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Osvaldo Goinho Fumo

Cremilde Samuel Muchanga


Jecildo Cândido Alfainho
Mânia Egídio Eusébio
Rosa Chissico

Feitiçaria em Moçambique: prováveis


razões da feminização da feitiçaria na fase
da velhice.

Licenciatura em Ensino de Inglês

Universidade Pedagógica
Maputo
2023
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Osvaldo Godinho Fumo


Cremilde Samuel Muchanga
Jecildo Cândido Alfainho
Mânia Egídio Eusébio
Rosa Chissico

Feitiçaria em Moçambique: prováveis


razões da feminização da feitiçaria na fase
da velhice.

Trabalho a ser apresentado no


departamento de Faculdade de Arte,
Ciência, Linguagem e Comunicação,
curso de Ensino de Inglês na cadeira de
Antropolpgia Cultural de Mocambique,
sob orientação do Docente Dr. Alcidio
Muhatuque, para fins avaliativos.

Universidade Pedagógica

Maputo
2023
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Conteúdo
Introdução....................................................................................................................................3

Objectivos....................................................................................................................................4

Metodologias................................................................................................................................4

Feitiçaria.......................................................................................................................................5

O feitiço e as idosas.....................................................................................................................5

Segundo Fernando Mathe............................................................................................................6

A seguir, alguns relatos da situação de algumas idosas, relatos que problematizam a


preocupação que provoca as presentes reflexões:........................................................................7

Silêncio e impunidade..................................................................................................................9

Qual seria a solução?....................................................................................................................9

Referências Bibliográficas.........................................................................................................10
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Introdução

A feitiçaria, que é a prática ou celebração de rituais, orações, ou cultos, com ou sem uso de
amuletos, talismãs (objecto ao qual são atribuídos poderes mágicos) por parte dos adeptos do
ocultismo, com vistas à obtenção de resultados/favores ou objectivos que, regra geral, não são da
vontade de terceiros. Esta práctica é tristemente atribuída às mulheres idosas em Moçambique
em sua grande parte e uma vez criada tal acusação a uma pessoa idosa pela própria família, não
resta outra alternativa a essa idosa senão fugir de casa para sobreviver às consequentes torturas
que, via de regra, lhe serão impingidas, levando-a inexoravelmente a seu fim.

Neste contexto, o trabalho encontra-se estruturado da seguinte: elementos pré-textuais que


incluem a introdução, os objectivos e a metodologia, os elementos textuais que constituem o
desenvolvimento do trabalho e pós-textuais a conclusão e as referências bibliográficas
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Objectivos
Objectivo Geral

 Analisar a feitiçaria em Moçambique na fase da velhice.

Objectivos Específicos

 Descrever a práctica da feitiçaria em Moçambique;


 Identificar as prováveis razões da feminização da feitiçaria na fase da velhice;
 Falar da acusação de feitiçaria que os idosos sofrem em especial as mulheres mulheres.

Metodologias

Para a elaboração do presente trabalho, o grupo recorreu ao método de revisão bibliográfica que
consistiu na análise de várias obras disponíveis na biblioteca, via virtual e recolha de depoimento
junto àlgumas vítmas deste fenómeno. De referir que as refrerências encontram-se na ultima
página do trabalho.
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Feitiçaria

O conceito feitiço está presente no quotidiano e na vida social e nas relações sociais de muitos
moçambicanos que tentam encontrar a causa dos seus problemas no feitiço e, sob esta óptica, as
idosas são o bode expiatório dos males.

A feitiçaria foi considerada de modos diferentes: como um conjunto de crenças, muitas vezes
incluindo modelos de comportamento inversos, como modelos de acusação e como um
julgamento da pesada tensão social. Apesar de muitos assumirem que, com o início da
modernidade, vista como produto da intervenção colonial, a feitiçaria iria desaparecer, em muitas
partes do mundo é visível uma forte presença de bruxas e práticas de feitiçaria, com o número de
acusações a aumentar (Geschiere, 2003; Caplan, 2004; Stewart e Strathern, 2004).

A acusação de feitiçaria está, no entanto, continuamente presente no quotidiano, em alguns casos


pouco espectaculares e em casos de grande efervescência pública, que echegam a envolver,
infortúnios inesperados e, sucessões anormais de mortes e doenças, que requerem uma
explicação que lhes dê sentido e permita controlá-los, superá-los e reinstaurar a normalidade. A
feitiçaria não é mais do que uma das várias explicações possíveis nessas ocasiões. No entanto, na
ausência de faltas sociais conspícuas por parte das vítimas ou de alguém próximo delas (que
justificassem a suspeita de uma suspensão de protecção dos antepassados) e na presença de
conflitos e tensões sociais, ou de comportamentos considerados estranhos ou invejosos (o que é
sempre muito provável), o feitiço é uma hipótese que pode facilmente recolher consenso,
alargáveis à identificação do seu provável autor.

