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O VIVER E O MORRER –

Dois lados da
mesma viagem
SUMÁRIO

1. Introdução ..................................................................................................... 1
1.1 O Viver e o Morrer – Perspectiva Espírita .................................................. 1
1.2 A Terminalidade da Vida – Associação Médico Espírita/Brasil ................ 6
1.3 O Desencarne x A Morte – Diferenças ....................................................... 9
1.4 O Que levamos para o Plano Espiritual .................................................... 12
2. Temor da Morte – Causas .......................................................................... 17
2.1 O instinto de conservação da vida............................................................. 17
2.2 Predominância da Natureza Animal.......................................................... 17
2.3 Temporário olvido da vida espiritual ........................................................ 17
2.4 Receio de aniquilamento da vida .............................................................. 18
2.5 Terrorismo do modo de vida após a morte ............................................... 18
2.6 Insuficiência de conhecimento sobre a Vida Futura ................................. 19
2.7 Marketing negativo da Morte/Velório/Enterro/Cemitério ........................ 20
2.8 Censura às comunicações entre mortos e vivos ........................................ 20
2.9 Apego as Coisas e/ou Pessoas ................................................................... 21
2.10 Temor de Você / do que Fez e/ou do que Não Fez ................................... 21
3. A Vida no Mundo Espiritual...................................................................... 23
3.1 Considerações Gerais ................................................................................ 23
3.2 A Concretude do Mundo Espiritual – Cidades/Instituições no Além ....... 24
3.3 O que encontraremos no Mundo Espiritual .............................................. 48
3.4 O que levaremos para o Mundo Espiritual................................................ 57
4. O Despertar da Consciência no Além Túmulo – Forma de Viver -
Depoimentos ....................................................................................................... 61
4.1 Um Depressivo .......................................................................................... 61
4.2 Um Materialista ......................................................................................... 62
4.3 Um Viciado em Sexo ................................................................................ 63
4.4 Um Crente Fanático .................................................................................. 64
4.5 Um Alcoólatra ........................................................................................... 65
4.6 Um Juiz Venal ........................................................................................... 68
4.7 Uma Trabalhadora Espírita – Otília Gonçalves ........................................ 71
4.8 Uma Feminista Equivocada ...................................................................... 78
4.9 Um Dirigente Espírita Fracassado ............................................................ 80
4.10 Um Médico Materialista ........................................................................... 82
4.11 Um Advogado sem Ética .......................................................................... 84
4.12 Um Escritor Materialista ........................................................................... 85
4.13 Uma Rainha de França/Oude .................................................................... 87
4.14 Um Papa – Pio XI/Leão XIII .................................................................... 93
4.15 Um Cardeal – Joaquim Arcoverde .......................................................... 100
4.16 Um Escritor Renomado – Humberto de Campos.................................... 101
4.17 Um Lider Espírita – Frederico Figner ..................................................... 106
4.18 Um Político – Americano do Brasil ........................................................ 107
4.19 Um General Alemão – Ludendorff ......................................................... 110
4.20 Um Bispo Católico .................................................................................. 114
4.21 Um Pastor ................................................................................................ 119
4.22 Um Judeu ................................................................................................ 122
4.23 Um Soldado na Guerra ............................................................................ 126
4.24 Um Narcisista .......................................................................................... 129
4.25 Um Palestrante Espírita fracassado ......................................................... 132
5. O Despertar da Consciência no Além Túmulo – Faixas Cronológicas -
Depoimentos ..................................................................................................... 134
5.1 O Desencarne em Idade Infantil.............................................................. 134
5.2 O Desencarne em Idade Avançada ......................................................... 134
6. O Despertar da Consciência no Além Túmulo – Transplantados -
Depoimentos ..................................................................................................... 136
6.1 O Desencarne e os Transplantes ............................................................. 136
7. O Despertar da Consciência no Além Túmulo – Drogados -
Depoimentos ..................................................................................................... 137
7.2 O Desencarne e as Drogas....................................................................... 137
8. O Despertar da Consciência no Além Túmulo – Alerta para os que
Ficam ................................................................................................................ 141
9. Referências................................................................................................. 142
1. Introdução
1.1 O Viver e o Morrer – Perspectiva Espírita

A morte nenhum temor inspira ao justo, porque, com a fé, ele tem a certeza do futuro;
a esperança faz com que aguarde uma vida melhor e a caridade, cuja lei praticou, dá-lhe a
certeza de que, não encontrará no mundo onde vai entrar, nenhum ser cujo olhar deva temer.
Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 941
Qual o sentimento que domina a maioria dos homens no momento da morte: a dúvida,
o terror ou a esperança?
A dúvida nos céticos empedernidos; o temor, nos culpados; a esperança, nos homens
de bem.
Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 961

Prepare-se para a morte.


Desde hoje vença a dúvida, supere o temor, alente a esperança.
Ligado a Jesus-Cristo, o Protótipo da Idéia-Vida, renove-se hoje e sempre, pensando
no bem, a fim de que o Bem Inefável conduza os seus dias na Terra.
Marco Prisco – Legado Kardequiano – Cap. 56 – Idéia

Todos os homens na terra são chamados a esse testemunho, o da temporária


despedida.
Considera, portanto, a imperiosa necessidade de pensar nessa injunção e deixa que a
reflexão sobre a Morte faça parte do teu programa de assuntos mentais, com que te armarás,
desde já para o retorno, ou para enfrentar em paz a partida dos teus amores.
Joanna de Angelis – Sementes de Vida Eterna – Cap. 56 – Não há Morte

Em favor de você mesmo, inclua diariamente entre as suas preocupações a


meditação em torno do fenômeno da desencarnação. O exercício mental sobre esta
ocorrência ser-lhe-á muito benéfico. Dessa forma, revista-se de equilíbrio para o retorno à Vida
Espiritual que pode dar-se inesperadamente.
Marco Prisco – Ementário Espírita – Cap. 60 – No exame da Morte

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Morrer é um processo complexo.
Do ponto de vista físico, até que é relativamente fácil, complicado, porém é desencarnar,
desprender-se a alma dos laços que a retém ao plano material.
Embora obedeça a leis gerais que a tornam automática (1), a desencarnação, para
efetivar-se completamente, envolve lapsos de tempo variáveis, conforme a evolução do
Espírito. (2)
Allan Kardec detalhou o mecanismo de desprendimento da alma, valendo-se dos
ensinos do Espírito da Verdade e das próprias entrevistas que fez com centenas de
desencarnados. Vejamos os tópicos principais listados por ele: (3)
• A extinção da vida orgânica acarreta a separação da alma, em q consequência
do rompimento do laço fluídico que a une ao corpo, mas esse desprendimento nunca é brusco
e só se completa quando não mais reste um átomo do perispírito unido a uma molécula do
corpo.
O número de pontos de contato existentes entre o corpo e o perispírito é responsável
pela maior ou menor dificuldade na separação. Se a união permanecer, a alma poderá sentir a
decomposição do próprio corpo, como frequentemente acontece nos casos dos suicidas. Na
morte natural, resultante da extinção das forças vitais por velhice ou doença, a separação é
gradual: para aquele que se desmaterializou durante a própria existência, completa-se antes da
morte real; para o homem materializado e sensual, cujos laços com a matéria são estreitos, é
difícil, podendo durar “algumas vezes dias, semanas e até meses” (LE 155 nota). Na morte
violenta, o desprendimento só começa depois que ela se efetiva e não se completa rapidamente
(LE 162 nota).
• Na transição da vida corporal para a espiritual, produz-se um fenômeno de
perturbação, considerado como estado natural. Nesse instante a alma experimenta um torpor
que paralisa momentaneamente as suas faculdades, neutralizando, ao menos em parte, as
sensações. É por isso que ela quase nunca testemunha conscientemente o derradeiro suspiro.
Quando sai desse estado, o Espírito pode ter um despertar calmo ou agitado, dependendo do
tipo de sono no qual se envolveu.
• A causa principal da maior ou menor facilidade de desprendimento é o estado
moral da alma.
Influem, pois, no processo de desencarnação: o número de encarnações já vividas, as
conquistas mentais ou o patrimônio no campo da ideação, os valores culturais, o grau de apego
aos bens terrenos, enfim, as qualidades morais e espirituais, que constituem seu patrimônio.
• A preparação para a morte incluiria todo um programa existencial: fé ativa,
aceitação da vontade divina nos impositivos da existência, desprendimento dos bens terrenos,
busca da expansão do amor, na vida diária.
• 1) Obreiros da Vida Eterna – cap. XI, p. 172.
• 2) Ver O Livro dos Espíritos – todo o cap. III.
• 3) O Céu e O Inferno – cap. I da segunda parte.
Marlene Nobre – Nossa Vida no Além – Cap. 2 – Como é Morrer
Todos os dias chegam corações atormentados, além da morte.
E apesar do horizonte aberto, jazem no chão como pássaros mutilados...
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̶ Loucos, sob a hipnose da ilusão.
̶ Suicidas, descrentes dos próprios méritos.
̶ Criminosos sentenciados no tribunal da consciência.
̶ Malfeitores que furtaram de si mesmos.
̶ Doentes que procuraram a enfermidade.
̶ Infelizes a se imobilizarem nas Trevas.
Ha quem diga que os chamados mortos nada têm a ver com os chamados vivos,
entretanto, como os chamados vivos de hoje, serão os chamados mortos, de amanhã, com
possibilidade de se perturbarem uns aos outros caso perseverem na ignorância —, cultivemos
na Doutrina Espírita o instituto mundial de esclarecimento da alma, a fim de que o pensamento
regenerado consiga redimir as suas próprias criações que substancializam a experiência da
Humanidade nas várias nações da Terra.
André Luiz – Além da Morte – Introito – Uberaba, 13 de Janeiro 1960.

A morte a ninguém propiciará passaporte gratuito para a ventura celeste. Nunca


promoverá compulsoriamente homens a anjos.
Cada criatura transporá essa aduana da eternidade com a exclusiva bagagem do que
houver semeado e aprenderá que a ordem e a hierarquia, a paz do trabalho edificante, são
característicos imutáveis da Lei, em toda parte.
Emmanuel – Obreiros da Vida Eterna – Introdução

Berço – Existência – Desencarnação – Renascimento constituem quatro estágios de


Evolução que cabem nas quatro letras da VIDA.
Emmanuel – Chico Xavier e suas Mensagens no Anuário Espírita – Cap. 78 – Página aos
Espíritas/ Anuário Espírita – 1968

A morte é, simplesmente, um segundo nascimento; deixamos o mundo pela mesma


razão porque nele entramos, segundo a ordem da mesma lei.”
Leon Denis – O Grande Enigma – 3º Parte – Cap. 15 – A Lei circular

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Há, no entanto, que considerar mortos e mortos.
Nem todos, porém, que vivem na carne são vivos e nem os considerados mortos são
mortos.
Alguns vivem, é certo, mas poucos estão vivos para a vida...
Não importa a condição social em que os encontres.
Uns deambulam, ilustres, embora a indumentária carnal, cadaverizados pelo egoísmo.
Outros jornadeiam, bem acondicionados, mumificados pelo orgulho.
Mais outros passam, superficiais e inermes ante a ação corruptora da impudicícia.
Alguns movimentam-se, hipnotizados pelo prazer, a ele entregues.
Diversos aparecem inertes, aprisionados na indignidade.
Outros tantos escorregam, dominados pelo torpor do gozo animalizante.
Vários transitam aligeirados, abraçando a cobiça.
Grande número constitui-se de presunçosos, apodrecendo no ócio a que se entregam.
Mortos, todos eles, embora estejam no corpo físico.
Joanna de Angelis – Dimensões da Verdade – Cap. 21 – Mortos e mortos

Senhor Jesus!...
Enquanto os irmãos da Terra procuram a nós outros – os companheiros desencarnados
– nas fronteiras de cinza, rogando-te amparo em nosso favor, também nós, de coração
reconhecido, suplicamos-te apoio em auxílio de todos eles, principalmente considerando
aqueles que correm o risco de se marginalizarem nas trevas!...
Pelos que perderam a fé, recusando o sentido real da vida, e jazem quase mortos de
desespero;
Pelos que desertaram das responsabilidades próprias, anestesiando transitoriamente
o próprio raciocínio, e surgem quase mortos de inanição espiritual;
Pelos que se entregaram à ambição desmesurada a se rodearem sem qualquer
proveito dos recursos da Terra, e repontam do cotidiano quase mortos de penúria da alma;
Pelos que se hipertrofiaram na supercultura da inteligência, gelando o coração para
os serviços da solidariedade, e aparecem quase mortos ao frio da indiferença;
Pelos que acreditaram na força ilusória da violência, atirando-se ao fogo da revolta,
e se destacam quase mortos de angustia vazia;
Pelos que se perturbaram por ausência de esperança, confiando-se ao desequilíbrio,
e se revelam quase mortos de aflição inútil;

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Pelos que abraçaram o desânimo por norma de ação, parando de trabalhar, e
repousam quase mortos de inércia;
Pelos que se feriram ferindo os outros, encarcerando-se nas cadeias da culpa, e estão
quase mortos de arrependimento tardio!...
Senhor!...
Para os nossos irmãos que atravessam experiência humana quase mortos de
sofrimento e agravos, complicações e problemas criados por eles mesmos, nós te rogamos
auxílio e benção!...
Ajuda-os a se libertaram do visco de sombra em que se enredaram e trazei-os de novo
à luz da verdade e do amor, para que a luz do amor e da verdade lhes revitalize a existência
a fim de que possam encontrar a felicidade real contigo, agora e para sempre.
Emmanuel – Na Era do Espírito – Cap.21 – Oração pelos quase Mortos

A morte de um homem começa no instante em que ele desiste de aprender.


Mariano José Pereira da Fonseca – Falando à Terra – Cap. 32 - Reflexões

“(...) E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma
morte severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes
dos vinte, de fome um pouco por dia.”
João Cabral de Melo – Morte e Vida Severina – Introdução

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1.2 A Terminalidade da Vida – Associação Médico Espírita/Brasil
Considerando:
a. Que o nosso paradigma é o Personalista Espírita (contempla a dignidade ontológica
do ser humano) ;
b. Que a vida é um bem indispensável, uma doação do Ser supremo;
c. A imortalidade da Alma, evidenciada na literatura mediúnica, nas pesquisas
científicas como as EQMs (Experiências de Quase Morte), nas vivências de terapia
de vidas passadas e nos relatos históricos de casos de reencarnação;
d. O artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal, que elegeu o princípio da dignidade
da pessoa humana como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil;
e. O artigo 61 do Código de Ética Médica “... o médico não pode abandonar o paciente
por este ser portador de moléstia crônica ou incurável, mas deve continuar a assisti-
lo ainda que apenas para mitigar o sofrimento físico ou psíquico” ;
f. A Resolução CFM nº 1.805/2006, que estabelece como terminalidade da vida, no
artigo 1º, “... fase terminal de uma enfermidade grave e incurável...”, o momento
para limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida e, no
artigo 2º, que “... o doente continuará a receber todos os cuidados necessários para
aliviar os sintomas que levam ao sofrimento, assegurada a assistência integral, o
conforto físico, psíquico, social e espiritual, inclusive assegurando-lhe o direito da
alta hospitalar”;
g. Os avanços científicos e biotecnológicos modernos que possibilitam o
prolongamento obstinado do morrer;
h. A necessidade de humanizar o processo da morte, evitando sofrimentos adicionais
ao doente e aos familiares;
Estabelecemos que:
1. O limite das possibilidades terapêuticas não significa o fim da relação médico-
paciente, devendo o médico assisti-lo com cuidados básicos de manutenção da vida, alívio
físico, psíquico e espiritual. E, salvo por justa causa e comunicado ao paciente ou aos seus
familiares, o abandono do paciente portador de moléstia incurável constitui caso de omissão;
2. Somos CONTRÁRIOS à eutanásia ativa ou passiva e a qualquer meio intencional,
como o suicídio assistido, que antecipe a morte do ser humano;

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3. Somos CONTRÁRIOS à distanásia, entendendo-a como prolongamento da vida, por
uma obstinação terapêutica ou diagnóstica, através de meios artificiais ou não, de forma
precária e inútil, que não promova benefício imediato ao paciente, levando-o a uma morte
agoniada com sofrimento orgânico, psíquico e espiritual;
4. Somos A FAVOR de uma MORTE NATURAL, ocorrendo no tempo certo, por
evolução natural da doença, assegurando ao paciente o direito aos cuidados paliativos,
necessários ao alívio do sofrimento, e o respeito pela sua dignidade;
5. Somos A FAVOR da criação e ampliação das unidades de cuidados paliativos
(HOSPICES), com abordagem multidisciplinar, com maior atenção ao doente do que à doença;
da adoção de medidas necessárias e indispensáveis à manutenção da vida (cuidados higiênicos,
conforto, alimentação e reposição de líquidos e eletrólitos); e dos procedimentos que ofereçam
uma melhor qualidade de vida ao paciente terminal;
6. Morte digna é a que ocorre sem sofrimento (físico, psíquico, social ou espiritual),
com assistência multidisciplinar de equipe de saúde (médico, enfermeiro, psicólogo,
fisioterapeuta, assistente social) e apoio espiritual; em ambiente adequado (familiar quando
possível); com direito a ser ouvido em seus medos, pensamentos, sentimentos, valores, crenças
e esperanças; receber continuidade de tratamento; não ser abandonado e ter tanto controle
quanto possível no que se refere às decisões a respeito de seus cuidados;
7. A fase terminal do processo de morte deve ser encarada como um período de ricas
experiências para a evolução do Espírito imortal; os cuidadores não têm, pois, o direito de
impedir que o paciente usufrua desses benefícios, antes, devem garantir-lhe esse tempo único
de aprendizado, convencidos de que a vida é um bem indisponível;
8. A linha divisória entre a eutanásia passiva e a distanásia é muito tênue, competindo
ao médico, no limite de suas responsabilidades, ouvir a sua própria consciência e buscar a
inspiração correta que direcione sua conduta ético-profissional;
9. Em substituição ao termo ortotanásia, que é sinônimo de eutanásia passiva no meio
jurídico, preferimos a denominação morte natural, pois esta estabelece com melhor clareza a
evolução natural das enfermidades;

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10. Em relação ao PL 116/2000 do senador Gerson Camata, relatado pelo senador
Augusto Botelho, que propõe:
“Exclusão de ilicitude
§ 6º Não constitui crime deixar de manter a vida de alguém por meio artificial, se
previamente atestada por dois médicos a morte como iminente e inevitável, e desde que haja
consentimento do paciente, ou em sua impossibilidade, de cônjuge, companheiro, ascendente,
descendente ou irmão.
§ 7º A exclusão de ilicitude a que se refere o parágrafo anterior faz referência à
renúncia ao excesso terapêutico, e não se aplica se houver omissão de meios terapêuticos
ordinários ou dos cuidados normais devidos a um doente, com o fim de causar-lhe a morte.”
Contempla o nosso entendimento que previne contra a prática da distanásia (obstinação
terapêutica sem proporcionar benefício) e permite que o paciente em fase terminal tenha
assegurados os cuidados mínimos de assistência humanitária à saúde (respeito pela dignidade
humana) e que a sua morte ocorra não por falta de atendimento e sim pela evolução do curso
natural da doença.
AME–Brasil – Folha Espírita – Janeiro de 2010 Edição número 425 – A Terminalidade da
Vida – http://www.folhaespirita.com.br/v2/?q=node/461

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1.3 O Desencarne x A Morte – Diferenças
• O Que é Desencarnar/ O Que é Morrer

Desencarnação é libertação da alma, morte é outra coisa. Morte constitui cessação


da vida, apodrecimento, bolor.
Os que desanimam de lutar e trabalhar, renovar e evoluir são os que verdadeiramente
morrem, conquanto vivos, convertendo-se em múmias de negação e preguiça, e, ainda que a
desencarnação passe, transfiguradora, por eles, prosseguem inativos na condição de mortos
voluntários que recusam a viver.
Acompanhemos a marcha do Sol, que diariamente cria, transforma, experimenta,
embeleza.
Renovemo-nos.
André Luiz – Estude e Viva – Cap. 26 – Mortos Voluntários

Muitos nascem e renascem no corpo físico, transitando da infância para a velhice e do


túmulo para o berço, à maneira de almas cadaverizadas no egoísmo e na rebelião, na
ociosidade ou na delinquência, a que irrefletidamente se acolhem.
Absorvem os recursos da Terra sem retribuição, recebem sem dar, exigem concurso
alheio sem qualquer impulso de cooperação em favor dos outros e vampirizam as forças que
encontram, quais sorvedouros que tudo consomem sem qualquer proveito para o mundo que os
agasalha.
Semelhantes companheiros são realmente os mortos dignos de socorro e de
piedade, porquanto, à distância da luz que lhes cabe inflamar em si próprios, preferem o
mergulho na inutilidade, acomodando-se com as trevas.
Lembra-te dos talentos com que Deus te enobrece o sentimento e o raciocínio, o
cérebro e o coração, fazendo verter a glória do bem, através de teu verbo e de tuas mãos,
desperta e vive, para que, das experiências fragmentárias do aprendizado humano, possas, um
dia, alçar vôo firme em direção à Vida Eterna.
Emmanuel – Coragem – Cap. 32 – Vida e Morte

A desencarnação ocorre somente quando o ser, livre das sensações materiais, permite-
se a lucidez e o reencontro consigo mesmo, podendo experimentar as alegrias e as bênçãos da
libertação.
De acordo com as faixas mentais em que cada qual se situa, desperta em campo
vibratório equivalente, ensejando-se a paz anelada ou prolongando as aflições pelos prazeres
que não mais podem ser fruídos.
(...) A morte física é apenas uma etapa inicial da desencarnação real que aí começa,
e se encerra somente quando o espírito se integra na sociedade livre e feliz da Pátria para onde
rumou.
Manoel Philomeno de Miranda – Reencontro com a Vida – 1º Parte – Cap. 12 – Morrer e
Desencarnar
Não há mortes iguais. Tendo-se em conta as conquistas morais de cada pessoa, os
requisitos espirituais que a cada qual tipificam, os apegos ou não à matéria, as fixações e jogos

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de interesse, as dependências físicas e mentais, a desencarnação varia de um a outro homem,
que experimenta perturbação correspondente, em tempo, ao estado íntimo em que se situa.
Morrer nem sempre significa libertar-se. A morte é orgânica, mas a libertação é de
natureza espiritual.
Por isso, essa turbação espiritual pode demorar breves minutos, nos Espíritos nobres,
como decorrência da grande cirurgia e até séculos, nos mais embrutecidos, que se não dão conta
do que lhes sucede...
Nas desencarnações violentas, o período e intensidade de desajuste espiritual
correspondem à responsabilidade que envolveu o processo fatal.
Acidentes de que se não têm uma culpa atual, passado o brusco choque, sempre
tornam de menor duração o período perturbador do que ocorrendo em condições de
intemperança moral, quando o descomedido passa a ser incurso na condição de suicida
indireto.
Para uma reencarnação completar-se, desde o primeiro instante quando da fecundação,
transcorrem anos que se alargam pela primeira infância. É natural que a desencarnação
necessite de tempo suficiente para que o Espírito se desimpregne dos fluidos mais
grosseiros, nos quais esteve mergulhado...
A violência da forma como ocorre mata somente os despojos físicos, nunca significando
libertação do ser espiritual.
O mesmo sucede nos casos de homicídio, em que a culpa ou não de quem tomba
responde pelos efeitos, em aflições, que prossegue experimentando.
Já os suicidas, pela gravidade do gesto de rebeldia contra os Divinos Códigos, carpem,
sofrem por anos a fio a desdita, enfrentando, em estado lastimável e complicado, o problema
de que pretendem fugir, não raro experimentando a perseguição de impiedosos adversários que
reencontram no além-túmulo, que os submetem a processos cruciais de lapidação em dores
morais e físicas, em face da destruição do organismo que fora equipado para mais largo período,
na Terra...
Enfermidades de longo curso, suportadas com resignação, liberam da matéria,
porque o Espírito tem tempo de pensar nas lídimas realidades da vida, desapegar-se das pessoas,
paixões e coisas, pensar com mais propriedade no que o aguarda, depois do corpo,
movimentando o pensamento em círculos superiores de aspirações.
As dores morais bem aceitas facultam aspirações e anseios de paz noutras dimensões,
diluindo as forças constritoras que o atam ao mundo das formas.
Como ninguém que se encontre na investidura carnal passará indene sem despojar-se
dela, muito justo se torna um treinamento correto para enfrentar o instante da morte que
virá.
O Espírito é, no Além, o somatório das suas experiências vividas.
Manoel Philomeno de Miranda – Nas Fronteiras da Loucura – Cap. 11 – Efeito das
Drogas

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O desacelerar da maquinaria orgânica normalmente culminando com a morte
fisiológica, de forma alguma representa a desencarnação propriamente dita.
O processo de liberação dos fluidos que fixam o espírito aos despojos materiais é muito
lento, especialmente quando a existência não transcorreu dentro dos padrões de comportamento
ético, caracterizando-se pelos apegos às paixões e pela vivência dos sentidos sensoriais em
detrimento das emoções transcendentes.
Manoel Philomeno de Miranda – Reencontro com a Vida – 1o Parte – Cap. 22 – Despertar
da consciência no Além-Túmulo

A leviana indiferença em torno da morte faculta o encharcar-se mais nas paixões


sensoriais, nos impulsos primários, nas lutas pela posse, pela dominação de coisas e pessoas...
Terrível frustração sucede a esses que assim procedem, quando o guante da
desencarnação lhes interrompe o galopar dos desejos e da loucura a que se entregam...
Morrem, sem dar-se conta da ocorrência, continuando na azáfama a que se entregavam...
(...) Todo processo de fixação impõe período idêntico para a sua liberação.
Assim ocorre com os vícios morais, mentais, emocionais e físicos, que permanecem
afligindo o espírito, mesmo quando já os abandonou, desde há algum tempo.
(...) A morte é somente uma experiência de desvestir uma para assumir outra
indumentária, entretanto, prosseguindo na vida.
(...) Ninguém deslustra as Leis universais, sem que seja convocado à reabilitação.
Assim, indispensável se torna a todos os viajantes do carreiro material o dever de pensar na
morte, na maneira como a enfrentará, nos recursos de que dispõe, no desapego aos denominados
bens materiais, preparando-se conscientemente, pois que se desencarna conforme se reencarna
com o patrimônio moral invisível e essencial.
Manoel Philomeno de Miranda – Reencontro com a Vida – 2o Parte – Cap. 1 – Preparação
para a Morte

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1.4 O Que levamos para o Plano Espiritual
Lembre-se, porém, que na hora da morte – a partida inevitável para todos os seres,
através dos caminhos do tempo:
− Segurança representa tranquilidade. Sem paz interior, não há poder real. Os bens
ficam no mundo.
− Juventude e saúde são épocas rápidas da estação dos anos.
− Só o Bem acompanha o homem além do mundo...
− O poderoso na Terra é apenas mordomo de recursos que desaparecem.
− Todos os valores pertencem, em última instância, ao Senhor de todas as
coisas.
− Patrimônio financeiro é problema para o Espírito. Comodidade física é caminho
para a doença da alma.
Aproveite as possibilidades que o tempo faz passar através de suas mãos, antes que
escorram para a inutilidade, e utilize esse patrimônio para assegurar sua volta ao Reino,
vitoriosamente.
Marco Prisco – Glossário Espírita-Cristão – Cap. 37 – Patrimônio e Posses
E depois de uma pausa, em que parecia surdo a tantos clamores, acentuou:
São contrabandistas na vida eterna.
Como assim? – atalhei, interessado. O interlocutor sorriu e respondeu em voz firme:
Acreditavam que as mercadorias propriamente terrestres teriam o mesmo valor
nos planos do Espírito.
Supunham que o prazer criminoso, o poder do dinheiro, a revolta contra a lei e a
imposição dos caprichos atravessariam as fronteiras do túmulo e vigorariam aqui também,
oferecendo-lhes ensejos a disparates novos.
Foram negociantes imprevidentes.
Esqueceram de cambiar as posses materiais em créditos espirituais. Não aprenderam as
mais simples operações de câmbio no mundo. Quando iam a Londres, trocavam contos de réis
por libras esterlinas; entretanto, nem com a certeza matemática da morte carnal se animaram a
adquirir os valores da espiritualidade.
Agora, que fazer? Temos os milionários das sensações físicas transformados em
mendigos da alma.
André Luiz – Nosso Lar – Cap. 27 – O Trabalho enfim

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Nos mínimos atos, negócios, resoluções ou empreendimentos que você faça, busque
primeiro a substancia “post-mortem” de que se reveste, porquanto, sem ela, seu tentame
será superficial e sem consequências produtivas para o seu espírito.
Hoje, como ontem, a criatura supõe-se em caminho tedioso tão-só quando lhe falta
alimento espiritual aos hábitos.
Alegria que dependa das ocorrências do terra-a-terra não tem duração. Alegria real
dimana da intimidade do ser.
Meditação elevada, culto à prece, leitura superior e conversação edificante constituem
adubo precioso nas raízes da vida.
Ninguém respira sem os recursos da alma.
Constrangidos a encontrar a repercussão de nossas obras, além do plano físico, de que
nos servirá qualquer euforia alicerçada na ilusão?
De que nos vale o compromisso com as exterioridades humanas, quando essas
exterioridades não se fundamentam em nossas obrigações para com o bem dos outros, se a
desencarnação não poupa a ninguém?
Cogitemos de felicidade, paz e vitória, mas escolhamos a estrada que nos conduza a
elas sob a luz das realidades que norteiam a vida do Espírito, de vez que receberemos de
retorno, na aduana da morte, todo material que despachamos com destino aos outros, durante a
jornada terrestre.
Não basta para nenhum de nós o contentamento de apenas hoje. É preciso saber se
estamos pensando, sentindo, falando e agindo para que o nosso regozijo de agora seja também
regozijo depois.
André Luiz – Estude e Viva – Cap. 4 – Consciência e Conveniência

A fé é mais do que um ato de crença, tornando-se poderoso eletroímã de renovação


energética, atraindo ou repelindo valores que seguirão com você além da vida física.
Prepara-te para a morte. Desde hoje vença a dúvida, supere o temor, alente a
esperança.
Ninguém viverá sempre na carne.
Marco Prisco – Legado Kardequiano – Cap. 56 – Ideia

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Retornam alguns irmãos nossos que atravessaram o “portal” do túmulo, a fim de
apresentarem seus depoimentos vivos.
Cada um retrata a experiência feliz ou desditosa de que foi objeto na Esfera Espiritual.
Alguns, que foram colhidos pelas surpresas, narram os sucessos em que se viram
envolvidos, lutando tenazmente por se manterem na anestesia da ignorância e da sombra, não
obstante a aurora convidativa da realidade que os envolvia.
Outros supuseram enganar o próximo e fugir a sanção da Justiça, precipitando-se pelo
país da consciência livre, onde os painéis circunjacentes são elaborados pelos que o povoam.
Diversos vinculavam-se as religiões, afirmavam possuir crença em Deus e na
imortalidade, no entanto, tornaram-se vítimas espontâneas da incredulidade e do pavor ante a
morte...
Uns acalentaram o nada para depois da sepultura e defrontaram a vida estuante.
Outros aguardavam tributos e glórias vãos e se viram de mãos vazias de feitos e corações
enregelados pela indiferença que cultuaram.
Espíritos fieis e devotados, aclimatados as realizações de enobrecimento, emolduraram-
se de paz e dita, retornando a louvar e bendizer a vida.
A morte a ninguém engana.
Ninguém se engana após a morte.
Morrer é desvelar de acontecimentos num cinematógrafo especial, com mecanismos que
atuam automaticamente na consciência de cada criatura.
Pensamos em alertar os invigilantes, recordando fatos já conhecidos e trazendo a lume
outra vez lições que vão sendo esquecidas, utilizando-nos das experiências daqueles que se
enganaram, a fim de recordar aos que crêem na Vida a necessidade de se manterem vigilantes
e atuantes no Bem.
A morte não discrepa, não elege, não exime ninguém. A pouco e pouco traz de volta os
que partiram na direção da Terra em aprendizado e recuperação.
Mensageira fiel recolhe todos e os situa nos seus devidos lugares, mediante as leis de
afinidades e de sintonia que nos ligam uns aos outros e nos reúnem nas múltiplas “moradas” da
“Casa do Pai”.
Joanna de Angelis – Depoimentos Vivos – Introdução (Salvador, 25 de dezembro de 1971)

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
A surpresa assoma em muitas mentes, quando defrontam, no intercâmbio mediúnico
com Entidades, que na Terra estiveram situadas em posição de destaque, desfrutando conceitos
relevantes e retornam do Mundo Espiritual expressando inquietação ou anestesiados no
desequilíbrio, na perturbação.
Acreditam os menos vigilantes que os homens que transitaram em situação de realce,
catalogados na distinção e colocados em pontos especiais, certamente, em se despindo da
indumentária carnal, deveriam retornar aureolados pelas bênçãos e pelas fortunas de um mérito
que, em verdade, não lograram amealhar.
Cada um é o que intimamente pensa, cultiva, elabora e produz.
Por essa razão, ninguém se surpreenda com o desnudar da consciência no além-túmulo,
em que homens e mulheres considerados pelo destaque que tiveram na comunidade retornam
obumbrados e inditosos, agônicos e estremunhados, apresentando-se sequiosos de paz,
necessitados de amor.
A Vida são os atos que amealhamos nos cofres da consciência e os sentimentos que
armazenamos nos depósitos profundos do ser.
A morte é o acordar para as realidades a que nos imantamos durante a jornada material.
Coerência é a palavra; equilíbrio, na aparência e no Ser, para pensar e agir com acerto.
João Cleofas – Intercâmbio Mediúnico – Cap. 7 – Coerência entre Pensamento e Ação

A morte a ninguém propiciará passaporte gratuito para a ventura celeste. Nunca


promoverá compulsoriamente homens a anjos.
Cada criatura transporá essa aduana da eternidade com a exclusiva bagagem do
que houver semeado e aprenderá que a ordem e a hierarquia, a paz do trabalho edificante, são
característicos imutáveis da Lei, em toda parte.
Emmanuel – Obreiros da Vida Eterna – Introdução

Recebemos no Além o que realmente criamos para nós mesmos, em contato com as
criaturas.
Romeu Camargo – Falando à Terra – Cap. 14 – De Retorno

Aviso claro e prudente, o melhor que tenho aqui: Depois da morte é que a gente
conhece o que fez de si.
José Soares de Gouveia – Depois da Vida – Introdução

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
No Mundo espiritual muita gente vai se surpreender... Lá, não seremos identificados
pela importância, ou melhor, pela nossa suposta importância no mundo... Gente há que
desencarna imaginando que as portas do Mundo Espiritual irão se lhes escancarar... Ledo
engano!
Ninguém quer saber o que fomos, o que possuíamos, que cargo ocupávamos no mundo;
o que conta é a luz que cada um já tenha conseguido fazer brilhar em si mesmo... Esse negócio
de ter sido fulano de tal interessa à consciência de quem foi e, na maioria das vezes, se
complicou...
Francisco Cândido Xavier – O Evangelho de Chico Xavier – Cap. 187

A morte a ninguém engana. Ninguém se engana após a morte.


