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AULA 3

SEXUALIDADE HUMANA

Prof.ª Evelyse Iwai dos Reis Teluski


TEMA 1 – O INCONSCIENTE

A contribuição dos estudos de Sigmund Freud foi decisiva para que hoje
fosse reconhecida a existência da sexualidade infantil. Formado em neurologia,
Freud dedicou-se a estudar a neurose e organizou uma teoria chamada
psicanálise. Até a época de Freud, os tratados de sexologia do século XIX
apontavam para os perigos da sexualidade, sendo a causadora de doenças
nervosas, fazendo da sexualidade algo a ser combatido e difícil de ser inserida na
vida como natural.
A edição de 1905 dos Três ensaios sobre a sexualidade afirma com maior
ênfase que a sexualidade nasce paralela a uma atividade vital. Souza (1997)
retrata que a sexualidade nasce apoiada numa função biológica, e a característica
dessa análise traz a noção fundamental de sexualidade para a psicanálise.
Freud, que desmonta alguns conceitos e evoluciona o entendimento sobre
a concepção biológica separada da subjetividade, distinguiu a normalidade de
anormalidade, elucidando que tinha influências de ordem biológica, estatística,
moral e social.
As superfícies do corpo são encarregadas de uma função vital, das quais
surge a sexualidade.
Freud criou a teoria do funcionamento mental. Durante muito tempo, os
problemas mentais eram tratados como doenças exclusivamente físicas. Alguns
médicos, como o francês Jean Martin Charcot, usavam a hipnose para curar suas
pacientes. Ocupando-se dos estudos sobre a paralisia surgidas depois dos
traumas, Charcot descobriu que essas paralisias eram consequências de
representações do psiquismo.
Freud, não satisfeito com o método da hipnose, se dedicou ao estudo do
inconsciente, por meio do método da livre associação. Fundou a psicanálise e
defendeu a ideia de que os desequilíbrios emocionais eram consequência de um
complexo aparelho psíquico, dinâmico de forças antagônicas.
As reflexões de Freud sobre o inconsciente em 1915 tiveram destaque
dentro de sua teoria psicanalítica, juntamente com os temas sexualidade,
psicoses, histeria, sonhos etc. Com efeito, possibilitou muitas curas método
fundado por Freud.
A psicanálise deu início ao entendimento das neuroses e formulou ideias
revolucionárias sobre a mente e o inconsciente. Freud, considerado o pai da

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psicanálise, revolucionou a medicina com seus conceitos sobre o significado dos
sintomas. A descoberta predominante de Freud é a de que o sintoma nos
possibilita compreender a doença.
Criou o termo instâncias psíquicas, cujas funções estão interligadas entre
si, representando estruturas na mente e chamou-as de aparelho para mostrar
essa organização psíquica dividida em sistemas, cujas funções estão interligadas
entre si, representando estruturas na mente.
Volpi e Volpi (2003) mostram que a teoria de Freud passou por fases:
inicialmente formulou a primeira tópica, conhecida como teoria topográfica, e
posteriormente trouxe a segunda tópica, conhecida como teoria estrutural ou
dinâmica. Propôs que o aparelho psíquico é constituído por investimentos
energéticos em três sistemas: o inconsciente, o pré-consciente e o consciente.
Segundo Sigmund Freud (1976), o pré-consciente está localizado entre o
inconsciente e o consciente, as informações transitam do inconsciente para o
consciente e vice-versa, e tem a possibilidade de tornar-se consciente de forma
fácil. Volpi e Volpi (2003) destacam que as características do pré-consciente são:

• Elabora sucessão cronológica das representações;


• Preenchimento de lacunas entre ideias isoladas.

O sistema inconsciente é a parte mais antiga do aparelho psíquico. Volpi e


Volpi (2003) afirmam que o inconsciente, conhecido por meio de sua expressão
do consciente, é considerado a matéria viva da vida psíquica, onde estariam os
elementos instintivos não acessíveis à consciência. O material que foi excluído da
consciência pelos processos psíquicos atua por meio do chamado processo
primário englobando um conjunto de mecanismos de censura e repressão. Essa
energia censurada não permite ser lembrada, mas não se perde, permanecendo
no inconsciente. Segundo a teoria freudiana, a maior parte do aparelho psíquico
é inconsciente.
Volpi e Volpi (2003) retratam as regras de funcionamento do inconsciente:

• Ausência de cronologia;
• Ausência de contradição;
• Predomínio do princípio do prazer;
• Igualdade de valores para o mundo interno e externo.

