza que estou bem, mas acabaria confessando
que estou perdidamente apaixonada pelo seu irmão e o resultado não seria bom, Não quero
deixar mais o clima ainda mais chato entre eles. Sei que Simon tomaria as minhas dores e então,
deixo por isso mesmo.
Choro por todo o caminho para casa, recebendo olhares de compaixão de todos ao meu
redor. É, é assim que você fica quando está com o coração partido. Um caco e muito choro. Apenas
deixo todo o sofrimento se apossar de mim.
Mas o melhor remédio para toda essa tristeza é uma boa tarde de sono, ou receber o amor
dos meus bebês. Todos os meus gatinhos se enrolam em mim quando caio no chão da sala. Assim
como eles, estava morrendo de saudades. Recebo todo o amor que eles me dão até estar cheia de
pelo. Grandão está no sofá me encarando. Ele parece mais gordinho. Com certeza, a Didi o
encheu de comida quando estava fora. Ela acha que com bastante comida, ele vai acabar
crescendo.
Pego ele em minhas mãos e choro. Pelo meu coração partido e por saber que vai acontecer a
mesma coisa com Samuel. Minha mente diz que ele está indo, mas meu coração ainda insiste em
dizer que ele vai ficar. Que ele sente a mesma coisa.
— Ao menos você me ama não é? — Olho para os olhos negros do pequeno bichano. —
Queria que o seu xará fizesse o mesmo.
Deixo-o no chão e vou desfazer as malas. Quero me concentrar em atividades que não
deixem que meus irmãos percebam o que aconteceu. Não vai ser fácil, mas eles não podem fazer
nada. Samuel foi grosso e eu fiz uma tempestade em um copo d’água.
O que é uma mentira. Ele não tinha razão alguma para falar aquilo. Não quando tivemos dias
incríveis em um paraíso. É como se o cara por quem me apaixonei tivesse sido sugado naquele
telefonema. Como se ele tivesse se esquecido de tudo e só se importasse com ela.
Nossa, Victória, você está se tornando uma vaca megera.
Mas o que posso fazer quando é isso que sinto? Espero que tudo dê certo.
Mentira. Quem eu quero enganar? Quero que Samuel entre por aquela porta e diga o quanto
me ama e que nada é mais importante do que nós dois juntos.
Posso ser sonhadora demais, mas sei que isso não vai acontecer.

— Vick! Vick, amor, você tem visita!
Agarro mais o lençol e o miado do Grandão me faz saltar da cama. Ele está encolhido no
centro da cama e Victor ri quando ele me segura para não cair.
— Calma, querida. Vá se arrumar que dou um jeito nesse nanico aqui.
Arrumo meus cabelos e vou até a sala. Quase caio quando vejo o Arthur sentado ao chão com
a Didi, pintando alguns de seus cadernos de pintar que ela sempre compra nos fins de semana. Ele
não me nota, pois está rabiscando algum animal enquanto Didi está fascinada olhando o seu
trabalho.
— Se você começou na vertical, tem que terminar do mesmo jeito. Assim, o desenho fica mais
bonito — ele comenta quando entrega o lápis de volta para ela. Então me nota e abre um grande
sorriso. — Ei, Pirulito!
— Oi! O que faz aqui? — Olho para o relógio do rádio e vejo que são oito da noite, dormi
por seis horas. Nossa, estava exausta mesmo.
Ele se levanta e caminha na minha direção. Arthur está segurando alguma coisa. Assim que
para na minha frente, Arthur me puxa para um abraço apertado. E por receber seu carinho, eu
começo a chorar baixinho. Conheço Arthur o bastante para saber que ele está querendo que eu
me sinta bem depois de hoje. Sei que ele ficou chateado com o seu irmão.
— Ohh, Vick. — Ele me acalenta acariciando meus cabelos. Meu corpo treme a cada soluço
que liberto através do choro. — Eu sinto muito.
Eu o abraço mais forte, querendo algum tipo de carinho que nem mesmo sabia que precisava.
O solto e o levo para o meu quarto. Arthur parece ficar confortável quando se senta na cama.
— Primeiro me diga: você está bem?
Dou de ombros, tentando tornar a cena do almoço uma situação insignificante, mas sei que ele
não acreditou nem por um segundo nisso.
— Só estou um pouco cansada da viagem. Mas o que está fazendo aqui?
Ele dá de ombros e então abre aquele sorriso de garoto esperto que ele tem.
— Queria ver a minha garota favorita. Isso é o suficiente para vir aqui. — Ele segura o
objeto em sua mão e vejo que é sua medalha. — Quero dar isso a você.
— O quê? Não. — me afasto dele como se pudesse me machucar. —Isso é seu, Arthur. Você
lutou muito para ter isso.
Ele balança a cabeça e olha para a fita que segura à medalha de ouro.
— Sim, eu dei tudo de mim, mas eu não fiz isso sozinho. — Seus olhos azuis encontram o meu.
— Se não fosse por você, Vick, eu nem estaria no campo. Eu não me importaria de ficar em
segundo lugar. Não mesmo. Ficaria satisfeito apenas por estar em campo com meus amigos do time.
E se isso foi possível, é tudo graças a você e a forma com que me ajudou e me apoiou em todas as
sessões. Seja me elogiando ou puxando a minha orelha. Eu consegui por você.
Arthur pega a minha mão e coloca a medalha. Ele fecha minhas mãos em volta da medalha.
— Ela é sua. Eu não preciso dela para saber que consegui, mas quero que fique com você
para sempre te lembrar do quanto você fez por mim. Ela é sua e não aceito não como resposta.
Olho para o objeto em minha mão.
— Obrigada!
Eu não consigo dizer mais nada.
— Eu que te agradeço, mas quero te pedir uma coisa. Vick, eu sei que não deveria, mas eu
peço mesmo assim — ele engole em seco. — Não desista dele, está bem? Sam sempre foi fechado,
mas com você é muito diferente. Sei que nada justifica o que ele fez hoje, e não estou defendendo-
o. Só estou te pedindo um pouco de paciência. Assim que ele perceber o que fez hoje, vai correr
até você e implorar o seu perdão. E também sei que ele não vai fazer a mesma coisa novamente.
— Arthur...
— Prometo que se ele fizer algo assim novamente, eu mesmo o afasto de você, Vick. Mas por
favor, não desista agora. Não quando ele está tão perto de saber o quanto você é importante
para ele.
Suas palavras me acertam em cheio. E mesmo que eu não queria, eu minto para ele.
— Tudo bem.
Capítulo 25
Meu coração já sabe, mas minha boca ainda não consegue dizer o quanto
eu te amo. Sim, eu te amo e espero que você consiga ver isso.
Samuel

O uço os cliques sobre o piso do restaurante antes mesmo de vê-la. Seu irmão é o primeiro a se
levantar quando ela chega. Diones atrapalha minha visão quando a abraça. Os dois tem
muito que conversar, mas sei que vão ter o seu tempo para lavar a roupa suja da família depois.
Além do mais, Sophie voltou apenas por ele. E ela me confidenciou o que está tramando para seu
irmão.
Diones dá um passo para o lado me dando a visão da minha melhor amiga. Ela não é mais a
menina que se despediu de mim há sete anos. A garota da qual eu me lembro, usava nada mais do
que calças jeans, camisetas e sua mochila. Muito diferente da mulher que está na minha frente. Ela
mudou, para melhor. Mas ainda vejo resquício do olhar amedrontado em seu rosto.
Ou sou eu querendo cuidar dela como sempre fiz. Dou um passo até ela, mas não sei se ainda
tem ataques de pânico quando alguém se aproxima.
Sophie sempre foi uma menina calada, mas qualquer que tentasse se aproximar, veria o
quanto ela é machucada. Mesmo eu, que sempre estive ao lado dela, evitava contato direto.
Estava sempre a um braço de distância, não querendo causar nenhum tipo de problemas a ela.
— Você pode me abraçar, Sam! — sua voz não mudou nada.
Respirando fundo, arrumo meus óculos e a puxo para os meus braços. Meu corpo todo
tenciona quando Sophie me abraça apertado. Mas em questão de segundos, alívio toma conta de
mim quando percebo que ela sente confortável com outras pessoas.
Sophie me agarra e tento passar mais uma vez a proteção que sempre dei a ela. Minha
amiga chora contra o meu peito. Ambos matamos a saudades que temos um do outro. Mesmo
falando com ela todas as semanas, não ajudou muito. Sophie sempre foi uma pessoa essencial
para mim. Ela ocupa um lugar que pensei que ninguém substituiria. Foi como um perfeito ajuste no
momento certo.
E valeu a pena por muito tempo protegê-la, mas eu sei que não será assim para sempre. Até
porque, ela mudou. E sei que ela não veio apenas para festejar com seu irmão. Conheço-a o
bastante para saber que seu choro é um pedido de perdão antecipado pelo o que ela está
aprontando.
— Senti sua falta, Sam. Meu Deus, como eu senti a sua falta! — Ela sussurra contra o meu
peito, me abraçando ainda mais forte.
Faço mesmo, sabendo que tanto quanto eu quero que ela siga em frente, mesmo que isso
acabe arruinando meu irmão, quero que ela saiba que ainda me importo com ela.
— Acho que posso dizer que senti a sua falta também — digo me afastando dela. Sophie tem
o rosto corado e molhado pelas suas lágrimas. Limpo seu rosto e beijo sua testa. — Temos muito
tempo para matar a saudade. — Puxo a cadeira para ela sentar. — Conte-me porque eu tive que
descobrir pelo meu irmão caçula que você voltou.
Diones pegou o celular de sua irmã, impedindo-a de interromper nosso jantar. Apreciei a sua
ideia, pois a cada quinze minutos o maldito celular toca. Diones desligou, dizendo que seus dois
companheiros de trabalho sabem onde ela está, e que se quiserem falar com ela, vão ligar para o
celular dele.
Sophie começa a falar sobre o que ela mais ama nessa vida, seus sobrinhos. Ela diz como eles
passaram a chamá-la de mãe e como tem tentando suprir tudo o que eles precisam em uma
família.
Sei que ela dá o seu melhor quando se trata deles. Sophie foi negligenciada por seus pais e
isso a feriu muito, mas ela não deixou seu coração fechado por conta disso. Foi lindo de ver
quando ela acolheu seus sobrinhos desconhecidos.
Sophie faz de tudo por eles. E quando digo de tudo, quero dizer que os mima em grandes
proporções. Mas não quer dizer que eles sejam duas crianças estúpidas. Apesar de que sua
menina consegue calar a boca de qualquer pessoa.
Com certeza Sophie soube educar os dois.
— Mas não quer dizer que não tenha algum controle com eles. — Minha amiga bebe um
pouco do seu vinho. — Certo, eu não tenho. Eles não precisam de muito para conseguir me enrolar.
Basta um “Por favor, mamãe”, que eu já estou dizendo sim e nem sei para o que é.
— Papai é a mesma coisa com o Arthur. Se eu não ficar controlando, o garoto já teria o seu
próprio carro e apartamento. O que tem esses caçulas que conseguem tudo o que querem? Na
minha época não era assim.
Estamos terminando nosso jantar, conversando sobre os meninos até que meu telefone toca.
Apenas evito saber quem é. Quem eu quero que seja não vai me mandar nada, porque é cabeça
dura e não aceitar um celular que quero dar a ela.
Meu telefone toca mais uma vez e vejo uma mensagem de Simon.

Simon: Vem me pegar. Tô bêbado demais.

Olho de relance para Sophie, que está me encarando.


— Arthur quer saber que horas estou chegando em casa.
— Oh, que meigo. Você tem toque de recolher? — Diones aperta minha bochecha, implicando
comigo. Dou uma tapa em sua mão tentando rir, mas não consigo.
— Você não precisa mentir, Sam. Cedo ou tarde ele vai descobrir que estou aqui e não vai
ser fácil evitar esse encontro. Aliás, eu mesmo faria uma visita a ele por vontade própria.
Olho para ela, querendo saber se é isso mesmo que ela quer. Querendo ver o que ela se
tornou. Percebi que ela está diferente, apenas não quero aceitar isso. Na verdade, eu quero que
tanto ela quanto meu irmão se libertem disso para que eu possa seguir em frente com a Docinho.
Droga! Como eu queria estar com ela nesse momento. Apenas abraçá-la e relaxar ao seu
lado. Para isso eu preciso evitar que esses dois se encontrem.
— Seja um bom amigo e diga a ele que mandei um beijo — diz em completa ironia.
— Eu não sei o que houve entre vocês, não por não querer saber e tentar consertar as coisas,
mas porque nenhum quis me contar. Eu aceitei isso. —Eu a encaro firmemente, querendo que ela
saiba que falo sério. — Mas eu não vou escolher um lado, Sophie. Fique bem ciente disso.
Ela não se abala com minhas palavras. Parece que tudo o que eu disse, deu mais impulso para
ela fazer o que quer que esteja tramando.
— Eu sei, querido. É por isso que você vai ficar quieto e me deixar acabar com o seu irmão,
mas para que isso aconteça, eu vou ter que acusá-lo. Se não fosse por você, eu nunca teria o
conhecido. Você me deve isso.
— Você não é a mesma.
Deixo uma nota com Diones e vou atrás de meu irmão. Simon está no mesmo bar que costuma
beber e está uma catástrofe. Ele nem mesmo luta quando eu o carrego até o meu carro.
— Eu te amo, Sam! Você é o melhor.
A crise familiar que ele tem sempre que está bêbado começa. Sinceramente, eu acabo de
descobrir que não queria estar em nenhum desses dois lugares essa noite. Tudo começou a ruir
quando sai daquele avião com a Docinho.
Levo-o para o seu apartamento na indecisão de dizer ou não a ele que a mulher que ele ama
voltou. O que quer que Simon tenha feito para ela, tanto a machucou como o destruiu. O efeito foi
bem doloroso para ele também, porém, o ajudou a evoluir, apesar de ainda estar descontando na
bebida sempre que tem alguma crise de existência.
Assim que o coloco na cama, Simon aperta meu pulso.
— Ela te ama, sabia? Ela te ama e você nem mesmo percebe isso.
Ele consegue soar sóbrio.
Eu deixei que ele acreditasse nisso e acabamos nos distanciando.
— Simon...
— Ela é louca por você, e você a tratou como merda hoje. — Ele aperta meu pulso com mais
força. — Não cometa o mesmo erro que eu, Sam. Você é melhor do que isso.
Ele apaga assim que as palavras saem de sua boca.
No primeiro instante, eu pensei que ele estava falando de Sophie, mas Simon estava falando
sobre o meu comportamento de hoje com a Docinho. Eu sabia que precisava arrumar as coisas.
Nada justifica o meu comportamento, mas meu primeiro pensamento foi que a Sophie
apareceria naquele instante, jogando toda a bomba em cima do meu pai e do Arthur. Só preciso
que tudo isso suma. Deixando meu irmão mais velho bêbado em sua cama, percorro toda a cidade
para estar onde eu mais quero e preciso.
É tarde, mas não me importo com isso. Assim que saio do carro vejo a Vanessa na porta de
sua casa, olhando para a rua com uma xícara de café em suas mãos. Assim que me nota, seu
semblante passa de tranquila para chateada.
Bem, ela deve saber sobre o meu comportamento de hoje pela manhã.
— Oi! — Tento soar amigável, mas não adianta de muita coisa.
— Fez a viagem à toa — ela diz me encarando. Pronta para me colocar para fora. — Ela
está dormindo.
Coloco minhas mãos dentro do bolso da minha jaqueta. Muito desconfortável com isso.
— Só quero saber se ela está bem. Não tive notícias dela desde que saiu do restaurante, e
também... Posso vê-la? Não vou acordá-la, só preciso saber se ela está bem.
Vanessa me encara e em nenhum momento ela vacila em seu modo protetor. Eu garanti aos
dois irmãos que eles nunca precisariam se preocupar comigo machucando a Docinho e foi
exatamente isso que eu fiz hoje e odeio isso mais do que tudo na minha vida.
— Só quero me desculpar por hoje.
— Ela estava com dor de cabeça e foi dormir cedo. Acho melhor não perturbá-la, Samuel.
Vocês vão se ver amanhã...
— Não posso. — Agarro meus cabelos com força. — Não consigo, Vanessa. Saber que eu a
magoei e não poder saber que ela está bem. Saber que ela foi dormir com raiva porque eu sou
um babaca que está querendo arrumar tudo para os outros e destruindo as minhas chances. Por
favor, eu só quero vê-la. Saber que ela está bem. Só isso.
Ela parece indecisa. Eu entendo que ela quer o melhor para a sua irmãzinha. E sei isso for me
deixar longe de Docinho, sei que ela não vai hesitar.
— Tudo bem, mas não vou pensar duas vezes se ela te mandar embora.
Um pouco de alívio atravessa o meu corpo. Ela entra e estou atrás dela. Quando ela fecha a
porta, vai direto para o sofá onde está assistindo um filme antigo.
— Nada mais do que quinze minutos.
Nem mesmo lhe respondo e vou até o quarto de Victória. Abro a porta e a vejo encolhida na
cama. O lençol cobrindo apenas suas pernas. Seus braços estão juntos contra seu estômago. Seus
cabelos espalhados pelo travesseiro. Ela se remexe quando me sento na sua cama. Sua respiração
está baixa, mas não esconde os pequenos soluços de choro.
Mas isso não a impede de estar linda.
Sem conseguir me conter, eu acaricio o seu rosto e tiro alguns fios que estão em sua bochecha.
Ela resmunga em seu sono e soluça mais uma vez.
Meu coração aperta quando ouço isso. Dói em minha alma saber que eu fiz isso com ela.
— Me perdoe, Docinho. Por favor, me perdoe. — Descanso minha cabeça contra a sua,
tentando não acordá-la, mas preciso de algum tipo de contato, de ligação com ela. Para saber que
estamos bem. Eu preciso disso. Preciso que estejamos bem.
Não sei como vou ficar se ela decidir que isso foi o bastante. Sei como ela é cabeça dura e
sei que mesmo tendo me dado uma resposta à altura, ela saiu devastada de lá.
Deus sabe que eu não queria, mas como um burro, acabei deixando tudo pior. Não quero que
Victória pague pelos meus erros.
Docinho se remexe na cama e logo percebe que estou aqui. Mas não se altera quando me vê.
Ela pisca três vezes querendo ter certeza que não é um sonho. Ela toca minha barba e percebe
que sou eu de verdade.
— Oi — ela tenta sorrir, mas falha. — Tem muito tempo que chegou?
Ela se vira, ficando de barriga para cima. Seus olhos estão pesados de sono. Mesmo que eu
ame que ela esteja me olhando, sei que não deveria tê-la acordado.
— Queria saber se você estava bem — digo afagando seu rosto.
Ela se afasta de mim, se sentando na cama.
— Deveria estar em casa. Tenho certeza que você não descansou e parece que você bebeu.
Seus olhos verdes focam na porta. Ela não me quer aqui e isso me machuca terrivelmente.
— Queria ter ver, não conseguiria dormir sem te ver... — Pego sua mão e afago
delicadamente. — Posso me deitar com você? Só um pouco, Docinho. Só para saber que você
ainda se importa comigo.
Ela me olha surpresa com minhas palavras.
— É claro que eu me importo com você, Sam! Que ideia boba essa sua. — Ela respira fundo.
— Só estou cansada. Você deveria ir para casa descansar. Amanhã voltamos para o trabalho.
Inclino-me sobre ela e a abraço apertado.
— Por favor!
Ela fica tensa em meus braços, lutando entre a raiva e o carinho. Sei que não deveria estar
assim com ela, mas eu preciso ter algum tipo de conexão hoje. Respirando fundo e me dando um
pouco de paz, Victória se afasta um pouco e me dá espaço para deitar. Tiro meus sapatos e me
deito na cama. Coloco seu pequeno corpo em cima do meu. Ela não relaxa de primeira, mas
depois de algumas respirações ela me abraça apertado, como se estivesse despedindo.
Eu só não sabia que ela estava fazendo isso de verdade.
Capítulo 26
Acho que chegou o momento em que você me diz que tentou, mas que não
podemos seguir em frente.
Victória

E u só não sabia o que dizer a ela e acho que o Victor está da mesma forma. A primeira coisa
que sai da minha boca é:
— Como é que eu não sabia disso?
Vanessa está completamente envergonhada de toda essa situação. Bem, eu entendo a sua
necessidade de deixar tudo escondido. De ter certeza que as coisas estariam bem sérias antes de
trazer isso para a nossa família. Uma coisa é diversão, outra é totalmente chegar e dizer: EU
ESTOU GRÁVIDA E VOU ME CASAR!
Victor aperta meus ombros pedindo que eu me acalme e dê a chance da nossa irmã explicar
tudo o que está acontecendo aqui.
— Eu não queria dizer a vocês até ter certeza que ele era o que eu queria, e também tinha o
divórcio dele que não saia. Quando ele recebeu os papéis, me pediu para casar com ele e até
mesmo pediu a Diana para ser o seu pai. — Minha irmã mais velha olha com os olhos terrivelmente
emocionados. Ela acabou de descobrir que está grávida e já está mais do que emotiva. — E eu
descobri que estou grávida hoje. Eu juro, queria ter contado antes, mas...
Mas ela está com medo como da outra vez. Mas eu sei bem quem é o Carlos. Foram poucas
às vezes que conversei com ele, e em todas elas, foi o bastante para saber que ele é um cara
legal. Sempre foi educado e respeitador. Menos com minha irmã, já que eles fizeram muitas coisas
indecentes. Solto um risada baixa e isso faz com que Victor me encare curioso.
— Porque a risada?
Dou de ombros e olho para minha irmã tentando não ser uma vaca com esse comentário
idiota.
— Eu sempre pensei que ele fosse um cara educado e legal, mas acabei de saber que ele
está tendo sexo com a minha irmã mais velha. — Dou de ombros e olho para o cara a que está ao
lado da minha irmã. — Ele meio que caiu no meu conceito agora.
Eles não se importam nem um pouco com meu comentário sem noção. Na verdade, alivia o
clima em casa. Eu não esperava isso depois de um dia bem louco no trabalho. Quero apenas
pegar meu caderno de anotações, ler ao menos umas quatro páginas e então dormir até meu
organismo não aguentar mais. Porém, minha irmã pensa de um jeito diferente. Sei que ela não
aguentaria por muito tempo, sei que esse segredo estava deixando-a louca da vida. Nunca foi
fácil esconder as coisas entre nós três.
Levanto-me e vou até ela. Nessa me encara com o olhar de culpa e não quero que se sinta
assim. Se pensar, eu me sento em seu colo como se ainda tivesse dez anos de idade. Ela me aperta
em seus braços chorando contra o meu ombro. Sei que ela precisa de mim mais uma vez. Só que
nessa situação, tudo é diferente.
Ela não é mais uma menina inocente que está esperando um bebê sozinha. Tem esse cara, que
pelo jeito que olha para minha irmã, mostra que ele está perdidamente apaixonado por ela. Como
se nada mais importasse nesse mundo, a não ser a minha irmã. É uma coisa linda de admirar. E ele
vindo aqui, para dar suporte a ela nesse momento de tremenda loucura, só me faz ter certeza que
ele a ama como ninguém.
Seu olhar diz tudo.
— Está tudo bem, Nessa, está tudo bem. O Victor me ajuda aqui.
Meus irmãos riem. Victor pede licença ao seu cunhado e se senta no sofá. Sem nenhum esforço
ele consegue colocar nós duas em cima dele. Nós nos abraçamos como fazíamos quando éramos
mais novos. Ele nos mantém juntos contra ele.
Ela parece relaxar em saber que tem nosso apoio. Francamente, passamos por algo pior.
Nenhum bebê pode ser pior que a Diana quando ela nasceu. Por meses não sabíamos o que era
oito horas de sono.
— Você sabe que pode contar com a gente, mas agora você tem esse cara bonitão aqui
também. — Olho para Carlos que ri quando ouve o elogio. Desvencilho-me dos dois e vou até o
mais novo membro da família. — Ele parece te adorar assim como a Diana. Não somos mais tão
ingênuas como naquela época. E agora temos um irmão que está nas forças armadas que pode
matá-lo sem nenhum pingo de culpa. Não é, mano?
— Dou até mesmo uma arma para você me ajudar, Vick. — Victor entra na brincadeira.
—Como é que eu não vi isso? Vocês conseguiram passar a perna em todos nós. E o pior, a
pirralha estava de parceria com eles.
Nessa ri e limpa seu rosto e abraça o nosso irmão.
— Eu pedi que fosse segredo — Carlos diz ao meu lado, se pronunciando pela primeira vez.
— A Vanessa só queria contar quando os papéis estivessem assinados e o bebê veio apenas como
um grande presente. Desculpe por me intrometer assim, na vida de vocês, mas eu me apaixonei
pela irmã mais velha de vocês e não posso fazer nada a respeito disso.
Eles se olham como se estivessem sozinhos nessa sala, até que um dos nossos gatinhos coloca
suas garras nas longas pernas de Carlos.
— Foi a sua cerimônia da aceitação.
Eles riem. Deixo-os conversando e escolhendo que tipo de pizza eles vão pedir para o jantar.
Preciso de um banho para tentar arrumar a minha cabeça de tudo o que aconteceu hoje.
Assim que a água cai sobre o meu corpo, um pouco de leveza se apossa de mim, me tirando
um suspiro baixo. Como é revigorante um bom banho quente nesse momento. Lavo meus cabelos
com precisão antes de começar a me sentir cansada sem nem estar aqui por muito tempo. Não sei
o que está de errado. Por dois dias tenho me sentindo assim, fadigada demais. Até mesmo para
mim.
Talvez seja a preocupação com as notas que estarão saindo essa semana. Ou apenas a minha
incansável fuga de Samuel no hospital.
É, com certeza é a segunda resposta.
Mesmo ele tendo vindo aqui, pedido perdão e me abraçado, não ajudou com a dor no meu
peito. Era como se fosse um pequeno passo para uma enorme distância que está sendo colocada
entre nós dois. Sei que ele pediu perdão, mas não é apenas um sinto muito que vai levar a dor e a
decepção embora.
Não o expulsei naquela noite quando era o que eu deveria ter feito. O pensamento passou
por minha mente, mas o meu coração simplesmente ignorou o que a razão estava gritando para
ele. Então fiz o que minha alma queria. Estar com Samuel, era o que eu mais queria naquela noite
e ele parecia querer o mesmo. A forma que ele me amou e em abraço enquanto se movia dentro
de mim, foi intenso demais.
Como se ele me pedisse para não deixá-lo. Para não desistir dele. Eu não quero, mas não sei
se posso ficar a sombra de alguém que é mais importante para ele do que qualquer coisa nesse
mundo.
Desligo o chuveiro e vou para a cama. Não me seco, mesmo com o frio que chegou junto com
essa noite. Mesmo que seja eu que esteja fugindo dele, a sua falta é o que me mais dói quando
penso no Grandão. O meu minúsculo gato começa a brincar com meus pés, mas sequer faço algum
movimento para incentivá-lo. Estou congelada nesse momento, ao perceber que ele não veio atrás
de mim em nenhum momento do dia.
Isso dói demais!
Ele sempre dá uma desculpa para vir até mim. Mesmo que seja apenas para me ver, até
mesmo para saber se eu estou bem ou se preciso de alguma coisa.
Por isso não foi difícil fugir dele. Ele não quer me ver.
Quero pensar que ele se cansou de mim e não está mais interessado porque conseguiu o que
queria. Mas não consigo, sei que ele não é assim. Sei que ele nunca iria agir dessa forma. Afinal,
ele estava esperando por mim. Ou talvez tenha percebido que esperou demais e quer agora ir
aproveitar o mundo.
Vadiar e ser um cafajeste como sei que ele seria. Mas ele não é.
Seria muito melhor se ele fosse um babaca. Mas Samuel Hamilton está longe de ser isso. Ele é
cavalheiro demais até mesmo para quebrar o meu coração. Suspiro pesado quando meu corpo
começa a pesar mais um pouco. Acho que posso ler aquelas anotações quando estiver indo para a
aula amanhã. Ou talvez quando estiver voltando para casa.
Até isso me lembra dele. Meu supervisor Franklin me pediu para avisar que se quisesse, um
dos motoristas me levaria para casa, já que Samuel não estava disponível no momento. Quando ele
me disse isso, a vontade de mandar o cara que eu amo para o inferno foi enorme. Mas disse
apenas que não precisava. Sei que ele iria contar para o Samuel, que ficaria com raiva por saber
que estou voltando sozinha para casa toda noite.
Essa coisa que ocorreu entre nós dois não está me fazendo bem. Só me diz que estamos nos
distanciando muito mais. Apenas pensei que, apesar de tudo o que tivemos, eu significaria muito
mais para ele.
— Ei, a pizza chegou. — Victor bate na porta do meu quarto. — Já está pronta?
— Só um segundo.
Visto a enorme camisa de futebol que meu irmão me deu e o short de dormir. Assim que estou
pronta, peço para que ele entre. Meu enorme irmão me encara quando me vê sentada na cama.
— Você está bem? — ele pergunta se sentando ao meu lado. — Você parece tão distante
esses dias. — Ele me olha nos olhos, e vejo preocupação neles. — Sabe que pode me contar
qualquer coisa.
Sem poder me conter, me agarro a ele. Victor é meu porto seguro quando é necessário. Acho
que essa conversa seria muito mais apropriada com a Nessa, mas também sei que agora, devo
pensar que será apenas eu e Victor daqui a algum tempo. Odeio isso, mas não vou impedir a
minha irmã de conseguir a sua felicidade e não quero estragar o seu momento.
Victor me abraça, tentando me confortar como quando éramos crianças. Só que dessa vez,
não foi minha boneca perdida que me deixou assim. E sim um imenso coração partido, sem chance
de reparo. Por que eu simplesmente não consigo deixar de chorar pelo cara que conseguiu meu
coração, mas que não pode me dar o seu?
Ele nem precisa me dizer, mas sei que está indeciso entre mim e o seu grande amor. Nem
precisa, tenho certeza que ele vai escolhê-la. Nem mesmo deveria ter desperdiçado o seu tempo
comigo. Ou talvez quisesse ter mais um pouco de experiência para ...
— Argh! — deixo sair um grito abafado de dor quando penso nessas coisas. Os braços do
meu irmão se apertam ao meu redor. Ele tenta dizer que tudo vai ficar bem, que vamos conseguir
mais uma vez.
Não, eu não vou conseguir. Eu sei que jamais vou sentir por outra pessoa, o que sinto pelo
idiota do Samuel Hamilton. É idiotice, eu sei. E diferente do que todos pensam que, sempre será um
novo amor para a cura de um coração partido, eu sei que comigo não vai ser dessa forma.
Acho que a única forma de meu coração ser curado é tentar me concentrar nas prioridades
nesse momento. Não vai curar na verdade, mas vai me distrair da dor.
Mas isso não vai distrair o meu irmão.
— Querida, me diga o que aconteceu? Você está começando a me assustar.
Digo apenas que tive uma pequena briga com Samuel, mas eu sei que ele não engoliu isso. Ele
sabe que uma briga boba não me deixa nesse estado deplorável.
— Acho que uma boa pizza vai ajudar com isso hein?
Esse é o seu modo de falar que não vai insistir nisso e vai me deixar chorar mais se for
preciso. Meu irmão me ajuda a melhorar o semblante antes de descer. Eu imploro a ele que não
conte a Vanessa sobre minha pequena cena dramática, pois isso vai apenas estragar o seu
momento feliz, e ainda fazer com que ela fique com muita mais raiva do Samuel. Nessa olhou para
mim duas vezes quando cheguei à cozinha. Sei que ela virá atrás de mim, por isso digo a todos
que eu tenho que descansar para a prova de amanhã.

