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Revisão

Professora Bárbara Macedo


Contexto

VIENA - FINAL DO SÉCULO XIX

Sociedade Burguesa e Patriarcal


Tabus e Preconceitos
Sexualidade Oprimida, principalmente a feminina
HISTERIA
O Fenômeno da histeria causava grande inquietação no
campo médico e científico;

Não havia uma explicação dentro de um referente


anatomopatológico (anatomia e patologia);

Até então, a histeria era interpretada como possessão


demoníaca;

Tosse, paralisia de um membro, falar outras línguas,


alucinação olfativa;

Conflito psíquico que se transforma em um


acometimento no corpo.
Jean-Martin Charcot
Hospital Salpêtrière, em Paris, na França

Charcot foi um neurologista francês que se debruçou


na investigação da histeria por meio da hipnose,
método que começou a ser bastante empregado.

De forma sintética, podemos apontar a hipnose como


método que produz um rebaixamento de consciência
sob indução da sugestão hipnótica, ou seja, por meio
da fala e do poder simbólico do hipnotizador.

O conjunto bem definido de sintomas dessa neurose


era passível de ser observado e recolocado dentro de
uma trama de sentidos, em uma narrativa histórica, e
não dentro de uma perspectiva orgânica meramente.
Freud conseguiu uma bolsa de estudos e partiu rumo a
Paris para entender melhor a relação da histeria com a
hipnose.

Uma vez hipnotizada a paciente histérica, a crise dela


passou a ser reconstruída nas investigações de Charcot.
Acontece que as pacientes, que maioritariamente eram
mulheres, passaram a oferecer muito mais informação do
que lhes era solicitado, e constantemente conteúdos
sexuais apareciam nas narrativas.

Retornando a Viena, consegue continuar suas


investigações com Josef Breuer, um médico mais
experimentado, também curioso sobre os efeitos da
hipnose na histeria e que ajudara bastante Freud, seja
com incentivos morais seja financeiramente.
Josef Breuer
Viena
Josef Breuer (1842-1925) foi um importante médico que
teve contribuições no campo da neurofisiologia e
trabalhou como médico pessoal de muitos intelectuais
residentes em Viena. Ficou conhecido por participar no
lançamento das bases da psicanálise.

A relação da histeria com a hipnose vai ser conectada


pela ideia de sexualidade, eixo básico para a
compreensão da origem da psicanálise. Essa relação
começa a ser aprofundada a partir do encontro de Freud
com Breuer.

É por meio de Breuer que Anna O., sua paciente, surge


na cena. É o caso pioneiro a respeito das investigações
psicanalíticas sobre o inconsciente.
Os sintomas histéricos são defesas contra ideias, contra vontades,
contra afetos patógenos.

Por meio da hipnose, começa-se a provocar as lembranças do


trauma, e a ideia inicial da origem está constantemente em um
acidente, insulto, enfim, algum susto que o psiquismo não
conseguiu descarregar, ou seja, houve alguma emoção, afeto ou
energia psíquica que ficou represada, gerando efeitos tóxicos no
psiquismo.

A representação do trauma age como um corpo estranho alojado


na mente e a hipnose foi um primeiro modo de se ter acesso a essa
trama, de forma que o sintoma histérico desaparecia quando se
conseguia trazer à luz a lembrança do fato provocador. Falamos,
então, que é a lembrança do acontecimento que evoca o afeto a ele
acoplado, de forma que “os histéricos sofrem principalmente de
reminiscências”(BREUER; FREUD, 1893, p. 43).
Então, a ab-reação é a forma pela qual um afeto
represado consegue ser liberado por meio do acesso à
lembrança do evento a ele ligado. É necessária a
expurgação do afeto para não continuar gerando efeitos
tóxicos:

Em outras palavras: parece que essas lembranças


correspondem a traumas que não foram
suficientemente ab-reagidos (BREUER; FREUD, 1893,
p. 45).

