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1ª Lição

Na primeira lição, Freud fala de seu trabalho com o médico Joseph Breuer (1842 –
1925), e confessa ter sido o próprio Breuer o primeiro a utilizar a técnica que, tempos
depois, viria a ser chamada de Psicanálise.

O primeiro caso relatado por Freud, diz de uma jovem vienense, 21 anos com um
quadro sintomatológico muito particular:

Tinha uma paralisia espástica de ambas as extremidades do lado direito, com


anestesia, sintoma que se estendia por vezes aos membros do lado oposto;
perturbações dos movimentos oculares e várias alterações da visão; dificuldade em
manter a cabeça erguida; tosse nervosa intensa; repugnância pelos alimentos e
impossibilidade de beber durante várias semanas, apesar de uma sede martirizante;
redução da faculdade de expressão verbal, que chegou a impedi-la de falar ou
entender a língua materna; e, finalmente, estados de `absence‘ (ausência), de
confusão, de delírio e de alteração total da personalidade […] (FREUD, 1910, p. 8).

Essa configuração de vários sintomas incomuns apresentados ao mesmo tempo,


mas sem causa objetiva (comprovada por exames médicos), e com forte apelo
emocional, constituía o quadro de histeria.

É importante ressaltar que, como mencionado pelo próprio Freud (1910, p.9), para
a medicina daquele período, os quadros de histeria eram descreditados, e/ou
enfrentados com descaso pela comunidade médica. Comparado com alguém que
apresentava um quadro patológico com causa orgânica comprovada via exame
objetivo, o paciente histérico era deixado para segundo plano, “pois não obstante as
aparências, o mal daquele é muito menos grave” (idem).

O diferencial do Breuer foi dar a essa jovem em questão à atenção merecida. Freud
relata que o médico observou os estados de alteração da personalidade
acompanhada de confusão (absence), da jovem e percebeu que ela murmurava
algumas palavras que pareciam ter relação com “aquilo que lhe ocupava o
pensamentos” (Freud, 1910, p. 9). Breuer anotou tais palavras e induziu sua
paciente a um estado hipnótico onde as repetiu, esperando que ela associasse junto
a essas, novas ideias.

Em estado de hipnose, a paciente começava a reproduzir para o médico as fantasias


de onde haviam sido tiradas aquelas palavras. Observou-se também que as
criações psíquicas (devaneios) “tomavam habitualmente como ponto de partida a
situação de uma jovem à cabeceira do pai doente” (Freud, 1910, p. 9).

Os estados de absence cessavam após a jovem relatar um grande número de


experiências, ela então se sentia “como que aliviada e reconduzida à vida normal”
(Freud, 1910, p.09). Breuer e Freud notaram que esse bem-estar só vinha
posteriormente à revelação das fantasias.

[…] A própria paciente, que nesse período da moléstia só falava e entendia inglês,
deu a esse novo gênero de tratamento o nome de `talking cure’ (cura de
conversação) qualificando-o também, por gracejo, de `chimney sweeping’ (limpeza
da chaminé) (Freud, 1910, p.09).

O caso sugeria que os sintomas da jovem tinham origem em traumas psíquicos


vividos no passado. Tais traumas eram, portanto, resíduos e símbolos mnêmicos
resultantes de experiências emocionais anteriores frustradas “[…] e o caráter
particular a cada um desses sintomas se explicava pela relação com a cena
traumática que o causara” (FREUD, 1910, p.10). Pode-se averiguar, pelos relatos
verbais da jovem atendida por Breuer, que seus traumas tinham forte ligação com o
evento da morte do seu pai, e seu sentimento de culpa em relação a isso.

A análise do caso levou Freud a concluir que “onde existe um sintoma, existe
também uma amnésia, uma lacuna da memória, cujo preenchimento suprime as
condições que conduzem à produção do sintoma”(FREUD, 1910, p.14).

Freud e Breuer ainda notaram que, nem sempre, o sintoma histérico era causado
por um único evento. Comumente, estes quadros patogênicos eram resultados de
cadeias de traumas interligados de forma análoga e repetida. A cura, portanto, se
dava pela reprodução dos traumas psíquicos em ordem cronológica inversa, ou seja,
do ultimo trauma para o primeiro, até chegar-se ao evento traumático originário do
transtorno (idem).

2ª Lição

Freud relata a forte influencia das pesquisas de Charcot sobra à histeria exerceram
em seu trabalho e a necessidade que ele teve em abandonar o método da hipnose
em seus atendimentos, uma vez que nem todos os seus pacientes era
sugestionáveis à hipnose e pelo caráter de não cientificidade da técnica utilizada por
Breuer.

