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GABRIELA SABINA GARAMSZEGI

O RESGATE DO DIVINO FEMININO

Monografia apresentada à Universidade


Paulista- UNIP como requisito para
obtenção do título de Especialista em
Mitologia Criativa, Contos de Fadas e
Psicologia Analítica.

Orientadora: Prof. Ma. Oneide Regina


Depret e coorientadora prof. Esp. Teresa
Kam Teng.

SÃO PAULO

2016
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todas as deusas que habitam em nós. Que elas
possam ser reencontradas e reintegradas em cada indivíduo e nas relações sociais.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiro aos deuses, por me colocarem na hora certa, no lugar


certo, permitindo encontrar as respostas às minhas questões.

Agradeço à minha mãe por todo o suporte e apoio, especialmente nas horas
mais tensas e ao meu pai, pela valiosa lição sobre o valor dos estudos.

Agradeço a Mônica Azevedo pela ajuda na pesquisa.

Agradeço, especialmente, a Amiga Yoko Miyazono Alves Pinto, por todas as


inúmeras horas e toda a dedicação na produção das fotos e das pesquisas. Sem a
sua ajuda, nada disso teria sido possível.

Agradeço, também, a todas as mulheres que se permitiram aceitar o convite


de posar como deusas e cederam seus dias de descanso para tal fim, por todas as
risadas, por toda a diversão, pela inigualável troca de experiências, por toda
disposição.

Meu muito obrigada a todas: Adeline, Ana Clara, Carmelina, Conceição,


Cristina, Daniela, Érika, Fabíola, Flavia M., Flavia O. , Gabriela S., Maria Ignes,
Izildinha, Julia, Juliana, Lea, Letícia, Marcia, Marília, Melissa, Mônica, Normandia,
Pamela, Patrícia, Paula, Rosmary, Rossana, Rozmary, Selma, Tarsila, Tatiana,
Tatiane e Vera.
EPÍGRAFE

“Difíceis são os deuses de serem vistos pelos mortais.”


(Hinos Homéricos a Deméter)
RESUMO

A perda do contato com a essência do feminino, nos últimos séculos, em


decorrência do Sistema Patriarcal, tem acarretado diversas consequências, tanto
para os indivíduos, quanto para as sociedades. É facilmente perceptível a
desorientação de homens e mulheres em relação aos seus papeis sociais e nas
relações com pessoas do sexo oposto. Diante disso, é evidente a necessidade de
reencontrarmos essa essência do feminino, ainda existente em cada um, mas
soterrada num sistema de crenças antiquíssimas, onde o que pertence ao feminino
deve ficar na sombra. A pesquisa, realizada durante o curso de especialização em
Mitologia Criativa, Contos de Fadas e Psicologia Analítica Junguiana na UNIP, em
conjunto com Monica de Azevedo, sob a orientação da professora Oneide Regina
Depret e coorientação da professora Teresa Kam Teng, baseou-se em autores
Junguianos, que pesquisam arquétipos, símbolos e especialmente o feminino. Foi
realizado, também, um ensaio fotográfico com 35 mulheres de idades diferentes,
que deram vida a diversas deidades femininas de todas as sociedades e tempos.
Esperamos que este trabalho possa auxiliar a mulher a se reencontrar em sua
essência e os homens em seu relacionamento com sua anima.

PALAVRAS CHAVE: Mitologia Criativa. Feminino Sagrado. Deusas. Oráculo.


ABSTRACT

The loss of contact with the essence of feminine, in the last centuries, due to
the Patriarchal System, has brought about many consequences, both to individuals
and to society. It is easy to notice that the lack of direction to both men and women,
regarding to their social role and in relation to people of the opposite sex. That is
why it is necessary to recover this feminine essence, still alive in each of us, but
buried under a very ancient system of beliefs, in which, what belongs to feminine
must be kept in the shadow. The present research, made during the post-graduation
program in Creative Mythology, Fairy Tales and Analytical Psychology at UNIP
together with Monica de Azevedo and under the orientation of Professor Oneide
Regina Depret and co-orientation of Teresa Kam Teng, was based on Jungian
authors, who study archetypes, symbols and specially the feminine. It was also
created a photographic essay with 35 different women, who dressed up a variety of
Goddesses, of all ages and societies. We hope this essay can help women to
reconnect their essence and men to in their relationship with their anima.

KEY WORDS: Creative Mythology, Feminine Divine, Goddess, Oracle


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................8
1. POR ONDE ANDAM OS DEUSES?....................................................................................................9
1.1 Fases do desenvolvimento da consciência e humanidade....................................................11
1.1.1 Matriarcado ou “fase mágica”......................................................................................12
1.1.2 Fase mitológica.............................................................................................................12
1.1.3 O Patriarcado ou era mental.........................................................................................13
2. A DEUSA: A perda do feminino sagrado.......................................................................................15
2.1. A Deusa na era de pedra......................................................................................................15
2.1.2 A era de ouro da deusa.................................................................................................17
2.1.3 O declínio da deusa.......................................................................................................18
2.1.4 O retorno da deusa.......................................................................................................19
3. ORÁCULOS...............................................................................................................................21
3.1 Os Oráculos e as civilizações primitivas................................................................................21
3.2 Os Oráculos e a Psicologia....................................................................................................22
4. O ORÁCULO DO FEMININO SAGRADO......................................................................................24
4.1 A seleção das deusas............................................................................................................24
4.2 As Imagens...........................................................................................................................24
4.3 O Livro Oráculo.....................................................................................................................25
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................................................26
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................................27
APÊNDICE A – Relação entre os arcanos do tarô de Marselha e as deusas..........................................28
APÊNDICE B – Deusas e citações (como aparecerá no livro oráculo)...................................................38
APÊNDICE C- Exemplos do livro oráculo...............................................................................................43
APÊNDICE E – EXPERIÊNCIA NO BACKSTAGE........................................................................................44
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INTRODUÇÃO

Está claro que vivemos em uma cultura de grande empobrecimento


espiritual: o materialismo viciador nos torna escravos das superfícies; o
clamor fundamentalista nos torna medrosos e ansiosos; e ideologias
distrativas, banais, estreitam ao invés de alargar a jornada da alma.
(HOLLIS, 2005, p. 10).

É muito fácil notar que, apesar de todo avanço tecnológico, o indivíduo sente
a necessidade de encontrar um sentido maior, a busca por um deus, por um elo com
algo mais profundo.

Temos observado que a dinâmica do mundo atual, especialmente nos


grandes centros urbanos, tem dificultado a conexão do Homem consigo próprio e
com os ciclos naturais. Isto se reflete na desorganização interna e no aumento de
“doenças” psicológicas. Civilizações antigas, que mantinham o equilíbrio entre a
realidade e o mítico, não demonstravam tamanha preocupação com remédios e
tratamentos, como as atuais.

Observando mais atentamente homens e mulheres, percebemos que ambos


encontram-se perdidos em suas funções, tanto as biologicamente definidas, quanto
as psicológicas. Isso se deve principalmente ao fato histórico da subtração e
posterior negação da essência feminina, mística e integradora, das mulheres e da
anima masculina, como relata Edward Whitmont (1991).

O presente trabalho tem como objetivo despertar atributos femininos que se


encontram reprimidos nos dias atuais. Para isso escolhemos criar um livro oráculo,
com imagens de deusas de todos os tempos e culturas, feito com fotos de mulheres
reais, acompanhado de frases de pensadores universais, que retratam ou levam a
pensar sobre quais são as facetas ocultas da mulher.

É importante ressaltar, que essas imagens vêm carregadas de símbolos, e os


deuses, como afirma James Hollis (2005), são considerados como metáforas das
energias que movem o mundo e o ser humano. Com isso esperamos auxiliar
homens e mulheres a se redefinirem neste aqui e agora.
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1. POR ONDE ANDAM OS DEUSES?

[...] quem disse que os deuses foram embora? Eles apenas abandonaram
as velhas cascas e mudaram-se de modo invisível para novas localizações.
(HOLLIS, 2005, p. 115).

Nos últimos quatro séculos, os avanços científicos, por um lado muito bons, já
que deram maiores possibilidades de qualidade de vida, foram, em grande parte,
responsáveis pelo rompimento do ser humano com as imagens tribais, com seu
grupo social e, portanto consigo mesmo, uma vez que, como afirma James Hollis
(2005), defendem a divisão de sujeito (eu) e objeto (o mundo).

Jung (apud HOLLIS, 2005, p.17-18) dizia que “Na análise, a maior parte de
nossas dificuldades vem da perda de contato com nossos instintos, com a sabedoria
antiquíssima e não esquecida que se encontra guardada em nós”.

Essa sabedoria antiquíssima encontra-se guardada no “reservatório de


experiências de nossa espécie” (BARTLETT, 2011, p. 28), que Jung nomeou como
Inconsciente Coletivo, o inconsciente profundo, onde se depositam todos os
materiais psicológicos obtidos das tentativas de explicar o mundo, das experiências
e memórias ancestrais, e que foram filtrados, pelo ego, a fim de não sobrecarregar o
consciente. Esse material, mesmo não utilizado constantemente, permanece à
disposição da psique e pode ser acessado através dos arquétipos, que são
comparados, por Marie Louis Von Franz (1991), como as diversas facetas do uno de
todo o conhecimento universal. Os arquétipos não são imagens prontas,
representações estáticas do inconsciente, mas vão sendo preenchidas de sentido
conforme as experiências pessoais e com exame consciente. Segundo Jung (apud
HALL e NORDBY, 2014, p.34),

Existem tantos arquétipos quantas as situações típicas na vida. Uma


repetição infinita gravou estas experiências em nossa constituição psíquica,
não sob a forma de imagens saturadas de conteúdo, mas a princípio
somente como formas sem conteúdo, que representavam apenas a
possibilidade de um certo tipo de percepção e ação.