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O consciente é responsável pela percepção do mundo psíquico, inclui tudo
de que estamos cientes e é um amortecedor das sensações, trazendo consciência
atualizada e impressões do mundo interno e externo.
No desenvolvimento do seu trabalho, a teoria do inconsciente permitiu o
entendimento da formação de trauma do indivíduo. Na investigação da origem dos
traumas, ele apresentou que o início dos conflitos está na repressão sexual sofrida
pelos indivíduos na fase infantil.
Característica do inconsciente:

• Nunca foram conscientes;


• Informações excluídas que não podem ser lembradas;
• Lembranças traumáticas.

TEMA 2 – CONCEITOS SOBRE A SEXUALIDADE

Na teoria sexual de Freud, a organização da sexualidade de forma mais


ampla tem a força da estruturação do próprio psiquismo. Com isso, Freud
abandona o polo da biologia para aproximar-se de uma percepção cada vez mais
psíquica da sexualidade. A obra Três ensaios sobre a sexualidade foi motivada
pelas observações clínicas da importância de fatores sexuais na neurose de
angústia e na neurastenia (Volpi; Volpi, 2003).
Volpi e Volpi (2003) mostram que Sigmund Freud definiu alguns conceitos:

• Pulsão: impulso energético interno que direciona o comportamento do


indivíduo;
• Objeto sexual: ação para qual a pulsão impele;
• Zona erógena: partes do corpo que produz sensação prazerosa.

2.1 Pulsão

Freud, em 1916, trouxe o conceito de pulsão como energia situada na


fronteira entre o mental e o somático, uma representação psíquica dos estímulos
que se originam no corpo alcançando a mente, estimulando a busca pela
satisfação.

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2.2 Objeto sexual

O objeto real ou imaginário pode servir de alvo de uma pulsão. Ex.: a


energia libidinal pode ser dirigida para uma ação, pensamento ou sentimento.

2.3 Zonas erógenas

Volpi e Volpi (2003) ressaltam que estimulações de uma parte da pele ou


da mucosa podem provocar sensações prazerosas de determinada qualidade.
Todo corpo tem a potencialidade de ser erógeno; a zona erógena desloca-se de
uma parte para outra do corpo ou espalha-se por todo ele, como no caso da
histeria, em que o prazer derivado da região genital propriamente dita está
recalcado.
O alvo sexual da pulsão infantil consiste em provocar a satisfação mediante
a estimulação apropriada da zona erógena: que de algum modo foi escolhida. Ex.:
na zona labial, a ação adequada é o sugar, e na sequência do desenvolvimento
das outras zonas, as ações musculares serão substituídas

2.4 Libido

Libido é um vocábulo latino que significa desejo, inclinação, vontade,


apetite ou paixão. Volpi e Volpi (2003) mostram que, no enfoque psicanalítico, a
libido equivale à intensidade da energia dinâmica dos instintos sexuais. A libido,
nas primeiras fases da vida do indivíduo, apresenta-se como instinto de
sobrevivência, como no ato da amamentação. Cada fase do desenvolvimento oral,
anal, fálica genital tem uma relação com a intensidade da libido no corpo. Com o
tempo, a libido separa-se das funções fisiológicas até chegar à descoberta do
objeto.
O termo sexual, em psicanálise, é entendido como tudo que tenha o prazer
como meta, e não apenas o aspecto genital. Volpi e Volpi (2003) ainda trazem o
entendimento de que tudo que é genital é sexual, mas nem tudo que é sexual é
genital.
A libido é a energia responsável pela energia motriz dos instintos vitais, ou
seja, toda conduta ativa e criadora do homem. Essa força movimenta o ser
humano e está presente no nosso desenvolvimento psíquico desde o primeiro
contato com o mundo.

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Na teoria psicanalítica, Freud retrata a libido como uma energia originada
nas pulsões, direcionando o comportamento humano. Sua teoria mostra que a
libido se faz presente em todas as experiências sensoriais da infância, refletindo-
se nas sensações de prazer e desprazer.

• Libido do ego: também chamada libido narcísica, é a libido que é trazida de


volta ao interior do ego, após ter sido retirada dos objetos;
• Libido do objeto: é a libido psiquicamente empregada para investir os
objetos sexuais (Volpi; Volpi, 2003).

