Você está na página 1de 55

DESCRIÇÃO

A Psicologia como campo de conhecimento científico, sua evolução e suas mudanças


epistemológicas, as principais teorias psicológicas, seus respectivos objetos de estudo e seus
principais marcos de construção teórica.

PROPÓSITO

Conhecer a Psicologia como campo da ciência, desvinculada das outras formas de


conhecimento, com base nos contextos de sua concepção e consolidação científica, bem como
as bases em que foram construídos seus pilares epistemológicos, é fundamental para uma
adequada formação profissional como psicólogo.

PREPARAÇÃO
Antes de iniciar, tenha em mãos um bom dicionário de Psicologia para buscar conceitos mais
específicos. Sugerimos que pesquise e acesse os seguintes dicionários:

APA Dictionary of Psychology – em inglês, da American Psychological Association (um


dos mais reconhecidos e consultados dicionários virtuais).

Diccionario de Psicología – em espanhol, de Umberto Galimberti, disponível on-line.

OBJETIVOS

MÓDULO 1

Distinguir os tipos de conhecimento: empírico, religioso, filosófico e científico

MÓDULO 2

Reconhecer os pontos comuns e divergentes das diferentes abordagens iniciais do processo de


construção da Psicologia como ciência independente

MÓDULO 3

Identificar as principais abordagens teóricas e seus respectivos objetos de estudo

INTRODUÇÃO

O homem tem se colocado ao longo da história como sujeito do conhecimento. Assim como há
diferentes formas de percepção da realidade, há também diferentes formas de conhecimento,
dependendo do lugar que falamos. Por isso, é importante estudá-los no âmbito cotidiano,
acadêmico ou profissional para que possamos nos situar no espaço.

Afinal, o conhecimento que adquirimos ao longo de nossa vida passa, necessariamente, pela
nossa experiência corporal, subjetiva, cognitiva, cultural e social. Assim, conhecer refere-se à
relação intrínseca entre o sujeito que conhece e o objeto que é conhecido.

Mas qual o conhecimento necessário para se tornar um psicólogo?

Em uma sociedade competitiva, acumular informações isoladamente é insuficiente. É necessário


que essas informações sejam situadas em um contexto sociocultural para que façam e tenham
sentido.

A complexidade do conhecimento para além do acúmulo de informações diz respeito à


apropriação e à reflexão sobre a origem do conhecimento, seus limites e suas possibilidades no
contexto em que é produzido. Portanto, conhecer não é apenas se informar, mas, sobretudo, é
internalizar as informações, atrelando-as a um significado subjetivo para que seja possível uma
ação transformadora.

No âmbito da Psicologia, como ciência independente, é necessário refletir sobre o contexto


histórico de sua formação, suas práticas e os conhecimentos produzidos a partir da busca pela
compreensão do homem e de suas intrínsecas relações com o meio.

MÓDULO 1

 Distinguir os tipos de conhecimento: empírico, religioso, filosófico e científico

TIPOS DE CONHECIMENTO
Vamos nos aprofundar em quatro diferentes tipos de conhecimento que tiveram destaque ao
longo da história. São eles:

Empírico ou senso comum

Religioso
Filosófico

Científico

Tais conhecimentos não são hierarquizados, apenas se distinguem por suas características
específicas e peculiares, conforme veremos a seguir.

CONHECIMENTO EMPÍRICO OU SENSO COMUM

Você já pensou em quantas vezes escutou terminologias advindas da Psicologia no seu


cotidiano? Palavras como neurótico, complexado, baixa estima (ainda que o correto seja baixa
autoestima), histeria, entre tantas outras recorrentes em nossa sociedade.

Mas essa é a Psicologia dos psicólogos? Quando as pessoas dizem complexado no cotidiano,
estão se referindo à teoria do complexo?

Imagem: Shutterstock.com

A TEORIA DO COMPLEXO
É a teoria científica postulada pelo psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (1875-
1961).

“Os complexos, em si mesmos, não são nem negativos nem positivos. São, na verdade,
constituintes da psique humana e fonte das emoções. Indicam, dessa forma, que a estrutura
psíquica é dotada de uma carga afetiva muito forte, ligando entre si representações,
pensamentos e lembranças. Jung estima que os complexos podem ser agrupados em categorias
distintas: complexo mãe, complexo pai, complexo de poder, complexo de inferioridade. Por trás
de suas características pessoais, os complexos possuem conexões com os arquétipos, criando
uma ponte entre as vivências individuais e as grandes experiências da humanidade.” (NASSER,
2010, p. 327)

Certamente, não. A “Psicologia”, usada no cotidiano pelas pessoas em geral, é denominada


psicologia empírica ou do senso comum — mas nem por isso deixa de ser um conhecimento
válido.

O conhecimento empírico ou senso comum é um conhecimento popular e superficial, um


resquício advindo do conhecimento científico, que permite às pessoas compreenderem e
explicarem seus conflitos e suas situações cotidianas. Refere-se àquelas ideias elaboradas no
cotidiano, aceitas e, muitas vezes, naturalizadas.

 ATENÇÃO

Conhecimento empírico ou senso comum é um conhecimento corrente e espontâneo, advindo do


cotidiano, baseado em hábitos, preconceitos e tradições cristalizadas culturalmente.

O conhecimento empírico é essencial para que haja convivência cotidiana em sociedade. Afinal,
se ele não existisse ou se fosse questionado de forma radical, seria impossível que tivéssemos,
por exemplo, um diálogo simples em um bar. Imagine a seguinte conversa:

Foto: Shutterstock.com

– Garçom, duas cervejas, por favor.


Foto: Shutterstock.com

– Senhora, na verdade, isso não é cerveja, porque a quantidade de lúpulo necessária para que
ela assim fosse denominada...

Foto: Shutterstock.com

– Obrigado pela informação. Mas não estrague essa bela noite ao luar.

Foto: Shutterstock.com

– Senhora, não existe “luar” ou “luz da lua”. Sabemos que a luminosidade que vemos provém
da estrela mais próxima da terra, o Sol, que a ilumina. Temos a ilusão...

 SAIBA MAIS
Lúpulo é uma espécie de trepadeira usada, desde o século IX, na fabricação de cerveja,
conferindo-lhe o gosto amargo característico.

Essa conversa informativa não teria fim ou um dos interlocutores desistiria! Embora o
conhecimento empírico possa levar a preconceitos, de menor ou maior grau, por conta do que
definimos como tradições cristalizadas culturalmente, ele ainda permanece necessário. Disso
resulta a necessidade do chamado bom senso.

CONHECIMENTO RELIGIOSO

Foto: Shutterstock.com

Tão antigo quanto o senso comum, o conhecimento religioso é baseado na fé — ou na


interpretação que ela dá a outras formas de conhecimento —, pois muitos acreditam que a fé
detém a verdade absoluta. Durante milênios, foi a única fonte de conhecimento sistematizado de
inúmeras civilizações. Na busca dos porquês de fenômenos que não podiam ser explicados por
causas naturais, surgiam as explicações por meio da fé, dos mitos e das entidades divinas.

O conhecimento religioso pode ser definido como produto da fé humana na existência de uma ou
mais entidades divinas.

Para entender o conhecimento religioso, nada melhor do que recorrer à Grécia Antiga, com sua
multiplicidade de mitos e deuses. Lá, existia Deméter, uma deusa da agricultura, filha de Cronos
e irmã de Zeus. Naquele tempo, acreditavam que havia fartura de alimentos graças a essa deusa
(CAMPBELL, 1990).

Deméter tinha uma linda filha, Perséfone, que despertou a paixão de seu tio, o deus Hades,
senhor do mundo avernal (submundo). Encantado com a beleza de Perséfone, Hades a rapta e
oferece a ela um fruto de romã. Perséfone não sabia que quem comesse um fruto do submundo
seria obrigado a viver nele. Assim, Perséfone se tornou esposa de Hades, senhora do mundo
subterrâneo.

Inconformada, Deméter secou a Terra e a transformou em um inverno constante. Preocupado com


o destino dos seres humanos, Zeus procurou seu irmão Hades e com ele fez um acordo:
Perséfone passaria metade de cada ano ao lado de sua mãe, Deméter, e a outra metade, ao
lado do marido, Hades.

Assim, quando Perséfone subia das profundezas para se encontrar com a mãe, caracterizava as
estações primavera e verão; quando Perséfone retornava ao marido Hades, iniciava as estações
outono e inverno. Esta seria a explicação das estações do ano para os gregos antigos.

Foto: Rufus46 / Wikimedia Commons / CC BY-SA 3.0


 Estátua de Perséfone.

