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“Assim, quando o corpo mortal se vestir com o que é imortal e quando o que morre se vestir com o que não

pode morrer, então acontecerá o que as Escrituras Sagradas dizem: a morte está destruída; a vitória é
total” (Paulo – Carta aos Coríntios 1 – Capítulo 15 – versículo 54).

Encarnação – a maior
aventura do espírito
(volume 1)

Este livro contém textos de palestras espirituais realizadas por incorporação


pelo amigo espiritual JOAQUIM DE ARUANDA e organizados por FIRMINO
JOSÉ LEITE, MÁRCIA LIZ CONTIERI LEITE

ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL

R. Pedro Pompermayer, 13 – Rio das Pedras – SP

(19) 3493-6604

WWW.meeu.com.br

Janeiro - 2015
Encarnação – a grande aventura do espírito página 4

Índice

A aventura e seus riscos ..................................................................................................... 7

 O ápice da vida do espírito .......................................................................................... 7

 A encarnação .............................................................................................................. 8

 A aventura ................................................................................................................. 10

 Os riscos .................................................................................................................... 11

 Ovoides ..................................................................................................................... 13

 Riscos calculados ...................................................................................................... 14

 A segurança para executar a missão ........................................................................ 17


O caracterizador da aventura ............................................................................................ 19

 Realidade .................................................................................................................. 19

 Ser humano ............................................................................................................... 20

 A provação do espírito............................................................................................... 20

 A provação em seus diversos graus ......................................................................... 22

 A encarnação fora da carne ...................................................................................... 22

 A encarnação dentro da encarnação ........................................................................ 23

 Resumo do que já foi visto ........................................................................................ 26

 Maya .......................................................................................................................... 27

 A criação da realidade ............................................................................................... 28

 A forma das coisas .................................................................................................... 29


 Uma codificação para cada planeta .......................................................................... 30

 Verdades ilusórias emocionais .................................................................................. 31

 Vencendo a sensação gerada pelo ego .................................................................... 32


 A programação das provas ....................................................................................... 34

 A vida como ela é ...................................................................................................... 36

 O apresentador da realidade ..................................................................................... 37


 Os diretores da realidade .......................................................................................... 38

 Inconsciente coletivo ................................................................................................. 39

 O que vem por aí ....................................................................................................... 40


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A sintonia e seu resultado ................................................................................................. 42

 Resumo do que já foi visto ........................................................................................ 42

 Sintonizar-se com Deus ............................................................................................ 42


 A provação e a Onisciência ....................................................................................... 44

 Amor Universal .......................................................................................................... 45

 A vida do espírito e do ego ........................................................................................ 47


 O cume da aventura .................................................................................................. 48

 A felicidade humana e a espiritual ............................................................................ 50

 A responsabilidade do espírito pelo erro ................................................................... 51


As armas para sintonizar-se.............................................................................................. 53

 A reforma íntima ........................................................................................................ 53

 Reconhecer que é egoísta ........................................................................................ 53

 Amar como Deus nos ama ........................................................................................ 55

 Pedir, achar, agradecer ............................................................................................. 57

 O escândalo e outras questões ................................................................................. 60

 Encerramento ............................................................................................................ 61

A preparação para usar as armas ..................................................................................... 63

 Resumo do que já foi visto ........................................................................................ 63


 Reformar não é mudar .............................................................................................. 65

 Conhecer a personalidade humana .......................................................................... 67

 Perguntas sobre a reforma íntima ............................................................................. 68


 Não existem santos ................................................................................................... 69
Características dos seres humanizados .......................................................................... 71

 Só o que é percebido existe ...................................................................................... 71


 Não se pode conhecer o que não percebido ............................................................ 72

 O dualismo não existe ............................................................................................... 73

 Culpa ......................................................................................................................... 74
 Nada pode ser aceito ................................................................................................ 74

 Obrigação .................................................................................................................. 75

 Individualismo ............................................................................................................ 76
Instrumentos para a promoção da reforma íntima ......................................................... 79

 Espiritualismo ............................................................................................................ 79
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 Viver para o espírito .................................................................................................. 80

 Espiritualista material ................................................................................................ 81

 O espiritualismo e o mundo espiritual ....................................................................... 82


 Intencionalidade ........................................................................................................ 84

 Causa mágoas ao outro ............................................................................................ 86

 Conhecimento científico ............................................................................................ 89


 Viver espiritualmente com as coisas materiais ......................................................... 91

 Saúde ........................................................................................................................ 93

 Reencarnar ................................................................................................................ 95

 Ecumenismo .............................................................................................................. 96

 Subordinação às leis ................................................................................................. 98

 Leis individuais ........................................................................................................ 100

 Consciência amorosa .............................................................................................. 100

 A necessidade de leis.............................................................................................. 101

 Individualismo .......................................................................................................... 104

 A vida não muda...................................................................................................... 105

 Universalismo .......................................................................................................... 106

 Serviço ao próximo .................................................................................................. 107


 Usando os instrumentos da reforma íntima ............................................................ 108

 Despedida ............................................................................................................... 111


Encarnação – a grande aventura do espírito página 7

1. Introdução

A aventura e seus riscos

 O ápice da vida do espírito

O espírito no seu próprio mundo, ou seja, dentro da realidade espiritual pode praticar
milhares de atos que não são compreendidos pelos seres humanizados e, por isso, estes os
consideram como atos super poderosos. O espírito pode volitar, se locomover com a velocidade do
pensamento, plasmar objetos, influenciar decisivamente inteligências, etc. Enfim, pode realizar
diversos atos que o ser humano consideram como sobrenaturais. Porém, tudo isso que o espírito
pode fazer para ele mesmo não é nada, não tem tanta importância.

Para os espíritos todas as ações que os seres humanos imputam tão grande valor são como
atos de uma criança do planeta Terra. A criança quando consegue a capacidade de somar dois mais
dois considera isso um feito extraordinário. No entanto, ela se esquece que seus pais já sabem
dividir, multiplicar ou executar outras funções aritméticas.
Para os espíritos aquilo que a humanidade considera como o ápice do poder espiritual é
banalidade. Apesar disso, há algo que o ser humano não dá tanta importância, mas que para o
espírito tem um valor imenso: a encarnação.
A encarnação é um momento aguardado ansiosamente por um espírito que a valoriza
profundamente quando na vivência com a sua consciência espiritual. Isto porque ela é sempre a
provação final de um estudo do espírito e só ela pode conceder o atestado de promoção espiritual
para o ser.

Por mais que um ser universal estude no mundo espiritual e conheça as coisas do Universo,
sem a encarnação não recebe o atestado da evolução espiritual. É por isso que a encarnação é a
maior aventura do espírito.
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O momento encarnado é, para o espírito, como aqueles vividos pelos seres humanos onde
prestam um concurso para obter alguma posição depois de ter estudado muito. É a oportunidade
para a realização de todas as suas aspirações. Ou seja, a preparação para a encarnação, bem como
o que acontecerá depois de encarnado, é, para o ser universal, uma sucessão de acontecimentos
que geram expectativa e mexem com os seus nervos.

Este é o primeiro detalhe que temos a comentar sobre a o tema deste livro. Nele vamos falar
do processo de múltiplas vidas que o espírito vivencia ao longo de sua existência eterna. Tentaremos
mostrar a grande importância que tem a encarnação para o espírito. Por isso o chamamos de
“Encarnação – a maior aventura do espírito”.
Viver ligado a uma carne humana é uma aventura de grande responsabilidade, pois, apenas
ela pode certificar que o ser aprendeu no mundo espiritual as lições que lhe foram ministradas por
seus mestres. Por isso, intitulamos este período de a grande aventura do espírito.

 A encarnação

Agora que já explicamos porque a encarnação é a maior aventura do espírito, vamos, então,
entender o que significa encarnação antes de continuarmos a falar da aventura em si.

Antes de qualquer coisa, precisamos entender que encarnação é uma palavra do planeta
Terra. No mundo espiritual a grande aventura do espírito não possui nome, pois no universo universal
não existem formas e a palavra é uma forma usada para definir alguma coisa. Justamente por não
ter este rótulo é que encarnar para o espírito é algo completamente diferente daquilo que o ser
humano imagina.

A palavra encarnar para o seres humanos significa vir à carne. Encarnar para os seres
humanos significa tomar um corpo de carne, ou seja, para os humanos o espírito que passa a viver
dentro de um corpo carnal está encarnado. No entanto, este ato espiritual, universalmente falando,
não possui este mesmo significado.

Se encarnar fosse habitar uma carne, esse processo seria um elemento exclusivo deste
planeta, já que a carne, como vocês a conhecem, só existe aqui. Se isso fosse real, ou seja, se o
espírito encarnasse apenas no planeta Terra, tal realidade feriria um dos elementos básicos para
determinar o que é Real: ser universal, valer para todos. Sendo assim, a encarnação não seria real
e por isso não existiria dentro da realidade universal. Portanto, uma encarnação não pode ser
compreendida como uma vinda à carne por aquele que quer aprender a viver no Universo.

Na verdade, na realidade universal, o que caracteriza a aventura do espírito não é a


mudança de corpo ao qual o ser está ligado (de espiritual para material), mas uma mudança de
consciência. Encarnar é viver momentaneamente ligado a uma consciência diferente da sua. Vamos
falar um pouco disso.
Durante toda eternidade o espírito vive entre dois mundos, ou seja, entre duas consciências.
A primeira é a sua própria consciência existencial espiritual.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 9

A consciência espiritual é a Realidade da vida do espírito. É com ela que o ser vive naquilo
que chamamos de mundo espiritual ou universo, onde executa seu aprendizado se preparando para
as alterações de consciência ou encarnações.
Quando pronto para encarnar, ou seja, depois de ter estudado diversas coisas à respeito do
universo, o espírito prepara uma nova consciência. Esta será formada pelos elementos sobre os
quais ele estudou quando vivendo com a sua consciência original. Para entender melhor o que estou
dizendo, vamos a um exemplo.

Digamos que o espírito no universo durante um período entre encarnações, tenha se


ocupado em estudar sobre os efeitos da vaidade e da ganância no seu relacionamento com outros
seres. Quando este ser imagina que está pronto para enfrentar questões a respeito destes temas
pede, então, para encarnar. Para isso ele constrói uma consciência onde estarão presentes estes
assuntos e ao vivenciar acontecimentos durante a encarnação ele terá que superar esta tendência.
Esta é a consciência temporária e a vivência dela é que caracteriza a encarnação. Ela
contém todos os elementos sobre os quais o espírito estudou se preparando para o período de
provações. A consciência que determinará o período de provação para o espírito é sempre um novo
conjunto de verdades a qual ele se liga para poder realizar provas, missões e expiações.

Esta é a Realidade da existência espiritual por toda eternidade. O espírito vive a sua
existência ligado à sua consciência espiritual e, assim que acaba um ciclo de estudos, se desliga
dela e se liga a uma nova consciência e com ela executa provas para ganhar o atestado da elevação
espiritual.

Este processo é real, universal, pois é válido para toda a eternidade da existência do ser. Ou
seja, as encarnações existem durante toda a existência do ser universal. Por ser este processo
(encarnar-se) válido para todos os espíritos do Universo, isso completa a caracterização necessária
para lhe dar o critério de real.
Por isso disse: a palavra encarnação com o sentido de vir à carne é apenas uma
compreensão dos habitantes do planeta Terra. Em Marte, Júpiter e no planeta mais distante do
universo existem encarnações. Só que em outros planetas não existe carne, matéria carnal, como a
dos seres humanos. No entanto, em todos os planetas do Universo e por todos os tempos, espíritos
criarão novas consciências que servirão como concurso para obtenção de um atestado de elevação
espiritual.
Isto é uma encarnação, isto é a grande aventura do espírito: ligar-se a uma consciência
temporária e executar suas provações.

Apenas um detalhe. Como vocês precisam de nomes, rótulos, para compreender as coisas
e já que criamos um nome para a consciência real do espírito (consciência espiritual), precisamos
também gerar um para a consciência utilizada para a realização de provas. Chamaremos esta
consciência de ego ou personalidade humana.
Resumindo, então, o que falamos até aqui sobre encarnação: a Realidade do Universo é
que o espírito vive com a sua consciência espiritual realizando estudos junto com os mestres e
durante determinado períodos da sua existência se liga a um ego para realizar provações com a
finalidade de receber o atestado da evolução espiritual.
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A encarnação ou a grande aventura do espírito, portanto, nada tem a ver com carne ou com
ligar-se à matéria carnal, mas sim com a ligação do ser espiritual com uma nova consciência que
servirá como instrumento de provas para que ele evolua.
Participante: a existência espiritual tem um fim? Chega um momento onde o
espírito se estabiliza e para de se ligar a um ego para receber o atestado?

Quanto à primeira pergunta devo lhe dizer que a existência espiritual é eterna e, portanto,
não tem fim. Quanto ao fim do ciclo de encarnações ou ligações a egos, isto também nunca se
encerra. Sempre haverá um ego ao qual o ser se ligará para realizar provações, mesmo quando não
houver mais carne.
Mesmo quando a encarnação não for ligar-se a uma matéria mais densa, ou seja, habitar
fisicamente um planeta, sempre haverá o ego e a consciência espiritual. Este sistema evolutivo
jamais acabará porque o Universo é um constante processo de evolução para aproximar-se de Deus,
da Perfeição.

 A aventura

Para continuarmos nossa conversa, pergunto: por que defini a encarnação como aventura?
Seguindo o conselho que já dei em outras vezes quando nos deparamos com algum termo, vamos
verificar no dicionário o que significa o vocábulo para compreendermos o que quero dizer.

AVENTURA – Empresa ou experiência arriscada. (MINI DICIONÁRIO AURÉLIO).

A encarnação é uma aventura para o espírito porque é um empreendimento com riscos.

Os riscos que a encarnação traz são decorrentes do fato de que se ligar a um ego
simplesmente, não traz garantia de aprovação para o ser, não garante o recebimento do certificado
de aprovação. Para que isso ocorra é preciso que ele obre, ou seja, responda corretamente as
questões propostas.

A encarnação, então, é uma grande aventura para o espírito porque é um salto para o
desconhecido e é também um empreendimento carregado de riscos, de oportunidades para falhar.
Isto precisa ficar bem claro para que os espíritos atualmente encarnados no planeta Terra
obtenham sucesso nesta aventura. Eles precisam desempenhar determinados procedimentos
durante a encarnação, ou ligação com o ego, para que possam alcançar nesta aventura o fim que
esperam.

Para o espírito, portanto, a encarnação é uma aventura com riscos que podem torná-la não
útil a ele. É uma aventura porque não existe a certeza de lograr sempre êxito, ou seja, sempre
resultar em elevação espiritual.

Desta forma, começamos este trabalho falando da encarnação como a grande aventura do
espírito e agora explicamos porque a consideramos com tal. Além disso, explicamos o que é
encarnação.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 11

Agora que acabamos de definir que esta aventura é um empreendimento com riscos para o
espírito, vamos começar a entender estes riscos.

 Os riscos

Quais são os riscos que o espírito corre durante a sua encarnação?


O Espírito da Verdade, ao abordar o resultado obtido durante o processo da encarnação,
respondeu a Kardec afirmando que os seres universais não retroagem nunca durante uma
encarnação. Portanto, este risco não acontece na aventura espiritual.
O espírito ao se desligar do ego estará sempre no mesmo nível de consciência espiritual que
tinha antes da encarnação. Este é o primeiro detalhe sobre os riscos da aventura do espírito.

Portanto, o risco que estamos afirmando existir durante a encarnação não é o de retroagir.
Qual será ele, então? O de estagnar.

O espírito pode voltar à sua consciência espiritual sem evoluir um milímetro sequer, sem
comprovar a si mesmo nenhum dos ensinamentos estudados com seus mestres durante o período
em que estava desencarnado. Pode retornar a sua realidade, ao seu eu espiritual, sem conseguir
nenhum avanço no conhecimento espiritual que é necessário para se aproximar de Deus.

Este é um risco que o espírito corre durante a aventura. A possibilidade deste acontecimento
traz uma grande responsabilidade para o espírito que se propõe a viver a aventura da encarnação:
a de perder a oportunidade de elevação.

Perder a oportunidade de elevação é a grande falência da aventura espiritual do ser durante


a encarnação. O grande perigo que corre o ser quando encarnado é o da falência dos objetivos da
encarnação, ou seja, o não aproveitamento da oportunidade de elevação espiritual.

Quando o ser falha na sua comprovação de aprendizado este fato é trágico para ele. O
trágico a que me refiro não está no sentir-se melhor ou pior do que outro, mas porque a ambição
espiritual do ser é sempre evoluir-se. É trágico, é frustrante para o espírito deixar de aproveitar uma
oportunidade para aproximar-se de Deus assim como é para um ser humano que se prepara para
um vestibular estudando dia e noite ver malogradas as suas intenções de evolução.

Não aproveitar a oportunidade da encarnação: este é um grande risco ao qual o ser se


expõe. Mas, não fique desde já temeroso com o resultado da sua encarnação, pois o risco de
estagnar ao qual o ser se expõe é previamente calculado nos seus mínimos detalhes.

Cada componente da consciência transitória à qual o ser se liga durante a encarnação é


milimetricamente avaliada pelo espírito, por seus mestres e por Deus antes da encarnação para que
o prejuízo ao ser seja o menor possível se ele falir, se não conseguir aproveitar a sua oportunidade
de elevação.

Além da estagnação, há ainda outro risco que está presente na encarnação: a possibilidade
do espírito evoluir menos que o esperado por ele.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 12

Quando um ser entra numa encarnação, se programa para alcançar um determinado limite,
para evoluir até determinado ponto. Este ponto chamamos de perfeição.

Sei que para vocês humanos perfeição é o ponto onde não há mais erros, mas para o espírito
isso não é real. Para nós, a perfeição consiste em atingir os objetivos predeterminados. Sempre que
um espírito consegue obter os resultados que previu para um encarnação, para ele, alcançou a
perfeição.
Por isso, o não alcançar o limite previsto também é um risco que ele assume ao encarnar,
já que isso leva a uma frustração que pode influenciar o espírito no retorno à pátria espiritual. Se o
espírito encarna e não alcança o que imaginava possível alcançar, sente que perdeu uma
oportunidade, que para ele é importante. Essa é a frustração que o espírito vive quando não
consegue alcançar o limite proposto por ele mesmo a si e por isso é também um dos riscos que corre
ao encarnar.
Estes são, portanto, os riscos da aventura do ser durante a sua existência: o de não evoluir
nada, estagnar, e o risco de evoluir menos do que esperado por ele mesmo. São riscos porque estes
acontecimentos geram no ser, depois de libertado do ego, a frustração de não ter aproveitado uma
encarnação.

Participante: mas, não é estranha esta coisa de viver eternamente passando por
provas? Isto não tem um fim? Compreender isso me assusta...

Você já me conhece e sabe que quando respondo, não estou brigando nem querendo ser
sarcástico. Por isso vou lhe responder francamente.

Se o fato de viver eternamente se testando para verificar conhecimentos lhe assusta, acho
melhor você dar já um tiro na sua cabeça e acabar com isso, pois a vida carnal também é assim.
Desde o momento que você nasce até o que morre carnalmente, existe um processo constante de
provações para evolução.
O ser humano não descansa nunca. Mesmo na mais alta idade ele está sempre no processo
de evolução, aprendendo novas coisas, promovendo novos conhecimentos, para alcançar a
evolução material. O que estou falando é a mesma coisa. Só que na vida humana este processo
dura setenta ou oitenta anos, mas na do espírito no universo, eternamente.
Participante: o senhor falou em me matar, mas não faço isso porque sei que de
nada adiantaria. O que quero é mudar minha consciência.

Isso: de nada adianta.

O que falei não foi esperando que você praticasse este ato, mas utilizei este exemplo apenas
para que compreendesse que este processo não é novidade. Como você mesmo pode constatar, se
a vida humana for levada a sério (fundamentada na busca da elevação material) ela também será
até o seu término um constante aprendizado e a respectiva provação do que se aprendeu.

Aliás, esta é uma queixa de vocês. O ser humanizado queixa-se constantemente que a vida
cobra a busca constante de evolução e que esta competitividade cansa. Mas, este processo é
Universal. Só que no Universo você não compete com ninguém, mas consigo mesmo.

A partir disso, compreenda que de nada adianta sair desta vida e ir para a outra, que será a
mesma coisa. Mas, também não pense que adianta fugir de lá e vir para cá, pois tudo que é Real é
Universal: existe em todos os lugares.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 13

Participante: a imaginação pode nos ajudar nesse processo?

Não, atrapalha.

Imaginar sobre a vida humana reflete a presunção de querer saber alguma coisa sobre a
vida, por isso atrapalha. Agora imaginar a Realidade, ou seja, que você não é um ser humano, mas
um espírito encarnado, isso é outra coisa. Isso pode lhe ajudar, mas a primeira hipótese atrapalha
na grande aventura do espírito.

 Ovoides

Participante: e o que falam sobre o espírito que retrocede para o estado de


ovóide. Neste caso, ele não retrocedeu?

Não, porque não acabou a encarnação.

O espírito ao qual vocês conferem essas formas ainda está ligado a uma consciência de
provas e não à sua consciência espiritual. Ele ainda não voltou a sua consciência original, espiritual,
e por isso não acabou a sua encarnação.

Veja como defini neste trabalho a encarnação e o retrocesso. Para julgarmos que houve um
retrocesso seria necessário que primeiro o espírito retornasse à sua consciência espiritual. Só se ela
fosse inferior (mais individualizada) do que era antes da encarnação poderíamos afirmar que houve
uma retroação.

Estes espíritos que você está falando ainda estão presos a egos, como fantasmas. Então,
ainda estão encarnados, mesmo que não haja mais corpo físico. Por isso não pode ser decretado
que houve um retrocesso.

Um dia eles voltarão à sua consciência e somente neste dia poderá haver a avaliação
daquela encarnação. No entanto, quando isso acontecer, certamente estarão no mesmo nível de
conhecimento espiritual que estavam antes da encarnação, pois, como dissemos, não existe
retrocesso.
Participante: não entendi a questão do fim da encarnação...

Vamos falar mais sobre isso. Para tanto, me diga, quem é você?

Participante: a Maria...

Você acha que é a Maria, mas esta identidade é, na verdade, um conjunto de crenças e
verdades (consciência) a qual você, o espírito, está ligado. A Maria não é você; o que ela acredita
não representa o que você, o espírito sem nome, sabe.

A Maria é a encarnação. Enquanto você imaginar-se como ela estará encarnada, mesmo
que já tenha se libertado da matéria carnal. Agora, quando não mais se considerar Maria, terá de
volta todos os valores que estão na sua consciência espiritual e que hoje não estão acessíveis
através do consciente. Neste momento a sua encarnação acabou, estando você presa ou não à
carne.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 14

Com isso, a Maria morre e o espírito, que está adormecido, renasce.


Participante: é isso que acontece com estes espíritos na forma de ovóides?

Eles ainda se consideram Marias...


Participante: porque essa forma de ovóides?

A forma é uma conseqüência dos sentimentos: eles se acham maus e por isso tomam formas
que possam assustar os outros. Mas, má é a personalidade à qual eles estão ligados a tal ponto que
imaginam ser eles próprios.
Participante: existe um critério para que estes espíritos tenham a oportunidade
de reencarnar novamente ou eles continuarão sempre como a identidade que se
imaginam?

Para reencarnar eles precisam, antes de tudo, sair da identidade atual, matar esta
identidade.
Participante: mesmo enquanto ovóides?

Mesmo enquanto ovóides.

O problema não é a forma, mas sim consciência. A identidade está na consciência e não na
forma do corpo.

Aliás, se formos aplicar aquilo que já aprendemos, não podem existir espíritos ovóides, já
que o ser é apenas um brilho que, portanto, não possui forma, cor, raça, sexo, etc. A forma que você
está percebendo não é do espírito, mas é como o seu ego humanizado constrói a imagem destes
espíritos.

Saiba que eles mesmos, na Realidade, não são assim.


Participante: podemos dizer que isso é uma programação nossa para vê-los
dessa forma?

Na verdade é uma figura que o seu ego humanizado se programou para exibir ao seu
consciente quando se deparar com espíritos que possuam determinada carga energética.

 Riscos calculados

Portanto, as encarnações possuem riscos: estagnar ou evoluir menos do que era pretendido.
No entanto, como já afirmei neste estudo, estes riscos são friamente calculados.
Por que isso é assim? Porque a provação que o espírito faz, é escolhida por ele mesmo. Ou
seja, o ego que irá servir como gerador das provas para o espírito quando humanizado é montado,
organizado, pelo próprio espírito, antes da encarnação. Vamos explicar isso.
No início de nossa conversa disse que o espírito quando no universo de posse de sua
consciência própria realiza estudos. Estes estudos, diferente do que ocorre no mundo humano, não
Encarnação – a grande aventura do espírito página 15

cumprem um curriculum específico: o ser estuda o assunto que quiser. É ele que determina o que
quer aprender ao invés de ser obrigado a estudar o que lhe é determinado.

Mais: além de não precisar estudar obrigatoriamente nenhuma assunto, é o espírito que
escolhe o que ele vai provar a cada encarnação. Ou seja, o ser tem a liberdade de escolher dentre
aquelas matérias que estudou as que quer realizar a provação ou não.

Vamos dizer que na vida espiritual um ser tenha estudado uma determinada matéria. Apesar
disso, na hora de montar a encarnação, não se considera seguro com relação ao aprendizado dela.
Ela certamente não fará parte do seu ego e, por isso, não será trabalhada nesta provação.

É por isso que o Espírito da Verdade ensina: “ele próprio escolhe o gênero de provas porque
há de passar e nisso se consiste o seu livre arbítrio” (O Livro dos Espíritos – pergunta 258).

E, ensina mais.
“Nada ocorre sem a permissão de Deus, porquanto foi Deus quem estabeleceu
todas as leis que regem o Universo. Ide agora perguntar por que decretou Ele
esta lei e não aquela. Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa
a inteira responsabilidade de seus atos e das conseqüências que estes tiverem.
Nada lhe estorva o futuro; abertos se lhe acham, assim, o caminho do bem, como
o do mal. Se vier a sucumbir, restar-lhe-á a consolação de que nem tudo se lhe
acabou e que a bondade divina lhe concede a liberdade de recomeçar o que foi
mal feito. Demais, cumpre que se distinga o que é obra da vontade de Deus do
que é da do homem. Se um perigo vos ameaça, não foste vós quem o criou e sim
Deus. Vosso, porém, foi o desejo de a ele vos expordes, por haver visto nisso um
meio de progredirdes e Deus o permitiu” (pergunta 258a)

Portanto, o risco ao qual o ser se expõe quando se humaniza (vive uma encarnação) é
calculado por ele mesmo. É o espírito que organiza a sua provação nos mínimos detalhes para que
a sua aventura não tenha um fim trágico.

Desta forma, podemos dizer que encarnação, se comparada às aventuras humanas, é para
o espírito como o homem que sai para o desconhecido (atravessar uma mata, subir uma montanha
ou, como nos tempos antigos, singrar os mares desconhecidos), mas que se prepara com tudo que
é necessário para o bom sucesso na realização da sua empreitada.

Por isso afirmo: o risco ao qual o ser universal se expõe durante uma encarnação é friamente
calculado. Só que há um detalhe: a maioria dos espíritos é autoconfiante demais.

Para eles, fugir ou abrir mão de uma prova é algo improvável, uma coisa que não passa por
sua idéia. O ser universal, aquele que está de posse de sua consciência espiritual, é louco para viver
esta aventura, possui verdadeiro fascínio pela idéia de realizar esta aventura. Isto porque, como já
disse, a sua determinação é evoluir sempre.

Por causa desta determinação o espírito se apega à oportunidade de vivenciar a aventura


da encarnação com unhas e dentes e quer, a cada uma, proporcionar a si mesmo a oportunidade
de dar um salto grande adiante. Mas, como sabemos, quando o salto é maior do que a perna, o fim
é o tombo.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 16

Por isso Deus, que como nós vimos não impõe nenhuma prova, não deixa isto acontecer.
Através dos mentores (guias espirituais do ser) o Pai sempre orienta o espírito para que ele possa
programar para si apenas os objetivos que sejam realizáveis.
Isso quer dizer que o Professor Supremo orienta para que o espírito retire da provação
determinadas matérias. Muitas vezes Ele próprio as retira, mesmo que o estudante se ache capaz
de responder às questões sobre elas.
Deus age desta forma porque tem a consciência de que o aluno não vai saber responder a
questões sobre aquela matéria. Sabe que o ser está apenas iludido com o seu conhecimento e,
dessa forma, expondo-se a riscos desnecessários.
Deus não impõe nada, nem deixa o espírito se expor a riscos desnecessários porque sabe
que o ser tem toda a eternidade para evoluir. Sendo assim, ele não precisa se expor a falir na sua
provação de agora.
Tal procedimento do Pai aliado ao livre arbítrio do ser de escolher a matéria que fará a
provação, diminui sensivelmente o risco de haver uma estagnação ou de não se alcançar
plenamente os objetivos previamente estabelecidos para uma encarnação. Não garante a realização
de tudo que foi pretendido, mas facilita alcançar os objetivos traçados.

Portanto, a encarnação é uma aventura, ou seja, é uma empresa com riscos, mas é uma
aventura totalmente guiada por guias experientes que montam a programação da expedição junto
com aquele que a vivenciará, de tal forma que o afã de quer aventurar-se além daquilo que lhe pode
ser útil (não vou usar a palavra bom) não provoque a falência da missão.

Participante: mesmo sabendo que tudo é carma, fica difícil não pedir a Deus que
afaste de mim este cálice.

Nós chegaremos lá: ainda vamos falar disso.

No entanto, saiba que você hoje, mesmo pensando que é carma, não pode pedir diferente.
Isto porque não sabe ainda o que é carma e nem se conscientizou da grande aventura que está
vivendo nesse momento, já que ainda está preso às verdades do ego.

Participante: este planejamento prévio é para espíritos evoluídos, não? Quanto


menos evoluídos que somos não conseguimos avaliar corretamente o que
devemos fazer, não é mesmo?

Não, o que foi comentado aqui é Universal, ou seja, é para todos.


A criança da escola primária espiritual planeja o que ele quer provar durante as suas
encarnações, assim como o estudante do universitário da mesma escola. Todos os espíritos
planejam suas provas independentemente de seu grau de evolução: não há aí diferenciação.
Quanto ao não saber, todo espírito sabe dos objetivos de sua evolução existência espiritual:
evoluir sempre para aproximar-se de Deus e gozar da Sua glória. O conhecimento pode ser
diferenciado, mas todo ser universal conhece o objetivo de sua existência. E, este grau de
conhecimento é respeitado por Deus e pelos Mestres. Por isso, eles não exigem de um iniciante o
mesmo que exigiriam de um veterano.

Vamos fazer uma comparação com os conhecimentos dos terrestres durante a sua evolução
para podermos entender melhor esta questão. Se uma criança do primário pudesse escolher suas
Encarnação – a grande aventura do espírito página 17

provas iria pedir para ligar pontinho, fazer desenhos e colori-los. Isso é o que ele sabe, o que pode
pedir e realizar.

Para estes espíritos não será pedido nunca para que eles façam provações que incluam
fazer contas ou escrever palavras. Nunca. Mesmo que escrever palavras e fazer contas seja um
conhecimento importante e que o estudante precise ter. Isto porque ele não está pronto para isso e
o seu limite é respeitado.
Sendo assim, na Realidade cada um pede no seu nível e Deus não altera sequer um
milímetro, mesmo sabendo que esta provação é do curso primário, ou seja, baseada em
conhecimentos rudimentares.
Participante: Jesus veio a Terra porque queria passar por isso ou a sua
programação foi diferente?

Jesus veio a Terra em missão. Nós vamos falar disso depois. Mas, por agora,
compreendamos que a aventura que você está vivendo começa a lhe ficar mais clara.

Participante: Existe um carma coletivo? Por exemplo, além do que planejei, eu


nasci no Brasil onde uma série de experiências típicas deste povo/raça me
facilitariam para a elevação?

Sim, existe e nós vamos falar disso...

Mas, por enquanto, sabia que mais do que o carma de nascer no Brasil, existe o carma do
planeta Terra. Você nasceu aqui neste planeta porque isso facilita a elevação de você, o espírito. Se
assim não fosse, nasceria em outro lugar.

 A segurança para executar a missão

Agora o conhecimento sobre a grande aventura do espírito começa a ficar mais claro.
Encarnar é ligar-se a uma consciência transitória ou ego com o objetivo de realizar provas ou cumprir
missões que são previamente escolhidas pelo próprio espírito. Essas provas e missões trazem
consigo o risco não da falência, mas da estagnação e ainda o de não se alcançar àquilo que se
esperava. Estes riscos, no entanto, são calculados, medidos por Deus e pelos próprios espíritos, o
que dá ao espírito mais confiança para vivenciá-la.

Portanto, não é uma aventura tão inconsequente assim. É uma aventura muito bem
planejada, onde nada fica ao acaso, onde todos os equipamentos necessários para que o espírito
chegue ao bom sucesso estão presentes.

A aventura máxima do espírito pode ser comparada a um salto no escuro, no desconhecido,


mas este salto é extremamente seguro porque é totalmente planejado, tem seus riscos calculados,
como já vimos. Mas, esta segurança vai além do planejamento. Vamos entender isso.

Além do planejamento para a encarnação haver sido criteriosamente feito, o espírito durante
a encarnação, ou ligado ao ego, possui guias que cuidam do caminho que será percorrido. São
Encarnação – a grande aventura do espírito página 18

aqueles seres que a humanidade chama de mentores, anjo da guarda, ou qualquer nome que
queiram dar. São os seres que ajudam os espíritos a realizar as suas provações.

