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O CONCEITO DE

SEXUALIDADE EM FREUD

Por Ana Paula Lettiere Fulco

por Ana Paula Lettiere Fulco 1


A Coisa O CONCEITO DE
"A gente pensa uma coisa, SEXUALIDADE EM
acaba escrevendo outra e o FREUD
leitor entende uma
terceira coisa... e,
enquanto se passa tudo
isso, a coisa propriamente
dita
começa a desconfiar que
não foi propriamente dita".
Mário Quintana

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Trazer o saber psicanalítico - a partir de uma orientação
lacaniana da Obra freudiana - que, como diz Elia (1995), a rigor,
somente é acessível por intermédio da experiência psicanalítica – a
do inconsciente freudiano -, constitui um desafio - principalmente
quando se trata de um conceito tão central em Freud, como o de
sexualidade - pois envolve a articulação deste conceito com outros,
fundamentais, e também engloba uma elaboração, ou seja, um
trabalho caro, subjetivo, por parte de quem teoriza.

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FREUD

 Tem um método original e as teses freudianas implicam um


modo de ação obre o real, que em psicanálise nada tem a ver com
realidade e sim com um furo no simbólico, nas representações, como
um resto inexorável que escapa à linguagem e que constitui o núcleo
do inconsciente freudiano - “onde Freud situou o plano do além do
princípio do prazer, a pulsão de morte e o Isso” (Elia, 1995: 20).
Também conhecido por Id.

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FREUD

 Na trajetória de Freud, foi com o real, postulado pelo nome de


inconsciente, que o médico se deparou, desde 1891. E este foi o
marco para o início da transição do médico para psicanalista; uma
torção na posição em relação ao que é próprio do humano, que
escapa à anatomia, à fisiologia e à química do organismo. O ponto
de partida para esta exploração foram os sintomas histéricos
conversivos regidos pela lógica do inconsciente.

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FREUD

 O corte na teoria da consciência, operado pela descoberta do


inconsciente, possibilitou também o aparecimento de outros
conceitos freudianos tais como o de pulsão, o papel da sexualidade
na vida psíquica, entre outros.
 Mas, qual o percurso trilhado por Freud para chegar a essa
postulação revolucionária? E qual a sua relação com a sexualidade?

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Os fatos responsáveis pela crença na dominância do


princípio de prazer na vida psíquica também encontram
expressão na hipótese de que o aparelho psíquico se esforça
por manter a quantidade de excitação nele presente tão baixa
quanto possível, ou, pelo menos, por mantê-la constante

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FREUD

Essa última hipótese constitui apenas outra maneira de


enunciar o princípio de prazer, porque, se o trabalho do
aparelho psíquico se dirige no sentido de manter baixa
a quantidade de excitação, então qualquer coisa que
seja calculada para aumentar essa quantidade está
destinada a ser sentida como adversa ao
funcionamento do aparelho, ou seja, como
desagradável. Assim, o princípio de prazer decorre do
princípio de constância.

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 Mas Freud (1920) alerta que é incorreto falar na dominância do


princípio de prazer sobre o curso dos processos psíquicos.
 Em 1920, Freud diz que a pulsão de morte é anterior ao
princípio do prazer. Sendo assim, o máximo que se pode dizer é
que existe no psiquismo uma forte tendência no sentido do
princípio de prazer, mesmo que essa tendência seja contrariada
por certas outras forças.

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 Um ponto crucial para a psicanálise, que se articula com o
inconsciente, é a sexualidade. No texto “As resistências à psicanálise”
(1924), Freud fala claramente sobre a influência da sexualidade na
neurose e na vida psíquica normal, ratificando o que na psicanálise é
sexualidade, “em absoluto é idêntico à impulsão no sentido de uma
união dos dois sexos ou no sentido de produzir uma sensação prazerosa
dos órgãos genitais; tem muito mais semelhança com o Eros, que tudo
inclui e tudo preserva

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 Ao procurar uma etiologia para essa afecção nervosa, diferente


daquela a que o médico recorria – comprovação anátomo-patológica
do que era investigado clinicamente -, Freud introduziu uma
possibilidade para o estudo do funcionamento psíquico através do
registro da linguagem.
 A histeria então passa a ser uma patologia psíquica que apresenta
um fenômeno no corpo que é regido por leis psíquicas.