Embora todas as religiões tenham os mitos como origem — mito e religião são distintos. As
religiões estão baseadas em homens idealizados, que, de alguma forma, possuem ligações com
o inexplicável e com o sobrenatural. As religiões vêm dos mitos, mas passam pelo crivo da luz do
pensamento racional, pois estão fundamentadas na crença de que a mente humana, quando livre
de suas limitações, pode alcançar a ideia de divindade.
A MENTE HUMANA, ALIVIADA DE PREOCUPAÇÕES
SECUNDÁRIAS E MERAMENTE TEMPORAIS,
REPRODUZ, COM A RADIÂNCIA DE UM ESPELHO
IMACULADO, O REFLEXO DA MENTE RACIONAL DE
DEUS. A RAZÃO COLOCA VOCÊ EM CONTATO COM
DEUS. CONSEQUENTEMENTE, PARA AQUELES
HOMENS, NÃO HAVIA UMA REVELAÇÃO ESPECIAL
EM LUGAR ALGUM, E NEM ERA NECESSÁRIO,
PORQUE A MENTE DO HOMEM, LIVRE DAS SUAS
FALIBILIDADES, É SUFICIENTEMENTE CAPAZ DE
COMPREENDER DEUS. TODAS AS PESSOAS DO
MUNDO, PORTANTO, SÃO CAPAZES, PORQUE SÃO
DOTADAS DE RAZÃO.

(CAMPBELL, 1990, p. 39)

CONHECIMENTO FILOSÓFICO

O conhecimento filosófico procura dar sentido aos fenômenos gerais da existência humana.
Vários conceitos científicos se originaram de reflexões filosóficas. Portanto, esse tipo de como
característica a busca da razão pura no questionamento dos problemas humanos.
Foto: Shutterstock.com

Seus objetos de análise são ideias, relações conceituais e exigências lógicas não materiais, isto
é, não passíveis de observação. Utiliza-se como método a razão, em que prevalece o processo
dedutivo, o qual antecede a experiência. Não exige confirmação experimental, apenas lógica
(LAKATOS; MARCONI, 1991).

A Filosofia encontra-se sempre à procura do que é mais geral, interessando-se pela formulação
de uma concepção unificada do universo. Por isso, procura responder às grandes indagações do
espírito humano e até busca as leis mais universais que englobem as conclusões da ciência.

O conhecimento filosófico é fruto do raciocínio e da reflexão humana. É o conhecimento


especulativo sobre fenômenos da vida.

Os gregos foram os primeiros a criar condições para uma sistematização do conhecimento,


com base em perguntas como:

O QUE TERÁ LEVADO O HOMEM, A PARTIR DE


DETERMINADO MOMENTO DE SUA HISTÓRIA, A
FAZER CIÊNCIA TEÓRICA E FILOSOFIA? POR QUE
SURGE NO OCIDENTE, MAIS PRECISAMENTE NA
GRÉCIA DO SÉCULO VI A.C., UMA NOVA
MENTALIDADE, QUE PASSA A SUBSTITUIR AS
ANTIGAS CONSTRUÇÕES MITOLÓGICAS PELA
AVENTURA INTELECTUAL, EXPRESSA ATRAVÉS DE
INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS E ESPECULAÇÕES
FILOSÓFICAS?

(PRÉ-SOCRÁTICOS, 1996, p. 4)

Ao se estudar a história do nascimento da Filosofia (séculos VI a.C.-V d.C., Filosofia Antiga), é


comum dividi-la em: antes de Sócrates (os pensadores pré-socráticos) e após Sócrates
(Sócrates, Platão e Aristóteles).

O conhecimento filosófico grego se confunde com a própria cultura ocidental. Influenciado pelo
conhecimento latino (romano) e pelo conhecimento religioso (cristão) – ou somando-se a eles –,
constitui a base para grande parte das estruturas que sustentam a sociedade contemporânea:
legislação, sistema político, arte etc.

A partir disso, é possível encontrar o correlato da história da Filosofia numa cronologia


geralmente aceita:

FILOSOFIA MEDIEVAL

(séculos V-XV)


FILOSOFIA MODERNA

(séculos XV-XVIII)

FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

(século XVIII até os dias atuais)

Dessa forma, a Filosofia também foi a base para o conhecimento científico, seja no âmbito das
Ciências da Natureza (a partir do século XVI), seja no âmbito das Ciências Humanas (a partir do
século XIX).

CONHECIMENTO CIENTÍFICO

O conhecimento científico sempre esteve inserido no conhecimento filosófico, pois ambos


nasceram com o mesmo objetivo: a busca da compreensão da realidade com base em
elementos lógicos. Tanto o conhecimento científico quanto o lógico buscaram a sistematização do
conhecimento.

Durante a Filosofia Moderna, tivemos, pela primeira vez, um conhecimento que ganhou
autonomia, deixando o pensamento lógico-argumentativo para a Filosofia e desenvolvendo uma
teoria experimental.

Assim, as perguntas que a Filosofia tenta responder são diferentes daquelas respondidas pela
ciência. Enquanto o conhecimento científico é baseado em fatos, estabelecendo leis e padrões, a
Filosofia é especulativa, baseada, principalmente, na argumentação.

Imagem: Shutterstock.com
São objetos de estudo da ciência perguntas como:

Por que um corpo cai?

Por que alguém morre?

Imagem: Shutterstock.com

São objetos da Filosofia perguntas como:

Existe alma?

O que é liberdade?

De acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2001), a ciência compõe-se de um conjunto de


conhecimentos sobre os fatos ou aspectos da realidade expressos por meio de uma linguagem
rigorosa. Esses conhecimentos devem ser obtidos de maneira programada, sistemática e
controlada para que se permita a verificação de sua validade.

Dessa forma, a ciência resulta de um trabalho racional, baseado em pesquisas, investigações


metódicas, controladas, programadas e sistemáticas. Suas características básicas são:

Objeto específico

Linguagem rigorosa

Objetividade

Métodos e técnicas específicas

Processo cumulativo de conhecimento


O conhecimento científico refere-se a um conjunto de atitudes e atividades racionais dirigido ao
conhecimento sistemático, com objetivo limitado e capaz de ser submetido à verificação.

A ciência emerge de contextos socioculturais específicos e com características determinadas. O


processo de criação de uma nova ciência é muito complexo. Afinal, “[...] é preciso mostrar que ela
tem um objeto próprio e métodos adequados ao estudo desse objeto; que ela é, enfim, capaz de
firmar-se como uma ciência independente das outras áreas de saber”. (FIGUEIREDO; SANTI,
2000, p. 14)

COMPARAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE


CONHECIMENTO

O quadro a seguir compara os tipos de conhecimento vistos até aqui.

Conhecimento empírico ou Conhecimento Conhecimento Conhecimento


senso comum religioso filosófico científico

Valorativo Valorativo Valorativo Real (factual)

Reflexivo Inspiracional Racional Contingente

Assistemático Sistemático Sistemático Sistemático

Não Não
Verificável Verificável
verificável verificável

Falível Infalível Infalível Falível

Aproximadamente
Inexato Exato Exato
exato

 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal


Quadro: Comparativo entre os tipos de conhecimento.
Extraído de LAKATOS; MARCONI, 1991, p. 74.

Comentaremos um pouco mais sobre cada tipo de conhecimento para fixarmos os conceitos:

CONHECIMENTO EMPÍRICO OU SENSO COMUM


Valorativo – pois é influenciado pelos estados de ânimo e pelas emoções do observador.

Reflexivo – porque a familiaridade com o objeto estudado não instiga a formulação de


padrões e não permite uma formulação geral.

Assistemático – baseia-se em uma organização particular (subjetiva) que depende do


sujeito.

Verificável – mas apenas em relação ao que pode ser observado, no cotidiano, no âmbito
do observador, isto é, sua verificabilidade é subjetiva.

Falível – porque se conforma apenas com o que se vê ou se ouviu falar, não se preocupa
com a busca da verdade.

Inexato – pois a falibilidade não permite a formulação de hipóteses verificáveis sob o ponto
de vista filosófico ou científico.

CONHECIMENTO RELIGIOSO
Valorativo – porque se baseia em doutrinas que possuem proposições sagradas
(dogmas), com juízo de valor.

Inspiracional – pois é revelado pelo sobrenatural.

Sistemático – os dogmas revelam um conhecimento organizado do mundo (de onde


viemos, para qual finalidade e para que destino).

Não verificável – pois depende da fé em um criador divino.

Infalível e exato – porque os dogmas (revelações divinas) não podem ser discutidos.
CONHECIMENTO FILOSÓFICO
Valorativo – porque se baseia na experiência e na argumentação.

Racional – por consistir em um conjunto de enunciados logicamente relacionados.

Sistemático – pois os enunciados buscam uma representação coerente e geral da


realidade estudada.

