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Psicologia- 3º Período

Seminário de Psicologia Psicanalítica


Prof.: Rafael Matias

ESTUDO DE CASO CLÍNICO – ANNA O.

Adriana de Fátima Ferraz


Caroline Araújo Vilarim
Ediel José Tiago Júnior
Emily da Silva Enéas
Florrancy Horrana Silva
Joel Francisco da Silva
Kátia Valeska de Souza Lopes
Maria Benedita Cunha
Maria Eduarda de Araújo
Polyanna Vasconcelos Araújo
Rayane Michelly Ramos de Souza
Meiriene Silva do Nascimento

RESUMO: Em nosso estudo de caso, iremos falar sobre um caso clínico que teve grande
repercussão na Psicanálise, trazendo uma nova ciência e metodologia na época. O caso de
Anna O, foi o primeiro caso a ser estudado e diagnosticado no conceito da histeria na
Psicanálise e no método da hipnose. Para iniciarmos esta jornada, precisamos primeiramente
conhecer que foi essa mulher que trouxe uma revolução a Psicologia e que envolveu grandes
nomes da filosofia, da medicina e da ciência

PALAVRAS-CHAVE: Psicanálise; Histeria; Hipnose;

1. QUEM FOI ANNA O.


Para falarmos do seu caso clínico, temos que primeiro conhecer um pouco sobre a
trajetória de vida dessa pessoa que nos trouxe o primeiro trabalho com grande repercussão
no estudo da ciência da Psicanálise. Para proteger sua verdadeira identidade naquela época,
Anna O, como mencionada em seu famoso caso clínico, tinha de nome verdadeiro: Bertha
Pappenheim (1859-1936), que inicialmente foi acompanhada pelo médico da família, Josef
Breuer.
Bertha era uma mulher judia e alemã, tímida, religiosa e que tinha também seus desejos e
vontades como qualquer mulher de sua época, mais era muito controlada por seus pais.
Tinha uma personalidade extremamente forte, de perfil lutadora e visionária. Foi líder de
diversos movimentos sociais pela defesa e garantia dos Direitos Humanos, civis e políticos
das mulheres; em plena ascensão do Nazismo na Alemanha. Por volta dos vinte anos, ela
sofreu muito com a longa doença terminal do pai que, juntamente com as tensões da infância
à juventude, acabou desencadeando um quadro chamado na época de histeria, marcado por
sintomas como nervosismo, depressão, alucinações, tendência ao suicídio, paralisia,
perturbações visuais, e algumas contrações físicas e musculares e que a deixavam
praticamente inválida. Foi aí que foi levada até o doutor Josef Breuer que a acompanhou no
período de 1880 à 1882.
Anna O. foi o primeiro estudo de caso em sua publicação conjunta entre Josef Breuer
e Sigmund Freud no ano de 1895 – “Estudos sobre a Histeria.” Freud o utilizou novamente na
primeira de suas cinco conferências sobre psicanálise na Clark University, Worcester,
Massachusetts, em 1909. Cinco anos depois, ao escrever “Sobre a história do movimento
psicanalítico”, Freud começou novamente com o caso Anna O, sendo que dessa vez deixou
claro que a história da doença e do tratamento de Anna O pertencia a Breuer que a
acompanhou sempre em suas dificuldades, sendo que as conclusões tiradas do caso que
levaram à psicanálise eram dele, Freud. Nascia ali o estudo de caso sobre a histeria e todo
este universo psicanalítico tomaria mais forma e ciência através de Freud. E em um de seus
livros, Freud relata sobre esta descoberta, dado início ao estudo de caso ao seu professor e
médico e amigo, Breuer.
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Prof.: Rafael Matias

Se é um mérito ter criado a psicanálise, esse mérito


não é meu... Eu era estudante e estava me
preparando para meus exames finais na época em
que outro médico vienense, o Dr. Josef Breuer, usou
pela primeira vez (em 1880 -2) esse procedimento
com uma jovem que estava sofrendo de histeria... a
história desse caso e seu tratamento vocês
encontrarão narrada em detalhe sem Estudos sobre a
histeria [1895], publicado mais tarde por Breuer e por
mim. (Freud, 1910, p. 9)

