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personalidade da envergadura e da importância de Freud. Internacional de Psicanálise em Wiesbaden, setembro de 1932. O título original era: Die
Leidenschaft der Erwachsenen und deren Einfluss auf Charakter- und Sexualentwicklung
der Kinder (As paixões dos adultos e sua influência sobre o desenvolvimento do caráter e
da sexualidade da criança).
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OBRAS COMPLETAS
da ternura. Não é o que se passa com os adultos se tiverem tendências isso. " Após um tal evento, não é raro ver o sedutor aderir estreitamente
psicopatológicas, sobretudo se seu equilíbrio ou seu autodomínio fo- a uma rígida moral ou a princípios religiosos, esforçando-se por meio ram perturbados
por qualquer infortúnio, pelo uso de estupefacientes dessa severidade em salvar a alma da criança. De um modo geral, as reou de substâncias tóxicas.
Confundem as brincadeiras infantis com os lações com uma segunda pessoa de confiança — no exemplo escolhido, deseios de uma pessoa que atingiu a
maturidade sexual, e deixam-se a mãe — não são suficientemente íntimas para que a criança possa enar Star ara a rática de atos sexuais sem ensar nas conse
üê •as. contrar uma ajuda junto dela; algumas tênues tentativas nesse sentido São da primeira freqüentes infância, os verdadeiros relações estupros sexuais de
de mulheres menininhas maduras que mal com saíramado- Cosão nverte-se repelidas num pela ser mãe que como obedece tolices. mecanicamente, A criança
ou de que quem se fixa se abunumsoua
lescentes, assim como atos sexuais impostos, de caráter homossexual. atitude obstinada; mas não pode mais explicar as razões dessa
atitude.
É difícil adivinhar quais são o comportamento e os sentimentos ¯SúãÑídüÃêküãfñão se desenvolve ou assume formas perversas; não faladas crianças após
a perpetração de tais atos. Seu primeiro movimento rei aqui das neuroses e psicoses que podem resultar disso. O que imporseria a recusa, o ódio, a
repugnância, uma resistência violenta: ' 'Não, ta, de um ponto de vista científico, nesta observação, é a hipótese de que
não, eu não quero, está me machucando, deixe-me! " Isto, ou algo mui- a personalidade ainda fracamente desenvolvida reage ao brusco desprato semelhante,
seria a reação imediata se esta não zer, não pela defesa, mas pela identificação ansiosa e a introjeção damedo intenso. As crianças sentem-
se física e moralmente sem defesa, quele que a ameaça e a agride. Só agora compreendo por que os meus sua personalidade é ainda frágil demais para poder
protestar, mesmo pacientes se recusam, tão obstinadamente, a seguir-me quando os aconem pensamento, contra a força e a autoridade esmagadora dos
adultos selho a reagir ao agravo sofrido com desprazer, como seria de esperar,
que medo, as emudecem, quando atinge podendo seu ponto até fazê-las culminante, perder obriga-as a consciência. a submeter-seMas esse com prio
núcleoódio ou , permaneceu com defesa. fixado Uma parte num da certo personalidade momento e deles, num certo o seu nível,pró-
automaticamente à vontade do agressor, a adivinhar o menor de seus onde as reações aloplásticas ainda eram impossíveis e onde, por uma
es-
desejos, talmente a com obedecer o agressor. esquecendo-se Por identificação, de si mesmas, digamos, e a identificar-se por introjeçãoto- pécie a uma de
forma mimetismo, de personalidade reage-se de maneira autoplástica. e superego, Chega-se e assimque,
CONFUSÃO DE LÍNGUA ENTRE OS ADULTOS E
A CRIANÇA
do agressor, este desaparece enquanto realidade exterior, e torna-se in- por conseguinte, é incapaz de afirmar-se em caso de desprazer; do mestrapsíquico;
mas o que é intrapsíquico vai ser submetido, — ao processo num estadopri- volvimento, mo modo que é incapaz uma criança, de suportar que não a solidão.
próximo do sonho — como é o transe traumático mário, ou seja, o qúe é intrapsíquico pode, segundo o princípio de pra- terna e considerável ternura.