Por meio da entrevista clínica de seus pacientes em estado consciente Freud sugere
que eles recordassem o máximo de elementos possíveis, a fim de identificar as
memórias e associa-las ao trauma originário do sintoma, o que ele chama de método
catártico. O que não é tão simples, pois se percebia uma forte resistência do
paciente em acessar estes conteúdos traumáticos. Com o passar do tempo, o autor
percebeu a existência de uma força maior que faz com que as memórias ligadas ao
trauma originário permaneçam no inconsciente, tornando os inacessíveis para seus
pacientes, denominada por ele: Repressão (FREUD, 1910, p. 15).

Freud (1909, p. 16), reconhece na repressão o mecanismo patogênico da histeria.


Trata-se do aparecimento de um desejo violento e incompatível com o ego do
paciente, devido às cobranças morais da sociedade e à sua própria personalidade.
Por não ter mecanismos para lidar com a carga afetiva do desejo, a psique desloca
a ideia da consciência para o inconsciente, onde ela permanece
reprimida/inacessível (idem).

Uma vez que o conteúdo reprimido retorna à consciência, ou seja, após desfeitas
as resistências – o que se da por meio da análise psicanalítica – o conflito psíquico
se desfaz, dando fim ao sintoma. Freud entende que existem três mecanismos
relacionados com fim do sintoma (cura da neurose),

[…] Ou a personalidade do doente se convence de que repelira sem razão o desejo


e consente em aceitá-lo total ou parcialmente, ou este mesmo desejo é dirigido para
um alvo irrepreensível e mais elevado (o que se chama `sublimação’ do desejo), ou,
finalmente, reconhece como justa a repulsa. Nesta última hipótese o mecanismo da
repressão, automático por isso mesmo insuficiente, é substituído por um julgamento
de condenação com a ajuda das mais altas funções mentais do homem – o controle
consciente do desejo é atingido (FREUD, 1910, p. 18).

A função do mecanismo da repressão é, basicamente, evitar o desprazer, de modo


a proteger a personalidade psíquica. Ele é regulado pelo Principio do Prazer, ou
seja, a tendência inconsciente que todos temos de incentivar o que é prazeroso e
evitar o desprazer (FREUD, 1910, p. 15). Sendo a repressão à força que impede o
evento traumático de recobrar a memória, Freud entende que a cura do paciente,
só poderia ocorrer após a supressão de todas as resistências ligadas ao trauma
originário.
3ª Lição

Freud desenvolve sua teoria a partir do Determinismo Psíquico, pressuposto no qual


se acredita que eventos ocorridos na infância (passado) têm relevância no modo
como o sujeito atua no presente (FREUD, 1910, p. 19). Sob essa ótica, pode-se crer
que existem duas forças antagônicas sobrepondo-se constantemente na psique:
uma tentando trazer à consciência o conteúdo reprimido enviado ao inconsciente,
outra impedindo a passagem do conteúdo reprimido de volta à consciência
(resistência).

Outro pronto relevante é que o conteúdo reprimido ao retornar à consciência sofre


deformações por parte da resistência, quanto maior a resistência maior a
deformação do conteúdo reprimido. (FREUD, 1910, p. 19). O chiste é um dos vários
mecanismos da psique para dar vazão ao potencial energético reprimido. Ele é um
substituto do(s) conteúdo(s) inconsciente(s) que sofre(m) deformação por parte da
resistência para emergir a consciência – nesse caso – em forma de
gracejo/piada/humor, tirando o foco do trauma original, o chiste permite que o
conteúdo se torne consciente sem agredir o ego do paciente (idem).

Freud (1910, p. 20), chama esses conteúdos ideacionais interdependentes,


catexizados de energia afetiva de “Complexo”. Na clínica psicanalítica, utiliza-se a
fala desordenada do paciente, que é estimulado a falar abertamente sobre o assunto
de seu interesse, por acreditar que ela (a fala) não destoará daquilo que mais lhe
agride, no caso, o conjunto de traumas (complexo) investigado. Por esse método,
denominado “Associação Livre” o terapeuta tem acesso ao conteúdo reprimido. Por
mais cansativo que pareça esse método de investigação, identificação e eliminação
dos complexos por meio da livre associação de palavras, segundo Freud, é ele,
seguramente, “o único praticável” (idem).
Dentre as técnicas psicanalíticas para acesso ao inconsciente Sigmund Freud
aponta: a associação livre de palavras (citada à cima), a interpretação de sonhos, e
o estudo de lapsos ou atos casuais.

