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MRI – Mental Research Institute

Escolas e Modelos de Intervenção Sistémica 19/20


Luana Cunha Ferreira
• O início
– Como e Porquê?
– Fundadores
– Bases & princípios

• A intervenção
– A primeira entrevista
– Técnicas específicas

• Crítica
– Evolução
– Crítica
– Comparação com
escolas estruturais &
experienciais
• O início
– Como e Porquê?
– Fundadores
patologia
A patologia está no sistema

As patologias são sistemas de ideias


Bateson Research Project (1953-1963)

•A identidade e o funcionamento dos sistemas


reguladores do self é mantida através de
mecanismos de informação, controlo e
feedback
•Equipa: Weakland, Haley, Jackson, Fry
•Abordagem revolucionária da
compreensão do comportamento
humano
•Towards a Theory of Schizophrenia
(1956)
•Metacomunicação (relato e
comando)
•Conceito de double bind
•Encontros e pontes teóricas com
Milton Erikson (abordagem relacional e
hipnose; procura dos recursos da pessoa;
paradoxos)
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• MRI (1959) com direcção clínica de Don Jackson
– Don Jackson (Psiquiatra, homestase, regras, quid pro quo, double bind, mito
da normalidade, “conjoint family therapy’)
– John Weakland (Engenheiro químico, basear a teoria em comportamentos
observáveis)
– Robert Fish (Psiquiatra, Brief Therapy Project, enfase formativa e na avaliação
da eficácia; paradoxo: mulher com medo de urinar)
– Paul Watzlawick (Psicólogo, Filósofo, Papa da comunicação, construtivismo
radical)
– & Jay Haley
– & Virginia Satir
– William Fry (humor e comunicação não verbal), Wendel Ray (terapias baseadas nos
recursos e nas forças), Jules riskin ( estudo dos processos normais), Lynn Segal; Arthur
Bodin; Giorgio Nardone
período áureo (58/63) & declínio (65/68)

• Equipa galáctica- Jackson, Haley, Watzlawick, Satir e Weakland


• Multiplicação de investigações, Bateson papers
• Criação do Brief Therapy Center of the MRI, em 1966/67 (Fisch
como director, Haley como director de investigação)
• Estatuto internacional

• Satir: outsider, aversão ao poder e aos jogos, sai e junta-se a


Whitaker (comunicação-afectos)
• Haley : queria trabalhar no terreno, vai para os bairros pobres
de Philadelphia juntar-se a Minuchin
• Jackson encontrado morto em 1968 aos 48 anos
Gregory Bateson
• https://www.youtube.com/watch?v
=wYqPLQMqIFM
• https://www.youtube.com/wat
ch?v=BaHQBA8Z2
• https://www.youtube.com/watch?v
=j1zLzECtN0o
• https://www.youtube.com/wat
ch?v=vnL0ZB1SzZY&list=PLTJ6nI
NMImuBpz169fKOXqHpmNSr6Y
94d
– (As patologias são
sistemas de ideias)
• https://www.youtube.com/wat
ch?v=is40hBzLdpE
– (A patologia está no
sistema)
Double bind
• Dois pedidos simultâneos e irreconciliáveis;
diferentes níveis de abstracção

“O dilema do esquizofrénico”
1.Mãe pede um abraço
2. Mãe tensa e desconfortável quando o filho se aproxima

- Se o filho se afasta, a mãe pode acusá-lo de não gostar


dela
- Se o filho se aproxima dela de forma mais rígida, a mãe
pode acusá-lo de a rejeitar
- Se ele comentar o seu comportamento, pode ser acusado
de desrespeito
•Contradições não óbvias
•Proibição de meta-comunicação
•Não pode sair/ escapar

•Objetivo é exercer controlo sem


coerção explícita; uma táctica de
manipulação implícita

•Exemplo da esquizofrenia
•Double binds recorrentes
=famílias “esquizofrenizantes”
(Bateson et al., 1971)
•O paciente identificado
(esquizofrénico) não está doente
mas sim incapaz de comunicar
diretamente. Os comportamentos
estranhos são mensagem em
sinalética.
• Injunção negativa Primária
– “ Se ficares, mato-te”
= Não fiques

• Injunção negativa Secundária


– “Estou habituado a que as
pessoas me deixem”
= Não me abandones

• Injunção negativa Terciária


– “Isso é mesmo típico teu, discutires comigo e depois ires-te
embora, sem coragem para enfrentares os problemas” = Não
saias daqui.

