Você está na página 1de 61

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4

2 ORIGEM DA ANÁLISE BIOENERGÉTICA ................................................. 5

2.1 De Freud a Reich ............................................................................... 11

2.2 De Reich a Lowen .............................................................................. 18

2.3 O conceito de energia ........................................................................ 21

2.4 O conceito de fluxo ............................................................................. 23

2.5 O conceito de graciosidade ................................................................ 24

2.6 O indivíduo como uma unidade psicossomática ................................ 27

2.7 Caráter esquizoide ............................................................................. 29

2.8 Bioenergética e caráter ...................................................................... 30

2.9 Caráter oral ........................................................................................ 31

2.10 Caráter psicopático ......................................................................... 32

2.11 Caráter masoquista ......................................................................... 33

2.12 Caráter rígido .................................................................................. 35

3 EXERCÍCIOS DE BIOENERGÉTICA ....................................................... 36

3.1 Grounding........................................................................................... 37

3.2 As três direções da pulsação ............................................................. 40

3.3 Diferentes tipos de grounding ............................................................. 42

3.4 O grounding postural .......................................................................... 44

3.5 O grounding interno ............................................................................ 45

3.6 A energia do grounding interno e o Instroke....................................... 45

3.7 O grounding prematuro ...................................................................... 49

3.8 Evitação do grounding e colapso interno............................................ 54

3.9 O grounding do olhar .......................................................................... 56

4 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 60

2
3
1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

4
2 ORIGEM DA ANÁLISE BIOENERGÉTICA

Fonte: reidovudu.com.br

A Análise Bioenergética é um estudo criado a partir das ideias do psicanalista


Wilhelm Reich. Como ex-aluno de Freud, sugeriu os princípios do que hoje
conhecemos como terapia corporal, na década de 1930. Iniciou seus trabalhos a partir
de técnicas que estimulavam diretamente o corpo, melhoraram a respiração profunda
e a conscientização da experiência emocional (REICH, 1995; apud OLIVEIRA G; et
al., 2015).
Outros estudiosos, a exemplo Lowen e Pierrakos, ampliaram sua teoria e,
transpuseram o método para o trabalho terapêutico, conhecido como Análise
Bioenergética (MELO, 2010; apud OLIVEIRA G; et al., 2015). A partir de então,
diversas experiências e trabalhos terapêuticos, passaram a envolver o corpo,
buscando liberar as tensões, tanto físicas quanto emocionais.
Também, criaram diversos movimentos e posturas, dentre elas o Grounding,
para proporcionar experiências de vibrações involuntárias no corpo. Passou-se a
utilizar tais vibrações involuntárias, o grounding e a respiração, associadas a sons e
insígnias verbais e, a movimentos corporais visando a promoção de uma associação
entre energia corporal e emoções, tornando-os mais conscientes (PARABONI, 2010;
apud OLIVEIRA G; et al., 2015).
5
A ideia era partir de movimentos voluntários, em busca de despertar os
movimentos involuntários do corpo, eliciando sentimentos inconscientes que estariam,
de certa forma, gravados na memória corporal. Inicialmente, a análise bioenergética
se prestava ao tratamento de sintomas neuróticos, tais como a depressão e a
ansiedade e, para indivíduos com dificuldades de relacionamento e sexuais, conforme
OLIVEIRA G; et al., (2015).
Está embasada nos conceitos de Grounding, saúde, vibração, carga e
descarga de energia, respiração, movimento espontâneo e sexualidade. Envolve a
qualidade dos relacionamentos e os processos do pensamento como ponto de partida
para um trabalho com o corpo, tentando alinhar e integrar corpo, mente e espírito.
Qualquer pessoa, mesmo sem queixas clínicas, tende a obter benefícios com a
análise bioenergética, pois a mesma proporciona um maior autoconhecimento, bem
como se mostra uma forma satisfatória de resolução de crises pessoais, dirigindo a
vivência em direção à uma maior vitalidade, expansão da criatividade e alegria,
conforme OLIVEIRA G; et al., (2015).

Os nossos pensamentos e sentimentos seriam condicionados por fatores


energéticos corporais, tais como: carga e descarga, pulsação e grounding.
Que, caso a energia vital seja represada, tende a gerar sentimentos e
pensamentos distorcidos, que levam a comportamentos inadequados. E
ainda que, de alguma maneira, estas distorções ficariam visíveis no corpo.
Por exemplo, músculos sem tônus e/ou mais contraídos, ombros caídos,
respiração insuficiente, falta de espontaneidade e carência de vibração.
(REICH, 1995 apud OLIVEIRA G; et al., 2015).

Tais ideias, juntamente com uma definição para padrões corporais rígidos, suas
representações mentais, suas crenças e valores associados, constituíram a base para
a estrutura do caráter. Esta, influencia desde a autopercepção física, até a
consequente, autoimagem e autoestima. A terapia corporal, através da
conscientização sobre a linguagem verbal, e linguagem corporal do cliente, abre maior
possibilidade de comunicação. No caso da vivência corporal, esta possibilita a
revivência de relações primárias, levando a experiência a um nível bem mais
profundo, conforme OLIVEIRA G; et al., (2015).
Qual é o fundamento e como se desenvolveu o trabalho corporal bioenergético?
Na obra uma vida para o corpo: a autobiografia de Alexander Lowen, o autor dedica
um capítulo para falar do desenvolvimento de seus livros, afirma que “cada um de
meus livros representa um desenvolvimento de minhas ideias sobre a bioenergética e

6
as experiências que acumulo com os pacientes” (LOWEN, 2007, p. 121; apud
OLIVEIRA J; 2019).
A primeira publicação de Alexander Lowen foi o corpo em terapia, a abordagem
bioenergética, originalmente publicado em 1958 com o título (Physical Dynamics of
character structure, depois Language of the body - Dinâmica física de estrutura de
caráter, depois linguagem do corpo) porque se baseava numa leitura dos aspectos
físicos da pessoa, conforme OLIVEIRA J; (2019).
A leitura corporal da Análise Bioenergética se valeu dos principais conceitos do
livro Análise do Caráter, de Reich. Lowen, a partir do funcionalismo, se perguntava
sobre a relação dos formatos dos corpos com os parâmetros psicológicos do
comportamento, por exemplo, “ aspectos como pés pequenos, queixo contraído e
ombros largos eram inter-relacionados com o comportamento (Ibidem, p. 123) ”. Neste
livro, já aparecem as sementes da caracteriologia loweniana que estará mais
elaborada em Bioenergética, conforme OLIVEIRA J; (2019).
Em Bioenergética, Lowen apresentou um avanço para a caracteriologia
reichiana que já aparecia como sendo a expressão corporal das defesas psíquicas
que são marcadas nas diferentes fases do desenvolvimento da criança. De maneira
sucinta, podemos dizer que as marcas caracterológicas se refletem nos segmentos
que são formados durante o processo de mielinização da medula espinhal, ou seja, o
processo formativo psicofisiológico que ocorre desde o nascimento e vai até os cinco
anos de idade. Os traumas ou vivências desafiadoras que ocorreram do nascimento
até os quatro meses de vida irão inscrever as marcas do segmento ocular no caráter
esquizoide, conforme OLIVEIRA J; (2019).
O caráter oral se forma na fase oral e é marcado no segmento oral, se expressa
emocionalmente na carência e no medo de abandono impresso no caráter oral. O
caráter psicopático se refere à fase do desenvolvimento que vai do primeiro ano a dois
anos e meio, nesse momento a criança não interage só com a mãe e sabe que quando
realiza uma tarefa pode ser reconhecida, além de temer não ser importante. O caráter
masoquista se refere à fase que vai dos dois ano e meio a três anos e meio, também
conhecida como fase anal, os cuidados com a criança ficam em torno da higiene, ela
pode se sentir ameaçada e teme a humilhação pelo descontrole dos esfíncteres,
conforme OLIVEIRA J; (2019).

7
Por fim, temos as estruturas rígidas, que são no homem o fálico narcisista, e
a na mulher a histérica que se são formados na fase que fica em torno dos
quatro aos cinco anos quando surge uma maior sensibilidade dos genitais.
Essa fase coincide com o que Freud denominou complexo de Édipo, no qual
o investimento do afeto da criança está no genitor do sexo oposto, e como
esse desejo é castrado pelo genitor do mesmo sexo, ocorre uma frustração
na criança. Como nessa fase a coluna está formada e a genitalidade está
constituída, o bloqueio ocorre na pelve e se expressará na criança como um
medo sempre presente de ser traída (Cf. Idem, 1992 apud OLIVEIRA J;
2019).

Existem, ainda, na caracteriologia de Lowen os chamados caráteres mistos,


que são o passivo feminino e o masculino agressivo e, com as mudanças sociais,
históricas e corporais, essa caracteriologia vem sempre sendo revista nas pesquisas,
artigos e revistas no IIBA (International Institute of Bioenergetic Analysis – Instituto
Internacional de Análise Bioenergética), conforme OLIVEIRA J; (2019).
De maneira resumida, todas as defesas constituem uma contração específica
no corpo dependendo da fase do desenvolvimento em que ela foi marcada, mas uma
coisa comum a todas as elas é que psicofisicamente elas promovem contração
corporal e um movimento de afastamento do corpo em relação ao chão. No trauma
de desenvolvimento, diferentemente de um trauma ocasionado por evento
inesperado, a criança não possui os recursos adultos para lidar com situações de
ameaça e o congelamento corporal promovido pelo medo a faz desconfiar do suporte
de seus cuidadores ou pais e isso se projeta nas relações com o mundo, conforme
OLIVEIRA J; (2019).
Muitas crenças são impressas nessas situações de desamparos, uma delas é
a desconfiança do apoio da terra que está debaixo de seus pés, o mundo a ser
explorado pela criança passa ser um lugar arriscado e inóspito, isso aciona no corpo
infantil um constante estado de alerta e medo. Para Lowen, isso é a neurose, isto é,
medo da vida, conforme OLIVEIRA J; (2019).
Em medo da vida: caminhos da realização pessoal pela vitória sobre o medo,
Lowen, reconheceu ter sido profundamente influenciado pelas ideias de Reich, por
esse ter sido seu professor, de 1940 a 1953, e seu analista, de 1942 a 1945. Lowen
acreditava que a grande contribuição de Reich para a teoria psicanalítica era “a análise
do caráter juntamente com a técnica corporal da vegetoterapia” (Idem, 1986, p. 160
apud OLIVEIRA J; 2019). No processo analítico dos conflitos psíquicos, Reich
focalizava o caráter e não o sintoma neurótico.

8
No domínio somático, a neurose se manifestava como tensões musculares em
forma de couraças que perturbavam o funcionamento do sistema vegetativo,
refletindo-se na respiração, mobilidade, e nos movimentos involuntários de prazer do
orgasmo. Lowen compartilhou o pressuposto reichiano de que a atitude corporal de
uma pessoa corresponde funcionalmente à sua atitude psíquica. A Análise
Bioenergética procurou ampliar o legado de Reich, conforme OLIVEIRA J; (2019).

Desde a sua primeira obra, O Corpo em Terapia: a abordagem bioenergética


(1958-1970 apud OLIVEIRA J; 2019), Lowen inovou no procedimento
terapêutico trabalhando com seus pacientes de pé, e não apenas no divã. Os
primeiros capítulos dessa obra são dedicados à exposição da trajetória do
método psicanalítico e suas falhas, e também para indicar em que a
abordagem bioenergética avança no campo terapêutico. O autor menciona o
psicanalista Ferenczi para colaborar o trabalho feito em pé com os pacientes.
Para Lowen, quando Ferenczi disse: “análise a partir de baixo, esse último
estava indicando o processo de descarga dos esfíncteres; as pernas são
como o alicerce para a estrutura do ego. Lowen afirmou: “começamos com
as pernas e pés, porque constituem as bases e o suporte da estrutura do ego.
Mas elas têm outras funções. É através das pernas e pés que nos mantemos
em contato com a única realidade invariável em nossas vidas, a terra e o
chão. Além de suas funções de suporte, equilíbrio, enraizamento, as pernas
são as estruturas mais importantes na função de movimento corporal”
(LOWEN, 1977, pp. 101-102 apud OLIVEIRA J; 2019).

Para Lowen, são três os pontos fundamentais da Análise Bioenergética:


primeiro uma compreensão sistemática da estrutura corporal, pois essa reflete as
experiências vividas. Segundo o conceito de Grounding, ou ligação com a terra, as
sensações de segurança e estrutura estão conectadas corporalmente às pernas e
pés. O terceiro ponto é que o processo analítico é coordenado pelo processo corporal,
por meio de “exercícios corporais ativos que visam fortalecer a postura, aumentar a
energia, ampliar e aprofundar sua autopercepção e acentuar sua autoexpressão”
(Ibidem, p. 17), conforme OLIVEIRA J; (2019).

O trabalho terapêutico da Análise Bioenergética é realizado a partir do corpo


entendido “como um sistema energético delimitado e autossustentável que,
para sobreviver, depende e está em constante interação com o seu ambiente”
(Idem, 1995, p. 13 apud OLIVEIRA J; 2019).

A Análise Bioenergética era inicialmente baseada no modelo psicanalítico


pulsional. Para Freud, a pulsão é capaz de fornecer a conexão entre o psíquico e o
somático. Reich, mesmo quando se separou do movimento psicanalítico, permaneceu
coerente com a proposta inicial de Freud de buscar as raízes biológicas dos males do
indivíduo, conforme OLIVEIRA J; (2019).

9
Lowen adotou a postura de Reich quanto às pulsões, energia libidinal e fluxo
energético. Ele deu primazia ao trabalho com os bloqueios de sexualidade, ampliando
a caracteriologia de Reich para uma compreensão mais adequada para o
funcionamento da defesa psíquica, conforme OLIVEIRA J; (2019).
Ao refletir sobre os paradigmas e modelos na psicanálise atual, Renato Mezan
elaborou uma reflexão sobre as contribuições do modelo objetal para o então
paradigma pulsional (MEZAN, 1996 apud OLIVEIRA J; 2019). Muitas foram as críticas
ao modelo pulsional e uma, bem fundamentada e aceita no meio psicanalítico, foi a
do de Melanie Klein, representante modelo objetal. Atualmente, esse paradigma tem
como principais expoentes Winnicott e Bowlby (teoria do apego). Esse modelo desloca
a questão da sexualidade do centro da organização psíquica, compreendendo a
sexualidade como apenas um dos elementos que compõem o amadurecimento, que
é foco central da terapia.

Odila Weingand, transpondo essa reflexão para a Análise Bioenergética em


sua dissertação de mestrado, afirma que essa abordagem, assim como a
psicanálise, tem assimilado o paradigma objetal e se constituído como uma
abordagem terapêutica relacional, em que a sexualidade é apenas uma das
formas de expressão de um ego saudável (Cf. WEIGAND, 2006. p. 60; apud
OLIVEIRA J; 2019).

Leslie Lowen desenvolveu os Exercise Classes para dar suporte aos pacientes
de seu marido, Alexander Lowen. Essa série de exercícios está organizada no livro
Exercícios de Bioenergética, de autoria do casal. A prática dos exercícios em grupo
foi difundida no Brasil, sendo aqui chamada de grupo de movimento (GAMA & REGO,
1996; apud OLIVEIRA J; 2019).
Foi na década de 1980 que as psicoterapeutas Liane Zink e Miriam Campos
organizaram os primeiros grupos de formação de terapeutas corporais e introduziram
a Análise Bioenergética no Brasil. Especialmente após a vinda de Lowen, em 1989,
as instituições que realizam as formações em Análise Bioenergética se organizaram.
Atualmente, são duas instituições em São Paulo e em outras cidades do Brasil
(WEIGAND, 2006, p. 16; apud OLIVEIRA J; 2019).
O instituto Ligare de Psicoterapia Corporal de Americana/SP, conta em seu
corpo docente com trainer sínter nacionais do IIBA, fundado por Alexander Lowen,
entre eles HeinerSteckel, Liane Zink e Odila Weigand, que foram alunos do próprio
Lowen. Esses e outros trainers internacionais realizam reuniões periódicas para se
atualizarem e manterem as formações no Brasil com a mesma qualidade dos
10
treinamentos dados ao redor do mundo e inspiraram o surgimento de inúmeros
institutos no Brasil que levam essa abordagem para diversos campos de atuação,
conforme OLIVEIRA J; (2019).
Um grande passo foi dado, em 2018, quando a Análise Bioenergética foi
reconhecida pelo Ministério da Saúde como uma prática integrativa de saúde
(BIONERGÉTICA, 2018; apud OLIVEIRA J; 2019). Isso é importante não só do ponto
de vista do tratamento, mas da prevenção que, como vimos, era um dos objetivos
inicialmente de Reich e, depois, de Lowen com seus grupos de exercícios.

