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PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE

O CONCEITO DE TRAÇO E OS SEUS


PRINCIPAIS USOS

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1 A abordagem humanista da personalidade
Conforme discutimos na aula passada, houve na década de 60 uma insatisfação com os modelos que vinham

sendo usados peta Psicologia para o entendimento da personalidade e de outros fenômenos.

Dentre essas abordagens, temos a Psicanálise proposta por Freud e o Behaviorismo amplamente divulgado por

Skinner, mas que teve inicio com as ideias de Watson.

A Psicanálise era considerada por muitos uma abordagem negativista, por evidenciar as motivações básicas das

pessoas doentes. Já as teorias da aprendizagem destacam o determinismo ambiental, ignorando muitas vezes as

intenções dos sujeitos na emissão dos comportamentos.

Em virtude desse cenário, os psicólogos intitulados humanistas tomaram um rumo contrário quando buscaram

investir seus estudos nas motivações básicas das pessoas - saudáveis, trazendo a ideia de que as pessoas têm

uma necessidade de autorrealizaçao.

Dentro desta perspectiva, dois grandes teóricos se destacaram:


• Maslow e sua teoria da hierarquia das necessidades, que discutimos na aula passada;
• e Carl Rogers, com a ideia da terapia centrada na pessoa, que é o tema que no qual nos aprofundaremos
nesta aula.

2 A perspectiva humanista
A perspectiva humanista enfatiza o potencial inerente das pessoas para a autorrealização. Não é surpresa, então,

que os terapeutas humanistas tenham como objetivo aumentar a autorrealização, ajudando as pessoas a

crescerem em autoconsciência e autoaceitação. (MYERS, 2006, p.481).

Os terapeutas humanistas, bem diferentes dos psicanalistas, colocam em evidência na terapia, segundo Myers

(2006, p. 481):

Mais o presente e o futuro, em vez do foco no passado, buscando explorar os sentimentos à medida que eles vão

surgindo, no lugar de se concentrarem nas origens infantis dos sentimentos;

Os pensamentos conscientes, e não os inconscientes;

A tomada de responsabilidade imediata pelos sentimentos e comportamentos da pessoa, no lugar da descoberta

de determinantes escondidos;

A promoção do crescimento em vez da cura de doenças; em função disso, quem está em terapia são “clientes” e

não “pacientes”.

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3 Agora, vamos conhecer esse terapeuta tão importante
para a abordagem humanista?
Carl Rogers e a terapia centrada no cliente Segundo Davidoff (2001, p. 522):

Carl Rogers estudou primeiro para padre, então se voltou para a orientação infantil e finalmente para o ensino,

antes de se tornar um eminente psicoterapeuta e destacado humanista.

Ainda ativo aos 80 anos, liderava práticas terapêuticas como o uso da inteligência da intuição e das trocas

honestas entre cliente e terapeuta. Uma crença no valor de todos os indivíduos orientou seu trabalho desde o

início.

Ele explicava: “Tenho uma visão de Poliana da natureza humana. Sou consciente de que, livres de defesas e do

medo interior, as maneiras pelas quais os indivíduos podem e de fato comportam-se são inacreditavelmente

cruéis, horrivelmente destrutivas, imaturas, regressivas, antissociais e prejudiciais.

No entanto, uma das partes mais revigorantes e inovadoras de minha experiência é trabalhar com esses

indivíduos e descobrir as tendências direcionais fortemente positivas que existem neles, como em todos nós, nos

níveis mais profundos.”

A perspectiva humanista proposta por Carl Rogers foi intitulada de terapia centrada no cliente, mas podemos em

alguns livros ou artigos encontrar a denominação de terapia centrada na pessoa.

Para Rogers, o terapeuta desta abordagem deve concentrar-se nas percepções que as pessoas têm acerca de si

mesmas, em vez de salientar suas interpretações.

Para isso, o terapeuta deve ouvir, sem o julgamento e a interpretação do que está sendo falado pelo cliente.

Ele também não deve direcionar o cliente para uma possível interpretação que venha a fazer. Por isso essa

abordagem é considerada uma terapia não diretiva, diferentemente das abordagens cognitivo-comportamentais.

Rogers partia do princípio de que as pessoas possuem os recursos necessários para o seu crescimento. Por isso,

incentivou os terapeutas de sua abordagem que demonstrassem genuinidade, também podendo ser encontrado

na literatura como autenticidade; aceitação; e empatia.

4 Significados das características


Vejamos o significado de cada uma dessas características, que estão intimamente ligadas umas às outras e são

consideradas extremamente importantes para quem deseja se tornar um terapeuta humanista:

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Autenticidade ou genuinidade: Favorece a empatia. Os terapeutas com autenticidade são capazes de mostrar,

de maneira honesta, natural e emocionaimente conectada, que entenderam verdadeiramente a situação de seu

paciente;

Aceitação incondicional: Quando autênticos, os terapeutas expressam seus verdadeiros sentimentos. Não usam

máscaras diante de seus clientes, permitindo que eles se sintam aceitos incondicionalmente (aceitação

incondicional);

Empatia: capacidade de se colocar no lugar do outro. Quando o terapeuta consegue ser empático, sentindo e

refletindo os sentimentos de seus clientes, estes podem aprofundar sua autoaceitação e sua autocompreensão.

