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Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8
UNIDADE I
INTRODUÇÃO À BIOENERGÉTICA.......................................................................................................... 11
CAPÍTULO 1
TERAPIA BIOENERGÉTICA, FUNDAMENTOS E POSSIBILIDADES DE TRATAMENTO........................... 11
CAPÍTULO 2
CONSCIÊNCIA CORPORAL / CORPO EM TERAPIA.................................................................... 21
CAPÍTULO 3
MENTE EM TERAPIA E MECANISMOS DE DEFESA....................................................................... 23
UNIDADE II
INTRODUÇÃO À ANÁLISE BIOENERGÉTICA............................................................................................. 26
CAPÍTULO 1
UTILIZAÇÃO METODOLÓGICA DOS EXERCÍCIOS NO TRABALHO CLÍNICO E DA EXPRESSÃO...... 26
CAPÍTULO 2
UTILIZAÇÃO METODOLÓGICA DOS RECURSOS USADOS NO TRABALHO DA CLÍNICA
BIOENERGÉTICA...................................................................................................................... 28
CAPÍTULO 3
A ANÁLISE DO CARÁTER E SUA PARTICIPAÇÃO NA FORMAÇÃO............................................... 32
UNIDADE III
BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE. 36
CAPÍTULO 1
A BIOENERGÉTICA NO CONTEXTO DO SUS E SUAS APLICABILIDADES........................................ 36
CAPÍTULO 2
A PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA ............................................................................... 59
CAPÍTULO 3
PRINCÍPIO FUNCIONAL............................................................................................................ 62
UNIDADE IV
O CARÁTER EM RELAÇÃO NA ANÁLISE BIOENERGÉTICA........................................................................ 64
CAPÍTULO 1
AS CLÍNICAS SOCIAL E PSICOTERAPIA CORPORAL................................................................... 64
CAPÍTULO 2
O CARÁTER EM RELAÇÃO AO CONTEXTO SOCIOCULTURAL..................................................... 75
CAPÍTULO 3
A RELAÇÃO ENTRE O EGO E O CORPO.................................................................................. 79
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 82
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
7
Introdução
Seja bem-vindo ao estudo sobre integração corpo e mente e o caráter na análise de
bioenergética. O caráter em análise bioenergética é baseado no conceito de saúde
vibrante, respiração, carga e descarga de energia, movimento livre e espontâneo. Envolve
a personalidade, a propriedade dos relacionamentos, os processos de pensamento e
a sexualidade, em função da energia presente no corpo. O caráter parte do trabalho
corporal, buscando a integração entre corpo, mente e espírito.
A disciplina está estruturada em quatro unidades, com três capítulos cada, de modo
que:
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Objetivos
» Entender o cuidado a partir das teorias de análise bioenergética.
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INTRODUÇÃO À UNIDADE I
BIOENERGÉTICA
CAPÍTULO 1
Terapia bioenergética, fundamentos e
possibilidades de tratamento
De acordo com Lowen (1982), esta energia é a energia biológica, eficaz, sentida pelo
corpo como um movimento interno que, em posição de equilíbrio, é contido como
aprazível, anunciando um estado de bem-estar. Assim, a bioenergética tem como
desígnio auxiliar o sujeito a retomar seu caráter primário que se formou na sua
condição de ser livre.
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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À BIOENERGÉTICA
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INTRODUÇÃO À BIOENERGÉTICA │ UNIDADE I
Bioenergética
• Começa no fundo
• Oxigênio para o da pelve e flui
metabolismo. • Dirige-se para auxiliar
a perceber e liberar para cima até a
tensões que boca.
Respiração
impedem a Movimento
respiração. respiratório
Contudo, nas práticas terapêuticas e/ou psicoterapia corporal, seja análise reichiana,
seja bioenergética, a pessoa entra em contato com o seu corpo e com a sua realidade
para que perceba, aos poucos, as restrições e limitações decorrentes de suas couraças.
Por fim, a pessoa começa a ter consciência das suas aspirações e dos seus impulsos
que se encontravam bloqueados, consentindo-se vivenciá-los e liberá-los, acendendo-
se para o universo de forma livre. (VOLPI, 2003).
A busca pelo aumento de energia – e, com isso, a obtenção de mais vitalidade – ocorre
mediante crescente movimento da respiração, de quando se verbaliza algo, além do
movimento com olhos. Desse modo, a respiração mais intensa faz o movimento de abrir
a garganta e, por sua vez, auxilia a recarregar o corpo, acionar anseios presos, e ainda
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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À BIOENERGÉTICA
promover a expressão dos anseios e/ou demonstrar o receio de algo que a pessoa possa
ter.
O organismo vivo não é mais do que um elemento da natureza que promove vibração.
Por conseguinte, o organismo faz parte do cosmo; consideramos também que o
procedimento energético dos acontecimentos ativos acontece pela pulsação. Sendo
assim, apreende-se por pulsação a aptidão de o organismo vivo se mover ampliando e
contraindo em acurado ritmo. A amostra mais manifesta dessa força fundamental nas
pessoas consiste no movimento de dilatação e contração que advém durante a ação de
respirar.
O que isso quer dizer é que todas as células vivas respiram. Esta é a celeridade pulsante
basilar da vida. A pulsação e o movimento do interior para o externo de todas as formas
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INTRODUÇÃO À BIOENERGÉTICA │ UNIDADE I
Conceitos de grounding/energia
Observa-se, de acordo com Júnior (2016), que a categoria teórica mais utilizada pelos
autores da análise bioenergética é a energia, talvez a mais importante para a apreensão
dos estudos lavrados por Lowen.
Desse modo, Júnior (2016) alude que existe um entendimento de energia que não
se atém aos métodos biológicos de sustentação do organismo, visto que começa a
contrair um sentido mais amplo e complexo, ligado aos impulsos sexuais e distribuído
economicamente para as diferentes demandas que perpassam o sujeito.
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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À BIOENERGÉTICA
De acordo com Lowen (1977), o conceito de energia, além disso, procede da teoria
energética pulsional de Freud (1987), que delibera a pulsão na condição de conceito
situado na fronteira entre o mental e o somático, como o representante psíquico dos
estímulos que se originam dentro do organismo e alcançam a mente, enquanto medida
de requisição realizada à mente para trabalhar em decorrência de sua transação com o
corpo.
Essa apreensão assenta a partir de uma espécie de alicerce que auxilia na constituição
da teoria energética desenvolvida por Reich (1995) que se aproveita dos conceitos de
Freud e justapõe o conceito de energia ao que pode ser observado no nível do corpo,
por meio de manifestações somáticas, e, Lowen, em seguida, apropriou-se do conceito
difundido por Reich.
Tensão
mecânica
Carga
bioenergética
Descarga
bioenergética
Relaxamento
mecânico
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INTRODUÇÃO À BIOENERGÉTICA │ UNIDADE I
Por esses conceitos explicitados na figura acima, Lowen, (1982) crê que todo ser vivo
saudável calha de vivenciar díspares procedimentos de tensão, que o conduz à precisão
de carregar o organismo de energia. Em seguida, acontece a descarga pela liberação
de energia e o consequente relaxamento, reiniciando todo o processo de forma cíclica.
Baseia-se nessas ideias e cria a sua própria forma de entender a questão econômica da
energia como um equilíbrio entre carga e descarga, de acordo com a necessidade do
indivíduo.
Carregamento
ascendentes
com excitação
Mais Descarregamentos
descarregamento descendentes com o
descendente prazer
Mais
carregamentos
ascendentes –
mais excitação
A grande questão é que, para Lowen, perde-se a ênfase no caráter sexual da energia
e ela passa a ser vista como uma bioenergia. Nota-se que, para ele, não há a mesma
diferenciação que Freud faz entre a energia libidinal e a energia subjacente aos métodos
anímicos em comum.
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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À BIOENERGÉTICA
Uma característica peculiar de sua teoria é que ela cunha uma opinião particular para
se acenar à ligação com a realidade do ambiente e de si próprio. Desse modo, introduz
o conceito de grounding, um dos principais de sua teoria.
Assim, Junior (2016) nos alerta que isso aludi à interação da pessoa com a sua própria
realidade uma intensa união a sua respiração e ao contato com as próprias emoções.
Dentro do corpo existe uma pulsação energética; as emoções se mexem para cima em
direção à cabeça quando necessitamos de energia e se mexem para baixo em direção
aos pés quando a descarga é necessária (LOWEN, 1983). Ainda segundo Lowen, ele
afirma que a única realidade é a do corpo, o que evidencia a importância dessa instância
em sua perspectiva.
Para o autor, os seres vivos estão em fiel intercâmbio energético com o clima que os
cerca . O livre fluxo de energia adverte um bom contato com o ambiente, por meio de
suas experiências particulares, isto é, quando há uma apatia ou uma dificuldade na
esfera psíquica, respectivamente, existe uma tensão muscular corporal de intensidade
crônica.
Supõe-se que isso ocorra porque o corpo sem energia não consegue ter força suficiente
para enfrentar as situações estressantes. A região na qual a energia foi bloqueada
também demonstra ter íntima relação com o tipo de doença que a pessoa está propensa
a desenvolver.
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INTRODUÇÃO À BIOENERGÉTICA │ UNIDADE I
Nessa citação, notamos que os dois extremos que podem assumir a carga e a descarga
do organismo são capazes de se constituir em patologias. A depressão, por exemplo, é
caracterizada por Lowen (1972/1983) como um estado de privação energética, ou seja,
há uma falta de carga energética percorrendo o corpo.