Era a primeira vez em que pensei muito em não cumprir com a minha palavra. Pensei nisso até
no último momento, até que Samuel disse que estaria indo me buscar as oito da noite. Ele me beijou
como se estivesse tudo bem, como se não estivéssemos nos comportando como estranhos um ao lado
do outro. Eu agi da mesma forma por alguns minutos, quando ele me abraçou e sorriu para mim.
Mas depois, foi estranho demais, quando ele se afastou sem nenhum adeus. E agora eu estou
aqui, bebendo um copo de suco.
— Então essa é a nossa despedida? — Simon pergunta ao meu lado. Ele está aqui comigo
por horas.
Diferente do seu irmão, o Simon não gosta nenhum pouco desse tipo de interação social. Ele é
mais o cara de fazer as coisas acontecerem, do que programá-las.
— Essa provavelmente é a última vez que nos veremos. — Olho para ele, muitíssimo
agradecida por tudo o que ele fez por mim. — Eu vou sentir muito a sua falta.
Ele balança a cabeça, não entendendo muito o porquê das coisas estarem desandando dessa
forma. Simon é o único que sabe da minha saída do estágio. Acho que ele merece saber, já que foi
ele que me deu essa chance.
— Já disse que te coloco em nosso quadro médico.
Dou a ele o melhor sorriso que eu consigo, mas não sou de muita serventia nesse momento.
Minhas mãos estão tremendo e estou começando a suar frio. Por que sei que mais cedo ou mais
tarde nessa noite, eu vou conhecer uma pessoa que simplesmente vai tirar tudo sem nem precisar
mover um dedo.
— O Dr. Samuel já deixou bem claro que ele não contratar um estagiário, mas valeu a pena.
Tenho certeza de que não conseguiria aprender tanto em outro lugar. — Olho para o copo de
suco em minha mão. Estou vendo a hora de o líquido cair no meu vestido branco. — Espero que o
próximo estagiário seja paciente com ele e vice e versa. Ele tem muito que ensinar.
Simon me olha por longos segundos e o que ele me diz, me faz querer chorar e me sentir
como uma idiota.
— Você gosta dele.
É uma afirmação. Bem, eu gosto dele. E se fosse apenas isso, tudo seria muito mais simples.
Bastariam alguns dias e tudo estaria bem novamente.
— Assim como você. Samuel não sabe o quanto é especial, apenas precisa de alguém que
mostre isso e faça que aquela cabeça dura acredite nisso — suspiro admitindo mais uma vez que
não sou eu que estarei fazendo isso.
— Você parece ser essa pessoa, querida. — Simon agarra minha mão.
— Não, nós dois sabemos que não sou! — Não consigo esconder a dor que sai em minha voz.
— Eu não sou essa pessoa.
Simon me abraça tentando me consolar, mas não adianta. A dor está e aqui vai ficar por
algum tempo. Sei que é loucura culpá-lo por tudo isso. Foi ele que me levou para aquele hospital,
ele que me deu a chance quando deveria ter sido o seu irmão a me entrevistar. Quem sabe Samuel
teria me dito não e tudo isso estaria sendo evitado.
Mas da mesma forma que ele me apresentou o caminho para o coração partido, sei que foi
ele que me deu o momento mais inesquecível da minha vida.
— Eu agradeço muito a você pela oportunidade, isso vai me ajudar muito com um emprego —
digo com sinceridade. — Foi um sonho que se realizou ter estagiado em um dos melhores hospitais
do país.
— Farei maravilhosas recomendações para você, Pirulito — ele me chama pelo apelido que
ganhei de seu irmão mais novo.
— Eu o amo mais por isso. — Aperto sua mão. E sem que eu perceba, já digo o que deveria
ter mantido guardado, mas é bom que eu diga isso a alguém. E também sei que Simon vai entender
o que quero dizer. — Eu não sei o que ela tem de especial, mas sei que para ter a atenção de
vocês, deve ser uma pessoa maravilhosa — engulo em seco e continuo. — Eu pensei que teria
chance, mas me enganei. Se você a ama, não desista, mas não deixe o Samuel sozinho. Não deixe
que ele se isole.
— Vick... — Ele tenta argumentar, mas não deixo. Preciso que ele me prometa isso.
— É a única coisa que eu peço a você, Simon. — Aperto suas duas mãos na minha, fazendo
valer a minha súplica. Querendo que ele prometa isso por tudo o que é mais sagrado para ele. —
Como amiga e como uma pessoa que te ama como um irmão. Não o deixe sozinho. Ele não merece
isso! Se ele te perder, eu não sei como vai ser as coisas, mas eu sei que ele vai ficar devastado,
Simon. Por favor.
Ele me encara chocado e desconfortável com isso. Sei que estou ultrapassando uma linha
dolorida para ele. Mas eu já passei dos limites no momento em que me deitei com seu irmão. E
agora, eu só quero ter certeza que o Sam esteja amparado quando eu for embora. Não que ele
precise de mim dessa forma, porque eu não sei se ele precisa de mim assim, mas necessita de
alguém ao lado dele, para ter certeza que ele está fazendo as coisas certas.
Que ele está se cuidando.
— Prometa-me! Por favor! — peço a ele mais uma vez.
Simon suspira, mas assente.
— Eu farei isso, mas ele vai estar sozinho sem você. Pense nisso antes de deixá-lo.
Eu pensei isso todas as noites desde quando as coisas começaram a dar errado. Eu fiz o que
todos me pediram, e acabei me apaixonando por ele. Acabei saindo machucada de tudo isso. Sei
que ele não quis fazer isso, mas mesmo assim, ele está me dando o seu adeus.
E eu estou aceitando.
— A festa está apenas começando. — Pisco para ele e termino o meu suco— Não temos
tempo para esse tipo de tristeza. Eu vou sentir sua falta, mas sempre posso dar uma fugida para
ver você e o Arthur.
— Vai ficar só no suco querida? Tenho certeza que eles possuem mais do que isso.
— Ah, sim, mas eu não gostei muito do vinho que provei. Vou ficar apenas no suco hoje. Vou
falar com alguns professores que avistei. Eu encontro você em nossa mesa.
Deixo Simon no bar e vou para longe de todos precisando um pouco de ar. Vou até o
banheiro e molho minha nuca, tentado aliviar a pressão no meu pescoço. Deveria aprender a
decepcionar as pessoas com mais frequência. Pois se isso acontecesse mais, eu estaria nesse
momento em casa, lendo todo o conteúdo que eu tenho atrasado desse mês.
Arrumo meus cabelos em uma trança e saio de volta para o salão. Assim que entro, uma mão
envolve minha cintura e percebo que se trata de Samuel. Ele me dá um sorriso genuíno quando me
vê.
Deus! Como eu vou sentir falta desse sorriso que faz os meus dias mais incríveis.
— Você está fugindo de mim? — pergunta brincando, mas mal sabe ele que é a verdade.
— Fui apenas ao banheiro. — Dou de ombros e me afasto um pouco dele. — Estamos
prontos para o jantar?
Ele olha por alguns segundos e então pega minha mão na sua, afagando daquela maneira
que ele me faz relaxar. Mas não funciona dessa vez.
— Quero te apresentar a uma pessoa. Ela está feliz para te conhecer também.
Eu queria poder dizer o mesmo, mas não posso. Ele me leva para o outro lado do salão onde
tem os mais importantes médicos e professores reunidos nessa noite. Ainda não entendi muito bem
por que eu estou aqui. Ah, para conhecer a mulher que é a fascinação do meu ex-namorado. Se é
que um dia chegamos a esse status de relacionamento. Enfim...
Samuel me deixa de fora da roda e vai até onde essas pessoas estão e sai da lá com a mais
linda morena que eu já vi na minha vida. Não tem comparação alguma nesse momento.
Sophie é alta, não tão alta quanto Samuel, mas seu tamanho se encaixa muito bem com o dele.
Seus cabelos são longos e lisos, totalmente pretos e elegantes. Ela é magra, mas cheia de curvas.
Seus quadris são avantajados, seus seios pequenos, deixando-a muito mais elegante, diferente dos
meus que não me permitem nem mesmo um pequeno decote. Ela anda em um salto agulha
perfeitamente. Sua maquiagem é simples, mas perfeita. Posso ver a cor de seus olhos, castanhos
claros. Transmitindo uma tamanha gentileza.
A forma que ela envolve seus braços no dele me deixa tensa. Desvio o olhar, não querendo
ver isso. Meu coração começa a bater com mais força em meu peito. Tenho quase certeza que eu
vou desmaiar ou vomitar. Talvez eu desmaie depois de dar um show de vômito em frente à
sociedade de medicina de São Paulo.
— Docinho! — Estremeço quando ele me chama assim. Ouço as veias do meu coração
estourando, fazendo meu peito doer. — Essa é a Sophie.
Ele não disse a pessoa mais importante de sua vida. Talvez ele tenha um mínimo de decência.
— Sophie, querida. Essa é Victória, a estagiária da qual eu lhe falei.
Eu sei que ele não quer me machucar, mas se referir a mim como a estagiária é muito pior que
um tapa na cara. Engulo em seco e olho para morena a minha frente. Tirando toda a educação
que eu tenho dentro de mim, dou a ela um sorriso sincero, eu acho. Mas acho que falhei
miseravelmente.
Sophie se solta de Sam e vem até mim, dá dois beijos, um em cada bochecha.
— Finalmente, encontrei a mulher que tem tirado o sossego do Sam — ela olha para ele e
sorri. — Ela é linda, Sam. Não tem nada de assustador.
Solto uma risadinha baixa, mas muito irônica. Espero que ninguém tenha percebido.
— Eu tenho isso em mim. Assusto homens grandes que não conseguem se defender.
— Sim, como o Sam.
Ela tem sotaque e logo me recordo que ela mora em Londres.
— Por favor, Soph, não comece — Sam pede e eu ouço como ele a chama.
Ele a chama pelo seu apelido, mas não mim. Com certeza estou sobrando aqui.
— Se me derem licença.
Sei que é rude, mas eu não espero pela resposta dos dois. Corro para o mais longe possível.
Fico mais de meia hora no segundo andar, onde há uma sala para descanso. Havia algumas
senhoras, e agora está cheio de velhos fumando charuto.
Estou pronta para ir embora, mas eu sei que vou ter que pedir ao Samuel para me deixar em
casa.
— Você é a estagiaria do Samuel não é? — Uma loira me para e eu a reconheço do hospital.
— Sim, por quê?
— As fofocas correm e eu sei que você está na cama dele — ela diz baixo, mas não deixa
de ser uma forma de humilhação para mim. — Só uma coisa, querida. Samuel sempre será
apaixonado pelo amor da vida do seu irmão. Ela sempre será a primeira e única — ela diz com
raiva e decepção ao mesmo tempo. — Os irmãos Hamilton sempre vão amar a preciosa Sophie.
Então ela vai embora me deixando sozinha no corredor. Ela não precisava me dizer isso, eu já
sabia. Mas ouvir de outra pessoa dói muito mais.
Ouço Simon gritando com alguém e logo um barulho de algo se quebrando me assusta. Entro
na sala e vejo algo que não esperava.
Samuel está embaixo de Simon, que está batendo sem parar no seu irmão. Sam não tenta se
defender. Simon continua com socos e mais socos.
— Simon! Para!
Eu grito com Simon, mas ele continua. Sem pensar duas vezes, eu vou até os dois. Sem pensar,
eu dou um chute com toda a minha força na costela de Simon, que se contorce de dor. Eu fazia isso
com Victor quando ele estava brigando o com Nessa em um de seus momentos de bebedeira. E
assim como funcionava com meu irmão, funcionou com ele. Eu estou chegando perto de Sam, mas
Simon me manda parar.
Já estou chorando. Não é certo que dois irmãos se tratem assim, mesmo que seja pela mulher
que eles amam. Simon ajuda o seu irmão a se levantar e sussurra alguma coisa para ele.
Depois, ele o deixa sentado contra um pequeno sofá e passa por mim. Assim que ele me olha,
eu estremeço e solto um suspiro alto.
— Sinto, muito, Vick.
Ali eu sabia.
Que já tinha perdido meu Grandão.
Capítulo 27
Não posso arrumar tudo para todos. Acabo sempre esquecendo de mim. E
acabei atingindo você.
Samuel

E u estraguei tudo. Sim, tudo o que aconteceu foi culpa minha. Além de machucar o meu irmão,
eu acabei perdendo a pessoa mais importante da minha vida. Arthur pressiona a bolsa de
gelo com força em meu queixo, resmungando alguma coisa sobre eu ser um completo idiota.
Ele nem mesmo ficou surpreso quando cheguei cambaleando em casa. Sua surpresa foi
quando percebeu que a Vick está me ajudando a descer do carro junto com o Diones. Bem, isso me
surpreendeu também. Eu não sei exatamente o que ela ouviu, mas sei que isso não a impediu de
verificar se eu estava bem. Docinho não parou de chorar por um minuto e ver o seu rosto molhado
de lágrimas, doeu em mim mais do que a surra merecida que levei do meu irmão.
Ela me ajudou, limpou o sangue do meu rosto, enquanto eu só conseguia me concentrar em tê-
la por perto. Não ligando para o que aconteceu com o Simon e a Sophie. Pouco me importando
com o que eles fariam da vida deles. Eu tenho tudo o que precisava. Foi o que eu pensei no
momento.
Docinho cuidou de mim assim que chegamos a casa. Ela me ajudou com o banho, me examinou
para saber se havia alguma coisa quebrada em mim, além do meu ego destruído.
Ela nem mesmo perguntou o motivo da briga, estava muito mais preocupada em saber se eu
estava bem. Arrumou um curativo em meu rosto, fez compressa, cuidou de mim como ninguém fez
em anos.

— Eu acho que você deveria dormir agora — ela me diz enquanto arruma os meus cabelos
para fora do meu rosto. Por uma questão de bondade, Simon apenas acertou meu queixo,
deixando meu maxilar roxo com um corte no canto do meu lábio. — Os remédios vão fazer o
efeito. Quero que você descanse.
Ela diz isso de uma forma baixa e tranquila. Ela está cansada, assim como eu. Não deixei de
reparar que o seu vestido branco foi arruinado com o meu sangue.
— Mesmo toda suja de sangue você continua linda.
Ela cora e deita sua cabeça em meu peito. Victória entrelaça sua mão na minha. O pequeno
toque reascendendo uma nova vida em mim. E só penso que estarei tendo tudo o que sempre
desejei ao seu lado.
— Você vai ficar aqui?
Victória levanta um pouco a sua cabeça e me dá um sorriso lindo, mas não é muito acolhedor.
— Eu preciso ir para casa.
Docinho não esconde a dor em sua voz e eu odeio isso.
— Eu preciso de você aqui — brinco com seus cabelos.
Ela olha para longe, mas não responde nada, apenas se levanta e vem para perto de mim.
Ela coloca o seu pequeno corpo sentado bem perto da cabeceira da cama. Com cuidado ela
coloca a minha cabeça em seu colo. E mais uma vez, começa a fazer carinho em meus cabelos.
Abraço a sua cintura, me entregando a sensação de paz e amor que sinto em seu colo. Dessa vez
ela não cantou nada, apenas me confortou como se nada mais fosse importante.

— Pare de sonhar acordado, Sam. Isso está começando a me irritar.


Arthur pressiona com mais força o gelo no meu queixo. Essa é a primeira vez que ele está
sendo a minha babá e está evitando ao máximo falar comigo. Sei que depois que dormi naquela
noite desastrosa, ele tomou um lado. O da Victória, é claro. Tanto ele, quanto Simon e o papai
estão de cara amarradas para o meu lado. Bem, eu mereço isso. Estou em casa há quatro dias,
por ordem do meu pai. Ele disse que eu preciso me recompor para poder voltar para o hospital.
Simon veio me ver ontem. Ele não me pediu desculpas, e nem tem motivos para isso. Se alguém que
precisa implorar perdão, esse alguém sou eu.
— Ela falou alguma coisa depois que eu dormi?
Arthur nega com a cabeça e me deixa sozinho no quarto. Andar ainda me causa algumas
caretas, então evito me levantar ao máximo.
Pela primeira vez em anos, estou uma completa confusão. Decepcionado, cansado, com raiva e
mais do que nunca, sozinho. Grande engano em pensar que seria da mesma forma. É bem pior,
porque antes eu não tinha Victória na minha vida. Eu não tinha essa luz que se alojou na minha
alma. De todos que poderiam me abandonar, perdê-la é o mais doloroso. Não vejo nenhum motivo
para tentar fingir que estou bem como as outras vezes. Que se dane a proteção que eu deveria
dar a eles.
Olha no que deu tudo isso!
Tentei proteger Simon da pior dor que ele poderia sentir, mas acabei dando armas para a
pessoa que um dia foi tudo para ele, machucá-lo da pior forma possível. Eu não falei com a
Sophie desde aquela noite. E ainda não tenho estômago para lidar com ela. Como poderia? Ela
usou algo que compartilhei com ela para machucar o meu irmão. Uma das pessoas que eu mais
amo nesse mundo. Falhei com minha mãe quando disse que cuidaria dele. Falhei com meu irmão
como amigo e irmãos de sangue.
Sempre coloquei Sophie a frente dele e isso nunca deveria ter acontecido.
Eu a amo como se fosse minha irmã, mas ela foi a minha maior decepção. Pior, foi ela falar
que só contei a ela para usar isso contra meu irmão. Para ter a minha pequena vingança.
O que eu ganharia com isso? Estaria apenas quebrando a minha promessa, sendo mesquinho
e egoísta. Sei que nem sempre fui um grande irmão de Simon, mas nunca iria querer ver o meu
irmão mais velho tão quebrado como naquela noite.
Se eu pudesse voltar no tempo, em vez de ir naquele maldito jantar, pegaria a minha Docinho
e a levaria para a fazenda para passar o fim de semana com ela. Deixaria o mundo explodir.
Mas eu tinha que ser o cara que arruma todas as coisas.
Às vezes é chato ser tão correto.
Mas não há como voltar atrás. Apenas tentar arrumar minha situação com a Victória. Sabendo
muito bem que terei um enorme trabalho para conseguir isso.
Pensei que ela voltaria aqui para saber se estava tudo bem, mas não fez. E ela está certa. Sei
que ela está preocupada comigo, mas também sei que ela está magoada com a forma que me
distanciei dela. Não gosto nada ter feito aquilo, mas estava lutando para fazer a minha amiga
mudar de ideia. Falhei e não posso fazer mais nada sobre isso, a não ser tentar arrumar a minha
vida.
— Sam, o Diones está no telefone! — Arthur grita do seu quarto.
Eu desliguei meu celular para não ter nenhuma notícia da Sophie. Eu nem consigo dizer como é
bom não ter que me preocupar com esses dois. Saber que eles podem se virar sem mim, não me
incomoda mais. Espero que eles saibam que lavei minhas mãos e que se resolvam.
Podem mesmo se matar, que eu não me importo nenhum pouco. Pego meu o telefone e atendo
Diones. Se ele está ligando para casa, deve ser algo sério.
— Oi, cara!
Ele solta uma respiração forte contra o telefone.
— Que porcaria, Sam. Eu não estou conseguindo arrumar isso, preciso da sua ajuda — ele
não esconde o seu desespero. — A Sophie não saiu do seu apartamento por dois dias. Os meninos
estão preocupados e eu não sei o que fazer.
Não me deixo abalar pela sua agonia.
— Você é o irmão mais velho dela, use isso e faça algo. Eu disse a você, Diones, ela não é
mais preocupação minha. Droga, ela nem deveria ser. Sophie é apenas uma amiga que me deu
uma facada nas costas e nem se preocupou com tudo o que fiz por ela. Foda-se se ela está mal.
Você viu, meu irmão? Você viu como eu estou? O que eu perdi por querer ajudar esses dois? Eu já
disse, isso não é mais problema meu.
Diones suspira mais uma vez.
— Droga, Sam. Eu nem mesmo te julgo por isso. — Ele fica em silêncio por alguns segundos.
— Eu entendo isso. Eu te entendo mesmo, mas a minha irmã não está nada bem também. Ela em
sua inocência pensou que você ficaria do lado dela como sempre fez...
Levanto-me da cama e vou até a janela. O sol está começando a se pôr.
— O que ela fez Diones, foi mais do que machucar meu irmão. Ela me traiu. Ela me usou para
acabar com uma pessoa que eu amo e prometi cuidar. — Eu sei que ele não sabe o que sua irmã
fez então lhe conto. — Há anos atrás, eu contei a Sophie o que uma das namoradas de Simon fez.
Natasha nem mesmo sabia que eu sabia que ela estava grávida do meu irmão. Eu pensei que ela
levaria adiante. — Encosto minha cabeça na janela, lembrando-me muito bem daquele dia. — Ela
me fez prometer que não contaria a ele que tinha feito um aborto. Na época eu também achei
melhor, pois Simon não estava em um momento legal. A Sophie tinha ido embora e tudo ainda
estava um caos. Só que... Eu precisava contar a alguém, era muito até para mim. Era uma vida,
Diones. Não tem um dia em que eu imagine como teria sido diferente se tivesse impedido aquela
megera de ter tirado meu sobrinho ou sobrinha. Não tem uma noite que eu não pense que essa
criança que se foi por egoísmo, poderia ter sido a salvação do meu irmão. Não tem uma droga de
dia que eu não peço perdão a ele por não ter protegido sua alma de tudo isso.
Estou gritando contra o telefone. Nem mesmo percebi que as lágrimas estão caindo pelo meu
rosto.
Se é para ele saber de tudo, que seja a verdade. Não a mentira difamatória que Sophie
conseguiu criar a algumas noites atrás.
— Então a sua irmã usa essa alma ingênua para uma vingança fria, apenas para aumentar o
seu ego. Desculpe, cara. Mas eu não sei se posso perdoá-la pelo o que fez. Eu mesmo não me
perdoo pelo que deixei acontecer.
Uma mão firme aperta meu ombro e me viro para encontrar meu irmão mais velho me
encarando. Eu não mereço nem um pouco a admiração que seu olhar me transmite.
Ele me puxa para um abraço que me faz desmoronar. Largo o telefone no chão.
Simon me abraça com força enquanto choro abraçado a ele. Pouco me importa sobre isso ser
meloso demais. Estou recebendo perdão do meu irmão. Estou mostrando a ele o que eu sempre
quis. Esse cara que tem medo de machucar a todos, de mostrar que sinto mais medo por eles do
que por mim. Sem mais enganações ou tentativas de afastá-lo de mim.
Odeio que eu tenha tido um papel enorme em tudo isso. Mas aconteceu, não posso mais voltar
atrás.
— Está tudo bem, irmãozinho. Está tudo bem.
Consigo ouvir a compaixão e agradecimento em sua voz.
Meu irmão continua me abraçando. A última vez que chorei com ele assim foi quando nossa
mãe nos deixou. Só que eu era a sua base. O Simon que estava despedaçando sem nenhuma
vergonha e fui o que ele precisou nesse dia.
Eu estava sim, desmoronando, mas por dentro. Pois precisava ser forte por eles. E foi o que eu
fui até hoje. Cheguei ao meu limite. E com o seu perdão nesse momento, eu posso mesmo ser eu
depois de tanto tempo. Tendo apenas as minhas preocupações como prioridade. Sem ter que
esconder nada.
Com esse último passo dado, eu tenho arrumar uma forma de me aproximar mais uma vez de
Docinho. Mas eu penso nisso depois, preciso conversar seriamente com meu irmão.