“Finally, the complete set of ingredients is no longer necessary


when the victim has learned to perceive his universe in double
bind patterns.”
(Bateson, 1972, p.207).
Paul Watzlawick (1921-2007)

→ Pragmatics of Human Communication, 1967

• Processos de comunicação
• Teoria da interacção
• Construtivismo radical
• Quando a solução é o problema (10-35)
• A realidade não é real

→ Change (with Weakland and Fisch), 1974


→ The Situation is Hopeless, but not Serious: The
pursuit of unhapiness , 1983
→ The Invented Reality: How Do We Know What We
Believe We Know? Contributions
to constructivism, 1984

14
• O construtivismo radical
é radical porque quebra
a convenção de que o
conhecimento reflete a
realidade objectiva.

• Contra os efeitos auto-


confirmatórios do
diagnóstico psiquiátrico,
baseados na nossa noção
teimosa de que tudo o
que tem um nome deve
existir.
•Hein Von Foerster (pai do construtivismo) gostava de se apelidar como “uma
invenção de P. Watzlawick”
•Mara Selvini Palazzoli e Escola de Milão devem a PW a inspiração técnica e a
divulgação internacional do seu trabalho
•Nardone “sem PW, ninguém conheceria o meu trabalho”

Once during a conference at Sorbonne (Paris), a


participant verbally attacked him because his theories
went against the fundamental concepts of psychiatry
and psychoanalysis. Paul with extreme calmness replied,
“you are perfectly right . . . from your point of view . . .”
and then he continued on accompanied by a great
applause and smiles from the public.
•Nardone, Obituário de PW, 2007
• O início
– Como e Porquê?
– Fundadores
– Bases & princípios
MAIS DO MESMO
COMUNICAÇÃO
DIFICULDADE

REGRAS
INTERACÇÃO

MÁS SOLUÇÕES RELAÇÃO

MUDANÇA DE 1º E 2º PROBLEMA
ORDEM
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Princípios-Guia •Foco nos processos e na sequência de
padrões (não nos conteúdos ou na
estrutura)

• Foco na queixa principal aqui-agora (não


no passado)

Funcionamento Ausência de padrões de comportamento recursivos que mantêm


Familiar Saudável os problemas

Funcionamento Presença de padrões de comportamento recursivos que mantêm


Familiar os problemas
Perturbado
Identificação de padrões de comportamento recursivos que
Avaliação mantêm os problemas
Principais inovações
1. Terapia não é arte, é ofício: “aqui resolvemos problemas”;
Terapeuta como artesão de soluções (1º cibernética)
2. A teoria não é A verdade, é um possível mapa da realidade,
uma ferramenta do terapeuta para resolver problemas, útil
na integração de observações e ações de uma forma
sistemática e compreensível
3. Foco no presente (vs. passado), na comunicação e
interação (vs. interno), no familiar/contextual (vs.
individual) e no que é observável (vs. inferências)
4. Fugir da causalidade linear/défices individuais em direcção
ao contexto e à visão sistémica
5. Objetivo da terapia é experienciar algo novo /promover
mudança de comportamentos e não só descrever ou
interpretar fenómenos. (experiencial?)
Objectivos •Bloquear padrões de comportamento recursivos
de tratamento que mantêm o problema
•Pequenos; concretos
•Conseguir a mudança mínima necessária para
resolver o problema, mais do que a reestruturação
de toda a família
•Máximo de 10 sessões de 1 hora