Por isso afirmo que a aventura do espírito é como uma expedição de crianças em um parque
de diversões: ele está caminhando através de trilhas aparentemente isoladas crente que está
andando sozinho, mas, nas sombras, existem guias e mentores que estão agindo cuidando de sua
segurança no caminho para que a aventura tenha bom sucesso.
Portanto, a encarnação, que nós começamos definindo como uma expedição de risco, é sim
uma aventura, mas, ao mesmo tempo, é totalmente controlada, pois sempre aparecerá à frente do
ser encarnado uma placa indicando que caminho deve tomar. Além disso, ela é totalmente
acompanhada com atenção por guias ou mentores que estão sempre prontos para o socorro
imediato àquele que se machucar no caminho, providenciando que o espírito permaneça sempre
apto a continuar a sua jornada.
Não confunda, porém, minhas palavras. Os guias agem para que a aventura do ser chegue
a bom termo espiritualmente falando e não materialmente. Por isso, não pense que estou dizendo
que eles estão aqui para guiá-lo ao sucesso material, para obter o que quer agora guiado pelo ego.
Eles não servem à identidade provisória que hoje você imagina ser, mas à sua Realidade: a
espiritual.

Com tudo o que vimos até aqui, podemos começar a ter alguma noção do que é essa vida
que vocês que estão encarnados hoje vivem. Podemos começar a compreender o papel das
religiões, dos protetores, santos, anjos ou mentores. Enfim, podemos compreender a essência da
vida e o que acontece nos seus bastidores. Mas, isso veremos com mais detalhes ao longo de
nossas conversas.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 19

O caracterizador da aventura

 Realidade

No capítulo anterior definimos que a encarnação ocorre quando um ser universal está ligado
a uma consciência diferente da sua (ligado a um ego) e que ela só termina quando do retorno à sua
consciência original e não pelos acontecimentos nascimento e morte como até então vocês
compreendiam. Acontece que, quando o espírito se liga a um ego cria para si uma nova identidade,
que será um personagem que este ser vivenciará durante a sua aventura. Vamos entender isso.

O que é se ligar ao novo ego, a uma nova consciência? Vamos começar por aqui a nossa
conversa.
CONSCIÊNCIA – Atributo pelo qual o homem pode conhecer ou julgar sua
própria realidade. Faculdade de estabelecer julgamentos morais dos atos
realizados. (Mini Dicionário Aurélio).

O espírito possui uma consciência espiritual, ou seja, possui um atributo que lhe faz conhecer
uma determinada realidade. A realidade conhecida pelo espírito quando de posse de sua consciência
espiritual chamamos de Realidade espiritual.

Quando o espírito se liga à uma nova consciência, a sua anterior fica inacessível por aquilo
que vocês chamam de véu do esquecimento. Ou seja, a realidade espiritual lhe fica inacessível. No
entanto, surge para ele uma nova realidade que é construída a partir desta nova consciência.
Chamamos a realidade gerada pela consciência temporária a qual o ser está ligado de realidade
material.

Portanto, para o bom entendimento sobre o que vive o espírito quando ligado a uma ou outra
consciência, conhecer a palavrinha realidade é fundamental, pois ela nunca deixa de existir, quer
seja com uma ou outra consciência a qual o espírito esteja ligado. Vamos, então compreender o que
é realidade.
REALIDADE – Qualidade do real. Aquilo que existe efetivamente, o que é real.
(Mini Dicionário Aurélio).

Para o espírito existem algumas coisas no mundo espiritual, algumas coisas são reais, mas,
quando se liga ao ego, o que existe para ele se transforma, uma nova realidade é criada.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 20

É isso que estamos falando quando dizemos que encarnar é adotar uma nova consciência:
adotar uma nova realidade. Adotar novos conceitos, verdades, objetivos e padrões sobre qualquer
assunto: este é o verdadeiro significado da palavra encarnar.
Por isso digo que a aventura do espírito não é vir à carne, mas sim alterar a sua realidade.
O espírito encarnado é aquele que abandona a sua realidade espiritual e passa a viver uma realidade
gerada pelo ego que servirá como provação para a sua evolução.
Esta é a aventura que o espírito vive durante uma encarnação: alterar a sua consciência, ou
seja, a sua realidade Real para uma temporária, que servirá como geradora de provações para a
sua evolução espiritual. Isso é o que comumente é chamado de encarnação.

 Ser humano

Um espírito encarnado é aquele que vive com uma realidade temporária e transitória que foi
criada e montada por si mesmo com o auxílio dos mestres, mentores e de Deus, de quem tudo se
origina, para que elas sirvam de provação. Mas, essa forma de proceder gera um elemento novo no
Universo: um eu.

Estou falando de uma identidade temporária que é gerada para que o ser possa realizar suas
provações. É uma personalidade temporária que o espírito assume para poder viver a sua aventura.
A este eu chamamos de ser humano.

O ser humano, que o espírito imagina ser durante a encarnação, é uma criação ilusória, pois
faz parte de uma realidade temporária adotada por um espírito para executar suas provações. Por
isso anteriormente respondi que enquanto alguém se entender como Maria estará preso à
encarnação, pois Maria é um personagem temporário que o espírito vivencia como sendo ele porque
está ligado a um determinado ego.

Se o ego fosse outro, poderia se chamar Joaquim, Manoel, ou qualquer outro nome. Mas,
esta auto visão do espírito sobre si quando de posse da sua consciência espiritual, acaba, pois ele
volta a sua realidade onde não possui nomes, sexo, ou qualquer outra realidade criada pelo ego.
Portanto o ser humano não é o espírito encarnado, mas uma identidade que contém todos
os elementos que o ser precisa para viver as suas provações durante a sua grande aventura.

 A provação do espírito

Acredito que a aventura do espírito está ficando mais clara cada vez que nos aprofundamos
mais na definição dos termos que a envolve. Para nos aprofundarmos ainda mais vamos voltar a
falar da provação.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 21

Como disse, a encarnação é caracterizada pela alteração de consciência com o objetivo de


criar provações. Sendo assim, pergunto: o que é a provação que o ser passa durante a vivência dos
acontecimentos criados dentro da nova realidade? Vamos entender isso.
A Realidade universal é universalista. O que quer dizer isso? O universo é como um quebra
cabeças gigantesco formado por milhares de peças que se fundem perfeitamente formando uma
individualidade: o desenho do quebra cabeça como um todo.
Isso quer dizer que cada peça tem um desenho próprio, o seu conteúdo próprio, mas apenas
o desenho totalmente formado é Real. O desenho de cada peça separadamente de nada tem
importância. Por isso dizemos que acreditar que ele é importante é ilusão.
Se só o desenho final é Real, cada peça precisa se unir perfeitamente a outras com a
intenção de gerar o desenho maior. Esta é a existência do espírito dentro Realidade do universo:
uma convivência em perfeita consonância com seus irmãos.
Isso é o que todos os espíritos precisam alcançar durante o seu processo de evolução: a
convivência harmônica com os demais seres. A esta forma de conviver com os irmãos chamamos
de universalismo.

A forma contrária de viver chamamos de individualismo. Ela acontece quando a peça que
forma o quebra cabeça acha que é importante por si mesma do que o todo. Ela não se vê como um
componente do quebra cabeça, mas imagina que já é tudo o que pode existir.

Individualista é aquele ser do Universo que imagina que aquilo que ele quer, gosta ou acha
certo é mais importante do que a plena fusão com o que os outros acham.

A partir destes dois conhecimentos podemos, então, afirmar que o processo de evolução
espiritual é caracterizado pelo abandono do individualismo para alcançar o universalismo. E a
provação está vinculada exatamente a isso, consiste exatamente nisso.

O espírito durante a sua aventura encarnatória, ou seja, a fusão a um ego, a uma nova
consciência, a uma nova realidade, será testado para provar o universalismo que aprendeu de pose
da sua consciência espiritual. Precisará provar a si mesmo que está de mão dada com todos para o
bem universal. Para isso ele precisa abandonar os seus pontos de vista individuais,
Para realizar este trabalho ele precisará abandonar os sentimentos fundamentados no
individualismo e alcançar o amor universal, incondicional. Por isso Cristo ensina: o caminho para se
chegar a Deus é amar ao Pai sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Esta é a síntese
do universalismo que o ser precisa vivenciar que cria a fusão prefeita entre ele e a sua comunidade
espiritual.

Mas, como ocorre esta provação? Nos acontecimentos vivenciados pelo eu transitório ao
qual o espírito está ligado. Sempre que um ato acontecer na existência desta identidade, a
consciência criará valores fundamentados no individualismo (baseados nas crenças individuais)
existente no ego proporcionando, assim, ao espírito uma oportunidade para provar a si mesmo que
atingiu um grau de universalismo que não lhe deixa crer naquilo.

Portanto, o eu é o personagem com o qual o espírito cria a aventura e os acontecimentos de


sua existência são o próprio aventurar-se: o caminhar para atingir o objetivo.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 22

 A provação em seus diversos graus

Já falamos da provação do ser, mas, vamos mais adiante em nossas análises para se
compreender melhor alguns elementos presentes nos egos humanos que até hoje ainda não foram
compreendidos.

Os graus de evolução espiritual são baseados no universalismo e, por conseguinte, no


individualismo. O espírito que vocês consideram menos evoluídos são os mais individualistas; os
que são considerados como evoluídos, os mais universalistas.

Esta verdade, como disse no início desta obra, vale para toda eternidade e para todos os
seres. O que podemos chamar de individualismo zero, é Deus. Todos os outros espíritos, por menor
grau que seja, possuem individualismo. Por isso todos os seres estão sempre estudando para
aprenderem a se libertar desta sua característica e, posteriormente, ligando-se a egos para
comprovarem o que aprenderam.

Então, o ego ou uma consciência transitória a qual o espírito se une para provação, não é
apenas aquilo a que se ligam os seres que atualmente encarnam no planeta Terra. Ele existe em
outros planetas e em outras dimensões no cosmo.

Nestes lugares, tanto como aqui, no entanto, o ego não pode ser confundido com a
consciência Real (espiritual) do espírito. As duas coisas são diferentes. Mas, diferenciados em que
sentido? Na capacidade de ser universalista, de abandonar a vaidade individualista e fundir-se
totalmente ao Todo.

Todo ego é sempre menos universalista do que a consciência que o espírito tinha antes da
encarnação, ou melhor, é mais individualista. Isso é necessário para que a provação exista, ou seja,
é necessário que o apelo ao individualismo aconteça (crie-se realidades fundamentadas no querer
para si, no valorizar-se) para que assim o ser tenha condições de provar o seu universalismo.

Portanto, a maior aventura do espírito, seja em que nível for, caracteriza-se pela fusão com
um ego, um conjunto de verdades transitórias fundamentadas no individualismo, que o espírito
assume para provar o seu universalismo. Faz isso não se submetendo ao apelo individualista que
essas verdades criam e distinguem como real.

 A encarnação fora da carne

Esta é a grande aventura espiritual. O espírito, possuidor de uma consciência universalista,


aventura-se por terrenos individualistas com o objetivo de provar a si mesmo o seu aprendizado
universalista não aceitando o individualismo proposto pelo ego.

Ficou claro agora o que é uma encarnação? Isso é uma encarnação. Encarnar nada tem a
ver com carne, com o planeta Terra ou com vida material. Encarnar é um processo que podemos
chamar de mental já que se trata de uma conscientização de realidades.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 23

Por isto afirmamos no capítulo anterior que o espírito enquanto ainda aprisionado a verdades
criadas por ele mesmo e adicionadas ao ego, que são mais individualistas do que a sua própria
consciência espiritual, está encarnado, mesmo que para o mundo humano ele esteja morto.
Este ser está vivendo uma etapa de sua provação, pois ainda está ligado à realidade gerada
pela personalidade transitória. Isso pode acontecer durante aquilo que vocês chamam de vida carnal
ou até no que é conhecido como vida espiritual.
Por exemplo. Os espíritos que vocês dizem que estão no umbral, são seres presos a uma
encarnação. Eles ainda vivem aprisionados às identidades transitórias que viveram quando junto à
carne e, por isso, acreditam nas realidades criadas por ela.
Mas, não é só os habitantes deste lugar que ainda estão encarnados. Muitos espíritos que
vocês imaginam que são superiores e que os espíritas dizem que moram nas colônias espirituais,
ainda estão presos a uma encarnação. Isso porque estão presos ao último ego, possuem uma
identidade fundamentada no eu, ou seja, a última provação que fizeram. Estes ainda não retornaram
ao seu estado natural dentro do seu grau de evolução.

Participante: demora muito para um espírito se desligar da sua vida carnal?

O desligar faz parte da encarnação. Têm espíritos ligados ao corpo há cinquenta cem anos,
assim como existem espíritos ligados ao ego há cinco mil ou mais anos.

Participante: estou assustada, demora muito mesmo, não? E o senhor, demorou


muito...

Não se assuste...

Frente a eternidade que você vai existir este tempo é apenas um piscar de olhos. A sensação
de muito tempo existe apenas para os seres encarnados. Para o espírito não existe tempo, ou se
existisse não seria dentro da compreensão que vocês têm sobre a sua extensão.

Saiba que nada existe por si, mas que o valor que cada elemento possui é dado pela
comparação com que você faz dele com outros. Por exemplo: um dia para vocês é o fruto da
comparação daquele passar de tempo com uma semana, um ano, uma década ou um século. Isso
torna o período que falei muito longo. Mas, para o espírito a comparação é sempre com a eternidade.
Por isso duzentos mil anos são muito pouco tempo.

 A encarnação dentro da encarnação

Participante: O senhor falou em espíritos nas colônias ainda vivendo


encarnações. Isso me deixou confuso...

Vou tirar a sua dúvida e aproveito para falar um pouco mais a fundo na compreensão sobre
uma encarnação.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 24

Como é que se reconhece um espírito ligado a um ego, ou seja, ainda vivendo uma aventura
encarnatória? Simples, muito fácil: o espírito individualista, a peça do quebra cabeça que ainda acha
que seu desenho sozinho vale alguma coisa.
O que, em última análise demonstra o individualismo? A existência do eu.

Assim sendo, enquanto um espírito tiver um eu e vivenciar como real as interpretações desse
eu (eu sou, eu gosto, eu quero, eu pertenço) ele estará vivendo uma etapa de provação e ainda não
terá alcançado o seu retorno à consciência espiritual. Quando um espírito retorna à consciência
espiritual o eu é sempre trocado pelo nós e o individualismo pelo universalismo.

Como eu disse, o espírito encarnado é como uma peça que se valoriza dentro de um quebra
cabeça. Já o espírito na sua consciência espiritual anula o valor da sua peça e só pensa no quebra
cabeça como um todo.

Então, a grande aventura do espírito (uma encarnação), é caracterizada pela existência da


compreensão de ser um eu. Enquanto houver esta compreensão, o espírito, não importa que grau
esteja, estará vivendo uma provação.

Isso quer dizer que aqueles que estão nas cidades espirituais, mas que ainda se reconhecem
por algum eu, ainda estão encarnados. E isso nos leva ao último assunto que eu preciso falar neste
momento: um espírito pode viver uma encarnação dentro de uma outra encarnação.

Ou seja, um ser universal pode estar ligado a um eu que é formado por um ego e, ao mesmo
tempo, criar uma outra encarnação (outro ego) e ligar-se a um corpo carnal vivendo a realidade
criada por esta segunda consciência.

Participante: Pode explicar melhor...

Antes de mais nada me deixe dizer que não estou falando mal desses espíritos. Muitos deles
são considerados por vocês como de luz e são mesmos. Ou seja, eles são mais universalizados que
os que estão ligados à matéria densa, mas isso não quer dizer que já recuperaram a sua consciência
espiritual.

Um espírito que, habitando aquilo que vocês chamam de mundo espiritual superior, ainda
tenha a consciência de que ele é o José, ou qualquer outro nome, ainda está encarnado. Mesmo
não estando ligado a carne e vivendo naquilo que é conhecido como mundo espiritual, ele está ligado
a uma encarnação, onde assumiu a personalidade de José. Mesmo não ligado a carne ele está numa
encarnação porque ainda existe um eu.
Este espírito, vivendo a encarnação José no mundo espiritual, pode preparar uma nova
identidade para vivenciar no mundo material, assumi-la e depois voltar a ser o José. Ele sairá do
mundo espiritual e virá para o mundo material – estes dois planos na Realidade não existem como
lugares distintos; estou usando estes termos para facilitar a compreensão de vocês – onde vivenciará
uma nova identidade, mas ainda estará numa encarnação onde ele era o tal do espírito José.

No entanto, um dia o José também acabará, ou seja, a ação da individualidade crendo-se


isolada do todo terá que um dia acabar para que o espírito possa completamente interpenetrar no
universo. Só nesse momento pode-se afirmar que ele está novamente de posse da sua identidade
espiritual, da sua consciência espiritual.
Veja o exemplo de André Luís. Ele desencarnou e deixou de ser o humano que imaginava
ser. Só que quando retornou ao mundo espiritual assumiu uma nova personalidade: a de André Luís.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 25

Nela ele viveu na cidade que vocês chamam de Nosso Lar e executou brilhantes trabalhos de auxílio
aos encarnados.

Esta identidade, André Luís, é uma encarnação. Digo isso porque essa era uma identidade
que ainda se via isolada do todo, ainda imaginava-se uma personalidade distinta das outras. Aquele
espírito, portanto, ao vive-la, estava ligado à uma encarnação, mesmo que aquela personalidade
jamais tenha existido no planeta terra como um ser humano.
No entanto, um dia, ele foi instigado a buscar além da própria realidade, ou seja, daquela
cidade onde vivia. Este ser conseguiu, então, compreender a fusão com o universo e desligou-se
daquela realidade temporária.
Hoje ele está no Universo, mas aceita voltar constantemente ao Nosso Lar para auxiliar
aqueles que ainda estão presos a este cantinho do universo como a Realidade, como o Todo que
pode existir.
Com este conhecimento, amplio, então, a resposta sobre os ovóides. Os espíritos que são
vistos com esta forma, vivenciados com esta realidade, podem até não estar mais na personalidade
que tiveram durante a vida material, mas estão com uma outra personalidade. Isso quer dizer que
estão encarnados.

Participante: complicado...

Eu acredito até que seja, mas somente para aqueles que ainda estão presos à idéia de uma
encarnação como um matéria, como vida carnal. Mas, universalmente falando, encarnação não é
prisão à matéria ou à vida carnal, mas é caracterizada com a ligação com uma consciência
fundamentada no individualismo, ou seja, com a existência de um eu. E isso acontece dentro e fora
da carne, neste mundo ou no outro.

Era isso o que nós tínhamos para dizer hoje para começar esse estudo. Amanhã vamos
continuar e chegaremos à vida carnal propriamente dita.
Fiquem com Deus...
Encarnação – a grande aventura do espírito página 26

2. A realidade humana

 Resumo do que já foi visto

Hoje vamos voltar a falar da grande aventura do espírito.

Na conversa anterior afirmei que o espírito pode fazer muitas coisas que vocês chamam de
sobrenaturais, mas para ele a coisa mais importante, a maior aventura, é a encarnação. Depois
disso, começamos a falar da encarnação e a definimos como uma mudança de consciência. Como
vimos, encarnação nada tem a ver com estar na carne, mas trata-se de uma condição onde o espírito
abandona a sua consciência espiritual e se liga a uma transitória, que chamamos de ego, e vivencia
realidades criadas a partir das verdades desta consciência.

Dissemos, também, que a encarnação é uma aventura com riscos. Afirmamos que estes
riscos são calculados e não acontecem por acaso ou por sorte ou azar. Comentamos que que tratam-
se de riscos medidos, calculados pelo próprio espírito e pelos seus mentores, que analisam e
estudam todas as possibilidades buscando fazer com que o espírito não entre em uma aventura sem
ter todos os aparelhos de segurança sem ter a oportunidade de chegar ao término dessa aventura.

Foi aqui que paramos no final da última conversa. Hoje vamos continuar a conversa, mas se
houver alguma dúvida antes, podem fazer perguntas.
Participante: dá para entender a encarnação como se fosse apresentação de
uma peça de teatro, onde o script, o roteiro está todo programado?

Sim, essa peça inclusive tem um nome: a divina comédia humana.

Participante: temos apenas que seguir o programado. É isso?

Sim, obrigatoriamente seguirá o que está programado. Agora, durante esta vivência, você
pode valorizar de diferente formas o que foi programado e está sendo vivenciado naquele momento.

Há um exemplo que eu tenho citado muito que facilita a compreensão sobre este tema: uma
pessoa que anda na rua e vem alguém e retira o dinheiro do bolso dele. Para a grande maioria dos
seres humanizados, isso tem o valor de um assalto. No entanto, se esse ser humano tem
conhecimento sobre a lei do carma, com certeza dirá que tal acontecimento é um carma. Com isso
o valor com que foi vivenciado aquele acontecimento mudou. Agora não é mais um assalto, mas um
carma.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 27

Se essa pessoa, no entanto, houver alcançado uma compreensão maior sobre as questões
da encarnação (compreender que ela deve ser vivenciada em uma relação amorosa entre você e
Deus), com certeza dirá que é apenas o amor de Deus por ela em ação. Mais uma vez o valor com
que se vivencia o momento se altera dependendo do grau de compreensão sobre a encarnação:
primeiro um roubo, depois um carma e agora um ato de amor divino. A compreensão sobre o valor
do acontecimento muda de acordo com o grau de compreensão do ser humano, sem mudar o
acontecimento.

Portanto, se na peça da sua vida estiver escrito que alguém meterá a mão no seu bolso, isso
acontecerá, mas o valor com o qual viverá os acontecimentos depende do seu grau de elevação ou
o seu grau de universalização.
Participante: então, a única importância no viver é atuar com amor ou não?

Sim...
Só que quando você atua com amor, o amor universal, o amor incondicional, as coisas
mudam de valor para você. O assalto deixa de ser um assalto, um roubo, um ato de agressão e
passa a ser um ato de amor.

Portanto, o ato vai acontecer como pré-programado, mas você pode vivenciá-lo com valores
diferenciados.

Participante: não há espaço para improvisos?

Só se Deus pudesse ser pego de calça curta...

Você acha que Deus pode ser pego de calças curtas, desprevenido? Claro que não. Então,
não há espaço para improviso.

 Maya

Vamos, então, voltar ao nosso tema e começar a conversa de hoje.

Como disse, a encarnação é o ato do espírito se ligar a uma consciência diferente e ela cria
para ele uma realidade diferente do que é real. Vamos, neste trabalho, chamar essa realidade ilusória
como Krishna a chama: maya.

Sendo assim, posso afirmar que o espírito ligado a uma consciência ego, não vive a
realidade, mas sim ilusões, que chamaremos de maya.
Mas, como posso provar ao ser humanizado que ele não vive o que vive? Como falar que a
realidade é uma ilusão para você que olha, por exemplo, para uma parede e acredita e tem certeza
que ela é real? Como isso se processa? Como a parede é criada ilusoriamente? É sobre isso que
vamos falar no começo da conversa de hoje.

Toda a realidade vivenciada pelo espírito quando ligado ao ego é criada pelo processo
raciocínio. Esse processo cria as realidades que o ser humanizado vivencia e que são os elementos
Encarnação – a grande aventura do espírito página 28

da provação da encarnação. Mas, estas criações não surgem do nada: elas são geradas a partir de
algo que vocês chamam de percepções.

É a partir destes dois elementos (raciocínio e percepções) que vamos, então, começar a
conversar sobre a formação da realidade das coisas para o espírito encarnado...

 A criação da realidade

A realidade começa na percepção, ou seja: na audição, na visão, no olfato, no paladar e nas


sensibilidades que o corpo físico tem. Essas sensibilidades, tanto faz auditiva, visual, patativa ou do
corpo, são descargas elétricas.

Podemos chamá-las de energias elétricas, como são conhecidas pela ciência humana, mas
não deixam de ser fluido cósmico universal. Afirmo isso porque o Espírito da Verdade em O Livro
dos Espíritos nos diz que tudo que existe é formado pela combinação do fluído cósmico consigo
mesmo.

“A matéria é formada de um só ou de muitos elementos? De um só elemento


primitivo. Os corpos que considerais simples não são verdadeiros elementos, são
transformações da matéria primitiva” (O Livro dos Espíritos – pergunta 30).

Portanto, o ego recebe via corpo, a partir dos olhos, do ouvido, do nariz ou da boca ou das
sensibilidades do corpo, cargas elétricas ou eletromagnéticas. Depois que isso acontece, o ego (ou
mente humana) vai raciocinar o conjunto de cargas elétricas recebido.

Este raciocínio que é exercido pelo ego pode ser dividido em duas etapas. A primeira é a
criação da realidade ou do cenário onde a vida se desenrola.

No ego existem códigos que criam realidades (cenas) através de impulsos elétricos. Isso
quer dizer que existem códigos que transformam determinado impulso elétrico em parede, chão,
carro, verde, amarelo, azul, etc.

Portanto, a parede que você vê e acredita que seja real, não o é: o que existe é um impulso
elétrico capitado pelos órgãos do corpo e levado ao ego que é codificado gerando a forma parede.
Ela é uma ilusão porque na verdade o que existe ali é energia e não uma parede construída de
tijolos, cimento, areia e água, que, aliás, também são energias que são codificadas desta forma.

É desta forma que se cria a primeira parte da realidade das coisas: o ego codifica a energia
elétrica percebida através do corpo dando a ela forma, densidade e características que vocês
imaginam conhecer. Com isso se criam os elementos e objetos do mundo material. É assim que um
elemento espiritual (fluído cósmico universal) toma a aparência ilusória de um objeto ou matéria.
Parece que estou falando novidade, não é mesmo? No entanto esse mesmo conhecimento
é compartilhado pela ciência humana e vocês nem se dão conta da ilusão que vivem.

Segundo a ciência, o olho humano é constituído por uma lente biconvexa, chamada
cristalino, que fica situada na região que antecede o globo ocular. No fundo do globo ocular está a
retina, que é sensível à luz (energia elétrica/fluído cósmico universal). As sensações luminosas
Encarnação – a grande aventura do espírito página 29

(irradiações de energia elétrica) após serem captadas e projetadas sobre a retina são enviadas ao
cérebro pelo nervo ótico.

Só no cérebro a imagem surge. Até lá temos apenas energia elétrica, luminosidade, fluído
cósmico universal.

Portanto, o que estamos dizendo não é novidade no mundo humano. A única coisa nova que
podemos verificar no que falei é que estas imagens são ilusões e não realidades, mas sobre isso
ainda vamos falar.

Apenas para completar o tema, já que pouco tem a ver com nosso estudo de agora, deixe-
me dizer algo: isso não vale apenas para os elementos ditos do mundo material. Mesmo naquilo que
vocês chamam de mundo espiritual, os objetos e elementos daquele mundo passam a existir da
mesma forma: fluído cósmico universal que sofre a ação de uma consciência que cria uma realidade
ilusória.
Participante: todas as pessoas decodificam da mesma forma?

Não. Existem, por exemplo, os daltônicos, aqueles que ao invés de ver vermelho, enxergam
verde.

Sei que vocês imaginam que o daltonismo é uma doença, mas não se trata de doença. Na
verdade são programações de decodificações diferentes.

O ser que é classificado como daltônico não possui doença alguma. Ele possui uma
codificação que classifica de vermelho o que a programação de criação de realidades de outro
classifica como verde. É uma programação diferenciada para criar realidades ilusórias diferenciadas.

Isso é só um exemplo. Quer outro? Tem gente que sente um paladar doce numa fruta,
enquanto outros que sentem paladar azedo na mesma fruta. Onde está o doce ou o azedo da fruta?
Nela mesmo? Se fosse, porque todos não sentem igual?

Participante: e com relação à matéria?

Você diz as formas grandes, como por exemplo, as paredes? Sim, essas quase todos
percebem igualmente.

Isso é assim porque há a necessidade de se confirmar a ilusão que se está percebendo para
que exista a ilusão daquilo ser real. Se um percebesse uma coisa e outro outra, se saberia logo que
a coisa não é real e com isso não haveria o exercício da fé...

Portanto, nesse ponto, todos veem igual...

 A forma das coisas

Ora, se o processo que descrevemos gera o cenário (todas as coisas) da vida humana,
posso dizer, então, que as percepções formam o palco da aventura do espírito ou o local de
realização da encarnação.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 30

Esta verdade vale para qualquer coisa que você chame de matéria, independente do que
seja, pois o único elemento material do universo é o fluido cósmico universal. Se você não vê fluido
cósmico universal, não está usando a consciência espiritual, mas sim decodificando um impulso
elétrico.

A partir desta constatação posso pensar macro. Não existem planetas, estrelas brilhando,
nem o próprio universo que você é capaz de ver. Tudo isso são decodificações de amontoados de
fluido cósmico universal.

A partir desta constatação posso pensar micro. Não existem as células que formam os
corpos orgânicos, não existem as moléculas e átomos que formam os objetos, não existem os vírus
e bactérias. Tudo isso são decodificações de amontoados de fluído cósmico universal.

A partir destas constatações a primeira coisa que nos salta aos olhos é que não existe forma.
Isso porque, o fluído cósmico universal, que realmente é o que existe, é uma energia e este tipo de
elemento não possui forma.

Você já viu uma energia elétrica?

Participante: a não ser quando há um curto circuito, quando há um clarão.

Neste caso, você vê o clarão, não a energia...

Energia não pode ser vista, não pode ser percebida pelo olho e transformada em um objeto
do mundo humano. Para provar isso lhe digo que você está sendo bombardeado nesse momento
por energia elétrica, e outras, e não está vendo, não está percebendo a presença dela lhe
atravessando.

Portanto, se tudo é energia elétrica e ela não possui forma que possa ser percebida, a forma
das coisas que vocês percebem é uma codificação que está nos egos. Trata-se de uma geração de
imagem codificada anteriormente que surge quando o fluído cósmico universal (energia) chega ao
ego.

 Uma codificação para cada planeta

Isso, como disse anteriormente, vale para todo o universo. Em todos os recantos do universo
a personalidade transitória com a qual o espírito vive geram imagens a partir da percepção do fluído
cósmico universal. No entanto, a programação é individualizada por planetas. Vou explicar isso.
Em Marte, por exemplo, os egos possuem algo que posso chamar de programação marte.
Os espíritos que se ligam a egos, ou seja, encarnam em Marte, conseguem ver as coisas de lá. Mas,
você, espírito que está ligado ao ser humano da Terra, não é capaz de ver as coisas de Marte.
Porque isso ocorre dessa forma? Porque o ego que está criando as realidades que são
apresentadas ao espírito não tem o programa para decodificar de acordo com as formas marcianas.
Ele só pode decodificar dentro das formas humanas, das formas conhecidas pelos habitantes do
planeta Terra.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 31

Quem trabalha com computador sabe muito bem do que estou falando. Para que você ouça,
veja ou mexa em qualquer arquivo no computador é preciso ter um programa que abra este arquivo.
Se o seu computador não tem esse programa, jamais você conseguirá acessar aquele arquivo.
É a mesma coisa: se o ego não tem embutido o programa de Júpiter, de nada vale você ir a
este planeta, pois não vai ver as coisas de lá, mas apenas as mesmas imagens que conhece na
Terra.
A partir desta visão, podemos, então gerar uma definição mais ampla para encarnação:
encarnar é ligar-se a consciências temporárias que estão preparadas para codificar o fluído cósmico
universal de acordo com o mundo em que o espírito vai realizar provações. É por isso que em O
Livro dos Espíritos se diz que para realizar um dos objetivos da encarnação o espírito em cada
mundo toma um aparelho em harmonia com a matéria essencial desse mundo (pergunta 132).

Na verdade, este aparelho não é o corpo, a matéria carnal, porque esta matéria não existe,
mas sim o ego com uma programação específica para criar realidades de acordo com as provações
do espírito.

Participante: existe matéria, mas não a matéria como nós vemos. É isso?

Existe, o fluido cósmico universal. Existe a matéria do universo. Mas, essa você não
consegue perceber.

Todas as outras matérias que você consiga perceber não são reais, mas apenas ilusões, ou
seja, criações do ego a partir de percepções da matéria universal...

Participante: tem como alguém que já tem os programas da Terra conseguir os


de Marte?

Nesse momento, não. Você pode receber por intuição de espíritos fora da carne algo sobre
as matérias de outros planetas, mas nesse caso o que você recebe é uma interpretação terrestre do
que é a realidade de Marte e não a própria realidade marciana. Você não consegue ver a realidade
de Marte enquanto estiver ligado a um ego terrestre.

Para o futuro sim. Quando o universalismo for realidade, o ego humano terrestre estará apto
a ver realidades de outros mundos, mas hoje não está. Hoje o que alguns podem é receber uma
interpretação que ele possa decodificar daquilo que é realidade em outros planetas.

 Verdades ilusórias emocionais

Como falei no item ‘A criação da realidade’, o ego gera realidades através de dois processos.
O primeiro, que vou chamar de técnico, é o que vimos até agora: a característica de dar forma à
energia universal. No entanto, ele também possui a capacidade de criar verdades ilusórias
emocionais. Este é o segundo processo ao qual me referi.

O que quer dizer isso? O que quer dizer gerar verdades ilusórias emocionais? Vamos ver
esse ponto agora.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 32

O ego possui a capacidade de gerar sensações através de uma programação própria. Essas
sensações ou emoções são anexada às imagens que foram criadas através da decodificação da
matéria universal em formas. Desta forma, a personalidade temporária cria a realidade que o ser
vivencia durante a sua grande aventura. Vou dar exemplos do que estou dizendo para ficar mais
claro...

Você ilusoriamente acha que está num carro e que este está andando. Na verdade nada
disso é real. Isso é maya, é uma realidade ilusória criada pelo ego. Na verdade, você, espírito, está
vivenciando um programa que cria a ideia ilusória de que você está num carro e que este está se
movimentando em alta velocidade.
Quem cria esta ideia é a parte do funcionamento do ego que já vimos: o processo técnico.
Além dessa parte, existe o processo emocional. Os egos humanos, neste momento, estão
programados para criar a sensação de medo, de nervosismo ou ainda a sensação de confiança, de
tranquilidade e outros a indiferença. É desta forma emocional de se vivenciar as formas criadas que
estou falando agora.

