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etodologia científica e educação. Santa Catarina: UFSC, 2009.
Cap. 3 – Critérios de demarcação do conhecimento científico.
Introdução
O tema deste capítulo constitui uma das mais importantes discussões em metodologia científica e
educação. Afinal de contas, como demarcar ou precisar exatamente o que é pensamento científico?
Como distinguir o conhecimento científico do conhecimento não científico? Qual a importância da
demarcação do conhecimento científico para a prática de ensino? Quais são os critérios que podemos
utilizar para responder a essas questões?
Na primeira abordagem estamos propondo uma discussão de cunho abrangente, que autores como
Pedro Demo1 denominam de orientação externa à ciência, ao passo que, no segundo caso, estamos
tratando de critérios internos da atividade científica, que são a marca estrutural do reconhecimento do
saber especializado da ciência. Os critérios externos do conhecimento científico constituem a forma
como a ciência é vista “de fora” da atividade científica; mas não significam critérios estranhos a ela.
Por sua vez, intersubjetividade, na definição habermasiana, constitui o exercício pleno da experiência
humana, quando ocorre a comunicação das consciências individuais, umas com as outras em
reciprocidade. O campo da interação interpessoal está em oposição aos subjetivismos individuais e à
pressuposição de uma filosofia da consciência isolada do ser como depositária de uma verdade última
sobre a realidade. Nesse sentido, a intersubjetividade funciona como um campo de articulação entre as
diversas formas de comunicar a consciência.
A crítica na atividade científica é considerada a razão de ser da ciência e ela somente pode existir no
espaço do diálogo livre e aberto, próprio da intersubjetividade. O conhecimento científico nasce e se
1
DEMO, Pedro. Metodologia da pesquisa científica. São Paulo: Atlas, 1995.
alimenta da saudável controvérsia sobre temas de interesse dos cientistas. Fazer ciência equivale,
permanentemente, a alimentar a dúvida sobre a certeza em relação à verdade. A ciência nutre-se do
dissenso.
Sobre esse particular, podemos dizer que o conhecimento científico pressupõe certa noção de
democracia como pano de fundo, uma vez que ele requer, a livre expressão de pensamento. Por
conseguinte, o conhecimento científico estabelece um processo de diferenciação social que é anterior e
superior ao processo de produção comum às sociedades de classe. Esse ponto é fundamental. Daqui
originam-se as especificidades distintivas entre conhecimento científico e demais modalidades de
conhecimento. Entre essas últimas, enumeramos:
1) senso comum;
2) senso comum informado;
3) conhecimento tradicional;
4) religião;
5) ideologia
6) filosofia
O senso comum caracteriza-se por ser acrítico, imediatista e impreciso. O senso comum está carregado
de percepções que não subsistem ao raciocínio crítico. Além disso, contém, muitas vezes, um elevado
grau de preconceitos de gênero, nacionalidade, etc. O senso comum é visto, geralmente, como falso
conhecimento, mas há também um tipo específico de senso comum denominado senso comum
informado. Segundo Giddens o conhecimento científico rivaliza com o senso comum na medida em que
o já tradicional saber especializado da ciência espirala na sociedade, provocando orientações balizadas
pela ciência.
Segundo esse entendimento, o senso comum informado seria responsável, por exemplo, pelas
mudanças sociais induzidas pela divulgação de pesquisas científicas, como é o caso das pesquisas que
quantificam o número de divórcios numa determinada sociedade, provocando a diminuição do número
de casamentos, ou das pesquisas sobre a problemática ambiental que induzem indivíduos e grupos
sociais à mudança de comportamento no consumo. O senso comum informado é preocupado com a
discussão de temas candentes na imprensa e com a repercussão da divulgação científica.
Por sua vez, o conhecimento tradicional é responsável por alimentar o senso comum e à religião. Em
geral, distingue-se o conhecimento tradicional como uma modalidade de conhecimento que vem do
passado herdado dos antepassados e que só tem força em razão do hábito irrefletido. A literatura
ecológica aponta o conhecimento tradicional como um saber especializado sobre a lógica de
funcionamento da natureza que é comum aos indígenas, quilombolas e a população extrativista.