2.1 De Freud a Reich

A existência de processos anímicos inconscientes é o princípio básico e


elemento fundador da psicanálise, através da qual Freud (1856-1939 apud FONSECA
R; 2011) se tornou referência no estudo sobre a mente e o comportamento humanos.
Mas segundo Diefenthaeler (2003 apud FONSECA R; 2011), é apenas em 1910 que
Freud distancia-se de suas pesquisas sobre o funcionamento do cérebro para voltar-
se à compreensão da mente humana. Inicialmente interessado em neurofisiologia,
este médico austríaco constrói, em seu trabalho precursor intitulado Projeto para uma
Psicologia Científica (1895 apud FONSECA R; 2011), um modelo neurofisiológico da
mente, onde “tentou entender o funcionamento dos fenômenos mentais a partir do
pressuposto de que estes teriam o mesmo funcionamento dos neurônios. Considerava
que tanto um quanto o outro obedeceriam às mesmas leis da física e da química”
(DIEFENTHAELER, 2003, p. 29 apud FONSECA R; 2011).
Esse pensamento está de comum acordo com as teorias científicas vigentes
no final do século XIX, extremamente influenciadas pelo naturalismo. O jovem Freud,
antes mesmo de seus estudos de medicina, afirmava-se um partidário convicto do
darwinismo. Assim, o pensamento biologizante, onde o psíquico é considerado como
um campo de estudo das ciências naturais e “manteria uma relação de equivalência
frente aos processos somáticos” (NASCIMENTO, 2003, p. 15 apud FONSECA R;
2011), está presente na obra de Freud desde o início e, segundo Green (1995 apud
FONSECA R; 2011), nunca o abandonou totalmente. Para esse autor, Freud teria
admitido a importância do cérebro e do sistema nervoso como sedes da atividade de
nossa vida mental até o final de sua vida.

11
Mas, se por um lado, Freud adere às concepções científicas da época, por
outro mostra também uma concepção de psiquismo que não está submetida
ao plano orgânico: a da significação. Assim, à medida que a teoria da
representação vai se consolidando, Freud exime-se, gradativamente, de
discorrer sobre os aspectos biológicos e mecânicos, de descrever os
processos que circundam a esfera somática e psíquica. E, dessa forma, o
campo da representação ganha o cenário principal da reflexão psicanalítica
(NASCIMENTO, 2003, p. 15 apud FONSECA R; 2011).

Portanto, como coloca Castro, citado por Bezerra (2003 apud FONSECA R;
2011), “a psicanálise partindo do corpo, descobriu a alma, isto é, partindo do biológico
descobriu o psíquico” (CASTRO apud BEZERRA, 2003, p. 20 apud FONSECA R;
2011), se tornando uma psicologia do profundo, fundamentada na “existência de um
inconsciente dinamicamente ativo” (WAGNER, 1996, p. 89 apud FONSECA R; 2011).
Tendo a psicanálise se distanciado do corpo como objeto de estudo, é através
de Wilhelm Reich (1897-1957 apud FONSECA R; 2011), discípulo de Freud, que este
vem novamente assumir um papel importante no processo psicoterapêutico. Esse
médico e psiquiatra austríaco praticou a psicanálise por vários anos, tendo, inclusive,
dirigido por algum tempo os Seminários Técnicos da Sociedade Internacional de
Psicanálise.
É a partir dessas atividades que Reich vai aprofundando seus conceitos
psicanalíticos e, paulatinamente, desenvolvendo suas concepções sobre a técnica
terapêutica. Sua trajetória psicanalítica está exposta em seu livro intitulado A Análise
do Caráter publicado pela primeira vez em 1933 onde, segundo ele, limita-se “à
descrição e à comprovação dos princípios da técnica [analítica] que derivam da
análise de caráter” (REICH, 1998, p. 02 apud FONSECA R; 2011). Nesse livro,
portanto, Reich firma as bases de sua Teoria da Personalidade, cujos pressupostos
fundamentaram o surgimento das abordagens psicocorporais.

Nessa época, Reich denominava sua teoria científica de economia sexual e


sua prática, ou seja, a metodologia clínica por ele utilizada, de vegetoterapia
carátero-analítica. Essa teoria, segundo suas próprias palavras, tem profunda
ligação com a psicanálise freudiana podendo, inclusive, ampliar seu alcance:
[...] é preciso que fique bem claro aqui que a economia sexual nunca se
afastou do conteúdo central das conquistas científicas de Freud. [...] A
economia sexual representa a continuação da psicanálise freudiana e dá-lhe
uma base científica natural na esfera da biofísica e da sexologia social.
(REICH, 1998, p. 10 apud FONSECA R; 2011).

12
Os fundamentos teóricos da economia sexual de Reich e que estão em
comunhão com a psicanálise freudiana são expostos por Wagner (1996 apud
FONSECA R; 2011). O primeiro ponto de convergência destacado por esse autor
é o fato de que Reich aceitava plenamente a hipótese do inconsciente, sustentando
sua teoria do caráter em pontos fundamentais da psicanálise:

 A teoria dos mecanismos inconscientes;


 A abordagem histórica; e
 A compreensão da dinâmica e economia dos processos psíquicos”
(REICH, 1998, p. 149 apud FONSECA R; 2011). O segundo ponto é que,
a partir da aceitação do inconsciente, Reich concebia a psicologia como
uma ciência natural. De acordo com Wagner, “a preocupação principal
de Reich sempre foi a busca das causas naturais.
Notório que Reich dirigiu seus esforços para a qualificação e a manipulação da
até então ‘metafísica’ libido postulada por Freud” (WAGNER, 1996, p. 90 apud
FONSECA R; 2011), o que significa que Reich absorveu da psicanálise o conceito de
libido como uma fonte primária de energia vital.
Outros pontos apontados por Wagner (1996 apud FONSECA R; 2011) como
concordantes entre Freud e Reich foram: a concepção de que “a repressão é um
mecanismo de defesa egóico [não sendo] boa nem má em si, mas necessária no
processo de desenvolvimento do ser humano” (WAGNER, 1996, p. 92-93, grifo do
autor apud FONSECA R; 2011) e a importância da sexualidade para a saúde do
indivíduo, estando presente já nos recém-nascidos.

Segundo Freitas (2005 apud FONSECA R; 2011), a teoria da economia


sexual foi formulada a partir dos conceitos de função do orgasmo e potência
orgástica “como forma de compreender o fluxo dessa energia ‘bio-psíquica’,
em função do mecanismo biológico de carga e descarga, em interação com
o contexto sociocultural” (FREITAS, 2005, p. 34 apud FONSECA R; 2011).

É importante ressaltar que, nesse sentido, Reich definia orgasmo como uma
reação involuntária do corpo como um todo no processo de descarga energética e não
apenas como o clímax sexual ou ejaculação. Essa reação se manifestaria em
movimentos rítmicos e convulsivos da pelve que se moveria espontaneamente para
frente e para trás e nesse tipo de reação, o aparelho genital não estaria envolvido, ou
seja, não existiria a formação e consequentemente a descarga da excitação dos

13
órgãos sexuais. Ele também afirmava que o mesmo tipo de movimento poderia ocorrer
em um indivíduo que, totalmente entregue a seu corpo, tivesse uma respiração
inteiramente livre, conforme FONSECA R; (2011).

Para Reich, o objetivo do tratamento era o desenvolvimento no paciente de


sua capacidade de se entregar totalmente aos movimentos espontâneos e
involuntários do corpo, os quais fazem parte do processo respiratório.
Consequentemente, a ênfase recaía em deixar que a respiração se
processasse o mais plena e profundamente possível. Se isso fosse feito, as
ondas respiratórias produziriam um movimento de ondulação do corpo
chamado, por Reich, de reflexo do orgasmo (LOWEN, 1982, p. 20 apud
FONSECA R; 2011).

Relacionado ao conceito de função do orgasmo está o conceito de pulsação.


De acordo com Wagner, Reich afirmava que:

As pulsões de conservação e sexuais formam um par antitético, em que a


gratificação de uma depende dos préstimos da outra. Em seu exemplo, usa
o modelo clássico (de Freud) de pulsões sexuais = amor, pulsões de
conservação = fome. Enquanto as pulsões de conservação expressariam
uma tensão negativa (falta de alimento no interior do organismo), as pulsões
sexuais representariam a tensão positiva (excesso de tensão que precisa ser
descarregado). Quando a carga é negativa, o organismo se contrai; quando
é positiva, se expande. Mas para buscar o alimento (para resolver a falta) o
organismo deve locomover-se ou se expandir. Precisa contar com a ação das
tensões positivas (sexuais) (WAGNER, 1996, p. 94-95 apud FONSECA R;
2011).

A manifestação dessas pulsões de contração (conservação) e expansão


(sexuais) ocorre por meio de expressões funcionais do sistema nervoso vegetativo e
autônomo e determinam, para Reich, o grau de saúde do indivíduo. O ser saudável
seria aquele que realiza os dois tipos de pulsão de acordo com suas necessidades.
Se, de alguma forma, há uma fixação em um desses dois movimentos está instalada
a neurose, desequilibrando o indivíduo tanto psíquica como somaticamente. E, como
já ressaltado, nesse movimento de pulsação, estamos em constante processo de
carga e descarga de energia. O orgasmo, como o mais intenso mecanismo de
descarga do indivíduo, tornar-se-ia então o principal regulador dessa dinâmica e,
portanto, fator fundamental para a manutenção da saúde do indivíduo (DESSAUNE,
1997 apud FONSECA R; 2011).

14
Já o conceito de potência orgástica estaria relativo não só à possibilidade de
uma descarga completa, como também à existência de descargas parciais, que
ocorreriam por uma falta de capacidade de um envolvimento e entrega profundos do
indivíduo à sensação da energia sexual (FREITAS, 2005 apud FONSECA R; 2011).
Esse processo estaria diretamente ligado à concepção de repressão acima
mencionada dando-se em decorrência das diversas restrições familiares e sociais
sofridas pelo indivíduo ao longo do desenvolvimento de sua personalidade. Segundo
Reich, potência orgástica seria “a capacidade de abandonar-se, livre de quaisquer
inibições, ao fluxo de energia biológica; a capacidade de descarregar completamente
a excitação sexual reprimida, por meio de involuntárias e agradáveis convulsões do
corpo (REICH, 2004, p. 94 apud FONSECA R; 2011).
De acordo com Lowen, Reich sustentava que:

Toda pessoa neurótica apresentava algum distúrbio em sua resposta


orgástica, não tendo condições de entregar-se por inteiro às agradáveis
sensações e involuntárias convulsões do orgasmo. Essa pessoa estaria com
medo da sensação avassaladora do orgasmo total. O neurótico mostrava-se
orgasticamente impotente, em determinado grau (LOWEN, 1986, p. 15 apud
FONSECA R; 2011).

Aí estaria, então, a “economia sexual”, identificada na supressão das


sensações sexuais como forma de autodefesa. Vinculado a sua metodologia, ou seja,
à vegetoterapia carátero-analítica, está o conceito de Caráter. Segundo Wagner,

Embora o caráter possa ser considerado como uma estrutura que se forma
no ego, o ponto de partida reichiano é funcional. Para Reich, a necessidade
cria o órgão, e a função precede a estrutura. É pela necessidade de se
desfazer de uma tensão (desprazer) que o sujeito age. Se essa ação for
eficaz, poderá ser repetida, transformando-se em um modo típico de reação.
Os vários tipos específicos de reação articulam-se entre si e formam uma
unidade: o caráter (WAGNER, 1996, p. 98-99, grifos do autor apud FONSECA
R; 2011).

Diretamente ligado ao conceito de caráter está o de resistência caracterológica,


que seria uma manifestação do próprio caráter ao tentar evitar o surgimento dos
conteúdos reprimidos no inconsciente, um mecanismo de autodefesa presente na
própria formação do caráter e que age independente da vontade consciente
(WAGNER, 1996 apud FONSECA R; 2011). A essa resistência, Reich também dá o
nome de couraça de caráter. Segundo ele:

O caráter consiste numa mudança crônica do ego que se poderia descrever


como enrijecimento. Esse enrijecimento é a base real para que o modo de
15
reação característico se torne crônico; sua finalidade é proteger o ego dos
perigos internos e externos. Como uma formação protetora que se tornou
crônica, merece a designação de “encouraçamento”, pois constitui
claramente uma restrição à mobilidade psíquica da personalidade como um
todo. [...] O grau de flexibilidade do caráter, a capacidade de se abrir ou de
se fechar ao mundo exterior, dependendo da situação, constitui a diferença
entre uma estrutura orientada para a realidade e uma estrutura de caráter
neurótico (REICH, 1998, p. 151-152, grifos do autor apud FONSECA R;
2011).

Essa resistência tem também uma correspondência na atitude muscular,


criando uma estrutura que Reich denominou de couraça muscular e que se apresenta
de forma distinta nos diversos tipos de caráter. Essas couraças se referem às tensões
musculares crônicas do corpo. No decorrer de seus estudos, foi ficando claro para
Reich que a rigidez muscular, onde quer que apareça, não é um “resultado”, uma
“expressão” ou um “acompanhante” do mecanismo de repressão. Na análise final, eu
não podia livrar-me da impressão de que a rigidez somática representa a parte mais
essencial do processo de repressão (REICH, 2004, p. 254 apud FONSECA R; 2011).

De acordo com esse autor, não é apenas a energia sexual que pode ser
contida por tensões musculares, mas também sentimentos como os de raiva
ou angústia (REICH, 2004). E a soma de todas essas tensões, postas em
movimentação, se transformaria em uma atitude muscular que constituiria o
que chamamos de expressão corporal. Assim, de acordo com Lowen, “a
expressão corporal é a perspectiva somática da expressão emocional típica,
que é vista, ao nível psíquico, como ‘caráter’” (LOWEN, 1977, p. 30 apud
FONSECA R; 2011).

O trabalho terapêutico de Reich atua primeiramente sobre as resistências e não


sobre os conteúdos do inconsciente. Segundo Wagner, a lógica é simples, se não
houvesse uma resistência inconsciente, o ato de tornar consciente o inconsciente não
apresentaria dificuldades e, provavelmente, resolveria de vez os mais complexos
conflitos psíquicos, conforme FONSECA R; (2011).
Deve-se proceder, portanto, a uma análise sistemática do caráter. Depois de
vencidas as principais resistências, o paciente poderá seguir a regra fundamental de
livre associação (WAGNER, 1996, p. 100, grifo do autor apud FONSECA R; 2011).
Ademais, Reich coloca que:

A dissolução de um espasmo muscular não só libera a energia vegetativa,


mas, além disso e principalmente, reproduz a lembrança da situação de
infância na qual ocorreu a repressão do instinto. Pode-se dizer que toda
rigidez muscular contém a história e o significado da sua origem (REICH,
2004, p. 255, grifo do autor apud FONSECA R; 2011).

16
Assim, o trabalho terapêutico sobre essas couraças, através principalmente de
exercícios de respiração, mas também de outras técnicas corporais, vence as
resistências do indivíduo e faz com que este experimente corporalmente toda a sua
carga afetiva. Esses exercícios atuam nos centros vegetativos do sistema nervoso
autônomo e, por isso, a metodologia clínica de Reich, nessa fase, leva o nome de
vegetoterapia carátero-analítica, conforme FONSECA R; (2011).
De acordo com FONSECA R; (2011), a descoberta da energia orgone cósmica,
a teoria científica de Reich passou a ser denominada orgonomia e sua prática, de
orgonoterapia. Sobre essa energia, Reich relata:

A economia sexual pode se gabar de ter levado à descoberta da energia


biológica, o orgone, que, governada por leis físicas definidas, está na base
das funções sexuais humanas, descritas pela primeira vez por Freud. As
“biopatias” que a biofísica do orgone conseguiu detectar na esfera orgânica
são os correlatos das “psiconeuroses” de Freud na esfera psicológica
(REICH, 1998, p. 10, grifo do autor, grifos do autor apud FONSECA R; 2011).

Ainda em relação a essa energia e sobre o desenvolvimento de sua prática,


Reich coloca:

O conceito de “orgonoterapia” compreende todas as técnicas médicas e


pedagógicas que usam a energia biológica, o orgone. A energia orgônica
cósmica, da qual deriva o conceito orgonoterapia, só foi descoberta em 1939.
Porém, muito antes dessa descoberta, o objetivo da análise do caráter
consistia na liberação da “energia psíquica” (como então era chamada) da
couraça do caráter e da couraça muscular, e no estabelecimento da potência
orgástica. As pessoas familiarizadas com a biofísica orgônica conhecem bem
o desenvolvimento da análise do caráter (1926 a 1934) até se transformar em
“vegetoterapia” (a partir de 1935). Não foi um desejo fútil de sensacionalismo
que deu origem a tantos conceitos variados numa só disciplina das ciências
naturais. Foi na verdade a aplicação consistente do conceito científico natural
de energia aos processos da vida psíquica que exigiu, em várias fases de
desenvolvimento, a criação de novos conceitos para novas técnicas (REICH,
1998, p. 329 apud FONSECA R; 2011).

