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Aula #001 - Breuer, Freud e a histeria

O impacto fundamental do caso Anna. O


“Vocês acham que psicanalise é invenção minha? Quem criou foi Joseph Breuer” Freud estava
equivocado ao dizer isso, e logo depois Freud reconhece que ele estava errado, de fato, Breuer
não trabalhava com a psicanálise, ele foi um precursor do método psicanalítico mas quem
inventou a técnica foi Sigmund Freud e isso fica claro nas 5 lições.

Freud foi uma espécie de discípulo de Breuer, ele estava começando sua carreira médica como
terapeuta mas não queria ser inicialmente médico clinico, ele queria ser pesquisador, mas
começa por questões financeiras enveredando pela clínica forçadamente e quem será seu
mestre será justamente Breuer, por isso Freud trás o caso de Anna O. porque ela não foi
atendida por Freud, mas é um caso clinico de Breuer.

Foi no tratamento de Anna O que Breuer começou a enveredar por aquilo que Freud vai
chamar de inconsciente. Foi com Anna O que Breuer começa a fazer experimentos
terapêuticos que irão desembocar na psicanalise.

Sintomatologia de Anna O.: Jovem por volta de 21 anos com altos dotes intelectuais
contrariando o que muitos médicos pensavam sobre as histéricas, muitos médicos da época
achavam que a histeria produzia uma disfunção de ordem cognitiva e Freud faz questão de
mostrar que muitas vezes se encontra na histéricas um nível de intelectualidade acima da
média. Essa moça manifestou no decurso de sua doença que durou mais de dois anos uma
série de perturbações físicas e psíquicas, algumas mais graves e outras menos graves. Ela tinha
uma paralisia de ambas as extremidades do lado direito (o braço e a perna do lado direito de
Anna O ficavam paralisados com anestesia, ela não sentia nenhuma sensação nessas partes do
corpo), as vezes esse sintoma se estendia para outra parte do corpo, então ela ficava com os
dois braços e duas pernas paralisadas, perturbações dos movimentos oculares e várias
alterações da visão, dificuldade de manter a cabeça erguida, tosse nervosa intensa,
repugnância pelos alimentos (processo muito comum no que chamamos hoje de anorexia) e o
sintoma que vai ser objeto de análise do Freud: a impossibilidade de beber durante várias
semanas apesar de sede martirizantes. Reducação da faculdade de expressão verbal que
chegou a impedi-la de falar ou entender a língua materna, houve uma época em que Anna O.
só conseguia falar e entender em inglês, e finalmente, os estados de ausência de perda parcial
da consciência, de confusão, delírio e também algumas alucinações. Freud acentua uma
alteração total da personalidade. Ou seja, uma pessoa que era de um jeito e passou a se
comportar, a ser, se expressar de uma maneira muito diferente. Esse era o quadro de Anna O.

E por que essa paciente tem o papel fundamental na história da psicanalise?


Porque Breuer era o médico da família de Anna O. Ele é chamado então para tratar dessa
moça e quando ele vai trata-la desenvolve uma simpatia por ela, essa simpatia posteriormente
vai dar umas discussões na história da psicanalise que talvez Anna O tivesse despertado certo
desejo e atração em Breuer, ele estava encantado eroticamente por ela, mas fato é que Breuer
gostou da moça e quis então conversar, interagir e não trata-la como “mais uma paciente”, ele
se interessou em ouvi-la e conversar com ela.

Como a medicina da época lidava com a doença da qual padecia a Anna O. que era a famosa
histeria? A histeria e a medicina do fim do século XIX.
Histeria vem de hysterus que significa útera, doença conhecida desde a antiguidade, e qual é a
particularidade da histeria? É o fato de que nessa doença a pessoa experimenta vários
sintomas físicos, mas esses sintomas não possuem uma causalidade orgânica. A pessoa vai ao
médico se ele não tiver uma noção de psicologia ou psicanalise vai dizer a essa pessoa que ela
não tem nada. A histeria é uma espécie de uma simulação de uma doença real, entendida
como uma doença orgânica e física. Todos os problemas físicos da histeria não encontram uma
base que possa ser verificada através de exames físicos, isso levava a muitos médicos da época
a tratarem a histeria com desdém, tratarem a histeria como uma forma de adoecimento
menos grave. Se tinha uma paciente histérica com paralisia e tinha uma outra paciente com
uma paralisia orgânica o privilegio era dado evidentemente a paciente com paralisia orgânica.
As histéricas desafiavam o saber médico, colocavam o médico contra a parede porque apesar
do médico fazer o exame físico e constatar que não tem nada orgânico a paciente continuava
sofrendo e não era uma simulação voluntaria, consciente, a paciente não fingia que estava
doente, ela efetivamente não enxergava, não conseguia andar. Freud coloca isso com certa
irônia dizendo “os médicos do alto do seu saber, da sua formação densa, calcada nos
conhecimento biológicos se via impotente diante da histeria”.