Cada sintoma histérico desaparecia, de forma imediata


e permanente, quando conseguíamos trazer à luz com
clareza a lembrança do fato que o havia provocado e
despertar o afeto que o provocava, e quando o
paciente havia descrito esse fato com o maior número
de detalhes possível e traduzindo o afeto em palavras.
(BREUER; FREUD, 1893, p. 42)
Talking Cure

Freud percebeu que, com a hipnose, havia o acesso a


uma produção narrativa que envolvia o sintoma
histérico, mas que o sintoma facilmente se deslocava, o
que provocava empecilhos em sua ideia de cura da
histeria. Algo permanecia oculto nessa trama de
sentidos. Além disso, alguns pacientes simplesmente
não eram hipnotizáveis.

Apesar das limitações da hipnose, estava nítido que a


cura pela palavra era uma grande sacada nesse
contexto. Anna O. dizia que havia a “limpeza de
chaminé”. Ou seja, a ideia do psicólogo ouvindo o
paciente vem daí. Era o início da Talking cure.
SINTOMA
Caso Elizabeth: moça tinha um apaixonamento velado pelo cunhado, marido da irmã. No entanto, quando a irmã morre e ela sente
que tem o caminho aberto para realizar seu desejo pelo cunhado, ela desenvolve uma paralisia da perna, como alguém que “não
podia andar com aquela história”.

apaixonamento pelo cunhado => proibição => paralisia nas pernas

O conflito psíquico é resolvido pelo sintoma, que é uma formação de compromisso entre a pulsão recalcada e as forças repressoras
defensivas. O que foi recalcado pode ser admitido na consciência, uma vez que passa a se apresentar de forma descaracterizada.

Há uma separação entre a representação e o afeto. Uma representação conflitante é separada das demais e sofre o processo do
recalque, e o afeto fica investido no corpo, em um processo de conversão somática, por exemplo. Dessa forma, a paciente investe a
energia do afeto inaceitável (amor proibido, por exemplo) no seu corpo, por meio do sintoma (por exemplo, apresentando uma
cegueira sem causa anatomofisiológica existente) e, assim, consegue dar conta do conflito psíquico que a atormenta.

O material recalcado deveria permanecer inconsciente, sob a ótica do sistema consciente, dado que o recalcado é algo conflitivo.
No entanto, o recalcado insiste em surgir na cena, e as formações do Inconsciente são a forma de expressão do material recalcado.
Primeira Tópica do Aparelho Psíquico

Freud constata o que vai ser essencial na


formulação do aparelho psíquico, ou seja, o seu
caráter dividido. A consciência se encontra dividida
e é isso que aparece de forma emblemática na
histeria. Os sintomas histéricos aludem ao fato de
que um episódio traumático força a divisão da
consciência na medida em que uma ideia, uma
representação conflituosa, instaura a necessidade
de que essa representação fique isolada da
comunicação associativa com o restante do
conteúdo da consciência. Dessa forma, essa ideia
conflituosa fica separada do resto, impedindo que
ela gere mais incômodo ao sujeito.
Primeira Tópica do Aparelho Psíquico

Aparelho psíquico é o nome dado à organização proposta por


Freud para compreender a dinâmica mental. Descrever o
aparelho psíquico foi uma forma de tornar compreensível o
funcionamento psíquico, dividindo-o e atribuindo uma função
específica a cada parte constitutiva.

Freud promove uma quebra de paradigma ao afirmar que a


consciência é apenas “a ponta do iceberg” quando se trata de
conhecer as reais motivações e desejos de alguém.

Todo o pensamento moderno, de Descartes a Hegel, tem na


Consciência uma referência central. Com Freud a Consciência
perde esse estatuto. Passa a representar uma pequena parte da
totalidade psíquica, além de deixar de ser a sede da verdade.
(GARCIA-ROZA, 1993, p. 219)
Primeira Tópica do Aparelho Psíquico
Consciente

Estão as representações mentais das quais estamos


plenamente conscientes no momento, o que faz com que esse
sistema psíquico esteja em permanente transformação, pois
há uma grande circulação de representações na consciência,
de acordo com a vivência de cada pessoa.

Pré-Consciente

Localizam-se aquelas representações que podem vir à tona na


consciência, mas que não estão disponíveis no momento.
Sobre o pré-consciente, podemos pensá-lo ainda como algo
entre o inconsciente e o consciente, filtrando as informações
que passarão para o consciente.
Inconsciente
Estão as representações que já ocuparam o consciente e/ou o pré-consciente,
mas que foram expulsas porque causavam angústia. São representações que
sofreram recalque e, dessa forma, não podem mais se tornar conscientes sem
que se aplique um intenso trabalho.