O feitiço e as idosas

Acusa-se a pessoa idosa de feitiçaria, como quem está a matar a família para prolongar os seus
dias de vida. Em certos casos, o objectivo é ficar com os bens do idoso, em nome da tradição e
cultura.

Algumas idosas em Moçambique são acusadas de feitiçaria e linchadas pelos seus familiares.
Outras são abandonadas, expulsas de suas casas, maltratadas pelos parentes quando estes
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pretendem lhes tirar algum bem. Ainda há aquelas violadas sexualmente o que é licenciado por
certos tabus.

Segundo Fernando Mathe

O feitiço e as idosas segundo Fernando Mathe, porta-voz da Associação dos Médicos


Tradicionais de Moçambique (AMETRAMO, 2010), as idosas são o principal alvo de acusações
de feitiço. Segundo ele, “há quem diga que os curandeiros influenciam as pessoas a acusar de
feitiço e matar os seus familiares...”

Mathe reconhece que alguns curandeiros fazem um diagnóstico muito triste e equivocado,
afirmando que o sofrimento ou a falta de sorte é obra de uma pessoa mais velha da família.

Respondendo a uma pergunta sobre se este seria um fenômeno novo, ele responde:

Isto acontece porque a sociedade começa a interpretar os fenómenos de outra forma. Um


curandeiro é confundido com feiticeiro. Algumas pessoas acham que somos demónios pelo facto
de estarmos a praticar religiões diferentes. As pessoas falam mal de nós, mas nos procuram às
escondidas para resolvermos vários problemas das suas vidas.

Justifica o trabalho desenvolvido pela AMETRAMO da seguinte forma:

Queremos apanhar os curandeiros que incitam a violência para os penalizar, até ao afastamento
da prática de medicina tradicional.

O curandeiro deve assumir a responsabilidade no banco dos réus quando desestabiliza famílias e
incita à violência.

Diante da pergunta: Quem sofre mais acusação de feitiçaria, homens ou mulheres?

Mathe (2010) responde: As mulheres são o principal alvo. É uma crença africana que basta ser
velha para ser feiticeira. As pessoas tentam culpar as mortes por SIDA à pessoa idosa.
Desprezam os conselhos dos mais velhos e depois acusam esse mesmo avô de feitiçaria porque
está a viver muito tempo em troca da morte de familiars.
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A seguir, alguns relatos da situação de algumas idosas, relatos que


problematizam a preocupação que provoca as presentes reflexões:

1. “Sou viúva. Os meus filhos e netos rejeitam-me. O mandou – me embora de casa, diz que
já não me quer, porque Segundo ele sou uma feitiçeira. Mas o terreno é meu. Ele
destruiu a minha casa de caniço e construiu outra de pedra. Um dia levou catana e
espancou-me para me pressionar a sair de casa, mas, para onde irei? Vendia bebida
caseira e ele despejou alegando que é sujidade e que ele não quer ver a casa suja. Tento
vender pão, mas ele continua com o mesmo comportamento. Deita o pão. Sobrevivo
graças ao Centro onde passo as minhas refeições durante o dia. Volto para casa para
dormir, mas sempre com o coração na mão.” Diz avó Mundoni, com rosto cheio de
tristeza.

2. “Sou pobre e viúva. Vivo sozinha e nunca tive filhos. Quando o meu marido morreu, a
outra esposa tirou-me a casa e tive que me refugiar na machamba onde cultivava, onde
consegui construir uma palhota. Quando chove, filtra água. A cobertura caiu e pedi
ajuda de alguns vizinhos, as paredes de caniço já estão cansadas. O meu vizinho
emprestoume algumas chapas de zinco para cobrir a casa. Caíram as paredes da casa
de banho, por isso só faço necessidades e tomo banho à noite. As vezes durmo na
escuridão porque não tenho dinheiro para comprar vela. Tenho um negocio de bebida
caseira ( XINSVEMU) ”Diz a avó Melita.

3. Marta Evaristo Muchui, carinhosamente chamada por vovó Marta, vive no bairro de
Pessene. Foi acusada de feitiçaria e conta – nos a sua história.

