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O caso Elisabeth Von R analisado por Freud

O trabalho de Freud com a histeria se originou a partir de um caso emblemático em sua


carreira. Valendo-se do arsenal que tinha, o mesmo precisou de uma certa reinvenção nos
métodos utilizados. Vamos fazer uma análise do caso Elisabeth Von R e entender um pouco
mais sobre a expansão do conceito da histeria.

Índice de Conteúdos:

• Sobre o caso

• Divisão

o A morte do seu pai

o A morte de sua irmã

• Recursos e livramentos

o Abandono da hipnose

o Sugestão

• A explicação da dor nas pernas

• Todo caso de histeria carrega conteúdo sexual

• Inferência

• Flexibilidade

• Considerações finais sobre Elisabeth Von R

Sobre o caso

Elisabeth Von R protagoniza um caso clínico de Freud de sofrimento com conversões


histéricas. Segundo documentos e relatos, Von R possuía dores em suas pernas e delírios sobre
perseguição. Ainda assim, a mesma só veio trabalhar essas questões mais ativamente dois anos
após o início dos sintomas.

As primeiras abordagens de Freud sobre a jovem incluíam o uso de choque para tratar as dores
nas pernas. Entretanto, Elisabeth se mostrava feliz com os fortes estímulos que tinha na região
que recebia descargas. Em seguida, iniciou o tratamento psíquico através da associação livre
para captar fatos sobre a vida dela.

Esse caso é visto como uma evolução do trabalho realizado com Emmy Von N. Por exemplo, o
uso da hipnose foi deixado de lado, já que com Elisabeth não tinha utilidade. Embora a
associação livre tivesse ganhado força, a mesma não possuía tamanha liberdade pois o destino
era investigar a origem dos sintomas.

Divisão

Freud dividiu os estágios de sua doença em dois momentos distintos e delicados de sua vida. É
importante deixar claro que esses pontos foram vitais na construção do declínio psíquico de
Elisabeth Von R. Foram eles:

A morte do seu pai


O pai de Elisabeth era um homem doente e que precisava de cuidados constantes da filha. Sem
contar que ambos eram muito próximos um do outro, já que ela minimizava seu sofrimento. O
que fica documentado e discutido é a ideia de que a sua morte impactou diretamente na filha,
a adoecendo.

Posteriormente, a paciente associou as fortes dores que tinha na coxa com o seu pai. Segundo
ela, o local servia de base para apoiar as pernas do pai para que pudesse trocar curativos. Isso
se repetiu durante várias vezes sem a atenção plena dela.

A morte de sua irmã

A concepção de existir um triângulo amoroso não oficial era tema recorrente na perturbação
histérica de Elisabeth. Neste ponto, fica ressaltado que a protagonista da sessão sentia culpa
por essa figura fraterna. Porém, isso se divide na ideia de que não havia cuidado dela por não
poder e os sentimentos por seu cunhado.

Recursos e livramentos

Freud investiu bastante no caso de Elisabeth Von R enquanto a tratava, sendo desafiado até. O
mesmo percebeu que algumas de suas abordagens não podiam ser empregadas nesta paciente
dada algumas circunstâncias. Um dos eventos de transformação em sua abordagem foi o:

Abandono da hipnose

Freud tentou hipnotizar Elisabeth, mas não obteve qualquer sucesso com a técnica. Não se
sabe exatamente o período, mas ele acabou por deixar de utilizar essa ferramenta em suas
abordagens. Assim, mesmo sendo um objeto estrutural de sua teoria, isso não impediu se
mostrar falho conforme o desafio.

Sugestão

Sugestão se mostra como o processo de influenciar as decisões e pensamentos de uma pessoa,


de modo que ela apenas aceite. Freud costumava deixar o seu paciente livre durante a terapia
e depois ia “fechando o cerco”. Ele colocava a mão sobre a testa do indivíduo e fazia
perguntas para que se pudesse obter uma verdade.

Embora ainda usasse a mão na cabeça da paciente, Freud deu mais liberdade à livre
associação.

A explicação da dor nas pernas

Elisabeth Von R foi devota nos cuidados do pai quando este ficou doente e isso é de
conhecimento universal. O que não se divulga com frequência é que a mesma desistiu de um
namorado para cuidar do patriarca. Foi aí que surgiu o primeiro sintoma histérico: a dor na
coxa direita.