A religião entende o mundo como comandado por forças divinas. A explicação religiosa sobre os
eventos mundanos está determinada por uma orientação mitológica a respeito do fim e origem da vida,
que é a escatologia. Na religião o saber é uma doutrina, uma profecia ou um dogma que estabelece uma
explicação mágica sobre a existência. A religião é uma explicação do mundo fundada numa percepção
dos eventos naturais e humanos entendidos como regulares, ensinados pelos conhecedores da
doutrina, em geral indivíduos que viveram os acontecimentos considerados sagrados.
Para Weber, as religiões são responsáveis por dar “sentido” à vida humana. A ciência nada mais seria
que um aperfeiçoamento da institucionalização das práticas religiosas com o fim de compreender a
existência. As formas religiosas de organização da empresa humana são formas de impor obstáculo
contra as forças que intentam contra a vida (o sofrimento, a dor e a morte) na esperança de controlar o
irracional, a injustiça e as demais forças impositivas ao caráter tênue da vida.
A grande diferença entre religião e ciência, no entanto, residiria na não admissão por esta última de
uma ausência de explicação racional e comprovada sobre a realidade. A religião se satisfaz com a fé
como explicação para o incompreensível.
A ideologia constitui outra modalidade de explicação acabada ou “positiva” para os acontecimentos. Ela
procura sempre reconstituir utopicamente uma outra realidade na qual os erros e injustiças por ela
percebidos não estariam presentes. A ideologia alimenta verdades absolutas sobre a política. Para os
liberais, por exemplo, a condução da sociedade é perfeita desde que orientada livremente pela “mão
invisível” do mercado. Na ideologia comunista, a perfeita condução dos assuntos humanos é assumida
pelo Estado, responsável direto pela justiça. As ideologias recorrem às ciências e também são produtos
dela, como o liberalismo e o comunismo. As ideologias são capazes de acomodar novas orientações
advindas da experiência histórica, mas, em geral, elas procuram mais é sinalizar para soluções
irrealistas. As ideologias procuram também se diferenciar do senso comum e da religião ao apontarem
para perspectivas de transformação social. No entanto, as ideologias apresentam-se sempre como
certas e acabadas, como as demais modalidades de conhecimento não científico.
Por sua vez, a filosofia é o saber especulativo. A filosofia pode ser considerada uma modalidade de
pensamento pré-científico. Na filosofia tem-se sempre uma discussão aberta, livre e democrática. As
especulações filosóficas tornam-se tema de interesse científico na medida em que elas podem ser mais
bem discutidas com o rigor da análise científica.
É importante ressaltar que as diferenças apontadas não constituem qualquer tipo de reprovação às
modalidades de conhecimento não científico. O fato de a ciência ser taxativamente apresentada como a
única forma de conhecimento crítico não exclui a importância das outras modalidades de conhecimento
para a sociedade, e nem sequer dizer que elas não possam, em algum momento, fazerem-se críticas.
Aliás, isso foi demonstrado para os casos do senso comum informado, da ideologia e da filosofia. As
distinções apontadas servem exclusivamente para pontuar um juízo de valor a respeito da ciência. Ela
contém uma demarcação específica de identidade e de procedimento.
Por isso, demarcar o conhecimento científico passa necessariamente por demarcar as escolas de
pensamento que têm tido o cuidado de especificar a identidade da ciência e de seu procedimento. A
nosso entender, entre as principais escolas do pensamento científico, sete merecem considerações
especiais.
1) Escola Positivista, pensada originalmente por Auguste Comte (1798-1857). O positivismo detém a
posição de ciência tradicional.
2)Escola khuniana, do pensamento de Thomas Kuhn (1922-1996). Noção de “paradigma”.
3)Escola popperiana, de Karl Popper (1902-1994). Percebe a verdade e o avanço científico a partir da
noção de “refutabilidade”.