2. O QUE É HISTERIA NA PSICANÁLISE?


De acordo com a psicanálise, a organização histérica, entendida como um modo de
funcionamento psíquico, caracteriza-se por uma busca permanente, incansável e
inconsciente de uma pessoa em ser o objeto do desejo de outra. O sujeito que sofre de
histeria, desencadeia um tipo de doença nervosa definida por perturbações emocionais cujos
sintomas podem ser tanto físicos como dores, paralisias, convulsões ou até mesmo
psíquicos, como alucinações, angústia, desespero e quadro elevado para a depressão.
Estudos indicam que as principais causas e sintomas da histeria, começam quando uma
grande carga de afeto e de emoção fica reprimida, levando a um grande sentimento de culpa
e ansiedade. Além disso, alguns outros fatores hereditários também podem estar envolvidos,
uma vez que este distúrbio é mais comum dentro da mesma família. Antigamente se tratava a
histeria com inalação de vapores que emanavam de produtos excêntricos e atividades físicas
que teriam como função recolocar o útero no seu lugar certo. Curiosamente, indicava-se
preventivamente a prática de atos sexuais para reequilíbrio dos hormônios no organismo.
Com Breuer, foi desenvolvido um tratamento através do método que chamou de catarse. Este
método consistia na liberação emocional quando um paciente desenvolvia um sintoma
histérico, através das palavras, do qual na época obteve bastante sucesso. Segundo Freud,
os sintomas histéricos significam a moção afetiva suprimida que é projetada para fora do
corpo, através dos ataques histéricos, atribuídos na Antiguidade à sufocação da matriz. Era a
técnica da sugestão hipnótica direta. Freud percebeu que, se a sugestão hipnótica era capaz
de livrar os pacientes dos sintomas, a histeria não era uma doença fisiológica com origem no
útero, mas um mal psicológico. Freud fez da hipnose sua principal arma para aliviar os
sintomas dos pacientes. Porém, o pesquisador logo abandonou essa prática, porque
encontrou resistências e defesas dos pacientes. Naquela época (fim do século XIX), não
havia um tratamento exclusivo para as pessoas que eram acometidas por problemas mentais
e/ou problemas somáticos relacionados a distúrbios mentais.