“A interpretação de sonhos é na realidade a estrada real para o conhecimento do


inconsciente, a base mais segura da psicanálise” (FREUD, 1910, p. 21). Os sonhos
são a realização de desejos inconscientes. Comumente a análise de sonhos é
ridicularizada pelo senso comum, por se apresentarem, na maioria das vezes, de
forma confusa e sem nexo. Freud alude para o fato de que nem todos os sonhos
são de difícil interpretação. “A criancinha sonha sempre com a realização de desejos
que o dia anterior lhe trouxe e que ela não satisfez” (FREUD, 1910, p.22). No adulto
não seria tão diferente, contudo ele traz uma bagagem de vida com mais elementos
que a criança, mas a compreensão dos seus sonhos é possível mediante uma
análise clínica minuciosa.

Todos os sonhos são compostos por elementos conscientes (verbalizados) e


inconscientes (não verbalizados). O processo de formação do sonho tem
mecanismos muito semelhantes aos do sintoma histérico. “O conteúdo manifesto do
sonho é o substituto deformado para os pensamentos inconscientes do sonho”
(FREUD, 1910, p.22), e sua interpretação assemelha-se com o processo de
associação livre do histérico.

Os conteúdos manifestos dos sonhos, elementos simbólicos verbalizados pelo


paciente após o sonho, se diferem do conteúdo latentes: elementos simbólicos cujo
paciente não tem mais acesso após o sonho, pois se encontram armazenados no
inconsciente. Os conteúdos latentes sofrem deformação pela resistência, para
conseguir tornarem-se conteúdos manifestos. Por meio da análise dos elementos
simbólicos do conteúdo manifesto no sonho do paciente, pode-se chegar ao
conteúdo originário do trauma, que sempre estará relacionado a um desejo não
satisfeito (FREUD, 1910, p.22). É um processo muito semelhante ao da formação
do sintoma no histérico. Logo, o psicanalista, ao abdicar a aparente conexão entre
os elementos manifestos dos sonhos, buscando evocar no paciente as ideias
suprimidas por meio da livre associação, ele conseguirá acessar os elementos
latentes do sonho. Ao processo no qual o conteúdo latente do sonho se transforma
em conteúdo manifesto Freud deu o nome de “Elaboração Onírica” (idem).

Esse material associativo que o doente rejeita como insignificante, quando em vez
de estar sob a influência do médico está sob a da resistência, representa para o
psicanalista o minério de onde com simples artifício de interpretação há de extrair o
metal precioso(FREUD, 1910, p. 21).

Para Freud (1910, p.23), os pesadelos, contudo, não se contrapõem ao que foi dito
até agora, mas eles demostram uma clara relação com a ansiedade para realizar o
desejo reprimido. do neurótico. Pode-se concluir que a interpretação de sonhos,
quando não a não nos direcionam para o excesso de resistências do paciente, leva-
nos ao conhecimento dos seus desejos ocultos e reprimidos, como no caso dos
pesadelos.

Baseado no Determinismo Psíquico, Freud conclui que a vida onírica do homem


adulto carrega consigo todas as aspirações e peculiaridades de sua vida desde a
infância. Pela análise dos sonhos ele chegou à conclusão de que “o inconsciente se
serve, especialmente para a representação de complexos sexuais” (FREUD, 1910,
p.23).

Outro elemento de peso na análise dos conteúdos inconsciente são os atos falhos.
Eventos cotidianos sem importância aparente, mas que para a psicanálise, dado o
Determinismo Psíquico, tem forte relevância. Como o esquecimento de coisas que
deveriam saber (como nome de pessoas próximas), ou lapsos de linguagem, além
de gestos rotineiros (manias) como piscar um olho, roer unha, etc., são elementos
fundamentais da clínica psicanalítica por serem de fácil interpretação e terem
relação direta com o trauma reprimido. Para o autor, esses atos/impulsos dizem de
conteúdos que deveria permanecer reprimidos no inconsciente. Eles são de grande
valor, pois “testemunham a existência da repressão e da substituição mesmo na
saúde perfeita” (FREUD, 1910, p.24).

A análise de sonhos, atos falhos e associação livre de palavras, juntos fornecem ao


psicanalista os elementos – mais do que suficientes – para trazer a tona o material
psíquico patogênico originário do sintoma, dando fim ao quadro patológico resultado
da “produção dos sintomas de substituição” (FREUD, 1910, p.25).