Morrer é desvelar de acontecimentos num cinematógrafo especial, com mecanismos que
atuam automaticamente na consciência de cada criatura.
Joanna de Ângelis – Depoimentos Vivos – Introdução

A Vida são os atos que amealhamos nos cofres da consciência e os sentimentos que
armazenamos nos depósitos profundos do ser.
A morte é o acordar para as realidades a que nos imantamos durante a jornada material.
João Cleófas – Intercâmbio Mediúnico – Cap. 7 – Coerência entre Pensamento e Ação

Vive, portanto, como se estivesses a cada momento preparando-te para renascer além e
após o túmulo.
A vida que se “leva” é a Vida que cada um aqui leva enquanto na indumentária
carnal.
Joanna de Angelis – Estudos Espíritas – Cap. 7 – Morrer

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
2. Temor da Morte – Causas
2.1 O instinto de conservação da vida
O instinto de conservação da vida, que lhe constitui força preventiva contra a
intemperança, a precipitação e o suicídio, não obstante desconsiderados nos momentos de
superlativo desgosto, revolta ou desespero.
Programado o corpo para servir de instrumento para o progresso do Espírito, através de
cujo cometimento desenvolve todas as aptidões e valores que nele jazem latentes, o instinto de
conservação é lhe um elemento de alto valor, para que seja preservada a vida e impulsionada
para a frente até às últimas resistências. Em face dessa condição, o Espírito se imanta ao corpo
e receia perde-lo, em razão do atavismo ancestral que lhe bloqueia o discernimento a respeito
daquilo cujos dados de avaliação não logram impressionar-lhe os sentidos.
Manoel Philomeno de Miranda – Temas da vida e da morte – Cap. 11 – Temor da Morte

2.2 Predominância da Natureza Animal

A predominância da natureza animal, que nos inferiores comanda as suas aspirações,


tendências e necessidades.
O predomínio da natureza animal desenvolve-lhe o egoísmo e exacerba-lhe a paixão
violenta, acentuando a sensualidade que se expande engendrando programas de novos gozos,
que terminam por exaurir-lhe as energias mantenedoras dos equipamentos de sustentação
orgânica. Assim é que um leve aceno de prolongamento da vida moribundo fá-lo sorrir e aspirar
pela sua ocorrência, em injustificáveis apegos aos despojos que lhe não permitem mais largos
logros, embora lhe concedam a permanência física.
Manoel Philomeno de Miranda – Temas da vida e da morte – Cap. 11 – Temor da Morte

2.3 Temporário olvido da vida espiritual


O temporário olvido da vida espiritual donde procede.
A reencarnação promove o transitório esquecimento do passado, que é providencial para
poupar ao Espírito a amargura que os seus erros impõem e os seus delitos o afligem. Esse
esquecimento constitui motivo de receio da morte, em razão da falta de elementos que
estruturem a confiança na sobrevivência, com o retorno ao mundo espiritual. As sensações
sobrepõem-se às emoções, fixando-lhe os interesses na vida física, apesar de saber da sua
efêmera existência.
Manoel Philomeno de Miranda – Temas da vida e da morte – Cap. 11 – Temor da Morte

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
2.4 Receio de aniquilamento da vida
O receio de aniquilamento da vida, por falta de informações corretas a respeito do futuro
da alma e daquilo que lhe está destinado...
o engodo dos sentidos anestesia a razão, levando-a a concluir que a morte deles
representa a destruição da vida, arrolando o cérebro como autor do pensamento e os órgãos na
condição de causa da existência do ser. Assim, a desinformação e as concepções erradas sobre
a vida futura são responsáveis pelo temor da morte, que leva muitos indivíduos a estados
neuróticos lamentáveis, como a comportamentos alucinados, nos quais buscam o esquecimento,
fugindo da sua contingência enganosa.
Manoel Philomeno de Miranda – Temas da vida e da morte – Cap. 11 – Temor da Morte

2.5 Terrorismo do modo de vida após a morte

De um lado, contorções de condenados a expiarem em torturas e chamas eternas os erros


de uma vida efêmera e passageira.
De outro lado, as almas combalidas e aflitas do purgatório aguardam a intercessão dos
vivos que orarão ou farão orar por elas, sem nada fazerem de esforço próprio para progredirem.
Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Cap. 2 – item 6 – A Preocupação com a Morte

O conteúdo religioso das doutrinas ortodoxas, que oferece uma visão distorcida quão
prejudicial do que sucede após a ruptura dos laços materiais, elaborando um mundo de
compensações em graça como em castigo, conforme a imaginação dos homens vitimados por
fanatismos e alucinações.
O estabelecimento de prêmios e punições de sabor material, nos quais as religiões do
passado firmaram estrutura da existência espiritual, tornou-a detestável, e se considerando o
medo a uma justiça absurda e impiedosa ou a indiferença por uma felicidade estanque,
monótona e perpétua, que tem lugar num céu onde o amor não dispõe de recursos para socorrer
o caído, nem a piedade vige em relação aos infelizes...
Manoel Philomeno de Miranda – Temas da vida e da morte – Cap. 11 – Temor da Morte

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
2.6 Insuficiência de conhecimento sobre a Vida Futura
À proporção que o homem compreende melhor a vida futura, o temor da morte diminui.
Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Cap. 2 – item 3 – A Preocupação com a Morte

A doutrina espírita muda completamente a maneira de ver-se o futuro. A vida futura não
é mais uma hipótese, mas uma realidade. A situação das almas após a morte não se explica por
meio de um sistema, mas com o resultado da observação.
O véu é levantado. O mundo espiritual nos aparece em toda a sua realidade viva.
Não foram os homens que o descobriram através de uma concepção engenhosa, mas os
próprios habitantes desse mundo que nos vieram descrever a sua situação.
(...) Para os espíritas a alma não é mais uma abstração. Ela possui um corpo etéreo que
a torna um ser definido, que podemos conceber pelo pensamento. Isso é o suficiente para nos
esclarecer quanto à sua individualidade, suas aptidões e suas percepções.
A lembrança daqueles que nos são caros repousa, assim, sobre algo real. Não os
representamos mais como chamas fugitivas que nada dizem ao nosso pensamento, mas como
formas concretas que no-los apresentam melhor como seres vivos.
Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Cap. 2 – item 10 – A Preocupação com a Morte

A ideia de que as almas dos mortos se tornam chama s fugitivas penetrou fundamente
na consciência coletiva dos povos.
Vemos a sua sobrevivência até mesmo em pessoas esclarecidas que se tornam espíritas.
Nas atas das sessões que realizava, por ele mesmo redigidas, o escritor Monteiro Lobato
refere -se constantemente aos espíritos como gases, chamas flutuantes, etc., o que levava alguns
dos comunicantes a endossarem a concepção.
Um deles lhe respondeu: Sou agora uma chamazinha errante. Referindo-se à sua própria
morte, Lobato escreveu que iria passar do estado sólido ao gasoso.
O Espiritismo nos mostra que a situação do homem após a morte é muito diferente disso.
Conservando o corpo espiritual (de que tão precisamente trata o apóstolo Paulo em l
Coríntios) o espírito desencarnado conserva até mesmo a forma corporal, as características
físicas que o distinguem na vida terrena, e pode assim identificar-se em suas manifestações pela
vidência, pelos fenômenos de aparição e pelos de materialização. Isso permite, ainda — o que
estranha às pessoas que desconhecem o problema — que o espírito se identifique pela sua
própria voz nos fenômenos de audição mediúnica ou de comunicação por voz direta.
Herculano Pires – O Céu e o Inferno – Cap. 2 – item 10 – A Preocupação com a Morte –
comentário

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
2.7 Marketing negativo da Morte/Velório/Enterro/Cemitério

A morte é rodeada de cerimônias lúgubres, mais próprias a infundirem terror do que a


provocarem a esperança.
Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Cap. 2 – item 8 – A Preocupação com a Morte

Essa impressão negativa da morte foi intencional. O objetivo era atemorizar as criaturas
a fim de se portarem bem na vida.
Há uma relação evidente entre essa ameaça da morte e as ameaças de castigos nas
escolas, para garantir o bom comportamento dos alunos. Mas esse recurso, que produziu
resultados entre homens ignorantes e brutais, perderia o seu efeito na proporção em que a
Civilização se desenvolvesse.
Aconteceu com ele o que ensina uma lei da Dialética: o que hoje serve ao progresso,
amanhã se torna obstáculo e deve ser removido.
Mas, por outro lado, essas cerimônias lúgubres e toda essa ameaça passou para o plano
dos costumes, criou raízes populares e se tornou ainda uma das fontes de renda para as
organizações eclesiásticas.
Tudo isso impediu, até mais da metade do século XIX, que as religiões organizadas,
chamadas positivas, fizessem alguma coisa para acompanhar o progresso cultural.
Ainda hoje, apesar das reformas em curso, o problema da morte continua na mesma
situação analisada por Kardec.
Herculano Pires – O Céu e o Inferno – Cap. 2 – item 8 – A Preocupação com a Morte –
comentário
2.8 Censura às comunicações entre mortos e vivos

Demais, a crença vulgar coloca as almas em regiões apenas acessíveis ao pensamento,


onde se tornam de alguma sorte estranhas aos vivos.
Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Cap. 2 – item 9 – A Preocupação com a Morte

"Na crença vulgar", diz Kardec, porque a Teologia católica já no seu tempo colocava o
problema em termos de estado de consciência. Não obstante, os clérigos continuavam a pregar
dos púlpitos em termos de crença vulgar.
A comparação que Kardec faz, mais adiante, entre o Inferno pagão e o Inferno cristão,
esclarecerá bem este assunto.
Quanto ao rompimento absoluto de relações entre vivos e mortos, devemos acentuar
que havia e ainda subsiste uma atitude contraditória: a relação pode ser permitida por Deus, em
casos excepcionais, mas somente no seio da Igreja.
Assim, as comunicações espíritas são condenadas como demoníacas, mas as
comunicações católicas, sejam de santos e anjos ou mesmo de almas sofredoras, são
consideradas legítimas e até mesmo divulgadas em livros.
Herculano Pires – O Céu e o Inferno – Cap. 2 – item 09 – A Preocupação com a Morte –
comentário

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
2.9 Apego as Coisas e/ou Pessoas

O apego à sensualidade e aos bens transitórios produz o pavor da morte, redundando em


desarmonias internas que de forma alguma impediriam o processo desencarnatório, às vezes
apressando-o, em face dos elementos destrutivos que a mente elabora e sustenta.
Manoel Philomeno de Miranda – Temas da Vida e da Morte – Cap. 14 – Morrendo para
Viver

Cavalcante não se preparou, convenientemente, para libertar-se do jugo da carne e


sofre muito pêlos exageros da sensibilidade.
Tem o pensamento afetuoso em excessiva ligação com aqueles que ama. Semelhante
situação dificulta-nos sobremaneira os esforços.
André Luiz – Obreiros da Vida Eterna – Cap. 11 – Amigos Novos

A esposa de Dimas, ao pé dele, não obstante prolongadas vigílias e sacrifícios estafantes,


que a expressão fisionômica denunciava, mantinha-se firme a seu lado, olhos vermelhos de
chorar, emitindo forças de retenção amorosa que prendiam o esposo em vasto emaranhado
de fios cinzentos
André Luiz – Obreiros da Vida Eterna – Cap. 13 – Companheiro Libertado

2.10 Temor de Você / do que Fez e/ou do que Não Fez

Rainha entre os homens, como rainha julguei que penetrasse no reino dos céus! Que
desilusão! Que humilhação, quando, em vez de ser recebida aqui qual soberana, vi acima de
mim, mas muito acima, homens que eu julgava insignificantes e aos quais desprezava, por não
terem sangue nobre! Oh! como então compreendi a esterilidade das honras e grandezas que com
tanta avidez se requestam na Terra!
Para se granjear um lugar neste reino, são necessárias a abnegação, a humildade, a
caridade em toda a sua celeste prática, a benevolência para com todos. Não se vos pergunta o
que fostes, nem que posição ocupastes, mas que bem fizestes, quantas lágrimas enxugastes.
Uma Rainha de França – Evangelho Seg. Espiritismo – Cap. 2– item 8 (Havre 1863)

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Não apenas ignorância da realidade espiritual, mas aflição ante a sua legitimidade.
Conhecer a verdade é penetrá-la, viver a verdade, no entanto, é renovar-se para ela.
Muitos que trazem da Terra o cômputo do conhecimento espírita, não obstante se
identificarem com a vida espiritual se perturbam face ao que deixaram de fazer, o que
planejaram fazer e o que fizeram erradamente.
Ao despertar na Vida Verdadeira, o homem, de um só golpe, olha a retaguarda,
percebendo em clara visão tudo quanto poderia ter realizado e não o fez. Esse conhecimento
dá-lhe sofrimento, perturba-o.
Não é a desencarnação em si que faz sofrer. Antes é a evidência do que não se realizou
que torna o Espírito sofrido. Por isso, o Codificador do Espiritismo com muita lucidez anotou
a resposta dos imortais de que o conhecimento do Espiritismo oferece, naturalmente. recurso
para impedir a perturbação, mas que os atos são os grandes contributos a fim de que o homem,
sabendo da sua realidade íntima e conhecendo o que fez de nobre, tenha o impedimento da
aflição interior.
Desse modo, identificado com o Espírito de amanhã que o Espiritismo nos revela, não
apenas fiquemos na informação, mas nos modifiquemos, para que a nossa consciência não se
nos transforme em algoz, fazendo sofrer, em consideração ao que ficou perdido ou aplicado
errada e audaciosamente contra cada um.
João Cleófas – Intercâmbio Mediúnico – Cap. 58 – Perturbação Espiritual

Aqui, meus filhos, não me perguntaram se eu havia descido gloriosamente as escadas


do Petit Trianon; não fui inquirido a respeito dos meus triunfos literários e não me solicitaram
informes sobre o meu fardão acadêmico. Em compensação, fui argüido acerca das causas
dos humildes e dos infortunados pelas quais me bati.
Não venho exortar a vocês como sacerdote; conheço de sobra às fraquezas humanas.
Vivam, porém a vida do trabalho e da saúde, longe da vaidade corruptora. E, na religião da
consciência retilínea, não se esqueçam de rezar.
Humberto de Campos – Palavras do Infinito – Aos Meus Filhos (Pedro Leopoldo,
9/Abril/1935)

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
3. A Vida no Mundo Espiritual
3.1 Considerações Gerais

Os dois mundos, espiritual e o físico são, de certa forma, independentes, ... não
obstante, a correlação entre ambos é incessante, porque reagem incessante um sobre o outro.
Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – 2º Parte – Cap. 1 – Item 2 – Perg. 86

A Terra, na sua condição de planeta habitado, qual ocorre em outros astros e sistemas
solares, é uma cópia imperfeita do mundo espiritual, que lhe é causal.
Tudo quanto existe no plano físico é condensação da energia que procede da Causa
Implícita.
Assim, a vida verdadeira, porque permanente, é a espiritual, de onde procedem todos os
seres para a qual retornam após o fenômeno da morte orgânica.
Esse mundo espiritual é vibratório, verdadeiro e não apenas conceptual, imaginativo.
Original, nele plasmam as mentes as suas necessidades, criando regiões pulsantes de
vida, que na Terra se apresentam copiadas, em contínuos processos de aprimoramento.
As sociedades que os habitam diferenciam-se pelos graus de evolução e pelos níveis de
aperfeiçoamento mos quais se encontram. Multiplicam-se, infinitamente, desde as mais
grosseiras, criadas pelas mentes culpadas em fenômenos de depuração, até as sublimes e
plenificadoras, onde vivem os Espíritos felizes.
A energia que constitui o mundo espiritual é facilmente plasmável pelo psiquismo,
conforme o seu teor vibratório, que é conseqüente do seu estado de evolução.
Os mais elevados programam e executam o trabalho de edificação de cidades e
comunidades gigantescas, ordeiras, sem os atropelos que caracterizam o primarismo e a
ignorância dos seres físicos.
Os entes se amam e se respeitam nas regiões nobres, onde predominam o bem, a beleza,
a verdade, trabalhando pelo progresso daqueles que estagiam na retaguarda evolutiva.
Nelas não existe a violência de qualquer espécie, as conquistas são pessoais,
intransferíveis, e dão-se através do estudo incessante, do trabalho e da observância das Leis.
Todos se identificam pelas suas afinidades e conveniências, elegendo a área de
desenvolvimento cultural, científico, tecnológico ou religioso que melhor lhes apraz.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
(...)
Obras de arte, de engenharia, descobrimentos científicos e tecnológicos humanos
vieram dessas comunidades espirituais de onde procedem os seres criadores e inventores que
deram início ao processo de renovação e de desenvolvimento da sociedade.
Academias e universidades, centros de pesquisas, bibliotecas complexas e aparelhadas,
núcleos de fé se multiplicam além da esfera física, nos países espirituais e suas colônias,
promovendo o ser cada vez mais e auxiliando-o na ascensão.
(...)
Quando próximos da Terra os núcleos, beneficiam-se com as dádivas do Sol e da Lua,
vislumbrando o mesmo mapa sideral, porém mais amplo, transparente e belo, do que aquele
que se vê na Terra.
Veículos de condução rápida transitam sem barulho, poluição ou perigo, encurtando
distâncias para quem ainda não conseguiu o controle da mente para o mecanismo da volição.
Vegetais e aves canoras, ricos de beleza e originalidade, habitam e vivem nesses núcleos
intermediários, porque o progresso é incessante.
Construções originais, sem exotismos ou excessos desnecessários em flagrante
desrespeito à estética, à arte elevada, constituem residências e complexos administrativos,
culturais, religiosos, comunitários, onde os relacionamentos se estreitam, as permutas se fazem.
(...)
Há também, como é natural, mundos espirituais inferiores, nas faixas subterrestres, na
superfície do planeta e em sua volta mais próxima.
São os lugares de reeducação moral e espiritual, conhecidos historicamente pelas
religiões como tenebrosos purgatórios, infernos, sendo que são sempre transitórios, já que o
amor de Deus luz em toda parte e não há erro irreparável, nem crime que receba punição eterna.
(...)
Pululam as moradas espirituais em volta do planeta terrestre e nas suas proximidades,
de onde partem os Espíritos para a reencarnação e para onde retornam após concluí-la, a fim de
ascenderem nos rumos da Grande Luz, quando ditosos, ou volverem ao proscênio físico, se
ainda prisioneiro das paixões e das misérias defluentes do estágio primitivo.
O mundo físico é, portanto, uma cópia borrada do espiritual: tudo quanto nele existe de
original se encontra causal, mas nem tudo quanto neste se conhece está plasmado ou existente
no de efeitos efêmeros.
Manoel Philomeno de Miranda – Sob a Proteção de Deus – Cap. 2 – O Mundo Espiritual

3.2 A Concretude do Mundo Espiritual – Cidades/Instituições no Além


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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
No mundo espiritual há […] verdadeiras cidades e vilarejos, com estilos variados como
acontece aos burgos terrestres, característicos da metrópole ou do campo, edificando largos
empreendimentos de educação e progresso, em favor de si mesmas e a benefício dos outros.
André Luiz – Evolução em Dois Mundos – 2º Parte – Cap. 7 – Item: Vida social dos
desencarnados

Sentaram-me numa poltrona de pedra, semelhante ao mármore. Tateei com força o


respaldar da curiosa cadeira e, ao verificar a dureza do material sob minhas mãos, comecei a
tranqüilizar-me... Em seguida, olhei para o céu e vi a lua cheia, fulgindo com tanta beleza que
me asserenei de novo.
Um fato, contudo, intrigava os dois: era a existência ali de árvores e de flores. Se
estavam no Mundo Espiritual, como poderia haver em tal lugar matéria e natureza, como as da
Terra?
André Luiz – E a Vida Continua – Cap. 8 – Encontro de Cultura

Chame-se a este mundo em que existimos, neste momento, “outra vida”, “outro Lado”,
“região extrafísica” ou “esfera do Espírito”, estamos num centro de atividade tão material
quanto aquele em que movimentam os homens, nossos irmãos ainda encarnados,
condicionados ao tipo de impressões que ainda lhes governam, quase que de todo, os recursos
sensoriais. O mundo terrestre é aquilo que o pensamento do homem faz dele. Aqui, é a
mesma coisa. A matéria se resume a energia. Cá e lá, o que se vê é a projeção temporária de
nossas criações mentais...
André Luiz – E a Vida Continua – Cap. 9 – Irmão Claudio

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Na vasta bibliografia mediúnica do médium Francisco Cândido Xavier, a cidade
espiritual conhecida como “Nosso Lar” foi a primeira sociedade urbana da Vida Maior retratada
com detalhes.
Foi no livro do mesmo nome, editado pela Federação Espírita Brasileira, que o Espírito
de André Luiz, relatando suas experiências, forneceu descrições pormenorizadas acerca da
organização da sociedade comunitária e das edificações que lhe servem de apoio material.
Conta o abnegado médium que se surpreendeu pelo inusitado das revelações e que
André Luiz, a fim de que ele desse livre curso aos seus relatos, certa noite, levou-o em
desprendimento espiritual, até a cidade “Nosso lar” para que se inteirasse da sua experiência e
conhecesse, pessoalmente, alguns recantos retratados no livro.
Convém esclarecer que Nosso Lar é uma colônia-cidade, habitada por homens e
mulheres, jovens e adultos, que já se desvencilharam do corpo físico.
Outras colônias-cidades espirituais, porém, existem, às centenas, em torno da Terra,
obedecendo às leis que lhe regem os movimentos de rotação e translação.
A cidade “Nosso Lar”, segundo informações veiculadas por André Luiz foi fundada por
portugueses distintos, desencarnados no Brasil, no século XVI, a partir de onde se localiza,
atualmente, a Governadoria.
Tendo em vista que a cidade se divide segundo as necessidades de sua organização
administrativa, permitimo-nos informar, aos que ainda não leram o livro Nosso Lar, que a
Governadoria, órgão central, está assessorada pelo trabalho e organização de seis Ministérios,
a saber: Ministério da Regeneração, do Auxílio, da Comunicação, do Esclarecimento, da
Elevação e da União Divina, que atuam nas áreas que os próprios nomes definem, sendo, cada
Ministério, dirigido por doze Ministros.
Heigorina Cunha – Cidade no Além – Cap. 1 – A Cidade Nosso Lar

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Entramos. Ambiente simples e acolhedor. Móveis quase idênticos aos terrestres; objetos
em geral, demonstrando pequeninas variantes.
Quadros de sublime significação espiritual, um piano de notáveis proporções,
descansando sobre ele grande harpa talhada em linhas nobres e delicadas.
Respirava-se, ali, doce e reconfortante intimidade. Não conseguia disfarçar meu
contentamento e enorme alegria. Aquele primeiro contacto com a organização doméstica na
colônia, enlevava-me.
A hospitalidade, cheia de ternura, arrancava-me ao Espírito notas de profunda emoção.
Em seguida, chamou-me Lísias para ver algumas dependências da casa, demorando-me
na Sala de Banho, cujas instalações interessantes me maravilharam. Tudo simples, mas
confortável.
André Luiz – Nosso Lar – Cap. 17 – Em Casa de Lísias

Anotações em torno de “Nosso Lar”

1 – O irmão Lucius fez quanto pôde, a fim de trazer, aos amigos domiciliados no Plano
Físico, alguns aspectos de Nosso Lar, a colônia de trabalho e reeducação a que nos vinculamos
na Espiritualidade, especialmente o plano piloto que lhe diz respeito.
Para isso, encontrou a dedicação da médium Heigorina Cunha, na cidade de Sacramento,
em Minas Gerais, no Brasil.
2 – Terá conseguido transmitir, minuciosamente, toda a imagem da vasto contexto
residencial a que nos referimos?
Decerto que não, mas estamos à frente de uma realização válida pelas formas e ideias
básicas que o mencionado amigo alinhou, cuidadosamente, através do intercâmbio espiritual.
3 – Justo lembrar aqui os mapas que Cristóvão Colombo desenhou, por influência de
Mentores e Amigos Espirituais, antes de desvelar a figura da América.
Semelhantes esboços não continham a realidade total, no entanto, demonstram, até hoje,
que o valoroso navegador apresentava a configuração do Novo Continente, em linhas
essenciais.

4 – Convém esclarecer que Nosso Lar é uma colônia-cidade, habitada por homens e
mulheres, jovens e adultos, que já se desvencilharam do corpo físico.
Outras colônias-cidades espirituais, porém, existem, às centenas, em torno da Terra,
obedecendo às leis que lhe regem os movimentos de rotação e translação.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
5 – Em toda parte, depois do berço, o homem, no centro da Natureza, é defrontado pelos
princípios de sequência. Depois da morte também.

6 – Atendendo aos ditames da reencarnação e da desencarnação, nascem na experiência


física e liberam-se dela milhares de criaturas humanas, no estado mental em que se comprazem.

7 – Quantos abordam o mundo material, através do renascimento, evidenciam-se na


condição em que se achavam, no Plano Espiritual, e, consequentemente, quantos regressam ao
Plano Espiritual, procedentes do mundo, lá se revelam tal qual se encontram, seja em matéria
de evolução ou seja ante a contabilidade da lei de causa e efeito.

8 – Ninguém é constrangido a pensar dessa ou daquela forma, por força dos princípios
universais que nos governam. Cada consciência, encarnada ou desencarnada, é livre, em
pensamento, para escolher o caminho que lhe aprouver, ainda que esteja, transitoriamente, nos
resultados infelizes de opções que haja feito, no passado, resultados nos quais a criatura pode
amenizar ou agravar a própria situação, na pauta da conduta que adote.

9 – Compreensível que os seres humanos transfiram para a Vida Espiritual, quando lhes
ocorra a desencarnação, os ideais nobilitantes e as paixões deprimentes, os desgostos e as
alegrias, a convicção e a descrença, os valores do entendimento e os desmandos da inteligência,
o conhecimento deficitário e a ânsia de elevação de que se vejam possuídos.

10 – Renascendo na Terra, a personalidade espiritual permanece internada no veículo


físico, cercada de testes que lhe aferem o valor alcançado, com alicerces na assimilação do que
já tenha realizado de melhor, em si mesma; e, desencarnando, essa mesma personalidade
patenteia, claramente, o que é, como está e em que degrau evolutivo se acomoda, irradiando de
si própria o clima espiritual em que se lhe apraz viver e conviver.

11 – No berço terrestre, a pessoa se reassume na família ou no grupo social em que deva


reaprender lições e conclusões do pretérito, com o resgate de débitos que haja contraído, ou em
que possa prosseguir nas tarefas de amor e cooperação às quais livremente se empenha.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
12 – Na desencarnação, essa mesma pessoa retoma a companhia do grupo espiritual
com que se afina, de modo a continuar mentalmente estanque, como deseja, ou de maneira a
colher os resultados felizes no esforço de auto sublimação que haja desenvolvido no Plano
Físico, seja pelo aperfeiçoamento realizado em si mesma ou seja pelas tarefas enobrecedoras
que tenha iniciado, entre os homens, entrando naturalmente no grupo de elevação a que se
promoveu.

13 – Todo Espírito é livre, no pensamento, para melhorar-se, melhorando o campo de


vivência em que esteja, ou para complicar-se, complicando o campo de experiências a que se
vincule.
14 – Nas colônias-cidades ou colônias-parques que gravitam em torno do Plano Físico,
para domicílio transitório das inteligências desencarnadas, é natural que a luta do bem para
extinguir o mal ou o desequilíbrio da mente, continue com as características que lhe
conhecemos na Crosta da Terra.

15 – A morte não opera milagres. O ser humano, além dela, prossegue no trabalho do
auto-burilamento ou estacionário, enquanto não aceite a obrigação de renovar-se e evoluir.

16 – As religiões, a filosofia e a ciência continuam, por necessidade das criaturas


desencarnadas, crendo, estudando e experimentando na sustentação do progresso e do
aprimoramento humano, oferecendo vastos domínios de serviço nobilitando aos seus
intérpretes, cultivadores e expoentes.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
17 – Considerando a densidade das multidões de Espíritos desencarnados, desvalidos
de orientações, vítimas de paixões acalentadas por eles próprios, analfabetos da alma,
desvairados pelos sentimentos possessivos, portadores de enfermidades e conflitos que eles
mesmos atraem e alimentam, Espíritos imaturos e desinformados, de todas as procedências, é
necessário que o lar de afinidades, o templo da fé, a escola e a predicação, a prece e o reconforto,
o diálogo e a instrução, o hospital e a assistência, o socorro e os tratamentos de segregação,
funcionem, nas comunidades do Mais Além, com extremada compreensão de quantos lhes
esposam as tarefas salvadoras.

18 – Para o esclarecimento gradativo dos Espíritos desencarnados, que se revelam


necessitados de apoio e de instrução (e contam-se por milhões), a palavra articulada, falada ou
escrita, irradiada ou televisada, ainda é o processo mais rápido de comunicação, embora a
telepatia e a sublimação contêm, além da morte, com círculos de iniciados, cada vez mais
amplos, em elevados níveis de entendimento.

19 – Justo que a didática, no Mais Além, utilize a lição, o exame, a exposição prática,
os cursos vários de introdução ao conhecimento superior, a disciplina, o apólogo, a fábula, os
exemplos da história e todos os recursos outros, das artes e da literatura, que sirvam de auxílio
aos companheiros necessitados de conhecimento e motivação para o bem deles próprios.

20 – Nos Planos imediatos à experiência física, os felizes estão sempre dispostos ao


trabalho em favor dos infelizes, os mais fortes a benefício dos mais fracos, os bons em socorro
dos desequilibrados e os mais sábios em apoio dos desorientados e ignorantes

21 – Nas comunidades de criaturas desencarnadas, a afinidade é o clima ideal para a


união dos seres, o interesse pela ascensão do espírito aos planos superiores é a marca de todos
aqueles que já despertaram para o respeito a Deus e para o amor ao próximo, o trabalho do bem
é incessante, a religião não tem dogmatismo, a filosofia acata os melhores pensamentos onde
se manifestem, a ciência é humanitária e o esforço pelo próprio aperfeiçoamento íntimo é
impulso infatigável em todas as criaturas de boa vontade.

22 – Além da morte, a vida continua e, com mais clareza, aí se vê a realidade da teologia


simples que rege a evolução, em tudo o que a evolução possua em comum com a Natureza: “A
cada um segundo as suas próprias obras”. (Mt)

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
André Luiz – Cidade no Além – Intróito
Uberaba, 17 de junho de 1983.
(Anotações recebidas pelo médium Francisco Cândido Xavier, em Uberaba, Minas
Gerais).

Na parte final de nossas tarefas da noite de 1º de setembro de 1955, foi nosso benfeitor
André Luiz quem se valeu do horário das instruções para estimular-nos ao estudo com o seu
verbo amigo e sábio.
Com a franqueza e a simplicidade que lhe são peculiares, deixou-nos o precioso
esclarecimento, apresentado linhas abaixo.

Quando alinhamos nossas despretensiosas anotações acerca de “Nosso Lar”,


relacionando a nossa alegria diante da Vida Superior, muitos companheiros inquiriram
espantados:
– “Afinal, o que vem a ser isso? Os desencarnados olvidam assim a paragem de que
procedem?
Se as almas, em se materializando na Terra, chegam do mundo espiritual, por que as
exclamações excessivas de júbilo quando para lá regressam, como se fossem estrangeiros ou
filhos adotivos de nova pátria?”
O assunto, simples embora, exige reflexão.
E é necessário raciocinar dentro dele, não em termos de vida exterior, mas de vida
íntima.
Cada criatura atravessa o portal do túmulo ou transpõe o limiar do berço, levando
consigo a visão conceptual do Universo que lhe é própria.
Almas existem que varam dezenas de reencarnações sem a menor notícia da
Espiritualidade Superior, em cuja claridade permanecem como que hibernadas, na condição
de múmias vivas, já que não dispõem de recursos mentais para o registro de impressões que
não sejam puramente de ordem física.
Assemelham-se, de alguma sorte, aos nossos selvagens, que, trazidos aos grandes
espetáculos da ópera lírica, suspiram contrafeitos pela volta ao batuque.
E muitos de nós, como tantos outros, em seguida a romagens infelizes ou semi-corretas,
tornamos do mundo às esferas espirituais compatíveis com a nossa evolução deficiente, e, além
desses lugares de purgação e reajuste, habitualmente somos conduzidos por nossos Instrutores

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
e Benfeitores para ensaios de sublimação a círculos mais nobres e mais elevados, nos quais nem
sempre nos mantemos com o equilíbrio desejável, já que nós achamos saudosos de contato mais
positivo com as experiências terrestres.
Agimos, então, como alunos inadaptados de Universidade venerável, cuja disciplina nos
desagrada, por guardarmos o pensamento na retaguarda distante, ansiosos de comunhão com o
ambiente doméstico, em razão do espírito gregário que ainda prevalece em nosso modo de ser.
Como é fácil observar, raras Inteligências descem, efetivamente, das esferas divinas
para se reencarnarem na esfera física.
Todos alcançamos as estações do berço e do túmulo, condicionando nossas percepções
do mundo externo aos valores mentais que já estabelecemos para nós mesmos, porque todos
nós ajustamos, bilhões de encarnados e desencarnados, a diferentes faixas vibratórias de
matéria, guardando, embora, o Planeta como nosso centro evolutivo, no trabalho comum.
Desse modo, a mais singela conquista interior corresponde para nossa alma a horizontes
novos, tanto mais amplos e mais belos, quanto mais bela e mais ampla se faça a nossa visão
espiritual.
Construamos, pois, o nosso paraíso por dentro.
Lembremo-nos que os grandes culpados que edificaram o inferno, em que se debatem,
respiram o ambiente da Terra – da Terra que é um santuário do Senhor, evoluindo em pleno
Céu.
Nosso ligeiro apontamento em torno do assunto destina-se, desse modo, igualmente a
reconhecermos, mais uma vez, o acerto e a propriedade da palavra de Nosso Divino Mestre,
quando nos afirmou, convincente: – “O reino de Deus está dentro de nós.”
André Luiz – Vozes do Grande Além – Cap. 12 – Esclarecimento

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Nossa Colônia encontra-se próxima à Terra, sofrendo, conseqüentemente, as mesmas
condições do planeta a que se encontra ligada.
Irmanados ao destino do Brasil, nossos Instrutores trabalham infatigavelmente, há mais
de 250 anos, cooperando com as falanges de Ismael na construção da Pátria do Cruzeiro.
Fundada por abnegado Missionário da Caridade, destinava-se, inicialmente, a socorrer
escravos desencarnados ao peso de provações e expiações amaríssimas. Recolhendo os mais
rebeldes, sedentos de vingança, auxiliava-os com esclarecimentos necessários, reconduzindo-
os ao Orbe para novas e redentoras lutas.
Otília Gonçalves – Além da Morte – Cap. 8 – Hospitalizada