Da mesma forma, a pessoa que se impregna demais e não tem uma descarga apropriada
se enrijece e vive em constante estado de tensão, inquietação e nervosismo. A falta de
mobilidade e todo esse movimento no/do corpo adverte que a energia está estancada,
sendo considerado um modo de patologia que lembra que há propensão da pessoa
adoecer. (JUNIOR, 2016).
Assim, ao abalizar esses feitios que, para o autor, representam saúde, pode-se interrogar
a respeito do que os originam para que o sujeito se desenvolva de modo mais saudável.
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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À BIOENERGÉTICA
Contudo Junior (2016), nos orienta que é perceptível que haja um indicativo de saúde
e adoecimento relacionado à carga energética. Quanto mais suficiente for a energia,
quanto mais houver equilíbrio entre carga e descarga e quanto mais a energia fluir
livremente, mais saúde o indivíduo apresentará.
Com objetivo de colaborar ainda mais com os seus estudos, deixamos como
sugestão de leitura os textos a seguir.
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CAPÍTULO 2
Consciência corporal / corpo em
terapia
A autora ainda diz que assim como a estrutura física é atacada de modo recorrente
e por um extenso momento, ela também reage apontando que alguma coisa está
inconveniente, a partir de então, passa a aparecer dores, indisposições, enfermidades e
fadiga. Contudo, quando a pessoa consegue compreender e entender o que significam
esses sinais, e, melhor do que isso, atuar de modo que eles não calhem, isso configura
ter o completo conhecimento do próprio corpo.
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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À BIOENERGÉTICA
Lacombe (2018) informa ainda que existem benefícios para a saúde de pessoas que
apresentam problemas de saúde mais comuns que podem ser prevenidos por intermédio
da consciência corporal, por exemplo:
Por fim, com a habilidade de conhecer os seus limites e escutar os sinais do seu corpo,
entender quais músculos estão sendo utilizados e a postura ideal para desempenhar
uma ação fica mais fácil. De tal modo, a pessoa usa o próprio corpo de forma inteligente
e cuidadosa, alocando consecutivamente o bem-estar em primeiro lugar.
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CAPÍTULO 3
Mente em terapia e mecanismos de
defesa
» Ego governa os impulsos oriundos do id, e, por sua vez, realiza tentativas
de negociação com as restrições impostas pelo Superego e arrisca-se
amoldar-se ao fato que o circunda.
Para saber mais, assista o vídeo recomendado e leia os textos sugeridos a seguir.
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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À BIOENERGÉTICA
Vejamos, a seguir, tabela que sintetiza informações fundamentais a respeito das variadas
formas de como os seres humanos reagem e formam seus mecanismos de defesa nas
diversas situações que sentem a necessidade de se defenderem.
isolamento É quando ocorre um sentimento de ficar separado do Quando se descreve um episódio traumático sem
resto das pessoas que costumeiramente convive. qualquer aparente emoção.
Negação Ocorre quando há bloqueio do reconhecimento de Pais que se abdicam de lidar com a sexualidade dos
uma verdade certíssima. filhos; e/ou aqueles casos em que insistem em dizer
que seus filhos são bebês.
Somatização Acontece quando o indivíduo transfere para o Indivíduos que permanecem continuamente adoentados,
corpo, aflições e enfermidades dores e aspirações pois não aceitam admitir que tem ausências afetivas e
originalmente inadmissíveis. sexuais em sua vida.
Formação Reativa Acontece quando a pessoa toma uma conduta Mãe superprotetora que compensa culpa ou raiva
justamente antagônica ao impulso original. inconsciente contra o incômodo e a intrusão dos filhos
em sua vida.
Compensação Incide quando o indivíduo supervaloriza um predicado Indivíduo que se nota sexualmente inferiorizado e
que analisa ser deficitário em sua vida. realiza compensações financeiras (compras) ou
demasiadamente afetuosas.
Expiação Ocorre quando o indivíduo padece por conta própria Quando um sujeito tem uma atitude considerada
como forma de querer pagar algum julgamento ou inapropriada no trabalho e essa atitude é de forma
ação que comentou contra outrem e que analisa ser inconsciente, e é mandada embora como forma de
inadmissível. pagar por ter agido mal.
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INTRODUÇÃO À BIOENERGÉTICA │ UNIDADE I
Introjeção Ocorre quando o sujeito ocasiona para si os anseios e Religioso que basta encontrar-se em um templo para se
traços de outra coisa ou pessoa. sentir especial.
Idealização Quando uma característica de um sujeito é levada Pessoa iludida que confere uma perfeição na pessoa
à perfeição como forma de obscurecer traços amada.
desagradáveis.
Reparação É uma forma que a pessoa pode encontrar para Procedimento de luto em que se reúne esforços em
restabelecer a unidade de uma imagem que foi busca de superar a morte de um indivíduo por meio de
lesada. manifestações de religiosidade.
Sublimação Ocorre quando existe irregularidade e descarga Indivíduo que canaliza suas aspirações sexuais para
de um impulso inconveniente para uma celeridade uma celeridade espontânea ou religiosa.
socialmente acolhida, entretanto que não cause
angústia.
Humor Acontece quando uma pessoa busca pormenorizar Quando um adoentado recém-quimioterapeutizado
um anseio, ou uma conduta rejeitável brincando brinca com a perda de cabelo.
consigo próprio.
Transferência É um tipo específico de projeção sobre a figura de Clientes que se apaixonam e idolatram, e/ou passam a
um cuidador de impulsos sexuais que tinham uma ter sentimento de raiva em relação ao terapeuta, porque
conexão original com a figura dos pais. transferiu a ele/ela algo que projetou em sua vida ou
que possa ter passado em algum momento de sua vida.
Por fim, decisivamente eles são empregados para amortecer a consequência dolente
que atravessa a mente humana, ou seja, quanto mais ríspida e agressiva a pessoa for
emocionalmente do mesmo modo estará predisposta a empregar essas saídas que
encobrem um fato interno e/ou exterior mais complexo que possa ter.
Com objetivo de colaborar ainda mais com seus estudos, deixamos como
sugestão de leitura os seguintes textos:
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INTRODUÇÃO
À ANÁLISE UNIDADE II
BIOENERGÉTICA
CAPÍTULO 1
Utilização metodológica dos exercícios
no trabalho clínico e da expressão
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INTRODUÇÃO À ANÁLISE BIOENERGÉTICA │ UNIDADE II
marilia.unesp.br/Home/Pos-Graduacao/Educacao/Dissertacoes/
boldarine_rf_me_mar.pdf.
Podemos considerar que a pessoa passa a realizar uma espécie de viagem ao inconsciente
aportado em seu próprio corpo, energia e personalidade, e no mesmo compasso em que
deseja alcançar progressão, integração e desenvolvimento com mais satisfação de si e
dos processos vivenciados da vida.
Enraizamento,
também conhecido
como grouding. Entrega, também
denominado surrender.
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CAPÍTULO 2
Utilização metodológica dos recursos
usados no trabalho da clínica
bioenergética
Por meio do toque, das massagens no corpo, muitas vezes, o ser humano, desde a
infância, libera toda a tensão que se formou em seus músculos, o que o leva a um estado
de relaxamento. Os toques no corpo promovem conexão, fortalecem a autoestima,
revigoram a energia e, com isso, auxiliam a força vital.
As autoras Moro e Juliani (2010) fazem menção especial ao caso das pessoas com
deficiência quando estão em tratamento terapêutico por intermédio dessa teoria, uma
vez que, no caso delas, a condição do corpo se apresenta contraído, logo, encouraçado,
o que não expõe espontaneidade, seus movimentos são bem restritos, com pouca
flexibilidade e estagnação de energia.
Por fim, as autoras Moro e Juliani (2010) frisam que, quando não há fluidez energética,
aglutinam-se toxinas, as quais podem beneficiar o desenvolvimento de inúmeras
enfermidades no corpo e isso tudo acaba por bloquear energias e levar a um intenso
enrijecimento do corpo humano.
Lowen (1995) alerta que há processos educativos a respeito dos sintomas que precisam
ser alvo das atividades terapêuticas, já que, de tal maneira, a superexcitação e a
cristalização do sistema nervoso auxiliam para que os pacientes observem sintomas
como corpos estranhos, intrusivos e ameaçadores, os quais, comumente, são adjuntos
dos sentimentos de medo de enlouquecimento ou da morte.
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INTRODUÇÃO À ANÁLISE BIOENERGÉTICA │ UNIDADE II
Assim o terapeuta, acena para que o paciente observe as suas próprias reações, para
avivar o desencadeamento emocional e o método de imputação cognitiva do sentido,
para, em seguida, requerer que o paciente possa gradualmente desordenar o padrão
ativado de retorno.
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UNIDADE II │ INTRODUÇÃO À ANÁLISE BIOENERGÉTICA
O trabalho desenvolvido nas sessões terapêuticas não pode ser feito de modo robotizado,
sem reflexão e/ou, até mesmo, forçando os pacientes a fazer algo, visto que, em muitas
ocasiões, o paciente acaba por fazer algo contra a sua vontade, apenas, para atender
o que está sendo solicitado pelo terapeuta, e o real sentido do trabalho acaba sendo
perdido.
