Você está na página 1de 9

Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde

Modelos de Intervenção Psicodinâmicos

Caso do Pequeno Hans


Apreciação Crítica
Setembro, 2011

«É necessário ouvir as crianças.»


S. Freud

Docente: Doutor Gil Mata

Discente: Júlio Lopes nº25150


Índice
Introdução ..................................................................................................................................... 3
Apreciação Crítica.......................................................................................................................... 4
Caso do Pequeno Hans – Descrição e contexto do caso: .......................................................... 4
Análise do caso e comparação com as intervenções actuais:................................................... 6
Conclusão ...................................................................................................................................... 8
Bibliografia .................................................................................................................................... 9
Webgrafia ...................................................................................................................................... 9

2
Introdução

O principal objectivo deste trabalho é reflectir sobre a actual intervenção


infantil, remontando às suas origens.
Freud foi o primeiro a colocar a hipótese da existência do consciente e a
considerar que a causa das perturbações teria de ser procurada no insconsciente do
paciente, onde estavam retidas recordações traumáticas. O carácter penoso dessas
lembranças reprimidas impedia que se pudessem exprimir. Foi exactamente o que
sucedeu com Hans. Ele era uma criança que aos três anos revelou um interesse
particular pelo seu genital, não demonstrando qualquer noção de censura. Com base na
curiosidade e na imaginação, Hans parte na busca do prazer e tenta satisfazer os seus
desejos.
«Lembremos esta frase de Freud escrita no relato da sua análise do pequeno Hans:
“Uma Psicanálise [e poderíamos acrescentar, uma abordagem psicodinâmica seja ela
qual for] não é uma pesquisa cíentifica imparcial, mas um acto terapêutico. Não procura
por essência provar, mas sim mudar qualquer coisa.”».
Branconnier, A., Psicologia dinâmica e psicanálise.

3
Apreciação Crítica

Caso do Pequeno Hans – Descrição e contexto do caso:


Hans nasceu em 1903 e com apenas três anos mostrava um intresse particular
pelo seu genital – o que para a época era bastante repreensível. Em observações clínicas
contemporâneas, o dito “anormal” pode fazer parte da normalidade (Brazelton, 1990).
Há medos considerados normais em crianças de determinadas idades. Como será
referido mais à frente, Hans recebeu o diagnóstico de fóbico, se fosse nos dias de hoje,
talvez isso não acontecesse. Freud ao dispor-se a ouvir a criança e ao dar credibilidade
ao que ela dizia, combateu a ideia da época de que a palavra da criança era arbitrária e
indigna de confiança. Para ele, não há nada que se classifique de “arbitrário” na vida
mental. Freud estava a dar um recado para o século: é necessário ouvir as crianças.
O menino fazia várias perguntas acerca do seu genital e questionava a sua mãe
se também tinha um. Hans observava tudo o que o rodeava para tentar satisfazer a sua
curiosidade, até que começou a distinguir os seres vivos dos objectos inanimados pelo
facto de ter, ou não, genital, tendo-se tornado esta a caracteristica de diferenciação entre
os diferentes objectos.
Aos três anos e meio, a mãe de Hans viu-o a tocar com a mão no pénis e
ameaçou-o de que se ele voltasse a fazê-lo levá-lo-ia a um médico para lhe cortar o
membro. Foi nesta ocasião que Hans adquiriu o complexo de castração e que começou
a sofrer de fantasias, ansiedades e fobias. Podemos entender por fobia o seguinte: «Este
tipo de sintoma neurótico é, sobretudo característico da neurose que S. Freud, a partir da
análise do pequeno Hans, isolou sob a designação de histeria de angústia para sublinhar
a sua semelhança estrutural com a histeria. Desta maneira, ele distinguia a fobia da
neurose obsessiva e da neurose actual, pelo facto de o deslocamento sobre um objecto
fóbico ser secundário ao surgimento de uma angústia livre, não ligada a uma
representação, e como destino da líbido, que não é convertida como histeria.
O sintoma fóbico supõe a projecção e o deslocamento ao serviço da simbolização de
uma representação inconsciente em relação com os fantasmas inconscientes. A fobia
tem como função focalizar a angústia de forma que um perigo extior evitável se
substitua ao perigo interno dos fantasmas inconscientes, da efracção do Ego pelas
emergências pulsionais. »