Se o homem soubesse a extensão da vida que o espera além da morte do corpo,


certamente outras normas de conduta escolheria na Terra!
Não me refiro aqui aos materialistas sem fé. Aliás, a maioria dos ateus não passam de
grande assembleia de crianças espirituais, necessitadas de proteção e ensinamento.
Reporto-me, com vigor, aos que adotam uma crença religiosa, usando lábios e paixões,
sem se afeiçoarem, no íntimo, às verdades renovadoras que abraçam.
Nós mesmos, os que nos beneficiamos ao contato dos princípios do Espiritismo Cristão,
principalmente nós que ouvimos a mensagem dos que respiram noutros Planos da vida eterna,
se fôssemos menos palavrosos e mais cumpridores das lições que recebemos e transmitimos,
outras condições nos caracterizariam além do sepulcro, porque a justiça indefectível nos
espreita em toda parte e porque transportamos conosco, para onde formos, as marcas de nossos
defeitos ou virtudes.
Depois da sepultura, sabemos, com exatidão, que o reino do bem ou o domínio do mal
moram dentro de nós mesmos.
(...) Seguíamos sem novidades e, pouco a pouco, adaptava-me a volatear como aluno
que recapitula a prova.
Em torno, a paisagem escurecia sempre, não obstante resplandecerem as estrelas no alto.
Possuía a perfeita noção de viajarmos sobre vasto abismo de trevas. Observava, porém,
admirado que não me sentia em processo de ascensão. A ideia de verticalidade estava longe de
nós, tanto quanto a linha de esfericidade escapa à apreciação do homem que habita o globo da
Terra.
Reparei, receoso, que não distante da estrada que percorríamos, vagarosamente,
apareciam sinais de vida e movimento. Ruídos de vozes desagradáveis alcançavam-nos os
ouvidos, de quando em quando.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Formas monstruosas, de espaço a espaço, surgiam visíveis ao nosso olhar e, pelo que
me era dado perceber, flutuávamos sobre região vulcânica, cujo “solo instável” oferecia
erupções nos mais diversos pontos.
O que me afligia sinceramente era a contemplação de seres de lamentável aspecto, além
das margens.
Não estou autorizado a descrever o que vi nesse particular, mas posso afirmar que as
figuras sinistras da Mitologia ficam a dever à realidade com que eu era surpreendido.
Registrando o temor que se apossara de mim, o Irmão Andrade, em voz baixa, explicou-
me que os Planos habitados pela mente encarnada emitiam, de permeio com as criações dos
Espíritos inferiores desencarnados, formas perturbadas, quando não horripilantes, de vez que a
maioria das criaturas terrestres, na carne ou desenfaixadas do corpo, denunciavam-se, no
íntimo, através de comportamento quase irracional.
Salientou que a Esfera próxima do homem comum, em razão disso, é povoada por
verdadeira aluvião de seres estranhos, caprichosos e muita vez ferozes. Chegou mesmo a
dizer que inúmeros sábios da espiritualidade superior classificam semelhante região de
“império dos dragões do mal”.
Rememorei a leitura de páginas mediúnicas vindas ao meu conhecimento antes da morte
e o companheiro dedicado confirmou-as, declarando que a zona em que viajávamos constituía
realmente o umbral vastíssimo, entre a residência dos irmãos encarnados e os Círculos vizinhos.
Acentuou que o pensamento espalha vibrações em todas as latitudes do Universo e que
as projeções da mente encarnada no planeta terreno não correspondem aos ideais superiores
que inspiram as leis da Humanidade.
Os homens, por fora acrescentou o protetor —, nas experiências da vida social,
aparentam cavalheirismo e nobreza; todavia, por dentro, na expressão real do ser, revelam ainda
qualidades menos dignas, muito próximas da impulsividade dos animais.
Na manifestação livre do espírito prevalece a verdade da alma, não a aparência da forma
passageira, e daí o largo cosmorama de paisagens escuras, torturadas e dolorosas que
rodeia o lar terreno, em cuja substância igualmente sutil operam as entidades perversas, a
modo do lobo que pode beber da mesma fonte em que a ovelha se dessedenta.
Percebi que o benfeitor desejava destacar que, em tais lugares, tanto pode o emissário
do amor exercitar-se na renúncia do bem, como pode o malfeitor das sombras internar-se no
crime e no mal.
Compreendendo, no entanto, que as atenções dele se dividiam entre o carinho para
comigo e a expectativa asfixiante da hora, sofreei o desejo de perguntar.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Irmão Jacob – Frederico Figner – Voltei – Cap. 7 – Incidente em Viagem

Somente de vez em quando sentia que alguém invisível aos seus olhos, o levava para
lugares nunca vistos, onde ele, maravilhado, contemplava novas manifestações de beleza, de
vida, de movimento.
Nunca imaginaria que pudesse haver, no mundo para onde fora jogado após a
morte, algo que não tivesse conhecido na Terra, no meio de todas as conquistas da Ciência, da
civilização.
Paulo compreendera, na erraticidade, que mais se aproximaria daquelas assembleias
siderais, formadas de Espíritos que haviam atingido alto grau de evolução, quanto mais cedo
resgatasse o seu passado criminoso.
E quando, pela mão de seu mentor espiritual, percorria o espaço em todos os sentidos,
admirando a organização desse mundo surpreendente em que fora lançado após a morte do
corpo, mais se lhe avolumava o desejo de, numa existência de privações e sacrifícios, de
renúncia e abnegações, repara todo um passado de erros e descaminhos, por já cansado de sofrer
e delinquir.
Fernando do Ó – Almas que Voltam –– págs. 11 e 16

Ao apreciarmos a matéria, constataremos que só há uma realidade: a energia, que é a


realidade básica de todas as coisas. Quando se condensa, aparece a matéria; quando se dissocia,
volta ao seu estado primitivo.
Há uma explanação científica, apresentada por um físico moderno, que Nos oferece –
aos menos eruditos que reconhecemos ser – uma ideia a esse respeito.
Diz ele: "Consideremos o Universo como se fosse um oceano. De repente, o oceano
levanta uma onda.
A onda é feita pela água do oceano.
O oceano é também a onda, mas essa não é aquele do qual surge, é somente uma
partícula. Em seguida, a onda bate nos penhascos e fragmenta-se em miríades de gotas.
Cada gota, cada bola pequenina é do oceano, mas não é o oceano, embora o oceano seja
constituído de gotas.
Esta gota bate e nela se forma um pequeno orifício; vem o sol e a suga, transformando-
a em vapor d'água.
Esse vapor d'água é do oceano, mas não é o oceano, que se constitui de vapor d'água.
Então, o vapor d'água vai levado pela nuvem e defronta uma frente fria. Ele se condensa. No

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
choque com a atmosfera quente que se ergue da Terra, assume a forma de granizo. Faz-se
milhares de pedras. São do oceano, mas não são o oceano, que tem granizo na sua constituição.
Surge o Sol que derrete o granizo. A pedra volta a ser vapor d'água, gota d'água que o
vento carrega nas suas correntes novamente. Outra frente fria transforma-o em chuva que outra
vez cai no oceano... É do oceano essa água, do oceano é aquela chuva..."
Os seres humanos viemos de um campo de energia pensante, que é Deus.
Esta energia constitui o mundo real, que forma o mundo aparente.
Foi necessário que, a partir de Jesus, passássemos por várias escolas de pensamento,
como a Neoplatônica, de Alexandria; por Newton, Descartes, os pensadores materialistas,
chegando até John Dalton, no século XIX e, conhecendo os grandes pioneiros da libertação
cultural, para que viesse Allan Kardec e colocasse o microscópio da mediunidade sobre a
organização material, a fim de descobrir o Mundo Espiritual, assim como utilizando-nos
do microscópio eletrônico, detectamos os espaços intermoleculares da matéria.
Allan Kardec, na maravilhosa Doutrina Espírita, ressaltou que o mundo Real não é
este, físico e tangível, mas outro, imaterial, energético, do qual este é somente uma projeção,
quase ilusória.
O Budismo, também assevera a mesma coisa há muitos séculos, quando afirma que "este
é o mundo da ilusão, da paixão, do sofrimento", no qual estamos para nos aprimorarmos como
um diamante, que tem de sofrer a lapidação para poder refletir a luz solar. Somos um tipo de
diamante bruto, aguardando ser trabalhado para refletir a Luz Divina, o Mundo Espiritual.
Allan Kardec demonstrou que o Universo é povoado de seres pensantes, inteligentes,
não necessariamente materiais. Mostrou-nos que esse Mundo Espiritual é absolutamente
real, constituído de moléculas, de micropartículas de tal natureza infinitamente pequenas que
se fazem invisíveis, tornando-se um laboratório de ações e reações, do qual nosso plano físico
é uma condensação algo ainda grosseira.
O Mundo Espiritual é, portanto, o mundo causal, de onde viemos, para onde
retornaremos e onde permaneceremos.
Foi através das experiências mediúnicas que Allan Kardec pôde constatar a legitimidade
desse Mundo Espiritual.
Certo dia, perguntei a um Espírito muito querido como poderia explicar Essa
realidade a uma pessoa que tivesse dificuldade em compreender.
Respondeu-me:
– "Fácil, fácil! Leve-a a visitar uma taba de índios. Lá chegando, fale ao indígena sobre
televisão.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Dir-lhe-á que onde você mora existe televisão que, ao ser acionada através de pequeno
botão, apresenta imagens do outro lado da Terra, de diferentes lugares ao mesmo tempo..."
O silvícola irá olhá-la, surpreso, e depois de meditar bastante, respondera:
– "Não consigo entender..." Continuaríamos informando-o:
– "Então, venha cá!"
Cheguemos à margem da lagoa. Façamos movimentos que serão refletidos no espelho
das águas.
– "A televisão é assim!" O autóctone meditará e, após raciocinar, poderá dizer:
– "Agora compreendi!"
Em verdade, a televisão não é assim; mas, para aquele silvícola seria dessa forma.
Ninguém levaria uma lagoa para dentro do quarto para ligar num botão e ver as imagens
imprecisas e repetitivas das águas...
Desse modo, o Mundo Espiritual pode ser definido como nos informam os Espíritos:
"Tudo quanto vocês têm aí, nós temos cá, mas o de que dispomos aqui, vocês não
têm aí".
Na civilização, possuímos tudo o que existe na taba do homem primitivo, mas lá, não se
tem tudo o que existe na civilização. Isto dá uma ideia do Mundo Espiritual, que é o mundo
causal em relação ao Mundo físico.
Divaldo Franco – Biblioteca Virtual Espírita – O Mundo Espiritual
http://bvespirita.com/O%20Mundo%20Espiritual%20(Divaldo%20Pereira%20Franco

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Outra obra espírita que trata com detalhes do assunto (A Vida no Mundo Espiritual) é A
vida além do véu (FEB Editora), transmitida mediunicamente por vários Espíritos ao reverendo
inglês G. Vale Owen, de Oxford.
O livro faz referência à Cidade de Castrel (Castrel é o nome de um Espírito Superior,
dirigente da Colônia), dedicada ao atendimento à infância, encarnada e desencarnada.
Ali, as crianças desencarnadas são orientadas e integradas à nova realidade da vida, até
alcançarem a forma perispiritual adulta, quando então serão encaminhadas a outras localidades
no Plano Espiritual, a fim de prosseguirem nos seus aprendizados.
Uma pálida ideia da Cidade de Castrel, e de outras colônias espirituais semelhantes, é
extraída da obra pelo tradutor Carlos Imbassahy, cuja primeira edição em língua portuguesa
ocorreu em 1920.
A vida não acaba aqui. [...] E lá, mais perto do Criador [...] descansaremos, enfim, de
todos os males por que passamos, de todas as dores que sofremos.
É lá que serão consolados os que choram. Lá os animais não padecem; lá as flores não
murcham; lá os indivíduos não se odeiam. Lá não se injuria, não se humilha, não se maltrata,
não se trai, não se furta. [...] Lá é tudo verdade, tudo sinceridade e tudo amor. Lá é com amor
que amor se paga.
Marta Antunes Moura – Revista Reformador – 2016 – Junho – Para onde vão as crianças
desencarnadas

A vegetação é extremamente interessante e bizarra, em comparação com a da Terra.


Imaginai um craveiro florescendo com suas raízes entrelaçadas na própria atmosfera do
mundo, para fazerdes uma ideia do que estou descrevendo.
Poucas flores são mais ou menos semelhantes às dos vossos jardins e a maioria delas
vos pareceriam extravagantes à primeira contemplação; caracterizam-se, porém, por sua
indescritível e invulgar delicadeza.
Maria João de Deus – Cartas de uma morta Cap. 4 – Na vida da alma livre

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Na moradia de continuidade para a qual se transfere, encontra, pois, o homem as mesmas
leis de gravitação que controlam a Terra, com os dias e as noites marcando a conta do
tempo, embora os rigores das estações estejam suprimidos pelos fatores de ambiente que
asseguram a harmonia da Natureza, estabelecendo clima quase constante e quase uniforme,
como se os equinócios e solstícios entrelaçassem as próprias forças, retificando
automaticamente os excessos de influenciação com que se dividem.
Plantas e animais domesticados pela inteligência humana, durante milênios, podem ser
aí aclimatados e aprimorados, por determinados períodos de existência, ao fim dos quais
regressam aos seus núcleos de origem no solo terrestre, para que avancem na romagem
evolutiva, compensados com valiosas aquisições de acrisolamento, pelas quais auxiliam a flora
e a fauna habituais à Terra, com os benefícios das chamadas mutações espontâneas.
As plantas, pela configuração celular mais simples, atendem, no Plano extrafísico, à
reprodução limitada, aí deixando descendentes que, mais tarde, volvem também à leira do
homem comum, favorecendo, porém, de maneira espontânea, a solução de diferentes problemas
que lhes dizem respeito, sem exigir maior sacrifício dos habitantes em sua conservação.
Ao longo dessas vastíssimas regiões de matéria sutil que circundam o corpo ciclópico
do Planeta, com extensas zonas cavitárias, sob as linhas que lhes demarcam o início de
aproveitamento, qual se observa na crosta da própria Terra, a estender-se da superfície
continental até o leito dos oceanos, começam as povoações felizes e menos felizes, tanto quanto
as aglomerações infernais de criaturas desencarnadas que, por temerem as formações dos
próprios pensamentos, se refugiam nas sombras, receando ou detestando a presença da luz.
André Luiz – Evolução em Dois Mundos – 1ª Parte – Cap. 13 – 13 Alma e fluidos

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
A propósito de casas, paisagens, água, bosques, hospitais, asilos, alimentos, roupas etc.,
existindo no Além talqualmente tudo quanto existe na terra, vejamos como se referem a isso
alguns respeitáveis autores do passado:
• Ernesto Bozzano em A Crise da Morte, 4ª edição:
"P. — A morada de que falas tinha o aspecto de uma casa? R. — Certamente. No mundo
dos Espíritos há a força do pensamento, por meio do qual se podem criar todas as comodidades
desejáveis..." (p. 25).
"... e me achei, não sei como numa espécie de vasta planície... Era indescritível a beleza
da paisagem. Bela também é a paisagem terrena, mas a celeste é muito mais maravilhosa..." (p.
47).
"...os Espíritos que me assistiam me haviam colocado num certo meio, que me parecia
uma sala de hospital, provida de todo o conforto", (p. 64).
"A paisagem era plana e ondulada, muito semelhante, sob certos pontos de vista, às
belezas do meu que rido país natal..." (p. 79).
"Por isso, os Espíritos me conduziram à maravilhosa moradia que eles próprios haviam
criado" (p. 109).
"As habitações são construídas por Espíritos que se especializaram em modelar, pela
força do pensamento, essa matéria espiritual" (p. 133).
• Em Depois da Morte, de Léon Denis, encontramos:
"Há festas espirituais nas moradas etéreas. Radiantes de ofuscadora luz grupam-se em
família os Espíritos puros" (p. 253, 4ª ed.).

• No Limiar do Etéreo, de J. Artur Findlay, 2ª ed. da FEB:


"Crescem árvores e desabrocham flores" (p. 135).
"... disseram-me que comem e bebem exatamente como nós e têm do comer e do beber
as mesmas sensações que nós" (p. 136). "P. — Comeis e saboreais o vosso alimento? R. —
Comemos e bebemos, sim;" (p. 145).
"Temos livros e podemos lê-los."
"Das flores e dos campos aspiramos os aromas, como vós aí." "Tudo é tangível..." (p.
146). "P. — Assemelha-se à nossa a vossa vegetação. R. — De certo modo, mas é muito mais
linda." "Assim também as nossas casas são produtos das nossas mentes.
Pensamos e construímos" (p. 148).

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
• De A Nova Revelação, de Artur Conan Doyle, 2ª ed. da FEB:
"Os seres vivem vestidos, como era de esperar, por quanto nenhuma razão há para que
renunciem à decência sob as novas formas que tomam" (p. 79).
"Vivem em comunidades, como fora de supor, desde que entre os que se assemelham há
atração" (p. 80).
".. .os espíritos, ou dispõem de excelente biblioteca a que se reportam, ou, então,
possuem uma memória que, por assim dizer, os torna oniscientes" (p. 81).
"... que (os Espíritos) usam vestuários e se alimentam" (p. 26).
"Os Espíritos viviam, em famílias e comunidades" (p. 29).

André Luiz nos fala também de cães, gatos, aves, animais em geral, vivendo
normalmente no Além. A informação seria novidade se dela já não tivéssemos tido detalhes
minuciosos, muitos anos antes.
• Do livro No Limiar do Etéreo:
"Os animais, do mesmo modo que os seres humanos, sobrevivem à morte" (p. 137).
"P. — Os cães, gatos e outros animais sobrevivem à morte? R. — Sim, senhor, digo-o
com ênfase: sobrevivem" (pp. 147/148).
• De Rumo às Estrelas: "Existem aqui vários animais." "Gostei de encontrar aqui
cães, e tenho dois gatos que me seguem" (p. 59).
• Em A Reencarnação, Gabriel Delanne narra, nas páginas 107 a 120, diversos
casos de materialização de animais.
Tanto Delanne como Conan Doyle, Richet, Geley, Aksakof, etc., muitos outros autores
nos falam das memoráveis sessões com os médiuns Frank Kluski e Jean Guzik, em Varsóvia,
no correr do ano de 1922, durante as quais se conseguiram materializações duma grande ave de
rapina, dum ser intermediário entre o macaco e o homem, de cães, etc.
Em A Vida Além do Véu, de George Vale Owen, o Espírito comunicante descreve sua
casa como… (…) bem acabada interna e externamente.
Dentro, possui banheiro, um salão de música e aparelhos registradores do nosso
trabalho. É um edifício amplo.
Segundo declarações do Mundo Espiritual, os tamanhos e tipos de imóveis variam de
acordo com a importância do trabalho desempenhado pelos Espíritos que os ocupam e segundo
seus caracteres.
Há, mesmo, verdadeiros palácios com grandes torres, altas abóbadas, grandes cúpulas e
praças públicas ou reservadas.
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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Os templos destinados às religiões, imitando os gostos terrenos, são, geralmente,
suntuosos, verdadeiras catedrais cujas torres se perdem nas alturas.
Em A Vida nos Mundos Invisíveis, o Espírito Monsenhor Robert Hugh Benson se
dedica a relatar como se processou a sua morte e as subsequentes viagens através de várias
regiões do Mundo Espiritual.
De suas experiências, oferece informações sobre os fascinantes aspectos da vida dos
Espíritos.
Sobre a estrutura das Cidades Espirituais e estruturas das moradias, diz ele:
Ao nos aproximarmos da cidade, foi possível avaliar a sua enorme extensão. Nem
preciso dizer que era totalmente diversa de tudo que jamais víramos. Consistia de grande
número de majestosos edifícios, rodeados de magníficos jardins e árvores, onde brilhavam, aqui
e acolá, espelhos de água, límpida como cristal, refletindo, além das cores já conhecidas na
Terra, outras mil tonalidades jamais vistas.
Comparados com as estruturas terrenas, os edifícios não eram muito altos, mas apenas
extremamente amplos. E impossível descrever de que materiais se compunham, por serem
essencialmente espirituais.
A superfície é lisa como mármore, e tem a delicada consistência e a transparência do
alabastro, ao mesmo tempo que cada prédio emite uma corrente de luz da mesma pálida
tonalidade.
No caso de uma obra complexa e importante como a formação das Colônias Espirituais
Socorristas, informam alguns Espíritos comunicantes que a tarefa é confiada às falanges de
Espíritos que nisso se especializaram.
Luciano dos Anjos – A Vida no Mundo Espiritual

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Portanto a vida nas regiões mais próximas da crosta desenvolve-se de maneira
semelhante em termos de habitação, vestuário, alimentação, sono e repouso, transporte,
linguagem, vida social, animais e plantas.

a. Habitação:
Há semelhança com a que existe na Terra. No plano extra-físico vamos identificar casas,
hospitais, escolas, templos, etc.
Ernesto Bozzano [A Crise da Morte] afirma que a paisagem astral se compõe de duas
séries de objetivações do pensamento. A primeira é permanente e imutável, por ser objetivação
do pensamento e da vontade de entidades espirituais muito elevadas, prepostas os governos das
esferas espirituais.
A outra é, ao contrário, transitória e muito mutável; seria a objetivação do pensamento
de cada entidade desencarnada, criadora do seu próprio meio imediato.
Examinando o pensamento deste autor, podemos aceitar que as construções das colônias
espirituais se enquadram na primeira série, enquanto a paisagem das regiões umbralinas
pertencem a segunda.

b. Vestuário:
A apresentação externa dos Espíritos depende de sua força mental e de seu desejo, pois
eles são capazes de modificarem a sua aparência por um processo denominado ideoplastia.
Nem todos os Espíritos, no entanto, têm condição evolutiva suficiente para plasmarem
suas vestes perispirituais, donde a necessidade de roupas confeccionadas por especialistas na
área. André Luiz [Nosso Lar] mostra departamentos reservados a esta tarefa.

c. Alimentação:
Nem todos os Espíritos são capazes de retirar do Fluido Cósmico Universal a energia
reparadora para as suas células, daí a necessidade dos Espíritos materializados, alimentarem-se
de recursos energéticos mais consistentes. Por esse motivo, observam-se no mundo espiritual
alimentos à base de sucos, sopas e frutas.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
(...)
Eram cerca de dez as entidades então visitadas. Encontravam-se como aprisionadas em
pequeno e miserável compartimento, em promiscuidade chocante.
Haviam sido homens quando encarnados, conservando os seus Espíritos, agora, por isso
mesmo, os característicos masculinos.
Vibratoriamente, encontravam-se muito fracas, como alguém em convalescença de
grave enfermidade, apavoradas, desencorajadas para o recurso da oração, porque ainda ímpios
os seus sentimentos; temerosas de se verem em presença de Deus, porque certas da própria
culpabilidade, atormentadas pelas visões alucinatórias dos crimes praticados.
O solo do compartimento em que se detinham, espécie de quarto ou sala, de mui
pequenas dimensões, com uma janela gradeada à esquerda e urna porta à direita, era tão imundo
quanto eles próprios, igualmente empapado de sangue e humores fétidos, a tal ponto que os
infelizes se horrorizavam de si mesmos, sentindo-se tolhidos, amesquinhados, incapazes de
reagir contra tão miserável estado de coisas.
O terreno acima citado dividia-se em dois por uma cerca, que se nos afigurou construída
em arame farpado.
No trecho à esquerda, para o qual deitava a porta, erguia-se uma cobertura tosca, espécie
de pequeno galpão, muito sólido aos nossos olhos, onde uma mulher de cor negra (Espírito
desencarnado, voluntariamente materializado, em serviços de resgates ou beneficência),
lembrando o tipo das antigas escravas africanas, ao tempo do Império, sorridente e simpática,
deixando entrever certa luminosidade no seu envoltório perispirítico, parecia "cozinhar" para
os "habitantes locais".
Sentimos o aroma apetitoso da comida e espionámos: preparada em grandes tachos
de cobre, como os que se usavam outrora para o fabrico doméstico da goiabada afigurou-se ao
nosso entendimento tratar-se de leguminosas e hortaliças, as quais se nos desenharam à
visão como alfaces, tomates, cenouras, batatas, azeitonas, cebolas, em salada. Esse local
era agradável pela presença da negra, em quem, com efeito, reconhecemos Espírito operante.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Evidente é que, no panorama fluídico dessa cozinha, existia o trabalho mental
realizado pela vontade da entidade espiritual responsável pela vigilância das entidades
sofredoras, a qual teria sido, quando encarnada, alguma escrava ou serviçal encarregada de
cozinhas terrenas.
Pela ação da vontade sobre os fluidos e as matérias essenciais do mundo invisível, ela
teria criado o panorama citado, para a caridosa assistência aos seus pupilos em precário estado
de materialidade, pois é sabido que o Espírito possui liberdade de ação, no Além-Túmulo, para
as tentativas em torno da recuperação dos infelizes desajustados das normas ou leis espirituais.
Bezerra de Meneses – Devassando o Invisível – Cap. 4 – Regiões Inferiores
d. Sono e Repouso:
Quanto mais evoluído o Espírito, menos necessita de repouso, para reparar as suas
energias. Espíritos inferiores dormem à semelhança do homem encarnado.

e. Transporte:
Os Espíritos superiores se locomovem através de um processo denominado volitação,
onde transforma a sua energia latente em energia cinética, deslocando-se no espaço em altas
velocidades. No entanto, Espíritos existem, que ainda não desenvolveram esta faculdade, daí a
necessidade de veículos para transporte nas faixas espirituais mais próximas da Terra.

f. Linguagem:
A linguagem oficial entre os Espíritos é a do pensamento. No entanto, muitas almas
ainda involuídas, não conseguem se comunicar através do pensamento, donde a necessidade de
palavra articulada.
Assim sendo, vamos observar colônias onde se fala o português, o inglês, etc.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
g. Vida Social:
A vida social nas colônias espirituais é intensa e tem como objetivo a preparação dos
Espíritos para o seu retorno a Terra em nova roupagem física. Estudam, trabalham, repousam e
se divertem. Há relatos de casamento, festas e jogos, segundo hábitos e costumes da colônia.

O Maria João de Deus [Cartas de Uma Morta] afirma:


"Os saxões, os latinos, os árabes, os orientais, os africanos, formam aqui grandes
falanges à parte, e em locais diferentes uns dos outros. Nos núcleos de suas atividades
conservam os costumes que os caracterizavam e é profundamente interessante verificar como
essas colônias diferem umas das outras."
Manoel Philomeno de Miranda [Loucura e Obsessão] lembra-nos:
"Católicos, protestantes e outros religiosos após a morte, não se tornam espíritas ou
conhecedores da realidade ultra-tumular; ao revés, dão curso aos seus credos, reunindo-se em
grupos e igrejas afins."

Cabe-nos lembrar que nem todas as cidadelas espirituais têm uma orientação sadia,
voltada para o bem e para o equilíbrio das criaturas. André Luiz [Libertação] diz:
"Incapacitados de prosseguir, além do túmulo, a caminho do Céu que não souberam
conquistar, os filhos do desespero organizam-se em vastas colônias de ódio e miséria moral,
disputando entre si a dominação da Terra."

Mas lembra também o benfeitor que, a Misericórdia Divina não os desampara pois, são
observados e assistidos por entidades luminosas;

h. Animais e Plantas:
o solo do mundo espiritual, à semelhança do solo do planeta é coberto por uma
infinidade de plantas, flores e hortaliças que são cultivadas, com muito esmero, por mãos
bondosas.
Os animais, como regra geral, reencarnam quase imediatamente após a morte, no
entanto, em certas ocasiões, eles podem vir a ser preparados por entidades especializadas para
serem utilizados em tarefas específicas.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Muitas vezes, no entanto, as descrições da paisagem espiritual, quando falam de "formas
animalescas", estão se referindo a Espíritos humanos em processo de deterioração de seus
corpos espirituais (licantropia ou zoantropia), como também de "formas ideoplásticas", fruto
do pensamento e da vontade de entidades viciosas do astral inferior.
Centro Espírita Celeiro de Luz – O Mundo Espiritual

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
3.3 O que encontraremos no Mundo Espiritual

A alma tem consciência de si mesma imediatamente depois de deixar o corpo?


“Imediatamente não é bem o termo. A alma passa algum tempo em estado de
perturbação.”
A perturbação que se segue à separação da alma e do corpo é do mesmo grau e da
mesma duração para todos os Espíritos?
“Não; depende da elevação de cada um. Aquele, que já está purificado, se reconhece
quase imediatamente, pois que se libertou da matéria antes que cessasse a vida do
corpo, enquanto que o homem carnal, aquele cuja consciência ainda não está pura, guarda por
muito mais tempo a impressão da matéria.”
Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – 2º Parte – Cap. 3 – Item 3 – Perg. 163/164
Por ocasião da morte, tudo, a princípio, é confuso.
De algum tempo precisa a alma para entrar no conhecimento de si mesma.
Ela se acha como que aturdida, no estado de uma pessoa que despertou de profundo
sono e procura orientar-se sobre a sua situação.
A lucidez das ideias e a memória do passado lhe voltam, à medida que se apaga a
influência da matéria que ela acaba de abandonar, e à medida que se dissipa a espécie de névoa
que lhe obscurece os pensamentos.
Muito variável é o tempo que dura a perturbação que se segue à morte. Pode ser de
algumas horas, como também de muitos meses e até de muitos anos
Allan Kardec – O Livro dos Espíritos 2º Parte – Cap. 3 – Item 3 – Comentários a
Perg. 165

“Enquanto uns não se podem afastar da esfera onde viveram, outros se elevam e
percorrem o espaço e os mundos; enquanto alguns Espíritos culpados erram nas trevas, os bem-
aventurados gozam de resplendente claridade e do espetáculo sublime do Infinito”.
Allan Kardec – Evangelho segundo o Espiritismo – Cap. 3 – Item 2 – diferentes
estados da alma na erraticidade

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Na transição da vida corporal para a espiritual, produz-se […] um outro fenômeno de
importância capital — a perturbação.
Nesse instante a alma experimenta um torpor que paralisa momentaneamente as suas
faculdades, neutralizando, ao menos em parte, as sensações.
É como se disséssemos um estado de catalepsia, de modo que a alma quase nunca
testemunha conscientemente o derradeiro suspiro.
Dizemos quase nunca, porque há casos em que a alma pode contemplar conscientemente
o desprendimento
[…]. A perturbação pode, pois, ser considerada o estado normal no instante da morte e
perdurar por tempo indeterminado, variando de algumas horas a alguns anos.
Allan Kardec – O Céu e o Inferno – 2º Parte – Cap. 1 – item 6 – A Transição

Que espera o homem desencarnado, diretamente, nos seus primeiros tempos da vida de
além-túmulo?
— A alma desencarnada procura naturalmente as atividades que lhe eram prediletas nos
círculos da vida material, obedecendo aos laços afins, tal qual se verifica nas sociedades do
vosso mundo.
As vossas cidades não se encontram repletas de associações, de grêmios, de classes
inteiras que se reúnem e se sindicalizam para determinados fins, conjugando idênticos
interesses de vários indivíduos? Aí, não se abraçam os agiotas, os políticos, os comerciantes,
os sacerdotes, objetivando cada grupo a defesa dos seus interesses próprios?
O homem desencarnado procura ansiosamente no Espaço, as aglomerações afins com o
seu pensamento, de modo a continuar o mesmo gênero de vida abandonado na Terra, mas,
tratando-se de criaturas apaixonadas e viciosas, a sua mente reencontrará as obsessões de
materialidade, quais as do dinheiro, do álcool, etc., obsessões que se tornam o seu martírio
moral de cada hora, nas Esferas mais próximas da Terra.
Daí a necessidade de encararmos todas as nossas atividades no mundo como a tarefa de
preparação para a vida espiritual, sendo indispensável à nossa felicidade, além do sepulcro, que
tenhamos um coração sempre puro.
Emmanuel – O Consolador – Perg. 148

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Encontramos, na vida post-mortem, o retrato espiritual de nós mesmos com as
situações que forjamos, a premiar-nos pelo bem que produzam ou a exigir-nos corrigenda pelo
mal que estabeleçam.
E a vida continua, sempre plena de esperança e trabalho, progresso e realização, em
todos os distritos da Vida Cósmica, ajustada às leis de Deus.
Emmanuel – E a Vida Continua – Prefácio

Morrer nem sempre significa libertar-se. A morte é orgânica, mas a libertação é de


natureza espiritual.
Por isso, essa turbação espiritual pode demorar breves minutos, nos Espíritos nobres,
como decorrência da grande cirurgia e até séculos, nos mais embrutecidos, que se não dão conta
do que lhes sucede...
Nas desencarnações violentas, o período e intensidade de desajuste espiritual
correspondem à responsabilidade que envolveu o processo fatal.
Acidentes de que se não têm uma culpa atual, passado o brusco choque, sempre
tornam de menor duração o período perturbador do que ocorrendo em condições de
intemperança moral, quando o descomedido passa a ser incurso na condição de suicida
indireto.
Para uma reencarnação completar-se, desde o primeiro instante quando da fecundação,
transcorrem anos que se alargam pela primeira infância. É natural que a desencarnação
necessite de tempo suficiente para que o Espírito se desimpregne dos fluidos mais
grosseiros, nos quais esteve mergulhado...
A violência da forma como ocorre mata somente os despojos físicos, nunca significando
libertação do ser espiritual.
O mesmo sucede nos casos de homicídio, em que a culpa ou não de quem tomba
responde pelos efeitos, em aflições, que prossegue experimentando.
Já os suicidas, pela gravidade do gesto de rebeldia contra os Divinos Códigos, carpem,
sofrem por anos a fio a desdita, enfrentando, em estado lastimável e complicado, o problema
de que pretendem fugir, não raro experimentando a perseguição de impiedosos adversários que
reencontram no além-túmulo, que os submetem a processos cruciais de lapidação em dores
morais e físicas, em face da destruição do organismo que fora equipado para mais largo período,
na Terra...
Enfermidades de longo curso, suportadas com resignação, liberam da matéria,
porque o Espírito tem tempo de pensar nas lídimas realidades da vida, desapegar-se das pessoas,

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
paixões e coisas, pensar com mais propriedade no que o aguarda, depois do corpo,
movimentando o pensamento em círculos superiores de aspirações.
As dores morais bem aceitas facultam aspirações e anseios de paz noutras dimensões,
diluindo as forças constritoras que o atam ao mundo das formas.
Como ninguém que se encontre na investidura carnal passará indene sem despojar-se
dela, muito justo se torna um treinamento correto para enfrentar o instante da morte que
virá.
O Espírito é, no Além, o somatório das suas experiências vividas.
Manoel Philomeno de Miranda – Nas Fronteiras da Loucura – Cap. 10/11 – Morrer e
Libertar-se

Os Espíritos, desatrelados do veículo corpóreo de natureza mais densa, se reúnem, no


Mais Além, atendendo aos princípios de afinidade, em agrupamentos ou coletividades, segundo
as ideias que esposavam na Terra.
Emmanuel – Quando se pretende falar da Vida — Mensagens familiares de Roberto
Muszkat