Entre os vários arquétipos investigados por Jung estão os relacionados às


fases da vida e aos ciclos naturais (nascimento, morte e renascimento), o do herói, o
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de Deus, o da mãe, e inúmeros outros. Eles se influenciam mutuamente, portanto é


necessário que haja algum arquétipo responsável por organizá-los. Por isso Jung
deu maior destaque a alguns, vejamos:

 O Self “(...) é o arquétipo mais poderoso, aquele que organiza e regula as


relações de todos os outros.” (VON FRANZ, 1991, p. 76) Ele dá o senso de
unidade à personalidade, mas tornando-se compreensível somente na
maturidade.
 A Persona é o arquétipo da conformidade, o que nos permite viver em
sociedade. Pode ser entendido como as máscaras sociais usadas, “[...] para
que as nossas interações com os outros que encontramos dentro e fora de nós
possam se dar em bases que permitam o diálogo e troca frutífera”
(BERNARDO, 2013, p. 51).
 A Anima / Animus: “imagens femininas e masculinas da alma, que nos ligam à
nossa profundidade, estão latentemente presentes e são vivenciadas na
projeção em fascinações eróticas e sexuais.” (KAST, 2013, p. 88). Representa
os padrões internos femininos nos homens e masculinos nas mulheres, que
constituímos e que são usados tanto para atração, quanto para a rejeição do
sexo oposto.
 A Sombra é “(...) provavelmente o mais poderoso e potencialmente o mais
perigoso de todos os arquétipos. É a fonte de tudo que há de melhor e pior no
homem.” (HALL e NORDBY, 2014, p.40). A sua compreensão é dada, quando
se percebe conscientemente, que são projetados nas pessoas do mesmo sexo,
ao contrário do arquétipo anterior.

Os arquétipos encontram-se escondidos de tal forma no inconsciente coletivo,


que sua aparição se dá através dos símbolos. Kast (2013) explica que o símbolo é
responsável pela comunicação entre conteúdos conscientes e inconscientes, “[...]
um objeto totalmente cotidiano, percebido pelos sentidos, mas aponta para algo
enigmático [...]” (KAST, 2013, p. 19). Eles, portanto podem ser entendidos como os
“deuses” ou energias que regem nossa vida, e, como afirma James Hollis (2005,
p.11): “Chamá-las de deuses não significa materializá-las a serviço das
necessidades do ego, [...], ao invés disso, significa conferir respeito pelo que elas
são, as energias dinâmicas do cosmo e a psicodinâmica do indivíduo.” Desconhecer
esses deuses leva o indivíduo a uma vida mecânica e sem sentido ou a doenças
11

psíquicas como as neuroses, por exemplo. “A perda do relacionamento com os


poderes invisíveis torna os poderes visíveis muito mais poderosos.” (ibid., p. 117).
Ao contrário, quando tomamos consciência sobre elas, podemos usá-las a nosso
favor, ou combatê-las, a fim de modificar os rumos de nossa existência.

Ao negar o feminino, ao colocar a mulher em posição de submissão, ao


escondê-la em haréns ou desfigurar sua beleza natural com véus ou perucas, como
as muçulmanas e judias ortodoxas, ao negar as necessidades, sensações e
excreções do corpo, ao limitar a feminilidade,

[...] a uma passividade obediente, à domesticidade [...] Homens e mulheres


não só foram privados de uma parte de sua natureza íntima, como
comportamentos ‘femininos’ como sensorialidade, ludicidade, e a
manifestação de sentimentos, passaram a ser julgados atos repreensíveis.
(WHITMONT, 1991, p. 204).

Ora, jogamos todo o conhecimento e comportamento femininos na Sombra,


no mais profundo do inconsciente coletivo, a fim de que essas atitudes não
concorram com a persona, nosso ideal de eu perante a sociedade. Isso acabou por
criar uma sociedade neurótica, que teme a morte.

[...] O homem se viu preso na armadilha da materialidade física que ele


próprio havia privado de divindade. Ficou reduzido à cobiça material, ao
hedonismo, ao consumismo em consequência de ter negado a dimensão
criativa – aliás divina – do prazer, da alegria, do brincar que são
manifestações do espírito. (WHITMONT, 1991, p. 204).

1.1 Fases do desenvolvimento da consciência e humanidade

O desenvolvimento psicológico do indivíduo repete a história evolutiva da


humanidade. (WHITMONT, 1991, p.57).

Alguns autores, como A. Van Scheltema (apud WHITMONT, 1991),


perceberam que, ao estudar a evolução da humanidade, podem-se entender melhor
as fases de evolução da consciência, e vice versa.
12

1.1.1 Matriarcado ou “fase mágica”

[o feminino] existe no aqui e no agora e no fluxo infinito. [...] Expressa a


vontade da natureza e das forças instintivas, e não a atitude voluntariosa de
uma pessoa em particular. A forma feminina da consciência é global e
orientada para os processos. É funcional, e não abstrata e conceitual. Está
isenta da estrita dicotomia do dentro-fora ou corpo-mente. (WHITMONT,
1991, p.61).

No matriarcado, que ocorre durante o Paleolítico e o Neolítico, a filosofia é de


unidade, como a visão da criança entre o nascimento e os três ou quatro anos.
Ainda não se diferenciaram os dualismos utilizados em grande escala hoje em dia.
Tudo era cíclico e complementar. Não se enxergava a vida e a morte, o claro e o
escuro, dia e noite como divisíveis. Um era parte do outro. As qualidades desse
pensamento feminino envolvem o unir, o aceitar o receber em detrimento do
diferenciar, do competir e do impor, como sugere MOOREY (1997). Nessa época, a
mulher era acreditada de gerar seus filhos pelo poder dos deuses. O homem não
conhecia seu papel na procriação, portanto a mulher era independente, física e
sexualmente, e tinha todo o poder de decisão sobre os clãs.

1.1.2 Fase mitológica

A descoberta da dualidade significa a cisão do Uno original indiferenciado


não só no homem e no mundo, mas também em fêmea e macho.
(WHITMONT, 1991, p. 77).

Com a evolução da humanidade e, consequentemente da psique, o período


que compreende as Idades do Bronze e do Ferro e que pode ser comparado à visão
do ser humano entre os quatro anos e o início da puberdade, marca a passagem da
fase mágica para a mitológica. Ainda não há a extrema racionalização típica do
patriarcado, mas esse começa a dar os primeiros sinais. Todo o caos original do
matriarcado começa a tomar forma e ser nomeado, criando os opostos
complementares. “Permanência e transitoriedade, vida e morte, ainda são aspectos
de um Grande Círculo intacto.” (WHITMONT, 1991, p. 68). Há oscilações entre as
ideias mais concretas e os pensamentos mais abstratos.
13

Whitmont (1991) afirma que a Grande Deusa ainda tem um papel essencial
na vida das comunidades e clãs, as vontades individuais ainda não superam o
desejo e decisões festejadas e ritualizadas do grupo, mas Ela já não reina sozinha;
neste momento começa a surgir a figura do filho/consorte, celebrado
constantemente em hierogamos seguido de seu sacrifício ritual de morte e
renascimento, vinculado ao ciclo infinito da vida, morte, renascimento. Esses rituais
marcam as primeiras formas de organização social que marcarão o patriarcado.
Surgem os heróis que, ao conquistarem territórios e povos, passam a viver
independentes da Deusa, fazendo com que, aos poucos, os mistérios do feminino
fossem cultuados no escuro, até serem completamente banidos no Patriarcado.

Apesar da diferenciação de tempo e espaço, eles ainda são limitados no aqui


e no agora. O passado só existe até quando pode ser lembrado e o espaço é onde
estou. O que não é visto, não existe por isso os deuses são representados por
pedras, árvores, rios, e demais elementos visíveis. Com a evolução da tecnologia e
domínio sobre a natureza, Whitmont (1991) demonstra que o Ego também se
fortalece e se distancia do inconsciente, aumentando a dicotomia entre as oposições
nomináveis, dando início ao Patriarcado.

1.1.3 O Patriarcado ou era mental

No mundo androlátrico, onde reina a ordem e a ilusão, as mulheres


precisam ser boas, delicadas, provedoras e receptivas. (WHITMONT, 1991,
p. 79).

Com o fortalecimento e independência aparentes do Ego, as polaridades,


antes complementares, passam a ser opositoras. O dia, a luz e o pensamento claro
se opõem ferozmente à noite, à escuridão e aos impalpáveis sentimentos, intuições
e sensações. O foco passa a ser a manutenção do dia sobre a noite e da vida sobre
a morte; “A ênfase não recai mais sobre a renovação, a recuperação da luz depois
de atravessar a escuridão, mas sobre a preservação da vida e da luz, pela
eliminação da escuridão, do que é ofensivo aos deuses e guardiães da moralidade.”
(WHITMONT, 1991, p.76).