Os egos possuem a capacidade de gerar realidades ilusórias através de formas, mas


também geram sensações pré-determinadas de acordo com as provações dos espíritos. Na verdade
ele não cria a ideia do carro correndo e você, o espírito, se sente nervoso: tudo que pertence à
realidade humana é criação da consciência temporária que gera as provações do ser.

Trazendo esta visão para o dia a dia do ser humano pergunto: você fica nervoso com alguém
ou alguma coisa? Você fica chateado ou preocupado nessa vida? Não. O que está acontecendo
neste momento? Existe um ego que através de uma codificação pré-programada o insufla a sentir-
se nervoso, chateado ou achar que está com medo.

Isso nos leva à uma compreensão importante para a grande aventura do espírito: você pode
vencer o medo, pois ele não é seu. Você pode vencê-lo se reagir com confiança à sensação de
medo. Para isso pode usar, por exemplo, a fé como instrumento para o combate à sensação de
medo.

Portanto, no ego existe uma programação que gera, a partir da percepção do fluído cósmico
universal, as formas, mas também existe a programação que cria as sensações com as quais o ser
humanizado convive diuturnamente. Com estas duas criações, a personalidade transitória à qual o
espírito se liga para viver a encarnação cria a realidade ilusória que serve para as provações do ser.

 Vencendo a sensação gerada pelo ego

Participante: vou usar o seu exemplo do medo, a programação para que se tenha
medo diante da velocidade, para fazer minha pergunta. Como ela é mudada?
Estou perguntando isso porque aconteceu comigo. A vida toda eu tive muito
medo de velocidade de carro e de repente isso está mudando. Isso também é
uma programação? Está pré-programado que o medo iria até uma determinada
fase e depois deixaria de existir?
Encarnação – a grande aventura do espírito página 33

Diga-me uma coisa: você perdeu o medo?


Participante: estou dirigindo mais rápido sem o pavor que tinha.

Mas, perdeu o medo, ou o venceu? Ou seja, não há mais medo ou ele ainda vem e você não
se entrega mais a ele? Não é isso que tem acontecido?
Participante: é mais ou menos o que tem acontecido.

Veja: a programação não muda, a não ser que a mudança esteja pré-programada. Mas,
apesar disso você pode libertar-se dela. O ego continua lhe insuflando à sensação de medo, só que
você se liberta do que ele cria e não aceita mais a sensação que ele dá.

Participante: a confiança, que compõe a fé, também não é uma codificação do


programa?

Não: sensação é uma coisa, sentimento é outra. A sensação é aquilo que o ego lhe impõe e
o sentimento é aquilo com o qual o espírito vivencia a situação.
O ego pode dar medo, a sensação de medo, mas o espírito pode libertar-se desse medo,
agindo com fé, com confiança, ou pode se escravizar a esse medo e vive-lo porque o ego criou a
sensação de medo.
Participante: mas, a libertação do medo também não é pré-programada?

Não, a libertação do medo não é pré-programada; o fim do medo sim.

Veja, a sensações são pré-programadas, ou seja, elas vão continuar enquanto você estiver
em provação sobre elas. Elas só podem ser extintas por um pré-programa. Neste caso, não houve
mudança, mas o mesmo programa preestabelecido foi seguido.

Apesar de afirmar isso, digo, também, que as sensações podem continuar existindo e você
pode não se escravizar àquilo que o ego está lhe dando como sensação. É o caso que acabou de
me ser perguntado. A pessoa disse que o medo ainda vem, mas ela já não se entrega a ele.

Participante: e os sentimentos não são codificações?

Não. As sensações são provações, ou seja, fruto da programação feita anteriormente, mas
os sentimentos são frutos do livre arbítrio do espírito. Sendo assim, por exemplo, o ego pode estar
lhe mandando uma sensação de tristeza e você não aceitar e vivenciar alegria.
Agora repare: estou falando de sentimento, algo universal e não de elementos materiais. A
alegria a que me refiro não é aquela que é caracterizada pelo sorriso fácil, como fruto de uma
brincadeira, mas sim a sensação de paz, que equanimidade, de tranquilidade.
Portanto, o ego pode lhe insuflar à tristeza e você pode reagir da seguinte forma: ‘é, estou
triste, estou e daí?’ Agora têm outros que dizem: ‘meu Deus, como eu estou triste’. Esses últimos
caíram, apegaram-se ao ego.
Mais um detalhe: estou falando em reagir com frases, mas não me refiro à ideias ou palavras.
Estou dizendo para dizer com o coração. É o coração quem tem que dizer e daí e não a razão.

Se for a razão que diga que não irá viver aquela sensação, não houve libertação. Na verdade
isso foi mais uma geração ilusória da mente, um maya, e, portanto, foi mais uma provação gerada
pelo ego e não uma libertação...
Encarnação – a grande aventura do espírito página 34

Esta é a diferença entre sentimento e sensação. Não sei se dá para me entender, porque
para vocês as sensações e os sentimentos são a mesma coisa, mas não são: uma é escolhida pelo
ego a partir das codificações pré-programadas enquanto a outra é fruto do livre arbítrio do espírito.
Participante: mas, não vem tudo escrito no livro da vida, até esse momento da
libertação?

Até o momento da libertação está escrito, mas quando isso acontecer em atos ou ideias e
não no mundo sentimental...

Na verdade pode existir uma ideia de libertação – que ocorre no mundo das ideias (ego) e
não quer dizer que realmente houve alguma vitória, mas apenas uma nova provação – e pode existir
uma libertação verdadeira, que acontece nos mundo dos sentimentos e não é percebida pela razão.
A primeira é pré-programada e a segunda é a vitória do espírito nas suas provações...

 A programação das provas

Falamos, então, de dois processos de funcionamento do ego: o técnico e o emocional ou de


sensações. Tanto o que é formado por um processo quanto o que é formado pelo outro já está pré-
programado antes do espírito aventurar-se na encarnação. Como esta questão é fundamental para
o bom sucesso nesta aventura, vamos falar um pouco de como se processa a programação.

A programação do processo técnico é muito fácil entender. A programação fundamenta-se


num padrão fixo para quem vai encarnar em um determinado planeta. Para os egos de vocês,
daqueles que encarnarão no planeta Terra, por exemplo, a programação da personalidade humana
origina-se em um banco de dados universais, que chamaremos Terra. Na hora da organização do
ego basta pegar neste banco de dados as informações e colocá-las no ego.

Já a parte emotiva é um pouco mais difícil de ser explicada. Como surge a programação das
emoções ou sensações que um ser humano viverá no planeta Terra?

Esse processo não segue nem um padrão universal, ou seja, não é igual para cada espírito
que se aventura na encarnação. A programação emocional reflete fielmente a posição do espírito
antes da encarnação, por isso é individual. Ele traduz tudo aquilo que o espírito precisa executar
como prova durante a união com o ego.

Vou dar um exemplo. Nós falamos do medo, medo a determinadas coisas. O que é medo?
Porque alguém tem medo?

Participante: existem vários tipos de medo. Cada um tem o seu motivo.

Concordo com isso, mas o medo a qualquer coisa não é a tradução da existência de uma
falta de confiança?

Participante: sim.

E, como sinônimo à falta de confiança, não posso dizer que o medo é o reflexo de uma falta
de fé?
Encarnação – a grande aventura do espírito página 35

Participante: sim.

Aí está o que estou dizendo: as sensações vividas durante a encarnação traduzem a posição
do espírito antes da sua grande aventura. Se o espírito precisa fazer uma provação referente ao
assunto fé, provar que aprendeu que deve vivenciar os acontecimentos com fé, durante a
encarnação terá que vivenciar os acontecimentos desta vida com esta emoção. Para que isto
aconteça, o ser programa o seu ego com medo. Assim ele tem a oportunidade de optar (exercer o
livre arbítrio) em viver as situações com fé, ao invés de escolher vivenciá-las com outros sentimentos,
como o medo, por exemplo.

O contrário de ter fé é sentir medo. Por isso, o espírito que precisa realizar uma provação
sobre o tema fé precisa ser insuflado pelo medo. Só sendo insuflado a vivenciar o medo este ser
pode vencê-lo, optando pela fé.

Participante: mas, se ela reflete a posição do espírito e se ele estudou fé antes


da encarnação, essa sensação não deveria estar presente no ego?

Já falei que a encarnação serve como provação para o espírito. Provar alguma coisa significa
optar por aquilo que se estudou quando da provação e assim gerar uma vitória, uma confirmação de
aprendizado. Se naquele momento o espírito fosse insuflado a vivenciar o acontecimento com fé,
que vitória haveria? Nenhuma. Por isso, faz-se necessário que o ego proponha o medo como
sentimento para vivenciar um acontecimento. Só assim o espírito, usando o seu livre arbítrio, pode
conquistar uma vitória...

É por este motivo que o ego que gerará a aventura provação do espírito sobre fé está pré-
programado através de codificações a criar a sensação de medo sobre determinados aspectos.

A mesma coisa com outras sensações, como, por exemplo, a ganância. Se um espírito veio
fazer uma prova de humildade, o seu ego é pré-concebido com a programação de gerar a sensação
de ganância frente às situações da vida carnal. O ego vai fazer esta propositura para que o ser,
utilizando o seu livre arbítrio, opte pela humildade e com isso comprove que aprendeu, quando na
erraticidade, a respeito da necessidade desta postura sentimental para a sua universalização.

Esta linha de raciocínio vale para toda e qualquer sensação que você vivencie durante a
encarnação. Todas as suas emoções são pré-programadas para servir como uma questão de uma
prova.

Se o ser humanizado está com raiva, ou melhor, se um ego está criando a sensação da
raiva, isso acontece desta forma para que o espírito ligado a ele vença essa sensação, ou seja, opte
por um sentimento universalista. Com esta opção ele consegue uma vitória e comprova que
aprendeu o que estudou antes da encarnação,

Resumindo, posso afirmar que todas as sensações vivenciadas pela personalidade


transitória durante uma encarnação são pré-programadas. Elas são elementos da provação à qual
o espírito se submete durante a encarnação e precisam ser vencidas.
Essa é a grande aventura do espírito. Ele se liga a um ego que contém codificações técnicas
(formas) relativas ao mundo onde vai viver e contém, ainda, uma codificação emocional onde estão
todas as questões que o espírito pediu para vencer.
É por isso que em O Livro dos Espíritos se diz assim:
Encarnação – a grande aventura do espírito página 36

“Ele próprio escolhe o gênero de provas porque há de passar e nisso consiste o


seu livre arbítrio” (Pergunta 258).

O gênero da provas a que se refere o Espírito da Verdade trata-se exatamente desse


conjunto de sensações (ganância, nervosismo, desejos, vontades, paixões, soberba) que dissemos
estar presente em cada ego. O ser escolhe entre a gama de sensações individualistas que existe
qual irá querer provar.
A partir desta escolha, as sensações são incorporadas ao ego e se cria, então,
acontecimentos (formas) onde elas serão utilizadas pela personalidade transitória. Durante a
percepção dos acontecimentos e com o ego insuflando o ser a vivenciar uma determinada sensação,
o espírito, exercendo o seu livre arbítrio, pode manter-se pulsando o amor universal ou apegar-se às
sensações que o ego cria.

Isto é o realizar provas; isto é viver a aventura encarnatória...

 A vida como ela é

Agora estamos prontos para compreender a realidade humana, ou seja, aquilo que você vê,
ouve, cheira, prova o sabor ou percebe através das sensibilidades do corpo. Ela é formada pelas
formas que um ego, através de sua parte técnica, cria e pelas sensações que esta mesma
consciência transitória dá.

É isso que é a sua vida. É essa a realidade com o qual você convive: o fruto de um processo
técnico do ego, que gera formas, e de um emotivo, que cria sensações para aquele momento.

Voltando ao exemplo do carro correndo, posso dizer que a percepção da existência do carro,
do fato de você estar dentro e da velocidade que ele está andando são criações da parte técnica do
ego. Já o medo é a sensação proposta como provação para o espírito.

Para insuflá-lo a optar pela sensação, o ego ainda vai mais longe. Ele vive algo que
chamamos de mundo das possibilidades. Ele cria, por exemplo, a ideia de uma iminente batida.

Para incitar o espírito a viver o medo e não um sentimento universalista, o ego cria através
da imaginação a ideia de uma possível batida, dos ferimentos que poderão advir deste
acontecimento, da dor que poderá ser sentida, etc. Até a ideia do risco de vida está presente na
imaginação que o ego gerará.
Só que todos estes acontecimentos não são reais. Eles possuem apenas uma possibilidade
de acontecer. São hipóteses que podem acontecer ou não. Só que o ser, bombardeado por todas
estas ideias, vivencia estas possibilidades como realidades. Com isso, torna-se mais difícil para ele
libertar-se da vivência da sensação proposta.

Vocês sabem do que estou falando. Quantas vezes já viveram uma imaginação como se
fosse real? Quantas vezes já vivenciaram uma possibilidade gerada pelo ego como se fosse algo
líquido e certo de acontecer? Só que nada disso é real. Não passam de imaginações que tem como
objetivo insuflar o espírito a apegar-se às sensações que o ego cria.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 37

Aliás, não é só nestes momentos – quando está se imaginando o futuro – que vocês não
vivem a realidade: tudo que vivem é imaginação. Sim, tudo que acontece aos seres humanos pode
ser considerado como imaginação porque são criações ilusórias formadas pelo ego e não realidades.
Aí está, portanto, a realidade com a qual vive um espírito ligado ao ego: a junção de uma
parte técnica (formas, teatro, desenho, fantasia) com uma parte emotiva que dá sensações para o
que está se vivenciando...

 O apresentador da realidade

Só tem um pequeno detalhe: tudo isso que falamos agora acontece em algo que o ser
humano chama de inconsciente.

O ser humanizado não vê nada disso acontecendo na sua vida. Ele não repara na existência
dos processos com os quais o ego gera as realidades da vida humana. Isso não é perceptível para
ele.

Este processo é perceptível para o espírito, mas não é para o ser humano, para o espírito
humanizado, para o ser que vive o ego como se fosse ele mesmo. Como aquele que está ligado a
uma personalidade transitória não tem acesso ao que é criado pela sua consciência espiritual,
durante a encarnação os processos de criação da realidade pelo ego não são percebidos.

Por isso é preciso que o resultado deste processo aconteça de uma forma que o ser
humanizado possa ter ciência, que possa ser conscientemente sabido pelo ser humano. A
consciência que o ser humanizado tem do resultado do processo de formação de realidade pelo ego
é aquilo que chamamos de consciente.

Portanto, os processos de criação da realidade ocorrem no inconsciente do ego e o resultado


destes processos, o que é percebido e as emoções, existem no consciente.

Para que o que foi criado seja consciente, o resultado dos processos do ego são
apresentados em palavras, imagens, ideias, sons através de uma coisa vocês chamam de
pensamento.
O pensamento, portanto, é uma realidade formada pelo ego através da utilização do
processo técnico e emotivo e existe para dar consciência ao ser humanizado da sua provação. O
pensamento ao descrever e dar valor a um acontecimento gera uma realidade ilusória que leva o
espírito humanizado a realizar a sua provação.

O pensamento, portanto, é aquilo que faz com que o ser humanizado tenha consciência,
noção, de uma realidade para poder fazer a sua provação.
Sendo assim, posso dizer que a velocidade de um carro e a sensação de medo é traduzida
em imagens, sons e ideias através de um pensamento (‘meu Deus, este carro está correndo demais’)
e só então se transforma numa realidade para o ser humanizado.
O que o ser humano pensa não é a realidade, mas apenas a ponta visível (consciente) de
um iceberg. É a parte visível do trabalho mental – estou usando palavras de vocês para explicar o
Encarnação – a grande aventura do espírito página 38

que de outra forma não poderia ser explicado – que o espírito vivencia durante a sua ligação com o
ego.

 Os diretores da realidade

Para completar o assunto, deixe-me dizer mais uma coisa: não é o ser humanizado que
pensa.

A criação de sons, imagens e ideias que crie conscientemente uma realidade não pode ser
feita pelo espírito que está humanizado. Ele não tem capacidade de criar realidades quando está
encarnado. Ele escolhe o gênero de provas antes da encarnação e este fato gera para si uma
espécie de destino, como foi dito pelo Espírito da Verdade na pergunta 851 de O Livro dos Espíritos.

É por isso que neste mesmo livro está dito:


“Influem os Espíritos em nosso pensamentos e em nossos atos? Muito mais do
que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem”
(Pergunta 459)

Sendo assim, podemos dizer que Deus faz o ego agir. Para isso utiliza-se de seres universais
desencarnados que geram os pensamentos e dirigem os acontecimentos do mundo humano.

Estarrecidos com a afirmação que são os espíritos fora da carne que dirigem seus
pensamentos e suas ações? Mas, o próprio Kardec entendeu o que estamos dizendo e deixou isso
por escrito em O Livro dos Espíritos.
“Imaginamos erradamente que aos Espíritos só caiba manifestar sua ação por
fenômenos extraordinários. Quiséramos que nos viessem auxiliar por meio de
milagres e os figuramos sempre armados de uma varinha mágica. Por não ser
assim é que oculta nos parece a intervenção que têm nas coisas deste mundo e
muito natural o que se executa com o concurso deles.

Assim é que, provocando, por exemplo, o encontro de duas pessoas que suporão
encontrar-se por acaso; inspirando a alguém a ideia de passar por determinado
lugar; chamando-lhe a atenção para certo ponto, se disso resulta o que tenham
em vista, eles obram de tal maneira que o homem, crente de que obedece a um
impulso próprio, conserva sempre o seu livre arbítrio” (Comentário de Kardec à
pergunta 525)

Eis aí, portanto, a sua vida. O ego gera através de seus processos as realidades que o ser
humano vivencia e os espíritos fora da carne trazem esta realidade à consciência do ser através de
pensamentos. Tudo isso acontecendo sem ser percebido pelo ser humano que imagina estar
realizando todas estas coisas. E tudo isso acontece desse jeito para que o ser universal possa viver
a sua grande aventura.
Sendo assim, quando o raciocínio ou pensamento lhe diz, por exemplo, que o carro está
correndo demais e que por isso pode acontecer um acidente, isso é o resultado do trabalho do
Encarnação – a grande aventura do espírito página 39

inconsciente (onde o ego criou a sensação do medo e as figuras envolvidas naquela realidade) e da
ação de um ser extra corpóreo que lhe deu esse pensamento.

Deu para ficar claro? É isso que acontece no que vocês chamam de mente, consciente e
inconsciente, para nascer a realidade que imaginam estar vivendo. Na verdade a velocidade do carro
não é real, mas o fruto de um trabalho do ego e dos espíritos fora da carne.

 Inconsciente coletivo

Participante: o inconsciente aqui referido é pessoal. E sobre o consciente coletivo


muito citado por Jung?

Esse inconsciente é pessoal, sim. É completamente pessoal. Por quê? Porque é composto
por um ego e um espírito específicos que juntos formam uma individualidade: um ser humano...

Você tem um inconsciente e um consciente que é só seu. O seu consciente é o mundo onde
você, o espírito, vive e o seu inconsciente é o mundo onde existe um ego criado especificamente
para você. Este ego forma realidades para que existam as suas provações, ou seja, ele é o reflexo
exato daquilo que você precisa vencer para alcançar a elevação espiritual.

Com relação a um ego ou consciência coletiva, isso não existe. O que existe na verdade são
características de provas comuns a todos que encarnam no planeta Terra. Vou tentar explicar isso
melhor.

Existem sensações e formas no planeta Terra que estão presentes em todos os egos
humanos. Isso acontece porque elas representam os elementos de provações de todos os espíritos
que vivem a grande aventura neste planeta. Vou dar um exemplo disso.

Na pergunta 913 de O Livro dos Espíritos é dito o seguinte:


“Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical? Temo-lo dito muitas
vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. Estudai os vícios e vereis que no fundo
de todos há egoísmo”

Desta resposta do Espírito da verdade podemos entender que o egoísmo está presente em
todas as provações do ser. Não importa qual seja a sensação ou emoção que ele vivencie durante
a sua grande aventura (vício), no fundo de todos eles existe a presença do egoísmo. Por isso posso
dizer que o egoísmo é algo que está presente em todos os egos que são usados para encarnar no
planta Terra.

Portanto, posso dizer que o ego é individual, mas existem elementos que estão presentes
em todas personalidades que são usadas para as encarnações num mesmo mundo.
Isto é o que vocês chamam de inconsciente coletivo: as formas e as sensações que são
comuns a todos que habitam este orbe. O inconsciente coletivo do planeta Terra coletivo são as
formas e as sensações que criam a aventura humana do espírito e que, portanto, só valem para este
planeta.
Participante: seriam os arquétipos?
Encarnação – a grande aventura do espírito página 40

Olha, eu vou lhe responder citando o Espírito da Verdade, sem querer nem de longe me
comparar com ele: ‘é uma questão de palavras; vocês que se acertem’.

O que eu posso lhe dizer é que o planeta Terra é formada pela ação de um processo técnico
específico e por um processo que gera sensações também específicas. Se você chama isso de
arquétipo, inconsciente coletivo, de um campo de provas de uma determinada faixa de elevação,
para mim tudo é a mesma coisa.

 O que vem por aí

Para finalizar, vale a pena lembrar que essa palestra é apenas parte de um todo.

Nós não estamos hoje falando algo solto: estamos estudando a grande aventura do espírito
que se chama encarnação. Dentro deste estudo macro chegamos agora em um momento que vamos
ter que abandonar muitos conceitos que vocês estão acostumados a viver.

Na primeira e nesta segunda conversa conceituamos encarnação como algo completamente


diferente daquilo que vocês conheciam anteriormente. Por isso, é preciso alterar sua própria
conceituação para que a compreensão sobre o que direi daqui para frente não seja afetada. Para
isso, vou relembrar o que já falamos.

Começamos afirmando que a encarnação é a grande aventura do espírito. Dissemos que


encarnar nada tem a ver com vir à carne, mas sim ligar-se à uma consciência diferente da
consciência espiritual, que chamamos de ego.

Hoje estudamos a ação desse ego. Vimos como se criam as realidades, como se cria o
mundo que vocês vivenciam no consciente. Conhecemos como se formam os pensamentos e que
eles não são feitos por nós mesmos, mas nos dado por seres extracorpóreos.

A partir de agora precisamos aprender como interagir com essa realidade. Não basta só
saber que existe o inconsciente funcionando, pois este conhecimento não nos levará a reconhecer
as provações que vivemos. Por isso, a partir da próxima palestra vamos estudar as ações que devem
ser realizadas durante uma encarnação ou ligação com o ego para que essa aventura do espírito
alcance o bom termo.

Para que vocês compreendam o trabalho que estamos realizando, vou comparar a aventura
do espírito a uma humana onde se pretende caminhar na floresta ou escalar um pico. Até agora,
estávamos formando um mapa: estudando a floresta ou o pico, escolhendo por onde subir.

Mas, tudo isso está sendo realizado sem estarmos no local da aventura. Somente a partir
da próxima palestra vamos nos dirigir ao local da aventura e começar a caminhar pela trilha que
idealizamos para só então alcançar o destino pré-programado.

Então, eu convido a todos que quiserem, a partir desse conhecimento, descobrir o caminho
para trilhar e transformar essa aventura do espírito numa realização espiritual, ou seja, chegar a bom
termo na sua encarnação, a nos acompanhar na próxima palestra onde vamos falar sobre os
aspectos iniciais da aventura.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 41
Encarnação – a grande aventura do espírito página 42

3. A sintonia com Deus

A sintonia e seu resultado

 Resumo do que já foi visto

Vamos, então, continuando nossa conversa sobre encarnação.

No primeiro dia estudamos a encarnação dizendo que ela é uma grande aventura para o
espírito. Depois, a caracterizamos não como vir à carne, mas como a união do espírito com outra
consciência. Dissemos que abandonar a consciência espiritual e ligar-se a uma consciência material
que chamamos de ego é encarnar.

No segundo dia estudamos a realidade humana. Descobrimos que ela é formada pelo ego
a partir de dois sistemas: o técnico, que cria as formas, e o sentimental, que dá as sensações para
o espírito. Vimos que a partir das realidades criadas pelo ego o espírito deve escolher um sentimento
para reagir à realidade.

A partir de agora, como disse antes, já temos condições de começar a entender a vida
humana, de entender a encarnação, de entender a aventura do espírito. Disse, ainda que se
comparássemos nossa palestra a uma escalada de um pico alto, tínhamos usados os dois primeiros
dias como preparativos para a jornada. Só a partir de agora, então, iríamos começar a subir a
montanha realmente.
Isso foi tudo que conversamos até aqui. Vamos, portanto, começar a escalada...

 Sintonizar-se com Deus


Encarnação – a grande aventura do espírito página 43

No primeiro dia dissemos que o espírito precisa viver essa aventura porque só aventurando-
se na encarnação ele consegue aproximar-se de Deus. Esse, portanto, é o objetivo da encarnação:
aproximar-se de Deus. Mas, o que seria essa aproximação de Deus? O que é elevar-se
espiritualmente? Vamos falar disso.

Para começar a falar sobre o tema afirmo: nenhum espírito está longe de Deus e precisa
aproximar-se Dele. Deus é como um pai terrestre que mesmo quando o filho não se liga a Ele, Ele
está sempre ligado ao filho. Ele sabe onde o filho está, o que está fazendo, como está.

Por isso, é um equívoco se afirmar que o espírito a qualquer momento está longe de Deus.
Sendo assim, que história é essa de usar a encarnação para aproximar-se de Deus? Se o espírito
nunca está longe de Deus, porque precisa fazer alguma coisa para aproximar-se Dele? Vamos
responder a esta questão.

O que vocês chamam de aproximação eu chamaria de sintonização com Deus. O resultado


da elevação espiritual não é o aproximar-se de Deus, mas sim sintonizar-se com Deus.

A sintonia com Deus se dá através daquilo que vocês chamam de padrão vibracional ou
faixa energética que o espírito vibra, pulsa. Sintonizar-se com Deus, portanto, é o espírito colocar a
sua faixa vibracional na mesma frequência do Pai.

Isso é a elevação espiritual. A elevação espiritual tão falada neste planeta não se trata de
um aproximar-se físico de Deus, pois, como disse, o Pai jamais está longe do filho. O espírito pode
se considerar longe de Deus por não estar ligado a Ele, mas o Pai está ligado no filho e, por isso, o
ser universal não está longe Dele.

A evolução espiritual, portanto, se caracteriza pela sintonia do espírito com o Pai. Ela existe
quando o espírito passa a vibrar sentimentalmente no mesmo padrão, na mesma frequência de
Deus.

Não estou falando em chegar a ser a Deus. Vibrar em uníssono com o Pai não leva o espírito
a ser Ele.

Deus vibra amor, mas vibra o Amor na Perfeição. Quando o espírito sintonizar-se com Ele,
vibrará amor, amará, mas este amor não será Perfeito como é o de Deus. Por isso o espírito poderá
estar ligado em Deus, mas não será Ele...

Não importa se o espírito não consegue viver o Amor Perfeito, ao vibrar amor já terá se
sintonizado com o Pai. Vamos dizer assim: já terá realizado a sintonia grossa com Ele. Depois é
apenas uma questão de afinar essa sintonia, ou seja, de depurar a vibração ou o amor do espírito.

Isso, então, é elevação espiritual. É isso que o espírito busca naquilo que chamamos da
maior aventura do espírito, ou seja, a encanação.
Participante: então, nós encarnamos só para amar?

Não: encarnamos para provar que podemos amar.

Esse ainda é um mundo de provas, não um mundo de regeneração, ou seja, de realizar uma
mudança completa. Como vivemos neste mundo, afirmo que encarnamos para provar que podemos
amar.

Se a questão da encarnação neste momento fosse ter que amar incondicionalmente em


tempo integral, estaríamos devendo muito. Isso porque a quantidade de momentos desta vida vividos
Encarnação – a grande aventura do espírito página 44

pelos espíritos com amor puro são ínfimos, perto da quantidade de momentos onde se vibra um
amor individualista.

 A provação e a Onisciência

Participante: se Deus é Onisciente, porque Ele precisa que lhe provemos algo?

Boa pergunta.

Por ser Onisciente, Deus sabe a capacidade de realização do espírito. É essa capacidade
que é submetida àquilo que chamamos de livre arbítrio. Ou seja, o espírito tem a capacidade de
realizar determinada escolha, mas para realizá-la precisa tomar uma decisão.

Deus conhece a capacidade de realização do espírito, ou seja, sabe o quanto o espírito é


capaz de optar por uma ou por outra forma de amar, mas o espírito não sabe. O espírito, assim como
o ser humanizado estudante, imagina que conhece a matéria, mas muitas vezes seu conhecimento
não é tão profundo quanto imaginava.

Por isso, no momento da provação o espírito é pego de surpresa, ou seja, reage de uma
forma que não imaginava que iria reagir. Mas, Deus não é pego de surpresa: Ele, por ser Onisciente,
já sabia que o seu filho iria optar pelo que optou.

Sendo assim, posso dizer que Deus sabe o que o espírito vai escolher durante a encarnação,
mas você, o próprio ser, não sabe.

Se isso é verdade, na realidade o espírito durante a encarnação não está provando nada a
Deus, mas sim a ele mesmo. A encarnação, portanto, não se trata de um período de provações a
Deus, mas sim a si mesmo: provar a si mesmo que aprendeu o que diz que aprendeu.

Para entender melhor o que estou dizendo, não se esqueça que o espírito encarnado não
tem consciência do não amor com o qual vive. Para ele, que está ligado a um ego, são justas e
amorosas todas as realidades que o ego cria e diz que são desta forma. Só depois de desencarnado
é que o ser universal terá consciência do individualismo deste amor.

Hoje para você, espírito encarnado, é muito normal só fazer o que quer, só se submeter
àquilo que deseja submeter-se, achar que é justo e importante receber isso ou aquilo. Você, o
espírito, não vê nisso um individualismo, mas acredita que está certo, que é justo e amoroso. Só que
não é.
A ideia de que as proposições geradas pelo ego são certas, justas e amorosas é apenas a
provação à qual o espírito s submete quando encarna. Elas não podem ter estas caraterísticas
porque são fundamentadas no egoísmo, que é a característica primária da personalidade temporária.
Por este motivo, elas não contemplam valores universais e por isso não são reais.

Depois de desencarnado, ai o ser terá consciência da predominância do individualismo


nestas ideias e dirá: ‘Meu Deus, como não pensei nos outros? Como eu só me preocupava comigo
mesmo’.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 45

Portanto, não é a Deus que você, o espírito, precisa provar nada, mas a você mesmo.
Precisa mostrar a si mesmo o quanto tem consciência de que quando se considera o perfeito, o
certo, não está sintonizado com Deus.

 Amor Universal

Vamos continuar nossa conversa sobre a elevação espiritual. Para isso, pergunto: como se
alcança a sintonia com Deus?

Como vimos, sintonizar-se com Deus é amar, mas amar é uma palavrinha muito difícil para
vocês. Amor é uma das coisas que o ser humanizado, o espírito humanizado, não faz a mínima ideia
o que seja. Esta postura sentimental é usada no planeta Terra muitas vezes com um sentido
completamente diferente do que ele tem no Universo. Por isso, vamos agora tentar definir o que é o
Amor Universal.

O Amor Universal é o somatório de todos os sentimentos que vocês conhecem. Mas, ele se
baseia em um tripé, em três aspectos sem os quais não podemos afirmar que exista amor. Vamos
conhecê-los.

O primeiro aspecto necessário para que haja amor é a presença da felicidade ou alegria.
Não existe amor com sofrimento; também não existe amor com prazer. Amor com prazer é posse;
amor com sofrimento é masoquismo.

O Amor que estamos definindo, ao qual vou dar o nome de Amor Universal ou Amor
Incondicional, depende da existência de um estado de espírito de paz, harmonia e felicidade vinte
quatro horas por dia. Sem que existam estas prerrogativas, não há amor universal, mas sim humano,
um amor individualista.

Portanto, sintonizar-se com Deus, primeiramente, é estar em paz, harmonia e felicidade


durante vinte quatro horas por dia. Este é o primeiro passo para a sintonia com Deus. Quando você
perde a paz, a felicidade ou a harmonia com o Universo (o mundo que vive), perdeu a sintonia com
Deus, não está mais ligado ao Pai.
Segundo aspecto necessário para caracterizar a presença do Amor Universal, da sintonia
com Deus: a compaixão.

Não falo da ideia de compaixão que vocês têm: sofrer o sofrimento do outro. Quem sofre
quando o outro está sofrendo não pode estar amando universalmente falando porque acabou com o
outro aspecto necessário para a existência do Amor Universal: a harmonia, a paz e a felicidade.

Falo da compaixão como algo que lhe leve a ter consciência do sofrimento dos outros sem
que por isso você sofra. Por exemplo: você se rejubila quando alguém consegue possuir alguma
coisa ou ter uma saúde de ferro e se lamenta quando alguém não tem estas coisas. Isso não é ter
compaixão, mas sim sofrer o sofrimento dos outros. Isso não é Amor Universal, pois tanto no júbilo
quanto no lamento você perdeu a sua paz e harmonia com o mundo.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 46

A verdadeira compaixão é caracterizada pela consciência do sofrimento do outro recebida


com uma atitude equânime, com imparcialidade. Constatar o que está acontecendo com os outros
sem júbilo ou pesar: esta é a verdadeira compaixão. É a consciência do sofrimento do próximo sem
sofrer.

Sei que o que estou dizendo está soando estranho para vocês, está sendo recebido como
errado. Para vocês, a existência da compaixão tem que ser marcada por sofrer junto com os outros.
Se não for assim, vocês acham que deixam de ser humanos.