A explicação do fenômeno é que ela recalcou toda a ideia erótica que alimentava para longe de
sua consciência. Como bem sabe, reprimir ou esconder desejos na Psicanálise se torna um
combustível ao desenvolvimento de traumas. No caso dela, transformou o afeto e lascívia em
sensações físicas de dor no local de apoio do pai.

Após meses de cuidado, o seu pai faleceu e deixou um vazio no seio da família. Isso acabou por
fragilizar ainda mais a saúde da mãe e colaborar para o seu isolamento social. Gradativamente,
seu estado de espírito foi se declinando e escurecendo.
Todo caso de histeria carrega conteúdo sexual

Avaliando a história de Elisabeth Von R, Freud acabou por dar prioridade à parte sexual do
processo. De acordo com a história, Elisabeth nutria uma paixão secreta por seu cunhado, algo
que a mãe desconfiava. Em meio a tanta tragédia e o progresso contínuo do seu mal-estar,
Freud indicou que sua histeria advinha de conteúdo sexual.

Nos trabalhos inerentes à Psicanálise, o psicanalista defendia que todos nós fazíamos
repressões contínuas ao inconsciente. Tal repressão partia da ideia de rejeição e repudia
entregue pela sociedade externa. A fim de não levar represálias, tais desejos e emoções eram
escondidos, acumulados, mas acabavam por refletir em nossa postura.

De acordo com o caso, Elisabeth sofria de uma constante pertencente a essa proposta. A ideia
de que ela estava disposta a se casar com o cunhado após a morte da irmã poderia chocar a
sociedade local. Mas cabe ressaltar que o caso de histeria Freud e Elisabeth Von R possui dois
lados diferentes e conflitantes.

Inferência

Chegando ao fim do caso Elisabeth Von R, encontraremos regularmente a expressão


“inferência”. Trata-se do ato de tirar conclusões por meio de premissas conhecidas
anteriormente vistas como verdadeiras. Esse trabalho com Elisabeth é abraçado por uma
inferência recorrente por parte do seu psicanalista.

O próprio Freud defendeu com força a ideia de que a paciente deu um posicionamento positivo
à ideia de união. Fica a questão se ele havia decidido por ela que ela imaginou que o caminho
estava livre para isso. Isso acaba por levantar a questão sobre a veracidade dos fatos expostos
neste caso, já que temos mais a visão do psicanalista do que dela.

O uso desse recurso fecha em um círculo as camadas pertencentes à realidade. Talvez Freud
não tenha mentido de fato, mas acabou por omitir outras perspectivas importantes. O que se
pode fazer ao reviver a história é pensar em outras perspectivas a partir dos olhos de Elisabeth.

Flexibilidade

Como viu linhas acima, a inclusão de inferências pode ser um fator prejudicial dentro de um
estudo. Isso porque é capaz confundir a audiência, tomando desta a liberdade de ver a real
história por trás de uma avaliação. O levantamento de suposições consegue deturpar e
manchar o real significado de um evento.

No caso de Elisabeth Von R, Freud deixa ambígua a relação e reação dela com o cunhado e a
irmã morta. Observando seus escritos, dá a entender que a paciente concluiu por si só que
estaria livre para amar o cunhado. Entretanto, a própria Elisabeth em contato com a sua filha
afirma que Freud a tentava convencer que de estava apaixonada pelo homem.

Por isso que se deve estabelecer mais de um caminho para se olhar um caso clínico. Muitos
consideram que esse equívoco de Freud acabou por negligenciar outras perspectivas
interessantes a esse trabalho. Com isso, se criou um olhar pobre a respeito das possibilidades
de resposta clínica para esse estudo em particular.

Considerações finais sobre Elisabeth Von R

Essa passagem de vida de Elisabeth Von R levanta muitos questionamentos a respeito da


construção histérica em uma pessoa. O relacionamento com o pai e com o cunhado levaram à
construção de uma complexa rede de suposições e sofrimento. Neste último, fato do cunhado
a ter recebido tão bem parece ter iniciado a abertura de uma represa emocional.

Quanto ao futuro dela, ambos chegaram até a conclusão de que “estava curada”. Tanto que a
observou dançando em um baile de forma autônoma, descobrindo posteriormente que se
casou.

O que seria a histeria hoje em dia?

Histeria é um tipo de neurose que se caracteriza predominantemente, pela


transformação da ansiedade subjacente para um estado físico. A palavra vem do
termo grego “hystéra”, que significa útero. A própria palavra nos revela o caráter
feminino da doença, já que era atribuída a uma disfunção uterina.

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