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Na existência do corpo, começamos ou recomeçamos determinado serviço. Além da
sepultura, continuamos a boa obra encetada ou somos escravos do mal que praticamos na Terra.
Por isto, o estado mental é muito importante nas condições da matéria rarefeita que a criatura
passa a habitar, logo depois de abandonar o carro fisiológico.
Incontáveis pessoas, por deficiência de educação do “eu”, agarram-se aos
remanescentes do corpo, com a obstinação de estulto viajante que, pelo receio do desconhecido
ou pela incapacidade de usar as próprias pernas, pretendesse inutilmente reerguer na estrada a
cavalgadura morta.
Mas o número de almas perturbadas de outro modo é infinitamente maior. Não se
apegam ao cadáver putrefato, mas demoram na paisagem doméstica, onde se desvencilharam
das células enfermas, conservando ilusões ou sofrimentos intraduzíveis.
Muitos que se abandonaram à moléstia, fortalecendo-a e acariciando-a, mais por fugir
aos deveres que a vida lhes reserva do que por devoção e fidelidade aos Desígnios Divinos,
fixam longamente sintomas e defeitos, desequilíbrios ou chagas na matéria sensível e plástica
do organismo espiritual, experimentando sérias dificuldades para extirpá-los.
Almas desse naipe, desalentadas e oprimidas, podem ser enumeradas aos milhares, em
qualquer região dos Círculos sutis que marginam a zona de trabalho, em que se delimita a ação
dos homens encarnados.
Quando possível, são internadas em grandes e complexas organizações hospitalares,
quase que justapostas ao Plano terrestre comum; entretanto, é preciso reconhecer que milhares
delas se mantém dentro de linhas mentais infra-humanas, rebeldes a qualquer processo de
renovação.
Muitas permanecem, em profundo desânimo, nos recintos domésticos em que
transitaram por alguns anos consecutivos, detendo-se nos hábitos arraigados da casa e inalando
substâncias vivas do ambiente que lhes é familiar, sem coragem de ir adiante.
Quando mostrem sinais de transformação benéfica, são, de imediato, aceitas em
instituições educativas nas adjacências da Terra, patenteando melhoria nas manifestações
exteriores, à medida que se renovam por dentro, no que condiga com o sentimento, a atitude e
a boa vontade no apreender os ensinos recebidos, nas tarefas de autoaperfeiçoamento.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Custam a modificar conceitos e opiniões, mantendo-se como que paralíticas do
entendimento, de vez que, estancando as energias da imaginação nos quadros terrenos, dos
quais, entretanto, já se desligaram, são verdadeiros dementes para a vida espiritual, como seriam
loucos para o mundo os homens que reencarnassem com a memória integralmente presa aos
acontecimentos, às pessoas e às coisas do pretérito.
Tais Espíritos perambulam entre as criaturas encarnadas quais se fossem sonâmbulos,
vivendo pesadelos e sonhos como sendo realidades absolutas, porquanto a onda mental que lhes
verte das preocupações se expressa em movimento de recuo, em busca do passado a que se
imantam e no qual focalizam a consciência.
(...)
Volumosa percentagem dos milhares de pessoas que desencarnam, hora a hora, no
Planeta, permanece, por vezes, muitos anos consecutivos, ao lado de parentes na
consanguinidade, porque é na experiência do lar que deixamos maior número de obrigações
não cumpridas.
No microcosmo da família, em muitas ocasiões, temos representantes significativos de
nossos adversários do pretérito. Almas vigorosas na incompreensão, na dureza, na ingratidão e
na hostilidade passiva, aí se encontram ombreando conosco, na lide cotidiana, disfarçados nos
apelidos mais doces, no que concerne ao carinho.
Incontáveis individualidades discordes podem estar sob compromissos conjugais ou
com os títulos de pais e mães, filhos ou irmãos. Ah! se soubéssemos, enquanto na existência
precária de matéria densa, o valor da rendição generosa e edificante com auxílio espontâneo de
nossa parte aos inimigos do passado, certo aproveitaríamos todas as oportunidades para exercer
o entendimento fraterno que o Mestre nos recomendou.
É no seio da organização doméstica que somos tentados à disputa mais longa, ao ciúme
mais entranhado, à rebeldia mais impermeável e às aversões mais fundas.
Fácil será sempre desculpar as ofensas do mundo vasto, esquecer a maledicência dos
que nos não conhecem e perdoar as pedras do torvelinho social. Mas, em casa, na comunhão
com aqueles cuja vida partilhamos na sucessão dos dias numerosos, a ciência do amor espiritual
é muito difícil de aprender.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Em razão disto, depois da morte, percebendo a importância de nossa harmonização em
pensamento com certas criaturas de nosso séquito familiar, voluntariamente nos consagramos
a retificar atitudes errôneas, adotadas no curso de nossas tarefas interrompidas no túmulo,
auxiliando aqueles por quem nutríamos animadversão declarada, para que não arremessem
sobre nós os raios da malquerença destrutiva.
A sementeira de simpatia é impositivo precípuo, a que nossa paz se condiciona. Todos
os deveres cumpridos no seio doméstico significam ingresso no apostolado pela redenção
humana.
Os raros homens e mulheres que se ausentam do mundo, conservando uma consciência
tranquila para com os parentes e afeiçoados, penetram, de imediato, em missões mais amplas
no auxílio à Humanidade.
Abel Gomes – Falando à Terra – Cap. 11 – Notícias

O recém-desencarnado
Está no próprio desejo,
Fitando, por atacado,
O que fazia a varejo.
Leandro Gomes de Barros – Tão fácil - Cap. 16 – Estudos ante a hora da morte

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
A Terra é precioso domicílio da Lei do Senhor onde cada criatura edifica o plano em
que passa a viver.
O usurário sofre na furna da miséria.
O delinquente suporta o desvão do remorso.
O insensato grita no inferno da loucura.
O preguiçoso chora no sótão da necessidade.
O intolerante reside no serpentário da aversão.
O egoísta detém-se no cárcere das trevas.
O rico displicente carrega a cruz da responsabilidade.
O pobre inconformado respira no purgatório da angústia.
O simples de coração cresce no templo da paz.
O semeador do progresso vive ao sol da prosperidade.
O servidor fiel repousa na consciência tranquila.
O amigo do estudo mora no lar do conhecimento.
Repara onde resides.
Cada Espírito respira na faixa de claridade ou sombra, de dor ou alegria a que se acolhe
através da atitude que assume perante a vida.
Não te percas na contemplação prematura das paisagens Celestiais, sem haver pago à
Terra o tributo de serviço que lhe devemos.
Faze de tua existência um campo educado no bem para a colheita do amor e a própria
casa terrestre em que estagias se transformará para os teus pés em sublime degrau de acesso às
moradas abençoadas da Luz.
Emmanuel – Moradias de Luz – Cap. 1 – Repara onde moras – Prefácio

No Além, para que te livres


De qualquer toque das trevas,
Põe teu nome por extenso
Sobre a bagagem que levas.
Cornélio Pires – Degraus da Vida — Cap. 13 – Fórmula da paz

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Muitas vezes perguntas, na Terra, para onde seguirás, quando a morte venha a surgir…
Anseias, decerto, a ilha do repouso ou o lar da união com aqueles que mais amas…
Sonhas o acesso à felicidade, à maneira da criança que suspira pelo colo materno…
Isso, porém, é fácil de conhecer.
(...)
Se desejas saber quem és, observa o que pensas, quando estás sem ninguém; e se queres
conhecer o lugar que te espera, depois da morte, examina o que fazes contigo mesmo nas horas
livres.
Emmanuel – Justiça Divina – Cap. 34 – Lugar depois da morte

...Cada qual de nós é um mundo por si e, em razão disso, cada individualidade, após
largar o carro físico, encontrará emoções, lugares, pessoas, afinidades e oportunidades,
conforme desempenhou o ofício, ou melhor, os deveres que lhe competiam na existência, na
Terra.
André Luiz – E a Vida Continua – Cap. 8 – Encontro de Cultura

Muitos se transferiram diretamente da vida física para a região nebulosa sob nossa vista,
e outros muitos habitaram, logo após a desencarnação, cidades de recuperação e adestramento,
semelhantes à nossa; entretanto, à medida que se evidenciavam, tais quais ainda são na
realidade, absolutamente sem quaisquer simulacros dos muitos de que se valiam na estância
terrestre para encobrirem o eu verdadeiro, rebelaram-se contra a luz do Mundo Espiritual
que nos expõe à mostra a natureza autêntica, uns diante dos outros, e fugiram de nossas
coletividades, asilando-se no vale de sombras geradas por eles mesmos.
Aí, na penumbra criada pela força mental que lhes é própria, com o objetivo de se
esconderem, dão pasto, em maior ou menor grau, às manifestações de paranóia a que todos se
afeiçoam, entregando-se igualmente, em muitos casos, a lastimáveis paixões que procuram
debalde saciar, até as raias da loucura.
André Luiz – E a Vida Continua – Cap. 13 – Tarefas Novas

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
3.4 O que levaremos para o Mundo Espiritual

O homem não possui de seu senão o que pode levar deste mundo.
O que encontra ao chegar, e o que deixa ao partir, goza durante sua permanência na
Terra; mas, uma vez que é forçado a abandoná-lo, dele não tem senão o gozo e não a posse real.
Que possui ele pois?
Nada daquilo que é para uso do corpo, tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os
conhecimentos, as qualidades morais; eis o que traz e o que leva, o que não está no poder de
ninguém lhe tirar, o que lhe servirá mais ainda no outro mundo do que neste; dele depende ser
mais rico em sua partida do que em sua chegada, porque daquilo que tiver adquirido em bem
depende sua posição futura
Blaise Pascal – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. 16 – Item 9 – A
Verdadeira Propriedade

A virtude e o defeito, o impulso animal, o equilíbrio e a desarmonia, o esforço de


elevação e a probabilidade da queda perseveram aqui, após o trânsito do sepulcro, compelindo-
nos à serenidade e à prudência.
Não nos encontramos senão em outro campo de matéria variada, noutros domínios
vibratórios do próprio Planeta em cuja Crosta tivemos experiências quase inumeráveis.
André Luiz – Obreiros da Vida Eterna –– Cap. 1 – Convite ao Bem

Vive, portanto, como se estivesses a cada momento preparando-te para renascer além e
após o túmulo.
A vida que se “leva” é a Vida que cada um aqui leva enquanto na indumentária carnal.
Joanna de Angelis – Estudos Espíritas – Cap. 7 – Morrer

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Todos receberemos, nas Leis da Vida, o que fizermos, pelo que fizermos, quando
fizermos e como fizermos.
De conformidade com os Preceitos Divinos, podemos viver e conviver uns com os
outros, consoante os padrões de escolha e afetividade que elejamos; entretanto, em qualquer
plano de consciência, do mais inferior ao mais sublime, o prejuízo ao próximo, a ofensa aos
outros, a criminalidade e a ingratidão colhem dolorosos e inevitáveis reajustes, na pauta dos
princípios de causa e efeito que impõem amargas penas aos infratores.
André Luiz – E a Vida Continua –– Cap. 13 – Tarefas Novas

Qual ocorreu a nós outros, os que habitamos atualmente o Plano Espiritual desde longas
décadas, trouxestes para cá o que
Efetuastes de vós mesmos...
Aprendestes o que estudastes,
Mostrais o que fizestes,
Entesourais o que distribuístes!...
André Luiz – E a Vida Continua – Cap. 12 – Julgamento e Amor

O que temos nós deixamos.


O que somos nós levamos.
Divaldo Franco

Quando parti para o Além


Explico em poucos instantes
A bagagem do que fiz
Havia chegado antes.

Minha mala foi aberta


Sem fiscal e sem feitor;
Por dentro era a papelada
De trabalho, paz e humor.
Cornélio Pires – Paz e Amor – Cap. 18 – Viagem

A morte é a grande colecionadora que recolherá as folhas esparsas de tua biografia,


gravada por ti mesmo, nas vidas que te rodeiam.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Não desprezes, assim, a companhia da indulgência, através da senda que o Senhor te
deu a trilhar.
Em cada resposta aos outros, em cada gesto para com os semelhantes, em cada gesto
para com os semelhantes, em cada manifestação dos teus pontos de vista e em cada
demonstração de tua alma, grafas com tinta perene, a história de tua passagem
Faze uma área de amor ao redor do próprio coração, porque só o amor é suficientemente
forte e sábio para orientar-te a escritura individual, convertendo em compendio de auxílio e
esperança para quantos te seguem os passos, VIVE, pois com Jesus, na intimidade do coração,
não te afastes d’Ele em tuas ações de cada dia e o livro de tua vida converter-se-á num poema
de felicidade e num tesouro de bênçãos.
Emmanuel – Mãos Unidas – Cap. 1 – Teu Livro

A morte a ninguém propiciará passaporte gratuito para a ventura celeste. Nunca


promoverá compulsoriamente homens a anjos.
Cada criatura transporá essa aduana da eternidade com a exclusiva bagagem do que
houver semeado e aprenderá que a ordem e a hierarquia, a paz do trabalho edificante, são
característicos imutáveis da Lei, em toda parte.
Emmanuel – Obreiros da Vida Eterna – Introdução

A Divina Providência não pergunta o que fostes -- disse o ministro --, porque nos
conhece a cada um em qualquer tempo... Entretanto, é justo investigue sobre o que fizestes dos
tesouros do tempo, concedido a nós todos em parcelas iguais... Não vos iludais!...-- prosseguiu
o orador. -- Qual ocorreu a nós outros, os que habitamos atualmente o Plano Espiritual desde
longas décadas, trouxestes para cá o que efetuastes de vós mesmos... Aprendestes o que
estudastes, mostrais o que fizestes, entesourais o que distribuístes!...
André Luiz – E a Vida Continua – Cap. 12 – Julgamento e Amor

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Deus quer que todos os seus filhos tenham a própria individualidade, creiam nele como
possam, conservem as inclinações e gostos mais consentâneos com o seu modo de ser,
trabalhem como e quanto desejem e habitem onde quiserem. Somente exige -- e exige com rigor
-- que a justiça seja cumprida e respeitada, acentuou Cláudio. "A cada um será dado segundo
as suas obras."
Todos receberemos, nas Leis da Vida, o que fizermos, pelo que fizermos, quanto
fizermos e como fizermos.
André Luiz – E a Vida Continua – Cap. 13 – Tarefas Novas

Aceite a realidade, meu amigo. Todas as suas propriedades no campo físico, mediante
a desencarnação, passaram ao domínio de outras vontades e ao controle de outras mãos. A vida
reclama o que nos empresta, dando-nos em troca, seja onde seja, o que fazemos dela, junto
dos outros...
André Luiz – E a Vida Continua – Cap. 22 – Bases de Novo Porvir

Toda construção nobre há que ser dirigida. Primeiro, o projeto; em seguida, a execução...
No plano físico, idealiza-se a continuação da vida, no mundo espiritual... No mundo espiritual,
idealiza-se a correção, o reajuste, a melhoria e o polimento dessa mesma vida, no plano
físico.
Somos viajores do berço para o túmulo e do túmulo para o berço, renascendo na
Terra e na Espiritualidade, tantas vezes quantas se fizerem precisas, aprendendo, renovando,
retificando e progredindo sempre, conforme as Leis do Universo, até alcançarmos a Perfeição,
nosso destino comum...
André Luiz/Ribas – E a Vida Continua – Cap. 26 – E a Vida Continua...

Recebemos no Além o que realmente criamos para nós mesmos, em contato com as
criaturas.
Romeu Camargo – Falando à Terra – Cap. 14 – De Retorno

Aviso claro e prudente, o melhor que tenho aqui: Depois da morte é que a gente
conhece o que fez de si.
José Soares de Gouveia – Depois da Vida – Introdução

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4. O Despertar da Consciência no Além Túmulo – Forma de Viver - Depoimentos
4.1 Um Depressivo

Eu sei que já se rompeu o fio que me sustentava o corpo material. Mas, vitimado
por esta depressão que trago da carne, sou um pária entre as sombras, sem receber a
comiseração de ninguém...
Compreendo e percebo que este sofrimento não se vai acabar nunca, porquanto eu tenho
consciência do que se passa comigo.
Todas as vozes que me alcançam, dizem-me que reaja, e que reaja.
Acusam-me de suicídio indireto, porque eu não lutei para sair deste processo.
Será que não me adveio a morte e eu estou na minha casa, no mesmo lugar de sempre,
com a janela fechada porque a luz me faz um grande mal?
Afirmaram-me que morri e precisava sair desta situação, para poder reencontrar-
me comigo mesmo.
Passaram-se já vários anos, foi o que me afirmaram, entretanto, para mim não se passou
um dia, que é uma noite continua, num esvaecimento que me fez cair sem me chocar com o
fundo do abismo...
Sinto dores, sinto náuseas, a cabeça é-me uma fornalha e eu não tenho mais forças.
Suicida indireto que sou, submeto-me a morrer e nego-me a viver.
Gerson Almeida – Depois da Vida – Cap. 1

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.2 Um Materialista

Não sei se sou um morto-vivo ou se me encontro vivo-morto.


Não sei se sonho ou se penso.
Tento erguer o corpo, e são despojos apavorantes, desgastados na cova sombria onde
me aturdo.
Não ouço um ruído. Falo, grito, impreco, e nenhum som rompe o silencio cruel em que
me aflijo. Calo, e o hórrido marasmo silencioso são vozes que me acusam sem palavras,
fazendo-me com palavras reagir, sem espantar os espectros que vejo, que me agridem, mas não
me temem, espectro que pareço ser ou que me tornei.
Na lapide, eu vejo o meu nome, a data do meu nascimento e da minha morte e a torpe
inscrição: “Descansa em Paz!”.
Creio no Nada, porém esse Nada vibra, sem que me aniquile na desintegração das
moléculas que teimam em manter-me a personalidade e a individualidade visíveis...
Tangível, sinto-me, agito-me, e não tenho corpo.
Dilui-se a matéria, não a Vida.
Ajudai-me!
Morto, vivo como senão houvesse morrido...
Vivo, estou pior do que morto, pois ninguém me vê, ninguém me ouve, nem eu a
ninguém...
É noite fora, demorada, todavia, é noite dentro de mim.
J. – Depois da Vida – Parte II - Cap. 2

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.3 Um Viciado em Sexo

Sofro muito. Fui e sou vítima do sexo, apologista do amor livre assim como da
insensatez.
Não há como descrever o que me martiriza, o que me exaure.
Usei até a exaustão a mente e o corpo na concupiscência devastadora. Vivi como servo
de apetites, os mais vis, que me entenebreceram e prosseguem escravizando-me.
Não sei como se deu a minha morte. Acordei, no meio de sombras densas, respirando
com infinita dificuldade, vilipendiado e achincalhado por um auditório da mais baixa categoria.
Dei-me conta que enlouqueceria, e, no entanto, aquilo era apenas o começo da minha nova
jornada.
Homem vaidoso, zeloso da aparência, consciente do magnetismo e da atração que
possuía, senti-me putrefato, com os trajos orgânicos decompostos, cabelos alongados e barba
abundante, sujos, e nauseante, pegajoso, pela decomposição cadavérica, e, sobretudo,
animalizado pela insídia de perseguidores implacáveis, que, só mais tarde vim a saber, se
utilizavam de mim para o ímpio jogo da sensualidade...
Ninguém pode supor o que seja a ardência de uma volúpia devastadora, sem termo e
sem lenimento.
Simultaneamente as indagações das pessoas a quem impedi de ser felizes, as de quem
abusei, as lágrimas que derramavam, pareciam-me gotas de aço derretido que me alcançavam
em forma de remorso incessante, a queimar-me por dentro.
Ando mergulhado num oxigênio denso e desagradável, pestilento e comburente. Ébrio,
depauperado, miserável, acoimado pelo arrependimento, perseguido pelos antigos usurpadores
das minhas forças e atraído pelas viciações que ainda me jugulam ao corpo já desaparecido,
tentei muitas vezes erguer na sepultura a forma cadaverizada e podre, segurando as carnes a se
desfazerem, levantando a ossatura, a fim de evadir-me do cemitério, inutilmente. Busquei
socorro, gritei, chamei por todos, exorei compaixão e a minha voz não ecoava: só o remorso de
tudo que fiz me alucinava sem cessar.
Não posso continuar.
Que Deus se amerceie dos que enlouqueceram e fazem enlouquecer pelo sexo!
Evaristo Nepomuceno – Depoimentos Vivos – Cap. 2

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.4 Um Crente Fanático

Durmo o sono dos justos.


Travou-se a ultima batalha do Armagedon e agora os redimidos ganharão a Terra.
Logo soarão as trombetas chamando à ressureição, e o anjo do Senhor, separando os
bodes das ovelhas, elegera os seus, e aborrecido com os outros os entregara a Satanás.
O sangue do Cordeiro que “lava os pecados do mundo” redimiu-me porque eu cri. Creio
no poder do seu sangue. A sua fé vive em mim, dando-me a certeza de que o reino dos Céus é
meu.
O tempo se alonga, a ansiedade inquieta o meu repouso, mas, aguardo apenas que logo
passem os últimos momentos do Armagedon, e que a trombeta libertadora levante os cadáveres
que dormem para a gloria do reino do Senhor.
Que digo eu? Sonho, eu sonho, e parece que estou desperto. Teria sido para mim a morte
um sonho ou será um sonho a vida?
Este dormir é um sonhar. Este sonhar que é dormir, é o prenuncio da vida eterna.
É grande a hora do Armagedon. Aleluia.
Eu dormirei. Eu aguardarei o Arcanjo do Senhor que me vira buscar. Aleluia!
A Terra vomitara os corpos e eu serei feliz. Aleluia! Os que ficaram no mundo de lodo
e de Adão, nas mãos de Caim, irão para as geenas. Eu não! Dormirei para despertar no Juízo
Final. Aleluia!
C. – Depois da Vida – Cap. 7

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.5 Um Alcoólatra

Necessito de um trago! Eu me recuso o nome de alcoólatra. Tomo somente aperitivos


de fim de semana: sábado e domingo e nada mais...
É claro que, durante a semana, eu tomo um pouco de estimulo aqui, uma dose ligeira
ali, um coquetel a tarde, antes do jantar, mas não sou alcoólatra...
Eu não espanco a esposa nem maltrato meus filhos. O que falam a este respeito é
mentira...
Necessito de uma dose urgente, porque estou a ponto de enlouquecer.
Ando também todo quebrado.
Foi o acidente. Eu não vi direito o que ia acontecer. O baque foi surdo. O caminhão
passou por cima de mim, esmigalhando-me os ossos. Depois, foi aquele escuro, e a dor
selvagem.
Após, caí num túnel profundo. Não sei!
É tão sombrio tudo isso; é muito sombrio aqui.
Necessito de acalmar esta sede que me devora, que arde em mim.
Lá vem o caminhão! Salve-me alguém.
La vem o caminhão outra vez. Isto é um delírio, certamente...
L. – Depois da Vida – Cap. 6

Alcoólatra!
Que outra palavra existirá na Terra, encerrando consigo tantas potencialidades para o
crime?
O alcoólatra não é somente o destruidor de si mesmo. É o perigoso instrumento das
trevas, ponte viva para as forças arrasadoras da lama abismal.
(...)
Hoje, farrapo de alma que foi homem, reconheço que, ontem, a minha tragédia começou
assim…
Um aperitivo inocente…
Uma hora de recreio…
(...)
E eu me embriagava, sequioso de olvidar a mim mesmo, até que o delírio agudo me
sitiou num catre de amargura e indigência.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
A febre, a enfermidade e a loucura consumiram-me a carne, mas não percebi a visitação
da morte, porque fui atraído, de roldão, para a turba de delinquentes a que antes me afeiçoara.
Sofri-lhes a pressão, assimilei-lhes os desvarios e, com eles, procurei novamente
embebedar-me.
A taverna era o meu mundo, com a demência irresponsável por meu modo de ser…
Ai de mim, contudo! Chegou o instante em que não mais pude engodar minha sede!…
A insatisfação arrasava-me por dentro, sem que meus lábios conseguissem tocar, de
leve, numa gota do líquido tentador.
Deplorando a inexplicável inibição que me agravava os padecimentos, afastei-me dos
companheiros para ocultar a desdita de que me via objeto.
Caminhei sem destino, angustiado e semilouco, até que me vi prostrado num leito
espinhoso de terra seca…
Sede implacável dominava-me totalmente…
Clamei por socorro em vão, invejando os vermes do subsolo.
Palavra alguma conseguiria relatar a aflição com que implorei do Céu uma gota d’água
que sustasse a alucinação de minhas células gustativas…
Meu suplício ultrapassava toda humana expressão…
Não passava de uma fogueira circunscrita a mim mesmo.
Começaram, então, para mim, as miragens expiatórias.
Via-me em noite fresca e tranquila, procurando o orvalho que caía do céu para
dessedentar-me, enfim, mas, buscando as bagas do celeste elixir, elas não eram, aos meus olhos,
senão lágrimas de minha mãe, cuja voz me atingia, pranteando em desconsolo:
— Não me batas, meu filho! Não me batas, meu filho!…
Devolvido à flagelação, via-me sob a chuva renovadora, mas, tentando sorver-lhe o
jorro, nele reconhecia o pranto de meu pai, cujas palavras derradeiras me impunham desalento
e vergonha:
— Filho meu, por que me arruinaste assim?
Arrojava-me ao chão, mergulhando meu ser na corrente poluída que o temporal
engrossava sempre, na esperança de aliviar a sede terrível, mas, na própria lama do enxurro,
encontrava somente as lágrimas de minha esposa, de mistura com recriminações dolorosas,
fustigando-me a consciência:
— Por que me atiraste ao lodo? e por que me mataste, bandido?
De novo regressava ao deserto que me acolhia, para logo após me entregar à visão de
fontes cristalinas…

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Enlouquecido de sede, colava a boca ao manancial, que se convertia em taça de fel
candente, da qual transbordavam as lágrimas de meu filho, a bradar-me, em desespero:
— Meu pai, meu pai, que fizeste de mim?
Em toda parte, não surpreendia senão lágrimas…
Arrastei-me pelos medonhos caminhos de minha peregrinação dolorosa, como um
Espírito amaldiçoado que o vício metamorfoseara em peçonhento réptil…
Suspirava por água que me aliviasse o tormento, mas só encontrava pranto…
Pranto de meu pai, de minha mãe, de minha esposa e de meu filho a perseguir-me,
implacável…
Alma acicatada por remorsos intraduzíveis, amarguei provações espantosas, até que
mãos fraternas me trouxeram à bênção da oração…
Piedosos enfermeiros da Vida Espiritual e mensageiros da Bondade Divina, pelos
talentos da prece, aplacaram-me a sede, ofertando-me água pura…
Atenuou-se-me o estranho martírio, embora a consciência me acuse…
Ainda assim, amparado por aqueles que vos inspiram, ofereço-vos o triste exemplo de
meu caso particular para escarmento daqueles que começam de copinho a copinho, no aperitivo
inocente, na hora de recreio ou na noite festiva, descendo desprevenidos para o desequilíbrio e
para a morte…
E, em vos falando, com o meu sofrimento transformado em palavras, rogo-vos a esmola
dos pensamentos amigos para que eu regresse a mim mesmo, na escabrosa jornada da própria
restauração.
Joaquim Dias – Vozes do Grande Além – Cap. 30 - Alcoólatra

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.6 Um Juiz Venal

Na noite de 26 de abril de 1956, foi trazido à comunicação o Espírito Raimundo


Teixeira, que sofreu aflitiva prova na alienação mental.
Os apontamentos do visitante, que foram alinhados sob a legenda “loucura e resgate”,
valem igualmente, a nosso ver, por precioso estudo no tema “reencarnação e justiça”.
Conduzido ao recinto por devotados Instrutores Espirituais, recomendam eles algo vos
diga de minhas provas.
Entretanto, minhas dificuldades são quase insuperáveis para relacionar com a palavra
os tremendos episódios de minha terrível experiência.
Sou uma alma pobre que ainda convalesce de aflitiva loucura no campo físico.
Não creio que o verbo articulado possa exprimir com segurança tudo aquilo que
expresse meus estados emocionais.
Ainda assim, posso garantir-vos que tenho atravessado inimagináveis suplícios.
Por mais de vinte anos, fui vítima de flagelações e tormentos que culminaram em transes
de pavoroso desespero, não pelas dores de origem material que me dilaceravam o corpo, mas
sim porque, na condição de alienado mental, guardava, no fundo de meu ser, a consciência de
todos os meus atos, embora não pudesse governar meus infelizes impulsos.
Perambulei no mundo à maneira de alguém que se visse sob o guante invencível de
Inteligências perversas, como pode acontecer a um homem irremediavelmente prisioneiro de
malfeitores, em sua própria moradia.
Por mais orasse, por mais anelasse o bem e por mais quisesse comandar a própria
existência, os terríveis carcereiros das minhas atividades mentais compeliam-me a atitudes
deploráveis que, de início, me angariaram o desafeto dos familiares mais queridos ao coração.
Era constrangido a práticas ignominiosas, impelido a pronunciar palavras que me
afastavam toda e qualquer simpatia e a perpetrar atos que provocavam, em torno de mim,
repugnância e temor.
E, por essa razão, relegado à atmosfera deprimente dos loucos, nela padeci não apenas
os mais dolorosos processos de tratamento médico, como sejam, a insulinoterapia, a
malarioterapia e o eletrochoque, mas também os bofetões de enfermeiros desapiedados e o poste
de martírio, a camisa de força e a solidão.
Isso tudo sofri com a tácita aprovação de minha consciência, pois no íntimo me
reconhecia culpado.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Colocava-me na situação de quantos me assistiam caridosamente e concluía que, na
posição deles, infligiria a mim mesmo os mais duros castigos, de vez que os ocupantes de meu
campo mental me impeliam à delinqüência e ao desrespeito, ao insulto e à viciação.
Chorei tanto, que acredito haverem as lágrimas aniquilado os meus olhos encadeados a
medonhas alucinações.
Amarguei tanto a vida que o sofrimento por fim me venceu diante das testemunhas
implacáveis de minha dor – testemunhas que me acusavam sem que ninguém as ouvisse, que
me espancavam sem que ninguém lhes presenciasse os assaltos, que me acompanhavam dia e
noite sem que ninguém lhes pressentisse a presença.
E tamanho foi o meu infortúnio que, em me libertando do cárcere da prova, desarvorado
e desiludido, pedi à Providência Divina, através de mil modos, que uma explicação me aliviasse
o torturado raciocínio, porquanto, ainda mesmo fora do corpo carnal, a malta de perseguidores
continuava assacando contra mim gritos soezes, tentando escravizar-me de novo a mente
desditosa...
Foi, então, que, ao socorro de Instrutores Amigos, me vi em surpreendente retorno à
condição em que me achava antes da internação na carne para a terrível provação da loucura...
Identifiquei-me em pleno espaço, desolado e errante, cercado por centenas de verdugos
que me buscavam o Espírito, impondo-me à visão tremendos quadros – quadros esses que,
pouco a pouco, me reconduziram ao posto que eu deixara anteriormente, através da morte...
Sim, eu havia sido um juiz que abusara da dignidade do meu cargo.
Vi-me envergando a toga do magistrado, que me competia preservar impoluta,
desfrutando invejável eminência social na Terra, mas enceguecido pelos interesses do grupo
político a que me filiara, com desvairada paixão.
Torcia o direito para quase todos aqueles que me buscavam, tangidos pelas
circunstâncias, conspurcando o tribunal que me respeitava, transformando-o em ominoso
instrumento de crime e revolta, perversidade e miséria, desânimo e desespero, porque as minhas
sentenças forjavam todos esses males.
Mas não consegui ludibriar a verdadeira justiça.
Deixando o veículo físico, as minhas vítimas se converteram em meus juízes e todas
aquelas que me não podiam perdoar seguiram-me os passos na esfera espiritual, tecendo-me a
cadeia de tormentos inomináveis, a explodirem no pavoroso desequilíbrio com que ressurgi
entre as criaturas humanas, na existência última.
Atravessei uma infância atormentada...
Para os médicos, eu não passava de pobre exemplar da esquizofrenia.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Alcancei a juventude tumultuária e triste dos que não possuem qualquer estabilidade de
raciocínio para a fixação dos bons propósitos, e, tão logo atingi a maioridade, meus implacáveis
acusadores senhorearam-me a estrada, conturbando-me a vida, e, desse modo, como alienado
mental fui submetido ao julgamento de todos eles, experimentando, por mais de quatro lustros,
flagelações e torturas que não posso desejar aos próprios Espíritos satanizados nas trevas.
Sou, assim, um doente desventurado procurando restaurar a si mesmo, depois de terrível
inferno no coração.
Não acredito que a minha palavra possa trazer qualquer apontamento que induza ao
consolo.
Entretanto, o juiz louco que fui, o juiz que impôs a si próprio horrenda enfermidade da
alma, pode oferecer alguma advertência aos que manobram com a autoridade no mundo e a
todos os que ainda podem recuar nas deliberações infelizes!...
Diante de mim vibra o Tempo, o grande julgador...
Possa a Divina Compaixão conceder-me com esse juiz silencioso, cujas palavras para
nós são as horas e os dias do mundo terrestre, a oportunidade de ressarcir minhas faltas, porque,
por enquanto, o juiz que dementou a si mesmo apenas ingressou na fase inicial do reajuste, da
qual se transferirá para o campo expiatório, onde, face a face com as suas antigas vítimas, será
obrigado a solver seus clamorosos débitos, ceitil por ceitil.
Deus seja louvado!...
Raimundo Teixeira – Vozes do Grande Além – Cap. 45

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.7 Uma Trabalhadora Espírita – Otília Gonçalves

Quantas aflições e remorsos, receios e ansiedades visitaram minha alma, depois do


túmulo, não sei dizer.
Constatei que a vida prossegue sem grandes modificações, oferecendo a cada alma,
no cadinho evolutivo, as bênçãos ou punições de que se faz credora.
(...)
A princípio, com as carnes sacudidas pelos estertores do coração que não mais podia
cooperar com a vida física, inenarrável sofrimento tomou-me todas as fibras, do peito ao cérebro
e deste aos pés, fazendo-me enlouquecer.
Atormentada entre as idéias da “morte” apavorante que eu temia e a ansiedade da “vida”
que escapava ao peso cruel do sangue que se negava a irrigar as artérias, veias e vasos, senti
que ia tombar.
Não poderei dizer o tempo em que demorei desfalecida. Guardo, ainda hoje, a impressão
de que, em volta, um torvelinho me arrastava, dando-me a sensação de queda, em profundo
abismo sem fim.
Subitamente, como se me chocasse de encontro ao solo, despertei agonizante, tateando
em trevas, aos gritos de lamentável perturbação.
Como a dor não cessasse, simultaneamente impressões diferentes me acudiram ao
cérebro turbilhonado, agigantando meu desespero. Frio glacial apoderou-se lentamente dos
membros inferiores, ameaçando-me imobilizar-me...
Além do frio, dores generalizadas paralisaram-me os movimentos, enquanto o
enregelamento me tornava rígida.
O pavor rondava-me implacável...
Desejei levantar-me, andar, correr, suplicar auxílios; estava paralisada, atada a
cadeias poderosas. A língua já não se articulava.
Não tinha idéia das horas.
Os irmãos de fé espirita, onde se encontravam eles que não me socorriam?
Senti-me sair de dentro do casulo carnal, que então pude ver. Encontrava-me deitada
no esquife mortuário, e de pé, ao seu lado, simultaneamente. Apalpei-me apressada e senti-
me fisicamente...