Características da atividade sexual infantil:

• Nasce apoiando-se numa das funções somáticas vitais;


• É auto erótica, não conhecendo nenhum objeto sexual;
• Seu alvo sexual acha-se sob o domínio de uma zona erógena.

A vida sexual infantil é especialmente autoerótica, encontrando-se seu


objeto no próprio corpo e sendo suas pulsões parciais e independentes entre si,
sendo pré-genital na medida em que a zona genital ainda não assumiu o seu papel

TEMA 3 – DINÂMICA MENTAL

Na segunda tópica de Freud, foi estabelecida a concepção do aparelho


psíquico, conhecido como modelo dinâmico. Dentro das instâncias, inconsciente,
pré-consciente e consciente, podem ser localizadas outras três instâncias: o id, o
ego e o superego.
O id se encontra mergulhado no inconsciente também caracterizado como
componente biológico, o ego definido como componente psicológico, e o superego
podendo ser definido como componente social (Hall; Lindzey, 1973).

3.1 O Id

O id se integra pela totalidade dos impulsos instintivos. Volpi e Volpi (2003)


retratam que o id, como a tendência de unificar o somático e o psíquico, tem a
conexão com o biológico existente em cada sujeito, é um reservatório, fonte de
energia psíquica. Sendo regido pelo princípio de prazer, o id busca
constantemente (é uma necessidade ou desejo do id) tornar-se uma fonte de
tensão geradora do impulso, e só é aliviada quando essa necessidade encontra
satisfação. A função é redução de tensão.

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3.2 O Ego

O ego pode ser modificado pela influência do mundo externo, curso de


relação com o meio ambiente, adiamento da satisfação, influência do mundo
externo, forçando o id a substituir o princípio de prazer que ali reina pelo princípio
de realidade.
Volpi e Volpi (2003) apresentam as principais funções do ego:

• Coordenação de impulsos internos, garantindo a expressão do mundo


interno sem conflitos;
• Percepção dos estímulos e adaptação a realidade;
• Unificação impulsos contrários do Id em sentimentos e ações aceitáveis.
No ego, a percepção desempenha um papel que no id é o instinto, sendo
assim o ego representa razão e senso comum. Para Freud (1976), o ego tem
origem no inconsciente, sendo a instância psíquica de principal importância. A
função do ego é mediar, integrar, harmonizar os desejos do id e as exigências e
ameaças do superego e as demandas da realidade.

3.3 O superego

O superego representa restrições morais (os impulsos para a perfeição,


incorporando no ego as identificações e proibições parentais) e sociais (valores
morais, éticos, ideais preconceito, crença da cultura): “O superego é de origem
totalmente inconsciente, ditado e composto por objetos internos. O seu efeito:
gerador de culpas resultando angústia e medo” (Zimerman, 1999, p. 84).
Volpi e Volpi (2003) apresentam suas principais funções:

• Auto-observação;
• Consciência moral;
• Censura dos sonhos;
• Repressão;
• Exaltação dos ideais.

Na vida civilizada, ocorre uma luta inerente entre o princípio do prazer e o


princípio de realidade. A criança, quando nasce, é regida pelo princípio do prazer.
Toda energia é direcionada para a satisfação do organismo. A energia sai do
interior do corpo em direção à periferia em busca do prazer. Mas com o
desenvolvimento o organismo, começa a se frustrar na busca de prazer, quando