6)Escola marxista, concepção materialista, histórica e dialética elaborada por Marx (1818-1883) e Engels
(1829-1895). Apresenta várias filiais, entre elas a escola crítica conhecida como Escola de Frankfurt com
Adorno (1903-1969), Horkheimer (1895-1973), Benjamin (1892-1940) e Marcuse (1898-1979) são os
representantes da primeira fase. Habermas (1929) é o representante da segunda. Na tradição crítica
existe uma associação entre diferentes referenciais epistemológicos destacando-se o pensamento
marxista, freudiano e weberiano.
Entre as principais críticas ao positivismo, há a que fez surgir a discussão entre a diferenciação possível
existente, e não considerada por essa corrente como a diferenciação entre as ciências naturais (exatas)
e ciências humanas. Vários livros já foram escritos a respeito dessa temática. Na atualidade, alguns
autores preferem caracterizar essa diferenciação como a distinção entre pesquisa quantitativa (comum
às ciências naturais) e pesquisa qualitativa.
Identidade
1- O QUE É CIÊNCIA?
2- COMO DIFERENCIAR O CONHECIMENTO CIENTÍFICO DO CONHECIMENTO NÃO CIENTÍFICO?
3- AS CIÊNCIAS NATURAIS DIFEREM DAS CIÊNCIAS HUMANAS?
Quanto ao procedimento científico, tomamos outras duas questões como elementos facilitadores ao
entendimento da demarcação do conhecimento científico.
Procedimento
4- O QUE SIGNIFICA FAZER CIÊNCIA?
5- COMO PROCEDE O MÉTODO CIENTÍFICO?
Com a ajuda dessas cinco questões, demarcaremos, a seguir para cada uma das escolas de pensamento
o que vem a ser a identidade e o procedimento.
Escola Positivista
A Escola positivista surge do sistema filosófico e científico de Comte. Sua filosofia postulou a teoria dos
estágios do espírito humano: teológico, metafísico e positivo. A ciência positiva é uma versão do
empirismo tradicional, contudo sem valorização alguma quanto ao idealismo e ao ceticismo que muitos
filósofos dessa corrente esposa.
O positivismo defende a experiência como a principal fonte de conhecimento. Seus adeptos valorizam
fortemente o método quantitativo. Por essa razão, no positivismo há grande hostilidade contra os
sistemas de idéias abstratas e não mensuráveis. As ciências baseadas na comprovação empírica da
experiência e no raciocínio lógico-matemático dedutível da quantificação precisa dos fenômenos
observados são consideradas como modelo (padrão) do procedimento científico.
Identidade
1 - O QUE É CIÊNCIA?
A ciência é a única forma de conhecimento válido. A ciência fundamenta-se no raciocínio lógico, objetivo
e na experimentação passível de confirmação (testes de validade). Estes fundamentos garantem a
imparcialidade da pesquisa, que será assente na separação radical entre sujeito (pesquisador) e objeto
(pesquisado). Para o positivismo, a ciência é conhecimento hipotético que busca leis e teorias infalíveis,
pois supõe um determinismo inflexível de regularidade da natureza e um método de estudo único para
entendê-la, que é o método positivista, sempre independente de quaisquer condicionantes históricos.
Não, o positivismo apresenta-se como um modelo de unidade metodológica, com uma linguagem
científica também única.
Procedimento
4 - O QUE SIGNIFICA FAZER CIÊNCIA?
Através da análise objetiva dos fatos a fim de identificar e comprovar a sua regularidade.
Escola Khuniana
A escola kuhniana é uma escola nascida da crítica à identidade e ao procedimento científicos
tradicionais (da escola positivista). A grande questão que orientou Thomas Khun a pensar a ciência foi a
seguinte: como se dá o avanço científico?
Para a ciência tradicional (positiva), o avanço é conseqüência de uma evolução histórica linear do
conhecimento e de seu aprimoramento com base em um modelo padrão de fazer ciência. Para Kuhn
isso é um mito. A ciência caminha por rupturas de paradigmas. Um paradigma é uma referência no
modo de fazer ciência. Por sua vez, ciência é um consenso em torno de como proceder dentro de
determinada comunidade científica. Cada comunidade científica define:
Para Kuhn, o sentido da pesquisa científica tem bases sociológicas e psicológicas, e não epistemológicas.