Mas, qual o problema disso? Vocês não são humanos mesmos: são espíritos. Por isso,
precisam viver como tal, ou seja, portar-se como um espírito porta-se no Universo. Como o espírito
ama no Universo?

Para respondermos a esta pergunta, nada melhor do que vermos como Deus faz. Para
conhecer alguma coisa do Universo, nada melhor do que buscar o exemplo naquele que emana o
amor Perfeito.

Quando Deus, através do ego, cria para o ser encarnado uma situação que é acompanhada
da sensação de não gostar e, por causa disso, também do sofrimento, Ele sabe que o ser encarnado
que está apegado ao ego vai optar por esta sensação como real e com isso sofrerá. Vocês acham
que Ele sofre por causa disso?

Vocês acham que Ele sofre porque tem a certeza de que vocês vão sofrer por conta da
situação que Ele gerou? Vocês acham que Ele fica chorando?

Vocês acham que Deus se lamenta quando tem, por exemplo, que acabar com uma vida
através de uma morte trágica onde seja preciso a existência de uma sensação de dor? Que se
lamenta quando precisa criar a sensação de sofrimento oriunda do não ter o que comer ou de perder
aquilo que lhe é mais caro nesta existência?

Claro que não. Ele tem a consciência de que o espírito que se apegar a estas realidades
ilusórias como reais vai sofrer, mas não sofre com eles.

Ora se Deus emana o Amor Perfeito, se este contém compaixão e se o Pai age assim, só
posso afirmar que o verdadeiro amor, o Amor Universal, precisa ser vivenciado dessa forma, que
essa é a verdadeira compaixão. Por isso afirmo, também, que o ser precisa estar sintonizado com
essa verdadeira compaixão para poder sintonizar-se a Deus. Por isso afirmo, ainda, que vocês não
devem vibrar em uníssono com a ideia e a sensação que o ego cria como compaixão para vocês.
Compaixão universal: este é o segundo aspecto que necessita estar presente para haver o
amor universal. O terceiro aspecto é a igualdade. Vamos ver o que o dicionário diz sobre este termo.

Igual – O que tem a mesma aparência estrutura ou proporção. Idêntico, que tem
o mesmo nível. Plano, que tem a mesma grandeza, valor, quantidade, quantia ou
equivalente da mesma condição, categoria, natureza e etc.

Igualdade é a similitude perfeita entre todas as coisas. No nosso caso, então, posso afirmar
que a igualdade do Amor Universal existe quando o ser vê a si e ao outro como iguais. Quando não
vê a si ou ao outro como superior ou inferior.

Agora, a igualdade necessária entre os seres que é necessária para a existência do Amor
Universal não pode criada a partir de um modelo, ou seja, não pode existir um ser que sirva de
modelo e exigir que todos sejam iguais àquele. Isso não é Amor Universal.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 47

Porque não pode haver um ser, além de Deus, que sirva como modelo para determinar a
igualdade? Porque, pela fundamentação individualista, os egos humanos dirão sempre que eles
estão certos, ou seja, que eles são os modelos e que todos precisam mudar-se para ser iguais a ele
para que exista a igualdade. Apenas o Senhor pode servir de parâmetro para julgar o que é o certo,
pois só Ele é Perfeito.

O aspecto igualdade do Amor Universal que estou falando não tem nada a ver com achar-
se certo e exigir que os outros sigam nossas tendências. A igualdade à qual estou me referindo é a
mesma com a qual Deus convive conosco: a igualdade no sentido de ter o direito de ser diferente.

Por isso o fator igualde do Amor Universal deve ser compreendido como o direito que todos
têm de ser diferente. A similitude única que deve haver entre as individualidades para que haja o
Amor Universal é o direito de cada um ser, estar e fazer o que quiser.

Quando o ego não dá ao próximo o direito de ser diferente dele e o espírito acredita que
esta justificativa é real, certa, o ser não está sintonizado com Deus. É preciso dar esse direito ao
próximo, assim como Deus dá a cada um dos seus filhos, os espíritos, o direito de ser, estar e fazer
o que quiser para que haja a comunhão com o Pai.

 A vida do espírito e do ego

Resumindo, então, tudo o que dissemos até aqui, posso afirmar que encarnação é um
processo no qual um espírito se aventura com a intenção de provar a si mesmo que é capaz de
conviver com o Universo sem jamais perder a sua felicidade, sem sofrer com o sofrimento dos outros
e sem exigir que o próximo se mude para o que ele acha certo. Para isso o ser liga-se a uma
consciência temporária e ilusória que lhe incita a perder a felicidade criando a ideia de que o que ele
quer é certo e que os outros são errados por serem diferente dele.

Essa é, vamos dizer assim, em síntese o objetivo da encarnação, o que deve ser alcançado
pelo espírito na sua aventura encarnatória.
Participante: o espírito pode estar em sintonia com Deus e o personagem agir
parecendo que não está? O personagem pode estar brigando com alguém, mas
sem que haja da parte do espírito o sentimento de briga? Pode ser apenas uma
briga teatral por circunstâncias?

O personagem não pode viver uma sensação diferente do ato que pratica. Isso porque as
formas e as sensações são uníssonas. Agora, o espírito pode estar vendo o personagem brigar sem
vivenciar o mesmo sentimento. Ou seja, o personagem está vivendo uma sensação e o espírito outro
sentimento.

Personagem não é espírito: é personagem. O personagem, como dissemos, é a junção da


parte técnica, ou seja, da briga, dos gestos e das palavras com uma determinada sensação. Se os
atos refletem raiva, contrariedade ou qualquer outra sensação neste sentido serão elas que o
personagem cultivará. Já o espírito, pode estar vivendo outra coisa.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 48

Ele não precisa necessariamente vivenciar estas sensações. Ele tem o livre arbítrio, ou seja,
pode vivenciá-las ou optar em viver o Amor Universal que acabamos de falar.

Participante: espírito encarnado é o personagem?

Não...

Qual o seu nome?

Participante: Maria.

Esse é o nome do personagem. Espírito não tem nome, cor, sexo, raça ou religião. Ou seja,
o espírito não é a Maria...

A Maria é um personagem e ela vive a sua vida a partir de uma história, que contém
determinadas formas e sensações que o ego cria. O espírito é outra coisa. Ele vive outra realidade,
quer seja em acontecimentos como na parte sentimental...
Participante: então, o espírito pode não ser contaminado pela sensação
gerada pelo ego?

Isso é o resultado positivo da encarnação, ou seja, a elevação espiritual. Ela acontece


quando o espírito participa da ação que o personagem está vivendo sem se prender àquilo que está
acontecendo.

Vou dar um exemplo. O personagem, aquilo que você chama de você, está brigando com
uma pessoa. Ele está falando, gesticulando e sentindo uma sensação. Isso não quer dizer que é
você, o espírito, que está falando, gesticulando ou sentido aquela sensação. É o personagem que
está.

A elevação espiritual, o seja, o bom termo da encarnação, acontecerá quando o espírito


assiste a vida humana, como Krishna ensina, ao invés de vivenciar os acontecimentos dentro da
realidade que o ego está criando. Ela acontece quando o espírito se desliga das sensações e
pensamentos que o ego lhe envia.

 O cume da aventura

Esta é, na prática, a aventura do espírito. A encarnação, dentro do nível que vocês vivem
hoje, objetiva que o ser prove a si mesmo que busca vivenciar só o amor. Já no próximo nível ou
mundo de encarnações o ser deverá buscar regenerar-se. Mas, apesar dessa diferença, o próximo
nível de encarnações não se diferencia muito do atual, já que regenerar-se significa mudar-se.

O que o espírito precisará mudar no próximo nível de encarnações? A sintonia com que vive.
Mesmo no próximo nível de encarnações o ser precisará mudar-se para a sintonia no Amor Universa.
Deverá sintonizar-se com a harmonia, com a paz e com a felicidade incondicional. Deverá sintonizar-
se com a verdadeira compaixão e a com a verdadeira igualdade.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 49

Isso é o que o espírito precisa praticar durante a aventura que está vivenciando: a aventura
encarnatória. Mas, o que vai resultar desta mudança? Nós já falamos: na sintonia com Deus, ou
seja, na elevação espiritual.
Só que falar que o resultado da encarnação lhe leva a sintonizar-se com Deus não permite
que realmente vocês consigam mensurar o que é isso. Por isso, seria muito difícil vocês avaliarem
se o trabalho que estão realizando está dando resultado ou não.
A sintonia com Deus é algo que vocês não conseguem perceber através da consciência
temporária que estão vivendo agora. Por isso, vamos tentar mensurar a sintonia com Deus dentro
de alguma coisa que vocês conhecem para que possam compreender melhor.
Cristo ensinou que o resultado da elevação espiritual é alcançar a bem-aventurança. Se
buscarmos no dicionário a definição para este termo, encontraremos o seguinte: ‘a felicidade que os
santos sentem’.

Ainda sobre o mesmo tema, o Espírito da Verdade dá a seguinte definição para aquilo que
é alcançado quando o espírito se sintoniza com Deu:

“Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada
um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar
progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los
de si. Nesta perfeição é que ele encontram a pura e eterna felicidade” (O Livro
dos Espíritos – pergunta 115).

Creio as duas definições dão a vocês que estão humanizados, ou seja, que vivem a partir
de valores humanos, uma melhor compreensão do que é aproximar-se de Deus: viver a felicidade,
ser feliz.

Só que a felicidade citada tanto por Cristo como pelo Espírito da Verdade nada tem a ver
com aquilo que vocês chamam de felicidade. Para vocês, a felicidade é um estado de espírito que
existe quando alcançam aquilo que querem, quando conseguem o que almejam, quando são
reconhecidos como certos. Esta felicidade, que eu chamo de condicionada, já que precisa que
condições sejam alcançadas para existir, nada tem a ver com aquilo que pode servir para que vocês
mensurem a sintonia com Deus.

A felicidade à qual Cristo e o Espírito da Verdade se referem é um estado de espírito que


não precisa de condições para existir. Ela existe mesmo que o ser não consiga o que deseja nem
seja reconhecido como o certo. Por isso a chamo de felicidade incondicional.

Esta é a bem-aventurança e a perfeição que caracteriza a aproximação de Deus: a felicidade


incondicional, aquela que nada abala e que, por isso, nunca acaba. O espírito que se sintoniza com
Deus alcança durante a sua ligação com o ego, e depois dela, um estado de felicidade, harmonia e
paz que não será quebrado jamais. Nada o perturba ou o perturbará.

Portanto, o bom termo da aventura do espírito traz a ele a sintonia com Deus e esta
realização lhe dará um estado de espírito de felicidade incondicional.

É isso que o espírito ganhará ao sintonizar-se com Deus.


Encarnação – a grande aventura do espírito página 50

 A felicidade humana e a espiritual

Afirmamos que o bom termo da aventura encarnatória para o espírito é alcançado quando
este vivencia a felicidade. Esta é a visão espiritual sobre o sentido da vida humana. Para o espírito,
a vida humana tem como objetivo primário alcançar a felicidade.

Mas, para o ser humano, qual é o bom termo de uma vida humana? Ou seja, qual o objetivo
da vida para o ser humano? Ser feliz.
Para que que o ser humano trabalha? Para que estuda, come, namora ou casa? Para ser
feliz. Tudo que o ser humano pratica pode ser considerado bom por ele se no final lhe trouxer a
felicidade.

Isso quer dizer que a felicidade humana é um aval da realização do espírito? O ser humano
que alcança a felicidade, ou seja, que vive somente momentos que considera como bons é sinal de
que o espírito que está vivendo aquele personagem alcançou a elevação espiritual, sintonizou-se
com Deus? Não...

A ideia de buscar a felicidade é, vamos dizer assim, uma lembrança da consciência


espiritual. Ela existe para lembrar ao espírito que ele deve buscar a felicidade. A única diferença está
na felicidade que se busca: a incondicional ou a condicional.

A felicidade humana, a condicional, não pode ser considerada como realização espiritual
porque a que o espírito sente não está condicionada a nada. A única coisa que o espírito quer é a
sintonia com Deus. Essa intencionalidade acaba com a condicionalidade da felicidade a qualquer
outra coisa. Enquanto a felicidade humana está condicionada à realização de desejos e vontades, a
dos espírito surge apenas como resultado da sua ligação com o Pai.

Por isso, apesar dos dois aparentemente viverem a mesma busca, essa aparência é falsa.
O ser humano busca a felicidade condicionada, o espírito busca a incondicional. Isso faz com que o
objetivo humano de vida e o espiritual sejam diferentes.

O ser humano é feliz quando acontece o que ele quer, quando ganha alguma coisa, ou
quando é reconhecido como o certo. Por isso, ele busca sempre comandar os acontecimentos para
que posso conseguir o que quer, ganhar alguma coisa e o reconhecimento de que está certo. Esse
é o objetivo de um ser humano ao viver algum acontecimento.

Já o espírito não se preocupa com isso. Ele não objetiva comandar os acontecimentos para
poder ganhar alguma coisa, conseguir o que quer ou alcançar o reconhecimento. Por isso, durante
a vivência dos acontecimentos da vida humana ele não se ocupa em comandar os acontecimentos.
Como o que ele quer é a felicidade incondicional e como essa é o resultado da vivência do Amor
Universal, a ocupação do espírito a cada momento da vida humana é com a harmonia, a paz, a
verdadeira compaixão e com a igualdade.

A felicidade humana não é universal, mas sim individual. Ela existe apenas como satisfação
e não como fruto da paz e harmonia com o mundo em que vive. Por isso afirmo que a felicidade
humana não é um sentimento que o espírito vive, mas uma sensação criada pelo ego como provação
ao ser universal.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 51

O espírito encarnado que vive ligado ao ego e que credita à sua personalidade transitória a
realidade das coisas, se subordina às sensações que são criadas pelo personagem e por isso
acredita que a felicidade condicionada a bens materiais é real. Já aquele que compreende que ele é
um espírito que está em uma aventura encarnatória, ou seja, que está ligado a um ego que existe
apenas para lhe tentar e não para criar realidades, condiciona a sua felicidade apenas na sintonia
com Deus.
A diferença entre as duas felicidades seria o que ensina Cristo quando fala na busca do bem
terrestre ou celeste (‘Não amealhe bens na Terra, mas sim nos céus’). A felicidade humana é um
bem terrestre, porque depende de elementos materiais; já a felicidade incondicional sentida pelo
espírito é o bem celeste, porque se fundamenta em elementos universais.

Sendo assim, aquele que durante a sua encarnação consegue sintonizar-se com Deus está
amealhando bens no céu; já aquele que não estiver sintonizado com Deus, mas sim com o ego, com
as falsas realidades que o personagem cria, estará colecionando bens na terra.

Portanto, o espírito não deve iludir-se com a felicidade criada pelo ego. Deve sim
compreendê-la como mais uma provação, ou seja, como mais um elemento ao qual ele precisa não
sintonizar-se.

Com isso, já conhecemos o que é encarnação, o que é o processo encarnatório, já sabemos


o que fazer para vencer a encarnação e sabemos, também, o que se receberá quando nos
elevarmos.

 A responsabilidade do espírito pelo erro

Participante: qual a responsabilidade do espírito se é o personagem que está


errando?

Não há ninguém que erre. Um ego jamais erra.

Se eu lhe dou o direito de ser diferente e você só faz aquilo que acha certo, isso quer dizer
que você está sempre certo. Na verdade, se existisse alguém errado no desenrolar de um
acontecimento humano, este não seria o personagem, mas sim, o espírito. Vou explicar isso.

Para explicar o que afirmei, vamos dar um exemplo: falar mal dos outros. Isso não é errado,
mas sim consequência de haver naquele ego inveja ou de achar que sabe mais o certo do que o
outro. Ou seja, consequência da existência de sensações humanas.

Por que este ego possui estas sensações? Porque elas foram escolhidas como temas de
provações pelo espírito. Sendo assim, quando o personagem fala mal dos outros, ele não está
errado, porque está refletindo o que o espírito escolheu para viver como provação.

Além do mais, falar mal do outro não quer dizer que esse seja aquilo que está sendo
acusado. O ego quando cria uma realidade, não fala de algo real, mas apenas propõe uma situação
que só se tornará real se o espírito acreditar nela, ou seja, apegar-se à realidade ilusória criada pelo
Encarnação – a grande aventura do espírito página 52

ego como realidade. Por isso afirmo que todas as injurias criadas pelo ego não possuem fundamento:
são realidades ilusórias criadas pela personalidade transitória para testar o espírito.

Por isso a atividade humana falar mal de alguém não é errada: ela não existe. Apenas
quando o espírito acredita nela como real é que ela passa a existir. Se o ser não der a ela este valor,
ela nunca existirá.

Portanto, neste processo, a responsabilidade do espírito é imensa. Ele é o responsável por


tudo que existe de mal ou errado no mundo de vocês, pois se ao invés de ligar-se à ganância, inveja
ou luxúria ele se sintonizasse com Deus, nenhum acontecimento humano seria tratado como
realidade.
Se o ser espiritual ligar-se à paz, harmonia e felicidade ao invés de sintonizar-se na soberba
e no egoísmo, nenhuma criação do ego seria tratada como realidade. Ele viveria apenas a felicidade
que Deus tem prometido e seu Amor.
Essa é a responsabilidade do espírito. Não podemos dizer que ele é o responsável pelo ato
físico de uma briga entre dois seres humanos, mas podemos dizer que ele tem responsabilidade por
este acontecimento, pois esta ação só se tornou real porque o ser universal viveu uma sintonia
sentimental que levou o personagem a ter que agir daquele jeito.

Olha, deixe-me dizer uma coisa: espírito não tem braço, perna, boca e nem sabe falar. Tudo
isso é do ser humano, é do personagem. Então, o espírito não é o responsável pela execução desses
atos externos, mas é responsável pelo ato interno, ou seja, pela vivência sentimental que é
caracterizado pelo pulsar sentimental, sentir.

Na verdade, quando o espírito pulsa um sentimento cria uma história para o personagem.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 53

As armas para sintonizar-se

 A reforma íntima

Então, já ficou claro o que o espírito tem que fazer e o que ele vai receber por esse trabalho.
Mas, como fazer: é o que pergunto agora.

Sintonizar um rádio ou uma televisão é muito fácil: basta mexer em um botão. Mas, como se
faz para sintonizar-se com Deus? Esta é a pergunta que vou responder agora.

O trabalho de sintonização com Deus foi chamado por Kardec e pelo Espírito da Verdade de
reforma íntima. Vamos conversar sobre isso...

O é reforma? Mudança... O que quer dizer íntimo? Pessoal, de dentro...

Portanto, o processo de sintonização com Deus é um processo de mudança interior, de


reforma intima.

A busca da reforma intima é muito procurada por alguns seres humanos que se ligam a
questão da espiritualidade. Acontece que eles buscam fazer essa reforma não no seu íntimo, mas
no mundo exterior. Eles se preocupam em alterar atos, ao invés de buscar reformar o seu interior.

Ao invés de ficar em casa assistindo televisão, aqueles que se ligam na questão espiritual
vão para igreja, para os centros ou buscam praticar os chamados atos caridosos. Acham que
executando estas ações estão se reformando. Mas, a reforma não é externa, mas interna. Por isso
afirmo que não adianta nada reformar atos sem reformar o interior.

O que seria reformar o interior? Como falamos, reformar é mudar. Mas, o que é mudar o
interior?

Para alguém se mude, é preciso que esteja em uma posição e vá para outra. Isso se chama
mudança: ser de um jeito e passar a ser de outro.

Estamos começando a compreender reforma íntima: mudança do jeito atual de ser interior
para um novo jeito de ser interior. Portanto, não estamos mais falando de atos, mas sim de
sentimentos, de sensações.

 Reconhecer que é egoísta


Encarnação – a grande aventura do espírito página 54

Agora, se ficamos presos apenas a esse conceito (reforma íntima é a mudança do interior),
ainda não vamos conseguir nada. Isso porque não conhecemos o nosso interior.

Nós não sabemos como somos interiormente, pois não temos coragem de nos enfrentar
frente a frente. Não temos coragem de olhar para dentro e dizer: ‘como eu sou egoísta, como me
preocupo comigo mesmo e não com os outros, como vivo apenas a partir do que acho certo, se dar
ao próximo o direito de também estar’.

O ser universal vivenciando uma aventura encarnatória antes de alcançar a elevação


espiritual, é egoísta, já que a característica primária de todo ego é o egoísmo. Como este ser credita
como real tudo o que a personalidade transitória cria e como toda criação dela é fundamentada no
egoísmo, ele se torna egoísta.

As realidades criadas pelo ego são sempre egoístas. Não importa se aparentemente o que
o ser humano pratica é considerado bom ou certo. Toda ação é egoísta por natureza porque é
fundamentada em valores individuais. Ou seja, é executada condicionada a interesses individuais.

Mesmo aquele que aparentemente serve ao outro é um egoísta, porque só serve àquele que
ele acha que deve servir e quando acha justo servir. Ou seja, ele se baseia em valores individuais
para servir o outro. Por isso, o seu serviço é submetido aos seus interesses próprios e isso se
constitui num egoísmo.

Sendo assim, para que o espírito promova a reforma do seu interior é preciso que ele
compreenda que existe um padrão básico de funcionamento do ego que é a constante busca da
satisfação individual, ou egoísmo.

Vou explicar isso melhor.

Como eu disse, os egos são criados de acordo com o planeta onde cada um vai viver. Esta
é a norma que padroniza os egos de acordo com o que vocês chamam de mundos ou objetivos da
encarnação. Se isso é verdade, existe um padrão para o planeta Terra, que eu vou chamar de ser
humano.

Ser humano é um ego padrão para provas no planeta Terra. O ser humano não é um corpo
ou um espírito: é o padrão que seguem os egos que servem aos espíritos para viver provas no
planeta Terra.

Mas, qual é o padrão ser humano? Segundo o Espírito da Verdade é o egoísmo. Ele afirma
isso quando responde a Kardec dizendo que o egoísmo é a mãe de todos os males dos seres
encarnados.

Voltando ao nosso assunto de agora pergunto: como definimos reforma íntima? Mudar o
padrão humano de viver para uma nova forma de viver. Se o padrão humano tem uma forma de
viver padronizada (é egoísta) e se reformar-se é vivenciar a vida de uma forma diferente do padrão
humano, posso afirmar que reformar-se é deixar de vivenciar o egoísmo gerado pela personalidade
transitória.
. Esta é a reforma íntima que o espírito pode fazer. Para isso ele precisa apenas deixar de
creditar o valor de real às realidades criadas pelo ego.

Agora fica mais fácil a sintonia com Deus. Agora você já sabe o botão que precisa mexer
para alterar sua sintonia: o seu relacionamento com o ego. É aí alterando este aspecto que o ser
calibra a sintonia com Deus e não nos acontecimentos externos.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 55

O espírito não calibra a sua sintonia com Deus praticando ações, porque isso seria uma
reforma externa, mas calibra alterando o seu relacionamento com o ego.

Participante: por favor, me explique a seguinte passagem da Bíblia: porque todo


pecado e blasfêmia serão perdoados, porém a blasfêmia sobre o espírito santo
não será perdoada.

Sim, todo pecado e blasfêmia que for executado contra o Pai ou o Filho (Cristo), será
perdoado, mas o pecado e a blasfêmia contra o espírito santo não será. Deixe-me explicar isso.

O espírito santo são os espíritos em processo de evolução. Isso porque todo espírito é santo,
mesmo aqueles que ainda não alcançaram a santidade, ou seja, não estão sintonizados com Deus.
Se você blasfemar contra Deus, Ele, por viver o amor incondicional não vai se preocupar em
lhe penalizar. Ele vivencia a igualdade perfeita que falamos e por isso compreenderá que esse é o
caminho para você chegar ao amor incondicional.
Blasfemando contra o Cristo, a mesma coisa. Ele também não se perturbará com isso porque
já vive o amor incondicional.

Agora se você blasfemar, ou seja, falar mal – blasfemar é falar mal de uma outra pessoa –
de alguém que não tenha a capacidade de lhe responder com esse amor, você estará criando uma
oportunidade para essa pessoa usar o individualismo. Isso Deus não perdoa, pois você está
atacando alguém que não sabe se defender universalmente...

Pode fazer contra Deus, porque Ele está pronto para não se ferir com o que você fizer. Pode
fazer com Cristo que ele tem a mesma capacidade, mas outro espírito ainda não evoluído não está
pronto para amá-lo universalmente, pois ainda acredita nas razões do ego como real.

É isso que quer dizer a passagem que Cristo ensinou. Faz parte do amar ao próximo como
a você mesmo.

 Amar como Deus nos ama

A reforma íntima, então, consiste no espírito mudar o seu interior. Mas, será que o ego
humano pode ajudar o ser encarnado a realizá-la? Ou seja, será que o ego humano pode gerar o
amor incondicional para levar o espírito a senti-lo? Não.

Existe um padrão de sentir para o ego de provas no planeta Terra e este padrão não
contempla a existência do amor universal. A personalidade humana é incapaz de amar
universalmente, mas apenas egoisticamente.

Dessa forma posso afirmar que o trabalho da reforma íntima acontecerá sempre. A cada
momento da existência o espírito terá que libertar-se das sensações geradas pelo ego e a reforma
jamais será alcançada enquanto o espírito apegar-se a elas, por mais sublimes ou boas que pareçam
ser as sensações vivenciadas em um momento.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 56

Como já conversamos, o ego gera sensações que chegam ao consciente do espírito e ele
tem de reagir não se apegando a elas, não acreditando que elas sejam verdades. Aí está o trabalho
da reforma intima.
Mas, porque o padrão humano de sensações não pode dar ao espírito o amor universal
como elemento sentimental? Porque o fundamento de tudo que a personalidade humana cria é
egoísta. Mesmo o amor pelo próximo que a personalidade humana sente é egoísta, porque não ama
indiscriminadamente, mas somente àqueles que quer amar. Ou seja, condiciona o amor a quem ele
quer dar e no momento que quer dar.

Esta é uma verdade universal, ou seja, é eterna e serve para todos. Todas as personalidades
humanas, por mais que você considere como boa ou sublime, são assim, porque as sensações que
os egos criam são padronizadas para o planeta Terra, ou seja, fazem parte da provação de um
espírito.
Quem pode deixar de ver uma criancinha que está passando fome e não sofrer? Quem pode
ver um ladrão assaltar uma casa sem ficar com raiva do ladrão e ter pena do dono da casa? Quem
pode ver uma onda gigante (tsunami) como a que houve nesse planeta há pouco tempo e não sofrer
com aquele desencarne coletivo? Quem pode ver o outro dizer que ele está errado, que não sabe
de nada ou que não vale nada sem ter raiva deste?

Ninguém pode. São os padrões, as sensações padrões da personalidade humana à qual o


espírito se liga para aquilo que foi convencionado chamar de mundo de provas e expiações.

As sensações padrões do ego para provas no mundo humano são estas e o trabalho da
reforma intima consiste-se no espírito libertar-se delas, ou seja, não vivê-las como reais, mesmo que
aparentemente elas sejam certas ou boas.

O espírito, ao invés de sofrer com a raiva ou com a dor, deve manter a sua felicidade; ao
invés de ter pena dos outros, ter dó do próximo, deve ter a verdadeira compaixão, a consciência de
que eles estão sofrendo, mas não sofrer com eles. Deve ainda usar da igualdade, ou seja, dar o
direito de outro sofrer neste momento. Deve agir assim, mesmo que tudo lhe diga que sofrer nestes
momentos é certo.
Aí está a reforma intima. Aí está o caminho que precisa ser percorrido pelo espírito para
alcançar o pico da aventura espiritual. Isso se chama reforma intima.

Reforma intima não é doar dinheiro, não é fazer caridade material sem alterar o padrão
vibracional: viver o acontecimento com amor e não com pena ou dó. Fazer a caridade com igualdade,
compaixão e felicidade e não mais por pena: aí está a verdadeira reforma intima.

O problema é que o espírito não se auto reconhece como ser universal: ele se imagina como
sendo a personalidade à qual está ligado para a aventura espiritual. Ele não vê a ação do ego lhe
transmitindo sensações. Por isso não se vê como espírito que é, mas acha que o ego é ele mesmo.

Quando isso ocorre, o que acontece? O espírito se subordina ao ego, ou seja, sente pena
dos outros e exige que se faça a caridade material. Acha que está sendo santo neste momento, mas
apenas está mostrando o seu egoísmo.

Preso ao mundo externo, ao agir, o espírito se prende à necessidade de uma reforma externa
e acha que a fazendo vai sair da carne e ir direto para o céu. Pobre ser humanizado: vai continuar
Encarnação – a grande aventura do espírito página 57

vivendo a encarnação no que vocês chamam de mundos inferiores, já que não promoveu a reforma
de dentro, a reforma do coração, a reforma do sentimento.

Ele precisa continuar em provação porque ainda vibra, se sintoniza com as sensações
geradas pelo ego ao invés de sintonizar-se com Deus e amar a tudo e a todos como Deus ama.
Aliás, sobre este tema Cristo fala assim: Deus quer que nós amemos a todos como Ele nos ama.
Não é desta forma que eu falei (com felicidade, compaixão e igualdade) que Ele nos ama?

 Pedir, achar, agradecer

Participante: gostaria que o senhor falasse sobre o pedir, buscar e achar?

Peça, busque e acharás... Este é um ensinamento do Cristo. Portanto, é perfeito...

Mas, pedir, buscar e encontrar o que? É na resposta a esta pergunta que está a diferença
entre o ensinamento de Cristo e a compreensão que vocês têm sobre isso.

O que você pede? O que você busca? O que espera achar?

A maioria dos seres humanos busca e pede bens materiais, satisfação para o ego, satisfação
de desejos. Portanto, só isso poderá encontrar. Quando encontram acham que essa satisfação irá
acompanhá-lo pela eternidade. Mas, essa satisfação é bem material: acaba com o desencarne.

Cristo ensinou que você deve pedir, buscar para achar o que quer, mas também disse que
você colherá exatamente o que plantar. Se buscar, pedir, o bem espiritual, o amor que conversamos,
é isso que vai encontrar. Agora, se buscar o prazer humano, ou seja, uma felicidade condicionada a
ganhos, a valores materiais, é isso que encontrará.

Agora você entende o que Cristo quis dizer: peça, busque que encontrará, mas tudo depende
do que pedir. Se sonha em realizar a sua reforma íntima, peça coisas do céu e não da Terra para
poder receber algo que seja eterno.
Acho que já respondi à sua pergunta, mas, quero colocar mais uma coisa. Se você, apesar
de agora saber o que deve pedir, continuar pedindo bens materiais, qual o problema? Nenhum.

Como disse, todo acontecimento humano é apenas prova para o espírito. Tanto o pedir como
o receber bem material não é errado, mas apenas provação para um espírito. Qual o problema,
então, em ter bens materiais? Nenhum.

O problema não estar em ter, mas em querer ter tudo. O que você precisa se conscientizar
é que quando se opta por um dos lados da moeda é preciso abandonar outro. Lembre-se: não se
serve dois senhores ao mesmo tempo.

Portanto, se você ser humano compreendeu o quis dizer e acha que deve pedir para
encontrar apenas o bem espiritual, saiba que tem que abrir mão da felicidade material, do prazer
material. Se você compreendeu, mas ainda acha mais importante conseguir bens materiais – e olha
que não estou falando de objetos, mas de elementos como saúde ou paz material – esqueça esta
história de elevação espiritual, porque ela não é para você...
Encarnação – a grande aventura do espírito página 58

O problema é que a maioria quer o bem espiritual, mas não abre mão do bem material. Ou
seja, quer alcançar a elevação espiritual, mas não abre mão da felicidade material, do sentir-se
humanamente bem. Isso é impossível.
Na verdade, quem vive assim é hipócrita, pois diz que busca o céu, mas ainda quer para si
o bem material. Aliás, esse é, com certeza, o grande problema do ser humano: a hipocrisia. Ele diz
que quer uma coisa, mas está realmente de olho é noutra.
Por isso Cristo ensina: muitos estão buscando, mas poucos entrarão no reino dos céus.
Participante: é certo pedir ajuda do Pai para passar pelas vicissitudes de baixa e
agradecer pelas vicissitudes de alta?

Pedir ajuda a Deus para passar pelas vicissitudes de baixa: isso é certo ou errado? Não sei.
Eu diria que é desnecessário.

Veja, se você precisa pedir ajuda a Deus é sinal que imagina que Ele não lhe ajuda. Com
isso demonstra que se sente desamparado. Mas, Deus não abandona o seu filho em momento
nenhum.

Sendo assim, Ele sempre está lhe ajudando. É apenas você que não está vendo a ajuda
Dele. Por isso disse que pedir ajuda é desnecessário.

Conhece a parábola Pegadas na Areia? Nela está bem clara a afirmação de que na hora da
sua vicissitude de baixa você está sendo carregado no colo...

Então, eu diria que é pedir a ajuda de Deus é desnecessário. Mais do que isso: eu diria que
é falta de fé.

Agradecer a vicissitude positiva...


Por que você agradeceria a Deus por alguma coisa? Porque gostou do que aconteceu,
porque achou bom, dentro dos padrões humanos de satisfação, aquilo que ocorreu. Frente a tudo
que ensinei até hoje, será que devemos agradecer a Deus quando nós gostamos do que ocorreu?
Acho que não, não é mesmo?

Agradecer quando se gosta ou pedir a Deus que afaste de si o cálice da vida são provas de
fé, provas de que você está julgando o que Deus faz. Aliás, só em você ter uma vicissitude que diga
positiva e outra que afirme ser negativa, já mostra a falta de sintonia com Deus.

A crença na existência de uma vicissitude positiva ou acontecimento da vida que lhe agrada
e outra que não, já denota uma conivência com o ego, pois é ele que diz que tal coisa. É ele que lhe
diz que aquilo é com e que você deve ficar feliz.