Parar de fazer mais do mesmo


Técnicas Reenquadramentos
Intervenções paradoxais
terapêuticas
Estratégias de Antecipação da Resistência à Mudança
Estratégias de Antecipação da Recaída
Utilização de tarefas inter-sessões

Área de especial Problemas comportamentais específicos


aplicabilidade Problemas relacionais
ESTRATÉGICA

Foco na Resolução do Problema Apresentado

Utilização de uma estratégia específica


para um problema específico

O terapeuta é o estratega – poder &


directividade mas com modéstia ☺
“Só compreendendo as concepções gerais dos problemas e
tratamento (teoria) com as quais as práticas se relacionam, é
que se pode rejeitar ou aceitar e aplicar uma determinada
abordagem à terapia.”

(Fisch, Weakland & Segal, “The Tactics of Change”, 1983)

O comportamento humano depende do quadro


conceptual da pessoa, o qual governa a sua
interpretação do mundo

23
A ‘epistemologia’ é tudo o que precisamos

• O quadro conceptual relativamente à natureza dos problemas


do tratamento vai influenciar o método de tratamento e as
estratégias a utilizar

• A teoria é um mapa conceptual sempre provisório que deve


ser julgado pelos resultados da sua utilização

Não se pode não teorizar

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Ideias-guia MRI

• A PESSOA e a FAMÍLIA

• O comportamento do indivíduo é produto da sua interacção num


contexto particular

• A família é um sistema regido por regras – os indivíduos


comportam-se de um modo repetitivo e organizado, criando um
tipo de estrutura que regula a vida familiar

• A partir das regras é possível compreender as relações


interpessoais

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Regras familiares

Teoria

Regras do grupo
Regras familiares

• As emoções são íntimas e privadas


• Não se fala sobre a relação
• A sexualidade não existe
• Não há ‘terrenos’ privados
• A tristeza é fraqueza, nós somos fortes
• Todos discutem e no fim a mãe ganha
• Ninguém discute e o homens ganham
problema

Teoria
Ideias-guia MRI

• O PROBLEMA

• Dificuldade ≠ Problema

• São as “más soluções” que geram e mantêm o problema

•Terríveis Simplificações

• Síndrome da Utopia

• Paradoxos
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CRITÉRIOS DE DEFINIÇÃO DE PROBLEMA

• Quando o cliente está em sofrimento


• Quando atribui o seu sofrimento a outros ou a si
próprio
• Quando tem tentado alterar o comportamento
causador de sofrimento
• Quando tem sido mal sucedido
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Nascimento, vida e morte de um problema

A. Nascimento/Formação

Quando se lida mal com uma dificuldade normal.


O problema resulta de uma (má) solução tentada para
lidar com uma dificuldade, e expandir para outras
áreas da vida.

1. Agir quando não é necessário agir- Por em prática um


comportamento-solução que não era necessário.
2. Não agir quando era necessário agir.
3. Agir num nível errado: mudança de primeira ordem
quando era necessária a de segunda ordem
Nascimento, vida e morte de um problema

B. Vida/Manutenção
Repetição da má solução, que se torna parte da interacção com
outros significativos. Esta repetição promove a formação e
manutenção de circuitos de feedback positivos. Ocorre quando a
tentativa de solucionar o problema o aumenta.
leva a B e quanto mais B
A presença de A mais A
(pressão para (pressão para
(tristeza/choro) (depressão)
melhorar) melhorar)

C. Morte/resolução
Mudança ou eliminação dos padrões de soluções tentadas. Fazer
algo diferente e/ou quebrar o circuito de feedback positivo:
Mudança de percepção sobre o problema, problema é
transformado em dificuldade, com as adaptações necessárias
Más soluções
TERRÍVEIS SIMPLIFICAÇÕES

• Negação da existência do problema.


• É necessária uma mudança, mas nada é feito.
•→ se “não há” problema, quem o tenta solucionar é….
• Alcoolismo
• Adolescência – T. S. – “É só para chamar a atenção!”
• Questões de género:
• “é uma histérica”;
•“boys will be boys”/ trumpismos
33
Más soluções
SÍNDROME DA UTOPIA

• Ver uma solução onde não existe.

