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INTRODUÇÃO
O processo de treinamento e desenvolvimento nas organizações vem se apresentando
como um importante subsistema da psicologia organizacional, juntamente com o
processo de recrutamento e seleção.
Considerando que o recrutamento e seleção pode nem sempre obter êxito em seu
objetivo de identificar plenamente o candidato adequado à vaga, o processo de
treinamento e desenvolvimento surge com o objetivo de preencher as lacunas deixadas
pelo processo de seleção. Nesse sentido, o papel do treinamento e desenvolvimento
seria agregar ao trabalhador condições tais que ele possa desempenhar suas
atividades de forma satisfatória.
Mas seria apenas esse o objetivo do treinamento e desenvolvimento: promover um
melhor desempenho do trabalhador? Seria possível pensarmos o treinamento
organizacional a partir de outras possibilidades também?
Partindo do sentido da palavra “treinamento” apontada pelo dicionário, qual seja: “1. Ato
de se treinarem ou adestrarem pessoas ou animais para torneios ou festas de esportes;
adestramento. 2. Adestramento em qualquer ramo de atividades; destreza,
treinamento, adestramento” (Ferreira, 1999, p. 195), pode-se dizer que a palavra
“treinamento” era bem aplicada nesse período, relacionando-se a “modelar” o homem
à sua atividade, “ajustá-lo” ao processo fabril.
Seja como for, o processo de treinamento se tornou um processo sistemático nas
organizações a partir desse período e se intensificou com as produções em série
(fordismo) (final do século XIX e início do século XX).
Século XX
A partir de 1930, o treinamento começa a se tornar um processo estratégico nas
organizações, uma vez que as mudanças no mundo do trabalho já despontavam.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo começa a repensar seus valores, e o
mundo do trabalho também entra em um processo de transformação. Os países, as
cidades, as empresas, assoladas pela guerra, precisavam se reconstruir.
Anos 1980
Novos paradigmas do trabalho surgem a partir de:
- Globalização; - Competitividade
- Avanços tecnológicos, entre as
principalmente a empresas.
- Flexibilização do
comunicação;
trabalho.
A globalização não se restringe a setores específicos de negócios ou grandes
empresas. Empresas que não possuem operações internacionais podem comprar ou
utilizar bens produzidos em outros países, contratar funcionários de outros continentes
ou competir com empresas estrangeiras dentro do seu próprio país.
A tecnologia, por sua vez, vem facilitando a expansão dos negócios, integrando
pessoas, empresas e ... conhecimentos. A Internet permite que dados e informação
estejam acessíveis e disponíveis em todo o mundo ao mesmo tempo. Além da Internet,
e-mail, videconferência, celular possibilitam a realização de negócios e a troca de
informações a milhares de quilômetros umas das outras.
Estas questões promoveram mudanças também na aprendizagem dos trabalhadores.
Estes, hoje, são requeridos a exercer múltiplas funções, o que requer múltiplas
habilidades técnicas. Além disso, são também requeridos a investirem sua
subjetividade nos processos de trabalho, através da criatividade, intuição, inovação,
bem como o trabalho em equipe, entre outros.
O processo de treinamento e desenvolvimento passou a ser referenciado como um
processo altamente estratégico nas organizações, tendo em vista o avanço cada vez
maior e frequente das tecnologias, da expansão das fronteiras internacionais e da
competitividade que tomou conta do cenário corporativo, levando à criação de novos
produtos e serviços com frequência.
Com um foco estratégico, o desenvolvimento das pessoas nas organizações passou a
ser investido por um conjunto de ações planejadas e calculadas, visando atingir o
objetivo de potencializar a condição das pessoas, para então potencializar a condição
da empresa frente aos demais concorrentes (Noe, 2015).
O papel do treinamento foi ampliado de uma mera operação de máquinas para um
processo de aprendizado amplo, contínuo e integral do trabalhador, envolvendo várias
facetas, metodologias e tecnologias.
Treinamento: volta-se para o presente, para o cargo atual, quase sempre a nível
individual, procurando desenvolver competências para desempenho imediato no cargo.
Seus objetivos são mais restritos e imediatos, visando dar à pessoa elementos
essenciais para o exercício de um cargo, preparando-a adequadamente.
Desenvolvimento: visa ampliar, desenvolver e aperfeiçoar a pessoa para seu
crescimento pessoal e profissional em determinada carreira na organização. Seus
objetivos perseguem prazos mais longos. Volta-se para o futuro.
Os programas de treinamento “são projetados para o curto prazo, em função de
um propósito definido e específico, como operação de uma máquina ou
execução de uma determinada atividade, enquanto o desenvolvimento envolve
uma educação mais ampla para os propósitos genéricos e de longo prazo”
(CHIAVENATO, 2009, p. 41).