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então se instala o princípio de realidade. As experiências vão se configurando
como boas ou ruins, prazerosas ou desprazerosas. Se o desenvolvimento ocorrer
de forma saudável, as experiências boas e ruins vão se integrando de forma total.
As energias de desejos, oriundas do id, devem chegar ao nível do ego para
que este possa articular ações das necessidades então impostas.
A meta fundamental da psique é manter um nível aceitável de equilíbrio
dinâmico que aumenta o prazer e diminui o desprazer. A energia que é utilizada
para movimentar todo sistema nasce no id, que é de natureza primitiva, instintiva.
O ego, que emerge do id, existe para lidar com a realidade e as pulsões básicas
do id e agindo ainda como mediador entre as forças que operam no id e no
superego e as exigências da realidade externa. O superego, emergindo do ego,
atua como um freio moral ou força contrária aos interesses práticos do ego,
estabelecendo uma série de normas e regras que definem e limitam a flexibilidade
deste último.
Nesses termos, o propósito é o fortalecimento do ego.
Nunes (1997) retrata que um indivíduo formado sob uma pressão muito
forte do superego no campo sexual faz com que o id, seu reservatório energético,
acumule excesso de energia e ocasiona uma tensão enorme. Biologicamente o
físico reclama um objetivo, que, embora se descubra em processo primário
(sonhos noturnos, conversas no sonhar), anseia por uma real satisfação de si
próprio. Entende-se sexualidade por toda abrangência afetiva da palavra. O ego,
encarregado pelo processo secundário de dirigir-se à realidade, é afetado por uma
pressão muito grande do superego, pois tudo que é sexual lhe é ensinado como
mau e reprovável, mesmo o relacionamento afetivo com outra pessoa. O processo
secundário não responde ao ID no que ele exige; o ego não satisfaz por uma força
muito grande do superego. O social torna-se maior que o biológico (Id) e o
psicológico (ego).
Assim, todo esse conflito de origem sexual é gerador de muita angústia,
novamente vemos as forças da instância biológica e cultural trazendo maiores
reflexões.

TEMA 4 – MECANISMOS DE DEFESA

Para que o ego se mantenha integrado, o indivíduo recorre aos


mecanismos de defesas, que, segundo Freud, são universais: todas as pessoas
fazem uso dele, em maior ou menor intensidade.

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Os mecanismos de defesa são meios utilizados pelo ego para dominar,
controlar para regular a homeostase psíquica. As qualidades necessárias ao
funcionamento resiliente pressupõem a flexibilidade dos modelos de ajustamento
e de manejo de tais mecanismos, seguidas da criatividade nas formas de
adaptação para vencer a adversidade (Fenichel, 2000)
Do conflito entre prazer e desprazer surge a angústia, e para lidar com os
conflitos, surgem defesas, que têm como finalidade aliviar a tensão interior.
De um modo geral, a defesa incide sobre a excitação interna (pulsão) e,
preferencialmente, sobre uma das representações (recordações, fantasias) a que
está ligada, sobre uma situação capaz de desencadear essa excitação na medida
em que é incompatível com este equilíbrio e, por isso, desagradável para o ego.
Os afetos desagradáveis, motivos ou sinais da defesa, podem também ser objeto
dela.
Mecanismos de defesa são ações psicológicas que têm por objetivo reduzir
manifestações que ameacem a integridade do ego. Vejamos alguns mecanismos
de defesa de que o aparelho psíquico lança mão para lidar com a sexualidade.

4.1 Repressão

Um mecanismo de repelir e manter inconsciente pensamentos, imagens e


recordações ligadas à pulsão aversivos em áreas inacessíveis da mente
inconsciente. Também denominado recalque, é o mais importante dos
mecanismos de defesa, utilizado desde os anos iniciais. Afastamo-nos de
acontecimentos e situações com os quais somos incapazes de lidar no momento.
Mãe de todos os mecanismos de defesa, ao menor sinal de perigo para a
integridade psíquica, a repressão é utilizada pelo ego. A repressão é conceituada
como o bloqueio das energias do id no nível do inconsciente, sendo o mais
primitivo de todos os mecanismos de defesa. A repressão pode também produzir
distorções da realidade, como quando são bloqueadas as lembranças que
poderiam desencadear o escoamento de conflitos básicos para a consciência.
Nunes e Silva (2006) afirmam que o instinto sexual, de todos os instintos,
é o mais reprimido pela cultura e o que mais amplamente se manifesta, seja por
via neurótica ou sadia

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4.2 Negação

O mecanismo de defesa denominado negação tem como origem a


repressão. Bloqueia percepções do mundo real para evitar o sofrimento, ou seja,
as imagens têm acesso à consciência de modo parcial, contudo são negadas, o
que acaba sendo uma recusa da realidade dentro dos limites da consciência e a
criação de falsas situações para evitar enfrentar (Volpi; Volpi, 2003).
Nunes e Silva (2006) destacam o fenômeno da amnésia infantil que
acontece na maioria dos indivíduos, normalmente uma falta de memória sobre os
seis ou oito primeiros anos de vida.

