Você está na página 1de 45

Professora: Dra Laura Carmilo Granado

 Hístero significa útero: era associada às


doenças do aparelho genital feminino, sua
cura passava pela combinação de várias
terapias que podia culminar com a extirpação
do útero. (Uchitel, 2001)
 Jovem de 21 anos

 Altos dotes intelectuais

 Doença: durou mais de 2 anos

 Perturbações físicas e psíquicas

 Tratada entre 1880 e 1882

 (Publicado em 1893)
 Não reconhecia as pessoas, somente Breuer. Pessoas lhe pareciam figuras de cera.

 Paralisia extremidades do lado direito

 Perturbação dos movimentos oculares e alterações da visão

 Tosse nervosa intensa

 Impossibilidade de beber durante várias semanas, apesar de uma sede


martirizante

 Redução da faculdade de expressão verbal que chegou a impedi-la de falar ou


entender a língua materna (alemão) só falava inglês e não podia compreender o
que lhe falavam em alemão.

 Estados de ausência (alteração da personalidade acompanhada de confusão),


delírio. Ficava “travessa”, ofensiva, jogava travesseiro nas pessoas, arrancava os
botões.
 Afecção apareceu quando estava tratando do
pai, que ela adorava
 Lesão cerebral orgânica X histeria
 Se não é doença orgânica, médico:
 - Nega-se a conceder mesmo interesse, pois
mal é menos grave.
 -saber em anatomia, fisiologia, patologia
deixam-no desamparado.
 - Sentem-se leigos diante da histeria

 Assim, histéricos ficam privados de sua simpatia


– transgressores das leis de sua ciência, acusa-os
de simulação.
 Palavras durante ausência
 Médico repeti-as para incitá-la a associar
ideias
 paciente reproduziu criações psíquicas que a
tinham dominado no estado de ausência –
fantasias - Devaneios que tomavam como
ponto de partida a situação de uma jovem à
cabeceira do pai doente.
 Ausências: auto-hipnose

 Breuer a hipnotizava: pedia-se para concentrar-se nos


sintomas que estavam tratando no momento – ocasiões
em que surgiam

 Depois de relatar certo número de fantasias, sentia-se


aliviada e era reconduzida à vida normal.

 No dia seguinte: nova ausência que cessava do mesmo


modo pela revelação das fantasias novamente formadas.

 A paciente nomeou este tratamento de “talking cure” (cura


pela fala) ou “Chimney sweeping” (limpeza de chaminé)
 Quando a paciente sob hipnose recordava com
exteriorização afetiva, a ocasião e o motivo do
aparecimento desses sintomas pela primeira vez,
os sintomas desapareciam
 Ex. Sob hipnose refere-se a dama de companhia
inglesa, de quem não gostava e contou com
repugnância que, tendo ido ao quarto dessa
senhora viu, bebendo num copo, o seu
cãozinho, um animal nojento. Depois de
exteriorizar energicamente a cólera retida, pediu
para beber, bebeu sem embaraço grande
quantidade de água e despertou na hipnose com
o copo nos lábios. A perturbação desapareceu
definitivamente.
 Sintomas como resíduos de experiências
emocionais que foram denominadas traumas
psíquicos

 Caráter de cada um deles se explicava pela


relação com a cena traumática que o causara
e não mais produtos arbitrários.
 Perturbações visuais – estando com os olhos marejados ela forçou a
vista, aproximando os olhos do relógio, cujo mostrador lhe pareceu
muito grande. Esforçou-se para que enfermo não visse suas lágrimas

 Colocou o braço direito sobre as costas da cadeira. Caiu em estado de


semi-sono (devaneio) e viu, como se visse da parede, uma cobra que se
aproximava do enfermo para mordê-lo. Ela quis afastá-la
(provavelmente com a mão direita), mas estava como que paralisada,
seu braço direito achava-se adormecido e, quando ela o contemplou,
transformaram-se os dedos em cobrinhas cujas cabeças eram caveiras
(as unhas).

 Quando esta desapareceu, aterrorizada, quis rezar, mas não achou


palavras em idioma algum, até que, lembrando-se de uma poesia
infantil em inglês, pôde pensar e rezar nessa língua

 Reconstituicão dessa cena permitiu remoção da paralisia do braço


direito, que existia desde o começo da moléstia e o tratamento teve fim.
 Generalização: Os histéricos sofrem de reminiscências (lembrança quase
apagada; coisa de que se guardou memória inconscientemente).

 Sintomas são resíduos e símbolos mnêmicos de experiências especiais


(traumáticas). Fixação psíquica aos traumas patogênicos.

A doente de Breuer em quase todas as situações teve de: subjugar a


poderosa emoção em vez de permitir sua descarga por sinais
apropriados de emoção, palavras ou ações.

 Na situação com o cão da dama de companhia – não demonstrou


profunda aversão

 Velando à cabeceira do pai também não expressou emoção ao estar


atenta para que doente não percebesse a ansiedade e penosa depressão.

 Diante do médico, ao repetir cenas, energia afetiva então inibida


manifestava-se intensamente.
Emoções
 Em parte: fonte permanente de excitação para a
psique
 Em parte: inervações somáticas
 Corrente escoa por dois canais, num deles o líquido
se elevará, logo que no outro se interponha um
obstáculo

 Excitações psíquicas é normalmente conduzida para


inervações psíquicas e somáticas (estas últimas são a
expressão das emoções)

 Conversão histérica: exagera essa parte da descarga


 Descarga dos afetos patogênicos

 Evoca e até revive acontecimentos traumáticos a que


estão ligados até ab-reagi-los (descarga emocional
pela qual sujeito se liberta do afeto) em que terapia
psicanalítica se definia progressivamente a partir dos
tratamentos efetuados sob hipnose

 Purificação, purgação

 Lembrança sem emoção quase invariavelmente não


produz resultado
(1880-1895)
 Hipnotismo encobre resistência deixando
livre e acessível um determinado setor
psíquico, em cujas fronteiras, porém,
acumula as resistências, criando para o resto
uma barreira intransponível

 Resistência:
“tudo o que nos atos e palavras do analisando,
durante o tratamento psicanalítico, se opõe
ao acesso deste ao seu inconsciente”
(Laplanche e Pontalis)
 Freud: só conseguia hipnotizar parte de seus doentes
– tornou procedimento catártico independente dele

 Quando chegavam num ponto em que afirmavam


mais nada saber, Freud assegurava-lhes que sabiam.
Afirmava que a recordação exata seria a que lhes
apontasse no momento em que lhes pusesse a mão
sobre a fronte. Método era, porém, inadequado para
uma técnica definitiva.

 Lembranças não tinham sido perdidas. Resistência as


mantinha inconsciente, o que era sentido quando se
tentava trazer as lembranças ao consciente.
(pressão na testa)

Só nas primeiras vezes aconteceu de que o


esquecido se apresentasse. Na verdade,
pensamentos despropositados que o próprio
paciente repelia como inexato.
 1889 – 1890 Emmy von N. - Quando Freud a interrogava
com insistência ela se aborrecia, “muito rispidamente”, e
pedia que ele parasse de “lhe perguntar de onde veio isso ou
aquilo, mas que a deixasse me contar o que ela tinha a
dizer”. Emmy von N., como ele disse à sua filha em 1918,
também lhe ensinou algo mais “O tratamento pela hipnose é
um procedimento inútil e sem sentido”. Foi um momento
decisivo; levou-o “a criar a terapia psicanalítica mais
sensata”. Se algum dia existiu um médico capaz de converter
seus erros em fonte de discernimento foi Freud.