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 Freud desejava escrever a tese de que, na histeria, as paralisias e


anestesias das várias partes do corpo se acham demarcadas de acordo
com a “idéia leiga dos seus limites” e não em conformidade com os
fatos anatômicos. Grifo meu.
 Demarcadas como algo pertencente a um outro registro, o a
linguagem como um representante do psiquismo.

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 Jones (1961) considera a paciente Anna O. a que possibilitou a descoberta do
método catártico, método da “conversação” e, Garcia-Roza (1988) afirma que este
caso pode ser considerado o lugar de entrada em cena da sexualidade. Roudinesco e
Plon (1997) concordam com Jones somente no que diz respeito a introdução do
método catártico pois discordam da versão do término do tratamento de Anna O. com
Breuer narrada por Jones. Freud se interessou pelo caso em 1882, três anos antes de
ir para Paris. Ao chegar na Cidade das Luzes, comentou o caso com Charcot, que não
parece ter dado importância.
 Para esclarecer esse detalhe, ver Roudinesco e Plon, 1991, p. 568.

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 Após seu encontro com Breuer pela segunda vez, já a partir de 1886, e a
descoberta, através do método catártico-hipnótico, de que os histéricos sofrem
de reminiscências de situações emocionais vividas, inclusive as sexuais, Freud e
Breuer escrevem “Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos”, em
1893 e “Estudos sobre a histeria”, em 1895. A ênfase desses textos estava na
“significação da vida das emoções e na importância de estabelecer distinção
entre atos psíquicos inconscientes e os conscientes (ou, antes, capazes de serem
conscientes)” (Freud, 1924: 34).

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 Freud resolveu abandonar a hipnose e chegou à associação livre como


possibilidade de acesso ao inconsciente, fazendo o paciente falar.
 O componente sexual presente no sintoma histérico foi um ponto de
divergência entre eles. Sua parceria com Breuer revela, na publicação “Estudos
sobre a histeria”, de 1895, que nada havia sido formulado a respeito da etiologia
da histeria.

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 Freud introduziu um fator dinâmico, supondo que um sintoma surge através
do represamento de um afeto, e um fator econômico considerando aquele
mesmo sintoma como o produto da transformação de uma quantidade de
energia que, de outra maneira, teria sido empregada de alguma forma. Mas
Freud aprendeu que não era qualquer espécie de excitação emocional que
estava em ação por trás dos fenômenos da neurose, mas habitualmente uma
excitação de natureza sexual, quer fosse um conflito sexual comum ou, então, o
efeito de experiências sexuais anteriores.

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 A conclusão de que a sexualidade estava presente na etiologia


da histeria permitiu ao Freud constatar que a primazia dos efeitos
de cura catártico-hipnótica advinha principalmente da
transferência estabelecida pelo paciente com seu psicanalista.

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Desde o caso Anna O. (1893-1895) a sexualidade está presente nos textos de Freud. E
um dos pressupostos que sustentaram a teoria e a terapia da histeria no período dos
“Estudos sobre a histeria” (1893-1895) é o do trauma psíquico e seu conteúdo sexual,
na opinião de Garcia-Roza (1988).
 A teoria do trauma sustentava que o neurótico, na sua infância, teria sido vítima de
uma sedução real e que esse fato, por seu caráter traumático, teria sido recalcado e se
transformado em núcleo patogênico cuja remoção só seria obtida com a ab-reação e a
elaboração psíquica da experiência traumática através das técnicas de Freud daquela
época.