1: O DIAGNÓSTICO DE NECESSIDADES
O diagnóstico de necessidades é um passo fundamental para a elaboração de um novo
treinamento e na revisão dos treinamentos já existentes. Trata-se de compreender as
lacunas existentes na organização, nas pessoas e/ou nas tarefas, para a partir daí
planejar o processo de treinamento e desenvolvimento.
Assim, essa fase envolve a análise da organização, das pessoas e das tarefas.
No que se refere à organização se verificará: a estratégia de negócios da empresa,
seus objetivos e metas.
No que se refere às pessoas, se analisará o que uma pessoa sabe e faz e o que ela
deveria saber e fazer para realizar de forma adequada as responsabilidades do cargo.
Em relação às tarefas, cabe verificar se o modo como uma tarefa é realizada está em
harmonia ou desarmonia com um modo mais eficaz ou de melhor resultado. Nesse
caso, o treinamento se voltará para o desenvolvimento de novos procedimentos de
trabalho ou comportamentos, habilidades etc que levem a um modo de fazer mais
satisfatório.
Enfim, o diagnóstico visa compreender a lacuna existente entre as competências
disponíveis e existentes em determinado momento na organização e as competências
necessárias. Desse modo, se verificará quem precisa de treinamento, qual o conteúdo
e o modelo de treinamento a ser aplicado.
O diagnóstico de necessidades voltará os olhos para os problemas atualmente
existentes na empresa e como podem ser solucionados pela via do treinamento.
Ao realizar um diagnóstico, sua função é determinar se o treinamento é a solução mais
apropriada para o problema detectado.
O diagnóstico com fins de treinamento e desenvolvimento precisa ser elaborado de
forma adequada, dentro da realidade da organização e do campo social e econômico
no qual ela se encontra. Se o diagnóstico não for conduzido corretamente, uma ou mais
das situações abaixo pode acontecer:
❖ O treinamento pode ser aplicado erroneamente como uma solução para
um problema, que, em realidade, requeria apenas mudança de cargo,
reajuste salarial, melhor comunicação de expectativas de desempenho
etc.
❖ Os programas de treinamento terão conteúdo, objetivos ou métodos
errados.
❖ Os funcionários serem enviados ao treinamento sem os pré-requisitos
básicos para que a aprendizagem ocorra, inclusive a motivação.
❖ O treinamento não apresentará os resultados esperados.
❖ Os custos que envolvem o treinamento serão desperdiçados.
O objetivo não deve descrever desempenhos que não possam ser observados
concretamente, como “compreender”, “saber” etc.
O objetivo de treinamento possui três componentes, segundo Noe, (2015, p. 166)
- Desempenho ou resultados esperados (o que se espera que o funcionário faça)
- Critério (qualidade ou nível do desempenho)
- Condições para sua realização (condições sob as quais se espera que o
funcionário alcance o resultado desejado)
Exemplo:
Necessidade detectada: problema de comunicação dos gerentes com seus subordinados, mais
especificamente no que se refere à dificuldade no feedback para com os liderados.
Objetivo: Após o treinamento, os gerentes devem ser capazes de realizar feedback aos seus
subordinados, dentro dos princípios de feedback compartilhados durante o treinamento,
independente de quando ocorrer a necessidade do feedback, ou seja, em condições formais –
avaliação de desempenho, por exemplo, ou condições informais – necessidade de feedback
em situações do dia-a-dia.
Exemplos de verbos para objetivos
Exemplos de objetivos
• Desenvolver uma equipe multifuncional que seja capaz de estabelecer-se em
um ambiente desafiador, para produzir melhorias nos resultados.
• Reduzir os defeitos nos produtos de 10% para 7%.
• Listar todos os nós de um DC-3 multi-switch corretamente, sem ajuda de um
manual como referência.
• Utilizar o software com 100% de precisão, tendo acesso ao guia rápido de
referência.
(*) Quando nos referimos ao “treinamento comportamental”, obviamente não nos referimos como
um processo de modelagem de comportamento, mas um processo de levar o participante à
reflexão sobre o comportamento atual e como esse comportamento impacta nas relações de
trabalho e vice-versa.
• Exposição
Metodologia mais antiga e tradicional. É o “aprender pela teoria”, é um método conceitual. Os
facilitadores apresentam conteúdos por meio da explanação oral, com a finalidade da
transferência de informações e conhecimentos. Por parte dos ouvintes, há uma atitude passiva
nesse método, o que acaba por caracterizá-la como via de mão única. Se objetivo é
frequentemente a atualização de conhecimentos como de uma lei, norma etc.