Espaço e o tempo passam a ser divididos, medidos e classificados. E tudo


que não possa ser mensurado, calculado e dimensionado perde a importância ou é
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considerado inexistente. A mente racional é suprema e impõe leis rígidas. O


homem, do final da idade do Ferro, aprende a fazer ferramentas para cultivar a terra
e domar animais, e assim compreende os ciclos naturais e os tempos de procriação.
Assim, a natureza e a mulher passam a ser dominadas pelo homem, tal como ocorre
com o adolescente no fim da puberdade até a fase dos quarenta anos nos dias
atuais, tal como o ego passa a ser dominado pela persona. Surge a noção de posse
e hereditariedade, portanto a mulher (seu modo de ser, seu corpo e suas crenças)
passa a ser propriedade do homem. Assim se inicia primeiro a dependência
econômica da mulher e, consequentemente, a submissão psicológica, que dura até
os dias atuais. Os deuses passam a ser abstratos, ou seja, “[...] entendido como
uma explicação primitiva do mundo, como meio de atenuar a ansiedade e exercer
um controle político” (WHITMONT, 1991, p. 90). A tecnologia, o poder e a riqueza
passam a ser cultuados no lugar dos deuses primitivos.

O que nos reserva o futuro da humanidade ainda não pode ser conhecido,
senão imaginado com base na observação do desenvolvimento psicológico dos
indivíduos, e, portanto, esperamos que o mundo entre na era da Alteridade, que
corresponde à reintegração dessas polaridades de forma dialética. “[...] buscando
atualizar ao máximo o potencial de relacionamento não só da polaridade do Eu-
Outro, mas de todas as polaridades de um modo geral, [...]” (BYINGTON, 1987, p.
74) dando igual valor a ambos, na construção de novos paradigmas.
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2. A DEUSA: A perda do feminino sagrado

[...] a mulher se vê num relacionamento competitivo com o homem e nele


pode perder o senso de sua própria natureza. (CAMPBELL, 2015, p.17).

Em seu mais recente livro, Joseph Campbell inicia dizendo que as mulheres
invadiram sem um modelo mitológico como guia um campo de atuação que até há
pouco tempo era considerado estritamente masculino, deixando de ser a arquetípica
cuidadora do lar para buscar sua autorrealização individual. Ainda “[...] não há
modelos em nossa mitologia para uma busca feminina individual. Nem há modelos
para o homem que se casa com uma mulher individualizada” (Campbell, 2015, p.
18), portanto, é nossa missão criar novos mitos para guiar as gerações que virão
depois de nós.

Mas: como podemos criar mitos do nada? Por que não adaptar ou rever os
mitos antigos e usá-los como inspiração para esses novos mitos que deverão surgir?
Por que não aprender com os antigos? Estudando as energias contidas nos velhos e
universais mitos dos deuses e deusas, poderemos jogar luz sobre essas questões,
tanto para a mulher, quanto para a anima masculina.

2.1. A Deusa na era de pedra

Uma vez que a magia da Terra e a magia das mulheres é a mesma – dar
vida e nutri-la –, não só o papel da Deusa se tornou central na mitologia,
mas o prestígio das mulheres das vilas cresceu em igual medida.
(Campbell, 2015, p. 21).

Os primeiros registros de culto à deusa podem ser datados, segundo


Campbell (2015), na Era Paleolítica, de 30.000 a 10.000 a.C., quando a Deusa era
cultuada na Europa, especialmente onde hoje se localizam a Espanha e a França,
como se pode observar nas pequenas estatuetas com seios fartos, ventre
arredondado e pernas roliças. Seu rosto não era reconhecido, o que mostra que
somente as qualidades da magia feminina, à época, eram importantes. A mulher
continha em si a magia de criar e procriar.
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Imagem 1 Vênus de Willendorf e


Laussel

Fonte: Google Images, 2016.

Estas estatuetas foram encontradas nos locais onde as famílias vivam e não
nas grandes cavernas, pois estas eram utilizadas para ritos de iniciação masculinos.
Acredita-se que os meninos voltavam, simbolicamente para o útero da grande mãe,
para morrerem, como meninos, e renascerem como corajosos Homens. Isso reforça
a imagem da grande mãe, responsável pelo nascimento, morte e renascimento.
Assim também, a Deusa era vista, além de geradora da vida e nutridora, como
senhora ceifadora, sendo associada à morte. Acreditava-se que seus filhos voltavam
ao seu útero, até que pudessem renascer. Segundo Marie Louise Von Franz (1981),
a Grande Mãe estava estritamente relacionada à natureza, uma vez que, muitas
vezes os mortos eram enterrados em posição fetal, sugerindo um retorno ao ventre
materno.

Imagem 2 figura encontrada na Anatólia -


atual Turquia

Fonte: Google Images, 2016.

Durante o período Neolítico, é possível, como acredita Campbell (2015), que


tenha iniciado a ideia de diferenciação entre as polaridades, macho e fêmea, dia e
noite, bem e mal, e isso pode ser observado nas imagens do feminino desta época 1,
1
Imagem 2 - A mulher “é vista como duas mulheres de costas uma para a outra, sendo que um de
seus aspectos abraça um homem adulto, enquanto a outra segura uma criança. Ela é a
17

e possivelmente surgiram as primeiras evidências de sistemas mitológicos,


ritualísticos e simbólicos, como pode ser exemplificado pelos mitos que narram o
despedaçamento de algum deus ou herói, o enterro de suas partes e o nascimento
de plantas como a mandioca, o inhame e algumas palmeiras (plantas que nascem
de mudas, e não de sementes).

Sabemos que as representações femininas indicavam que sua magia era


natural, enquanto os registros masculinos se referiam às funções que realizavam,
como afirma Campbell (2015), afinal em sociedades que viviam da coleta e caça,
cada um tinha seu papel bem definido, começando pelas questões biológicas.
Homens caçavam grandes animais com as próprias mãos, umas vez que ainda não
dominavam os metais, como ferro e bronze, e, portanto não dispunham de armas.
As mulheres, no entanto, eram responsáveis por conseguir raízes e frutas. Essa
separação biológica também acabou por interferir nas questões sociais que os
empurraram em posições bem distintas e definidas. Durante o período Neolítico, a
figura da Deusa torna-se mais evidente, pois o sistema de agricultura e pastoreio
começa a ser consolidado em diversas culturas.

2.1.2 A era de ouro da deusa

Ela é ao mesmo tempo mãe e filha, donzela, virgem, meretriz e bruxa. É a


senhora das estrelas e dos céus, a beleza da natureza, o útero gerador, o
poder nutriente da terra, a fertilidade, a provedora de todas as
necessidades, e também o poder da morte, o horror da decadência e da
aniquilação. Dela tudo procede e a ela tudo retorna. (WHITMONT, 1991, p.
60).

A Era de Ouro da Deusa tem o auge nas civilizações encontradas na região


dos Rios Nilo, Tigre e Eufrates, entre 4.000 e 3.000 a.C. Nesse período, “As deusas
não só abarcavam tudo, mas eram também agentes de todas as transformações.”
(CAMPBELL, 2015, p. 25). Ao mesmo tempo em que a deusa era amplamente
cultuada nas civilizações mais primitivas, surgia ao seu lado a presença da
divindade masculina, que era representada pelo seu filho e/ou consorte, como pode
ser visto em algumas imagens que a mostram com o filho no colo. Entretanto, as
transformadora, recebe a semente do passado e, através da magia de seu corpo, transmuta-a no
futuro.” (CAMPBELL, 2015, p. 22-23).
18

imagens mais conhecidas são de Hátor (a vaca sagrada, que sustenta o céu) ou
Nut, deusa egípcia que representa o céu estrelado em posição de arco sobre seu
consorte Geb (a terra). Essa posição se inverte nas populações entre o Tigre e o
Eufrates, estando a mulher embaixo e o homem acima. Esse mito da separação
entre homem e mulher aparece em inúmeras mitologias.

Imagem 3 Deusa Hátor Imagem 4 Nut e Geb

Fonte: 1foto de Miguel Very Fonte: 2http://antigoegito.org


(2010)

2.1.3 O declínio da deusa

Na visão antiga, a deusa Universo estava viva [...] Agora ela está morta, e o
universo não é mais um organismo, mas uma construção na qual os deuses
repousam cercados de luxo, não como personificações das energias pelo
seu modo de agir, mas como inquilinos de elite, que precisam ser servidos.
E o Homem, portanto, não é uma criança nascida para florescer em
conhecimento de sua própria porção eterna, mas um robô concebido para
servir. (CAMPBELL, 2015, p. 28).

A partir de 4000 a.C., o culto a Deusa começa a entrar em declínio. O avanço


das tribos nômades Indo-europeias e Sírio-árabes sobre as populações do
Crescente Fértil, fez com que as deidades femininas começassem a ruir. Esses
pastores nômades começaram por domesticar animais como ovelhas, camelos e
bois, depois compreenderam a utilização do bronze e mais tarde do ferro,
construindo armas e carros de guerra. Obviamente, não se tratava de um povo
pacífico que arava o chão e esperava pacientemente pelas colheitas, mas sim de
povos que guerreavam em busca de conquistar territórios. Os deuses guerreiros
desses povos, a princípio, desposavam as Deusas Mães dos povos invadidos, como
pode ser observado nas inúmeras aventuras amorosas de Zeus. Enquanto ocorriam
em regiões distintas, tudo parecia bem, “mas, depois que a cultura começa a unificar
19

todas essas regiões, fica evidente que Zeus construiu uma história agitada de casos
extraconjugais.” (CAMPBELL, 2015, p.26). Contudo, assim como a violência dos
guerreiros, foi aumentando, também, a violência de suas deidades, chegando ao
despedaçamento de algumas deusas como pode ser visto no mito de Tiamat e
Marduk2.