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 Posteriormente, Freud atribui dois momentos a ação traumática: o segundo
conferia o caráter traumático ao primeiro por conta de um traço comum às duas
cenas. No primeiro haveria somente a cena de sedução, com caráter sexual só
que a criança que sofria a sedução não atribuía tal sentido. O segundo
momento ocorreria na puberdade. Por essa razão Freud considera que os
histéricos sofrem de reminiscências. O traumático, então, não é o passado e sim
a lembrança do passado a partir de uma experiência atual.
Ver caso Emma, (1895), FREUD, ESB,v.I

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 Com a descoberta do complexo de Édipo, (que implica na descoberta da


fantasia e da sexualidade infantil) - explica Garcia-Roza (1988) - em 1897, numa
carta a Fliess, Freud supera a teoria do trauma para a histeria. Freud havia
constatado a partir de sua clínica com pacientes histéricas que a sedução não
havia sido real, eram fantasias cuja elaboração era decorrente de investimentos
amorosos edipianos intensos.

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 Ainda sem dispor do conceito de inconsciente fechado somente em “A
interpretação dos sonhos” (1900), e apesar da sexualidade infantil só ser
desenvolvida nos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905a), Freud
vai construído sua teoria para tratar a histeria.

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 Em “Três ensaios” (1905) Freud fala da pulsão sexual como modelo da pulsão em geral,
ou seja, o que movimenta o humano para buscar de satisfação. A pulsão no humano é
um desvio do instinto da psicobiologia. O objeto da pulsão é a pessoa de quem procede a
atração sexual e o objetivo sexual é o ato a que a pulsão conduz. Pelo fato do objetivo
sexual dos humanos não ser a reprodução, Freud considera a sexualidade perversa, pois o
que conta é o prazer. Por isso que o objeto da pulsão é variável. Pulsão esta que se faz
presente desde a infância tornando a criança perversa-polimorfa. Experimentando várias
formas a fim de se proporcionar prazer esta criança explora o mundo que a cerca. Fase
esta, que cai no esquecimento pela ação da cultura e dos preceitos morais.

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 Mas antes do esquecimento, esta fase se divide em dois momentos: primeiro,
através dos cuidados a criança, em tenra idade, tem seu corpo erotizado, fazendo-
a experimentar prazer e desprazer na atenção às suas necessidades; depois, um
momento, o do auto-erotismo, em que a pulsão se manifesta apoiada nas zonas
erógenas de satisfação (que servem de apoio para a satisfação parcial da pulsão: a
alimentação, o chupar dos dedos etc.). As pulsões se organizam na medida em
que determinadas zonas do corpo são privilegiadas como fonte parcial de
satisfação pulsional e quando surge um certo modo de relação com o objeto de
satisfação.

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Nas organizações tidas como pré-genitais Freud destaca duas: a oral (ou
organização sexual pré-genital canibal) e a sádico-anal. Em 1923, Freud postula
a fálica – fase esta dominada pelo complexo de castração e corresponde ao
declínio do complexo de Édipo, momento em que se inaugura o processo de
simbolização da criança. O complexo de castração, salienta Garcia-Roza, “é o
efeito da eleição de um objeto cuja função simbólica é o preenchimento da
falta” (1988: 220). Foi através das histéricas o acesso de Freud para construir o
conceito de sexualidade.

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 Lacan organiza o complexo de Édipo em três tempos: O neném aparece inicialmente como
significado do Desejo da Mãe. Com o advento da metáfora paterna, o Desejo da Mãe é
barrado, e o resultado dessa operação é a inclusão do significante do Nome-do-Pai, significante
da lei no Outro e da significação fálica, testemunha da inscrição da castração. A partir do
advento da metáfora paterna, o Desejo da Mãe, que é um x, um enigma para o sujeito, pode
ser significantizado e o é pela significação fálica, que faz emergir o falo como significante do
desejo do Outro. O Édipo é o preço que se paga para advir como sujeito de um discurso,
obrigando-se a lidar com a falta, com a castração simbólica, com o recalque, o que impede que
a verdade do sujeito jamais possa ser dita por inteiro, pois somente através das formações do
inconsciente algo da verdade do sujeito poderá ser apreendida.

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Para Julien (2002) a histeria permitiu Freud receber a verdade da


histérica falada através da livre associação – regra fundamental
para uma psicanálise acontecer; a verdade se fala histericamente
através do que Freud denominou formações do inconsciente, ou
seja, através do “imprevisto, no ziguezague, no mal-entendido (do
discurso escrito ou falado), com o sintoma, o ato falho, o sonho, o
chiste, a palavra que vem à mente” (2002: 173).