Fundamentado nesta premissa, o ego cria a ideia de que o espírito deve dizer ‘obrigado meu
Deus’. Mas, obrigado por quê? Porque se exaltar quando a vicissitude é considerada positiva?
Equanimidade: esta é a resposta para tudo que denota a sintonia com Deus.

Você tem que viver as supostas ondas contrárias de vicissitudes ou as que considera como
positivas que o ego cria de uma forma reta. Ou seja, sem ver bom nem mal nas coisas.
Portanto, nada temos a agradecer, porque nada é bom e nem precisamos pedir ajuda porque
Ele está ajudando o tempo inteiro.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 59

Participante: embora seja desnecessário pedir força ou agradecer, parece que


fazer isso dá alento, dá mais força. Parece um desabafo.

Sim.
Participante: o senhor concorda com o que eu disse?

Sim. Eu concordo que apesar de desnecessário, pedir ou agradecer a Deus aparentemente


dá alento, força. Parece ambíguo, mas não é.
Eu concordo com o que você diz por que sei que nesta etapa de evolução vocês ainda
precisam deste pedido e agradecimento. Aos poucos irão se desligando desta necessidade, mas,
no momento, ainda não podem se desligar totalmente. Por isso respondi que não é certo ou errado:
é desnecessário.

Vou falar um pouco mais sobre este tema.

Pedir ou agradecer não é certo ou errado. Agora, para quem se diz buscador de Deus, o que
adianta ficar pedindo ajuda ao Pai e sentir-se ajudado algumas vezes por dia?

É assim que vocês vivem. A cada momento que surge uma vicissitude negativa pedem ajuda
a Deus. Se conseguem sair dela, sentem-se ajudado, mas logo depois se esquecem da presença
Dele. Quando surge uma nova vicissitude buscam-No para pedir ajuda novamente.

Guardar consigo a presença de Deus ao seu lado permanentemente; mantê-Lo sempre perto
de você: esse é o grande desafio.

Se você não precisa pedir ajuda a Deus, mas mesmo assim acha necessário para a sua vida
fazer isso, peça, mas quando sentir a presença de Deus ao seu lado auxiliando-o, mantenha acessa
esta chama mais algum tempo: este é o grande desafio da reforma íntima...
Por causa desta busca de Deus, mesmo ainda fundamentado na realização humana, é que
digo que o pedido de ajuda que o ego cria é um instrumento para a elevação espiritual. Ele lhe
proporciona a oportunidade de sentir-se ligado a Deus e, com isso, lhe dá a chance de lutar para
manter esta ligação em seu coração.

Por isso não disse que é certo e nem errado. O que disse é que é desnecessário para
aqueles que compreendem a verdadeira ação de Deus ajudando o espírito a cada segundo.
Aquele que imagina necessário pedir ajuda de Deus vive o mesmo processo de alguém que
é introspectivo e que quando bebe fica expansivo. Como esse credita à bebida o seu novo estado
de ser, quer sempre estar sintonizado com ela. O buscador de Deus é a mesma coisa. Quando ele
descobre como é gratificante viver em comunhão com Deus, busca sempre sentir-se ligado ao Pai.

Quando este ser, que sabe da glória que é viver unido ao Pai, não mantém a ligação depois
que aparenta estar resolvida a vicissitude negativa, o ego cria, então, a ideia de um novo pedido
para que o ser busque ligar-se ao Senhor. Por isso disse que não é certo nem errado, mas apenas
um instrumento da elevação do ser.

Agora, não é a realização da reforma. Tão logo o ser consiga compreender perfeitamente o
que é estar sintonizado com Deus ele deve largar o pedido ou o agradecimento.

Participante: é como uma criança que sabe que o pai está o tempo todo ao seu
lado, mas quando está com problemas vai pedir ajuda, mesmo sabendo que o
pai iria ajudar do mesmo jeito. Acho que é uma carga de sentimento de criança.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 60

Sim, é um ato infantil.

Eu acho que já está na hora de amadurecermos. Já não somos mais crianças,


espiritualmente falando. Estamos em um processo de mudança de padrão de encarnação, ou seja,
passando da infância para a juventude. Na juventude temos que amadurecer.

Por isso não adianta ficarmos nos justificando que agradecer e/ou pedir é bom. Lembrem-
se: a criança que acha que é bom ser criança jamais amadurece.
Então, é preciso ter a consciência de que isso é um processo infantil e desejar amadurecer-
se. Se não fizermos isso, vamos ficar adulto criança.

 O escândalo e outras questões

Participante: a passagem do evangelho que diz que o escândalo é necessário


mais ai daquele que provocar o escândalo seria um complemento dessa
passagem que o senhor citou?

Sim, mas para a perfeita compreensão precisamos deixar bem claro o que é escândalo. Isso
porque os seres humanos se baseiam nos elementos materiais para afirmar se algo é um escândalo
ou não. Vou dar um exemplo para lhe explicar o que estou dizendo.

Desculpa, mas quando dou um exemplo, gosto dos trágicos, para nós compreendermos logo
que tudo é tudo, que um ensinamento serve para todos os acontecimentos da vida. Se só ficamos
no exemplozinho politicamente correto, banal, não se consegue compreender a realidade...

Vamos lá: matar alguém é um escândalo? Não.

Em O Livro dos Espíritos está escrito assim: ninguém morre antes da hora. Se isso é
verdade, não há escândalo em matar.

Nenhum ato, na verdade, é escandaloso, pois toda ação nada mais é do que uma criação
ilusória de uma personalidade temporária à qual o espírito está ligado para que este realize sua
provação. Ou seja, é uma representação teatral que cria uma oportunidade de elevação para o
espírito.
Mas, se o ato em si não é um escândalo e este existe, já que Cristo afirmou isso, o que é o
escândalo? O espírito escandaliza o seu mundo quando vive em uma sintonia diferente de Deus, ou
seja, quando não vivencia com amor universal os acontecimentos da vida carnal.
O ser humano ter ganância não é escândalo, mas o espírito vivenciar como real e certo o
desejo de ganhar, escandaliza todo o Universo. O mundo espiritual liberto do egoísmo do ego se
escandaliza quando um espírito acha certo e justo querer ganhar acima dos outros: “meu Deus,
como aquele está apegado às coisas matérias, será que ele não sabe que isso não vai durar”?

Quando o ser humano critica o outro e o espírito aceita esta sensação como real, o mundo
espiritual pensa: “meu Deus, será que ele não ouviu o Cristo dizer que devemos amar o próximo
com a nós mesmos”. Se você ama o próximo como a si mesmo e se acha o certo, não deveria achá-
lo também certo?
Encarnação – a grande aventura do espírito página 61

Deixar levar pelas sensações que o ego cria: esse é o grande escândalo para o mundo
espiritual.

Agora podemos voltar ao ensinamento de Cristo: o escândalo é necessário, mas ai daquele


que escandalizar. Ou seja, a sensação de crítica, a ganância e todas as sensações humanas são
necessárias, mas ai daquele que a vive como real, ai daquele que se apegue a elas.

Participante: comentário de Sai Baba: “em vez de encher a sua cabeça com
erudição e conhecimento livresco é muito melhor encher o seu coração com
amor”. Linda frase que vem de encontro ao que continuamente é dito aqui.

Sim, o conhecimento adquirido através do estudo não leva a lugar nenhum. Mas, apesar
disso eu continuo ensinando coisas. Por que ajo assim?

Para ser fiel a isto que ensino, deveria chegar aqui e dizer: ame; ame a Deus acima de todas
as coisas e ao próximo como a si mesmo; ame a tudo e a todos. Se dissesse isso teria dito tudo o
que eu tenho para dizer. Mas, infelizmente vocês não sabem o que é amor. Por isso continuo vindo
aqui e falando.

Mas, não faço isso para construir nada, mas sim pregando a destruição. Repare bem que
eu não falo para construir nada: tudo o que digo tem como objetivo destruir os padrões com o qual
convive com os acontecimentos do mundo. Ajo assim porque com a destruição dos seus conceitos
acaba o seu amor conceitual (o que é bom ou mal) e daí você pode alcançar o amor universal.

Só a destruição do velho pode levar ao amar verdadeiramente: isso não se consegue através
de construção com novos estudos.

Participante: então, reforma íntima é dar atenção ao ego e só a ele?

O que é dar atenção só ao ego? Dizer que existe vicissitude ruim e boa. Aquele que dá
atenção apenas ao que o ego diz vive as realidades criadas por ele como reais.

Então, reforma íntima é o contrário: é não dar atenção ao ego. A elevação espiritual se
consegue quando não se dá atenção ao ego.

Portanto, se o ego diz que a vicissitude está ruim, ao invés de buscar em Deus ajuda para
melhorar, lute contra ele: não acredite na ideia que a personalidade transitória está lhe dando. Se o
ego diz que a vicissitude é boa, não agradeça a Deus, mas lute contra o ego para não acreditar no
bom que ele está criando.

 Encerramento

Chegando ao fim de mais uma conversa, neste estudo que intitulamos de “Encarnação - A
grande aventura do espírito”, posso dizer que vimos a definição de encarnação e evoluímos no tema
conhecendo o ego e o processo de ligação com ele ou a encarnação propriamente dita. Estudamos
sobre o ego: o que é, como se forma, como age.
Hoje vimos o que é reforma intima, ou seja, o que é a luta contra o ego, o caminhar na
encarnação. Descobrimos, também, o que cada um vai receber quando alcançar a elevação
Encarnação – a grande aventura do espírito página 62

espiritual. O que precisamos agora é compreender os instrumentos para essa luta, para essa
mudança interna.

Precisamos ver como fazer para deixar de usar a ganância e começar a usar o amor
universal; para deixar de usar a raiva e começar a usar o amor universal; para deixar de usar o
individualismo e começar a usar amor universal.

As armas para conseguir realizar isso é o conteúdo de todo ensinamento que trouxemos em
sete anos de conversas e palestras e será o trabalho que vamos começar a partir do próximo
encontro. A partir da próxima palestra vamos falar das armas para essa luta.

Porém, ao verem essas armas, não se esqueçam do que ensinou Cristo: eu não vim trazer
a paz, mas a espada.

A espada que vamos ver a partir da próxima palestra deve servir para você lutar contra o
ego e não contra os outros. Copiando o mestre, digo que eu também nunca trouxe a paz para
ninguém, mas vim conversar sobre a espada que Cristo ensinou, para que cada um possa executar
a sua luta, que nós chamamos de reforma intima.

Enfim, a partir da próxima conversa vamos falar sobre os instrumentos que o espírito precisa
usar para promover a sua mudança de padrão humano para atingir o padrão espiritual.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 63

4. As armas para derrotar o ego

A preparação para usar as armas

 Resumo do que já foi visto

Vamos começar o estudo de hoje.

Estamos falando sobre encarnação, que definimos como a grande aventura do espírito.

No primeiro dia, dissemos que encarnar não é vir à carne, mas ligar-se a uma consciência
transitória diferente da real do espírito. Dissemos, ainda, que essa consciência é um conjunto de
valores e verdades que geram a realidade ilusória que o espírito vivencia como real. Afirmamos que
enquanto ligado à consciência espiritual o ser universal vive uma realidade e depois que se liga à
encarnação, ou à consciência material, ou ao ego, passa a viver outra realidade.
Depois conversamos sobre o ego. Dissemos que ele tem duas partes: a primeira é a técnica,
aquela que cria a forma das coisas, ou seja, que dá forma da parede, da laranja, etc. Além da forma,
a consciência transitória também cria na parte técnica o sabor, o cheiro e o som das coisas.

Sim, é o ego que cria o gosto da laranja. Na verdade a laranja é um acumulado de fluidos
cósmicos universais que não possuem sabor ou odor. É o ego, ou a consciência padronizada para
a vida na Terra, que faz o espírito vivenciar o fluido cósmico como uma laranja.
Sobre o ego dissemos mais: ele possui a parte técnica, mas também tem uma emocional.
Ele cria as formas, mas também as sensações ou emoções que o ser vivencia durante a encarnação.

Definimos essas emoções geradas pela personalidade transitória como as sensações que o
espírito sente quando ligado à carne ou ligado ao ego. Ou seja, afirmamos que é o ego que lhe diz
que deve ficar triste, que você está com raiva, que está frustrado.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 64

Este foi o resultado de nosso estudo sobre o ego: saber que ele é composto de duas partes.
Uma que cria as formas das coisas e outra que diz com que emoção o espírito deve vivenciar aquilo
que ele criou.
Na verdade não dissemos que o espírito tem que vivenciar as formas criadas pelo ego
vibrando dentro do padrão emocional que ele cria. Afirmamos que o ser universal que vive ligado a
esse ego deve escolher o seu padrão vibratório. Esta escolha, segundo o que afirmamos, consiste-
se em optar pelo padrão emocional que o ego está criando ou vibrar universalmente, ou seja, com
amor universal.

Vou dar um exemplo do que dissemos. Se o ego diz que o espírito está triste, ele não precisa
necessariamente ficar triste. Na verdade, o ser universal pode escolher entre sentir-se triste ou não.

Por isso afirmamos que mesmo que a personalidade humana à qual o espírito esteja ligado
esteja triste, isso não quer dizer que o ser universal que está vivenciando aquela encarnação também
o está. Ele pode estar feliz na tristeza.

Ainda sobre este tema afirmamos: esta opção sentimental é o que comumente é chamado
de livre arbítrio. O espírito tem o livre arbítrio de vibrar dentro do padrão sentimental imposto pelo
ego ou de optar pelo universalismo.

O resultado desta livre opção do espírito gera, então, a realidade que este ser vive. Se o
espírito, por exemplo, escolhe viver a tristeza que o ego está gerando, ele viverá uma realidade triste;
se não aceita a emoção criada pela consciência temporária, ele pode vivenciar o mesmo momento
em felicidade.

Ao falar isso, deixamos bem claro que o ego não cria a tristeza aleatoriamente. Pelo
contrário, ele age de uma forma padronizada de acordo com as necessidades da encarnação de
cada espírito. Ou seja, ao gerar uma infelicidade a personalidade transitória está criando uma
provação para o ser universal, pois está criando um dos polos sobre os quais o espírito exercerá o
seu livre arbítrio.

É por isso que algumas coisas para vocês, humanos, são tristes. Elas são deste jeito porque
são situações criadas pelo ego para gerar ao espírito a oportunidade de cumprir uma das finalidades
da encarnação: provar o que aprendeu fora da encarnação.

Estas coisas falamos no segundo dia de conversas. No terceiro, falamos sobre reforma
íntima.
Naquele dia chegamos à conclusão que ela devia ser realizada dentro do ser (na sua escolha
sentimental) e não através de atividades externas (ações). Depois definimos o que era essa reforma
de dentro: não se subordinar às emoções que o ego cria
Para explicar bem esta reforma, dissemos que o ego, a partir de determinadas sensações,
gera pensamentos que trazem a sensação do inconsciente para o consciente. Dissemos ainda que
se o espírito se aprisiona a esta ideia não executa reforma alguma. Falamos que aquele que se
reforma não se aprisiona a elas. Por isso concluímos, naquele momento, que o espírito não é
obrigado a sofrer ou muito menos a ficar alegre: ele simplesmente recebe a ideia de estar sofrendo
sem sofrer.
Desse último conhecimento deduzimos que o que precisa ser feito pelo espírito durante o
período que está ligado à consciência transitória (encarnado) é alcançar a liberdade das sensações
Encarnação – a grande aventura do espírito página 65

propostas pelo ego. Não falamos em mudança, ou seja, em ficar alegre quando há a ideia de estar
triste, mas sim em libertar-se da ideia de estar triste ou alegre.

Para conseguir isso dissemos que o espírito deve simplesmente manter–se equânime, ou
seja, na palavra de vocês, apático. Se o ego propõe prazer em algum acontecimento, o espírito deve
ficar apático; se o ego propõe choro de dor, o espírito deve ficar apático.

Esse é o trabalho da reforma intima, esse é o objetivo do espírito empreender a grande


aventura. Ele precisa aventurar-se na ligação com uma consciência diferente que cria uma realidade
ilusória simplesmente para provar que é capaz de optar pelo universalismo ao invés de vivenciar
tudo o que a personalidade diz que é real.
Para hoje prometemos começar a falar dos instrumentos para a reforma intima, ou seja, da
espada que Cristo afirma ter trazido para que os espíritos matem o ego. Mas, antes de qualquer
coisa, deixe-me esclarecer algo: o matar o ego não trata-se de assassiná-lo, mas extingui-lo por
inanição. Isso acontece quando o espírito não se deixa levar pelo que ele propõe como real.

Não aceitar que as informações geradas pelo ego sejam realidades, elimina a influência da
personalidade transitória sobre o espírito. Mas, para realizar este trabalho, é preciso conhecer os
instrumentos necessários. É isso que vamos fazer agora.

Vamos, então, começar a conversa de hoje.

 Reformar não é mudar

Pergunto: o que é um instrumento de reforma intima? Algo que lhe ajuda a libertar-se do
ego.

Acho que isso é claro, não? Se promover reforma intima é libertar-se do ego, o instrumento
da reforma intima tem que ser algo que vá ajudar o espírito a libertar-se da personalidade transitória.

O que o ego cria quando ele traz ao consciente uma parte técnica e um sentimento? Quando
cria a parede e uma sensação com relação à ela, o que ele cria? Uma realidade.
O ego cria realidades, como por exemplo, ‘aquela parede é feia’. Esta ideia é o resultado da
conjunção da criação técnica (parede) com uma emocional (feia). Quando esta ideia chega ao
consciente, se transforma, então, numa realidade...

Mulher bonita, mulher que não presta, coisa velha, coisa nova, certa, errada, bonita, limpa,
suja: tudo isso são realidades que criadas pelo ego e não realidades reais. Não são reais porque
não existe a forma que está sendo adjetivada e nem o adjetivo que lhe é aplicado. Isso porque o
adjetivo é fruto de um conceito individual e no universo apenas o que é universal é real.
Com esta simples observação, chegamos, então, a uma conclusão para algo muito discutido
no planeta de vocês: se reforma íntima é libertar-se das realidades criadas pelo ego, ela se consiste
em não acreditar nos adjetivos que o ego cria para as coisas.
Esse é o primeiro detalhe do estudo da espada que Cristo diz ter trazido.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 66

Sendo a reforma intima a mudança na sua relação como o ego e se o que ele faz é criar
realidades, ela consiste-se em libertar-se das realidades que o ego cria sobre as coisas. Simples,
não?
Agora repare: não estou falando em mudar a realidade. Não se trata de ao achar uma parede
feia, passar a achá-la bonita. Isso porque parede não é feia e nem bonita: parede é parede.

Parede é uma representação por formas do fluído cósmico universal. Como o fluído cósmico
universal não é feio nem bonito, o espírito precisa aprender a se relacionar com a parede que é
criada pelo ego à partir dele sem nenhuma opinião individual.

Sendo assim, posso dizer que o espírito encarna para provar que é capaz de se relacionar
com a parede e todas as coisas do mundo material sem os valores que o ego propõe para elas.

Ficou claro isso? Não é apenas uma dedução óbvia de tudo que já estudamos em outros
livros? Mas, não é isso que a cultura humana fala sobre o tema.
A cultura humana afirma que reformar-se é mudar a parede e as demais coisas do mundo.
Ela diz que reformar-se é mudar-se externamente, ou seja, mudar as coisas do mundo. Isso é
impossível e está fora do controle do espírito.

Como vimos, o espírito escolhe antes da encarnação o gênero de suas provações. Com isso
ele cria um padrão personalizado de ser, pois a forma como será, ou seja, como entenderá as coisas
do mundo, é a sua provação. Se ele se mudasse externamente, ou seja, se tivesse ideias diferentes
sobre as coisas, a encarnação não mais corresponderia ao gênero de provas pedido por ele mesmo.

Portanto, o que precisa mudar é a forma do espírito interagir com a parede no seu íntimo e
não mudar a parede ou qualquer outro elemento material.

Por exemplo: muita gente diz que praticar caridade é doar um prato de comida. Se isso fosse
verdade Cristo teria aberto um restaurante para dar comida de graça a todos. Mas, não foi isso que
ele fez.
O quê que Cristo fez na verdade? Ensinou o espírito a vivenciar realidades diferentes
daquela que estava enxergando. Todo trabalho de Cristo é no sentido da construção de uma nova
realidade a partir da fé em Deus. Quando o espírito usa a fé em Deus ao invés do que lhe vem à
razão, todas as coisas deixam de ser o que pareciam ser e ganham uma nova realidade.

É isso que é o trabalho da reforma intima: alterar a vida que o espírito vive, a forma como
ele vivencia os valores da sua vida carnal e passar a viver tudo de uma forma equânime e com fé.
Ficou claro isso?

Este é o primeiro aspecto que queria falar hoje. É importantíssimo tê-lo em mente antes de
falarmos propriamente nas ferramentas, pois eles criam uma nova dimensão para as ferramentas
que vamos comentar.

A partir dele podemos entender que as ferramentas para a reforma íntima precisam ser
elementos que destruam uma realidade. Que destruam a realidade com a qual o ser humano vive.
Mas, além de tudo, as ferramentas têm que ser elementos que não criem uma nova realidade.

Ou seja, elas precisam destruir o feio da parede, mas não podem criar uma parede bonita.
Precisam criar só a realidade parede, sem adjetivos, sem opiniões individuais.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 67

 Conhecer a personalidade humana

Vamos agora falar do segundo aspecto das ferramentas da reforma íntima. Aliás, este é um
aspecto que em qualquer coisa da vida não vem ao mundo das ideias humanas.

Quando se propõe qualquer coisa ao ser humano, qual a primeira coisa que ele faz? Vai e
faz. Ele não se prepara para fazer; sai fazendo.
Ele vai ao centro espírita e dizem: você tem que fazer reforma intima. Rapidamente sai
correndo para fazer reforma intima. Mas, quando isso acontece, nada se faz, porque não houve uma
preparação para fazer. Você precisa se preparar para promoção da reforma intima...

A primeira preparação necessária quando se fala em reformar-se, ou seja, mudar-se, é saber


que a personalidade humana é uma coisa e você é outra. Não é isso? Reformar-se não é isso: ser
uma coisa e deixar de sê-la?

Para iniciar esta preparação, pergunto: o que é a personalidade humana, você, que um
espírito vivencia hoje?

Como é que o espírito vai deixar de ser a personalidade humana se não sabe quem ela é
hoje? Como é que se parte para fazer uma reforma intima se não se sabe o que tem que se mudar
em si mesmo?

Falo assim porque, mesmo que não veja isso, a personalidade humana sempre se considera
certa em tudo. Mesmo que ela esteja errada, o ego cria um novo certo para que ela, então esteja
certa.

Com a personalidade humana considerando-se certa e o espírito acreditando que isso é real,
durante a reforma íntima não buscará libertar-se das realidades criadas pela personalidade
transitória. Só o que a personalidade humana, você o ser humano, considerar errado é o que espírito
aceitará libertar-se.

Mas, como dissemos, o espírito não deve libertar-se apenas do errado, mas também do certo
criado pelo ego. Ele tem que libertar-se de todas as ideias que a personalidade temporária cria e não
apenas daquilo que a personalidade humana diz que é errado: isso é reforma íntima...
Este é o segundo detalhe na preparação para a reforma íntima: o espírito precisa saber onde
está agora a personalidade humana que vivencia na sua aventura. Ele precisa saber quem é esta
consciência à qual está ligado para aí, então, pensar em libertar-se dela. Ou seja, saber o que mudar
e para onde.

Este é o segundo detalhe que precisamos conhecer antes de falarmos da espada crística:
reconhecer-se. Reconhecer o que na realidade é a personalidade transitória à qual está ligado.
Muitos querem fazer a reforma intima, mas não sabem quem é esta personalidade. Como
libertar-se de alguma coisa se você ainda se considera certo? Como é que o espírito vai se libertar
de alguma coisa se ele não sabe do que tem que se libertar?
Por isso, antes falarmos dos instrumentos da reforma intima vamos reconhecer qual é a
situação atual de qualquer ser humano. Só depois de sabermos isso poderemos entender do que
Encarnação – a grande aventura do espírito página 68

termos que nos libertar quando acabar a reforma intima. Apenas quando tivermos esta consciência
poderemos, então, aprender a usar esses instrumentos.

Portanto, esses são os dois aspectos dos instrumentos que vamos falar hoje. A cada
instrumento precisaremos falar o que é hoje o ser humano, como ele vive hoje e como deveria ser a
existência dentro do universalismo.

Entretanto, ao abordarmos estes aspectos, não estaremos criticando o ego, o ser humano.
Lembrem-se do que disse antes: o ego é minuciosamente preparado dentro das necessidades da
aventura do espírito. Ou seja, quando demonstrarmos como são as realidades criadas pelo ser
humano estaremos tendo sempre em mente que elas precisam ser assim para que o espírito possa,
então, realizar a sua provação.

 Perguntas sobre a reforma íntima

Participante: como se preparar para as mudanças?

É isso que nós vamos falar hoje.


Participante: devemos procurar ouvir o que as pessoas dizem da gente?

Não, não precisa de tudo isso... Se você for se levar pelas pessoas vai acabar se tornando
no que os outros querem e não no que Deus quer.

Nós vamos entender isso já, já.


Participante: mudar para Deus... A mudança é mudar para Deus?

Sim, é mudar para Deus. Mas, veja: isso para os seres humanizados ainda é muito
inconsistente.

Como mudar para Deus se nós não sabemos nem quem é Deus ou o que Ele é ou como Ele
é? Temos noções sobre o assunto. Cada um tem uma noção individual sobre Deus, mas não O
conhece na verdade... E, realmente, jamais O conheceremos através do mundo das ideias.

Tudo o que um espírito vivencia durante a encarnação, ou seja, quando não ligado à sua
consciência primária, são as ideias que o ego cria sobre Deus, e sobre qualquer outra coisa, e não
a realidade do Senhor. Se a personalidade humana mudar esta ideia, a mudança do espírito ainda
continuará presa a uma noção individual de Deus. Com isso ele não se muda, pois em essência
continua acreditando no que o ego diz ser Deus.
A reforma íntima consiste-se do espírito libertar-se do ego e mudar-se para Deus, mas sem
esperar que a personalidade humana identifique o que é Deus para depois se mudar.

Respondendo-lhe, então, afirmo que reforma intima consiste-se na mudança para Deus. Só
que isso não deve levar ao apego ao que o ego diz que é Deus. É preciso que o espírito se
conscientize que o Senhor é, no momento, algo inatingível, intocável e inexplicável, ou seja, um
nada. A partir daí deve libertar-se de qualquer ideia que defina Deus...
Encarnação – a grande aventura do espírito página 69

Portanto, de nada adianta se apegar à ideia do ego que afirma que tais comportamentos
denotam uma vivência com Deus. Como a personalidade transitória pode afirmar isso se nem sabe
quem é o Pai e o que Ele quer para seus filhos?
É justamente por acreditar nas ideias sobre Deus que o ego cria que o espírito apega-se à
condenação de um assassino. É a partir destas ideias que o espírito acredita que Deus não queria
que o outro fosse assassinado. Será que Ele não queria mesmo?
Este é o problema da reforma íntima: o espírito quer se mudar para Deus, mas um Deus que
seja compreendido através das ideias humanas. Só que quando faz isso, não se muda para nada,
porque continua apegado às ideias, mesmo que elas sejam diferentes de outras que a personalidade
humana teve antes.

Compreenda: quem cria a realidade de um assassinato, por exemplo, de ter acontecido uma
maldade, é o ego. No Universo de Deus não existe maldade, não existe dor.
Participante: depois que nos despirmos do ego serremos o quê? Mestres?

Não, espíritos.

Participante: só que espíritos mestres, como são chamados aqueles que são
evoluídos, não?

Não.

Quando conseguirem se libertar do ego serão apenas espíritos que terão voltado à sua
consciência espiritual. Enquanto se acreditar como ser humano, não importa se na sua consciência
espiritual é um mestre ou qualquer coisa que denote evolução, você será humano. Enquanto se
considerar como ser humano que vive uma vida humana, você é escravo do ego.

Na hora que se entender como um espírito vivendo uma aventura espiritual na encarnação,
aí se libertou das criações da mente e poderá deixar de ser humano. Mas, isso não quer dizer que a
sua vida material mudará: continuará vivendo a mesma vida que vive o seu vizinho, que pode ser
até um bandido.

Portanto, enquanto você, o espírito, estiver preso ao ego será ser humano. Quando se
libertar deste, ou seja, não mais creditar como real as realidades que ele cria, então será um espírito
na carne.
Participante: então, nessa vida não tem como nos despirmos totalmente do ego?

Não, porque sem o ego você não pode viver.


É impossível ao espírito se despir do ego: o que pode ser feito é se libertar da ação
sentimental que a personalidade humana lhe propõe, ou seja, da dualidade do prazer e da dor, do
bem e do mal, do certo e do errado.
Isso é o que o espírito pode fazer; despir-se antes do fim da aventura encarnatória jamais.

 Não existem santos


Encarnação – a grande aventura do espírito página 70

Vamos, então, conhecer as duas coisas necessárias para se entender a espada que Cristo
trouxe.

Primeiro: onde você, o espírito, está hoje? Está em um estágio espiritual que chamamos de
ser humano ou ser humanizado. Você é um espírito, mas neste momento está vivenciando um
estágio da sua existência eterna que chamamos de ser humanizado.

O que é um ser humanizado? É um espírito ligado a um ego, a uma consciência transitória


que lhe constrói realidades ilusórias, que vamos chamar de humanas. Todos que estão encarnados
neste planeta vivem nesta condição, por mais espiritualizado que seja.

Isso é preciso ficar bem claro. O que estou querendo dizer é que todos os espíritos
encarnados no planeta Terra estão dentro de uma mesma faixa vibracional. Saiba que não existem
santos sobre o planeta: todos que estão encarnados estão sobre a influência de um ego e, por isso,
são seres humanos.
A partir desta constatação podemos começar a entender as características da humanização
do ser, ou seja, característica que os egos aos quais os espíritos encarnados na Terra possuem.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 71

Características dos seres humanizados

 Só o que é percebido existe

Primeira característica do ser humanizado: característica material.


O que quer dizer isso? O ser humanizado é um ser perceptivo, ou seja, tem percepções
(visão, audição, olfato, paladar e sensibilidades do corpo) que fazem parte das realidades com as
quais convive.

Vou dar um exemplo disso: você está sentado onde?


Participante: cadeira.

Isso: você está sentado numa cadeira. Repare na resposta e veja como está preso à matéria.

Falo assim porque você está conosco desde a primeira conversa deste estudo e, por isso,
já me ouviu dizer que os objetos materiais são formados por fluído cósmico universal. Por isso
deveria ter me respondido ‘estou sentado em fluído cósmico universal’. Mas não fez...

Por que não fez? Por que, apesar de já ter a informação e dizer que entendeu o ensinamento,
você ainda falou que está sentado numa cadeira? Porque vocês podem saber das coisas espirituais,
mas não conseguem vivenciá-las.
Você sabe o que falei, compreendeu o que mostrei sobre a realidade das coisas, mas o
apelo para viver o que é percebido dentro forma humana é maior do que a nova lógica que recebeu.
Foi por isso que não me respondeu que estava sentado em fluído cósmico universal.

Mas, mesmo que quisesse forçar esta resposta – falar apenas por falar que estava sentado
em fluído cósmico universal – mesmo assim ainda estaria errado. Por quê?

Porque, se você realmente fosse consciente do que falei antes, teria que me dizer que não
estava sentado. Isso porque se a cadeira é fluído cósmico universal, já que é um elemento do mundo
material, o corpo humano também é composto pelo mesmo elemento. Neste caso, não haveria na
sentado: o fluído cósmico estaria em contato consigo mesmo.

Essa é a primeira característica do ser humanizado: por mais que tenha informações do
mundo espiritual, vive a vida material, a realidade do mundo material, através das percepções do
corpo. O que o ser humanizado, por mais espiritualizado que seja, vê, existe; o que prova o sabor,
existe; o som que ouve, existe.

Vou mais além: se algo não for percebido por nenhuma destas percepções, para o ser
humanizado não existe, não é real. Quer um exemplo? Se eu perguntar quantos seres há aqui hoje,
com certeza vocês vão contar os corpos presentes.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 72

Mas, vocês não acreditam em espíritos fora da carne? Não sabem que eles estão em todos
os lugares? Será que não existem seres incorpóreos aqui hoje? Como, então, vão contar apenas os
corpos humanos quando pergunto quantos seres estão presentes hoje?
Só o que percebem existe para vocês. Mas, tudo o que vocês percebem, na realidade, não
existe. Todos os elementos do mundo material, que é o que é percebido, são criados pelo ego, pela
parte técnica do ego. Na realidade real (a do espírito, do Universo) só existe a matéria universal, o
fluído cósmico universal, que não possui densidade, forma, sabor ou cheiro.

Os objetos do mundo material, sejam eles quais forem, são imagens geradas pelo ego a
partir da percepção do fluido cósmico universal. Eles não são reais, mas apenas uma imagem criada
pelo ego a partir de algo completamente diferente.

Essa é a primeira característica de um ser humanizado, ou seja, é o ponto de partida para o


espírito que quer promover a reforma intima: compreender que precisa libertar-se da realidade
material que vive.

 Não se pode conhecer o que não percebido

Portanto, cadeira não é cadeira. Também já disse que chamar a cadeira de fluído cósmico
universal é estar fora da realidade, pois vocês não sabem o que é isso. A partir destas constatações,
pergunto: para o espírito que está ligado ao ego, o que deve ser uma cadeira? Nada.

Lembrem-se do que eu já disse: não é criando uma nova realidade que o espírito promoverá
a sua reforma íntima. Isso só acontecerá quando ele se libertar da realidade virtual, da realidade que
o ser humano conhece.

Mesmo que o ego crie uma ideia que afirme que tudo é fluído cósmico universal, o espírito
também não deve apegar-se a ela. Por quê? Porque esta ideia é fomentada por figuras materiais
que são ilusórias.