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INTRODUÇÃO À ANÁLISE BIOENERGÉTICA │ UNIDADE II
que já mantém. Desse modo, essa atitude se torna viável também quando o terapeuta
avigora a autovalorização e o exercício que o paciente alcançou tanto ao vivenciar a
circunstância traumática, quão grandemente ao abordá-la por intermédio do processo
terapêutico (NASCIMENTO, 2010).
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CAPÍTULO 3
A análise do caráter e sua participação
na formação
A noção de caráter é essencial nas teorias de Wilhelm Reich, pois, conforme Silva e
Albertini (2005), localiza-se em quatro métodos terapêuticos desenvolvidas por ele:
» análise do caráter;
» vegetoterapia;
» caracteroanalítica;
» orgonoterapia.
Além disso, Silva e Albertini (2005) afirmam que esse conceito compreende a extensão
educacional e clínica – uma que as duas cooperam para o desenvolvimento e a
transformação do caráter –, traz em si a marca de seu momento e articula ainda os
aspectos, sociais, culturais psicológicos, políticos entre outros.
Dois tipos narcisistas existem segundo os estudos apreendidos por Silva e Albertini,
(2005), arrolando à neurose de caráter, cujos sintomas são difusos e misturados ao
modo de ser do paciente. Aludem ainda que o termo couraça, usado por Reich, refere-se
às defesas chamadas de couraças que também podem ser narcísicas e que são levantadas
pelos pacientes contra o método analítico e o próprio analista.
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INTRODUÇÃO À ANÁLISE BIOENERGÉTICA │ UNIDADE II
Reich (1995) relata que o modo de ação e reação a fatos e pessoas, típicos e automáticos
do sujeito, nada mais é do que o caráter, que se ocasiona do conflito entre as pulsões
internas, proibições e frustrações atribuídas a todas as pessoas por meio do mundo
exterior. Da mesma forma que o caráter labora como aversão ao tratamento analítico,
na vida habitual, tem o mesmo encargo de defender o aparelho psíquico.
Sendo assim, o caráter versa numa alteração crônica do ego que se poderia delinear
quanto um enrijecimento. Portanto, esse é o alicerce fidedigno para que o modo
de reação peculiar se contorne crônico. O seu escopo é resguardar o ego dos riscos
internos e externos.
Adaptativa
Biopática
É expressa mediante
relações dinâmicas com o Caracterizada por relações
meio em que se relaciona. distorcidas com o meio.
De acordo com Castro (2016), existem três principais formas de couraça a partir dos
estudos de Reich, são elas:
» caráter genital;
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UNIDADE II │ INTRODUÇÃO À ANÁLISE BIOENERGÉTICA
» caráter neurótico;
» caráter pestilento.
Passados mais de 80 anos das formulações reichianas sobre o caráter pestilento, Ferri
e Cimini (2011) alvitram uma releitura e atualização do conceito por meio do que eles
chamam de mutação adaptativa da síndrome. Na época de Reich, a estrutura de caráter
média era neurótica.
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INTRODUÇÃO À ANÁLISE BIOENERGÉTICA │ UNIDADE II
Os autores Ferri e Cimini, (2011) aludem que Reich resistiu para lutar pela liberdade
das pessoas em relação a estruturas e instituições sólidas, rígidas e autoritárias,
nada obstante, na sociedade líquido-moderna, estamos em uma cena antagônica à
apresentada por Reich, em que há ausência da fronteira organizadora das pulsões.
Por fim, de modo semelhante ao aspecto reichiano, Bauman (2009) confia que liberdade,
democracia e práticas educativas localizam-se densamente conexas e formam o alicerce
das expectativas e das chances da humanidade.
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BIOENERGÉTICA:
DA PSICOTERAPIA
CORPORAL
À PRÁTICA UNIDADE III
INTEGRATIVA E
COMPLEMENTAR
EM SAÚDE
CAPÍTULO 1
A bioenergética no contexto do SUS e
suas aplicabilidades
Para saber mais, sugerimos que você faça a leitura do texto e assista os vídeos,
recomendados a seguir.
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BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE │ UNIDADE III
Assim, de acordo com estudiosos a respeito desse assunto, como Magano (2016) e
Baldani (2017), busca-se o equilíbrio energético, a integração da mente e do corpo e o
desenvolvimento de grounding, de ritmo e da criatividade. Comumente os participantes,
em sua maioria psicóticos, apresentam corpos sensíveis, com tensões crônicas e, por
vezes, enrijecidos pelo uso de medicações.
Constituem-se como corpos que, muitas vezes, não foram tocados ou que foram
invadidos e abusados, com sensações de estranhamento e sem delimitação clara do
dentro/fora ou do eu/outro.
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UNIDADE III │ BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE
38
BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE │ UNIDADE III
[...]
Tabela 2. De acordo com o Ministério da Saúde, seguem algumas das principais práticas
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UNIDADE III │ BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE
Cromoterapia Por intermédio das cores, procura-se estabelecer e restaurar o equilíbrio físico e energético, promovendo a harmonia
entre corpo, mente e emoções, pois o desvio da energia vibratória do corpo é responsável por desencadear patologias.
Pode ser trabalhada de diferentes formas: por contato, por visualização, com auxílio de instrumentos, com cabines de
luz, com luz polarizada, por meditação.
Entre as possibilidades terapêuticas utilizadas pelos profissionais de saúde, a cromoterapia se enquadra como um
recurso, associado ou não a outras modalidades (geoterapia, reflexologia, aromaterapia, imposição de mãos etc.),
demonstrando resultados satisfatórios.
Geoterapia A geoterapia é a prática que contribui com ampliação e melhoramento nos sistemas de abordagem integrativa, em
intervenções clínicas. Prática milenar e de utilização variada pelos povos antigos, alterna desde embalsamentos,
conservação de alimentos, tratamentos, manutenção da saúde, até fins estéticos.
Hipnoterapia Conjunto de técnicas que, por meio de intenso relaxamento, concentração e/ou foco, induz a pessoa a alcançar um
estado de consciência aumentado que permita alterar uma ampla gama de condições ou comportamentos indesejados
como medos, fobias, insônia, depressão, angústia, estresse, dores crônicas. Pode favorecer o autoconhecimento e, em
combinação com outras formas de terapia, auxilia na condução de uma série de problemas.
Alguns setores de saúde adotam regularmente esta prática em seus protocolos de atendimento, como a odontologia, a
psicologia, a fisioterapia, a enfermagem, entre outras.
Imposição De Mãos A imposição de mãos é a prática terapêutica secular que implica um esforço meditativo para a transferência de energia
vital (Qi, prana) por meio das mãos com intuito de reestabelecer o equilíbrio do campo energético humano auxiliando
no processo saúde-doença. Sem envolvimento de outros recursos como: remédios, essências, aparelhos. Faz uso da
capacidade humana de conduzir conscientemente o fluxo de energias curativas multidimensionais para dentro do corpo
humano e dos seus sistemas energéticos físicos e espirituais a fim de provocar mudanças terapêuticas. Essa prática
fundamenta-se no princípio de que a energia do campo universal sustenta todos os tipos de organismos vivos e que
este campo de energia universal tem a ordem e o equilíbrio como alicerce.
Medicina Antroposófica Sobreposta À Saúde Considerada uma abordagem terapêutica integral com apoio na antroposofia, avalia o ser humano a partir dos conceitos
da trimembração, quadrimembração e biografia, oferecendo cuidados e recursos terapêuticos específicos. Atua de
maneira integrativa e utiliza diversos recursos terapêuticos para a recuperação ou manutenção da saúde, conciliando
medicamentos e terapias convencionais com outros específicos de sua abordagem.
Na abordagem interdisciplinar de cuidados, os diferentes recursos terapêuticos oferecidos envolvem:
» terapia medicamentosa;
» aplicações externas;
» banhos terapêuticos;
» massagem rítmica;
» terapia artística;
» euritmia;
» quirofonética;
» cantoterapia;
» terapia biográfica.
Ozonioterapia Prática integrativa e complementar que emprega a aplicação de uma mistura dos gases oxigênio e ozônio, por diversas
vias de administração, com desígnio terapêutico, já utilizada em vários países como Itália, Alemanha, Espanha, Portugal,
Rússia, Cuba, China, entre outros, há décadas.
Terapia De Florais Prática complementar e não medicamentosa que, por meio dos vários sistemas de essências florais, modifica certos
estados vibratórios auxiliando a equilibrar e harmonizar o indivíduo.
Pode ser adotado em qualquer idade, não interferindo com outros métodos terapêuticos e/ou medicamentos,
potencializando-os. Os efeitos podem ser observados de imediato, em indivíduos de maior sensibilidade.
Termalismo Social / Crenoterapia A utilização das águas minerais para tratamento de saúde é um dos procedimentos mais antigos, utilizado desde a
época do Império Grego. Consiste em prática terapêutica que utiliza águas minerais com propriedades medicinais, de
modo preventivo ou curativo, em complemento a outros tratamentos de saúde. Tem por base a crenologia, ciência que
estuda as propriedades medicinais das substâncias físico-químicas das águas minerais e sua utilização terapêutica.
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BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE │ UNIDADE III
Para saber mais a respeito do assunto tratado neste capítulo, leia os textos
recomendados a seguir.