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Segundo Julien (2002) é assim que o paciente pode responder à questão: “o que isso quer
dizer?” Quando experimenta as formações do inconsciente citadas acima. As formações do
inconsciente são a volta do recalcado – o que precisou ser retirado da consciência pelo Eu a
fim de defender-se do desprazer consequente. Por tal fato quando Freud se detém na teoria
do trauma para justificar o sintoma na histeria – um trauma sexual por excelência – em
1897, não se interessa pela veracidade do conteúdo traumático relatado – se aconteceu
realmente ou não – mas escuta as reminiscências (ou representações) histéricas como que
vindas a posteriori como retorno de algo recalcado. Recalcado de quê?, perguntar-se-á:
“Dos efeitos a posteriori da atividade sexual infantil de tal paciente”, Freud responde em
1905.

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 As formações do inconsciente e a sexualidade, segundo Freud, “pertencem ao
mesmo conjunto de estruturas psicopatológicas” (1898: 251).
 A sexualidade é seu principal eixo mas como “o veio através do qual podemos
situar aquilo que esta noção traz de inaugural e radicalmente novo em relação a tudo
o que a precedeu, e o que a torna a mola de arremesso da psicanálise para fora do
campo da psicologia” (Elia, 1995: 37).
 Lógica, conforme explica Elia (1995), designa um conjunto articulado de relações
formais que tornam ou visam tornar inteligível o modo de organização de
determinado conteúdo.

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 Elia (1995) nomeia “mais que dialética” que é a lógica do inconsciente que rege a
forma como os elementos estão organizados na estrutura (psíquica, no caso): seus
lugares e posição que cada elemento ocupa em face de todos os outros que compõem
o conjunto independente do conteúdo – que rege a psicanálise. Termos que conforme
a posição e às relações, adquirem diferentes significados.
 Freud elabora uma teoria universal para a sexualidade baseada na noção de libido
com a qual transforma o significado da oposição entre a norma e a patologia e, assim,
distingui teoricamente sua doutrina de qualquer forma de estudo comportamental.

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Freud estendendo a noção de sexualidade a uma disposição psíquica universal com o conceito de
libido e extirpando-a de seu fundamento biológico, anatômico e genital, para fazer dela a essência
da atividade humana regida pelo princípio do prazer/desprazer e do mais além do princípio do
prazer, presente em qualquer ato da vida, qualquer gesto, qualquer palavra. Para o termo libido,
Freud escreve:  
 “libido é um termo empregado na teoria dos pulsões para descrever a manifestação dinâmica da
sexualidade. Já fora utilizado nesse sentido por Moll (1898) e foi introduzido na psicanálise pelo
presente autor. O que se segue limita-se a uma descrição dos desenvolvimentos por que a teoria
das pulsões passou na psicanálise, desenvolvimentos que ainda se acham progredindo” (Freud,
1922: 308).

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 Historicamente, foi durante o contato com Fliess que Freud adotou a tese da
bissexualidade, à qual conferiu um conteúdo psíquico. Depois aderiu a idéia da
origem traumática da neurose (1897), para, posteriormente, como já foi visto neste
trabalho, atribuir uma etiologia sexual para a histeria. Em 1905, Freud estende sua
reflexão da sexualidade ao seu caráter “infantil”, o que permitiu dar um novo lugar
para as ditas perversões (fetichismo, homossexualidade etc). Após a introdução do
conceito de narcisismo, em 1914, e da segunda tópica do aparelho psíquico,
acaloraram e complexificaram as discussões sobre as questões em torno do
conceito de sexualidade.

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 Para entender a sexualidade na psicanálise precisamos nos debruçar sobre o método
freudiano. Vimos que a fala da histérica contém um texto manifesto e um latente. A
peculiaridade metodológica de Freud foi a desmontagem do senso comum para um
senso incomum no que lhe era comunicado pelas histéricas. Tal desmontagem se torna
possível pois, no âmago da rede simbólica – a das palavras – há um furo que impede o
fechamento do sentido daquilo que o paciente fala, e esse mesmo furo é o que está no
saber por ele elaborado. O discurso teórico é o próprio discurso do inconsciente. Nas
palavras de Elia (1995) o inconsciente é tecido por letras comuns. O que possibilita
“escutar” o inconsciente através das suas formações faladas por aquele que as “sofre”.

