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MILITARES NO ALÉM – Esp.

Diversos

MILITARES NO ALÉM — Autores diversos

Dedicatória e Agradecimento
Dedicatória

Ao casal Aurélio e Júlia Amorim, nosso eterno preito de amor e gratidão.


MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Agradecimento

À Senhora Lúcia Feijó Barroso, pela excelente ajuda prestada na


obtenção do histórico da Irmandade da Santa Cruz dos Militares, que
enriqueceu, sobremodo, o nosso trabalho.

Wanda Amorim Joviano

Conversando com o leitor


Amigo leitor,
Se você teve a oportunidade de compulsar os livros Sementeira de
Luz e Deus conosco, trazidos a lume pelo Vinha de Luz — Serviço Editorial,
saberá que a nossa família teve a felicidade de receber a visita do amigo
Chico Xavier todas as quartas-feiras, à noite, para o culto no lar do Grupo
Doméstico Arthur Joviano, em nossa residência, na Fazenda Modelo, em
Pedro Leopoldo, Minas Gerais.
Nesses cultos, contávamos com a companhia de muitos amigos
espirituais, alguns já apresentados a você, prezado leitor. Quando meus avós
maternos, General Aurélio de Amorim e Júlia Pêgo de Amorim, passavam
férias anuais em nossa casa, vários espíritos, que tinham sido militares em sua
última encarnação, deixavam registradas suas presenças, quer por
mensagens, quer por simples declinação de seus nomes, ao querido médium
Chico Xavier. n
Os ensinamentos eternos que estas mensagens contêm podemos agora
difundir em decorrência da generosa participação do amigo Geraldo Lemos
Neto, para quem rogamos ao divino Mestre Jesus conceder toda a felicidade
que emana de suas divinas instruções de vida e que transcendem o nosso
humilde conhecimento.

Wanda Amorim Joviano


MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

[1] Nota da Editora: vide, às páginas 163-167 [do livro impresso], reprodução de
alguns originais psicografados por Chico Xavier, nos quais ele anotou, de próprio punho,
os nomes das entidades espirituais presentes ao culto.

Prefácio Espiritual
A grande humanidade cristã do porvir

Que as bênçãos do Cristo vos fortaleçam.


Instituir núcleos de oração e criar fontes de força viva, que nutre famintos
e ilumina as estradas a quantos se perdem na noite escura. Oh, irmãos
amigos, que vos reunis sob a bandeira santa da paz! Como sois felizes à
distância da guerra! Quantas misérias seguem as batalhas? Quantas ruínas
depois de cada bombardeio! Não mais a luz do sol, nem a tranquilidade da
noite, mas a incerteza crescente, a dor que se estende como vulcão de
lavas, que não se esgota nunca!
Antigamente, contemplávamos o céu rogando as graças do Todo-
Poderoso! Hoje não mais a piedade da oração que procura as esperanças
da Imensidade, porque do céu caem bombas destruidoras, que exterminam
para sempre!
Não vos venho falar desejosa de estabelecer novos conhecimentos nas
almas, relativamente ao polvo escuro, cujos tentáculos envolvem as nações
cultas desde 1939! n Não desejamos qualquer manifestação na imprensa de
nosso país, não, meus amigos! Nós vimos orar convosco! Em plena
tempestade, é preciso buscar o porto. Em trabalhos rudes, é necessário
recorrermos à calma do coração. Como não podia deixar de ser, nós
estamos servindo com amor. Não mais o exclusivismo de raça, de
agrupamento de família, mas o universalismo da humanidade. Abraçamos
em nossa fé nosso Brasil sempre novo, mas não no sentido regionalista de
outro tempo e sim no propósito de alargar-lhe as fronteiras do sentimento
para a grande humanidade Cristã do porvir!
Os campos europeus convertidos em cemitérios requisitam trabalhadores
devotados. Descrever o pavoroso sofrimento das coletividades atingidas pelo
monstro é impossível! Comentar as desgraças de povos inteiros seria faltar à
caridade de Jesus Cristo. Onde estão os missionários humanos que assistam,
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de novo, às almas infelizes do velho continente? Onde os que desejem


esquecer todos os ódios e todas as desventuras para se consagrarem ao
espírito europeu simplesmente?
Nos séculos que passaram, sacerdotes saíam das comodidades do Velho
Mundo para enfrentar a América inóspita! Eles, porém, devassavam as matas
verdes e escuras e defrontavam somente os perigos exteriores. Hoje,
entretanto, há necessidade de discípulos fiéis de nosso Senhor, que estejam
dispostos a penetrar o campo europeu para desafiar a selva de sentimentos
transviados — homens de Deus que falem advogando o direito humano de
confraternização e de paz.
Tardam, contudo, os filhos da luz nessas regiões desventuradas! A
inteligência desvirtuada tem alguma coisa de satânico, de infernal! E os
nossos serviços se desdobram infinitamente, porque as vozes da verdade
escasseiam nos países mais vigorosos! Porque Caim continua no trono de sua
dominação, trucidando todos os irmãos que se manifestarem dispostos à
fraternidade universal. Do que existe verdadeiramente, possuis, no Brasil, uma
vaga ideia em vossos lares.
Não vos denunciamos, porém, semelhantes dores com a intenção de
atemorizar-vos diante da luta e sim para que intensifiqueis as vossas orações
de louvor de graças cada dia, por se haver dignado o Senhor de livrar-vos
das calamidades Funestas que precipitam os povos mais sábios no vórtice da
destruição. E digo mais sábios porque não podemos afirmar os melhores. Há
muita diferença entre evolução intelectual e progresso cristão. Não podemos
cultivar o raciocínio contra as leis que governam a vida, porque as leis se
voltam contra nós, confundindo-nos a razão pequenina e miserável!
Infelizes as nações que acenderam os fogos do morticínio! Sobre elas
caem as maldições proferidas contra as coletividades pacíficas! Assestados
contra si próprias permanecem os canhões consagrados à destruição dos
povos amantes da liberdade! Criaram cadeias para os próprios pulsos,
algemaram as mãos no longo e doloroso cativeiro projetado para quantos
amam o trabalho por amor ao serviço da criação de Deus! Grandes horas,
estes momentos do mundo inteiro! Marcam solenemente no relógio da
eternidade os desvarios da Terra!
Irmãos, como aqueles que acompanharam o Mestre divino, também nós
vos repetimos: orai sem cessar! Convertei vossos esforços e vossos dias em
orações vivas a Deus! Grande é o instante da atualidade! Permanecei na
vossa paz com o Cristo! Embora à distância da carnificina, em sua culminante
expressão, sois igualmente do mundo e ninguém poderá eximir-se ao débito
coletivo. A dor visita todos os departamentos da vida terrestre, acordando os
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que dormem. Permanecei na vossa vigília sagrada do lar, orando e


trabalhando!
Agradeço-vos o momento de repouso, a hora de paz. O trabalhador de
minha esfera sabe agradecer a sombra amiga, a praia acolhedora. Ele
compreende, como apóstolo, que toda boa dádiva vem de Deus! Conserve
o Senhor vosso teto amigo, cheio de luz espiritual! Ainda que passem os anos,
ainda que se escoem os séculos, guardareis, para sempre, o perfume sublime
de vossas orações, recordando que enquanto muitos se combatiam na
destruição generalizada defendíeis a criação do eterno Pai e que enquanto
a maioria de nossos irmãos do mesmo ninho discutiam interesses inferiores, ou
se divertiam indiferentes às lágrimas alheias, vós oráveis no santuário
doméstico, abrindo as portas do coração para os alvitres do céu a benefício
de nossos irmãos em luta.
Guarde-vos o Senhor Deus o tabernáculo, porque é hora de
regressarmos, nós também, para o centro da luta. Amai-vos muito, defendei
vossa fé! Esperai no Senhor e não vos prendais aos homens, embora o serviço
a eles nos constitua um sagrado dever! Abri-vos para as inspirações
superiores! Crescei para Jesus, ainda que a humanidade vos desconheça o
esforço salutar! Desdobrai pensamentos de paz em derredor de vossos passos
e permanecei fiéis ao Evangelho e a vós mesmos!
Não vos podemos desejar outras riquezas, nem tesouros mais sublimes
que estes, considerando que ainda não estamos libertos dos laços que nos
prendem aos serviços terrestres. Transitai no mundo como servidores do Cristo,
a quem vos entregais cada noite depois do labor de cada dia, e vencereis!
Estamos espiritual e individualmente em vossa batalha de redenção
particularizada. Não nos rendamos aos inimigos que travam conosco a luta
dentro de nós! Prossigamos de espada na mão, enquanto a enxada
descanse. Longo é o caminho, mas não nos falta roteiro. Jamais vos percais
na bruma das ilusões. Seja Jesus Cristo convosco para sempre!

Anna Nery n
11 de outubro de 1944

***
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Pedro Leopoldo, 02 de janeiro de 1952.n

[1] Nota da Organizadora: Ano em que se iniciou a Segunda Guerra Mundial.

[2] Nota da Organizadora: Anna Justina Ferreira Nery foi a primeira enfermeira do
Brasil. Nasceu em 13 de dezembro de 1814, em Cachoeira de Paraguaçu | BA, vindo a
desencarnar no Rio de Janeiro | RJ, em 20 de maio de 1880. Vide dados biográficos
completos à página 150.

[3] Nota do Compilador: Todos os prefácios nos livros de Francisco Cândido Xavier
foram recebidos na conclusão do livro, indicação segura de sua data de edição, embora,
muitas vezes, houvessem sido publicados posteriormente, como é o caso do presente
volume. A data colocada entre colchetes é a mesma da mensagem mais tardia deste
livro impresso em 2008, que é a lição nº 37 intitulada “Nunca nos interessou a vida
estagnada da retaguarda”. Lembramos ainda que a mensagem acima de Anna Nery
recebida em 11/10/1944 foi colocada aqui “À guisa de prefácio”.

*****

CAPÍTULO 01
Minhas palavras serão poucas

Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior

02/01/1936

Meus filhos as bênçãos de Deus sejam derramadas sobre suas cabeças.

Minha Júlia, meu Aurélio, o céu dê a vocês muitas felicidades. n

Minhas palavras serão poucas. Não tenho voos imaginativos e poucos


soldados sabem escrever, meu Aurélio. Sofri bastante, meus filhos, neste
mundo para onde a morte me arrebatou. Os deveres militares são, às vezes,
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severos e apesar de praticarmos e agirmos em nome da ordem há sempre


um fundo amargo na responsabilidade individual que nos fica de todos os
problemas. Felizmente, porém, sinto-me a caminho da compreensão
elevada das coisas nobres e profundas da vida.
Penso muito em todos os meus que aí deixei e tenho feito o possível
para adaptar-me a esse gênero de vida, ao qual ainda não pude me
identificar integralmente. Pesou sempre, meu Aurélio, em minha existência a
acusação de traição nos tempos detestáveis de 1893, quando a minha
atividade não partiu senão do meu bom desejo de trabalhar contra os
derramamentos de sangue, largamente praticados a pretexto da
consolidação da República.
Sabem o que sofri e até hoje vêm à minha lembrança a recordação
comovida dos amigos Travassos e Cantuária, lembram-se? n Os tiranos da
política muito sofrem por aqui, onde as leis já não representam os fios da
aranha, que prendem consigo somente os insetos fracos.
Dou graças a Deus por falar a vocês estas palavras. Continuem na
crença que hoje lhes felicita o íntimo. Trabalhem muito nessa caridade que
é ensinada pelos mensageiros divinos, que batem à porta do coração dos
que professam essa Doutrina tão formosa e tão consoladora, e nunca se
arrependerão de haver seguido esses passos luminosos.
A todos os meus, deixo as minhas recordações, cheias de afeto e de
saudade.
Meu caro amigo, o seu irmão Ambrósio, apesar de desejar estar
consigo, não pôde se manifestar por enquanto. n O seu desejo, porém, é de
que você não o esqueça em tempo algum.
Adeus, meus amigos. Deus os abençoe, concedendo-lhes muita paz.

Pêgo Junior n

[1] Notas da Organizadora: Conforme publicado no site


www.espiritismogi.com.br/biografias/julia%20pego.htm, acessado em 03 jan 2008, Júlia
Pêgo de Amorim “nasceu no Rio de Janeiro, no dia 15 de setembro de 1879, sendo a
primogênita do casal Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior e de D. Júlia Amália da
Silva Pêgo. Diplomou-se em professora pela antiga Escola Normal do DF em 1898,
lecionando em várias escolas da capital. Ocupou o cargo de Diretora de Música da
Escola Normal, estagiou na Escola Benjamin Constant, na Praia Vermelha, para cegos e
foi diretora da Escola Pública de São Cristóvão, então 6” Distrito Escolar. Casou-se em
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1899 com o Dr. Aurélio de Amorim, oficial do Exército, e foram residir no Alto da Boa Vista.
Notando a ausência de escolas naquela localidade, D. Júlia empenhou-se junto à
Prefeitura Municipal para que ali se fundasse uma, cedendo uma de suas salas para que
funcionasse a primeira escola do Alto da Boa Vista, mais tarde substituída pela Escola
Menezes Vieira, ainda hoje existente no populoso bairro, da qual foi a primeira diretora.
De família espírita, D. Júlia Pêgo de Amorim fez-se abnegada trabalhadora da Doutrina.
(…) Ao longo da obra, o leitor verificará que o Marechal a chama também,
carinhosamente, de Julinha.

[2] Travassos e Cantuária eram amigos das famílias Pêgo e Amorim.

[3] Ambrósio era irmão de vovô Aurélio e foi casado com a norte-americana Marie
Benson.

[4] Pêgo Junior: outro modo como o Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior
assinava seu nome. Algumas mensagens também são assinadas por ele como Antoninho
ou tão somente Pêgo.

*****

CAPÍTULO 02
Trabalho levado a efeito nas organizações da Cruz

Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior

15/02/1939

Meus amigos, Deus vos proteja e vos ampare sempre.


Meu caro Aurélio, eu peço a Deus que esteja com o teu coração nas
suas realizações terrestres, rogando, igualmente, pela Julinha, a quem peço
a Jesus abençoar.
Minhas palavras desta noite são apenas para registrar a minha visita e
agradecer-te pelo trabalho levado a efeito nas organizações da
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Cruz. n Procurei inspirar-te sempre, buscando harmonizar com o teu o


pensamento de nossos companheiros e graças a Deus sinto que o nosso
esforço não foi em vão, porquanto todas as providências passíveis de ser
postas em prática, sem favor das elevadas finalidades de nossa organização,
foram realizadas com a bênção de todos os amigos espirituais que ali
cooperam pelo bem coletivo. Agradeço-te, meu filho, e peço a Deus que te
multiplique as energias.
O nosso trabalho é daqueles que se oculta à luz meridiana para as
considerações pouco sinceras do mundo, mas na sua edificação reside a
providência e o bem de muitos. Deus te pague e te abençoe. Regressando
do mundo, sem as ilusões perigosas de suas vaidades, sei apreciar o teu
esforço como sempre.
A Engracinha está presente e me pede para registrar a sua alegria em
face do grande esforço de Julinha, no grande ideal na educação dos
cegos. n Penso ter cumprido esta incumbência, rogando às forças superiores
que nos presidem os destinos que abençoem e protejam todos os trabalhos
de minha querida filha.
Quanto a ti, meu caro Aurélio, busca aproveitar bem o repouso.
Esperamos que possas ganhar muito com o descanso da presente estação.
Sei que estás sempre na ativa e isso me conforta. Conhecendo a tua têmpera
de soldado, compreendo que o repouso não foi feito para nós. Todavia, há
a necessidade de alguns intervalos para a continuação dos combates novos.
Busca, portanto, alimentar-te bem, conservando-te com a possível
tranquilidade de coração. Em qualquer tratamento, a paz interior tem uma
influência decisiva.
Deus abençoe a todos e vos conceda luz, amor, paz e fé. Não me alongo
em minhas palavras porque devemos todos nós guardar o trabalho por
norma e a síntese por método. Já falei o bastante. E sabes, meu caro Aurélio,
que o soldado fala sempre muito pouco. Mas dizendo muito com o coração,
peço novamente a Jesus que derrame as suas divinas bênçãos sobre todos
nós,

Antoninho
[1] Notas da Organizadora: Vide dados históricos à página 155. No livro Deus conosco,
editado pelo Vinha de Luz em 2007, Emmanuel, em mensagens ao vovô Aurélio, datadas
de 16 de abril de 1941, à página 157, e de 10 de março de 1943, à página 192, faz
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referência ao seu trabalho junto à “cruz” dos militares, ou seja, à Irmandade da Santa Cruz
dos Militares.

[2] Engrácia Ferreira era tia de Júlia, ou Julinha, filha do comunicante e esposa do
General Aurélio de Amorim. “(…) Engrácia Ferreira, pioneira do alfabeto Braille para cegos,
desencarnou a 21 de abril de 1937. Menos de um mês depois, a 6 de maio, comunicava-
se através de Chico Xavier dando uma mensagem dirigida a D. Júlia, solicitando a
continuação de sua obra. Onze dias depois, Chico recebe a segunda mensagem, na
própria grafia do Braille, que foi publicada em “Reformador” de junho de 1938. Diz uma
nota de rodapé da revista que o médium, por não conhecer o alfabeto Braille, levou duas
horas para receber tal comunicação psicográfica, que foi assim transcrita: “Minha boa
Julinha, a paz de Deus, nosso Pai, seja em teu generoso coração, sempre tão cheio de fé.
Trabalhemos pelos cegos, minha filha, pensando que a cegueira do espírito é bem mais
triste que a dos olhos. Hei de ajudar-te com o favor de Deus. A tia, Engrácia.” No dia 76 de
novembro de 1938, transmite a 3ª mensagem, sugerindo que ela transpusesse para o Braille
determinado dicionário de Português, obra que havia deixado inacabada. D. Júlia,
atendendo à solicitação da querida amiga espiritual, aprendeu sozinha o alfabeto Braille,
copiando letra por letra. Para certificar-se, pediu a um cego que lesse o que havia escrito,
cujo resultado encheu-lhe de alegrias. A partir daí, transformou-se numa verdadeira
missionária do Braille. Reuniu em sua casa várias senhoras interessadas nessa obra de
altruísmo — na prática do ensino do Braille. Em 7939, iniciou a transcrição do Dicionário da
Língua Portuguesa, de autoria de Hildebrando Lima e Gustavo Barroso, cujo trabalho
durou cerca de quatro anos, dando, ao todo, 64 volumes. Em 1945, Chico Xavier recebeu
a 5ª mensagem do Espírito Engrácia Ferreira, agradecendo à sobrinha o atendimento e o
valioso trabalho em prol dos cegos. D. Júlia iniciou um curso gratuito do Braille no centro
da cidade, visando maior número de colaboradores. Transcreveu para esse alfabeto
inúmeras obras espíritas e não espíritas, entre as quais O Evangelho Segundo o Espiritismo,
Agenda Cristã, Cartas do Evangelho, Voltei, Pequenas Mensagens e muitas outras, todas
doadas à Sociedade Pró-Livro Espírita em Braille (SPLEB). A sua desencarnação ocorreu no
Rio de Janeiro, em 29 de novembro de 7974, aos 95 anos de idade, dos quais 37 dedicados
à Doutrina Espírita e ao Braille. Deixou exemplos dignificantes de quanto vale entender o
Evangelho de Jesus e sua Doutrina, que enseja a fé raciocinada, capaz de separar a letra
que mata do espírito que vivifica.”

Disponível em: www.espiritismogi.com.br/biografias/julia%20pego.htm. Acesso em 03


janeiro 2008 [link rompido].

*****
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CAPÍTULO 03
A recordação amorosa é um bálsamo

Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior

08/04/1942

Deus esteja com todos, iluminando-lhes os caminhos.