“ vivia em Massaca com o meu marido e meus 3 filhos. O meu marido trabalhava na
minas da África do sul e voltava nos finais de ano. Eramos felizes até a morte do nosso
segundo filho que morreu vítima de doença. Foi aí que começou a nossa desgraça
porque de seguida o meu marido perde emprego porque ficou doente e um tempo depois
perde a vida. Nessa altura os meus dois filhos foram aminha unica esperança mas a
família do meu marido comecou a me atacar e alguns já nem falavam comigo e nem
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visitavam. A família do meu marido arancou – me os meus filhos mas depois de algum
tempo voltaram para casa, eu os recebi toda feliz mas a nossa relação nunca foi a
mesma porque eles voltaram com acusações de que eu era feitiçeira, porque a vida deles
não andava e que eu deveria sair da minha casa. Um dos meus filhos bebia muito e tinha
muitas dívidas e por isso acabou sendo assassinado, aíqause toda a vizinhança não me
queria mais ver naquele lugar, tanto que um dia incendiaram a minha casa com ajuda
da minha própria filha. Eu acabei fugindo e porque não tinha mais ninguem, voltei a
casa dos meus pais onde cresci e já se passam mais de 20 anos que não tenho notícias da
minha filha e não tenho apoio de ninguem pois era filha única e hoje vivo aqui com esta
menina que adotei para viver com ela porque os seus pais perderam a vida. Graças a
Deus tenho bons vizinhos que as vezes me ajudam com alguns alimentos para nós
podermos nos manter.”

4. Julieta Mathe, residente do Lar dos Desamparados, relata sua história: “Vivia na
província de Maputo e sou mãe de cinco filhos. Trabalhava na minha machamba e
vendia esteiras para o meu sustento. Estou no Lar há quatro anos porque o meu filho
mandou-me embora de casa quando perdi o meu marido. O meu filho acusa-me de
enfeitiçar a minha nora para não ter filhos, porque não sabe que quando está na África
do Sul, onde trabalha, a minha nora toma anticonceptivos para evitar a gravidez. Mas
por não ter filhos em casa, atira toda a culpa em mim. Os outros meus filhos pensam o
mesmo, excepto a minha única filha que de quando em vez visita-me no Lar. Tento
aproximar-me dos meus filhos, mas não aceitam e dizem que não me querem ver na casa
que o pai deles construiu.”

Esses são alguns relatos de algumas idosas acusadas de feitiçaria pelos próprios familares e
algumas vezes mesmo pela comunidade a sua volta. Nota – se que há mais casos de feitiçaria por
parte feminina talvez pela sua gragilidade e facíl manipulação.

Todos nós somos chamados a proteeger os nossos idosos, pois da mesma forma que eles já foram
jovens e agora idosos, algum dia todos nós seremos e esperamos ter bons cuidados.
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Silêncio e impunidade

As velhas têm maior dificuldade em reagir contra os abusadores, seja por debilidade física, ou
para não criar problemas. Não apresentam queixa na polícia por falta de bilhete de identidade ou
por medo da chantagem dos familiares. “Não lhe darão água ou cadeira de rodas, e a pessoa
idosa prefere engolir o abuso para não comprometer a reputação da família”.

Qual seria a solução?

A Constituição sanciona a pessoa que abandona um familiar em estado de indigência,sancionar


legalmente os familiares que abandonam ou expulsam idosos, tal como são punidos os pais que
abandonam uma criança. Os seus problemas são invisíveis, ninguém quer aturar eles, e os velhos
ficam entregues ao sofrimento. Enquanto isso, a ausência de uma lei para punir acusações de
feitiçaria assegura a impunidade dos acusadores. É por isso, que as pessoas não têm medo de
acusar de feitiçaria porque a lei não defende o acusado. Precisamos de uma lei que assegure que
a acusação injusta seja punida.
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Conclusão

Feito o trabalho, o grupo pode concluir que a feitiçaria é na verdade uma pratica ou celebração
de rituais, orações ou cultos com ou bem uso de amuletos talismãs por parte dos adeptos do
ocultismo, com vista a obtenção de resultados ou favores ou objetivos, regra geral, não são da
vontade de terceiros. Um facto muito preocupante é que esta prática é geralmente atribuída as
mulheres idosas na sua maioria pela sua família e comunidade. Anualmente são várias mulheres
que são torturadas, e as que escapam a morte se vêm a ter que fugir das suas casas e procurar um
outro abrigo em centros de acolhimento ou mesmo viver sozinhas. A constituição da república
sanciona a pessoa que abandona seu familiar em estado de indigência, mas, estes idosos que
sofrem estes tipos de acusações não chegam a recorrer as entidades competentes de modo a pedir
ajuda porque são ameaçados pelos infratores.

Envelhecer em Moçambique virou um terror para algumas pessoas, porque ao invés da pessoa
receber cuidados e amor por parte daquelas pessoas que um dia lhes cuidou e deu amor ela é
simplesmente mal tratada. Há necessidade de cuidarmos das nossas bibliotecas vivas e lembrar
que que um dia somos crianças ou jovens, mas a velhice também nos espera.
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Referências Bibliográficas

Revista Kairós Gerontologia 14(4), ISSN 2176-901X, São Paulo (SP), Brasil, setembro 2011:
181-196.

Apud: jornal Savana, de 17/12/2010: 30-1. 4 Entrevista concedida por Terezinha da Silva
(Coordenadora Nacional da WLSA Moçambique, Mulher e Lei na Africa Austral) ao Jornal
Savana, em 17/12/2010: 30-31.

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