— Eu deveria ter prestado mais atenção em você, mas eu queria acreditar que estava tudo
bem. Eu me deixei acreditar que você dava conta. — Simon termina o seu uísque. — Merda!
Como é que eu não vi isso? Caralho, Sam. Por que aguentou todos esses anos? Como conseguiu
suportar isso?
Ele simplesmente não entende. Ele nem mesmo sabe como foi fácil, apesar de não ter muita
experiência em cuidar de uma família.
— Eu só precisei me lembrar de a como mamãe fazia. Ela estava meio que me preparando
para isso. — Olho para o copo cheio de líquido âmbar. É o meu quinto copo e já sinto o efeito do
álcool em meu sistema. Estamos bebendo para ficarmos bêbados mesmo. — Foi simples cuidar de
vocês, o mais difícil sempre foi tentar esconder o quanto estava me perdendo no caminho. Queria
ser a base poderosa para vocês. Sempre disponível para arrumar qualquer confusão. — Viro o
copo levando todo o líquido em minha garganta. — Sei lá, eu me acostumei a isso, só que...
Só que eu encontrei alguém que percebeu o quanto estava sozinho e se aproximou de mim.
— Só que eu te trouxe a Vick e t... — Simon se esforça para completar a palavra. — T-tudo
mudou. É, mano, uma fruta nunca cai longe da árvore. Foi assim mesmo com a Sophie.
Faço um careta ao ouvir o nome dela.
— Está com raiva dela também? Ela fodeu tudo mesmo, né?
Ele murmura algo como egoísta gostosa e lhe dou uma tapa.
— Eu ainda a vejo como minha irmã, Simon.
Ele me olha perplexo quando digo isso. Então vamos lá, vamos mudar isso nesse momento.
— Você acreditou mesmo que eu amo de outra maneira? — pergunto me servindo mais de
uísque. Arthur olha para a garrafa vazia em cima da mesa. Ele é nosso garçom nessa noite. Está
com o seu videogame ligado e seus fones de ouvido. Meu irmão levanta e vai até a estante onde
há mais sete garrafas de uísques caros que o papai tem. O velho está chegando daqui a pouco e
certamente levaremos uma bronca. Arthur deixa a garrafa em cima da mesa e volta para o seu
jogo.
— E como é que não se ama aquela desgraçada se não for desse jeito?
Tenho vontade de rir da sua tentativa insana de querer odiá-la.
— Amando-a como irmã — falo baixo. Simon me encara estupefato. — Eu sei que você ouviu
minha conversa com ela há alguns anos, e deixei que você acreditasse nisso. A verdade é que eu
sempre a vi como minha irmã. Ela foi um alguém que chegou e precisava de mim e eu sabia que
poderia exercer minha função de irmão mais velho com ela. Foi muito mais fácil deixar que você
acreditasse que eu era apaixonado por ela, do que saber que ela é como uma substituta para a
nossa irmã.
Não é um assunto que gosto de comentar. E Simon também. Deixamos os assuntos de lado
para não deixar Arthur ouvir. É uma verdade que queremos manter afastado dele. Pelo menos por
algum tempo. Logo ele estará mais preparado para saber mais sobre nossa mãe e irmã que se
foram no dia em que ele nasceu.
— Eu nunca pensei que fosse isso. — Simon tomou a mesma quantidade de álcool do que eu e
já está bêbado. — Porra, bebe mais, quero você passando mal amanhã junto comigo.
Para agradecer a ele por essa lavagem de roupa suja mais do que necessária, eu tomo
metade do líquido diretamente da garrafa.
— Claro que você pensou de outro jeito. Você não conseguia manter essa coisa dentro das
calças. Eu já te disse, você roubou todo o dom de cafajeste da família.
Ele revira os olhos e empurra a garrafa para o meu rosto.
— Você sempre foi esse cara retraído. Perdeu a virgindade com a primeira namorada. Para
mim sempre foi uma das duas coisas: ou estava esperando ser notado por Sophie ou era gay. —
Ele pega a garra da minha mão e bebe um pouco mais. — Mas depois que a Vick apareceu, ser
gay foi jogado para fora da lista. — Ele dá de ombros. — Mas ainda pensei que estava
esperando pela desgraçada. — Ele olha para a sua mão. — Não faça a mesma coisa que eu fiz.
— O que você está dizendo?
— Não mande embora quem você mais ama da sua vida.

Eu decidi que ficaria uma semana afastado do hospital e sei que todos estranharam súbita
retirada de férias. Eu sabia que Victória estava me evitando, como também querendo me irritar.
Além de sair tarde toda essa semana, ela não aceitou a carona de ninguém para ir para casa.
Minha vontade era de ir até a sua casa e dar a ela e a mim também, algo prazeroso que deixaria
nós dois exaustos por dias. Mas Simon disse que não era o momento certo de falar com ela.
Ela está estressada demais para ter algum tipo de carga emocional desnecessária em cima
dela. Pedi que ele olhasse por ela até quando voltasse. Pelo seu olhar espantado, isso também é
surpresa para ele.
— E por que você deu isso a ela? — rosno quando Franklin, meu colega – ao menos eu
pensei que fosse – diz que Victória simplesmente pediu sua carga horária e saiu do hospital sem
nada mais do que um obrigada.
— Eu não posso simplesmente prendê-la aqui, cara. E não fui eu quem deu a carga horária
dela. — Ele me mostra a assinatura do meu pai. — Seu pai ficou horas tentando convencê-la a
mudar de ideia, mas menina é cabeça dura. Disse que não voltaria atrás. Não podíamos fazer
nada...
Eu poderia. Eu iria amarrá-la em uma das macas e a comeria até que ela soubesse que não
pode sair assim da minha vida. Não, não adiantaria. Não posso fazer nada sobre isso. Eu deixei
que ela fosse embora. Eu não dei a ela nenhum motivo para que ela ficasse. Mesmo que eu tenha
implorado para que ela ficasse. Mesmo que tenha dito que eu não a deixaria ir.
— Acho que isso é culpa minha também. — Simon diz ao meu lado.
— Eu estava com raiva naquela noite e acho que alimentei demais essa história de você ser
apaixonado pela Sophie. Depois da nossa cena, Vick deve ter pensado que estávamos brigando
por ela. — Ele me lança um olhar de desculpas, mas tudo isso tem apenas um culpado.
— Você não tem culpa de nada. Deixa isso para lá.
Saio da sala do meu amigo e vou para minha sala. Assim que entro, percebo que a mesa que
ela ocupava está vazia. Completamente vazia. Nada de suas canetas coloridas espalhadas pela
mesa, suas apostilas abertas enquanto ela estuda em seu tempo livre.
Apenas alguns dos bombons que ela deixou aqui, dizem que ela esperou por mim até o
momento em que ela conseguiu.
Sento-me na cadeira com o meu coração apertado, dizendo que eu a perdi. Mas eu sei que
ela precisa apenas de tempo para tentar se acalmar. Assim como eu preciso planejar algo que me
ajude a consegui-la de volta.
Ela precisa se lembrar que eu disse a ela que não a deixaria ir embora.
Já perdi muitas pessoas que eu amo. E não vou deixar a pessoa que tem o meu coração ir
embora sem saber o que eu sinto por ela.

Estava com vergonha demais e não tenho medo nenhum em admitir isso. Ter que lidar com o
olhar assassino de Vanessa é muito assustador. Ela sempre foi uma mulher com olhar meigo, mesmo
com a sua altura bem avantajada para uma pessoa do sexo feminino.
É estranho me sentir acuado por outra pessoa que não seja a Victória. E mesmo que eu tente
ser um cara legal, e que implore o seu perdão, mereço com o que ela o que vai fazer comigo.
Quando chego a sua frente, ela apenas me encara por longos segundos e assim como sua
irmã faria, Vanessa me trata com a maior educação. Mesmo que não consiga esconder o seu
desprezo.
— O que posso fazer por você, doutor?
Ela está arrumando os canudos no suporte e em nenhum momento me encara novamente.
— Pode me dizer como está a sua irmã? — Seus olhos se fixam em mim e ela não esconde a
raiva neles. — Eu sei, eu não mereço perguntar sobre ela, mas eu preciso saber se ela está bem.
Por favor, me dê apenas isso, Vanessa.
Assim que ela ouviu minha voz, notou meu desespero. Eu não consigo esconder de ninguém o
quanto estou arrasado com isso. E Victória só se foi a um dia.
Certo, tem mais tempo, mas meu coração estava iludido nesses últimos dias que tudo ficaria
bem. Mas só hoje eu percebi que ela realmente se foi e é tudo culpa minha.
— Você sabe onde ela mora. Poderia muito bem ir vê-la. — Ela derrama uma porção de
canudos no balcão. — Interessante o fato de você se preocupar com ela apenas agora. Sabe
aquela frase que só damos valor a algo quando perdemos? Isso se encaixa em você, querido.
— Eu não a perdi! — rosno.
É no que eu quero acreditar.
— Estão dando um tempo? Eu nem mesmo sabia que vocês estavam namorando. Não me
lembro de você ir em casa conversar comigo e com Victor sobre isso. — Ela para o que está
fazendo e me encara por longos segundos. — Não me lembro de você se importar com ela nessas
últimas semanas. Acho que é melhor você se afastar mesmo. Mais alguma coisa?
Eu mereço isso, mereço cada tapa, mas eu sei que se tenho que me reconectar com a Docinho
novamente, vou ter que passar pelos dois cãos de guarda que ela tem.
— Eu sei que eu mereço isso. E pode ter certeza, eu sei de cada coisa que eu fiz, Vanessa.
Mas eu estava querendo proteger alguém importante. E só não contava em atingir a Victória. Acha
mesmo que eu queria isso? Eu preferiria apanhar diariamente a causar alguma dor em Victória. Eu
amo a sua irmã, Vanessa. E eu te juro que eu vou encontrar um jeito de fazê-la acreditar em mim,
de novo.
Ela balança a cabeça.
— Não é para mim que você tem que dizer isso. — Ela me dá um olhar de pena. — E acho
que essas palavras vieram tarde demais.
Capítulo 28
Você se foi, mas deixou o melhor de você em mim. Obrigada.
Victória
Duas semanas depois.

É horrível estar em casa sozinha. Não que seja a todo o momento, mas com o novo namoro de
Vanessa, ela e a Didi passam menos tempo em casa. Claro, eu tenho os meus bebês para me
fazer companhia, mas não é mesma coisa que a minha irmã sempre lavando roupa ou procurando
alguma coisa para fazer, ou a Diana com suas músicas atualizadas a cada dia.
Nunca consegui acompanhar o seu desenho favorito e acho que nem preciso me preocupar
mais com isso. Está na cara que logo minha irmã e sobrinha estarão se mudando para o grande
apartamento que o meu mais novo cunhado tem no centro da cidade. Foi meio louco para mim e
Victor quando chegamos lá. Carlos fez de tudo para nos deixar à vontade, mas foi como na
primeira vez em que estive na casa de Samuel. Coloquei esse pensamento de lado e me concentrei
em conhecer mais o mais novo membro da família.
Carlos conseguiu me conquistar ainda mais. Ele e o Victor também se deram muito bem,
percebi como ele ficou emocionado quando o meu irmão disse que estará um pouco mais tranquilo
quando estiver fora. O orgulho nos olhos da minha irmã poderia iluminar o ambiente.
E quase todos os fins de semana, as duas vão para o apartamento dele. Claro, eu prefiro
ficar em casa. Por mais eu que ame de todo meu coração minha irmã, dói de uma forma
insuportável ver como ela está feliz com a pessoa que a ama. Sei que não deveria estar pensando
assim. Estou muito bem que ela esteja feliz. Mas não quer dizer que eu tenha que estar
testemunhando isso em todos os minutos. É difícil engolir a alegria de alguém que você quer bem,
quando se está de coração partido.
Isso é um dos motivos para estar presa em casa na maior parte do tempo.
Victor também se foi. Pediram para que ele voltasse mais cedo, pois um dos soldados que
estavam em seu lugar sofreu um grave acidente. Claro, eu odiei isso e chorei muito quando fui com
ele até a base. O seu Coronel me garantiu que ele estará na minha formatura e que ele mesmo
fará de tudo para que o Victor não perca o evento. Eu deixei claro que infernizaria a vida dele se
meu irmão não comparecesse e o homem mais velho deu risada, dizendo que sabe muito bem o
que é ter uma irmã caçula. Só que ele não sabe que eu sempre falo sério.
Eu me despedi de Victor e fiquei sozinha dois finais de semanas inteiros. A Vanessa sempre
quer me arrastar com elas, mas me sinto como uma intrusa. Sempre dou a desculpa de ter que
estudar e tomar conta dos gatinhos.
Demorou um pouquinho, mas a Nessa percebeu que eu queria estar sozinha. Eu sei que ela
entende um pouco do que estou sentindo, pois ela mesmo teve que enfrentar suas desilusões
enquanto nos criava. Eu só quero deitar na minha cama e esperar que não sonhe com o Grandão.
Cada um supera um coração partido como pode.
Eu estou mergulhando nos estudos, cuidando dos gatinhos e dormindo tanto tempo que eu
posso. E fico tão grata por estar tão cansada na maior parte do tempo, que penso que a vida está
me ajudando um pouco.
Na verdade, me ajudando muito. O Lucas conseguiu para mim um estágio em uma clínica aqui
perto de casa. Vai me ajudar muito com as poucas horas de estágio que me faltam. O Franklin
assinou muito mais horas do que eu realmente fiz, dizendo que era uma forma de me agradecer
por ter ido ao congresso em seu lugar. Não aceitei logo de cara, mas ele disse que era pegar ou
largar. E como estava fugindo de Samuel, peguei, mas garantindo a ele que lhe devo uma.
Poucos dias depois apareceu essa nova oportunidade. É uma clínica bem arrumadinha, com um
fluxo bem menor do que do hospital. Vou ter que pegar algum dinheiro da formatura para ajudar
com a passagem de ônibus, já que eles não me dão renumeração. Estou por conta própria dessa
vez.
Termino de comer meu queijo quente e vou colocar comida para os gatinhos. Venho evitando o
Grandão na tentativa de esquecer o seu xará, mas simplesmente eu não consigo. Estou sempre
correndo pela casa atrás dele para tê-lo no meu colo. Querendo-o mais próximo de mim.
Após colocar a comida em sua vasilha, eu me levanto do chão e uma vertigem me atinge em
cheio. A outra tigela que está na minha mão cai, espalhando ração por todo o piso.
— Ei! — Minha irmã entra casa nesse exato momento. — Sente-se aqui.
Ela me coloca sentada em algum lugar. Mantenho os meus olhos fechados, tentado aliviar a
pressão que está na minha cabeça. Sinto o vento batendo em meu rosto, então concluo que a
Nessa deve ter ligado o ventilador.
— É por isso que eu quero que venha comigo! — ela reclama, mas está preocupada. — Você
está fria, Victória. Comeu alguma coisa hoje?
— Acabei de comer.
Não é uma alimentação saudável, mas me ajuda a ter forças.
Ouço minha irmã solta alguns palavrões. Ela começa a andar pela casa. Respiro fundo,
querendo ter um pouco mais de equilíbrio. Abro os olhos e vejo que Nessa me colocou no sofá. Eu
me deito, querendo apenas dormir, mas minha irmã não pensa assim.
— Queijo quente não é jantar, Victória. — Ela me entrega um pano com álcool para colocar
em minha testa. Odeio o seu olhar de preocupação. — E se eu não estivesse chegando? O que
aconteceria?
— Eu dormiria no chão até amanhã. Não vejo problema nenhum nisso.
Tento fazer uma gracinha, mas não dá certo. Seu olhar de repreensão não muda. Nessa se
senta ao meu lado e me faz deitar com a cabeça em seu colo.
— Por que você tem que ser tão cabeça dura?
Não respondo. Não há o que responder a ela. Sei que, mesmo que eu tente, vou acabar
machucando seu coração e ela vai pensar que é uma péssima irmã.
— Está decidido. Quando eu for para casa do Carlos no fim de semana, você vai comigo. E
nem tente dizer não. Você mão vai ficar aqui, sozinha. Ainda mais sofrendo por aquele pedaço
incrível de homem. — Isso me faz encará-la. Seus olhos estão receosos e sei que ela está lutando
com alguma coisa. Nessa respira fundo. — Eu sei que você não quer ouvir dele, mas ele está
horrível. Ele não é mais o mesmo. — Minha irmã acaricia os meus cabelos, querendo me acalentar.
— Está na cara que ele sente a sua falta, querida. Não sei por que ainda não veio atrás de você.
Por que não sou eu que ele quer.
O Samuel sente falta de ter alguém que se preocupe com ele. Que cuide dele e esteja ao seu
lado. E por mais que eu o ame, não posso fazer isso comigo. Não posso ser a válvula de escape
dele sempre que se sentir sozinho. Odeio isso, mas é o melhor para mim.
— Você já vai dormir? — pergunto, querendo sair desse assunto. Já basta ficar chorando por
ele durante os finais de semanas. Não preciso disso agora.
— Vou arrumar as coisas de Diana. Vá descansar, depois vejo você. — Ela diz isso, mas ainda
sinto o seu olhar em mim. Está preocupada. Não posso fazer nada a respeito disso. Quando ela
quer ficar assim, não existe nada no mundo em que ajude ela a relaxar.
— Você sabe que eu te amo, não sabe? — Nessa pergunta. Ela me abraça apertado. —
Sabe que eu nunca vou deixá-la. Apenas lembre-se disso.
— Eu também te amo, mana.

Três dias se passaram desde o episódio da vertigem e eu não consigo segurar nada no
estômago. Tudo o que como, vai para fora em questão de minutos. Talvez esteja morrendo e não
sei.
Tenho evitado ficar perto da Vanessa, pois sei que a primeira coisa que ela irá fazer é me
arrastar para o hospital e de alguma forma avisar quem eu menos quero ver nesse momento. Estou
começando a aceitar que ele nunca foi meu e que nunca vai ser. Ainda não estou pronta para
encontrá-lo, pois tenho medo de que minhas defesas desmoronem em sua presença. E não quero
isso.
Mesmo que sua falta esteja acabando comigo. Eu não preciso disso.
Tento comer uma pequena barra de cereal, mas assim que desce pela minha garganta, sinto
ânsias. Mal chego ao banheiro quando despejo todo o conteúdo do meu estômago no vaso. Tudo
começa a doer.
— Já chega! — Nessa entra no banheiro e arruma os meus cabelos.
Ela me ajuda a me recompor. Estou atrasada para a aula, mas sei que ela vai me fazer faltar
hoje. Minha irmã me ajuda a chegar à cama, senta-se ao meu lado e segura minha mão.
— Eu sempre dei mais trabalho.
Ela ri baixo, mas logo volta à seriedade.
— Quero que seja sincera comigo, Vick.
— Eu sempre sou! — Eu me sinto machucada por ela pensar que esconderia algo dela.
— Eu sei, mas dessa vez eu preciso muito, que você me diga a verdade. — Ela agarra a
minha mão como se desse apoio para o que vai acontecer a partir desse momento. — Existe
alguma possibilidade de você estar grávida do Samuel?
Seu olhar é de compaixão, e eu sei que ela já sabe qual é a minha resposta e minha.
— Querida, eu sei que posso estar me precipitando, mas precisamos ver isso. Eu sei como
vocês dois eram, e eu quero confiar em Samuel e pensar que ele não foi irresponsável, mas você é
minha irmãzinha, preciso cuidar de você.
Não consigo pensar em nada, nem mesmo medo. Nem mesmo aflição. Estou sem chão nesse
momento.
Posso ver a relutância da minha irmã em me deixar sozinha, mas ela precisa ir. E eu preciso ter
esse tempo apenas para mim.
Não preciso me perguntar como foi que aconteceu, mas sim, porque eu deixei acontecer. Nós
dois sabíamos que eu não tomo anticoncepcional e eu sei que deveria ter sido muito mais
responsável.
Relembro a primeira vez em que fizemos sexo sem proteção. Foi no clube. Bem, quando
realmente deixamos nos levar até o fim. De todos os lugares que poderíamos ter concebido uma
criança, foi em um clube de depravação. Isso traz um pequeno sorriso no rosto.
Mas o sorriso morre rapidamente e o medo aparece com força total.
E se eu estiver grávida mesmo? Como vou dar a essa criança um lar amável quando o pai
dela não consegue ter algo mais do que carinho por mim? Lágrimas começam a cair pelo meu
rosto, sabendo muito bem que o Samuel vai amar essa criança incondicionalmente. Mas esse
sentimento não me incluirá.
A minha regra principal foi quebrada quando pensei que o Samuel seria o meu final feliz.
Sempre pensei que teria a minha família, que construiria com o homem que me amasse da mesma
forma que eu o amaria.
— Vick? Venha.
Ela me entrega duas caixas cor de rosa. Eu sei o que é. Faço todo o processo e espero os três
minutos mais longos da minha vida, longos o suficiente para pensar em tudo o que vai acontecer
daqui pra frente, se o resultado for positivo.
Se tiver um pequeno anjo em meu ventre, vou amar com toda a minha alma. Não por ele ser
da pessoa mais importante da minha vida, mas por ser algo que eu criei com ele. Será o lembrete
que valeu a pena amar Samuel Hamilton com toda minha alma. Que tudo o que dei a ele não foi
em vão, já que posso ter o mais precioso presente nesse momento.
Olho para o relógio e vejo que já se passaram mais de sete minutos.
As duas listras azuis em ambos os testes, me fazem faz ter certeza de que eu tenho uma longa
e gratificante caminhada pela frente.
Capítulo 29
Apenas te dei espaço. Eu já te disse: Nunca vou deixar você ir.
Samuel

— E la saiu há uns quinze minutos. Logo vai estar no seu novo trabalho. Precisa de mais
alguma informação?
— Não. Isso é tudo, apenas fique de olho. Valeu, cara!
— Sem problema. Qualquer coisa, eu te aviso. — Meu mais novo amigo finaliza a chamada.
Respiro fundo e esfrego o meu rosto, querendo me acalmar, mas eu não consigo. Não depois
do que aconteceu esse fim de semana. Estou tentando dar o tempo e espaço que ela precisa, mas
não consigo fazer por mais tempo.
A Felipa está fazendo o melhor que pode para me manter ocupado, mas não consegui me
concentrar. Falta a maior parte da minha alma e sem ela, eu sou um completo Zé ninguém. Bem,
estou dramatizando, mas é assim que sinto na maior parte do dia.
Eu sei que deveria estar ao seu lado, dizendo o quanto estou feliz com isso, o quanto eu a
amo. Mas também sei que ela vai pensar que só voltei pelo bebê. E isso é o que eu não quero. Eu
estraguei tudo sendo um completo idiota e minhas últimas ações só reforçaram isso. O pior é que
eu nem me dei conta de quanto estraguei tudo.
Deixei Victória ir, fazendo-a acreditar que ela não foi importante o bastante para mim. Mal
sabe ela que não existe ninguém mais importante nessa Terra do que ela e nosso filho.
Filho.
Filho.
Filho.
Filho.
A palavra ecoa pela minha mente e ressoa até o meu coração, fazendo os batimentos se
tornarem mais calmos e ao mesmo tempo fortes demais para o sentimento crescente nele.
Eu não posso deixar de agradecer a minha cunhada por essa informação. Eu sei que ela
quebrou a promessa feita à Vick, mas Vanessa sabe que era a coisa certa a ser feita. Mas não
pense que a informação veio gratuitamente. Vanessa me deu uma bronca, e não se importou nem
um pouco com o meu pedido de desculpas e com a minha promessa de que estarei ao lado deles.
Vanessa ficou decepcionada comigo por ter quebrado a sua confiança.
Foi por isso que eu achei melhor deixar de fora o fato de que tentei engravidar a Victória de
propósito. Na primeira vez em que me descuidei com ela, eu estava consciente dos riscos que
corríamos. O ato em si foi impulsivo, realizado por conta de uma paixão avassaladora, um desejo
insano, uma necessidade extrema. Nem mesmo passou pela minha cabeça camisinha. Mas quando
Victória estava deitada em meus braços, tudo o que eu conseguia pensar era que se ela ficasse
grávida, não poderia me abandonar. Então, preferi não discutir os riscos com ela naquele momento.
Mesmo sabendo que deveria.
Sim, é um pensamento imaturo e machista, mas eu não poderia perdê-la como aconteceu
nesses últimos dias. Foram as semanas mais miseráveis da minha vida. Eu perdi minha mãe e levei
anos para que a saudade começasse a se tornar tolerável.
Mas a Victória? Ela é a metade de minha alma. Ela é o meu coração. Como eu posso viver sem
ela? Já estava aceitando que estava perdido para sempre, que ela não acreditaria em mim. Bem,
eu ainda não sei como vou fazer isso.
Preciso apenas conseguir uma maneira de fazê-la entender.
Mesmo estando longe e quieto, eu tenho mantido o olho nela. O chefe de segurança de Sophie
e Diones está me ajudando nisso. Ainda não conversei com a Sophie. Não estou pronto para isso.
Minha prioridade nesse momento é minha família, que passou a ser Victória e o bebê. Claro, há o
Arthur e o papai, mas eles ficam em segundo plano a partir de agora.
Nunca pensei que um dia isso iria acontecer. Que existiria alguém para dar uma parte do meu
coração. Eu tinha motivos para temer Victória. Sabia que ela seria alguém que deixaria a minha
vida de ponta a cabeça. Só não sabia que iria amá-la mais por isso. E faria tudo de novo.
Agradeci a meu irmão por tê-la trazido para mim. Eu me arrependi muitas vezes de ter
pensado que ele foi idiota e queria estragar as coisas recrutando uma pessoa qualquer.
Simon entende isso. Ambos fizemos isso um para outro. Eu, com uma simples visita aqui o
hospital, apresentei Sophie para ele, que acabou sendo a sua princesa.
E ele me trouxe Victória. Aquela menina obstinada com resposta na ponta da língua. Tão forte
e alegre, que me deixou de joelhos aos seus pés. E eu nunca vou me levantar.
Só preciso fazer com que ela acredite nisso. Não vai ser nada fácil, mas vai valer a pena. Só
não sei se vou conseguir aguentar, se ela me deixar de verdade. Não quero nem pensar nessa
possibilidade.
Sinto uma dor terrível só de imaginar passar a minha vida inteira longe dela. Mas se ela
quiser isso, darei a ela. Mesmo que acabe com minha vida.