Venho até aqui nesta noite, meu caro Aurélio, no sentido de materializar
mais vivamente a visita paternal a você e Julinha, desejando-lhes excelentes
disposições para a execução da tarefa diária.
Meu propósito essencial, entretanto, é o de lhes patentear o meu
reconhecimento pelas lembranças das experiências de meu espírito, junto
aos familiares queridos e aos deveres sagrados aí no mundo. Estou
sumamente reconhecido a todos e especialmente a você, meu caro Aurélio,
pelo muito de amor que consagrou a esse serviço de saudade, em cujas
vibrações luminosas encontro flores de paz e frutos de coragem para as lutas
novas.
A recordação amorosa é um bálsamo que dulcifica e reconforta. Não
desejo revestir as minhas palavras com qualquer laivo de amor-próprio. Longe
de mim semelhantes pensamentos! Bem cedo compreendi que os títulos e
condecorações transitórios da experiência na Terra são laços de
responsabilidade e trabalho que o homem deve honrar com aquilo que
possui de melhor, mas nunca constituirão motivos de vanglória ou de
exibicionismo sem razão de ser.
As “cartas” honrosas de política humana raramente atingem as
instituições da vida eterna, porque quase frequentemente os portadores
inquietos rasgam-nas ou destroem-nas na existência terrestre, na velha
fogueira das ambições desmedidas. Por esse motivo, minha alegria reside na
rememoração dos fatos íntimos, na reminiscência de antigos camaradas de
trabalho, na lembrança dos sacrifícios de ordem doméstica.
Um século de experimentações acaba de ser contado em meus livros de
contas! Vocês não avaliam a comoção com que se abrem as folhas
amarelecidas pela influência do tempo! Quanto ganhei? Quanto perdi?
Somando as colunas das oportunidades, sinto realmente que muita coisa útil
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se foi sem que me abalançasse ao esforço das conquistas, justas, a peso de


trabalho próprio. É singular a contradição.
As lembranças, propriamente do mundo, nem sempre têm o mesmo
valor para nós. O que mais me honra na atualidade é ter podido vencer
provações tão amargas quanto aquelas dos tempos de prisão e de calúnias.
Hoje os quadros estão mudados, meu bom amigo, e uma das cenas que
tanto me atormentava quando aí no mundo, como aquela da esposa e das
filhinhas quase ao desamparo, constitui para meu espírito motivo de
soberano conforto.
O grande problema não é o da prova ríspida: é o de vencê-la com êxito,
cumprindo a vontade de Deus. Quantos perseguidores hão encontrado
comigo neste novo mundo? E quantas sensações de antipatia converteram-
se nas relações fraternas, à luz de uma vida melhor? Tudo passa no que diz
respeito ao jogo das coisas, situações e sentimentos humanos. A muitos eu
mesmo fui compelido a buscar, no sentido de renovar os meus próprios
valores, e sinto que de cada abraço reconfortador, com o objeto de minha
animosidade em outros tempos, saí mais rico de iluminação e mais Feliz com
meu Criador!
As recordações reunidas por você e pelos nossos muito me sensibilizaram.
Estão saturadas desse perfume doce e brando que se espalha como
claridade bendita na casa do coração. Aperto-lhes a mão e repito: Deus os
recompense! A sua atuação em nossa generosa instituição da Cruz é, em
parte, a minha própria! Louvo a firmeza de seus programas e pareceres, e
espero em Deus que você continue prestando ali os serviços da Fraternidade
e da harmonização. Não se desanime com as opiniões e providências do
provedor. São problemas que hão de ser solucionados a tempo. Não
desprezemos o esforço que o problema exige e as suas dificuldades se
desfarão.
Como você sabe, a Cruz é uma organização excessivamente
“sondada”, em vista dos seus patrimônios. E, como sabemos, toda
sondagem, em regra geral, reclama proveitos. Há sempre escassez de
análises da pobreza, da ferida, do obstáculo. Os grandes inquéritos atingem
sempre os lugares mais altamente aquinhoados pelo esforço daqueles que
os erigiram e destacaram do anonimato. É sempre assim. Mas a Cruz
representa o trabalho metódico de muitos companheiros e precisamos
defendê-la, com persistência, contra os levianos, os interessados menos
dignos e os imprudentes.
Com isso quero demonstrar minha adesão aos seus esforços e minha
promessa de prosseguir combatendo ao seu lado, preservando as antigas
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realizações de nossa pobre e generosa instituição. Deus renovará suas forças


e as minhas, e continuaremos juntos a obra de manutenção, valorização e
defesa.
Julinha, consigno aqui meu reconhecimento aos seus trabalhos. Tenho
estado constantemente com a nossa Engracinha, que se refere a você como
a uma filha. Os grandes gênios da Espiritualidade hão de abençoar a você,
minha filha, para que a existência na Terra lhe seja uma antecâmara de
alegrias santificadas para o caminho imortal.
Deus ilumine e proteja a todos.
Reúno-lhes os espíritos numa grande vibração de sincero agradecimento
e de muito amor.
Pai, avô e amigo,

Pêgo

*****

CAPÍTULO 04
O conforto que esta visita me trouxe

Marechal Feliciano Mendes de Moraes

12/08/1942

Não sei como lhes dizer do conforto que esta visita me trouxe. Estou muito
confortado. Longa foi a luta e tenho a impressão de que meu
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enfraquecimento foi também muito longo e difícil. Vou adquirindo, porém,


novos hábitos, conformado com o inevitável. Se escreverem a Clóvis, deem
minhas notícias ao meu bondoso filho.
Minha saudade para a querida Lulu e a todos os demais. Agradeço a
vossa bondade e assino muito reconhecidamente,

Feliciano
[1] Notas da Organizadora: Marechal Feliciano Mendes de Moraes era pai de Clóvis,
marido de Aurélia, filha de Aurélio e Júlia. Mensagem recebida com utilização da
prancheta por Chico Xavier e minha mãe, Maria Joviano. Meu pai, Rômulo Joviano, fez as
anotações. Vale ressaltar que a prancheta, segundo o Dicionário de Parapsicologia,
Metapsíquica e Espiritismo, de João Teixeira de Paula, é conceituada como “(…) peça
móvel em que há um indicador (ou ponteiro), que percorre mediunicamente o alfabeto
(em forma de quadrante), os algarismos de 0 a 9 e as palavras SIM e NÃO ali colocados e
por meio dos quais se obtém comunicações espíritas. (…)” PRANCHETA. IN: PAULA. João
Teixeira de. Dicionário de Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo. São Paulo: Empresa
Gráfica da Revista dos Tribunais, 7970. p. 71-73.

[2] Em referindo-se a Luiza Cora Salazar de Moraes, sua esposa.

*****

CAPÍTULO 05
O serviço educa, a preocupação aperfeiçoa

Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior

24/03/1943
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Aurélio, meu caro, peço ao Senhor do Universo abençoe a você, à


Julinha, e conceda Suas bênçãos de paz a todos os nossos pelo coração.
Aqui estou em palestra ligeira com você, testemunhando a continuidade
de interesse pela solução não só dos problemas da afeição em família, como
também na parte referente à nossa querida instituição. Não se sinta sem
minha cooperação nos deveres novos a que foi conduzido.
Talvez, Aurélio, nem todos possam compreender as finalidades profundas
do nosso trabalho, mas também isto não nos deverá interessar. Nosso escopo,
acima de tudo, é a defesa de um patrimônio sagrado, preservando-o para
o futuro, não somente no que concerne às providências de natureza
material, mas igualmente às reservas morais da Cruz para os que vierem
depois de nossos passos e em seguida às nossas influenciações.
Ainda mais agora que tantas energias nacionais se coadunam para
movimentos defensivos é razoável recordar que a tarefa não se circunscreve
às Frentes de combate, aos atritos no mar. Há uma vanguarda sutil e de
essencial importância na defesa da ordem e do progresso nacionais,
conhecida quase apenas por aqueles que experimentam nos ombros o peso
dos serviços coletivos. É a frente da responsabilidade, cujos trabalhos são
imensos e esmagadores!
Há também lutas diferentes no mar, que é o das situações humanas. Ao
ver você coordenando os deveres novos, tenho a impressão de que seu
esforço vai conduzindo embarcação cheia de preciosidades, seguida de
tubarões insaciáveis! É preciso estar atento, vigilante no leme que orienta e
no remo que organiza o impulso para a frente! Nesse particular siga o seu
programa de firmeza nas decisões e energia nos princípios.
A tarefa de defender não pode agradar a todos. Por si só dá a entender
que o adversário não pode colher alegrias mentirosas. Em virtude de
semelhantes razões, não poderá você realizar o milagre de satisfazer a todos.
Não se desanime porém, e conte com seus nobres amigos da Espiritualidade
e comigo, que procurarei seguir, de perto.
Tenhamos calma, reflexão e amplo discernimento. O resto, Aurélio, é
serviço, preocupação, dificuldade, procura do melhor. Mas que fazer senão
recebermos esse patrimônio, cheios de júbilo? O serviço educa, a
preocupação aperfeiçoa sempre que bem orientada, as dificuldades
enriquecem a experiência, a procura do melhor é a destinação de nossas
atividades. Nesse campo de luta, nossas tarefas serão conjuntas.
Buscarei auxiliá-lo com todas as possibilidades ao meu alcance. A
questão é a de não perdermos oportunidade por aprender ensinando,
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muitas vezes com o nosso sacrifício. As instituições nobres da vida social


preparam a criatura para as instituições eternas de Deus. Bom trabalho na
Terra é a garantia da aquisição de bom trabalho na esfera espiritual.
Eis a razão pela qual a Cruz nos é tão estimável e tão nobre! Desempenhe
seus deveres atendendo à vontade de Deus e o Pai não esquecerá de
atender à sua vontade nos momentos justos. Sempre que possível estou ao
seu lado nas decisões e continuaremos juntos toda vez que o Senhor me
permitir semelhante contentamento.
Felicite Julinha pelo fervor com que se dedicou ao formoso serviço de
Engracinha. n Tenho por esta cooperação de ambas a mais sincera simpatia,
esperando que os nossos maiores da Espiritualidade Superior lhes conceda as
melhores possibilidades para intensificação dessa sublime semeadura de
claridade nas trevas da cegueira humana. Plante, minha filha, que a colheita
não será tardia. Todos os que semeiam na terra da coletividade alcançarão
maravilhas e esse trabalho que vocês vão desenvolvendo é dos mais
promissores. Que Jesus abençoe a sua lavoura de luz espiritual, dando a você
mais saúde e mais forças, e à Engracinha iluminação cada vez mais intensa,
são os meus votos sinceros.
Estimaria a possibilidade de comentar mais detalhadamente a luta das
outras filhas e dizer algo de meu interesse, de meu amor e do meu
agradecimento, entretanto, não me é possível, por agora, senão confirmar a
minha paternal dedicação com meus rogos ao Altíssimo pela felicidade de
cada uma. Há provações que não poderemos suprimir, não obstante todo o
potencial de nosso amor! O coração ama e consagra-se, auxilia com júbilo
e renuncia voluntariamente, mas a justiça cumpre-se invariável, até que esse
amor que nos une uns aos outros, purificado em Jesus Cristo, nos proporcione
a esperança de paz e fraternidade sem fim.
A todos os nossos, a minha lembrança afetuosa, esperando que o Senhor
abençoe a todos. E renovando a você, meu caro Aurélio, a continuidade de
minha grande estima, e a certeza de que não agirá sem meu concurso nos
trabalhos novos, abraço a você e à lulinha, desejando-lhes muita felicidade,
saúde e paz no Senhor.

Antoninho
[1] Nota da Organizadora: Em referindo-se ao trabalho de transposição para o Braille
do Dicionário da Língua Portuguesa, de autoria de Hildebrando Lima e Gustavo Barroso,
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

sob a orientação espiritual de Engrácia Ferreira. Os 64 volumes do referido dicionário estão


na Biblioteca do Instituto Benjamin Constant, na Urca, Rio de Janeiro | RJ.

*****

CAPÍTULO 06
Aqui guardamos também o patrimônio das ideias

Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior

14/04/1943

Meus caros filhos, que as bênçãos de Jesus felicitem a todos.


Volto hoje, meu prezado Aurélio, a confabular com você relativamente
aos trabalhos justos. Notei que seu coração desejava outros esclarecimentos
de minha parte e apresso-me a afirmar, meu filho, que os programas de
serviço na Cruz merecem minha sincera simpatia, não somente no que se
refere ao meu apoio individual, mas de quantos seguem de mais perto a
nossa respeitável instituição.
Naturalmente que não poderia examinar com você, em sentido direto,
os detalhes dos serviços e realização que temos por efetuar, mas creia que
espiritualmente estarei particularmente ao seu lado, inspirando os seus
esforços. Muita boa vontade para com todos, mas energia no leme!
Os verbos dirigir, orientar e governar implicam ação ativa e criteriosa.
Não se dirige coisa alguma deixando-se governar por elementos estranhos
aos objetivos do serviço que devemos realizar. Compreendo seus sacrifícios e
trabalhos, porém, em substância, a felicidade pertence, em todas as
ocasiões, aos que mais souberem entregar sentimento e pensamento ao
trabalho construtivo.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Agradeci muito aos nossos maiores da Espiritualidade Superior a prece


do nosso amigo aqui, na passada reunião. A concórdia depois da
incompreensão é mais bela que a paz celeste após a borrasca forte.
Enquanto você alinhava recordações, voltei, na imaginação, às dolorosas
lutas do Sul, onde completei certo ciclo de resgate necessário.
A deserção de companheiros e de amigos, meu caro Aurélio, é uma dor
das maiores, mas, por isto mesmo, a que experimentei não foi vã. Ao seu
domínio, mal me apercebia de que me encontrava resgatando
compromissos de alta envergadura, relativamente ao passado espiritual.
Nossa tarefa, nossa harmonização de pontos de vista, não constitui obra de
hoje, mas de muitas experiências sentidas e vividas em comum.
De sua conversação, destaquei o caso das bandeiras arquivadas na
Cruz. Creio, meu caro, que o assunto está convenientemente esclarecido por
si mesmo. Trata-se de um depósito efetuado por nossos maiores e só
poderíamos dispor dele, isto é, conferir-lhe outro destino por imposição desses
mesmos superiores. Desse modo, admito que o patrimônio se transfira à outra
parte, mas por ordem superior, não por nossa iniciativa.
Aqui guardamos também o patrimônio das ideias, às vezes, intacto.
Lembro-me, a propósito, de que certa vez, em outra existência que não cabe
referência aqui, estávamos, tu, um amigo eclesiástico e eu, discutindo esse
problema da vigilância em Espanha e chegamos à conclusão de que se o
amor é bom a vigilância também é indispensável.
Chego a recordar-me de que, não satisfeitos com os nossos princípios
humanos, consultamos o Evangelho e lá se nos deparou a passagem em que
Pedro sacou da espada para enfrentar a situação, concluindo que o próprio
Mestre mandou que o servidor guardasse a arma na bainha, mas não
mandou inutilizá-la.
Semelhantes conceitos são lembrados por mim com prazer, como quem
conversa na branda intimidade familiar. Imaginemos as noites de inverno:
brasas acesas, calor doce no ambiente e nos corações, e as histórias do
passado fluem do pensamento como os mananciais cristalinos que nascem
espontaneamente da terra.
O velho mundo está em longo inverno espiritual há quase quatro anos!
Muito frio nas almas, muita neve sobre os ideais! A permuta de pensamentos
na esfera íntima não pede outras manifestações senão estas em que os
espíritos se reconfortam para a continuação da jornada evolutiva.
Minha querida Julinha, faço minhas as palavras de sua mãe no tocante
aos seus nobres trabalhos de irmã aos infortunados da sombra. Continue,
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

querida filha! Formosa é a coroa reservada aos sinceros e devotados


trabalhadores do bem! Voltando ao Rio, espero que se sinta sempre
amparada pela sua fé, cheia de amor à caridade em Jesus. A passagem na
Terra, minha filha, muito vale pelas experiências que sofremos, mas vale muito
mais pelo bem que consigamos fazer. Deus a abençoe e proteja sempre.
Sobre as suas irmãs, subscrevo os conceitos de sua mãe. Estamos todos
juntos, trabalhando pelo progresso geral. Não há motivos para desânimos,
tristeza, reclamações. Nosso amor é de todos. Sempre que possível, aí estou
a renovar os meus votos pela paz de todos e não avalia você, minha filha,
quanto me conforta observar-lhe o coração de mãe mais tranquilo. Creio
que você deva cuidar da reconstituição orgânica.
De volta, procure renovar as energias através de tônicos que o meu neto
poderá indicar. n Zele pela saúde física, minha filha, que muito representa
para o êxito necessário de nossos espíritos eternos, quando em missões ou
tarefas, entre paisagens transitórias da vida material.
Engracinha está aqui, abraçando-a, feliz! A nossa irmã Amélia cerca-os
a todos, com irradiações de sua luz! n A sua sobrinha Dinari faz uma prece de
louvor a Deus e é neste ambiente de felicidade e contentamento que grafo
o ponto final. n

Adeus, meus filhos muito amados! Conceda o Senhor Jesus a cada um a


justa compreensão do dever a cumprir, enchendo-lhes o espírito de luz e paz,
e estará satisfeito o coração do pai que muito ama a todos.

Antoninho

[1] Notas da Organizadora: Em referindo-se a Armando Pêgo Amorim, um dos filhos


do vôvo Aurélio, que era médico.

[2] Trata-se de Amélia Brandão Amorim, minha bisavó materna, mãe do vovô Aurélio.

[3] Dinari era sobrinha do vovó Aurélio. Desencarnou queimada, em decorrência da


explosão de um fogareiro a álcool em que cozinhava.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

*****

CAPÍTULO 07
Firmeza e dedicação são a nossa senha

Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior

17/01/1945

Meus caros filhos, que a paz divina felicite a todos, imprimindo-lhes novas
energias espirituais no desempenho das tarefas a que foram chamados.
Sempre que a oportunidade me oferece recursos favoráveis, venho visitá-los,
prazerosamente. Todavia, o ensejo da permanência de Julinha e Aurélio no
santuário da família constitui uma obrigação para que eu lhes fale mais
diretamente, vazando o meu coração no espírito amigo de vocês todos.
Sejam para você, meu caro Aurélio, as minhas palavras iniciais, no
sentido de felicitar-lhe a ação decidida em nossos círculos de trabalho.
Quero dizer de sua colaboração efetiva na Cruz, através da qual tantos
servidores devotados passaram trabalhando. São muitos os companheiros
que cooperam consigo na obra de supervisão dos nossos interesses coletivos.
Creia que a nossa tarefa — a sua na instituição propriamente considerada, e
a nossa de cooperadores indiretos —, é bem grande e que a colheita de
semelhante semeadura não pode ligar-se às questões de imediatismo do
mundo.
Em sua experiência de provedoria terá notado como é difícil esclarecer
assuntos e harmonizar temperamentos heterogêneos para os mesmos fins. Por
vezes, Aurélio, e digo com conhecimento pessoal, é mais penoso administrar
no campo da paz que movimentar energias em campo de luta. Aliás, é
forçoso reconhecer que isso é natural! A batalha silenciosa dos princípios
educativos na vida comum é de todos os tempos e condiz com a nossa
própria evolução para a vida mais alta! Urge, porém, não desanimar!
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

O mundo atravessa um período de crises verdadeiramente desastrosas!


Desejaria comentar com vocês a realidade da situação, mas não posso. Há
limites para a nossa ação verbalística e não devo transpô-los sem graves
consequências. Creia, todavia, Aurélio, que a luta de agora na esfera do
homem é das mais graves de quantas tiveram por palco a atual civilização.
Oh! A perturbação no ensarilhamento das armas não tem a ordem que
caracteriza o início da batalha! É muito difícil ganhar a paz! E os organismos
internacionais experimentam comoções de vulto e o Brasil não pode fugir a
esse índice de renovações. Como aconteceu no passado, trabalham os
gênios espirituais da pátria por evitar-lhe hecatombes angustiosas,
entretanto, são tão grandes os conflitos que se esboçam no mundo terrestre
em geral que não podemos efetuar previsões de modo algum.
O regime da atualidade veio estabelecer um parêntesis de trabalho e de
continuidade administrativa, no propósito de preparar a nação frente aos
tempos novos, mas a verdade é que Diógenes continua de lanterna acesa
procurando os homens para as responsabilidades que sobram em todos os
setores do progresso e da edificação nacionais. n As situações melindrosas
não faltam, enquanto as tarefas atendidas vão escasseando cada vez mais.
Longe de nós o derrotismo, mesmo porque sabemos que um país jovem
quanto o nosso não pode realizar os milagres de trabalho que somente os
povos mais antigos conseguem concretizar! Mas palpita em nossos espíritos o
desejo sadio de contribuir com as forças ao nosso alcance, a fim de que o
futuro da humanidade e da nação atinja melhores dias. O momento é de
perturbações subterrâneas muito amargas. Entretanto, estamos confiantes
na proteção de Deus.
Refiro-me a semelhantes assuntos para dizer-lhe que o nosso serviço na
Cruz é sagrado. Centro beneficiário de servidores efetivos da construção
nacional, não pode ser desamparado de nossos esforços mais ativos. Não se
desanime, portanto, e aceite, meu filho, as incumbências administrativas, por
mais pesadas que sejam. Velaremos por sua saúde, por seus trabalhos!
Firmeza e dedicação são a nossa senha em serviço. Nossos devotados
amigos daqui estão cooperando conosco! Prossigamos! Sua obra missionária
na instituição fixará programas edificantes e nós agradecemos ao seu espírito
comovidamente, rogando ao Senhor que o ilumine sempre, multiplicando-
lhe as energias abençoadas!
Quanto a você, minha querida Julinha, trago-lhe paternal abraço pela
invejável organização de amparo aos cegos, a que você se consagrou, junto
de Engracinha! Cada vez que você acende claridades de raciocínio no
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

cérebro dos que não possuem luz para os olhos está renovando e
aumentando a sua própria luz espiritual!
Todo o bem que praticamos, Julinha, se reverte em nosso benefício. É da
lei que todo aquele que dá com amor seja recompensado,
centuplicadamente, pela própria vida que, no fundo, é amor de Deus,
Criador e Pai nosso! Há tantos amigos deste lado ajudando a vocês que,
francamente, é mais razoável que não lhe conheça você o seu número, a
fim de que não se estabeleçam perturbações na obra em curso.
Tenho a dizer-lhe que a nossa irmã Áurea Celeste vem trabalhando
ativamente em nossa esfera, no sentido de manter intacta a obra de amor
cristão que a sua nobre alma conseguiu instituir na Terra e vem apelando
para todas as cooperadoras sinceras e dedicadas da casa de João
Evangelista. n Já a visitei, junto de amigos espirituais, e ela falou-me em seu
concurso com muito carinho!
Desdobremo-nos, minha filha, a serviço de todos. O que se fizer no bem
efetuar-se-á para o nosso próprio bem. Sua mãe vem auxiliando Esther
quanto possível e todos nós, embora interessados na aquisição de luz eterna,
continuamos operando e cooperando pela tranquilidade familiar. n

Adeus, meus filhos. Nossos amigos presentes saúdam a todos. Registro


com prazer semelhantes saudações, deixando-lhes a expressão de nossa
amizade fiel. Que Deus os conserve em paz, concedendo-lhes muito boa
saúde e bem-estar de espírito, são os votos do pai e avô muito amigo de
sempre,

Antoninho

[1] Notas da Organizadora: Refere-se a Diógenes de Abdera (423-327 a.C). “Ele era
uma figura atípica que, incompreendido pelos contemporâneos de sua época, apontava
os defeitos de seu tempo. Para isto, fazia uso de uma lanterna acesa em pleno dia,
dizendo: “Procuro um homem honesto.”