No caso da histeria, não se tratava de um simples esquecimento, o que estava


em questão ali era o recalque, um mecanismo de defesa que impede a
lembrança. Estamos diante da distinção entre inconsciente e pré-consciente.

O recalque, dessa maneira, é uma forma de proteção diante da dor do trauma


ou do mal-estar causado em face das normas sociais vigentes. Assim,
podemos compreender o inconsciente como uma consequência do recalque.
As lembranças traumáticas perdem o investimento afetivo e se tornam
inconscientes.

O conteúdo recalcado continua a exercer força por meio das formações do


inconsciente.
Formações do Inconsciente
Chistes
Vinculado ao gracejo, é uma espécie de válvula de
escape do inconsciente, utilizado para dizer em tom
de brincadeira aquilo que verdadeiramente se
deseja.
Ato Falho
Ato em que o resultado explicitamente visado não
éatingido, mas se vê substituído por outro. O
sujeito enunciaalgo distinto do que intencionava,
revelando que há algopara além da intenção
consciente.
Sonhos
Definido por Freud como a via régia para o
inconsciente, constituindo uma realização
disfarçada de um desejo reprimido.
Segunda Tópica do Aparelho Psíquico

A divisão do aparelho psíquico em consciente, pré-


consciente e inconsciente começou a se mostrar
insuficiente à medida que Freud foi avançando em
suas observações e teorias.

O ego, até então, estava totalmente situado no


consciente e no pré-consciente, enquanto no
inconsciente estariam as representações mentais
que o ego teria recalcado. Freud considerava que o
conflito psíquico seria travado entre o ego e o
inconsciente. Um ego consciente que protegeria o
sujeito de pensamentos e ideias inconciliáveis com
o sistema de crenças e valores versus um conjunto
de representações recalcadas.
Segunda Tópica do Aparelho Psíquico

A experiência clínica levou Freud a perceber, entretanto, que


uma parte considerável do ego também era inconsciente.
Durante uma análise, a dificuldade de lembrar ou falar de um
assunto indica sua relação com representações recalcadas,
que são inconscientes. Freud observou que haveria uma
resistência do ego impedindo o acesso às representações
mentais recalcadas. Mas essa resistência também seria
inconsciente, o paciente não tinha consciência de sua ação.

Ora, se a resistência era uma função do ego e também era


inconsciente, o ego não poderia ser totalmente consciente.
Essa mudança do olhar de Freud reorganiza a concepção de
ego e a torna mais complexa, englobando também uma
parte inconsciente.
Segunda Tópica do Aparelho Psíquico
O Id é considerado o polo pulsional da personalidade, cujos
conteúdos são inconscientes. Do ponto de vista econômico,
é o reservatório da libido (energia psíquica de ordem
sexual) e, do ponto de vista dinâmico, entra em conflito
com o superego, que tem a função do juízo moral.

O Id seria nossa parte mais instintiva, que sustenta desejos,


ímpetos e vontades, sem conhecer freios morais. O id
funciona de acordo com o princípio do prazer e faz uma
exigência constante de satisfação.

O ego é uma parte diferenciada do Id, a partir de seu


contato com a realidade externa, o que promove o
adiamento da satisfação. O ego mantém uma relação com
as reivindicações do Id, com os imperativos do superego e
com as exigências da realidade, situando-se como um
mediador.
Segunda Tópica do Aparelho Psíquico
Do ponto de vista dinâmico, o ego representa eminentemente, no conflito
neurótico, o polo defensivo da personalidade; põe em jogo uma série de
mecanismos de defesa, estes motivados pela percepção de um afeto
desagradável — sinal de angústia.

Freud compara o id e o ego com um cavalo e seu cavaleiro.

O cavalo representa o id: governado pelo princípio do prazer, ele busca


satisfazer as suas necessidades, mas também fornece a energia necessária
para impulsionar os dois pra frente

O cavaleiro representa o ego: guiado pelo princípio da realidade, ele


aproveita a energia do id e cria maneiras para guiá-lo na direção mais
adequada.