Apresentamos, a seguir, algumas experiências que pudemos acessar por meio do texto
que Donice (s/a) traduziu da experiência que estudou do médico psiquiatra Halsen
e publicou. São relatos de experiência profissional com crianças em tratamento em
unidades de psiquiatria infantil. Vejamos, a seguir, alguns casos relatados pelo autor
Halsen e traduzido por Mariangela Gargioni Donice (s/a):
1 - O terapeuta toca a criança, que então confirma suas percepções e anseios. Pode-
se ainda aceitar a criança tocar o terapeuta. Isso é frequentemente assustador para
as crianças. Elas não apresentam conhecimento em serem o ativo e espontaneamente
sentem-se como violadoras em relação ao outro.
Por meio desses exercícios, a criança também aprende a tolerar prazer desde uma
massagem nos pés, carinhos e assim por diante.
41
UNIDADE III │ BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE
O mesmo exercício pode ser feito pela criança com o terapeuta deitado em suas costas
ou em pé sustentado pelas mãos e joelhos. Dessa forma é permitido à criança usar sua
força em empurrar um corpo adulto.
Elas estão fugindo de si mesmas. Ficar de pé ou deitar de costas podem ser aterrorizantes.
Ficando de pé, a criança lentamente aprende que seus pés a suportarão.
Considerações do autor
Aceitar o suporte do solo e do terapeuta no mesmo compasso em que se pode
desempenhá-los de modo mais seguro. Uma combinação de apoiar e defender seu
ponto de vista pode ser necessário.
Trabalhando com limites e fronteiras: muitas dessas crianças, que podem ser
classificadas como borderline ou não, foram perturbadas por pais ou outros adultos
abusivos ou ignorantes.
A criança é pedida para andar sobre seu território e dizer: isso é meu. Isso me pertence.
Ela pode decidir se quer abrir seus limites, quem quer deixar entrar e por quanto tempo
devem permanecer.
Ainda conforme Donice (s/a), outro exercício que podemos explicitar aqui e que faz
parte desse conjunto, envolve segurar as palmas das mãos versus as mãos do terapeuta,
determinadas vezes para impelir, outros momentos para admitir o terapeuta ficar mais
próximo. Comumente a criança necessita instruir-se a não aceitar os outros a chegarem
muito próximo.
O exercício pode ser invertido, com a criança iniciando de pé, mas isso pode ser mais
assustador. O terapeuta pode ainda conduzir a criança de olhos fechados pelo recinto.
Em outro exercício a criança deita e o terapeuta segura a sua cabeça.
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BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE │ UNIDADE III
3 – Outro fato explicado com atividades regressivas e progressivas que as crianças com
facilidade regridem (Helsen tradução de Donice (s/a)), será apresentado a seguir, para
que você analise a situação e se imagine no lugar desse profissional desenvolvendo esse
atendimento:
Destarte, uma sala com travesseiros e colchão oferece a oportunidade para uma
regressão em que a criança pode com facilidade desaparecer entre as almofadas.O
terapeuta coloca uma de suas mãos na cabeça e outra nos pés da criança, e oferece
alguma resistência quando for pedido para se expandir um pouco a cada vez que ele
inspirar o ar. É importante impedir regressões totais, todavia permitir e encorajar
regressões parciais. (HELSEN, tradução de DONICE, s/a).
É consentido à criança se portar com uma idade abaixo da sua de fato, entretanto ao
mesmo passo, nessa abordagem, Helsen, tradução de Donice, s/a, informa que deve se
conservar parte de seu ego laborando em conformidade com sua idade real.
Exercícios de suporte
De acordo com a tradução de Donice (s/a) em relação ao trabalho de Helsen, informa
que a metodologia dessa atividade envolve procedimentos como cobrir a criança,
massagenado, o que adiciona a aptidão da criança em ser receptiva e sentir prazer. No
entanto é desaconselhado fazer esse tipo de atividade com crianças que já sofreram e/
ou sofrem abusos sexuais pois, pode causar nelas, uma confusão, e assim, fazerem uma
relação da técnica com o abuso sofrido.
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UNIDADE III │ BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE
Exercícios cooperativos
Presta suporte às crianças para utilizarem seus corpos acoplados com o terapeuta. Por
exemplo: criança e terapeuta deitados de costas, com os pés um contra o outro e fazendo
movimentos de pedalar.
Esses exercicios, assim como o restante da experiência apresentada por Donice (s/a)
em relação ao trabalho de Halsen consiste em um programa comumente fundamentado
a partir de combinados feitos entre a criança e o seu terapeuta. Ressalta-se ainda que,
no momento do desenvolvimento dos exercícios, as crianças não podem ser forçadas
a realizar qualquer exercício que não se sintam à vontade e/ou confortável de o fazer.
É importante assinalar ainda que o terapeuta precisa estar atento, pois, na condução
desses exercícios muitos sentimentos fortes aparecem. O terapeuta precisa de toda a
desenvoltura para administrar a possibilidade de ocorrência dessas situações.
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BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE │ UNIDADE III
É importante, contudo, que o terapeuta esteja sempre atento aos sinais que os
membros do grupo possam evidenciar, uma vez que podem demonstrar cansaço
bem como dificuldades para descansar e/ou relaxar, fazendo-se necessário,
portanto, que o profissional revise os exercícios, para que estes beneficiem
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UNIDADE III │ BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE
Outro exemplo que Brasil (2018) apresentou foram exercícios significativos que
deviam durar, em média, 45 minutos. O tempo restante era direcionado a escutar
as pessoas, sobre como se sentiam após o trabalho corporal e ainda auxiliar na
integração de experiências, especialmente quando o trabalho tinha possibilitado
contato com alguma emoção bloqueada e/ou memórias que foram ativadas.
Melhora no controle dos Atividades terapêuticas com essa abordagem podem ser bons procedimentos para pessoas com quadro de descontrole
níveis de pressão arterial da pressão arterial, pois auxilia tanto no controle quanto na diminuição do uso de medicamentos.
Benefícios em outros Os pacientes apresentaram inúmeras outras queixas ou patologias, e, à medida que o trabalho se desenvolveu, muitas
problemas de saúde dessas dificuldades – insônias, perda do apetite, cefaleias, dores musculares entre outras – foram suavizadas alcançando
boas evoluções.
Melhor resultado no Pessoas que apresentaram simultaneamente hipertensão e diabetes e não conseguiam equilibrar o nível de glicose no
controle da diabetes sangue no decorrer da atividade, despontaram com resultados mais estáveis.
Saúde mental Contribuiu consideravelmente na diminuição de problemas emocionais como estresse, ansiedade, sentimento de tristeza
cíclico etc. Foi perceptível que, com o desenvolver das atividades, os participantes passaram a apresentar controle dos
níveis de ansiedade, demonstraram mais leveza, melhor humor e manifestaram expressões de contentamento. Destaque-
se ainda que os participantes relataram se sentir com nível de atenção mais apurado, mais alegres, mais pacientes e
tranquilos, corroborando com a percepção dos profissionais.
Consciência corporal Beneficiou o desenvolvimento da autonomia e do zelo com os cuidados que se deve ter consigo próprio em relação
aos problemas de saúde que apresentam. Além disso, auxiliou as pessoas a estarem mais precavidas às percepções
de bem-estar e manifestações de dor em seu organismo, assim como, contribuiu para avaliar de forma qualitativa como
estão os sentimentos e anseios.
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BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE │ UNIDADE III
Ela informou que não era a primeira vez que passava por tratamento terapêutico e que
já havia passado por outros processos anteriormente. Mencionou também que esteve
em tratamento psiquiátrico por diversas ocasiões; no entanto relatou que não obteve
resultados de grande relevância para sua saúde mental em nenhum deles e ainda
acrescentou que entende ter sido sem sucesso, uma vez que, todos os seus sintomas
permaneciam.
Essa senhora relatou, no momento desse atendimento, que tem feito acompanhamento
medicinal mediante especialidade antroposófica. Assim, os profissionais envolvidos
com esse caso colocaram a seguinte condição em relação aos cuidados psicoterápicos:
Esse caminho foi basilar, tendo em vista que essa mulher demonstrou não ter muita
confiança e segurança nas relações terapêuticas às quais fora submetida anteriormente,
o que fez com que não concluísse seus antigos tratamentos. Dessa forma, foi
continuamente sugerido que se erguesse e andasse com a terapeuta no recinto em que se
encontravam para realizar as sessões de terapia, contornando-se de modo consciente de
seus próprios movimentos corporais, e de sua respiração e de que forma se configurava
o contato de seus próprios pés com o chão, e, nesse interim a terapeuta realizava a
análise e obtinha a leitura corporal, com apoio dos movimentos, equilíbrio do corpo, a
forma em que a paciente ativava a sua respiração e o modo como posicionava os seus
pés no chão.
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UNIDADE III │ BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE
conciso advir uma reciprocidade com o terapeuta, por ocasião empaticamente entrosado
com a pessoa atendida, de forma a apreender e ecoar o que essa pessoa necessita
somaticamente, emocionalmente e verbalmente, ao passo que a análise bioenergética
possa se desenvolver.
O que se quer chamar a atenção aqui é que toda energia do seu corpo era desprendida
para si mesma, isto é, verbalizando sobre ela mesma e expondo os temores e receios
que havia passado durante a semana que antevia as sessões. Essas alocuções sempre
se intensificavam no andamento da sessão. Ainda cabe ressaltar que ela se apresentava
inativa e com receio da morte, deficiência do ar para respirar e ainda se lamentava de
aflição que comprimia o centro do seu peito.
O escasso contato com o corpo bloqueava a ascensão a sua orbe interior, praticamente
não desenvolvendo assim, a capacidade de perceber de maneira intuitiva ou, ainda, de
discernir os complexos processos internos, ocorrendo uma apreensão de situações de
conflito, que se conformam como precondição para a dissolução de dificuldades que
possa induzir a alterações do quadro de enfermidades físicas e de ordem mental.