O ego só é capaz de trabalhar com elementos conhecidos do mundo material. Para tudo que
não é conhecido, ele não consegue fazer uma figura, gerar uma forma. Por isso, qualquer ideia que
tenham sobre as coisas não perceptíveis jamais será capaz de exprimir a realidade real delas.

Como o fluído cósmico universal existe num mundo onde não há formas, o ego não
consegue gerar imagens dele. O máximo que faz é criar ideias, ou seja, comparações com elementos
conhecidos. É por isso que vocês chamam o elemento universal de energia.

Fluído cósmico universal não é energia. Aliás, fluído cósmico universal é energia, mas
energia não é o que vocês conhecem como energia.
Falo assim porque a energia que vocês conhecem é apenas uma figura, uma representação
criada pelo ego para o fluído cósmico universal. É assim que o Espírito da Verdade responde à
Kardec quando o Codificador pergunta se o fluído cósmico universal é a energia elétrica que os
humanos conhecem.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 73

“27a. Esse fluído será o que designamos pelo nome de eletricidade? Dissemos
que ele é suscetível de inúmeras combinações. O que chamais fluído elétrico,
magnético, são modificações do fluído universal, que não é, propriamente
falando, senão matéria mais perfeita, mais sutil e que se pode considerar
independente” (O Livro dos Espíritos)”

Portanto, a reforma íntima consiste no espírito lutar contra as realidades que o ego que
atribuem formas às coisas que são percebidas. Isso porque, depois de criar formas para as coisas,
o ego propõe emoções que vão dizer que aquela forma é bonita ou feia, limpa ou suja.

Eu pergunto: se não houver chão, como é que vai haver sujeira? O espírito que luta
inicialmente para libertar-se das formas criadas pelo ego mais facilmente repudia as emoções, pois
não encontra mais sentido para elas existirem. Já o espírito que continua acreditando nas formas
tem mais dificuldade de realizar a reforma do seu interior, pois os objetos que o ego cria são sujeitos
ao dualismo.

 O dualismo não existe

Mas, mesmo o dualismo criado pelo ego é falso. No Universo não existe nada dual.

Um dia perguntei a uma pessoa: como é o nome desse piso que vocês usam? Ele me
respondeu: cerâmica. Aí perguntei: do que ele é feito? De terra, barro, responderam-me. A partir
disso eu perguntei: o que vai sobre este piso que vocês chamam de sujeira?

Pois é, a sujeira terra e barro é feia quando está sobre a cerâmica que é terra e barro.
Ambíguo isso, não?

Aí o ser humano me respondeu humanamente: mas isso é cerâmica, aquilo é sujeira. Não,
isso é terra e barro e aquilo é terra e barro. Eles são iguais porque são compostos pelos mesmos
elementos. É o ego, o gerador de provações do espírito, que separa terra e barro em cerâmica e em
sujeira.
NOTA: Apesar de não ter citado diretamente, o comentário do espírito amigo fala
de conceitos. O mesmo elemento humano sujeito a conceitos pré-formados pode
deixar de ser bom para ser ruim, de ser belo para ser feio.

Além de separar a terra e barro em duas verdades, gerar o dualismo, o ego cria a sensação
de que sujeira não é bom e que cerâmica sem sujeira é, o que se consiste em um novo dualismo.
Mais: cria a ideia de que a terra e barro chamada de sujeira não deve estar ali, apesar de
tecnicamente ser a mesma coisa da cerâmica. Isso gera um novo dualismo: estar ou não estar.
Se tudo o que o ego cria é irreal, posso dizer, portanto, que todo dualismo, toda visão dual
sobre as coisas deste mundo, é apenas uma ilusão gerada pela personalidade transitória. Tudo é
uma coisa só (fluído cósmico universal e não possuem as qualidades que o ego dá a elas.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 74

“30. A matéria é formada de um só ou de muitos elementos? De um só elemento


primitivo. Os corpos que considerais simples não são verdadeiros elementos, são
transformações da matéria primitiva. (O Livro dos Espíritos”.

 Culpa

Concluindo, então, afirmo: enquanto o espírito não se libertar da visão Terra sobre as coisas
– ver sujeiras – vive a emoção como real e vai, então, apegar-se à ideia de que aquilo tem que ser
limpo.

Mas, não para por aí... A partir desta aceitação o ego criará um culpado – aquele que deixou
a sujeira ali – e junto com esta ideia uma nova emoção que servirá de provação ao espírito que está
ligado a esta personalidade humana.

Mas, essa é outra história que vamos falar depois.

 Nada pode ser aceito

Esta é a primeira característica da humanidade do ser e a primeira coisa que precisa ser
alterada. Mas, como falei, esta alteração não se trata de alterar valores ou nomes das formas.

De nada adianta ao espírito que quer promover a sua reforma íntima começar a chamar a
parede de rabo ou de qualquer outra coisa. Isso simplesmente não vai lhe levar a lugar algum. O
que ele precisa alcançar é a ausência de qualquer valor humano. Como disse Cristo, vencer o
mundo, vencer os valores que são dados às coisas do mundo pela personalidade transitória.

O que é parede? Não sei. Este é o trabalho que o espírito precisa realizar para alcançar êxito
na sua aventura.

Sabe por que isso? Porque além das verdades individuais (conceitos individuais), existem
diversas verdades (conceitos) que são coletivas. Estas verdades surgem de forma espontânea no
ego e por fazerem parte de uma chamada cultura geral, o espírito se prende automaticamente a elas
como real a partir do momento que vive a realidade de uma forma.

Na parede nós temos um bom exemplo disso. Quando se fecha a porta de um quarto cercado
de paredes, o ego humano cria a ideia de que ninguém está lhe vendo. Por quê? Porque existe um
conceito geral que afirma que a parede bloqueia a visão.

Doce ilusão. Tem muito mais gente observando as ações que estão sendo praticadas neste
momento do que se este ser humano estivesse no campo de um estádio de futebol.

Que ver outro exemplo? O ego afirma: eu sou mulher, pois possuo um corpo de mulher e
por isso devo me identificar como mulher. Quantos conceitos surgem a partir dessa identificação de
Encarnação – a grande aventura do espírito página 75

um sexo que o ser humano (ego) se acha obrigado a cumprir? Só para ficarmos no superficial, estes
conceitos dão aspecto de real a ideias como ter que andar sempre bem arrumada, de brincos, usar
maquilagem, etc. Não é isso?
Pois bem, o espírito que vive como real a ideia eu sou mulher, sente-se obrigado a fazer
tudo isso. Quando por qualquer motivo que o próprio ego crie para não fazer o que lhe é imposto, a
mesma personalidade humana gera a insatisfação de não ter realizado o que a feminilidade exigia e
justifica que esta insatisfação é real porque o conceito coletivo não foi atendido. Pronto, lá vai o
espírito aceitar esta insatisfação ao invés de optar pelo amor universal.

Além do mais, o ego utiliza-se dos mesmo conceitos para julgar os outros. Justamente pelo
espírito aceitar a identificação como mulher, passa a vibrar de uma forma não universal quando a
personalidade humana cria a ideia de cobrar de outras mulheres o cumprimento dos conceitos
humanos.
Veja, então, nos pequenos e corriqueiros exemplos que dei, como se prender a forma, ou
seja, as características humanas que o ego cria e diz que são reais através das percepções, leva o
ser a agir de uma determinada forma que não é universal. Estas coisas pequenas do dia a dia agem
como se fosse uma bola de neve levando o espírito a um aprisionamento profundo a tudo aquilo que
o ego diz que é real, àquilo que o ego determina para aquela forma.

Por isso na reforma intima é fundamental o espírito não se identificar com as formas que a
personalidade humana cria.

Volto a repetir: não se trata de mudar de seis para meia dúzia. De nada adianta o espírito
querer ser assexuado, ao invés de ver-se como homem ou mulher, porque esta condição humana
também possui diversos conceitos coletivos que vão aprisionar o espírito às emoções que o ego
criará.

Para a reforma íntima, o espírito deve não aceitar o valor de ser homem ou mulher, a
realidade de ser dessa ou daquela forma. Ao não aceitar esta imposição do ego, todas as obrigações
inerentes a ela somem e com isso as emoções são injustificadas.

 Obrigação

Participante: comentário sobre essas questões da feminilidade: enfeitar o corpo


alimenta o ego.

Como falei, dei exemplos simples e corriqueiros, mas também não me estendi em todos os
aspectos de cada um deles.
Na verdade, a feminilidade não leva só a obrigação de se enfeitar, mas, por exemplo, por
causa dos conceitos coletivos formados a partir da feminilidade a mulher exige que o homem abra a
porta do carro, que tem que ser tratada com carinho, que não pode ser alvo de brutalidade, que
alguns assuntos não devem ser abordados na sua frente, etc. Nenhum destes conceitos é realmente
real: tudo são ideias que o ego cria para justificar uma emoção que ele gerará para a provação do
espírito.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 76

Participante: então devemos parar com isso?

Achei que estava sendo até chato ao falar insistentemente que não se trata de mudar, mas
sim de libertar-se Agora vejo que preciso falar mais.
Não é parar de ser assim; é se livrar da obrigação de ser assim.

Como disse, evolução não é mudança, mas liberdade de ter que agir de uma determinada
forma padronizada. Não há nenhum problema em passar maquilagem na cara: o problema é sentir-
se obrigado a passar.

A obrigação do atendimento de uma regra coletiva ou individual cria o padrão de certo. É


certo passar maquilagem, por isso todas as mulheres têm que passar. Quando você acredita na
existência de um padrão coletivo como certo, se torna escravo dele – acredita que tem que cumpri-
lo.

Além de se tornar escravo, o padrão de certo serve como base para o julgamento de quem
não passa, classificando-o como errado.

Por que esta pessoa, para você, é errada? Porque ela descumpriu o seu padrão, que para
você é o certo. Mas, tudo isso só aconteceu por quê? Porque você aceitou o conceito coletivo como
real.

Mas, e se você agora criasse um novo padrão dizendo que as mulheres não devem se
enfeitar, será que isso acabaria com o julgamento dos outros? Claro que não: você passaria a julgá-
los a partir do novo conceito. Passaria a achar que quem usa está errado e quem não sua certo.

Portanto, a evolução espiritual não se trata de mudança de um padrão para outro, mas sim
da liberdade a qualquer padrão. Para isso é fundamental que o espírito compreenda que existe uma
realidade que não é a que ele vive no momento.

 Individualismo

Vamos, então, falar da segunda característica do ser humanizado. Sei que muitos de vocês
vão dizer que não possuem esta característica, mas ela existe e está presente em todos os egos.
Todo ser humanizado é individualista.

Essa é uma característica que precisa ser assumida: todo ser humanizado vive o mundo a
partir do eu e para o eu. Essa é à base de compreensão da vida para todos os seres humanos ou
humanizados: a personalidade humana se constitui num eu e vivencia a vida, ou seja, constrói
realidades, a partir deste eu e para ele.

Estou certo?
Participante: sim.

Porque você diz que estou certo? Porque você acha isso, não é mesmo? Quando age assim
está vivenciando o seu eu. Ou seja, mesmo quando você aceita que é individualista está vivendo o
Encarnação – a grande aventura do espírito página 77

eu. Como só vive o eu e seu conteúdo como realidade, se não achasse certo diria: está errado.
Acabei de dar um exemplo do individualismo da individualidade humana na sua plenitude.

O individualismo humano começa no eu e a ação individualista do eu começa quando ele


acredita que sabe ou não alguma coisa, quando ele quer ou não algo. Não importa o que seja que a
personalidade humana queira ou saiba, tudo o que ela tiver consciência de querer ou saber é algo
individualista.
Para poder deixar bem claro o que estou falando, vou usar um termo que é muito utilizado
pelos espíritas: crivo da razão. Toda vez que o ser humanizado passa alguma coisa pelo crivo da
razão ele foi individualista. O que é o crivo da razão se não o julgamento que o ego humano faz das
percepções a partir de suas verdades individuais?

A razão humana, aquilo que o ser humanizado pensa sobre as coisas é sempre
individualista. Trata-se do resultado de um julgamento do mundo a partir de si mesmo.
Aliás, é exatamente isso que o Espírito da Verdade diz:

75a. porque nem sempre é guia infalível a razão? Seria infalível, se não fosse
falseada pela má educação, pelo orgulho e pelo egoísmo. (O Livro dos Espíritos)”

Esta é uma característica da humanidade do ser que é ditada pelo ego. Isto porque quando
de posse da sua consciência espiritual, o espírito não tem nenhum individualismo. Ele não vive um
eu, mas um nós.

Tudo para o espírito liberto da personalidade humana é nós: nós fazemos, nós andamos.
Ele nunca vive apenas o eu: eu faço. Mesmo que no seu mundo, de posse de sua consciência, o
espírito não participe de uma ação, ele diz: nós fizemos.

Por que ele diz nós fizemos? Porque foi a comunidade espiritual que fez e ele participa desta
comunidade integralizado a ela. Portanto, é como se ele tivesse feito.

Esta é a segunda característica do ego humano que o espírito precisa estar atento: toda
personalidade humana é individualista, ou seja, vivencia realidades sempre fundamentadas no eu.

Sendo assim, posso dizer que reforma intima é o abandono do eu. Trata-se de libertar-se da
ação do eu e alcançar a ação do nós. Não se consiste em mudar o que se acha, porque enquanto
apenas se mudar o que acha continua preso no eu acho. Neste caso, não houve evolução alguma,
pois o ser ainda está preso a um individualismo: apenas mudou o que acha.

Por isso afirmo que os instrumentos para a elevação espiritual, para a reforma intima, têm
que propor o fim do individualismo para levar o espírito a participar do nós. Deve tirá-lo do
materialismo e levá-lo ao espiritualismo, ou seja, ao mundo onde as coisas valem pelos seus valores
espirituais e não pelos valores percebidos pelo corpo humano.
Resumindo, as duas características mais fortes do ser humanizado são: viver as
características humanas e ser individualista. Na verdade, estas duas características são a base
daquilo que vocês chamam de “mundo de provas e expiações”.
Todos os espíritos que encarnam no planeta Terra, mundo de provas e expiações, estão
ligados a egos que possuem as características humanas porque estão aqui para fazer provas. Estas
provas são no sentido dele libertar-se do individualismo e do mundo perceptivo alcançando, assim,
a vida na realidade espiritual e no nós.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 78
Encarnação – a grande aventura do espírito página 79

Instrumentos para a promoção da reforma íntima

 Espiritualismo

Podemos, agora, começar a falar dos instrumentos da ação da reforma íntima, que, como
disse, são instrumentos que precisam alterar realidades da vida humana. Estes instrumentos são
em número de três.

O primeiro: o espiritualismo. Vamos conversar sobre esse instrumento da reforma íntima


ensinado pelos mestres.

Nos ensinamentos dos mestres existe uma única definição de espiritualismo. Ela está em O
Livro dos Espíritos: ‘espiritualista é aquele que acredita haver em si algo mais do que a matéria’.
Mas, essa definição, que me perdoe Kardec, é muito pobre.

Mais adiante, em sua própria obra, Kardec ensina: de nada vale o conhecimento sem ação,
de nada vale o apego à letra morta. Aliás, este ensinamento também está presente em Krishna e em
Cristo. Sendo assim, não se pode ser espiritualista apenas por imaginar-se algo mais do que o corpo
físico, mas é preciso viver para esse algo mais. Por isso, vou tomar a liberdade de criar uma nova
definição para os termos espiritualista e espiritualismo.

Espiritualismo ou espiritualista é aquele que acredita haver dentro dele algo mais – que pode
ser chamado de espírito, alma, anjo ou o nome que você quiser dar – e que vive para esse algo
mais. Espiritualista é aquele que vive para o espírito. Aquele que sabe que é e vive para aquilo que
sabe o que é.

Por isso disse que a definição era pobre: não adianta apenas saber-se um espírito, para ser
espiritualista é preciso viver para o ser universal.

Esta arma ou instrumento da reforma intima é fundamental para os seres universais que
querem alterar as realidades que vivem. Por quê? Porque quem vive para o espírito não se vê como
humano e por isso não participa das coisas como o ser humano participa. Ou seja, não participa dos
acontecimentos do mundo preso às percepções e a partir do individualismo da personalidade
humana.

Por isso Cristo também ensinou através do Evangelho de Tomé: é preciso reconhecer que
era antes de existir. Disse mais: se você encontrar alguém que saiba que não é filho de mulher,
ajoelhe-se, pois este é o seu mestre.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 80

Então, espiritualismo é algo fundamental para o ser que busca a elevação espiritual. É um
instrumento de libertação da realidade criada pelo ego.

 Viver para o espírito

Mas, na prática, o que seria viver para o espírito, ser espiritualista? Será que para viver para
o espírito é preciso se abandonar a vida material? Será que é preciso abandonar o emprego, se
afastar do mundo, da sociedade e viver nu no meio do mato? Será que é isso? Vamos ver.

Como já definimos antes, viver é uma atividade mental ou sentimental. A vida humana é
gerada no encontro do ego com o espírito. Portanto, é aí que é preciso agir com o espiritualismo.

A ação espiritualista não se concentra no ato físico, mas na construção da realidade e


principalmente na construção do sentimento, da emoção, da sensação com o qual se vive a vida
carnal.

O contrário de espiritualista é materialista. O ser espiritualista ou materialista não se


reconhece pelo o que ele pratica fisicamente, pois a construção de realidade é feita pelo ego e não
pelo espírito. A diferença entre um e outro é caracterizada pela relação que o espírito mantém com
a ilusão proposta pelo ego como realidade.

Espiritualista é aquele que se relaciona com o ego sem prender-se a parte técnica e as
emoções que a personalidade humana propõe como reais. Por que isso? Porque o resultado da
parte técnica e a sensação que o ego propõe é o mundo material. Portanto, o espiritualista não deve
viver para este mundo.

Na verdade ele deveria viver para o outro mundo. Mas como fazer isso se o espírito que está
vivenciando a grande aventura encarnatória não tem consciência sobre aquele mundo?

O espírito apegado ao ego vive apenas a razão humana e como nela não existem elementos
sobre o mundo espiritual, posso afirmar que o ser universal encarnado não sabe como é o outro
mundo e nem sabe como viver no outro mundo. Por isso, viver para o mundo espiritual não se trata
de viver as coisas espirituais, mas apenas de não viver as coisas materiais. Vou explicar isso.
Então, espiritualista é aquele que o ego diz que ‘você está triste’ e ele não se sujeita a isso.
Espiritualista é aquele que o ego diz que ele tem que ter prazer, mas não se sujeita a isso.
Espiritualista é aquele que o ego diz que ele tem que ter soberba, mas não se sujeita a isso.
Enfim, espiritualista é aquele que o ego diz que ele tem que ter raiva, ganância ou qualquer
outra emoção humana e ele não se sujeita a isso, mesmo que os atos que ele vivencia pareçam ter
essa intenção.
Intenção. Essa é uma palavra muito importante para os espiritualistas. Tanto é assim que
Krishna, Cristo, Buda e outros mestres trouxeram todos os seus ensinamentos fundamentados na
intenção e não do ato.
A intenção dá uma motivação à ação. O materialista sente-se motivado durante os
acontecimentos por aquilo que o ego lhe diz que é certo, errado, bonito, feio, limpo, sujo, alegre ou
Encarnação – a grande aventura do espírito página 81

triste. Já o espiritualista é aquele que não aceita essas motivações. Ele participa do ato sem ter uma
intenção, um desejo próprio, uma vontade e sem ver uma ação de um eu.

 Espiritualista material

Aquele que não se obriga a viver a vida material pelos valores materiais: esse é o verdadeiro
espiritualista.

Hoje está na moda se dizer espiritualista, mas poucos realmente o são. O que existe de
verdade entre os seres humanos no mundo atual é o espiritualismo material e não o real.
Afirmo isso porque as razões criadas pelo ego dizem que estas personalidades humanas
valorizam o espiritual, mas elas contemplam uma forma de viver o espiritual submetida a valores que
são materiais. Ou seja, os espiritualistas de hoje vivem o espiritual fundamentado em verdades e
anseios materiais.

Isso é impossível porque materialismo e espiritualismo são antagônicos. Ser espiritualista é


viver a vida material de uma forma espiritualista e não vivê-la preso a conceitos humanos dizendo-
se espiritualista.

Uma vez eu fui a um lugar onde havia mais de cem pessoas que se diziam profundos
buscadores da espiritualidade. Eles estudavam projeção astral, saída do corpo, energias, além de
ensinamentos sobre o mundo espiritual.

Na conversa lá comecei perguntando: o vieram fazer aqui? Estudar as coisas do espírito, foi
a resposta. Aí perguntei: por quê? Por que precisam estudar as coisas do espírito? Vocês nunca
foram espíritos? Será que sendo espíritos vocês precisam vir à carne para aprender a ser o que já
são?

Achando que precisam aprender na carne o que é ser espírito, pergunto: quando estavam
libertos da encarnação, como viviam? Será que não sabiam volitar, não sabiam trabalhar energias?
Será que não conheciam as coisas do mundo de lá?

O você que está além desta personalidade humana que pensa ser hoje já é um espírito e,
portanto, já sabe fazer tudo que quer aprender agora, espiritualmente falando agora. Esta é uma
verdade incontestável por uma simples lógica: você é o espírito.

Apesar disso, os seres humanos, a partir de uma determinada época, passaram a buscar
técnicas espirituais e dizer que as conhecendo estão realizando a reforma intima. Mas, isso é ilusão
que o ego dá.

Ele age assim para que o espírito acredite que está fazendo algo importante aprendendo,
por exemplo, a trabalhar energias. O que acontece com este ser que está aprisionado à necessidade
de aprender estas coisas durante a encarnação? Não promove a reforma íntima, a libertação das
sensações humanas.
Aliás, sobre isso o Espírito da Verdade tem um recado importante e esclarecedor:
Encarnação – a grande aventura do espírito página 82

“Deus existe; disso não podeis duvidar e é o essencial. Crede-me, não vades
além. Não vos percais num labirinto donde não lograríeis sair. Isso não vos
tornaria melhores, antes um pouco mais orgulhosos, pois que acreditaríeis saber,
quando na realidade nada saberíeis. Deixai, conseguintemente, de lado todos
esses sistemas; tendes bastantes coisas que vos tocam mais de perto, a começar
por vós mesmos. Estudai as vossas imperfeições, a fim de vos libertardes delas,
o que será mais útil do que pretenderdes penetrar no que é impenetrável” (O Livro
dos Espíritos – pergunta 14).

Enquanto o espírito encarnado acredita que é importante aprender a fazer projeção astral,
ou seja, aprender a ser espírito no seu próprio mundo, não faz a sua reforma interior, o que é a razão
de ter se iniciado esta aventura encarnatória.

Se fosse ao contrário seria muito engraçado, não? O espírito precisaria nascer na carne para
ser espírito, ou seja, deixar de ser espírito para aprender a ser. Isso é uma coisa de louco. Isso não
tem a menor lógica.

O período que o ser está encarnado (ligado a um ego humano) não é para aprendizado de
coisas novas. Trata-se de uma etapa da sua existência eterna onde ele terá que testar a absorção
daquilo que estudou anteriormente no mundo espiritual. Ou seja, testar a absorção da sua
capacidade de desapegar-se das formas e das sensações humanas, inclusive do desejo de conhecer
racionalmente o mundo espiritual. É exatamente para testar este desapego que o ego diz que é
importante se compreender racionalmente o mundo espiritual.

Posso afirmar isso porque esta busca de se conhecer pela razão humana o mundo espiritual
é um sofisma. Será que a razão humana pode conhecer o mundo espiritual? Será que o mundo
mental humano é capaz de compreender o que para não tem forma, cor, sexo, raça, religião, que
não possui nada que fundamenta a compreensão racional?
Este é o mundo espiritual: alguma coisa que não possui nada que fundamenta a
compreensão racional.

O mundo espiritual é alguma coisa, mas o que ele é não pode ser compreendido pela razão
humana. Isso porque os elementos daquele mundo não possuem compreensão por parte de quem
se fundamenta no que é real ao mundo humano. Sendo assim, como pode a razão humana
compreender algo que não tem capacidade nem instrumento para compreender?
Então, ser espiritualista não é buscar compreender o mundo espiritual. Pelo contrário: é
apenas a consciência de que tudo que é vivenciado como humano é irreal, é ilusório, temporário,
inclusive os valores sobre o mundo dos espíritos.

O espírito que se dedica a aprender a viver essa vida de uma forma diferente do que o ser
humano vive é aquele que se dedica a eliminar a ideia da realidade de todas as percepções e
sensações. Por isso digo que ele vive com neutralidade os acontecimentos da vida carnal.

 O espiritualismo e o mundo espiritual


Encarnação – a grande aventura do espírito página 83

Existe mais um detalhe a respeito do espiritualismo que precisamos falar: ele nada tem a ver
com os conceitos de divindade, santidade ou religiosidade da razão humana.

Muitos imaginam que para ser espiritualista é preciso atender os preceitos religiosos sobre
o relacionamento com o Senhor ou com Seus mensageiros (mestres, santos, mentores, etc.). Isso é
irreal. Aliás, reparem que defini espiritualismo sem falar de Deus.

Na verdade o espiritualista vive para Deus, mas se o ego não possui conhecimentos reais à
respeito do Pai, como viver para Ele? Mais: na verdade ser espiritualista não é nem viver para o
espírito ou para o mundo espiritual, pois o ego não sabe como fazer isso, pois nada conhece da
realidade real do Universo.
Sendo assim, para o espírito encarnado viver para o mundo espiritual ele não pode aceitar
nenhum conceito da personalidade humana que diga que tal ou tal coisa é viver para o espírito. O
que ele pode fazer é aprender a não viver materialmente, viver acreditando que os conceitos
humanos gerados pelo ego são reais.

Se o espírito encarnado tem a sua consciência, a sua própria realidade, encoberta e só pode
perceber o que o ego cria, ele sabe o que é material: é tudo aquilo que lhe vêm à consciência
enquanto está na sua aventura encarnatória. Tudo que o ego diz que o eu acha, sabe, gosta é
material, mesmo que fale de coisas espirituais.

Então, o espiritualismo, que é o primeiro objetivo a ser alcançado pelo ser universal durante
o seu processo de reforma intima, é isso: agir negando a condição de real que o ego dá aos
acontecimentos que ele mesmo cria. Não se trata de uma mudança através da construção de novas
realidades que sigam novos padrões humanos pré-determinados, pois ele não sabe o que teria que
construir para poder alcançar a realidade real, pois está com sua consciência espiritual apagada por
aquilo que vocês chamam de véu do esquecimento.

Reforma íntima é a destruição sistemática da qualidade de real a tudo que o ego cria.
Aliás, Cristo ensinou; em verdade, em verdade vos digo; quem não nascer de novo não verá
o reino dos céus. Por causa deste ensinamento todos querem nascer de novo, mas ninguém quer
morrer antes. Como nascer de moço se não morrer?
O espírito que está vivendo a sua grande aventura precisa preocupar-se em renascer da
água e do espírito. Para isso deve ocupar-se com a sua morte. Deve ocupar-se em matar a forma
humana que imagina ser durante a encarnação.
Para quem morre, o renascimento é certo, não? Então, morra e deixe o renascimento por
conta da lei natural do Universo.

Aí está uma grande mudança de foco da reforma intima como hoje ela é tratada no planeta:
a grande aventura do espírito não é um renascimento, mas uma morte. O espírito encarna (nasce)
para morrer e só assim poder renascer da água e do espírito.

Um detalhe: essa morte que eu estou falando não é física. A morte a qual me refiro é da
qualidade de real que se dá àquilo que o ego cria.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 84

 Intencionalidade

Participante: é a morte do ego?

Não, é morte daquilo que você, o espírito, acredita ser. O ego não vai morrer: quem vai
morrer é a personalidade humana que ele representa.

A personalidade humana, a nível espiritual, não material, com o trabalho da reforma íntima,
morrerá para o ser e em seu lugar surgirá um espírito livre: sem nome, cor, sexo, religião, pátria.
O ego continuará existindo. Mais: continuará dizendo ao espírito que ele é uma determinada
personalidade humana e que por isso deve sentir tal ou tal coisa. Isso não muda. O que mudará, na
verdade, será a consciência do espírito: ele não mais aceitará isso como realidade, como verdade.

Preste bem atenção no que vou falar agora: ego não se mata.

Enquanto o espírito estiver encarnado, a personalidade humana continuará funcionando. O


que pode ser alcançado pelo ser universal encarnado não é o fim do ego, mas sim o fim da
escravidão a ele. O fim da auto identificação com o ego diz que o espírito é.
Participante: fale mais sobre a questão da intenção?

O que é intenção? É a motivação criada pela razão humana durante a participação nos
acontecimentos do teatro da vida.

Intenção não significa ação, mas sim motivação. A ação acontece e o ego coloca nas ações
que acontecem ou que acontecerá, uma motivação.
Participante: é um motivo?

Não, não é um motivo: é uma motivação.

Por que você veio aqui hoje? Não importa a sua resposta: esta é a sua motivação para vir.
Participante: mas, se estiver aqui motivado por um objetivo espiritual?

Foi o que acabei de dizer: o ego cria verdades fundamentadas em conceitos humanos sobre
santidade, reforma íntima, etc., para ludibriar o espírito.
Por que você está aqui? Porque quis vir, porque quis estar. Satisfazer o seu desejo de estar:
esta é a real intenção que está no seu ego. Afirmo isso porque, apesar dessa sua aparente
preocupação com a elevação espiritual, já houve dias em que poderia ter vindo, mas não veio. Se a
preocupação com a busca da reforma é tão grande, porque não veio nestas horas? Porque não teve
vontade, porque preferiu fazer outras coisas. Viu como a sua intenção de buscar a elevação não é
tão grande?
A mente gera uma intencionalidade fundamentada em algo sagrado, divino, espiritual e, com
isso, mantém escondida a real intenção. Por isso você acredita que está aqui por causa de uma
busca espiritual, mas isso não é real.
É isso que o ser encarnado precisa compreender: ele não pode aceitar as justificativas que
o ego cria, pois a personalidade humana trabalha com motivações ilusórias para encobrir a
verdadeira.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 85

Portanto, por mais que imagine que é a sua motivação espiritual que lhe trouxe aqui, isso
não é verdade: você está aqui por motivos materiais. Está aqui porque a razão criada pelo ego neste
momento disse que era certo e bom, ou qualquer outra justificativa, estar aqui. Sendo assim, você
está aqui por uma motivação baseada no eu, no individualismo. Está aqui por um valor material (ser
bom para você, ser de seu interesse) e não pela busca espiritual.

Se você, a personalidade humana à qual um espírito está ligado, respondesse que não sabe
porque está aqui neste momento, eu poderia dizer que haveria, então, uma motivação espiritual.
Agora, enquanto souber porque fez alguma coisa, ou seja, tiver uma razão que afirme qualquer
motivação para a prática de uma ação, afirmo que acabou-se o espiritualismo.
Ação sem intenção: essa é a base do ensinamento de Krishna. Por isso ele ensina assim
aos seus pares (os espíritos): repousa em mim (Deus) e assista a sua vida. Sabe o que é assistir a
sua vida? ‘Olha, ele está indo lá. O que vai fazer lá? Não sei. Voltará de lá? Não sei’.
Participante: então, eu não tenho que me perguntar por que faço isso ou aquilo?
Simplesmente faço. É isso?

O que é se perguntar por que faz alguma coisa? É descobrir uma intenção, criar uma
motivação para a ação.

Se a personalidade humana age assim, o espírito não deve acreditar que a resposta a esta
pesquisa é real, pois senão ele estará agregando uma intenção ao que é feito.
Participante: o que falo então: fiz porque fiz?

Isso, você fez porque fez. Lembre-se: quem faz alguma coisa com intenção sabe o que faz.
Se as ações praticadas pela personalidade humana são sempre fundamentadas no individualismo,
o espírito que acredita que fez algo por algum motivo se torna individualista.

Apenas um detalhe: não estou falando apenas de intenções que vocês consideram erradas
ou más: estou falando de todas as intenções. Mesmo quando faz alguma coisa com uma intenção
considerada boa (ajudar os outros, por exemplo), ainda existe uma intenção na personalidade
humana que é individualista e, portanto, esta ação passou a ser um ato egoísta.

‘Mas, Joaquim, você ficou maluco? Ajudar o próximo é um ato egoísta’, vocês me
perguntariam. Eu responderia: sim, é, pois o ego possui condições para ajudar alguém.

Se a personalidade humana cria razões que dizem que só deve ajudar a quem achar que
deve e da forma que achar certo ajudar, esta ajuda transforma-se num ato individualista, pois atende
a requisitos individuais. Apenas aquilo que é praticado sem submissão a nenhuma condição
fundamentada em crenças e valores individuais pode ser considerada universal.

Repare que o ser humano não ajuda indistintamente, mas apenas àqueles que ele considera
que precise de ajuda. Mais: não os socorre da forma que os outros querem ser socorridos, mas da
forma que ele, ser humano, acha que deve socorrer. Isso não é egoísmo?

Se a personalidade humana você fosse capaz de fazer sem motivação, ou seja, fazer por
fazer e não fazer do jeito que quer, fazer com a intenção de agradar o próximo, ganhar alguma coisa
e tantas outras condições que ela cria, eu poderia dizer que era universalista. Mas, como isso não
acontece, não posso afirmar isso.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 86

Agora ficou claro? Motivação é a razão que o ego propõe para o espírito durante a realização
de ações. Essa razão não é real, mas apenas um elemento da grande aventura do espírito e existe
para que esse possa fazer a sua provação. Por isso, essa razão deve ser abandonada.

 Causa mágoas ao outro

Participante: como se pode dialogar no mundo de hoje onde, por mais que você
se esforce, vai estar sempre desagradando alguém com o que fala?

Falando sem intenções.