Vinte dias se passaram e eu estou miserável. Foram dias de altos e baixos, mas muito mais
baixos do que alto.
Primeiro, porque eu quase perdi minha amiga e sobrinho. Foi de uma forma trágica que
descobrimos que a Sophie também está grávida. Simon e Sophie já haviam se visto antes das
coisas acontecerem. Aparentemente, eles se encontraram as escondidas e surpreenderam a todos
com a gravidez. Eu estava indo ao encontro da Victória e do meu filho, mas a Vanessa ainda não
me quer perto de sua irmã. Sim, ela quer que eu me entenda com ela, mas apenas quando a
Victória estiver mais calma. Tentei ser compreensivo, mas se até amanhã a Vanessa não estiver me
deixando ir ver a minha mulher, estarei colocando tudo para escanteio e fazendo as coisas do meu
jeito.
— Aqui, cara! — Arthur me entrega um pouco de café.
Ele veio para o hospital para saber se está tudo bem com o seu sobrinho. Ele ainda não sabe
que a Docinho está grávida e com mais tempo de gestação do que a Sophie. Pretendo deixar isso
em segredo por algum tempo. Estou sendo egoísta e quero ter a Victória para mim por algum
tempo.
— Obrigado. Eles já começaram? — pergunto me referindo à consulta que meu irmão e sua
mulher irão ter.
Estou mais preocupado com a criança do que com eles. Ainda não sei como os dois estão
lidando. Só espero que eles se entendam ao menos pela pobre criança.
— Ainda não. O papai estava perguntando por você.
Enquanto ando para o andar de obstetrícia, verifico se tem alguma mensagem de David. Até
agora, nada. O Arthur começa as suas palhaçadas e isso irrita a menina de Sophie. Ela
simplesmente o odeia e não esconde seus sentimentos.
Sophie decidiu trazer seus sobrinhos para cá por alguns dias. Ela é dependente demais deles
e vice e versa. Sabia que não iria aguentar por muito tempo a distância entre eles. Assim que me
sento ao lado da governanta da minha amiga, percebo que ela e meu pai estão conversando
animadamente. Se não estivesse tão preocupado com notícias de Docinho, estaria interessado na
conversa dos dois.
Olho para frente e vejo Sophie me observando. Ela me dá um sorriso, mas não posso fazer o
mesmo. Dou-lhe um aceno de cabeça e volto a olhar para o meu celular, ainda sem nenhuma
notícia. Sei que estou sendo duro demais com ela, mas não consigo esquecer o que ela fez. Sei que
Simon a perdoou, mas eu não sei se posso fazer isso na mesma velocidade.
— Está tudo bem? — Simon senta-se ao meu lado e aperta meus ombros. — Você não parece
o mesmo tem dias. Aconteceu alguma coisa?
Victória aconteceu. Aquela menina é pior que mula quando empaca.
— Só algumas coisas que eu tenho que resolver.
— É sobre a Vick? — ele pergunta sorrindo, mas logo se recompõe. — Não precisa falar
nada se não quiser.
— Claro que ele precisa. — O Arthur fica a minha frente. — Devemos ajudar uns aos outros
quando o assunto é mulher. Mano, você tem que entender que mulheres são coisas criadas por
Deus, mas projetadas pelo demônio ― Arthur aperta meus ombros.
— Por que diz isso? — Simon pergunta com o seu cenho franzido.
— Pense bem: elas trocam de humor em segundos, descobrem coisas que nem sequer
aconteceram. Fazem nós de gato e sapato e quando sofremos, elas riem de nosso coração
PARTIDO — Ele fala e gesticula com as mãos, enumerando os seus argumentos. — E o mais
importante: elas sangram por sete dias, e não morrem. — Ele dá de ombros — Mulheres são
projetos do demônio. — Então estremece. — Principalmente a sua sobrinha, Simon. Aquela coisinha
é filha do próprio coisa ruim.
—Estou ouvindo você, idiota! — Um sotaque me faz olhar por cima do meu irmão e ver que
Gabrielle está concentrada em seu livro, mas ouvindo o que meu irmão pensa dela.
Simon e eu apenas rimos da tremenda falta de senso de Arthur. Sei que ele faz isso apenas
para implicar com a garota, que parece cair em seu jogo algumas vezes.
— Essa era a intenção, bonequinha — diz com a voz de zombaria.
Gabrielle levanta os olhos de seu livro e o encara com seus olhos verdes repletos de
indiferença.
— Conseguiu então. Mas sua opinião não me importa nem um pouco. Só fala baixo, ok? Se
você não sabe, nós estamos em um hospital e sua voz de puberdade está atrapalhando minha
leitura.
Arthur não tem resposta para isso e porra, agradeço imensamente. Não estou a fim de
presenciar uma discussão acalorada dos dois. Gabrielle volta para o seu livro e meu irmão
continua encarando-a. Ele olha de um jeito estranho para ela e logo abre um largo sorriso.
— Já tomei conta demais dele, Simon. Acho que é a sua vez, ainda mais se tratando dela.
Converse com sua mulher e peça a ela para manter os dois afastados o mais possível que puder.
Arthur leva a mão ao seu peito enquanto Simon me olha com o cenho franzido.
— Você está me renegando!
Reviro os olhos e dou a ele um aceno insignificante.
Fico ouvindo a conversa de todos sobre como o bebê está e o já pode fazer dentro do útero.
Isso rasga a minha alma, pois era para estar fazendo isso com o meu filho e não como o do
meu irmão. Odeio que a Victória esteja me deixando de lado nisso, mas mesmo assim, não consigo
ficar com raiva dela.
Meu telefone apita e vejo o nome de David na tela

David: Victória passou mal no trabalho hoje. Ela não quer ir para casa. O que quer que eu
faça?

Sam: Fique aí. Estou indo.

Deixo todos para trás e vou para a garagem. Arthur grita o meu nome vindo atrás de mim,
mas eu não tenho tempo para ele.
— Aonde você vai?
— Fique com Simon hoje. O papai vai ficar de plantão e não quero você em casa hoje.
— O que? — Ele bate na porta do carro assim que eu entro.
— Obedeça!
Sei que vou ter que me desculpar por isso, mas nesse instante não me preocupo com isso.
Tenho um problema gigantesco que é a coisa mais irritante da face da Terra: Victória Albuquerque.
Primeiro, eu vou me certificar que ela está bem e em seguida, vou dar uma surra nela por me
deixar assustado assim e por me deixar esperando. Terceiro, eu vou foder aquela bunda deliciosa
dela, até que ela não consiga andar.
Chego em dez minutos até onde ela trabalha. Terei no mínimo três multas por excesso de
velocidade. Foda-se isso. Davi acena para mim quando passo por ele a caminho da recepção.
— Onde está a Victória?
A loira me encara e gagueja até que ela consiga responder.
— Na primeira sala a esquerda do corredor, mas eu preci...
Ando em passos apressados até a sala e quando abro a porta, tenho a mais perfeita visão
da minha vida.
Mais de trinta dias sem vê-la acabaram comigo. E agora, estou observando-a acariciar a sua
barriga um pouco avantajada, me faz querer viver para sempre apenas para amá-la pelo resto
da eternidade.
Ela olha para a porta e se assusta. Rapidamente cobre sua barriga e dá alguns passos para
trás.
— O que é que... — ela começa, mas eu a corto.
— Vamos para casa! — digo me aproximando dela. — Agora!
Ela me olha como se estivesse louco. E eu estou.
— Eu não posso...
— Victória Albuquerque! — digo entredentes. — Você acabou de passar mal e está a três
dias vomitando. Mal consegue se manter em pé. — Seguro a sua mão. — Você acabou de colocar
todo o seu almoço para fora, se é que podemos chamar uma bolacha água e sal de almoço. Você
não vai continuar com isso, Docinho. Vamos para casa.
Ela puxa a sua mão.
— Quem você pensa que é para falar o que devo ou não fazer?
Respiro fundo. Eu sabia que não seria fácil. Na verdade, até disso eu senti falta.
— Sou o homem que te ama e que está preocupado demais com o estado da sua mulher e
seu filho. — Seus olhos verdes se arregalam e ela engole em seco. — O homem que te deu espaço
para pensar no que queria e não aguentou mais esperar por você e veio atrás das pessoas que
ele mais ama nesse mundo.
Levo minha mão até a sua barriga.
— Precisamos conversar, mas eu preciso que você descanse, Docinho. Eu faço o que você
quiser, mas venha comigo para casa. Eu não suporto mais ficar um dia longe de você.
Ela morde o lábio inferior e parece indecisa.
— Vamos para a minha casa. E vamos de metrô. Depois você vai embora.
Respiro fundo mais uma vez, mas cedo ao que ela quer.
Peço para o David levar meu carro para minha casa. Victória o encara como se o conhecesse,
mas não fala nada. Ela anda ao meu lado, mas não diz uma palavra sequer. Percebo agora o
quanto ela está pálida e cansada. Há olheiras muito fortes em seus olhos. Ela parece mais magra
também.
Percebo que não posso deixar as coisas serem do jeito dela ou ela vai acabar se matando. É
a primeira vez que eu entro em um metrô. Victória parece muito divertida com a minha falta de
conhecimento desse lugar.
Eu a sigo como um cachorrinho.
Assim que entramos no vagão, avisto um assento vazio e a arrasto para lá. Eu me sento e a
puxo para o meu colo.
— Mas...
— Quieta. Estou no meu limite Victória, me dá um tempo!
Algo em minha voz faz com que ela fique quieta, mas ainda está tensa demais no meu colo.
Ela diz qual é a nossa primeira parada e então espero. Ela começa a relaxar em meu colo e
vendo pelo reflexo da janela do vagão, vejo que ela dormiu em cima de mim.
Nunca pensei que ficaria tão feliz por isso. Desço na próxima estação e vou para rua atrás
de um táxi. Carrego a minha Docinho sem esforço algum. Recebo alguns olhares de curiosidade e
outros de descrença. Só espero que ninguém pense que eu a dopei e estou sequestrando-a. Com
ela nos meus braços, eu finalmente consigo ter um pouco mais de paz. Ela parece serena em seu
sono. Arrumo seus cabelos para fora de seu rosto, observando como ela ficou mais linda.
Levo minha mão em sua barriga e percebo o inchaço nela. Victória é pequena e acho que isso
ajuda com os sinais de gravidez.
Paguei uma fortuna no táxi para chegar em casa. Docinho ainda dorme, só que ela me
abraça nesse momento. Um pequeno sorriso aparece nos meus lábios quando percebo que ela,
mesmo em seu sono, sabe que está comigo. Vou direto para o meu quarto. Ninguém chegou e
espero que ninguém apareça. Tiro suas roupas e solto os seus cabelos.
Terei que fazer algo trágico para que ela não fuja de mim. Pego tiras de sedas do meu
armário e amarro nos pés da cama. Amarro em seus pulsos delicadamente, deixando uma enorme
extensão para que ela possa se mexer na cama enquanto faço algo para ela comer quando
acordar.
Ela se remexe na cama, e tento fazer com ela durma, mas não funciona. Ela está totalmente
acordada nesse momento.
— Mas o que? — Ela percebe o que acabei de fazer — Sam, por que fez isso?
Ela tenta puxar a seda preta que está envolta de seu pulso, mas é uma tentativa vã.
— Por que assim, eu sei que você não vai fugir de mim. Eu não posso mais, Docinho. Se for
pra ter você comigo, mesmo presa eu não vou me arrepender.
— Samuel Henrique Hamilton, se você não me soltar agora, você é um homem morto — Ela
luta — Sam...
— Não, querida. Eu não posso pensar que vai fugir de mim. — Minha voz sai repleta de
desespero.
— SAM!
Eu a deixo presa na minha cama. O medo insano que ela vai me deixar ainda grita dentro de
mim.
— Eu te amo, Docinho. Por isso não posso deixar você ir — digo da porta. Esperando que ela
se acalme.
Capítulo 30
Você vai me dar o “Felizes para Sempre”?
Victória

A cordo por conta do calor. Olho para a porta do meu quarto para ver que horas são, mas
não estou no meu quarto, mas eu reconheço essa porta enorme e essa parede cinza do
ambiente. Alguém se remexe em cima da minha barriga e solta um baixo suspiro de alívio. Tento
puxar as minhas mãos, mas elas estão amarradas. Que merda! Olho para minha barriga e vejo o
Sam dormindo tranquilamente em cima de mim. Nunca o vi tão tranquilo em todo esse tempo. Ele
parece mais forte, seus cabelos estão maiores e sua barba está arranhando a minha pele, o que
me diz que faz alguns dias que ele não se barbeia. Uma de suas mãos está ao meu lado e a outra
está em meu seio direito. Estou nua, assim como ele. Apenas o lençol preto está cobrindo o nosso
corpo em meio a essa cama enorme.
Remexo-me embaixo dele, mas ele não acorda. Deve estar cansado demais. Eu me lembro de
estar no metrô com ele e de dormir em seu colo. Sei que ele me carregou por toda a viagem, pois
estava muito segura em seus braços por todo o caminho.
O alívio que tomou conta de mim quando o vi naquela sala para me resgatar foi enorme, mas
também esmagador. Eu ouvi bem o que ele me disse, mas não consigo acreditar em suas palavras.
Consigo mexer as minhas mãos. Levo minha mão até seu cabelo, acariciando levemente como
sei que ele gosta. Ele está realmente cansado, pois nem mesmo sua respiração se altera. Mas eu
preciso ir ao banheiro. E comer alguma coisa.
— Sam! — eu o chamo suavemente. — Grandão, acorde. Eu preciso ir ao banheiro.
Ele resmunga algo e então levanta sua cabeça. Seus olhos, mesmo pesados de sono, são
intensos demais. Assim que se focam em mim, ele engole em seco e se levanta um pouco.
— O que aconteceu? Está se sentindo bem? Está com enjoo? — Ele começa a jorrar perguntas
para mim.
— Preciso ir ao banheiro.
Ele me dá um olhar de culpa e então me desamarra. Assim que estou livre, me embrulho com a
sua camisa social e vou para o banheiro. Olho-me no espelho e vejo que estou corada demais.
Cabelos bagunçados e aparência descansada. Como se o mundo estivesse saído das minhas costas.
Faço o que tenho que fazer e volto para o quarto. Assim que abro a porta do banheiro
percebo que Samuel estava prestes a entrar.
— Você demorou — ele diz dando um passo para trás. — Fiquei preocupado, você tem
vomitado demais, pensei que...
— Estou bem. Apenas uh, com fome.
Vejo no relógio de seu quarto que são meia noite e sete. Dormi nove horas seguidas sem
nenhuma interrupção.
— Deveria ter me dito antes. Quer tomar um banho primeiro?
— Um banho seria bom.
Ele me dá um sorriso tímido e me deixa voltar para o banheiro. Assim que a água quente cai
sobre o meu corpo, sinto toda a preocupação indo embora. Sei que deveria estar conversando com
ele, sobre como as coisas vão ser daqui pra frente, mas só consigo pensar em matar a saudades
que sinto dele.
Respiro fundo tentando me fazer acreditar que é melhor assim. Que vamos fazer as coisas
funcionarem mesmo não estando juntos.
Pelo bem dessa criança.
Coloco a blusa que estava usando. Assim que saio do banheiro vejo que tem um pequeno
banquete que ele fez em minutos. Assim que sinto o cheiro dos legumes cozidos, minha barriga
ronca alto, me fazendo sentir vergonha.
— Eu deveria ter acordado você para comer. — Samuel caminha na minha direção e estende
a sua mão para que eu pegue. Não hesito nem por um momento. — Vem, eu preparei uma
refeição rápida.
Ele fez uma refeição incrível. Sopa de legumes, pães e um suco de goiaba. Samuel senta-se
na cama e me coloca ao seu lado. Como enquanto ele me observa, até que ele se senta atrás de
mim e descansa sua cabeça no meu ombro. Sinto-o suspirar baixinho. Ele hesita por alguns
segundos antes de colocar suas mãos em meu estômago. Eu não me assustei com esse gesto. E por
que me assustaria? Samuel é parte de tudo isso e nada me deixa feliz do que ele estar envolvido
com esse novo ser. Ele acaricia levemente minha pele por dentro da blusa, causando um forte
arrepio pelo o meu corpo. Muito mais forte do que ontem à tarde quando ele me resgatou. Só que,
daquela vez, estava com medo demais para prestar atenção nisso.
— Já dá para perceber — ele diz mais para si mesmo. Não respondo, pois não sei o que
dizer, e estou concentrada demais na minha comida.
Na verdade, não quero dizer nada que possa deixar o clima tenso.
Termino a minha comida e me afasto um pouco dele. Perder o seu contato dói, mas eu preciso
disso, até saber o que estamos fazendo aqui.
— Quer mais alguma coisa? — A sua voz sai baixa, até mesmo receosa.
— Tenho que falar com a minha irmã.
— Já falei com ela. Vanessa não gostou muito disso, mas ela aceitou. — Ele se levanta da
cama e começa arrumar as coisas. — Você pode ligar para ela amanhã. Volte a dormir, parece
cansada.
Dou de ombros.
— Tenho ficado assim a maior parte do tempo. — Não quero dizer isso para machucá-lo.
Nem mesmo sei por que disse.
Ele para o que está fazendo e me encara. Ficamos olhando um para o outro por longos
segundos até que eu me deito na cama, derrotada pelo o que estou sentindo nesse momento.
Saudades, culpa, alegria, indecisão. Antes de voltar a dormir, Samuel senta-se na cama e
beija minha barriga.
— Sinto muito, Docinho.

Acordo mais uma manhã correndo para colocar a cabeça dentro do vaso sanitário. Coloco
tudo que tenho em meu estômago para fora, deixando o meu corpo fraco e dolorido. Não me
lembro de Vanessa ficar tão mal com os enjoos como eu estou.
— Eii! — Sam está ao meu lado em segundos. Ele arruma meus cabelos e afaga minhas costas
enquanto continuo a vomitar incansavelmente. — Temos que ir ao hospital. Você não consegue
segurar nada, Victória.
Sem conseguir evitar, caio contra o seu peito o abraçando com força. Agradecida demais por
ele estar aqui comigo. Não que eu seja ingrata à minha irmã, mas a proteção que Samuel sempre
me deu é o que eu mais preciso nesse momento.
Ele suspira aliviado quando me abraça de volta.
Ele beija o meu cabelo várias vezes, querendo me acalmar. Mal sabe ele, que só estar em seus
braços é mais que o suficiente.
— Temos que ir ao médico, você pode estar ficando desidratada, faz mal para vocês dois.
Aceno em concordância, pois é o que eu devo fazer. Os enjoos pela manhã são tão fortes que
chegam a me causar tontura. Faço um gargarejo e Sam me ajuda a levantar e a tirar minha roupa.
Ela não me pergunta nada, apenas tira a minha blusa e me leva para o chuveiro. Eu senti falta
disso. Senti falta das suas ordens, dos seus chiliques e do seu mau humor. Senti falta dele.
De todo ele.
Mas me lembro de que isso não vai mudar nada do que ele quer. Sei que é apenas para
cuidar do seu filho e me dizer que vai me ajudar com tudo. Ele está apenas sendo cuidadoso
comigo.
Eu me afasto dele, mas ele não permite.
— Sam...
— Não! — ele diz firme e liga o chuveiro. Ele espera que a água esteja quente e me coloca
dentro do box, tira seu short e entra junto comigo. Olho para longe dele, me encolhendo no canto,
querendo me afastar. Ele se aproxima devagar. — Docinho...
— Não torne isso mais difícil — peço baixinho e ele dá um passo para trás, ficando embaixo
do chuveiro. Luto bravamente para não olhar para o seu corpo. Fui muito bem sucedida ontem à
noite enquanto ele estava nu em cima de mim. — Eu já te perdi. Não posso pensar em você desse
jeito. Você não é meu, Sam. Não me machuque desse jeito.
Ele cai de joelhos na minha frente, segurando a minha cintura.
— Fui eu quem perdeu vocês, Docinho. — Ele está sempre incluindo o bebê em tudo nesse
momento. — E estou tentando recuperar e reparar as coisas com a gente. — Ele descansa a
cabeça em minha barriga. — Eu sei que você pensa que faço isso pelo bebê que carrega, mas
faço isso por você também. Antes mesmo de saber que ele estava a caminho, eu já sabia que você
era minha vida. — Ele beija logo abaixo da minha barriga, me fazendo estremecer. — Só me diga
o que eu preciso fazer para acreditar em mim.
Seus olhos encontram os meus e vejo lágrimas caindo pelo o seu rosto. Ele parece quebrado,
com medo e desesperado por qualquer resposta que posso lhe dar.
— Você não tem que fazer isso...
Ele me aperta mais.
— Meu Deus, Docinho! — Ele está chorando. — Eu quero fazer isso. Quero tudo isso com
você. Será que não entende? Porra, eu te amo. Não consigo nem pensar em você me deixando. Por
favor...
— Você me ama? — é a única coisa que sai da minha boca. — Você me ama?
Ele me encara com o olhar preocupado.
— É claro que eu te amo! — Ele se levanta e pressiona o meu corpo contra a parede do
banheiro. — Fui um idiota não te dizendo isso antes.
— Eu... Eu não entendo!
Ele me dá um sorriso lindo. Suas mãos vão para as minhas costas, fazendo-me aproximar dele.
O calor do seu corpo é contagiante e as minhas pernas começam a tremer quando o sinto duro em
minha barriga.
— Quando eu te conheci, você me assustou e por isso eu te tratava com grosseria. — Suas
mãos vão até a minha bunda apertando levemente, fazendo que eu solte um gemido rouco e cheio
de desejo. — Mas você nunca levou desaforo meu. — Ele me levanta e me coloca em cima de uma
de suas coxas musculosas. O vapor do box aumenta, deixando tudo mais quente e intenso. Meu
estômago aperta, meus seios estão cada vez mais sensíveis e pelo gemido solto, sei que o Samuel
sabe o quanto estou molhada. — Então você sorria para mim e tudo mudava. — Sua mão vem
para o meu cabelo agarrando com delicadeza, me fazendo olhar em seus olhos, cheios de luxúria
e paixão.
Ele se aproxima de mim como se fosse me beijar. Seus dentes beliscam o meu lábio inferior
antes de sugá-lo com força, me fazendo estremecer em cima dele. Seu sorriso safado aparece me
dizendo que ele está muito feliz com a minha reação.
— E eu queria te comer. — Sua outra mão sobe pelas minhas costelas. — Te desejei por
tempo demais e fui atrás de você. — Ele me puxa para mais perto de seu peito. No movimento,
meu clitóris esfrega contra a sua perna, levando prazer por todo o meu corpo. — Só não sabia
que estaria perdido no primeiro beijo. Tudo o que eu fiz e pensei em fazer desapareceu no
momento em que eu te beijei na sua cozinha. — Seus olhos descem para os meus lábios. Ele molha
os próprios lábios, me deixando muito mais necessitada dele.
Suas mãos vão até as minhas, prendendo-as atrás das minhas costas. Ele não vacila em
nenhum momento quando me pega no colo. Ele faz com que eu envolva minhas pernas em sua
cintura, e empurra meu corpo contra a parede mais uma vez.
— Naquela noite eu queria te colocar em cima da sua mesa e te foder até não conseguir mais
parar. — Sua boca desce até o meu pescoço. — Mas eu sabia que nem eu e nem você, estávamos
prontos para o que iria acontecer depois daquela noite.
Engulo em seco quando sinto a ponta de seu pau esfregando contra a minha entrada.
— Está pronta agora, docinho? — ele me pergunta suavemente.
— Sim! — gemo contra a sua bochecha me inclinando para baixo para que ele entre em mim.
Samuel me dá um sorriso sádico, mas não me dá o que eu preciso. Sua boca desloca do meu
pescoço até minha orelha, onde ele morde suavemente.
— Saiba que eu nunca vou deixar você ir embora da minha vida. — Ele me tortura passando
levemente pela minha entrada. Meus olhos se fecham com a tamanha necessidade que sinto nesse
momento. Meu corpo está pegando fogo embaixo de toda essa água quente que cai sobre nós
dois. A água parece intensificar todo o prazer que está crescendo dentro desse banheiro. — Diga-
me Docinho: você está bem com isso? — sua língua desce por todo o um pescoço e volta até a
minha boca. —Vai ficar comigo para sempre?
Consigo soltar as minhas mãos e me agarro mais a ele, puxando o seu rosto para estar junto
ao meu. Olhando em seus olhos, digo o que o meu coração está gritando.
— Eu te amo, Grandão! Eu não sei se consigo ficar longe de você mais um dia. — Beijo o seu
rosto quando ele fecha seus olhos e alívio toma conta de seu rosto, mesmo que ainda esteja
carregado de luxúria.
Ele me beija com toda força no mesmo instante em que entra em mim. Ofego contra a sua
boca, choramingando enquanto me adapto ao seu tamanho. Ele fica quieto, respirando com
dificuldade, pulsando dentro de mim, enquanto eu sinto cada músculo se estender para recebê-lo
mais uma vez. Agarro seus ombros com força, levando-o para dentro de mim o quanto posso. Ele
resmunga sobre tudo ser bom, quando sai e então entra em mim novamente. Fecho os meus olhos e
resmungo baixo quando a fricção deliciosa começa a acontecer. Está mais delicioso, mais apertado,
causando uma dor de puro prazer. Mordo seu ombro evitando gritar quando ele amassa meus
seios em suas mãos.
Samuel rola os meus mamilos com seus dedos, fazendo tudo dentro de mim derreter.
— Eles estão maiores — diz antes de baixar a cabeça e leva um deles a sua boca perversa.
— Oh, meu pai!
Ele morde e suga com força, me fazendo soltar seus ombros, mas ele não me deixa cair.
Samuel dá dois passos para trás e segura meu tronco para baixo. A visão que tenho nesse
momento é o necessário para me entregar ao prazer que está explodindo em meu corpo.
Seu corpo grande e musculoso me segurando como se não pesasse nada. Ele entrando e
saindo do meu corpo como se fosse à única coisa que ele quer nessa vida. Sem pensar mais, ele
me coloca de quatro no chão.
Minha barriga pressionada levemente no azulejo, bunda para cima e ele em cima de mim. Seu
grande corpo cobrindo o meu. Suas mãos estão em minhas coxas subindo rapidamente até o meu
sexo muito molhado.
—Tudo bem? — ele pergunta com a voz grave.
— Sim, por favor, Sam!
Em vez dele colocar seu pau em mim, seus dedos me preenchem. Solto um grito quando sinto
três dedos grossos dentro de mim, espalhando toda a minha excitação. Seu polegar circulando o
meu clitóris, me levando aquele lugar que há tempos eu não frequentava.
— Você está mais apertada, Docinho — ele diz ao meu ouvido. Sua boca, sugando e
mordendo onde quer que alcance. — Vai ser uma luta não gozar em você assim que entrar nessa
sua boceta gostosa.
Ah, ele começou a falar sujo comigo.
— Isso, amor, aperta meus dedos. — Ele começa a mexer com mais força, acertando aquele
ponto exato em mim. Meu corpo começa a convulsionar, mas ele não me dá o que eu preciso.
— OH MEU DEUS DO CÉUUUUU!
Gemo quando ele entra em mim de uma só vez.
Ficamos quietos por longos segundos. Sam me deita de lado puxando o meu corpo contra o
seu peito. Sua boca está em meu pescoço, sua mão na minha barriga enquanto a outra está
entrelaçada com a minha. Ele suspira alto quando entra em mim por completo. A sensação, como
sempre, é esmagadora. Estamos juntos da forma que mais amamos no mundo. Seu corpo está
protegendo e amando o meu como eu sei que só ele vai me proporcionar.
— Docinho! — sua voz cheia de devoção me faz estremecer.
Ele aperta mais minha mão na sua e a outra estimulando o meu mamilo enquanto começa a
entrar e sair de mim. Acolho cada milímetro dele dentro de mim. Suas mãos vagueiam pelo meu
corpo, intensificando cada vez mais as sensações.
— Eu senti falta disso. Senti falta dessa minha boceta apertada. — Ele acaricia meus clitóris
me fazendo gritar. — Diga, Victória. Diga o que eu preciso ouvir, Docinho.
Eu abro minha boca, mas apenas sai um gemido alto de prazer.
— Por favor! — ele pede gemendo quando começa a pulsar dentro de mim.
Agarro seus braços com força, quando uma onda de choque insuportavelmente prazerosa
toma conta do meu corpo.
— Sam... Eu te amo. — minha voz sai em tom choroso. — Eu te amo, por favor, me ame de
volta.
Ele geme em reverência e começa a se mexer com mais rapidez.
Gozo com um grito agudo enquanto ele continua a ir e vir. Sam agarra os meus cabelos me
fazendo encará-lo. Seus olhos estão tão brilhantes de amor e prazer que não consigo aguentar
mais. Mordo seu lábio com força, me entregando mais uma vez ao prazer arrebatador que me
atinge com tudo.
— Eu amo você, Docinho — diz olhando em meus olhos enquanto goza dentro de mim. Seu
rosto vermelho, seu corpo treme junto ao meu, enquanto espasmos tomam conta de nós dois. — Eu
vou amar você pelo resto da minha vida — diz enquanto continua a gozar dentro de mim, me
levando com ele mais uma vez para aquele lugar incrível.
Ele não precisou de muita coisa para me ter de volta.
Na verdade, ele nunca me perdeu.
Capítulo 31
É por isso que eu te amo.
Samuel