Destarte, durante muito tempo, ela aludia de forma excessiva sobre ela mesma durante
as sessões, no entanto não discorria a respeito de sua história, tampouco mencionava
nada a respeito do esposo e muito menos de seu filho, como também não trazia nada
a respeito de seu trabalho no banco, somente sobre suas queixas e mágoas, o que nos
leva a compreender certo narcisismo. Com o andamento das sessões, o que ela arrazoou
sobre o marido é que não mantinham relações sexuais a cerca de um ano e acrescentou
que antes ele oferecia cuidado as suas lamentações, porém, em seguida, não lhe ofereceu
mais atenção. Assim, as sessões foram se mantendo com a técnica grounding e, nesse
período, adicionaram-se exercícios para auxiliar no aumento da respiração para que o
corpo, com mais oxigênio e dilatação, pudesse ser sentido por ela com mais vitalidade
e vigor.
No que tange aos aspectos corporais da paciente em tela, ela apresentava a altura de
1,62m, corpo magro com carência de energia vital, assentando-se sobre pernas finas,
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BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE │ UNIDADE III
Ao passo que o trabalho corporal foi progredindo, foram introduzidos exercícios para
bater pernas, isso ocorreu quando ela começou a esboçar mais certeza e confiança e,
como consequência disso, conseguiu se vincular ao processo terapêutico como também
com a terapeuta.
Destarte, o exercício de bater pernas foi sendo cada vez mais atualizado nas sessões,
conexo à carência de pernas para se blindar. Nesse compasso, adotou-se o exercício de
grounding invertido – que também tem nominação grounding do elefante, pois está
disposição poderia conduzi-la para ampliar o contato com suas táticas de defesa de
caráter.
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UNIDADE III │ BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE
Cabe destacar que foi trabalhado a questão da energia sexual tendo sido readquirido
posteriormente a liberação das tensões conexas à lembrança da violência sexual sofrida
na infância. O método terapêutico aqui descrito pôde continuar se desenvolvendo com
mais probabilidades de insights e de confiança em seu próprio corpo tendo a certeza de
que ele é a fonte de autoconhecimento e autorrepresentatividade.
Os autores que nos apresentaram esse caso prático de experiência por meio da análise
bioenergética perceberam que o temor que a paciente tinha de tudo, em alguns
momentos, manifestava-se deixando-lhe ainda receosa, no entanto há abundantemente
mais probabilidade de apreensão do que a ocorrência de seus temores, atuando, assim,
de modo expressivamente sem importância ao que antes ela dava mais importância.
Para findar, enfatizaram ainda que a leitura corporal e a análise de seus teores
consentiram encontrar uma defesa de característica histérica e que se encontrava
paralisada e/ou submergida diante de um amplo receio de sua sexualidade, assim como
da raiva que conservava em relação à mãe por não ter lhe oferecido cuidado e proteção.
O presente caso terapêutico refere-se a uma criança do gênero masculino que, na época
do procedimento, tinha sete anos de idade. Trata-se de criança que passou por processo
de institucionalização, ou seja, vivia em abrigo destinado a crianças e adolescentes por
questões de violência sofrida em ambiente familiar, chegando, até mesmo, à destituição
do poder familiar.
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BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE │ UNIDADE III
O caso de R. foi justamente de destituição do poder de sua família, assim, ele foi colocado
para adoção. R., então, foi adotado, e na ocasião do atendimento tinha completado um
ano que estava convivendo com a nova família.
Percebemos, por meio da tradução de Donice (s/a), que Halsen demonstrou que não
tinha conhecimento apurado em relação aos aspectos da vida de R., antes do período
que viveu no abrigo para crianças. A única coisa que se sabia era que o pai biológico
de R. havia cometido abuso sexual contra o irmão mais velho de R. e, que devido a
essa ocorrência, Halsen levantou a hipótese de que possivelmente isso pudesse ter sido
cometido contra R. também. Ressalta-se que um ano depois de R. ter sido adotado, seus
pais adotivos tiveram um filho.
Registre-se ainda que, quando R. tinha completado três anos de idade, sua família
adotiva havia acolhido seu irmão biológico de cinco anos e procedido com a adoção dele
também. A informação que Halsen apresenta é de que esse irmão mais velho havia sido
levado até a família por intermédio da própria professora da educação infantil por razão
de um manifesto empecilho em seu incremento social e intelectivo. Foi informado que
essa criança permanecia sempre sentada em um determinado canto da sala, priorizando
ficar sozinho e sempre em silêncio.
Pôde-se ter acesso ao fato de que esse irmão havia abusado sexualmente de R. e que
fazia ameaças para que R. não contasse aos pais adotivos os abusos sexuais que sofria,
devendo permanecer quieto sem levantar quaisquer tipos de suspeita a respeito desse
abuso.
Assim, quando a situação do abuso sexual foi descoberta, esse irmão de R. foi
encaminhado para outra família adotiva. No desenrolar dos atendimentos, ficou
evidenciado que R., além de ter sido abusado pelo irmão, também abusou de outro
irmão mais novo, sendo, assim, concomitantemente vítima e abusador sexual.
Uma ampla dificuldade que se despontava nas sessões era que todo anseio demonstrado
por R. era prontamente sexualizado. Quando demonstrava sentimentos de raiva,
mágoa, tristeza, felicidade, enfim, tudo lhe atentava ereções ao ponto de verbalizar que
só conseguia sentir o que estava ocorrendo em seu órgão genital.
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UNIDADE III │ BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE
Na maioria das vezes, quando um adulto era gentil, lia alguma estória, ou se sentava
próximo a ele, ou, até mesmo, brincava com ele, de prontidão R. começava a fazer
movimentos sexuais. Ligeiramente ele suscitou condutas sexualizadas em outras
crianças que eram pacientes na clínica de Halsen e isso, com toda a razão, acabou por
promover raiva nos responsáveis por essas crianças em relação ao menino R.
Assim, Halsen, fez a seguinte indagação: como podemos trabalhar corporalmente com
ele sem que o conduza a essas excitações de todas as formas de emoção?
O movimento de se deitar deixava-o muito aterrorizado; assim, ele sempre queria pular e
acabava se dirigindo para as almofadas. Foram introduzidos exercícios de crescimento –
os quais ele apreciou muito –, que consistem em suportar os próprios pés nos exercícios
de crescimento, permitindo permanecer ficar de pé por um determinado tempo, isso fez
com que ele se surpreendesse e chegou a aludir que podia sentir algo saindo de seus pés
e indo em direção a sua cabeça.
A criança passou a dar mais atenção a sua respiração e proferiu que essa respiração
fez suas emoções ficarem fortes. Também foi trabalhado com ele a posição sentada: o
terapeuta segurava os pés de R. e, calmamente, os pressionava ao chão para aguentar
sua própria base. Posteriormente, em determinado tempo ele podia ir de uma posição
sentado para a de pé.
Antes causava medo, mas depois R. passou a gostar dos exercícios de ficar deitado,
chegando a verbalizar para a terapeuta que o exercício de ficar deitado era melhor do
que ficar sentado ou em pé. Assim, começou a apresentar-se mais confiante e com mais
força em sua própria base e consentiu a iniciar as verbalizações a respeito do abuso
sexual em suas nuances.
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BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE │ UNIDADE III
De início ele proferiu que havia gostado da brincadeira sexual e atroz de seu irmão,
entretanto, gradativamente, ele demonstrou que ficava muito irrequieto e provocado
em anunciar essas questões. Cabe destacar que essa criança até então não havia tido
seus limites respeitados, portanto, era de fundamental importância que se aplicasse
nessa terapia exercícios que trabalham limites.
Assim, ele foi encorajado pela equipe de Halsen a decompor a sala com travesseiros e
cobertores. Ele deveria andar pelas bordas da sala, topando seus pés ao chão e devendo
gritar a palavra não!
De repente, ele caia ao chão, como se toda sua energia constituísse perdida. Nesse
compasso, ele se apresentava tristonho e, a partir disso começa a regredir. Quando
acontecia isso, ele era orientado e recebia estímulos de encorajamento a fim de que
pudesse andar na posição de quadrúpede, ou seja, com suas mãos e joelhos. No entanto,
pausadamente, ele recuperava sua energia nos pés e erguia-se novamente.
Foi mencionado nesse relato clínico da equipe de Halsen, que não existia melhoria
fiel na terapia. Um exercício que um dia podia acomodar divertimento e emoção de
entusiasta, porém, em uma outra sessão posterior a que ele teve progresso, incidia
emoções de flagelo. Ele discorria com excesso pesadelos que tinha e se pronunciava a
respeito do irmão que abusou dele.
Também acontecia de, em determinados momentos, ele está desanimado e não desejar
fazer qualquer tipo de exercício terapêutico que proposto. Essa situação era respeitada
pelos profissionais como um sinal de desenvolvimento de sua desenvoltura de opinar a
respeito do que era apropriado para ele.
Também foi possível conhecer por meio desse caso que, com o passar do tempo, em
terapia com a abordagem bioenergética, R. foi se desenvolvendo e sendo capaz de
noticiar emoções como contentamento, coragem, fúria e dor, o que, em determinados
momentos, chegava a mencionar que era possível a terapeuta observar que ele era tão
forte quanto uma placa de aço; e completava dizendo que era tão fraco anteriormente
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UNIDADE III │ BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE
e naquele instante já se sentia muito vigorado e com muita força. Você pode ver isso?
