Você está na página 1de 33

U1S3 TERAPIAS NARRATIVAS E

PRÁTICAS PSICOSSOCIAIS
(escolas de TF de 2ª ordem)
ProFª. Michelle de Souza Dias

1
• Levam em consideração que “não
percebemos as coisas em si mesmas, mas
sempre como algo que se destaca de um
fundo, de um contexto
PROCESSOS
• São infinitas as possibilidades de imagens a
REFLEXIVOS
partir de um fundo, o que quer dizer que
“sempre existe mais do que enxergamos”
(COSTA, 2011, p. 32)

2
PROCESSOS REFLEXIVOS
▪ Para Maturana (1997), neurocientista
chileno, o CONHECIMENTO É
CONSTRUÍDO PELO SUJEITO que
conhece, a partir da sua estrutura social,
cultural e biológica, através do seu
intercâmbio com o meio, intermediado
pela linguagem, a qual é compreendida
como uma forma de estar no mundo
▪ Os significados são coconstruídos nesta

interação consensual

3
PROCESSOS REFLEXIVOS
▪ AUTOPOIESE
▪ Conceito de Maturana e Varela (1994)
▪ Gênese de si mesmo
▪ Relação inerente entre conhecimento e a
vida
▪ Viver é conhecer, e estabelecer vínculos
de colaboração, é relacionar-se
▪ Na evolução não é o mais forte que
sobrevive, mas sim o ser vivo em
interação com o meio ambiente que esteja
mais adaptado, o mais encaixado
4
Quando características estruturais se modificam e permanecem ao
longo de gerações de uma linhagem, surge uma herança.

Não estamos falando meramente de características genético-cromossômicas,


passadas por gerações, mas das formas de relacionamento, que fazem parte
5
da organização e estrutura dos seres vivos
TERAPIAS DE FAMÍLIAS
INSPIRADAS NOS
PROCESSOS REFLEXIVOS
▪ Tendem a ser breves

▪ Número de sessões pode variar

▪ Medidas em meses

▪ Frequência pode ser semanal

▪ A frequência das sessões pode ser

semanal, quinzenal ou até mesmo


mensal

6
TF INSPIRADAS NOS
PROCESSOS REFLEXIVOS
▪ FOCO CENTRAL DA CONVERSAÇÃO
TERAPÊUTICA: O entrevistador busca
descontruir as várias queixas (entender como
cada um chegou àquele significado) e
construir um problema comum, consensual
para o grupo atendido

▪ Sugere-se que as reflexões sejam em forma de

um diálogo e que nelas sejam incluídas mais


perguntas do que afirmações
(ANDERSEN, 1996)
7
TF INSPIRADAS NOS PROCESSOS REFLEXIVOS
▪ Busca-se NÃO refletir sobre algo que pertença a outro contexto que não o da conversa do
sistema entrevistado e que não se façam reflexões sobre a linguagem não verbal e as
conotações negativas (críticas)

▪ A equipe reflexiva deve falar durante cinco a dez minutos. Ao terminar sua fala, volta para
a postura de observadores reflexivos

▪ O entrevistador habitualmente retoma a sessão com uma pergunta direta, como: gostariam
de comentar, falar mais, etc., sobre alguma coisa que ouviram? E após todos terem se
colocado e discutido suas ideias (se houver), o entrevistador pode apresentar suas reflexões
para discussão

8
TF INSPIRADAS NOS PROCESSOS REFLEXIVOS
SEM ESPELHO
▪ A equipe poderia ficar em um canto da sala, fora do ângulo

de visão da família e operando similarmente ao modelo


anterior
▪ Terapeuta sozinho: ele poderia convidar um dos membros da

família para se manter em uma postura mais reflexiva,


podendo até se colocar momentaneamente fora do campo de
visão da família, como fazia a equipe reflexiva
▪ Aplicação dos processos reflexivos em contextos diversos,

(supervisões, reuniões de trabalho....), que eram


enriquecidos ao saírem do formado de debate para o formato
de um processo reflexivo 9
TERAPIA NARRATIVA
Ultrapassou os limites da terapia de família, conceitos e
práticas passaram a ser usados também em práticas grupais e
10
comunitárias. (MORGAN, 2007)
Quando estamos com um paciente em um
atendimento, ouvimos as narrativas que
compõem sua vida e procuramos compreender
seus significados, buscando não apenas o que
estaria oculto nas “profundezas da mente”,
mas a construção de novos sentidos para sua
vida, ajudando-o resolver o que está sendo
vivido como problema