•Impossibilidade de alcançar o objectivo (utópico) devido à


incapacidade da pessoa (desistência, depressão, etc.);
• Procrastinação (óptimo para objectivos praticamente
inatingíveis);
• Desresponsabilização pessoal

• A impossibilidade de atingir o objectivo “utópico” é um pseudo-


problema, mas o sofrimento a ele associado é real e deve ser
respeitado. A realidade não é real mas os sentimentos sim.
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Más soluções
PARADOXOS
➢ “Sê espontâneo!”

➢ “Não sejas tão obediente!” (só pode obedecer desobedecendo...)

➢ Cria-se um impasse ao tentar solucionar o paradoxo, se se exige uma


mudança de tipo 2 e faz-se uma mudança de tipo 1 (insónia), ou vice-
versa (casal com dificuldades de arrumação).

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Da natureza do conhecimento
às
linguagens do conhecimento
LINGUAGENS
?
Objectiva, lógica, analítica; Figurativa, metafórica;
Linguagem da razão, da ciência, da Linguagem dos símbolos, da síntese, da
explicação, da interpretação... totalidade...

MODO DIGITAL MODO ANALÓGICO

Relação signo/significado

- Convencional - Relação imediata evidente


- Arbitrário - Parte revelando o todo
- Não imediato, não directamente (mapas, imagens, signos chineses,
acessível à compreensão onomatopeias, etc.)

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Pais&filhos
DUAS LINGUAGENS
DUAS IMAGENS DO MUNDO

Realidade em si mesma Imagem da realidade

(mais objectiva) (mais subjectiva)

TERRITÓRIO MAPA

Duas formas de apreender a realidade

Abordagem lógica, metódica, Percepção global, totalizante,


sequencial, analítica: intuitiva:
“Numa floresta, apreende cada uma “Numa floresta, vê a floresta mas
das árvores mas não tem a visão da não apreende cada uma das
floresta” árvores”
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DUAS FORMAS DE APREENDER A REALIDADE

A Linguagem dos Hemisférios

ESQUERDO DIREITO

Tradução da percepção em Percepção holística das relações, das


representações lógicas, dominante configurações, apreensão do todo
no raciocínio lógico-analítico pela parte, construção de classes,
analógico, dominante nas imagens e
emoções
Ex: descrever detalhadamente a cara Ex: reconhecer um indivíduo por uma
de um indivíduo, ler uma pauta de parte da cara, reconhecer uma
música música por um único acorde

Traduz, sintetiza a realidade percebida na nossa “imagem


do mundo” (síntese complexa a partir de experiências,
convicções, influências, interpretações, valores, etc.) 39
• O início
– Como e Porquê?
– Fundadores
– Bases & princípios

• A intervenção
– A primeira entrevista
A realidade em si é, em geral, inalterável ou dificilmente
alterável; será mais provável e fácil mudar as imagens da
realidade.

“Erro terapêutico”
Traduzir a linguagem analógica na linguagem digital da explicação,
da argumentação, da análise, do confronto, em vez de “aprender”
a linguagem do hemisfério direito do paciente e de se servir dela
como via principal para a mudança terapêutica.

Aqui entra o experiencial …a magia da TF….vs exagero de só


experienciar e não fazer devoluções.

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1.ª ENTREVISTA

Principal Tarefa – recolher a informação adequada


relativamente a:

– Definição do problema e natureza da queixa


– Como têm resolvido o problema: “soluções tentadas”
– Definição dos objectivos do cliente
– Posição e linguagem do cliente

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1.ª ENTREVISTA
• 1ª ETAPA – DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

– Procurar uma definição concreta do problema


– Foco no presente
– Foco na queixa principal:
• O quê?
• Quem apresenta?
• Para quem é problema?
• Como é que é problema?
• Quando é que é problema?
– É problema ou dificuldade?
– É resolúvel?
–-Só os problemas requerem soluções, as dificuldades requerem
adaptações

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1.ª ENTREVISTA

• 2ª ETAPA – SOLUÇÕES TENTADAS

Explorar quais as soluções já tentadas, de modo a perceber


quais as más soluções que têm mantido o problema:

– Intra-familiar?
– Extra-familiar?
– Por quem?
– Como?