Devemos referir-nos aqui a idéias que Freud zer, ser modelado e transformado de maneira alucinatória, positiva ou desenvolveu, há muito tempo, quando
sublinhava o fato de que a capanegativa. Seja como for, a agressão deixa de existir enquanto realida- cidade de sentir um amor objetal era precedida de um
estágio de identifide exterior e estereotipada, e, no decorrer do transe traumático, a crian- cação. Qualificarei esse estágio como o do amor objetal passivo, ou
estáça consegue manter a situação de ternura anterior. gio da ternura. Indícios do amor de objeto já podem aparecer mas so-
Masa mudança significativa, provocada no espírito da criança pela mente enquanto fantasia, de forma lúdica. É assim que as crianças,
qua-
identificação mento ra como de uculpa m ato ansiosa do merecedor adulto: com 0_ o de iogo parceiro punição.até então adulto, anódiné a introjeção o
apresenta-se do senti-ago- tor se todas do mesmo sem exceção, sexo, brincam para tornar-se com a idéia o cônjuge de ocupar do o sexo lugar oposto, do
progeni-isto,
tempo tanto, uma inocente enorme e culpada, confusão; e sua a bem confiança dizer, no já está testemunho dividida, de ao seus mesmopró- num o momento
amor diferente dessa fase do gue de ternura, elas desejamse impõe , isso às pode crianças acarretar mais as ammesmasor, ou
Some-se a isso o comportamento grosseiro conseqüências patogênicas que a privação de amor até aqui invocada, do adulto, ainda
mais irritado e atormentado pelo remorso, o que tor- Levar-nos-ia muito longe falar aqui de todas as neuroses e das consena a criança ainda mais
profundamente consciente de sua falta e aindaqüências caracterológicas que podem resultar do enxerto prematuro de
mais nada envergonhada. tivesse acontecido Quase e consola-se sempre, o com agressor a idéia: comporta-se "Oh, é apenas como
umaseformas ainda imaturo de amor e inocente. passional A e recheado conseqüência de sentimentos só pode ser de essa culpa confusão num serde
criança, ainda não sabe nada dessas coisas e acabará esquecendo tudolínguas a que fiz alusão no título desta conferência.
Esta série de reflexões não fez mais do que abordar de modo des-ARTIGOS PÓSTUMOS
critivo o que existe de terno no erotismo infantil e o que há de apaixonado no
erotismo adulto; em suspenso ficou o problema da própria essência dessa
diferença. A psicanálise pode sustentar o conceito cartesiano que faz das
paixões o produto do sofrimento, mas talvez possa também responder à
questão de saber o que é que, na satisfação lúdica da ternura introduz o
elemento de sofrimento, portanto, o sadomaso+ quismo. Essas contradições
fazem-nos pressentir, entre outras coisas, que o sentimento de culpabilidade,
no erotismo adulto, transforma o obieto de amor em objeto de ódio e de
afeição, ou seja, um objeto ambivalente. Na medida em que essa dualidade
inexiste ainda na criança no estágio de ternura, é justamente esse ódio que
surpreende, assusta e traumatiza uma criança amada por um adulto. Esse ódio
transforma um ser que brinca espontaneamente, e com toda a inocência, num
autômato, culpado do amor, e que, imitando ansiosamente o adulto, esquece-
se por assim dizer de si mesmo. e o ódio contra o
sedutor, que conferem às relações amorosas dos adultos o aspecto de uma
luta assustadora para a crianca, cena primitiva que termina no momento do
orgasmo; ao passo que o erotismo infantil, na ausência de "luta dos sexos",
permanece no nível dos jogos sexuais preliminares e só conhece satisfações
no sentido da saciedade, e não no sentido do aniquilamento do orgasmo. A
teoria da genitalidade, que filogenética
para a luta dos sexos, deverá levar em conta essa diferença entre as
satisfações eróticas infantis e o amor, impregnado de ódio, da copulação do
adulto.