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O abandono da hipnose

 A prática clínica de Freud o levou a abandonar a


hipnose por não ser uma técnica que conseguia
aplicar em todos os pacientes.
 Freud tentou então continuar com o método
catártico sem a utilização da hipnose, mas como
alcançar o nexo causal que o paciente
desconhece? Como rastrear a origem do sintoma?
 Freud então indagava os pacientes em estado de
vigília, despertos, a fim de realizar essa busca em
torno da origem do sintoma, e, na medida em que
os pacientes afirmavam nada saber mais sobre
isso, ele utilizava da sugestão para que os
pacientes falassem a respeito ou que tentassem se
lembrar. Freud percebeu então que não havia a
necessidade da hipnose e que, com alguma
dificuldade o paciente conseguiria lembrar dos
fatos.
 Esta dificuldade ele nomeou como resistência. A
resistência criava certa tensão e impedia os
conteúdos de se tornarem conscientes.
 Essa força dificulta o acesso das lembranças à
consciência também empurra os conteúdos para
fora da consciência. Freud chamou esse processo
de repressão.
O desejo e o conflito
 Os conteúdos das lembranças sempre estavam
relacionados, de alguma maneira, ao desejo, ou a
não satisfação dele por conta de um impedimento
(moral), ocasionando assim um conflito.
 Uma luta interna é iniciada até que esse desejo é
reprimido, ou seja, é colocado para fora da
consciência, junto com as lembranças que eram
relacionadas a ele. A repressão funciona então
protegendo o Eu do desconforto causado por esse
conflito interno.
Breve exemplo clínico
 Freud cita um exemplo para ilustrar esse
funcionamento. Uma paciente nutria uma afeição
pelo cunhado, marido de sua irmã mais velha.
Algum tempo após o casamento, essa irmã falece,
e, durante o velório, ocorre um pensamento, de que
agora o cunhado estaria livre para ela. Após esse
pensamento surgem os sintomas. Ela melhora
depois que se recorda desse pensamento que havia
ficado reprimido, devido à impossibilidade de
aceitação desse conflito moral na consciência.
Metáfora do funcionamento da
repressão
 Suponham que nesta sala e no meio desta plateia, cujo silêncio e atenção
exemplares eu não posso louvar o bastante, houvesse um indivíduo que
se comportasse de modo perturbador, que com impertinentes risadas,
falas e batidas dos pés me desviasse a atenção de minha tarefa. Eu
declararia não poder continuar a palestra dessa forma, e então alguns
cavalheiros robustos se levantariam entre os senhores e, após uma breve
peleja, poriam o mal-educado na rua. Ele estaria então “reprimido”, e eu
poderia dar prosseguimento à palestra. Mas, para que o distúrbio não se
repetisse caso o indivíduo tentasse entrar novamente, os cavalheiros que
haviam feito cumprir minha vontade moveriam suas cadeiras para junto
da porta e se estabeleceriam como “resistência”, após a repressão
consumada. Se agora os senhores traduzirem esses dois locais em termos
psíquicos, como “consciente” e “inconsciente”, terão uma imagem
aceitável do processo da repressão.
Formação de compromisso
(sintoma)
 Utilizando da metáfora anterior, Freud explica que a
formação do sintoma consiste numa espécie de
acordo. O conflito apesar de ter se restringido ao
inconsciente, ainda permanece existindo lá e tenta de
maneira disfarçada (simbólica) se revelar, mostrar sua
existência. Essa formação substituta do conflito é o
sintoma. Como surge de maneira deformada, a
consciência não “sofre” com o conflito moral. Mas,
pode se tornar um sofrimento psíquico e físico.
Teoria do Trauma (sedução) X
Teoria da fantasia
 As primeiras investigações de Freud sobre a histeria apontavam
para uma etiologia cujo fator preponderante, relatado pelas
pacientes, envolvia um trauma sexual na infância, vivenciado de
maneira passiva (sedução). Esta cena seria esquecida e
ulteriormente resgatada, após a puberdade, por meio de outra
situação, cujos traços associativos pudessem evocar a primeira. Em
Contribuição à história do movimento psicanalítico, Freud nos
conta que naquele período, ainda “sob influência da teoria
traumática da histeria, relacionada a Charcot, inclinamo-nos a
tomar por verdadeiros e etiologicamente significativos os relatos
dos pacientes que faziam remontar seus sintomas a vivências
sexuais passivas na primeira infância – expresso cruamente, à
sedução”.
 Diante do número expressivo de casos relatados,
seria inconcebível tomar tais relatos como
verídicos. Freud então confessa ao seu “amigo”
de Berlim na carta 69,no dia 21 de setembro de
1897 que não acredita mais em sua neurótica.
 O abandono da teoria da sedução abre caminho para a
teoria da fantasia. Para ele, não há como discernir entre
a realidade concreta e o imaginado, no que concerne às
manifestações inconscientes. Freud encontra a saída para
o dilema teórico da sedução, nesse último argumento,
com a suposição de que o trauma não fora, de fato, um
acontecimento real, mas uma cena fantasiada, cujos
efeitos são reais. Essa fantasia teria o poder ou o efeito
de um evento real e culminaria nos conflitos psíquicos e,
consequentemente, na psicopatologia a partir da
puberdade e vida adulta.

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