45
1.ª ENTREVISTA
• 3ª ETAPA – DEFINIÇÃO DE OBJECTIVOS

Procurar uma definição clara e concreta dos objectivos da


terapia, de modo a tornar possível a avaliação da mudança.
Exs:
– O que seria necessário para considerarem que houve
mudança? (proto-pergunta milagre)
– Qual seria o primeiro sinal que o levaria a dizer que houve
mudança? (pequenas mudanças)

• 4ª ETAPA –IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS

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Planear a intervenção
Questões definidoras do problema (Weakland, Fisch, Watzlawick, & Bodin, 1974):
• Qual é? Porque é que é um problema? Porquê procurar ajuda agora? O que está a
fazer agora que gostaria de não fazer mais? O que é que o problema a impede de
fazer?
Definir objectivos (Weakland, Fisch, Watzlawick, & Bodin, 1974):
• Específicos, concretos, comportamentais e realistas. Qual a mudança mais
pequena que indicaria um progresso em relação ao seu problema? Qual a
mudança mais pequena que consideraria uma melhoria em resultado desta
sessão?
Término da terapia (Fisch, Weakland, & Segal, 1982)
• Não é um evento especial,é endereçado de forma pragmática e claro, estratégica.
• É iniciado pelo terapeuta
• Sublinharo perigo de melhorias e antecipar as recaidas
• Se resistência ao término ou ansiedade, marcar uma sessão “indesmarcável”
(estratégico)
O sucesso do tratamento depende essencialmente:
• Informação estratégica dos clientes
• Concordância quanto a tarefas e sugestões

Posição one-down do Terapeuta

NOTA: Não significa que a posição one-up deva sempre ser evitada!

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Princípios-guia da Intervenção Terapêutica
1. Para que exista tratamento, alguém, para além do terapeuta, tem
de acreditar que existe um problema.
2. O problema do cliente pode estar ligado ao comportamento de
outrém.
3. A queixa apresentada é vista como sendo o problema e não o
sintoma de uma perturbação latente que o terapeuta procura
identificar.
4. O comportamento-problema está ligado ao comportamento-
resolução do problema que ajuda a manter o problema.
5. A definição do problema permite trabalhar atitudes, o que conduz,
por sua vez, à modificação de comportamentos, sentimentos,
pensamentos, etc..
49
Princípios-guia da Intervenção Terapêutica

6. A definição do problema é não normativa, não é comparado com


um modelo de normalidade – é o sofrimento do cliente que elicita
a existência de um problema.
7. O objectivo é eliminar o sofrimento do cliente, seja através da
mudança real do comportamento, seja porque a percepção do
comportamento se modificou, deixando assim de gerar sofrimento.
Este objectivo tem de ser estabelecido.
8. A definição do problema permite trabalhar com qualquer elemento
da família que esteja motivado para a resolução do problema.

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• O início
– Como e Porquê?
– Fundadores
– Bases & princípios

• A intervenção
– A primeira entrevista
– Técnicas específicas
O que mudar? Como mudar?