Assim, Reich amplia o alcance da psicanálise freudiana e instala a base teórica


de grande parte das psicoterapias corporais. E isso ocorre no momento em que ele
procura demonstrar a existência física das pulsões de conservação e sexuais,
buscando para elas uma compreensão natural. A partir da obra de Wilhelm Reich,
surgiu uma série de novas escolas, chamadas de pós e neo-reichianas. As que se
denominam pós-reichianas são aquelas que seguem à risca seus preceitos, agindo
de forma a servir como uma continuação de seu pensamento autêntico. Já as neo-
reichianas englobam as abordagens corporais que, partindo dos conceitos de Reich,

17
os ampliam ou modificam trazendo um novo direcionamento aos seus fundamentos
teóricos e práticos. E uma das primeiras abordagens do movimento neo-reichiano foi
a Bioenergética, conforme FONSECA R; (2011).

2.2 De Reich a Lowen

Alexander Lowen (1910-2008 apud FONSECA R; 2011) conheceu Wilhelm


Reich em 1940, na New School for Social Research, onde este último ministrava um
curso sobre Análise do Caráter. O interesse de Lowen em participar desse evento se
deu pelo fato de que vinha desenvolvendo um estudo sobre o relacionamento corpo-
mente, derivado de seu interesse e experiência com atividades físicas, tanto em
esportes como em calistenia,
Desde a década anterior, ao participar de diversos acampamentos de verão na
função de diretor, havia percebido que uma rotina diária de exercícios físicos não só
melhorara sua saúde física, como também refletira positivamente em seu estado
mental. A partir dessas reflexões, Lowen começou seus estudos sobre a
interdependência entre o corpo e a mente examinando, entre outros, os conceitos da
Eurritmia de Dalcroze, da Relaxação Progressiva de Edmund Jacobson e da Yoga.
Com esses estudos, chegou definitivamente à conclusão da influência do trabalho
corporal nas atitudes mentais do indivíduo, conforme FONSECA R; (2011).

Ao conhecer Reich, Lowen identificou-se prontamente com suas ideias. Seus


estudos anteriores tinham firmado concepções, mas ele ainda não estava
inteiramente satisfeito. A ideia de que o caráter de uma pessoa teria uma
identidade funcional com sua atitude corporal ou couraça muscular deixou-o
imediatamente impressionado. Lowen já havia lido livros de Freud e estava
familiarizado com os conceitos da psicanálise, mas, para ele, os conceitos de
Reich o estavam “introduzindo em uma nova forma de pensamento sobre os
problemas humanos” (LOWEN, 1982, p. 14 apud FONSECA R; 2011). E na
medida em que Reich esclarecia suas ideias, Lowen foi se sentindo
inteiramente convencido da validade das posições daquele terapeuta.

De acordo com FONSECA R; (2011), após o término do curso, em janeiro de


1941, Lowen continuou em contato com Reich, não só participando de encontros em
sua casa, onde discutiam e faziam projetos sobre as aplicações sociais de seus
conceitos, como também frequentando seu laboratório, onde Reich estava
desenvolvendo pesquisas com biopreparados e tecidos cancerosos. Em 1942, a
conselho do próprio Reich, Lowen inicia a sua terapia pessoal:

18
Minha primeira sessão de terapia com Reich foi uma experiência da qual
jamais me esquecerei. Cheguei com a ingênua suposição de que não havia
nada de errado comigo. Deveria ser apenas uma análise didática. Deitei-me
na cama [...]. Eu deveria dobrar os joelhos, relaxar, respirar com a boca aberta
e o maxilar relaxado. Segui tais instruções e aguardei para ver o que
acontecia (LOWEN, 1982, p. 16 apud FONSECA R; 2011).

Após algum tempo, Reich comentou que Lowen não estava respirando e pediu
que este observasse como o próprio Reich respirava:

Eu certamente não estava respirando do mesmo modo. Deitei novamente e


voltei a respirar, desta vez cuidando que meu tórax se enchesse com a
inspiração e se esvaziasse com a expiração. Nada aconteceu. Minha
respiração continuou fácil e forte. Depois de alguns instantes, Reich disse:
“Lowen, jogue sua cabeça para trás e abra bem os olhos”. Fiz o que me foi
pedido e.… um grito irrompeu da minha garganta. [...] pode parecer estranho,
mas o grito não me incomodou. Eu não estava ligado a ele emocionalmente.
Não senti medo (LOWEN, 1982, p. 16 apud FONSECA R; 2011).

Depois de um tempo o procedimento se repetiu e Lowen gritou novamente.


Embora tenha afirmado que não se sentia conectado emocionalmente com seu
próprio grito, essa primeira sessão deixou-o reflexivo em relação a si mesmo: “deixei
a sessão com a impressão de que eu não estava tão bem quanto imaginara. Existiam
‘coisas’ (imagens, emoções) na minha personalidade que não me eram conscientes e
então compreendi que elas haveriam de vir à tona” (LOWEN, 1982, p. 17 apud
FONSECA R; 2011).
As sessões seguintes seguiram o mesmo padrão. Reich incentivava Lowen a
se soltar e se entregar ao próprio corpo e seus processos involuntários através de
uma respiração cada vez mais profunda. Fortes reações físicas aconteceram nesse
processo de tentativa de um modo de respirar mais pleno como formigamentos,
espasmos, câimbras e tremores nos lábios e pernas. Segundo Lowen, também
aconteceram “uma série de coisas que gradualmente me puseram em contato com
antigas recordações e experiências. [...] Seguiram-se várias irrupções emocionais e
lembranças a elas relacionadas” (LOWEN, 1982, p. 18; apud FONSECA R; 2011). E
a causa do grito da primeira sessão, uma recordação relacionada à sua mãe, só se
tornou consciente nove meses depois da primeira sessão.

Aos poucos, Lowen foi progredindo em relação à plenitude de sua respiração


e à entrega ao seu próprio corpo, durante o segundo ano da minha terapia
com Reich, minha respiração estava muito mais solta. Embora eu não
conseguisse entregar-me totalmente ao meu corpo, sua motilidade tinha
aumentado consideravelmente. Enquanto ficava deitado na cama,
respirando, surgiram vibrações em minhas pernas conforme eu as afastava e

19
unia suavemente. Essas vibrações indicavam que uma corrente de energia
estava fluindo por elas, o que era muito agradável. E eu também pude sentir
essas vibrações em meus quadris à medida que eles se tornavam mais vivos.
Essas vibrações decorriam em parte da liberação da tensão nos músculos
dessas áreas, mas em parte é um fenômeno natural da vida. Os corpos vivos
são sistemas vibratórios; os corpos mortos não se movem (LOWEN, 1997, p.
31-32; apud FONSECA R; 2011).

A certa altura do tratamento, Reich sugeriu a Lowen sua interrupção. Segundo


Reich, este não conseguia se entregar ao próprio corpo plenamente. Essa sugestão
causou enorme impacto em Lowen que, após uma explosão de choro, entendeu o
quanto ainda resistia em entrar em contato com suas próprias emoções. A partir de
então fez várias mudanças em sua vida, dando passos importantes como, por
exemplo, firmar seu relacionamento com Leslie Lowen, com a qual permaneceu
casado até a morte desta em 2002. Ainda continuou sua terapia por um tempo até que
a interrompeu, durante um ano, para fazer um curso de anatomia humana na New
York University, conforme FONSECA R; (2011).
Ao retomar sua terapia em 1945, Lowen conseguiu progressos mais rápidos
em relação a seu próprio corpo. No seu período de afastamento, ele havia feito várias
reflexões acerca de si mesmo e dos resultados obtidos com a terapia. Além disso,
outro fator importante para seu progresso foi que, também no ano de 1945, Lowen
atendeu a seu primeiro paciente como terapeuta reichiano, o que lhe encorajou mental
e emocionalmente, conforme FONSECA R; (2011).

Quando retomei minha terapia após a interrupção de um ano, minha


capacidade de entrega às ações involuntárias do meu corpo tinha melhorado
muito e não demorou para que o reflexo do orgasmo surgisse. Senti-me
excitado e alegre. Senti-me transformado, mas isso não durou. As
experiências transformadoras revelam a possibilidade da alegria e, portanto,
são significativas e preciosas, mas raramente vão fundo o suficiente para
surtirem um efeito duradouro. Para que isso ocorra, a pessoa tem de trabalhar
com os conflitos provenientes do passado que estão profundamente
estruturados na personalidade, tanto psicológica como física. Muitos dos
meus problemas haviam ficado sem solução em minha terapia com Reich, e
por isso eu não podia ser livre e totalmente aberto aos meus sentimentos.
Não obstante, as experiências que tive em minha terapia convenceram-me
de que o caminho para a alegria só poderia ser alcançado por meio de uma
entrega ao corpo (LOWEN, 1997, p. 32/33 apud FONSECA R; 2011).

Segundo Lowen apud FONSECA R; 2011, esses problemas foram resolvidos


anos depois através da Bioenergética. Com essa sua experiência e também com a de
outras pessoas que lhe procuraram como terapeuta depois de terem passado por um
término de tratamento aparentemente bem-sucedido com Reich, Lowen percebeu

20
que, embora o sexo não pudesse ser ignorado como sendo de fundamental
importância na construção e determinação da personalidade, não poderia ser visto
como a única chave para o conhecimento de seus mistérios. De acordo com ele,

A sexualidade foi e é a chave de todos os problemas emocionais, mas os


distúrbios de funcionamento sexual só podem ser compreendidos, de um
lado, a partir da estrutura total da personalidade e, de outro, dentro da
estrutura das condições de vida sexual. [...] não se pode [...] focalizar apenas
a sexualidade. Isto tornou-se claro para mim depois de ter perseguido sem
sucesso um único objetivo que era a realização sexual de meus pacientes, à
semelhança de Reich. O ego existe para o homem ocidental como uma força
poderosa que não pode ser posta de lado ou ignorada. O objetivo terapêutico
é integrar o ego ao corpo e à sua busca de prazer e realização sexual
(LOWEN, 1982, p. 26-27 apud FONSECA R; 2011).

Nesse ano de 1945, Lowen deixa sua terapia com Reich, mas este continuou
sendo seu professor até 1952. Após dois anos trabalhando como terapeuta reichiano,
Lowen parte, em 1947, para a Suíça a fim de fazer o curso de medicina na
Universidade de Genebra, da qual sai formado, em 1951, com o título de Doutor,
conforme FONSECA R; (2011).

2.3 O conceito de energia

Pode-se dizer que o conceito de energia está presente tanto no pensamento


ocidental como no oriental. Guardadas as devidas diferenças de visão entre essas
duas civilizações em relação à natureza dessa energia, é fato para ambas, por ser
uma lei física básica, que a energia está presente no movimento de todas as coisas e
que também é intercambiável. Também é fato que a química tem, na combustão, um
processo extremamente complexo que, na presença do oxigênio, transforma os
alimentos em energia para satisfazer as necessidades vitais do organismo que os
absorve, conforme FONSECA R; (2011).
Portanto, de acordo com Lowen, não se torna importante para seu trabalho
determinar o caráter real da energia da vida, mas sim “aceitar a proposta fundamental
de que a energia está envolvida em todos os processos da vida, nos movimentos,
sentimentos e pensamentos, e que os mesmos chegariam ao fim se a fonte de energia
para o organismo se esgotasse” (LOWEN, 1982, p. 40 apud FONSECA R; 2011).

A histórica dicotomia entre o corpo e a mente levou a um pensamento de que


o estudo dos processos mentais pertencia à área da Psicologia, enquanto
que o dos processos físicos à da Medicina. Dessa forma, “não estamos
21
acostumados a pensar na personalidade em termos de energia, mas a
verdade é que ambas não podem existir isoladamente. A quantidade de
energia que um indivíduo possui e como ele a usa irá determinar e refletir em
sua personalidade” (LOWEN, 1982, p. 41 apud FONSECA R; 2011).

E foi com Freud que se abriram as portas para “a compreensão do espírito72


como um fenômeno energético” (LOWEN, 1994, p. 34 apud FONSECA R; 2011), no
momento em que demonstrou que a histeria era um conflito psíquico transferido para
o plano físico. Embora Freud não tenha conseguido explicar como ocorria essa
transferência, reconheceu que deveria existir uma energia no corpo e que atuava
especificamente na função sexual. A esta energia ele deu o nome de libido que,
achando inicialmente ser uma energia física, posteriormente definiu-a como “a energia
mental do impulso sexual” (LOWEN, 1994, p. 35 apud FONSECA R; 2011).
Reich, por sua vez, observando que a histeria ocorria simultaneamente tanto a
nível psíquico como físico, considerou haver uma unidade entre psique e soma,
unidade está estabelecida por processos energéticos de pulsações e ondas de
excitação que poderiam ser sentidas por todo o corpo. Reich retomou, então, a visão
inicial de Freud em relação à natureza física da libido e realizou alguns experimentos
para comprovar esse pensamento, conforme FONSECA R; (2011).
Seguindo esse pensamento, Lowen trabalha com a hipótese de que há uma
energia fundamental no corpo humano, manifeste-se ou não nos fenômenos psíquicos
ou no movimento somático. Esta energia será simplesmente chamada de “bioenergia”.
Os processos psíquicos bem como os somáticos são determinados pela operação
desta bioenergia. Todos os processos vitais podem ser reduzidos a manifestações
desta bioenergia (LOWEN, 1977, p. 33 apud FONSECA R; 2011).
Assim, a bioenergética seria, para Lowen, “o estudo da personalidade humana
em termos dos processos energéticos do corpo” (LOWEN, 1982, p. 40 apud
FONSECA R; 2011). Segundo esse terapeuta, sabe-se:

Que a energia é produzida no corpo através das reações químicas


relacionadas com o metabolismo dos alimentos. Embora a química do
metabolismo seja bastante complexa, ela é basicamente similar ao processo
pelo qual os combustíveis são transformados em energia. C (combustível ou
alimentos) + O² → CO² + E (energia). O que diferencia os organismos vivos
dos objetos inanimados é que esse processo se dá, nos primeiros, num meio
limitado por uma membrana. Assim, em vez de perder-se para o ambiente, a
energia produzida é usada pelo organismo para promover as suas funções
vitais. Uma de suas principais funções é obter do ambiente os elementos
necessários para perpetuar a produção de energia. Isto exige que a
membrana permita a entrada de nutrientes e oxigênio e a saída dos resíduos
produzidos pelo metabolismo. [...] os movimentos de um organismo, portanto,
22
não podem dar-se puramente ao acaso. Eles precisam se orientar através de
algum tipo de sensibilidade ao ambiente [...] abrir-se e buscar alimento, amor
e contatos prazerosos, [...] afastar-se do perigo ou da dor. [...] essas
expansões e recuos são parte de uma atividade pulsatória do interior do
organismo, a qual inclui os batimentos cardíacos, o enchimento e o
esvaziamento dos pulmões e os movimentos peristálticos do aparelho
digestivo. Todas essas coisas são causadas por um estado de excitação em
cada célula e cada órgão do corpo. Assim, a vida pode ser definida como um
estado de contida excitação no qual é produzida a energia que impulsiona os
processos internos, que dão sustentação às funções vitais, e as ações
externas, que mantêm ou aumentam a excitação do organismo (LOWEN,
1994, p. 37-39 apud FONSECA R; 2011).

Isso significa que a energia adentra no organismo em forma de alimentos,


oxigênio ou de um estímulo excitante. Essa energia, transformada em estado de
excitação, será distribuída de seu ponto de origem no corpo, por todo o organismo.
Chego, então, ao conceito de fluxo, conforme FONSECA R; (2011).

2.4 O conceito de fluxo

A energia é distribuída pelo corpo através de todos os seus fluidos, mas,


principalmente, pelo sangue. Para Lowen, ele é “o fluido energeticamente carregado
do corpo. Sua chegada a qualquer parte do corpo significa vida, calor e excitação para
aquela parte” (LOWEN, 1982, p. 45 apud FONSECA R; 2011). Então essa excitação
é transportada por ele para todo o corpo, criando uma corrente.

Energeticamente falando, o corpo todo pode ser visto como uma célula única,
tendo a pele como membrana. No interior dessa célula, a excitação pode se
propagar em todas as direções ou mesmo fluir em direções específicas de
acordo com a natureza de nossa reação ao estímulo. [...] qualquer indivíduo
pode experimentar o fluxo de excitação como um sentimento ou uma
sensação que, frequentemente, desafia os limites anatômicos (LOWEN,
1982, p. 45 apud FONSECA R; 2011).