Não verificável – pois as hipóteses filosóficas não podem ser confirmadas.

Infalível e exato – porque as hipóteses exigem apenas coerência e lógica, que dispensam
a experimentação.

CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Real (factual) – porque lida com ocorrências e fatos.

Contingente – pois as hipóteses podem ser validadas ou descartadas pela


experimentação.

Sistemático – busca a formulação de ideias correlacionadas ao objeto de estudo.

Verificável – isto é, as hipóteses não comprovadas são descartadas.

Falível – porque nenhuma verdade é definitiva e absoluta.

Aproximadamente exato – porque novas proposições e novas tecnologias podem


reformular o conhecimento existente.

ATIVIDADE

Imagine a seguinte situação: um homem morreu. Em seu velório, estavam presentes um padre,
um professor de Filosofia, um amigo de infância e um médico. Uma pessoa pergunta aos
quatro: Por que o homem morreu?

Você conseguiria identificar a que tipo de conhecimento corresponde cada uma dessas
respostas? Selecione os tipos de conhecimento correspondentes no quadro ao lado.

1. Ele morreu, porque era um


Amigo de
homem bom. Se fosse ruim, não
infância
(conhecimento morreria. Vaso ruim não quebra!
empírico ou
senso comum)

2. Do pó viestes, ao pó
Médico
(conhecimento regressarás! Essa é uma verdade
científico)
à qual ninguém pode escapar...

Padre
(conhecimento
religioso)
3. Para Nietzsche, a morte é a
suprema possibilidade da
Professor de
Filosofia
liberdade humana. Na morte, o
(conhecimento homem se demonstra vivo no
filosófico)
mais alto grau!

4. Ele trabalhava demais. A


ansiedade é um transtorno
frequente e associada a doenças
cardíacas.
FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE (1844-
1900)

Foto: Friedrich Hartmann / Wikimedia Commons / Domínio Público


Vamos agora aprofundar um pouco mais sobre esses tipos de conhecimento.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. SOBRE A DISTINÇÃO ENTRE SENSO COMUM E CONHECIMENTO


CIENTÍFICO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:

A) Ao contrário do senso comum, a ciência é um conhecimento objetivo, exato e sistemático, que


se opõe ao caráter dogmático e subjetivo do conhecimento empírico.
B) A ciência domina o imaginário contemporâneo. Isso significa que, cada vez mais, confiamos
no testemunho de nossos sentidos, que promovem uma adesão acrítica à realidade dada.

C) A ciência existe para confirmar nossas certezas cotidianas, utilizando um pensamento


assistemático que despreza o trabalho da razão.

D) A rigor, a ciência complementa o senso comum, mas banindo os obstáculos e problemas


observados por nossa percepção imediata dos fatos.

E) A ciência e o senso comum não se diferenciam, pois ambos se constituem em conhecimentos


fundamentados na experimentação com rigor metodológico.

2. SOBRE O CONHECIMENTO FILOSÓFICO, ASSINALE A ALTERNATIVA


CORRETA:

A) É um tipo de conhecimento que não diz tudo o que sabe e uma norma que não enuncia tudo
aquilo que postula.

B) Não pode ser reaberto ou discutido, pois os filósofos já morreram.

C) É baseado em fatos, estabelecendo leis e padrões.

D) É uma forma de conhecimento que questiona os fenômenos da realidade.

E) Seu percurso é caracterizado pela exigência de clareza e da prova de sua validade.

GABARITO
1. Sobre a distinção entre senso comum e conhecimento científico, assinale a alternativa
correta:

A alternativa "A " está correta.

Presente em nossas vidas, o senso comum é baseado na percepção cotidiana dos fatos ou nos
costumes e nas tradições. Portanto, não exige nenhuma análise mais aprofundada ou algum tipo
de testagem, assumindo-se como forma dogmática. O contrário acontece com o conhecimento
científico que, para ser reconhecido, necessita de confirmação por meio de experimentos. Além
disso, constantemente, precisa ser revisto e reavaliado.
2. Sobre o conhecimento filosófico, assinale a alternativa correta:

A alternativa "D " está correta.

O conhecimento filosófico difere-se dos demais tipos de conhecimento especialmente pelo valor
lógico-argumentativo que busca. Se, por um lado, não admite o dogmatismo proveniente do
senso comum, por outro, não está baseado na experimentação científica. Além disso, costuma
ser considerado o “conhecimento da dúvida”, pois tem por objetivo não se conformar com a
realidade apresentada.

MÓDULO 2

 Reconhecer os pontos comuns e divergentes das diferentes abordagens iniciais do


processo de construção da Psicologia como ciência independente

PSICOLOGIA: DESENVOLVIMENTO E
ASCENSÃO
Depois de compreender os diferentes tipos de conhecimento, vamos conhecer as perspectivas
filosóficas e fisiológicas que impulsionaram o desenvolvimento da Psicologia como ciência.

Pensar na relação entre Psicologia e ciência não é tarefa fácil, pois há muitas relações e
interpretações do que a ciência significa para a Psicologia (FIGUEIREDO; SANTI, 2000). Ainda
hoje, aApós mais de 100 anos de esforços para se criar uma Psicologia Científica, os estudos
psicológicos ainda mantêm relações estreitas com muitas ciências naturais e sociais.

O processo para a Psicologia ser considerada como ciência foi lento. O principal empecilho para
que isso acontecesse foi seu objeto de estudo: a psique, entendida como a mente, não se
apresenta como objeto observável, não se enquadrando, portanto, nas exigências da
cientificidade vigente na época de seu surgimento, conforme veremos a seguir.
 SAIBA MAIS

Psique é uma “palavra grega que, etimologicamente, significa o ‘sopro’ que anima e dá vida a

um corpo. Nesse sentido, Aristóteles fala de psique como idêntico a biós, a vida. Os latinos
traduziram psique como anima (alma), mantendo o dualismo platônico: alma x corpo. Com o
nascimento da Psicologia Científica, no século XIX, o termo ‘alma’ foi abandonado, porque estava
fortemente carregado de implicações filosóficas, metafísicas e morais, para adotar o termo
‘psique’, mais neutro e mais técnico. Seu significado depende dos diferentes sistemas de
pensamento [...].” (GALIMBERTI, 2002, p. 928)

Certos autores, como Bock, Furtado e Teixeira (2001), defendem a importância de se destacar o
panorama do pensamento de alguns filósofos que contribuíram para o desenvolvimento e a
ascensão da Psicologia. É o que faremos agora a partir desse ponto de vista.

FILOSOFIA CLÁSSICA

Desde o século VI a.C., os filósofos já se preocupavam em entender a natureza humana.


Filósofos gregos como Sócrates, Platão e Aristóteles foram os primeiros a tentar uma
sistematização dos estudos da psique.

Sócrates (469 a.C.-399 a.C.) — Foi um dos mais conhecidos filósofos gregos. Dedicava-se à
educação da juventude. Ensinava que o conhecimento é imperfeito, porque nos chega por meio
dos sentidos e, dessa forma, está sujeito às ilusões. Acreditava que um único tipo de
conhecimento podia ser obtido: o do próprio eu. Para ele, esse era o único conhecimento
necessário, o qual possibilitava ao homem levar vida virtuosa. Esse princípio está em sua frase:
“Conheça a ti mesmo”.

Seu procedimento didático partia do princípio “Sei que nada sei”, isto é, sua sabedoria consistia
em ter consciência da própria ignorância. Ter consciência de que não se sabe é o ponto de
partida da ciência e do conhecimento.

Sócrates foi um crítico das tradições, dos usos e costumes da época, do próprio regime
democrático, da religião, da antiga ciência física, provocando uma verdadeira revolução que
influenciou não só a filosofia grega como todo o pensamento filosófico ocidental.
Foto: C Messier / Wikimedia Commons / CC BY-SA 4.0
 Sócrates.

Platão (428 a.C.-347 a.C.) — Discípulo de Sócrates, acreditava que o conhecimento que vem

dos sentidos é imperfeito. Acrescentou a esse conceito, a existência de um reino das ideias que
é permanente e perfeito – um reino que existe fora do homem e é independente dele.

Para Platão, o homem é dualista, formado de mente e corpo. Essa visão é considerada a raiz
mestra da história da Psicologia. Depois de estabelecer a distinção entre mente e corpo, Platão
associou a essas duas terminologias um conjunto de valores opostos: a mente era identificada
com o belo e o bem, enquanto a matéria representava a parte inferior do homem e do universo.
Foto: Marie-Lan Nguyen / Wikimedia Commons / CC-BY 2.5
 Platão.

Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) — Discípulo de Platão, mas também seu opositor. Não
acreditava na existência de ideias inatas nem no mundo das ideias. Para Aristóteles, a criança,
ao nascer, não traz nenhuma bagagem de conhecimento. É por meio da experiência que o
homem adquire conhecimento, pois, em sua visão, nada há na inteligência que não tenha
passado pelos sentidos.

Aristóteles identificou os primeiros degraus na escala da aquisição do conhecimento:

Órgãos dos sentidos: quando estimulados, provocam reações, isto é, sensações.

Sensações: elementos mais simples e primitivo do conhecimento.


Foto: Jastrow (2006) / Wikimedia Commons / Domínio Público
 Aristóteles.

Aristóteles foi o primeiro a escrever tratados sistemáticos de Psicologia, que, na época, eram
essencialmente filosóficos. No entanto, muitas das tendências que a levariam à conquista do
status de ciência começavam a ser delineadas.

FILOSOFIA DA IDADE MÉDIA

Apesar de todas as bases filosóficas que subsidiaram o desenvolvimento da Psicologia, novos


paradigmas se impuseram na Idade Média (séculos V-XV) em razão da hegemonia do
cristianismo.

Neste contexto, os filósofos Santo Agostinho e São Tomás de Aquino tiveram destaque em
suas teorias, que serviram de suporte à Igreja Católica. A partir deles, a racionalidade ganhou o
status de manifestação divina no homem.

Santo Agostinho (354-430) — Aurelius Augustinus, mais conhecido como Santo Agostinho,
nasceu em Tagaste de Numídia – província romana ao norte da África – em 354. Jovem, de
temperamento impulsivo, entregou-se ao estudo e aprendeu toda a ciência de seu tempo.
Chegou a ser brilhante professor de retórica em Cartago, Roma e Milão. No ano 391, foi
proclamado sacerdote pelo povo. Cinco anos mais tarde, consagrado Bispo de Hipona – título de
serviço e não de honra –, converteu sua residência em casa de oração e tribunal de causas.
Pastor de almas, administrador de justiça, defensor da fé e da verdade, pregou e escreveu
condensando o pensamento de seu tempo. (PROVÍNCIA AGOSTINIANA DO BRASIL).

Foto: Philippe de Champaigne / Wikimedia Commons / Domínio Público


 Santo Agostinho.

São Tomás de Aquino (1225-1274) — Tomás de Aquino nasceu em 1225, em Aquino, uma
comuna italiana. Nascido em uma família de nobres, teve uma influente e apropriada educação.
Em Nápoles, para onde foi em 1239, estudou artes liberais. Com apenas 19 anos, em 1244,
abandonou o curso e decidiu seguir sua vocação religiosa, ingressando, em seguida, na Ordem
dos Dominicanos, em Paris. No ano seguinte, (...) escreveu suas primeiras obras. Foi discípulo
do bispo, filósofo e teólogo alemão Santo Alberto Magno (...).. Mais tarde, em 1252, Tomás de
Aquino retornou à Paris, onde se graduou em Teologia e seguiu a carreira de professor. Em 1274,
convocado pelo Papa Gregório 10º, viajou para participar do Concílio de Lyon. Contudo, adoeceu
durante a viagem e faleceu no mosteiro cisterciense de Fossanova aos 49 anos de idade.
(ROSATELI et al., 2017, p. 2)
Foto: Joseolgon / Wikimedia Commons / CC BY-SA 4.0
 Escultura de São Tomás de Aquino.

FILOSOFIA RENASCENTISTA OU MODERNA

Entre os séculos XV e XVIII – período que compreende a chamada Idade Moderna –, o


mercantilismo estimulava a descoberta de novas terras e o surgimento do acúmulo de riquezas
por nações em formação, como França e Itália. Ao mesmo tempo, ocorreu um processo de
valorização do homem (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001).

A nova conclusão de Copérnico (1473-1543), em 1543, de que a Terra não era o centro do
universo derivou uma revolução no conhecimento humano. Neste cenário, regras e métodos para
o estabelecimento do conhecimento científico começaram a surgir, levando à sua sistematização.
O capitalismo moveu o mundo em busca de matéria-prima para abastecer os mercados e
aumentar cada vez mais a produção.

O mundo foi posto em movimento. Disso resultou o surgimento da racionalidade do homem e a


busca pelo conhecimento científico em prol do desenvolvimento. O homem deixou de ser o centro
do universo (antropocentrismo) e deu esse lugar ao Sol. O homem estava livre para traçar seu
futuro e buscar novas conquistas.
Conhecimento e fé se tornaram independentes, e o homem passou a buscar pelo conhecimento
por meio da racionalidade. Neste momento, surgiram estudiosos como Friedrich Hegel (1770-
1831), que apontou a importância da história para o avanço do conhecimento, e Charles Darwin
(1809-1882), com a teoria da evolução das espécies, que descartou definitivamente o
antropocentrismo.

O filósofo francês René Descartes (1596-1650) também deixou contribuições fundamentais às


ciências naturais e à Psicologia. Ficou conhecido pela dualidade instituída na compreensão do
homem: corpo x mente. Para Descartes, o corpo poderia ser relacionado ao funcionamento de
uma máquina. Seus movimentos seriam previsíveis a partir do conhecimento de suas peças e
das relações entre elas. À mente cabia o conhecer, o raciocinar, o querer. Tais elementos
estariam no campo da Filosofia e, por ser a mente uma entidade sem localização, seriam
imensuráveis e não observáveis (SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E., 2009).

 SAIBA MAIS

René Descartes foi um dos filósofos que mais contribuiu para o avanço da ciência, sobretudo,
para o desenvolvimento da Psicologia, tentando resolver o problema mente e corpo – uma
questão controversa durante anos.

PERSPECTIVAS FISIOLÓGICAS DA
PSICOLOGIA
As questões da Psicologia até então estudadas pelos filósofos também passaram a ser
estudadas pela Fisiologia e pela Neurofisiologia. Pesquisas iniciais sobre o cérebro e o
comportamento tiveram um impacto crucial no desenvolvimento da Psicologia como ciência.
Nesste cenário, quatro cientistas foram apontados como responsáveis pelas primeiras
aplicações do método experimental ao objeto de estudo da Psicologia (SCHULTZ, D. P.;
SCHULTZ. S. E., 2009). Vamos conhecê-los.

Ernst Weber (1795-1878) — Nascido em Wittenberg, na Alemanha, realizou seu Doutorado na


Universidade de Leipzig, em 1815, onde também lecionou Anatomia e Fisiologia. Seu principal
interesse de pesquisa foi a fisiologia dos órgãos sensoriais – área em que forneceu duradouras
contribuições à Psicologia.

Foto: Rudolph Hoffmann / Wikimedia Commons / Domínio Público


 Ernst Heinrich.

Gustav Theodor Fechner (1801-1887) — Embora sua formação original tenha sido na

Matemática e Física, Fechner enveredou na Psicologia, partindo da convicção de que as


realidades psíquicas não se opunham às físicas. Assim, acreditava que havia um tipo de paralelo
entre elas, constituindo a essência de cada ser humano. Sua Psicologia Experimental tem como
base, portanto, as ciências exatas.
Foto: Gdr / Wikimedia Commons / Domínio Público
 Gustav Theodor Fechner.

Hermann von Helmholtz (1821-1894) — Pesquisador no campo da Física e Fisiologia,

Helmholtz, foi um dos maiores cientistas do século XIX. A Psicologia estava em terceiro lugar
entre as suas áreas de contribuição científica, contudo, ao lado das pesquisas de Gustav Theodor
Fechner e Wilhelm Wundt, seu trabalho foi decisivo para a fundação da nova Psicologia.

Foto: Rudolf Hoffmann / Wikimedia Commons / Domínio Público


 Hermann von Helmholtz.

Wilhelm Wundt (1832-1920) — Fundador da Psicologia como disciplina acadêmica formal, foi a
primeira pessoa na história a ser designada como psicólogo. Seu livro publicado em 1874,
Princípios da Psicologia Fisiológica, delineou muitas das principais conexões entre a ciência da
Fisiologia e o estudo do pensamento e do comportamento humano. Wundt criou o primeiro
laboratório de Psicologia Experimental do mundo em Leipzig, na Alemanha, em 1879.

Ao definir a Psicologia como ciência da experiência imediata, ele pretendia atacar uma
concepção de Psicologia muito comum em sua época, que tratava a mente como uma substância
ou entidade, seja espiritual (espiritualismo) ou material (materialismo). Para ele, essa forma de
estudar a Psicologia era equivocada, porque se baseava em hipóteses metafísicas que
extrapolavam toda a possibilidade de experiência.

Foto: Artista desconhecido / Wikimedia Commons / Domínio Público


 Wilhelm Wundt.