Disponível em http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/33638 . Acesso em 03 fev.


2008.

[2] Refere-se a Áurea Celeste, fundadora do Asilo Espírita João Evangelista, localizado
na Rua Visconde Silva, 96, em Botafogo, Rio de Janeiro | RJ. O asilo recebe meninas órfãs
e vovó Júlia, por muitos anos, deu, gratuitamente, aulas para as meninas.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

[3] Em referindo-se a Esther, irmã da vovó Júlia.

*****

CAPÍTULO 08
A esperança não é perfeita sem a paciência e a conformação

Marechal Feliciano Mendes de Moraes

24/01/1945

Meus amigos, boa noite com os meus votos a Deus pela paz de todos.
Venho cumprir meu dever convosco, apresentando-vos a minha
gratidão pelos serviços prestados ao meu nobre Clóvis, nestes tempos difíceis
de luta, tempos de trabalhos purgatoriais, em que somente as almas
verdadeiramente amigas sabem oferecer os tesouros da cooperação fiel.n
Muito me constrange o coração de um pai a análise das situações
melindrosas de família, mormente quando esse pai, pelas imposições da
morte, não mais integra o quadro doméstico. Entretanto, apesar do meu
sofrimento moral ante as dificuldades em curso, valho-me de todos os ensejos
ao alcance de minhas possibilidades restritas para retribuir ao filho doente
pelo menos uma pequenina parte do quanto lhe fiquei a dever.
Infelizmente, as lutas agravaram-se para o seu organismo combalido. As
forças de reação foram reduzidas ao mínimo e o nosso pobre enfermo foi
obrigado a capitular. É a prova útil, meus amigos, prova que compreendeis
muito mais que eu mesmo, embora as nossas diferenças de Plano. É que o
meu velho coração apenas atualmente começa o serviço de alfabetização
espiritual.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Lembro-me da profunda renúncia de Clóvis por mim, de suas noites de


vigília e sacrifício e, em lágrimas, rogo a Deus lhe atenue os padecimentos. É
uma dolorosa noite a paisagem mental em que ele se movimenta. Dolorosa
porque a sua inconsciência completa é imaginária. O pai, o esposo, o filho,
o homem do dever estão vivendo dentro dele, dilacerados, oprimidos,
sofredores!
Como é triste acompanhar uma enfermidade sem o poder de curá-la! E
como são ditosos os homens obscuros, que aprenderam no anonimato a
ciência sublime da resignação! Para mim, habituado às determinações de
serviço harmônico, dentro da minha esfera pessoal, desde os tempos da
mocidade, o choque tem sido francamente cruel.
Tendes convosco armas espirituais que ainda não possuo. Minha antiga
espada foi um padrão de serviços e disciplina, mas agora reconheço que
não forjei certas armas indispensáveis do coração. Desprevenido de
semelhantes recursos, muito me dói observar o filho em tão longo período de
incertezas e vacilações!
Quando me aproximo de Aurélia, dedicada esposa convertida em
enfermeira, falo-lhe espiritualmente de minhas esperanças, de minha nova
fé, imprimindo-lhe forças novas ao espírito, mas a vós, meus amigos, a quem
devo uma solicitação de desculpas por tantos dissabores familiares, confesso
meu verdadeiro estado de alma, na condição de um pai lutador, que em
débito para com um filho muito querido não lhe tem podido fazer o mesmo
bem.
Sei que devemos esperar em Jesus e que, de qualquer modo, não temos
outro caminho. Entretanto, esperar também é uma arte que nem todos
aprenderam. A esperança não é perfeita sem a paciência e a conformação.
E em vista disso devo revelar-me tal qual sou, sem exibir, diante de vós,
expressões espirituais que ainda necessito edificar no coração.
Lamento que os meus outros filhos não se mostrem bastante
compreensivos nos trabalhos em curso, mas, impossibilitado de exprimir-me
como em outros tempos, resta-me agradecer-vos pelo bem que tendes
ministrado a todos nós. Aurélia merece todos os vossos sacrifícios.
Coração devotado ao bem de todos, e espírito colocado em dolorosas
provações de fé pelas qualidades espirituais que já adquiriu, ela bem merece
esse grande amor no culto familiar. Ajudemo-la com as nossas forças mais
puras! Suas necessidades espirituais são bem grandes, pela surpresa da
prova. Nós estamos cooperando e fazendo quanto nos é possível e contando
com as vossas desculpas aguardamos a continuidade de vosso
devotamento. Infelizmente, o enfermo não demonstra melhoras senão
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

ligeiras e inconstantes, contrariando-nos os melhores desejos. Esperemos,


porém.
Meu pobre filho, além de trazer consigo pesada bagagem de lutas, em
vista do passado espiritual, segundo me informam os espíritos superiores, criou
antes da união matrimonial certos laços fortes e indesejáveis no domínio das
forças menos edificantes. Muito grande é a luta dele, mas ensinam-me aqui
que a Providência Divina é maior!
Assinalo, pois, aqui o meu pedido de desculpas pelos aborrecimentos
pesados que se abateram sobre todos vós. Entretanto, Clóvis Foi tão bom
para mim que considero um dever de minha parte falar-vos com humildade
na presente situação para que sejamos perdoados. O futuro há de trazer-vos
suas compensações. Aguardo as bênçãos do Altíssimo para este caso, que
a todos nos feriu e compeliu a fortes preocupações e tristezas amargas.
Auxiliai Aurélia quanto estiver ao vosso alcance e que Deus vos recompense.
Ela tem sido para mim, nestes tempos de sombra, uma filha devotada cuja
dedicação jamais poderei pagar.
Boa noite, meus amigos. Que continueis cultivando a paz divina são os
votos do velho amigo,

Feliciano

[1] Nota da Organizadora: Relembrando, o Marechal Feliciano Mendes de Moraes


era pai de Clóvis, marido de Aurélia, filha do vovô Aurélio. Clóvis, nesta encarnação,
padeceu de distúrbios neurológicos e esteve, por longo tempo, em dolorosa prova de
alienação mental.

*****
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

CAPÍTULO 09
O homem só é verdadeiramente admirável quando…

Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior

04/04/1945

Meus filhos, guarde-nos a Providência em Sua infinita bondade!


Aurélio, meu caro, peço a Deus para que você e Julinha tenham uma
viagem feliz.
Ouvi seus pensamentos alusivos à necessidade de nosso intercâmbio
sobre os problemas da Cruz e, com satisfação, venho reafirmar ao seu esforço
a minha solidariedade. Tome os seus deveres e não tema!
A hora atual é difícil e aconselho prudência incessante. Há que defender
os patrimônios da instituição contra os assédios sutis que procedem dos
setores de várias ordens. Celeiro de reservas morais muito grandes, a Cruz
deve manter-se em esfera superior às paixões políticas que começaram a
perturbar os caminhos da evolução nacional novamente.
Semelhantes lutas são inevitáveis num povo como o nosso, em cujo
coração atritam as mais diversas tendências pela grandeza da terra, pela
generosidade das leis e pelo excesso de bem-estar na habitação coletiva.
O quadro mesológico criaria fatalmente os anseios fortes, os desvarios de
opinião, a hipertrofia da liberdade. Fenômenos inelutáveis, acontecimentos
fatais. Tenho comigo a profunda aspiração de um Brasil melhor,
superiormente governado, onde a liberdade seja o clima natural de todas as
manifestações do pensamento.
Entretanto, não sou infenso às nossas realidades positivas, num quadro
nacional menos ajustado, onde quase todos querem mandar e poucos se
dispõem a obedecer. Impossível organizar o serviço pleno da emancipação
política educativa, porque, coletivamente, nos falta a compreensão do
trabalho.
Um povo só é grande pela expressão do serviço que presta ao círculo
internacional, assim também como o homem só é verdadeiramente
admirável quando entende o seu dever e o cumpre. Segundo podemos
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

observar, porém, se já conseguimos alguma coisa nesse terreno, muito nos


falta realizar. Sobeja-nos aspirações.
Entretanto, escasseiam entre nós, como povo, a fiel demonstração de
prática essencialmente patriótica. É natural. Somos jovens, nacionalmente
falando. Precisamos de mais tempo, mais experiência, mais séculos! Refiro-
me a isto não sem propósito, mas para assegurar-lhe que o momento é de
renovação ruidosa e torna-se necessário caminhar com vigilância,
prudência, visão. Há muitos companheiros nossos atordoados pelo germe de
separatividade. Por isso mesmo a Cruz deve conservar-se unida para a
fidelidade precisa ao seu ministério.
Voltando à Provedoria, abstenha-se de qualquer compromisso que não
seja estritamente indispensável, ainda mesmo no campo das realizações
menores. Proceda assim para dar cabal desempenho dos compromissos já
assumidos. Tenha calma, confiança e fé.
E quando alguém convocar a sua ação às lutas mais fortes, convém
proclamar que a missão da Cruz é pacificadora, conservadora, unionista. Ela
é, talvez, a mais bela praia de segurança para o Exército a que temos servido.
Seja, pois, ainda e sempre, a Cruz dos Militares, em cuja seiva generosa tantos
corações se alimentam para o trabalho da paz, no campo do bem.
Conte, pois, comigo! Quando surgirem casos difíceis, concentre-se em
oração e ajudaremos você a solucioná-los. Você sabe que o mais depende
da capacidade de improvisação do administrador. Apenas lembramos a
necessidade de muita calma na hora em curso, porque quando as paixões
dos homens estão em choque é muito difícil, ou impossível, ouvir os desígnios
de Deus.
Quanto à saúde física, estão atendidas todas as providências necessárias
ao seu bem-estar. Sigamos para a frente!
Julinha, Deus a abençoe pelas muitas alegrias que me proporciona! O
seu idealismo na construção espiritual a favor dos cegos muito me comove o
coração paterno. Não julgue que seu pai esteja indiferente à sorte das filhas
queridas. Sigo-as, a todas, de muito perto, rogando a Jesus abençoá-las, na
posição de testemunho em que se encontram.
Aurélio, mais uma vez reitero a você a minha velha amizade. Atendamos
hoje às nossas obrigações, obedecendo ao comando de Jesus Cristo. Que
ele nos inspire as atitudes, os pensamentos, as palavras e os atos.
Boa noite para todos vocês. E desejando-lhes a paz divina, a fim de que
continuem na jornada terrestre com segurança e serenidade, deixo-lhes, a
todos, a minha afeição de pai, de avô e de amigo certo.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Antoninho

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CAPÍTULO 10
Nosso padrão militar nunca foi a vantagem fácil

Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior

27/03/1946

Aurélio, meu bom amigo, antes de tudo peço a Deus por sua saúde, junto
de Julinha e de meus netos, desejando-lhes muito bem-estar!
Não preciso tecer longos comentários em torno do ano que findou —
período difícil, em que a sua serenidade e prudência foram frequentemente
colocadas à prova.
Muitas vezes, acompanhei-o, passo a passo, as lutas, nos entendimentos,
nas conferências. Sabia que todos os patrimônios materiais e morais da Cruz
vinham sendo ameaçados de perto.
A Cúria, em diversas ocasiões, estabeleceu compromissos e organizou
conciliábulos secretos, no sentido de impor modificações que perturbariam a
estrutura de nosso esforço de tantos anos de serviço, perseverança e
realização.
Outros dedicados cooperadores do plano espiritual e eu nos orgulhamos
da sua calma e resistência na hora precisa.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

A luta política no Brasil, e mormente no Rio de Janeiro, foi sacrificial para


quase todos os caracteres formados na escola da disciplina e do dever. E
bem sei como foi penoso o trabalho conciliatório que nas mãos tiveram que
efetuar, porquanto o nosso padrão militar nunca foi a vantagem fácil, trazida
pelo acaso dos favores políticos. Estruturamos nossas concepções no
caminho reto do “sim” e do “não”, e a desarmonia administrativa dos últimos
tempos determina que você diga “talvez” dentro de inúmeros testemunhos
de boa vontade e defesa.
É bem verdade, meu caro, que a paisagem ainda não encoraja
qualquer opinião demasiadamente otimista. Atado à locomotiva norte-
americana, por forças de circunstâncias implacáveis no campo geográfico
e econômico, o nosso país é compelido a longas esferas de observação para
preservar-se como é preciso.
Não comentamos aqui a possibilidade dos conflitos armados. Referimo-
nos à guerra oculta dos interesses financeiros, de variadas expressões. A luta
é grande e a política refletir-lhe-á as oscilações e dificuldades, os imprevistos
e os desacertos. Em todo setor de preservação coletiva há que ponderar
esses fatores intangíveis. Grande cota de atenção deve ser conferida à
vigilância ativa.
É por isso que me rejubilo com a sua ação de homem de bem e de
soldado da guarda honrosa a serviço de nossas tradições na vida civil. Conte,
meu amigo, com o nosso concurso de sempre. Não existem obstáculos que
não possam ser aplainados, desde que o cérebro de quem determina esteja
ligado às forças amorosas do coração. Vamos, pois, para a frente! Há
“combates” nas ruas pacíficas mais difíceis de serem vencidos que a
“batalha aberta” nas regiões de sangue!
É nesse conflito desconhecido que seu espírito exercita hoje sua
meditação. Nos encontros armados, antes da equação final, costumamos
relacionar os homens e as máquinas, os cavalos e as munições, mas aí, nessa
luta enorme e silenciosa que você enfrenta presentemente, antes de
qualquer medida é indispensável inventariar as reservas de paciência e
compreensão, de perseverança e devotamento. Como vemos, a diferença
é muito grande! Espero, contudo, que aquele Senhor do Desagravo ajude
sempre a você, orientando-lhe a marcha para a vitória última.
Estamos satisfeitos com a sua mudança de clima por algumas semanas.
Lembre-se de que a saúde é fundamental no desempenho das obrigações
cotidianas.
Nossos cumprimentos sinceros, pois, pelos seus serviços à instituição que
nos é tão estimável. Em torno dela, rondam muitos “milhafres” do interesse
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

mesquinho. Entretanto, enquanto puder contar com sentinelas de sua


dedicação, não existirá perigo algum em semelhante assédio.
Deixo à Julinha os meus votos de muito bom-ânimo na missão a que se
propôs com tanto desassombro em favor dos cegos, e desejo a todos muita
tranquilidade, com saúde física e alegria espiritual. n

E de nós, Aurélio, seus amigos daqui, receba um abraço de gratidão e


carinho, com o sincero reconhecimento de nossos corações pela
consagração voluntária de suas energias ao trabalho a que, de algum modo,
ainda nos sentimos ligados no plano das edificações para o bem coletivo.
Que Jesus ampare as suas mãos e o seu coração, guiando suas atividades
no benefício máximo às nossas realizações comuns. São os votos do velho
amigo que se considera sempre seu na vida espiritual,

Antoninho
[1] Nota da Organizadora: Em referindo-se à missão de vovó Júlia junto à Sociedade
Pró-Livro Espírita em Braille (SPLEB).

*****

CAPÍTULO 11
Vamos para a frente sem desânimo e sem vacilações

Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior

17/04/1946
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Meu prezado Aurélio, minha prezada Julinha, que Deus abençoe a


ambos nas lutas redentoras da experiência material.
Venho, meu caro amigo, atendendo-te o justo desejo de confabular
ainda com referência aos problemas da Cruz, que nos absorve grande zona
de idealismo edificante. Não temas as dificuldades que vão surgindo à
margem dos caminhos de realização. As diretrizes superiores daqueles que te
foram predecessores na Provedoria não faltarão no instante oportuno.
Compreendo que as questões se multiplicam. O quadro atual, de
alguma sorte, é bem semelhante à paisagem de 1890, quando a eclosão das
ideias renovadoras da República nos compelia a diversas transformações.
Graças à Inspiração Divina, Aurélio, não houve solução de continuidade na
execução de nosso ministério de providência.
Quando mais acesos se faziam os combates ideológicos entre
monarquistas e republicanos, conservadores e liberais, católicos e positivistas,
conseguimos à força de persuasão espiritual manter Cruz dos Militares como
ilha de refúgio e segurança, batida, embora, pelos vagalhões da opinião
pública, desvairada ante os impulsos de mudança integral no regime e nas
instituições mais veneráveis.
O próprio Deodoro conservou diante de nós a posição respeitosa que o
nosso velho e tradicional instituto exigia. A Cruz, amparada por ele e por
outros beneméritos da política administrativa, cresceu e frondejou como
árvore acolhedora e sagrada, a cuja sombra tantos corações encontram
reconforto e carinho. Não te preocupes, pois, demasiadamente perante os
problemas da hora que passa. Muitos amigos de nosso Plano cooperarão
contigo para que as defesas se façam eficientes e menos vulneráveis.
Mantém o teu espírito de resolução e trabalho atento às inspirações que
fluem “de cima” e concretizarás, em nome de nossas mais nobres
esperanças, o programa de serviços a que nos consagramos com toda a
alma. Dá-nos ainda e sempre a tua receptividade espiritual; através da
inteligência e do esforço perseverante, do impulso de sacrifício e de amor à
causa, e tudo processar-se-á normalmente.
A época é de muitas medidas renovadoras lá fora, onde os políticos
sempre continuam experimentando as teorias de socialização e de controle
dos interesses nacionais. Entretanto, cá dentro, na intimidade de nossos
trabalhos, a continuidade não pode sofrer grandes alterações.
Ao antigo círculo de benefícios eventuais, à guisa de esmolas, sucedeu-
se na Cruz o regime pensionário, que precisamos melhorar e aperfeiçoar
sempre. Ainda que o Governo Central decrete disposições sobre o capital
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

das instituições beneficiárias, medidas surgirão que garantam a nossa


orientação no serviço de amparo aos descendentes dos companheiros que
confiaram em nós.
Não guardes qualquer dúvida ou preocupação, a Cruz é também um
grande e abençoado lar de nossos filhos — filhos de todos nós, que nos
devotamos ao ministério da ordem. Ainda que o idealismo nobre de certos
pensadores veneráveis não compreenda toda a missão do homem da
espada, esse homem, reservado muita vez aos duros labores da
responsabilidade, é o sacerdote que sustenta o direito de viver sob a luz da
justiça.
O soldado, portanto, tem o seu lugar destacado nas forças que
alicerçam a vida humana. Que determinados grupos se entreguem em nosso
país ou em outras nações ao instinto de domínio, isso não quer dizer que as
classes armadas sejam menos amparadas pela Inspiração Divina na solução
de seus problemas e no exercício de seus deveres. Jesus há de abençoar-
nos, desse modo, o propósito de caminhar avante na execução plena de
nossas obrigações.
Nesse sentido, isto é, compreendendo que muitas vezes serás defrontado
por enigmas e questões de interesse imediato, aconselho-te a oração em
silêncio nos ofícios religiosos das sextas-feiras. Nestes dias, o número de
companheiros espirituais que visitam o templo é sempre maior, por ser
também maior o número de necessitados que aí procuram os benefícios da
fé. Geralmente, em tais ocasiões, um de nós outros, os que te precederam a
administração, comparece em espírito para cooperar. Em vista disso, nessas
oportunidades, será mais fácil receberes as nossas ideias e arquivá-las com o
necessário proveito para que se concretizem no instante exato. Vamos para
a frente, sem desânimo e sem vacilações!