4
Como as dúvidas de Hans não eram esclarecidas, muito pelo contrário, eram-lhe
ditas mentiras sobre a cegonha e a omissão da existência da vagina, na busca do
conhecimento para a obtenção do prazer, Hans passa a questionar a origem dos bebés.
O grande momento na vida de Hans foi o nascimento da sua irmã Hanna e ligou
o parto da sua mãe, e o consequente diminuir da barriga, ao acto de evacuar os
intestinos, passando a acreditar que esta seria a verdadeira origem dos bebés, e que deste
modo encontraria todo o prazer e felicidade, visto que lhe seria acessível ter e cuidar dos
seus filhos.
A mãe de Hans cuidava dele com excesso de zelo e pensa-se que foi assim que
Hans criou uma dependência total da sua mãe, dado que esta atitude de “super-
protecção” e principalmente de “total atenção” impediu a integração do seu Ego.
Com o nascimento de Hanna, Hans percebeu que já não conseguia ter acesso
total à sua mãe, arranjando outros objectos de posse: amigos e amigas às quais chamava
de filhos (as) com o objectivo de obter uma relação semelhante à que tinha com a sua
mãe antes da irmã nascer. No afastamento destes objectos de posse e com a ausência da
mãe para cuidar da irmã e do pai para trabalhar, Hans encontrava na masturbação o
alívio para as suas crises de angústia. Contudo, isto só agravava a síndrome de
ansiedade pela culpa e pelo medo de castração, resultado da ameaça que a mãe lhe fez e
que ainda fora reforçado quando o menino teve de se submeter a uma cirúrgia às
amígdalas.
Apesar de tudo isto, Hans começou a aperceber-se que na ausência do pai tinha a
mãe só para ele, desenvolvendo um sentimento de destrutividade contra o pai. Contudo,
Hans também o amava e esta relação amor/ódio desencadeou um conflito de
ambivalência de emoções e levando mais uma vez à ansiedade.
A fobia que Hans desenvolveu foi em relação aos cavalos, o que na época
representava um grande transtorno visto que este era o meio de transporte mais
utilizado. Hans entrava em pânico sempre que via uma carruagem porque imaginava
que os cavalos que a puxavam iam cair e partir as pernas. A análise desta fobia revelou
que Hans transferia para os cavalos a destrutividade que sentia em relação ao pai. Na
verdade, Hans desejava que o seu pai caísse e partisse as pernas quando ia ter com a sua
mãe. A fobia de subsitituir por cavalos estava relacionada com o medo insconsciente de
ser castrado pelo pai por causa do amor que sentia pela mãe – Complexo de Édipo.
«O complexo de Édipo é uma referência à ameaça de castração ocasionada pela
destruição da organização genital fálica da criança, radicada na psicodinâmica libidinal,

5
que tem como plano de fundo as experiências libidinais que se iniciam na retirada do
seio materno. Importante notar que a libido é uma energia sexual, mas não se constitui
apenas na prática sexual, mas também nos investimentos que o indivíduo faz para
obtenção do prazer.».

Análise do caso e comparação com as intervenções actuais:

Perante o cenário descrito, o pai de Hans, que era médico, recorre a um


psicanalista seu conhecido e a quem costumava pedir ajuda quando era caso disso, esse
psicanalista era Sigmund Freud.
O pai de Hans estabeleceu contacto com Freud através de cartas nas quais ia
descrevendo a situação e actuando de acordo com o que Freud lhe respondia.
Hans era descrito como uma criança capaz de ter empatia porque também a tinha
recebido. Freud valorizou também o nascimento de Hanna. Acreditou que Hans ao
observar um bebé a ser cuidado reavivara a sensação de prazer e de curiosidade sexual
da criança.
Freud esteve pessoalmente com Hans apenas uma vez em que lhe pediu para
parar de se masturbar e para não ter medo do seu pai. Freud evovou Adler na associação
entre o prazer da descoberta do próprio órgão sexual e o desejo de olhar e dos outros.
Hans baseava-se na comparação, como não nunca viu os genitais dos seus pais,
imaginava-os grandes como o dos cavalos que havia observado e ficava tranquilo com a
ideia de que o seu genital também cresceria, concentrando nos órgãos genitais o desejo,
normal nas crianças, de crescer.
O menino acatou o pedido e aceitou o tratamento. Deste modo, houve uma
contenção das acções e a criança passou a ter vergonha de urinar em frente a outras
pessoas, esforçava-se por não se masturbar e mostrava nojo perante as fezes [que
anteriormente representavam os seus “filhos”]. Com a análise realizada pelo seu pai,
Hans consegue superar a fobia, colocando o pai como avô dos filhos. É uma elaboração
que resolve a destrutuvidade e que elimina qualquer sentimento de culpa.
Faz parte da visão psicanalitica, e que ainda está presente nos tratamentos
actuais, propor ao paciente uma significação nova. Esta significação nova dá a
possibilidade ao paciente de expressar os seus desejos. O tratamento visa uma limitação
de pensamentos (recalcamento) de modo a assegurar um certo equilibrio.