3 O CASO ANNA O.
Anna O. era uma mulher de 21 anos
que adoeceu enquanto cuidava de seu pai, que
depois morreu vítima de um abscesso
tubercular. Sua doença começou com uma
tosse intensa e em seguida ela desenvolveu
vários outros sintomas físicos e psíquicos.
Inicialmente, Bertha foi submetida as sessões
de hipnose pelo método criado por Jean-Martin
Charcot, conhecido como sugestão hipnótica.
Figura1- Bertha Pappenheim, conhecida como Anna O.
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Breuer sabia que Anna era muito apegada ao pai e cuidou dele junto com a mãe enquanto
ele estava em seu leito de morte. À medida que ela vivia para tratar seu pai, começou a
desenvolver alguns transtornos emocionais. Com isso foi afastada do leito do seu pai por sua
família. Durante seus estados de consciência alterada, Anna podia recordar fantasias nítidas
e sentimentos poderosos que ela experimentara enquanto seu pai estava morrendo. Em um
dos seus relatos de caso, Breuer tratou o episódio narrado por Anna O. Durante o transe,
como o relato verdadeiro do incidente responsável por sua aversão a beber. E disse ter
concluído que a maneira de curar um sintoma particular de “histeria” era recriando a memória
do incidente que o havia provocado originalmente, desencadeando assim uma catarse
emocional e induzindo o paciente a expressar todo sentimento associado ao fato. O
desaparecimento repentino de um dos vários sintomas de Anna O. forneceu a base do que
Breuer chamou posteriormente de “procedimento técnico terapêutico”. Segundo Freud e
Breuer, esse método catártico*, aplicado sistematicamente a cada um dos sintomas de Anna
resultou na cura completa da histeria. Breuer ficou admirado ao observar que à recordação
de sua paciente de circunstâncias carregadas de afeto, durante as quais seus sintomas
haviam aparecido levaram esses mesmos sintomas a desaparecer. Breuer diagnosticou a
doença de Anna O., como um caso de histeria, e elaborou, gradualmente, uma terapia que
acreditava ser efetiva na dissolução daqueles sintomas. A própria Bertha chamou o
tratamento de "cura pela fala". Freud considera esse o primeiro caso de tratamento pela
psicanálise pois envolve a possibilidade de tratar sintomas físicos pela fala. Desse caso
deriva uma das primeiras teorias de funcionamento psíquico da psicanálise, a teoria da
defesa, apresentada no importante livro "Estudos sobre a Histeria", escrito por Josef Breuer e
Sigmund Freud conjuntamente. Segundo Freud, em sua autobiografia, o caso termina sem
Bertha estar plenamente curada. Ela desenvolveu uma "gravidez psicológica" dizendo ser o
filho do Dr. Breuer o que levou à abandonar o caso, diferentemente do que o Dr. Breuer
relata em "Estudos sobre a Histeria", com receio da sociedade e do pensamento de sua
esposa que devido a atenção e entusiasmo que Breuer dedicava ao tratamento de sua
paciente, trouxe para seu relacionamento conjugal um desgaste devido ao ciúmes provocado
pela sua dedicação ao caso. Certo dia Breuer foi chamado à beira da cama de Anna O., que
estava em meio a uma crise. Ele a encontrou em um estado super agitado, com fortes dores,
simulando um parto histérico. Embora não tivesse percebido quaisquer sentimentos da
paciente em relação a ele, a gravidez psicológica que sua paciente desenvolvera refletia os
anseios eróticos intensos que Anna nutria pelo seu médico, Dr. Breuer. Porém antes da sua
partida, ele acalmou sua paciente induzindo um transe hipnótico, e em seguida organizou
uma partida para uma segunda lua de mel com sua esposa em Veneza, sem mais retomar ao
caso. Posteriormente, esse tipo de situação, comum nos casos clínicos, será conceituado por
Freud como um fenômeno transferencial onde o inconsciente é atualizado na sessão clínica.
Freud ficou intrigado pelo poder das lembranças inconscientes e dos afetos suprimidos de
produzir sintomas histéricos. O paciente histérico sofre de “reminiscências”, segundo Freud.
A experiência traumática representava uma ideia incompatível ao paciente e foi, portanto,
intencionalmente dissociada ou reprimida da consciência. A excitação nervosa associada à
ideia incompatível foi transformada ou convertida em canais somáticos que produziram
sintomas histéricos. Com isso, tudo o que restou na percepção consciente foi um símbolo
mnemônico apenas remotamente conectado ao evento traumático, frequentemente por meio
de ligações mascaradas. Freud supôs que, se a lembrança da experiência traumática
pudesse ser trazida de volta à percepção consciente do paciente, junto com o afeto suprimido
associado a ela, os sintomas desapareceriam quando o afeto fosse descarregado. E assim
outros casos foram surgindo semelhantes ao de Anna O. e Freud pode constatar a tese
desenvolvida. Eles procuravam Freud não por causa de algum problema emocional, mas por
estarem sofrendo de sintomas físicos.
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CONCLUSÃO

O caso de Anna O. é apresentado como o caso da cura pelo método catártico e


hipnótico, mesmo com estudos que a paciente não tenha apresentado a cura 100%. O
estudo de caso mostrou, no entanto, que havia uma reversão dos sintomas e como eles teria
muito a ver com cenas originárias, com determinadas ações e reações de afetos e
sentimentos que poderiam estar dormindo ou escondidos. Estes sintomas demonstram sua
relação com a dissociação entre o que se pensa e se sente, e o que se quer fazer e o que
realmente se faz.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, Julia. História da Psicanálise: Quem foi Anna O.? Diálogo, Espaço de
Psicologia, 2019. Disponível em: <https://dialogopsi.com.br/blog/historia-da-psicanalise-
anna-o/> Acesso em: 28/03/2021.

O CASO ANNA O. Portal Educação, 2017. Disponível em:


<https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/psicologia/o-caso-anna-o/12455>
Acesso em: 28/0/2021

BRITTON, R. “Anna O: primeiro caso, revisitado e revisado. ” Ïn “FREUD: UMA LEITURA


ATUAL”

FREUD, Sigmund. Estudo sobre a histeria (1893-1895). Companhia das Letras, 2016

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