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 Ao tomar pela primeira vez a sexualidade para examiná-la de modo
sistemático no seu texto “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” de
1905a, Freud trabalha “as aberrações sexuais”, a “sexualidade infantil” e “as
transformações da puberdade”. Trabalhar-se-á o segundo ensaio mas, antes é
preciso conhecer alguns conceitos que se entreleçam ao de sexualidade. O
primeiro será o de pulsão.

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 A possibilidade de compreensão do conceito de pulsão exige conhecermos seus quatro
elementos: fonte, pressão, objetivo e objeto. A pulsão, em comparação a definição do instinto
acima citada, não pode ser “um padrão fixo e invariável de comportamento” pois a pulsão não
prescreve comportamentos mas sim, constitui-se como “uma medida de exigência de trabalho
feita ao psiquismo em consequência de sua ligação com o corpo” (Elia, 1995: 47). A pulsão
“não é comum a todos os indivíduos de uma mesma espécie” embora ela afete todo sujeito
humano. No que tange ao objeto a pulsão se separa radicalmente do instinto pois ela não tem
objeto específico, adequado e muito menos, pré-determinado; “é o que há de mais variável”
(Freud, 1915: 143), “sendo escolhido por prestar-se proficientemente à satisfação, na
contingência de uma dada situação singular” (Elia, 1995: 48).

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A presente referência foi colhida das edições alemãs da Obra de Freud


(Trieb und Triebschicksale [1915], in Studienausgabe, v.III) e traduzida
livremente por Elia. Em Freud o texto está assim: “um ‘instinto’ nos
aparecerá como sendo um conceito situado na fronteira entre o mental e o
somático, como o representante psíquico dos estímulos que se originam
dentro do organismo e alcançam a mente, como uma medida da exigência
feita à mente no sentido de trabalhar em consequência de sua ligação com
o corpo” (Freud, 1915: 142).

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Um bom exemplo da variação dos objetos da pulsão está na música do


grupo Titãs, cujo recorte é: “Você tem fome de quê? Você tem sede de
quê? A gente não quer só comida a gente quer comida, diversão e arte.
(...)”. A pulsão toma o objeto para produzir satisfação (sua finalidade)
que é, indefectível pois a pulsão sempre se satisfaz, apesar de nunca ser
uma satisfação absoluta, não será total. Parcialmente insatisfeita a
pulsão é relançada à sua busca de satisfação com um ou vários objetos.

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 Se há uma diferença radical entre a pulsão e o instinto, a sexualidade para
Freud – que considera o campo da sexualidade como sendo do campo pulsional
- não é instintiva. A sexualidade sendo do campo pulsional e sendo a pulsão um
conceito - e não a entidade - limítrofe entre o psíquico e o somático. E, na
interpretação de Elia (1995), limite precisa ser tomado como que determinando
que o conceito de pulsão não é ao mesmo tempo somático e psíquico e sim que
o conceito de pulsão não é nem psíquico e nem somático. É sim, de uma outra
ordem (cf. Elia, 1995:50).

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 Esta explosão do espaço psicofísico constitui a própria divisão produzida


pela introdução do inconsciente no campo subjetivo. Como explica Elia , a
pulsão de um lado e o inconsciente de outro são as “duas formas de
alteridade radical que constituem o sujeito como dividido” (1995: 51). O
que explica que o corpo nada tem a ver com o somático, nem com o
organismo. O corpo é pulsional. Por este motivo que o sexual é o principal
eixo em torno do qual se constrói a psicanálise e seu atributo primordial é
“o infantil”.