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Não, não era possível, afirmava intimamente, tentando aquietar-me. Tudo aquilo não
passava certamente de um sonho fantástico ou de um desdobramento mediúnico, no Reino da
Morte. Não era crível que eu tivesse morrido. Sentia-me viva, não obstante as dores que me
cruciavam. Encontrava-me lúcida, raciocinava, sofria... Não podia estar morta.
No entanto, a realidade era outra.
Ao abraçar-me ao corpo, senti-lhe a frieza e verifiquei, apesar de deitar-me sobre ele,
que não me conseguia ajustar qual ocorre à mão calçada em luva apropriada. Esforçando-me
“vesti-lo” outra vez, verifiquei, atribulada, que minha vontade não mais o acionava.
Compreendi, embora relutante: estava “morta”.
Ao admitir esta idéia, fui acometida de profundo terror. Voltaram-me à mente as
explanações do nosso Diretor Espiritual, ouvidas em nosso Cenáculo de orações.
Passei, então, a experimentar alívio novo e ouvi, emocionada, o murmúrio de preces
intercessórias. Nossas crianças e companheiros, envolta do caixão funerário, oravam pela
minha alma, que se iniciava na grande viagem.
Embora desejasse acompanhar o desenrolar dos acontecimentos daquele instante
máximo de minha vida, deixei-me arrastar pelo cansaço, experimentando invencível torpor
mental, enquanto recordava que a vida continua....
Não tive noção do tempo em que permanecera em agitado sono, vencida por emoções
violentas e complexas.
Abri os olhos e, em verdadeiro pandemônio emocional, encontrei-me no salão da nossa
Casa de Orações, com o corpo deitado no ataúde, visão essa que aumentava o meu sofrimento.
Ante a evidência da desencarnação, procurava orar, sem o conseguir, atormentada
pela inconformação.
Portadora de alguns conhecimentos da Doutrina dos Espíritos - caminho de luz no
mundo de trevas —, recusava-me, contudo, a aceitar a realidade inelutável.
É certo que eu sabia, através de noções doutrinárias do Espiritismo, que a morte não
representa o fim, mas o princípio de uma vida imperecível, e acreditava-o de coração. No
entanto, meditava, acomodando a Superior Vontade aos meus próprios caprichos: eu não podia
morrer ainda.
Necessitava da generosidade do tempo para desincumbir-me das tarefas a que
ultimamente me entregara, no santificante serviço do amor.
Recordava o passado próximo, as lutas mal sofridas, revia a taça de ilusões onde tantas
vezes me embriagara, e compreendia a inadiável urgência de recuperação, no labor das horas
novas, libertando-me, então, das pesadas algemas.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
De súbito, diante do grande painel, ligado à minha mente, para o qual fui
poderosamente atraída. Pude ver, como numa grande tela cinematográfica, o desenrolar dos
fatos que representavam a minha existência, em miraculoso retrospecto, repetindo-se em
vertiginosa celeridade, sem omissão de qualquer detalhe.
O incrível é que, para cada compromisso com o erro daquele tempo, surgiram-me
agora as soluções que antes não me ocorreram, patenteando a Sabedoria de Nosso Pai ao
alcance de nossas mãos, mas nem sempre utilizada.
Conservava a impressão de que todos os meus atos foram cuidadosamente anotados por
criterioso e vigilante amanuense a quem nada escapara, registrando inclusive as idéias más
que, um dia ou outro, me visitaram a tela mental.
Quanta coisa negativa construíra nos meus dias, sem o perceber. Sabia não ser um anjo
em viagem turística na Terra. Todavia, jamais supusera ter sido tão negligente no
cumprimento do dever.
Aterrada, cheguei à conclusão de que os pensamentos e atos da criatura se fixam no
Além, por processos que me escapavam ao entendimento, permanecendo vivos, mesmo
quando deles nos esquecemos.
Erguiam o caixão que me conduzia o corpo. O pavor do momento foi-me superior à
capacidade de calma e confiança. Procurei, no meu desespero, correr para longe daquela cena
pungente que me feria e amargurava; todavia, cordões espessos e escuros ligavam-me aos
despojos, arrastando-me com eles...
Reconheci as ruas por onde seguia o féretro, embora as notasse escuras e movimentadas,
como se pesada sombra se abatesse sobre as casas, e multidão desvairada tivesse saído às
calçadas.
Chegando ao Cemitério, ouvi gritos e lamentações que me despedaçavam a alma. As
vozes, que mais se assemelhavam a emissões animalescas, compunham musicalidade infernal,
indescritível.
Massa humana, de grotesca forma, cercava-me o ataúde, comentando, zombeteira, a
situação da recém-chegada:
— Será discípula do Cordeiro ou irá engrossar nossas fileiras? — disse alguém com
sarcasmo.
Deve ser alguma “pobre ovelha do Rebanho”! —exclamou mais alguém. E com a
mesma voz:— Olhem as defesas que a envolvem...
Tudo aquilo era um fenômeno novo e horripilante.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Aconcheguei-me ao caixão, desejando arrebata-lo e fugir dali como fardo das minhas
carnes. Força incoercível detinha-me atenta no esquife que era depositado no fundo da
sepultura.
Escutei o som da laje a cobrir-me os despojos e o dos instrumentos que eram usados
para o lacramento da campa. Apavorada, encontrei-me ligada às vísceras mortas, estando
viva. Gritei desesperadamente, em lamentável estado, e caí desmaiada.
Despertei lentamente, conservando a cabeça atordoada, demorando-me a recompor os
pensamentos que pareciam perdidos embrumas espessas.
Vagarosamente rememorei os últimos acontecimentos e, quando ao recordá-los,
cheguei à certeza de que estava na sepultura, fui acometida de convulsivo pranto.
Odores pestilentos e desagradáveis invadiam-me as narinas, causando-me sucessivas
náuseas.
Verifiquei que o meu corpo se tornara volumoso, começando a decompor-se, enquanto
aluvião de asquerosos vermes se locupletavam nas carnes entre as vestes úmidas e imundas.
Ciente da realidade de minha “morte”, cercada de compactas trevas, sabendo-me com o
corpo em decomposição no Cemitério eu experimentava avassaladora angústia.
Apalpava-me e constatava a presença da dor física, embora desligada do corpo.
Sentia-me pesada, raciocinando com dificuldade, esmagada na cova sepulcral, e recordei,
emocionada, a inadiável necessidade de orar. Sim, a prece ser-me-ia a única fórmula
medicamentosa capaz de restituir-me a paz, a serenidade. Recordei-me, então, do Senhor Jesus,
o Amigo dos aniquilados e Companheiro constante dos infelizes.
A sua figura vitoriosa, além da Cruz, retornou à minha mente, trazendo-me revigorante
calma.
Reconheci-me como sou: ingrata e egoísta, pobre e sem valia. Enquanto Ele não
pronunciara uma só queixa à frente dos inenarráveis sofrimentos e humilhações, eu me
entregava à desesperança e à revolta.
Oh! o consolo que deriva da prece murmurada pelo espírito confiante, após a
aflição!
Ainda não havia terminado a rogativa, quando me chegou aos ouvidos, como em
formoso sonho, doce e meiga voz que banhou de harmoniosa musicalidade o estranho recinto.
Era a irmã Liebe, não havia dúvida. Era aquele anjo que tantas vezes, no Culto de nossas
orações no Lar, nos convidara a seguir o Mestre, concitando-nos a amá-lo acima de todas as
coisas terrenas.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Sou a tua irmã Liebe que vem das claridades da “morte” para o teu coração envolto nas
trevas que circundam as cinzas da “vida”. Trago-te o refrigério e a esperança em nome de Quem
é toda a Misericórdia e Consolação.
— Que fazer, irmã querida, em tão trágicas circunstâncias? Como libertar-me
daqui?...
— Tenho estado contigo desde o instante em que começaram as tuas aflições —
respondeu bondosa.—Todavia, prendias-te mais à lamentação improdutiva que à fé,
malbaratando o tesouro precioso da oportunidade de confiar e esperar.
Quando, porém, resolveste buscar a Fonte Viva, pela oração eficiente, rompeste as
algemas que retinham tua mente no oceano físico e emergiste da penosa faixa de vibrações.
Ao orares, não arroles queixas nem lamúrias; não relaciones apontamentos
apressados; não apresentes necessidades... O Senhor, que a todos nos conhece, sabe das
necessidades que nos assinalam a existência e supri-las-á, naturalmente.
Permaneci, olhos fechados, ajoelhada como nos tempos passados, orando
demoradamente, esquecida do cubículo infecto onde me encontrava. Ao descerrar as pálpebras,
deparou-se-me suave claridade a espraiar-se nas paredes e, sorrindo, surgiu o delicado e
compassivo rosto de irmã Liebe, aureolado de fios dourados.
— Não temas. Vem! Saiamos daqui.
Meus ouvidos espirituais escutaram o bater lento das horas: meia-noite! Vento frio
soprava dobrando os ciprestes escuros banhados da claridade lunar.
Os vultos solitários dos anjos de pedra, sobre os jazigos, confundiam-se com as coroas
de metal que tentavam imortalizar as expressões floridas da natureza e tomavam aspectos
variados no claro-escuro do ambiente.
Notei que multidões pervagavam entre os túmulos, formando grupos vários que se
confundiam em confabulações...
Alguns, de ar escarninho, passavam gargalhando e satirizantes, proferindo expressões
vulgares, zombeteiras e coléricas.
Outros conservavam-se ajoelhados, em atitude de oração, consoante suas confissões
religiosas, banhados de pranto, em imprecações desesperadas.
Recordei advertências e ensinamentos, conselhos e roteiros ouvidos, nos quais o
convite ao trabalho e à oração, o apelo à vigilância e ao auxílio eram notas frisantes, e não pude
conter as lágrimas que, sucessivas, me banharam o rosto.
Pela memória, acompanhei o desfilar de tantos Benfeitores Anônimos, generosos e
compassivos, que tantas vezes, enternecidamente, me distinguiram o espírito, com expressões

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
de bondade e zelo, verificando, aterrada, quanto fora negligente e descuidada no Campo
do Senhor. O desânimo ia-me assenhoreando, quando a vigilante Benfeitora, interrompendo-
me o curso das reflexões atalhou:
— Otília, minha irmã, recorda que Jesus não deseja a morte do pecador, mas a do
pecado.
Desanimar agora seria o mesmo que retroceder. O discípulo do Evangelho não dispõe
de tempo mental para o receio ou para a dúvida. Não te lamentes! Cristo, em nosso caminho,
é uma permanente oportunidade nova. Se achas que não aproveitaste devidamente o ontem,
lembra-te de que o amanhã pertence à tua alma. Robustece o espírito na fé e reanima-te,
pois que muito terás a fazer. Alegra-te no Senhor, que nunca nos abandona, e, sem perda de
tempo, põe mãos à obra.
Nossos irmãos choram em diversos planos do orbe e suas vizinhanças, aguardando
socorro em nome do Céu. Não dispomos de tempo para a despesa da inutilidade. O passado
pode constituir-se de sombras; todavia, o amanhã é sempre uma luz nova, dissipando todas as
trevas. Ergue-te e não temas!
Otília Gonçalves – Além da Morte – Cap. 1/2/3/4/5/6
(...)
Enquanto não compreendermos a necessidade de valorizar a vida no plano físico,
continuaremos invadidos pelo infortúnio a bater-nos desapiedado, com os chicotes resultantes
das ações impensadas.
A vida na carne é patrimônio que não merecemos. Significa concessão misericordiosa
para renovação, aprendizado e libertação.
Toda a luta deve ser dirigida para a realização dos objetivos essenciais do programa que
nos conduz ao renascimento. “A alma mergulha na carne, cheia de boas intenções e desejosa
da recuperação do tempo. Todavia, a boa intenção e o desejo, apenas, não respondem
positivamente pela felicidade.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
É imprescindível ação realizadora no campo do bem geral. Mas, o que acontece
comumente é que o contato com o corpo, ocasionando a anestesia da memória, faz que o roteiro
traçado com o concurso das lágrimas e do arrependimento fique a margem, voltando a criatura
aos hábitos milenários onde pontificam o prazer, a cobiça e o crime.
A perigosa e atraente rede da ilusão arrasta diariamente multidões descuidadas, que
malogram desastradamente, adiando, por tempo indefinido, a ascensão aos planos mais altos...
Liebe – Além da Morte - Cap. 5
(...)
Fé, minha querida amiga — continuou —, significa conquista espiritual.
Fé espírita, representa conquista da alma nos domínios da evolução.
A fé haurida no Espiritismo impõe a necessidade do conhecimento de si mesmo e
oferece os instrumentos para que o homem realize o autodiscernimento, o autocontrole, o
autoconhecimento, para seguro, avançar resoluto pela senda evolutiva.
Por isso, a fé espírita é consoladora.
Recordemos que o primeiro nome do Espiritismo veio de Jesus Cristo: O Consolador.
E a doutrina de Jesus, em Espírito e Verdade. “Em razão disso mesmo, onde haja um Núcleo
Espírita, haverá o bálsamo, o consolo.
Sendo consolação é tudo: caridade, esclarecimento, força, diretriz, porque o consolo
nasce não somente do pão, mas sobretudo do esclarecimento.
Na multidão dos que sofrem indagando, o espírita é o único felicitado pela serenidade.
Sua indagação é feita sem dor íntima, porque ele já tema felicidade íntima. Indaga com alegria,
porque sabe que ninguém foi criado para a tristeza.
Auta de Souza – Além da Morte - Cap. 6

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.8 Uma Feminista Equivocada

Fui mulher na minha última e dolorosa peregrinação na Terra.


Enverguei as roupas físicas da vaidade e empolguei-me pelas coisas fúteis, tornando-
me vendedora de ilusões...
De cedo, fascinada pelos ouropéis da vacuidade, tornei-me feminista de realce,
empolgando-me com as diretrizes que tinham por objetivo oferecer a mulher igualdade de
direitos em relação ao homem na sociedade em que militei.
Favorecida com um matrimônio nobre, utilizei-me de oportunidade para projetar-me
ainda mais nos favores do relevo social, derrapando, logo depois, através de um desquite
amigável, para as dissipações do adultério, ludibriada em mim mesma pelos sentimentos da
corrupção, então, em voga.
Diversas vezes, antes da separação legal, visitada pela fecundação que me apelava a
responsabilidade matrimonial, não tergiversei, uma ocasião sequer, cometendo nefandos
infanticídios através do aborto delituoso, na vã expectativa de fugir aos deveres superiores da
vida. permanecendo anestesiada pelos vapores abundantes das paixões dissolventes.
Minha mãe, falecida, apareceu-me em sonhos, reiteradas vezes, chamando-me a
realidade de outros deveres.
Experimentava impressões de que vozes e choros infantis me perturbavam o equilíbrio
mental, fazendo-me voltar a realidade dos meus crimes, que cada vez afogava nas libações
alcoólicas ou em dissipações de toda ordem para olvidar ou deles fugir.
passei a experimentar estranhas e agudas dores nas regiões do baixo ventre, vindo a
descobrir, logo depois, que era portadora de terrível carcinoma que me vitimava o útero e que
seria a causa da minha morte prematura, logo depois...
Com apenas 32 anos fui obrigada a abandonar a Terra, expulsa do corpo pelo câncer
vingador, encarregado de cobrar nas minhas carnes os hediondos crimes que perpetrara na
volúpia da loucura.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Com a morte senti-me desvairar em mãos impiedosas, arrancada do cadáver antes que
este fosse inumado na sepultura, sendo conduzida a região dolorosa, onde fui desrespeitada nos
meus sentimentos de mulher, mesmo desequilibrada, conduzida a situações inenarráveis, depois
do que julgada, em arbitrário tribunal no qual os meus crimes foram expostos e eu, desnudada
intimamente, vi-me constrangida a todo tipo de sarcasmo e a uma série de punições que
começavam pelo encarceramento cruel, visitada e guardada por animais semelhantes aos da
Terra, porém que me pareciam criaturas humanas deformadas nos corpos deles que me sitiavam
demoradamente...
Crede que não há palavras capazes de descrever o infortúnio que tenho experimentado.
O tempo se me fez uma eternidade, porque perdi os limites e os contatos dimensionais. É um
grande período sem fim...
Recordo que parti da Terra nos últimos dias do ano de 1947, quando se anunciava o
Natal e não me é possível recordar de mais nada, senão o pavor, a vingança, o choro e a visão
dos corpos estiolados e das mãos pequeninas acusadoras que se transformam repentina e
violentamente em garras que avançam na direção do meu pescoço, tentando estrangular-me até
o meu desfalecimento, para, após, acordada, recomeçarem no mesmo suplício de Tântalo,
indefinidamente, até aqui...
Venho hoje, aqui trazida, fazer um apelo as mulheres da Terra, neste momento em que
o aborto se torna legal em diversos países, em que a mulher aspira a maior liberdade, que, no
entanto, é libertinagem, a fim de que reflexionem, e, se possível, voltem-se para outros deveres
mais elevados e miseravelmente desprezados quais a maternidade, o lar e a família, a
integridade física e moral, o respeito, suplicando uma baga de luz e uma oportunidade redentora
para mim mesma.
Cristina Fagundes Rabelo – Depoimentos Vivos - Cap. 16

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.9 Um Dirigente Espírita Fracassado

Espiritista militante, exerci, na Terra, a relevante tarefa de direção de uma Casa Espírita.
A medida que o tempo acumulava horas, o entusiasmo inicial deixou-me sucumbir sob
a rotina causticante e desagradável, fazendo que a tarefa se tomasse pesada canga, que a custo
conseguia carregar. No entanto, multiplicavam-se as louvaminhas, os exórdios ao personalismo
doentio, as sugestões maléficas em forma de convites vaidosos e laureantes, e, a pouco e pouco,
fui transformando a Casa que deveria permanecer como suave refúgio dos sofredores e humilde
tabernáculo de orações em reduto de ociosidade e parasitismo inúteis.
A presença das pessoas de conduta duvidosa, ignorantes e sofredoras passou a
constituir-me insuportável peso.
Os apelos da miséria, que um dia eu pretendera diminuir, tomaram-se expressões de
disfarce e de cinismo, que não poucas vezes atirava na face dos corações lanhados pela dor e
dos espíritos humilhados pela necessidade.
As exterioridades, todavia, continuavam a ser mantidas em traje a rigor.
Os elogios perniciosos se encarregaram de completar o quadro do meu equívoco infeliz,
e, sem dar-me conta, fui arrebatado pela desencarnação, deixando um rio de lágrimas nas
pessoas gradas, que se compraziam na minha conversação fluente e nas minhas excentricidades,
que passaram a constituir moda, enquanto eu mergulhava na imensa realidade do despertar da
vida no além-túmulo.. .
Várias homenagens foram programadas entre os que permaneceram na carne, em minha
memória. O meu nome foi colocado no frontispício do santuário, que deveria ostentar as
expressões simples e invencíveis da caridade, do amor e da humildade..
Sucederam-se as surpresas para mim. A morte, infelizmente, não me santificou.
Acordei como era, ou melhor, pior do que era, porque despido das exterioridades
mentirosas, dando-me conta de que antigo zelador da Casa a que nem sempre oferecera o
necessário trato, fora o primeiro amigo a receber-me além da aduana que eu acabava de
transpor.
A consciência despertou rigorosa e passei a experimentar o tumulto dos remorsos, dos
arrependimentos tardios e das agonias longas que as palavras, só mui dificilmente, conseguem
descrever.
Concomitantemente, os hinos de exaltação que me chegavam da Terra eram punhais
que me penetravam a alma, que reconhecia não os merecer.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Bati as portas da mediunidade na Casa que me fora berço de luz, com sofreguidão e
confessei-me, numa noite memorável, diante dos companheiros estarrecidos...
Ao terminar o trabalho, esses tiveram expressão de espanto e de censura a médium, que
me filtrara as informações com fidelidade, taxando-a de adversária gratuita do meu êxito, em
consequência, avinagrando-lhe a sensibilidade file.
Redobrei esforços para aclarar a verdade. Mas, quem estava interessado na Verdade, se
fora eu mesmo quem ali instaurara o modismo da bajulação e o intercâmbio da ociosidade! ?
Não transformem Espíritos familiares, amigos e protetores, em guias de ocasião, como
santos da vaidade.
E quando a tentação do êxito, do brilho imediato começar o ofuscar a clareza da
simplicidade das suas vidas, complicando os labores, ou lhes impuser a distância da convivência
com os infelizes, nossos irmãos, infelizes que somos quase todos nós, muito cuidado!
Artur Marcos – Depoimentos Vivos - Cap. 14

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.10 Um Médico Materialista

Transitei pelo corpo, mantendo a ilusão da perpetuidade fisiológica, não obstante fruir
a ventura de haver travado contatos com a Imortalidade, em inesquecíveis tentames, nos quais
a mediunidade comprovou-me a sobrevivência espiritual sobre o decesso celular no túmulo.
Apesar disso, vinculado ao preconceito acadêmico e as vaidades sociais decorrentes do
posto transitório a que estive guindado, na condição de professor universitário, releguei a plano
secundário a revelação da vida estuante para demorar-me embriagado pelo ácido lisérgico do
entusiasmo mentiroso, no palco da fantasia humana, sem ter em conta a conjuntura inamovível
do dia da partida...
Vivi a Medicina como profissional que realiza o mister açulado pela ganância numerária
dos resultados amoedados, que se transformam em pesadelos futuros...
Sacerdote do corpo pelo compromisso acadêmico, deveria ser o apóstolo do espírito
pelo ideal da verdade. Não o fiz, lamentavelmente, para mim.
Nesse ínterim, advertência mais severa chegou-me, invadindo-me as reservas orgânicas
e sugando-me o corpo em depauperamento. Face a presença do carcinoma ultriz dentro de mim
mesmo, virulento, deparei-me, de um instante para outro, vencido pela sua exteriorização
nefanda, e, de repente, vi-me a borda da morte, a meta não planejada, não desejada.
Voltei-me apressadamente, então, para Deus. A distância que nos medeava era muito
grande e não me havia tempo para vencê-la.
Recorri ao Espiritismo como náufrago agarrando qualquer destroço do navio, na ilusão
de alcançar a praia que ficara muito longe ou o porto a que nunca dedicara qualquer
consideração.
Orei, recorri ao auxílio alheio através do passe curador — eu que me negara a arte de
curar — mas o bote da desencarnação arrojou-me no nevoeiro do Mundo Espiritual em que ora
me debato, semelhantemente a alguém que, açoitado pelo vendaval no oceano, fosse encontrar
terra fixa no pântano escorregadio e pestilento.
Doem-me todas as fibras, para usar uma linguagem típica, eu que transito agora num
corpo espiritual.
Sinto a atuação do câncer que me vitimou a forma e a cadaverizou, como da sua
metástase que me venceu todo o organismo fisiológico, qual se ainda estivesse a padecer-lhe a
presença soez, porém, acrescentado a esse sofrimento superlativo que as palavras não podem
traduzir, está a lâmina ferinte do meu remorso pelo tempo perdido.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Bem sei que me faltam as credenciais para aconselhar. Ninguém melhor, no entanto,
para ser mestre diante da inexperiência alheia do que aquele que tombou no precipício da
própria insensatez.
Considerai em profundidade a fé que vos aquece e não vos iludais quanto eu a mim
mesmo me iludi.
José E.G. – Depoimentos Vivos – Cap. 11

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.11 Um Advogado sem Ética

O advogado criminalista é, sobretudo, o interprete da consciência do seu cliente, que


pode aprofundar o exame nas causas despercebidas do crime e defender o delinquente dentro
de uma visão que se coaduna com o interesse dele, nem sempre com o interesse social.
Exerci a advocacia com ardente interesse. Primeiro, ativado pelas concessões que a
fortuna pode dar aos que defendem os criminosos que podem remunerar bem. O lado ético, o
chamado lado da vitima, deixou de me interessar. Segundo, porque considerando o sistema
penitenciário vigente, arbitrário e criminoso, por que feito por uma sociedade corrompida, sem
me eximir à corrupção que contamina a todos, procurei brilhar no Fórum, defendendo as vidas
que me compravam os equipamentos culturais em nome da Lei.
A morte tomou-me o corpo e eu não fugi da realidade.
Aqui, acusam-me de haver defendido o criminoso e perseguem-me porque eu não
permiti que a justiça alcançasse aqueles que se entregaram à sanha dos seus sentimentos mais
vis.
Acusam-me e querem fazer contra mim justiça com as suas mãos, em nome da Justiça
que é cega, deixando oscilar para aquele que lhe ponha mais ouro no prato da balança que
segura. Foi o que eu fiz.
Mas agora dizem que eu sou tão criminoso quanto os criminosos que eu defendi; e por
que? Porque as suas vitimas esperavam pelo menos a justiça e voltam-se contra mim.
Aqui estão comigo, no mesmo pelourinho, os que que se deixaram vencer pela
venalidade: Juízes inescrupulosos, promotores corrompidos, advogados malsinados que, juntos,
desrespeitamos a Lei.
A. – Depois da Vida – Cap. 10

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.12 Um Escritor Materialista

Enveredei pela imprensa marrom.


Denegrir é mais fácil do que corrigir; acusar é mais simples do que ajudar.
Verberei, com a palavra incendiada de revolta, sempre acusando, e participei da
revolução pornográfica que ora assola em toda parte, colaborando para a dissolução dos
costumes que eu execrava, por considera-los ultrapassados.
Torne-me lido e vivi ultrajado em mim mesmo.
Consegui dinheiro e fui odiado. Usei a pena como uma lamina sempre para cortar e
destruir; nunca para retificar.
Disfarcei, nos vícios, os conflitos interiores, e, nas conquistas fáceis, uma virilidade que
não possuía, gastando-me de dentro para fora e aniquilando-me de fora para dentro.
Não é necessário dizer que uma icterícia foi a resposta aos meus desbordamentos nos
alcoólicos e retornei prematuramente para cá.
Ainda não me dera conta da consumpção da matéria e já me encontrava envolvido pelas
companhias que acalentei.
Eu fora um obsidiado. Minha arte de escrever estava profundamente vinculada a outros
escritores infelizes já mortos, cujo calibre moral eu selecionara por eleição pessoal.
Tenho sofrido!
Minudenciar as dores morais que me devoram nestes três últimos lustros, no país de cá,
é tarefa a que não me atrevo.
Juntando-se a essas aflições morais sofro o drama dos fenômenos físicos, para mim
incompreensíveis, porque sem possuir o corpo, porém, como resultado do suicídio indireto a
que voluntariamente entreguei-me.
Cada página minha, que estimula o vicio e que promove o despautério, quando lida,
torna-se uma verdadeira brasa a queimar-me por dentro. As incursões mentais dos que me lêem,
atingem-me como raios fulminantes que me ferem profundamente.
Agora é recomeçar.
Conscientizar-me ao máximo sobre a responsabilidade para refazer o caminho, para
mergulhar na idiotia do esquecimento temporário, no corpo, aprendendo, assim, a valorizar os
dons da inteligência e os instrumentos corporais que a vida concede por empréstimo, para a
evolução, em tratamento que se alongara por algum tempo.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Desejo alertar a quem fala e a quem escreve, a quem transmite impressões de qualquer
natureza, que a ideia que projetamos, podendo influenciar aqueles que a assimilam, é imagem
que voltara multiplicada a fonte geradora.
A mudança de domicilio corporal não impõe transformação real a ninguém.
Egberto Monteiro – Depois da Vida – Cap. 4

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.13 Uma Rainha de França/Oude

Quem poderia, melhor do que eu, compreender a verdade destas palavras de Nosso
Senhor: meu reino não é deste mundo?
O orgulho me perdeu sobre a terra.
Quem, pois, compreenderia o nada dos reinos do mundo, se eu não compreendesse?
O que foi que eu levei comigo, da minha realeza terrena?
Nada, absolutamente nada. E como para tornar a lição mais terrível, ela não me
acompanhou sequer até o túmulo!
Rainha eu fui entre os homens, e rainha pensei chegar no reino dos céus.
Mas que desilusão! E que humilhação, quando em vez de ser ali recebida como
soberana, tive de ver acima de mim, mas muito acima, homens que eu considerava pequeninos
e os desprezava, por não terem nas veias um sangue nobre!
Oh, só então compreendi a fatuidade dos homens e das grandezas que tão avidamente
buscamos sobre a Terra!
Para preparar um lugar nesse reino são necessárias a abnegação, a humildade, a caridade,
a benevolência para com todos. Não se pergunta o que fostes, que posição ocupastes, mas o
bem que fizestes, as lágrimas que enxugastes.
Oh, Jesus! Disseste que teu reino não era deste mundo, porque é necessário sofrer para
chegar ao céu, e os degraus do trono não levam até lá. São os caminhos mais penosos da vida
os que conduzem a ele.
Procurai, pois, o caminho através de espinhos e abrolhos e não por entre as flores!
Os homens correm atrás dos bens terrenos, como se os pudessem guardar para sempre.
Mas aqui não há ilusões, e logo eles se apercebem de que conquistaram apenas sombras,
desprezando os únicos bens sólidos e duráveis, os únicos que lhes aproveitariam na morada
celeste, e que lhes podiam abrir as portas dessa morada.
Tende piedade dos que não ganharam o reino dos céus. Ajudai-os com as vossas preces,
porque a prece aproxima o homem do Altíssimo, é o traço de união entre o céu e a terra. Não o
esqueçais!
Uma Rainha de França – Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. 2 – Um Realeza
Terrena
Havré, 1863

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
P. Que pensais das honras fúnebres tributadas aos vossos despojos?
R. Não foram grande coisa, pois eu era rainha e NEM TODOS SE CURVARAM
DIANTE DE MIM...
Deixai-me... forçam-me a falar, quando NÃO QUERO QUE SAIBAIS O QUE ORA
SOU... Asseguro-vos, eu era rainha...
P. A vossa hierarquia terrestre concorreu para que tivésseis outra mais elevada nesse
mundo em que ora estais?
R. Continuo a ser rainha... que se enviem escravas para me servirem!...
Mas... não sei... parece-me que pouco se preocupam com a minha pessoa aqui... e
contudo eu... sou sempre a mesma.
Rainha de Oude – O Céu e o Inferno – 2º Parte – Cap. 7 – Espíritos Endurecidos
(1858)

88
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Há histórias que, por seu conteúdo envolvente e suas lições preciosas, tornam-se
emblemáticas. Uma dessas histórias está no livro O Céu e o Inferno, no capítulo que reúne as
experiências dos Espíritos endurecidos.
Entre aqueles seres obstinados, de coração pétreo, poucos se comparam à Rainha de
Oude. Orgulhosa, enfadada com tudo o que não fosse sua tradição dinástica, dona de um enorme
desprezo pelos valores espirituais, é um personagem que impressiona.
A história desse Espírito, sua glória e tragédia tornam ainda mais enriquecedora a leitura
de seu diálogo com Allan Kardec.
No século XVIII, os países europeus buscavam novos mercados que consumissem os
produtos industrializados e onde obtivessem matérias-primas a baixo custo.
A Índia era um dos focos de atenção. Com a criação da Companhia das Índias Orientais,
a Inglaterra obteve o monopólio do comércio indiano, superou a concorrência franco-
portuguesa e, um século depois, ocupava praticamente todo o País.
Práticas como o confisco de propriedades rurais e a cobrança de impostos extorsivos
inspiravam ânsias de liberdade. Sem uma autoridade central e dividida entre reinos rivais, a
Índia reagiu com a Revolta dos Sipaios (soldados nativos empregados da Companhia das Índias
Orientais).
A Inglaterra esmagou as rebeliões e intensificou a expansão imperialista. Reinos de
marajás e nababos foram tomados. Entre eles o reino de Oude (Awadh ou Oudh), governado
pelo nababo Wajid Ali Sha.
A Rainha-mãe de Oude, Malika Kishwar, era uma legítima purdah nasbeen lady, dama
que vivia de acordo com os mais rígidos costumes muçulmanos.
Em público estava sempre coberta pelo véu tradicional e a ninguém era permitido
contemplar sua figura. Nas audiências que concedia, ficava isolada por pesadas cortinas e uma
secretária transmitia suas respostas ao interlocutor.
Como as outras damas de sua estirpe e religião, recebeu educação esmerada e cresceu
cercada de luxo e riquezas, em completo recolhimento na zenana, uma construção dentro do
palácio a que apenas mulheres tinham acesso.
Homens, somente os parentes diretos: marido, pais e filhos.
Descendente dos imperadores mongóis que ocuparam a Índia, era filha do nababo
Hisam ud-din Khan, de Kalpi. Sua mãe era a Rainha Vilayati, filha do famoso nababo Sa’adat
Ali Khan.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Pelo casamento se tornou Begum (primeira e principal esposa) do Rei Amjad Ali Sha,
de Oude, situado onde hoje é o Estado de Lucknow, ao norte da Índia.
Um dos mais prósperos reinos indianos, Oude foi anexado à Companhia das Índias
Orientais em 1856 e toda a família real, que incluía as 148 esposas e os 40 filhos do Rei, foi
transferida para Calcutá.
O nababo Wajid Ali Sha, entusiasta das artes – principalmente da música, da dança e da
poesia – foi acusado de ser um administrador desatento, sem controle sobre as finanças do reino
e mais interessado em prazeres.
A Rainha-mãe viajou até a Inglaterra para interceder junto à Rainha Victoria em favor
da restituição do reino de seu filho. Desembarcou fazendo jus à fama de extraordinária riqueza
dos reis indianos: com a pompa de joias espetaculares, um cortejo que incluía dois príncipes e
centenas de servos, tecidos preciosos e uma impressionante coleção de títulos: Janab-i-Aliya
Malika-i-Kishwar Khanum, Mukhtar Aliya, Fakhr uz-Zamani Nawab TajAra Begum Sahiba.
Janab-i-Aliya significa algo como Sua Alteza Real. Malika é o termo árabe para Rainha.
Khanum é o feminino de Khan, títu lomongol. Fakhr uz-Zamani significa glória de sua época.
Nawab e Begum, juntos em um mesmo título, correspondem à identificação de uma esposa da
realeza. Taj Ara quer dizer ornamento da coroa.
Foi recebida com grandes honras pela Rainha Victoria, mas a Inglaterra era uma
monarquia constitucional e Victoria não tinha poderes para intervir no caso. Para agravar o
quadro, enquanto a Rainha de Oude estava na Europa, explodiu a grande rebelião de 1857 contra
a presença britânica na Índia. Wajid Ali Sha e suas esposas estavam diretamente envolvidas.
Esse primeiro levante pela independência ensanguentou o País. Mesmo os mais
resistentes, como a lendária Lakshimi, Rani de Jansi, foram dizimados pelos ingleses e sua
derrota reduziu ainda mais as possibilidades de os reinos retomarem sua autonomia.
A Rainha de Oude permaneceu na Inglaterra por um ano. Na viagem de volta, durante
uma escala em Paris, em 23 de janeiro de 1858, ela morreu em decorrência de uma moléstia
súbita. Tinha 58 anos de idade. Há várias versões para a morte. Uns apontam o cólera, outros
depressão. Um mês depois, seu filho, General Mirza Sikandar Hashmat, também morreu e foi
sepultado junto da mãe.
Em um gesto de provocação à Inglaterra, a França concedeu à Rainha de Oude funerais
de Chefe de Estado. O enterro percorreu as ruas de Paris e se tornou um dos acontecimentos
mais comentados e noticiados do País.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Malika Kishwar foi sepultada na área muçulmana do Cemitério do Père-Lachaise, na
85ª divisão, a poucos metros de onde está localizado hoje o túmulo de Allan Kardec.
De sua tumba imponente hoje resta somente a fundação. Um desenho no local mostra a
opulência do monumento original.
Atento aos fatos de seu tempo, Allan Kardec evocou a Rainha na Sociedade Parisiense
de Estudos Espíritas e publicou a conversa na Revue Spirite de março de 1858 e, mais tarde, em
O Céu e o Inferno. Evocou-a em duas outras ocasiões sem notar mudanças significativas.
O diálogo entre a Rainha e o Codificador é revelador.
Ela informa que está perturbada, que tem saudades da vida (Experimento acerba dor,
da qual a vida me libertaria), mas exige ser tratada como Majestade.
Nada parece satisfazê-la em suas aspirações de poder; a morte ainda não a faz refletir
sobre sua atitude perante a vida. É o que se deduz de sua resposta quando Kardec indaga sobre
as honras que lhe foram tributadas por ocasião de seu funeral: Não foram grande coisa, pois eu
era rainha e nem todos se curvaram diante de mim…
O exclusivismo da realeza está bem traduzido nas respostas da Rainha: Meu sangue não
pode misturar-se com o do povo. Seu apego às paixões materiais está explícito no desprezo à
figura de Jesus (O filho do carpinteiro não é digno de ocupar meus pensamentos) e, mesmo
sendo muçulmana e cumpridora dos costumes, não permitiu que a religião sobrepujasse a
posição social (Eu era bastante poderosa para que me ocupasse de Deus).
Sequer o profeta Maomé lhe merece um comentário caloroso (Não é filho de rei).
Pode-se entender seu desprezo até pela liberdade conquistada pelas mulheres do
Ocidente (Que me importam as mulheres! Se me falasses de rainhas…) se considerarmos que
ela era a principal dama da sua corte e seu poder político era tremendo.
Meu sangue reinará, por certo, visto como é digno disso, disse ela a Kardec, mas essa
aspiração jamais se concretizou.
A nora da Rainha, Hazrat Mahal, se tornou um símbolo da resistência ao imperialismo
inglês, mas Wajid Ali Sha e seus filhos morreram no exílio.
Em 1858, o Parlamento britânico transferiu a administração do País para a Coroa e em
1876 o governo inglês, liderado por Benjamin Disraeli, proclamou a Rainha Victoria Imperatriz
da Índia.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
O domínio inglês estendeu-se até 15 de agosto de 1947, quando, não o orgulho e a
guerra, mas a resistência pacífica e a não-violência do Mahatma Gandhi dobraram a resistência
dos britânicos e proclamaram a independência da grande pátria indiana.
Sônia Zaghetto - Revista Reformador - agosto de 2005 - A trajetória da rainha de
Oude

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.14 Um Papa – Pio XI/Leão XIII

Cercado de todas as honras pontificais, Pio XI agoniza...