— E stou a cada dia que passa mais louco por você — digo colocando seus cabelos atrás
de sua orelha. Victória me dá um sorriso tímido quando se remexe em cima de mim.
Ainda não saímos de casa. Ficamos parte da manhã na cama, aproveitando um ao outro.
Enquanto eu dou a ela motivos para gritar meu nome várias vezes, eu agradeço a cada segundo
por ela ter ficado aqui comigo. Mas também disse a ela tudo o que aconteceu depois daquele
jantar horrível, inclusive nós conversamos sobre a gravidez da Sophie. Victória ouviu tudo calada e
chorou quando disse que estava apenas protegendo o meu irmão. Como disse a ela, Sophie e o
meu irmão não são mais da minha conta. Nunca deveria ter sido, para início de conversa.
Não precisamos de muito para resolver as coisas, mas o medo de que ela não acreditasse em
mim foi grandioso demais para me fazer raciocinar direito. Então eu agi.
Disse a ela o que eu sinto e o quanto preciso dela. Sei que ela precisa ouvir o eu te amo para
saber que tudo o que eu quero com ela, é por ela e por nosso filho.
Ainda é inacreditável saber que eu fiz isso.
— Eu sei disso — diz mordendo seu lábio inferior. Ela se inclina para ficar bem perto do meu
rosto. — Mas adoro quando você mostra isso.
Porra, se eu não tenho sorte!
Seguro a sua cintura, levando-a para baixo. Sua pequena mão agarra meu membro duro e
inchado, levando até a sua entrada. Fecho os olhos e inclino minha cabeça para trás, quando ela
desliza para baixo, me acolhendo como se fosse a primeira vez. Minha respiração fica presa em
minha garganta, quando o seu aperto maravilhoso começa.
— Sam! — Ela geme apoiando suas mãos em meu peito. Não preciso olhá-la e ver que ela
está com os olhos fechados e seu rosto corado, mas é uma visão perfeita demais para deixar
passa.
Seus cabelos então revoltos em nossa volta. Seu corpo vermelho e tremendo de prazer. Sinto a
sua excitação molhando todo o meu pau, que está quase explodindo dentro dela. Victória já me
levou assim, e como da primeira vez, ela está se ajustando a mim por completo.
— Meu Deus! — Ela joga sua cabeça para trás e começa a se mexer. Ela me toca por todo
corpo. Isso é novo para ambos. Ela não se intimidou em nenhum momento desde que estamos nos
tocando. Seu corpo está mais sensível, sua necessidade maior. E nossa, eu amo que ela não pare
de querer foder comigo.
Literalmente.
Agarro seus quadris tentando controlar seus rebolados em mim, mas ela não quer assim.
Docinho agarra as minhas mãos e me usa para alavancar seus movimentos ritmados.
— Deus, você é tão gostosa — digo entredentes, movendo meus quadris para cima. — Você é
a coisa mais linda que eu já vi. Isso, Docinho, agarre meu pau com essa sua pequena boceta.
Ela geme mais alto quando digo isso. Isso me faz ter certeza que ela fica mais louca quando
falo sujo com ela. Largo suas mãos e levo até os seus seios, apertando-os com força.
— Quero ver quando eles estiverem maiores. — Eu me inclino para levá-los à minha boca,
mordendo e sugando com uma fome animalesca. — Vou poder coloca meu pau no meio deles e
foder até que eu goze contra o seu pescoço.
Seus movimentos ficam mais intensos. Ela rebola em cima de mim mais rápido, me apertando e
sugando como se nada mais importasse a não ser o seu prazer. Ela goza uma, duas, três vezes, me
deixando louco.
Ela não para. Cada vez mais rápido, mais intenso, me levando muito mais fundo. Sua pequena
boceta me apertando como ferro fundido, me fazendo contorcer embaixo dela.
Não sou eu que estou fodendo com ela. É ela que está fodendo comigo e não posso fazer
nada além de segurar o tanto que posso para não derramar dentro dela.
Ela está me usando para o seu prazer.
— Porra! — rosno quando sua boceta começa a me apertar mais e mais, me sugando. Por um
momento, penso que ela vai me capar apenas com isso.
Ela grita meu nome se movendo mais e mais. Nós dois gozamos juntos. Ela em silêncio e eu
grunhindo como um animal enjaulado. Docinho para de se mover, quando eu agarro seus quadris a
movendo para prolongar nosso gozo.
Deixo-a em cima de mim, enquanto nossos corpos se recompõem do que acabou de acontecer.
Estamos uma bagunça na minha cama. Seus cabelos nos cobrindo. Nossas pernas entrelaçadas. E
mesmo que eu realmente não queria usá-la nesse momento, meu pau começa a pulsar dentro dela
mais uma vez.
— De novo? — ela pergunta contra o meu peito e dá uma risadinha.
— Ele ficou muito tempo longe de você, não me culpe por isso. E foi você que me fodeu como
uma tarada — digo contra seus cabelos e por alguma razão cubro nossos corpos com o lençol. Ela
tenta ir para o lado, mas não permito isso. — Fica aqui.
Ela descansa seu queixo no meu peito e me olha.
Seus olhos estão suaves, seu rosto ainda vermelho pelo esforço que acabou de fazer. Ela
agarra minha mão e aperta suavemente.
— Eu amo você — digo a ela mais uma vez.
Seus olhos brilham e ela retribui apenas movendo a sua boca.
Depois de ontem, eu não me canso de dizer isso a ela. É tão simples como respirar. Mesmo que
ela tire o meu fôlego ao sorrir, declarar o meu amor a ela sempre vai fazer meu coração parar de
bater por alguns segundos. Nada com ela é tão simples, mesmo que ela traga leveza para minha
vida. É tudo tão bruto e intenso em meu peito, que algumas vezes, penso que estou preso em um
sonho do qual não quero acordar. Victória se ilumina mais e mais quando digo isso a ela.
— Quando você descobriu isso? — ela pergunta timidamente, mas se remexe sugestivamente
em cima de mim, o que me faz engolir em seco.
— Naquela noite em Recife. — digo arrumando os seus cabelos para fora do meu rosto.
Docinho deita sua cabeça em meu peito e me observa atentamente. — Quando você desceu para
o jantar, quase cai aos seus pés. E então você fez tudo aquilo naquela noite e eu não pude fazer
nada além de lhe dar o meu coração.
Ela cora quando lembra sobre o que estou falando.
Podem se passar mil anos, mas eu nunca vou esquecer aquela noite. A noite mais intensa da
minha vida. E não escondo isso de ninguém.
Victória me deixou de joelhos quando se entregou a mim naquela noite. Seus toques, beijos,
gemidos e paixão me deixaram insano. Minha primeira ruína foi quando ela me pediu para comer
ela com o meu terno.

“— Você é sempre centrado quando está de terno. Quero me perca o controle comigo
quando estiver vestido assim.”

Ela queria me enlouquecer e conseguiu. Depois as coisas foram mais descontroladas. Nunca
pensei que ela faria comigo a mesma coisa que ela faz com um pirulito.
Certo, eu pensei nisso. Muitas vezes.
Mas nunca pensei que ela faria isso apenas de lingerie enquanto eu estava totalmente vestido.
— Você parece ter voltado para aquela noite. — Victória me traz de volta para o presente.
— Ah, eu fui. — Puxo seu corpo mais para cima para que seu rosto fique próximo ao meu. —
Foi sem dúvida a melhor noite que tivemos.
Ela ri e molha seus lábios.
— Você disse isso sobre a noite de ontem também — diz rindo.
— Bem, vamos ter muitas dessas, mas agora...
Sou interrompido quando a porta do meu quarto é aberta com um estrondo muito
inconveniente. Victória pula assustada e cai para o meu lado. Eu me viro rapidamente para cobrir
o seu corpo com o meu, mesmo que o lençol esteja sobre nós.
Arthur está na porta completamente em choque. Meu irmão abre a boca umas três vezes antes
de voltar para si.
— Eu não vi nada! Eu juro! — ele diz rapidamente. — Eu só queria avisar que vamos todos
almoçar aqui. — diz ele completamente vermelho. — É a minha Pirulito? — Ele pergunta, mais
para ter certeza de que eu não fiz burrada do que para deixá-la envergonhada. Conheço muito
bem meu irmão para saber disso.
— Oi, Arthur — Victória diz com a voz envergonhada.
Meu irmão me dá um sorriso orgulhoso e sai, quando ele está quase fechando a porta, ele
volta e me dá um olhar de repreensão.
— Tranque a porta da próxima vez.
Ele bate à porta com força.
Docinho me abraça apertado, pensando que eu posso ficar com raiva do meu irmão caçula.
— Quem vem almoçar aqui? — ela me pergunta timidamente. — Eu tenho que ir para o
estágio — diz se levantando com o lençol embrulhando seu corpo.
— Você não vai, não. Pensei que já tivéssemos conversado sobre isso — Eu me levanto
rapidamente para alcançá-la.
Victória me encara com os olhos hesitantes. Sei que isso vai nos dar uma dor de cabeça.
— Faltam apenas algumas semanas, Sam. E eles precisam de mim!
Agarro seu rosto, olhando diretamente nos seus olhos.
— Eu também preciso de você!
Ela sorri e vai andando de costas até o banheiro e eu a sigo.
— Você já me tem, seu bobo.
Depois de um banho onde eu dei a ela um pouco mais de prazer, descemos para saber quem
é que veio para o almoço. Sinceramente, queria que fosse apenas papai e Arthur, mas me deparo
com todos mesmo aqui.
A Sophie com os seus sobrinhos e sua governanta. Papai, os meus irmãos e o cachorro mimado
de minha amiga.
Todos olham para nós dois quando chegamos à cozinha. Coloco Docinho atrás de mim,
cobrindo-a totalmente. Ela ri nervosamente quando percebe que somos o centro das atenções
nesse momento.
— Bom dia, filho! — Papai é o primeiro a falar, não escondendo nenhum pouco o orgulho em
sua voz. Ele está com um copo de suco em sua mão junto ao meu irmão caçula, que se junta ao seu
lado me dando o mesmo sorriso de orgulho.
Todos dizem bom dia, e eu respondo.
— Oi, Vick! — Simon chama a minha Docinho, que sai de trás de mim.
Quero dar em sua cara por tê-la envergonhado. Trago-a para o meu abraço, dizendo que
está tudo bem.
— Bom dia! — ela diz olhando para o relógio da cozinha. — Bem, hum, boa tarde.
Percebo que já passou de meio dia. Fiquei trancado com ela no quarto a maior parte da
manhã.
O primeiro a ir até ela é o Arthur, que a beija e gira com ela dizendo o quanto sentiu a sua
falta. Papai é mais contido. Ele apenas a abraça e beija seu rosto, mas diz algo em seu ouvido que
a faz arregalar os olhos e olhar para mim com curiosidade. Olho para o meu pai, que pisca para
mim e dá espaço para Simon abraçá-la.
Vou até a geladeira para fazer um pequeno lanche para que ela coma enquanto papai
decide o que vai fazer para o almoço.
— Podemos pedir pizza! — Arthur diz, fazendo todos discordarem.
Pelo canto de olho vejo que a Sophie me encara com tristeza. Sei que ela quer conversar
comigo, mas ainda não acho o momento certo. Victória caminha ao meu encontro me dá um sorriso
lindo.
— O que está fazendo?
— Algo para vocês dois comerem enquanto não faço o almoço.
Ela nega com a cabeça.
— Eu consigo aguentar até estar pronto. — Ela me abraça pela cintura. — Seu pai parece
saber o que está fazendo e eu quero deixar espaço para provar aquele doce que o seu irmão
trouxe.
Abraço-a contra mim, não ligando para a quantidade de pessoas que estão ao nosso redor.
Sei que isso é bem estranho para meu pai e irmãos, mas eles vão ter que se acostumar com isso.
— Tome ao menos um suco — peço a ela.
— Só se você for falar com sua amiga — ela diz baixinho. — Ela não precisa de mais
estresse, Grandão. — Ela segura minha mão firmemente. — Ela errou, mas está arrependida.
Respiro fundo e dou a ela um olhar que a faz rir. Não deveria ter dito nada a ela. Sabendo
que ela daria uma de esperta e tentar arrumar as coisas de algum jeito.
— Eu sei, sou uma menina muito esperta. — Ela aperta minha mão mais uma vez.
— Pode ser depois do almoço?
Ela faz que não com a cabeça.
— Tem que ser agora porque ela está vindo para cá e eu não quero que Simon bata em
você de novo porque está machucando a mulher dele.
Faço uma careta.
— Eu o deixei bater em mim, pois eu merecia — Eu me defendo. — Simon já apanhou de mim
e sabe que aquela foi a primeira vez e última vez.
Ela me olha espantada, mas logo balança a cabeça como se já soubesse disso.
— Seja legal! Lembre-se, ela sempre foi a sua amiga — diz no momento em que a Sophie
para a ao meu lado.
— Ei, Sam — ela parece hesitante, como na época em que nos conhecemos e tudo a
assustava. — Podemos conversar?
Continuo olhando para Victória que sorri para mim e então olha para Sophie.
— Claro que pode. Ele está me deixando louca e eu preciso de uma pausa. — Docinho fica
nas pontas dos pés e me beija no ombro, que é onde alcança. Sorri para Sophie e sai para falar
com o Arthur e o meu pai.
Olho para minha amiga que está nervosa, e mesmo que ainda esteja decepcionado com ela,
odeio que ela se sinta dessa forma.
— Não precisa ficar assim, Sophie. Sabe que eu não vou machucar você.
Ela engole em seco e olha ao redor. Ninguém está prestando atenção na gente, mas eu sei
que se vamos conversar, precisa ser em um lugar tranquilo, onde podemos falar à vontade.
— Vamos lá para fora.
Indico o caminho para a beirada da piscina. Lá é tranquilo e quero que ela fique sentada
confortavelmente. Quando passamos pela porta, vejo o Simon se movendo em nossa direção, mas a
Docinho o para.
— Deixe os dois, eles precisam conversar — ela diz baixo, mas eu posso ouvi-la do outro
lado da casa. Apenas a ela. Ele diz algo, mas ela continua segurando-o. — Ele não vai fazer nada
de errado, Simon. Ela é sua irmãzinha. Ele prefere apanhar a causar estresse a ela. Vai por mim,
ele está se fazendo de durão, mas sei que ele precisa disso também. Deixe-os.
Simon parece ouvi-la, mas continua nos espiando pela janela.
Sophie se senta em um dos bancos acolchoados e estica suas pernas. Percebo que a minha
amiga, assim como Docinho, já mostra os sinais de gravidez. Me pergunto se esses dois conseguem
se manter longe um do outro.
— Você está bem? Está tudo bem com o meu sobrinho? — pergunto com a necessidade de
saber que ela não corre risco de nenhum aborto. Saí ontem com tanta pressa que nem mesmo me
preocupei em saber o que aconteceu no médico.
Faço uma anotação mental para me lembrar de levar a minha mulher ao médico amanhã.
Seus enjoos são muito fortes. Mesmo ela me dizendo que pode lidar com eles, eu preciso de uma
opinião do médico. E vai ser o seu mais novo cunhado que vai cuidar dela. Ela não confia em mais
ninguém.
Ainda preciso agradecer ao Carlos por ter cuidado dela por esses dias.
— Sim, está tudo bem. Vou continuar com as vitaminas por mais uma semana e então voltarei
para uma verificação de rotina. — Ela olha para a sua barriga plana. — Eu precisei quase
perdê-lo para ver a burrada que estava fazendo com tudo e todos. — Ela segura a minha mão
com medo de que a rejeite, mas aperto a sua. Pela primeira vez, ela fez o primeiro contato de
carinho comigo. — Eu sinto muito, Sam. Você não sabe o quanto eu sinto por ter te decepcionado.
Ela começa a chorar e então me abraça. Ela parece perturbada e eu não gosto disso. Ainda
mais porque esse pequeno gesto pode dar a Victória uma visão errada das coisas. Olho para a
janela e vejo Simon e Victória nos observando. Minha menina me dá um sorriso encorajador e meu
irmão parece que vai me matar.
Dou um sorriso amarelo a ele, me desculpando por isso.
—Por favor, não chore! O Simon está quase vindo aqui me matar afogado. Eu não posso
morrer agora. Eu tenho que pedir minha mulher em casamento e um filho para criar.
Isso faz com que ela olhe para mim.
— Acho que minha melhor amiga precisa saber primeiro, não é?
Sophie continua a chorar quando me abraça mais uma vez.
— Está tudo bem, preciosa. Está tudo bem.
Eu a seguro contra o meu peito deixando que ela chore. Fico com ela por longo tempo até
que ela se solta de mim e limpa seu rosto. Ela segura a minha mão na sua e me dá um sorriso triste.
— Eu nunca vou me perdoar por ter feito isso com vocês dois. Eu usei dois inocentes para
prejudicar uma pessoa que eu amo. — Ela limpa as lágrimas, que ainda caem. — Esse é o meu
pior pecado.
Respiro fundo e digo a ela o que está preso em meu peito.
— Não foi fácil ver você jogar toda a nossa amizade e companheirismo por uma vingança
descabida, Soph. Você me magoou de verdade, mas nada se compara a dor que você causou em
meu irmão. — Olho para a piscina, incapaz de ver a dor em seu rosto. Mas sei que preciso dizer
isso a ela. — Eu sempre disse a ele que estaria te defenderia, principalmente dele, pois eu sabia
quem meu irmão era. Então vocês se envolveram e nenhum dos dois me contou o que houve. Fiquei
ao seu lado porque eu sabia que Simon havia estragado tudo. Mas ... — Eu olho para ela,
querendo que ela veja a decepção em meus olhos. — Ele estaria sofrendo com o que eu descobri.
Ela acena sabendo muito bem do que se trata.
— Eu mantive tudo em segredo, sabendo como ele iria se perder quando descobrisse o que
aquela mulher fez. Diferente do que você pensa Sophie, eu nunca senti inveja ou desprezo pelo
meu irmão. Eu prometi a minha mãe que cuidaria dele e era o que eu estava fazendo e estaria
disposto a levar isso até o túmulo comigo. — Esfrego as minhas mãos, limpando o suor que está se
formando nelas. — Eu disse que não escolheria um lado, mas eu sempre soube que lado tomaria.
Fico em silêncio, esperando ela absorver tudo o que eu disse a ela.
— Por mais que eu tenha trazido você para minha vida para preencher um lugar
insubstituível, por mais que eu te ame como minha irmã e amiga, eu sabia que nada falaria mais
alto do que o sangue. Eu me iludi por anos, pensando que te manter protegida seria a minha
principal função no mundo.
Ela funga e olha para a piscina.
— O que te fez ver que não era isso?
— A pequena menina que está na minha cozinha, acalmando o meu irmão para evitar que ele
venha até aqui me socar — digo com um pequeno sorriso no rosto. — A menina que me fez medo
quando não aceitava nenhuma bobagem minha. A menina que me fez rir, que me irritou, que me
fez me aproximar do Simon, que me viu e cuidou de mim como ninguém fez em todos esses quinze
anos em que eu me senti sozinho. — Olho para Sophie sorrindo. — Ela é a minha coisa
insubstituível desde o momento em que me chamou de chato e disse que eu deveria sorrir mais. Eu
me apeguei tanto em cuidar de você que não vi que estava perdendo muita coisa, mas a Vick me
fez ver que a vida é mais do que proteção. É diversão, é arriscar-se e entregar-se às coisas
simples sem nem pensar duas vezes.
Sophie sorri e acena, mas não diz nada.
— Eu deixei que o Simon pensasse que eu era apaixonado por você. Ele sabe agora que não
é verdade. Eu queria que você preenchesse uma vaga que não estava disponível. Descobri isso
tarde, mas ainda não me arrependo de ter cuidado de você como eu cuidaria da irmã que eu
perdi. Mas agora eu tenho outras coisas agora, Sophie. Eu tenho uma mulher que eu quase perdi
por não ser corajoso o bastante para dizer que eu a amo. Quase estraguei tudo querendo
consertar as suas coisas, quando eu nem mesmo deveria ter enfiado o meu nariz para início de
conversa. Mas por alguma razão, ela me deu uma segunda chance e posso mostrar a ela o quanto
eu a amo e ao nosso filho que ainda está protegido em seu ventre. — Engulo em seco. — E é por
ela que eu estou aqui falando com você. Porque ela sabe que mesmo que eu não me sinta pronto
para te perdoar, eu preciso dizer o que tenho no meu coração. Eu não sei como está a relação
entre você e o Simon e não me importo. O que fazem é por conta de vocês. Por quinze anos eu
tenho tomado conta de tudo e esquecido de mim, mas isso mudou e nunca estive tão agradecido.
Aperto a sua mão em cima de seu joelho.
— Ainda não estou pronto para fazer as coisas voltarem a ser como antes, mas estou disposto
a fazer as coisas melhorarem. Por que mesmo que eu esteja com o meu coração ainda rachado
por você tê-lo partido, eu ainda te amo, preciosa. Ainda mais agora por você está carregando
uma pequena parte da família.
Sophie engole em seco e acena com a cabeça concordando com tudo. Passo meu braço por
seus ombros e transmito meu carinho para ela, mas sei que não vai adiantar de muito e sei também
ela entende isso.
— Espero que um dia a gente possa voltar a ser como antes — diz soluçando. — Quero que
o meu filho tenha o seu tio controlador para repreendê-lo quando eu não conseguir.
Isso me tira um sorriso. Ficamos calados por longos segundos.
— Ela é linda, Sam — Sophie diz sincera. — Sei que ela te ama, pois brilha sempre que você
a olha. Desculpe ter estragado as coisas para vocês dois...
— Não, nisso você não tem culpa. O único culpado por isso sou eu. Mas obrigado. E sim, ela é
linda. Esplêndida, incrível demais — declamo apaixonado. — Sei que ela se irrita comigo, mas eu
não acho que tenha alguém mais perfeita para mim do que ela. Ela está presa comigo e não vou
deixá-la ir embora.
Sophie ri e parece saber que digo a verdade.
— Ela deve saber o quanto você é neurótico com algumas coisas. — Sophie tenta deixar o
clima mais leve, e até consegue.
— Vai por mim, eu sei! — Vick aparece ao meu lado com um copo de suco na mão. — Acabei
de fazer, é suco de laranja. — Ela oferece a Sophie e me dá um sorriso um pouco preocupado
quando vê meu rosto. — Está tudo bem por aqui?
— Claro, Docinho. — Eu a puxo para o meu colo, não me importando em descansar as minhas
mãos em suas coxas descobertas, mesmo com Sophie do nosso lado. — Não tem enjoo?
Ela faz que não com a cabeça e morde seu lábio.
— O que há de errado?
Sento ereto na cadeira, querendo saber o que está incomodando ela.
— Eu quero uma coisa.
— Diga, amor.
Ela olha para Sophie, que sorri.
— Não se pode negar um desejo de uma grávida, Sam. Saiba disso.
Dou a ela um sorriso de satisfação por saber que ela vai pedir tudo a mim, deixando que eu
a mime sem nenhum limite.
— Já que eu vou ficar aqui e você aceitou em trazer os bebês também. — Ela bate os cílios e
me dá aquele maldito sorriso ao qual eu não resisto. — Será que você vai me deixar ter um filhote
lindo que fique maior do que eu? Por favor, Sam. Você sabe como eu sempre quis um cachorro.
Sophie ri e se levanta, me deixando sozinho nessa conversa.
Bem, como eu posso negar algo para minha mulher grávida?
Capítulo 32
A voz do meu coração está certa. Só existe você, só é você. Sempre será
você.
Victória
Dois meses depois