Julinha, a nossa velha amiga veio comigo e abraça-te! n É a tua


companheira fiel, que continua ao teu lado no serviço de amparo aos que
se encontram na Terra sem a luz do corpo carnal. Que Deus te abençoe e te
ajude nesta santa cooperação!
Aurélio, mais uma vez recebe o meu abraço de amigo e de
companheiro. Não perderás migalha do valioso trabalho que vens
desenvolvendo a benefício da Cruz. Chegará o momento em que observarás
a colheita do bem que plantas bem disposto e feliz! Que nosso Senhor te
ilumine as resoluções e te guarde o espírito, auxiliando-te em todos os minutos
do ministério em que te encontras empenhado conosco! São os votos muito
sinceros do meu espírito que te estima com afeição paterna,
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Pêgo Junior
[1] Nota da Organizadora: Em referindo-se à Engracinha, tia de vovó Júlia, que a inspirou
para os trabalhos em benefício dos cegos e que resultaram, como já mencionado em
nota anterior, na transcrição, para o Braille, do primeiro dicionário em língua portuguesa.

*****

CAPÍTULO 12
Imprescindível combater a astúcia e a má-fé

Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior

22/01/1947

Prezados filhos, a todos os meus sinceros votos de paz e boa saúde,


pedindo a Deus nos abençoe.
Em visita a vocês, meu caro Aurélio, desejo significar-lhe, ao lado de
Julinha, minha comovida gratidão pelo nobre entendimento com que se
vem conduzindo na provedoria da Cruz. Muito satisfeito com a sua atuação
preciosa, sinto-me à vontade para comentar o êxito de suas realizações
administrativas.
Reconheço que os últimos tempos foram difíceis. Exigiram, sobretudo,
prudência e vigilância, esforço e serenidade. E semelhante período ainda
não terminou. Faz-se necessária muita atividade dos colaboradores
humanos, em face das arremetidas de todas as forças que tentam invadir a
seara de nossa querida instituição. Infelizmente, Aurélio, o ambiente do país
ainda não foi essencialmente pacificado.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

A redemocratização permanece por enquanto na esfera verbalística e


se a reestruturação da máquina governamental apresenta as modificações
indispensáveis, tal realização se verifica muito mais pela compressão de
energias externas que de qualquer atuação de nosso próprio meio.
O ódio e a ambição desmedida prosseguem dominando. Determinam
as catástrofes do sectarismo político e provocam a corrida febril aos postos
de mando ou destaque. E quem observa semelhante movimentação
reconhece que o assalto aos patrimônios de ordem pública representa
consequências naturais de desordem espiritual, quando se arvora em
legalidade aparentemente indiscutível.
A par do perigo que examinamos, identificam-se igualmente as ameaças
da Cúria. Os sacerdotes estrangeiros chegam constantemente aos nossos
círculos. Em verdade, nada temos contra eles, quando, de fato, se fazem
representantes da igreja a que servimos.
Entretanto, é imprescindível combater a astúcia e a má-fé, mobilizando
as armas do espírito. Espero, desse modo, que você se mantenha firme e
calmo, pronto aos acordos que beneficiem a instituição, sem permitir,
contudo, medidas que lhe menoscabem as virtudes, junto às finalidades que
lhe compete atender.
Somos servidores do Cristo lá dentro. Por fora, não importa que a
rotulagem seja diversa. O mundo sempre faz longa exposição de títulos
exteriores, em todos os sentidos. O que é indispensável é a interna
composição da ordem e do equilíbrio, da continuidade dos benefícios
públicos e da defesa de nossos interesses tradicionais, em nos reportando aos
militares e seus descendentes.
Agradeço, pois, sua administração serena e construtiva, aguardando o
prosseguimento de sua prestigiosa cooperação, dentro da fraternidade que
nos irmana. Mais tarde você participará da colheita de alegrias, cessado o
trabalho perseverante a que se impôs como provedor dedicado e digno.
A Cruz tem atravessado situações difíceis, como um barco em perigo,
sob tempestade iminente. Continue sem receio! Nossas mãos colaborarão
com as suas na tarefa laboriosa e o trabalho bem sentido e bem vivido enche
o caminho de bênçãos.
À minha querida Julinha, o meu grande e paternal abraço na visita da
noite. Admiro-lhe a paciência e a coragem no devotamento à obra de amor
cristão à qual se entregou, em companhia de Engracinha! Jesus fortaleça a
ambas nesse ministério de luz!
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Comigo, meu caro Aurélio, veio o nosso companheiro João Propício


Menna Barreto, que lhe deixa um abraço cordial. Prossigamos para a frente,
sem desfalecer. n A vitória do serviço no bem coletivo supera qualquer triunfo
em campanhas outras, nas quais, nem sempre, colhemos os louros da paz de
consciência, edificação divina que constitui para nós o maior bem! Que esse
tesouro íntimo, que tantas vezes me confortou nos trabalhos menos fáceis do
mundo, esteja sempre ao dispor de seu espírito, no santuário de seu coração
de homem de bem, de soldado de Deus e de missionário do serviço
edificante. São os votos do velho amigo que se despede com carinho
paternal,

Antoninho
[1] Nota da Organizadora: Sobre a entidade espiritual, João Propício Menna Barreto, não
nos foram dadas maiores informações.

*****

CAPÍTULO 13
Entrelaçar corações e pensamentos em torno de Jesus Cristo

Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior

05/05/1948
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Meu caro Aurélio, minha prezada Julinha, Deus lhes conceda muita
saúde e paz, bem-estar e bom-ânimo, abençoando-os junto de quantos nos
são queridos ao espírito nos caminhos da vida.
Venho visitá-lo, especialmente, meu estimado Aurélio, trazendo-lhe ao
coração a certeza de nossa aprovação às suas realizações na Cruz. Com
razão, o título de benemérito lhe cabe ao nome de amigo devotado da
instituição confiada ao nosso carinho e vigilância.
Não pode calcular o contentamento de seus amigos deste plano, pela
receptividade que demonstrou nos últimos tempos, quando nos foi
necessário, tantas vezes, terçar armas silenciosas de vigilância contra as
surpresas desagradáveis que nos ameaçaram a organização. Felizmente, seu
espírito prevenido e generoso não dormiu nas ocasiões difíceis. Nosso
patrimônio foi preservado, nossos programas cumpridos. As lutas da
atualidade exigiram a presença de uma observação acurada quanto a sua,
habilitada a penetrar na intimidade dos problemas.
Tão grandes, Aurélio, foram os serviços que o seu devotamento nos
prestou à causa que, sinceramente, lastimamos sua compulsória retirada da
Provedoria. As exigências orgânicas, contudo, assim reclamavam. Aceite,
meu amigo, este período de repouso, com a resignação do soldado que se
vê compelido a respeitar superiores injunções. Sei quanto lhe pesa a
obrigatoriedade do descanso. Sua formação não se compadece com a
poltrona permanente. Precisa de movimentação, de atividade, serviço e
luta.
Entretanto, momentos surgem nos quais devemos ceder aos imperativos
da vida e da experiência humana. A hora recomendava certa inatividade
para o seu campo físico e esperamos esteja tranquilo. Aqui estamos, pois, a
fim de felicitá-lo pelas duras batalhas sem sangue que sustentou, garantindo-
nos a integridade da Cruz que ampara os militares do Brasil.
Seus testemunhos de inteligência não foram menores que os seus
sacrifícios pessoais e orgulhamo-nos, com lealdade, de sua cooperação
digna e eficiente. Seus antecessores sentem-se honrados e felizes pelo
concurso que nos trouxe a continuidade da obra de benemerência,
espiritualidade e educação através do tempo. Agora aguardamos que se
refaça para retomar o leme. Quem, como nós, não sabe viver com a
vocação da disponibilidade encontra razões de serviço em toda hora e em
toda a parte!
Temos muito a fazer e não podemos prescindir da colaboração de sua
companhia e de sua elevada compreensão. Achamo-nos diante de um
mundo em indescritível perigo! Todas as nossas forças espirituais, nos planos
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

superiores, permanecem conjugadas no sentido de adiar a nova


conflagração planetária — porque uma terceira grande guerra, neste
século, significará a morte de muitos milhões, com o apagar de grandes luzes
da civilização que nos custou séculos de suor e renunciação com vigilância
e lágrimas.
Entretanto, não duvide. A hora mundial é muito grave e não podemos
olvidar a necessidade de entrelaçar corações e pensamentos em torno de
Jesus Cristo. Reconheça, pois, que não o sentimos por soldado distante e sim
por batalhador em pequena trégua, pronto a reassumir o posto na primeira
oportunidade. Guarde a tranquilidade no espírito e descanse nas montanhas
mineiras com o proveito possível, convicto de que fez por merecer a ternura
fraternal com que por nós, seus companheiros de abençoada luta, é seguido
de muito perto.
Quanto esteja ao seu alcance, não se afaste espiritualmente da Cruz.
Distribua sempre os valores de sua experiência e de sua inspiração. O
progresso de uma instituição aumenta a série dos problemas e das
dificuldades no setor da prevenção e da defesa. Nossos amigos não podem
dispensar-lhe os sãos conselhos.
Muito contente, portanto, deixo-lhe o meu abraço de amigo,
agradecendo ao Senhor a alegria de haver encontrado em sua dedicação
o concurso de um filho, que por mais de 40 anos me estende os braços com
a devoção e a espontaneidade de um grande e abençoado entendimento.
A nossa abnegada irmã Amélia continua prestando toda a assistência
necessária à sua saúde e pede-lhe serenidade e confiança. n Graças a Deus,
a tormenta que lhe obscureceu o caminho em setembro e outubro de 1947
cedeu lugar à paz que todos nós desejávamos.
Engracinha, presente, pede-me assinalar seus votos de boas-vindas à
Julinha, prometendo escrever depois.
Peço ao supremo Senhor que nos proteja a todos e nos conserve os
corações em sua santa paz. E renovando-lhes os meus votos de muita paz e
bem-estar, reúno-os num grande abraço de afeto e reconhecimento,

Pêgo Junior
[1] Nota da Organizadora: Em referindo-se a Amélia, minha bisavó materna, mãe do vovô
Aurélio.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

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CAPÍTULO 14
O Exército é também uma instituição de Fundamentos Divinos

General de Divisão Roberto Ferreira

12/05/1948

Meu amigo General Aurélio, Deus nos abençoe e fortaleça a todos. Todo
o serviço nobre é uma associação entre amigos encarnados e
desencarnados. A morte é uma compulsória de interpretação difícil,
mormente quando nos falece o preparo espiritual. Contudo, não nos exonera
das obrigações de evoluir, purificar e aprender.
Bem-aventuradas são as suas cogitações no terreno espiritual!
Constituem para seu espírito operoso e empreendedor uma riqueza de
características eternas! Pudéssemos todos receber na Terra a necessária
iluminação, em nos referindo às claridades do Evangelho redentor, e outra
situação seria a nossa na esfera nova a que fomos chamados.
O Exército é também uma instituição de fundamentos divinos. Por vezes,
o soldado ensarilha as armas no chão do mundo para aprender a rezar fora
do corpo físico. Entretanto, os valores da disciplina construtiva não se perdem
nunca! Graças rendamos ao Supremo Poder pelas bênçãos que nos
permitem reunir aqui os nossos sentimentos e pensamentos.
Siga seu brilhante caminho, meu amigo! Não é preciso que estejamos na
carne para trocar vibrações de simpatia e reconhecimento. Somos aqui tão
somente viajores que se afastaram da retaguarda. Da frente de combate em
que nos unimos, saudamos seu coração de soldado e de homem de bem.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Roberto Ferreira

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CAPÍTULO 15
A realização que nos cabe é infinita

General de Divisão Francisco de Paula Argolo

12/05/1948

Meu estimado General Aurélio, honro-me de participar da visita desta


noite! É uma hora de amizade, de recordação, de alegria!
Não somos reformados. Achamo-nos nessa ativa permanente do bem,
que a sua prodigiosa capacidade de trabalho jamais abandonou.
Creia sempre, cada vez, mais nas próprias forças. Não há decreto que
nos imobilize, quando nos sentimos dispostos a servir. Confie nos seus amigos
espirituais e não esmoreça! A realização que nos cabe é infinita!
O nosso amigo Pêgo Junior está presente e pede para nós todas as
bênçãos divinas.
Boa noite.

Francisco de Paula Argollo


MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

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CAPÍTULO 16
Os sentimentos são os mesmos

General de Divisão Bebiano Sérgio M. da Fontoura Costalat

12/05/1948

Meu prezado General Amorim, os dias correm apressados! As


experiências desaparecem. Os sentimentos são os mesmos, contudo! Há,
porém, renovações a que não podemos fugir.
Colaborando hoje com o Marechal Pêgo em outras zonas e em outros
setores, reconheço quanto tempo perdi no mundo. Como é perigosa a
honraria prematura e quão doloroso é perder o fruto antes do
amadurecimento. Recolhi aqui desenganos tão profundos, e encontrei
tempestades tão grandes, que só a modificação espiritual me poderia salvar.
Esta renovação me auxilia presentemente a entender melhor o concurso dos
verdadeiros servidores do bem.
Seja feliz, General, trabalhando na extensão do bem. É a condecoração
que realmente não nos escapa do peito. As outras, as que aí cobicei com
tanto empenho, nem sempre permanecem conosco depois de atravessadas
as fronteiras de cinza.
Adeus! Esperamos que a Cruz dos Militares continue sendo forte
devedora ao seu esforço generoso de amigo das nossas instituições. E que
seu espírito persevere na abençoada luta de realizar sempre o melhor para
o bem de si mesmo e dos outros, são os votos do seu fervoroso admirador,
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Bebiano Sérgio Macedo da Fontoura Costalat

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CAPÍTULO 17
Construir com a eternidade

General José Antonio Correa da Câmara

12/05/1948

General amigo, os mortos não existem. Ressurgimos sempre. Do Fundo


escuro da noite, o dia renasce. Este, meu amigo, o nosso destino! Viver
sempre! Lutar incessantemente. Construir com a eternidade. Engrandecer o
começo e seguir até o fim, na batalha pela vitória final do bem.
Cooperamos com aqueles que o assistem na tarefa de benemerência.
A Cruz dos Militares no Brasil é um santuário, onde nos refazemos para a obra
redentora.
Deus lhe multiplique os dons da saúde e da inteligência, a fim de que
prossiga na vanguarda de quantos se desvelam patrioticamente pelo bem-
estar dos companheiros mais humildes, enquanto a força e as possibilidades
se mantêm de nosso lado.
Estamos em visita ao benemérito irmão, que tanto realizou e vem
realizando na Provedoria. Conte conosco. Permaneceremos firmes ao seu
lado, em testemunho de nossa gratidão e amizade.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

José Antonio Correa da Câmara

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CAPÍTULO 18
Dar significa mais que receber

Marechal Francisco Antonio de Moura

12/05/1948

Paz de Deus a todos. Meu amigo General Amorim, associamo-nos aos


votos de bem-estar que nossos companheiros lhe trazem. Expressam,
sobretudo, nossos agradecimentos pelos seus serviços à Cruz dos Militares,
onde tantos ninhos de militares encontram reconforto, auxílio, estímulo e pão.
Servir, hoje, meu caro, para nós é muito mais que combater. Dar significa
mais que receber e sacrificarmo-nos é uma glória mais alta que a da vitória.
Suas forças valiosas, dadas a benefício de nossa venerável instituição,
representam fontes de suprimento da Espiritualidade Superior. Suas energias,
por isso mesmo, serão sustentadas por nós agora e sempre.
Exprimindo-lhe a nossa admiração e amizade, subscrevemo-nos
igualmente comovidos; com um abraço cordial de gratidão,

Francisco Antonio de Moura


MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

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CAPÍTULO 19
Seduzido pelo trabalho espiritual

Marechal Júlio Anacleto Falcão da Frota

04/06/1948

Meu prezado amigo General Amorim, Deus nos abençoe a todos.


Francamente seduzido pelo trabalho espiritual de vários amigos nossos,
em torno de suas convicções espiritualistas, venho igualmente trazer-lhe a
minha visita, esforçando-me, qual faço agora, por entrosar sentimentos e
realizações na Doutrina consoladora que nos irmana, presentemente, os
impulsos da fé.
Compreendo que a penetração do idealismo superior que o Espiritismo
nos trouxe não vem ao acaso, no jogo das circunstâncias. Pode acreditar
que nosso objetivo no Brasil é despertar as classes armadas, sobretudo, no
momento, em mais altos princípios de vigilância. Aperfeiçoar nossa terra nos
impositivos do progresso material é, sem dúvida, inestimável serviço.
Contudo, prepará-la, diante do futuro, revigorando-lhe os fundamentos
morais em bases sadias de Cristianismo renovado, é tarefa ainda mais nobre,
mais elevada!
Sentimo-nos à frente de questões que transcendem nossa capacidade
de expressão no verbalismo comum. A Terra é um fogareiro de vastas
proporções e ninguém pode prever os efeitos da crise formidável que pesa
sobre caracteres e administrações. Pudéssemos, meu amigo, e reviveríamos
na demonstração física para veicular o conhecimento novo. Necessitamos
formar novo tipo de soldado — que saiba lutar dignamente, sem armas na
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

mão, todavia, habilmente adequado, no campo interior, à vitória do bem na


vida particular e nas massas do povo.
General, não tenha dúvida! A luta é muito grande! Não é sem significado
nossa visita a esta casa de trabalho espiritual, onde seu espírito se retempera.
Estimaríamos falar perante o plenário dos companheiros, expressar-nos
de público. Entretanto, as condições agora são outras. Não é possível utilizar
os mesmos processos da experiência humana. Creia, porém, que nos
sentimos felizes com a possibilidade de trazer-lhe nossos pensamentos em
silenciosas confabulações.
Um país não é somente grande pelo esforço dos que se acham “vivos na
carne”, mas também pela dedicação de quantos se converteram pela
morte, em “vivos de espiritualidade”. E conversar com um amigo é dirigirmo-
nos a muitos, em sentido simbólico. Não lhe cause estranheza, portanto, as
nossas visitas Fraternais. O serviço assim exige.
Somos diversos cooperadores a contribuírem pela elevação do nível
espiritual das nossas organizações militarizadas. Estamos convictos de que o
Exército não é infenso à missão admirável que o Brasil desempenha na
comunidade americana. Nossas tradições de trabalho e paz e, sobretudo, o
devotamento com que inúmeros de nossos camaradas se consagram à
causa espiritualista e cristã nos bastidores de nossa vida pública, revelam, de
modo inequívoco, o entendimento de nossos valores armados, quanto à
renovação evangélica do mundo, abençoado serviço de que nossa terra e
nossa gente se fazem líderes preciosos junto a todos aqueles filhos
enobrecidos de outras nações e de outros climas, que não enxergam outra
solução para a concórdia e para a felicidade humanas fora de Jesus Cristo.
Receba, pois, meu amigo, as nossas visitas, consciente da finalidade
superior com que nos movimentamos. Aprendemos hoje que a defesa da
humanidade em seus patrimônios de progresso e sublimação é o trabalho
mais imediato que nos cabe desempenhar.
Vibre conosco ligando, como sempre, seus pensamentos aos nossos!
Precisamos dilatar a fileira de colaboradores e dos amigos de ideal para a
“cruzada” sem sangue que, do Alto, buscamos mobilizar, em favor de uma
nação mais elevada para um mundo melhor.
Nossa simpatia pelo valor de sua fé representa movimento espontâneo
de quem lhe conhece a firmeza de caráter e a serenidade da consciência
edificada e cristalina.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Que Deus nos abençoe os propósitos de trabalhar, melhorar e servir. Com


os meus votos fervorosos de paz e saúde, seu admirador e amigo
reconhecido,

Júlio Anacleto Falcão da Frota

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CAPÍTULO 20
O processo de transição da Terra

Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior

02/07/1948

Meu caro Aurélio, minha prezada Julinha, Deus nos fortaleça e abençoe
a todos.
Coube-me a satisfação de trazer-lhes o abraço da noite em nome de
muitos dos nossos companheiros e amigos presentes. Que o nosso divino
Médico lhes conserve a alegria, a saúde e a paz!
Você, meu estimado Aurélio, prossiga cuidadoso no que se refere às
escadas, porque, com a graça do Senhor, sua posição física está
plenamente restaurada, compelindo-nos à cautela precisa na manutenção
dos bens recebidos.
Continue operoso e firme, ao lado da Cruz. O conselho médico é bem
inspirado. Entretanto, não considere por definitivo o seu afastamento da
Provedoria. Reclamamos, realmente, mais tempo para a concretização
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

perfeita de suas melhoras. Um trabalhador e administrador do seu quilate não


pode ser esquecido e as suas forças na cooperação generosa de sua
firmeza, operosidade e inteligência são muito preciosas para o
desenvolvimento constante de nosso trabalho. Isto, contudo, não nos deve
inspirar a “mística da enfermidade”.
Logo que as suas energias permitam, voltaremos juntos ao campo das
sagradas obrigações em que nos achamos tão profundamente irmanados. E
embora distante das ordens oficializadas da instituição, ajude os
companheiros, quanto estiver ao seu alcance, através dos pareceres e
alvitres, na emissão dos quais não lhe faltará a nossa assistência. Sempre que
surgir alguma dificuldade, não só quanto à Cruz, mas também com respeito
a qualquer problema imprevisto, concentre o seu pensamento no velho
amigo. Estarei espiritualmente ao seu lado, contribuindo de alguma sorte nas
soluções necessárias.
Não precisamos, de modo fundamental, da mediunidade de uma
terceira pessoa, a fim de transmitir os nossos pensamentos. A nossa
comunhão mental é muito mais intensa que qualquer entendimento por viva
conversação humana e estamos certos de que não nos faltará a
possibilidade para a conclusão de qualquer plano em que o meu concurso
humilde venha a ser lembrado. Conte comigo incondicionalmente.
Quanto a você, Julinha, reitero-lhe as esperanças com que a sua tarefa
de beneficência vem sendo acompanhada por parte de todos nós. Os dias
da Terra escoam-se rápidos e é necessário estar aqui, quanto estou, para
sentirmos, de perto, a brevidade da experiência humana. Todos nos sentimos
felizes com o seu abençoado serviço aos cegos e esperamos que a sua
sementeira no bem cresça e prospere cada vez mais!
Convençam-se todos de que estamos sendo impelidos a trabalho maior
na redenção do mundo. Embora imperceptível para vocês, o processo de
transição da Terra é mais rápido e acelerado do que possam supor. Os bons
servidores das causas edificantes permanecerão cada vez mais
sobrecarregados de obrigações. A hora é de grandes lutas e devemos
proceder à maneira das abelhas trabalhadoras e dignas, que convertem a
obediência em lei. E, em nosso caso, a disciplina ante a vontade do Supremo
Senhor é cinquenta por cento de acerto em todas as questões!
Felicito a ambos pelos recursos de saúde e reconforto que armazenaram
no abençoado lar de meus netos. Nossa alegria é espontânea e duradoura,
sentindo-lhes a sadia disposição de crer no porvir sempre mais iluminado e
feliz.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Desejando-lhes muita paz, extensiva a todos os que lhes seguem os


caminhos diários, abraça-os, afetuosamente, o amigo e pai reconhecido,

Pêgo Junior

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CAPÍTULO 21
A maré passa e o mar fica

Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior

17/09/1948

Meu caro Aurélio, Deus nos abençoe a serviço do bem.