Como Wundt tinha a intenção de fundar uma nova Psicologia, autônoma e independente de
teorias metafísicas, recusou o objeto como concepção metafísica e deteve-se à experiência
psicológica propriamente dita. Ele descreve a Psicologia como a “ciência da experiência
consciente”. Assim, o método da Psicologia Científica deveria abranger as observações da
experiência consciente. Somente o sujeito que passa pela experiência é capaz de observá-la
(SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E., 2009). A seguir, confira mais sobre Wilhelm Wundt:

WILHELM WUNDT
Wundt estabeleceu que o método de observação devia necessariamente utilizar a introspecção, à
qual se referia como percepção interna. Dessa forma, deu-se o início oficial da Psicologia como
disciplina científica separada e distinta. A introspecção era entendida como:

“Observação dos próprios conteúdos psíquicos. Distinguem-se a introspecção simultânea, em


que a observação acontece simultaneamente à realização do evento psíquico, e uma
introspecção retroativa, na qual fatos psíquicos são examinados após seu desenvolvimento. No
início, usou-se a Psicologia Experimental como método de pesquisa dos processos psíquicos
superiores. Então, esta foi abandonada e passou a ser usada como um instrumento cognitivo em
todas as correntes psicológicas não comportamentais e, especialmente, na Psicologia Clínica,
em que o relato da experiência subjetiva é de notável importância, e na Psicoterapia, onde é a
premissa natural da interação entre terapeuta e paciente.” (Galimberti, 2002, p. 632)

O nascimento da Psicologia como ciência independente é um momento significativo. E é isso


que vamos aprofundar um pouco mais agora!
PRIMEIRAS ESCOLAS TEÓRICAS DA
PSICOLOGIA

Embora a Psicologia tenha surgido na Alemanha, foi nos Estados Unidos que ocorreu o
crescimento dessa nova ciência. Entre os anos 1883 e 1893, surgiram 23 novos laboratórios de
pesquisa psicológica. A partir de então, foram criadas as primeiras escolas teóricas da
Psicologia, com suas divergências internas. Vamos conhecê-las agora.

ESTRUTURALISMO

Embora não haja unanimidade entre os pesquisadores, boa parte define as raízes do
estruturalismo nos estudos de Wilhelm Wundt (1832-1920), foi sendo levado aos Estados Unidos
e difundido por seu discípulo britânico Edward Bradford Titchener (1867-1927).

Wundt era um típico professor alemão do século XIX, cuja vasta erudição é uma de suas
características essenciais. Não só escrevia de forma bastante rebuscada – com longos períodos
intercalados por várias orações subordinadas – como construíia seu pensamento a partir de
conceitos e expressões da própria tradição filosófica alemã que lhe precedeu (Leibniz, Wolff,
Kant, Hegel, Herbart, Schopenhauer etc.), que estão bem distantes do vocabulário psicológico da
tradição norte-americana predominante no cenário contemporâneo (ARAUJO, 2009, p. 219-
2010).

Ao fundar a Psicologia Estrutural, Titchener marcou a clara e decisiva divisão entre a Psicologia
estruturalista, de Wundt, e a funcionalista, de William James (1842-1910).

Titchener, preocupado com o pragmatismo que a compreensão funcionalista passara a enfatizar,


quando desenvolvida em solo americano, defendeu a prioridade do estruturalismo por meio de
um projeto que considerava tarefa fundamental da Psicologia, isto é, a análise da consciência em
seus elementos, na direção de determinar sua estrutura” (BARRETO, 2008, p. 149).

Titchener priorizou o papel da percepção sensorial, das funções cerebrais e da aprendizagem no


decorrer do desenvolvimento, analisando as relações entre a mente e os estímulos do mundo
físico. Para realizar suas investigações, também utilizou o método da introspecção.
 SAIBA MAIS

O estruturalismo foi considerado a primeira escola americana de pensamento no campo da


Psicologia. Embora sejam notáveis por sua ênfase na pesquisa científica, seus métodos eram
limitantes e subjetivos e, portanto, não confiáveis. Quando Titchener morreu, em 1927, o
estruturalismo praticamente morreu com ele (SCHULTZ, D. P.;; SCHULTZ, S. E., 2009).

Para o estruturalismo, os objetos de estudo da Psicologia eram os aspectos estruturais do


Sistema Nervoso Central – considerados aspectos elementares da consciência.

FUNCIONALISMO

O funcionalismo nasceu nos Estados Unidos e seu principal pesquisador foi Wiliam James (1842-
1910).

Os psicólogos funcionalistas definiam a Psicologia como uma ciência biológica, interessada em


estudar os processos, as operações e os atos psíquicos (mentais) como formas de interação
adaptativa, para descobrir a função desses mesmos processos e os atos psíquicos.

Para o funcionalismo, o objeto de estudo da Psicologia era a consciência, sobretudo o


funcionamento da consciência, como o homem a utiliza para se adaptar ao meio.

ASSOCIACIONISMO

O principal representante do associacionismo é Edward Lee Thorndike (1874-1949). Discípulo de


William James, Thorndike foi considerado um dos mais importantes pesquisadores no
desenvolvimento da Psicologia Animal (SCHULTZ; , D. P.; SCHULTZ. S. E., 2009). Elaborou uma
teoria objetiva e mecanicista da aprendizagem, que se concentrou no comportamento manifesto.
Acreditava que a Psicologia deveria estudar o comportamento e não elementos mentais ou
experiências conscientes.

 SAIBA MAIS
Segundo Thorndike, a aprendizagem decorre de um processo de associação de ideias, das mais
simples às mais complexas. O ponto central dessa teoria está em analisar como as ideias se
unem e se guiam até se tornarem estáveis. Assim, formulou a primeira teoria da aprendizagem na
área da Psicologia, entendendo-a não em termos subjetivos, mas pelas conexões concretas entre
estímulos e respostas.

Thorndike fez diversos experimentos com animais e percebeu que, ao oferecer algum tipo de
recompensa, os animais faziam o que ele queria. Assim, relacionou o comportamento humano ao
comportamento animal.

Para o associacionismo, o objeto de estudo da Psicologia era o comportamento.

Essas três escolas que constituíram a Psicologia Científica deram origem, no século XX, a novas
teorias, as quais serão abordadas no próximo módulo.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. A PSICOLOGIA RECEBEU SEU ESTATUTO DE CIÊNCIA APENAS NO


SÉCULO XIX. ENTRETANTO, AS DEMANDAS PSICOLÓGICAS ESTÃO
PRESENTES NA HISTÓRIA DESDE QUE SE CONSTITUIU A PRÓPRIA
HUMANIDADE. POR ISSO, ALGUNS AUTORES DEFENDEM QUE SE DEVA
BUSCAR NA ORIGEM DO PENSAMENTO (OCIDENTAL, PELO MENOS) A
BASES PARA A COMPREENSÃO DA PSICOLOGIA. ESSA PERSPECTIVA É
CHAMADA DE:

A) Perspectiva filosófica

B) Perspectiva fisiológica

C) Perspectiva psicológica original

D) Perspectiva funcionalista

E) Perspectiva associacionista
2. NO ÂMBITO DA PERSPECTIVA FISIOLÓGICA DA PSICOLOGIA,
FUNDAMENTADA NAS TEORIAS DE WEBER, FECHNER, HELMHOLTZ E
WUNDT, MERECE DESTAQUE O PENSAMENTO DESTE ÚLTIMO
FILÓSOFO, ESPECIALMENTE POR TER SIDO DESIGNADO,
ESPECIFICAMENTE, COMO O PRIMEIRO A SER RECONHECIDO COMO
PSICÓLOGO. ANALISE AS AFIRMAÇÕES A SEGUIR SOBRE SEU
PENSAMENTO:

I. WUNDT FOI O PRIMEIRO FISIOLOGISTA A CRITICAR OS


LABORATÓRIOS DE PSICOLOGIA EXPERIMENTAL QUE COMEÇAVAM A
APARECER, NA ALEMANHA, EM FINS DO SÉCULO XIX.

II. WUNDT CRITICAVA A PSICOLOGIA DE SUA ÉPOCA, POIS ESTA


TRATAVA A MENTE HUMANA COMO UMA SUBSTÂNCIA METAFÍSICA.

III. PARA WUNDT, A PSICOLOGIA DEVERIA SER ENTENDIDA COMO A


CIÊNCIA DO INCONSCIENTE, E TODO MÉTODO PSICOLÓGICO DEVERIA
SER BASEADO NA OBSERVAÇÃO DO INCONSCIENTE DO INDIVÍDUO.