E u posso ver a agonia em seu rosto sempre que eu fico enjoada. Isso não é fácil para ele. E só
descobri isso quando Simon me contou o que aconteceu com a matriarca da família.
Eu tento aguentar seus cuidados extremistas, mas às vezes Samuel é sufocante demais. Como
nesse momento. Eu sei que ele não queria perguntar isso de forma tão rude, porém me machucou
um pouco. Mas dói minha alma ver o olhar desamparado em seu rosto.
— Não, Samuel. Seus filhos não vão matar a sua esposa — Carlos diz a ele tranquilamente.
Sim, meus filhos não vão fazer nada além de nos amar incondicionalmente. Bem, também
estarei bem cansada quando eles nascerem. Sim, eles. Estamos esperando gêmeos.
Isso explica a enorme barriga em tão pouco tempo.
Foi no primeiro ultrassom que descobrimos que teríamos dois bebês ao invés de um. Samuel
chorou quando ouviu os batimentos fortes de seus filhos. Eu só pude abraçar o meu Grandão
enquanto ele chorava emocionado em minha barriga. Mas esse momento de amor e devoção
foram trocados por excesso de cuidados e repreensões desnecessárias.
— Os enjoos podem persistir até o nascimento da criança ou durar até o primeiro mês. Cada
gravidez é um caso diferente. Veja o exemplo da irmã dela — Carlos não esconde o amor ao
falar da minha irmã. — A gravidez da Didi foi fácil e sem nenhuma alteração. Agora a do
Gustavo está sendo mais exaustiva para ela. Vanessa não consegue ficar acordada por cinco
horas seguidas. Gravidez diferente, situações diferentes — ele diz anotando alguma coisa no meu
cartão de grávida. Samuel não me deixa sair sem ele de jeito nenhum. — A Vick já encontrou
alimentos que aguentam em seu estômago e não está desidratada. Ela está tão saudável quanto
nós dois.
Samuel suspira ao meu lado e me dá um olhar arrependido e cheio de culpa, mas não
esconde o alívio.
— Devo avisar que vamos ter que fazer uma cesariana — Carlos diz com compaixão. —
Você é pequena demais, Vick e seus filhos são grandes. Eu nem preciso medir o fêmur deles
novamente para saber que vão puxar a altura do pai. Seus exames estão perfeitos e sua pressão
está normal, mesmo grávida de gêmeos. — Ele olha para o Samuel. — Estou avisando isso agora
para que vocês se acostumem com a ideia desde cedo. De resto, vejo vocês daqui a três semanas
ou caso Vanessa chame vocês para jantar na semana que vem.
Sendo assim, eu me despeço do meu cunhado e arrasto Samuel para fora do consultório. Ele
vem atrás de mim, quieto e angustiado. Sei que ele sabe que estou chateada com ele.
E eu entendo isso.
— Sam...
— Não, eu não quero falar sobre isso agora — diz ele levantando as mãos me parando. —
Quer brigar comigo, faça isso, mas me dê um tempo para tentar arrumar minha cabeça. Eu vou
para a minha sala.
Ele vai para o elevador e me deixa na sala de espera.
Quando eu pensei que depois de todas as declarações de amor, estaríamos bem, errei
completamente. Pego minha bolsa e vou para a lanchonete na esperança de encontrar minha irmã
disponível para uma conversa de mulheres grávidas, onde eu possa falar mal dos homens de
nossas vidas.
Arrumo minha bolsa nos ombros e espero o elevador. Quando as portas se abrem, encontro
Franklin saindo com sua esposa, que está com um barrigão daqueles.
— Ei, sumida! — Ele me beija, mas não solta sua esposa. — Quando eu vou ter minha melhor
companheira de equipe de volta?
— Logo que eu enfiar na cabeça de seu chefe que estou bem e que posso ficar aqui pela
tarde. E vocês?
— Estamos bem! — Meu antigo supervisor diz orgulhoso. — Vejo você por aí, Vick.
Eu me despeço deles. Rindo, percebo que todos ao redor parecem estar esperando bebês.
Nessa com três semanas a mais do que eu e Sophie com três semanas a menos.
Todas elas parecem bem, felizes e em paz com as suas gravidezes. Apenas eu que estou
lidando com um cara carente e cheio de preocupação vinte e quatro horas por dia.
Chego à lanchonete e vejo que minha irmã está ocupada com algum enfeite de bolo. Ela me
entrega uma vitamina quando passo pelo balcão e me pede cinco minutos. Dou a ela um sorriso e
me sento quieta na mesa mais afastada.
Está começando a ficar desconfortável sentar essa com enorme barriga. Eu sei que eu sou
pequena e tudo mais, mas não tinha ideia que poderia carregar dois grandes bebês dentro de
mim.
Esse foi um dos motivos de não conseguir esconder por muito tempo minha gravidez. O
primeiro que descobriu foi meu sogro. Bastou olhar para mim que ele sabia.

“Nada brilha mais do que uma mulher grávida.”


Entrei em parafuso quando ele me disse isso, mas seu sorriso carinhoso me fez perceber que
nosso segredo estava bem guardado com ele. Então no mesmo dia o Simon ficou me encarando de
um jeito diferente. Por segundo eu pensei que tinha um outdoor na minha testa dizendo: GRÁVIDA!
Ou era paranoia minha.
Simon não foi tão observador, mas aquela pequena sobrinha dele... É esperta demais para a
idade dela. A menina ficou apenas algumas horas ao meu lado e foi o suficiente. Ao menos ela fez
a revelação de uma forma divertida.
— Pirulito, por que você não pegou um doce? — O Arthur está realmente preocupado com
minha falta de apetite por doce.
— Estou sem vontade agora.
Ele me encara curioso e insiste.
— Tem certeza de que não é porque o Sam está aqui?
— Tenho certeza.
Ele continua insistindo.
— Isso não se parece com você. O que há de errado? Você nunca recusou um doce.
— Cala a boca, seu idiota. — Gabrielle diz irritada do meu lado no sofá. — Ela não quer
doce porque não é saudável para o estado dela. Muito açúcar no sangue pode prejudicar a
gravidez. Agora cala a boca e deixe a menina em paz.

Foi assim que anunciamos a minha gravidez.


Eu me senti mal pela Sophie e pelo Simon, tirando a atenção que eles estavam tendo de todos.
Essa era dos motivos de não querer falar naquele momento. E eu sabia que isso iria fazer Sam ter
o momento que ele não queria ter com seu pai, mas acabou acontecendo. Diferente de sua
conversa com Sophie, da qual ele me contou tudo o que disse e como se sente, Samuel não disse
uma palavra sobre a conversa com o seu pai.
Samuel apenas deitou na cama comigo e me abraçou apertado enquanto ele chorava
baixinho. Eu sabia que ele queria meu apoio e compreensão naquele momento, e eu dei a ele.
Diferente do que eu pensei, a conversa com seu pai foi mais dolorosa do que a conversa que ele
teve com a Sophie.
Eu o acalentei e disse que estava tudo bem, e que ele poderia chorar. Comigo, Sam nunca
precisou esconder os seus momentos de fraqueza e espero que ele nunca faça isso. Eu o amo e eu
sempre vou declarar meu amor por ele.
Mas o que quer que tenha acontecido naquela noite, parece ter aliviado a relação dos dois.
Chorei um pouco quando o seu Sandoval me abraçou, dizendo o quanto estava feliz por ter dado
outra chance ao seu filho. Ele me disse que por muitos anos deixou o Samuel tomar conta de tudo,
pois era fácil, e ele sabia que não poderia fazer as coisas que seu filho faria.
Pedi que ele apenas continuasse sendo o pai que o seu filho ama e admira. Sam não guarda
sentimentos de mágoa pelo seu pai. Sei que ele faria tudo de novo sem nem pensar duas vezes.
Assim como eu sei que ele vai cuidar de nossos filhos com tudo o que ele tem. Mas o medo que
ele tem de me perder fala mais alto. Se com os enjoos ele se desespera, não quero nem pensar
quando começar a me sentir mais cansada.
Uma vibração louca acontece em minha barriga. Levo a mão até o local e sinto novamente,
mas dessa vez muito mais forte. Olho para minha barriga emocionada demais quando percebo
que são meus filhos se mexendo. Lágrimas começam a cair pelos meus olhos, sentindo a grande
agitação dentro de mim.
Ando mais do que depressa para a sala do Sam, querendo que ele sinta isso também. Assim
que chego a sua sala, ele me encara assustado. E se desespera quando vê meu rosto banhando
de lágrimas.
— Está tudo bem?
Ele pergunta, mas apenas pego suas mãos e as coloco na parte de cima de minha barriga
onde a festa está sendo executada nesse momento. Ele parece confuso, mas logo percebe o que
está acontecendo dentro da minha enorme barriga.
— São...?
— São! — digo rindo.
Ele cai de joelhos a minha frente e beija repetidas vezes o meu estômago. Só consigo rir feito
uma bobona, não me importando nem um pouco com a bagunça que está dentro de mim.
— Desculpem o pai idiota de vocês — Sam diz contra a minha barriga. — Eu não queria
dizer aquilo, mas eu amo a mãe de vocês dois mais do que tudo nessa vida. — Ele continua a
acariciar minha barriga e então olha para mim. — Vocês vão saber isso quando olharem ela pela
primeira vez. Sei que já a amam, mas tudo vai intensificar quando estiverem nos braços dela.
Começo a chorar agora por motivos diferentes. Samuel coloca uma mão no bolso e tira um
pequeno saco de algodão preto. Ele empurra seus óculos e vejo as lágrimas nos cantos de seus
olhos.
— Eu sei que às vezes eu sou irritante e chato demais. Que estou sempre querendo que você
se sinta bem. Mas eu faço isso porque eu não aguentaria te perder. Você é tudo na minha vida,
Docinho. Tudo no meu mundo gira a sua volta. — Ele abre o saco de veludo e tira um anel de
dentro. Agarro seus ombros para não cair para trás quando ele pega minha mão esquerda e
coloca um anel nele. É um anel grosso com uma pedra azul. — Eu sei que eu sou seu pelo o resto
da eternidade. Sei que você é a melhor coisa que me aconteceu. Sei que eu te amo mais do que eu
sou capaz de medir. E por algum motivo desconhecido, você me ama também, e eu quero fazer
isso. Quero passar o resto da minha vida ao seu lado. Faça-me o homem mais feliz desse mundo e
aceite casar comigo, meu amor.
Eu só consigo acenar entre os soluços e lágrimas. Samuel se levanta e sem nenhuma
delicadeza, me beija como se nada mais existisse. Sua boca molda e minha em um beijo
apaixonado. Meu coração está tão agitado quanto nossos filhos em minha barriga. Sam suga meu
lábio inferior e morde logo em seguida, trazendo toda a necessidade insana ao meu corpo.
Ele sabe que não pode fazer isso. Todos os dias ele acaba me deixando dolorida, mas muito
satisfeita. Mas não podemos, não aqui pelo menos.
— A sala de massagem está vazia? — pergunto quando começo a ficar molhada e o sinto
duro contra a minha barriga. Levo minhas mãos até sua calça enfiando em sua cueca sem nenhuma
vergonha. Sinto pré-gozo molhando minha mão e ele fica mais duro quando aperto-o levemente.
— Você quer que eu te coma lá, Docinho? — Sua boca desce até o meu pescoço onde ele
morde. Suas mãos já estão em meus seios, brincando e beliscando os mamilos, me deixando louca e
sem nenhum tipo de raciocínio.
— Eu... não... Meu Deus do céu.... Issso, ahhh isso!
Eu não posso me controlar quando ele está se movendo contra mim desse jeito. Em segundos
ele me faz gozar. Sua boca abafa meus gemidos. Mas a prova de que fizemos devassidão aqui,
são seus dedos molhados do meu gozo e meu cabelo totalmente bagunçado.
Sam me ajuda a me arrumar e então pergunto a ele.
— Deveria ser no dedo direito, amor!
Ele me dá aquele sorriso lindo.
— Você já é minha mulher. — E dá de ombros, não ligando para a lógica.


Um Mês Depois.
Eu acordo sozinha na cama e não gosto disso. Estou mimada demais ao ser acordada com
carinhos, com o Sam me fazendo gritar quando coloca a sua boca em mim. Tateio a cama na
esperança de que ele ainda esteja por perto, mas ele não está.
Sinto o farfalhar de um pequeno papel. Abro os olhos e vejo o papel preto em cima do
travesseiro do meu homem.

Bom dia, meu amor. Desculpe não estar com você quando acordar. Espero compensá-la no
decorrer do dia de hoje. Que é especial demais para mim. Sei que você não gosta de receber
minhas ordens e sei que vai querer brigar comigo. Então, eu vou usar esses dois seres que nós dois
amamos para te fazer obedecer. Por favor, nada de choros, não vai funcionar. Seja obediente e
siga cada regra.
Amo você.
Seu Grandão.

Há outro bilhete na cômoda, só que esse é azul.

Olá mamãe, eu ainda não sei quem eu sou. Se eu sou uma menina ou um menino, ou se serei o
mais velho ou mais novo. Mas eu sei que eu te amo. E sei que papai também te ama. Então seja
uma boa mamãe e tome um banho relaxante. As titias estão chegando.
Com amor.
Bebê 1 ou 2.

Meus olhos ficam marejados, mas eu faço o que um dos meus filhos pede. Não tenho ideia do
que Sam está aprontando, mas eu sei que para envolver nossos filhos, é algo muito importante
para ele.
Tomo um banho quente e relaxante. Tomando cuidado para não abaixar muito. Coro e me
arrepio quando me lembro da noite de ontem. Sam não teve nenhum pouco de dó de mim, nem
mesmo quando eu pedi para ele parar, Sam continuou me dando orgasmos até eu quase desmaiar
em cima dele. Mas não resisti quando ele me abraçou por trás e começou a se mover lentamente.
Samuel consegue fazer amor lentamente e me deixar ainda mais dolorida do que quando está me
fodendo com desespero.
Quando vou para o quarto, vejo que Sophie e Vanessa estão me esperando. Elas estão com
roupões de cor de creme e ambas com os cabelos em um rabo de cavalo. Suas barrigas estão um
pouco menores que a minha, já que eu sou a única que carrega mais de um filhote.
— Bem a tempo. — Minha irmã me puxa para um abraço e me leva até o outro lado do
quarto, que está repleto de coisas que elas devem ter trazido, pois não estavam ali quando eu fui
ao banheiro. — Temos muito que fazer agora, maninha.
Apenas concordo enquanto as duas cochicham sobre o que fazer com o meu cabelo. Elas não
me deixam ouvir nem mesmo opinar, não sei o que estão aprontando, mas quero dar a minha
opinião. Uma batida na porta me assusta e Sophie deixa o nosso cunhado entrar.
O Arthur está sem camisa e vejo agora, que ele vai ser um homem muito bonito. Com seus
quinze anos, ele é forte e grande para a sua idade.
— Oi Pirulito, como você está? Eu trouxe o seu café — ele pergunta colocando uma bandeja
com torradas e sucos no meu colo. Arthur beija a minha bochecha e afaga minha barriga. Ele foi o
único que pediu autorização eterna para acariciar meu estômago todas as vezes que ficar
grávida. Espero que isso só aconteça daqui a cinco ou seis anos.
— Estou bem, querido. — Beijo seus cabelos e lhe dou um sorriso. Ele ficou comigo ontem à
tarde, já que não pude ir ao hospital. Depois de três semanas sem enjoo, ontem tive uma crise ruim.
— Obrigada por ter ficado comigo.
— Ora, mas eu adoro ficar com você. — Ele se abaixa e aperta o meu pé esquerdo. —
Adoro que você deixe que eu fique fazendo furinhos em seus pés inchados. Mas sabe que está
linda, não é? Você é com certeza a grávida mais linda do mundo.
As duas mulheres atrás de nós dois limpam as gargantas e Arthur percebe que entrou em
apuros.
— Vocês três são as grávidas mais lindas, com certeza.
Isso nos faz gargalhar e Arthur relaxar. Ele aprendeu mais rápido do que seus irmãos que
não se pode contrariar uma mulher grávida.
— Isso é para você. Eu te vejo depois. Tenho que me arrumar.
Olho para ele que sai da porta sem olhar para trás.
Se arrumar para que?
— Vick, coma o seu café, que nós temos que dar um jeito no seu cabelo.
Enquanto eu como, pego o envelope cor de rosa e leio.

Querida mamãe. Hoje é um dia especial. Papai está ficando louco, mas é mais louco pela
senhora. De onde eu estou, eu posso sentir que vocês dois se amam demais e o amor de vocês por
nós é maior ainda. E hoje, quando papai chorar quando te ver chegando, lembre-se que ele fará
a mesma coisa quando nós estivermos em seus braços.
Quero conhecer vocês logo.
Com Amor
Bebê 1 e 2.

Limpo as lágrimas que insistem em cair. Eu sei o que Sam está aprontando. Assim que ele me
pediu em casamento, queria marcar uma data. Foi injusto ele me pedir isso enquanto estava dentro
de mim. Cedi a sua chantagem e disse que poderia ser naquele mesmo dia se ele me deixasse
gozar.
Eu pensei que ele me arrastaria para cartório naquele mesmo dia, mas não aconteceu.
Sinceramente? Nunca me importei com esse tipo de extravagância. Minha cunhada Sophie já
está fazendo isso por nós duas. A mulher vai levar todos para a sua nova casa em Londres, onde
alguns dos seus colegas da nobreza vão poder participar. Com certeza vai ser uma festa de
arromba, mas eu sei que isso está dando trabalho a ela, já que Sophie está sempre reclamando de
alguma coisa.
Eu prefiro me preocupar em arrumar o quarto dos bebês. O pai do Sam está cuidando disso
pessoalmente. Ele está ampliando a casa para ter mais dois quartos. Seu Sandoval é o que está
mais animado com a chegada dos netos, até mesmo conseguiu convencer a Sophie a ficar até a
sua filha nascer. Laura será a filha mais velha de Simon e Sophie, e sua chegada está prevista
para poucas semanas depois da minha cirurgia.
Mas eles decidiram que vão morar em Londres após a chegada de Laura. Simon vai seguir a
mulher que ama. Eu vou sentir falta deles, ainda mais de Sophie. Ela ainda luta para ter de volta
aquela amizade com Sam, mas meu Grandão ainda não derrubou todas as paredes. Com isso eu
aprendi que quando ele perde a confiança em alguém, a pessoa não vai recuperá-la facilmente.
Mas isso não quer dizer que eu não me aproximei dela. Como eu vi desde o início, ela é uma
mulher incrível, meio mimada, mas ainda incrível. Ela me deu os primeiros presentes dos bebês: duas
mantas de algodão egípcio que ela encomendou de uma loja no exterior.
Sam apenas balançou a cabeça e disse que ela não muda nunca.
— Pronto! — Olho para Nessa, que está a minha frente com um grande sorriso. — Você está
linda e ainda nem colocamos o vestido.
Ela não me deixa olhar no espelho. Apenas vai até outro cômodo e traz um vestido branco
pequeno. Ele é lindo, de alças com bordados feitos a mãos com miçangas de cristais. Ele não tem
cauda e parece que foi desenhado sob medida. Sophie me ajuda a colocar e vejo que coube
perfeitamente.
— Seu homem conhece tudo de você — Sophie comenta. — Por que Simon não pode ser
como o irmão? Não seria pedir muito, não é?
Ela não parece feliz em saber que escolheu o irmão babaca.
Vanessa para ao meu lado e vejo que ela está quase chorando e me beija com delicadeza,
para não manchar meu rosto já maquiado.
— Você está tão linda, querida! Vai ser uma mãe incrível e uma esposa maravilhosa.
Ele me dá um envelope vermelho. Há escrito na parte dobrada. “Para o amor da minha vida”.
As duas mulheres me deixam sozinhas para ler a carta.

Oi, Docinho. Acho que já sabe o que está acontecendo, não é? Você é esperta demais e por
mais que eu tente, não consigo esconder nada de você. E eu não vou fazer isso nunca.
Estou fazendo isso, pois sei que você quer apenas aproveitar nossos filhos enquanto eles ainda
estão protegidos dentro de você. Sei que ainda teme em fazer qualquer coisa com o dinheiro que
insiste em dizer que é só meu. E o principal, não sabe por onde começar para organizar um
casamento. Bem, nem eu. Foi difícil no início, por isso recrutei todos que nós amamos para me
ajudar.
Escrevo essa carta enquanto você está dormindo ao meu lado na nossa cama. Sua mão está
em cima da minha coxa, o pequeno contato para saber que eu estou com você. Sei que é isso, pois
é a mesma coisa comigo. Você está linda nua. Obrigado por nunca colocar barreiras em nossa
cama. Obrigado por me fazer o homem mais amado do mundo todos os dias.
Você me deu isso quando eu não percebi que era o que eu mais precisava. Como eu sempre
disse a você, você me assustou. Você me deixou amedrontado com a sua paixão pela vida. Você
me fez tremer sempre que sorria e principalmente quando mostrava a sua força. Você me deu
motivos para sorrir, para tentar e para amar alguém desconhecido.
Eu fiz isso com você, quando me encantei com a minha estagiária louca que vivia com doces na
boca e estava sempre rindo de algo. Bem, eu senti um desejo louco por você no início, querendo
apenas uma chance para te provar e assim que tive a oportunidade, acabei viciado.
Você é a minha nicotina, Docinho. Nunca, nem mesmo quando nós estivermos velhinhos eu vou
me curar desse vício. Espero muito que mesmo com oitenta anos, eu consiga te dar muitos orgasmos.
Juro a você que vou dar o meu melhor.
Quero viver cada segundo do meu dia tendo a chance de te fazer feliz como você faz
comigo. Sei que nem sempre vai ser fácil, que às vezes eu vou te deixar louca e você vai me
deixar irritado, mas é isso que sempre fizemos, não é? Essa loucura que não se entende.
Nunca pensei que poderia conhecer alguém que me completasse, mas você veio, e está aqui
comigo. E estou louco para te fazer minha esposa hoje. Estaria tudo perfeito se minha mãe
estivesse aqui. Ela iria te adorar, mas sei que ela está feliz por mim.
Estou te olhando enquanto eu escrevo. Sei que não há ninguém que eu ame mais do que você
e isso não vai mudar. Tudo, a partir desse dia, será da mesma forma do que antes, mas com a
garantia de que você nunca vai me deixar e de que eu sempre estarei ao seu lado em todas as
circunstâncias. Daqui a alguns minutos estaremos declarando o nosso amor na frente de todos, mas
já fizemos inúmeras vezes. Não é a toa que você está grávida enquanto nos casamos.
Estarei esperando por você pela última vez, Victória.
Porque depois do altar, eu nunca vou te deixar sozinha novamente. Nunca vou permitir que
você se esqueça do meu amor. Nunca vou deixar de te amar.
E caso você não saiba quem eu sou nesse louco e incrível dia mais importante da minha vida,
serei o cara de terno preto chorando enquanto vejo você caminhando na minha direção.
Com amor.
Seu Grandão e futuro marido.