Muitos médicos diante desse desafio acabavam fazendo uma desdém com as pacientes que
apresentavam isso, diziam que era um “piti”, está querendo chamar atenção. Essa é uma
maneira de relativizar, menosprezar aquele problema.

Anna O. vai ter um papel crucial, porque é uma paciente histérica e Breuer vai tentar
experimentar o método de tratamento que vai ser bem distinto daquilo que vinha sendo
praticado na época no tratamento da histeria. A histeria tinha um caráter enigmático.

Experimentos terapêuticos de Breuer com Anna O: talking cure/chimney sweeping


Breuer indo à casa da paciente, Breuer começou a reparar algo curioso: Anna O. tinha
momento de ausência, sua consciência ficava parcialmente reduzida. Breuer observava que em
alguns momentos em que ela tinha essas pequenas crises ela começava a murmurar algumas
coisas que Breuer prestando atenção começou a reparar que eram devaneios, que aquilo que
ela murmurava eram pensamentos que passavam pela cabeça dela e pensamentos de
natureza imaginária. Breuer achou curioso e decide então aplicar sobre Anna O. o
procedimento que estava muito na moda naquela época que é a hipnose. Ou seja, um
rebaixamento da consciência do sujeito. Breuer então aplica a hipnose em Anna O. e em
hipnose, como o estado de hipnose é um estado de consciência rebaixada, semelhante aos
estados em que a próprio Anna O. ficava naturalmente nessas crises de ausência, nesses
estados de hipnose Anna O. começava a falar aqueles mesmos devaneios, aquelas mesmas
fantasias se passava pela cabeça dela e Breuer dava corda, ia perguntando pra ela “como é
isso? Me conta mais!” e ela começava a falar, relatando para Breuer seus devaneios e Breuer
desipnotizava e quando ela voltava experimentava um alivio muito grande, como se tivesse
feito uma sessão do descarrego, uma paz, uma tranquilidade e então Anna O por experimentar
essa sensação de alivio. E como nessa época ela estava sofrendo desse sintoma de só
conseguir falar em inglês, ela então batiza aquilo que doutor Breuer fazia como uma “talking
cure” uma cura pela palavra, cura pela conversa. Ela também faz um gracejo e chama de
“chimney sweeping” que significa limpeza pela chaminé, porque era como se durante aquelas
sessões de hipnose Anna O. limpasse, expurgasse o que tinha dentro dela, limpando sua alma.

Breuer percebe que aquele procedimento proporcionava para Anna O. um alivio emocional e
decide testar em estado de hipnose começar a perguntar para a paciente quando foi e como
foi que ela desenvolveu aquele sintoma do qual ela padece. Ele começa a pedir para Anna O,
para que em estado de hipnose relate para ele as circunstâncias as quais cada um daqueles
sintomas dos quais ela padecia surgiram.
Em uma das sessões foi perguntado para Anna O. porque ela havia parado de ingerir líquidos e
Anna O em hipnose conseguia falar com mais facilidade sobre essas circunstancias que
estavam na origem dos sintomas. Nesse caso especifico a aversão a água, hidrofobia, Anna O
conta que certa vez que sua dama de companhia que não gostava, tinha ranço dessa mulher e
certo dia, ela entra no quarto dessa dama de companhia e percebe que o cachorro dessa
mulher está tomando água em copo que era utilizado pelas pessoas da casa, quando ela vê
isso é tomada por uma forte repugnância, mas esse não é o fato principal. Freud diz que ela
tinha ranço da mulher e aquela situação normalmente poderia gerar um conflito, uma briga e
por polidez (que é um atributo das pessoas civilizadas) Anna O. não disse nada. Pra onde foi a
raiva que Anna O. sentiu daquela mulher que ela já não gosta e que ela sentiu ao ver o
cachorro tomando água no copo? A raiva foi para o sintoma. Anna O segura onda e a onda fica
dentro dela. Aquele sintoma é como se fosse um manifesto do ranço que Anna O. sentia de
sua dama de companhia, “vou manifestar na minha carne minha indignação que não foi
expressa, porque sou uma mulher polida, decente, civilizada da alta sociedade”

O sintoma aparece como resíduo de um episódio traumático.