Para a bioenergética, a personalidade seria uma estrutura piramidal onde, na


base, estariam os processos energéticos e no topo, a mente e o ego. Os processos
energéticos, localizados no nível mais profundo do corpo, “resultam em movimentos
que conduzem aos sentimentos e terminam nos pensamentos” (LOWEN, 1994, p. 37
apud FONSECA R; 2011). Esses movimentos, estabelecidos como um fluxo
energético dentro do organismo, estão associados a emoções diferentes dependendo
de sua direção. O fluxo de sangue, normalmente, corre tanto para a parte superior do
corpo como para a inferior. Mas, em alguns casos, sob o efeito de um estímulo ou

23
excitação, esse fluxo aumenta em direção a uma região específica. Assim, o fluxo de
sangue e a excitação que se dirigem para a região pélvica, por exemplo, não têm a
mesma conotação emocional que os que se dirigem para a cabeça.

Dessa forma, quando nos damos conta de que 99% [...] do corpo é composto
de água, [...] podemos imaginar sensações, sentimentos e emoções como
sendo correntes ou ondas desse corpo liquido. Estas são percepções de
movimentos internos do corpo relativamente fluido. Os nervos medeiam [sic]
tais percepções e coordenam as reações, mas os impulsos e movimentos
subjacentes são inerentes à carga energética do corpo, ao seu ritmo e
pulsação naturais. Esses movimentos internos representam a motilidade73
do corpo, distinguindo-se dos movimentos voluntários que estão sujeitos a
um controle consciente. [...] em todos os nossos movimentos voluntários
existe um componente involuntário, que representa a motilidade essencial do
organismo. O componente involuntário, integrado à ação voluntária, responde
pela vivacidade e espontaneidade de nossas ações e movimentos. Quando
está ausente ou reduzido, os movimentos do corpo têm um caráter mecânico
e sem vida. Os movimentos puramente voluntários ou conscientes dão lugar
a poucas outras sensações que não a sensação cinestésica de deslocamento
no espaço. O tom de sentimento dos movimentos expressivos advém do
componente involuntário, componente esse que não está sujeito ao controle
consciente. A fusão dos elementos conscientes e inconscientes ou dos
componentes voluntários e involuntários faz surgir movimentos que têm uma
ligação emocional e que se constituem em ações coordenadas e eficientes.
A vida emocional de um indivíduo depende da motilidade do seu corpo, que
por sua vez é uma função do fluxo de excitação através dele. Os distúrbios
nesse fluxo ocorrem em forma de bloqueios, que se manifestam em áreas
onde a motilidade do corpo é reduzida. Nessas áreas podemos facilmente
apalpar e sentir com os nossos dedos a espasticidade da musculatura. Desse
modo, os termos “bloqueio”, “insensibilidade” e “tensão muscular crônica” se
referem ao mesmo fenômeno (LOWEN, 1982, p. 46-47 apud FONSECA R;
2011).

Dessa forma, para manter esse fluxo de sentimentos e impedir que eles fiquem
confinados na couraça muscular, é necessário estabelecer um equilíbrio entre os
níveis de carga e descarga de energia no organismo. A energia que entra nele é
descarregada na forma de movimentos ou outros tipos de atividades corporais,
sempre motivadas pela busca pelo prazer. Qualquer desequilíbrio nesse processo
acarretará distúrbios tanto a nível psicológico como físico, conforme FONSECA R;
(2011).

2.5 O conceito de graciosidade

Segundo Lowen, “a saúde mental se reflete objetivamente na vitalidade do


corpo, a qual se manifesta no brilho dos olhos, na coloração e no calor da pele, na
espontaneidade da expressão, na vibração do corpo e na graciosidade dos

24
movimentos” (LOWEN, 1994, p. 16 apud FONSECA R; 2011). Como para esse
terapeuta a saúde mental não está dissociada da saúde física, a graciosidade dos
movimentos é, portanto, uma das formas de manifestação da saúde global do
indivíduo e de suas sensações de prazer.
A pessoa dotada de graça é calorosa e comunicativa, possuindo mais
energia e flexibilidade, expressando seus sentimentos sem que nenhuma tensão
restrinja seu fluxo. Para Lowen, a habilidade de expressar-se emocionalmente é
proporcional ao grau de coordenação muscular. Uma pessoa dotada de boa
coordenação move-se e age com graça. O corpo todo participa ativamente de cada
gesto e movimento. Assim, todo movimento seu possui um traço emocional, e o
indivíduo pode ser descrito como emocionalmente vivo. (LOWEN, 1979, p. 218
apud FONSECA R; 2011).

Dessa forma, a graciosidade dos movimentos viria de uma ação natural do


corpo, em perfeita comunhão com seus sentimentos e pensamentos. O
indivíduo neurótico não se move natural e, portanto, graciosamente, pois as
tensões musculares bloqueiam os movimentos rítmicos involuntários do
corpo, inibindo as emoções e os impulsos de prazer. Assim, seus movimentos
têm “um caráter mecânico, visto que são em larga medida determinados pela
mente ou pela vontade” (LOWEN, 1994, p. 13 apud FONSECA R; 2011),
carentes da verdadeira espontaneidade.

De acordo com Lowen, nós, seres humanos, temos a capacidade de pensar e


refletir sobre nossas ações e gestos e, assim, podemos programá-los
conscientemente. Dessa forma, pessoas emocionalmente conturbadas podem adotar
para si mesmas um modelo de comportamento e movimentação que nos pareça
gracioso, mas que, na verdade, é fruto de um estudo, de um controle consciente da
mente sobre seu próprio corpo. Para Lowen, “quando alguém adota deliberadamente
um estilo gracioso sem fundamentá-lo em sensações corpóreas de prazer, tal
graciosidade não passa de uma fachada erigida para impressionar ou enganar os
outros” (LOWEN, 1994, p. 12 apud FONSECA R; 2011).
Esse terapeuta afirma que a graça e a saúde de um indivíduo vão depender de
este encontrar um equilíbrio entre seus desejos e seu arbítrio, ou seja, entre o seu
corpo e o seu ego. O excesso ou a falta de um desses aspectos perturba sua saúde
tanto física quanto mental. De acordo com Lowen, quanto menor for a interferência da
vontade num movimento, mais espontâneo e gracioso ele será. Para que nossas
ações sejam graciosas e desembaraçadas é preciso que a confiança do ego no

25
inconsciente baste para fazer com que o primeiro responda de forma livre e plena às
instruções do segundo (LOWEN, 1994, p. 71 apud FONSECA R; 2011).

Assim, o arbítrio teria a função de dar direção aos nossos atos, e não de
reprimir a vivacidade de nosso corpo. Para Lowen, “num organismo sadio há
um equilíbrio entre o refreamento e a excitação; o indivíduo sente-se livre
para expressar os seus impulsos e sentimentos, porém conserva o
autodomínio necessário para saber como fazer isso de uma forma apropriada
e eficaz” (LOWEN, 1994, p. 78 apud FONSECA R; 2011).

Mas a nossa cultura, muitas vezes, nos obriga a nos distanciarmos de nós
mesmos. Ao nascermos, somos naturalmente graciosos, efetuando nossos
movimentos de acordo com nossas sensações e necessidades (LOWEN, 1994 apud
FONSECA R; 2011). Ao longo do tempo, ao sermos induzidos a nos adequarmos às
expectativas exteriores e impedidos de seguirmos nossos instintos e sentimentos,
vamos gradualmente perdendo a graciosidade. Enquanto ainda somos bebês e temos
a permissão de chorar, nossas tensões e nossa rigidez se dissipam nesse choro e a
graciosidade pode ser mantida.
Mas quando ficamos mais velhos e passamos a serem repreendidos por chorar
ou por termos acessos de raiva, tendo que reprimir essas manifestações naturais de
nossos sentimentos, vamos perdendo a liberdade de expressão e começamos, aos
poucos, a nos afastar de nossas sensações, o que afetará diretamente o nosso estado
de graça. Ao longo da vida vamos, então, aprendendo a nos adaptar às situações e
às imposições sociais. Em nome de uma educação, muitas vezes nos reprimimos e,
em vez de sermos ensinados a nos adequar ao nosso meio de forma sadia, estando
sempre em contato com nossas sensações e sentimentos, aprendemos a produzir
verdadeiros adestramentos em nós mesmos tanto a nível físico como mental,
conforme FONSECA R; (2011).

Assim, o objetivo da Bioenergética seria ajudar o indivíduo a retomar sua


natureza primária que se constitui na sua condição de ser livre, seu estado
de ser gracioso e sua qualidade de ser belo. A liberdade, a graça e a beleza
são atributos naturais a qualquer organismo animal. A liberdade é a ausência
de qualquer restrição ao fluxo de sentimentos e sensações, a graça é a
expressão desse fluir em movimentos, enquanto a beleza é a manifestação
da harmonia interna que tal fluir provoca. Esses fatores denotam um corpo
saudável e, portanto, uma mente saudável (LOWEN, 1982, p. 38 apud
FONSECA R; 2011).

26
2.6 O indivíduo como uma unidade psicossomática

A Análise Bioenergética reconhece o indivíduo como uma complexa relação


uma entre Corpo, Mente e Espírito, onde estes se auto influenciam mutuamente. Os
mecanismos de defesas psicológicas, que são acionados para lidar com o estresse e
as dores, também encontram um padrão muscular no corpo, conforme OLIVEIRA G;
et al., (2015).
São padrões inconscientes, que passam a fazer parte da estrutura corporal e
de personalidade da pessoa. Portanto, mesmo que a pessoa não consiga relatar toda
a natureza do problema que a acomete, por não estar tão consciente de determinados
aspectos, estes podem ser inferidos pelo terapeuta, a partir de uma leitura corporal e
escuta ativa da sua história pessoal. A leitura corporal, em geral, baseia-se na
observação do fluxo da energia (vitalidade), da capacidade de autocontrole, do
autoconhecimento e, da capacidade de contato com a realidade – grounding (LOWEN,
1982 apud OLIVEIRA G; et al., 2015).
Em geral, os efeitos benéficos da terapia de base bioenergética, são os
seguintes: Uma mais profunda respiração, uma maior sensação de vitalidade e
energia, uma melhor percepção da realidade, tanto pela conscientização do corpo, de
sua posição, olhos, audição, como intuitivamente, maior consciência de seu corpo,
sentimentos e comportamentos associados, maior espontaneidade nos movimentos e
na autoexpressão, conforme OLIVEIRA G; et al., (2015).
Portanto, o objetivo da terapia é proporcionar mais saúde e qualidade de vida,
a partir de uma maior consciência corporal, facilitando processos que ajudem a
expressão mais adequada das dores, prazeres, alegrias e tristezas, amor, sexualidade
e raiva. Ajudar o organismo a retomar a naturalidade da capacidade vibratória de
expansão e contração (LOWEN, 1982 apud OLIVEIRA G; et al., 2015).
Alguns conceitos são básicos numa Análise Bioenergética, a saber: Grounding;
Prazer; Couraça; Caráter. A seguir, uma descrição mais simples desses conceitos. O
Grounding é uma posição corporal, representativa de uma estrutura de árvore. A
proposta do grounding é associar um maior contato com a realidade. Os pés bem
apoiados ao chão oferecem o senso de segurança e um eixo de apoio, necessários
ao reforço de uma maior consciência de si. Os pés bem fincados no solo também
representam uma espécie de enraizamento, associando ao fato de que temos uma

27
estrutura que se enraíza e se une a outras estruturas, formando uma rede de
sustentação, conforme OLIVEIRA G; et al., (2015).
O Prazer seria a busca essencial do homem. Reich definiu prazer como a
capacidade do corpo de expansão e contração. Esse fluxo contínuo de energia, gera
sentimentos de alegria e prazer no corpo físico. O oposto deste movimento é o
retraimento, a contenção da musculatura em reter o impulso (excitação prazerosa,
que nasce no íntimo do organismo). Este leva a dor, a contenção, a inatividade, a falta
de expressão natural. É gerador de ansiedade. Perante situações dolorosas,
tendemos a nos contrairmos. A contenção do prazer ou a ameaça de uma dor, implica
em sentimentos de ansiedade, conforme OLIVEIRA G; et al., (2015).
O fluxo de prazer nasceria no coração, partindo aos pontos que fazem
fronteiras de contato com o mundo, tais como os olhos, a pele, a boca, as mãos, os
pés e a genitália. Os sentimentos positivos e de alegria seriam experimentados
quando há energia vital circulante. A Couraça, seria a representação das resistências,
dos bloqueios defensivos. Ajudam os indivíduos no relacionamento com outros
indivíduos e no movimento no espaço, conforme OLIVEIRA G; et al., (2015).
A dissolução das couraças aconteceriam a partir de novos aprendizados, ou
formas mais adaptadas de se relacionar, de viver e estar no mundo. Segundo Reich,
a couraça forma-se, no nosso corpo, das vivências que vamos acumulando durante a
vida, influenciando de maneira inconsciente a construção de nossa personalidade.
São formadas em função de nossos enfrentamentos como emoções contidas,
traumas, sentimentos e desejos reprimidos, conforme OLIVEIRA G; et al., (2015).

Sobre a expressão das emoções que são reprimidas durante a infância, Volpi
e Volpi (2003 apud OLIVEIRA G; et al., 2015) nos orientam o seguinte: “O
corpo assume o comando dessa repressão através de tensões crônicas, que
se tornam inconscientes e se perpetuam na adolescência e na idade adulta”
(p. 20).

O Caráter, por sua vez, representa uma das maiores contribuições de Reich,
aos estudos sobre a personalidade humana. Propõe uma certa correlação entre a
forma corporal e a vivência de emoções (REICH, 1995 apud OLIVEIRA G; et al.,
2015). Os trabalhos de Alexander Lowen (1982 apud OLIVEIRA G; et al., 2015),
seguiram as ideias reichianas, na correlação da anatomia humana com a ideia de
caráter, de acordo com a Psicanálise.

28
Assim, as fixações ocorridas nas diversas fases do desenvolvimento da libido
(oral, anal, fálica, genital) seriam geradoras de um tipo específico de caráter. Lowen
orienta que os tipos de estrutura do caráter funcionam como um padrão de defesa
psicológica e muscular. E que são cinco os tipos de caráter. O esquizoide, o oral, o
psicopático, o masoquista e o rígido. De acordo com o autor, a cada um destes
caráteres, estaria associado um biótipo corporal específico, conforme OLIVEIRA G; et
al., (2015).

2.7 Caráter esquizoide

O termo esquizoide deriva de esquizofrenia e denota a tendência a formação


do estado esquizofrênico, o termo esquizoide descreve a pessoa cujo senso de si
mesma está diminuído, o pensamento tende a dissociar-se dos sentimentos, cujo ego
é fraco e cujo contato com seu corpo e sentimentos está reduzido em grande parte. A
questão central do caráter esquizoide é a identidade. A máscara que ele sempre usou
ou o papel que ele sempre cumpriu já não servem mais, e a cisão entre o ego e o
corpo, característica da personalidade esquizoide gera a perturbação que é
subjacente à crise, conforme VASCONCELOS I; (2012).
Quando a crise se instala a consequência é a despersonalização, que denota
um rompimento com a realidade e este pode ser o primeiro estágio de um processo
psicótico, no qual, além de se perder o sentido de identidade, perde-se também a
percepção consciente da identidade, conforme VASCONCELOS I; (2012).
Condição bioenergética: a energia/ excitação flui pouco para a periferia do
corpo (mãos, rosto, genitais e pés), os órgãos que fazem contato com o mundo
externo, por isso a carga é baixa e é fraca a formação de impulsos. Existe falta de
contato dos órgãos da periferia com o centro do corpo. Existe a cisão entre a parte
superior e inferior do corpo. As principais couraças/ bloqueios/tensões musculares
crônicas se encontram na base do crânio, nos ombros, na pelve e nas articulações,
conforme VASCONCELOS I; (2012).
Aspectos físicos: os olhos parecem ausentes e sem vida, na maioria dos
casos o corpo é estreito e contraído, existe uma divisão entre parte inferior e superior
devido à forte contração do diafragma. Pode-se ver neste tipo de caráter, tanto uma

29
extrema inflexibilidade como uma excessiva maleabilidade nas articulações. As
articulações são pontos de dispersão de energia, conforme VASCONCELOS I; (2012).
Correlatos psicológicos: o senso de si mesmo é inadequado face à falta de
identificação com o corpo, a pessoa não se sente conectada nem integrada. A
tendência à dissociação, representada pela falta de conexão somática entre a cabeça
e o resto do corpo, produz uma divisão na personalidade na forma de atitudes
antagônicas. Fraco e sensível devido à pouca carga e cisão inferior e superior.
Desconexão entre as ações e os sentimentos. Dificuldade e Evitação de
relacionamentos íntimos e afetuosos. Por falta de contato com o corpo (devido ao
medo/ terror que tem das sensações que ele possa lhe proporcionar), o esquizoide
passa a depender da mente para constituir sua identidade, conforme VASCONCELOS
I; (2012).
Fatores históricos e etiológicos: há uma evidência inequívoca de ter ocorrido
uma rejeição logo no início da vida da pessoa, por parte da mãe, que foi sentida como
ameaça a sua vida. A rejeição e a hostilidade criam o medo, no paciente, de que toda
tentativa de autoafirmação, conduzam a este aniquilamento. A história revela a falta
de um sentimento positivo cheio de segurança e de alegria. São comuns, durante a
infância, os terrores noturnos, conforme VASCONCELOS I; (2012).
São típicos a conduta não emocional e retraimento, as crises de raiva, a
paranoia também é comum. Dada esta história, a criança não tem alternativa senão
dissociar-se da realidade (intensa vida de fantasia) e de seu corpo (inteligência
abstrata) a fim de sobreviver. Como os sentimentos predominantes foram terror e uma
fúria assassina, a criança encarcerou seus sentimentos todos, para defender a si
mesma, conforme VASCONCELOS I; (2012).