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A sexualidade está na etiologia das neuroses mas, ao investigar a histeria,
Freud se depara com o caráter infantil da sexualidade do adulto.
 O que está em jogo quando Freud postula a sexualidade infantil é o modo
próprio de ser sexual dos humanos pois inúmeras vezes Freud afirma que o
homem nunca atinge a maturidade sexual por não ser capaz de abandonar
posições de prazer que foram atingidas – o homem as repete indefinidamente.
Para Elia (1995), Freud chamou a sexualidade de infantil, identificando-a “ali
onde a vigente é impossível” (1995: 57).

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 “Infantil é a sexualidade a partir da qual o sujeito humano advém, por ser
falante: conjugação, portanto das duas dimensões de Alteridade: a Pulsão e a
Linguagem. Infantil não é porque ocorre na infância, embora ela, de fato, ali
ocorra. Infantil como é para Freud toda a sexualidade, em qualquer tempo
biográfico em que a captemos, na trajetória existencial do sujeito humano. (…)
Freud batizou de infantil a sexualidade que conceituou a partir da clínica,
afirmando em contra partida, a sua exclusividade. (Elia, 1995: 57).
 O sexual em Freud não se refere ao sexual vigente fora da psicanálise.

por Ana Paula Lettiere Fulco 40


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 Um dos principais aspectos da sexualidade infantil é a “postulação da
impossibilidade de recobrimento, por ela, dos elementos que constituem a
sexualidade-função, a sexualidade psicofísica, objeto da psicologia e da biologia”
(Elia, 1995: 60).
 Freud, nos textos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905a) e
“Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos” (1925),
ensina que não há representação psíquica daquilo que a diferença anatômica
entre os sexos apresenta. Há disparidade entre a apresentação e a representação.

por Ana Paula Lettiere Fulco 41


O CONCEITO DE SEXUALIDADE EM
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 O psiquismo não registra senão as consequências psíquicas que a anatomia mostra. A anatomia
apresenta dois órgãos genitais, o masculino e o feminino, o pênis e a vagina. Mas, no inconsciente
do sujeito não existe a representação correspondente desta dualidade de órgãos; a cada órgão não
corresponde uma representação, explica Elia (1995), de forma que a consequência psíquica da
distinção anatômica entre os sexos não inscreve a representação de um ou de outro gênero. O que
também não quer dizer que pelo menos um dos órgãos genitais esteja representado, o masculino
ou o feminino, o pênis ou a vagina. A organização do inconsciente não faz correspondência a
duplicidade genital. Para Freud o que se faz representar no inconsciente não são os dois órgãos
genitais, nem um deles, somente, mas sim, o falo. Falo não é pênis. O falo é o caráter simbólico de
representação inconsciente da distinção anatômica entre os sexos e mais.

por Ana Paula Lettiere Fulco 42


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FREUD
 Cabe uma explicação sobre o caráter simbólico da representação
inconsciente. O que rege o inconsciente é uma disjunção, uma quebra da
correspondência entre o objeto e sua representação simbólica. O falo não é, no
inconsciente, o nome do órgão peniano; não corresponde com a configuração
carnal ou imaginária do órgão. Trata-se antes, alerta Freud em várias
passagens, do falo como algo que pode faltar. O falo introduz a dimensão
simbólica da castração, assinalando a incompletude radical e estrutural do
sujeito em relação ao sexo.

por Ana Paula Lettiere Fulco 43


O CONCEITO DE SEXUALIDADE EM
FREUD
 Para Elia (1995), é, portanto, a representação e a inscrição do falo de modo
ímpar no inconsciente, a marca registrada da sexualidade infantil, que dá a
medida da radical diferença conceitual entre falo e pênis, o que leva Lacan (1958)
a situá-lo como significante, aquilo que se opõe ao objeto-presença (interpretação
de alguns pós-freudianos). Em 1923, Freud, em seu texto “A organização genital
infantil”, também diz que a esta organização é fálica. “O que está presente,
portanto, não é uma primazia dos órgãos genitais, mas uma primazia do falo”
(1923: 180). Assim, o falo passa a ser o representante da diferença.

por Ana Paula Lettiere Fulco 44


O CONCEITO DE SEXUALIDADE EM
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 É por marcar uma presença-ausente - nas palavras de Elia (1995) - que o falo
ganha estatuto simbólico de significante. Início de qualquer simbolização para a
criança. O que a permitirá falar, escrever etc.
 A raiz do processo de simbolização tem como exemplo a experiência que
Freud observou em seu neto, que brincando com um carretel de jogá-lo fora do
alcance da vista e recuperá-lo, elaborava a presença e ausência de sua mãe.