Compreendo-lhe os problemas e lutas íntimas dos dias que correm.
Todavia, meu caro, não se deixe abater ante a volubilidade dos homens e
dos acontecimentos.
Você não é só o valoroso soldado da Cruz. É também o benfeitor e amigo
de nossa venerável instituição, nas horas certas e incertas. As dificuldades
decorrentes da incompreensão de alguns companheiros funcionam em
favor de sua saúde e de suas necessidades de reajustamento orgânico.
Moralmente, não abandone o assunto por liquidado, porque em lutadores
de nossa estirpe a combatividade pelo bem não deve cessar, mas,
socialmente falando, conceda tempo ao tempo. A experiência é a mestra
de todos e reparte ensinamentos a cada um no momento preciso.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Tranquilize os companheiros e continue oferecendo à Cruz seu apoio


eficiente e firme, de consciência feliz e fronte erguida. A calúnia, a
perseguição gratuita, a ingratidão e a maldade são forças das trevas que
tudo procuram corromper. Conheço-os de perto e assevero a você, meu
amigo, que a serenidade da prece constitui a nossa fortaleza defensiva
contra elas. Prossiga seu caminho, confiando no Supremo Juiz, convencido
de que a maré passa e o mar fica.
Acima de tudo, Aurélio, conserve a sua paz. Continuaremos a fazer por
nossa instituição venerável quanto possível! Jesus reina e, com ele,
prevalecem a harmonia e a justiça.
Temos trabalhado, mormente sua mamãe, na devolução do bem-estar
ao seu coração de homem de bem, em face da visita que o passado lhe fez
nos últimos tempos. Entregue-nos essas preocupações e acalme o mundo
íntimo. Um homem nunca pode voltar aos caminhos que trilhou em criança
com as mesmas vestes. A paisagem é sempre real, principalmente quando
estacionária em pleno campo da vida, mas o viajor oferece outro aspecto.
Sempre que a sua cooperação for solicitada por necessidades justas,
ampare, auxilie e continue a sua marcha, mesmo porque você tem sido o
pai abnegado de muita gente. Entretanto, não permita que os apelos à
evidência social ou o propósito de vantagens imediatas lhe perturbem o
coração. Estamos a postos e auxiliaremos a você na solução de todos os
problemas.

Meu abraço à Julinha pelo natalício. n E confiante em sua elevada visão


do caminho, abraça-o muito afetuosamente o velho amigo, sempre seu pelo
coração,

Pêgo Junior
[1] Nota da Organizadora: Vovó Júlia aniversariou no dia 15 de setembro,
completando, naquela data, 69 anos.

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MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

CAPÍTULO 22
A hora é de “força por dentro”

Oficial Severiano

20/10/1948

Meu caro amigo, General Aurélio, a paz do Senhor permaneça conosco.


Valho-me das oportunidades para fazer-lhe sentir a continuidade de
nosso interesse, do nosso carinho. Em momento algum nosso irmão devotado
esteve só!
Revezamo-nos, com a satisfação de sua presença, embora lamentando
a impossibilidade de vê-lo na “ativa desejada” por enquanto, a fim de
prestar-lhe culto de nossa amizade fiel.
Não suponha, meu amigo, que a nossa instituição esteja circunscrita ao
campo do Rio. É mais extensa, mais alta, mais segura. Desculpe quantos lhe
negaram compreensão quando nos últimos acontecimentos domésticos de
nossa Casa. Cremos que a miopia de alguns Funcionou em nosso benefício,
porquanto não seria agradável expor-lhe o nome, num caso como o
presente, em que o seu tratamento exige paz e serenidade à intromissão
possível de desafetos gratuitos.
Seu coração, mais do que nunca, permanece tranquilo e agora,
General, o instante requer meditação e calma. Suas conquistas espirituais
nestes dias são enormes! Quase que diariamente recebo o “boletim da
amizade”, com as notas alusivas ao seu processo de saúde orgânica. Nossos
médicos demoram-se igualmente a postos, acompanhando-lhe a
movimentação restauradora. O seu programa, cheio de valiosos itens de
firmeza e decisão é o melhor possível.
A hora é de “força por dentro” e estamos certos de que a sua energia,
como sempre, não esmorecerá. Não duvide da vitória que nos orienta os
passos. Prossiga, sem receio, alimentando a esperança no triunfo que é nosso.
Pensamento ativo, corpo repousante e alma corajosa há de ser nossa senha,
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

até que atravessemos o túnel do minuto que vai passando. Guardamos


grande confiança no tratamento dos olhos e com os recursos doados, a
renovação do sistema circulatório, é de esperarmos os melhores resultados
nos próximos dias.
Somos muitos em companhia de um amigo e contamos em que esse
amigo, que é você mesmo, se sinta ao nosso lado, integrando-se com a nossa
fé e confiança na vitória final. Para diante, contra qualquer esmorecimento!
Hipotecando-lhe a nossa estima de sempre, envio-lhe um abraço forte,
de coração a coração,

Severiano

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CAPÍTULO 23
Saber cumprir ordens, como poucos

Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior

26/01/1949

Meu prezado Aurélio, Deus abençoe a você e à Julinha, junto de meus


netos, permitindo que a luz divina reine para sempre em nossos corações.
Estamos ao seu lado nestes dias de luta mais íntima. A batalha é sempre
maior dentro do forte. Você já comandou e conhece semelhante verdade.
Enquanto os conflitos se verificam, na praça aberta, com ruídos exteriores de
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máquinas e infantaria, golpes e vozes diferentes da nossa, é mais fácil arrostar


o perigo.
Chega, porém, um tempo, meu caro Aurélio, em que somos chamados
a combater dentro de nós mesmos e a vitória depende da galhardia com
que empunhamos as velhas armas da serenidade, da fé viva, do bom humor
e, sobretudo, do entendimento. Aí a luta é realmente mais porfiada!
Atravessamos passagens das mais difíceis. Despenhadeiros interiores se
nos desdobram aos “olhos da mente” e reclamamos cooperação do
comando “de cima” para não perder na prova.
Você, graças a Deus, é um bom soldado. Conhece os percalços da
disciplina e sabe cumprir ordens, como poucos! Estamos satisfeitos e
envaidecidos de sua coragem e de sua compreensão! De modo algum se
suponha privado de trabalho! Você está servindo valorosamente à nossa
causa e prosseguirá sempre mais forte e mais eficiente. O boletim do seu
exemplo edificante, nestas semanas últimas, lhe honra os títulos e todos nos
rejubilamos com a sua vitória íntima, inestimável pelos valores espirituais que
projeta.
Não se sinta preocupado, excessivamente, em torno dos problemas da
Cruz. Cada companheiro deve realizar a sua parte na administração e na
obediência, e a sua posição atual não é de afastamento e sim de pausa
natural. Tudo se processou em ordem e não houve qualquer omissão em
nossos trabalhos de vigilância e defesa. Compreendíamos a sua necessidade
de férias compulsórias e a substituição foi atendida sem alarde! Não
desejávamos que o seu cérebro, na atualidade, permanecesse
sobrecarregado de problemas e questões, nos quais a interferência de
terceiros complicasse as soluções devidas.
Assim, meu filho, satisfaça aos imperativos de repouso e não perca a sua
oportunidade de meditar. Vemos nos quadros do momento o que nos
sucede. Você não enfrenta um problema de extinção das energias e sim um
hiato da força para que as próprias forças se refaçam.
Apaga-se a luz por um momento, por exigência da natureza, mas volta
a mesma claridade, através de uma vela para recuperar-se, em seguida,
plenamente, no mesmo tom de brilho e na mesma vivacidade. A hora é,
certamente, de combate, porque soldado quando pensa sofre muito mais
do que quando guerreia e eu conheço o assunto por experiência própria.
O campo nunca me abateu o ânimo, mas o gabinete, na maioria das
vezes, me afligia e amargurava! Esperamos, porém, que tudo se resuma ao
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tratamento de uns tantos dias. Logo após você retomará a sua posição de
chefia e seguiremos adiante.
Muitos amigos de nossa venerável instituição se desvelam por sua
recuperação, de ordem geral. Não nos cansamos de colaborar, de algum
modo, para que o benemérito companheiro de lides edificantes nos sinta a
presença espiritual, através da calma e da resistência com que a luta vai
sendo liquidada por seu esforço. A vida humana em si, meu prezado Aurélio,
é uma contenda importante e quando a experiência se mistura com os
imperativos da saúde, o conflito é sempre mais vasto, mais duro, maior!
Não se abata, porém. Mobilize, na fortaleza do cérebro e do coração,
as sentinelas da fé renovadora da confiança em nosso Senhor Jesus e em
seus amigos daqui e do plano terrestre, e verá que o triunfo natural não será
tão demorado quanto à primeira vista parece. Guarde o espírito claro, as
ideias serenas, o sentimento firme e continuaremos a viagem. O porto do
reajustamento surgirá dentro em breve.
Quero agradecer as suas lembranças carinhosas ao meu nome e as
humildes intercessões de minha boa vontade. Estamos juntos como não
podia deixar de ser e “não nos perca de vista” em seu pensamento.
Permanecemos muito mais unidos agora que você tem sido obrigado a
excursionar, com mais assiduidade, nos campos da meditação e da procura
espiritual.
Muito satisfeito com a nossa Julinha, peço a Deus a abençoe pelo
reconforto que a sua ternura nos oferece. Lembro-me de antigo autor, que
nos afirma, com muita propriedade, que “a mulher sempre é mãe” e sinto
justificada alegria em reconhecendo na filha querida, que o Senhor a você
confiou por esposa, um gênio maternal para todos nós!
Espero que a alegria e a paz reinem em nosso círculo hoje e sempre!
Deixando-lhes as minhas visitas afetuosas, pede ao divino Médico por seu
restabelecimento e pela sua paz e bom-ânimo, junto de lulinha e de todos os
nossos, o velho amigo de sempre,

Pêgo Junior
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

*****

CAPÍTULO 24
Médico espiritual

General-médico Ismael da Rocha

02/02/1949

Meu caro General Aurélio, boa noite, com os meus votos de muita paz a
todos.
Amigo de seu trabalho em favor dos militares, nossos irmãos, não podia
furtar-me ao prazer de cooperar na solução ao problema de assistência à
sua saúde.
Claro que o companheiro de muitos não poderá viver sem a gratidão de
muitos outros e, na verdade, somos um pequeno exército afetivo, laborando
por alimentar-lhe as forças, restaurando-as como se faz preciso.
Temos aqui vários amigos de sua estimada família. Entretanto, por ser
médico espiritual, em tarefa de colaboração no seu tratamento,
constrangeram-me todos a falar consigo, sendo esta a razão pela qual sou
eu o visitante direto desta noite, esperando me desculpem o
comparecimento improviso.
Felizmente, suas energias nos correspondem à expectativa, em virtude
de sua elevada capacidade de resistência moral. Conheço, por experiência
própria, o que lhe ocorre. As campanhas mais difíceis se ser vencidas são
aquelas que as circunstâncias estabelecem dentro de nós mesmos. Mas
ainda falecem as reservas de coragem, serenidade e paciência…
Não creia que os muitos remédios nos ofereçam grandes vantagens. Há
ocasiões em que a medicação é favorável numa porta e intrusa em outra,
na intimidade da casa orgânica. Os modos e os processos espirituais de luta,
acima de tudo, são os nossos recursos curativos mais importantes!
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Quanto lhe seja possível, rememore as palavras e alinhe-as na sua


imaginação como se estivesse conversando animadamente para reeducar
o centro da fala e ordene com vagar os seus movimentos para que lhes não
falte o ritmo regular. E mormente, em se tratando de degraus, não use muito
a decisão e aceite, quanto possível, o concurso alheio.
Assim é necessário para que o acidente experimentado seja esquecido
pelas forças orgânicas propriamente consideradas. A melhor medicação
nesta hora é a que vem pondo em prática com tanto proveito e que se
define na calma e na conformação com que vai enfrentando os fatos. Essa
pausa era necessária e quando tornar ao império ativo de suas
determinações de militar e administrador recolherá os benefícios que vem
sendo constrangido a receber.
Tenho efetuado exames meticulosos de seu estado geral e afirmo-lhe
que os nossos prognósticos são claramente otimistas. Aguardemos o tempo,
aplicando-nos as medidas aconselháveis, até que o Poder Maior nos
modifique o roteiro. Sou de opinião que a intensidade de verdura, com
redução de carnes e óleos, é providência que só fará bem à posição geral.
E não se detenha em pensamento nos quadros menos alegres da viagem
terrestre. Centralize a atenção na confiança, na alegria e na certeza de sua
consagração pessoal ao bem e não se arrependerá!
Não há hora de crepúsculo para quem confia a mente ao brilho da
alvorada. Esperemos, confiantes em Cristo, o dia de amanhã, que é sempre
novo pelas novidades benéficas que podemos tecer no mundo de nós
mesmos. Recorde a Cruz que nos é tão cara e a sua digna provedoria tão
somente nos ângulos encorajadores e edificantes. Não pense nos inimigos
potenciais e sim nos amigos positivos que adquiriu em derredor de seus
trabalhos enobrecedores.
Se há alguém lá dentro, interessado em política menos apreciável,
reconforta-nos a convicção de que o seu ministério tem sido de construção,
preservação, crescimento e inteligência. Somos muitos os companheiros da
sua ação benemérita a velar por seu programa e por sua pessoa, e
aguardamos a bênção do Senhor em nosso benefício.
A hora reclama isenção de ânimo em favor de suas melhoras francas.
Não há campos de serviço definitivamente abandonados. Quando o
trabalhador é capaz, fiel e digno, há sempre um campo maior e rico à espera
dele e quando esse abençoado servidor renuncia ao Mais Alto, por amor aos
que permanecem embaixo, o campo predileto continua dignificado por sua
dedicação. Este é o seu caso. Tendo dado tudo à nossa instituição venerável,
não pense que o seu esforço jaz vazio. A obra prossegue. E os lutadores que
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

descansam, por alguns dias, regressarão à lide para a vitória real! Deus lhe
refaça as forças, permitindo-nos o contentamento de seu acesso à batalha
de novo. Um soldado não tem, nem pode ter, para com outro soldado outra
linguagem que não seja esta de confiança, estímulo, calma e valor silencioso
e ativo.
Com os meus votos ardentes pelo seu integral reerguimento físico, e
cumprimentando-lhe os familiares que aqui se reúnem, sou o seu amigo,
companheiro e admirador,

Ismael da Rocha

*****

CAPÍTULO 25
O leme expresso na mente

General-médico Ismael da Rocha

23/03/1949

Meu caro amigo General Aurélio minha cordial saudação a todos,


desejando-lhe a continuidade do bom-ânimo e bem-estar. Estamos,
sinceramente, confortados com o carinho fraterno que passou a dedicar-nos
depois de nossa despretensiosa carta neste santuário familiar. E
agradecemos não somente as suas demonstrações de estima e de apreço,
mas igualmente as de seu genro-filho, cuja amizade confortadora nos tem
sido útil. n
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Não tema os acidentes naturais do processo de tratamento a que vai se


submetendo, gradativamente. A existência terrestre, meu caro, pode ser
simbolizada na viagem fluvial tão de sua intimidade na região que o viu
renascer desta vez! Enquanto o barco físico desce rio abaixo, não é preciso
grande cuidado no leme ou na conta de tempo, em razão das circunstâncias
favoráveis que apoiam qualquer descida.
Mas quando a embarcação retorna, rio acima, nem sempre é possível
contar com os mesmos recursos fáceis! Por vezes, a hora é de seca extrema
e de vento escasso… Bancos de areia surgem, inexoráveis! Dias e noites são
despendidos nos intervalos da romagem no leito menos acolhedor das
águas. É indispensável muita cautela contra as tentações que nos induzem à
internação pelos matagais que fluem das margens.
Muitos viajores perdem a ocasião de esperar com paciência e lutar com
renúncia. O leme expresso na mente há que ser trabalhado, viajado e usado
em processo de trabalho intensivo. Daí, meu caro amigo, as experiências da
hora que passa para o seu precioso navio corpóreo, que vai subindo no dorso
das águas serenas e amigas. Digo serenas e amigas porque seu espírito
valoroso possui verdadeiro refúgio contra a tempestade que lhe assedia
presentemente a jornada brilhante.
A embarcação segue, rio acima, reclamando naturalmente mais suor e
mais serviço na movimentação justa. Entretanto, quem conduz consigo
valores tão altos de fé viva e confiança segura nos próprios destinos não
pode, nem mesmo de leve, abandonar-se à sombra da tormenta. Esteja
convido de que nós venceremos!
Temos estado com a sua admirável enfermeira espiritual, posição essa
escolhida na atualidade por aquela que lhe foi venerável progenitora na
esfera carnal, e assinalamos profundamente confortados as suas melhoras
positivas no estado geral. n Os passes em casa, condimentados no espírito
doméstico do amor que lhe une os descendentes, produziram resultados
edificantes.
O centro da Fala e os órgãos da visão revelam disposições louváveis no
reajustamento que esperávamos e, francamente, os aspectos da luta a que
foi conduzido são hoje os mais encorajadores aos nossos olhos!
Somos de parecer que deva prosseguir nos exercícios mentais a que já
nos referimos para acordar as células e fibras na obra de reeducação dos
impulsos e mecanismos. Isto é muito importante — pensar vagarosamente e
com clareza para projetar, sem receio e sem aflições, os seus próprios
pensamentos através da palavra meditada, sentida e lentamente articulada.
E como nos cabe também o dever de cooperar nas sugestões da volta ao
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Rio, somos de opinião que a sua permanência não seja, nesta altitude,
superior a três meses. Em abril próximo, poderá atender às suas necessidades
de regresso nesse quadro de tempo.
Creia, contudo, que o seu revigoramento fisio-neuro-psíquico é
indispensável! Suas energias, seus recursos orgânicos, seu humor e a sua
capacidade de auto-refazimento lucraram sensivelmente nesta visita aos
filhos! De nosso lado, continuaremos ao seu inteiro dispor, colaborando com
sua maternal enfermeira, na obra agradável de reerguimento de suas forças
gerais.
De novo, na capital da República, entretenha o pensamento em
passeios úteis e recreativos, e não se sobrecarregue de excessivos cuidados.
O repouso por lá é uma tecla em que o seu próprio coração deve insistir com
calor. Por agora não lhe convirá muita atividade na instituição que lhe é e
nos será sempre venerável e querida a todos — a Cruz dos Militares.
A administração humana da Casa, com os seus percalços e dissabores
espontâneos, não deve interferir, de pronto, nas melhoras obtidas e
consolidadas. Consagremo-nos à dilatação e conservação delas!
Eu sei que o soldado que se levanta na guerra dificilmente se afasta da
posição combativa. Entretanto, o interesse geral reclama esse descanso
compulsório de suas forças para que a sua cooperação regresse mais
preciosa e fundamental na hora em que puder retomar o seu posto na
orientação amplamente.
Não veja qualquer impertinência de nossa parte nestes lembretes.
Guarde-os por avisos médicos e de médico que andou igualmente fardado,
conhecendo de perto o valor e o fascínio de uma paixão digna e brilhante
como a que lhe ferve no peito de lutador, que sempre desconheceu a
disponibilidade e a reforma no interesse dos seus companheiros. Lembre-se,
no entanto, que o grande acidente é de ontem. Setembro é um passado
excessivamente próximo e ante o volume das melhoras que já conseguiu
aguardemos mais tempo na posição de reajustamento benéfico.
Nossa visita respeitosa aos seus familiares. Receba um grande abraço do
amigo e servidor muito grato,

Ismael
[1] Notas da Organizadora: Em referindo-se a Rômulo Joviano, meu pai.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

[2] Em referindo-se à bisavó Amélia, mãe do vovô Aurélio.

