Você está na página 1de 1

CURSO: Psicologia

PERÌODO: 1º
DISCIPLINA: Bases Epistemológicas da Psicologia – Prof. Henrique Miranda
ATIVIDADE: Leitura orientada – Projeto Integrador
FONTE: ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. São Paulo: Perspectiva, 1972.

O MITO

O mito é uma realidade cultural transmitida de uma geração a outra, é algo que faz parte do cotidiano e constantemente, está
presente no inevitável, na vida social e na existência da sociedade. Por isso, o mito precisa ser interpretado, pois possui um valor
presente na vida de cada um. Diante disso o mito é sempre um desafio, que deixa uma abertura, um enigma, que proporciona a
existência de novos mitos.
Assim o mito é um pouco de cada coisa, ou seja, um pouco de cada religião, de cada costume e a diferença entre um povo e
outro, pois transmite sensações múltiplas, torna-se por si só uma história próxima e distante, bela e direta, tão simples que acaba
sendo complexa.
A religião é o elemento mais povoado de mitos, nela o mito cresce junto com a fé da pessoa e transforma-se no estilo de vida
e de convivência em sociedade.
Na antiguidade, os mitos serviam como forma de transmitir conhecimentos e alertar os indivíduos sobre perigos, ou defeitos
e qualidades do ser humano. Assim, deuses, heróis e personagens sobrenaturais se confundiam com fatos reais para dar sentido a
tudo aquilo que não tinha explicação palpável e científica, dando assim sentido à vida e ao mundo.
Na sociedade indígena o mito tem uma força criadora de fé e crença, mostrando a cultura dessa sociedade criada a partir de
seus antepassados e que vem sendo transmitida para outras gerações por meio, principalmente, da oralidade.
A concepção de sagrado muitas vezes é traduzida através de mitos; e a forma de relações entre a pessoa e o sagrado
normalmente é favorecida pelos diferentes ritos.
Segundo Eliade (1972, p.7-23), o mito conta uma história sagrada; ele relata um acontecimento ocorrido no tempo
primordial, o tempo fabuloso do "princípio". Em outros termos, o mito narra como, graças às façanhas dos Entes Sobrenaturais,
uma realidade passou a existir, seja uma realidade total, o cosmos, ou apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um
comportamento humano, uma instituição. É sempre, portanto, a narrativa de uma "criação": ele relata de que modo algo foi
produzido e começou a ser.
O mito fala apenas do que "realmente" ocorreu, do que se manifestou plenamente. Os personagens dos mitos são os Entes
Sobrenaturais. Eles são conhecidos, sobretudo pelo que fizeram no tempo prestigioso dos primórdios.
Os mitos revelam, portanto, sua atividade criadora e desvendam a sacralidade, ou simplesmente a "sobrenaturalidade" de
suas obras. Em suma, os mitos descrevem as diversas, e algumas vezes dramáticas, irrupções do sagrado ou do sobrenatural no
mundo. E mais, é em razão da intervenção dos Entes Sobrenaturais que o ser humano é o que é hoje, um ser mortal, sexuado e
cultural.
O mito é considerado uma história sagrada e, portanto, uma "história verdadeira", porque sempre se refere a realidades que
estão sendo vivenciadas pelas pessoas. O mito cosmogônico é verdadeiro, porque a existência do mundo aí está para comprová-lo;
o mito da origem da morte é igualmente verdadeiro, porque é provado pela mortalidade humana, e assim por diante.
Conhecendo o mito, conhecemos a origem das coisas, chegando-se consequentemente a dominá-las e a manipulá-las à
vontade; não se trata de um conhecimento exterior, abstrato, mas de um conhecimento que é vivido ritualmente, seja narrando
cerimonialmente o mito, seja efetuando o ritual ao qual ele serve de justificação.
Viver os mitos implica, pois, uma experiência religiosa, pois ela se distingue da experiência ordinária da vida quotidiana.
Nessa experiência, deixa-se de existir no mundo de todos os dias e penetra-se num mundo transfigurado, impregnado dos Entes
Sobrenaturais. Os mitos revelam que o mundo, as pessoas e a vida têm uma origem e uma história sobrenaturais, e que essa
história é significativa, preciosa e exemplar.
Outra definição interessante de mitos que encontramos é a de Malinowski (1984, p.224-230). Este autor, ao tentar demonstrar
a natureza e a função dos mitos nas sociedades primitivas, afirma que o mito é uma narrativa que faz reviver uma realidade
primeira, que satisfaz as profundas necessidades religiosas, aspirações morais, as pressões e imperativos de ordem social, e mesmo
as exigências práticas.
Nas civilizações primitivas, o mito desempenha uma função indispensável: ele exprime, enaltece e codifica a crença;
salvaguarda e impõe os princípios morais; garante a eficácia do ritual e oferece regras práticas para a orientação humana. Mito,
portanto, é um ingrediente vital da civilização humana. Longe de ser uma fabulação vã, ele é ao contrário, uma realidade viva, à
qual se recorre incessantemente; não é absolutamente uma teoria abstrata ou uma fantasia artística, mas uma verdadeira
codificação da religião primitiva e da sabedoria prática.

QUESTÔES PARA SEREM RESPONDIDAS

1- O que significa dizer que “o mito conta uma história sagrada”?


2- Que relação podemos estabelecer entre mito e religião?
3- Qual o papel do mito nas civilizações primitivas?

Você também pode gostar