 1892 - Elisabeth von R. – interpretação à qual ela resistiu


veementemente por algum tempo: ela amava seu cunhado, e
havia reprimido desejos perversos pela morte da irmã. O fato
de aceitar esse desejo imoral pôs termo a seu sofrimento.
(Gay, 1989)
 Dizer o que quiser, pedindo que renuncie a
qualquer crítica, sem nenhuma seleção deverá
expor tudo o que lhe vier ao pensamento,
mesmo que lhe pareça errôneo, despropositado
ou absurdo e, especialmente, se lhe for
desagradável a vinda dessas idéias à mente
 Regras que garantem o material que conduz ao
complexo reprimido
 Este material: minério do qual através da
interpretação se extrai metal precioso.
 Efeito catártico deixa de ser a mola principal
1. Hipnose – sugestão de que sintoma não existe:
logo abandonada

2. Hipnose: rememoração de experiências


subjacentes ao sintoma (catarse)

3. Sugestão: pressão na testa: convencendo de


que vai chegar à memória (catarse)

4. Associação Livre: efeito catártico deixa de ser


principal (Descoberta: 1892-1898)
(Laplanche e Pontalis, 2001)
 Divisão da mente: hereditariedade e
degenaração

 Freud: divisão psíquica não é explicada por


incapacidades inatas, mas em função de
conflitos mentais
 “Operação psíquica que tende a fazer
desaparecer da consciência um conteúdo
desagradável ou inoportuno”.
(LAPLANCHE E PONTALIS, 2001)
Conflito
Repressão: provada pela resistência

Valores
morais
 Desejo Ics

Sintoma: deformação
maior quanto mais forte for a resistência
 Malogrou.

 Impulso continua a existir no inconsciente

 Substituto do reprimido, disfarçado e


irreconhecível

 Traços de semelhança com idéia reprimida

 Tratamento psicanalítico: desvenda trajeto ao


longo do qual se realizou substituição
 Também é substituição, mais ou menos
distorcida, em lugar de um elemento que não
é dito claramente
 Além da associação livre:

 Interpretação dos sonhos

 Estudos dos lapsos e dos atos falhos


 Semelhante às criações de doença mental,
mas compatíveis com mais perfeita saúde na
vida desperta.

 Absurdo, insensato, tendências imorais

 Sonhos infantis: simples e de fácil explicação:


realização de desejo que o dia anterior lhe
trouxe e que ela não satisfez
Conteúdo manifesto do sonho
Substituto deformado para os pensamentos
inconscientes do sonho
Forças defensivas do ego:
Enfraquecidas durante o
Deformação sono ainda suficientemente
forte para só tolerar
disfarçado.

 Pensamentos latentes: inconsciente

Sentido do sonho, sentido do sintoma


 Realização de desejos reprimidos

 Elaboração onírica: idêntico ao trabalho de


deformação que transforma em sintomas os
complexos cuja repressão fracassou

 Condensação e deslocamento
◦ Ato em que o resultado explicitamente visado não é atingido, mas se vê substituído por outro.
◦ Engloba não apenas ações “strictu sensu” mas todo o tipo de erros, de lapsos na palavra e no
funcionamento psíquico – esquecimentos de coisas que sabem, lapsos de linguagem, erro de
leitura, equívocos na ação, perda de um objeto. (Laplanche e Pontalis,2001)

 quebra de objetos

 Atrapalhação ao executar qualquer coisa

 Além disso: Atos e gestos que pessoas executam sem perceber ou atribuir importância:
cantarolar melodias, com partes da roupa ou do próprio corpo

 Atribuídos a: casualidades, distrações, desatenções

 Interpretação fácil e segura tendo em vista a situação em que ocorrem: impulsos e


intenções que devem ficar ocultos à própria consciência (tal como criadores dos sonhos
e dos sintomas)

 Valor teórico: Repressão e substituição mesmo na saúde


 Supressão

 Associação entre nome e supressão

 Nome lembrado traz elementos do que foi


suprimido

 Casos simples e casos motivados pela repressão

(FREUD, 1901 – A Psicopatogia da Vida Cotidiana)


 Análise: retrocede à infância: impressões e
acontecimentos determinantes da doença

 Pequenos Hans (1909)

 Educação e civilização: esquecimento da


atividade sexual infantil. Não desejam
relembrar o que já estava esquecido – Motivo
que leva médicos e outros a não reconhecer
sexualidade infantil.
 Órgãos genitais, orifícios: boca, ânus, uretra,
pele e outras superfícies sensoriais

 Auto-erotismo

 Zonas erógenas

 Ex. Gozo na sucção do dedo

 Toda a criança tem uma parcial disposição


homossexual
 Complexos: grupo de elementos ideacionais
interdependentes, catexizados de energia afetiva.

 Criança toma ambos os genitores e particularmente um


deles como objeto de seus desejos eróticos
 Há também sentimentos de hostilidade
 Menino deseja o lugar do pai
 Menina deseja lugar da mãe
 Complexo: reprimido, porém continua a agir do
inconsciente com intensidade e persistência
 Libido não permanecerá fixa neste primeiro objeto,
posteriormente o toma apenas como modelo
 Complexo nuclear da neurose
 Subordinação de todos os impulsos ao
domínio da zona genital: propagação da
espécie

 Auto-erotismo → satisfação na pessoa amada

 Antes da puberdade: Educação – impulsos são


submetidos a repressões extremamente energéticas
(Repugnância, moral)
 “Como nas perversões, evidenciam-se nelas
os mesmos componentes instintivos que
mantêm os complexos e são formadores de
sintomas; mas aqui eles agem do
inconsciente, onde puderam firmar-se apesar
da repressão sofrida” p. 43.
 Em sentido mais extenso do que o que
estamos habituados?

 Sim, mas Freud considera que limitar ao


terreno da procriação seja muito restritivo,
pois impede compreensão:
 das neuroses
 perversões
 primórdios da vida erótica da criança
 Fixação: Determinada por fatores históricos e
constitucionais

 Regressão às primeiras fases da vida sexual:

• Desejos infantis reavivados: neurose


 Sentimentos (afetuosos/hostilidade) em
relação ao médico não justificado em
relações reais que por suas particularidades
devem provir de antigas fantasias tornadas
inconscientes

 Revive com médico trecho da vida


sentimental que não pode lembrar
 Processo postulado por Freud para explicar
atividades humanas sem qualquer relação
aparente com a sexualidade, mas que
encontram o seu elemento propulsor na força
da pulsão sexual. Freud descreveu como
atividades de sublimação principalmente a
atividade artística e a investigação intelectual.
 (Laplanche e Pontalis,2001)
Dependendo da:

 Quantidade
 Proporção de forças em choque

Resultado:
 Saúde
 Neurose
 Sublimação
Alvo irrepreensível mais elevado:
Arte
Atividade intelectual
 Desejo inconsciente (REPRESSÃO) mais força
 Escapa a qualquer influência
 Independente das tendências contrárias

 Quando tornado consciente: impedido por


idéias conscientes que lhe opõem
 Reconhece como justa a repulsa: repressão é
substituída por julgamento com ajuda das mais
altas funções do homem - controle consciente
do desejo é atingido

 Personalidade convence-se de que repelira sem


razão o desejo e aceita-o total ou
parcialmente*

 Sublimação

* “Não devemos perder de vista nossa natureza


animal” (FREUD, 1909)
Básica:
 FREUD, S. (1909) Cinco Lições de Psicanálise In: Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud, v. 11. Rio de Janeiro: Imago, 1970.

Complementar:
 BREUER, J. (1893-1895) Estudos sobre a histeria (Casos Clínicos: Fraülein
Anna O.). In: Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. 2. Rio
de Janeiro: Imago, 1974.

 FREUD, S. (1901) A psicopatologia da vida cotidiana. In: Obras


Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. 6. Rio de Janeiro: Imago,
1976

 GAY, P. Freud: uma vida para nosso tempo. Trad.: Denise


Bottmanns. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

 LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. B. Vocabulário da psicanálise. Trad.: Pedro


Tamen, 4ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

 UCHITEL, M. Neurose traumática: uma revisão crítica do conceito de


trauma. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.
1. Discuta a questão dogmatismo X ecletismo com relação à
aderência às diferentes teorias psicanalíticas
2. Freud concordava com a proposição de Janet de que a
divisão psíquica é explicada devido a incapacidades inatas?
Explique
3. O que é o método catártico?
4. Por que Freud passou a utilizar a associação livre como
forma de tratamento?
5. Por que o uso do termo “sexualidade” por Freud tem um
sentido mais extenso? Como Freud justifica a utilidade
desse uso do termo em um sentido mais extenso?

Você também pode gostar