Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo: o objetivo desse artigo é oferecer algumas reflexões a respeito da pergunta: O que é
o inconsciente e qual a sua relação com o conceito de pulsão? Na perspectiva freudiana, como
identificar o inconsciente? Trata-se de uma breve reflexão sobre como o inconsciente se articula
com o conceito de pulsão.
Em seu primeiro livro, “O projeto”, Freud fala que os processos psicológicos barrados
na consciência são liberados durante o sono:
“nos sonhos, as conexões são parcialmente absurdas, parcialmente imbecis, ou até mesmo sem
sentido ou estranhamente loucas. Esta última característica se explica pelo fato de que, nos
sonhos, predomina a compulsão a associar, que sem dúvida também domina primordialmente a
vida psíquica em geral”. (FREUD, 1900, p. 37)
Uma parte do conteúdo do sonho é lembrada, outra esquecida. Nesse ponto, Freud inicia a
análise dos sonhos para caracterizar uma parte da vida psíquica, dominada pelo princípio do
prazer. É interessante também quando ele explica que a parte lembrada, do sonho, encontra-se
barrada por uma série de processos até manifestar o desejo latente.
“Não podemos refutar [o fato] de que a perturbação do processo psíquico normal teria
dois determinantes: (1) que a liberação sexual estaria ligada a uma lembrança, e não a
uma experiência, (2) que a liberação sexual ocorreria prematuramente. Essas duas
ocorrências produziriam uma perturbação que ultrapassa o normal, mas que também
está potencialmente presente no normal. A experiência cotidiana ensina que a geração
de afeto inibe de várias maneiras o curso normal do pensamento. Em primeiro lugar,
isso se dá no sentido de serem esquecidas muitas vias de pensamento que seriam
normalmente levadas em conta — isto é, à semelhança do que ocorre nos sonhos [Ver
em [1]]. Assim, por exemplo, ocorreu-me, durante a agitação causada por uma grande
angústia, esquecer de fazer uso do telefone que acabara de ser instalado em minha casa.
A via recém-estabelecida sucumbia ao estado afetivo: a facilitação — ou seja, o que
estava estabelecido desde longa data — levou a melhor. Esse esquecimento envolve o
desaparecimento da [capacidade de] seleção, da eficiência e da lógica no decurso [do
pensamento], tal como acontece nos sonhos. Em segundo lugar, [o afeto inibe o
pensamento] no sentido de que, sem que haja nenhum esquecimento, adotam-se vias
que são geralmente evitadas: sobretudo, vias que conduzem à descarga, [tais como]
ações [efetuadas] sob a influência do afeto. Em suma, pois, o processo afetivo se
aproxima do processo primário não inibido”. (FREUD, 1895, pg.49).
Fica claro que Freud cria uma relação entre o afeto e o desenvolvimento psicossexual
na medida em que todo o desenvolvimento psíquico acontece não somente pelas experiências,
mas pela recordação da história. Considero que esse insight foi fundamental para a compreensão
de que os fenômenos psíquicos não dependem apenas de fatos externos, mas da elaboração e
da lembrança do que foi vivido. Retomo, portanto, sobre como Freud percebeu a origem do
sintoma histérico: a compulsão histérica não pode ser identificada nos processos de pensamento
consciente, nem tampouco localizadas no sistema neural. Pode, sim, ser identificada no corpo
com a paralisia de algum membro ou nos sonhos. Penso que a dominância dos processos
inconscientes na vida mental das pacientes histéricas chamou a atenção de Freud. A partir da
sua experiência clínica, e não por elaborações apenas no campo das ideias, Freud iniciou a
construção dos conceitos fundamentais da psicanálise.
Paulo Sandler, em seu texto “Inconsciente, fatos e crença: sobre os processos oníricos” propõe
a metáfora da análise como um processo onírico, na tentativa de estabelecer relações entre a
consciência e o inconsciente. A análise, para ele, é uma possibilidade de acesso ao inconsciente.
Para Freud, o inconsciente é a verdadeira realidade psíquica, conforme explica no livro A
Interpretação dos Sonhos: “é tão desconhecido como a realidade do mundo externo. Fica
apresentado tão incompleto pelos dados da consciência quanto o mundo externo fica
incompletamente apresentado pela comunicação de nossos órgãos sensoriais” (FREUD, 1900,
pg. 728).
A noção de sistema psíquico, em Freud, é útil para explicar sintomas que não têm causa
orgânica:
seu trabalho não se tratava de charlatanismo. Obviamente, ao longo de sua obra esclareceu e
reformulou vários pontos.
Por exemplo, o primeiro artigo de Freud sobre o conceito de pulsão foi escrito em 1915
(bem depois do livro “o projeto”), contexto da 1ª Guerra Mundial. Para Freud, o contexto da
época é propício para o desnudamento civilizatório, e interessava a ele investigar as
consequências psíquicas da guerra. Nesse contexto, Freud fundamenta os dois principais
conceitos da Psicanálise: pulsão e inconsciente. Em seu primeiro artigo escreve: “esse artigo
deveria servir como porta de entrada do edifício da Psicanálise” (FREUD, 1915, p. 86). Não é
possível, portanto, falar do inconsciente sem falar de pulsão. Existe uma relação entre esses
dois conceitos: “a pulsão é fundamental para a compreensão dos processos inconscientes. O
elemento de ligação entre o corpo e a psique. Seu caráter é fronteiriço e limítrofe”. (FREUD,
1915, p. 90). O caráter fronteiriço da pulsão caracteriza ela como um elemento de ligação,
inconsciente, entre o corpo e o psiquismo. Por isso, não é possível saber a origem das pulsões,
mas apenas seus efeitos dentro do sistema psíquico.
“que a vida pulsional da sexualidade em nós não se deixa domar plenamente e que os
processos anímicos são em si mesmos inconscientes, não se tornando acessíveis do eu
e não lhe sendo submetidos a não ser através de uma percepção incompleta e não fiável.”
(FREUD, 1915, p.89).
Conclusão
Bibliografia
FREUD, Sigmund. Projeto para uma psicologia cientifica, 1895. In Publicações pré
psicanalíticas e esboços inéditos. Rio de Janeiro: Imago, 1996. (Edição standard brasileira das
obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 1).
FREUD, Sigmund. Obras Completas volume 4: A Interpretação dos Sonhos. Cia das Letras
(1900).
FREUD, Sigmund. Obras Completas volume 14: as pulsões e seus destinos. Cia das letras
(1915).
SANDLER, Paulo Cesar. Inconsciente, fatos e crença: sobre os processos oníricos. Volume
XVII, Nº 2. ALTER – Jornal de Estudos Psicodinâmicos.