“TÉCNICAS”

1. Utilização de estruturas linguísticas do hemisfério direito


(condensações, anedotas, eufemismos, etc.)
2. Bloqueio do hemisfério esquerdo (pseudo-explicações, etc.)
3. Prescrição de comportamentos específicos

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1. “Técnica” de Confusão Mental

Modo de produzir um estado de confusão


intelectual
(linguagem confusa, acções absurdas, humor)

Bloquear o hemisfério esquerdo


2. Reenquadramento
• Modificação do contexto conceptual e/ou emocional duma situação,
colocando-a num outro quadro que corresponde tão bem ou melhor aos
“factos” dessa situação concreta, mas cujo sentido muda completamente.
• Usamos lentes para ver a realidade e ficamos com lentes ‘cristalizadas’ quando
nos encontramos no contexto do problema. O reenquadramento usa o mesmo
“facto” mas oferece outra categorização.
– Flores/romance/problema na relação → autenticidade, menos jogos,
maior compromisso
– num paciente “workaholic” a depressão como força benéfica;
procastinação como sinal de protesto; etc).
• Também chamado de reenquadramento positivo: construção de um mundo
relacional alternativo, práxis não culpabilizante via Satir
Gehart, 2009, p. 158
3. Prescrição do sintoma
• Técnica paradoxal
• Esforço consciente para produzir uma reacção que,
supostamente, deveria ocorrer espontaneamente e
sem controlo (e.g. paciente incapaz de dizer não).
• Usada quando a natureza do problema é vaga ou
quando o cliente não tem controlo sobre o sintoma.
• Pode ser utilizado para gerar conformidade ou desafio
• Usado em conjunto com a instrução de “investigar” o
problema até à próxima sessão (ansiedade)
4. Deslocação do sintoma

• Prescrição do sintoma num tempo e/ou


espaço específico (e.g. Sentir-se deprimida às 21h).
6. “U Turn”

• Utilizar características de passividade e impotência


para catalisar o controlo de uma situação
• Ex: Escalada simétrica adolescente delinquente-
fragilidade – posição one-down dos pais
• Ex: casal e tarefas domésticas
5.“Go Slow”
• É pedido ao(s) cliente(s) que não façam esforços de mudança durante um certo
período de tempo, para que as mudanças sejam duradoiras.
• Quando o problema é complexo e a mudança súbita pode causar outros
problemas
• Procura das mudanças mais pequenas: Permite investigar aprofundadamente a
sequência e padrões de comportamento.
• Pode também ser utilizada como técnica paradoxal para acelerar a mudança.
– Utilizado quando os paciente reportam 0 mudanças ou piorias , especialmente
quando o terapeuta sugeriu uma tarefa específica
– “Pois eu bem receava que esta tarefa era demais para vocês. Penso que ainda
não estão prontos para avançar para níveis mais profundos de intimidade,
esse tempo virá, mas não é para já. Não pensem que isto é um ponto negativo
ou uma fraqueza vossa, não é, simplesmente não estão ainda prontos”.
6. Ilusão de alternativas

Escolha entre duas alternativas, as quais seriam


ambas rejeitadas se fossem apresentadas
isoladamente
“Quer ganhar controlo sobre o seu problema esta semana ou só
na próxima?”
“Quer ficar responsável pela loiça ou pela roupa”
7. Perigo das Melhorias
• Análise [pelo terapeuta ou pedida ao(s) cliente(s)] de
consequências negativas das mudanças
– (o que acontece à relação de casal se o filho melhorar?)
• Extensão do go-slow

• Também para aumentar a motivação: “a perceção dos outros


sobre a melhoria da sua vida”
8. Antecipar a Resistência
• Utilizar argumentos tais que levem o(s) cliente(s) a concordar com o
terapeuta, uma vez que o desacordo será um sinal de compreensão
limitada, falta de criatividade, falta de coragem, etc..
• “Há clientes que…”

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9. Utilizar a Resistência do Paciente

• Associado ao reenquadramento: reenquadra-se a situação de


tal modo que o cliente é obrigado a rejeitar tal
reenquadramento. Mas para o fazer, é obrigado a mudar o
comportamento (“Ele não está a ser insolente, é a sua reacção
ao medo de crescer”).
10. Utilizar a linguagem do(s)
cliente(s)

• Metáforas, estilos, imagens, etc.