*****

CAPÍTULO 26
Articular em ordem as nossas emoções

Marechal Belarmino Mendonça

18/01/1950

Meu caro General Aurélio, Deus nos abençoe. Venho trazer-lhe a minha
visita fraterna, significando-lhe a nossa estima e assistência de todos os dias.
O nosso companheiro Ismael da Rocha continua vigilante em seu
tratamento. Pede-lhe, porém, que se mantenha no mesmo padrão de
segurança íntima porque o fenômeno do reerguimento orgânico não se
opera de improviso.
Em suas meditações, não olvide que a nossa cordialidade prossegue
inalterável. Não se passa um dia em que o pessoal de nossa instituição deixe
de comparecer ao plantão da fraternidade, ministrando-lhe forças
renovadoras ao campo físico.
É problemático o nosso triunfo nas armas na Terra, meu caro amigo,
porque chegará sempre um dia em que seremos constrangidos a comandar
o reino de nós mesmos! Dirigir as células do corpo ou articular em ordem as
nossas emoções para que a mente seja honrada em seu posto de chefia é
mais difícil que presidir um exército humano, constituído de soldados
indisciplinados ou intransigentes. Sei esta lição de cor e quando voltar aos
círculos da carne terei suficiente cuidado no curso preparatório dessa
natureza.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Acreditamos, sinceramente, porém, no seu restabelecimento para que


lhe desfrutemos a colaboração por muito tempo na organização benemérita
que nos congrega e contamos, para esse fim, com o valioso concurso de sua
coragem para a restauração orgânica precisa. Não se confie a pensamentos
destrutivos de melancolia e desencanto. Venceremos a etapa com o socorro
de forças mais expressivas que as nossas! Sinta-se na posição do chefe em
disponibilidade cessável a qualquer momento. Das alturas procedem
ordenações que nos mobilizam sempre para as mais variadas direções e a
sua direção para a saúde reconstituída permanece clara ao nosso olhar.
Comigo permanece de visita ao estimado companheiro o nosso Lydio
Porto e com a cooperação do Ismael, que nos deu a conhecer a sua ficha
de saúde, a sua posição é mais que satisfatória: é vitória nos fins a que nos
propomos paternalmente ao seu lado. n

Meus respeitos aos seus familiares e amigos presentes, e augurando-lhe


um 1950 repleto de paz e saúde, com alegria e bem-estar, sou o amigo do
novo Plano,

Belarmino Mendonça
[1] Nota da Organizadora: Sobre a entidade espiritual, Lydio Porto, não nos foram
dadas maiores informações.

*****

CAPÍTULO 27
O exemplo de Paulo de Tarso

Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior


MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

25/01/1950

Meu caro Aurélio, minha querida Julinha, Deus nos abençoe ao lado de
todos, renovando-nos as energias no serviço do bem. Muito especialmente,
meu prezado Aurélio, dirijo-me a você na noite de hoje para lembrar ao seu
coração, que conservo por filho do meu próprio coração, a nossa assistência
constante.
A reunião espiritual da Cruz na noite de hoje, e da qual estou
regressando, versou em derredor do exemplo de Paulo de Tarso. n A
Cristandade comemora-lhe hoje a conversão no caminho de Damasco e nas
comunidades espirituais, vizinhas da Terra que vocês ainda pisam, estas
recordações são mais vivas e, sinceramente, mais belas pelas dádivas de
reconforto que recebemos de mais altos círculos, em nossas manifestações
de fé.
Claro está, meu amigo, que o seu nome esteve intimamente ligado às
nossas preces. Notamos o seu abatimento e desânimo, menos registráveis
pelos netos nos últimos dias, e pedimos renovação de forças para o seu
coração. Não nos esqueçamos do grande convertido de Damasco, homem
áspero, de ação inesgotável, antes da visita do Senhor, e companheiro
valoroso e fraterno, com a mesma atividade indefinível depois dela!
Todos nós, os que temos passado pelos setores da administração no
mundo, com raras exceções, à maneira de Paulo temos conhecido a
autoridade, o poder e a determinação, nem sempre usados em suas mais
altas expressões de subida ao plano divino e quando a verdade nos fortalece
através da visita sublime da revelação de infinito e eternidade, precisamos
guardar o mesmo tom de fortaleza e desassombro para não desmerecer os
dons recebidos.
É indispensável não nos acomodarmos com a ideia de inutilidade ou de
impossibilidade nas linhas em que nos movimentamos. No fundo somos, cada
um de nós, um centro de inteligência viva e atuante, corrigindo, melhorando,
elevando e aperfeiçoando sempre, quando já aprendemos a gravitar para
o Mais Alto.
O apóstolo dos gentios foi um dos mais bem acabados padrões de
varonilidade cristã, agindo e criando sempre para o lado melhor da vida, até
mesmo quando a espada romana lhe decepou a cabeça de herói, jamais
anulado ou envelhecido no espírito imperecível. Do primeiro momento de
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Damasco até o fim do corpo, outro pensamento não lhe animou a candeia
do cérebro que não fosse o de renovação e entusiasmo na luz e no bem!
Não precisarei narrar aqui quanto lhe ocorreu no desdobramento do
serviço apostólico, porque o amor de todos vocês ao Evangelho torna
desnecessária qualquer consideração histórica ou propriamente verbalística.
Basta, meu caro Aurélio, que lhe lembremos a figura excelsa de lutador
intimorato, valoroso na fé e na esperança, firme nos propósitos superiores e
incansável no infinito bem.
Com ele aprendemos que os patrimônios materiais podem desaparecer,
que as dificuldades podem sobrevir, que a sombra pode cercar-nos, mas que
os galardões do espírito são imperecíveis, que a nossa alma, em toda parte
e em todas as circunstâncias, consegue sobrepairar acima de todos os
impedimentos, desde que se mantenha na visão clara do trabalho que nos
cabe realizar por um mundo mais nobre, mais aperfeiçoado, mais seguro e
feliz.
Paulo ensina-nos que não é a Terra a entidade suscetível de condecorar-
nos com a felicidade e sim a escola que espera por nossa atitude de
aprendizes mais velhos, no campo do sacrifício próprio, para melhorá-la e
engrandecê-la. Não é o mundo nosso devedor e sim credor generoso a
quem precisamos pagar pelo menos algumas parcelas de nossa dívida
infinita. n

Transmito aqui semelhantes imagens com o objetivo de reerguer-lhe o


ânimo. Superiormente assistido como se encontra, não lhe justificamos a
tristeza e o desencanto menos construtivo. Anime-se, meu caro, elevando as
suas reflexões! Nós ainda não fomos obrigados a contemplar o horizonte além
de braços crucificados à maneira d’Aquele que elegemos por nosso padrão
divino.
Graças ao carinho que nos é dispensado por muitos emissários de seu
amor infinito, nada nos tem faltado para que a paz e a alegria estejam
preservadas em nosso círculo de vida particular. Creia que mais vale disputar
com enfermidades passageiras que enfrentar as traições ocultas da estrada
e mesmo nesses espinheiros, que tive a satisfação de experimentar por amor
à minha própria consciência honesta, a dor não é irremediável, nem
destruidora, quando nos acolhemos no fortim de nós mesmos, de nossas
convicções mais elevadas, a se refletirem no interesse de todos.
Desejamos, assim, que você prossiga na posição do lidador fiel. Não se
entregue a intimações do desalento, porque o desânimo não tem
autoridade alguma para conduzir-nos à prostração.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Agora que nos lembramos de Paulo, o grande lutador em vitória


constante dentro das trevas e dos sofrimentos que lhe assinalaram a época
recuada, convertamos nossas lutas mais íntimas em sagrados motivos de
elevação. Creia que todos permanecemos ao seu lado, agindo e
cooperando no sincero prazer de servir ao seu fortalecimento. A sua atitude
interior de adesão ao nosso programa será uma percentagem significativa
para o nosso triunfo.
Agradeço aos meus netos o cuidado que nos dispensam e formulo votos
para que o seu novo estágio seja abençoado campo de paz, seja frutífero
em bênçãos de saúde e tranquilidade para você e Julinha.
Sua mamãe, presente, reforça as minhas palavras e pede-lhe serenidade
e fortaleza em plena luta. E pedindo ao Médico celestial nos preserve o dom
do equilíbrio, deixa-lhes um carinhoso e paternal abraço o velho amigo,

Antoninho
[1] Notas da Organizadora: Em 25 de janeiro de 1556 deu-se a fundação de São Paulo
de Piratininga, a São Paulo de hoje, pelos jesuítas Manuel de Paiva, Manoel da Nóbrega,
José de Anchieta, entre outros, fato relembrado por Arthur Joviano, em referência a Paulo
e a Emmanuel, em mensagem de 3 de agosto de 1949. A referida mensagem é o prefácio
espiritual do livro Deus conosco (VINHA DE LUZ, 2006), cujo trecho transcrevemos a seguir:
“(…) é agradável comentar o esforço de Emmanuel na vanguarda do serviço de
evangelização, pelo Espiritismo, nos domínios da língua portuguesa. (…) Nesse sentido, é
importante meditar nos pontos de contato entre a vida de Manoel da Nóbrega e a de
Públio Lentulus. Pelo amor profundo, devotado por ele à inesquecível figura de Paulo,
poderá você concluir das razões que levaram o esforçado jesuíta a dar o nome do grande
apóstolo à cidade que lhe mereceu especiais cuidados no lançamento, a ponto de
esperar o aniversário da conversão do doutor de Tarso, em janeiro, para iniciar os
primórdios da grande metrópole brasileira, colocando-a sob a proteção do amigo da
gentilidade. É que também Paulo, na vida espiritual, jamais descansou. Quando o senador
romano desencarnou, extremamente desiludido em Pompeia, foi contemplado com os
favores do sublime convertido. Paulo sempre se consagrou às grandes inteligências
afastadas do Cristo, compreendendo-lhes as íntimas aflições e o menosprezo injusto de
que se sentem objeto no mundo, ante os religiosos de todos os matizes, quase sempre
especializados em regras de intolerância. Amparado pelo apóstolo dos gentios, conseguiu
Públio Lentulus transitar nas avenidas obscuras da carne, em existências várias, até
encontrar uma posição em que pudesse servir ao divino Mestre com o valor e com o
heroísmo daquela que lhe fora companheira no início da Era Cristã. (…)”

[2] Para saber mais sobre a vida e a conversão de Paulo, sugerimos a leitura do
romance histórico Paulo e Estêvão, da lavra de Chico Xavier | Emmanuel. Vide dados
bibliográficos à página 141, [Bibliografia indicada].
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

*****

CAPÍTULO 28
Somos um plenário de servidores

Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior

22/03/1950

Meu caro Aurélio, minha querida Julinha, meus filhos, muita paz desejo-
lhes com o reinado do Cristo nos corações.
Aurélio, venho especialmente apresentar a você o nosso abraço,
reafirmando-lhe o devotamento de todos os dias. Agora que se preparam ao
retorno, desejo reiterar-lhe os nossos votos sinceros de muito bem-estar e bom-
ânimo.
Não permita, meu caro, que as ideias de enfermidade se congreguem
nos círculos de sua mente para o culto sistemático à tristeza ou ao desânimo.
Todos os estados orgânicos, melhores ou piores, sob o ponto de vista terrestre,
se desfazem com o tempo. A nossa atitude dentro da vida é a nota
fundamental. O dia é uma festa de claridade para o trabalho, mas a sombra
é um caminho para a meditação, a fim de retomarmos o dia com o êxito
desejável.
A moléstia, qualquer que seja, é sempre uma sombra. Entretanto, Aurélio,
mesmo aí possuímos recursos mil de aproveitamento! Um trabalhador de sua
classe não pode confiar-se ao esmorecimento. No imo de nossa mente há
um comando vital que não devemos desobedecer. Nossos papéis na Terra
exteriorizam-lhe a força. Em todos os setores, somos projeções de nós
mesmos, de nossa imortalidade e eternidade, no espaço e no tempo.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Há em derredor de nossos passos verdadeiros mundos de trabalho


esperando-nos a colaboração. E quando não nos é possível agir com os pés
e com as mãos, o pensamento é vigorosa alavanca com que nos cabe atuar
incessantemente para o bem dos que nos cercam e de nós mesmos.
Desejamos que você se refaça alegremente, tanto quanto lhe seja possível.
Se para nós outros nunca cessam as oportunidades de interferir, servindo
no bem comum, por que nos renderíamos ao desalento? tão só por que
pareça tardar o reajustamento do corpo transitório? Não esmoreça, nem se
deixe turvar no campo da confiança. A disponibilidade nunca foi inutilidade
para nós e contamos com o seu espírito leal, ativo e franco no
desdobramento de nossas tarefas gerais. Aqui não descansamos. Somos um
plenário de servidores, adiantando-nos, em verdade, aos companheiros da
retaguarda, mas ligados a eles à maneira das árvores que sobem para a luz,
sem conseguirem, porém, ausentar-se em definitivo do solo que lhes
acalentou as sementes.
A Cruz é uma exteriorização visível na Terra, de grande movimentação
na nossa vida espiritual. Ponto de referência para as obras assistenciais de
vulto aos militares, expressa, contudo, no plano vulgar da experiência física,
uma pequenina parte de nossos programas e deveres no bem.
Uma sementeira vastíssima aqui se desdobra no esforço iluminativo de
quantos se ligam conosco na mesma esfera de esperança e de ação e,
graças a Deus, o trabalho é uma bênção para cada um, constituindo sempre
verdadeira glória para nós todos. Não há intervalos para a dor destrutiva,
para a renúncia vazia ou para a desistência inútil. Todos nos ajustamos,
agimos e servimos, formando uma abençoada legião de cooperadores do
bem coletivo.
É nossa intenção despertar, não só em você, mas em todos os
companheiros que passam pela prova benéfica do refazimento, a
convicção feliz e vitoriosa do continuísmo de nosso esforço e isso para
demonstrar que não há colaboradores isolados em nosso movimento e sim
células vivas e atuantes que, ainda mesmo quando aparentam repouso,
permanecem no serviço de elevação, que é a nota culminante do nosso
apostolado. Espero, assim, que as suas horas interiores estejam plenas de
otimismo e segurança espiritual. Conte com o nosso apoio de amigos em
todos os instantes!
Quiséramos tornar isso tão claro em seu espírito quão clara é esta
lâmpada que aqui nos ilumina o ambiente, mas como sabe, meu amigo,
semelhante aquisição em grande parte vem de vocês mesmos, do esforço
que venham a despender na renovação e engrandecimento da casa íntima.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Temos muito a fazer, sob todos os aspectos, pelo povo de que nos fizemos
elementos representativos. Conduzir e administrar, comandar e orientar,
sobretudo, constituem forças de auxílio e educação, amparo e
aprimoramento.
A existência num só corpo é excessivamente curta para satisfazermos à
plataforma assim tão vasta. Prosseguiremos, pois, agindo sempre para
alcançar nossos altos objetivos. Guarde a convicção de que a enfermidade
ou a readaptação da experiência corpórea é serviço comum a todos, mas
a atitude firme e nobre dentro dele é obra de poucos! Não abrigue receio
em seu coração. Tudo é bom na jornada para Deus. Cada setor da luta
apresenta proveito diverso e, atento a esse critério, a tranquilidade lhe
povoará o íntimo com admirável segurança.
Formulo votos para que o regresso ao lar represente para você e Julinha
motivo de muito reconforto e estímulo novo para cada um. Sempre que
puder, ligue seus pensamentos aos nossos. Estaremos juntos para o trabalho
que nos compete realizar. Para todos vocês, deixo meu amplexo de
reconhecimento e carinho, e reunindo os dois num abraço muito afetuoso
do coração, sou o velho amigo de todos os dias,

Pêgo Junior

*****

CAPÍTULO 29
A morte não deve entrar em cogitações do nosso serviço

General-médico Ismael da Rocha

22/03/1950
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Meu caro amigo General Aurélio, paz! Estamos, José Leôncio e eu, em
tarefa de inspeção junto de sua saúde. n Não há motivo para
descontentamento. Tudo segue ritmo normal e ainda aqui permito-me repetir
as indicações espirituais do ano passado, acentuando as necessidades de
calma, prudência e bom-ânimo para melhor Fortificarmos a defesa.
No momento, as dificuldades em curso procedem de influências naturais
da altitude, na presente Fase do ano. Contudo, somos de parecer que a sua
permanência aqui até a segunda quinzena de março lhe fará muito bem.
Depois disso estamos certos de que a sua posição reclamará a praia amiga
e salutar. Creia que estamos ao seu lado e não descansamos!
Não deve acolher a ideia da morte! A morte não deve entrar em
cogitações do nosso serviço. Precisamos agora de saúde, equilíbrio e bem-
estar. Este é o programa que deve ser mantido.
Muita paz a todos é o que deseja o amigo e servidor muito grato,

Ismael
[1] Nota da Organizadora: Em referindo-se ao General-médico José Leôncio de
Medeiros. No original, consta a seguinte anotação, feita por Chico Xavier: “Presente o
Espírito do Professor Hemetério dos Santos.”