4ª Lição

Nessa lição Freud alude para o fato de como a teoria psicanalítica relaciona os
sintomas mórbidos com a vida erótica do paciente. Para ele, o sintoma tem ligação
direta com componentes instintivos eróticos, logo, as “perturbações do erotismo têm
a maior importância entre as influências que levam à moléstia, tanto num como
noutro sexo” (FREUD, 1910, p. 26).
Na quarta lição Freud aborda a ligação dos sintomas mórbidos com a vida erótica
do paciente, contudo, ele alega uma grande dificuldade em se conceber –
principalmente para a medicina – que o quadro patológico do paciente tenha relação
direta com sua vida sexual. Freud chega a afirmar que sua experiência clínica não
lhe deixa dúvidas (1910, p. 26). Certo de sua premissa, ele alega que uma das
principais dificuldades do tratamento psicanalítico é o fato de as pessoas terem
dificuldade em falar abertamente de sua vida sexual. Comumente eles omitiam
detalhes e/ou distorciam informações, o que, segundo ele, diz de uma tendência
social, e não exclusiva de seus pacientes. Logo, eles apenas repetiam um modelo
que já existe há séculos, uma espécie de pacto coletivo, que nos impede de falar da
vida erótica sem restrições (idem).

Contudo, há percalços quanto ao entendimento do sintoma mórbido e a investigação


da vida passada do paciente (infância e adolescência) a fim de investigar possíveis
eventos causadores do sintoma no presente. Freud alerta para más interpretações
de sua teoria. Todavia, o exame psicanalítico pretende não ligar o sintoma a fatos
sexuais, mas sim, ao modo como os acontecimentos traumáticos da história de vida
do paciente ficam impressos em sua psique.

Ainda nesta lição ele faz uma afirmação ainda hoje criticada pela sociedade: a
constatação da sexualidade infantil. Para o autor,

A criança possui, desde o princípio, o instinto e as atividades sexuais. […] Não são
difíceis de observar as manifestações da atividade sexual infantil; ao contrário, para
deixá-las passar desapercebidas ou incompreendidas é que é preciso certa
arte(FREUD, 1910, p. 27).

Freud atribui ao peso da educação e da civilização a resistência da sociedade em


não admitir a sexualidade na infância. Para ele o exercício da autoanalise nos
permitiria desfazer essas barreiras (FREUD, 1910, p.28). A sexualidade nessa fase
da vida, não está diretamente ligada à reprodução, do contrário, diz da estimulação
de zonas sensórias do nosso corpo ligadas ao prazer libidinal. O prazer sexual
infantil estaria ligado à excitação dessas zonas corpóreas particularmente
excitáveis, “além dos órgãos genitais, como sejam os orifícios da boca, ânus e uretra
e também a pele e outras superfícies sensoriais” (idem).

Nessa fase do desenvolvimento sexual, o prazer é alcançado no próprio corpo, dai


o nome “auto-erotismo” proposto por Havelock Ellis (1859 – 1939), e do qual Freud
se apropria para se referir a justificar certos comportamentos sexuais da criança. Ele
cita como exemplos, a satisfação do desejo de sucção do bebê no ato de
chupar/mamar o dedo, a e excitação masturbatória dos órgãos genitais. Acontece
ainda na infância a escolha do objeto de desejo sexual, sendo esta outra pessoa,
que não a própria criança. Aqui cabem alguns esclarecimentos: por ainda não ter
uma representação sexual totalmente definida, esse objeto de desejo da criança
pode não ter obedecer a uma representação exclusivamente heterossexual, contudo
isso não resultará respectivamente em um adulto homossexual. Constantemente
essa escolha objetal tem mais ligação com as considerações relativas ao instinto de
conservação (FREUD, 1910, p. 29).
A escolha objetal da criança se da inicialmente entre seus cuidadores, depois entre
seus genitores para, por fim, focar-se em um só como receptáculo de seus desejos
eróticos. Para Freud o incitamento do desejo vem dos próprios pais e do modo de
cuidado com a criança, que tem em origem (inconscientemente), cunho sexual
(1910, p. 30). Mais comumente, “O pai em regra tem preferência pela filha, à mãe
pelo filho: a criança reage desejando o lugar do pai se é menino, o da mãe se se
trata da filha” (idem). Os sentimentos ambivalentes (ternura e hostilidades) nascidos
dessa relação formam o Complexo de Édipo. Contudo, a pulsão sexual não
permanece nos pais, sendo reprimida no primeiro momento, numa fase posterior do
desenvolvimento psicossexual a criança tende a investir sua libido em direção a
pessoas desconhecidos (ibidem, 31).

5ª Lição

Na ultima das cinco lições Freud recobra os principais conceitos da psicanálise


trabalhados até o momento, inclusive a sexualidade infantil, e a relação do complexo
de Édipo com a formação do sintoma nos neuróticos. Logo, os indivíduos adoecem
quando são privados de satisfazerem suas necessidades sexuais (libidinais).