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O CONCEITO DE SEXUALIDADE EM
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 Se o que é pulsional (o sexual, no caso) articula-se ao que é inconsciente é
precisamente, esclarece Elia (1995), por ser passível de, dissociando-se do
objeto imaginário pulsionalmente investido, transformar-se em traço mnésico
(inscrição inconsciente). “Este é o modo, segundo Freud, de organização e
funcionamento do inconsciente: investimento pulsional de traços (objeto
simbolizado), que não poderiam inscrever-se no inconsciente senão por um
processo de destruição, de decomposição do objeto imaginarizado” (Elia, 1995:
65).

por Ana Paula Lettiere Fulco 46


O CONCEITO DE SEXUALIDADE EM
FREUD
 Para demonstrar o processo de desimaginarização implicado no recalcamento
da sexualidade, ou seja, na sua articulação com o inconsciente, retornaremos
aos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905a). Freud, neste e em
outros textos sobre a sexualidade, listados a seguir, refere-se a um início bifásico
da sexualidade. Numa primeira fase da sexualidade infantil o sujeito liga-se ao
objeto edipiano por uma excitação e, numa segunda fase, a perda deste objeto
a partir do recalque inaugura um traço no inconsciente que só se inicia se o
objeto (infantil) tornar-se imprestável (na puberdade).

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O CONCEITO DE SEXUALIDADE EM
FREUD
 Para a subjetividade advir numa criança é preciso que haja um lugar simbólico para ela
conferido por seus pais ou cuidadores desejantes. Ao nascer ela entra em contato com
esse mundo regido por um vazio e um em torno cheio de simbolizações. Mesmo sem
entendê-las, cresce marcada por este vazio que funda o desejo e vai constituindo sua vida
psíquica. Constrói seu Eu, investe em objetos destacados de seu corpo, consegue se
reconhecer como diferente de outro, passa a usar elementos simbólicos para estabelecer
comunicação, as palavras, se coloca na partilha dos sexos como menino ou como menina,
identifica-se e escolhe seu objeto sexual, constrói sua história, sua ficção e se posiciona no
mundo sob tal regência, constrói sua estrutura psíquica, cresce e aparece.

por Ana Paula Lettiere Fulco 48


O CONCEITO DE SEXUALIDADE EM
FREUD
 Só que todo este percurso subjetivo de tornar-se alguém é teorizado em psicanálise com o auxílio
de palavras construídas enquanto conceitos, que ao serem articulados podem ser expressos assim: é
pela sexualidade que o ser humano pode construir sua subjetividade, passando da condição de
desamparo, quando nasce, a uma vida erótica e amorosa na relação com os outros. Isso só ocorre se
houver alguém que se disponha acolher este "infante" numa vida simbólica, ou seja, no campo de
linguagem, no das representações, mas, não é só da palavra articulada que se trata e sim no campo
da sedução. A sedução é esse voto amoroso que se transmite pela voz, pelo olhar, pelo tocar que
sinaliza a presença simbólica de um Outro desejante. Presença simbólica não é a mesma coisa que
presença física. É sob influência da sedução, que é necessário, nos diz Freud, que a criança possa
tornar-se perversa-polimorfa, ou seja tentando obter prazer de várias formas e ser induzida a todas
transgressões possíveis.

por Ana Paula Lettiere Fulco 49


O CONCEITO DE SEXUALIDADE EM
FREUD
 Freud nos diz que para que a subjetividade nasça é preciso um acolhimento
necessário por parte de alguém que se ocupe efetivamente da criança. Esse
acolhimento implica em organização da vida erótica de um sujeito, através das
identificações com este outro, através de um voto de amor que se reafirme
através de um lugar na vida familiar, através do reconhecimento de um filho,
onde o sujeito possa ir construindo para si uma identidade sexual que marcará
seu corpo e lhe dará um nome.