2.8 Bioenergética e caráter

Segundo a bioenergética, são cinco os tipos básicos de estrutura de caráter:


esquizoide, oral, psicopático, masoquista e rígido. Cada um destes com seu quadro
de defesas tanto no nível psicológico quanto muscular, chamamos também de
organizações caracterológicas, conforme VASCONCELOS I; (2012).

30
2.9 Caráter oral

Personalidade que contém traços infantis: fraqueza, dependência dos


outros, agressividade precária, sensação/ desejo interno de ser carregado, apoiado e
cuidado. Às vezes vai para a independência exagerada, que não mantém na situação
de tensão, busca uma nutrição narcísica (o mundo deve satisfazê-lo) que não teve na
infância fixação/ falta de satisfação na fase oral. Como isso não acontece, sente
ressentimento e hostilidade, grande exigência e limitada resposta, grande
dependência disfarçada pela hostilidade, grande inteligência verbal e fraca realização
concreta, alternância entre ego inflado e desamparo, tendência à depressão, grande
interesse por comida, cansaço rápido. A experiência básica do caráter oral é a
carência afetiva, ao passo que a experiência correspondente do esquizoide é a
rejeição, conforme VASCONCELOS I; (2012).
Condição Bioenergética: a estrutura oral é um estado de baixa carga
energética. A energia não está fixada no centro, como na condição esquizoide, porém,
flui até a periferia do corpo de modo diminuído. Todos os pontos de contato com o
meio ambiente têm uma carga menor do que a necessária. A vista é fraca e tende à
miopia, e o nível de excitação genital é reduzido, conforme VASCONCELOS I; (2012).
Características físicas: o corpo tende a ser longo esguio e fino. O peito
murcho, um tanto vazio. As pernas fracas, compridas e magras (não dão a impressão
de sustentar o corpo todo). Os joelhos juntos, travados. Os pés são também estreitos
e pequenos. Existe a tendência a cefaleia devido à tensão no pescoço e cabeça;
cintura pélvica contraída; impressão de um saco vazio. Energia suficiente apenas
para garantir as funções vitais. Fraqueza nas costas; cansaço na região lombar; pele
fina e machucável. A energia flui para cima e não para baixo. A respiração é artificial,
pois durante a fase oral, a carência afetiva reduz o impulso de sugar. É frequente
encontrarmos sinais físicos de imaturidade: corpos parecem de criança, conforme
VASCONCELOS I; (2012).
Correlatos psicológicos: o indivíduo de caráter oral tem dificuldade em ficar
em cima dos próprios pés. Tende a pendurar-se ou amparar-se em alguém (a crença
irreal que o mundo deve sustenta-lo é um típico traço oral). A dependência às vezes
se esconde numa independência exagerada. A incapacidade de ficar sozinho se
reflete num desejo exagerado de estar em companhia de outras pessoas para receber
calor e apoio. Tem frequente sensação de vazio, conforme VASCONCELOS I; (2012).
31
Fatores históricos e etiológicos: privação inicial como perda da mãe calorosa
e amiga por morte, doença, depressão ou ausência por trabalho. A história revela
muitas vezes um desenvolvimento precoce: andar e falar mais cedo do que o normal
como tentativa de superar a perda e conquistar a independência. Desapontamento e
amargura por não encontrar calor no contato com pai, mãe ou irmãos. Desenvolve-se
o caráter oral quando a necessidade de ter mãe é reprimida antes que as
necessidades orais sejam satisfeitas. A repressão da vontade de ter a mãe gera uma
criança prematuramente independente fala e inteligência um andar precoce, porém
com pernas fracas, conforme VASCONCELOS I; (2012).

2.10 Caráter psicopático

A essência da atitude psicopática é a negação do sentimento. O indivíduo de


caráter psicopático contrasta com o esquizoide que se dissocia do seu sentimento. Na
personalidade psicopática, o ego, ou mente, volta-se contra o corpo e seus
sentimentos, principalmente os de natureza sexual. Em todos os caráteres
psicopáticos há um grande acúmulo de energia investida na própria imagem, uma
motivação exagerada pelo poder e a necessidade de dominar e controlar, conforme
VASCONCELOS I; (2012).
Ele domina e controla como defesa, para não ser dominado e controlado como
foi na infância – um comportamento parental sedutor leva a criança a escolher ser
“especial” e exercer o controle em detrimento das necessidades, dos sentimentos e
da sexualidade. A criança com frequência sentiu-se controlada por fazerem-na sentir-
se má ou inadequada. Foi seduzida e traída, conforme VASCONCELOS I; (2012).
Condição bioenergética: no tipo mais conhecido, o tirânico, um triângulo
invertido ilustra bem sua dinâmica energética: há um deslocamento nítido de energia
em direção da extremidade cefálica do corpo, com a redução concomitante de carga
na parte inferior do organismo. As duas metades do corpo são notoriamente
desproporcionais, sendo a superior mais larga e predominante no conjunto da
aparência. Há uma constrição na cintura e diafragma que bloqueia a descida do fluxo
de energia e de sentimentos. Os olhos são atentos e desconfiados, conforme
VASCONCELOS I; (2012).

32
Características físicas: desenvolvimento desproporcional da metade superior:
muita energia na metade superior do corpo, especialmente na cabeça (ego inflado,
“cheio de si”); há com frequência uma tremenda massa nos ombros com uma cintura
bastante fina; as pernas e a pélvis são subcarregadas e comumente subdesenvolvidas
e fracas. Há um distúrbio no fluxo entre as duas metades do corpo (desconexão entre
amor e sexualidade/ coração e genitais) e tensões nítidas no segmento ocular. Olhos
tensos e controladores. Pernas frias, até mesmo úmidas e pegajosas, conforme
VASCONCELOS I; (2012).
Correlatos psicológicos: A necessidade de controle vem do medo de ser
controlado e ser controlado significa ser usado (seduzido e traído). É comum, nas
histórias de pessoas com este caráter, uma disputa entre pais e filhos. O sucesso é
importantíssimo, vital. A sexualidade é empregada neste jogo pelo poder (ligação
coração/ genital ausente). O prazer dentro da atividade tem importância secundária
em relação ao desempenho próprio ou a conquista. A negação dos sentimentos é
basicamente uma negação das necessidades, conforme VASCONCELOS I; (2012).
Fatores históricos e etiológicos: o mais importante dos fatores etiológicos
desta condição é a presença de um pai/mãe sexualmente sedutor. A sedução é
encoberta e realizada para satisfazer as necessidades narcisistas do mesmo, tendo
por objetivo vincular a criança ao pai (ou mãe) sedutor (a). O pai sedutor é sempre
alguém que rejeita a criança, no nível de suas necessidades de apoio e de contato
físico. O relacionamento sedutor cria um triângulo, onde a criança está em posição de
desafio frente ao pai de mesmo sexo. Cria-se assim uma barreira à identificação com
o genitor do mesmo sexo ao mesmo tempo em que se intensifica a identificação com
o genitor sedutor, conforme VASCONCELOS I; (2012).

2.11 Caráter masoquista

A estrutura masoquista de caráter descreve aquele que sofre e lamenta-se, que


se queixa e permanece submisso. A tendência masoquista predominante é a
submissão. Não é a pessoa com a perversão masoquista. Mas a pessoa que
realmente sofre e, dado que é incapaz de alterar a situação, deduz-se que deseja
permanecer nela. Se submisso por fora em suas atitudes, o masoquista, por dentro,

33
no nível emocional mais profundo, nutre intensos sentimentos de superioridade,
despeito, negatividade e hostilidade, conforme VASCONCELOS I; (2012).
Condição bioenergética: em contraste com a estrutura de caráter oral, o
masoquista é dotado de um alto nível de energia que, no entanto, está fortemente
presa no organismo. Como as ações expressivas são limitadas, os órgãos periféricos
estão pouco carregados, o que impede tanto a descarga quanto a liberação
energética. Os impulsos que se movem para cima e para baixo são estrangulados no
pescoço e na cintura, o que é responsável por uma forte tendência desta
personalidade a experimentar a ansiedade. A extensão do corpo, no senso de ampliar-
se ou de buscar algo fora de si, está severamente limitada, conforme VASCONCELOS
I; (2012).
Características físicas: o corpo típico do masoquista é curto, grosso e
musculoso. Ele é contido, a energia é comprimida. Tem fortes bloqueios no pescoço,
“pescoço de touro”. Outra marca importante é a projeção da pelve à frente que recorda
a figura do cão com o rabo entre as pernas, conforme VASCONCELOS I; (2012).
Correlatos psicológicos: devido à forte contenção, a agressão e a
autoexpressão são bastante reduzidas. Ao invés de auto assertividade, a pessoa
masoquista apresenta queixumes e lamentos. Estes são a única expressão vocal que
consegue sair com facilidade de uma garganta estrangulada. Em lugar da
agressividade natural há a conduta provocativa que visa a descarga por meio de
explosões. Vai subitamente provocar ou convidar à provocação para dar uma
desculpa para liberar a energia e a agressão enclausurada, conforme
VASCONCELOS I; (2012).
Tende a ser passivo e contido no relacionamento. Precisa ser puxado para fora,
mas resistirá e temerá se essa ajuda for vista como uma invasão. Atitudes de
submissão e de cordialidade são traços característicos do comportamento
masoquista. Mas tudo isto devido à forte repressão da agressividade natural, ou seja,
a incapacidade de se rebelar contra algo o faz se submeter e, assim, gera raiva e a
revolta, amargura, ressentimento e rancor. Tende a ser passivo e a sobrecarregar-se
de trabalho para agradar aos outros. Derrotista e auto-humilhante, conforme
VASCONCELOS I; (2012).

34
Fatores etiológicos e históricos: A organização de caráter masoquista é fruto
de um lar onde haja amor e aceitação, ao lado de uma repressão severa. A mãe é
dominadora e sacrifica-se; o pai é passivo e submisso. A mãe dominadora e capaz de
sacrificar-se sufoca literalmente a criança, que é levada a sentir-se extremamente
culpada por qualquer tentativa de declarar sua liberdade ou de afirmar sua atitude,
quando negativa ou rebelde, conforme VASCONCELOS I; (2012).
É típico dar uma ênfase exagerada à alimentação e à defecação, fator que se
soma à pressão já mencionada: “Seja um bom menino. Seja bonzinho para sua mãe.
Coma toda a sua comida... faça cocô direitinho. Deixe a mamãe ver”, e assim por
diante. Todas as investidas de resistência, inclusive os acessos de birra, foram
esmagadas. O masoquista tem medo de meter-se em situações delicadas (ficar sobre
um pé só) ou de intrometer-se (espichar o pescoço; vale o mesmo para os genitais)
por medo de ser rejeitado, conforme VASCONCELOS I; (2012).

2.12 Caráter rígido

O conceito de rigidez deriva da tendência que os indivíduos deste caráter têm


em se manterem eretos, cabeça bem erguida, e com a coluna reta, tudo isso devido
ao forte orgulho. O indivíduo de caráter rígido tem medo de ceder, pois iguala o ato
de submeter-se com perder-se completamente. Ele está sempre alerta com situações
onde possam aproveitar-se dele, onde possa ser usado ou enganado. Suas
estratégias defensivas assumem a forma de uma contenção de todos os impulsos de
sair em busca exterior, de abrir-se, de ceder. Ele usa seu intelecto (ego forte),
contando com a realidade para se defender e, assim, cria o conflito básico de sua
personalidade: não consegue se entregar ao amor, conforme VASCONCELOS I;
(2012).
Condição bioenergética: Há uma carga razoavelmente poderosa em todos os
pontos periféricos de contato com o meio ambiente. Isto favorece a capacidade de
testar a realidade antes de agir. Alta energia. O intelecto e a vontade são muito ativos.
A contenção é periférica, sendo assim, os sentimentos podem fluir, mas com
manifestação limitada. Quando a contenção é moderada a personalidade é ativa e
vibrante, conforme VASCONCELOS I; (2012).

35
Características físicas: a rigidez depende do nível. Se branda, o corpo é
proporcional e mostra harmonia entre as partes. A pessoa se sente integrada e
conectada. Uma característica importante é a vivacidade do corpo: olhos brilhantes,
boa cor da pele, leveza de gestos e movimentos. Se grave, a coordenação e a graça
dos movimentos serão diminuídas, muitos músculos com espasmos tônicos;
armaduras em placa ou rede trançada. O orgulho endurece o pescoço e retém a
mandíbula, conforme VASCONCELOS I; (2012).
Correlatos psicológicos: Os indivíduos com esta estrutura de caráter são
geralmente mundanos, ambiciosos, competitivos e agressivos. A passividade é
experienciada como fraqueza. Eles têm com frequência uma carreira bem-sucedida e
são em geral ambiciosos. Devido ao seu forte orgulho, tem medo de, cedendo, parecer
imbecil, de modo que se contém, conforme VASCONCELOS I; (2012).
Por outro lado, tem medo de que a submissão acarrete uma perda de sua
liberdade. Constante sensação de desvalorização; um sentimento de que falta algo
na vida, devido à falta de capacidade de sentir profundamente e/ ou de estabelecer
relacionamento amoroso profundo. Vê o sexo com desprezo e ou com fantasias
sádicas ou masoquistas, tem incapacidade de conectar sentimentos do coração com
os genitais. Tende à arrogância e distância. Usa a razão e a vontade em detrimento
dos sentimentos. Portanto é, com frequência, insensível aos sentimentos alheios. É
geralmente enérgico e bem-sucedido na carreira, o que é visto como mais importante
que relacionamentos pessoais íntimos, conforme VASCONCELOS I; (2012).

3 EXERCÍCIOS DE BIOENERGÉTICA

Os exercícios da bioenergética é uma intervenção que se mostra apropriada


para atuar na tensão crônica advinda do estresse laboral. Ela é “uma técnica
terapêutica que ajuda o indivíduo a reencontrar-se com o seu corpo, e a tirar o mais
alto grau de proveito que há nele” (LOWEN, 1982, p. 38 apud WEBER H; 2009). Ela
é, também, como complementa o autor:

Uma forma de terapia que combina o trabalho com o corpo e com a mente
para ajudar as pessoas a resolverem seus problemas emocionais e melhor
perceberem o seu potencial para o prazer e para a alegria de viver (LOWEN
& LOWEN, 1985, p. 11 apud WEBER H; 2009).

36
Como psicoterapia (Análise Bioenergética), é necessário levar em conta a
formação do psicoterapeuta para lidar com os processos energéticos e emocionais
que as atividades corporais mobilizam. Como conjunto de exercícios, é necessário o
conhecimento de certos princípios para que a experiência possa ser mais efetiva. É
necessária a supervisão inicial para a orientação destes princípios. E, só depois que
estes forem aprendidos, pode-se chegar com segurança à execução deles, conforme
WEBER H; (2009).
Um dos exercícios fundamentais é o grounding. Segundo Weigand (2006 apud
WEBER H; 2009), Lowen define grounding como “um processo energético em que um
fluxo de excitação percorre o corpo, da cabeça aos pés”. (WEIGAND, 2006, p. 44 apud
WEBER H; 2009) conjuntamente com Pierrakos, Lowen “criou as posturas de pé para
promover vibrações, com o objetivo de liberar tensões crônicas” (WEIGAND, 2006, p.
44 apud WEBER H; 2009), ou seja, dissolve-las, além de descarregar a energia física
ligadas ao conteúdo emocional retido na couraça (WEIGAND, 2006 apud WEBER H;
2009). Na postura de grounding, segundo a autora,

As vibrações aumentam as ondas respiratórias e a excitação geral do


organismo(...) a postura mobiliza principalmente a musculatura esquelética e
promove o alinhamento dos segmentos do corpo. (WEIGAND, 2006, p. 44
apud WEBER H; 2009).