Milênios mais tarde, o politeísmo é substituído pelo monoteísmo patriarcal,


onde um Deus masculino cria o mundo e o Homem, como pode se ver no Gênesis
(tanto na Bíblia cristã, quanto na Torá Judia), mesmo assim, algumas
incongruências aparecem: no primeiro capítulo (Gênesis 1:27) “E criou Deus o
homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou.”,
entretanto, no segundo capítulo, a fêmea 3 mencionada anteriormente, desaparece e
a primeira mulher, Eva, é criada (novamente) de sua costela. Como já é amplamente
sabido, ao ser tentada pela serpente e convencer Adão a também experimentar do
fruto proibido, eles são expulsos do Paraíso e todos os males da humanidade
recaem sobre a mulher, que é penalizada com o sofrimento.

2.1.4 O retorno da deusa

O homem sente-se isolado no cosmo, porque, já não estando envolvido com


a natureza, perdeu a sua ‘identificação emocional inconsciente’ com os
fenômenos naturais. E estes, por sua vez, perderam aos poucos as suas
implicações simbólicas. [...] Acabou-se o seu contato com a natureza, com
ele foi-se também a profunda energia emocional que esta conexão
simbólica alimentava. (JUNG, 2008, p. 120).

Os objetos encontrados em escavações arqueológicas, que evidenciam a


importância do feminino, somado a teorias como a hipótese de Gaia dos cientistas
James Lovelock e Lyn Margulis, nos anos de 1970, tem contribuído para o
aparecimento de religiões neo-pagãs, como Wicca, por exemplo, que tentam
reestabelecer o Uno original, “desse sistema orgânico biopsíquico” (WHITMONT,
1991, p.63), onde cada ser vivente faz parte de uma rede inteligente, em que toda
forma de vida é interligada e se autorregula, através de práticas mágicas, rituais de
2
Depois de muito guerrearem, Marduk, deus supremo dos babilônios mata Tiamat (águas
primordiais), “ele cortou Tiamat ao meio e ergueu metade dela para fazer o Céu e colocou a outra
metade diante da face aquosa de Ea para formar a Terra.” (BARTLETT, 2011, P. 233).
3
Lilith – de acordo com várias mitologias.
20

celebração dos ciclos da natureza e do feminino. James Hollis (2005, p.20) também
reforça essa ideia: “Quando não somos mais parte dessa teia viva do mundo, então
não somos mais nem servidos, nem sustentados por essas energias conectivas”.

Percebemos assim que a retomada dessa relação profunda do Homem com a


natureza, seus ciclos e consigo próprio é essencial. Compreender os conceitos e a
essência do feminino sagrado pode auxiliar nessa reintegração, facilitando o diálogo
do homem consigo e com os demais. Homens e mulheres precisam somar suas
capacidades, físicas, psicológicas e sociais, em um trabalho “[...] cooperativo na
tarefa partilhada de perpetuar e sustentar a vida” (CAMPBELL, 2015, p. 17).
21

3. ORÁCULOS

[...] o Tarô tinha sua origem e antecipação em padrões profundos do


inconsciente coletivo [...] (NICHOLS, 2007, p. 16).

3.1 Os Oráculos e as civilizações primitivas

Em todas as civilizações primitivas, técnicas de adivinhação foram usadas


para descobrir o que Deus ou os deuses queriam; contudo, com o passar do
tempo, esse hábito foi abandonado ou superado; converteu-se, então, numa
prática secreta, mágica e desprezada; [...] (VON FRANZ, 1991, p.7).

Como mencionamos no primeiro capítulo, desde os primórdios da Humanidade, o


ser humano procura compreender o mundo que o cerca e os mistérios da vida. As
comunidades de caçadores e coletores buscavam criar métodos divinatórios, rituais,
oráculos, ou qualquer elemento que pudesse indicar um resultado antes de iniciar
uma caçada, afinal, se o resultado fosse negativo seria inútil empreender força e
energia nela. A escassez de recursos e de ferramentas aumentava a necessidade
de força corporal e um gasto desnecessário dessa energia poderia resultar em
enfraquecimento e possível morte. Esses primeiros métodos consistiam em
prognósticos simples como: “se hoje brilhar o sol, então farei isso e aquilo” (VON
FRANZ, 1991, p.11).

Jung dizia que a consciência “só poderia ser renovada e ampliada, na medida
em que a vida exigisse que ela fosse renovada e ampliada, pela manutenção de
suas linhas não racionais de comunicação com o inconsciente coletivo.” (NICHOLS,
2007, p. 16). Conforme os métodos oraculares foram se desenvolvendo
(acompanhando o desenvolvimento da psique humana), foram ficando cada vez
mais complexos. Alguns, como I-Ching chinês e um método Nigeriano, tornaram-se
sistemas filosóficos ou religiosos completos, devido a uma série de estudos e
debates éticos. Pensando em uma sociedade primitiva, a invenção de um oráculo
poderia significar um novo avanço, quase como o início da ciência, "dado que
postula a questão de como essas probabilidades poderiam ser sistematizadas, de
alguma forma." (VON FRANZ, 1991, p.44).
22

3.2 Os Oráculos e a Psicologia

[...] Jung dava grande valor a todos os caminhos não racionais ao longo dos
quais o homem tentava, no passado, explorar o mistério da vida e estimular
o seu conhecimento consciente do universo que se expandia à sua volta [...]
(NICHOLS, 2007, p.16).

Todo ser humano busca, ao longo de sua vida, se diferenciar dos demais,
conhecendo-se em sua integridade psicológica. A isso Jung nomeou de Processo de
Individuação, melhor explicado nas palavras do próprio Jung: “Utilizo o termo
‘individuação’ para indicar o processo por meio do qual uma pessoa se torna um ‘in-
divíduo’ psicológico, isto é, uma unidade, ou um ‘todo’ separado e indivisível.”
(JUNG 1969 apud HALL e NORDBY, 2014, p.27). Esse processo se dá através “[...]
da confrontação dialógica entre consciente e inconsciente.” (KAST, 2013, p.9), que
ocorre através dos símbolos.

Inúmeros pesquisadores notaram que, apesar das variações de


apresentações dos arquétipos, é possível notar que algumas constantes são
reapresentadas em mitos distintos, separados no tempo e no espaço, e que essas
constantes se apresentam em certa ordem, quase que predeterminada. A isso foi
dado o nome de Constelações Arquetípicas. Verena Kast (2013) demonstra a
efetivação dessas constelações quando cita a visão de ser humano na grande
maioria dos contos de fadas: o herói/heroína usa primeiro todos os recursos que tem
à sua disposição, apesar de alguns contratempos, agindo com autonomia. A certa
altura, percebe e assume que não é mais capaz de conseguir ir adiante, devido à
limitação de suas possibilidades conscientes. É aí, então, que aparece,
magicamente, através de sonho, ou de alguém desconhecido, algo que lhes traga a
resposta sobre qual o próximo passo a ser dado.

Portanto podemos supor que, dependendo do ponto em que estamos do


nosso processo de individuação, certos arquétipos aparecerão com maior ou menor
destaque. E compreendendo a ordem dada a esses arquétipos pelo self “[...] um
centro ordenador ativo, que rege as relações de todos os outros arquétipos e
fornece ao campo do inconsciente coletivo uma ordem matemática bem definida.”
23

(VON FRANZ, 1991, p.76), poderemos supor o que virá a seguir. Ou seja, “[...] seria
lícito afirmar que as técnicas de adivinhação constituem tentativas, por lançamentos
aleatórios de números, de descobrir qual é o ritmo do Si-mesmo num determinado
momento.” (VON FRANZ, 1991, p. 78).

Jung defendia que no momento em que assumimos não saber mais como
agir, é que se abre a possibilidade para uma “reação compensatória do inconsciente
coletivo.” (KAST, 2013, p.148).

Segundo o pensamento de Jung e seus estudiosos, os métodos divinatórios e


oráculos têm sua base na sincronicidade. Jung demonstrou muito bem o que é um
pensamento sincronístico, em sua introdução do livro do I-Ching ou livro das
mutações, ao explicar a diferença entre o pensamento causal, onde um evento
acontece em decorrência de outro anterior, e o pensamento sincronístico, onde
diversos eventos ocorrem em conjunção, em um determinado período do tempo.
Segundo ele, “um evento sincronístico é uma história única e imprevisível, porque é
sempre um ato criativo no tempo [...]" (VON FRANZ, 1991, p.65), o que faz com que
o acaso se torne um fator importante nas técnicas oraculares, já que o lance único
será o responsável pela reflexão a cerca daquilo que se foi questionado.

Oráculos são, portanto, maneiras simbólicas de compreender os arquétipos


que regem nossa vida em determinado momento. A não compreensão consciente
desses arquétipos regentes pode resultar, como já dissemos, em viver uma vida
sem entendimento de cada situação e, portanto, sem uma possibilidade real de
modificá-la ou aceitá-la conscientemente: “assim, como uma pessoa ganha
independência para ser não conformista, assim também ganha confiança para ser
conformista." (NICHOLS, 2007, p.34).
24

4. O ORÁCULO DO FEMININO SAGRADO.

Pois as cartas do tarô, que nasceram num tempo em que o misterioso e o


irracional tinham mais realidade do que hoje, trazem uma ponte efetiva para
a sabedoria ancestral do nosso eu mais íntimo. (NICHOLS, 2007, p. 18).

4.1 A seleção das deusas

Os deuses surgem do nosso encontro com a profundidade, com o mistério.


Existem tantos deuses quantos encontros desse tipo. (HOLLIS, 2005, p.
105).