por Ana Paula Lettiere Fulco 50


O CONCEITO DE SEXUALIDADE EM
FREUD
 Num primeiro instante este infans - estado de criança que ainda não fala, ou
fala imperfeitamente - é pura pulsão, que pode comparecer através de uma
necessidade básica, a fome, por exemplo. Aos poucos, a criança demonstra o
movimento da pulsão investindo em objetos, seu próprio Eu é um deles até se
localizar na partilha dos sexos como menino ou menina em relação a castração.

por Ana Paula Lettiere Fulco 51


O CONCEITO DE SEXUALIDADE EM
FREUD
 A criança, ao brincar, fantasia, cria, dá contorno a sua fantasia sexual, exercitando sua
perversão polimorfa, que será parâmetro de sua existência subjetiva. Ela faz isso até o
momento em que ocorre o recalque. O recalque é feito um limite dado à criança pelo fato
dela constituir sua vida em grupo. A cultura exige que se recalque o erótico, a obscenidade
presente no erotismo. O inconsciente é onde se aloja o resíduo da experiência erótica
entre criança e a mãe. Não é só a cultura que faz o recalque funcionar: a mãe, com a qual
a criança exercita sua perversão polimorfa, num primeiro momento, não pode estar
presente, nesta relação o tempo todo. Isso (a ausência) é importante para que a criança
passe a fantasiar aquilo que foi seu contato íntimo com a mãe.

por Ana Paula Lettiere Fulco 52


O CONCEITO DE SEXUALIDADE EM
FREUD
Esse paradoxo entre presença e ausência do outro constitui a hiância necessária à criança para
que constitua para si, passo a passo, algum sentido para sua existência na medida em que vai
dominando o campo da palavra, colocando em cena sua fantasia de sedução, que é fundamento
de sua existência enquanto sujeito psíquico. Esta falta perpassa a vida humana através dos
questionamentos: "quem somos? de onde viemos? por que a morte?", seja pela criança que, ao
ver esse vazio materializar-se no corpo da mãe através da ausência do pênis, pode supor sua
imortalidade no fato de alguns terem pênis, dado à morte a conotação imaginária de uma
castração. A presença da falta no corpo serve de contorno ao fantasma da morte, além de trazer
à luz a questão "de onde vêm os bebês? Teorias sexuais são inventadas para manter
desconhecida a castração, até as crianças se depararem com a ausência de pênis na menina.

por Ana Paula Lettiere Fulco 53


O CONCEITO DE SEXUALIDADE EM
FREUD
 O Complexo de Édipo adquire seu valor conceitual articulando falta e a diferença dos
sexos, o desejo e a lei, a castração e a angústia. Articulado ao complexo de castração, o
Édipo se reordena – em torno da ameaça de castração para o homem e da inveja do
pênis para a mulher – articulando a falta com o complexo de Édipo. Para o menino,
trata-se da ameaça de castração pelo pai que viria a castrar o filho por desejar ficar com
a mãe (ter a mãe só para si); para a menina, a inveja do pênis que supõe que iria
satisfazer a mãe. Falta que dá selo à sexualidade e que adquire no falo seu significante
primordial, sua significação da castração. Há duas vertentes da falta: a falta causa de
desejo e a que cria a angústia de castração, mostrando aí o mal-estar do sujeito.

por Ana Paula Lettiere Fulco 54


O CONCEITO DE SEXUALIDADE EM
FREUD

 O propósito neste trabalho era falar da sexualidade em Freud a


partir da ótica Lacaniana. Para tal, privilegiou-se esclarecer alguns
pontos fundamentais para a interpretação do texto freudiano o
que provavelmente deixou de fora algo sem prejudicar o rigor
conceitual. Sem a pretensão de esgotar o assunto, sugiro a
consulta ao texto freudiano.

por Ana Paula Lettiere Fulco 55



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Este texto fora publicado anteriormente em francês num volume intitulado Essais de lingistique générale (Paris, Les Editions de Minuit, 1963), traduzido e prefaciado por Nicolas Ruwet.

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