4.3 Formação reativa

A formação reativa transforma atitudes, sentimentos e impulso em seu


oposto. Ex.: desejos sexuais intensos podem ser transformados em
comportamentos extremamente pudorosos. O indivíduo perderia seu controle
caso cedesse, portanto são sentidos como perigosos; ou seja, tem um sentido de
autopreservação em algo aceitável
Esse mecanismo fica muito em evidência no comportamento de pais e
educadores que lidam com a sexualidade de forma a reprimir, condenar e punir.

4.4 Projeção

Projeção é uma operação que o sujeito expulsa de si e localiza no outro. O


sujeito nega em si próprio características e qualidades que geram desconforto,
atribuindo-as ao outro (Almeida, 1996).
De acordo com Freud (1976), o efeito do mecanismo de projeção busca
romper a ligação entre os representantes ideativos das moções pulsionais
perigosas e o ego, impedindo que seja percebido deslocando para o mundo
externo.
Percebemos um grande incômodo numa parte da população no que diz
respeito à sexualidade alheia. Podemos identificar o surgimento da projeção,
como base de comportamentos e expressões de preconceito e julgamentos
relacionados a sexualidade.

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4.5 Racionalização

Direciona o organismo para a meta a ser alcançada por meio da


necessidade psíquica, recobrando o equilíbrio de maneira inconsciente,
selecionando e intelectualizando as situações (Almeida, 1996)
Almeida (1996) faz o alerta para não confundir racionalização com
pensamento racional. O pensamento racional leva a razões, ao passo que a
racionalização quer alcançar boas razões para explicar os comportamentos.
Observamos que a racionalização e sexualidade ficou muito presente no
período histórico em que a ciência tomou o controle da sexualidade e toda
explicação era de ordem científica. Ainda observamos esse mecanismo presente
em instituições e educadores quando criam medidas de educação sexual.

4.6 Sublimação

Volpi e Volpi (2003) revelam que a sublimação é a modificação de um


impulso, de forma a ser expresso em conformidade com as demandas do meio,
realizando as atividades humanas. A sublimação é um recalque bem sucedido,
integra e resolve a ambivalência de forma socialmente produtiva, entre
experiências boas e ruins, canalizando impulsos do id para uma postura
socialmente útil e aceitável. O ego se transforma sem bloquear a descarga
adequada.
A sublimação pode transformar passividade em atividade, invertendo os
objetivos no oposto (Fenichel, 2000), e acontece com ênfase na fase da latência,
quando as tendências sexuais da criança ficam desviadas totalmente ou
parcialmente de seu uso próprio e empregados em outros fins. Na vida adulta, a
capacidade de sublimação da libido não expressa, dependendo da intensidade,
pode ocasionar um afastamento da realidade. O equilíbrio está na capacidade de
satisfação direta da sexualidade e capacidade de sublimação (Albertini, 2003).

TEMA 5 – SEXUALIDADE E WILHELM REICH

Reich acreditava na afirmação de Freud de que a sexualidade era o ponto


central dos conflitos emocionais e colocava a repressão da libido como a causa
dos distúrbios físicos e emocionais. Com base no entendimento do funcionamento
psíquico das instâncias id, ego e superego, a teoria reichiana traz à compreensão
que essa dinâmica ocorre também no somático. A criança muito cedo busca o
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prazer e a satisfação, que são os impulsos e a força do id e vai adaptando sua
musculatura para conter esses impulsos de acordo com as situações de
proibições, ameaças com as quais vai entrando em contato no decorrer do seu
desenvolvimento emocional. Esse avanço do campo somático surgiu com Wilhelm
Reich, médico psicanalista austro-húngaro (1897-1957) que teve sua vida e obra
marcadas pelas propostas e engajamento social.
Nos anos de 1920, foi discípulo de Freud e participou ativamente do
movimento psicanalítico. Albertini (2003) retrata que Reich permaneceu na
associação psicanalítica por volta de catorze anos, onde aprendeu e desenvolveu
suas ideias, contribuindo com a sistematização da técnica terapêutica e
elaborando um conjunto de orientações técnicas que foi intitulado análise do
caráter. A psicanálise na década de 20 vai assumindo direções que vão contra as
percepções de Reich.
Reich foi considerado o autor da revolução sexual, foi muito polêmico e
trouxe muitas contribuições para o entendimento da importância da sexualidade
no desenvolvimento humano.
Os principais pontos da teoria de Reich estão em seu livro, escrito em
1942, A função do orgasmo, no qual ele apresenta os princípios de uma economia
sexual. Segundo Reich (1975), a saúde psíquica depende da potência orgástica,
isto é, da capacidade de entrega no auge da excitação sexual no ato natural. Reich
descobriu que a libido era mais que um conceito psíquico, mas uma energia
concreta presente no corpo.
Volpi e Volpi (2003) revelam que Reich desenvolveu a teoria da
autorregulação do organismo chamada potência orgástica, que, para o senso
comum, estava relacionada ao ato sexual, mas, para Reich, se relacionava num
âmbito maior, em que o indivíduo teria a capacidade de se entregar, livre de
quaisquer inibições, ao fluxo da energia biológica.
O sistema nervoso vegetativo é formado por dois sistemas nervosos
opostos: parassimpático e simpático. O parassimpático produz a expansão e o
simpático responsáveis pela contração do organismo. Esse ritmo pulsatório de
expansão e contração permeia todo universo. A doença mental e psíquica é um
resultado de uma perturbação na capacidade natural do organismo de equilibrar
essas funções.
As energias vitais, em condições normais, regulam-se espontaneamente,
sem dever compulsivo ou moralidade compulsiva. O comportamento antissocial é