O trabalho teve início com uma ampla pesquisa das diversas mitologias
mundiais, focando-se principalmente as figuras femininas.

Conseguimos levantar um sem-número de figuras femininas importantes e


interessantes. A fim de selecioná-las, optamos relacionar duas deusas, de acordo
com sua essência, ou uma de suas facetas, para cada um dos 22 arcanos maiores
do Tarô de Marselha, de acordo com as descrições feitas por Sallie Nichols (2007) 4,
em Jung e o Tarô, buscando sempre manter um equilíbrio entre as diversas
mitologias.

4.2 As Imagens

Uma imagem é uma estrutura capaz de transportar energia que, quando


carregada, tem o poder de evocar uma resposta energética dentro de nós.
(HOLLIS, 2005, p.12).

Optamos por realizar um ensaio fotográfico com mulheres reais, para as quais
foi explicada a história e o mito da deusa ou personagem selecionada, de acordo
com tipo físico mais próximo aos originais.

Cada modelo contribuiu para a produção das fotos com peças de roupas e
acessórios que possuíam, muitas das quais gerou intensa troca entre as
participantes. Completamos as produções com peças de que dispúnhamos e

4
Vide Apêndice A
25

maquiagem. Procuramos manter o máximo de conteúdo simbólico de cada deusa


em pequenos detalhes.

A escolha por mulheres reais, e não imagens disponíveis em bancos de


dados digitais refletiu nossa vontade de possibilitar que diversas mulheres se
apoderassem da energia de cada uma das deusas, resgatando em si, e transmitindo
aos demais essa sensação do feminino sagrado.

4.3 O Livro Oráculo

Uma viagem pelas cartas do tarô, primeiro que tudo, é uma viagem às
nossas próprias profundezas. (NICHOLS, 2017, p. 18).

Diferentemente dos oráculos mais comuns, compostos por cartas individuais,


optamos por um livro com duas frentes, uma em sentido contrário da outra.
Uma página será composta por duas imagens, ladeada por uma página com
duas frases relacionadas a cada imagem, uma de cabeça para baixo em relação à
outra5.
De qualquer lado que se prefira abrir o livro, sempre terá uma imagem e uma
frase aptas a serem lidas.
A sequência das imagens e frases, de cada lado do livro seguirá a ordem dos
arcanos numerados do tarô de Marselha, que segundo Nichols (2007), traduz a
jornada do louco, ou jornada do herói e pode ser equivalente ao processo de
individuação.
A seleção das frases foi feita em bancos de pensamentos na internet, em
especial no site Pensador6. Buscamos os assuntos específicos em autores
universais como Shakespeare, Fernando Pessoa, Francis Bacon, Gandhi, Goethe,
entre tantos outros. Essas frases estão relacionadas tanto à essência da deusa
quanto do arcano a que ela se refere. Optamos por usar esses pensadores
universais, pois como refere Hollis (2005, p.171): “como viajantes órficos que
retornam ao mundo visível trazendo metáforas, os poetas têm muito para nos dizer
sobre esses assuntos”.
O livro se dirige a homens e mulheres que busquem autoconhecimento.

5
Vide apêndice C
6
http://pensador.uol.com.br/
26

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nossos ancestrais estavam certos ao personificar o amor e a raiva como


deuses [...] quem quer que tenha sido transportado às alturas do êxtase e
imerso nas profundezas do desespero conheceu o deus que já o conhecia.
(HOLLIS, 2005, p.13).

O trabalho realizado, tanto a pesquisa bibliográfica, quanto as fotografias, nos


fez perceber a importância em resgatar a essência do feminino, há tanto perdida.

Através da pesquisa bibliográfica, vimos que o momento que estamos


passando nada mais é que uma fase, como tantas outras anteriores, necessária
para a evolução do indivíduo e da sociedade.

Observar as mudanças de semblante das mulheres durante todo o processo


fotográfico (a chegada para algo novo, o contato com outras mulheres tão diversas e
na maioria das vezes desconhecidas, a escolha das roupas e acessórios, o contato
com os mitos – que muitas não sabiam da sua existência e muito menos do seu
conteúdo –, a caracterização e as fotos em si) foi um aprendizado inenarrável, além
de um imenso prazer.

O ver-se travestidas em deusas, na tela diminuta da máquina fotográfica, fê-


las mudar o padrão físico e energético, quase que instantaneamente.

Somente por esses poucos instantes (aproximadamente uma hora para cada
modelo) foi possível notar o quanto o resgate, o reviver dessas energias físicas e
psíquicas pode interferir positivamente na atitude dessas mulheres, e também, dos
maridos, namorados e amigos que as acompanharam. O sorriso sincero, o brilho
nos olhos e o falatório pós- sessões revelam o quanto essas energias ainda estão
latentes em nosso inconsciente, esperando um momento, uma oportunidade para
serem revividas e expressadas livremente.

Esperamos, com esse trabalho, ter aberto pelo menos uma fresta que permita
reestabelecer a conexão com esse feminino sagrado, inteiro e multifacetado, tão
negligenciado por tantos séculos.

Gostaríamos de reintegrá-lo ao modelo vigente e quem sabe assim, iniciar a


era da alteridade na evolução das sociedades.
27

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARTLETT, Sarah. A Bíblia da Mitologia. São Paulo: Pensamento, 2011.


BERNARDO, Patrícia Pinna. A Prática da Arteterapia: correlações entre temas e
recursos: temas centrais em arteterapia. São Paulo: Artepinna Editorial, 2013.
BYINGTON, Carlos. Desenvolvimento da Personalidade: Símbolos e Arquétipos.
São Paulo: Ática, 1987.
CAMPBELL, Joseph. Deusas: Os Mistérios do Divino Feminino. São Paulo: Palas
Athena, 2015.
FAUR, Mirella. O Anuário da Grande Mãe: guia prático de rituais para celebrar a
deusa. São Paulo: Alfabeto, 2015.
HALL C. e NORDBY, V. J. Introdução à Psicologia Junguiana. São Paulo: Cultrix,
2014.
HOLLIS, James. Mitologemas: encarnações do mundo invisível. São Paulo: Paulus,
2005.
JUNG, C. G. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 2008.
KAST, Verena. A Dinâmica dos Símbolos: fundamentos da psicoterapia
Junguiana. Petrópolis: Vozes, 2013.
MOOREY, Tereza. A deusa: Aprenda a descobri-la e a cultuá-la em todas suas
manifestações. São Paulo: Pensamento, 1997.

NICHOLS, Sallie. Jung e o Tarô: uma jornada arquetípica. São Paulo: Cultrix, 2007.

PRIETO, Claudiney. Todas as deusas do mundo: rituais wiccanos para celebrar a


Deusa em suas diferentes faces. São Paulo: Ardane Books, 2015.
VON FRANZ, Marie-Louise. Adivinhação e Sincronicidade: A psicologia da
probabilidade significativa. São Paulo: Cultrix, 1991.
WHITMONT, Edward C. Retorno da deusa. São Paulo: Summus, 1991.
28

APÊNDICE A – Relação entre os arcanos do tarô de Marselha e as deusas.

O LOUCO – O louco representa o arcano que lança à jornada sem planos


prévios. Ele vive no caos inconsciente, e desta forma cria um caminho, um percurso.
Aonde chegará? Não interessa para ele. Mas ele necessita estar em atividade, e se
molda através dela. Ele se sente pronto para ir aonde ninguém mais ousou ir, uma
vez que não tem compromisso com nada. “A sua curiosidade impulsiva impele-nos
para sonhos impossíveis” (NICHOLS, 2010, p.49).

 Mulher aranha: Os Hopi acreditavam que ela havia criado tudo mandando seu
pensamento para o Nada, tecendo o universo com suas ideias. (BARTLETT, 2011).
 Eurínome: uma das deusas gregas da criação. Ela surge do Caos, dançando a
dança da energia. Ao descobrir que não havia onde apoiar os pés, cria o mar e o
céu. Dessa dança nasce o vento e dele, a gigantesca serpente Ófion, com quem se
acasala para gerar o Ovo que daria origem a tudo que há na terra. (BARTLETT,
2011).

O MAGO – O arquétipo do Mago nos traz o primeiro elo de comunicação


entre o inconsciente, retratado pelo louco, e o consciente. Como os sonhos, ele nos
comunica mensagens inconscientes, que podem nos iludir num primeiro momento,
mas que, se dispostas sobre uma mesa, como seus objetos de magia, podem ser
analisadas e traduzidas para algo que nos revela a verdade. “O Mago tem o poder
de revelar a realidade fundamental, o estado de ser que constitui a base de tudo.”
(NICHOLS, 2010, p.60).

 Maya: palavra em sânscrito que significa ilusão. Os Hindus acreditam que o


próprio mundo é Maya, ou seja, nossa percepção da realidade é ilusória. (FAUR,
2015).
 Danu: Também conhecida como Dana. É considerada uma das mais
importantes deusas da mitologia celta antiga, apesar de ter poucos relatos a seu
respeito. Era mãe do Tuatha De Danann (primeiro raça sobrenatural da Irlanda, dos
quais surgiram os druidas – ou magos) e de Brigit, filha de seu casamento com
Dagda. (BARTLETT, 2011).
29

A PAPISA – Esse arcano, simbolizado por uma mulher entronizada,


representa o conhecimento mais profundo, mais interno, ou inconsciente. Ao
contrário do mago, ela tem muito cuidado ao expor suas conclusões. Para o homem
representa o contato íntimo com sua anima; para a mulher, um eu mais
espiritualizado. “Onde quer que esteja escondido, o segredo da mulher, como o da
natureza, permanecerá sempre oculto à penetração da consciência masculina”
(NICHOLS, 2010, p. 85).