*****

CAPÍTULO 30
O marasmo não foi feito para nós

Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior


MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

17/01/1951

Meus filhos, Deus conceda a vocês todos muita paz, saúde e bom-ânimo
na concorrência benéfica aos grandes prêmios da luz que a Terra nos
oferece. Particularmente abraço com muito afeto ao Aurélio e à lulinha,
desejando-lhes, junto aos netos, muita alegria e reconforto.
Sou eu, meu caro Aurélio, quem lhe traz a visita direta de hoje. Presença
de amigo velho que não pode esquecer, lembrança de quem cultiva o
reconhecimento no coração.
Acompanho o serviço reconstrutivo de sua saúde, com a dedicação de
todos os dias. A luta carnal é uma frente de batalha, de cujas linhas o soldado
não deve ser retirado às pressas. Quanto mais capacidade de suportar as
dificuldades e tropeços maior mérito! É necessário permanecer, portanto, de
coração armado pelos recursos do bem para não sucumbirmos aí, dentro da
fortaleza de nossa própria alma.
Não ceda às sugestões do desânimo. Quem se confia ao desalento,
nessa guerra bendita pela evolução maior, entrega-se ao pior inimigo.
Cabeça erguida e tranquila sobre o peito robusto e aberto: eis o sinal de
nossa disposição sadia para a vitória.
Em nosso combate de agora, quem descansa os braços ergue as forças
da mente empobrecida para o triunfo real.
Há muito serviço esperando por nós e por que razão abandonar a Terra
aos cuidados e cogitações de si própria? Aqui compreendemos nela a nossa
“velha mãe”, necessitada de nosso amparo eficiente e de nosso carinho
vigilante.
Ainda agora você sabe que potenciais de energia defensiva precisamos
extravasar na preservação do patrimônio cultural e assistencial que nos foi
conferido. A Cúria examina planos para senhorear todos os recursos das
associações de fundo religioso com administração secular e assim como o
marinheiro experimentado contempla a tempestade a distância,
adivinhando-lhe a vinda a ligeiros toques de vento, precisamos trabalhar em
silêncio para desintegrar, nos primórdios, a tormenta de ambições
desmedidas que se desenha sobre a Cruz.
Os nossos amigos padres, naturalmente, se enamoram cada vez mais
intensivamente das graças do Senhor que se acumularam em nossas mãos,
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

à custa do sacrifício, da boa vontade e do suor de muitos e só nos cabe,


primeiramente, refletir sobre o assunto rogando ao Senhor nos liberte das
influenciações perturbadoras e escusas e, em segundo lugar, agir com
critério e prudência, a fim de não perdermos para mãos desorientadas o
serviço que o Alto nos conferiu.
Vivemos no Brasil de hoje horas muito incertas. Não sabemos a que nos
poderão conduzir as seleções do povo em matéria de escolha dos seus
legisladores representantes, mas se o próprio mundo está em hora
crepuscular, imaginemos a posição grave da nossa gente diante dos
problemas que se avolumam! Consola-nos a meada obscura dos
acontecimentos atuais, a certeza de que o nosso país está desempenhando
e consolidando, com a supervisão do Cordeiro de Deus, importante missão
sob a luz do Cruzeiro.
Apesar de todos os labirintos, ainda é aqui que desfrutamos as melhores
expressões de fraternidade e paz e, embora nos pareça à primeira vista
menos apto à união e ao autogoverno, o povo do Brasil ainda é o mais feliz
do Planeta na hora da transição que atravessamos. Aqui o espírito pode
soltar as próprias asas intangíveis e pensar, imaginar, esperar e crer no futuro
como melhor lhe pareça, ao passo que em muitas nações vigorosas e
opulentas a preparação bélica confere um sinistro sentido às suas
preocupações.
Creia, meu caro Aurélio, que nenhum de nós repousou depois da
libertação da matéria mais densa! Estamos trabalhando com mais aplicação
à realidade para que nossos antigos princípios nos códigos da lealdade e da
honra não desapareçam. Nuvens terríveis se amontoam sobre a face do
mundo. Por enquanto parecem distantes, imprecisas… Mas daqui lhes
conhecemos a força e o negrume!
Até o momento da divina determinação, permanecerão invisíveis para
vocês na Terra, mas são realidades positivas que se abaterão sobre o Planeta
com a naturalidade de um serviço regenerador e restaurador em grande
escala. Mas de nossa parte, na posição de lavradores prevenidos, achamo-
nos em preparo, a fim de selecionar os valores para a sementeira futura.
Encha o seu coração de entusiasmo e coragem! A sua palavra está
quase que plenamente ajustada e um homem, mormente quando soldado
de nossa condição, pode e deve fazer muito em favor de todos com o verbo
ponderado, ardente e simples. O marasmo não foi feito para nós e, por isso,
graças a Deus, vemos a energia com que se refaz para reassumir, com
plenitude de eficiência, os seus deveres, com nosso conceito de servidores
do bem.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Que Jesus, meu amigo, nos auxilie a todos e nos permita a satisfação de
observá-lo complemente restabelecido para o bom combate. É o que todos
nós, os seus amigos de cá, desejamos com o fervor de nossa velha e
inalterável amizade.
Meu abraço à nossa querida Julinha, esperando eu que prossiga forte e
bem disposta, como sempre, até a vitória final! Continuamos a esperar muito
da minha querida filha a benefício dos nossos trabalhos espirituais. Há
compromissos, Julinha, que nos acompanham por muitos e muitos anos pela
redenção que nos propomos atingir. Assim, pois, contamos sempre com a sua
fortaleza na abençoada tarefa que o Alto lhe confiou.
Registro, com sincera satisfação, a continuidade do mesmo ambiente de
amor, serenidade e fé que os meus netos estão sustentando na casa nova.
Muito simpáticas as vibrações deste lar que se converteu realmente num
santuário de luz. Do que se pode fazer na Terra, como posto de refazimento
para a luta necessária e inadiável, o templo doméstico é a maior das
realizações!
Que Deus nos ilumine e fortaleça cada vez mais. E reunindo a você, meu
caro Aurélio, com a nossa Julinha e todas as flores dos nossos corações num
grande abraço, sou o velho companheiro muito reconhecido às suas
afetuosas lembranças,

Pêgo Junior

*****

CAPÍTULO 31
A pátria é realmente o nosso lar dilatado

Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior


MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

31/01/1951

Meu prezado Aurélio, meus filhos, Deus nos abençoe.


Volto hoje a falar-lhes para que nos amemos em pensamento, nos dois
planos, na abençoada comunhão espiritual da prece, a fim de que a paz e
a ordem sejam preservadas.
Assistimos hoje a solenidades de renovação política das mais importantes
no país! Permitam os poderes superiores não venhamos a sofrer qualquer
influência menos construtiva em nosso edifício democrático, não
consolidado ainda. Rogo a vocês desculparem a divulgação, entretanto, o
interesse de todos é igualmente o nosso e não posso perder a oportunidade
de transmitir ao nosso caro Aurélio e à nossa querida lulinha os meus paternais
pensamentos.
De volta, compreendemos que a pátria é realmente o nosso lar dilatado
e sempre vivo no tempo. Não julguem que os nossos ideais, em matéria de
benefício comum e educação pública, possam fenecer além do túmulo. A
Terra é o nosso reduto multimilenário de santas experiências e quantos de seus
filhos que as desenvolvem no conhecimento ou na virtude a ela retornam
mais cedo ou mais tarde para a continuação do serviço que lhe devemos! É
assim que nos movemos além de vocês, orientados em superiores propósitos
de resgatar os nossos velhos débitos!
Hoje o Brasil entra em nova fase e, se bem renovados na configuração
exterior, os homens de agora são quase os mesmos que iniciaram a primeira
República. Pudéssemos instilar-lhes na vida íntima noções mais amplas de
responsabilidade e realização, e teríamos resolvido magnos problemas!
Entretanto, é indispensável aproveitarmos os talentos que possuímos, a fim de
algo edificar a bem de todos.
Não podemos menosprezar aqueles que o Senhor nos confiou ao
caminho e, por isso, com o máximo respeito aos títulos que ostentam e às
boas intenções que os animam, ergamos ao Mestre os nossos pensamentos
em oração para que lhes não falte assistência na missão que lhes cabe
desempenhar. Esperemos o futuro confiantes, apesar das nuvens que se
amontoam.
Graças a Deus, porém, a justiça é hoje um órgão avançado na vida
internacional e não será fácil solaparmos as prerrogativas como povo em
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

crescimento. Ajudemos àqueles que nos orientam na esfera material, com a


projeção dos novos recursos mentais da simpatia e de auxílio.
Aproveitando a minha visita desta noite, meu caro Aurélio, desejo pedir
a você não se preocupar em demasia com as minhas referências à posição
da Cruz, que nos é tão respeitável, nesta hora de lutas e reajustamentos.
Indubitavelmente, os clérigos, hoje ou amanhã, evocarão para si o comando
das nossas energias econômicas. Certamente, o conflito se estabelecerá,
mas lutaremos nós ambos de algum modo para desfazer o serviço escuso da
intriga e da coação.
Não me dirijo a você com espírito de imediatismo nesse caso, mas sim
apenas com o intuito de ajudar antes para não remediar depois. Devo
afirmar-lhe, contudo, que a intenção dos padres é a de se apoderarem do
patrimônio substancioso das ordens, a título de garantia da fé religiosa para
se valerem do produto dos nossos esforços de muitos anos e, nesse sentido,
se fortalecerem com bastante precisão perante os magistrados. Infelizmente,
não dispomos de forças civis capazes de conjurar o perigo definitivamente.
O medo e a ambição desmedida dominam a muitos e, em verdade, o
panorama político não é suficientemente encorajador. Mas o futuro promete
uma grande voz nos serviços de libertação. Aguardemo-lo. Achamo-nos
diante de um mundo que se modifica a passos gigantescos!
Recuperaremos, no círculo da luta, os bens morais que jazem ofuscados
em quase toda a parte. Um eclipse da consciência que passará mais tarde
quando o sol da verdade e do amor fulgurar sobre os corações. E essa nova
era não vem longe! Auxiliemos o Brasil a pensar e o nosso povo saberá agir
acertadamente! Peço, pois, a você não se preocupe e nem se aflija. Somos
soldados. As ordens dos gabinetes “de cima” far-se-ão ouvidas no momento
oportuno!
Alguns amigos se encontram aqui e saúdam a vocês todos, salientando
o nosso velho companheiro General Pedro Augusto Bittencourt, que se acha
de passagem, na minha companhia. n

Há continentes ilimitados de trabalho à nossa espera. É preciso agir muito


para algo fazer. As nossas atividades e movimentos devem produzir, pelo
menos, um pouco de bem para aumentar o acervo de bênçãos que Jesus
nos confia.
Abraço à nossa Julinha, carinhosamente, desejando-lhe felizes sucessos
na sua cooperação valiosa na obra de amparo aos cegos.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Minha filha, muitos são os amigos que lhe assistem o concurso


desinteressado. Lembre-se de que você, neste trabalho, está conquistando
um mérito digno de ser procurado com as nossas melhores forças do
coração. Não estranhe a minha letra e o meu modo menos tranquilo de
vazar as ideias no papel. Tenho estado em serviços que, de alguma sorte, me
alteraram as manifestações políticas. Sinto-me, porém, tão forte como nos
meus mais belos tempos de resistência moral diante das provas redentoras!
Louvado seja Deus!
Aos meus netos, hipoteco o meu carinho e o meu reconhecimento pela
tolerância e amizade que me dispensam.
Meu caro Aurélio, a sua mamãe prossegue vigilante ao seu lado. Não há
motivos para preocupações com as dificuldades orgânicas do momento.
Esperamos que o fenômeno gástrico desapareça sem qualquer marca
desagradável.
Reunindo você e Julinha no meu paternal e carinhoso abraço, sou o
velho companheiro de luta e ideal a postos para servi-los na posição de
amigo fiel,

Pêgo Junior
[1] Nota da Organizadora: Sobre a entidade espiritual, General Pedro Augusto
Bittencourt, não nos foram dadas maiores informações.

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CAPÍTULO 32
Apenas algumas palavras

General-médico Ismael da Rocha


MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

14/02/1951

Meu caro General Aurélio, Deus nos abençoe. Trago-lhe ao coração de


companheiro apenas algumas palavras que me exprimam a assiduidade e a
vigilância. A sua medicação prossegue muito bem indicada.
Os fenômenos dos últimos dias se originaram da pressão atmosférica,
agravada por fatores de altitude e calor, que esperamos sejam removidos
em tempo breve. Não obstante às vezes parecer-lhe o contrário, a sua saúde
vai melhorando.
Continuemos em nossa boa luta no desdobramento, da qual confiamos
sempre em suas qualidades de autodeterminação e fortaleza de todos os
dias. Conserve no coração a certeza inalterável da amizade e da assistência
do companheiro espiritual,

Ismael

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CAPÍTULO 33
Minha saudação de paz e cordialidade

General-médico Ismael da Rocha

20/02/1951
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Meu amigo General Aurélio, boa noite com a minha saudação de paz e
cordialidade.
O problema no estômago vai merecendo a nossa atenção. Os
medicamentos indicados atendem à situação que recebe, igualmente, os
recursos de atuação acessíveis ao nosso concurso amigo.
Quanto à dieta, convém-lhe, durante os dias em que persista a pequena
inflamação do órgão citado, o uso das sopas de legumes, dos caldos, das
massas ou carnes integralmente cozidas, evitando-se os molhos e os
excitantes, de modo a facilitarmos o serviço da digestão tanto quanto
possível.
Para colaborar nas indicações do Facultativo, indico um elemento
alopata que poderá usar ao mesmo tempo por alguns dias. É o preparado
Gasterase. Experimentemos.
Desejando-lhe muito contentamento e tranquilidade junto dos seus, sou
o amigo ao seu dispor,

Ismael

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CAPÍTULO 34
Marchemos para a vanguarda

General José Joaquim Firmino

07/03/1951
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Meu caro amigo Aurélio, Deus nos abençoe. Venho expressar-lhe a


minha visita com os meus votos de paz e restabelecimento, e aqui falo em
nome de uma grande assembleia de companheiros nossos, interessados em
sua fortaleza e alegria.
Não se julgue sem trabalho, sem ação, sem mobilidade. O seu esforço
na restauração física significa labor dos mais dignos e, por que não dizer, dos
mais complexos! E no desdobrar dessas atividades íntimas da mente, em lide
para restabelecer a harmonia do corpo, o seu coração amigo vem
recebendo carinhosa assistência, não apenas por parte dos mensageiros e
servidores da Cruz dos Militares, mas também pela devoção de inúmeros
amigos, que o rodeiam de perto.
Não se entristeça, meu amigo, e marchemos para a vanguarda! Não há
sombra que se eternize. Tudo é vida, força e vigor divino em nossa marcha
ascensional para o bem supremo! Somos vários enfermeiros ao seu lado e
confiamos plenamente na proteção de Jesus a benefício da solução de seu
caso orgânico.
Eleve seu pensamento ao Alto no serviço invariável da fé e nos
encontrará serenos e firmes, cooperando em favor da ordem e da concórdia
de todos. Creia que prosseguimos devotados junto de seu espírito leal e
combatente. E solicitando permissão para reuni-lo com os seus em meu
grande abraço, sou o irmão e velho companheiro de luta e de ideal,

Ismael

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CAPÍTULO 35
Não se curvem diante da sombra
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior

28/11/1951

Meus queridos filhos, Aurélio e Julinha, Deus nos fortaleça no caminho


redentor a que nos ajustamos. Como é natural, achamo-nos a postos,
seguindo-lhes os passos no momento em curso.
Não estranhemos a luta. A Terra é o velho abrigo dos contrastes, dos
desequilíbrios aparentes. Pela sombra, apreciamos a luz. Pela enfermidade,
estimamos a saúde. Ninguém lhe atravessa a superfície indene de tributos.
Sofrimento e dificuldade são valiosa herança para quantos se candidatam
ao aperfeiçoamento. Nesse espírito de compreensão, meus filhos,
avancemos!
No mundo, nossa passagem guarda enorme semelhança com a guerra.
O corpo de carne é também um campo de batalha dentro do qual
liquidamos a experiência física em conflitos incessantes do berço ao túmulo.
Não se curvem diante da sombra. A vida é claridade que o bom-ânimo no
trabalho de nossa própria melhoria nos ajuda a encontrar.
Você, Julinha, faz muito bem conservando a serenidade. Que seria de
nós sem a paciência? A enfermidade não é um inimigo. É um instrutor que,
enviado pelo céu a todos os destinos terrestres, nos revela grandes regiões de
nossa própria alma, através da meditação obrigatória e do forçado repouso.
Tenha calma, filha, e não desfaleça!
Com o entendimento da vontade de Deus, todos os nossos problemas se
reduzem. O incêndio cresce apenas quando encontra combustível! Se
sabemos, porém, aplicar a água curativa e salutar sobre as chamas,
apressadamente se extinguem, restituindo a paisagem à justa harmonia. Em
quaisquer aflições do corpo, nossa mente precisa de segurança.
Se desordenamos o nosso pensamento sobre a carne em dificuldade
para reestruturar-se, qualquer moléstia assume graves expressões. Mas se nos
afeiçoamos à temperança íntima, rendendo-nos aos desígnios divinos e
buscando o refazimento com esperança e tranquilidade a dor perde o
aspecto de fantasma e mais rapidamente vencemos. Tudo passa!
O reumatismo que você vem experimentando não se reveste de mau
caráter. É fenômeno natural na expulsão de resíduos orgânicos, acumulados
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

por muito tempo. Estamos trabalhando com diligência em seu favor e


contamos com o seu reajuste geral em muito breve tempo. Mais que das
águas regenerativas das fontes mineiras você precisava de repouso espiritual
para restaurar-se.
Considero, desse modo, a sua permanência aqui por alguns dias
providência altamente benéfica ao seu restabelecimento gradual. Peço,
assim, ao nosso Aurélio não se afligir em face de suas necessidades de
tratamento e espero que ele também possa recolher as melhores vantagens
da presente estação na Fazenda. n O seu caso orgânico não apresenta
qualquer nota inquietante, mas o descanso é fundamental em sua melhora.
Não fique triste com os obstáculos surgidos para as mãos. É irregularidade
passageira. Seu pensamento e seu coração permanecem ativos nas boas
obras e, pouco a pouco, os seus movimentos serão reabilitados. Guarde a
sua mente na prece e na confiança. Com isso, você nos auxiliará com
eficiência em seu próprio favor.
Quanto a você, meu caro Aurélio, creia que a sua recuperação geral
processa-se dentro da harmonia sempre. Tudo prossegue bem. Não perca o
seu otimismo, a sua energia e o seu bom-ânimo. Nossos companheiros
prosseguem contribuindo pela sua restauração com todos os recursos de que
dispõem. Não lhe faltam bons e devotados amigos de nosso plano, que
incansavelmente nos assistem. Supomos, assim, que você poderá repousar
na montanha por mais alguns dias. Se aparecer a necessidade de seu
regresso, esteja convicto de que não lhe faltará nosso aviso.
Meus filhos, diariamente estamos unidos através dos laços espirituais da
oração. Lembranças e permutas da alma nos conservam invariavelmente
unidos. Não se abatam perante o vendaval, que passa breve. Sustentem a
serenidade e o estímulo de todos os dias. Nós, e muitos conosco, estamos
com vocês na manutenção da resistência construtiva e do bem-estar interior
que a fé viva nos auxilia a conservar. E esperando que ambos, junto de meus
netos, estejam de coração e mente sempre voltados para a vida superior,
deixa-lhes imenso carinho, em um grande abraço, o pai, amigo e
companheiro de todos os momentos,

Pêgo Junior
[1] Nota da Organizadora: Marechal Pêgo refere-se à fazenda, em Pedro Leopoldo
| MG, sede da Inspetoria Regional da Divisão de Fomento da Produção Animal do
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Ministério da Agricultura, mais conhecida como Fazenda Modelo, na qual residimos por
mais de 15 anos e onde Chico Xavier trabalhou como auxiliar administrativo. É bom
lembrar que todos os anos, vovô Aurélio e vovó Júlia, residentes na capital do Rio de
Janeiro, passavam as férias conosco, cabendo a ela, nesses períodos, a datilografia das
mensagens psicografadas por Chico Xavier durante o culto no lar, realizado sempre nas
noites de quarta-feira.

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CAPÍTULO 36
Deus em nós e nós em Deus

General-médico Ismael da Rocha

26/12/1951

Meu caro amigo General Aurélio, Deus em nós e nós em Deus.