Em outras palavras, são os cientistas que definem o sentido da pesquisa e definem um modelo
compartilhado de interesse sobre um determinado tema. Quando há rupturas nesse modelo, há quebra
de paradigma. Aí então a ciência avança.
Nesse sentido, a linguagem científica muda também. Cada paradigma contém uma linguagem própria,
de modo que há incompatibilidade entre paradigmas. A identidade da ciência e seu procedimento
variam constantemente, o que torna inviável falarmos de evolução linear e progresso histórico da
ciência segundo o modo tradicional.
Para Kuhn a ciência avança por estágios. Os paradigmas são rompidos não de maneira arbitrária, mas
pela incapacidade dos cientistas tradicionais de resolver problemas. Há dois tipos de cientistas para
Kuhn: o cientista tradicional, que é aquele que acomoda paradigmas; e o cientista extraordinário, que é
justamente aquele que rompe paradigmas.
A posição kuhniana não é uma posição relativista, pois para ele não há dúvidas de que a ciência evolui.
Ela evolui, no entanto, de diferentes formas, e através do que ele denominou de ruptura de paradigma.
A nosso entender, a crítica mais bem elaborada é a de Mário Bunge. Para esse epistemólogo, citado por
Cupani, o exame de uma teoria se realiza de acordo com um repertório de critérios (formais,
semânticos, metodológicos, epistemológicos, etc), que no fundo, tornam racional qualquer mudança de
paradigma. Acontece que nem sempre todos esses critérios estão explícitos, e por isso a mudança de
sistemas conceituais podem parecer irracionais.
Identidade
ara a teoria kuhniana?
O que é ciência p
Sim, as segundas são pré-paradigmáticas. Quer dizer que elas não apresentam consenso em torno de
temas considerados válidos e nem de como proceder.
Procedimento
ara a teoria kuhniana?
O que significa fazer ciência p
Escola Popperiana
Karl Popper definiu a ciência como conhecimento conjetural, partindo do pressuposto de que não há
certeza definitiva sobre a realidade. A noção de falsificabilidade (ou refutabilidade) é que define e
orienta a atividade científica. É apontando para o que a teoria científica é incapaz de resolver, que
ocorre o desenvolvimento científico.
A originalidade da concepção popperiana da metodologia científica está também em que ela significa
uma superação do problema da indução.
Identidade
O que é ciência para a teoria popperiana?
Uso de procedimentos que nos permitem explicar e predizer fenômenos naturais e sociais, com base
em teorias falsificáveis (ensaio e erro).
Como diferenciar o conhecimento científico do conhecimento não científico na teoria popperiana?
As ciências humanas são mais refutáveis do que as ciências naturais (que, aliás, não são exatas, mas
sim refutáveis). As ciências humanas são mais refutáveis em decorrências do grau de subjetividade do
comportamento humano. A subjetividade dificulta a comprovação de regularidade no
comportamento humano.
Procedimento
a teoria popperiana?
O que significa fazer ciência n
É adotar uma atitude crítica de investigação da realidade, refutando sempre qualquer verdade
absoluta que se atinja sobre ela.
Escola Fenomenológica
A fenomenologia está sendo empregada aqui na acepção husserliana e heideggeriana, as quais visam
estabelecer um método de fundamentação da ciência. A fenomenologia reage à tradição da ciência
positiva, entendendo que ela não pode ser a explicação das experiências pessoais subjetivas. A ciência
positiva não é a experiência mais originária que o sujeito pode ter. A fenomenologia é uma proposta de
estudo de tudo aquilo que “aparece”, como fenômeno, à consciência, entendida esta na sua função de
intencionalidade. O conceito de intencionalidade é central na fenomenologia. Ele é utilizado para definir
a própria consciência. Para Husserl, toda consciência é sempre consciência de algo.
No sentido mais acadêmico do termo a escola fenomenológica tem a missão de construir a guarda do
ser epistêmico que fora discriminado pela tradição empirista refratária das manifestações da
consciência metafísica.
Identidade
O que é ciência na teoria fenomenológica?
Procedimento
O que significa fazer ciência para a teoria fenomenológica?
