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RESUMO DO CAPÍTULO XIV - AUTO-ANÁLISE (1897- ) pág.

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330
Em 1897, Freud começou sozinho a psicanálise de seu próprio
inconsciente. Isso foi muito significativo, pois foi o primeiro a explorar
essas profundezas. Muitos tentaram fazer isso, sem sucesso, pois a
resistência interna não permitia e o reino do inconsciente permanecia
obscuro. Foi um feito longo e doloroso, cuja decisão teve pouco da
vontade consciente, mas muita intuição da sua necessidade. Ele tinha
urgência de chegar à verdade a qualquer custo e desejava se conhecer
completamente. Por três ou quatro anos seu sofrimento neurótico
aumentou, mas ele aprendeu a suportar as verdades e a encarar os
acontecimentos com calma. O fim desse trabalho foi a última fase na
evolução da personalidade de Freud. Depois disso, surgiu a serenidade e
ele ficou livre para prosseguir seu trabalho.
São duas as partes importantes das pesquisas de Freud que estão
intimamente ligadas com sua auto-análise; a primeira é a Interpretação
dos Sonhos, onde a observação e investigação de seus próprios sonhos foi
o material mais acessível para seus estudos e que deram a ele a ideia em
termos conscientes, de prosseguir com sua auto-análise até seu final
lógico; e a segunda, a Sexualidade Infantil. Nesta, sua evolução foi mais
lenta pois coisas que agora estão claras, eram muito obscuras. Ele tinha a
visão convencional da inocência infantil e, ao deparar-se com as histórias
de sedução por adultos, adotou a visão também convencional de que isso
seria uma estimulação precoce, pois seria apenas na puberdade que a
lembrança dos incidentes se tornaria excitante.
Descobriu aspectos da sexualidade infantil por meio do genitor em
questão. De 1893, ao falar a esse respeito com Fliess, até 1897 quando
admitiu seu erro, Freud dizia que a causa principal da histeria era a
sedução sexual de uma criança inocente por parte de algum adulto,
freqüentemente o pai, e que eram efetuadas de forma pervertida sendo a
boca e o ânus as regiões escolhidas. Logo depois, começou a ter dúvidas a
respeito mas essas eram sempre refutadas por alguma nova prova.
Nos dois primeiros meses de sua auto-análise, Freud descobriu que
deveria se preocupar com a ocorrência de desejos de incesto dos filhos
com relação a seus pais, mais comumente em relação ao pai do sexo
oposto. Ele estava aprendendo a verdade da máxima de Nietzsche: "O seu
próprio eu está bem escondido de você mesmo: de todas as minas do
tesouro, a sua própria é a última a ser escavada."
Admitia que as crianças, mesmo bebês, tinham a capacidade de registrar o
significado dos atos sexuais entre os pais por eles presenciados ou
ouvidos. Anos mais tarde, essas experiências se tornariam significativas ao
serem reanimadas por fantasias, desejos ou atos sexuais.
Em A Interpretação dos Sonhos (1900), é apresentado o Complexo de
Édipo.
Quanto à auto-análise, em julho de 1895 foi quando pela primeira vez
analisou por completo um de seus sonhos. A seguir, por diversas vezes
contou a Fliess a análise de seus próprios sonhos. Foi em julho de 1897
que essas análises eventuais se tornaram regulares e com um propósito
definido, provavelmente com uma pressão do inconsciente que foi
crescendo gradualmente, e não por intuição.
A morte de seu pai despertou todos os seus sentimentos mais antigos, e
ele passou a se sentir desenraizado. Essa experiência o levou a escrever A
Interpretação dos Sonhos (1898), o que ocorreu junto com os dois
primeiros anos de sua auto-análise. Seguiu-se um período de apatia e de
paralisia intelectual; estava passando por uma fase neurótica, como se
tivesse um véu sobre a mente por onde vez ou outra entrasse um raio de
luz. Tinha uma inibição patológica para escrever e descobriu que o motivo
disso, seria prejudicar seu relacionamento com Fliess. Logo depois disso
uma parte de sua histeria já estava resolvida e reconheceu que suas
próprias resistências o estavam atrapalhando nesse trabalho. Havia
reconhecido que seu pai era inocente e que havia projetado no pai suas
próprias ideias. Voltaram à lembrança desejos sexuais com relação à sua
mãe, numa ocasião em que a viu nua. Havia descoberto a paixão por sua
mãe e o ciúme por seu pai; estava certo de que isso era uma característica
humana geral e que a partir daí se podia compreender o efeito poderoso
da lenda de Édipo. Aqui sua mente já estava funcionando a toda
velocidade, e surgiam repentinas intuições.
A superação de suas próprias resistências deu a ele uma compreensão
maior das resistências de seus pacientes, e agora ele podia compreender
muito melhor as mudanças de estado de espírito deles.
A análise de Freud não produziu resultados de imediato. Nas cartas há
relatos de variações no progresso: otimismo alternado com pessimismo. A
neurose e a dependência de Fliess, parece ter sido mais intensa por um ou
dois anos seguintes, mas a determinação de Freud em superar isso nunca
diminuiu, e por fim saiu vitoriosa.
Depois da briga com Fliess em 1900, pouca coisa mais é dita sobre a
análise, mas ela ainda prosseguia. O desejo de reconciliação, persistiu até
o rompimento final. Um detalhe sobre a antiga ligação: um sonho que
ocorreu enquanto Freud estava ocupado com um problema científico a
respeito da bissexualidade, datado de 1904, quando estava escrevendo os
Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. O desagradável episódio de
Weininger acontecera no verão daquele ano. O sonho contado por Freud
como hipócrita, trazia a ideia da reconciliação com Fliess, mas a análise
revelou o desejo mais profundo de romper para sempre com ele. E esse
foi realmente o final.
A auto-análise de Freud, privada da assistência de um analista objetivo e
sem a ajuda do estudo das manifesta- ções de transferência, nãofoi
concluída. Freud jamais parou de analisar-se, dedicando sempre a última
meia hora do dia a esse propósito. Um exemplo a mais de sua impecável
integridade.

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