 Sarasvati: esposa de Brahma, o deus hindu da criação. Considerada deusa da


sabedoria, das artes e da música. (FAUR, 2015).
 Sofia: deusa hebraica da sabedoria, no início ela era esposa de Jeová, co-
criadora dos anjos e responsável pela espiritualidade dos homens. Apesar das
várias readaptações de textos hebraicos, gnósticos, e cristãos, ela continua a ser
associada ao símbolo da sacralidade e da sabedoria feminina. (FAUR, 2015).

A IMPERATRIZ – Esse arcano representa a Grande Mãe em sua


ambiguidade. Como criadora, é fértil e desejosa de ver seus filhos florescerem,
assim revela tudo o que a Papisa oculta. Como Mãe Terrível, devora suas crias a fim
de que retornem ao ventre, especialmente quando se sente ameaçada pela
curiosidade do homem sobre seu mundo.

Ela responde pelos ciclos naturais da terra e do ser humano: nascimento,


morte, renascimento, ciclos lunares, ciclos femininos, etc. “[...] a Imperatriz governa
intuitivamente, em lugar de governar de acordo com as leis feitas pelo homem.”
(NICHOLS, 2010, p. 98).

 Kali: considerada o lado negro de Durga, era coberta de pele escura, e


manchas de sangue. Em alguns mitos é vista como a personificação de todo o mal,
em outros, entretanto, é a responsável pela morte que gera o nascimento do Novo.
(FAUR, 2015).
 Demeter: deusa grega da fertilidade e da agricultura. Detentora do
conhecimento dos ciclos naturais obrigou os Deuses a negociar com Hades a posse
de sua filha Perséfone por seis meses. O mito está ligado às estações do ano.
(BARTLETT, 2011).
30

O IMPERADOR – Esse arcano representa o início do patriarcado, com o


principio ordenador do universo. Aquele que nomeia, separa mede e organiza o
crescimento caótico das criações da Imperatriz. Ele é consciente de sua autoridade.
“Aqui começa o mundo patriarcal da palavra criativa, que inicia o domínio masculino
do espírito sobre a natureza.” (NICHOLS, 2010, p. 111).

 Atená: deusa grega das artes, da sabedoria e da guerra, nascida pronta da


cabeça do próprio Zeus, depois que ele devorou sua esposa Métis, com medo de
ser destronado pelo filho que nasceria dessa relação. Na guerra, está estreitamente
ligada ao conceito da estratégia. (FAUR, 2015).
 Baba Yaga: Deusa anciã eslava, ligada aos ciclos de morte e renascimento.
Compõe-se da mistura da bruxa cruel e da mulher sábia, como a avó capaz de
conceder bênçãos para quem fosse merecedor. (BARTLETT, 2011).

O PAPA – O arcano do papa representa a ponte entre o homem e deus,


entre consciente e inconsciente. Ele detém o domínio sobre questões que envolvem
os opostos do bem e do mal. “[...] os problemas morais que envolvem os opostos do
bem e do mal estão sob o seu domínio, para serem amplamente reconhecidos e
manipulados.” (NICHOLS, 2010, p. 129).
 Arádia: Bruxa Italiana medieval. Filha de Diana, veio à Terra, com a missão de
ensinar bruxaria aos homens e recuperar a antiga tradição pagã. Era protetora dos
oprimidos e escravizados pelo clero e pela nobreza. (FAUR, 2015).
 Cerridwen: Feiticeira Celta, mãe do grande Taliesin (profeta e grande herói
associado a Merlin – nas lendas arturianas). Tinha a capacidade de se transformar
no que quisesse. Quis compensar a feiura de seu primeiro filho, Morfan, com todo o
conhecimento do mundo, mas Gwion (mais tarde Taliesin) sem querer consumiu a
poção mágica. (BARTLETT, 2011).

O ENAMORADO – O Enamorado representa um momento de escolhas,


colocando o ego em uma situação de conflito. Ele sabe que qualquer que seja sua
escolha, terá que deixar para trás a outra. “Precisa, portanto, encontrar, dentro de si
mesmo, a força para enfrentar a confrontação; precisa assumir, sozinho, a
responsabilidade por qualquer ação que pratique em relação a ele.” (NICHOLS,
2010, p. 137-138).
31

 Guinevere: personagem das lendas arturianas, era esposa de Arthur, mas era
apaixonada por Lancelot, melhor amigo e cavaleiro de seu esposo. (BARTLETT,
2011).
 Perséfone: Filha de Deméter, Perséfone foi raptada por Hades, para ser sua
consorte. Assim tornou-se rainha do mundo inferior. Vivia dividida entre seu esposo
e sua mãe. (BARTLETT, 2011).

O CARRO – Esse arcano mostra o indivíduo equilibrado, coroado e


empoderado depois de fazer suas escolhas, em busca de um novo caminho. Sua
representação está relacionada ao equilíbrio entre ação e passividade e entre
emoções opostas. “[...] o carro se destina a ‘levar-nos para casa’. A jornada exterior
não é apenas um símbolo da jornada interior, mas também o veículo para nosso
autodescobrimento” (NICHOLS, 2010, p. 147).
 Baubo: deusa grega do ventre. Foi ela quem conseguiu curar Deméter de sua
tristeza, através de versos lascivos ditos pela sua vagina. (PRIETO, 2015).
 Uzume: conhecida como deusa da magia e da dança. Ela foi a responsável por
tirar Amaterasu da caverna e devolver a luz ao mundo, dançando de forma sedutora
diante dos demais deuses em uma celebração próxima à caverna. (BARTLETT,
2011).

A JUSTIÇA – A justiça representa o equilíbrio entre os opostos, a união


harmoniosa entre forças distintas, em que o indivíduo tem condições para discernir a
fantasia da realidade, sendo possível seguir o caminho do meio. “Quer a localizemos
lá em cima no céu, quer a situemos aqui embaixo no palácio de justiça, lá está ela
graciosamente sentada aos olhos da nossa mente, incorruptível e onisciente, pronta
para poupar-nos o incômodo do conflito moral julgando questões de inocência ou
culpa.” (NICHOLS, 2010, p. 160).

 Têmis: Deusa grega da Justiça, protetora dos julgamentos e das leis.


(BARTLETT, 2011).
32

 Maat: deusa egípcia da verdade e da justiça. Usava uma pluma de avestruz em


sua coroa, e a utilizava para pesar o coração dos mortos no julgamento de Osíris.
(BARTLETT, 2011).

O EREMITA – O Eremita representa o arquétipo do velho sábio. Tal


sabedoria provém da experiência de vida. Ele, por si só, consegue encontrar a paz
interior e sua luz pode nos ensinar a praticar o autoconhecimento. Sabe, também,
que sua luz pode ofuscar quem não estiver preparado e, portanto é mister ocultá-la
quando necessário. “[...] o frade aqui retratado personifica uma sabedoria que não
se encontra em livros.” (NICHOLS, 2010, p. 169).
 Amaterasu: deusa solar japonesa, altamente respeitada no xintoísmo, mesmo
após a tomada do patriarcado nas religiões asiáticas. Conta a lenda que, após a ira
de seu irmão Suzano, Amaterasu se escondeu em uma caverna, deixando o mundo
nas trevas. Ela só deixa a caverna após ser instigada pelos outros deuses
preocupados com as consequências de sua ausência. (BARTLETT, 2011).
 Nanã: A mais idosa de todas as divindades ioruba da água é honrada pela sua
imensa sabedoria. É considerada a criadora de tudo que existe. (FAUR, 2015).

A RODA DA FORTUNA – A Roda da Fortuna vem para nos lembrar de que


o destino pode se opor ao livre arbítrio, nos chamando a atenção para que
aceitemos fazer parte dos ciclos como eles são. “A vida se apresenta aqui como um
processo - como um sistema de constante transformação, que envolve igualmente a
integração e a desintegração, a geração e a degeneração.” (NICHOLS, 2010, p.
189).
 As Nornes: composta por três deusas (Skuld –ser, Urd – Destino e Verdandi –
necessidade), determinava o destino humano. Eram muito complexas e isso
explicaria a dificuldade em se compreender a vida. (BARTLETT, 2011).
 Mulher mutante: deusa do povo navajo, que representa as mudanças das
estações do ano. (BARTLETT, 2011).
33

A FORÇA – A Força nos mostra o poder dos nossos instintos, que quando
reconhecidos, não só deixam de atuar autonomamente, mas também, são
transformados, passando a ser mais exatos. “O seu misterioso poder reside em seu
próprio ser como parte íntima e permanente de si mesma.” (NICHOLS, 2010, p.
204).

 Durga: Personifica a energia guerreira, Surgiu da união de todos os outros


deuses, a fim de livrar-se dos demônios, principalmente o demônio-rei Durga, de
onde herdou o nome. (BARTLETT, 2011).
 Iemanjá: Grande mãe na tradição Ioruba. Ela é rainha do Mar e está ligada a
força das marés. Simboliza a força geradora feminina. (FAUR, 2015).