Venho reavivar-lhe a certeza dos nossos trabalhos assistenciais de
sempre. O provedor da Cruz, e nosso antigo companheiro de luta, não
permanece esquecido. Continuamos a postos. E pouco a pouco as suas
forças orgânicas vão sendo reconstituídas.
Trabalho de vulto esse em que nos dispomos à recomposição de
corpúsculos infinitesimais, em cuja rede harmoniosa recolhemos a bênção da
saúde na Terra, não se verifica sem o dilatado esforço e sem sacrifícios
compreensíveis. Agradecemos de coração a boa vontade com que nos
guardou os avisos e creia que excelentes resultados se alinharam em favor
de seu integral reajuste.
Com o auxílio do Alto, não obstante pareça morosa e complexa, a sua
restauração se processa com segurança. A palavra tem adquirido melhoras
gradativas, cada vez mais eficientes, e a visão vem apresentando
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

restabelecimento sensível, embora com o vagar de que carecemos para


não nos internarmos na pressa, muitas vezes imprópria e improdutiva.
Agora, meu amigo, permita que algo lhe falemos com respeito à sua
abnegada companheira. Não há motivo para as manifestas inquietações a
que se confia no silêncio de suas meditações. Nossa devotada D. Júlia vem
recobrando as energias físicas em brilhante carreira de refazimento. As
manifestações reumáticas que a surpreenderam não se revestem de
qualquer sintoma grave ou perigoso — simples eclosão de resíduos orgânicos
que, gradativamente, será contida em favor do seu equilíbrio completo.
Felizmente, o seu estágio aqui no campo tem a função de repouso
curativo. Nossa irmã reclamava semelhante período de tranquilidade para
atender aos imperativos da saúde, que lhe é preciosa tanto quanto é
preciosa a todos os que lhe recebemos edificante cooperação, em diversos
setores de nossa luta. Não há justificativa para qualquer aflição, esperando
que o seu espírito se mantenha despreocupado e firme quanto à esposa, que
nos merece igualmente especial atenção.
Desejamos aos dois, e a todos os seus familiares queridos, muita saúde,
paz, bom-ânimo e bem-estar no 1952 que se aproxima. E despedindo-me, por
agora, na certeza de que a sua confiança corresponderá sempre ao nosso
esforço, abraça-o o velho companheiro e irmão muito reconhecido de
sempre,

Ismael

*****

CAPÍTULO 37
Nunca nos interessou a vida estagnada da retaguarda

Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior


MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

02/01/1952

Meu caro Aurélio, minha querida Julinha, meus netos, que Deus nos
favoreça e abençoe.
Sinto o orgulhoso contentamento de abrir o serviço de intercâmbio
espiritual em nosso grupo no ano entrante, em nome de vários amigos
espirituais que me delegaram semelhante alegria, por espírito de gentileza. E
começo, por isso, o nosso labor, rogando a Jesus nos abençoe e nos
fortaleça, sustentando-nos a caminho de nosso aperfeiçoamento na bendita
luz do Evangelho de amor. Que vocês todos, no decurso de 1952, encontrem
neste círculo abençoado de oração a mesma felicidade dos anos anteriores,
são os meus votos sinceros e ardentes, na emissão dos quais empenho a alma
toda.
Vocês escolheram a “melhor parte” da existência terrestre, mantendo
por princípio habitual o trabalho da prece em casa e esta realização fala
muito alto ao espírito de nós todos. Peço, assim, a Jesus nos conceda no
tempo a graça de prosseguir trabalhando pela nossa elevação na obra
assistencial aos nossos amigos e irmãos encarnados e desencarnados, que
ainda sofrem. Sejam para eles, desditosos companheiros de nossa marcha,
os nossos primeiros pensamentos de fraternidade e socorro nesta primeira
noite de serviço evangélico, na paz e na elevação que buscamos.
Meu querido Aurélio, estamos a postos. Compreendemos a sua luta que,
por vezes, tende à natural impaciência de quem se guarda em longo roteiro
de tratamento. Sei como lhe incomodam as dificuldades orgânicas.
Entretanto, meu filho, é indispensável saber tolerá-las com destemor e
paciência, a fim de que possamos incorporar ao nosso patrimônio do futuro
todas as lides e experiências de agora. Tenhamos calma, bastante
serenidade.
Entendo-lhe os desajustes porque de todo o meu tempo de caserna, ou
de luta, o hospital ou o descanso compulsório eram para mim duas
impropriedades manifestas, mesmo porque, habituados ao fogo da frente,
nunca nos interessou a vida estagnada da retaguarda. Contudo, meu filho,
passaram os dias. A morte trouxe-me visão nova e hoje reconheço que o
tempo de concórdia e refazimento para o corpo físico é uma necessidade
em todos os climas e situações.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Pode parecer-lhe parada a vida, afigurando-se que as suas horas são


menos úteis à humanidade. Todavia, quero afirmar-lhe que não é assim. Na
quietude e na moderação, você é constrangido a pensar muito e
intensamente, trabalhando de maneira intensiva com as suas forças internas.
Às vezes, e esse é o seu caso, é preciso interromper as atividades múltiplas
do caminho para que alonguemos o olhar até nós mesmos, de modo a
restaurarmos variados mecanismos de nossa saúde física e de nosso equilíbrio
espiritual. Felizmente, você tem tido a calma imprescindível à situação, mas
peço-lhe cuidar de sua própria atitude mental, sem perdê-la.
Da serenidade e da harmonia depende a segurança nos processos de
auxílio em que você tem sido o nosso doente mais destacado. Tenhamos
serenidade e esperemos. A mente alegre e otimista é expressivo manancial
de cura.
Não olvide o seu belo sorriso de companheiro ideal, os amigos, os filhos e
os descendentes. Precisamos de criaturas que amparem o estímulo de viver
e, neste capítulo, sabemos que você prima invariavelmente pela boa
vontade, pelo impulso generoso e pela gentileza constante.
O Brasil está cheio de gente que vive se destruindo. Raros sabem cultivar
a felicidade, construindo para o bem comum. Você, diariamente, vem
recebendo nossa atuação espiritual a benefício do seu soerguimento geral.
Não desanime. Amigos diversos estão cooperando para que você regresse
mais forte e bem disposto, com a sala enorme do coração plenamente
aberta ao bem-estar de todos. O Rio, ainda e sempre, é a nossa casa de
trabalho mais ativo e eficiente, porque numa cidade de proporções tão
grandes quanto a capital da nossa República encontramos verdadeiros
purgatórios, em cujas labaredas frias podemos exaltar a caridade e a
fraternidade na silenciosa sementeira do bem com Jesus.
Com o auxílio divino, você vai seguindo muito melhor e contamos com o
dia de amanhã para que o vejamos plenamente fortalecido. Quanto à
minha querida lulinha, esteja ela convicta de que o paternal amigo de
sempre não a esquece. Os filhos são as cordas mais sensíveis do nosso
coração na Terra e enquanto um só deles se demora no Planeta acredito
que raros pais terão coragem de empreender a renúncia aos serviços da
Terra, porque, em verdade, mais vale padecer em companhia deles que
desfrutar o paraíso de que se achem ainda ausentes.
Considero a nossa Julinha muito melhor e mais forte. O estágio em Minas
fez-lhe grande bem, mormente no que se refere às impressões nervosas que,
dolorosamente, se refletiam sobre o campo reumático, de natureza comum.
Qualquer estado de desequilíbrio corpóreo pede silêncio e paz, a fim de
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

desaparecer e no Rio a luta de nossa Julinha era efetivamente de inquietar!


Para nossa felicidade, vai se reconquistando progressivamente, ensejando
maior cota de Influenciação benéfica de nossa parte. Está melhor, mais
refeita, e contamos para breve tempo com o seu pleno reajuste no
continuísmo edificante de suas tarefas habituais.
Com respeito a ela, meu caro Aurélio, peço a você não se preocupar ao
ponto de preocupá-la. Julinha naturalmente, experimentou grandes e
inevitáveis fadigas do corpo e é razoável este período de restabelecimento.
Com a divina cooperação, partida de nossos maiores, tudo se volta a
normalizar, dia a dia. Esperemos pela vontade de Deus, em qualquer tempo,
condição e lugar.
Aos meus netos, deixo igualmente a minha mensagem de alegria e de
paz. Rogo a Deus para que o nosso Rômulo, neto e filho dedicado que vocês
me trouxeram, esteja fortalecido contra os embates da sombra. n Quem
administra no Brasil de hoje de modo geral conhece as mais duras
experiências. Há, por toda parte, o fermento da discórdia, induzindo à
indisciplina e à rebelião, e guiar um barco nesse mar revolto e enfurecido não
é serviço fácil ou agradável.
Com a graça do Alto, porém, tem ele sabido usar a prudência e a
tolerância em alto grau e esses remédios são realmente muito importantes
quando a desordem generalizada entre responsáveis e irresponsáveis lavra
como incêndio devorador em todas as linhas do trabalho coletivo. Fazemos
todos nós ardentes votos para que ele se conserve no mesmo nível de
dignidade em que, espontaneamente, se colocou. Que o Mestre nos
abençoe.
Acredito que a minha carta não deva ser mais longa. Se obedecer ao
coração, observo que há um rio inestancável de impressões, opiniões e
comentários para deixar no papel através do lápis. Mas o tempo é uma
dádiva do Senhor e devemos venerá-lo quanto possível ao nosso
entendimento.
Feliz ano novo a você, à Julinha e aos nossos. E esperando que Jesus nos
estenda braços compassivos e salvadores, a fim de que sejamos fiéis aos
nossos compromissos espirituais com a Vida Maior até o fim de nossas provas
redentoras, abraça-os com infinito carinho o velho amigo que os
acompanha afetuosamente,

Pêgo Junior
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

[1] Nota da Organizadora: Em referindo-se ao meu pai, Rômulo Joviano.

*****

BIBLIOGRAFIA INDICADA

AMORIM, Wanda Joviano (Organizadora); XAVIER, Francisco Cândido. Deus


conosco. Ditado pelo Espírito de Emmanuel. Belo Horizonte: Vinha de Luz, 2007.

AMORIM, Wanda Joviano (Org.); XAVIER, Francisco Cândido. Sementeira de luz.


Ditado pelo Espírito de Neio Lúcio. 2. ed. Belo Horizonte: Vinha de Luz, 2006.

AZEVEDO, Cordolino. O Marechal Pêgo e a invasão do Paraná. Rio de Janeiro:


Irmandade da Santa Cruz dos Militares, | 194-|.

FERREIRA, Guilherme Nunes. Irmandade da Santa Cruz dos Militares. Rio de Janeiro:
Revista da Cultura — Fundação Cultural Exército Brasileiro, n. 9, p. 38-40, | 20--|.

XAVIER, Francisco Cândido. Paulo e Estêvão. Ditado pelo Espírito de Emmanuel. Rio
de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1941.

*****

ANEXO A

Dados biográficos

MARECHAL ANTONIO JOSÉ MARIA PÊGO JUNIOR — Nasceu em 2 de julho de 1841,


em Santos | SP Desencarnou em 7 de julho de 1907, no Rio de Janeiro | RJ. Era casado
com Júlia Amália da Silva Pêgo. O casal teve três filhas: Júlia, Esther e Maria. O Marechal
participou da Guerra do Paraguai e do Cerco da Lapa, no Paraná. Por sua atuação neste
último conflito militar, foi injustamente condenado e, depois, absolvido. O livro intitulado O
Marechal Pêgo e a Invasão do Paraná, de autoria do Cel. Cordolino de Azevedo, relata,
com minúcias, este fato histórico.

GENERAL AURÉLIO DE AMORIM — Nasceu em 14 de agosto de 1869, em Manaus |


AM. Desencarnou em 11 de novembro de 1952, no Rio de Janeiro | RJ. Era casado com
Júlia Pêgo de Amorim. O casal teve seis filhos: Maria, Aurélia, Armando, Aramis, Mário e
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

Iacy. Aurélio, além de militar, formou-se em Direito e foi Deputado Federal por seu estado
natal. Foi, ainda, como se pôde deduzir pelas mensagens aqui colecionadas, provedor
da Irmandade da Santa Cruz dos Militares por vários anos.

ANNA JUSTINA FERREIRA NERY — Nascida a 13 de dezembro de 1814, a baiana de


Cachoeira de Paraguaçu era viúva do Capitão de Fragata Isidoro Antonio Nery, vindo a
desencarnar em 20 de maio de 1880, no Rio de Janeiro | RJ. Foi a primeira enfermeira do
Brasil.

Cinco homens de sua família foram convocados para a Guerra do Paraguai, de 1865
a 1870. Nesta ocasião, ela escreveu ao Presidente da Província da Bahia, de onde nunca
saíra, querendo ir para o cenário da guerra como enfermeira: “Satisfarei, ao mesmo
tempo, os impulsos de mãe e os deveres de humanidade para com aqueles que ora
sacrificam suas vidas para honra e brilho nacionais, e pela integridade do Império.”

Seus dois irmãos da família Ferreira e seus três filhos dois médicos e um cadete —
foram convocados para a guerra. As enfermeiras eram improvisadas. O número de
enfermos excessivo. A pobreza material era extrema e a falta de higiene imperava onde
reinavam o confinamento, a umidade e a promiscuidade. Os doentes comiam o que era
possível e recebiam como “cordial” uma porção diária de aguardente ou cerveja. Nestas
condições, poucos escapavam dos ferimentos graves. Morriam de cólera, tifo, disenteria,
malária e varíola.

Anna Nery esteve em Corrientes, onde havia por aquela época seis mil soldados
internados e poucas irmãs de caridade. Esteve ainda em Salto, Humaitá, Curupati e
Assunção. Com seus recursos financeiros, fez construir na casa em que morara durante a
guerra um enfermaria limpa e modelar, e aí trabalhou até o fim do conflito. Dizia-se que
ela era a “mãe dos brasileiros”.

Após o término da guerra, quando regressou à Bahia, foi muito homenageada pelas
mulheres baianas, além de ter sido condecorada e receber do imperador uma pensão
vitalícia. Com os recursos que passou a receber como pensão, criou e educou quatro
órfãos que trouxera do Paraguai.

A primeira escola oficial de Enfermagem de alto padrão fundada no Brasil em 1923


pelo médico Dr. Carlos Chagas tem, desde 1926, o nome de Anna Nery. A Semana da
Enfermeira, instituída oficialmente, e que se realiza todos os anos, termina em 20 de maio,
data do falecimento de Anna Nery. Seu retrato consta do acervo de personalidades
ilustres na Câmara Municipal de Salvador | BA.

Nota da Organizadora | Editora: Biografia referenciada em HOUAISS, Antonio. Anna


Justina Ferreira Nery. In: Mirador Internacional | ENCYCLOPAEDIA Britannica do Brasil, v. 15.
São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1979, p. 8.055-8.056. Imagem disponível em:
http://www.algosobre.com.br/biografias/ana-neri.html . Acesso em 01 Fev. 2008.
MILITARES NO ALÉM – Esp. Diversos

*****

ANEXO B

Irmandade da Santa Cruz dos Militares

Guilherme Nunes Ferreira


A maioria dos cariocas que cruza a Rua 1° de Março não imagina que a Igreja da
Santa Cruz dos Militares guarda um precioso patrimônio cultural. Ali se encontra um valioso
acervo que rememora a sua história, desconhecida para muitos.

Em 1605, naquele local, foi construído por Martim de Sá o Forte de Santa Cruz para
proteger a entrada da Baía de Guanabara contra os invasores estrangeiros que
ameaçavam constantemente o Rio de Janeiro. A área bem próxima ao Forte era
banhada pelo mar. Depois de aterrada, corresponde hoje ao entorno da Praça XV. Com
o passar do tempo e com a construção das fortalezas de São João e de Santa Cruz, o
Forte perdeu a sua importância no sistema de defesa da Baía de Guanabara, sendo
abandonado e destruído pelo mar, cujas ondas arremetiam-se contra as suas muralhas,
destruindo-as paulatinamente.

Em 14 de dezembro de 1623, Martim de Sá doou o terreno para que os militares


construíssem uma ermida e fundassem a Irmandade que, inicialmente, recebeu o nome
de Vera Cruz. A partir da sua criação, a Fraternidade passou a ser sustentada com recursos
provenientes das doações dos membros da guarnição colonial portuguesa. Os militares
faziam suas contribuições mensalmente. Oficiais superiores doavam cem réis, os
subalternos, cinquenta, e os soldados, vinte. Martim de Sá foi eleito seu primeiro provedor.

O objetivo da irmandade era assistir e resguardar o efetivo da guarnição. Isto porque,


antes da chegada da família real, em 1808, o Brasil, principalmente o Rio de Janeiro, era
relegado a segundo plano. Havia apenas interesse da metrópole na exploração das
riquezas naturais, como ouro, prata, pedras preciosas e outros. Nesse cenário, aflorava a
necessidade dos militares de um local onde pudessem prestar cultos religiosos, dar
sepultura aos mortos, bem como oferecer caridade cristã. Na mesma época, para as
viúvas e os órfãos desses militares, foi criado um sistema de assistência social, que perdura
até os dias de hoje e é considerado o mais antigo do Brasil.

Em 1716, por meio de uma carta de sesmarias escrita por D. João V tio de D. João VI,
foi doado todo o terreno localizado atrás da Igreja, no espaço exato da sua largura, indo
até o mar, não importando quantos aterros fossem necessários para que se construísse o
casario que deu início ao patrimônio da Irmandade.

Antes da abolição da escravatura, muitos escravos comprados tornavam-se


servidores da Igreja e depois ganhavam a liberdade. O Conde D’Eu, que foi provedor da
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Irmandade por influência da política que era adotada, aderiu, juntamente com a esposa,
à causa abolicionista. Em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea,
abolindo a escravidão no Brasil.

CONSTRUÇÃO

Em 1770, uma vez que a ermida estava em precárias condições de conservação, à


construção da Igreja atual se iniciou. A obra durou quarenta e um anos, sendo inaugurada
em 1811, com a presença do Príncipe Regente. A sua construção foi baseada na Igreja
de Géssus, em Roma, dos jesuítas, considerados os soldados de Cristo. Pretendiam os
militares, com a execução do projeto, demonstrar semelhança com aqueles.

O Brigadeiro Custódio de Sá e Faria foi o autor do projeto de construção da Capela,


cujo interior é de estilo rococó, considerado uma suavização do barroco. Mestre Valentin,
um dos grandes escultores da época, realizou para a Igreja da Santa Cruz dos Militares
várias obras de arte, como imagens, utensílios de madeira, entalhes e mobiliário. Essas são
obras de grande valor que, somadas, constituem um dos maiores tesouros da cidade do
Rio de Janeiro.

A fachada da edificação foi a primeira construída em estilo neoclássico no Brasil,


destacando-se as suas linhas harmoniosas e em perfeito equilíbrio. Para que não fosse
quebrado esse equilíbrio, a torre sineira foi colocada à moda de Braga, ou seja, na parte
posterior do prédio, sendo a única igreja com essa característica na capital fluminense. n
Outra razão da posição da torre é o fato de que sua fundação teria de aproveitar um
rocha ali existente, pela dificuldade que o terreno arenoso oferecia. Com o passar do
tempo, a torre passou a servir de ponto de referência para os navios pescadores, que, ao
entrarem na Baía de Guanabara, sabiam que ali era o local exato do mercado de peixes,
o qual perdurou até meados de 1987. Apesar de não ser considerada oficialmente a
capela da família real, a Santa Cruz dos Militares sempre foi prestigiada com a presença
de seus membros, tanto assim que D. João VI foi condecorado com o título de protetor da
Irmandade, assim como também, mais tarde, D. Pedro I e D. Pedro II.

MUSEU

Atualmente, a Igreja da Santa Cruz dos Militares possui um museu para guardar e
preservar as relíquias acumuladas ao longo de sua história. É um variado acervo,
destacando-se os tocheiros do Mestre Valentin, oratório e cálice de ouro do século XVIII,
além da cadeira que Duque de Caxias usava em seu gabinete quando exerceu o cargo
de provedor, em 1873. Outra relíquia é o órgão pneumático, construído pelos irmãos
Bernes e inaugurado em 1934. O instrumento constitui-se de 1.200 tubos, cujos diafragmas
foram confeccionados com pele de camelo. Existem somente dois outros órgãos similares
a esse fabricados no Brasil.

A Irmandade da Santa Cruz dos Militares completou, recentemente, 382 anos. Ela é
a única igreja do Brasil agregada diretamente à Basílica Vaticana, ato este sacramentado
em Bula Papal de Pio XI, em 1923. O prédio da Igreja foi tombado pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1936. O seu atual provedor é o
Coronel de Artilharia Carlos Alberto Barcellos.
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O Marechal Luiz Alves de Lima e Silva, provedor da Irmandade em 1871, assim definiu
sua finalidade: “Os laços da espada nos unem, as lides de guerra nos ligam e os braços
da cruz nos abrigam. Irmãos pela cruz e irmãos pela espada, a nossa missão é sagrada —
santificar o culto do Divino Lenho e aliviar da miséria as viúvas e filhos dos que seguem a
nobre profissão das armas. Eis a justa finalidade da sábia e religiosa instituição
denominada Irmandade da Santa Cruz dos Militares.”

[1] Nota do Autor: A expressão faz referência à cidade portuguesa de Braga, onde
todas as igrejas foram construídas dessa forma.

Nota da Editora: O autor do artigo é natural do Rio de Janeiro. Jornalista, atualmente


exerce a função de Relações Públicas da Irmandade da Santa Cruz dos Militares. Imagem
disponível em: http://images.google.com.br [Obs. Assim que abrir a pág. de pesquisa de
imagens inserir Irmandade da Santa Cruz dos Militares.] Acesso em 28 jan. 2008.

*****

ANEXO C

Originais de Chico Xavier

REGISTRO DE PRESENÇAS ESPIRITUAIS

NO CULTO DO “GRUPO DOMÉSTICO ARTHUR JOVIANO”

Foi anotada, por Chico Xavier, n a presença de vários Espíritos de pessoas que tinham
sido militares e que compareceram às reuniões do Grupo Doméstico Arthur Joviano, nas
datas indicadas, mesmo não se comunicando por escrito.

26/05/1948 Oficial Antonio Adolfo da Fontoura Menna Barreto

26/05 Marechal João de Deus Menna Barreto

15/02/1949 Marechal Francisco Antonio de Moura


16/02 General Lydio Porto
23/02 General Gabino Besouro
02/03 General José Joaquim Firmino
09/03 General Emídio Dantas Barreto
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16/03 General Joaquim Inácio Batista Cardoso


23/03 General Alfredo Barbosa
30/03 General João César Sampaio
06/04 General João Batista Neiva Figueiredo
13/04 Marechal João Propício Menna Barreto
25/01/1950 Oficial Samuel Augusto de Oliveira
01/02 Oficial Tancredo de Vasconcelos
01/02 Oficial Américo de Andrada Almada
08/03 General João César Sampaio
15/03 General José da Silva Pessoa
22/03 General Antonio Geraldo de Souza Aguiar
22/03 Oficial Custódio Cabral de Mello
22/03 General-médico José Leôncio de Medeiros
27/12 Coronel Sylvio Porto
27/12 General-médico Ismael da Rocha
03/01/1951 General Carlos Eugênio Andrade Guimarães
03/01 General-médico Ismael da Rocha
21/11 General Tito Pedro Escobar
09/01/1952 General Gabino Besouro

[1] [Obs. O título refere-se aos fac-símiles das laudas originais de F. C. Xavier anexadas
ao livro impresso.]

Nota da Organizadora: Em 25 de janeiro de 1950, data em que Chico registra em


mensagem a presença espiritual do Oficial Samuel Augusto de Oliveira, há a seguinte
anotação: “Em sua companhia veio a Sra. Margarida Carneiro, que conhecia muito o
Marechal Pêgo.”

***** FIM*****

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