• Debate
O debate é uma metodologia que permite não apenas a reflexão conjunta acerca de temas
apresentados em leituras, exposição, apresentação de casos etc, como também permite a
integração entre os participantes, os quais podem ser de lugares ou setores diferentes da
empresa. Sua grande vantagem reside em promover a escuta ativa, o diálogo e a apreciação de
pontos de vista diferentes.
• Demonstração
A demonstração é uma metodologia de treinamento em que o indivíduo aprende vendo ou
tocando. Pode ser utilizada no lançamento de um produto novo, para os funcionários, de um
novo sistema operacional.
• Coaching
O princípio do coaching é o princípio da filosofia socrática: “todas as respostas estão dentro de
você”. No coaching, por meio de estímulos e provocações do coach (orientador), o coachee
(orientando) promove um trabalho de autoconhecimento, de achar suas próprias respostas para
aquilo que precisa alcançar. Vale ressaltar que o coach não aconselha, mas lança mão de
ferramentas para que o coachee encontre o caminho da melhor forma para ele, dentro das
demandas organizacionais. O coaching ocorre pela criação da confiança entre orientador e
orientando, além de utilização de meios como a prática do feedback, tarefas a serem executadas
etc.
• Simulação
A simulação é uma técnica de desenvolvimento que consiste na “imitação” mais próxima possível
da realidade do trabalho. É o ato de aprender pela imitação da realidade. São exemplos dessa
metodologia: os simuladores de voo, as lojas-escola, os hotéis-escola, os restaurantes-escola,
as brigadas do corpo de bombeiros etc. Pode ser online (via Internet ou Intranet) ou presencial.
• Estudo de caso
Trata-se da aprendizagem pela análise de casos organizacionais, de modo a estimular a
capacidade crítica dos funcionários, a resolução de questões e o debate.
• Dramatização (role-playing)
É uma metodologia atraente quando se pretende desenvolver determinadas atitudes nas
pessoas, propiciando um novo olhar sobre si mesmo, sobre o outro, sobre a situação. Regido
pela ação dramática, permite a recriação de cenários organizacionais, a partir de um tema
levantado no diagnóstico do treinamento, com a encenação de papeis pelos participantes e
“dirigido” pelo facilitador. Ao final, é de suma importância o compartilhamento das experiências,
sentimentos e reflexões vivenciados pelo ato dramático.
• Oficinas de trabalho
O que se denomina como oficina de trabalho refere-se a uma troca, a um compartilhamento de
experiências, saberes, habilidades, em prol de um objetivo a ser cumprido. A construção coletiva
de um projeto, de um programa, de um documento, diretrizes organizacionais, códigos de ética
etc. constitui-se como oficinas de trabalho. As oficinas podem ser mediadas ou orientadas por
pessoas com domínio do tema em questão ou pelo menos suas bases.
• Benchmarking
O benchmarking consiste na observação dos processos e experiências vivenciadas em
empresas externas ou setores internos da própria empresa, as quais são tomadas como práticas
corporativas modelo e que se servem à aprendizagem e adaptação dos aprendizes.
• Participação em projetos
É um método de aprendizagem em que funcionários de setores variados (ou do mesmo setor)
são convidados à elaboração e implementação de um projeto na organização. A aprendizagem
por participação em projetos desenvolve a visão sistêmica, o compartilhamento de
conhecimentos e habilidades, a criatividade, relacionamento interpessoal, entre outras
competências.
• Jogos
O aprendizado baseado em jogos, pode-se dizer que reúne educação + entretenimento. Nesse
sentido, trata-se de transmitir conteúdos, simular situações metaforicamente comparáveis às
situações organizacionais, promover a reflexão, desenvolver a criatividade, através de jogos, que
podem ser online ou atividades presenciais.
• Gincana
A aprendizagem através de gincanas (competição entre pessoas/grupos) é útil para o
desenvolvimento do planejamento, senso de grupo, liderança etc.
• Cine pipoca
Consiste na realização de sessões de cinema durante o período de trabalho, com o objetivo de
despertar e refletir acerca de temáticas levantadas durante o diagnóstico de treinamento.
Geralmente é seguido de um debate entre os participantes, mediado por um facilitador.
O conteúdo do treinamento deve estar pertinente, da mesma forma que os demais itens, aos
objetivos que se deseja atingir, ao público-alvo e à metodologia utilizada.
O conteúdo deve ser cuidadosamente selecionado visando os critérios acima, caso contrário
pode colocar a perder todo o processo de treinamento.
É importante que, ao se desenhar o programa de treinamento, se pergunte se aquele conteúdo
responde aos objetivos propostos. Da mesma forma, é necessário verificar se ele atenderá, em
sua linguagem, formato, canal de comunicação, às expectativas do público participante.