— Cansou da sua própria festa? — Victor se senta ao meu lado no canto reservado do
jardim. — Precisa se deitar?
Coloco meus pés em cima das suas pernas, pedido silenciosamente uma massagem. Ele deixa o
seu copo de cerveja de lado e começa a fazer mágica. Ele conseguiu sua transferência para
Campinas, mas às vezes terá que voltar a fronteira da Colômbia por alguns dias, mas ele estará
bem perto da gente e isso me deixa muito aliviada.
— Meus pés estão me matando — confesso a ele. — Não conte ao Sam isso ou ele vai
acabar expulsando todo mundo daqui.
Victor ri e beija minha mão. Ficamos quietos por alguns minutos. Em plena paz, sem ninguém
para nos incomodar. Victor acaricia a minha barriga fazendo os bebês se agitarem. Eles fazem
muito isso quando meu irmão e o Arthur estão por perto.
— Você e o Arthur vão disputar quem será o tio mais querido!
Meu irmão revira os olhos e me ajuda a me levantar.
— Você tem que se arrumar. Não acredito que o Samuel ainda não veio atrás de você! —
Meu irmão me ajuda a arrumar meu vestido. Estou descalça, pois qualquer sapato machuca meus
pés e não dá pra ficar sentindo dor. Nem mesmo no dia do meu casamento. — Você está linda,
Vick! Linda demais! — Ele arruma meus cabelos e beija minha testa. —Obrigado por me deixar
levar você até o seu marido. Obrigado por não ter desistido de mim. — Os olhos castanhos de
meu irmão começam a marejar. Ele deixa cair uma lágrima solitária pelo seu rosto. — Você pode
estar criando uma nova família com o homem que te ama e cuida de você como merece, mas
lembre-se que eu estarei aqui sempre que precisar.
— Para. Lá vem você querendo me fazer chorar! Vou chamar a Nessa!
Ele ri e me abraça.
— Ela não pode te salvar sempre. Vem, vamos dançar, você me renegou essa noite, senhora
noiva.
Danço três músicas com o meu irmão até o que o padrinho do Sam aparece para a sua
dança. Entendi o motivo do Sam ter o Jonas como amigo e lhe confidenciar seus mais profundos
segredos. Mas foi uma grande surpresa para a sua família conhecer o único amigo de Sam
apenas no dia de seu casamento.
— Finalmente você fez do meu amigo um homem de respeito, mocinha. — Ele brinca quando
me roda pelo jardim. — Só tem uma coisa que não está certo nisso tudo.
— O quê?
— Nenhum de vocês dois tiveram uma despedida de solteiro! Isso é inadmissível.
— Quem disse que não tivemos? — Dou uma risada baixa. — A festa foi boa ontem!
Ele me gira mais uma vez e bate na minha bunda de brincadeira.
— Não vale! Ainda não acredito que vocês dormiram juntos no dia do casamento. Mas me
deixa falar sério agora. — Ele aperta minha mão levemente. — Estou feliz por vocês dois. Eu tinha
medo de que o meu amigo sempre levasse o mundo em suas costas. Obrigado por aparecer na
vida dele, Vick. Você foi a melhor coisa que poderia ter acontecido na vida do Sam.
Com suas palavras eu começo a querer chorar, mas consigo me controlar. Eu já chorei demais
hoje e não quero mais saber de nenhuma lágrima.
Sam aparece ao nosso lado e me puxa para perto dele.
— Certo, vai atrás de sua mulher, antes que ela convide algum pobre coitado para uma orgia.
— Não acho que o convidado seja um pobre coitado — digo indignada. — Acho que ele
seria um sortudo.
Meu marido me olha com cara de espanto, enquanto o Jonas me dá um sorriso de orgulho.
— Isso mesmo, Vick. Ajude o seu marido a descobrir as coisas boas da vida. Se me dão
licença, tenho que achar minha mulher.
Jonas sai e me deixa com o Sam. Grandão me vira para ele. Seus olhos estão brilhantes.
— Você está bem? — ele me pergunta quando coloca as mãos em minha barriga.
— Estou sim. E você?
Ele me abraça o quanto a minha barriga deixa. Suas mãos entrelaçam nas minhas, ele brinca
com o anel em meu dedo.
— Por que não estaria? Tenho tudo o que é de mais importante bem aqui.

Entrei em um acordo com o Sam sobre a nossa viagem de lua de mel. Uma semana e nada
mais, pois não queria perder a minha formatura. Consegui todas as minhas horas de estágio e no
momento em que entreguei a minha carga horária ao meu orientador, ele me deu um grande
sorriso e disse que sabia que me daria bem com Samuel.
Minha vontade foi de revirar os olhos e dizer que ele não sabe de nada. Mas apenas sorri e
disse que ele estava certo. Não vale a pena a dor de cabeça em ter que dizer como o meu
marido é uma coisa chata. Com as notas finais em mãos eu pude viajar com meu marido. Eu
abracei um panda. Samuel teve que me arrastar do viveiro pois queria ficar lá para sempre. Tem
coisa mais linda do que um panda? Não gente, não tem.
Tem sim, meu marido é um fofo quando ele quer.
Sam não me deixou ter os filhotes com a gente, dizendo que seriam muitos animais em casa
junto com dois recém-nascidos. Ele tem razão, então como o bom homem que ele é, conseguiu um
lar para cada um. O Arthur ficou com o Grandão e levou três dias para convencer Samuel a
deixar seu irmão ficar com ele. Chorei muito sempre que via um dos meus bebês indo para casa
com os seus novos pais. Mas Sam me prometeu que poderia vê-los sempre que pudéssemos.
Ele me convenceu quando disse que um dos bebês pode nascer com o mesmo problema
respiratório que ele teve quando pequeno e os gatos poderiam piorar a situação. Porém, eu
encontrei uma alternativa que deixou a nós dois felizes: eu ajudo uma ONG perto da minha antiga
casa. Sophie também ajuda, ela é louca por animais, e está sempre nos enviando remédios e
rações para os nossos filhotes. Até as meninas que eu e o Lucas cuidávamos no metrô conseguiram
um lar. Elas estão gordas e pedi que sua nova família maneirasse nas refeições.
Sam apenas riu e disse que é por essas minhas loucuras que ele me ama.
Ainda bem.
Capítulo 33
Isso foi o que eu sempre quis. Todos felizes e seguindo em paz. Acredito que
todos os meus sacrifícios valeram a pena.
Samuel

E stou começando a pensar em realizar a cirurgia de astigmatismo, pois acho que meus óculos
não estão funcionando mais. É a quarta vez que o limpo e não consigo saber o que está
diferente em meu pai.
Não é sua barba, já que ele nunca deixa passar de três dias. Mesmo com os plantões, ele
sempre dá um jeito de limpar seu rosto. Seus óculos de leitura também não são. Papai não está
magro. Ao contrário, ele parece mais forte de uns tempos para cá. Está cuidando pessoalmente do
quarto dos seus netos. Eu não tenho voz alguma quando se trata do novo cômodo da casa, ele e a
Docinho tomam conta de tudo.
— Só preciso que esses dois aí dentro nos ajudem hoje! — papai diz passando a mão
levemente pela enorme barriga da minha mulher. A cada dia, meus filhos crescem dentro dela e
ela fica mais linda, mas também muito limitada.
Já marcamos a sua cesariana. Carlos conseguiu me acalmar quando disse que nem ela e nem
os bebês correm risco. Mesmo Docinho sendo pequena, ela é forte o bastante para carregar dois
bebês com três quilos cada dentro dela.
— Você deve ir se arrumar, amor! — Abraço a minha mulher. — Quer que eu prepare seu
banho? — pergunto contra o seu pescoço, nem um pouco preocupado com a plateia.
— Eu adoraria, mas usei a banheira demais essa semana — ela diz risonha e então me olha
preocupada. — O que há de errado?
Olho pra ela sem entender o motivo da sua pergunta.
— Eu conheço essa expressão, você está intrigado com alguma coisa. O que é? — Ela suspira.
— Ainda preocupado com a decisão da cirurgia?
Aperto mais os meus braços ao redor dela.
— Não, Docinho. Está tudo bem. São umas coisas na minha cabeça.
Papai ri e termina de pendurar os porta-retratos na parede ao seu lado.
— Ele vai ser pai, Vick. Está mais ansioso do que você. E será pai de gêmeos. — Ele passa a
mão pelo cabelo e depois cruza os braços. — Essa preocupação fica por toda a vida, eu mesmo
ainda tenho isso. Não me importo se eles estão casados e com os meus netos a caminho. Eles são a
primeira e última coisa em que eu penso todos os dias.
— Eu sabia! — digo alto demais. Ambos me olhando intrigado quando digo isso.
— O que? — minha mulher pergunta ao meu lado.
Olho para a mão esquerda do meu pai. Eu sabia que ele estava diferente, apenas não
conseguia descobrir o que era.
— Você não está usando a sua aliança! — Meu tom não é de acusação, apenas de surpresa.
Meu pai nunca tirou a aliança de seu dedo. Nem mesmo para pequenas cirurgias que ele
realiza. Mas então de repente, ele está sem ela. Deixando tudo muito confuso para mim.
— Ahh! — Vick olha curiosa para meu pai, que está sem saber o que fazer. Tanto eu quanto a
minha esposa ficamos esperando algum tipo de resposta que não vem.
Papai termina de arrumar as coisas na sua caixa de fermentas. Espero pacientemente por sua
resposta.
— Isso incomoda você, filho? — pergunta baixo.
Vick beija meu braço e nos deixa sozinho. Dou a ela um sorriso de agradecimento, sabendo
que isso é entre nós dois.
— Claro que não, é sua vida, pai. Só que é estranho. Depois de tantos anos você de repente
a tira, é apenas... Estranho. Eu não estou querendo implicar. O senhor nem mesmo me deve uma
explicação sobre isso, pai. Só...
Papai me corta com uma risada. Não sei o que há de engraçado nisso tudo.
— Claro que eu te devo uma explicação, você é meu filho. O filho que está sempre
preocupado comigo. — Ele fecha sua caixa e se apoia na grade do berço. — Sabia que você
seria o único a perceber. E queria ter essa conversa com você assim que dissesse ao Arthur. Sente-
se filho, isso não vai ser nada fácil.
Eu me sento na poltrona que comprei para que a Victória possa amamentar os bebês
confortavelmente. Papai pega um pufe e senta ao meu lado.
— Você sabe que sua mãe sempre vai ser a mulher mais importante da minha vida. Eu a amei
e ainda a amo, mesmo depois de todos esses anos. Ela ocupa uma boa parte de meu coração. Ela
me deu vocês e nunca poderei agradecer por esse incrível presente. — Ele mexe em seu dedo em
que estava seu anel. — Eu tentei de todas as formas pedir que ela não continuasse, mas mãe e pai
são diferentes. Eu a tinha, tinha você e o Simon. Não precisava de mais nada. Mas ela insistiu. Ela
sempre colocou vocês acima de tudo. Eu ainda tinha esperança de que ela poderia ficar bem, mas
não foi o que aconteceu. Levei anos para aceitar que era uma decisão dela. Que Laura faria tudo
de novo sem pestanejar. Que nada do que aconteceu foi culpa minha. — Ele olha para frente e
vejo dor e remorso em seu rosto. — Ela se foi junto com sua irmã, mas nos deixou Arthur. Não
consigo pensar em um presente melhor do que esse.
Fico olhando para ele. Sentindo todos os tipos de emoção que há tempo eu não tinha ao que
se referia ao meu pai.
— Foi difícil demais sem ela e eu coloquei tudo isso em cima de você. — Ele me encara com o
olhar arrependido. — Você tinha apenas onze anos, Sam. E eu deixei que você cuidasse de tudo.
Não posso pedir perdão, porque é muita falha para ser perdoado. Mas eu vejo agora que você
tem algo mais importante. E é por isso que estou indo para Londres com o Simon. — As lágrimas
começam a cair pelo seu rosto. — O Arthur está vindo comigo e eu não vou aceitar a sua oposição
com isso, Sam. Estou pegando o meu filho como deveria ter feito há quinze anos. Não vai ser uma
separação fácil, ainda mais para ele. Mas o Arthur entende agora. Ele sabe que não podemos
continuar a ser dependente de você, quando você tem a sua própria família.
— Pai...
— Não, filho. Não há nada que possa fazer para mudar essas coisas — diz sério. — Já estou
preparando todos os documentos para você assumir a presidência. E eu não estou delirando muito
menos pensando rapidamente. Eu tenho refletido por
meses, e quando Vick apareceu em nossas vidas, eu sabia que deveria colocar as coisas em
ordem. Eu conversei com a Sophie e nós estaremos eu montando nosso próprio hospital em Londres.
Eu tenho toda minha herança guardada, já que não precisei mexer em nada, pois tenho o hospital.
A minha parte e a do seu irmão serão totalmente sua. O Arthur vai decidir o que fazer quando ele
for mais velho, mas com ele indo comigo, muito dificilmente vai ter algo para se preocupar. Ele
confia em você demais. Todos nós confiamos. Sei que você vai fazer a coisa certa.
Eu tento muito ser firme e aceitar que meu pai e os meus irmãos estão indo embora, mas é
demais para mim. Levo as mãos em meu rosto, sentindo o sentimento de abandono e culpa. Papai
se aproxima e me abraça meio sem jeito.
— Não estou abandonando você, filho. Estou te dando espaço para viver a sua vida. E
tentando arrumar a minha.
Eu estava me acostumando com Simon indo embora, mas perder minha família por completo
não é algo que eu possa superar de uma hora para outra. Fico com papai por horas e horas,
tentando entender o porquê dele estar fazendo isso.
— Certo, eu estava pronto para ir apenas para fazenda e ficar por lá até me cansar do
campo, mas eu não contava com ela. — Esse comentário me faz encará-lo. — Estou velho, filho.
Não morto. Eu gostei de Luiza e sei que ela não pode deixar Sophie, muito mais agora quando
minha neta está para nascer.
Papai começa a me dizer como ele caiu de amores pela governanta da minha amiga. Fico
feliz por ele tentar viver, mas é mesmo necessário ele ir para outro continente?
Pedi a ele um tempo para arrumar a minha cabeça. O ultrassom de hoje consegue aliviar um
pouco a dor do meu peito. Resolvemos ir todos juntos. Eu preciso arrumar meu horário o mais
rápido possível. Na verdade, eu preciso encontrar um supervisor para a minha ala o quanto antes.
Papai falou sério em me nomear presidente. Já que não temos uma diretoria a quem obedecer, ele
pode fazer isso quando quiser.
Penso nisso depois quando estiver com os meninos aqui. Eu sei que ele não vai nos deixar
assim facilmente. Não quando seus netos estão chegando. Ele é um avô coruja. Vai aproveitar cada
momento enquanto estiver aqui.
Sou o último a entrar na minha picape. Papai está dirigindo com o Arthur ao seu lado
enquanto estou atrás com as pernas de Victória em cima das minhas. Fico calado por toda a
viagem, não querendo falar nada que posso me arrepender depois. Docinho solta o seu cinto e
vem pra perto de mim.
— O que aconteceu?
Dou um leve aceno para ela, que percebe que não quero falar sobre isso agora. Ela coloca o
cinto de volta, mas fica grudada em mim, querendo me confortar. Pelo retrovisor encontro Arthur
me encarando. Ele me dá um sorriso triste, de quem diz que sente muito.
Ninguém sente mais do que eu.
Fazemos todo o caminho para o hospital em silêncio. Arthur me ajuda com a minha mala
enquanto pego Victória. Ela olha em meus olhos e sabe que tem algo me incomodando.
— Depois, Docinho! Eu só preciso ver nossos filhos nesse momento, depois eu te conto.
Ela aceita, mas meu irmão não.
— Sam!
— Agora não, Arthur — minha voz sai baixa.
— Mano!
— Agora não — eu peço a ele, que obedece. Isso não vai ser nada bom.
Não vai ser fácil superar a partida deles.
— Ele vai falar com você depois, Arthur. — Papai o leva com ele, deixando-me para trás.
Faço algumas coisas antes de ir até a ala de obstetrícia. Minha mulher está conversando com
papai e Arthur e sei que eles estão contando a ela a decisão que tomaram. Vejo a dor em seus
olhos, mas também sei que ela entende mais rápido do que eu.
— Só espero que vocês possam vir nos visitar. — Eu a ouço dizer baixinho. — Quem vai
ensinar os meus filhos a serem duas crianças travessas?
Isso faz Arthur relaxar um pouco.
— Eu, cunhada! Ninguém pode tomar essa missão de mim — Arthur diz solenemente.
Carlos aparece com uma bata branca para minha mulher.
— Que tal você me deixar dar uma olhadinha nos meus sobrinhos, hein?
Papai e Arthur nos esperam na sala, enquanto ajudo Docinho a colocar a bata. É difícil não
olhar para seu corpo e não querer entrar nela sempre que posso. Amarro seus cabelos e a levo
para a sala. Mas antes de chegarmos lá, ela para e me encara.
— Eu sei que você está magoado e sinto muito, mas é a decisão deles, Grandão. Não
podemos fazer nada a respeito disso. Só nos resta aproveitar cada minuto com eles ao nosso lado.
E mesmo que seja difícil para você, aproveite os dois.
Suspiro resignado.
— Eu não gosto disso.
Minha vida me abraça apertado.
— Eu também não, mas temos que aceitar. Agora vamos conhecer nossos filhos. O meu sogro e
cunhado meu prometeram uma tarde de compras depois de um grande almoço.
Carlos faz as medidas dos bebês, dizendo que está tudo bem.
— Olha só, eles nos ajudaram hoje — diz apontando com o laser para a enorme TV.
— Sério? — Docinho pergunta feliz. — Podemos saber?
— Claro, meu amor!
Carlos faz suspense demais, dando as medidas mais uma vez até que se apieda de todos.
— Bem, os dois estão com as pernas escancaradas e prontas para dizer que vocês que
podem comprar várias roupas de garotos. Parabéns mamãe e papai! São dois garotos grandes e
saudáveis.
Victória soluça e me puxa para abraçá-la. Ela não tem vergonha alguma em chorar contra o
meu peito.
— Obrigada! Obrigada, obrigada, obrigada!
Capítulo 34
Perfeito ou não, é o meu paraíso. As coisas que acontecem de repente, são
as mais perfeitas das que são planejadas por toda a vida.
Victória

— E stá pronta para eles, querida? — Sam está ao meu lado enquanto termina de arrumar
o lençol em cima de mim. Estou cansada. A anestesia me pegou de jeito junto com as
contrações iniciais.
Meu marido só saiu do meu lado para ver nossos filhos, mas quando me viu cansada demais,
ficou do meu lado e pediu para seu pai ver nossos filhos. Já aceitei essa sua escolha de me colocar
sempre em primeiro lugar. Ele estava chorando quando me pediu para descansar e que logo
estariam trazendo meus meninos para mim.
Mesmo sendo uma cirurgia cesariana, não foi nada fácil como meu cunhado disse. Senti dor e
ainda tive que me manter calma para não deixar Sam mais nervoso. Três dias anteriores a minha
cirurgia, ele mal pregou o olho. Ansioso e preocupado demais comigo. Mas conseguimos.
— Claro que estou. Eu quero os meus filhos.
Tudo do meu peito para baixo reclama quando me arrumo na cama. Sam ralha, mas não me
incomodo. Não consigo ficar quieta. A porta do quarto se abre. Meu sogro e cunhados trazem dois
carrinhos para dentro. Meus gêmeos, a minha mais nova razão de existir.
— Ei, pirulito! — Simon me chama piscando logo em seguida. — Pronta para esses dois?
Ainda tem tempo de fugir e deixar meu irmão cuidar de tudo!
— Até parece! Me dê eles.
Pego o que Simon segura e o meu marido pega o que está com seu pai e se senta ao meu
lado na cama. Meu coração parece triplicar de tamanho quando olho para os dois presentes da
vida na minha frente. Eles são lindos, gordinhos e morenos como o pai. Os dois têm cabelos negros,
e tenho certeza que seus olhos são negros também.
— Isso é injusto! — digo cheirando o bebê que está com o Grandão. Sam beija minha testa e
rindo, pergunta.
— O que, meu amor?
Faço um bico, mas continuo olhando com amor para o meu filho.
— Eu os carreguei por meses, sofri com tudo e faria de novo. — Olho para Sam. — E então
eles se parecem com você! Temos dois, ao menos um poderia ser parecido comigo. Não é nada
justo isso.
Todos os três homens começam a rir e então Arthur aparece como um furacão na sala. Ele está
esfregando as mãos, e pelo cheiro, sei que é álcool em gel. Ele não liga nem mesmo para o seu
pai. Vem até o outro lado da cama que está vazio e olha alternadamente entre bebê em meus
braços e o que está nos braços de seu irmão. Ele não fala nada, apenas chora silenciosamente. Ele
beija, cheira o cabelo dos dois bebês e se afasta.
Ele fez isso quando a filha do Simon nasceu. Laura chegou mais cedo do que prevíamos. Foi
um parto fácil, mesmo que assustador por ter sido cedo. Ela é uma menina linda e cheia de
energia. Arthur foi o primeiro a segurá-la depois de seus pais. Ele pediu isso a Simon e seu irmão
deixou. E ele está fazendo isso de novo.
— Aqui, querido! — Coloco o bebê em seus braços com cuidado. Ele já é um expert nesse
assunto. Sam me abraça e descanso minha cabeça em seu peito enquanto seguro a mão do meu
outro bebê.
— Como vamos chamá-lo? — Simon pergunta curioso.
Já escolhemos os nomes desde que descobrimos os sexos deles. Apenas mantivemos em
segredo.
— O Arthur está segurando Benjamin — digo agarrando a mão do meu marido. Sam brinca
com a minha aliança e sorri quando vê a tatuagem de seu nome por debaixo do anel. Fizemos isso
quando chegamos depois de nossa viagem para a Europa, cortesia da nossa rica e poderosa
cunhada.
— Ei, Ben! — Meu cunhado brinca com seu sobrinho. Enquanto seu pai coloca o nome em sua
pulseira.
— Ele é o mais velho por dois minutos — meu sogro comenta.
— Oh! Então eu acertei — digo sorrindo. — Benjamin é para o mais velho. — Olho para o
outro bebê. — E esse lindinho aqui é o Felipe.
Sam sai da cama e vai até o seu pai, que escreve o nome na pulseira.
— Pai, falta incluir o seu nome — Sam comenta. Sandoval olha para ele curioso e sem
entender.
— Felipe Sandoval. É o nome desse pequeno.
Nunca pensei que veria meu sogro chorar na minha vida. Ele é como o Sam, quase
impenetrável em alguns momentos. Ele coloca o nome na pulseira e abraça seu filho. Pega seu neto
nos braços. Está na cara que eles puxaram ao pai, ambos estão quietos e ainda não abriram a
boca para nenhum tipo de som.
Mas a tranquilidade durou pouco, e quando um abriu o berro, o outro se juntou a ele. Sam me
ajuda a alimentá-los e a colocá-los para dormir. Então diz que vai sair por apenas uma hora.
— Papai vai ficar com você. Eu não vou muito longe, querida. — Ele me beija. — Amo você!
Sorrio para ele e beijo sua aliança.
— Também amo você.
Meu sogro decidiu que é melhor que eu durma, pois ainda tenho restos da anestesia em meu
sistema. Ele fica ao meu lado observando seus netos quietos. E então fica olhando para o anel de
noivado que Sam me deu.
Em nossa viagem, Sam me contou que esse foi o anel de casamento de sua mãe e que ela lhe
deu para quando estava prestes a ter o Arthur. Eu não gosto de como todos lidaram com o que
houve, mas isso não é assunto meu. Tenho apenas que aceitar e ficar quieta quando se trata disso.
Olhando para meus filhos, eu sorrio da forma mais idiota do mundo por estar mais do que
realizada nesse momento. Eu tenho coisas que não imaginaria que iria acontecer em tão pouco
tempo. Não poderia estar mais agradecida por tudo isso. Tenho certeza que nunca vou parar de
agradecer por todas essas benções. Meu sogro me olha e sorri.
— O que há com vocês mulheres que quando colocam um bebê ao mundo, ficam mais lindas?
Sorrio de volta.
— Sãos os filhos que fazem isso.
Ele sorri e volta a olhar para os seus netos.

É impossível não recordar que há alguns anos, eu estava tendo meu primeiro par de gêmeos e
que apenas três anos depois, eu estaria tendo mais dois meninos lindos. Não sei o que houve, mas
sei que quase enfartei quando descobri que estava grávida. Quando descobri que estava grávida
de gêmeos novamente, eu gritei com o Samuel.
Demorou dias para falar com ele. Coloquei a culpa nos hormônios e ele aceitou, mas sei que
ele viu o medo em meus olhos.
Estávamos pensando em mais um filho quando percebi que estava grávida. Havíamos
conversado por alto, mas deixamos de lado, pois Benjamin e Felipe ainda eram pequenos demais
para ter a atenção dividida. Mas aconteceu. Contei ao meu marido que estava com medo de não
conseguir. Mas como sempre, o meu Grandão consegue fazer tudo parecer fácil. Não que os meus
meninos sejam difíceis. Está para nascer meninos mais perfeitos do que o Ben e o Lipe. Com apenas
três anos de idade, eles estavam na creche e faziam de tudo. Eles não largam o pai por nada.
Desde quando começaram a andar, esperam seu pai para tomar banho com ele. É uma festa
sempre que os três estão no banho e como eu previa, o segundo par de gêmeos age do mesmo
jeito com o Samuel.
Agora, Natan e Pedro estão com seis anos de idade e são como os irmãos mais velhos, calmos
e fáceis de lidar. Com uma gestação de oito meses, mais uma cesárea e um pós-parto mais difícil,
os dois saíram a cara do pai novamente. Se não fosse pelos três anos de diferença, eu diria que
os garotos são quadrigêmeos. Mesmo sendo as duas gestações de dizigóticos, eles são muito
parecidos um com o outro. Bem e Lipe me ajudam a cuida do Natan e do Pedro a toda hora. Algo
que eu sei que eles aprenderam com o pai.
Meu Deus! Nunca pensei que poderia ter mais amor pelo meu marido. Bem, e tesão em triplo
também, já que os hormônios dessa gravidez estão muito mais forte do que das duas anteriores.
— Como estão as três mulheres mais lindas desse mundo? — Ben caminha até mim e esfrega
minha barriga antes de beijar minha cabeça.
Ele tem apenas nove anos, mas é alto demais para o meu gosto. E é uma cópia exata de seu
pai quando se trata de cuidados comigo. Ele e o Felipe estão sempre ao meu lado querendo saber
se está tudo bem. Amo tudo isso, mas eu não quero que eles sejam como o pai que perderam a
infância para ter que cuidar das coisas.
— Mãe, tem alguma coisa para comer? — Felipe aparece na cozinha e abre a geladeira. —
Eu tô morrendo de fome e o pai não quis me comprar nenhum doce. O tio Arth faz falta!
Ele resmunga algo como “pai chato” enquanto procura algo.
O Arthur ficou com a gente no seu período de férias. Ele vem aqui, estraga meus filhos e vai
embora. Todo ano é o mesmo ritual, mas não posso deixar de amar aquele garoto. Bem, aquele
homem. Meu cunhado não é mais um garoto. Meu mais novo pediatra favorito é um homem lindo e
famoso em Londres, que está ajudando o Simon e seu pai no hospital que eles possuem na cidade.
Estou completamente orgulhosa dele e o Sam está nas nuvens em ver o quanto o seu irmão
cresceu. Bem, ele é uma coisa irritante ainda, mas nada do que ele era antes. Ele sempre terá um
jeito de meninão, não importa o quão crescido o Arthur seja.
— Está quase pronto, filho. Mas vá tomar banho antes de jantar e ajude o pai de vocês com o
Natan e o Pedro quando eles chegarem da escola, por favor — grito a última parte já que ambos
estão correndo para o quarto deles.
Termino o molho e coloco tudo em cima da mesa. Assim que sinto o cheiro de tomate, as
meninas dentro de mim se agitam. Elas se mexem demais, mais do que seus irmãos.
— Espero que vocês sejam tão fáceis aqui fora enquanto estão sendo aí dentro.
Os meninos eram agitados, mas não aqui fora. Espero que as duas sejam da mesma forma.
Sento-me com os pés na cadeira e suspiro alto. Falta apenas um mês para que as meninas venham
ao mundo. Meu sogro está vindo me ver com a madrasta de Sam. Eles sempre ficam conosco por
um mês ajudando com os meninos e sei que vai ser da mesma maneira com as meninas.
Meu sogro está nas alturas, mesmo que ainda diga que somos um caso a ser estudado sobre
três gestações de gêmeos seguidas. Mas a genética é algo muito complexo. Então, nos resta
aceitar a vida.
E francamente, eu estava me sentindo sozinha em meio de cinco homens. Eu amo os meus
meninos. Adoro ser a grande mulher que eles amam e protegem, mas torcia por uma garotinha com
quem eu pudesse passar horas e horas brincando e mimando. Só peço mais uma vez que elas não
puxem ao pai. Isso vai partir o meu coração.
Grandes mãos massageiam meus ombros, fazendo-me gemer. Grandão solta meus cabelos e
massageia meu couro cabeludo. Ele desce a alça do meu sutiã e beija a marca que a alça fez. Sua
língua faz uma viagem do ombro até o meu pescoço. Fecho meus olhos e gemo quando ele beija
logo abaixo da minha orelha.
— Nada de gemido, Docinho. — Ele suga a pele sensível me fazendo me contorcer na
cadeira. Meus peitos ficam mais pesados ainda e nem preciso me tocar para saber que estou
molhada e pronta para ele. — Os gêmeos 2 estão chegando...
— Eca! Que nojo! — Aperto as minhas pernas para conter a excitação que eu tenho por culpa
do meu marido. — Pai! Não, não!
Natan e Pedro aparecem na cozinha, tirando o seu pai de perto de mim e ficando cada um
ao meu lado. Eles levantam minha camisa de renda e beijam minha barriga redonda. É o ritual
deles. Sempre fazem isso quando chegam em casa da escola.
— Oi, meninas! — eles dizem e depois me beijam. — Oi, mamãe! — E então, vão correndo
para o quarto tomar banho, me deixando com o meu marido.
— Como passou o dia? — sua pergunta habitual não me surpreende. Mas hoje eu sei que é
necessária, pois é meu primeiro dia de licença do hospital, já que falta apenas um mês para as
meninas nascerem. E hoje, a minha irmã não pode ficar comigo, já que a Didi está doente. E o
Victor não conseguiu voltar de Campinas essa semana.
— Tudo bem, amor! O Arthur ligou, apenas para me monitorar. Ele não está feliz que seu pai
pode vir ficar com a gente e ele não.
Samuel ri e começa a tirar o seu casaco. É um belo show. Ele sabe o que está fazendo e sabe
que estou adorando isso. A sua blusa social quase rasga quando ele termina de tirar o casaco. Seu
peito duro é perfeitamente visível, seus braços fortes por pouco não rasgam as mangas. Ele desfaz
os botões da manga e se despe lentamente.
Mordo o lábio quando tenho a perfeita visão de seu abdome. Ele tem alguns pelos abaixo de
seu umbigo, mas o que me deixa louca é a tatuagem em suas costelas. Quem diria que meu cara
certinho e cheio de regras, teria uma tatuagem. Cinco tatuagens, para ser exata. A sua primeira foi
feita na lua de mel. Nós escrevemos nosso nome no dedo anelar, bem debaixo de onde estão
nossas alianças. Meses depois, ele me surpreendeu quando gravou o choro de nossos filhos e
tatuou as ondas sonoras deles em suas costelas. Ele fez isso por cada um de nossos filhos e já está
se preparando para fazer os das meninas.
Sempre que olho para essas marcas, vejo o quanto o nosso amor cresceu em todos esses anos.
E como ele se multiplica a cada dia.
— Eu te amo! — digo. Porque é a verdade.
Meu Grandão sorri e me ajuda a levantar.
— Vamos tomar um banho? — ele pergunta, mas já me tem em seu colo.
Ele me leva para cima sem nenhum esforço. Deito minha cabeça em seu peito e sei que tudo
está mais do que perfeito no mundo inteiro.