Menciona-se que seu corpo e seu jeito de se mexer modificaram bastante, como, de
igual modo, havia sido alterado a expressão em seu semblante e olhar.
Ele começou a frequentar a instituição de ensino, logo após estar em tratamento por
aproximadamente dois anos, ele mencionava que jamais abandonaria o seu tratamento
terapêutico. R. demonstrou contentamento em poder ir para uma escola assim como as
demais crianças, também, nesse período havia começado a dar sinais de que estava se
identificando com seu pai adotivo. Seu tratamento seguiu ainda por um longo período.
Trata-se da criança A., menina que foi encaminhada pela escola que estudava para que
essa equipe de Halsen pudesse desenvolver algum tipo de intervenção terapêutica.
Quando ela chegou para iniciar as intervenções, de prontidão, queria se esconder,
puxando a roupa para cobrir a cabeça, tinha o hábito de chupar o dedo polegar e,
consecutivamente, admitindo que outras crianças que também faziam o tratamento
nesse mesmo local adentrasse à sala terapêutica antes que ela. A seguir, será apresentado
um pouco do histórico de vida familiar da menina A.
A. tinha duas irmãs mais novas que ela e que conviviam com sua mãe, a qual se apresentava
dedicada e afetuosa, mas imatura e inábil no que diz respeito aos cuidados básicos que
a criação de crianças requerem. Essa mãe havia se divorciado do pai das meninas já
fazia alguns anos, e esse pai estava desempregado; além disso, era dependente químico
e havia praticado abuso sexual contra as próprias filhas.
Em relação aos aspectos corporais de A., cabe informar que ela é magrinha, sem
muita expressão corpórea. Seu jeito de ser e sua conduta comportamental, em passo
acelerado, modificaram de cordial e afetuosa para se tornar uma criança ora dependente
e incontestável, ora se colocando como uma criança que rejeita as pessoas e ainda é
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BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE │ UNIDADE III
É uma criança que descreve as pessoas adultas de forma ambígua, ora como pessoas
más, ora como pessoas boas. Em relação a sua adaptação ao processo terapêutico,
prontamente relatou ter gostado da terapia corporal. Além disso, a equipe se surpreendeu
com ela, visto que o contato dela com o próprio corpo era muito mais apurado do que os
terapeutas puderam imaginar.
Ela persistia em permanecer baixa por um momento e determinava ela própria quando
crescer. Outro exercício que a equipe da clínica de Halsen aplicou foi o de expressão,
em que A. ficava deitada de costas e devia promover chutes em travesseiro na direção
do terapeuta para que esse pudesse segurar.
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UNIDADE III │ BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE
A própria criança, com esse movimento, conseguia sentir a força vinda de seu maxilar e
de sua carga dentária enquanto o terapeuta fazia o movimento de puxar para si a toalha
que estava na boca de A. Por fim, gradativamente, a menina foi sendo capaz de acolher
e tolerar seus intensos anseios e comiserações e ainda de conseguir agregar e expressar
esses sentimentos de forma mais abertamente ao avesso de abafá-los e/ou dissociá-los.
Trata-se do caso da garota C., que tinha nove anos de idade. Ela deu entrada para
atendimento na clínica e permaneceu por quase 12 meses internada. Fazendo uma breve
comparação entre a situação terapêutica das duas crianças descritas anteriormente
com a da garota C., esta última apresentava menos distúrbios do que respectivamente
o menino R. e a menina A.
C. foi encaminhada para tratamento na clínica por apresentar uma encoprese crônica. O
seu quadro clínico era de reiteradas infecções no sistema urinário, tendo sido internada
e tomado alta hospitalar quando completou 4 anos de idade. A primeira ocasião que
ocasionou sua internação hospitalar aconteceu quando seu irmão nasceu e foi tomado
pela família como uma criança normal e perfeita. Foi ressaltado, nesse relato do caso de
C., que seus respectivos pais desistiram e a rejeitaram. Eles enfrentaram essa encoprese
como uma ação hostil dela contra eles. Assim, o processo terapêutico, a partir da análise
corporal, iniciou-se com a introdução de exercícios que pudessem levá-la a movimentos
de segurar e soltar.
Nesse compasso, durante a execução dos exercícios, era solicitado que ela fizesse
movimentos de prender a respiração e aguardar o comando para soltar essa respiração
represada. Assim, o terapeuta segurava o pulso de C. e ela proferia gritos como se
quisesse se libertar de uma pessoa que estivesse a aprisionando e/ou fazendo-lhe mal.
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BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE │ UNIDADE III
A equipe ainda destacou que todo o empenho dos terapeutas foi com o intuito de
auxiliá-la a manifestar seus sentimentos e colocar de forma categórica até esgotar
toda a agressividade que ela reprimia. Em certa ocasião, ela de repente pronunciou
algumas palavras de baixo calão. Essa situação foi considerada um ponto de reversão e,
na sequência desses xingamentos, a menina C. passava a se comportar de forma menos
tensa e mais calma.
Destaque-se outro exercício que a ajudou: andar nas suas nádegas, auxiliando-a a sentir
mais sensações corpóreas nessa determinada parte de seu corpo. O que persistia a ser
complexo para ela era receber carinho, apoio e delicada massagem do terapeuta.
Cabe destacar que ela também demonstrava ter muita dificuldade em solicitar ajuda.
Pausadamente ela foi desenvolvendo a capacidade de expressar mais sentimentos de
ódio e raiva. Era perceptível que ela, ao usar as almofadas e/ou travesseiros da sala
terapêutica, conseguia ficar mais tranquila e ainda se colocava de uma forma como se
quisesse negar algo de ruim que pudessem ter feito contra ela.
Quanto à menina A., também foi percebido pela equipe terapêutica da clínica de Halsen
o quanto ela conseguiu se tornar mais espontânea e verbalizar seus temores e emoções
com mais naturalidade, sem dificuldade em se expressar, tornando-se uma criança com
a sexualidade mais equilibrada e adequada para a fase da infância e, ainda, livre do peso
que carregava em seu corpo em relação à culpa que sentia durante anos antes da terapia
pela separação de seus pais.
Resumindo, é importante frisar que as pessoas tratadas com essas práticas necessitam
permanecer com o acompanhamento dos profissionais de medicina, enfermagem.
Além disso, devem realizar os exames específicos e cuidados de outras especialidades
que cada caso e/ou enfermidade exigir.
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UNIDADE III │ BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE
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CAPÍTULO 2
A psicoterapia corporal à prática
integrativa
Dessa maneira, houve, no Brasil, intensos debates para se colocar a saúde como
direito social, de caráter universal e não contributiva, de modo que fossem ofertados
atendimentos de cuidado o autocuidado, tanto em prevenção e promoção à saúde
como de recuperação, primando pelo bem-estar físico, mental e social como aspectos
categóricos e condicionantes da situação de saúde da população.
Assim, todo o clamor dos movimentos sociais e as negociações com o poder executivo e
legislativo, o que foi deliberado no ano de 1986 na 8ª Conferência Nacional de Saúde,
tornou-se efetivo com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a qual estabeleceu
a saúde como direito social em seu art. 6º e, ainda, como política de seguridade social,
de modo que é dever do Estado ofertar três níveis de atenção e cuidado à saúde com
caráter não contributivo e universal.
Além disso, foi estabelecido que a oferta de saúde deveria ser organizada mediante
Sistema Único de Saúde (SUS) e que, após dois anos da promulgação da Constituição,
o Estado brasileiro sancionaria a Lei n. 8.080/1990, referente à Lei Orgânica da Saúde
(LOS), materializando, assim, o assinalado e referendado pela Constituição Federal
sobre como deveria ser o atendimento em saúde pública para os cidadãos brasileiros
e/ou aqueles que pudessem precisar de atendimento em saúde mesmo não sendo
brasileiro.
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UNIDADE III │ BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE
Cabe destacar que o país se tornou referência mundial na área de práticas integrativas
e complementares na atenção básica. Essa modalidade de atendimento com várias
práticas terapêuticas atua para a prevenção e promoção à saúde com o propósito de
impedir que os indivíduos sejam acometidos por alguma enfermidade.
Quando imperioso, as PICS podem ser usadas para mitigar sintomas bem como
cuidar de pessoas que já atravessam situações de doenças e que precisam se manter
em tratamento, ensejando, assim, mais uma alternativa a ser usada no processo de
tratamento de saúde dessas pessoas, o que pode, seguramente, ofertar mais conforto e
promover o bem-estar.
O governo federal, para oportunizar e afiançar a atenção integral à saúde por meio
das PICS, sugeriu ajuizar em conjunto com os gestores municipais e estaduais de
saúde conselhos de categorias profissionais consideradas profissões da área da saúde,
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BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE │ UNIDADE III
associações da sociedade civil que lutam em prol do SUS, conselhos municipais, estaduais
e nacional, universidades e faculdades e usuários do SUS. Uma política pública social
constante que avaliasse não somente os mecanismos naturais de cuidado e prevenção
de agravos e recuperação da saúde, mas a concepção expandida e universal do processo
saúde versus doença, que incide na promoção universal do cuidado à saúde humana.
Por fim, o Ministério da Saúde (2018), sob um olhar cauteloso, consensual e respaldado
nas diretrizes da OMS, aprova, então, por meio da Portaria-GM/MS nº 971, de 3 de
maio de 2006, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde
(PNPIC).