11. Antecipar a Recaída
• O início
– Como e Porquê?
– Fundadores
– Bases & princípios

• A intervenção
– A primeira entrevista
– Técnicas específicas

• Crítica
– Evolução
– Pontos nodais
– Comparação com escolas estruturais & experienciais
Porque é que o paradoxo funciona?
• Quando há ambivalência para a mudança, o terapeuta alinha-
se com o lado que resiste à mudança, provocando a família a
alinhar-se com o lado que deseja mudança
• Medo do sintoma é o problema, encenar o sintoma faz o
medo desaparecer
• Teoria dos jogos & poder: sempre que o terapeuta prescreve o
sintoma, o cliente abandona-o a fim de poder ganhar
• O terapeuta que encoraja o sintoma promove o hábito da
aceitação, que “alarga e escorre” para o resto do contexto
• Cegos às temas da cultura/raça/etnia; género; classe
• No seu início, tentativa de tipificar as famílias com base nos
sintomas do PI; implicações pejorativas:

“família alcoólica e a sua lista de falhados, o adicto, o


facilitador, o parceiro co-dependente”
(Hoffman, p36, 2002).

→A intenção era boa, a de salvar o paciente do rótulo e do


estigma da “doença”, incluindo o contexto.
→Ex: filha mais velha parentificada, pronta a ir para a faculdade,
filho mais novo desenvolve sintomas, a culpada era mãe.
“o problema do filho esconde a dor dos pais”
(Satir, 1964, p.4)
• Evolução
– Não culpabilizante
– Brief therapy center
– Reflecting teams
– Escolas experienciais – Satir : Objetivo da terapia é
experienciar algo novo /promover mudança de
comportamentos e não só descrever ou interpretar
fenómenos. (experiencial?)
– Escolas mais estratégicas Haley & Pallazoli (wtz)
Hoffman & Culpa

• MRI foi um feliz excepção ao viés acusatório dos primórdios da TF


“terapia contra as famílias” (Singer e Lalich, 1996; Singer 1997)

• Posição retórica (procura como é feita a construção da realidade


pelo cliente para alterar essa percepção, para produzir mudança’) e
não etiológica (procura as causas e para encontrar a cura)

• Tarefas paradoxais - ambiente mais leve, “encenar o problema” –


produzir resultados diferentes. Ao pedir às famílias para fazer mais
do que já fazem potencia-se o habito da aceitação

• Terapeuta como mestre do jogo de xadrez e as famílias como peões


Paul Watzlawick John Weakland Mara Selvini Palazzoli (1979)
https://detbe.files.wordpress.com/2012/03/e9db9-genealogc3ada.jpg
• Bateson, G., Jackson, D., Haley, J., & Weakland, J. (1956).
Toward a theory of schizophrenia. Behavioral Science, 1,
251-264). https://solutions-centre.org/pdf/TOWARD-A-
THEORY-OF-SCHIZOPHRENIA-2.pdf
• Bergman, J. Fishing for barracuda. Ny: Norton.
• Hoffman, L. (2002). Terapia Familiar. Lisboa: Colecção
Sistemas, Familias e Terapias. Climepsi.
• Watzlawick, P., Weakland, J. H., & Fisch, R. (1974). Change:
Principles of problem formation and problem resolution.
New York: W. W. Norton
• Watzlawick, P. (1984). The invented reality : how do we
know what we believe we know? Contributions of
constructivism. New York : W. W. Norton & Company
• Watzlawick, P. (1991). A realidade é real? Lisboa : Relógio
d'Água. Tit. orig: How real is real?
• Watzlawick, P. (1991). The situation is hopeless but not
serious.
• Outros medias
– Some tentative action of comunication
http://w3.ualg.pt/~JFarinha/erasmus/pc/texts/Watzla
wick-1967-
Some_Tentative_Axioms_of_Communication%20(1).p
df
– http://www.taosinstitute.net/lynn-hoffman-videos
– “An Ecology of Mind” by Nora Bateson -
http://www.anecologyofmind.com/
– Samples of Feedback Loops:
Positive and negative feedback loops of a problem-
gambling behavior
Positive Feedback Loop of a Couple’s Case

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