São uma e quinze da manhã quando o telefone começa a tocar.
— Deixa comigo! — meu marido diz quando sente que estou indo atender. Ele estica seu
enorme braço e pega o aparelho. Agarro mais o meu travesseiro minhocão que ganhei da minha
irmã. Ele ajuda muito com a dor nos quadris, mas deixa meu marido chateado com estou com ele
na cama.
Estou quase caindo no sono quando Samuel simplesmente pula da cama e começa a andar de
um lado para o outro. Ele xinga com o telefone ainda em sua orelha começa a arrumar a sua
mala.
— Certo, eu te ligo quando estiver no aeroporto.
— O que aconteceu? Seu pai está bem? — Meu coração começa a bater rápido demais. Ao
perceber minha ansiedade, Samuel senta-se ao meu lado para me acalmar.
— Shhh, desculpe te assustar Docinho. — Ele beija minha boca. — Papai está bem, todos
estão bem, mas aconteceu alguma coisa com uma pessoa importante para a Luiza e eu sou a
pessoa que posso chegar a Belo Horizonte mais depressa. — Ele volta a arrumar sua mala. —
Diones está vindo ficar com vocês, papai, Luiza e Simon estão vindo para cá. Diones vai ficar com
vocês até eu voltar...
— Grandão! O que? Eu não gosto disso, eu...
Ele para o que está fazendo e volta para mim.
— Eu sei amor, eu sei. Mas papai precisa de mim. Serão apenas dois dias, eu prometo a você.
Aceno concordando com ele, mas meu peito dói. Não porque ele está indo para longe, mas
por causa de uma sensação de que as coisas vão mudar muito com essa viagem.
Não posso ir com ele até o aeroporto, mas ele se despede dos meninos, pedindo que eles
tomem conta de mim. Ben percebe que seu pai está preocupado em nos deixar, e garante a ele
que vai tomar conta de tudo. Meu marido não esconde o orgulho que sentiu de seu filho quando
ouviu isso.
— Me ligue quando chegar lá — peço, arrumando o seu casaco.
— Volte a dormir, querida.
Concordo, mas nós dois sabemos que eu não vou conseguir.
Diferente de mim, os meninos voltam para a cama. Diones fica no antigo quarto de Arthur. Não
nos desfizemos dele, pois, meu cunhado está aqui todo o ano. Fico vendo o dia amanhecer pedindo
a Deus que o quer que tenha acontecido, seja reversível.

Eu consigo lidar sozinha com os quatro meninos, mas não consigo lidar com a saudade do meu
marido. Sam viajou há três dias e ainda não tem previsão de volta. Não falei com ele hoje e estou
ficando preocupada. Sophie me liga constantemente, dando ou perguntando por informações. Se
ela, que é a toda poderosa da família não consegue informações, como eu vou conseguir?
Diones é um amor e me ajuda com os meninos, mas meus filhos estão sentindo a falta do pai
deles. Nunca ficamos longe mais do que um dia. Sam deixou de participar de Congressos por
conta disso. Ele não consegue mais ficar longe de casa e sei que ele está da mesma forma nesse
momento.
Ouço um carro chegar à nossa garagem. Diones chegou cedo. Ele está trazendo almoço e
jantar. Sam deixou claro para que ele que não posso mais fazer nenhum tipo de esforço e isso
inclui cozinhar.
— Victória?
A voz do meu marido me causa um arrepio. Levanto o mais rápido que minha barriga deixa e
vou até ele. Sam me pega no colo e me beija com saudade. Minhas mãos estão em seus cabelos
em segundos e suas mãos em minha bunda, onde seu aperto acende a chama de desejo dentro de
mim.
Ele me solta com agonia.
— Senti a sua falta! — digo o agarrando contra mim.
— Eu também, meu amor. Docinho... Sei que não é momento para receber ninguém, mas ela
vai precisar da gente.
Ele dá um passo para o lado e consigo ver o Simon entrando com uma menina loira em uma
cadeira de rodas. Ela está com a perna engessada assim como o seu braço. Escoriações por todo
o seu rosto e ela parece muito magra.
Meu coração se aperta quando vejo dor e medo em seus olhos. Sam aperta minha mão
quando soluço ao seu lado.
— Bea, querida. Essa é minha esposa. — Sam se aproxima dela e se agacha ao seu lado.
— Docinho? — ela pergunta com a voz grave. Está muito machucada.
— Ela mesma. Vem aqui, amor — ele me chama e vou até ela. — Ela vai me ajudar a cuidar
de você.
Encontro os olhos cinza da menina. Ela é linda.
— Oi! — digo me aproximando mais da menina. Pela forma que Sam está lidando com ela, eu
sei que ela tem medo de pessoas desconhecidas.
— Oi! — ela me responde hesitante. — Posso? — ela diz apontando para a minha barriga.
— Claro! — Ela levanta a sua mão boa e acaricia minha barriga. Minhas filhas começam a
dançar com o contato e isso tira um enorme sorriso da menina.
Sam aperta minha cintura e beija minha barriga. Ele me dá um enorme sorriso, mas vejo em
seus olhos muita angústia.
Essa menina é linda, mas eu sei que a sua história não é a mesma coisa.
Epílogo
Obrigado por ter me dado a verdadeira razão de viver.
Samuel

E stou me esgueirando mais uma vez e a minha mulher nem mesmo percebe. Ela sabe como eu
adoro o seu ritual do banho depois do trabalho. Hoje foi seu dia de sair cedo do trabalho
para pegar os meninos na aula de futebol. Então, ela aproveita que as gêmeas estão vindo da
aula de balé para relaxar na banheira. Mas não é o que ela vai fazer hoje.
Mas por enquanto, vou aproveitar o show.
Três gravidezes de gêmeos e ela ainda continua a coisa mais gostosa desse mundo. Seus
quadris mais volumosos, seus seios muito mais fartos, suas pernas bem torneadas depois que
começou a nadar comigo depois que as crianças vão dormir. Bem, não é apenas nadar. Depois de
alguns minutos, eu a pego contra a parte mais funda da piscina e faço amor com ela até que ela
não consiga mais gozar.
Decidimos que estaríamos fechando o ciclo de procriação. Em dez anos, seis filhos são o
bastante. Sei que posso com mais, porém, estaríamos dividindo mais a atenção que eles têm.
Damos conta. Nossa equipe é bem organizada. Não há nada mais perfeito no mundo do que
a união que nosso pequeno time tem. Para quem pensou que não estaria tendo nem mesmo uma
pessoa com quem dividir o futuro, fico admirado ao me dar conta de que tenho sete pessoas que
multiplicam o amor de dentro de mim. Cada dia que se passa aprendo e descubro o quanto eu sou
capaz de me superar quando se trata da minha família.
— Você vai entrar aqui, ou vai ficar apenas olhando? — A voz da minha mulher me tira do
momento de reflexão e me traz de volta, diretamente para o seu corpo. Todo o meu sangue ferve
em questão de segundos quando ela deixa cair o roupão de seda preta que sempre peço para
ela usar. Nada fica mais incrível do que a Docinho usando cores escuras.
Ela caminha na minha direção e fecha a porta do banheiro. O vapor da água quente embaça
as lentes dos meus óculos e ela os tira sem nenhuma pressa. Coloca em cima do balcão e começa a
tirar minhas roupas. Ela faz todo o trabalho olhando para mim.
— Seu irmão fez boa viagem? — pergunto quando ela se desfaz do meu cinto. Dou um passo
para trás, me livrando da roupa.
— Não quero falar do meu irmão — diz agarrando meu pau por cima da cueca. — Mas sim,
ele chegou bem. Quer levar os meninos esse fim de semana para acampar. — Ela fica nas pontas
dos pés e começa a beijar meu peito e meu pescoço. Não consigo aguentar e agarro a sua bunda.
Docinho enrola as suas pernas em volta de minha cintura. — E eu já deixei.
Vou com ela em meus braços até a banheira. Assim que entramos, água transborda por todos
os lados.
— Sem me consultar? — Arqueio uma sobrancelha em questionamento. Minha mulher bate os
cílios inocentemente, mas não funciona comigo.
— Os meninos estavam esperando por isso há meses, não faça isso com eles. Além do mais,
Carlos vai com eles e vou poder ficar com minha irmã.
Deixo o assunto de lado quando ela começa a beijar o meu queixo. Seus dentes beliscando a
pele do meu pescoço. Victória geme quando sente meu pau endurecer contra o seu traseiro
delicioso. Deus não poderia ter me dado mulher melhor. Docinho não se intimida em nada comigo,
seja na rua ou na cama. Ela aceita tudo o que proponho e ainda me cobra quando não sigo o seu
ritmo.
Minhas mãos vão diretamente para seus peitos onde brinco com seus mamilos endurecidos.
Mesmo com os três anos das nossas gêmeas, ela ainda continua com seios fartos e deliciosos.
Ela começa a se esfregar no meu pau duro.
Agarro seus quadris e desço-a por todo meu pau. Ela joga a cabeça no meu ombro. O
movimento desfazendo o penteado de seus cabelos. Tenciono as minhas coxas para não gozar
rápido demais.
Suas mãos encontram as minhas e então ela começa a se mover. Victória rebola em cima de
mim. Sua pequena boceta me apertando e me sugando com necessidade única. Agarro as bordas
da banheira, tendo a melhor visão desse mundo. Minha mulher me montando.
Ela se move com perfeição, até que eu não posso mais aguentar.
Eu me levanto ainda dentro dela e então a coloco de quatro.
— Segure-se!
Ela geme, mas faz o que eu mando. Alcanço a gaveta do balcão e pego o vibrador que ela
nos comprou. Como eu disse, ela é mais do que perfeita para mim. Esvazio um pouco a banheira,
deixando a água em volta da minha coxa. Acaricio as costas da minha mulher, fazendo com que
ela estremeça. Beijo sua pele e abro as suas pernas. Docinho geme em antecipação quando ouve o
barulho do vibrador. Ela adora isso tanto quanto eu.
— Chupe! — coloco o vibrador em sua boca e ela faz um trabalho perfeito, chupando e
sugando o plástico como se tivesse fome dele. Meu pau fica mais duro vendo o quanto ela está
tarada nesse momento. Ela larga o vibrador e envolve meu pau com sua delicada mão.
— Quero esse.
Sorrio com a sua safadeza se mostrando.
— Você vai ter.
Levo meu dedo até a sua boceta encharcada e espalho todo seu líquido pela sua boceta e
indo até a sua bunda. Ela ofega quando insiro dois dedos em sua bunda. Ela me aceita sem
nenhuma reserva.
— Você é tão gostosa, querida! — Ligo o vibrador e coloco lentamente em sua boceta.
Victória agarra com mais força a borda da banheira e empina a sua linda bunda para mim
em um convite silencioso. E eu aceito. Começo a entrar nela. Lentamente ela me acolhe e logo estou
inteiro em seu corpo.
Docinho geme, quando começo a mover o vibrador dentro de sua boceta. Ela se mexe de
acordo com meus impulsos.
Depois disso é apenas loucura, gemidos e palavrões quando não conseguimos mais aguentar.
Saio de sua bunda e jogo o vibrador de lado. Entro em sua carne sensível de uma só vez.
Movo meus quadris à medida que ela me aperta mais e mais...

E por mais que tenha pensado que seria difícil cuidar do hospital sozinho, não foi nem um
pouco estressante. Papai sempre soube o que estava fazendo. O Simon me deixou a sua parte,
mas fiz questão de comprar a parte de Arthur que também era metade da de nossa mãe. Victória
ficou ao meu lado quando conversei com meu irmão mais novo. O Arthur queria deixar tudo para
mim, mas eu não poderia fazer isso. Foi um trabalho dos nossos pais e era dele por direito.
No final ele aceitou.
Arthur não é fácil quando ele quer ser certinho.
— Você falou com seu pai hoje? — Docinho me pergunta quando termina de arrumar os
pratos em cima da mesa. Os meninos estão terminando de se arrumar e Bea está ajudando as
gêmeas com o cabelo.
— Sim, e eu não sei se ela está pronta.
Papai aceitou o fato de Bea, a sua filha adotiva, ficar comigo em vez de ir para Londres.
Conectamos-nos automaticamente.
Sua chegada em nossa vida foi uma loucura. Estava descansando com minha mulher nos meus
braços e de repente estava em Belo Horizonte resgatando a sobrinha desconhecida da minha
madrasta Luiza. Beatriz é um anjo machucado que chegou à nossas vidas para mudar muita coisa.
A ideia original seria eu ficar com ela até o papai e o Simon chegarem ao hospital, mas tanto
quanto eu não queria deixá-la, ela não permitiu que ninguém mais se aproximasse dela. Nem
mesmo a sua tia.
Fiquei com ela até a sua transferência para casa. Nada foi fácil para essa menina, mas
nesses dois anos aqui, conseguimos mudar muito a sua forma de viver.
Os meninos a amam, e minhas filhas a devotam com todo o amor. Bea é uma garota que
parece conquistar todos ao seu redor. Com dezenove anos, ela é independente e tão mal
humorada quanto se pode ser; menos conosco.
— Papai sabe a minha resposta! — Bea aparece só de top de malhação com um short de
futebol. — Não se preocupe, mano. Você ainda vai ter muito trabalho comigo. — Ela se aproxima
e me beija. E olha para a comida em cima da mesa. — E mesmo se fosse, ele iria se decepcionar. É
mais fácil ficar com o Arthur do que na casa deles.
De fato é. O papai não sabe nada sobre cuidar de uma menina de dezenove anos que é
coberta por tatuagens e piercings e sai todos os fins de semana para qualquer festa que é
convidada.
Tanto eu como Simon e Arthur, aceitamos Bea em nossas vidas. Ela é essa menina esperta e
brilhante, mas que está passando por problemas. Bea pode sorrir para mim e minha família, mas se
retraí quando o assunto é novas pessoas. Esse é um dos motivos para que ela fique aqui comigo.
Londres é totalmente desconhecida por ela. Papai e Luiza fizeram todo o processo de adoção.
Sophie mexeu muitos pauzinhos e tudo saiu em dois dias. Então nós tínhamos a mais nova Hamilton
na família. A recuperação de Bea depois do acidente não foi tão fácil. O Franklin me ajudou muito,
já que Victória estava com as gêmeas ainda pequenas. Foram meses bem difíceis, mas
conseguimos.
Papai queria que ela morasse, mas Bea implorou para ficar comigo. Acho que Bea é a irmã
que a vida se encarregou de me dar. Após a recomendação do psicológico, que nos informou que
a Bea precisava se sentir no controle da própria vida, papai aceitou o fato de que ela moraria
comigo. Ainda não consigo medir a força que essa menina tem.
Ela é a pessoa mais forte que eu já coloquei meus olhos.
Ela passa por mim, mas puxo para um abraço. Ela retribui e faz manha para minha mulher.
— As vantagens de ser a irmã mais nova. Posso fazer tudo e nem levo bronca.
Victória ri e chama os meninos para o jantar.
— Sabe que mesmo que eu te ame e queira que esteja ao meu lado, eu vou te apoiar em
qualquer decisão que você queira tomar, certo? — digo para a minha irmã.
Seus olhos brilham compreendendo que eu digo a verdade.
— Eu sei, mas é como eu disse ao papai, eu ainda não estou pronta para uma mudança assim.
Então me ature!
Assim como nós a aceitamos, ela fez o mesmo. Ela diz que adora ter três irmãos supermodelos.
Bem, olhando por esse lado, tudo se encaixa. Ela é alta e tem uma postura arrogante que assusta
algumas pessoas. A única coisa que denuncia que a sua genética é diferente da nossa, são os seus
cabelos loiros e os olhos cinza. Toda a sua postura é de uma autêntica Hamilton
Vejo os gêmeos 1 chegarem com as gêmeas 3. Nina e Iza são os presentes mais lindos desse
mundo. E a justiça de sua mãe, como Bea as apelidou. Minha mulher reclamou demais sobre os
meninos serem a minha cópia.
Assim como ela teve sua justiça, eu descobri o meu calvário. Minhas filhas são lindas e já
recrutei seus irmão e tios para me ajudarem com isso.
— Ah, o retrato chegou! — Bea pula alegremente para cima e para baixo. — Está na sala,
venham ver.
Ela está muito feliz com essa imagem que registramos há duas semanas. Eu gostei da ideia.
Minha mulher... Bem, ela foi bem chata sobre isso. Mas aceitou, pois Bea insistiu bastante.
O quadro é enorme.
— Eu disse que ficaria bom! — Bea diz ao meu lado.
Docinho para do meu outro lado e me abraça. Ela está rindo para a imagem divertida que
está na nossa frente.
Eu e os meninos estamos em pé. Estou com o meu terno cinza com os braços cruzados. Os
gêmeos 1 estão com os instrumentos de seus esportes favoritos. Ben com seu taco de beisebol e
Lipe com seu taco de hóquei com uma placa escrito “Não”. Os Gêmeos dois estão ao lado. Natan
com as suas luvas de boxe penduradas em seus ombros, e o Pedro vestindo seu quimono de jiu jitsu
segurando outra placa, onde escrito “Mexa”.
E no chão sentadas sobre um cobertor roxo vestidas com seus roupas de balé, estão as
gêmeas 3, Iza e Nina. Uma placa ao lado delas a palavra “Com elas”.
A imagem deixando claro o que vão receber caso alguém tente de alguma forma machucar
as meninas dessa família.
Os meninos estão discutindo sobre qual deles é o maior e o mais forte. Digo para eles
voltarem para a mesa e todos correm para seus lugares, sem nenhuma reclamação, inclusive da
Bea.
Docinho fica na minha frente e sorri. Aquele sorriso que me deixava amedrontado e que
agora só me faz amá-la ainda mais.
— Obrigado! — digo com todo o amor em meu peito.
Ela beija minha aliança e diz.
— Obrigada por ser meu!
Playlist
É você – Marisa Monte
Amor Puro – Djavan
Me Desculpa por Te Amar Demais – Ivo Mozart
Acima do Sol – Skank
A canção que faltava – Isabella Taviane
Luxúria – Isabella Taviane
Eu que Não Amo Você – Engenheiros do Hawaii.
Como Eu Quero – Kid Abelha
Deixo – Ivete Sangalo
Never Is A Long Time – Roxette
Mirrors – Justin Timberlake
Vivo por Ella – Andrea Bocelli
Talking To The Moon – Bruno Mars
Close Your Eyes – Michael Bublé
Everything - Michael Bublé (Música que Samuel canta para Victória).
Hallelujah – Cover Pentatonix
Bang Bang – Jessie J. Feat. Ariana Grande, Nicki Minaj
Love Me Harder – Ariana Grande Feat. The Weeknd
Agradecimentos
A Deus acima de tudo, por me conceder esse amor pela escrita. Por me dar força quando eu
preciso e sempre me amparando quando eu mais preciso.
A minha família, que como sempre, ainda não entende a necessidade de não ser incomodada.
Mas eu entendo, vocês querem saber se eu estou viva ou não. Obrigada pelos lanches da tarde e
as jantas no quarto quando estou concentrada demais para lembrar de comer.
As minhas amigas, betas, irmãs, flores da minha vida: Carol, Drícia, Duda, Gabi, Maiza, Mila,
Virna, Renata. Por estarem comigo em todos esses anos. Desde quando comecei até agora e para
sempre. Vocês sabem que fazem parte de tudo isso. Há muito tempo deixou de ser os livros, já é
muito mais do que isso, é uma amizade que a cada dia se fortalece mais e mais. Mesmo com as
nossas loucuras e brigas. Amo vocês de montão e crescendo...
Thais Lopes.... Meu Deus! Eu consegui mulher. PQP! Sério! Tô chorando aqui!! – Surto necessário
– Ela me atura muito, muito mais do que a mim mesma. Surta comigo, puxa a orelha, xinga mesmo e
não ta nem ai se eu vou ficar emburrada ou não. Entende minhas loucuras e me apoia, sem querer
saber se vai dar merda ou não. Essa é a louca da minha vida. Te amo – mesmo ela odiando isso.
A minha Olívia – Liv, por ter a maior paciência do mundo – Tão pisciana quanto eu –
Obrigada por todo o apoio, pelas tiradas de dúvidas, pesquisas e madrugadas comigo me
ajudando nesse mundo da fisioterapia. Vocês são anjos, sempre digo isso. Você um presente da
vida. Mesmo quando tentou me embebedar em SP, pensa que eu esqueci? Claro que não.
As minhas dramáticas únicas: Kami, Marta, Míddian e Sara. Por me aturarem constantemente e
serem essas pessoas especiais em minha vida. Que o amor pelos livros trouxe, e a vida do jeito
louco, fez ficar para sempre. Amo vocês.
As meninas do WhatsApp, sempre me apoiando e me pedindo por mais do Grandão e da
Docinho....
Docinho e Grandão nos deixou aqui, espero que tenham se apaixonado por eles assim como
eu fiz. Serei eternamente apaixonada pelos dois.
Que venha....
Vinicius e Beatriz....
Próximo Lançamento
Luxúria Avassaladora Vol. 03

A vida nem sempre é fácil e Beatriz Hamilton sabe muito bem disso. Ela não fez nada além de
sobreviver sozinha por dezoito anos. E mesmo que as coisas sejam fáceis nesse momento, não está
sendo fácil para ela. Ser a filha mais nova e adotiva de três irmãos que a amam com toda a vida,
não ajudou muito com o que viveu antes de ter todo a sua vida virada de cabeça para baixo.
Quando pensou que estava sozinha no mundo, quatro homens e uma linda senhora aparecem em
sua vida. Cuidando dela como ninguém mais fez. Então houve a sua mudança de país, onde ela
acabou encontrando um moreno atraente que lhe tira do sério e a ar.
Vinicius Galeone é um verdadeiro playboy. Herdeiro de muitas das valiosas corporações de
todo o mundo, lindo, atraente e com uma boca suja incrivelmente sedutora. Ele tem tudo o que
precisa: Amor, respeito e muitas mulheres dispostas para tê-lo em sua cama.
Menos da pequena loira de lindos olhos cinzas, que chegou de repente em sua vida. Ele
percebe que nem tudo é tão incrível como ele sempre pensou. Nunca pensou que ser ele, afastaria
a loira que ele quer muito perto.
Vinicius é tudo o que Beatriz sempre fugiu.
Ela está disposta a fugir dele.
Ele está disposto a mostrar que pode mudar por ela
Outras Obras
SÉRIE OS HAMILTONS
Sem Regras – Introdução da Série
Marcada Por Você – Livro 1

LIVROS ÚNICOS
Entre No Jogo
Fora de Si
Ouvindo Você
Sobre a Autora
Tatiana Pinheiro: Lady Sith non grata – Desde 1993
Pisciana com um alto nível de safadeza, nerd assumida, apaixonada pelo capitão América e
cheia de manias estranhas. Mãe de um cachorro alien, que vive mordendo o pé da sua cama.

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