Weigand (2006 apud WEBER H; 2009) coloca que ao final a sensação é de


liberdade e prazer (após passar pela dor - contração muscular crônica), dando uma
sensação de segurança, vitalidade e integração corporal, além de capacidade de
autonomia.
É muito comum o ensinamento desses exercícios por meio da prática, de uma
disciplina autorregulada, dando à pessoa a possibilidade de se descobrir, de inventar
e adaptar os exercícios buscando mobilizar a contração e rigidez musculares,
descarregar o excesso de tensão, e liberar emoções bloqueadas, inibidas em sua
expressão, conforme WEBER H; (2009).
Veja a seguir sobre o exercício de grounding:

3.1 Grounding

“O grounding é um conceito chave da Análise Bioenergética e, devido a sua


força e consistência, foi adotado por outras correntes da psicologia e agregou
37
conotações contemporâneas igualmente ricas à ideia inicial. O grounding pode ser
entendido como “enraizamento”, ou seja, a capacidade de a pessoa entrar em contato
consigo mesma e com o mundo exterior” (WEIGAND, 2006; apud VASCONCELOS I;
2012).
O indivíduo que está fortemente conectado com a realidade é descrito como
alguém “que tem os pés no chão”, o que significa que sente a conexão entre seus pés
e o chão sobre o qual está. Lowen, (1997 apud VASCONCELOS I; 2012) enfatiza que
quando o medo é muito grande, a pessoa pode retirar toda a sensibilidade de seu
corpo, limitando sua consciência à cabeça. Vive num mundo de fantasia que é comum
em crianças e adultos autistas ou esquizoides. Muitas pessoas vivem fora de seus
corpos para evitar a percepção dos sentimentos assustadores e dolorosos no corpo.
Estar grounded significa estar enraizado, reencontrar a base, o chão, que
permite a sustentação a partir de si mesmo. Grouding é um contato energético com a
realidade que promove a conexão do mundo interno, individual, com o mundo externo,
social. Dá-se por intermédio do desbloqueio do fluxo energético para as áreas do
corpo que mantém contato com o mundo: a pele e os demais órgãos dos sentidos, os
braços, as pernas e os pés, os genitais, conforme VASCONCELOS I; (2012).
A postura, associada à respiração, toca nos dois polos unificadores do ser
humano: a sexualidade e a espiritualidade. É importante compreender, que liberar as
pernas para o fluxo energético não pretende desbloquear a couraça pélvica, mas sim,
fortalecer o ego. A sensação de um corpo vivo e vibrante, com mais carga para tolerar
as próprias emoções, dá sentido à realidade, sentindo este que não pode ser
alcançado apenas pela mente, conforme VASCONCELOS I; (2012).
A prática do grounding consiste em provocar, pelo estresse da musculatura,
movimentos involuntários no corpo, chegando à dissolução de padrões estabelecidos
na história do desenvolvimento da pessoa, e ao mesmo tempo, construindo uma
identidade conectada ao verdadeiro self, conforme VASCONCELOS I; (2012).

Fazer com que a pessoa flexione ligeiramente os joelhos e desloque o peso


de seu corpo para frente, para a parte arredondada da sola do pé, transforma
a expressão de sua postura, de modo que agora parece mais agressivo, ou
seja, preparado para avançar ou agir. A posição em pé permite que o
terapeuta avalie quão bem ou mal embasado (grounded) está um paciente,
fisicamente, em relação ao chão, e psicologicamente, em relação ao seu
corpo. (LOWEN, 1997 p.40 apud VASCONCELOS I; 2012).

38
As posturas de grounding e as vibrações aumentam as ondas respiratórias e a
excitação geral do organismo. O fluxo energético pulsa movendo-se pendularmente
dos pés até a cabeça. O bloqueio em qualquer segmento do corpo impede esse fluxo.
Como a onda de excitação deve atravessar o segmento pélvico para chegar até as
pernas e os pés, a sensação de grounding estará prejudicada por bloqueios neste
segmento. “Quando um indivíduo não está embasado grounded, seu comportamento
sexual também não estará, ou seja, estará dissociado da sensibilidade no resto do
corpo” (LOWEN, 1997, p. 36 apud WEIGAND O; 2005).
O contato com a realidade não é uma condição tudo-ou-nada. Algumas
pessoas estão mais em contato com a realidade do que outras, que são mais
desligadas. Posto que o contato com a realidade é o requisito da sanidade, também é
requisito para saúde emocional e física, conforme WEIGAND O; (2005).
Para estar grounded, a pessoa precisa ter pés e pernas energeticamente
carregados, mostrando algum movimento involuntário e espontâneo, uma vibração,
que não precisa necessariamente ser intensa, pode ser apenas como um murmúrio.
Heller e Henkin (1998 apud WEIGAND O; 2005) acreditam que dizer que alguém está
firmemente grounded é o mesmo que dizer que seu peso está distribuído
simetricamente sobre os dois pés refletindo o equilíbrio e o alinhamento da estrutura
como um todo, do topo da cabeça aos pés, assim como lateralmente.

As posturas de grounding e as vibrações dos segmentos do corpo.


Posteriormente o conceito de grounding foi se ampliando e surgiram
diferenciações mais específicas: o grounding interno desenvolvido por
Boadella (1992 apud WEIGAND O; 2005), o grounding do olhar que parte da
referência de Baker (1980 apud WEIGAND O; 2005) o qual salienta a
importância do contato visual do bebê com a mãe nos primeiros dez dias de
vida. Boadella (idem) explorou também a importância do grounding no útero
apoiando-se nas pesquisas de Leboyer (1975 apud WEIGAND O; 2005).

Sob a influência da teoria de Winnicott a qualidade de holding e handling é vista


como uma importante etapa na constituição do grounding, associando uma
maternagem suficientemente boa com a capacidade de ancorar o self no corpo e
assim criar suporte para o desenvolvimento do verdadeiro self (LOWEN, 1993;
WINNICOTT, 1990b, LOPARIC, 2002 apud WEIGAND O; 2005).

39
Os estudos sobre transmissão transgeracional fundamentam a ideia de um
enraizamento do self na família (STERN, 1997; CÉRVENY, 2001; HELLINGER, 2001
apud WEIGAND O; 2005). A cultura e a religião também representam um ground a
partir do qual o self é criado (CATLIN, 1959; RIZZUTO, 1981; HELLINGER, 2001 apud
WEIGAND O; 2005).
Ao mesmo tempo em que surgiram essas diferenciações, para atender às
necessidades das pessoas em diferentes estágios de sua psicoterapia, Lewis (1976,
1989, 1998 apud WEIGAND O; 2005), baseado nos estudos sobre choque e trauma,
escreve sobre choque cefálico e passa a questionar alguns postulados de Reich e
Lowen. Aalberse (1997 apud WEIGAND O; 2005) da escola europeia Bodynamics
propõe que a psicoterapia é um processo de grounding e discute a adequação dessa
abordagem no trabalho com pacientes limítrofes.

3.2 As três direções da pulsação

De acordo com WEIGAND O; (2005), um bom grounding vai depender do livre


movimento pulsatório em três direções básicas:
 A pulsação vertical num movimento pendular da cabeça aos pés e de
volta dos pés até a cabeça, conforme ilustração abaixo. (LOWEN, 1977
p. 83 apud WEIGAND O; 2005).

Fonte: sapientia.pucsp.com

40
Esta pulsação se correlaciona com o grounding postural no qual a energia flui
pendularmente pelas costas com o sentido de agressividade e progressão (mover-se
para frente na vida) e flui pela frente do corpo com o sentido de afeto ligando a parte
superior do corpo e os genitais. Segundo Lowen (1977, p.83 apud WEIGAND O; 2005)
“ ... somente a ação muscular pode descarregar a grande quantidade de energia
produzida pelo ser humano vivo”.
 A pulsação horizontal que corresponde ao grounding que se cria através
das relações. Essa pulsação flui a partir dos genitais, do coração, do
plexo solar, da garganta e dos olhos. É responsável pela comunicação
com os outros e com os objetos externos. Para explicar essa sensação
Lowen (1977, p. 84 apud WEIGAND O; 2005) fala de um movimento
ascendente da energia do coração em direção à cabeça associado aos
afetos, "à fala, ao riso, ao choro, à busca de contato com os lábios ou
com os braços. “...”denomino [aspirar] a este sentimento básico. É um
[aspirar] de contatos. “...”O sentimento de [aspirar] é tão forte que chega
a ser quase ansiedade."
Já no livro de Brennan (1999 apud WEIGAND O; 2005), a figura abaixo mostra
um vínculo conflituoso representado por projeções horizontais de energia que ligam
as pessoas entre si. A pulsação horizontal expressa vínculos, não importando a
qualidade dos afetos envolvidos. Os sentimentos de ódio e vingança vinculam as
pessoas entre si, assim como amor e afeição.

Fonte: Fonte: sapientia.pucsp.com

41
Brennan (1995 apud WEIGAND O; 2005) indica uma série de exercícios
baseados na bioenergética e em alongamentos para ativar a pulsação dos centros
vitais por meio dos quais as pessoas se comunicam. Boadella (2003 apud WEIGAND
O; 2005) também fala da pulsação no plano horizontal como função energética básica
do contato entre pessoas.
 A pulsação entre periferia do organismo e centro e vice-versa. Essa
pulsação é responsável pela condução de percepções internas,
pensamentos, sentimentos que se traduzem em ação. A ação pode ser
expressa ou inibida pela couraça, a pulsação periferia-centro é
responsável pela condução dos estímulos recebidos de fora, para o
centro, para o cérebro onde serão decodificados e organizados
consciente e inconscientemente, podendo originar uma ação, ou não,
conforme WEBER H; (2009).
O verdadeiro grounding acontece quando as três direções estão ativadas de
forma integrada. Para que isso aconteça, é necessário que a pessoa tenha bem
desenvolvido os diferentes tipos de grounding. Na psicoterapia busca-se reparar as
eventuais falhas ocorridas durante o processo de desenvolvimento, com o objetivo de
promover a experiência do movimento da energia, integradamente, nas três direções,
conforme WEBER H; (2009).

3.3 Diferentes tipos de grounding

Da mesma maneira que o caráter pode ser visto como um código de


comunicação (BROMBERG, 1986 apud WEIGAND O; 2005), o grounding também,
segundo Boadella (1992 apud WEIGAND O; 2005) é uma forma de comunicar-se.
Desde o nascimento a criança descobre muitos groundings. Quando deitada sobre o
abdômen da mãe, recebe na parte externa de seu corpo o senso de estar grounded
("firmada"), captando os mesmos ritmos do batimento cardíaco materno, já
conhecidos desde a vida intra-uterina. A criança segura é aquela que se sente
segurada e devolve o gesto envolvendo parte do corpo materno com uma mão ou com
uma curva de seu corpo, ao mesmo tempo que é envolvida pelo contato com a mãe.

42
A mãe que amamenta ao seio está dando grounding ao bebê por meio do
contato boca – seio. Ao olhar o rosto da mãe e ver- se espelhado nos olhos dela, está
"firmando" seus olhos. Adquire contato com a terra e se firma no chão enquanto
progride da posição de bruços, aprendendo a erguer a cabeça, engatinhar, agachar-
se, levantar-se apoiado e andar. No desenvolvimento da linguagem, o bebê começa
a "firmar" suas ideias. “Tudo isso acontece num ambiente emocional que dá um
background à organização da atividade da criança." (BOADELLA, 1992, p. 89 apud
WEIGAND O; 2005).

Boadella (1992 apud WEIGAND O; 2005) menciona o grounding que


acontece quando a energia flui do centro para a periferia, desde o
nascimento, quando o bebê busca o seio e os olhos da mãe. A qualidade do
contato que encontra vai determinar um bom estabelecimento do grounding
ou falhas nesta função. Para muitas pessoas os contatos foram falhos
levando a adaptações que, segundo Winnicott (1990a apud WEIGAND O;
2005), vão constituir um falso self. Davis (1999 apud WEIGAND O; 2005)
diferencia os dois momentos da pulsação, do centro para periferia e da
periferia para o centro, valorizando este último para constituição do self.

O trabalho terapêutico visa estabelecer novas possibilidades de contato com


os diferentes "chãos" a partir dos quais o self se desenvolve. Trabalha-se com o cliente
procurando oferecer-lhe recursos para que ele mesmo perceba que pode participar
no seu processo. Embora o trabalho postural e a liberação de emoções bloqueadas
tenham seu valor, o grounding assim adquirido será algo externo, ou seja, as raízes
não se firmam profundamente para sustentar um self estável (BOADELLA, 1992 apud
WEIGAND O; 2005).
O grounding na relação (o seio, o colo, o olhar, os cuidados da mãe) seja ele
baseado na pulsação para fora ou para dentro é anterior ao grounding postural. Sem
o primeiro grounding, baseado na relação, é difícil que o postural possa construir
raízes duradouras capazes de dar suporte ao verdadeiro self, conforme WEIGAND O;
(2005).

A Educação Somática de Keleman, a Biossíntese de Boadella, a Biodinâmica


de Boyesen, que são escolas conhecidas no Brasil, bem como Hakomi de
Kurtz nos Estados Unidos e a Escola Europeia de Terapia Corporal, de Will
Davis aqui citado pelo seu trabalho com instroke, modificaram suas técnicas
e passaram a buscar o movimento interno, o gesto espontâneo. Esta
transição nas psicoterapias corporais acompanhou o desenvolvimento e a
incorporação das teorias do amadurecimento que chegaram aos terapeutas
corporais principalmente através de Mahler (1993 apud WEIGAND O; 2005),
Winnicott (1975, 1978a apud WEIGAND O; 2005), Bowlby (1997 apud
WEIGAND O; 2005) e Stern (1992 apud WEIGAND O; 2005).

43
O discurso de Reich (1975 apud WEIGAND O; 2005), seguido por Lowen
(1977, 1984 apud WEIGAND O; 2005) e Charles Kelley (1979a, 1979b apud
WEIGAND O; 2005), por outro lado, priorizou o movimento expressivo, catártico,
promovido pela mobilização da musculatura esquelética e aumento da carga
energética pela respiração ampliada. A mobilização interna muitas vezes era "puxada"
através dos gritos. Os toques às vezes dolorosos serviam para "abrir" couraça e
também para eliciar vocalização forte com expressão emocional: gritos de raiva, de
medo, choro alto, protestos.
O problema quando se atua desta forma pode ser um aumento excessivo da
carga energética e da excitação, que se torna insuportável para o organismo. Certas
técnicas, quando aplicadas de forma inadequada, mesmo com o objetivo de promover
grounding e integração podem levar a um resultado contrário, conforme WEIGAND O;
(2005).

3.4 O grounding postural

Lowen (1997; apud WEIGAND O; 2005) relata que em 1953, quando buscava
por meio de exercícios, aumentar a sensação nas pernas e melhorar o contato com o
chão, descobriu a postura do arco que foi uma de suas primeiras experiências com
grounding. Embora fosse um exercício já conhecido pelos praticantes da técnica
chinesa do Tai Chi Chuan, para ele foi uma experiência nova e reveladora. Além de
facilitar a respiração profunda, descobriu que essa postura proporcionava contato com
a parte inferior do corpo e uma sensação de segurança, com o aumento da percepção
de vitalidade e integração.
Nesta postura de arco, a maioria das pessoas desenvolve vibrações que
percorrem o corpo todo no sentido longitudinal, após um curto espaço de tempo, que
varia de pessoa para pessoa. As vibrações, que envolvem intensamente os sistemas
muscular e esquelético, têm o potencial de dissolver tensões cronificadas na forma de
couraça muscular, conforme WEIGAND O; (2005).
As posturas de arco oferecem a possibilidade de diagnosticar bloqueios. Estes
ficam evidentes porque interrompem o fluxo e despertam sensações por vezes
desagradáveis como dor muscular, câimbras, náusea ou tontura. Lowen numa
palestra em 2002 diz: "Não tenho uma técnica que evite a dor. Tenho uma técnica que

44
supera a dor, porque dor é tensão. Tudo que você precisa é respirar, vibrar e usar a
sua voz. E trabalhar com seus pés porque isto é a base de tudo," conforme WEIGAND
O; (2005).
Este tipo de exercícios tem por objetivo criar um senso de grounding postural
que tem por objetivo desenvolver capacidades de autonomia, ou seja, um crescimento
a partir de posições infantis para outras mais adultas, aumentar a carga energética e
a excitação geral no organismo, conforme WEIGAND O; (2005).

3.5 O grounding interno

Na relação psicoterapêutica da Análise Bioenergética, o que sustenta o


grounding interno é a qualidade da relação terapêutica que implica em confiança,
suporte, cuidado, reconhecimento, vínculo. São estas qualidades do vínculo que
possibilitam a confrontação das defesas quando necessário (HILTON, 1996 apud
WEIGAND O; 2005). Assim o processo terapêutico pode prosseguir e aprofundar-se,
com a análise das resistências, o contato com a criança interna ferida.

Lowen & Lowen (1985 apud WEIGAND O; 2005), Keleman (1975 apud
WEIGAND O; 2005), Bromberg (1986 apud WEIGAND O; 2005), Gama &
Rego (1996 apud WEIGAND O; 2005) mencionam os efeitos benéficos para
o psiquismo de certas atividades corporais realizadas fora do contexto
psicoterápico, nos grupos de exercícios. Lowen (1995 apud WEIGAND O;
2005) indica que as pessoas podem se beneficiar fazendo exercícios em
casa, desde que respeitem seus limites.