De seus lábios exaustos, nada mais se ouve, além de algumas palavras ininteligíveis.
Seu coração está mergulhado na rede dolorosa das perturbações orgânicas, mas seu
espírito está lúcido, como o de uma sentinela, a quem não se permite dormir.
Alvorece o dia... Preparam-se os sinos de Roma para anunciar as matinas à antiga cidade
dos Césares e o velho pontífice tenta, ainda uma vez, articular uma palavra que expresse a sua
vontade derradeira.
Todavia, não obstante todas as dignidades sacerdotais e apesar de todos os títulos
nobiliárquicos de um soberano terrestre, Sua Santidade se despede da vida material, sob os
mesmos imperativos dos regulamentos humanos da Natureza.
A morte não lhe reconhece a soberania e a asma cardíaca lhe devora as últimas
possibilidades de prosseguir na tarefa terrena, chamando-o a novos testemunhos.
Pio XI desejaria fazer algumas recomendações in extremis, mas sente-se invadido por
uma corrente de frio inexplicável, que lhe paralisa todos os centros de força.
Os religiosos que o assistem compreendem que é chegado o fim de sua resistência e o
Cardeal Lauri aproxima-se do moribundo, ministrando-lhe a extrema-unção, segundo as
tradições e hábitos da igreja.
O papa agonizante experimenta, então, todas as angústias do homem, no instante
derradeiro...
Aos olhos de sua imaginação, desenham-se os quadros nevados e deliciosos da
Lombardia, na sua infância descuidada e risonha, os velhos pais, amorosos e compassivos, o
pároco humilde que o animou para os estudos primeiros e, depois, as proveitosas experiências
nas ondas largas e bravias do oceano do mundo, junto aos esplendores de Milão e de sua catedral
majestosa...
Ele que orara, fervorosamente, tantas vezes, sentia agora uma dificuldade infinita para
elevar o pensamento ao Deus de misericórdia e de sabedoria, que ele supunha no ambiente
faustoso de seus templos frios e suntuosos...
Uma lágrima pesada lhe rolou dos olhos, cansados das penosas preocupações do mundo,
enquanto o raciocínio se lhe perdia em amargas conjeturas.
Não era ele o Vigário Geral do Filho de Deus sobre a Terra?
Sua personalidade não ostentava o título de Príncipe do Clero?
Num derradeiro olhar, fixou, ainda nas próprias mãos, o reluzente anel, chamado do
Pescador...
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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Desejou falar, ainda uma vez, aos companheiros, mergulhados em preces fervorosas,
das meditações angustiadas da morte, mas percebeu que as suas cordas vocais estavam hirtas...
Foi quando, então, Pio XI começou a divisar, em derredor do seu leito de agonia, um
compacto exército de sombras.
Algumas lhe sorriam com solicitude, enquanto outras o contemplavam com indefinível
melancolia. Ao seu lado, percebeu duas figuras veneráveis que o auscultavam, como se fossem
médicos desconhecidos, vindos em socorro dos senhores Rochi e Bonanome, seus assistentes
naquele dia.
Esses médicos do Invisível como que o submetiam a uma operação difícil e delicada...
Aos poucos, o velho pontífice romano sentiu que os olhos materiais se lhe apagavam
amortecidos, mas, dentro de sua visão espiritual, continuava a perceber a presença de pessoas
estranhas e que o rodeavam, dentre as quais se destacara um vulto simpático, que lhe estendia
os braços, solícito e compassivo.
Pio XI não teve dificuldades em identificar a figura respeitável que o acolhia com
benevolência e carinho.
Leão XIII!... murmurou ele, no silêncio íntimo de seu coração, recordando os instantes
gloriosos de seu passado eclesiástico.
Mas, a nobre entidade que se aproximava, abraçando-o, exclamou compassivamente:
"Aquiles, cessam agora todos os preconceitos religiosos que formavam a indumentária
precisa ao cumprimento de tua grande missão no seio da igreja!...
Chama-me Joaquim Pecci, porque, como hoje te recordas de Désio e da infância
longínqua, desejoso de recomeçar a vida terrestre, que terminas neste instante, também eu me
lembrei, no momento supremo, de minha risonha meninice em Carpineto, ansioso de regressar
ao passado para encetar uma nova vida, porque a verdade é que todos nós, em assumindo os
sublimes compromissos com a lição do Senhor, prometemos realizar uma tarefa para a qual nos
sentimos frágeis e desalentados, em nossas imperfeições individuais..."
E como Aquiles Rátti revelasse estupefação, diante do fenômeno, continuou a entidade
amiga:
"Levanta-te! Para o bom trabalhador há poucas possibilidades de repouso!..."
Nesse instante, como se fosse tocado por um poder maravilhoso, Pio XI notou que o seu
corpo estava rígido, ao seu lado. Numerosos companheiros se aproximavam comovidos de seus
despojos, inclusive o Cardeal camerlengo, que se tomava de profunda emotividade em frente
da nova tarefa.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Procedia-se aos primeiros rituais, a que se obedece, em tais circunstâncias, no Vaticano,
quando a voz de Leão XIII se fez ouvir de novo:
"Meu irmão”, disse ele, austeramente, todos nós somos obrigados a comparecer ante o
tribunal que nos julga por todos os atos levados a efeito na direção da igreja a que chamamos,
impropriamente, barca de S. Pedro...
Antes, porém, que sejas conduzido, pela legião dos seres espirituais que te esperam, ao
tribunal dessas sentenças supremas, visitemos a nossa Jerusalém de pompa e de pecado, para
nos certificarmos de suas ruínas próximas, ante a vitória do Evangelho redentor!...
Nesse momento, o Cardeal Pacélli retirava do cadáver o anel simbólico, enquanto as
duas entidades, abraçadas uma à outra, se dirigiam à Capela Sistina e daí à famosa basílica de
São Pedro, para as tradicionais e antigas orações.
Penetrando ambos sob as colunas grandiosas que suportam a larga varanda, dizia o autor
da encíclica Rerum Novarum para o seu vacilante companheiro:
"Outrora, neste local, erguiam-se o Templo de Apolo, o Templo da Boa Deusa, o Palácio
de Nero e outras expressões de loucura e de crueldade que condenamos, até hoje, nas doutrinas
do paganismo.
Os tesouros de Constantino e de Helena modificaram a fisionomia do santuário aqui
erguido, quando o sangue e as lágrimas dos mártires semeavam as flores de Jesus-Cristo sobre
a face escura da Terra!...
Em lugar da humildade cristã, levantaram-se no Vaticano as magnificências de ouro e
de pedrarias...
Atravessados os frontispícios suntuosos, as duas entidades ingressaram num ambiente
parecido com os da história das "mil e uma noites", recamado de luxo fulgurante e indescritível.
Por ali, há o sinal dos artistas de todos os séculos. Monumentos da pintura e da escultura
de todos os tempos assombram os forasteiros espirituais que acompanham a cena grandiosa e
melancólica.
As imagens, os altares, as colunatas, os anjos de pedra, os nichos suntuosos se
multiplicam em deslumbramento maravilhoso.
Chegadas ao pé da magnífica estátua de São Pedro, talhada no antigo bronze da imagem
de Júpiter Capitolino, que toda Roma venerava em épocas remotas, estátua essa idealizada sob
as ordens de Leão Magno, quando das vitórias romanas sobre o gênio estratégico e belicoso de
Átila, as duas entidades se detiveram, pensativas.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Obedecendo aos seus antigos hábitos, Pio XI ajoelhou-se e, ocultando o rosto entre as
mãos, orava fervorosamente, quando uma voz sublimada e profunda lhe atinge em cheio a
consciência, como se proviesse das ilimitadas profundezas do céu, chegando aos seus ouvidos
por processo misterioso:
"Meu filho”, exclamava a voz espiritual, na sua grandeza terrível e melancólica – como
pudeste perseverar no mesmo caminho dos teus orgulhosos antecessores?...
Diante dessa estátua soberba, talhada no bronze de Júpiter Capitolino, toda a igreja
romana supõe homenagear a minha memória, quando nada mais fui que simples pescador,
seduzido pela grandeza celeste das sublimes lições do Senhor, no cenáculo de luz do
Tiberíades!...
Convocado pelo Mestre Divino a edificar a minha fé, em favor do seu grande rebanho
de ovelhas tresmalhadas do aprisco, não tive a força necessária para seguir-lhe o divino
heroísmo, no instante supremo, chegando a negá-lo em minha indigência espiritual!...
Ainda assim, não obstante a minha fraqueza, foi a mim que a igreja escolheu para a
homenagem dessas basílicas luxuosas, que, como esta imagem fulgurante, representam a
continuidade das velhas crenças errôneas do império da impiedade, eliminadas pela suave luz
das verdades consoladoras do Cristianismo!...
Somente agora, verificas a ilusão do teu anel do Pescador e da tua tiara de São Pedro!...
Eu não conheci outras jóias, nem outras riquezas, além daquelas que se constituíam de
minhas mãos calejadas no esforço de cada dia!...
"Filho meu, amargurado está ainda o coração do nosso Salvador, em virtude do caminho
escabroso adotado pela quase generalidade dos sacerdotes nas igrejas degeneradas, que militam
na oficina terrestre!...
Todos os que se sentaram, como tu, nesses tronos de impiedade, prometeram ao céu a
reforma integral dos velhos institutos romanos, em favor da essência do Evangelho, no
pensamento universal; mas, como tu, os teus predecessores esbarraram, igualmente, no rochedo
do orgulho, da vaidade e da impenitência, comprometendo o grande barco da fé em Jesus-
Cristo, entre as marés bravias das iniqüidades humanas!...
Falaste da paz: mas, realizaste pouco, ante o dragão político que te espreitava na sombra,
naufragando nos conceitos novos que vestem as crueldades das guerras de conquista!...

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Reformaste o Vaticano, estabelecendo alianças políticas ou adotando as facilidades do
progresso científico que enriquece a civilização desesperada do século XX; mas, esqueceste de
levar aos teus míseros tutelados as fórmulas reais da verdade e do bem, da paz e da esperança,
no amor e na humildade, que perfumam os ensinamentos do Redentor!...
Grande sacerdote do mundo pelas tuas qualidades de cultura e pela generosidade de tuas
intenções, serás agora julgado pelo tribunal que aprecia quantos se arvoram, na Terra, em
discípulos do Senhor!...
Do mundo das convenções já recebeste todo o julgamento, com as homenagens políticas
dos povos; agora, entrarás na luz do Reino de Deus, para aprenderes de novo a grande lição dos
"muitos chamados e poucos escolhidos!...
Pio XI sentiu que o seu coração se despedaçava, em soluços atrozes.
Olhou em derredor de si e não lobrigou mais ninguém, a seu lado. Todos os sorrisos
compassivos dos companheiros da morte haviam desaparecido, sob o influxo de uma força
misteriosa.
Quis contemplar a cúpula magnífica de seu templo soberbo, mas sentiu-se cercado de
pesadas sombras, em cujo seio um firo cortante lhe enregelava o coração.
Foi assim que, penetrando a grande noite do túmulo, o grande sacerdote terrestre perdeu
a noção de si mesmo, para despertar, em seguida, em frente ao tribunal da justiça divina, onde
pontificam os mais íntegros de todos os juízes, dentro das leis misericordiosas do amor, da
piedade e da redenção.
Humberto de Campos – Novas Mensagens – Cap. 3 – A Morte de Pio XI (10/Fevereiro
de 1939)
(Recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em 13 de fevereiro de 1939).

Notas:
Os Cristãos aproveitaram muitos dos templos, com as alfaias pagãs, para transformá-los
em igrejas suntuosas.

Constantino foi o César Romano que adotou, oficializando-a a religião cristã.


Sua mãe, Helena, mais tarde canonizada pela Igreja, dispondo de grandes riquezas,
muito ajudou a expansão e progresso do Cristianismo. Visitando Jerusalém (em 325), fez
construir a chamada igreja do Santo Sepulcro. A ela, Helena, se atribui o encontro da verdadeira
cruz na qual foi Jesus crucificado.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Onde se ergue hoje a grande basílica de S. Pedro, em Roma, construída por aquiescência
de Constantino, e enriquecida com muitos dos ricos despojos tomados dos infiéis, existia então
um humílimo oratório subterrâneo.
Segundo a tradição, ali estava depositado o corpo de S. Pedro, que, em sítio próximo,
sofrera o martírio pela fé.
Todo o local, atualmente Vaticano, era pouco habitado, por insalubre, atribuindo-se
febres ao ar úmido lá respirado.
Por isso, embora vizinho do Circo e dos jardins de Nero, era quase deserto, permitindo
que os cristãos ali se reunissem e ali guardassem os restos dos seus irmãos sacrificados nas
perseguições ordenadas pelos sanguinários imperadores romanos.

Capitólio ou Monte Capitolino, que tinha então dois cumes, era uma das sete colinas de
Roma, onde se viam vários templos, o Ateneu dos poetas, o Tabulário (onde se guardavam as
leis) e obras de arte, inclusive o Arco de Cipião, o africano, e estátua equestre de Marco Aurélio,
em um; no outro cume, a famosa cidadela, que Tácito declarava inexpugnável.
Quase tudo desapareceu. Aí se erguia, em honra de Júpiter,o maior dos deuses, o
considerado primeiro templo Romano. Em seu lugar, foi mais tarde construída a Igreja chamada
Ara Coeli, sob a invocação da Virgem Maria.
O que resta do Capitólio, em nossos dias, não dá idéia sequer do que foi, bastando
salientar que o mesmo se acha constituído pela praça central, então denominada “Entre-os-
Montes”, à qual se chega por uma escada magnífica, cujo desenho se deve a Miguel Ângelo, e
onde figuram algumas das velhas e primorosas estátuas e colunas salvas das ruínas.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
O papa é bem o prisioneiro do Vaticano.
Não há ente na Terra mais infeliz.
Com uma responsabilidade tremenda sobre a sua cabeça, tendo, aparentemente, na sua
mão os destinos da cristandade, ele é um simples autômato, sobre o qual convergem todas as
dores e todos os martírios, sem os poder conjurar.
Vítima da intriga e da apertada teia de formalismos e rituais, sem a mais ligeira
liberdade, sem ação nos seus próprios atos, ele é o pretexto Visível e o responsável conhecido
de tudo que todos fazem, menos ele.
O papa é um nome que os cardeais, a cúria, a famulagem, adotam para ser o responsável
dos seus atos, perante a atualidade e perante a História, conservando para si as benesses e o
fastígio, e deixando as amarguras ao pobre encarcerado.
Da sala do conclave, onde um cardeal entra livre e feliz, sai um papa equivalente a um
morto moral.
Adquire a imortalidade na História, seja o que for que em que seu nome se faça; mas
também se pode dizer que, de fato, naquele momento ingressa logo nessa imortalidade, porque,
desde então, deixa de pensar e de viver.
Tem de viver a vida que os outros quiserem, e pensar o que lhe deixarem pensar!
Ninguém imagina a amargura que entenebrece o coração de quem tem a desdita de vestir
a roupagem branca do Vaticano!
Não pode servir a Deus nem aos homens, segundo a sua consciência; tem de servir como
a pragmática, e o ritual ordenam, como a tradição requer, como muitas vezes inconfessáveis
interesses o exigem.
Não será melhor ser o último em qualquer aldeia, que o primeiro em Roma?
Leão XIII – Do País da Luz – 1º Volume – Cap. 32

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.15 Um Cardeal – Joaquim Arcoverde

De todos os viajantes que atravessam o rio da morte, sem dúvida é o sacerdote aquele
que mais se surpreende, ante o inesperado painel da realidade além-túmulo.
(...)
A pompa do culto externo entre os homens constitui para ele [sacerdote] algo mais que
o título e a condecoração para um general vitorioso na Terra; porque o militar, ainda o mais
duro, sempre se dobra às injunções da disciplina humana e não espera a conservação de suas
medalhas nas remotas cidades do Paraíso,
ao passo que O CLÉRIGO, ILUDIDO PELA PRÓPRIA VAIDADE,
invariavelmente presume-se eleito para a Corte Celestial.
Em razão disto, O SOPRO DA VERDADE É PARA ELE MAIS FRIO, quando o
corpo alquebrado se confunde com o pó.
Nossa pequenez, diante da vida, adquire então estarrecedor aspecto, e
reconhecemos, com tardio arrependimento, que a religião é viveiro de almas, não cárcere do
pensamento.
Algo de terrível sucede conosco no indescritível instante…
Cardeal Joaquim Arcoverde – Falando à Terra – Cap. 21 - Penitência

Jesus! Senhor e Mestre!


(...) Tu que não possuíste uma pedra onde repousar a cabeça, guia-nos ao
desprendimento e à caridade, para que a embriaguez da efêmera posse humana nos não
imponha a loucura.
Senhor, nós, os religiosos da tua revelação, abusando do poder da fortuna, temos
nossos deveres para com o mundo que, engodado pela inteligência transviada nas trevas, ainda
agora se dirige para a deflagração de pavorosa carnificina.
Divino Pastor, compadece-te do rebanho desgarrado nos espinheirais da ilusão e da
sombra! Perdoa-nos e ajuda-nos.
Mestre, faze que os sacerdotes retos, que já atravessaram as cinzas do túmulo, voltem
de novo à Terra, em auxílio de seus irmãos que ainda se mergulham no nevoeiro da carne!..
Cardeal Joaquim Arcoverde – Revista Reformador – 1955 – Setembro – Pag. 199
(21/07/1955) / Vozes do Grande Além – Cap. 6 – Em Oração

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.16 Um Escritor Renomado – Humberto de Campos

Meus filhos!… Meus filhos!…


Estou vivendo… Não me veem?…
Mas, olhem, olhem o meu coração como está batendo ainda por vocês!…
Aqui, meus filhos,
NÃO ME PERGUNTARAM SE EU HAVIA DESCIDO GLORIOSAMENTE AS
ESCADAS DO PETIT TRIANON;
NÃO FUI INQUIRIDO A RESPEITO DOS MEUS TRIUNFOS LITERÁRIOS e
não me solicitaram informes sobre o meu fardão acadêmico.
Em compensação, FUI ARGUIDO ACERCA DAS CAUSAS DOS HUMILDES E
DOS INFORTUNADOS PELAS QUAIS ME BATI.
Humberto de Campos – Palavras do Infinito – 1º Parte – Cap. 3 – Aos Meus Filhos
(1935)

“Antigamente eu escrevia nas sombras para os que se conservavam nas claridades da


Vida. Hoje, escrevo na luz branca da Espiritualidade para quantos ainda se acham mergulhados
nas sombras do mundo”.
Humberto de Campos – Palavras do Infinito – 1º Parte – Cap. 6 - Aos que ainda se
acham mergulhados nas sombras do Mundo.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Aos que perguntarem no mundo sobre a minha posição em face da morte, direi que ele
teve para mim a fulguração de um Treze de Maio para os filhos de Angola.
A morte não veio buscar a minha alma, quando esta se comprazia nas redes douradas da
ilusão.
A sua tesoura não me cortou fios da mocidade e de sonho, porque eu não possuía senão
neves brancas à espera do sol para se desfazerem.
O gelo dos meus desenganos necessitava desse calor de realidade, que a morte espalha
no caminho em que passa com a sua foice derrubadora.
Resisti, porém ao seu cerco como Aquiles no heroísmo indomável de quem vê a
destruição de suas muralhas e redutos.
Na minha trincheira de sacos de água quente, eu a vi chegar quase todos os dias...
Mirava-me nas pupilas chamejantes dos seus olhos, pedindo-lhe complacência e ela me
sorria consoladora nas suas promessas.
Eu não podia, porém adivinhar o seu fundo mistério, porque a dúvida obsidiava o meu
espírito, enrodilhando-se no meu raciocínio como tentáculos de um polvo.
E, na alegria bárbara, sentia-me encurralado no sofrimento, como um lutador romano
aureolado de rosas.
Triunfava da morte e como Ájax recolhi as últimas esperanças no rochedo da minha
dor, desafiando o tridente dos deuses.
A minha excessiva vigilância trouxe-me a insônia, que arruinou a tranqüilidade dos
meus últimos dias.
Perseguido pela surdez, já os meus olhos se apagavam como as derradeiras luzes de um
navio soçobrando em mar encapelado no silêncio da noite.
Sombra, movendo-se dentro das sombras, não me acovardei diante do abismo.
Sem esmorecimentos atirei-me ao combate, não para repelir mouros na costa, mas para
erguer muito alto o coração, retalhado nas pedras do caminho como um livro de experiências
para os que vinham depois dos meus passos, ou como a réstia luminosa que os faroleiros
desabotoam na superfície das águas, prevenindo os incautos dos perigos das sirtes traiçoeiras
do oceano.
Muitos me supuseram corroído da lepra e de vermina como se fosse Bento de Labre,
raspando-me com a escudela de Jô.
Eu, porém, estava apenas refletindo a claridade das estrelas do meu imenso crepúsculo.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Quando, me encontrava nessa faina de semear a resignação, a primeira e última flor dos
que atravessam o deserto das incertezas da vida, a morte abeirou-se do meu leito; devagarinho,
como alguém que temesse acordar um menino doente.
Esperou que tapassem com anestesia todas as janelas e interstícios dos meus
sentimentos. E quando o caos mais absoluto no meu cérebro, záz!
Cortou as algemas a que me conservava retido por amor aos outros condenados, irmãos
meus, reclusos no calabouço da vida.
Adormeci nos seus braços como um ébrio nas mãos de uma deusa.
(...) Despertando dessa letargia momentânea, COMPREENDI A REALIDADE DA
VIDA, QUE EU NEGARA, além dos ossos que se enfeitam com os cravos rubros da carne.
-Humberto!... Humberto... exclamou uma voz longínqua – recebe os que te enviam da
Terra!
Arregalei os olhos com horror e com enfado:
-Não! Não quero saber de panegíricos e agora não me interessam as seções necrológicas
dos jornais.
Enganas-te – repetiu – AS HOMENAGENS DA CONVENÇÃO NÃO SE
EQUILIBRAM ATÉ AQUI.
A hipocrisia é como certos micróbios de vida muito efêmera.
Toma as preces que se elevaram por ti a Deus, DOS PEITOS SUFOCADOS,
ONDE PENETRASTE COM AS TUAS EXORTAÇÕES E CONSELHOS.
O sofrimento retornou sobre o teu coração um cântaro de mel.
Vi descer de um ponto indeterminado do espaço, braçadas de flores inebriantes como
se fossem feitas de neblina resplandecente, e escutei, envolvendo o meu nome pobre, orações
tecidas com suavidade e doçura.
Ah! Eu não vira o céu e a sua corte de bem-aventurados; mas Deus receberia aquelas
deprecações no seu sólio de estrelas encantadas como a hóstia simbólica do catolicismo se
perfuma na onda envolvente dos aromas de um turíbulo.
Nossa Senhora deveria ouvi-las no seu trono de jasmins bordados de ouro, contornado
dos anjos que eternizam a sua glória.
Aspirei com força aqueles perfumes.
Pude locomover-me para investigar o reino das sobras, onde penso sem miolos na
cabeça. Amava e ainda sofria, reconhecendo-me no pórtico de uma nova luta.

103
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Encontrei alguns amigos a quem apertei fraternalmente as mãos.
E voltei cá.
Voltei para falar com os humildes e infortunados, confundidos na poeira da estrada de
suas existências, como frangalhos de papel, rodopiando ao vento. Voltei para dizer aos que não
pude interpretar no meu ceticismo de sofredor:
- Não sois os candidatos ao casarão da Praia Vermelha. [Hospício Nacional].
Plantai, pois, nas almas a palmeira da esperança. Mais tarde ela descobrirá sobre as
vossas cabeças encanecidas os seus leques enseivados e verdes...
E posso acrescentar, como o neto de Marco Aurélio, no tocante à morte que me
arrebatou da prisão nevoenta da Terra:
- É a minha carta de alforria... Agora posso ir onde quero.
Os amargores do mundo eram pesados demais para o meu coração.
Humberto de Campos – Palavras do Infinito – 1º Parte – Cap. 2 – Carta aos que
ficaram
(Recebida em Pedro Leopoldo em 28 de março de 1935).

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Crônica publicada no "DIÁRIO CARIOCA", em edição de 10 de julho de 1932, de
Humberto de Campos, ainda quando encarnado, no advento da publicação do Livro Parnaso de
Além-Túmulo.
"Eu faltaria, entretanto, ao dever que me é imposto pela consciência, se não confessasse
que, fazendo versos pela pena do Sr. Francisco Cândido Xavier, os poetas de que ele é intérprete
apresentam as mesmas características de inspiração e de expressão que os identificavam neste
planeta.
Os temas abordados são os que os preocuparam em vida.
O gosto é o mesmo e o verso obedece, ordinariamente, a mesma pauta musical.
Frouxo e ingênuo em Casimiro, largo e sonoro em Castro Alves, sarcástico e variado
em Junqueiro, fúnebre e grave em Antero, filosófico e profundo em Augusto dos Anjos sente-
se, ao ler cada um dos autores que veio do outro mundo para cantar neste instante, a inclinação
do Sr. Francisco Cândido Xavier para escrever “A la manière de” ... ou para traduzir que aqueles
altos espíritos sopraram ao seu..."
Humberto de Campos – Diário Carioca – 10/07/1932

105
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.17 Um Lider Espírita – Frederico Figner

Nas últimas trinta horas, reconheci-me em posição mais estranha. Tive a ideia de
que dois corações me batiam no peito. Um deles, o de carne em ritmo descompassado, quase a
parar, como relógio sob indefinível perturbação, e o outro pulsava, mais equilibrado, mas
profundo...
A visão comum alterava-se. Em determinados instantes, a luz invadia-me em clarões
subitâneos, mas, por minutos de prolongada duração, cercava-me densa neblina.
(...) Conclui que o término da resistência orgânica era questão de minutos.
(...) VI-ME DIANTE DE TUDO O QUE EU HAVIA SONHADO,
ARQUITETADO E REALIZADO NA VIDA.
Insignificantes ideias que emitira, tanto quanto meus atos mínimos, desfilavam,
absolutamente precisos, ante meus olhos fixos, como se me fossem revelados de roldão, por
estranho poder, numa câmara ultrarrápida instalada centro de mim.
(...) Observando-me relegado às próprias obras (por que não confessar?), senti-me
sozinho e amedrontei-me. Esforcei-me por gritar, implorando socorro, porém, os músculos não
mais me obedeceram.
(...) Aflição asfixiante, contudo, oprimia-me o íntimo. Ansiava por libertar-me. Chorava
conturbado, jungido ao corpo desfalecente, quando tênue luz se fez perceptível ao meu olhar.
Em meio do suor copioso lobriguei minha filha Marta a estender-me os braços .
Frederico Figner (Diretor da área de Assistência Social FEB/1920) – Voltei –Cap. 3
– à frente da Morte

Oh! Meus amigos do Espiritismo, que amamos tanto!


NÃO SE ACREDITEM QUITADOS COM A LEI, POR HAVEREM ATENDIDO
A PEQUENINOS DEVERES DE SOLIDARIEDADE HUMANA, nem se suponham
habilitados ao paraíso, por receberem a manifesta proteção de um amigo espiritual!
Ajudem a si mesmos, no desempenho das obrigações evangélicas!
Espiritismo não é somente a graça recebida, é também a necessidade de nos
espiritualizarmos para as esferas superiores.
Frederico Figner (Diretor da área de Assistência Social FEB/1920) – Voltei –
Introdução

106
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.18 Um Político – Americano do Brasil

A surpresa estarrecedora flui de nós mesmos:


Na contemplação do que fomos e somos…
SEM SUBTERFÚGIOS… SEM MÁSCARAS… SEM MENTIRAS…
Tudo lógico, tudo vivo, tudo claro.
(...) A existência no corpo de carne é a chapa negativa. A MORTE É O BANHO
REVELADOR DA VERDADE, porque a vida espiritual é a demonstração positiva da alma
eterna.
(...) Não olvides que em nós mesmos reside a luz imperecedoura que em nosso caminho
fará tudo claro, quando a nossa consciência, já esclarecida e responsável, se vê desnuda pelo
sopro da desencarnação…
Antônio Americano do Brasil - Falando à Terra - Capítulo 35 - Tudo claro - A Vida
apos a Morte

ANTÔNIO AMERICANO DO BRASIL (1932) — Médico, historiador, literato,


Deputado federal de grande cultura. Militou particularmente em Goiás, seu Estado natal, onde
seu nome permanece aureolado de respeito e admiração

107
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
No horário reservado à instrução, na noite de 14 de julho de 1955, nosso conjunto
recolheu expressiva mensagem do irmão G…, inserta neste capitulo, em que nos informa
quanto aos seus primeiros instantes na Vida Espiritual.
Cabe-nos esclarecer que o comunicante, político e administrador de méritos
indiscutíveis, recentemente desencarnado, esteve antes em nossa casa de preces, sob a custódia
dos amigos espirituais que lhe amparavam a recuperação necessária e justa.
Mostrava-se, então, enfermiço e indisposto, mas a breve tempo, retemperado e
fortalecido, retornou ao nosso templo, onde nos forneceu as valiosas impressões que passamos
a transcrever.
Arnaldo Rocha - Vozes do Grande Além – Cap. 5 – Primeiros instantes de um Morto

Industrial, administrador e homem público, em atividade intensa e incessante, não


admitia que o sepulcro me requisitasse tão apressadamente à meditação.
(...) Inexplicavelmente assombrado, em vão pedia socorro, mas acabei por resignar-me
à ideia de que estava sendo vítima de estranho pesadelo, prestes a terminar.
(...) Apavorado, não conseguia maior afastamento da câmara íntima, reconhecendo,
inquieto, que me vestiam caprichosamente a estátua de carne, a enregelar-se.
(...) Muitas diziam aos meus familiares em pranto: — Meus pêsames! perdemos um
grande amigo…
E o pensamento se lhes esguichava da cabeça, atingindo-me como inexprimível jato de
força elétrica, acentuando:
— “não tenho pesar algum, este homem deveria realmente morrer…”
(...) E falavam de si para consigo: — “POLÍTICO LADRÃO E SEM PALAVRA!
QUE A TERRA LHE SEJA LEVE E QUE O INFERNO O PROTEJA!…”
(...) Por muito tempo, perdurava a conturbação, até que encontrei algum alívio…
(...) Antigos funcionários, fatigados e humildes, aos quais estimara de longe, ofertavam-
me pensamentos de amor.
Alguns poucos amigos envolveram-me em pensamentos de paz.
(...)
(...) Humilhado, aguardei paciente as surpresas da nova situação.
Estava inegavelmente morto e vivo. O catafalco não favorecia qualquer dúvida
(...) A vizinhança do cemitério abalava a escassa confiança que passara a sustentar em
mim mesmo.

108
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
O largo portão aberto, a contemplação dos túmulos à entrada e a multidão que me
seguia, compacta, faziam-me estarrecer.
Tentei apoiar-me em velhos companheiros de ideal e de luta, mas o ambiente repleto
de palavras vazias e orações pagas como que me acentuava a aflição e o desespero
(...) É assim que, em vos visitando, devo estimular-vos ao culto dos valores claros e
certos.
Instalar a felicidade no próprio espírito, através da felicidade que pudermos edificar
para os outros, é a única forma de encontrarmos a verdadeira felicidade.
Dr. G – Vozes do Grande Além – Cap. 5 – Primeiros instantes de um Morto

109
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.19 Um General Alemão – Ludendorff

O grande general da Linha Hindenburg, depois de ensarilhar os fuzis da Grande Guerra,


empunhara as armas do pensamento, dedicando-se à mais intensa atividade intelectual, na
construção da Alemanha Nova.
Do seu recanto solitário, Eric Von Ludendorff conseguia o mais assinalado sucesso
com as suas publicações, que se multiplicavam indefinidamente.
Só a sua revista conseguia uma tiragem de setenta mil exemplares. Seus livros eram
disputados, em todos os centros culturais da velha Germânia, ciosa das suas tradições militares
e dos seus sonhos de domínio.
Ludendorff personificava esse espírito de renovação e de imperialismo.
As lutas de 1914-1918 haviam cessado, mas o valoroso militar empregava todas as
suas energias, após o armistício, no sentido de reerguer o povo alemão, depois da derrota.
Nacionalista extremado, não tolerava a república, era adversário declarado da igreja
católica e ferrenho inimigo dos judeus e da maçonaria, concentrando todas as suas aspirações
de homem e de soldado no pan-germanismo, acreditando que somente da Alemanha poderia
surgir o próprio aperfeiçoamento do mundo.
Com Hindenburg, havia sido a coluna inexpugnável dos exércitos das potências centrais
na Grande Guerra. Do seu pulso de ferro haviam emanado quase todos os coeficientes de força,
em Liège e Tannenberg.
Suas tradições de chefe eram objeto de veneração dos seus próprios inimigos, e nos
tempos atuais, era o valoroso soldado a única voz tolerada na Alemanha hitlerista, nos
problemas da análise do novo regímen, em virtude da sua situação excepcionalíssima, perante
as forças armadas de sua pátria, que se ufanavam de possuir um roteiro no seu grande espírito.
Agora, porém, nos últimos tempos, fora o general internado numa Casa de Saúde de
Munich, afim de estudar-se a possibilidade de uma operação na bexiga, que lhe devolvesse a
saúde abalada aos setenta e dois anos sobre a face da Terra.
Todos os seus compatriotas acompanharam-lhe o tratamento, aguardando a volta do
valoroso soldado aos misteres de cada dia, pelo bem da Alemanha.
O prognóstico dos médicos era o mais favorável possível.
Ludendorff era senhor de uma invejável constituição orgânica. E não seria de estranhar
que voltasse um dia à caserna para a vida ativa.

110
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Na época do armistício, Hindenburg contava mais de setenta anos de idade, Foch tinha
aproximadamente sessenta e oito. Era assim que o exército alemão esperava ainda e sempre
a inspiração daquele homem extraordinário.
Os facultativos, não obstante a impossibilidade de uma intervenção cirúrgica,
consideravam-no a caminho de franco restabelecimento, chegando a conceder-lhe a precisa
permissão para afastar-se do leito diariamente. Tudo fazia entrever a devolução de sua saúde.
Mas, naquele dia, o general, dentro de um círculo de recordações, rememorava,
apunhalado de saudade, todos os caminhos percorridos.
Do seu leito, parecia contemplar ainda a batalha de Tannenberg, onde a sua coragem
substituíra a indecisão do general Prittwitz e, conduzindo mais longe a sua memória, voltava
aos seus estudos militares na Academia de Grosslichtenfeld, revendo afetos da mocidade e
abraçando, em pensamento, velhos camaradas da infância.
Uma singular emotividade fazia vibrar o seu coração enrijecido nas lutas, até que um
suave e momentâneo repouso físico lhe fechou os olhos do corpo, abrindo a sua visão espiritual,
dentro de uma considerável amplitude.
Parecia-lhe haver regressado aos tempos longínquos da mocidade, tal a sua lucidez e
extraordinária desenvoltura.
Ao seu lado, estava o grande amigo de todas as lutas.
Hindenburg, porém, já não era mais o soldado cheio de audácia e de aprumo. Seu corpo
se achava destituído de todas as insígnias e de todos os uniformes e no seu olhar andava uma
onda de tristeza e de humildade, saturada de indefinível ternura.
- "Eric - falou brandamente - não tardarás também a transpor os portões da Eternidade...
Guarda em teu espírito a esperança no Céu e no Deus de misericórdia, que é a vida de
todas as coisas...
Abandona todas as tuas preocupações de grandeza e de imperialismo, porque diante
da morte desaparecem todos os nossos patrimônios de posse e de domínio material!
Renova as tuas concepções da vida, para penetrares o templo da Imortalidade,
abandonando o mundo com um pensamento fraterno para todas as criaturas...
O nosso sonho de imperialismo e de superioridade da Alemanha não passa de uma
vaidade tocada de loucura, que Deus pode desfazer de um instante para outro, como o vento
poderoso que move as areias de uma praia.
Fecha todas as portas do orgulho e da exaltação, porque, se a nossa pátria quis guardar
as minhas cinzas no Panteão de Tannenberg, o meu espírito foi obrigado a se socorrer do último
dos nossos comandados...

