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DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
TÓPICOS DE FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
PROF. DR. ALBERTINHO LUIZ GALLINA
CONVICÇÕES NATIVAS:
UMA DEFESA DO SENSO COMUM
Santa Maria, RS
2022/2
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RESUMO
Este ensaio versa sobre o problema do senso comum, apresentado na obra de Leclerc como
preconceito não-científico do qual o filósofo ou cientista parte para se aprofundar com seu
treinamento especial. Apresento argumentos em favor do senso comum contra construtos teóricos
reducionistas e pretensamente objetivos. Menciono brevemente algumas outras abordagens, entre
elas o materialismo, o ceticismo e o behaviorismo, argumentando contra suas aspirações de
superioridade com relação às explicações populares. Defendo minha posição com base nas
observações de Peter Strawson e Thomas Reid, filósofos que se propuseram a elucidar a estrutura
destes princípios compartilhados entre os seres humanos, por vezes banalizados por filósofos como
sinônimos de uma percepção popular ou ordinária. Concluo arguindo em favor de uma valorização
do aparentemente ordinário e da importância de compreender como estes fundamentos alicerçam
nossa maneira humana de existir, traçando paralelos com o projeto da linguística cognitiva.
1 INTRODUÇÃO
2 JUSTIFICATIVA
3 PROBLEMA
Thomas Reid considerou que tais princípios, comuns tanto aos vulgares
quanto aos filósofos e cientistas, não precisam de prova ou observação por serem,
eles mesmos, a condição de possibilidade de qualquer investigação, posto
corresponderem à estrutura da nossa experiência. Comportar-se de uma forma que
se distancia deles conduziria a atitudes antinaturais e antissociais, levando a
conflitos com o mundo e com a comunidade. Não acreditar na existência de outras
mentes, por exemplo, como supõe o ceticismo mais radical do solipsismo, resultaria
em consequências catastróficas, não somente para a sociabilidade como para a
própria sobrevivência (REID, 1764/1997).
Mesmo o cético mais radical, quando regressa à sua vida social e cotidiana,
simplesmente assume por certa a existência de outras mentes. Certamente o mais
radical determinista, seja filósofo ou neurocientista, também não se vê livre dos
sentimentos morais de culpa e responsabilidade – bem como de gratidão,
ressentimento e indignação –, só por ter aderido intelectualmente a uma hipótese
acerca da natureza da realidade. Isso não passa por cima de sua humanidade.
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4 METODOLOGIA
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A maneira como nos sentimos e como sentimos o mundo não pode ser
radicalmente revogada pelo prospecto de uma construção teórica. Para todos os
efeitos, mesmo que a neurociência e o determinismo eliminem completamente
qualquer noção de responsabilidade e volição, nada disso passará por cima de
nossa experiência direta e intuitiva do nosso senso unitário de agência individual.
Continuaremos sendo seres que responsabilizam, se responsabilizam e ressentem.
Somos como somos independentemente de teorias oficialmente aceitas a respeito.
Nossa experiência da realidade é mediada por nossa própria humanidade, a
qual não deve ser vista como empecilho para a realização da observação objetiva,
mas sim como a condição do nosso próprio observar. O modo como funcionamos
não será virado ao avesso pela ciência, precisamente porque é o modo como
funcionamos que permite que façamos tal coisa como ciência ou filosofia. Por mais
que, num nível teórico, possamos especular a nós mesmos como objetos neutros,
não é assim que vivemos na prática: somos participantes, e não objetos de estudo.
Não podemos nos forçar a abandonar nosso ponto de vista participante,
profundamente enraizado na natureza de nossa própria humanidade. Diz Strawson:
REFERÊNCIAS
____. Philosophy in the Flesh: The Embodied Mind and Its Challenge to Western
Thought, New York: Basic Books, 1999.
REID, Thomas (1764). An Inquiry into the Human Mind. Edited by Derek R.
Brookes. Edinburgh: Edinburgh University Press, 1997.