61
CAPÍTULO 3
Princípio funcional
Com o princípio fundamental de que mente e corpo são uma unidade, o conceito de
energia e o resgate da autorregulação do organismo tornam-se fundamentais para que
aconteça a conexão dos fatores físicos, sociais, emocionais etc. que afetam o ser humano.
Respiração Alimentação
Movimento
Sentimentos corporal
Interações do
Contato com a sujeito com o
realidade meio em que
está inserido
Cabe ressaltar que todos esses componentes apresentados, trabalham de forma contínua
e sequencial, ou seja, de modo associado, portanto cada qual está interligado um ao
outro para juntos fornecerem energia ao corpo humano segundo a concepção de Lowen
que Junior (2016) nos apresentou.
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BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE │ UNIDADE III
Portanto, todo o indivíduo é uma arena vibratória de forças com clara circulação
energética, com a maior parte dos distúrbios de saúde calhando em razão de um
desequilíbro nos métodos de carga e descarga das energias mais basais que circundam
no organismo, que se refletem no compasso respiratório e no mau funcionamento
do metabolismo, além da perda de motilidade e de flacidez e/ou rigidez nos corpos
humanos.
Em resumo, a angústia, a dor e/ou a insatisfação conhecida pelo sujeito são produtos
de uma pressão empregada pela força de um acometimento de impulsos que se fazem
em direção a sensação de prazer e bem-estar, que, por sua vez, encontra-se com uma
dificuldade no fluxo natural de energia no corpo como se promovesse um bloqueio do
livre trânsito dessa energia corporal.
63
O CARÁTER
EM RELAÇÃO UNIDADE IV
NA ANÁLISE
BIOENERGÉTICA
CAPÍTULO 1
As clínicas social e psicoterapia
corporal
Para saber mais a respeito do que estamos estudando neste capítulo, acesse:
64
BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE │ UNIDADE III
É preciso, portanto, ficarmos atentos, visto que, é possível ter situações em que a
pessoa tem condições financeiras favoráveis e quer de toda a forma manipular o
terapeuta, alegando não possuir meios financeiros para auferir o devido pagamento
referente às sessões terapêuticas, o que é considerado uma forma de exploração por
parte do paciente que se porta assim com relação ao profissional terapeuta (SITE
ANÁLISE BIOENERGÉTICA, S/A).
De acordo com o site Análise Bioenergética (s/a), buscar por clínicas sociais traz
à tona a situação de privação em que vivem essas pessoas. Socialmente, elas se
sentem inferiores, injustiçadas, marginalizadas, com sofrimentos por conta de
diversas formas de ataques e preconceito, seja por questões de raça e/ou etnia, seja
porque são moradores de regiões periféricas, entre outras situações. Dependendo da
história de cada um, outros sentimentos preponderam, como menos-valia, fracasso,
vergonha, humilhação.
Ela era demasiadamente acanhada, muito tímida e ainda não demonstrava qualquer
expectativa em relação à própria vida. Além disso, morava com os pais e sua vida
circulava em torno da religião. Não namorava, não saia para passear com amigos nem
praticava esporte algum, entre outros prazeres da vida. Seu tratamento terapêutico, que
durou quatro anos, foi iniciado na clínica social com preço considerado “simbólico”.
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BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE │ UNIDADE III
O que se pode perceber é que essa jovem, após todo o procedimento feito em favor
dela nessa clínica social, conseguiu se tornar uma pessoa mais independente, mais
autônoma, mais dona de si, além de demonstrar estar bem consigo mesma e na carreira
profissional.
Em relação aos terapeutas que atendem no projeto, percebemos que é irrelevante o valor
pago pelos clientes socializantes, desde que seja proporcional à condição financeira
deles. É imprescindível apreender quando o dinheiro é instrumento de manipulação,
de exploração ou como uma forma de ser especificamente especial.
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O projeto foi financiamento por uma agência de fomento internacional que pôde
subsidiar verba para a instalação de toda a infraestrutura, limpeza do açude, montagem
da casa de farinha e obtenção de equipamentos como:
» veículo;
» balança
Ainda segundo o site, o grupo responsável por essa ação de tratamento terapêutico
na lógica de clínica social tinha um prazo de dois anos para organizar, orientar e
assessorar as mulheres na implantação e no desenvolvimento do projeto. Após esse
tempo, a expectativa seria de independência da comunidade, ficando a OSC com a
responsabilidade de supervisão ao desenvolvimento das ações empreendidas em torno
da agricultura familiar.
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Por outro lado, os homens se constituíram de perplexidade, porque até nas relações
sexuais as mulheres estavam se comportando de modo completamente diferente de
antes da participação nas atividades do projeto, isto é, permitiam-se expressar desejos,
preferências, tomar iniciativas e dar limites; para além disso, permitiam-se não querer
ter relações sexuais quando não sentiam desejo para tal.
Nesse compasso, conforme andamento do caso clínico que o site Análise Bioenergética
nos possibilitou conhecer, os relacionamentos conjugais, bem como a sexualidade, as
mulheres e a dinâmica do sistema familiar já não eram mais os mesmos. O processo era
irreversível e os conflitos homem-mulher se afrontavam, fazendo-se necessário uma
urgente intervenção.
Foi deliberado que seria melhor, numa primeira ocasião, um trabalho com o grupo
exclusivo de homens. Aproximadamente 30 homens participaram de um encontro,
com dois psicólogos – um homem e uma mulher.
A reunião tinha como alvo trabalhar nos homens a incerteza, possibilitando se libertarem
de seus bloqueios, medos e suas inseguranças em relação ao seu papel de homem à
autonomia de suas esposas. Além disso, também se tinha como propósito de trabalho
nesse grupo, que esses homens pudessem expressar todos os sentimentos e todas as
fantasias experienciados.
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Nesse compasso, introduziu-se o diálogo entre pares como forma de ir criando vínculos
e quebrando as resistências. O trabalho era intercalado entre o corporal e o espaço livre
para o emergente do grupo.
Foi ao mesmo tempo doloroso e belo a verdade interior surgir após a expressão da
negatividade. Naquele momento de fragilidade dos homens, acontecia a verdadeira
união e o casamento do masculino e feminino, revelados no compartilhar da dor, nas
lágrimas, no afeto, no amor. Era um momento mágico de paz, de encontro existencial. Foi
uma troca de papéis, a transcendência dos sexos, a complementariedade, a esperança,
o silêncio, a Unidade.
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Foi uma dádiva para todos que viveram aquele instante, em que as diferenças de sexo,
geração e classe social perderam o significado diante da beleza maior do brilho dos
olhos, refletindo a alegria e a esperança no encontro dos homens.
A avaliação de uma das condutoras do projeto, segundo o site, foi que, provavelmente,
a comunidade não estava preparada para a independência e que deveria ter havido
mais trabalhos pessoais e de grupo. Mesmo assim, a experiência valeu porque todos
vivenciaram um processo educativo, em que melhoraram a autoestima, aprenderam,
desenvolveram-se e, hoje, certamente, não são mais os mesmos.
A perda do amor do pai ou da mãe é sentida subjetivamente pela criança como algo
doloroso e ameaçador e, inconscientemente, é sentida pela criança como uma ameaça
à vida. Já que ser pai ou ser mãe é um processo imperfeito, todas as crianças, até certo
ponto, experimentam uma ameaça existencial a sua vida.
Para lidar com essa intimidação a sua existência, as crianças reprimem os sentimentos de
ameaça à vida e separam esses sentimentos do seu self. Como adultos esses sentimentos
reprimidos são projetados como sentimentos em outros e/ou percebidos como forças
que vêm do universo.
Minasi (2018), ressalta que as defesas de caráter apenas mantêm ilusões de contato,
segurança e amor, amortecendo a força pulsante da vida. Desse modo, a terapia é
imprescindível para que o indivíduo contraia consciência do seu self reprimido e
bipartido.
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Se ele for capaz de trabalhar esses sentimentos de ameaça à vida, o adulto experimentará
seu self em um estado de graça e fluxo. Trabalhar constitui trazer os sentimentos até
o consciente, integrá-los ao self, ver os sentimentos como experiências do seu passado
como criança e tratar de acompanhar as limitações musculares e da respiração (MINASI,
2018).
A autora ainda alega que, da mesma maneira, se esses sentimentos não forem
trabalhados, o adulto experimentará o seu self em estado de estagnação e não se sentirá
em estado de graça. Isso ocorre quando o indivíduo se sente desconectado dos outros e
da vida e está tão fora de tudo que ele perceberá o demônio ou o diabo como forma do
self.
Quando as pessoas não estão em grounding no bom e no ruim como realidades que
pertencem ao self, para explicar suas percepções subjetivas, elas desenvolvem conceitos
fora do self. Esses conceitos tornam-se Deus, para representar o Deus não pertencente
ao self, e o diabo, para representar o diabo pertencente ao self.
Minasi (2018) ainda alude que mente, corpo e espírito são conceitos tradicionalmente
vistos como entidades discretas. A bioenergética vê a mente, o corpo e o espírito
puramente como díspares qualidades do self e não ensina que um pode existir
involuntariamente do outro.
As práticas religiosas veem esses conceitos como entidades distintas. Muitas práticas
ocidentais foram desenvolvidas a partir da necessidade de lidar com a extrema pobreza,
a dor e as misérias da vida. Ao fazer o espírito transcender a mente e o corpo, o self pode
obter algum alívio da dor (MINASI, 2018).