O tempo de duração do treinamento, por questões óbvias, também dependerá dos objetivos do
treinamento e, consequentemente, do seu conteúdo e da metodologia a ser aplicada, bem
como do público-alvo que se deseja atingir.
É importante ver que o tempo que algumas empresas disponibilizam os seus funcionários para
treinamento nem sempre é o tempo adequado à realização deste. Cabe ao elaborador do
programa/instrutor esse ajustamento, propondo a execução do treinamento em partes (dias
diferentes) ou outras formas.
3: EXECUÇÃO DO TREINAMENTO
Momento da aplicação do treinamento, conforme o planejado no desenho.
O momento da aplicação do treinamento requer envolvimento de todos os que se relacionam
com o treinamento: participantes, instrutores, elaboradores do projeto, pessoal de apoio,
gestores.
Plano de aula: é importante a elaboração de um plano de aula, contendo: objetivo e conteúdo
de cada sessão do treinamento; metodologia detalhada, incluindo os passos específicos
relacionados ao treinamento; materiais e equipamentos necessários para cada atividade;
tempo de duração de cada atividade, como será realizada a avaliação do treinamento. O plano
deve contemplar também horários dos intervalos ou outras atividades extra-aula.
4: AVALIAÇÃO DO TREINAMENTO
Kirkpatrick (apud Melo et al, 2015) afirma que avaliar significa analisar:
▪ As mudanças de comportamento decorrentes de um programa de treinamento;
▪ A verificação dos resultados havidos em consequência do treinamento;
▪ Os comentários produzidos pelos participantes ao final do programa de treinamento.
Vale ressaltar que não há um modelo de avaliação completo e adequado para todas as
situações. Cada modelo tem seus pontos fortes e fracos. Assim, há a necessidade de uma
compreensão melhor da natureza da avaliação e de sua finalidade, bem como dos aspectos do
treinamento considerados relevantes pelos participantes e pela organização.
Ao se proceder à avaliação de um treinamento, é preciso atentar que este deve proporcionar
resultados nos seguintes níveis:
No nível da organização No nível dos recursos No nível das tarefas e
humanos operações
Aumento da eficácia Redução do turnover Aumento da produtividade;
organizacional; (rotatividade de pessoal);
Melhoria da imagem da Redução do absenteísmo Melhoria na qualidade dos
empresa frente ao mercado e (faltas de pessoal); produtos e serviços;
aos clientes;
Melhoria do clima Melhoria no modo de o Redução ou otimização do
organizacional; funcionário realizar suas fluxo de produção;
atividades;
Melhor relacionamento entre Aumento das habilidades da Redução do índice de
empresas e funcionários; pessoa; acidentes;
Etc. Aumento dos conhecimentos Redução no índice de
da pessoa; manutenção de máquinas e
equipamentos;
Melhoria no aspecto Etc.
relacional/comportamental
dos funcionários;
Etc.
Para que a avaliação do treinamento impacte nesses diversos níveis acima, ela pode ocorrer
de várias formas, entre elas:
1) Avaliação de reação: Trata-se de uma avaliação imediatamente pós-treinamento, visando
verificar o nível de satisfação do participante com relação ao treinamento. Inclui avaliação: do
instrutor, da metodologia de treinamento, do local de treinamento, do tempo de duração do
treinamento, entre outros itens (ver modelo de avaliação de reação anexo).
2) Avaliação de aprendizado: verifica se o participante adquiriu novos conhecimentos, novas
percepções sobre suas atitudes, adquiriu novas habilidades etc. A avaliação pode ser realizada
através de questionário antes e depois do treinamento.
3) Avaliação de desempenho: avalia o impacto do treinamento no trabalho da pessoa através
das novas habilidades de aprendizagem e adoção de novas atitudes. Pode ser medido através
de índices de acordo com o que se pretendia com o treinamento, através de avaliação de
desempenho, bem como por observações, etc.
4) Avaliação de resultados no negócio da empresa: se diminuiu a rotatividade de pessoal,
se melhorou a imagem da empresa no mercado, realizada através de pesquisa de mercado,
pesquisa de satisfação do cliente etc.
5) Retorno do investimento (ROI): Significa o valor que o treinamento agregou à organização
em termos do retorno sobre o investimento feito. Pode ser realizado efetuando uma análise do
custo do treinamento e os resultados financeiros obtidos com sua execução.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EVENTO: DATA:
LOCAL: INSTRUTOR:
Objetivo do Treinamento:
Atualização Adquirir novos conhecimentos sobre tecnologias Aprimorar habilidades
comportamentais Outros. Quais?___________________
COMENTÁRIOS/OBSERVAÇÕES:
ANEXO 2: