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Origens da Psicanálise

A técnica da associação livre


Aula 2
Estudos de Freud sobre as doenças nervosas

O trabalho de Freud com Breuer e Charcot.

A psicanálise nasceu da confluência de 3 práticas:

A prática clínica, diagnóstica, com Charcot e Breuer;

A prática do hipnotismo - o poder da sugestão e

O encontro com as palavras influenciadoras de Libeau.


Hipnose ou método catártico
Catarse - Termo grego usado para falar de uma espécie
de cura coletiva. Durante as encenações das tragédias,
reconhecendo-se na personagem, as pessoas se
identificariam e se transformariam. Como se fosse uma
descarga de emoções e afetos represados.

Processo de rebaixamento da consciência.


“Quando lhe perguntei o que pensava sobre a origem de suas dores gástricas, ela respondeu,
porque era incapaz de subterfúgios: “Penso que provêm da minha angústia, mas só porque o
senhor é dessa opinião.” Em seguida, coloquei-a em hipnose e perguntei mais uma vez:

“Por que a senhora não consegue comer mais?”

A resposta veio prontamente e consistiu, mais uma vez, numa série de razões dispostas em ordem cronológica a
partir de seu acervo de lembranças: “Estou pensando em como, quando eu era criança, muitas vezes acontecia
que, por malcriação, recusava-me a comer carne ao jantar. Minha mãe era muito severa a esse respeito e, sob a
ameaça de um castigo exemplar, eu era obrigada, duas horas depois, a comer a carne, que era deixada no mesmo
prato. A essa altura a carne já estava muito fria e a gordura, muito dura” (ela demonstrou sua repulsa) “…Ainda
posso ver o garfo na minha frente… um de seus dentes era meio torto. Sempre que me sento à mesa vejo os pratos
diante de mim, com a carne e a gordura frias. E me lembro como, muitos anos depois, morei com meu irmão, que
era oficial e teve aquela doença horrível. Eu sabia que era contagiosa e tinha um medo terrível de apanhar sua
faca e seu garfo por engano” (estremeceu) “…e apesar disso, fazia minhas refeições com ele, para que ninguém
soubesse que ele estava doente. E como, logo depois disso, cuidei de meu outro irmão quando esteve muito
–Jaime Silveira
doente de tuberculose. Sentávamos ao lado de sua cama, e a escarradeira ficava sempre sobre a mesa,
aberta” (estremeceu de novo) “…ele tinha o hábito de escarrar por sobre os pratos na escarradeira. Isso sempre me
provocava muita náusea, mas eu não podia demonstrá-la, temendo magoar os sentimentos dele. E essas
escarradeiras ainda estão na mesa sempre que faço uma refeição, e ainda me causam náuseas.”

Freud em Estudos sobre a Histeria (1895) - Segundo caso - Emmy Von N.


“Por conseguinte, este caso não pode ser rigorosamente
utilizado como prova da eficácia terapêutica do método
catártico; ao mesmo tempo, devo acrescentar que só os
sintomas de que fiz uma análise psíquica foram de fato
eliminados de forma permanente.”

Ibid.
Disponível em: http://discursopsicanalitico.blogspot.com/2017/04/caso-2-sra-emmy-von-n-
idade-40-anos-da.html
Freud já destacava a importância dos elementos
psíquicos e da sexualidade na gênese dos processos
neuróticos

Emmy Von N. se irritava constantemente com as


interrupções de Freud em sua fala. Então pediu que se
calasse e deixasse ela terminar o que tinha para lhe
contar naquele dia.

Trata-se de um prelúdio da técnica da associação livre.


Antes de abandonar a hipnose, Freud experimentou o “método
da pressão” na testa. Uma técnica intermediária, onde ao invés
de ordenar algo ele solicitava que viesse a recordação, mas
sem necessidade de rebaixamento da consciência.

Ex: “Quando eu tirar a mão da sua testa você vai lembrar do


que esqueceu.”

Percebeu que a intervenção através da hipnose nem sempre


garantia o sucesso do tratamento, gerando muitas resistências e
provocando o retorno deslocado de alguns sintomas extintos.
Associação livre

Regra fundamental da psicanálise.

Núcleo candente que rege todas as operações clínicas


da psicanálise.

Falar, sem restrições ou censuras, tudo o que lhe


atravesse a mente, com ou sem sentido, mesmo que seja
de natureza constrangedora.
Finalidade específica da associação livre:
Alcançar o objeto da psicanálise: o inconsciente

A descoberta das leis que governam o


pensamento inconsciente:

O aparelho psíquico é um aparelho que sonha


“Sem exercer nenhum outro tipo de influência, convida-os a se
deitarem de costas num sofá, comodamente, enquanto ele
próprio senta-se numa cadeira por trás deles, fora de seu
campo visual.
Tampouco exige que fechem os olhos e evita qualquer contato,
bem como qualquer outro procedimento que possa fazer
lembrar a hipnose. Assim a sessão prossegue como uma
conversa entre duas pessoas igualmente despertas (…) ”
(FREUD, 1904 [1903]/1987, O metódo psicanalítico de Freud, p.234).
Freud afirma ter encontrado “[...] um substituto da hipnose,
plenamente satisfatório, nas associações dos enfermos, ou seja,
nos pensamentos involuntários – quase sempre sentidos como
perturbadores e comumente postos de lado.”
(Ibid.)
No relato da história clínica de qualquer paciente surgem
lacunas de sua memória que ele compreende serem amnésias
resultantes de um processo psíquico denominado
recalcamento e cuja motivação foi identificada no sentido do
desprazer.
Avançar através das associações livres até alcançar o
conteúdo recalcado era o que permitia tornar acessível à
consciência o que até então era inconsciente na vida
psíquica.

Com base nesta elaboração teórica, formulada a partir de


sua experiência na clínica, Freud afirma ter desenvolvido
a arte da interpretação à qual compete a tarefa de
“extrair do minério bruto das associações inintencionais
o metal puro dos pensamentos recalcados.” (Ibid., p.235)
Atenção flutuante

Além de estabelecer a maneira como o paciente deveria


proceder ao passar pela psicanálise, Freud definiu a
forma como o analista deveria conduzir sua escuta:
através da atenção flutuante.
Para manter-se em contato com o inconsciente de outra pessoa,
o analista deve transpor-se ao modo como Freud estava para si
mesmo quando analisava seus próprios sonhos. Daí a
importância da análise do psicanalista. No caso de Freud,
estamos falando de auto-análise.
Trata-se de alcançar um estado receptivo e relaxado, porém
atento, um estado que também foi considerado por Freud como
sendo de devaneio ou contemplação.
Relações entre a linguagem e o psiquismo

Antes de formular sua teoria sobre o aparelho psíquico,


Freud traz a concepção de um aparelho de linguagem
dinâmico, cuja base de funcionamento era
essencialmente associativa.
Distúrbios de linguagem : a afasia (Estudos de Freud em
1891)

Diante dos problemas que Freud encontrou nos


adoecimentos afásicos, surgiu a ideia de um aparelho de
fala que seria originalmente um aparelho associativo.

Associatividade - a própria essência do psiquismo.


A transferência
Da anestesia ao amor (Eros), apresentou-se para Freud,
às claras, o fenômeno da transferência com toda sua
problemática para a técnica psicanalítica.

A associação livre, enquanto regra, encontrou então seu


primeiro grande entrave no tratamento: para que o
sujeito continue associando é preciso levar em conta
sua relação com o analista.

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