Participante: mas, o outro se sente ofendido com o que falamos e nós, presos às
razões, nos magoamos. Sabemos que falamos sem intenção, mas o outro não
sabe. Quantas vezes elaboramos cuidadosamente o que vamos falar e em
contrapartida o outro se sente ofendido com o que foi dito.

Você falou de mais dois ou três assuntos em sua pergunta, mas ainda assim fica fácil falar
da intenção.

Diga-me uma coisa: em uma roda como estamos aqui será que o que você disser magoará
as todos? Não. Alguns se sentirão magoados, outros não. Não é assim?

Participante: correto.

Sendo assim, pergunto: você magoou alguém?


Participante: de certa forma sim, magoei alguma pessoa...

Não, se você tivesse a capacidade de magoar ou se suas palavras tivessem este poder, teria
magoado a todos. Se alguns se magoaram e outros não, posso dizer que só sentiu esta emoção
quem escolheu senti-la, ou seja, escolheu ficar magoado com o que você falou.

Na verdade não foi você quem magoou ninguém: o ego de quem recebeu sua ação, para
poder criar uma realidade que servirá como prova para um espírito, escolheu a sensação de mágoa
para reagir ao acontecimento ‘você falar’.

Na prática, o que aconteceu é que o ego do alguns espíritos disse a eles que o certo seria
sentirem-se magoados naquele momento. Fez isso porque esta é a programação da aventura
daqueles espíritos. Agora, o ego de outros, pelo mesmo motivo, disse aos seres que estão ligados,
que não. Isso é o que está acontecendo na Realidade, no Universo, enquanto você está vivendo o
falar e os outros o ouvir.

No Universo, longe das percepções que o ser humanizado pode ter, dos espíritos que estão
participando deste acontecimento, alguns estarão ocupados em promover a sua reforma íntima.
Estes, se lembrarão de desapegar-se das razões criadas pela personalidade humana à qual está
ligado durante a aventura encarnatória. Com isso não se sentirá magoado.

Outros seres, aqueles que não estão neste momento vigilante quanto ao fato da elevação
espiritual, ou seja, que não se preocupam com a reforma íntima, viverão a sensação gerada pela
Encarnação – a grande aventura do espírito página 87

personalidade transitória. Com isso, além da personalidade, o espírito se sentirá magoado. Mas, a
vivência dessa mágoa não é culpa sua.

O ego cria a sensação de ficar magoado porque esta é a prova de um espírito e o ser
universal fica magoado porque não cumpriu o que Cristo ensinou (orai e vigiai): que culpa você tem?
Por isso pergunto novamente: você magoou os outros ou eles se magoaram?

Essa é a primeira realidade que surge quando analisamos o mundo material a partir da
realidade de ser apenas um mundo de encarnações e não um planeta com vida autônoma: ninguém
é capaz de fazer nada a ninguém.

Se o outro decidir não receber o que você está fazendo de um determinado jeito, não viverá
as emoções que o ego cria. Mesmo que você tenha a intenção de magoar, se o próximo estiver
desperto e vigilante, não será capaz de magoá-lo. Se o próximo não aceitar a mágoa, você não
magoa ninguém.
Por isso disse: a coisa mais importante na reforma intima é compreender que ela é a
mudança do interno e não do externo. Quando o espírito se conscientiza disso deixa de se preocupar
com o externo e passa a estar sempre atento ao interno.

Quando isso for sistemático para o espírito, ao ser criada a propositura racional de que se
magoou alguém, o que será prontamente seguido da proposição da culpa, o espírito dirá: ‘isso é o
meu ego que está dizendo e, por isso, tenho que me libertar dessa ideia’. Com isso, elimina duas
sensações de uma só vez: a de ter ferido alguém e a culpabilidade.

Compreendeu? Esse é o primeiro detalhe na sua pergunta. Mas, como disse, existem outros
assuntos embutidos nela. Permita-me comentá-los.

Segundo detalhe de sua pergunta: fico pensando em como falar com os outros. Por que você
faz isso?

Participante: as vezes uma pessoa é querida e outras detestadas. Para não ferir
aquelas que amamos, precisamos pensar em como falar.

Como diria Krishna, sua resposta parece até de um sábio, mas não é.

A razão humana diz que devemos agir com prudência para não magoarmos os outros.
Apesar sido, quantas vezes você já ficou pensando como falar com determinada pessoa, encontrou
uma forma de não magoá-la com suas palavras, mas quando falou saiu tudo diferente.
Participante: verdade. Quantas vezes estudei profundamente o que tinha que
falar e no momento que falei saiu tudo diferente.

Por que isso acontece? Porque o ato acontece independente do que você queira que
aconteça.
O que você vai falar para os outros acontece independente da sua vontade. A forma como
as coisas acontecem não depende de você.

Lembre-se do que falamos até agora a respeito da encarnação ou vida humana: ela se
consiste de realidades que são criadas pelo ego para a provação do espírito. Então, você não pode
escolher palavras: só pode escolher se aprisionar ao ego ou não.

Você, ego ou espírito, não pode escolher palavras. É por isso que a personalidade humana
decora um discurso para falar com os outros e quando participa da ação acontece tudo diferente.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 88

Quando isso acontece, a personalidade humana cria novas provas para o espírito: a contrariedade,
a culpabilidade, etc.

Este é a minha resposta à segunda questão que você levantou com sua pergunta. Mas há
mais uma. Você diz: depois eu fico chateado por que magoei os outros.

Quem é que ficou chateado? Você, a personalidade humana. Ficou chateado porque
magoou o outro? Não. Ficou chateado porque a sua razão diz que você não deveria ter magoado o
outro.

Na verdade você não está chateado por magoar, mas porque achava que não deveria
magoar e isso acabou acontecendo. Ou seja, ficou chateado porque as coisas não saíram do jeito
que você queria. Isso se chama individualismo. Foi ele que lhe fez sentir-se magoado e não o que
os outros viveram a partir da sua ação.

Mas, quem ficou mesmo chateado com isso? A personalidade humana e não você, o espírito.
Mesmo que o ego diga que você, o espírito, ficou chateado, não acredite nisso. Lembre-se: a
personalidade humana não conhece as coisas do mundo espiritual. Por isso, como ela pode saber
se o espírito ficou chateado ou não?

Na verdade, quem criou a sensação de ficar chateado foi o ego. Agora, repare num detalhe:
ele criou a sensação de estar chateado; isso não quer dizer que ele ficou.

O ego não sente nada: ele cria sensações como provação para o espírito.

Volto a repetir: tudo é interno, tudo é dentro de você. Todas as realidades do mundo que
você, a personalidade humana, diz que vive quando conversa com os outros e expôs na sua
pergunta (escolher palavras, magoar os outros e se sentir triste por ter magoado alguém) são, na
realidade, criações ilusórias do ego e não atos ou ações reais. Por mais que acredite estar
acontecendo externamente a você, creia, está ocorrendo apenas no seu interior.

Depois das suas ações gerando realidades, acontecimentos, o ego vai criar novas provas
para o espírito. Estas provas estabelecerão uma nova forma de proceder, ou seja, ‘tenho que pensar
melhor antes de falar’, ‘tenho que não me meter na vida dos outros’, etc.

Mas, apesar destas conclusões tão bonitas que ele gerou, pergunto: você pode deixar de
fazer alguma coisa? Não, porque você, a personalidade humana, vai sempre realizar o que for
preciso para a provação do ser universal, independente da sua vontade. Afinal de contas, você é a
grande aventura do espírito e não um elemento do Universo.
Quem precisa se preocupar com alguma coisa durante o transcorrer das atividades carnais
é o espírito e não você, a personalidade humana. Como já vimos, esta preocupação não deve ser
em alterar a forma de agir do ego, pois isso ele não pode mudar. O espírito precisa se ocupar em
mudar-se internamente, ou seja, a forma como reage às proposituras do ego.

Aliás, a sua pergunta mostra bem quem é você: uma personalidade humana. Digo isso
porque as suas razões denotam uma preocupação com mudanças externas. Você está querendo
mudar por fora (o que faz) e não o seu interior.

Mas, você não pode mudar nada, não é mesmo? Você, uma personalidade humana, precisa
ser do jeito que é para que um espírito tenha sua provação.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 89

Ele, que também é você, é que deve mudar-se. Ele é que deve deixar de se apegar às coisas
criadas pelo ego, alcançando, assim, o espiritualismo.

É ele que precisa deixar de acreditar que fez alguma coisa e atingir o nada sabe a respeito
de qualquer coisa neste mundo. Ele é que deve dizer assim: ‘eu não falei, palavras saíram’; ‘eu não
ofendi, o outro é que sentiu ofendido’.

Agora, se o outro se sentiu ofendido com o que você disse, isso não é um ato de desamor?
Isso não é errado? Não: se ele, o espírito, se sentiu ofendido foi porque não se libertou da criação
da sensação de ter sido ofendida gerada pelo seu ego. Por isso, não podemos chamar esta atitude
dele de erro.
Apesar da razão humana dizer que ser agente para que o outro se sinta ofendido é mal, o
espírito não deve cair nesta arapuca. Não deve dar crédito à ação do ego que quer obrigá-lo a se
sentir mal porque, ilusoriamente, a ação terminou com alguém se sentindo ofendido. Pelo contrário:
esta forma de ver as coisas do mundo é uma prova do amor verdadeiro ao outro.

Lembra-se que definimos que para a existência do amor real é preciso se dar liberdade ao
outro de ser, estar e fazer o que quer? Se você sofre porque ele se magoou, está dando a ele a
liberdade de se magoar? Dar a ele liberdade é não se constranger com o sofrimento alheio: ‘se ele
quer se magoar, problema é dele. Por mim, ele é livre para viver o que quiser. Eu não vou sofrer
porque ele está sofrendo’.
Participante: então, devo me libertar daquilo que o ego diz que devo fazer?

Isso.

Mas, além disso, deve ajudar o outro a se libertar disso. Como? Não se magoando com o
que os outros dizem.

Lembre-se: no Universo tudo é igual para todos. Se você usar o argumento de que ele tem
o direito de se sentir magoado ou não, deve agir da mesma forma consigo mesmo. Ou seja, deve
entender que ninguém lhe magoa, mas você que livremente escolheu se sentir magoado...

Quando em um determinado momento onde normalmente um ser humanizado se magoa e


você não se escravizar à necessidade de sentir-se assim exemplifica a reforma íntima. Com isso
gerará curiosidade no outro: mas como, todos lhe pisam e você não se sente magoado?

Neste momento poderá auxiliar o próximo de verdade. Ou seja, lhe ajudar a sentir-se livre
para sentir-se magoado ou não.

 Conhecimento científico

Falar das armas ou instrumentos da reforma intima é falar de mudança interior. A primeira
arma que falamos: o espiritualismo.

Ter noções sobre espiritualismo é até fácil de compreender para vocês pelos exemplos que
dei. No entanto, esta facilidade é aparente. Se fossemos aqui entrar em maiores detalhes sobre esta
Encarnação – a grande aventura do espírito página 90

libertação das razões criadas pela personalidade humana, vocês veriam que é mais complicado do
que parece.

Por exemplo: remédio não cura ninguém. Este é um pensamento de um espiritualista, já que
acreditar que o remédio é capaz de promover uma cura trata-se de elementos materiais. Tanto a
doença como a cura não pertence ao mundo dos espíritos. Aliás, acreditar nas verdades científicas
comprovadas em laboratórios e que aprenderam na escola, é materialismo.
Apesar de estar falando assim, não estou dizendo que devam desacreditar dessas verdades.
Como disse, a reforma íntima não se consiste em criar uma nova verdade, mas em se libertar da
verdade criada pelo ego. Libertar-se daquilo que a personalidade humana chama de realidade, do
que é o ego diz que é real.

Saibam que todo conhecimento cientifico do mundo é gerado pela parte técnica do ego. Vou
dar um exemplo: a ciência afirma que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. Isso
é uma lei cientifica e, portanto, real para aqueles que se apegam às verdades humanas.

No entanto, aqui, neste lugar que estamos, existem diversos espíritos ocupando o lugar que
vocês acreditam preenchido por oxigênio. Vejam: são dois corpos (o corpo do espírito e o oxigênio)
que ocupam o mesmo lugar no espaço.

Isso quer dizer que essa lei é errada? Não. Isso quer dizer que essa lei cientifica é apenas
uma parte de uma lei maior.

Isso é uma coisa que vocês precisam compreender. As verdades cientificas do mundo
humano são apenas partes da lei maior. Para compreender isso vamos ficar no exemplo que dei: o
espírito e o oxigênio ocupando o mesmo lugar no espaço.

O espírito está aqui, onde imaginam haver oxigênio. Portanto, existem dois corpos no mesmo
espaço. Acontece, porém, que são corpos de densidade diferentes. O corpo do espírito é um objeto
que está numa densidade enquanto que o oxigênio é outro elemento, mas está numa densidade
diferente.

Se entenderem isso, poderão compreender a lei maior que o ego por si só não alcança: dois
corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço, se eles possuírem a mesma densidade.
Isso a ciência de vocês ainda não descobriu. Ela ainda não descobriu as diversas
densidades da matéria e por isso não consegue alcançar a lei maior.

Sendo assim, se apegar às reações químicas ou as reações das propriedades do elemento


material por aquilo que a ciência fala é se apegar ao material, a forma. É materialismo.

O espiritualista não contraria essa lei, mas não se apega a ela. Ele diz: ‘eu aprendi na escola
que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço, mas se ocupar ocupou, se não ocupar,
não ocupou’.

Ele não cria novas verdades, mas também não se apega à verdade que o ego está afirmando
que é verdadeira, por mais que ajam comprovações materiais disso...
Encarnação – a grande aventura do espírito página 91

 Viver espiritualmente com as coisas materiais

Participante: posso me utilizar das coisas materiais porque vivemos em um


mundo materialista, certo? Posso usufruir destas coisas sem, digamos, ter que
dar um valor maior para aquilo. Certo?

Vou dar um exemplo para podermos entender melhor a sua pergunta. Será que realizando
a reforma íntima você não precisará mais comer? Eu respondo: não. Agora, será que vai conseguir
deixar de comer quando alcançar a reforma íntima? Novamente respondo: não.

Olha a diferença entre as coisas: você não precisa comer, mas não vai deixar de comer.

Lembre-se do ensinamento de Cristo que comentamos agora a pouco: em verdade, em


verdade vos digo; quem não nascer de novo não verá o reino dos céus. Lembre-se também do que
disse a este respeito: para renascer terá antes que morrer.

Sendo assim, você não tem que se preocupar em nascer de novo (parar de comer), mas sim
em matar a necessidade de comer. Matar a verdade que diz que a comida é indispensável. Ao fazer
isso, automaticamente renascerá e poderá ou não alcançar o não comer.

Quando falo sobre reforma íntima, as pessoas acostumadas ao mundo material se assustam
e questionam-se: ‘como posso viver sem comer, sem respirar?’ Eu respondo a elas: vocês
continuarão sendo o que são, mas não mais farão por obrigação ou qualquer outra intenção, mas
apenas por fazer, por estar fazendo.
Participante: como é que eu vou me desprender da necessidade de possuir um
veículo sendo que eu tenho que me locomover, por exemplo?

Se libertando da obrigação de que precisa de um veículo para se locomover. Para que você
tem dois pés?
Participante: chegar a este desprendimento completo que o senhor fala, acho que
é muito forte para nós. Acho que poderia apenas não me descabelar e pegar um
ônibus quando o meu carro quebrar.

Está certo. Mas, se quando o seu carro quebrar também não houver ônibus? Irá se
descabelar!
Aí é que mora o perigo: se tudo conspirar contra e houver apenas o desprendimento parcial
como solução para não sofrer, o que fará? É por isso que é preciso se chegar ao máximo.

A única solução para que não sofra dentro do exemplo que deu é compreender que o ego
diz que é necessário ter um carro e você não se apegar a esta necessidade.

Participante: é o ego que gera as necessidades?

Isso: é ele quem diz se você precisa ou não de alguma coisa. Cabe a você, o espírito, não
acreditar na necessidade de ter ou não algo.

Só que este processo de libertação não é estático: precisa ser realizado em múltiplas etapas.
É como descascar uma cebola: quando você tira uma casca, aparece logo outra.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 92

Por exemplo: não há como se libertar da necessidade do automóvel sem antes se libertar
da necessidade de se locomover, de ir a algum lugar. Acreditando que precisa ir, se não houver um
carro à sua disposição ou algum meio de locomoção, sofrerá com certeza.
Portanto, a libertação não pode ser a do carro, mas antes precisa se libertar da ideia de ter
que ir a algum lugar. Você, o espírito, deve alcançar o ponto de dizer: ‘se for, fui; se for, não fui’.

Para compreender bem esta ideia da existência de conceitos que dependam de outros, gosto
muito do exemplo da comida. Pergunto: vocês comem legumes? Mesmo contrariando o que
acreditam, respondo: não, vocês não comem legumes. Mais: o legume faz bem para o seu corpo?
Continuando a contrariá-los diria que não.
Claro que vocês acreditam que o legume faz bem para o corpo físico, mas se prestassem
um pouco mais a atenção às coisas, veriam que não é o legume que faz bem.

Por exemplo, a cenoura. Por que se come cenoura? Porque ela faz bem para a pele e para
os olhos? Mas, é a cenoura que faz bem à pele ou são as vitaminas que estão dentro dela?

As vitaminas, não? Portanto, o que faz bem ao seu corpo não é a cenoura, mas sim a
vitamina que ela contém.

Se isso é verdade, não precisam comer cenoura: basta ingerirem as vitaminas que terão o
mesmo resultado.

Participante: mas, precisamos da cenoura para obter as vitaminas.

Não. Os homens vão para o espaço e levam cápsulas de vitaminas. Eles não precisam da
cenoura, ou seja, eles são libertos da necessidade de comer uma cenoura.

Então, vocês podem tomar a vitamina em cápsulas. Por que não fazem isso? Porque a
cápsula não tem nenhum sabor.

Repare bem. Na alimentação humana existem dois aspectos: a obtenção do que é


necessário para o corpo e o prazer de comer algumas coisas.
Aí está o que assusta vocês quando se fala de ideias como a não existência da necessidade
de comer: a perda do prazer de saborear determinado paladar. Ou seja, o apego às percepções,
materialismo. É por isso que vocês não abrem mão da necessidade de comer: pelo prazer de
perceber um determinado paladar.

Mas, o que é o sabor da cenoura e o prazer de senti-lo? Percepção gerada pelo ego para
poder lançar o sentimento de prazer para que o espírito possa, então, promover a sua reforma íntima,
ou seja, não se apegar a ele.

Agora ficou claro? Mas, não para por aí.

Será que as vitaminas possuem determinadas propriedades, que vocês imaginam que
contribuem para a melhoria da sua saúde? Acho que não, e Kardec também:
“Atribuir a formação das coisas à propriedades íntimas da matéria seria tomar o
efeito pela causa, porquanto essas propriedades são, também elas, um efeito
que há de ter uma causa” (O Livro dos Espíritos – comentário à pergunta 7).

As vitaminas, portanto, para mim, Kardec e o Espírito da Verdade não constitui nada. Não
são as propriedades íntimas destas vitaminas que dão saúde, já que essas propriedades são,
Encarnação – a grande aventura do espírito página 93

também, um efeito. Portanto, o que dá saúde é a mesma coisa que confere às vitaminas essa ou
aquela propriedade. Ainda falar no que é essa causa única de todas as coisas.

Só pelo que falei até aqui, creio que vocês já têm uma noção de que as suas ideias sobre
as coisas do mundo espiritual não são reais, mas vamos comentar mais alguns detalhes.

Falei muito em vitaminas e disse da crença de vocês sobre a necessidade delas para o corpo
humano. Agora pergunto: o que é uma vitamina? O que são as vitaminas a, b, c, d ou e? Fluido
cósmico universal.

Sim, as vitaminas são apenas percepções geradas pela parte técnica do ego quando este
percebe o fluido cósmico universal em determinada combinação. Isso são as vitaminas, mas, será
que alguma coisa deste mundo não é isso também? Não, tudo o que existe neste mundo é fluído
cósmico universal percebido de forma diferente pelo ego, inclusive o corpo humano.

A partir disso pergunto: será que o fluído universal percebido como corpo humano precisa
do fluído cósmico universal percebido como vitamina? Se me responderem que sim eu insisto: para
quê? Para que você precisa uma coisa dentro dela mesma? Que alteração isso pode causar?

Continue analisando a partir da ideia de que tudo é fluído cósmico universal percebido de
forma diferente pelo ego.

Se as vitaminas que vocês acreditam precisar são apenas fluído cósmico universal,
pergunto: será que elas só estão em determinados elementos? Não, elas estão no universo. O ar, a
atmosfera do planeta é fluido cósmico universal. Sendo isso verdadeiro, diria que vocês poderiam
conseguir as mesmas vitaminas apenas respirando, o que dispensaria ter que comer a cenoura.

Poderiam buscar as vitaminas na atmosfera, mas não sabem como fazê-lo. Não sabem por
quê? Porque estão aprisionados ao ego que diz que se não comerem cenoura, não terão
determinadas propriedades.

Por causa de tudo isso que falamos, insisto no ponto que venho tocando constantemente
nesta conversa: você, o espírito, precisa começar a dizer ao ego que não acredita que é preciso
comer. Não falei em não comer, mas sim em se libertar da necessidade, da obrigação que a
personalidade humana cria a partir dos seus conceitos.
Com isso, o espírito vai se libertando da programação do ego até que um dia não mais se
sinta obrigado a comer. Neste momento, quando o ego criar determinada sensação, o ser universal
pode não vibrar neste padrão sentimental.
Já o espírito que acreditar que precisa mudar o ego tentará alimentar-se de ar, mas não
conseguirá. Mesmo que conseguisse, isto não poderá ser considerado como uma vitória sobre nada,
já que a alimentação pelo ar não é executada pelo espírito, mas sim uma criação da parte técnica
do ego que gera todas as formas e percepções da vida humana.

 Saúde

Participante: é possível viver sem tomar remédio?


Encarnação – a grande aventura do espírito página 94

Sim, isso é possível.


Participante: mas, não temos que preservar o nosso corpo físico?

Mas quem disse que o remédio preserva? Estamos discutindo a nível espiritual e você já
partiu para o materialismo.

A partir de informações científicas você acredita que o remédio preserva o corpo, mas quem
disse que isso é verdade? Muitas vezes toma remédio para uma coisa, mas não conhece a ação
dele sobre outras partes do corpo. Estou falando do que é conhecido como efeitos colaterais de um
remédio.

Quantas vezes já tomou um remédio para uma doença que destruiu sua parte intestinal?
Quantos remédios propõe a cura de alguma parte do corpo, mas acabam ferindo outra? É isso que
é chamado de efeitos colaterais.

Se este efeito existe, quem disse que tomar remédio preserva o corpo físico? Será que ele
não causa mais mal? Tomar remédio não é sinal de prevenção do corpo físico, pois você o toma
para curar alguma coisa, mas acaba fazendo mal a outra.

Na verdade, você nunca sabe qual a reação do remédio. Além de poder atacar outra parte
do corpo, será que ele dará o resultado esperado?

Quantos remédios existem que se mostram eficazes em determinas pessoas e em outras


não faz qualquer efeito? Na verdade, quando você toma um remédio não sabe se ele lhe fará bem.
Mas, você continua tomando remédios assim mesmo. Por quê? Porque o ego diz que tomar tal
remédio irá realizar a cura do seu mal.

Na verdade a coisa é muito mais profunda. É a personalidade humana quem vai criar a
sensação da doença, da dor, do sentir-se doente e da cura, se esta acontecer. Aliás, o próprio
remédio (a forma) é uma criação do ego, pois remédio como qualquer elemento material é fluído
cósmico universal.
Apesar disso, a personalidade humana à qual o espírito está ligado durante a sua grande
aventura, continua dizendo que o remédio é a causa primária da saúde. Mas, o que é a causa
primária de tudo que existe como vimos no estudo de O Livro dos Espíritos?
Participante: Deus.

Se o ego diz que o remédio é a causa primária da doença, o que ele é para o espírito que
está aprisionado a isso como realidade? O seu deus para a cura.
Na verdade, quando a personalidade humana dá a algum elemento material a causa primária
de algum acontecimento, está criando um deus. Para ela o remédio é o deus da saúde, como o carro
o é da locomoção e o alarme e a cerca elétrica da casa o deus da proteção.
Eu não queria usar o termo Deus nestas conversas de hoje, mas tive que fazê-lo para que
vocês entendam a ação da personalidade humana. Ela substitui o Senhor do Universo como causa
primária, trocando-O pelas próprias coisas materiais. O espírito que acredita que isso é real pode
ser chamado, então, de materialista.

Já o ser que está liberto desta ação, o espiritualista, vive para Deus, se entrega em Deus e
por isso atribui a causa primária a Ele. Este ser diz assim para si mesmo: ‘o ego está me dizendo
Encarnação – a grande aventura do espírito página 95

que foi o remédio que me curou, mas eu sei que as propriedades dos elementos que compõem o
remédio são causadas por Deus. Então, foi Ele que me curou e não o remédio’.

O espírito precisa pensar assim, se quiser aproveitar a encarnação como instrumento da


elevação espiritual, mesmo que o ego não tenha como criar realidades sobre o Universo, sobre o
mundo onde Deus age. Por causa da necessidade do ser ter que realizar esta libertação durante a
encarnação é que a chamamos de uma grande aventura. Trata-se de uma aventura porque o espírito
precisa afastar-se do mundo conhecido, o seu próprio mundo espiritual, e aventurar-se num mundo
onde ele nada conhece.

Como foi definido anteriormente, aventura é um empreendimento de risco. Vir à carne é uma
aventura para o espírito, pois é um empreendimento onde ele tem que executar algo, onde tem que
viver um mundo completamente desconhecido sem ter nenhum mapa que o guie.

Ela contém riscos porque a auto identificação do espírito com o ego o faz achar que o que a
personalidade diz é real (o remédio cura) e precisa libertar-se disso, entregando-se a um mundo que
nada conhece naquele momento.

 Reencarnar

Participante: segundo o espiritismo temos que retornar à encarnação até que aja
a evolução. Isso é real?

Sim, o espírito tem que reencarnar até que aprenda a viver espiritualmente falando numa
aventura (encarnação).

O processo de encarnar repetidas vezes tem o objetivo de elevar espiritualmente o ser


universal. Como esta elevação se caracteriza pela vivência do espiritualismo mesmo preso à uma
personalidade humana que, por natureza, é materialista, o espírito precisa viver na matéria carnal
diversas vezes até que um dia viva uma vida onde não mais se subordine ao ego.

Participante: quando é que a pessoa vai perceber que alcançou isso?

Quando você se refere à pessoa está certamente falando da personalidade humana, do ego.
Por isso, pergunto: como é que a personalidade humana seria capaz de perceber isso? Vendo,
ouvindo, pensando, sentindo? Mas, quem cria a audição, o pensamento, a visão ou a percepção da
personalidade humana? O ego. Então, se o ser humano percebesse que alcançou o espiritualismo,
continuaria materialista, pois seria o ego dizendo a ele mesmo que se libertou dele.

Se a personalidade humana fizer isso e o espírito acreditar nela, o ser libertou-se de quem?
De ninguém, pois ainda acredita naquilo que o ego está lhe dizendo que é real.
Sendo assim, afirmo que a elevação espiritual jamais poderá ser compreendida
racionalmente. Ela jamais poderá ser constatada pela razão.

Mas, isso quer dizer que o espírito não pode saber se ele alcançou a elevação ou não? Claro
que pode.

Quando é que o espírito pode saber se já se elevou?


Encarnação – a grande aventura do espírito página 96

Participante: quando não sentir necessidade de agir de acordo com o que o ego
diz que deve agir...

Ou seja, quando ele, que é você, não se prender mais ao ego.


Quando o ego lhe disser que deve sofrer e você, internamente, permanecer em paz, pode
saber que se elevou. Quando o ego lhe disser que deve exaltar-se de prazer e você, o espírito,
permanecer em paz, pode saber que se elevou. Quando o ego disser que deve desejar algo que
pertença a outro e você, o espírito, não acreditar nesta necessidade, se elevou. Ou seja, quando
você, o ser universal, atingir internamente um estado de paz, harmonia e felicidade incondicional, se
elevou.
Este estado do espírito não será alcançado através da razão (compreender racionalmente
que se está em paz), mas será sentido no coração. Essa percepção, no entanto, é impossível de ser
alcançada pela personalidade humana, porque se a razão disser o que o coração está sentindo, não
será mais sentimento, mas sim razão.

Lembre-se: qualquer coisa que exista para personalidade humana é fruto de uma
compreensão racional. Se não houver esta compreensão o acontecimento não existe, não foi
percebido pelo ser humano.

Sendo assim, como vocês seres humanos só compreendem pela cabeça, mesmo que seja
o sentimento que está no coração, vocês nunca vão saber se o espírito ao qual estão ligados
alcançou ou não a elevação espiritual.

 Ecumenismo

Segundo elemento presente nos ensinamentos dos mestres que vamos ver hoje:
ecumenismo.

Falar de ecumenismo é uma coisa muito difícil no planeta. Por quê? Porque a ideia que
vocês fazem sobre esse tema é a da fusão das religiões. Para a humanidade, a pessoa ecumênica
é aquela que não tem religião, mas aceita todas. Por isso o ecumenismo foi definido como o ato de
fundir todas as religiões. Acontece que isso é impossível.

Por que é impossível se fundir todas as religiões? Porque uma religião é composta de dois
fatores: ritos e doutrina.
Cada religião tem o seu rito, a sua forma de se religar a Deus. Além disso, elas possuem
uma doutrina que precisa ser seguida pelos seus fiéis sobre pena de não serem tratados como
seguidores daquela religião.
Se a personalidade humana for católica, por exemplo, existe a obrigação de seguir a doutrina
católica, ou seja, de acreditar e fazer o que a religião católica apostólica diz que é certo. Se ela não
segue esta doutrina, o catolicismo diz: você não pertence a mim.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 97

Sendo espírita, a personalidade humana é obrigada a seguir os preceitos da doutrina desta


religião. Do mesmo modo, se ela não seguir, o espiritismo dirá que esta personalidade humana não
pertence a ele.
Por isso é impossível fundir as religiões. Veja bem. As doutrinas espírita e católica – apenas
para ficarmos nestes dois exemplos – são antagônicas, ou seja, cada uma impõe uma verdade
diferente da outra, possui um corpo doutrinário diferenciado, e também impõe obrigações diferentes
aos seus seguidores.

Jamais um espírita será aceito por um católico porque os católicos não acreditam em
espíritos. Jamais um católico será aceito por um espírita como igual porque ele não acredita em
reencarnação.

É por isso que é impossível fundir-se as religiões: cada uma possui uma doutrina que é
antagônica a outra. Como fundir algo como água e óleo, ou seja, dois elementos que não são
compatíveis?

Por isso, pergunto: como, então ser ecumênico? Como fundir as religiões se elas são
antagônicas? Impossível, não? Mas, se ser ecumênico é algo necessário para a elevação espiritual
e se não se pode criar um ecumenismo a partir das diversas doutrinas que existem, como realizar
isso? Fundindo tudo dentro de si mesmo.

Mais uma vez voltamos à questão do interior e do exterior, como, aliás, é o grande aspecto
da evolução espiritual. Reforma íntima não se faz no exterior, mas sim no interior, já disse isso.

Para realizar a reforma íntima é preciso que o ser seja ecumênico, sem esperar que exista
um ecumenismo no mundo exterior. Ou seja, que trate como real dentro de si todas as doutrinas
religiosas do planeta sem dizer que uma está certa e outra errada.

Parece fácil, não? Porém, eu pergunto: como se transformar em ecumênico com todas as
divergências entre as diversas doutrinas? Respondo: não se prendendo especificamente a nenhuma
delas.

O que é não se prender a nenhuma delas especificamente? Não achar que só aquilo que
determinada doutrina fala está certo. Vou explicar melhor isso.
Quando as doutrinas religiosas dizem que a personalidade humana deve fazer tal ou tal
coisa para poderem ser considerada seu fiel o que ela faz? Cria uma lei. Ou seja, as doutrinas
religiosas são códigos de leis que criam realidades.
A partir daí volto a perguntar: como não se prender a nenhuma religião especificamente?
Não se prendendo as leis que elas ditam.

Portanto, o ecumênico é aquele que não se subordina a leis que as doutrinas religiosas criam
para distinguir o certo do errado, o bem do mal. Ecumênico não é aquele que acredita em todas as
doutrinas, mas sim aquele que não se subordina a nenhuma delas especificamente.

Dentro de tudo que já falamos sobre reforma íntima, será que o que falei agora está certo?
O que é uma lei de uma doutrina religiosa? É algo material: é palavra, é imagem, é ideia. Quem criou
estas leis? Um ego.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 98

As leis das doutrinas religiosas são criações de egos, personalidades humanas, a partir de
ensinamentos de mestres. Cristo, por exemplo, disse apenas ame. Depois vêm as personalidades
humanas e querem dizer como se deve amar, o que é amar e o que não é.
Será que se devem criar leis humanas que precisam ensinar a amar? Eu acho que não.

Quando se cria uma lei dizendo o que é certo, automaticamente se cria o errado. É a lei que
diz que algo é errado.
Mas, será que julgar alguém dizendo que ele está errado é amar? Quem ama de verdade,
ama incondicionalmente, ou seja, sem criar lei para dizer o que é amar ou não. Portanto, quem se
fundamenta numa lei para dizer o que é certo a ser feito, não ama.
Acham que sou eu que estou dizendo isso? Não. O apóstolo Paulo, aquele que melhor
compreendeu o ensinamento do Cristo, foi quem disse.

Paulo diz assim: a lei cria o pecado.


Ele falou isso porque o errado só começa a existir quando se coloca uma lei dizendo o que
é certo. Se não houver lei para legislar algo, não há certo e nem errado.