Acredito que grounding interno também se desenvolve com uma combinação


de exercícios de Análise Bioenergética e autopercepção. Que a autopercepção pode
ser criada ao praticar os exercícios com consciência corporal percebendo não só os
processos cinestésicos, a temperatura, a respiração, mas também a sensação da
energia fluindo, sua pulsação, a excitação, as sensações de carga, de leveza e
possíveis sentimentos que surjam com as mobilizações, como um caminho para o
crescimento do grounding interno, conforme WEIGAND O; (2005).

3.6 A energia do grounding interno e o Instroke

Na linguagem da psicoterapia corporal é comum ouvir que certas estruturas


são de "baixa" energia e que os indivíduos precisam "carregar-se" para sentir-se mais

45
vivos. Explorando quais abordagens são úteis para estas pessoas, Davis (1999 apud
WEIGAND O; 2005) oferece a compreensão do instroke que significa o movimento da
periferia para o centro e outstroke que é o movimento inverso do centro para a
periferia. O ritmo contínuo dos dois movimentos constitui a pulsação.

Esta pulsação seria a base necessária para o desenvolvimento psíquico,


segundo Reich (1975 apud WEIGAND O; 2005). Centrar, focalizar,
concentrar-se, organizar-se, criar representações internas, são funções
derivadas do instroke. O outstroke tem sido mais estudado e enfatizado na
Análise Bioenergética. Fenômenos como contato, vínculo, relacionamentos,
projeções, fala, expressões emocionais podem ser compreendidas em
termos do outstroke.

Davis (1999 apud WEIGAND O; 2005) representa o modelo reichiano de


desenvolvimento, na forma de uma onda espiralada. O fluxo para fora faz contato com
o ambiente, o fluxo para dentro traz informação para o organismo.
O instroke é o movimento que dá suporte energético para o circuito de
feedback, que funciona como um sistema de aprendizagem, um sistema de
informação. O instroke fornece energia necessária para criar significados, organizar
os significados em termos de formas tanto físicas quanto psíquicas. Ajuda a
decodificar as formas estruturadas no corpo mente, transformando-as em significados
passíveis de simbolização consciente, conforme WEIGAND O; (2005).
Segundo Davis (1999, p. 84 apud WEIGAND O; 2005) "sem um claro
funcionamento do instroke, o mundo externo é mal compreendido e mal
representado". Penso que Davis esclarece e detalha a ponte para a compreensão do
movimento energético que alimenta o grounding interno (BOADELLA, 1992 apud
WEIGAND O; 2005), bem como dá suporte à afirmação de Lowen (1982 apud
WEIGAND O; 2005) que o grounding promove uma percepção realística do mundo
externo e de si mesmo.
Davis informa que os terapeutas da Escola Reichiana Europeia, localizada na
França, atualmente continuam aprofundando, na psicoterapia, o conhecimento do
funcionamento energético, sem usar descargas como antes se fazia. Isto porque as
limitações, perigos, bem como os benefícios do trabalho com descarga já são bem
conhecidos. Por causa destes limites e perigos, muitos terapeutas corporais
reichianos têm se afastado do trabalho energético. Com a conceitualização do
instroke, podemos tranquilizá-los quanto a continuar trabalhando energeticamente e

46
ao mesmo tempo respeitar esses limites e evitar perigos, conforme WEIGAND O;
(2005).

Como Reich (1975 apud WEIGAND O; 2005) postulou que o movimento para
fora era de prazer e o movimento para dentro era de angústia, acho
importante o aporte de Davis (1999 apud WEIGAND O; 2005) que vem
complementar o conceito de grounding interno proposto por Boadella (1992
apud WEIGAND O; 2005). Nem sempre o movimento energético para fora se
associa com prazer, nem o movimento para dentro com angústia.

Davis distingue instroke e contração. Ambos são um movimento da periferia


para o centro, mas a semelhança acaba aí. Uma contração bloqueia o fluxo, não
permite que a energia chegue ao centro, diminui a sensação e a percepção
restringindo o fluxo energético. A contração é responsável pela formação de couraça.
Embora a contração tenha em comum com o instroke a direção do movimento, a
contração tem a intenção de retirar-se do contato (supressão ou recalque), evitar algo
desagradável que seria doloroso, inaceitável ou perigoso para o Ego, conforme
WEIGAND O; (2005).
O instroke por outro lado é o movimento livre da periferia para o centro, que
quando se completa, origina o outstroke de forma fluida e espontânea. Quando a
pulsação é bloqueada, seja no instroke ou no outstroke, o resultado é uma pulsação
incompleta ou perturbada. Aceitando que as funções emocionais e cognitivas são
dependentes do livre fluxo energético para dentro e para fora, entende-se melhor por
que um trabalho de descarga outstroke feito na presença de bloqueios do instroke
produz dissociação e uma maior dificuldade em sustentar a carga energética. O
instroke é responsável pela recarga. Se esta se encontra bloqueada, a energia se
esvai, conforme WEIGAND O; (2005).

Se a pulsação predominar em uma ou outra direção é inevitável um


desequilíbrio biológico. O sistema parassimpático corresponde à função de
expansão libidinal em direção ao mundo e o simpático corresponde à função
de retração libidinal, de retirada para dentro de si mesmo (BOADELLA, 1985
apud WEIGAND O; 2005).

Portanto, um estado de resposta parassimpática prolongada, dissociada de


atividade voluntária direta pode por si mesmo formar uma defesa neurótica potente
contra a angústia, como no caso de um paciente que dorme durante o dia como uma
forma de escapar da confrontação com suas necessidades urgentes (idem, 1985 apud
WEIGAND O; 2005). Acredito que se o indivíduo ficar preso nesse estado

47
parassimpático, que teoricamente corresponde a um estado expansivo outstroke
sobrevém um vazamento de energia (WEIGAND, 1998 apud WEIGAND O; 2005).
Vazamento pode ser entendido como uma dissipação, um movimento
energético improdutivo, desorganizado de dentro para fora do organismo. “ Dissipação
é uma tentativa de evitação, uma ruptura no fluxo energético para interferir no contato.
Dissipação é não produtiva, sem direção, desconectada do cerne e fragmentada"
(DAVIS, 1999, p.85 apud WEIGAND O; 2005). Nessa situação a emoção funciona
como defesa, acontece atuação em lugar de ação ou expressão organizada e
significativa.
Outra forma de expansão não produtiva, desorganizada e desorganizadora é a
explosão. Parte do outstroke, a explosão é um movimento que atravessa as barreiras
defensivas do Ego, liberando energia excessiva ou sem contato, como na ira cega ou
em episódios maníacos. Qualquer pessoa tem energia suficiente que pode não estar
disponível porque não chega até o cerne do organismo. A pulsação é bloqueada, a
energia não flui ou vaza, porque a pessoa não consegue tolerar as emoções muito
intensas, memórias perturbadoras ou a percepção muito nítida de sua situação de
vida, conforme WEIGAND O; (2005).

"Portanto não faz sentido acrescentar mais excitação a um sistema que já


está sobrecarregado. A ideia é mobilizar a energia existente sem carregar
nem excitar mais, para que possa incorporar e processar os sentimentos que
foram antes sentidos como [demais]". (DAVIS, 1999, p.86 apud WEIGAND O;
2005).

A contração, seja no instroke seja no outstroke, fornece uma sensação de força


e poder. Por isso há resistência em desmanchar a contração pelo medo de se tornar
vulnerável demais. Um falso senso de grounding se desenvolve pela identificação com
a contração. Isso é couraça, que limita as possibilidades e potencialidades e, nesse
sentido, grounding e couraça são experiências antagônicas. Os comportamentos
físicos e psíquicos são distorcidos pela couraça, gerando negatividade dentro do
organismo e nos relacionamentos (REICH, 1995; LOWEN, 1977 apud WEIGAND O;
2005).
Ao promover a sensação de um grounding interno, vai se tornando
desnecessário o uso de comportamentos de couraça. Couraça serve à função de
fronteira protetora de um núcleo frágil. Mobilizar o instroke da pulsação facilita o
surgimento de novas possibilidades, estruturas, fronteiras apoiadas na força

48
emocional interna. Para entender este processo, penso que tanto autopercepção,
autoexpressão e autocontrole, no sentido de autorregulação emocional ou inteligência
emocional (GOLEMAN, 1996 apud WEIGAND O; 2005) são funções decorrentes do
grounding interno. Acontece naturalmente um senso de separação sem isolamento,
algo que diferencia instroke de contração, segundo Davis (1999 apud WEIGAND O;
2005).
Aceitando que a função de sentir limites estáveis, porém flexíveis, que dão a
sensação de individualidade e segurança, é uma função energética, pode-se deduzir
a importância da pulsação para a sensação de segurança desencouraçada. Davis
(1999 apud WEIGAND O; 2005) aponta o caminho do trabalho prático com o instroke
para energizar o cérebro límbico e fortalecer suas conexões com o córtex consciente.
Como se trata de movimento pulsatório, a outra direção da pulsação, muscular e
expressiva, do centro para a periferia, também é necessária para a saúde, mas não é
preferencial nem exclusiva.

3.7 O grounding prematuro

Robert Lewis, com suas colocações sobre as dissociações corpo-mente, foi um


dos terapeutas ligados a Lowen que, sem romper com o mestre, redirecionou o
trabalho corporal bioenergético conforme proposto originalmente por Lowen. Lewis
(1976, 1989 apud WEIGAND O; 2005) estudou o desenvolvimento prematuro do ego
e sua relação com as dificuldades em adquirir um grounding adequado.
Ele atribui essa dificuldade às experiências precoces da criança com um
cuidador que tem episódios de desconexão durante os quais ele (cuidador) não
consegue reconhecer-se como um ser separado da criança. Em sua imaturidade
neuro-psico-emocional, a criança receberia essa dissonância diretamente em sua
estrutura celular, em seu sistema nervoso autônomo e centros energéticos. Esta
dissonância estaria na base da ansiedade de queda num bebê de três semanas, caso
que Reich (1948 apud WEIGAND O; 2005) relata em (The Cancer Biopathy – a
biopatia do câncer), como também na base do desenvolvimento prematuro do ego.
Diante de tal dissonância, um organismo imaturo que ainda deveria depender
do cuidador para sua autorregulação, se vê na necessidade de descobrir como se
manter por si, exercendo as funções básicas de (hold together: ficar juntos e hold on:

49
aguente. Além de a relação dissonante não oferecer segurança, o pequeno ser ainda
precisa se defender de um cuidador que (supondo que seja a mãe), tem ela própria
grandes porções de seu ego não estruturadas. Digo defender-se porque essa mãe
pode ser imprevisivelmente invasiva, abusiva e abandonadora, conforme WEIGAND
O; (2005).

Cotta (2003 apud WEIGAND O; 2005) explica que esse processo se dá


quando, para defender-se das "angústias impensáveis" decorrentes da
ruptura provocada pela falha ambiental, o bebê cinde sua psique da soma.
Cotta (idem, p.44 apud WEIGAND O; 2005) cita Elsa Dias (1998) que, em
comunicação pessoal, sugeriu que "a mente seduz a psique... a mente usurpa
a função da psique..." Dessa forma, o bebê passa a tomar conta do ambiente,
saindo da condição de ser cuidado para a condição de cuidador.

Assim, num esforço para enfrentar a ameaça representada pelo cuidador, o


bebê desenvolve prematuramente um ego rudimentar mesmo sem possuir condições
neuro-fisiológicas para isso. Lewis (1998 apud WEIGAND O; 2005) se apoia no
modelo de desenvolvimento neuromuscular, que se dá no sentido céfalo-caudal. A
primeira etapa do desenvolvimento motor em direção à autonomia seria a capacidade
de erguer a cabeça.
Como nesse início de vida a criança não possui coordenação do tronco e
membros, a cabeça é que sustenta a atitude defensiva contra a dissonância
ambiental. A inervação do diafragma parte das raízes vertebrais cervicais 3-5, portanto
a resposta diafragmática está diretamente ligada ao estado de tensão cervical,
conforme WEIGAND O; (2005).
O ground do bebê é o colo da mãe. Se esse colo não é seguro, a sensação é
de não poder relaxar a cabeça porque é pelo esforço da cabeça que a criança
consegue sobreviver à dissonância nos primeiros 18 meses de vida, sobretudo. Com
a experiência de cuidados dissonantes, sentindo-se não seguro e, portanto, faltando-
lhe o grounding que deveria ser suprido pelo cuidador, a criança vai se esforçar
prematuramente contra a força da gravidade. Logo que consegue mover a cabeça, a
criança é capaz de mudar sua percepção e sua posição no espaço e busca lidar
ativamente com a gravidade na tentativa de prover ela mesma um certo grau de
grounding, conforme WEIGAND O; (2005).

50
Esta reação defensiva que é na cabeça é importantíssima não apenas como
um evento primário, mas porque as etapas posteriores do desenvolvimento psico-
motor serão afetadas, pois vão se desenrolar sobre uma organização primitiva no
pescoço, cabeça e cintura escapular que se congelou na atitude autoprotetora de se
segurar sozinha, para cima e afastando-se da mãe. Possivelmente este indivíduo
estará desafiando a gravidade prematuramente, conforme WEIGAND O; (2005).

Lowen (1979 apud WEIGAND O; 2005) descreve um paciente que tinha por
hobby desafiar a gravidade por meio da prática de alpinismo. Analisando a
insegurança e falta de contato de seu paciente, Lowen sugere que o
alpinismo tinha para ele o sentido de conquistar distância da mãe (mãe-terra)
e ao mesmo tempo sobreviver ao perigo de fazer isto.

A autoexpressão, a voz, as percepções corporais e emocionais são sacrificadas


pela atitude crônica da cabeça, pescoço e cintura escapular. Lewis (1998 apud
WEIGAND O; 2005) acredita que pessoas que tiveram esse tipo de experiência
precoce altamente dissonante, nunca estiveram em outro lugar além de suas cabeças.
O trabalho deve se desenvolver no sentido de ir assumindo o corpo, passo a passo.
Além da identidade nebulosa, essas pessoas podem sentir que carregam
dentro de si o cuidador que era incapaz de se manter no mundo pelas próprias pernas
de um ser autônomo. O peso da cabeça pode provir desta impressão de carregar
dentro da cabeça uma mãe imatura e inadequada. Isto acontece porque a criança,
não conseguindo realizar sua independência, permanece identificada com a figura
materna, conforme WEIGAND O; (2005).
Quando a questão de profunda falta de contato com o corpo se manifesta na
sexualidade, com tonalidades edípicas, é porque o problema já existia anteriormente,
desde o nascimento, num desenvolvimento prematuro da função de grounding, que
tenta se estabelecer em um sistema ainda imaturo para realizar esta função de auto
sustentação e conquista da autonomia por si próprio, sentindo enorme desconfiança
quanto a qualquer tipo de ajuda externa, conforme WEIGAND O; (2005).
Lewis (1989 apud WEIGAND O; 2005) afirma que no processo terapêutico,
quando a necessidade de ground para a cabeça se manifesta, em função da história
de vida e da observação do corpo,

"à abordagem que tenta tirar o paciente para fora de sua cabeça física só
aumenta sua dissociação, i.e., o terror da insanidade subjacente e o
aprisionamento nas ideias, o pensar compulsivo (usando o ego racional ou a
mente controladora como falso self), com os quais essas pessoas se agarram

51
a uma falsa sanidade, só podem ser trabalhadas no local onde estão (na
cabeça), e não onde não estão no abdômen ou na pelve." (idem, p.22 apud
WEIGAND O; 2005).

Reich (1995, p. 360 apud WEIGAND O; 2005) enfatiza a expressão de entrega


orgástica na aproximação dos ombros e da pelve quando o corpo se curva para frente,
enquanto a cabeça cai para trás.

Fonte: sapientia.pucsp.com

Reich utiliza a metáfora do verme, comparando-o com a coluna vertebral.