6
Actualmente, com esta visão, o modelo mais aceite é o modelo Psicodinâmico
que tem por base teórica a Psicanálise Clássica, isto é, os psicoterapeutas desta vertente
acreditam, tal como Freud, que, neste caso concreto de Hans, a cura para os transtornos
da personalidade reside nos conflitos do insconsciente. Os tratamentos psicodinâmicos
representam métodos que actuam “em profundidade” e que operam em modificações
“estruturais”.
Na busca da descrição dos objectivos do tratamento psicodinâmico opta-se por
recorrer à descrição psicanalítica, cujo objectivo é descrito como o seguinte: «tornar
consciente o que estava inconsciente e ajudar o paciente a confrontar-se com a
realidade, a antecipar as consequências negativas das suas acções e, por isso mesmo, a
melhorar o seu juízo, a atenuar as suas tensões psíquicas e a gerir as suas contradições».
Porém, apesar dos pontos comuns, o tratamento psicodinâmico distingue-se do
psicanalítico pelo facto de considerar as sessões como um “pequeno mundo” na
totalidade da vida do paciente, encorajando-o a aplicar as lições da terapia à vida real.

7
Conclusão

A capacidade da imaginação humana pode alcançar níveis incontroláveis. No


caso de Hans, o facto de lhe terem ocultado o modo como se dá a reprodução humana é
que originou todo o conflito interno, se lhe tivessem contado a verdade talvez isso
tivesse interrompido este processo, porém, na época este era um tema ainda tabu.
Com o tratamento, Hans consegue obter um decréscimo no Complexo de Édipo,
visto que começa a ter noção de censura – formação do Superego. O Superego é a zona
do psiquismo que corresponde à interiorização das normas, dos valores, sociais e
morais. Anteriormente, Hans apenas se cingia a pulsões e instintos (Id). O Id está
desligado do real, não se orientando, portanto, por normas ou príncipios morais, sociais
ou lógicos. Rege-se pelo príncipio do prazer que tem como objectivo da realização e da
satisfação imediata dos desejos. O Id como podemos comprovar com Hans, é o
reservatório da líbido, energia das pulsões sexuais.
Freud propôs uma perspectiva que serviu de base para outros estudos. Esta
perspectiva representa um novo conceito de ser humano, dominado desde o nascimento
por pulsões, sobretudo de carácter sexual.
Um dos legados mais importantes foi o reconhecimento da importância da vida
afectiva, principalmente na infância, no desenvolvimento cognitivo e social bem como
na personalidade do índividuo. Muitas das ideias de Freud continuam actuais. São
muitos os seus críticos, mas também são muitos os seus seguidores.

8
Bibliografia

Malpique, C., Pais/Filhos em Consulta Psicoterapêutica. Edições Afrontamento –


2ªedição, Julho de 2010.
Ward, I., As Fobias.Coimbra: Almedina, Março de 2002.
Doron, R., Dicionário de Psicologia. Lisboa: Climepsi Editores – 1ªedição, Outubro de
2001.
Branconnier, A., Psicologia dinâmica e psicanálise. Lisboa: Climepsi Editores –
1ªedição, Setembro de 2000.

Webgrafia

Aeternus. 2007. Revisitando Hans.< www.aetern.us/article66.html> (consultado a 24 de


Agosto, 2011)

Centro de Desenvolvimento em Psicanálise. 2010. Dissertação da obra: O pequeno


Hans de S. Freud. <http://cdpsi.com.br/blog/index.php/2010/11/dissertacao-da-obra-o-
pequeno-hans-de-s-freud/> (consultado a 01 de Setembro, 2011)

Pepsic – Periódicos Electrónicos de Psicologia. 2009. O Pequeno Hans discutido e


sentido entre o passado e presente.
<http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbp/v43n2/v43n2a08.pdf> (consultado a 27 de Agosto,
2011)

Wikipédia – A Enciclopédia Livre. O Complexo de Édipo.


<http://pt.wikipedia.org/wiki/Complexo_de_%C3%89dipo> (consultado a 27 de
Agosto, 2011)

Youtube. 2011. O caso do pequeno Hans.


<www.youtube.com/watch?v=Pbd_Ahfo6e4> (consultado a 24 de Agosto, 2011)

*Este trabalho foi realizado de acordo com o Novo Acordo Ortográfico.

Você também pode gostar