Dentre os mecanismos empregados na repressão da pulsão está o intento, por parte


do paciente, em fugir da realidade, levando – de modo inconscientemente – sua
psique a estágios anteriores do desenvolvimento psíquico, o que Freud chama de
Regressão. A Regressão apresenta-se sob dois aspectos distintos: “temporal,
porque a libido, na necessidade erótica, volta a fixar-se aos mais remotos estados
evolutivos – e formal, porque emprega os meios psíquicos originários e primitivos
para manifestação da mesma necessidade” (1910, p.32).

Comumente, durante o tratamento psicanalítico, surge nos neuróticos um sintoma


identificado como “Transferência”, isto é: o paciente reproduz no terapeuta uma
serie de sentimentos afetuosos, vez ou outra, mesclados de hostilidade,
provenientes de fantasias inconscientes (FREUD, 1910, p.33). Trata-se de um
fenômeno global, não restrito do setting terapêutico, mas que abrange
espontaneamente todas as formas de relações humanas. A análise desse fenômeno
torna-se uma ferramenta valiosíssima para o psicanalista no tratamento de seus
pacientes, na identificação da origem sintomas reprimidos (idem).

Nesta lição Freud ainda identifica três mecanismos pelos quais ele acredita que o
sintoma neurótico pode ser desfeito:

O primeiro se dá pela conscientização do conteúdo reprimido, que acontece durante


o tratamento psicanalítico. É comum que o sintoma ao ser conscientizado seja
anulado pela ação mental, que substitui a repressão pelo julgamento de condenação
efetuado com mecanismos superiores do próprio ego. Outra solução apresentada,
considerada por Freud a mais eficaz, seria a Sublimação, mecanismo de defesa do
ego, onde a energia proveniente dos desejos libidinais infantis é empregada em
atividades de cunho artístico e/ou intelectual, de valor social. A esse respeito Freud
afirma que

[…] Exatamente os componentes do instinto sexual se caracterizam por essa


faculdade de sublimação, de permutar o fim sexual por outro mais distante e de
maior valor social. Ao reforço de energia para nossas funções mentais, por essa
maneira obtido, devemos provavelmente as maiores conquistas da civilização. A
repressão prematura exclui a sublimação do instinto reprimido; desfeito aquele, está
novamente livre o caminho para a sublimação (FREUD, 1910, p.34).

Por ultimo ele aponta a plasticidade, uma característica nata do ser humano: a
plasticidade dos instintos sexuais por intermédio da sublimação contínua e cada vez
mais intensa das pulsões (idem).
Em última análise

É possível perceber a partir da leitura do texto que a construção da teoria


psicanalítica estava intimamente ligada com a vida e as impressões de Sigmund
Freud. Suas colocações eram, para a sociedade vienense daquele período,
inconcebíveis, mas cheias de significados. É notório que dada à mudança na ordem
social atual, e a própria concepção de sexo e sexualidade atual tornam algumas das
ideias de Freud ultrapassadas, contudo, essa mudança se deve, em grande parte,
pelas contribuições psicanalíticas à ciência e a sociedade. A medicina, a psiquiatria,
a psicologia, dentre outras ciências, foram diretamente impactadas pelas ideias
Freudianas.

Todavia, a leitura das 5 Lições de Psicanálise, como texto introdutório à teoria de


Freud torna-se valida pela leveza da linguagem e cuidado com a qual o autor aborda
os principais conceitos psicanalíticos até então empregado, proporcionando ao
leitor, principalmente o iniciante, um melhor entendimento de sua obra. Outros
autores, inicialmente discípulos de Freud, como Carl Gustav Jung, discutem se a
sexualidade tem efetivamente papel central na vida do individuo e na formação do
sintoma psicótico, o que levou a vários teóricos a romperem com Freud.

Com efeito, as ideias sobre sexualidade na infância e Complexo de Édipo ainda


enfrentam resistências por muitas correntes de pensamento, mas se dúvida alguma,
proporcionaram um novo olhar sobre a infância, o cuidado com as crianças e o
tratamento clínico de transtornos psíquicos, tal como a histeria, antes tida como
tentativa de chamar a atenção, portanto, indigna de real atenção pela medicina,
como cita o próprio Freud na primeira lição.

Retirado: https://encenasaudemental.com/cinema-tv-e-literatura/5-licoes-de-psicanalise-
um-retorno-a-genese-freudiana/

Hudson Eygo - Psicólogo e Colunista do Blog Psicoquê. E-mail: hudsoneygo@gmail.com

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