É utilizarmos de procedimentos que nos permitem conhecer a intencionalidade do ser. Tudo o que
se manifesta à consciência vale como dado e pode ser chamado como objeto. A fenomenologia
fundamenta todas as suas afirmações na experiência vivida (dados).
A partir da interação entre pesquisado e pesquisador. Além de captar os fatos, a ciência precisa captar
essências. Não há nada de obscuro ou abstrato nisso. Os próprios “fatos” somente são entendidos
como tais se compreendida a sua essência; o que são os fatos. Segundo Jean-Paul Sartre (1950-1980)
é a existência das essências que torna compreensível a pesquisa dos fatos.
Escola Hermenêutica
A hermenêutica enfocada aqui a partir dos estudos de Hans-George Gadamer. Para esse filósofo da
ciência, a noção de historicidade é central para os modernos. A hermenêutica funciona como ciência da
história. Diferentemente da hermenêutica dos antigos, que a utilizavam com o fim específico de
entender algo de obscuro de um texto literário ou de uma obra de arte, a noção moderna acentua a
possibilidade de interpretação da condição humana. A partir dessa perspectiva, a história humana
jamais pode ser vista como objetiva. Ela está sempre sujeita a uma interpretação.
Nesse sentido, ela refuta de saída, a validade do positivismo como método de conhecimento objetivo da
realidade.
Identidade
O que é ciência na teoria hermenêutica?
A hermenêutica é um tipo especial de ciência que nos ajuda a compreender o sentido de fenômenos
histórico-sociais e normativos. Ela propõe o estudo da experiência humana como subjetividade infinita
e inesgotável de sentido. Assim sendo, o significado de cada cultura em particular deve ser
considerado, independentemente de qualquer pretensão generalista abrangente quanto à
correspondência com a verdade absoluta da tradição científica, tida como neutra e objetiva.
Sim, na medida em que os fenômenos humanos não são propriamente objetivos e que não podem ser
reduzidos a entidades domináveis.
Procedimento
O que significa fazer ciência para a teoria hermenêutica?
Significa entender que os fenômenos humanos não têm jamais apenas um sentido; são interessantes
na sua singularidade (e não na sua universalidade) e são irredutíveis a procedimentos metódicos
padronizáveis.
Escola Marxista
A escola marxista entende que a história apresenta uma razão de ser. Nela desenvolvem-se as forças
produtivas na direção da distinção do trabalho e de todas as formas de opressão. É a partir da
compreensão do significado histórico do trabalho como elemento central das relações sociais que o
marxismo define um método científico de compreensão da realidade. O trabalho é a expressão
diferenciadora do gênero humano. Para o marxismo, o trabalho é sempre social e cooperativo, ao
contrário da concepção liberal que cria o mundo e a si próprio. Através do trabalho o homem cria o
mundo e a si próprio. Essa concepção é também radicalmente antagônica a uma concepção cristã de
que o homem fora criado por Deus, ou iluminista, de que o homem seja um ser racional.
Ao contrário, para Marx, a condição humana é eminentemente relacional. O trabalho estabelece
relações de poder e nestas está implicada a violência ou pelo menos os meios necessários para utilizá-la
como forma de exploração da natureza e de opressão dos mais fracos. O trabalho dá ao homem uma
segunda natureza, que é a natureza transformada em cultura – a qual é também entendida como
história.
No marxismo, a interpretação dialética da história é ao mesmo tempo um método científico de
compreensão da realidade e um método de ação política. Ela está apoiada na proposta da superação
dos conflitos não aparentes da realidade, cujos veículos são a ideologia burguesa e o fetichismo da
mercadoria.
A sociedade capitalista pode ser definida como um sistema social e econômico de domínio da natureza
e, a partir do seu controle técnico, de produção limitada de mercadorias, gerando por fim a divisão
desigual de riqueza. Nesse tipo de sociedade, a ideologia tem um papel central. Ela serve para mascarar
os conflitos sociais existentes entre ricos e pobres. Ela naturaliza a dominação e a exploração existentes
através de um processo do saber irrefletido da própria ideologia. Dessa forma, a ideologia difunde
abstrações sobre a tensão latente entre opressores e oprimidos como se fossem situações de harmonia
e paz social. São conhecidas, por exemplo, as expressões “o trabalho dignifica o homem”; “a educação é
direito de todos”; “somente não trabalha quem não quer”; “Deus ajuda quem cedo madruga”; “tudo
que tenho conquistei sozinho e com o suor do meu rosto”; etc.