Fique ligado
Rogers explicou essas ideias propostas por ele da seguinte maneira (1980, citado por MYERS,
2006, p. 481-482):
A escuta tem consequências. Quando eu realmente escuto uma pessoa e os significados que são
importantes para ela naquele momento, escutando não apenas suas palavras, mas ela, e
quando eu a deixo saber que escutei seus significados pessoais e secretos, muitas coisas
acontecem.
Em primeiro lugar, há um olhar de gratidão. Ela se sente aliviada. Ela quer me contar mais
sobre seu mundo. Ela deixa-se fluir com uma nova sensação de liberdade. Ela se torna mais
aberta ao processo de mudança.
Eu já notei muitas vezes que, quanto maior a atenção com que escuto os significados da pessoa,
mais as coisas acontecem. Quase sempre, quando a pessoa percebe que foi ouvida com atenção,
seus olhos marejam.
Eu acho que na realidade ela está chorando de alegria. É como se ela estivesse dizendo: “Graças
a Deus alguém me ouviu. Alguém sabe como é estar no meu lugar”.

5 A escuta ativa
Uma técnica utilizada por Rogers se chama escuta ativa, que diz respeito a fazer ecoar o que foi dito pelo cliente.

É reformular e buscar esclarecer o que está sendo expresso pelo outro, seja de forma verbal ou não verbal, e

reconhecer os sentimentos que estão sendo expressos.

Aquele que utiliza a escuta ativa deve escutar o outro atentamente, só interrompendo para reformular e

confirmar os sentimentos de seu cliente, para aceitá-lo e buscar esclarecimentos.

Vamos ver como funciona a escuta ativa?

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Segue um diálogo em que Rogers ilustra como funciona a escuta ativa (MEADOR; ROGERS, 1984, citado por

MYERS, 2006, p. 482):

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Rogers também admitiu que não é possível ser totalmente não diretivo. Ele acredita que o mais importante é

aceitar e entender o cliente, sem julgamentos e cheio de boa vontade de fornecer uma aceitação incondicional.

Isto pode levar as pessoas a internalizar essa aceitação positiva e incondicional por si mesmas e até a aceitar

seus piores traços e se sentir valorizadas.

Sugestões para a escuta ativa Para uma escuta ativa, Rogers faz três sugestões (MYERS, 2006, p. 482):

1 - Parafraseie: confira o entendimento do que ouve, resumindo, com suas palavras, o que a outra pessoa lhe diz;

2 - Convide ao esclarecimento: pergunte ao cliente: "O que poderia servir de exemplo?" Isso pode incentivar o

cliente a falar mais;

3 - Reflita os sentimentos: Frases corno "Isso parece frustrante" pode refletir o que você está sentindo em função

da intensidade e da linguagem do seu cliente.

6 O conceito de self na perspectiva de Rogers


Carl Rogers procurou, durante a maior parte da sua trajetória de vida, ajudar as pessoas com problemas. As

ideias que compõem sua abordagem foram evoluindo de acordo com suas experiências.

O autoconceito ou self é desenvolvido desde a infância, já que as crianças observam os demais e se auto-

observam; começam então a atribuir alguns traços a si próprias.

De acordo com Rogers, as pessoas buscam a todo instante manter as percepções de suas experiências, de modo a

confirmar sua autoimagem. Elas ficam abertas às experiências que ao encontro de seu autoconceito e distorcem

a realidade quando elas contradizem sua autoimagem.

Rogers (1959, citado por DAVIDOFF, 2001, p. 522) explica seu trabalho da seguinte maneira:

Comecei meu trabalho com a noção estabelecida de que o self era um termo vago, ambíguo, sem significado [.. .]

Consequentemente, custei a reconhecer que os clientes tinham a oportunidade de expressar seus problemas e

suas atitudes usando os próprios termos.

[...] tendiam a conversar em termos de si mesmos [...]. “Sinto que não estou sendo eu mesmo” [ou] “Sinto-me bem

em me soltar e ser eu mesmo aqui”. Parecia claro, com base nessas expressões, que o self era um elemento

importante na experiência do cliente e que, em algum sentido estranho, seu alvo era tornar-se [o] “verdadeiro

eu”.

Fique ligado
Embora Rogers supusesse que a hereditariedade e o ambiente modelam a personalidade, ele
focalizava os limites autoimpostos que geralmente podem ser ampliados.
Para promover o crescimento, outras pessoas importantes precisam aceitar totalmente os

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focalizava os limites autoimpostos que geralmente podem ser ampliados.
Para promover o crescimento, outras pessoas importantes precisam aceitar totalmente os
aspectos de um indivíduo e considerar positivamente a pessoa.
Em tais condições, os seres humanos começam a se aceitar, abrindo-se para mais experiências
e movendo-se em direção à autorrealização
(DAVIDOFF, 2001, p. 523).

CONCLUSÃO
Chegamos ao final do conteúdo. Nos vemos na próxima aula! Continue seus estudos.

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