111
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
O generalíssimo das batalhas, para Deus, não passava de um verme obscuro e insolente,
condenado a prestar as mais severas contas de suas atividades sobre a Terra...
"Ludendorff ouvia, com estranheza, as palavras que lhe vinham ao coração, das
profundezas do túmulo. Dentro do seu orgulho inflexível conseguiu balbuciar:
- "Deus? Não existe outro Deus a não ser aquele que simboliza a força, a superioridade
da Alemanha..."
- "Cala-te! - replicou ainda a voz pungente da sombra.
Acima de todas as pátrias do planeta, está a misericórdia suprema de um Deus, cuja
providência é a luz e o pão de todas as criaturas.
A sua sabedoria permitiu que os homens se dividissem à sombra de bandeiras, não para
a carnificina das batalhas, mas para que amassem a escola do mundo terrestre, aproveitando os
seus trabalhos, dentro do idealismo das pátrias, até que conseguissem, longe de todo
o estímulo do espírito de concorrência, compreender integralmente as leis da fraternidade e da
solidariedade humana...
Na balança do seu amor e da sua justiça inviolável, a Alemanha não vale mais que a
Palestina.
Os judeus que combates são igualmente nossos irmãos, no caminho da vida...
Reconhece toda a verdade das minhas fraternas revelações, porque, na realidade,
nenhuma nação, como nenhum homem, se pode antepor à Vontade Suprema...
Unamos as mãos, longe dos combates incompreensíveis, dilatando o ideal da
fraternidade sobre a Terra, sob a bênção compassiva de Jesus-Cristo, que é o único fundamento
indestrutível na face deste mundo, onde todas as glórias passam, como a vertigem de um
relâmpago.
Em breve, teu corpo repousará nas cinzas da terra, como os nossos despojos guardados
na solidão de Tannenberg.
Sobre a poeira das ilusões, hão de elevar-se os cânticos guerreiros, mas nós, com a
serenidade da distância, nos uniremos nos céus da nossa pátria, implorando ao Senhor derrame
sobre todos os nossos compatriotas os eflúvios do seu amor, da sua misericórdia e da sua
paz!..."
Nesse momento, entretanto, Ludendorff não conseguiu ouvir mais a voz consoladora e
amiga da sombra.

112
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Suas fibras emotivas haviam-se dilatado ao Infinito.
Seu coração parecia parado de angústia, na sepultura do tórax envelhecido, e uma
lágrima dolorosa lhe pairava nos olhos saturados de espanto.
Todas as suas idéias de domínio estavam destruídas nos raciocínios de um instante.
Seu espírito voltara à vigília, cheio de angústia inexprimível.
Cercam-no os facultativos, verificando a queda brusca de todas as suas forças.
O valente soldado da Grande Guerra estava ali, vencido, em face da morte, e, daí a
algumas horas, sem que os médicos pudessem explicar o desenlace inesperado, Ludendorff
penetrava os pórticos do mundo espiritual, amparado por uns braços de névoa, não mais para
pregar o imperialismo do seu país ou para recordar os dias gloriosos de Tannenberg, mas para
orar humildemente, diante da misericórdia divina, suplicando ao Senhor a inspiração necessária
para os vivos da sua pátria.
Humberto de Campos - Novas Mensagens (1940) – Cap. 12 - Eric Von Ludendorff

ERICH FRIEDRICH WILHELM LUDENDORFF foi um general do exército imperial


alemão, que ganhou destaque por sua liderança durante a Primeira Guerra Mundial. Foi
elevado a proeminência após as vitórias nas batalhas de Liège e Tannenberg. Wikipédia
Nascimento: 9 de abril de 1865, Kruszewnia, Polônia
Falecimento: 20 de dezembro de 1937, Klinik Josephinum gAG, Munique, Alemanha
Sepultamento: 22 de dezembro de 1937, Neuer Friedhof Tutzing, Tutzing, Alemanha

PAUL LUDWIG VON HINDENBURG foi um militar alemão que comandou o Exército
Imperial Alemão durante a Primeira Guerra Mundial e posteriormente serviu como Presidente
da República de Weimar de 1925 até sua morte.
Nascimento: 2 de outubro de 1847, Poznań, Polônia
Falecimento: 2 de agosto de 1934, Ogrodzieniec, Polônia
Mandato presidencial: 12 de maio de 1925 – 2 de agosto de 1934

113
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.20 Um Bispo Católico

Em nossa reunião da noite de 18 de novembro de 1954, os recursos psicofônicos do


médium foram ocupados pelo nosso Irmão C. T., que fora, algum tempo antes, assistido em
nossa agremiação.
Nosso amigo C. T., que não podemos designar senão pelas iniciais, por motivos
facilmente compreensíveis, trouxe-nos Interessante relato de suas próprias experiências, do
qual salientamos o trecho em que se reporta à emoção de que se viu possuído, quando, ao fitar,
compungido, um velho crucifixo, escutou a voz de um Amigo Espiritual, acordando-lhe a
consciência para a verdadeira compreensão de Jesus; consideramos de Indizível beleza
semelhante tópico da presente mensagem por referir-se ao Cristo Vivo, fora dos santuários de
pedra, servindo incessantemente em favor do mundo.

Irmãos.
A experiência dos mais velhos é auxílio para os mais jovens.
Quem atravessou o vale da morte pode ajudar aos que ainda transitam nos trilhos
obscuros da existência carnal...
A gratidão, por isso, impele-me a trazer-vos algo de mim.
Quando de meu primeiro contacto convosco, saí vencido, não convencido...
Acreditei fôsseis magnetizadores socorrendo um enfermo difícil.
E eu despertava de um pesadelo horrível... Acordava, identificando a mim próprio e,
reconhecendo-me o sacerdote categorizado que eu era, ressurgia, revoltado e impenitente.
Debalde benfeitores espirituais estenderam-me os braços.
Em vão, consoladoras vozes se me fizeram ouvir. As ordenações e convencionalismos
da Terra jaziam petrificados em minha cabeça-dura.
Fizera da autoridade a minha expressão de força.
Usara a mitra com o orgulho do padre invigilante que se eleva nas funções hierárquicas,
com o propósito de dominar o pensamento dos próprios irmãos.
E por mais que a piedade me dirigisse cativantes exortações, recalcitrei, desesperado...
Não supunha fosse a morte aquele fenômeno de reavivamento.
Minhas impressões do corpo físico mostravam-se intactas e minhas faculdades,
intangíveis...

114
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Reclamei meus títulos e exigi minha casa e, naturalmente, para se não delongarem
através de conversação inútil, companheiros espirituais tomaram-me as mãos.
Num átimo, vi-me à porta selada de meu domicílio, mas, agora, sem ninguém...
Decerto, meus caridosos condutores entregavam-me à própria consciência.
Aflito, gritei por meus servidores, contudo, minhas vozes morreram sem eco.
A noite avançara...
Desrespeitosa algazarra alcançou-me os ouvidos.
Desafetos gratuitos pronunciavam sarcasticamente o meu nome, em meio da sombra
espessa:
— «Abram a porta ao senhor bispo ! »
— «Assistência para o dono da casa!..
— «Atendam ao visitante ilustre...»
— «Lugar para Sua Eminência!..
Isso tudo de permeio com irreverentes gargalhadas.
Receando o ridículo, busquei a igreja que me era familiar.
Sacerdotes amigos vigiavam em oração. Contudo, por mais que apelasse para a minha
condição de chefe, ninguém me assinalou as súplicas aflitivas.
Ajoelhei-me diante das imagens a que rendia culto, no entanto, jamais como naquela
hora havia reparado com tanta segurança a frieza dos ídolos que representavam objetos sagrados
de minha fé.
Desejava fazer-me sentido, ouvido, tocado...
Então, como se um ímã me provocasse, retrocedi apressadamente...
Em passos ligeiros, desci à pequena câmara escura.
Fora atraído por meus próprios restos.
Ali descansava, na escuridão silenciosa, o corpo que me servira.
O bafio repelente do túmulo obrigava-me a recuar...
Algo, porém, me constrangia a compulsória aproximação.
Toquei as vestes rotas e senti que minha lma se justapunha aos ossos desnudados...
Queria reassumir a posição vertical entre os homens.
Mas apenas vermes e mais vermes eram, ali, a única nota de vida.
Dominado de terrível pavor, tornei ao altar para as orações mais íntimas...
Orações que brotassem de mim, diferentes daquelas que decorara para iludir o tempo.
Procurei um velho crucifixo.
Ali, estava a cruz do Senhor.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Não era um ídolo, era um símbolo.
Via-me sozinho, desanimado, e orei, compungidamente.
Rememorei os ensinamentos do Mestre Divino, que recolhia as almas desarvoradas e
enfermas para restituir-lhes o alento...
E uma voz à retaguarda, cuja inflexão de energia e brandura não conseguiria traduzir,
exclamou para meu espírito fatigado:
— Amigo, tua casa na Terra cerrou-se com teus olhos!...
Teus poderes eclesiásticos estão agora reduzidos a um punhado de cinzas...
E de todas as atividades sacerdotais que exerceste, permanece tão-só esta de agora — a
de tua própria fé ressuscitada na humildade do coração!
Cristo não permanece crucificado nos altares de pedra, disputando a reverência daqueles
que supõem prestigiar-lhe a memória, a preço de incenso e ouro...
Jesus está lá fora! Com as mães que se sentem desamparadas, com os discípulos que
sustentam em si mesmos duro combate!...
O Senhor caminha ao longo da velha senda que o homem palmilha, há milênios,
procurando aqueles que anelam amealhar fraternidade e luz, serviço e renovação...
C.T. Instruções Psicofônicas - Cap. 37 - Mensagem de um Sacerdote

– Sacerdote? – indaguei, profundamente surpreendido.


– Sim – esclareceu Alexandre. – Os desvios das almas que receberam tarefas de natureza
religiosa são sempre mais graves.
Existem padres que, contrariamente a todas as esperanças de nosso plano, se entregam
completamente ao sentido literal dos ensinamentos da fé.
Recebem os títulos sacerdotais, como os médicos sem amor ao trabalho de curar, ou
como os advogados sem qualquer espécie de devotamento ao direito.
Estimam os interesses imediatos, requisitam as honrarias humanas e, terminada a
existência transitória, se encontram em doloroso fracasso da consciência.
Habituados, porém, ao incenso dos altares e à submissão das almas encarnadas, não
reconhecem, na maioria das vezes, a própria falência e preferem o encastelamento na revolta
lamentável, que os converte em gênios das sombras.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Neste particular acentuou o instrutor, modificando a inflexão de voz –, devemos
reconhecer que semelhante condição, neste lado da vida, é a de todos os homens e mulheres, de
inteligência notável, com primores de cultura terrestre, mas desviados do verdadeiro caminho
de elevação moral.
Comumente, as pessoas mais sensíveis e cultas criam o mundo que lhes é peculiar e
esperam furtar-se à lei de testemunho próprio, no campo das virtudes edificantes.
Acostumadas à fácil aquisição de vantagens convencionais na Crosta, pretendem
resolver, depois da perda do corpo físico, os problemas espirituais pelo mesmo processo e,
encontrando tão-somente a Lei, que manda conceder a cada um segundo as suas obras, não raro
agravam a situação, internando-se no escuro país do desespero, onde se reúnem a inúmeras
companhias da mesma espécie.
Dentre as criaturas dessa ordem, sobressai a elevada percentagem dos ministros de
várias religiões.
Referindo-nos apenas aos das escolas cristãs, verificamos que a maioria não pondera na
exemplificação do próprio Mestre Divino.
Cerram olhos e ouvidos aos sacrifícios apostólicos.
Simão Pedro, João Evangelista, Paulo de Tarso, representam para eles figuras
demasiadamente distantes.
Apegam-se às decisões meramente convencionais dos concílios, estudam apenas os
livros eclesiásticos e querem resolver todas as transcendentes questões da alma através de
programas absurdos, de dominação pelo culto exterior.
Erguem basílicas suntuosas, olvidando o templo vivo do próprio espírito; homenageiam
o Senhor como os orgulhosos romanos reverenciavam a estátua de Júpiter, tentando subornar o
poder celeste pela grandeza material das oferendas.
Mas ai! Esquecem o coração humano, menosprezam o espírito de humanidade, ignoram
as aflições do povo, a quem foram mandados servir. E, cegos aos próprios desvarios, ainda
aguardam um Céu fantástico que lhes entronize a vaidade criminosa e a ociosidade cruel.
Alexandre, neste ponto das elucidações, como se fora chamado a meditações mais
profundas, silenciou por momentos, continuando em seguida:
– Para estes, André, a morte do corpo é um acontecimento terrível.
Alguns enfrentam, corajosos, a desilusão necessária e proveitosa.
A maioria, porém, fugindo ao doloroso processo de readaptação à realidade, precipita-
se nos campos inferiores da inconformação presunçosa, organizando perigosos grupamentos de
almas rebeladas, com os quais temos de lutar por nossa vez...

117
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Quase todas as escolas religiosas falam do inferno de penas angustiosas e horríveis,
onde os condenados experimentam torturas eternas. São raras, todavia, as que ensinam a
verdade da queda consciencial dentro de nós mesmos, esclarecendo que o plano infernal e a
expressão diabólica encontram início na esfera interior de nossas próprias almas.
O orientador amigo fez novo intervalo e, depois de pensar a sós durante alguns instantes,
considerou:
– Você compreende...
Os que caem por ignorância aceitam com alegria a retificação, desde que se mantenham
em padrão de boa vontade sincera.
Os que se precipitam no desequilíbrio, porém, atendendo à sugestão do orgulho,
experimentam grande dificuldade para ambientar a corrigenda em si mesmos. Precisam edificar
maior patrimônio de humildade, antes de levarem a efeito a restauração imprescindível.
André Luiz – Missionários da Luz – Cap. 17

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.21 Um Pastor

A paz de Deus seja convosco!


Não estou afeito a este tipo de comunicação. Amparado, no entanto, conquanto a mente
algo perturbada, aquiesço com prazer em fazer este meu depoimento.
Quando o enfarte do miocárdio me surpreendeu em plena atividade, atravessando uma
rua, a minha sensação em forma de dor foi indescritível. Tive a impressão de que as coronárias
se arrebentavam de dentro para fora, ao impacto de muitas lâminas que as dilaceravam
simultaneamente.
Levei a mão ao peito, e, de repente, uma onda de dor, numa sucessão em cadeia,
ininterrupta, subiu-me ao cérebro, fazendo-me cair num vágado inenarrável. Não tive noção de
mais nada.
Ao despertar, possuído pelas sensações dolorosas no peito e com uma cefalalgia
atormentante, percebi estar internado numa Casa de Saúde devidamente assistido por hábeis
facultativos e enfermeiros.
Só mais tarde, a pouco e pouco, apercebi-me de que era aquela uma estranha Casa de
recuperação de energias. Nada havia ali de sombrio ou tétrico, que me fizesse recordar a
simbologia mortuária típica da vida na Terra.
Anotei de imediato algumas diferenças, em mim e em volta de mim, especialmente a
ausência da esposa e dos filhos que de forma alguma me visitavam.
Inteirado por etapas sobre o ocorrido, entre surpreso e sofredor na realidade nova,
constatei que aquele golpe no meu organismo me ceifara a vida física.
Não há palavras que possam expressar a angústia de alguém que foi colhido pela morte,
quando só pensava na vida e constatar, no entanto, que a morte é verdadeiramente a vida...
Sentia-me tão real na estrutura orgânica nova como ocorria quando na Terra.
Dúvidas cruéis assaltavam-me, então, já que do vestuário ao leito acolhedor, do teto a
alimentação refazente, do medicamento as necessidades de ordem múltipla tudo, tudo me fazia
recordar uma estância que estivesse afastada da urbe, com as condições inerentes a vida na
Terra.
Sem dúvida, era uma Instituição de alta Espiritualidade, superior a quanto eu conhecera
até ali, sem misticismo vão nem falsas manifestações religiosas..
Militante que fora na Igreja Batista...

119
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Ligado a incumbência do púlpito como pastor, surpreendi-me em verificar que ali
estavam pessoas como eu, de diferentes denominações religiosas.
Inquieto, a princípio, fui paulatinamente me assenhoreando da realidade da vida
espiritual, de começo dolorosa para mim, que, ligado aos dogmas da letra bíblica, olvidara que
a “fé sem obras é inoperante”, consoante a palavra do Apóstolo Tiago e que a obra da caridade
a que se refere o heroico discípulo de Jesus começa em cada um para consigo mesmo,
espraiando-se como luz para a família e logo após para a comunidade universal...
Acostumado a bitola da intolerância dos conceitos fechados, tenho sofrido muito,
experimentando imensa amargura por estar habituado a raciocínios breves, sem alcances
transcendentais. Benfeitores generosos me falam da esperança e sinto-a distante...
Falam-me do amor e experimento aflição.
Verifico, agora, que as Religiões, nas quais fiz os meus primeiros ensaios espirituais, se
encontram muito longe da realidade imortalista.
Se a limitação dogmática da Igreja Romana constitui terrível ferrete para o fiel, a
intolerância de quem se aferra a letra evangélica, qual ocorre aos crentes como eu fui, não se
faz menor nem menos dolorido aguilhão na consciência desperta...
Pouco afeito aos voos espirituais, debati-me muito e ainda me debato nos tormentos que
me caracterizam, incipiente como sou, de vez que fui colhido pela realidade feraz.
Faz-se-me de difícil elucidação, por enquanto, o problema do “morto-vivo”, em
considerando a necessidade de falar aos “vivos-mortos” da Terra, acostumado como estive a
indumentária carnal que agora "Se me afigura um escafandro que dificulta a locomoção
enquanto usada. Tenho-me aturdido com o corpo espiritual pelo descostume de o acionar,
embora a sua similitude com a organização física da qual me liberei com o golpe do miocárdio..
A fé que latejava em meu espírito estava longe de ser autêntica, sendo, antes, uma
fixação fanática, pois que, ao invés de me clarear os horizontes do espírito, me limitava no
impositivo literal das afirmações proféticas e messiânicas, sem a consequente incorporação as
minhas paisagens meditativas...
Se dado me fosse volver, — oh! se pudesse recomeçar! — envidaria esforços por
adentrar-me em cogitações religiosas que me dilatassem os painéis da vida do espírito,
informando-me quanto a realidade da vida após o corpo mortal.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Sinto dificuldades, sim, de traduzir de um só jato tudo quanto me ocorreu nestes 16
meses após o túmulo, e não poderia fazê-lo com a serenidade necessária...
Participo atualmente de aulas vivas em laboratório de avançada concepção áudio-visual
para adestrar-me na Vida nova, adquirindo a mobilidade necessária a minha existência atual.
Por essa forma, fui esclarecido de que o Espiritismo, longe de ser o nefando instrumento
de forças demoníacas organizadas para desagregarem o Cristianismo na Terra, como eu
supunha, é, antes, a atualização tecnicamente apresentada das lições apostólicas do Cristo para
a compreensão moderna da mentalidade humana.
Relativamente informado já, quanto aos seus postulados essenciais, — vencida a ojeriza
mantida por anos-a-fio — verifico que o intercâmbio proibido por Moisés, se revela legítimo e
autêntico, valendo aquela proibição como um estatuto de equilíbrio para impedir o abuso, desde
que a mudança de indumentária da vida física para a espiritual não altera a intimidade de quem
foi transferido de um plano para outro no Cosmo.
. .. E me deslumbro, emocionado, ante as perspectivas que se me desenham para o
futuro, ensejando-me a todos nós, espíritos falidos, a oportunidade de recomeçar e de
reaprender, já que o Inferno e o Céu não se encontram encravados em determinada localização
geográfica, sendo, antes, estados conscienciais que conduzimos conosco.
É difícil falar das perspectivas com as quais agora sonho...
Seja lícito a quem me venha ler e meditar em recolhimento, que considere a minha
experiência de hoje, pois em perseverando distante das salutares meditações espirituais e ações
enobrecidas será, também, esta a sua experiência no futuro.
Suplicando a Deus, Nosso Pai, que nos abençoe, sou o aprendiz de Jesus,
A. Marques – Depoimentos Vivos – Depoimento - Pastor

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.22 Um Judeu

No livro Quando se pretende falar da vida, o jovem de formação israelita Roberto


Muszkat, desencarnado em 14 de março de 1979, apresenta 22 mensagens psicografadas através
do médium Chico Xavier, endereçadas aos seus pais e familiares.
Na mensagem de 16 de novembro de 1979, ele, relatando para a mãe o seu desligamento
do corpo, diz da ajuda de seu avô Moszek Aron, o qual, ao pronunciar as palavras “Leshaná
Habaá bi-Yerushalayim” (era um adeus, significando o ano que vem em Jerusalém),
tranquilizou-o, e fê-lo dormir como uma criança.
Quando acordou, viu-se num leito alvo com a sua avó Rachel velando por ele.
Depois de algum tempo, o seu avô Moszek foi ao seu encontro, levando-o ao encontro
de outros Espíritos amigos para um recinto dedicado à oração, no amplo educandário-hospital.
Esses amigos cantaram o hino Shalom Aleichem (hino que dá as boas-vindas aos anjos
da paz, cantado na sexta-feira à noite).
“Meu avô em seguida abençoou-me. As lágrimas banharam-me o rosto, enquanto o meu
avô promovia o Seder (reunião festiva na primeira e na segunda noite da Páscoa judaica), em
cuja reunião tive a oportunidade de fazer muitas perguntas.”
Diz ainda textualmente na mensagem, o Espírito Roberto Muszkat:
“Vim, a saber, então, que me achava em Erets Israel (Terra de Israel), ou Terra do
Renascimento, cuja beleza é indescritível. Ali, naquela província do Espaço Terrestre, se erguia
uma outra cidade luminosa dos Profetas (...).
Com estes apontamentos não quero dizer que estava, tanto quanto prossigo, numa cidade
privilegiada, porque outras nações as possuem nas esferas que cercam o Planeta, mas aquele
recanto era o meu coração pulsando com milhares ou milhões de outros corações, consagrados
ao Pai Único”.
Diante dessas informações, acredito que devam existir milhares de colônias em torno
da Terra, cada uma reunindo Espíritos afins, de acordo com a raça, religião, cultura, progresso
moral etc.
Gerson Simões Monteiro – O Consolador - Crônicas e Artigos - Ano 5 - N° 253 - 25
de Março de 2012

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Papai querido, estou satisfeito e comovido com a sua presença.
Conheço a extensão de suas responsabilidades e obrigações e sei quanto vale cada hora
de sua presença, especialmente junto de nossos doentes, pedaços da família espiritual que os
Mensageiros do Bem Eterno colocaram em nossos braços.
Beijo-lhe as mãos reconhecidamente e faço preces do coração por sua tranqüilidade e
segurança.
Conversei com a Mãezinha Sonia sobre as minhas primeiras impressões da Vida
Espiritual, quando pude tomar do lápis pela primeira vez, entretanto, hoje, com permissão de
nossos Mentores Maiores, peço o seu consentimento para contar-lhe que o meu desligamento
do corpo foi rápido.
Horas antes, nada previa com relação ao acontecimento significativo que me aguardava.
Preparava-me para o descanso depois de haver medicado o trato nasal, quando senti no peito
algo semelhante a uma pancada que me alcançou todas as redes nervosas.
Tentei falar mas não consegui. Um torpor suave se seguiu ao fenômeno e notei que um
sono compulsivo me invadia a cabeça.
Percebi, intuitivamente que me deslocava do corpo, embora permanecesse vinculado a
ele, quando em meio do esforço para definir o que sentia para a análise de meu próprio
raciocínio, ouvi nitidamente sobre mim a voz inesquecível de alguém pronunciando as santas
palavras: "Baruch Dayan Emet" e reconheci que a frase não partia dos nossos de casa...4)
4) É da tradição hebraica que como ato final da cerimônia de sepultamento de um
familiar, com o corpo presente, os parentes mais diretos façam uma oração que termina com
a frase: - Baruch Dayan Emet - Abençoado seja o juiz verdadeiro ou abençoado seja o juiz da
verdade.
Com a mesma frase, Roberto foi recebido pelo avô no Plano Espiritual.
Busquei identificar-me com a sublime expressão de louvor, mas o torpor aumentava.
O frio nas extremidades me compelia a admitir a presença da liberação física e rendi-
me aos desígnios do Eterno, tentando seguir o rumo em que a voz se expressara, qual se me
houvesse transformado num pássaro ansioso por saber a direção do meu novo ninho, já que não
mantinha mais qualquer dúvida sabre a ocorrência que me separava da moradia corpórea, à
maneira do inquilino que se vê expulso da própria habitação, atendendo a influências
compulsivas; no entanto, entre aquela voz e eu mesmo estava o desmaio que me consumia o
discernimento...

123
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Foi quando tomado de estranha sensação de bem-estar, escutei ainda as palavras:
"Leshaná Habaá bi-Yerushalayim".5)
Compreendi que era um adeus e dormi com a tranqüilidade de uma criança. Mais tarde,
soube que o meu avô Moszek Aron ditara em meu favor aqueles vocábulos santos para que me
aquietasse, contando com os imperativos do Mais Alto.
5) Leshaná Habaá bi-Yerushalayim - O ano que vem em Jerusalém.
Quando acordei, me via num leito alvo com a Vovó Rachel velando por mim.
Dias se passaram, sem que eu lhes saiba da conta. Entendi sem relutância que já não
mais me encontrava em nossa casa e, sim, numa "outra vida", que se fazia surpresa e
deslumbramento para os meus pensamentos de moço.
Depois de algum tempo, o Vovô Moszek veio ao meu encontro.
Reanimou-me.
Restabeleceu-me o auto-controle e a auto-confiança.
Quando me buscou pata encontrar outros amigos no recinto dedicado à oração, no amplo
educandário-hospital, chorei de emoção ao observar que formosa turma de pessoas amigas, que
eu não conhecia, pronunciava as palavras: "Boi Beshalom". 6)
Em seguida, cantaram, esses novos companheiros, o hino Shalom Aleichem. 7)
6) Boi Beshalom - Venha em paz.
7) Shalom Aleichem - Hino que dá as boas vindas aos anjos da paz, cantado na sexta-
feira à noite.
Terminado o cântico, meu avô Moszek achegou-se a mim e assinalando-me com o
"Maguem David" 8) falou, abençoando-me:
8) Maguem David - estrela de David.
- Deus te faça igual a Efraim e a Menashés. 9)
9) Deus te faça igual a Efraim e Menashés - irmãos gêmeos, filhos de Jacob. Esta frase
é uma tradicional bênção paternal.
As lágrimas banharam meu rosto, enquanto o avô promovia o Seder 10) em cuja reunião
pude fazer muitas perguntas.
Vim a saber então que me achava em Erets Israel, ou Terra do Renascimento, cuja beleza
é indescritível. 11)
10) Seder - a ceia festiva na primeira e na segunda noite da Páscoa judaica.
Comemorar o Seder, era hábito muito cultivado pelo avô paterno, antes de falecer.
11) Erets Israel - Terra de Israel.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Ali, naquela província do Espaço Terrestre, se erguia uma outra cidade luminosa dos
Profetas.
Os que choraram no mundo, os que sofreram torturas, os que foram martirizados e
queimados, perseguidos e abatidos por amor à Vitória do Eterno e Único Criador da Vida
operavam repousando ou descansavam trabalhando pela edificação da Humanidade Nova.
Com estes apontamentos não quero dizer que estava tanto quanto prossigo, numa cidade
privilegiada, porque outras nações as possuem nas esferas que cercam o Planeta, mas aquele
recanto era o meu coração pulsando com milhares ou milhões de outros corações, consagrados
ao Pai Único.
Roberto Muszkat - Quando se pretende falar da vida – Cap. 2

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.23 Um Soldado na Guerra

Nas mensagens que vou reproduzir aqui, o Espírito que se comunicava era o de um
jovem soldado que se alistara como voluntário no começo da grande guerra e fora morto logo
no primeiro ano desta.
Sua identidade pessoal foi previamente examinada e comprovada, por meio de sistemas
de investigações rigorosamente científicos (especialmente pelo método das “correspondências
cruzadas”.
As sessões de que se trata realizaram-se no correr dos meses de maio e junho de 1918.
Esta publicação de uma parte das mensagens obtidas se dá para satisfazer ao desejo
manifestado por um metapsiquista eminente, que observou não dever ser privada de publicidade
uma série tão importante de informações acerca da existência espiritual – série que contribuía
para aumentar o valor cumulativo das “revelações transcendentais”.
Ernesto Bozzano - A Crise da Morte – Caso 8

Como o Espírito que se comunicava dissera que, durante o período da guerra, estivera
encarregado de assistir os soldados que tombavam nos campos de batalha, foram-lhe pedidos
esclarecimentos sobre esse assunto e ele respondeu assim:
Eles chegam ao mundo espiritual com os sentimentos que os dominavam no momento
da morte.
Alguns julgam estar ainda combatendo: tem-se que os acalmar.
Outros imaginam que ficaram loucos, por se haver transformado de súbito o meio em
torno deles. Nada disto certamente vos surpreenderá, porquanto podeis imaginar em que terrível
estado de tensão de espírito, bem semelhante à loucura, se empenham as batalhas.
Há outros que pensam ter sido gravemente feridos, sem se haverem apercebido disso. É
, aliás, o que efetivamente lhes aconteceu, com a diferença, entretanto, de que supõem terem
sido transportados para um hospital de sangue e pedem explicações sobre o estado em que se
acham.
Temos, primeiro, que procurar distraí-los gracejando, e só pouco a pouco os levar a
compreender a verdadeira significação do pretendido hospital em que se encontram.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Há também os que acolhem com real satisfação a notícia de que morreram; estes são os
que, no curso da vida horrível das trincheiras, passaram os limites extremos do que a
sensibilidade humana pode suportar.
O mesmo já não se dá com os outros, que deixam no mundo pais a quem amam com
ternura; neste caso, temos que os conduzir gradualmente à realidade do estado em que se
encontram, com um tato e uma delicadeza infinitos.
Muitos há, tão fatigados, que nenhuma energia mais lhes resta para deplorarem coisa
alguma; esses não demoram em entrar no período do sono reparador.
Há, finalmente, os que tinham previsto a morte iminente, vendo o obus descer do alto;
esperavam o fim, com a sua explosão inevitável.
Entre estes últimos, muitos se contam que caem no sono logo que desencarnam; isto se
produz, quando faziam ideia de que a morte era o aniquilamento; o período do sono reparador
se adapta então imediatamente às suas convicções a respeito.
Esses não precisam de explicações, ou de socorro, até ao termo do período de repouso,
que se prolonga, às vezes, por muito tempo, quando suas convicções, no tocante à inexistência
da alma, eram profundamente enraizadas...”
Ernesto Bozzano - A Crise da Morte – Caso 8

A conversação continuou nos rumos naturais e notei que se discutia a situação da esfera
terrestre.
– Muito doloroso o quadro que vimos – comentava Benevenuto em tom grave –;
habituados ao serviço da paz na América, nenhum de nós imaginava o que fosse o trabalho de
socorro espiritual nos campos da Polônia.
Tudo obscuro, tudo difícil.
Não se podem, ali, esperar claridades de fé nos agressores, tampouco na maioria das
vítimas, que se entregam totalmente a pavorosas impressões.
Os encarnados não nos ajudam, apenas consomem nossas forças.
Desde o começo do meu Ministério, nunca vi tamanhos sofrimentos coletivos.
– E a comissão demorou-se muito por lá? – perguntou um dos companheiros com
interesse.
– Todo o tempo disponível – ajuntou o Ministro.
O chefe da expedição, nosso colega do Auxílio, julgou conveniente permanecermos
exclusivamente atidos à tarefa, para enriquecermos observações e melhor aproveitar a
experiência.
127
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Com efeito, as condições não poderiam ser melhores. Acredito que nossa posição está
muito distante da extraordinária capacidade de resistência dos abnegados servidores espirituais
que ali se encontram de serviço.
Todas as tarefas de assistência imediata funcionam perfeitamente, a despeito do ar
asfixiante, saturado de vibrações destruidoras.
O campo de batalha, invisível aos nossos irmãos terrestres, é verdadeiro inferno de
indescritíveis proporções.
Nunca, como na guerra, evidencia o espírito humano a condição de alma decaída,
apresentando características essencialmente diabólicas.
Vi homens inteligentes e instruídos localizarem, com minuciosa atenção, determinados
setores de atividade pacífica, para o a que chamam "impactos diretos”. Bombas de alto poder
explosivo destroem edifícios pacientemente edificados.
Aos fluidos venenosos da metralha, casam-se as emanações pestilentas do ódio e tornam
quase impossível qualquer auxílio.
O que mais nos contristou, porém, foi a triste condição dos militares agressores, quando
algum deles abandonava as vestes carnais, compelido pelas circunstâncias.
Dominados, na maioria, por forças tenebrosas, fugiam dos Espíritos missionários,
chamando-lhes a todos "fantasmas da cruz".
– E não eram recolhidos para esclarecimento justo? – inquiriu alguém, interrompendo
o narrador.
Benevenuto esboçou um gesto significativo e respondeu:
– Será sempre possível atender aos loucos pacíficos, no lar; mas que remédio se
reservará aos loucos furiosos, senão o hospício?
Não havia outro recurso para tais criaturas, senão deixa-las nos precipícios das trevas,
onde serão naturalmente compelidas a reajustar-se, dando ensejo a pensamentos dignos.
É razoável, portanto, que as missões de auxílio recolham apenas os predispostos a
receber o socorro elevado.
Os espetáculos entrevistos foram, portanto, demasiadamente dolorosos, por muitas
razões.
André Luiz – Nosso Lar – Cap. 43

128
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.24 Um Narcisista

Eu posso ser considerado como o próprio Narciso.


Tenho, entretanto, aspecto diferente.
Enquanto o vulto mitológico apaixonou-se por si mesmo e feneceu às margens do lago
em que se contemplava, eu possuo a alma de Dorian Gray, a personagem que compactuou com
o Diabo, entregando-lhe a alma sob a condição de não envelhecer.
Manteve-se um gentleman por fora, enquanto decompunha-se-lhe a alma, assinalada
pela desgraça de si mesma.
Ninguém me conhece.
Nem eu próprio me conheço.
Adotei de cedo o comportamento double-face: a aparência gentil e a realidade cínica.
Projetei a imagem do que gostaria de ser, embora detestando-me.
Mantive oculta a realidade do que era.
Por conseqüência, a ninguém amei, porque jamais me permiti amar-me a mim mesmo.
Conhecendo a escabrosidade do meu pensamento, não acreditei em ninguém.
A virtude, a honra, o dever, conforme alguns conceitos psicanalíticos, não passam de
debilidade moral bem disfarçada.
Era este o meu conceito também e, por conseguinte, permiti-me toda a vileza nos baixos
níveis da sociedade, enquanto mantive-me nos elevados padrões da mentira.
Ninguém o soube.
Mas eu sabia.
Não há desgraça maior do que o desrespeito que se tem por si mesmo.
Qual urna virose destrutiva, esse conceito denigre o indivíduo que passa a considerar
semelhantes todos os demais.
A morte nunca fez parte da minha agenda de compromissos e chegou-me
demasiadamente cedo, para minha terrível surpresa. Numa simples parada cardíaca aos
quarenta e oito anos.
Ora bem!
Por quê?
Desperdício de forças, desgaste de energia, cárcere privado de uma mente pervertida,
solidão, ansiedade ...