Embora útil para ilustrar a segmentação da couraça, a analogia com o verme parece
situar a extremidade superior na garganta e a inferior na pelve, deixando de fora a
cabeça e as pernas e os pés, conforme WEIGAND O; (2005).
A Análise Bioenergética difere de Reich quando questiona a visão reichiana do
reflexo orgástico, que considera o pescoço e a pelve como as duas extremidades do
corpo que se aproximam neste reflexo. A Análise Bioenergética inclui também as
pernas, pois segundo Lewis (1989, p.28 apud WEIGAND O; 2005) “o corpo não é
idêntico ao tronco” e as verdadeiras extremidades do corpo, a cabeça e os pés, podem
ter sido negligenciadas naquela visão. A implicação desta inclusão das pernas e da
cabeça, frente ao modelo de Reich do reflexo orgástico que aproxima pescoço e pelve,
é a valorização da consciência na entrega orgástica e a função de ancoragem na
realidade ou grounding através das pernas e pés.
Quando Lowen (1992 apud WEIGAND O; 2005) afirmou que o objetivo da
psicoterapia é o ego saudável e não a entrega orgástica, ele deslocou a questão da
potência orgástica do centro dos esforços terapêuticos e retirou da questão do
orgasmo o valor de medidor da saúde mental. Num ego saudável, segundo Lowen
52
(idem), a manifestação da sexualidade é apenas uma das formas de expressão desse
ego. Esta visão é mais coerente com a realidade atual diante das inúmeras variações
e opções da expressão da sexualidade.
Pela descrição de Lowen (1992 apud WEIGAND O; 2005), um ego saudável
pode expressar sua sexualidade por outros canais. Segundo a postura atual da
Análise Bioenergética como uma psicoterapia relacional (MALEY, 2000 apud
WEIGAND O; 2005), a qualidade das relações interpessoais serve como elemento
para supor o grau de saúde egóica. O relacionamento sexual é um dos elementos,
importantíssimo, mas não exclusivo nem excludente.
Em diversos artigos Lewis (1976, 1989, 1998; apud WEIGAND O; 2005)
desenvolve a ideia de um grounding para a cabeça. Esse grounding permitirá que a
força natural e espontânea da vida siga a pulsação longitudinal, num movimento
pendular que inclui a cabeça, o tronco, a pelve e os membros.
Quando isso acontece, “a cada respiração a cabeça se move levemente
rotando sobre a articulação atlas-ocipital que a apoia gentilmente, promovendo um
contínuo sentimento de unidade psicossomática” (LEWIS, 1989, p. 33; apud
WEIGAND O; 2005). Quando há um distúrbio originado no início da vida, ou choque
cefálico, Lewis (1989; apud WEIGAND O; 2005) explica que ele, como terapeuta,
acompanha o cliente, apoiando literalmente a cabeça, para explorar aquelas
“ansiedades impensáveis” ligadas ao medo ancestral de cair para sempre, de cair fora
de controle. Pode-se dizer que nesses pacientes que sofrem uma cisão cabeça-corpo,
e que colocam na mente o lócus do falso self, existe um problema no nível corporal
subjacente ao nível verbal. O que subjaz ao problema verbal é a questão pré-verbal
do choque, estruturado no corpo num período precoce.
Lowen (1993; apud WEIGAND O; 2005) atribui a ruptura na ligação entre
cabeça e corpo a uma faixa de tensão na base do crânio, que interrompe a onda
respiratória bem como a conexão entre pensamentos e sentimentos. Parece que a
cabeça não está ligada ao corpo no sentido energético. "Com isso quero dizer que
qualquer movimento que ocorria no corpo não alcançava ou envolvia a cabeça”. (idem,
p.123)

53
Na vida adulta, essa cisão levaria ao uso distorcido da cognição. Ao se deparar
com esse tipo de cisão, que impede o indivíduo de ceder a cabeça e permitir o fluxo
da onda respiratória que integra o cérebro (cabeça) e o corpo, o terapeuta sabe que
vai deparar-se com uma fortaleza cerebral e uma aparência de sanidade sob as quais
habitam o medo da dissolução e da insanidade. A intervenção terapêutica deve visar
o suporte ao desenvolvimento de ilhas do verdadeiro self que também se ocultam na
fortaleza cerebral, conforme WEIGAND O; (2005).
O ganho de promover esse processo de desorganização das tensões e
reorganização do tônus é que a pulsação longitudinal começa a incluir a cabeça
(cérebro) beneficiando processos cognitivos, afetivos e fisiológicos.
Sumarizando, a fase de desenvolvimento envolvida na criação do estado de
choque cefálico, segundo Lewis (1976, 1989; apud WEIGAND O; 2005), é
principalmente o primeiro ano de vida e engloba as etapas de formação dos caráteres
esquizoide e oral. Nesta fase, as funções maternas de holding e handling, se forem
inadequadas ou se faltarem, podem criar a condição de choque. Este pode ocorrer
também posteriormente, por traumas vividos na infância, na adolescência ou mesmo
na idade adulta.
Quando a criança está sujeita a cuidados dissonantes, ocorre um
desenvolvimento prematuro do ego e dificuldade em adquirir um grounding adequado
na vida adulta. A instalação do choque cefálico, afetando o cérebro fisicamente e no
seu funcionamento, favorece a cisão entre as funções corporais, o ego consciente e
as emoções. Na vida adulta, essa cisão levaria ao uso distorcido da cognição bem
como a um prejuízo na autorregulação emocional, conforme WEIGAND O; (2005).

3.8 Evitação do grounding e colapso interno

De acordo com Aalberse (1997, p.135 apud WEIGAND O; 2005) "o grounding
pode ser definido como um equilíbrio dinâmico entre dois polos: elevar-se acima do
solo e afundar-se nele". Encontrar o ponto de contato ótimo é o objetivo do trabalho.
São duas as maneiras de evitar o grounding:
A primeira é recusando-se a ficar sobre os próprios pés, dependurando-se nos
outros e responsabilizando-os pela existência e bem-estar. A pessoa coloca-se
completamente dependente, vulnerável e incapaz. Se isto falha, afunda-se no chão.

54
Primeiramente a sensação é de pernas extremamente pesadas. Depois, se o estado
se agrava, ocorre uma desenergização das pernas que são sentidas como de
borracha e incapazes de sustentar o corpo. Todo o tônus postural é rebaixado, a
pessoa literalmente cai sobre uma pelve sem vida. Nessas condições, a tendência é
buscar a fusão com o outro, conforme WEIGAND O; (2005).
A segunda é o oposto desta. Há uma recusa de apoiar-se nos outros, erguendo-
se acima do chão para não sentir o contato com a realidade da interdependência
humana. Corresponde à personalidade descrita por Lowen em Narcisismo (1993 apud
WEIGAND O; 2005). Eleva-se para compensar uma baixa autoestima tentando
manter uma autoimagem idealizada como alguém especial, que está acima e é melhor
que os outros.
Uma pessoa pode estar acima do chão ou dentro do chão para evitar estar
sobre o chão. Aalberse (1997 apud WEIGAND O; 2005) associa o elevar-se acima
com atitude arrogante de empurrar o diafragma para cima, erguer os ombros, enrijecer
o pescoço e travar as mandíbulas. Além disso, a pelve mantém-se contraída e puxada
para cima. A tendência é buscar a sensação de liberdade por meio do isolamento. É
uma pseudo- liberdade e não uma expressão de autonomia. Dá a impressão de estar
se livrando do outro; não tem a liberdade para ficar próximo.
Para Aalberse (1997 apud WEIGAND O; 2005), ambas as formas de evitar o
grounding têm o sentido de evitar um profundo sentimento de abandono e rejeição
carregado de pânico. Ele relaciona essas respostas ao grounding com pessoas que
carregam dentro de si um núcleo psicótico que se mantém encoberto pela atitude anti-
grounding. Muitas vezes a aparência externa é rígida, assim como o comportamento.
Entrar em contato com o grounding e a realidade interna significa ir ao encontro dessa
dolorosa experiência de vazio.
Não sem motivo, Aalberse (idem) denominou seu artigo O pavor do grounding
e a noite negra da alma, mas ele também salienta a importância de passar pela
experiência da noite negra da alma para atingir um amadurecimento mais profundo
no sentido da espiritualidade, conforme WEIGAND O; (2005).
Keleman (1992 apud WEIGAND O; 2005) também identifica pessoas com a
camada externa rígida e a interna colapsada. Nas três ilustrações abaixo (idem, p.165,
fig.120), a figura interna colapsada representa o self enfraquecido e com pouca forma.
Nas pessoas do tipo inchado com colapso interno, a tendência é um padrão de

55
grounding dentro do chão. As de tipo denso e rígido tendem a desenvolver um padrão
de grounding acima do chão.

Fonte: sapientia.pucsp.com (Camada externa rígida e interna colapsada KELEMAN, 1992, p.165
apud WEIGAND O; 2005)

Diante desse tipo de organização, a psicoterapia visa fortalecer o self e ajudar


a pessoa a adquirir forma, percepção interna e sensação de limites. Atualmente, os
psicoterapeutas não podem mais se contentar com o papel de "desmontadores de
couraças rígidas". Como aponta Samson (1994 apud WEIGAND O; 2005) as pessoas
desenvolvem couraças secundárias, mais sofisticadas, e um falso self mais refinado,
para se proteger do medo de se desintegrar e dos esforços do psicoterapeuta.

3.9 O grounding do olhar

O bebê quando nasce já é capaz de buscar ativamente o olhar da mãe e só se


retrai para seu universo interno se encontra um ambiente pouco acolhedor. Ao retrair-
se, cria um bloqueio ao fluxo da energia, que vai envolver os órgãos da percepção à
distância (olhos e ouvidos) e o próprio cérebro, conforme WEIGAND O; (2005).
Com o contato visual, de acordo com a ilustração abaixo de Schore (2001 apud
WEIGAND O; 2005), o cuidador atua como regulador de emoções para a criança,
“emprestando-lhe” suas qualidades de autorregulação. Ocorrem interações cérebro-
cérebro durante a comunicação face-a-face mediada por orientações olho no olho,
vocalizações, gestos das mãos e movimentos dos braços e cabeça, todos atuando
coordenadamente para expressar percepção interpessoal e emoções.

56
Fonte: sapientia.pucsp.com. (Interações cérebro-cérebro durante a comunicação face-a-face;
SCHORE, 2001 apud WEIGAND O; 2005).

Reich (1995 apud WEIGAND O; 2005) postulou a existência de sete


segmentos corporais que compõem o sistema de defesas caracterológicas:
segmento ocular, oral, cervical, torácico, diafragmático, abdominal e pélvico.
Como o desenvolvimento do bebê se dá no sentido céfalo-caudal,
cronologicamente o primeiro segmento é o ocular, responsável pelos contatos
iniciais do bebê com o seu cuidador. Com o bloqueio do anel ocular, a
percepção da excitação fica prejudicada, mas a excitação pode crescer e
inundar o organismo, sem possibilidade de regulação pelo ego (BAKER, 1980
apud WEIGAND O; 2005).

Klaus & Klaus (1989 apud WEIGAND O; 2005) pesquisaram e fotografaram


contatos visuais entre bebês e seus cuidadores provando a capacidade de
comunicação desde os primeiros momentos da vida, demonstrando quanto é
importante o encontro de olhares para estimular o diálogo entre cérebros que favorece
a autorregulação emocional.
A severidade dos sintomas psíquicos depende da etapa do desenvolvimento
em que se forma o bloqueio. Quanto mais precoce o trauma mais grave é a patologia.
No caso do bloqueio ocular, a etapa crítica são os primeiros dez dias de vida (BAKER,
1980). Navarro (1995 apud WEIGAND O; 2005) ampliou o estudo de Reich (1995
apud WEIGAND O; 2005) e Baker (idem). Os três autores concordam que um bloqueio
ocular que limita seriamente a capacidade de carga e pulsação do cérebro resulta em
psicose.
Dependendo da intensidade do bloqueio ocular nesta fase crítica, a criança
não consegue criar posteriormente as defesas caracterológicas neuróticas,
prevalecendo a defesa de fuga em direção à experiência intra-uterina. “A

57
personalidade psicótica geralmente se deixa levar pela vida, pois se cansa facilmente
(neurastenia) e prefere, frequentemente, o isolamento ou a fuga no sono."
(NAVARRO, 1995, p.33 apud WEIGAND O; 2005).
Mas o bloqueio ocular em si não impede completamente a evolução para níveis
mais complexos de funcionamento. Segundo Baker (1980 apud WEIGAND O; 2005)
embora a esquizofrenia seja dependente do bloqueio ocular instalado durante os
primeiros dez dias de vida, apenas algumas crianças desenvolvem a doença, que na
maioria dos casos não se fixa senão na puberdade.
Quando a criança desenvolve os diferentes tipos de defesas de caráter
neuróticas, os sintomas decorrentes do bloqueio ocular podem aparecer em outras
épocas da vida, se houver uma falha no sistema de defesas neurótico. De acordo com
Navarro (1995 apud WEIGAND O; 2005), indivíduos parecendo normais podem ter
sob seu caráter de superfície, um núcleo psicótico.
Cardotti (2003 apud WEIGAND O; 2005) integrou a terapêutica da Análise
Bioenergética com o método Self-Healing criado por Meir Schneider (1998, 1999 apud
WEIGAND O; 2005). Schneider (1998 apud WEIGAND O; 2005) desenvolveu diversos
exercícios destinados a melhorar a função da visão.
Para esse fim, busca relaxar e ao mesmo tempo tonificar as estruturas
orgânicas responsáveis pela função visual. Combinando os exercícios de Self-Healing
com os conhecimentos da Análise Bioenergética, Cardotti (idem) observou em seus
pacientes melhoras em patologias orgânicas afetando a visão, bem como benefícios
psíquicos manifestados como tranquilidade e equilíbrio emocional, conforme
WEIGAND O; (2005).
Outros exercícios úteis para o anel ocular foram propostos por Scholl (1978),
que também utilizou uma combinação de grounding e exercícios específicos para a
função visual. Ratey (2002 apud WEIGAND O; 2005) baseado em pesquisas de
neurociência, propõe que a base neurológica da consciência é uma rede neuronal
intermitente estabelecida entre o tálamo e o córtex.
Esse tipo de pesquisa vem reforçar a ideia que os bloqueios do anel ocular
atingem um maior contingente da população na medida em que doentes
psicossomáticos não psicóticos, que têm dificuldade de simbolizar e expressar suas
emoções verbalmente, sofreriam de uma falta de ligação energética e de comunicação
neuronal entre o sistema límbico e os centros corticais onde elas seriam decodificadas

58
conscientemente. “Isso significa que as tensões se descarregam no hipotálamo pelo
sistema neurovegetativo provocando as psicossomatizações: a linguagem dos
órgãos. ” (NAVARRO, 1995, p.31-32; apud WEIGAND O; 2005)
Pensando na importância do grounding para a clínica, acredito que Lowen
(1977; apud WEIGAND O; 2005) e Pierrakos (1994; apud WEIGAND O; 2005) abriram
caminho para o tratamento dos bloqueios primitivos que envolvem o anel ocular, ao
desenvolverem o princípio do grounding que canaliza a energia para as pernas e pés,
que descarrega o excesso de energia na terra, familiariza o organismo com o estado
vibratório e permite uma maior tolerância à excitação.
A partir da experiência clínica a Análise Bioenergética considera que as
pessoas com bloqueio ocular também sofrem uma interrupção do fluxo energético nas
articulações, razão pela qual é benéfico trabalhar energeticamente com a musculatura
e o esqueleto para promover a integração do organismo (LOWEN, idem; apud
WEIGAND O; 2005).

59
4 BIBLIOGRAFIA

ANTUNES VASCONCELOS, Ivanilda. A análise bioenergética em um caps:


“reflexões de uma pedagoga”. Ligare, [S. l.], p. 1-69, 2012.

FARIAS DE OLIVEIRA, Gislene et al. Análise Bioenergética: Uma Revisão


Sistemática da Literatura. Revista, [S. l.], p. 1-22, 6 jun. 2013.

FARIAS DE OLIVEIRA, Gislene et al. A Análise Bioenergética e a proposta das


Estruturas do Caráter. Revista, [S. l.], p. 1-9, 2015.

JOSÉ REZENDE DE OLIVEIRA, JOVINIANO. CORPOSOFIA: análise bioenergética


para sensibilizar questões filosóficas. Unicamp, [S. l.], p. 1-376, 2019.

WEBER, Henrique Alexandre Pereira. Saúde mental do trabalhador: a bioenergética


como proposta de intervenção. In: encontro paranaense, congresso brasileiro de
psicoterapias corporais, xiv, ix, 2009. Anais. Curitiba: Centro Reichiano, 2009.

WEIGAND, Odila. Grounding na análise bioenergética: uma proposta de


atualização. Pucsp, [S. l.], p. 1-155, 2005.

WEIGAND, O. Transference/Countertransference with a borderline patient. The


Clinical Journal of the Int. Institute for Bioenergetic Analysis, v. 3, no. 1, 1987, p.
64-76.

WEIL, S. O enraizamento. In: Bosi, E. (org) A condição operária e outros estudos


sobre a opressão. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1996. p. 411-412

WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago. 1975. 203p.

SIMÕES BORGES DA FONSECA, Renata. Bioenergética: um caminho de auxílio


no processo de ensino - aprendizagem do violino. Ufpb, [S. l.], p. 1-364, 1 ago.
2011.

VOLPI, J. H. Compreendendo, por meio do relato de mães, o estresse sofrido


durante a gestação e primeiros anos de vida da criança com câncer. 2002.
Dissertação de Mestrado - Universidade Metodista de São Paulo.

60
VOLPI, J. H. & VOLPI, S. M. Práticas da psicologia corporal aplicadas em grupo.
Curitiba: Centro Reichiano. 2001. 144p.

61

Você também pode gostar