ESTÁ(ÃO) CORRETA(S) A(S) AFIRMAÇÃO(ÕES):

A) I apenas

B) II apenas

C) III apenas

D) I e II

E) I e III

GABARITO
1. A Psicologia recebeu seu estatuto de ciência apenas no século XIX. Entretanto, as
demandas psicológicas estão presentes na história desde que se constituiu a própria
humanidade. Por isso, alguns autores defendem que se deva buscar na origem do
pensamento (ocidental, pelo menos) a bases para a compreensão da Psicologia. Essa
perspectiva é chamada de:
A alternativa "A " está correta.

A perspectiva filosófica é aquela que busca na história da Filosofia – desde a Filosofia Clássica
(grega), passando pela Filosofia Medieval até chegar à Filosofia Moderna – as bases teóricas
que fundamentam o nascimento da Psicologia como ciência no século XIX.

2. No âmbito da perspectiva fisiológica da Psicologia, fundamentada nas teorias de


Weber, Fechner, Helmholtz e Wundt, merece destaque o pensamento deste último
filósofo, especialmente por ter sido designado, especificamente, como o primeiro a ser
reconhecido como psicólogo. Analise as afirmações a seguir sobre seu pensamento:

I. Wundt foi o primeiro fisiologista a criticar os laboratórios de Psicologia Experimental


que começavam a aparecer, na Alemanha, em fins do século XIX.

II. Wundt criticava a Psicologia de sua época, pois esta tratava a mente humana como
uma substância metafísica.

III. Para Wundt, a Psicologia deveria ser entendida como a ciência do inconsciente, e todo
método psicológico deveria ser baseado na observação do inconsciente do indivíduo.

Está(ão) correta(s) a(s) afirmação(ões):

A alternativa "B " está correta.

Wundt considerava a Psicologia como ciência da experiência e foi o primeiro a fundar


laboratórios de Psicologia Experimental. Por esse mesmo motivo, combatia o pensamento de
sua época, que via na Psicologia uma experiência metafísica, desconectada da experiência real
dos indivíduos. Da mesma forma, ele entendia a Psicologia como uma ciência da experiência
consciente, e não do inconsciente.

MÓDULO 3

 Identificar as principais abordagens teóricas e seus respectivos objetos de estudo


OBJETOS DE ESTUDO DA PSICOLOGIA
Como vimos no módulo anterior, as pesquisas em Psicologia, inicialmente vinculadas à Filosofia,
tinham a alma como objeto de estudo. Aliás, a palavra Psicologia tem sua origem no grego:

PSIQUE = ALMA, ESPÍRITO

LOGOS = ESTUDO

Ao se desvincular da Filosofia, a Psicologia passou a se ligar à Medicina, mais especificamente


à Fisiologia e à Neurofisiologia, ascendendo de acordo com os padrões da ciência da época
(século XIX). A partir de então, os estudos em Psicologia passaram a ser laboratoriais e o

comportamento se instituiu como objeto de estudo.

Contudo, no século XX, a Psicologia assumiu um papel para além dos laboratórios. Nesse
cenário, destacaram-se três teorias: Behaviorismo, Gestalt e Psicanálise. Cada uma tem
relevância única na forma de compreender o ser humano, conforme veremos a seguir.

BEHAVIORISMO
O termo Behaviorismo foi inaugurado por John Broadus Watson (1878-1958) em seu artigo
intitulado Psicologia: como os behavioristas a veem. Embora essa terminologia seja a mais
utilizada no Brasil, outras denominações também são conhecidas (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA,
2001):

COMPORTAMENTALISMO
TEORIA
COMPORTAMENTAL

ANÁLISE EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO

ANÁLISE DO
COMPORTAMENTO

PSICOLOGIA
EXPERIMENTAL

Nesta abordagem, dois pensadores se destacaram: John Broadus Watson e Burrhus Frederic
Skinner (1904-1990). Watson é considerado o porta-voz da abordagem behaviorista; já Skinner, o
principal autor dessa abordagem. Ao primeiro, deve-se o behaviorismo metodológico, enquanto
ao segundo, o behaviorismo radical. Vejamos mais detalhadamente cada um deles.

BEHAVIORISMO METODOLÓGICO

John Broadus Watson destacou-se como behaviorista. Como vimos, tornou o comportamento
como objeto de estudo da Psicologia em contraposição à abordagem mentalista que vigorava na
época.

A teoria behaviorista surgiu numa época em que as investigações na área da Psicologia eram
realizadas por meio da introspecção. Contudo, os behavioristas metodológicos acreditavam que
o autoexame não era suficiente para conferir à Psicologia o caráter de ciência. Então,
propuseram um enfoque no mundo objetivo, ou seja, no comportamento observável.
 ATENÇÃO

Assim como os behavioristas da época, Watson não ignorava os sentimentos, a emoção e a


subjetividade, mas acreditava que esses aspectos não podiam ser concebidos como objetos de
estudo da Psicologia, pois não eram mensuráveis.

O Behaviorismo metodológico ficou conhecido como Teoria S-R (estímulo-resposta) e


fundamentou-se nos experimentos do fisiologista russo Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936).

Em seus estudos, Pavlov percebeu que os cães, que estavam no laboratório havia algum tempo,
começavam a salivar antes de serem alimentados. Para tentar explicar essa salivação
antecipada, ele desenvolveu uma série de experimentos.

Para Pavlov, no condicionamento clássico ou respondente, a aprendizagem sempre começa


com uma resposta não aprendida, evocada por um estímulo específico. Essa relação entre
estímulo (comida) e resposta (salivação) incondicionados foi chamada de reflexo ou resposta

incondicionada.

Depois, o fisiologista associou aos seus estudos um estímulo neutro (som de um sino) e o
estímulo incondicionado (comida). O som do sino, por si só, começou a evocar a salivação como
resposta. Esse som ficou conhecido como o estímulo condicionado, e a salivação em resposta
ao sino foi denominada resposta condicionada.

Foto: Rklawton / Wikimedia Commons / CC BY-SA 3.0


 Um dos muitos cães usados por Pavlov nas suas experiências, Museu Pavlov, Rússia.
Os behavioristas metodológicos, especialmente Watson, adaptaram esses conceitos voltados
aos animais para o estudo do comportamento humano, reproduzindo experimentos
principalmente com crianças.

Para Watson, nascemos praticamente iguais, com um pequeno repertório de respostas (como
medo, raiva e amor) dirigidas a alguns estímulos específicos. Ao longo da vida, aprendemos a
associar esses comportamentos a outros estímulos, muitas vezes sem significado emocional.

Para ilustrar seu experimento, Watson desenvolveu uma demonstração bastante conhecida (e
polêmica), em que tentou condicionar um corajoso bebê de 11 meses a sentir medo de um rato
branco – e, por transferência, medo de outros elementos com os quais já havia brincado
anteriormente.

QUANDO WATSON CONDICIONOU UM BEBÊ DE 11


MESES
Um bebê saudável de 11 meses, chamado de Albert B., participou desse estudo. Albert foi
escolhido devido a sua estabilidade emocional, já que, antes do experimento, não demonstrava
nenhuma reação de medo diante de uma série de animais e objetos, como, por exemplo, rato
branco, coelho, cachorro, algodão, máscara com e sem cabelo e jornais em chamas. Nos testes
iniciais, o bebê só mostrava medo diante de ruídos intensos e repentinos. Dessa forma, para que
o medo fosse condicionado, os experimentadores apresentavam a Albert um rato branco
(estímulo que, inicialmente, era neutro, porque não eliciava nenhuma reação desse tipo), e, assim
que o bebê tocava o animal, era produzido um som alto (de um martelo batendo em uma barra)
atrás de sua cabeça (supostamente um estímulo aversivo incondicional). Inicialmente, foram feitos
dois pareamentos entre o rato e o som. Depois do primeiro pareamento, o bebê saltou
violentamente, tombou para frente, escondeu o rosto, mas não chorou. Na segunda apresentação
dos estímulos, Albert saltou, tombou novamente para frente e começou a choramingar
(BISACCIONI; CARVALHO NETO, 2010, p. 493).

Mais do que contribuir para avanços nessa linha teórica, Watson foi um grande divulgador do
behaviorismo nos Estados Unidos. Embora seus resultados não tenham passado por testes de
validação, muitas de suas ideias tiveram grande influência nas práticas educacionais.

 SAIBA MAIS
A noção de que as condições ambientais são elementos poderosos para moldar padrões
comportamentais, em detrimento da genética, perdurou por muito tempo. Além disso, o controle
das emoções e o condicionamento emocional ainda são utilizados por pais e professores em
vários países ocidentais.

BEHAVIORISMO RADICAL

Burrhus Frederic Skinner aceitava o condicionamento clássico de Pavlov, mas acreditava que a
ideia era válida apenas para uma variedade limitada de comportamentos humanos: apenas os
que poderiam ter uma resposta inicial provocada por um estímulo conhecido.