Depois que Anna O. relatava esses episódios em estado de hipnose o sintoma era eliminado
mas só desaparecia quando ela tinha uma expressão emocional equivalente a que ela deveria
ter tido lá atrás. O barraco que ela não fez lá atrás ela fazia no divã com Breuer.

Trauma do ponto de vista psicológico e qualquer situação que ultrapassa sua capacidade de
lidar com ela, e esse episódio por mais banal que seja ultrapassava a capacidade Anna O. a
lidar com aquilo, porque convocava aquela moça a fazer barraco, dar vasão ao ranço que ela
tinha aquela dama de companhia, mas ela não podia porque era uma moça da alta sociedade e
por isso não poderia, por polidez Anna O. se viu imersa no mar de raiva que não podia ser
extravasado, por isso foi traumático.

O sintoma histérico aparece como um resquício desse episódio traumático. O sintoma é um


fragmento do passado que permanece, insiste na vida do sujeito.

“Os histéricos sofrem de reminiscências”


Sofrem de lembranças, de memórias, do passado e não só os histéricos, os neuróticos de
forma geral. Os histéricos se comportam em relação as suas lembranças e seu passado como
uma pessoa que diante de um monumento erguido em homenagem a um determinado fato
ou acontecimento, o histérico se comporta como uma pessoa que passa em frente a esse
monumento e continua sensibilizado e emocionalmente envolvido como se aquilo ainda fosse
presente.

Primeira tentativa de explicação dos quadros histéricos: emoções represadas produzem


ansiedade e se convertem em sintomas físicos.
Então aquela raiva, aquele tesão, aquele ciúme, aquela tristeza, aquela dor, aquela culpa que a
pessoa não exteriorizou através de palavras, atos, que não foi manifesta produz ansiedade e se
converte em sintomas físicos, por isso que os sintomas físicos das histéricas não tem causa
orgânica, são produtos de emoções, são emoções transformadas, convertidas.

Na histeria parece haver uma dissociação da personalidade em uma parte consciente e outra
inconsciente.

Na segunda lição que Freud vai começar então a propor uma explicação para essa
dissociação e vai formular uma segunda hipótese explicativa para os sintomas histéricos.
Freud abandona a hipnose: recurso cansativo, incerto, místico e desnecessário.
Desnecessário porque não precisa colocar o paciente em hipnose para ele contar para você o
que conta em hipnose. Freud usava o procedimento de colocar a mão na testa do paciente
“Tenho tanta certeza que você sabe quando existiu esse sintoma que quando eu colocar a mão
na sua testa você vai se lembrar”.

- Freud se encontra com a histeria e nas primeiras formulações, no primeiro momento dos
quadros histéricos e como um observador cuidadoso que era Freud, ele entende que toda
histeria é de origem traumática, na origem dos sintomas histéricos tem um trauma e por
trauma temos que entender como uma experiência que ultrapassa as capacidades do sujeito
de elabora-lo de pensa-lo e lida-lo com ele. Na origem de todos os sintomas histéricos
estariam experiências que o sujeito vivencia uma emoção muito forte, violenta e ao invés de
permitir a expressão dessa emoção por meio da fala ou do comportamento, o sujeito histérico
decide negar a descarga dessa emoção na sua existência, sua vida e essa negação da descarga
que produz o sintoma histérico. O sintoma seria então um substituto, um resíduo da
experiência traumática porque o sujeito ao invés de possibilitar a descarga pelas vias normais e
saudáveis daquelas emoções, o sujeito impede essa descarga e essa energia emocional que
não é descarregada volta em forma de sintoma. -

Freud também abandona a “técnica da insistência” por ser muito extenuante.


O que a técnica da insistência revelou para Freud? A descoberta da resistência como força que
mantém amnésia e da repressão, que impede a lembrança de chegar até a consciência como
se houvesse uma barreira, uma força, alguém dentro da paciente empurrando a lembrança
para o inconsciente, como mecanismo que produz a dissociação da personalidade.

Freud descobre o mecanismo que vai chamar de repressão ou recalque (são exatamente a
mesma coisa). Esse mecanismo consiste em fazer com que uma determinada
ideia/lembrança/representação saia da consciência, ou seja, esse mecanismo é o que produz
aquilo que todo mundo enxergava na histeria que é justamente a dissociação da
personalidade/divisão da personalidade. O histérico parece ter uma personalidade oficial que
ele apresenta para o mundo e para si mesmo e outra personalidade oculta que só aparecia nos
momentos em que o sujeito estava hipnotizado.