A dor que o homem moderno sente é, na sua grande parte, psicológica e inconsciente.
Assim práticas religiosas não têm técnicas para desvendar os mistérios do inconsciente.
Exclusivamente, métodos analíticos, científicos e contemporâneos e, de maneira
especial, a análise bioenergética possuem essas técnicas.
O mesmo pode ser dito das chamadas experiências passadas da vida. Repetidamente,
partes do inconsciente são trazidas para o consciente, segundo Minasi (2018), isso
acontece se esses sentimentos conscientes não forem integrados analiticamente no
self e vistos em termos de experiências pertencentes à infância, então será mais fácil
atribui-las à uma vida passada. São necessários muitos anos de muito trabalho para
integrar esses fragmentos conscientes nos sentimentos embutidos no inconsciente.
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Isso ocorre frequentemente de acordo com Minasi (2018) quando as pessoas são
encorajadas a enfrentar os medos, o negativismo e as resistências. Já que a couraça
muscular é desenvolvida como uma defesa contra sentimentos que ameaçam a vida,
quando as defesas musculares são dissolvidas nos defrontamos de novo com o medo da
morte. Isto é, o paciente sente que, se ele ou ela se render, morrerá.
Ainda conforme Minasi apresenta, o mito da vida após a morte é como uma justificação
contra o medo de morrer ou se render. Se os seres humanos passam a acreditar que
existe vida após a morte então não estarão completamente se rendendo porque apenas
perderemos o nosso corpo. Esse é outro exemplo de defesa dissociativa pois, que, a
mente, o corpo e o espírito são um só.
Visto que as práticas religiosas e espirituais não têm métodos para quebrar e, por sua
vez, fazer com que as pessoas passem a encarar seus receios e temores em relação ao
inconsciente, elas mantêm o mito da imortalidade (MINASI, 2018).
Os estudos de Reich e Lowen, segundo o que Volpi (2003) nos apresenta, levaram à
conclusão de que há uma identidade funcional do caráter psíquico com a estrutura
corporal ou atitude muscular, constituindo a personalidade, de modo que os
procedimentos energéticos mediam a relação entre o corpo e a mente do ser humano.
Dessa forma, adotando como princípio fundamental que mente e corpo são uma
unidade, o conceito de energia e o resgate da autorregulação do organismo tornam-
se centrais para que ocorra a integração dos aspectos físicos, psíquicos, emocionais e
sociais do ser humano (VOLPI, 2003).
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CAPÍTULO 2
O caráter em relação ao contexto
sociocultural
Na orientação para o exterior, o indivíduo está orientado para a imagem, para a ilusão,
para aquilo que os outros esperam dele, traindo sua própria verdade e a realidade do
seu corpo.
Na perspectiva do autor, nota-se que uma pessoa saudável é aquela que consegue
se orientar para si mesma e para a própria realidade, assumindo seu corpo e suas
necessidades inerentes e rejeitando as ilusões e expectativas criadas por uma cultura
de massa.
Para o autor, uma hora ocorre o inevitável colapso do organismo, como já discutido.
Essa concepção está explícita na seguinte citação: O indivíduo que “não aguenta” é
visto como fraco. Ele tornou-se condicionado por uma educação hipócrita que via no
colapso ou no fracasso um estigma moral.
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Doenças causadas por estresse persistente ocasionam dores na parte inferior das
costas, artrite, doenças cardiovasculares, distúrbios gastrointestinais como úlceras,
colites e outras. Parece sensato aprender a sofrer colapsos em situações apropriadas
e desistir de conflitos desnecessários.
A queda devolve ao sujeito a segurança sólida da terra e permite que a renovão das
suas energias e forças nas fontes do seu ser. Quando necessário, o permitir-se a cair
aparece em Lowen (1972) como um indicativo de saúde, uma vez que demonstra
flexibilidade, precedendo e evitando possível colapso causado por uma postura
rígida diante das dificuldades.
Lowen,(1983) afirma que essa é uma grande necessidade das pessoas lá nos Estados
Unidos e que o aumento dos índices de depressão se encontra associado ao fato
de os indivíduos não se deixarem cair naturalmente em razão das exigências da
sociedade.
Com isso, é possivel contrair suporte para pensar as relações entre ambos, conforme
nossos objetivos. Apreendemos que a visão de Lowen é mais positiva e mais ligada
à saúde e aos processos de normalidade que envolvem o corpo e a mente.
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Fluidez energética
Flexibilidade
Mobilidade
Vitalidade
Alimentação
Boa respiração
Contato com o ambiente
Junior ainda alerta que tudo o que foge aos padrões por ele estabelecidos se configura
como patologia e a própria atitude é patológica, visto que se conforma como uma
estruturação não natural, admitida pelo sujeito para se proteger de determinado fato
angustiante e traumatizante.
Lowen (1979) discute a relação entre a cultura moderna e a sanidade mental, definindo
os esquizoides como indivíduos pouco ligados à realidade. Para além de um tipo de
caráter, ele fala de um funcionamento esquizoide, que acontece quando há uma
dissociação entre prazer e atividade, comum na cultura moderna. Para tornar-se parte
da mecanização e padronização de uma produção em massa, é preciso força de vontade.
Na citação, o autor se refere à perda de identidade pessoal que ocorre com grande parte
dos indivíduos diante da cultura de massa. Também remete à falta existencial que
os esquizoides experimentam e afirma que é compensada por meio de identificações
sociais (LOWEN,1979).
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Nada obstante a fragmentação apontada por Lowen (1977) é excitada pela sociedade
contemporânea, bombardeada a toda ocasião pelas demasiadas informações e por
novas e multíplices menções que são apresentadas aos sujeitos.
Contudo, nesse aspecto, a cultura atual contribui cada vez mais com as formas de
adoecimento ligadas à experiência do vazio, do desamparo e da falta de limites.
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CAPÍTULO 3
A relação entre o ego e o corpo
Nascimento (2012) relata que Lowen (1975/1982) utilizava esses termos para se referir
a um ego que é mais ou menos capaz de mediar os conflitos entre a realidade interna e
a externa, de modo que, se o ego é forte e estruturado, é mais capaz de criar e utilizar
recursos para mediar os conflitos existentes. Indivíduos com baixa estruturação egóica
podem ter dificuldades para a elaboração simbólica dos conflitos.
Ego forte:
permite que se aproveite mais a vida.
Ego fraco:
diminui a capacidade de sentir prazer.
Outro aspecto fundamental que Júnior (2016) destaca está relacionado à integração ou
dissociação entre o ego e o corpo. Lowen (1983 apud JUNIOR, 2016) promoveu debate
a respeito do nível de assimilação do sujeito com o seu ego e o próprio corpo. Para ele, o
sujeito que se acomoda com o ego está conectado a conceitos, feitios racionais e ilusão
e tem visão patológica a respeito do fato vivenciado.
Em contrapartida, o nível de vinculação da pessoa com seu corpo, com a sua sexualidade
e com o grounding é alusivo à saúde e consegue elaborar determinadas acepções que
podem ser observadas, conforme a seguir (LOWEN, 1983, apud JUNIOR, 2016):
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» É o mínimo de saúde.
Lowen (1988 apud JUNIOR, 2016) emprega esses tipos de acepções quando debate a
respeito da postura narcísica, mostrando a necessidade de se ter a percepção sobre o
corpo e que essa percepção venha a combinar com o conceito que se tem dele, já que
não é de modo contínuo que o modo como a pessoa se entende é coerente com o que ele
legitimamente é.
Assim, com base nos estudos realizados por Junior (2016), podemos sintetizar que a
força egóica e a conexão entre o ego e o corpo encontram-se conectadas à saúde, assim
como a fragilidade egóica e a desconexão entre ego e corpo ficam ligadas ao surgimento
de alguma enfermidade. Essa posição contrária entre a conexão e a dissociação, na
analogia com o bem-estar e a enfermidade, pode se manifestar na relação entre amor
e sexo.
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BIOENERGÉTICA: DA PSICOTERAPIA CORPORAL À PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR EM SAÚDE │ UNIDADE III
Fonte: https://janainacintas.com.br/mah-e-bioenergia-corporal/.
Destarte, segundo Junior (2016) a mesma força empregada para anunciar os impulsos em
direção ao deleite é ainda frequentemente empregada em determinada realidade que o sujeito
possa estar vivenciando. Essa desordem é o centro do desenvolvimento das defesas de caráter.
Nesse aspecto, o caráter é um modo de resguardar o ego de requisições antagônicas que
aparecem como ameaças interiores; questões densas do id e externos.
Junior (2016) refere a Reich (1998) dizendo que ele presta amparo aos profissionais que se
apropriam dessa forma terapêutica para compreender essa concepção sobre o caráter, que
ainda é acertada por Lowen: é em volta do ego que essa couraça se configura, em volta daquela
parte da individualidade que se estabelece na demarcação entre a vida pulsional biofisiológica
e o mundo externo.
Resumindo, com efeito, o estudo a respeito do caráter na análise bioenergética é basilar para
a apreensão do sujeito e de suas afinidades com os próprios anseios e com a realidade externa.
A relação entre o ego e o corpo se manifesta imprescindível para se refletir o caráter a partir da
conexão entre corpo e mente.
81
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obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Um caso de histeria, três ensaios
sobre sexualidade e outros trabalhos (1901-1905). Rio de Janeiro: Imago, 1996.
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