Defensor do Behaviorismo radical, Skinner propôs que o objeto de estudo da Psicologia deveria
ser o comportamento dos seres vivos, especialmente o do homem. Todavia, ao usar o termo
comportamento, Skinner não se referia apenas aos comportamentos observáveis, mas também a
eventos considerados “encobertos”, tais como o pensamento e a emoção — sentimentos
acessíveis apenas ao próprio sujeito.

Para Skinner, o organismo age voluntariamente no ambiente. Disso resulta sua proposta de
condicionamento operante. Enquanto para Pavlov, as respostas eram provocadas por um

estímulo (comportamento respondente), para Skinner, as repostas eram emitidas pelo indivíduo
(comportamento operante). Os resultados da resposta seriam centrais para a aprendizagem, ou
seja, as consequências do comportamento determinariam a probabilidade de ele ocorrer de
novo.

Para mensurar os comportamentos em suas pesquisas, Skinner utilizava sua invenção: a câmara
de condicionamento operante (caixa de Skinner).
Imagem: Andreas1 / Wikimedia Commons / CC BY-SA 3.0.
 Câmara de condicionamento operante (caixa de Skinner).

A partir dessa caixa, Skinner fez observações sistemáticas sobre reforçamento e punição,
detalhando objetivamente elementos como aquisição, extinção, esquecimento, generalização e
discriminação, sempre baseado nas respostas observáveis. Segundo ele, os conhecimentos
advindos dessas experiências e desses estudos poderiam ser transferidos para as diferentes
situações cotidianas das pessoas.

 SAIBA MAIS

O Behaviorismo tornou-se uma importante escola da Psicologia que permite a análise, o reforço
e a modificação dos comportamentos.

GESTALT
A Gestalt surgiu na Alemanha, em 1912, e foi introduzida nos Estados Unidos oito anos depois.
Seus principais seguidores foram Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler (1887-1967) e
Kurt Koffka (1886-1941), os quais se basearam em estudos psicofísicos que relacionavam a
forma e sua percepção. Talvez o nome mais conhecido, por conta da criação da Gestalt Terapia,
seja Friederich Salomon Perls.

Uma das principais contribuições da Gestalt para a Psicologia refere-se à concepção do homem
de forma integrada. A teoria afirma que só é possível compreender o homem e a situação a ele

relacionada por meio do conhecimento de todas as partes envolvidas no todo. O lema da Gestalt
é: “O todo é mais que a soma de suas partes”.

FRIEDERICH SALOMON PERLS

Frederick Salomon Perls (1893-1970), também conhecido como Fritz Perls, insatisfeito com
as proposições adotadas no método clínico psicanalítico, iniciou o desenvolvimento de um
projeto terapêutico que, em 1951, passaria a chamar Gestalt Terapia: uma teoria e prática
clínica sustentada em aportes advindos da Psicologia da Gestalt, Teoria de Campo, Teoria
Organísmica, filosofias de base fenomenológica, entre outros. A Gestalt tomou uma forma
peculiar de sustentação teórica e ação terapêutica. (COMUNIDADE GESTÁLTICA, 2021).

O objetivo dessa teoria é estudar como os seres vivos percebem as coisas, entre elas, os
objetos, as imagens e as sensações. O conceito central da Gestalt é a percepção. A disposição
em que os elementos são apresentados à percepção é muito importante. A percepção do
homem não ocorre por meio de pontos isolados, de forma fragmentada, mas sim por uma visão
do todo.

Segundo a Gestalt, existe uma dependência entre as partes, pois não as percebemos de forma
isolada, mas pelo estabelecimento das relações entre elas. Desse modo, para o homem é
considerado sempre a soma das partes que constituem sua totalidade. Por isso, essa teoria
analisa a vida psíquica sob a ótica da combinação dos elementos, que seriam as sensações e as
imagens que a constituem (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).

De acordo com os estudiosos da Gestalt, diferentemente do que propõem os behavioristas, entre


o estímulo que o meio fornece e a resposta do indivíduo existe o processo de percepção, que
interfere diretamente na compreensão do comportamento humano. Ambas as teorias definem a
Psicologia como a ciência que estuda o comportamento, mas o Behaviorismo o faz a partir da
relação estímulo-resposta, isolando o estímulo relacionado à resposta esperada e
desconsiderando os aspectos da consciência. Já a Gestalt entende que o comportamento não
pode ser estudado sem levar em consideração as condições que alteram a percepção do
estímulo.

A indissociabilidade da parte em relação ao todo permite que, quando o indivíduo observa o


fragmento de um objeto, ocorra uma tendência natural à restauração do equilíbrio da forma,
proporcionando, assim, o entendimento do que foi percebido. Esse fenômeno perceptivo é
norteado pela busca de fechamento, simetria e regularidade dos pontos que compõem uma
figura (objeto).

Outro tópico importante diz respeito à boa forma. Por meio da percepção, é possível
compreender aquilo que foi observado. Quanto mais clara estiver a forma (boa forma), mais clara
será a separação entre figura e fundo.

PERCEPÇÃO

Conjunto de funções psicológicas que permitem ao corpo adquirir informações sobre o


estado e as mudanças de seu ambiente, graças à ação de órgãos especializados, como
visão, audição, olfato, paladar e toque (GALIMBERTI, 2002, p. 801).

Em contrapartida, se os elementos percebidos não apresentam equilíbrio, simetria, estabilidade,


simplicidade e regularidade, não é possível alcançar a boa forma. Portanto, o elemento que
objetivamos compreender deve ser apresentado em seus aspectos básicos, de tal maneira que a
tendência à boa forma conduza ao entendimento.

A tendência da percepção em buscar a boa forma permite a relação figura-fundo. Buscamos


organizar as percepções do objeto observado (figura) e o plano contra o qual ele se destaca
(fundo). Na figura a seguir, a imagem se destaca de forma mais substancial e se sobressai do
fundo. Além disso, quanto mais clara a forma (boa forma), mais perceptível a distinção entre a
figura e o fundo.
Imagem: John Smithson / Wikimedia Commons / Domínio Público
 Percepção figura-fundo.

Outro conceito importante é o de campo psicológico, entendido como um campo de força que

atua na percepção, que leva à procura da boa forma. Figurativamente, podemos relacioná-lo a
um campo magnético criado por um imã (a força de atração e repulsão). Esse campo de força
psicológico tem uma tendência que garante a busca da melhor forma possível em situações que
não estão muito estruturadas.

Para os defensores da Gestalt, no processo de aprendizagem, a experiência e a percepção são


mais importantes que as respostas a cada estímulo. A preocupação reside na totalidade do
comportamento, deixando em segundo plano as respostas isoladas e específicas.

Essa valorização da totalidade do comportamento também está fundamentada nos princípios da


psicologia da Gestalt. São eles:
Imagem: Shutterstock.com

PROXIMIDADE

Tendemos a agrupar os objetos ou elementos perceptuais por sua proximidade.

SIMILARIDADE

Objetos parecidos tendem a ser percebidos como relacionados entre si.

SEMELHANÇA

As partes semelhantes pretendem ser percorridas unidas, constituindo um conjunto.

CONTINUIDADE
Os fenômenos perceptivos tendem a ser considerados contínuos. Assim, continuamos a ver a
linha curva como única, mesmo que haja uma reta cortando-a.

FECHAMENTO

Tendemos a completar uma figura. Quando olhamos uma imagem incompleta, tendemos a
percebê-la como um desenho completo.

PSICANÁLISE
A Psicanálise originou-se na prática clínica do médico e fisiologista Josef Breuer (1842-1925),
mas foi criada efetivamente pelo médico Sigmund Schlomo Freud (1856-1939).

Foi a partir da prática médica que Freud postulou como objeto de estudo da Psicologia os
processos mentais inconscientes, além de teorizar sobre a estrutura e o funcionamento da
mente humana, quebrando a tradição da Psicologia como ciência da consciência e da razão.

Como metodologia de investigação, Freud inaugurou o método psicanalítico e uma prática


profissional terapêutica: a Terapia Psicanalítica ou Psicanálise. Esta terapia se caracteriza pelo
método interpretativo, busca o significado oculto das ações, dos comportamentos e das palavras,
além de usar os sonhos, os delírios, as associações livres e os atos falhos no processo
psicanalítico.

Com a Psicanálise, a preocupação da Psicologia se deslocou do comportamento observado


para a busca de seu possível significado ou sentido oculto, manifestado nos sintomas por meio
de palavras, atos ou produções imaginárias (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001).