O sujeito diante de uma determinada representações mentais/ideias/lembranças ele pega


essas representações e expulsa-as de sua consciência porque são insuportáveis pra pessoa,
porque o ego (a ideia que a pessoa tem de si) não suporta, quando se faz isso se faz uma cisão,
uma quebra, uma separação dentro da personalidade entre uma parte que quer reconhecer e
outra parte que não quer reconhecer. A repressão/recalque de ideias é o que promove a
existência do inconsciente. O inconsciente só existe porque o sujeito reprime certas ideias de
sua consciência, então promove uma quebra da personalidade.

Essa condição de divisão é inerente a todos os seres humanos.

Nova hipótese: o que constitui a histeria são conflitos internos entre certos desejos violentos
e as aspirações morais e estéticas do sujeito que é aquilo que o sujeito acha que ele deve ser
e o que ele tem que fazer, “eu devo ser paciente, pacífica, generosa, solidária”. Quando
falamos de aspirações morais é o desejo de ser algo que ainda não sou, de conseguir me
encaixar no ideal de conduta que me disseram que deve ser o meu. Aspirações estéticas que
não tem a ver necessariamente com conduta, ética, mas condições que levariam a ficar “bem
na foto”, “não queimar meu filme”, aspirações da ordem da limpeza, da ordem da beleza.
Anna O tinha dentro de si o desejo violento de gritar, reagir ao que ela considerou ao ver o
cachorro tomando água no copo, algo que ela considerou um absurdo, ela tinha o desejo
violento de gritar com sua dama de companhia mas as aspirações estéticas de Anna O. não a
permitiram fazer isso.

Caso Elisabeth von R.: uma “talarica” reprimida


Moça que passou a sofrer com dor nas pernas, essas dores não estavam espalhadas pelas duas
pernas inteiras, eram em algumas regiões especificas. A paciente tinha dificuldade para
descrever os lugares onde as dores apareciam, coisa que não é comum quando uma pessoa
sofre de dores nas pernas por uma razão orgânica, mas Elizabeth não conseguia dizer onde
doía. Quando Freud começa apalpa-la e ele começa a perceber que embora a paciente gema
como se sentisse dor, os gestos que essa paciente faz, não são gestos que se parecem com dor
mas de prazer sexual. Freud diz que ela jogava a cabeça pra trás como uma mulher que estava
tendo um orgasmo.

Freud a atende ainda usando a técnica da insistência, e descobre que essa paciente assim
como Anna O. também adoeceu enquanto estava cuidando do pai, mas a raiz de seu
adoecimento foi um episódio que havia acontecido há dois anos antes de Freud começar a
atende-la, que foi a sua irmã mais velha se casou e Elizabeth começou a se dar muito bem com
seu cunhado, e de fato Elizabeth ficou apaixonada pelo cunhado só que o cunhado estava com
a irmã, essa paixão permaneceu em certa medida inconsciente pra Elizabeth, o que ela se
permitia experimentar na relação era uma simpatia da ordem da amizade, mas conforme a
analise evidenciou que durante aqueles anos de convívio ela estava apaixonada por ele e isso
foi revelado por um episódio em que a irmã da Elizabeth faleceu e quando ela foi chamada
junto com a mãe para ir ao velório, ali no leito de morte passou pela cabeça de Elizabeth
passou o pensamento “ele agora está livre, pode se casar comigo” e depois desse pensamento
ter passado por sua cabeça ela adoeceu.

Se estabelece o conflito na cabeça da paciente entre aquilo que ela deseja ser e os seus
desejos, a sua paixão pelo cunhado. Quem vence esse conflito? Ninguém, na verdade o que
acontece é que o que está reprimido entra em acordo com as aspirações morais que
reprimem, formam um acordo, um relacionamento político em que ambos saem ganhando
porque por um lado a paciente fica livre da consciência de estar desejando o cunhado mas por
outro lado essa paixão reprimida se transforma em sintoma físico, a dor nas perna.

Segunda tentativa de explicação dos quadros histéricos: a repressão de desejos violentos


produz ansiedade e os força a se expressarem disfarçadamente por meio de sintomas físicos.
A repressão de desejos violentos produz ansiedade. A histérica reprime os impulsos e os
desejos violentos, mas esses desejos não desaparecem, eles só vão pro inconsciente e do
inconsciente eles tentam o tempo todo retornar porque o caminho natural do desejo é a sua
realização. Se priva o desejo de ser realizado, esse desejo reprimido do inconsciente vai tentar
voltar, e para manter o desejo reprimido vai ser necessário fazer uma força, uma resistência e
o produto disso é a ansiedade. Experimentamos ansiedade sempre quando estamos diante de
algo ameaçador. Se reprimo os desejos, os impulsos, estou dizendo pra mim mesmo “isso é
perigoso” “isso pode me trazer riscos” “isso é ameaçador” então sentirei ansiedade, ficarei
com medo de mim mesmo.