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
No fim, medo de ser desmascarado por mim mesmo.
Não que isso me significasse muito, porque não considerava ninguém melhor do que
eu, mas, porque rasgava o desenho que projetei de mim durante toda a vida.
Não construí família.
Detestei filhos que via nos outros.
Considerava uma decadência burguesa a chamada família tradicional
Por isso mesmo mantive-me solteiro e devasso.
Brilhante e sedutor em vários aspectos.
Convivi com o meu pensamento devastador.
Para minha surpresa, aqui, onde me encontro, sou chamado suicida, porque derrui as
construções da energia que me havia sido concedida para uma existência mais larga.
Deveria redimir-me de crimes contra a sociedade, e ao invés de fazê-lo, enclausurei-me
no narcisismo de Dorian Gray.
Vejo-me em decomposição.
De fora para dentro.
A do cadáver parece-me menor do que a interior.
Nessa terrível noite em que me movimento, com o céu escuro, sempre descubro que o
meu ponto de chegada está mais além ...
Aqui estou, no entanto.
Alguém me trouxe e me disse que relatasse a minha experiência como primeiro ato de
regeneração.
É claro que o faço sem qualquer emoção, como que lendo um livro de uma história que
aconteceu, da qual não participei.
Sou abjeto e detesto-me.
- Sou um prisioneiro em minha solidão.
Parece que irei adormecer para esquecer (*)
Para esquecer ...
Neste hospital de almas, deixo a minha narração com a expectativa de que possa ser útil
a alguém, em algum lugar, qualquer dia, ou a mim mesmo, talvez, quem sabe?!
Desencarcero-me, mas ainda não saio da prisão que construí.
Tende piedade dos desgraçados como eu, e de mim, se vos lembrardes quando fordes
falar com o Criador.
Narciso - Reencontro com a Vida - 2o Parte - Pag. 245 A História de Narciso

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Páginas recebidas pelo médium Divaldo Franco, em 02 de Novembro de 2005, na
reunião mediúnica do Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia).
(*) O Espirito estará sendo recambiado a reencarnação.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
4.25 Um Palestrante Espírita fracassado

• Não há privilégios nas Leis divinas, caro Miranda, conforme sabemos. Nem pessoas ou
Espíritos existem que sejam especiais... O nosso irmão Ambrósio, que hoje se encontra
conosco, partiu da Espiritualidade na direção do planeta terrestre cantando hosanas de
esperanças e retorna destroçado, aprisionado no calabouço que abriu para si mesmo
através da invigilância, em razão de haver falido nos propósitos que se comprometeu
tornar realidade.
• Há quase setenta anos mergulhou no corpo físico sob a carinhosa assistência de Benfeitores
que o inspiraram e se prontificaram a ajudá-lo por mais de meio século em atividades
espirituais significativas. Enriquecido com mediunidade ostensiva, preparou-se para
cooperar com a divulgação da Doutrina Espírita, devendo-se entregar-se ao ministério
com abnegação e humildade.(149)
• ...quando chegou a idade da razão, dedicando-se ao trabalho mediúnico atraiu a atenção das
pessoas desacostumadas com as autênticas manifestações espíritas, que começaram a
cercá-lo de privilégios, exaltando-lhe a personalidade e impregnando-o com as infelizes
influencias, qual se tratasse de um semideus com missão especial na Terra.(152)
• Embora inspirado e bem direcionado pelos seus Mentores espirituais, começou a
negligenciar as advertências, supondo-se infalível e possuidor de recursos que não lhe
pertenciam, tornando-se verdadeiro infante adulado, e exibindo os distúrbios do
passado que começaram a ressumar do inconsciente profundo. Logo se fez exótico,
tomando atitudes estranhas e sintonizando com Entidades vulgares que lhe
exploravam a vaidade exacerbada, empurrando-o para o anedotário chulo nas palestras
doutrinarias que se permitia proferir, perdendo o equilíbrio total e a compostura a pouco
e pouco(153)
• Os conflitos sexuais, que estavam sob controle, também começaram a assomar nesse
comenos, e tornou-se propagandista do exercício livre das paixões da libido, em tons
de modernidade, como se liberdade e licenças morais fossem a mesma coisa. Inspirado e
açulado por Entidades vulgares dos comportamentos do sexo ultrajado, vampirizadoras
das energias humanas, foi empurrado para atitudes publicas e particulares
reprocháveis, gerando vexame nas pessoas sinceramente vinculadas a Doutrina
Espírita(154)

132
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
• Não demorou muito e começou a sentir a mudança radical que passou a operar-se em
torno da faculdade mediúnica. Os Espíritos nobres, rechaçados pela vacuidade e
presunção, foram afastados por ele mesmo, e outros, de elevação suspeita, pseudo-
sábios e perversos, começaram a influenciá-lo, ..., começou a preencher por conta própria
os espaços mediúnicos com astúcia e manobras espúrias, sem entender a lição silenciosa
que lhe era ministrada pelos Guias Espirituais, chamando-lhe a atenção, aos retos
deveres.(154)
• Fascinado pela chamada vida social, recalque natural de dificuldades vividas na infância,
passou a desfilar como ser excepcional, que provocava exclamação e inveja nos
círculos frívolos dos meios em que comparecia festivamente. Distanciando-se dos
enfermos e sofredores, fez-se rude no trato com as demais pessoas, subestimando-as,
soberbo nas expressões comportamentais, verdadeiro astro da mediunidade de
ocasião.(155)
• Desnecessário dizer que passou da obsessão simples para a fascinação, quando não lhe
faltaram co-responsáveis, e, por fim, tombou, aturdido, na subjugação, que o fez mais
agressivo, quando não totalmente vulgar.(155)
• Numa noite de horror, após a exibição em uma das promoções que realizava com freqüência
para lisonjear o próprio ego, foi acometido de uma isquemia cerebral inesperada, e não
obstante atendido com urgência, padeceu um bom par de meses em tratamento hospitalar,
sucumbindo sob o assédio dos inimigos que o arrastaram para a repugnante região de
onde foi agora retirado. (155)
Manoel Philomeno de Miranda – Tormentos da Obsessão – Cap. 11 – O Insucesso de
Ambrósio

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
5. O Despertar da Consciência no Além Túmulo – Faixas Cronológicas -
Depoimentos
5.1 O Desencarne em Idade Infantil

Eu estava com muita sede e vendo a piscina com tanta fartura de água, estirei-me na
beira, na esperança de conseguir beber água com a minha própria boca.
No esforço que fazia, o corpo pesou muito e caiu na água de ponta-cabeça.
Queria gritar, mas não consegui.
Debati-me até que me apanhassem; no entanto, não conhecia mais ninguém.
Uma senhora se aproximou de mim e falou-me em descanso.
Pensei que me achava em presença de gente nossa de casa e deixei-me conduzir pela
senhora que me seguiu até os exames, e depois me disse que eu me molhara e precisava trocar
de roupa.
Carregou-me com os cuidados semelhantes aos da vovó e conduziu-me à casa diferente
da nossa.
Ali me trocou de roupa, deu-me um remédio para aliviar o cansaço que eu sentia e então,
sem poder falar como desejava, dormi sono longo, cuja duração não consigo explicar.
Conversaram comigo e me esclareceram que a morte não existe.
Existe mudança de corpo e de morada. Falavam com tanto amor que eu não podia
reclamar coisa alguma, e me auxiliaram a ir ver a querida família em Brasília.
Estou escrevendo quase depressa porque a mão direita da vovó Carolina está sobre a
minha mão, auxiliando-me a enviar-lhe notícias minhas.
Estou na escola e procuro aprender com atenção.
Fico o dia inteiro nas atividades do educandário a que pertenço e à tarde volto para casa
onde estou residindo com as minhas avos.
Tenho visto muita gente que eu não conhecia e sou estimado por eles.
Muitos falam que eram meus amigos, antes que eu nascesse em nosso querido lar, mas
eu ainda não compreendo o que desejam dizer.
Renato Lucena Nobrega – Dadivas Espirituais – Cap. 7

5.2 O Desencarne em Idade Avançada


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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Eu não mantinha mais governo sobre as minhas faculdades e os protetores espirituais
julgaram mais oportuno que eu retornasse no justo momento em que passei ou me passaram.
Senti-me hospitalizado, como na Terra mesmo, com a diferença de que no tratamento
em Rio Preto, o corpo definhava gradativamente, embora o apoio constante que eu recebi, e
aqui, à medida que os dias se passaram, experimentei uma certa revitalização e continuo a
assinalar essa mesma revitalização que me atinge todas as forças..
Estou no início de uma grande jornada para a qual estou refazendo a memória, pouco a
pouco.
Agora, querida Cida, vou melhorando. Tenho ainda a cabeça tonta. Às vezes, não sei se
estou em Rio Preto ou em Votuporanga. Custo a reformar-me. O nosso amigo Dr. Orlando me
afirma que isso tudo é seqüela da morte.
Quem diz que o espírito sai voando do corpo que se cuide. Há muito caminho para ser
transitado. Pernas fracas, corpo ruim, coração disparado, memória esquecida e pesadelos estão
por aqui comigo como estavam aí. Temos tratamentos e exercícios de retomada de nós mesmos.
Acho engraçado chegarmos aqui tão envelhecidos e recebermos instruções para pensar
em mocidade e saúde, robustez e agilidade mental e os professores e médicos dos setores em
que me vejo ensinam que tudo isso está dentro de nós mesmos e que somos obrigados a reviver
as células adormecidas de nosso envoltório espiritual.
Por enquanto, penso que a desencarnação é isso aí. A pessoa acredita que vai largar o
corpo cansado e residir com os protetores espirituais, mas chegando à moradia desses amigos,
o quadro apresenta outra figura preciso dizer aos
Velhos, quanto eu fui, para que não temam a jornada da grande mudança. Todos
encontrarão, creio eu, o que eu encontrei: corpo em desgaste imaginário para ser recauchutado
com o nosso próprio esforço de dentro para fora...
Carmelo Grisi - Carmelo Grisi, ele mesmo – Cap. 1

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
6. O Despertar da Consciência no Além Túmulo – Transplantados - Depoimentos
6.1 O Desencarne e os Transplantes

Mãe, deixei o meu corpo, como quem se afastava de uma roupa que se fizera
imprestável, e logo de saída, conquanto me sentisse privado da visão, senti uma dor muito
grande no tórax.
Os amigos de meu pai me solicitaram esquecesse o vigor daquela agulhada que me
transtornava todo o ser; no entanto, eles se apressaram em me auxiliar com o magnetismo
curativo e a dor desapareceu.
Soube mais tarde de que naquele momento eu tivera o coração do corpo físico arrancado
para servir ao transplante que favoreceria um homem que se avizinhava da morte.
Roberto Igor Porto Silva - Vozes da Outra Margem – Cap. 3

Sei que entrei num pesadelo em que via o meu próprio sangue a rolar do peito como se
aquele filete rubro não tivesse recursos de terminar.
O suicida é um detento sem grades.
Despertei num hospital, onde me encontro até agora, em tratamento.
Graças a Deus, melhorei da hemorragia incessante que me enlouquecia.
Depois de algumas semanas de aflição, um médico apareceu com uma boa nova. Ele
disse que as preces de uma pessoa que se beneficiara com a córnea que doei ao Banco de Olhos
se haviam transformado para mim num pequeno tampão que, colocado sobre o meu peito no
lugar que o projétil atingira, fez cessar o fluxo do sangue imediatamente.
Eu, que não fizera bem aos outros, que me omiti sempre na hora de servir, compreendi
que o bem mesmo feito involuntariamente por uma pessoa morta é capaz de revigorar-nos as
forças da existência.
Waldimir Cezar Ranieri – Amor e Saúde – Cap. 10

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7. O Despertar da Consciência no Além Túmulo – Drogados - Depoimentos

7.2 O Desencarne e as Drogas

Meus Pais, aflitos, pedem notícias de mim, procuram-me por toda parte, exigem que eu
lhes comunique como estou passando, desejam uma evidencia da continuação da minha vida.
Pedem-me que lhes diga se é verdade que eu prossigo vivendo e gostariam que eu
retornasse como um anjo para lhes incensar as vaidades pessoais, tornando-os privilegiados,
diminuindo-lhes a responsabilidade no insucesso de que fui vítima.
Meus Pais deram-me tudo. Educação bem cuidada, liberdade, amigos e dinheiro, só não
foram Pais...Eu pude desfrutar de regalias, mas não pude desfrutar de uma Família.
De cedo, os vícios e as dissipações sociais que eu encontrei em casa passaram a tomar
parte nas minhas horas.
Como os vícios sociais constituem motivo de projeção na comunidade, eu projetei-me.
Mas, aos vinte e três anos, a minha projeção se apagou no acidente de um Porche depois de
uma ingestão de drogas além da dose habitual.
Que notícias eu posso dar? Dizer que despertei como um satrapa, recolhido a um
hospital onde a dor, nivelando os Espíritos, era também o meu quinhão da vida? Relatar o que
tem sido este tempo sem tempo que o calendário da Terra não pode representar?
Eu diria a todos os Pais, a todos aqueles que sentem saudade dos que viajaram para cá,
que há um padrão de avaliação de COMO SE ENCONTRAM OS QUE A MORTE
CONDUZIU PARA A REALIDADE DA VIDA. A conduta que tinham, as ações que
praticaram, o comportamento que se permitiram – eis os documentos de identificação para
receber aval para a felicidade ou algema para a desdita.
Muda-se de lugar, porém, não se muda de estado íntimo.
Não há critério de exceção, nem regimes de privilégios.
Todos nos despertamos, no Mundo dos Espíritos, com ao cabedal que trouxemos
do mundo dos homens.
Somente a conduta bem vivida e as ações bem delineadas constituem patrimônio de
felicidade para os que a morte não consumiu.
Francisco Ângelo de Souza. – Depois da Vida – Parte II - Cap. 5

137
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
(...)
Eram cinco jovens que pareciam embriagados e trafegavam com velocidade, quando
outro veículo fez uma ultrapassagem rápida. O mesmo não concluíra o lance, quando freou
violentamente em razão de um obstáculo à frente.
Como também desenvolvesse alta velocidade e colhido pelo imprevisto, o jovem que
vinha atrás tentou desviar-se, subindo ao passeio e chocando-se contra a balaustrada. O golpe
muito forte rompeu a proteção, indo o carro cair nas águas lodosas do mangue, perecendo os
seus ocupantes.
O Mentor convidou-nos à concentração e descemos ao fundo do mangue repleto de
resíduos negros, densamente pastosos. Betume e restos de solventes, hulha, petróleo bruto
misturavam-se no solo pestilento do canal onde o veículo mergulhara, no qual pereceram,
asfixiados, os moços.
Fortemente imantados aos corpos, os Espíritos lutavam, em desespero frenético, em
tentativas inúteis de sobrevivência.
Morriam e ressuscitavam, remorrendo em contínuos estertores... Se gritavam por
socorro, experimentavam a água pútrida dominar-lhes as vias respiratórias, desmaiando, em
angústias lancinantes.
O motorista falecera, no momento do choque, quando golpeara a cabeça, sofrendo
imediata concussão cerebral.
Sob o comando seguro, os lidadores destrinçaram os laços mais vigorosos, enquanto
colocavam os Espíritos na rede protetora, que foi erguida à superfície do mangue, donde foram
transferidos para as padiolas que já os aguardavam.
A equipe de salvamento prosseguiu liberando os condutos que mantiveram os corpos
vivos sob a energia vital do Espírito.
Interrompida a comunicação física, permaneciam poderosos liames que se desfaziam
somente na medida em que se iniciasse o processo de decomposição cadavérica, em tempo
nunca inferior a cinquenta horas, e considerando-se as circunstâncias em que se dera a
desencarnação, no caso muito violenta, em período bem mais largo.
(...)
Não há mortes iguais. Tendo-se em conta as conquistas morais de cada pessoa, os
requisitos espirituais que a cada qual tipificam, os apegos ou não à matéria, as fixações e jogos
de interesse, as dependências físicas e mentais, a desencarnação varia de um a outro homem,
que experimenta perturbação correspondente, em tempo, ao estado íntimo em que se situa.

138
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
Morrer nem sempre significa libertar-se. A morte é orgânica, mas a libertação é de
natureza espiritual.
Por isso, essa turbação espiritual pode demorar breves minutos, nos Espíritos nobres,
como decorrência da grande cirurgia e até séculos, nos mais embrutecidos, que se não dão conta
do que lhes sucede...
Nas desencarnações violentas, o período e intensidade de desajuste espiritual
correspondem à responsabilidade que envolveu o processo fatal.
Acidentes de que se não têm uma culpa atual, passado o brusco choque, sempre tornam
de menor duração o período perturbador do que ocorrendo em condições de intemperança
moral, quando o descomedido passa a ser incurso na condição de suicida indireto.
O mesmo sucede nos casos de homicídio, em que a culpa ou não de quem tomba
responde pelos efeitos, em aflições, que prossegue experimentando.
Já os suicidas, pela gravidade do gesto de rebeldia contra os Divinos Códigos, carpem,
sofrem por anos a fio a desdita, enfrentando, em estado lastimável e complicado, o problema
de que pretendem fugir, não raro experimentando a perseguição de impiedosos adversários que
reencontram no além-túmulo, que os submetem a processos cruciais de lapidação em dores
morais e físicas, em face da destruição do organismo que fora equipado para mais largo período,
na Terra...
(...)
Os pacientes foram colocados em recinto especial para o atendimento sonoterápico de
algumas horas.
Assim que as famílias tomassem conhecimento do infortúnio que as alcançava, a falta
de preparo espiritual para as realidades da breve existência corporal desataria o superlativo das
aflições, provocando a atração, ao lar, de alguns daqueles seres queridos, ora em condição
delicada.
A lamentação e os impropérios, que a ausência de segurança religiosa, a par da angústia
enlouquecedora e da revolta, promovendo cenas que poderiam ser evitadas, produzem, no
Espírito recém-liberto, maior soma de desconforto, porquanto, atravessando momentos de alta
sensibilidade psíquica, automática vinculação ao corpo sem vida e a família, as atitudes
referidas transformam-se em chuvas de fagulhas comburentes que os atingem, ferindo-os ou
dando-lhes a sensação de ácidos que os corroem por dentro.
Nominalmente chamados, desejam atender, sem poder fazê-lo, experimentando as dores
que os vergastam, adicionadas pelos desesperos morais que os dominam.

139
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
(...) A providência inicial de evitar que caíssem sob o guante dos usurpadores de força,
por si só, constituía uma grande conquista de que se beneficiavam desde já.
O abnegado médico examinou o motorista e não teve dúvidas em afirmar:
- O nosso amigo buscava o acidente, em razão da ingestão de drogas que se permitira
As drogas liberam componentes tóxicos que impregnam as delicadas engrenagens do
perispírito, atin- gindo-o por largo tempo. Muitas vezes, esse modelador de formas imprime nas
futuras organizações fisiológicas lesões e mutilações que são o resultado dos tóxicos de que se
encharcou em existência pregressa.
A seu turno, o Espírito regista as suas emanações, através da organização perispiritual,
dementando-se sob a sua ação corrosiva. Quando isto ocorre, somente através de futuras
reencarnações consegue restabelecer, a contributo de dores acerbas e alucinações demoradas, o
equilíbrio que malbaratou.
(...) Em momento próprio, o atendente Agenor comunicou-nos a retirada do veículo do
mangue e a condução dos corpos para o Necrotério.
O Mentor permaneceu na Enfermaria, pelo período em que tinha curso a necrópsia para
a identificação da causa mortis e outros comportamento legais.
Observamos que os Espíritos, mesmo distanciados dos corpos que se faziam
examinados, retratavam as ocorrências que os afetavam, provocando sensações cruciantes.
O motorista, por ser incurso em maior responsabilidade, manteve-se em sono agitado
por todo o tempo.
Devido às fortes vinculações com a matéria, experimentava as dores que lhe advinham
da autópsia de que o corpo era objeto. Embora contido por enfermeiros diligentes, sofreu cortes
e serração, profundos golpes nos tecidos e costuras...
Recordemos que se encontrava sob amparo, não ficando, todavia, isento à
responsabilidade pelos erros que a juventude estroina lhe facultara.
Em autópsias, muitos Espíritos que se deixaram dominar pelos apetites grosseiros e se
fixam apenas no corpo, quando não fazem jus a assistência especializada, enlouquecem de dor,
demorando-se sob os efeitos lentos do processo a que foram submetidos os seus despojos.
Desse modo, cada um dos jovens, apesar de todos haverem desencarnados juntos, no
mesmo momento, experimentava sensações de acordo com os títulos que conduziam, de
beneficência e amor, de extravagância e truculência.
Passada essa fase, volveram ao sono, embora em agitação.
Manoel Philomeno de Miranda – Nas Fronteiras da Loucura – Cap. 10/11

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
8. O Despertar da Consciência no Além Túmulo – Alerta para os que Ficam

O corpo ficou nas águas, naquela mesma paisagem onde pretendia descansar dos
estudos em Mongaguá, mas estou vivo —vivo como sempre.
Vejo seu rosto sem parar, todo banhado de lágrimas sobre o meu e sua voz me alcança
de maneira tão clara que pareço carregar ouvidos no coração!
Ah! Mamãe! eu não tenho direito de pedir ao seu carinho mais do que sempre recebi,
mas se seu filho pode pedir mais alguma coisa à sua dedicação, não chore mais.
Alberto Teixeira Duarte – Presença de Chico Xavier – Pag. 38

Ajudem-me, para que eu possa ajudá-los. Não me recordem caído na estrada ou


naqueles gemidos quando me despedia da Terra no hospital de Catanduva.
Estou melhor, quase bom mesmo, se não estivesse encharcado de lágrimas. Digo assim,
papai, porque quando choram fitando o meu retrato ou recompondo os meus objetos não
consigo estancar o pranto que me verte do peito, complicando as melhoras que obtenho e
perco, que consigo e destruo, que levanto e atiro no chão da inutilidade.
Mauricio de Lima Basso - Novamente em Casa – Pag.57

Guarde, mãezinha, apenas os nossos retratos, porque as fotos são pontos de intercâmbio
espiritual.
Limpemos a área em que me movimentei por aí, com o que me sentirei mais leve por
aqui. Que o ar de vida nova e que a música possam arejar e enfeitar aquele recanto que não deve
ser meu.
Carlos Henrique Branco Rodrigues – Vida Nossa Vida – Pag. 7.

As vozes de casa chegam ao meu coração e, como se continuássemos juntos, vejo-os no


quarto, guardando-me as lembranças como se devesse chegar a qualquer instante. E o meu
pensamento não sai de onde me prendem.
Agradeço, sim, o amor em suas lágrimas. Agradeço o carinho em suas preces, mas
venho pedir-lhes para viverem. Viverem! E viverem felizes, porque assim também serei feliz.
Nada de lamentações e reclamações.
Lembrem-me estudando e não morto, porque a vida não admite a morte.
Jair Presente – Jovens no Além – Pag. 59.

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
9. Referências

Esta relação bibliográfica não está, intencionalmente, seguindo os padrões usuais – está
numa forma mais sintética.

# Autor – Livro ou Revista – Cap. ou Item – Título


1 A. – Depois da Vida – Cap. 10
2 A. Marques – Depoimentos Vivos – Depoimento - Pastor
3 Abel Gomes – Falando à Terra – Cap. 11 – Notícias
4 Alberto Teixeira Duarte – Presença de Chico Xavier – Pag. 38
5 Allan Kardec – Evangelho segundo o Espiritismo – Cap. 3 – Item 2 – diferentes estados da
alma na erraticidade
6 Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 941
7 Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 961
8 Allan Kardec – O Céu e o Inferno – 2º Parte – Cap. 1 – item 6 – A Transição
9 Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Cap. 2 – item 10 – A Preocupação com a Morte
10 Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Cap. 2 – item 3 – A Preocupação com a Morte
11 Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Cap. 2 – item 6 – A Preocupação com a Morte
12 Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Cap. 2 – item 8 – A Preocupação com a Morte
13 Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Cap. 2 – item 9 – A Preocupação com a Morte
14 Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – 2º Parte – Cap. 1 – Item 2 – Perg. 86
15 Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – 2º Parte – Cap. 3 – Item 3 – Perg. 163/164
16 Allan Kardec – O Livro dos Espíritos 2º Parte – Cap. 3 – Item 3 – Comentários a Perg. 165
17 AME–Brasil – Folha Espírita – Janeiro de 2010 Edição número 425 – A Terminalidade da
Vida
18 André Luiz – Além da Morte – Introito – Uberaba, 13 de Janeiro 1960.
19 André Luiz – Cidade no Além – Intróito
20 André Luiz – E a Vida Continua – Cap. 12 – Julgamento e Amor
21 André Luiz – E a Vida Continua –– Cap. 13 – Tarefas Novas
22 André Luiz – E a Vida Continua – Cap. 22 – Bases de Novo Porvir
23 André Luiz – E a Vida Continua – Cap. 8 – Encontro de Cultura
24 André Luiz – E a Vida Continua – Cap. 9 – Irmão Claudio
25 André Luiz – Estude e Viva – Cap. 26 – Mortos Voluntários
26 André Luiz – Estude e Viva – Cap. 4 – Consciência e Conveniência
27 André Luiz – Evolução em Dois Mundos – 1ª Parte – Cap. 13 – 13 Alma e fluidos
28 André Luiz – Evolução em Dois Mundos – 2º Parte – Cap. 7 – Item: Vida social dos
desencarnados
29 André Luiz – Missionários da Luz – Cap. 17
30 André Luiz – Nosso Lar – Cap. 17 – Em Casa de Lísias
31 André Luiz – Nosso Lar – Cap. 27 – O Trabalho enfim
32 André Luiz – Nosso Lar – Cap. 43

142
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
# Autor – Livro ou Revista – Cap. ou Item – Título
33 André Luiz – Obreiros da Vida Eterna –– Cap. 1 – Convite ao Bem
34 André Luiz – Obreiros da Vida Eterna – Cap. 11 – Amigos Novos
35 André Luiz – Obreiros da Vida Eterna – Cap. 13 – Companheiro Libertado
36 André Luiz – Vozes do Grande Além – Cap. 12 – Esclarecimento
37 André Luiz/Ribas – E a Vida Continua – Cap. 26 – E a Vida Continua...
38 Antônio Americano do Brasil - Falando à Terra - Capítulo 35 - Tudo claro - A Vida apos a
Morte
39 Arnaldo Rocha - Vozes do Grande Além – Cap. 5 – Primeiros instantes de um Morto
40 Artur Marcos – Depoimentos Vivos - Cap. 14
41 Auta de Souza – Além da Morte - Cap. 6
42 Blaise Pascal – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. 16 – Item 9 – A Verdadeira
Propriedade
43 C. – Depois da Vida – Cap. 7
44 C.T. Instruções Psicofônicas - Cap. 37 - Mensagem de um Sacerdote
45 Cardeal Joaquim Arcoverde – Falando à Terra – Cap. 21 - Penitência
46 Cardeal Joaquim Arcoverde – Revista Reformador – 1955 – Setembro – Pag. 199
(21/07/1955) / Vozes do Grande Além – Cap. 6 – Em Oração
47 Carlos Henrique Branco Rodrigues – Vida Nossa Vida – Pag. 7.
48 Carmelo Grisi - Carmelo Grisi, ele mesmo – Cap. 1
49 Centro Espírita Celeiro de Luz – O Mundo Espiritual
50 Cornélio Pires – Degraus da Vida — Cap. 13 – Fórmula da paz
51 Cornélio Pires – Paz e Amor – Cap. 18 – Viagem
52 Cristina Fagundes Rabelo – Depoimentos Vivos - Cap. 16
53 Divaldo Franco – Biblioteca Virtual Espírita – O Mundo Espiritual
54 Dr. G – Vozes do Grande Além – Cap. 5 – Primeiros instantes de um Morto
55 Egberto Monteiro – Depois da Vida – Cap. 4
56 Emmanuel – Chico Xavier e suas Mensagens no Anuário Espírita – Cap. 78 – Página aos
Espíritas/ Anuário Espírita – 1968
57 Emmanuel – Coragem – Cap. 32 – Vida e Morte
58 Emmanuel – E a Vida Continua – Prefácio
59 Emmanuel – Justiça Divina – Cap. 34 – Lugar depois da morte
60 Emmanuel – Mãos Unidas – Cap. 1 – Teu Livro
61 Emmanuel – Moradias de Luz – Cap. 1 – Repara onde moras – Prefácio
62 Emmanuel – Na Era do Espírito – Cap.21 – Oração pelos quase Mortos
63 Emmanuel – O Consolador – Perg. 148
64 Emmanuel – Obreiros da Vida Eterna – Introdução
65 Emmanuel – Quando se pretende falar da Vida — Mensagens familiares de Roberto Muszkat
66 Ernesto Bozzano - A Crise da Morte – Caso 8
67 Evaristo Nepomuceno – Depoimentos Vivos – Cap. 2
68 Fernando do Ó – Almas que Voltam –– págs. 11 e 16
69 Francisco Ângelo de Souza. – Depois da Vida – Parte II - Cap. 5
70 Francisco Cândido Xavier – O Evangelho de Chico Xavier – Cap. 187

143
O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
# Autor – Livro ou Revista – Cap. ou Item – Título
71 Frederico Figner (Diretor da área de Assistência Social FEB/1920) – Voltei –Cap. 3 – à
frente da Morte
72 Frederico Figner (Diretor da área de Assistência Social FEB/1920) – Voltei – Introdução
73 Gerson Almeida – Depois da Vida – Cap. 1
74 Gerson Simões Monteiro – O Consolador - Crônicas e Artigos - Ano 5 - N° 253 - 25 de
Março de 2012
75 Heigorina Cunha – Cidade no Além – Cap. 1 – A Cidade Nosso Lar
76 Herculano Pires – O Céu e o Inferno – Cap. 2 – item 09 – A Preocupação com a Morte –
comentário
77 Herculano Pires – O Céu e o Inferno – Cap. 2 – item 10 – A Preocupação com a Morte –
comentário
78 Herculano Pires – O Céu e o Inferno – Cap. 2 – item 8 – A Preocupação com a Morte –
comentário
79 Humberto de Campos – Diário Carioca – 10/07/1932
80 Humberto de Campos – Novas Mensagens – Cap. 3 – A Morte de Pio XI (10/Fevereiro de
1939)
81 Humberto de Campos - Novas Mensagens (1940) – Cap. 12 - Eric Von Ludendorff
82 Humberto de Campos – Palavras do Infinito – 1º Parte – Cap. 2 – Carta aos que ficaram
83 Humberto de Campos – Palavras do Infinito – 1º Parte – Cap. 3 – Aos Meus Filhos (1935)
84 Humberto de Campos – Palavras do Infinito – 1º Parte – Cap. 6 - Aos que ainda se acham
mergulhados nas sombras do Mundo.
85 Humberto de Campos – Palavras do Infinito – Aos Meus Filhos (Pedro Leopoldo,
9/Abril/1935)
86 Irmão Jacob – Frederico Figner – Voltei – Cap. 7 – Incidente em Viagem
87 J. – Depois da Vida – Parte II - Cap. 2
88 Jair Presente – Jovens no Além – Pag. 59.
89 Joanna de Ângelis – Depoimentos Vivos – Introdução
90 Joanna de Angelis – Depoimentos Vivos – Introdução (Salvador, 25 de dezembro de 1971)
91 Joanna de Angelis – Dimensões da Verdade – Cap. 21 – Mortos e mortos
92 Joanna de Angelis – Estudos Espíritas – Cap. 7 – Morrer
93 Joanna de Angelis – Sementes de Vida Eterna – Cap. 56 – Não há Morte
94 João Cabral de Melo – Morte e Vida Severina – Introdução
95 João Cleófas – Intercâmbio Mediúnico – Cap. 58 – Perturbação Espiritual
96 João Cleofas – Intercâmbio Mediúnico – Cap. 7 – Coerência entre Pensamento e Ação
97 João Cleófas – Intercâmbio Mediúnico – Cap. 7 – Coerência entre Pensamento e Ação
98 Joaquim Dias – Vozes do Grande Além – Cap. 30 – Alcoólatra
99 José E.G. – Depoimentos Vivos – Cap. 11
100 José Soares de Gouveia – Depois da Vida – Introdução
101 L. – Depois da Vida – Cap. 6
102 Leandro Gomes de Barros – Tão fácil - Cap. 16 – Estudos ante a hora da morte
103 Leão XIII – Do País da Luz – 1º Volume – Cap. 32
104 Leon Denis – O Grande Enigma – 3º Parte – Cap. 15 – A Lei circular
105 Liebe – Além da Morte - Cap. 5
106 Luciano dos Anjos – A Vida no Mundo Espiritual

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O Viver e o Morrer - dois lados da mesma viagem
# Autor – Livro ou Revista – Cap. ou Item – Título
107 Manoel Philomeno de Miranda – Nas Fronteiras da Loucura – Cap. 10/11 – Morrer e
Libertar-se
108 Manoel Philomeno de Miranda – Nas Fronteiras da Loucura – Cap. 11 – Efeito das Drogas
109 Manoel Philomeno de Miranda – Reencontro com a Vida – 1o Parte – Cap. 22 – Despertar
da consciência no Além-Túmulo
110 Manoel Philomeno de Miranda – Reencontro com a Vida – 1º Parte – Cap. 12 – Morrer e
Desencarnar
111 Manoel Philomeno de Miranda – Reencontro com a Vida – 2o Parte – Cap. 1 – Preparação
para a Morte
112 Manoel Philomeno de Miranda – Sob a Proteção de Deus – Cap. 2 – O Mundo Espiritual
113 Manoel Philomeno de Miranda – Temas da vida e da morte – Cap. 11 – Temor da Morte
114 Manoel Philomeno de Miranda – Temas da Vida e da Morte – Cap. 14 – Morrendo para
Viver
115 Manoel Philomeno de Miranda – Tormentos da Obsessão – Cap. 11 – O Insucesso de
Ambrósio
116 Marco Prisco – Ementário Espírita – Cap. 60 – No exame da Morte
117 Marco Prisco – Glossário Espírita-Cristão – Cap. 37 – Patrimônio e Posses
118 Marco Prisco – Legado Kardequiano – Cap. 56 – Idéia
119 Maria João de Deus – Cartas de uma morta Cap. 4 – Na vida da alma livre
120 Mariano José Pereira da Fonseca – Falando à Terra – Cap. 32 - Reflexões
121 Marlene Nobre – Nossa Vida no Além – Cap. 2 – Como é Morrer
122 Marta Antunes Moura – Revista Reformador – 2016 – Junho – Para onde vão as crianças
desencarnadas
123 Mauricio de Lima Basso - Novamente em Casa – Pag.57
124 Narciso - Reencontro com a Vida - 2o Parte - Pag. 245 A História de Narciso
125 Otília Gonçalves – Além da Morte – Cap. 1/2/3/4/5/6
126 Otília Gonçalves – Além da Morte – Cap. 8 – Hospitalizada
127 Raimundo Teixeira – Vozes do Grande Além – Cap. 45
128 Rainha de Oude – O Céu e o Inferno – 2º Parte – Cap. 7 – Espíritos Endurecidos (1858)
129 Renato Lucena Nobrega – Dadivas Espirituais – Cap. 7
130 Roberto Igor Porto Silva - Vozes da Outra Margem – Cap. 3
131 Roberto Muszkat - Quando se pretende falar da vida – Cap. 2
132 Romeu Camargo – Falando à Terra – Cap. 14 – De Retorno
133 Sônia Zaghetto - Revista Reformador - agosto de 2005 - A trajetória da rainha de Oude
134 Uma Rainha de França – Evangelho Seg. Espiritismo – Cap. 2– item 8 (Havre 1863)
135 Waldimir Cezar Ranieri – Amor e Saúde – Cap. 10

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