“[...] para entender nossas vidas e nos


expressarmos, a experiência deve ser relatada
e [...] é precisamente o fato de relatá-la o que
determina o significado que será atribuído a
experiência vivida” (WHITE; EPSTON, 1993, p. 27).
11
DESCONSTRUÇÃO
▪ Um dos pilares dos aspectos
práticos do Trabalho Narrativo
▪ Palavra alvo de múltiplas (e às
vezes equivocadas)
compreensões
▪ Desconstruir não é o oposto de
construir

12
White e Epston (1992) adotaram uma
definição flexível de desconstrução:
▪ Se relaciona com os procedimentos que
subvertem as noções de realidade
tomadas como preexistentes e também
as práticas que derivam desta visão
▪ Questionam os conceitos de verdade
que estão separados dos contextos
sociais que os produziram, assim como
as formas de expressão que trazem
embutidas em si preconceitos e visões
parciais em relação às pessoas.
13
14
TERAPEUTA USOU DUAS TÉCNICAS:
▪ 1º - buscou DESCONSTRUIR o relato de Ricardo, uma narrativa dominante,

oficializada por ele e seu contexto, mas que ao mesmo tempo é uma narrativa
“estreita”
▪ 2º - buscou uma separação entre a pessoa e o problema, uma EXTERNALIZAÇÃO.
▪ Uma coisa é uma pessoa sofrer de TOC, um conceito médico, que entende que algo

intrínseco a faria comportar-se de um modo inadequado, “patológico”.


▪ O terapeuta não impõe ao cliente o nome para o problema externalizado, mas apenas o

sugere. Se o paciente não concordar, parte em busca de outros termos, até chegarem a
um consenso.

15
▪ Após ter se dedicado à desconstrução do problema e à sua

externalização, o terapeuta narrativo pode continuar a


conversação, pesquisando habilidades, capacidades e recursos
da pessoa, em geral pouco utilizados, mas que podem ser
usados no enfrentamento do problema externalizado

16
17
Eventos singulares ou exceções – os eventos, as narrativas
dominantes perdem força e surgem outras possibilidades,
chamadas narrativas alternativas que ampliam as possibilidades
de ações e comportamentos, sem desorganizar a vida do paciente

18
Para Morgan (2007, p.360) os pontos importantes:
▪ pesquisar os truques que o problema usa para dominar a vida da
pessoa
▪ suas táticas
▪ suas regras
▪ seu modo de operar
▪ suas intenções e seus planos
▪ seus gostos e seus desejos

▪ buscar os motivos, as técnicas e os sonhos do problema para a


dominação da vida da pessoa
▪ quem o apoia e sustenta
▪ os enganos e as mentiras do problema

Cont. 19
Terapeuta busca outros pontos de
entrada a partir de algumas
perguntas:

▪ Como você faz para que o problema não

piore?
▪ O problema é sempre forte e autoritário?

▪ Ele não esmorece em nenhum momento?

▪ O que colabora para que ele enfraqueça?

▪ Que recursos você encontrou em si


mesmo para se opor ao problema?
▪ Existe alguma história em que você foi

bem-sucedido no enfrentamento do
problema? 20
ABORDAGENS NARRATIVAS
▪ São mais do que técnicas; são uma maneira diferente de ver as

pessoas e o mundo que as cerca


▪ De uma noção de um problema interno, individual, passamos para um

conceito em que os problemas estão nas histórias que dominam


nossas vidas
▪ São incontáveis as histórias dominantes em que estamos inseridos: o

que é ser homem ou mulher, qual é o caminho para o sucesso, o que


moral ou imoral...
21
REVISÃO DAS NARRATIVAS DOMINANTES
▪ Usando principalmente a desconstrução dos problemas, na externalização e

a busca de eventos singulares para que consigamos que uma pessoa em


sofrimento emocional, oprimida pelas histórias dominantes, possa recuperar
suas capacidades e habilidades para o sucesso, reassumindo a autoria de sua
vida, transformando as histórias periféricas, em geral marginalizadas, em
novas possibilidades para uma vida satisfatória
(WHITE E EPSTON, 1993)

22
O PROFISSIONAL SISTÊMICO
E AS PRÁTICAS PSICOSSOCIAIS 23
• Assume uma postura de não ser o expert em
resoluções de problemas, mantendo-se na posição
de “não saber”, de curiosidade legítima
• Busca ser o expert em contextos ou relações
• Procura validar, de forma cooperativa e O
colaborativa, os contextos de autonomia dos
PSICÓLOGO
envolvidos
SISTÊMICO
• Facilita que os envolvidos definam as situações-
problemas DE FAMÍLIA
• Valoriza as experiências conversacionais
• Busca conjuntamente os caminhos para dissoluções
das situações-problemas

(VASCONCELLOS, 2015; AUN, [s.d.])