Depois de falar assim da lei, o apóstolo conclui: Deus não ama aquele que cumpre a lei, mas
sim aquele que age com fé, como Abraão agiu ao oferecer seu único filho em sacrifício ao Senhor.

Portanto, é Paulo que diz que a elevação espiritual (o amor de Deus) é conquistada pela fé
e não pelo cumprimento da lei ditada pelas doutrinas religiosas.

 Subordinação às leis

Portanto, a característica ecumenismo que deve ter o espírito na luta contra o seu ego trata-
se de não se subordinar às leis (verdades, o que é certo) religiosas que o ego cria como doutrina.

O ego diz, por exemplo, que para ser religioso de determinada religião a personalidade
humana deve estar vestida de determinado jeito. O espírito não deve se subordinar a isso. Quem
acredita que isso seja real, acaba como escravo do ego, porque acredita que aquilo é necessário
para comungar com Deus.
Este espírito não ama porque não está feliz de verdade no momento que cumpre a lei
doutrinária, mas sentindo prazer por estar vestido adequadamente. A intencionalidade ao ir vestido
daquela maneira não estava na comunhão com Deus, mas em cumprir uma lei criada por egos
humanizados. Portanto, foi consigo mesmo que a personalidade comungou e não com o Senhor.

Aliás, a questão da obrigação da observância dos códigos legislativos precisa ser pensada
não só com relação às doutrinas religiosas, mas em todos os aspectos da existência humana.
Todos os códigos de leis que existem no planeta Terra são obras de egos e não de espíritos.
Eles são semelhantes nos diversos povos porque fazem parte de uma provação central para os
espíritos que encarnam no mundo de provas e expiações. Mal comparando, posso dizer que é o que
vocês chamam de consciência planetária ou verdades planetárias.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 99

Em todos os grupos de seres humanos do planeta existem códigos que pretendem criar
normas que distingam o certo do errado, mesmo que o conteúdo destas leis seja diferente. Por
exemplo: aqui neste país o homem não pode casar com mais de uma mulher. Este é um elemento
do código de leis de vocês. Em outros lugares existem códigos de leis que falam diferente, ou seja,
que diz que pode casar.

Quem está certo? Isso não interessa. O que importa é que uma lei foi criada, ou seja, um
padrão de certo foi estabelecido e com isso gerou-se um errado. Por causa disso, o amor
incondicional acaba.

O conteúdo da lei não importa, mas sim a existência de um código que pretende estabelecer
o que é certo. Por que isso? Porque todas as leis são estabelecidas por egos, ou seja, instrumentos
para provação do espírito que poderá ou não alcançar a elevação espiritual através dela.

Quando ele a alcançará? Quando não se prender ao que o ego diz que é certo, ou seja,
quando o ser libertar-se da obrigação de cumprir as leis...

Quando o espírito que vivencia um ego que habita este país não se deixar levar pela
personalidade humana que diz que ter duas esposas é errado e o que vivencia um ego onde se diz
que deve ter duas não sentir-se obrigado a isso, então a elevação espiritual será alcançada. Isso
porque os dois libertaram-se da ação das coisas do mundo material.

Este ser será elevado porque conseguiu alcançar a verdadeira liberdade: ele é livre dos
padrões humanos que determinam o certo e o errado.

Paulo, como nós já vimos anteriormente, falou da lei e disse a mesma coisa que dissemos.
Mas, com quem Paulo aprendeu? Ele aprendeu no mais alto céu com Cristo.

O mestre nazareno falou muito de lei. Ele disse: eu não vim tirar um ponto ou uma vírgula
da lei, mas sim dar o seu real sentido. Este real sentido é o amar.

Para amar, ele falou mais sobre a lei: ela é a trave que está nos seus olhos e que o faz
enxergar o cisco que está nos olhos dos outros. O cisco são os erros dos outros, mas eles são
pequenos quando comparados ao seu erro (a trave): apontar o erro dos outros.

A subordinação aos parâmetros legais não deixa a personalidade humana usar uma
característica do universal amor que vimos: a igualdade. Isso porque a lei padroniza o certo,
enquanto o amor o diversifica. Diversificando o certo ama-se o próximo do jeito que ele é.

Quando existe a subordinação aos padrões legais não se ama igualitariamente. Se uma
personalidade humana segue os padrões de certo criados pela lei, com certeza irá amar primeiro os
que cumprem estes padrões para só depois amar o outro.

Por isso fixar-se ao certo impede que haja o amor universal: ele castra a liberdade, a
igualdade e a felicidade sua e dos outros.

Além do mais, quando se fala em cumprimento de uma lei (determinar que alguém é errado)
jamais poderemos também nos esquecer do ensinamento de Cristo. O mestre, ao ser testado pelos
fariseus que queriam que ele julgasse uma mulher pega em flagrante delito, disse: que atire a
primeira pedra aquele que não tem pecado.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 100

Desta parte todos se lembram, mas muitos se esquecem da continuação deste ensinamento.
Quando ninguém acusou a mulher, o próprio Cristo disse: quem sou eu para julgá-la. Ora, se o
próprio Cristo não se sentiu confortável para julgar os outros, quem somos nós para fazê-lo?
Portanto, o espírito não deve acreditar na sensação que o ego cria de que a lei é importante,
de que ela é necessária para se determinar o certo e o errado. Não crendo nisso, poderá libertar-se
das ideias de culpado e errado que a personalidade humana gerará para si ou para os outros,
alcançando, assim, a elevação espiritual, ou seja, o amor incondicional.

 Leis individuais

Agora, eu não estou falando só em leis da sociedade não, mas nas chamadas leis
individuais. Ou seja, estou falando nos padrões de certo de cada personalidade humana.

Por exemplo: Qual a cor da sua calça?


Participante: Verde...

Tendo alguém daltônico aqui, será que ele veria a mesma cor? Se ele não vê a mesma coisa
que você, ele está errado? Sim, para você estaria, porque o seu código interno de leis diz que esta
cor chama-se verde. Com isso o amor incondicional estaria acabado.

Portanto, para amar o próximo o espírito precisa libertar-se da lei que determina que exista
uma cor certa para esta calça.

Vamos a outro exemplo. Pense numa coisa que você goste. Será que todos gostam disso?
Claro que não. Para você eles estão errados, pois aquilo é gostoso, não é mesmo? Mas, quem disse
que o outro é obrigado a gostar do que você gosta?

Estou usando exemplos bem simples apenas para compreenderem, mas ampliem este
conceito para as coisas mais complexas do mundo e verão quantos momentos de sofrimento
poderiam ter sido evitados, se isso fosse possível, apenas libertando-se da lei interna que diz o que
é certo ou errado.

 Consciência amorosa

Portanto, o ecumenismo como não subordinação a código de leis é instrumento necessário


para a elevação espiritual porque só ele pode levar o ser a viver em felicidade incondicional.

Enquanto houver subordinação a código de leis a felicidade não será condicional, mas
ocorrerá apenas quando os ditames dele forem contemplados. Ou seja, será condicionada a que o
outro cumpra o que você acha certo.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 101

Para poder alcançar esta felicidade, a personalidade humana terá que se transformar num
juiz, ou seja, terá que estar sempre atenta para verificar se o outro está cumprindo a lei ou não. Este
estado de tensão acaba com a sua própria felicidade.
Sim, a personalidade humana que vive apegada a código de leis se coloca no direito de ser
juiz, de julgar a humanidade. Ela acredita que tem o direito de julgar o próximo porque conhece a lei,
porque sabe o que é certo.
Vocês já ouviram falar disso? Já ouviram falar de alguém que conhece a lei e que por causa
disso se imagina com direito de julgar os outros? Cristo falou destas personalidades e as chamou
de professores da lei. ‘Ai de vocês, professores das leis, fariseus e hipócritas que ensinam os outros,
mas não praticam’.

Sim, os professores da lei (aqueles que sabem o que é certo e querem impô-lo aos outros),
sejam elas da lei coletiva ou da individual, não praticam o amor, apesar de disserem que ensinam a
amar. Isso porque quando se apegam a um código de leis, padronizam o que é amar e querem
obrigar os outros a amar do jeito que eles acham certo. Mas, quem disse que eles sabem o certo?

Só o ecumenismo, a liberdade do certo e do errado pode levar o espírito a uma coisa que
chamamos de consciência amorosa. Sendo a liberdade uma parte integrante do amor universal,
consciência amorosa ou a consciência que ama é aquela que concede ao próximo o direito de ser
quem quiser, de ter a liberdade de agir do jeito que quiser agir sem que esta consciência se veja
obrigada a julgá-lo por isso.

Portanto, o ecumenismo é outro instrumento da elevação espiritual. Aliás, um instrumento


importantíssimo, pois como aqui descrevemos, leva ao fim dos julgamentos, tema no qual Cristo
muito falou quando trouxe os ensinamentos para a elevação espiritual.

 A necessidade de leis

Mas, tem outro aspecto que quero abordar neste momento a respeito do tema ecumenismo:
ele deve ser aplicado a todos os quesitos legais e não apenas a alguns. Ou seja, você não deve
escolher que lei tem que cumprir ou não.

O espírito precisa se libertar da ação do ego de forma total e não apenas de algumas partes
deles. Por isso, é preciso libertar-se da coerção de todos os ditames legais e não de apenas alguns...

A partir disso, pergunto: dá para viver sem leis? Vamos imaginar que de hoje para amanhã
acabem todas as leis: você acha que a vida na sociedade poderia ser vivida sem lei?

Todos aqui responderam não. Uma pessoa ainda disse: seria uma desordem.
Devo, então, entender que a existência de leis é fundamental para a vida humana. Certo?

Participante: nesse planeta, nessa fase que ele se encontra acho que sim.

Está certo.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 102

Agora me digam: para que uma lei é feita? Pelo que eu sei é para proteger o direito dos
outros, certo? A lei é criada para que ela proteja o direito de cada cidadão, ou seja, para que não
aconteça nada errado.
A partir dessa ideia, pergunto: alguém é capaz de me dizer algum erro que alguma lei
conseguiu extinguir?

Reparem bem: se a lei protege o direito das personalidades humanas evitando que aconteça
o errado, isso quer dizer que não existem mais assassinatos e nem roubos, pois há leis que coíbem
isso. Certo?

Participante: o argumento que já ouvi é que sem as leis estaria pior.

Ah, isso é um achômetro: alguém acha que estaria pior, mas não tem a menor certeza de
nada.

A consciência do que acabei de dizer (que a lei não cumpre seus objetivos) é importante
para aquele que pretende promover sua elevação espiritual. Isso porque o ego diz ao espírito que a
existência de leis é necessária para que se preserve o seu direito, mas, mesmo existindo leis, ele
não é preservado. Então, para que lei?

A personalidade humana através do seu mundo das ideias afirma que a existência de leis é
necessária, porque sem ela as coisas poderiam ficar piores. No entanto, ela não tem a mínima ideia
do que está falando, já que não conhece na prática o que é viver num mundo sem leis.

Sabe como seria uma existência sem leis? A mesma que é hoje, quando existem as leis.

Ora, se a lei não extingue nada, se não coíbe nada, como pode alterar alguma coisa? Toda
vida das personalidades humanas é legislada; cada passo que se dá nesse mundo é legislado. Para
cada atividade humana existe uma legislação.

Apesar deste enxame de códigos que dizem o que é certo, o comportamento humano jamais
se alterou ao longo dos séculos. Os mesmos crimes legislados como errados há dois continuam
sendo praticados até hoje.

Por isso volto a repetir: as leis não servem para nada. E, se elas não servem de nada, a vida
continuaria igual sem ela.
Participante: o fim das leis acabaria só com as obrigações.

Isso. O fim da lei acabaria com a obrigação e com a cobrança da mudança do próximo.

Antes disse que as leis não servem para nada, mas não falei a verdade. A lei serve sim: para
poder julgar e acusar o outro. Ou seja, a lei é um instrumento carmático que cria uma situação de
não amor que serve de provação para o espírito que está realizando a sua grande aventura.

Sem acabar com o apego às leis o espírito jamais vai amar, pois jamais aceitará que o outro
seja do jeito que ele quer ser. Isso porque, como já disse, a lei é um parâmetro para medir e julgar o
que os outros fazem.

Vou dizer mais ainda: quando o espírito liberta-se do valor que a personalidade humana dá
às leis, automaticamente surge a consciência amorosa ou a consciência que ama. Somente quando
esta consciência for alcançada, o espiritualismo (a libertação dos elementos do mundo material como
reais) acontecerá.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 103

Quando o espírito se conscientizar de que as leis, sejam elas judiciárias, morais ou pessoais
não servem para nada e, por isso, libertar-se da obrigação de seguir seus preceitos, poderá, então,
ser realizado o que a lei não conseguiu fazer: unir todos em pé de igualdade.
Falei em leis morais e vocês devem estar achando estranho, pois estas são as mais
defendidas em qualquer trabalho religioso. Mas, será que a lei moral foi capaz de extinguir o ato
imoral? Se não foi, para que continuar existindo?
Participante: tendo como base outros estudos que fizemos e que afirmam que
nada poderia ser diferente do que foi até então, eu acredito que isso que você
está falando agora nós devemos começar a treinar daqui para frente. Seria isso?

Porque tudo foi do jeito que foi?

Participante: porque foi escrito assim.

Mas, porque foi escrito assim?


Participante: porque Deus sabia já do nosso comportamento.

Ah, do seu comportamento.

Se tudo foi do jeito que foi é porque o seu comportamento era de uma determinada forma.
Por isso, não se pode dizer que tudo teria que ser do jeito que foi. Na verdade, foi do jeito que foi
porque vocês, espíritos, tiveram determinado comportamento. Carma.

Ou seja, o mundo está do jeito que está porque vocês, espíritos, são do jeito que são. Agora,
façam com que vocês se mudem para que o mundo seja diferente.

Participante: foi isso que eu disse; não poderia até então ter sido diferente.

Não, não poderia.


Eu não estou criticando o passado. O que estou mostrando é a característica do ser humano.

Além disso, estou mostrando ao espírito: é aqui que você está (está apegado ao ego que diz
que isso é certo) e precisa vir para cá (viver sem apego a estas ilusões criadas pela personalidade
humana).

Segunda coisa que estou dizendo ao espírito: não pegue a lei que a personalidade humana
vivencia e jogue no lixo.
Foi isso que eu disse? Eu mandei jogar as leis no lixo? Não. O que falei é que o espírito deve
ir lutando contra o ego para aos poucos se libertar dele. O que disse não foi para acabar com as leis,
mas para libertar-se da obrigação de segui-las.

Lembre-se do que já disse: não adianta querer renascer sem antes morrer. Esta morte não
acontece de súbito: é preciso que o ser vá se libertando aos poucos.

Tal pensamento vale para tudo que já falei aqui, inclusive a questão da necessidade de se
alimentar. Não dá para o espírito que está vivendo a sua aventura encarnatória (ligado ao ego)
imaginar que pode, de uma hora para outra, não mais sentir a fome que o ego cria. O que o ser
precisa fazer é paulatinamente ir se libertando desta sensação para que aos poucos surja nele uma
consciência amorosa. Aí sim, ele pode mudar sua ação e não mais dar o valor de real àquilo quer a
personalidade humana cria.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 104

 Individualismo

Então, essa é a ferramenta ecumenismo. Ela, em conjunto com o espiritualismo, é um


elemento necessário à reforma íntima.

Através do espiritualismo o ser se liberta das formas e das propriedades delas; pelo
ecumenismo se liberta da lei ou da obrigação de ter que se agir dentro de um determinado padrão.

Ficou claro isso?

NOTA: Esta pergunta foi dirigida a uma pessoa do sexo feminino que estava
presente junto com seu esposo.

Participante: sim.

Então, seu marido pode arrumar outra mulher.


Participante: não, isso não.

Ah, mesmo tendo entendido que não deve apegar-se a certos e errados, para você isso não
pode acontecer, não é mesmo? Por quê? Porque você, como todo ser humano é individualista.

O individualismo, assim como o materialismo e o apego à código de leis que determinam o


certo, é outra característica da personalidade que o espírito precisa reconhecer e libertar-se da sua
ação.

A personalidade humana diz que os ensinamentos valem, são perfeitos e bons, mas só
aceita a sua aplicação nos outros. Mesmo acreditando que deve libertar-se das leis humanas o ego,
quando a aplicação de tal ensinamento afeta a sua própria existência, não o aceita.

O trabalho da reforma intima começa na modificação da sua própria existência e não da vida
da coletividade. O espírito precisa libertar-se de todas as leis que a personalidade humana cria para
a vida carnal, mesmo que com isso este ser humano aparentemente perca alguma coisa.
De nada adianta lutar apenas para colocar em prática este ensinamento quando se referir à
vida dos outros e manter estes mesmos valores quando eles afetam a existência da personalidade
humana que está criando a sua aventura encarnatória. Se isso acontecer, ele nada executou no
tocante à evolução espiritual.

Por isso, se não existe mais o certo e o errado para você, porque não deixar seu marido ter
outra?
Claro que isso que estou falando é apenas para exemplificar o que estou falando. É óbvio
que a compreensão da necessidade de se dar a liberdade ao outro não vai levar você a buscar outro
nem a ele a buscar outra.
O que estou querendo dizer é que você, o espírito, precisa estar consciente de que todos
têm o direito de ser e fazer o que quiserem. Se não houver esta consciência disso e acontecer de
um dia ele fizer algo que você não concorde possa, então, não acreditar na crítica que a
personalidade humana vai criar.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 105

 A vida não muda

Na verdade, o fim das leis não traz necessariamente à bagunça. Isso é uma coisa que nós
temos que deixar bem claro.

A bagunça acontecerá se tiver que acontecer, tanto importa se espírito reagir de uma ou de
outra forma às leis humanas. A ação do espírito junto ao ego não muda os acontecimentos materiais,
pois eles são determinados antes da encarnação conforme os gêneros de provações pedidos pelo
ser universal.

Sendo assim, posso dizer que a reforma intima não altera a vida, mas sim a forma como o
espírito vivencia o que a personalidade humana vive.
Participante: trata-se de uma mudança de atitude?

Não, uma mudança da forma como o espírito participa das vivências da personalidade
humana. Uma mudança não de atos, mas do estado que o espírito participa daquela vivência.

Participante: não adianta eliminar as leis e continuar fazendo o que se faz

Adianta sim.

Pode deixar tudo mundo continuar a fazer o que faz, pois se você não vivencia mais o que
vivenciava antes, os outros não vão mais fazer o que faziam. Ficou difícil de entender? Vou dar um
exemplo para facilitar a compreensão.

O acontecimento carnal diz que a personalidade humana que o espírito está ligado vai
andando na rua quando alguém mete a mão no seu bolso, tirando de lá o dinheiro. O que é isso para
o ser humano? Um roubo.

Dentro do processo de reforma íntima, o espírito aprende que tal ação na verdade é apenas
uma representação de sua provação. Com isso o espírito não mais acredita quando o ego diz que
tal acontecimento é um roubo, mas o entenderá como sua provação.

Repare: o ato continua o mesmo (alguém meter a mão no bolso da personalidade humana
e tirar o dinheiro), mas o espírito não vivencia mais um roubo e sim uma provação.
Depois o ser passa a compreender que a sua provação é, na verdade o fruto do amor de
Deus por ele. Neste momento ele ultrapassa a ideia de tal acontecimento ser uma prova, mas sim a
materialização do amor do Pai pelo seu filho.
Ou seja, o mesmo acontecimento foi primeiro compreendido como roubo, depois como
provação e, posteriormente, como amor de Deus em ação.

Por isso disse que para quem não vivencia mais o que vivenciava antes, os outros não vão
mais fazer o que faziam.

Participante: o espírito deixa de julgar o ladrão?


Encarnação – a grande aventura do espírito página 106

Mais do que isso: para o espírito que se liberta do que a personalidade humana diz que está
acontecendo não há mais ladrão. Não há mais ladrão porque não há mais roubo.

Dentro da escala que colocamos no exemplo, aquele que participa do acontecimento


enfiando a mão no bolso tirando o dinheiro inicialmente se transforma num instrumento da provação
e depois do amor de Deus, um mensageiro do Senhor.

Compreende o que estou querendo dizer? Os acontecimentos da vida não mudam, mas sim
os valores com o qual se participa destes acontecimentos.

Isso é reforma intima.

 Universalismo

Voltemos ao assunto que estava conversando com a moça que está aqui com seu marido:
a libertação do certo é aceito quando se trata da vida do outro, mas não quando se trata da vida de
cada um.

O que a personalidade humana quer preservar ao não aplicar este ensinamento na sua
própria existência?
Participante: preservar o eu?

Isso: preservar o seu eu.

A personalidade humana que aqui está com o seu marido não gostaria que ele arrumasse
outra mulher. Para preservar este desejo, que compõe o seu eu é que ela não se liberta do preceito
que o marido tem que ser fiel à esposa.

Essa é uma das características da personalidade humana que precisa ser vencida pelo
espírito: o eu. Mas, como se vence o eu? Vivendo o nós.

Quando nos conscientizamos disso, chegamos, então, ao terceiro instrumento da reforma


intima: o universalismo.

Vivenciar o eu, ou seja, priorizar os desejos individuais é ser individualista. Vivenciar o nós,
ou seja, dar ao próximo o direito de ser, estar e fazer o que quiser sem que o eu se sinta ferido é ser
universalista. É ser universal.

Falando mais praticamente, vivenciar o universalismo dentro do processo de reforma íntima


é vencer a verdade de cada um que protege sempre o eu e vivenciar a verdade do próximo sem
críticas ou restrições. Ou seja, entregar-se ao próximo.

Essa é uma coisa dificílima para aqueles que estão apegados a egos. Isso porque o espírito
que se apega à personalidade humana acredita que os valores que esta personalidade cria são
certos. Ele jamais vai aceitar e participar da verdade do outro como se sua fosse.

Eu vou dar um exemplo disso: um dia eu estava fazendo uma palestra falando sobre servir
ao próximo. Disse que servir ao próximo é fazer o que o outro quer por querer fazer o que o outro
quer. Isso é servir ao próximo.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 107

Uma pessoa então me disse: ‘vou dar um exemplo para ver se entendi bem. Sou casada e
meu marido quer ir ao futebol todo domingo. Para servi-lo devo ir com ele’? Respondi a ela dizendo:
‘se quiser servir ao próximo sim, deve ir com ele. Se ele quiser que você vá, você que quer servi-lo
deve acompanhá-lo’.

Ai esta personalidade humana de uma forma bem individualista, que é a característica do


ego, me disse: ‘mas, quando vou fazer o que eu quero’? Nesta simples pergunta se encaixa toda a
dificuldade da reforma íntima.

Dizer que a reforma íntima passa pelo serviço ao próximo não é nenhuma novidade, pois os
mestres ensinaram isso. Por que, então, a personalidade humana que diz que quer se elevar não
faz? Porque ela não serve ao próximo, mas apenas faz concessões esperando receber algo em
troca? Quando age assim não está vivenciando o nós, nas ainda está presa ao eu.

O serviço ao próximo, ou seja, a vivência do nós precisa ser feito com uma perfeita
integração com o próximo que começa pelo abandono do eu. Ou seja, o pensamento que deveria
ser realizado por aquele que diz que quer reformar-se é o de ir ao futebol sem esperar nada em
troca. Ir como um serviço ao próximo, como uma devoção ao nós e não para que o eu ganhe
futuramente algo.

Esse é o verdadeiro universalismo: conviver com o próximo sem estar apegado em si


mesmo. Se a personalidade humana que citei aqui conseguisse colocar isso em prática iria ao futebol
com o seu marido para servi-lo e com isso estaria eliminando a cobrança dele retribuir esta ação.

 Serviço ao próximo

Participante: universalismo, então, é o fazer sem esperar nada em troca?

Mais do que sem esperar nada em troca: sem querer outra coisa, sem ter outra verdade,
sem ter outra realidade, sem ter mais nada e viver cada momento independente um do outro. Isso é
universalismo.
Participante: é comum num casal os dois estarem com necessidades diferentes
um do outro. Em um momento um pode estar querendo ir para um lugar e outro
para outro.

Ele disse que é comum as pessoas terem necessidades diferentes e está certo. Mas, eu
pergunto: o que é a sua necessidade? O que é a necessidade que um espírito vivencia durante a
sua aventura encarnatória? É aquilo que a personalidade humana cria para ele como provação.

Então, aquilo não é necessário, mas apenas mais um acontecimento do qual o espírito
precisa se desprender. Acreditando que aquilo é realmente necessário o espírito não realiza o
trabalho que veio fazer, não chega a bom termo na sua grande aventura.

Portanto, é comum cada personalidade humana querer algo diferente do seu parceiro, mas
isso só acontece para que o espírito possa ter a oportunidade de fazer a sua reforma íntima.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 108

Participante: mas, se eu estiver aceitando o que o outro quer estarei me


subordinando a o ego do outro?

Não estou dizendo para você se prender a outro ego; estou falando em servi-lo sem se
escravizar ao que o ego do próximo quer. Aceitar o que ele me diz como realidade atual, mas sem
se prender aquilo. Ou seja, se ele quer que eu vá, eu vou; amanhã ele não quer que eu vá, então,
eu não vou.
Se o espírito se prende ao que o ego do outro quer em um determinado momento como algo
certo criará uma lei: ele quer que eu vá, então, tenho sempre que ir com ele. Não é isso que estou
falando.
Amanhã pode ser que ele não queira que você vá. Se aceitou o tem que ir sempre como
uma regra, ou seja, se prendeu ao servir como ter que ir com ele sempre, cobrará porque não está
lhe chamando desta vez.
Servir ao próximo é vivenciar o que ele quer a cada momento sem apego à condições. Ir
com ele quando ele quer que você vá; não ir quando ele não quiser que vá. Isso sem fazer a menor
diferença entre ir ou ficar.

A necessidade daquele que vivencia o universalismo é fazer o que o outro quer e não
estabelecer parâmetros do que é servir. Se durante o serviço a ação carnal mostrar a sua
personalidade humana indo ou não, isso não tem problema.

Universalismo não se traduz numa ação específica (fazer a ação que corresponde a vontade
do outro), mas sim em algo interno: a disposição de servir o próximo. Posteriormente vamos falar
sobre este assunto, mas por hora saiba que se o universalismo independe da personalidade humana
participar ou não da ação do outro.

Saiba que se a personalidade humana participar da ação que o outro deseja com uma razão
que mostre contrariedade ou obrigatoriedade (‘tenho que ir novamente, que saco’, ‘tenho que ir
porque eu quero realizar a elevação espiritual’) a ação de ir não pode ser considerada universalista.
O que denota uma ação universalista é aquela onde a razão humana não se considera contrariada
ou obrigada a fazer o que o próximo quer, seja participando da ação que ele deseja praticar ou não.
Esse é o instrumento universalista da reforma intima. Ele está presente quando o espírito se
liberta do eu – dos desejos e vontade individuais da personalidade humana – e se entrega
perfeitamente à vontade e desejo do próximo pela simples vontade e desejo de servir ao próximo.
Quando para o espírito não importa as vontades criadas pela personalidade humana, mas
sim o desejo de servir ao próximo, neste momento ele está utilizando-se do universalismo e está
realizando a sua reforma íntima.

 Usando os instrumentos da reforma íntima

Então, como vimos até aqui, universalismo é a integração com o próximo, ou seja, a não
contraposição ao que o outro acha ou quer. Isso vivenciado pelo espírito mesmo quando a
Encarnação – a grande aventura do espírito página 109

personalidade humana possui razões contrárias ao universalismo, ou seja, individualistas. Essa é a


vivência de uma encarnação que pode levar o ser a aproximar-se de Deus.

Levar a encarnação a bom termo, ou seja, aproximar-se de Deus é:


ser espiritualista, ou seja, não se prender às formas e realidade materiais
construídas pelo ego.

ser ecumênico, ou seja, não se prender às leis desse mundo criadas pela
personalidade humana.

e entregar-se aos acontecimentos do mundo com perfeição, ou seja, sem


deixar os desejos e paixões do eu provador alterarem o seu padrão
vibracional...

Quando isso acontece, o espírito aproximou-se de Deus. Por quê? Porque com isso ele
destrói toda a realidade que o ego cria.
Ao destruir as formas, os códigos de lei que criam o certo e o errado e as paixões e desejos
que a personalidade humana cria, o espírito poderá viver num estado de paz, já que não vai ter mais
armas para guerrear, de harmonia, porque não vai ter mais nada para que lhe contrariar e de
felicidade, pois não terá mais nada que lhe faça aceitar a sensação de estar chateado.

Quando os três instrumentos que falamos hoje forem utilizados pelo espírito tudo que
acontecer estará perfeito, mesmo que a personalidade humana diga ao contrário. Eu disse perfeito,
ou seja, mais do que certo. Saiba que enquanto houver o certo para o ser, este não escapará da
sensação de prazer que a personalidade humana criará.

Olhe que vida maravilhosa é essa que estou descrevendo. O espírito observa a criação da
parte técnica do ego que cria a imagem de um estupro e não sofre com isso.

Sim, o estupro para o ser liberto da materialidade, dos padrões de certo e universalizado não
é mal. Ele é mal para quem? Para a carne? Mas, carne não existe: é criação racional da
personalidade humana através da sua parte técnica.

‘Mas, o espírito está sentido dor’, diriam os que ainda querem separar certos e errados. A
estes eu repondo: a dor não é do espírito, mas sim uma sensação criada pelo ego.
Se o espírito está sentindo esta dor é porque não realizou a contento a sua reforma íntima,
ou seja, ainda está apegado ao ego. Se este ser universal entender que está encarnado, ou seja,
que está vivendo uma grande aventura probatória ao invés de uma vida carnal não mais vivenciará
esta dor.

Lembrem-se do que eu disse: enquanto houver qualquer coisa que seja certa ou errada para
o espírito, mesmo que este padrão seja coletivamente aceito, ele não tem harmonia com o mundo.
Ele ainda acreditará quando a personalidade humana disser que são erradas e que não podem
acontecer.

O ser que não se harmoniza com o mundo através da libertação dos padrões de certo e
errado não tem felicidade incondicional, pois vai viver a sensação de sofrimento que a personalidade
humana criará quando o errado estiver acontecendo. Também não terá paz, pois os conceitos da
razão humana servirão como instrumentos para que este ser crie a guerra (ir contra) os que não
seguem os padrões que ele acredita.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 110

Guerra: não foi isso que as personalidades fizeram contra aqueles que promoveram a guerra
no Iraque? Eles fizeram guerra para ter paz, para pedir a paz. Ou seja, guerra para parar a guerra.

Sim, guerrear não é apenas portar uma arma e dispará-la contra os outros. Criticar o governo
que faz guerra é abrir guerra contra este governo.

Será que isso é certo? Como é que alguém pode dizer que quer paz se não dá o exemplo?
Realmente a lógica humana muitas vezes pode até ser considerada engraçada.
Deixe-me fazer um comentário.

Vocês acompanharam pela televisão a preparação para a guerra do Iraque. Viram também
os povos irem para as igrejas, templos ou centros rezarem para não ter guerra. Apesar deste esforço
de milhares de seres humanos aconteceu a guerra? Vocês viram que sim.

A partir disso eu deveria dizer: que Deus vagabundo, hein. Que Pai é este que não atende
um apelo justo e certo de seus filhos? Repare: Deus deve ser muito fraco, pois o mundo inteiro rezou
pedindo a Sua interseção para que não acontecesse guerra e Ele não pode fazer nada.

Sim, esta é a conclusão lógica a que se chega se ficarmos presos à questão do certo e
errado e do mundo acontecendo sem um Regente. Agora, vamos ver o mesmo acontecimento a
partir da visão que estamos criando aqui, ou seja, que a vida encarnada é apenas a grande aventura
encarnatória do espírito.

Onde está o ato de guerrear na encarnação? Na parte técnica do ego. Ou seja, tudo o que
você viu a respeito de guerrear não existiu fora da razão humana, mas foi sim uma criação interna
do ego.

Além do mais, será que aquelas percepções são uma guerra? Ou seja, será que a bomba
que você viu cair é um guerrear? Não, guerra foi um valor que a personalidade humana criou para
aquela percepção que ela também criou.

Sim, você, personalidade humana, viu uma bomba caindo, mas isso não quer dizer que
aquilo representa uma guerra. Na verdade a consciência de que aquilo é uma guerra é formada por
uma verdade que está no ego e não pela realidade.

A partir de tudo o que vimos até aqui, na realidade o que é que está acontecendo? Uma
encenação gerada pela percepção humana, quer seja na forma, na compreensão e nas sensações
que tem por finalidade construir a provação que acontece para o espírito durante a sua grande
aventura encarnatória.
Sendo assim, a existência de uma guerra é realidade sua, personalidade humana, e não de
Deus. Para Ele o que está acontecendo é apenas a provação do espírito que é necessária para que
este se aproxime Dele.
Veja bem o que falei: para Deus o que está acontecendo é apenas a provação do espírito.
Eu não posso nem dizer que para Deus a guerra representa a provação do espírito, pois para o
Senhor a guerra não existe. Aquilo que a personalidade humana chama de guerra. Deus chama de
provas.

Pronto: agora existe um Senhor Onipotente, Onipresente e Onisciente. Um Senhor que sabia
tudo que estava acontecendo na realidade e estava presente fazendo acontecer o que era preciso
acontecer acima da vontade e desejo de qualquer um.
Encarnação – a grande aventura do espírito página 111

Este é o Deus descrito pelos mestres e não aquele que as personalidades humanas
acreditam existir e rogaram para que não houvesse a guerra.

 Despedida

Como disse, Deus sabia o que estava acontecendo na realidade. Mas você, quer seja
espírito ou personalidade humana, sabia? Se não sabia, será que poderia saber? Será sobre isso
que conversaremos na próxima palestra.

Hoje falamos dos instrumentos necessários para destruição por parte do espírito da
realidade criada pela personalidade humana. Na próxima conversa iremos falar sobre a realidade
real do Universo.

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