O ENFORCADO – O Enforcado indica um momento de suspensão, na qual


o indivíduo é colocado em uma condição de impotência. Ele nada pode fazer para
direcionar o seu futuro, estando nas mãos do destino. É possível que este homem
passe por um estágio de sofrimento até que consiga aceitar a situação em que se
encontra. “Está nas mãos do Destino. Não tem poder para modelar sua vida nem
controlar seu fado.” (NICHOLS, 2010, p 217).
 Kuan Yin: deusa chinesa da misericórdia e da compaixão. Algumas lendas
contam que como a princesa Miao Shan, ela passou por diversas tentativas de
assassinato por parte de seu pai Miao Chung, por se recusar a casar. Escapou de
todas as tentativas e apesar disso ainda concedeu compaixão a ele quando estava
diante de um desastre. (BARTLETT, 2011).
  Frigga: Deusa Nórdica, esposa de Odin. Habitava sozinha em um salão de
pântano, chamado Fensalir. Apesar de poder prever o futuro, não podia alterá-lo.
(BARTLETT, 2011).

A MORTE – O arcano representa a morte psíquica, na qual o indivíduo


sofre um processo de “desmembramento”, para que assim possa se renovar e
renascer, podendo transformar seu futuro, vivenciando um momento importante na
busca da individuação e autoconhecimento. “A morte retrata o momento em que a
pessoa se vê ‘feita em pedaços’ – espalhada – com a velha personalidade e os
modos quase irreconhecíveis de tão mutilados.” (NICHOLS, 2010, p. 228).
34

 Morrígan: Deusa celta tríplice da guerra e da morte, que determinava os


resultados de uma batalha, dependendo de seu humor. Foi associada à fada
Morgana ou Viviane, nas lendas arturianas. (BARTLETT, 2011).
 Ereshkigal: irmã de Inanna, e senhora suméria do Mundo Inferior. Furiosa ao
saber que sua irmã estava invadindo seu palácio, impôs que a cada portão durante a
descida, fosse se despindo de uma de suas insígnias (coroa, brincos, colares, e
roupa, etc.). Impiedosamente, torturou-a e manteve-a prisioneira até seu resgate
pelos demais deuses. (BARTLETT, 2011).

A TEMPERANÇA – O arcano assinala uma condição de busca da


individuação, na qual o indivíduo integra aspectos opostos, trazendo a possiblidade
de uma transformação interna. A temperança pondera, interage e integra, sendo
considerado o arcano da alquimia. “Como em qualquer situação de conflito, um
primeiro passo criativo no sentido de uma solução consiste em encontrar um árbitro
— alguém, cuja sabedoria e compreensão abranja os dois lados.” (NICHOLS, 2010,
p. 248).

  Mulher arco-íris: conhecida em vários povos, a mulher arco-íris é a deusa


capaz de realizar a comunicação entre os vários mundos através de seu arco
multicolor. Ela também representa o equilíbrio necessário entre os opostos para a
que a vida flua naturalmente. (BARTLETT, 2011).
 Ostara: Deusa teutônica que representa o renascimento da Primavera, a
renovação pessoal e a fertilidade. A ela eram oferecidos ovos coloridos, que hoje
são reapresentados como os ovos de Páscoa. (FAUR, 2015).

O DIABO - Esse arcano representa a Sombra, que na psicologia Junguiana


significa aquilo que não está consciente e que age por vontade própria, causando
confusões e danos sem nossa percepção. “Segundo suas próprias palavras, deixou
o emprego e pediu demissão do céu. Disse que merecia uma oportunidade melhor;
achava que lhe deviam ter dado um aumento e mais autoridade.” (NICHOLS, 2010,
p.259).
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 Lilith: deusa suméria, apesar de inúmeras discussões, foi considerada a


primeira esposa de Adão, e teria abandonado o Éden, por não aceitar ficar debaixo
dele durante o ato sexual, uma vez que havia sido feita do mesmo barro. Ao longo
dos séculos, seu mito foi associado ao diabo, já que era muito sedutora e autônoma.
(BARTLETT, 2011).
 Oxum: Deusa ioruba das águas doces, da sensualidade e da arte. Uma das
lendas dia que para afastar Obá, sua rival, convenceu-a a decepar sua orelha e
servir no ensopado a seu marido, Xangô. (FAUR, 2015).

A TORRE DA DESTRUIÇÃO – A Torre representa a destruição daquilo que


parecia seguro, e de tão concreto se tornava uma prisão para a individuação. É o
impulso para o novo, para a mudança. “Essas figuras cadentes diriam que o seu
universo está sendo destruído; mas bem no fundo do inconsciente há uma sabedoria
que lhes transcende o conhecimento.” (NICHOLS, 2010, p.282-283).

 Iansã: conhecida como Oyá, personifica a força das tempestades, dos ventos e
dos relâmpagos. Seu nome significa “quebrar, rasgar”. Ela também é a Senhora dos
Mortos. (FAUR, 2015).
 Sedna: deusa inuíte. É a senhora dos animais marinhos, pois conta a história
que seu pai tentou matá-la atirando-a de seu caiaque, como ela se agarrou à borda,
ele decepou lhe os dedos, que se transformaram em baleias, focas e leões-
marinhos; seu espírito ainda reina das profundezas do mar. (BARTLETT, 2011).

A ESTRELA – A carta da estrela nos mostra o início de uma nova direção.


Ela aponta para algo mais unificado. Tal qual uma estrela guia marinheiros,
astrólogos e mesmo os reis magos, essa carta também nos mostra o caminho. “Em
A Estrela, uma sacerdotisa da natureza inicia a tarefa de descobrir nos
acontecimentos da existência terrestre um padrão correspondente ao do desenho
celeste”. (NICHOLS, 2010, p. 291).

 Inanna: também conhecida como Ishtar, era a deusa suméria da fertilidade e do


sexo, que teve seu culto espelhado por toda região entre Nínive e Tebas. Era
associada à Estrela Vespertina (Vênus). Sua história mais conhecida envolve sua
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descida ao mundo inferior a fim de recuperar seu amado mortal, Tamuz. (FAUR,
2015).
 Nut: Deusa egípcia que representava o céu, sempre ligada ao seu consorte
Geb, a terra. Era a mãe de muitos deuses egípcios importantes (Osíris, Set, Ísis e
Néphtis). Suas mãos e pés representavam os pontos cardeais. (BARTLETT, 2011).

A LUA – A Lua representa um passo importante no processo de


individuação, no qual o homem encontra-se sozinho diante de seu inconsciente,
tendo de enfrentar seus maiores medos, na busca doa autoconhecimento. “Como
uma besta, só pode sujeitar-se ao fado, confiando em seu instinto animal para
chegar ao seu destino.” (NICHOLS, 2010, p. 308).

 Ixchel: deusa maia das tempestades e das inundações quando enfurecida, e


generosa quando apaziguada. (BARTLETT, 2011).
 Mama Quilla: Deusa inca da Lua. Diziam que seu rosto diminuía de tamanho
conforme enfraquecia. Acreditavam que um jaguar comia sua face em noites de
eclipse, e que isso necessitava de sacrifícios e muito barulho para que ele fosse
embora. (FAUR, 2015).

O SOL - O Sol representa a consciência humana, na qual o indivíduo


encontra-se harmonizado consigo mesmo, podendo desfrutar de todos os presentes
que a vida tem para lhe ofertar. “O Sol retrata a reconexão ao herói como seu eu
negligenciado, que traz consigo uma experiência direta da divindade iluminadora e
da vida transcendente.” (NICHOLS, 2010, p.321).

 Bastet / Sekhmet: duas deusas solares egípcias. Bastet era a deusa gato,
animal sagrado no Egito. Foi associada à Sekhmet, deusa leoa que representava o
sol escaldante do deserto, especialmente quando se enfurecia. (BARTLETT, 2011).
 Brigit: uma tríade de deusas celtas de mesmo nome, que representa a
fertilidade, as artes, o intelecto, a cura e a metalurgia. Está associada ao fogo, uma
vez que, no cristianismo foi identificada como Santa Brígida, a guardiã do fogo
sagrado. (BARTLETT, 2011).
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O JULGAMENTO – A carta aponta um momento de resgate, no qual o


indivíduo é despertado para um novo paradigma, após ter integrado inconsciência e
consciência. “O Julgamento dramatiza o momento de ressurreição espiritual de
diversas maneiras.” (NICHOLS, 2010, p.329).

 Al-At: Deusa árabe pré-islâmica, posteriormente associada à Allah (sua versão


masculina), presidia sobre os juramentos e sobre as causas justas. Também está
associada às mulheres, ao lar e à fertilidade das mulheres, das terras e dos animais.
(FAUR, 2015).
 Hine Turama: Deusa Maori regente das leis universais, criadora e guardiã das
estrelas, de onde supervisiona os limites de expansão humanos. (FAUR, 2015).

O MUNDO – O arcano assinala a finalização de um ciclo, no qual o


indivíduo interage de forma harmônica com todos os aspectos. Está harmonizado,
inclusive com toda a criação divina. “O resultado não é tão-só uma ampliação maior
da personalidade anterior – é como se tivéssemos sido recriados como um ser
inteiramente novo.”  (NICHOLS, 2010, p. 342).

 Gaia: deusa grega criadora da Terra e tudo que nela habita. Rege a passagem
do tempo e a sustentação de todos os seres vivos. (BARTLETT, 2011).
 Tara: foi a primeira divindade feminina a ser assimilada pelos budistas.
Apresenta diversos aspectos. A Tara branca associada à compaixão e cura
universal. A Tara verde associada à salvação e iluminação, a vermelha equivale à
bondade e perspicácia, a Amarela com prosperidade e a azul com transmutação da
raiva. Foi chamada de mãe dos Budas e depois mãe universal. (BARTLETT, 2011).
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APÊNDICE B – Deusas e citações (como aparecerá no livro oráculo)

 Mulher aranha: Deusa Hopi que criou o mundo tecendo seus sonhos – “O
sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e
inexpugnavelmente nosso.” (Fernando Pessoa).
 Gaia: Deusa Grega, criadora da Terra. – “Aprendi com as primaveras a me
deixar cortar para poder voltar inteira.” (Cecilia Meireles).