Ao utilizar o mecanismo da repressão obrigatoriamente farei com que esses desejo tenham
que se expressar de forma disfarçada, no caso das histéricas por meio de sintomas físicos. Na
prática a histérica troca o sofrimento de ter que lidar na sua consciência com seus desejos
violentos, troca esse sofrimento pelo sofrimento físico. Ou seja, para não ter que reconhecer
os seus desejos violentos a histérica adoece. Assim Freud formula a explicação dos quadros
histéricos.

A psicanálise como um esforço de negociação com o ego para o reconhecimento dos desejos
violentos reprimidos.
Como se o psicanalista fosse uma espécie de diplomata que adentra o mundo psíquico do
paciente para dizer “vamos acabar com essa guerra?” “vamos acabar com esse conflito
adoecedor entre os desejos violentos reprimidos e esse ego que quer ser santinhos?” “esse
ego que está toda hora olhando para o ideal”. Com quem esse diplomata vai conversar? R: Não
com os desejos reprimidos pois eles não tem racionalidade, os desejos reprimidos não são
sensíveis ao diálogo, são violentos. Não tem conversa o Id, tem conversa com o Ego que se
conserva saudável apesar da doença, com a parte do Ego que pode dialogar. E o psicanalista
fazendo o uso de sua autoridade que o paciente delega a ele. O psicanalista vai dizer pro ego
“vamos parar com esse conflito crônico, eterno, sem solução”.

Freud vai dizer que o analista vai mostrar para o paciente que ele tem 3 principais
possiblidades de lidar com esses desejos violentos que foram reprimidos:

Que tal viver com esse desejo, integrar esse desejo à sua própria vida? De repente você não
precisa ser essa pessoa boazinha, o tempo todo paciente, engole tudo, o tempo todo
generosa... você pode se permitir dar os barracos de vez em quando. Pode se permitir sentir
desejo pelo cunhado, afinal de contas a sua irmã infelizmente faleceu mas vocês dois estão
solteiros, qual o problema?

Segunda possibilidade seria a sublimação, que seria equivalente pegar o aluno reprimido
(que deixamos do lado de fora da sala) e dar uma função pra ele, colocar pra trabalhar. De
repente esse desejo reprimido de bater, de machucar pode ser convertido em esportes, luta.
De repente o desejo sexual pode ser convertido em literatura, arte, pintura, teatro. Há
muitas formas socialmente valorizadas de fazer o uso desses impulsos desses desejos
violentos.

Terceira possibilidade: De fato rejeitar o desejo violento, mas rejeitar não por medo dele,
rejeitar não porque ele parece ser perigoso ou porque é uma ameaça a sua integridade
moral e estética, rejeita-lo por uma DECISÃO CONSCIENTE, RACIONAL, MADURA, ADULTA.
“Eu entendo que isso não cabe na minha vida.”

Esse esforço de negociação que o analista faz com a parte do ego do paciente que se conserva
saudável. Esse é o propósito da psicanalise.

Terceira lição: Freud se frustra com os “pensamentos despropositados” que vinham à mente
dos seus pacientes durante a aplicação da técnica da insistência. Freud se frustra porque era
um pesquisador acima de tudo, então ele estava com sede de verdade, tentando encontrar a
origem do sintoma e de repente a paciente começa a falar um monte de “bobagem” um
monte de pensamentos sem propósito. Freud se frustra com isso, mas aí vemos a marca de
genialidade de Freud, por que perplexo, Freud recorre ao pressuposto do determinimos
psíquico (não existe pensamento, lembrança, comportamento de ordem psíquica que não
tenha uma causa, mais ainda, não pode existir de acordo com esse pressuposto um evento
psíquico que não tenha relação com todos os outros), “comprovado” empiricamente pelo
experimentos de associação de palavras de Jung. Se a paciente está falando coisas sem
propósito, se ela está trazendo essa conversa fiada, ela tem relação ainda que remota com a
verdade que se busca. Em outras palavras, não há nada que o paciente diga que não tenha
relação com aquilo que ele reprimiu porque o mundo psíquico é um encadeamento, uma
cadeira de representações e uma está ligada a outra.

Tudo o que o paciente diz em analise merece receber atenção e o valor do analista

Aula #002 - Resistência, repressão e "pensamentos despropositados"

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