O fetichismo da mercadoria é outra arma de defesa dos interesses capitalistas. A mercadoria funciona
como um fetiche, descaracterizando o processo de sua constituição. O trabalhador não reconhece na
mercadoria o seu trabalho, tão só o dinheiro necessário para possuí-la. Da mesma forma, o consumidor
que apenas vê na mercadoria um produto para a sua satisfação direta não imagina a quantidade de
trabalho social necessário para a sua existência. Além disso, a circulação das mercadorias gera a
intensificação das trocas, descaracteriza o valor de uso das mercadorias e o distanciamento do processo
produtivo dos trabalhadores sobre o produto final de seu trabalho e que permite que as mercadorias
aparentem ter vida própria. A sociedade moderna torna tudo fetiche, uma vez que o encantamento pela
técnica de domínio e de transformação pela natureza substitui as relações sociais por relações entre
mercadorias, tornando assim o homem também equiparado à mercadoria.
A lógica capitalista também se explica pela reprodução do capital através do lucro embutido em cada
mercadoria. O valor das mercadorias aumenta de preço para satisfazer o interesse de lucro dos
empresários e banqueiros. Assim, segundo o marxismo, diferentemente da explicação dos economistas
liberais, o aumento de preço no mercado nacional e internacional não provém do aumento de preço dos
insumos ou da matéria prima necessários para a produção da mercadoria – ele decorre da ganância
daqueles que exploram os trabalhadores no processo produtivo.
Segundo o marxismo a metodología científica como metodología de estudo da realidade parte do
princípio de que o trabalho é uma categoria central da condição humana. Ele é eminentemente
relacional, Assim, desconsidera-se a interpretação nacionalista ou teológica. O homem não é um ser
racional, muito menos criado por Deus. O homem é um ser laboral que constrói a si mesmo e a sua
própria história.
Enquanto também um método de ação política, esta mesma interpretação dialética da história postula a
confrontação armada na tentativa de capitular o Estado e impor a ditadura do proletariado. O elemento
central desta outra parte da interpretação dialética da história é que a violência também é constitutiva
da natureza humana. Marx frisou ser a violência a grande parteira da história, o que nos faz divisar a
importância também de um elemento disruptivo da política: a revolução. Do conjunto desse
diagnóstico, o marxismo tenderá a afirmar um conteúdo determinista para a história humana.
Em poucas palavras, pode-se dizer que a metodologia científica no sentido marxista do termo
representa o esforço de compreensão do modo dialético de como a história desenvolve-se. Trata-se da
percepção sobre um longo processo civilizacional no qual estamos todos inseridos, transformando a
natureza em uma segunda natureza, a qual está representada, na cultura moderna, pelos valores da
ideologia e do fetichismo da mercadoria. O processo marxista do conhecimento tem por princípio
apontar as contradições sociais sob as quais vivemos, e, em especial, denunciar a opressão e a violência
como elementos inerentes às relações de produção.
Identidade
O que é ciência para a teoria marxista?
De uma forma única, a identidade da ciência marxista está em explicar os fenômenos naturais e
sociais como determinados pelo modo de produção.
Procedimento
O que significa fazer ciência para a teoria marxista?
Escola Anarquista
Para Paul Feyrabend, “tudo vale” na atividade científica. Nesse sentido, não existe uma forma para
determinar a demarcação do conhecimento científico.
Identidade
O que é ciência para a teoria anarquista?
Procedimento
O que significa fazer ciência para a teoria pluralista?
O que é crítica científica? Aspecto comum aos cientistas que Depende do cientista. O cientista
estão sempre dispostos a reexaminar tradicional apenas acomoda
seu objeto de trabalho, jamais paradigmas enquanto o cientista
confiando inteiramente nele. extraordinário rompe
paradigmas.