Embora seja conciliador e se adapte à realidade, o ego também funciona,


em parte, pela lógica do inconsciente. Diante do fato traumático, o ego
lança mão de mecanismos de defesa que são disparados sem que a
consciência tenha acesso a isso.
Segunda Tópica do Aparelho Psíquico

O Superego é um elemento estrutural do aparelho


psíquico, responsável pela imposição de normas,
padrões e sanções. É uma instância que incorpora
uma lei e proíbe sua transgressão, tendo como
função fazer juízo moral. O superego é a última das
três instâncias a se desenvolver e, de acordo com
Freud, é o herdeiro do complexo de Édipo. Isso
indica o papel central da vivência edipiana na
organização do psiquismo.
Mecanismos de Defesa
Os mecanismos de defesa visam proteger a pessoa de traumas ou situações desagradáveis que causam
dor. É um movimento automático, que, apesar de proteger, apresenta soluções que também podem
causar dor e desconhecimento sobre si mesmo.

Recalque

Conceito fundamental na construção da Psicanálise, indissociável do conceito de inconsciente. Consiste em tirar


da consciência a representação dolorosa, desagradável ou inconciliável com o sistema de crenças. O recalque
“decide” que a pessoa “não quer saber” sobre tal representação e a torna inconsciente. O material recalcado, que
compõe o inconsciente, retorna nos sintomas, já que seu caráter de defesa não é totalmente bem-sucedido.

Regressão

É um mecanismo que induz o retorno a uma fase anterior do desenvolvimento, em que as satisfações eram mais
imediatas e o princípio do prazer tinha mais espaço.
Racionalização

O mecanismo de formação reativa indica a atribuição de motivações mais aceitáveis e intelectuais do que as
verdadeiras, das quais o ego se defende. O conteúdo desconfortável para o ego é transformado em uma
justificativa de ordem racional ou ideal, no campo do pensamento. Trata-se de uma defesa que se apoia num
raciocínio lógico, explicando sentimentos e emoções e, assim, disfarçando os conflitos internos.

Projeção

A projeção é um tipo de defesa que atribui ao outro características, sentimentos e desejos que o sujeito se recusa
a reconhecer em si mesmo. É um movimento que lança para fora aquilo que o sujeito não quer em si ou que causa
incômodo.

Formação Reativa

Mecanismo caracterizado pela transformação de um pensamento ou sentimento no seu oposto, em que o sujeito
adere à ideia contrária àquela que foi recalcada, muitas vezes de forma excessiva. As formações reativas
costumam ser investidas com intensidade, mantendo vivos os desejos originais no inconsciente.
Pulsão
Para a Psicanálise, o corpo passa a ser entendido além do
modelo biologicista predominante no pensamento científico
da época. O corpo é erogeneizado, em outras palavras,
compreende a conexão entre aspectos físicos e psíquicos, pois
o mesmo se encontra marcado tanto pela pulsão como pela
linguagem de forma inseparável.

O corpo não é apenas um conjunto de órgãos com funções


vitais e com uma dimensão anatômica e fisiológica de
determinada configuração. Falamos, sobretudo, de um corpo
pulsional, um corpo que é indissociável de sua dimensão de
relação ao outro que o cuidou.

Pulsão é definida como uma "força que ataca o organismo a


partir de dentro e o impele a realizar certas ações suscetíveis
de provocarem uma descarga de excitação", além de indicar o
caráter variável econtingente do objeto sexual.
Pulsão X Instinto
Alguns seguidores de Freud
Donald Woods Winnicott

Para Winnicott, a relação entre a mãe e o bebê começa aser engendrada durante a gestação.
Uma determinada condição, denominada “preocupação materna primária” fornece, à mãe,
a capacidade peculiar de fazer o que for necessário para os cuidados de seu bebê. De forma
inconsciente, a mãe identifica-se com o bebê, assim como, posteriormente, o bebê se
identificará coma mãe.

Sándor Ferenczi

Ferenczi desenvolveu a noção de traumático, aprofundando esse tema em seu


artigo Confusão de língua entre os adultos e a criança (1933). Apresenta uma
distinção importante na linguagem infantil e na adulta capaz de gerar um trauma. A
criança se utiliza da linguagem da ternura e o adulto a linguagem da paixão para se
relacionar com o outro. O trabalho de Ferenczi influenciou uma das mais
importantes escolas psicanalíticas, a kleiniana.

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