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causado por impulsos secundários que devem sua existência à supressão da
sexualidade natural.
O autor ainda traz que a fonte da energia da neurose está na diferença
entre o acúmulo e a descarga da tensão. A fórmula seria a seguinte:
TENSÃO MECÂNICA→ CARGA BIOELÉTRICA →DESCARGA
BIOELÉTRICA →RELAXAMENTO.
De acordo com Nunes (1997, p. 44),

O indivíduo educado numa atmosfera que nega a vida e o sexo adquire


uma ansiedade-de-prazer (medo de excitação que dê prazer) que é
representada fisiologicamente em espasmos musculares crônicos. Esta
ansiedade-de-prazer é o solo em que o indivíduo recria as ideologias que
negam a vida.

A atmosfera de repressão sexual cria no indivíduo uma armadura corporal


denominada couraça, vista como uma confrontação da atitude social negativa
diante da vida e do sexo. Nunes (1997) ressalta que essa armadura do caráter é
a base da solidão, do desamparo, da ânsia de autoridade, do medo da
responsabilidade, os anseios místicos, a miséria sexual, da rebeldia impotente,
bem como da resignação de um tipo anormal e patológico. Os seres humanos
adotaram uma atitude hostil para o que é vivo dentro deles e, assim, alienaram-
se de si próprios. A couraça impede o contato com sentimentos e emoções
ameaçadoras, mas da mesma forma vai anestesiando para sensações de alegria,
prazer e vivacidade. Acaba sendo um aprisionamento do fluxo da energia de
vitalidade, pois esses bloqueios distorcem o organismo como um todo. A doença
na visão sistêmica reichiana é um processo de interrupção a vida.
Volpi e Volpi (2003) mostra que Reich descobriu ainda que a couraça
possuía uma sequência no corpo, que, ao liberar a musculatura, era possível
liberar emoções, sensações e lembranças que haviam acumulado ao longo da
vida do indivíduo, durante repressões ocorridas nas etapas do desenvolvimento.

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REFERÊNCIAS

ALBERTINI, P. Reich e a possibilidade do bem-estar na cultura. Psicologia USP,


v. 14, n. 2, São Paulo, 2003.

ALMEIDA, W. C. Defesas do ego: leitura didática de seus mecanismos. São


Paulo: Ágora, 1996.

FENICHEL, O. Teoria psicanalítica das neuroses. São Paulo: Atheneu, 2000.

FREUD S. O ego e o id. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

GABBARD, G. O. Psicoterapia psicodinâmica de longo prazo: texto básico.


Porto Alegre: Artmed, 2005.

HALL, C. S. LINDZEY, G. Teorias da personalidade. São Paulo: EPU, 1973.

NUNES, C. A. Desvendando a sexualidade. 2. ed. Campinas SP: PAPIRUS,


1997.

NUNES, C. et al. A educação sexual da criança: subsídios teóricos e propostas


práticas. 2. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2006.

REICH, W. A função do orgasmo: problemas econômico-sexuais da energia


biológica. São Paulo: Brasiliense, 1975.

VOLPI, J. U. H.; VOLPI, S. Da psicanálise à análise do caráter. Rio de Janeiro:


Centro Reichiano, 2003.

ZIMERMAN, D. E. Fundamentos psicanalíticos. Porto Alegre: Artmed, 1999.

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