CONCEPÇÕES PRÁTICAS DE INTERVENÇÕES PROFISSIONAIS
▪ Os profissionais que atuam com INTERAÇÃO INSTRUTIVA mantêm-se

na relação de poder e na posição de saber

▪ Profissionais que atuam na RELAÇÃO COLABORATIVA colocam-se na

posição da “objetividade entre parênteses” e se reconhecem como


membros participantes do sistema, atuando como coordenadores das
conversações

25
CONCEPÇÕES PRÁTICAS DE INTERVENÇÕES PROFISSIONAIS
▪ Desafio da RELAÇÃO COLABORATIVA: Como fazer que o cliente/usuário

seja responsável e autônomo sem que a ação parta de um terceiro, no caso do


Terapeuta?
▪ Dica: modificar a pergunta inicial para “como trabalhar com o sistema para

que ele se torne autônomo e responsável pela sua mudança?”


▪ Na experiência relatada por Aun (2010, p. 97), foi necessário o
reconhecimento do outro, buscou-se a construção do contexto de autonomia
e o processo de coconstrução do que ali emerge

26
DIRETRIZES PARA ATUAÇÃO DO
TERAPEUTA SISTÊMICO (AUN, 2010)
▪ Apresentar a SP, respeitando os
vários pontos de vista
apresentados pelos participantes

▪ Buscar validar cada uma das


posições (antagônicas, valores e
pressuposições diferentes,
relações de causa e efeito)

▪ Buscar conexões nos pontos de


vista levantados, com uma
linguagem cooperativa,
apoiando-se na credibilidade
recíproca
Cont. 27
DIRETRIZES PARA ATUAÇÃO DO
TERAPEUTA SISTÊMICO (AUN, 2010)
▪ Buscar manter-se próximo da
linguagem dos participantes

▪ Utilizar tipos de perguntas cujo


objetivo não seja obter respostas,
descobrir informações, mas sim
gerar novas perguntas e criar
novas narrativas e incluir o que
não foi pensado ou dito
anteriormente

28
DIRETRIZES PARA ATUAÇÃO DO TERAPEUTA SISTÊMICO (AUN, 2010)

O profissional sistêmico, ao coordenar uma conversação no contexto de


autonomia, inicialmente se vê como alguém que já se interessou pela SP

▪ Busca uma definição positiva sobre a SP

▪ Realiza os contatos e os convida, construindo a rede da SP

▪ Automaticamente ativa os ‘acoplamentos estruturais’ de forma


positiva, ficando pronto para iniciar o encontro com aqueles que
aceitaram o convite para compartilhar suas visões, opiniões e
entendimentos sobre a SP
29
DIRETRIZES PARA ATUAÇÃO DO TERAPEUTA SISTÊMICO (AUN, 2010)

De Maneira Colaborativa, Como Coordenador De Contexto, Prontifica-se A:

1. lembrar que nas SP sabe-se previamente que há um conjunto antagônico de


participantes (institucionais, entre outros), sendo necessário dar garantias
para que não haja retaliações futuras, assegurando um espaço ético e de
coesão

2. convidar todos a assumirem posições ativas, ao se envolverem nas decisões,


no planejamento e nas execuções que surjam, evitando a monopolização da
fala de alguns e de ações de outros
Cont. 30
DIRETRIZES PARA ATUAÇÃO DO TERAPEUTA SISTÊMICO (AUN, 2010)

De Maneira Colaborativa, Como Coordenador De Contexto, Prontifica-se A:

3. utilizar perguntas reflexivas e até mesmo inusitadas que favoreçam o

questionamento do sistema de significados paralisado e cristalizado,


abrindo espaços para outras alternativas

4. e manter-se no controle e na manutenção do contexto conversacional de

autonomia e na ênfase da relação colaborativa


31
•Processos reflexivos e terapias narrativas
podem ser consideradas como posturas e
abordagens complementares, que farão parte
da bagagem do profissional sistêmico
•Também são utilizadas as técnicas das
escolas de 1ª ordem, com a diferença de que
o terapeuta assume que faz parte do sistema,
e não é dono de um saber especializado e/ou
superior
•O terapeuta sistêmico tem o papel de
articular conversações, de mediar conflitos e
de estimular que as pessoas envolvidas com
o problema encontrem novos significados e
novas narrativas não deficitárias
32
▪ Livro texto U1S3
▪ MINUCHIN, Salvador. Famílias. Funcionamento & Tratamento. Artes Médicas: Porto
Alegre, 1990.

33

Você também pode gostar