INCONSCIENTE E PULSÃO

O conceito central da teoria psicanalítica é o inconsciente. A consideração de que existem

processos psíquicos inconscientes que determinam a vida psíquica é o fator diferencial dessa
teoria.
O inconsciente é formado por conteúdos psíquicos inacessíveis, em primeira instância, à
consciência. Ele influencia o pensamento, o comportamento, as escolhas, as opiniões, ou seja, a
vida consciente. Entre os conteúdos inconscientes podemos listar:

Acontecimentos do passado

Fatos imaginados

Cenas presenciadas na primeira infância

Acontecimentos presenciados não percebidos pela consciência

Lembranças recalcadas

Sigmund Freud chegou ao inconsciente, primeiramente, por meio dos sonhos. Também afirmou
que os atos falhos – como, por exemplo, palavras ditas sem a intenção de dizê-las – e os lapsos
(falhas) de memória são caminhos para se chegar ao inconsciente.

A pulsão refere-se à força que move a psique em determinada direção. É como um impulso,
uma energia originada no próprio corpo, em um órgão ou parte do corpo (chamado de fonte), que
se dirige à psique. A pulsão não pode ser identificada diretamente, mas por meio de seus
representantes psíquicos, que podem ser ideias ou afetos.

Apesar de ter origem orgânica, o conceito de pulsão não pode ser reduzido à ideia de instinto:

Instinto

Para Freud, refere-se a um comportamento hereditário, adaptado a seu fim.


Pulsão

Busca a satisfação, pois seu princípio é o prazer. Como força e impulso, a pulsão constitui e
direciona o desenvolvimento da psique.

Há diferentes pulsões. Inicialmente, Freud identificou a pulsão de natureza sexual, denominada


libido: a força que busca o prazer. Posteriormente, outros tipos de pulsão foram nomeados, como
a pulsão do ego, que é a tendência à autopreservação.

Em sua segunda teorização sobre pulsão, Freud postulou dois tipos básicos. São eles:
Eros

Designa os impulsos que tendem para a vida, o prazer, o amor, a amizade e a sexualidade,
incluindo os impulsos para a organização, a união, a criação e a construção.

Thánatos (tânatos)

Designa as tendências para a supressão das necessidades, das angústias e dos desejos, isto é,
as tendências para a inatividade e para a morte, incluindo os impulsos de destruição e
desagregação. É na relação conflituosa entre essas duas forças que se desenvolve a vida
psíquica.

ORGANIZAÇÃO DO PSIQUISMO

Em 1900, Freud publicou o livro A interpretação dos sonhos – um marco na história da


Psicanálise. Ele apresentou a primeira concepção da estrutura e do funcionamento do aparelho
psíquico, postulado em sua “primeira tópica”: consciente, pré-consciente e inconsciente.

Por aparelho psíquico, Freud se refere à noção de que a psique pode ser compreendida como
uma organização de diferentes sistemas. Para ele, a mente seria subdividida em instâncias —
cada uma com sua função própria (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001).

Consciente — É somente uma pequena parte da mente, que inclui tudo que se conhece em um
dado período. É chamado de sistema do aparelho psíquico, que recebe as informações do
mundo externo e do mundo interno ao mesmo tempo.

Pré-consciente — É um componente do inconsciente, mas um elemento que pode se tornar


consciente com facilidade. Os pedaços da memória que são compreensíveis fazem parte do pré-
consciente.

Inconsciente — Nesta primeira teoria, é o lugar em que ficam os elementos naturais, que jamais
foram conscientes e que não são compreensíveis à consciência. O inconsciente é um sistema do
aparelho psíquico regido pelas próprias leis de funcionamento.
Imagem: Shutterstock.com

Com base em seus estudos posteriores, em 1920, Freud remodelou a teoria do aparelho
psíquico e propôs uma “segunda tópica”: id, ego e superego (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA,
2001).

Imagem: Shutterstock.com

Id — É o reservatório da energia psíquica, totalmente inconsciente, em que se encontrariam as


pulsões que movem o homem.
Ego — É regido pela realidade e, em sua maior parte, é consciente — apesar de também
apresentar uma parte inconsciente (defesas psíquicas). Ele é o mediador da busca por
satisfação, considerando as condições objetivas da realidade. Suas funções básicas são:
percepção, pensamento, sentimento e memória.

Superego — É o representante psíquico das exigências culturais e sociais, ou seja, ele se


constitui das proibições, dos limites, da autoridade internalizada. Portanto, assume o papel da
moral, responsabilizando-se pela construção de ideais a partir de modelos externos.

Outra importante contribuição de Freud para a compreensão do aparelho psíquico refere-se aos
processos denominados mecanismos de defesa do ego, usados para evitar o desprazer.

Além de Sigmund Freud, outros pesquisadores contribuíram para o desenvolvimento da


Psicanálise com suas próprias teorias, algumas das quais apresentaram discordâncias com as
ideias freudianas. Entre eles, especialmente discípulos de Freud, estão:

Alfred Adler (1870-1937)

Carl Gustav Jung (1875-1961)

Melanie Klein (1882-1960)

Anna Freud (1895-1982)

Donald Woods Winnicott (1896-1971)

Wilhelm Reich (1897-1957)

Jacques Lacan (1901-1981)


Vamos entender um pouco mais a diferença entre a abordagem behaviorista, gestaltista e
psicanalista?

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. AS TRÊS MAIS IMPORTANTES TENDÊNCIAS TEÓRICAS DA


PSICOLOGIA NO SÉCULO XX SÃO CONSIDERADAS, POR INÚMEROS
AUTORES, O BEHAVIORISMO, A GESTALT E A PSICANÁLISE. SOBRE O
ASSUNTO, ASSINALE A ALTERNATIVA INCORRETA:
A) O Behaviorismo nasceu com Watson e teve um desenvolvimento grande nos Estados Unidos
em função de suas aplicações práticas.

B) A Psicanálise reforçou a tradição da Psicologia como ciência da consciência e da razão.

C) A Gestalt surgiu como uma negação da fragmentação das ações e dos processos humanos,
realizada pelas tendências da Psicologia Científica do século XIX, postulando a necessidade de
se compreender o homem como uma totalidade.

D) O Behaviorismo tornou-se importante por ter definido o objeto da Psicologia de modo


concreto, com base na noção de comportamento (behavior) observável.

E) A Psicanálise nasceu com Freud, na Áustria, a partir da prática médica, recuperando para a
Psicologia a importância da afetividade e postulando o inconsciente como objeto de estudo.

2. A RESPEITO DAS ESCOLAS DA PSICOLOGIA CIENTÍFICA QUE, NO


SÉCULO XX, FOMENTARAM O DESENVOLVIMENTO DE OUTRAS
ABORDAGENS TEÓRICAS, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:

A) A Psicanálise caracteriza-se por estudar as verdades existenciais por meio da ação e por

adotar como método a pesquisa e a intervenção nas relações interpessoais em grupos.

B) A Psicanálise mobiliza o reconhecimento das diferenças e dos conflitos, com o objetivo de que
se vivencie a realidade, e facilita a busca de alternativas para a resolução do que é revelado,
expandindo os recursos disponíveis.

C) O Behaviorismo de Watson defende uma filosofia de ciência do comportamento, partindo da

premissa de que o ser humano é um ser ativo, social e histórico, e que o sujeito e o mundo são
âmbitos distintos, mas criados no mesmo processo e se completam.

D) Retomando parte da compreensão da Psicologia em sua origem – basicamente uma ciência


experimental e observável –, Skinner, defensor do Behaviorismo radical, compreende que o
comportamento dos animais pode ser observado e controlado.

E) Uma das principais contribuições da Gestalt para a Psicologia refere-se à concepção do


homem fragmentado.

GABARITO
1. As três mais importantes tendências teóricas da Psicologia no século XX são
consideradas, por inúmeros autores, o Behaviorismo, a Gestalt e a Psicanálise. Sobre o
assunto, assinale a alternativa incorreta:

A alternativa "B " está correta.

A compreensão da Psicologia como ciência da consciência e da razão está vinculada às


origens da Psicologia em seu estatuto como ciência. Por isso, seu nascimento está relacionado
com os laboratórios experimentais. Freud trouxe à tona o valor do inconsciente, e toda a teoria
psicanalista é baseada, de alguma forma, exatamente nesse componente.

2. A respeito das escolas da Psicologia Científica que, no século XX, fomentaram o


desenvolvimento de outras abordagens teóricas, assinale a alternativa correta:

A alternativa "D " está correta.

O Behaviorismo ou a Psicologia entendida como ciência do comportamento ganhou grande


incentivo com Skinner, seja porque ele deu seguimento ao estatuto original da Psicologia, seja
porque seus experimentos, fundamentados no condicionamento operante, tiveram grande
impacto real na compreensão do comportamento humano.

Você também pode gostar