 Danu: Deusa Celta que deu origem a primeira linhagem de druidas. – “Nós
somos feitos do tecido de que são feitos os sonhos.” (William Shakespeare).
 Hine Turama: Deusa Maori, guardiã da ordem cósmica. – “Vou-lhe dizer um
grande segredo, meu caro. Não espere o juízo final. Ele realiza-se todos os dias”.
(Albert Camus).

 Sarasvati: Deusa indiana da sabedoria e das artes. – “Os estudos aperfeiçoam


a natureza e são aperfeiçoados pela experiência”. – (Francis Bacon).
 Sekhmet/Bastet: Deusas egípcias que representam os dois aspectos do sol. –
“A razão é um sol impiedoso; ela ilumina, mas também cega.” (Romain Rolland).

 Kali: Deusa Indiana que representa a morte e a ressurreição. – “Tenho


paciência e penso: todo o mal traz consigo algum bem.” (Ludwig van Beethoven).
 Mama Quilla: Deusa inca da lua. – “Cada um de nós é uma lua e tem um lado
escuro que nunca mostra a ninguém.” (Mark Twain).

 Baba Yaga: Deusa anciã eslava, relacionada com a bruxa má dos contos de
fadas. – “De fato, quanto maior for a nossa ciência, mais profundo é o mistério.”
(Vladimir Nabokov).
 Nut: Deusa egípcia que representa o céu. – “É necessário ter o caos cá dentro
para gerar uma estrela.” (Friedrich Nietzsche).

 Arádia: Deusa medieval Toscana, detentora do conhecimento pagão. – “A


opressão nunca conseguiu suprimir nas pessoas o desejo de viver em liberdade.”
(Dalai Lama).
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 Morrígan: Deusa celta da guerra. – “Quem se vence a si mesmo é um herói


maior do que quem enfrenta mil batalhas contra muitos milhares de inimigos.”
(Textos Budistas).

 Perséfone: Deusa grega raptada por Hades (mundo inferior). “Enquanto não
tiveres conhecido o inferno, o paraíso não será bastante bom para ti.” (proverbio
curdo).
 Oxum: Deusa ioruba da beleza. – “A magia da linguagem é o mais perigoso dos
encantos.” (Edward Bulwer-Lytton).

 Uzume: Deusa Japonesa do bem-estar. – “A alegria não está nas coisas: está
em nós.” (Goethe).
 Mulher Arco-Íris: Deusa havaiana que fazia a ligação entre os mundos superior
e humano. “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses.”
(Sócrates).

 Têmis: Deusa grega da Justiça. – “Quem decide um caso sem ouvir a outra
parte não pode ser considerado justo, ainda que decida com justiça.” (Sêneca).
 Ereshkigal: Deusa suméria do submundo. – “São apenas as cabeças pequenas
e limitadas que temem seriamente na morte a destruição total do ser”
(Schopenhauer).

 Amaterasu: Deusa solar japonesa. “Encontre um lugar em você onde haja


alegria e a alegria vai eliminar a dor.” (Joseph Campbell).
 Frigga: Deusa Nórdica, esposa de Odin, ligada a fertilidade da terra. – “Nada é
permanente nesse mundo cruel. Nem mesmo os nossos problemas.” (Charles
Chaplin).

 Nornes: deusa tríplice Nórdica do destino. – “O destino conduz o que consente


e arrasta o que resiste.” (Sêneca).
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 Durga: deusa indiana guerreira. – “Em tempo de paz convém ao homem


serenidade e humildade; mas quando estoura a guerra deve agir como um tigre!”
(William Shakespeare).

 Iemanjá: Deusa ioruba das aguas do mar. – “A natureza feminina é como o mar:
cede à pressão mais fraca e suporta as cargas mais pesadas” (Rasmus Nielsen).
 Mulher Mutante: Deusa Navajo dos ciclos de vida. – “Observo em mim mesma
as mudanças de estação: eu claramente mudo com elas.” (Clarice Lispector).

 Kuan Yin: Deusa Chinesa da compaixão. – “A verdadeira compaixão não


consiste em sofrer pelo outro.” (Dalai Lama).
 Nanã: Deusa anciã ioruba, criadora primordial. – “Sabemos o que somos, mas
não sabemos o que poderemos ser.” (William Shakespeare).

 Sedna: Deusa inuíte do fundo do mar. – “Um homem precisa se queimar em


suas próprias chamas pra poder renascer das cinzas!” (Friedrich Nietzsche).
 Maat: Deusa egípcia da justiça. – “A minha consciência tem mais peso pra mim
do que a opinião do mundo inteiro.” (Cícero).

 Cerridwen: Deusa celta da transmutação e dos grãos. –“A coisa mais


indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio
conhecimento”. (Platão).
 Baubo: Deusa grega do riso e da alegria. – “Saber encontrar a alegria na alegria
dos outros é o segredo da felicidade” (Georges Bernanos).

 Lilith: Deusa suméria da independência feminina. – “Você não tem que agradar
a ninguém. Nem tem de atravessar o deserto de joelho para fazer penitência. Você
só tem de deixar o animal dócil do seu corpo, gostar do que ele gosta” – (Mary
Oliver).
 Guinevere: Personagem celta, esposa de Arthur, mas apaixonada por Lancelot.
– “O amor não tem nada a ver com a ordem social. É uma experiência espiritual
mais elevada do que aquela do matrimônio socialmente organizado.” (Joseph
Campbell).
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 Iansã: Deusa ioruba das tempestades e dos ventos. – “A própria destruição, que
parece aos homens o termo das coisas, não é senão um meio de atingir, pela
transformação, um estado mais perfeito, porque tudo morre para renascer, e coisa
alguma se torna em nada.” (Allan Kardec).
 Ostara: Deusa alemã regente da primavera. – “Espalhe semente e cubra-as.
Folhas brotarão onde você fizer seu trabalho”. (Rumi).

 Inanna: Deusa Suméria da vida e da fertilidade. – “Se ao escalar uma montanha


na direção de uma estrela, o viajante se deixa absorver demasiado pelos problemas
da escalada, arrisca-se a esquecer qual é a estrela que o guia.” (Antoine de Saint-
Exupéry).
 Atená: Deusa grega da sabedoria e da estratégia. – “É sábio experimentar todos
os caminhos antes de chegar às armas.” (Terêncio).

 Ixchel: Deusa maia da lua. – “De nada serve ao homem conquistar a Lua se
acaba por perder a Terra.” (François Mauriac).
 Demeter: Deusa grega da fertilidade da terra. – “Ninguém ainda sabe se tudo
apenas vive para morrer ou se morre para renascer”. (Marguerite Yourcenar).

 Brighid: Deusa tríplice celta das artes, da magia, da cura e do fogo. “A vida é
uma pedra de amolar: desgasta-nos ou afia-nos, conforme o metal de que somos
feitos.” (George Bernard Shaw).
 Sophia: Deusa hebraica da sabedoria. – “Conhecimento vem do seu professor.
Sabedoria, do seu interior”. (Bruce Lee).

 Al-At: Deusa pré-islâmica dos juramentos e da criação. “Age sempre de tal


modo que o teu comportamento possa vir a ser princípio de uma lei universal.”
(Immanuel Kant).
 Maya: Deusa indiana da ilusão. –“Perder uma ilusão torna-nos mais sábios do
que encontrar uma verdade.” (Ludwig Borne).
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 Tara verde: Deusa indiana e budista protetora dos humanos. – “A satisfação


está no esforço e não apenas na realização final.” (Mahatma Gandhi).
 Eurínome: Deusa grega da criação. – “Sobretudo um dia virá em que todo meu
movimento será criação, nascimento, eu romperei todos os nãos que existem dentro
de mim” (Clarisse Lispector).
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APÊNDICE C- Exemplos do livro oráculo.


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APÊNDICE E – EXPERIÊNCIA NO BACKSTAGE

O projeto de fotografar as 44 deusas selecionadas envolveu diversas


necessidades. Modelos - mulheres de todas as formas, cores, idades e crenças -;
figurinos, acessórios – bijuterias, maquilagem, objetos diversos -; locações – praia,
campo -; comunicação via grupo criado no whatsapp; auxílios diversos.
Tive o privilégio de atuar em diversas frentes neste projeto e, com isso, muito
aprendi. Fiquei atrás da câmera; fiquei em frente à câmera. Fiz figuração. Ajudei na
escolha do figurino e muito aprendi na arte do improviso: ajustar as roupas (ah,
como alfinetes, grampos e até mesmo fios de eletricidade podem ser
tremendamente úteis!!!). Maravilhei-me com as formas que pode tomar uma placa
de isopor: concha, escudo, funda, tridente.... Dois pratos de plástico transformados
em pratos de balança. Uma saia ou metros de lã “virando” cabelos... A criatividade
foi testada muitas vezes, e em todas elas, Gabriela se superou.
Fomos os braços “extras” de algumas deusas, seguramos o pano de fundo...
Trabalho tremendamente sério, executado com seriedade e responsabilidade. Mas,
também, com muito riso, muitas brincadeiras, com energia positiva envolvendo a
todas. Uma vibração contagiante das deusas, que, certamente, nos contaminou a
todas de forma indelével.

YOKO MIYAZONO
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